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QUEM é, O QUE PENSA E COMO AGE RUBéN MAGNANO, TéCNICO CAMPEãO OLíMPICO PELA ARGENTINA E QUE VIROU A CASACA PARA LEVAR O BASQUETE BRASILEIRO AO PóDIO EM LONDRES O ARGENTINO É NOSSO! www.istoe2016.com.br VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ CASSETA, URGENTE! O HUMORISTA MARCELO MADUREIRA QUEBRA O NOSSO GALHO E CONTA A HISTóRIA DE UMA áRVORE QUE ESTá NO MARACANÃ DESDE 1950 POLIVALENTE YANE MARQUES, A ATLETA MAIS COMPLETA DO PAíS, SE MULTIPLICA PARA SER A MELHOR DO MUNDO EM CINCO ESPORTES DIFERENTES PERFIS CARIOCAS CONHEÇA OS HOMENS E AS MULHERES QUE ESTÃO CONSTRUINDO OS PALCOS DA OLIMPíADA DE 2016 PARECE, MAS NãO é ELAS COMPETEM, SE VESTEM E VIVEM COMO MULHERES, MAS TêM FORÇA, VELOCIDADE E HORMôNIOS MASCULINOS 7 8 9 8 2 6 4 5 8 0 8 1 8 0 3 0 0 0 MAIO/JUNHO 2012 Edição 30 | Ano 3 ESPORTE E SEXO, SEGUNDO HORTêNCIA: “MATA ALGUéM FICAR UM MêS SEM TRANSAR?”

Revista 2016 / Maio

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Revista 2016

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Page 1: Revista 2016 / Maio

quem é, o que pensa e como age rubén magnano, técnico campeão olímpico pela argentina e que virou a casaca para levar o basquete brasileiro ao pódio em londres

o argentinoé nosso!

www.istoe2016.com.br VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ

casseta, urgente! O hUMORISTA marcelo madureira qUEBRA O NOSSO GALhO E cONTA A hISTóRIA DE UMA áRVORE qUE ESTá NO MARAcANÃ DESDE 1950

polivalente yane marques, A ATLETA MAIS cOMPLETA DO PAíS, SE MULTIPLIcA PARA SER A MELhOR DO MUNDO EM cINcO ESPORTES DIfERENTES

perfis cariocas cONhEÇA OS hOMENS E AS MULhERES qUE ESTÃO cONSTRUINDO OS PALcOS DA OLIMPíADA DE 2016

parece, mas não é ELAS cOMPETEM, SE VESTEM E VIVEM cOMO MULhERES, MAS TêM fORÇA, VELOcIDADE E hORMôNIOS MAScULINOS

7 8 9 8 2 6 4 5 8 0 8 1 8 03000

MAIO/JUNhO 2012Edição 30 | Ano 3

esporte e sexo, segundo hortência: “mata alguém ficar um mês sem transar?”nú

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editorial

No site: www.istoe2016.com.brNo iPad: baixe gratuitamente na App StoreNo Twitter: twitter.com/istoe2016No Facebook: www.facebook.com/ISTOE2016No Orkut: www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=13668154931775616977

Em vídeo (www.istoe2016.com.br), assista a trechos da entrevista com

a Rainha Hortência e a uma coletânea com provas envolvendo atletas que,

involuntariamente ou não, declararam ser mulheres e revelaram-se homens ou algo próximo disso. Confira ainda

imagens de outros trabalhadores que estão tocando as obras olímpicas no

Rio de Janeiro, em registros espetacu-lares do fotógrafo Pedro Dias.

Conteúdo extra

O jogador de basquete Larry Taylor é louco por pagode, torce para o Corinthians, prefere feijão com arroz a hambúr- guer e sabe cantar o Hino Nacional direitinho. Ele nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, mas joga no Brasil desde 2008. Em abril, depois de um longo processo de naturalização, se tornou oficialmente brasileiro. Taylor é um armador ágil, tem ótimo arremesso e velocidade suficiente para deixar a maioria dos adversários para trás. Graças a essas credenciais, ele deve ser convocado pelo técnico Rubén Magnano para disputar a Olimpíada de Londres. Magnano que, a propósito, é argentino.

A presença de estrangeiros na seleção de basquete alimentou nas últimas semanas uma corrente nacionalista. Antigos ídolos do esporte disseram que se trata de um desrespeito com atletas daqui. Não considero esse um argumento válido. Mais do que a defesa do esporte brasileiro, a reclamação soa como patriotis-mo de araque, sustentado por preconceitos. Potências olímpicas como Estados Unidos, Alemanha e Austrália faturaram pilhas de medalhas com competidores naturalizados. O Brasil também deve algumas de suas conquistas a estrangeiros – inclusive o basquete. O argentino Sucar integrou a seleção que foi bronze nos Jogos de Roma, em 1960. Na Olimpíada de 1964, em Tóquio, o polonês Victor Mirshauswka vestiu a camisa brasi-leira e, ao lado de Sucar, comemorou o terceiro lugar.

Esta edição da 2016 traz na capa, pela primeira vez, um personagem que não é atleta. O ineditismo coube a Magnano. Ao ler a reportagem, é possível entender por que a competência desse argentino de Córdoba foi fundamental para que a seleção masculina voltasse a uma Olimpíada depois de 16 anos. Que venham mais estrangeiros como Magnano.

Amauri Segalla, diretor de redaçã[email protected]

Que venham os estrangeiros

expediente

6

maio 2012 | istoé 2016

ErraTa Diferentemente do publicado na edição anterior, o nome da atiradora brasileira, que tem boas chances de medalha em Londres, é Ana Luiza Ferrão Souza Lima.

diretor editorialCArlOS JOSé MArqueS

diretor editorial-adjunto luiz FerNANdO Sá

diretor de redação AMAuri SegAllA

editor-executivo edSON FrANCO

editor de arte PedrO MATAllO

editor-executivo de fotografia CeSAr iTiberê

editor de fotografia MAx gPiNTO

editor e diretor reSPonSÁveldOMiNgO AlzugArAy

editoraCáTiA AlzugArAy

PreSidente-executivoCArlOS AlzugArAy

ricardo van Steen (colaborou bruno Pugens)Projeto grÁfico

gerente induStrial: Fernando rodrigues coordenador grÁfico: ivanete gomesServiçoS grÁficoS

diretor: gregorio França gerente geral: Thomy Perroni aSSiStenteS: luiz Massa, André barbosa e Fábio rodrigo oPeraçõeS laPa:

Paulo Paulino e Paulo Sérgio duarte coordenador: Jorge burgati analiSta: Cleiton gonçalves aSSiStente Sênior: Thiago Macedo aSSiStenteS: Aline lima e bruna Pinheiroauxiliar: Caio Carvalho atendimento ao leitor e vendaS Pela internet: dayane Aguiar

oPeraçõeS

coordenadora: Vanessa Mira coordenadora-aSSiStente: regina Maria aSSiStenteS: denys Ferreira, Karina Pereira e ricardo SouzalogÍStica e diStriBuição de aSSinaturaS

diretor: rui Miguel gerenteS: debora Huzian e Wanderley Klinger redator: Thiago zanetin diretor de arte: Charly Silva aSSiStente de marketing: Marciana Martins e Marina Caroline Arraes

marketing

diretor: edgardo A. zabala diretor de vendaS PeSSoaiS: Wanderlei quirino SuPerviSora de vendaS: rosana Paal diretor de telemarketing: Anderson lima gerente de atendimento ao aSSinante: elaine basílio gerente de trade marketing: Jake Neto gerente de Planejamento e oPeraçõeS: reginaldo Marques gerente de oPeraçõeS e aSSinaturaS: Carlos eduardo Panhoni gerente de telemarketing: renata Andrea gerente de call center: Ana Cristina Teen gerente de ProjetoS eSPeciaiS: Patricia Santana central de atendimento ao aSSinante: (11) 3618-4566. de 2ª a 6ª feira daS 9h àS 20h30 outraS caPitaiS:

4002-7334 demaiS localidadeS: 0800-7750098

aSSinaturaS

diretor nacional: José bello Souza Francisco diretor de PuBlicidade: Maurício Arbex SecretÁria da diretoria de PuBlicidade: regina Oliveira gerenteS executivoS: eduardo Nogueira, érika Fonseca, Fabiana Fernandes, Katia bertoli e luiz Sergio Siqueira executivoS de PuBlicidade: Priscila brisquiliari e rita Cintra aSSiStenteS de PuBlicidade: Valéria esbano coordenadora adm. de PuBlicidade: Maria da Silva aSSiStente adm. de PuBlicidade: daniela Sousa gerente de coordenação: Alda Maria reis coordenadoreS: gil berto di Santo Filho e rose dias contato: [email protected] riO de JANeirO/rJ: diretor de PuBlicidade: expedito grossi. gerenteS executivaS: Adriana bouchardet, Arminda barone e Silvia Maria Costa. coordenadora de PuBlicidade: dilse dumar. Fones: (21) 2107-6667. Fax: (21) 2107-6669 brASÍliA/dF: gerente: Marcelo Strufaldi. Fone: (61) 3223-1205/3223-1207. Fax: (61) 3223-7732. SP/Campinas: Mário estellita - lugino Assessoria de Mkt e Publicidade ltda. Fone/Fax: (19) 3579-6800 SP/ribeirão Preto: Andréa gebin–Parlare Comunicação integrada Av independência, 3201 -Piso Superior-Sala 8 Fone: (16) 3236-0016/8144-1155 Mg/belO HOrizONTe: Célia Maria de Oliveira – 1ª Página Publicidade ltda. Fone/Fax: (31) 3291-6751 Pr/CuriTibA: Maria Marta graco – M2C representações Publicitárias. Fo ne/Fax: (41) 3223-0060 rS/POrTO Alegre: roberto gianoni – rr gianoni Comércio & representações ltda. Fo ne/Fax: (51) 3388-7712 Pe/reCiFe: Abérides Nicéias – Nova representações ltda. Fone/Fax: (81) 3227-3433 bA/SAlVAdOr: ipojucã Cabral – Verbo Comunicação empresarial & Marketing ltda. Fone/Fax: (71) 3347-2032 SC/FlOriANÓPOliS: Paulo Velloso – Comtato Negócios ltda. Fone/Fax: (48) 3224-0044 eS/Vila Velha: didimo benedito – dicape representações e Serviços ltda – Fone/Fax: (27) 3229-1986 Se/ArACAJu: Pedro Amarante – gabinete de Mídia – Fone/Fax: (79) 3246-4139/9978-8962 – internacional Sales: gSF representações de Veículos de Comunicações ltda - Fone: 55 11 9163.3062 - e-mail: [email protected]

PuBlicidade

rePórtereS fotogrÁficoS: João Castellano, Masao goto Filho, Pedro dias e rafael Hupselfotografia agência iStoé

aPoio adminiStrativo

colaBoradoreS

gerente: Maria Amélia Scarcello SecretÁria: Terezinha Scarparo aSSiStente: Cláudio Monteiro auxiliar: lucio Fasan

Adalberto leister Filho, beatriz Marques, Flávia ribeiro, José Carlos brunoro, lucas bessel, Marcelo Madureira, Marina rossi, Paola bello, Pedro Marcondes de Moura, ronaldo bressane e Tom Cardoso (Texto); Felipe Varanda, Kiko Ferrite, gabriel rinaldi, Jorge bispo, rodrigo Castro e Sheila Oliveira (fotografia); daniel Vincent (ilustração)

coPy-deSk e reviSão giacomo leone Neto, lourdes Maria A. rivera, Mario garrone Jr., Neuza Oliveira de Paula e regina grossi

2016 é uma publicação trimestral da Três editorial ltda.. redação e Administração: rua William Speers, 1.088, São Paulo/SP, CeP: 05067-900. Fone: (11) 3618-4200 – Fax da redação: (11) 3618-4324. São Paulo/SP. Sucursal no rio de Janeiro: Av. Almirante barroso, 63, sala 1510 Fone: (21) 2107-6650 – Fax (21) 2107-6661. Sucursal em brasília: SCS, quadra 2, bloco d, edifício Oscar Niemeyer, sala 201 a 203. Fones: (61) 3321-1212 – Fax (61) 3225-4062. 2016 não se res pon sabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados. Comerciali zação: Três Comércio de Publicações ltda. rua William Speers, 1.212, São Paulo/SP distribuição exclusiva em bancas para todo o brasil: FC Comercial e distribuidora S.A. rua dr. Kenkiti Shimomoto, 1678, Sala A, Osasco - SP. Fone: (11) 3789-1623 impressão: editora Três ltda. rodovia Anhanguera, km 32,5/CeP 07750-000 – Cajamar/SP e Prol editora gráfica ltda. Av. luigi Papaiz, nº 581/CeP 09931-610, diadema/SP

venda avulSa

coordenadora: Simone F. gadini aSSiStenteS: Ariadne Pereira, Marília Trindade e regiane Valente 3PrO diretor de arte: Victor S. Forjaz redator: Bruno módolo

redatora: Marianne bechara PuBlicidade online: gerente: Michele gonzaga

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editorial

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involuntariamente ou não, declararam ser mulheres e revelaram-se homens ou algo próximo disso. Confira ainda

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Rio de Janeiro, em registros espetacu-lares do fotógrafo Pedro Dias.

Conteúdo extra

O jogador de basquete Larry Taylor é louco por pagode, torce para o Corinthians, prefere feijão com arroz a hambúr- guer e sabe cantar o Hino Nacional direitinho. Ele nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, mas joga no Brasil desde 2008. Em abril, depois de um longo processo de naturalização, se tornou oficialmente brasileiro. Taylor é um armador ágil, tem ótimo arremesso e velocidade suficiente para deixar a maioria dos adversários para trás. Graças a essas credenciais, ele deve ser convocado pelo técnico Rubén Magnano para disputar a Olimpíada de Londres. Magnano que, a propósito, é argentino.

A presença de estrangeiros na seleção de basquete alimentou nas últimas semanas uma corrente nacionalista. Antigos ídolos do esporte disseram que se trata de um desrespeito com atletas daqui. Não considero esse um argumento válido. Mais do que a defesa do esporte brasileiro, a reclamação soa como patriotis-mo de araque, sustentado por preconceitos. Potências olímpicas como Estados Unidos, Alemanha e Austrália faturaram pilhas de medalhas com competidores naturalizados. O Brasil também deve algumas de suas conquistas a estrangeiros – inclusive o basquete. O argentino Sucar integrou a seleção que foi bronze nos Jogos de Roma, em 1960. Na Olimpíada de 1964, em Tóquio, o polonês Victor Mirshauswka vestiu a camisa brasi-leira e, ao lado de Sucar, comemorou o terceiro lugar.

Esta edição da 2016 traz na capa, pela primeira vez, um personagem que não é atleta. O ineditismo coube a Magnano. Ao ler a reportagem, é possível entender por que a competência desse argentino de Córdoba foi fundamental para que a seleção masculina voltasse a uma Olimpíada depois de 16 anos. Que venham mais estrangeiros como Magnano.

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diretor editorial-adjunto luiz FerNANdO Sá

diretor de redação AMAuri SegAllA

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gerente induStrial: Fernando rodrigues coordenador grÁfico: ivanete gomesServiçoS grÁficoS

diretor: gregorio França gerente geral: Thomy Perroni aSSiStenteS: luiz Massa, André barbosa e Fábio rodrigo oPeraçõeS laPa:

Paulo Paulino e Paulo Sérgio duarte coordenador: Jorge burgati analiSta: Cleiton gonçalves aSSiStente Sênior: Thiago Macedo aSSiStenteS: Aline lima e bruna Pinheiroauxiliar: Caio Carvalho atendimento ao leitor e vendaS Pela internet: dayane Aguiar

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diretor: rui Miguel gerenteS: debora Huzian e Wanderley Klinger redator: Thiago zanetin diretor de arte: Charly Silva aSSiStente de marketing: Marciana Martins e Marina Caroline Arraes

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diretor: edgardo A. zabala diretor de vendaS PeSSoaiS: Wanderlei quirino SuPerviSora de vendaS: rosana Paal diretor de telemarketing: Anderson lima gerente de atendimento ao aSSinante: elaine basílio gerente de trade marketing: Jake Neto gerente de Planejamento e oPeraçõeS: reginaldo Marques gerente de oPeraçõeS e aSSinaturaS: Carlos eduardo Panhoni gerente de telemarketing: renata Andrea gerente de call center: Ana Cristina Teen gerente de ProjetoS eSPeciaiS: Patricia Santana central de atendimento ao aSSinante: (11) 3618-4566. de 2ª a 6ª feira daS 9h àS 20h30 outraS caPitaiS:

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diretor nacional: José bello Souza Francisco diretor de PuBlicidade: Maurício Arbex SecretÁria da diretoria de PuBlicidade: regina Oliveira gerenteS executivoS: eduardo Nogueira, érika Fonseca, Fabiana Fernandes, Katia bertoli e luiz Sergio Siqueira executivoS de PuBlicidade: Priscila brisquiliari e rita Cintra aSSiStenteS de PuBlicidade: Valéria esbano coordenadora adm. de PuBlicidade: Maria da Silva aSSiStente adm. de PuBlicidade: daniela Sousa gerente de coordenação: Alda Maria reis coordenadoreS: gil berto di Santo Filho e rose dias contato: [email protected] riO de JANeirO/rJ: diretor de PuBlicidade: expedito grossi. gerenteS executivaS: Adriana bouchardet, Arminda barone e Silvia Maria Costa. coordenadora de PuBlicidade: dilse dumar. Fones: (21) 2107-6667. Fax: (21) 2107-6669 brASÍliA/dF: gerente: Marcelo Strufaldi. Fone: (61) 3223-1205/3223-1207. Fax: (61) 3223-7732. SP/Campinas: Mário estellita - lugino Assessoria de Mkt e Publicidade ltda. Fone/Fax: (19) 3579-6800 SP/ribeirão Preto: Andréa gebin–Parlare Comunicação integrada Av independência, 3201 -Piso Superior-Sala 8 Fone: (16) 3236-0016/8144-1155 Mg/belO HOrizONTe: Célia Maria de Oliveira – 1ª Página Publicidade ltda. Fone/Fax: (31) 3291-6751 Pr/CuriTibA: Maria Marta graco – M2C representações Publicitárias. Fo ne/Fax: (41) 3223-0060 rS/POrTO Alegre: roberto gianoni – rr gianoni Comércio & representações ltda. Fo ne/Fax: (51) 3388-7712 Pe/reCiFe: Abérides Nicéias – Nova representações ltda. Fone/Fax: (81) 3227-3433 bA/SAlVAdOr: ipojucã Cabral – Verbo Comunicação empresarial & Marketing ltda. Fone/Fax: (71) 3347-2032 SC/FlOriANÓPOliS: Paulo Velloso – Comtato Negócios ltda. Fone/Fax: (48) 3224-0044 eS/Vila Velha: didimo benedito – dicape representações e Serviços ltda – Fone/Fax: (27) 3229-1986 Se/ArACAJu: Pedro Amarante – gabinete de Mídia – Fone/Fax: (79) 3246-4139/9978-8962 – internacional Sales: gSF representações de Veículos de Comunicações ltda - Fone: 55 11 9163.3062 - e-mail: [email protected]

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Adalberto leister Filho, beatriz Marques, Flávia ribeiro, José Carlos brunoro, lucas bessel, Marcelo Madureira, Marina rossi, Paola bello, Pedro Marcondes de Moura, ronaldo bressane e Tom Cardoso (Texto); Felipe Varanda, Kiko Ferrite, gabriel rinaldi, Jorge bispo, rodrigo Castro e Sheila Oliveira (fotografia); daniel Vincent (ilustração)

coPy-deSk e reviSão giacomo leone Neto, lourdes Maria A. rivera, Mario garrone Jr., Neuza Oliveira de Paula e regina grossi

2016 é uma publicação trimestral da Três editorial ltda.. redação e Administração: rua William Speers, 1.088, São Paulo/SP, CeP: 05067-900. Fone: (11) 3618-4200 – Fax da redação: (11) 3618-4324. São Paulo/SP. Sucursal no rio de Janeiro: Av. Almirante barroso, 63, sala 1510 Fone: (21) 2107-6650 – Fax (21) 2107-6661. Sucursal em brasília: SCS, quadra 2, bloco d, edifício Oscar Niemeyer, sala 201 a 203. Fones: (61) 3321-1212 – Fax (61) 3225-4062. 2016 não se res pon sabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados. Comerciali zação: Três Comércio de Publicações ltda. rua William Speers, 1.212, São Paulo/SP distribuição exclusiva em bancas para todo o brasil: FC Comercial e distribuidora S.A. rua dr. Kenkiti Shimomoto, 1678, Sala A, Osasco - SP. Fone: (11) 3789-1623 impressão: editora Três ltda. rodovia Anhanguera, km 32,5/CeP 07750-000 – Cajamar/SP e Prol editora gráfica ltda. Av. luigi Papaiz, nº 581/CeP 09931-610, diadema/SP

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Page 4: Revista 2016 / Maio

José Carlos BrunoroEspécie de Barão de Mauá da indústria do esporte, Brunoro é um dos maiores executivos especialistas em transformar suor em cifrões. Pudera. Ele convive com esportistas e cartolas há mais de 40 anos, com passagens de sucesso pelas quadras de vôlei como jogador, técnico de seleções regionais e brasileira, dirigente e como diretor de patrocínio durante a era Palmeiras/Parmalat no futebol. Atualmente, é presidente do conselho da BSB, consultor técnico da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e diretor de projeto do Audax São Paulo Esporte Clube, na capital paulista, e do Audax Rio de Janeiro Esporte Clube, clubes-empresa do Grupo Pão de Açúcar. Toda essa experiência resultou na autoridade com a qual ele escreve nesta edição sobre a importância do marketing para o fortalecimento do esporte.

MarCelo Madureira Primeiro veio a ideia: contar a história do Maracanã a partir de uma árvore que a tudo viu desde 1950. Depois, correr atrás do homem perfeito para executar a tarefa. O Casseta Marcelo adorou a proposta e se travestiu de oiti já durante os telefonemas para acertar a sintonia do texto. Nada muito complicado para esse curitibano que vem fazendo o Brasil rir há décadas, quer seja com seu grupo, quer seja com a coluna do Agamenon, publicada no jornal “O Globo”. Leia o texto desta edição e, caso não ache graça, saiba que o homem é faixa preta de judô.

ColaBoradores

sheila oliveira Formada em biblioteconomia e documentação pela Fesp, desde 1995 ela vem se especializando na arte de produzir imagens que encantam os olhos ao mesmo tempo que abrem as comportas das glândulas salivares. Suas fotos de alimentos misturam precisão, controle absoluto da luz e uma poesia vinda da pintura, característica que ela absorveu de sua frequente presença no mundo das artes plásticas. Nesta edição, Sheila deixa ainda mais apetitosos os pratos que os chefs prepararam para atletas que lutam por medalhas ou por medalhões de filé.

luCas Bessel O processo de conclusão da 2016 sempre envolve momentos emocionantes e de estresse. Um instante de calma surge quando o nosso "alemão" de mais de 2,05 m aparece para ajudar. Ele espalha seu talento, poder de concentração, dedica-ção e humor por vários cantos da revista. Além da maioria de nossas seções, nesta edição ele cuidou do perfil de Yane Marques. Formado pela Faculdade Cásper Líbero de Jornalismo, ele gosta de contar histórias de gente pouco conhecida, daquelas que não têm porta-vozes na imprensa tradicional.

GaBriel rinaldi Para fotografar Hortência, a maior jogadora de basquete nascida do lado de cá do Equador, nada melhor do que convocar um recordista. Ao longo de sua carreira, esse catarinense de Florianópolis já coleciona mais de 30 prêmios internacionais. Parte do seu arsenal estilístico foi desenvolvida no Instituto Rochester, Estados Unidos, onde estudou fotografia publicitária. Adora ter mitos do esporte diante das câmeras, até porque também é um atleta. Bate um vôlei de praia sempre que pode e para queimar as calorias decorrentes dos petits gâteaux de que tanto gosta.

ronaldo BressanePaulistano safra 1970, só tinha ido ao Maracanã para um Fla-Flu e para ver seu Corinthians sagrar-se campeão mundial. Voltou ao Maior do Mundo para conhecer os “atletas” responsáveis por levantar de novo o estádio. Ao lado do esperto lambe-lambe Pedro Dias, esteve também de capacete se enfiando na Transcarioca, maior obra da Cidade Maravilhosa desde a Rio-Niterói, e concluiu: ser esportista dá bem menos trabalho do que esses atletas do concreto armado. Escritor e jornalista, Bressane publicou seis livros, foi editor de algumas das melhores revistas do País, codirigiu o documentário Só quem é sabe o que é, sobre a saga do Corinthians na série B, e hoje colabora com quem está disposto a pagar por jornalismo de qualidade.

Beatriz MarquesLidar com comida é com ela. Editora da revista Menu, a Bia é jornalista especializada e pós-graduanda em história e cultura da gastronomia. Circula pelo meio há 12 anos e ajudou a fundar o Basilico (www.basilico.com.br), onde passou sete anos. Distribuiu seus conhecimentos pelos principais jornais, revistas e guias do País. Leva a vida seguindo o lema: “Toda comida vale a pena, se a mordida não for pequena.” Tudo somado, nada mais natural – nutritivo e saboroso – que ela fosse convocada pela 2016 para reunir chefs e preparar três pratos sob medida para atletas.

Page 5: Revista 2016 / Maio

20 Aquecimento Aos 80 anos, o escritor e jornalista Zuenir Ventura fala sobre a moldagem do Rio de Janeiro para a Olimpíada de 2016 e revela: “Devo meus livros ao calçadão de Ipanema”

26 um Argentino entre nósAcompanhamos o dia a dia de Rubén Magnano, o treinador que tem o desafio de devolver à seleção brasileira de basquete seus tempos de glórias e conquistas

36 entrevistA: HortênciA Sabatinada pelos jornalistas da 2016, a Rainha do Basquete não deixou nenhuma pergunta sem resposta. “O pai dela me xingava”, diz sobre a rivalidade com Magic Paula

42 Poli e vAlente Yane Marques, a melhor esportista desconhecida do Brasil, saiu da caatinga e entrou para a elite do pentatlo moderno. Em Londres, lutará por medalha e reconhecimento

48 ele ou elA? Às vezes, nem mesmo os médicos são capazes de cravar se um atleta é homem ou mulher. Conheça esportistas que, conscientemente ou não, se esconderam na sombra do gênero

54 APosentAdoriA feliz Atletas consagrados abrem seus próprios negócios e faturam alto. Com planejamento e execução, eles mostram que é possível ter sucesso depois da fama

60 À lA cArte Três chefs esportistas montam pratos deliciosos com os nutrientes fundamentais para três tipos diferentes de atletas. Para ler, aprender e preparar em casa, sem culpa

66 sob os cAPAcetes Conheça os trabalhadores que põem a mão na massa para erguer a estrutura da Olimpíada no Rio de Janeiro. Nesta competição, o adversário é implacável e impiedoso: o tempo

72 Artigo: José cArlos brunoro Profundo conhecedor dos bastidores do esporte, o empresário fala sobre o uso do marketing como ferramenta para a evolução do Brasil nas competições

74 PlAnetA urgente Testemunha das mudanças no Maracanã nos últimos 62 anos, uma árvore revela ao Casseta Marcelo Madureira como foge do tédio e dribla o cheiro de urina que vem da arena

78 nA defesA Superintendente-executivo do COB, Marcus Vinícius Freire diz que o País será uma potência em 2016 e não vê problema em Carlos Arthur Nuzman se eternizar no poder

80 A cAnoA vAi virAr? Esporte tradicional, com um século e meio de história no Brasil, o remo não consegue captar investimentos ou erguer sua própria estrutura. Mas isso pode mudar

86 rAio X O sistema de pontuação da ginástica artística é tão complicado quanto parece. Ainda assim, nós explicamos tudo em detalhes para que você possa se exibir durante a Olimpíada

88 blindAgem Verdadeiras armaduras protegem atletas profissionais e de fim de semana contra choques, contusões, torções, puxões e patadas de todo tipo. Escolha a sua

90 som e suor Shows de astros pop são uma regra nas cerimônias olímpicas nos últimos 20 anos. Relembre como Freddie Mercury, B.B. King e Jimmy Page fizeram história

92 PAinel Saiba quem são os atletas brasileiros que já conquistaram a vaga na Olimpíada de Londres 2012 e como andam aquelas modalidades que você só encontra aqui

98 PáginA dourAdA Conheça o ginasta japonês que, mesmo com a perna quebrada e o joelho deslocado, foi decisivo para que sua equipe derrotasse os imbatíveis soviéticos nos Jogos de 1976

Foto: João Castellano

Page 6: Revista 2016 / Maio

EnvErga, mas não quEbra

Foto: REUTERS/Lisi Niesner

CliqueOlímpicO imagens surpreendentes dO espOrte

Flexível por fora, a ginasta austríaca Caroline Weber é dura como uma rocha quando o assunto é a falta de apreço que os seus compatriotas

demonstram pela ginástica rítmica. “Talvez muito mais gente daria importância caso os homens também praticassem a minha

especialidade”, diz a moça de 26 anos, despreocupada com o fato de ser esteticamente desconfortável a imagem de um homem fazendo

ginástica com fita. Apesar do não reconhecimento na Áustria, Caroline não desanima. Treina seis horas, cinco dias por semana, e é presença

certa em Londres. Ali ela espera melhorar a sua performance em relação a Pequim-2008, onde a sua melhor colocação foi

um 16º lugar. E tome alongamento.

16

maio 2012 | istoé 2016

Page 7: Revista 2016 / Maio

EnvErga, mas não quEbra

Foto: REUTERS/Lisi Niesner

CliqueOlímpicO imagens surpreendentes dO espOrte

Flexível por fora, a ginasta austríaca Caroline Weber é dura como uma rocha quando o assunto é a falta de apreço que os seus compatriotas

demonstram pela ginástica rítmica. “Talvez muito mais gente daria importância caso os homens também praticassem a minha

especialidade”, diz a moça de 26 anos, despreocupada com o fato de ser esteticamente desconfortável a imagem de um homem fazendo

ginástica com fita. Apesar do não reconhecimento na Áustria, Caroline não desanima. Treina seis horas, cinco dias por semana, e é presença

certa em Londres. Ali ela espera melhorar a sua performance em relação a Pequim-2008, onde a sua melhor colocação foi

um 16º lugar. E tome alongamento.

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Page 8: Revista 2016 / Maio

PElos arEs

CliqueOlímpicO

Foto: Xinhua/Wu Jingdan

Para lembrar que faltavam apenas 100 dias para o início dos Jogos de Londres, em abril o Comitê

Olímpico dos Estados Unidos mandou seus atletas para a Times Square, em Nova York.

Os transeuntes deram um tempo nas compras para apreciar as peripécias de atletas como a ginasta Alaina Williams, especialista em trampolim que

ainda disputa uma vaga no time americano de ginástica em Londres. E não mede sacrifícios. Tanto

que, apesar de estar apaixonada por Steven Legendre – também atleta e ginasta disputando

uma vaga na Olimpíada –, adiou o casamento para depois dos Jogos. Preferencialmente, com meda-

lhas que combinem com as alianças.

Page 9: Revista 2016 / Maio

PElos arEs

CliqueOlímpicO

Foto: Xinhua/Wu Jingdan

Para lembrar que faltavam apenas 100 dias para o início dos Jogos de Londres, em abril o Comitê

Olímpico dos Estados Unidos mandou seus atletas para a Times Square, em Nova York.

Os transeuntes deram um tempo nas compras para apreciar as peripécias de atletas como a ginasta Alaina Williams, especialista em trampolim que

ainda disputa uma vaga no time americano de ginástica em Londres. E não mede sacrifícios. Tanto

que, apesar de estar apaixonada por Steven Legendre – também atleta e ginasta disputando

uma vaga na Olimpíada –, adiou o casamento para depois dos Jogos. Preferencialmente, com meda-

lhas que combinem com as alianças.

Page 10: Revista 2016 / Maio

ZUENIR VENTURA

Muita gente diz que o Rio era melhor nos anos 50 e 60 do que é hoje. Você, que também viveu intensamente esse período, concorda?Existe uma visão idealizada dos “anos dourados” do Rio, uma tendência nostál-gica de achar que tudo era melhor antes do que agora. É claro que a cidade passou, a partir dos anos 80, por um processo de degradação muito intenso, o que alimentou ainda mais essa nostalgia. Mas, mesmo nas fases mais difíceis, eu nunca olhei para trás. Eu prefiro aquela frase do Paulinho da Viola: “Meu Tempo é Hoje.” O Paulinho da Viola também é o autor de outra célebre frase sobre o assunto: “Eu não vivo o passado, o passado vive em mim.”Não sei se chego a tanto: talvez não exista nada do passado vivendo em mim. Minhas crônicas e livros são sempre sobre o presente.

Em 1994, Cidade partida retratava o Rio dominado pelo tráfico de drogas. Hoje, com as UPPs instaladas nos morros mais violentos e a queda dos índices de criminalidade, qual seria o títulode um livro-reportagem que retratasse a atual fase do Rio?Eu pensei em começar a escrever um livro que fosse uma espécie de continuação do Cidade partida. Que contasse um pouco esse processo de retomada do Rio. Algo como Cidade unida. Mas acho que ainda é cedo. O carioca tem uma tendência ao oba-oba, à apoteose. É claro que as UPPs são positivas – pela primeira vez na história não estão enxugando gelo. Mas ainda é preciso ver qual será o resultado daqui para a frente. Eu me lembro do então prefeito Cesar Maia sendo indagado pela imprensa sobre o crescimento das milícias no Rio. Ele não deu a mínima atenção a elas. Considerava um “mal menor.” E deu no que deu. A bandidagem está sempre à frente. Vamos ver se, desta vez, conseguimos resultados concretos. Você comemorou o Rio como sede da Olimpíada de 2016?Evidentemente que sim. Mas não podemos repetir os erros do Pan-Americano de 2007. Basta ver os elefantes brancos espalhados por aí, obras que custaram bilhões e não estão sendo aproveitadas pela população. A questão aí é simples: a Olimpíada precisa deixar um legado para a cidade, como aconteceu com Barcelona, em 1992. As lutas de MMA viraram febre no Rio e em outras grandes cidades brasi- leiras. Você escreveu uma crônica fazendo duras críticas ao esporte. Por quê?Sim, mantenho as críticas. Vivemos numa sociedade violenta, com índices de criminali-dade que ultrapassam os de países em guerra civil. Ao mesmo tempo, o esporte que ganha

mais espaço entre os jovens é justamente o que prega a violência a todo custo. Eu li outro dia um especialista em MMA dizendo que a Fórmula 1 mata muito mais do que as lutas livres. É um argumento pobre. Eu nunca fui muito fã de automobilismo – mas ali o objetivo é a velocidade. Já o MMA tem a violência como meta. Na internet há um site com uma galeria de fotos tiradas de lutadores após as lutas. Todos estão com o rosto desfigurado. No boxe não existe esse grau de violência. Se é permitido dar socos e pontapés num adversário indefeso, como condenar o mesmo tipo de agressão numa briga de trânsito? A TV Globo já comprou os direitos de transmissão do UFC, o que tende a popularizar ainda mais o MMAPois é. Eu soube que o Galvão Bueno narrou uma luta como se estivesse narrando uma final de Copa do Mundo. Ele ficava berrando: “Esses são os gladiadores do novo milênio!” Era só o que faltava no Brasil: o ufanismo do Galvão usado a serviço da violência. Sinto saudades dos tempos em que ele gritava: “Ayrton Senna do Brasil.” Hoje ele torce para um lutador desfigurar o rosto de seu oponente. Você é também autor de outro livro, 1968: o ano que não terminou, que narra a luta da juventude contra o regime militar. Re-centemente, a presidenta Dilma sancionou uma lei que cria a Comissão da Verdade, que vai investigar arbítrios cometidos pela ditadura. Muita gente acha que abrir feridas do passado atrapalha mais do que ajuda. Qual a sua opinião?É um tema delicado. A verdade é que não é possível soterrar completamente o passado. Ele volta, não tem jeito. Não devemos levar ao pé da letra a Lei da Anistia, que concedeu, para os dois lados, perdão pelos crimes políticos cometidos durante o regime militar.

O ideal seria prender os torturadores, que cometeram barbaridades nos interrogatórios. Mas não sei se é o momento de se olhar com ódio para o passado, de retaliação. Falando em anos 60, é verdade que foi você quem lançou a moda de usar macacão da Shell?Como você soube disso? Quem te contou? O Joaquim Ferreira dos Santos (cro- nista de O Globo) escreveu uma coluna sobre os seus 80 anos e citou, rapidamente, essa história.É verdade (risos). Fui o responsável. Mas nem sabia que ia virar moda entre os hippies da época. Toda vez que eu passava pelo posto de gasolina da Shell eu ficava fascinado com aquele macacão usado pelos frentistas. Era todo branco, lindo. Tinha um bolso enorme, superprático, e era ótimo para usar no verão carioca. Um dia resolvi comprar um de um frentista. Passei a circular com ele, sem o logotipo da Shell. Quando me pergun-tavam onde eu tinha comprado, eu colocava banca: “Em Paris.” Mas acabaram descobrin-do a verdadeira fonte, e quando percebi todos os descolados de Ipanema estavam usando. Outro dia você declarou, em meio a tantas homenagens, que se soubesse que “era tão bom fazer 80 anos teria feito antes”.Foi muito bom fazer 80 anos. Não sinto o peso da velhice. Quando eu era jovem, olhava para o meu pai de 50 anos e o achava um ancião. Hoje, o velho é aquele que não consegue preservar sua integridade física. Eu tive um câncer, já superado. Estou novo em folha. Aliás, devo a minha atual boa forma aos meus passeios matinais. Também não seria o cronista que sou sem minhas caminhadas. Posso dizer que também devo minhas crônicas e meus livros ao calçadão de Ipanema.

Profundo conhecedor da alma carioca, o jornalista e escritor Zuenir Ventura falou com o repórter

Tom Cardoso sobre as transformações no Rio provocadas pela Olimpíada. Aos 80 anos, o cronista também relembra

o passado com bom humor, mas descarta qualquer tipo de saudosismo

“Devo meus livros ao

calçaDão De ipanema”

Foto: Leonardo Aversa / Agência O Globo

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ZUENIR VENTURA

Muita gente diz que o Rio era melhor nos anos 50 e 60 do que é hoje. Você, que também viveu intensamente esse período, concorda?Existe uma visão idealizada dos “anos dourados” do Rio, uma tendência nostál-gica de achar que tudo era melhor antes do que agora. É claro que a cidade passou, a partir dos anos 80, por um processo de degradação muito intenso, o que alimentou ainda mais essa nostalgia. Mas, mesmo nas fases mais difíceis, eu nunca olhei para trás. Eu prefiro aquela frase do Paulinho da Viola: “Meu Tempo é Hoje.” O Paulinho da Viola também é o autor de outra célebre frase sobre o assunto: “Eu não vivo o passado, o passado vive em mim.”Não sei se chego a tanto: talvez não exista nada do passado vivendo em mim. Minhas crônicas e livros são sempre sobre o presente.

Em 1994, Cidade partida retratava o Rio dominado pelo tráfico de drogas. Hoje, com as UPPs instaladas nos morros mais violentos e a queda dos índices de criminalidade, qual seria o títulode um livro-reportagem que retratasse a atual fase do Rio?Eu pensei em começar a escrever um livro que fosse uma espécie de continuação do Cidade partida. Que contasse um pouco esse processo de retomada do Rio. Algo como Cidade unida. Mas acho que ainda é cedo. O carioca tem uma tendência ao oba-oba, à apoteose. É claro que as UPPs são positivas – pela primeira vez na história não estão enxugando gelo. Mas ainda é preciso ver qual será o resultado daqui para a frente. Eu me lembro do então prefeito Cesar Maia sendo indagado pela imprensa sobre o crescimento das milícias no Rio. Ele não deu a mínima atenção a elas. Considerava um “mal menor.” E deu no que deu. A bandidagem está sempre à frente. Vamos ver se, desta vez, conseguimos resultados concretos. Você comemorou o Rio como sede da Olimpíada de 2016?Evidentemente que sim. Mas não podemos repetir os erros do Pan-Americano de 2007. Basta ver os elefantes brancos espalhados por aí, obras que custaram bilhões e não estão sendo aproveitadas pela população. A questão aí é simples: a Olimpíada precisa deixar um legado para a cidade, como aconteceu com Barcelona, em 1992. As lutas de MMA viraram febre no Rio e em outras grandes cidades brasi- leiras. Você escreveu uma crônica fazendo duras críticas ao esporte. Por quê?Sim, mantenho as críticas. Vivemos numa sociedade violenta, com índices de criminali-dade que ultrapassam os de países em guerra civil. Ao mesmo tempo, o esporte que ganha

mais espaço entre os jovens é justamente o que prega a violência a todo custo. Eu li outro dia um especialista em MMA dizendo que a Fórmula 1 mata muito mais do que as lutas livres. É um argumento pobre. Eu nunca fui muito fã de automobilismo – mas ali o objetivo é a velocidade. Já o MMA tem a violência como meta. Na internet há um site com uma galeria de fotos tiradas de lutadores após as lutas. Todos estão com o rosto desfigurado. No boxe não existe esse grau de violência. Se é permitido dar socos e pontapés num adversário indefeso, como condenar o mesmo tipo de agressão numa briga de trânsito? A TV Globo já comprou os direitos de transmissão do UFC, o que tende a popularizar ainda mais o MMAPois é. Eu soube que o Galvão Bueno narrou uma luta como se estivesse narrando uma final de Copa do Mundo. Ele ficava berrando: “Esses são os gladiadores do novo milênio!” Era só o que faltava no Brasil: o ufanismo do Galvão usado a serviço da violência. Sinto saudades dos tempos em que ele gritava: “Ayrton Senna do Brasil.” Hoje ele torce para um lutador desfigurar o rosto de seu oponente. Você é também autor de outro livro, 1968: o ano que não terminou, que narra a luta da juventude contra o regime militar. Re-centemente, a presidenta Dilma sancionou uma lei que cria a Comissão da Verdade, que vai investigar arbítrios cometidos pela ditadura. Muita gente acha que abrir feridas do passado atrapalha mais do que ajuda. Qual a sua opinião?É um tema delicado. A verdade é que não é possível soterrar completamente o passado. Ele volta, não tem jeito. Não devemos levar ao pé da letra a Lei da Anistia, que concedeu, para os dois lados, perdão pelos crimes políticos cometidos durante o regime militar.

O ideal seria prender os torturadores, que cometeram barbaridades nos interrogatórios. Mas não sei se é o momento de se olhar com ódio para o passado, de retaliação. Falando em anos 60, é verdade que foi você quem lançou a moda de usar macacão da Shell?Como você soube disso? Quem te contou? O Joaquim Ferreira dos Santos (cro- nista de O Globo) escreveu uma coluna sobre os seus 80 anos e citou, rapidamente, essa história.É verdade (risos). Fui o responsável. Mas nem sabia que ia virar moda entre os hippies da época. Toda vez que eu passava pelo posto de gasolina da Shell eu ficava fascinado com aquele macacão usado pelos frentistas. Era todo branco, lindo. Tinha um bolso enorme, superprático, e era ótimo para usar no verão carioca. Um dia resolvi comprar um de um frentista. Passei a circular com ele, sem o logotipo da Shell. Quando me pergun-tavam onde eu tinha comprado, eu colocava banca: “Em Paris.” Mas acabaram descobrin-do a verdadeira fonte, e quando percebi todos os descolados de Ipanema estavam usando. Outro dia você declarou, em meio a tantas homenagens, que se soubesse que “era tão bom fazer 80 anos teria feito antes”.Foi muito bom fazer 80 anos. Não sinto o peso da velhice. Quando eu era jovem, olhava para o meu pai de 50 anos e o achava um ancião. Hoje, o velho é aquele que não consegue preservar sua integridade física. Eu tive um câncer, já superado. Estou novo em folha. Aliás, devo a minha atual boa forma aos meus passeios matinais. Também não seria o cronista que sou sem minhas caminhadas. Posso dizer que também devo minhas crônicas e meus livros ao calçadão de Ipanema.

Profundo conhecedor da alma carioca, o jornalista e escritor Zuenir Ventura falou com o repórter

Tom Cardoso sobre as transformações no Rio provocadas pela Olimpíada. Aos 80 anos, o cronista também relembra

o passado com bom humor, mas descarta qualquer tipo de saudosismo

“Devo meus livros ao

calçaDão De ipanema”

Foto: Leonardo Aversa / Agência O Globo

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Page 12: Revista 2016 / Maio

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esporte De contatoDesconhecido no País, o rúgbi é campeão em patrocí-nios graças a uma poderosa rede de apoiadores

Topper, Bradesco, Heineken, JAC Motors e Deloitte são apenas alguns dos nomes importantes que patrocinam o rúgbi brasileiro. O esporte, ainda desconhecido da maioria das pessoas, é a exceção da regra que dita que modalidades pouco populares sempre têm pouco apoio. O que explica essa mudança? Em uma palavra: contato. “Todos os envolvidos com o rúgbi brasileiro são executivos bem-sucedidos em várias esferas, além de advogados e gente ligada a fundos de investimen-tos”, diz Carlos Eduardo Davol, responsável pelo ma-rketing da Confederação Brasileira de Rúgbi. “A rede de contatos que essas pessoas trouxeram foi impor-tantíssima.” Segundo Davol, o conselho da confedera-ção – que tem como presidente Eduardo Mofarrej, da Tarpon Investimentos – abre portas porque consegue chegar “a uma esfera superior” dentro de empresas importantes: “A gente fala com quem realmente deci-de.” Iniciada em 2010, essa abordagem trouxe dividen-dos importantes. Hoje, o rúgbi brasileiro recebe R$ 3,2 milhões por ano em patrocínios privados, número equivalente aos recursos que vêm do Comitê Olímpico Brasileiro, das leis de incentivo e da federa-ção internacional juntos. “Para cada real que entra de dinheiro público ou internacional, nós vamos atrás de outro real de patrocinador para completar o orça-mento”, diz Davol. Com recursos e apoio, as metas não poderiam deixar de ser ousadas. De acordo com o planejamento estratégico da confederação, até 2030 o Brasil deve se tornar uma potência. Pouco provável? A turma do rúgbi diz que não. Confira ao lado os objeti-vos traçados para os próximos anos:

a 4 Décimos Da perfeiçãoUsain Bolt diz que pode correr os 100 metros em 9,4 segundos, marca próxima do limite humano teórico

O jamaicano Usain Bolt não cansa de surpreender o mundo. Em entrevista ao canal britânico BBC, o velocista disse que pretende correr os 100 metros rasos em 9,4 segundos na Olimpí-ada de Londres. O tempo, considerado surreal por muitos, é 0,18 segundo menor do que o atual recorde mundial, de 9,58 segundos, estabelecido por Bolt em Berlim, em 2009. Mais do que isso: a marca ficaria apenas 0,41 segundo acima do limite teórico estimado pelo especialista americano John Brenkus para a prova dos 100 metros rasos, que seria de 8,99 segundos. Em seu livro The perfection point, Brenkus diz que um dos segredos para chegar a esse limite é manter a velocidade ao longo da prova: “Isso não é fácil, já que a maioria dos velocistas perde ritmo a partir do meio da prova.”

sintonia finaBradesco vai lançar emissora de rádio com programação voltada principalmente ao esporte olímpico

O aumento do interesse dos brasileiros por esporte fez disparar nos últimos anos o número de canais de tevê dedicados exclu-sivamente ao assunto. Agora, o fenômeno começa a chegar às rádios. O banco Bradesco vai lançar, nas próximas semanas, uma emissora que fará cobertura de todas as modalidades es-portivas. Em São Paulo, a estação ocupará a frequência 94,1 do dial, que antes pertencia à Oi FM. No Rio de Janeiro, os ouvintes poderão encontrar a programação na frequência 91,1. A Rádio Bradesco Esportes FM – nome oficial do projeto – será tocada pelo grupo Bandeirantes, que já participou de outras empreita-das desse tipo.A instituição bancária, uma das maiores patroci-nadoras do esporte brasileiro, ambiciona capturar a audiência com programas sobre boxe, natação, remo, tênis e outras moda-lidades olímpicas. A grade também incluirá atrações de humor e seleções musicais inseridas na programação.

CONqUIsTAR UmA mEDAlhA OlímPICA Em 2016 • ClAssIfICAR-sE PARA A COPA DO mUNDO DE 2019 • VENCER O CIRCUITO mUNDIAl DE RúgBI sEVEN ATé 2028 • CONqUIsTAR A mEDAlhA DE OURO NA OlImPíADA DE 2028 • ChEgAR AO TOP 5 DO mUNDO ATé 2030 • TER 500 mIl PRATICANTEs DO EsPORTE NO BRAsIl ATé 2030

• TEmPERATURAs ENTRE -5 E 40 gRAUs CElsIUs

• ATé 95% DE UmIDADE DO AR• NEVE INTENsA• VENTOs DE ATé 80 km/h• qUEDAs DE ATé 3 mETROs

CONHEçA A SEGUIR OS NíVEIS DE RESISTêNCIA DA TOCHA:

fogo à prova D’águaTocha olímpica passa em teste que mostra que ela suporta vento, neve, queda – e até chuva

No dia 19 de maio, a tocha olímpica começa seu trajeto por 1.018 localidades britânicas. A meta é que, ao chegar ao estádio da abertura dos Jogos, em Londres, ela tenha passado perto de 95% dos cidadãos britânicos. Para resistir a uma provável maratona de intempéries, o símbolo máximo da Olimpíada precisou provar que não apaga nunca – mesmo debaixo de chuva – e que é difícil de quebrar. “A tocha consegue sobreviver à chuva, desde que não caiam baldes de água do céu”, diz o engenheiro Nigel Williams, que liderou a confecção do objeto.

aquecimento

Fotos: Jonathan Ferrey / Getty | Shuji Kajiyama / AP | Alessandro Garofalo / Reuters | Guillermo Giansanti/Folhapress

os aDversários De marilsonquênia define seus três maratonistas para a Olimpíada e exclui recordista mundial

Abel Kirui, Wilson Kiplagat e Moses Mosop. Não estranhe se as medalhas de ouro, prata e bronze da maratona na Olimpíada de Londres ficarem com esses três atletas. De-pois de muita especulação, o trio foi selecionado pelo Quê-nia – considerado por muitos imbatível nessa prova – para disputar os Jogos. É contra eles que o brasileiro marilson gomes dos santos terá que lutar, caso queira chegar ao pódio. Se serve de consolo para o brasileiro, o recordista da maratona, o também queniano Patrick Makau, ficou de fora. Segundo a confederação de atletismo do país africano, a escolha se baseou nos últimos resultados obtidos pelos atletas em competições internacionais. Kirui foi duas vezes campeão mundial da prova, Kiplagat venceu a Maratona de Londres no fim de abril e Mosop ganhou a Maratona de Chi-cago no ano passado. Entre as mulheres, o Quênia selecio-nou as três mais bem colocadas na Maratona de Londres: Mary Keitany, Edna Kiplagat e Priscah Jeptoo.

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MAIO 2012 | istoé 2016

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esporte De contatoDesconhecido no País, o rúgbi é campeão em patrocí-nios graças a uma poderosa rede de apoiadores

Topper, Bradesco, Heineken, JAC Motors e Deloitte são apenas alguns dos nomes importantes que patrocinam o rúgbi brasileiro. O esporte, ainda desconhecido da maioria das pessoas, é a exceção da regra que dita que modalidades pouco populares sempre têm pouco apoio. O que explica essa mudança? Em uma palavra: contato. “Todos os envolvidos com o rúgbi brasileiro são executivos bem-sucedidos em várias esferas, além de advogados e gente ligada a fundos de investimen-tos”, diz Carlos Eduardo Davol, responsável pelo ma-rketing da Confederação Brasileira de Rúgbi. “A rede de contatos que essas pessoas trouxeram foi impor-tantíssima.” Segundo Davol, o conselho da confedera-ção – que tem como presidente Eduardo Mofarrej, da Tarpon Investimentos – abre portas porque consegue chegar “a uma esfera superior” dentro de empresas importantes: “A gente fala com quem realmente deci-de.” Iniciada em 2010, essa abordagem trouxe dividen-dos importantes. Hoje, o rúgbi brasileiro recebe R$ 3,2 milhões por ano em patrocínios privados, número equivalente aos recursos que vêm do Comitê Olímpico Brasileiro, das leis de incentivo e da federa-ção internacional juntos. “Para cada real que entra de dinheiro público ou internacional, nós vamos atrás de outro real de patrocinador para completar o orça-mento”, diz Davol. Com recursos e apoio, as metas não poderiam deixar de ser ousadas. De acordo com o planejamento estratégico da confederação, até 2030 o Brasil deve se tornar uma potência. Pouco provável? A turma do rúgbi diz que não. Confira ao lado os objeti-vos traçados para os próximos anos:

a 4 Décimos Da perfeiçãoUsain Bolt diz que pode correr os 100 metros em 9,4 segundos, marca próxima do limite humano teórico

O jamaicano Usain Bolt não cansa de surpreender o mundo. Em entrevista ao canal britânico BBC, o velocista disse que pretende correr os 100 metros rasos em 9,4 segundos na Olimpí-ada de Londres. O tempo, considerado surreal por muitos, é 0,18 segundo menor do que o atual recorde mundial, de 9,58 segundos, estabelecido por Bolt em Berlim, em 2009. Mais do que isso: a marca ficaria apenas 0,41 segundo acima do limite teórico estimado pelo especialista americano John Brenkus para a prova dos 100 metros rasos, que seria de 8,99 segundos. Em seu livro The perfection point, Brenkus diz que um dos segredos para chegar a esse limite é manter a velocidade ao longo da prova: “Isso não é fácil, já que a maioria dos velocistas perde ritmo a partir do meio da prova.”

sintonia finaBradesco vai lançar emissora de rádio com programação voltada principalmente ao esporte olímpico

O aumento do interesse dos brasileiros por esporte fez disparar nos últimos anos o número de canais de tevê dedicados exclu-sivamente ao assunto. Agora, o fenômeno começa a chegar às rádios. O banco Bradesco vai lançar, nas próximas semanas, uma emissora que fará cobertura de todas as modalidades es-portivas. Em São Paulo, a estação ocupará a frequência 94,1 do dial, que antes pertencia à Oi FM. No Rio de Janeiro, os ouvintes poderão encontrar a programação na frequência 91,1. A Rádio Bradesco Esportes FM – nome oficial do projeto – será tocada pelo grupo Bandeirantes, que já participou de outras empreita-das desse tipo.A instituição bancária, uma das maiores patroci-nadoras do esporte brasileiro, ambiciona capturar a audiência com programas sobre boxe, natação, remo, tênis e outras moda-lidades olímpicas. A grade também incluirá atrações de humor e seleções musicais inseridas na programação.

CONqUIsTAR UmA mEDAlhA OlímPICA Em 2016 • ClAssIfICAR-sE PARA A COPA DO mUNDO DE 2019 • VENCER O CIRCUITO mUNDIAl DE RúgBI sEVEN ATé 2028 • CONqUIsTAR A mEDAlhA DE OURO NA OlImPíADA DE 2028 • ChEgAR AO TOP 5 DO mUNDO ATé 2030 • TER 500 mIl PRATICANTEs DO EsPORTE NO BRAsIl ATé 2030

• TEmPERATURAs ENTRE -5 E 40 gRAUs CElsIUs

• ATé 95% DE UmIDADE DO AR• NEVE INTENsA• VENTOs DE ATé 80 km/h• qUEDAs DE ATé 3 mETROs

CONHEçA A SEGUIR OS NíVEIS DE RESISTêNCIA DA TOCHA:

fogo à prova D’águaTocha olímpica passa em teste que mostra que ela suporta vento, neve, queda – e até chuva

No dia 19 de maio, a tocha olímpica começa seu trajeto por 1.018 localidades britânicas. A meta é que, ao chegar ao estádio da abertura dos Jogos, em Londres, ela tenha passado perto de 95% dos cidadãos britânicos. Para resistir a uma provável maratona de intempéries, o símbolo máximo da Olimpíada precisou provar que não apaga nunca – mesmo debaixo de chuva – e que é difícil de quebrar. “A tocha consegue sobreviver à chuva, desde que não caiam baldes de água do céu”, diz o engenheiro Nigel Williams, que liderou a confecção do objeto.

aquecimento

Fotos: Jonathan Ferrey / Getty | Shuji Kajiyama / AP | Alessandro Garofalo / Reuters | Guillermo Giansanti/Folhapress

os aDversários De marilsonquênia define seus três maratonistas para a Olimpíada e exclui recordista mundial

Abel Kirui, Wilson Kiplagat e Moses Mosop. Não estranhe se as medalhas de ouro, prata e bronze da maratona na Olimpíada de Londres ficarem com esses três atletas. De-pois de muita especulação, o trio foi selecionado pelo Quê-nia – considerado por muitos imbatível nessa prova – para disputar os Jogos. É contra eles que o brasileiro marilson gomes dos santos terá que lutar, caso queira chegar ao pódio. Se serve de consolo para o brasileiro, o recordista da maratona, o também queniano Patrick Makau, ficou de fora. Segundo a confederação de atletismo do país africano, a escolha se baseou nos últimos resultados obtidos pelos atletas em competições internacionais. Kirui foi duas vezes campeão mundial da prova, Kiplagat venceu a Maratona de Londres no fim de abril e Mosop ganhou a Maratona de Chi-cago no ano passado. Entre as mulheres, o Quênia selecio-nou as três mais bem colocadas na Maratona de Londres: Mary Keitany, Edna Kiplagat e Priscah Jeptoo.

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MAIO 2012 | istoé 2016

Page 14: Revista 2016 / Maio

capa

magnânimoo argentino rubén magnano, técnico da seleção brasileira de basquete, anda de uno mille

por são paulo, dá entrevista de bermuda e chinelo de dedo, gosta de sertanejo universitário

e adora tomar café na padaria – e nosso repórter acompanha tudo isso

Por pedro marcondes de moura

adiós campeão olímpico pela argentina, rubén magnano conduzirá

o basquete brasileiro em londres

Page 15: Revista 2016 / Maio

capa

magnânimoo argentino rubén magnano, técnico da seleção brasileira de basquete, anda de uno mille

por são paulo, dá entrevista de bermuda e chinelo de dedo, gosta de sertanejo universitário

e adora tomar café na padaria – e nosso repórter acompanha tudo isso

Por pedro marcondes de moura

adiós campeão olímpico pela argentina, rubén magnano conduzirá

o basquete brasileiro em londres

Page 16: Revista 2016 / Maio

O argentinO rubén PabLO MagnanO chega 40 MinutOs atrasadO à churrascaria na região dos Jardins, área nobre da capital paulista. De calça jeans e camisa azul abotoada até a última casa antes do colarinho, ele entra no salão atrás de Juarez Araújo, assessor de imprensa da Confederação Brasileira de Basketball (CBB), e à frente da mulher, Patricia. Antes dos cumprimentos protocolares, faz questão de se justificar pela demora: “Estava tudo parado”, diz, como se fosse um legítimo paulistano. Educado, espera todos se sentarem para ocupar seu lugar. O garçom se aproxima e Magnano pede uma água sem gás. Depois, começa a perguntar sobre a reportagem e reclama

para Araújo do conteúdo veiculado em uma entrevista que concedeu a um jornal naquela semana. Enquanto resmunga, movimenta as mãos para cima, ergue as sobrancelhas, morde os lábios e balança a cabeça – tudo em sincronia. Críticas à maneira como parte dos jornalistas brasileiros interpreta o que diz são constantes em seu discurso. Magnano esforça-se para falar um português pausado aprendido durante os dois anos de estadia no País, mas invariavelmente recorre a expressões em espanhol. Ele até chegou a ter um professor particular. No entanto, desistiu antes de completar 20 aulas. “Não tinha tempo para me dedicar.”

Nas inquietas mãos de Magnano,

técnico da seleção brasileira de basquete masculino, há apenas um anel grosso de ouro com suas iniciais. Trata-se de um regalo pela conquista de cinco títulos nacionais argentinos da Asociación Deportiva Atenas de Córdoba, quatro comandados por ele. “Este sim é bonito”, diz, ao mesmo tempo que tira o anel do dedo e o coloca nas mãos do repórter. Curioso é que tanto Magnano como Patricia não usam aliança de casamento. A dele, não sabe onde foi parar. Antes que a informação cause constrangimento, o argentino coloca as mãos no peito, na altura do coração, como se indicasse o lugar onde a união dos dois permanece guardada. O gesto provoca um sorriso cúmplice entre o casal. Em menos de uma hora, o desconfiado Magnano muda de comportamento. Espontaneamente, exibe outros presentes “dados pelos amigos de Patricia” – ou “nossos”, como ela faz questão de ressaltar. Ele tira de dentro da camisa uma corrente com vários pingentes: uma imagem de São Benedito, uma pequena cruz e uma medalhinha com suas iniciais. Depois da conquista olímpica, mimos, homenagens e convites se tornaram uma constante na vida do treinador. Horas antes do almoço, ele havia recebido um telefonema que pedia autorização para darem o seu nome a uma competição de basquete em seu Estado natal: a Província de Córdoba. Já os prêmios ficam guardados em seu escritório na Argentina, que em breve abrigará o troféu de melhor técnico de esportes coletivos do Comitê Olím-pico Brasileiro (COB), entregue em dezembro de 2011. Será vizinho do prêmio da Fundação Konex, o predileto de Rubén por escolher personalidades de diferentes áreas de atuação. Entre os brasileiros, Oscar Niemeyer e Gustavo Kuerten já foram agraciados.

Somado ao burburinho das mesas ao lado, o anúncio da chegada das carnes – picanha, carneiro e, claro, diversos cortes argentinos – torna difícil com-preender a história do casal Magnano. Eles estão juntos há 35 anos, dos quais seis de namoro. “Ela foi a uma partida

e acabou prestando mais atenção no jogador”, diz o técnico, com um sorriso que denuncia a farsa da história. Na rea-lidade, o técnico teve muito mais traba-lho para conquistar a moça de 17 anos, mais preocupada em se divertir com as amigas em uma danceteria. Precisou até recorrer a um inexistente talento. “Danço mal, mas sou corajoso”, afirma Magnano. “Antes, ela via um jogo ao meu lado e nem ligava. Agora, pergunta o motivo de eu não tirar aquele ali, colocar o outro lá.” Entre uma garfada e outra, eles explicam a dinâmica familiar. Os dois filhos moram na casa da família na Argentina. Sofia é dentista e tem 25 anos. Francisco, 23, cursa administração de empresas e joga basquete em uma liga regional. A cada dois meses, a mãe regressa ao país vizinho para visitá-los. Afetuosos, Patricia e Magnano falam todos os dias com os rebentos, seja por mensagens de texto, seja por telefone-mas. “Você precisa ver a foto que a Sofia

tirou na neve, entra no Facebook dela”, sugere o treinador.

O técnico chama o garçom para perguntar se a carne é brasileira. Sim, os bois são criados em uma fazenda do proprietário do estabelecimento no Rio Grande do Sul. “Eu não entendo disso”, diz. “A Patricia é que conhece, é filha de fazendeiros.” Em São Paulo, Mag-nano e a mulher compartilham uma vida social pouco ativa. Fora do esporte, possuem um pequeno grupo de amigos argentinos, mais especificamente de Córdoba. Os compromissos profissio-nais, porém, inviabilizam encontros rotineiros. Vez ou outra, descobrem um novo restaurante. “Vivemos no calen-

dário do basquete”, relata Patricia. “O Rubén tem de viajar, acompanhar os jo-gos. Fica difícil marcar algo.” O almoço terminou e ninguém quer sobremesa, apenas cafés. Enquanto o garçom não chega, Magnano fala de sua origem. Nascido em 9 de outubro de 1954 na cidade de Villa Maria, Província de Cór-doba, mudou-se com poucos meses para a capital homônima do Estado argenti-no. Seu pai exerceu várias atividades, como vendedor de doces e taxista, para manter um padrão de vida de classe média. O treinador gosta de dizer que carrega o basquete no DNA. Tanto o pai como a mãe chegaram a competir. “Era amador, naquela época se pagava para jogar, não existia profissionalismo”, diz Magnano.

Entre as recordações da infância e da adolescência está o carro do pai lotado levando a garotada para treinos e compe-tições. “Amanhã (dia 31 de março), ele comemora 84 anos”, conta o treinador,

impossibilitado de ir em razão de uma extensa agenda no Brasil. “Vou a Córdo-ba só no fim de abril para o aniversário de minha mãe.” Os encontros da família Magnano costumam ser animados. “O Rubén adora contar piadas, está sem-pre no meio da roda animando”, diz a mulher, que é interrompida por um “Pa-tricia” esbravejado por Magnano. Simul-taneamente, ele contrai o rosto e conduz a mão direita para a frente, primeiro em direção a ela, depois ao repórter, como se estivesse apresentando um ao outro. O gesto voltaria a se repetir.

Patricia Raquel Re tem 52 anos es-condidos em um corpo esguio, cabelos loiros com uma franja na testa, camiseta

com transparências e jeans rasgados. À primeira vista, parece uma sombra do marido campeão olímpico, condiciona-da a falar pouco para deixá-lo ocupar a posição de protagonista. Basta um pouco de conversa para afastar essa impressão. Patricia é uma mulher interessante, que abdicou da carreira bem-sucedida de contadora para, mais do que acompa-nhar, compartilhar e encorajar a carreira internacional de Magnano. “Faço agora a contabilidade doméstica”, brinca. Na maioria dos jogos em São Paulo, ela está presente ao lado do técnico da seleção e não se furta a comentar o desenrolar das partidas. Os dois se despedem do repórter e entram no carro junto com Araújo. Antes, Magnano solta algo como “acho que vou dar uma passada lá no Paulistano”. Em vez de, digamos, pas-sear por São Paulo, ele prefere visitar os clubes de basquete. O técnico da seleção brasileira respira o esporte. Vai dormir normalmente por volta da uma e meia da

madrugada, depois de conferir as médias de jogadores na internet e ver alguma partida que deixou gravando em casa. Ao assistir aos videoteipes, ele faz um cipoal de anotações. Tem uma pilha delas.

Às 17h40 da quinta-feira 5 de abril, Araújo sai de um Fiat Uno Mille ver-melho com duas portas, emprestado pela mulher para contornar o rodízio de seu carro. Faz hora dentro do veículo a poucos metros do flat onde Magnano mora, no bairro do Paraíso. O assessor de imprensa da CBB tem 56 anos de vida e 35 de jornalismo e trabalhou por décadas como setorista de basquete na Gazeta Esportiva. Conheceu Magnano durante a cobertura de uma excursão

capa

antes de ser técnico, magnano foi um jogador ruim,

taxista desastrado, salva-vidas e monitor infantil WorKaholic treinador argentino

percorreu 20 estados e viu jogos de amadores e profissionais para conhecer o basquete do brasil

Page 17: Revista 2016 / Maio

O argentinO rubén PabLO MagnanO chega 40 MinutOs atrasadO à churrascaria na região dos Jardins, área nobre da capital paulista. De calça jeans e camisa azul abotoada até a última casa antes do colarinho, ele entra no salão atrás de Juarez Araújo, assessor de imprensa da Confederação Brasileira de Basketball (CBB), e à frente da mulher, Patricia. Antes dos cumprimentos protocolares, faz questão de se justificar pela demora: “Estava tudo parado”, diz, como se fosse um legítimo paulistano. Educado, espera todos se sentarem para ocupar seu lugar. O garçom se aproxima e Magnano pede uma água sem gás. Depois, começa a perguntar sobre a reportagem e reclama

para Araújo do conteúdo veiculado em uma entrevista que concedeu a um jornal naquela semana. Enquanto resmunga, movimenta as mãos para cima, ergue as sobrancelhas, morde os lábios e balança a cabeça – tudo em sincronia. Críticas à maneira como parte dos jornalistas brasileiros interpreta o que diz são constantes em seu discurso. Magnano esforça-se para falar um português pausado aprendido durante os dois anos de estadia no País, mas invariavelmente recorre a expressões em espanhol. Ele até chegou a ter um professor particular. No entanto, desistiu antes de completar 20 aulas. “Não tinha tempo para me dedicar.”

Nas inquietas mãos de Magnano,

técnico da seleção brasileira de basquete masculino, há apenas um anel grosso de ouro com suas iniciais. Trata-se de um regalo pela conquista de cinco títulos nacionais argentinos da Asociación Deportiva Atenas de Córdoba, quatro comandados por ele. “Este sim é bonito”, diz, ao mesmo tempo que tira o anel do dedo e o coloca nas mãos do repórter. Curioso é que tanto Magnano como Patricia não usam aliança de casamento. A dele, não sabe onde foi parar. Antes que a informação cause constrangimento, o argentino coloca as mãos no peito, na altura do coração, como se indicasse o lugar onde a união dos dois permanece guardada. O gesto provoca um sorriso cúmplice entre o casal. Em menos de uma hora, o desconfiado Magnano muda de comportamento. Espontaneamente, exibe outros presentes “dados pelos amigos de Patricia” – ou “nossos”, como ela faz questão de ressaltar. Ele tira de dentro da camisa uma corrente com vários pingentes: uma imagem de São Benedito, uma pequena cruz e uma medalhinha com suas iniciais. Depois da conquista olímpica, mimos, homenagens e convites se tornaram uma constante na vida do treinador. Horas antes do almoço, ele havia recebido um telefonema que pedia autorização para darem o seu nome a uma competição de basquete em seu Estado natal: a Província de Córdoba. Já os prêmios ficam guardados em seu escritório na Argentina, que em breve abrigará o troféu de melhor técnico de esportes coletivos do Comitê Olím-pico Brasileiro (COB), entregue em dezembro de 2011. Será vizinho do prêmio da Fundação Konex, o predileto de Rubén por escolher personalidades de diferentes áreas de atuação. Entre os brasileiros, Oscar Niemeyer e Gustavo Kuerten já foram agraciados.

Somado ao burburinho das mesas ao lado, o anúncio da chegada das carnes – picanha, carneiro e, claro, diversos cortes argentinos – torna difícil com-preender a história do casal Magnano. Eles estão juntos há 35 anos, dos quais seis de namoro. “Ela foi a uma partida

e acabou prestando mais atenção no jogador”, diz o técnico, com um sorriso que denuncia a farsa da história. Na rea-lidade, o técnico teve muito mais traba-lho para conquistar a moça de 17 anos, mais preocupada em se divertir com as amigas em uma danceteria. Precisou até recorrer a um inexistente talento. “Danço mal, mas sou corajoso”, afirma Magnano. “Antes, ela via um jogo ao meu lado e nem ligava. Agora, pergunta o motivo de eu não tirar aquele ali, colocar o outro lá.” Entre uma garfada e outra, eles explicam a dinâmica familiar. Os dois filhos moram na casa da família na Argentina. Sofia é dentista e tem 25 anos. Francisco, 23, cursa administração de empresas e joga basquete em uma liga regional. A cada dois meses, a mãe regressa ao país vizinho para visitá-los. Afetuosos, Patricia e Magnano falam todos os dias com os rebentos, seja por mensagens de texto, seja por telefone-mas. “Você precisa ver a foto que a Sofia

tirou na neve, entra no Facebook dela”, sugere o treinador.

O técnico chama o garçom para perguntar se a carne é brasileira. Sim, os bois são criados em uma fazenda do proprietário do estabelecimento no Rio Grande do Sul. “Eu não entendo disso”, diz. “A Patricia é que conhece, é filha de fazendeiros.” Em São Paulo, Mag-nano e a mulher compartilham uma vida social pouco ativa. Fora do esporte, possuem um pequeno grupo de amigos argentinos, mais especificamente de Córdoba. Os compromissos profissio-nais, porém, inviabilizam encontros rotineiros. Vez ou outra, descobrem um novo restaurante. “Vivemos no calen-

dário do basquete”, relata Patricia. “O Rubén tem de viajar, acompanhar os jo-gos. Fica difícil marcar algo.” O almoço terminou e ninguém quer sobremesa, apenas cafés. Enquanto o garçom não chega, Magnano fala de sua origem. Nascido em 9 de outubro de 1954 na cidade de Villa Maria, Província de Cór-doba, mudou-se com poucos meses para a capital homônima do Estado argenti-no. Seu pai exerceu várias atividades, como vendedor de doces e taxista, para manter um padrão de vida de classe média. O treinador gosta de dizer que carrega o basquete no DNA. Tanto o pai como a mãe chegaram a competir. “Era amador, naquela época se pagava para jogar, não existia profissionalismo”, diz Magnano.

Entre as recordações da infância e da adolescência está o carro do pai lotado levando a garotada para treinos e compe-tições. “Amanhã (dia 31 de março), ele comemora 84 anos”, conta o treinador,

impossibilitado de ir em razão de uma extensa agenda no Brasil. “Vou a Córdo-ba só no fim de abril para o aniversário de minha mãe.” Os encontros da família Magnano costumam ser animados. “O Rubén adora contar piadas, está sem-pre no meio da roda animando”, diz a mulher, que é interrompida por um “Pa-tricia” esbravejado por Magnano. Simul-taneamente, ele contrai o rosto e conduz a mão direita para a frente, primeiro em direção a ela, depois ao repórter, como se estivesse apresentando um ao outro. O gesto voltaria a se repetir.

Patricia Raquel Re tem 52 anos es-condidos em um corpo esguio, cabelos loiros com uma franja na testa, camiseta

com transparências e jeans rasgados. À primeira vista, parece uma sombra do marido campeão olímpico, condiciona-da a falar pouco para deixá-lo ocupar a posição de protagonista. Basta um pouco de conversa para afastar essa impressão. Patricia é uma mulher interessante, que abdicou da carreira bem-sucedida de contadora para, mais do que acompa-nhar, compartilhar e encorajar a carreira internacional de Magnano. “Faço agora a contabilidade doméstica”, brinca. Na maioria dos jogos em São Paulo, ela está presente ao lado do técnico da seleção e não se furta a comentar o desenrolar das partidas. Os dois se despedem do repórter e entram no carro junto com Araújo. Antes, Magnano solta algo como “acho que vou dar uma passada lá no Paulistano”. Em vez de, digamos, pas-sear por São Paulo, ele prefere visitar os clubes de basquete. O técnico da seleção brasileira respira o esporte. Vai dormir normalmente por volta da uma e meia da

madrugada, depois de conferir as médias de jogadores na internet e ver alguma partida que deixou gravando em casa. Ao assistir aos videoteipes, ele faz um cipoal de anotações. Tem uma pilha delas.

Às 17h40 da quinta-feira 5 de abril, Araújo sai de um Fiat Uno Mille ver-melho com duas portas, emprestado pela mulher para contornar o rodízio de seu carro. Faz hora dentro do veículo a poucos metros do flat onde Magnano mora, no bairro do Paraíso. O assessor de imprensa da CBB tem 56 anos de vida e 35 de jornalismo e trabalhou por décadas como setorista de basquete na Gazeta Esportiva. Conheceu Magnano durante a cobertura de uma excursão

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antes de ser técnico, magnano foi um jogador ruim,

taxista desastrado, salva-vidas e monitor infantil WorKaholic treinador argentino

percorreu 20 estados e viu jogos de amadores e profissionais para conhecer o basquete do brasil

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do Clube Monte Líbano a Córdoba, em 1985. Depois, encontrou o treinador em competições pelo mundo. “Antes de con-tratarem o Moncho Monsalve (anteces-sor de Magnano no comando do Brasil), eu falei ao Grego (Gerasime Bozikis, antigo presidente da confederação) para chamarem o Magnano.” Dez minutos depois, ele conduz o Uno para porta do prédio, leva a cadeirinha do filho peque-no para o porta-malas, olha para o relógio e comenta: “O professor tá atrasado.” No porta-luvas está uma vasilha com salgadinhos preparados por sua mãe, que o técnico adora.

Acompanhado de Patricia, Magna-no aparece vestindo calça jeans, uma camiseta polo esportiva verde e um tênis da fornecedora oficial de uniformes da seleção brasileira. Senta com a mulher no banco de trás do Uno Mille e o carro sai em direção ao Esporte Clube Pinhei-ros, onde os donos da casa enfrentarão o Paulistano pela Liga Nacional de Basquete (NBB). O técnico diz não ser patrocinado pela marca e que usa a roupa pela qualidade e por cortesia, já que a recebe de graça. Revela certa aversão a fazer propagandas. A última de que se lembra foi para um banco, após a conquista dos Jogos Olímpicos pela Ar-

gentina. No meio do trajeto, passa pela avenida Faria Lima e aponta o primeiro endereço na cidade de São Paulo, no Jardim Paulistano. O local, assim como o atual, foi escolhido por ficar perto das equipes da primeira divisão nacional.

Os jornalistas brasileiros adoram perguntar a Magnano sobre Pelé e Mara-dona. Este repórter faz o mesmo e o téc-nico arregala a sobrancelha direita, dá um sorriso discreto e diz não ser um enten-dedor de futebol. É apenas um torcedor do Belgrano. Depois de uma pausa, diz que compreende o questionamento. “O mundo é feito de comparações.” Mag-nano sente na pele as gozações. Depois de o time de Messi ser eliminado pelo Uruguai na Copa América, os jogadores brasileiros trocaram o usual “1,2,3 Brasil” por “1,2,3 Uruguai” no final do treino, o que provocou risos até do técnico. Há também um dirigente do basquete que só pede vinhos chilenos no almoço e jantares com Magnano.

Já nas dependências do Pinheiros, Magnano pergunta que horas são. Faltam ainda 20 minutos para a partida. Para passar o tempo, ele caminha pelos bosques arborizados até uma placa des-pertar sua atenção. O anúncio convida para um show do cantor João Bosco no

dia 13 de abril e o técnico pergunta se o senhor do cartaz é o mesmo da dupla sertaneja João Bosco e Vinícius. Não é. Trata-se do João Bosco violonista, mito da música brasileira. O argentino adi-cionou o sertanejo a sua playlist. É influ-ência dos seis meses vividos em São Sebastião do Paraíso, município mineiro onde as seleções de base e profissional treinam antes de competições. “A gente ia ao clube de lá escutar as apresenta-ções”, conta. A pacata cidade, de 70 mil habitantes, marcou o casal Magnano. O clima interiorano lhes agrada. “Íamos ao pesque-pague comprar peixe, tinha doce de leite caseiro, manteiga Aviação.”

Magnano confere novamente a hora antes de se sentar na lanchonete próxima ao ginásio. Saca do bolso dois óculos, um para enxergar de perto e outro, de longe. Pede um chá de pêssego e conta ter ido ao cinema assistir “A Dama de Ferro”, cinebiografia da ex-primeira-ministra da Inglaterra Margaret Thatcher. “Uma cai-pira”, define ele, mas em tom de elogio. “Ela chegou aonde chegou defendendo os seus ideais.” Apesar de mostrar pou-co apreço pelos peronistas, em especial pelo grupo da atual presidenta, Cris-tina Kirchner, o treinador evita tratar de política. Diz acompanhar pouco

capa

30

maio 2012 | istoé 2016

Xerifão obcecado por treinamentos, magnano mudou o jeito de jogar

da seleção brasileira

o d e s a f i od el o n d r e s2 0 1 2

a s c o n q u i s t a s d e m a g n a n o

gruPO aArgentinaEUAFrançaTunísiaDois primeiros classificados no Pré-Olímpico*

gruPO bAustráliaBrasilChinaEspanhaReino UnidoTerceiro colocado no Pré-Olímpico*

títuLOs cOM a seLeçãO da argentinacampeão sul-americano em 2001Vice-campeão Mundial em 2002campeão dos Jogos Olímpicos de atenas em 2004 títuLOs POr cLubesPentacampeão da Liga nacional da argentinacampeão Pan-americano de clubesbicampeão da Liga sul-americana

conheça os grupos da primeira fase da competição

confira os principais títu-los do técnico da seleção brasileira de basquete

* O Pré-Olímpico acontece entre 2 a 8 de junho na Venezuela

Page 19: Revista 2016 / Maio

do Clube Monte Líbano a Córdoba, em 1985. Depois, encontrou o treinador em competições pelo mundo. “Antes de con-tratarem o Moncho Monsalve (anteces-sor de Magnano no comando do Brasil), eu falei ao Grego (Gerasime Bozikis, antigo presidente da confederação) para chamarem o Magnano.” Dez minutos depois, ele conduz o Uno para porta do prédio, leva a cadeirinha do filho peque-no para o porta-malas, olha para o relógio e comenta: “O professor tá atrasado.” No porta-luvas está uma vasilha com salgadinhos preparados por sua mãe, que o técnico adora.

Acompanhado de Patricia, Magna-no aparece vestindo calça jeans, uma camiseta polo esportiva verde e um tênis da fornecedora oficial de uniformes da seleção brasileira. Senta com a mulher no banco de trás do Uno Mille e o carro sai em direção ao Esporte Clube Pinhei-ros, onde os donos da casa enfrentarão o Paulistano pela Liga Nacional de Basquete (NBB). O técnico diz não ser patrocinado pela marca e que usa a roupa pela qualidade e por cortesia, já que a recebe de graça. Revela certa aversão a fazer propagandas. A última de que se lembra foi para um banco, após a conquista dos Jogos Olímpicos pela Ar-

gentina. No meio do trajeto, passa pela avenida Faria Lima e aponta o primeiro endereço na cidade de São Paulo, no Jardim Paulistano. O local, assim como o atual, foi escolhido por ficar perto das equipes da primeira divisão nacional.

Os jornalistas brasileiros adoram perguntar a Magnano sobre Pelé e Mara-dona. Este repórter faz o mesmo e o téc-nico arregala a sobrancelha direita, dá um sorriso discreto e diz não ser um enten-dedor de futebol. É apenas um torcedor do Belgrano. Depois de uma pausa, diz que compreende o questionamento. “O mundo é feito de comparações.” Mag-nano sente na pele as gozações. Depois de o time de Messi ser eliminado pelo Uruguai na Copa América, os jogadores brasileiros trocaram o usual “1,2,3 Brasil” por “1,2,3 Uruguai” no final do treino, o que provocou risos até do técnico. Há também um dirigente do basquete que só pede vinhos chilenos no almoço e jantares com Magnano.

Já nas dependências do Pinheiros, Magnano pergunta que horas são. Faltam ainda 20 minutos para a partida. Para passar o tempo, ele caminha pelos bosques arborizados até uma placa des-pertar sua atenção. O anúncio convida para um show do cantor João Bosco no

dia 13 de abril e o técnico pergunta se o senhor do cartaz é o mesmo da dupla sertaneja João Bosco e Vinícius. Não é. Trata-se do João Bosco violonista, mito da música brasileira. O argentino adi-cionou o sertanejo a sua playlist. É influ-ência dos seis meses vividos em São Sebastião do Paraíso, município mineiro onde as seleções de base e profissional treinam antes de competições. “A gente ia ao clube de lá escutar as apresenta-ções”, conta. A pacata cidade, de 70 mil habitantes, marcou o casal Magnano. O clima interiorano lhes agrada. “Íamos ao pesque-pague comprar peixe, tinha doce de leite caseiro, manteiga Aviação.”

Magnano confere novamente a hora antes de se sentar na lanchonete próxima ao ginásio. Saca do bolso dois óculos, um para enxergar de perto e outro, de longe. Pede um chá de pêssego e conta ter ido ao cinema assistir “A Dama de Ferro”, cinebiografia da ex-primeira-ministra da Inglaterra Margaret Thatcher. “Uma cai-pira”, define ele, mas em tom de elogio. “Ela chegou aonde chegou defendendo os seus ideais.” Apesar de mostrar pou-co apreço pelos peronistas, em especial pelo grupo da atual presidenta, Cris-tina Kirchner, o treinador evita tratar de política. Diz acompanhar pouco

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maio 2012 | istoé 2016

Xerifão obcecado por treinamentos, magnano mudou o jeito de jogar

da seleção brasileira

o d e s a f i od el o n d r e s2 0 1 2

a s c o n q u i s t a s d e m a g n a n o

gruPO aArgentinaEUAFrançaTunísiaDois primeiros classificados no Pré-Olímpico*

gruPO bAustráliaBrasilChinaEspanhaReino UnidoTerceiro colocado no Pré-Olímpico*

títuLOs cOM a seLeçãO da argentinacampeão sul-americano em 2001Vice-campeão Mundial em 2002campeão dos Jogos Olímpicos de atenas em 2004 títuLOs POr cLubesPentacampeão da Liga nacional da argentinacampeão Pan-americano de clubesbicampeão da Liga sul-americana

conheça os grupos da primeira fase da competição

confira os principais títu-los do técnico da seleção brasileira de basquete

* O Pré-Olímpico acontece entre 2 a 8 de junho na Venezuela

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o noticiário de seu país e ter voltado, desde cedo, a sua atenção ao esporte. Ao comentar o filme, relembra a Guer-ra das Malvinas, há 30 anos. “Quantos garotos morreram”, resmunga, para em seguida colocar a parte inferior da boca em cima do bigode ralo. Sobre a ditadura da Argentina, recorda conhecidos que desapareceram e “terroristas encapuzados” que entra-vam na sala de aula da universidade para recrutar alunos.

Ao primeiro sinal de música que vem do ginásio, pede apressadamente a conta, coloca os óculos para conferir a fatura e paga a conta com o cartão de crédito. Instantaneamente, o semblante fica mais sério. Minutos depois, entra em um pequeno corredor de cadeiras em frente à quadra e abaixo da arqui-bancada. Além de Magnano e seus três convidados, apenas uma moça, que pa-rece ser namorada de um jogador, está sentada naquela área. Magnano se vira para Araújo e pergunta se a conhece.

A resposta negativa o tranquiliza. “Não quero passar por mal-educado.” Como a maioria dos torcedores está acostuma-da com a sua presença ali, poucas pesso-as da plateia o cumprimentam. “Tento ir ao maior número de jogos.” Durante o primeiro ano no comando da seleção, o técnico evitou dar entrevistas. Pôs em sua cabeça a necessidade de conhecer profundamente os atletas. Percorreu 20 Estados do País, viu campeonatos de profissionais e amadores e até torneios mirins. “Se alguém me fala de um jogador, preciso saber quem é”, explica. “Faz parte da minha obrigação.”

Enquanto os times começam a se formar em quadra, Magnano checa se os óculos estão na posição certa, cruza a perna direita e ergue o corpo para a frente. Assiste ao primeiro quarto compenetrado em um silêncio interrompido por interjeições e caretas provocadas pelos sucessivos erros das duas equipes. A partida parece pouco animadora, Quem faz sucesso mesmo

é o leão mascote do Clube Pinheiros. Desfilando de um lado para o outro da lateral da quadra, arremessa doces e atende a pedidos de autógrafos do público, formado majoritariamente por uma claque de crianças uniformizadas. Na rápida parada em meio a músicas copiadas da NBA, o técnico quer saber do repórter se está entendendo a parti-da. Faz uma série de perguntas básicas, como o que é uma cesta de três pontos e onde fica o garrafão. Escuta as res-postas, abre os braços com a palma das mãos para cima, vira a cabeça levemen-te para a esquerda, sorri ironicamente e diz: “É um especialista.” Em seguida, coloca-se à disposição para dar explica-ções. Questionado se não tinha dito que a condição para assistir à partida ao seu lado era ficar quieto, aplica no repórter uma carinhosa chave de pescoço.

O jogo recomeça. Magnano olha o placar e pergunta sobre os resul-tados das outras partidas da rodada. Quer saber se, em caso de derrota, o

Pinheiros perderá a primeira posição no campeonato. Volta a sua atenção para a quadra e ri ao ver um jogador dominar a bola, pedir calma aos colegas e partir rumo à cesta, sem sucesso. Errando muito, o Paulistano só consegue anotar o primeiro ponto no segundo quarto com mais de cinco minutos no cronômetro. O técnico aponta para o armador argentino Juan Pablo Figueroa, do Pinheiros. “Co-nheço ele desde de pequeno.” Provoca-do sobre a possibilidade de convocá-lo para a Olimpíada, o técnico responde que Figueroa já tem seleção – a argenti-na. Os comentários da imprensa estão voltados para a naturalização de outro estrangeiro, o americano Larry Taylor, do Bauru. Magnano chegou a convocá-lo para o pré-olímpico, mas o processo não ficou pronto a tempo. A iniciativa foi alvo de protestos de antigos ídolos do esporte, como Oscar Schmidt e Marcel de Souza, que fizeram críticas em seus blogs. “Não vejo este tal de blog”, diz Magnano. Ele faz uma pausa e comple-

o q u e f a l a m d e m a g n a n o

“eu era a favor de um técnico estrangeiro. Mas depois que o Moncho Monsalve (técnico espanhol) veio, eu passei a discordar. agora, diante do Magnano, do seu pedigree e de seus resultados, eu tenho de tirar o chapéu. ele deu equilíbrio ao time e colocou os jogadores em ordem nas suas posições” – Oscar schMidt,

o “Mão santa”, maior jogador brasileiro de todos os tempos

“Quando a cbb contrata um técnico estrangeiro, é como se dissesse que não há treinadores de qualidade no brasil, o que não é verdade. eu desejava treinar a seleção e fiquei muito ressentido. agora as minhas atenções estão voltadas para a medicina” – MarceL de sOuza, medalhista de ouro nos Jogos Pan-americanos de

indianápolis, em 1987, e um dos maiores atletas da história do basquete brasileiro

“O ideal seria termos um ótimo treinador brasileiro. tentaram isso várias vezes e não nos classificamos para a Olimpíada. aí veio um estrangeiro e os resultados estão aí” – tiagO sPLitter, pivô da seleção brasileira e do san

antonio spurs, na nba

“evoluí bastante depois que tive o rubén como treinador. Melhorei minha técnica, meu jogo e minha disciplina. Já dá para ver mudanças na seleção brasileira. Virão grandes coisas para o brasil” – FabriciO ObertO, jogador de basquete argentino, vice-campeão do mundial em indianápolis-2002 e medalhista

de ouro nos Jogos Olímpicos de atenas-2004

“O que motiva o grupo não é o fato de o rubén ser campeão olímpico, mas o modo como ele trabalha. está sempre exigindo o máximo dos jogadores. ele consegue trabalhar o psicológico de cada um. Parece que está dentro das nossas cabeças, sabe quando estamos motivados ou de saco cheio” – MarceLinhO MachadO,

jogador mais experiente da seleção brasileira e atleta do Flamengo

“eu não gosto nada que o rubén tenha ido ao brasil. não pela rivalidade, mas por achar que é um problema para a argentina. O brasil tem excelentes jogadores e com um técnico como rubén irá funcionar bem. isso é um problema para a argentina” – aLeJandrO Perez, jornalista argentino especializado em basquete

“é fácil trabalhar com o rubén. ele coloca abertamente o que pode ou não ser feito. celular em refeições ou qualquer atividade coletiva é proibido. ele sabe o que cada um pode oferecer e exige o máximo. não há privilégios para ninguém” – MarceLinhO huertas, armador, capitão da seleção brasileira

e jogador do barcelona, na espanha

“O legal do rubén é que ele dá muita atenção às categorias de base. eu o vi, cansado, assistindo com atenção ao pior jogo do mundo em uma competição de seleções estaduais. acho que o fato de ele ter trabalhado anos nas seleções de base da argentina faz com que tenha tanta atenção com as novas gerações” – ricardO OLiVeira, treinador das categorias de base do time Lance Livre/Minas-brasília

oscar schmidt

marcel de souza

tiago splitter marcelinho machado

alejandro perez

marcelinho huertas

ricardo oliveira

fabricio oberto

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v

capa

o noticiário de seu país e ter voltado, desde cedo, a sua atenção ao esporte. Ao comentar o filme, relembra a Guer-ra das Malvinas, há 30 anos. “Quantos garotos morreram”, resmunga, para em seguida colocar a parte inferior da boca em cima do bigode ralo. Sobre a ditadura da Argentina, recorda conhecidos que desapareceram e “terroristas encapuzados” que entra-vam na sala de aula da universidade para recrutar alunos.

Ao primeiro sinal de música que vem do ginásio, pede apressadamente a conta, coloca os óculos para conferir a fatura e paga a conta com o cartão de crédito. Instantaneamente, o semblante fica mais sério. Minutos depois, entra em um pequeno corredor de cadeiras em frente à quadra e abaixo da arqui-bancada. Além de Magnano e seus três convidados, apenas uma moça, que pa-rece ser namorada de um jogador, está sentada naquela área. Magnano se vira para Araújo e pergunta se a conhece.

A resposta negativa o tranquiliza. “Não quero passar por mal-educado.” Como a maioria dos torcedores está acostuma-da com a sua presença ali, poucas pesso-as da plateia o cumprimentam. “Tento ir ao maior número de jogos.” Durante o primeiro ano no comando da seleção, o técnico evitou dar entrevistas. Pôs em sua cabeça a necessidade de conhecer profundamente os atletas. Percorreu 20 Estados do País, viu campeonatos de profissionais e amadores e até torneios mirins. “Se alguém me fala de um jogador, preciso saber quem é”, explica. “Faz parte da minha obrigação.”

Enquanto os times começam a se formar em quadra, Magnano checa se os óculos estão na posição certa, cruza a perna direita e ergue o corpo para a frente. Assiste ao primeiro quarto compenetrado em um silêncio interrompido por interjeições e caretas provocadas pelos sucessivos erros das duas equipes. A partida parece pouco animadora, Quem faz sucesso mesmo

é o leão mascote do Clube Pinheiros. Desfilando de um lado para o outro da lateral da quadra, arremessa doces e atende a pedidos de autógrafos do público, formado majoritariamente por uma claque de crianças uniformizadas. Na rápida parada em meio a músicas copiadas da NBA, o técnico quer saber do repórter se está entendendo a parti-da. Faz uma série de perguntas básicas, como o que é uma cesta de três pontos e onde fica o garrafão. Escuta as res-postas, abre os braços com a palma das mãos para cima, vira a cabeça levemen-te para a esquerda, sorri ironicamente e diz: “É um especialista.” Em seguida, coloca-se à disposição para dar explica-ções. Questionado se não tinha dito que a condição para assistir à partida ao seu lado era ficar quieto, aplica no repórter uma carinhosa chave de pescoço.

O jogo recomeça. Magnano olha o placar e pergunta sobre os resul-tados das outras partidas da rodada. Quer saber se, em caso de derrota, o

Pinheiros perderá a primeira posição no campeonato. Volta a sua atenção para a quadra e ri ao ver um jogador dominar a bola, pedir calma aos colegas e partir rumo à cesta, sem sucesso. Errando muito, o Paulistano só consegue anotar o primeiro ponto no segundo quarto com mais de cinco minutos no cronômetro. O técnico aponta para o armador argentino Juan Pablo Figueroa, do Pinheiros. “Co-nheço ele desde de pequeno.” Provoca-do sobre a possibilidade de convocá-lo para a Olimpíada, o técnico responde que Figueroa já tem seleção – a argenti-na. Os comentários da imprensa estão voltados para a naturalização de outro estrangeiro, o americano Larry Taylor, do Bauru. Magnano chegou a convocá-lo para o pré-olímpico, mas o processo não ficou pronto a tempo. A iniciativa foi alvo de protestos de antigos ídolos do esporte, como Oscar Schmidt e Marcel de Souza, que fizeram críticas em seus blogs. “Não vejo este tal de blog”, diz Magnano. Ele faz uma pausa e comple-

o q u e f a l a m d e m a g n a n o

“eu era a favor de um técnico estrangeiro. Mas depois que o Moncho Monsalve (técnico espanhol) veio, eu passei a discordar. agora, diante do Magnano, do seu pedigree e de seus resultados, eu tenho de tirar o chapéu. ele deu equilíbrio ao time e colocou os jogadores em ordem nas suas posições” – Oscar schMidt,

o “Mão santa”, maior jogador brasileiro de todos os tempos

“Quando a cbb contrata um técnico estrangeiro, é como se dissesse que não há treinadores de qualidade no brasil, o que não é verdade. eu desejava treinar a seleção e fiquei muito ressentido. agora as minhas atenções estão voltadas para a medicina” – MarceL de sOuza, medalhista de ouro nos Jogos Pan-americanos de

indianápolis, em 1987, e um dos maiores atletas da história do basquete brasileiro

“O ideal seria termos um ótimo treinador brasileiro. tentaram isso várias vezes e não nos classificamos para a Olimpíada. aí veio um estrangeiro e os resultados estão aí” – tiagO sPLitter, pivô da seleção brasileira e do san

antonio spurs, na nba

“evoluí bastante depois que tive o rubén como treinador. Melhorei minha técnica, meu jogo e minha disciplina. Já dá para ver mudanças na seleção brasileira. Virão grandes coisas para o brasil” – FabriciO ObertO, jogador de basquete argentino, vice-campeão do mundial em indianápolis-2002 e medalhista

de ouro nos Jogos Olímpicos de atenas-2004

“O que motiva o grupo não é o fato de o rubén ser campeão olímpico, mas o modo como ele trabalha. está sempre exigindo o máximo dos jogadores. ele consegue trabalhar o psicológico de cada um. Parece que está dentro das nossas cabeças, sabe quando estamos motivados ou de saco cheio” – MarceLinhO MachadO,

jogador mais experiente da seleção brasileira e atleta do Flamengo

“eu não gosto nada que o rubén tenha ido ao brasil. não pela rivalidade, mas por achar que é um problema para a argentina. O brasil tem excelentes jogadores e com um técnico como rubén irá funcionar bem. isso é um problema para a argentina” – aLeJandrO Perez, jornalista argentino especializado em basquete

“é fácil trabalhar com o rubén. ele coloca abertamente o que pode ou não ser feito. celular em refeições ou qualquer atividade coletiva é proibido. ele sabe o que cada um pode oferecer e exige o máximo. não há privilégios para ninguém” – MarceLinhO huertas, armador, capitão da seleção brasileira

e jogador do barcelona, na espanha

“O legal do rubén é que ele dá muita atenção às categorias de base. eu o vi, cansado, assistindo com atenção ao pior jogo do mundo em uma competição de seleções estaduais. acho que o fato de ele ter trabalhado anos nas seleções de base da argentina faz com que tenha tanta atenção com as novas gerações” – ricardO OLiVeira, treinador das categorias de base do time Lance Livre/Minas-brasília

oscar schmidt

marcel de souza

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ta: “Eu os admiro muito, principalmen-te o amor que eles têm pela seleção e os resultados alcançados.”

No final do segundo quarto, o técnico parece animado com a chegada do inter-valo. Batuca as pernas e mãos no ritmo do som do hip-hop e admira as coreo-grafias de street dance de um grupo de crianças e adolescentes que se exibem na quadra. Ele só cessa o batuque para trocar os óculos e ver as estatísticas trazidas por Araújo. Diante de alguns números, faz umas caretas feias. Depois, guarda as informações no bolso. Sem despertar o interesse de Magnano ou da plateia, os outros dois quartos do jogo passam de forma aborrecida. Apesar de fazer uma partida tecnicamente ruim, o Pinheiros abre cinco pontos de vantagem no terceiro período. Na última etapa do jogo, os donos da casa cometem suces-sivas falhas. Os olhos do treinador brasi-leiro fixam-se no veterano Marquinhos, atleta do Pinheiros e da seleção, que

está evidentemente num dia apagado. Ao ver um dos erros, Magnano entrega o que acha ao elevar ombros para cima e balançar o rosto. Acaba o tempo regula-mentar e prevalece o empate. Patricia e Araújo comentam a baixa qualidade do espetáculo, mas o técnico não fala nada. A partida vai para a prorrogação. O time do Paulistano é comandado por Gustavo De Conti, jovem treinador que foi convi-dado por Magnano para dirigir a seleção no Sul-Americano da Argentina neste ano. Sua equipe volta mais concentrada, enquanto os donos da casa continuam cometendo uma série de erros. Ao ver o time inteiro do Pinheiros marcar a saída de bola e deixar um adversário livre,

Magnano antecipa a jogada. Depois da cesta anunciada, balança o rosto, contra-riado com o erro primário.

Magnano é cioso de seu trabalho. Antes de competições, faz uma intensa fase de treinamentos. Com base na análise dos adversários prováveis, insere variações táticas que possam ser usadas contra cada um deles. Após o início do torneio, mira um time por vez. Cada um dos seus três assistentes assiste a pelo menos quatro jogos do rival e elabora para o argentino um relatório por escrito e com imagens. Magnano vê as duas últimas partidas dos adversários, discute com seu staff e prepara um treino es-pecífico para ser aplicado na véspera da partida. Outra preocupação constante é a parte motivacional. Quando a seleção argentina aplicou a primeira derrota da história ao Dream Team dos Estados Unidos no Campeonato Mundial de 2002, ele reuniu os jogadores e escre-veu em uma lousa: “Ingressamos na

história, agora vamos para a glória.” O objetivo de Magnano era não deixar os jogadores entrar no que ele chama de “zona de conforto”. Nos Jogos de Atenas, em 2004, a Argentina con-quistou o ouro olímpico.

Depois do jogo, Magnano vai dar entrevista para uma emissora de tevê. É hora de Patricia falar – mas ela prefere contar do marido, que teve a carreira de jogador abreviada por assumida limitação técnica. Aos 19 anos, ele começou a cur-sar engenharia agronômica na Argentina. Para se sustentar, dirigia um táxi Ford Falcon, emprestado do pai, pelas ruas de Córdoba. Como tinha certa dificuldade em decorar os trajetos, apresentava-se

como um estudante que veio do interior e pedia ao passageiro que lhe desse as coordenadas. Três anos mais tarde, passou a estudar educação física. Deixou de se perder pelas ruas para acumular a função de salva-vidas e monitor infantil nos verões. Formado, passou a dar aulas em colégios, enquan-to fazia o curso obrigatório de técnico de basquete. A carreira começou a des-lanchar em 1988, quando foi convidado pelo técnico Walter Garrone, a quem considera um padrinho, para ser assis-tente do Atenas de Córdoba. No começo da década de 90, Magnano assumiria o time. Patricia não tem tempo para falar muito. O marido volta e interrompe a conversa com um “até amanhã”.

Às 16 horas da Sexta-Feira Santa, 6 de abril, o porteiro telefona para o aparta-mento de Magnano e anuncia a visita. Ele vai descer, diz o sujeito. De bermu-da, chinelo de dedo e camiseta, Magna-no aparece no térreo do prédio e já chega

com o convite para um café na padaria do outro lado da rua. Faz o trajeto sem trocar uma palavra. Está pensativo. Entra no estabelecimento e senta na primeira mesa vazia que vê. Como se tivesse de esclarecer o silêncio, solta uma frase es-pontaneamente “Época de convocação é complicada”, diz. “O calendário este ano está muito ruim, tem o Sul-Americano e a Olimpíada muito próximos.” Magnano chama a garçonete e pede um café curto. Afirma que ainda está analisando os atle-tas que irão para Londres. “Não tenho nenhum veto. Qualquer um que tenha passaporte brasileiro pode ser convoca-do.” A declaração é uma referência aos atletas da NBA que não se apresentaram

"não tenho nenhum veto. qualquer um que tenha passaporte brasileiro pode ser convocado"

o argentino evita fazer previsões, mas sonha com a medalha para o brasil em londres

para a disputa do Pré-Olímpico em Mar Del Plata, no ano passado. Na competi-ção, a seleção comandada por Magnano conseguiu a vaga olímpica após um jejum de 16 anos. “Cada um justificou uma razão para pedir afastamento”, diz o treinador. Ele revela os três critérios para a convocação: qualidade, estado físico e comprometimento. Quanto ao desempe-nho do Brasil em Londres, afirma que ele vai depender da tabela. “Nesse tipo de competição curta, uma cesta muda tudo.” Ao término do café, Magnano revela que tem sonhado com uma medalha.

Um dos fatores que o fizeram aceitar o convite para dirigir o Brasil foi não ter de garantir resultados. “Não podia dar mi-nha palavra a algo que não dependia só de mim.” As negociações se resolveram em menos de duas semanas. Magnano tinha acabado de se demitir do Atenas de Córdoba e os dirigentes da CBB esta-vam convencidos de que precisavam de um profissional com um título olímpico. “O Vanderlei (Mazzuchini diretor do departamento masculino da Confede-ração) me ligou e explicou o projeto”, conta. “Pedi uns dias para pensar e mar-camos um encontro pessoalmente, em Buenos Aires.” No almoço, José Carlos Brunoro, dono da empresa responsável pelos contratos de marketing da CBB, e Mazzuchini disseram que precisavam de um treinador em tempo integral no Brasil. Acompanhado de seu empresário, Magnano pediu liberdade para escolher um auxiliar técnico de sua confiança. E o negócio foi fechado.

Magnano parece cansado. Ele encerra a conversa, vai até o caixa da padaria e faz questão de pagar a conta. Enquanto es-pera o troco, escuta do homem do balcão: “Quando sai à convocação?” O argentino responde sério: “17 de maio”. Na rua, se despede do repórter e segue em direção ao flat. Provavelmente, naquela noite vai acessar a internet para checar as estatísti-cas dos atletas e ver uns jogos de basquete na televisão.

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ta: “Eu os admiro muito, principalmen-te o amor que eles têm pela seleção e os resultados alcançados.”

No final do segundo quarto, o técnico parece animado com a chegada do inter-valo. Batuca as pernas e mãos no ritmo do som do hip-hop e admira as coreo-grafias de street dance de um grupo de crianças e adolescentes que se exibem na quadra. Ele só cessa o batuque para trocar os óculos e ver as estatísticas trazidas por Araújo. Diante de alguns números, faz umas caretas feias. Depois, guarda as informações no bolso. Sem despertar o interesse de Magnano ou da plateia, os outros dois quartos do jogo passam de forma aborrecida. Apesar de fazer uma partida tecnicamente ruim, o Pinheiros abre cinco pontos de vantagem no terceiro período. Na última etapa do jogo, os donos da casa cometem suces-sivas falhas. Os olhos do treinador brasi-leiro fixam-se no veterano Marquinhos, atleta do Pinheiros e da seleção, que

está evidentemente num dia apagado. Ao ver um dos erros, Magnano entrega o que acha ao elevar ombros para cima e balançar o rosto. Acaba o tempo regula-mentar e prevalece o empate. Patricia e Araújo comentam a baixa qualidade do espetáculo, mas o técnico não fala nada. A partida vai para a prorrogação. O time do Paulistano é comandado por Gustavo De Conti, jovem treinador que foi convi-dado por Magnano para dirigir a seleção no Sul-Americano da Argentina neste ano. Sua equipe volta mais concentrada, enquanto os donos da casa continuam cometendo uma série de erros. Ao ver o time inteiro do Pinheiros marcar a saída de bola e deixar um adversário livre,

Magnano antecipa a jogada. Depois da cesta anunciada, balança o rosto, contra-riado com o erro primário.

Magnano é cioso de seu trabalho. Antes de competições, faz uma intensa fase de treinamentos. Com base na análise dos adversários prováveis, insere variações táticas que possam ser usadas contra cada um deles. Após o início do torneio, mira um time por vez. Cada um dos seus três assistentes assiste a pelo menos quatro jogos do rival e elabora para o argentino um relatório por escrito e com imagens. Magnano vê as duas últimas partidas dos adversários, discute com seu staff e prepara um treino es-pecífico para ser aplicado na véspera da partida. Outra preocupação constante é a parte motivacional. Quando a seleção argentina aplicou a primeira derrota da história ao Dream Team dos Estados Unidos no Campeonato Mundial de 2002, ele reuniu os jogadores e escre-veu em uma lousa: “Ingressamos na

história, agora vamos para a glória.” O objetivo de Magnano era não deixar os jogadores entrar no que ele chama de “zona de conforto”. Nos Jogos de Atenas, em 2004, a Argentina con-quistou o ouro olímpico.

Depois do jogo, Magnano vai dar entrevista para uma emissora de tevê. É hora de Patricia falar – mas ela prefere contar do marido, que teve a carreira de jogador abreviada por assumida limitação técnica. Aos 19 anos, ele começou a cur-sar engenharia agronômica na Argentina. Para se sustentar, dirigia um táxi Ford Falcon, emprestado do pai, pelas ruas de Córdoba. Como tinha certa dificuldade em decorar os trajetos, apresentava-se

como um estudante que veio do interior e pedia ao passageiro que lhe desse as coordenadas. Três anos mais tarde, passou a estudar educação física. Deixou de se perder pelas ruas para acumular a função de salva-vidas e monitor infantil nos verões. Formado, passou a dar aulas em colégios, enquan-to fazia o curso obrigatório de técnico de basquete. A carreira começou a des-lanchar em 1988, quando foi convidado pelo técnico Walter Garrone, a quem considera um padrinho, para ser assis-tente do Atenas de Córdoba. No começo da década de 90, Magnano assumiria o time. Patricia não tem tempo para falar muito. O marido volta e interrompe a conversa com um “até amanhã”.

Às 16 horas da Sexta-Feira Santa, 6 de abril, o porteiro telefona para o aparta-mento de Magnano e anuncia a visita. Ele vai descer, diz o sujeito. De bermu-da, chinelo de dedo e camiseta, Magna-no aparece no térreo do prédio e já chega

com o convite para um café na padaria do outro lado da rua. Faz o trajeto sem trocar uma palavra. Está pensativo. Entra no estabelecimento e senta na primeira mesa vazia que vê. Como se tivesse de esclarecer o silêncio, solta uma frase es-pontaneamente “Época de convocação é complicada”, diz. “O calendário este ano está muito ruim, tem o Sul-Americano e a Olimpíada muito próximos.” Magnano chama a garçonete e pede um café curto. Afirma que ainda está analisando os atle-tas que irão para Londres. “Não tenho nenhum veto. Qualquer um que tenha passaporte brasileiro pode ser convoca-do.” A declaração é uma referência aos atletas da NBA que não se apresentaram

"não tenho nenhum veto. qualquer um que tenha passaporte brasileiro pode ser convocado"

o argentino evita fazer previsões, mas sonha com a medalha para o brasil em londres

para a disputa do Pré-Olímpico em Mar Del Plata, no ano passado. Na competi-ção, a seleção comandada por Magnano conseguiu a vaga olímpica após um jejum de 16 anos. “Cada um justificou uma razão para pedir afastamento”, diz o treinador. Ele revela os três critérios para a convocação: qualidade, estado físico e comprometimento. Quanto ao desempe-nho do Brasil em Londres, afirma que ele vai depender da tabela. “Nesse tipo de competição curta, uma cesta muda tudo.” Ao término do café, Magnano revela que tem sonhado com uma medalha.

Um dos fatores que o fizeram aceitar o convite para dirigir o Brasil foi não ter de garantir resultados. “Não podia dar mi-nha palavra a algo que não dependia só de mim.” As negociações se resolveram em menos de duas semanas. Magnano tinha acabado de se demitir do Atenas de Córdoba e os dirigentes da CBB esta-vam convencidos de que precisavam de um profissional com um título olímpico. “O Vanderlei (Mazzuchini diretor do departamento masculino da Confede-ração) me ligou e explicou o projeto”, conta. “Pedi uns dias para pensar e mar-camos um encontro pessoalmente, em Buenos Aires.” No almoço, José Carlos Brunoro, dono da empresa responsável pelos contratos de marketing da CBB, e Mazzuchini disseram que precisavam de um treinador em tempo integral no Brasil. Acompanhado de seu empresário, Magnano pediu liberdade para escolher um auxiliar técnico de sua confiança. E o negócio foi fechado.

Magnano parece cansado. Ele encerra a conversa, vai até o caixa da padaria e faz questão de pagar a conta. Enquanto es-pera o troco, escuta do homem do balcão: “Quando sai à convocação?” O argentino responde sério: “17 de maio”. Na rua, se despede do repórter e segue em direção ao flat. Provavelmente, naquela noite vai acessar a internet para checar as estatísti-cas dos atletas e ver uns jogos de basquete na televisão.

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Page 24: Revista 2016 / Maio

“Mata alguéM ficar uM Mês seM transar?”

por AmAuri SegAllA, edSon FrAnco e Tom cArdoSo fotos gAbriel rinAldi

entrevista | hortência

Com o que juntou ao longo dos anos, Hortênciapoderia muito bem passar o resto da vida cultivando pequenos prazeres, frequentando a cabeleireira ou acompanhando o crescimento dos filhos. Mas, apesar de ter abandonado as quadras, preserva em si o principal motivador interno que fez dela uma das maiores jogadoras de basquete de todos os tempos: uma vontade irrefreável de vencer. Para dar vazão a isso, ela ocupa hoje o cargo de diretora de seleções de um esporte que, nos últimos anos, perdeu prestígio para outras modalidades e não consegue revelar nenhuma jogadora à altura do talento da geração de Hortência, Paula, Janete e companhia. No prédio onde mora, Hortência recebeu o trio de sabatinadores da 2016 e bateu um papo de três horas. Não deixou pergunta sem resposta. Da tática para evitar jogadoras menstruadas antes de jogos importantes até a sua atual vida afetiva – passando, claro, pela tumultuada e brilhante relação em quadra com Magic Paula –, a rainha do basquete brasileiro enfrentou a bancada com a mesma serenidade e precisão com que arremessava lances livres. E nem precisou dar aquela respiradinha antes.

Page 25: Revista 2016 / Maio

“Mata alguéM ficar uM Mês seM transar?”

por AmAuri SegAllA, edSon FrAnco e Tom cArdoSo fotos gAbriel rinAldi

entrevista | hortência

Com o que juntou ao longo dos anos, Hortênciapoderia muito bem passar o resto da vida cultivando pequenos prazeres, frequentando a cabeleireira ou acompanhando o crescimento dos filhos. Mas, apesar de ter abandonado as quadras, preserva em si o principal motivador interno que fez dela uma das maiores jogadoras de basquete de todos os tempos: uma vontade irrefreável de vencer. Para dar vazão a isso, ela ocupa hoje o cargo de diretora de seleções de um esporte que, nos últimos anos, perdeu prestígio para outras modalidades e não consegue revelar nenhuma jogadora à altura do talento da geração de Hortência, Paula, Janete e companhia. No prédio onde mora, Hortência recebeu o trio de sabatinadores da 2016 e bateu um papo de três horas. Não deixou pergunta sem resposta. Da tática para evitar jogadoras menstruadas antes de jogos importantes até a sua atual vida afetiva – passando, claro, pela tumultuada e brilhante relação em quadra com Magic Paula –, a rainha do basquete brasileiro enfrentou a bancada com a mesma serenidade e precisão com que arremessava lances livres. E nem precisou dar aquela respiradinha antes.

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2016: Você acha que o Brasil precisou reaprender a jogar basquete? Teve uma geração muito forte individualmente. No feminino, havia você e a Paula. Sem isso, nossa seleção passou a jogar mais coletivamente. Isso é bom para o basquete brasileiro?Hortência: Olha, é muito difícil você comparar uma geração com a outra. Primeira coisa: o basquete hoje é muito diferente – você não consegue jogar mais 40 minutos seguidos. Ficou tudo muito rápido, intenso. Hoje você tem 24 segundos pra arremessar a bola, 8 segundos pra atravessar a quadra. Antigamente não tinha isso. Eu tenho certeza que hoje eu não conseguiria jogar os 40 minutos como eu jogava naquela época. O basquete se tornou mais coletivo para se adequar às novas regras. Mas o basquete dos Estados Unidos, mesmo com as mudan-ças nas regras, continuou sendo muito forte individualmente, revelando sempre jogadoras de alto nível. O que falta para a gente chegar lá?Ali é diferente. Além de toda uma cultura escolar voltada para o esporte, eles têm condições de, por exemplo, treinar um mês antes da Olimpíada com o elenco completo. Aqui, você tem de negociar a liberação de jogadores importantes e ainda por cima corrigir defeitos que teriam de ser reparados lá atrás, na base, na formação. O funda-

mento da jogadora americana é perfeito. Ele aprendeu na escola. O Michael Jordan, o Magic Johnson, saíram da escola. Nossos atletas saem do clube. Isso faz toda a diferença. Essa defasagem, portanto, nunca será recuperada.Só se a gente copiar o modelo deles. Nós estamos fazendo um movi-mento para que isso aconteça. Para chegar lá, temos de unir o Minis-tério do Esporte, o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde. Porque esporte é educação e saúde. Nós temos que juntar esses três na formação, na escola. Vai nos Estados Unidos pra ver o lugar onde as crianças treinam, onde elas fazem aula de educação física... O vôlei brasileiro conseguiu dar esse salto de qualidade...Porque teve uma gestão excepcional. Qual a diferença do voleibol para o basquete da época em que nós começamos a jogar? É que o vôlei teve uma gestão profissional; e o basquete, não. Nós estamos implementando essa gestão profissional agora. Você tem que ser sério, ir a fundo no problema. Por exemplo, no ano passado, com essa história de Olimpíada-2016, Rio de Janeiro e tal, eu fui até o Ministério do Esporte. O ministério tem convênio. Nós pegamos esse convênio e conseguimos treinar a minha seleção sub-19, que foi disputar o Mundial. Viajei o mundo em um ano. Sabe a que lugar eu cheguei? Terceiro lugar, pódio, coisa que nunca tinha acontecido. E ainda fizemos a melhor jogadora do mundo, a Tamires. Quando há dinheiro e planejamento...A gente consegue andar. Fui buscar de novo neste ano. Só que o dinheiro não chegou por causa de um erro que a Confederação teve, a prestação de contas de um convênio passado tava em aberto. E, se tá aberto um convênio, não chega o novo. Não recebi. Então, este ano é perdido pra mim. Porque eu tenho Mundial sub-17, eu tenho uma Copa América sub-18 e ia dar a liga para que a seleção sub-19 do ano passado continuasse a sub-20 deste ano. Não vou poder fazer. Não vou viajar o mundo com essas meninas, porque o dinheiro não vai sair ainda. Já foi liberado, a prestação de contas tá certinha, foi feito tudo bonitinho. Mas até entrar de novo... A burocracia me travou. A seleção feminina de basquete trocou de técnico. Você não ficou tentada, em algum momento, a assumir o posto de trei-nadora? Não seria mais cômodo – e produtivo – do que ficar lidando com a burocracia da Confederação? Eu não estou em busca do que é fácil para mim. Eu tenho certeza que a minha contribuição como diretora de seleções é o melhor que eu posso fazer para o basquete brasileiro no momento. Qual é a meta do basquete feminino para Londres?Estamos levando algumas jogadoras novas e algumas jogadoras experientes, porque o resultado é importante. Tirando as america-nas, o resto vai brigar, em pé de igualdade, pelo pódio. O impor-tante é que todas as jogadores tenham o mesmo objetivo. Vocês se lembram da seleção do futebol da Copa de 2006, com Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos, Cafu? Sim, baita time.Sim, era um grande time. Mas aí quando eu vi que um queria bater o recorde de partidas disputadas em Copas do Mundo, que o outro queria quebrar o recorde de gols, eu falei: “Não vai dar certo.” Qual o

"A PAUlA TINHA UM PROblEMA. A FAMílIA dElA FAzIA UMA ENORME pressão para que ela Me superasse. o pai dela ia nos jogos e Me xingava"

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maio 2012 | istoé 2016

único caminho que leva você lá em cima? É todo mundo estar pensando igual. Como fazer uma jogadora geniosa – e talentosa – como a Iziane, que tem um histórico de problemas com a seleção, pensar igual ao grupo? A Iziane saiu muito cedo de casa. Ela vem de família muito pobre, lá do Maranhão, ela tem uma carcaça muito dura. Mas, por dentro, é muito sensível. Então toda essa carcaça que ela coloca é pra se proteger. Não é fácil passar todos esses anos em que ela jogou na Europa e agora nos EUA. Ela nunca me deu um problema. Você levaria para Londres o Nenê Hilário e o Leandrinho, atletas da NBA que pediram dispensa do Pré-Olímpico?Se eles quisessem muito, eu levaria. Tem que conversar com eles. Sentir se eles querem mesmo. Você demonstra uma preocupação muito grande com o lado psicológico das jogadoras. Como isso tem sido trabalhado nas suas seleções?Nós temos um psicólogo, mas não achei uma pessoa que fizesse o trabalho que eu acho que tem de ser feito. E vou dizer uma coisa pra você, eu me preocupo com o psicológico, que é fundamental, mas há também a parte hormonal das jogadoras. Por isso nós temos den-tro da seleção brasileira uma ginecologista. Não é pra cuidar de problema ginecológico, não, é pra cuidar do problema hormonal. Imagine uma situação em que você trabalha três meses e, no dia do jogo mais importante, tem quatro jogadoras menstruadas? A menina acorda chorando, vai tomar café chorando. Já era. O que adianta você fazer uma preparação técnica, tática, física, tudo, fisiolo-gista, nutricionista, e aí a menina tá com TPM no dia? Mas o que se faz nessa hora?Não faz. Elas não vão menstruar durante a competição. Vão tomar pílula anticoncepcional até acabar a Olimpíada. Você tinha TPM?Tinha, claro. Mas eu não chorava. Ficava puta, com mais vontade de ganhar. Mas com a maioria não funciona assim. Já fez terapia?Fiz uma única vez na Olimpíada passada. Eu estava escalada como comentarista da Rede Globo, e havia perdido o meu irmão. E eu já tinha perdido meu pai, minha mãe, mas segurei a onda. Mas, quando perdi meu irmão, eu dei uma desestruturada. Aí fui fazer análise, por um mês. E o doutor falou: “Relaxa, você tem um pilar muito forte”. Na verdade, não foi “pilar” que ele falou. Como chama aquela coisa que faz para construir prédio em cima? Isso, alicerce. Você ganhou dinheiro com o basquete?Ganhei. Ganhou muito? Você fez toda a sua carreira no Brasil... Ganhei. Agora, depende, o que é ganhar dinheiro pra você? de re-pente, pra mim é uma coisa, pras outras pessoas é outra. Eu, por exemplo, vivo muito bem. E eu falo pra muita gente, falo pras meni-nas, que meu futuro tá garantido. O que não tá garantido é meu pre-

sente. O que eu ganhei jogando basquete está guardado, está lá para o meu futuro, quando eu tiver 70 anos de idade. O que eu ganho hoje, não fico guardando pra amanhã. Porque o de amanhã já tá guardado. Seu cargo atual é remunerado? Claro. Ninguém trabalha de graça, eu acho errado isso. Mesmo porque isso evita gerar a suspeita de que você esteja roubando. Eu ganho o que ganha uma executiva do meu padrão, que faz o que eu faço. Se hoje uma jogadora da seleção recebesse uma proposta para posar nua, o que você diria a ela? Toca o pau. Acho que é legal, porque promove você, promove a modalidade. Não vejo nada contra, não. Eu posei por dois motivos. Primeiro: dinheiro. Comprei um apartamento aqui em São Paulo que eu não tinha. Segundo: pelo desafio. Adoro ser desafiada. Eu fui a primeira jogadora de basquete a posar nua. Pra mostrar pra eles que mulher que pratica esporte tem corpo bonito, sensual, bacana. A gente usa aquele shortão aqui, mas tirando aquilo, de calcinha e sutiã, nós somos bonitas, entendeu? É isso. Certa vez, o locutor Osmar Santos fez um comentário pouco abonador sobre a sua beleza e a da Paula?Sabe o que acontece? Eu sei o que eu sou. Eu sei quando eu sou bonita, eu sei quando eu sou feia, eu sei quando eu sou sensual, eu sei o que eu joguei, eu sei o que eu posso. Eu não preciso que você me diga. Eu não tô preocupada. Eu sou vaidosa, toda mulher é vaidosa. Se eu soubesse que vocês iam tirar foto, se eu soubesse que vocês iam me filmar, eu podia estar maquiada. Mas não tô. Foda-se. As pessoas me encontram e falam: “Nossa, você é mais bonita pessoalmente.” Hoje eu fui a uma loja pegar umas roupas e a mulher falou assim: “Nossa, você gosta de usar roupa mais sensual, mostrando mais o corpo, mostrando a perna.” Por quê? Porque eu tenho perna pra mostrar. Quando eu não tiver mais, não tenha dúvida que eu vou cobrir. Eu sei o que sou. Eu não preciso ser a mais bonita para conseguir um namorado. Você está namorando?Não, mas é por opção. Estou bem assim, estou há um ano e meio livre. Que delícia, tô curtindo minha família, meus amigos. Eu fico sozinha numa boa. Antes, eu emendava um namorado no outro. Agora dou um tempo. Estou deixando a cadeira um pouco desocupa-da pras pessoas sentarem. Se tá sempre ocupada, ninguém senta do lado. É gostoso ver as pessoas te ligarem, querendo estar com você. Você é possessiva no relacionamento?Não. Eu só exijo que a pessoa me respeite. Só isso. do mesmo jeito que eu respeito. Então, assim: o que tá combinado não é caro. É um relacionamento sério? Então tem que ser sério para os dois. É uma amizade colorida? Então, é amizade colorida para os dois. O que é bom pra você, tem que ser bom pra mim, senão não dá. As pessoas falam assim: “Sexualmente, o que vale?” Vale aquilo que te faz feliz. Se não te faz feliz, não vale. Você curte o grude, ficar juntinho muito tempo?Curto, mas eu tenho a minha individualidade e respeito a sua. Eu jamais vou pegar seu celular e vou ver o que tá escrito nele, por mais

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entrevista | hortência

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2016: Você acha que o Brasil precisou reaprender a jogar basquete? Teve uma geração muito forte individualmente. No feminino, havia você e a Paula. Sem isso, nossa seleção passou a jogar mais coletivamente. Isso é bom para o basquete brasileiro?Hortência: Olha, é muito difícil você comparar uma geração com a outra. Primeira coisa: o basquete hoje é muito diferente – você não consegue jogar mais 40 minutos seguidos. Ficou tudo muito rápido, intenso. Hoje você tem 24 segundos pra arremessar a bola, 8 segundos pra atravessar a quadra. Antigamente não tinha isso. Eu tenho certeza que hoje eu não conseguiria jogar os 40 minutos como eu jogava naquela época. O basquete se tornou mais coletivo para se adequar às novas regras. Mas o basquete dos Estados Unidos, mesmo com as mudan-ças nas regras, continuou sendo muito forte individualmente, revelando sempre jogadoras de alto nível. O que falta para a gente chegar lá?Ali é diferente. Além de toda uma cultura escolar voltada para o esporte, eles têm condições de, por exemplo, treinar um mês antes da Olimpíada com o elenco completo. Aqui, você tem de negociar a liberação de jogadores importantes e ainda por cima corrigir defeitos que teriam de ser reparados lá atrás, na base, na formação. O funda-

mento da jogadora americana é perfeito. Ele aprendeu na escola. O Michael Jordan, o Magic Johnson, saíram da escola. Nossos atletas saem do clube. Isso faz toda a diferença. Essa defasagem, portanto, nunca será recuperada.Só se a gente copiar o modelo deles. Nós estamos fazendo um movi-mento para que isso aconteça. Para chegar lá, temos de unir o Minis-tério do Esporte, o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde. Porque esporte é educação e saúde. Nós temos que juntar esses três na formação, na escola. Vai nos Estados Unidos pra ver o lugar onde as crianças treinam, onde elas fazem aula de educação física... O vôlei brasileiro conseguiu dar esse salto de qualidade...Porque teve uma gestão excepcional. Qual a diferença do voleibol para o basquete da época em que nós começamos a jogar? É que o vôlei teve uma gestão profissional; e o basquete, não. Nós estamos implementando essa gestão profissional agora. Você tem que ser sério, ir a fundo no problema. Por exemplo, no ano passado, com essa história de Olimpíada-2016, Rio de Janeiro e tal, eu fui até o Ministério do Esporte. O ministério tem convênio. Nós pegamos esse convênio e conseguimos treinar a minha seleção sub-19, que foi disputar o Mundial. Viajei o mundo em um ano. Sabe a que lugar eu cheguei? Terceiro lugar, pódio, coisa que nunca tinha acontecido. E ainda fizemos a melhor jogadora do mundo, a Tamires. Quando há dinheiro e planejamento...A gente consegue andar. Fui buscar de novo neste ano. Só que o dinheiro não chegou por causa de um erro que a Confederação teve, a prestação de contas de um convênio passado tava em aberto. E, se tá aberto um convênio, não chega o novo. Não recebi. Então, este ano é perdido pra mim. Porque eu tenho Mundial sub-17, eu tenho uma Copa América sub-18 e ia dar a liga para que a seleção sub-19 do ano passado continuasse a sub-20 deste ano. Não vou poder fazer. Não vou viajar o mundo com essas meninas, porque o dinheiro não vai sair ainda. Já foi liberado, a prestação de contas tá certinha, foi feito tudo bonitinho. Mas até entrar de novo... A burocracia me travou. A seleção feminina de basquete trocou de técnico. Você não ficou tentada, em algum momento, a assumir o posto de trei-nadora? Não seria mais cômodo – e produtivo – do que ficar lidando com a burocracia da Confederação? Eu não estou em busca do que é fácil para mim. Eu tenho certeza que a minha contribuição como diretora de seleções é o melhor que eu posso fazer para o basquete brasileiro no momento. Qual é a meta do basquete feminino para Londres?Estamos levando algumas jogadoras novas e algumas jogadoras experientes, porque o resultado é importante. Tirando as america-nas, o resto vai brigar, em pé de igualdade, pelo pódio. O impor-tante é que todas as jogadores tenham o mesmo objetivo. Vocês se lembram da seleção do futebol da Copa de 2006, com Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos, Cafu? Sim, baita time.Sim, era um grande time. Mas aí quando eu vi que um queria bater o recorde de partidas disputadas em Copas do Mundo, que o outro queria quebrar o recorde de gols, eu falei: “Não vai dar certo.” Qual o

"A PAUlA TINHA UM PROblEMA. A FAMílIA dElA FAzIA UMA ENORME pressão para que ela Me superasse. o pai dela ia nos jogos e Me xingava"

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único caminho que leva você lá em cima? É todo mundo estar pensando igual. Como fazer uma jogadora geniosa – e talentosa – como a Iziane, que tem um histórico de problemas com a seleção, pensar igual ao grupo? A Iziane saiu muito cedo de casa. Ela vem de família muito pobre, lá do Maranhão, ela tem uma carcaça muito dura. Mas, por dentro, é muito sensível. Então toda essa carcaça que ela coloca é pra se proteger. Não é fácil passar todos esses anos em que ela jogou na Europa e agora nos EUA. Ela nunca me deu um problema. Você levaria para Londres o Nenê Hilário e o Leandrinho, atletas da NBA que pediram dispensa do Pré-Olímpico?Se eles quisessem muito, eu levaria. Tem que conversar com eles. Sentir se eles querem mesmo. Você demonstra uma preocupação muito grande com o lado psicológico das jogadoras. Como isso tem sido trabalhado nas suas seleções?Nós temos um psicólogo, mas não achei uma pessoa que fizesse o trabalho que eu acho que tem de ser feito. E vou dizer uma coisa pra você, eu me preocupo com o psicológico, que é fundamental, mas há também a parte hormonal das jogadoras. Por isso nós temos den-tro da seleção brasileira uma ginecologista. Não é pra cuidar de problema ginecológico, não, é pra cuidar do problema hormonal. Imagine uma situação em que você trabalha três meses e, no dia do jogo mais importante, tem quatro jogadoras menstruadas? A menina acorda chorando, vai tomar café chorando. Já era. O que adianta você fazer uma preparação técnica, tática, física, tudo, fisiolo-gista, nutricionista, e aí a menina tá com TPM no dia? Mas o que se faz nessa hora?Não faz. Elas não vão menstruar durante a competição. Vão tomar pílula anticoncepcional até acabar a Olimpíada. Você tinha TPM?Tinha, claro. Mas eu não chorava. Ficava puta, com mais vontade de ganhar. Mas com a maioria não funciona assim. Já fez terapia?Fiz uma única vez na Olimpíada passada. Eu estava escalada como comentarista da Rede Globo, e havia perdido o meu irmão. E eu já tinha perdido meu pai, minha mãe, mas segurei a onda. Mas, quando perdi meu irmão, eu dei uma desestruturada. Aí fui fazer análise, por um mês. E o doutor falou: “Relaxa, você tem um pilar muito forte”. Na verdade, não foi “pilar” que ele falou. Como chama aquela coisa que faz para construir prédio em cima? Isso, alicerce. Você ganhou dinheiro com o basquete?Ganhei. Ganhou muito? Você fez toda a sua carreira no Brasil... Ganhei. Agora, depende, o que é ganhar dinheiro pra você? de re-pente, pra mim é uma coisa, pras outras pessoas é outra. Eu, por exemplo, vivo muito bem. E eu falo pra muita gente, falo pras meni-nas, que meu futuro tá garantido. O que não tá garantido é meu pre-

sente. O que eu ganhei jogando basquete está guardado, está lá para o meu futuro, quando eu tiver 70 anos de idade. O que eu ganho hoje, não fico guardando pra amanhã. Porque o de amanhã já tá guardado. Seu cargo atual é remunerado? Claro. Ninguém trabalha de graça, eu acho errado isso. Mesmo porque isso evita gerar a suspeita de que você esteja roubando. Eu ganho o que ganha uma executiva do meu padrão, que faz o que eu faço. Se hoje uma jogadora da seleção recebesse uma proposta para posar nua, o que você diria a ela? Toca o pau. Acho que é legal, porque promove você, promove a modalidade. Não vejo nada contra, não. Eu posei por dois motivos. Primeiro: dinheiro. Comprei um apartamento aqui em São Paulo que eu não tinha. Segundo: pelo desafio. Adoro ser desafiada. Eu fui a primeira jogadora de basquete a posar nua. Pra mostrar pra eles que mulher que pratica esporte tem corpo bonito, sensual, bacana. A gente usa aquele shortão aqui, mas tirando aquilo, de calcinha e sutiã, nós somos bonitas, entendeu? É isso. Certa vez, o locutor Osmar Santos fez um comentário pouco abonador sobre a sua beleza e a da Paula?Sabe o que acontece? Eu sei o que eu sou. Eu sei quando eu sou bonita, eu sei quando eu sou feia, eu sei quando eu sou sensual, eu sei o que eu joguei, eu sei o que eu posso. Eu não preciso que você me diga. Eu não tô preocupada. Eu sou vaidosa, toda mulher é vaidosa. Se eu soubesse que vocês iam tirar foto, se eu soubesse que vocês iam me filmar, eu podia estar maquiada. Mas não tô. Foda-se. As pessoas me encontram e falam: “Nossa, você é mais bonita pessoalmente.” Hoje eu fui a uma loja pegar umas roupas e a mulher falou assim: “Nossa, você gosta de usar roupa mais sensual, mostrando mais o corpo, mostrando a perna.” Por quê? Porque eu tenho perna pra mostrar. Quando eu não tiver mais, não tenha dúvida que eu vou cobrir. Eu sei o que sou. Eu não preciso ser a mais bonita para conseguir um namorado. Você está namorando?Não, mas é por opção. Estou bem assim, estou há um ano e meio livre. Que delícia, tô curtindo minha família, meus amigos. Eu fico sozinha numa boa. Antes, eu emendava um namorado no outro. Agora dou um tempo. Estou deixando a cadeira um pouco desocupa-da pras pessoas sentarem. Se tá sempre ocupada, ninguém senta do lado. É gostoso ver as pessoas te ligarem, querendo estar com você. Você é possessiva no relacionamento?Não. Eu só exijo que a pessoa me respeite. Só isso. do mesmo jeito que eu respeito. Então, assim: o que tá combinado não é caro. É um relacionamento sério? Então tem que ser sério para os dois. É uma amizade colorida? Então, é amizade colorida para os dois. O que é bom pra você, tem que ser bom pra mim, senão não dá. As pessoas falam assim: “Sexualmente, o que vale?” Vale aquilo que te faz feliz. Se não te faz feliz, não vale. Você curte o grude, ficar juntinho muito tempo?Curto, mas eu tenho a minha individualidade e respeito a sua. Eu jamais vou pegar seu celular e vou ver o que tá escrito nele, por mais

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que eu esteja com você há dez anos. Eu não faço isso. Eu não quero dividir as coisas ruins com você. O dia a dia é muito terrível num rela-cionamento. Essa coisa toda... Você sabe é qual a chance de eu morar junto com uma pessoa? Never. Nunca mais?desde que eu saí da minha casa, sempre morei sozinha. Quando fui casada, cada um no seu lugar. Quando a gente começou a morar junto, acabou o casamento. Não dá certo. Mas não tenho nada contra quem mora junto, cada um tem que fazer o seu casamento. Eu não posso fazer do meu casamento igual ao do vizinho. Cada um tem seu estilo, cada um tem seu caráter, cada um tem a sua personalidade. Entendeu? É difícil conviver com você no dia a dia?É. Mas sou muito carinhosa com quem é carinhoso comigo. Isso é uma arma minha, entendeu? Para evitar aquele cara que é que nem abelha: vai lá, pica e você tá fodido. Acho que relacionamento hoje é tão difícil. A coisa da internet, a preocupação, é tão difícil, cara. Seus filhos têm ciúme de você?Nossa! E como. O mais velho tem 16, e o mais novo, 15. Um dia, um me perguntou: “Aonde você vai com essa roupa?” O outro mandou: “Você tá fazendo sexo com quem?”

wv E o que você respondeu?disse que não era da conta dele. Falei: “Você não tá namorando? E eu fico perguntando com quem você tá fazendo sexo?” Como é a vida amorosa de uma atleta de alto nível, na concen-tração, por exemplo.Vou dizer uma coisa pra você. Mata alguém ficar um mês sem tran-sar? Ah, gente, pelo amor de deus! Sabe... Eu tenho outros objetivos. Mas numa Olimpíada, você fica trancada ali, não pode sair...Ué, você nunca ficou um mês sem transar? [Silêncio...]Por que um atleta não pode ficar? Vai lá no banheiro e se resolve sozinha. A vida é feita de opção. O esquema é esse: você quer? Você comprou a ideia comigo? Você está comigo? Senão, fica aqui na balada. Tem outras que querem. Mais vale uma pessoa que quer do que aquela que é um pouquinho melhor, mas não está a fim, está a fim de ficar vendo homem bonito, de cervejinha, baladinha, dormir tarde. Você fica de olho nas jogadoras? Você é chata?Eu sou. Pra você ter uma ideia das minhas categorias de base, eu não preciso nem fazer isso porque os treinadores fazem, principalmente a Janete. Computador no quarto, por exemplo, é proibido. Você pega o laptop das jogadoras?das adultas não. das pequenininhas eu pego. Por quê?Se eu não pegar, elas não dormem. Você sempre disse que a competição com a Paula a estimu-lou a jogar cada vez melhor. Já ela nunca resolveu muito bem essa questão da rivalidade. Chegou até a fazer terapia depois que parou de jogar...Eu torcia para a Paula. Porque, se ela fizesse 20, eu tinha que fazer 30. E eu treinei a vida inteira pra ser melhor que ela. Não sei se consegui, mas eu treinei. E também não importa. A Paula foi um grande motivador pra mim. Mas ela, pelo jeito, nunca conseguiu transformar a rivalidade em algo positivo.A Paula tinha um problema. Eu nunca comentei sobre isso. A família dela fazia uma enorme pressão para que ela me superasse. A rivalidade era estimulada dentro da casa dela. O pai dela ia nos jogos e me xingava. Xingava muito até. Já meu pai... Ele sentava lá no cantinho e não abria a boca. Eu nunca incentivei isso nele, nem ele em mim. Você e a Paula chegaram a brigar em algum momento?brigar eu e ela? A gente teve uma discussão. Nós jogávamos no mesmo time e o conflito foi por causa da irmã dela, que defendia o outro. A branca jogou comigo por cinco anos, ela era armadora do meu time. E, junto comigo, ela jogava pra ganhar da irmã dela, do outro lado. Teve um certo momento que eu fui jogar com a Paula, e a branca foi jogar em outro lugar. Teve um problema entre mim e a branca e ela meio que levou para o lado familiar.

Foi defender a Branca?É. Mas eu morro muito pela minha sinceridade. Eu sou “sincericida”. Eu falo pra você agora, depois eu viro as costas e acabou o assunto. Acabou, não tenho mágoa de ninguém, não tenho ressentimento de ninguém. Vocês se falam hoje? São próximas?Nós não somos amigas, nunca fomos amigas. Mas eu sei o sentimento que nós temos uma pela outra. É uma mistura de amor, paixão, idolatria, agradecimento. Ela foi minha madrinha de casamento, pra você ter uma ideia de como era minha relação com ela. Eu achava que naquele momento, um dos mais marcantes da minha vida, a pessoa mais importante da minha profissão tinha que estar lá. E pus a Paula do lado do Pelé ainda. Puxa, era uma honra pra qualquer pessoa. Hoje eu faço palestras. Uma parte da minha fala eu dedico para a Paula. Eu falo sobre essa coisa da rivalidade, a importância que ela teve na minha vida, como é fundamental você ter um concorrente. É importante essa rivalidade. doeu, porque você abria o jornal e via um monte de merda ali. E aquilo machuca. A Paula falou “isso é mentira”, mas eu às vezes sabia, ela não sabia que era mentira. Como você se diverte? Para onde você vai? O que você faz?Eu saio e me divirto muito. Primeiro, eu me divirto com meus filhos, eu amo estar com meus filhos. Segundo, saio pra jantar, fim de semana eu vou pra praia, eu sou convidada, eu chamo meus amigos. Só não gosto de ficar programando muito. Você bebe?bebo socialmente. Ontem, por exemplo, eu tomei uma garrafa de vinho junto com dois amigos. Como foi para você, no auge profissional, se casar com o “rei da noite” nos anos 80 [o empresário José Victor Oliva, dono da badalada boate Gallery]?Quando casei, eu tinha 29 anos, ia fazer 30. E era o momento de eu casar. Mas nunca aquilo atrapalhou minha vida profissional. Você tem noção com quem eu casei na época? O cara era o rei da noite. Vocês me viram na badalação? Não viram. Isso porque eu sei o que quero da minha vida. Não é porque eu casei com o rei da noite que eu vou ser a rainha da noite. Você saía de manhã para treinar e ele estava chegando?Eu não morava com ele. Eu nem sabia que hora ele chegava. Olha que mulher bacana. Mas ele também não via quem tava comigo deitado na cama (risos). Os seus dois filhos estão envolvidos com o hipismo e não com o basquete. Não é uma frustração para você?Não, é um alívio. Imagina eu assistindo um jogo de basquete do meu filho, comparando ele comigo? Sacanagem. Você joga basquete com os amigos?Não, nunca mais joguei. Hoje, se você arremessar dez bolas na linha do lance livre, quantas cestas você faz?Meto as dez. Aposta comigo que você vai se ferrar.

Hoje, como é a sua relação com alimentação e atividade física?Meu dia só começa depois da ginástica. Antes de tomar café?Não. Tá louco? Como você vai fazer ginástica sem tomar café? Meu café é muito simples. Eu acordo, tomo um suco, eu tenho minhas vitaminas, que tomo direto. Eu como um pãozinho com manteiga que eu não abro mão. Você não pode ser radical, não pode abrir mão das coisas que dão prazer a você. Café da manhã pra mim tem que ser um cafezinho, que depois de 50 anos comecei a tomar, porque meu neuro mandou tomar, e eu nunca havia tomado café na minha vida. Tomo suco de laranja, eu como a minha fruta, meu pãozinho com manteiga, as minhas vitaminas e vou pro treino. Qual foi o problema de saúde mais grave que você teve?Aos 25 anos, eu tive um problema neurológico por causa de hor-mônio, da pílula anticoncepcional. Por conta disso, tive um AVCzinho. Tive enxaqueca, fiquei internada por um mês. A pílula provocou um problema de obstrução de uma artéria do cérebro. Aí eu desmaiei. Que nem aconteceu com o... Ricardo Gomes [ex-técnico do Vasco].Esse mesmo. Só que o dele foi forte, não foi essa bobagenzinha que aconteceu comigo.

"EU NãO MORAVA COM ElE [O EMPRE-SáRIO JOSÉ VICTOR OlIVA]. EU NEM SAbIA QUE HORA ElE CHEGAVA. OlHA QUE MUlHER bACANA. Mas ele taMbéM não via queM tava coMigo deitado na caMa"

FOTOS: MUJICA

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que eu esteja com você há dez anos. Eu não faço isso. Eu não quero dividir as coisas ruins com você. O dia a dia é muito terrível num rela-cionamento. Essa coisa toda... Você sabe é qual a chance de eu morar junto com uma pessoa? Never. Nunca mais?desde que eu saí da minha casa, sempre morei sozinha. Quando fui casada, cada um no seu lugar. Quando a gente começou a morar junto, acabou o casamento. Não dá certo. Mas não tenho nada contra quem mora junto, cada um tem que fazer o seu casamento. Eu não posso fazer do meu casamento igual ao do vizinho. Cada um tem seu estilo, cada um tem seu caráter, cada um tem a sua personalidade. Entendeu? É difícil conviver com você no dia a dia?É. Mas sou muito carinhosa com quem é carinhoso comigo. Isso é uma arma minha, entendeu? Para evitar aquele cara que é que nem abelha: vai lá, pica e você tá fodido. Acho que relacionamento hoje é tão difícil. A coisa da internet, a preocupação, é tão difícil, cara. Seus filhos têm ciúme de você?Nossa! E como. O mais velho tem 16, e o mais novo, 15. Um dia, um me perguntou: “Aonde você vai com essa roupa?” O outro mandou: “Você tá fazendo sexo com quem?”

wv E o que você respondeu?disse que não era da conta dele. Falei: “Você não tá namorando? E eu fico perguntando com quem você tá fazendo sexo?” Como é a vida amorosa de uma atleta de alto nível, na concen-tração, por exemplo.Vou dizer uma coisa pra você. Mata alguém ficar um mês sem tran-sar? Ah, gente, pelo amor de deus! Sabe... Eu tenho outros objetivos. Mas numa Olimpíada, você fica trancada ali, não pode sair...Ué, você nunca ficou um mês sem transar? [Silêncio...]Por que um atleta não pode ficar? Vai lá no banheiro e se resolve sozinha. A vida é feita de opção. O esquema é esse: você quer? Você comprou a ideia comigo? Você está comigo? Senão, fica aqui na balada. Tem outras que querem. Mais vale uma pessoa que quer do que aquela que é um pouquinho melhor, mas não está a fim, está a fim de ficar vendo homem bonito, de cervejinha, baladinha, dormir tarde. Você fica de olho nas jogadoras? Você é chata?Eu sou. Pra você ter uma ideia das minhas categorias de base, eu não preciso nem fazer isso porque os treinadores fazem, principalmente a Janete. Computador no quarto, por exemplo, é proibido. Você pega o laptop das jogadoras?das adultas não. das pequenininhas eu pego. Por quê?Se eu não pegar, elas não dormem. Você sempre disse que a competição com a Paula a estimu-lou a jogar cada vez melhor. Já ela nunca resolveu muito bem essa questão da rivalidade. Chegou até a fazer terapia depois que parou de jogar...Eu torcia para a Paula. Porque, se ela fizesse 20, eu tinha que fazer 30. E eu treinei a vida inteira pra ser melhor que ela. Não sei se consegui, mas eu treinei. E também não importa. A Paula foi um grande motivador pra mim. Mas ela, pelo jeito, nunca conseguiu transformar a rivalidade em algo positivo.A Paula tinha um problema. Eu nunca comentei sobre isso. A família dela fazia uma enorme pressão para que ela me superasse. A rivalidade era estimulada dentro da casa dela. O pai dela ia nos jogos e me xingava. Xingava muito até. Já meu pai... Ele sentava lá no cantinho e não abria a boca. Eu nunca incentivei isso nele, nem ele em mim. Você e a Paula chegaram a brigar em algum momento?brigar eu e ela? A gente teve uma discussão. Nós jogávamos no mesmo time e o conflito foi por causa da irmã dela, que defendia o outro. A branca jogou comigo por cinco anos, ela era armadora do meu time. E, junto comigo, ela jogava pra ganhar da irmã dela, do outro lado. Teve um certo momento que eu fui jogar com a Paula, e a branca foi jogar em outro lugar. Teve um problema entre mim e a branca e ela meio que levou para o lado familiar.

Foi defender a Branca?É. Mas eu morro muito pela minha sinceridade. Eu sou “sincericida”. Eu falo pra você agora, depois eu viro as costas e acabou o assunto. Acabou, não tenho mágoa de ninguém, não tenho ressentimento de ninguém. Vocês se falam hoje? São próximas?Nós não somos amigas, nunca fomos amigas. Mas eu sei o sentimento que nós temos uma pela outra. É uma mistura de amor, paixão, idolatria, agradecimento. Ela foi minha madrinha de casamento, pra você ter uma ideia de como era minha relação com ela. Eu achava que naquele momento, um dos mais marcantes da minha vida, a pessoa mais importante da minha profissão tinha que estar lá. E pus a Paula do lado do Pelé ainda. Puxa, era uma honra pra qualquer pessoa. Hoje eu faço palestras. Uma parte da minha fala eu dedico para a Paula. Eu falo sobre essa coisa da rivalidade, a importância que ela teve na minha vida, como é fundamental você ter um concorrente. É importante essa rivalidade. doeu, porque você abria o jornal e via um monte de merda ali. E aquilo machuca. A Paula falou “isso é mentira”, mas eu às vezes sabia, ela não sabia que era mentira. Como você se diverte? Para onde você vai? O que você faz?Eu saio e me divirto muito. Primeiro, eu me divirto com meus filhos, eu amo estar com meus filhos. Segundo, saio pra jantar, fim de semana eu vou pra praia, eu sou convidada, eu chamo meus amigos. Só não gosto de ficar programando muito. Você bebe?bebo socialmente. Ontem, por exemplo, eu tomei uma garrafa de vinho junto com dois amigos. Como foi para você, no auge profissional, se casar com o “rei da noite” nos anos 80 [o empresário José Victor Oliva, dono da badalada boate Gallery]?Quando casei, eu tinha 29 anos, ia fazer 30. E era o momento de eu casar. Mas nunca aquilo atrapalhou minha vida profissional. Você tem noção com quem eu casei na época? O cara era o rei da noite. Vocês me viram na badalação? Não viram. Isso porque eu sei o que quero da minha vida. Não é porque eu casei com o rei da noite que eu vou ser a rainha da noite. Você saía de manhã para treinar e ele estava chegando?Eu não morava com ele. Eu nem sabia que hora ele chegava. Olha que mulher bacana. Mas ele também não via quem tava comigo deitado na cama (risos). Os seus dois filhos estão envolvidos com o hipismo e não com o basquete. Não é uma frustração para você?Não, é um alívio. Imagina eu assistindo um jogo de basquete do meu filho, comparando ele comigo? Sacanagem. Você joga basquete com os amigos?Não, nunca mais joguei. Hoje, se você arremessar dez bolas na linha do lance livre, quantas cestas você faz?Meto as dez. Aposta comigo que você vai se ferrar.

Hoje, como é a sua relação com alimentação e atividade física?Meu dia só começa depois da ginástica. Antes de tomar café?Não. Tá louco? Como você vai fazer ginástica sem tomar café? Meu café é muito simples. Eu acordo, tomo um suco, eu tenho minhas vitaminas, que tomo direto. Eu como um pãozinho com manteiga que eu não abro mão. Você não pode ser radical, não pode abrir mão das coisas que dão prazer a você. Café da manhã pra mim tem que ser um cafezinho, que depois de 50 anos comecei a tomar, porque meu neuro mandou tomar, e eu nunca havia tomado café na minha vida. Tomo suco de laranja, eu como a minha fruta, meu pãozinho com manteiga, as minhas vitaminas e vou pro treino. Qual foi o problema de saúde mais grave que você teve?Aos 25 anos, eu tive um problema neurológico por causa de hor-mônio, da pílula anticoncepcional. Por conta disso, tive um AVCzinho. Tive enxaqueca, fiquei internada por um mês. A pílula provocou um problema de obstrução de uma artéria do cérebro. Aí eu desmaiei. Que nem aconteceu com o... Ricardo Gomes [ex-técnico do Vasco].Esse mesmo. Só que o dele foi forte, não foi essa bobagenzinha que aconteceu comigo.

"EU NãO MORAVA COM ElE [O EMPRE-SáRIO JOSÉ VICTOR OlIVA]. EU NEM SAbIA QUE HORA ElE CHEGAVA. OlHA QUE MUlHER bACANA. Mas ele taMbéM não via queM tava coMigo deitado na caMa"

FOTOS: MUJICA

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Page 30: Revista 2016 / Maio

Ela nada, monta a caValo, corrE, atira E joga Esgrima. yanE marquEs, uma das maiorEs pEntatlEtas do

mundo, Vai a londrEs para buscar a mEdalha quE podE mudar sua Vida – E surprEEndEr sEu prÓprio país

capa

p o l i y a n e

Após quase dez horas de competição, Yane Marques está esgotada. A dor, companheira constante de todos os atletas profissionais, não incomoda tanto. A mente implora para que ela solte o fio de concentração que ainda resta para, finalmente, poder descansar. Mas é justamente agora, quando a disputa se aproxima do fim, que a brasileira precisa manter o foco, superar a exaustão física e o desgaste psicológico. Seu desafio é imenso: atirar, correr um quilômetro, atirar, correr um quilômetro, atirar, correr um quilômetro. Yane detesta correr, mas é muito boa na pistola. Enquanto mira com precisão militar, adversárias se aproximam, esbaforidas, fazendo barulho. Trata-se de um duelo direto. Quem cruzar a linha de chegada primeiro vence. “A autoconfiança é um fator de supremacia, diz Yane, de longe a melhor brasileira no pentatlo moderno e, por enquanto, nossa única classificada no esporte para a Olimpíada de 2012. “Se você olha as mulheres do pentatlo, elas parecem fisicamente normais, mas têm um psicológico extremamente forte.”

por lucas bessel Fotos João castellano

SUpERMUlHER Ao pôr do sol do rio Guaíba, em porto Alegre, Yane Marques mostra, com orgulho, seu aparato de competição. "Autoconfiança é um fator de supremacia", diz a pentatleta pernambucana

Page 31: Revista 2016 / Maio

Ela nada, monta a caValo, corrE, atira E joga Esgrima. yanE marquEs, uma das maiorEs pEntatlEtas do

mundo, Vai a londrEs para buscar a mEdalha quE podE mudar sua Vida – E surprEEndEr sEu prÓprio país

capa

p o l i y a n e

Após quase dez horas de competição, Yane Marques está esgotada. A dor, companheira constante de todos os atletas profissionais, não incomoda tanto. A mente implora para que ela solte o fio de concentração que ainda resta para, finalmente, poder descansar. Mas é justamente agora, quando a disputa se aproxima do fim, que a brasileira precisa manter o foco, superar a exaustão física e o desgaste psicológico. Seu desafio é imenso: atirar, correr um quilômetro, atirar, correr um quilômetro, atirar, correr um quilômetro. Yane detesta correr, mas é muito boa na pistola. Enquanto mira com precisão militar, adversárias se aproximam, esbaforidas, fazendo barulho. Trata-se de um duelo direto. Quem cruzar a linha de chegada primeiro vence. “A autoconfiança é um fator de supremacia, diz Yane, de longe a melhor brasileira no pentatlo moderno e, por enquanto, nossa única classificada no esporte para a Olimpíada de 2012. “Se você olha as mulheres do pentatlo, elas parecem fisicamente normais, mas têm um psicológico extremamente forte.”

por lucas bessel Fotos João castellano

SUpERMUlHER Ao pôr do sol do rio Guaíba, em porto Alegre, Yane Marques mostra, com orgulho, seu aparato de competição. "Autoconfiança é um fator de supremacia", diz a pentatleta pernambucana

Page 32: Revista 2016 / Maio

Como funCiona o pentatlo modernoEm grande eventos, a competição pode levar mais de dez horas

• as competições olímpicas de pentatlo moderno

são disputadas sempre na seguinte ordem:

1 Esgrima

2 natação

3 Equitação

4 Evento combinado (corrida + tiro)

• somando-se os tempos de aquecimento, prepa-

ração e competição, uma final envolvendo 36

atletas pode levar mais de dez horas.

• na esgrima, todos duelam contra todos. Vence

o atleta que marcar um ponto primeiro. se ao final

de um minuto nenhum dos dois marcar, ambos

são considerados perdedores.

• a natação consiste em uma prova de

200 metros livre.

• a prova de equitação é muito semelhante

a um concurso de saltos "normal". os percursos

têm de 350 a 450 metros e 12 obstáculos. os cavalos

são selecionados pela organização e repassados

aos atletas por sorteio.

• cada uma das provas anteriores soma pontos para

o evento combinado, que junta tiro e corrida.

o atleta que tiver mais pontos larga primeiro.

o segundo mais bem colocado parte em seguida,

sendo que cada quatro pontos correspondem a

um segundo de desvantagem, e assim por diante.

• o evento combinado envolve três sequências de

tiro e corrida. o atleta tem que acertar cinco tiros

de laser em um alvo a 10 metros de distância (em

até 1m10s) e então percorrer mil metros no menor

tempo possível. no final, fica assim: tiro + 1.000 m

+ tiro + 1.000 m + tiro + 1.000 m.

• no fim das contas, vence aquele que cruzar

primeiro a linha de chegada. por exemplo: se

o terceiro atleta a largar ultrapassar o segundo

e o primeiro colocados durante o evento

combinado, ele será o campeão.

Normal é uma palavra que dificil-mente definiria alguém que, em um único dia, joga 35 vezes na esgrima, nada 200 metros, salta de cavalo sobre 12 obstáculos, corre três quilômetros e acerta um total de 15 tiros em três alvos distintos. Menos usual ainda é que o Brasil, sem nenhuma tradição no esporte, seja o país de uma das me-lhores pentatletas do mundo, frequen-tadora assídua do top 10 do ranking da União Internacional de Pentatlo Moder-no (UIPM). De qualquer ângulo que se olhe, esse esporte parece massacrante. Muitas vezes, também mostra uma face terrivelmente injusta, por deixar aos caprichos do acaso algo tão importante quanto a escolha do cavalo com que

o atleta vai competir. “No pentatlo moderno, os cavalos são selecionados pela organização e sorteados entre os competidores”, diz Alexandre França, técnico de Yane. Cada animal cumpre o percurso de 12 saltos com dois atletas diferentes. Se uma lesão na pata ocorri-da na primeira parte passa despercebi-da, o prejuízo para o esportista seguinte é quase irreparável. “Esse imponderá-vel da equitação é crucial”, diz Yane. “Enquanto alguns atletas fazem 1,2 mil pontos (máximo possível), outros de nível similar alcançam só 700.” Enga- na-se, porém, quem pensa que só das fortunas do destino vêm a trajetória e os resultados impressionantes dessa sim-pática loirinha de 28 anos. Yane nasceu

em Afogados da Ingazeira, município de 35 mil habitantes na caatinga pernam-bucana. Filha de funcionária pública e de um empregado da Companhia de Eletricidade de Pernambuco, é a caçula em uma escadinha que tem mais duas irmãs e um irmão. Única esportista da família, mostrou desde cedo vocação para travessuras. “Em Afogados, onde tinha condição de criar filho na rua, Yane subia em árvore, brincava na calçada, jogava pião e soltava pipa”, lembra a mãe, dona Gorete. Na escola? “Às vezes, não sei o que dava, ela não queria entrar na sala de aula de jeito ne-nhum”, entrega a mãe. “Deu um pouco de trabalho no colégio, mas nunca foi reprovada.” A vida pacata do interior

durou até 1995, quando a família se mudou para Recife para que os filhos pudessem frequentar a faculdade. Um ano mais tarde, Yane, então com 12 anos, se encontrou nas piscinas do Clube Náutico Capibaribe, de onde migrou para o tradicional Nikita Natação. Ali, seu talento natural na água não passou despercebido – e sorte e trabalho começaram a andar juntos.

“Claro que a natação é a prova de que mais gosto”, diz a brasilei-ra. “Eu vim da piscina, e só depois conheci o biatlo e o pentatlo.” A atleta é quase uma descoberta forçada. A Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno só nasceu porque a lei Agnelo/Piva, que foi sancionada em 2001 e destina parte da arrecadação das loterias fe-derais ao Comitê Olímpico Brasileiro, exigia que uma porcentagem da verba fosse repassada ao desconhecido esporte olímpico. Não fosse isso, Yane provavelmente seria mais um dos talentos perdidos do Brasil, sufocados pela falta de apoio e de recursos. “Ela é con-temporânea da nadadora Joanna Maranhão, mas em determinado momento não teve mais condições financeiras de evoluir nas pisci-nas”, diz Helio Meirelles, presidente da Confederação. Em 2003,

capa

vidA dE qUARtEl Sargento do Exército brasileiro, Yane participa de prova mista nos Jogos Mundiais Militares de 2011 (à esq.). Ao centro, exibe o vistoso uniforme na prova de equitação. A rotina militar também pode ser vista nos treinos de natação, sua prova favorita

Fotos: UipM (divulgação) / João Castellano

Page 33: Revista 2016 / Maio

Como funCiona o pentatlo modernoEm grande eventos, a competição pode levar mais de dez horas

• as competições olímpicas de pentatlo moderno

são disputadas sempre na seguinte ordem:

1 Esgrima

2 natação

3 Equitação

4 Evento combinado (corrida + tiro)

• somando-se os tempos de aquecimento, prepa-

ração e competição, uma final envolvendo 36

atletas pode levar mais de dez horas.

• na esgrima, todos duelam contra todos. Vence

o atleta que marcar um ponto primeiro. se ao final

de um minuto nenhum dos dois marcar, ambos

são considerados perdedores.

• a natação consiste em uma prova de

200 metros livre.

• a prova de equitação é muito semelhante

a um concurso de saltos "normal". os percursos

têm de 350 a 450 metros e 12 obstáculos. os cavalos

são selecionados pela organização e repassados

aos atletas por sorteio.

• cada uma das provas anteriores soma pontos para

o evento combinado, que junta tiro e corrida.

o atleta que tiver mais pontos larga primeiro.

o segundo mais bem colocado parte em seguida,

sendo que cada quatro pontos correspondem a

um segundo de desvantagem, e assim por diante.

• o evento combinado envolve três sequências de

tiro e corrida. o atleta tem que acertar cinco tiros

de laser em um alvo a 10 metros de distância (em

até 1m10s) e então percorrer mil metros no menor

tempo possível. no final, fica assim: tiro + 1.000 m

+ tiro + 1.000 m + tiro + 1.000 m.

• no fim das contas, vence aquele que cruzar

primeiro a linha de chegada. por exemplo: se

o terceiro atleta a largar ultrapassar o segundo

e o primeiro colocados durante o evento

combinado, ele será o campeão.

Normal é uma palavra que dificil-mente definiria alguém que, em um único dia, joga 35 vezes na esgrima, nada 200 metros, salta de cavalo sobre 12 obstáculos, corre três quilômetros e acerta um total de 15 tiros em três alvos distintos. Menos usual ainda é que o Brasil, sem nenhuma tradição no esporte, seja o país de uma das me-lhores pentatletas do mundo, frequen-tadora assídua do top 10 do ranking da União Internacional de Pentatlo Moder-no (UIPM). De qualquer ângulo que se olhe, esse esporte parece massacrante. Muitas vezes, também mostra uma face terrivelmente injusta, por deixar aos caprichos do acaso algo tão importante quanto a escolha do cavalo com que

o atleta vai competir. “No pentatlo moderno, os cavalos são selecionados pela organização e sorteados entre os competidores”, diz Alexandre França, técnico de Yane. Cada animal cumpre o percurso de 12 saltos com dois atletas diferentes. Se uma lesão na pata ocorri-da na primeira parte passa despercebi-da, o prejuízo para o esportista seguinte é quase irreparável. “Esse imponderá-vel da equitação é crucial”, diz Yane. “Enquanto alguns atletas fazem 1,2 mil pontos (máximo possível), outros de nível similar alcançam só 700.” Enga- na-se, porém, quem pensa que só das fortunas do destino vêm a trajetória e os resultados impressionantes dessa sim-pática loirinha de 28 anos. Yane nasceu

em Afogados da Ingazeira, município de 35 mil habitantes na caatinga pernam-bucana. Filha de funcionária pública e de um empregado da Companhia de Eletricidade de Pernambuco, é a caçula em uma escadinha que tem mais duas irmãs e um irmão. Única esportista da família, mostrou desde cedo vocação para travessuras. “Em Afogados, onde tinha condição de criar filho na rua, Yane subia em árvore, brincava na calçada, jogava pião e soltava pipa”, lembra a mãe, dona Gorete. Na escola? “Às vezes, não sei o que dava, ela não queria entrar na sala de aula de jeito ne-nhum”, entrega a mãe. “Deu um pouco de trabalho no colégio, mas nunca foi reprovada.” A vida pacata do interior

durou até 1995, quando a família se mudou para Recife para que os filhos pudessem frequentar a faculdade. Um ano mais tarde, Yane, então com 12 anos, se encontrou nas piscinas do Clube Náutico Capibaribe, de onde migrou para o tradicional Nikita Natação. Ali, seu talento natural na água não passou despercebido – e sorte e trabalho começaram a andar juntos.

“Claro que a natação é a prova de que mais gosto”, diz a brasilei-ra. “Eu vim da piscina, e só depois conheci o biatlo e o pentatlo.” A atleta é quase uma descoberta forçada. A Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno só nasceu porque a lei Agnelo/Piva, que foi sancionada em 2001 e destina parte da arrecadação das loterias fe-derais ao Comitê Olímpico Brasileiro, exigia que uma porcentagem da verba fosse repassada ao desconhecido esporte olímpico. Não fosse isso, Yane provavelmente seria mais um dos talentos perdidos do Brasil, sufocados pela falta de apoio e de recursos. “Ela é con-temporânea da nadadora Joanna Maranhão, mas em determinado momento não teve mais condições financeiras de evoluir nas pisci-nas”, diz Helio Meirelles, presidente da Confederação. Em 2003,

capa

vidA dE qUARtEl Sargento do Exército brasileiro, Yane participa de prova mista nos Jogos Mundiais Militares de 2011 (à esq.). Ao centro, exibe o vistoso uniforme na prova de equitação. A rotina militar também pode ser vista nos treinos de natação, sua prova favorita

Fotos: UipM (divulgação) / João Castellano

Page 34: Revista 2016 / Maio

vjá recrutada pelos olheiros do pentatlo e contando com a mínima estrutura necessária, a pernambucana começou a treinar sério. O primeiro resultado expressivo não demorou: campeã sul- americana em 2004. Desde então, Yane não parou mais de evoluir e não passou um dia sequer sem sofrer as agruras daquele que é considerado o mais completo dos esportes.

Às seis da manhã, o despertador de Yane toca. Ela pode estar no Recife, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre ou em alguma cidade italiana. O treinamento é diário e sagrado, quase como uma missa celebrada em nome da superação. “A ordem varia segundo o dia, mas nunca faço menos do que três modalidades”, diz a atleta “Acordo, cor-ro, vou nadar, almoço, durmo um pouco, pratico esgrima ou faço musculação, vou ao fisioterapeuta e ao psicólogo.” Se não treina tiro durante o dia, Yane pratica de noite, em casa, para melhorar a mira e fortalecer os músculos do braço. “Acer-tar cinco tiros em nove segundos é uma marca excelente, mas, em média, a gen-te leva 12 segundos.” A rotina digna de quartel, a arma – que dispara um feixe de laser contra o alvo –, as habilidades de esgrimista e a destreza no cavalo não são as únicas ligações da atleta com os militares. Longe disso. Em parte, o Exército do Brasil é responsável pelo sucesso da pernambucana no pentatlo moderno. Yane Marques ostenta a patente de terceiro-sargento e competiu nos Jogos Mundiais Militares de 2011, realizados no Rio de Janeiro. Como qualquer outro membro das Forças Armadas, precisa se apresentar perio-dicamente ao seu general, participar de cerimônias oficiais e seguir o código dis-ciplinar da corporação. “Ela tem farda completa, coturno, boina, e aprendeu a atirar de fuzil”, diz a mãe, dona Gorete.

Para representar o Exército no espor- te, Yane recebe o soldo regular de um terceiro-sargento, cerca de R$ 3 mil por mês – pouco para um atleta de elite, mas muito para alguém que não conta com nenhum patrocínio privado em

dinheiro. “Às vezes, paro para pensar como seria se eu não estivesse no Exér-cito”, diz a brasileira. “Não teria parado de treinar, mas também não conseguiria passar uma temporada inteira no top 10 do ranking mundial.” Yane entrou para as Forças Armadas em 2009. Seu contrato como “atleta-soldado”, que é renovado anualmente, pode se estender até 2016. Por dois anos, o soldo foi sua única fonte de renda, até a instituição do programa Bolsa Atleta, da Caixa Econômica Federal, que pinga mais R$ 3 mil por mês na conta da esportista. Ela também recebe material de treinamento e competição da Nike, mas mostra frustração com a falta de apoio externo. “Eu tenho resultados melhores do que os futebolistas que jogam os campeonatos estaduais”, compara, “e, mesmo assim, ganho dez vezes menos”. As empresas não se inte-ressam? “Eu mesma já fiz apresentações em várias companhias e o pessoal ficou de boca aberta com os resultados”, conta. “Mas, até hoje, espero uns 20 retornos.” O orçamento limitado tem consequências inocentes, quase singe-las, como restringir as ligações que Yane recebe quando está fora do Recife: “Às vezes, estou com pouco crédito no celu-lar”, conta, ligeiramente encabulada.

Yane não esconde que, das modali-dades que compõem o pentatlo, a corri-da é a que impõe maiores dificuldades. Tanto que, nos períodos de treinamen-to, ela tem pesadelos com os puxados percursos que precisa cumprir. “Aquele treino de corrida pura, em que você vomita de exaustão no final, acontece uma vez por semana, mas eu passo dias, durmo e acordo pensando nesse treino.” Foi nos percursos a pé que ela teve maiores dificuldades em evoluir no início da carreira. Em compensa-ção, mostrou competência extrema ao chegar à esgrima, a ponto de ganhar elogios de um dos grandes nomes do esporte no mundo, o francês Sebastien dos Santos, treinador da equipe ame-ricana de pentatlo moderno. “Yane é muito focada e aprende muito rápido”,

disse ele durante os Jogos Mundiais Mi-litares de 2011. “Todos ficaram impres-sionados, não só eu.” Os elogios também vêm dos pares brasileiros, como a amiga e rival Priscila Oliveira, que ainda tenta a classificação para Londres-2012: “A Yane mostra muita regularidade nas cinco modalidades”, afirma Priscila. “Hoje, ela é uma atleta completa.”

Yane é uma atleta completa, mas está preparada para chegar a uma medalha olímpica? No jogo de sorte e azar que as-sombra os competidores do pentatlo mo-derno, fazer previsões é algo que poucos arriscam. “Esse esporte tem aquela coisa do dia, de ser o dia certo”, afirma o presi-dente da Confederação Brasileira, Helio Meirelles. “Entre as 36 finalistas de uma Olimpíada, as chances de medalha são muito parecidas”, diz o dirigente. Ainda assim, dá para dizer sem medo de errar: uma medalha olímpica nunca esteve tão perto para Yane, que ficou na 18a colocação em Pequim-2008. E as ambições vão ainda mais longe, mais precisamente até os Jogos do Rio, em 2016: “Até lá, vou continuar treinando e farei de tudo para ir à Olimpíada no Brasil”, diz. Yane resume assim o senti-mento de, com ou sem farda, represen-tar o País: “É uma sensação de dever cumprido.” Quem sabe se, em Londres, a medalha de honra se junta à de ouro.

capa

47

MAIO 2012 | istoé 2016

CERtEiRA Rápida na pistola, Yane con-segue acertar cinco tiros em 12 segundos logo após correr um quilômetro

Page 35: Revista 2016 / Maio

vjá recrutada pelos olheiros do pentatlo e contando com a mínima estrutura necessária, a pernambucana começou a treinar sério. O primeiro resultado expressivo não demorou: campeã sul- americana em 2004. Desde então, Yane não parou mais de evoluir e não passou um dia sequer sem sofrer as agruras daquele que é considerado o mais completo dos esportes.

Às seis da manhã, o despertador de Yane toca. Ela pode estar no Recife, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre ou em alguma cidade italiana. O treinamento é diário e sagrado, quase como uma missa celebrada em nome da superação. “A ordem varia segundo o dia, mas nunca faço menos do que três modalidades”, diz a atleta “Acordo, cor-ro, vou nadar, almoço, durmo um pouco, pratico esgrima ou faço musculação, vou ao fisioterapeuta e ao psicólogo.” Se não treina tiro durante o dia, Yane pratica de noite, em casa, para melhorar a mira e fortalecer os músculos do braço. “Acer-tar cinco tiros em nove segundos é uma marca excelente, mas, em média, a gen-te leva 12 segundos.” A rotina digna de quartel, a arma – que dispara um feixe de laser contra o alvo –, as habilidades de esgrimista e a destreza no cavalo não são as únicas ligações da atleta com os militares. Longe disso. Em parte, o Exército do Brasil é responsável pelo sucesso da pernambucana no pentatlo moderno. Yane Marques ostenta a patente de terceiro-sargento e competiu nos Jogos Mundiais Militares de 2011, realizados no Rio de Janeiro. Como qualquer outro membro das Forças Armadas, precisa se apresentar perio-dicamente ao seu general, participar de cerimônias oficiais e seguir o código dis-ciplinar da corporação. “Ela tem farda completa, coturno, boina, e aprendeu a atirar de fuzil”, diz a mãe, dona Gorete.

Para representar o Exército no espor- te, Yane recebe o soldo regular de um terceiro-sargento, cerca de R$ 3 mil por mês – pouco para um atleta de elite, mas muito para alguém que não conta com nenhum patrocínio privado em

dinheiro. “Às vezes, paro para pensar como seria se eu não estivesse no Exér-cito”, diz a brasileira. “Não teria parado de treinar, mas também não conseguiria passar uma temporada inteira no top 10 do ranking mundial.” Yane entrou para as Forças Armadas em 2009. Seu contrato como “atleta-soldado”, que é renovado anualmente, pode se estender até 2016. Por dois anos, o soldo foi sua única fonte de renda, até a instituição do programa Bolsa Atleta, da Caixa Econômica Federal, que pinga mais R$ 3 mil por mês na conta da esportista. Ela também recebe material de treinamento e competição da Nike, mas mostra frustração com a falta de apoio externo. “Eu tenho resultados melhores do que os futebolistas que jogam os campeonatos estaduais”, compara, “e, mesmo assim, ganho dez vezes menos”. As empresas não se inte-ressam? “Eu mesma já fiz apresentações em várias companhias e o pessoal ficou de boca aberta com os resultados”, conta. “Mas, até hoje, espero uns 20 retornos.” O orçamento limitado tem consequências inocentes, quase singe-las, como restringir as ligações que Yane recebe quando está fora do Recife: “Às vezes, estou com pouco crédito no celu-lar”, conta, ligeiramente encabulada.

Yane não esconde que, das modali-dades que compõem o pentatlo, a corri-da é a que impõe maiores dificuldades. Tanto que, nos períodos de treinamen-to, ela tem pesadelos com os puxados percursos que precisa cumprir. “Aquele treino de corrida pura, em que você vomita de exaustão no final, acontece uma vez por semana, mas eu passo dias, durmo e acordo pensando nesse treino.” Foi nos percursos a pé que ela teve maiores dificuldades em evoluir no início da carreira. Em compensa-ção, mostrou competência extrema ao chegar à esgrima, a ponto de ganhar elogios de um dos grandes nomes do esporte no mundo, o francês Sebastien dos Santos, treinador da equipe ame-ricana de pentatlo moderno. “Yane é muito focada e aprende muito rápido”,

disse ele durante os Jogos Mundiais Mi-litares de 2011. “Todos ficaram impres-sionados, não só eu.” Os elogios também vêm dos pares brasileiros, como a amiga e rival Priscila Oliveira, que ainda tenta a classificação para Londres-2012: “A Yane mostra muita regularidade nas cinco modalidades”, afirma Priscila. “Hoje, ela é uma atleta completa.”

Yane é uma atleta completa, mas está preparada para chegar a uma medalha olímpica? No jogo de sorte e azar que as-sombra os competidores do pentatlo mo-derno, fazer previsões é algo que poucos arriscam. “Esse esporte tem aquela coisa do dia, de ser o dia certo”, afirma o presi-dente da Confederação Brasileira, Helio Meirelles. “Entre as 36 finalistas de uma Olimpíada, as chances de medalha são muito parecidas”, diz o dirigente. Ainda assim, dá para dizer sem medo de errar: uma medalha olímpica nunca esteve tão perto para Yane, que ficou na 18a colocação em Pequim-2008. E as ambições vão ainda mais longe, mais precisamente até os Jogos do Rio, em 2016: “Até lá, vou continuar treinando e farei de tudo para ir à Olimpíada no Brasil”, diz. Yane resume assim o senti-mento de, com ou sem farda, represen-tar o País: “É uma sensação de dever cumprido.” Quem sabe se, em Londres, a medalha de honra se junta à de ouro.

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MAIO 2012 | istoé 2016

CERtEiRA Rápida na pistola, Yane con-segue acertar cinco tiros em 12 segundos logo após correr um quilômetro

Page 36: Revista 2016 / Maio

Nos Estados UNidos dEsdE os 11 aNos, Stanisława Walasiewicz adotou o nome de Stella Walsh. Na Olimpíada de Los Angeles (EUA), em 1932, a polonesa ainda não tinha a cidadania americana. Decidiu, então, competir pela terra natal. Com “passadas largas, como as de um homem”, conforme escreveu um cronista da época, Walasiewicz/Walsh triunfou na final dos 100 metros com o tempo de 11s9, igua-lando o recorde mundial da holandesa Tollien Schuurman. Era a segunda mulher da história a quebrar a barreira dos 12 segundos. A carreira da velocista prosseguiu. No ano seguinte, bateu o recorde mundial dos 60 metros ao cravar 7s3, marca que demoraria longos 26 anos para ser superada. Em 1935, em Varsóvia (Polônia), onde já gozava de muita fama, tornou-se a primeira mulher a correr os 200 metros em menos de 24 segundos. A marca de 23s6, um segundo mais rápida do que o recorde anterior, duraria 17 anos. Já veterana aos 34, superou os 100 metros em 11s2, recorde nunca oficializado. “Os árbitros não acreditavam ser possível para uma mulher correr tão rápido”, lamentou. “Os anos mostraram que eu estava à frente do meu tempo.” Talvez até à frente demais. Em 1980, Walsh foi assassinada durante assalto a um supermercado em Cleveland, onde vivia nos Estados Unidos. O tiro deu início à primeira polêmica de gênero da história olímpica. A autópsia mostrou que a ex-corredora possuía genitália masculina interna, embora também tivesse caracte-rísticas femininas.Meio século depois, Walsh teve mantidos seus feitos nas pistas.

mulher de verdade?A HistóriA do esporte é repletA de cAsos de AtletAs com cArActerísticAs

mAsculinAs que se escondem – conscientemente ou não – sob corpos femininos

e que, por essA rAzão, brilHAm nAs competições

Por adalberto leister Filho

ciência

irmãos? As russas tamara e irina press conquistaram cinco medalhas olímpicas, mantiveram 27 recordes e colecionaram inimigas desconfiadas, que as chamavam de "os irmãos press"

foto: Keystone/Getty images

Page 37: Revista 2016 / Maio

Nos Estados UNidos dEsdE os 11 aNos, Stanisława Walasiewicz adotou o nome de Stella Walsh. Na Olimpíada de Los Angeles (EUA), em 1932, a polonesa ainda não tinha a cidadania americana. Decidiu, então, competir pela terra natal. Com “passadas largas, como as de um homem”, conforme escreveu um cronista da época, Walasiewicz/Walsh triunfou na final dos 100 metros com o tempo de 11s9, igua-lando o recorde mundial da holandesa Tollien Schuurman. Era a segunda mulher da história a quebrar a barreira dos 12 segundos. A carreira da velocista prosseguiu. No ano seguinte, bateu o recorde mundial dos 60 metros ao cravar 7s3, marca que demoraria longos 26 anos para ser superada. Em 1935, em Varsóvia (Polônia), onde já gozava de muita fama, tornou-se a primeira mulher a correr os 200 metros em menos de 24 segundos. A marca de 23s6, um segundo mais rápida do que o recorde anterior, duraria 17 anos. Já veterana aos 34, superou os 100 metros em 11s2, recorde nunca oficializado. “Os árbitros não acreditavam ser possível para uma mulher correr tão rápido”, lamentou. “Os anos mostraram que eu estava à frente do meu tempo.” Talvez até à frente demais. Em 1980, Walsh foi assassinada durante assalto a um supermercado em Cleveland, onde vivia nos Estados Unidos. O tiro deu início à primeira polêmica de gênero da história olímpica. A autópsia mostrou que a ex-corredora possuía genitália masculina interna, embora também tivesse caracte-rísticas femininas.Meio século depois, Walsh teve mantidos seus feitos nas pistas.

mulher de verdade?A HistóriA do esporte é repletA de cAsos de AtletAs com cArActerísticAs

mAsculinAs que se escondem – conscientemente ou não – sob corpos femininos

e que, por essA rAzão, brilHAm nAs competições

Por adalberto leister Filho

ciência

irmãos? As russas tamara e irina press conquistaram cinco medalhas olímpicas, mantiveram 27 recordes e colecionaram inimigas desconfiadas, que as chamavam de "os irmãos press"

foto: Keystone/Getty images

Page 38: Revista 2016 / Maio

A história do esporte é pródiga em casos de atletas fraudadores – ou com características masculinas – que tirariam vantagem física ao competir contra mu-lheres. Walsh não foi a única polêmica de gênero nos Jogos de Berlim (Alema-nha). Dora Ratjen competiu no salto em altura com menos sucesso. Não pas-sou da quarta posição, ao superar apenas 1,58 m. Dois anos depois, a alemã bateu o recorde mundial (1,67 m) no Campeo-nato Europeu de Viena (Áustria), a essa altura anexada à Alemanha nazista. Na volta para casa, o maquinista do trem que a conduzia notou o óbvio: havia um viajante vestido de mulher. Abordada pela polícia, Dora confessou ser homem. Há versões que dizem que ela competiu pela Alemanha por exigência do regime de Hitler, interessado em usar glórias esportivas como propaganda. Por não ter obtido lucro com a fraude, Dora foi inocentada e deixou o esporte. No ano seguinte, mudou seu nome para Hein-rich. Com a participação mais efetiva das mulheres no esporte, a partir dos anos 30 denúncias de fraudes de gênero se tornaram comuns. Em 1934, Zdenka Koubkova havia conquistado a melhor marca da história nos 800 metros. Anos depois, a tchecoslovaca, que possuía dis-função sexual, faria cirurgia de mudança de sexo e passaria a se chamar Zdenek Koubek. Junto com Mary Weston, do arremesso de dardo, as duas despertaram suspeitas na Olimpíada de Berlim. Meses depois dos Jogos, a britânica também mudaria de sexo e de nome (Mark) e se casaria com a amiga Alberta Bray.

A paralisação do esporte com a Segunda Guerra Mundial adiou novas controvérsias. Quando elas ressurgiram, vieram temperadas pela bipolariza-ção do mundo com a Guerra Fria. As conquistas olímpicas eram usadas para enaltecer o regime socialista soviético ou o capitalista americano, gerando acu-sações de parte a parte sobre o uso de atletas andróginas. A maior suspeita da época era em relação às irmãs Tamara e Irina Press. Nos anos 1960, as soviéticas conquistaram cinco medalhas de ouro

"os árbitros não AcreditAvAm que umA mulHer pudesse ser tão rápidA" (stellA wAlsH)

ciência

O tempO e O gênerOAs conquistAs dAs AtletAs com Atributos mAsculinos

1932 Stanisława Walasiewicz/Stella Walsh vence os 100 m nos Jogos de Los Angeles. Uma autópsia no corpo da polonesa, morta em 1980, mostrou que ela tinha os dois órgãos sexuais

1934 Zdenka Koubkova bate o recorde mundial dos 800 m nos Jogos Mundiais de Londres. Um exame provou que ela tinha características sexuais masculinas. Seu recorde é cassado. Anos depois, Koubkova fez cirurgia de mudança de sexo e passou a se chamar Zdenek Koubek

1936 Helen Stephens derrota Stella Walsh na final dos 100 m. Há descon- fiança de que a americana é um homem. O COI conclui que ela é mulher

1950 Foekje Dillema é expulsa do atletismo ao se recusar a fazer um teste de feminilidade. Após sua morte, exame de células da pele de Dillema mostrou que ela tinha genótipos XX e XY, característicos de ambos os sexos

1960 As irmãs Tamara e Irina Press ganham um ouro olímpico cada. Ambas enfrentam acusações de não serem femininas

1962 A obscura sin Kim dan (1) supera a marca de Maria Itkina nos 400 m. A norte-coreana é a primeira mulher a cravar menos de 51 segundos na modalidade. Muitos acreditam que Sin Kim Dan era homem

1964 Última Olimpíada das irmãs Press. Tamara vence os arremessos de disco e peso. Irina é campeã no pentatlo. As duas deixam o atletismo com o início dos testes de feminilidade

1966 São implantados os testes de feminilidade

1967 Ewa Kłobukowska é a primeira atleta a falhar em um teste de gênero. Seu exame detecta um “cromossomo a mais”. Campeã olímpica no reve- zamento 4 x 100 m em Tóquio-1964, a tchecoslovaca é banida do esporte. No ano seguinte, engravida, dá à luz um filho e sua punição é revogada

1968 A austríaca Erika Schinegger é a primeira atleta reprovada em uma Olimpíada por possuir órgãos internos masculinos. A esquiadora é impedida de competir nos Jogos de Inverno de Grenoble.

1986 Heidi Krieger é campeã europeia de arremesso de peso. Vítima do programa de dopagem na ex-Alemanha Oriental, desenvolveu características masculinas. Em 1997, fez cirurgia de mudança de sexo

1996 Edinanci Silva passa por cirurgia para poder competir na Olimpíada de Atlanta. A judoca faria carreira de sucesso nos tatames

1997 Erika Coimbra não passa no teste de feminilidade no Mundial Juvenil de Vôlei. O exame detectou excesso de testosterona, e a jogadora teve que fazer tratamento para poder voltar a competir

2006 santhi soundarajan (2) ganha a prata nos 800 m dos Jogos Asiáticos, em Doha. Seu teste de feminilidade, contudo, aponta que ela não possui “características femininas”, e a indiana perde a medalha

2009 Caster semenya (3) é campeã mundial dos 800 m em Berlim. A possível vantagem física da sul-africana em relação a suas concorrentes gerou polêmica. A Iaaf fez testes na corredora e confirmou a medalha

(1)

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foto: breuer/nY daily news Archive via Getty images foto: Afp | epA/nAtHAn G | stefan matzke

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MAIO 2012 | istoé 2016

Page 39: Revista 2016 / Maio

A história do esporte é pródiga em casos de atletas fraudadores – ou com características masculinas – que tirariam vantagem física ao competir contra mu-lheres. Walsh não foi a única polêmica de gênero nos Jogos de Berlim (Alema-nha). Dora Ratjen competiu no salto em altura com menos sucesso. Não pas-sou da quarta posição, ao superar apenas 1,58 m. Dois anos depois, a alemã bateu o recorde mundial (1,67 m) no Campeo-nato Europeu de Viena (Áustria), a essa altura anexada à Alemanha nazista. Na volta para casa, o maquinista do trem que a conduzia notou o óbvio: havia um viajante vestido de mulher. Abordada pela polícia, Dora confessou ser homem. Há versões que dizem que ela competiu pela Alemanha por exigência do regime de Hitler, interessado em usar glórias esportivas como propaganda. Por não ter obtido lucro com a fraude, Dora foi inocentada e deixou o esporte. No ano seguinte, mudou seu nome para Hein-rich. Com a participação mais efetiva das mulheres no esporte, a partir dos anos 30 denúncias de fraudes de gênero se tornaram comuns. Em 1934, Zdenka Koubkova havia conquistado a melhor marca da história nos 800 metros. Anos depois, a tchecoslovaca, que possuía dis-função sexual, faria cirurgia de mudança de sexo e passaria a se chamar Zdenek Koubek. Junto com Mary Weston, do arremesso de dardo, as duas despertaram suspeitas na Olimpíada de Berlim. Meses depois dos Jogos, a britânica também mudaria de sexo e de nome (Mark) e se casaria com a amiga Alberta Bray.

A paralisação do esporte com a Segunda Guerra Mundial adiou novas controvérsias. Quando elas ressurgiram, vieram temperadas pela bipolariza-ção do mundo com a Guerra Fria. As conquistas olímpicas eram usadas para enaltecer o regime socialista soviético ou o capitalista americano, gerando acu-sações de parte a parte sobre o uso de atletas andróginas. A maior suspeita da época era em relação às irmãs Tamara e Irina Press. Nos anos 1960, as soviéticas conquistaram cinco medalhas de ouro

"os árbitros não AcreditAvAm que umA mulHer pudesse ser tão rápidA" (stellA wAlsH)

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O tempO e O gênerOAs conquistAs dAs AtletAs com Atributos mAsculinos

1932 Stanisława Walasiewicz/Stella Walsh vence os 100 m nos Jogos de Los Angeles. Uma autópsia no corpo da polonesa, morta em 1980, mostrou que ela tinha os dois órgãos sexuais

1934 Zdenka Koubkova bate o recorde mundial dos 800 m nos Jogos Mundiais de Londres. Um exame provou que ela tinha características sexuais masculinas. Seu recorde é cassado. Anos depois, Koubkova fez cirurgia de mudança de sexo e passou a se chamar Zdenek Koubek

1936 Helen Stephens derrota Stella Walsh na final dos 100 m. Há descon- fiança de que a americana é um homem. O COI conclui que ela é mulher

1950 Foekje Dillema é expulsa do atletismo ao se recusar a fazer um teste de feminilidade. Após sua morte, exame de células da pele de Dillema mostrou que ela tinha genótipos XX e XY, característicos de ambos os sexos

1960 As irmãs Tamara e Irina Press ganham um ouro olímpico cada. Ambas enfrentam acusações de não serem femininas

1962 A obscura sin Kim dan (1) supera a marca de Maria Itkina nos 400 m. A norte-coreana é a primeira mulher a cravar menos de 51 segundos na modalidade. Muitos acreditam que Sin Kim Dan era homem

1964 Última Olimpíada das irmãs Press. Tamara vence os arremessos de disco e peso. Irina é campeã no pentatlo. As duas deixam o atletismo com o início dos testes de feminilidade

1966 São implantados os testes de feminilidade

1967 Ewa Kłobukowska é a primeira atleta a falhar em um teste de gênero. Seu exame detecta um “cromossomo a mais”. Campeã olímpica no reve- zamento 4 x 100 m em Tóquio-1964, a tchecoslovaca é banida do esporte. No ano seguinte, engravida, dá à luz um filho e sua punição é revogada

1968 A austríaca Erika Schinegger é a primeira atleta reprovada em uma Olimpíada por possuir órgãos internos masculinos. A esquiadora é impedida de competir nos Jogos de Inverno de Grenoble.

1986 Heidi Krieger é campeã europeia de arremesso de peso. Vítima do programa de dopagem na ex-Alemanha Oriental, desenvolveu características masculinas. Em 1997, fez cirurgia de mudança de sexo

1996 Edinanci Silva passa por cirurgia para poder competir na Olimpíada de Atlanta. A judoca faria carreira de sucesso nos tatames

1997 Erika Coimbra não passa no teste de feminilidade no Mundial Juvenil de Vôlei. O exame detectou excesso de testosterona, e a jogadora teve que fazer tratamento para poder voltar a competir

2006 santhi soundarajan (2) ganha a prata nos 800 m dos Jogos Asiáticos, em Doha. Seu teste de feminilidade, contudo, aponta que ela não possui “características femininas”, e a indiana perde a medalha

2009 Caster semenya (3) é campeã mundial dos 800 m em Berlim. A possível vantagem física da sul-africana em relação a suas concorrentes gerou polêmica. A Iaaf fez testes na corredora e confirmou a medalha

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foto: breuer/nY daily news Archive via Getty images foto: Afp | epA/nAtHAn G | stefan matzke

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MAIO 2012 | istoé 2016

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olímpicas, além de acumular 26 recordes mundiais na carreira. Em Roma-1960, elas se tornaram as únicas irmãs, em uma edição dos Jogos, a ganhar o ouro olímpico e bater o recorde mundial em suas provas. Apelidadas pelas inimigas de “os irmãos Press”, a dupla deixaria as competições após a implan-tação dos testes de feminilidade. Em 1966, foram introduzidos os exames de gênero, inicialmente nos Jogos da Comunidade Britânica de Kingston e no Campeonato Europeu de Atletismo de Budapeste. Em Olimpíadas, os testes foram adotados a partir dos Jogos de Inverno de Grenoble, dois anos depois, já sob o signo da polêmica. Campeã mundial na prova de slalom do esqui alpino em 1966, Erika Schinegger foi a primeira atleta reprovada. A austríaca tinha os órgãos sexuais masculinos inter-nos. Anos depois, Erika decidiu assumir essa identidade, passou por cirurgia e alterou seu nome para Erik.

A política sistemática de uso de doping gerou o caso mais bizarro da história do esporte. Talentosa nas provas de arremesso, a alemã-oriental Heidi Krieger recebia altas doses de esteroides anabólicos desde os 16 anos. Começou a desenvolver características masculi-nas, como voz grave e crescimento de pelos. Chegou a pesar 100 quilos. Tudo para manter um corpo capaz de atirar o peso e o disco a distâncias cada vez maiores. O auge ocorreu no Campeona-to Europeu de 1986, quando ela ganhou o ouro com a marca de 21,10 m. No ano seguinte, os efeitos colaterais se intensi-ficaram, e ela chegou a ser hospitalizada. “Não podia sair em público”, contou Heidi durante investigação sobre as práticas esportivas condenáveis durante a ditadura comunista. “Não me sentia como uma mulher. Me escondia de to-dos. Odiava meu corpo.” A solução para o dilema veio em 1997, com a cirurgia de mudança de sexo. “Tive meus seios re-movidos, retirei o útero e agora sou um homem”, contou a ex-atleta, que mudou seu nome para Andreas e hoje é casado com a ex-nadadora Ute Krause.

A polêmica voltou a agitar as pistas no Mundial de Berlim-2009. Com aparên-cia masculina, Caster Semenya deixou as adversárias para trás a fim de triunfar nos 800 metros. “Olhem para ela, é um homem”, criticou a russa Mariya Savino-va, que a derrotaria dois anos depois, no Mundial de Daegu (Coreia do Sul). A Associação Internacional das Federa-ções de Atletismo), porém, confirmou o ouro após a realização de exames mé-dicos. O pedido de teste foi duramente criticado na África do Sul, que acusou a federação de preconceito e racismo. Se-menya é portadora da chamada síndrome de insensibilidade androgênica. A pessoa com essa condição rara tem aparência fe-minina, mas possui um cromossomo X e um Y em cada célula, padrão encontrado no sexo masculino, o que a impediria de engravidar, por exemplo. Especialistas dizem, no entanto, que o problema não lhe confere vantagem física em relação às concorrentes. A polêmica deve seguir na Olimpíada de Londres. Semenya confir-mou participação olímpica após fazer o índice, em abril, em Pretoria.

No Brasil, o caso mais controverso em relação à questão de gêneros ocorreu com a judoca Edinanci Silva. Hermafro-dita de nascimento, ela teve de passar por cirurgia antes da Olimpíada de Atlanta, em 1996, para poder competir entre as mulheres. Uma das principais estrelas dos tatames do Brasil, Edinanci acumularia diversos títulos na carreira, incluindo um bicampeonato no Pan- Americano (2003 e 2007), antes de deixar as competições. Polêmica similar

chegou à seleção feminina de vôlei um ano depois. A ponta Erika Coimbra foi reprovada no teste de feminili- dade às vésperas do Mundial Juvenil. O exame detectou excesso do hormônio masculino testosterona em seu corpo, o que, teoricamente, lhe dava vanta--gem muscular sobre as adversárias. A jogadora acabou submetida à cirurgia e a tratamento hormonal para voltar a competir. Em 2000, ela ajudou a seleção brasileira a ganhar a medalha de bronze nos Jogos de Sydney.

A fisiologia explica a vantagem de atletas com atributos masculinos sobre as mulheres 100%. “Algumas caracterís-ticas presentes no corpo dos homens são determinantes: o hormônio testoste-rona, que dá mais força muscular em provas de velocidade, e a presença de mais glóbulos vermelhos no sangue, que dá vantagem em provas de resistência”, diz Turíbio Leite de Barros, professor da Universidade Federal de São Paulo e fisiologista especializado em esporte. Os homens desfrutam de evidente van-tagem física, com altura superior e mais massa muscular. “O sexo masculino produz 30 vezes mais testosterona, que é o principal hormônio anabólico do corpo”, afirma Paulo Zogaib, fisiologista do Palmeiras e do Pinheiros. “O homem leva vantagem no sistema respiratório, que capta mais oxigênio, e no sistema circulatório, que transporta mais sangue para os músculos.” Ou seja, só um tipo de atleta pode superar um campeão masculino: outro homem, mas escondi-do sob um corpo de mulher.

pódios A judoca brasileira edinanci silva (acima) exibe o ouro que conquistou nos Jogos pan-Americanos do rio, em 2007. reprovada em teste de feminilidade, a ponta erika coimbra teve de fazer cirurgia e tratamento hormonal para poder competir entre as meninas do vôlei

pArA poder competir nos JoGos de AtlAntA, edinAnci silvA teve de pAssAr por cirurGiA

ciência

fotos: reuters/bruno domingos | Ap photo/lefteris pitarakis

Page 41: Revista 2016 / Maio

olímpicas, além de acumular 26 recordes mundiais na carreira. Em Roma-1960, elas se tornaram as únicas irmãs, em uma edição dos Jogos, a ganhar o ouro olímpico e bater o recorde mundial em suas provas. Apelidadas pelas inimigas de “os irmãos Press”, a dupla deixaria as competições após a implan-tação dos testes de feminilidade. Em 1966, foram introduzidos os exames de gênero, inicialmente nos Jogos da Comunidade Britânica de Kingston e no Campeonato Europeu de Atletismo de Budapeste. Em Olimpíadas, os testes foram adotados a partir dos Jogos de Inverno de Grenoble, dois anos depois, já sob o signo da polêmica. Campeã mundial na prova de slalom do esqui alpino em 1966, Erika Schinegger foi a primeira atleta reprovada. A austríaca tinha os órgãos sexuais masculinos inter-nos. Anos depois, Erika decidiu assumir essa identidade, passou por cirurgia e alterou seu nome para Erik.

A política sistemática de uso de doping gerou o caso mais bizarro da história do esporte. Talentosa nas provas de arremesso, a alemã-oriental Heidi Krieger recebia altas doses de esteroides anabólicos desde os 16 anos. Começou a desenvolver características masculi-nas, como voz grave e crescimento de pelos. Chegou a pesar 100 quilos. Tudo para manter um corpo capaz de atirar o peso e o disco a distâncias cada vez maiores. O auge ocorreu no Campeona-to Europeu de 1986, quando ela ganhou o ouro com a marca de 21,10 m. No ano seguinte, os efeitos colaterais se intensi-ficaram, e ela chegou a ser hospitalizada. “Não podia sair em público”, contou Heidi durante investigação sobre as práticas esportivas condenáveis durante a ditadura comunista. “Não me sentia como uma mulher. Me escondia de to-dos. Odiava meu corpo.” A solução para o dilema veio em 1997, com a cirurgia de mudança de sexo. “Tive meus seios re-movidos, retirei o útero e agora sou um homem”, contou a ex-atleta, que mudou seu nome para Andreas e hoje é casado com a ex-nadadora Ute Krause.

A polêmica voltou a agitar as pistas no Mundial de Berlim-2009. Com aparên-cia masculina, Caster Semenya deixou as adversárias para trás a fim de triunfar nos 800 metros. “Olhem para ela, é um homem”, criticou a russa Mariya Savino-va, que a derrotaria dois anos depois, no Mundial de Daegu (Coreia do Sul). A Associação Internacional das Federa-ções de Atletismo), porém, confirmou o ouro após a realização de exames mé-dicos. O pedido de teste foi duramente criticado na África do Sul, que acusou a federação de preconceito e racismo. Se-menya é portadora da chamada síndrome de insensibilidade androgênica. A pessoa com essa condição rara tem aparência fe-minina, mas possui um cromossomo X e um Y em cada célula, padrão encontrado no sexo masculino, o que a impediria de engravidar, por exemplo. Especialistas dizem, no entanto, que o problema não lhe confere vantagem física em relação às concorrentes. A polêmica deve seguir na Olimpíada de Londres. Semenya confir-mou participação olímpica após fazer o índice, em abril, em Pretoria.

No Brasil, o caso mais controverso em relação à questão de gêneros ocorreu com a judoca Edinanci Silva. Hermafro-dita de nascimento, ela teve de passar por cirurgia antes da Olimpíada de Atlanta, em 1996, para poder competir entre as mulheres. Uma das principais estrelas dos tatames do Brasil, Edinanci acumularia diversos títulos na carreira, incluindo um bicampeonato no Pan- Americano (2003 e 2007), antes de deixar as competições. Polêmica similar

chegou à seleção feminina de vôlei um ano depois. A ponta Erika Coimbra foi reprovada no teste de feminili- dade às vésperas do Mundial Juvenil. O exame detectou excesso do hormônio masculino testosterona em seu corpo, o que, teoricamente, lhe dava vanta--gem muscular sobre as adversárias. A jogadora acabou submetida à cirurgia e a tratamento hormonal para voltar a competir. Em 2000, ela ajudou a seleção brasileira a ganhar a medalha de bronze nos Jogos de Sydney.

A fisiologia explica a vantagem de atletas com atributos masculinos sobre as mulheres 100%. “Algumas caracterís-ticas presentes no corpo dos homens são determinantes: o hormônio testoste-rona, que dá mais força muscular em provas de velocidade, e a presença de mais glóbulos vermelhos no sangue, que dá vantagem em provas de resistência”, diz Turíbio Leite de Barros, professor da Universidade Federal de São Paulo e fisiologista especializado em esporte. Os homens desfrutam de evidente van-tagem física, com altura superior e mais massa muscular. “O sexo masculino produz 30 vezes mais testosterona, que é o principal hormônio anabólico do corpo”, afirma Paulo Zogaib, fisiologista do Palmeiras e do Pinheiros. “O homem leva vantagem no sistema respiratório, que capta mais oxigênio, e no sistema circulatório, que transporta mais sangue para os músculos.” Ou seja, só um tipo de atleta pode superar um campeão masculino: outro homem, mas escondi-do sob um corpo de mulher.

pódios A judoca brasileira edinanci silva (acima) exibe o ouro que conquistou nos Jogos pan-Americanos do rio, em 2007. reprovada em teste de feminilidade, a ponta erika coimbra teve de fazer cirurgia e tratamento hormonal para poder competir entre as meninas do vôlei

pArA poder competir nos JoGos de AtlAntA, edinAnci silvA teve de pAssAr por cirurGiA

ciência

fotos: reuters/bruno domingos | Ap photo/lefteris pitarakis

Page 42: Revista 2016 / Maio

AtivosPara alguns atletas de Ponta, o término da carreira esPortiva significa

o início da vida emPresarial. convertidos em grifes, eles faturam alto

com academias que atraem jovens ansiosos Para seguir seus Passos

a Paranaense isabelle lobo sonha defender o brasil na Olimpíada do Rio. Com apenas 11 anos, completa a terceira temporada entre os dez melhores atletas da natação nacional em sua categoria. Já coleciona 12 medalhas no Campeonato Sul-Brasileiro. A paulista Paula Gonçalves começou a se interessar por tênis aos 4 anos de idade. Aos 12, jogou pela primeira vez em um campeonato brasileiro. Hoje, aos 21, luta para ficar com uma vaga na equipe brasileira nos Jogos de 2016. Além de sonhos e metas, essas atletas compartilham o privilégio de ter os seus progressos acompanhados por ex-astros do esporte. Isabelle é incentivada pelo nadador Gustavo Borges, medalha de prata nos Jogos de Barcelona 1992 e Atlanta 1996. Paula convive diariamente com o melhor jogador brasileiro de tênis em duplas da história, Carlos Alberto Kirmayr. Apesar de terem pendurado, respectivamente, a sunga e a raquete, esses ex-atletas não perderam a vontade de vencer. Só que agora o palco da competição é o mundo dos negócios. Como outros esportistas, hoje eles fazem dinheiro com academias que ostentam o nome de grifes do esporte nacional em suas fachadas.

Gustavo Borges começou a se preocupar com o seu futuro fora da água quando ainda estava no auge da carreira. Além das duas pratas olímpicas, ele chegou ao ano 2000 com 15 medalhas em Pan-Americanos. Mas sabia que, a partir dali, não iria mais viver com o que ganhava com suas braçadas. “Tive certeza de que não passaria da Olimpíada de 2004”, diz. “Estava com 28 anos e perdendo para pessoas mais jovens.” Enquanto treinava para os Jogos de Atenas, Borges tirou a touca, associou-se a Renato Ramalho, também ex-nadador, e abriu sua primeira academia em Curitiba. Termina-dos os Jogos, veio o fim da carreira como nadador e seu mergulho definitivo no mundo

por paola bello fotos kiko ferrite e jorge bispo (djan madruga)

negócios

APETITE Além de quatro academias com o seu nome, o ex-nadador Gustavo Borges vende um sistema de ensino e tem quatro cafeterias

55

maIo 2012 | istoé 2016

Foto: Luludi/AE | Fabio M. Saller/AE

Page 43: Revista 2016 / Maio

AtivosPara alguns atletas de Ponta, o término da carreira esPortiva significa

o início da vida emPresarial. convertidos em grifes, eles faturam alto

com academias que atraem jovens ansiosos Para seguir seus Passos

a Paranaense isabelle lobo sonha defender o brasil na Olimpíada do Rio. Com apenas 11 anos, completa a terceira temporada entre os dez melhores atletas da natação nacional em sua categoria. Já coleciona 12 medalhas no Campeonato Sul-Brasileiro. A paulista Paula Gonçalves começou a se interessar por tênis aos 4 anos de idade. Aos 12, jogou pela primeira vez em um campeonato brasileiro. Hoje, aos 21, luta para ficar com uma vaga na equipe brasileira nos Jogos de 2016. Além de sonhos e metas, essas atletas compartilham o privilégio de ter os seus progressos acompanhados por ex-astros do esporte. Isabelle é incentivada pelo nadador Gustavo Borges, medalha de prata nos Jogos de Barcelona 1992 e Atlanta 1996. Paula convive diariamente com o melhor jogador brasileiro de tênis em duplas da história, Carlos Alberto Kirmayr. Apesar de terem pendurado, respectivamente, a sunga e a raquete, esses ex-atletas não perderam a vontade de vencer. Só que agora o palco da competição é o mundo dos negócios. Como outros esportistas, hoje eles fazem dinheiro com academias que ostentam o nome de grifes do esporte nacional em suas fachadas.

Gustavo Borges começou a se preocupar com o seu futuro fora da água quando ainda estava no auge da carreira. Além das duas pratas olímpicas, ele chegou ao ano 2000 com 15 medalhas em Pan-Americanos. Mas sabia que, a partir dali, não iria mais viver com o que ganhava com suas braçadas. “Tive certeza de que não passaria da Olimpíada de 2004”, diz. “Estava com 28 anos e perdendo para pessoas mais jovens.” Enquanto treinava para os Jogos de Atenas, Borges tirou a touca, associou-se a Renato Ramalho, também ex-nadador, e abriu sua primeira academia em Curitiba. Termina-dos os Jogos, veio o fim da carreira como nadador e seu mergulho definitivo no mundo

por paola bello fotos kiko ferrite e jorge bispo (djan madruga)

negócios

APETITE Além de quatro academias com o seu nome, o ex-nadador Gustavo Borges vende um sistema de ensino e tem quatro cafeterias

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Foto: Luludi/AE | Fabio M. Saller/AE

Page 44: Revista 2016 / Maio

dos negócios. “Sempre tive espírito empreendedor”, afirma o medalhista olímpico. “A transição para empresário foi mais estranha que difícil.” Para ele, um dos grandes obstáculos do atleta logo que se aposenta é a quebra repentina da roti-na regrada. “Tem muita gente que cuida do atleta de alto rendimento. Quando você sai, a vida fica mais complicada. Não é mais só treinar e dormir.”

A virada foi melhor que o esperado. Atualmente, são três academias no Para-ná e uma em São Paulo. Para nadar lá, é necessário desembolsar cerca de R$ 300 por mês. Em todas elas, a prioridade não são as competições – os melhores atletas são encaminhados para clubes. A exceção é a unidade de Curitiba, que acabou con-centrando talentos promissores e motivou a criação de uma equipe de natação, na qual Isabelle treina. Além das academias próprias, Borges e sua equipe desenvol-veram um método próprio de ensino de natação, que, embalado como um produto à parte, é vendido para estabelecimentos em todo o País. A ideia prosperou. Hoje, o método está presente em 170 academias e chega a 40 mil alunos. Neste ano, também está sendo ministrado em cinco academias da África do Sul, todas da r ede Swimming Stars, do ex-nadador olímpico sul-africano Ryk Neethling. Com enver-gadura invejável, Borges consegue abraçar ainda mais negócios. Além dos centros de natação, ele é dono de quatro franquias de lojas do Café do Ponto.

Djan Madruga deu suas primeiras braçadas olímpicas aos 16 anos, em Mu-nique, 1972. Nadava desde os 6, depois de ter se afogado e quase morrido na praia de Copacabana. Em menos de dez anos, passou das primeiras aulas à Seleção Brasileira. Colocou seu nome na história do esporte em 1976, em Montreal, ao

ser o primeiro homem a nadar os 400 metros livre abaixo de quatro minutos. Como praticamente toda a elite brasileira das piscinas, foi convidado por uma universidade americana para estudar e aperfeiçoar suas técnicas no esporte. Lá, formou-se em educação física, fez mestrado e começou a cultivar a semente do empreendedorismo. “Meu treinador nos Estados Unidos colocou na minha cabeça que eu precisava ter uma piscina para ensinar as pessoas a nadar, além de treinar atletas de alto rendimento”, afirma o ex-atleta, hoje com 56 anos.

Em 1984, Madruga voltou ao Brasil, mas o sonho da piscina própria levou 15 anos de trabalho com marketing esportivo para ser realizado. Na academia que construiu, lançou, a exemplo do que fizera Gustavo Borges, um método próprio de ensino. Ao lado da natação, a academia oferece aulas de ioga, muscula-ção, ginástica e atividades físicas dentro de empresas. “Meu sonho sempre foi ensinar as pessoas a nadar e também de-senvolver o alto rendimento na natação”, diz Madruga. No ano passado, a meta começou a virar realidade. Dos cerca de mil alunos atendidos, 20 são atletas de alto rendimento. Eles treinam na piscina que o ex-nadador mantém no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. “Nosso forte são atletas de 12 a 16 anos”, diz. “Temos alguns que se destacam no Estado, outros com reconhecimento nacional e alguns que estão começando em mundiais.” A academia que ostenta o nome do ex-nadador já tem dez anos de vida e abriga três piscinas.

O empreendedorismo não é exclusi-vidade dos atletas da natação.A primeira experiência do ex-tenista Carlos Alberto Kirmayr no mundo empresarial foi uma participação societária em uma academia

em 28 anos de atividade o centro de kirmayr preparou três mil professores e 12 mil atletas

negócios

MULTI Hotel, centro de treinamento e instituto dedicado à

melhora do tênis nacional compõem o complexo que Carlos Alberto Kirmayr montou no interior de São Paulo

Foto: João Farkas

Page 45: Revista 2016 / Maio

dos negócios. “Sempre tive espírito empreendedor”, afirma o medalhista olímpico. “A transição para empresário foi mais estranha que difícil.” Para ele, um dos grandes obstáculos do atleta logo que se aposenta é a quebra repentina da roti-na regrada. “Tem muita gente que cuida do atleta de alto rendimento. Quando você sai, a vida fica mais complicada. Não é mais só treinar e dormir.”

A virada foi melhor que o esperado. Atualmente, são três academias no Para-ná e uma em São Paulo. Para nadar lá, é necessário desembolsar cerca de R$ 300 por mês. Em todas elas, a prioridade não são as competições – os melhores atletas são encaminhados para clubes. A exceção é a unidade de Curitiba, que acabou con-centrando talentos promissores e motivou a criação de uma equipe de natação, na qual Isabelle treina. Além das academias próprias, Borges e sua equipe desenvol-veram um método próprio de ensino de natação, que, embalado como um produto à parte, é vendido para estabelecimentos em todo o País. A ideia prosperou. Hoje, o método está presente em 170 academias e chega a 40 mil alunos. Neste ano, também está sendo ministrado em cinco academias da África do Sul, todas da r ede Swimming Stars, do ex-nadador olímpico sul-africano Ryk Neethling. Com enver-gadura invejável, Borges consegue abraçar ainda mais negócios. Além dos centros de natação, ele é dono de quatro franquias de lojas do Café do Ponto.

Djan Madruga deu suas primeiras braçadas olímpicas aos 16 anos, em Mu-nique, 1972. Nadava desde os 6, depois de ter se afogado e quase morrido na praia de Copacabana. Em menos de dez anos, passou das primeiras aulas à Seleção Brasileira. Colocou seu nome na história do esporte em 1976, em Montreal, ao

ser o primeiro homem a nadar os 400 metros livre abaixo de quatro minutos. Como praticamente toda a elite brasileira das piscinas, foi convidado por uma universidade americana para estudar e aperfeiçoar suas técnicas no esporte. Lá, formou-se em educação física, fez mestrado e começou a cultivar a semente do empreendedorismo. “Meu treinador nos Estados Unidos colocou na minha cabeça que eu precisava ter uma piscina para ensinar as pessoas a nadar, além de treinar atletas de alto rendimento”, afirma o ex-atleta, hoje com 56 anos.

Em 1984, Madruga voltou ao Brasil, mas o sonho da piscina própria levou 15 anos de trabalho com marketing esportivo para ser realizado. Na academia que construiu, lançou, a exemplo do que fizera Gustavo Borges, um método próprio de ensino. Ao lado da natação, a academia oferece aulas de ioga, muscula-ção, ginástica e atividades físicas dentro de empresas. “Meu sonho sempre foi ensinar as pessoas a nadar e também de-senvolver o alto rendimento na natação”, diz Madruga. No ano passado, a meta começou a virar realidade. Dos cerca de mil alunos atendidos, 20 são atletas de alto rendimento. Eles treinam na piscina que o ex-nadador mantém no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. “Nosso forte são atletas de 12 a 16 anos”, diz. “Temos alguns que se destacam no Estado, outros com reconhecimento nacional e alguns que estão começando em mundiais.” A academia que ostenta o nome do ex-nadador já tem dez anos de vida e abriga três piscinas.

O empreendedorismo não é exclusi-vidade dos atletas da natação.A primeira experiência do ex-tenista Carlos Alberto Kirmayr no mundo empresarial foi uma participação societária em uma academia

em 28 anos de atividade o centro de kirmayr preparou três mil professores e 12 mil atletas

negócios

MULTI Hotel, centro de treinamento e instituto dedicado à

melhora do tênis nacional compõem o complexo que Carlos Alberto Kirmayr montou no interior de São Paulo

Foto: João Farkas

Page 46: Revista 2016 / Maio

de Brasília nos anos 1980. Em 1983, ele começou a construir, em Serra Negra (SP), o complexo que hoje abriga seu centro de treinamento, um hotel-fazenda, um internato e um instituto dedicado a levar o tênis brasileiro ao topo. Para preparar seus discípulos, conta com uma infraestrutura de 11 quadras, academia de ginástica, duas piscinas, campo de futebol e vôlei de grama. Para aprender como passar adiante o que viveu nas quadras, ao longo da carreira foi trocando, aos poucos, a rotina de atleta pela de treinador. Quando já dominava o assunto, preparou as equipes brasileira e inglesa da Copa Davis até meados dos anos 1980 e, na década de 1990, levou a argentina Gabriela Sabatini à vitória no US Open e

à final de Wimbledon. A fama de um dos treinadores de tênis mais cobiçados do mundo abriu o caminho de Kirmayr nos negócios esportivos.

Em 28 anos de atividade, seu centro de treinamento coleciona mais de três mil professores capacitados e cerca de 12 mil atletas treinados. Muito mais do que campeões de Grand Slam, seu maior objetivo é garantir que os alunos do internato conquistem bolsas de estudos nos Estados Unidos, onde podem cursar faculdade e aprimorar as técnicas do esporte. Desde que inaugurou o centro, mais de 100 de seus alunos chegaram lá. Atualmente, 20 jovens e adolescentes vivem, estudam e treinam no centro de treinamento de Kirmayr. Com o custo

médio mensal de R$ 4 mil, os candidatos a tenistas seguem “um regime bastante militarizado, com horários e muitas regras para conseguir fazer tudo e dividir bem o tempo”, na definição do próprio dono. O esquema duro de trabalho lembra o modelo adotado pelo americano Nick Bollettieri, para muitos o melhor técnico de tênis da história e que formou, em sua academia, alunos como Andre Agassi.

Sem esses centros de excelência, provavelmente muitos talentos teriam sido perdidos, especialmente no Brasil, que tem poucos clubes capacitados para formar atletas profissionais. Leonardo Morado tem 12 anos e é ginasta da equi-pe infantil do Flamengo. A busca pela perfeição é uma característica sua desde

os primeiros treinos. Antes de chegar ao clube, em 2009, o jovem aprendeu os primeiros passos no esporte aos 6 anos, na escolinha de um dos maiores nomes da ginástica nacional. Luisa Parente também começou a treinar aos 6 anos de idade. Aos oito, participou de seu primeiro campeonato estadual. Com 15, disputou a Olimpíada de Seul e, aos 19, a de Barcelona. Em 1991, conquistou duas medalhas de ouro no Pan-Ameri-cano de Havana. Luisa se preparou para encarar a vida depois da ginástica. Cur-sou as faculdades de direito e de educa-ção física. Hoje, apesar de atuar na área jurídica, é da ginástica que ela mais se orgulha. Desde 1995, a ex-atleta mantém um projeto que leva o esporte a crianças

de 4 a 12 anos. “É um desafio constante oferecer esses primeiros passos a quem mal sabe andar em linha reta e estimular o gosto pelo esporte”, diz Luisa. Hoje, o grupo Luisa Parente Imagynação atende 150 crianças em nove escolas do Rio de Janeiro. As mensalidades variam de R$ 150 a R$ 180. A meta, ressalta Luisa, não é formar campeões mundiais e olím-picos. “Pode ser que o Leonardo não consiga ir para um mundial, mas eu sei que só o fato de ele se dedicar e treinar ao lado de ídolos faz a vida dele diferen-te.” É legítimo que uma grife esportiva como Luisa Parente pense assim, mas nada mais natural que, ao procurar um ídolo, a criança tenha como meta seguir seus passos.

negócios

META Dos cerca de mil atletas que treinam na academia de Djan Madruga no Rio de Janeiro, 20 são de alto rendimento

PROMOÇÃO A partir de R$ 150, crianças podem ter aulas de ginástica com Luisa Parente

Fotos: Jorge Araújo | Carlos Ruggi Fotos: Agência O Globo

Produção: L. A. Braga Júnior - ImagemakersAgradecimentos: Ricardo Almeida e Upper

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de Brasília nos anos 1980. Em 1983, ele começou a construir, em Serra Negra (SP), o complexo que hoje abriga seu centro de treinamento, um hotel-fazenda, um internato e um instituto dedicado a levar o tênis brasileiro ao topo. Para preparar seus discípulos, conta com uma infraestrutura de 11 quadras, academia de ginástica, duas piscinas, campo de futebol e vôlei de grama. Para aprender como passar adiante o que viveu nas quadras, ao longo da carreira foi trocando, aos poucos, a rotina de atleta pela de treinador. Quando já dominava o assunto, preparou as equipes brasileira e inglesa da Copa Davis até meados dos anos 1980 e, na década de 1990, levou a argentina Gabriela Sabatini à vitória no US Open e

à final de Wimbledon. A fama de um dos treinadores de tênis mais cobiçados do mundo abriu o caminho de Kirmayr nos negócios esportivos.

Em 28 anos de atividade, seu centro de treinamento coleciona mais de três mil professores capacitados e cerca de 12 mil atletas treinados. Muito mais do que campeões de Grand Slam, seu maior objetivo é garantir que os alunos do internato conquistem bolsas de estudos nos Estados Unidos, onde podem cursar faculdade e aprimorar as técnicas do esporte. Desde que inaugurou o centro, mais de 100 de seus alunos chegaram lá. Atualmente, 20 jovens e adolescentes vivem, estudam e treinam no centro de treinamento de Kirmayr. Com o custo

médio mensal de R$ 4 mil, os candidatos a tenistas seguem “um regime bastante militarizado, com horários e muitas regras para conseguir fazer tudo e dividir bem o tempo”, na definição do próprio dono. O esquema duro de trabalho lembra o modelo adotado pelo americano Nick Bollettieri, para muitos o melhor técnico de tênis da história e que formou, em sua academia, alunos como Andre Agassi.

Sem esses centros de excelência, provavelmente muitos talentos teriam sido perdidos, especialmente no Brasil, que tem poucos clubes capacitados para formar atletas profissionais. Leonardo Morado tem 12 anos e é ginasta da equi-pe infantil do Flamengo. A busca pela perfeição é uma característica sua desde

os primeiros treinos. Antes de chegar ao clube, em 2009, o jovem aprendeu os primeiros passos no esporte aos 6 anos, na escolinha de um dos maiores nomes da ginástica nacional. Luisa Parente também começou a treinar aos 6 anos de idade. Aos oito, participou de seu primeiro campeonato estadual. Com 15, disputou a Olimpíada de Seul e, aos 19, a de Barcelona. Em 1991, conquistou duas medalhas de ouro no Pan-Ameri-cano de Havana. Luisa se preparou para encarar a vida depois da ginástica. Cur-sou as faculdades de direito e de educa-ção física. Hoje, apesar de atuar na área jurídica, é da ginástica que ela mais se orgulha. Desde 1995, a ex-atleta mantém um projeto que leva o esporte a crianças

de 4 a 12 anos. “É um desafio constante oferecer esses primeiros passos a quem mal sabe andar em linha reta e estimular o gosto pelo esporte”, diz Luisa. Hoje, o grupo Luisa Parente Imagynação atende 150 crianças em nove escolas do Rio de Janeiro. As mensalidades variam de R$ 150 a R$ 180. A meta, ressalta Luisa, não é formar campeões mundiais e olím-picos. “Pode ser que o Leonardo não consiga ir para um mundial, mas eu sei que só o fato de ele se dedicar e treinar ao lado de ídolos faz a vida dele diferen-te.” É legítimo que uma grife esportiva como Luisa Parente pense assim, mas nada mais natural que, ao procurar um ídolo, a criança tenha como meta seguir seus passos.

negócios

META Dos cerca de mil atletas que treinam na academia de Djan Madruga no Rio de Janeiro, 20 são de alto rendimento

PROMOÇÃO A partir de R$ 150, crianças podem ter aulas de ginástica com Luisa Parente

Fotos: Jorge Araújo | Carlos Ruggi Fotos: Agência O Globo

Produção: L. A. Braga Júnior - ImagemakersAgradecimentos: Ricardo Almeida e Upper

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v

gastronomia

A convite dA 2016, um nutricionistA relAcionou os nutrientes indispensáveis

pArA três tipos diferentes de AtletAs. com A listA nA mão, três chefs esportistAs

montArAm prAtos deliciosos – e que AjudAm A formAr cAmpeões

3 pesose 3 medidas

a relação entre esporte e gas-tronomia nasceu com a olimpíada, na Grécia Antiga, em 776 a.C. Primeiro campeão dos Jogos, o jovem atleta Coroebus era cozinheiro na cidade de Elis quando venceu a corrida de velocidade, que consistia em percorrer uma distância de exatos 193 metros. O talento grego para unir alimen- tação e grandes performances esportivas se estendeu pelos séculos seguintes. Exemplo disso é o cardápio escolhido por Milo de Cróton ao se preparar para competições. Em 350 a.C., ele relatou que consumia diariamente nove quilos de pão, nove quilos de carne e dez litros de vinho. A estratégia funcionou – Cróton foi campeão olímpico sete vezes. De lá para cá, o “achis-mo” foi substituído pela ciência. Para dar um ideia de como a arte de transformar co-mida em combustível para medalhas chega aos dias de hoje, a 2016 uniu os esforços de um nutricionista e de talentosos chefs que suam na cozinha e nas academias. O nutri-cionista Marcelo Saldanha Aoki, professor de educação física e docente do curso de ciências da atividade física da Universidade de São Paulo, relacionou os nutrientes indispensáveis a três modelos de atletas: os de resistência (aqueles que praticam ma-ratona, triatlo, maratona aquática e ciclismo de longa duração), os de velocidade e potên-cia (atletas de 100, 200 e 400 metros rasos, lançamento de dardo, salto em altura e em distância, provas de natação e de ciclismo de curta duração) e os de força (como os pra-ticantes de rúgbi, halterofilistas e lutadores).

peito de frango e açafrão no vapor com cevadinha e legumes Por José Barattino, do restaurante Emiliano

4 filés de peito de frango limpo (de preferência, orgânico) / 1 envelope de açafrão em pó (com 1 g) / sal e pimenta-do-reino / água o quanto baste

cevadinha50 ml de azeite de oliva / 100 g de cebola picada / 50 g de alho picado / 350 g de cevadinha / 1 litro de água ou caldo de frango / 50 g de cenoura em cubos pequenos / 50 g de salsão em cubos pequenos / sal e pimenta-do-reino a gosto

peito de frango: tempere o peito de frango com sal, pimenta-do-reino e o açafrão. ferva a água em uma pan-ela e coloque um recipiente de cocção em vapor (bambu ou aço inox) por cima. coloque o peito de frango e cozinhe por 15 minutos.

cevadinha: em uma panela, refogue a cebola e o alho no azeite. Assim que ficarem dourados, acrescente os legumes e, em seguida, a cevadinha. vá colocando o caldo ou água aos poucos, com um pouco de sal e mexa até que a cevadinha esteja cozida, porém firme (cerca de 20 minutos depois). finalize com um fio de azeite, acerte o sal e a pimenta-do-reino.

para servir: fatie o peito de frango e coloque em um prato, ao lado da cevadinha com os legumes.

rendimento: 4 porçõestempo de preparo: 40 minutosexecução: fácil

potência e velocidade

Por Beatriz Marques Fotos sheila Oliveira/eMpóriO FOtOgráFicOProdução Marcia asnis

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gastronomia

A convite dA 2016, um nutricionistA relAcionou os nutrientes indispensáveis

pArA três tipos diferentes de AtletAs. com A listA nA mão, três chefs esportistAs

montArAm prAtos deliciosos – e que AjudAm A formAr cAmpeões

3 pesose 3 medidas

a relação entre esporte e gas-tronomia nasceu com a olimpíada, na Grécia Antiga, em 776 a.C. Primeiro campeão dos Jogos, o jovem atleta Coroebus era cozinheiro na cidade de Elis quando venceu a corrida de velocidade, que consistia em percorrer uma distância de exatos 193 metros. O talento grego para unir alimen- tação e grandes performances esportivas se estendeu pelos séculos seguintes. Exemplo disso é o cardápio escolhido por Milo de Cróton ao se preparar para competições. Em 350 a.C., ele relatou que consumia diariamente nove quilos de pão, nove quilos de carne e dez litros de vinho. A estratégia funcionou – Cróton foi campeão olímpico sete vezes. De lá para cá, o “achis-mo” foi substituído pela ciência. Para dar um ideia de como a arte de transformar co-mida em combustível para medalhas chega aos dias de hoje, a 2016 uniu os esforços de um nutricionista e de talentosos chefs que suam na cozinha e nas academias. O nutri-cionista Marcelo Saldanha Aoki, professor de educação física e docente do curso de ciências da atividade física da Universidade de São Paulo, relacionou os nutrientes indispensáveis a três modelos de atletas: os de resistência (aqueles que praticam ma-ratona, triatlo, maratona aquática e ciclismo de longa duração), os de velocidade e potên-cia (atletas de 100, 200 e 400 metros rasos, lançamento de dardo, salto em altura e em distância, provas de natação e de ciclismo de curta duração) e os de força (como os pra-ticantes de rúgbi, halterofilistas e lutadores).

peito de frango e açafrão no vapor com cevadinha e legumes Por José Barattino, do restaurante Emiliano

4 filés de peito de frango limpo (de preferência, orgânico) / 1 envelope de açafrão em pó (com 1 g) / sal e pimenta-do-reino / água o quanto baste

cevadinha50 ml de azeite de oliva / 100 g de cebola picada / 50 g de alho picado / 350 g de cevadinha / 1 litro de água ou caldo de frango / 50 g de cenoura em cubos pequenos / 50 g de salsão em cubos pequenos / sal e pimenta-do-reino a gosto

peito de frango: tempere o peito de frango com sal, pimenta-do-reino e o açafrão. ferva a água em uma pan-ela e coloque um recipiente de cocção em vapor (bambu ou aço inox) por cima. coloque o peito de frango e cozinhe por 15 minutos.

cevadinha: em uma panela, refogue a cebola e o alho no azeite. Assim que ficarem dourados, acrescente os legumes e, em seguida, a cevadinha. vá colocando o caldo ou água aos poucos, com um pouco de sal e mexa até que a cevadinha esteja cozida, porém firme (cerca de 20 minutos depois). finalize com um fio de azeite, acerte o sal e a pimenta-do-reino.

para servir: fatie o peito de frango e coloque em um prato, ao lado da cevadinha com os legumes.

rendimento: 4 porçõestempo de preparo: 40 minutosexecução: fácil

potência e velocidade

Por Beatriz Marques Fotos sheila Oliveira/eMpóriO FOtOgráFicOProdução Marcia asnis

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atum em crosta de amêndoas e batata em três versões Por Fábio Barbosa, do restaurante La Mar

900 g de filé de atum / 500 g de amêndoas tostadas picadas / 120 g de purê de batata / 120 g de batata rústica / 120 g de torta de batata / 100 ml de molho de manjericão / sal e azeite de oliva a gosto molho de manjericão400 g de folhas de manjericão / 100 g de amêndoas tosta-das / 1 dente de alho / 200 ml de azeite de oliva / sal a gosto / água quanto baste

purê de batata400 g de batata / 120 ml de leite / água quanto baste / sal a gosto

batata rústica500 g de batata / 20 g de pimenta dedo-de-moça picada / 40 g de salsinha picada / 4 g de sal grosso / 100 ml de azeite de oliva / água quanto baste

torta de batata500 g de batata / 100 g de cebola fatiada / 500 ml de creme de leite light / 200 ml de leite / 150 g de parmesão ralado / sal e noz-moscada a gosto

molho de manjericão: em uma panela com água fervente e sal a gosto, coloque as folhas limpas do manjericão por 10 segundos. retire-as e imediatamente coloque-as em um recipiente com água e gelo. retire as folhas, esprema-as bem para sair toda a água e bata em um liquidificador com as amêndoas, o alho e o azeite acrescentado aos poucos. Acerte o sal e reserve.

purê de batata: em uma panela, em fogo médio, aqueça o leite, coloque um pouco de sal e deixe até começar a ferver. em outra panela, cozinhe as batatas em água e sal até fica-rem macias. depois de prontas, amasse-as enquanto ainda estiverem quentes e faça um purê acrescentando a mistura de leite. Acerte o sal e reserve.

batata rústica: em uma panela, cozinhe as batatas em água. depois de prontas, amasse-as grosseiramente mistu-rando os outros ingredientes. reserve.

torta de batata: misture o creme de leite e o leite em uma panela e leve ao fogo médio. tempere com sal e noz-moscada. retire do fogo quando a mistura estiver morna e acrescente metade do parmesão. reserve. corte as batatas em fatias finas e, em uma travessa média, disponha-as em camadas, intercalando com a cebola. cubra com a mistura de creme de leite e leve ao forno médio (180ºc). quando a batata estiver cozida, cubra com o restante do parmesão e retire do forno assim que o queijo ficar dourado.

atum: tempere o atum com sal e passe nas amêndoas picadas. Aqueça o azeite em uma frigideira antiaderente e grelhe o atum até o ponto desejado.

para servir: fatie o atum e sirva com as guarnições de batata e o molho de manjericão levemente morno.

rendimento: 5 porçõestempo de preparo: 2 horasexecução: moderada

O nutriente indispensável na dieta de um atleta de resistência é o carboidrato. “É a principal fonte de energia e o esportista precisa de sobra”, diz Aoki. Em seguida entra o ferro, responsável pelo transporte do oxigênio do sangue. Importantes também são as vitaminas C e E, antioxidantes que previnem a formação dos radicais livres, e o potássio. O chef Raphael Despirite, do restaurante paulistano Marcel, não teve muito trabalho em transformar essa lista em um prato delicioso. Já que o objetivo é turbinar o carboidrato, Despirite selecionou uma massa feita como ravioloni recheado de músculo cozido (fonte de ferro) em caldo de cogumelos e espinafre salteados (ambos ricos em potássio), com amêndoas laminadas (vitamina E). Ele tem conheci-mento de causa. Praticante de corrida, treinou pesado para fazer bonito na Mara-tona de Paris, que aconteceu no dia 15 de abril. Sua paixão pelo esporte o moti-vou a escrever um livro de receitas para corredores, em parceria com a nutrici- onista Patrícia Bertolucci.

Se para o chef maratonista criar o prato foi uma peleja fácil, desafio maior ficou para José Barattino, chef do restaurante e hotel Emiliano. Incumbido de alimentar o esportista de velocidade e potência, tinha em mãos a possibilidade de usar uma proteína – o principal elemento da dieta –, um carboidrato e a creatina, nutriente encontrado em baixa concentração em carnes. Porém, com uma ressalva: a receita deveria ter um baixo conteúdo calórico. Como esses atletas precisam produzir o máximo de força no menor intervalo de tempo, o excesso de peso corporal pode afetar negativamente o seu desempenho. O jeito foi apelar para uma carne magra, como o peito de frango cozido no vapor com açafrão, acompanhado de cevadinha, cereal que possui alto teor de carboidrato, e legumes. “A gordura é o caminho para o sabor”, diz o chef, ao mesmo tempo que explica a dificuldade em dar mais alegria ao prato. Praticante de ciclismo, Baratti-no reclama que a vida dentro da cozinha não é uma aliada para se manter na linha.

gastronomia

força

além de ser fonte de proteína, o atum ajuda o atleta a atingir a necessidade de energia, sem os malefícios associados às gorduras saturadas. é O ingrediente principal escOlhidO pelO cheF FáBiO BarBOsa, praticante de jiu-jítsu

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maio 2012 | istoé 2016

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atum em crosta de amêndoas e batata em três versões Por Fábio Barbosa, do restaurante La Mar

900 g de filé de atum / 500 g de amêndoas tostadas picadas / 120 g de purê de batata / 120 g de batata rústica / 120 g de torta de batata / 100 ml de molho de manjericão / sal e azeite de oliva a gosto molho de manjericão400 g de folhas de manjericão / 100 g de amêndoas tosta-das / 1 dente de alho / 200 ml de azeite de oliva / sal a gosto / água quanto baste

purê de batata400 g de batata / 120 ml de leite / água quanto baste / sal a gosto

batata rústica500 g de batata / 20 g de pimenta dedo-de-moça picada / 40 g de salsinha picada / 4 g de sal grosso / 100 ml de azeite de oliva / água quanto baste

torta de batata500 g de batata / 100 g de cebola fatiada / 500 ml de creme de leite light / 200 ml de leite / 150 g de parmesão ralado / sal e noz-moscada a gosto

molho de manjericão: em uma panela com água fervente e sal a gosto, coloque as folhas limpas do manjericão por 10 segundos. retire-as e imediatamente coloque-as em um recipiente com água e gelo. retire as folhas, esprema-as bem para sair toda a água e bata em um liquidificador com as amêndoas, o alho e o azeite acrescentado aos poucos. Acerte o sal e reserve.

purê de batata: em uma panela, em fogo médio, aqueça o leite, coloque um pouco de sal e deixe até começar a ferver. em outra panela, cozinhe as batatas em água e sal até fica-rem macias. depois de prontas, amasse-as enquanto ainda estiverem quentes e faça um purê acrescentando a mistura de leite. Acerte o sal e reserve.

batata rústica: em uma panela, cozinhe as batatas em água. depois de prontas, amasse-as grosseiramente mistu-rando os outros ingredientes. reserve.

torta de batata: misture o creme de leite e o leite em uma panela e leve ao fogo médio. tempere com sal e noz-moscada. retire do fogo quando a mistura estiver morna e acrescente metade do parmesão. reserve. corte as batatas em fatias finas e, em uma travessa média, disponha-as em camadas, intercalando com a cebola. cubra com a mistura de creme de leite e leve ao forno médio (180ºc). quando a batata estiver cozida, cubra com o restante do parmesão e retire do forno assim que o queijo ficar dourado.

atum: tempere o atum com sal e passe nas amêndoas picadas. Aqueça o azeite em uma frigideira antiaderente e grelhe o atum até o ponto desejado.

para servir: fatie o atum e sirva com as guarnições de batata e o molho de manjericão levemente morno.

rendimento: 5 porçõestempo de preparo: 2 horasexecução: moderada

O nutriente indispensável na dieta de um atleta de resistência é o carboidrato. “É a principal fonte de energia e o esportista precisa de sobra”, diz Aoki. Em seguida entra o ferro, responsável pelo transporte do oxigênio do sangue. Importantes também são as vitaminas C e E, antioxidantes que previnem a formação dos radicais livres, e o potássio. O chef Raphael Despirite, do restaurante paulistano Marcel, não teve muito trabalho em transformar essa lista em um prato delicioso. Já que o objetivo é turbinar o carboidrato, Despirite selecionou uma massa feita como ravioloni recheado de músculo cozido (fonte de ferro) em caldo de cogumelos e espinafre salteados (ambos ricos em potássio), com amêndoas laminadas (vitamina E). Ele tem conheci-mento de causa. Praticante de corrida, treinou pesado para fazer bonito na Mara-tona de Paris, que aconteceu no dia 15 de abril. Sua paixão pelo esporte o moti-vou a escrever um livro de receitas para corredores, em parceria com a nutrici- onista Patrícia Bertolucci.

Se para o chef maratonista criar o prato foi uma peleja fácil, desafio maior ficou para José Barattino, chef do restaurante e hotel Emiliano. Incumbido de alimentar o esportista de velocidade e potência, tinha em mãos a possibilidade de usar uma proteína – o principal elemento da dieta –, um carboidrato e a creatina, nutriente encontrado em baixa concentração em carnes. Porém, com uma ressalva: a receita deveria ter um baixo conteúdo calórico. Como esses atletas precisam produzir o máximo de força no menor intervalo de tempo, o excesso de peso corporal pode afetar negativamente o seu desempenho. O jeito foi apelar para uma carne magra, como o peito de frango cozido no vapor com açafrão, acompanhado de cevadinha, cereal que possui alto teor de carboidrato, e legumes. “A gordura é o caminho para o sabor”, diz o chef, ao mesmo tempo que explica a dificuldade em dar mais alegria ao prato. Praticante de ciclismo, Baratti-no reclama que a vida dentro da cozinha não é uma aliada para se manter na linha.

gastronomia

força

além de ser fonte de proteína, o atum ajuda o atleta a atingir a necessidade de energia, sem os malefícios associados às gorduras saturadas. é O ingrediente principal escOlhidO pelO cheF FáBiO BarBOsa, praticante de jiu-jítsu

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Page 52: Revista 2016 / Maio

resistência aeróbia

“Provamos muitas coisas, testamos novos pratos”, diz ele. “Depois, ainda tenho vontade de almoçar, porque não tive a sensação de uma refeição completa.”

Apesar da rotina alimentar errática, nada impede que um chef se torne um atleta respeitável. “Você pode até beliscar durante o trabalho, mas não é desculpa para não se cuidar”, diz Fábio Barbosa, que chefia a cozinha do La Mar. De se-gunda a quinta, logo que termina a labuta do almoço, passa cerca de duas horas na academia Ryan Gracie, treinando jiu-jítsu ou fazendo musculação e pilates. Na sua dieta também não faltam proteínas, car-boidratos, creatina e gorduras saudáveis – nutrientes indicados para o atleta de força. Esses ingredientes pouco diferem dos usados por esportistas de velocidade e po-tência, a não ser pela gordura e pela maior quantidade ingerida de alimento. Barbosa aplicou toda a sustância necessária ao prato com o uso do atum, que, além de ser fonte de proteína, possui boa gordura, que ajuda a atingir a necessidade de energia sem os malefícios associados às gorduras saturadas. A batata, rica em carboidrato, foi explorada em três versões no prato: cozida, em purê e em uma torta. A soma de nu-trientes se completa com as amêndoas e o azeite de oliva, fontes de gordura saudável presentes no molho de manjericão. “Além da gordura saturada, o álcool em excesso e a falta de informação sobre os alimentos são os maiores vilões dos esportistas”, diz o nutricionista Aoki. Com todas as informa-ções em mãos, agora é hora de suar não só nas pistas e quadras, mas também na boca do fogão.

gastronomia

ferro, potássio e vitamina compõem o menu criado pelo chef raphael despirite, um praticante de corrida que, eM aBril, deu uM teMpO nas panelas para participar da MaratOna de paris

ravioloni aberto de carne em caldo de cogume-los, espinafres salteados e amêndoas Por Raphael Despirite, do restaurante Marcel 350 g de massa de ravióli (ou 8 folhas de massa) / 300 ml de caldo de legumes ou água mineral / 400 g de músculo bovino bem limpo, cortado em cubos / 100 g de cebola em cubos grandes / 200 g de espinafres frescos / 200 g de cogumelos diversos laminados (shiitake, portobello, shimeji, ou paris) / 20 g de cogumelos shiitake secos / 20 g de amên-doas tostadas em lâminas / sal, pimenta-do-reino e azeite de oliva a gosto

massa de ravióli 1 ovo inteiro / 12 gemas / 300 g de farinha de trigo / 150 g de semolina de trigo / 20 ml de azeite de oliva / 20 ml de água

caldo de legumes1 cenoura picada / 1 cebola picada / 1 alho-poró picado / 100 g de salsão / 100 g de cogumelos paris / 1 litro de água mineral / 10 ml de shoyu

caldo de legumes: em uma panela, em fogo alto, leve todos os ingredientes para cozinhar por 45 minutos. coe o líquido e reserve-o.

massa de ravióli: com um batedor de arame, misture o ovo e as gemas com o azeite e a água. em uma tigela ou em um processador, misture os ovos batidos com a farinha até formar uma massa. deixe descansar por 30 minutos e divida a massa em bolas de cerca de 60 gramas cada uma. Abra as bolas com a ajuda de uma máquina de macarrão. se não tiver, use uma superfície lisa, com farinha de trigo, e abra a massa com o rolo de macarrão até ficar com espessura bem fina.

ravioloni: tempere o músculo com sal e pimenta-do-reino. numa panela de pressão, aqueça um fio de azeite e doure a carne. Acrescente os cogumelos shiitake secos, as cebolas e a água ou caldo de legumes e cozinhe por 1 hora em fogo alto. retire a carne da panela, desfie-a e reserve. também separe o caldo presente na panela e reserve-o. em uma frigi-deira, em fogo alto, frite rapidamente os cogumelos frescos laminados e o espinafre em um fio de azeite. corrija o sal e acrescente as amêndoas. leve o caldo reservado para uma panela, aqueça-o até ferver. cozinhe as folhas do ravióli no caldo por cerca de 2 minutos. reserve ainda o caldo restante.

para servir: disponha uma folha de massa no fundo do prato e cubra com a carne desfiada. coloque outra folha de massa por cima, acrescente os espinafres e os cogu-melos salteados. regue com o caldo do músculo restante e sirva imediatamente. rendimento: 4 pessoastempo de preparo: 2 horasexecução: moderada

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resistência aeróbia

“Provamos muitas coisas, testamos novos pratos”, diz ele. “Depois, ainda tenho vontade de almoçar, porque não tive a sensação de uma refeição completa.”

Apesar da rotina alimentar errática, nada impede que um chef se torne um atleta respeitável. “Você pode até beliscar durante o trabalho, mas não é desculpa para não se cuidar”, diz Fábio Barbosa, que chefia a cozinha do La Mar. De se-gunda a quinta, logo que termina a labuta do almoço, passa cerca de duas horas na academia Ryan Gracie, treinando jiu-jítsu ou fazendo musculação e pilates. Na sua dieta também não faltam proteínas, car-boidratos, creatina e gorduras saudáveis – nutrientes indicados para o atleta de força. Esses ingredientes pouco diferem dos usados por esportistas de velocidade e po-tência, a não ser pela gordura e pela maior quantidade ingerida de alimento. Barbosa aplicou toda a sustância necessária ao prato com o uso do atum, que, além de ser fonte de proteína, possui boa gordura, que ajuda a atingir a necessidade de energia sem os malefícios associados às gorduras saturadas. A batata, rica em carboidrato, foi explorada em três versões no prato: cozida, em purê e em uma torta. A soma de nu-trientes se completa com as amêndoas e o azeite de oliva, fontes de gordura saudável presentes no molho de manjericão. “Além da gordura saturada, o álcool em excesso e a falta de informação sobre os alimentos são os maiores vilões dos esportistas”, diz o nutricionista Aoki. Com todas as informa-ções em mãos, agora é hora de suar não só nas pistas e quadras, mas também na boca do fogão.

gastronomia

ferro, potássio e vitamina compõem o menu criado pelo chef raphael despirite, um praticante de corrida que, eM aBril, deu uM teMpO nas panelas para participar da MaratOna de paris

ravioloni aberto de carne em caldo de cogume-los, espinafres salteados e amêndoas Por Raphael Despirite, do restaurante Marcel 350 g de massa de ravióli (ou 8 folhas de massa) / 300 ml de caldo de legumes ou água mineral / 400 g de músculo bovino bem limpo, cortado em cubos / 100 g de cebola em cubos grandes / 200 g de espinafres frescos / 200 g de cogumelos diversos laminados (shiitake, portobello, shimeji, ou paris) / 20 g de cogumelos shiitake secos / 20 g de amên-doas tostadas em lâminas / sal, pimenta-do-reino e azeite de oliva a gosto

massa de ravióli 1 ovo inteiro / 12 gemas / 300 g de farinha de trigo / 150 g de semolina de trigo / 20 ml de azeite de oliva / 20 ml de água

caldo de legumes1 cenoura picada / 1 cebola picada / 1 alho-poró picado / 100 g de salsão / 100 g de cogumelos paris / 1 litro de água mineral / 10 ml de shoyu

caldo de legumes: em uma panela, em fogo alto, leve todos os ingredientes para cozinhar por 45 minutos. coe o líquido e reserve-o.

massa de ravióli: com um batedor de arame, misture o ovo e as gemas com o azeite e a água. em uma tigela ou em um processador, misture os ovos batidos com a farinha até formar uma massa. deixe descansar por 30 minutos e divida a massa em bolas de cerca de 60 gramas cada uma. Abra as bolas com a ajuda de uma máquina de macarrão. se não tiver, use uma superfície lisa, com farinha de trigo, e abra a massa com o rolo de macarrão até ficar com espessura bem fina.

ravioloni: tempere o músculo com sal e pimenta-do-reino. numa panela de pressão, aqueça um fio de azeite e doure a carne. Acrescente os cogumelos shiitake secos, as cebolas e a água ou caldo de legumes e cozinhe por 1 hora em fogo alto. retire a carne da panela, desfie-a e reserve. também separe o caldo presente na panela e reserve-o. em uma frigi-deira, em fogo alto, frite rapidamente os cogumelos frescos laminados e o espinafre em um fio de azeite. corrija o sal e acrescente as amêndoas. leve o caldo reservado para uma panela, aqueça-o até ferver. cozinhe as folhas do ravióli no caldo por cerca de 2 minutos. reserve ainda o caldo restante.

para servir: disponha uma folha de massa no fundo do prato e cubra com a carne desfiada. coloque outra folha de massa por cima, acrescente os espinafres e os cogu-melos salteados. regue com o caldo do músculo restante e sirva imediatamente. rendimento: 4 pessoastempo de preparo: 2 horasexecução: moderada

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Por Ronaldo BRessane fotos PedRo dias

Jeferson de Souza, 29 anos, é de São Benedito, perto de Sobral (CE). Veio com 18 anos para o Rio. Antes trabalhava em oficina mecânica. Na capital carioca, começou como copeiro. Por que será que tem tanto garçom cearense? “Não sei, mas o chinês, dono do restaurante japonês, só gosta de trabalhar com cearense”, explica. Depois, come-çou a fazer manutenção em videogame e computador na loja do irmão. Foi um perrengue: o mano abriu a loja no nome de Jeferson e o fez tomar um empréstimo de R$ 60 mil. No fim, Jeferson ficou sabendo que tinha uma dívida de R$ 90 mil. “Me usou como laranja”, desabafa. Desesperado para pagar as dívidas, ficou sabendo que precisavam de ajudante de car-pinteiro no Campinho e foi correndo. “Nunca tinha trabalhado em obra antes, passava e via o povo ralando debaixo de sol e achava um inferno”, conta. Seu trabalho vem depois da armação de ferragem: ele coloca as formas de maneira para que os pedreiros possam fazer a concretagem. “É uma obra gigante, tão importante quanto a Rio-Niterói”, diz Jeferson, que trabalha de segunda a sexta, eventualmente no sábado e no domingo para descolar um extra. Quando não está na obra, fica na Penha jogando baralho com os amigos, formatando computador e videogame e, lógico, dando aten-ção às filhas. Em feriado, vira a noite bebendo e, como não tem piscina, deixa ligado o chuveiro na frente da casa: “Assim, ninguém fica com sono e pode beber mais. Se dormir, pelo menos já dorme limpinho”, ri. Jeferson diz que os amigos são todos cearenses: “Carioca não gosta muito de nordestino, chama a gente de paraíba.” Mas como é que ele não tem nenhum sotaque de cearense e parece um carioca da gema falando? “É porque a gente improvisa, né? A vida é assim: não tem dinheiro, vai pra obra. Não tem piscina, vai pro chuveiro. Tem que improvisar.”

É uma guerra. E o inimigo é o tempo. Para não dar vexame em 2016 e acolher esportistas, jornalistas e público de uma ma-neira que faça juz ao status de Cidade Maravilhosa, prefeitura e governos estadual e federal deslocaram um verdadeiro exército para o Rio de Janeiro. Por enquanto, há poucas frentes de batalha e elas estão focadas em um inimigo mais assustador: o exíguo prazo para a Copa do Mundo de 2014. Um front é o canteiro de obras do Maracanã, palco da abertura e do encerramento da Olimpíada. Na outra trincheira estão as obras da Transcarioca, um longo corredor viário (32 quilômetros), que ligará a Barra da Tijuca, sede da Vila Olímpica, ao aeroporto do Galeão, via zona norte. Sob cada capacete, dentro de cada macacão, escondem-se personagens e histórias deliciosas. Conheça algumas delas.

Pastores, aventureiros, multitalentosos, bem-humorados: conheça alguns dos trabalhadores

que Põem a mão na massa Para colocar em Pé os Jogos de 2016

B e B e n d o n o c h u v e i r o

perfisdo rio

gente

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Por Ronaldo BRessane fotos PedRo dias

Jeferson de Souza, 29 anos, é de São Benedito, perto de Sobral (CE). Veio com 18 anos para o Rio. Antes trabalhava em oficina mecânica. Na capital carioca, começou como copeiro. Por que será que tem tanto garçom cearense? “Não sei, mas o chinês, dono do restaurante japonês, só gosta de trabalhar com cearense”, explica. Depois, come-çou a fazer manutenção em videogame e computador na loja do irmão. Foi um perrengue: o mano abriu a loja no nome de Jeferson e o fez tomar um empréstimo de R$ 60 mil. No fim, Jeferson ficou sabendo que tinha uma dívida de R$ 90 mil. “Me usou como laranja”, desabafa. Desesperado para pagar as dívidas, ficou sabendo que precisavam de ajudante de car-pinteiro no Campinho e foi correndo. “Nunca tinha trabalhado em obra antes, passava e via o povo ralando debaixo de sol e achava um inferno”, conta. Seu trabalho vem depois da armação de ferragem: ele coloca as formas de maneira para que os pedreiros possam fazer a concretagem. “É uma obra gigante, tão importante quanto a Rio-Niterói”, diz Jeferson, que trabalha de segunda a sexta, eventualmente no sábado e no domingo para descolar um extra. Quando não está na obra, fica na Penha jogando baralho com os amigos, formatando computador e videogame e, lógico, dando aten-ção às filhas. Em feriado, vira a noite bebendo e, como não tem piscina, deixa ligado o chuveiro na frente da casa: “Assim, ninguém fica com sono e pode beber mais. Se dormir, pelo menos já dorme limpinho”, ri. Jeferson diz que os amigos são todos cearenses: “Carioca não gosta muito de nordestino, chama a gente de paraíba.” Mas como é que ele não tem nenhum sotaque de cearense e parece um carioca da gema falando? “É porque a gente improvisa, né? A vida é assim: não tem dinheiro, vai pra obra. Não tem piscina, vai pro chuveiro. Tem que improvisar.”

É uma guerra. E o inimigo é o tempo. Para não dar vexame em 2016 e acolher esportistas, jornalistas e público de uma ma-neira que faça juz ao status de Cidade Maravilhosa, prefeitura e governos estadual e federal deslocaram um verdadeiro exército para o Rio de Janeiro. Por enquanto, há poucas frentes de batalha e elas estão focadas em um inimigo mais assustador: o exíguo prazo para a Copa do Mundo de 2014. Um front é o canteiro de obras do Maracanã, palco da abertura e do encerramento da Olimpíada. Na outra trincheira estão as obras da Transcarioca, um longo corredor viário (32 quilômetros), que ligará a Barra da Tijuca, sede da Vila Olímpica, ao aeroporto do Galeão, via zona norte. Sob cada capacete, dentro de cada macacão, escondem-se personagens e histórias deliciosas. Conheça algumas delas.

Pastores, aventureiros, multitalentosos, bem-humorados: conheça alguns dos trabalhadores

que Põem a mão na massa Para colocar em Pé os Jogos de 2016

B e B e n d o n o c h u v e i r o

perfisdo rio

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O Maracanã hoje é um zoológico habitado por lagartas, macacos e até jacarés – bichos que

emprestaram seus nomes para as má-quinas pesadas que estão construindo o novo estádio. As girafas são o apelido

dos veículos potográficos (os guindastes menores, que elevam um trabalhador

a até 45 metros de altura). Cuidam da manutenção de todas as girafas do Maraca o Adilson de Souza Jr., de 32

anos, carioca da Ilha do Governador, e o Givaldo Alvez da Silva, 22 anos, de

Nova Iguaçu. Adilson sai da estrada do Galeão às 5h30, chega às 6h20 ao canteiro, toma café, entra às 7h e faz

hora extra todo dia, das 17h às 18h. “Sábado, se tem escala, eu tô dentro”,

diz. Ele curte Coldplay, Claudinho & Buchecha, vale-tudo e Flamen-

go, “mas o adesivo do clube no meu capacete foi meu filho de 12 anos quem colocou, fui eu não”, jura. Já Givaldo conta, feliz,

que este é seu primeiro trabalho de verdade, depois que saiu do Exército.

Ele só reclama que as girafas dão mui-to trabalho: “É igual carro, você tem

que colocar combustível, trocar a água, arrumar as peças, vivem quebrando”,

conta, para depois revelar que, no fundo, adora correr para lá e para cá e cuidar dos “bichinhos”. A correria tem um preço. Como sai de casa às

4h e volta às 20h – toma quatro condu-ções diárias –, chega destruído ao lar.

“Pelo menos, no domingão, a gente vai pra Copacabana”, diz. Adilson

e Givaldo são uma das várias amizades formadas entre os mais de 5 mil

trabalhadores no Maior do Mundo.

Lourival Alves de Souza, o Manchinha, tem certeza absoluta: nos Jogos de 2016, todos os locutores do Maracanã irão gritar “Gooool! De Jameson, camisa onze!” O são-paulino Jameson é um dos oito filhos gerados por esse rubro-negro nascido há 36 anos em Tucuruí, Pará. Ele viu uma reportagem sobre as obras no Rio no GloboRepórter e não teve dúvida: juntou R$ 425 e veio ten-tar a sorte, acompanhado por um amigo. Antes, passou um ano pegando pesado em Porto Velho (RO) e depois bateu até em Chapecó (SC). Foi um dos muitos trabalhadores que chegaram com a cara e a coragem à portaria do Maracanã em busca de qualquer emprego (em quarenta minutos, a reportagem contou 4 homens batendo na porta em busca de

serviço). Manchinha é armador: trança as ferragens que sus-tentam cada estrutura antes de ser envolvida por madeiras e preenchida com concreto. Analfabeto, ele está pagando cursos de inglês para as filhas e rala pesado para mandar as “horas extras” para a mulher, que ficou no Pará cui-dando de Evair, Jaqueline, Jessica, Deise, Elizabeth, Helen e John Lennon. Levou um mês para Manchinha descolar o trampo – enquanto isso, ficou descarregando carreto, lajota, frutas, madeira e morando em um abrigo da prefeitura. Agora já conseguiu alugar uma pensão na Frei Caneca, centro do Rio, pertinho do trabalho. A vida é dura, mas Lourival tem certeza de que o filho vai fazer história no estádio que o pai ajudou a erguer.

p a i h e r ó i

T r a T a d o r e s d e g i r a f a s

gente

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O Maracanã hoje é um zoológico habitado por lagartas, macacos e até jacarés – bichos que

emprestaram seus nomes para as má-quinas pesadas que estão construindo o novo estádio. As girafas são o apelido

dos veículos potográficos (os guindastes menores, que elevam um trabalhador

a até 45 metros de altura). Cuidam da manutenção de todas as girafas do Maraca o Adilson de Souza Jr., de 32

anos, carioca da Ilha do Governador, e o Givaldo Alvez da Silva, 22 anos, de

Nova Iguaçu. Adilson sai da estrada do Galeão às 5h30, chega às 6h20 ao canteiro, toma café, entra às 7h e faz

hora extra todo dia, das 17h às 18h. “Sábado, se tem escala, eu tô dentro”,

diz. Ele curte Coldplay, Claudinho & Buchecha, vale-tudo e Flamen-

go, “mas o adesivo do clube no meu capacete foi meu filho de 12 anos quem colocou, fui eu não”, jura. Já Givaldo conta, feliz,

que este é seu primeiro trabalho de verdade, depois que saiu do Exército.

Ele só reclama que as girafas dão mui-to trabalho: “É igual carro, você tem

que colocar combustível, trocar a água, arrumar as peças, vivem quebrando”,

conta, para depois revelar que, no fundo, adora correr para lá e para cá e cuidar dos “bichinhos”. A correria tem um preço. Como sai de casa às

4h e volta às 20h – toma quatro condu-ções diárias –, chega destruído ao lar.

“Pelo menos, no domingão, a gente vai pra Copacabana”, diz. Adilson

e Givaldo são uma das várias amizades formadas entre os mais de 5 mil

trabalhadores no Maior do Mundo.

Lourival Alves de Souza, o Manchinha, tem certeza absoluta: nos Jogos de 2016, todos os locutores do Maracanã irão gritar “Gooool! De Jameson, camisa onze!” O são-paulino Jameson é um dos oito filhos gerados por esse rubro-negro nascido há 36 anos em Tucuruí, Pará. Ele viu uma reportagem sobre as obras no Rio no GloboRepórter e não teve dúvida: juntou R$ 425 e veio ten-tar a sorte, acompanhado por um amigo. Antes, passou um ano pegando pesado em Porto Velho (RO) e depois bateu até em Chapecó (SC). Foi um dos muitos trabalhadores que chegaram com a cara e a coragem à portaria do Maracanã em busca de qualquer emprego (em quarenta minutos, a reportagem contou 4 homens batendo na porta em busca de

serviço). Manchinha é armador: trança as ferragens que sus-tentam cada estrutura antes de ser envolvida por madeiras e preenchida com concreto. Analfabeto, ele está pagando cursos de inglês para as filhas e rala pesado para mandar as “horas extras” para a mulher, que ficou no Pará cui-dando de Evair, Jaqueline, Jessica, Deise, Elizabeth, Helen e John Lennon. Levou um mês para Manchinha descolar o trampo – enquanto isso, ficou descarregando carreto, lajota, frutas, madeira e morando em um abrigo da prefeitura. Agora já conseguiu alugar uma pensão na Frei Caneca, centro do Rio, pertinho do trabalho. A vida é dura, mas Lourival tem certeza de que o filho vai fazer história no estádio que o pai ajudou a erguer.

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José Eugênio Veiga Filho tem 47 anos e nasceu em Niterói. Mas, depois de morar 16 anos no Espírito Santo, voltou à vizinha mais bonita da Cidade Maravilhosa exclusivamente para trabalhar no Maracanã. Ele é um dos 150 encarregados que cuidam, cada um, de uma pequena parte do estádio. Eugênio é, digamos, o gerente de toda a área externa: luta pela economia de material e contra a ociosidade de cada trabalhador, zela pela diminuição de recursos hídricos, preocupa-se com o meio ambiente e o desperdício. Entre os muitos serviços que fiscaliza, deixar as rodonas de cada caminhão que sai do estádio limpinhas – a mesma água usada na limpeza é filtrada e depois reaproveitada em obras no Maraca – é o que mais dá orgulho. “Tudo tem de estar de acordo com o Leed, o certificado exigido pela Fifa para a sustentabilidade de cada estádio”, informa. Para chegar ao estádio antes do início do batente, às 7h, Eugênio levanta às 4 da manhã. Mas ele adora. “O poder de transformação da engenharia é incrível”, diz. “É um trabalho divertido. Você vai tomar um café e, quando volta, já descobre um muro novo”, entusiasma--se, conversando com a reportagem em pleno gramado onde reinaram Garrincha, Pelé, Zico, Romário. Eugênio é flamen-guista e conta que, antes de o campo ser totalmente destruído, batia a sua bolinha com a turma. “Pra jogar aqui, o cara tem que correr pra caramba. A gente botava 20 de cada lado e ainda não chegava na linha de fundo.” Ele trabalha de segunda a sábado – neste dia, por ser hora extra, ganha dobrado. E quase todo sábado tem trabalho. Chega em casa já na hora da no-vela das 9. No domingo, o lazer é ir com a patroa Graciele para a praia, tomar uma cervejinha. O momento mais mágico que viu no Maraca? “Aquele gol do Pet aos 43 do segundo tempo, quando a gente foi campeão. Se bem que mágico mesmo vai ser quando isso aqui ficar pronto.”

Eliene Lopes Carneiro, 33, é a “X9” do canteiro da Transcarioca, onde acontecem as obras do mergulhão do Campinho – um viaduto invertido que irá desafogar o trânsito da zona norte carioca. O serviço dela é arrumar o relógio de ponto. “Às vezes, o funcionário fica em casa, deixa o crachá pra outro bater”, diz ela. “Eu fico lá vigiando. Alguém tem que fazer, né?” Eliene não é durona. “Mas não dou bronca: só conto pro chefe.” Por conta do controle de ponto, ela chega ao canteiro às 6h15, vinda lá de Higienópolis, bandas do Com-plexo do Alemão. Só larga o batente às 20h, quando chega o turno da noite. E, junto com o turno da noite, chega o seu marido: eles só conseguem conviver aos domingos, quando, às 19h, vão à Assembleia de Deus – sem nunca faltar. Será esse o segredo para um casamento dar certo? Eliene está mais aliviada com o emprego novo. Antes, executava a mesma função em um canteiro de obras do PAC em Manguinhos. “Era complicado, a obra ficava no meio de duas comuni-dades”, conta. “Quando brigavam, a gente ficava no meio do fogo cruzado, tinha tiroteio entre polícia e bandido.” O ex-emprego ficava na avenida Leopoldo Bulhões, entre as favelas Mandela e Manguinhos – área conhecida como Faixa de Gaza. Hoje a função de Eliene é de RH, mas ela diz que não tem habilidades para trabalhar no departamento pessoal, porque não sabe trabalhar com a razão, “só com o coração”. Tanto que empregou a irmã como auxiliar de serviços gerais: “Ela ficou feliz demais quando recebeu o salário, porque pela primeira vez pôde comprar um ovo de páscoa pro filho”, afirma. Além de ralar no canteiro, Eliene estuda edificação. Sonha, porém, em ser paisagista. Tem mania de conversar com as plantinhas que cultiva em casa: “São meus nenês”, diz.

O pedreiro Carlos Alberto Conceição de Oliveira, 53 anos, é também pastor num templo da As-sembleia de Deus em Olaria. Vem da Penha numa Brasília detonada e jura que chega ao mergulhão do Campinho em 25 minutos. Antes de ser um dos 15 pedreiros da obra, foi moto-rista e auxiliar de escritório, até que resolveu trabalhar como autônomo. “Nunca planejei ser pedreiro”, conta. “Quando me tornei evangélico, em 1977, nossa igreja era uma casa velha e tivemos de reformá-la. Aí aprendi o serviço. Foi bom porque a partir dali fui em muitos lares de casais destruídos. Eu ia fazer a reforma, às vezes, a pessoa nem tinha como pagar e eu dava um auxílio espiritual”, lembra o pastor-pedreiro, crente que restaurou muitos lares e casas. Ele também trabalhou em Manguinhos, uma época difícil: “Muitos companheiros eram do tráfico ou viciados”, diz. “Eu tinha trabalho dobrado tanto na obra quanto no conforto espiritual.” Já no Campinho ele

descolou um dinheiro extra para reformar a própria casa e cui-dar mais de si mesmo. Mas, pela necessidade da obra – chega a trabalhar de segunda a segunda –, não tem achado tempo suficiente para pregar em Olaria. “Quando fui chamado, vim para servir à empresa 100%”, afirma. “É a minha maneira de servir a Deus. Ele não vai me castigar por deixar de pregar no domingo e na quinta, porque eu presto consolo espiritual a muita gente aqui.” Às quartas, de vez em quando o botafo-guense ainda tem disposição para bater uma bolinha com os colegas numa quadra de soçaite ali perto. Apesar de gostar da obra do mergulhão, o espírito de Claudio se ilumina mesmo é quando ele prega. “Há outros pastores aqui, mas muitos me dizem sentir uma alegria especial quando eu oro.”

o o B r e i r o

os u s T e n T á v e l

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gente

Page 59: Revista 2016 / Maio

José Eugênio Veiga Filho tem 47 anos e nasceu em Niterói. Mas, depois de morar 16 anos no Espírito Santo, voltou à vizinha mais bonita da Cidade Maravilhosa exclusivamente para trabalhar no Maracanã. Ele é um dos 150 encarregados que cuidam, cada um, de uma pequena parte do estádio. Eugênio é, digamos, o gerente de toda a área externa: luta pela economia de material e contra a ociosidade de cada trabalhador, zela pela diminuição de recursos hídricos, preocupa-se com o meio ambiente e o desperdício. Entre os muitos serviços que fiscaliza, deixar as rodonas de cada caminhão que sai do estádio limpinhas – a mesma água usada na limpeza é filtrada e depois reaproveitada em obras no Maraca – é o que mais dá orgulho. “Tudo tem de estar de acordo com o Leed, o certificado exigido pela Fifa para a sustentabilidade de cada estádio”, informa. Para chegar ao estádio antes do início do batente, às 7h, Eugênio levanta às 4 da manhã. Mas ele adora. “O poder de transformação da engenharia é incrível”, diz. “É um trabalho divertido. Você vai tomar um café e, quando volta, já descobre um muro novo”, entusiasma--se, conversando com a reportagem em pleno gramado onde reinaram Garrincha, Pelé, Zico, Romário. Eugênio é flamen-guista e conta que, antes de o campo ser totalmente destruído, batia a sua bolinha com a turma. “Pra jogar aqui, o cara tem que correr pra caramba. A gente botava 20 de cada lado e ainda não chegava na linha de fundo.” Ele trabalha de segunda a sábado – neste dia, por ser hora extra, ganha dobrado. E quase todo sábado tem trabalho. Chega em casa já na hora da no-vela das 9. No domingo, o lazer é ir com a patroa Graciele para a praia, tomar uma cervejinha. O momento mais mágico que viu no Maraca? “Aquele gol do Pet aos 43 do segundo tempo, quando a gente foi campeão. Se bem que mágico mesmo vai ser quando isso aqui ficar pronto.”

Eliene Lopes Carneiro, 33, é a “X9” do canteiro da Transcarioca, onde acontecem as obras do mergulhão do Campinho – um viaduto invertido que irá desafogar o trânsito da zona norte carioca. O serviço dela é arrumar o relógio de ponto. “Às vezes, o funcionário fica em casa, deixa o crachá pra outro bater”, diz ela. “Eu fico lá vigiando. Alguém tem que fazer, né?” Eliene não é durona. “Mas não dou bronca: só conto pro chefe.” Por conta do controle de ponto, ela chega ao canteiro às 6h15, vinda lá de Higienópolis, bandas do Com-plexo do Alemão. Só larga o batente às 20h, quando chega o turno da noite. E, junto com o turno da noite, chega o seu marido: eles só conseguem conviver aos domingos, quando, às 19h, vão à Assembleia de Deus – sem nunca faltar. Será esse o segredo para um casamento dar certo? Eliene está mais aliviada com o emprego novo. Antes, executava a mesma função em um canteiro de obras do PAC em Manguinhos. “Era complicado, a obra ficava no meio de duas comuni-dades”, conta. “Quando brigavam, a gente ficava no meio do fogo cruzado, tinha tiroteio entre polícia e bandido.” O ex-emprego ficava na avenida Leopoldo Bulhões, entre as favelas Mandela e Manguinhos – área conhecida como Faixa de Gaza. Hoje a função de Eliene é de RH, mas ela diz que não tem habilidades para trabalhar no departamento pessoal, porque não sabe trabalhar com a razão, “só com o coração”. Tanto que empregou a irmã como auxiliar de serviços gerais: “Ela ficou feliz demais quando recebeu o salário, porque pela primeira vez pôde comprar um ovo de páscoa pro filho”, afirma. Além de ralar no canteiro, Eliene estuda edificação. Sonha, porém, em ser paisagista. Tem mania de conversar com as plantinhas que cultiva em casa: “São meus nenês”, diz.

O pedreiro Carlos Alberto Conceição de Oliveira, 53 anos, é também pastor num templo da As-sembleia de Deus em Olaria. Vem da Penha numa Brasília detonada e jura que chega ao mergulhão do Campinho em 25 minutos. Antes de ser um dos 15 pedreiros da obra, foi moto-rista e auxiliar de escritório, até que resolveu trabalhar como autônomo. “Nunca planejei ser pedreiro”, conta. “Quando me tornei evangélico, em 1977, nossa igreja era uma casa velha e tivemos de reformá-la. Aí aprendi o serviço. Foi bom porque a partir dali fui em muitos lares de casais destruídos. Eu ia fazer a reforma, às vezes, a pessoa nem tinha como pagar e eu dava um auxílio espiritual”, lembra o pastor-pedreiro, crente que restaurou muitos lares e casas. Ele também trabalhou em Manguinhos, uma época difícil: “Muitos companheiros eram do tráfico ou viciados”, diz. “Eu tinha trabalho dobrado tanto na obra quanto no conforto espiritual.” Já no Campinho ele

descolou um dinheiro extra para reformar a própria casa e cui-dar mais de si mesmo. Mas, pela necessidade da obra – chega a trabalhar de segunda a segunda –, não tem achado tempo suficiente para pregar em Olaria. “Quando fui chamado, vim para servir à empresa 100%”, afirma. “É a minha maneira de servir a Deus. Ele não vai me castigar por deixar de pregar no domingo e na quinta, porque eu presto consolo espiritual a muita gente aqui.” Às quartas, de vez em quando o botafo-guense ainda tem disposição para bater uma bolinha com os colegas numa quadra de soçaite ali perto. Apesar de gostar da obra do mergulhão, o espírito de Claudio se ilumina mesmo é quando ele prega. “Há outros pastores aqui, mas muitos me dizem sentir uma alegria especial quando eu oro.”

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artigo | José Carlos Brunoro*

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O espOrte está caminhandO para se tOrnar, nO Brasil, o que até pouco tempo atrás era impos-sível: uma plataforma responsável por impulsionar movimentos importantes no desenvolvimento social e econô-mico do País. A Copa do Mundo e a Olimpíada farão a diferença, e a expec-tativa é de que os dois eventos mudem a visão dos dirigentes esportivos. Para ver a teoria trazer resultados na prática, existe uma palavra-chave: profissio-nalismo. Sem profissionais especia-lizados, os clubes e entidades terão dificuldades em aproveitar os recursos oriundos dessas competições.

Não existe sucesso no esporte sem equilíbrio da gestão técnica com a ad-ministrativa. É preciso ser bom dentro e fora do campo. O setor precisa agra-dar, oferecer produtos e serviços para os consumidores em potencial. Para isso é importante ter gente especiali-zada em comunicação ou, mais espe-cificamente, em marketing esportivo. Isso melhora a conexão com o público- alvo, cria estratégias que “falam” com cada nicho. Num país de 190 milhões de habitantes, a base de praticantes e adeptos de uma modalidade é enorme. Com boa estratégia de marketing, o esporte dá muito retorno, não precisa de ajuda. O Brasil tem sete canais de esportes com programação 24 horas, tem espaço para todos.

No Brasil ainda existe uma defici-ência em algumas modalidades. Não pode haver receio em importar mão de obra especializada, que resolve proble-mas imediatamente e prepara novas gerações de treinadores. Algumas medidas vêm sendo tomadas. O Co-mitê Olímpico Brasileiro tem exigido das confederações um planejamento abrangente, oferecendo cursos de ca-pacitação para as entidades e cobrando um plano de atividades até os Jogos do Rio. Do lado federal, o Ministério do Esporte tem ajudado financeiramente com projetos de desenvolvimento vi-sando aos jovens valores. Mas isso não é suficiente. É preciso cobrar constan-temente todas as instituições, trans-formar o País numa grande academia de esportes. As escolas precisam ser aparelhadas e capacitar os seus professores de educação física. A es-cola é onde tudo começa, também no esporte. As universidades precisam ser bem utilizadas, com a criação de um grande projeto, composto por bolsas para as modalidades em dificuldade.

É fundamental ter ambições, mudar pensamentos, sair do amado-rismo, fazer com que todas as partes se comuniquem e as modalidades façam parte de um mesmo objetivo. As individualidades só terão sucesso se fizerem parte de uma equipe. É assim que funciona a vida, e no esporte não

é diferente. O Brasil tem de aprender que só superará os problemas no es-porte se tiver capacidade de planejar. A boa notícia é que estamos perto de nos tornarmos uma potência olímpica. Só não podemos deixar passar esse momento especial. E o marketing pode ajudar muito no processo.

o esporte não precisa de ajudaPor mais impopular que seja, qualquer modalidade pode atingir seu público-alvo e crescer. A receita passa por uma boa estratégia de marketing esportivo

*josé carlos Brunoro é presidente do conselho da BsB e consultor técnico da confederação Brasileira de Basquete

É fundametal ter amBições. o Brasil está perto de se tornar uma potência esportiva e o marketing pode ajudar nesse processo

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Page 62: Revista 2016 / Maio

Por Marcelo Madureira

Enraizada E prEsErvada nas cErcanias do Maracanã, palco da abErtura E do

EncErraMEnto da oliMpíada dE 2016, árvorE conta o quE tEstEMunhou nos últiMos

62 anos EM dEpoiMEnto a uM intEgrantE do grupo cassEta & planEta

esta sou eu em 1950...

sustentabilidade

... e esta sou eu, hoje

Por Marcelo Madureira

Foto: rodrigo castro

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Page 63: Revista 2016 / Maio

Por Marcelo Madureira

Enraizada E prEsErvada nas cErcanias do Maracanã, palco da abErtura E do

EncErraMEnto da oliMpíada dE 2016, árvorE conta o quE tEstEMunhou nos últiMos

62 anos EM dEpoiMEnto a uM intEgrantE do grupo cassEta & planEta

esta sou eu em 1950...

sustentabilidade

... e esta sou eu, hoje

Por Marcelo Madureira

Foto: rodrigo castro

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Page 64: Revista 2016 / Maio

eu nome é Licamia tomentosa, sou natural do Nordeste do Brasil e posso chegar a até 15 metros de altura. Mas isso não vem ao caso. Todos me chamam de Oiti e, obra do destino, fui plantada à beira do rio Maracanã e isso vem muito ao caso.

A vida de uma árvore é muito monó-tona. Transformar húmus em seiva e esta em clorofila dia sim e outro tam-bém. Assistir ao desfile repetido das estações do ano, trocando oxigênio por gás carbônico. Para um vegetal, todos os dias são como uma tarde de domin-go chuvoso. Isso até que um fungo, um cocô de passarinho ou mesmo um raio fulminante transforme aquilo que foi sombra, flor e fruto em lenha de padaria. É a vida. A minha não seria diferente, se não tivesse sido plantada na beirola daquele que já foi o maior estádio do mundo, um pouco antes da inauguração dele.

E no princípio eram trevas. Ter-minada a Segunda Guerra Mundial, os cartolas internacionais resolveram retomar a rotina das Copas do Mundo de futebol. Como a Europa estava em pandarecos, resolveram que a Copa seria no Brasil e, como naquela época ainda não existia a CBF, Ricardo Tei-xeira nem João Havelange, a história não registra nenhum escândalo refe-rente a essa escolha.

Num evento dessa magnitude, o Brasil precisava de um estádio à altura.

Resolveu-se então que a arena seria construída no Rio de Janeiro, capital federal, no lugar do antigo Derby Club, um hipódromo que fazia concorrência ao seu similar da Gávea. Naquele tem-po a coisa mais civilizada que havia por ali era o Museu do Índio.

Para a construção do estádio realiza-ram um concurso. O projeto vencedor tinha mais autores que samba-enredo de escola de samba. Por incrível que pareça, o Maracanã não foi mais um projeto arrojado do arquiteto Oscar Niemeyer. Naqueles tempos, o Nie-meyer ainda rabiscava o projeto da Pampulha. Se ele tivesse vencido a disputa, o maior do mundo não teria “corners”, pois o Oscar detesta ângulos retos. E as linhas da lateral do campo seriam substituídas por curvas elegan-temente sinuosas e as traves, em um desenho arrojado, não possibilitariam a entrada das bolas. Uma pequena fa-lha do projeto. Ou então ele podia ter cimentado tudo, como no Memorial da América Latina, e eu ficaria sem os outros oitis da vizinhança.

Como toda obra pública brasileira, o estádio do Maracanã também não ficou pronto a tempo da Copa do Mun-do de 1950 e foi inaugurado, inacabado e na marra, no dia 16 de junho de 1950. Foi um jogo em que a seleção paulista venceu os cariocas por 3 a 1. Para con-solo do time da casa, o primeiro gol do estádio foi marcado pelo tricolor Didi,

o genial criador da folha seca. Logo em seguida, a Seleção Brasileira abriu a Copa de 50 derrotando a mexicana por 4 a 1.

Mas o mesmo vento que balançava as minhas folhas prenunciava a tragédia que se desenhava no horizonte. Para o Brasil se sagrar campeão do mundo, bastava um empate na final, mas os uruguaios, nossos adversários no jogo decisivo, acabaram vencendo de virada. E o Brasil acabou pagando o maior mico de nossa história futebolística.

Desde então, o Maracanã, que na década de 70 ganhou o nome de Mário Filho, passou a ser o maior templo do fu-tebol mundial. No seu gramado, pisaram alguns dos maiores craques que a bola já conheceu. O estádio foi palco de tragé-dias e comédias. Clássicos inesquecíveis e peladas intermináveis. Pelé escolheu o Maracanã para sua despedida da Seleção Brasileira em 1971. O mesmo Maraca que consagrou o rei do futebol bicampeão mundial interclubes pelo Santos em 1962 e 1963. Além, é claro, do seu legendário milésimo gol, que o rei, tal um padre católico, fez questão de dedicar às crianci-nhas. Ah, quantos torcedores maravilha-dos eu vi deixando o estádio...

O Maracanã também tinha os seus mistérios. Quem pode ignorar os banheiros do estádio, os mais sujos do mundo? Naquele lugar infecto, o nível de xixi acumulado chegava à altura dos joelhos, e o cidadão precisava de muita

coragem para entrar. Apesar de não ter nariz, sofri muito quando os vapores dos banheiros vinham na minha direção (só era pior quando, inundados de cerveja, os torcedores se aliviavam direto no meu tronco). E os vestiários? Alegres nas vitórias, tristes nas derrotas, mas sempre muito frequentados por uma fauna de cartolas, artistas e celebridades. Todos de olhar comprido e pedinchão para os jogadores pelados, recém-saídos do chuveiro. Esses “observadores de pássaros” deram origem a mais um tipo tradicional carioca. O “manja rola” ou “vampiroca de vestiário”.

Como esquecer o Seu Suborno? Funcionário subalterno do estádio que, mediante o que seria hoje R$ 1, dei-xava os menos afortunados a passar da precariedade da geral para o conforto da arquibancada. O que era assistir a um jogo na geral, de pé, no meio da multidão? No rígido sistema de castas do estádio, frequentar a geral era ser um intocável, um pária. Mas da geral, em que pese o desconforto, ficava-se pertinho do campo, podia-se xingar o juiz e ele escutar e até arremessar pilhas, ou o radinho todo mesmo, no técnico incompetente do seu time.

E os “pegas” na geral? Imortalizados em verso pelo Aldir Blanc, bastava uma briguinha à toa para todo mundo sair em correria. Na geral viviam os geraldinos, o lumpesinato do estádio. A arquibancada, território dos arquibal-dos, obedecia a uma complexa divisão tribal entre as torcidas organizadas, esta forma de convivência humana que abo-liu qualquer resquício de civilização.

E o cachorro-quente do Maracanã? Uma madeleine proustiana, em que o pãozinho vinha cozido no calor da

salsicha, formando um conjunto de consistência e sabor inigualáveis. Bom mesmo era, depois do jogo, encontrar os amigos torcedores do time adversário para as sacanagens de praxe. Muitos

desses encontros aconteceram sob a minha sombra. Naquele tempo pacífico, ainda não existiam os arrastões devas-tadores que deixariam o Gengis Khan morrendo de inveja.

O estádio não era só para o futebol. Uma constelação de artistas de fama internacional fez questão de soltar a sua voz naquela arena que tinha a pior acús-tica do planeta. De Frank Sinatra a Ro-berto Carlos, passando pelo papa João Paulo II e o bispo Edir Macedo, todos fizeram o Maracanã de palco. Até mes-mo o Papai Noel descia de helicóptero todo ano, abrindo as comemorações na-talinas. Isso aconteceu até 1991, quando a imprensa golpista descobriu o Bom Velhinho envolvido num escândalo de trabalho escravo de duendes e relações homoafetivas com renas menores de idade. Dizem até que o helicóptero não era do Papai Noel, mas sim emprestado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Hoje eu vejo um monte de entulho e gente. O Maracanã está se preparando para a Copa de 2014 e para a Olimpíada

de 2016. Exibe as suas entranhas, por onde empreiteiros garimpam verbas públicas. O querido Maraca, qual uma velhusca atriz de telenovela, é botocado e siliconado. Só para manter a tradição, é claro que não vai ficar pronto a tempo. E, se depender dessa seleção do Mano Menezes, acho que vamos repetir a história de 50. Só que, desta vez, como diria Karl Marx, enquanto farsa. Mas isso não vem ao caso.

E esta é a história do Maracanã , tes-temunhada e contada por esta velha oiti de pau, que, mesmo sendo apenas uma árvore, morre de medo de ser confundi-da com um Rubem Braga paraguaio. E isso, aliás, vem muito ao caso.

sustentabilidade

"A vidA de umA árvore é muito monótonA. A minhA não seriA diferente, se não tivesse sido plAntAdA nA beirolA dAquele que já foi o mAior estádio do mundo"

Patrocínio:

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eu nome é Licamia tomentosa, sou natural do Nordeste do Brasil e posso chegar a até 15 metros de altura. Mas isso não vem ao caso. Todos me chamam de Oiti e, obra do destino, fui plantada à beira do rio Maracanã e isso vem muito ao caso.

A vida de uma árvore é muito monó-tona. Transformar húmus em seiva e esta em clorofila dia sim e outro tam-bém. Assistir ao desfile repetido das estações do ano, trocando oxigênio por gás carbônico. Para um vegetal, todos os dias são como uma tarde de domin-go chuvoso. Isso até que um fungo, um cocô de passarinho ou mesmo um raio fulminante transforme aquilo que foi sombra, flor e fruto em lenha de padaria. É a vida. A minha não seria diferente, se não tivesse sido plantada na beirola daquele que já foi o maior estádio do mundo, um pouco antes da inauguração dele.

E no princípio eram trevas. Ter-minada a Segunda Guerra Mundial, os cartolas internacionais resolveram retomar a rotina das Copas do Mundo de futebol. Como a Europa estava em pandarecos, resolveram que a Copa seria no Brasil e, como naquela época ainda não existia a CBF, Ricardo Tei-xeira nem João Havelange, a história não registra nenhum escândalo refe-rente a essa escolha.

Num evento dessa magnitude, o Brasil precisava de um estádio à altura.

Resolveu-se então que a arena seria construída no Rio de Janeiro, capital federal, no lugar do antigo Derby Club, um hipódromo que fazia concorrência ao seu similar da Gávea. Naquele tem-po a coisa mais civilizada que havia por ali era o Museu do Índio.

Para a construção do estádio realiza-ram um concurso. O projeto vencedor tinha mais autores que samba-enredo de escola de samba. Por incrível que pareça, o Maracanã não foi mais um projeto arrojado do arquiteto Oscar Niemeyer. Naqueles tempos, o Nie-meyer ainda rabiscava o projeto da Pampulha. Se ele tivesse vencido a disputa, o maior do mundo não teria “corners”, pois o Oscar detesta ângulos retos. E as linhas da lateral do campo seriam substituídas por curvas elegan-temente sinuosas e as traves, em um desenho arrojado, não possibilitariam a entrada das bolas. Uma pequena fa-lha do projeto. Ou então ele podia ter cimentado tudo, como no Memorial da América Latina, e eu ficaria sem os outros oitis da vizinhança.

Como toda obra pública brasileira, o estádio do Maracanã também não ficou pronto a tempo da Copa do Mun-do de 1950 e foi inaugurado, inacabado e na marra, no dia 16 de junho de 1950. Foi um jogo em que a seleção paulista venceu os cariocas por 3 a 1. Para con-solo do time da casa, o primeiro gol do estádio foi marcado pelo tricolor Didi,

o genial criador da folha seca. Logo em seguida, a Seleção Brasileira abriu a Copa de 50 derrotando a mexicana por 4 a 1.

Mas o mesmo vento que balançava as minhas folhas prenunciava a tragédia que se desenhava no horizonte. Para o Brasil se sagrar campeão do mundo, bastava um empate na final, mas os uruguaios, nossos adversários no jogo decisivo, acabaram vencendo de virada. E o Brasil acabou pagando o maior mico de nossa história futebolística.

Desde então, o Maracanã, que na década de 70 ganhou o nome de Mário Filho, passou a ser o maior templo do fu-tebol mundial. No seu gramado, pisaram alguns dos maiores craques que a bola já conheceu. O estádio foi palco de tragé-dias e comédias. Clássicos inesquecíveis e peladas intermináveis. Pelé escolheu o Maracanã para sua despedida da Seleção Brasileira em 1971. O mesmo Maraca que consagrou o rei do futebol bicampeão mundial interclubes pelo Santos em 1962 e 1963. Além, é claro, do seu legendário milésimo gol, que o rei, tal um padre católico, fez questão de dedicar às crianci-nhas. Ah, quantos torcedores maravilha-dos eu vi deixando o estádio...

O Maracanã também tinha os seus mistérios. Quem pode ignorar os banheiros do estádio, os mais sujos do mundo? Naquele lugar infecto, o nível de xixi acumulado chegava à altura dos joelhos, e o cidadão precisava de muita

coragem para entrar. Apesar de não ter nariz, sofri muito quando os vapores dos banheiros vinham na minha direção (só era pior quando, inundados de cerveja, os torcedores se aliviavam direto no meu tronco). E os vestiários? Alegres nas vitórias, tristes nas derrotas, mas sempre muito frequentados por uma fauna de cartolas, artistas e celebridades. Todos de olhar comprido e pedinchão para os jogadores pelados, recém-saídos do chuveiro. Esses “observadores de pássaros” deram origem a mais um tipo tradicional carioca. O “manja rola” ou “vampiroca de vestiário”.

Como esquecer o Seu Suborno? Funcionário subalterno do estádio que, mediante o que seria hoje R$ 1, dei-xava os menos afortunados a passar da precariedade da geral para o conforto da arquibancada. O que era assistir a um jogo na geral, de pé, no meio da multidão? No rígido sistema de castas do estádio, frequentar a geral era ser um intocável, um pária. Mas da geral, em que pese o desconforto, ficava-se pertinho do campo, podia-se xingar o juiz e ele escutar e até arremessar pilhas, ou o radinho todo mesmo, no técnico incompetente do seu time.

E os “pegas” na geral? Imortalizados em verso pelo Aldir Blanc, bastava uma briguinha à toa para todo mundo sair em correria. Na geral viviam os geraldinos, o lumpesinato do estádio. A arquibancada, território dos arquibal-dos, obedecia a uma complexa divisão tribal entre as torcidas organizadas, esta forma de convivência humana que abo-liu qualquer resquício de civilização.

E o cachorro-quente do Maracanã? Uma madeleine proustiana, em que o pãozinho vinha cozido no calor da

salsicha, formando um conjunto de consistência e sabor inigualáveis. Bom mesmo era, depois do jogo, encontrar os amigos torcedores do time adversário para as sacanagens de praxe. Muitos

desses encontros aconteceram sob a minha sombra. Naquele tempo pacífico, ainda não existiam os arrastões devas-tadores que deixariam o Gengis Khan morrendo de inveja.

O estádio não era só para o futebol. Uma constelação de artistas de fama internacional fez questão de soltar a sua voz naquela arena que tinha a pior acús-tica do planeta. De Frank Sinatra a Ro-berto Carlos, passando pelo papa João Paulo II e o bispo Edir Macedo, todos fizeram o Maracanã de palco. Até mes-mo o Papai Noel descia de helicóptero todo ano, abrindo as comemorações na-talinas. Isso aconteceu até 1991, quando a imprensa golpista descobriu o Bom Velhinho envolvido num escândalo de trabalho escravo de duendes e relações homoafetivas com renas menores de idade. Dizem até que o helicóptero não era do Papai Noel, mas sim emprestado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Hoje eu vejo um monte de entulho e gente. O Maracanã está se preparando para a Copa de 2014 e para a Olimpíada

de 2016. Exibe as suas entranhas, por onde empreiteiros garimpam verbas públicas. O querido Maraca, qual uma velhusca atriz de telenovela, é botocado e siliconado. Só para manter a tradição, é claro que não vai ficar pronto a tempo. E, se depender dessa seleção do Mano Menezes, acho que vamos repetir a história de 50. Só que, desta vez, como diria Karl Marx, enquanto farsa. Mas isso não vem ao caso.

E esta é a história do Maracanã , tes-temunhada e contada por esta velha oiti de pau, que, mesmo sendo apenas uma árvore, morre de medo de ser confundi-da com um Rubem Braga paraguaio. E isso, aliás, vem muito ao caso.

sustentabilidade

"A vidA de umA árvore é muito monótonA. A minhA não seriA diferente, se não tivesse sido plAntAdA nA beirolA dAquele que já foi o mAior estádio do mundo"

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Page 66: Revista 2016 / Maio

depoimento

Marcus Vinícius Freire, superintendente-executivo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), fala muito. Emenda um assunto no outro, mostra gráficos, fotos e livros. Jogador profis-sional de vôlei por 16 anos, executivo de bancos e seguradoras por 15, ele tem agora o maior desafio de sua vida: fazer o Brasil pular das cerca de 15 medalhas previstas para a Olimpíada de Londres, em julho e agosto, para 30 nos Jogos do Rio, em 2016. A seguir, Freire fala sobre as estratégias para fazer do País uma potência esportiva, revela de onde vem o dinheiro para manter o sonho olímpico e diz que não tem nada contra a falta de rodízio de dirigentes no poder.

a Força dos ex-atletas “Nossa principal força é o time, não é o Marcus Vinícius, não é o Nuzman [Carlos Arthur Nuz-man, presidente do COB e do Comitê Rio-2016], não é Agberto [Guimarães, diretor de Esportes da Rio-2016]. A vantagem de que entre 140 funcionários a gente tem 21 olímpicos é que nós vivemos esse negócio. Hoje mesmo estive com o pai da

Jade, com a Jade, a Daiane dos Santos, o Diego Hypólito e a presidenta da confederação de ginástica artística, e estávamos eu e mais dois ex-atletas juntos, a Berenice Arruda, que foi ginasta, e o Bichara, que foi decatleta. E, toda vez que eles falavam de alguma questão, a gente já tinha vivido a mesma coisa.”

Metas “Em função da nossa meta agressiva para 2016, que é duplicar o número de medalhas e chegar ao top 10, nós montamos um plano para as principais modalidades e estamos fazendo um livro para cada uma delas, mostrando onde ela está hoje, qual a meta e o que é preciso para che-gar lá. Nos livros nós traçamos um perfil do atleta que cada esporte tem hoje, a quantidade e as metas. A gente tem um mapeamento semanal de 193 atletas, 27 deles sem chance de ir a Londres, mas com perfil para 2016. Desses 193, tem o cara que é top 5 no mundo, top 10, finalista e as jovens promessas. Nosso trabalho é descobrir como fazer para esse cara saltar de um grupo para o outro.”

“o Brasil será uma potência em 2016”

superintendente-executiVo do coB, Marcus Vinícius Freire diz que não teVe teMpo

de Montar uM tiMe de elite para londres, deFende a presença de ex-atletas no coB

e não Vê proBleMa nenhuM eM carlos arthur nuzMan se eternizar no poder

núMero de Medalhas “Por que só 15 medalhas em Londres? Porque é o real. A maioria dos países que recebe-ram Jogos já estava muito mais próxima do que nós do top 10. Estamos falando de Espanha, Coreia, Austrália, China e, agora, Inglaterra. A Grécia não cabe nessa regra, porque ela não foi essa bola toda. Esses países já estavam em um desses grupos, que são três. O primeiro é o dos inatingíveis: Estados Unidos, China e Rússia, mais de 70 medalhas, os dois primeiros com mais de 100. O segundo grupo, com mais de 40 meda-lhas, está fora do nosso foco hoje: Reino Unido, Austrália e França. E depois tem o grupo de 24 a 32 medalhas, com quem vamos brigar em 2016. A cara do esporte brasileiro mudou em 2007, quando fize-mos o Pan do Rio, mas o investimento e a vontade política só mudaram real-mente em 2009, depois que ganhamos o direito de sediar a Olimpíada.”

esportes que Vão ao pódio “A gente imagina que 25 das 30 medalhas que planejamos ganhar no Rio vão estar concentradas em judô, vôlei de praia, vela, vôlei de quadra, futebol, natação, atletismo, tae kwon do, boxe, ginástica artística, canoagem, remo, basquete e handebol. A gente criou uma espécie de moeda que mede o valor esportivo esperado de cada modalidade. E esse é nosso plano estratégico, tornar e manter o Brasil uma potência olímpica a partir de 2016. Para 2012, não deu tempo de fazer isso. Faltava dinheiro e, em algumas con-federações, planejamento. E não adianta dinheiro em cima da hora. Para fazer medalha, eu preciso de oito, dez anos.”

Gestão do dinheiro “A gente tem uma transparência 100 por cento. O Tribunal de Contas da União e a Caixa Econômica têm acesso direto às nossas contas. Cada centavo passado para as confederações tem de ser aprovado aqui no sistema, e o cara do sistema tem de acompanhar para ver se vai ser gasto exatamente no que se programou. Ele não consegue comprar um café se não

for aprovado e comprovado aqui. Temos um software de projetos e um grupo que trabalha só nisso. E esses caras têm o direito de ir para a rua a fim de buscar mais dinheiro. Aí vem o choro de que é difícil. Então eu dou um exemplo: rúgbi. Até 2009, não tinha confederação nem era esporte olímpico. Era uma associação quando entrou na programa-ção de 2016. Em 2010 eles criaram uma confederação e hoje têm oito patrocina-dores e o SporTV está transmitindo o Campeonato Brasileiro e o Sul-Ameri-cano. Só falta uma geração que vença. O masculino ainda está longe, mas o feminino é o número dez do mundo.”

ForMação dos atletas “Esporte nas escolas não é a nossa cultura. Gostaria muito que fosse, tanto que meu filho estuda nos Estados Unidos, onde é assim. Mas infelizmente o atleta de alto rendimento no Brasil é o contrário: ele vira arrimo de família e para de estudar. Você pega o exemplo do futebol: é difícil ter um jogador universitário e isso hoje se repete no atletismo, no vôlei, na ginástica. A natação é exceção, porque os colleges americanos levam a molecada para lá e o cara volta formado. De 1984 a 2008, a seleção olímpica masculina de vôlei só tinha dois caras formados em alguma coisa que não fosse educação físi-ca: Bernardinho e eu. Dos 12 de Pequim, o único na universidade era o Bruno. Metade joga em time de universidade, como a Unisul, mas nem assim estuda.”

nuzMan “Acho que, no caso dele parti-cular, é o maior sucesso da administração esportiva do Brasil. Pelo que ele fez no vôlei e pela mudança radical no esporte

olímpico. Discutir se ele está há mais ou menos tempo no cargo... Um cara que trouxe os Jogos Pan-Americanos, depois os Olímpicos. Acho que não dá para discutir o tempo dele no cargo. Pode-se botar uma regra, acho que é válido. Mas minha experiência internacional mostra que em quatro anos você não consegue realizar praticamente nada. Em menos de dez anos você não consegue realizar nada. E para dirigentes que são um su-cesso, como o Nuzman, 12 anos é pouco. Então, que fique 24 anos. Acho que não dá para discutir em relação à pessoa dele. Discutir a regra é saudável, mas existem exceções, como ele.

cronoGraMa “O maior problema agora é a falta de tempo. Hoje estamos muito bem alinhados: prefeitura, governo do Estado, governo federal e Ministério do Esporte. Nós temos uma relação ótima, o que acelera tudo. Há 30 anos es-cuto que o metrô vai chegar à Barra. Nós ganhamos o direito de sediar os Jogos em 2009; em outubro de 2010 fizeram um buraco imenso perto da minha casa e está praticamente pronto. O que se fala-va havia 30 anos, foi realizado em apenas alguns meses. No que tange ao Parque Olímpico, em abril inauguramos o maior centro de treinamento de ginástica artís-tica horizontal do mundo. O projeto do parque é nosso sonho há 30 anos. Se está dentro do cronograma, não é comigo. Não estou preocupado. A maioria das instalações já está aí.”

“Para fazer medalha, eu Preciso de dez anos de Planejamento. Para 2012, não deu temPo”

79

maio 2012 | istoé 2016

Por Flávia RibeiRo fotos Felipe vaRanda

Page 67: Revista 2016 / Maio

depoimento

Marcus Vinícius Freire, superintendente-executivo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), fala muito. Emenda um assunto no outro, mostra gráficos, fotos e livros. Jogador profis-sional de vôlei por 16 anos, executivo de bancos e seguradoras por 15, ele tem agora o maior desafio de sua vida: fazer o Brasil pular das cerca de 15 medalhas previstas para a Olimpíada de Londres, em julho e agosto, para 30 nos Jogos do Rio, em 2016. A seguir, Freire fala sobre as estratégias para fazer do País uma potência esportiva, revela de onde vem o dinheiro para manter o sonho olímpico e diz que não tem nada contra a falta de rodízio de dirigentes no poder.

a Força dos ex-atletas “Nossa principal força é o time, não é o Marcus Vinícius, não é o Nuzman [Carlos Arthur Nuz-man, presidente do COB e do Comitê Rio-2016], não é Agberto [Guimarães, diretor de Esportes da Rio-2016]. A vantagem de que entre 140 funcionários a gente tem 21 olímpicos é que nós vivemos esse negócio. Hoje mesmo estive com o pai da

Jade, com a Jade, a Daiane dos Santos, o Diego Hypólito e a presidenta da confederação de ginástica artística, e estávamos eu e mais dois ex-atletas juntos, a Berenice Arruda, que foi ginasta, e o Bichara, que foi decatleta. E, toda vez que eles falavam de alguma questão, a gente já tinha vivido a mesma coisa.”

Metas “Em função da nossa meta agressiva para 2016, que é duplicar o número de medalhas e chegar ao top 10, nós montamos um plano para as principais modalidades e estamos fazendo um livro para cada uma delas, mostrando onde ela está hoje, qual a meta e o que é preciso para che-gar lá. Nos livros nós traçamos um perfil do atleta que cada esporte tem hoje, a quantidade e as metas. A gente tem um mapeamento semanal de 193 atletas, 27 deles sem chance de ir a Londres, mas com perfil para 2016. Desses 193, tem o cara que é top 5 no mundo, top 10, finalista e as jovens promessas. Nosso trabalho é descobrir como fazer para esse cara saltar de um grupo para o outro.”

“o Brasil será uma potência em 2016”

superintendente-executiVo do coB, Marcus Vinícius Freire diz que não teVe teMpo

de Montar uM tiMe de elite para londres, deFende a presença de ex-atletas no coB

e não Vê proBleMa nenhuM eM carlos arthur nuzMan se eternizar no poder

núMero de Medalhas “Por que só 15 medalhas em Londres? Porque é o real. A maioria dos países que recebe-ram Jogos já estava muito mais próxima do que nós do top 10. Estamos falando de Espanha, Coreia, Austrália, China e, agora, Inglaterra. A Grécia não cabe nessa regra, porque ela não foi essa bola toda. Esses países já estavam em um desses grupos, que são três. O primeiro é o dos inatingíveis: Estados Unidos, China e Rússia, mais de 70 medalhas, os dois primeiros com mais de 100. O segundo grupo, com mais de 40 meda-lhas, está fora do nosso foco hoje: Reino Unido, Austrália e França. E depois tem o grupo de 24 a 32 medalhas, com quem vamos brigar em 2016. A cara do esporte brasileiro mudou em 2007, quando fize-mos o Pan do Rio, mas o investimento e a vontade política só mudaram real-mente em 2009, depois que ganhamos o direito de sediar a Olimpíada.”

esportes que Vão ao pódio “A gente imagina que 25 das 30 medalhas que planejamos ganhar no Rio vão estar concentradas em judô, vôlei de praia, vela, vôlei de quadra, futebol, natação, atletismo, tae kwon do, boxe, ginástica artística, canoagem, remo, basquete e handebol. A gente criou uma espécie de moeda que mede o valor esportivo esperado de cada modalidade. E esse é nosso plano estratégico, tornar e manter o Brasil uma potência olímpica a partir de 2016. Para 2012, não deu tempo de fazer isso. Faltava dinheiro e, em algumas con-federações, planejamento. E não adianta dinheiro em cima da hora. Para fazer medalha, eu preciso de oito, dez anos.”

Gestão do dinheiro “A gente tem uma transparência 100 por cento. O Tribunal de Contas da União e a Caixa Econômica têm acesso direto às nossas contas. Cada centavo passado para as confederações tem de ser aprovado aqui no sistema, e o cara do sistema tem de acompanhar para ver se vai ser gasto exatamente no que se programou. Ele não consegue comprar um café se não

for aprovado e comprovado aqui. Temos um software de projetos e um grupo que trabalha só nisso. E esses caras têm o direito de ir para a rua a fim de buscar mais dinheiro. Aí vem o choro de que é difícil. Então eu dou um exemplo: rúgbi. Até 2009, não tinha confederação nem era esporte olímpico. Era uma associação quando entrou na programa-ção de 2016. Em 2010 eles criaram uma confederação e hoje têm oito patrocina-dores e o SporTV está transmitindo o Campeonato Brasileiro e o Sul-Ameri-cano. Só falta uma geração que vença. O masculino ainda está longe, mas o feminino é o número dez do mundo.”

ForMação dos atletas “Esporte nas escolas não é a nossa cultura. Gostaria muito que fosse, tanto que meu filho estuda nos Estados Unidos, onde é assim. Mas infelizmente o atleta de alto rendimento no Brasil é o contrário: ele vira arrimo de família e para de estudar. Você pega o exemplo do futebol: é difícil ter um jogador universitário e isso hoje se repete no atletismo, no vôlei, na ginástica. A natação é exceção, porque os colleges americanos levam a molecada para lá e o cara volta formado. De 1984 a 2008, a seleção olímpica masculina de vôlei só tinha dois caras formados em alguma coisa que não fosse educação físi-ca: Bernardinho e eu. Dos 12 de Pequim, o único na universidade era o Bruno. Metade joga em time de universidade, como a Unisul, mas nem assim estuda.”

nuzMan “Acho que, no caso dele parti-cular, é o maior sucesso da administração esportiva do Brasil. Pelo que ele fez no vôlei e pela mudança radical no esporte

olímpico. Discutir se ele está há mais ou menos tempo no cargo... Um cara que trouxe os Jogos Pan-Americanos, depois os Olímpicos. Acho que não dá para discutir o tempo dele no cargo. Pode-se botar uma regra, acho que é válido. Mas minha experiência internacional mostra que em quatro anos você não consegue realizar praticamente nada. Em menos de dez anos você não consegue realizar nada. E para dirigentes que são um su-cesso, como o Nuzman, 12 anos é pouco. Então, que fique 24 anos. Acho que não dá para discutir em relação à pessoa dele. Discutir a regra é saudável, mas existem exceções, como ele.

cronoGraMa “O maior problema agora é a falta de tempo. Hoje estamos muito bem alinhados: prefeitura, governo do Estado, governo federal e Ministério do Esporte. Nós temos uma relação ótima, o que acelera tudo. Há 30 anos es-cuto que o metrô vai chegar à Barra. Nós ganhamos o direito de sediar os Jogos em 2009; em outubro de 2010 fizeram um buraco imenso perto da minha casa e está praticamente pronto. O que se fala-va havia 30 anos, foi realizado em apenas alguns meses. No que tange ao Parque Olímpico, em abril inauguramos o maior centro de treinamento de ginástica artís-tica horizontal do mundo. O projeto do parque é nosso sonho há 30 anos. Se está dentro do cronograma, não é comigo. Não estou preocupado. A maioria das instalações já está aí.”

“Para fazer medalha, eu Preciso de dez anos de Planejamento. Para 2012, não deu temPo”

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maio 2012 | istoé 2016

Por Flávia RibeiRo fotos Felipe vaRanda

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contra a maréApesAr de ter um século e meio de históriA no BrAsil, o remo sofre com A fAltA de

estruturA e A escAssez de AtletAs – mAs umA ondA de investimentos pode AjudAr o pAís

A, enfim, conquistAr suA primeirA medAlhA olímpicA

Por marina rossi fotos masao Goto Filho

esporte em construção

dificuldAde só depois de ser campeã mundial é que fabiana Beltrame obteve os patrocínios que a permitiram viver do esporte 80

maio 2012 | istoé 2016

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contra a maréApesAr de ter um século e meio de históriA no BrAsil, o remo sofre com A fAltA de

estruturA e A escAssez de AtletAs – mAs umA ondA de investimentos pode AjudAr o pAís

A, enfim, conquistAr suA primeirA medAlhA olímpicA

Por marina rossi fotos masao Goto Filho

esporte em construção

dificuldAde só depois de ser campeã mundial é que fabiana Beltrame obteve os patrocínios que a permitiram viver do esporte 80

maio 2012 | istoé 2016

Page 70: Revista 2016 / Maio

A primeirA pArtidA de futebol no brAsil foi reAlizAdA, segun-do os registros oficiais, em 15 de abril de 1895. O basquete estreou em 1896 e o vôlei, em 1915. Se fosse preciso eleger o esporte mais tradicional do País, nenhuma dessas modalidades poderia ser comparada ao remo. Muito antes dos primeiros chutes, arremessos e cortadas desferidos em território nacional, uma legião de remadores trabalhava duro no Rio de Janeiro. O Clube dos Mariantes, em Niterói, surgiu em 1853 e, nas décadas que se seguiram, deze-nas de outras associações de remo apareceram para singrar os mares cariocas. Flamengo, Vasco e Botafogo, três dos clubes de futebol de maior torcida do Brasil, nasceram graças aos atletas das regatas. Na primeira participação olím-pica do Brasil, em 1920, o remo estava lá, ao lado de representantes de outros quatro esportes (polo aquático, saltos ornamentais, natação e tiro). Desde en-tão, os remadores só não estiveram presentes nos Jogos de Tóquio, em 1964, mas até hoje mantêm uma sina: nenhum brasileiro jamais ganhou medalha olímpica. O que explica a dissintonia entre tradição e resultados?

Atletas e dirigentes dão algumas pistas para a falta de conquistas. A primeira delas se deve à competição com outras modalidades. Para ficar no exemplo de esportes individuais: enquanto natação e atletismo se tornaram cada vez mais populares, o remo viu seu prestígio minguar. No início do século 20, apenas o Rio de Janeiro chegou a ter 40 clubes de remo. Hoje, no Brasil inteiro, existem 53. A escassez de locais para treinamentos resultou na redução brutal do número de praticantes e, assim, diminuiu a possibilidade de aparecimen-

to de talentos. Razões institucionais também pesaram no declínio. “O remo no Brasil é excessivamente burocratiza-do”, diz Wilson Reeberg, presidente da Confederação Brasileira. “Hoje, para ser reconhecido como um clube de remo, dezenas de exigências são feitas, desde um número mínimo de barcos até sede própria. Quando o Flamengo começou, nem barco próprio tinha. Essa burocrati-zação foi um desastre para o esporte.”

As próprias características do remo representaram uma barreira para a sua popularização. Trata-se de um esporte que exige doses extremas de sacrifício. Não dá para virar um atleta de ponta sem treinar pesado diariamente, por cinco ou seis horas a fio, faça chuva ou faça sol. Detalhe: o remador em geral não tem visibilidade e ganha pouco para se matar nos treinamentos e competições. Ele também precisa ser beneficiado pelas condições geo-gráficas – sem uma lagoa, mar ou rio por perto, é impossível ir muito longe. Melhor atleta brasileira da história desse esporte, a catarinense Fabiana Beltrame, que fará na Olimpíada de Londres dupla com Luana Bartholo na categoria skiff duplo, é o retrato dessas dificuldades. Para se preparar para os Jogos, Fabiana chega às seis horas da manhã na Lagoa Rodrigo de Freitas e leva junto a filha Alice, 2 anos. Só recentemente, quando conquistou medalha de ouro no Campeonato Mundial da Alemanha, em setembro de 2011, que passou enfim a ser reco-nhecida. “Hoje eu vivo bem, porque os resultados trouxeram patrocínios. Deveria ser o contrário: para chegar lá, o atleta precisa receber apoio antes.”

Sacrifício é a palavra-chave para ilustrar a trajetória dos principais remadores brasileiros. Há dois anos no Rio de Janeiro, Aílson Eráclito, de 24 anos, acorda todos os dias às 4h45 da manhã. “Pouco depois das 5 horas

Para não confundirconheçA As diferençAs entre remo e cAnoAgem

remo cAnoAgem

É disputado em águas paradas, como lagos e raias olímpicas

É disputado em rios com corredeiras e em mar aberto

o atleta fica de costas para a proa do barco

os atletas se posicio- nam no mesmo sentido da proa do barco

As provas são de dois mil metros

A prova mais extensa, na catego-ria velocidade, é de mil metros

A primeira competição olímpica foi em 1900

É uma modalidade olímpica desde 1936

o barco é longo e estreito A canoa é menos longa e mais larga

*fonte: confederação Brasileira de canoagem

sAcrifício Aílson eráclito acorda antes das 5 horas da manhã e logo depois já está na água, faça chuva ou faça sol

esporte em construção

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A primeirA pArtidA de futebol no brAsil foi reAlizAdA, segun-do os registros oficiais, em 15 de abril de 1895. O basquete estreou em 1896 e o vôlei, em 1915. Se fosse preciso eleger o esporte mais tradicional do País, nenhuma dessas modalidades poderia ser comparada ao remo. Muito antes dos primeiros chutes, arremessos e cortadas desferidos em território nacional, uma legião de remadores trabalhava duro no Rio de Janeiro. O Clube dos Mariantes, em Niterói, surgiu em 1853 e, nas décadas que se seguiram, deze-nas de outras associações de remo apareceram para singrar os mares cariocas. Flamengo, Vasco e Botafogo, três dos clubes de futebol de maior torcida do Brasil, nasceram graças aos atletas das regatas. Na primeira participação olím-pica do Brasil, em 1920, o remo estava lá, ao lado de representantes de outros quatro esportes (polo aquático, saltos ornamentais, natação e tiro). Desde en-tão, os remadores só não estiveram presentes nos Jogos de Tóquio, em 1964, mas até hoje mantêm uma sina: nenhum brasileiro jamais ganhou medalha olímpica. O que explica a dissintonia entre tradição e resultados?

Atletas e dirigentes dão algumas pistas para a falta de conquistas. A primeira delas se deve à competição com outras modalidades. Para ficar no exemplo de esportes individuais: enquanto natação e atletismo se tornaram cada vez mais populares, o remo viu seu prestígio minguar. No início do século 20, apenas o Rio de Janeiro chegou a ter 40 clubes de remo. Hoje, no Brasil inteiro, existem 53. A escassez de locais para treinamentos resultou na redução brutal do número de praticantes e, assim, diminuiu a possibilidade de aparecimen-

to de talentos. Razões institucionais também pesaram no declínio. “O remo no Brasil é excessivamente burocratiza-do”, diz Wilson Reeberg, presidente da Confederação Brasileira. “Hoje, para ser reconhecido como um clube de remo, dezenas de exigências são feitas, desde um número mínimo de barcos até sede própria. Quando o Flamengo começou, nem barco próprio tinha. Essa burocrati-zação foi um desastre para o esporte.”

As próprias características do remo representaram uma barreira para a sua popularização. Trata-se de um esporte que exige doses extremas de sacrifício. Não dá para virar um atleta de ponta sem treinar pesado diariamente, por cinco ou seis horas a fio, faça chuva ou faça sol. Detalhe: o remador em geral não tem visibilidade e ganha pouco para se matar nos treinamentos e competições. Ele também precisa ser beneficiado pelas condições geo-gráficas – sem uma lagoa, mar ou rio por perto, é impossível ir muito longe. Melhor atleta brasileira da história desse esporte, a catarinense Fabiana Beltrame, que fará na Olimpíada de Londres dupla com Luana Bartholo na categoria skiff duplo, é o retrato dessas dificuldades. Para se preparar para os Jogos, Fabiana chega às seis horas da manhã na Lagoa Rodrigo de Freitas e leva junto a filha Alice, 2 anos. Só recentemente, quando conquistou medalha de ouro no Campeonato Mundial da Alemanha, em setembro de 2011, que passou enfim a ser reco-nhecida. “Hoje eu vivo bem, porque os resultados trouxeram patrocínios. Deveria ser o contrário: para chegar lá, o atleta precisa receber apoio antes.”

Sacrifício é a palavra-chave para ilustrar a trajetória dos principais remadores brasileiros. Há dois anos no Rio de Janeiro, Aílson Eráclito, de 24 anos, acorda todos os dias às 4h45 da manhã. “Pouco depois das 5 horas

Para não confundirconheçA As diferençAs entre remo e cAnoAgem

remo cAnoAgem

É disputado em águas paradas, como lagos e raias olímpicas

É disputado em rios com corredeiras e em mar aberto

o atleta fica de costas para a proa do barco

os atletas se posicio- nam no mesmo sentido da proa do barco

As provas são de dois mil metros

A prova mais extensa, na catego-ria velocidade, é de mil metros

A primeira competição olímpica foi em 1900

É uma modalidade olímpica desde 1936

o barco é longo e estreito A canoa é menos longa e mais larga

*fonte: confederação Brasileira de canoagem

sAcrifício Aílson eráclito acorda antes das 5 horas da manhã e logo depois já está na água, faça chuva ou faça sol

esporte em construção

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já estou na água”, diz o atleta que, aos 13 anos, dava as primeiras remadas no Rio Negro, em Manaus, num projeto criado pelo padre da comunidade para que as crianças e adolescentes da região praticassem o esporte. O sonho de Eráclito, que atualmente mora no alojamento do Botafogo, era chegar aos Jogos de Londres. Não conseguiu, apesar de, há apenas dois anos, ter sido eleito o melhor atleta da modalidade no País. O Brasil vai mandar quatro repre-sentantes à Inglaterra: Anderson Nocetti (categoria skiff simples), Kyssia Cataldo (skiff simples) e a dupla Fabiana Beltra-me/Luana Bartholo (skiff duplo).

Veterano do remo brasileiro, Ander-son Nocetti, de 38 anos, vai participar de sua quarta Olimpíada. Com uma carreira de 26 anos, Nocetti acha que, ainda a remadas lentas, a modalidade evolui no País. “Há mais investimento, principalmente na compra de equi-pamentos”, diz o atleta, que também faz suas críticas. “O Brasil não tem

nenhuma raia olímpica de padrão in-ternacional.” Desde 2011, a modalida-de recebe investimentos do Bradesco e da Petrobras, patrocinadores oficiais da seleção brasileira de remo. Para ter direito à verba, o atleta deve passar por uma seletiva anual. Já o dinheiro do programa federal Bolsa Atleta chega a 86 remadores. Mesmo sem contar com esse tipo de ajuda, em 2008 No-cetti ficou em 14º lugar na Olimpíada de Pequim. Em Londres, ele espera subir alguns degraus. Para melhorar a preparação, pediu licença do trabalho em Florianópolis, como funcionário da manutenção de um hospital infantil. Kyssia Cataldo está remando no mesmo caminho: no ano passado, interrompeu os trabalhos de modelo e trancou o curso de nutrição na faculdade. “Parei com todas as atividades paralelas para focar só no remo”, diz Kyssia. “Quero tentar o melhor resultado possível, mas estou encarando Londres como uma etapa para 2016.”

desde 1920, ApenAs pArA umA olimpíAdA o BrAsil nÃo enviou remAdores. jAmAis, porém, gAnhou medAlhA

Assistentes de fotografia: tata Barreto e clara sampaio | Agradecimento: clube de regatas guanabara

cArÊnciA Anderson nocetti vai participar, em londres, de sua quarta olimpíada: "o Brasil não tem raia olímpica de padrão internacional"

esporte em construção

Page 73: Revista 2016 / Maio

já estou na água”, diz o atleta que, aos 13 anos, dava as primeiras remadas no Rio Negro, em Manaus, num projeto criado pelo padre da comunidade para que as crianças e adolescentes da região praticassem o esporte. O sonho de Eráclito, que atualmente mora no alojamento do Botafogo, era chegar aos Jogos de Londres. Não conseguiu, apesar de, há apenas dois anos, ter sido eleito o melhor atleta da modalidade no País. O Brasil vai mandar quatro repre-sentantes à Inglaterra: Anderson Nocetti (categoria skiff simples), Kyssia Cataldo (skiff simples) e a dupla Fabiana Beltra-me/Luana Bartholo (skiff duplo).

Veterano do remo brasileiro, Ander-son Nocetti, de 38 anos, vai participar de sua quarta Olimpíada. Com uma carreira de 26 anos, Nocetti acha que, ainda a remadas lentas, a modalidade evolui no País. “Há mais investimento, principalmente na compra de equi-pamentos”, diz o atleta, que também faz suas críticas. “O Brasil não tem

nenhuma raia olímpica de padrão in-ternacional.” Desde 2011, a modalida-de recebe investimentos do Bradesco e da Petrobras, patrocinadores oficiais da seleção brasileira de remo. Para ter direito à verba, o atleta deve passar por uma seletiva anual. Já o dinheiro do programa federal Bolsa Atleta chega a 86 remadores. Mesmo sem contar com esse tipo de ajuda, em 2008 No-cetti ficou em 14º lugar na Olimpíada de Pequim. Em Londres, ele espera subir alguns degraus. Para melhorar a preparação, pediu licença do trabalho em Florianópolis, como funcionário da manutenção de um hospital infantil. Kyssia Cataldo está remando no mesmo caminho: no ano passado, interrompeu os trabalhos de modelo e trancou o curso de nutrição na faculdade. “Parei com todas as atividades paralelas para focar só no remo”, diz Kyssia. “Quero tentar o melhor resultado possível, mas estou encarando Londres como uma etapa para 2016.”

desde 1920, ApenAs pArA umA olimpíAdA o BrAsil nÃo enviou remAdores. jAmAis, porém, gAnhou medAlhA

Assistentes de fotografia: tata Barreto e clara sampaio | Agradecimento: clube de regatas guanabara

cArÊnciA Anderson nocetti vai participar, em londres, de sua quarta olimpíada: "o Brasil não tem raia olímpica de padrão internacional"

esporte em construção

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ExEmplo

Nota a (dificuldade)Movimentos: o atleta pode realizar quantos movimentos quiser, mas são considerados apenas os pontos dos 8 mais complexos. Essa pontuação varia conforme a tabela à esquerda. Com dois movimentos médios (portanto, o ginasta somou 0,6 ponto) e seis difíceis (somou 2,4 pontos), ele levou 3 PoNtoS

Conexões entre movimentos: valem 0,1 ou 0,2 ponto. Com 3 conexões perfeitas, o atleta levou 0,6 PoNto

Exigências do aparelho: valem 0,5 ponto por movimento. Com 5 movi-mentos obrigatórios perfeitos, o atleta levou 2,5 PoNtoS.TOTAL DA NOTA A: 3 + 0,6 + 2,5 = 6,1

Nota B (execução)Árbitro 1: 9,3Árbitro 2: 9,5Árbitro 3: 9,1Árbitro 4: 9,4Árbitro 5: 9,5Árbitro 6: 9,6 TOTAL B: (9,3 + 9,5 + 9,4 + 9,5) / 4 = 9,42

Nota fiNal: 6,1 + 9,42 = 15,52

wv

aquecimento RAIO X

tribunal dE notasos árbitros

Quem São Qualquer pessoa pode se tornar árbitro, desde que faça o curso e tire certificado. Na prática, ex-treinadores e ex-atletas são maioria.

QuaNtoS São Em compe- tições olímpicas, nove árbitros compõem a banca, sendo que um deles atua como chefe do grupo, sem distribuir notas. Em outros campeonatos,o número pode variar.

o sistEma

Cada aparelho conta com sua própria banca. Dois juízes definem a nota A, que avalia a dificuldade, e seis deter-minam a nota B, de execução. A maior e a menor nota do Grupo B são elimi-nadas e o seu valor final é uma média das quatro notas restantes.

Quantos pontos valE cada movimEnto

a - muito fácil: 0,1 ponto. Exemplo: estrelaB - fácil: 0,2 ponto. Exemplo: mortal para a frente estendidoc - médio: 0,3 ponto. Exemplo: mortal para a frente estendido com piruetad - difícil: 0,4 ponto. Exemplo: duplo mortal carpadoe - muito difícil: 0,5 ponto. Exemplo: tripla pirueta f - dificílimo: 0,6 ponto. Exemplo: duplo mortal estendidoG - QuaSe imPoSSível: 0,7 ponto. Exemplo: Tsukahara (um tipo de

salto mortal) na posição estendida no solo

ErrosleveS: desconto de 0,1 ponto. Exemplo: pequeno passo após pousomédioS: desconto de 0,3 ponto. Exemplo: não manter postura eretaGraveS: desconto de 0,5 ponto. Exemplo: grande agachamento após pousoQueda: desconto de 1 ponto

o fim do 10O atual Código de Pontuação passou a valer em

2006, após contestações sobre as notas aplicadas na Olimpíada de Atenas, em 2004. Desde então, a nota

10 – que fez famosa a romena Nadia comaneci – deixou de existir. Hoje, uma nota 16,5 é considerada

excelente entre ginastas de elite.

as notas

A pontuação final de um atleta é resultado da junção de duas notas:Nota a – Avalia dificuldade, conexões entre os movimentos e cumprimento das rotinas exigidas para cada apa-relho. Na prática, não passa de dez.Nota B – Parte de dez e perde pontos por erros cometidos na execução da série.

vai invEntar? avisE antEsCaso um atleta queira apresentar um movimento que não consta do código da Federação Inter-nacional, ele precisa mostrá-lo aos juízes antes. “O comitê analisa e determina um valor de dificuldade dentro dos grupos de elementos existentes em cada aparelho”, diz Robson Caballero, diretor da Confederação Brasilei-ra de Ginástica.

(só) bElEza não põE a mEsaUma apresentação esteticamente bonita não é garantia de boa nota.“Às vezes, as pessoas não entendem a nota baixa de uma série que, comparada à outra, parece visualmente mais bonita”, diz Caballero. “O que realmente acontece é um fator meramente matemático: nota de partida me-nos execução é igual à nota final.”

A nota mais alta e a mais baixa são descartadas

Entenda como funciona o complexo sistema de pontuação da ginástica artística

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ExEmplo

Nota a (dificuldade)Movimentos: o atleta pode realizar quantos movimentos quiser, mas são considerados apenas os pontos dos 8 mais complexos. Essa pontuação varia conforme a tabela à esquerda. Com dois movimentos médios (portanto, o ginasta somou 0,6 ponto) e seis difíceis (somou 2,4 pontos), ele levou 3 PoNtoS

Conexões entre movimentos: valem 0,1 ou 0,2 ponto. Com 3 conexões perfeitas, o atleta levou 0,6 PoNto

Exigências do aparelho: valem 0,5 ponto por movimento. Com 5 movi-mentos obrigatórios perfeitos, o atleta levou 2,5 PoNtoS.TOTAL DA NOTA A: 3 + 0,6 + 2,5 = 6,1

Nota B (execução)Árbitro 1: 9,3Árbitro 2: 9,5Árbitro 3: 9,1Árbitro 4: 9,4Árbitro 5: 9,5Árbitro 6: 9,6 TOTAL B: (9,3 + 9,5 + 9,4 + 9,5) / 4 = 9,42

Nota fiNal: 6,1 + 9,42 = 15,52

wv

aquecimento RAIO X

tribunal dE notasos árbitros

Quem São Qualquer pessoa pode se tornar árbitro, desde que faça o curso e tire certificado. Na prática, ex-treinadores e ex-atletas são maioria.

QuaNtoS São Em compe- tições olímpicas, nove árbitros compõem a banca, sendo que um deles atua como chefe do grupo, sem distribuir notas. Em outros campeonatos,o número pode variar.

o sistEma

Cada aparelho conta com sua própria banca. Dois juízes definem a nota A, que avalia a dificuldade, e seis deter-minam a nota B, de execução. A maior e a menor nota do Grupo B são elimi-nadas e o seu valor final é uma média das quatro notas restantes.

Quantos pontos valE cada movimEnto

a - muito fácil: 0,1 ponto. Exemplo: estrelaB - fácil: 0,2 ponto. Exemplo: mortal para a frente estendidoc - médio: 0,3 ponto. Exemplo: mortal para a frente estendido com piruetad - difícil: 0,4 ponto. Exemplo: duplo mortal carpadoe - muito difícil: 0,5 ponto. Exemplo: tripla pirueta f - dificílimo: 0,6 ponto. Exemplo: duplo mortal estendidoG - QuaSe imPoSSível: 0,7 ponto. Exemplo: Tsukahara (um tipo de

salto mortal) na posição estendida no solo

ErrosleveS: desconto de 0,1 ponto. Exemplo: pequeno passo após pousomédioS: desconto de 0,3 ponto. Exemplo: não manter postura eretaGraveS: desconto de 0,5 ponto. Exemplo: grande agachamento após pousoQueda: desconto de 1 ponto

o fim do 10O atual Código de Pontuação passou a valer em

2006, após contestações sobre as notas aplicadas na Olimpíada de Atenas, em 2004. Desde então, a nota

10 – que fez famosa a romena Nadia comaneci – deixou de existir. Hoje, uma nota 16,5 é considerada

excelente entre ginastas de elite.

as notas

A pontuação final de um atleta é resultado da junção de duas notas:Nota a – Avalia dificuldade, conexões entre os movimentos e cumprimento das rotinas exigidas para cada apa-relho. Na prática, não passa de dez.Nota B – Parte de dez e perde pontos por erros cometidos na execução da série.

vai invEntar? avisE antEsCaso um atleta queira apresentar um movimento que não consta do código da Federação Inter-nacional, ele precisa mostrá-lo aos juízes antes. “O comitê analisa e determina um valor de dificuldade dentro dos grupos de elementos existentes em cada aparelho”, diz Robson Caballero, diretor da Confederação Brasilei-ra de Ginástica.

(só) bElEza não põE a mEsaUma apresentação esteticamente bonita não é garantia de boa nota.“Às vezes, as pessoas não entendem a nota baixa de uma série que, comparada à outra, parece visualmente mais bonita”, diz Caballero. “O que realmente acontece é um fator meramente matemático: nota de partida me-nos execução é igual à nota final.”

A nota mais alta e a mais baixa são descartadas

Entenda como funciona o complexo sistema de pontuação da ginástica artística

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Canelada A Umbro Attak CT tem placa de polipropileno com espuma para máxima absorção de impacto. A tornozeleira conta com ajuste elástico para melhorar o suporte. R$ 29 rakuten.com.br

Sem torção Contra entorses, a tornozeleira Salvapé Lite Support promete ajuste perfeito graças ao tecido "inteligente" de poliamida, que se ajusta ao pé de forma compressiva e térmica. R$ 36,50 cirurgicalucena.com

proteção lombar A faixa abdominal Nike ajuda a prevenir lesões musculares e alivia dores na região lombar. É feita de tecido elástico e tem ajuste em velcro para máxima precisão. R$ 99,90 netshoes.com.br

piSando leve Ao mesmo tempo que absorve impactos, a calcanheira Dr. Scholl's massageia o pé a cada passo. Feita de gel sintético, é adaptável a todos os tipos de calçados fechados. R$ 21,30 onofre.com.br

impaCtante Indicada para esportes de alto impacto, a joelheira Realtex Neoprene auxilia na prevenção de lesões articulares e ligamentares. Possui orifício que reduz a pressão na patela. R$ 69,90 netshoes.com.br

pulSo firme A munhequeira Neoprene Tensor com tala mantém as articulações firmes e aquecidas para prevenir torções, contusões, pulso aberto e tendinites. R$ 94,90 americanas.com.br

alta tenSão A fita adesiva KT Tape é a mais nova febre entre os atletas profissionais. Com propriedades elásticas, ajuda a prevenir lesões musculares e nas articulações. R$ 359,90 (rolo com 38 m) netshoes.com.br

ombroS de aço Vai encarar os grandalhões do futebol americano? Você vai precisar da proteção para ombros e peitos da Riddell, marca oficial da liga profissional dos EUA. US$ 447,99 (sob encomenda) riddell.com

viSão total Os óculos para esqui ou snowboard Wed'ze foram criados para proteger os olhos e melhorar as condições de visibilidade sob sol forte. Tem tratamento antiembaçamento. R$ 169,90 decathlon.com.br

Cabeça dura Dizem que o rúgbi é o "futebol americano de macho". Mesmo assim, você pode precisar da proteção que o capacete Kipsta, feito de espuma termoformada, oferece. R$ 99,90 decathlon.com.br

A R M A D U R A sContra choques, torções, puxões e patadas, a medicina esportiva desenvolve produtos cada vez mais eficientes

performance

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Canelada A Umbro Attak CT tem placa de polipropileno com espuma para máxima absorção de impacto. A tornozeleira conta com ajuste elástico para melhorar o suporte. R$ 29 rakuten.com.br

Sem torção Contra entorses, a tornozeleira Salvapé Lite Support promete ajuste perfeito graças ao tecido "inteligente" de poliamida, que se ajusta ao pé de forma compressiva e térmica. R$ 36,50 cirurgicalucena.com

proteção lombar A faixa abdominal Nike ajuda a prevenir lesões musculares e alivia dores na região lombar. É feita de tecido elástico e tem ajuste em velcro para máxima precisão. R$ 99,90 netshoes.com.br

piSando leve Ao mesmo tempo que absorve impactos, a calcanheira Dr. Scholl's massageia o pé a cada passo. Feita de gel sintético, é adaptável a todos os tipos de calçados fechados. R$ 21,30 onofre.com.br

impaCtante Indicada para esportes de alto impacto, a joelheira Realtex Neoprene auxilia na prevenção de lesões articulares e ligamentares. Possui orifício que reduz a pressão na patela. R$ 69,90 netshoes.com.br

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viSão total Os óculos para esqui ou snowboard Wed'ze foram criados para proteger os olhos e melhorar as condições de visibilidade sob sol forte. Tem tratamento antiembaçamento. R$ 169,90 decathlon.com.br

Cabeça dura Dizem que o rúgbi é o "futebol americano de macho". Mesmo assim, você pode precisar da proteção que o capacete Kipsta, feito de espuma termoformada, oferece. R$ 99,90 decathlon.com.br

A R M A D U R A sContra choques, torções, puxões e patadas, a medicina esportiva desenvolve produtos cada vez mais eficientes

performance

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Page 78: Revista 2016 / Maio

concentraçãoconcentração cultura e esporte juntos

U M s h o w D e o l i M p í A D Aas performances musicais que marcaram as cerimônias dos Jogos Os organizadores dos Jogos de Londres ainda não definiram os nomes dos artistas

que vão se apresentar na cerimônia de encerramento da Olimpíada. O show, batizado de Uma Sinfonia da Música Britânica, deverá contar com representantes de várias eras de sucessos. Embora sem confirmações, os mais cotados para integrar a mistura de estilos são The Clash, Adele, Paul McCartney, Elton John e Coldplay. E, acredite até as Spice Girls fazem parte da lista de especulações. Nos últimos 20 anos, a música pop virou presença quase obrigatória nos eventos olímpicos. Saiba acima quais foram os shows mais marcantes do período.

o Show que não aConteCeu: freddie merCury e montSerrat Caballé Barcelona – 1992

O líder do Queen compôs a música Barcelona especialmente para a Olimpíada. A ideia era que a canção fosse apresentada na cerimônia de abertura em dueto com a cantora de ópera espanhola Montserrat Caballé, de quem Mercury era grande admirador. Os dois chegaram cantar o tema juntos no festival La Nit, em outubro de 1988, naquele que seria o último show da carreira do roqueiro. Mercury morreu de Aids em 1991, mas Barcelona foi a canção que abriu a transmissão televisiva da Olimpíada de 1992.

Gloria eStefan, Stevie wonder e b.b. KinG Atlanta – 1996

Assim como deve ocorrer em Londres, Atlanta viu um verdadeiro “mash-up” de artistas e músicas que representavam o melhor da cultura americana. No encerramento, Gloria Estefan, de ascendência cubana, cantou a canção-tema da Olimpíada, Reach, diante de uma plateia de cerca de 80 mil pessoas. Mais tarde, o público vibrou quando Stevie Wonder tocou Imagine, de John Lennon, que seria seguida pela animada Take me to the river, apresentada pelas lendas do soul e do blues Al Green e B.B. King.

midniGht oil Sydney – 2000

O grupo australiano levou a polêmica para o palco ao tocar o hit Beds are burning enquanto seus integrantes vestiam roupas pretas em que se lia “sorry” (desculpe-nos). O pedido era direcionado à população indígena da Austrália, massacrada pelos colonizadores ocidentais. A provocação também visava ao então primeiro-ministro do país, John Howard, que se recusou a fazer um pedido simbólico de desculpas aos aborígines.

bJörK Atenas – 2004

Na cidade mais olímpica de todas, a cantora islandesa Björk protagonizou um espetáculo que ficaria marcado principalmente pela exuberância visual. Na cerimônia de abertura, enquanto a artista cantava a música Oceania, do álbum Medúlla, um enorme tecido que saía de seu vestido cobria os atletas, reunidos no centro do estádio. Diante de milhares de pessoas, a peça foi se estendendo em uma forma redonda sobre a qual, no final, seria projetada a imagem de um mapa do mundo.

leona lewiS e Jimmy paGe Pequim – 2008

Uma estrela ascendente vinda de um reality show e uma lenda do rock se apresentaram juntos na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos mais impressionantes de todos os tempos. A cantora Leona Lewis e o guitarrista Jimmy Page exibiram hits como Whole lotta love, imortalizado pelo Led Zeppelin.

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concentraçãoconcentração cultura e esporte juntos

U M s h o w D e o l i M p í A D Aas performances musicais que marcaram as cerimônias dos Jogos Os organizadores dos Jogos de Londres ainda não definiram os nomes dos artistas

que vão se apresentar na cerimônia de encerramento da Olimpíada. O show, batizado de Uma Sinfonia da Música Britânica, deverá contar com representantes de várias eras de sucessos. Embora sem confirmações, os mais cotados para integrar a mistura de estilos são The Clash, Adele, Paul McCartney, Elton John e Coldplay. E, acredite até as Spice Girls fazem parte da lista de especulações. Nos últimos 20 anos, a música pop virou presença quase obrigatória nos eventos olímpicos. Saiba acima quais foram os shows mais marcantes do período.

o Show que não aConteCeu: freddie merCury e montSerrat Caballé Barcelona – 1992

O líder do Queen compôs a música Barcelona especialmente para a Olimpíada. A ideia era que a canção fosse apresentada na cerimônia de abertura em dueto com a cantora de ópera espanhola Montserrat Caballé, de quem Mercury era grande admirador. Os dois chegaram cantar o tema juntos no festival La Nit, em outubro de 1988, naquele que seria o último show da carreira do roqueiro. Mercury morreu de Aids em 1991, mas Barcelona foi a canção que abriu a transmissão televisiva da Olimpíada de 1992.

Gloria eStefan, Stevie wonder e b.b. KinG Atlanta – 1996

Assim como deve ocorrer em Londres, Atlanta viu um verdadeiro “mash-up” de artistas e músicas que representavam o melhor da cultura americana. No encerramento, Gloria Estefan, de ascendência cubana, cantou a canção-tema da Olimpíada, Reach, diante de uma plateia de cerca de 80 mil pessoas. Mais tarde, o público vibrou quando Stevie Wonder tocou Imagine, de John Lennon, que seria seguida pela animada Take me to the river, apresentada pelas lendas do soul e do blues Al Green e B.B. King.

midniGht oil Sydney – 2000

O grupo australiano levou a polêmica para o palco ao tocar o hit Beds are burning enquanto seus integrantes vestiam roupas pretas em que se lia “sorry” (desculpe-nos). O pedido era direcionado à população indígena da Austrália, massacrada pelos colonizadores ocidentais. A provocação também visava ao então primeiro-ministro do país, John Howard, que se recusou a fazer um pedido simbólico de desculpas aos aborígines.

bJörK Atenas – 2004

Na cidade mais olímpica de todas, a cantora islandesa Björk protagonizou um espetáculo que ficaria marcado principalmente pela exuberância visual. Na cerimônia de abertura, enquanto a artista cantava a música Oceania, do álbum Medúlla, um enorme tecido que saía de seu vestido cobria os atletas, reunidos no centro do estádio. Diante de milhares de pessoas, a peça foi se estendendo em uma forma redonda sobre a qual, no final, seria projetada a imagem de um mapa do mundo.

leona lewiS e Jimmy paGe Pequim – 2008

Uma estrela ascendente vinda de um reality show e uma lenda do rock se apresentaram juntos na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos mais impressionantes de todos os tempos. A cantora Leona Lewis e o guitarrista Jimmy Page exibiram hits como Whole lotta love, imortalizado pelo Led Zeppelin.

Page 80: Revista 2016 / Maio

>BADMINTON Torneio para a nova geraçãoAtletas de todo o Brasil participarão, entre os dias 18 e 20 de maio, da Copa Michel Astolfi de Badminton, que vale como etapa do Campeonato Nacional Jovem de Badminton 2012. A competição, que será realizada na Sociedade Hípica de Campinas (SP), terá disputas nas categorias Simples Masculina, Simples Feminina, Dupla Masculina, Dupla Feminina e Dupla Mista. O torneio, um dos mais importantes do primeiro semestre, não terá premiação em dinheiro, mas contará pontos para o ranking nacional.

>BASQUETEnova filosofiaUm time forte defensivamente e que saiba explorar com maestria os contra-ataques. É isso que o técnico da seleção feminina de basquete, Luiz Cláudio Tarallo, espera da equipe que vai disputar a Olimpíada de Londres. Durante a pré-convocação das atletas para os Jogos, em abril, o treinador deixou claro que boa parte do período de preparação será utilizada para fortalecer esses fundamentos. De acordo com o comandante, essa foi a fórmula aplicada ao time Sub-19, que viu a média de erros por jogo cair de 32 para 13.

>BOXE surra nos francesesO período de treinamento de boxeadores brasileiros e franceses em São Paulo (SP), no último fim de semana de abril, terminou com os atletas nacionais dando uma surra nos europeus. Na categoria até 52 kg, Julião Neto venceu Jeremy Becu por abandono no segundo round. Já na divisão até 60 kg, Robenilson Jesus bateu Rachid Azzedine por 31 a 27, enquanto na divisão até 69 kg Myke Carvalho derrotou Alexis Vastine por 14 a 11. O trabalho foi importante para os brasileiros que disputarão o Pré-Olímpico das Américas, em maio.

>CANOAGEMouro na iTáliaOs canoístas brasileiros Erlon Souza e Ronilson Oliveira, classificados da canoagem de velocidade para Londres 2012, seguem colecionando ótimos resultados nos eventos internacionais da modalidade. A última conquista, obtida contra os melhores atletas do mundo, aconteceu na Regata Internacional de Mantova, na Itália, em abril. A dupla garantiu o primeiro lugar no C2 1000 metros e no C2 200 metros. Na primeira prova, os brasileiros superaram os italianos Luca Incollingo e Daniele Santini. Na competição seguinte, o segundo lugar foi para a Lituânia, que caiu na água com os atletas Raimundas Labuckas e Gadeikis Tomas, atuais campeões mundiais na distância.

> ATLETISMO ronald Julião garanTe vaga

O paulista Ronald Julião se classificou para a Olimpíada de Londres ao obter a marca de 63,01 metros no

lançamento do disco durante o Long Beach Invitational, na Califórnia, no dia 21 de abril. O atleta de 26 anos,

integrante da equipe do BM&FBovespa, já tinha chegado perto do índice no dia 18 de abril, em Chula Vista, San

Diego, quando lançou o disco a 62,97 metros. Nas próximas semanas, o gigante de 1,94 m e 114 kg encara mais três competições nos Estados Unidos enquanto se

prepara para o desafio olímpico.

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maio 2012 | isToé 2016

Foto: Andreas Heiniger

>CICLISMOsanTa confusãoUma confusão que levou vários ciclistas ao chão na primeira etapa do Tour da Turquia, em abril, rendeu ao brasileiro Rafael Andriato, da equipe Farnese Vini, um importante oitavo lugar na prova, que reuniu os melhores velocistas do mundo. A 1,5 km da linha de chegada, uma queda no meio do pelotão causou um efeito dominó que tirou vários competidores da disputa. O brasileiro chegou a brigar pela liderança, mas no sprint final acabou ficando para trás.

>ESGRIMA Mais cinco chancesO Brasil já tem uma vaga garantida na esgrima para os Jogos de Londres. Com o 39º lugar no Grand Prix de Budapeste na modalidade sabre, em março, Renzo Agresta, 26 anos, somou três pontos no ranking da Federação Internacional de Esgrima, suficientes para colocá-lo na Olimpíada. Agora, outros cinco esgrimistas brasileiros tentam vaga na competição. Karina Lakerbai, Guilherme Toldo, Tais Rochel, Athos Schwantes e Rayssa Costa disputam o torneio pré-olímpico em Santiago, no Chile, última chance para carimbar o passaporte.

>FUTEBOLMoleza na priMeira faseSaíram os adversários do Brasil na Olimpíada de Londres. Na primeira fase, a seleção masculina vai enfrentar Egito, Belarus e Nova Zelândia – rivais, convenhamos, muito longe de preocupar o escrete nacional. Já as meninas vão jogar contra Grã-Bretanha, Camarões e Nova Zelândia, que também não assustam ninguém. O Brasil jamais levou o ouro olímpico no futebol. Com Neymar e companhia, o time masculino é o favorito para a conquista.

>GINÁSTICA casa novaA ginástica artística brasileira está de casa nova. Entregue no início de abril, o Centro de Treinamento Time Brasil, construído em um anexo do Velódromo do Rio de Janeiro, já recebe os atletas que se preparam para Londres 2012. A instalação foi inaugurada pelo presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, e pelo prefeito da capital carioca, Eduardo Paes, que recusou pedidos para dar cambalhotas no local. Nas próximas semanas, o Brasil define o time completo que embarca para os Jogos Olímpicos.

Page 81: Revista 2016 / Maio

>BADMINTON Torneio para a nova geraçãoAtletas de todo o Brasil participarão, entre os dias 18 e 20 de maio, da Copa Michel Astolfi de Badminton, que vale como etapa do Campeonato Nacional Jovem de Badminton 2012. A competição, que será realizada na Sociedade Hípica de Campinas (SP), terá disputas nas categorias Simples Masculina, Simples Feminina, Dupla Masculina, Dupla Feminina e Dupla Mista. O torneio, um dos mais importantes do primeiro semestre, não terá premiação em dinheiro, mas contará pontos para o ranking nacional.

>BASQUETEnova filosofiaUm time forte defensivamente e que saiba explorar com maestria os contra-ataques. É isso que o técnico da seleção feminina de basquete, Luiz Cláudio Tarallo, espera da equipe que vai disputar a Olimpíada de Londres. Durante a pré-convocação das atletas para os Jogos, em abril, o treinador deixou claro que boa parte do período de preparação será utilizada para fortalecer esses fundamentos. De acordo com o comandante, essa foi a fórmula aplicada ao time Sub-19, que viu a média de erros por jogo cair de 32 para 13.

>BOXE surra nos francesesO período de treinamento de boxeadores brasileiros e franceses em São Paulo (SP), no último fim de semana de abril, terminou com os atletas nacionais dando uma surra nos europeus. Na categoria até 52 kg, Julião Neto venceu Jeremy Becu por abandono no segundo round. Já na divisão até 60 kg, Robenilson Jesus bateu Rachid Azzedine por 31 a 27, enquanto na divisão até 69 kg Myke Carvalho derrotou Alexis Vastine por 14 a 11. O trabalho foi importante para os brasileiros que disputarão o Pré-Olímpico das Américas, em maio.

>CANOAGEMouro na iTáliaOs canoístas brasileiros Erlon Souza e Ronilson Oliveira, classificados da canoagem de velocidade para Londres 2012, seguem colecionando ótimos resultados nos eventos internacionais da modalidade. A última conquista, obtida contra os melhores atletas do mundo, aconteceu na Regata Internacional de Mantova, na Itália, em abril. A dupla garantiu o primeiro lugar no C2 1000 metros e no C2 200 metros. Na primeira prova, os brasileiros superaram os italianos Luca Incollingo e Daniele Santini. Na competição seguinte, o segundo lugar foi para a Lituânia, que caiu na água com os atletas Raimundas Labuckas e Gadeikis Tomas, atuais campeões mundiais na distância.

> ATLETISMO ronald Julião garanTe vaga

O paulista Ronald Julião se classificou para a Olimpíada de Londres ao obter a marca de 63,01 metros no

lançamento do disco durante o Long Beach Invitational, na Califórnia, no dia 21 de abril. O atleta de 26 anos,

integrante da equipe do BM&FBovespa, já tinha chegado perto do índice no dia 18 de abril, em Chula Vista, San

Diego, quando lançou o disco a 62,97 metros. Nas próximas semanas, o gigante de 1,94 m e 114 kg encara mais três competições nos Estados Unidos enquanto se

prepara para o desafio olímpico.

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maio 2012 | isToé 2016

Foto: Andreas Heiniger

>CICLISMOsanTa confusãoUma confusão que levou vários ciclistas ao chão na primeira etapa do Tour da Turquia, em abril, rendeu ao brasileiro Rafael Andriato, da equipe Farnese Vini, um importante oitavo lugar na prova, que reuniu os melhores velocistas do mundo. A 1,5 km da linha de chegada, uma queda no meio do pelotão causou um efeito dominó que tirou vários competidores da disputa. O brasileiro chegou a brigar pela liderança, mas no sprint final acabou ficando para trás.

>ESGRIMA Mais cinco chancesO Brasil já tem uma vaga garantida na esgrima para os Jogos de Londres. Com o 39º lugar no Grand Prix de Budapeste na modalidade sabre, em março, Renzo Agresta, 26 anos, somou três pontos no ranking da Federação Internacional de Esgrima, suficientes para colocá-lo na Olimpíada. Agora, outros cinco esgrimistas brasileiros tentam vaga na competição. Karina Lakerbai, Guilherme Toldo, Tais Rochel, Athos Schwantes e Rayssa Costa disputam o torneio pré-olímpico em Santiago, no Chile, última chance para carimbar o passaporte.

>FUTEBOLMoleza na priMeira faseSaíram os adversários do Brasil na Olimpíada de Londres. Na primeira fase, a seleção masculina vai enfrentar Egito, Belarus e Nova Zelândia – rivais, convenhamos, muito longe de preocupar o escrete nacional. Já as meninas vão jogar contra Grã-Bretanha, Camarões e Nova Zelândia, que também não assustam ninguém. O Brasil jamais levou o ouro olímpico no futebol. Com Neymar e companhia, o time masculino é o favorito para a conquista.

>GINÁSTICA casa novaA ginástica artística brasileira está de casa nova. Entregue no início de abril, o Centro de Treinamento Time Brasil, construído em um anexo do Velódromo do Rio de Janeiro, já recebe os atletas que se preparam para Londres 2012. A instalação foi inaugurada pelo presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, e pelo prefeito da capital carioca, Eduardo Paes, que recusou pedidos para dar cambalhotas no local. Nas próximas semanas, o Brasil define o time completo que embarca para os Jogos Olímpicos.

Page 82: Revista 2016 / Maio

painel Todos os esportes olímpicos

>HALTEROFILISMOforça paraolíMpicaO time brasileiro de levantamento de peso paraolímpico garantiu mais três vagas em Londres 2012. Com as conquistas recentes, cinco atletas representarão o País na capital britânica. Além de Alexandre Whitaker (SP) e Josilene Alves (GO), conseguiram a vaga em abril, em torneios classificatórios, Bruno Carra (SP), Rodrigo Marques (MG) e Márcia Menezes (PR). Eles se juntarão à maior delegação brasileira na história dos Jogos Paraolímpicos, com mais de 130 atletas já classificados. O número deve crescer ainda mais até junho.

>HANDEBOL preparação na europaCinco dias de treinos na Áustria deixaram o técnico da seleção feminina de handebol, Morten Soubak, otimista quanto ao desempenho do time. O comandante elogiou principalmente a preparação física das 17 atletas convocadas para o período de aprimoramento na Europa. Após dois empates em partidas amistosas contra a Noruega, o selecionado intensificou a já puxada rotina de treinamento nas instalações do clube austríaco Hypo, que conta com oito jogadoras brasileiras.

>HIPISMO grupo fechadoO Brasil já tem seu time completo para a disputa do hipismo nos Jogos Paraolímpicos de Londres. Com a melhor marca no Concurso Internacional Paraequestre Três Estrelas, realizado pela Federação Equestre

Internacional (FEI) na arena da Sociedade Hípica de Brasília, o jovem Davi Salazar conquistou a vaga no adestramento. Os outros três integrantes do time nacional são Marcos Alves, Vera Mazzilli e Sérgio Oliva. A preparação para Londres será feita na Alemanha, onde eles também escolherão dois novos cavalos.

>HÓQUEI SOBRE GRAMA invesTiMenTo no inTeriorA cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo, está se tornando um dos polos de desenvolvimento do hóquei sobre grama no Brasil. O colégio Mater Dei, um dos mais tradicionais da região, passou a oferecer aulas do esporte três vezes por semana para alunos com mais de 10 anos. Além disso, um centro de treinamento no bairro Palmeiras já ajuda na formação de equipes que, no futuro, podem levar a times profissionais. Atualmente, cinco agremiações de base treinam na cidade paulista.

>JUDÔ para forMar a nova geraçãoMayra Aguiar, Maria Portela e Felipe Kitadai, todos atletas do Rio Grande do Sul, participaram em abril de uma intensa semana de treinamentos no clube Sogipa, em evento promovido pela Federação Gaúcha de Judô. Os judocas, candidatos a medalhas em Londres, treinaram ao lado de jovens talentos que vão integrar as equipes estaduais nos Campeonatos Brasileiros das categorias sub-15 e sub-17. A ideia por trás desse tipo de iniciativa é formar gerações cada vez mais fortes.

Foto: ICARO LIMAVERDE MARQUEZI

>LUTA OLíMPICA de volTa à escolaUma das modalidades mais antigas das disputas olímpicas, a luta ainda é pouco popular no Brasil. Para tentar mudar isso, a organização das Olimpíadas Escolares, que reúnem atletas de 12 a 14 anos de idade, incluiu a modalidade pela primeira vez no cronograma de competições. O evento ocorre entre os dias 6 e 15 de setembro em Poços de Caldas (MG). A expectativa é de que novos atletas, indicados pelos Estados participantes, possam se juntar aos cerca de três mil praticantes de luta olímpica no Brasil.

>NADO SINCRONIZADOcoração e MenTeA vaga para Londres está garantida, mas o que realmente chamou a atenção do público na apresentação da dupla brasileira Lara Teixeira (abaixo, à esq.) e Nayara Figueira no pré-olímpico de nado sincronizado, em abril, foi a estampa do maiô e da touca das atletas. Enquanto o uniforme trazia o desenho do coração e do sistema circulatório, o acessório de cabeça exibia as formas de um cérebro. A ideia era “casar” a roupa com o tema da coreografia, que trata do corpo humano. Segundo as atletas, a iniciativa foi inspirada pelo grupo de dança Corpo, de Minas Gerais. As brasileiras ficaram com o nono lugar na competição e, agora, se preparam para a Olimpíada.

Page 83: Revista 2016 / Maio

painel Todos os esportes olímpicos

>HALTEROFILISMOforça paraolíMpicaO time brasileiro de levantamento de peso paraolímpico garantiu mais três vagas em Londres 2012. Com as conquistas recentes, cinco atletas representarão o País na capital britânica. Além de Alexandre Whitaker (SP) e Josilene Alves (GO), conseguiram a vaga em abril, em torneios classificatórios, Bruno Carra (SP), Rodrigo Marques (MG) e Márcia Menezes (PR). Eles se juntarão à maior delegação brasileira na história dos Jogos Paraolímpicos, com mais de 130 atletas já classificados. O número deve crescer ainda mais até junho.

>HANDEBOL preparação na europaCinco dias de treinos na Áustria deixaram o técnico da seleção feminina de handebol, Morten Soubak, otimista quanto ao desempenho do time. O comandante elogiou principalmente a preparação física das 17 atletas convocadas para o período de aprimoramento na Europa. Após dois empates em partidas amistosas contra a Noruega, o selecionado intensificou a já puxada rotina de treinamento nas instalações do clube austríaco Hypo, que conta com oito jogadoras brasileiras.

>HIPISMO grupo fechadoO Brasil já tem seu time completo para a disputa do hipismo nos Jogos Paraolímpicos de Londres. Com a melhor marca no Concurso Internacional Paraequestre Três Estrelas, realizado pela Federação Equestre

Internacional (FEI) na arena da Sociedade Hípica de Brasília, o jovem Davi Salazar conquistou a vaga no adestramento. Os outros três integrantes do time nacional são Marcos Alves, Vera Mazzilli e Sérgio Oliva. A preparação para Londres será feita na Alemanha, onde eles também escolherão dois novos cavalos.

>HÓQUEI SOBRE GRAMA invesTiMenTo no inTeriorA cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo, está se tornando um dos polos de desenvolvimento do hóquei sobre grama no Brasil. O colégio Mater Dei, um dos mais tradicionais da região, passou a oferecer aulas do esporte três vezes por semana para alunos com mais de 10 anos. Além disso, um centro de treinamento no bairro Palmeiras já ajuda na formação de equipes que, no futuro, podem levar a times profissionais. Atualmente, cinco agremiações de base treinam na cidade paulista.

>JUDÔ para forMar a nova geraçãoMayra Aguiar, Maria Portela e Felipe Kitadai, todos atletas do Rio Grande do Sul, participaram em abril de uma intensa semana de treinamentos no clube Sogipa, em evento promovido pela Federação Gaúcha de Judô. Os judocas, candidatos a medalhas em Londres, treinaram ao lado de jovens talentos que vão integrar as equipes estaduais nos Campeonatos Brasileiros das categorias sub-15 e sub-17. A ideia por trás desse tipo de iniciativa é formar gerações cada vez mais fortes.

Foto: ICARO LIMAVERDE MARQUEZI

>LUTA OLíMPICA de volTa à escolaUma das modalidades mais antigas das disputas olímpicas, a luta ainda é pouco popular no Brasil. Para tentar mudar isso, a organização das Olimpíadas Escolares, que reúnem atletas de 12 a 14 anos de idade, incluiu a modalidade pela primeira vez no cronograma de competições. O evento ocorre entre os dias 6 e 15 de setembro em Poços de Caldas (MG). A expectativa é de que novos atletas, indicados pelos Estados participantes, possam se juntar aos cerca de três mil praticantes de luta olímpica no Brasil.

>NADO SINCRONIZADOcoração e MenTeA vaga para Londres está garantida, mas o que realmente chamou a atenção do público na apresentação da dupla brasileira Lara Teixeira (abaixo, à esq.) e Nayara Figueira no pré-olímpico de nado sincronizado, em abril, foi a estampa do maiô e da touca das atletas. Enquanto o uniforme trazia o desenho do coração e do sistema circulatório, o acessório de cabeça exibia as formas de um cérebro. A ideia era “casar” a roupa com o tema da coreografia, que trata do corpo humano. Segundo as atletas, a iniciativa foi inspirada pelo grupo de dança Corpo, de Minas Gerais. As brasileiras ficaram com o nono lugar na competição e, agora, se preparam para a Olimpíada.

Page 84: Revista 2016 / Maio

painel Todos os esportes olímpicos

>NATAÇÃO aTleTas de fibraApesar do banimento dos “supertrajes” nas competições de natação, os fabricantes não poupam esforços para criar roupas mais confortáveis e leves para os atletas que disputarão a Olimpíada. É o caso do novo uniforme da seleção brasileira, que tem em sua composição fibra de carbono, material ultraleve e resistente. Os trajes que Cesar Cielo e Thiago Pereira usarão em Londres são, segundo o fabricante italiano Arena, mais duráveis e flexíveis. O cidadão comum que quiser um desses vai ter que desembolsar R$ 980 pela bermuda masculina e R$ 1.380 pelo maiô feminino.

>PENTATLO MODERNOaJuda às proMessasA elite do pentatlo moderno brasileiro esteve no Recife (PE) para “dar uma força” aos jovens atletas que buscam se familiarizar com as provas. Em um evento simplificado de biatlo realizado pela Confederação Brasileira no mês de abril, Yane Marques, Larissa Lellys, Priscila Oliveira, Felipe Nascimento, Daniel Velasques e Aloísio Sandes correram e nadaram ao lado de centenas de esportistas com idades entre 10 e 29 anos. A iniciativa já virou tradição em Pernambuco, um dos principais celeiros da modalidade no País. Na segunda etapa da Copa do Mundo, disputada no Rio, oito dos 22 atletas brasileiros eram originários da capital pernambucana.

>POLO AQUÁTICObye, bye, londonO polo aquático brasileiro não estará presente nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Com a eliminação da seleção feminina do pré-olímpico de Trieste, na Itália, em abril, o País está fora da principal competição do esporte mundial pela sétima vez consecutiva. A má notícia para as meninas veio com o empate por 7 a 7 com o Cazaquistão no último jogo da fase de classificação do torneio. O Brasil acabou na nona e última posição. No pré-olímpico masculino, a seleção avançou para as quartas de final, mas perdeu para a Romênia e também ficou sem a vaga.

>REMO a cor do paTrocínioCamisetas brancas em busca de patrocínio. Foi assim que atletas olímpicos e paraolímpicos do remo brasileiro protestaram contra a falta de apoio ao esporte no País. Liderados pela campeã mundial Fabiana Beltrame, os esportistas se reuniram no dia 26 de abril à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos locais de competição na Olimpíada de 2016, no Rio, para mostrar que no lugar do espaço vazio das roupas poderiam estar as marcas de empresas dispostas a apoiar o esporte. De acordo com Fabiana, nem mesmo o título mundial foi capaz de convencer os homens e mulheres de negócios a injetar algum dinheiro na modalidade.

>RÚGBI esporTe de índioO rúgbi brasileiro tem um novo símbolo: o índio tupi. Após votação popular realizada pela internet, o personagem indígena foi escolhido com 47,16% do total de dez mil votos. Os outros dois candidatos – a sucuri e a arara – levaram 34,76% e 18,08%, respectivamente. De acordo com a agência que desenvolveu o símbolo, o índio tupi é “marcado pela virtude e pela coragem”. A figura, que deverá estampar produtos e uniformes ligados ao time nacional, se junta a outros tradicionais representantes do rúgbi de seleções ao redor do mundo, como lobos, pumas e águias.

>SALTOS ORNAMENTAISdoMínio fluMinenseA equipe do Fluminense dominou o Troféu Brasil de Saltos Ornamentais, realizado em abril. A agremiação do Rio de Janeiro foi campeã do torneio pela quarta vez consecutiva, com os times do Pinheiros (SP) e do Apoe (RJ) ficando com a prata e o bronze. Mas a melhor notícia é que o evento terminou com cinco atletas com índices para as etapas do Grand Prix da Federação Internacional de Natação, que servem de preparação para os Jogos Olímpicos de Londres. Cesar Castro (3 metros), Hugo Parisi (plataforma de 10 metros), Luis Outerelo (3 metros), Ian Matos (3 metros) e Juliana Veloso (3 metros) vão para a disputa em uma das competições mais importantes do ano.

>TAE KWON DO preJudicado pela arbiTrageMO brasileiro Marcio Wenceslau não tem mais chances de ir aos Jogos Olímpicos de Londres. Isso porque a federação mundial da categoria confirmou que vai distribuir os quatro convites a que tem direito para atletas do Iêmen e de Mali. A notícia frustrou os planos de Marcio, que foi considerado injustiçado por uma arbitragem desastrada na decisão do Torneio Qualificatório das Américas, realizado em novembro do ano passado no México. Apesar dos flagrantes erros do juiz – que acusou um inexistente golpe na cabeça do brasileiro – a autoridade mundial decidiu não rever a decisão.

>TÊNISeiKe Traz Torneio para o brasilA Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) confirmou que a cidade do Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e da Copa do Mundo de 2014, vai fazer parte também do circuito mundial de tênis, com um torneio ATP 500 em 2014. Por trás da conquista está o bilionário Eike Batista. Uma de suas empresas, a IMX, vai organizar o evento, que ainda não tem data definida.

>TIRO decepçãoO brasileiro Filipe Fuzaro teve desempenho apenas regular na eliminatória de fossa double na Copa do Mundo de Tiro Esportivo, em Tucson, nos Estados Unidos. O atirador, que se prepara para disputar os Jogos Olímpicos de Londres, ficou na 20ª colocação e acabou fora da final da competição. Com 138 acertos, ele ficou a cinco pontos dos americanos Walton Eller e Joshua Watson, que disputaram o desempate para definir a sexta posição. Apenas os seis primeiros se classificavam para a decisão da etapa americana.

>TIRO COM ARCO dispuTa acirrada Com uma medalha de prata e outra de bronze no pré-olímpico disputado em Medellín, na Colômbia, o Brasil assegurou uma vaga para o tiro com arco nos Jogos Olímpicos de Londres. Bernardo de Sousa Oliveira, de 18 anos, foi o segundo colocado e Gustavo Trainini, o terceiro. Daniel Xavier não passou das oitavas de final. Agora, cabe à Confederação Brasileira de Tiro com Arco definir quem será o atleta que vai representar o País na competição olímpica. A escolha deve ser feita nas próximas semanas.

>TRIATLO Três vezes caMpeão Principal nome do triatlo brasileiro na Olimpíada de Londres, Reinaldo Colucci conseguiu um feito digno de superatleta. Com a vitória na segunda etapa do Campeonato Brasileiro de Triatlo Standard, em Brasília, no mês de abril, o esportista chegou à tríplice coroa da modalidade, já que também venceu o Sul-Americano e o Pan-Americano. O resultado no Distrito Federal ainda fez dele o campeão brasileiro da modalidade olímpica (1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida).

>VELA de barco velho é MelhorApesar da vitória no Troféu Princesa Sofia, em Palma de Mallorca, na Espanha, os brasileiros Robert Scheidt e Bruno Prada reprovaram o barco novo utilizado na competição. Para a Olimpíada de Londres, a dupla pretende recorrer ao equipamento antigo, fabricado pela italiana Follia, com o qual venceram o Mundial de Perth, em 2011. Prada ainda admitiu que, no processo de preparação olímpica, vale até enviar técnicos para “espionar” os barcos de competidores que conseguem bons resultados na classe Star.

>VÔLEI equilíbrio de forçasA seleção feminina de vôlei do Brasil, atual campeã olímpica, deve enfrentar dificuldades para chegar à final em Londres. Segundo avaliação das próprias jogadoras, pelo menos outras seis equipes vão chegar à capital britânica em condições de con-quistar o ouro: Estados Unidos, Rússia, Cuba, China, Itália e Sérvia. As dificuldades do time brasileiro ficaram evidentes na Copa do Mundo do ano passado, quando o Brasil ficou apenas com o quinto lugar.

>VÔLEI DE PRAIA coM ou seM vergonhaA dupla brasileira Juliana e Larissa nunca teve problemas em jogar com os pequenos biquínis que, até agora, eram obrigatórios nas competições oficiais de vôlei de praia. Em Londres 2012, porém, as atletas terão opção de vestir trajes mais compridos, se assim desejarem. A decisão de permitir o uso de “calças curtas e tops com ou sem mangas”, anunciada pela Federação Internacional de Vôlei, busca respeitar as esportistas de “países que têm exigências religiosas e culturais” mais rígidas, segundo comunicado oficial emitido pela entidade.

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>TÊNIS DE MESA novaTos e experienTes JunTosO Brasil nunca deixou de enviar atletas do tênis de mesa para os Jogos Olímpicos desde que a modalidade passou a fazer parte da competição, em 1988, em Seul. Desta vez, não será diferente. A peculiaridade de Londres 2012 é que a equipe nacional será composta por esportistas experientes e nomes pouco conhecidos. Dos seis representantes que o País pode enviar, quatro já estão classificados: Hugo Hoyama e Gustavo Tsuboi, no masculino, e Lígia Silva e Caroline Kumahara, no feminino. Os outros serão indicados pela Confederação Brasileira de Tênis de Mesa e poderão jogar apenas na competição por equipes.

Page 85: Revista 2016 / Maio

painel Todos os esportes olímpicos

>NATAÇÃO aTleTas de fibraApesar do banimento dos “supertrajes” nas competições de natação, os fabricantes não poupam esforços para criar roupas mais confortáveis e leves para os atletas que disputarão a Olimpíada. É o caso do novo uniforme da seleção brasileira, que tem em sua composição fibra de carbono, material ultraleve e resistente. Os trajes que Cesar Cielo e Thiago Pereira usarão em Londres são, segundo o fabricante italiano Arena, mais duráveis e flexíveis. O cidadão comum que quiser um desses vai ter que desembolsar R$ 980 pela bermuda masculina e R$ 1.380 pelo maiô feminino.

>PENTATLO MODERNOaJuda às proMessasA elite do pentatlo moderno brasileiro esteve no Recife (PE) para “dar uma força” aos jovens atletas que buscam se familiarizar com as provas. Em um evento simplificado de biatlo realizado pela Confederação Brasileira no mês de abril, Yane Marques, Larissa Lellys, Priscila Oliveira, Felipe Nascimento, Daniel Velasques e Aloísio Sandes correram e nadaram ao lado de centenas de esportistas com idades entre 10 e 29 anos. A iniciativa já virou tradição em Pernambuco, um dos principais celeiros da modalidade no País. Na segunda etapa da Copa do Mundo, disputada no Rio, oito dos 22 atletas brasileiros eram originários da capital pernambucana.

>POLO AQUÁTICObye, bye, londonO polo aquático brasileiro não estará presente nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Com a eliminação da seleção feminina do pré-olímpico de Trieste, na Itália, em abril, o País está fora da principal competição do esporte mundial pela sétima vez consecutiva. A má notícia para as meninas veio com o empate por 7 a 7 com o Cazaquistão no último jogo da fase de classificação do torneio. O Brasil acabou na nona e última posição. No pré-olímpico masculino, a seleção avançou para as quartas de final, mas perdeu para a Romênia e também ficou sem a vaga.

>REMO a cor do paTrocínioCamisetas brancas em busca de patrocínio. Foi assim que atletas olímpicos e paraolímpicos do remo brasileiro protestaram contra a falta de apoio ao esporte no País. Liderados pela campeã mundial Fabiana Beltrame, os esportistas se reuniram no dia 26 de abril à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos locais de competição na Olimpíada de 2016, no Rio, para mostrar que no lugar do espaço vazio das roupas poderiam estar as marcas de empresas dispostas a apoiar o esporte. De acordo com Fabiana, nem mesmo o título mundial foi capaz de convencer os homens e mulheres de negócios a injetar algum dinheiro na modalidade.

>RÚGBI esporTe de índioO rúgbi brasileiro tem um novo símbolo: o índio tupi. Após votação popular realizada pela internet, o personagem indígena foi escolhido com 47,16% do total de dez mil votos. Os outros dois candidatos – a sucuri e a arara – levaram 34,76% e 18,08%, respectivamente. De acordo com a agência que desenvolveu o símbolo, o índio tupi é “marcado pela virtude e pela coragem”. A figura, que deverá estampar produtos e uniformes ligados ao time nacional, se junta a outros tradicionais representantes do rúgbi de seleções ao redor do mundo, como lobos, pumas e águias.

>SALTOS ORNAMENTAISdoMínio fluMinenseA equipe do Fluminense dominou o Troféu Brasil de Saltos Ornamentais, realizado em abril. A agremiação do Rio de Janeiro foi campeã do torneio pela quarta vez consecutiva, com os times do Pinheiros (SP) e do Apoe (RJ) ficando com a prata e o bronze. Mas a melhor notícia é que o evento terminou com cinco atletas com índices para as etapas do Grand Prix da Federação Internacional de Natação, que servem de preparação para os Jogos Olímpicos de Londres. Cesar Castro (3 metros), Hugo Parisi (plataforma de 10 metros), Luis Outerelo (3 metros), Ian Matos (3 metros) e Juliana Veloso (3 metros) vão para a disputa em uma das competições mais importantes do ano.

>TAE KWON DO preJudicado pela arbiTrageMO brasileiro Marcio Wenceslau não tem mais chances de ir aos Jogos Olímpicos de Londres. Isso porque a federação mundial da categoria confirmou que vai distribuir os quatro convites a que tem direito para atletas do Iêmen e de Mali. A notícia frustrou os planos de Marcio, que foi considerado injustiçado por uma arbitragem desastrada na decisão do Torneio Qualificatório das Américas, realizado em novembro do ano passado no México. Apesar dos flagrantes erros do juiz – que acusou um inexistente golpe na cabeça do brasileiro – a autoridade mundial decidiu não rever a decisão.

>TÊNISeiKe Traz Torneio para o brasilA Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) confirmou que a cidade do Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e da Copa do Mundo de 2014, vai fazer parte também do circuito mundial de tênis, com um torneio ATP 500 em 2014. Por trás da conquista está o bilionário Eike Batista. Uma de suas empresas, a IMX, vai organizar o evento, que ainda não tem data definida.

>TIRO decepçãoO brasileiro Filipe Fuzaro teve desempenho apenas regular na eliminatória de fossa double na Copa do Mundo de Tiro Esportivo, em Tucson, nos Estados Unidos. O atirador, que se prepara para disputar os Jogos Olímpicos de Londres, ficou na 20ª colocação e acabou fora da final da competição. Com 138 acertos, ele ficou a cinco pontos dos americanos Walton Eller e Joshua Watson, que disputaram o desempate para definir a sexta posição. Apenas os seis primeiros se classificavam para a decisão da etapa americana.

>TIRO COM ARCO dispuTa acirrada Com uma medalha de prata e outra de bronze no pré-olímpico disputado em Medellín, na Colômbia, o Brasil assegurou uma vaga para o tiro com arco nos Jogos Olímpicos de Londres. Bernardo de Sousa Oliveira, de 18 anos, foi o segundo colocado e Gustavo Trainini, o terceiro. Daniel Xavier não passou das oitavas de final. Agora, cabe à Confederação Brasileira de Tiro com Arco definir quem será o atleta que vai representar o País na competição olímpica. A escolha deve ser feita nas próximas semanas.

>TRIATLO Três vezes caMpeão Principal nome do triatlo brasileiro na Olimpíada de Londres, Reinaldo Colucci conseguiu um feito digno de superatleta. Com a vitória na segunda etapa do Campeonato Brasileiro de Triatlo Standard, em Brasília, no mês de abril, o esportista chegou à tríplice coroa da modalidade, já que também venceu o Sul-Americano e o Pan-Americano. O resultado no Distrito Federal ainda fez dele o campeão brasileiro da modalidade olímpica (1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida).

>VELA de barco velho é MelhorApesar da vitória no Troféu Princesa Sofia, em Palma de Mallorca, na Espanha, os brasileiros Robert Scheidt e Bruno Prada reprovaram o barco novo utilizado na competição. Para a Olimpíada de Londres, a dupla pretende recorrer ao equipamento antigo, fabricado pela italiana Follia, com o qual venceram o Mundial de Perth, em 2011. Prada ainda admitiu que, no processo de preparação olímpica, vale até enviar técnicos para “espionar” os barcos de competidores que conseguem bons resultados na classe Star.

>VÔLEI equilíbrio de forçasA seleção feminina de vôlei do Brasil, atual campeã olímpica, deve enfrentar dificuldades para chegar à final em Londres. Segundo avaliação das próprias jogadoras, pelo menos outras seis equipes vão chegar à capital britânica em condições de con-quistar o ouro: Estados Unidos, Rússia, Cuba, China, Itália e Sérvia. As dificuldades do time brasileiro ficaram evidentes na Copa do Mundo do ano passado, quando o Brasil ficou apenas com o quinto lugar.

>VÔLEI DE PRAIA coM ou seM vergonhaA dupla brasileira Juliana e Larissa nunca teve problemas em jogar com os pequenos biquínis que, até agora, eram obrigatórios nas competições oficiais de vôlei de praia. Em Londres 2012, porém, as atletas terão opção de vestir trajes mais compridos, se assim desejarem. A decisão de permitir o uso de “calças curtas e tops com ou sem mangas”, anunciada pela Federação Internacional de Vôlei, busca respeitar as esportistas de “países que têm exigências religiosas e culturais” mais rígidas, segundo comunicado oficial emitido pela entidade.

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maio 2012 | isToé 2016

>TÊNIS DE MESA novaTos e experienTes JunTosO Brasil nunca deixou de enviar atletas do tênis de mesa para os Jogos Olímpicos desde que a modalidade passou a fazer parte da competição, em 1988, em Seul. Desta vez, não será diferente. A peculiaridade de Londres 2012 é que a equipe nacional será composta por esportistas experientes e nomes pouco conhecidos. Dos seis representantes que o País pode enviar, quatro já estão classificados: Hugo Hoyama e Gustavo Tsuboi, no masculino, e Lígia Silva e Caroline Kumahara, no feminino. Os outros serão indicados pela Confederação Brasileira de Tênis de Mesa e poderão jogar apenas na competição por equipes.

Page 86: Revista 2016 / Maio

página dourada Conquistas que entraram para a história | por Edson Franco

Quando o assunto é ginástica nos Jogos de Montreal em 1976, a memória mais recorrente é a da romena Nadia Comaneci voando nos ginásios canadenses. Pouca gente lembra que a equipe japonesa derrotou a insuperável União Soviética. E, japoneses fora, pouca gente lembra de Shun Fujimoto, o ginasta que entrou para a história como o “king of pain” (rei da dor, em inglês).

Ao concluir a sua performance na antepenúltima com- petição por equipes, o solo, ele sofreu com uma dor que não ia embora e, pior, ganhava intensidade. Pudera, sua perna direita estava fraturada. Faltavam duas provas e não haveria como arrumar um substituto àquela altura. Ou Fujimoto su-portava a dor ou o país diria adeus ao pódio. Sem compartilhar a informação com os seus companheiros, lá foi ele enfrentar o cavalo com alças. Conseguiu impressionantes 9,5 pontos. Decidiu seguir em frente, mas a próxima prova ampliava o dilema. Como saltar das argolas, levantar voo, girar o corpo no ar e aterrissar sobre uma perna quebrada?

Auxiliado pelo técnico – que, pela palidez de seu discípu-lo, já havia notado que algo não estava bem –, Fujimoto deu início à perfomance da sua vida. Giros precisos, paradas de estátua e contorcionismos dignos de invertebrados. Mas faltava o voo final. Lançar o corpo a mais de três metros de altura e pousar sobre uma perna quebrada. E lá foi Fujimoto. Subiu, girou e desceu. A dor da aterrissagem, descreveu ele depois, era como se uma faca tivesse sido transpassada pela sua perna. Mas ele resistiu. Escondeu o ranger dos den-tes, equilibrou-se e ergueu os braços para concluir a rotina. De quebra, deslocou o joelho. Resultado: 9,7 pontos, a me-lhor performance da carreira do ginasta e o que faltava para os japoneses superarem os, então, imbatíveis soviéticos.

Apesar de vir de um país formador de guerreiros dedica-dos como os samurais e os camicazes, o exemplo de Fujimoto é motivo de orgulho. Mas, se por um lado o episódio marca o surgimento de um herói nacional, por outro registrou o fim da carreira de um atleta promissor. O preço que o ginasta pagou por enfrentar a dor foi a perda de sua capa- cidade para repetir atuações como as de Montreal-76. Valeu a pena? Numa entrevista coletiva feita uma década depois dos Jogos, foi perguntado ao atleta se ele faria tudo de novo. “Não, de jeito nenhum”, respondeu.

Com a perna fraturada e o joelho deslocado, ginasta japonês vira herói nacional ao ajudar seu país a superar os imbatíveis soviéticos em Montreal

Osso duro

herói nacional com gesso na perna e medalha de ouro na mão, Shun Fujimoto volta para casa

Foto: aP/PhoTo