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Revista 4

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SUMÁRIO10 | POR EXEMPLOAprender RSE | Você é um CulturalCreative? | Balanço Social

22 | OPINIÃOCrédito responsável na visão do consumidor

24 | MUNDO DO TRABALHOJovens no trabalho | Desafio da Ásia |Trabalho Escravo

38 | RESPONSABILIDADESOCIAL

Soja responsável: Fórum Global precisa dedefinições de critérios

48 | INCLUIRProdutos orgânicos em prol da saúde e doambiente | ONG Ecovida

54 | AMBIENTEGreenpeace alerta para aquecimento globale o desequílibrio que proporciona

58 | AGENDA GLOBALDireito à alimentação no mundo | Fome emvários países | Gincana do Milênio

62 | ENTREVISTADiretor do Instituto Gerdau, José PauloMartins, fala da RSE na empresa

66 | SOLUÇÕES Tomate cultivado | Software Anti-L.E.R |Biodigestor caseiro | Lâmpada eficiente

68 | MONITORSpread bancário brasileiro é um dosmais altos do mundo

70 | HUMORCafé brasileiro vai até os EUA e voltapara ser vendido em rede de franquia

CARTASQuero agradecer a menção sobre o Sabão Ecológico do Insti-

tuto Ação Triângulo na edição número 3. Gostei muito de outrasmatérias, como Planeta Soja. Se possível, gostaria de continuarrecebendo sua publicação por correspondência.

Felipe Rifa,da ONG Ação Triângulowww.triangulo.org.br

Felipe,Obrigada por sua carta.Estaremos encaminhando as proximas edições

Gostaria de agradecer o recebimento da número 3. Querofazer uma ressalva sobre o texto de abertura do Ensaio Fotográ-fico. O nome correto do documento da ONU é Convenção dasNações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Arecomendação é evitar a palavra “portador”. Nem sempre se con-segue, já que o termo ainda é muito usado pela mídia por conta daLei 8213/91 e o Decreto 3298/99. Quanto à Convenção da ONU,ela teve seu texto aprovado pelo Comitê Especial, porém aindaprecisa ser validada na Assembléia Geral da ONU e ratificadapelos países apoiadores.

Tatiana WittmannConsultoria em Responsabilidade Corporativa do Serviço So-

cial da Indústria - SESI/SC

Tatiana,Sugestões assim sempre são bem-vindas e a sua carta foi

nosso estímulo para inaugurarmos esta seção de cartas.

Parabenizo a equipe pela excelente publicação que editam.Tive conhecimento da revista Primeiro Plano por intermédio de umantropológo e fotógrafo (Philipi Bandeira) na Aldeia Indígena Tre-membé de Almofala, distante 261 quilômetros de Fortaleza (CE).(...) A Revista se adequa ao trabalho que estamos realizando naaldeia. Temos ações com as etnias (são 12) no Estado do Ceará.

Everthon Damascenogestor social

Ao contrário do que afirmamos, o IBD (Instituto Biodi-nâmico) não é a única certificadora de produtos orgânicosque possui reconhecimento internacional. Várias entida-des que atuam ou têm filiais aqui no país certificam diver-sos produtos agrícolas, entre eles o café, para o mercadointernacional. Destacam-se, além do IBD, a CONTROLU-NION (antiga Skal) da Holanda, BCS da Alemanha, IMO daSuíça, ECOCERT da França, OIA (Argentina) e FVO e ICSdos EUA. A Imaflora não certifica orgânicos, mas tem par-ceria com o IBD e faz certificação sócio-ambiental com oselo FSC (Forest Stewardship Council).

ERRAMOS

(CAFEZINHO COM CAUSA, edição 3, p. 64)

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APRESENTAÇÃO

14SUPERMERCADOSAs redes det0êm posição privilegiada na

cadeia. É possível fazer mais em RSE

MULTINACIONAISDiretrizes da OCDE precisam

avançar dentro das empresas

ENSAIO FOTOGRÁFICOSalve as Águas do Xingu. Uma

campanha em prol da Amazônia

VESTUÁRIO RESPONSÁVELRastreamento desde o plantio do

algodão. Bom exemplo da Holanda

EMBRACOComo implementar RSE respeitando

a cultura de cada país?

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42

51

O varejo é o elo de ligação entre a produção e o consumo, talvezpor isso torne-se tão importante e igualmente partícipe na ofertade bens de uso diário da população. Especificamente os super-

mercados, alvos da matéria de capa desta edição, são atores da respon-sabilidade social ao colocarem produtos nas prateleiras. Se todos oselos da cadeia de valor precisam estar atentos às formas de garantir asustentabilidade do planeta, nada mais justo que encontrarmos nossupermercados opções de produtos atentos a estas questões ou, aomenos, explicações transparentes sobre o que estamos levando pracasa. É preciso, também, que eles desenvolvam ações para atenderquestões em relação aos colaboradores, aos pequenos produtores e àpreservação ambiental. Ao escolhermos as maiores redes presentes nopaís, tentamos mostrar as possibilidades de ações que estão em anda-mento e indicar como médios e pequenos também podem atuar comresponsabilidade.

Em outra reportagem, destacamos a situação atual das Diretrizes daOCDE, um pacto firmado entre 39 países para fazer cumprir normas deresponsabilidade social nas multinacionais e que tem caráter voluntá-rio, tratando de diversos assuntos como meio ambiente, trabalho, cor-rupção, direito dos consumidores, entre outros.

Temos também reportagens especiais produzidas por algumas ONGs,como o ensaio fotográfico sobre as águas do Xingu, a matéria do Gre-enpeace sobre aquecimento global e da ActionAid sobre a fome nomundo . As seções e a participação de articulistas completam a varieda-de de informações e pontos de vista que queremos fazer chegar atévocê.

Estamos satisfeitos em chegar ao quarto número da Revista com arepercussão obtida entre vários públicos e finalizamos o ano de 2006com a meta cumprida de oferecer material de qualidade. O site da Revis-ta na internet mas vai ganhar mais dinamismo e conteúdo a partir de2007, quando estaremos completando nosso planejamento em prol dadifusão da RSE e desenvolvimento sustentável.

Parceiros InstitucionaisParceiros InstitucionaisParceiros InstitucionaisParceiros InstitucionaisParceiros Institucionais Banco do Estado

de Santa Catarina (BESC) Departamento Intersindical de Estatísticas

e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Eletrosul Centrais Elétricas S.A. Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) Instituto de Manejo e Certificação Florestal

e Agrícola (Imaflora) Instituto Observatório Social Instituto Ethos de Empresas e

Responsabilidade Social Rede de Tecnologia Social (RTS)

EXPEDIENTE

Os artigos e reportagens assinados não representam, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e darevista Primeiro Plano. A divulgação do material publicado é permitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

Visconde de Ouro Preto, 308Térreo - Centro – Florianópolis (SC)88020-040Tel: + 55 (48) 3025-3949www.primeiroplano.org.brE-mail: [email protected]

D i re to r :D i re to r :D i re to r :D i re to r :D i re to r :Odilon Luís Faccio

Ed ição :Ed ição :Ed ição :Ed ição :Ed ição :Maria José H. Coelho (Mte/Pr930) e Sara Caprario(MTe/Sc 625-JP)

Redação:Redação:Redação:Redação:Redação:Sandra Werle (MTe/Sc 515-JP) e Sara Caprario (MTe/Sc 625-JP)

Rev isão :Rev isão :Rev isão :Rev isão :Rev isão :Dauro Veras (MTb/Sc471-JP)

Edição de Arte:Edição de Arte:Edição de Arte:Edição de Arte:Edição de Arte:Maria José H. Coelho e Sandra Werle

A r t e :A r t e :A r t e :A r t e :A r t e :Frank Maia

Fotograf ia :Fotograf ia :Fotograf ia :Fotograf ia :Fotograf ia :Sérgio Vignes

Co laboradores :Co laboradores :Co laboradores :Co laboradores :Co laboradores :Celso Marcatto, Fábio Rocha, Larissa Barros, MarilenaLazzarini, Michelle Lopes, Oded Grajew, Odilon LuísFaccio, Patrícia Audi, Pieter Sijbrandij e Ronaldo Baltar

D is t r ibu ição:Dis t r ibu ição:Dis t r ibu ição:Dis t r ibu ição:Dis t r ibu ição:Luciano Marcondes

I m p r e s s ã o :I m p r e s s ã o :I m p r e s s ã o :I m p r e s s ã o :I m p r e s s ã o :Gráfica Pallotti

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por exemplo O planeta em movimento

Onde se ensinaRSE no Brasil

www.fersol.com.br

100

DEFENSIVOSRESPONSÁVEIS

professores, nomínimo, já foramcadastrados peloInstituto Ethoscom orientaçõesde trabalhos sobreResponsabilidadeSocial Empresarial,ou participaçõesem eventos sobreo tema nas univer-sidades do país.

m levantamentofeito pela UniEthos- Educação para aResponsabilidadeSocial e o

Desenvolvimento Sustentável,instituição sem fins lucrativosvoltada à pesquisa, produção deconhecimento,

A Fersol, que de-senvolve e produzcerca de 80 produtosquímicos nos seg-mentos de defensi-vos agrícolas (fitos-sanitário), dedetizan-tes (domissanitário),saúde pública e ve-terinária, localizadano interior de SãoPaulo, transformou aimplantação das po-líticas de responsa-bilidade social em-presarial (RSE) emuma experiência desuperação dos con-ceitos em relação àsexpectativas de cres-cimento e lucrativida-de. A direção destacaalguns pontos impor-tantes como a satis-fação dos clientes, aqualidade dos pro-dutos, o cumprimen-to da legislação, aconservação ambi-ental, a redução sus-tentável do uso derecursos naturais e apermanente capaci-tação dos colabora-dores. ‘Nos esforça-mos para superar oslimites comuns daRSE, por acreditarque uma estratégiade desenvolvimentonão pode ter comomotivo principal a re-ceita ou a promoçãoda empresa’, ressal-ta o presidente daempresa, MichaelHaradom.

instrumentalização e capacitaçãopara o meio empresarial eacadêmico nos temas daResponsabilidade SocialEmpresarial (RSE) eDesenvolvimento Sustentável(DS), revela que não há curso degraduação específico sobre RSE.No entanto, segundo GustavoBaraldi, da área de RelaçõesAcadêmicas da UniEthos, váriasuniversidades oferecem disciplinasoptativas ou até regulares sobre otema, como por exemplo em SãoPaulo a Fundação Getulio Vargas, aUniversidade Anhembi-Morumbipara o curso de administração e aEscola Superior de Propaganda eMarketing, no curso deComunicação Social dentre outras.

Há ainda um grande número deprofessores que abordam atemática da RSE nas mais diversasdisciplinas, cursos e faculdades.No caso dos cursos de pós-graduação, Gustavo afirma que émais fácil de se mensurar. Olevantamento completo está no sitewww.uniethos.org.br/universitario,clicando em Centro de Apoio àPesquisa e depois em cursos.

USem espaço na graduação, otema está presente em cursosde especialização e mestrado

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Especialização emEducação Ambiental eResponsabilidadeSocial

Especialização emEducação Ambiental eResponsabilidadeSocial

Especialização emGestão daResponsabilidadeSocial

Especialização emGestão de IniciativasSociais com ênfaseem ResponsabilidadeSocial Empresarial

Gestão daSustentabilidade eResponsabilidadeCorporativa

ResponsabilidadeSocial: Gestão deProjetos Multis-setoriais para oDesenvolvimentoSustentável

Instituto Gênesis/Faculdades JK

Instituto Científicode Ensino Superiore Pesquisa –UniCesp

CentroUniversitárioFeevale

UniversidadeCorporativa doSesi – Unisesi

UniversidadeEstadual deCampinas –Unicamp

FaculdadeIntegrada do Ceará– FIC

Palmas-TO

Brasília-DF

Novo Hamburgo-RS

Rio de Janeiro-RJ

Campinas-SP

Fortaleza-CE

CIDADEINSTITUIÇÃOCURSO

www.faculdadejk.com.br

www.unicesp.edu.br

www.feevale.br

www.unisesi.org.br

www.eco.unicamp.br

www2.fic.br

INFORMAÇÕES

MESTRADO

ESPECIALIZAÇÃO

MestradoProfissionalMultidisciplinar emDesenv. Humano eResponsabilidadeSocial

MestradoProfissional em Adm.- Gestão Pública,Terceiro Setor eResponsabilidadeSocial

Mestrado emResponsabilidadeSocial eSustentabilidade

Fundação Viscondede Cairu – FVC

Universidade doEstado de SantaCatarina --– Udesc

UniversidadeFederalFluminense

Salvador – BA

Florianópolis - SC

Rio de Janeiro - RJ

www.fvc.br

www.esag.udesc.br

www.uff.br

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por exemploCultural Creatives, você é um deles?

O conceito já tem mais deuma década mas ganhouforça neste século, quandofoi lançado o livro The Cultu-ral Creatives: How 50 millionpeople are changing theworld (Os Criativos Culturais:Como 50 milhões de pesso-as estão mudando o mundo)dos estudiosos norte-ameri-canos Paul H. Ray e SherryRuth Anderson.

Uma pesquisa realizadadurante 13 anos identificouas características dos cha-mados Cultural Creatives(CC), pessoas que possuemvalores comuns ligados àsáreas de ecologia, consciên-cia planetária, responsabili-dade social, autenticidade ecrescimento espiritual, entreoutros.Estima-se que sejam50 milhões nos Estados Uni-dos e entre 80 e 90 milhõesna Europa, sendo que o nú-mero cresce de 1% a 2% aoano. A renda destas pesso-as chega a US$ 1,2 trilhão eimpulsiona o mercado de es-tilo de vida saudável e sus-tentabilidade, que abrangeUS$ 800 bilhões por ano.Segundo o livro, há mais oumenos 50 anos as pessoaseram divididas entre 50% tra-dicionais e 50% modernos.Hoje os americanos divi-dem-se em 24% tradicio-nais, 50% modernos e 26%Cultural Creatives.

Entre outras característi-cas, estas pessoas possu-em gosto pela alimentaçãosaudável e têm hábitos deleitura de jornais e revistasdiferenciadas, além de con-sumo de alimentos orgâni-cos e naturais, medicina ho-lística e alternativa, investi-mentos socialmente respon-sáveis, educação, arte e cul-tura, personalização das ca-sas, psicoterapia e medita-ção. No Brasil não há levanta-mento específico, mas o con-ceito tem tudo para pegar. Vocêé um deles? Faça o teste.

TESTE ESTA LISTA PODE DAR UMA IDÉIA SE VOCÊ SEENCAIXA NO PERFIL DE UM CULTURAL CREATIVE.

Ama a natureza e fica preocupado(a) com a sua destruição.

Está consciente dos problemas do planeta (aquecimento global,destruição das florestas etc.) e quer ver mais ação, comolimitar o crescimento econômico.

Pagaria mais impostos ou pagaria mais por bens de consumo setivesse certeza que o dinheiro seria utilizado para preservar o meioambiente e parar o aquecimento global.

Acredita que é importante desenvolver e manter seusrelacionamentos.

Valoriza ajudar outras pessoas e é voluntário(a) em uma ou maiscausas humanitárias.

Importa-se com o desenvolvimento psicológico e espiritual.

Vê a espiritualidade ou a religião como algo importante em suavida, mas fica preocupado(a) sobre o papel da direita religiosa napolítica.

Quer mais igualdade para mulheres no trabalho, e mais líderesmulheres nas empresas e na política.

Preocupa-se com a violência e o abuso contra mulheres ecrianças no mundo.

Gostaria que o governo desse ênfase na educação e bem-estardas crianças, na promoção da vida comunitária e em criar umfuturo ecologicamente sustentável.

Não está contente com a esquerda e a direita na política, egostaria de encontrar novas maneiras de participação.

Procura ser otimista sobre o futuro, e desconfia da visão cínicae pessimista que é dada pelos meios de comunicação.

Gostaria de participar na criação de um novo e melhor estilo devida no país.

Fica preocupado(a) com a atuação das grandes corporaçõesque, em busca de maiores lucros, criam problemassocioambientais e exploram países mais pobres.

Tem suas finanças e despesas sob controle.

Discorda da ênfase na cultura moderna dada ao consumosupérfluo e desenfreado.

Gosta de conhecer lugares e culturas exóticas e diferentes, e deexperimentar outros estilos de vida.

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SE CONCORDOU COM 10 (OU +) QUESTÕES, VOCÊ É UM(A)SE CONCORDOU COM 10 (OU +) QUESTÕES, VOCÊ É UM(A)SE CONCORDOU COM 10 (OU +) QUESTÕES, VOCÊ É UM(A)SE CONCORDOU COM 10 (OU +) QUESTÕES, VOCÊ É UM(A)SE CONCORDOU COM 10 (OU +) QUESTÕES, VOCÊ É UM(A) CUL CUL CUL CUL CULTURAL CREATURAL CREATURAL CREATURAL CREATURAL CREATIVETIVETIVETIVETIVE

É PROVÁVEL QUE VOCÊ SEJA UM(A) É PROVÁVEL QUE VOCÊ SEJA UM(A) É PROVÁVEL QUE VOCÊ SEJA UM(A) É PROVÁVEL QUE VOCÊ SEJA UM(A) É PROVÁVEL QUE VOCÊ SEJA UM(A) CULCULCULCULCULTURAL CREATURAL CREATURAL CREATURAL CREATURAL CREATIVETIVETIVETIVETIVE SE… SE… SE… SE… SE…

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Balanço Social:instrumento de gestão

Dentro desta maravilhosa “febre” da responsabilidade social empresarial encontra-se um elemento em destaque: o Balanço Social. Só que mais uma vez, as empresas, comalgumas raras exceções, preocupam-se em apenas atender o pré-requisito de ter oupublicar um Balanço das suas ações sociais e não entendê-lo como um instrumento degestão ou uma ferramenta que poderá possibilitar o aperfeiçoamento do seu programade responsabilidade social.

Temos hoje no mercado um número razoável de Balanços Sociais publicados, sepensarmos no universo das grandes empresas, principalmente das regiões Sudeste eSul. O que devemos nos perguntar é se realmente estes documentos são efetivamenteBalanços Sociais.

Temos obras de arte, peças de marketing, relatório de atividades, documentos pu-blicitários e /ou jornalísticos, informativos de ações sociais realizadas pela empresanas comunidades, mas raramente encontramos Balanços Sociais.

Balanços Sociais são instrumentos que configurem o levantamento de uma situa-ção (impacto social das atividades da empresa), que representem a possibilidade deverificação ou resumo de determinadas ações (indicadores, credibilidade) ou o registroda empresa, em um dado momento, indicando as ações sociais, sua finalidade, suarelação com o negócio da empresa e os recursos aplicados.

Outro grave problema é a falta de entendimento do conceito de responsabilidadesocial, gerando um Balanço Social restrito às ações sociais da empresa na comunidade(ações externas), deixando de apresentar elementos importantes como o modelo degestão do programa de responsabilidade social e ações voltadas para os demaisstakeholders (acionistas, público interno, clientes, fornecedores, entre outros).

Uma preocupação também é importante é evitar que o Balanço Social seja um merorelato de ações e programas, não demonstrando a forma de gestão e os canais derelacionamento da empresa com todos os públicos interessados ou partes envolvidas(stakeholders), além das possibilidades de avaliação destes relacionamentos e daspossibilidades de melhoria. Basta lembrar que responsabilidade social é uma forma degestão e não apenas a realização de ações, projetos e/ou programas.

Outro grande problema é imaginar que o Balanço Social é apenas um documento enão um processo de diagnóstico, planejamento e avaliação do programa de responsa-bilidade social da empresa. Isto significa que o que faz diferença não é produzir oupublicar o Balanço, mas sim a forma de construí-lo e utilizá-lo como instrumento degestão.

A formação de um comitê de elaboração do Balanço Social, a capacitação destecomitê, a sistematização das origens dos dados, a precisão dos indicadores e a execu-ção de um plano de comunicação são também elementos que tornam esta ferramentamais consistente e sólida.

Portanto, o verdadeiro Balanço Social não deve ser uma “colcha de retalhos” e simuma possibilidade de diálogo, uma diretriz, uma memória estatística, enfim, um instru-mento de gestão. Devemos ressaltar que poderemos em breve ter a obrigatoriedadedesta publicação no Brasil, o que já acontece em países como a França (desde 1977),Alemanha, Holanda, Bélgica, Espanha, Inglaterra e Portugal.

Fazer e publicar o Balanço Social é mudar a visão tradicional de gestão de negóciospara uma visão em que se entende que lucro e responsabilidade social andam juntos,preocupando-se com a satisfação de sua força de trabalho e com o ambiente externo.

O mercado será o grande auditor das empresas.

FÁBIO ROCHA

Mestrando emResponsabilidade Sociale Sustentabilidade pelaUniversidade FederalFluminense, sócio-diretor da DamicosConsultoria e Negócios.

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ELOEntrar, comprar e sair de um supermercado é uma roti-na comum entre os consumidores. Tão comum que mui-tas vezes estes locais transformam-se até em ponto deencontro. É ali que o consumidor estabelece sua rela-ção com o produtor ao adquirir grande parte dos itensde uso diário. Por ser um elo crucial da cadeia de valor,onde termina a produção e inicia o consumo, as redesde varejo conseguem expressar rapidamente as mu-danças de hábito das pessoas. Estudos indicam que osconsumidores estão mais exigentes na hora da comprae avaliam, além dos critérios de preço e qualidade, aspráticas em relação às condições sociais e ambientais.

RESPONSÁVEL14

Sara Caprario*

*Com a colaboração de Pieter Sijbrandij

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Uma pesquisa realizada pela empresa IndicatorGFK e interpretada pelo Instituto Akatu – Pelo Con-sumo Consciente – mostra a evolução da per-cepção do consumidor em relação ao papel dasempresas. Em 2000, 41% dos consumidores en-tendiam que as empresas devem se concentrar

na geração de lucro e emprego e 35% queriam ver isso de formaética ajudando a construir uma sociedade melhor. Em 2004 os valo-res se inverteram, 35% acredita que é preciso gerar lucro, mas 44%acha que fazer tudo isso precisa ser feito de modo a estabelecerpadrões éticos.

Este setor do varejo reage a estas demandas e desenvolve cadavez mais estratégias que levam em conta o tema responsabilidadesocial, apesar de, na maioria dos casos, pequenas e médias em-presas consideram o assunto restrito às ações sociais. As grandesredes já incluem a RSE no planejamento estratégico, o que podecontribuir na implantação de políticas de valorização de trabalhado-res, de diversificação de fornecedores e atenção aos pequenosprodutores ou produtores locais. Segundo pesquisa da AssociaçãoBrasileira de Supermercados (Abras), 52% das redes de super-mercados realizaram ações de responsabilidade social em 2005.

Para retratar um pouco da situação atual, a Revista PrimeiroPlano apresenta nesta reportagem as entrevistas às duas maioresredes de supermercados presentes no Brasil – Pão-de-Açúcar eWal-Mart. A rede Carrefour também foi procurada mas não respon-deu em dois meses de tentativas. Esta matéria apresenta quatromacro questões relacionadas à responsabilidade social: meioambiente, saúde alimentar, fornecedores e trabalhadores. Cada umdestes temas desdobra-se em outros, como vemos a seguir.

IMPLANTAÇÃO DA RSEO aprimoramento das práticas de responsabilidade social é uma

realidade no comércio varejista. A coordenadora técnica do progra-ma Responsabilidade Social no Varejo da Fundação Getúlio Vargas(FGV/SP), Roberta Cardoso, diz que não há dados consolidadossobre isso, mas que os cursos a respeito do tema são cada vezmais procurados. “Fornecemos conteúdo genérico sobre as ques-tões de RSE para os varejistas e ainda sentimos que há surpresaquando falamos que iniciativas como atenção ao público interno fazemparte da RSE”, diz ela.

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SUPERRESPONSÁVEL

CONCENTRAÇÃOFaturamento anual dos

cinco primeirossupermercados do

ranking brasileiro: R$ 43bilhões, ou seja, 40% dototal das 500 empresaspesquisadas. O índice

ainda é menor do que osníveis de concentração

do segmento desupermercados na

Inglaterra, Alemanha eFrança, onde o

percentual é maior doque 50%, mas já foi bemmenor. Há dez anos, erade 26% e, desde 2000,

mantém-se nessepatamar.

Para o gerente da Fundação Abras,Marcos Manéa, o assunto tem evoluí-do dentro dos planos estratégicos dasempresas, o que revela real efetivida-de de uma política de RSE. “Os consu-midores aumentam as exigências e ossupermercados atendem esta necessi-dade, além de perceberem o tema comofator de fixação da marca no mercado”,diz Manéa.

Na maior rede varejista do país, oGrupo Pão de Açúcar com 556 lojas, hámais ou menos uma década foram sen-do profissionalizadas as ações, plane-jadas com mais cuidado e transforma-das em atividades que podem servirpara todo o Grupo. “Atualmente umgrande avanço é que não temos mais abarreira de convencimento da impor-tância destas iniciativas, isto já foi su-perado em nível de diretoria e gerenci-al”, diz Sônia Manastan, gerente demarketing institucional do Grupo.

No Wal-Mart, maior rede varejistado planeta e há 11 anos no Brasil com296 lojas, a adoção de novas práticasde gestão foram intensificadas há unstrês anos, incluindo a responsabilida-de social como ferramenta para garan-tir um modelo de negócio sustentável.Em 2005 foi lançado um Relatório Soci-al que resume as ações concretizadas,como a criação do Instituto Wal-Mart,que trabalha mais na área social e emespecial no desenvolvimento das co-munidades carentes que ficam no en-torno das lojas. O presidente do Wal-Mart Brasil, Vicente Trius, diz que oInstituto considera os mesmos valo-res que pautam a empresa até hoje, ouseja, “o respeito ao indivíduo, a trans-parência das ações, a crença na trans-formação social e o respeito à diversi-dade cultural, de gênero e de raça”.

MEIO AMBIENTEA pergunta que se faz nesta ques-

tão é até que ponto o supermercado éco-responsável pela destinação dassobras dos produtos que vendem. Issoporque grande parte das redes traba-lham com os temas de redução de em-balagens, reciclagem interna e os pro-

gramas de diminuição do consumo deenergia. Tudo isso gera redução decustos, ou seja, há um estímulo eco-nômico. São ações importantes, mashoje existe uma preocupação crescen-te em relação à responsabilidade daporta para fora. Isto é, o pós-consumoestá no planejamento das ações?

No Wal-Mart a palavra sustentabi-lidade tem sido usada com muito maisfreqüência desde que a matriz, noArkansas (EUA), lançou metas auda-ciosas em 2005, como reduzir em 30%o gasto de energia nas lojas e reduziros resíduos sólidos nas lojas dos Es-tados Unidos em 25%. Na destinaçãodos restos consumidos, a rede Wal-Mart tem algumas lojas e escritóriosque fazem coleta seletiva, com progra-mas de reciclagem e investimento emcooperativas de catadores que otimi-zam o reaproveitamento dos resíduossólidos. No escritório central do Wal-Mart Brasil, em Barueri (SP), a coletafoi implantada em parceria com o Insti-tuto Recicle, que ensina as formas deseparação. As embalagens são um dostemas em estudo dentro da política de

sustentabilidade e estão sendo revis-tos o tamanho e quantidade de materi-al utilizado nas embalagens de marcaprópria. A direção da rede também estáconversando com parceiros da indús-tria para reduzir o impacto na hora dotransporte e do descarte.

O grupo que avaliou o impactoambiental do Wal-Mart em níveis mun-diais detectou desperdícios que pas-saram a ser checados com mais rigor.Na marca própria de brinquedos, porexemplo, eliminou-se embalagens ex-cessivas que podem economizar anu-almente R$ 2,4 milhões no custo do fre-te, 3,8 mil árvores e um milhão de bar-ris de petróleo.

Segundo a gerente de marketing doPão de Açucar, informar os consumi-dores da importância de reciclar o lixoe oferecer estações para separação demateriais secos foi uma das primeirasações. Estas estações estão presentesem torno de 8% das lojas. “Fizemosuma parceria com a Unilever há cincoanos. Hoje temos mais de 50 estaçõesmontadas, mas ainda não é possívelter em todas as lojas por conta do pro-blema de espaço de armazenagem e daprópria logística de recolhimento”, diza gerente. As várias marcas do Grupo– Pão de Açúcar, CompreBem, Baratei-ro, Sendas e Extra – foram contempla-das e mantêm convênios com coope-rativas de reciclagem.

Outra questão é a utilização dasembalagens, já que é possível diminuiro uso de matérias não-recicláveis, comoo isopor, ou mesmo ter opções de em-balagens biodegradáveis. “Nós cons-tatamos que as empresas multinacio-nais já possuem uma visão quanto aotipo de material utilizado e às possibi-lidades de reciclá-las”, comenta Sônia,que completa: “O nosso trabalho den-tro de casa tem sido cuidar dos produ-tos embalados pela própria empresa,como frios e pães. O isopor ainda nãofoi substituído totalmente, apesar dejá termos feito pesquisa com outros ti-pos de matéria-prima, como uma ban-deja feita de amido, mas que se des-manchava ao ser colocada sob refrige-

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ração. Em alguns itens continuamosusando plástico, que apesar de não sedecompor pode ser reciclado”.

Mas no caso das sacolas na saídado caixa, a rede Pão de Açúcar é umbom exemplo. Além de oferecer saco-las de papelão em toda a rede, uma daslojas de São Paulo está conduzindouma experiência inédita na área de em-balagens. Num projeto piloto a lojapassou a testar sacolas biodegradá-veis, que se decompõem em um perío-do médio de 90 dias. Com tecnologiainglesa D2WTM, a empresa planeja pro-por ao setor industrial brasileiro a pro-dução em grande escala das sacolas.

SAÚDE ALIMENTARO papel que os alimentos têm na

saúde das pessoas é fundamental e ossupermercados, na maioria por forçada lei e pela própria competitividadedo mercado, atendem a demanda dosconsumidores por produtos que con-tenham as informações nutricionais naembalagem e produtos orgânicos. Apergunta é se existe o estímulo ao con-sumo de produtos mais saudáveis.

A gerente de marketing do GrupoPão de Açúcar diz que a entrada deprodutos orgânicos nas lojas foi umaatitude pioneira no país há mais de dezanos e hoje estimulam o consumo aocolocar gôndolas atrativas e uma vari-edade de produtos. “Na rede CompreBem, mais popular, sentimos que a sa-ída destes produtos é menor, em de-corrência da diferença de preços. Masnas outras redes do grupo (Extra, Pãode Açúcar e Sendas) as vendas têmaumentado bastante e a exigência doconsumidor nos faz buscar sempre maisalternativas”. Em relação à venda detransgênicos ela não sabe responder:“Não tenho conhecimento se vende-mos transgênicos ou não, até mesmoporque a questão da rotulagem não fi-cou definida. Sei que a empresa devetomar uma decisão quanto a isso depoisda regulamentação desta questão”. OCarrefour compromete-se em documen-to assinado junto com outras redes a nãovender produtos transgênicos.

As lojas do Grupo possuem umprojeto que tenta mostrar ao consumi-dor que uma alimentação saudável éfundamental para a qualidade de vidae o bem- estar. “Temos uma cozinhaitinerante, onde fornecemos cursoscom receitas simples, em especial des-tinadas ao consumidor de baixa rendaque geralmente opta em comprar o queé mais barato e acaba comendo as mes-mas coisas, e na maioria das vezes fri-turas e alimentos mais gordurosos”,conta Sônia. Ela exemplifica: “Claroque uma vez ou outra comer lingüiça,num churrasco, é um prazer. O quequeremos transmitir é a importância doequilíbrio. Vendemos óleo de soja, porexemplo, porque há consumo, mas en-sinamos que é possível fazer um suflêde cenoura simples ao invés de ape-nas ovo frito”.

A cruzada global a favor da sus-tentabilidade iniciada na rede Wal-Mart em reuniões em 2004 inclui a es-colha de fornecedores ou a pressãosobre os já contratados para que tam-bém se tornem mais “verdes”. Em fe-vereiro deste ano, por exemplo, a redeanunciou que nos próximos cinco anosvai comprar frutos do mar pescadosde forma responsável por empresascertificadas pela organização MarineStewardship Council (MSC). Boa par-te do café vendido nas lojas apresen-tam o selo da Rainforest Alliance (FSC),que se refere principalmente a uma pro-dução ambientalmente responsável.Em apenas um ano depois de apresen-

tar metas de cuidados ambientais, aempresa tornou-se o maior revendedorde leite orgânico e o maior compradorde algodão orgânico do mundo.

FORNECEDORESA pressão por preços baixos em

parte é passada para os fornecedorese às vezes provoca tentações em pro-duzir abaixo do “socialmente respon-sável” para garantir rentabilidade. Aquestão levantada é como encontrar oequilíbrio entre encontrar fornecedo-res competitivos e ao mesmo tempo tera garantia que eles produzam de ma-neira responsável. As claúsulas con-tratuais, os códigos de fornecedores eas auditorias são cada vez mais ferra-mentas implementadas para zelar emrelação aos produtos apresentados naprateleira.

No Grupo Pão de Açúcar os con-tratos com fornecedores são feitos demaneira a evitar empresas que utilizemtrabalho escravo, infantil, ou explora-ção de mão de obra de maneira geral.“Temos bastante cuidado com os for-necedores e por isso são feitas exigên-cias contratuais. Claro que podemoster casos de fraude ou de omissão dasempresas, mas se for descoberto ime-diatamente é quebrado o contrato”,conta a gerente de marketing.

Ela diz que são feitas auditorias emespecial nos fornecedores de produ-tos perecíveis - frutas, verduras, legu-mes, carnes e frios em geral - para che-car processos de fabricação. Os pro-

Fonte:Associação Brasileirade Supermercados (Abras)

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1º Pão de Açúcar

2º Carrefour

3º Wal-Mart

4º Cia. Zaffari (RS)

5º G. Barbosa (SE)

6º DMA Distribuidora (MG)

7º Irmãos Bretas (MG)

8º COOP (SP)

9º Angeloni (SC)

10º Prezunic (RJ)

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18

SUPERRESPONSÁVEL

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dutos de marca própria são ainda maisverificados. “As exigências para queuma empresa forneça produto que teráa marca Pão de Açúcar ou Extra sãoenormes, incluindo além de certificaçõesde qualidade, certificações especiais deacordo com o tipo de produto”, comenta.

Há cerca de oito anos a empresacomeçou a cuidar mais das questõesde RSE em relação aos fornecedores epassar isso para os consumidores. Oselo Abrinq, de empresas que não ex-ploram e atuam contra o trabalho in-fantil, é uma forma já reconhecida pe-los consumidores e isso também exis-te em diversos outros setores. “Senti-mos que a exigência está cada vez mai-or em relação à compra de produtosque apresentam cuidados sociais eambientais desde a produção até aapresentação”, afirma Sônia.

O Wal- Mart vai um pouco além. OCódigo de Fornecedores prevê fiscali-zação e realiza auditorias com todosos fornecedores de sua marca própriae os resultados são divulgados ao pú-blico, o que é um grande avanço. Emum grande número de fornecedores emáreas consideradas vulneráveis parapráticas não desejáveis, como vestuá-rio e brinquedos, os resultados mos-tram que há um grande caminho a per-correr. Mais da metade (52,3%) dosfornecedores foram classificados comoalto risco de violação das regras docódigo. O relatório da empresa diz quesão mais de 7.200 fábricas auditadas,chegando a 13.600 auditorias.

Na relação com parceiros há aindauma preocupação com a valorização dolocal onde a loja está instalada e a en-trada de pequenos fornecedores nasgrandes redes. No Wal-Mart Brasil foiinstituído um planejamento específicopara garantir que nos 17 estados ondepossui lojas haja uma busca de produ-tos regionais. São 25 escritórios decompras regionais e a empresa divul-ga que possui mais de 5 mil fornecedo-res no país, sendo que destes cerca demil são regionais, presentes em todosos Estados onde há lojas do Wal-MartBrasil. No Paraná o bom exemplo está

no programa permanente de apoio àprodução, qualificação comercializa-ção de produto perecíveis, principal-mente de pequenos e médios produto-res. Naquele estado estão cadastrados90 fornecedores que representam 350famílias de produtores beneficiadas, jáque o supermercado faz a compra dire-ta do produtor que possui garantia deorigem e qualidade.

No Carrefour também são realiza-das auditorias, mas a divulgação res-tringe-se a 75 auditorias em três paí-ses – Índia, China e Bangladesh – se-gundo o Relatório de Sustentabilida-de Internacional.

TRABALHADORESNa rede Wal-Mart os funcionários

são chamados de associados. Hoje sãomais de 50 mil no Brasil. Eles contamcom benefícios comuns na maioria dasempresas, mas o Relatório Social des-taca que além disso as possibilidadesde carreira são muitas. Cerca de 80%das pessoas que assumiram posiçõesde liderança no último ano são associ-ados que começaram trabalhando emcargos operacionais.

Há um Programa de Diversidadedentro da empresa que tenta estimularo potencial de todos os indivíduos, ouseja, oportunidades iguais indepen-dente de gênero, cor ou crença. Osassociados com deficiência podem atu-ar em todas as áreas e assumir qual-quer nível hierárquico. Há também oPrograma de Valorização da Mulher,que prevê a participação igualitária damulher nas políticas salariais e cresci-mento de carreira. Isso depois que umadas maiores ações judiciais nesta área,em 2001, reuniu 1,6 milhão de funcio-nárias e ex-funcionárias alegando queo Wal-Mart favorecia os homens quan-to a salários e promoções.

A empresa participa dos progra-mas Primeiro Emprego e de Aprendiza-gem, oferecendo vagas para jovensentre 14 e 24 anos que estejam em cur-sos técnicos e sem experiência profis-sional. A contratação de pessoas daterceira idade tem como exemplo a equi-

NÚMEROS- Os investimentos das redes de su-

permercados cresceram 85,1% entre

2004 e 2005, evolução que deve ficar

em 63% neste ano.

- O número total de lojas au-

mentou 1,3% no período, para

72.884 unidades.

- O quadro de funcionários cresceu

1,6%, totalizando 800.922 trabalhado-

res.

- As lojas de 250 metros qua-

drados representam 45,6%

do total em operação no

País. Isso já tinha ocorrido

em 2004, quando a partici-

pação de lojas com esse

perfil atingiu 42%.

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ESCiente de um crescente problema com a obe-sidade, o governo da Inglaterra intensificou suapreocupação com a saúde alimentar da sua po-pulação. Embora as etiquetas forneçam infor-mação nutricional, os consumidores pouco utili-zam estes dados-muito complexos- para fazeruma escolha consciente.

Por isso os britânicos desenvolveram um sis-tema baseado no “sinal de trânsito”. O produto éavaliado pela entidade governamental de padrõesde alimentação sob os aspectos: gorduras, gor-duras saturadas, açúcar e sal. A cor vermelhaindica “excesso” e a verde que “dentro dos pa-drões”.

A rede de supermercados Sainsbury ado-tou o esquema em alguns dos produtos de sua

Etiqueta nutricional:exemplo inglês

Page 19: Revista 4

19Todos podem

Com duas lojas na cidade de Jequié (BA) e cerca de 200 funcionári-os, o Supermercados Cardoso desenvolveu um projeto de inserção daResponsabilidade Social na própria gestão em julho de 2005. A estrutu-ra organizacional foi modificada, sendo inserido o setor de Desenvolvi-mento Humano e Responsabilidade Social Empresarial. Os principaisobjetivos incluem a discussão de como a organização pode contribuirpara o cumprimento das Metas do Milênio e do Pacto Global, assegurara disseminação da Missão. Visão, Princípios e valores por todos ospúblicos com os quais interage, de forma especial para o Público Inter-no e disseminar os conceitos da RSE para todos os trabalhadores cons-cientizando sobre as necessidades de incorporá-los às atividades, desdeo planejamento estratégico até o operacional. Além disso, o setor discu-te as variáveis propostas pelos Indicadores do Instituto Ethos e conven-ce aqueles chamados de “descrentes” a respeito do assunto. A empre-sa é também associada ao Instituto Akatu – Pelo consumo consciente,junto com as redes Carrefour e Pão de Açúcar.

Foi criado um Comitê de RSE a partir da necessidade de envolver ocorpo de trabalhadores e os stakeholders externos (fornecedores, clien-tes, sindicatos, comunidade). Nas reuniões do Comitê, há um espaçodiálogo onde todos têm a oportunidade de falar e colocar as suas opini-ões, respeitando os colegas, escutando e agindo sempre com inten-ções claras. Essa mudança foi reconhecida pelo Prêmio FGV-EAESP deResponsabilidade Social no Varejo, na categoria média empresa.

Um dos projetos de maior destaque entre as ações sociais da em-presa está a que promove as doações de sangue. Mas a empresa atuacom coleta seletiva, atenção à saúde e educação e preservação do meioambiente.

pe “Senhoras de Atendimento”. Emdiversas unidades mulheres acima de45 anos escutam sugestões e críticasdos clientes ou ajudam na escolha deum produto.

No Grupo Pão de Açúcar não háuma política específica para contrata-ção de mulheres e negros, por exem-plo. Mas, segundo a gerente, num le-vantamento realizado no ano passadoconstatou-se que a diversidade entreos 70 mil funcionários é alta. O índice éde 18,84% de mulheres nos cargos dechefia. Esse índice na rede Wal-Mart éde 35,73% de mulheres nas gerências.No caso de contratação de negros, osvalores se invertem um pouco. Na redeWal-Mart os negros assumem 11,65%dos cargos de chefia, enquanto no Gru-po Pão de Açúcar esse número é de12,91%.

No caso das pessoas com defici-ência, o Pão de Açúcar assume que étrabalhoso conseguir atingir os 5% dalegislação, porque falta capacitação

para elas. O departamento de Recur-sos Humanos criou um programa es-pecial para recrutamento e treinamen-to destas pessoas. “Ao mesmo tempoestamos com um amplo cronograma dereformas das unidades para nos adap-tarmos às suas necessidades. A aces-sibilidade é uma questão que não erapensada há 20, 30 anos atrás. Hoje es-tamos reformulando corredores e en-tradas”, diz Sônia.

Assim como o Wal-Mart, o Pão deAçúcar também faz parte do projetoJovem Aprendiz, que contrata estudan-tes como o primeiro emprego. No anopassado 2386 jovens participaram dosprogramas. No caso dos idosos, a em-presa começou a contratá-los para car-gos específicos. Hoje as pessoas nes-ta faixa etária já estão fazendo carreirae assumindo cargos em qualquer setorda empresa.

A preocupação dos trabalhadorese sindicatos em relação à automatiza-ção é crescente, por conta da implan-

Fonte: Associação Brasileira de Supermercados (Abras)

- Os cartões de crédito próprios das redes,

os private labels , atingiram o maior índi-

ce de participação já registrado: 17,3%,

contra 13,2%, em 2004.

www.eatwell.gov.uk

própria marca. O sistema funcionou, já que oconsumidor mudou seu padrão de consumo. Oexemplo mais claro foi com a comida pronta con-gelada “chicken marsala”, que teve uma redu-ção de 40% nas vendas.

Parte da indústria de alimentos vê com des-confiança esta tendência. Segundo os jornaisbritânicos, grandes grupos como Kellog’s, Kraft,Nestlé, Danone e Pepsico se uniram e estãolançando uma campanha publicitária feroz paradesqualificar a iniciativa alegando que a quanti-dade diária para uma dieta padrão (como co-nhecemos aqui no Brasil) é uma alternativa me-lhor.

O governo inglês, que desenvolveu a inicia-tiva e promove sua adoção voluntária, ameaçalegislar caso não haja compromisso suficienteem orientar o consumidor para padrões saudá-veis na sua alimentação.

- O pagamento em dinheiro perma-

nece em primeiro lugar, mas a par-

ticipação caiu de 32% em 2004, para

29% em 2005. Os cartões de crédi-

to de terceiros mantiveram-se em

segundo lugar, com 19,4% dos pa-

gamentos.

- Aumento de contratações de pesso-

as com necessidades especiais e de

terceira idade, que cresceram 72% em

relação a 2004. O maior investimento

nesse segmento foi em alimentação,

seguido por cultura e educação.

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2020

SUPERRESPONSÁVEL

tação de check-outs cada vez mais sim-ples e que futuramente poderiam atépermitir o auto-atendimento de formageneralizada.

A presidente da Confederação Na-cional dos Trabalhadores no Comér-cio e Serviços (Contracs), LucileneBinsfeld, diz que foi aberto o diálogocom o Ministério do Trabalho para dis-cutir automatização. "Existe preocupa-ção porque as intenções de oferecerauto-atendimento estão ganhando for-ça e o acúmulo de funções é visível. Aautomação causará problemas. A tec-nologia deve existir em prol das pes-soas". Uma das conquistas recentes éa construção da Norma Regulamenta-dora (NR 17) que prevê a humanizaçãodos check-outs, oferecendo equipa-mentos ergonomicamente corretos aosprofissionais.

No Pão de Açúcar existem testesneste sentido, mas segundo a gerentede marketing a tecnologia serve paraoferecer mais conforto, ser mais ágil epoder oferecer mais serviços ao públi-co e não para substituir as pessoas.“O consumidor gosta de ser atendido,gosta de comentar, de perguntar, detrocar idéias e de receber informações.Temos as opções para quem prefererapidez e não vêm ao supermercado,

por exemplo, como as compras por te-lefone ou via internet (delivery)”, con-ta ela.

O Grupo está sempre buscandonovidades tecnológicas, mas para me-lhorar os serviços. “Diferente da indús-tria, o varejo, o supermercado lida compessoas e o atendimento deve ser feitopor pessoas, essa é a política da empre-sa”, compara Sônia e resume: “Nos su-permercados as pessoas encontram ami-gos, vizinhos, querem buscar informa-ções dos produtos”.

DIFUSÃO DA RSEEntre as contribuições de organi-

zações para difundir o tema entre ossupermercadistas, podemos destacaro Prêmio FGV-EAESP de Responsabi-lidade Social no Varejo, que reconheceações desenvolvidas por empresas doramo em todo o país. Em 2006, na ter-ceira edição do prêmio, foram 99 proje-tos inscritos e um dos ganhadores, nacategoria média empresa, foi o Super-mercados Cardoso. Ao inserir a RSEna gestão do negócio, os proprietári-os de duas lojas em Jequié (BA) en-volveram todos os seus stakeholders(públicos com os quais se relacionam).

A coordenadora técnica do Progra-ma de RSE no Varejo diz que este in-

1. Ao entrar na loja o cliente mostraseu cartão de fidelidade. Um leitorde código de barras portátil é libe-rado.

2. O cliente vai às compras e sele-

centivo colabora mais principalmentecom pequenas e médias empresas, jáque na maioria das grandes os meca-nismos de implantação de RSE fazemparte da gestão. “Algumas áreas, comoa contratação de pessoas com defici-ência e mesmo jovens para o primeiroemprego, seguem a legislação. Mas te-mos cada vez mais preocupação comquestões ambientais e de cuidados nahora da contratação de fornecedores,o que significa uma difusão em cadeia”,diz Roberta Cardoso.

A Fundação criada pela Associa-ção Brasileira de Supermercados(Abras) mantém diversos cursos queabordam a responsabilidade social emdiferentes setores dos supermercados.Segundo o gerente Marcos Manéa, osempresários estão mais conscientes danova forma de pensar o consumo nomundo inteiro. “O varejo transforma-se num forte pólo de irradiação de ati-tudes socialmente responsáveis. A ten-dência é o reconhecimento do setorvarejista como o grande disseminadorda responsabilidade social”, prevê.

DESAFIOSO papel da liderança das grandes

redes de supermercados pode ir maisalém. Na área de meio ambiente, porexemplo, seria ideal incentivar a cons-cientização do público, promovendo areciclagem no pós-consumo.

No quesito saúde alimentar a in-formação ao consumidor precisa sermais cuidadosa, permitindo que a es-colha seja mais consciente. Na relaçãodos supermercados com os trabalha-dores, a diversidade é um dos passos,mas é preciso abrir as discussões so-bre as inovações tecnológicas e suasconseqüências para o emprego, ampli-ando as conversas com sindicatos erepresentantes. Os fornecedores tam-bém precisam receber mais atenção. Oschamados pequenos produtores pre-cisam ter mais acesso, diretamente ouatravés de cooperativas. assim comoas auditorias precisam ser mais divul-gadas, tornando transparente a rela-ção com o consumidor.

Supermercado da empresa Albert Heijn na pequenacidade de Leusden (Holanda) funciona assim:

ciona um produto que deseja. Como leitor, escaneia o código de bar-ras. O painel do leitor mostra onome do produto e o preço. O cli-ente põe o produto direto na suaprópria bolsa de compras.

3. Quando satisfeito, vai para a cai-xa de auto-atendimento.

4. Na caixa de auto-atendimento ocliente coloca o leitor no receptor.Um monitor mostra o valor a pagare pede selecionar a forma depagamento(Crédito/débito)

5. O cliente passa o seu cartão dobanco, digita a sua senha, retira oseu recibo e vai embora.

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COMBATE À FOME

Com a implantação de um programa específico, o Wal-Mart Brasil proporcionouque se evitasse o desperdício de cerca de 1500 toneladas de alimentos que foramaproveitadas por organizações sociais em 13 estados brasileiros. Este trabalho en-volve a ação de funcionários especializados do Wal-Mart que separam os alimentossem condições de serem vendidos, mas que estão em perfeito estado de consumo.Estes alimentos são coletados por diferentes organizações e bancos de alimentosdiariamente nas lojas e clubes da empresa. Um exemplo é o programa Mesa Brasil- Banco de Alimentos, desenvolvido pelo Serviço Social do Comércio (SESC) e par-ceiro nacional do Wal-Mart, que além de coletar e distribuir os alimentos, treina asorganizações sociais a fazerem uso apropriado destes produtos.

O Wal-Mart Brasil também possui um fundo mútuo de contribuições para comba-ter a fome. Todos os associados (funcionários) podem doar R$ 0,50 por mês direta-mente da folha de pagamento. O Wal-Mart dobra o valor doado pelos associados. Aquantia arrecadada é convertida em alimentos, comprados a preço de custo e doa-dos para os bancos de alimentos parceiros da empresa.

BONS EXEMPLOSCARAS DO BRASIL

O Grupo Pão de Açúcar mantém oPrograma Caras do Brasil, que introduznas prateleiras dos supermercados pro-dutos elaborados por grupos e organi-zações que defendem o meio ambientee lutam contra os problemas sociais. Ali-mentos, produtos de beleza e peças ar-tesanais de todo o Brasil são levadosaos grandes centros consumidores,numa forma de valorização da culturalocal. Ao proporcionar a comercializaçãode produtos de manejo sustentável eestimular o consumo consciente em to-das as regiões onde atua – 13 estadosbrasileiros e Distrito Federal – o Carasdo Brasil possibilita às pequenas comu-nidades um canal para escoar sua pro-dução. Hoje são mais de 300 itens em36 lojas do Grupo, vindos de 71 fornece-dores de 19 estados brasileiros. O es-tágio inicial é promissor.

Os principais beneficiários são ospequenos produtores, porém empresasmelhor organizadas e estabelecidas po-derão participar do Programa, desdeque respeitados os limites de forneci-mento de seus produtos e tendo comobase a capacidade produtiva dos proje-tos comunitários, de acordo com os cri-térios do Grupo Pão de Açúcar/Progra-ma Caras do Brasil.

A preocupação constantecom a qualidade dos produtosvendidos fez com que o GrupoCarrefour criasse o selo Garan-tia de Origem, presente em vári-os produtos nos hipermercadosCarrefour e supermercadosChampion. Esse selo de quali-dade pioneiro vem sendo implan-tado no país há quatro anos, em40 produtos perecíveis divididosnas seguintes categorias: frutas,verduras e legumes, peixes ecarnes, queijo e arroz.

O Garantia de Origem é umaestratégia que o Carrefour encon-trou de privilegiar os fornecedo-res, com a garantia da venda di-reta ao grande varejo, sem inter-mediários. Os consumidores sãofavorecidos porque é feito umacompanhamento dos produtos

GARANTIA DE ORIGEM

desde sua origem.O Carrefour realiza uma audi-

toria que visita regularmentecampos de cultivo, pastos e gran-jas e fiscaliza todos os aspectosde plantio, colheita, controle depragas, pasto, abate, armazena-mento, etc. Os auditores obser-vam também os aspectos quedizem respeito à situação dosempregados: se as leis trabalhis-tas são cumpridas; se não há tra-balho infantil; se os uniformes sãoadequados; se usam produtos no-civos à saúde; se estão recebendotreinamento adequado quanto àhigiene, manuseio de máquinas,manipulação dos alimentos e ou-tros. A auditoria leva em conta, ain-da, na pontuação dos fornecedo-res, o trabalho social realizado comos empregados e a comunidade.

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22

Opinião

O endividamento é algo inerente à sociedade de consumo. Para consu-mir bens e serviços ou para expandir negócios (como o último PrêmioNobel da Paz nos lembrou), o acesso ao crédito é uma questão fundamen-tal em qualquer sistema econômico e social moderno.

Contudo, temos visto recentemente um ambiente selvagem de ofertade crédito e indução ao endividamento que está colocando os consumido-res em risco. Nos piores casos, leva as pessoas a uma espiral de listasnegras, juros e dívidas que acaba por arruinar financeira e socialmente asfamílias.

Esse mercado irresponsável de crédito é resultado, grosso modo, daconjunção de três fatores. Primeiro, a facilitação exacerbada, senão induzi-da, do acesso ao crédito para o consumo. Nos grandes centros, mesmosem solicitar, as pessoas são abordadas nas ruas e lojas. Anúncios emtelevisão, rádio e jornais alardeiam a incrível eficiência com que o crédito éaprovado. Mais que isso, sem que o consumidor peça, instituições finan-ceiras “presenteiam” os consumidores com crédito.

Em segundo lugar estão as exorbitantes taxas de juros. Mesmo as me-nores taxas, as do crédito consignado para os aposentados, são abusivasse considerados os padrões de países de nível sócio-econômico semelhan-te ao Brasil.

Por fim, a exclusão e a fragilidade sociais de grande parcela da popula-ção geram um contexto em que qualquer possibilidade de acesso ao mer-cado de consumo seja encarada com voracidade e onde qualquer impre-visto, como desemprego, doenças ou acidentes, leve as pessoas ao supe-rendividamento.

O resultado acaba por ser situações de endividamento insustentáveis.As operações de crédito à pessoa física aumentaram em 80% entre 2003 ejunho de 2006, enquanto a renda dos trabalhadores cresceu apenas 17%.Em outubro de 2006, a pesquisa da Federação do Comércio de São Paulomostrou que a inadimplência atingiu 41% e o comprometimento da rendados endividados ficou em 34%. Outros dados mostram situações aindamais drásticas.

São, portanto, urgentes ações que promovam o crédito responsável, ouseja, o crédito no qual a concessão se dá de forma criteriosa e competitiva;em que as escolhas são feitas com informações claras sobre as condiçõese as conseqüências – dentro das regras estabelecidas pelo Código de Defe-sa do Consumidor – e onde existam mecanismos que permitam que aspessoas saiam de situações extremas sem implicar sua ruína.

Para que efetivamente cheguemos a esse ambiente, todos devem assu-mir suas responsabilidades. As instituições devem informar melhor e sercriteriosas na concessão de crédito. O consumidor não deve se iludir porprestações baixas, pois as taxas de juros podem causar a explosão da dívi-da. E, principalmente, o governo deve regulamentar a oferta de crédito ecriar mecanismos de recuperação financeira aos consumidores.

Coordenadorainstitucional doIDEC - Institutode Defesa doConsumidor

MARILENA LAZZARINI

Crédito responsávelna visão do consumidor

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Qualidade na vidaMUNDO DO TRABALHO

Um quarto da força de trabalhobrasileira é de jovens entre 16 e 24anos. Pelo menos nas seis regiõesmetropolitanas pesquisadas peloDIEESE: Belo Horizonte, Porto Ale-gre, Recife, Salvador e São Paulo. Aconclusão é da pesquisa A ocupa-ção dos jovens nos mercados de tra-balho metropolitanos, elaborada em2005. A população jovem, entre 16 e24 anos, somava 6,5 milhões de pes-soas, correspondendo a 23,8% dapopulação acima de 16 anos resi-dente nestas áreas. Deste contin-gente, grande parte - 4,6 milhões -fazia parte da força de trabalho local,na condição de ocupados ou de de-sempregados. Em outras palavras,os jovens têm expressiva presençana População Economicamente Ati-va (PEA) com mais de 16 anos, re-presentando 25% dos trabalhadores.

Essa presença, entretanto, não setraduz em fácil inserção no mercadode trabalho. Pelo contrário, de acor-do com os dados da PED – Pesqui-sa de Emprego e Desemprego – osjovens enfrentam grandes dificulda-des para entrar no mercado de tra-balho. Quando ocupados, suas in-serções variam em função da rendafamiliar, da possibilidade de freqüen-tar escola, ao setor de atividade eco-nômica em que trabalham, a formade inserção, rendimentos, jornada detrabalho e região de domicílio. Porisso, os pesquisadores aconselhamaos programas que buscam incluirou formar jovens para o mercado detrabalho que levem em consideraçãoas desigualdades de oportunidadessegundo a condição familiar destesegmento da população.

Entre aqueles que estão empre-gados e têm mais de 16 anos (15,2milhões), os jovens representaramuma proporção de 20,7%, totalizan-do 3,2 milhões de pessoas. Um per-fil geral indica que o jovem ocupadoé do sexo masculino, possui ensino

COMEÇAR DENOVO

O número deaposentados quevolta ao mercado detrabalho é cada vezmaior. Alunos do cur-so de Psicologia daUFPA (Universidadedo Pará) realizaram apesquisa “Retornoao trabalho remune-rado entre aposenta-dos: alguns fatorespsicossociais” econcluíram que aquestão financeiranão é o principal mo-tivo desta volta. Oaposentado sente,principalmente, ne-cessidade de sesentir produtivo, atu-alizado, de passarexperiência para osmais jovens e deampliar o círculo deamizades e convivercom outras pessoas.Um questionário foiaplicado a 32 apo-sentados, com ida-des entre 54 e 76anos, com 11 anosde aposentadoria,em média, e tempomédio de seis anose meio de volta aotrabalho.

Fonte:Informativo Beira doRio, da UniversidadeFederal do Pará, no 38.

85milhões de jovensem todo o mundocom menos de 25anos procuramemprego e nãoconseguem. Issosignifica que no fimde 2005, o desem-prego juvenil era de13,5%, de acordocom o relatório so-bre a evolução doemprego juvenil nomundo, apresenta-do pela Organiza-ção Internacionaldo Trabalho (OIT).

Força jovem

médio completo, tem dificuldade deconciliar trabalho e estudo, desen-volve suas atividades no setor deserviços, cumpre uma extensa jor-nada de trabalho (acima de 39 ho-ras em todas as regiões analisa-das), é assalariado e tem carteira detrabalho assinada. O rendimento émuito variável, situado entre um edois salários mínimos.

Se for considerado o grupo derenda familiar onde este jovem ocu-pado se encontra, entretanto, é gran-de a desigualdade de oportunidades.Os jovens que pertencem às famí-lias mais pobres ficam muito abaixodo perfil geral: a maioria trabalha enão estuda, possui o ensino funda-mental incompleto e recebe rendi-mentos médios inferiores a um sa-lário mínimo. Já os jovens oriundosdas famílias com melhor poder aqui-sitivo apresentam condições acimado perfil médio, apesar de tambémrevelar traços preocupantes como aextensa jornada de trabalho.

Para os pesquisadores do Diee-se, é clara a influência da condiçãode renda da família sobre o perfilocupacional dos jovens. A partir des-sa constatação, é importante a ela-boração de políticas públicas que,de um lado, promovam uma melhordistribuição da renda no país e, deoutro, busquem o equilíbrio entre aformação escolar e profissional e ainserção do jovem no mercado detrabalho.

A pesquisa foi publicada no bo-letim “Estudos e Pesquisas nº 24”do Dieese e foi realizada em parce-ria com a Fundação Sistema Esta-dual de Análise de Dados (Seade),Ministério do Trabalho e Emprego/FAT e governos locais. O estudo com-pleto pode ser acessado na páginado DIEESE:

http://www.dieese.org.br/esp/estpesq24_jovensOcupados.pdf

25% da PopulaçãoEconomicamente Ativa (PEA)tem entre 16 e 24 anos

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25

Cerca de um bilhão de tra-balhadores da Ásia (mais decinco vezes a população inteirado Brasil) recebem menos dedois dólares por dia. Um traba-lhador brasileiro compraria, comeste valor, apenas um quilo defrango. Um bilhão de asiáticosvivem abaixo da linha da pobre-za, de acordo com relatório daOrganização Internacional doTrabalho (OIT). Destes, 330 mi-lhões não chegam a receber umdólar diário.

Os dados foram apresenta-dos no relatório “Alcançar otrabalho decente na Ásia” eapontam para outra situaçãograve: o forte crescimento docomércio, dos investimentos eda produção registrado naque-le continente não foi suficientepara responder ao aumento daforça de trabalho e enfrentar ocrescente desemprego. Na pró-xima década, 250 milhões depessoas estarão à procura deemprego naquela região.

Atualmente, cerca de 1,9 bi-

Desafio asiático: criar empregoe promover trabalho decente

O crescimento salarial não reflete os ganhos

em produtividade: na China, a produtividadelaboral no setor industrial aumentou 170% en-tre 1990 e 1999, mas os salários reais cresce-ram pouco menos de 80%. Paquistão e Índia tive-ram redução nos salários reais do setor industri-al desde 1990 de 8,5% e 22% respectivamente.

Longas jornadas de trabalho: considerando-seo número de horas de trabalho, as primeirasseis economias do mundo são da Ásia – Ban-gladesh, Honk Kong, Malásia, República daCoréia, Sri Lanka e Tailândia – e uma parcelaimportante da população trabalha 50 horas oumais por semana.

Desigualdade entre os sexos: as trabalhado-ras industriais em Singapura ganham em mé-dia 61% do recebido pelos homens.

Aumento da mobilidade dos trabalhadores: nosúltimos anos entre 2,6 e 2,9 milhões de traba-lhadores asiáticos abandonaram suas casaspara trabalhar no exterior.

Queda desigual no trabalho infantil: entre 2000e 2004 na Ásia e no Pacífico o número de traba-lhadores infantis entre 5 e 15 anos reduziu-seem 5 milhões. Mas na região ainda há 122,3milhões de crianças trabalhando, 64% do totalmundial.

Saúde e segurança laboral: cerca de 1 milhãode trabalhadores morrem anualmente na Ásiadevido a acidentes e doenças relacionadas como trabalho.

Uma deficiência em representação: a partici-pação nos sindicatos oscila entre 3% e 8% daforça laboral em países como Bangladesh, Tai-lândia, Malásia e a República da Coréia, e en-tre 16% e 19% na Nova Zelândia, Austrália eSingapura. A participação nos sindicatos é maisbaixa em países onde são maiores o setor in-formal e o agrícola. As organizações de empre-gadores também enfrentam desafios como acrescente diversidade de empresas e a maiorpresença de multinacionais que, com freqüên-cia, não estão afiliadas às federações nacionais.

Outros problemasidentificados pela OIT

lhão de mulheres e homens tra-balham na Ásia. De acordo coma OIT, a diferença entre o cresci-mento da população ativa e a cri-ação de novos empregos pro-duz um déficit de trabalho de-cente e freia os esforços para re-duzir a pobreza.

Os jovens sofrem o maiorimpacto desta situação: em 2005,48% de todos os jovens desem-pregados do mundo estavam naÁsia, ou seja, 41,6 milhões depessoas. O risco de que os jo-vens sejam afetados pelo desem-prego é três vezes superior aodos adultos.

O relatório da OIT foi apre-sentado na 14a Reunião Regio-nal Asiática, onde representan-tes de trabalhadores, emprega-dores e governos dos paísesasiáticos, árabes e do Pacíficose comprometeram a promovera adoção de políticas para ga-rantir que o crescimento econô-mico se traduza em emprego pro-dutivo e trabalho decente paratodos.

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MUNDO DO TRABALHO

O Fórum Permanente de Empresaspara a Inclusão Econômica de Pesso-as com Deficiência, juntamente com oInstituto Paradigma e a Federação dasIndústrias de São Paulo (FIESP), reali-zou uma série de eventos em novem-bro, com o objetivo de sensibilizar oindustrial paulista para os desafiosenfrentados pelas pessoas com defici-ência que buscam inserção no merca-do de trabalho.

O seminário “Empregabilidade dasPessoas com Deficiência como Estra-tégia de Sustentabilidade das Empre-sas” abriu a programação, no dia 13 denovembro, e enfocou esclarecimentossobre a Lei Federal 8.213, que fixa co-tas para pessoas com deficiência. Osparticipantes assinalaram a importân-cia da formação das pessoas com defi-ciência, para que a inclusão no merca-do de trabalho ocorra com competên-cia. O tempo médio de escolaridade dosbrasileiros com deficiência é de 2,4

Empresas paulistasdebatem a inclusão

anos e somente 1% das mulheres des-se grupo concluíram o ensino funda-mental.

Em contrapartida, aqueles que con-seguem exercer uma função produtivafreqüentemente se destacam pela com-petência, dedicação e comprometimen-to. Presidentes e diretores das empre-sas que compõem o Fórum Permanen-te mencionaram várias vantagens quedescobriram ao incluir pessoas comdeficiência em seus quadros, tais comoa maior motivação da equipe e melho-ria da imagem institucional.

Outros seminários, sobre legisla-ção, sensibilização, recrutamento, se-leção, acessibilidade e cultura organi-zacional ocorreram durante o mês denovembro, colocando na pauta nãoapenas a discussão sobre o cumpri-mento de cotas, mas principalmente amudança de cultura, para que haja umainclusão econômica, educacional esocial.

Em Santa Catarina, o Serviço Soci-al da Indústria (Sesi) lançou um pro-grama inédito no país para conhecermelhor as pessoas com deficiência,com o objetivo de escolarizá-las, qua-lificá-las profissionalmente e facilitarsua contratação. Jaraguá do Sul é a pri-meira cidade a fazer parte do progra-ma, que vai atingir todas as regiões doestado, em municípios escolhidos porsua representatividade industrial epela quantidade de pessoas com defi-ciência.

De acordo com os dados do Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE), Jaraguá do Sul tem cercade 11 mil moradores com algum tipo de

deficiência. Ainda segundo o IBGE,estas pessoas em Santa Catarina são14,2% da população total. Apesar des-se número significativo, as indústriascatarinenses têm tido dificuldades parase adequar à exigência da Lei 8.213, queestabelece a necessidade de inclusãode pessoas com deficiência em seusquadros.

A primeira parte do programa con-siste em conhecer quem são essas pes-soas, através de um mapeamento queconta com o apoio dos Correios. Oscarteiros da cidade distribuirão formu-lários em 43.900 domicílios, para quetoda a população responda e devolvaaos carteiros ou no próprio correio.

Após a etapa do mapeamento, quepretende saber onde moram, quais sãoas deficiências, qual o nível de escola-ridade e de qualificação profissional equais as aspirações das pessoas comdeficiência, os interessados serão en-caminhados para o ensino fundamen-tal ou médio, de acordo com suas ne-cessidades.

A próxima etapa é a qualificaçãoprofissional, que será executada peloSenai/SC. Na seqüência será analisa-da a inclusão nas indústrias, a partirdos postos de trabalho existentes quesejam compatíveis com as necessida-des e formação das pessoas com defi-ciência.

Sesi/SC mapeia pessoas com deficiência

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FORÇA PRODUTIVA

O último Censo IBGE informaque 27 milhões de brasileiros, ou14,4% da população do país, apre-sentam algum tipo de deficiência.As estimativas incluem pessoascom deficiências física, motora, au-ditiva, visual e mental, e revelamuma incidência maior no Nordeste(18%), e menor no estado de SãoPaulo (11,4%).

Esses brasileiros têm forte po-tencial produtivo e muito a ofere-cer à sociedade. Além disso, estãoprotegidos por leis de inclusão: aLei Federal 8.213, de 24 de julho de1991, fixa cotas de emprego quevariam de 2% (empresas com 101 a200 funcionários) a 5% das vagas(em empresas com mais de 1000empregados) para deficientes.

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O Brasil é o melhor exemplo no combate ao trabalho escravo em todo omundo, reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) emseu relatório Uma Aliança Global contra o Trabalho Forçado em 2005. Otrabalho coordenado da CONATRAE, comissão responsável pela implemen-tação dessa política, é a grande responsável por esse sucesso.

Além do trabalho incansável dessa Comissão, o Brasil vem demonstrandoinovação, coragem e determinação de seu setor produtivo, ou de pelo menosparte dele, quando anunciamos as melhores práticas empresariais conhecidasinternacionalmente em busca de soluções para a erradicação desse grave pro-blema.

Baseado em estudos da cadeia produtiva do trabalho escravo, a OIT, a OngRepórter Brasil e o Instituto Ethos coordenaram a elaboração de dois PactosNacionais contra o Trabalho Escravo. O primeiro, firmado pelo setor siderúrgi-co em agosto de 2004 e o segundo, assinado em maio de 2005 por mais de 80grandes empresas nacionais e multinacionais que, dentre as inúmeras cláusu-las, comprometem-se a não adquirir produtos oriundos de fazendas que prati-cam esse crime.

Queremos destacar então a exitosa experiência da Associação das Siderúr-gicas de Carajás (Asica), que assinou o primeiro acordo. A Associação criouem 2004 o Instituto Carvão Cidadão (ICC), uma Ong cujo objetivo principal éerradicar o trabalho escravo em sua cadeia produtiva. Já foram realizadas 945fiscalizações independentes nas carvoarias que alimentam os fornos das side-rúrgicas e cancelados 253 contratos de fornecimento de carvão por não cum-prirem as normas trabalhistas e as orientações determinadas pelo Instituto.

Não satisfeito apenas em inibir a prática criminosa no setor, o ICC ainda foimais além: vem promovendo a integração de trabalhadores libertados peloGrupo Móvel de Fiscalização do MTE, identificando, qualificando e estimu-lando que as empresas da ASICA empregassem 53 pessoas resgatadas emcondições de escravos, dando-lhes, pela primeira vez, a oportunidade de umavida digna e livre. O ICC vem dando inúmeros passos à frente como exemplode uma política pública que deveria ser instituída nacionalmente.

Presente em Imperatriz (MA) e Marabá (PA), a Ong ainda encontra resis-tências internas. Não falamos que problemas não existem e que há consensode todas as siderúrgicas quanto à importância do papel do Instituto nessecontexto. Até mesmo porque vem tratando o assunto com a transparência e oconhecimento total da CONATRAE. Ressaltamos, entretanto, que apesar dasdificuldades, o ICC vem exercendo a melhor prática mundial de responsabilida-de social no combate ao trabalho escravo conhecida pela OIT.

Tal exemplo deveria ser seguido por outros setores, principalmente aque-les ligados à produção agropecuária., não importa se por motivações sociaisou até mesmo comerciais. A gravidade do problema do trabalho escravo noBrasil e o descaso de poucos pode de maneira substantiva prejudicar todauma atividade econômica do País, que emprega legalmente seus funcionários,paga impostos, gera divisas e utiliza-se de práticas leais de concorrência pe-rante seus pares.

Aliança combatetrabalho escravo

Coordenadora Nacionaldo Projeto de Combate aoTrabalho Escravo daOIT no Brasil.

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CONDUTARESPONSÁVEL

0O aquecimento globalpassou a ser um dosmaiores desafios dahumanidade. O fura-cão Katrina, em New

Orleans (EUA), o furacão extra-Tropi-cal no Sul do Brasil e a seca na Ama-zônia são sérios avisos. Governos eempresas se mobilizam quando osefeitos econômicos dão claros si-nais. Mas, as conseqüências já co-meçam a ser calculadas, sobretudoos possíveis impactos futuros. Re-centemente, o economista inglês Ni-cholas Stern, ex-economista-chefe doBanco Mundial, através do chamado“Relatório Stern”, calculou que é mui-to mais barato proteger do que re-mediar. No seu estudo, prevê, se oaquecimento global não for reverti-do, pode custar 20% do PIB globalaté 2050. A reversão é uma tarefapara muitos, especialmente paraquem tem mais poder e opera emescala global: as empresas multina-cionais. A relevância das multinacio-nais para os países não se deve so-mente ao seu peso econômico ousua capacidade de gerar empregos– diretos e indiretos –, ou de trazerinvestimentos e gerar tecnologias,mas também pelo alto poder de in-duzir milhares de outras empresas aseguirem determinados modelos deprodução e comercialização.

As Diretrizes da OCDE (Organi-zação para a Cooperação e Desen-volvimento Econômico) para empre-sas multinacionais podem ser enten-didas como uma das ferramentaspara realizar estas ações, com a par-ticularidade especial de que são de-cisões de governos. Outro ponto po-sitivo é que as diretrizes, através doPCN (Ponto de Contato Nacional) –

uma espécie de secretaria criada naestrutura administrativa do governode cada país – transfere o tema daResponsabilidade Social Empresa-rial para um espaço público, ao in-vés de ficar restrita à esfera privadadas empresas ou ongs. Isto possibi-lita o tratamento mais adequado aosdistintos interesses dos segmentosda sociedade. Através da mediaçãodo Estado, os valores e as práticasda responsabilidade social podemadquirir maior grau de institucionali-dade e, por conseguinte, uma maiorlongevidade destas práticas, trazen-do enormes benefícios às futurasgerações. Assim, quebra-se o ciclodas políticas eventuais e fragmenta-das de responsabilidade social parauma fase mais estável e abrangen-te.

Quando nos referimos à respon-sabilidade social das empresas, asboas práticas, normalmente, sãoseguidas rapidamente. Estabelece-

se uma competição em padrõesmais positivos. Neste aspecto, OdedGrajew, presidente do Conselho De-liberativo do Instituto Ethos de Em-presas e Responsabilidade Social emembro do Conselho Internacionaldo Global Compact da ONU, destacao poder dessas empresas e questi-ona: “O faturamento das dez maio-res multinacionais é maior do que oPIB de vários países emergentes.Por que não utilizar esta força finan-ceira e de organização para transfor-mar a sociedade e tornar o nossoplaneta um lugar mais igualitário ejusto?”.

Isto é possível. Imagine a seguin-te situação: as empresas levam emconta na tomada de decisões o im-pacto sobre o meio ambiente. Imagi-ne que as empresas regem-se porpráticas corretas e justas com osconsumidores e respeitam os direi-tos humanos e sociais. Imaginou?Agora, por fim, imagine também seas mais de 9.712 multinacionais ins-taladas no Brasil, de acordo com oúltimo censo oficial do Banco Cen-tral (Bacen) do ano 2000, seguissem,pelo menos, uma parte o que reco-menda as Diretrizes da OCDE. Esti-ma-se que das 500 maiores empre-sas globais, 420 possuem operaçõesno Brasil. No entanto, a realidade indi-ca uma contradição entre a importân-cia econômica dessas empresas eseus limites em termos sociais e am-bientais. É suficiente para exemplificarque, no Brasil, menos de 1% destasempresas publicam os seus BalançosSociais. Isto pode mudar. O crescimen-to do movimento da responsabilidadesocial das empresas no Brasil, embo-ra seja relativamente recente, já é refe-rência internacional.

DIRETRIZES DA OCDETRANSFERE O TEMADA RESPONSABILIDADESOCIAL EMPRESARIALPARA UM ESPAÇOPÚBLICO, SEM FICARRESTRITA À ESFERAPRIVADA DASEMPRESAS OU ONGS.

Odilon Luís Faccio

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DASMULTINACIONAIS

RESPONSABILIDADE SOCIALEMPRESARIAL (RSE)

- Responsabilidade social é, es-sencialmente, como a empresa faz eincorpora as expectativas da socie-dade nos seus negócios. Enfim,como realiza os 99% dos negócios enão o 1% aplicado em ações soci-ais. Assim, distingue-se RSE da fi-lantropia, do marketing e da açãosocial. No caso das multinacionais,adiciona-se ainda que a empresapode atuar de modo diferente nospaíses onde tem filiais em contradi-ção com sua prática no país sede. Asdiretrizes serviriam como um padrãocomum mínimo para atuação dasempresas ao redor do mundo, comoum marco referencial para governose empresas e, assim, para evitar umduplo padrão de conduta.

As diretrizes são importantes paraas multinacionais instaladas no Bra-sil, mas também servem para asmultinacionais brasileiras instaladasem outros países, como a Petrobras,CVRD, Gerdau, Embraco entre ou-tras. Por exemplo, se a empresa bra-sileira instalada na Argentina ou Chi-le não estiver em conformidade comas diretrizes, uma entidade localpode acionar o PCN para tratar daquestão. Oded Grajew, do InstitutoEthos, enfatiza que as diretrizes po-dem contribuir para o avanço do mo-vimento de responsabilidade socialempresarial no país porque “ao ado-tar as diretrizes e levá-las para a ca-deia produtiva nos países onde atu-am, as múltis induzem uma mudan-ça na maneira de fazer negócio e tor-nam-se referência para outras em-

presas e para a própria sociedade.O desafio é fazer com outras empre-sas, que não são transnacionaisnem pertençam à cadeia de valor dasmúltis, também adotem estas dire-trizes e um novo modo de gerir seusnegócios. O Instituto Ethos inclui es-tas orientações da OCDE dentro dosIndicadores Ethos de Responsabili-dade Social”. Oded reforça um argu-mento em favor da RSE. “Levar emconta a RSE significa ampliar possi-bilidades comerciais, gerar divisas,empregos e renda, contribuir para ainclusão de milhões de pessoas auma vida digna”.

Esta visão é compartilhada peloDiretor de Recursos Humanos daempresa do setor químico Basf paraa América do Sul, Wagner Brunini, “Asdiretrizes são muito importantes, namedida que, se propõem a estabe-lecer parâmetros que orientam e ali-nham as ações da organização paraque se obtenha os resultados plane-jados e se mantenha o foco”. Destaforma “contribuem também com ogerenciamento e monitoramento deperformance, garantindo uniformida-de dentro da empresa”. Quando umaempresa já tem sua política de RSEconsolidada, as diretrizes se encai-xam. Um exemplo é a Basf. A empre-sa já possui várias diretrizes, normase estratégias que, no seu conjunto,contribuem para o alcance da suasustentabilidade da empresa, deseus stakeholders (partes interessa-das) e do meio ambiente onde ope-ram. A empresa tem uma estratégiaglobal de atuação e de sustentabili-dade (Estratégia Basf 2015).

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Por isso, Brunini enfatiza: “A exis-tência de diretrizes/políticas que sus-tentam o conceito de responsabilida-de social na Basf demonstra o quãoestratégicos esses instrumentospodem ser para a manutenção dasustentabilidade socioeconômica eambiental responsável de uma em-presa”. A ministra de comércio exteri-or da Holanda, Karien van Gennip,destacou recentemente na conferên-cia internacional do GRI (Global Re-port Initiative), em setembro, em Ams-terdã, que as diretrizes da OCDE fa-zem parte da estratégia holandesade promover a RSE, sendo uma for-ma de “exercer pressão suave” nasempresas. Na Holanda, as empre-sas que querem ser beneficiadaspelos instrumentos de exportaçãoexistentes “têm que afirmar por es-

crito que estão conscientesdas Diretrizes e que as segui-rão da melhor forma possível”.

SOCIEDADE CIVILA importância das diretrizes

da OCDE para a promoção daRSE não é apenas uma opi-

nião do mundo empresarial. Algunssindicatos e ongs têm ponto de vistasemelhante.Fábio Augusto Lins, di-retor do Sindicato dos Químicos doABC (SP) e coordenador da rede detrabalhadores na Basf América doSul, acredita que as Diretrizes podemqualificar e, ao mesmo tempo, modi-ficar o conceito preponderante de res-ponsabilidade social, até então, filan-trópico. “Uma discussão profundasobre as diretrizes pode ajudar asempresas a diminuir suas contradi-ções existentes nos códigos de con-duta e balanços sociais”, afirma.

Para Ciro Torres, coordenador deResponsabilidade Social e Ética nasOrganizações do Ibase (Instituto Bra-sileiro de Análises Sociais e Econô-micas), as Diretrizes podem contri-buir com a responsabilidade socialdas empresas, principalmente para“quebrar com o velho discurso do ‘se-guimos a cultura local’ ou mesmo odo ‘seguimos a legislação local’. Istoseria válido quando se trata de umpaís com um governo autoritário ecorrupto, por exemplo, que permita adestruição do meio ambiente e violeos direitos humanos, proibindo a for-mação de sindicatos e ongs”. JoséDrummond, assessor da Secretaria

de Relações Internacionais da CUT(Central Única dos Trabalhadores),é otimista quanto às possibilidadesdas diretrizes: “Caso sejam adota-das e monitoradas pela sociedade egoverno, têm tudo para colaborar emuito na difusão de umacultura de responsabilida-de social”. Na visão deLisa Gunn, gerente de in-formação do IDEC (Insti-tuto de Defesa do Consu-midor), as Diretrizes daOCDE “servem como fer-ramenta global de respon-sabilidade social empresarial que éadotada formalmente por governos”.

ORIGEM DO PCN NO BRASIL As Diretrizes contêm assuntos

complexos, envolvendo muitos inte-resses econômicos, comerciais e,em particular, expoem a imagem daempresa. Isto dá a dimensão doquanto estas questões são sensíveispara as empresas multinacionais.Em 2002, uma iniciativa dos traba-lhadores contra o fechamento de umaunidade de iogurtes da Parmalat, noRio Grande do Sul, resultou na pri-meira iniciativa no Brasil pela aplica-ção das Diretrizes da OCDE paraEmpresas Multinacionais. Em setem-bro daquele ano, a CUT (Central Úni-ca dos Trabalhadores) levou umareclamação ao governo contra a em-presa Parmalat, por não estar emconformidade com as recomenda-ções da OCDE. Esta iniciativa deuimpulso ao surgimento do PCN Bra-sil. O motivo era o não cumprimentodo artigo 6º do Capítulo 4º das Dire-trizes. O mesmo orientava que a em-presa deveria “fornecer aos repre-sentantes dos trabalhadores e, quan-do apropriado, às autoridades públi-cas competentes, com a devida an-

tecedência, todas as informaçõesque digam respeito à previsível intro-dução de alterações na atividade daempresa, suscetíveis de afetar, demodo significativo, o modo de vidados trabalhadores, em especial, no

caso de fechamento de unidadesque impliquem demissões coleti-vas”. O PCN emitiu um comunica-do reconhecendo que cabe à em-presa a decisão de assuntos cor-porativos, mas, por outro, identifi-cava que a empresa “deixou de ex-plorar alternativas para o fecha-mento da unidade ao não envol-

ver os trabalhadores e as três esfe-ras governamentais (municipal, es-tadual e federal) na fase que antece-deu sua decisão, deixando, portanto,de atender àquela prescrição das Di-retrizes”. Não houve nenhum tipo deconseqüência financeira par a Par-malat, no entanto, issoriscou a ima-gem da empresa.

POLÊMICA: CARÁTERVOLUNTÁRIO

O caráter voluntário e sem podernormativo pode ser uma das causasdo baixo interesse pelas Diretrizes. Aconseqüência é sua enorme depen-dência do bom funcionamento doPCN. Sem um PCN atuante, as Dire-trizes podem ter pouca utilidade prá-tica. Uma polêmica se desenvolveem torno da obrigatoriedade de cum-primento das Diretrizes. Os sindica-tos e ongs querem maior rigor nacobrança das Diretrizes, e muitosgovernos não querem comprar bri-ga com as multinacionais, principal-mente em função da disputa poruma fatia cada vez maior dos seusinvestimentos externos. No momen-to das empresas decidirem em quepaís serão alocados novos investi-mentos, com certeza, o grau de re-

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As Diretrizes são recomendaçõesaprovadas pelos Governos e sãodirigidas às empresasmultinacionais. Estabelecemprincípios e padrões voluntários,com vistas uma condutaempresarial responsável. Osprincípios e padrões contemplam adivulgação de informações,emprego e relações empresariais,combate à corrupção, interesse dosconsumidores, ciência etecnologia, meio ambiente,tributação e concorrência.

As Diretrizes foram elaboradasem meados da década de 70, sob aforma de anexo à Declaração daOCDE sobre InvestimentoInternacional e EmpresasMultinacionais, adotada em junhode 1976. Em 1999 e 2000, asDiretrizes foram objeto de umaampla revisão, da qual o governobrasileiro participou como membroobservador do Comitê da OCDEsobre Investimento Internacional eEmpresas Multinacionais (Cime).

O Cime é o órgão da OCDE quetrata da aplicação das Diretrizes.Convida regularmente o ComitêConsultivo da OCDE para asEmpresas e a Indústria (BIAC), e oComitê Consultivo da OCDE paraos Sindicatos (TUAC), bem comooutras organizações nãogovernamentais, para exprimiremos seus pontos de vista.

A OCDE tem sede em Paris ereúne 39 países industrializadoscom alguns convidados comoArgentina, Brasil, Chile e México.

A importância da OCDE podeser medida pelo tamanho querepresenta: 65% do PIB mundial.A OCDE tem como objetivo ajudarpaíses em seus desafioseconômicos diante daglobalização, com crescimento eestabilidade.

O QUE SÃOAS DIRETRIZES

DA OCDE

ceptividade dos governos locais élevado em questão. Esta questão éuma das mais importantes no de-bate. Na realidade, os sindicatosentendem que a adoção das Dire-trizes não é voluntária e que todosos membros da OCDE são obriga-

dos a segui-las. Para CiroTorres, do Ibase, as Dire-trizes seriam como que umhíbrido, são obrigatórias evoluntárias ao mesmo tem-po. “Os governos são obri-gados a divulgar e fazercumprir as Diretrizes. Con-

tudo, seu maior poder está em se-rem utilizadas pela sociedade comouma ferramenta política, visando aimagem das grandes corporaçõesmultinacionais”. Os movimentos so-ciais organizaram uma rede interna-cional para acompanhar a aplicaçãodas Diretrizes, a OCDE Watch, que,no Brasil, é coordenada pelo Ibase.

PAPEL DO GOVERNOÉ responsabilidade do Estado

colocar o PCN para funcionar de ver-dade. Contudo, somente com a soci-edade civil agindo de forma organi-zada e desenvolvendo estratégiasconjuntas de ação, poderá equilibraro poder e a responsabilidade dasgrandes multinacionais. Para OdedGrajew, do Ethos, como os governossão os parceiros locais da OCDE,portanto, eles podem realizar umgrande número de ações em nomeda organização. Na visão do IDEC, ogoverno brasileiro deveria estimularo cumprimento pelas empresas,como, por exemplo, mecanismos deverificação, declaração pública deadesão e audiências públicas. CiroTorres, do Ibase, sugere uma medi-da eficaz: “O Ministério da Fazenda(onde está o PCN) poderia enviar

uma carta para todas as multinacio-nais no Brasil sugerindo fortementeo cumprimento das Diretrizes, comum link para o site do PCN e um CD-Rom contendo a íntegra das Diretri-zes, manuais e documentos”.

MEIO AMBIENTEEm relação ao meio ambiente as

Diretrizes trazem importantes reco-mendações. Entre elas, destaca-seespecialmente aquela que recomen-da que as empresas devem avaliar eter em conta na tomada de decisõeso impacto previsível sobre o meioambiente. Mário Menezes, coordena-dor de Certificação Agropecuária daentidade Amigos da Terra, admite quealgumas empresas têm essa preo-cupação, agora é preciso mudar o pa-radigma de produção. Sua visão é deque antes as empresas avaliavam aterra onde estavam, mas cada vezmais deve ser considerado o custodo uso dos recursos naturais: “Em-presas que fazem questão de mudaras formas de produção, não apenasum departamento que cuide de meioambiente”. Dá como exemplo o casodas grandes compradoras de soja .Elas decidiram que nos próximosdois anos não comprarão produçãoda Amazônia. O desmatamento hojejá chega a 700 mil km2, mas ¼ estáabandonado, já que refertilizar a áreaé muito caro. Segundo ele é precisoque as empresas contabilizem oscustos do desgaste da natureza.

CORRUPÇÃOHoje, o combate à corrupção é im-

prescindível para o Brasil se tornarum país digno e justo. Há corruptose corruptores. Neste aspecto, as Di-retrizes recomendam que as empre-sas não devem direta ou indireta-mente oferecer, prometer, dar ou so-

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licitar pagamentos ilícitos ou outrasvantagens indevidas para obter ouconservar negócios ou outras vanta-gens ilegítimas. Não deverão igual-mente ser solicitados às empresas,nem ser delas esperados, quaisquerpagamentos ilícitos ou outras vanta-gens indevidas. Sobre este assuntonada foi feito no âmbito das Diretri-zes. Agora, muitas batalhas contra acorrupção estão sendo travadas.Uma delas é o Pacto Empresarialpela Integridade e Contra a Corrup-ção, lançado em julho deste ano, naconferência nacional do InstitutoEthos, mas que teve apenas 285 ade-sões até meados de outubro. Des-sas, cerca de 10% são de multinaci-onais.

DIÁLOGO SOCIALExistem experiências positivas de

relacionamento direto entre empre-sas multinacionais, sindicatos eongs. É o chamado Diálogo Social.São raros os exemplos, porém,quando os conflitos não acabam,através do Diálogo Social passam aser tratados com civilidade e, quan-do é efetivo, traz significativos resul-tados. Provavelmente, um dos me-lhores exemplos é o da Rede de Tra-balhadores na Basf América do Sul. ARede foi criada em 1999 e conquis-tou o reconhecimento e o DiálogoSocial com a Basf, reunindo-se re-gularmente a cada semestre. O co-ordenador da Rede, Fábio Lins expli-ca: “Desde 2000 realizamos treze Di-álogos Sociais com a Diretoria de Re-cursos Humanos da América do Sul.A cada dois anos realizamos um ba-lanço, através do Diálogo Social Am-pliado onde também participam re-presentantes mundiais da Basf e domovimento sindical internacional, in-clusive da Alemanha. No último perí-odo, realizamos seminários formati-vos, de dois dias sobre relações tra-balhistas e sindicais para todas as

chefias e gerentes. Discuti-mos a aplicação das normase diretrizes internacionais”.Para Wagner Brunini, Diretorda Basf para a América do Sul,o bom nível de diálogo socialda empresa com os sindica-tos se deve ao fato de que aBasf possui Valores e Princí-

pios globais, amplamente comunica-dos e disponíveis a todos os colabo-

radores: “Um desses Princípios é anossa visão de respeito mútuo e diá-logo aberto”. Para Wagner Brunini, odiálogo social trouxe resultados con-cretos para empresa: “Permitiu à Basfimplementar medidas que certamen-te causariam conflitos na relação en-tre o capital e o trabalho caso nãohouvesse essa base de confiançaestabelecida”. Para o sindicato es-tes avanços foram possíveis devidoos apoios que conseguiram de ongs,das confederações, de sindicatos lo-cais e da Alemanha, como Sindicatodos Químicos (IGBCE), e das cen-trais sindicais como a CUT do Brasil,FNV da Holanda e DGB da Alema-nha.

FUTUROÉ inegável que há um choque de

expectativas entre os atores envol-vidos. Os sindicatos e as ongs de-positam algumas expectativas nasDiretrizes, utilizando a ferramentacomo meio para estabelecer nego-ciações e soluções aos problemas.Por outro lado, parece óbvio quemuitas empresas não apostariamnum espaço onde podem predomi-nar denúncias. As Diretrizes seriammais produtivas se fossem enten-didas, muito mais como possibili-dade de acordos de solução sobredeterminados temas, semelhantesao pacto contra o trabalho escravo.Seria algo como um “plus”, para fa-zer avançar a responsabilidade so-cial acima da lei. A percepção destaoportunidade é essencial para o fu-turo. Nada mais ineficaz do quetransformar as Diretrizes num eter-no “cabo-de-guerra” ou, o que é pior,num instrumento que não traz resul-tados. Os obstáculos a serem su-perados ainda são enormes paraque atinjam suas finalidades. Oprincipal desafio é construir umaagenda do futuro tendo em vista oscomplexos interesses e temas en-volvidos. O governo, através doPCN, pode tornar um espaço de de-bate para promover a conduta soci-almente responsável das empre-sas. Parece pouco, mas, conside-rando que temos quase 10 mil oumais empresas estrangeiras insta-ladas no país, com certeza, seria umavanço extraordinário para transfor-mar nosso país mais justo e sus-tentável.

MULTINACIONAISAs empresas

transnacionais são as

grandes indutoras dos

investimentos diretos

estrangeiros e do

comércio internacional.

Existem 65.000empresastransnacionais nomundo

São 850.000 filiais e

um patrimônio de US$

25 trilhões

São responsáveis por54 milhões deempregos diretos

Geram um

faturamento de US$ 19

trilhões

Abrangem 66% dasexportações mundiais

Fonte:Livro Globalização e InvestimentoEstrangeiro, de Antonio Correa deLacerda.

http://www.fazenda.gov.br/sain/pcnmulti

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33O Sr. acredita em diretrizes volun-tárias?As diretrizes da OCDE para empre-sas multinacionais são um institutorelativamente novo e o seu sucessodepende fundamentalmente do esfor-ço de divulgação empreendido, tantona órbita interna governamental, quan-to na externa, perante a sociedade. Aefetividade das Diretrizes deriva, emgrande medida, de atividades de pro-moção, pois seus dispositivos têmcaráter de recomendação e de princí-pios voluntários, representando ummecanismo instigador de práticassocialmente responsáveis. Assimsendo, o instituto não tem força nor-mativa. No entanto, esse caráter nãovinculante não torna as diretrizes inó-cuas.

Por que tão poucos resultados?Eu discordo. Qualquer juízo de valora respeito da efetividade das Diretri-zes no Brasil deve ser relativizada. Em

Envolvimento de todos

Cada país tem autonomia paraorganizar seus respectivosPCNs. No Brasil, funciona comoórgão interministerial. A coorde-nação é de responsabilidade doMinistério da Fazenda atravésda Secretaria de Assuntos Inter-nacionais e é constituído por di-versos ministérios e órgãos pú-blicos. Ao mesmo tempo, o PCNprocura envolver empresários,organizações sindicais, ambien-talistas, consumidores e demaispartes interessadas, principal-mente as organizações não-go-vernamentais.

Pedro deAbreu e LimaFlorêncioCoordenadordo Ponto deContatoNacional (PCN)- Ministério daFazenda

primeiro lugar, o Brasil é um dos pou-cos países do mundo que contamcom esse instituto. Dentro da Améri-ca Latina, somente Brasil, Argentina,México e Chile são signatários dasDiretrizes. Só esse fato já é um avan-ço digno de nota. Em vários paísesdo mundo, até o presente momentonão foi recebida nenhuma denúnciareferente às Diretrizes, e, em outros,o número de casos analisados émuito baixo, a despeito da existên-cia de pontos focais para a aplica-ção das diretrizes há mais tempoque no Brasil. O PCN brasileiro, atéos dias de hoje, concluiu uma recla-mação e está conduzindo outrasquatro. Deve-se lembrar, além dis-so, que um dos papéis fundamen-tais do PCN é o de conduzir media-ções entre as partes adversas. A ati-vidade mediadora não tem, a priori,prazo ótimo para ser concluída e va-ria caso a caso de acordo com acomplexidade da situação.

Um dos pontos chaves da concre-tização das diretrizes é o bom fun-cionamento do Ponto de ContatoNacional (PCN). O que o governoestá fazendo neste sentido? Quaisos principais obstáculos a seremsuperados?Eu considero que o PCN tem doisproblemas básicos que são, na ver-dade, os seus maiores desafios. Oprimeiro é o baixo grau de institucio-nalização e de formalização procedi-mental do órgão, que demanda umesforço concentrado nesse sentido.O segundo é a sua parca visibilida-de, que pressupõe um intenso tra-balho de divulgação e promoção.Com relação ao primeiro problema,as ações que vêm sendo empreen-didas são as seguintes: elaboraçãode relatórios do órgão em todos oscasos analisados, criação de ummodelo para apresentação de recla-mações ao PCN, elaboração de umarcabouço normativo para balizar osprocedimentos do órgão. Com rela-ção ao segundo ponto, as iniciativassão a reformulação e atualização da

página da internet, exposição em se-minários e encontros, além da cria-ção de uma “mailing list” para divul-gação personalizada de assuntosatrelados ao PCN.

Dá a impressão que os sindicatosenxergam as Diretrizes muito maiscomo um espaço de denúncia emenos como um espaço de diálo-go e negociação; enquanto isto,parece que as empresas investempouco nas Diretrizes. Isto incomo-da o governo? Como superar estasituação? O PCN faz o papel de mediador ce-dendo o espaço para que os setoresdiscordantes possam chegar a umponto em comum. No entanto, nemsempre as partes discordantes es-tão dispostas a sentar à mesa denegociação e abrir mão de posiçõesrígidas para promover um acordo. Aminha percepção como pessoa re-centemente designada para o cargode coordenador do PCN é a de queos sindicatos potencialmente enca-ram o PCN como um importante fó-rum de mediação e que a denúncia,de fato, pode servir como elementode persuasão nesse sentido. Umadas maiores vantagens da mediaçãoé a de evitar o litígio.

Há pouco tempo atrás havia a idéiade constituir um Conselho do PCNcom a participação das empresas,sindicatos e ongs. Esta idéia con-tinua sendo considerada? Isto da-ria mais vida às Diretrizes?Sim, a criação de um foro consultivocom representantes da sociedadecivil continua sendo considerada. Pa-rece-me uma iniciativa adequada, emsintonia com os principais objetivosdas Diretrizes e que, de fato, conferi-ria maior legitimidade às decisõesdo PCN. Antes de discutir a criaçãode um órgão de consulta estamosconcentrando esforços na resoluçãoque regulamenta o funcionamento eos procedimentos do PCN. Comosegundo passo, será discutida a cri-ação do conselho consultivo.

EM ANÁLISEAlguns casos estão sendo analisados pelo PCN em relação à possível não conformidade com as Diretrizes.Saiba mais no site http://www.fazenda.gov.br/sain/pcnmulti/documentos/casos-pcn.asp.

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COMO UMA DASGRANDES INDÚSTRIAS

BRASILEIRAS ESTÁDESENVOLVENDO A

POLÍTICA DERESPONSABILIDADE

SOCIAL TAMBÉM NASSUAS UNIDADES DO

EXTERIOR

Depois de consolidar o temaResponsabilidade Social Empresa-rial dentro do planejamento estraté-gico, a Embraco, líder mundial na fa-bricação de compressores herméti-cos para refrigeração com sede emJoinville (SC), iniciou este ano um tra-balho de implantação do tema nasfábricas e escritórios no exterior. Ostrabalhadores do México, EstadosUnidos, Itália, Eslováquia e Chinaestão sendo ouvidos para levantar osdilemas do dia-a-dia, de acordo coma cultura de cada país. No Brasil jáforam realizados 15 seminários euma consulta a 500 funcionários,desenvolvendo os “Princípios ÉticosEmbraco”.

Em fevereiro deste ano, duranteo Ciclo de Planejamento Estratégi-co, foram definidas cinco principaisfrentes de atuação da política de Res-ponsabilidade Social Empresarial

atuação globalrespeita as culturas

Embraco:

Em 2001 o temaResponsabilidade SocialEmpresarial passou a integrar oplanejamento estratégico daempresa, destacando oaprimoramento da prática comimpacto em sua sustentabilidade.A partir desta decisão, a Embracorealizou no Brasil um fórum

Históricodas ações

Ginástica laboral foi uma das iniciativas adotadas

(RSE) globalmente, que abrangemos procedimentos de gestão da di-versidade, políticas de investimentosocial, elaboração dos princípios éti-cos, inclusão dos indicadores deRSE no modelo de gestão da em-presa e a inclusão do tema nas ou-tras estratégias da empresa. Essasdefinições servem também para pla-nejar as ações nas unidades daEmbraco no exterior. “O nosso gran-de desafio é que não podemos levarnenhum pacote pronto daqui pra fora.Precisamos constatar como é a rea-lidade em cada um dos países paradepois inserir as ações que vão alémdas iniciativas com a comunidade,hoje já existentes em alguns países”,afirma a gestora de Responsabilida-de Social, Rosângela Santos Coelho.

Em uma das frentes, a que incluios indicadores de RSE, o trabalho queestá sendo desenvolvido é junto como Programa Nacional de Qualidade(PNQ). “O modelo de gestão da Em-braco é baseado no PNQ, que reali-za avaliações todos os anos para

RICARDO CORRÊA

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“O nosso grandedesafio é que não

podemos levar nenhumpacote pronto daqui pra

fora. Precisamosconstatar como é a

realidade em cada umdos países para depois

inserir as ações”

garantir níveis de excelência em di-versos procedimentos, mas as áre-as socioambientais não são ampla-mente tratadas neste modelo, porisso solicitamos que a consultoriaem responsabilidade social empre-sarial incluísse seus indicadoresdentro do nosso modelo. Isso já co-meçou e em outubro já foi feita a pri-meira avaliação, em todas as unida-des, incluindo as questões de RSE”,explica Rosângela.

A questão da diversidade é outroponto que está sendo fortementedesenvolvido, porque a organizaçãoacredita que a diversidade vai alémde cor, raça e gênero. “As pessoas

dirigido a todos os gestores, com aparticipação do Instituto Ethos deResponsabilidade SocialEmpresarial e do Instituto Akatu.

Em 2002 foi realizado umdiagnóstico interno com aaplicação dos Indicadores Ethos eatribuiu à Embraco a nota médiade 6,17, acima da média do bancode dados do Instituto, mas mesmoassim ainda com a identificaçãode vários pontos de melhoria comoa estruturação de um plano deação, que já estava emandamento.

Em 2003 a empresa adotoucomo conceito de responsabilidadesocial empresarial: “Adotar umapostura ética e transparente norelacionamento que estabelece comseus diversos públicos e assegurarque não só aspectos econômicos,mas também os ambientais esociais, sejam considerados nessasrelações”. Neste mesmo ano foilançado o Relatório Social 2001-2002, documento agraciado com oPrêmio Balanço Social, promovidopor diversas entidades do setor. Aquarta edição, lançada este ano,

segue parcialmente as diretrizes doGlobal Reporting Initiative (GRI),principal iniciativa mundial depadronização da prestação decontas da sustentabilidade.

Em 2004 a empresa tornou-sesignatária do Pacto Global,movimento liderado pelaOrganização das Nações Unidas(ONU), que procura incentivar asinstituições que aderem ao acordoe consolidar medidas quepromovam inclusão social,sustentabilidade ambiental eredução das desigualdades.

são diferentes e pelo fato de a em-presa estar em diversos países po-demos dizer que a diversidade estáno seu DNA. Mas mesmo assim te-mos o cuidado em cumprir a cota decontratação de pessoas com defici-ência e realizamos parcerias paraqualificar estas pessoas, entre ou-tras questões”, diz a gestora. Ela acre-dita que há diferenças visíveis e asinvísiveis, e nestas últimas é que seencontram as maiores barreiras avencer entre o próprio corpo de funci-onários. Na implantação da políticade gestão da diversidade estão sen-do realizados workshops que já sen-sibilizaram 200 lideranças da empre-

Seminário para elaboração dos princípios éticos na China

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As manifestações espontâ-neas dos funcionários deu res-paldo para a criação do Progra-ma de Voluntariado Embraco(Prove), lançado em 2003 como objetivo de incentivar e orga-nizar as ações ligadas à saúde eà educação, cujo público-alvosão as crianças e adolescentes.Atualmente o Prove tem 100 vo-luntários em trabalhos com 10instituições cadastradas no Pro-grama.

Internamente, as atividadesdos Círculos de Controle de Qua-lidade (CCQs) também contamcom grupos que atuam de ma-neira voluntária na elaboração devários projetos que vão desde asmelhorias de condições de tra-balho a iniciativas com a comu-

nidade local.Na área ambiental, há 13 anos foi criado o

Prêmio Embraco Ecologia, destinado a desper-tar nas novas gerações o respeito pelo meio am-biente e a consciência em preservar os recursosnaturais. Desenvolvido com a rede de ensino, pas-sou a receber projetos e até hoje já foram maisde 448 inscrições com 49 premiações, envolven-do 58 mil pessoas.

NO EXTERIOR – Nas unidades fora do Bra-sil também são desenvolvidas relações com a co-munidade, como o concurso de poesia e as aulasde educação ambiental para crianças e jovensda Itália. Na Eslováquia ainda mantêm-se açõesfilantrópicas com um hospital e na China os fun-cionários-voluntários trabalham com educaçãoem uma comunidade de filhos de presidiários.“São ações que iniciam voluntariamente pelasações dos funcionários e que respeitamos, masagora já temos o levantamento de dados paraimplantar a política de responsabilidade social em-presarial que nos dará excelentes resultados, énossa expectativa”, diz Elaine Arantes.

sa e a meta é que mais 500 funcioná-rios de áreas estratégicas passem porestes cursos para tornarem-se agen-tes da diversidade. “Não é tão fácil, ospróprios funcionários não possuem acultura de aceitar as diferenças nocotidiano. Sabemos que preconceitosexistem em todos os lugares e em to-dos os níveis, em menor ou maiorgrau. O que fazemos é minimizar isso.Até mesmo o processo de seleção erecrutamento está sendo revisto, as-sim como vamos passar por uma re-visão das carreiras”, adianta Rosân-gela.

Em ações concretas, destaca-sea oferta da Embraco de disponibilizarplanos de saúde para companheirose companheiras de casais homosse-xuais, uma continuidade importante jáque há mais tempo as mulheres po-dem colocar os maridos como depen-dentes. Na Europa esta questão é maisavançada do que aqui. Rosângela con-ta que na Itália e na Eslováquia a diver-sidade é um assunto debatido há mui-tos anos e a empresa acompanha isso.

A coordenadora corporativa deRSE da Embraco, Elaine Arantes, re-tornou em setembro de um giro pelasplantas da empresa na Europa e naChina realizando algumas ações delevantamento e de consolidação dosprincípios éticos. Ela conta que os co-laboradores possuem perfil de pes-soas conscientes e preocupadas comquestões globais de desenvolvimen-to sustentável. “Longe da filantropia,os funcionários no exterior estão ci-entes de assuntos como escassez deágua, entre outros, o que facilita o nos-so trabalho”, conta ela, que trouxe nabagagem informações importantespara desenvolver o trabalho de trazera RSE para dentro da empresa. “O fatode ser considerada uma questão es-tratégica é o grande avanço. Temoscerteza que em breve poderemosmostrar um grande retorno no Brasile em todas as unidades da Embraconos outros continentes”, diz.

As relações com a comunidade,que estão dentro do quesito investi-mento social, representam a pontamais concreta da política de RSE, jus-tamente por fazerem parte há maistempo da história da empresa. No ex-terior estas relações ocorrem em for-ma de iniciativas de preservação am-biental, educação e também ações fi-lantrópicas.

Relações coma comunidade

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Ação social emHospital da Eslováquia

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responsabilidade social O novo jeito de fazer negócios

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13,1mil quilômetrosquadrados foramdesmatados naAmazônia entreagosto de 2005 eagosto de 2006, deacordo com estima-tiva do governo. Onúmero correspon-de a uma queda de30% em relação aoperíodo anterior.Este é o segundoano consecutivo dequeda, desde opico de 27.429 qui-lômetros quadra-dos registrados em2003-2004 – o se-gundo maior dahistória.

Sojaresponsável

xistem algumas con-tradições no debate

da cadeia produtiva da soja. A difi-culdade em discutir as sementes ge-neticamente modificadas (OGMs), aausência de países e de representan-tes de produtores da agricultura fami-liar, dos consumidores ou dos traba-lhadores da indústria. Isto ficou evi-dente no Fórum Global realizado esteano em agosto e setembro no Para-guai. Também conhecido como MesaRedonda da Soja Responsável (RTRS,sigla em inglês) é um Fórum que reú-ne países, produtores, indústria, ex-portadores, ongs, varejistas e consu-midores de diversos países.

Princípios debatidos no FórumGlobal dependem da definição decritérios e indicadores objetivos

A participação dos países, agen-tes financeiros e atores sociais aindaé desigual. Os Estados Unidos, maiorprodutor e exportador, e a China, mai-or importador, não estão presentes atéo momento. As empresas, os grandesprodutores, bancos e os traders têmparticipação ativa. As entidades doagronegócio estão bem representadas.Do ponto de vista da agricultura fami-liar, de sindicatos industriais e de con-sumidores, a ausência é significa-tiva. É possível que exista uma certadescrença em relação aos resultadosfinais desse processo.

No Brasil, há poucos exemplos emque um processo negociado com o

IMPACTOSDA SOJA

Os participantesde um seminário téc-nico organizado peloFórum Global sobreSoja Responsável(RTRS) chegaram aum consenso paraindicar alguns im-pactos ambientais esociais da produçãode soja. São eles:

- transformação dohábitat e perda debiodiversidade;- degradação eerosão do solo;- poluição e efeitosdos agroquímicosna saúde ambien-tal e humana emudanças hidró-logicas qualitati-vas e quantitativas;- não cumprimen-to dos direitos dostrabalhadores edos padrões daOIT;- perda dos meiosde subsistênciados pequenosagricultores;- migração;- conflitos pela ter-ra (aquisição ile-gal, violação dosdireitos de uso, edireitos das comu-nidades indige-nas).O debate realizadoentre os participan-tes do workshopvão auxiliar no de-senvolvimento eaperfeiçoamentode critérios e indi-cadores para aprodução, proces-samento e comer-cialização respon-sável de soja.

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setor empresarial resultou em ganhosconcretos para os setores mais fragili-zados. Os bancos privados estão par-ticipando. Do ponto de vista do Brasil,entretanto, há a ausência do Banco doBrasil (BB) que é um dos principais fi-nanciadores da produção de soja.

A 2ª Mesa Redonda ocorreu emAssunção (Paraguai) com o objetivode promover mudanças no sistema deprodução, processamento e comercia-lização na cadeia de valor da soja. Éuma resposta às enormes pressõesdos mercados, dos consumidores, dosgovernos e da atuação de ongs que,cada vez mais, exigem uma produçãosustentável. A “Soja Responsável”poderá ser uma transição do atual sis-tema em direção à sustentabilidade dacadeia de valor. Pretende-se alcançaruma “soja economicamente viável, so-cialmente eqüitativa e ambientalmentesustentável, através da promoção dosefeitos sociais positivos e a mitigaçãodos impactos negativos”. Se a moder-nização do segmento é bem vinda, aexpectativa e que traga resultados paratodos.

Um dos pontos principais do Fó-rum Global é a definição dos princípi-os, que são os compromissos que vãoorientar as mudanças no modelo. Osprincípios procuram atacar de frente osimpactos negativos. Para concretiza-ção dos princípios da Soja Responsá-vel, serão definidos critérios e indica-dores objetivos que vão mensurar emonitorar a evolução das ações apli-cadas.

MUDANÇASOutras questões importantes ain-

da não foram discutidas e decididascomo, por exemplo: a aplicação dosprincípios será adesão voluntária ouobrigatória? Quem vai monitorar a apli-cação dos critérios? Será emitido umcertificado para quem respeitar os prin-cípios e critérios? Quem vai credenciaras certificadoras? Outro elemento cha-ve é qual será o comportamento dosconsumidores dos produtos oriundosda Soja Responsável na hora das suascompras. Portanto, num cenário futu-

ro hipotético, se este movimento daSoja Responsável evoluir, poderá setornar um dos fatores de seleção –inclusão ou exclusão – da moderniza-ção do conjunto da cadeia de valor.

A mudança na cadeia de valor im-plicará custos. É certo que existemtécnicas cujo custo é mínimo. No en-tanto, conforme está escrito no ane-xo da Declaração, “as despesas e car-gas de aderir aos Princípios deverãoser compartilhados eqüitativamenteentre produtores, processadores econsumidores”. O termo eqüitativopode suscitar diferentes interpreta-ções de que os custos serão distribu-ídos de forma igual para todos, inde-

pendente das diferenças que existementre os atores presentes no Fórum Glo-bal. Como distribuir custos iguais paraprodutores tão diferentes? É precisouma definição que deixe mais explícitoque os custos – quando existirem – se-rão distribuídos proporcionalmente àsdiferentes condições dos seus membros,especialmente em relação ao “elo maisfraco” da cadeia de valor. Caso contrá-rio, serão os consumidores e, muito pro-vavelmente, os agricultores familiaresou as comunidades mais tradicionaisque pagarão a maior parte os custosdesta modernização.

Em relação aos direitos sociais e tra-balhistas, citados no anexo da Declara-

Por que o Fórum Global?O Fórum Global é uma iniciativa quemerece atenção pelos seguintes motivos:

Reúne países e atores representativos dacadeia de valor

Os impactos negativos são reconhecidos e hádisposição de solucioná-los através da negociação

Os princípios da Soja Responsável são referênciasimportantes para provocar mudanças no setor

Decisão de criar critérios e indicadores

O comitê coordenador deverá contemplar os diversossegmentos da cadeia de valor

A iniciativa pretende se tornar uma instituição legal

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RESPONSABILIDADE SOCIAL

ção, revela uma visão sobre responsa-bilidade social: “A cadeia de valor dasoja deverá cumprir com todas as re-gulações trabalhistas e as normas daOIT”. Deverá não significa um com-promisso explícito de cumprir o que alei já exige. Aqui não se trata apenasde palavras, mas qual visão de respon-sabilidade social vai predominar.

O cumprimento das legislaçõesnacionais é o mínimo para fazer parteda Soja Responsável. O título de “res-ponsável” deve ser auferido para quemrealiza ações que estejam acima da lei,se não, o termo “Soja Responsável”vai virar mais uma peça de marketing.A Declaração faz menção às normasda OIT (Organização Internacional doTrabalho). Porém, como se trata de Fó-rum Global, seria prudente que fosseincluído no texto, de maneira clara, orespeito à Declaração dos Direitos Fun-damentais no Trabalho da OIT (sãooito normas e quatro direitos): direitosindical e negociação coletiva; não dis-criminação e promoção da igualdade;não ao trabalho escravo e não ao tra-balho infantil. São direitos que garan-tem um patamar mínimo frente à escalaglobal da cadeia de valor da soja.

A transição do atual modelo de pro-dução para um modelo sustentável exi-ge uma combinação de medidas emer-genciais com medidas de longo prazo.A moratória contra o desmatamento naAmazônia, o respeito à legislação na-cional, a proteção às áreas de conser-vação, a proteção de sistemas de sub-sistência e a adesão à Declaração dosDireitos Fundamentais no Trabalho daOIT são alicerces mínimos para as mu-danças reais no modelo de produção.Seria oportuno que, desde já, fosse es-tabelecido um compromisso público dacadeia de valor com os princípios ge-rais como uma condição indispensá-vel para ser parte da Soja Responsá-vel, tendo em vista que a definição doscritérios e indicadores será um proces-so demorado.

Como vai funcionar?

www. responsiblesoy.org

Na estrutura de gestão do Fórum Global, estáprevisto que sua institucionalização ocorra pormeio de um Comitê Coordenador com 15membros no total (5+5+5), sendo: cinco membrosde produtores, cinco da indústria e sistemafinanceiro e cinco das ongs. Na câmara reservadaaos produtores é essencial que se garanta aparticipação de membros ligados à agriculturafamiliar, caso contrário Fórum Global da Soja seráenfraquecido.

Os critérios e indicadores deverão materializar aaplicação dos princípios da Soja Responsável.Serão contratados “experts” para produzi-los numprazo de 18 a 24 meses, com consultas públicas eposterior aprovação pelo comitê diretivo. São váriasquestões envolvidas, entre elas:

Estas questões suscitam maior reflexão sobre aeficácia da aplicação dos princípios e critérios. Aexperiência mostra que não adianta ter um belodocumento que não seja respeitado, mas tambémnão resolve um documento tão genérico que nãomude nada. Outra questão de fundo é sobre qualserá a conduta dos agentes financeiros em relaçãoaos produtores ou empresas da cadeia de valor:eles indicarão adaptações para que possamacessar créditos ou cortarão o crédito de quemagride o meio ambiente e direitos sociais? Quaisserão os benefícios financeiros para quem aplicaros princípios e critérios? Estas opções farão toda adiferença para que princípios da Soja Responsávelsejam concretizados e, com isto, tragam mudançasreais no conjunto da cadeia de valor. É o momentode tomar decisão, porque as regras estão sendodefinidas. Há muitos riscos e oportunidades, tantopara quem participa como para quem não participa.Fazer escolhas nunca é fácil, e as diferentesopções escolhidas sempre trazem enormesconseqüências.

a) se os critérios e indicadores serão obrigatórios(mais rígidos) ou mais promocionais (flexíveis);

b) como será a implantação, um processo demelhoria contínua ou se estabelece um mínimoaceitável (qual é o mínimo? o que é aceitável?);

c) quem vai monitorar e certificar o respeito aosprincípios e critérios?;

d) quem cumprir os critérios, após o monitoramento,terá direito à certificação de Soja Responsável eacesso preferencial nos mercados compradores?

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Reforma ouremendo político

ODED GRAJEW

Presidente do ConselhoDeliberativo do InstitutoEthos de Empresas eResponsabilidade Social,membro do ConselhoInternacional do PactoGlobal; idealizador doFórum Social Mundial;idealizador e ex-presidente da FundaçãoAbrinq (período 1990-1998); membro doConselho deDesenvolvimento Social eEconômico; ex-assessordo Presidente daRepública (2003)

A cada novo escândalo envolven-do políticos, a cada campanha elei-toral, a cada discurso de vitória e deposse, desde que o Brasil reconquis-tou a democracia, reaparece o temada reforma política. Muitas mudançasjá foram feitas mas nenhuma delasinibiu a corrupção nem impediu adegradação da imagem dos políticose a descrença crescente da popula-ção nas instituições e na democra-cia. A promessa da reforma políticaresultou num remendo que procuradeixar intocáveis os fundamentos dosistema político. Por exemplo, a últi-ma tentativa de reforma resultou naproibição dos showmícios. Tudo istopor duas razões: os nossos gover-nantes, que têm o poder de fazer areforma, chegaram ao poder e o exer-cem graças ao atual sistema políti-co. Qualquer mudança mais profun-da pode representar uma grandeameaça às suas carreiras. Por outrolado, a sociedade ainda não tomouconsciência dos péssimos impactossociais e econômicos causados peloatual sistema, e portanto não se mobi-liza para exigir uma reforma para valer.

Para que não tenhamos nova-mente um remendo político diantedas novas promessas de uma refor-ma, é necessária uma profunda re-flexão sobre os objetivos que quere-mos atingir. Creio que a meta deve-ria ser inibir a corrupção na política eter um sistema que coloque o inte-resse público em primeiro lugar, pro-movendo a justiça, os direitos huma-nos e o desenvolvimento sustentá-vel. Neste sentido, se não quisermosnovamente nos enganar, duas medi-das são fundamentais.

A primeira delas é o financiamen-to público de campanhas. É evidenteque os candidatos que chegam aopoder têm que atender prioritaria-mente seus financiadores, por com-promissos assumidos e já de olhonas próximas eleições. Geralmenteas políticas resultantes não são deinteresse público, mas atendem prin-cipalmente o interesse dos financia-dores, na sua quase totalidade per-

tencentes à camada mais rica dapopulação. O assunto é tão delicadoque, no último remendo eleitoral, osparlamentares não quiseram obrigaros candidatos a revelar, no decorrerda campanha, a lista dos doadores.Atender os financiadores e a preocu-pação em garantir os recursos paraas campanhas são também umenorme incentivo à corrupção. Algunsdirão, com razão, que apenas o finan-ciamento público não inibe o apare-cimento de financiamento privadoclandestino. O financiamento públi-co, destinando um valor fixo para acampanha relativa a cada cargo, apublicação diária dos gastos pelaInternet e o estabelecimento de pu-nições pesadas aos infratores torna-riam muita arriscada e quase impos-sível a fraude.

A segunda medida é a substitui-ção dos milhares de cargos de confi-ança, em nível federal, estadual emunicipal, por funcionários de carrei-ra admitidos por concurso público, aexemplo do que ocorre em todas asdemocracias avançadas no mundo.O preenchimento destes inúmeroscargos de confiança, renovados acada eleição, por critérios geralmen-te partidários, pessoais e familiares,tornam a máquina pública extrema-mente ineficiente (o que geralmenteprejudica os pobres que dela depen-dem) e facilita a corrupção (não é àtoa que os cargos que controlam osmaiores orçamentos são os maisdisputados).

É claro que é preciso determinara fidelidade partidária, debater a for-ma do voto (distrital, distrital misto ououtro qualquer), mas se não colocar-mos o dedo na ferida promovendoas duas medidas acima citadas, es-taremos novamente nos iludindo comum novo remendo. Certamente a re-sistência da classe política será,como sempre foi, enorme. Tomaraque a indignação com a corrupção ecom a péssima qualidade dos servi-ços públicos se transforme numaampla mobilização e pressão poruma reforma política de verdade.

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BOA DO XINGU

rio Xingurio Xingurio Xingurio Xingurio Xinguaproximadamente 2 mil e 700 quilômetros de extensãoaproximadamente 2 mil e 700 quilômetros de extensãoaproximadamente 2 mil e 700 quilômetros de extensãoaproximadamente 2 mil e 700 quilômetros de extensãoaproximadamente 2 mil e 700 quilômetros de extensão

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Considerado símbolo da diversidade biológica e cultural brasileira, o rioXingu está ameaçado por um processo acelerado de uso e ocupação doterritório. O desmatamento das suas cabeceiras dobrou nos últimos dezanos e muitas nascentes estão secando, afetando a qualidade de vida de250 mil pessoas, incluindo 18 povos indígenas. Pela proteção e recuperaçãodas nascentes e matas ciliares, foi lançada a campanha “Y Ikatu Xingu –Salve a Água Boa do Xingu”. De forma inovadora, reúne índios,pesquisadores, organizações civis, produtores rurais, movimentos sociaise autoridades. Um exemplo de união para reverter a degradação ambiental.Uma série de articulações, reuniões e debates já resultaram naimplementação de várias iniciativas de proteção e recuperação ambiental.

acampamentoíndios Yudja, numa praia em frente à Aldeia Tuba Tuba

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lagoaAldeia Aiha do povo Kalapalo

vista aéreaAldeia Ipatse do povo Kuikuro

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INCLUIR Novas Tecnologias SociaisINCLUIR Novas Tecnologias Sociais

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Larissa Barros e Michelle Lopes

Orgânicos: ambientee saúde agradecem

Um produto orgânico é o resultadode um processo que tem comoprincípio a sustentabilidade

Seu José chega ao supermercadoe vai direto à seção de frutas e verdu-ras. Quer comprar para sua família al-face com folhas grandes, verdes, bo-nitas. Encontra na gôndola de produ-tos orgânicos. Esta cena resume duasnovidades ligadas à agroecologia.Como costuma dizer o engenheiroagrônomo Aly Ndiaye, foi-se o tempoem que os alimentos cultivados semfertilizantes eram “pequenos e fei-nhos”. Agora, eles são tão bonitosquanto os produtos tradicionais emuito mais nutritivos. Além disso,quando um consumidor compra umorgânico, ele não está levando ape-nas um alimento livre de agrotóxico,mas o resultado de um processo de

produção que temcomo princípio asustentabilidadedo meio ambiente.

O cuidadocom a saúde éapenas uma di-mensão que expli-ca o consumo deorgânicos. “Aquestão é muitomaior. Trata-se dasobrevivência doplaneta. O modelotecnológico atualadotado na agri-cultura não sesustentará por

muito tempo”, avalia o permacultorPaulo Lenhardt, um dos fundadoresda Rede Ecovida e membro do Grupode Agricultura Orgânica (GAO).

A cada dia surgem mais pro-

mil é o número deagricultores brasi-leiros produzindoorgânicos, sendo70% deles familia-res, de acordo comdados da Söl Eco-logia e Agricultura,uma organizaçãonão-governamentalcom sede na Ale-manha

TECNOLOGIASOCIAL

O processo deconexões na agroe-cologia faz com que,na maioria dos ca-sos, a produção deorgânicos estejabastante ligada aoconceito de Tecnolo-gia Social. No âmbi-to da RTS, por exem-plo, pelo menos doisprojetos em anda-mento viabilizam acomercialização dealimentos livres defertilizantes ou agro-tóxicos. São eles:Produção Agroecoló-gica Integrada Sus-tentável, conhecidacomo sistema Pais eCertificação Socio-participativa de Pro-dutos Agroextrativis-tas. Este último foilançado no mês denovembro. Numaparceria, FundaçãoBanco do Brasil, Pe-trobras e Rede GTApretendem contribuirpara o aperfeiçoa-mento de técnicastradicionais de ma-nejo dos recursosnaturais, buscar si-nergias entre institui-ções e produtoresfamiliares e promo-ver articulações nomercado local e na-cional.

dutores orgânicos em função da gran-de demanda do mercado. De acordocom o Sebrae Nacional, o crescimentoestá em torno de 30% ao ano no Bra-sil. As estatísticas oficiais do paísserão obtidas após a implementaçãodos mecanismos de controle estabe-lecidos na regulamentação da Lei10.831/03. Esse é o principal marco le-gal da agricultura orgânica brasileira.“O governo tem trabalhado com osdados levantados em certificadoras ecom as comissões da produção orgâ-nica nas Unidades da Federação”, ex-plica Rogério Pereira Dias, coordena-dor geral de desenvolvimento susten-tável, no Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Diante deste cenário, o governobrasileiro está unindo esforços parainternalizar atividades da rede de pro-dução orgânica. Também serão esta-belecidas linhas de crédito diferencia-das para os produtores e produtoras.“O Ministério da Agricultura tem vá-rias atividades sendo algumas espe-cíficas estabelecidas no Programa deDesenvolvimento da Agricultura Or-gânica, o Pró-Orgânico. A produçãoorgânica é um de nossos objetivosestratégicos”, afirma Dias.

As atividades do Pró-Orgâ-nico deverão ser realizadas até 2007.A expectativa é que seja aprovada acontinuidade do Programa para o Pla-no Plurianual (PPA 2008-2011). Alémdas articulações com o governo e em-presas, os produtores de orgânicosestão cada vez mais organizados emassociações, cooperativas e redes. Al-gumas já se tornaram referência naci-

www.aao.org.brwww.agricultura.gov.brwww.agroecologiaemrede.org.brwww.cnpab.embrapa.brwww.ecocentro.orgwww.ibama.gov.br/ambtecwww.sebrae.com.br

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onal, como a Rede Ecovida, Rede Cer-rado e Articulação Nacional de Agroe-cologia (ANA).

AGROECOLOGIANa modalidade “participativa”,

ocorre um sistema solidário de gera-ção de credibilidade no qual a elabora-ção e a verificação das normas de pro-dução ecológica são realizadas com aparticipação efetiva de agricultores econsumidores. Para a presidente daRede GTA, Maria Araújo de Aquino, acertificação socioparticipativa é umaestratégia de construção da cidadania:“Os próprios grupos locais de produ-tores garantem a lisura uns dos outros.

Se houver qualquer irregularidade,todo o grupo pode ser prejudicado”.Os produtos são encontrados em su-permercados, mercadinhos e feiras.Há ainda uma grande procura por or-gânicos brasileiros no mercado inter-nacional. Mas o escoamento da pro-dução ainda exige aprimoramentos.No Semi Árido brasileiro, os agricul-tores trocam idéias em busca de so-luções. “Em Esperança, na Paraíba,nossa primeira atitude foi construir umespaço agroecológico diferente da fei-ra convencional”, lembra Diógenes Fer-nandes, produtor rural e técnico doPólo Sindical da Borborema.

Experiências semelhantes foramacontecendo no Estado e, numa par-ceria com o governo, os produtorespassaram a vender alimentos agroe-cológicos para escolas públicas ecreches. Com o olhar no futuro, Fer-nandes revela os planos para 2007:“Vamos ampliar as ações. A expecta-tiva é que, pelo menos, 100 agricul-tores se envolvam nesse programa,na Paraíba, em parceria com 30 insti-tuições. Isso vai depender da capa-cidade de produção dos agricultorese dos municípios”.

O que acontece quando vocêcompra produtos orgânicos

www.ecovida.org.br

Sua comida fica mais gostosa - Esta é a razão pela qual muitos dos famososchefs procuram produtos orgânicos.

As substâncias químicas ficam fora de seu prato - “Orgânicos” significaproduzidos sem pesticidas, herbicidas ou fungicidas tóxicos ou fertilizantesartificiais.

Você protege as futuras gerações - Um relatório do Environmental Group(Grupo de Trabalho Ambiental) diz: “Quando uma criança completa um ano deidade, já recebeu a dose máxima aceitável para uma vida inteira de oitopesticidas que provocam câncer”.

Você protege a qualidade da água - Pesticidas se infiltram nos lençóisfreáticos e córregos de água.

Você refaz bons solos - Revertemos a perda anual de bilhões de toneladas deterra boa.

Você gasta menos, com melhor nutrição - Frutas e hortaliças orgânicascontêm 2,5 vezes mais minerais que o alimento produzido artificialmente.

Você paga o verdadeiro custo da comida - Uma alface convencional parececustar 50 centavos, mas não se esqueça os custos ambientais e médicos. Emesmo assim, há possibilidades de o produto orgânico ser mais barato, hojeem dia ainda não é porque a demanda é maior do que a oferta.

Você contribui com o trabalho do pequeno agricultor - Comprar o produtoorgânico ajuda a manter as pequenas propriedades.

Você ajuda a restaurar a biodiversidade - Fazendas orgânicas criamecossistemas fortes equilibrados e culturas mistas, em vez de monoculturas,que são mais sensíveis a pragas.

Você reduz o aquecimento global e economiza energia - O solo tratado comsubstâncias químicas libera uma quantidade enorme de gás carbônico, gásmetano e óxido nitroso, segundo Lovins, do Instituto das Montanhas Rochosas.

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Denizon dos Santos - rendacom produção de orgânicosatravés do Sistema “Pais”

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INCLUIR

RTS - Como foram os trabalhos daRede Ecovida, este ano?Lenhardt – Concluímos o processode regulamentação da Lei 10.831/03,pois uma vez a lei aprovada, ela vaipara auditoria pública e, em segui-da, para apreciação na Casa Civil, naPresidência da República.Também participamos de grandeseventos, como a Biofach América La-tina, realizada em São Paulo; e o Ter-ra Madre, evento promovido pelaSlow Food, em Turim, na Itália. Leva-mos produtos e tivemos espaço paracompartilhar nossa experiência.Algo muito bom foi consolidar a Coo-perativa sem Fronteiras, que reúneorganizações de produtores ecolo-gistas da América Latina e europeus,além de consumidores. Hoje, já so-mos nove países, com 13.618 sóci-os. A idéia da Cooperativa sem Fron-teiras é trabalhar a questão do co-mércio justo, trocando produto, tec-nologias e informação. É uma rela-ção direta entre quem produz e quemconsome, eliminando o atravessadore mantendo o caráter ecológico.

RTS – A Rede Ecovida é muito co-nhecida por promover certificaçãosocioparticipativa? Como você en-tende essa tecnologia social?Lenhardt – Basicamente, como umprocesso de geração de credibilida-de, onde um coletivo credita o outro,seguindo normas bem rígidas. Essecontexto é bem mais seguro. No sis-tema tradicional, um auditor verificao andamento das ações. Em nossocaso, é o coletivo, formado pelos pró-prios produtores rurais, organizaçõesde consumidores, pequenos comer-ciantes etc. Na verdade, os produto-res trocam informações, produtos,tecnologia, mas sobretudo a ques-tão da credibilidade.

RTS – A certificação está direta-mente ligada à produção de orgâni-

cos, sejam alimentos, cosméticos,medicamentos e até utensílios delimpeza. Por que cresce o consu-mo de orgânicos?Lenhardt – Há dez anos, eu diria queera uma questão de opção. Hoje, eudigo que é uma questão de sobrevi-vência no contexto geral, incluindo aeconomia, a área social e o meioambiente. O modelo tecnológico atu-al, adotado na agricultura, não sesustenta. A economia tradicional não

considera a questão ambiental. Porisso, ocorrem a degradação ambien-tal, o êxodo rural, o efeito estufa, de-sastres ambientais. Isso tudo temum custo socializado que a humani-dade não conseguirá pagar nos pró-ximos anos.Diante desse cenário, entra a impor-tância da produção orgânica que visaresgatar a sustentabilidade na pro-dução. Quando falamos de agricul-tura ecológica, falamos de todo umprocesso, e não apenas do produto.

RTS – Qual é o panorama, em rela-ção à venda desses produtos?Lenhardt – Para nós, a comerciali-zação não é um problema. A RedeEcovida tem mais de 100 feiras es-palhadas na Região Sul, onde háuma relação direta entre quem pro-duz e quem consome. Além disso,somente no Vale do Cai, Estado doRio Grande do Sul, temos uma de-manda 20 vezes maior do que a pro-dução atual.

RTS – Quais são as perspectivaspara o futuro, quanto à Rede Ecovi-da?Lenhardt – Estamos com um traba-lho forte na formação de agricultores,principalmente os agentes de forma-ção. Dentro da Rede, temos váriosprocessos andando nesse sentido.Também estamos trabalhando comas bioenergias. É possível ter óleosvegetais como combustível para má-quinas, tratores, caminhões. Esta-mos aproveitando a produção de ole-aginosas. Também utilizamos óleoreciclável, aquele que sobra nos res-taurantes. Na região Sul, já temos 15equipamentos funcionando comesse tipo de reciclável. Minha cami-nhonete, por exemplo, já está com80 mil quilômetros rodados. A des-carga tem cheiro de pastel frito, porisso o único inconveniente é afastaros cachorros.

Quando se fala emprodutos orgânicos, a Rede

Ecovida está entre asprincipais referências

nacionais e internacionais.Criada em 1998, reúneagricultores familiares,técnicos, consumidores,

pequenas agroindústrias,comerciantes ecológicos e

pessoas comprometidas como desenvolvimento da

agroecologia. A Rede possuinúcleos nos três estados daRegião Sul: Paraná, SantaCatarina e Rio Grande do

Sul. Em entrevista à RTS, opermacultor Paulo

Lenhardt conversa sobre asprincipais ações realizadasem 2006 e as perspectivasda Rede Ecovida para o

futuro. Ele é um dosfundadores da Rede emembro do Grupo deAgricultura Orgânica

(GAO).

Ecovida organizacadeia de produtos

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Modatransparente...Modatransparente...

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Como saber que aquela camiseta bacana, o jeans damoda ou a blusa fashion faz parte do mundo que vocêdeseja? De onde vem o algodão e onde foi fabricado? Ospreços pagos são justos e os trabalhadores que costurarama sua peça favorita são bem tratados? Quem sabe disso nahora em que entra num provador ou passa pelo caixa?

O consumidor moderno, mais ligado aos problemassocioambientais gostaria de saber isso. São homens emulheres que não estão mais dispostos a roubar a cena emuma festa e depois ser lembrado que sua estrela sobegraças à situações degradantes no Brás, em São Paulo, noNordeste do país ou na China.

E para quem acha que se trata apenas de um nichopequeno, vale ressaltar que uma pesquisa realizada noúltimo London Fashion Week indicou que 78% consideramisso importante. O jornal britânico Times chamou isso de“black is green”, ou seja, o pretinho básico agora é verde!

O mundo da moda está acordando e procura controlar ascondições socioambientais sob as quais são produzidas aspeças que trazem a etiqueta das suas valiosas marcas.Exigências e auditorias parecem começar a trazer seusresultados. Algumas empresas de marcas altamentevalorizadas pelo público jovem como Gap e Nike deram novospassos importantes ao divulgar com bastante franqueza seuprogresso quanto a melhorar a responsabilidade social nassuas vastas redes de fabricantes.

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Made-By® é uma iniciativa desenvolvida pela Ong Holandesa “Solidaridad” famosapor suas inovações no mercado de comércio justo. A Fundação Made-By é gerida porrepresentantes dos produtores, das marcas privadas afiliadas e de Ongs envolvidas.Para mais informações: www.made-by.org (em inglês) tel: +31 20 52 30 666

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Pela internet épossível

rastrear desde aorigem do

algodão até aorganizaçãodetentora da

marca,passando pelas

outras etapasda cadeia

produtiva, comoa fabricação do

tecido e acostura das

peças.

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Agora existetambém umaorganizaçãoc h a m a d aMade-By© que

vai além. Made-By© é uma “marca

guarda-chuva”, umtipo selo de garantia, de

uma cadeia produtiva sustentá-vel que usa como símbolo umbotão azul, costurado em cadapeça comercializada. Made-By© nãogarante apenas que as condiçõesnos ateliês de costura cumpram comas nossas expectativas, também vai àorigem da matéria-prima - em geral oalgodão - para ter certeza que os preçospagos foram decentes e que a lavoura res-peita o meio ambiente.

Mas Made-By© não pára aqui. Atenta à an-siedade dos consumidores modernos, ela nãopede para confiar simplesmente na palavra, numselo, num botão. Na etiqueta de cada peça seencontra um código. No site da Made-By© esse có-digo pode ser inserido e a cadeia produtiva se revelaao consumidor rapidamente na tela.

UM EXEMPLOAssim, quando compramos uma camiseta da marca

M’Braze, podemos ver na internet a organização detentorada marca. Verificamos que a camiseta foi produzida emArequipa, no Peru, pela empresa Franky & Ricky e que estáem processo de certificação SA8000. O site nos informa tam-bém que o algodão vem da cooperativa de agricultores orgâ-nicos “Oro Blanco” de Cañete, e que a cooperativa pagapreços honestos, oferece crédito e assistência técnica.Onde possível, as organizações têm seu próprio websitepara mais informações e contato direto.

Em pouco mais de um ano, 15 marcas aderiramao Made-By©. Não se trata de marcas com poucoestilo ou destinadas aos “naturebas”, mas de modacom um valor agregado. A marca jeans Kuyichi,por exemplo, concorre num nicho com marcasfamosas como Levi’s, Diesel e Calvin Klein.Esta marca conseguiu em cinco anos se es-tabelecer no mercado europeu e hoje estásendo vendida em 14 países na Europa.

Até agora Made-By© relaciona os con-sumidores europeus com produtores dePeru, Índia, Uganda e Tunísia. Em bre-ve seguirão alguns países do leste eu-ropeu, a Turquia e a China. Made-By©oferece um exemplo que merecenossa atenção. Não somente comoalternativa para o setor vestuário, mascomo uma forma de tornar a cadeiaprodutiva mais transparente e aces-sível para o consumidor. Nada im-pede o Brasil de seguir esta moda epromover o mundo que o consumi-dor moderno deseja.

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Cuidando da vidaAMBIENTE

Desafio do século XXI:

AQUECIMENTOGLOBAL

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Greenpeace

CAMINHAMOS PARA UM COLAPSO ESEM MEDIDAS EFETIVAS E SUFICIENTESPARA MINIMIZAR O PROBLEMA

O aquecimento do planeta já éo maior desafio ambiental do sé-culo 21. A temperatura média mun-dial já subiu 0,7º C nos últimos cemanos e este aumento já foi sufici-ente para provocar e intensificar fu-racões, enchentes, secas, derreti-mento de geleiras e ondas de calore de frio por todo o planeta. Esta-mos muito próximos do limite, deum ponto de colapso. Se o aumen-to da temperatura média da Terraultrapassar os 2º C, o clima da Ter-ra irá passar por transformaçõestão rápidas e intensas que provo-carão catástrofes climáticas de di-mensões devastadoras.

Os cientistas afirmam que aqueima de combustíveis fósseis, odesmatamento e a queima das flo-restas tropicais, como a Amazônia,são as principais causas desse fe-nômeno, que pode aumentar e co-locar em risco toda a vida na Terranas próximas décadas.

Durante bilhões de anos, a pre-sença na atmosfera de vapord’água e do dióxido de carbono(CO2), metano (CH4) e óxido nitro-so (N2O), entre outros gases, deuorigem ao efeito estufa, um fenô-meno natural que criou as condi-ções necessárias de temperaturapara o surgimento da vida na Terra.Esses gases do efeito estufa ab-sorvem parte da energia do Sol, re-

fletida pela superfície do planeta, ea redistribuem em forma de caloratravés das circulações atmosféri-cas e oceânicas. Parte da energiaé irradiada novamente ao espaço.

Qualquer fator que altere esseprocesso afeta o clima global. Como aumento das emissões dos ga-ses de efeito estufa, observadaprincipalmente nos últ imos 150anos, mais calor passou a ficar re-tido. É o que acontece quando sequeimam cada vez mais combustí-veis fósseis e destroem-se as flo-restas.

Baseados em evidências cien-tíficas, os especialistas chegaramà conclusão de que o aumento daconcentração dos gases estufa naatmosfera é o responsável pelo atu-al aquecimento do planeta. A con-centração de carbono na atmosfe-ra saltou de 288 partes por milhão(ppm) no período pré-industrialpara 378,9 ppm em 2005.

Até mesmo cientistas do maioremissor mundial, os Estados Uni-dos, já se mostram convencidos deque nós somos responsáveis peloproblema. Estudo apresentado àAcademia Americana para o Avan-ço da Ciência em 2005 mostrou deforma irrefutável que o aumento datemperatura dos oceanos deve-seàs emissões provocadas pelas ati-vidades humanas. Esse estudo foi

INCENTIVO ÀPRESERVAÇÃO

O Brasil é o quar-to maior emissor degases estufa domundo e o desmata-mento das florestasresponde por 75%do total de poluentesliberados na atmos-fera. Para reagir, ogoverno brasileiroapresentou, na Con-venção das NaçõesUnidas sobre Mudan-ças Climáticas, umaproposta de incenti-vos para reduzir asemissões, que con-siste em um meca-nismo voluntário deredução nas emis-sões de gases estu-fa, vinculado a recur-sos financeiros deum fundo internacio-nal. Este fundo seriacomposto por doa-ções de dinheiro fei-tas voluntariamentepor países desenvol-vidos. Os países queconseguissem redu-zir os índices de des-matamento receberi-am a recompensa.

anos é o tempoaproximado paraque o mundo re-verta a tendênciade destruição daAmazônia, naavaliação do Gre-enpeace. Para osambientalistas, osgovernos devemestabelecer umcronograma deações políticas ecompromissoscom vínculos le-gais para atingir onível zero de des-matamento, ao in-vés de limitar-seapenas a siste-mas voluntários decompensação fi-nanceira pela redu-ção das emis-sões.

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O Brasil precisa lidar com o problema de formaresponsável, tanto em relação às emissões de gases de efeito

estufa, quanto em relação às conseqüências do aquecimentoglobal, que não pode mais ser evitado. Se o Brasil realmentequiser fazer a sua parte, ao invés de incentivar tanto o avançodo agronegócio, que vem destruindo de forma assustadora a

Amazônia, deveria começar por adotar como prioridadenacional a conservação da maior floresta tropical do mundo.

Além disso, precisaria realmente se esforçar nodesenvolvimento de uma matriz energética limpa, baseada em

energias renováveis modernas, como a solar e a eólica, erealizar um levantamento das vulnerabilidades regionais e

setoriais. É necessário apresentar planos de adaptação aosriscos e de mitigação das causas das mudanças climáticas. OBrasil precisa da elaboração urgente de uma Política Nacional

de Mudanças Climáticas, que contemple todos esses itens.No Brasil, o aquecimento global ainda é visto mais como

uma oportunidade de negócios do que como um risco real. OMecanismo de Desenvolvimento Limpo, instrumento previstopelo Protocolo de Kyoto, é importante para incentivar projetos

ambientais que retirem gases como o CO2 e o metano daatmosfera, mas é insuficiente, por si só, para reverter o

problema e as ameaças às comunidades mais vulneráveis nocampo, nas áreas urbanas, na caatinga e no interior da

Amazônia.Precisamos atingir essas metas antes que o temível marco

dos 2º C de aquecimento se transforme em realidade. Depoisdesse marco, os cientistas prevêem cenários catastróficos,

com efeitos devastadores para várias regiões do globo,inclusive para a Amazônia e outros pontos do Brasil. Temos

pouco tempo e muito a fazer. Apenas com a conscientização detodos, governos, indústrias, cidadãos, conseguiremos vencer o

que já se caracteriza como o maior desafio de nossa era.

O que podee deve serfeito?

um marco no debate sobre mudan-ças climáticas nos Estados Unidos,eliminando os argumentos dos cé-ticos contra a responsabilidade hu-mana sobre o aquecimento do pla-neta.

Resultados preliminares do 4ºRelatório de Avaliação sobre Mudan-ças Climáticas do Painel Intergover-namental sobre Mudanças Climáti-cas (IPCC), que será lançado em2007, não deixam mais dúvidas de

que o homem é responsável peloaquecimento global acelerado. Eindicam que a situação do planetaé muito mais crítica do que se ima-ginava.

Mas o que esse aquecimentosignifica exatamente para a vida decada um de nós, de toda a biodiver-sidade do planeta e de nosso paísem particular, o Brasil?

Regiões aqueceram muito, en-quanto outras esfriaram de forma

espantosa. Na costa oeste do Ca-nadá, no Golfo do Alasca, na penín-sula Antártica e no Ártico, assimcomo em todo o norte da Sibéria,norte canadense e na própria Gro-enlândia, foram registrados aqueci-mentos de até 3,5º C nos últimos 50anos.

Essas mudanças radicais têmconseqüências catastróficas, comouma estação de furacões no Atlânti-co Tropical Norte mais intensa que

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©GREENPEACE/ALBERTO CÉSAR

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Reduzir o efeito estufa é possível comenergias como a eólica (Fortaleza, 2004)

Uso de energia solar é outra opção para evitaro aumento do efeito estufa (Espanha, 1997)

Brasil: desmatamento gera 75% das emissõesde gases de efeito estufa (Santarém, 2003)

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o normal no ano de 2005.Enquanto os cientistas debatem

qual será o aumento da temperatu-ra até o final do século, novas evi-dências da perda de espécies emfunção de fatores climáticos surgemem todos os pontos do planeta. Es-pecialmente nos ecossistemasmais complexos, como as florestastropicais, onde o clima pode deses-tabilizar a cadeia de vida das espé-cies. Carlos Nobre, cientista do Ins-tituto Nacional de Pesquisas Espa-ciais (INPE), relata o desapareci-mento recente de mais de 70 espé-cies de sapo arlequim nas Améri-cas Central e do Sul. Isso mostraque partes de ecossistemas e es-pécies podem ser extremamentevulneráveis a pequenas alteraçõesclimáticas. Populações de espéci-es já ameaçadas terão um riscomaior de extinção em função do si-nergismo de pressões adversas.

Diante dessas alterações noplaneta, em 1988 foi criado o IPCC.Os cientistas que o integram têmreiterado que, se não houver redu-ção das emissões de gases doefeito estufa, as temperaturas vãocontinuar subindo. Para enfrentar oproblema, a ONU aprovou durantea Rio 92 a Convenção Quadro deMudanças Climáticas, que resultouno Protocolo de Kyoto. Ele entrouem vigor em 2005 e estabeleceque, em um primeiro período (2008-2012), os países industrializados

devem reduzir, em média, 5,2%suas emissões de gases de efeitoestufa em relação aos níveis lança-dos em 1990.

Essa meta, no entanto, é insufi-ciente. Mesmo se as emissões fo-rem congeladas nos volumes de1990, os cientistas estimam que até2200 a temperatura do planeta su-biria entre 0,4º C e 0,8º C. Há urgên-cia de os países traçarem planosde adaptação para sobreviver emum mundo mais quente e com maiscatástrofes climáticas.

NO BRASILO governo brasileiro tem dito nas

negociações internacionais que o

país faz a sua parte em relação aoproblema das mudanças climáticase o aquecimento global. Na verda-de, fazemos muito pouco para re-duzir de forma efetiva o desmata-mento da maior floresta tropical doplaneta, investimos pouco em fon-tes de energia renováveis ou napromoção de estudos de vulnera-bilidade e planos de adaptação àsmudanças climáticas.

O mesmo país que tem uma po-sição privilegiada em relação a seupotencial de fontes renováveis deenergia, quando desmata e quei-ma a Amazônia, libera tanto carbo-no na atmosfera que assume oconstrangedor quarto lugar no

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As regiões polaresn registraram aumento de3,5 graus na temperatura nos últimos 50 anos(Groenlândia, 2005) - ao lado

Calçadões, casas e bares à beira-mar poderãoser destruídos por ondas ou aumento de meiometro das águas (Rio de Janeiro, 2006) -abaixo

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A elevação do nível do mar é outra dasprincipais conseqüências do aquecimentoglobal, provocada pelo derretimento do geloglacial, aquele formado pela precipitaçãode neve e que está sobre continentes e ilhasna Antártica, na Groenlândia, nas ilhas ár-ticas e nas geleiras de montanhas. Nas par-tes mais quentes da Antártica vem ocorren-do um colapso das plataformas de gelo,como o observado na Plataforma Larsen Bem 2002.

Outro ponto crítico é o desaparecimentode geleiras de montanhas. Nos Andes, as ge-leiras perderam 20% a 30% de área ao lon-go dos últimos 40 anos. Esse gelo que estáderretendo contribuirá com a maior partedo aumento do nível do mar até 2100.

NÍVEL DO MAR AUMENTA

ranking dos países que mais emi-tem gases de efe i to estufa nomundo.

No último século, a tempera-tura do planeta já subiu 0,7º C e,nos próximos cem anos, o au-mento pode chegar entre 1,4º C e5,8º C, dependendo do que for fei-to para “descarbonizar” a atmos-fe ra . L im i tes ma is r íg idos àsemissões terão que ser negocia-dos e cumpridos já no segundoperíodo do Protocolo de Kyoto,após 2012.

Se as emissões fossem esta-bi l izadas nos níveis de hoje, atemperatura continuaria subindopor dezenas de anos. Um enorme

esforço terá que ser feito pelospaíses industrializados, os prin-cipais poluidores, mas tambémpelos países em desenvolvimen-to como o Brasil, que precisa as-sumir a sua responsabi l idade.Países como o Brasi l têm quecrescer segu indo a “Tr i lha daDescarbonização”, proposta pelaRede de Ação do Clima (CAN – Cli-mate Action Nework).

Embora grande parte de nossasociedade ainda desconheça estefato, nosso país já é muito vulnerá-vel aos impactos das mudanças cli-máticas. O relatório e o documentá-rio “Mudanças do Clima, Mudançasde Vidas”, lançado pelo Greenpea-

ce no Brasil em agosto deste ano,documenta eventos climáticos extre-mos em nosso país, o testemunhodas vítimas, a opinião da ciência so-bre cada evento e sobre cenáriosfuturos em um planeta mais quen-te, assim como uma discussão so-bre soluções para o problema, queincluem ações de governo e mudan-ças de comportamento dos cida-dãos brasileiros.

Seca na Amazônia, desertificaçãono semi-árido brasileiro, secas inten-sas e furacão no sul do Brasil são al-guns exemplos de como as mudan-ças climáticas podem afetar nossopaís, com graves conseqüências so-ciais, ambientais e econômicas.

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A desertificação é um problema que ameaça16% do território brasileiro em 11 estados (RioGrande do Norte, 2006) - foto de cima

Tornado com ventos de mais de 200quilômetros por hora atingiu a cidade gaúchade Muitos Capões. Com o aquecimento, essestornados serão mais frequentes (Rio Grandedo Sul, 2005) - foto mais abaixo.

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0,8por cento é o índi-ce de renda detidapelos pobres brasi-leiros, fatia superi-or à dos pobres deColômbia, El Sal-vador e Botsuana(0,7%), Paraguai(0,6%), e Namíbia(0,5%). Os dadossão do Relatório deDesenvolvimentoHumano 2006 doPNUD. O docu-mento diz que, nosúltimos cinco anos,o Brasil tem com-binado desempe-nho econômicocom declínio nadesigualdade derendimentos e napobreza. Hoje, oBrasil é o 10º maisdesigual numa lis-ta com 126 paísese territórios

GINCANA DOMILÊNIO

Por um mundo melhorAGENDA GLOBAL

Um grande jogovirtual e interativo queutiliza ferramentasde alta tecnologiaaplicadas à educa-ção. Assim é a Gin-cana do Milênio cria-da pela FundaçãoCERTI e a Secretariada Educação, Ciên-cia e Tecnologia deSanta Catarina paradifundir entre os alu-nos da rede públicaestadual os Objeti-vos de Desenvolvi-mento do Milênio.Como tarefa principalda gincana, cadaequipe terá que pro-por um projeto pararesolver problemasde sustentabilidadesócio-ambiental desua comunidade. Ainiciativa mobilizaoutras organizaçõeslocais, nacionais einternacionais, comoa Fundação de Apoioà Pesquisa de SantaCatarina (Fapesc),Sapiens Parque, Ins-tituto Sapientia, a ongAshoka, o Programadas Nações Unidaspara o Desenvolvi-mento (PNUD) e vá-rias empresas doPólo Tecnológico daGrande Florianópo-lis.

www.gincanadomilenio.org.br

Os quatro pilares que definem se-gurança alimentar pela Cúpula Mun-dial de Alimentação são disponibili-dade, acesso, estabilidade de forneci-mento e utilização de alimentos. Emmuitos países, há um desequilíbrio, jáque as políticas são centradas na pro-

Fome desoluções

Celso Marcatto*

Avanços para assegurar odireito à alimentação dez anosdepois da Cúpula Mundial

dução agrícola e na disponibilidade,mas não há garantias de acesso de ali-mentos por parte de suas populações.Esta é, em parte, a causa pela qual mi-lhares de pessoas ainda passam fomeem países produtores, como a Índia,onde 47% das crianças são desnutri-

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*Agrônomo, coordenador do Programa de Segurança Alimentar de ACTIONAID Brasil

das, ainda que o país produza o sufici-ente para alimentar toda sua popula-ção.

O ano de 2006 fica a meio caminhoentre da Cúpula Mundial de Alimenta-ção, realizada em 1996, e o prazo parameta de se reduzir à metade o númerode pessoas que passam fome no mun-do, que é 2015. Apesar disso, a metaestá longe de ser atingida, como mos-tra o estudo Fome de Soluções, reali-zado pela ActionAid em sete países:Brasil, Índia, Gana, Quênia, Malauí, Pa-quistão e Uganda. Dentre os paísesanalisados, somente o Brasil e a Índiaimplementaram políticas nacionais es-pecialmente formuladas para atenderos problemas de populações vivendoem insegurança alimentar, e, mesmonesses países, um grande número depessoas continua desnutrida.

Apesar das variações, o estu-do revela barreiras comuns à maio-ria dos países estudados, como: aspolíticas agrícolas governamentaispromovem a agricultura de larga es-cala, cultivos de produtos paravenda como matéria -prima e pro-dução para exportação à custa daagricultura familiar e de subsistên-cia, da qual a maioria das popula-ções rurais depende para viver. Taispolíticas promovem a produção e dis-

ponibilidade dos alimentos, mas fa-lham em garantir que suas populaçõestenham acesso a esses alimentos, con-tribuindo assim para a continuidadedo quadro de insegurança alimentarem que vivem.

Fatores externos como políticasimpostas por instituições financeirasinternacionais também influenciam

para o não cumprimento das metas. EmMalauí, como condição de financia-mento para o Programa de Ajuste Es-trutural, o Banco Mundial exigiu quetodos os subsídios a insumos fossemeliminados, o que levou à liberalizaçãodos mercados de fertilizantes e semen-tes. O país testemunhou um colapsoda administração de crédito para a agri-cultura de pequena escala, que ofere-cia crédito subsidiado aos agriculto-res familiares. Essas medidas contribu-íram para o declínio da produtividadedo cultivo de milho, do qual a maioriada população do Malauí depende.

Também são decisivos o comérciointernacional injusto que leva os paí-ses em desenvolvimento a abrirem seusmercados a produtos agrícolas subsi-diados de países desenvolvidos; a aju-da internacional em alimentos que as-sola a agricultura local e causa depen-dência; a redução na Assistência Ofi-cial ao Desenvolvimento (ODA) parao setor agrícola, particularmente a agri-cultura familiar, que caiu de US$ 6.7bilhões em 1984 para US$2.7 bilhõesem 2002; e a redução, por parte dospaíses ricos, de recursos financeirosdestinados ao desenvolvimento ruralsustentável e a instituições como aOrganização para a Alimentação e Agri-cultura (FAO).

PASSOS POSITIVOS EM DIREÇÃOÀ REDUÇÃO DA FOME

No Brasil, um forte movimento da sociedade civil levou aodesenvolvimento de uma agenda pública do governo paraSegurança Alimentar e Nutricional. O Conselho de SegurançaAlimentar (CONSEA) tem promovido o debate nacional e lançadopropostas para programas de governos e ações nãogovernamentais. O grande desafio é fazer com que a SegurançaAlimentar e Nutricional se torne um princípio norteador deestratégias de desenvolvimento nos níveis local e nacional.

Na Índia, uma campanha, criada a partir de um litígio da CorteSuprema para incluir o direito à alimentação como umaderivação do direito fundamental à vida, pressionou aimplementação de programas concretos que aumentem asegurança alimentar junto a setores pobres da população.

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GanaA pesquisa da SOFI indica que o número e a percentagem das pessoas

subnutridas declinou significativamente na última década. Apesar disso, a segu-rança alimentar no norte do país se tornou mais precária nos últimos anos pelodéficit de produção agrícola para o consumo de grãos como milho e painço eaumento da área plantada de cultivos para venda como o sorgo, utilizado namanufatura de bebida alcoólica local e algodão para exportação.

Gana não tem políticas estratégias e informação quantitativa sobre públicosalvo para enfrentar a pobreza e a fome. As iniciativas governamentais estabeleci-das em 2003 na Estratégia de Redução da Pobreza se concentram em mantera estabilidade macroeconômica, enfatizando políticas monetárias e fiscais parareduzir taxas de juros e inflação e manter a estabilidade do câmbio. Porém, naformulação das políticas, a ênfase é na “racionalização e modernização da agri-cultura” como um setor competitivo privado.

OBSTÁCULOS E BARREIRASA promoção da liberalização comercial teve um impacto negativo na produção

de pequena escala, particularmente sobre os setores de frango e arroz. Os pe-quenos produtores que costumavam contar com esses produtos enfrentam umaumento da pobreza e da insegurança alimentar.

AÇÃO DAS AGÊNCIASUm exemplo bem sucedido foi a criação de bancos de grãos para comunida-

des que sem isso teriam que vender a produção de sua safra para comerciantesitinerantes. Os bancos de grãos da ActionAid permitem às comunidades minimi-zar a venda de sua produção logo após a colheita, quando os preços estão maisbaixos e garantem a disponibilidade de alimentos aos seus membros durante aestação seca. “Costumávamos vender nosso milho, painço, sorgo e amendoimno mercado depois da colheita e a preço baixo e depois tínhamos que comprarde volta para comer a preços altos. Agora vendo meu grão para o nosso banco eparticipo da decisão de como revender para nós. Isso reduziu a fome na nossavila,” diz Safura Amadu, Banu morador da região noroeste de Gana.

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UM CHAMADO AOS GOVERNOS

A ActionAid adota uma abordagem de direitos que afirma que todasas pessoas têm o direito à alimentação e a não sofrer por fome oudesnutrição. A segurança alimentar deve estar baseada nos direitos hu-manos. A obrigação, a responsabilidade e transparência em garantiresse direito deve caber aos Estados, que devem, entre outras coisas:

•Reorientar as políticas de desenvolvimento agrícola para promoveros agricultores familiares e o desenvolvimento sustentável

•Mudar o investimento em produção agrícola de larga escala para ummodelo agroecológico centrado na produção de pequena escala

•Garantir que os agricultores familiares tenham acesso a terra, recur-sos, insumos e renda suficientes para prover comida em quantidadesuficiente e saudável para si mesmos e suas famílias

•Estabelecer um marco político e legal e ações que discriminem posi-tivamente ao acesso à terra, ao crédito e a outros recursos

•Estabelecer políticas abrangentes de segurança de acesso a se-mentes que promovam e protejam os direitos dos agricultores a se-mentes e a biodiversidade local

QuêniaApesar da grande melhoria no

status nutricional dos quenianosdesde a independência, uma pro-porção significativa de pessoasainda vive sob ameaça contínua defome e inanição. A desnutrição in-fantil é particularmente comum emcertas épocas do ano pela interrup-ção de sistemas de fornecimentode alimentos. A incidência da po-breza atinge estimadamente 56%da população. 82% das pessoaspobres vivem nas áreas rurais.

O Quênia não desenvolveu umplano específico de ação para en-caminhar as recomendações daCúpula Mundial de Alimentação de1996, apesar de que as questõesde segurança alimentar e pobrezasão enfrentadas em vários planosestratégicos governamentais e po-líticas setoriais. Enquanto isso, so-fre-se a ausência de compromis-so político, de boa governança e deestratégias de implementação.

OBSTÁCULOS E BARREIRASOs obstáculos enfrentados para

garantir a segurança alimentar vãodesde condições de empréstimoimpostas ao país pelo FMI e BancoMundial que exigem reformas eco-nômicas e políticas drásticas an-tes de liberar acesso a qualquerfundo de ajuda, até o baixo investi-mento do governo no setor agríco-la (menos de 3% do orçamentonacional).

AÇÃO DAS AGÊNCIAS

A ActionAid tem ajudado a reor-ganizar a atividade de produção decaju, um dos mais tradicionais cul-tivos do Quênia, desarticulado coma liberalização do mercado desseproduto em 1998. As árvores, queantes produziam menos de 5 kgspor estação, passaram a produzirmais de 20kg. Em 2002, o projetose expandiu e agora atinge maisde 600 membros envolvidos emprodução de caju. Em 2005, esco-las rurais passaram a apoiar osagricultores sobre como aprimorare administrar seus pomares. Osagricultores agora lutam por umapolítica governamental que regula-mente a indústria de caju.

No âmbito nacional, os países têmainda que enfrentar problemas inter-nos, entre os quais, a falta de acesso econtrole sobre a terra e outros recur-sos naturais; o preconceito contramulheres agricultoras, a falta de segu-rança no acesso a sementes de quali-dade e adaptadas e falta de implemen-tação de medidas de preservação dabiodiversidade. Enquanto os agricul-tores familiares não tiverem acesso aterra e a recursos para produzir ou pro-ver comida suficiente para garantir umacondição saudável para si mesmos esuas famílias, a eliminação da fome eda pobreza continuará a ser um objeti-vo inatingível.

Em países onde a maioria da popu-lação depende da agricultura familiar,a eliminação da fome e a conquista dodireito à alimentação requerem políti-cas, estratégias e ações que assegu-rem às pessoas o acesso à alimenta-ção. Os estudos da ActionAid mos-tram que o aumento de cultivos paraexportação em si não reduzem a fome ea pobreza. Além disso, a monoculturade larga escala com elevado uso de tec-nologia e agrotóxicos contribui fre-quentemente para a deterioração am-

biental e por isso não é sustentável.

POLÍTICA AGRÍCOLANo Paquistão, a política agrícola

orientada para exportação resultou nomaior plantio de algodão e menor pro-dução de cultivos para alimentação.Enquanto a área de trigo plantada cres-ceu 3,9% entre 1992 e 2004, a área dealgodão cresceu 12,3% no mesmo pe-ríodo. A maior parte da terra no Paquis-tão é controlada por uma pequena por-centagem de pessoas que produzempara exportação. Essa tendência afetatoda a produção doméstica de alimen-tos e leva os agricultores pobres ousem terra a uma situação de insegu-rança alimentar.

No Brasil, o agronegócio da mono-cultura da soja está crescendo, princi-palmente na Amazônia. A soja é res-ponsável por 47% da produção degrãos do Brasil e ocupa 45% da áreaplantada de grãos, mas ocupa apenas5,5% da mão de obra agrícola. O au-mento da produção de soja está amea-çando os meios de vida tradicionaisdas comunidades agroextrativistas as-sim como a cobertura vegetal, que estásendo devastada pela monocultura.

Page 62: Revista 4

62

AENTREVISTA

Como o Grupo Gerdau avalia otema sustentablidade?Além da gestão do negócio, daeficiência dos funcionários e daproteção ao meio ambiente,sabemos que são os indivíduosque fazem a sociedade melhorar.Por isso que a chamadamobilização solidária, que são asações que envolvem o espíritovoluntário dos funcionários,continua sendo um dos nossosfocos de atuação. Odesenvolvimento das comunidadesonde a empresa está presente éimprescindível para a própriamanutenção dos negócios, sejaaqui ou em outro país. (Argentina,Uruguai, Chile, Colômbia, Peru,Estados Unidos, Canadá eEspanha).

Esse tipo de iniciativa social éfeita desde quando na empresa?De uma forma maisassistencialista no início. No finalda década de 70, muito porinfluência das metodologias da

Do aço à

mobilização solidáriaCom origem familiar, o que atualmente se conhece como

Grupo Gerdau teve início com uma metalúrgica. João Gerdau,em 1901, abriu a empresa e trazia como herança cultural da

Alemanha a atitude de saber o que ocorre a sua volta, nacomunidade onde vive ou trabalha. O crescimento dos

negócios também fez evoluir, num ritmo um pouco maislento, os cuidados com as ações de responsabilidade social.Apesar de registrar iniciativas desde a sua fundação, mesmo

que filantrópicas, o tema é reforçado com a criação daFundação Gerdau, com programas nas áreas da saúde,

educação, habitação e assistência social para colaboradores efamiliares. No final da década de 80 foi implementada uma

política de RSE. A Fundação mais tarde virou Instituto Gerdaupara unir todas as atividades e criar novas. Hoje, com forte

atuação na área siderúrgica e mesmo com algumas polêmicasem relação ao cumprimento da legislação trabalhista que

provocam manifestações de sindicalistas nos Estados Unidos,por exemplo, o Grupo Gerdau apresenta-se como seguidor deprincípios do desenvolvimento sustentável. Algumas de suas

diretrizes de RSE são apresentadas nesta entrevista com odiretor do Instituto Gerdau, José Paulo Martins.

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63

ENTREVISTAEJOSÉ PAULO MARTINS

Qualidade Total, a comunidade erauma das áreas de interesse e issopermitiu uma profissionalizaçãodas iniciativas soltas que ocorriam.Mas foi no final da década de 80que o tema aflorou de maneiramais marcante e foi implantadauma política de RSE. Em 2001 foicriado o Instituto Gerdau, nomomento do centenário daempresa, quando houve um debateestratégico a respeito dos papéisdos acionistas familiares. OInstituto manteve o foco emEducação e Mobilização Solidária.

E como essas áreas sãotrabalhadas?São inúmeros projetos na área deinvestimento social, desdeformação na área de informática atéatividades culturais e esportivasdesenvolvidas em comunidades.Chamamos de MobilizaçãoSolidária tudo que é feito com apoiodos funcionários voluntários. OGrupo Gerdau investe para queestes projetos tornem-se auto-

sustentáveis, podendo serpermanentes. O Instituto é Gerdau,ou seja, nós realizamos ações noBrasil e em todos os países onde aempresa atua. Queremos estimulara difusão do conhecimento, afinal éisso que potencializa a capacidadetransformadora das pessoas. Ondetem operações do Grupo Gerdautem um ambiente de crescimentopor conta desta preocupação com aqualidade de vida das pessoas.

As questões ambientais tambémentram nestas ações?Entre os projetos existem muitosvoltados à área ambiental, comocoleta seletiva nas comunidades,educação ambiental, entre outros.Do ponto de vista do negócio,todas as usinas possuem umSistema de Gestão Ambientalformulado de acordo com a normaISO 14001. As chamadas práticasde ecoeficiência são alvos deinvestimento constante, comadoção de atualizaçõestecnológicas a cada ano.

Como se livrar da imagem de queo setor é poluidor?De uma maneira geral, o setorsiderúrgico passa a impressão deser algo sujo mesmo. Mas atecnologia de tratamento em prol domeio ambiente, em especial há 10anos, tem evoluído tanto quesistemas como o despoeiramentodas usinas revelam mínimosimpactos. Até 15 anos atrás nãotínhamos pesquisa nenhuma arespeito do solo, por exemplo. Hojeos rigorosos métodos de controle eda preparação da sucata reduzem ageração de resíduos e permitemnovas aplicações para ossubprodutos decorrentes daprodução de aço.

Estas tecnologias sãodesenvolvidas aqui?Algumas sim, mas outras sãotrazidas de outros países, como osistema de filtros para evitar que aemissão de gases dos fornoscheguem à atmosfera. O impactona natureza sempre tem, mas a

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AENTREVISTApostura cuidadosa e o trabalhointenso nessa área permitemminimizar muito. O tratamento deágua que o Grupo Gerdau faz, porexemplo, tem um índice de 96% dereaproveitamento da água utilizada.O restante evapora ou é enviadopara os rios, de acordo com asexigências da legislação ambiental.

E sobre as relações com osfuncionários?Dentro das Diretrizes Éticasestipuladas o item Relação comFuncionários prioriza a formação deprofissionais conscientes com suaimportância estratégica no negócio.A preocupação com a capacitaçãocontínua e de repasse deresponsabilidade pessoal pelosresultados gera uma satisfaçãointerna que sentimos no clima daempresa. Posso dizer que somosapaixonados pela Gerdau, pelo queela representa e pelo modelo degestão arrojado.

Como é esse modelo?Nós temos um Plano de Metas e asformas de trabalho estabelecidas.Delegadas estasresponsabilidades, cada um devecumprir seus compromissos. NoGrupo Gerdau, apesar do caráterindustrial, não se bate cartão pontoe o que vemos são profissionaiscomprometidos. A liberdadeproporciona mais satisfação, e

essa cultura que se estabeleceuacabou gerando melhoresresultados.

Isso serve para todos os níveis?Sim e é tão interessante que ocompromisso fica maior aooferecer liberdade. Essa liberdadenão é só na questão de horários,mas abrange a liberdade deexpressão entre os níveis. Temosuma intranet como ferramenta decomunicação e uma transparênciana gestão.

As lideranças surgem dentro daempresa?A gestão de pessoas é uma marcaforte do Grupo, tanto que o

RAIO XGRUPO GERDAUFUNCIONÁRIOS– 27 mil

PAÍSES– Brasil, Argentina, Chile,

Colômbia, Uruguai, Espanha,

Canadá e Estados Unidos

PRODUÇÃO– 13,7 milhões de toneladas

de aço

FATURAMENTO ANUAL– R$ 25,5 bilhões

LUCRO LÍQUIDO– R$ 3,3 bilhões

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ENTREVISTAEdesenvolvimento de líderes estábaseado num modelo que alavancaatitudes e performances dentro dosmelhores padrões mundiais. Auto-conhecimento e coaching(treinamento, qualificação) sãoferramentas utilizadas na formaçãode líderes.

Até que ponto as ações sociaisdas empresas devem ir para nãosubstituir as do Estado?Acredito que é precisoenvolvimento de todos, isto é, nãoé possível mais esperar peloEstado, é preciso estar junto. OGrupo Gerdau assinou oCompromisso Todos pelaEducação, por exemplo, com um

Gestão ambientalReaproveitamento de águas industriais(% sobre consumo total)Emissão de gases de efeito estufa(Kg de CO2 por tonelada de aço produzido)Destinação de co-produtos da atividade siderúrgica parareaproveitamento em outros setores da economia ou internamente(%sobre o volume total gerado)

Responsabilidade social (em R$ milhões)Investimento total em projetos sociaisQualidade na educaçãoEducação para o empreendedorismo e a competitividadeEducação ambientalEducação pela cultura e pelo esporteMobilização solidária

RELATÓRIO SOCIAL2005

41,75,4

10,21,3

20,34,5

200438,7

4,47,62,2

19,74,8

grupo de empresas para exigirmelhorias mas também contribuir.Os indicadores brasileiros emrelação à qualidade do ensinonão são nada bons e quanto maisdemorarmos para reverter isso,pior será para todos.

A sociedade inteira deveria estarmais atenta?Claro, todos somos culpados, deuma forma ou de outra. Ou porquenão acompanhamos o que osgovernos fazem ou deixam de fazer,ou porque aqueles que tiveramoportunidade de se educar nãoderam o devido retorno àsociedade. Todos somos omissosquando não olhamos para o lado,

não cobramos atitude ou nãocontribuímos de alguma maneira.

Qual sua visão de futuro para aResponsabilidade Social?Minha utopia é que vá se focar cadavez mais o indivíduo. Se aspessoas conseguirem liberdade decrescer nos seus próprios sonhos,dentro das suasresponsabilidades, veremos odesenvolvimento de um capitalsocial valioso. A visão sobre asociedade deve voltar-se aoindivíduo, ou seja, cada umvalorizado transforma-se numconjunto que pense de maneiraresponsável em relação a suaprópria sustentabilidade.

200596,8

561,8

80,0

200496,7

550,0

66,3

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SOLUÇÕES Bons produtos do bem

O Tomate Ecologicamente Cultivado (Tomatec) foi lançado esteano pela Embrapa Solos(RJ), unidade da Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agri-cultura Pecuária e Abastecimento. Com exceção do tomate orgâni-

co, apenas esse sistema é isento de agrotóxico na produção. Ocultivo envolve o trabalho de conservação de solo e água com a introduçãodo plantio direto do tomate na palhada. Associadas ao plantio direto, foramintroduzidas técnicas de fertirrigação, manejo integrado de pragas (MIP) eensacolamento da penca de tomate. O objetivo é produzir um tomate limpo,resistente e de excelente aparência, com selo de qualidade e rastreabilida-de, o que proporcionará ao produtor receber melhor preço pelo seuproduto.Vale lembrar que, ao lado das culturas da bata-ta, mamão e morango, a do tomate é uma das que apre-senta maior resíduo de agrotóxico. Atualmente es-tão plantados com este manejo aproximadamente12 mil pés de tomate com três produtores.

Dirigida por membros da familia Philips, a fabricante da lâmpada Pharox lan-çou o produto na Holanda como a alternativa em prol do desenvolvimento susten-tável. Com consumo de energia 90% mais baixo do que a tradicional lâmpada de40 watts, a Pharox tem uma vida de 50 mil horas (isso significa 35 anos se alâmpada é acendida quatro horas por dia), quando as nor-mais não passam de seis mil horas. A novidade é que elaemite uma luz branca quente e é ambientalmente melhorporque a produção não inclui o elemento fósforo. O cálcu-lo da empresa é que se cada casa dos Países Baixostrocasse quatro lâmpadas por Pharox, a economia seriaigual ao consumo de energia de todas as casas de Ams-terdã. Ao mesmo tempo, o uso de quatro lâmpadas porquatro horas por dia geraria uma economia na conta dosusuários em torno de 47 euros por ano. A produção, porenquanto, só chega para uma empresa distribuidora deenergia, a Oxxio.

BIODIGESTOR CASEIRO

Um Biossistema Integrado (BSI) é um dos prin-cipais projetos desenvolvidos pela ONG O Insti-tuto Ambiental, do Rio de Janeiro. Uma das apli-cações foi na comunidade Sertão do Carangola,em Petrópolis, onde o biodigestor está sendo

usado para tratar lixos e dejetos humanos. O BSIconsiste em uma construção bem simples, quetransforma resíduos domésticos em biogás, adu-bo e ração animal. A iniciativa conta com a parce-ria da Fundação Banco do Brasil, Embrapa e deinstituições locais. O uso do biodigestor em pe-

quenas comunidades também está sendo difundido em outras localidades doRio de Janeiro, Amapá, Espírito Santo e em outros países da América Latina.Valmir Fachini, coordenador de projetos da ONG diz que o biodigestor domiciliarpode produzir uma hora de biogás a partir dos resíduos de uma família.

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Realizar váriasmicropausas duran-te uma hora de traba-lho no computadorajuda a manter asaúde. Com base noresultado de estu-dos deste tipo é quesurgem no mercadoprodutos como oWorkrave, um sof-tware que monitorasua atividade e detempos em tem-pos lembraque éhora deparar umpouqu i -n h o .Q u a n d ochega ahora dod e s c a n s o ,uma pequena janelapop-up aparece lem-brando da pausa,mas se você quisercontinuar trabalhan-do ele muda de lugarna tela. No entanto,se você ignorar aspausas muitas vezesele age de maneiramenos amigável, po-dendo bloquear seucomputador por umbreve período. Porser livre, o programapode ser baixado di-reto da internet e temmais ou menos o ta-manho de cinco me-gabytes (5Mb).

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monitor Por dentro dos números

1,6foi a média dospread bancário notrimestre (julho,agosto, setembrode 2006), no Ja-pão. De acordocom o relatório doFMI/IFS, Canadá eSuiça registraram1,8; Itália 2,6 e Es-tados Unidos 3,0no mesmo perío-do, quando ospread brasileirofoi de 28,7.

O governo brasileiro tem tentado,desde 1999, conter o abusivo spreadbancário cobrado nas operações decrédito no país. Sem sucesso nas ini-ciativas anteriores, lançou em setem-bro um pacote com seis novas medi-das, por intermédio do ConselhoMonetário Nacional (CMN). A propos-ta é reduzir o custo financeiro dasoperações de crédito por meio doaumento da concorrência no sistemabancário e assim elevar o crescimen-to da economia e os investimentos.O tomador de crédito final deve serbeneficiado.

Duas das regras do pacote forta-lecem diretamente o cliente bancá-rio. A primeira diz respeito à portabili-dade e obrigatoriedade da conta sa-lário, até hoje concessão das insti-tuições financeiras. A partir de janei-ro de 2007, os bancos serão obriga-dos a disponibilizar o serviço. Todotrabalhador terá à sua disposiçãouma conta salário na instituição emque a empresa deposita seu salárioe poderá transferir os recursos paraoutro banco, sem custos adicionais.

A segunda medida é o aperfeiço-amento da portabilidade do crédito.O correntista poderá transferir uma

Reduzir o spreadpara ampliar o crédito

Governo lança pacote de medidasvisando diminuir custo financeirodas operações de crédito

dívida, con-traída em determi-nado banco, para outroque lhe ofereça taxas de jurosmenores. A instituição financeirapara a qual o crédito está migrandoserá a responsável direta pela qui-tação do débito com aquela onde adívida foi contraída. A mudança sónão vale para o crédito habitacionale o consignado (com desconto emfolha).

INFORMAÇÕESA portabilidade cadastral, que já

existia, foi reformulada no pacote.Ao trocar de banco, o cliente poderálevar seu histórico (com informa-ções positivas e/ou negativas) paraa nova instituição. Para isso, bastaautorizar o novo banco a solicitar aficha cadastral ao anterior. Com asinformações, a nova instituição terácondições de analisar o perfil do cli-ente e, eventualmente, oferecer a elevantagens para conquistá-lo.

A quarta medida trata do cadas-tro positivo. Visa regulamentar a ati-vidade das empresas que prestam

RECURSOSLIVRES

Os recursos li-vres, cujas taxas nãosão administradascomo no caso dosdirecionados, regis-traram um cresci-mento de 23,71%nos últimos dozemeses e de 1,41%na variação mensal,alcançando 22,50%do PIB. Já os recur-sos direcionados,que registraram umcrescimento de15,57% em termosanuais e de 0,99%mensais, respon-dem por apenas10,5% do PIB. Aoconsiderar a nature-za das operaçõescom recursos livres,com prazos que nãoultrapassam a médiade 347 dias, com ta-xas que encontram-se entre 33% a143,5% para transa-ções das pessoas fí-sicas e, entre 19,2%a 65,6% para as pes-soas jurídicas e spre-ads médios que po-dem chegar a 40,1%,fica explícito o quan-to o sistema financei-ro nacional trava odesenvolvimento dopaís. A trava se dá porum lado, pelo enor-me custo financeiroimposto às empre-sas e famílias des-capitalizadas e, poroutro, pela imposi-ção de margens, nomínimo, equivalen-tes ao capital produ-tivo.

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o serviço de bancos de da-dos de proteção ao crédito ede relações comerciais noBrasil. Para isso, será edi-tada Medida Provisória. Oobjetivo principal é determi-nar que, além das restriçõesde crédito, essas empresaspossam também armazenarinformações positivas, comopontualidade no pagamen-to. A medida impedirá queuma inadimplência ocasio-nal suje a reputação de umbom pagador.

RISCOSA ampliação da abran-

gência da central de risco doBanco Central (BC) tambémé parte do pacote. Hoje ape-nas o histórico dos emprés-timos acima de R$ 5.000são incluídos nessa central,que registra se o tomadorpagou ou não o crédito emdia. Com a alteração, a par-tir de março de 2007, o his-tórico incluirá também asoperações de crédito a par-tir de R$ 3.000,00. Ao finalde 2007, o histórico de todas

as operações de créditos,com valor igual ou superior aR$ 1.000,00, será disponibili-zado na central de risco, quealcançará 42% dos clientesque contraem empréstimos nosistema financeiro nacional.

Por último, o CMN aten-deu uma reivindicação dosetor financeiro e reduziupela metade a alíquota decontribuição mensal dosbancos para o Fundo Garan-tidor de Crédito (FGC). O per-centual caiu de 0,025% para0,0125% sobre os depósitosgarantidos pelo seguro. Ogoverno espera que a econo-mia adicional dos bancos,com essa redução, sejatransferida para o tomador decrédito com a restrição dospread bancário.

O FGC é um seguro quegarante o recebimento dedeterminado valor pelo clien-te, diante de eventual quebrado banco. Atualmente, esseseguro garante a coberturade no máximo R$ 20 mil.Com a medida, o valor subi-rá para R$ 60 mil.

MARGEM DE GANHO BRUTO DOS BANCOSBRASILEIROS É UMA DAS MAIORES DO MUNDO

O spread bancário é a diferença entre a taxa deempréstimo do banco e o custo de captação, ou seja, é amargem de ganho bruto dos bancos. O spread cobrado

no Brasil é considerado um dos mais elevados domundo. De acordo com o BC, em setembro de 2006, ao

captar recursos, as instituições financeiras arcavamcom um custo médio de 13,7 pontos percentuais (pp) aoano; em seguida, os mesmos recursos eram emprestadosa uma taxa média de 41,5 pp. O spread bancário era de27,8 pp. No entanto, para pessoa física, o spread médio

era de 40,1 pp, o mais elevado entre os diversossegmentos de crédito.

De acordo com o último Relatório de EconomiaBancária e Crédito do BC, de 2004, o spread bancáriotinha a seguinte composição: 33,97% eram destinados

para cobrir despesas de inadimplência; 21,56% cobriamo custo administrativo; 7,0%, o custo do compulsório

bancário; 17,67% destinavam-se ao pagamento detributos, taxas e impostos (diretos e indiretos) e, por fim,19,80% representavam o resíduo líquido (lucro líquido).

Com a queda de juros há perspectivas dediminuição do spread bancário?Isso está no horizonte, mas é difícil preverprazos porque depende da realidadeeconômica, das possibilidades de aumentode renda da população, já que isso podeocasionar certa massificação dasoperações de crédito. O volume destasoperações alcançou R$ 682,9 bi ou 32,97%do PIB, segundo informações recentes doBanco Central (setembro). É o maiormontante dos últimos cinco anos. Desses,apenas, R$ 217,1 bi são recursosdirecionados e R$ 465,8 bi são recursoslivres.

Quais os benefícios quando isso ocorrer?À medida que pagamos mais jurosdiminuímos o consumo de bens. Ou seja, opotencial de consumo fica represado poressas taxas e spreads, afinal, mais de 48%do volume de recursos livres são operaçõesde pessoas físicas e a modalidade decrédito das pessoas jurídicas com o maiorvolume são as operações de capital de giro.

Quem regula este mercado?Os próprios bancos conseguem definiressa manutenção ou diminuição dosganhos com taxas e spreads. Isso porqueos bancos possuem uma força no país quenem a abertura econômica conseguiuabalar. O crédito foi popularizado e osistema financeiro conseguiu ocupar todosos espaços de intermediação de dinheiro.As folhas de pagamento são via banco, osempréstimos já ocorrem com desconto emfolha, enfim, a “caderneta do mercadinho”deu vez ao cartão, ao sistema financeiro.

Três Perguntas

Murilo Barella,economistado Dieese

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BRASIL IMPORTACAFÉ DOS EUA

Ao seguir o modelo in-ternacional, a rede de ca-feterias Starbucks chega aopaís trazendo café impor-tado dos Estados Unidos.O que mais chama a aten-ção no anúncio da vinda dafranquia é que mesmo sen-do aqui - o Brasil é o maiorprodutor de café do mundo- o café a ser servido nobalcão virá da unidade ma-triz, em Seattle. Talvez o pro-duto até seja uma misturade café colombiano combrasileiro, os maiores ex-portadores de café para osEstados Unidos.

O Brasil possui mais demil torrefadoras de café. Écomo se a fabricante deaviões Boeing, localizadaem Seattle, comprasse avi-ões da Embraer, em SãoJosé dos Campos (SP).Mas ainda há expectativaque a rede queira diminuira milhagem do vôo do cafée compre o produto em ter-ras brasileiras.

A primeira loja da redede cafés Starbucks no Bra-sil foi aberta no MorumbiShopping, zona sul de SãoPaulo. Com 206 metrosquadrados, esta unidadeantecede outra no mesmoshopping, dentro da Livra-ria Siciliano. A empresa,batizada de Starbucks Bra-sil Comércio de Cafés,deve contratar 50 funcioná-rios para as duas lojas.

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