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42 ANO IX Nº 36 NOV 2005/JAN 2006 Ponto de Vista Cláudia Villela Q UE TIPO DE EMPREENDEDORISMO DEVE SER INCENTIVADO PELA ESCOLA ? “Empreendedor é alguém capaz de fazer algo por esforço próprio, promover mudanças, investir em melhorias pessoais e coletivas” O promover mudanças, investir em melhorias pessoais e coletivas, ser empreendedor. Trata do potencial que todos nós temos de realizar algo, da força motriz que nos impulsiona para a ação. O empreendedorismo não acontece de fora para dentro, e sim de dentro para fora. Começa pelo autoconhecimento e culmina no pleno alcance de uma meta, na plena realização de um sonho e na otimização do talento individual em benefício próprio e do contexto em que se está inseri- do. O empreendedorismo que proponho inserirmos nas escolas é aquele que oferece subsídios para que docentes e discentes desenvolvam as características em- preendedoras pessoais e sejam capazes de construir a própria realização e a dos que estão à sua volta. O momento é propício para entrarmos em cena por questões muito claras: o educador já é empreendedor em sua prática diária. Falta-lhe ter consciência de seu papel de educador empreendedor e apri- morar os recursos que utiliza. Falta-lhe saber melhor “o seu tex- to”, para atuar com maior segu- rança, e ter direção, para que o sucesso venha como conseqüên- cia. Outro aspecto que favorece entrarmos em cena é o ceticismo instaurado em relação à educa- ção e ao momento social que estamos vivendo. Alunos, docentes e cidadãos em ge- ral sentem-se aprisionados, com suas necessidades bá- sicas não atendidas. Isso aprisiona também a capaci- dade de sonhar, de acreditar no país, na educação, na escola e em si próprio. Distancia o prazer e a capaci- dade de se sentir realizado. mundo está exigindo, cada vez mais, que as pessoas saiam da escola com capacidade para aprender a aprender, a pensar, a resol- ver problemas, a ser criativo, crítico, autôno- mo, capaz de interagir com outras pessoas. O mundo precisa de pessoas que tenham condições de se comu- nicar eficientemente e competência para atuar de ma- neira consciente, responsável, construtiva e solidária na sociedade. O mundo precisa de pessoas encantadas! É aí que entra o empreendedorismo na escola. Usarei a metáfora de uma peça de teatro: há um roteiro belíssimo, de respeitáveis fontes, a ser seguido, existe a demanda por parte da sociedade, o momento é propício e há atores em condições de aprimorar seus papéis e interagir com o texto para atuar com sucesso. Chamo de roteiro a ser se- guido o ponto de vista dos estudiosos da educação sobre a prática docente, somado à proposta peda- gógica do empreendedo- rismo na educação. Cabe aqui desmistificar o em- preendedorismo: não é algo que diz respeito so- mente à formação de empresas. Apesar de ter sua origem no contexto empresarial, o empreen- dedorismo aplica-se a todo segmento, a toda condi- ção profissional e pessoal. Sendo o indivíduo dono ou não de um negócio, é possível ser empreendedor. O empreendedorismo que proponho levar para nossas escolas é aquele que trata das questões relati- vas a alguém capaz de fazer algo por esforço próprio, O EDUCADOR É EMPREENDEDOR EM SUA PRÁTICA DIÁRIA

Revista ano 9_numero_36_2006

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6Ponto de Vista

Cláudia Villela

QUE TIPO DE EMPREENDEDORISMO DEVE SER INCENTIVADO PELA ESCOLA?

“Empreendedor é alguém capazde fazer algo por esforço próprio,promover mudanças, investir em

melhorias pessoais e coletivas”

O promover mudanças, investir em melhorias pessoais e

coletivas, ser empreendedor. Trata do potencial que

todos nós temos de realizar algo, da força motriz que

nos impulsiona para a ação. O empreendedorismo não

acontece de fora para dentro, e sim de dentro para

fora. Começa pelo autoconhecimento e culmina no

pleno alcance de uma meta, na plena realização de

um sonho e na otimização do talento individual em

benefício próprio e do contexto em que se está inseri-

do. O empreendedorismo que proponho inserirmos

nas escolas é aquele que oferece subsídios para que

docentes e discentes desenvolvam as características em-

preendedoras pessoais e sejam capazes de construir a

própria realização e a dos que estão à sua volta.

O momento é propício para entrarmos em cena

por questões muito claras: o

educador já é empreendedor

em sua prática diária. Falta-lhe

ter consciência de seu papel de

educador empreendedor e apri-

morar os recursos que utiliza.

Falta-lhe saber melhor “o seu tex-

to”, para atuar com maior segu-

rança, e ter direção, para que o

sucesso venha como conseqüên-

cia. Outro aspecto que favorece

entrarmos em cena é o ceticismo

instaurado em relação à educa-

ção e ao momento social que

estamos vivendo. Alunos, docentes e cidadãos em ge-

ral sentem-se aprisionados, com suas necessidades bá-

sicas não atendidas. Isso aprisiona também a capaci-

dade de sonhar, de acreditar no país, na educação, na

escola e em si próprio. Distancia o prazer e a capaci-

dade de se sentir realizado.

mundo está exigindo, cada vez mais, que as

pessoas saiam da escola com capacidade

para aprender a aprender, a pensar, a resol-

ver problemas, a ser criativo, crítico, autôno-

mo, capaz de interagir com outras pessoas. O mundo

precisa de pessoas que tenham condições de se comu-

nicar eficientemente e competência para atuar de ma-

neira consciente, responsável, construtiva e solidária na

sociedade. O mundo precisa de pessoas encantadas! É

aí que entra o empreendedorismo na escola.

Usarei a metáfora de uma peça de teatro: há um

roteiro belíssimo, de respeitáveis fontes, a ser seguido,

existe a demanda por parte da sociedade, o momento

é propício e há atores em condições de aprimorar seus

papéis e interagir com o texto para atuar com sucesso.

Chamo de roteiro a ser se-

guido o ponto de vista dos

estudiosos da educação

sobre a prática docente,

somado à proposta peda-

gógica do empreendedo-

rismo na educação. Cabe

aqui desmistificar o em-

preendedorismo: não é

algo que diz respeito so-

mente à formação de

empresas. Apesar de ter

sua origem no contexto

empresarial, o empreen-

dedorismo aplica-se a todo segmento, a toda condi-

ção profissional e pessoal. Sendo o indivíduo dono ou

não de um negócio, é possível ser empreendedor.

O empreendedorismo que proponho levar para

nossas escolas é aquele que trata das questões relati-

vas a alguém capaz de fazer algo por esforço próprio,

O EDUCADOR ÉEMPREENDEDOR EM

SUA PRÁTICA DIÁRIA

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QUE TIPO DE EMPREENDEDORISMO DEVE SER INCENTIVADO PELA ESCOLA?

O ponto de partida para a transformação desse cená-

rio, sem sombra de dúvida, é o corpo docente das insti-

tuições educacionais. Ainda lidamos com professores,

coordenadores e dirigentes de escolas que mantêm uma

postura arcaica, tirana, egocêntrica, que acreditam estar

fazendo bem a sua parte na educação nacional. Se o

propósito é empreendedorismo, torna-se necessário em-

preender a própria prática pedagógica, a própria vida.

Empreendedorismo na educação é tarefa básica do

corpo docente. Só se desempenha o papel de educa-

dor empreendedor se há convicção da importância do

empreendedorismo na educação. Não se consegue

passar aquilo em que não se acredita. É como se as

palavras perdessem a força e as ações denunciassem tal

incoerência. Fica claro: o discurso é um e a prática é

outra, totalmente distantes um do outro, quase antagô-

nicos. É urgente unirmos esforços para mudar esse ce-

nário. É urgente estudar o texto, entender o contexto,

saber a hora de entrar em cena, envolver a platéia e

deixar o nosso recado com maestria; atuar com a alma,

e não simplesmente decorar nossas falas. É a nossa vez

de atuar, pois nós, educadores, é que estamos em cena

O EMPREENDEDORISMOAPLICA-SE A TODO

SEGMENTO,A TODA CONDIÇÃO

PROFISSIONAL E PESSOAL

neste momento da história da educação. Para desem-

penhar esse papel, precisamos de educadores capazes

de adotar uma postura e uma prática empreendedoras

a fim de formar alunos empreendedores, competentes

para agir empreendedoramente, para fomentar o de-

senvolvimento de uma sociedade empreendedora e

pautada na conduta ética.

Fica aqui o convite para criarmos uma rede de rela-

cionamentos e inserir o empreendedorismo na escola,

em primeiro lugar para fazer da escola um espaço de

construção da felicidade. É possível inserir esse enfoque

em todos os conteúdos e disciplinas pedagógicas. Pes-

soas felizes tornam-se mais receptivas, amáveis e aber-

tas. Tornam-se mais criativas, autoconfiantes e segu-

ras. Elas têm maior disposição para colaborar, dividir,

partilhar. A escola pode estimular a capacidade dos

alunos de encontrar a felicidade em um processo de

compreensão da sociedade na qual estão inseridos e

do momento que estamos vivendo; ela pode fazer com

que os alunos sintam-se atuantes, responsáveis e ca-

pazes de interferir para modificar o meio sob uma óti-

ca positiva e ética; ela pode inserir o empreendedorismo

na escola para o resgate da auto-estima dos alunos;

ela pode, enfim, aprimorar competências e habilida-

des através de estratégias diferenciadas.

Cabe a cada um de nós fazer a diferença no ambi-

ente em que atuamos, persistir, manter o ritmo, realizar,

amar aquilo que fazemos. Este é o verdadeiro motor do

empreendedorismo na educação: a atitude de cada um

de nós. Não há papel que não tenha sucesso quando

ensaiado e desempenhado com amor e competência.

Cláudia Villela é educadora, pedagoga,

consultora de Relações Interpessoais e

Facilitadora de Metodologias Participativas

e Metodologia CEFE – Crescimento Econômico

através da Formação de Empreendedores

(GTZ-Alemanha).

E-mail: [email protected]

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