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Revista Arandu # 56

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ISSN 1415-482X • Ano 13 • Nº 56 • Maio-Junho-Julho/2011.

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Dourados-MS Ano 13 • No 56 Págs. 1-56 Maio-Junho-Julho/2011

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CARO LEITORAno 13 • No 56 • Maio-Junho-Julho/2011

ISSN 1415-482X

Rua Mato Grosso, 1831, 10 Andar, Sala 01Centro • Dourados • MS

CEP 79810-110Telefones: (67) 3423-0020 e 9238-0022

Site: www.nicanorcoelho.com.br

CNPJ 06.115.732/0001-03

Revista Arandu: Informação, Arte, Ciência,Literatura / Grupo Literário Arandu - No 56(Maio-Junho-Julho/2011). Dourados: NicanorCoelho Editor, 2011.

TrimestralISSN 1415-482X

1. Informação - Periódicos; 2. Arte - Periódicos;3. Ciência - Periódicos; 4. Literatura -Periódicos; 5. Grupo Literário Arandu.

PUBLICAÇÃO DO

[[[[[

EditorNICANOR COELHO

[email protected]

Conselho Editorial ConsultivoÉLVIO LOPES, GICELMA DA FONSECA

CHACAROSQUI e LUIZ CARLOSLUCIANO

Conselho CientíficoANDRÉ MARTINS BARBOSA, CARLOSMAGNO MIERES AMARILHA, CÉLIA

REGINA DELÁCIO FERNANDES,LUCIANO SERAFIM, MARIA JOSÉ

MARTINELLI SILVA CALIXTO, MARIOVITO COMAR, NICANOR COELHO,

PAULO SÉRGIO NOLASCO DOS SANTOSe ROGÉRIO SILVA PEREIRA

Editor de ArteLUCIANO SERAFIM

O cantor norte-americano Bob Marleydisse certa vez que “enquanto a cor

da pele for mais importante que o brilhodos olhos, haverá Guerra”.

Foi desta forma que a professoraCristiane Pereira Peres epigrafou o artigointitulado “A representação do Negro nos livrosdidáticos”, que é o tema de capa desta ediçãoda Revista Arandu.

A ausência de conhecimento sobre ahistória dos afrodescendentes que ajuda-ram na construção da nação brasileira nosmotivou a publicar este trabalho, por en-tender que ainda faltam esclarecimentospara os professores sobre a questão.

Ao mesmo tempo, também estamos pu-blicando o artigo sobre “A prevalência daSíndrome de Burnout em professores readaptados doEnsino Fundamental de Dourados”, escrito peloprofessor e enfermeiro Maurício AguiarMacedo.

Também apresentamos os artigos “Edu-cação de Jovens e Adultos no Brasil: uma luta cons-tante”, produzido por Ailton SalgadoRosendo; “Política, Ditadura e Direitos Huma-nos”, escrito pelos advogados Jatene da Cos-ta Matos e Loreci Gottschalk Nolasco, e “Oscontroles interno como ferramenta gerencial parainvestimento de capital”, dos contadores Van-derlei Ângelo de Souza e Gessé Ferreira Dias.

Desejamos uma boa leitura na expecta-tiva de que com esta edição a RevistaArandu estará contribuindo para a disse-minação da ciência.

Nicanor Coelho

Editor

CARO LEITOR

EDITADO POR

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Ano 13 • No 56 • Maio-Junho-Julho/2011 SUMÁRIO[[[[[

A representação do negro nos livros didáticos A representação do negro nos livros didáticos A representação do negro nos livros didáticos A representação do negro nos livros didáticos A representação do negro nos livros didáticos ............... 5Cristiane Pereira Peres

A prevalência da síndrome de A prevalência da síndrome de A prevalência da síndrome de A prevalência da síndrome de A prevalência da síndrome de BurnoutBurnoutBurnoutBurnoutBurnoutem professores readaptados do ensino fundamentalem professores readaptados do ensino fundamentalem professores readaptados do ensino fundamentalem professores readaptados do ensino fundamentalem professores readaptados do ensino fundamentalde Douradosde Douradosde Douradosde Douradosde Dourados ..................................................... 12

Maurício Aguiar Macedo

Educação de Jovens e Adultos no Brasil:Educação de Jovens e Adultos no Brasil:Educação de Jovens e Adultos no Brasil:Educação de Jovens e Adultos no Brasil:Educação de Jovens e Adultos no Brasil:uma luta constanteuma luta constanteuma luta constanteuma luta constanteuma luta constante ............................................ 30

Ailton Salgado Rosendo

Polícia, ditadura e direitos humanosPolícia, ditadura e direitos humanosPolícia, ditadura e direitos humanosPolícia, ditadura e direitos humanosPolícia, ditadura e direitos humanos ........................ 36Jatene da Costa MatosLoreci Gottschalk Nolasco

Os controles internos como ferramenta gerencialOs controles internos como ferramenta gerencialOs controles internos como ferramenta gerencialOs controles internos como ferramenta gerencialOs controles internos como ferramenta gerencialpara investimento de capitalpara investimento de capitalpara investimento de capitalpara investimento de capitalpara investimento de capital ................................. 47

Gessé Ferreira DiasVanderlei Ângelo De Souza

• CAPES - Classificada na Lista Qualiswww.capes.gov.br

• ISSN - International Standard Serial Number

• Latindex - www.latindex.org

• GeoDados - www.geodados.uem.br

INDEXAÇÃOINDEXAÇÃOINDEXAÇÃOINDEXAÇÃOINDEXAÇÃO

Capa: “Estudo de cabeças” [s.d.,Óleo sobre tela]Artur Timóteo da Costa (1882-1923)

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1) A Revista Arandu destina-se à publi-

cação de trabalhos que pelo seu conteúdo pos-

sam contribuir para a formação e o desen-

volvimento científico além de atualização

nas diversas áreas do conhecimento.

2) As publicações deverão conter traba-

lhos da seguinte natureza:

a) Artigos Originais, de revisão ou de

atualização, que envolvam abordagens teó-

ricas e/ou práticas referentes à pesquisa e

que atinjam resultados conclusivos e signi-

ficativos.

b) Traduções de tetos não disponíveis em

língua portuguesa, que constituam funda-

mentos das diversas áreas do conhecimento e

que, por esta razão, contribuam para dar sus-

tentação e densidade à reflexão acadêmica.

c) Entrevista com autoridades que vêm

apresentando trabalhos inéditos, de relevân-

cia nacional e internacional, com o propósi-

to de manter o caráter de atualidade da Re-

vista Arandu.

d) Resenhas de produções relevantes que

possam manter a comunidade acadêmica

informada sobre o avanço das reflexões nas

diversas áreas do conhecimento.

3) A publicação de trabalhos será subme-

tida à aprovação do Conselho Editorial da

Revista Arandu.

- Caberá ao Conselho a seleção dos traba-

lhos com base nestas normas e o encami-

nhamento a consultores externos quando

necessário.

4) A entrega de originais para a Revista

Arandu deverá obedecer aos seguintes crité-

rios:

a) Os trabalhos deverão conter obrigato-

riamente: título em português; nome do au-

tor, identificado em rodapé e a qualificação

e a instituição a que pertence; notas finais,

eliminando-se os recursos das notas; refe-

rências bibliográficas, segundo as normas

da ABNT.

b) Os trabalhos deverão ser encaminha-

dos dentro da seguinte formatação: uma

cópia em Compact Disc, editor Word For

Windows 6.0 ou superior; duas cópias im-

pressas, com texto elaborado em português e

rigorosamente corrigido e revisado, devendo

ser uma delas sem identificação de autoria;

limite aproximado de cinco a 12 laudas para

artigos; cinco laudas para resenhas; dez

laudas para entrevistas e quinze laudas para

traduções; a fonte utilizada deve ser Arial

Naroow, corpo 12, espaço entrelinha um e

meio.

5) Eventuais ilustrações e tabelas com

respectivas legendas devem ser apresentadas

já inseridas no próprio texto. Todo Material

fotográfico deverá ser em preto e branco.

6) Ao autor de trabalhos aprovado e pu-

blicado serão fornecidos, gratuitamente cin-

co exemplares do número correspondente da

Revista Arandu.

7) Uma vez publicados os trabalhos, a

Revista Arandu se reserva todos os direitos

autorais, inclusive os de tradução, permi-

tindo, entretanto a sua posterior reprodução

como transcrição e com a devida citação da

fonte.

8) Os trabalhos representam o ponto de

vista dos seus autores e não a posição oficial

da Revista, do Grupo Literário Arandu ou de

Nicanor Coelho-Editor.

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

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A REPRESENTAÇÃO DO NEGRONOS LIVROS DIDÁTICOS

Cristiane Pereira PERES1

“Enquanto a cor da pele for mais importanteque o brilho dos olhos, haverá Guerra”

Bob MarleyBob MarleyBob MarleyBob MarleyBob Marley

RESUMOEste artigo apresenta uma análise dos livros didáticos de História do

7º e 8º ano do ensino fundamental, da rede municipal de ensino em Doura-dos Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil. O principal objetivo é abordar aforma pela qual esses materiais pedagógicos estão representando o negro esua História. Destacando dessa forma, a importância da Lei 10.639/2003no processo de ensino aprendizagem no tocante a questão do ensino deHistória e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

Palavras-Chave: Representação do Negro, Livro Didático, Ensino deHistória.

ABSTRACTThis paper presents an analysis of the History books, 7th and 8th

years of elementary school, the municipal school in Dourados, Mato Gros-so do Sul, Brazil. The main objective is to address the way in which theseteaching materials are representing the black and its history. Thushighlighting the importance of Law 10.639/2003 the teaching-learningprocess regarding the issue of teaching History and Afro-Brazilian andAfrican.

Keywords: Representation of Black, Textbooks, Teaching History

1 Licenciada em História pela UFGD, especialista em Educação Especial: Atendimento Às

Necessidades Especiais pela Faculdade Iguaçu.

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INTRODUÇÃO

Por muito tempo os livros didáticos apresentaram o negro e sua His-tória de forma a contemplar uma única versão da História, a do homembranco colonizador. Partindo desse pressuposto, a análise a seguir é umatentativa de perceber na atualidade como se dá essa representação nos li-vros didáticos escolhidos para serem trabalhados entre os anos letivos de2011 a 2014 na rede pública de Ensino em Dourados.

A ausência de conhecimento sobrea História do Povo Negro

A falta de conhecimento sobre a história do povo negro leva os alu-nos a exteriorizarem seus pré-conceitos dentro e fora do ambiente escolarpor meio de apelidos, piadinhas que denigre e exclui o aluno alvo dessaspráticas discriminatórias.

Para Munanga (1986) o preconceito racial está relacionado a certaignorância em relação a História antiga dos negros e as diferenças cultu-rais. No entanto, essa ignorância é transmitida através dos conceitos equi-vocados onde retratam o negro de forma estereotipada, apresentando-oscomo subalternos e marginalizados.

Assim, faz-se necessário aprofundar esse conhecimento prévio, comoafirma Wedderburn

Aprofundar e divulgar o conhecimento sobre os povos, as culturas e

as civilizações do Continente Africano, antes, durante e depois da

grande tragédia dos tráfegos negreiros transariano, do Mar Ver-

melho do Oceano Indíco (árabe-muçulmano) e do oceano Atlântico

(europeu), e sobre a subsequente colonização direta desse conti-

nente pelo Ocidente a partir do século XIX, são tarefas de grande

envergadura (WEDDERBURN 2001, p.4).

De acordo com as primícias acima acredito que é nesse momento quea escola precisa estar presente e elaborar políticas pedagógicas que ofere-çam ao aluno um conhecimento aprofundado sobre a História e a Culturado povo negro, através de discussões que desconstruam a imagem negativaque é associada a esse povo. Nesse tocante, a escola precisa adotar critérioscríticos na escolha do material pedagógico a ser utilizado em sala de aula,

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para que o mesmo contemple a diversidade cultural objetivando o fim dopreconceito.

Segundo os PCNs, ao longo do Ensino Fundamental os alunos deve-rão se capazes de:

Conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais,

em diversos tempos e espaços, em suas manifestações culturais,

econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e dife-

renças entre eles (PCNs, 2001, p.41).

Dessa forma, analisando o que diz os PCNs pode-se perguntar se osalunos estão recebendo conteúdos e orientações que os levem a refletirem eelaborarem novos conceitos sobre a importância do respeito à diversidadecultural. Os conteúdos pedagógicos são fundamentais para que esses no-vos olhares e entendimentos sobre a História do negro sejam estabelecidose que venham a romper com o etnocentrismo do perfil europeu herdadopela nossa sociedade. No entanto, para que ocorra a construção de novosconhecimentos é necessário que os conteúdos que contemple a História donegro e sua Cultura, sejam transmitidos com precisão.

Para reafirmar a importância em transmitir a História e a CulturaAfro-Brasileira, alguns artigos da Lei 9.394/96 foram alterados pela Lei10.639/2003 com a inserção dos artigos 26-A que torna obrigatório o ensinode História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e o 76-B que inclui no calen-dário escolar o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da ConsciênciaNegra.

Para o ensino, o importante não é que essa temática seja incluída aocurrículo escolar somente para atender a obrigatoriedade da lei, mas quesua aplicabilidade ocorra de forma que leve para sala de aula discussõesque sejam responsáveis pelo fim de entendimentos equivocados gerado-res de preconceitos. Priorizando dessa forma, metodologias e acervos queestimulem um crescimento intelectual capaz de estabelecer reflexões quedesconstrua os pré-conceitos errôneos e se formule novos entendimentossobre as relações etnicorraciais. Desse modo, entendo que seja responsa-bilidade do professor na execução de suas práticas pedagógicas, integrarconteúdos que abordem a temática de forma aprofundada e não superfici-almente.

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Análise dos Livros Didáticos de História

A análise foi realizada em dois livros didáticos escolhidos para seremutilizados na rede pública de Ensino em Dourados entre os anos letivos de2011 a 2014. O primeiro livro analisado foi o do 7º ano da editora Scipione doProjeto Radix, organizado pelo professor Cláudio Vicentino. O capítulo VIapresenta como título: “África - dos reinos antigos ao tráfico atlântico de escravos”. Deforma superficial, o capítulo discorre sobre a diversidade dos povos africa-nos, predominando em seu conteúdo a escravidão e o tráfico de escravos. Asimagens representam os escravos de diferentes etnias, entre elas Benguela,Angola, Congo e Monjolo, por volta de 1835; e na página 134 uma gravurainglesa de 1845, retrata a captura de africanos para serem escravizados.

A grande maioria das imagens são de pessoas escravizadas, como se ahistória do povo negro se resumisse ao período da escravidão. O livro apre-senta lacunas no tocante à valorização da História, da Cultura e Identidade

Pinturas representam as várias etnias africanas.

Gravura inglesa de 1845. Captura de africanos para serem escravizados.

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do negro, evidenciando o período escravocrata. Visto que, o povo negro nãodeve ser representado apenas pela cor da sua pele e traços físicos, mas prin-cipalmente por seu processo histórico e valorização da sua cultura.

Quando um aluno afrodescendente se depara com uma imagem des-crita nas primícias acima não se vê ali representado, podendo portantopassar a negar sua identidade para se sentir pertencente ao grupo social naqual está inserido naquele momento. Partindo dessas imagens, o professorpode se apropriar das mesmas para desconstruir os estereótipos, não ultra-passando o período da escravidão, mas evidenciando toda a importânciado negro para a formação da sociedade nacional.

O capítulo XII apresenta como título: “O açúcar e a América Portuguesa”.Suas imagens também evidenciam o trabalho escravo nos engenhos de cana-de-açúcar e de forma muito breve, mais precisamente em um parágrafo,descreve sobre a sociedade racista formada desde o período da escravidão.

O livro do 8º ano, também da mesma editora e mesmo organizador,retrata no capítulo VIII o conteúdo sobre “A Independência na América Portu-guesa”, onde representa o negro em textos e imagens como escravo. Exem-plo disso são as pinturas de Félix-Émile Taunay, de 1821, e de JohannMoritz Rugendas, de 1835, que representa os escravos carregadores deágua [abaixo].

Carregadores de água, pintura de Rugendas (1835)

A partir dessas análises podemos perceber que os livros didáticosainda priorizam conteúdos que restringe o negro ao tempo da escravidão,contribuindo dessa forma com a permanência de uma imagem estereotipa-da e depreciativa. Segundo Munanga, o livro didático pode ser um meio deexpansão de estereótipos não percebidos pelo professor (MUNANGA, 2008,p. 19).

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Dessa forma, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das RalaçõesÉtnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, determi-nam que “além de garantir vagas para negros nos bancos escolares, é preci-so valorizar a História e Cultura do seu povo”.

Sobre a responsabilidade das escolas, as Diretrizes Curriculares Nacionaisexpõe que:

Aos estabelecimentos de ensino está sendo atribuída responsabili-

dade de acabar com o modo falso e reduzido de tratar a contribuição

dos africanos escravizados e de seus descendentes para a construção

da nação brasileira; de fiscalizar para que, no seu interior, os alu-

nos negros deixem de sofrer os primeiros e continuados atos de

racismo de que são vítima (Brasil, 2004,pág.18).

Cabe salientar que o preconceito não é gerado dentro do ambienteescolar, os alunos já chegam à escola com atitudes preconcei-tuosas, oriun-das em muitas das vezes do próprio convívio familiar. Mas, é na escola queos mesmos buscam um referencial para suas relações sociais atribuindodessa forma, grandes responsabilidades a escola. Sendo o Racismo manti-do através de atitudes diárias e difundidas socialmente vale evidenciar quenão é somente responsabilidade da escola promover políticas pedagógicasque visem o fim da intolerância etnicorracial, mas sim, uma tarefa de to-dos, uma vez que o racismo perpassa o ambiente escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com as discussões apresentadas, podemos elucidar que agrande meta do processo de ensino aprendizagem é abordar o Ensino deHistória e Cultura Afro-Brasileira e Africana de forma que a diversidadeetnicorracial seja aceita sem discriminação. Salientando que o cumprimen-to da legislação não é suficiente para sanar as lacunas existentes no ensinosobre a temática, é preciso que as discussões abordem conteúdos que inte-grem o indivíduo a sociedade sem atitudes racistas. No entanto, os livrosdidáticos precisam passar por um processo de reavaliação para que nãosejam propagadores do preconceito, mas sim, meios para se obter um realconhecimento da História do negro e sua Cultura, rompendo com os estere-ótipos e formulando novos entendimentos, através de um projeto educativoemancipatório. Como bem disse Nelson Mandela: “a educação é a mais

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poderosa arma pela qual se pode mudar o mundo”.

BIBLIOGRAFIA

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BRASIL, Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raci-ais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 2004.MEC.

EAGLETON Terry. A Ideia de Cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Porto: Afrontamento, 1975.

GOMES, Nilma Lino (Org.). Um olhar além das fronteiras: educação e relaçõesraciais. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

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MUNANGA, Kabengele (Org). Superando o Racismo na Escola. Brasília: MEC, 2ºEd. 2008.

MUNANGA, Kabengele. Negritude - Usos e Sentidos. São Paulo: Editora Ática,1986.

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VICENTINO, Cláudio. Projeto Radix – História – 7° ano. 1ª ed. São Paulo: Scipione,2009.

VICENTINO, Cláudio. Projeto Radix – História – 8° ano. 1ª ed. São Paulo: Scipione,2009.

WEDDERBURN, C. M. Novas Bases para o Ensino da História da África noBrasil. 2001 < Disponível em: http://www.forumafrica.com.br

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A PREVALÊNCIA DASÍNDROME DE BURNOUT EM

PROFESSORES READAPTADOSDO ENSINO FUNDAMENTAL

DE DOURADOS

Maurício Aguiar MACEDO1

RESUMOConsiderada como resposta ao estresse laboral crônico a Síndrome de

Burnout é um fenômeno que afeta principalmente os trabalhadores encar-regados de cuidar, profissionais das áreas de Educação e da Saúde. A di-mensão desta Síndrome compreende exaustão emocional,despersonalização e envolvimento pessoal no trabalho. O objetivo desteartigo foi identificar e analisar a prevalência da SB e, demais patologias,que contribuíram, para o desvio de função dos docentes da Secretaria Mu-nicipal de Educação no ano de 2009. Realizou-se um estudo descritivo,com dados secundários. A Síndrome de Burnout aparece como resultado dainteração entre aspectos individuais e o ambiente do trabalho, todavia, suaprevalência ainda é incerta. Apontou-se nos diagnósticos promotores dasreadaptações: estresses e os transtornos depressivos como contribuintes àpropagação desta síndrome. Mais pesquisas devem ser realizadas para quemudanças positivas nas organizações de trabalho sejam baseadas em evi-dências científicas.

Palavras-chave: Síndrome de Burnout, Estresse, Saúde do Trabalha-dor.

1 Professor e Enfermeiro. Especialista em Latim e Estudos diacrônicos pela UEMS. Trabalho realizado

no Curso de Enfermagem da UNIGRAN/Dourados, em 2010.

Email: [email protected]

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ABSTRACTConsidered as a response to chronic job stress the Burnout Syndrome

is a phenomenon which affects mainly the workers responsible for caringprofessionals in the areas of Education and Health. The size of thissyndrome consists of emotional exhaustion, depersonalization and personalinvolvement in work. The aim of this article was to identify and analyzethe prevalence of SB and other pathologies that contributed to the diversionof role in teachers of SEMED-MS in 2009. We conducted a comparisonbetween literature review and data provided by SEMED. The Burnoutsyndrome appears as result from the interaction between individual aspectsand the work environment, however, its prevalence is still uncertain. Itwas pointed out in diagnoses promoters of readaptations: stress anddepressive disorders as contributing to the spread of this syndrome. Moreresearches must be conduct in work organizations to make positive changescan be based on scientific evidence.

Keywords: Burnout Syndrome, Stress, Worker’s Health.

INTRODUÇÃO

Paulatinamente, a temática relacionada à saúde dos professores re-cebe atenção crescente nos últimos anos. O estudo das relações entre oprocesso de trabalho docente, as reais condições sob as quais ele se desen-volve e o possível adoecimento físico e mental dos professores configuramum desafio e uma necessidade para se entender o processo saúde-doençado trabalhador docente e, desta forma, tem sido fonte de pesquisas realiza-das no exterior e no Brasil.

A Síndrome de burnout (SB) foi o ponto nuclear deste estudo. É umaSíndrome que afeta principalmente os trabalhadores encarregados de cui-dar, profissionais das áreas de Saúde e da Educação. Codo et al (2002) desta-ca que este é o principal problema dos profissionais da educação, o autorainda salienta que o tratamento destas questões em nível científico surgi-ram a partir de 1970, quando se iniciam a construção de modelos teóricos einstrumentos capazes de registrar e compreender esse sentimento crônicode desanimo, de apatia, de despersonalização.

CARLOTO (2003) assevera que estudos realizados nos Estados Uni-dos da América indicam que a Síndrome de burnout constitui-se em um dosgrandes problemas psicossociais atuais, desperta interesse e preocupaçãonão só por parte da comunidade científica internacional, mas também das

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entidades governamentais, empresariais e sindicais norte-americanas eeuropéias, devido à severidade de suas conseqüências, tanto em nível indi-vidual como organizacional.

Considerando que o trabalho represente um agente etiológico, e con-frontando aspectos entre o trabalho e a situação do trabalhador CODO(1993) salienta que o homem produz sua própria existência na medida emque trabalha, arquitetando a estrutura social com suas próprias mãos, amesma estrutura que lhe servirá de habitat; o homem é o meio ambiente dohomem. Ocorre que a evolução das forças produtivas, principalmente como surgimento do capital, operou uma inversão. Trabalho, sinônimo dehominização, portanto liberdade se transformou em estranhamento, per-da de si mesmo, portanto de tortura.

Segundo Silva (2009), na abordagem da saúde dos trabalhadoresfica verificado que o trabalho, com todas as suas implicações, pode acarre-tar ao trabalhador disfunções e lesões biológicas, além de reações psicoló-gicas, desencadeando, desta forma, processos psicopatológicos relaciona-dos às condições em que é desempenhado e, que várias são as condições quepodem predispor o profissional a situações de sofrimento do trabalho, to-das impactando em sua saúde física e mental.

Inicialmente sobre doença ocupacional, subentende-se que seja, asoma de várias patologias que causam alterações na saúde dos trabalhado-res em geral, provocadas por fatores relacionados com o ambiente de traba-lho. Geralmente, entende-se que doenças ocupacionais são adquiridas emfunção de um trabalho desenvolvido, ou seja, podem surgir a medida queos limites naturais da pessoa vão sendo ultrapassados. Após, entendidosalguns aspectos e, qual a implicância das doenças ocupacionais em relaçãoa saúde dos trabalhadores, nos ocuparemos, exclusivamente, na e da saú-de de trabalhadores docentes, especificamente saúde dos professores doEnsino Fundamental da cidade de Dourados que possuem vínculo com aSecretaria Municipal de Educação.

No segundo momento, como ponto fulcral, discutiremos, por meio derevisão de literatura, a configuração da Síndrome de Burnout (SB). Esta síndromeabranger um conjunto de sinais e sintomas de causas diversas, podendo serde ordem psicológica e de ordem física e, variavelmente, psicofísico. A im-portância da pesquisa está no sentido de verificar a correlação entre estasíndrome e o desgaste dos profissionais docente na atualidade.

O Ministério da Saúde Brasileiro (2001) reconhece a “Síndrome deBurn-out” ou “Síndrome do Esgotamento Profissional” como um tipo de

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resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos notrabalho, que afeta principalmente profissionais da área de serviços oucuidadores, quando em contato direto com os usuários, como os trabalha-dores da educação, da saúde, policiais, assistentes sociais, agentes peni-tenciários, entre outros. Desta forma, o texto deverá trazer informaçõespara trabalhadores em geral.

Para identificar a quantidade de professores readaptados no ano de2009, do Ensino Fundamental de Dourados/MS, quer seja de ordem defini-tiva, quer seja de ordem provisória, a presente proposta teve como objetivogeral confrontar uma revisão bibliográfica a respeito da SB, considerandosua prevalência e as conseqüências para o indivíduo e a organização em quetrabalha. Os objetivos específicos foram descrever e discutir os dados queinicialmente recebemos da (SEMED) Secretaria Municipal de Educação, ondese registra a parcela de professores que foram readaptados, ou seja, poralguns motivos afastados das atividades normais que seria aulas presenciaiscom alunos e, passaram a desenvolver alguma outra atividade como, porexemplo: auxiliar de biblioteca; auxiliar administrativo e/ou coordenaçãopedagógica na escola onde trabalham. Em síntese, propomos apontar quala parcela de professores readaptados neste período e, descrever a porcenta-gem das readaptações que estão relacionadas à SB, e, destarte, favoreceruma maior compreensão dessa temática.

2. REFLEXÕES SOBRE O MAL-ESTAR NA EDUCAÇÃO

Hodierno as rápidas mudanças, pelas quais a nossa sociedade vempassando tem ampliado as exigências sobre o trabalho docente, o que temprovocado entre os professores um fenômeno conhecido como mal-estardocente. Nesta vertente, os professores se vêem desestimulados com a pro-fissão em que atuam, propiciando que muitos desistam da profissão. Oaparecimento de muitas atribuições destinadas apenas a um professor temfeito com que estes trabalhadores desenvolvam um extremo esgotamentofísico e mental, fazendo muitas vezes com que o profissional desanime comsua profissão, desta forma, cria-se elementos que podem desencadear des-gaste físico e mental deste profissional.

A Organização Internacional do Trabalho definiu as condições detrabalho para os professores ao reconhecer o lugar central que estes ocu-pam na sociedade, uma vez que são os responsáveis pelo preparo do cida-dão para a vida (OIT, 1984). Tais condições buscam basicamente atingir a

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meta de um ensino eficaz.O presente estudo torna-se importante quando visa contribuir para a

saúde do/a educador/a no contexto do seu trabalho. Conforme Assunção(2003, p. 98) “Para os trabalhadores, a construção da saúde é a mobilização consciente ounão das potencialidades de adaptação do ser humano, permitindo-lhe interagir com o meiode trabalho e lutar contra o sofrimento, a morte, as deficiências, as doenças e a tristeza”.

Na abordagem das doenças relacionadas ao trabalho, o Ministérioda Saúde (2001), informa que transtornos mentais e do comportamentorelacionados ao trabalho ocupam um lugar fundamental na dinâmica doinvestimento afetivo das pessoas. Condições favoráveis à livre utilizaçãodas habilidades dos trabalhadores e ao controle do trabalho pelos traba-lhadores têm sido identificadas como importantes requisitos para que otrabalho possa proporcionar prazer, bem-estar e saúde, deixando de provo-car doenças. Por outro lado, o trabalho desprovido de significação, semsuporte social, não-reconhecido ou que se constitua em fonte de ameaça àintegridade física e/ou psíquica, pode desencadear sofrimento psíquico.

Destacamos que o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Ameri-cana da Saúde (BRASIL, 2001), de acordo com a Portaria n 1.339, de 18 denovembro de 1999, reconhecem a apresentam lista contendo 12 transtornosmentais e de comportamento relacionados ao trabalho que podem acome-ter nossos trabalhadores: a) demência em outras doenças específicas clas-sificadas em outros locais; b) delirium, não-sobreposto à demência, comodescrita; c) transtorno cognitivo leve; d) transtorno orgânico de personali-dade; e) transtorno mental orgânico ou sintomático não específico; f) alco-olismo crônico; g) episódios depressivos; h) estado de estresses pós- trau-mático; i) neurastenia; j) outros transtornos neuróticos especificados; k)transtorno do ciclo vigília-sono devidos a fatores não orgânicos; l) síndromede burnout ou síndrome do esgotamento profissional.

Codo (2002) afirma que ao analisar as implicações das atuais exigên-cias em relação ao trabalho dos/as profissionais da educação, deve-se aler-ta para o sofrimento e a crise de identidade que ora estes/as vivenciam,numa realidade social cada vez mais deteriorada, onde são chamados acontinuamente provar sua competência profissional. O autor afirma aindaque quanto maior for a defasagem entre o “trabalho como deve ser” e a“realidade do trabalho” nas escolas, maior será o investimento afetivo ecognitivo exigido ao professor, maior será o esforço realizado, e por isso,maior será seu sofrimento no cotidiano do trabalho.

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3. DOENÇAS OCUPACIONAIS E A PRÁTICA DOCENTE

Na compreensão da menção latina Homo ad laborem natus et avis ad volatum(O homem nasceu para trabalhar; a ave para voar), este artigo,pressupostamente, intenciona compreender melhor o processo deadoecimento no trabalho e qual a interferência da doença na própria vidadas pessoas acometidas por algum tipo de doença ocupacional.

Na compreensão das dicotomias trabalho e doença ocupacionalChristophe Dejours (1992), pesquisador em medicina do trabalho asseveraque no trabalho existe também o prazer e, que doenças acometem o traba-lhador a partir de exigências impostas pelas organizações, assevera que otrabalho não é neutro em relação à saúde, pois pode contribuir para oadoecimento dos trabalhadores. Dejours (1994) salienta que existe um “pa-radoxo psíquico do trabalho”: onde conclui que, este é, para uns, fonte deequilíbrio; para outros, causa de fadiga e sofrimento. Seguindo as impli-câncias deste autor, o trabalho é equilibrante quando possibilita a diminui-ção da carga psíquica e é fatigante quando obstaculiza essa diminuição.Daí a importância, para a saúde psíquica do trabalhador, de um trabalholivremente escolhido ou livremente organizado, uma vez que as vias dedescarga, nesses casos, vão estar mais adaptadas às necessidades do tra-balhador, para Dejours quando na impossibilidade de uma livre escolha, ese não é mais possível ao trabalhador ao menos o rearranjo da organizaçãode seu trabalho, advém o sofrimento, ou seja, quando o trabalhador nãoencontra possibilidade de descarga, a energia pulsional fica acumulada,provocando sentimento de desprazer e tensão.

Codo (2002), afirma que o Burnout é um dos filhos deste novo tempo,salientando ainda que são constatáveis as mudanças ocorridas nos últimosanos nas esferas política, social e econômica e estas vêm transformandoprofundamente o nosso meio, trazendo novos conceitos de trabalho e detrabalhador e que causam um impacto em todas as pessoas inseridas nomundo do trabalho, e com os profissionais docentes não poderia deixar deser diferente.

4. A SAÚDE DO PROFESSOR E A SÍNDROME DE BURNOUT

Para compreender e discorrer sobre a Síndrome de Burnout Trigo (2007)afirma que nos primeiros estudos Freudenberger (1974) cria a expressão staffburnout para descrever uma síndrome composta por exaustão, desilusão e

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isolamento em trabalhadores da saúde mental. Desta forma, tal síndromepassa a ser tema das discussões entre profissionais de várias ocupações,enfatiza-se que hoje o burnout está reconhecido como um risco ocupacionalpara profissões que envolvem cuidados com saúde, educação e serviçoshumanos. O autor ainda, assevera que no Brasil, o decreto no 3.048, de 6 demaio de 1999, aprovou o regulamento da Previdência Social e, em seu AnexoII, trata dos agentes Patogênicos causadores de doenças profissionais. Noitem XII da tabela de transtornos Mentais e do Comportamento Relaciona-dos com o trabalho (Grupo V da Classificação Internacional das Doenças –CID-10) cita a “Sensação de Estar Acabado” (“Síndrome de burnout”,“Síndrome do Esgotamento Profissional”) como sinônimo de burnout, que,na CID-10 código Z73.0.

A Síndrome de Burnout é definida por Maslach e Jackon (1981 citadopor CODO, 2002. p. 238) como uma reação a tensão emocional crônica gera-da a partir do contato direto e excessivo com outros seres humano, particu-larmente quando estes são preocupados ou com problemas. Cuidar exigetensão emocional, constante atenção perene, grande responsabilidade es-preita o profissional a cada gesto no trabalho. O trabalhador se envolveafetivamente com os seus clientes, se desgasta e, num extremo, desiste,não agüenta mais entra em Burnout. Esta Síndrome para este autor e, todosos demais pesquisadores que tivemos acesso, definem o Burnout como umconceito multidimensional que envolve três dimensões, a saber:

1) Exaustão Emocional – situação em que os trabalhadores sentemque não podem dar mais de si mesmos a nível afetivo. Percebem esgotadasa energia e os recursos emocionais próprios, devido ao contato diário comos problemas.

2) Despersonalização – desenvolvimento de sentimentos e atitudesnegativas e desanimo às pessoas destinatárias do trabalho (usuários/clien-tes) – endurecimento afetivo “coisificação” da relação.

3) Falta de envolvimento pessoal no trabalho – tendência de umaevolução negativa no trabalho, afetando a habilidade para realização dotrabalho e o atendimento o contato com as pessoas usuárias do trabalho,bem como com a organização.

Segundo Reinhold apud Ibisu (2009) o burnout é uma erosão gradual, efrequentemente imperceptível no início, de energia e disposições, comoconseqüência de um estresse crônico e prolongado, ou melhor, de uma in-capacidade crônica para controlar o estresse, informa ainda que, não acon-

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tece como resultado de eventos traumáticos isolados. Não ocorre de repen-te. É um processo cumulativo, começando com pequenos sinais de alertaque, não sendo percebidos podem levar o professor a uma sensação de qua-se terror diante da idéia de ir à escola. Para o supracitado autor, trata-se deum tipo especial estresse ocupacional que se manifesta através de um pro-fundo sentimento de exaustão ao trabalho desempenhado e que, sutilmen-te vai se estendendo para todas as áreas da vida da pessoa.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Os aspectos éticos tangentes à pesquisa com seres humanos foramrespeitados no desenvolvimento do estudo, obtendo-se a aprovação do pro-jeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos (CEP) daUNIGRAN.

Inicialmente solicitamos, via ofício, autorização para o desenvolvi-mento da pesquisa e obtivemos uma resposta assinada pela direção daSecretaria Municipal de Educação (SEMED) permitindo a realização damesma. Em seguida, foi efetivado buscas de campo de caráter descritivocom análise quantitativa, que segundo Leite (2008) esta técnica é ocupada quan-do se quer determinar o perfil de um grupo de pessoas e atividades baseando-se em caracterís-ticas que elas têm em comum ou incomum.

Optou-se por trabalhar com dados secundários assegurados por estaSecretaria, os quais foram agrupados e colhidos na SEMED de Dourados-MS, sendo os resultados apresentado como Trabalho de Conclusão do Cur-so de Enfermagem da UNIGRAN. Nos dados recebidos apontou-se que noano de 2009 havia 1.674 professores vinculados a esta Secretaria, sendo1.013 professores efetivos e 661 professores contratados. Dentro deste efeti-vo 455 atuaram nos anos iniciais e, 403 nos anos finais do ensino funda-mental.

Tangente a readaptações ao todo recebemos dados constituídos de59 professores, sendo 23 professores readaptados definitivamente e, 36 pro-fessores readaptados provisoriamente no ano de 2009. A SEMED informouque atende e recebe professores de outras localidades como: Itaporã, Fáti-ma do Sul, Douradina e, da grande região de Dourados. Dentro das estatís-ticas que recebemos, foi garantido o anonimato e o sigilo dos professoresrelacionados nesta amostra, assim como na apresentação e divulgação dosresultados que buscamos. Deve ficar entendido que os laudos médicos queretratam a saúde dos profissionais desta secretaria, aos passarem pelas

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perícias com médicos específicos do trabalho são encaminhados primeira-mente para esta Secretaria SEMED e, depois são arquivados em um bancode dados na Secretaria Municipal de Administração (SEMAD).

Frente ao conceito de mudança de função, ou, readaptação para oambiente de trabalho, fica salientado segundo a Secretaria Municipal deEducação (SEMED) que o profissional terá o direito a adquirir readaptaçãodefinitiva após passar por, respectivamente, 04 readaptações provisórias,sendo que cada readaptação provisória compreende um período de no má-ximo 06 meses, ou seja, necessita-se de dois anos de afastamento das ativi-dades diretas com alunos. A SEMED destaca, ainda que, durante asreadaptações provisórias e na readaptação definitiva o professor no âmbitoescolar, realiza suas atividades em outro setor que não seja a sala de aula,desta forma, comumente, por conta da aposentadoria especial o profissio-nal passa a desempenhar funções pedagógicas, de modo mais especifico, oprofessor passa a atuar como auxiliar de coordenação.

Para descrever e solidificar estes dados, foi essencial efetivar buscasaos Requerimentos de Readaptação de Função, sendo que estes para serem arqui-vados e validados deveriam estar anexados a: 1) Laudo Médico; e 2) Oficioou CI expedido pela chefia imediata, informando em qual função o servidorestará sendo readaptado.

Para a compreensão dos resultados da pesquisa, ressaltamos que osdados que obtivemos destas duas Secretarias apresentam-se essencialmen-te básicos, isto, devido ao número limitado de informações que os Laudostrazem, ou seja, não se aponta nos laudos, informações mais apuradascomo: data de nascimento; diagnóstico preciso; nível de instrução do do-cente, quantas readaptações o docente recebeu durante sua a atividadedocente. Desta forma conclui-se que informações importantes deixam deser apontadas.

5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS DA PESQUISA

Na configuração dos dados relacionados a saúde dos professores deDourados/MS conforme nos foi repassado pela SEMED, no ano de 2009, a prior,apontou-se a concessão de 175 readaptações para toda esta Secretaria, porém,como alguns profissionais obtiveram duas ou até três readaptações, o númeroexato de readaptações em função de alguma patologia ocupacional foi exata-mente de 117 profissionais. Deste montante, nos ocuparemos somente dos 59casos que se concentram no Ensino Fundamental e séries iniciais.

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Na porcentagem do sexo destes profissionais a SEMED não possui aexatidão da porcentagem que divide homens e mulheres, ou seja, os laudospericiais não separam o sexo dos profissionais, entretanto, como busca-mos em todos os laudos destes professores, conseguimos apontar a porcen-tagem do sexo deste grupo selecionado, conforme verifica-se no gráficoabaixo que (11%) são do sexo masculino e, (48%) são do sexo feminino.

Figura 1 - Distribuição de professores separados conforme a % do sexo.

Observa-se, neste dado, o que geralmente ocorre com a educação amaioria é de mulheres, nesta amostra 54 mulheres, ou seja, 81,36%, contra05 homens sendo 18,64%, de homens desempenhando esta profissão. Re-ferente ao pressuposto destacado, não se aponta nenhuma novidade quan-do a maioria destes grupos de profissionais serem mulheres. Codo (1999)em pesquisa nacional realizada sobre trabalho, organização e saúde dostrabalhadores em educação no Brasil, aponta para um contingente de 82,4%de trabalhadores em educação do sexo feminino.

Na configuração da faixa etária deste grupo de professores, buscou-se através desta informação, compreender se os profissionais desta Secreta-ria possuiam uma faixa etária que seja mais suscetível ao desenvolvimentode alguma patologia ocupacional, ou identificar se o desenvolvimento dasdoenças ocupacionais podem ser desencadeados nos primeiros anos de ma-gistério. Desta forma, apontamos os resultados na figura 2 [próxima pági-na].

Verifica-se, portanto que 23 = 39% representa os docentes de 41 a 50,que 17 =29% 31 a 40 anos, que 18 profissionais representando 30% 51 a 60anos e, somente 01 docente 2% representando os professores com idadesuperior a 60 anos.

% SEXO

81,36 %54 são

professoras

18,64 %05 são

professores

Mulheres

Homens

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Figura 2 - Distribuição de professores separados conforme a faixa etária.

Pode-se observar, no Gráfico acima que neste grupo não há uma faixaetária que tenha grandes diferenças proporcionais, visto que, as patologiasocupacionais são multifacetadas e provocam alterações em todas as idades.

A faixa etária com maior freqüência compreende docentes entre 41 a50 anos representando (39%), dos professores readaptados. Na segundacolocação professores entre 51 a 60 anos (30%), desta forma, subtende-seque existe uma razoável quantidade de professores na ativa, nesta faixaetária. Na terceira colocação professores de 31 a 40 anos representando (29%),quase não tiveram diferença significativa.

Um dado constatado na faixa etária é que não houve presença nasreadaptações de algum profissional que estivesse inserido na faixa que com-preende de 21 a 30 anos, o que nos faz refletir sobre a propagação das doen-ças ocupacionais aparecerem geralmente em profissionais acima de 30 anosde idade.

Demonstraremos agora, conforme está delineado nos objetivos destetrabalho o confronto dos dados recebidos, desta forma, foi realizado abor-dagens que denunciasse qual foi a prevalência da Síndrome de Burnout e, as“demais patologias” que mais apareceram nos laudos periciais.

Na tabela 01 observa-se o declínio das 59 patologias que se encon-tram asseguradas pelo no CID (Classificação Internacional de Doenças) comoas patologias relacionadas às readaptações. Apontam-se os diagnósticosagrupados de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Do-enças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão (CID 10), os quaisforam identificados após passar por Laudo Médico de peritos (Medicina do

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Trabalho) da Junta da Prefeitura Municipal e da Secretaria Municipal deSaúde. Esta relação engloba professores que foram readaptados tanto emordem definitivos como provisória:

Entre as patologias apontadas com pouca freqüência para os desviosde função, destacam-se as que tiveram apenas 01 referência, a saber: CID –F31.0F31.0F31.0F31.0F31.0 Transtorno afetivo bipolar episódio atual hipomaníaco; CID –F33.1F33.1F33.1F33.1F33.1Transtorno depressivo recorrente episódio atual moderado; CID – F48.0F48.0F48.0F48.0F48.0Neurastenia; CID – G40.8G40.8G40.8G40.8G40.8 Outras epilepsias e 01 com CID – M17M17M17M17M17 Gonartrose.Já entre as patologias com duas aparições apontam-se: CID – F07F07F07F07F07.9.9.9.9.9 Trans-torno orgânico de personalidade ou de comportamento decorrente de doen-ça, lesão ou disfunção cerebral não especificado; CID – F31.2F31.2F31.2F31.2F31.2 Transtornoafetivo bipolar, episódio atual maníaco com sintomas psicóticos; CID –F32.9F32.9F32.9F32.9F32.9 Episódio depressivo não especificado; CID – F33.3F33.3F33.3F33.3F33.3 Transtornodepressivo recorrente, episódio atual grave com sintomas psicóticos e CID –F41.2F41.2F41.2F41.2F41.2 Transtorno misto de ansiedade e depressão.

Santos (2006) assevera que existem três fontes que indicam sofri-mento humano: o poder superior da natureza, a fragilidade do corpo e adificuldade de adaptação das regras que ajustam os seres humanos nafamília, no Estado e na sociedade, levando a insegurança social e profissi-onal e provocando, no homem moderno distúrbios comportamentais epsicossociais.

Diagnósticos Quantidade

F32 Episódio depressivo 04

F32.1 Episódio depressivo moderado 03

F32.2 Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos 10

F33.2 Episódio depressivo recorrente, episódio atual grave

sem sintoma psicótico

05

F43 Reações a estresse grave e transtorno de ajustamento 06

M 50 Transtorno dos discos cervicais 05

M 51 Outros transtornos de discos intervertebrais 05

M 54.2 Cervicalgia 03

R49.0 Disfonia 03

Tabela 1: Diagnósticos, segundo agrupamentos do CID 10, quejustificaram as readaptações dos professores em 2009.

Extraído e adaptado da Secretária Municipal de Educação de Dourados,Relacionado aos docentes do Ensino Fundamental.

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Os diagnósticos, segundo o CID 10, que mais aparecem entre os pro-fissionais readaptados, sendo os Transtornos mentais e comportamentaise, as Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo. Durante ainvestigação não se apontou, curiosamente, indicação relacionada a Doen-ças do Aparelho Circulatório, posto que, dentro da literatura científica queestuda tais patologias ocupacionais relacionadas à professores, doençasdo aparelho circulatório são freqüentes como varizes de membros inferio-res, hipertensão primária e casos de hemorróidas, ficando entendido que,as doenças do aparelho circulatório são apontadas por vários estudos comouma das principais causas de mortalidade no Brasil. Outro grupo não rela-cionado compreende as doenças cardiovasculares, todavia, Moura et al (2007)afirma que no Brasil em 2001, tais patologias chegaram a 10,4% do total deinternações no Sistema Único de Saúde (SUS), a mortalidade por estas do-enças representam 31,1% do total de óbitos e, as doenças cardiovascularesestão entre os cinco primeiros grupos de doenças que mais levam precoce-mente a aposentadoria ou invalidez.

Os Transtornos Mentais e Comportamentais ocuparam o primeirolugar entre as doenças diagnosticadas, foram 38 relatos que corresponde a64,4%, este dado indica a gravidade dos problemas relacionados à saúde

Nesta tabela 2, aponta-se separação dos grupos de patologias paramelhor compreender quais patologias mais aparecem nos Laudos Médicos,cada grupo representa com conjunto de patologias semelhantes, ou associa-das.

Diagnósticos Quantidade %

F00 a F00 Transtornos mentais e comportamentais 41 69,49

G00 a G99 Doenças do sistema nervoso 01 1,69

M00 a M99 Doenças do sistema osteomuscular e do tecido

conjuntivo

14 23,73

R00 a R99 Sintomas, sinais e achados anormais de exames

clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte

03 5,08

Total 59 100

Tabela 2: Diagnósticos, segundo agrupamentos do CID 10, quejustificaram as readaptações dos professores em 2009.

Extraído e adaptado da Secretária Municipal de Educação de Dourados,

Relacionado aos docentes do Ensino Fundamental.

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mental entre os professores. Vários autores relacionam a Síndrome deBurnout derivada de estresse laboral que se torna crônico.

Relacionando Burnout e estresse Trigo (2007) afirma ser esta Síndromeconseqüente de um processo crônico de estresse, informa ainda que, naelevada porcentagem de patologias relacionadas ao estresse, torna-se ne-cessário, relacionar o desencadear do estresse ao ambiente de trabalho,visto ser o local no qual o indivíduo passa maior parte de sua vida. Sobre odesencadear do estresse Curiacos (2003) afirma que acontece da mente parao corpo, pois a mente é responsável por armazenar informações e racioci-nar, mas é o corpo que expressa, guarda os sentimentos e todo estresse.

Cardoso et al (2010) aponta o estresse crônico como prejudicial aotrabalhador e destaca as causas mais prováveis que pesquisadores apon-tam como desencadeantes de transtornos mentais causados pelo estressecomo é o caso da Síndrome de Burnout. A sintomatologia do Burnout é exten-sa e abrange sinais físicos, psíquicos, comportamentais e defensivos. Al-guns sintomas são: fadiga constante e progressiva, a insônia ou sonolênciaexcessiva, dores osteomoleculares, distúrbios gastrintestinais, alteraçãoda memória, dificuldade de concentração, perda da iniciativa, tendênciaao isolamento, perda do interesse pelas atividades laborais e de lazer.

Ibisui (2008) destaca que como a sintomatologia, as causadesencadeantes do Burnout são multifatoriais. Entre as características pes-soais estão pontos como idealismo, tipo de personalidade, motivação, sen-tido de coerência, filhos, idade, sexo, resilência. Codo (2002) diferenciaestes termos afirmando que no caso do Burnout, estão presentes atitudes econdutas negativas, com relação aos usuários, clientes, organização e tra-balho. Em síntese, a maioria dos autores citados sustentam a tese de que aSíndrome de Burnout é uma resposta ao estresse crônico desenvolvido noambiente de trabalho, não sendo, portanto, sinônimo a estresse.

Em segundo lugar no grupo dos Transtornos Mentais eComportamentais os aspectos relacionados a depressão ocupam um altograu de incidência com 29 relatos, representando 49,12%, desta forma, ve-remos o liame existente entre esta patologia e a síndrome de Burnout .

Na associação destes tópicos, verifica-se que persistem algumas dú-vidas sobre a definição diagnóstica da Síndrome de Burnout suas diferençase correlações com a depressão, ou seja, questões pertinentes relacionadasao tema ainda estão em estudo. Subentende-se, todavia que, nas leiturasrealizadas entre Burnout e transtorno depressivo existe um apontamentopara diferenciação entre estas duas patologias.

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Nessa abordagem Trigo (2007) destaca que os índices de Burnout e asintomatologia depressiva mostraram significativa associação entre essaspatologias. O último autor supracitado, ainda salienta que alguns autoresacreditam que a depressão seguiria o Burnout e que altos níveis de exigênciaspsicológicas, baixos níveis de liberdade de decisão, baixos níveis de apoiosocial no trabalho e estresse devido ao trabalho inadequado são preditoressignificantes para subseqüente depressão.

Corroborando com as premissas apontadas Esteves (1999) salientaque a Síndrome de Burnout representa um ciclo degenerativo da eficiênciadocente, e aponta um conjunto de conseqüências negativas que afetam oprofessor a partir da ação combinada das condições psicológicas e sociaisem que se exerce a docência, desta forma o estado, verificado no professor,propicia e desencadeia um esgotamento físico e, sobretudo mental, prece-dendo naturalmente elevado índice de componentes que se relacionam coma depressão. O autor afirma ainda que, neste contexto o mal-estar docenteacaba queimando esses professores em diferentes níveis, e de forma difusasegue caracterizando-se em absenteísmo, em pedidos constantes de trans-ferência, em estresse, em doenças mais ou menos fingidas para abandona-rem momentaneamente a docência, e por fim em doenças, reais, em neuro-ses reativas ou depressões mais ou menos graves.

Em segundo plano as Doenças do Sistema Osteomucular e do Tecidoconjuntivo tiveram 21 notificações significando 35,6%, sendo também umnúmero bastante alto e merecendo a criação de mecanismos para tratar eprevenir sua disseminação.

Na analise das patologias que foram apontadas, fomos surpreen-didos devido ao não aparecimento de algum CID que se relacionava àSíndrome de Burnout, ou seja, nenhuma ocorrência nas 59 readaptaçõesrealizadas no ano de 2009. Destacamos que na busca por esta patologia eassociações realizamos na Secretaria de Administração (SEMAD) uma vis-toria em todos os 117 laudos dos trabalhadores da Educação que sofreramdesvio de função.

Investigando o “Requerimento de Readaptação de Função” dos 59profissionais do Ensino Fundamental, está descrito nestes Requerimentosque aos mesmos devem estar anexados essencialmente o código informan-do qual o CID promotor da readaptação e, aponta-se que há Laudos Médi-cos que descrevem duas ou até três patologias distintas como sendo causa-dores da readaptação. Pode-se verificar, por exemplo, que, alguns requeri-mentos traduzem CID´s relacionados a transtornos mentais e

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comportamentais (F00-F99) e Doenças endócrinas, nutricionais e metabó-licas (E00-E90); outro exemplo verificado é constatar no mesmo laudoTranstornos mentais e comportamentais (F00-F99) e Doenças do aparelhocirculatório (I00-I99); Neoplasmas (tumores) (C00-D4), Sintomas, sinais eachados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificadosem outra parte (R00-R99) e Fatores que influenciam o estado de saúde e ocontato com os serviços de saúde (Z00-Z99). Subtende-se, portanto que,um profissional conforme encontramos nos Requerimentos, pode desenca-dear patologias associadas a duas ou três categorias diferentes ao mesmotempo.

Nos Laudos arquivados, apontam-se também que, um profissionalapresentando alguma patologia relacionada ao grupo das Doenças mentaise comportamentais, pode ao mesmo tempo apresentar associações diver-sas como as que encontramos descritas em um mesmo Laudo que contin-ha: (F32.2) Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos, F43.0) Rea-ção aguda ao estresse e, F48.0) Neurastenia. Outro dado que se aponta noslaudos realizados pelos peritos é constar junto ao motivo para o deferimen-to da readaptação a descrição de que o profissional “não deve expor-se a estressepsicológico”. Sobre esta informação destacada, levantamos o questionamentode como não supor que o ambiente promotor deste “estresse ocupacional”seja o próprio trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, fica configurado que a Síndrome de Burnout verifica-sepouco conhecida entre a classe médica, posto que, esta Síndrome está pre-conizada no decreto 3048/99 que regulamenta a Previdência Social, desta-cada no grupo V da Classificação Internacional de Doença (CID) 10, estandoanalógica aos transtornos mentais e de comportamento relacionado ao tra-balho, referida no inciso XII como Síndrome de Burnout, Síndrome do Esgo-tamento Profissional, que também pode ser considerada como sensação deestar acabado.

Abordou-se neste estudo fatores que descrevem um mal-estar quetem se apresentado na prática docente das escolas em geral. Este mal-estarpode estar mascarando algumas das formas da Síndrome de Burnout.Subtendeu-se durante este texto que a Síndrome de Burnout acontece comoresposta ao estresse laboral crônico, sua dimensão desencadeia: esgota-mento emocional, despersonalização e reduzida realização pessoal.

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Como hipótese levantada no início deste trabalho, ou seja, buscou-se verificar a “prevalência” ou “não” da Síndrome de Burnout frente às de-mais patologias, e como não houve prevalência, destacamos que um fatorincontestável será considerar que a Síndrome de Burnout, configura-se pou-co conhecida entre a classe médica. Desta forma, como na maioria dasvezes não há exatidão nos diagnósticos os sintomas são nominados comooutras doenças ocupacionais comuns relacionadas aos docentes e, aos pro-fissionais que geralmente trabalham relacionando-se com pessoas, princi-palmente entre médicos, enfermeiros e professores.

Frente às explanações teóricas mencionadas, propomos que outrosestudos posteriores a este, proponham novas descobertas, promovam di-ferentes níveis de prevenção e cuidados relacionados tanto a Síndrome deBurnout como para as patologias ocupacionais em geral.

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EDUCAÇÃO DE JOVENSE ADULTOS NO BRASIL:UMA LUTA CONSTANTE

Ailton Salgado Rosendo1

RESUMOContextualizar e avaliar os resultados das políticas educacionais,

destinadas à Educação de Jovens e Adultos (EJA) em âmbito nacional entreos anos de 1990 a 2001, bem como a garantia de atendimento desta moda-lidade de ensino assegurada na Conferência Mundial de Educação paraTodos, em Jomtien, Tailândia (1990), na V Conferência Internacional deEducação de Adultos, Hamburgo, Alemanha (V CONFINTEA - 1997) e na Leide Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN – Lei nº 9.394/1996),bem como os embates políticos entre a sociedade civil e governo federalocorridos até a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE – Lei 10.172/2001), é nosso propósito neste trabalho. Acreditamos ser relevante a contri-buição tanto para os estudiosos da temática, quanto para aqueles que ain-da não foram oportunizados a uma leitura sobre o tema.

Palavras-chave: Políticas Educacionais; Educação de Jovens e Adul-tos; Plano Nacional de Educação.

ABSTRACTContextualize and evaluate the results of education policies, for

Education for Youth and Adults (EJA) at national level between the years1990 to 2001, as well as ensuring compliance with this type of educationprovided by the World Conference on Education for All in Jomtien, Thailand(1990), the Fifth International Conference on Adult Education, Hamburg,Germany (V CONFINTEA - 1997) and the Law of Guidelines and Bases of

1 Mestre em Educação pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Coordenador Técnico

Pedagógico da Universidade Norte do Paraná (UNOPAR). E-mail: [email protected]

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National Education (LDBEN - Law No. 9.394/1996), and the political clashesbetween civil society and the federal government incurred up to the approvalof the National Education Plan (PNE - Law 10.172/2001), it is our purpose inthis work. We believe it important contribution both to scholars of thesubject, and for those who have not yet been an opportunity to the readingon the subject.

Keywords: Educational Policy, Youth and Adult Education, NationalEducation Plan.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL:UMA LUTA CONSTANTE

Entre o período de 1996 a 2001, tivemos no Brasil o desenrolar daconstrução do Plano Nacional de Educação (PNE), sendo este aprovado atra-vés da Lei Federal nº 10.172 de 2001. Não diferente de outras políticas degoverno, este Plano foi construído mediante muitas controvérsias, dentreelas a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Mesmo diante de algumas oposições, esta modalidade de ensino nãopoderia passar desapercebida no referido PNE, tendo em vista os acordosrealizados entre o nosso país em Conferências Internacionais no cenário daspolíticas para a educação. Não podendo fugir daquilo que se foi estabeleci-do em Conferências Internacionais, a modalidade acompanhada de 26 metasfoi citada no PNE, de forma leviana e porque não descompromissada comaqueles que dela necessitam (jovens, adultos e idosos).

Sendo a educação um direito público subjetivo, a modalidade, estamodalidade precisa ser ofertada em todo território nacional a quem por elaprocurar. Infelizmente, embora esteja garantida em lei (Constituição Fede-ral de 1988 e Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/1996), quando observamos a prática das teorias, o que constatamos é a EJAdeixada para um segundo plano, frente a outras modalidades2 da educa-ção básica.

O que levou o governo não investir na alfabetização, bem como nãooportunizar a conclusão de estudos dos jovens, adultos e idosos com qualida-de, garantindo a ingresso e permanência desta demanda no âmbito escolar?

Este desencontro não poderia acontecer em terras brasileiras. Oupoderia?

2 Referimo-nos a Educação Especial, Educação do Campo e Educação a Distância.

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Quando analisamos os documentos oriundos da Conferência Mun-dial de Jontiem, realizada em 1990, a proposta aprovada entre os paísessignatários, a educação por ser um direito de todos deveria alcançar a todosos povos sem nenhum tipo de discriminação, seja, de raça, etnia, gênero,religião, etc. Esta Conferência teve entre seus objetivos reduzir pela metadeos índices do analfabetismo e proporcionar aqueles (jovens e adultos) quenão tiveram acesso a educação em idade própria ou até mesmo a conclusãode seus estudos, uma educação de qualidade, garantindo o acesso e a per-manência na escola.

No ano 1997, realiza-se em Hamburgo/Alemanha a V ConferênciaInternacional de Educação de Adultos (V CONFINTEA) que entre os paísesparticipantes (o Brasil estava lá) houvesse a promoção da aprendizagem atodos, e sem tempo cronológico, ou seja, ao longo da vida.

Dos Encontros e Conferências realizados em nível nacional e interna-cional tivemos em 20 de dezembro de 1996 a aprovação da Lei de Diretrizese Bases da Educação Nacional (LDBEN – Lei nº 9.394), assegurando em seuartigo 37 que a EJA “será destinada àqueles que não tiveram acesso ou con-tinuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”.Explicita uma educação de qualidade a esta demanda, assegurando condi-ções de aprendizagem, qualidade no ensino e ainda estabelece entre os po-deres públicos as suas responsabilidades para concretizá-lo.

Educação de Jovens e Adultos no Brasil: teoria e práticaDurante a presidência do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-

2002), o que antes estava estabelecido através dos documentos origináriosda Conferência de Jontiem, da V CONFINTEA e LDBEN, não se concretizoucomo deveria, pois o governo objetivando a contenção de gastos federal, fezboas manobras no Congresso e Câmara dos Deputados entre a base aliadaao conseguir com êxito fazer com que o atendimento da EJA ficasse sobre aresponsabilidades dos municípios. Assim, o foco do investimento públicofederal ficou centrado no ensino fundamental destinado a crianças e ado-lescentes em idade própria, ou seja, dos 06 as 14 anos. Esta manobra seconcretiza com a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimentodo Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) em 1996.Assim, os recursos do FUNDEF não poderiam ser destinados para o atendi-mento da demanda da EJA (veto presidencial). Desta forma, os governosmunicipais ficaram de mãos atadas sem poder ampliar o atendimento ademanda (jovens, adultos e idosos) existente em seus municípios, pois sequisessem atender a modalidade deveriam fazê-lo com recursos próprios.

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De acordo com Di Pierro (2010, p. 941)

“A colaboração do governo federal com a manutenção e o desenvol-

vimento da EJA — consubstanciada nos programas Alfabetização

Solidária e Recomeço — obedeceu á diretriz de focalização, restrin-

gindo-se aos estados e municípios com maiores taxas de analfabe-

tismo e menores índices de desenvolvimento humano, localizados

no Nordeste e Norte do país”.

Esta onda de preferências por algumas etapas de ensino em detri-mento a outras, observamos na própria história da educação, onde identi-ficamos as minorias (negros, índios, ciganos, dentre outros) sempre a mar-gem da própria sorte, e nas mãos dos que detêm o poder.

Em pleno século XX e início do XXI, tivemos a frente da Nação maisum governo, que deixou à mercê aqueles que não tiveram acesso a escolari-dade em idade própria, os chamados de minorias/excluídos.

Não só o jovem, o adulto e o idoso ficaram sem o atendimento namodalidade, houve também a escassez de oportunidades na formação deprofessores para atender os alunos da EJA e nenhuma medida de políticaeducacional foi tomada para reverter essa situação, de modo que, no iníciodo terceiro milênio, pouco mais de 1% dos cursos de formação docente nopaís ofereciam habilitação específica para atuar com essa modalidade daeducação básica (Di Pierro, Abbonizio, 2004; Soares, 2010).

Aqueles que na tentativa de reivindicar melhorias e atendimento dequalidade para a EJA, bem como o cumprimento do que estava posto em lei,foram silenciados pelo governo federal, quando em 1996 suspendeu todasas atividades da Comissão Nacional de Educação de Jovens e Adultos, cria-da no governo anterior.

Mas as vozes dissonantes encontraram outros canais de expressão,estes canais são conhecidos como fóruns de EJA que proliferaram nos esta-dos a partir daquele ano (Di Pierro, 2008, Soares, 2003), realizando debates,buscando melhorias para a EJA, e encaminhando suas propostas para osórgãos dos Sistemas de Ensino.

Estas vozes, alinhavadas com as da sociedade civil, construíram suaproposta no intuito de que estas fossem contempladas no PNE. A propostafoi encaminhada para apreciação do Congresso Nacional em 1998. Não di-ferente da sociedade civil, o governo federal também apresentou ao Con-gresso a sua.

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Nos dois anos em que as duas propostas tramitaram no Congresso,somente em uma audiência pública a EJA foi abordada, sendo esta convocadapela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, em junho de 1999.Infelizmente a pauta do dia era para discutir além da EJA, a EducaçãoEscolar Indígena e a Educação a Distância. Não sabemos se tal pauta foirealizada propositalmente no intuito de enfraquecer o debate da EJA, mas aprofundidade da questão EJA não ultrapassou a de um pires.

Em relação ao financiamento da EJA a proposta do governo federal pre-valeceu, ou seja, o FUNDEF continuaria não financiando esta modalidade.

Quanto à especialização dos professores para trabalhar com a EJA,ficou assegurado no PNE que os estados estariam com esta incumbência,através de programas de formação de professores para atuar na alfabetiza-ção correspondente as séries iniciais da EJA. O que deveria ser um compro-misso do governo federal, onde o mesmo passaria o compromisso das Uni-versidades Federais com a formação de professores para atuar na EJA, ficoupara os estados e municípios através de programas de formação em servi-ço. Será que isto acontece?

O foco da EJA no governo de Fernando Henrique Cardoso estava ematender através dos Programas “Alfabetização Solidária e Recomeço” ape-nas a Região Norte e Nordeste do país.

No debate do PNE ficou garantida entre as metas elencadas para aEJA que as ações de escolarização de jovens, adultos e idosos, fossem aoencontro de toda a demanda existente no país e não somente aos pertencen-tes as regiões Norte e Nordeste, pois admitiram ser insuficiente apostarapenas na dinâmica demográfica (Di Pierro, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aprovado em 2001 o PNE tem um capítulo específico sobre EJA, oqual possui 26 metas, dentre as quais existem cinco objetivos. Além destasmetas e objetivos o PNE assegurou monitoramento periódico, visando ava-liar os programas de EJA. A divulgação dos resultados desta avaliação de-veria ser bienal, mas esta meta não foi levada em conta pelos governos, “demodo que não há indicadores e relatórios que nos auxiliem a avaliar o graude cumprimento do Plano” (DI PIERRO, 2010, p. 945).

No programa apresentado pela sociedade civil, ficou reconhecida noúnico debate proposto pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputa-dos, a necessidade de fomentar discussões e criar políticas focalizadas parareverter às desigualdades educacionais entre as minorias3 , mas, o PNE não

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fixou estratégias ou metas específicas nessa direção.Na verdade, o que podemos avaliar, é que durante esta década, os

excluídos da educação continuaram os mesmos, os chamados analfabetoscontinuaram analfabetos, mas a nova visão teórica pode mudar substanci-almente a prática educativa. Esta visão é aquela deixada há anos pelo edu-cador brasileiro Paulo Freire, quando ele diz “ninguém sabe tudo, ninguémignora tudo”, não existem propriamente analfabetos: existem pessoas que,na idade própria, não tiveram acesso à escolarização.

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3 Grupos étnico-raciais e as populações rurais.

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POLÍCIA, DITADURAE DIREITOS HUMANOS

Jatene da Costa Matos1

Loreci Gottschalk Nolasco2

RESUMOEste artigo trata da Polícia à época da ditadura, ante as ações repres-

sivas que resultou na degradação dos direitos humanos. A pesquisa anali-sa a Instituição no período de 1964 a 1985, compreende ainda, sua reforma,a partir da ruptura com o regime militar e do retorno da democracia, tendoa Constituição Republicana de 1988 como marco da institucionalização dosdireitos humanos no Brasil.

Palavras-chave: Ditadura Militar; Polícia; Direitos Humanos.

ABSTRACTThis article addresses the Police during the dictatorship, in the

crackdown that resulted in the degradation of human rights. The researchanalyses the Institution from 1964 to 1985, also includes, the reform of theInstitution, from the break with the military regime and the return ofdemocracy, being the Republican Constitution of 1988 as the mark theinstitutionalization of human rights in Brazil.

Keywords: Military Dictatorship; Police; Human Rights.

INTRODUÇÃO

Fortemente associada à violência e ao abuso de autoridade, realçadoem grande parte pela memória recente da ditadura, a instituição policial secontrapõe ao discurso humanitário no que diz respeito às práticas de tortu-ra e extermínio de militantes políticos à época do governo militar.3

1 Advogado. Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.2 Mestra em Direito pela Universidade de Brasília. Professora do Curso de Direito da Universidade Estadual

de Mato Grosso do Sul, Unidade de Dourados.3 HOLLANDA, Cristina Buarque. Polícia e Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2005, p. 20.

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Em 1964, em nome de uma revolução derrubou-se um governoconstititucional, alegando-se que a intervenção das Forças Armadas visavaa preservar a democracia ameaçada por uma suposta república sindicalistae comunista, 4 implantava-se então, o regime militar brasileiro.

Os militares associados aos interesses da grande burguesia nacionale internacional, incentivados e respaldados pelo governo norte-americano,justificavam o golpe de 64 como “defesa da ordem e das instituições contrao perigo comunista”, 5 diante do esgotamento da política nacional-populista6 que orientava o desenvolvimento e a industrialização do país nopós-guerra e os imperativos de novos moldes de expansão capitalista. 7

Assim, como resposta “adequada e necessária” às ameaças ao regi-me implantando passou-se a justificar a total liberdade de ação da máqui-na repressora do Estado,8 resultando em punições contra aqueles que seopusessem ao regime autoritário, como a pena de morte, o confinamento eo banimento. De acordo com Nelson Werneck Sodré, tratava-se de um siste-ma repressivo inédito, responsável por sequestros, desaparecimentos, as-sassinatos e torturas. 9

Segundo o então Juiz Corregedor da Polícia Judiciária de São Paulo,Nelson Fonseca, a Polícia era a grande responsável pelos acontecimentos,em sua manifestação declarou: “frequentemente, temos solicitado a ajudade vários órgãos policiais para o esclarecimento de alguns processos. Entre-tanto, a polícia sonega informações, dificulta o trabalho, impedindo que averdade venha à tona. Estamos presenciando uma chacina sem preceden-tes na história”.10

O resultado da política da repressão estabelecida pelo regime mili-tar, principalmente no que diz respeito a toda e qualquer forma de degrada-

4 MARQUES, João Benedito de Azevedo. Democracia, Violência e Direitos Humanos. 5. ed. São

Paulo: Cortez Editora, 1981 p. 17.5 HABERT, Nadine. A Década de 70: apogeu e crise da ditadura militar brasileira. 3.ed. São Paulo:

Ática, 1996. p. 8.6 O golpe de 64 ocorreu num momento de crise da economia brasileira e de grandes mobilizações

operárias, estudantis e camponesas em torno de reformas políticas e institucionais de cunho

nacionalista, defendidas pelo governo João Goulart, chamadas “reformas de base”.7 SODRÉ, Nelson Werneck. Vida e morte da Ditadura: 20 anos de autoritarismo no Brasil. 2. ed.

Petrópolis: Editora Vozes, 1984, p. 70.8 GASPARINI, Elio. A Ditadura Escancarada. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2002, p. 18.9 SODRÉ, op. cit. p. 117.10 BICUDO, Helio Pereira. Meu depoimento sobre o Esquadrão da Morte. 6. ed. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 1977. p. 136.

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ção dos direitos humanos e a participação efetiva da polícia militar, podeser expresso por números, segundo Agassiz Almeida, cerca de 120 mil pes-soas passaram pelas prisões; aproximadamente 40 mil foram submetidosa torturas; cerca de 500 militantes mortos, incluindo 152 desaparecidos;dezenas de baleados em manifestações públicas, com uma parte incalculá-vel de mortos; 11 mil indiciados em processos judiciais por crimes contra asegurança nacional; centenas condenados à pena de prisão; 130 banidos emilhares exilados11 ; inúmeras aposentadorias e demissões do serviço pú-blico, decretadas por atos discricionários; 780 tiveram seus direitos políti-cos cassados por dez anos, com base em atos institucionais. 12

Nesse sentido, Valter Pires Pereira afirma que a ditadura criou suaprópria jurisprudência através dos Atos Institucionais. De acordo com o au-tor pode-se dizer que a ditadura começou com o AI-1e coroou-se com o AI-5. 13

O Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964, suspendeu por seismeses as garantias constitucionais, o que permitiu investigações, com que-bra de sigilo e a instauração de diversos Inquéritos Policiais Militares, pos-sibilitou a cassação de mandatos eletivos, suspendeu os direitos políticosdos cidadãos e anulou o direito à estabilidade dos funcionários públicos, emais, a tortura passava a ser praticada como forma de interrogatório nocombate aos “subversivos”. 14

Pelo AI-2, em 1965, o governo militar, além de manter o conteúdo doAI-1, extinguiu os partidos políticos e criou um sistema bipartidário, atravésdo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e da Aliança renovadora Nacio-nal (Arena), e ainda, concedeu ao Executivo o poder de fechar o Congresso.Em 1966 foi editado o AI-3, responsável pela ampliação do controle político,restringindo mais o direito ao voto popular, com a imposição de eleiçõesindiretas para governador. Baixado em 07 de dezembro de 1966, o AI-4 con-vocou o Congresso Nacional para a votação e promulgação do projeto deConstituição, que revogava definitivamente a Constituição de 1946, assim,no dia 24 de janeiro de 1967, foi promulgada pelo Congresso Nacional umanova Constituição, ampliando ainda mais os poderes do Executivo.

11 De acordo com dados da publicação Anistia, de abril de 1978, calculava-se em torno de 10 mil o

número de exilados políticos.12 ALMEIDA, Agassiz. A Ditadura dos Generais: Estado militar na América Latina. Rio de Janeiro:

Editora Bertrand Brasil, 2007, p. 360.13 PEREIRA, Valter Pires (organizador). Ditaduras não são Eternas. Vitória: Editora Flor&Cultura,

2005. p. 55-58.14 Subversivos eram chamados todos aqueles que se revoltavam contra o regime ditatorial.

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Contudo, o Ato Institucional nº. 5 representou o apogeu da ditadura,conferindo a esta poderes absolutos, se sobrepondo à Constituição de 1967,como também as constituições estaduais, a medida foi motivada paramanutenção do regime diante de sucessivas crises e do agravamento dasituação política.15 Pelo AI-5, o Executivo outorgou-se, entre outros, os po-deres de decretar o recesso do Congresso, que só voltaria a funcionar quan-do o Presidente convocasse; determinar a intervenção nos Estados, Municí-pios e no Distrito Federal, nomeando os respectivos interventores; estabele-cer à suspensão das garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e estabili-dade dos servidores públicos, o estado de sítio, o confisco de bens, a sus-pensão da garantia do habeas-corpus, e a exclusão de qualquer apreciaçãojudiciária de todos os atos praticados de acordo com o mesmo Ato e os AtosComplementares dele decorrentes. 16

A decadência do regime militar e o início da transição tiveram comofatores determinantes: a crise econômica, a dívida externa saltou de 12,5bilhões em 1974 para 43 bilhões em 1978, já em 1980 chegava a 60 bilhões, amaior do mundo,17 o que contribuiu para o aumento das contradições soci-ais e políticas geradas pela ditadura; a eclosão dos movimentos sociais,principalmente o movimento operário, estudantil, popular, feminino, eainda, a participação de entidades como a Igreja, a Ordem dos Advogadosdo Brasil, Associação Brasileira de Imprensa, pelo fim da censura, entreoutros; a revogação de todos os atos institucionais e complementares; adescentralização do comando central com autonomização dos governosestaduais com eleições diretas, além da pressão internacional pela defesados direitos humanos.

Começavam a ser divulgados mais amplamente os nomes dos “desa-parecidos”, exigindo-se a localização de seus paradeiros, as denúncias so-bre torturas e a situação carcerária dos presos políticos e os nomes dostorturadores.18

15 À época apontavam-se divergências entre o Legislativo e o Executivo, os acontecimentos também

estiveram relacionados ao pronunciamento de um parlamentar considerado insultuoso às Forças

Armadas.16 SODRÉ, Nelson Werneck. Vida e morte da Ditadura: 20 anos de autoritarismo no Brasil. 2. ed.

Petrópolis: Editora Vozes, 1984. p. 116.17 HABERT, Nadine. A Década de 70: apogeu e crise da ditadura militar brasileira. 3.ed. São Paulo:

Ática, 1996. p. 42.18 Em 1978, o jornal Em Tempo publicava na sua primeira página a lista dos nomes de 233 torturadores.

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O processo de transição “lenta, gradual e segura” foi marcado por reformaspolíticas nas instituições, com a reformulação da legislação autoritária e areordenação do papel do Congresso e dos partidos,19 segundo José Eduardo Faria,a partir da transição do regime burocrático-autoritário pós-64 para o regime de-mocrático, ocorrida em 1985, o problema básico era assegurar o cumprimento dosdireitos civis e políticos, muitos dos quais foram sistematicamente violados naépoca do autoritarismo burocrático-militar, e ainda, tornar efetivos os novos di-reitos consagrados pela Constituição de 1988. 20

DIREITOS HUMANOS

A Constituição Federal de 1988 estabelece o marco jurídico da transi-ção democrática e da institucionalização dos direitos humanos no Brasil,segundo Flávia Piovesan21 , situando-se como o documento mais abrangentee pormenorizado sobre direitos humanos jamais adotado no Brasil.

Desta forma, José Antônio Romeiro22 ressalta que o avanço das nor-mas protetivas foi significativo a partir da ruptura com o regime militar,consolidado pela Constituição Federal, que proporcionou ênfase sem igualaos direitos humanos ao adotar a concepção contemporânea de cidadania,segundo o qual estes são compreendidos como um complexo integralindivisível e universal.

Traço importante da Declaração Universal dos Direitos Humanos de1948 é a afirmação da Democracia como único regime político compatívelcom o pleno respeito aos direitos humanos, de acordo com Fábio Comparato:“o regime democrático já não é, pois, uma opção política entre muitasoutras, mas a única solução legítima para organização do Estado”.23

Nesse sentido, João Batista Herkenhoff evidencia algumas das in-compatibilidades entre o regime militar e os fundamentos presentes na

19 FERNANDES, Florestan. A Ditadura em Questão. 2. ed. São Paulo: Editora T. A. Queiroz, 1982, p.

45.20 FARIA, José Eduardo (organizador). Direitos Humanos, Direitos Sociais e Justiça. São Paulo:

Malheiros Editores, 1998, p. 54.21 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 11. ed. São Paulo:

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2003, p. 49.23 COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva,

2008, p. 234.

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Declaração Universal dos Direitos Humanos, de acordo com o autor, a sus-pensão dos direitos do cidadão contrasta com o artigo 21 da Declaração,pois todo homem tem direito de participar da vida política de seu país; aditadura suprimiu também direito constitucional de propriedade, o quenão se coaduna com a Declaração Universal, como nos casos de confisco debens, pois os prejudicados com a medida não tinham nenhuma garantia; eainda, os punidos não tinham direito de defesa, conforme previsto no arti-go 11 da Declaração; as punições da Revolução eram excluídas da aprecia-ção pelo Judiciário, o que contraria o expresso no artigo 8º, e principalmen-te, a prisão, a tortura e os assassinatos praticados em larga escala, inutili-zando o artigo 9º do mesmo diploma.24

A partir do processo de democratização do país, deflagrado em 1985,é que o Estado Brasileiro passou a ratificar relevantes tratados internacio-nais, especialmente no que tange ao primado da prevalência dos direitoshumanos, como princípio orientador das relações internacionais.25

Desta forma, em maio de 1989 foi ratificada pelo Brasil a Convençãocontra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou De-gradantes, promulgada pelo Decreto n°. 40 de 1993, como resposta ao com-prometimento do país como respeitador e garantidor dos direitos humanos.

A partir daí, inúmeros outros importantes instrumentos internacio-nais de proteção dos direitos humanos foram também incorporados peloDireito Brasileiro, como Convenção Interamericana para Prevenir e Punir aTortura, ratificada em 20 de julho de 1989; o Pacto Internacional dos Direi-tos Civis e Políticos26 e o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos,Sociais e Culturais, ratificados pelo Brasil através do Decreto Legislativo n°.226 de 1991 e promulgados pelo Decreto n°. 592, de 1992, e por último aConvenção Americana sobre Direitos Humanos, assinada em São José daCosta Rica, e promulgada em novembro de 1992.

Ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Interna-cional sobre Direitos Econômicos Sociais e Culturais, foram adotados pelaAssembléia Geral das Nações Unidas, por desenvolverem pormenoriza-

24 HERKENHOFF, João batista. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Editora Acadêmica, 1994. p.

81-84.25 BOUCAUT, Carlos Eduardo de Abreu; ARAÚJO, Nádia (organizadores). Os Direitos Humanos e oDireito Internacional. Rio de Janeiro, 1999, p. 127.26 MARCÍLIO, Maria Luiza; PUSSOLI, Lafaiete. Cultura dos Direitos Humanos. São Paulo: Editora LTr,

1998. p. 142.

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damente o conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.Ao primeiro foi anexado um Protocolo Facultativo, atribuindo ao Comitê deDireitos Humanos, instituído por aquele Pacto, competência para receber eprocessar denúncias de violação de direito humanos, formuladas por indi-víduos contra qualquer dos Estados-Partes.

POLÍCIA

A trajetória da Polícia Militar foi abalizada pela subordinação dapolícia ao exército, desta forma, em 1968, plena ditadura militar, foi baixa-do o Ato Complementar nº. 40, o qual determinava: “as polícias militares,instituídas para a manutenção da ordem e segurança interna nos Estados,nos Territórios e no Distrito Federal, são considerados forças auxiliares re-serva do Exército”, assim, a identidade policial militar definia-se à sombrados padrões estruturais e procedimentais das Forças Armadas. 27

Segundo João Milanez28 , as críticas à Polícia e os constantes escânda-los que envolvem esta instituição indicam claramente que de uma maneirageral os organismos policiais não evoluíram para atender às necessidadescrescentes do desenvolvimento do Brasil. Ao discorrer sobre o tema, em1974, o autor defendia a necessidade de reformulação.

Nesse sentido, o governo Brizola teve papel importante na reformada instituição policial, servindo de modelo para o restante do país, à frentedo Rio de Janeiro nos anos de 1983 a 1986, período de redemocratização,ainda fortemente marcado pelo autoritarismo político, por meio da criaçãodo Conselho de Justiça, Segurança Pública e Direitos Humanos, conferiutratamento institucionalizado ao tema, deslocando fundamentalmente ainscrição política que até então lhe caracterizara.29

Segundo Cristina Buarque de Hollanda a política de governo do Riode Janeiro tinha como um dos desafios a redisciplinarização da polícia.Tratando a polícia do braço de maior visibilidade e penetração social doPoder Executivo, cabia ao governo imprimir-lhe a marca dos direitos hu-manos. O objetivo da nova Polícia que se propunha era de construir um

27 MUNIZ, Jacqueline de Oliveira. Ser Policial é, sobretudo, uma razão de ser. Tese de doutorado em

ciência política. IUPERJ, 1999. p. 72.28 LIMA, João Milanez da Cunha. Polícia e Criminologia. São Paulo: Editora Ibrasa, 1974, p. 44.29 HOLLANDA, Cristina Buarque. Polícia e Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2005.

p. 31.

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campo especificamente policial, dotado de identidade e parâmetros pró-prios, deixando a atuação exclusiva pelo uso da força, constituindo ummarco institucional de quebra como modelo ditatorial.

Dentre as mudanças significativas apresenta-se a separação da es-trutura militar, tornando possível a um policial de carreira atingir o postomais alto de sua instituição, o que gerou o rompimento com uma tradiçãoconsagrada de subordinação da polícia ao exército.

Como uma das consequências do fim do regime militar, houve adescentralização do comando federal, ou seja, as polícias foramestadualizadas, o que foi um avanço, pois puderam ser implantadas novaspolíticas públicas regionais que serviram de amostra para os demais esta-dos brasileiros, nesse sentido, Dalmo de Abreu Dallari, a partir de uma sériede circunstâncias históricas, sobretudo a fase ditatorial que o Brasil viveu,adverte que é essencialmente errado a idéia de que tudo o que é federal ésuperior ao estadual porque na organização federativa não há hierarquia.30

Com a quebra do vínculo com a estrutura militar a Polícia ganhounova feição, subordinada ao governador, desmembrada em duascorporações, civil e militar, e modificada internamente, minimizando asdistinções até então demarcadas. Houve interação entre formação dos po-liciais com uma nova visão dos direitos humanos, investiu-se em convêni-os com universidades e centros de estudo, em reformas curriculares emetodológicas das disciplinas nas escolas de polícia e em cursos de atuali-zação e reciclagem dos quadros de policiais na ativa. A adoção do discursodos direitos humanos e a efetiva orientação da ação policial foram os prin-cipais pontos na área da segurança pública.31

Para Nilo Batista, o novo paradigma para a polícia estaria funda-mentalmente reunido em torno de quatro reformulações estruturais. A pri-meira consubstancia na esfera da prevenção, assim, a política modernadeve antecipar-se aos fatos pelo planejamento. A segunda baseia-se noaprimoramento da investigação criminal, a fim de que o uso da confissãofosse substituído por práticas investigativas consolidadas. A terceira des-taca a urgência de integração da comunidade como trabalho da polícia. Aquarta reforma estrutural está na legalidade, através de reformas legislativas

30 Apud MORAES, Bismael Batista. A Polícia à Luz do Direito. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 1991, p. 68.31 HOLLANDA, op. cit. p. 82.

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que melhorassem as condições de atuação da polícia. 32

CONCLUSÃO

O processo de redemocratização do Brasil, a partir da década de 80,vem provocando nas instituições públicas, notadamente nas corporaçõespoliciais, transformações, decorrentes do questionamento da sociedadebrasileira sobre a real função pública que devem assumir diante do EstadoDemocrático de Direito. No início dos anos 90, a Instituição Policial, cujaspráticas históricas foram enrijecidas pelo período ditatorial, iniciaram umprocesso de rompimento com o modelo histórico do sistema militar, espe-cialmente quanto ao crescimento das práticas democráticas e o fortaleci-mento da cidadania.

É possível outro modelo de polícia, desde que passe a centrar suafunção na garantia e efetivação dos direitos fundamentais dos cidadãos ena interação com a comunidade, estabelecendo a mediação e a negociaçãocomo instrumento principal. Tudo isso tendo como base políticas públicasque privilegiem investimentos na qualificação e modernização, com altera-ções estruturais e culturais adequadas.

De todo o processo acerca da construção da democracia no Brasil edas tentativas de destruição da representação política, se observa que oexercício da cidadania no país enfrentou várias limitações, sendo, em de-terminados períodos, completamente eliminado. Nos casos mais graves, acidadania foi rechaçada, seja pela extinção dos partidos políticos, pela dadissolução do Congresso Nacional, por meio da prisão, exílio e morte decidadãos ou de representantes destes no Parlamento, e ainda, através dasupressão da conscientização política acerca dos direitos individuais decada brasileiro – em vão, pois a democracia venceu todos os períodos decensura e imposição de força ditatorial.

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32 Extraído do discurso de Nilo Batista publicado no Relatório do Conselho de Justiça, Segurança

Pública e Direitos Humanos, de 1986.

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OS CONTROLES INTERNOS COMOFERRAMENTA GERENCIAL PARA

INVESTIMENTO DE CAPITAL

Gessé Ferreira Dias1

Vanderlei Ângelo de Souza2

RESUMOO presente artigo, objetiva a discussão da importância dos controles

internos como ferramentas gerencias para análise de investimento de capi-tal. A necessidade da realização do trabalho decorreu do fato que muitasempresas não mantém atualizadas seus controles de caixa, bancos, esto-ques, duplicatas a receber entres outros. Pois, tais informações são primor-diais para manutenção da empresa e sua permanência no mercado.

Palavras-Chave: Importância, Controles Internos, Fluxo de Caixa.

ABSTRACTThis article aims at discussing the importance of internal controls as

a tool for analysis of manager’s investment capital. The necessity ofcompleting the work was given by the fact that many companies do notkeep their current box controls, banks, stocks, bills receivable each juniorother. Because such information is essential for maintenance of thecompany and remains on the job market.

Keywords: Financial Analysis, Internal Controls, Cash Flow.

INTRODUÇÃOO desafio da administração moderna é fazer com que as empresas,

apesar do encolhimento das margens de lucros, sejam capazes de fazer

1 Administrador, analista administrativo no Executivo Federal. Formado em Ciências Contábeis,

pós-graduado em Gestão Empreendedora de Negócios, professor da FETAC/Caarapó-MS. Tutor à

Distância pela UFMS/UFMT.2 Contador, pós-graduado em MBA Controladoria. Atua na contabilidade do ramo de cereais em

Maracaju/MS.

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meios financeiros de sobrevivência. A utilização dos instrumentos de con-troles financeiros tornou-se ferramentas imprescindíveis para auxiliar osadministradores na sobrevivência das empresas no mercado.

O presente artigo tem como objetivo demonstrar a importância daaplicabilidade dos controles internos, como ferramenta de gestão empresa-rial para acompanhar e avaliar o desempenho financeiro das empresas,protegendo seus ativos e também para a análise de investimento de capital,pois muitas empresas fecham as portas por não controlarem as entradas esaídas de recursos, principalmente as micro e pequenas empresas. Confor-me levantamento do Sebrae feito entre 2000 e 2002, mostra que metade dasMPEs fecham as portas com menos de dois anos de existência. A mesmaentidade levantou quais seriam as principais razões, segundo os própriosempresários, onde a falta de capital de giro foi apontada como o principalproblema por 24,1% dos entrevistados, seguido dos impostos elevados (16%),falta de clientes (8%) e concorrência (7%) (SEBRAE,2008). Mas seria somenteesses os problemas citados?

A escolha do tema justifica – se pela razão de que os controles inter-nos são requisitos fundamentais para a sobrevivência dessas empresas equando aplicados, podem detectar problemas indesejáveis. Assim, exce-lentes controles evitam tais ocorrências e trazem uma boa imagem peranteinvestidores.

A metodologia adotada para a realização deste artigo foi à pesquisabibliográfica, que consiste na análise e interpretação de livros, periódicos,textos legais, artigos e Monografias, que tratam de informações sobre oscontroles internos.

A efetuação da pesquisa analisou o desenvolvimento de idéias e cri-térios ligados a utilização de ferramentas empresarias de controle financei-ro e gestão de capital de giro, destacando–se:

1. CONTROLES INTERNOS

Para Almeida (1996):

o controle interno representa em uma organização o conjunto de

procedimentos, métodos ou rotinas com os objetivos de proteger os

ativos, produzir dados contábeis confiáveis e ajudar a administra-

ção desenvolver a eficiência operacional traçada pela administra-

ção. (ALMEIDA, 1996, p.50)

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Bons controles internos adicionam valor à organização, dando mai-or confiabilidade e credibilidade aos clientes, fornecedores e investidores.Na ausência desses mecanismos de gestão, a administração não tem noçãodo posicionamento econômico – financeiro da empresa, levando-a a tomara decisão errada.

Muitas empresas morrem precocemente por não implantar controlesque garantam informações confiáveis, principalmente informações dos seuscustos e despesas.

Desta forma, os controles internos devem atender as necessidadesda empresa, ser objetivo no que pretende controlar levando em conta custoe beneficio.

1.1 O investidor e os controles internos

Muitas empresas perdem investimentos por não possuírem contro-les internos que garantam a eficiência na aplicação dos seus recursos e paraa tomada de decisão. Hoje o investidor também quer qualidade nos contro-les internos, pois, necessitam de transparência, veracidade e confiabilidadenas informações financeiras da empresa para assegurar que fará um bominvestimento.

Chiavenato (2003), concorda com o mesmo quando define controlecomo a “função administrativa que consiste em medir o desempenho a fimde assegurar que os objetivos organizacionais e os planos estabelecidos se-jam realizados” . Ele afirma ainda que:

cada organização requer um sistema básico de controles para apli-

car seus recursos financeiros, desenvolver pessoas e ainda analisar

o desempenho financeiro e avaliar a produtividade operacional,

sendo que para isso ele classifica o controle em três tipos: os estraté-

gicos, táticos e operacionais.(CHIAVENATO, 2003, p.635)

E esses controles são subsídios para que os investidores possam fazeras análises financeiras da entidade. Entre eles destacam-se: Controle Diá-rio Caixa, Controle de Contas a Receber, Controle de Contas a Pagar, Contro-le Mensal de Despesas, Controle de Estoques, Fluxo de caixa.

Através dessas ferramentas podemos acompanhar o desenvolvimen-to da empresa em sua totalidade.

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1.2 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

As Demonstrações Contábeis também denominadas DemonstraçõesFinanceiras, são uma representação monetária estruturada, que relata asituação patrimonial e financeira de uma entidade em um determinadoperíodo. Permitido aos seus usuários extraírem informações úteis para atomada de decisões por parte dos sócios, acionistas, contadores, adminis-tradores da empresa. Segundo a lei 6.404/76, no seu artigo 176 as Demons-trações Financeiras são compostas pelos seguintes componentes: BalançoPatrimonial, Demonstração Lucros e Prejuízos Acumulados – DLPA, De-monstração Resultado Exercício - DRE, Demonstração dos Fluxos de Caixa-DFC, Demonstração Valor Adicionado - DVA e Notas Explicativas.

Uma das peças mais importantes é o Balanço Patrimonial, que sedestina a evidenciar a posição patrimonial de uma entidade num determi-nando período. Através de sua estrutura conseguimos identificar seu ativocirculante, passivo circulante e assim conhecermos como estão compostosos bens, direitos e obrigações da organização.

Com o auxílio do balanço Patrimonial, através de seu aspecto espe-

cífico, sabemos quanto à empresa possui em ativo circulante. [...]

Mais especificamente ainda, sabe-se pelas contas adotadas para a

representação de cada espécie patrimonial, o quanto ela possui de

cada um dos itens que constituem as disponibilidades, os direitos,

as obrigações etc. (FRANCO, 1996, p. 141-142).

Franco (1996) salienta que as informações por ele fornecidas assegu-ram conhecimento e controle das atividades administrativas, através darevelação dos bons e maus resultados obtidos.

Outro relatório é a Demonstração do Resultado do Exercício – DRE,que tem como objetivo evidenciar o lucro ou prejuízo da entidade em umdeterminando período de forma resumida, demonstrando as operações rea-lizadas pela empresa através dos confrontos das receitas, custos e despesas.

A demonstração do Resultado do Exercício apresenta, de forma re-

sumida, as operações realizadas pela empresa, durante o exercício

social, demonstradas de forma a destacar o resultado liquido do

Período (GONÇALVES; BAPTISTA, 1998, p. 315).

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Através desses dois relatórios o analista consegue extrair várias in-formações sobre a empresa, tais como: se há necessidade capital de giro, osestoques, duplicatas a receber, fornecedores a pagar, o giro do ativo, com-para o volume de vendas em relação aos custos e despesas entre outrasinformações que achar conveniente.

Esses dois relatórios ou demonstrações fornecem uma série de dadossobre a empresa de acordo com as regras contábeis e a análise transformaesses dados em informações e será tanto mais eficientes quanto melhoresinformações produzirem (MATARAZZO, 1998, p. 17).

1.2.1 Função da análise nas demonstrações financeiras

As análises das demonstrações financeiras têm como função trazerde forma resumida, informações de como está à composição da situaçãoeconômica e financeira da empresa, sua capacidade de pagamento e recebi-mentos, estoques e principalmente sua capacidade de geração de lucros eretorno de investimento para seus proprietários, sócios, acionistas e inves-tidores.

As mais utilizadas para medir a liquidez de uma entidade são:Liquidez Geral, composta pelo Ativo Circulante mais Realizável a LongoPrazo dividido pelo Passivo Circulante mais Exigível a Longo Prazo, queindica quanto à empresa possui de ativo circulante mais Realizável a longoprazo para cada um R$ 1,00 real de dívida total; Liquidez Corrente, com-posta pelo Ativo Circulante dividido pelo Passivo Circulante, indicandoquanto a empresa possui de ativo circulante para cada um R$ 1,00 real dedívida do Passivo Circulante; e Liquidez Seca, que é composta pelos Dispo-níveis mais Títulos a Receber e Outros ativos de rápida conversibilidade,dividido pelo Passivo Circulante, indica a capacidade de pagamento imedi-ato das dividas da empresa, ou seja, quanto ela possui de ativo liquido paracada R$ 1,00 real de Passivo Circulante.

Um dos fatores mais importantes da análise financeiras é acomparabilidade entre os dados de análise. Padoveze (1997), destaca aindaque tal comparação pode-se ser feita em vários aspectos, tais como: com-paração com períodos passados, comparação com períodos orçados, com-paração com padrões setoriais, comparação com padrões internacionais,comparação com padrões internos da empresa, comparação com empresasconcorrentes.

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Mediante a esses dados o analista traduz os números ali apresen-tados para os proprietários, sócios, acionistas e investidores, se o negó-cio e seguro ou não, se é aconselhável investir ou até mesmo comprar aentidade.

1.3 FLUXO DE CAIXA COMO FERRAMENTA GERENCIAL

Segundo Santos (2001), fluxo de caixa é um instrumento de planeja-mento financeiro, que tem por objetivo fornecer estimativas da situação decaixa da empresa em determinado período de tempo à frente. A finalidadedo fluxo de caixa é de informar à capacidade que a empresa tem em liquidarseus compromissos financeiros de curto e longo prazo.

Suas funções também são controlar o capital de giro, estudar a viabi-lidade de um projeto antes de sua execução, identificar, com antecedência,o volume de fundos que será procurado em fontes de créditos, captarem aconfiança dos credores a procurá-los com antecedência e prever possíveisaplicações para excesso de fundos e o uso eficiente e racional dos recursosdisponíveis.

A empresa pode utilizar o Fluxo de Caixa das seguintes formas:• Fluxo de Caixa Projetado – são colocadas as informações ainda não

realizadas. É o planejamento, controle financeiro da empresa de como vaiutilizar seus recursos. Com isso pode prever quando vender e comprar avista no próximo período, por exemplo.

• Fluxo de Caixa Realizado – terá as informações que já ocorreram naempresa.

Dessa forma, os administradores e gestores da empresa possueminformações do que foi projetado e realizado pela empresa. Para chegarnessas informações da projeção do Fluxo de Caixa buscamos informaçõesnos seguintes controles da empresa: Controle Diário Caixa, Controle de Con-tas a Receber, Controle de Contas a Pagar, Controle Mensal de Despesas.

Portanto, é fundamental que as empresas se comprometam a im-plantar e analisar freqüentemente o fluxo de caixa, a fim de observar possí-veis faltas ou excedentes de recursos na empresa.

Os métodos Fluxo de Caixa existente são:A) O método direto demonstra os recebimentos e pagamentos deri-

vados das atividades operacionais da empresa em vez do lucro líquido ajus-tado. Mostra efetivamente as movimentações dos recursos financeiros ocor-ridos no período.

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B) O método indireto é aquele no qual os recursos provenientes dasatividades operacionais são demonstrados a partir do lucro líquido, ajus-tado pelos itens considerados nas contas de resultado que não afetam ocaixa da empresa.

Veja a representação gráfica, a seguir:

Método Direto vs. Método IndiretoMétodo Direto vs. Método IndiretoMétodo Direto vs. Método IndiretoMétodo Direto vs. Método IndiretoMétodo Direto vs. Método Indireto

EntradasOperacionais

SaídasOperacionais

Lucro Líquido

Ajustes

Geração Interna de Caixa

Geração Operaci-onal de Caixa

Fluxo Operacional

Geração Não Ope-racional de Caixa

Variação do Disponível

MenosMais / Menos

Igual

Mais / Menos

Igual

Igual

Mais / Menos

Mét

odo

Dire

toM

étodo Indireto

Fonte: (Sá, 1998, p:36)

2. APLICABILIDADES DOS CONTROLES INTERNOS

Informações sempre foram importantes para empresa, principalmen-te nos dias atuais onde há enorme competitividade. Os controles internosde uma empresa não são uma tarefa fácil, por serem uma atividade práticaque exige um alto grau de realidade do dia a dia da empresa. Ela deve serrealizada através de dados reais.

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A aplicação desses controles vai além do ato de planejar e fiscalizar aentrada e saída de recursos, mas também na fiscalização das compras eestoques, manutenção fisíca e despesas em gerais, com o objetivo de res-guardar o patrimônio para tomada de decisão. Um desses controles é oFluxo de Caixa que implantado na empresa permitem aos seus usuarios,informações de como estão sendo aplicados os recursos, além de planeja-mentos antencipados dos acontecimentos futuros da entidade, podendoassim eliminar deficitis financeiros, reorganizar seus pagamentos com for-necedores, entre outras medidas que permitirão aos administradores egestores na tomada de decisão pela empresa.

Assim os controles internos devem ser aplicados em todas as empre-sas, não importando seu faturamento, elas adotando esses instrumentos degestão poderão ter uma vida longa no mercado competitivo, pois, controlesinternos permitem mensurar se os recursos utilizados estão trazendo rentabi-lidade de forma a medir os resultados das metas e objetivos empresariais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao termino desse artigo, verificou-se que uma empresa para sobrevi-ver atualmente, necessita de Controles Internos confiáveis que permitamavaliar toda sua estrutura econômica e financeira, sendo essencial para amanutenção da atividade empresarial, passando uma boa imagem peranteos investidores.

Devemos ressaltar que fluxo de caixa é uma ferramenta gerencialimportante para tomada decisão, possibilitando a visão do presente e futu-ro da empresa, permitido aos gestores ações preventiva, e como aplicarmelhor os recursos.

Para tais informações, o comprometimento por parte dos gestores naelaboração, gerenciamento e utilização destes Controles Internos é fatorpreponderante para a obtenção total de sua eficácia na utilização dos recur-sos financeiros da empresa. Além de uma maximização do lucro, destaforma, a empresa estará propicia a receber investimentos de capital.

Conclui-se nesse artigo, a necessidade da aplicação e manutençãodos controles internos para obtenção de investimento de capital. Sugeri-mos que este trabalho seja aplicado na região da grande Dourados, visandoàs micros e pequenas empresas. Tal aplicabilidade se faz necessária paradeterminar o sucesso ou insucesso do negócio, já que muitas dessas empre-sas fecham as portas antes mesmo de completar dois anos de vida.

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