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Revista Bahia Agricola

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Pulbicação da SEAGRI

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Temos muito que comemorar. De agosto de 1895 até os dias de hoje são 116 anos con-

tribuindo para o crescimento e desenvolvimento agropecuário do Estado. São notáveis os avan-ços aos quais se somam as promissoras iniciati-vas que buscam alicerçar a primeira de todas as atividades econômicas sob o novo paradigma de crescimento sustentável.

Se examinarmos o período recente, é notório e ao mesmo tempo gratificante verificarmos que a agropecuária baiana mudou. Hoje, atende os an-seios da sociedade no combate a fome e a miséria com incentivos à produção de alimentos.

São repetidos os recordes de produção e produti-vidade, que se elevam continuamente com investi-mentos crescentes. Ações inéditas que certamen-te contribuirão para impulsionar, ainda mais, este importante setor da economia baiana tais como: a agricultura familiar passou a ter prioridade nas políticas de desenvolvimento da agropecuária baiana; inovando com a criação das Câmaras Se-toriais, importante fórum de interlocução entre o Estado e os diversos representantes das cadeias produtivas do setor agropecuário; e, ainda, a ela-boração do Planejamento Estratégico da Agrope-cuária para os próximos 20 anos.

Nesta edição em que a revista Bahia Agrícola co-memora 15 anos, além de brindar o leitor com artigos técnicos de grande relevância, marca o retorno desta importante publicação, que tem con-tribuído para uma discussão mais consistente so-bre o cenário agrícola do Estado, sinalizando seus problemas, apresentando alternativas de investi-mentos e os avanços tecnológicos.

Os artigos desta edição discorrem sobre os mais va-riados aspectos do desenvolvimento agropecuário, e se estendem a partir da Seção Agrossíntese, onde a pujança da agricultura é traduzida pela quebra de mais um recorde na produção de grãos, a maior sa-fra já colhida no Estado.

A seção Comunicação registra possibilidades de utilização e aproveitamento de importantes produ-tos agrícolas do Estado, discorre sobre um modelo de desenvolvimento integrado e sustentável capaz de tornar próspera e dinâmica uma área rural estag-nada, com grande patrimônio ambiental, fixando os jovens talentos no campo, entre outros artigos de suma relevância.

Na seção Socioeconomia são tratados importantes temas. Eleita como prioridade de governo, essa se-ção é aberta por um artigo que aborda as conquistas e desafios do Cooperativismo de Crédito e suas con-tribuições para agricultura familiar. Na sequencia, es-tratégias para inserção no mercado dos produtos do semiárido, uma análise das questões da citricultura do Estado da Bahia e outras grandes contribuições para a agropecuária baiana. Em Pesquisa Agrícola, dois artigos trazem excelentes registros.

Por fim, a Revista Bahia Agrícola apresenta aos seus leitores uma nova proposta gráfica, com um selo comemorativo dos seus 15 anos, e aproveita para agradecer aos seus colaboradores pelo con-junto dinâmico e interessante de artigos que ca-racteriza esta edição.

Boa leitura! Feliz 2012!

ANOS

EdiçãoEspecial Editorial

Page 4: Revista Bahia Agricola

GovernadorJaques Wagner

Secretário da Agricultura,Irrigação e Reforma Agrária

Eduardo Seixas de Salles

Chefe de GabineteJairo Alfredo Oliveira Carneiro

Diretora GeralJucimara Rodrigues dos Santos

Superintendente de Desenvolvimento AgropecuárioRaimundo Sampaio de Carvalho

Superintendente de IrrigaçãoMarcello Nunes

Superintendente de Política do AgronegócioJairo Pinto Vaz

Superintendente de Agricultura FamiliarWilson José Vasconcelos Dias

BAHIA AGRÍCOLA é uma publicação quadrimestral da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária – SEAGRI - com o objetivo de divulgar estudos de interesse da agricultura baiana, produzidos pelo seu corpo técnico e colaboradores externos. Os artigos assinados são de

inteira responsabilidade dos autores.

Conselho EditorialJosé Mário Carvalhal de Oliveira (Presidente) – ADAB Aldo Vilar Trindade – Embrapa Mandioca e Fruticultura

Antônio Vicente da Silva Dias – EBDAAugusto Sávio Mesquita – MAPA/SFA

Carlos Armando Barreto de Santana – SEAGRIJucimara Rodrigues dos Santos – SEAGRI

Maria Auxiliadora Lobo Alvim – SEAGRI/SUAFMário Luiz Albuquerque Tavares – CEPLAC

Paulo Emílio Landulfo Medrado de Vinhaes Torres – ADAB

BAHIA AGRÍCOLA – Editoria/Revisão: Rosangela Barbosa Machado; Colaboração: Diogo Cardoso de Olivei-

ra e Fernanda Sousa Conceição; Colaboração editorial:Assessoria de Imprensa SEAGRI; Capa, projeto gráfico e diagramação: Editora Dendê Capa – Fotos: Sílvio Ávila e Heckel Júnior; Fotografias: Acervo SEAGRI, Heckel Júnior e Sílvio Ávila (imagens gentilmente cedidas pela Editora Gazeta Santa Cruz – RS); Supervisão gráfica: Rosangela

Barbosa Machado; Distribuição: Biblioteca SEAGRI. Apoio para esta edição: Associação dos Criadores de Caprinos e

Ovinos da Bahia – ACCOBA.

ISSN 1414-2368A reprodução total ou parcial dos artigos

é permitida desde que citada a fonte.

Tiragem: 5.000 exemplares

Esta publicação também está disponível na Internet, no endereço http://www.seagri.ba.gov.br/bahiagricola.asp

Endereço: 4ª Avenida, 405 – Térreo Centro Administrativo da Bahia

CEP 41745-002 – Salvador – Bahia – BrasilTel.: (71) 3115-2783

e-mail: [email protected]

A Bahia baterecorde nasafra de grãosem 2011

Programa dedesenvolvimento integradosustentável domosaico de APAs do Baixo Sulda Bahia

Certificação de Indicação Geográfica

Uma estratégia de inserção no mercado

para produtos do Semiárido

Situação atual dosisal na Bahia e

suas novaspossibilidadesde utilização e

aproveitamento

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AGROSSÍNTESE

SOCIOECONOMIA

COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO

Page 5: Revista Bahia Agricola

ABC das ações de defesafitossanitária para o HLB

em São Paulo: lições paraa Citricultura do Nordeste

Avaliação da cultura da rúcula em cultivo hidropônico

Análise dos custos do programa de controle das moscas-das-frutas na cultura da manga no polo frutícola do Vale do Rio Brumado, BA

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Situação atual e perspectivas de aproveitamento do coco e da casca 20

Sementes sadias: um meio de reduzir perdas agrícolas 28

Agroecologia:manejo de pragas e doenças de plantas 32

Cooperativismo de crédito – Conquistas e desafios de uma história escritapor muitas mãos: ferramentas que mudam a realidade na agricultura familiar 34

Comportamento dos preços, existência de ágio ou deságio,margens, instituições e canais na comercialização de cacau no ano de 2009 50

Um olhar sobre a citricultura do Estado da Bahia 72

Certificação de propriedades livres de brucelose e tuberculose animal na Bahia 94

UMBU-CAJAZEIRA: boas perspectivas para o semiárido baiano 100

EBDA - 20 anos trabalhando para o desenvolvimento da agricultura familiar 110

Divulgação SEAGRI 115

Cartas 117

COMUNICAÇÃO

SOCIOECONOMIA

PESQUISAAGRÍCOLA

INFORMAÇÕES E SERVIÇOS

SOCIOECONOMIA

SOCIOECONOMIA

PESQUISA AGRÍCOLA

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A Bahia bate recordena safra de grãosem 2011

TABELA 1SAFRA DE GRÃOS E VARIAÇÃO PERCENTUALBAHIA, 2010-2011

A B B/A%

Área (ha) 2.773.514 2.775.201 0,06

Produção (t) 6.830.873 7.730.515 13,17

Rendimento (kg/ha) 2.463 2.786 13,10A – REFERENTE AO ANO 2010

B – REFERENTE AO ANO 2011

Fonte: IBGE / SEAGRI

Em 2011, a Bahia colheu 7,73 mi-lhões de toneladas de grãos, a

maior safra registrada em todos os tempos. Em comparação com o ano passado, houve um crescimento de 13,17% na produção, enquanto a área colhida foi de 2,78 milhões de hectares, mantendo-se inalterada.

O crescimento da produção é explica-do pela evolução da produtividade, que cresceu 13,10%, passando de 2.463 kg/ha para 2.786 kg/ha (Tabela1).

Edilson de Oliveira Santos1

1– Mestre em Economia, Gestor Governamental da SEAGRI;e-mail: [email protected]

SOJAA soja baiana, em 2011, apresen-tou a sua maior safra, com um vo-lume colhido de 3,51 milhões de toneladas ante aos 3,11 milhões de toneladas do ano anterior, ou seja, uma elevação de 12,91%. A área plantada elevou-se em 2,83%, saindo de 1,02 milhões de hectares em 2010 para 1,07 milhões de to-neladas em 2011. A produtividade superou todas as médias históricas com 9,80% de crescimento, che-gando a 3.360 kg/ha contra 3.060 kg/ha no ano passado (Tabela 2).

As boas condições climáticas no Oeste da Bahia e o empreendedo-rismo dos produtores, que estão sempre adotando o que há de

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AGROSSÍNTESE

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mais avançado em tecnologia, além das modernas práticas de gestão, foram decisivos para a Bahia alcançar elevadas produti-vidades no segmento.

A SEAGRI, por meio da ADAB e em parceria com os produtores e instituições de pesquisas, vem desenvolvendo ações importan-tes do sentido de manter a fitos-sanidade da cultura. Isso tem sido de suma importância, na medida em que previne e contém as prin-cipais doenças na lavoura no Es-tado. A Bahia tornou-se referência nacional no combate à ferrugem asiática, doença que causa enor-mes prejuízos aos sojicultores.

Neste ano, a cotação da soja, tanto no mercado interno como no externo, está situada num patamar superior ao do ano passado. De janeiro a outubro de 2011, a saca de 60 kg foi cotada, em média, em Barrei-ras, a R$ 42,37, enquanto que no mesmo período do ano pas-sado a média foi de R$ 35,19.

Em Chicago, a cotação do buschell para os dois períodos foi de US$ 13,32 e US$ 10,06, respectivamente (Gráficos 1 e 2). Como houve redução na safra dos Estados Unidos e a demanda chinesa continua em alta, a tendência é que os pre-ços sigam firmes pelos próxi-mos meses.

TABELA 2SAFRA DE SOJA, VARIAÇÃO PERCENTUALBAHIA, 2010-2011

A B B/A%

Área (ha) 1.017.250 1.046.070 2,83

Produção (t) 3.112.929 3.514.713 12,91

Rendimento (kg/ha) 3.060 3.360 9,80

A – REFERENTE AO ANO 2010B – REFERENTE AO ANO 2011

Fonte: IBGE / SEAGRI

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MILHOA colheita de milho na Bahia em 2011 foi 2,09 milhões de toneladas, 5,81% menor que os 2,22 milhões de toneladas na safra de 2010. A área de milho no Estado caiu de 724,10 mil hectares para 626,40 mil hectares, ou seja, uma redução de 13,49%. A produtividade elevou-se em 8,9%, 3.343 kg/ha contra 3.070 kg/ha no ano passado (Tabela 3).

O Oeste responde por 75% da pro-dução do Estado. O rendimento

médio da região supera os 6.000 kg/ha, uma das mais elevadas do Brasil, sendo que no município de São Desidério, a produtividade é de 8.000 kg/ha.

O Nordeste da Bahia, que é referên-cia na produção de feijão há alguns anos, vem se destacando também na produção de milho. A produtivi-dade em alguns municípios como

TABELA 3SAFRA DE MILHO E VARIAÇÃO PERCENTUALBAHIA, 2010-2011

A B B/A%

Área (ha) 724.102 626.400 -13,49

Produção (t) 2.223.302 2.094.228 -5,81

Rendimento (kg/ha) 3.070 3.343 8,89

A – REFERENTE AO ANO 2010

B – REFERENTE AO ANO 2011

Fonte: IBGE / SEAGRI

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Paripiranga já alcança os níveis do Oeste da Bahia. Experimen-tos da EMBRAPA em outros mu-nicípios dessa região indicam que a mesma deve se configurar como área de excelência na pro-dução de milho. Todavia, neste ano, a região sofreu estiagem, prejudicando sensivelmente a colheita, com reflexo na produ-ção total do Estado.

A Secretaria da Agricultura, com apoio da Fundação Bahia, da Associação de Agricultores e Irri-gantes da Bahia (AIBA), da Asso-ciação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA) e do Fundo para o Desenvolvimento do Agronegó-cio do Algodão (FUNDEAGRO), está contratando a Fundação Getúlio Vargas para realizar um estudo econômico no Oeste no sentido de sinalizar a estratégia para a verticalização das cadeias produtivas de grãos, dentre elas a cadeia do milho. Três grandes empreendimentos integrantes da cadeia do milho já estão implan-tando unidades fabris, o que vai agregar valor a este produto na região de origem.

A demanda interna do milho tem se mantido aquecida desde o se-gundo semestre de 2010. Além disso, as cotações internacionais do produto estão em patamares elevados. A junção desses fato-

res tem pressionado a cotação do produto no mercado doméstico, proporcionando alta rentabilida-de aos produtores. Atualmente, a saca de 60 kg está cotada a R$ 25,00 em Barreiras (Gráfico 3).

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ALGODÃO

Mantendo-se em segundo lugar na cotonicultura nacional, a Bahia co-lheu, em 2011, 1,58 milhões de to-neladas de algodão, a maior safra de todos os tempos. Comparando com a safra do ano passado, a co-lheita deste ano é 58,59% maior, enquanto que a área elevou-se em 53,58%, passando de 270,17 mil hectares para 415,72 mil hectares. Já a produtividade obteve um ga-nho de 3,07%, passando 3.684 kg/ha para 3.797 kg/ha, a maior obtida pelo Estado (Tabela 4).

A região Oeste é a grande res-ponsável pela pujança da coto-nicultura baiana, respondendo por 95% da produção do Estado, tendo o município de São Desi-dério como principal produtor, produzindo mais de 50% do to-tal da Bahia, e mais que o dobro da produção de Goiás, o terceiro maior estado produtor.

A baixa nos estoques mundiais, aliada ao aquecimento da deman-da, elevou o preço, tanto interna-

cionalmente como no mercado in-terno, a níveis jamais vistos no ano passado e neste ano. Em março, a cotação da arroba da pluma em Barreiras foi R$ 128,00, sendo que

arrefeceu no segundo semestre, mas continua num nível elevado. Atualmente, a arroba da pluma em Barreiras está cotada a R$ 70,00 (Gráfico 4).

TABELA 4SAFRA DE ALGODÃO E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011

A B B/A%

Área (ha) 270.173 415.716 53,87

Produção (t) 995.346 1.578.522 58,59

Rendimento (kg/ha) 3.684 3.797 3,07

A – REFERENTE AO ANO 2010

B – REFERENTE AO ANO 2011

Fonte: IBGE / SEAGRI

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FEIJÃO

Com uma retração de 21,54% em relação à safra de 2010, a Bahia está colhendo 241,21 mil tonela-das de feijão. A área colhida pas-sou de 552,11 mil hectares no ano passado para 423,56 mil hectares no ano corrente, uma redução de 23,28%. O rendimento médio por hectare, no entanto, cresceu 2,28%, quando passou de 557 kg para 569 kg (Tabela 5).

O Nordeste da Bahia é a principal região produtora de feijão do Es-tado, com destaque para o polo de Adustina/Paripiranga. Como houve estiagem naquela região, tanto a produção local como a estadual foram bastante prejudi-

cadas. A frustração de safra na região foi de 85% da previsão ini-cial no momento do plantio. Com isso, a safra do Nordeste foi de 18,45 mil toneladas contra 124,24 mil toneladas no ano anterior.

A segunda região mais importan-te para este produto é o Oeste, que neste ano produziu 82,61 mil

toneladas, 34,31% da produção baiana. Da produção total do Cer-rado, 63,46% provêm dos plantios irrigados.

A região de Irecê, que já foi uma das mais importantes produtoras do país, praticamente desapa-receu do cenário da lavoura no Estado. Em 2011, a produção da região não passou das 16,75 mil toneladas, ou seja, menos de 7% da produção estadual.

A queda na safra manteve a cota-ção feijão no Estado elevada em 2011. Em Ribeira do Pombal, a saca de 60 kg foi cotada, em mé-dia, a R$ 105,00 no mês de outu-bro (Gráfico 5).

TABELA 5SAFRA DE FEIJÃO E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011

A B B/A%

Área (ha) 552.113 423.561 -23,28

Produção (t) 307.417 241.210 -21,54

Rendimento (kg/ha) 557 569 2,28

A – REFERENTE AO ANO 2010

B – REFERENTE AO ANO 2011

Fonte: IBGE / SEAGRI

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MAMONA

A safra de mamona na Bahia em 2011 foi de 95,82 mil toneladas, 29,38% maior que a safra de 2010, que foi de 74,06 mil toneladas. A área colhida de 137,29 mil hectares foi 28,25% maior que os 107,05 mil hectares colhidos em 2010. O rendi-

mento médio por hectare manteve--se praticamente estável, 698 kg con-tra 692 kg no ano anterior (Tabela 6).

A região de Irecê é a mais importan-te produtora de mamona na Bahia, respondendo por mais de 75% da produção estadual. Neste ano, a re-gião teve um bom desempenho, co-lhendo 71 mil toneladas da lavoura.

ARROZ

A produção de arroz na Bahia em 2011 foi 34,93 mil tonela-das, enquanto no ano passado o Estado colheu 33,37 mil tone-ladas, portanto, um acréscimo de 4,66%. A área colhida retraiu 2,55%, quando saiu de 18,37 mil hectares no ano anterior para 17,90 mil hectares no ano cor-rente. A produtividade obteve um incremento de 7,40%, 1.816 kg/ha e 1.951 kg/ha, respectiva-mente, no ano passado e neste ano (Tabela 7).

Neste ano, a cotação do arroz tem se situado num nível abaixo dos praticados no ano passado, porém começou reagir no se-gundo semestre do ano corren-te. O Governo Federal adotou uma política de incentivo às ex-portações, que enxugou o mer-cado, pressionando o preço no mercado interno. Em outubro, a saca de 60 kg estava cotada a R$ 24,00 em Luís Eduardo Ma-galhães (Gráfico 6).

TABELA 7SAFRA DE ARROZ E VARIAÇÃO PERCENTUALBAHIA, 2010-2011

A B B/A%

Área (ha) 18.371 17.902 -2,55

Produção (t) 33.370 34.926 4,66

Rendimento (kg/ha) 1.816 1.951 7,40

A – REFERENTE AO ANO 2010

B – REFERENTE AO ANO 2011

Fonte: IBGE / SEAGRI

TABELA 6SAFRA DE MAMONA E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011

A B B/A%

Área (ha) 107.051 137.291 28,25

Produção (t) 74.055 95.815 29,38

Rendimento (kg/ha) 692 698 0,89

A – REFERENTE AO ANO 2010

B – REFERENTE AO ANO 2011

Fonte: IBGE / SEAGRI

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SORGOA produção baiana de sorgo mais que dobrou neste ano, cuja co-lheita foi de 171,10 mil toneladas contra 84,45 mil toneladas no ano passado, sendo que a área colhi-da aumentou 28,19%, fechando em 108,26 mil hectares. A produ-tividade obteve um ganho expres-sivo, saindo de 1.000 kg/ha para 1.580 kg, ou seja, uma elevação de 58% (Tabela 8)

Até o ano passado, o sorgo era produzido em sua maior parte na região de Irecê, que detinha 65% da produção da Bahia. Neste

ano, porém, outras regiões pro-duziram o grão em grande quan-tidade, como aconteceu com o Oeste e a Serra Geral, fato que contribuiu para elevação da pro-dução estadual.

A despeito de ter ocorrido incre-mento nas safras estadual e nacio-

nal, o preço do sorgo está elevado, em comparação com o ano passa-do. Tal fato se explica pela elevação da demanda e a alta do preço do milho, que têm sustentando a cota-ção do sorgo. Em Irecê, tem sido observado esse comportamento, sendo a saca de 60 kg vendida em outubro a R$ 24,00 (Gráfico 7).

TABELA 8SAFRA DE SORGO E VARIAÇÃO PERCENTUALBAHIA, 2010-2011

A B B/A%

Área (ha) 84.454 108.261 28,19

Produção (t) 84.454 171.101 102,60

Rendimento (kg/ha) 1.000 1.580 58,04

A – REFERENTE AO ANO 2010

B – REFERENTE AO ANO 2011

Fonte: IBGE / SEAGRI

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Robson Andrade1

Jackson Ornelas2

Weliton Brandão3

O sisal (Agave sisalana pierre) foi introduzido na Bahia, mais

especificamente, no município de Santaluz, localizado na região sisa-leira, por volta de 1910. Porém, só passou a ser explorado comercial-

1— Engenheiro Agrônomo, Pós-Graduando em Gestão da Inovação Tecnológica, Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS; e-mail: [email protected]

2— Economista, Professor da Universidade Federal da Bahia – UFBA; e-mail: [email protected]

3— Engenheiro Agrônomo, Analista da Embrapa Semiárido e Coordenador do Núcleo da Agricultura Familiar do Território do Sisal; e-mail: [email protected]

mente a partir do final da década de 30. Sua adaptação às condições edafoclimáticas da região semiá-rida do Nordeste, onde as opções de cultivo são limitadas, confere ao sisal uma grande importância só-cio-econômica, gerando emprego e renda em uma das regiões pos-suidoras do IDH (0,589) mais baixo do Estado da Bahia. Estima-se que, atualmente aproximadamente, 400 mil agricultores familiares cultivam o sisal em suas propriedades. Ade-mais, postos de trabalhos diretos são gerados nas etapas de benefi-ciamento e industrialização do sisal, sendo estes gerados, em sua maio-ria, nos centros urbanos.

No Estado da Bahia, no ano de 2010, a produção da fibra de sisal atingiu aproximadamente 140 mil toneladas, cultivados em 68 mu-nicípios, alguns desses com maior expressão em termos de produ-ção, como por exemplo: Concei-ção do Coité, Campo formoso, Valente, dentre outros. No entanto, a produtividade média por hecta-re concentra-se em 1200 kg/ha. Ressalte-se que esta produtivida-de ainda é baixa, quando compa-rada aos índices de produtividade encontrados na Tanzânia e Kenya, superiores a 2800 kg/ha.

A Bahia é responsável por 90% da produção de fibra de sisal do

Situação atual do sisal na Bahia e suas novas possibilidades de

utilização e aproveitamento

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COMUNICAÇÃO

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Brasil, seguida pelos Estados da Paraíba e Pernambuco. Na Bahia, a produção de sisal concentra-se na região denominada “região si-saleira”. A maior parte da fibra de sisal é destinada para o mercado externo, seja na forma de fibra bru-ta, seja na forma manufaturada.

A CULTURA

O sisal é uma planta originada do México, fazendo parte da fa-mília Agavaceae. Possui siste-ma radicular fibroso, no entanto, pode-se encontrar raízes desen-volvidas horizontalmente com comprimento de 1,5 a 3m.

Segundo a literatura, a tempe-ratura diurna ideal para o bom desenvolvimento da cultura gira em torno de 20° a 28°C, porém noites com temperatura ame-nas, típicas da região sisaleira da Bahia, favorecem a absorção de água pela planta, através do orvalho que cai durante este tur-no. A planta se adéqua bem às regiões da Bahia onde a pluvio-sidade não ultrapassa 400 mm/ano. No que concerne ao solo, o sisal é cultivado em diferentes tipos de solo encontrados no se-miárido baiano, na sua maioria de baixa fertilidade.

O plantio é feito utilizando os re-bentões que nascem na base da planta mãe ou por meio dos bulbi-lhos, emitidos pela planta quando atinge o final do ciclo de vida. Após

o plantio, o sisal leva aproximada-mente três anos para ser colhido pela primeira vez, com folhas va-riando entre 90 a 120 cm de com-primento. Após a primeira colheita, o sisal é colhido anualmente.

COLHEITA,BENEFICIAMENTO E PROCESSAMENTO

A colheita é realizada manualmen-te, por trabalhadores utilizando uma faca. Em seguida as folhas de sisal são transportadas no lom-bo de um animal até o local onde se encontra o motor desfibrador ou “motor paraibano”, como é conhe-cido. No desfibramento remove-se a parte verde da folha, restando a fibra em estado úmido.

Já desfibradas, as fibras em esta-do úmido são levadas e estendidas em varais, permanecendo sob a luz solar por um período de 72 horas, para que ocorra o processo de se-cagem uniforme.

Após a secagem, a fibra deve apresentar umidade entre 10 e 13 %, sendo um dos parâmetros ava-liados no momento da compra do sisal para beneficiamento. Na se-qüência, as fibras são enfardadas e transportadas pelos agricultores até a unidade de beneficiamen-to. Nesse momento, são classi-ficadas em função do tamanho e qualidade e, em seguida, são submetidas ao beneficiamento,

utilizando a máquina conhecida como “batedeira”, onde são re-movidas as impurezas aderidas às fibras, deixando-as com as-pecto brilhoso. Após essa etapa, as fibras são organizadas em far-dos de aproximadamente 250 kg, identificados segundo normas do Ministério de Agricultura e Abaste-cimento (MAPA) e comercializados para as indústrias da Bahia, para outros Estados ou para o merca-do internacional. Uma pequena quantidade de fibra é destinada às cooperativas ou associações de artesanato de sisal. Segundo estu-dos, existem aproximadamente 60 unidades de beneficiamento (“ba-tedeiras”) nos Territórios do Sisal e Bacia do Jacuípe, ambos situados na região sisaleira da Bahia.

Na indústria, a fibra de sisal é trans-formada em variedades de fios, cordas, tapetes, capachos, mantas de sisal, etc. Atualmente existem 14 indústrias de sisal localizadas na

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Bahia, sendo 12 dessas no Território do Sisal, constituindo um aspecto positivo, vez que proporciona a in-teriorização das indústrias.

PRINCIPAISPRODUTOS

Fios e cordas: no que tange à produção de fios, destaca-se, em termos de produção, o fio agríco-la (baler twine), responsável por 60% do destino da fibra de si-sal produzida na Bahia. O baler como é largamente conhecido é comercializado no mercado interno, nos principais estados do Sul, em especial, o Paraná e Rio Grande do Sul, no Sudeste, destacando-se São Paulo, em alguns estados do Centro-Oeste,

onde destaca-se o Estado do Góias e Nordeste, sendo o Es-tado de Pernambuco um polo de distribuição para os demais es-tados do Nordeste. No mercado externo, é comercializado para a Ásia, Europa e, principalmente, para a América Central.

Tapetes e Capachos: ambos são encontrados em diversas tramas e acabamentos especiais. Como exemplo destaca-se os tapetes com bordas em couro ou tecidos especiais. O principal mercado é o internacional, atendendo alguns países da Europa, como França, Espanha e Alemanha. No entanto, o mercado interno vem apresen-tando crescimento significativo, principalmente nas grandes capi-tais do Brasil.

Mantas de sisal: são utilizadas na produção de estofados e

mantas para sela de montaria. O principal mercado consumidor está nos estados do Sudeste e Centro-Oeste.

Artesanato: são produzidos bol-sas, tapetes manuais de macra-mê e tricô, descansadores para panelas, porta jóias, porta mate-rial didádico, etc. Após melhorias no design e qualidade do aca-bamento, o artesanato de sisal baiano vem abrindo novos mer-cados, sendo encontrado nas principais lojas de decoração de Salvador, assim como, em outras capitais do país.

NOVAS POSSIBILIDADES PARA A FIBRA DO SISAL E SEUS SUBPRODUTOS

No desfibramento, apenas 4% da folha do sisal é aproveitada na forma de fibra, 16 % são re-síduos sólidos e 80 % são resí-duos líquidos. Nos últimos anos, através de pesquisas, vem sur-gindo algumas alternativas de aplicabilidade tanto para a fi-bra quanto para seus resíduos. Como por exemplo:

� Compósitos plásticos: com a necessidade de se produzir produtos cada vez mais limpos, objetivando reduzir a utilização de produtos a partir das reservas Fo

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naturais, a exemplo do petróleo, a fibra de sisal, surge como opção para ser utilizada na produção de compósitos. Em 2008, a Ford, em-presa do setor automotivo, apre-sentou, no salão do Automóvel em São Paulo, um veículo com alguns componentes plásticos (painéis e revestimentos internos, dentre outros) contendo fibra de sisal, po-lipropileno virgem e polipropileno reciclado. Estima-se que em cada veículo produzido seja utilizado 9 kg de fibra de sisal. Vale a pena salientar que essa nova aplicabi-lidade em forma de compósitos plásticos pode se estender aos setores de eletrodomésticos e de informática, dentre outros.

� Líquido do sisal ou suco do sisal: responsável por 80% do peso da folha do sisal é deixado nos campos sem nenhum tipo de utilização. Porém, alguns es-tudos preliminares constataram a eficácia da utilização do resíduo líquido, como bioinseticida e bio--herbicida, em culturas a exemplo, milho e algodão. A eficácia, efici-ência e viabilidade da utilização do resíduo líquido do sisal são ob-jetos de estudos utilizando recur-sos disponibilizados pela Organi-zação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, em parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia e o Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais no Estado da Bahia – SINDIFIBRAS.

� Briquetes: no sistema de produção de sisal, alguns tratos culturais são essenciais para a manutenção da produção ou,

até mesmo, para o aumento da produtividade. Dentre eles, po-demos destacar a retirada do excesso de perfilos que crescem na base da planta “mãe”, assim como a retirada da socas – como é conhecida a planta que com-pletou seu ciclo de vida, ambos possuidores de altos teores de fibra. Análises realizadas pelo Instituto Tecnológico do Paraná sobre o poder calorífico desses materiais, após transformados em briquetes, demonstraram potencialidade para a utilização como fonte de energia, podendo ser empregados nos fornos das panificadoras da região sisaleira, dentre outros, evitando a devas-tação da vegetação nativa do se-miárido baiano. Contudo, se faz necessário ampliar as pesquisas sobre sua utilização, assim como estudos de viabilidade técnica econômica.

� Utilização do resíduo de sisal na alimentação de ruminantes: a utilização do resíduo na forma de feno, silagem ou amonizado, como ração para produção de leite ou carne, e, principalmen-te, para o sustento dos animais no período de estiagem é uma prática ainda pouco utilizada por agricultores da região sisaleira da Bahia. Normalmente, esse re-síduo é deixado amontoado nos campos de sisal. Para a utilização na alimentação de ruminantes é necessária a extração dos restos de fibra de sisal presentes na mu-cilagem, oriundos da má regula-gem da máquina desfibradora. Para isso, utiliza-se um equipa-mento chamado “gaiola giratória”.

Nos últimos anos, pesquisas es-tão sendo realizadas objetivando potencializar a utilização desse subproduto, adicionando aditivos nutricionais (ureia, soja, milho, etc.) associados à forma de arma-zenamento e utilização, a fim de elevar os valores nutricionais des-se alimento. Dentre as instituições envolvidas com essas pesquisas, pode-se destacar a EMBRAPA Semiárido, EMBRAPA Algodão e Universidade Federal do Recôn-cavo Baiano – UFRB.

EVOLUÇÃO DO ARRANJO: CERTIFI-CAÇÃO DA FIBRA E REGULAMENTAÇÃO DE NÃO CONFOR-MIDADE

No início do segundo semestre de 2009, iniciou-se o processo para adequação às normas para a certificação da fibra de sisal na Batedeira Comunitária da Associa-ção de Desenvolvimento Susten-tável Solidário da Região Sisaleira – APAEB. Durante esse período foram realizadas adequações con-forme determina a portaria 196 do MAPA, onde prioriza a qualidade da fibra, classificação, rastreabi-lidade, maior segurança para os trabalhadores envolvidos, menor impacto ambiental, etc. Após essa etapa, o empreendimento recebeu a auditoria do IBAMETRO e INME-TRO, obtendo com sucesso as

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Certificações de ISO 9001:2008 e RAC – Regulamento de Avaliação de Conformidade no mês de outu-bro de 2010. A certificação da fibra de sisal é importante para elevar o nível de competitividade do em-preendimento, principalmente no mercado internacional.

ALGUMAS DIFICULDADES DO ARRANJO PRODUTIVO

z Problemas fitossanitários

Causada pelo fungo Aspergilo ninger, a podridão vermelha vem trazendo sérios prejuízos pra o ar-ranjo produtivo. Um dos principias

métodos de disseminação da doen-ça é o plantio de mudas já contami-nadas pelo fungo, bem como a utili-zação, no momento da colheita, do mesmo utensílio utilizado na colhei-ta tanto para a planta sadia quanto para a contaminada, sem nenhuma medida de desinfecção.

A planta, uma vez atacada, apre-senta coloração amarelada e, em seguida, ocorre a morte. Na parte interna da planta, quando se realiza um corte transversal na base, observa-se um filamento de cor vermelha. Segundo da-dos de pesquisas realizadas pela UFRB e Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, a podridão vermelha é en-contrada em todos os municípios produtores de sisal do Estado da Bahia, com maior incidência nos municípios de Araci e Conceição do Coité, ambos localizados no Território do Sisal.

Como medida de controle para plantios já existentes, deve-se retirar a planta contaminada, queimando-a em seguida. Já para novos plantios, recomenda-se o plantio utilizando rebentões oriundos de campos li-vres de infestação da doença ou a utilização de mudas produzidas a partir do bulbilho. Ambas as reco-mendações são preconizadas por pesquisadores da doença.

z Qualidade da fibra

A baixa qualidade da fibra é um dos grandes desafios a ser su-perado no sistema de produção de sisal na Bahia. É comum as fibras chegarem às unidades de beneficiamento apresentando umidade superior a 13% fruto de um sistema de secagem precário, com coloração escurecida, apre-sentando fibras curtas misturadas com fibras longas, com danos causados por animais, dentre

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outros problemas que acarretam uma depreciação no valor pago aos agricultores, podendo chegar a R$ 0,50, quando a fibra é clas-sificada como refugo, aproxima-damente a metade do valor pago pela fibra tipo 1 (R$ 1,04).

z Parque industrial

O parque tecnológico, que com-preende as máquinas de des-fibramento da folha de sisal no campo, conhecida popularmente como motor paraibano, a máqui-na de beneficiamento da fibra de sisal (“batedeiras”) e as máqui-nas e equipamentos das indús-trias, são apontados como uma das fragilidades da cadeia pro-dutiva do sisal, em estudo reali-zado para a elaboração do plano de melhoria da competitividade – PMC do Arranjo Produtivo Local do Sisal.

Algumas dessas máquinas ainda são as mesmas utilizadas no iní-cio do processo de mecanização do sisal, ocorrido por volta da dé-cada de 40, como, por exemplo, o “motor paraibano”, causador de inúmeras mutilações dos “se-vadores”, como são conhecidos os desfibradores. Estima-se que a região sisaleira possui apro-ximadamente 3000 mil motores paraibanos. Outro exemplo, são as máquinas conhecidas como “batedeiras”. Já na indústria, as máquinas e equipamentos exis-tentes foram adaptadas a par-tir das máquinas destinadas ao beneficiamento do algodão. Tais adaptações foram realizadas, ao longo dos anos, por profissionais liberais. Só após a década de 70, passou-se a encontrar no mer-cado, máquinas e equipamentos específicos para o beneficiamen-to da fibra de sisal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar das dificuldades atuais do arranjo produtivo do sisal da Bahia as expectativas são grandes no que tange aos aspectos inovadores para o arranjo. Desses, podemos desta-car as novas aplicabilidades da fibra de sisal e aproveitamento dos resí-duos oriundos da cultura, tendo em vista que proporcionará a abertura de novos canais de comercialização e consequentemente a melhoria das condições sócio econômicas da po-pulação que depende da cultura do sisal, direta ou indiretamente. Porém, será necessário um maior envolvi-mento, dedicação e compromisso dos setores (sociedade civil, poder público e privado) em buscar de for-ma participativa um objetivo único para desenvolvimento e estruturação do arranjo produtivo do sisal.

Referências BAHIA. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. Plano de Melhoria da Competitividade do Arranjo Produtivo Local de Sisal: relatório técnico. Salvador: SECTI, 2009. 120p.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. As câmaras do MAPA: um instrumento democrático e transparente de inter-locução com a sociedade. Brasília: MAPA, 2009. 20p.

FIBRA de futuro: sisal, já utilizado em polímeros, poderá ser usado na produção de etanol. Disponível em < http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3863&bd=1&pg=1>. Acesso em 20 out.2009.

FORD utiliza sisal para interior dos veículos. Disponível em < http://www.automotivebusiness.com.br/noticia_det.asp?id_noticia=376 > Acesso em 16 out.2009.

IBGE. Disponível em < www.ibge.br > Acesso em 06 out. 2009.

MARQUES, Antônio Nonato. O sisal na Bahia. Salvador, 1978. 67p. (Apresentado na V Convenção Regional do Sisal).

SILVA, O. R. R. da; BELTRÃO, N. E. M. O agronegócio do sisal no Brasil. Campina Grande: EMBRAPA/CNPA, 1999. 205p.

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Situação atual eperspectivas de aproveitamento do coco e da cascaFernando Florence1

1— Engenheiro Agrônomo, Especialista em Agroindústria, Técnico da EBDA; e-mail: [email protected]

O Estado da Bahia é o maior produtor de coco do Brasil,

ocupando a vanguarda na produ-ção nacional, com uma área culti-vada de mais de 76 mil hectares. Tomando-se como referência o ano de 2010, a produção anu-al foi superior a 500 milhões de frutos contribuindo com mais de R$ 221 milhões para a composição do Valor Bruto da Produção Agrí-cola, além de gerar cerca de 240 mil postos de trabalho. O Gráfico 1 apresenta os principais estados produtores de coco do país.

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A cultura do coqueiro é a ativi-dade tradicional dos terrenos

arenosos da faixa costeira do Es-tado. Seu cultivo e produção des-tinam-se em grande parte, à extra-ção da água in natura que no Brasil é crescente e significativa.

Segundo a Associação Brasi-leira das Indústrias da Alimen-tação (ABIA) são consumidos no país 10 bilhões de litros/ano de refrigerantes. O consumo de água de coco representa 1,4% deste mercado, ou seja, 140 milhões de litros, o que é considerado muito pequeno, pretendendo-se atingir 5% des-te mercado, ou seja, 500 mi-lhões de litros.

O crescimento do consumo da água de coco, registrado nos úl-timos anos contribuiu para a ge-ração de um resíduo (casca) de difícil degradação.

Alguns Estados do Norte e do Nor-deste apresentam programas e trabalhos de aproveitamento inte-gral do coco, em especial a cas-ca, que compete com trabalhos semelhantes feitos, por exemplo, a partir da samambaiaçu (xaxim).

Infelizmente, na Bahia o aprovei-tamento é insignificante. Uma in-dústria no município do Conde, Saturno Fibras, é a mais conhe-cida, existindo algumas unidades artesanais.

A sua utilização, além do valor econômico e social é também importante do ponto de vista am-biental. Deve-se salientar que 80 a 85% do peso bruto do coco verde é considerado lixo, e que 70% do lixo gerado nas praias é compos-to por casca de coco verde.

Diante deste quadro, o beneficia-mento do coco verde apresenta--se como um projeto de inclusão social, como forma de agregar va-lor não só ao coco como também aos resíduos da cultura/casca, além de contribuir para o fomento e incremento de renda da popula-ção excluída. Com isto a casca de coco deixará de ser “LIXO” para se tornar “MATÉRIA-PRIMA”.

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De um modo geral as principais ca-racterísticas dos produtores de coco no Brasil podem ser definidas assim:

� 88% são proprietários;

� 90% possuem área inferior a 50 ha;

� 60% não utilizam tecnolo-gias como adubação, controle de pragas e doenças e praticam sistema de produção pouco intensiva em tecnologia;

� 74% comercializam de sua produção por meio de intermediário.

Em relação a casca do coco, quan-do reciclada é rica em fibras (longas e curtas), pó e sais minerais poden-do propiciar: destino ambiental-mente nobre; economicamente rentável; socialmente desejável.

A Região Metropolitana de Salva-dor e os principais municípios ao longo do litoral possuem um alto consumo de coco verde, sendo as suas cascas de difícil degra-dação (8 a 10 anos), diminuindo a vida útil dos aterros sanitários, tornando-as foco de proliferação de doenças, além do desperdí-cio pelo não reaproveitamento do material. A Tabela 1 apresenta os principais municípios produtores de coco do Estado da Bahia.

O aproveitamento da casca do coco será uma atividade que virá gerar emprego e renda. O principal uso do pó é a produção de substra-

to agrícola em substituição a outros produtos como areia lavada, pó de xaxim, vermiculita, turfa, casca de arroz carbonizada e outros. A fibra tem uma infinidade de usos, dentre eles podem ser destacados:

� A produção de estofa-mentos;

� Forramento interno de automóveis;

� Vasos, placas e bastões;

� Mantas para contenção de encostas e fabricação de palmi-lhas para calçados;

� Divisórias, etc.

Quase todos os Estados do Nor-deste e o Pará têm trabalhos e projetos utilizando como matéria--prima a casca do coco. Apesar de ser o maior produtor brasilei-ro, o Estado da Bahia tem apenas duas empresas, no município do Conde e pequenas unidades ar-

TABELA 1

PRINCIPAIS MUNICÍPIOS PRODUTORESDE COCO DO ESTADOBAHIA, 2010

Município ÁreaPlantada (ha)

Conde 13.500

Jandaíra 9.000

Esplanada 6.000

Acajutiba 4.800

Valença 3.595

Cairu 3.540

Camavieiras 2.500

Porto Seguro 2.000

Maraú 2.000

Juazeiro 1.957

Alcobaça 1.800

Belmonte 1.800

Eunápolis 1.750

Prado 1.700

Entre Rios 1.550

Caravelas 1.500

Ituberá 1.220

Camaçari 1.200

Rio Real 720

Fonte: IBGE/PAM

Foto: Aurelino Xavier/EBDA

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tesanais o que torna insignifican-te o aproveitamento da casca do coco. A seguir experiências em outros estados.

z Pará: POEMATEC

Este é um empreendimento de caráter público-privado: uma parceria entre o setor privado, a DaimlerChrysler, e o setor públi-co, nas figuras do Governo do Estado do Pará, do Banco da Amazônia – BASA, da Universi-dade Federal do Pará – UFPA e da Deutsche Inventitions – und Entwicklungsgesellschaft – DEG.

As atividades da empresa Co-mércio de Tecnologia Sustentá-vel – POEMATEC para a Amazô-nia tiveram início em março de 2001, com a construção da fábri-ca mais moderna do mundo, no que diz respeito à produção de artefatos de fibra de coco e látex. A POEMATEC também vem finali-zar uma cadeia produtiva susten-tável no Estado do Pará, que tem seu início na coleta dos recursos naturais, passando pelo proces-samento, atualmente ocorrendo em oito unidades de beneficia-mento da casca do coco, até chegar ao produto final para ser comercializado.

As principais aplicações dos ma-teriais são assentos e bancos para a indústria automobilística, substituindo produtos à base de petróleo como a espuma de po-liuretano. A alta qualidade aliada a um design superior e inovador, o conforto, a reciclabilidade e a biodegradação, fazem a grande

diferença em relação aos produ-tos sintéticos similares.

z Ceará

A primeira unidade de beneficia-mento de casca de coco verde do Nordeste é resultado do pro-jeto “Uso da casca de coco verde como forma de conservação da biodiversidade”, apresentado no programa de competição global Development Marketplace do Ban-co Mundial pela Embrapa Agroin-dústria Tropical (Fortaleza/CE), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecu-ária e Abastecimento. A inaugura-ção aconteceu no dia 2 de julho de 2005, em Fortaleza (CE).

A unidade de beneficiamento está instalada na estação de triagem e transbordo de resí-duos sólidos de Fortaleza, no bairro do Jangurussu, em uma área de 3.000m², e vai fabricar produtos a partir do pó e das fibras extraídas da casca, com capacidade para processar 30 toneladas de casca/dia. Cerca de 1.600t/ano de pó serão pro-duzidos para utilização como substrato agrícola e composto orgânico e as 530t/ano de fi-bra bruta geradas pela unidade vão servir como matéria-prima para a fabricação de 27.600 peças de derivados da fibra, como placas, vasos e bastões e 25.000 peças de artesanatos diversos. A fábrica também vai abrigar um espaço para a con-fecção dos produtos derivados da casca de coco verde.

O projeto, que tem a parceria da Associação dos Barraquei-ros da Beira Mar (ABBMar), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), da Secretaria do Tra-balho e Empreendedorismo do Estado do Ceará, da Prefeitura de Fortaleza, da Empresa Muni-cipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), da Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano, do Serviço Nacional de Aprendiza-gem Industrial (Senai) e da Fa-culdade Christus, recebeu US$ 245 mil do Banco Mundial, ge-rando cerca de 130 empregos diretos e indiretos nas comuni-dades envolvidas no processo, que inclui a coleta seletiva da casca de coco verde na orla de Fortaleza.

Os dados apresentados permi-tem uma reflexão, aos empresá-rios e ao Governo sobre a possi-bilidade de implantação de uma unidade de beneficiamento do coco, agregando valor ao pro-duto e aos resíduos.

O potencial do Estado da Bahia é enorme já que só o município do Conde, com 15.000ha, tem uma área plantada superior aos estados de Pernambuco, Ala-goas, Paraíba, Rio de Janeiro e Espírito Santo separadamente e colhemos cerca de três vezes o segundo colocado, o Ceará.

Por outro lado, já que a maioria dos produtores é de base familiar, o beneficiamento do coco, além de gerar mais empregos e renda, vai promover a inclusão social.

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Jackson Ornelas Mendonça1

1— Economista, Professor da UFBA e da UCSAL e ex-Diretor Executivo da Associação Guardiã da APA do Pratigi; e-mail: [email protected]

A Fundação Odebrecht foi cria-da em 1965 e, em 1988, as-

sumiu como missão a educação de jovens, como uma forma de capacitá-los para a vida e desse modo evitar a sua emigração para os centros urbanos e para a capi-tal, onde geralmente as condições de vida se tornam piores do que na região de origem. Com a con-cretização dessa iniciativa, ainda em 1998, foi construída a Aliança

com Adolescentes pelo Desenvol-vimento Sustentável do Nordeste, com a participação da Fundação Kellogg, BNDES, Instituto Ayrton Senna, além da própria Fundação Odebrecht. O trabalho abrangia três regiões: Baixo Sul na Bahia, Goitá em Pernambuco e Médio Jaguaribe no Ceará.

Quando o programa foi concluído, a Fundação Odebrecht elegeu o

Programa de desenvolvimento integrado sustentável do mosaico de APAs do Baixo Sul da Bahia

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Baixo Sul da Bahia, região com qual mantinha bastante intimida-de, vez que nela tiveram início, desde os anos 40’ vários em-preendimentos da Construtora Norberto Odebrecht. Assim, em 2003, foram criadas as bases do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Bai-xo Sul da Bahia – PDIS, batiza-do pelos jovens alunos, naquele ano, como “DIS Baixo Sul”.

Em 2004, foi assi-nado entre a Fun-dação Odebrecht, a Associação dos Municípios do Bai-xo Sul da Bahia – AMUBS, o Insti-tuto de Desenvol-vimento Susten-tável do Baixo Sul da Bahia – IDES e o Governo do Estado da Bahia, um Protocolo de Intenções para a implantação de um modelo de go-vernança tripartite (Poder Público, Iniciativa Privada e Sociedade Civil), capaz de orientar as ações de um Programa de Desenvolvimento Regional.

O objetivo do programa é a in-clusão social que permita a emergência de uma classe média rural em decorrência de ações que melhorem a educa-ção e criem oportunidades de trabalho e renda.

OBJETIVOS, ABRANGÊNCIA E ESTRATÉGIA

O Programa é inspirado nos oito “Objetivos do Milênio” estabele-cidos pela ONU e subscritos por todos os países filiados, inclusive Brasil, quais sejam: 1 – Acabar

com a fome e a miséria; 2 – Edu-cação Básica e de qualidade para todos; 3 – Igualdade entre sexos e valorização da mulher; 4 – Reduzir a mortalidade infantil; 5 – Melhorar a saúde das gestantes; 6 – Com-bater a Aids, a malária, e outras doenças; 7 – Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; e 8 – Todo mundo trabalhando pelo

desenvolvimento. Desse modo, o objetivo do programa é a inclusão social sustentável, baseada em elevações da produtividade, da produção e da renda, conservan-do-se o meio ambiente.

O Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Mosai-co de Áreas de Proteção Ambien-tal do Baixo Sul da Bahia (PDIS)

abrange todos os 11 municí-pios integran-tes da AMUBS (Assoc iação dos Municí-pios do Baixo Sul da Bahia), e envolve uma população de aprox imada-mente 280 mil h a b i t a n t e s . O foco são as famílias, que precisam ser fortale-cidas como unidades da s o c i e d a d e , e v i t a n d o - s e a emigração decorrente da falta de opor-tunidade de

trabalho para os jovens. A estra-tégia consiste em proporcionar educação profissionalizante aos jovens e ao mesmo tempo gerar oportunidades de trabalho e ren-da com o seu engajamento em cooperativas de produtores.

O Programa também identifica parceiros industriais e comer-

Foto: Almir Bindilatti/Fundação Odebrecht

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ciais capazes de compartilhar seus resultados sob um selo de qualidade de “comércio justo”, com escolha preferencial dos consumidores mais conscientes, nos mercados mais exigentes. O resultado é a maior facilidade de colocação dos produtos transfor-mados em importantes redes va-rejistas como EBAL, Walmart, Pão de Açúcar, Tok & Stok, Mundo Ver-de, GBarbosa e Perini.

Para se alcançar uma melhoria dos níveis educacionais foram implantadas modernas unidades de ensino: a Casa Jovem, uma escola de ensino médio e funda-mental na zona rural do município de Igrapiúna, além de escolas de educação rural conhecidas como Casas Familiares, que adotam o método conhecido como “peda-gogia de alternância”, nos municí-pios de Presidente Tancredo Ne-ves, Nilo Peçanha e Igrapiúna. Foi implantada também uma Casa Familiar do Mar em Cairu, atual-

mente transferida para o municí-pio de Nilo Peçanha.

Desde então, os produtores rurais de mandioca, palmito, criadores de tilápia e artesãos passaram a receber assistência técnica e apoio para a produção e comer-cialização, através da estrutura-ção de cooperativas: COOPATAN (Cooperativa dos Produtores Ru-rais de Presidente Tancredo Ne-ves), COOPALM (Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia – Sede em Igrapiú-na), COOPRAP (Cooperativa das Produtoras e Produtores Rurais da APA do Pratigi – Sede em Nilo Peçanha) e COOPEMAR (Coope-rativa Mista de Marisqueiros, Pes-cadores e Aquicultores do Baixo Sul da Bahia – Sede em Ituberá).

Quando do início do Programa, constatou-se que além dos baixos níveis de IDH dos municípios da região, era muito elevada a pro-porção de pessoas que necessi-

tavam de documentação básica, o que motivou a implantação de um serviço com o nome de “Bal-cão de Direitos”, atualmente IDC – Instituto Direito e Cidadania, que permitiu a milhares de moradores do território o acesso ao Registro Civil, à Carteira de Identidade e à Carteira de Trabalho, sem ônus e com rapidez.

Para apoiar na coordenação das ações do Programa, a Fundação Odebrecht fomentou a criação do IDES – Instituto de Desenvol-vimento Sustentável do Baixo Sul da Bahia, sediado em Nilo Peça-nha.Todas as ações do Programa são aprovadas pelo Conselho de Governança, formado desde 2003, por representantes dos mu-nicípios, da Fundação Odebrecht e do Governo Estadual.

A partir de 2006, além das ações desenvolvidas no Baixo Sul, a Fundação Odebrecht passou a concentrar esforços na Área de

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Proteção Ambiental – APA do Pra-tigi, uma das mais importantes re-servas de mata atlântica do país, com 86 mil hectares, criada em 1998, aonde a cobertura vegetal foi reduzida em um terço, nos últimos 40 anos. Para isso, incentivou a es-truturação das associações comu-nitárias, que se uniram e criaram a AGIR – Associação Guardiã da APA do Pratigi, uma OSCIP apoia-da pela Fundação Odebrecht. O Plano de Trabalho da OSCIP é aprovado por uma Assembléia for-mada pelas 31 associações sedia-das na APA do Pratigi.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitos agricultores e jovens já foram beneficiados pelo progra-ma. Os produtos das coopera-tivas são comercializados nas principais redes de varejo, be-neficiando indiretamente cerca de 3.500 pessoas, enquanto as unidades de ensino abrigam atu-almente 1.200 alunos. O Institu-to Direito e Cidadania já realizou mais de 290 mil atendimentos, fornecendo documentos e atu-ando em mediação de conflitos entre moradores dos municípios da região. Em alguns municípios da APA do Pratigi, mais de me-tade dos recursos aplicados pelo PRONAF destina-se ao público do programa, o que inclui impor-tantes assentamentos de reforma agrária como a “Mata do Sosse-go”, em Igrapiúna.

Os resultados alcançados pelo programa atraíram parcerias im-portantes como a Microsoft, Dell, Mitsubishi, Michelin, BNDES, Ban-co Interamericano de Desenvolvi-mento (BID), SEBRAE, Governo Federal, Governo Estadual, SE-NAI, Embrapa, Oi Telecomunica-ções, Banco do Brasil, Fundação Banco do Brasil, Exército Brasilei-ro, FAO, ONU, entre outros.

O Programa recebeu em 2008, o prêmio ODM – Brasil, iniciativa da Secretaria Geral da Presidência da República. Em 2010, conquis-tou o primeiro lugar na América Latina e Caribe no Prêmio ao Ser-viço Público das Nações Unidas.

Em 2010, A COOPALM conquistou o Prêmio Cooperativa do Ano 2010 (categoria: Gestão da Qualidade) e, também, a autorização para uso dos selos Identificação da Partici-pação da Agricultura Familiar (Mi-nistério do Desenvolvimento Agrá-rio) e Agricultura Familiar da Bahia (Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária) nas embala-

gens do palmito de pupunha Cul-tiverde. Além disso, o Colégio Es-tadual Casa Jovem foi reconhecido com o Prêmio Nacional de Refe-rência em Gestão Escolar.

Além dos projetos em andamen-to, foram desenhados em parce-ria com o governo estadual, três Projetos Estruturantes, com o ob-jetivo de restabelecer os “corredo-res ecológicos da Mata Atlântica”, implantar a “Estrada Parque da Cidadania” ligando a BR-101 em Ibirapitanga à BA-001 em Ituberá, e recuperar a geração hidrelétrica por pequenas usinas desativadas nos anos 60.

Os resultados alcançados no Baixo Sul da Bahia revelam que o modelo adotado para o projeto de desenvolvimento regional con-tém os princípios básicos para se construir em outros territórios da Bahia ou do país, modelos se-melhantes capazes de melhorar a vida das pessoas e contribuir para a preservação dos recursos naturais.

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Maria Zélia Alencar de Oliveira1

Paulo Prates Júnior2

No Brasil, a agricultura susten-tável é uma resposta relativa-

mente recente à degradação dos recursos naturais, associada com a agricultura moderna.

O desafio central do século XXI é o de alcançar os objetivos da conservação da biodiversidade e da produção agrícola de forma si-multânea – e, em muitas situações no mesmo espaço (MCNEELY; SCHERR, 2009). Torna-se funda-mental acrescentar que a melho-ria do bem estar da população do campo deve constar do processo de desenvolvimento do setor rural.

A Agroecologia exerce essa fun-ção, uma vez que procura de-marcar um novo foco de neces-sidades humanas, qual seja o de orientar a agricultura à susten-tabilidade no seu sentido multidi-

1— Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitopatologia, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: [email protected]

2— Biólogo, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: [email protected]

mensional. Numa acepção mais ampla, ela se concretiza quando, concomitantemente, cumpre com os ditames da sustentabilidade econômica (potencial de renda e trabalho, acesso ao mercado), eco-lógica (manutenção ou melhoria da qualidade dos recursos naturais e das relações ecológicas de cada ecossistema), social (inclusão das populações mais pobres e segu-rança alimentar), cultural (respeito às culturas tradicionais), política (organização para a mudança e participação nas decisões) e ética (valores morais transcendentes) (EMBRAPA, 2006).

Destaca-se que a agricultura fa-miliar brasileira tem esse cunho, o da manutenção das potenciali-dades produtivas do meio natural. Blum (1999) confirma que por sua própria vocação de unidade de produção e consumo, esse siste-ma agrícola valoriza a diversidade através da associação do policulti-vo e criações, distribuídos de forma equilibrada no espaço e no tempo.

Altieri (2001) reconhece que os agroecossistemas integram os princípios agronômicos, ecológi-cos e socioeconômicos dos sis-

temas agrícolas. Afirma que com uma visão agroecológica, a pes-quisa tende a penetrar nas técni-cas e no conhecimento de cada agricultor para desenvolver agro-ecossistemas sem dependên-cia de agrotóxicos, contribuindo para uma melhor qualidade de vida na propriedade, com produ-ção de alimentos de alto padrão biológico. Entretanto, algumas práticas alternativas devem ser incentivadas para que o agricul-tor familiar possa ter sucesso no seu empreendimento.

Dentre outros aspectos, a susten-tabilidade agrícola implica, neces-sariamente, na resolução dos pro-blemas relacionados à ocorrência de doenças de plantas, com base, principalmente, na conservação dos recursos naturais e no au-mento de diversidade biológica (THURSTON, 1992). E, para tal, uma questão que deve ser vista diz respeito à semente utilizada na agricultura, inclusive na de peque-na escala ou de subsistência.

O equilíbrio dos ecossistemas per-meia, indubitavelmente, o domínio das fitomoléstias e as práticas em-pregadas para o seu controle. Esse

Sementes sadias: um meio de reduzir

perdas agrícolas

COMUNICAÇÃO

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deve estar fundamentado numa ampla visão do agroecossistema foco, evitando impactos de ordem ambiental, como a contaminação dos alimentos, do solo, da água e dos animais; a resistência de pató-genos a certos defensivos agríco-las; a intoxicações de agricultores; o desequilíbrio biológico; a redução da biodiversidade, dentre outros.

De acordo com Silva-Mann et al. (2002) o aspecto de sanidade de sementes, do ponto de vista de prognóstico e controle de doen-ças em plantas, tem assumido uma posição de destaque mun-dial, devido ao acentuado número de patógenos que podem ser por elas transmitidos.

Vale ressaltar que a associação de patógenos com sementes é um episódio amplamente debatido em todo o mundo por ser responsável por uma série de consequências danosas - (a) no campo de cultivo: redução do poder germinativo e nível de vigor das sementes; intro-dução precoce e aleatória de focos de infecção nas áreas de plantio; acúmulo de inóculo no campo; for-mação de sementes anormais; e (b) na pós-colheita: disseminação de doenças a longas distâncias; deterioração de sementes durante o armazenamento; meio de perpe-tuação de doenças entre gerações.

Segundo Tropaldi et al. (2010), para o bom estabelecimento da cultura, associado a uma produ-ção satisfatória, a utilização, no plantio, de sementes de qualida-de é de suma importância. Mar-cos Filho (1994) descreve que a

qualidade de um lote de semen-tes é expressa por uma série de características que determinam o seu valor para semeadura, sendo as mais relevantes as de natureza genética, fisiológica e sanitária.

Dentre os patógenos que atacam sementes, predominam os fungos da classe dos deuteromicetos, principalmente, as espécies pato-gênicas pertencentes aos gêneros Alternaria, Cladosporium, Colle-totrichum, Diplodia, Drechslera, Fusarium, Lasiodiplodia, Macro-phomina e Rhizoctonia, bem como Aspergillus e Penicillium, conside-rados de armazenamento.

Há registros da associação de or-ganismos dessa classe em semen-tes de feijão (Figura 1) (OLIVEIRA; BOLKAN, 1981; OLIVEIRA, 1984; MARINO et al., 2008); mamona (Fi-guras 2, 3 e 4) (OLIVEIRA; MELLO, 1986a e 1987; NASCIMENTO et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2011a); milho (OLIVEIRA; MELLO, 1986b; Pinto, 2003; CAPPELINI et al., 2005); pinhão-manso (OLIVEIRA et al., 2011b) e ornamentais (Figu-ra 5) (OLIVEIRA et al., 1999).

Figura 1 - Sementes de feijão (Pha-seolus vulgaris L.) em meio de cul-tura batata-dextrose-ágar: abaixo, sementes sadias; logo após, infec-tadas pelo fungo Rhizoctonia solani.

Figura 2 - Colônias de Aspergillus spp. em sementes de mamona (Ricinus communis L.), incubadas em meio batata-dextrose-ágar.

Figura 3 - Colônias de Fusarium spp. em sementes de mamona

(Ricinus communis L.), incubadas em meio de batata-dextrose-ágar.

Figura 4 - Sementes de mamona (Ricinus communis L.), com colô-nias de Aspergillus niger.

Figura 5 - Sementes de plantas or-namentais em meio batata-dextro-se-ágar (A e B) e em papel-de-filtro – Blotter Test (C): A apresentando colônias de Aspergillus niger; B colônias de Alternaria alternata; e C de Alternaria sp. e Fusarium sp.

Figura 1

Figura 2

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No caso específico do feijoei-ro (Phaseolus vulgaris L.) mais de 50% das suas principais en-fermidades, têm seus agentes causais transmitidos através das sementes (NEERGAARD, 1979).

Araújo et al. (2007) relacionam Fusarium oxysporum como res-ponsável pela murcha-de-fusário em mamoneira e recomendam o tratamento de sementes como uma das táticas fundamentais

para o controle da doença. Por sua vez, Lima et al. (1997) ob-servaram que Fusarium sp., Rhizoctonia solani e Alternaria ricini são transmitidos pela se-mente e causam tombamento das plântulas.

Cabe distinguir que fungos dos gêneros Penicillium e As-pergillus acarretam danos às sementes, originando perdas significativas. Provocam, den-tre outros efeitos, a redução

da capacidade germinativa, a descoloração ou a formação de manchas, transformações bioquímicas, perda de peso, produção de toxinas, podridão, aquecimento, mofo e modifica-ções celulares.

Devido, portanto, à natureza dos problemas ocasionados por fungos a diversas culturas, dentre elas, feijão, mamona e milho, torna-se indispensável a adoção de um manejo adequa-do nas áreas de cultivo, bem como a procura por produtos alternativos que atuem como defensivos e contribuam para minimizar os danos ambientais, além de verificar a possibilidade de, através do controle biológi-co, reduzir a incidência/ocor-rência da microflora fitopatogê-nica sobre as sementes.

Nesse contexto, é evidente que a identificação dos patógenos associados às sementes é im-prescindível, por possibilitar o incremento de medidas de con-trole. Os testes de sanidade de sementes fornecem, ainda, infor-mações precisas para programas de quarentena, produção de se-mente certificada, melhoramento de plantas e para os serviços de vigilância vegetal.

Convém salientar que o con-trole de doenças por meio do tratamento de sementes é visto, na agricultura moderna, como uma medida preventiva que concorre para diminuir o custo de produção e evitar a poluição ambiental.

A

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BFigura 3

Figura 4 Figura 5

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Referências

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Page 32: Revista Bahia Agricola

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Paulo Prates Júnior1

Maria Zélia Alencar de Oliveira2

Cristiane de Jesus Barbosa3

A Agroecologia é uma ciência em construção que busca

modificar o curso alterado dos pro-cessos de uso e manejo dos recur-sos naturais, de forma a ampliar a inclusão social, reduzir os danos ambientais, fortalecer a autonomia

1— Biólogo, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: [email protected]

2— Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitopatologia, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: [email protected]

3— Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitopatologia, Pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Salvador – BA; e-mail: [email protected]

e segurança alimentar. Sendo as-sim, exige dos extensionistas, agri-cultores e pesquisadores a modifi-cação dos sistemas de produção que causam degradação social e ecológica. Para tanto, faz-se neces-sário pensar no sistema agrícola ao longo do tempo, a partir do co-nhecimento popular que, integrado ao conhecimento científico, poderá transformar a realidade local, me-lhorando, sobretudo, a qualidade de vida das pessoas.

Em Agroecologia é central o con-ceito de transição agroecológica, entendida como um processo gra-dual e multilinear de mudança, que ocorre através do tempo, nas for-mas de manejo dos agroecossis-temas. Neste sentido, tem como

meta a passagem de um modelo convencional de produção para um modelo de agricultura que in-corpore princípios e tecnologias de base ecológica, ou seja, fontes de recursos bióticos e de insumos locais, obtidos na própria proprie-dade, contrastando, também, com o modelo orgânico.

A agricultura “modernista” (con-vencional) apresenta uma série de desvantagens, como acele-ração dos processos de erosão, êxodo rural, aumento dos custos, intensificação da incidência de pragas e doenças, contamina-ção dos alimentos, visto que os campos de cultivo são tratados geralmente por meios químicos (agrotóxicos). Por outro lado, o transporte vertical dos pesticidas no perfil do solo (lixiviação) tem sido apontado como a principal forma de contaminação do len-çol freático (águas subterrâneas). Convém enfatizar que a utilização de agrotóxicos na agricultura pre-ocupa tanto agricultores quanto consumidores, na medida em que são muitos os exemplos de ações pontuais para o controle de pragas e doenças, de pouca im-portãncia econômica, porém com efeitos colaterais prejudiciais ao meio ambiente e à saúde.

Sob esse ponto de vista, um dos enfoques da Agroecologia é o controle alternativo de pragas e doenças, o qual inclui, den-tre outros, o controle biológico (Figuras 1 e 2) e a indução de resistência nas plantas. Atual-mente, alternativas pesquisadas envolvem, por exemplo, o uso

Agroecologia: manejo de pragas edoenças de plantas

COMUNICAÇÃO

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de extratos vegetais e seus de-rivados para o controle de para-sitas (praga e/ou patógeno), vez que a sustentabilidade agrícola implica, necessariamente, na re-solução desses problemas, com base, principalmente, na con-servação dos recursos naturais e no aumento da biodiversidade nos campos de cultivo. Salienta-se que o ideal para as-segurar a proteção das plantas é considerar alguns princípios básicos, tais como: a) todo para-sita tem pelo menos um inimigo natural; b) toda planta suporta um determinado nível de dano; c) os sistemas agrícolas (agroecossis-temas) podem atingir equilíbrio na natureza; d) os controles podem ser seletivos; e) toda planta com nutrição sadia e equilibrada dificil-mente é atacada por parasitas.

Em contraste com a agricultura convencional a Agroecologia bus-ca tratar, primariamente, o solo, não apenas a planta, na tentativa de manter o equilíbrio ambiental. A recuperação do solo envolve a

incorporação de matéria orgâni-ca, policultivo, rotação de cultu-ras, plantio direto, adubos verdes, cultivo consorciado, dentre outras práticas.

Um bom manejo envolve a ma-nutenção de vegetação natural perto de áreas cultivadas, visan-do à diversificação e o aumen-to da eficiência dos agentes de controle biológico, elevação da umidade, regulação do clima e chuvas. Na realidade, a diversi-dade na agricultura não somen-te é essencial para a supressão dos parasitas, como é também crucial para satisfazer as neces-sidades dos agricultores, através de colheitas mais estáveis, com qualidade e sem agrotóxicos.

A revitalização da Clínica Fitopato-lógica da EBDA, a partir do ano de 2009, permitiu atender, sobretudo, agricultores e extensionistas, bem como possibilitou a incorporação de princípios agroecológicos em nossas pesquisas, articulando, principalmente, o conhecimento gerado pela Agronomia, Socio-

logia e Ecologia, em uma visão sistêmica dos campos de cultivo. Sendo assim, para maiores infor-mações sobre o monitoramento de parasitas no espaço e no tem-po, o Laboratório de Fitopatologia da EBDA – Serviços de Laborató-rios e Classificação de Produtos de Origem Vegetal (SLC) Ondina, está à inteira disposição.

Referências

ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 3. ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001. 110 p.

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Figura 1

Figura 2

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Leive Almeida1

1— Assessora de Comunicação, Jornalista, Técnica da Superintendência de Agricultura Familiar – SUAF/SEAGRI; e-mail: [email protected]

Não seria diferente com o Sis-tema Ascoob que apoia e fo-

menta o cooperativismo de crédito, amparado por um marco legal em aperfeiçoamento constante, pros-seguindo de forma transparente e focado no atendimento das neces-sidades de seus associados.

Em todas as organizações sociais, o processo de formação apresen-ta-se como importante instrumento na busca de qualificar as interven-ções desenvolvidas pelas entida-

COOPERATIVISMO DE CRÉDITO

Conquistas edesafios de uma históriaescrita por muitas mãos:ferramentas quemudam a realidadena agricultura familiar

O Cooperativismo de Crédito, que já tem mostrado sua for-ça nas regiões mais desenvolvidas, tem tudo para contar uma história de sucesso também no Nordeste do país.

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SOCIOECONOMIA

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des. A formação desenvolvida com uma metodologia adequada per-mite ampliar e melhorar processos organizacionais. Acredita-se que toda organização necessite for-mar e capacitar os membros que a compõe, caso contrário, incorre-rá em isolar e/ou fragmentar suas ações, podendo perder o foco de atuação pela estagnação no tema do conhecimento por parte dos seus membros.

A partir desta afirmação é que desenvolveremos uma reflexão concernente a um conjunto de as-pectos que se referem à necessi-dade e importância da formação para o fomento do cooperativis-mo, enfatizando o fortalecimento do Sistema Ascoob. Pretendemos apontar um conjunto de avanços importantes dentro das coopera-tivas, na medida em que aconte-çam processos formativos com os sujeitos envolvidos.

Nesse contexto, o presente arti-go tem como objetivo fazer uma apresentação sobre a importân-cia do Sistema Ascoob, visan-do compreender sua missão e estrutura, bem como campo de atuação de uma entidade não governamental. Em particular, apresentaremos estratégia de erradicação da pobreza extre-ma rural, a partir das ações do cooperativismo de crédito, bem como uma reflexão sobre seus principais desafios e os investi-mentos das políticas públicas – o que tem provocado inserção de milhões de indivíduos em novos patamares sociais. Além disso, destacando a importância

do cooperativismo, no qual pro-move várias ferramentas para concretização de ações volta-das para o desenvolvimento lo-cal e regional, organizados com instrumentos que fortalecem a gestão de cada comunidade e o envolvimento das pessoas em processos inclusivos de forma-ção, autonomia e decisão.

UM POUCO DE HISTÓRIA:CONTRIBUINDO NO FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR E ECO-NOMIA SOLIDÁRIA

Qualquer esforço empreendido para a redução da pobreza e para a melhoria dos demais indicado-res que refletem as desigualda-des regionais passa, necessa-riamente, por ações efetivas em apoio ao segmento da Agricultu-ra Familiar e Economia Solidária. Foi com base nesses argumen-tos, e alinhado com as Políticas do Governo Federal para a agri-cultura familiar, que o Sistema Ascoob inseriu como prioridade nas suas ações o apoio a esse segmento produtivo.

Caracterizado como uma rede de cooperativas de crédito rural com interação solidária, a Associa-ção das Cooperativas de Apoio à Economia Familiar – Ascoob, busca promover a inclusão so-

cial de agricultores e agricultoras familiares, e facilitar o acesso a produtos e serviços para a am-pliação de suas rendas, diferen-ciando-se das demais instituições financeiras. Para tanto, a Ascoob tem como missão fortalecer a economia familiar solidária, atra-vés do cooperativismo de crédi-to e fomentar os processos de desenvolvimento local integrado, sustentável e solidário do Estado da Bahia, bem como aprofundar o combate às desigualdades so-ciais por meio de ações no campo da inclusão produtiva e do fortale-cimento da agricultura familiar e economia solidária. É a partir des-ses objetivos que há doze anos a Ascoob vem exercendo ações importantes na articulação das cooperativas, com uma dimensão em razão da confiança e do apoio de seus associados.

A Ascoob Associação foi criada em setembro de 1999, por cinco Cooperativas de Crédito Rural, nas microrregiões semiáridas e litorâneas da Bahia, com a fina-lidade de aglutinar forças para o cumprimento dos princípios do cooperativismo de crédito tendo por base o fortalecimento da eco-nomia familiar rural. Atualmente, conta com 10 cooperativas filia-das, com pontos de atendimento em 36 municípios do Estado pre-sentes nos territórios do Sisal, Ba-cia do Jacuípe, Portal do Sertão, Recôncavo Sul, Piemonte da Dia-mantina, Litoral Norte e Agreste de Alagoinhas, Irecê e Baixo Sul.

A Ascoob é uma referência no co-operativismo de crédito no Brasil,

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36

pois é dirigida pelos agricultores familiares sem subordinação a outro tipo de agricultor, bem como são cooperativas que estimulam a participação das mulheres e dos jovens. Além disso, conta com o apoio e convênios com o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste do Brasil, como também as redes da sociedade civil, com destaque para a Rede de Assistência Téc-nica e Extensão Rural das Orga-nizações Não-Governamentais do Nordeste (Rede Ater/NE) e orga-nizações em nível local e regional, nos municípios e estado voltados para a promoção da agricultura familiar e da economia solidária.

O projeto continua fiel aos princí-pios de interação solidária: des-centralização, participação dos associados, profissionalização e ampliação do apoio e acesso ao crédito, transparência em todo o processo e contribuição para o desenvolvimento alternativo, so-cialmente justo e não degradan-te do meio ambiente. Reconhe-cendo o seu valor e importância para toda a sociedade brasileira, e atendendo ao compromisso de promover políticas públicas de geração de trabalho, renda e promoção da qualidade de vida no campo, o Sistema Ascoob es-tabelece canais de financiamento adequados para sua realidade – a exemplo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, na agricultura familiar, em suas diversas moda-lidades, proporcionando condi-ções de produção e agregação de valor à grande maioria dos agricultores: assistência técnica,

suporte aos empreendimentos nos mais diversos setores e nos vários estágios organizativos em que se encontram e oferecendo mecanismos que facilitem o aces-so dos produtores ao crédito.

O pioneirismo da Cooperativa mostrou que a sustentabilidade de instituições financeiras não convencionais, como é caso do Sistema Ascoob, depende muito mais de fatores não econômicos, ou seja, da rede de relações so-ciais construídas na convivência solidária dos agricultores fami-liares. “Estar entre as primeiras cooperativas do sistema é um privilégio para os/as agricultores/as familiares, mas também re-presentou um grande desafio”, admite o agricultor e sindicalista Dionísio Pereira (Entrevista realiza-

da no dia 10 de outubro de 2011, em

Feira de Santana/BA), primeiro pre-sidente da Ascoob Associação, demonstrando o orgulho de ser um dos fundadores da entidade. Já o atual presidente, José Paulo

Crisóstomo (Entrevista realizada no

dia 13 de outubro de 2011, em Feira

de Santana/BA), ao avaliar as pers-pectivas para o cooperativismo de crédito no Brasil, afirma que: “Estamos assistindo, de maneira crescente, à conscientização da sociedade de que o cooperati-vismo de crédito é a grande ala-vanca para resolver os problemas sociais das comunidades pela via econômica”.

O segmento experimenta uma fase de franca expansão nos últi-mos doze anos. Sucesso que lhe é atribuído, em primeiro lugar, à ação dos pioneiros, que souberam conduzir o projeto apesar das limi-tações impostas, até então, des-de a criação do Sistema Ascoob foram realizadas várias atividades nas cooperativas filiadas ao Siste-ma, como oficinas e cursos com representantes de entidades dos municípios, diretores, associados e funcionários, discutindo a impor-tância da participação, educação e cooperação para o processo de

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crescimento e comprometimento dos parceiros, com o desenvolvi-mento local sustentável.

NASCE UM NOVO COOPERATIVISMO: CENTRAL DE COOPERATIVAS

A Cooperativa Central de Crédito da Agricultura Familiar e Econo-mia Solidária da Bahia – Ascoob Central foi autorizada no dia 30 de janeiro de 2008, estando pos-sibilitada a realizar seus atos de constituição, que aconteceram no dia 12 de abril de 2008, em Feira de Santana/BA. Em 25 de Agosto de 2008, começou efetivamente a operar com suas cooperativas. A entidade surgiu a partir de uma necessidade para ser representan-te legal das suas Cooperativas de Crédito Rural e fruto de um proces-so natural de evolução e amadu-recimento da Ascoob Associação.

A instituição é uma das quatro do semiárido baiano autorizadas pelo Banco Central a formar a primeira cooperativa central de crédito do país, dentro das novas normas para a profissionalização do se-tor, estabelecidas por Resolução 3106/2003, que tem como objetivo executar serviços administrativos, financeiros, econômicos, credití-cios e educativos em benefício de suas Cooperativas filiadas, e pro-mover a integração financeira do cooperativismo de crédito em sua área de atuação, com o propósito

de cumprir sua missão no fortale-cimento das práticas de agricultura familiar e economia solidária, e de desenvolvimento sustentável, con-forme podemos ver na Figura 1 na qual destacam as cooperativas fi-liadas à Ascoob Central.

Ao longo de sua trajetória, as cooperativas filiadas à Ascoob Central têm se empenhado em configurar o papel importante do sistema, sobretudo, através do cooperativismo e a união coletiva do Sistema.

O papel da Ascoob Central é inter-mediar os interesses das cooperati-vas filiadas, capacitando os coope-rados, dirigentes e técnicos, além de manter o Banco Central infor-mado sobre as atividades desen-volvidas. Dessa forma, tomou-se a iniciativa da nova Cooperativa Cen-tral, sob as principais motivações:

� Foco na agricultura familiar. Todas as cooperativas são liga-das a esse segmento e a priori-dade de aplicação de recursos, a exemplo do PRONAF (Pro-grama Nacional de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar);

� Desenvolvimento de um sistema de Gestão Financeiro adequado;

� Possibilidade de ofertar melhores condições operacio-nais e apoio às filiadas;

� Incrementar programas fi-nanceiros mais adequados aos associados principalmente cré-dito rural e microcrédito;

� Contribuir com a Associa-ção Nacional do Cooperativismo de Crédito da Economia Fami-liar e Solidária – Ancosol, prin-cipalmente em apoio às coope-rativas do Nordeste Brasileiro.

Numa perspectiva de constituir um “estado” de relações entre sujei-tos, é que se consolida a propos-ta dessa cooperativa, ao mesmo tempo em que comunga com as ideias do educador Paulo Freire (1977, p. 27) ao afirmar que: “Nin-guém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se educam juntos mediados pelo mundo”. Nesses entrelaces de pesquisas experimental e busca de soluções, tornam-se notórias as relações entre sujeitos com características próprias de indiví-duos, que em grupo, realizam o processo do cooperativismo. [...] de refletir sobre um ato. Existe uma reflexão do homem face à re-alidade. O homem tende a captar uma realidade, fazendo-a objeto de seus conhecimentos. Assume a postura de um sujeito cognos-cente de um objeto cognoscível. Isto é próprio de todos os homens e não privilégio de alguns, por isso a consciência reflexiva deve ser estimulada: conseguir que o edu-cando reflita sobre sua própria rea-lidade (FREIRE, 1981, p. 30).

Com esta afirmação, o Sistema Ascoob, promove um cooperati-vismo atendendo às necessida-des dos seus cooperados, na medida em que as cooperativas se desafiam a construir e a pen-sar ações que permitam aos su-jeitos se sentirem envolvidos no

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processo, sendo “fiéis” a um dos sete princípios do cooperativis-mo que trata exatamente da for-mação, educação e informação, ou seja, é missão, função do co-operativismo fazer com que seus cooperativados possam receber formação, capacitação, informa-ções e que este processo lhes traga primeiramente a qualifica-ção pessoal, para que esta possa ser colocada a serviço da coope-rativa no sentido de garantir o seu próprio fortalecimento.

Percebe-se, portanto, que com o acesso ao crédito e à assistência técnica os agricultores e agricul-toras familiares vêm conseguin-do estruturar suas propriedades. Além disso, é importante destacar que os resultados desse processo apresentam pontos positivos ao combate da extrema pobreza ru-ral e os avanços são notáveis em termos de inclusão social, devido a assessoria de Assistência Téc-nica e Extensão Rural – Ater, que são realizadas de forma sistemá-tica, através de reuniões, oficinas e intercâmbios. E, a partir dessas iniciativas, a Ascoob Credimonte, localizada no município de Jacobi-na, território Piemonte da Diamanti-na tem beneficiado inúmeras famí-lias e pequenos empreendedores. Um deles é Juscelino Martins da Silva, produtor rural e cultivador de abacaxi, que mora na comu-nidade de Serra do São Maurício, município de Umburanas/BA (Com

informações do Assessor de Crédito

Rural e de Ater, da Ascoob Credimon-

te, Leonardo Lino). Para ele, depois do crédito e da assistência técnica sua vida melhorou bastante, e se

orgulha de ser filiado à Coopera-tiva de Crédito Rural do Piemonte, em Jacobina/BA. “A cooperativa vem contribuindo para que o agri-cultor tenha espaço na socieda-de”, acentuando que hoje a família tem mais animais, já existe energia solar na casa e o potencial da uni-dade de produção melhorou bas-tante. “Hoje está tudo muito bom, estamos avançando e podemos contar com o apoio da Ascoob, e depois desta parceria estamos comercializando os nossos produ-tos”, comemora seu Juscelino.

A Ascoob Central conta ainda com outro importante órgão para me-lhoria da eficiência de suas filia-das: a Ascoob Baser. É uma base de serviços que congrega funções como suporte em tecnologia, as-sessoria à gestão e contabilida--de das cooperativas, qualificando mais o trabalho e potencializando

os controles internos. Observa-se que as cooperativas de crédito vêm ampliando também sua visibilidade sociopolítica. Além do trabalho de divulgação efetuado pelas organi-zações do próprio setor, entidades privadas de ação internacional pas-saram a fomentar a sua expansão no país, como Rabobank, um dos maiores bancos de crédito coope-rativo do mundo, tem se dedicado a popularizar o debate sobre o co-operativismo de crédito enquan-to instrumento estratégico para a consolidação de programas de de-senvolvimento e fortalecimento de arranjos produtivos locais.

Com o objetivo em contribuir para a expansão dos serviços de mi-crofinanças no Nordeste do Brasil – um projeto pioneiro no país, a Ascoob Central e o BID/FOMIM se uniram e criaram o Programa de Fortalecimento da Ascoob Central

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para Expansão dos Serviços de Microfinanças Cooperativas no in-terior da Bahia (Figura 2). Dessa forma, utiliza-se das cooperativas filiadas a Ascoob Central para ge-rir eficiência de serviços, de forma a atender a infindável demanda de agricultores familiares, traba-lhadores da economia solidária e microempreendedores em geral.

Além disso, o programa pretende criar condições favoráveis para a ampliação de ofertas, desta-cando três eixos: constituição de novas Cooperativas, abertura de novos PAC’s e Caixas Avançadas das Cooperativas filiadas; e ade-

são de Cooperativas existentes. E, para o alcance dos objetivos o programa dividiu-se em quatro componentes:

1. Planejamento de negócios para o desenvolvimento das microfinanças;

2. Desenho e ajustes de pro-dutos e metodologias de microfinanças;

3. Fortalecimento da capaci-dade gerencial das coope-rativas de crédito singulares para expandir serviços de microcrédito;

4. Fortalecimento da Ascoob Central para acompanhar e supervisionar as cooperati-vas de crédito singulares.

Para complementar o progra-ma, a Ascoob Central está de-senvolvendo outras ações que visam ampliar a disponibilidade de recursos para funding. Nesse sentido organizações nacionais e internacionais têm demonstra-do interesses em parceria com a Central para ampliar o volume de crédito para o desenvolvi-mento das comunidades aten-didas pelo programa. Participam inicialmente do programa as

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cooperativas e cidades abaixo elencadas:

� Ascoob Itapicuru: Santa Luz, Queimadas, Cansanção, Quijingue e Nordestina;

� Ascoob Cooperar: Araci, Teofilândia, Tucano e Euclides da Cunha;

� Ascoob Serrinha: Serrinha, Barrocas e Ichú;

� Ascoob Credimonte: Jacobina;

� Ascoob Costa do Dendê: Valença e Taperoá.

Ainda nesta perspectiva, a As-coob Central pretende conso-lidar o sistema e, ao mesmo tempo, atender plenamente as demandas das cooperativas, buscando estratégias para me-

lhoria da qualidade de vida dos agricultores e agricultoras fami-liares, tais como:

� Ascoob Móvel: veículo equipado com tecnologias para atender os cooperados em suas comunidades;

� Ascoob Fácil: instalação de um ponto de atendimento nos espaços físicos dos nossos parceiros.

� Placa: implantação de Placas para divulgação dos empreendimentos financiados com o Crédito das Cooperati-vas Ascoob.

Assim sendo, é inquestioná-vel a necessidade da imple-mentação de políticas públicas fundamentadas no desenvolvi-mento rural sustentável, principal-mente, para a região semiárida,

direcionadas, sobretudo, para o agricultor e agricultora familiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Sistema Ascoob é percep-tível que, na medida em que o processo é construído e desen-volvido de forma conjunta e par-ticipativa, ocorre um aumento no comprometimento de todos para com as ações da cooperativa, pois os cooperados passam a perceber-se como atores sociais do projeto e não como meros es-pectadores.

O conjunto de ações diferencia-das no âmbito do modelo desen-volvido e implantado pelo Sistema Ascoob, destaca-se na metodolo-

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LEITURAS COMPLEMENTARES

ASSOCIAÇÃO DAS COOPERATIVAS DE APOIO À ECONOMIA FAMILIAR. Estatuto e regimento geral (com últimas emendas e atualizações). Feira de Santana/BA, 2011.

ASSOCIAÇÃO DAS COOPERATIVAS DE APOIO À ECONOMIA FAMILIAR. Institucional. Disponível em: <http://www.ascoobcentral.com.br/nossa-historia> Acesso em: 11 out. 2011.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 4.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 12.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

gia específica empreendida pelos assessores de crédito, que atuam junto aos agricultores familiares em todo o ciclo do processo, as-sociado às parcerias institucionais com o Ministério de Desenvolvi-mento Agrário (MDA), a Secretaria da Agricultura, Irrigação e Refor-ma Agrária do Estado da Bahia, através da Superintendência de Agricultura Familiar - SUAF, a As-sociação Nacional do Coopera-tivismo de Crédito de Economia Familiar e Solidária (Ancosol) e a União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Econo-mia Solidária (Unicafes), o que têm permitido grandes avanços em termos de aprimoramento e expansão do sistema.

Entre as ações voltadas para es-timular o desenvolvimento socio-econômico nas diversas regiões do país, as cooperativas de cré-dito, têm incentivado e apoiado projetos empreendedores nas for-mas associativista e cooperativis-ta. Dessa forma, a assessoria aos agricultores e suas famílias não está apenas vinculado ao projeto de crédito, mas ao enfoque sis-têmico aplicado a projetos com

alternativas para erradicação da extrema pobreza rural.

Vale ressaltar que são essas ações que estimulam a criação e manutenção de postos de tra-balho, resultando na geração de renda. Contudo, o diferencial que

o Sistema Ascoob vai promover aos seus associados é a per-manência, de forma satisfatória e sustentável, do produtor rural no campo, reduzindo significati-vamente migrações aventureiras dos filhos do semiárido a grandes centros urbanos.

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Uma estratégia de inserção no mercado para produtos do Semiárido

Clovis Guimarães Filho1

1— Médico Veterinário, M.Sc., Consultor em agro-negócio da Caprino-ovinocultura, Ex-pesquisador da Embrapa Semiárido; e-mail: [email protected]

A valorização dos produtos ca-prinos e ovinos através da fixa-

ção de um padrão diferenciado de qualidade e de sua certificação é, no contexto atual de grande expan-são da caprino e da ovinocultura, a grande, senão única, alternativa estratégica capaz de assegurar a plena expressão do potencial des-sas atividades no semiárido e, ao mesmo tempo, de preservar os recursos da caatinga e promover o bem estar das populações que nela vivem e dela dependem.

A mesma afirmação pode ser feita também para outros pro-dutos típicos do semiárido, tan-to animais, como os produtos apícolas, suinícolas e avícolas, quanto vegetais, como os fei-jões, os derivados do caju e as frutas nativas, entre outros. A diferenciação dos produtos se dá a partir da incorporação aos mesmos de uma identidade ter-ritorial e cultural ligada estreita-mente ao ambiente geográfico onde são produzidos.

Certificaçãode IndicaçãoGeográfica

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O CONCEITO DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA

A certificação de indicação geo-gráfica é obtida mediante registro no Instituto Nacional de Proprie-dade Industrial – INPI, com base na legislação em vigor (atos nor-mativos 134/97 e 143/98 e resolu-ção 075/2000).

O produto pode ser certificado como Denominação de Origem (DO) ou como Indicação de Pro-cedência (IP), ambas certifica-ções similares às existentes em vários países, sobretudo na Euro-pa. O selo IP certifica um produto de uma região que se tenha no-tabilizado como centro de produ-

ção de um determinado produto. Podem ser certificados com o selo DO todos os produtos cuja autenticidade e tipicidades se de-vam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos aí fatores naturais (solo, clima) e/ou humanos (tradição, cultura). É necessário que haja uma cla-ra ligação estabelecida entre o produto, o território e o talento do homem (o saber-fazer).

A escolha deve ser definida me-diante uma análise criteriosa da natureza do produto e de vários outros fatores. Ambas as certifi-cações contemplam uma abor-dagem territorial, porém para a IP as exigências com relação à vin-culação do produto com os fato-res naturais e humanos são bem menores, acarretando a vanta-

gem de se acelerar e simplificar o processo de concessão do selo. Tanto a DO como a IP cons-tituem um poderoso instrumento de organização profissional do produtor rural, não sendo possí-vel a utilização da sua marca por produtores de outras regiões.

Entre os maiores benefícios da certificação de indicação geo-gráfica está a melhoria acentu-ada do produto, estabelecendo sua diferenciação em relação a produtos similares. Além disso, a certificação agrega valor ao mesmo, facilita a inserção do produtor no mercado, protege o produto, fortalece as organiza-ções dos produtores e, sobretu-do, valoriza a região pela promo-ção e preservação da cultura e da identidade locais.

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Cachaça de Abaíra: reconhecido potencial para certificação

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Por referir-se também aos aspec-tos culturais de produção, que incluem a obediência a padrões tradicionais e a características úni-cas de uma determinada região, a indicação geográfica se presta a angariar a confiança do público e oferecer opções às suas prefe-rências individuais, contemplan-do, em sua essência, ideias como know-how, qualidade, extração controlada, além de outros fatores predominantemente subjetivos, tais como tradição, charme, so-fisticação e simpatia pessoal por uma determinada região ou país (BARROS; SOUZA, 2004).

CERTIFICAÇÕES DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA NO MUNDO E NO BRASIL

Dentre as DOs e IPs europeus mais conhecidas no mundo po-dem ser citados o “Champagne” e os vinhos “Bordeaux”, para vi-nhos das regiões francesas do mesmo nome, os vinhos “Ma-deira” da Ilha da Madeira, os queijos franceses “Camembert” (leite de vaca) e “Roquefort” (leite de ovelha) e os presuntos crus “de Parma” e “Pata Negra” espanhol. Em termos de Amé-rica Latina estão os mais co-nhecidos “Café da Colômbia”, “Tequila” do México, “Pisco” do Peru e o “Cordeiro Patagônico”

argentino, sem esquecer os tra-dicionais charutos cubanos.

Na Europa, os produtos caprinos e ovinos com certificação de ori-gem são inúmeros. Os exemplos mais conhecidos são o borrego e o queijo “Serra da Estrela”, em Portugal, os cordeiros “Ternasco de Aragon” e “Manchego”, na Espanha, os queijos “Roquefort”, de leite de ovelha, e “Chabichou de Poitou”, de leite de cabra, na França, e os queijos Feta, de leite de ovelha, na Grécia.

No Brasil o processo é relativa-mente recente. Existem apenas dois produtos certificados como Denominação de Origem: o café do cerrado mineiro e o arroz do li-toral norte gaúcho. A Indicação de Procedência foi a opção escolhida pelos produtos nacionais que já detêm certificação de indicação geográfica: o “Vinho do Vale dos Vinhedos”, RS, o “Gado do Pampa Gaúcho da Campanha Meridio-nal”, RS, a “Cachaça de Parati”, RJ, os vinhos da Pinto Bandeira, RS, as peles do Vale dos Sinos, RS e a manga e a uva do Vale do São Francisco. Outras iniciativas em busca dessa certificação estão em andamento, entre elas o algodão colorido e têxteis do semiárido pa-raibano (Denominação de Origem), os queijos do Serro e o da Serra da Canastra-MG e o queijo de coalho do Agreste Pernambucano e os vi-nhos do Vale do São Francisco.

Existe, ainda, o caso da “cachaça do Brasil”, único produto certifica-do por decreto presidencial, em função, segundo Barros e Sou-

za (2003), da falta de diferencia-ção desse produto em relação à aguardente de cana proveniente de outros países, ocasionando maiores taxas alfandegárias nos EUA e até mesmo o uso desta expressão para identificar destila-dos fabricados em outros países.

OS PRODUTOS POTENCIALMENTE CERTIFICÁVEIS NO SEMIÁRIDO

Somente a diferenciação dará condições de competitividade aos nossos produtos caprinos e ovinos. A criação de uma ou mais marcas de cabrito, de borrego ou de queijo de cabra da caatinga, com certificação de Indicação de Procedência (IP) ou de Denomi-nação de Origem (DO), se funda-mentaria nas relações do animal com o bioma, via um sistema pro-dutivo utilizador de um mínimo de insumos externos e maximizador de tipicidades locais/regionais disseminados pelos distintos es-paços do semiárido.

A ideia inicial é de trabalhar mais com o caprino que com o ovino, em função da maior facilidade de associação desta espécie com o bioma caatinga, responsável maior pelas suas especificidades (GUIMARÃES FILHO, 2005). Ou-tro fator favorável ao caprino diz respeito às maiores limitações de

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competitividade do ovino face à forte concorrência que se delineia com o crescimento exponencial da atividade, especialmente no Centro-Oeste e Sudeste.

Entre os produtos típicos do se-miárido brasileiro potencialmente elegíveis para um processo de avaliação, melhoria da qualidade e posterior certificação podemos citar a “carne de sol de Picuí” e o “queijo de manteiga”, ambos do Seridó paraibano/norte riogran-dense, estes já com ações iniciais junto ao INPI, o “cordeiro de Tauá--CE”, o “cabrito de Uauá-BA”, o “cabrito do Sertão pernambucano do São Francisco”, o “queijo de lei-te de cabra do Cariri”, o “queijo de coalho de Bodocó-PE”, o “mel de abelhas do Araripe-PE”, a “galinha caipira do semiárido piaueinse“ e o “doce de leite de Afrânio-PE”, en-tre outros. A “manta do bode dos sertões pernambucano e baiano do São Francisco”, cujas possibili-dades para certificação como DO foram levantadas desde 2002 por pesquisadores da Embrapa Semi-árido, já é objeto de estudo inicial pelo Instituto Nacional do Semiári-do (INSA), em parceria com aquela unidade da Embrapa. Podem ser citados também potenciais produ-tos de origem vegetal, como a “ca-juína dos tabuleiros litorâneos do Ceará e da região de Picos-PI”, a “castanha-de-caju da Serra do Mel--RN”, o “arroz vermelho do vale do Piancó-PB”, o “feijão Canapu do Vale do Guaribas-PI”, a “rapadura de Triunfo-PE” e o “abacaxi de Sou-za-PB”. Entre os produtos baianos com grande potencial, poderiam ser destacados, além do “cabri-

to de Uauá” e a “manta retalhada do bode do sertão baiano do São Francisco”, “o cordeiro de Casa Nova-Remanso”, a “cachaça de Abaíra”, o ”umbu de Canudos”, o “mel de abelhas de Tucano”, o “ta-pete de sisal de Valente”, a “pinha de Presidente Dutra”. Outros pro-dutos apresentam potencial, mas precisam ainda de um levantamen-to e caracterização mais precisa, como alguns queijos de leite de vaca, como o “requeijão Cardoso” da região de Remanso, as farinhas de mandioca, o mel de melipônidas e o coco licuri, entre outros.

Uma proposta para produção e certificação para cabritos com IP foi elaborada e apresentada ao Sebrae-BA e à Secretaria de Agri-cultura deste Estado e ao MAPA ainda no início de 2008, até agora sem retorno, em termos de ini-ciativas. O “cabrito de Uauá” é uma das propostas mais viáveis, inclusive para uma Denominação de Origem. A região de Uauá, na Bahia, já ganhou notoriedade na-cional como a “capital do bode”, o que deve ajudar muito no proces-so de obtenção do selo de Indica-ção de Procedência. A proposta do “cabrito de Uauá” prevê um processo de produção em bases agroecológicas, incluindo entre suas qualidades mercadológicas: (1) uso mínimo de agroquímicos e rigoroso controle higiênico-sanitá-rio na produção, processamento e distribuição; (2) baixos teores de gordura, colesterol e calorias, em relação aos demais tipos de carne; (3) sabor característico as-sociado ao pasto natural (sabor da caatinga), maciez e suculên-

cia; (4) forte identidade com os fatores naturais (solo, clima, ve-getação, raças autóctones) e hu-manos (tradição, cultura) do meio geográfico onde é produzida em harmonia com o bioma caatinga.

O sabor da caatinga, implícito na carne do “cabrito de Uauá”, viria da associação dos genótipos na-tivos (Repartida, Marota, Canin-dé, Curaçá, etc. e seus mestiços) com a vegetação de caatinga, da qual se alimentam, pelo menos em parte de sua vida. Na realida-de, as qualidades da sua carne e da sua pele estão intrinseca-mente associadas ao processo de seleção natural a que foram submetidos os caprinos trazidos pelos colonizadores a partir de 1535, permeado por longas ca-minhadas através da vegetação seca e espinhosa, ingerindo uma dieta natural extremamente diver-sificada e submetido a intensa incidência solar, a altas tempe-raturas, a prolongados períodos de escassez de água e de outros alimentos. Essa condição lhes acarretou uma alta rusticidade, sem perda de prolificidade, em-bora em detrimento da função leiteira e do porte. É, portanto, uma carne construída ao longo de 470 anos, o que lhe dá, no caso dos animais jovens, uma coloração tendendo para rósea e um sabor agradável bastante ca-racterístico, diferente do observa-do em qualquer outro tipo.

O cabrito seria abatido com idade entre 6 e 10 meses (dente-de-leite), com peso vivo médio de 23 a 28 kg e peso de carcaça de 10 a 12 kg e sua

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produção estaria delimitada a uma área correspondente ao Território Sertão do São Francisco, compos-to por 14 municípios, abrangendo uma superfície total superior a 61 mil km2 e com um rebanho caprino da ordem de 2 milhões de cabeças, correspondendo a aproximada-mente 20% do rebanho nordestino (IBGE, 2008). A área proposta para a etapa piloto do projeto é constitu-ída dos municípios de Uauá, Canu-dos, Curaçá e Juazeiro, se possível em comunidades de fundo de pasto (Figura 1).

O sistema produtivo proposto é apenas uma referência, devendo ser adaptado às circunstâncias de cada unidade e de cada produtor. Não é flexível, contudo, no que con-

cerne à exigência da predominância de raças nativas e de processos agroecológicos de cultivo e criação. Nesse sentido, o sistema procura contemplar as principais práticas de convivência com a seca e de pre-servação ambiental recomendadas pelas instituições de pesquisa, para zonas semiáridas, sistematizadas no uso preferencial de recursos au-tóctones, de pastos cultivados tole-rantes a seca, de métodos racionais de uso da vegetação nativa, de ar-borização dos pastos cultivados, de suplementação alimentar nos perío-dos secos com bancos de proteína/energia, de estabelecimento de re-servas estratégicas alimentares para períodos de estiagem prolongada, de uso mínimo de insumos externos e de interação com agricultura, ex-

trativismo e outros subsistemas da propriedade. O “Gado do Pampa Gaúcho” segue, de alguma forma, muitas dessas premissas, mesmo elegendo raças exóticas (Hereford e Angus) como as únicas aceitas pelo seu Regulamento Técnico. A sua base alimentar é constituída de pas-tagens nativas e nativas melhoradas e pastagens cultivadas de inverno em regime extensivo, não sendo permitido o uso de pastagens de verão. Os animais devem perma-necer livres todo o ano, não sendo permitido suplementação alimentar com grãos no último ano antes do abate do animal.

A utilização da vegetação da caa-tinga e de raças nativas são premis-sas básicas no processo produtivo

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do “cabrito de Uauá”. Mesmo que esses fatores limitem um pouco a capacidade de um abate em idade mais precoce, isto não constitui pro-blema maior, já que essa aparente desvantagem poderia ser neutraliza-da pela produção de carcaças mais leves ou largamente compensada, tanto por custos unitários de pro-dução menores, quanto pelo maior valor agregado ao produto pelas suas especificidades mercadológi-cas. Carcaças mais leves têm tam-bém larga aceitação no mercado brasileiro. No exterior, um dos mais famosos cordeiros da Espanha, o “cordero Manchego”, com Deno-minação de Origem, é abatido aos 90 dias, com peso vivo de 22 a 28 kg e carcaça de 10 a 14 kg. Em ou-tras palavras, o produtor do “cabrito de Uauá” não teria maiores preo-cupações com comparações de ganhos-de-peso ou idade ao abate em relação às raças exóticas espe-cializadas. A qualidade do produto teria uma maior relevância.

Como importante instrumento do sistema de gestão de qualidade,

a rastreabilidade será prioriza-da no processo de produção do “cabrito de Uauá”. O obje-tivo é que todos os produtos dentro de um supermercado, de um açougue ou de um res-taurante sejam conhecidos e controlados, bem como todas as unidades produtoras e trans-formadoras que enviam esses produtos. Os procedimentos, inicialmente, terão como base aqueles estabelecidos pelo MAPA, consideradas as natu-rais adaptações à espécie ca-prina e às nossas condições de produção. O sistema identifica-rá animais, carcaças e cortes em suas embalagens e confi-gurações de transporte e esto-cagem, em todas as etapas de produção e suprimento. Por sua complexidade e por implicar significativos custos adicionais, o sistema de rastreamento de-verá ter uma implantação gra-dativa (período de carência mí-nimo de 36 meses), visando sua consolidação em uma etapa posterior do empreendimento.

O PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO - UMA AGENDA DE TRABALHO

O reconhecimento de uma indi-cação geográfica ao INPI pode ser requerido por um sindicato, associação, instituto ou qualquer outra pessoa jurídica de repre-sentatividade coletiva, com legí-timo interesse e estabelecida no respectivo território.

A certificação de IP ou de DO cre-dencia a organização requerente como responsável pelo monito-ramento regular da qualidade do produto e pelo atendimento às exi-gências de certificação. Para isso, a associação tem que estar formal-mente constituída e possuir um sis-tema de controle interno (Conselho Regulador). Ao Conselho Regu-lador caberá a elaboração e im-plementação de um regulamento técnico, uma espécie de “manual de obrigações” (normas e proce-

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dimentos de criação, seleção dos animais a certificar, rastreabilidade, transporte, abate, processamento final, rotulagem, não esquecendo as infrações e penalidades) a se-rem cumpridas pelos produtores. Antes, porém, é necessário que se identifiquem e definam as especifi-cidades do produto a ser certifica-do, vinculando-as a uma ou mais características próprias daquele espaço e se delimite a sua zona de produção. O meio geográfico marca e personaliza o produto pelo que a delimitação da zona produ-tora torna-se pré-requisito indispen-sável. O processo junto ao INPI é ilustrado na Figura 2.

No pedido de registro de uma IP constam elementos específicos que devem ser apresentados.

São eles:

� Elementos que compro-vem ter o nome geográfico se tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação do produto de prestação de serviço;

� Elementos que com-provem a existência de uma estrutura de controle sobre os produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao uso exclusivo da indicação de procedência, bem como sobre o produto ou a prestação do serviço distinguido com a Indicação de Procedência;

� Elementos que com-provem estar os produtores ou prestadores de serviços

estabelecidos na área geográ-fica demarcada e exercendo, efetivamente, as atividades de produção ou de prestação de serviço.

Para um programa estadual vol-tado para certificação de seus produtos, as etapas de implan-tação poderiam compreender:

1. Formação de competências regionais em organização e implementação de proces-sos de IGs;

2. Identificação, zoneamento e seleção dos produtos de maior potencial para serem trabalhados e submetidos à certificação;

3. Fortalecimento do nível or-ganizacional dos produtores (associações, cooperativas, etc.) e formação de conse-lhos reguladores e grupos gestores e formatação de arranjos organizacionais que permitam a incorporação de novos atores;

4. Estruturação de redes locais de apoio técnico e gerencial (capacitações e assistência técnica qualificada);

5. Estabelecimento de programa de financiamento direcionado para estruturar a produção, beneficiamento e comerciali-zação dos produtos;

6. Pesquisas e ações de apoio à regulamentação técnica do produto a certificar (especi-

ficidades técnicas e merca-dológicas, padronização da qualidade, definição de DO ou IP, delimitação e caracte-rização geográfica, sistemas de produção e beneficiamen-to, rastreabilidade, rotulagem, controle da produção, etc.).

A estratégia de lançamento de cada produto no mercado se baseará, ainda, em um plano de marketing a ser desenvolvido pela associa-ção/cooperativa, com o apoio do Sebrae-BA, o qual procurará criar, desenvolver e fixar a imagem dessa linha de produtos junto aos consu-midores. Esse plano deve começar com a escolha da marca, definindo--se por uma que se identifique com o produto e se adeque às embala-gens, equipamentos de exposição e peças publicitárias a serem criadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, é necessário que políti-cas públicas sejam implementadas no sentido de buscar consolidar o reconhecimento local e regional de produtos regionais como os acima sugeridos, iniciando a caminhada para sua valoração e um posterior reconhecimento nacional. Uma ação inicial por parte da pesquisa seria essencial para fundamentar um processo de identificação e es-pacialização das potenciais marcas de cabritos, borregos, queijos, méis e outros produtos, baseados em elementos de identidade coletiva

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e ativos e fatores diferenciais que, segundo Flores (2003), permitiriam desenvolver novos negócios rela-cionados com agregação de valor, aproveitando as tipicidades e os pa-trimônios culturais e sociais específi-cos, tão abundantes no Semiárido.

É bastante procedente o alerta de Altmann (2006) de que a simples aplicação de um selo de garantia de qualidade por si só não asse-gura a colocação dos produtos no

mercado em condições vantajo-sas. O produto e seu sistema têm que ser plenamente conhecidos e respeitados por produtores, processadores e distribuidores e, sobretudo, reconhecido pelos consumidores, o que exige, tam-bém, concomitantes investimen-tos em marketing.

Concebido e operado dessa ma-neira, tais empreendimentos per-mitiriam a obtenção de resultados

efetivamente impactantes na me-lhoria dos processos de utilização dos recursos naturais de solo, água, planta e animal do bioma caatinga e de gestão do espaço rural como um todo, na maior va-lorização da cultura e do saber--fazer locais e no melhor ordena-mento e equilíbrio no processo de integração econômica e social entre as distintas condições agro-ecológicas e sócio-econômicas existentes nessa região.

ReferênciasALTMANN, R. Certificação de qualidade e origem e desenvolvimento rural. In: LAGES, Vinicius et al. (Org.). Valorização de produtos com diferencial de qualidade e identidade: indicações geográficas e certificações para competitividade nos negócios. Brasília: Sebrae, 2005. p.133-140

BARROS e SOUZA ADVOGADOS. Panorama interno e externo da proteção às indicações geográficas. 2004. 9p. (disponível na internet)

FLORES, M. X. Projeto de fortalecimento das capacidades competitivas dos pequenos produtores rurais: desenvolvimento territorial e estraté-gias inovadoras. Brasília: EMBRAPA/CONTAG/Fundação Lyndolpho Silva/SEBRAE-BID, 2003. 46 p (documento de trabalho não publicado).

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Antonio César Costa Zugaib1-2

O Mercado de cacau em amêndoas no Brasil já ex-

perimentou diversos períodos de excedentes e déficits. Atualmente, vivenciamos uma fase de déficits, em que, por causa dos baixos preços praticados na década de 80 e principalmente na década

1— MS em Economia Rural-UFV e Especialista em Comércio Exterior-FGV/FUNCEX, Técnico em Planeja-mento da CEPLAC-MAPA e Professor do Departamen-to de Economia da UESC-BA;e-mail: [email protected]

2— O autor agradece a Thomas Hartmann e Geraldo Dantas Landim pelos esclarecimentos sobre os custos na formação de preços.

de 90, o baixo uso dos fatores de produção e o aparecimento da doença vassoura-de-bruxa fize-ram com que a produção baiana e consequentemente a produ-ção brasileira de cacau tenham se reduzido drasticamente e não acompanhado a demanda. Esse comportamento se refletiu na existência de déficits no mercado interno que tem sido suprido com importações de cacau (Tabela 1).

A procura por cacau em amêndo-as aumentou significativamente no mercado interno em virtude des-ses déficits e as indústrias para

honrarem seus compromissos tanto internos quanto externos ins-tituíram o que podemos chamar de um ágio, ou seja, um prêmio em US$/t pago no mercado nacional, em cima do preço em tonelada do cacau em amêndoas cotado na bolsa de mercadoria de Nova York. No período compreendido entre 21/04/95 e 25/05/95 esse mesmo mercado já experimentou ágio, va-riando entre 10,55% e 32,22%. O que significa que o exportador que desejasse vender para o mercado externo teria um prejuízo, já que as indústrias locais estariam pagando um preço superior ao preço pago

Comportamento dos preços, existência de ágio ou deságio, margens, instituições e canais na comercialização de cacau no ano de 2009

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SOCIOECONOMIA

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no mercado internacional. A partir de 25/05/95, o ágio começou a cair chegando a 10,24% provando que as importações de cacau real-mente fizeram com que os preços despencassem no mercado inter-no (ZUGAIB, 1995).

O objetivo deste trabalho é verifi-car se o preço em R$/@ recebido pelo produtor de cacau em amên-doas no ano de 2009 está con-tendo ágio ou deságio. Mensurar esse ágio ou deságio, calcular as margens de comercialização, identificar as instituições e anali-sar os canais de comercialização existentes no mercado de cacau.

z Cálculo do ágio ou deságio

Para analisar se o preço do ca-cau em amêndoas está conten-do ágio ou deságio este traba-lho fez uma comparação entre o preço em R$/@ recebido pelo produtor na praça de Ilhéus--Bahia, com o preço do cacau integral ou bruto cotado na bol-sa de Nova York em amêndoas convertido em R$/@ ao produ-tor, e também com o preço de cacau em amêndoas em R$/@ ao produtor cotado na bolsa de Nova York exportado, ou seja, abatendo os custos de comer-cialização e administrativos na

exportação, ambos os preços repassado para o produtor.

Foi calculado um fator que mul-tiplicado pelo preço ao produtor, transformado em toneladas e convertido em US$, nos dava exa-tamente o ágio ou deságio que estava sendo pago no mercado, além daquele cotado em bolsa, ou seja, o preço exportado bruto. Usando o mesmo raciocínio tam-bém foi calculado o ágio ou de-ságio caso o cacau fosse ou não exportado, ou seja, mantendo ou retirando todos os custos de ex-portação: corretagem, comissão, custos gerais (frete fazenda/ar-

TABELA 1 COMPORTAMENTO DO MERCADO BRASILEIRO DE CACAU Período, 1989/90 a 2009/10

Ano Agrícola Internacional

Produção Brasileira Importação Exportação Consumo

AparenteMoagensAparente

Sup/DefAntes Imp

Sup/DefDepois Imp

1989/90 347.900 – 116.695 231.205 236.300 111.600 111.6001990/91 368.100 – 107.360 260.740 260.000 108.100 108.1001991/92 306.200 721 75.553 231.368 230.000 76.200 76.9211992/93 308.600 1.898 95.511 214.987 225.000 83.600 85.4981993/94 282.700 2.438 90.377 194.761 225.000 57.700 60.1381994/95 225.000 5.182 40.979 189.203 195.000 30.000 35.1821995/96 230.700 136 27.382 203.454 205.300 25.400 25.5361996/97 185.000 9.909 11.615 183.294 180.000 5.000 14.9091997/98 170.000 16.882 6.697 180.185 187.800 -17.800 -9181998/99 137.500 48.058 4.272 181.286 192.400 -54.900 -6.8421999/00 123.500 90.065 2.234 211.33 201.600 -78.100 11.9652000/01 162.800 41.726 2.482 202.044 194.900 -32.100 9.6262001/02 123.600 46.170 3.495 166.275 172.600 -49.000 -2.8302002/03 162.600 66.033 2.468 226.165 195.500 -32.900 33.1332003/04 163.400 43.845 1.564 205.681 206.800 -43.400 4452004/05 170.800 44.608 965 214.43 208.800 -38.000 6.6082005/06 161.600 49.594 855 210.339 222.700 -61.100 -11.5062006/07 126.200 74.395 559 200.036 226.300 -100.100 -25.7052007/08 170.500 108.687 563 278.624 231.700 -61.200 47.4872008/09 157.000 61.104 240 217.864 216.100 -59.100 2.0042009/10 161.200 47.076 288 207.988 226.100 -64.900 -17.8242010/11 198.000 31.281 338 228.943 232.000 -34.000 -2.719

Produção e Moagens - Dados ICCO - Outubro a Setembro

Importação e Exportação - Dados MDIC - Outubro a SetembroExportação e Importação até Outubro a Junho

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mazém, armazém/manipulação, frete armazém/porto, capatazia e desembarque, sacaria e fio e emissão do conhecimento de embarque (um contrato em bol-sa). Se o resultado fosse positivo o mercado estaria pagando ágio, caso contrário, o mercado estaria pagando deságio.

z Instituições de comercialização

As instituições de comercialização são constituídas de indivíduos ou organizações que operam nos di-versos segmentos de mercado. As instituições constituem-se nos agentes do sistema de comercia-lização, os quais possuem carac-terísticas e padrões específicos de comportamento que os distinguem entre si, no desempenho das diver-sas funções da comercialização.

z Canais de comercialização

De acordo com Massilon (2009), os caminhos percorridos pelos produtos são denominados canais de comercialização, que variam de acordo com cada produto e região, envolvem diferentes agen-tes comerciais (ou intermediários), agroindústrias e serviços e de-mandam diferentes infraestruturas de apoio (logística). Para identifi-cação dos canais de comerciali-zação tomou-se como referência a divisão feita em níveis por Massi-lon (2009). O estudo de canais de comercialização é útil como forma de ampliar a compreensão da or-ganização da comercialização nos seus aspectos externos ou estru-turais. A identificação de canais

de comercialização serve para dar uma visão ampla do sistema de comercialização, sua organização e funcionamento.

z Margens de comercialização

A margem de comercialização (Mc) refere-se a diferença entre os preços em níveis diferentes do sistema de comercialização. No caso do cacau usaremos a dife-rença entre o preço de venda para exportação (Pve) e os preços re-cebidos pelos produtores (Prp). É também representada pela distân-cia vertical entre as curvas de de-manda (D) e oferta (O). A Margem de comercialização refere-se ape-nas à diferença de preço, e não diz coisa alguma sobre a quantidade de produto comercializado. Há di-versas maneiras de quantificar as margens, dependendo dos objeti-vos que se têm em mente. Neste estudo, usaremos três maneiras:

a) Margem de comercialização ab-soluta (MCA); b) Margem de comercialização re-lativa total ou margem do exporta-dor (ME); c) Margem do produtor (MP) ou participação do produtor.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

z Ágio e deságio

De acordo com a Tabela 2 pode-mos verificar que os resultados

foram compostos apenas por ágio e não por deságio, isto pode ser explicado pelo déficit existente no mercado nacional nos últimos anos. Convertendo o preço bru-to cotado na bolsa de Nova York (US$ 2.565,00/t) para Reais/@ (R$ 87,34/@) e comparando com o preço recebido pelo produtor R$ 90,00/@, o ágio encontrado para o dia 05/01/2010 foi de US$ 78,17/t. Esse ágio somado a US$ 2.565,00/t perfaz US$ 2.643,17/t convertidos em R$/@ dar justa-mente o preço pago ao produtor R$ 90,00/@. Os resultados com-provaram no ano de 2009 a exis-tência de um ágio no preço em US$/t ofertado pelas indústrias no mercado interno que variou de US$ 5,94/t a US$ 314,53/t (Tabela 2 e Gráfico 1).

Podemos verificar ainda que se o cacau fosse exportado o mer-cado teria de arcar ainda com os custos de exportação de US$ 226,95/t que somados ao preço de mercado na bolsa de Nova York US$ 2.565,00/t totalizaria US$ 2.791,95/t. Esse deveria ser o preço cotado em bolsa que o mercado teria que pagar se o ca-cau fosse exportado, justifica-se pela agregação do custo de ex-portação. Acrescentando o ágio de US$ 78,17/t que o mercado está pagando chegaria ao preço de US$ 2.870,14/t. Na verdade, o que nós estamos chamando de ágio se o cacau fosse exportado seria o ágio puro real US$ 78,17/t mais o custo da exportação que o mercado teria que arcar US$ 226,95/t que totalizaria US$ 305,14/t (Tabela 2 e Gráfico 2).

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Verificou-se um comportamento inverso entre a cotação do cacau no mercado internacional e a taxa de câmbio em 2009, ou seja, a partir de julho enquanto o preço do cacau em amêndoas subiu no mercado internacional houve uma sobrevalorização cambial. Duas variáveis influenciam direta-mente na formação do preço de

cacau em amêndoas: a sua cota-ção na bolsa de mercadorias e a taxa de câmbio. No início do ano (05/01/2009) o preço do cacau em amêndoas estava sendo cota-do no mercado internacional em US$ 2.565/t, a taxa de câmbio R$ 2,27=US$1,00 com o preço ao produtor R$ 90,00/@, já no final do ano o preço aumentou para

US$ 3.233,00/t, a taxa de câmbio sofreu uma valorização indo para R$1,74=US$ 1,00 contribuindo para que o preço ao produtor ca-ísse para R$ 87,00/@. Apesar da elevação do preço da tonelada do cacau em amêndoas no mer-cado internacional, a valorização do real frente ao dólar fez o pre-ço cair no mercado interno (Grá-

TABELA 2 CÁLCULO DO ÁGIO OU DESÁGIO NO MERCADO DE CACAU EM AMÊNDOAS EM 2009

Data Preço Bolsa NyUS$/t

CâmbioUS$/R$

Preço aoProdutor

R$@

Preço Bolsa NYBruto R$/@

Preço Bolsa NYExportação

R$/@

Ágio ou Deságio

Base, Bolsa NY - Bruto

Ágio ou Deságio

Base, Bolsa NY -

Exportação

Ágio ou Deságio

Base, Bolsa NY - Bruto

Preço Bolsa NyBruto com Ágio

Ágio ou Deságio

Base, Bolsa NY -

Exportação

Preço Exportaçãocom Ágio

Pve Prp Fator Fator US$/t US$/t US$/t US$/t

05/01/2009 2.565,00 2,27 90,00 87,34 79,61 0,03 0,12 78,17 2.643,17 305,14 2.870,14

06/01/2009 2.606,00 2,18 90,00 85,22 77,56 0,05 0,14 146,29 2.752,29 380,43 2.986,43

07/01/2009 2.636,00 2,21 90,00 87,38 79,65 0,03 0,12 78,93 2.714,93 312,22 2.948,22

08/01/2009 2.634,00 2,26 90,00 89,29 81,50 0,01 0,09 20,87 2.654,87 250,74 2.884,74

09/01/2009 2.582,00 2,28 90,00 88,30 80,54 0,02 0,11 49,58 2.631,58 276,61 2.858,61

12/01/2009 2.506,00 2,29 90,00 86,08 78,40 0,04 0,13 114,09 2.620,09 337,70 2.843,70

13/01/2009 2.456,00 2,30 90,00 84,73 77,10 0,06 0,14 152,70 2.608,70 373,91 2.829,91

14/01/2009 2.376,00 2,33 93,00 83,16 75,47 0,11 0,19 281,18 2.657,18 500,86 2.876,86

16/01/2009 2.461,00 2,32 91,50 85,79 77,98 0,06 0,15 163,78 2.624,78 387,84 2.848,86

19/01/2009 2.463,00 2,33 91,00 86,07 78,40 0,05 0,14 140,94 2.603,94 360,55 2.823,55

20/01/2009 2.479,00 2,35 90,00 87,53 79,66 0,03 0,11 69,85 2.548,85 292,83 2.771,83

21/01/2009 2.600,00 2,35 92,00 91,79 79,66 0,00 0,09 5,94 2.605,94 233,12 2.833,12

22/01/2009 2.598,00 2,33 95,00 90,77 83,77 0,04 0,13 121,22 2.719,22 344,91 2.942,91

23/01/2009 2.661,00 2,36 95,00 94,04 82,50 0,01 0,09 27,17 2.688,17 248,16 2.909,16

26/01/2009 2.660,00 2,31 99,00 92,33 86,23 0,07 0,15 192,08 2.852,08 424,36 3.084,36

27/01/2009 2.757,00 2,31 96,00 95,53 84,27 0,00 0,09 13,44 2.770,44 245,01 3.002,01

28/01/2009 2.757,00 2,30 100,00 95,01 87,51 0,05 0,13 144,83 2.901,83 374,05 3.131,05

29/01/2009 2.797,00 2,28 100,00 95,46 87,11 0,05 0,14 133,02 2.930,02 401,12 3.198,12

30/01/2009 2.778,00 2,32 100,00 96,48 88,61 0,04 0,11 101,27 2.879,27 327,95 3.105,95

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fico 3). Outro fator que contribuiu também para a redução do preço do cacau em amêndoas no mer-cado interno apesar do aumento no mercado externo (Gráfico 4) foi a redução gradual do ágio no se-gundo semestre (Gráfico 5).

z Margens na Comercialização

As margens de comercialização do produtor se concentraram (média) na faixa dos 90,8%, va-riando entre 85,11% e 91,84%. Já

as margens de comercialização do exportador se concentraram (média) na faixa dos 9,2%, va-riando entre 8,16% e 14,89%. Isto pode ser explicado porque o im-posto de exportação e o imposto sobre circulação de mercadorias

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e serviços – ICMS, com 10% e 13%, respectivamente, sobre as exportações foram retirados, as-sim como, o PIS e CONFINS não incidem também sobre as expor-tações de cacau (Gráfico 6).

z Instituições e canais de comercialização

A comercialização de cacau pas-sou por duas fases no passado: o livre comércio e a intervenção es-tatal. No livre comércio o grande objetivo da comercialização era o mercado externo. Caracterizava--se por um movimento interno com a presença de intermediários e casas comissárias e um movi-mento externo com a presença

de exportadores e países con-sumidores, proporcionando uma concentração e uma forma atomi-zada e dispersiva de produção. A partir de 1929, o Estado interfere na economia do cacau criando o Instituto de Cacau da Bahia (ICB), favorecendo o crédito, diminuindo as taxas de juros e monopolizan-do o transporte, armazenamento, industrialização e compra e venda do produto.

Mais adiante com a chegada de algumas indústrias processado-ras na região, a exemplo da Jo-anes, Cargill, Barreto de Araújo, Itaísa, entre outras, o processo de comercialização se torna mais complexo. A comercialização do

cacau no eixo Ilhéus-Itabuna, que antes só tinha a participação dos agentes, filiais e pequenos comer-ciantes, passa a ter a participa-ção dos exportadores, corretores, dealers e indústrias processa-doras, que ficavam em Salvador e no sul e sudeste do Brasil. O processo de comercialização se torna mais profissional com as indústrias e cooperativas comer-cializando cacau na bolsa de mer-cadorias de Londres e Nova York (Figura 1). Porém, os produtores atuam no contexto como meros tomadores de preços.

Com a crise instalada na região consequência da chegada da vassoura-de-bruxa, as institui-

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ções integrantes dos canais de comercialização do cacau foram extintas e deixaram de operar, a exemplo das processadoras Bar-reto de Araújo, Berkau, Chadler e várias agências exportadoras. Mas, o que realmente interrompeu o processo de independência do produtor na cadeia produtiva do cacau foi o processo de liquida-ção da Copercacau Central e da ITAÍSA. O produtor que já estava produzindo líquor, torta, manteiga e pó, viu interromper o sonho de produzir o produto final, chocolate, aumentando sua dependência vin-culada diretamente às indústrias de processamento (Figura 2).

Zugaib et al (2009), analisaram o mercado processador atra-vés dos índices de concentra-ção das quatro maiores firmas

(CR4) e de Herfindahl-Hirschman (IHH) e concluíram que o índice de concentração calculado para 1990/91, levando em considera-ção as participações das indús-trias processadoras no mercado do cacau, apontou para um CR4 de 65% e o IHH de 1.406. Os re-sultados evidenciaram a presen-ça de competição no mercado processador de cacau, conside-rada uma competição moderada. Entretanto, em relação ao período de 2004/05, já sentindo os efeitos da crise pode-se constatar uma mudança na estrutura de merca-do processador de cacau no Bra-sil. Os resultados para o Índice CR4 de 94% e IHH de 2.592 evi-denciaram alta concentração do mercado, portanto, oligopsônico, apontando para a ausência ou uma competição extremamente

baixa, mostrando imperfeições no mercado (Figura 2).

Depois da crise podemos dizer que os canais de comercializa-ção voltaram a ter uma estrutura parecida com a original, porém no seu fluxo pode-se notar uma tímida aparição de exportadores e uma participação mais ativa do produtor de cacau através da constituição de agroindústrias co-operativas na fabricação de cho-colate. Tomando como referência Massilon (2009) e fazendo algu-mas adaptações, os canais de comercialização de cacau foram classificados em oito níveis:

Nível 1 – composto por produto-res de cacau. A Comissão Execu-tiva do Plano da Lavoura Cacauei-ra – CEPLAC através dos Centros

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de Pesquisa – CEPEC e Extensão Rural - CENEX exerce as funções respectivas. A Universidade Esta-dual Santa Cruz – UESC também se faz presente no agronegócio.

Nível 2 - encontram-se os inter-mediários que são os agentes, filiais e pequenos comerciantes. São também chamados de parti-distas. Pessoas ou empresas que compram o cacau dos produtores e o repassa para outros níveis de comercialização, ou mesmo para intermediários menores.

Nível 3 - estão as agroindústrias, que podem processar ou indus-trializar o cacau adquirindo-o di-retamente dos produtores ou de intermediários.

Processing/Processadoras – es-tão incluídas as empresas que produzem o produto semi-elabo-rado (líquor, torta, manteiga e pó). No Brasil temos Cargil, Joanes, Delfi, Barry Calebaut e Indeca.

Manufatories/Merchants (Indús-trias) – definido como as indús-trias que produzem o produto final chocolate. De modo geral prefe-rem adquirir cacau diretamente dos dealers, que honram seus compromissos.

Para a fabricação do chocolate no Brasil, identificam-se 100 in-dústrias associadas a Associação Brasileira das Indústrias de Choco-late, Amendoins e Balas - ABICAB, sendo três delas de grande porte (com cerca de 4.000 empregos ge-rados), seis de médio porte (entre 1.000 e 2.000 empregos gerados),

1 pequeno porte (entre 500 e 1.000 empregos gerados) e 90 de mini porte (com menos de 500 empre-gos gerados). Destas empresas, quarenta e seis são responsáveis por 90% das vendas externas, re-ferente ao cacau já processado ou industrializado na forma de choco-late. Juntas faturaram, em 2008, R$ 7,2 bilhões (ABICAB, 2009). Os maiores fabricantes mundiais de chocolate faturaram em 2011 US$ 67,59 bilhões. A empresa Kraft Foods Inc lidera as vendas com US$ 16,82 bilhões, seguido pela Mars Inc US$ 15 bilhões e pela Nestlé US$ 11,26 bilhões (CANDY INDUSTRY/ICCO, 2011).

Atualmente, os produtores atra-vés da Cooperativa Cabruca e Associação dos Produtores de Cacau – APC, tendo o suporte técnico da CEPLAC, estão se es-truturando para reduzir a depen-dência da cadeia produtiva do cacau a essa estrutura de merca-do. Algumas iniciativas têm sido realizadas através da Cooperativa CABRUCA e da APC Cooperativa Agroindustrial de Cacau e Cho-colate, a primeira produzindo um cacau fino, orgânico, buscando indústrias no exterior que dêem um preço mais justo por agregar mais valor, enfim tratando o cacau não mais como uma commodity cotada nas bolsas de mercadorias (NY e Londres), mas um produ-to especializado com mais valor agregado que necessita ter pre-ços mais compensadores e a se-gunda procurando nichos de mer-cado para consumir um cacau fino, com fermentação e secagem adequada para produção de um

chocolate ecológico, de origem única com indicação geográfica, com rastreabilidade, com um sis-tema de produção integrado bem definido, um chocolate negro com alto teor de cacau e baixo teor de açúcar, meio amargo, enfim, que responda a questões éticas e am-bientais. Participações no Salão do Chocolate em Paris e na China já acontecem como iniciativas dos produtores de cacau. Esse com-portamento aliado ao aumento do consumo devido à utilização de um maior teor de cacau no cho-colate tem deixado as instituições atuantes no mercado de cacau sem parâmetros eficientes com relação aos fatores fundamentais, pressionando os preços de cacau em amêndoas nas bolsas de mer-cadorias para cima.

Quando se falava em agrega-ção de valores para aumento da renda dos produtores de cacau, o conceito que vinha a mente imediatamente era a diferencia-ção do produto, ou seja, com in-vestimentos em equipamentos, tecnologia e marketing poderia sair da produção de amêndoas para produção e comercializa-ção de líquor, torta, manteiga, pó e o próprio chocolate. Com a evolução passamos a enxer-gar que para agregar valor ao produto podemos usar de novos conceitos como certificação, rastreabilidade, indicação geo-gráfica, boas práticas, análise de perigos e pontos críticos de controle - APPCC e finalmente produção integrada. A Associa-ção dos Produtores de Cacau - APC realizou recentemente um

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convênio de nº 753292/10 com a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo - SDC do Ministério de Agricul-tura Pecuária e Abastecimento - MAPA, visando apoiar o pro-jeto de criação e implantação de indicação geográfica para o Cacau Cabruca Bahia (Figura 3).

Dadas as condições para a recu-peração da cacauicultura baiana, tanto em termos de resolução das dívidas existentes, quanto da libe-ração de crédito a custos compa-tíveis para novos investimentos em pesquisa, infraestrutura e re-novação dos cacauais por clones mais resistentes e de alta produ-tividade hoje disponíveis, esta poderá alcançar rapidamente a produção outrora obtida e contri-buir para o país voltar ao topo do mercado internacional, desta vez, com um cacau de alta qualidade, com novos nichos de mercado e em bases mais sustentáveis.

Nível 4 - encontram-se os repre-sentantes comerciais que são pessoas físicas ou jurídicas que representam determinadas em-presas, recebendo comissões (percentagens) sobre vendas efetuadas com base em preços préestabelecidos, sem vínculos empregatícios e, geralmente, sem a responsabilidades da operação da entrega.

Corretores – São firmas normal-mente instaladas nos países pro-dutores que, de modo geral, ven-dem o cacau físico aos dealers ou recebem destes ofertas para serem repassadas aos exporta-dores. O corretor é um simples intermediário entre o dealer e o ex-portador não detendo, portanto, a posse da mercadoria e, normal-mente quando os negócios são concretizados recebem uma co-missão de 0,375% sobre o valor FOB (Free on Board), paga pelo vendedor.

Nível 5 - encontram-se o Gover-no e as bolsas de mercadorias. As bolsas de mercadorias têm a função de ofertar serviços de pre-gão de produtos agropecuários, diretamente ou por intermédios de representantes comerciais comissionados.

O cacau em amêndoas é cota-do nas bolsas de mercadorias de Londres e Nova York. As ca-racterísticas da produção de ca-cau contribuem para um ciclo de preço de longo prazo. Em outras palavras, é difícil ajustar a oferta rapidamente às necessidades da demanda. Oferta excessiva ou oferta insuficiente podem causar fortes oscilações de preço muito antes que o mercado à vista pos-sa equilibrar a oferta. Por esse motivo, o mercado futuro de ca-cau da NYBOT lista contratos com mais de 18 meses. Por exemplo, em setembro de 2010, a Bolsa es-tava listando contratos de julho de 2011 e já estava negociando con-tratos de maio de 2012.

O contrato futuro de cacau (CC) listado na NYBOT prevê a entre-ga de 10 toneladas métricas de amêndoas de cacau (22.046 li-bras). O contrato é calculado em dólares por tonelada métrica e a flutuação mínima de preço (tick) é de um dólar por tonelada métri-ca (cada tick equivalendo a US$ 10/contrato). Cada lote de cacau é então classificado através de amostragem por profissionais li-cenciados pela Bolsa e o preço pode ser ajustado quando há imperfeições em relação aos pa-drões estabelecidos.

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Conhecer o histórico das oscila-ções de preço é um componente fundamental do planejamento e gerenciamento de risco. Um grá-fico com o histórico de dez anos dos preços dos contratos futuros de cacau com data de vencimento mais próxima oferece uma visão clara das tendências do mercado no longo prazo. No curto prazo também o gráfico auxilia nas ten-dências de mercado (Gráfico 7).

O mercado global de cacau da NYBOT oferece serviços e fer-ramentas cruciais para toda a indústria do cacau. Embora ape-nas um pequeno percentual dos contratos futuros de cacau resulte em entrega, a New York Board of Trade está extremamente com-prometida com a armazenagem, a amostragem e a classificação da commodity. A presença da NYBOT no mercado físico en-volve a entrega do cacau como previsto no contrato. Em 1990, a Bolsa começou a usar um sis-tema eletrônico interno – o Com-modity Operations and Processing System (COPS®), para rastrear os embarques de café e de cacau certificados para entrega através

da Bolsa, com a respectiva docu-mentação.

Em 2003, a NYBOT transformou o pioneiro sistema COPS em eCOPS®, que permite a transfe-rência de toda a documentação crítica, e da propriedade, via inter-net. Com a expansão do eCOPS, a indústria do cacau pode trans-ferir todo o processo de docu-mentação manual, que exige mão-de-obra intensiva e é mais passível de erros, para uma pla-taforma eletrônica, com economia de custo e maior eficiência. O sis-tema gerencia entregas de ativos negociados à vista, assim como entregas previstas nos contratos negociados na Bolsa.

A NYBOT também oferece às indústrias do cacau e do café modernas instalações para a classificação dos produtos. O processo de classificação está a cargo de profissionais licen-ciados. O cacau é classificado através da análise das amêndo-as, verificando-se os pontos for-tes e os pontos fracos relacio-nados ao padrão estabelecido pela Bolsa. A NYBOT também

oferece apoio administrativo à Cocoa Merchants Association of America (CMAA), outro exemplo de comprometimento com as indústrias representadas nos contratos.

Além dos tradicionais contratos futuros, o mercado de cacau da NYBOT oferece contratos de op-ções sobre contratos futuros de cacau. As opções de cacau (CO) começaram a ser negociadas em 1986, na Coffee, Sugar & Cocoa Exchange (CSCE), uma das bolsas predecessoras da NYBOT. Os con-tratos de opções oferecem grande flexibilidade para estratégias de gerenciamento de risco. Enquanto os contratos futuros permitem que os usuários do mercado fixem um preço específico, os contratos de opções permitem que os compra-dores determinem um teto ou piso para o preço, limitando o risco ao prêmio, evitando o compromis-so com os depósitos de margem e mantendo a possibilidade de aproveitar mudanças favoráveis no preço à vista. As estratégias com contratos de opções são particular-mente úteis em períodos de queda ou aumento brusco do preço.

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Para se ter uma ideia, durante os primeiros nove meses de 2002, quando os preços do cacau subi-ram 65%, o número de contratos de opções de cacau em aberto aumentou cerca de 73% registran-do um novo recorde, 96.454 con-tratos. Para o operador ou hedger experiente, a venda de opções também é uma possibilidade. A liquidez e o serviço especializado disponíveis no mercado de op-ções de cacau da NYBOT permi-tem que hedgers e especuladores desenvolvam e executem pacotes de contratos personalizados que atendem aos objetivos de uma variada gama de negócios.

Analisando o mercado futuro de cacau Pereira (2009), concluiu que é altamente volátil a qualquer dis-túrbio ou informação relacionada à commodity. A elevação nos preços futuros do cacau observada nos últimos anos se deve, em grande parte, a depreciação do dólar e também a crise americana, uma vez que, a expectativa de desace-leração da economia dos Estados Unidos tem ocasionado uma fuga dos investidores de títulos para aplicação em commodities.

Desse modo, o efeito alavanca-gem suporta os argumentos da Teoria da Perspectiva no sentido em que os investidores são mais sensíveis as perdas do que aos ganhos, entende-se dessa manei-ra, que os investidores são mais sensíveis as informações negati-vas e por isso estas tem um im-pacto maior na volatilidade, oca-sionando implicações potenciais na formação do preço do cacau.

Pereira (2009), conclui, portanto, que o preço cotado no mercado de Ilhéus no Estado da Bahia é formado no mercado futuro de Nova York revelando que o pre-ço futuro constitui-se numa boa estimativa do preço à vista. Além disso, o mercado de cacau que anteriormente era determinado, basicamente, pelos fatores re-ais de oferta e demanda passa a ter influencia também de fatores comportamentais refletidos em fortes movimentos especulativos, com efeito direto na formação do preço do cacau.

Mercado Futuro e de Opções - As expectativas sobre a demanda e oferta das commodities têm um papel importante na definição dos preços. A situação social, política e econômica dos países produtores exercem, também, uma influência indireta. Existem, entretanto, algumas atividades diárias nos mercados futuros, que têm um forte efeito na de-terminação dos preços interna-cionais das commodities. Dentre estas se destacam (AMIN, 1995): compras/vendas das indústrias; hedging de produtores, expor-tadores, processadores e indús-trias; liquidações especulativas em curto e longo prazos; com-pras/vendas especulativas dado a algum aumento/queda de preço em outras commodities;compra/venda especulativa dos Fundos; arbitragem de mercado; arbitra-gem cambial.

Observa-se, portanto, que a for-mação diária dos preços interna-cionais, nos mercados futuros, de-

corre, além da contribuição dada pelas tradicionais forças do mer-cado, de três atividades conjun-tas: a) a “administração do risco” pelos hedgers; b) a “especulativa”, decorrente da atuação de um sele-to grupo de agentes altamente es-pecializados; e c) da “arbitragem”, que aproveita a diferença entre os mercados futuros.

Hedger - Neste grupo podem ser incluídos produtores, traders, pro-cessadores, distribuidores, expor-tadores, importadores e indústrias. O objetivo dos hedgers, de acordo com Lozardo (1998) é diminuir o risco de mercado no preço do seu produto. No mercado financeiro, o emprego da palavra hedging refere-se “a uma modalidade operacional que visa proteger uma carteira de commodities contra mudanças adversas de preços”.

Especuladores - São investidores, pessoas físicas ou jurídicas que optam pela bolsa, para aplicarem suas poupanças. Muitas vezes grandes clientes assumem ele-vadas posições especulativas em função de dados fundamentais (produção, moagens, tarifas, sub-sídios, consumo, renda, índices de inflação, etc,) ou através de uso de chats (gráficos que mos-tram a tendência de mercado, se de alta ou baixa). Este grupo é bastante amplo e mais ativo que os hedgers. Formam parte dele, pessoas físicas, corretoras, em-presas, instituições filantrópicas e instituições educativas. No mer-cado de cacau podemos identifi-car certos elementos intervenien-

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tes como os brokers, comission house, dealers, shippers (expor-tadores), agents (corretores), manufactories/mercants (indús-trias), os especuladores. Brokers – São firmas que operam exclusi-vamente no mercado de futuros, atendendo pedidos de clientes para comprar e vender contratos e/ou realizar outras operações em bolsa mediante pagamento de comissões. Comission House – Podem ser considerados brokers, mas estão melhor estruturados que estes, possuindo analistas para físico e conseguindo infor-mações de produção, moagens, de interesses de seus clientes. Dealers – Basicamente são firmas que operam com cacau físico em diferentes países, mas também operam no mercado de futuros. Os principais dealers que operam com cacau são Gill & Duffus, J.H. Rayner e Cocoa Merchants. Fa-zem parte, também, deste grupo de especuladores, os poderosos Fundos, cuja participação no

mercado é fator determinante no processo de definição dos preços internacionais. Os Fundos mais fortes e mais ativos nos mercados futuros são os Fundos de Hedge e os Fundos de Commodities. Em geral, este grupo é formado por agentes a procura de uma rápida diversificação do portfólio de apli-cações financeiras.

O mercado internacional de ca-cau é o exemplo de um merca-do caracterizado por um amplo processo especulativo. Grande parte desse processo é realizado pelos Fundos de Hedge e pelos Fundos de Commodities, cuja participação nos mercados futu-ros visando lucros em curto pra-zo, passa a alterar drasticamente a formação dos preços.

A participação dos agentes espe- culadores nas bolsas de mer-cadorias afeta, sobremaneira, as decisões dos produtores de cacau e das processadoras

dessa matéria-prima. Isto por-que, a realização de hedge para minimizar eventuais riscos dos investimentos realizados pelos cacauicultores e processadoras, é impraticável às categorias de mini e pequenos produtores ru-rais, uma vez que eles se encon-tram desorganizados e, por si só, não têm condições de aces-sarem as bolsas de mercadorias (MONTE; AMIN, 2006).

Arbitragem - Processo muito uti-lizado nos mercados futuros de moedas e derivativos, a arbitra-gem está presente, também, nos negócios realizados nos merca-dos futuros de commodities. É considerada como uma forma de especulação, uma vez que aproveita a diferença entre dois mercados ou ativos, para a rea-lização de lucros.

Nível 6 - encontram-se os seg-mentos para o comércio inter-nacional (exportação) e os que

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se encontram em contato direto com os consumidores: super-mercados, lojas de conveniência, confeitarias, etc.

Shippers – Nesta categoria estão incluídas as firmas exportadoras de cacau em amêndoas e deri-vados, assim como, de produtos de chocolate instalados nos paí-ses produtores de cacau. Podem vender cacau em amêndoas di-retamente para processadoras existentes no mercado interno, como derivados e chocolates para chocolateiras existentes no mercado nacional e interna-cional. Na maioria das vezes as agroindústrias processadoras e também indústrias de chocolate também funcionam como expor-tadoras de derivados do cacau e produtos de chocolate, respecti-vamente.

Nível 7 - encontram-se os con-sumidores, cada vez mais exi-gentes quanto a qualidade, for-mas de apresentação, preços e direitos. Os consumidores assumem o papel mais impor-tante em todo o processo co-mercial. No mercado de cacau

eles estão exigindo um cacau fino, com fermentação e seca-gem adequada para produção de um chocolate ecológico, de origem única com indicação geográfica, com rastreabilida-de, com um sistema de produ-ção integrado bem definido, um chocolate negro com alto teor de cacau, portanto um alto teor de flavanóides e baixo teor de açúcar, meio amargo, enfim, que responda a questões éticas e ambientais.

Nível 8 - encontra-se todo o seg-mento importador que interfere diretamente em toda a comercia-lização interna, cujos produtos importados percorrem caminhos bastante similares aos produtos nacionais. Como já foi dito no trabalho o Brasil atualmente im-porta cacau em amêndoas. As principais importadoras de cacau são as agroindústrias processa-doras de cacau, principalmente a Cargil e a Joanes Industrial. Na safra 2008/2009 foram importa-dos 61.104 toneladas de cacau em amêndoas para suprir o par-que moageiro brasileiro. A Figura 4 identifica os fluxos de comer-

cialização do cacau e derivados (líquor, torta, manteiga e pó), in-clusive do chocolate das várias instituições existentes no mercado de cacau.

CONCLUSÕES

Os resultados comprovaram a existência de um ágio no preço de cacau em amêndoas no ano de 2009 ofertado pelas indústrias aos produtores de cacau no mercado interno que variou entre US$ 5,94/t a US$ 314,53/t. Esses ágios foram pagos aos produtores devido à ocorrência de déficits existentes no mercado interno de cacau em amêndoas a partir da safra 97/98. Importações foram realizadas para cobrir esses déficits, mas, mesmo assim, o mercado continuou a pa-gar ágios. A redução do ágio no segundo semestre devido prin-cipalmente ao aumento de im-portação no segundo semestre e consequente redução de déficit no mercado interno e a valorização do câmbio (real) contribuíram para

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FORBES, L. F. Princípios básicos para aplicar nos mercados futuros. São Paulo: BM&F, 1991.

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ZUGAIB, A. C. C. et al. Análise do mercado processador de cacau no Brasil vista sob o modelo estrutura-conduta-desempenho. Disponível em: <http://www.ceplac.gov.br/radar.htm>.

a queda dos preços de cacau em amêndoas no mercado interno no ano de 2009, apesar da alta dos preços ocorrida no mercado inter-nacional.

A média das margens de co-mercialização ao produtor foi de 90,8% e ao exportador de 9,2%. Essa grande participação das margens do produtor nos preços de cacau em amêndoas podem ser explicadas pela retirada dos impostos de exportação de 10% e do ICMS de 13%, assim como, dos impostos PIS e CONFINS.

O trabalho mostra também que an-tes da crise os canais de comercia-lização do cacau em amêndoas se apresentavam como mais comple-tos e dinâmicos. Na crise houve uma perda de algumas instituições como exportadoras e cooperativas e de-pois da crise os produtores estão se organizando melhor e buscando a or-ganização da produção em torno de cooperativas agroindustriais de cho-colate, em que o produtor associado entregaria a produção de cacau em amêndoas a cooperativa e receberia o preço do dia da arroba, a coopera-tiva transformaria em chocolate agre-

gando valor ao produto, e distribuiria as sobras aos seus associados, de acordo com as operações realiza-das, ou seja, proporcionalmente ao cacau entregue, obtendo assim, um melhor desempenho dentro dos ca-nais de comercialização.

Com relação ao mercado futuro de cacau que era determinado, basica-mente, pelos fatores reais de oferta e demanda passa a ter influência, também, de fatores comportamen-tais refletidos em fortes movimentos especulativos, com efeito direto na formação do preço do cacau.

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ABC das ações dedefesa fitossanitária

para o HLB em São Paulo: lições para a Citricultura

do NordesteSílvia Helena G. de Miranda1

Renato B. Bassanezi2

Andréia Cristina de Oliveira Adami3

1—Professora Doutora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ-USP e pesquisadora do CEPEA. e-mail: [email protected].

2—Doutor em Fitopatologia e pesquisador científico do Fundo de Defesa da Citricultura - Fundecitrus. e-mail: [email protected]

3—Economista, doutora em Economia Aplicada. Pesquisadora do Cepea – ESALQ. e-mail: [email protected]

(Este trabalho é parte de um relatório apresentado ao projeto CNPq - “Inovação Tecnológica para Defesa Agropecuária”, que está sendo editado como um capítulo de livro.)

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SOCIOECONOMIA

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O Huanglongbing (HLB), do-ença também conhecida

como Greening no Brasil, está presente no Estado de São Paulo e sua disseminação aumenta sig-nificativamente desde março de 2004, quando foi registrada pela primeira vez. Nesse mesmo ano, em outubro, já atingia, em média, 3,4% dos talhões do Estado. Em agosto de 2011, os levantamentos amostrais de HLB realizados pelo Fundecitrus apontaram 53,4% dos talhões com pelo menos uma planta sintomática e 3,78% de plantas com sintomas no campo. Atualmente, o HLB está presente também no Sul do Triângulo Mi-neiro, Sul de Minas Gerais e no Norte e Noroeste do Paraná, com possibilidade de atingir também outras regiões, inclusive a Nor-deste (“Encontro HLB: Ameaça imi-

nente à citricultura do Nordeste Bra-

sileiro”. Embrapa/MAPA/ADAB/EBDA.

Salvador, Bahia, 27 e 28 de setembro

de 2011).

A citricultura responde por US$6,5 bilhões do PIB nacional e o Estado de São Paulo repre-senta cerca de 51% da produção mundial de suco de laranja (NE-VES et al, 2010). Um comprome-timento dessa cultura no Estado poderia representar, no médio e longo prazos, a migração da in-dústria de suco e de significativa parcela na agregação do valor do produto agrícola para outros estados, bem como de perdas de empregos melhor remunera-dos na agricultura.

O HLB afeta diversas espécies de citros, incluindo laranjas do-

ces, tangerinas, pomelos, cidra e limões, e outras espécies rela-cionadas, como a murta (Murraya spp.). Os prejuízos da doença compreendem a eliminação de árvores; a queda na produtivida-de e qualidade de frutas (BASSA-NEZI et al., 2011a); e a elevação dos custos de produção devido ao aumento de inspeções e pul-verizações para controle do psilí-deo transmissor, o que pode levar, no limite, à inviabilidade financeira da atividade e à saída de produto-res da citricultura.

Nesse contexto da doença e do peso da citricultura brasileira é re-levante discutir o papel do Estado e do setor privado nas ações para controle do HLB e de seus impac-tos. Em março de 2005, o governo federal promulgou a Instrução Nor-mativa/MAPA no 10, posteriormente substituída pela IN/MAPA no 32 de 2006, que determinou a eliminação de plantas cítricas sintomáticas e comprovadamente infectadas pela bactéria do HLB. Em 2008, uma nova Instrução, a IN no 53, visou uma maior agilidade ao processo de eliminação das plantas sintomá-ticas no campo e de fiscalização, trazendo mudanças principalmente nos critérios para inspeção, erradi-cação, elaboração e entrega dos relatórios de vistoria pelos produto-res (RUIZ et al., 2010).

As inspeções e erradicação de plantas sintomáticas em cumpri-mento à IN 53 tiveram o apoio do Fundecitrus até o final de 2009. As ações da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) do Estado, em atendimento às legis-

lações específicas para o HLB, continuam sendo executadas, porém sem agentes de defesa suficientes para a fiscalização do cumprimento da Instrução. A eli-minação de plantas com sintomas de HLB tem sido praticamente vo-luntária e ineficiente por não estar sendo realizada por todos os citri-cultores, o que leva a um aumen-to da incidência da doença, ano após ano, como constatado pelos levantamentos do Fundecitrus.

Neste artigo, propõe-se a aplica-ção da Análise Custo-Benefício (ABC) para avaliar os custos e benefícios envolvidos nas ações dos governos e do Fundecitrus no controle do HLB em São Paulo. A relação benefício-custo pode subsidiar a discussão sobre as vantagens e a importância de se manter ações integradas e coor-denadas público-privadas, tendo em vista os potenciais prejuízos do avanço do HLB.

A ABC tem sido aplicada para analisar impactos das ações de regulação de países como instru-mento de apoio na formulação de políticas públicas (MIRANDA et al, 2009). Contudo, essa ferramenta aplicada ao estudo de políticas sanitárias e fitossanitárias é re-lativamente recente e, segundo Áragon (2003), pode ser usada na determinação de impactos tam-bém sociais de um projeto.

Assim, o objetivo deste estudo é evidenciar os benefícios de medi-das de defesa fitossanitária para o HLB, através dos resultados da ABC aplicada ao caso de São

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Paulo, bem como discutir como a experiência paulista pode con-tribuir para a implementação de políticas fitossanitárias, não só de controle, mas também de preven-ção da doença, principalmente em estados em que a doença ain-da é ausente, como a Bahia.

PROCEDIMENTOS DO CÁLCULO DA ABC

A ferramenta de Análise Benefício--Custo (ABC) é usada para avaliar a magnitude dos prejuízos evita-dos pela ação conjunta em defesa fitossanitária dos órgãos oficiais de Defesa e do Fundecitrus, para um horizonte de projeção de 20 anos, tendo como período de referência o ano de 2009, quando houve uma mudança na política fitossanitária estadual para a citricultura.

O modelo de ABC para o caso de políticas de defesa agropecuária implica na identificação dos bene-fícios e custos (tangíveis e intangí-veis; diretos e indiretos) envolvidos na ação analisada. Na prática, criam-se cenários, para os quais se calculam o valor presente dos benefícios e dos custos projetados para o horizonte temporal de análi-se. Estimam-se os benefícios pela valoração das perdas que são evi-tadas pela ação das políticas de prevenção, controle e erradicação da doença. Os custos, por sua vez, compreendem as despesas dos governos com os programas de defesa e do Fundecitrus.

Levantados os dados das per-das evitadas (benefícios) e dos custos, estes são convertidos a valor presente por uma taxa de desconto, cuja escolha é rele-vante por afetar os resultados em termos de relação benefício-cus-to. A partir da soma dos valores presentes dos benefícios e custos associados com os programas de defesa e com cenários alternati-vos, torna-se possível compará--los e calcular a relação benefí-cio/custo. Uma referência para a aplicação da ferramenta da ABC é Contador (1997). Neste estudo, considerando-se a ação de defe-sa fitossanitária como investimen-to, adotou-se a TJLP como taxa de desconto, em valores reais de dezembro de 2009, de 7,1% a.a.. Para avaliar a importância da polí-tica pública através do Programa para Monitoramento, Controle e Erradicação do HLB em São Pau-lo, dois cenários foram propostos. No cenário A, não há dispêndio do governo e do Fundecitrus com programa de defesa para o HLB.

As perdas acarretadas pela bac-téria são consideradas máximas; considerando-se que apenas 30% dos produtores adotarão, espon-taneamente, o manejo adequado e procedimentos previstos pela IN 53, erradicando plantas às taxas indicadas pelo levantamento do Fundecitrus. No cenário B pressu-põe-se que o Programa é mantido ao longo dos 20 anos de proje-ção, assumindo-se que 100% dos produtores eliminarão árvores às taxas indicadas pelo Fundecitrus para manejo adequado da doen-ça. Desta forma, a produtividade dos pomares pode ser mantida nos níveis atuais. Para os Cená-rios A e B considera-se a mesma taxa de reforma anual do pomar.

Na Tabela 1 apresentam-se os dados de pés de citros nas zonas citrícolas consideradas pelo Fun-decitrus, para 2009, bem como a incidência do HLB nessas zonas para o mesmo período. Na Tabela 2, observa-se o número de plantas por idade no Estado, que foi usa-

TABELA 1

DISTRIBUIÇÃO DE NÚMERO DE PLANTAS DE LARANJA NOS POMARES DO ESTADO DE SÃO PAULO POR ZONAS DO FUNDECITRUS E LEVANTAMENTO DE INCIDÊNCIA DO HLB

Zona

2010 2009

% de plan-tas com

HLB

Número de árvores

% de árvores por

região

% de árvores

com HLB

Noroeste 0,0530 18.950.278 8,85 0,008

Norte 0.3905 45.184.964 21,10 0,0376

Centro 3,5103 71.161.424 33,22 1,3594

Oeste 0,3400 8.248.289 3,85 0,0636

Sul 2,0007 70649.853 32,98 1,2303

Total 1,8700 214.194.808 100 0,8680

Fonte: Levantamento amostral do Fundecitrus

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do para projetar a evolução dos pomares e o avanço da doença.

Dadas as informações de árvores e de incidência da doença para as cinco zonas, projetou-se a evolução do número de árvores nos cenários descritos, adotando-se como mo-delo epidemiológico o proposto por Bassanezi e Bassanezi (2008). A parcela de plantas com sintoma inicial foi obtida no levantamento amostral de abril de 2009 do Fun-decitrus (BARBOSA et al., 2009).

De posse de todas as informações projetou-se a incidência ao longo

dos 20 anos, para cada categoria de idade da planta, conforme a idade em que se observaram os primeiros sintomas; e a proporção de perda de produtividade para cada situação dessas em relação a uma planta sadia, utilizando-se o programa construído por Bas-sanezi et al (2011; não publica-do). Na sequência, o número de árvores doentes foi estimado por região, para os cenários, com base na perda de produtividade em relação às sadias. A partir dessas informações, foram cal-culadas as produções anuais de caixas de laranja.

A evolução do stand de plantas para a região de Itápolis, conside-rada de alta gravidade para o HLB, e de Jales, considerada de baixa gravidade (e também uma região de fruta de mesa), constam do Gráfico 1. Observa-se, primeira-mente, que no Cenário A o stand dos pomares cai significativamen-te na região de alta gravidade da doença em relação ao Cenário B, mas fica praticamente igual ao nú-mero de pés no Cenário B, quando se considera o município de baixa gravidade da doença.

A queda no Cenário A, para a re-gião de Itápolis é rápida devido ao insucesso no replantio de novos pomares, devido ao aumento do risco do negócio decorrente da alta pressão de inóculo existente. Entretanto, ressalta-se que no Ce-nário B, pressupõe-se que o ma-nejo indicado pelo Fundecitrus e a observância da IN53 garantirão a manutenção do número de plan-tas no Estado pelo replantio das plantas doentes eliminadas.

Com base no padrão de 2009 para a incidência da doença nas

TABELA 2

LEVANTAMENTO AMOSTRAL DE HLB (ABRIL/2009) PELO FUNDECITRUS: NÚMERO DE ÁRVORES POR IDADE DO POMAR E PARCELA DE PLANTAS DOENTES IDADE DAS ÁRVORES (ANOS)

Idade das árvores (anos)

Número de árvores

% de árvores/idade % árvores com HLB

0-2 17.452.128 8,15 0,1499

3-5 40.663.482 18,98 0,7053

6-10 45.878.755 21,42 1,3759

>10 11.200.445 51,45 0,8302

Total 214.194.808 100 0,8680

Fonte: Barbosa et al (2009)

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diferentes regiões e na consulta a especialistas, propôs-se uma classificação das regiões em qua-tro categorias, para a definição de suas taxas anuais de renovação do pomar, também adotada em Miranda et al. (2010).

Os preços para valorar as caixas de laranja nos 20 anos projetados foram obtidos pelo procedimento de simulação com base em valo-res históricos, pagos ao produtor no período de safra, para São Paulo, entre 1995 a 2010 (Gráfico 2). Esta metodologia pressupõe que os movimentos cíclicos do mercado se manterão nos perío-dos seguintes.

No Cenário A não há custos do governo ou do Fundecitrus com programas de controle e erradica-ção. No Cenário B, os custos cor-respondem aos gastos tanto do Fundecitrus quanto do Governo Federal. Além destes dois, gran-de parte dos gastos são de res-ponsabilidade dos produtores ru-rais, por exemplo, com inspeção e execução da eliminação das plantas doentes de seus poma-res, conforme obriga a legislação.

Estas despesas não são compu-tadas no presente artigo, mas Mi-randa et al (2010) incluem esses custos privados para implantação da IN 53 na análise custo-benefí-cio, obtendo relações mais baixas do que as obtidas neste artigo.

Os custos utilizados ao longo do horizonte temporal foram estima-dos através de dados fornecidos pelo Fundecitrus, assim como o montante necessário para se cumprir eficientemente a IN 53/2008 em São Paulo. Segundo pesquisadores do Fundecitros os recursos do MAPA repassados em 2009, através de convênios, para a campanha de erradicação do HLB em São Paulo totaliza-ram R$2,8 milhões, enquanto os recursos alocados diretamente pelo Fundecitrus, decorrentes de contribuições dos citricultores e da indústria moageira atingiram pouco mais de R$7,8 milhões. Es-tes dados não foram usados nes-te trabalho. A estimativa total de dispêndio é da ordem de R$ 99 milhões anuais, dos quais o mon-tante diretamente incidente sobre o Fundecitrus e governo seria da ordem de R$33 milhões ao ano,

em valores reais de 2009. O res-tante seria despendido pelos pró-prios produtores. Assumiu-se que os R$33 milhões foram mantidos como despesa com o programa durante os 20 anos de projeção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As perdas econômicas causadas pelo HLB, computadas para os dois cenários, referem-se basi-camente à redução da produtivi-dade (produção) e do stand dos pomares e são apresentadas no Gráfico 3. Nota-se que no caso do Cenário B não há perdas de produção futura pela não renova-ção, já que se assume que com o manejo adequado da doença, os produtores seriam capazes de manter o número de árvores de seus pomares.

Nos dados divididos por regiões e zonas do Fundecitrus, evidencia--se que conforme a gravidade da doença no período inicial, para o

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Cenário B, as perdas poderão ser significativas com a eliminação de plantas doentes e de uma mar-gem de segurança na erradica-ção no inicio do período. Assim, nessas regiões, as perdas se con-centram na eliminação de pés. Contudo, ao longo do período, com a recuperação do pomar e a redução na taxa de disseminação da doença no Cenário B, reduz-se este componente.

É interessante comparar esses re-sultados com os do Cenário A nos primeiros anos, quando os produ-tores não utilizam a taxa de erra-dicação recomendada para o HLB e adotada no Cenário B. Por outro

lado, no Cenário A, com a perda gradual do stand e com a queda de produtividade resultante do au-mento da severidade dos sintomas nas plantas doentes mantidas, as perdas de produção se acentuam após os primeiros três anos.

Dados os dispêndios do Funde-citrus e do governo de cerca de R$33 milhões, em valores reais de 2009, pressupondo-se que este montante se mantenha pelo prazo de 20 anos, e trazendo a valor presente pela TJLP, chega--se a um custo total de R$371,5 milhões para todo o período de projeção (Quadro 1). No mesmo quadro, observa-se que o total de

perdas acumuladas no Cenário A, ou seja, entendidas como perdas evitadas pelo Programa de Defe-sa chegam ao montante de mais de R$25,4 bilhões.

Assim, verifica-se que a relação benefício-custo do programa de defesa fitossanitária para o HLB, apenas considerando o retorno para cada real investido pelo Es-tado e pelo Fundecitrus é de 53,4. Ou seja, para cada R$1,00 investi-do, o retorno é de R$53,40, o que evidencia claramente os benefí-cios dos investimentos do gover-no na fitossanidade dessa cultura.Outro impacto econômico que pode ser identificado em estudos

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futuros é aquele sobre a arrecada-ção tributária dos governos, seja fe-deral, estadual ou municipal. Neste artigo também não se apresentam os resultados das estimativas de perdas sócio-econômicas no mer-cado de trabalho, embora se pres-suponha que à medida que os impactos produtivos ocorram na ci-tricultura, haverá uma redução nos postos de trabalho e uma migração de parte desta mão-de-obra para outras atividades.

Levando-se em conta a dificuldade de se quantificar os impactos so-ciais e ambientais, pode-se dizer que esta relação benefício-custo calculada ainda subestima o efe-tivo impacto da disseminação da doença na citricultura paulista, com potenciais externalidades negativas (aumento do inóculo) para outros estados produtores que não apre-sentam a doença atualmente.

Ações coordenadas entre as agên-cias governamentais e setor privado

são essenciais para o sucesso do controle e da redução da taxa de dispersão da doença, principalmen-te ações envolvendo os próprios produtores. Bassanezi et al. (2011b) comprovaram experimentalmente que a adoção das medidas de con-trole do HLB em áreas extensas é fundamental para viabilizar o plantio de novos pomares, garantindo sua produtividade e longevidade e re-duzindo os custos para o controle desta doença. A partir deste traba-lho e das observações no campo, iniciou-se a aplicação do conceito de Manejo Regional (ou wide-area management) do HLB em São Pau-lo e na Flórida.

CONCLUSÕES

Um entrave ao controle de sua disseminação é que as medidas recomendadas para o manejo do

HLB devem ser adotadas de ma-neira conjunta por todos os citri-cultores. Em São Paulo, apenas uma parte dos citricultores tem adotado a erradicação sistemáti-ca de plantas com sintomas de HLB, medida fundamental para o controle da doença, porque a eliminação de plantas doentes e ainda produtivas representa uma perda imediata de receita e ne-cessita de equipes treinadas para a inspeção frequente dos poma-res, o que aumenta os custos e o efeito desta medida não é sentido localmente na propriedade, mas apenas em escala regional.

A relevância deste estudo dá-se pela importância de se avaliar impactos potenciais da doença a fim de se antecipar as ações para evitar sua expansão nas regiões em que já está presente e sua introdução em áreas ainda livres. Os resultados da análise podem também subsidiar o planejamento e as ações dos setores privados potencialmente afetados pelas pragas, como o de defensivos químicos, o de pesquisa agro-pecuária genética, e os próprios agentes produtivos e industriais.

A adoção da ferramenta analítica de Custo-Benefício permitiu evi-denciar que os retornos aos in-vestimentos do Estado e entida-des no controle fitossanitário são elevados, mesmo não quantifi-cando todos os impactos econô-micos, sociais e ambientais. Este tipo de análise pode alertar as autoridades e os segmentos da iniciativa privada sobre a neces-sidade de se investir na defesa e

QUADRO 1RESULTADOS DA ABC PARA O PROGRAMA DE DEFESA FITOSSANITÁRIA DO HLB DO ESTADO DE SÃO PAULO. HORIZONTE DE PROJEÇÃO: 2009 A 2028 (TAXA DE DESCONTO TJLP)

Ano Base2009

VPL (R$ 1.000) – Taxa de Desconto = TJLP (20 anos)

Cenário A(Com a Doença e sem

Programa Fitossanitário)

Cenário B(Com Programa Fitossanitário)

Valor de Produção 22.682.216,28 40.899.872,53Perdas de Produção 23.979,243 4.157.128Perdas Totais (Perdas Evitadas) 25.431.129,08 4.157.128,18Benefícios = Perdas Evitadas no Cenário pelo Programa Fitos-sanitário

19.822.114,85

Custos

Governo + Fundecitrus 0 371.531,68Custo Líquido 371.531,68Perdas Líquidas Evitadas (Perdas Evitadas – Custos) 19.450.583,17

Relação Benefício – Custo do Programa Defesa Governo + Fundecitrus 53,4

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REFERÊNCIAS

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de adotar ações coordenadas e regionais.

O Estado de São Paulo, que atualmente sofre perdas signi-ficativas pelo HLB, pode ser-vir de exemplo para os demais estados dos prejuízos que po-dem decorrer da doença, assim como a experiência acumulada

com a mesma desde 2004 e o intercâmbio com pesquisado-res da Flórida produzem reco-mendações essenciais para que outros estados possam adotar políticas preventivas e de con-trole mais eficazes. Mais além, podem contribuir com subsídios para a estruturação de medidas emergenciais no caso da disse-

minação da doença em estados hoje livres da doença.

A ausência do efetivo cumpri-mento do programa oficial de erradicação do HLB em São Paulo pode facilitar a dissemi-nação da doença para outros estados do país, o que amplia seus efeitos e compromete ain-da mais a atividade, levando ao risco de gerar elevada ca-pacidade ociosa na indústria e choques sobre a exportação brasileira de suco. No Nordeste, onde a fruta é produzida para consumo in natura e a estrutura de produção é menos integra-da com a indústria, os efeitos de uma possível introdução da doença podem ser ainda mais drásticos, principalmente so-cialmente.

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Joelito de Oliveira Rezende1

1—Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Professor Titular do Centro de Ciências Agrárias Ambientais e Biológicas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia-UFRB, dedicado a estudos nas áreas de Física e Manejo dos solos agrí[email protected]

O Estado de São Paulo tem atu-ação destacada nessa ativi-

dade econômica, gerando mais de 500 mil empregos diretos e indire-tos. Os principais fatores respon-sáveis por esse desempenho são: condições ecológicas favoráveis; grande disponibilidade de área; demandas de suco concentrado de laranja no mercado externo e de frutos in natura no mercado inter-no para fabricação do suco, além de suporte tecnológico dado por instituições de pesquisa e desen-volvimento. Como desvantagem, aparece, principalmente, a vulnera-bilidade às doenças, especialmen-te viróticas e bacterianas. A Tabela 1 contém informações sobre área colhida, produção e rendimento de laranja, limão e tangerina nos prin-cipais estados produtores brasilei-ros, em 2009 (IBGE, 2010).

A Bahia é o segundo produtor na-cional e primeiro das Regiões Norte e Nordeste. A Figura 1 mostra a dis-tribuição geográfica das principais regiões produtoras e potenciais de citros no Estado. Em extensão de área plantada (igual à área colhida), tem como principais produtores as Regiões Litoral Norte/Agreste de Alagoinhas (64,4 %) e o Recôncavo Sul (13,1%) (IBGE, 2010).

O município de Rio Real, locali-zado no Litoral Norte da Bahia, participa com cerca de 35,4% da área colhida (igual à area plan-tada) e de 39,9 % da produção, destacando-se como primeiro produtor de citros do Estado e das Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Nesse município, além da laranja, responsável por 93,1% da produção, os agricultores também

Um olhar sobre a citricultura do Estado da Bahia

Foto:Sílvio Ávila/Editora Gazeta

SOCIOECONOMIA

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cultivam limão (5,1%) e tangerina (1,8%). Metade da produção abas-tece indústrias e mercado interno. Em ordem decrescente de partici-pação, seguem os municípios de Itapicuru e Inhambupe, localizados na Regiäo do Agreste, os quais contribuem, respectivamente, com 16,8 % e 10,1 % da área colhida e de 15,5 % e 7,4 % da produção.

O principal berço da citricultura baiana é a Grande Unidade de Paisagem Tabuleiros Costeiros. Trata-se de “formações terciárias que se distribuem por quase toda a faixa litorânea do Brasil. Estima--se que, no Brasil, as áreas de ta-buleiros abrangem 20 milhões de hectares, sendo que nove a dez milhões encontram-se na Região Nordeste, constituindo a principal base de sustentação agrícola dos estados e capitais da costa orien-tal do Brasil. Tais áreas são predo-minantemente úmidas, com preci-pitações pluviais médias anuais,

TABELA 1

ÁREA COLHIDA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO DE LARANJA, LIMÃO E TANGERINA NOS PRINCIPAIS ESTADOS PRODUTORES BRASILEIROS, EM 2009

Estado Área Colhida Produção Rendimento

Laranja

São Paulo 551.901 13.642.165 24,72Bahia 55.755 906.965 16,27Sergipe 53.001 784.382 14,80Minas Gerais 30.549 749.987 24,55Paraná 20.000 520.000 26,00Outros 76.044 1.014.951 13,35BRASIL 787.250 17.618.450 22,38

LimãoSão Paulo 24.714 674.104 27,28Bahia 2.761 53.004 19,20Minas Gerais 2.990 51.191 17,12R. G. do Norte 119 45.614 38,31Acre 121 29.340 24,48Outros 10.324 119.184 11,54BRASIL 41.029 972.437 23,70

TangerinaSão Paulo 15.852 415.054 26,18Paraná 10.684 271.845 25,44Rio G. do Sul 12.520 146.352 11,69Minas Gerais 6.911 132.795 19,22Rio de Janeiro 1.771 36.646 20,69Outros 7.076 91.737 12,96BRASIL 54.814 1.094.429 19,97

Fonte: IBGE, 2010

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no Nordeste, variando de 400 a 600 mm nos Sertões de Pernam-buco, Bahia e Piauí. Na Bahia, a temperatura média anual varia de 23 a 24 ºC, no litoral, e de 24 a 26 ºC, nas regiões mais secas” (JA-COMINE, 1996).

A importância social e econômica dos Tabuleiros Costeiros deve-se às grandes concentrações urba-nas, à diversidade de exploração agrícola – com grande potencial para a produção de alimentos, à ampla infraestrutura de transporte rodoviário e terminais marítimos para escoamento da produção e por abrigar grande parte da Mata Atlântica ainda existente no país.

Nessa Grande Unidade de Paisa-gem, os principais solos (Latosso-los Amarelos Coesos e Argissolos Amarelos Coesos) caracterizam--se como profundos, ácidos, álicos [CTC ≥ 50% de saturação por alu-mínio trocável], baixa capacidade

de troca catiônica e presença fre-quente de horizontes coesos (Figu-ra 2). As espécies vegetais, tempo-rárias e perenes, cultivadas nesses solos, algumas vezes com irrigação suplementar apresentam, em geral, baixo vigor vegetativo, reduzida lon-gevidade e baixas produções, com-parativamente aos mesmos cultivos instalados em outras unidades de paisagem devido a uma relação solo-planta fortemente influenciados pela baixa disponibilidade de nu-trientes, acidez elevada e pela estru-tura peculiar dos horizontes coesos (REZENDE, 2000). Historicamente, esses problemas foram subestima-dos em virtude da paisagem apa-rentemente favorável ao uso agríco-la, representada pelo relevo plano a suave ondulado, solos profundos e clima (CINTRA, 1997).

O termo coeso, com significado de tenaz, tem sido empregado para distinguir horizontes minerais subsuperficiais do solo que se

apresentam duros, muitos duros ou até extremamente duros quan-do secos, e friáveis quando úmi-dos. Tais horizontes não exibem agregados, salvo alguns relacio-nados com a atividade biológica – na verdade, o horizonte todo é um único e gigantesco agregado, pois não mostra planos de cliva-gem, apresentando, do ponto de vista da Pedologia, uma estrutura maciça que se quebra em frag-mentos angulosos. Essa variação da consistência desses solos – de dura (ou tenaz) quando secos a fiável quando úmidos – “é uma característica relevante, pois su-gere que as práticas de manejo devem contribuir para conservar a umidade do solo não apenas como fator de produtividade, mas como benefício à menor resistên-cia física à penetração de raízes” (SOUZA et al., 2000).

A faixa de solos onde se encon-tram os principais polos citrícolas

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dos Estados da Bahia e Sergipe é mostrada na Figura 3. No mapa, a cor amarelo corresponde aos Latossolos Amarelos; a cor ver-melho-claro, aos Argissolos Ama-relos. Nota-se que a citricultura dos dois Estados está assentada predominantemente nos Argisso-los, seguido dos Latossolos.

A faixa de solos onde se encon-tram os principais pólos citrícolas dos Estados da Bahia e Sergipe. No mapa, as classes de solos são distinguidas pelas cores: amarelo corresponde aos Latos-solos Amarelos; vermelho-claro, aos Argissolos Amarelos. Nota--se que a citricultura dos dois Estados está assentada predo-minantemente nos Argissolos, seguido dos Latossolos.

Quanto ao clima, sabe-se que a água requerida nos processos metabólicos e de transferência das plantas pode ser dificultada bela baixa aeração do solo, e/ou pela alta resistência mecâni-ca em solo à penetração, e/ou pelo pequeno intervalo de água disponível (LETEY et al., 1962). É bastante conhecido o efeito provocado pelos veranicos nas plantas com sistema radicular pouco desenvolvido: quando o desenvolvimento dessas plantas é prejudicado pela falta de oxigê-nio no solo, aumenta a resistên-cia das raízes para extrair água (KRAMER, 1983) e a resistência dos estômatos para liberá-la na forma de vapor (SOJKA; STOL-ZY, 1980), causando diminuição da absorção de nutrientes e da fotossíntese.

Além de solos férteis (permeá-veis, com fraca acidez, adequa-do suprimento de nutrientes, ar e água) “a planta cítrica vive me-lhor em áreas com pluviosidade mínima de 1300 mm de chuvas bem distribuídas ao longo do ano. Entretanto, o balanço hídri-co climatológico de várias loca-lidades dos Tabuleiros Costeiros, calculado para 100 mm de ca-pacidade de armazenamento de água no solo, apresenta déficit hídrico durante um período do ano” (SOUZA et al., 2000).

Atualmente, face à limitação de área disponível e ao preço das terras na faixa dos Tabuleiros Costeiros, o cultivo dos citros tem-se expandido para a Região do Agreste, mais seca, a exemplo do que ocorrem nos municípios

de Itapicuru, Inhambupe e outros, com pluviosidade média anual em torno de 750 mm.

Apesar dessas limitações agrí-colas, os Tabuleiros Costeiros têm revelado grande capaci-dade atual e potencial para a produção de alimentos, princi-palmente fruticultura (laranja, limão, mamão, graviola, bana-na, abacaxi, maracujá, acerola, goiaba, coco, etc.), matéria-pri-ma para a indústria e biocom-bustíveis (SOUZA et al., 2000). São notáveis os exemplos de êxitos de empreendimentos agrícolas localizados nesse ecossistema, devido, entre ou-tras causas, ao consciente e adequado manejo que os pro-dutores dispensam a suas ter-ras (REZENDE et al., 2002).

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Em 1996, a UFBA por intermédio da Escola de Agronomia e do Insti-tuto de Geociências e a EMBRAPA por intermédio do CNPMF e CPA-TC, com o apoio financeiro da Se-cretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária da Bahia, reuniram um expressivo número de estudio-sos (professores, pesquisadores, estudantes, etc.) para avaliar os so-los Coesos dos Tabuleiros Costei-ros. Essa Excursão iniciou em Cruz das Almas, Bahia, e terminou no Platô de Neópolis, Sergipe. Devido ao interesse dos participantes e re-sultados positivos dessa excursão, outra, com o mesmo propósito, organizada pela CEPLAC (1988), e novamente financiada pela SEA-GRI-BA, contou novamente com a participação de renomados cientis-tas de solos do Brasil.

Na Bahia, com algumas exce-ções, o preparo do solo é feito com arados de disco e/ou gra-de pesada. Esses equipamentos não resolvem o problema causa-do pelo adensamento dos solos coesos dos Tabuleiros Costeiros. Haynes (1970), pesquisador e consultor estadunidense, traba-lhando juntamente com Luiz Be-zerra de Oliveira, então pesqui-sador do Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuária do Nordeste (IPEANE), ao avaliarem alguns desses solos no Estado de Pernambuco recomendaram a prática da subsolagem para me-lhorar sua estrutura e, conseqüen-temente, aumentar a produção agrícola nos Tabuleiros Costeiros

Estudo dessa natureza, iniciado em 1988 na Fazenda Lagoa do

Coco, município de Rio Real-BA, mostraram que a subsolagem associada ao calcário dolomítico + gesso agrícola melhorou o am-biente radicular de plantas cítri-cas: a subsolagem reduziu signifi-cativamente a resistência do solo à penetração das raízes, contri-buindo inclusive para melhorar a circulação de ar, água e nutrientes ao longo do perfil: as plantas mais desenvolvidas, vigorosas e com frutos de melhor qualidade foram aquelas cujas raízes exploraram um volume maior de solo distri-buído pelas hastes subsoladoras (BRANDÃO, 2005).

Motivados pelos excelentes resul-tados desse trabalho e de outros realizados por pesquisadores do CNPMF, o Governo do Estado da Bahia, com o apoio técnico da EBDA, ADAB, UFRB e CNPMF, lan-çou o Programa de Revitalização da Citricultura do Estado (BAHIA-CITROS) - com ênfase no manejo dos solos Coesos dos Tabuleiros Costeiros – o qual, nos dois anos seguintes, resultou em significati-vos benefícios ambientais, econô-micos, sociais e científicos.

No ano 2000, na Fazenda La-goa do Coco, Em Rio Real, sob a coordenação da UFRB, estu-dos com o objetivo de se avaliar a possibilidade de plantas com porta-enxertos plantados no local definitivo desenvolverem-se bem em solos com horizontes densos, sem a necessidade de subsolagem (prática dispendiosa) e sem prejuí-zo da produtividade (Figura 4). Os pomares instalados dessa maneira têm-se revelado fitotécnica, econô-

mica, social e ambientalmente mais vantajosos do que aqueles originá-rios do plantio de mudas.

Até o momento, a análise es-tatística tem mostrado que não há diferença significativa entre as áreas com e sem subsola-gem, ou seja, nesse sistema de plantio a subsolagem é dispen-sável – o que é excelente, prin-cipalmente para o pequeno citri-cultor, pois essa prática é cara. Resultados semelhantes, com o mesmo porta-enxerto, têm sido obtidos com tangerineira tange-lo ‘Page’ e limeira ácida ‘Tahiti’. Também com as cultivares laran-jeira ‘Pêra’, tangerineira tangor ‘Murcot’ e limeira ácida ‘Tahiti` enxertadas nos limoeiros ‘Cravo’ e “Volcameriano”, tangerineiras ‘Cleópatra’ e ‘Sunki Tropical’, além de TSK x TRENG 256 (hí-brido de ‘Sunki Tropical’ com ‘Poncirus trifoliata’).

O pior desempenho dos pomares originárias do plantio de mudas, formadas principalmente em vi-veiros telados, deve-se ao fato de que esse sistema de produção é uma simplificação grosseira do sistema natural de produção agrícola solo-planta-clima. No processo de formação de mudas, substitui-se o solo natural por uma bolsa plástica, impermeável e in-transponível, contendo um volu-me de substrato artificial, fofo, na qual as raízes ficam confina-das, enoveladas e impedidas de se expandir (Figura 5). Além disso, o clima natural é também substituído pelo clima artificial do viveiro no qual as plantas

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são submetidas à fertiirrigações diárias e, por isso, não sofrem estresses hídricos nem de nu-trição, como sói acontecer no ambiente natural. Tais plantas ao deixarem essa hospedaria, limpas, porém não imunes às pragas, passarão a enfrentar os rigores do meio natural, sem a devida aclimatação, resultando em pomares menos vigorosos, com desenvolvimento deficien-te – fato que tem sido relatado por inúmeros citricultores baia-nos e sergipanos.

O Ministério da Agricultura esta-beleceu alguns requisitos para a conformação e vigor da muda cítrica, entre os quais se encon-tram os seguintes: apresentar sistema radicular bem desen-volvido, sem raízes enoveladas,

retorcidas ou quebradas, com a raiz principal direita [?] e com-primento mínimo de 25,0 cm [?] (COELHO, 1996). Analisando-se cuidadosamente tais requisitos, chega-se à conclusão de que é impossível produzir plantas com tais características, quer seja em viveiros instalados em campo, a céu aberto, ou em viveiros tela-dos nos quais as mudas são pro-duzidas em recipientes rígidos e de pequeno volume (tubetes, vasos plásticos, bolsas de po-lietileno etc.). Nesses recipien-tes, as raízes jamais se desen-volverão bem, o enovelamento delas é inevitável e as drásticas e sucessivas podas que sofrem quando da realização do trans-plantio sementeira-viveiro-local definitivo, com eliminação da raiz principal, alteram a morfologia e

fisiologia da planta prejudicando seu desenvolvimento, pois ela passa a utilizar energia metabó-lica para repor partes danificadas (REZENDE, et al., 2002).

Segundo Cutter (1986), a coifa da raiz é aparentemente o local de percepção da gravidade. Pa-rece ser ela capaz de controlar no meristema apical da raiz a produção de substâncias regu-ladoras do crescimento envolvi-das no geotropismo positivo, ou seja, no crescimento das raízes ao longo do perfil do solo. Ao se eliminar a coifa, deixando-se o resto da raiz intacta, não haverá prejuízo no crescimento, porém a raiz não mais reagirá ao es-tímulo da gravidade, crescendo aleatoriamente. Subentende-se que, ao se podar a raiz principal acima do meristema, muda-se a arquitetura original do siste-ma radicular pivotante, transfor-mando-o num sistema radicular formado por raízes adventícias (que brotam na base do caule), superficiais, ficando as plantas mais vulneráveis às intempé-ries, especialmente em regiões de solos adensados de baixa fertilidade e com má distribui-ção de chuvas, tal como ocorre nas principais regiões produ-toras de citros dos Estados da Bahia e Sergipe.

Desde que iniciaram as pesqui-sas com o plantio do porta-enxer-to cítrico no local definitivo, há treze anos, alguns pesquisadores têm manifestado preocupação quanto aos riscos da pronta infestação de pragas nos pomares recém implan-

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tados – a exemplo das que são res-ponsáveis pela Clorose Variegada do Citros – CVC, conhecida popular-mente como amarelinho, baseando--se no fato de que mudas formadas a céu aberto ficam mais vulneráveis a elas. Recentemente, esse assunto foi muito discutido durante uma re-cente excursão técnica, interdiscipli-nar e interinstitucional, que teve por objetivo: reunir profissionais envolvi-dos na cadeia produtiva dos citros a fim de se avaliar aspectos técnicos da citricultura nas principais regiões produtoras da Bahia (Litoral Norte e Agreste de Alagoinhas); identificar ações emergenciais de pesquisa e financiamento para os Estados da Bahia e Sergipe, cujas áreas pro-dutivas apresentam características similares. Esta Excursão Técnica com visitas a diversas propriedades citrícolas localizadas nas Regiões

Agreste e Litoral Norte do Estado da Bahia, em setembro de 2011, con-tou com a participação de 63 repre-sentantes de 23 instituições (ensino, pesquisa, assistência técnica, agên-cias de crédito e fomento, secreta-rias municipais de agricultura, asso-ciações técnicas e de citricultores, entre outras).

De acordo com o pesquisador Her-mes Peixoto Santos Filho, fitopatolo-gista da Embrapa Mandioca e Fruti-cultura (comunicação pessoal),

...baseando-se em trabalhos científicos

publicados, pode-se verificar que o vigor

da planta pode torná-la mais resistente

a determinada praga ou mais suscetível

à outra dependendo da sua forma de

penetração e colonização dos tecidos,

do modo de ataque à especificas partes

da planta, tipo de anormalidade causa-

da ao tecido, entre outros fatores. Nor-

malmente os insetos sugadores de sei-

va, preferem as plantas mais vigorosas;

alguns fungos que causam doenças de

plantas podem ter agravado o seu qua-

dro sintomatológico em plantas menos

vigorosas ou com nutrição inadequada.

Tenho tentado fundamentar alguns pon-

tos de vista meus sobre plantio de por-

ta-enxerto no local definitivo com outros

colegas e as respostas não são anima-

doras para o sistema em face da CVC

e do greening. (...) Em minha opinião,

teremos que criar um grupo de traba-

lho, interdisciplinar, para discutir sobre o

plantio de porta-enxerto em local defini-

tivo, avaliando o tema com rigor científi-

co, sem achismos ou paixões.

As ponderações do pesquisador. Hermes Peixoto sobre a necessi-dade de pesquisas para se avaliar os riscos de infestação de pragas em pomares originários do plantio do porta-enxerto cítrico no local definitivo são indiscutíveis. Trata--se de uma nova frente de traba-lho a ser abraçada principalmente por pesquisadores envolvidos com genética, nutrição de plan-tas, fisiologia vegetal, entomo-logia, fitopatologia, entre outras. Cumpre pesquisar!

Convém considerar, entretanto, que os dados científicos sobre os quais se referiu o Dr. Hermes Peixoto são resultantes de pes-quisas realizadas em viveiros a céu aberto. Na concepção da prática, há clara diferença entre esses viveiros e a implantação do pomar utilizando-se o sistema de “plantio direto”: no primeiro caso, há um grande número de plan-tas por unidade de área – o que

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concorre para a proliferação das pragas e dificuldade para contro-lá-las; no segundo caso, tal qual se faz com o plantio de mudas, os porta-enxertos são plantados no espaçamento definitivo, largos, com baixa quantidade de plantas em relação ao viveiro. Visto dessa maneira, conclui-se que os riscos de infestação são os mesmos para os dois sistemas de plan-tio (convencional e porta-enxerto no local definitivo). É necessário, entretanto, cuidar mais cedo dos pomares originários de porta-en-xerto plantado no local definitivo. O Ministério da agricultura esta-beleceu, por meio de regulamen-tação, que as mudas produzidas para fins comerciais têm que ser formadas obrigatoriamente em ambiente protegido (telado) a fim de se garantir, ao usuário, plantas

livres de pragas; entretanto, se-gundo essa mesma regulamenta-ção, o produtor rural que desejar poderá instalar em sua proprieda-de pomares originários de plantas formadas no próprio local. Trata--se aqui de plantas para uso pró-prio, e não para venda.

Os enfáticos testemunhos dos citricultores visitados durante a Excursão Técnica atestam que pomares cítricos resultantes do plantio do porta-enxerto cítrico no local definitivo são mais vi-gorosos, precoces, produtivos e menos vulneráveis a pragas do que aqueles resultantes do plan-tio de mudas. Atualmente há cer-ca de 500 hectares de citros na Bahia plantados por meio dessa técnica. O geneticista Walter dos Santos Soares Filho, da Embra-

pa Mandioca e Fruticultura, fez as seguintes considerações no relatório que apresentou a sua Instituição quando do término da Excursão Técnica:

...Os objetivos da viagem foram plena-

mente cumpridos. É grande o interesse

pelo uso da técnica do “plantio direto”

de citros na região, sendo flagrante a

disposição de sua adoção, tanto da

parte de pequenos como de grandes

citricultores, conforme se verificou nos

assentamentos de produtores de base

familiar e nas fazendas de maior por-

te visitadas. Diante desse fato, cabe à

Equipe Citros da Embrapa Mandioca e

Fruticultura intensificar esforços no sen-

tido de oferecer aos produtores que es-

tão aplicando a referida técnica informa-

ções que permitam a sustentabilidade

da citricultura na região, atualmente a

maior produtora de citros do Estado da

Bahia, particularmente no que concerne

ao controle de doenças com grande po-

tencial destrutivo, com destaque para a

CVC e o HLB. Notou-se claramente o

interesse dos citricultores, notadamente

aqueles de maior porte, relativamente

à diversificação de variedades, tan-

to copas como porta-enxertos. Nesse

contexto, a tangerineira ‘Sunki Tropical’

destaca-se como porta-enxerto com

grande potencial de uso imediato.

Entende-se que o melhor negócio para a citricultura é a semeadura do porta-enxerto no local definiti-vo, na cova de plantio, como se faz na Fazenda Lagoa do Coco há onze anos; ou a semeadura deles em bolsas plásticas, levadas em momento oportuno para o campo, onde se fará a enxertia, a exemplo do que tem sido feito por outros citricultores. Em ambos os casos,

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a utilização de sementes e borbu-lhas certificadas é obrigatória.

Produzir apenas porta-enxertos em viveiros telados resulta nos seguintes benefícios principais: 1) o tempo de permanência deles nesses viveiros será muito menor do que aquele dispensado às mu-das (levará apenas alguns dias, isto é, da germinação da semente até a chegada da raiz pivotante da planta ao fundo do recipien-te, sem enovelar - isso contribui-rá para diminuir sensivelmente o estresse da planta, resultando em pomares mais vigorosos e produ-tivos; 2) necessidade de viveiros mais simples, mais econômicos e mais fáceis de manejar; 3) au-mento da rotatividade de plantas dentro do viveiro, o que otimizará o espaço disponível no telado; 4) preço de compra do porta-enxer-to menor do que o de mudas, o que beneficiará principalmente os pequenos produtores - para os vi-veiristas, essa diminuição do pre-ço da planta vendida seria com-pensado pelo número de plantas produzidas por unidade de área e por unidade de tempo; 5) oportu-nidade de trabalho para enxerta-dores qualificados, que poderão ser contratados para fazerem a enxertia das plantas originárias desse sistema de plantio, como se faz, por exemplo, na Fazenda Lagoa do Coco.

Entende-se ainda, que a pro-posta de adoção do plantio do porta-enxerto cítrico no local definitivo – uma técnica viável inclusive para outros cultivos perenes, tais como, coco, caju,

cacau, café, etc. – não exclui a importância econômica e social da produção de mudas como parte do agronegócio citros. Tal importância é inegável. Os dois sistemas de plantio, não são excludentes, e sim comple-mentares. Aos interessados na compra de mudas – e são mui-tos! – deve-se assegurar a aqui-sição de material genético de qualidade, limpo, ou seja, livre de pragas – e isso só será pos-sível em ambiente protegido. Es-ses citricultores precisam saber, entretanto, que tais mudas são apenas limpas, porém não imu-

nes às pragas; por isso, ao ins-talarem seus pomares, têm que lhes dispensar os devidos tratos culturais, principalmente quanto ao rigoroso controle fitossanitá-rio, pois muitos deles pensam que ao comprar uma muda pro-tegida estarão livres disso...

O desafio maior que se impõe atu-almente aos que atuam na cadeia produtiva dos citros na Bahia é viabilizar uma citricultura predomi-nantemente de base familiar (80% de propriedades menores do que dez hectares) e que abriga, veste e alimenta milhares de pessoas

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que dependem exclusivamente dessas propriedades. Nesse con-texto, as seguintes limitações pre-cisam ser superadas:

a) baixo ou nenhum grau de es-colaridade de expressiva maioria dos pequenos citricultores – o que dificulta a todos eles tocarem so-zinhos seus pomares, pois jamais conseguirão decodificar, sem a intervenção da assistência técni-ca continuada, o complicado lin-guajar da Agronomia (casamento de engenharia com biologia), para compreender e por em prática re-comendações sobre manejo do

solo, adubação, controle de pra-gas, podas, etc., imprescindíveis para se conseguir produtividades compensadoras;

b) baixa relação número de téc-nicos extensionistas/número de citricultores carentes de assistên-cia. Em que pese o reconhecido empenho e competência dos pro-fissionais que atualmente militam nessa interface, na Bahia, é impos-sível imaginar – e desumano exigir – que os que estão atualmente dis-poníveis consigam assistir de for-ma eficiente ao atual contingente de produtores carentes de orien-

tação. Os números são claros: a área plantada de citros na Bahia aumentou significativamente nos últimos anos, aumentando signifi-cativamente o número de peque-nos citricultores engajados nesse processo. No entanto, não tem havido a devida contrapartida da contratação de técnicos para as-sistir a essa amazônia de produto-res rurais – situação agravada pela diminuição gradativa do número de técnicos inclusive por aposenta-dorias. Torna-se urgente, portanto, uma pronta intervenção dos gover-nos estadual e municipal para que essa relação se torne mais justa, eficiente e humana nesse proces-so de ensino-aprendizagem. En-tendemos que a relação ideal seria um técnico para cerca de 40 a 50 famílias, exigindo-se desse técnico uma produtividade mensal prees-tabelecida. Salvo melhor juízo, isso seria possível compartilhando-se responsabilidades mediante par-ceria entre o Governo do Estado, Senar, Prefeituras Municipais, en-tre outras;

c) carência de mais pesquisas voltadas para a citricultura fami-liar, pois pacotes tecnológicos disponíveis considerados ideais nem sempre alcançam o peque-no produtor, por estarem fora de sua realidade;

d) dificuldade de recursos finan-ceiros enfrentada principalmente pelos pequenos citricultores, para implantação das práticas agríco-las e de outras benfeitorias ne-cessárias em suas propriedades. O que fazer, por exemplo, para se evitar uma possível crise so-

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cial, com tensões no campo, se os pequenos produtores de mu-das – das quais dependem para sobreviver –, ficarem fora desse processo por falta de condições financeiras para instalar os vivei-ros telados, obrigatórios a partir de 2013? Se isso ocorrer, bene-ficiará exclusivamente a quem tem poder aquisitivo... É preciso, portanto, viabilizar crédito tem-pestivo, suficiente e justo para esses credores, resolvendo-se, inclusive, de forma a não preju-dicar nenhuma das partes envol-vidas, a situação dos que estão inadimplentes, vitimas das osci-lações do mercado;

e) falta de mercado justo e segu-ro, que possibilite confiança aos produtores para investirem mais em seus pomares.

f) falta e/ou deficiente organiza-ção dos produtores em asso-

ciações ou cooperativas, pelas seguintes razões: desmotivação, por já terem sido enganados ou porque alguns administradores dessas entidades de ação cole-tiva mostraram-se monopolista (decidiam sozinhos); mau uso do bem comum, inclusive dinheiro; intervencionismo político partidá-rio, gerando intrigas, discórdias e desavenças entre associados e/ou cooperados; falta de compro-misso coletivo (individualismo), entre outras. Se não conseguirem superar essas dificuldades – o que não é fácil –, fica difícil uma ação coletiva e necessária contra, por exemplo, a avareza de contu-mazes atravessadores e de indús-trias de esmagamento de frutos.

Nos últimos quinze anos vimos participando de discussões (em seminários, dias de campo, sim-pósios, congressos, reuniões téc-nicas, elaboração de planos de

governo, palestras, etc.), relacio-nadas com a citricultura baiana. Temos compartilhado da preocu-pação de muita gente envolvida e interessada na solução dos pro-blemas dessa citricultura. Durante essa caminhada, vivenciamos sa-tisfações (quando das questões resolvidas – e muito se fez!) e de-salentos (pela energia dispendida e não devidamente aproveitada, por descaso e/ou desinteresse). O fato é que a luta continua. Nes-se sentido, um passo de notável qualidade foi dado recentemente pelo atual Governo do Estado, por intermédio da Secretaria da Agricultura: a criação da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva dos Citros. Nessa Câmara, um grupo de pessoas pretende, com fide-lidade, profissionalismo, dedica-ção e zelo, ser o sonante grito da citricultura e dos citricultores nos atentos ouvidos do Governo. Que assim seja!

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Algumas sugestões de caráter emergencial foram apresentadas, recentemente, à SEAGRI por essa Câmara, para pronta ação do Go-verno, entre as quais se encontra a imperiosa necessidade de se con-ter e/ou evitar o célere e silencioso avanço – por terra, ar e mar –, de ter-ríveis inimigos naturais dos citros,

a exemplo dos insetos vetores do patógeno responsável pela Cloro-se Variegada dos Citro – devasta-dores e presentes em várias zo-nas citrícolas da Bahia –, assim como dos insetos vetores do patógeno responsável pela HLB (huanglongbing, ex-greenin), co-nhecida como “doença do ramo

amarelo” – que tem inviabilizado a citricultura em muitas partes do mundo, a exemplo do que ocorre no Brasil, no Estado de São Paulo. Ainda não chegou à Bahia, mas certamente chegará. É apenas uma questão de tempo! Ganhar essa guerra é dever pátrio, portan-to, de todos os cidadãos baianos!

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Weber Marcilio Malheiro Aguiar1

Antônio Souza do Nascimento2

A manga é uma fruta nativa da Índia, sudeste do continen-

te asiático e das ilhas circunvizi-nhas, sendo um dos melhores e dos mais largamente aproveita-dos frutos de origem tropical. É interessante comentar que o pro-

1— Engenheiro Agrônomo, Msc, Fiscal Estadu-al Agropecuário da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia - ADAB – Livramento de Nossa Senhora – BA;e-mail: [email protected]

2— Engenheiro Agrônomo, Dsc, Pesquisador da Em-brapa Mandioca e Fruticultura – Cruz das Almas – BA;e-mail: [email protected]

cesso de disseminação dessa fruta foi bastante lento, visto que, ela somente alcançou outras ter-ras depois de ser cultivada a mais de quatro séculos em suas regi-ões de origem. A viagem da manga pelo mundo iniciou-se apenas com a descoberta das rotas comerciais marítimas entre a Europa e a Ásia no início do século XVI. Foram os portugueses que tiveram o mérito de executar esse deslocamento, levando a manga primeiro para as costas leste e oeste da África e trazendo-a depois para a América (ARAÚJO, 2004).

A entrada da manga no Brasil foi por volta de 1700 na Bahia, sendo as mudas procedentes da Índia. Daqui, foram para o México no sé-culo XIX, de onde seguiram para a região da Flórida. Atualmente a manga é cultivada em todos os países da faixa tropical e equato-rial do planeta (SILVA, 1999).

Moscas-das-frutas é o termo usado para designar um grupo de pragas da família Tephritidae cujos efeitos econômicos têm sido mundialmente reconhecidos. São insetos que causam dano di-reto ao produto final, o fruto, sen-do classificados como pragas- chaves das fruteiras e, como tal, atinge o nível de dano econômico em densidades populacionais baixas, merecendo cuidados especiais durante o período de frutificação, sobretudo em poma-res orientados para o mercado externo. Por causa dos inúmeros prejuízos que causam, têm sido estabelecidas numerosas barrei-ras fitossanitárias entre países e regiões, e organizadas continua-mente campanhas multimilioná-Agropecuária da Bahia - ADAB – Livramento de Nossa

Senhora – BA;e-mail: [email protected]

2— Engenheiro Agrônomo, Dsc, Pesquisador da Em-brapa Mandioca e Fruticultura – Cruz das Almas – BA;e-mail: [email protected]

mente campanhas multimilioná-

Análise dos custos doprograma de controledas moscas-das-frutasna cultura da manga no polo frutícola do Vale do Rio Brumado, BA

SOCIOECONOMIA

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rias para a sua erradicação. As finalidades básicas do monitora-mento podem ser resumidas em: pesquisa científica – identificação e distribuição de espécies; cer-tificação de uma região ou pais quanto à ausência de uma de-terminada espécie-praga – área livre; programa de erradicação de uma espécie-praga; programa de manejo integrado. A eficiência do monitoramento de adultos de moscas-das-frutas está na de-pendência da qualidade do atra-tivo (alimentar ou sexual), do tipo de armadilha utilizado e de sua lo-calização no campo (NASCIMEN-TO et al., 2000).

A análise dos custos do Progra-ma de Controle das Moscas-das--frutas busca caracterizar essa atividade, identificando os seus pontos vulneráveis e frágeis, e dessa forma auxiliar na definição de novos rumos para a atividade agroindustrial da manga na região.

A importância econômica das moscas-das-frutas pode variar segundo o país, região, hospe-deiro e época do ano. Em algu-mas regiões elas chegam a com-prometer 100% da produção de frutos e podem infestar mais de 400 espécies de frutas, sendo considerada uma das principais pragas, que afeta a fruticultura em todo o mundo.

Os países importadores da man-ga in natura estabelecem fortes barreiras quarentenárias, com destaque para as moscas-das--frutas, resultando em uma sé-rie de exigência para o sistema

de produção como monitora-mento populacional da praga, cadastramento dos pomares e tratamento pós-colheita da fruta (ARAÚJO et al., 2004)

Um dos maiores obstáculos à pro-dução e livre comercialização de frutas frescas no Brasil e no resto do mundo é a presença de mosca--das-frutas nas áreas comerciais. As moscas-das-frutas são uma preocupação constante nos paí-ses livres dessas pragas e, para proteger sua agricultura, levantam inúmeras barreiras quarentenárias impedindo a importação de frutas produzidas em países onde elas ocorrem (MALAVASI, 2000).

O monitoramento populacional permite o acompanhamento da flutuação da praga em certa área, ou a detecção de espécies exó-ticas ou quarentenárias. Assim, o monitoramento permite caracteri-zar a população dos tefritídeos do ponto de vista quantitativo e quali-tativo (NASCIMENTO et al., 2000).Atualmente, o Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado, localizado na região sudoeste do Estado da Bahia, compreendido pelos mu-nicípios de Livramento de Nossa Senhora e D. Basílio, distante cer-ca de 700 km de Salvador, possui aproximadamente 11.500 hec-tares de manga plantados, dos quais, cerca de 8.500 hectares estão em plena produção. O cli-ma é ameno, onde a temperatura média anual é de 22,6º C e uma altitude de 480 metros.

O presente trabalho tem como ob-jetivo analisar e avaliar os custos

das atividades inerentes ao Pro-grama de Controle das Moscas--das-frutas no Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado, nas safras 2006 a 2008. E, ainda: determinar os custos de produção da cultu-ra da manga nas safras 2006 a 2008, no polo; determinar os cus-tos de execução do Programa nas safras 2006 a 2008; determinar os custos das atividades de controle das moscas-das-frutas nas safras 2006 a 2008; identificar os pontos fracos e corrigir os rumos; pos-sibilitar a auto-sustentabilidade dessa atividade, gerando dessa forma divisas para o Polo Frutíco-la do Vale do Rio Brumado.

MONITORAMENTO POPULACIONAL E ATIVIDADES DE CONTROLE

O monitoramento populacional permite o acompanhamento da flutuação populacional da praga em certa área, ou a detecção de espécies exóticas ou quarente-nárias. Assim, o monitoramento permite caracterizar a população dos tefritideos do ponto de vista quantitativo e qualitativo (NASCI-MENTO et al., 2000)

A instalação e a adequada verifi-cação das armadilhas são a base para um eficiente programa de controle. Através destas, obtêm--se dados sobre a presença e abundância de uma determina-da praga, o que contribui para o planejamento das atividades

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de controle. A armadilha mais utilizada em escala comercial é a McPhail de plástico (Figura 1), onde se utiliza o atrativo ali-mentar a base de proteína hidro-lisada, sendo que nesse caso, capturam-se moscas-das-frutas de forma genérica, indepen-dentemente da espécie. Para a captura específica da mosca-do--mediterrâneo (Ceratitis capitata), ou da mosca da carambola (Bactrocera carambolae), utiliza--se a armadilha Jackson (Figura 2). Esta armadilha, de cor branca é confeccionada em papelão pa-rafinado, ou plástico ondulado, e tem como isca o trimedilure para a C. capitata ou o metil-eugenol para B. carambolae. A padroni-zação é necessária, pois permite uniformizar os índices de captura e níveis de controle entre diferen-tes regiões ou países.

Um bom programa de monito-ramento depende de um plane-jamento minucioso levando em conta as características físicas e ambientais da região onde será implementado.

Com relação a densidade po-pulacional e nível de controle, há uma padronização interna-cional. Essa padronização é necessária, pois permite unifor-mizar os índices de captura e níveis de controle entre diferen-tes regiões ou países. O nível de controle recomendado para moscas-das-frutas é de um adulto/armadilha/dia, tanto para as armadilhas Mcphail como para a Jackson (NASCIMENTO et al., 2000).

A flutuação populacional de adul-tos de moscas-das-frutas está diretamente relacionada com a disponibilidade de hospedeiros e aos fatores climáticos, espe-cialmente chuvas. Em pomares comerciais onde predomina um único hospedeiro, o pico popula-cional ocorre na época de maior concentração de frutos maduros. Em pomares com grande diversi-dade de espécies frutíferas, onde existem frutos maduros durante a maior parte do ano, a população de adultos se mantém em níveis elevados durante praticamente todo o ano.

Cabe ao produtor-exportador exer-cer um controle rigoroso sobre esta praga, principalmente se tiver em vista os mercados dos Estados Unidos e do Japão, pois esses pa-íses impõem rigorosas medidas quarentenárias às frutas de expor-tação que possam abrigar larvas

de tefritídeos (CUNHA et al., 2000).Tradicionalmente, o controle dos tefritídeos é feito por meio da aplicação de iscas tóxicas a base de proteína hidrolisada as-sociada a um inseticida. Embo-ra o controle seja efetivo, acar-reta problemas de desequilíbrio ambiental, segurança alimentar (resíduos de agrotóxicos nos frutos) e de ordem fitossanitária (CARVALHO, 2006).

Na pós-colheita e por exigên-cia quarentenária, é utilizado o tratamento hidrotérmico, que consiste em mergulhar os fru-tos em água a temperatura de 46,1ºC durante o tempo de 70 a 90 minutos, de acordo com o peso do fruto. Esse tratamento vem sendo utilizado em manga e atende as exigências fitossa-nitárias do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (MORGANTE, 1991).

Figura 1 – Armadilha Mcphail. Livramento de Nossa Senhora, 2009

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IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA CULTURA DA MANGA

Embora a manga possa ser cul-tivada sob as mais variadas con-dições climáticas, prevalece a tendência de instalação de poma-res comerciais em regiões onde o florescimento e a frutificação ocorrem durante uma estação seca bem definida. Tais vantagens constituem uma das razões do es-timulo à implantação de pomares de manga para a exportação em áreas do semiárido nordestino.

Com uma área cultivada com manga superior a 31,2 mil hecta-res, dos quais 26,2 mil hectares irrigados, a Bahia é o principal estado produtor e exportador de manga do país, tendo produzi-do em 2008 mais de 1,11 milhão de toneladas dessa fruta, o que corresponde a mais de 51 % da safra nacional. Nos últimos oito anos a área plantada com essa fruta apresentou uma variação de 136 % saindo de 13 mil hectares no ano 2000 para mais de 31 mil hectares em 2008 (OLIVEIRA; AN-JOS, 2008).

A maior parte das áreas planta-das nos últimos anos está repre-sentada pelas variedades ame-ricanas Tommy Atkins, Haden, Keit, Palmer, Van Dyke, Kent, em detrimento das variedades brasi-leiras como a Bourbon, a Rosa e a Espada; a variedade que mais cresceu no Nordeste foi a Tommy Atkins (FAVERO, 2007).

ASPECTOS INERENTES AOS CUSTOS DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA MANGA

A utilização de estimativas de cus-tos de produção na administração do negócio agrícola tem apresen-tado importância crescente na análise da eficiência da produção de determinada atividade e tam-bém de processos específicos de produção. Ao mesmo tempo, o custo de produção constitui infor-mação importante no processo de decisão, pois serve como elemen-to auxiliar da administração do ne-gócio, influenciando a escolha das culturas e das práticas a serem utilizadas (MARTIN et al., 1998).

A demanda de manga no mercado internacional é muito sensível às va-riações de preço da fruta e da renda dos consumidores. No merca-do japonês, a demanda é mais sensível às variações da renda dos consumidores que nos mer-cados americano e europeu. A quantidade de fruta demandada no mercado europeu depende fortemente do seu preço, o qual flutua quando a oferta é instável (ALMEIDA et al., 2000).

O mercado internacional de manga é abastecido por vários países e o Brasil está entre os maiores exportadores juntamen-te com México, Filipinas, Índia, Paquistão e África do Sul (AL-MEIDA et al., 2000).

Os principais concorrentes do Brasil são Peru e Israel. África do

Figura 2 – Armadilha Jackson. Livramento de Nossa Senhora, 2009

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Sul, Honduras, Costa Rica, Equa-dor e Guatemala são concorren-tes potenciais, em decorrência de baixo custo da mão-de-obra, condições climáticas favoráveis, localização e época de produ-ção, embora ainda exportem pe-quenas quantidades, exercendo pouca pressão sobre os preços vigentes no mercado. No médio e longo prazo, o problema de oferta pode ser resolvido, o que poderá impor fortes perdas para a mangi-cultura nacional.

Apesar de existirem fatores limi-tantes ao comércio de manga, o Brasil vem apresentando uma

taxa de crescimento médio anual de 27,06 % nas exportações, es-tando acima da média mundial de 13,45 % (ARAÚJO, 2004).

Podemos dividir o mercado im-portador em dois principais gran-des blocos: o americano, repre-sentado pelos Estados Unidos, e o europeu. Internacionalmente, três fluxos de comércio se des-tacam no mercado de manga: a América do Sul e Central que abastecem o mercado norte ame-ricano, Europa e Japão; a Ásia, que preferencialmente exporta para países dentro de sua própria região e para o Oriente Médio; a

África, que comercializa a maior parte da sua produção no merca-do europeu. Em relação à união européia, os países americanos tendem a exportar basicamente para a Holanda, enquanto Costa do Marfim, Mali e Israel expor-tam para a França e o Paquistão exporta preferencialmente para o Reino Unido, devido à grande parte da sua população de imi-grantes preferirem variedades in-dianas (ARAÚJO, 2004).

Os exportadores brasileiros con-centram suas exportações no mercado norte americano, entre os meses de agosto até meados de novembro e, para o mercado europeu, de meados de novem-bro até o final de dezembro. Com relação ao mercado norte ameri-cano, os produtores brasileiros, tem ampliado o período de expor-tação, já que antes só começa-va a partir do mês de setembro, para não coincidir com o final da safra mexicana. De janeiro até março, o Brasil exporta um volume relativamente pequeno de manga, que é basicamente destinada ao mercado europeu; nesta época, os preços no mer-cado interno alcançam maiores cotações. (ARAÚJO, 2004).

ANÁLISE DA ATIVIDADE ECONÔMICA

A análise da atividade econômica, através dos custos de produção, é uma grande contribuição para a

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tomada de decisões na empresa agrícola. No momento econômico em que vive o país, com o fim do subsídio e incentivos e a globaliza-ção da economia, intensifica-se a necessidade de buscar informa-ções mais confiáveis para tornar--se mais competitivo no mercado.

Neste estudo foram feitas aná-lises dos custos de produção da cultura da manga, referente a execução das atividades de monitoramento populacional e de controle das moscas-das--frutas em um pomar padrão e característico existente no Polo Frutícola do Vale do Rio Bru-mado, conforme dados abaixo:

� Modelo de produção: fami-liar com a contratação eventual de funcionários.

� Localização: Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado

� Período: safras de 2006 a 2008

� Cultivar: Tommy Atkins

� Área plantada: 5,0 ha

� Espaçamento: 8 x 8 me-tros (156 plantas/ha)

� Produtividade: 20 tonela-das/ha

Os custos de produção estão sujeitos aos riscos de variação, em função dos preços dos in-sumos, que são caracterizados por acentuadas flutuações, as-sim como o nível de utilização dos mesmos, que dependem

das condições climáticas e do tipo de manejo adotado, com reflexos sobre os riscos de pro-dução. O custo de produção está diretamente relacionado com as pretensões produtivas e o objetivo da propriedade, bem como as restrições que a mes-ma possui.

No Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado, o monitoramento po-pulacional das moscas-das-fru-tas é executado pelos próprios produtores, através da Associa-ção dos Produtores de Manga de Livramento e Região para o Controle das Moscas-das-Frutas – APROMOL, sendo coordenado e fiscalizado pela Agência Esta-dual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-

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cimento – MAPA, supervisiona e audita regularmente essas ações. Atualmente a área monitorada é de cerca de 2.400 ha, compreen-dendo cerca de 400 propriedades nos municípios de Livramento de Nossa Senhora e Dom Basílio.

A APROMOL possui uma equipe formada por três Técnicos em Agro-pecuária, um Assistente Adminis-trativo e um Engenheiro Agrônomo que atuam somente nas atividades de monitoramento e orientação dos

produtores filiados no que tange às ações de controle preconizadas pela ADAB, sendo todos os custos inerentes a essas atividades dividi-dos entre os filiados na forma de prestações mensais que são pagas através de boletos bancários.

Os custos operacionais foram determinados a partir de matrizes de coeficientes técnicos referen-tes a quantidade de horas-má-quinas, mão-de-obra, insumos e seus respectivos preços.

Os valores dos insumos nas plani-lhas de custeio são fruto de obser-vações e coleta de informações no comércio local, e os serviços com máquinas e equipamentos foram obtidos através na Associação do Distrito de Irrigação do Projeto Bru-mado – ADIB. Os dados relativos à mão-de-obra são baseados no sa-lário mínimo oficial do ano em curso.

Os custos da cultura da manga no Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado:

� Os custos de produção na safra 2006 somaram R$ 4.851,71/ha; na safra 2007 somaram R$ 5.152,46/ha; na safra 2008 somaram R$ 5.478,17/ha;

� Os custos de produção tiveram um incremento da ordem de 12,9 % no período compreendido entre as safras 2006 a 2008 (Tabela 1);

� Os custos de execução do monitoramento se mantiveram estáveis (Gráfico 2), provocados pelo fato de que no período a ADAB, promoveu um aporte sig-

TABELA 1

COMPARATIVO DOS CUSTOS/HA DE PRODUÇÃO, EXECUÇÃO DO MONITORAMENTO E CONTROLE DAS MOSCAS-DAS-FRUTAS NO POLO FRUTÍCOLA DO VALE DO RIO BRUMADO NAS SAFRAS 2006 A 2008. LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA, BA. 2009

ITEM 2006 2007 2008

Custo total de produção de manga/ha – R$ 4.851,71 5.152,46 5.478.17

Incremento no período - % 12,9

Custo com a Execução do monitoramento/ha – R$ 72,00 72,00 72,00

Incremento no período - % 0

Participação no custo total de produção - % 1,5 1,4 1,3

Custo com a execução das atividades de controle (aquisição e aplicação de isca tóxica; catação e destruição dos frutos maduros) – R$

380,76 404,66 431,31

Incremento no período - % 13,3

Participação no custo total de produção - % 7,8 7,9 7,9

Fonte: Autores

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nificativo de suprimentos (arma-dilhas, feromônios, pisos adesi-vos, e proteína hidrolisada) para a APROMOL, visando propiciar a permanência dos pequenos produtores no Programa de Monitoramento e Controle das Moscas-das-Frutas;

� Os custos inerentes às atividades de controle das moscas-das-frutas tiveram um incremento da ordem de 13,3 % no período compreendido entre as safras 2006 a 2008 (Tabela 1);

� Os custos referentes a execução do monitoramento das moscas-das-frutas represen-taram em média nas safras de

2006 a 2008, 1,4 % do valor total do custo de produção (Tabela 1);

� Os custos referentes às atividades de controle das moscas-das-frutas representa-ram em média, nas safras de 2006 a 2008, 7,8 % do valor total do custo de produção (Tabela 1);

� Os dados referentes a evolução da área monitorada, da quantidade de proprieda-des inseridas e do índice MAD – Mosca/Armadilha/Dia, no período compreendido entre as safras 2006 a 2008, pode ser observado no Gráfico 1;

� Os dados referentes a evo-

lução dos custos de produção, no período compreendido entre as safras 2006 a 2008, pode ser observado na Gráfico 3; Os dados referentes a evolu-ção dos custos de execução das atividades de controle das moscas-das-frutas, no período compreendido entre as safras 2006 a 2008, pode ser observa-do na Gráfico 4.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No período 2006 a 2008 verificou--se que a densidade populacio-

Fonte: Autores

GRÁFICO 2 EVOLUÇÃO DOS CUSTOS DE EXECUÇÃO DO MONITORAMENTO DAS MOSCAS-DAS-FRUTAS NO POLO FRUTÍCOLA DO VALE DO RIO BRUMADO NO PERÍODO 2006 A 2008. BAHIA, 2009

010,020,030,040,050,060,070,080,0

200820072006

Em R$

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92

nal de moscas-das-frutas na área estudada foi relativamente baixa; o índice MAD (Mosca/Armadilha/Dia) foi de no máximo 0,25 (Grá-fico 1). Essa baixa densidade po-pulacional pode ser atribuída a dois fatores: – baixa diversidade de frutas hospedeiras da praga na área: as áreas comerciais são plantadas quase que exclusiva-mente com manga; – ações de controle das moscas-das-frutas

pelos métodos cultural, químico e legislativo.

Considerando que somados os custos de execução do monito-ramento e controle das moscas--das-frutas correspondem a 9,2% do custo total de produção de manga, pode-se inferir que esse investimento adicional re-presenta muito pouco frente à ameaça da fruta perder qualida-

de, ou seja, chegar ao mercado interno infestada por larvas de mosca-das-frutas e mais crí-tico ainda ter as exportações de manga suspensas como já ocorreu em setembro de 1999, quando as exportações para o mercado norte-americano fo-ram suspensas, em função de ter sido encontrado larvas de moscas-das-frutas em lotes de frutos destinados aos EUA.

O Programa de Controle das Moscas-das-Frutas no Polo Fru-tícola do Vale do Rio Brumado têm sido executado adequada-mente pela APROMOL, porém isso não seria possível sem o indispensável apoio de enti-dades como a ADAB, EMBRA-PA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Prefeituras Municipais que têm propiciado um suporte logísti-co, favorecendo a permanência dos pequenos produtores no referido Programa.

Face à característica da praga e do risco da perda de qualidade da fruta, a manutenção de um pro-grama permanente de controle

A Bahia é o principal estado produtor e exportador de manga do país.

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das moscas-das-frutas no polo frutícola do Vale do Rio Brumado é imprescindível.

O custo de execução do monito-ramento das moscas-das-frutas neste determinado polo frutícola não pode ser considerado onero-so, pois representa 1,4 % mesmo para o pequeno produtor, se con-

tinuar a ser adotado nos moldes de associativismo, e em sistema de economia de larga escala.

O sucesso no controle das mos-cas-das-frutas exige um conjunto de ações, tais como: rigoroso pla-nejamento espacial, forte conscien-tização dos produtores/empresá-rios no sentido de implantação de

medidas eficientes e implantação de controle em área ampla.

Novos estudos, buscando avaliar o quanto representa os custos do controle das moscas-das-frutas em diferentes escalas e sistemas de pro-dução, frente risco de perda de qua-lidade do fruto para os mercados in-terno externos, devem ser efetuados.

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Luciana Niedersberg de Ávila1

Márcio Santos Batista2

Overlaque Brito Dourado2

Riva Braga Pedra2

Camila Cunha Sampaio3

1 — Médica Veterinária, MSc., Saúde Pública Interna-cional, Agência Estadual Defesa Agropecuária da Bahia -ADAB, Salvador – BA; e-mail: [email protected]

2 — Médico Veterinário, Agência Estadual Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, Salvador – BA; e-mail: [email protected]: riva. [email protected]: [email protected]

3 — Graduanda de Medicina Veterinária, Salvador – BA; e-mail: [email protected]

Certificação depropriedades livresde brucelose etuberculose animalna Bahia

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SOCIOECONOMIA

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A tuberculose bovina é uma en-fermidade infecto-contagiosa,

de evolução crônica, de distribui-ção em todo o mundo, que ocasio-na prejuízos na atividade pecuária e riscos mais ou menos severos para a saúde da população que consome produtos de origem ani-mal (CAMPOS, 2008). A brucelose também é uma zoonose de distri-buição mundial, que causa proble-mas de saúde e prejuízos econô-micos consideráveis. As principais manifestações nos animais – tais como abortos involuntários, parto prematuro, esterilidade e diminui-ção na produção de leite – contri-bui para uma redução substancial da produção de alimentos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009), o

rebanho bovino brasileiro se es-tima em mais de 195 milhões de cabeças e ambas as enfermida-des se encontram generalizadas em todo o país.

Estudos recentes sugerem que a infecção por tuberculose se con-centra em rebanhos leiteiros, mas principalmente naqueles reba-nhos com certo grau de melhora tecnológica (ROXO, 1997), onde as taxas de infecção podem va-riar entre 6,2% a 26,3% dos reba-nhos infectados (RIBEIRO et al., 2003; CAMPOS, 2008; AMORIM; ANTUNES, 2008; FLORES et al., 2005) e cerca de 10% das vacas leiteiras (ABRAHÃO et al., 2005). A variação na prevalência da tu-berculose nas diferentes regiões pode estar relacionada com vá-rios fatores tais como: fonte de aquisição dos animais, a gestão, o clima, serviços de diagnóstico da tuberculose em cada proprie-dade (OLIVEIRA et al., 2008; PO-LETTO et al., 2004) e o sistema de produção, o tamanho do re-banho, idade, raça e presença de animais para produção de carne e de leite no mesmo rebanho (ELIAS; HUSSEIN, 2008; FLORES et al., 2005; PÉREZ, 2002).

De 1986 a 1998, uma série de es-tudos sorológicos realizados por amostragem, demonstraram que a brucelose bovina está dissemi-nada em todo o país e sua preva-lência difere nas diferentes regiões, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná, pos-suíam taxas de prevalência: 0,3%, 0,6%, 6,3%, 6,7% e 4,6% respec-

tivamente, e foram os mais afeta-dos. As cifras oficiais, publicadas no Boletim de Defesa Sanitária Animal, indicam que a prevalên-cia de animais positivos no Brasil se manteve entre 4% e 5% entre 1988 e 1998 (MAPA, 2006).

O Estado da Bahia, com uma área de 567.295,669 km², possui o sétimo maior rebanho bovino do país, o que representa cerca de 11 milhões de cabeças. A pro-dução de leite é outro importante setor da economia, sendo o séti-mo Estado na produção de leite do país (30% do total nacional), sendo que sua perspectiva de de-senvolvimento está estritamente relacionada com a qualidade hi-giênica dos alimentos produzidos (IBGE, 2009).

Tanto a brucelose como a tuber-culose bovina é prevalente na Bahia. Recentemente, em 2004, realizou-se um estudo de soro-logia para brucelose no Estado, onde se estimou uma prevalência de brucelose em fêmeas bovinas de 24 meses de idade ao redor de 0,66%, variando de 0,41% a 0,93%, segundo o circuito produ-tor estudado. Ademais, se sugere que a compra de reprodutores e a presença de zonas inundadas são fatores de risco para a en-fermidade, sendo que a vacina-ção das bezerras de 3 a 8 meses atuaria como fator protetor contra a enfermidade, em todo o Estado (ALVES, 2008).

No Brasil, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Bru-celose e Tuberculose Animal –

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PNCEBT tem como objetivo com-bater estas enfermidades, reduzir sua incidência e prevalência, a fim de minimizar os prejuízos econômi-cos e garantir a segurança alimen-tar, aumentando a competitividade de nossos produtos no mercado internacional (MAPA, 2006a).

O programa tem características similares aos programas de con-trole e erradicação da tuberculose e brucelose bovina desenvolvidos em vários outros países, espe-cialmente nas Américas, que se baseiam no uso da prova cutânea de tuberculina para tuberculose e a vacinação das bezerras de três a oito meses para brucelose, além do diagnóstico e sacrifício dos animais reagentes, segundo o recomendado pelas normas inter-nacionais. Ademais contemplam: o controle do movimento dos ani-mais, a formação e capacitação de veterinários para o diagnósti-co da tuberculose bovina e a cer-

tificação de propriedades livres ou monitoradas para a tuberculo-se e brucelose (ARCELLES et al., 2005; OLIVEIRA, 2007).

O número de propriedades cer-tificadas como livres para bru-celose e tuberculose é pequeno em todo o Brasil, a Bahia encon-tra-se hoje em terceiro lugar no ranking de propriedades certifi-cadas como livres de tuberculo-se e brucelose (MAPA, 2011).

Desde o ano de 2009, a Bahia iniciou o processo de certifica-ção de propriedades livres e já foram certificadas 17 proprieda-des em um rebanho total de 281 animais (ADAB, julho de 2011), estando todas elas localizadas na regional de Irecê (Figura 1), em sua quase totalidade no muni-cípio de Uibaí (11 propriedades).

Segundo o inquérito de brucelose realizado em 2004 no Estado da

Bahia, a regional de Irecê locali-zada no circuito produtor definido como estrato de número 4, apre-sentou as menores prevalências dentre os circuitos amostrados, com prevalências de 0,60% de focos e 0,07% de fêmeas adultas soropositivas, o que justificaria a tomada de ações com o objetivo de erradicar essas enfermidades nessa regional.

Este estudo tem como objetivo relatar o processo de certifica-ção de propriedades livres de tuberculose e brucelose no Esta-do da Bahia e descrever o perfil epidemiológico sanitário do mu-nicípio de Uibaí.

RELATO DE CASO

A regional de Irecê é formada por 17 municípios, com um to-

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tal de 6.555 propriedades rurais e 173.324 cabeças de bovinos, segundo informações da ADAB (campanha de vacinação con-tra febre aftosa 2011-1). A bo-vinocultura de leite tem grande potencial econômico na região, segundo dados do IBGE (2006), com 3.375 estabelecimentos agro-pecuários da regional dedicados à produção de leite, dispondo ainda da infraestrutura de um laticínio e três usinas de benefi-ciamento de leite. O município de Uibaí, onde se localizam a maio-ria das propriedades certificadas, hoje conta com um total de 213 propriedades e um rebanho de 2.697 cabeças.

O processo inicial de certificação das propriedades em Uibaí, con-tou com a participação do órgão oficial do Estado (ADAB), MAPA, médico veterinário do setor pri-vado e arranjo produtivo do leite. A disponibilidade de apoio mu-nicipal (através da prefeitura de Uibaí), o apoio de entidades do setor agropecuário (cooperativas, associações agropecuárias) e a relativa organização dos produ-tores da região foram fatores que contribuíram para a certificação das propriedades.

Foi realizado o recadastramento georreferenciado das proprieda-des que aderiram ao processo de certificação e, para o saneamento, testaram-se todos os animais, de acordo com a faixa etária, para brucelose pelo teste do antígeno acidificado tamponado (AAT) e para tuberculose pelo teste alérgi-co de tuberculinização intradérmi-

ca e procedeu-se ao sacrifício dos reagentes positivos. As provas em todo o rebanho se repetiram até a obtenção de três testes conse-cutivos, sem um único animal re-

agente positivo, num intervalo de 90 a 120 dias entre o primeiro e o segundo e de 180 a 240 dias entre o segundo e o terceiro. O médico veterinário oficial supervisionou a

TABELA 1FREQUÊNCIA DAS VARIÁVEIS QUALITATIVAS NO MUNICÍPIO DE UIBAI-BA, 2011

TIPO DE CRIAÇÃO

Confinado Semi-confinado Extensivo Total

N % IC 95% N % IC 95% N % IC 95%

43 21,1[15,7-27,3]

116 56,9[49,8-63,8]

45 22,1[16,6-28,4]

204

TIPO DE EXPLORAÇÃO

Corte Leite Mista Total

N % IC 95% N % IC 95% N % IC 95%

30 14,3[9,9-19,8]

25 11,9[7,9-17,1]

155 73,8[67,3-79,6]

210

RAÇA PREDOMINANTE

Zebu Europeu de Leite Mestiça Total

N % IC 95% N % IC 95% N % IC 95%

2 1[0,1-3,5]

2 1[0,1-3,5]

202 98,1[95,1-99,5]

206

ASSISTÊNCIA VETERINÁRIA

Não Sim Total

N % IC 95% N % IC 95%

193 94,1 [90,0-96,9] 12 5,9 [3,1-10,0] 205

UTILIZAÇÃO DE INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL (IA)

Não usa IA Usa IA e Touro Usa Apenas IA Total

N % IC 95% N % IC 95% N % IC 95%

195 95,6[91,8-98,0]

8 3,9[1,7-7,6]

1 0,5[0,0-2,7]

204

CONSUMO DE LEITE CRU

Não Sim Total

N % IC 95% N % IC 95%

194 94,6 [90,6-97,3] 11 5,4 [2,7-9,4] 205

RESFRIAMENTO DO LEITE

Não Faz Faz Total

N % IC 95% N % IC 95%

201 98 [95,1-99,5] 4 2 [0,5-4,9] 205

PRODUÇÃO DE QUEIJO E OU MANTEIGA NA PROPRIEDADE

Não Sim Total

N % IC 95% N % IC 95%

189 95,5 [91,5-97,9] 9 4,5 [2,1-8,5] 198

LOCAL DE ABATE DE BOVINOS NO FIM DA VIDA REPRODUTIVA

Na Própria Fazenda Estab. Sem Inspeção Não Abate Total

N % IC 95% N % IC 95% N % IC 95%

108 50,7[43,8-57,6]

17 8[4,7-12,5]

88 41,3[34,6-48,2]

213

Fonte: Ávila & Batista, 2011

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última colheita de sangue, sendo o teste para brucelose realizado em laboratório oficial credenciado, bem como o último teste de tuber-culinização do rebanho.

O médico veterinário privado habi-litado pelo MAPA para atuar junto ao PNCEBT procedeu de acordo com o que preconiza a Instrução Normativa SDA nº 06, de 08 de ja-neiro de 2004.

Os procedimentos para a certifi-cação das propriedades livres de brucelose e tuberculose cumpri-ram os princípios técnicos esta-belecidos pela Organização Mun-dial de Sanidade Animal (OIE).

Como parte de um projeto de incentivo a certificação de pro-priedades livres de tuberculose e brucelose no Estado da Bahia,

foi realizado um estudo do perfil sanitário produtivo dos produto-res agropecuários do município, a partir da aplicação de um questio-nário epidemiológico e georrefe-renciamento de todas as proprie-dades rurais do município.

Todas as informações geradas pelo trabalho de campo foram inseridas em um banco de da-dos de domínio público (Epi Info 3.5.4) e posteriormente realizadas as análises epidemiológicas.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Pode-se notar através da Tabela 1, nas análises das frequências, que o principal tipo de criação do municí-

pio de Uibaí é do tipo semiconfina-do que representa um percentual de 57% dos diferentes tipos de cria-ção, caracterizado por um tipo de exploração em sua grande maioria (73,8%) de uma pecuária do tipo mista (corte e leite) e um rebanho predominantemente do tipo mestiço (98,1%). A atividade pecuária é exer-cida em sua maioria por pequenos produtores, com uma média de 13 cabeças/propriedade (mínimo de um e máximo de 98 cabeças/pro-priedade), produção diária de leite na propriedade de aproximadamen-te 18 litros (mínimo de dois e máximo de 160), sem assistência veterinária (94,1%) e que não utilizam insemina-ção artificial (cerca de 96%).

Quanto ao hábito dos produtores, a maioria deles (94,6%) afirma não consumir leite cru e o destino final dos animais (bovinos) para

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abate serem na própria proprie-dade (50,7%) ou não realizarem abate (41,3%). A maioria dos pro-dutores afirma ainda não produ-zirem queijo ou manteiga na pro-priedade (95%) e não resfriarem leite para entrega (97,1%).

Esse trabalho gera subsídios para uma expansão do número de pro-priedades certificadas a partir do município de Uibaí, iniciado por interesse dos produtores locais em parceria com a prefeitura e a ADAB,

incentivando um processo de cer-tificação em massa a promover a erradicação dessas enfermidades. A presença de certas enfermida-des, como a tuberculose e a bru-celose, limita o potencial do setor pecuário e o comércio com outros países, causando prejuízos não só à indústria pecuária em si, quanto principalmente à saúde humana.

No Brasil, projetos pioneiros de certificação em massa de proprie-dades livres como o do estado do

RS, vêm se destacando por re-presentarem uma importante ini-ciativa no controle e erradicação dessas enfermidades. Sugere-se como principal causa dos baixos números de propriedades certifi-cadas como livre no Brasil, a falta de suficiente divulgação e motiva-ção para que os agricultores se unam a esta medida. A adesão ao processo de certificação é vo-luntária e contempla a introdução de mecanismos de incentivos e compensação.

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100

Ivonilda Barbosa Brito Santana1

Walter dos Santos Soares Filho2

Rogério Ritzinger2

Maria Angélica Pereira de Carvalho Costa3

Observa-se que há uma de-manda cada vez maior no

mercado internacional por frutas com novos aromas, sabores e tex-turas. Neste contexto, o Brasil, em função da enorme biodiversida-de e condições edafoclimáticas, é um país com imenso potencial para fornecer esses recursos na-turais vegetais (SCHWARTZ et al., 2009). Entre as frutíferas nativas, o gênero Spondias merece des-taque com representantes como o umbuzeiro (S. tuberosa Arruda

1 — Engenheira agrônoma, Mestre em Recursos Genéticos Vegetais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia;e-mail: [email protected]

2 — Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultu-ra, Doutor em Melhoramento Genético de Plantas;e-mail: [email protected]; e-mail: [email protected]

3 — Professora da Universidade Federal do Recôn-cavo da Bahia (UFRB), Doutora em Fitotecnia; e-mail: [email protected]

Câmara) e a umbu-cajazeira (Spondias sp.). A exploração des-tas fruteiras nativas do Nordeste do Brasil ainda ocorre de forma extrativista, em razão da falta de conhecimento fitotécnico de quem as utiliza, sem noção do que são recursos genéticos e da importân-cia da conservação de germoplas-ma (CARVALHO et al., 2002).

DESCRIÇÃO BOTÂNICA E OCORRÊNCIA

A umbu-cajazeira é uma frutífera típica da região semiárida, encontrada também em outros ecossis-temas, como o da Mata Atlântica e em regiões litorâneas, mais úmi-das, provavelmente em decorrên-

cia de movimentos antrópicos. As plantas, se encontram próximas a residências (Figura 1), indicando estreita dependência da presença humana no que concerne à sua propagação e dispersão (SOARES FILHO; RITZINGER, 2006).

Na Bahia, ocorre nas regiões fisio-gráficas da Chapada Diamantina, Litoral Norte, Nordeste, Paragua-çu, Recôncavo e outras ainda não prospectadas. É uma planta arbó-rea (Figura 2), com porte relativa-mente elevado, a copa é aberta, podendo atingir de 6 a 8 m de altu-ra e até 20 m de diâmetro de copa. O tronco é semiereto, rugoso e apresenta coloração acinzentada (SILVA, 2008).

Sua floração concentra-se de no-vembro a dezembro e a frutifica-ção de março a maio, geralmente com três picos de colheita. A inflo-

UMBU-CAJAZEIRA:boas perspectivas

para o Semiárido baianoO presente artigo contempla parte da dissertação da primeira autora apresentada ao Programa de Pós-graduação em Recursos Gené-ticos Vegetais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia--Embrapa Mandioca e Fruticultura e tem como objetivo divulgar os resultados apontados pela pesquisa sobre a divergência genética entre acessos de umbu-cajazeira mediante análise multivariada utili-zando marcadores morfoagronômicos e moleculares

PESQUISA AGRÍCOLA

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rescência é uma panícula terminal (Figura 3) onde se encontram, ao mesmo tempo, flores masculinas (estaminadas) e hermafroditas (perfeitas), sendo a umbu-caja-zeira uma planta andromonóica (CRUZ et al., 2009).

Usualmente é propagada pelo método vegetativo, mediante esta-cas de 35 cm de comprimento e 1,5 cm de diâmetro (LOPES, 1997; SOUZA, 1998) ou por enxertia, sobre portas-enxerto de umbuzei-ro (RITZINGER et al., 2008), pois apresenta cerca de 90% dos frutos desprovidos de sementes (SOU-ZA et al., 1997), o que dificulta sua propagação sexual.

Os frutos são do tipo drupa (Figura 4) e têm participação crescente no agronegócio da região Nordeste, principalmente no comércio como fruta fresca e processamento de polpa, com grande aceitação no mercado pelo seu sabor, aroma, excelente qualidade e boas ca-racterísticas agroindustriais, como rendimento da polpa acima de 60% e sólidos solúveis em torno de 10º Brix sendo utilizados como matéria-prima no preparo de su-cos, picolés, sorvetes, néctares, geleias e vinhos.

RECURSOS GENÉTICOS

Apesar de todo este potencial, não existem pomares comerciais e as agroindústrias ficam totalmente dependentes da produção obtida

do extrativismo, que é sazonal e insuficiente para operacionaliza-ção das fábricas durante todo o ano (MARTINS; MELO, 2006). Se-gundo Alves (2009), a demanda pelo fruto tem aumentado, devido ao amplo consumo de sua polpa, despertando assim o interesse para o cultivo da espécie, que ainda é considerada em fase de domesticação, com poucas infor-mações disponíveis sobre o ma-nejo dessa cultura. Em trabalhos de melhoramento genético, a ca-racterização de genótipos consti-tui uma das principais etapas do processo, pois permite identificar, selecionar e indicar materiais su-periores, principalmente quando se trata de espécies perenes (FA-RIAS NETO et al., 2005).

Com relação a Spondias, a sele-ção de plantas que apresentam características de boa produtivi-dade e precocidade na produ-ção de frutos são aspectos im-portantes no seu melhoramento genético (VILLACHICA, 1996), bem como a qualidade na com-posição química dos frutos. O uso de cultivares adaptadas às diferentes condições de clima, solo e sistema de produção é o princípio fundamental para a obtenção de incrementos de produtividade e de qualidade de qualquer vegetal (NOGUEIRA et al., 2006); portanto, a geração de novas cultivares mais produtivas e com características qualitativas superiores, como cor do fruto, sabor, odor, textura e coloração da polpa, teor de açúcares, aci-dez, resistência ao transporte, entre outros, tem sido o grande

desafio do melhoramento genéti-co de fruteiras. Por conseguinte, a caracterização físico-química de frutos de acessos de espé-cies frutíferas é de inquestionável valor na fase de seu pré-melho-ramento genético, visto que são quantificadas propriedades orga-nolépticas de frutos de genótipos com potencial de uso per se bem como em futuros programas de melhoramento genético (SANTA-NA et al., 2009).

Desde o ano 2000, a Embrapa Mandioca e Fruticultura vem rea-lizando trabalhos de prospecção genética no Estado da Bahia, em 24 municípios baianos, 18 dos quais situados em região

Figura 1 – Planta de umbu-cajazeira (Spondias sp.) ao lado de residência.

Figura 2 – Detalhe da planta de umbu-cajazeira (Spondias sp.) – acesso ‘Boa Vista

Figura 3 – Detalhe da inflorescência

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semiárida (Amargosa, Andaraí, Boa Vista do Tupim, Cabaceiras do Paraguaçu, Iaçu, Ipirá, Ita-beraba, Itaetê, Itatim, Milagres, Santa Bárbara, Santanópolis, Santa Teresinha, Santo Estevão, Serra Preta, Serrinha, Tanquinho de Feira e Utinga) e seis em re-gião de clima subúmido (Cora-ção de Maria, Cruz das Almas, Irará, Muritiba, São Gonçalo dos Campos e Sapeaçu), no sentido de localizar áreas de ocorrência, preservar, caracterizar e avaliar genótipos de umbu-cajazeiras. Os materiais genéticos coleta-dos foram georeferenciados, estabelecendo-se uma coleção in situ dos mesmos. Avaliações preliminares foram realizadas nos frutos desses indivíduos, no sentido de detectar genótipos superiores em relação a carac-teres morfoagronômicos. Aque-les que se destacaram a partir dessas análises, foram clonados e compõem o Banco Ativo de Germoplasma de Fruteiras Tro-

picais - BAG Fruteiras Tropicais, atualmente com 26 acessos, sendo 20 de umbu-cajazeiras, constituindo o primeiro banco de germoplasma desta espécie no Estado da Bahia (Figura 5). Recursos genéticos de Spon-dias também estão disponíveis em bancos ativos de germoplas-ma da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA--PE) e da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Para-íba S.A. (EMEPA-PB).

MELHORAMENTO GENÉTICO

Tradicionalmente, a caracteriza-ção dos genótipos é feita base-ando-se em marcadores mor-fológicos, herdáveis, facilmente visíveis e mensuráveis, que, a princípio, são expressos em to-dos os ambientes (IPGRI, 1996). Um dos grandes problemas na utilização dos marcadores feno-típicos é seu número reduzido, a ausência de ligação destes com características de importância econômica e os efeitos deletérios das mutações, que limitam sua utilização (GUIMARÃES; MOREI-RA, 1999). Assim, a seleção de descritores com alta herdabilida-de e estáveis é de grande impor-tância na caracterização genotí-pica da umbu-cajazeira.

Neste aspecto, os marcadores moleculares permitem compre-ender e organizar a variabilida-de genética de um programa de

melhoramento de forma única, acessando a variabilidade em ní-vel de DNA, sem os inconvenien-tes de influências do meio am-biente, contribuindo no processo de caracterização e seleção de genótipos superiores (MILACH, 1998). Assim, um marcador mole-cular com grande potencial para a aplicação em programas de melhoramento genético é o ISSR (Inter Simple Sequence Repeat) (ZIETKIEWICZ et al., 1994), que se baseia na amplificação de re-giões entre sequências microssa-télites adjacentes do DNA via PCR (Polymerase Chain Reaction) e se destaca devido ao elevado grau de polimorfismo, reprodutibilida-de e baixo custo (SALIMATH et al., 1995), além de não exigir um conhecimento prévio do genoma (GONZALÉZ et al., 2002).

Os principais estudos envolvendo a umbu-cajazeira baseiam-se, pre-dominantemente, em avaliações morfológicas de plantas e frutos (Figura 6), estes caracterizados mediante parâmetros físicos, quí-micos e físico-químicos (Tabela 1). Relata-se que em tais pesquisas observa-se grande variabilidade dentro de caracteres. No entanto, estudos de diversidade genética em umbu-cajazeira, usando mar-cadores moleculares, são inci-pientes. Portanto, o objetivo desta pesquisa foi quantificar a variabi-lidade genética entre 17 acessos de umbu-cajazeira pertencentes ao Banco Ativo de Germoplasma de Fruteiras Tropicais da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas-BA, por meio de 25 inicia-dores ISSR (Inter Simple Sequen-

Figura 4 – Detalhe do fruto

Figura 5 – Visão geral do BAG Fruteiras Tropicais da Embrapa Mandioca e Fruticultura; acessos (A) ouro, (B) Princesa, (C) Pomar e (D) Primavera II.

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ce Repeat). Dos 249 fragmentos amplificados, 80% geraram poli-morfismo, com média de oito ban-das polimórficas por iniciador. A distância genética calculada atra-vés do coeficiente de Jaccard in-dicou alto grau de divergência ge-nética, variando de 0,247 a 0,665. Os acessos foram agrupados em cinco grupos principais de diver-sidade genética (Figura 7). O fato da umbu-cajazeira ser uma frutífe-ra ainda em domesticação explica a elevada variabilidade genética existente entre os acessos. Espé-cies tradicionalmente multiplica-das via assexual, caso da umbu--cajazeira, apresentam-se mais

uniformes em localidades pró-ximas. Ainda assim, mesmo em tais circunstâncias, constata-se a existência de considerável diver-sidade, que não se deve ao efeito ambiental, mas à origem genética, provavelmente decorrente da ma-nifestação de mutações naturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que os recursos genéticos possam ser incorporados ao agro-

negócio é imprescindível que os mesmos sejam utilizados de for-ma mais dinâmica nos programas de melhoramento genético das di-versas espécies. Neste contexto, a Embrapa Mandioca e Fruticultura tem se destacado em pesquisas na área de recursos genéticos e pré--melhoramento do germoplasma de Spondias, particularmente da umbu-cajazeira, fruteira nativa do semiárido nordestino, que apresen-ta enorme potencial de cultivo, com reflexos positivos nas áreas social e econômica para a região.

Os resultados encontrados nesta pesquisa possibilitam as seguin-tes conclusões:

� Com base na divergência genética associada a estudos de caracteres morfoagronômicos de grande interesse nesta cultura, os resultados permitem orientar a recomendação de materiais, a saber: os acessos ‘Esperança’ e ‘Princesa’ são adequados ao consumo in natura, por apresen-

TABELA 1 VALORES MÉDIOS OBTIDOS PARA CARACTERES FÍSICOS, QUÍMICOS E FÍSICO-QUÍMICOS DE FRUTOS DE UMBU-CAJAZEIRA (SPONDIAS SP.). CRUZ DAS ALMAS-BA, 2009

Acessos Diâmetro longi-tudinal (cm)

Diâmetro trans-versal (cm)

Massa (10 frutos) (g)

Sólidos Solúveis (ºBrix)

Acidez Titulável

(% ácido cítrico)

RelaçãoSST/ATT pH

Aurora 4,52 a 3,39 a 306,61 a 13,67 a 1,66 b 8,19 c 2,69 bEsperança 4,31 ab 3,50 a 230,52 bcd 10,73 b 0,25 e 12,83 a 3,03 aFavo de mel 3,89 c 2,94 a 198,03 de 10,93 b 1,23 cd 8,85 b 2,79 abPreciosa 4,00 bc 3,03 a 210,22 cd 10,67 b 1,34 cd 7,95 c 2,79 abPrincesa 4,32 ab 2,86 a 189,84 de 10,97 b 1,14 d 9,67 b 2,87 abSanta Bárbara 3,76 c 3,29 a 248,54 bc 10,93 b 1,41 c 7,76 c 2,69 bSuprema 4,41 a 3,17 a 260,07 ab 11,53 b 1,77 b 6,53 d 2,69 bTendas 3,27 d 2,76 a 155,65 e 10,33 b 2,07 a 5,00 e 2,38 c

MÉDIA 4,06 3,12 224,94 11,22 1,36 8,35 2,74DMS 0,3317 0,8246 47,8706 1,6727 0,2397 1,6933 0,245CV (%) 2,89 9,35 7,52 5,27 6,24 7,17 3,16

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade(P<0,05); DMS = diferença mínima significativa; CV = coeficiente de variação

Figura 6 – Frutos de umbu-cajá (Spondias sp.) de diferentes acessos do BAG Fruteiras Tropicais da Embrapa Mandioca e Fruticultura (A) Formas, tamanhos e cores variados, sendo 1 – piriforme, 2 – li-geiramente piriforme, 3 – ovalado e 4 – redondo. (B) Acessos selecionados pela Embrapa Mandioca e Fruticultura, sendo 1 – Pingo de Mel, 2 – Preciosa, 3 – Princesa, 4 – Boa Vista, 5 – Esperança, 6 – Suprema, 7 – Favo de Mel, 8 – Ouro, 9 – Aurora e 10 – Santa Bárbara

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tarem baixa acidez e alta relação sólidos solúveis/acidez; ‘Santa Bárbara’, ‘Suprema’ e ‘Tendas’, por possuírem alta acidez e coloração de fruto variando de amarelo-ouro (‘Suprema’) a amarelo-claro (‘Santa Bárbara’ e ‘Tendas’), mostram-se adequa-dos ao processamento; ‘Aurora’ apresenta maior massa, impor-tante atributo para o mercado de frutas frescas;

� Os acessos preservados na coleção da Embrapa Man-dioca e Fruticultura possuem

considerável diversidade genética. Contudo, torna-se necessário ampliar a área de coleta e aumentar o número de genótipos prospectados;

� A técnica de marcadores ISSR é eficiente em analisar a diversidade genética entre os acessos de umbu-cajazeira, con-firmando a existência da ampla variabilidade genética, sendo assim importante em estudos fu-turos acerca da análise da diver-sidade genética das populações naturais de umbu-cajazeira e,

� Futuros estudos com umbu-cajazeira devem centrar--se nos seguintes objetivos: (1) desenvolvimento de uma biblioteca de DNA, visando à construção de microssatéli-tes (SSR) para investigar as relações parentais e a origem genética desta planta, (2) continuidade dos estudos da biologia reprodutiva, ecologia de polinizadores, dinâmica de populações e (3) ampliação da lista de descritores morfológi-cos, com vistas à recomenda-ção de cultivares.

Figura 7 – Dendrograma representativo da divergência genética entre os 17 acessos de umbu-cajazeira (Spondias sp.), obtido pelo método UPGMA (Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean), utilizando o complemento aritmético do índice de Jaccard como medida de dissimilaridade, com base em marcadores ISSR (Inter Simple Sequence Repeats). Cruz das Almas-BA, 2009. Valor cofenético = 0,83.

Suprema

Ouro

Princesa

Esperança

Pomar

Primavera I

Primavera II

Pingo de mel

Aurora

Favo de mel

Boa Vista

Preciosa

Monte Castelo

Santa Bárbara

Gig. Sta. Bárbara

Tendas

Brandão

0.300.400.500.600.70

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105

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SOUZA, F. X. Spondias Agroindustriais e os seus métodos de propagação (Frutas tropicais: cajá, ciriguela, cajarana, umbu, umbu-cajá e umbuguela). Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical/Sebrae/CE, 1998. 28p. (Documento 27).

SOUZA, F. X. de.; SOUZA, F. H. L.; FREITAS, J. B. S. Caracterização morfológica de endocarpos de umbu-cajá. In: CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA, 48., 1997, Crato, CE. Resumos... Fortaleza: SBB/BNB, 1997. p. 121.

VILLACHICA, H. Frutales y hortalizas promisorios de la Amazonia. Lima: Tratado de Cooperacción Amazonia,1996. p. 33-42.

ZIETJIEWICZ, E.; RAFALSKI, A.; LABUDA, D. Genome fingerprinting by simple sequence repeat (SSR)-anchored polymerase chain reaction amplification. Genomics, v. 20, p.176-183, 1994.

Page 106: Revista Bahia Agricola

106

Jorge de Almeida1

Carlos Alan Couto dos Santos2

Anacleto Ranulfo dos Santos3

Clovis Pereira Peixoto3

Jamile Maria da Silva dos Santos4

Jorge de Almeida Filho5

1 — Engenheiro Agrônomo, D.Sc., EBDA; e-mail: [email protected]

2 — Engenheiro Agrônomo, Doutorando UFRB;e-mail: [email protected]

3 — Engenheiro Agrônomo, D.Sc., UFRB;e-mail: [email protected];e-mail: [email protected]

4 — Engenheiro Agrônomo, Mestranda UFRB;e-mail: [email protected]

5 — Acadêmico em Ciências Biológicas UFRB;e-mail: [email protected]

A rúcula (Eruca sativa Miller) é uma hortaliça folhosa herbá-

cea pertencente à família Brassi-caceae, de rápido crescimento vegetativo, ciclo curto, porte bai-xo, folhas relativamente espes-sas, divididas, tenras com nervu-ras verdearroxeadas (FILGUEIRA, 2003; AMORIM et al., 2007; HENZ; MATTOS, 2008). A espécie mais cultivada no Brasil é a Eruca sativa Miller, representada principalmen-te pela folha larga. Também se en-contram cultivos em menor esca-la da espécie Diplotaxis tenuifolia

(L.) DC. conhecida como rúcula selvática. As principais cultivares de rúcula apresentam diferenças quanto ao tipo de folha, que po-dem ter bordas lisas até bastante recortadas (SALA et al., 2004).

Em países da Europa a rúcula é muito apreciada sendo consumi-da em larga escala de diferentes maneiras. No Brasil, é consumida preferencialmente na forma de salada crua e em pizzas. O mer-cado consumidor dessa hortaliça é muito variável e regionalizado

Avaliação da cultura da rúcula em cultivo

hidropônico

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apresentando exigências dife-rentes de produtos. Certas regi-ões preferem para o consumo in natura folhas grandes e outras apreciam folhas pequenas. Além disso, a forma de utilização des-sa hortaliça também dita como deve ser seu tamanho. Para a utilização em pizzas, onde as fo-lhas são picadas, folhas grandes são preferíveis. Para utilização em restaurantes do tipo “self ser-vice”, onde existe a necessidade de folhas que caibam dentro dos recipientes onde são servidas, “rechaud”, folhas menores são mais interessantes (PURQUE-RIO; TIVELLI, 2009).

A hidroponia é uma técnica al-ternativa de cultivo em ambiente protegido, na qual o solo é subs-tituído pela solução nutritiva, onde estão contidos todos os nutrien-tes essenciais ao desenvolvimen-to das plantas. O termo hidropo-nia é de origem grega: Hydro = água e Ponos = trabalho, cuja junção significa trabalho em água. As primeiras tentativas de cultivo sem solo ocorreram por volta do ano de 1700, mas a hidroponia como técnica de cultivo comercial é recente. No Brasil, ela entrou em expansão no início da década de 90, em São Paulo. Hoje é bas-tante difundida, principalmente, próximo a grandes centros para a produção de hortaliças folhosas (SEDIYAMA; PEDROSA, 2007).

A escolha da solução nutritiva deve ser formulada de acordo com as necessidades nutricionais da espécie (FURLANI et al., 1999). O sucesso do cultivo hidropônico

está diretamente relacionado à solução nutritiva, atentando para o cálculo, o preparo e manejo, pois é ela quem determina o cres-cimento das plantas e a qualida-de do produto final (GUERRA et al. 2009; Martinez, 1999). Deve ser monitorada periodicamente e promovendo-se ajustes no pH e na condutividade elétrica. O pH das soluções em geral, deve ser mantido na faixa de 5,5 a 6,5, sendo esta a mais adequada para absorção de nutrientes, pelas es-pécies vegetais (MORAES, 1997; SEDIYAMA; PEDROSA, 2007). Grande parte das soluções nutri-tivas não tem poder tamponante, consequentemente, quando uti-lizadas em cultivos hidropônicos comerciais observam-se varia-ções contínuas de pH (FURLANI ET AL.,1999). Valores muito bai-xos de pH podem afetar a integri-dade das membranas celulares, favorecendo a redução na absor-ção de nutrientes, como também a instalação de doenças, pelo sistema radicular das plantas. Por outro lado, níveis de pH altos po-dem favorecer a precipitação de fósforo, boro, manganês e ferro nas soluções nutritivas utilizadas em hidroponia (MORAES, 1997).

Armstrong e Armstrong (1999) es-tudando os ácidos orgânicos pro-piônico, butírico e capróico, con-cluíram que níveis baixos de pH da solução nutritiva aumentam a fito-toxidez desses ácidos. Segundo Marschner (1995), o principal efei-to dos ácidos orgânicos diz res-peito ao seu poder de lipossolubi-lidade das membranas celulares, que é aumentado quando estes

ácidos encontram-se na forma não dissociada. Para Jackson e Taylor (1970) e Lynch (1978), esta forma não dissociada destes ácidos está intimamente relacionada como pH do meio onde se encontram, sen-do que cerca de 63 a 70% destes ácidos encontram-se nesta forma a um pH de 4,5 e conseqüente-mente causando fitotoxidez.

A absorção de nutrientes pela raiz é afetada pelo pH ou acidez do meio, que sendo eles de va-lores muito baixos ou muito altos influenciam negativamente no de-sempenho produtivo das plantas.

Diante do exposto, a utilização da hidroponia é uma atividade que requer conhecimentos técnicos sobre o manejo da cultura, da solução nutritiva e do ambiente. Nesse sentido, este trabalho teve por objetivo, avaliar a influência dos níveis de pH em solução nu-tritiva de Hoagland e Arnon, no desenvolvimento de rúcula em cultivo hidropônico.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado em casa de vegetação e no Laboratório de Fisiologia Vegetal do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da Universidade Fe-deral do Recôncavo da Bahia - UFRB, localizado no município de Cruz das Almas, Bahia. A rúcula utilizada foi a cultivar “folha lar-ga” (Eruca sativa Miller) ciclo 40 a 45. O delineamento experimental

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utilizado foi inteiramente casuali-zado, com seis tratamentos: pH 4,0, 4,5; 5,0; 5,5; 6,0; 6,5 e qua-tro repetições. Cada parcela foi representada por quatro plantas, sendo uma planta por vaso. A co-lheita ocorreu no 45º dias após a semeadura analisando-se as vari-áveis: comprimento da raiz (CR), altura da haste (AH), número de folhas (NF), massa seca da folha (MSF) e área foliar (AF). Os dados obtidos foram submetidos a aná-lise estatística, aplicando-se a re-gressão polinomial para interpre-tação dos resultados (BANZAT; KRONKA, 1995), utilizando-se o programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados obtidos demonstraram efeito significativo para as variá-veis altura de haste, massa seca de folhas e área foliar, indicando que as mesmas foram influencia-das pela variação do pH das solu-ções nutritivas.

O crescimento das plantas pode ser estudado através de medidas de diferentes tipos quais sejam, lineares, superficiais, volumétri-cas, peso e número de unidades estruturais, para detectar diferen-ças entre os tratamentos estabe-lecidos (BENICASA, 2004). Assim sendo, utilizou-se a medida linear altura da haste, como um dos pa-râmetros de avaliação. As plantas de rúcula apresentaram aumento

da altura da haste à proporção em que foram aumentados os níveis de pH da solução nutriti-va. A cada pH 0,5 acrescentado ocorreu aumento 0,53 cm. A altu-ra estimada de 2,71cm foi obtida no pH máximo estudado de 6,5 da solução nutritiva, represen-tando um acréscimo de 98 % em relação a altura da haste 1,37cm observada no pH 4,0.

Quanto a massa seca de folha, foi obtido 2,34g no tratamento onde a solução tinha pH 6,5 represen-tando um incremento de 67% em relação a massa seca de 1,40 g observada no pH 4,0. As plan-tas apresentaram aumento desta variável à proporção que foram aumentados os níveis de pH da solução nutritiva. A cada pH acres-centado de 0,5 ocorreu aumento de 0,3744 para esta variável. As informações das quantidades de massa da matéria seca e da área foliar de uma planta, em função do tempo, são utilizadas na estimativa de vários índices relacionados ao desempenho da mesma espécie e das comunidades vegetais cul-tivadas em diferentes ambientes (BRANDELEIRO et al., 2002). A massa seca é o produto final da atividade fotossintética da planta que tem como matriz a área foliar.

No que diz respeito à área foliar, foi obtida 361,63 cm2 no pH 6,5 representando um incremento de 70,4% em relação a área de 212,2cm2 observada no pH 4,0. As plantas apresentaram aumen-to desta variável à proporção que foram aumentados os níveis de pH da solução nutritiva. A cada pH acrescentado de 0,5 ocorreu aumento de 59,75cm2 .

As folhas são as principais res-ponsáveis pela captação de energia solar e pela produção de matéria orgânica através da fotossíntese (MAGALHÃES, 1985). A área foliar de uma plan-ta constitui a matéria prima para a fotossíntese e como tal, é muito importante para a produção de carboidratos, lipídios e proteínas (PEIXOTO, 1998).

Neste trabalho de pesquisa, con-clui-se que o melhor desempe-nho da planta de rúcula quanto a altura da haste, massa seca de folhas e área foliar aconteceu com pH 6,0 e 6,5. Trabalhos de Sediyama e Pedrosa (2007) e Mo-raes (1997), indicam que em geral o pH deve ser mantido 5,5 a 6,5, pois esta é a faixa mais adequada na absorção de nutrientes, para a maioria das espécies vegetais.

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Referências

AMORIM, H. C; HENZ, G. P.; MATTOS,L. M. Caracterização de maços de rúcula comercializados no Distrito Federal e estimativa de perdas. Brasília, Embrapa, 2007. 7p. (Boletim de pesquisa e desenvolvimento 35). <http://www. google.com/> Acesso em: 30 jul. 2009.

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BENICASA, M. M. P. análise de crescimento de plantas (noções básicas). Jaboticabal. FUNEP. 2004. 42p.

BRANDELERO, E. M. et al. Índices fisiológicos e rendimento de cultivares de soja no Recôncavo Baiano. Magistra, Cruz das Almas, v.14. n.2 p.77-88, jul/dez 2002.

FERREIRA, D. F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0 In: REUNIÃO ANUAL DA REGIÃO BRASILEIRA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE BIOMETRIA, 45, São Carlos, Programa e resumos... São Carlos: UFSCar, Julho de 2000, p.255-258.

FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 2. ed. Viçosa, MG: UFV, 2003. 412 p.

FURLANI, P. R. et al. Cultivo hidropônico de plantas. Campinas: Instituto Agronômico, 1999. 52p. (Boletim Técnico IAC, 180).

GUERRA G. M. P.e t al. Cultivo hidropônico de rúcula em diferentes concentrações de solução nutritiva, em sistema NFT. Dispo-nível em <http://www.abhorticultura.com.br> acesso em: 30 jul.2009.

GENÚNCIO G. C. et al. Cultivo hidropônico de rúcula (Euruca sativa) em diferentes níveis de pH. Disponível em <http://www.abhorticultura.com.br> acesso em: 30 jul.2009.

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LYNCH, J.M. Production and phytotoxicity of acetic acid in anaerobic soils containing plant residues. Biology Biochemistry, Oxford, v.10, n. 2, p.131-135, 1978.

MAGALHÃES, A. C. N. Análise quantitativa do crescimento. In: FERRI, M. G. Fisiologia vegetal. São Paulo, EPU, 1985. v.1, p.363-50.

MARTINEZ, H. E. P. et al. Solução nutritiva para a hidroponia: cálculo, preparo e manejo. Brasília: SEBRAE, 1999. 107 p. (Traba-lhador em hidroponia 1)

MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. London: AcademicPress, 1995. 889p.

MORAES, C. A. G. Hidroponia: como cultivar tomate em sistema NFT. Jundiaí: DISQ. Editora, 1997. 143 p.

PURQUERIO, L. F. V.; TIVELLI, S. W. O mercado de rúcula. Disponível em: <http://www. google.com/> Acesso em: 30 jul.2009.

SALA, F. C. et al. Caracterização varietal de rúcula. In: Anais do 44o Congresso Brasileiro de Olericultura. Horticultura Brasileira, Campo Grande, v.22, n.2, jul. 2004. Suplemento 2. CD-ROM.

SEDIYAMA, M. A. N.; PEDROSA, M. W. Hidroponia: uma técnica alternativa de cultivo. (Documento EPAMIG), 2007.

Page 110: Revista Bahia Agricola

110

NOTAS ESPECIAIS

Prestação de Assistência Téc-nica e Extensão Rural (Ater),

desenvolvimento de pesquisas, classificação de produtos de ori-gem vegetal, fomento em agrope-cuária e em agroindustrialização, estímulo e apoio as iniciativas de desenvolvimento rural susten-tável são ações que compõem a missão da EBDA, vinculada à SEAGRI, que há 20 anos oferece serviços de qualidade voltados para o desenvolvimento da agri-cultura familiar da Bahia.

A EBDA quer alcançar os 665 mil agricultores familiares baianos, com Ater de qualidade. Essa é a meta da empresa para os próxi-mos anos, que já contabiliza o atendimento, no último quadriênio 2007-2011, de 424.926 mil agri-cultores familiares.

Outras metas estão previstas em um projeto de reestrutura-ção da empresa, que contempla um Planejamento Estratégico, realizado em parceria com a Se-

cretaria da Administração do Es-tado da Bahia (SAEB), com a fi-nalidade de impulsionar a EBDA para assistir, mais e melhor, o seu público-alvo.

Desde a sua fundação, em 1991, a EBDA é parceira no desenvol-vimento de programas federais e na implantação de programas es-taduais de agricultura, a exemplo do Programa Nacional de Forta-lecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que engloba o Progra-

A edição 2011 da Revista Bahia

Agrícola marca a

retomada da publicação,

passando por transformações

na sua produção. A nossa

linha editorial está mais

moderna e a seção

INFORMAÇÕES E SERVIÇOS foi

incrementada com um

formato especial e a definição

de uma seção mais aberta,

permitindo variações

a cada edição.

trabalhando para o desenvolvimento da agricultura familiar

20 anos

INFORMAÇÕES E SERVIÇOS

Page 111: Revista Bahia Agricola

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ma Garantia Safra, do Ministé-rio de Desenvolvimento Agrário (MDA), parceiro ainda no Projeto Pacto Federativo, junto com a Fundação de Amparo a Pesqui-sa do Estado da Bahia (Fapesb). Esta parceria possibilitou a con-tratação de 647 bolsistas, para atuarem em nove Territórios de Cidadania e em Salvador.

Sobre o Garantia Safra, que be-neficia unidades familiares com um seguro de renda mínima de R$680 reais, caso haja perda comprovada de mais de 50% da safra de determinadas culturas, por seca ou excesso hídrico, a empresa visa alcançar a meta es-tabelecida de adesão de 200 mil agricultores familiares, para as safras de inverno e verão/2011. Para a safra de verão 2010/2011, a EBDA cadastrou 94.500 agri-

cultores, em 128 municípios, fal-tando contabilizar a safra de in-verno, ainda em andamento.

Um dado estratégico da ação da empresa é sobre a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), emi-tida com o apoio da EBDA. Até setembro passado, foram conta-bilizadas 390.547 DAPs válidas e ativas, na Bahia.

No campo, persiste a busca por condições efetivas que possibilitem, aos profissionais da empresa, com-preenderem e atuarem dentro do novo ciclo da agricultura, fundamen-talmente ligada à sustentabilidade e preservação do meio ambiente, com ações agroecológicas. Nesse contexto, todos os projetos, seja de pesquisa, seja de ATER, serão prioritariamente desenvolvidos com base agroecológica e atendendo à

Política Nacional de Assistência Téc-nica e Extensão Rural (Pnater).

Desenvolvimento da pecuária

O destaque da EBDA para a pe-cuária baiana fica com a Unidade de Coleta de Sêmen, inaugurada este ano pela empresa, no muni-cípio de Utinga, que já possibili-tou a realização de 2.630 inse-minações artificiais, beneficiando a mais de 534 agricultores fami-liares. Este trabalho faz parte do Programa de Melhoramento Ge-nético de Rebanho Bovino para a Agricultura Familiar, desenvolvido em parceria com o Fundo Esta-dual de Combate e Erradicação à Pobreza (FUNCEP), que prioriza a bovinocultura leiteira.

Page 112: Revista Bahia Agricola

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Ao lado da pecuária leiteira, vol-tada para a agricultura familiar, a empresa também desenvolve ações com a caprinovinocultu-ra, para atender aos agriculto-res familiares. Melhoramento de pastagens, reprodução animal, melhoramento genético e manejo animal são temas de ações de-senvolvidas para a caprinovino-cultura estadual.

Outro trabalho de destaque é o Programa de Segurança Alimen-tar do Rebanho da Agricultura Familiar do Estado da Bahia, que tem o objetivo de orientar os agri-cultores a fazerem reserva estra-tégica de alimentos para os re-banhos, no período de estiagem. Estas são ações estruturantes que têm como objetivo o aumento da produção/produtividade e da renda do agricultor familiar, con-tribuindo para a produção de ali-

mentos e a geração de trabalho e inclusão produtiva dessa parcela da população.

História

A EBDA surgiu a partir da incorpo-ração das atividades de pesquisa, desempenhadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia (EPABA), e das ações da Empresa de Assistência Técni-ca e Extensão Rural da Bahia (EMATERBA). Esta sociedade tem como acionistas o Governo do Estado e a Empresa Brasi-leira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

Como empresa de maior abran-gência e cobertura, no Estado, a EBDA atua nos 417 municípios

baianos e conta com mais de dois mil profissionais, entre pes-quisadores, extensionistas, pes-soal de apoio e administrativos.

É nesse contexto que se insere a EBDA, uma empresa que une o passado ao presente, o antigo ao moderno, a cultura popular ao conhecimento científico, o arte-sanato ao tecnológico, o simples ao complexo, na busca constan-te de valores que atendam à agri-cultura familiar, na perspectiva de melhores condições de vida para os agricultores, mas, também, que reflitam nas condições ali-mentares das populações rurais e urbanas do Estado e do país, para onde vão as produções agrícolas baianas.

Assessoria de Imprensa da EBDA

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MODERNIZAÇÃO E EFICIÊN-CIA. Essas são as palavras

chaves que nortearam o I Encon-tro da SEAGRI, ação inédita, que reuniu no dia 07 de novembro de 2011, mais de mil servidores da Secretaria da Agricultura e ór-gãos vinculados, (ADAB, EBDA, BAHIA PESCA, CDA, Superin-tendências e Coordenadorias), em Salvador, com o objetivo de debater as formas de tornar mais eficiente a gestão pública e a prestação de serviços à po-pulação, além de proporcionar a integração e o conhecimento do Sistema SEAGRI.

Este encontro foi o primeiro pas-so no processo de busca da excelência da gestão pública, durante o qual os funcionários conheceram as ações desen-volvidas por toda a secretaria e pelos órgãos vinculados. Agora, eles vão encaminhar opiniões e sugestões, através de um canal aberto no site da SEAGRI. O II Encontro da SEAGRI já foi mar-cado para abril de 2012, com a participação de dois mil servi-

dores. A atual gestão quer fazer da Secretaria da Agricultura da Bahia uma gestão pública que seja exemplo para o Brasil. O objetivo é prestar serviços mo-dernos e mais eficientes à popu-lação baiana.

Na abertura do encontro, o con-sultor Cesar Almeida ministrou palestra motivacional com o en-foque “Fazer o que gosta, gos-tar do que faz”, estimulando os servidores a superar sempre os desafios. Na sequência, os supe-rintendentes de Agricultura Fami-liar, de Política do Agronegócio, de Desenvolvimento da Agrope-

cuária, e de Irrigação, apresen-taram os avanços e os desafios de suas pastas. O dirigentes da EBDA, ADAB, BAHIA PESCA e CDA, demonstraram as ações dos respectivos órgãos.

A missão da SEAGRI é ser uma grande prestadora de serviços à população, com eficiência, qua-lidade e comprometimento, e suas ações refletem na seguran-ça pública, na saúde e seguran-ça alimentar, pois a agricultura é a base da pirâmide.

Ascom Seagri

(imprensa@seagri,.ba.gov.br)

I Encontro da SEAGRI

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O Projeto SEAGRI ITINERAN-TE tem o objetivo de co-

nhecer in loco as dificuldades de cada região e município baiano, e fazer com que o produtor sin-ta mais de perto a presença do Estado. Nestas oportunidades, o corpo técnico da Secretaria ouve as demandas dos produtores e discute com eles alternativas de solução para os problemas de-tectados, demonstrando o papel articulador da Secretaria. Dessa forma, a SEAGRI divulga ao pú-blico em geral, e em especial aos agricultores familiares, as oportu-nidades que o programa enseja.

O Projeto SEAGRI Itinerante foi concebido para viabilizar condi-ções para o desenvolvimento e fortalecimento da agropecuária baiana, levando o Governo ao encontro do produtor para co-nhecer de perto suas dificulda-des e buscar, em conjunto, as so-luções. Ao reafirmar o seu papel de articuladora, com esta inicia-tiva, a Secretaria poderá prestar esclarecimentos e alavancar os

programas que já estão em an-damento e, com relação às de-mandas elencadas, estas darão maior embasamento para a ela-boração de novas políticas públi-cas e programas voltados para o setor agropecuário.

O evento já aconteceu em mais de 200 municípios do Estado e em cada edição são realizadas audiências com os produtores dos vários segmentos, com a participação de agricultores, re-presentantes dos sindicatos e entidades de classe, levantando os problemas e dificuldades de cada cadeia produtiva.

Próxima parada: 07 e 08 de dezembro de 2011, cidade polo – Bom Jesus da Lapa. Reuniões temáticas com a presença dos dirigentes da SEAGRI, das su-perintendências de Desenvolvi-mento Agropecuário, Agricultura Familiar, Política do Agronegócio e Irrigação, das empresas vin-culadas – EBDA, BAHIA PESCA, ADAB e CDA e dos técnicos da

SEAGRI, representantes da CO-DEVASF, Banco do Brasil, Ban-co do Nordeste, prefeituras e secretarias municipais, agricul-tores familiares e as lideranças das várias cadeias produtivas dos Territórios da Bacia do Rio Corrente e Velho Chico. Municí-pios Participantes: Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Ibotirama, Paratinga, Riacho de Santana, Santa Rita de Cássia, Wander-ley, Igaporã, Serra do Ramalho, Santa Maria da Vitória, Cocos, Coribe, Correntina, Santana, Serra Dourada, Feira da Mata, Mansidão, Morpará, Matina, Iga-porã, São Félix do Coribe, Ca-nápolis, Sítio do Mato, Tabocas do Brejo Velho, Muquém do São Francisco. Cadeias Produtivas envolvidas: Fruticultura, Pecuá-ria leiteira e de corte, Apicultura, Mandioca culturas de subsistên-cia (milho, feijão, horticultura e outras).

Ascom Seagri

(imprensa@seagri,.ba.gov.br)

SEAGRIITINERANTE

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Estratégias para a agropecuária baiana: visão das Câmaras Setoriais

Este documento busca direcio-nar esforços e investimentos para o setor agropecuário da Bahia, a partir das demandas e do ponto de vista das Câmaras Setoriais, evidenciando os prin-cipais desafios e a agenda que devem ser priorizados, por meio de políticas públicas, por cada segmento produtivo.

Planejamento estratégico para a agropecuária baiana: diretrizes gerais

Fruto do trabalho das Câmaras Setoriais de cadeias produtivas consideradas prioritárias, este do-cumento tem por objetivo pensar sobre o setor agropecuário do Es-tado da Bahia para os próximos 20 anos, apresentando diretrizes para a construção de um proces-so consistente de desenvolvimen-to, direcionando investimentos e ações estruturantes para o setor.

Bahia, terra dasoportunidades

Divulgação das principais opor-tunidades de investimentos no setor agropecuário da Bahia.

Diagnósticos e propostas para a cadeia produtiva do café da Bahia(Autor: Renato Hortélio Fernandes)

Apresenta uma análise da com-petitividade da cadeia produtiva do café da Bahia por meio de uma pesquisa qualitativa realiza-da em seis regiões produtoras de café do Estado.

Plano safra daagricultura e pecuária da Bahia 2011/2012

Este Plano contempla uma série de contribuições para o fortale-cimento e a expansão da agro-pecuária baiana, tais como: crédito assistido, programa Ga-rantia Safra, apoio à comerciali-zação, entre outros.

Planejamento estratégico

DIVULGAÇÃOSEAGRI

Publicações produzidas

pela SEAGRI, no período

2010-2011, disponíveis

na Biblioteca para

distribuição.

Mais informações: (71) 3115-2783 [email protected]

INFORMAÇÕES E SERVIÇOS

Page 116: Revista Bahia Agricola

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Plano safra da agricultura e pe-cuária da Bahia 2011 /2012: guia para renegociações das dívidas e para o acesso às linhas de crédito

Projeto entrepostofrigorífi co modular

O projeto de construção e im-plantação de entrepostos frigo-ríficos, elaborado pela SEAGRI/ADAB, viabiliza um modelo pa-drão de equipamento modular que atenderá a demanda dos municípios baianos, objetivando a organização da cadeia produ-tiva, tornado-a segura, da pro-dução ao consumo.

Site SEAGRI

Ferramenta dinâmica que oferece informações diversificadas aos agricultores e os aproxima das oportunidades geradas pelo Es-tado por meio da SEAGRI. Nave-gue, se informe, saiba mais sobre o cenário agropecuário baiano: www.seagri.ba.gov.br. Entre em contato com a SEAGRI: [email protected]

Page 117: Revista Bahia Agricola

117

A seção CARTAS, que traduz de modo direto e verdadeiro como nosso trabalho está chegando a cada leitor, nosso valioso indicador, retornará na próxima edição registrando as manifestações referentes a esta edição. Ocupamos, então, esse espaço, com as correspondências recebidas no período 2010-2011 mencionando o apoio à continuidade desta publicação. A revista desfruta de um amplo reconhe-cimento entre as instituições agrícolas, entre os técnicos e pesquisadores que en-contram nesse veículo uma oportunidade de escoar a produção de seus estudos e resultados de pesquisas e, também, de divulgar alternativas tecnológicas que possam incrementar a produção e eliminar algumas barreiras no desempenho das culturas. Para ilustrar, destacamos alguns registros e depoimentos recebidos pela editoria da Revista:

Sou Engº Agrônomo, gostaria de sa-ber da possibilidade de me cadastrar para receber a revista Bahia Agrícola, pois a mesma contém ótimas infor-mações para a função que exerço e estou sentindo falta, não tenho mais visto esta revista em circulação. Marlus Carapia Lima de Barros e Silva, INCRA, Salvador-Bahia.

Recebemos a comunicação da con-tinuidade da publicação da Revista Bahia Agrícola, decisão louvável, pois o Estado da Bahia merece uma pu-blicação (conceituada) representativa do setor agrícola. Agradecemos pela publicação da matéria “Rapadura: uma arte que atravessa os tempos. Fonte de renda para a agricultura familiar de Senhor do Bonfim”, Bahia, na edição anterior. Agradecemos por ajudar a co-munidade pesquisada a divulgar seu produto e possibilitar o incremento na renda familiar, com as futuras parcerias. E, ainda, divulgar a cidade de Senhor do Bonfim como opção de turismo e la-zer. José Dionísio Borges de Macêdo, Professor da Escola Agrotécnica Fede-ral de Senhor do Bonfim-BA. Tomamos conhecimento da Revista Bahia Agrícola. Essa publicação é de primeiríssima ordem, em especial para o Agronegócio Baiano. O enfoque dado às matérias é perfeito. Vemos nela reportagens e artigos, que tra-tam dos assuntos em profundidades e completudes, com riqueza de infor-mações. A linguagem fácil também é uma característica dessa publicação. Porém, por morar numa região ca-rente de informações relacionada ao Agribusiness, resolvemos montar uma Biblioteca Comunitária Rural e não

dispondo de verbas públicas, para a compra de publicações para o acervo, recorremos a vocês para solicitar, por cortesia, uma assinatura da Revista acima citada. Gostaríamos também de receber todas as edições atrasa-das a partir do mês de janeiro/2006. Na certeza do interesse em colaborar com a nossa Instituição, desde já nos-sa comunidade agradece. Romualdo Bitencourt, Biblioteca Comunitária Ru-ral de São Manoel, Ipiranga – PR.

Você tem alguma previsão de publica-ção de nosso artigo? Será uma pena, se depois de conseguir tanto espaço e projeção no Brasil, a revista deixar de circular. Esse é um espaço que a Bahia não pode perder. Um abraço. Clóvis Oliveira de Almeida, Pesquisador Em-brapa Mandioca e Fruticultura Tropical.

A Revista Bahia Agrícola é um impor-tante veículo de comunicação que presta relevante serviço ao setor agro-pecuário principalmente do nosso Es-tado da Bahia, com as suas seções de Pesquisa Agrícola, Agrossíntese, Co-municação, Socioeconomia, Agrone-gócio, etc. Neste sentido, na condição de Engenheiro Agrônomo atuando principalmente na Área de Pesquisa Agropecuária, solicito, que na medida do possível, todo empenho seja feito para esse conceituado periódico vol-te a ser editado e distribuído regular-mente como em períodos anteriores. Na certeza de que tudo farão para alcançar esse objetivo, antecipo meus agradecimentos. Jorge de Almeida, Engenheiro Agrônomo, EBDA.

Gostaria de saber como anda a edi-ção da Revista Bahia Agrícola. Em

tempo, revelo meu descontentamento em não poder difundir resultados cien-tíficos obtidos para o nosso estado, em nosso estado. Percebo que os re-sultados aqui obtidos (mesmo aque-les fomentados pela FAPESB), estão sendo divulgado fora do estado e em locais de difícil acesso ao público alvo (os produtores Baianos). Alisson Ja-davi Pereira da Silva, Eng. Agrônomo--UFRB, Mestre, Irrigação e Drenagem--USP, Professor, Irrigação-IFBaiano.

A Revista Bahia Agrícola paralisada desde a sua última edição em 2007, deixou uma lacuna muito grande na agropecuária baiana. Infelizmente, pesquisas desenvolvidas e tecnolo-gias geradas deixaram de chegar ao conhecimento do produtor, maior inte-ressado e responsável pelo aumento da produção e produtividade, variáveis tão importantes para o aumento do va-lor da produção e consequentemente aumento da arrecadação de impostos na Bahia. Um veículo de informação e conhecimento como a revista Bahia Agrícola certamente será alvo de análi-se e voltará com certeza a ser editada o mais breve possível. Antonio Zugaib, Gerente de Administração e Planeja-mento do Centro de Pesquisas do Ca-cau da CEPLAC.

Cartas para Redação

Revista Bahia Agrícola SEAGRI – 4ª Av. 405, Térreo – CAB Salvador – Bahia – CEP 41.745-002 (71) 3115-2783 [email protected]

CARTAS

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