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10 CAMPO VIVO - junho 2011 “Os espaços rurais só conseguirão assegurar população se tiver atrativos suficientes” Maria Izabel Vieira Botelho, economista com pós- doutorado em Sociologia do Desenvolvimento Rural, aborda situação preocupante da zona rural brasileira com o encolhimento da população rural do país Maria Izabel Vieira Botelho R ecente levantamento divulgado pelo IBGE mostra um problema visível nos últimos anos: a população rural segue em queda no Brasil. Na última década, o pro- cesso de encolhimento da população rural continuou como acontece desde os anos 70. O ritmo de crescimento da população urbana entre 2000 e 2010 foi de 1,55% ao ano, enquanto o número de habitantes da zona rural caiu em média 0,65% ao ano no mesmo período. As informações são da Sinopse do Censo Demográfico 2010, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O maior grau de urbani- zação continua sendo o do Sudeste, com 92,9%, segui- Campo Vivo - Em sua opinião, o que está motivando esse esvaziamento na zona rural brasileira? Maria Izabel – O Brasil, na atualidade, apresenta uma imensa diversidade dos espaços rurais, decorrente, inicialmen- te, do processo de industrialização e das mudanças processadas nas formas de produção agrícola, a partir da “moderni- zação da agricultura”, a partir dos anos de 1950. Para entender este esvaziamento é necessário voltar rapidamente na nossa história. Como se sabe, a população ru- ral no Brasil era, em 1950, de 63,8%. Em 1960 era de aproximadamente 54%. Já na década de 1970, a população rural era em torno de 40%. Desde então, pode-se visu- alizar um constante declínio, mas não tão intenso como naquelas décadas. No últi- mo censo realizado pelo IBGE, pôde-se saber que a população rural é atualmente em torno de 16%. Como já estudado por diversos pesquisadores da área, este ex- pressivo êxodo rural tem como uma de suas causas, a intensa modificação da agricultura, que passa a se utilizar de di- versos insumos industrializados, com a introdução máquinas e de com a adoção de procedimentos com uma paulatina di- minuição dos postos de trabalho no cam- po. Ao mesmo tempo, visualiza-se, em algumas regiões, também um processo de aumento da concentração fundiária, Entrevista do pelos 88,8% da Região Centro-Oeste. A seguir vem o Sul, com 84,9%; o Norte, com 73,5%; e o Nordeste, com 73,1%. A Revista Campo Vivo abordou a situação preocupante da zona rural brasileira com a economista Maria Izabel Vieira Botelho. Com mestrado pela UNICAMP em Socio- logia Rural, doutorado em Sociologia pela UNESP e pós -doutorado em Sociologia do Desenvolvimento Rural pela Universidade de Wageningen (Holanda), Maria Izabel Botelho, atualmente, é professora da Universidade Federal de Viçosa, lecionando Sociologia Rural e Teorias de Cam- pesinato e Sociedade.

Revista Campo Vivo - Edição 10 - Entrevista

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Entrevista com Maria Izabel Vieira Botelho para a décima edição da revista sobre agricultura Campo Vivo

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10  CAMPO VIVO - junho 2011

“Os espaços rurais só conseguirão assegurar população se tiver atrativos suficientes”

Maria Izabel Vieira Botelho, economista com pós-doutorado em Sociologia do Desenvolvimento Rural, aborda situação preocupante da zona rural brasileira com o encolhimento da população rural do país

Maria Izabel Vieira Botelho

Recente levantamento divulgado pelo IBGE mostra um problema visível nos últimos anos: a população rural segue em queda no Brasil. Na última década, o pro-

cesso de encolhimento da população rural continuou como acontece desde os anos 70.

O ritmo de crescimento da população urbana entre 2000 e 2010 foi de 1,55% ao ano, enquanto o número de habitantes da zona rural caiu em média 0,65% ao ano no mesmo período. As informações são da Sinopse do Censo Demográfico 2010, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O maior grau de urbani-zação continua sendo o do Sudeste, com 92,9%, segui-

Campo Vivo - Em sua opinião, o que está motivando esse esvaziamento na zona rural brasileira?Maria Izabel – O Brasil, na atualidade, apresenta uma imensa diversidade dos espaços rurais, decorrente, inicialmen-te, do processo de industrialização e das mudanças processadas nas formas de produção agrícola, a partir da “moderni-zação da agricultura”, a partir dos anos de 1950. Para entender este esvaziamento

é necessário voltar rapidamente na nossa história. Como se sabe, a população ru-ral no Brasil era, em 1950, de 63,8%. Em 1960 era de aproximadamente 54%. Já na década de 1970, a população rural era em torno de 40%. Desde então, pode-se visu-alizar um constante declínio, mas não tão intenso como naquelas décadas. No últi-mo censo realizado pelo IBGE, pôde-se saber que a população rural é atualmente em torno de 16%. Como já estudado por

diversos pesquisadores da área, este ex-pressivo êxodo rural tem como uma de suas causas, a intensa modificação da agricultura, que passa a se utilizar de di-versos insumos industrializados, com a introdução máquinas e de com a adoção de procedimentos com uma paulatina di-minuição dos postos de trabalho no cam-po. Ao mesmo tempo, visualiza-se, em algumas regiões, também um processo de aumento da concentração fundiária,

Entrevista

do pelos 88,8% da Região Centro-Oeste. A seguir vem o Sul, com 84,9%; o Norte, com 73,5%; e o Nordeste, com 73,1%.

A Revista Campo Vivo abordou a situação preocupante da zona rural brasileira com a economista Maria Izabel Vieira Botelho. Com mestrado pela UNICAMP em Socio-logia Rural, doutorado em Sociologia pela UNESP e pós -doutorado em Sociologia do Desenvolvimento Rural pela Universidade de Wageningen (Holanda), Maria Izabel Botelho, atualmente, é professora da Universidade Federal de Viçosa, lecionando Sociologia Rural e Teorias de Cam-pesinato e Sociedade.

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denominado por José Graziano da Silva como “fagocitose”, quando as pequenas propriedades são engolidas pelas maiores, que foram, principalmente, as que intro-duziram alterações na produção agrícola. Vale ressaltar que na década de 1960 a região que apresenta o maior êxodo rural é a Sudeste, decorrente de modificações na base técnica produtiva da agricultura. Isto ocorre especialmente no estado de São Paulo, onde a erradicação dos cafe-zais e substituição por pastagens liberou enorme contingente de trabalhadores, que viviam dentro das fazendas de café, nas colônias. Os dois processos, máqui-nas substituindo trabalhadores e concen-tração fundiária, resultaram numa expul-são maciça da população rural. Naquelas regiões em que este processo de mudança do modelo agrícola não foi tão intenso, como a região Nordeste, também ocorre uma intensa emigração, direcionada prin-cipalmente aos grandes centros urbanos do Sudeste, mas também direcionada à região Norte, com a criação dos pro-jetos de colonização, como parte de uma política de ocupação do gover-no militar do período. Também não se pode esquecer, que a construção da cidade de Brasília também atraiu um montante bastante expressivo de pessoas de várias regiões do Brasil, mas principalmente do Nordeste.Desta forma, percebe-se que tanto as regiões que passam por uma profun-da modificação do sistema produtivo agrícola, como ocorreu em parte da re-gião Sudeste, expulsam população, como aquelas em que a economia não apresenta um dinamismo acentuado, como o Nor-deste, mas que tem também um sistema produtivo centrado em extensas proprie-dades, delineando uma estrutura fundiá-ria de imensa concentração. Também a migração em direção aos centros urbanos pode ser resultado de desejos pessoais e familiares de experimentar um novo modo de vida, fornecido pelos espaços urbanos, onde, imagina-se, o acesso aos serviços de saúde, de educação, etc., pro-piciaria melhores condições de vida e de trabalho. Entretanto, é ilusório imaginar que a desruralizacão significa acesso às condições mínimas próprias da vida ur-bana. O que se vê por todo o país, em di-ferentes cidades, são cidades que tiveram aumento exorbitante de população sem ter as condições necessárias para a ab-

sorção de todos aqueles que chegam. Em geral, o destino destes novos moradores urbanos, provenientes de zonas rurais, é moradia precária, o trabalho temporário de baixa qualificação profissional, etc. Campo Vivo - O aumento no grau de urbanização nos últimos anos é devido ao próprio crescimento vegetativo des-sas áreas, resultado de migrações pas-sadas, ou continua o êxodo rural ainda hoje?Maria Izabel – As análises que estão sendo realizadas pelos pesquisadores, principalmente com os novos dados do último censo, apontam para os dois pro-cessos, tanto este grau de urbanização é resultado do crescimento vegetativo nos espaços urbanos, quanto de contínuas saídas em direção aos centros urbanos. Algumas regiões, como Sudeste e Sul, percebe-se uma visível diminuição do fluxo rural/urbano. Entretanto, a região Nordeste ainda continua sendo aquela de

maior êxodo rural. Chama a atenção tam-bém a diminuição da média de idade da-queles que deixam as zonas rurais. Aque-les que migram são cada vez mais jovens e com forte predomínio das mulheres.

Campo Vivo - Quais as principais con-seqüências dessa queda na população rural brasileira?Maria Izabel - Pode-se pensar em mui-tas conseqüências. Uma delas seria um esvaziamento das zonas rurais, que por si não seria problemático. Porém, o lugar de destino destas populações é que pare-ce delinear um quadro bastante precário. Sabe-se que as cidades não têm como in-corporar minimamente todos aqueles que chegam. Em geral, o perfil profissional daqueles que deixam as zonas rurais em direção aos centros urbanos não se adéqua às novas demandas de trabalho urbano, que também vêm passando, nas últimas

décadas, por inúmeras transformações exigindo trabalhadores com diferentes qualificações nem sempre presentes entre os migrantes. Penso também que a ma-nutenção da população nas zonas rurais além de desafogar os espaços urbanos poderia significar a melhoria da produ-ção de alimentos para os que lá vivem, mas também para os vivem nas cidades. Entretanto, como o perfil dos que migram é cada vez mais jovem, os espaços rurais só conseguirão reter população se tiver atrativos suficientes para a permanência, como possibilidades de geração de renda, boas condições de educação, de saúde, de comunicação, etc.

Campo Vivo - As facilidades oferecidas pela cidade estão atraindo os jovens do campo?Maria Izabel - Sim, mas obviamente nem todos os jovens migrantes encon-tram nas cidades aquilo que buscavam, ou que imaginavam acessar nos centros

urbanos. Quando fiz a minha disser-tação de mestrado, entrevistei uma senhora idosa, filha de sitiantes, que à época tinha 82 anos. Ela me disse que seus pais incentivaram muito a sua migração para a cidade de São Paulo, pois para eles a vida no campo era muito dura e não propícia a uma moça com tantas possibilidades. Eles não a queriam com as mãos calejadas. Durante a entrevista ela me mostrou as mãos e me disse: de fato, minhas

mãos são de seda, mas meu coração se tornou pedra, porque a vida na cidade não era exatamente como nós imaginávamos. Perdi meus amigos, o contato diário com a minha família, tudo que o que me fazia bem e pertencendo a um lugar. Quais são hoje, efetivamente, as reais chances que têm os jovens que saem do campo em ci-dades? Este sentido de pertencimento po-deria ser substituído por boas oportuni-dades oferecidas pelas cidades? É difícil responder, mas não se pode criar a ilusão que o êxodo rural irá melhorar as condi-ções daqueles que o experimentam, prin-cipalmente para a grande maioria dos que migram, quase sempre aqueles de menor qualificação profissional, menor poder aquisitivo, que muitas vezes já partem as-sumindo dívidas para custear as saídas. Campo Vivo - Atualmente, podemos observar a perda de alguns valores, do

“Não se pode criar a ilusão que o êxodo rural irá melhorar as

condições daqueles que o experimentam“

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vínculo pela terra, dos jovens do cam-po. O que está ocasionando isso?Maria Izabel - Como existem no Brasil diferentes modalidades de agricultura e, portanto, diferentes compreensões do que seja a terra e do uso que é feito dela, não sei se de fato ocorre a perda deste valor, do vínculo com a terra. Para alguns grupos sociais que lidam diretamente com o cultivo, com a organização e com o controle da produção, a terra pode ter um significado bastante diferente daque-les agricultores que detêm o controle da produção, como proprietários, arrendatá-rios, mas a terra é apenas fator de produ-ção. Para os primeiros, a terra é o local de moradia, de produção, de constituição de laços familiares, de vizinhança, mas também o espaço de conflitos e de nego-ciações, enfim local de realização de toda a família, e dos seus valores. Assim, a terra seria, nos dizeres de Beatriz Here-dia, morada da vida. Para os segundos, o investimento do seu capital naquela ativi-dade poderia se dar em qualquer outro se-tor produtivo. Por exemplo, na Argentina já se faz agricultura sem agricultores, pois todo o processo produtivo é através da contratação de empresas terceirizadas que atuam em diferentes ramos produti-vos. Assim, a terra tem um significado bastante diferenciado entre os diversos tipos de produtores.

Campo Vivo - O que precisa ser feito para segurar as famílias que ainda per-manecem no campo?

Maria Izabel – Vale ressaltar que alguns estudiosos sobre mi-gração ou ruralida-des são explícitos em afirmar que a idéia de fixação do homem no campo é bastante conservadora e que dificilmente a popu-lação jovem que é a que mais tem saído das zonas rurais, di-

ficilmente encontrará aquilo que buscam nas cidades. Pode-se incluir nesta atração inclusive o acesso a outras formas de la-zer, disponíveis apenas nos meios urba-nos. Meu entendimento sobre o êxodo ru-ral e de todos os problemas vivenciados principalmente pelos migrantes de menor poder aquisitivo é que se no campo os di-reitos básicos de cidadania são limitados, estes grupos sociais também não os en-contrarão nas cidades.

Campo Vivo - E para atrair famílias urbanas para o campo, existe essa pos-sibilidade? O que deve ser feito?Maria Izabel - Não saberia dizer se é possível este movimento contrário, ou seja, o êxodo urbano. O que eu tenho percebido, nos últimos anos, em pesqui-sas que tenho realizado ou em estudos de outros pesquisadores é que alguns esti-los de agricultura podem ajudar a fixar e mesmo atrair a população que migrou em décadas anteriores. Por exemplo, na Zona da Mata mineira, que já foi uma re-gião de expressivo êxodo rural, começa a ocorrer um leve movimento contrário em algumas áreas, principalmente na-queles municípios que têm modificado os sistemas de cultivo do café, fazendo a transição para a agroecologia. Nesta re-gião predominam pequenas propriedades e que no momento de divisão da herança alguns filhos eram obrigados a sair, pois a terra não era suficiente para garantir a reprodução de todos os membros do grupo doméstico. Pesquisas recentes em

algumas localidades, e que ainda preci-sam ser ampliadas para visualizarmos a dimensão deste processo, têm apontado para o retorno de famílias que migraram nas décadas passadas; algumas consegui-ram comprar pequenas parcelas de terra e outras têm voltado para aquelas áreas que haviam sido consideradas insuficien-tes e agora nelas estão introduzindo ma-nejos agroecológicos. Isto tem garantido a produção do café, diminuído seus cus-tos, pois passam a utilizar minimamente insumos externos e aumentado a diversi-ficação da produção, com a introdução de sistemas agroflorestais, os quais passam a produzir novos bens agrícolas, tanto para o consumo imediato, quanto para a comercialização. É interessante observar que nestas localidades de experiências agroecológicas a presença dos jovens é realmente surpreendente. Outro fator também perceptível em várias regiões do país é o retorno de população que mi-grou sazonalmente, ou mesmo por 20, 30 anos consecutivos, e com uma aposenta-doria podem voltar a viver em áreas que haviam deixado para trás. Nestas áreas voltam também a produzir em pequenas quantidades, mas o suficiente para suprir parte do consumo doméstico. Esta me pa-rece ser também uma perspectiva bastan-te interessante para parte da população.

Campo Vivo – As políticas públicas fe-deral, estadual e municipal estão sendo suficientes para tentar reverter essa si-tuação?Maria Izabel - De maneira alguma. Penso que muitas medidas precisam ser tomadas para melhorar as condições de vida da zona rural. Entretanto, isto co-meçou a mudar nos últimos anos, mas ainda de maneira muito tímida. Não se pode negar, ao mesmo tempo, o enorme montante de recursos públicos que já foram destinados principalmente para a agricultura voltada essencialmente para a exportação, o agronegócio. E o mais contraditório disto é que estes incentivos promoveram e vem promovendo novos

“De fato, minhas mãos são de seda, mas meu coração se tornou pedra, porque a vida na cidade não era exatamente como nós imaginávamos –

relato de uma senhora que deixou o campo”

“Se no campo os direitos básicos de cidadania são limitados, estes grupos sociais também

não os encontrarão nas cidades”

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êxodos rurais. Um exemplo recente é a ocupação da produção de soja na região amazônica que tem sido atualmente uma das regiões que mais tem perdido popu-lação. Quando falo em políticas públicas e incentivos para o meio rural tenho em mente outros tipos de agricultores. Sem incentivos específicos direcionados a es-tes agricultores, provavelmente as áreas rurais irão desertificar, e os problemas urbanos crescerão de forma assustadora. Durante a minha pesquisa de campo para a realização do meu doutorado, permaneci

no Vale do Jequitinhonha/MG por alguns meses. Pude ver de muito perto as con-dições daqueles que migravam para SP, principalmente para o trabalho no corte da cana de açúcar, na condição de bóias-frias. Em geral, todos os entrevistados e outros com os quais conversei durante a minha estadia afirmaram que eles só se submetiam à super exploração do corte de cana para manter a sua condição de agricultor minifundista, seja como pro-prietário ou mesmo parceiro, etc. Com o

pouco que conseguiam durante a colheita da cana eles podiam plantar, alimentar alguns animais, manter as cercas, en-fim, reproduzir-se socialmente em suas regiões de origem. Se fossem destinadas políticas públicas a este grupo social, parte significativa destes agricultores não migraria. Nesta região em especial, como em boa parte da região nordestina, os problemas com a seca são constantes. Desta forma, seria necessário elaborar mecanismos efetivos para atenuar a fal-ta de água, melhorar os sistemas de co-

mercialização, com a melhoria das estradas que ligam as pequenas comunidades aos pequenos centros urbanos, onde vendem nas feiras, criar um sistema rural de saúde, escolas que valorizem o lugar onde vivem, e não ao contrário, como vem acontecendo nas zonas rurais, onde os professores reforçam a idéia do êxodo rural, quando de-senvolvem e fortalecem junto aos estudantes a idéia de atraso rural, pelo fato de praticarem outros esti-

los de agricultura.

Campo Vivo - Qual sua expectativa e como você observa o futuro rural bra-sileiro?Maria Izabel – Acredito que determina-das políticas públicas bem direcionadas poderiam modificar substancialmente as condições de permanência nas zonas rurais. As migrações ocorrem, princi-palmente, porque estar no meio rural é estar distante dos serviços básicos que

podem promover um maior conforto para as famílias. Os indicadores educacionais brasileiros nas zonas rurais são mais pre-cários do que os urbanos e, ainda, um dos piores da América Latina. As dificul-dades encontradas pelas famílias rurais de menor poder aquisitivo são generali-zadas. Assim, qualquer possibilidade de romper com este quadro de precariedade gera o desejo de sair e tentar encontrar uma condição social mais digna. É preciso incentivar e permitir a diver-sidade de produção nas áreas rurais. O modelo agrícola preconizado pós déca-da de 1950 tem seu espaço delimitado e, portanto, não pode moldar os diferentes estilos de agricultura. Nós sabemos que alguns estilos de agricultura deman-dam menos força de trabalho; outros, ao contrário, utilizam força de trabalho em maior quantidade. Os dados do últi-mo censo também reforçam esta idéia. O agronegócio emprega menos que outras modalidades de agricultura. É deste setor mais demandante de força de trabalho, portanto, que gera mais empregos, que advém parte significativa do que come-mos no nosso dia a dia. E é exatamente neste perfil produtivo que podemos ad-quirir alimentos de melhor qualidade, mais seguros, garantindo assim a sobera-nia alimentar. Acredito que o incentivo à agroecologia, por meio de financiamen-tos apropriados, poderia propiciar a ga-rantia de alimentos de qualidade e com justos preços para a população brasileira. Assim tanto a população urbana quanto a rural estaria se beneficiando.

“Muitos dos que já deixaram o meio rural e suas terras, o fizeram

porque não encontraram condições para ficar”