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Revista Capital 1 Publicação mensal da S.A. Media Holding . Setembro de 2010 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR Nº 33 . Ano 03 ENTREVISTA Bolsa de Valores à altura dos desafios ECONOMIA Raio X às exportações em Moçambique DESENVOLVIMENTO África do Sul com maior número de empresas E agora? What now?

Revista Capital 33

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Revista Capital 1

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Setembro de 2010 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR Nº

33 .

Ano

03

ENTREVISTABolsa de Valoresà altura dos desafios

ECONOMIARaio X às exportaçõesem Moçambique

DESENVOLVIMENTOÁfrica do Sul com maior número de empresas

E agora?What now?

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Sumário16Tumultos chocam país e mundo

Os dias 1 e 2 de Setembro trouxeram às ruas de Maputo e Matola um ambiente de nítida instabilidade social, que se caracterizou por tumultos, saques e vio-lência. Arsénia Sithoye acompanhou as manifestações populares, motivadas sobretudo pelo aumento do custo de vida, e relata como tudo começou e quais foram os prejuízos da reivindicação.

17FOCO I MAnIFeStAçõeS pOpulAReSAnestesia para o «estômago»

A manutenção dos preços da cesta básica foi a resposta encontrada pelo Gover-no para fazer face às manifestações. Contudo, analistas económicos questionam a sustentabilidade da decisão devido à limitada capacidade produtiva do País. Sérgio Mabombo registou os comentários do economista Ragendra de Sousa; de António Francisco, analista do IESE e de Roberto Albino, director do CEPA-GRI, e reflecte sobre a evolução dos preços dos bens essenciais.

O que fazer?

Perante a ocorrência das manifestações, a revista Capital decidiu entrevistar o economista João Mosca e a pergunta de partida foi: O que fazer? O que fazer de um país onde o nível de pobreza ultrapassa os 50% da população? Mosca apon-ta caminhos e refere que é preciso pensar e actuar com base em novos paradig-mas económicos, de relacionamento com os agentes económicos e cidadãos.

18DOSSIeR I eCOnOMIA

20 35 AnOS 26 eCOnOMIARaio X às exportações de Moçambique

Em 2009, a fatia das exportações dos bens sofreram um revés que resultou da queda da demanda internacional, por sua vez, fruto da crise económica. Saiba quais foram os produtos mais afectados e descubra que independentemente das adversidades, as exportações de Ilmenite e Energia Eléctrica, a partir de Moçambique, registaram um aumento.

Guerra dos 16 anos determinoudesempenho do sector industrial

A rubrica aborda nesta edição o sector da Indústria e as suas vicissitudes desde a Independência de Moçambique. Traça-se, assim, um amplo retrato que explica como o conflito armado causou a falência de fábricas – sobretudo no ramo têxtil, e como o Governo pretende revitalizar o sector.

FOCO I MAnIFeStAçõeS pOpulAReS

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entReVIStA I pReSIDente DA BOlSANa Bolsa de Valores, estamos à altura dos desafios

A Bolsa de Valores de Moçambique está a fazer apelo à subscrição pública da maior emissão de Obrigações do Tesouro até hoje feita. O seu presidente, Jussub Nurmama-de, garantiu à jornalista Arsénia Sithoye que a Bolsa está à altura dos desafios e revela o perfil dos investidores, os valores envolvidos e experiências passadas.

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38AMBIente I InDúStRIAMozal: Micoa exige estudos científicosde ambientalistas

O MICOA apresentou as bases nas quais assenta a decisão de permitir as emissões directas da Mozal e, ao mesmo tempo, instou os ambientalistas que se opõem à decisão para que apresentem os estudos científicos relacionados com o Caso. Sérgio Mabombo estudou os níveis de poluição tolerados pela Organização Mundial de Saúde e ouviu o Governo e António Reina, da organização Livaningo.

42DeSenVOlVIMentO I ÁFRICAÁfrica do Sul reúne o maior leque de empresasdo mercado emergente

Um Estudo da Boston Consulting indica que África está a transformar-se num ninho para as grandes empresas, e cujo crescimento tem vindo a ser notável. A África do Sul assume-se como o país com o maior número de firmas que estão a emergir no mercado, seguida do Egipto e de Marrocos.

54 eStuDOS De MeRCADOO poder do Geomarketing

Qual a distribuição geográfica dos meus clientes? Qual a área de cobertura geográfica do meu negócio? Como maximizar a distribuição e a cobertura dos produtos da minha empresa? Estas e outras questões poderão ser res-pondidas de uma forma eficaz pelo Geomarketing. Saiba como, e qual é a distribuição dos estabelecimentos formais e informais em Maputo.

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Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Rua da Sé, 114 – 3.º andar, 311 / 312 – Telefone/Fax +258 21 329337 – Tel. +258 21 329 338 – [email protected] – Director Geral: Ricardo Botas – [email protected] – Directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sithoye - [email protected]; Sérgio Mabombo – [email protected] – Secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected]; Co-operação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM, INATUR, INTERCAMPUS – Colunistas: António Batel Anjo, E. Vasques; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Hermes Sueia; Joca Estêvão; José V. Claro; Leonardo Júnior; Levi Muthemba; Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo (ISCIM/IPCI); Paulo Deves; Ragendra de Sousa, Rolando Wane; Rui Batista; Sara L. Grosso, Vanessa Lourenço – Foto Capa: Sérgio Costa; Fotografia: GettyImages, Luís Muianga; – Ilustrações: Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Paginação: Benjamim Mapande – Design e Grafismo: SA Media Holding – Tradução: Alexandra Cardiga – Departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Magic Print Pty, Jhb – Distribuição: Nito Machaiana – [email protected] ; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Registo: n.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

editorial

Ficha Técnica

Diz a sabedoria popular que quem semeia ventos colhe tempestades. Nos dois primeiros dias do mês de Setembro pode dizer-se que a colheita ultrapassou as expectativas duma sementeira discreta mas nem por isso menos eficaz, apesar de desajeitada.A conjuntura internacional não poderá considerar-se o único bode expiatório dos aumen-tos anunciados para o dia um deste mês. Na realidade era de esperar que o aumento do preço do barril de petróleo ou a desvalorização galopante do Metical iriam desencadear outras subidas de preços que normalmente se repercutem, em primeiro lugar, nos bens de primeira necessidade. A política de subsídios ao consumo de combustíveis não pode ser uma medida independente de toda uma série de outras tomadas de posição que não obriguem, a determinado momento, ao acerto apressado, e necessário, dos valores que, até aí, não correspondiam à realidade do mercado internacional.A sociedade civil moçambicana, embora não organizada em estruturas que a represen-tem junto dos órgãos de poder legitimamente constituídos, já tinha, há dois anos e meio, mostrado o quão perigoso se torna deixar que o descontentamento se extreme. Na altura o pretexto foi o aumento, nunca efectivado, do preço dos transportes semi-colectivos e os resultados são conhecidos.Entretanto o salário mínimo pouco evoluiu mas anunciaram-se, e verificaram-se mes-mo, agravamentos de preços em artigos que a população considera a justo título como elementares na sua luta pela sobrevivência. De há muito que se murmurava contra os preços elevados mas a gota de água, a que faz sempre transbordar o copo, foi o aumento do preço do pão, elemento essencial à dieta alimentar dos mais desfavorecidos e que, acompanhado de salada ou de qualquer outro componente, acaba por constituir a base da sua alimentação.Esta sementeira de ventos originou a colheita que é do conhecimento geral e que parali-sou os centros nevrálgicos do país – Maputo e Matola – durante cerca de 48 horas. Vidas humanas estupidamente ceifadas, depredação da riqueza colectiva, milhões de meticais de prejuízo, uma deterioração da imagem externa do país, confrontos entre moçambica-nos e um desgaste da imagem dos poderes públicos, quando tudo isto poderia ter sido evitado.A economia moçambicana não necessitava desta safra de intolerância e ódio, teria basta-do que a sementeira fosse apenas de brisas.n

A partir deste número da Revista CAPITAL cesso as minhas funções enquanto director geral da publicação, embora me mantenha entre os colaboradores assíduos e tão en-tusiasta como no primeiro dia de trabalho. Este espaço editorial voltará a ser ocupado pela Dr.ª Helga Nunes, agora já menos absorvida pela sua actividade académica. A todos quantos, dentro desta casa, me apoiaram e incentivaram nesta tarefa de cerca de dois anos exprimo o meu profundo agradecimento, extensivo aos leitores, parceiros e anunciantes que continuam a manter a sua confiança num produto que queremos sempre melhor.

Ricardo [email protected]

Sementeira de ventos

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BOlSA De VAlOReS

CApItOOn

COISAS QUE SE DIZEM…EM BAIXA

EM ALTA

CÔNSUL DE PORTUGAL. O Governo moçambicano aumentou os preços das autorizações de residência, que passam agora a custar a cada estrangeiro mais de 500 euros, contra os cerca de 10 que custavam antes, ignorando, segundo a cônsul de Portugal em Maputo, os acordos internacionais. Graça Gonçal-ves Pereira entrou em defesa da sua comunidade, onde se integra um bom leque de empreendedores, e afirmou que se está a aplicar indistintamente uma tabela, uma vez que existe um acordo da CPLP, aprovado numa cimeira em Brasília (2002), que refere que os cidadãos da CPLP estão isentos de pagamentos de taxas e emolumentos no preço das autorizações de residência.

MILLENIUM BIM. O Millennium-bim foi distingui-do, pelo segundo ano consecutivo, o “Melhor Banco em Moçambique”, pela revista financeira emeafi-nance, no concurso African Banking Achievement Awards 2010. As iniciativas adoptadas no âmbito da expansão da rede de balcões; a introdução de novas tecnologias no mercado como o “EASYsms”; o incremento do parque de ATM’s por todo o país, a concepção de produtos comerciais com forte orien-tação social, indicadores de boa gestão consubstan-ciados no crescimento dos resultados líquidos e um rácio de solvabilidade excelente, foram alguns dos factores que contribuíram para que o Banco rece-besse o distinto prémio de “Melhor Banco de Mo-çambique”

MEGAPROJECTOS. O Banco Mundial considera «in-justificável» a decisão do governo de Moçambique de continuar a conceder incentivos fiscais aos me-gaprojectos, por achar que «o clima de investimen-to para grandes projectos melhorou significativa-mente no país desde a década de 1990». Intitulado «Eliminando as barreiras para o desenvolvimento inclusivo», o sumário do relatório económico de Moçambique divulgado na página do Banco Mun-dial em Maputo refere que «os mega-projectos existentes mudaram o padrão do crescimento e das exportações de Moçambique a partir de 1999 e colocaram o país no mapa global dos investidores internacionais». Contudo, criaram poucos empre-gos e pagam impostos baixos graças a generosos incentivos fiscais das autoridades moçambicanas.

MERCADO DO TRIGO. Pelo menos sete mil tonela-das de trigo produzido na província de Manica, na campanha agrícola passada, não foram comerciali-zadas devido à falta de mercado.Esta situação acontece quando a produção de trigo em Moçambique corresponde a apenas 5 % das ne-cessidades anuais do país. Com efeito, o consumo nacional de trigo é de 437 mil toneladas por ano e o país produz apenas 22 mil toneladas, o que significa haver um défice de cerca de 400 mil toneladas.

Falta de iniciativa a quanto obrigas…«A nossa mão-de-obra não está preparada para ser um motor de crescimento de empresas, temos mais pessoas disponíveis para serem mandadas do que para executar de forma independente as tarefas»,Elias Come, director executivo da Associação Industrial de Moçambique (AIMO), em conferência de imprensa aos jornalistas.

Deficiência económica«Hoje, o ambiente de negócios não é bom. Para se abrir uma empresa e operar sem ter problemas burocráticos, principalmente derivados da excessiva carga fiscal, é preciso ser membro do partido governamental. Assim, poucas empresas estão a ser criadas e, portanto, a economia na verdade está a crescer de forma deficiente.»,

Henriques Viola, in o jornal O País.

Dessincronia a toda a prova«Se, por um lado, o discurso político diz que a solução está no aumento da produtividade interna, importa perguntar: Que condições temos para a melhoria da produtividade? Que estímulos existem para que os empreendedores abram mais empresas, produzam mais e empreguem mais moçambicanos? Uma análise atenta demonstra que o Governo tem um discurso incoerente com a sua prática.»,Idem

O boom anunciado«É neste contexto de pobreza extrema e ostentação de políticos corruptos que a população não tolera mais o aumento do custo de vida. E o aumento do preço do pão, energia eléctrica, água e outros produtos foi apenas o fósforo num barril de pólvora que vem acumulando-se há vários anos», Idem

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MunDO

ZIMBABWEEmpresa investe 300milhões de dólares na produção de diamantes

Uma das maiores empresas de diamantes do Zimbabwe, Mirowa Mine, anunciou que vai investir 300 milhões de dólares para au-mentar a sua produção.O director-geral das Minas indicou que a produção anual de diamantes, que é actu-almente de 300 mil quilates, será multipli-cada por sete logo após este investimento.A mina, onde será investido este fundo, situa-se no centro do Zimbabwe e é a segun-da maior de diamantes do país, controlada maioritariamente pela empresa internacio-nal Rio Tinto.“Este projecto é muito importante. Os be-nefícios tirados pelo Zimbabwe deste pro-jecto são muito significativos pois as in-dústrias locais vão igualmente beneficiar disto. Tem um efeito multiplicador pois os fornecedores locais vão aproveitar e va-mos aumentar a nossa assistência comuni-tária. O Governo vai beneficiar das taxas”, regozijou-se Kristensen. Aquele dirigente anunciou igualmente que Murowa Mine está a debater com o Governo no sentido de evitar ameaças de controlo das acções nas empresas estrangeiras estabelecidas no Zimbabwe.Com efeito, as autoridades locais anuncia-ram a sua intenção de tirar 51% das acções das empresas estrangeiras no âmbito da “economic empowerment drive” (campa-nha de reforço económico).A multinacional Rio Tinto possui 78% da companhia Murowa Mine, ao passo que o resto está sob o controlo de um consórcio de empresários locais.

EUA

25% dos economistasantevêem nova recessão

Segundo um inquérito da Reuters, um em cada quatro economistas considera que existe agora a possibilidade de a maior eco-nomia do mundo voltar a registar uma que-bra do PIB no terceiro trimestre, contra os 15% que colocavam essa hipótese em Julho.O banco Goldan Sachs também aumentou até 25% a sua previsão de que pode verifi-car-se uma dupla recessão nos Estados Uni-dos.Por sua vez, o economista e Prémio Nobel, Paul Krugman, não só não descarta uma nova recessão nos EUA, como diz que se o desemprego continuar a aumentar durante o resto do ano, “o que parece ser provável, pois não interessa que os números do PIB sejam ligeiramente positivos ou negati-vos”.Nouriel Roubini, especializado em análi-se financeira, também colocou em 40% as probabilidades de nova recessão nos EUA. O economista que previu a crise financei-ra mundial diz que os Estados Unidos vão crescer “muito menos” de 1% no terceiro tri-mestre, evolução que indica uma forte desa-celeração na economia.Roubini considerou também que a expan-são do PIB americano pode ser muito mais

próxima de 0% do que dos 1%, e, como re-sultado, prevê que as hipóteses de uma nova recessão ultrapassem os 40%.O Departamento do Comércio norte-ameri-cano reviu em baixa a evolução do PIB, en-tre Abril e Junho, em oito décimas. Afinal, a maior economia do mundo não cresceu 2,4%, mas apenas 1,6%.Na ocasião, foram também divulgados di-versos indicadores económicos relativos ao mercado imobiliário, emprego e indústria que também decepcionaram.

TANZÂNIAGoverno quer empresários tanzanianos na BTM-2011

O executivo moçambicano quer atrair o in-vestimento dos empresários tanzanianos na Bolsa de Turismo de Maputo (BTM), a par-tir do próximo ano.A vontade foi manifestada pelo ministro do Turismo de Moçambique, Fernando Sum-bana, à sua homóloga tanzaniana, Shamza Mwangunga durante a visita desta a Mo-çambique, ocorrida na segunda semana do mês de Setembro em Maputo. A visita de Shamza Mwangunga visa estrei-tar as relações de cooperação no sector do turismo nos dois países, mais concretamen-te nas áreas de formação profissional, troca de informação e marketing. Por outro lado, Moçambique pretende aproveitar a experi-ência tanzaniana na área de conservação de fauna bravia.A Bolsa de Turismo de Maputo é uma fei-ra organizada pelo Ministério do Turismo, em parceria com a FACIM, que anualmente reúne operadores turísticos, empresários, compradores, nacionais e internacionais. A mesma ocorre sempre no recinto da FA-CIM, durante o mês de Maio, e tem a dura-ção de quatro dias.Sumbana fez recordar que muitos quadros moçambicanos que actualmente trabalham nas reservas nacionais tiveram formação na Universidade de Mweca, na Tanzânia, uma entidade com reconhecida qualidade na for-mação em fauna bravia.

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MOçAMBIque

MINÉRIOSRefinaria de ouroarranca em Manica

A primeira refinaria de ouro em Moçambi-que deverá entrar em funcionamento ainda em 2010, na província de Manica, possibili-tando deste modo o emprego a 300 operá-rios. A informação dada pelo Ministério dos Recursos Minerais confirma o que já tinha sido avançado anteriormente em outros fó-runs dando conta que a empresa mineira sul-africana Pan African projectava cons-truir uma fábrica de processamento de ouro em Moçambique, através de um investimen-to de 80 milhões de dólares (cerca de 2.880 milhões de meticais). A Pan African pretende explorar cerca de 16 mil hectares na província de Manica, onde pretende abrir três minas de ouro, designa-damente “Fair Bride”, “Dot’s Luck” e “Guy Fawkes”. A mesma empresa encontra-se em negocia-ções para a constituição de um consórcio com a Delta Trading , empresa que também possui interesses mineiros naquela província moçambicana. A Delta Trading concluiu recentemente um estudo de viabilidade da mina de ouro Mo-nac, que lhe foi concedida para exploração, tendo concluído que a mesma pode produzir mais de 200 quilos de ouro por ano. Segundo especialistas, algumas minas de ouro da zona podem ter uma vida superior a 10 anos.

PETRÓLEOAnadarko Petroleumdescobre petróleona bacia do Rovuma

A empresa norte-americana Anadarko Pe-troleum descobriu petróleo na bacia do Ro-vuma, segundo a ministra dos Recursos Mi-nerais, Esperança Bias.A ministra adiantou que a presença de petró-leo associado ao gás natural naquele local foi detectada a uma profundidade de 5.100 me-tros, sendo igualmente a primeira vez que se descobre petróleo no mar da África Oriental.“Digo que há presença de petróleo mas ain-da é necessário confirmar através de, pelo menos, mais três furos que serão feitos, de modo a saber se o facto representa uma des-coberta comercial”, disse Esperança Bias.A Anadarko irá proceder à abertura dos res-tantes três furos ainda durante este ano.Por sua vez, o Presidente Armando Guebuza apelou a todos os moçambicanos para “man-terem-se calmos”, na sequência da referida descoberta de petróleo na bacia do Rovuma. Guebuza entende que os moçambicanos de-vem esperar até que haja uma informação mais pormenorizada sobre a descoberta.O estadista moçambicano, falando na con-ferência de imprensa que marcou o fim da cimeira da SADC, em Windhoek (capital da Namíbia) referiu ainda que mesmo que as pesquisas confirmem a ocorrência do hidro-carboneto em quantidades suficientes para a comercialização, as pessoas não devem abandonar as diversas fontes de subsistên-cia.O petróleo associado ao gás natural foi des-coberto no terceiro furo denominado “Iron-clad”, depois de no segundo furo, denomi-nado “Windjammer” (aberto em Fevereiro último), ter-se anunciado a descoberta de gás a uma profundidade de 3.600 metros.A prospecção de hidrocarbonetos na bacia do Rovuma é feita ainda pela ENI de Itália, Petronas da Malásia e a Statoil da Noruega.Entretanto, existem propostas de mais em-presas ao quarto concurso para a pesquisa e prospecção de hidrocarbonetos no país, cujos vencedores serão divulgados em breve.

TELECOMUNICAÇÕESTDM com prejuízode 3 milhões de dólares

O prejuízo registado recentemente pela em-presa Telecomunicações de Moçambique (TdM), em consequência das avarias regis-tadas na rede de fibra óptica, já ascende a 3 milhões de dólares, segundo Joaquim de Car-valho, o presidente da empresa. Joaquim de Carvalho disse que concorrem para o problema a execução de obras de cons-trução nos locais por onde passa a fibra óptica, a sua vandalização, intempéries e avarias nor-mais, o que acaba em restrições nas comuni-cações das redes de telefonia fixa e móvel, nas zonas centro e norte do país.O mesmo responsável adiantou que a TdM está a investir no desenvolvimento de um projecto de redundância com a finalidade de minimizar o impacto dos cortes e avarias. O mecanismo também irá permitir, no caso de alguma anomalia, a ligação automática atra-vés de vias alternativas para que o tráfego pos-sa continuar a fluir. “Desde o início da execução da rede de fibra óptica terrestre e submarina, no ano 2000, a TdM já investiu até ao momento 110 milhões de dólares, 27 milhões dos quais estão a ser aplicados no projecto de redundância”. As constantes avarias da rede das TdM fize-ram com que a segunda maior empresa de telefonia móvel em Moçambique viesse a investir mais de sete milhões de dólares na construção da sua própria rede de fibra óp-tica ligando as cidades de Maputo-Matola e Maputo-Beira.A rede de fibra óptica da TdM é utilizada não só pelos operadores de telefonia fixa e móvel, mas também pelas instituições do Estado, fi-nanceiras, empresas e por outros utentes de países vizinhos como Malawi, Zimbabwe e Suazilândia.

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FOCO I MAnIFeStAçõeS pOpulAReS

Arsénia Sithoye (texto) . Luís Muianga (fotos)

Nos dias 1 e 2 de Setembro de 2010, as cidades de Maputo e da Matola acordaram no meio dos tumultos populares. As ma-nifestações de protesto contra a subida do custo de vida no país haviam sido convo-cadas por anónimos através de mensagens telefónicas. Mensagens essas que haviam sido postas a circular em linha de continui-dade, cerca de duas semanas antes.

O povo mais uma vez revoltou-se. Desta feita contra o aumento dos preços da água, da electricidade, do pão, entre outros bens de primeira necessidade. As manifestações não foram autorizadas, no entanto as pes-soas fizeram-se à rua e, de forma descon-trolada, reivindicaram melhores condições de vida, provocando um autêntico estado de sítio.

O cenário era semelhante ao de um ataque desgovernado. As principais artérias das duas urbes foram bloqueadas com pneus queimados, diversos troncos, pedregulhos, tubos, e até mesmo os equipamentos das paragens dos autocarros foram arrancados para obstruir as vias. Contra os diminutos automóveis que circulavam à pressa eram lançadas pedras, numa verdadeira intifa-da urbana. Várias lojas, principalmente as pertencentes a proprietários nigerianos, foram saqueadas.

As bombas de gasolina e carros foram vandalizados, e a imagem recorrente era a de pessoas a correrem - de um lado para o outro - em busca de um refúgio para se protegerem das balas e do gás lacrimogé-neo lançados pela Polícia, que desde as pri-meiras horas daquela manhã patrulhavam as ruas com o intuito de evitar as manifes-tações.

Instalados em pontos estratégicos de alta concentração populacional, como nos bair-ros semi-periféricos do Jardim, Inhagóia, Choupal, Benfica, Mahlazine e Magoanine, os agentes da polícia faziam-se transportar

em carros blindados da Força de Interven-ção Rápida e tentavam, sem grande suces-so, dispersar a população que se revoltou nas ruas durante dois dias consecutivos.

De recordar que para o actual Governo ainda não se tinham apagado as imagens da revolta de 5 Fevereiro de 2008, um marco histórico bastante mencionado nos discur-sos oficiais do crescimento económico, da luta contra a pobreza absoluta e estabilida-de social. De certeza que as manifestações recentes, que tiveram maior repercussão do que a primeira, ficarão indelevelmente marcadas na história de Moçambique e do actual Executivo.

Depois da tempestade,veio a bonança

O receio e as imensas filas de espera, en-chentes nas paragens e filas enormes nas padarias marcaram o dia 3 de Setembro. Nas ruas quase desertas era visível o res-caldo da revolta. As edilidades de Maputo e da Matola arregaçaram as mangas para de-sobstruir e limpar as vias de comunicação com a ajuda dos militares que ao mesmo tempo controlavam possíveis focos de ma-nifestações. A vida voltava à normalidade nas duas cidades com o constatar do fim dos tumultos.

Dados indicam que as manifestações po-pulares de 1 e 2 de Setembro resultaram em diversos danos humanos e materiais. Contas feitas somaram 13 mortos e 300 feridos, sendo a maior parte resultante de balas disparadas pelas autoridades poli-ciais, não obtsante o ministro do Interior ter declarado em público que os mesmos estavam a usar balas de borracha.

Ao todo, 23 estabelecimentos foram sa-queados e danificados, duas instituições bancárias foram vandalizadas, 12 autocar-ros foram danificados, sendo que um foi totalmente destruído. Por outro lado, dois vagões contendo milho e cimento foram saqueados, ao passo que cinco viaturas,

Tumultos chocam país e mundo

Na manhã do dia 3 de Setembro a popu-lação da cidade de Chimoio, capital da pro-víncia de Manica, no centro de Moçambique, também aderiu às manifestações de protesto contra a subida generalizada de preços de produtos básicos. Os manifestantes usaram

pedras, paus e queimaram pneus na via pú-blica com intuito de impedir a abertura de mercados, lojas e circulação de transportes públicos.

Nos diversos pontos da cidade e arredo-res era visível uma forte presença policial na

tentativa de apaziguar a fúria popular. Os tu-multos resultaram num morto e seis feridos, sendo dois menores de idade.

Além de Maputo, Matola e Chimoio, houve igualmente focos de manifestações nas cida-des de Manica, Tete e Nampula. n

duas motorizadas e quatro postes de trans-formação de energia foram queimados e duas bombas de combustível vandalizadas.

No total, os prejuízos contabilizaram, aproximadamente, 122 milhões de meti-cais. Segundo o Executivo, estas perdas representam um retrocesso na luta contra a pobreza e na promoção do bem-estar dos moçambicanos. n

Manifestações chegam a outras localidades

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Sérgio Mabombo (texto)

A manutenção dos preços da cesta básica, em resposta às manifestações contra o alto custo de vida, que ocorreram nos primei-ros dois dias de Setembro, em Maputo e na Matola, constitui uma medida transitória devido à sua insustentabilidade a médio e longo prazos.

As referidas medidas incluem a manuten-ção do preço anterior do pão (de 5 meticais o quilo) através da introdução de subsí-dios; baixar o preço do arroz em 7.5 por cento (diferindo os direitos aduaneiros so-bre este produto); suspender temporaria-mente a sobretaxa de importação do açú-car; reduzir até metade a taxa de ligação de água (de 4 para 2 mil meticais), entre outras.

Entretanto, os analistas económicos questionam a sustentabilidade das medi-das devido à limitada capacidade produti-va do país, enquanto o Governo já dá al-guns sinais da sua pretensão em potenciar a agricultura. Neste âmbito, o Executivo moçambicano anunciou, uma semana de-pois das manifestações, a doação de 850 tractores a alguns agricultores nacionais durante as três campanhas agrícolas que se avizinham. Mas apesar do gesto, os analis-tas económicos pretendem ver um esforço redobrado na agricultura.

O economista Regendra de Sousa, co-mentando a onda de manifestações popu-lares que culminou com a redução dos pre-ços da cesta básica, adverte que a pobreza urbana não se combate com a distribuição e redistribuição, mas sim com a produção.

Entretanto, pouco se sabe sobre o impac-to que os esforços em curso poderão ter, na medida em que o Executivo também fala de uma evolução pouco favorável da conjuntura internacional. Por outro lado, as medidas de redução e manutenção dos preços só serão sustentáveis com a correcta aplicação do programa de produção de ali-mentos, segundo defendeu o analista Hen-rique Mandava num programa televisivo relativo ao assunto.

As manifestações de Setembro deram a perceber a urgência de se mecanizar a agri-cultura nacional, uma vez que a mesma é desenvolvida maioritariamente pelo sector familiar usando técnicas rudimentares. Roberto Albino, director do Centro de Pro-moção da agricultura (CEPAGRI) explicou que 95 por cento dos produtores agrícolas em Moçambique pertencem ao sector fa-miliar, sendo os restantes 5 por cento cons-tituídos por produtores médios ou empre-sariais. Perante tal cenário, a mecanização da agricultura e o consequente aumento da produção, originaria uma maior oferta e um cabaz mais acessível, segundo a análise dos economistas.

António Francisco, analista do Instituto de Estudos Sociais e de Investigação Eco-nómica (IESE) aponta como pano de fun-do para as manifestações sobre o custo de vida, a questão das desigualdades sociais. “Há um pequeno grupo que tem uma vida confortável enquanto uma grande massa populacional (a dos envolvidos nas mani-festações) passa por muitas privações”, acrescentou.

O Índice de Preços do Consumidor (IPC),

divulgado pelo Instituto Nacional de Esta-tística (INE), aponta para um aumento do nível geral de preços na ordem dos 0.15 por cento nos meses de Julho e Agosto do cor-rente ano na cidade de Maputo.

O preço do pão que se mantém nos 5 me-ticais o quilo, o açúcar amarelo granulado a 25,50 meticais para a mesma quantidade, assim como a água e a electricidade, são os bens cuja subida de preço foi mais contes-tada pela fúria popular.

Por sua vez, o tomate cujo preço passou de 56.80 meticais, em Julho, para 50.70 meticais em Agosto, o coco (passou de 7.30 para 7.10 meticais, de Julho para Agosto) e a alface, são dos poucos alimentos que tiveram uma variação negativa no período em análise.

A actualização do IPC efectuada em Agos-to de 2010 aponta que o total da inflação acumulada (que actualmente cifra-se em 6.14 por cento) para o caso da cidade de Maputo foi fortemente influenciado pelo agravamento dos preços do tomate, couve, alface, cebola e petróleo de iluminação.

Os referidos preços representam um aumento na ordem dos 17.08 por cento comparativamente ao período homólogo do ano passado. De acordo com a mesma actualização, a variação homóloga no IPC indica 6.53 por cento, em Janeiro de 2009, contra 5.06 por cento do mesmo mês em 2010.

Nos últimos três anos, o IPC no mês de Agosto de 2008 indica 10.62 por cento, contra 1.12 e 17.08 por cento para 2009 e 2010, respectivamente. n

Anestesia para o “estômago”?

Preços médios mensais de produtos seleccionados do cabaz da Cidade de Maputo

Produto Unid. de Medida Julho Agosto Variação. %

01 Pão de trigo Kg 5,00 5,00 0,0002 Arroz Kg 26,60 26,90 1,1303 Frango vivo Unidade 113,10 117,40 3,8004 Tomate Kg 56,80 50,70 -10,7405 Amendoim (miolo) Kg 48,80 49,40 1,2306 Carapau Kg 52,30 52,80 0,9608 Peixe fresco, refrigerado ou congelado Kg 142,50 147,00 3,1609 Óleos alimentares L 63,10 63,80 1,1111 Feijão manteiga Kg 46,70 46,80 0,2112 Coco Kg 7,30 7,10 -2,7413 Açúcar amarelo granulado Kg 25,00 25,50 2,0022 Açúcar branco granulado Kg 29,90 30,20 1,0023 Farinha de milho Kg 25,50 25,40 -0,3924 Ovos frescos de galinha Dúzia 57,70 58,10 0,6925 Alface Kg 49,30 49,10 -0,4126 Frango morto limpo Kg 107,10 108,30 1,1228 Mandioca fresca Kg 21,80 21,80 0,00

Descrição Ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago 2008 10,60 13,01 12,07 11,22 10,09 10,36 10,54 10,62 Variação Homóloga 2009 6,53 4,36 5,15 4,39 3,04 2,65 2,42 1,12 2010 5,06 6,84 7,14 9,08 12,69 14,52 16,10 17,08Ju

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Fonte: INE

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DOSSIeR I eCOnOMIA

O que fazer?O que fazer de um país cuja pobreza ultrapassa os 50% da população e onde a economia é das menos competitivas do mundo? O que fazer de uma economia onde o IDE representa mais de 80% do total do investimento. O que fazer de uma economia que se mostra incapaz de gerar emprego? Segundo o economis-ta João Mosca, a solução terá de passar pelo reconhecimento de que algo está muito errado e pela disposição de repensar, criar rupturas, pensar e actuar com base em novos paradigmas económicos, de relacionamento com os agen-tes económicos e cidadãos, e actuar com novas políticas económicas e agrárias.

e da água é fundamentalmente monopolista em ambas as cadeias produtivas. Quer isto dizer que não tem concorrência, é protegido pelo Estado e eventualmente possuem direc-ções politizadas, e não se sabe de que forma transferem recursos para o Estado. Portanto, a estrutura dos mercados deste sector não es-timula a eficiência. É importante estudar-se como alterar esta situação de forma a haver concorrência e ambientes favoráveis para a inovação e melhores serviços aos cidadãos e empresas. Em resumo, mais eficiência, me-lhor gestão e baixa de custos nas empresas produtoras e prestadoras de serviços e rees-truturação da estrutura dos mercados. Só as-sim será possível não fazer subir os preços ao consumidor, retirar os subsídios e manter as empresas rentáveis.

O Banco Central inicialmente tinha um discurso bastante optimista em re-lação ao impacto da crise em Moçam-bique, mas actualmente o ambiente económico revela-se pouco encoraja-dor. Será que o cenário que se vive na economia moçambicana significa ape-nas a ponta do iceberg de um futuro ainda mais difícil?Em 2009, Moçambique ocupava o lugar 172 em 182 países avaliados no Índice de Desen-volvimento Humano. É um dos países com um rendimento per capita dos mais baixos do mundo, cerca de 350 dólares americanos, não obstante as taxas de crescimento de entre sete e oito anos por cento durante os últimos anos. A pobreza ultrapassa os 50% da população e há indícios de que tem aumentado nos últi-mos anos. A economia é das menos compe-titivas do mundo (ocupando o 129º lugar em 133 países avaliados em 2009 e o 131º lugar em 139 países em 2010. – World Economic Forum, 2010-2011). O ambiente de negócios, mesmo que tenha tido ligeiras melhorias, é ainda pouco incentivador para o investidor. Moçambique possui um lugar na cauda dos países do índice de percepção da corrupção. A economia não tem capacidade de poupança e o investimento externo representa mais de 80% do total do investimento da economia. O

Sérgio Mabombo (entrevista)

Após as manifestações dos dias um e dois de Setembro, o Governo tomou medidas visando atenuar o custo de vida nos cidadãos de classe média -baixa e baixa. Até que ponto a medida de redução na tarifa de energia e água poderá ter alguma sustentabilidade, a médio e longo prazo?Moçambique tem imensos recursos hídricos

e com possibilidades de produção de energia. Já se exporta energia. O custo de energia e o consequente preço ao consumidor, seja das famílias como industrial, dependerá princi-palmente da eficiência produtiva e da renta-bilidade das empresas. Só baixando os custos através de mais eficiência e melhor organi-zação será possível fornecer energia a preços baixos e não continuar com os subsídios, que é sempre a longo prazo insustentável e dis-torce os mercados. O sector da electricidade

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Revista Capital 19

DOSSIeR I eCOnOMIA

O que fazer?Estado está falido e é financiado em 50% por recursos externos. Os recursos naturais estão sendo delapidados por predadores de vários tipos e nacionalida-des, incluindo moçambicanos. A produtividade da agricultura é hoje inferior à existente há quarenta anos. A produção ali-mentar por habitante baixou 40% nas últimas quatro décadas. O capital produtivo agrário é hoje inferior ao que havia na altura da inde-pendência. A economia mostra-se incapaz de gerar em-prego. Fala-se de cerca de 700 mil empregos na economia formal numa população activa de cerca de 9 milhões de habitantes (8% de emprego formal). Por outro lado, o nosso teci-do empresarial é extremamente débil e não há tradição, cultura e vocação empreendedora. A qualificação dos recursos humanos, apesar dos avanços quantitativos, é ainda das mais baixas da África e do mundo. E Moçambique é um dos dez países do planeta com maior prevalência do HIV-SIDA. O crescimento do PIB tem provocado maiores diferenciações sociais e territoriais. Não sei como se pode referir a Moçambique como um caso de sucesso económico e de estabilidade. Portanto, não sei se chamaria o actual cenário com a imagem de iceberg ou com a imagem do degelo ou, se quiser, do “aquecimento do ambiente”.

A necessidade de apostar na base produtiva em Moçambique tem como base a agricultura, que por sua vez é órfã de infraestruturas. Quando é que a mesma será uma solução convincen-te? As infraestruturas existentes e a capacidade produtiva foram-se debilitando e arruinando. Perto de 40% dos regadios não estão em con-dições de funcionamento e a maioria é utiliza-do nas grandes plantações de exportação ou com baixas produtividades. As plantações pe-renes (caju, chá, citrinos, etc.) estão hoje em baixa de produção, com plantas envelhecidas e doentes devido ao não tratamento e manu-tenção e exploração adequadas, durante mui-tos anos. Os serviços à agricultura são hoje muito inferiores aos existentes há 35 anos (por exemplo serviços de assistência mecâni-ca e de mecanização). Grande parte da agro-indústria está paralisada e em ruínas. Cons-troem-se silos deixando ao lado capacidades de armazéns em ruínas, com capacidade para volumes já produzidos muito superiores aos actuais. As lojas rurais estão abandonadas e em seu lugar está o comércio informal e o comércio de agentes formais temporários que apenas aparecem no campo para comprar a produção no momento da colheita. Há a ne-cessidade de se construir ou reformular o pa-

pel do Estado na política agrária, o destino do investimento público e existirem incentivos para o surgimento de agentes económicos locais que criem emprego e riqueza nos distri-tos e localizem a acumulação e reinvistam no território. Mas antes de construir novas infra-estruturas é necessário conservar o existente e utilizá-lo eficientemente. A solução convincente terá que ter antes o reconhecimento que algo está muito errado, haver a disposição de repensar, criar ruptu-ras, pensar e actuar com base em novos para-digmas económicos, de relacionamento com os agentes económicos e com os cidadãos, e actuar com novas políticas económicas e agrárias.

As medidas recentemente tomadas in-cluem (no âmbito Macroeconómico) a não criação de novas instituições que acarretem custos adicionais ao Orçamento Geral do Estado (OGE). Que análise pode ser feita em relação ao mesmo tipo de instituições que ac-tualmente existem e sobre o impacto das mesmas na absorção dos fundos do OGE?Penso que há 28 ministérios. Em alguns ca-sos, é difícil descortinar a separação de man-datos. Existem muitos institutos autónomos. Em resumo uma máquina grande para uma economia pequena. Pessoal pouco qualifica-do e um Estado fortemente concentrado nos órgãos centrais (80% do OGE é retido nos órgãos centrais). Consequentemente um apa-relho de Estado pouco eficiente e eficaz, com filosofias organizacionais verticalizadas, mui-to hierarquizadas e com métodos centralistas, muito à luz de uma organização militarizada e com o predomínio de ambientes de medo social. Portanto, no lugar de não se criar mais instituições, devia-se pensar seriamente em racionalizar e tornar o Estado eficiente e pró-ximo dos problemas e dos cidadãos, menos politizado, mais qualificado e profissionaliza-do e, sobretudo, com definição de quais os pa-péis do Estado no desenvolvimento conside-rando o contexto moçambicano. No lugar de congelar os salários e benesses dos dirigentes devia-se ser mais corajoso e estudar medidas profundas de redução de todos os gastos não essenciais. As medidas anunciadas podem transparecer alguma moralização do Estado, da política e dos governantes mas é necessá-rio estar atentos pois podem não resultar em efectivas.

Alguns ciclos de opinião defendem que as medidas de austeridade anun-ciadas pelo Executivo deviam incluir também a renúncia na organização dos Jogos Africanos. Será que a me-

dida terá algum impacto vistoso ou o país toma a organização do evento para reanimar a economia?A realização dos Jogos Africanos e de ou-tras de natureza e importância semelhante, podem prestigiar o país, admitindo-se que decorrem bem, o que não aconteceu com os jogos dos países da CPLP. Mas há sempre a análise dos custos de oportunidade e conside-rando o contexto de pobreza do país. Quantos hospitais, escolas, poços de água, etc., seriam possíveis com os recursos gastos nos Jogos? As experiências de outras realiza-ções do género em outros países, demonstra que a economia reage positivamente a curto prazo mas que existem facturas elevadas a médio prazo. Neste momento, já que existe o compromis-so de organização dos Jogos Africanos, o que há a fazer é assegurar uma boa organização, prever quais as facturas de médio prazo e tomarem-se medidas para a minimização dos seus efeitos. Pensar-se em como utilizar as infraestruturas criadas especificamente para o evento e não deixá-las abandonadas ou sub-utilizadas como aconteceu em alguns países. Nas condições de Moçambique, parece haver um custo de oportunidade muito elevado (o que se poderia fazer alternativamente com os mesmos recursos), grandes riscos de não utilização do investimentos realizados consi-derando a moeda de troca que é um prová-vel bom marketing político e de imagem do país.n

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Guerra dos 16 anos determinoudesempenho do sector industrial no país

Desde a Independência a esta parte ficaram registados na memória de Mo-çambique vários eventos. Um deles, e por sinal incontornável, é a guerra dos 16 anos. O conflito armado causou impactos de severa magnitude, afectando diversos sectores da economia nacional, entre eles a indústria, que devido à conjuntura da época, viu diversas fábricas decretarem falência e, assim, en-cerrarem portas.

A guerra dos 16 anos teve sérias implicações na economia nacional devido à destruição de uma série de infraestruturas. A tal even-to é atribuída a culpa pela estagnação da indústria nacional até por volta de 2005, quando o governo moçambicano, através da entidade que tutela o sector, o Ministério da Indústria e Comércio, começou a movi-mentar-se no sentido de revitalizar a área. Durante a guerra, muitos empreendimen-tos e infraestruturas foram vandalizados e com as unidades fabris nacionais não acon-teceu diferente. Os equipamentos das fábri-

cas de descaroçamento de algodão foram sabotados, bem como os de outras fábricas. E esta situação determinou a paralisia que se assistiu nas décadas seguintes à Indepen-dência, no sector industrial nacional.Num estudo publicado em 2003, o econo-mista Nuno Castel-Branco defendeu que “Fundamentalmente, nas últimas quatro décadas, a estrutura da produção não evo-luiu significativamente apesar de os mer-cados, tecnologias e desafios económicos e industriais terem mudado substancial-mente. Esta tendência deve tornar-se um

ponto central de preocupação, uma vez que ela demonstra que a indústria nacio-nal está a acumular desvantagens, está a tirar pouco proveito dos desenvolvimentos regionais e internacionais, tem pelo menos meio século de atraso (se olharmos para as últimas décadas) ou, certamente, mais (se considerarmos que, há meio século atrás, a indústria nacional já era atrasada)”. Apesar do relativo atraso da indústria mo-çambicana, num outro estudo sobre a in-dústria, Castel-Branco tem uma visão posi-tiva e diz que “o padrão de industrialização

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Guerra dos 16 anos determinoudesempenho do sector industrial no país

Fonte: Castel-Branco 2002 e 2003 a, GOM/Estatísticas vários números

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2001

Com MOZAL Sem MOZAL

Gráfico 2 Moçambique: Produção da indústria transformadora, com e sem Mozal(em milhares de contos a preços constantes de 1998)

em Moçambique terá um carácter dinâ-mico, sustentável e progressivo na medi-da em que transforma e fortalece ligações económicas e sociais, acelera o crescimen-to, desenvolve a capacidade de a economia nacional participar positivamente na eco-nomia mundial, e fortalece as capacidades económicas identificadas por via de alguns indicadores macroeconómicos chave.”Por outro lado, “o peso dos dez principais produtos industriais na produção indus-trial total passou de 50%, em 1959, para 80%, em 2001. No mesmo período, houve algumas indústrias importantes que de-sapareceram, como a do processamento da castanha de cajú, mas o alumínio (48% do produto industrial em 2001) é o único produto novo com peso significativo na produção total que foi introduzido nesta estrutura industrial. De uma indústria concentrada em descaroçamento de algo-dão e processamento básico de castanha de cajú, passou-se para uma indústria domi-nada por alumínio e cerveja” refere Castel Branco, num estudo sobre a industrializa-ção no país.Ainda no documento em alusão, o econo-mista aponta que “a economia de Moçam-bique tem uma extensa base agrária, o que pode reflectir o facto de que a economia nacional, em particular a sua indústria, é subdesenvolvida. De todo o modo, agro-in-dustrialização parece ter que ser um ponto de partida para o processo de industriali-zação em Moçambique, se o objectivo for levar a sociedade participar e beneficiar do desenvolvimento numa base ampla, eficaz e sustentável. Por outro lado, a actividade agrária absorve uma parte substancial dos recursos nacionais, particularmente força de trabalho, produtos agrários e também capital. Finalmente, a Agro-industrializa-ção tem um alto potencial de multiplicar ligações e efeitos dinâmicos de transfor-mação social. Portanto, é bem provável

que a Agro-industrialização seja uma via mais eficaz de gerar engenhos sustentáveis de crescimento, desenvolvimento, compe-titividade internacional e absorção mais produtiva de excedentes e factores.No entanto, as agro-indústrias são domi-nadas pelas grandes empresas açucarei-ras e de descaroçamento de algodão, as quais consomem cerca de dois terços do investimento agrário e geram aproxima-damente 40% das exportações do sector. Algumas agroindústrias simplesmente desapareceram ou estão em processo de extinção, como são os casos de ramos na indústria de bebidas, enlatamento de vege-tais, descasque de arroz, alguns ramos do processamento pecuário. Dinâmicas agro-industriais nas indústrias de óleos e sabões e processamento de cajú estão a mudar, pois as empresas médias tradicionais estão em crise ou desapareceram, e empresas de menor escala, em número ainda muito pe-queno, estão a surgir sem, no entanto, ser já clara a tendência de desenvolvimento industrial.Agro-indústrias emergentes tendem a ser micro ou pequenas empresas viradas para mercados locais e apoiadas por progra-mas específicos de ONGs internacionais e vários doadores, geralmente úteis para pe-quenas comunidades locais mas sem muita sustentabilidade económica (por exemplo,

pequenas prensas de óleo e projectos de secagem de vegetais e frutos). Outro grupo importante de agro-indústrias emergentes são empresas que dependem da impor-tação de produtos agrários já em fases adiantadas de processamento”.

Indústria têxtil no topo das falências

Nomes como Texlom e Texmoque já foram sinónimos de robustez em décadas passa-das. Estas empresas dedicavam-se à acti-vidade têxtil e empregavam milhares de trabalhadores. A Texmoque teve as portas fechadas em 1994, tendo sido adquirida pela Multiplier, uma firma portuguesa. Po-rém, em 1996 a empresa mostrou incapaci-dade de relançar a produção da fábrica. Já a Texlom encerrou as actividades em 1997, na sequência da saída da Sogetex, entidade responsável pela gestão da fábrica. A Texlom empregava mais de 2.500 traba-lhadores e tinha uma dívida superior a três milhões de dólares. Esta situação impedia a modernização do equipamento da fábrica. A Texlom foi criada em 1966, tendo sido inaugurada por volta de 1972, altura em que iniciou a sua produção. Em 1998, a fábrica produzia diariamente 1.813 toneladas de fio e 9.500 metros quadrados de tecido.Com estas fábricas fechadas, o mercado têxtil foi aberto no início da década de 90.

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AnÁlISe I 35 AnOS DA eCOnOMIA

Foi nesta altura que o país ficou inundado de roupas e outros artigos de vestuário usa-dos, vulgarmente conhecidas por “roupa de calamidade”. Esta situação teve implicações negativas na procura pelos produtos têxteis nacionais a nível interno.Texlom e Texmoque são os únicos nomes sonantes da indústria têxtil que conheceram o declínio. Além delas, Moçambique já teve uma vasta indústria têxtil de confecções e de calçado, distribuída por quase todo o ter-ritório nacional, como são os casos de Tex-manta (Cabo Delgado), Textáfrica, EMMA, Riopele, Têxtil de Mocuba (Zambézia), Pro-gresso (Manica), entre outras fábricas.Outras fábricas além das do sector têxtil co-nheceram a falência, como é o caso da Ma-bor. Em 1979 é inaugurada a Mabor e inicia a sua produção no mesmo ano, contando com 1.000 trabalhadores. A Mabor chegou a produzir mais de 800 pneus por dia. Os pneus nacionais eram exportados para a África do Sul, Zimbabwe, Malawi, Zâmbia, RDCongo (ex-Zaire), Botswana e Namíbia, bem como para outros países do mundo.

Governo tenta revitalizar o sector

Moçambique dispõe de uma Estratégia de Desenvolvimento da Indústria, aprovada pelo Conselho de Ministros em Agosto de 2007. Um instrumento criado com o intui-

to de acelerar o processo de reactivação das indústrias paralisadas no país. A estratégia identifica as áreas de alimen-tação, agro-processamento, construção, vestuário e calçado, bem como embalagens como prioritárias, devendo merecer a aten-ção dos investidores. Para o caso concreto da indústria têxtil, foi aprovado pelo Conselho de Ministros, em 2008, a Estratégia do sector Têxtil e de Vestuário. Este documento definiu como principais objectivos: O estabelecimento de uma indústria de confecções e de fiação vi-radas para as exportações; capacitação das indústrias existentes; e o estabelecimento de produção artesanal de produtos típicos. Neste sentido, e na perspectiva de atrair investimento para o sector, o Executivo moçambicano está a primar pela atribuição isenções fiscais por períodos determinados para relançar a indústria têxtil do país.

Entrada da indústria Mozal no país

A instalação da Mozal no país constitui, sem sombra de dúvida, um grande marco na his-tória da indústria nacional. A MOZAL, que é por sinal uma das fundições de alumínio mais modernas do mundo, foi inaugurada em 2000, pelo antigo Presidente da Repú-blica, Joaquim Chissano. A edificação do empreendimento, situado em Beluluane,

Moçambique já teve uma vasta indústria têxtil de confecções e de calçado, distribuída por quase todo o territó-rio nacional, como são os casos de Texmanta (Cabo Delgado), Tex-táfrica, EMMA, Rio-pele, Têxtil de Mocuba (Zambézia), Progresso (Manica), entre outras fábricas.Outras fábricas além

das do sector têxtil conheceram a falência, como é o caso da Ma-bor.

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Gráfico 5: Moçambique - principais produtos da indústria transformadora e o seu peso na produção total (em%)

Fonte: Castel Branco 2002a e 2003a; GOM/Estatísticas vários números

província de Maputo, começou em 1998 e terminou cerca de um ano e meio mais tar-de, com seis meses de antecipação em rela-ção ao prazo previsto. Na altura, Chissano defendeu que a MOZAL iria dar um grande contributo à economia nacional e à inserção do país no bloco económico regional e inter-nacional. A implantação do empreendimento custou 1.200 milhões de dólares, menos 100 mi-lhões em relação ao orçamento inicialmen-te previsto. A MOZAL empregava na altura cerca 740 trabalhadores, 650 dos quais mo-çambicanos. A capacidade inicial de produ-ção era de 250 mil toneladas. Em 2003, este número duplicou. Previa-se que a produção do alumínio fosse gerar receitas de exportação avaliadas em 400 milhões de dólares por ano, aumentan-do as receitas de exportação moçambicanas em mais de 150%. Este cenário teve um re-vés com a crise global que despontou nos Estados Unidos em 2008. Devido à crise, o alumínio viu o seu preço reduzir para me-tade, facto que se repercutiu negativamente nas exportações nacionais. Os accionistas da MOZAL são a Billiton da Grã Bretanha, a Mitsubishi do Japão, a IDC da África do Sul e o Governo de Moçambi-que. Actualmente, a MOZAL tem ocupado a pri-meira posição no ranking das 100 maiores empresas, um relatório publicado anual-

mente pela auditora KPMG, com um vo-lume de negócios avaliado em dezenas de biliões de meticais.

Outras entradas registadas

Os dados referentes às actividades e mon-tantes desembolsados no sector industrial estão disponíveis, na sua maioria, a partir dos anos 2005/7. Nesta época, o Ministério da Indústria e Comércio desenvolveu um trabalho tendo em vista a concepção de uma base de dados relativa a tudo o que aconte-cesse no sector. Assim sendo, seguem os nomes de algumas empresas e os montan-tes investidos no sector: Fasorel – construiu em 2008 uma refinaria para a produção de óleo, num investimento avaliado em 2 mi-lhões de dólares; a CIMatola investiu, em 2009, 2,5 milhões de euros para uma nova linha de produção de massas alimentícias; a Socimol investiu, em 2008, cerca de 10 mi-lhões de dólares no aumento da capacidade da moageira e na construção de uma fábrica de produção de massas alimentícias e bo-lachas; num investimento de 5 milhões de dólares, surgiu a MEREC-Beira; a Fábrica da Cervejas de Moçambique inaugurada re-centemente em Nampula num investimento avaliado em mais de 50 milhões de dólares. Estes são alguns de entre os vários empre-endimentos que estão a conferir uma nova dinâmica ao sector industrial nacional. n

«Moçambique dispõe de uma Estratégia de Desenvolvimento da In-dústria, aprovada pelo Conselho de Ministros em Agosto de 2007. Um instrumento criado com o intuito de acelerar o processo de reactivação das indústrias paralisa-das no país. A estratégia identifica

as áreas de alimaenta-ção, agro-processamen-to, construção, vestuário e calçado, bem como embalagens como prio-ritárias, devendo mere-cer a atenção dos inves-tidores. »

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CtA I eCOnOMIA

Eduardo Macuácua*

Potenciais benefíciosda integração regional

O maior benefício de uma integração re-gional baseia-se no reconhecimento de que os mercados domésticos dos países mem-bros são bastante pequenos para acomodar e produzir a eficácia óptima nos investi-mentos efectuados. Ao se juntarem num bloco económico, os países criam condi-ções para o aumento da escala de produção para satisfazer as necessidades crescentes de um grande mercado tanto em termos do produto (quantidade, qualidade, diversifi-cação), assim como em termos do preço.

Integração Regional na SADC: Benefícios e desafios para Moçambique

«O mercado da SADC evoluiu de uma população de cerca de 60 milhões de consumidores aquando da sua fundação em 1980 (integrando 9 Estados) para os actuais 247.7 milhões de habitantes. O crescimento populacio-nal, que tanto resultou da integração de novos Estados membros assim como do factor crescimen-to populacional, mais do que triplicou num espaço de 30 anos desde a sua criação»

O mercado da SADC evoluiu de uma po-pulação de cerca de 60 milhões de consu-midores aquando da sua fundação em 1980 (integrando 9 Estados) para os actuais 247.7 milhões de habitantes. O crescimen-to populacional, que tanto resultou da in-tegração de novos Estados membros assim como do factor crescimento populacional, mais do que triplicou num espaço de 30 anos desde a sua criação.

Para além de factores ligados directa-mente ao mercado, acredita-se que com a integração regional é possível superar os desafios de desenvolvimento que os países individualmente enfrentavam. Por exem-plo, a criação de um mercado regional é vista como uma condição básica para a pro-dução de bens de capital e bens intermedi-ários e sua colocação a preços competitivos para satisfazer as necessidades de produ-ção dos países membros.

Com o Protocolo Comercial da SADC ru-bricado em 2000, tinha sido dado o pri-meiro passo para a eliminação gradual das tarifas aduaneiras e outras barreiras não tarifárias no comércio intra-regional. Com efeito até ao ano 2008 previa-se que a maior proporção (i.é. 85%) dos bens co-mercializados na região da SADC estivesse livre do pagamento de qualquer taxa. A eli-minação efectiva das tarifas resultaria em ganhos mútuos tanto para os exportadores, através de expansão de mercados, assim como dos consumidores pelo acesso a uma diversificada gama de produtos de qualida-de a preços competitivos. O acesso livre ao mercado regional incentiva a expansão e diversificação dos investimentos, encoraja o aumento da produção e produtividade e, em última instância, contribui para a esta-bilidade socioeconómica e política nos paí-ses membros.

Por outro lado, a concorrência entre as empresas incentiva a especialização, le-vando as empresas e países a concentrar as suas energias na produção de bens e

serviços em sectores onde vêem ou têm vantagens comparativas. Na sua fase mais avançada, a integração regional pode tra-zer benefícios acrescidos ao permitir a livre transacção e circulação de bens e serviços, mão-de-obra e capitais, harmonização e coordenação das políticas macroeconómi-cas, desenvolvimento das infraestruturas, gestão ambiental e reformas das adminis-trações públicas, bem como coordenação de esforços para garantir a paz, a defesa e segurança regional. n

(Continua na próxima edição)

(*) Assessor Económico da CTA

«Com efeito até ao ano 2008 previa-se que a maior proporção (i.é. 85%) dos bens comerciali-zados na região da SADC estivesse livre do paga-mento de qualquer taxa. A eliminação efectiva das tarifas resultaria em ganhos mútuos tanto para os exportadores, através de expansão de mercados, assim como dos consumi-dores pelo acesso a uma diversificada gama de produtos de qualidades a preços competitivos»

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Revista Capital26

eCOnOMIA I eXpORtAçõeS

No ano passado, as exportações de bens so-freram uma queda derivado à diminuição da demanda internacional articulada com a redução dos preços médios, e em compara-ção com o ano de 2008. Deste modo, o valor das exportações totais de bens reduziu em 30,2% para 1.852,6 milhões de dólares, devi-do à queda tanto das exportações realizadas pelos grandes projectos em 31,7% para 1.265 milhões de dólares, como das exportações de outros sectores que não integram esta catego-ria em 26,8%, para 1.265 milhões de dólares. Com efeito, no contexto da crise financeira internacional, o impacto negativo sobre as exportações foi mais notável sobre os grandes projectos, pois em 2009 o valor registado re-presenta 14% do PIB, uma taxa muito abaixo da média de 22% dos anteriores 4 anos. Apesar das exportações dos outros sectores da economia terem registado uma queda sig-nificativa comparativamente a 2005, e o seu peso em relação ao PIB caiu apenas 1 ponto percentual relativamente ao período que an-tecedeu a crise financeira global. Como consequência desta dinâmica, o peso das exportações dos grandes projectos no total reduziu de cerca de 3/4 em 2005 para cerca de 2/3 em 2009. De entre os produtos tradicionais, o valor das exportações de cama-rão, algodão, açúcar e madeira, com um peso de 31% no total de exportações, excluindo grandes projectos em 2009, é o mais baixo

dos últimos quatro anos (2006 – 2009). En-quanto isso, o valor das exportações do taba-co, da amêndoa de cajú e da castanha de cajú, com peso de 28% no total das exportações ex-cluindo grandes projectos em 2009, embora inferior às exportações de 2008, é superior ao registado em 2007, o que sugere uma queda temporária.

Relação causa-efeito

A fraca dinâmica destes produtos em 2009 resultou dos seguintes factores:A redução das receitas do camarão em 62,6% para 24 milhões de dólares, deveu-se à con-tracção da procura no mercado internacional decorrente da crise financeira e económica, tendo parte da indústria sido obrigada a inter-romper a actividade produtiva por acumula-ção de saldos.Quanto ao algodão, a redução do valor obti-do com a exportação da fibra de algodão em 44,8%, reflectiu o efeito conjunto da queda do respectivo preço médio internacional em 5%, para uma média de 1,183 dólares por tonelada e uma redução da quantidade exportada em 41,7% para 22,4 mil toneladas.No que concerne ao açúcar, houve queda das quantidades exportadas e respectivo pre-ço médio no mercado preferencial europeu. Com efeito, em 2009, foram exportadas para o mercado preferencial da União Europeia

122.000 toneladas de açúcar amarelo, menos 9,5% comparativamente a 2008, ao preço médio de 478 dólares por tonelada, inferior em 13% ao registado em 2008, o que determi-nou a redução da receita em 18,3% para 58,3 milhões de dólares.A queda da exportação da madeira em 27,6%, para 28,2 milhões de dólares, é justificada pela queda do preço em 8%, para 803,1 milhões de dólares por m3, para além da redução da pro-dução da madeira em toros em 10%, derivada do decréscimo do volume licenciado.Relativamente à amêndoa de cajú, apesar da indústria de cajú ter adquirido a mesma quan-tidade de castanha nas campanhas 2007/08 e 2008/09, as exportações deste produto regis-taram uma queda em 7,9% para 15 milhões de dólares, a reflectir a redução do preço médio internacional em 19,7%.A redução da exportação do tabaco em 20,9% para 154,3 milhões de dólares, comparativa-mente ao registado em 2008, deveu-se à que-da do volume exportado em 17,4% para 32,2 mil toneladas, consequência da lenta recupe-ração do mercado internacional face à crise financeira.A queda da exportação da castanha de caju em 21,7%, para 11.8 milhões de dólares, devido à redução da qualidade de castanha comercia-lizada na presente campanha em 33.5% (pas-sou de 9,5 toneladas na campanha 2007/08 para 4 toneladas na campanha 2008/09).

Raio X às exportações em Moçambique

TABELA 1: EVOLUÇÃO DA CONTA PARCIAL DE BENS, 2009 (EM MILHÕES DE DÓLARES)

2008 Peso 2009 Peso Var

Descrição Real (%) Prov. (%) (%)

Conta Parcial de Bens (1-2) -990.2 -1390.5 40.4

1. Total das Exportações de Bens -fob 2653.3 100 1852.6 100 -30.2

1.1 Mercadorias Gerais 2298.8 86.6 1582 85.4 -31.2

1.2 Bunkers 27.8 1 12.5 0.7 -55.2

1.3 Reexportações (Combustíveis) 32.6 1.2 1.5 0.1 -95.4

1.4 Outros 294 11.1 256.6 13.9 -12.7

Memo Items:

Exportações dos Grandes Projectos 1851.1 69.8 1265 68.3 -31.7

Exportações excluindo os grandes projectos 802.2 30.2 587.6 31.7 -26.8

Fonte: BM/DEE

Em 2009 As exportações de bens sofreram um revés resultante da queda da demanda internacional articulada com a redução dos preços médios compara-tivamente a 2008. Deste modo, o valor das exportações totais de bens reduziu em 30,2% para 1.852,6 milhões de dólares

Arsénia Sithoye (texto)

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27Revista Capital

eCOnOMIA I eXpORtAçõeS

Raio X às exportações em MoçambiqueProdutos de exportação deMoçambique registaram uma trajectória descendente

Reexportações de combustíveis: queda em 95,4%, devido à redução de quantidades em 91.8% para 2.208 toneladas métricas. Nota-se que em 2009 a maior parte das reexportações de combustíveis passou a ser realizada por uma empresa de direito internacional, e con-sequentemente, excluídas da categoria das reexportações do país.Gás: Redução do valor das exportações deste produto em 49%, para 77,5 milhões de dóla-res, devido à queda do preço médio em 33% para além da queda das quantidades exporta-das em 5,7% resultante da fraca procura deste produto pela indústria sul-africana.

Alumínio: queda em 40,2%, para 867,7 mi-lhões de dólares, devido à queda do preço de alumínio no mercado internacional em 35%, tendo passado para uma média anual de 1.669 dólares por tonelada em 2009.

Produtos de exportaçãode Moçambique que registaram aumento

Neste grupo encontram-se apenas dois pro-dutos: a Energia Eléctrica com o crescimento das receitas em 24% para 274,4 milhões de dólares, do aumento da quantidade expor-tada em 13% para 12.172.349,1 MWh, re-partida entre importações da África de Sul, 10.547.641,7 MWh (87%) e do Zimbabwe 1.624.707,4 MWh (13%), para além do efeito

da subida do preço médio para 22,5 dólares por MWh.Ilmenite com um aumento de 74,1%, como reflexo do aumento da produção decorren-te da correcção dos problemas registados no funcionamento do equipamento ocorrido ao longo de 2008.Relativamente ao destino das exportações, nos últimos 5 anos, e excluindo as exportações de alumínio cujo destino é a União Europeia, que representa em média cerca de 55% do to-tal, os principais destinos das exportações dos outros produtos moçambicanos são a África de Sul (35%), a União Europeia (16%) e ou-tros países da SADC (13%). Países que tam-bém foram significativamente afectos pela crise financeira mundial com reflexos sobre a procura das exportações de moçambique. n

2008 Peso 2009 Peso Var

Real (%) Prel (%) (%)

1. Total das Exportações de Bens -fob 2653.3 100.0 1852.6 100.0 -30.2

1.1. Mercadorias Gerais 2298.8 86.6 1582.0 85.4 -31.2

1.1.1. Camarão 64.2 2.4 24.0 1.3 -62.6

1.1.2.Amêndoa de caju 15.2 0.06 14.0 0.8 -7.9

1.1.3. Algodão 48 1.8 26.5 1.4 -44.8

1.1.4. Açúcar 71.3 2.7 58.3 3.1 -18.3

1.1.5. Tabaco 195 7.4 154.3 8.3 -20.9

1.1.6 Madeira 38.9 1.5 28.2 1.5 -27.6

1.1.7 Castanha de Caju 15 0.6 11.8 0.6 -21.7

1.1.8. Energia Eléctrica 221.2 8.3 274.4 14.8 24.0

1.1.9 Gás 152 5.7 77.5 4.2 -49.0

1.1.10 Alumínio 1451.8 54.7 867.7 46.8 -40.2

1.1.11 iIimenite 26 1 45.3 2.4 74.1

1.2 Bunker* 27.8 1 12.5 0.7 -55.2

1.3 Reexportações (Combustíveis) 32.6 1.2 1.5 0.1 -95.4

1.4 Outros 294 11.1 256.6 13.9 -12.7

Memo Items:

Exportações dos Grandes Projectos 1851.1 69.8 1265.0 68.3 -31.7

Exportações Excl os Grandes Projectos 802.2 30.2 587.6 31.7 -26.8

EXPORTAÇÕES DE BENS, 2009 (EM MILHÕES DE DÓLARES)

(*) Combustíveis adquiridos em portos por transportadoras.Fonte: BM/DEE

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Arsénia Sithoye (texto) . Luís Muianga (fotos)

As Obrigações do Tesouro estão a ser emitidas para o público em ge-ral e não somente para as entidades bancárias. Qual é a expectativa em relação à participação do público?

Já não é a primeira vez que lançamos e fazemos apelo à subscrição pública. Con-tudo, esta emissão é a maior que alguma vez houve na Bolsa de Moçambique. Em termos de valores envolvidos, estamos a falar de cinco biliões de meticais, valor que anda perto dos 150 milhões de dóla-res. O período de subscrição começou no dia 16 de Agosto e ainda é cedo para fa-zermos a avaliação da adesão. Como bem sabemos, nós - os moçambicanos - deixa-mos tudo para a última hora. O que muito provavelmente irá acontecer é que, quando faltarem dois ou três dias, vai haver uma corrida em massa para os bancos e para os correctores no sentido de se darem as or-dens de compra.

Como tem sido a adesão do público às emissões?

Desde a altura em que fizemos a Oferta Pública de Venda (OPV) da companhia Cervejas de Moçambique (CDM), vimos que o investidor moçambicano já tinha al-guma vontade, preparação, e estava a par da existência de uma Bolsa de Valores em Moçambique e das suas vantagens. E não foi por acaso que 3 mil moçambicanos subscreveram acções da CDM, sem contar com as empresas chamadas de ‘investido-res tradicionais’.

Depois, tivemos uma grande emissão em 2002 de Obrigações de Tesouro no valor de 65 milhões de dólares (o equiva-lente a aproximadamente 2,17 biliões de meticais), e, nessa altura, tivemos muita adesão. Portanto, isto para, mais uma vez, referir que o público moçambicano é com-posto pelos investidores, pelo cidadão co-mum, pelo funcionário, pelo empresário, ou seja, pelo moçambicano que dispõe de algum capital.

Há muita coisa por fazer, é verdade, mas para a nossa realidade, uma Bolsa que fez 10 anos em Outubro de 2009, achamos que é positivo o que estamos aqui a sentir.

Qual é o critério usado na emissão das Obrigações de Tesouro? A emis-são é feita periodicamente ou de acordo com as necessidades do Es-tado?

O Estado, ou o Governo, quando prepara o orçamento do ano a seguir, nessa altura é feita a previsão das receitas e das despe-sas, e constata-se se haverá necessidade de recorrer a um empréstimo interno, em vez de o adquirirmos lá fora. Então, é inserido no orçamento do ano a seguir. Nesse sen-tido, esta emissão estava prevista quan-do se discutiu a lei do orçamento, no ano passado (2009). O Estado não chega de um momento para o outro, e diz: ‘Vamos emitir Obrigações’. E serve para resolver problemas de tesouraria e despesas que o Estado tem.

Esta emissão terá algo a ver com a retirada dos fundos dos grandes do-adores e o espectro da crise econó-mica mundial?

Não. Porque os atrasos no reembolso co-meçaram a verificar-se este ano. Quando se preparou o orçamento do ano passado (em Julho e Agosto) já esta emissão estava prevista.

A crise começou em 2008, mas as emis-sões não têm nada a ver com a crise. Che-gou-se à conclusão que havia grandes in-vestimentos a fazer. Atenção, que o Estado tem uma enormidade, uma série de coisas para que tem de acorrer. É a construção das escolas, das estradas, a reabilitação de pontes, hospitais… e tudo o que imagina-mos que o Estado precisa de pôr em or-dem. Aliás, a função do Estado é essa. En-tão, na altura, viu-se que era preciso cinco biliões de meticais para este ano e chegou-se à conclusão que além de outras portas a que normalmente se bate, era preciso um empréstimo interno… que é este. Portanto,

não tem nada a ver com a crise.

A depreciação do metical em rela-ção ao dólar e ao rand não poderá ter agravado esta situação?

Não. A depreciação do metical começou a verificar-se - se eu me lembro - em Setem-bro e Outubro de 2009 e, nessa altura, esta emissão já se encontrava prevista. Mais uma vez, não tem nada a ver com a depre-ciação do metical. A apreciação do dólar é um outro assunto.

Acho que temos de produzir mais em Mo-çambique. Temos de trabalhar mais tem-po, temos de aumentar a produtividade, para exportar, e diminuir ao máximo as nossas importações.

É aí que reside a chave do problema. Te-mos a descoberta do petróleo e ainda bem. Oxalá que isso se confirme, e que haja em quantidades suficientes que justifiquem a sua exploração. Mas, nós temos de expor-tar mais, temos de produzir mais, temos, provavelmente, de começar a pensar em trabalhar seis dias por semana em vez de cinco. Temos de apostar na agricultura, na indústria, nas pequenas e médias em-presas, melhorar a qualidade de emprego para os nossos quadros serem inovadores, e estarem em condições de trabalhar com tecnologias de ponta, e de modo a sermos competitivos.

Só podemos exportar se pudermos pro-duzir e competir com outros países. Em países asiáticos como a China, Coreia, Ín-dia, Malásia, Singapura, Taiwan, o ritmo de trabalho é outro, é outra dimensão, é outra atitude de trabalho e nós moçambi-canos somos capazes. Se quisermos, sere-mos capazes. A chave do problema é au-mentar as exportações.

Também é a chave do problema da depreciação do metical face ao dó-lar?

Porque é que o dólar está a disparar? Porque não temos muitos dólares. Se ex-portarmos, vamos ter mais dólares e aí a tendência será contrária. Quando a pes-

entReVIStA I JuSSuB nuRMAMADe, pReSIDente DA BOlSA De VAlOReS

Revista Capital28

A Bolsa de Valores de Moçambique encontra-se a fazer apelo à subscrição pú-blica da maior emissão de Obrigações de Tesouro até hoje feita. Jussub Nur-mamade, seu presidente, garante que a Bolsa – com 10 anos de existência - en-contra-se à altura dos desafios, e revela os valores envolvidos nas emissões, o perfil dos investidores e algumas experiências passadas. Em simultâneo, Nur-mamade refere ainda que quanto à depreciação do metical a chave do proble-ma consiste em aumentar as exportações do País.

«Na Bolsa, estamos à altura dos desafios»

Page 29: Revista Capital 33

soa quer comprar dólares, vai às casas de câmbio, aos bancos, e tem de esperar dois ou três dias. Como a procura da divisa é maior, o preço dispara porque não há dó-lares e as nossas exportações são inferiores às importações.

Há coisas que temos de mudar. Por exem-plo, apostar em carros a gás. Temos gás no país, e podemos começar a pensar em usar transportes públicos a gás. Se usarmos o nosso gás, cortamos muito do dinheiro que é dispendido na importação do combustí-vel, e, entre outras coisas, cortamos com as despesas públicas.

A função da Bolsa está intimamente interligada à questão da indústria,

29Revista Capital

e com o resto dos sectores de activi-dade.

Um dos grandes objectivos de uma Bol-sa é ser uma alternativa de financiamento para os empresários. Os empresários po-dem (quando existe uma Bolsa) recorrer a ela em vez de irem aos bancos, e é o que tem acontecido. Aliás, o próprio Estado pode ir à bolsa e financiar-se, como estamos a as-sistir. Mas para ela ser um sucesso, ela dar o seu contributo, têm de aparecer cada vez mais empresas e mais empresários, e isso vai trazer muitos investidores. O que vai acontecer é que vamos contribuir para au-mentar as poupanças, e as poupanças são canalizadas pelo investimento produtivo e isso ajuda a desenvolver um país.

Até ao momento, houve algumas emissões de participações na Bol-sa de Valores relativas a empresas como a CDM e agora também se es-pera uma Oferta Pública de Venda (OPV) da EMOSE.

Nós temos 17 títulos cotados que dizem respeito à quantidade das empresas. Falou da CDM, mas já temos a Empresa Nacio-nal de Hidrocarbonetos (ENH), tivemos bancos, quase todos os grandes bancos vieram à bolsa financiar-se. Estamos agora a trabalhar para a EMOSE, cuja OPV vai acontecer em Dezembro. Vamos ter a CMG também com obrigações, e estamos à es-

pera de uma empresa de grande dimensão que vem cá, este ano, para uma emissão.

Portanto, e pelo que os cálculos mostram, este ano e até Dezembro vamos ter emis-sões de cerca de 445 milhões de dólares. Para este mercado é muito, e estamos sa-tisfeitos. Nós, na Bolsa, estamos à altura dos desafios que aparecerem.

A empresa de grande dimensão so-bre a qual falou há pouco tem a ver com a Banca, ou outro tipo de negó-cio?

Ela está numa área em que há tão poucas, que se eu disser a área vai logo saber. Con-tudo, é uma empresa que todos vão querer comprar porque já teve emissões aqui na Bolsa, e factura como poucas em Moçam-bique. De modo que é uma boa empresa.

Qual é a fatia prevista para a EMO-SE dos 445 milhões de dólares?

É-me difícil quantificar, uma vez que no processo da Oferta Pública de Vendas um dos trabalhos que tem de ser feito é avaliar a empresa para saber o preço por acção. O que posso dizer é que vão ser vendidos 10% da participação do Estado.

Agora, o que é que isso representa em meticais, ou em dólares, só depois da ava-liação é que se vai saber. Portanto, a EMO-SE vai, como apraz nestes casos, contratar um banco (normalmente costumam a ser

JuSSuB nuRMAMADe, pReSIDente DA BOlSA De VAlOReS I entReVIStA

«Na Bolsa, estamos à altura dos desafios»

«No próximo ano, vamos ter Pequenas e Médias Empresas (PME´s) na Bolsa e vai ser o ano das OPV´s. A nossa grande aposta em parceria - porque devo dizer já que temos um parceiro estratégico por cá que é o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) - vai ser as PME´s na bolsa e as OPV´s. Temos de ter mais acções cotadas na bolsa»

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entReVIStA I JuSSuB nuRMAMADe, pReSIDente DA BOlSA De VAlOReS

Revista Capital30

bancos de investimento a fazer a avaliação da empresa).

Qual tem sido o perfil do investidor moçambicano?

Quando olho para o rol dos investidores, vejo colegas do Ministério da Finanças, funcionários públicos de todos os minis-térios, empresários, senhoras vendedoras dos mercados, economistas, juristas… Eu acho que todas as camadas da sociedade se encontram representadas. Mas a percen-tagem maior é a dos funcionários públicos porque, como deve calcular, o empresário, provavelmente, consegue taxas de rentabi-lidade superiores àquelas que normalmen-te temos aqui na Bolsa.

No entanto, quando surgem empresas apetecíveis aparecem mais empresários, eu acredito que no caso da EMOSE iremos ter empresários a investir.

Temos uma evolução gradual, quando fizemos na CMH (Companhia Moçambica-na de Hidrocarbonetos) a procura foi sete vezes superior à oferta. Mas, normalmen-te, há rateio – o que significa distribuir me-lhor. Se a procura é maior do que a oferta isso é óptimo para a Bolsa e por isso é que aparecemos, muitas vezes, nos jornais e na televisão a fazer publicidade - a lembrar que existimos e a mostrar as vantagens.

A BV encontra-se a fazer uma cam-panha publicitária mais forte do que tem feito normalmente. Como é que a mesma vai decorrer?

São os desafios que ditam as necessida-des. Cinco biliões de meticais em Obriga-ções de Tesouro não são brincadeira. En-tão, aí temos de pensar que a emissão não

se destina apenas a Maputo. Terá de ser para todo o país. Aliás, normalmente tudo o que fazemos é para todo o país e o país é vasto, tem muitos moçambicanos com di-nheiro, sim, mas que não falam português ou não dominam a língua. Então, além dos jornais e da televisão é preciso rádios lo-cais nas línguas locais. Nesse sentido, vai haver no caso das Obrigações de Tesouro campanhas em todas as línguas, do sul, centro e norte do país. Faremos divulgação em jornais electrónicos e não está descar-tada ainda a hipótese em fazer a campanha também por sms, usando a mCell e a Vo-dacom.

As taxas de juro estão a subir porque não há liquidez e não é por acaso que nós de-cidimos que o timing para essa emissão devia ser agora, e não antes, porque há uns meses a situação estava pior. Agora está com tendência a melhorar por isso é que o timing escolhido foi este: Agosto, Setem-bro e Outubro. Nunca seria em Dezembro porque nesse mês ninguém quer investir, todos querem férias, viajar, comprar coi-sas para a família e festejar. Portanto, tudo isto tem a ver com a cultura.

Quais serão as próximas novidades para o próximo ano relativamente à Bolsa de Valores?

No próximo ano, vamos ter Pequenas e Médias Empresas (PME´s) na Bolsa e vai ser o ano das OPV’s. A nossa grande aposta em parceria - porque devo dizer que já que temos um parceiro estratégico por cá que é o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE) - vão ser as PME´s na bol-sa e as OPV´s. Temos de ter mais acções cotadas na bolsa.

«Quando olho para o rol dos investidores, vejo colegas do Mi-nistério da Finanças, funcionários públicos de todos os ministérios, empresários, senhoras vendedoras dos mer-cados, economistas, juristas… Eu acho que todas as camadas da sociedade se encontram representadas. Mas a percentagem maior é a dos funcionários públi-cos porque, como deve calcular, o empresário, provavelmente, conse-gue taxas de rentabili-dade superiores àque-las que normalmente temos aqui na Bolsa»

Vai haver alguma aposta nas em-presas que são geridas pelo IGEPE?

Sim, o IGEPE gere as participações do Estado. E não é por acaso que neste país se fez o maior, e se calhar o mais bem suce-dido programa de privatizações em África. E quanto às empresas que não foram pri-vatizadas ficou claro que o seriam quando houvesse a Bolsa da Valores, e quando elas estivessem em condições de fazer privati-zações.

Então, é altura de fazermos privatizações e é uma forma também de dinamizar o mercado de capitais porque um mercado de capitais organizado traz grandes van-tagens para o nosso país porque contribui para baixar o custo capital, cria hábitos de poupança, traz investimento estrangeiro. Com o investimento estrangeiro vem di-nheiro, novas tecnologias, novos mercados de exportação, e projectos de expansão e desenvolvimento. Portanto, ter um merca-do de capitais organizado traz uma série de vantagens. n

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31Revista Capital

The Government Bonds are being issued to the public in general and not only to the banking corpora-tions. What are your views in rela-tion to the public´s participation?

It is not the first time that we make this appeal to public subscription. However, this issuing of bonds is the largest that ever took place in the Mozambican Stock Market. In terms of the value involved, we are talking in the region of five billion me-ticais, which is approximately 150 million US dollars. The subscription period star-ted on 16 August and it is still early to eva-luate the adhesion. As you are well aware, we - the Mozambicans – leave everything for the last minute. What will probably ha-ppen is, two or three days before, there will be a rush to the banks and to the brokers to place the orders.

How has the public’s adhesion been to the issuing of bonds?

Since we made the Public Offerings of the Companhia de Cervejas de Moçambique (Mozambican Beer Company), we realized that the Mozambican investor was already inclined, prepared, and aware of the exis-tence and the advantages of a Stock Market in Mozambique. And it was not by chance that 3 thousand Mozambicans, not inclu-ding the «traditional investors», subscri-bed to the CCM shares.

Then, in 2002 there was a big issuing of Treasury Bonds in the value of 65 million dollars (equivalent approximately to 2,17 billion meticais) to which we also expe-rienced a large adhesion. Therefore, we once again confirm that the Mozambican public consists of investors, the general public,employees, entrepreneurs, of any Mozambican who possesses any means.

There is a lot to be done, that is true, but in reality, for a stock market which will

have existed for 10 years in October 2009, our feelings are very positive.

What is the criteria used in the is-suing of Government Bonds? Is the issuing of bonds made periodically or according with the State’s needs?

The State, or the Government, when pre-paring the following year’s budget foresees the revenues and expenditures, and it then decides whether there will be the need for an internal loan or an external one. It is then introduced into the following year’s budget. In this regard, this issuing was fo-reseen last year (2009), at the time when the budget law was discussed. The State does not simply say from one minute to the other: «Let´s issue bonds». And it is used to solve treasury problems and State expenditures.

Does this issuing of bonds have anything to do with the withdrawal of the funds of the large donors and the spectrum of the global economic crises?

No, the delays in the reimbursement were only confirmed this year. At the time when last year’s budget was being prepared (in July and August) this issuing had already been foreseen.

The crisis began in 2008, but the issuing of bonds have nothing to do with the cri-sis. We came to the conclusion that there were large investments to be made. Look out, the State has a huge amount, a large number of things into which it has to look. It is the construction of schools, roads, the rehabilitation of bridges, hospitals… and all that we imagine that the State has to put in order. Besides, that is the State’s duty. At that time it was verified that five billion meticais would be needed for this year, and it was decided that, further to the

The Mozambican Stock Exchange . is appealing to public subscription of the largest issuing of Government Bonds to date. Its Chairman, Jussub Nurmama-de, guarantees that the Stock Market –in existence for the past 10 years – is in a position to face any challenges, and discloses the values involved in those issuing of bonds, the investors’ profiles and some past experiences. Simulta-neously, Nurmamade indicates that in relation to the depreciation of the meti-cal the key to the problem consists in increasing the country’s exports.

Arsénia Sithoye (text) . Luís Muianga (photos)

«At the stock market weare ready for any challenges»

JuSSuB nuRMAMADe, CHAIRpeRSOn OF tHe StOCK MARKetS I InteRVIeW

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Revista Capital32

InteRVIeW I JuSSuB nuRMAMADe, CHAIRpeRSOn OF tHe StOCK MARKetS

usual door on which one normally knocks, a internal loan would be needed….which is this one. Therefore, it has nothing to do with the crisis.

Would the depreciation of the me-tical in relation to the dollar and to the rand have aggravated this situ-ation?

No. The depreciation of the metical star-ted – if I remember - in September and October 2009, and at that time this issuing had already been foreseen. Once again, it has nothing to do with the depreciation of the metical. The appreciation of the dollar is another subject.

I think we have to manufacture more in Mozambique. We have to work longer hours, we have to increase the productivi-ty, to export, and to decrease our imports to a minimum.

That is the key to the problem. Thank God for the discovery of petroleum. We hope that this is confirmed, and that it comes in quantities large enough to justify its ex-port. But we have to export more, we have to produce more, and we probably have to start thinking about working six days a week instead of five. We have to place our bets on agriculture, on the industry, on the small and medium companies, we have to improve the quality of employment as to make our staff innovative, in order that they may be in the conditions to work with top technology and to make us competitive.

We will only be able to export if we are able to produce and to compete with others countries. In Asian countries such as Chi-na, Korea, India, Malaysia, Singapore, Taiwan, the rhythm of work is something else, it’s another dimension, it’s a different approach to work, and we, Mozambicans are totally capable of this, if we so wish. The key of the problem is to increase the exports.

Is this also the solution to the pro-blem of the depreciation of the meti-cal in relation to the dollar?

Why is the dollar shooting off? Because we don’t have too many of them. If we ex-port we will have more dollars and then the tendency will be reversed. When someone wishes to purchase dollars they go to an exchange office, to banks, and they have to wait for a period of two to three days. Be-cause the demand of the currency is greater than the supply, the price shoots up; there are no dollars and we export less than what we import.

There are things that have to be changed. For example, bet in vehicles run by gas. There is gas in the country, and we must start thinking about using public transport run by gas. If we use our gas, we would be

cutting on high volumes of money which is spent in the import of fuels, and among other things, we would be cutting on public expenses.

The duty of the Stock Market is in-timately inter-liaised with the ques-tion of the industry, and with the re-maining activity sectors.

One of the great objectives of a Stock Ma-rket is to be a financing alternative to en-trepreneurs. The entrepreneurs can (when there is a Stock Market) resort to it inste-ad of going to the Banks, and this is what has been happening. Besides, even the State itself can go to the Stock Market for financing, as we are witnessing. But, for it to be a success and offer its contribution, there should be more companies and more entrepreneurs, and this will bring many investors. What will happen is that we will contribute to the increase in savings, and the savings will be channeled by the pro-ductive investment, thus assisting in the development of the country.

To present there were some issuing of participation in the Stock Market relative to companies such as CDM and now we expect a Public Offering from EMOSE.

We have 17 quoted bonds which refer to the number of companies. You spoke about CDM, but we already have the Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) (Na-tional Hydrocarbon Company), we had banks, almost all the big banks came to the Stock Market for financing. We are now working for EMOSE, which public offe-rings will take place in December. CMG will also have bonds, and we are awaiting a very big company which is coming here, this year for an offering.

Therefore, and according to what the esti-mates show, this year and until December we will have offerings of bonds of around 445 million dollars. It is a lot for this ma-rket, and we are happy. We, at the Stock Market, are ready for any challenges.

The large company to which you have just referred, has it anything to do with banks, or other type of business?

It is in a field in which there are so few, so, if I tell you the field you will immediately know to which one I am referring. Howe-ver, it is a company that everyone will want to purchase because it has already had offerings here in the Stock Market, and its revenue compares to only a few in Mozam-bique. Therefore, it is a good company.

Of the 445 million dollars what is the slice foreseen for EMOSE?

This is difficult to quantify, because, in the process of the Public Offerings one of the works which has to be done is to assess the company in order to know the cost per share. What I can volunteer is that 10% of the State’s participation will be sold.

Now, whatever it may represent in me-ticais or dollars, will only be known after the assessment. Therefore, as it happens in these cases, EMOSE will contact a bank (usually an investment bank to make the assessment of the company).

What has been the profile of the Mozambican investor?

When I look at the list of investors, I see colleagues of the Finance Ministry, public workers of all ministries, entrepreneurs, market sales ladies, economists , jurists……I think that all strata of society are repre-sented herein. But the largest percentage are public workers because, as you may well imagine, the entrepreneur, probably, manages more profitable rates than those which we normally have here at the Stock Market.

When there are desirable companies the-re are more entrepreneurs, and I believe

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that this will be the case of EMOSE.We have a gradual evolution; when we did

in the CMH (Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos) the demand was seven ti-mes higher than the supply. But, normally, there is apportionment - this means bet-ter distribution. For the Stock Market it is excellent when the demand is greater than the supply. That is the reason why we often publicize in the newspapers and on televi-sion – as a reminder that we are there and to show its advantages.

The Stock Market is making a much more aggressive publicity campaign than the ones it usually does. How will this run?

The challenges dictate the needs. Five billion meticais in Government Bonds is not a joke. We have to realize that the issuing is not destined to Maputo alone. It will have to be for the entire country. Normally everything we do is for the entire country and the country is large, there are many Mozambicans with money, yes, who do not speak Portuguese or do not dominate the language. Therefore, further to newspapers and television we need local radios. In the

local languages. In this sense, in the case of Government Bonds there will be campaigns in all languages, from the south, center and north of the country. We will divulge in electronic newspapers and the idea of cam-paigning via SMS using mCell and Voda-com has not as yet been discarded.

Interest rates are escalating because there is no liquidity, and it was not by chance that we decided that the timing for that issuing should be now, and not before, because some months ago the situation was worse. The tendency is for it to progress and that is why the chosen timing was: August, Sep-tember and October. Never in December, as nobody wants to invest during this mon-th, everybody wants to go on holiday, travel, buy gifts for the family and celebrate. The-refore, this has all to do with culture.

What will the upcoming news be in regard to the Stock Exchange?

Next year will be have Small and Medium-size Companies (SMC’s) in the Stock Market and it will be the year of the Public Offerin-gs. Our big bet in partnership – as I must tell you now that we already have a strategic partner which is the Instituto de Gestão das

Participações do Estado (IGEPE) (Mana-ging Institute of the State’s Participation) – is going to be the SMC in the Stock Ma-rket and the Public Offerings. We have to quote more shares in the Stock Exchange.

Will there be any bets on the com-panies managed by IGEPE?

Yes, IGEPE manages the State’s partici-pations. And it is not by chance that the largest, and perhaps the most successful privatization program in Africa was made in this country; it was made clear to the companies which were not privatized, that they would become so as soon as we had a Stock Market, and as soon as they were ready to make privatizations

So, it’s time to privatize and it is also an upward drift for the capital market, as an organized capital market brings enormous advantages to our country as it contribu-tes to lowering costs of capital, creates the habit of saving, brings foreign investment. Foreign investment brings money, new technologies, new export markets, and expansion and development projects. It brings many advantages to have an orga-nized capital market. n

«When I look at the list of investors, I see collea-gues of the Finance Mi-nistry, public workers of all ministries, entrepre-neurs, market sales la-dies, economists , jurists……I think that all strata of society are represented herein. But the largest percentage are public workers because, as you may well imagine, the entrepreneur, probably, manages more profitable rates than those which we normally have here at the Stock Market.»

JuSSuB nuRMAMADe, CHAIRpeRSOn OF tHe StOCK MARKetS I InteRVIeW

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Male-ka-fone e E-banking: aplicações seguras,confiáveis e flexíveis

Male-ka-fone e E-banking completam a gama de serviços que o Banco ProCredit passa a disponibilizar a todos os seus clientes, tanto individuais como peque-nas e médias empresas. Segundo o Di-rector Geral, Yann Groeger “a banca mó-vel do Banco ProCredit é a simplificação do acesso à banca” já que oferece a pos-sibilidade de ter acesso aos serviços do banco desde qualquer lugar e a qualquer hora, sem ter que se deslocar à agência do Banco ProCredit. A instituição está a preparar o lançamento de novas apli-cações que incrementarão os 0serviços disponíveis até ao momento, tanto no Male-ka-fone como no E-banking.

“O Banco lançou também uma campanha informativa em todo o país com o slogan “Onde estiver e quando quiser”

Com o objectivo de apresentar ambos serviços aos clientes, o Banco lançou também uma campanha informativa em todo o país com o slogan “Onde estiver e quando quiser”. Durante os meses de Outubro e Novembro, as 21 agências do Banco ProCredit em Moçambique expli-carão aos clientes os benefícios da ban-ca móvel, assim como os procedimentos de subscrição.

Melhorar o atendimento e reduzir as deslocações às agências para a realiza-ção de operações simples, são preocupa-ções constantes que o Banco ProCredit tem na sua gestão.Nesse sentido, mais uma inovação sur-giu ao proporcionar comodidade e fa-cilidade na obtenção de qualidade de serviço e rapidez de resposta às suas necessidades. Os clientes passam a dispor de dois no-

vos serviços associados à banca móvel: Male-ka-fone e E-banking. Aplicações seguras, confiáveis e flexíveis que faci-litam operações bancárias, tais como: consulta de saldo, transferências e, mo-vimentação de contas a partir de celu-lar ou equipamentos electrónicos com acesso à internet.O serviço Male-ka-fone permite o acesso às contas bancárias desde o celular, via SMS, 24 horas por dia a partir de qual-

quer lugar para realização de consulta de saldos e transferências. Quanto ao E-banking, esse possibilita a consulta de saldos e movimentos entre várias con-tas, assim como visualizar e imprimir extractos, efectuar transferências inter-nas, interbancárias e internacionais em Metical, Dólar Americano, Rand e Euro, através do acesso à Internet.

O Banco ProCredit lançaum serviço que facilita o dia-a-dia “Onde estiver e quando quiser”

puBlIRepORtAGeM I BAnCO pROCReDIt

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eCOnOMIA I ReDeS lOGÍStICAS

Já existem compromissos firmados para o transporte de mercadorias como o algodão e o tabaco, entre Chipata e Nacala, e no sentido

inverso, para o transporte de fertilizantes e combustíveis. A ligação ao mar, por esta via, encurta-se para a Zâmbia em cerca de 600

Porto de Nacala faz parteda rede logística da ZâmbiaO Corredor de Desenvolvimento do Norte já se encontra ligado à Zâmbia, depois da inau-guração de um troço de 27 quilómetros de linha-férrea entre Mitsinje, no Malawi, e Chiba-tam, no território zambiano. A cerimónia foi testemunhada pelos presidentes da Zâmbia e do Malawi, Rupia Banda e Bingu Wa Mutharika, respectivamente, e pelo ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique, Paulo Zucula.

quilómetros. Contudo, existe a necessidade de investir em equipamentos, já que a nível da ferrovia há um forte cometimento das au-toridades malawianas em melhorar o estado da via.

O ponto mais alto da cerimónia de inaugu-ração da linha férrea consistiu numa viagem de comboio com os presidentes, altos dignitá-rios dos governos da Zâmbia e do Malawi, e da delegação moçambicana, a bordo. Na oca-sião, foi assinado um protocolo de entendi-mento, tendo como signatários os ministros dos transportes de Moçambique, do Malawi e da Zâmbia, no âmbito da iniciativa do Corre-dor de Nacala, que envolve os três países, na-quilo que constituiu o acto mais importante desta iniciativa regional.

Foi igualmente assinado um acordo comer-cial entre a Zambia Railways e o CEAR-Cen-tral East Africa Railways, ao abrigo do qual a operação do troço ferroviário na Zâmbia será realizada com equipamento do Malawi e pes-soal da empresa ferroviária. A estrutura ac-cionista do CEAR, pertence integralmente a empresas moçambicanas, naquilo que cons-titui o maior investimento realizado fora do país a nível de infraestruturas de transportes.

Fernando Couto, administrador-delegado do CDN e coordenador do Corredor, esteve igualmente em Chipata, e mostrou-se opti-mista quanto ao resultado decorrente um grande esforço financeiro.

“O facto de o investimento realizado na parte zambiana ter sido feito integralmente com recursos do Governo da Zâmbia, a pre-sença política nesta cerimónia, traduz bem a importância económica que esta ligação representa. Encurta distâncias entre a pro-víncia Este da Zâmbia e Nacala, e liga-a di-rectamente ao mercado internacional. Este é um exemplo concreto da cooperação regio-nal a nível da SADC”.

O Corredor de Nacala cresceu 27 quilóme-tros, passando a integrar mais um país e a envolver três administrações ferroviárias que, aliadas ao porto, constitui caso único na SADC e um dos projectos de topo, a nível mundial. n

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HNN (foto)

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AMBIente I InDúStRIA

Sérgio Mabombo (texto) . Luis Muianga (foto)

O Ministério da Coordenação da Acção Ambiental (MICOA) apresentou no mês de Agosto, as bases nas quais assenta a decisão de permitir as emissões directas (sistema bypass) da Mozal e insta as organizações am-bientalistas que se opõem à decisão para que apresentem os seus estudos científicos relati-vos ao caso.

Segundo a alta responsável da Direcção Nacional de Avaliação Ambiental (um dos ór-gãos do MICOA), Rosa Benedito, as emissões da Mozal durante o processo bypass irão su-bir dos actuais 50mg/m³ (50 microgramas por metro cúbico de ar) para 72 mg/m³, um nível de poluição considerado aceitável na óptica do pelouro do meio ambiente. A apro-vação dos referidos níveis de poluição assen-ta no facto da Organização Mundial da Saúde (OMS) estipular 200 mg/m³ como o máximo permitido na emissão de gases para o caso específico de Moçambique.

No que concerne às emissões de hidrogénio, durante o sistema bypass, a Mozal poderá elevar os seus níveis de poluição dos actuais - 4mg/m³ para 6 ou 9 mg/m³, não alcançando desta feita os 17mg/m³, que é o máximo per-mitido pelos padrões internacionais, segun-do a mesma análise.

O resultado das modelações disponibiliza-das pelo pelouro do meio ambiente apontam ainda que as quantidades dos outros ele-

mentos poluentes que se projectam virem a ser lançados directamente na atmosfera pela Mozal irão estar muito abaixo dos padrões internacionalmente exigidos.

O MICOA avança com as referidas análi-ses depois das organizações ambientalistas terem questionado a credibilidade dos estu-dos sobre o impacto ambiental das referidas emissões. Segundo a explicação do director da organização ambientalista Livaningo, António Reina, nos dados do Micoa apenas se encontra disponível a informação que a Mozal fornece e, por outro lado, o MICOA só pode estudar gases e não partículas.

“Este facto limita a efectivação de uma análise mais profunda sobre o impacto das emissões daquele mega-projecto”, defende Reina.

Por outro lado, António Reina avança que, em Junho, o Micoa terá informado a Justi-ça Ambiental, não ter autorizado a emissão directa dos gases da fábrica Mozal (sistema bypass) - quando já o tinha feito secretamen-te em Maio. E, de facto, sobre o mesmo aspec-to, Rosa Benedito confirma apenas que o MI-COA deu autorização para a efectivação das emissões directas da Mozal no mês de Maio.

Segundo caracteriza António Reina, a refe-rida informação disponibilizada pelo MICOA em Junho era bastante “tranquilizadora” pois, segundo a mesma, as emissões da fá-brica não representam perigo para a saúde pública e não havia ainda autorização para o

Mozal: Micoa exige estudoscientíficos de ambientalistas

efeito. “Surpreendentemente, uma semana depois de termos recebido esta informação ficamos a saber que desde Maio, já tinha sido dada à Mozal uma autorização especial para que a fábrica avance com as emissões directas,” acrescentou o ambientalista.

Segundo António Reina, director da organi-zação ambientalista Livaningo, o actual bra-ço-de-ferro data de Abril, logo após a reunião pública da Mozal, na qual a fábrica terá anun-ciado a pretensão de trabalhar em sistema bypass, ao que os ambientalistas interroga-ram na altura sobre o bom senso da medida.

Na relação entre o Governo e a Mozal, os ambientalistas procuram perceber o motivo de nunca terem ouvido falar de uma fiscali-zação do Executivo àquele empreendimento. No entanto, os defensores do ambiente afir-mam ser frequente a Mozal fornecer os dados directamente ao Governo - facto que gera um tom de parcialidade. Perante esta prática, António Reina (em nome dos seus pares) não deixa de sugerir uma auditoria independente para o efeito, facto que traria algumas surpre-sas na sua óptica.

Quando a Mozal é apontada como um orga-nismo que tem construído escolas, hospitais e gerado emprego, Reina defende que a respon-sabilidade social da Mozal tem de assentar somente na produção de alumínio sem risco para as populações, e gerar riqueza para o país. n

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Foi publicamente lançado no dia 15 de Setembro o Cartão Crediviagem LAM, um produto desenvolvido no âmbito de uma parceria entre o BCI e a LAM.O Cartão Crediviagem LAM é um cartão de crédito para Empresas e Particu-lares para compra de viagens e serviços com utilização exclusiva nas lojas LAM, LAM Tours e parceiros da LAM, em POS do BCI. Este novo meio de pagamento permite a aquisição de bens e serviços (viagens e pacotes turís-ticos na LAM e LAM Tours), de acordo com o limite de crédito do Cartão.Este produto é fruto das excelentes relações existentes entre a LAM e do BCI e visa proporcionar aos Clientes de ambas as Instituições a oportunidade de viajar para qualquer destino operado pela LAM e liquidar o valor da passa-gem de forma flexível, sob o lema “Viaje agora e pague depois”.De entre as diversas facilidades concedidas pelo Cartão Crediviagem LAM, o Cliente terá acesso a um limite de crédito permanentemente disponível para gerir com autonomia as suas viagens com a Companhia de Bandeira Nacional, crédito gratuito até 45 dias e a possibilidade de parcelar o saldo em dívida, escolhendo uma modalidade de pagamento que mais lhe convier (10%, 25%, 50%, ou 75%). O Cartão poderá ser adquirido nas Lojas LAM, em todo o país, ou em qualquer Balcão/Agência do BCI.O evento de lançamento e assinatura do Acordo decorreu no Hotel Polana, e contou com a presença do Presidente do Conselho de Administração da LAM, o Eng. José Viegas, o Presidente da Comissão Executiva do BCI, Dr. Ibraimo Ibraimo, e foi testemunhada por quadros das duas Instituições e Instituições convidadas.

Conheça as vantagens e benefícios deste produto no site www.viajeagora.co.mz. Consulte ainda os sites www.bci.co.mz e www.lam.co.mz.Consulte a Sala de Imprensa, em: www.bci.co.mz/Institucional/imprensa.

Sob o lema “viaje agora e pague depois”, foi lançado o mais

recente cartão de crédito para Empresas e Particulares para

compra de viagens e serviços nas Lojas LAM, LAM Tours e parceiros

da LAM, em parceria com o BCI, no passado dia 15 de Setembro,

no Hotel Polana.

Entre outras vantagens, o cartão Crediviagem LAM, o Cliente terá

acesso a um limite de crédito permanente disponível para gerir

com autonomia as suas viagens com a Companhia de Bandeira

Nacional.

LAM e BCI lançam Cartão Crediviagem.

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Revista Capital40 Revista Capital40

InAtuR I tuRISMO

Projecto Arco Norte:A vontade de organizarNa continuação da grande entrevista concedida pelo Director Geral do Inatur, Bernardo Dramos, abordamos nesta edição a problemática do incremento turís-tico no Arco Norte. A preocupação das autoridades moçambicanas incide actual-mente na necessidade de normalizar o investimento turístico nas várias regiões do país e em estudar previamente todos os projectos submetidos à apreciação gover-namental, de forma a uniformizar as múltiplas demandas, mantendo contudo as suas características intrínsecas, e a adequá-las à realidade do tecido social onde se vão inserir.

O Conselho de Ministros já apro-vou o chamado projecto Arco Norte, o que está a acontecer neste momen-to, em termos práticos?

O projecto Arco Norte está numa fase bastante avançada da sua execução. Até se chegar à fase da visibilidade, entanto que tal, há uma série de trabalhos téc-nicos que têm que ser realizados. Já foi feito um trabalho junto às comunidades, junto aos Governos Provinciais, junto aos Governos Distritais, trabalhos de compreensão, de explicação do projecto, de sensibilização. Neste preciso momen-to estamos numa fase intermédia, para o final, da apresentação do Plano Director. Estamos na fase de finalização do plano director. Esperamos que nos próximos meses tenhamos o plano director fina-lizado e aprovado para que qualquer in-divíduo que tem espaço dentro das áreas abrangidas pelo Arco Norte ou que vai requerer espaço ou que queira desenvol-ver suas actividades o possa fazer. Neste momento, estamos a tentar conter as ac-tividades de desenvolvimento do sector para evitar que alguém possa construir alguma infraestrutura que esteja com-pletamente desconexa com aquilo que será o Plano Director. Já temos o pri-meiro relatório preliminar que nos dá a indicação daquilo que vai ser o plano director mas estamos a ver aspectos técnicos, estamos a fa-zer algu-

mas correcções. A partir da altura em que tivermos o Plano Director final va-mos libertar todos aqueles que têm pro-jectos e aqueles que querem desenvolver poderão começar a fazê-lo em função do Plano Director. Aquele que tem um pro-jecto que não se ajusta ao Plano Direc-tor, obviamente será convidado a rever o seu plano na perspectiva de torná-lo conforme o plano director. Uma vez ten-do o projecto em conformidade com o plano director as pessoas estão livres de desenvolver suas actividades.

O que já foi feito, até este momento, no sentido de atrair potenciais in-vestidores para os Projectos Ânco-ras e para o Arco Norte?

Várias coisas foram feitas e continu-amos a trabalhar. Em relação ao Arco Norte já há vários investidores que, ten-do sido contactados directa ou indirec-tamente, ou por via das publicações que estão a ocorrer, ou por via da exposição do projecto, em várias conferências e seminários de investidores em que par-ticipámos e nas feiras de turismo mun-dial. Há vários investidores que mostra-ram interesse e outros inclusive que já têm projectos e estão apenas à espera do Plano Director. Já foi rea-lizado algum

trabalho e continuamos a trabalhar. Obviamente que não está completamen-te publicado e aberto enquanto não pu-blicarmos o Plano Director porque isso vai gerar muita ansiedade. Nós temos, neste momento, investidores que têm recursos financeiros e projectos e nós estamos como que a reter o investimen-to que eles querem fazer. Nós não que-remos perder estes investidores. Então, logo que o Plano Director estiver finali-zado e aprovado, o nível de publicação das oportunidades, que são enormes, vai ser muito mais massificado.

E quando teremos o Plano Direc-tor?

A nossa previsão é que num período de tempo muito curto tenhamos o Plano Director. É um projecto delicado, mui-to sensível. Envolve aspectos urbanís-ticos, planeamento territorial, impacto ambiental, convívio com as comunida-des. Mas se for por mais algum tempo, acredito que neste ano, e ainda neste semestre, de certeza absoluta teremos o projecto-piloto aprovado. n

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Revista Capital42 Revista Capital42

DeSenVOlVIMentO I ÁFRICA

Durante muitos anos a economia africana tentou desenvolver-se, apesar do contexto de dificuldades sentidas. Porém, este cená-rio começou a mudar na última década e o continente começou a emergir. Este amadu-recimento económico traduz-se no posicio-namento que as companhias africanas têm vindo, paulatinamente, a adquirir. Um es-tudo do Boston Consulting Group (BCG) – intitulado ‘The African Challengers’ - revela que as empresas africanas estão cada vez mais competitivas e que já se expandiram na economia global. “As ambições destas empresas podem ser maiores do que as suas capacidades, mas colectivamente elas estão a deixar uma marca”, refere o mesmo documento. Num olhar lançado ao empresariado africa-no, o BGC identificou 40 companhias com um cresimento rápido e sérias aspirações no que diz respeito a atingirem o patamar global. A estas organizações, o BGC desig-nou de “desafiantes”. “Certamente, elas são mais de 40, mas destacamos um número relativamente menor de empresas por for-ma a entender na íntegra as suas estraté-gias e os desafios que se colocam à evolu-ção do capitalismo africano”.

Um breve olharsobre o continente

As estatísticas convencionais indicam que África possui 20% de toda a terra a nível global, e 15% da população, mas que é res-ponsável por apenas 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Segundo o estudo do BGC, esta visão é compreensível, embora desactualizada. “Entre 2000 e 2008, o PIB africano cresceu na ordem dos 5,3%. A evo-lução dos preços das ‘commodities’ justifica em parte este desempenho, mas as expor-tações e a procura local tiveram um papel muito importante”, argumenta o estudo.Enquanto a “recessão global” colapsava di-versas economias, África foi capaz de cres-cer. “Em 2009, o PIB africano cresceu 2%, enquanto o dos Estados Unidos da Améri-ca caiu 4%, da União Europeia caiu 2,8% e o da América Latina reduziu 1,5%”, refere o estudo. Só Algéria, Egipto, Marrocos, Nigéria e Áfri-ca do Sul contribuem para 60% do PIB do continente. O PIB per capita ronda os 330 dólares na República Democrática do Con-go e cerca de 15 mil dólares em Botswana. Durante a década passada, países como

Guiné Bissau, Costa do Marfim, entre ou-tros, tiveram os seus PIB´s consideravel-mente reduzidos, enquanto economias como a angolana cresciam 13%, anualmen-te. Este cenário contrastante reflecte a re-alidade de um continente rico em recursos naturais que, ao mesmo tempo, se debate com a pobreza, dificuldades no sistema de saúde, problemas geopolíticos, e que ainda se ressente dos efeitos do colonialismo. Fora este facto, as economias de topo em África (seleccionadas com base em facto-res sócio-económicos, incluindo o PIB per capita, padrão de vida, ambiente de negó-cios e estabilidade política), denominadas pelo estudo por “Leões Africanos”, estão a cumprir o seu papel no desenvolvimento do continente. O grupo de “Leões Africanos” compreende Algéria, Botswana, Egipto, Lí-bia, Maurícias, Marrocos, e Tunísia. O PIB per capita destes países excede o dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). O estudo refere que, em 2008, o PIB per capita dos “Leões Africanos” foi de 10 mil dólares e que o dos BRIC foi de 8 mil.

O Desafio global das “40 grandes empresas”

As “40 grandes empresas” africanas, ou simplesmente “desafiantes”, segundo a de-nominação atribuída pelo estudo, possuem vendas anuais que vão dos 350 milhões de dólares aos 80 biliões. Todas elas demons-tram um crescimento robusto e planos am-biciosos de expansão além-fronteiras. Na origem das empresas, três países dominam a lista, nomeadamente: África do Sul, com 18 empresas; Egipto, com 7, e Marrocos, com 6 (vide a figura). O estudo destaca que para se tornarem em-presas de “classe mundial global”, capazes de recrutar os “melhores talentos”, ofere-cer marcas reconhecidas mundialmente e competir com outras companhias multina-cionais, os ‘desafiantes’ devem promover a progressão da globalização. “Felizmente, elas já têm exemplos que podem seguir. Elas podem desenhar as suas estratégias baseando-se no historial de grandes com-panhias da Índia, China e da América Lati-na. As empresas destas regiões tiveram su-cesso gerindo a volatilidade, aumentando a produtividade, expandindo-se para fora do continente, apostando no capital huma-no, e se beneficiando do apoio do estado”, refere a pesquisa.

África do Sul reúne o maior leque de empresas do mercado emergente

Um estudo da Boston Consulting Group, uma firma multinacional de consulto-ria, indica que África está a tornar-se um “ninho” para as grandes empresas que estão a emergir no mercado. Neste ninho, a vizinha África do Sul é o com-partimento que agrupa cerca de metade, o que corresponde à maioria dessas organizações, que, ano pós ano, têm vindo a registar um crescimento notável.

RECOMENDAÇÕES*Gestão da Volatilidade: “Uma das chaves para o sucesso na expansão a nível global é a capacidade de lidar com a volatilidade dos negócios e das economias. Uma das estraté-gias para contornar a situação é aproximar as operações dos clientes efectivos, dos po-tenciais clientes, das empresas que possam ajudar na redução dos custos de transportes e na protecção contra as oscilações cam-biais”.

*Aumentando a Produtividade: “Investir - neste aspecto - pode contrabalançar o efeito do aumento dos custos laborais (mais tra-balhadores, salários relativamente altos...). Educação e Tecnologia são, obviamente, as chaves para aumentar a produtividade. Porém, uma estrutura organizacional mais flexível pode ter um contributo significativo”.

*Expandindo-se para Fora do Continente (África): “Os negócios além-fronteiras são dos mais arriscados porque são fortemen-te influenciados por situações geopolíticas, culturais e de segurança. As companhias africanas que se decidam expandir para fora do continente devem seleccionar minucio-samente os seus alvos e consolidar as suas operações”.

*Apostando no Capital Humano: “Outra chave para o sucesso das empresas, sobretudo as que se encontram em economias em desenvolvimento, é atrair e reter talentos. De modo a criar um desenvolvimento sustentável, as empresas devem contribuir nos sistemas locais de educação”.

*Criando Marcas Globais: “Nos seus mercados, as grandes empresas africanas são bem conhecidas, mas fora das suas fronteiras o mesmo não sucede. Ao criar parcerias com as já existentes, e reconhecidas mundialmente, é possível construir marcas africanas mais robustas”.

*Beneficiando do Apoio do Estado: “O apoio governamental é de extrema importância. Fora o facto de assegurar a estabilidade política e a protecção legal, os governos podem apoiar de várias outras formas. Eles podem promover blocos económicos regionais, podem promover exportações através do comércio e de políticas de taxas, podem investir em programas de desenvolvimento, prover apoio diplomático, entre outros. Por seu turno, as empresas devem mostrar independência e assumir a responsabilidade de definir as suas próprias estratégias e modelos ou padrões de crescimento”.

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DeSenVOlVIMentO I ÁFRICA

África do Sul reúne o maior leque de empresas do mercado emergente

FONTE: BGC: The African Challengers

Attijariwafa Bank; BMCE Bank; Maroc Telecom; Office Chérifien des Phos-phates; ONA Group; Royal Air MAroc.

MARROCOS 6

Al Ezz Group; CIB; EFG-Hermes; Egyptair; Elsewedy Cables; Orascom Telecom; Orascom Construction Industries.

EGIPTO 7

Cevital; Sonatrach

ARGÉLIA 2

Ecobank

TOGO 1

TUNÍSIA 2Groupe Elloumi; Poulina Group

ANGOLA 2Banco Africano de Investimentos; Sonangol

NIGÉRIA 2Dangote Group; United Bank of Africa

- Allied Electronics; Anglo American; Aspen Pharmacare; Barloworld; Bidvest Group; Datatec; Imperial Holdings; MTN Group; Murray and Roberts; Naspers; Old Mutual; SABMiller; Sappi, Sasol; Shoprite; Standard Bank Group; Steinhoff International; Vodacom

ÁFRICA DO SUL 18

PAÍSES COM GRANDES EMPRESAS EMERGENTES NO CONTINENTE

Quem é o BGC?

O Boston Consulting Group é uma firma de consultoria e gestão, líder mun-dial na área de de estratégias de negócios. Foi fundada em 1963, e é uma firma privada com 69 escritórios estabelecidos em 40 países. Além da pu-blicação (The African Challengers), anualmente, a consultora publica um ranking onde são listadas as 100 empresas provenientes de economias em desenvolvimento, que, por seu turno, aspiram tornar-se organizações com pujança a nível mundial.

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GeStÃO e COntABIlIDADe I eRnSt & yOunG

Responsabilidade Social Empresarial

Um olhar sobre a importância do Balanço Social (I)

Félix Sengo *

Introdução

A transformação que se opera na mentali-dade empresarial tem levado as organiza-ções a colocarem ênfase na qualidade no lugar do acento tónico que era essencial-mente posto na quantidade dos resultados empresariais, e a adoptarem mudanças as-sinaláveis nos seus critérios administrati-vos orientados à divulgação da informação empresarial, sobretudo na vertente social. Fornecer informações à sociedade sobre a utilização dos recursos humanos, naturais, financeiros, tecnológicos e outros que per-tencem de uma forma directa ou indirecta a própria sociedade é o mínimo que se es-pera hoje em dia das organizações para me-recerem o respeito e a credibilidade neces-sários à continuidade das suas operações no mercado.O instrumento que tem sido utilizado para aferir de forma adequada os resultados duma organização na área sócio - económi-ca, avaliando e informando os factos sociais vinculados à organização tanto internos (empresa e trabalhadores), como externos (empresa e sociedade) é o Balanço Social. O termo Balanço Social advém das De-monstrações Financeiras, ou mais con-cretamente, do Balanço Patrimonial que é constituído pelo Activo, Passivo e Situação Líquida da organização. Porém, enquanto que o Balanço Patrimonial é expresso em moeda, o Balanço Social apresenta quer dados numéricos, quer dados descritivos, uns espelhando o grau de satisfação dos trabalhadores e outros o grau de satisfação dos titulares da organização por terem re-alizado acções sociais em benefício da so-ciedade.O Balanço Social diferencia-se de forma es-trutural e material do Balanço Patrimonial. Ele procura informar os gastos e acções da organização na promoção da dignidade da pessoa humana, na formação duma socie-dade mais justa e solidária, bem como na preservação do meio ambiente. A sua fun-

ção principal não está centrada na análise económica - financeira da organização, mas sim na prestação de informações atra-vés do levantamento dos principais indica-dores de desempenho económico, social e ambiental.No Balanço Social, a organização mostra o que faz por seus profissionais, dependentes, parceiros e a comunidade em geral, dando transparência as actividades orientadas a melhoria da qualidade de vida para todos. Através do Balanço Social, torna-se pública a Responsabilidade Social Empresarial, di-vulgando os vínculos entre a organização, sociedade e o meio ambiente.Este artigo debruça-se sobre a evolução histórica do Balanço Social, sua importân-cia nas organizações, critérios qualitativos a serem observados na sua preparação e estrutura comummente aceite pelas orga-nizações na sua apresentação. Evolução históricado Balanço Social

Muitos autores são unânimes em consi-derar que a necessidade de prestar contas aos “stakeholders” (partes interessadas), surgiu nos anos 60 nos Estados Unidos da América e nos anos 70 na Europa. O repú-dio da população à guerra do Vietname, e ao uso de armamento sofisticado (bombas de fragmentação, gases paralisantes, etc) que prejudicavam o homem e o meio am-biente, e a persistência da discriminação de raça e sexo no emprego fizeram com que a sociedade americana começasse a discutir o posicionamento social das empresas. A sociedade americana começou a exigir das empresas uma posição mais ética e uma postura socialmente responsável.Foi a partir dos anos sessenta que as gran-des empresas norte-americanas começa-ram a divulgar relatórios sobre as suas ac-ções sociais.Na Europa, a ideia da Responsabilidade Social das organizações tornou-se popular

«Hoje em dia, e mais do que nunca, para a elaboração de planos estratégicos de desen-volvimento orientados a organização das opera-ções produtivas, tecno-lógicas, administrati-vas e organizacionais torna-se importante aclarar tanto as variá-veis económicas - finan-ceiras (que são dadas pelos Balanços Patri-moniais) como as vari-áveis sociais e ambien-tais que são resumidas nos Balanços Sociais.»

nos anos 70. Porém, o que pode ser consi-derado como um marco na história do Ba-lanço Social, propriamente dito, aconteceu na França em 1972, o ano em que a empresa SINGER elaborou, o assim chamado, pri-meiro Balanço Social da história das em-presas. Desde 1977, o Balanço Social passou a ser exigido, na França, através da Lei n.º 77.769/77, de 12-7. Esta lei exigia a divulga-ção do Balanço Social pelas empresas que tivessem mais de 750 trabalhadores. Em 1982 essa obrigatoriedade foi estendida às empresas com mais de 300 trabalhadores.Na década de oitenta, Portugal aderiu a

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Revista Capital46 Revista Capital46

GeStÃO e COntABIlIDADe I eRnSt & yOunG

elaboração do Balanço Social. Por meio da Lei nº141/85, de 14-11, Portugal passou a exigir a divulgação do Balanço Social para as empresas que tivessem mais de 100 tra-balhadores. As experiências internacionais (nos EUA, França, Bélgica e Portugal, entre outros) apontam que a motivação que levou à ela-boração do Balanço Social esteve sempre ligada à necessidade das organizações im-plementarem um planeamento estratégico mais abrangente. Hoje em dia, e mais do que nunca, para a elaboração de planos es-tratégicos de desenvolvimento orientados a organização das operações produtivas, tec-nológicas, administrativas e organizacio-nais torna-se importante aclarar tanto as variáveis económicas - financeiras (que são dadas pelos Balanços Patrimoniais) como as variáveis sociais e ambientais que são resumidas nos Balanços Sociais.

Importância do Balanço Social

O Balanço Social tem como sua função principal tornar pública a Responsabilida-de Social da organização, através da divul-gação das acções que realiza no meio em que se encontra inserida. A divulgação des-sas acções é de extrema importância para

todas as partes interessadas que interagem com a organização. Com este instrumento, a organização pode mostrar publicamente que a sua intenção não é apenas a obtenção do lucro como um fim em si, mas também está comprometido com o desempenho so-cial que se resume no compromisso e na responsabilidade que assume com a socie-dade, e na prestação de contas sobre o uso e a apropriação de recursos que inicialmente até não lhe pertenciam.Os elementos que se seguem, nomeada-mente, a reputação, relevância, o veículo de diálogo, e os instrumentos de diagnóstico, gestão e avaliação, são utilizados para fun-damentar, de uma forma geral, a importân-cia do Balanço Social nas organizações.

Reputação

O Balanço Social ao actuar como um ins-trumento que mede e demonstra ao público o sucesso da estratégia social duma organi-zação está a criar um produto intangível - a imagem positiva, ou seja a reputação social da organização - apesar de existirem or-ganizações que publicam Balanços Sociais sem nada de interesse social para demons-trarem ao público.Fornecedores, organizações governamen-

tais e não governamentais e outros par-ceiros estratégicos preocupam-se com a reputação global da organização quando estão perante um processo de selecção de organizações para diversas alianças. Esses requisitos concorrem para as organizações melhorarem simultaneamente o seu de-sempenho financeiro, social e ambiental e encontrarem formas inovadoras de se rela-cionarem com o ambiente social. Com esta postura as organizações ganham na me-lhoria da sua reputação que tem um efeito positivo no valor de mercado das organiza-ções.

Relevância

Enquanto o Balanço Patrimonial, dá rele-vância ao resultado económico de um ne-gócio num determinado período, o Balanço Social põe em evidência a contribuição le-vada à sociedade. Procura dar a conhecer as partes interessadas, as acções da orga-nização que têm impactos não apenas no desempenho financeiro, mas também na relação capital – trabalho e na produção ou não da riqueza e bem-estar da sociedade.n

(*) Audit Manager na Ernst & Young

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Revista Capital48 Revista Capital48

FISCAlIDADe I pRICeWAteRHOuSeCOOpeRS

Yussuf AmujiPricewaterhouseCoopers

Consultor

A Responsabilidade Social Empresarialà luz do ordenamento jurídico-fiscal moçambicano

A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é, sem dúvida, um fenómeno que se tem evidenciado e merecido particular des-taque pelos media.

Trata-se de um instrumento que tem sido frequentemente usado pelas diferentes or-ganizações com vista a elevar, por um lado, a sua imagem reputacional, e, por outro, retirar dividendos da sua actuação no cam-po da responsabilidade social, quer pela obtenção de benefícios, como para ganhar vantagem num mercado cada vez mais mo-derno, competitivo e globalizado.

Com o presente texto pretendemos apre-sentar um resumo sobre o regime fiscal da RSE.

Conceito

A RSE pode ser definida como o compro-misso que uma organização adopta para com a sociedade, expresso por meio de ac-tos e atitudes que a afectem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proactivamente e coerentemente no que tange ao seu papel específico na sociedade e à sua prestação de contas para com ela.

Regime fiscal da RSE

(i) Lei do MecenatoA Lei n.º 4/94, de 13 de Setembro - Lei do

Mecenato - visa incentivar as pessoas sin-gulares ou colectivas, públicas ou privadas, a desenvolver acções ou a apoiarem, finan-ceira ou materialmente, as mais diversas áreas, tais como, artes, educação, ciência, cultura, entre outros. Este apoio, quer seja financeiro ou material, deve revestir a for-ma de doação.

Assim, para o gozo dos benefícios previs-tos nesta lei, as acções e doações deverão ser levadas a cabo nas áreas das artes, le-tras, educação, ciência, preservação e res-tauro do património cultural, desporto,

meio ambiente, saúde e acção social.O Regulamento da Lei do Mecenato, apro-

vado pelo Decreto n.º 29/98 de 8 de Junho, define como doação “a transferência de bens, valores ou direitos ou a assunção de obrigações com carácter gratuito e defi-nitivo, por espírito de liberalidade e sem objectivos de proselitismo confessional ou partidário”, sendo que o patrocínio e a do-ação são genericamente considerados libe-ralidades.

Em termos fiscais, as empresas poderão considerar como custos ou perdas de de-terminado exercício, para efeitos de deter-minação da matéria colectável em sede do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC), os montantes doados, em percentagem não superior a 5% da matéria colectável do ano anterior, desde que as entidades beneficiárias sejam asso-ciações constituídas nos termos da Lei n.º 8/91, de 18 de Julho, isto é, que sejam as-sociações constituídas sem fins lucrativos e as demais associações ou entidades pú-blicas ou privadas que desenvolvam, sem fins lucrativos, acções no âmbito da Lei do Mecenato.

Outrossim, os doadores poderão bene-ficiar de isenção total dos direitos de im-portação e do Imposto sobre o Valor Acres-centado (IVA) em relação ao livro cultural, científico e escolar ou seus insumos para a produção nacional.

Formalidades a observar

Em primeiro lugar, as liberalidades prati-cadas deverão ser comunicadas por escrito aos beneficiários e às entidades governa-mentais que tutelam a área em questão. Os beneficiários, por sua vez, deverão co-municar ao Ministério das Finanças ou às Direcções das respectivas áreas fiscais os bens ou valores recebidos, para efeitos de confirmação dos benefícios fiscais a conce-der aos beneméritos.

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Revista Capital 4949Revista Capital

FISCAlIDADe I pRICeWAteRHOuSeCOOpeRS

A Responsabilidade Social Empresarialà luz do ordenamento jurídico-fiscal moçambicano

Com vista ao gozo dos benefícios fiscais, são consideradas como entidades compe-tentes para a confirmação das liberalida-des o Ministério das Finanças e cada uma das entidades, a nível central ou local, que superintende a área coberta pela liberali-dade.

(ii) O Código do Imposto sobreo Rendimento das Pessoas Colectivas (CIRPC)No seu Artigo 34.º, o Código do Imposto

sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (CIRPC) prevê a possibilidade de as empre-sas considerarem como custos ou perdas de exercício os donativos, em dinheiro ou em espécie, por elas concedidos, até ao li-mite de 5% da matéria colectável do ano anterior a associações sem fins lucrativos, e as demais associações ou entidades pú-blicas e privadas, que sem objectivos de proselitismo confessional ou partidário, desenvolvem sem fins lucrativos acções no âmbito da Lei do Mecenato.

São também considerados, nos termos do artigo 35 do CIRPC, custos ou perdas do exercício, na sua totalidade, os donativos concedidos ao Estado e às autarquias.

(iii) O Códigodos Benefícios FiscaisO Código dos Benefícios Fiscais (CBF),

aprovado pela Lei n.º 4/2009 de 12 de Ja-neiro constitui também um importante instrumento legal para as empresas/inves-tidores que pretendam obter benefícios e vantagens económicas ou reduzir os custos resultantes dos investimentos que envol-vam uma componente socialmente respon-sável, realizados em Moçambique.

Assim, nos termos do Art. 2.º, n.º 1 do CBF, “consideram-se benefícios fiscais as medidas fiscais que impliquem uma redu-ção do montante a pagar dos impostos em vigor com o fim de favorecer actividades de reconhecido interesse público, social ou

cultural, bem como incentivar o desenvol-vimento económico do País.

Atenta-se, particularmente ao Art. 19, n.º 1 do CBF que contempla a possibilidade de os investidores abrangidos pelo códi-go poderem considerar como custos para a determinação da matéria colectável do IRPC, os valores despendidos com todas as despesas realizadas na construção e re-abilitação de estradas, caminhos-de-ferro, aeroportos, correios, telecomunicações, energia eléctrica, abastecimento de água, escolas, hospitais e outras obras públicas, desde que consideradas de utilidade públi-ca pela entidade competente.

Contudo, ainda que o CBF preveja tais benefícios, entendemos que os mesmos não sejam suficientes para encorajar ou in-centivar as empresas a investirem cada vez mais em projectos que envolvam uma com-ponente socialmente responsável, tendo em conta que o CBF não é um instrumento legal criado com o intuito de satisfazer ou responder as demandas da RSE, mas sim, criado para os investidores, no geral.

(iv) A Lei n.º 12/2007 de 27 de JunhoConsideramos relevante mencionar este

dispositivo legal por um simples motivo: o seu Art. 11 estabelece que “uma percen-tagem das receitas geradas na actividade petrolífera é canalizada para o desenvolvi-mento das comunidades das áreas onde se localizam os respectivos projectos petrolí-feros”.

Ora, entendemos que o legislador, ao assim estabelecer, pretende, claramente, por um lado, retirar dividendos desta ac-tividade que, diga-se, é bastante lucrativa e viável do ponto de vista financeiro, e por outro, compensar as comunidades circun-vizinhas dos efeitos negativos que esta ac-tividade pode provocar ao seu bem estar. Entendemos assim, que nesta situação em específico, o Governo exerce directamente o seu papel social.

Conclusão

Pelo acima exposto, podemos conside-rar que o actual quadro jurídico em vigor no País ainda não se encontra à altura de responder às práticas de RSE e muito lon-ge estará de possuir um instrumento legal que possa servir de alavanca sólida para o desenvolvimento e consolidação deste fenómeno no seio das empresas moçambi-canas.

Contudo, até que seja criada uma legisla-ção específica que verse sobre esta matéria, entendemos que a alternativa mais viável passa por conjugar os diversos normativos legais disponíveis com vista a maximizar as vantagens que advenham da prática des-te tipo de actividade. n

«A Lei n.º 4/94, de 13 de Setembro - Lei do Mece-nato - visa incentivar as pessoas singulares ou colectivas, públicas ou privadas, a desenvolver acções ou a apoiarem, financeira ou material-mente, as mais diversas áreas, tais como, artes, educação, ciência, cul-tura, entre outros. Este apoio, quer seja finan-ceiro ou material, deve revestir a forma de doa-ção.»

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A Select Vedior é uma empresa de origem holandesa pertencente ao Grupo RANDS-TAD que é o segundo maior do mundo na área dos Recursos Humanos, e líder de mercado em Portugal onde possui cerca de trinta mil trabalhadores temporários e qua-trocentos colaboradores internos.O grupo possui uma rede de mais de 2.500 escritórios e está presente em 45 países a ní-vel mundial dispondo do know-how neces-sário para servir na área do Trabalho Tem-porário, Recrutamento e Selecção, Avaliação Psicológica e da Formação.A Select Vedior Moçambique surgiu nos princípios de 2007 quando Mário Costa, Ad-ministrador Delegado do grupo, ciente, quer do que considera consistir numa oportuni-dade de negócio, quer das suas responsabi-

lidades sociais, concretizadas na vontade de contribuir para a valorização dos cidadãos e profissionais Moçambicanos e das organiza-ções, públicas e privadas, deste País, identi-ficou a necessidade que o mercado moçam-bicano tinha na área dos recursos humanos. Aliado a esse facto foi também graças ao ca-rinho que aquele dirigente, sendo moçam-bicano nutre pelo país, que o Grupo decidiu finalmente apostar em Moçambique.Fazem parte das principais áreas de actua-ção da Select Vedior, o Recrutamento e Se-lecção, a Formação, a Avaliação Psicológica e Gestão de Recursos Humanos, pois são as que os clientes e as empresas mais procu-ram. Existem áreas com mais especializa-ção como por exemplo os call centers, que segundo Mário costa constitui uma grande

Select Vedior Moçambique

Alavancando os Recursos Humanos

ReCuRSOS HuMAnOS

fatia do seu mercado, pois está em franco crescimento no país, sendo por isso uma das razões que o trouxe a Moçambique. O grupo promove ainda o serviço de Trabalho Tem-porário para colocar as pessoas a trabalhar nas empresas de forma legal e com transpa-rência.Os beneficiários da intervenção da Select Vedior Moçambique são a generalidade dos agentes económicos, desde o Estado às di-versas entidades que actuam na indústria pesada e ligeira, e nas áreas das telecomuni-cações e tecnologias da informação, banca, seguros, transportes e logística, hotelaria e turismo e saúde. Um dos grandes objectivos da empresa é o de encontrar, em conjunto com os seus clientes e parceiros, soluções flexíveis e inovadoras que se traduzam em vantagens competitivas na área dos recursos humanos, contribuindo para o desenvolvi-mento organizacional através do aumento da rentabilidade, produtividade e eficácia da actividade.Em África, o grupo RANDSTAD opera em Moçambique e Angola. Mário Costa con-sidera que o negócio está a correr bem em Moçambique, país que trata carinhosamente de `friendly country`, onde possuem cerca de 14 pessoas a trabalhar dos quais 2 são portugueses, 1 angolano e 11 moçambicanos, e cerca de 450 trabalhadores temporários colocados em várias empresas com as quais desenvolveu parcerias.Em Portugal, o grupo possui 30 mil pessoas a trabalhar diariamente em várias fábricas, escritórios, banca, seguros e investe mui-to na formação, tendo adquirido do Estado português a maior escola de formação téc-nica do país, onde são formados jovens que carecem de acompanhamento pós escolar e de difícil integração na sociedade. A escola de formação é num estaleiro e a melhor e mais prestigiada área de formação é a de sol-dadura. A dimensão internacional do Grupo garante igualmente vantagens como a troca de experiências e informação a nível global: um know how fundamental para responder a todas as solicitações e uma peça chave para o êxito das organizações num mercado glo-balizado orientado para o sucesso.Tendo alcançado os 12,4 Biliões de Euros em vendas em 2009, a Randstad ocupa posição de liderança em um Portugal, Bélgica/Lu-xemburgo, Alemanha e Holanda, tendo nos seus quadros 27.640 colaboradores internos e colocando diariamente em todo o mundo 465.600 colaboradores em trabalho tempo-rário, por dia. O grupo acredita que a criação de melhores soluções no sector de serviços de Recursos Humanos significa sempre fazer mais, ir mais além. n

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Revista Capital 5151Revista Capital

ReSenHA JuRÍDICA I FeRReIRA ROCHA

Responsabilidade civile o Ambiente (I)

Lucília de Sousa *

A Responsabilidade Civil é uma das fontes das obrigações. Tem uma função reparadora, pois preconiza a

reparação dos prejuízos causados a outrem.A Responsabilidade Civil clássica baseia-se na culpa, quer na forma do dolo quer na negligência, e pode ser encontrada em duas modalidades:• Contratual, que resulta do incumpri-

mento de obrigações emergentes de um contrato, negócio jurídico unilateral ou da própria lei;

• Extra – Contratual, delitual ou aquilia-na, sendo aquela que resulta da viola-ção de direitos absolutos ou da prática de determinados actos que embora te-nham carácter lícito, causem danos a outrem.

As obrigações decorrentes da Responsabi-lidade Civil têm de ser declaradas pelo Tri-bunal. A decisão deste, deve basear-se num conjunto de pressupostos a verificar, tais como:1) Existência de um facto – esta existên-cia está dependente de uma ocorrência, isto é, uma acção ou omissão, de carácter vo-luntário, por parte do seu autor - sujeito le-sante. Pode ser positivo (acção que importa a violação de um dever geral de abstenção) ou negativo (abstenção ou omissão, quando existe o dever jurídico especial de praticar um acto);2) O facto deve ser de natureza ilícita – a origem do facto deve residir na violação de um direito alheio ou da violação de uma lei que proteja interesses alheios;3) Culpa – o facto ilícito deve ser culposo, onde a culpa deve assumir uma de duas mo-dalidades: dolo ou negligência;4) Existência de um dano – onde tais danos podem ser patrimoniais (tem por objecto um bem ou interesse susceptível de avaliação monetária) ou morais (causados a bens ou interesses que são insusceptíveis de avaliação monetária);5) Nexo de causalidade entre o fac-to e o dano – a responsabilidade civil só poderá ser determinada se entre o facto e o dano existir uma relação de causa e efeito.

Trata-se de uma causalidade probabilísti-ca, ou seja, a causa só poderá dar origem ao dano se, conforme as regras da experiência habitual, o facto se mostrar adequado à pro-dução daquele tipo de dano.

Relativamente à Responsabilidade Ambien-tal subjectiva, esta segue os mecanismos da responsabilidade Civil, desde que preenchi-dos todos os requisitos constantes do artigo 483º do Código Civil. De salientar que tais requisitos são de natureza cumulativa.Maiores problemas são colocados essencial-mente na determinação da culpa do agente, e no nexo de causalidade entre o facto polui-dor ou danificador do ambiente e os danos causados.Sobre a culpa, vezes sem conta as lesões ambientais resultam de meros acidentes, to-talmente desprovidos de intenção do agente em causar estragos. De que modo, então, se poderá ressarcir as eventuais vítimas? Há ainda o problema da pluralidade de infrac-tores, sendo sempre difícil aferir a medida das respectivas culpas.Em relação ao nexo de causalidade, é extre-mamente difícil, senão impossível, fazer a respectiva prova. A solução credivelmente apresentada sugere a hipótese de ser o juiz a elaborar o juízo sobre a existência do referi-do nexo, perante determinado caso concre-to. Deste modo, o grau de exigência do juízo de certeza sobre um facto deve variar na ra-zão inversa da dificuldade da prova.Pelas naturais mutações pelas quais as so-ciedades passam, relativamente ao seu de-senvolvimento, surgiu a necessidade de se proceder à reformulação profunda dos es-quemas clássicos da responsabilidade civil. Deste modo, o Direito precisou tutelar situ-ações em que se produziam danos, sem que tivesse havido qualquer desrespeito pelas normas aplicáveis, mas apenas pela perigo-sidade das condutas em causa.Surgiu assim a responsabilidade objectiva ou sem culpa, sob as formas de responsabi-lidade pelo risco e responsabilidade por fac-tos lícitos, onde se prescinde do pressuposto subjectivo.O fundamento da responsabilidade pelo

«Sobre a culpa, vezes sem conta as lesões ambien-tais resultam de meros acidentes, totalmente desprovidos de intenção do agente em causar estragos. De que modo, então, se poderá ressar-cir as eventuais vítimas? Há ainda o problema da pluralidade de infracto-res, sendo sempre difícil aferir a medida das res-pectivas culpas.»

risco encontra-se no conceito de justiça dis-tributiva, ou seja, qualquer pessoa que de-senvolva uma actividade perigosa no seio da sociedade e dela obtenha vantagens em benefício próprio, deve se responsabilizar pelos eventuais danos que causar, indepen-dentemente da culpa.Na Responsabilidade Civil ambiental o le-gislador determinou que “constituem-se na obrigação de pagar uma indemnização aos lesados todos aqueles que, independen-temente da culpa e da observância de pre-ceitos legais, causem danos ao ambiente ou provoquem paralisação temporária ou defi-nitiva de actividades económicas como re-sultado da prática de actividades perigosas.” Assim se encontra estabelecido no artigo 25 da Lei do Ambiente. n

(Continua na próxima edição)

(*) [email protected] da Ferreira Rocha & Associados

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Revista Capital52

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Revista Capital 53

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As organizações moçambicanas tendem a aderir ao princípio de transparência, facto que irá conferir alguma dinâmica à econo-mia nacional, segundo observa Luís Couto, director da Intercampus, uma empresa de estudo de mercados.

Por sua vez, Filipe Mandlate, alto res-ponsável da KPMG Moçambique, aponta a maior adesão que se verifica no evento “100 maiores empresas de Moçambique” como prova de que as organizações moçambi-canas já ganharam consciência de que na partilha de informação, as mesmas saberão posicionar-se em relação a concorrência.

As observações foram feitas durante a conferência de imprensa concedida pelos dois organismos, que deu início a prepa-ração da 12 .ª edição da pesquisa sobre as 100 maiores empresas de Moçambique. O evento junta, no presente ano, a KPMG e a Intercampus, que por sua vez já introduziu o sistema online na pesquisa em curso, fac-to que irá evitar que os questionários sejam mal preenchidos pelas empresas concor-rentes.

A 12.ª edição da referida pesquisa, tal

Transparência nas empresas vai trazer dinâmica económica

neGóCIOS

como nos anteriores anos, irá seleccionar as maiores empresas em diversas cate-gorias, de entre as quais, o volume de ne-gócios, capitais privados moçambicanos, rentabilidade de capitais próprios, entre outras.

No ano passado, a Mozal foi distinguida como a maior empresa do ranking geral, considerando o volume de negócios, en-quanto a Hidroeléctrica de Cahora Bassa foi distinguida como a maior empresa com capitais privados. Por sua vez, a Mozambi-que Leaf Tobacco mereceu a distinção de maior empresa por ordem de rentabilidade de capitais próprios, cabendo à Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos o pré-mio de melhor empresa em 2009.

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Revista Capital54 Revista Capital54

eStuDOS De MeRCADO I InteRCAMpuS

Com a evidência clara do mercado informal na economia moçambicana, as empresas tendem a incluir este tipo de “targets” nas suas estratégias de marketing, vendas e ser-viços. Adicionalmente, o facto de não terem informação estruturada de estabelecimen-tos comerciais de cariz informal, não per-mitindo a venda directa do importador para estes, faz com que multiplique o número de intermediários até os produtos chegarem ao consumidor final. Ou seja, no final os produ-tos são muito mais caros do que poderiam ser para o consumidor final.É neste sentido que as empresas sentem a necessidade de obter informações e dados relativos a estes mercados, de modo a deli-nearem uma estratégia operacional de dis-tribuição directa de sucesso, para darem uma melhor resposta e mais realista às ne-cessidades do mercado.Existem técnicas e métodos de análise de mercado que visam colmatar este tipo de situações, como é o caso do Geomarketing, uma ferramenta de estratégia comercial, que envolve o uso de sistemas de informação geográficas na obtenção de dados relevantes para a definição de questões relacionadas com a área de marketing, vendas e serviçosA tecnologia Geomarketing dá possibilida-de de uma empresa conhecer melhor o seu mercado, através de um levantamento e re-presentação simplificada e esquematizada de dados relativos ao mercado, população e mesmo da posição da própria empresa geo-graficamente, facilitando a identificação dos locais de maior potencial de consumo de um produto ou serviço e a uma determinação mais realista dos objectivos do negócio.Esta representação geográfica simplificada possibilita um aumento eficaz da tomada de decisões de marketing, uma vez que a análi-se dos dados é mais rápida, intuitiva e práti-ca, pois os dados das variáveis são relaciona-dos com um respectivo ponto geográfico, ou seja, são georeferenciadas.

O poder do conhecimento da localização dos meus clientes

O poder do GeomarketingQual a distribuição geográfica dos meus clientes? Qual a área de cobertura geográfica do meu negócio? Como maximizar a distribuição e a cobertura dos produtos da minha empre-sa? Estas e muitas outras questões poderão ser respondidas de um modo eficaz por meio de ferramentas de Geomarketing.

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Revista Capital 5555Revista Capital

eStuDOS De MeRCADO I InteRCAMpuS

O poder do conhecimento da localização dos meus clientes

O poder do Geomarketing

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Estabelecimentos Comerciaisna Cidade de Maputo

Foi neste contexto económico e estratégico que foi realizado recentemente um estudo pela Intercampus, do Grupo GfK, de carac-terização do tipo de estabelecimentos co-merciais de produtos de consumo imediato (FMCG – Fast Moving Consumer Goods) na cidade de Maputo, que consistiu no levanta-mento presencial de superfícies comerciais da cidade de Maputo, segmentado por bairros. O processo de levantamento e caracterização consistiu na recolha da posição geográfica através do sistema GPS, complementando com o preenchimento do questionário base-ado na observação e em entrevista directa e pessoal aos proprietários/responsáveis pe-los estabelecimentos comerciais observados, permitindo obter os dados de 7.901 estabele-cimentos comerciais.De acordo com os resultados representados na tabela 1, foi possível determinar que os es-tabelecimentos informais representam 86% do número total de estabelecimentos identi-ficados, contra os 14% dos estabelecimentos comerciais formais. Dentro da categoria de estabelecimentos in-formais, as “Bancas em Mercado” têm um maior peso dentro desta categoria com 37% , seguido de “Barraca (com estrutura fixa)” que representam 28% e os “Dumbanengue” (com local fixo) representam 17% .É de notar que o estabelecimento comercial formal com maior percentagem é a “Mercea-ria” com apenas 7%, seguido de “Loja em sho-pping/superfície” com apenas 1,16%.

Ficha Técnica do Estudo

O Universo é constituído por estabeleci-mentos comerciais de produtos de consumo imediato (FMCG – Fast Moving Consumer Goods) na cidade de Maputo, que serve uma população de 1.094.628 indivíduos de acordo com o último censo realizado pelo INE – Ins-tituto Nacional de Estatística. Foram identi-ficados 7.901 estabelecimentos na Cidade de Maputo. A informação é recolhida através do registo de coordenadas de GPS, observação directa ao estabelecimento e entrevista direc-ta ao proprietário/responsável pelas compras do estabelecimento comercial. Os dados fo-ram recolhidos por cerca de 160 inquiridores com formação específica sendo organizados por equipas de 6 elementos e o trabalho de campo decorreu entre os dias 9 e 27 de Agosto de 2010.

A IntercampusA Intercampus – Estudos de Mercado, Lda. é uma empresa de direito moçambicana e iniciou formalmente a sua actividade em Mo-çambique em 2007 sendo parte integrante do Grupo Internacional GfK. A GfK é a quarta maior empresa de estudos de Mercado no mundo. A sua actividade abrange cinco áreas: Custom Research, Retail & Tech-nology, Consumer Tracking, Healthcare e Me-dia. O Grupo é composto por 150 empresas em mais de 100 países e com mais de 10 000 colaboradores. Em 2009, as vendas do Grupo GfK ascenderam a 1,16 mil milhões de euros. Para mais informações contactar [email protected]

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Revista Capital56

eStIlOS De VIDA

A primeira vez que ouvi Chavela Cargas fiquei parada, a saborear aquela voz rasgada, rouca e intensa. Acicatou-me a curiosidade e fui no seu encalço para tentar perceber a quem pertencia aquela voz pedregosa, com sabor a lágrima caída. E da mesma maneira que me encantou, encantou muitas mais pessoas de variadas origens e diversas gerações.Nascida na Costa Rica, no ano de 1919, emigrou aos 14 anos para o México em busca de melhores oportunidades para iniciar a sua carreira musical. Durante muitos anos canta na rua. É por volta dos seus 30 anos que se torna

profissional. O seu primeiro álbum, Noche de

Bohemia, é lançado em 1961, com o suporte de José

Alfredo Jiménez, um popular cantor da música

tradicional mexicana (a ranchera). Sendo as suas

músicas consideradas por muitos como parte da herança

cultural do México, Chavela atingiu grande sucesso no anos 50/60. No

início dos anos 70, fez então uma tour pelos Estados Unidos, França e Espanha,

retirando-se, poucos anos depois, devido à sua longa luta contra o alcoolismo. Foi amiga de muitas figuras proeminentes do México, sendo que dentre os vários artistas e intelectuais destaca-se a amizade com a pintora Frida Kahlo.Mais tarde Chavela retorna aos palcos, mais concretamente em 1991, altura em que participa no filme Cerro de Torre do realizador alemão Werner Herzog. Pouco tempo depois, o conceituado realizador espanhol, Pedro Almodovar, um admirador de longa data e seu amigo pessoal, aproveita o seu talento em alguns trabalhos por si realizados, onde se pode ver e ouvir Chavelas Vargas, em filmes como Kika, Em carne Viva ou em A Flor do Meu Desejo. Finalmente, no ano de 2003, e com 84 anos a cantora actua merecidamente, e, pela primeira vez, no Carnegie Hall. E quando se ouve Chavela Vargas a cantar Macorina ou Volver Volver, é com deleite que a sua voz se entranha corpo adentro, percorre a veia cava em pujança e atinge por fim a alma, deixando-a em estilhaços sorridentes.

Sara L. Grosso

LUGARES PARA ESTAR

Se por acaso tiver a oportunidade de visitar a cidade de Nacala, mesmo que seja apenas em negócios, não deixe de usufruir o que de melhor Nacala apresenta: a sua extensa orla marítima. Aliás, mesmo que o centro ne-vrálgico das suas atenções diste uns kilóme-tros da praia, não hesite. Procure negociar, sim, mas prepare-se igualmente para viver

uns dias enriquecedores, em Naherenque.A proposta passa, antes de mais, por se alojar no Complexo de Naherenque, uma estância turística que engloba uma série de pequenas casas, um restaurante, um bar e um mar a perder de vista, que abraça a fa-mosa praia de Fernão Veloso - um local ca-racterizado pela história de antanho.

Os quartos são amplos em termos de espa-ço, proporcionam um bom nível de conforto e incluem uma sala comum, uma pequena cozinha de apoio, Tv e ar condicionado se-mre bem temperado. O atendimento é tão atento quanto atencioso, reservando alguns mimos personalizados em termos de segu-rança e de atendimento à mesa.No que diz respeito ao menú proporciona-do pelo restaurante, o mesmo é variado e a confecção altamente apreciável. Sugere-se vivamente o prato de lagosta grelhada – uma verdadeira delícia, pois além do ma-risco ser fresquinho (tanto que a carne até descola da carapaça), o tempêro usado e o tempo do marisco na grelha permitem que a iguaria fique mesmo ao gosto. Por outro lado, e mesmo que a ementa não o con-temple, converse com o garçon e explore os pratos típicos disponíveis. Aventure-se num peixe tocossado com xima preta, e não se irá arrepender!Mesmo que não usufrua do alojamento, pelo menos experimente a ampla varanda com vista para o Índico. Beba um drink ou en-comende um prato local. Vale a pena, assim como um longo passeio pela praia que vive pululada de pescadores e artesãos. Apro-veite para comprar uns recuerdos feitos de ouriço do mar e de búzios. Mas, sobretudo, deixe a sua vista viajar no marulhar da água transparente e morna, plena de reflexos azúis e verdes.

HNN

Naherenque, um local paradisíaco

BENVINDO AOS SEUS OUVIDOS

Chavela, a voz rasgadade la ranchera

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GALERIAeStIlOS De VIDA

NA BOCA DO MUNDO

Esperança no bom planeamento

Há dez anos era Moçambique que estava a braços com uma catástrofe humanitária devido às cheias. Hoje, é o Paquistão a enfrentar o mesmo problema.

Andrew Harding, correspondente da BBC para África, fez um trabalho interessante de análise sobre a evolução de Moçambique desde as cheias de 2000.

Os problemas burocráticos, a resistência à mudança por parte das populações, os poucos recursos do governo, entre outros problemas conhecidos de mãos dadas com a preparação para o mesmo tipo de catástrofe. Por outro lado, realçou o orgulho em Rosita, a bebé que nasceu em cima de uma árvore durante as cheias e que ficou conhecida no mundo inteiro. Durante a reportagem, o correspondente da BBC perguntou à mãe de Rosita que mensagem daria às populações do Paquistão: «Que tenham sempre esperança», ao que o repórter acrescenta, como exemplo para o Paquistão, o planeamento e exercícios de preparação para as catástrofes e a ajuda internacional. Referenciando a importância da organização nacional para as emergências, a coordenação administrativa na preparação do país em caso de haver mais cheias como as de 2000.Para terminar, apenas um apontamento: Na edição de Agosto da National Geographic (edição portuguesa) ofereceram um dvd com o trabalho “O último paraíso na Terra”, o trabalho premiado sobre o Parque Nacional da Gorongosa. Assim, fiquei com… mais vontade de ir ver o Parque ao vivo.

Rui Batista

Pelo segundo ano consecutivo, a Fundação PLMJ, em parceria com a AVIDEOARTE - Associação de Vídeo-arte de Moçambique promove o 25 Frames por Segundo em Mo-çambique – vídeos da colecção da Funda-ção PLMJ e de artistas moçambicanos. Esta mostra de vídeo arte, integrada na 5ª edição do festival de Cinema Documentário – DO-CKANEMA, procura, através de um progra-ma de exibições comissariado por Miguel Amado, exibir o valor distintivo desta nova linguagem artística.O programa apresentado integra uma se-lecção de obras de artistas portugueses e moçambicanos emergentes, de entre os quais se destacam Pedro Barateiro e Rita Sobral Campos ou David Aguacheiro, Idé-lio Vilankulos e Mário Macilau. Em exibi-ção permanente, numa das salas do Centro

Cultural Moçambique Brasil, estará a curta-metragem da jovem cineasta portuguesa Raquel Schefer – Avó - vídeo que explora a relação da artista com um território para ela imaginário que é Moçambique dos anos 60, território que conhece através dos relatos orais da sua avó durante a infância.A programação inclui ainda um conjunto de documentários acerca de artistas con-temporâneos internacionais da Colecção de Autores da VÍDEOBRASIL. Reunindo pers-pectivas locais e globais e cruzando o imagi-nário e o real, esta mostra traça uma signi-ficativa panorâmica das recentes tendências da arte produzida em vídeo.

Rita NevesFundação PLMJ

25 Frames por Segundo em Moçambique – vídeos da colecção da Fundação PLMJ e de artistas moçambicanos

Centro Cultural Brasil Moçambique10 a 19 de Setembro

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penA CApItAl

José V. Claro (texto)

Tão pobres que eles eram

N uma determinada cidade, dum determinado país, num continen-te devidamente identificado, exis-

tia uma escola apenas frequentada pelos fi-lhos de gente abastada, daqueles que não se confrontam com as angústias do dia quinze de cada mês, em que começa a escassear o rancho e o dinheiro para os transportes pú-blicos.Ora vem ao caso que nesse tal país, um dia, a população saiu à rua para protestar con-tra os aumentos generalizados dos bens de primeira necessidade e as escolas foram forçadas a encerrar as suas portas durante um curto período. No reatamento da fre-quência normal, os professores do dito es-tabelecimento de ensino foram aconselha-dos pelas direcções escolares a sensibilizar os seus pupilos para a realidade da pobreza, que alguns diziam absoluta, mas que nunca tocara à porta daquela população discente.Uma das professoras resolveu então indicar como tema duma redacção conjunta a reali-zar pela turma a simples frase: “uma família pobre.” Os queridos querubins, cujos papás alardeavam “Mercedes” e “four-by-four” como quem mostra uma camisa lavada, levaram o tema a peito, interrogaram os distintos progenitores, efectuaram um tra-balho de observação no terreno, olharam de perto a realidade vital dos seus empregados e guardas das entradas dos condomínios onde viviam e, dois dias depois, apresen-taram à bem-intencionada professora uma redacção colectiva que começava da seguin-te forma:“ – Era uma vez uma família muito pobre. Tão pobre que até dava pena. Veja-se que nessa triste família não só o pai e a mãe eram pobres, assim como os três filhos, como além disso eram muito pobres o mo-torista, a cozinheira, o jardineiro, a bábá, o guarda do portão, as duas empregadas do-mésticas e até era pobre o secretário parti-cular do chefe de família…”.Claro que esta pequena estória se situa numa perspectiva ficcional e que toda a semelhança com factos reais não passa de mera coincidência.No entanto, não resisto a pensar que a sen-sibilidade e o conhecimento das realidades

sociais da maioria dos habitantes do país em questão, por parte dos alunos desta turma, não andarão muito distantes da percepção que algumas personalidades que ocupam cargos da mais elevada importân-cia possuem acerca das populações que têm por obrigação orientar e proteger. Quando quem administra entra no circuito fechado da convivência apenas com os seus pares, acaba por se afastar das realidades vitais dos seus administrados. A sua percepção das necessidades ou dos desejos de quem constitui a esmagadora maioria de qualquer país, o povo, acaba por lhe chegar destorci-da ou irreal como se de imagem reflectida em espelho côncavo ou convexo se tratasse.Ora, tal como só tememos o desconhecido, também não se poderá orientar da melhor forma uma empresa cujo organigrama se não conhece ou qualquer outro empreendi-mento cujas linhas mestras nunca fizeram parte do nosso dia-a-dia. O que todo o cidadão consciente deve pedir aos que pilotam o seu futuro é que conhe-çam profundamente os seus anseios e capa-cidades, que respondam de forma correcta àqueles e que aproveitem estas da melhor maneira, pois será a forma mais fácil de co-locar as competências de cada um ao ser-viço do colectivo que constitui uma nação.Afinal um país mais não é que a soma das competências dos seus habitantes e quanto mais estas forem profundas e devidamente

utilizadas, maiores e mais positivos são os resultados obtidos.Quando numa nação se constroem escolas e se incentivam as crianças à sua frequên-cia está-se no bom caminho para desbravar o futuro. Porém, não deve esquecer-se que cada cidadão, além do alimento espiritual e da bagagem académica, também carece da nutrição física, do acesso aos bens es-senciais, ao pão, ao arroz, aos legumes, ao “caril” e que quando estes escasseiam ou os seus preços se tornam inatingíveis, o descontentamento alastra e, depois, torna-se difícil controlar todos os excessos que acompanham de perto as reivindicações sociais.Para obstar a este estado de coisas, é im-perioso que quem comanda nunca perca de vista a realidade social das populações e saiba distribuir as riquezas colectivas de forma justa e equilibrada. Quanto aos que pertencem aos escalões mais baixos da so-ciedade – os da tal pobreza – urge que não confundam exigências com distúrbios e se tiverem presente que a sociedade civil deve organizar-se e criar os seus organismos de classe – sindicatos, comissões, associações – poderão apresentar um “rosto” público e tornarem-se parceiros numa negociação que se quer ordeira, disciplinada e pro-funda, já que apenas deste modo deterão a credibilidade suficiente para se sentarem à mesa de onde brotará a luz. n

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