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Publicação mensal da S.A. Media Holding . Março de 2011 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR Nº 39 . Ano 04 CRISE NOS TRANSPORTES RESOLVER OU REMEDIAR? TO SOLVE OR REMEDY? ENTREVISTA Indústria não pode entrar em choque com turismo DOSSIER Comércio regional na mira de Moçambique INVESTIMENTO Energia figura no topo do volume de investimentos FISCALIDADE O regime fiscal das zonas económicas especiais e francas industriais RESENHA JURÍDICA Pagamento de Royalties a sociedades de direito português BANCA Financiamento às empresárias ainda é esquivo TRANSPORTE Legislação marítima é um entrave à cabotagem DESENVOLVIMENTO Economia desafia o contributo da Cultura

Revista Capital 39

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Publicação mensal da S.A. Media Holding . Março de 2011 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR Nº

39 .

Ano

04

CRISE NOS TRANSPORTES

RESOlvER Ou REmEdIAR?to solve or remedy?

ENTREvISTAIndústria não pode entrarem choque com turismo

dOSSIERComércio regional na mira de moçambique

INvESTImENTOEnergia figura no topodo volume de investimentos

fISCAlIdAdEO regime fiscal das zonas económicasespeciais e francas industriais

RESENhA juRídICAPagamento de Royaltiesa sociedades de direito português

bANCAfinanciamentoàs empresárias ainda é esquivo

TRANSPORTElegislação marítima é um entrave à cabotagem

dESENvOlvImENTOEconomia desafiao contributo da Cultura

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DOSSIER

17EMPRESAS

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SUMÁRIO

INVESTIMENTO DESENVOLVIMENTO desenvolvimento

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DOSSIER

ÍNDICE DE EMPRESAS E INSTITUIÇÕES

MATANUSKA, MESE, INSTITUTO NACIONAL DE PETRÓLEO, MOZAL, p 10FINANCIAL TIMES, FMI, UE, OPEP, AIENERGIA, VANITY FAIR, p 12MOZAL, SASOL, MESE, ASCENDI, VISABEIRA, EMOCIL, CEN-TRAL TERMOELÉCTRICA DE BENGA, RIVERSDALE, p 14SADC, MIC, AT, p 15SADC, MIC, UE, FMI, OMC, COTONOU, IPEME, INNOQ, p 16FMI, OMC, OCDE, UNCTAD, G20 p 17DOHA, p 18HIDROELÉCTRICA DE MPANDA NKWUA, AFROILS CORPO-RATION, CAM, VERUS, EQSTRA MOÇAMBIQUE, JP CAETANO, EDPM p 19BANCO ÚNICO, SEMLEX, TANDJE BEACH RESORT, p 20AFROILS C., SAB MOÇAMBIQUE, SEMLEX, HENAN HAODE

MOZAMBIQUE INDUSTRIAL PARQUE, CCES, CAM, MOZBIFE, TANDJE BEACH RESORT, ARROZ DA ZAMBÉZIA, PEMBE MOZAMBIQUE, MCNET p 21ONU, PAN AFRICA, CI, ACDCI, UE, p 22 E 23ODM, BANCO DE MOÇAMBIQUE, MINISTÉRIO DA CULTURA, UNES-CO, CEDARTE, p 24 E 25KAWENA, KANGELA CELULARES, WALMART, MASSMART, RENY, MANICA TRADING, MASS BUILT, GAME, MASSDICOUNT p 26 A 28CASA DO CAPITÃO, MILHOLO, AFRICA FUTURA, p 30USAID, NATHAN ASSOCIATES, p 32CNJUVENTUDE, p 34NAVIQUE, IPTM, MTC, IPTMP, p 41AIMO, VALE, RIVERSDALE, FMI, THE ECONOMIST, p 44 E 45OIT, AMUNE, IFC, BCI, PARPA, ONU, p 46BIM, BCI, STANDARD BANK, BARCLAYS, KPMG, p 47

Comércio mundial deve crescer 7% em 2011Mesmo com a remoção das barreiras comerciais efectuada pelo G20, o comércio ainda não ganhou a velocidade que se pretende. Neste novo contexto do comércio mundial é bem visível a dianteira dos países emergentes (com destaque para os pa-íses asiáticos e da América Latina) em contraste com o desempenho comercial dos países desenvolvidos (EUA e os estados europeus).

Fusão entre Kawena e gigante Walmart pode gerar 1.900 postos de emprego

Em duas décadas, a Kawena tem operado no mercado moçambicano e já conseguiu muito. A multinacional Walmart adquiriu recentemente a empresa e multiplicou as ambições: Irá empregar 1.900 trabalhadores contra os actuais 600. O director-geral da empresa, Doménico Borrielo, e o Director de Operações Administrativas, Hugo Jacinto, dão a sua fórmula (inspiradora) de como fazer o Up-grade dos recursos humanos e conseguir resultados.

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ÍNDICE DE ANUNCIANTES

TDM, p 02AP CAPITAL, p 03STANDARD BANK, p 04AP CAPITAL, p 05TRASSUS, p 08

EDITORA CAPITAL, p 11TIM, p13PRIME, p 29 TV RECORD, p 40PUBLIREPORTAGEM BCI, p 50

ERNEST & YOUNG, p 54PWC, P 57BCI, p 63PETROMOC p 64

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ENTREVISTA

ESTUDOS DE MERCADO

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SUMÁRIO

desenvolvimento TRANSPORTES BANCA EMPRESAS

24 41 46 56Indústria não pode entrar em choquecom turismo em Inhambane

O Governo colhe impostos promissores provenientes da acalmia da actividade tu-rística em Inhambane. Será que os impostos de uma barulhenta indústria “coabita-riam” com os do turismo neste município? Será que qualquer tipo de indústria pode ser implantada em Inhambane? O Presidente do Conselho Municipal, Lourenço Ma-cul, explica como será o casamento entre os dois sectores.

Os investidores nacionais apostam mais na área dos transportes rodoviários. En-tretanto, o mercado já não é o mesmo. O estudo da Intercampus revela dados sobre a localização geográfica e a distribuição das rotas e dimensão das empresas. Certa-mente irá concluir, por sua conta e risco, se ainda vale a pena o seu investimento nesta área.

Estudo sobre o sector de transporterodoviário em Moçambique

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9EDITORIAL

março 2011 revista capital

Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Av. Mao Tse Tung, 1245 – Telefone/Fax (+258) 21 303188 – [email protected] – director Geral: Ilidio Bila – [email protected] – directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sithoye - [email protected]; Sérgio Mabombo – [email protected] – Secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected]; Cooperação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM, INATUR, INTERCAMPUS – Colunistas: António Batel Anjo, E. Vasques; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Hermes Sueia; Joca Estêvão; José V. Claro; Leonardo Júnior; Levi Muthemba; Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo (ISCIM/IPCI); Paulo Deves; Ragendra de Sousa, Rita Neves, Rolando Wane; Rui Batista; Sara L. Grosso, Vanessa Lourenço – foto Capa: AA; Fotografia: Luís Muianga, gettyimages.pt, google.com; – Ilustrações: Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Paginação: Benjamim Mapande – Design e Grafismo: SA Media Holding – Tradução: Alexandra Cardiga – departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Brinrodd Press – distribuição: Nito Machaiana – [email protected]; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Registo: N.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

FICHA TÉCNICA

helga [email protected]

1Actualmente, somos vítimas de um período algo conturbado e em tudo preo-cupante porque se, por um lado, as ondas de convulsão social que assolam o norte de África chegam ao hemisfério sul, empolando nitidamente o preço do combustível, por outro, e em consequência desse mesmo fenómeno, as tarifas

dos transportes públicos disparam no país e a massa trabalhadora vê-se perante a eminência de continuar a viver tempos ainda mais difíceis.Os salários ou remunerações, esses mantêm-se inalteráveis perante o aumento não só das tarifas dos transportes como do preço dos bens primários, finais e intermediários; dos fretes; e de outros serviços. No fundo, os bens aumentam de valor no mercado e o receio de uma nova crise estalar paira, sobretudo, nos grandes centros urbanos, pois diz-se que a flexibilidade da população moçambicana também “já deu o que tinha a dar”.As manifestações dos aumentos do petróleo não se fazem sentir apenas quanto à mera circulação de pessoas, mas igualmente no que diz respeito à circulação dos bens. Justa-mente quando se fala tanto da necessidade de revigorar a indústria nacional e de pro-mover o comércio regional e internacional, a eminência do “elástico rebentar” surge em cena para perigar ‘altos valores’ tal como o crescimento económico previsto.

2Ao mesmo tempo, assemelha-se cada vez mais difícil abordar a intrincada questão dos transportes sem nos reportarmos às suas nuances no comér-cio. É certo que, ao longo do tempo, os custos de comércio caíram graças aos custos mais baixos de transporte e comunicação, bem como à sua maior

qualidade e maior velocidade. Contudo, é preciso ter a noção de que nem todos os países beneficiaram da mesma forma.Os custos de transporte caíram mais rápido onde a demanda por serviços de transporte foi maior. E o aumento da escala de produção comercializada elevou a competitividade e permitiu o surgimento de economias de escala no sector dos transportes. Por seu turno, os custos mais baixos do comércio e dos transportes incentivaram o co-mércio e permitiram maior especialização, e mais trocas. Certos países como a China penetraram nos mercados internacionais e beneficiaram de custos de transporte mais baixos. Contudo, a maioria dos outros países não o fez, conjunto onde se inserem gran-de parte dos estados de África.Ao aumentar as interacções locais de mercado e ao reduzir as distâncias entre as cidades e as áreas, assim como as divisões internacionais, as políticas de transporte nos países em desenvolvimento podem iniciar círculos virtuosos. Mas a melhoria da infraestrutura física é uma parte da equação a ter em conta em termos da política de transportes. Torna-se imprescindível ter melhores vias de comunicação assim como melhores for-mas de contrariar os sucessivos aumentos do combustível. Quem sabe se com uma polí-tica energética mais agressiva, voltada para a construção de refinarias, pontos de arma-zenamento de combustível e pipelines (uma vez que o país é uma boa porta de entrada para a Região), venha a permitir uma maior capacidade de negociação?c

A estreita relação entreos transportes e o comércio

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Em AlTA

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Em bAIXA

BOLSA DE VALORES CAPITOON

COISAS QUE SE DIZEM…

Afinal… a penúria sempre enriquece«A nossa pobreza é rentável»,

Economista Nuno Castel Branco, defendendo que a elite política e económica nacional toma a pobreza como um meio de atracção de recursos externos.

O verdadeiro preço não lembra nem à greve«Transporte Público devia custar 20 meticais»,

Paulo Zucula, ministro dos Transportes e Comunicações, considerando o facto de o Executi-vo subsidiar em 15 meticais cada passageiro, na cidade de Maputo e da Matola.

bancos pouco disponíveis, mas altamente rentáveis«Em Moçambique, apenas 22.2 por cento da população é que tem acesso aos ser-viços financeiros»,

Ernesto Gove, governador do banco de moçambique, citando um estudo da fin Scope que analisa o nível de acesso dos serviços bancários em Moçambique.

Insiste-se com o mesmo disco até que…«A Mozal polui abaixo dos limites legais»,

Mike Fraser, director-geral da Mozal, durante a reunião da empresa com as partes interes-sadas.

Megaprojectos e Megapobreza«Os megaprojectos irão empobrecer as populações»,

Economista e académico João Mosca, em análise aos benefícios económicos dos megapro-jectos na economia nacional.

EXPORTAÇÃO dE bANANA

Moçambique poderá iniciar este ano a expor-tação de banana para os mercados da Europa e dos Estados Unidos da América faltando apenas a certificação internacional à empresa produtora. A banana é produzida numa área de 1.200 hecta-res de um total de 3.000 hectares no distrito do Monapo, província de Nampula, concessionados à empresa Matanuska. O organismo já investiu cer-ca de 50 milhões de dólares no projecto. Para que a empresa inicie a exportação para os referidos mercados necessita apenas de obter o certificado de qualidade, o que obriga à observância de algu-mas exigências do organismo internacional ligado à qualidade de produtos alimentares.

fINANCIAmENTOJá foi materializada a promessa feita o ano pas-sado relativa ao lançamento do MESE, um meca-nismo de apoio às Pequenas e Médias Empresas (PMEs), assim como das associações empresa-riais. Com o MESE, as PMEs, as microempresas e associações empresariais poderão beneficiar de subsídios de apoio por parte do Governo. Trata-se de um programa de apoio às empresas privadas com vista à melhoria da sua posição competitiva no mercado, bem como ao fortalecimento das as-sociações empresariais, quer nas zonas rurais ou urbanas. O limite máximo do subsídio é de 50 por cento para as pequenas e médias empresas, 70 por cento para as microempresas, enquanto as asso-ciações empresariais podem obter financiamento até 75 por cento.

hAbITAÇÃOMais de 13.5 milhões de pessoas, o equivalente a 2.5 milhões de famílias ou 60 por cento da popu-lação de Moçambique, vivem em habitações sem condições. A província de Manica é uma das pro-víncias em que o cenário é pior. A maior parte das pessoas vive em condições e bairros considerados informais, sem as mínimas condições de habitabi-lidade. O acesso a serviços e infraestruturas bási-cas, como a água canalizada, arruamentos, sanea-mento e energia eléctrica deixam muito a desejar. Por outro lado, os elevados custos na área de cons-trução civil resultam da importação de grande parte de materiais para o efeito.

PETRÓlEO

O petróleo descoberto na bacia do Rovuma, a nor-te de Moçambique, em finais do ano passado não possui quantidades comercializáveis, segundo o administrador do Instituto Nacional de Petróleo, Carlos Zacarias. Em Agosto, a companhia Anada-rko Petroleum anunciou a descoberta de petróleo na bacia do Rovuma, mas ainda não sabia se o mesmo existia em quantidades comercializáveis. A impossibilidade de comercialização do petróleo nacional deixa assim ruir a esperança de muitos moçambicanos, que aguardavam um volte-face da economia impulsionada pelo ‘ouro negro’.

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MUNDO NOTÍCIAS12

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líbIA Petróleo negociadoem Londres já subiu17 dólares em 2011

O petróleo negociado em Londres já es-calou 8.8 por cento em Fevereiro, ou seja, nove dólares por barril. Trata-se da maior subida em 16 meses à luz da actual situação que se vive no Médio Oriente. O mercado receia que o tumulto que levou ao corte de parte da produção de petróleo na Líbia - cerca de 60 por cento da produção diária - se expanda à de outros países. A Líbia é o nono maior exportador entre os 12 membros da Organização dos Países Ex-portadores de Petróleo (OPEP) e enquanto a OPEP tiver capacidade para compensar qualquer escassez da Líbia existe um ris-co significativo de aumento dos preços, se a revolta reduzir a oferta de outros países produtores de petróleo.Havendo uma possibilidade da revolta civil estender-se à Argélia, até já se coloca a pos-sibilidade de atingir o valor de 220 dólares por barril.O ‘brent’, que serve de referência para a Europa, já atingiu os 119.79 dólares por barril, valor máximo em 30 meses. O facto ocorre depois da Arábia Saudita, em con-junto com os EUA e a Agência Internacio-nal de Energia, garantirem que estão em condições de compensar qualquer corte na produção por parte da Líbia.

ARÁbIA SAudITA - QATAR Arábia Saudita diz: “Não há escassezde oferta”

Os países-membros da OPEP e os restan-tes produtores de petróleo irão compensar uma possível suspensão das exportações da Líbia, segundo garantias do ministro do Petróleo do Qatar, Mohammed Saleh Al

Sada.“Acreditamos que não há escassez de ofer-ta”, garantiu Al Sada, destacando que a OPEP e outros produtores de petróleo po-dem compensar uma quebra na produção da Líbia, depois de os preços terem alcan-çado os máximos nos últimos dois anos.A preocupação com a instabilidade políti-ca no Norte de África e no Médio Oriente poderia levar à escassez de crude, situação que fez com que o preço do petróleo, em Nova Iorque, tivesse superado os 103 dóla-res nas últimas sessões.Actualmente, a Líbia detém as maiores reservas de petróleo da África. As decla-rações de Al Sada surgem na sequência de afirmações que defendem “não haver ra-zão” para os preços do petróleo subirem. O ministro Líbio garante que o país é mem-bro da OPEP e não permitirá que haja es-cassez de petróleo.O Qatar e a Líbia estão entre os 12 mem-bros da OPEP, o cartel que extrai cerca de 40 por cento do petróleo do mundo, en-quanto a Arábia Saudita é o maior membro do cartel e o mais influente.

PORTuGAl País de Camões não vai evitar pedido de ajuda

As taxas de juro acima dos 7 por cento pre-ocupam os analistas que acreditam que re-correr à ajuda externa será inevitável por parte de Portugal. O Financial Times’Portugal avança que o país enfrenta mais pressões para recorrer ao resgate e realça o elevado custo de fi-nanciamento enfrentado nos últimos tem-pos e as dificuldades de continuar a evitar um pedido de ajuda externa.Com um juro acima de 7 por cento, tanto nas obrigações a 10 como a 5 anos, vários analistas consideram inevitável o pedido de ajuda externa por parte de Lisboa. As análises fazem lembrar as experiências da Grécia e da Irlanda, que recorreram à UE e ao FMI, depois de os juros das suas Obrigações de Tesouro subirem acima dos 7 por cento durante 13 e 15 dias, respecti-vamente.Os analistas realçam que a dívida não vai desaparecer como por magia mas acham improvável que Lisboa peça ajuda antes do Conselho Europeu no final do mês, onde serão acordadas algumas reestruturações ao actual Fundo de Estabilização Europeu.O caso de Portugal é ligeiramente diferente do da Grécia e da Irlanda, visto que as suas necessidades de financiamento são mais modestas, mas acredita-se numa interven-ção a qualquer momento.Na tentativa de reanimar o decurso econó-mico, Portugal voltou a testar os mercados com uma emissão de Bilhetes do Tesouro

a 6 e 12 meses, num montante indicativo global entre 750 milhões e 1.000 milhões

de euros.

EuA Cineasta JamesCameron foi quem mais facturou em 2010

Um dos mais importantes e reconhecidos directores da actualidade, James Cameron, comanda o ranking das celebridades que mais ganharam dinheiro em 2010, segun-do a revista Vanity Fair. Com o estrondoso ‘Avatar’, o qual escreveu, produziu e diri-giu, Cameron comandou também ‘San-tuário’, que é outra ficção científica, com a mesma tecnologia do 3D de Avatar. Em segundo lugar, fica o famoso Chapeleiro Maluco, Johnny Depp, que arrecadou 100 milhões de dólares. Assim, a lista dos artis-tas que mais facturam em 2010 é:

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1. James Cameron - 257 milhões USD

2. Johnny Depp - 100 milhões USD

3. Steven Spielberg - 80 milhões USD

4. Christopher Nolan – 71.5 milhões USD

5. Leonardo DiCaprio - 62 milhões USD

6. Tim Burton - 53 milhões USD

7. Adam Sandler - 50 milhões USD

8. Todd Phillips - 34 milhões USD

9. Taylor Lautner -33.5 milhões USD

10. Robert Downey Jr. -31.5 milhões USD

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MOÇAMBIQUE NOTÍCIAS

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SECTOR PRIvAdO Grandes projectosdevem usar bense serviços nacionais

O Governo moçambicano quer que os grandes projectos desenvolvidos no país usem bens e serviços oferecidos pelas Pe-quenas e Médias Empresas (PME’s) nacio-nais.Para tal, está prevista a promoção de li-gações empresariais no âmbito do Meca-nismo de Subsídios Empresariais (MESE) lançado em Fevereiro, pelo Ministro da Indústria e Comércio.Nesse contexto, pretende-se criar um sis-tema que permita a ligação entre as PME’s e os grandes projectos como a Mozal, Sasol, Benga, Moatize, entre outros, que precisam de bens e serviços para a sua operacionalização, segundo revelou Victor Tivane, especialista em desenvolvimento de negócios no MESE.Aquele especialista frisou que, neste mo-mento, as empresas nacionais não pos-suem condições para satisfazer as neces-sidades dos grandes projectos, sobretudo porque muitas delas nem sequer conse-guem interpretar os cadernos de encargo. Como consequências, o País importa bens e serviços que podiam ser disponibiliza-dos internamente, o que significa que os recursos que poderiam advir da implanta-ção desses projectos para o País vão para o exterior.«No âmbito do MESE pretendemos criar um sistema que permite a ligação entre as PME’s e os grandes projectos em termos de disponibilização de bens e serviços. Mas para que tal aconteça é preciso que as empresas moçambicanas elevem a sua capacidade e qualidade de bens e serviços oferecidos», explicou aquele especialista.Segundo Tivane, «muitas empresas na-cionais não têm níveis aceitáveis, como é o caso da disponibilidade de bens e ser-viços, qualidade, capacidade de forneci-mento permanente, entre outras condi-ções».O MESE é uma iniciativa do Governo que visa apoiar a promoção do desenvolvimen-to das PME’s e as Associações Económi-cas, através da disponibilização de recur-sos financeiros, para que elas se tornem mais competitivas. Tais recursos servem para financiar as actividades que estejam orientadas para o desenvolvimento da em-presa ou associação empresarial, excluin-do o investimento em equipamento.Desta forma, são elegíveis as acções como a investigação de mercado, pesquisa de produtos, ‘design’, desenvolvimento, tes-tagem e aprovação, eficiência na produção, redução de custos, gestão e certificação da qualidade, embalagem, entre outras.

O MESE subsidia as actividades elegíveis até 70 mil dólares para as PME’s e até 25 mil dólares para as associações empresa-riais.

vIAS dE COmuNICAÇÃO Construção da ponte MAPUTO-“KA TEMBE” em progressão

O projecto de construção da ponte sobre a baía de Maputo, ligando o distrito muni-cipal da Ka Tembe à capital moçambicana já começou a dar alguns passos, apesar de ainda não haver data para o arranque das obras.Segundo Nelson Nunes, director geral da Empresa de Desenvolvimento de Maputo Sul, já foi concluída a concessão do pro-jecto a um consórcio organizado pelas em-presas Ascendi, Visabeira e Emocil, na se-quência do concurso público internacional lançado em 2008.Neste momento, decorre a realização de estudos detalhados do projecto e a conclu-são da elaboração do pacote financeiro.O projecto inclui a construção das estradas Ka Tembe/Ponta d’Ouro e Boane/Bela-Vista, na região sul da província de Mapu-to, bem como de algumas vias na capital, avaliadas em 500 milhões de dólares. Ape-sar de existirem vários interessados, ainda não se apurou a empresa que irá executar as obras.«Para este projecto prevemos um investi-mento de 500 milhões de dólares e neste momento estamos a fechar o pacote fi-nanceiro. Já iniciamos estudos prelimina-res para podermos arrancar com o pro-jecto. Não temos datas para o arranque, mas este quinquénio o projecto deve estar implementado» defendeu.De acordo com Nelson Nunes, a ponte da Ka Tembe vai desembocar nas proximida-des da praça 16 de Junho. De referir que a estrada da ponte passará pelas barreiras da Malanga e contará com portagens.À luz do mesmo projecto, será construída uma estrada ao longo da Avenida Nuno Álvares (uma rodovia que passa pela Pou-sada dos Caminhos de Ferro de Moçambi-que) intercalando com a Avenida de Mo-çambique, na Brigada Montada.Na Av. 24 de Julho será construída uma estrada tipo ponte por cima da praça “16 de Junho”, terminando na zona do mer-cado Malanga na mesma avenida, para ajudar no escoamento do tráfego. Haverá ainda uma série de vias alternativas que serão reconstruídas para ajudar a descon-gestionar as entradas e saídas da cidade de Maputo. O processo poderá envolver a transferência de algumas famílias.

ENERGIACentral termoeléctrica de Benga entra na sua fase final

O projecto da central termoeléctrica na re-gião de Benga, província central Tete, en-trou na sua fase final aguardando-se que a produção de energia inicie entre 2013 e 2014, conforme o preconizado no calendá-rio.O investimento inicial avaliado em 1,25 biliões de dólares americanos está na fase avançada e tem um forte apoio do gover-no. Já foi celebrado um memorando de entendimento com um consumidor indus-trial de energia e está em fase adiantada a introdução de um parceiro estratégico para participar no projecto.Numa primeira fase, a central de Benga deverá produzir entre 500 e 600 MW de energia, que será seguida por uma expan-são até 2000 MW, em consonância com o projecto de Linha de Transporte (Projecto de Espinha Dorsal de Energia), que ligará o centro e o sul de Moçambique.A energia da primeira fase será distribuí-da através da rede nacional de transporte, com uma porção a ser consumida pelos projectos mineiros de Benga e de Zambe-ze, da mineradora Riversdale.A central térmica será abastecida pelo carvão da mina de Benga que está, actual-mente, em desenvolvimento e irá produzir carvão no terceiro trimestre deste ano.Presente em Moçambique desde 2006, a Riversdale encontra-se envolvida em vá-rias frentes, mas a mais importante é a de Benga, com reservas estimadas em 4,4 biliões de toneladas, prevendo-se uma ex-tracção de até 22 milhões de toneladas de carvão mineral por ano.

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15DOSSIER COMÉRCIO

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Comércio regionalna mira de Moçambique

Moçambique tem procurado investi-dores no que diz respeito ao comércio e socorre-se da sua posição geoestratégica para esse efeito, uma vez que se conside-ra uma excelente porta de entrada para a SADC. Mas que género de trunfos possui o País para vingar no domínio do comércio regional e internacional?

Além de ser uma excelente porta de en-trada para os consumidores da Região - um universo que encerra 250 milhões de consumidores, o país ganha igualmente pela sua proximidade face à África do Sul, que é considerada um dos maiores prove-dores de produtos de consumo do momen-to, muito embora a mesma já não possua capacidade para responder à demanda do mercado.

«Relativamente ao comércio interna-cional, tudo quanto os outros países con-somem, neste momento, consomem-no através de uma rede única na Região que é garantida pela África do Sul. E a África do Sul não tem capacidade para respon-der às necessidades da Região a nível de procura», afirma Armando Inroga, o mi-nistro da Indústria e Comércio de Moçam-bique.

Nesse sentido, Moçambique pode en-contrar uma boa oportunidade de negó-cio na limitação sul-africana de garantir

a resposta à procura de consumo. Aliás, Moçambique apresenta dois factores prio-ritários que fazem com que possua uma grande vantagem geoestratégica. O pri-meiro factor passa pelo potencial de pro-dução da energia eléctrica, que permite o seu desenvolvimento industrial e, pos-teriormente, o comercial. Por outro lado, Moçambique tem uma Costa enorme, que permite oferecer aos países do Interland preços relativamente competitivos em re-lação a qualquer outro ponto geográfico da Região.

«É aí que estão os dois principais facto-res estratégicos de Moçambique e que têm de ser aproveitados para a dinamização da economia, através do comércio inter-nacional», garante Inroga.

Ao mesmo tempo, a Zona de Comércio Livre da SADC foi introduzida em 2008, estando a funcionar há sensivelmente três anos. E o balanço deste processo é fran-camente positivo segundo o ministro. O mesmo refere que Moçambique ganhou muito, embora o processo tenha sido algo intrincado.

Em 2006-2007 houve um enorme alari-do em relação à entrada do País na Zona de Comércio Livre. O Ministério da In-dústria e Comércio (MIC), então, apre-sentou de forma extensiva e expansiva as

explicações em relação às vantagens e à impossibilidade de parar esse movimen-to da globalização e da integração regio-nal, apresentando também os ganhos que Moçambique obteria apesar das intenções manifestadas pelos grandes países de do-minarem o mercado regional e nacional.

Essa medição de forças entre ‘grandes e pequenos estados’ era entendida como um grande problema. Assumia-se que iria haver uma grande quebra de receitas al-fandegárias, e da produção nacional, em consequência da abertura de mercado re-gional. Particularmente, porque a África do Sul assumia-se como um pólo e Mo-çambique apenas como uma parte da pe-riferia do grande bolo representado pelo país vizinho.

«O que se constatou é que, por um lado, nesses dois anos houve um contínuo cres-cimento na arrecadação de receitas adu-aneiras por parte da Autoridade Tribu-tária de Moçambique. E, por outro lado, houve uma enorme melhoria da gestão da Autoridade Tributária e do sistema das receitas públicas moçambicanas. Não só… houve um aumento da capacidade técnica moçambicana como resultado do intercâmbio e da obrigatoriedade da pa-dronização de sistemas de cá e de lá», jus-tifica o responsável pela pasta da Indústria

Helga Nunes [texto]

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revista capital março 2011

DOSSIER COMÉRCIO16

e do Comércio.De facto, registou-se um aumento das re-

formas, dos procedimentos, e do funciona-mento em diversas áreas do sector público como consequência da obrigatoriedade da integração. E de forma crescente, o Minis-tério tem constatado um crescimento eco-nómico. «Temos estado a ter, sem muitas dúvidas, alguma melhoria da qualidade de vida em todo o país».

Contudo, e embora a integração regional tenha trazido a Moçambique resultados positivos, trouxe igualmente resultados negativos. Houve manifestações de xeno-fobia na África do Sul assim como o defla-grar da ‘crise dos chapas’ que a integração regional não conseguiu evitar. Como tal, os desafios são enormes e hão de continu-ar a existir no processo de integração re-gional até à formalização da tão almejada união monetária.

«moçambique está no melhormomento da sua história»

Em 2015, a região da SADC aspira con-cretizar o Mercado Comum, em 2016 a União Monetária e em 2018 a Moeda Única. Fazendo uma análise comparativa entre Portugal na (Zona Euro) e Moçam-bique na região da SADC, procurou-se sa-ber junto do MIC que aspectos devem ser acautelados para que Moçambique não enfrente a pressão de mercado que Portu-gal actualmente está a sofrer, correndo o risco de ter que recorrer ao FMI e à União Europeia para resgatar a sua própria eco-nomia.

Armando Inroga refere que Moçambique possui três coisas únicas neste momento e que se encontra no melhor momento da sua história. E quais são essas três coisas? São elas o alto nível de crescimento de ins-tituições de ensino superior; a mudança da estrutura de formação; e a mudança de abordagem do ensino geral para o ensino técnico-profissional.

O alto nível de crescimento de institui-ções de ensino superior permite hoje exis-tir um grande número de gente formada. O segundo ponto é a completa mudança da estrutura de formação, em que se co-meçou a discutir a qualidade de ensino e a entender que a mesma é determinante para a sustentabilidade de crescimento da economia. E o terceiro factor é que a mudança de abordagem do ensino geral para o ensino técnico-profissional vai as-segurar que, até 2018, seja possível existir indivíduos qualificados para responder às necessidades do mercado interno.

«Estou a usar apenas o factor mais im-portante de todo o processo de desenvol-vimento do país que é o factor humano.

Acrescido a esse factor, nós temos outras duas coisas únicas neste momento, que é a importância estratégica que é dada ao gás, ao carvão e ao petróleo e o esforço que Moçambique está a fazer para o de-senvolvimento dessa indústria extracti-va», acrescenta Inroga.

Nessa perspectiva, Moçambique irá ter em 2018 uma indústria extractiva no seu pico, gente qualificada e em grande quan-tidade e um relativo crescimento popu-lacional. «Portanto, vamos ter reduzida população, mais qualificada e com mais recursos. E com esses três factores con-jugados é pouco provável que tenhamos alguma situação similiar à que Portugal está a viver», assegura o mesmo.

Quanto ao factor capital financeiro? Ar-mando Inroga é da opinião de que, a partir de 2015, Moçambique terá um grande ní-vel de oferta de crédito a nível do mercado internacional pelos recursos que já estará a explorar nessa altura. «Felizmente, ou infelizmente, normalmente empresta-se a quem tem. E Moçambique tendo, nessa altura, carvão, gás e petróleo, não haverá país no mundo que não queira fazer negó-cios com Moçambique».

Outro aspecto a ter em conta é o facto de Moçambique ser membro da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da SADC e de beneficiar de vários acordos preferen-ciais que reduzem as tarifas sobre expor-tações. Tal constitui uma oportunidade inequívoca para o País melhorar os níveis das suas exportações. Mas o que é que o Ministério da Indústria e Comércio tem realmente feito no sentido de aproveitar essas oportunidades, mais concretamente da SADC, do acordo da União Europeia e de Cotonou?

Ao que tudo indica, e de acordo com o ministro, o país tem feito muito e ao mes-mo tempo pouco. Tem feito muito na ca-pacitação interna a nível do pessoal do Mi-nistério, no sentido de poder responder às indústrias nacionais que têm potencial de exploração dos acordos preferenciais. Mas tem igualmente feito pouco por não estar a trabalhar no sentido de criar condições para gerar novas indústrias que explorem o potencial existente dos acordos.

O IPEME, o Instituto de Pequenas e Mé-dias Empresas, surge agora no sentido de criar e dinamizar indústrias que sejam passíveis de explorar os acordos preferen-ciais que moçambique tem. E ao mesmo tempo, o Instituto Nacional de Normaliza-ção e Qualidade de Moçambique (INNOQ) foi dotado de capacidade quer em termos de metodologia, quer de certificação, para poder dizer que produtos cumprem com os padrões de qualidade e com os critérios de certificação exigidos para a exportação.

Agora, em 2011, o INNOQ já possui essa capacidade, com mais de 56 normas apro-vadas, e até Dezembro deste ano estima aprovar mais normas. Já tem todas a con-dições técnicas para assegurar que aqueles produtos que Moçambique quer produzir estejam em condições de serem exporta-dos na qualidade que é exigida pelo mer-cado internacional. «Esperemos é que não surjam novos aspectos condicionantes à exportação para esses países», afirma Inroga, temendo os requisitos que surgem para impedir a exportação.c

Produtos prioritários

O IPEX traçou os sete produtos prioritá-rios para a exportação que são:• Ananás• Piripiri• Amêndoa de castanha de caju• Manga• Artesanato• Feijão verde• Amendoim

«Agora, em 2011, o INNOQ já possui essa capacidade, com mais de 56 normas aprovadas, e até Dezembro deste ano estima aprovar mais normas. Já tem todas a condições técnicas para assegurar que aqueles produtos que Moçambique quer produzir estejam em condições de serem exportados na qualidade que é exigida pelo mercado internacional.»

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17RECORTE COMÉRCIO

Comércio mundialdeve crescer 7% em 2011O comércio é o motor do crescimento global. Nas últimas décadas, os volu-mes de comércio aumentaram quase sempre mais depressa do que o ren-dimento mundial, suportando a expansão do PIB. Esta tendência também vai verificar-se em 2011, apesar de um ligeiro abrandamento no crescimen-to do comércio.

Análise

Enquanto a recuperação do comércio mundial face aos baixos valores registados em 2009 vai continuar, a taxa será, ainda assim, inferior à verificada desde o início de 2010.

Esta desaceleração vai continuar em 2011: Para 2011, as projecções do FMI su-gerem um crescimento de 7% no volume do comércio de bens e serviços, contraria-mente aos 11,4% registados este ano. As estimativas em termos de comércio são superiores às do rendimento mundial, que se espera que aumente 4,2% em 2011.

O crescimento do comércio dos países desenvolvidos vai ficar muito atrás dos va-lores das economias emergentes. Enquan-to o comércio entre os países asiáticos e da América Latina vai aumentar fortemente, o comércio geral entre os EUA e a Europa será muito inferior. O FMI espera que as importações dos países emergentes e em desenvolvimento cresça cerca de 10,0% em 2011, contra os apenas 5,2% das eco-nomias desenvolvidas.

Ameaça proteccionista

Contra um contexto de recuperação eco-nómica hesitante, a fraca procura interna, o desemprego persistente e a contínua controvérsia relativamente às taxas de câmbio, a ameaça de acção proteccionista vai manter-se elevada em 2011. A OMC, a OCDE e a Conferência das Nações Uni-das para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) alertaram que o sistema de comércio estará debaixo de um “risco con-siderável” se os países tentarem conseguir vantagens competitivas através da depre-ciação das taxas de câmbio.

A votação recente na Câmara dos Re-presentantes nos EUA a favor de medidas contra as importações de outros países

que, na verdade, subsidiam as suas ex-portações através de uma taxa de câmbio subvalorizada ilustra bem até que ponto as “guerras de câmbio” se podem tornar azedas. Embora seja pouco provável que o Senado aprove a lei, de qualquer forma o Presidente Barack Obama não estaria muito disposto a fazê-lo.

Os líderes do G20 podem chegar a um acordo oficial sobre câmbios, mas isto se-ria certamente fraco e de cariz não execu-tório.

Guerra de comércio?

No entanto, não existe um verdadeiro perigo de uma guerra de comércio ao esti-lo da dos anos 1930, quando as principais nações em termos de comércio abandona-ram as negociações, aumentaram as taxas aduaneiras e outras barreiras ao comércio e rejeitaram a cooperação multilateral e a resolução de litígios. Pelo contrário, as re-gras de comércio multilaterais têm conse-guido recuperar bem, apesar das tensões das crises económicas.

A promessa do G20 feita em 2008 de não aumentar as barreiras comerciais continua em vigor, e continua relativamente efi-ciente: as medidas restritivas introduzidas desde Outubro de 2008 apenas afectam 1,8% do total das importações do grupo. O número de novas acções de correcção do comércio, que de qualquer forma são le-gítimas segundo as regras da OMC, caiu, signIficativamente, nos últimos meses.

A contenção vai manter-se em 2011. Isto porque a maioria dos governos continua convencida que um recurso generalizado a novas barreiras comerciais iria:

- Prejudicar as suas próprias economias;- Arriscar acções retaliatórias de comér-

cio;- Minar a estabilidade global e a coopera-

ção multilateral, regional e bilateral.

É muito mais provável que qualquer ameaça à estabilidade dos sistemas de comércio tenha origem nos desenvolvi-mentos nos mercados cambiais do que em iniciativas relacionadas com políticas comerciais.

doha e mais além

Todavia, a morna recuperação económi-ca vai afectar a política comercial. Esta ga-rante um reduzido incentivo político para que os governos façam concessões como forma de conseguirem uma conclusão bem sucedida da Ronda de Doha, e aumentar a propensão dos países para se envolverem em disputas comerciais:

1. Doha. Os negociadores na OMC em Genebra vão continuar as conversações sobre a complexa e abrangente Ronda de Doha, que entra agora no seu décimo ano. É pouco provável que termine o seu traba-lho em 2011, ou que, de facto, aí se consi-gam grandes progressos. Os governos têm mantido as negociações activas, em parte porque o seu abandono transmitiria um sinal negativo ao mercado e em parte na esperança de uma melhoria do panorama geral.

2. Contratos. No entanto, estamos muito próximos do acordo para a realiza-ção de negociações entre alguns membros da OMC, principalmente países desenvol-vidos, para a abertura da assinatura de contratos de direito público a fornecedo-res estrangeiros. As conversações visam aumentar as possibilidades dos acordos existentes, e aumentar o número de mem-bros.

3. Acesso à OMC. A Rússia, que é de longe o principal negociante fora da OMC, poderá finalmente tornar-se membro em 2011, depois de um desenvolvimento im-

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DOSSIER COMÉRCIO18

portante nas negociações bilaterais com os Estados Unidos da América. No entanto, Moscovo e alguns dos actuais membros da OMC – tais como a Geórgia, que ameaçou vetar o acesso da Rússia – terão de aceitar compromissos de negociação para conse-guirem ser bem sucedidos. Também a Sí-ria está próxima do acesso à OMC.

4. Acordos de comércio bilateral e regional. Estes acordos, que definem zonas de comércio livre, vão proliferar, em parte porque é mais fácil estabelecer acordos entre alguns membros do que entre todos os membros da OMC, porque permitem estabelecer acordos em temas ausentes da agenda de Doha.

Nos próximos meses, os EUA e a Coreia do Sul chegarão, provavelmente, a um acordo de comércio. Mais ainda, a nova Câmara dominada pelos Republicanos au-menta as perspectivas de acordos entre os EUA e o Panamá e a Colômbia, que aguar-dam também por aprovação do Congresso. Outra iniciativa patrocinada pelos EUA, as negociações da Parceria Trans-Pacífico, encontram-se numa fase inicial. Em 2011, o factor-chave desta iniciativa deverá ser o debate interno do Japão para decidir ou não sobre a sua participação.

A UE vai continuar a negociar acordos de comércio a nível mundial, bem como a procurar novas parcerias económicas com os membros de África, Caraíbas e Pacífico (grupo ACP). O acordo de melhoria com a Coreia do Sul, semelhante ao que foi nego-ciado com Washington, deverá entrar em vigor em Julho, com ambos os lados em-penhados em remover as barreiras comer-ciais por um período de cinco anos. E as negociações com o Canadá estão no bom caminho.

A UE está também à procura de um acordo de comércio com a Índia e espera alcançá-lo em finais de 2011. Diz-se que os diálogos sobre as barreiras tradicionais ao comércio estão a correr bem, mas o resul-tado é duvidoso, visto que a EU pretende que o acordo abranja contratos públicos e temas ambientados que a Índia, intencio-nalmente, fez questão de manter fora da ronda de Doha.

A Índia está também a tentar alcançar acordos abrangentes com o Japão, Malá-sia, Coreia do Sul e vários outros vizinhos do Sudeste Asiático. O acordo com a Ma-lásia está próximo, e poderá entrar em vi-gor em Julho. A Austrália está a negociar acordos tanto com a Malásia como com a Coreia do Sul.

litígios

No próximo ano, os processos de lití-gio da OMC terão um papel fundamental na suavização das relações comerciais num contexto económico difícil: O litígio Boeing-Airbus entre os EUA e a UE vão progredir lentamente, sem previsão de re-solução em 2011, salvo se as partes chega-rem a um acordo, como poderá acontecer a longo prazo. Muitos dos litígios da OMC envolvem a China ou os EUA, e muitas ve-zes ambos, quer enquanto queixosos quer como alvos. É pouco provável que o tema do suposto subsídio da China às exporta-ções através da manipulação cambial seja levado à OMC.

Conclusão

Embora em 2011 as pressões proteccionis-tas se mantenham em alta, vão continuar a estar substancialmente fora do controlo, permitindo que o comércio desempenhe o seu papel tradicional enquanto fonte de tracção da economia mundial. Conside-rando as fracas perspectivas de Doha, os acordos regionais e bilaterais vão proli-ferar, dando mais espaço a mudanças de rotas comerciais do que à criação de novos fluxos comerciais.c

In vida económica

RESUMO ESTRATÉGICO

O crescimento do comércio vai abran-dar em 2011, mas vai expandir-se mais rápido que o rendimento.

As pressões proteccionistas serão ele-vadas na economia global, mas deverão ser controladas.

Com as fracas perspectivas do progra-ma Doha, os acordos comerciais regionais e bilateriais vão proliferar.

«A UE vai continuar a negociar acordos de comércio a nível mundial, bem como a procurar novas parcerias económicas com os membros de África, Caraíbas e Pacífico. O acordo de melhoria com a Coreia do Sul (...) deverá entrar em vigor em Julho, com ambos os lados empenhados em remover as barreiras comerciais...»

DR.

Goo

gle

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19INVESTIMENTO PROJECTOS

Energia está no topo do volumede investimentos

Em 2010 foram autorizados 234 projec-tos com um investimento de 3.090.254.355 dólares americanos e com a perspectiva de emprego de 28.245 trabalhadores mo-çambicanos. A este valor de investimento acresce o montante de 769.381.775 dóla-res, resultante da aprovação de 76 adendas de aumento de investimento nos projectos autorizados, sendo o valor global equiva-lente a 3.859.636.130 dólares.

Do número total dos projectos auto-rizados, 208 projectos que totalizam 997.464.926 dólares foram submetidos em 2010, e os restantes 26 projectos no valor de 2.092.789.429, foram submetidos em anos anteriores, sendo que 91% deste valor é detido pelo megaprojecto Hidroe-léctrica de Mphanda Nkuwa e 9% para os restantes 25 projectos.

A taxa de autorização dos projectos rece-bidos em 2010 foi de 78%, facto que signi-fica que em cada dez (10) projectos rece-bidos no período em análise, cerca de oito (8) foram aprovados no mesmo ano.

Investimento por sector

Os três principais sectores em relação ao número de projectos aprovados são: Indústria com 76 projectos, Serviços com 44 e Turismo e hotelaria com 39 projec-tos. Em relação ao volume de investimen-

to, o sector da Energia ocupa a primeira posição com 61,48%, Agricultura e Agro-indústrias com 12,56% e Serviços com 10,71%.

Quanto ao emprego, o sector da Agri-cultura e Agro-indústria contribui com 53,52%, Indústria com 19,73% e Serviços com 7,35% dos 28.245 postos de trabalho previstos pela implementação dos 234 projectos aprovados.

A posição cimeira ocupada pelo sec-tor de Energia deve-se à aprovação do mega-projecto Hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa no valor total de 1.900.000.000,00 dólares, que será implementado nos distritos de Changara e Chiuta, na província de Tete.

No sector de Agricultura e Agro-in-dústrias, tem-se a destacar os projec-tos: Afroils Corporation, no valor de 96.000.000,00 dólares, cujo objecto é o cultivo de palma para extracção de óleo vegetal para a exportação, no distrito de Nangade, Província de Cabo Delgado, prevendo empregar 1.417 cidadãos mo-çambicanos; CAM – Companhia Agro-empresarial de Moçambique, orçado em 60.000.000,00 dólares, tendo como objectivo o cultivo da cana de açúcar e outras culturas alimentares para comer-cialização, a implementar no distrito de Guijá, na província de Gaza, com perspec-

tivas de criação de 766 postos de trabalho; e Verus Moçambique, estimado em 50.203.750 dólares, que se dedicará à produção de jatropha curcas para a pro-dução de óleo vegetal e instalação de uma refinaria de óleo para a produção de bio-combustível, no distrito da Matola, Pro-víncia de Maputo, onde criará 1.819 postos de emprego.

No sector dos Serviços, o destaque vai também para três projectos, nomeada-mente: Eqstra Moçambique, no valor de 165.000.000,00 dólares, cujo ob-jectivo é a prestação de serviços na área de mineração a céu aberto, aluguer e venda de equipamentos e serviços associados, gestão de frota de transportes e outros serviços afins, a localizar-se no Município de Tete, prevendo o emprego de 340 cida-dãos nacionais; JP Caetano – Invest-ment & Development Mozambique, avaliado em 19.800.000,00 dólares, tendo como missão a prestação de servi-ços de consultoria na área de engenharia mecânica, nomeadamente, a reparação de camiões, máquinas e equipamentos de grande porte, no distrito da Moamba (província de Maputo); e EDPM – Dra-gagem do Porto de Maputo, no valor de 18.000.000,00 dólares, tendo a sua sede no Porto da cidade de Maputo.

Valores(US$) Emprego Sectores Nr. de Projecto IDE IDN Sup/Emp Total % Nº %

Agriculturae Agro-Indústrias 37 222,963,344 8,853,625 156,286,548 388,103,517 12.56% 15,118 53.52%

Aquacultura e Pescas 3 694,286 2,311,105 3,258,559 6,263,95 0.20% 491 1.74%

Banca e Seguradoras 3 39,696,000 5,413,600 30,000,000 75,109,600 2.43% 877 3.10%

Construçãoe O. Públicas 21 23,753,069 1,851,184 12,633,457 38,237,710 1.24% 1,985 7.03%

Indústria 76 113,824,767 22,217,868 33,159,447 169,202,082 5.48% 5,572 19.73%

Energia 1 570,000,000 1,330,000,000 1,900,000,000 61.48% 170 0.60%

Transp.e Comunicações 10 13,811,400 2,345,288 32,092,269 48,248,957 1.56% 768 2.72%

Turismo e Hotelaria 39 33,209,515 25,591,102 75,216,530 134,017,147 4.34% 1,189 4.21%

Serviços 44 130,857,227 9,957,925 190,256,240 331,071,392 10.71% 2,075 7.35%

Total 234 578,809,608 648,541,697 1,862,903,050 3,090,254,355 100.00% 28,245 100.00%

Tabela 1 - Investimento aprovado por Sector

Fonte: CPI

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INVESTIMENTO PROJECTOS20

Investimento por província

Em termos de localização dos empreen-dimentos, a cidade de Maputo apresenta-se com 71 dos 234 projectos aprovados, ocupando a primeira posição, seguida da província de Maputo com 51 projectos e terceira posição vai para Gaza com 25 pro-jectos, facto que demonstra ainda alguma centralização em torno da Capital.

Quanto ao volume de investimento apro-vado, a primeira posição vai para a provín-cia de Tete (Hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa), com 67,37%; cidade de Maputo, com 10,19% e província de Maputo, com 7,79% do investimento global aprovado. Para a Cidade de Maputo, os projectos mais importantes em termos de valor de investimento são o Banco Único, esti-mado em 70.000.000 dólares e a em-presa Semlex–Biometric System com 50.932.000 dólares.

Na província de Maputo, destacam-se os projectos Tandje Beach Resort, no valor de 58.388.160 dólares, no distrito de Matutuine, onde vai empregar um total de 120 moçambicanos e o projecto Verus Moçambique, acima referido.

Quanto ao emprego, o destaque vai para as províncias de Maputo com 20,49%, So-fala com 19,70% e cidade de Maputo com 19,52%.

Investimento directo Nacional (IdN)

O Investimento Directo Nacional atingiu o valor de 648.541.697 dólares, o equiva-lente a 21% do investimento total contra 19% do investimento directo estrangeiro, devido ao mega-projecto Hidroeléctrica Mphanda Nkuwa, investimento exclusi-vamente de investidores nacionais. Os restantes 60% do investimento total são cobertos por empréstimos e suprimentos dos sócios.

Em termos de destino do investimento, as três províncias que registaram maior volume de investimento directo por ordem decrescente foram: Tete, cidade de Mapu-to e província de Maputo.

Os três principais sectores que acolhe-ram maior volume de investimento directo nacional foram Energia, Turismo e Hote-laria e Indústria.

Origem do Investimentodirecto Estrangeiro

O Investimento Directo Estrangeiro to-talizou 578.809.608,00 dólares e teve origem em 41 países sendo os principais dez maiores investidores Portugal, África do Sul, Itália, Bélgica, China, Espanha, Reino Unido, Singapura, Quénia e Suiça.

As tabelas representam Portugal e Áfri-

«O investimento directo nacional atingiu o valor de 648.541.697 dólares, o equivalente a 21% do investimento total contra 19% do investimento directo estrangeiro, devido ao mega-projecto Hidroeléctrica Mphanda Nkuwa, investimento exclusivamente de investidores nacionais. Os restantes 60% do investimento total são cobertos por empréstimos e suprimentos dos sócios.»

Valores(US$) Enprego Sectores Nr. de Projecto IDE IDN Sup/Emp Total % Nº %

Cabo Delgado 7 44,116,751 6,279,351 58,402,392 108,798,494 3.52% 1,661 5.88%

Niassa 1 200,000 750,292 10,249,708 11,200,000 0.36% 160 0.57%

Nampula 18 10,885,000 9,440,620 9,226,162 29,551,782 0.96% 1,366 4.84%

Zambézia 6 34,406,657 2,791,630 26,723,696 63,921,983 2.07% 2,783 9.85%

Tete 8 31,278,000 573,656,269 1,476,977,171 2,081,911,440 67.37% 1,180 4.18%

Manica 13 19,113,980 3,870,140 650,000 23,634,120 0.76% 742 2.63%

Sofala 20 20,761,332 15,897,150 30,774,469 67,432,951 2.18% 5,563 19.70%

Inhambane 14 30,659,330 1,423,422 21,429,039 53,511,791 1.73% 969 3.43%

Gaza 25 74,672,865 529,434 19,382,444 94,584,743 3.06% 2,521 8.93%

Cidade de Maputo 71 176,064,607 17,011,322 121,847,844 314,923,773 10.19% 5,514 19.52%

Maputo 51 136,651,086 16,892,067 87,240,126 240,783,279 7.79% 5,786 20.49%

Total 234 578,809,608 648,541,697 1,862,903,051 3,090,254,356 100.00% 28,245 100.00%

Tabela 2 - Investimento aprovado por província

ca do Sul nos lugares cimeiros. Quanto às posições assumidas pelos restantes países dos “top ten”, tem-se a destacar os seguin-tes projectos:

Fonte: CPI

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21INVESTIMENTO PROJECTOS

Posição País Projectos IdE

1 Portugal 63 154,147,532 2 África do Sul 48 88,090,405 3 Itália 5 57,674,508 4 belgica 2 51,932,000 5 China 13 38,570,000 6 Espanha 4 33,503,370 7 Reino unido 9 29,427,329 8 Singapura 1 23,751,968 9 Quénia 1 16,000,000 10 Suiça 2 13,307,970 11 India 11 10,689,369 12 malawi 4 9,541,700 13 maurícias 12 9,320,559 14 E.A.Unidos 2 8,170,500 15 jordânia 1 5,000,000 16 líbano 3 4,533,333 17 Yemen 1 4,000,000 18 Seyschelles 2 3,797,000 19 Tanzania 2 3,438,000 20 Angola 1 2,000,000 21 EuA 4 1,885,433 22 Zambia 3 1,766,667 23 Zimbabwe 6 1,536,000 24 Paquistão 1 867,589 25 Turquia 1 840,028 26 Sudão 2 650,000 27 Guiné 2 650,000 28 Hong Kong 2 645,000 29 Japão 2 638,270 30 Ruanda 1 511,000 31 Alemanha 1 392,467 32 Canadá 1 325,000 33 Holanda 1 248,333 34 Austrália 1 248,333 35 Irlanda 1 213,640 36 Botswana 1 150,000 37 Irão 1 100,000 38 Estado da Indiana 1 96,000 39 Senegal 1 74,250 40 Luxemburgo 1 65,000 41 Dinamarca 4 11,055 Total 578,809,608

Itália: • Afroils Corporation, com 96 milhões

dólares, no qual o IDE = 38 milhões; • SAB Moçambique, nos distritos de Pan-

de e Inharrime, para cultivo de jatropha curcas e produção de óleo vegetal para a exportação, orçado em 16 milhões de dó-lares.

Bélgica: • Semlex – Biometric System, orçado em

50.932.000 de dólares, cujo objecto é a instalação e assistência técnica de sistema de produção de documentos de identifica-ção civil, de viagens, vistos e controlo de movimento migratório (já em funciona-mento).

China:• Henan Haode Mozambique Industrial

Parque, no distrito de Marracuene, avalia-do em 26.500.000 de dólares, dos quais IDE = 21.200.000, tendo como objecto a instalação e exploração de uma indústria têxtil e de vestuários; e

• CCESC Construções, com 26,5 milhões de dólares, no distrito de Matutuine, ten-do por objecto o exerício da actividade de empreiteiro de construção civil e obras pú-blicas.

Espanha:• CAM – Companhia Agro-empresarial

de Moçambique, no valor de 60 milhões de dólares, dos quais IDE = 30 milhões, no distrito de Guijá, Gaza.

Reino Unido:• Mozbife, em Chimoio, Manica, orça-

do em 14 milhões de dólares, destinado à criação de gado bovino para corte, trans-formação e comercialização.

• Tandje Beach Resort, de 58.338.160 de dólares, cujo IDE = 8.758.224, tendo em vista à construção e exploração de um complexo turístico (hotel e residências), no distrito de Matutuine.

Singapura:• Arroz da Zambézia, no distrito de Ni-

coadala, de 31.989.183 de dólares, do qual, IDE = 23.751.968.

Quénia:• Pembe Mozambique, com sede na Ci-

dade de Maputo, de 20 milhões de dólares e 16 milhões de dólares de investimento directo estrangeiro.

Suiça:• MCNET – Mozambique Community

Network, orçado em 12.311.970 de dóla-res, tendo por objecto a concepção, dese-nho, implementação e exploração de um sistema de processamento centralizado de informação para o desembaraço aduanei-ro de mercadorias.

Os três principais sectores que acolhe-ram maior volume de investimento direc-to estrangeiro foram: Agricultura e Agro-

indústrias, Serviços e Indústria. As três principais províncias com maior investi-mento directo estrangeiro foram a cidade de Maputo, província de Maputo e Cabo Delgado.

De referir que o investimento directo estrangeiro foi direccionado para todas as províncias e para todos os sectores de actividade com a excepção do sector de Energia.c

Tabela 3 - Origem do Investimento directo Estrangeiro

Fonte: CPI

Page 22: Revista Capital 39

«Em algumas capitais africanas, quase todos

os alimentos essenciais são importados. Nos

Camarões, a Associação dos Cidadãos para a

Defesa dos Interesses Colectivos (ACDIC),

apoiada por diversas ONG, levou a cabo com êxito, em 2004, uma campanha para a defesa dos consumidores

e obteve dos poderes públicos a proibição de

importações maciças de frangos congelados, provenientes da UE.»

revista capital março 2011

DESENVOLVIMENTO CONSUMO22

Um poder em formaçãoOs movimentos de defesa dos consumidores dos países ACP utilizam, gra-dualmente, o seu poder e entram em acção, levando os Governos a sensibi-lizarem as populações sobre a qualidade e a higiene dos produtos, a valo-rizarem as produções locais e a lutarem contra a pobreza.

Na América e na Europa, os consumido-res, através das suas associações, comba-tem há já 50 anos os abusos, as imperfei-ções e os riscos dos produtos industriais e alimentares. Obtêm dos Governos a implementação de regulamentações, a retirada do mercado de certos produtos e informam os compradores.

Este movimento de defesa do consumi-dor estendeu-se, pouco a pouco, a todos os continentes. O Movimento Internacional dos Consumidores (CI) reagrupa mais de 225 membros, em 115 países. A protecção dos consumidores apoia-se em princípios directores adoptados pela ONU, que reco-nhecem oito direitos essenciais – direitos à segurança, à informação, à satisfação das necessidades essenciais, à indemniza-ção, à educação do consumidor, a um meio ambiente são, o direito de escolha e de ser ouvido. Cobre áreas muito variadas e em constante evolução: segurança alimentar, meio ambiente, acesso às telecomunica-ções e aos serviços financeiros, etc..

As principais acções das associações, que se encontram dotadas de websites bem documentados e se reagrupam para exer-cer uma maior influência, são as activida-des de lobby junto dos Governos, as cam-panhas de educação e a mobilização dos cidadãos. Como consequência, em 1994 foi criado um escritório regional dos CI no Zimbabué. Os CI também contam com um escritório regional para a Ásia-Pacífico e um outro para a América Latina e Caraí-bas. As preocupações são diferentes de um país para o outro, ainda que as dificulda-des sejam, frequentemente, as mesmas.

Sensibilizar os consumidores

Em matéria de alimentação, a preocupa-ção, nomeadamente em numerosos países de África é, primeiro que tudo, o acesso a uma alimentação de base, de baixo custo. A prioridade é matar a fome, como o de-monstraram os motins da fome de 2008, em que as associações de consumidores desempenharam um papel crucial, tanto no Senegal, como no Mali ou nos Cama-

rões. Nos países ACP são habituais as in-toxicações e as contaminações, por vezes mortais.

Os consumidores das ilhas do Pacífico estão particularmente confrontados com estas contaminações, obrigados a alimen-tarem-se com produtos industrializados importados, por vezes de má qualidade.

Em tais casos, o melhor remédio é a edu-cação do público. As associações agem nesse sentido, como demonstra o caso da Fundação para os Direitos dos Consu-midores da República Dominicana (Fun-decom), que, a partir da década de 1980, organiza encontros sobre os efeitos dos alimentos transgénicos na saúde e dispo-nibiliza informações jurídicas no seu site, assim como conselhos aos consumidores. As campanhas de sensibilização consti-tuem outro meio, em que há uma coope-ração entre associações de consumidores e os ministérios. Em Fiji, o Governo quer parar as importações baratas de má quali-dade que inundam o arquipélago.

A qualidade sanitária dos alimentos é muito difícil de garantir na maioria dos países onde a alimentação é vendida nos mercados e na rua. Os armazéns e os su-permercados são mais fáceis de controlar. A Rede Mundial de Acção contra os Pesti-cidas, PAN (em África, PAN Africa) luta, há já quase 20 anos, contra os pesticidas tóxicos e os métodos de comercialização contrários à ética, de que frequentemente são vítimas os pequenos camponeses.

Com o progresso das telecomunicações, as associações de consumidores dos países ACP também se mobilizaram para incen-tivar as redes de telefonia móvel de quali-dade (caso do Gana e do Benim) ou a pro-tecção dos cartões SIM (como na Nigéria).

A Jornada Internacional dos Consumi-dores, realizada a 15 de Março de 2010, teve como tema “Nosso dinheiro, nossos direitos”. Nos Camarões, um estudo sobre as instituições de microfinanças e de prá-ticas desleais de alguns actores dentro do sector, revela que os pequenos produtores, excluídos do sistema bancário, são as prin-cipais vítimas.

In ESPORO [texto]

DR.

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gle

Page 23: Revista Capital 39

«Os mercados estão bem conscientes do facto que os consumidores organizados constituem um factor importante para que funcionem bem. Com efeito, as associações profissionalizam-se, particularmente nos países em desenvolvimento. No entanto, estas associações enfrentam numerosas dificuldades devido, muitas vezes, à escassez de meios, caso queiram ficar independentes. O desafio para este movimento é o acesso aos consumidores do mundo rural.»

23DESENVOLVIMENTO CONSUMO

março 2011 revista capital

Proteger os produtos locais

São numerosos os exemplos que mos-tram que, nos países em desenvolvimen-to, os interesses dos produtores e dos consumidores, longe de serem opostos, encontram-se interligados, sendo comple-mentares. A soberania alimentar, com o regresso ao consumo dos produtos locais e à protecção dos mesmos contra a concor-rência dos produtos importados baratos, mobiliza numerosas associações.

Em algumas capitais africanas, quase todos os alimentos essenciais são impor-tados. Nos Camarões, a Associação dos Ci-dadãos para a Defesa dos Interesses Colec-tivos (ACDIC), apoiada por diversas ONG, levou a cabo com êxito, em 2004, uma campanha para a defesa dos consumido-res e obteve dos poderes públicos a proi-bição de importações maciças de frangos congelados, provenientes da UE. Descon-gelados, expostos ao calor, em condições de higiene mais do que duvidosas, estes tornaram-se um perigo para a saúde dos consumidores, ao mesmo tempo que estas importações contribuíram para arruinar a avicultura local. Por seu lado, a Associação dos Consumidores do Mali (Ascoma) e a Associação de Consumidores do Senegal (Ascosen) mobilizaram-se ao lado das or-ganizações camponesas para incentivar o consumo de arroz local, em vez de arroz importado. Na África do Sul, o Fórum Na-cional dos Consumidores (NCF) realizou recentemente um estudo sobre o papel dos supermercados no que se refere aos incen-tivos a um consumo sustentável. O estu-do aponta que, embora os supermercados sul-africanos tenham envidado esforços para reciclar as embalagens e diminuir a

pegada de carbono das mesmas, ainda há muito a fazer para uma melhor valorização dos produtos locais.

A indispensável mobilização

Os mercados estão bem conscientes do facto que os consumidores organizados constituem um factor importante para que funcionem bem. Com efeito, as asso-ciações profissionalizam-se, particular-mente nos países em desenvolvimento. No entanto, estas associações enfrentam numerosas dificuldades devido, muitas vezes, à escassez de meios, caso queiram ficar independentes. O desafio para este movimento é o acesso aos consumidores do mundo rural.

Há uma evolução positiva – os países do-tam-se, pouco a pouco, de textos vincula-tivos favoráveis aos consumidores (Benim em 2007, África do Sul em 2008, legisla-ção em curso de adopção no Belize, etc.).

Contudo, dispor de um arsenal jurídico apenas constitui uma primeira etapa para que as associações possam agir, levar a cabo acções de defesa ou intentar proces-sos. A protecção dos consumidores passa pela existência de serviços de controlo eficazes, dotados de meios, a fim de poder identificar e sancionar os infractores.

Tal protecção também assenta na mobili-zação dos consumidores. Sediado na África do Sul, Robert Michel, chefe do escritório CI da África, insiste, por isso, na necessi-dade de os consumidores se exprimirem: “Se nos calamos, não é possível qualquer mobilização. Os consumidores devem ser os primeiros a contribuir”. Robert Michel também lamenta que haja uma certa des-confiança por parte dos Governos em rela-

ção ao movimento: “A nossa função não é lutar contra os Governos, mas sim prote-ger os consumidores.”c

(*) Revista sobre desenvolvimento rural do CTA (Technical Centre for Agricultural and Rural

Cooperation), cuja publicação surge no âmbito de uma parceria com a revista Capital.

DR.

Goo

gle

Page 24: Revista Capital 39

Economia desafiacontributo da Cultura

Os fazedores do artesanato, da música, da pintura plástica, do teatro e de outras artes assistem a um novo cenário, perante o qual são chamados a darem um maior contributo para a economia nacional, que se acredita vir a crescer 7.2 por cento este ano.

A ideia de impulsionar o contributo das indústrias culturais para a economia surge num contexto em que a palavra de ordem do Executivo moçambicano é o alargamento da base tributária através da formalização do sector informal. Por outro lado, para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), as indústrias culturais começam a ganhar maior peso. Até 2003, o contributo das indústrias culturais era de apenas 0.1 por cento, uma contribuição que reflectia a maior dependência dos apoios do Estado na altura. No novo contexto que se abre, os fazedores da cultura notam que a velha estratégia de “choramingar” pelas verbas concedidas do Executivo é pura perca de tempo.

Durante a conferência, realizada em Maputo no mês de Fevereiro, e subordi-nada ao tema “O Contributo das Indús-trias Culturais na Economia Nacional,”

orientada pelo vice-governador do Banco de Moçambique, Pinto de Abreu, ficou pa-tente que o grande desafio dos fazedores da cultura é a criação da cadeia de valor. Enquanto a classe artística tenta entender o referido mecanismo, não deixa de tra-balhar no duro para que os seus produtos vinguem no mercado. Entretanto, o lucro resultante do esforço ainda não é aceitável e os especialistas recomendam a criação de uma cadeia de valor específica para a área cultural.

Os especialistas da área garantem que, com a criação da cadeia de valor o poten-cial das indústrias culturais moçambica-nas em oferecer um maior contributo na esfera económica nacional pode ultrapas-sar largamente os 0.1 por cento no PIB, meta alcançada em 2003. Em simultâneo, os incentivos criados pelo regulador ainda são insignificantes, a julgar pelo discurso dos empresários culturais na sua análise sobre o ambiente de negócios que a área possibilita.

«Nós não queremos dinheiro do Gover-no, mas sim boas políticas estruturadas ao ambiente “Doing Business” da área cultural,» segundo Quito Tembe, Direc-tor da Iodine Produções, uma empresa

Sérgio Mabombo [texto]

revista capital março 2011

DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIAS CULTURAIS24

«Até 2003, o contributo das indústrias culturais era de apenas 0.1 por cento, uma contribuição que reflectia a maior dependência dos

apoios do Estado na altura. No novo contexto que

se abre, os fazedores da cultura notam que a velha

estratégia de “choramingar” pelas verbas concedidas do

Executivo é pura perca de tempo.»

«Patrício Jeretic, especialista em Cultura e Desenvolvimento, afirma que um maior contributo da cultura na economia

nacional passa pela profissionalização da actividade e pelo seu enquadramento no circuito económico formal. Actualmente,

o especialista desenvolve um programa estratégico para o Ministério da Cultura de Moçambique, visando potenciar a

contribuição económica e social das actividades culturais no País. O programa, cuja aprovação decorrerá em Maio, será

implementado no período de 2012 à 2015»

DR.

Goo

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25DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIAS CULTURAIS

março 2011 revista capital

vocacionada para a produção de eventos culturais, concepção e montagem de luz e cenografia para espectáculos. Quito Tem-be, acredita que a qualidade dos produtos e serviços oferecidos pelas indústrias cul-turais é elevada, mas falta o domínio das ferramentas que lhe possibilitam a coloca-ção no mercado.

Por sua vez, Patrício Jeretic, especialista em Cultura e Desenvolvimento, afirma que um maior contributo da cultura na econo-mia nacional passa pela profissionalização da actividade e pelo seu enquadramento no circuito económico formal. Actualmen-te, o especialista desenvolve um programa estratégico para o Ministério da Cultura de Moçambique, visando potenciar a contri-buição económica e social das actividades culturais no País. O programa, cuja apro-vação decorrerá em Maio, será implemen-tado no período de 2012 a 2015.

Reformas fiscais à vistadeixam artesãos na expectativa

O projecto de reformas fiscais no meio cultural e a aprovação das respectivas políticas nacionais levada a cabo pela UNESCO, em coordenação com o Gover-

no moçambicano, já coloca uma enorme expectativa no seio dos artesãos nacio-nais. Sob a designação de “Programa Conjunto para o Fortalecimento das Indústrias Culturais e Criativas e de Políticas Inclusivas em Moçambi-que”, o projecto visa implementar po-líticas nacionais que regulem a área bem como a adopção de reformas fiscais de que o meio cultural reclama.

O programa pretende ainda incentivar o potencial das indústrias culturais e criati-vas nacionais de modo gerar emprego. En-tretanto, as políticas que regulam a área são alvo de uma visível antipatia por parte dos artesãos. A aversão resulta do facto de grande parte dos cerca de 1.5 milhões de turistas, que anualmente visitam o País, deixarem de comprar objectos de artesa-nato, receando dificuldades impostas nas fronteiras nacionais.

Mariamo Carimo, fabricante de objectos de bijutaria, acredita que o actual cenário menos vantajoso para os artesãos poderá conhecer novo ímpeto com a implementa-ção das reformas, as quais acredita serem favoráveis ao desenvolvimento das indús-trias culturais e criativas em Moçambique.

A CEDARTE (Centro de Estudos e De-

senvolvimento de Artesanato) já fez uma análise crítica sobre a má aplicação (ou talvez desconhecimento) do decreto 10/81 e do diploma ministerial 202/2002, por parte de muitos funcionários alfandegá-rios – no fundo, os instrumentos que re-gulam a circulação de artesanato em Mo-çambique.

Por sua vez, António Bizera (que faz pinturas em batique) é da opinião de que devia haver uma maior divulgação do de-creto 10/81 e do respectivo diploma mi-nisterial ou dos novos instrumentos que serão aprovados. Os instrumentos, ainda em vigor, advogam a isenção de direitos alfandegários na circulação de objectos artesanais em quantidades abaixo de 20 quilos, por serem cifras consideradas não comercializáveis.

As áreas da música e do artesanato são as que têm merecido atenção especial no âmbito do Programa Conjunto financiado pelo Fundo dos Objectivos de Desenvolvi-mento do Milénio (F-ODM). A maior aten-ção dedicada às referidas áreas decorrem do facto de serem actividades de fácil en-quadramento nos programas de combate à fome e à pobreza - os maiores desafios de Moçambique.c

DR.

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Page 26: Revista Capital 39

EMPRESAS MATOLA26

Fusão entre Kawena e gigante Walmart pode gerar 1.900 postos de emprego

A Kawena SA é uma empresa que opera no mercado moçambicano há sen-sivelmente duas décadas. A mesma foi concebida para a prestação de ser-viços aos mineiros moçambicanos na África do Sul, e, ultimamente, expan-diu as suas actividades para os consumidores não mineiros. Com cerca de 15 armazéns e 600 trabalhadores, a Kawena vendeu 15% das suas acções à Massmart em 2009 e, em 2010, foi adquirida pela multinacional Walmart, encontrando-se em fase de reestruturação e integração.

A Kawena iniciou as suas actividades em Moçambique há cerca de 20 anos quando identificou a necessidade de estruturar um serviço de distribuição dirigido aos familiares dos mineiros moçambicanos a trabalhar na África do Sul. A empresa foi concebida de acordo com o despacho mi-nisterial de 1993 que decretou o estatuto efectivo dos mineiros.

A empresa começou a operar com o grupo Reny, tendo passado para a Mani-

ca Trading e só mais tarde passou a ser a Kawena Distribuidores que actualmente é Kawena S.A.

Durante o seu longo percurso, a Kawe-na criou alguns grupos, nomeadamente a Kangela e a Kangela Celulares, tendo a Kawena e a Kangela sido posteriormente absorvidas pela Massmart quando esta ad-quiriu 51% das acções da Kawena Distri-buidores, tendo ficado a Kangela Celulares fora do naipe.

O director-geral da Kawena, Domenico Borriello, considerou o negócio algo com-plicado porque o sistema de controlo e os sistemas existentes não eram dos melho-res. Contudo, a relação manteve-se e, ao longo dos anos, a Kawena primou sempre por fornecer serviços aos mineiros na Áfri-ca do Sul e às suas famílias em Moçambi-que.

O seu volume de vendas situa-se entre os 300 e os 350 milhões de rands anuais e as

revista capital março 2011

Arsénia Sithoye [texto] Luis Muianga [fotos]

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março 2011 revista capital

27EMPRESAS MATOLA

Fusão entre Kawena e gigante Walmart pode gerar 1.900 postos de emprego

vendas aos consumidores mineiros e não mineiros são realizadas na África do Sul, local de onde os produtos são transporta-dos para Moçambique e distribuídos aos respectivos familiares.

Relativamente aos produtos mais ven-didos no decurso do ano, os mesmos obe-decem à questão da sazonalidade, pois existem períodos em que os produtos ali-mentares são mais vendidos (mais concre-tamente, no Natal e no final do ano), en-quanto outros produtos, como materiais de construção, mobiliários, electrodomés-ticos, entre outros, são mais vendidos nos meses entre Fevereiro e Outubro.

Como funciona a Kawena

Domenico Borriello explicou como pro-cede o esquema de vendas: «O mineiro tem uma lista de preços e dependendo da área onde a família está (Maputo, Gaza ou Inhambane) ele faz a compra, que é registada num formato próprio e depois é transmitida a informação sobre os poten-ciais stocks que devemos ter para poder fazer face às encomendas dos mineiros. Por exemplo, se, neste mês, vendemos na África do Sul 30 mil sacos de cimento, en-tão temos de ter em Moçambique um sto-ck de 40 mil sacos para poder fazer face à demanda. Assim, o familiar do mineiro chega aqui com uma prova de que fez as compras, dirige-se ao armazém da zona indicada e nós entregamos-lhe o produ-to».

O cliente pode levantar o seu produto num período que compreende entre um dia a dois anos depois de ter efectuado a compra, razão pela qual os produtos de-vem estar sempre disponíveis no arma-zém, principalmente os produtos alimen-tares e de construção civil.

«Existem alguns produtos que são enco-mendados, e mantemos um stock muito limitado. Aí já é mais melindroso, pois pode ser que o cliente chegue lá e já tenha o produto disponível e levante ou terá que esperar 15 dias para levantar o produ-to. Mas, nessa altura, ele já notificou ao armazém e este já passou a informação para as operações administrativas, que, por sua vez, dão a instrução que há uma ordem pendente para que a encomenda seja enviada».

Hoje, a empresa possui um universo de 40 mil clientes mineiros em relação aos 65

«Relativamente aos produtos mais vendidos no decurso do ano, os mesmos obedecem à questão da sazonalidade, pois existem períodos em que os produtos alimentares são mais vendidos (mais concretamente, no Natal e no final do ano), enquanto outros produtos, como materiais de construção, mobiliários, electrodomésticos, entre outros, são mais vendidos nos meses entre Fevereiro e Outubro.»

mil que tinha há 10 anos, e Domenico Bor-riello aponta diversas razões para este de-clínio, nomeadamente a mudança do am-biente político e económico na África do Sul, facto que restringiu muito o acesso de estrangeiros ao trabalho, dando priorida-de à mão-de-obra sul-africana e os últimos acontecimentos de cariz xenófobo que fi-zeram com que muitos mineiros voltassem definitivamente a Moçambique.

«Os mineiros hoje são mais bem pagos do que há 15 anos. O sul-africano que tem um nível académico mais baixo ou que vive nas zonas rurais - e que antes não queria ir trabalhar para as minas porque considerava um trabalho menor - hoje já encara os salários como um bom motivo para aderir a este tipo de actividade», in-formou Borriello.

Este rol de acontecimentos fez com que, nos últimos cinco anos, a Kawena deixas-se de servir exclusivamente os mineiros, operando também para uma pequena per-centagem de consumidores não mineiros

Domenico Borriello, director-geral do Grupo Kawena

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EMPRESAS MATOLA28

revista capital março 2011

que pagam imposto - o que segundo aque-le dirigente é benéfico para a empresa. Os mineiros beneficiam da isenção de taxas alfandegárias que antigamente era de 300 rands por mineiro (150 dólares ao câmbio daquela altura e mais tarde 40 dólares, de acordo com as alterações de câmbio). Actu-almente, essa franquia mudou para 2.500 rands (200 dólares) depois de várias soli-citações ao Governo no sentido de rever a situação.

«Essas mudanças surgem numa altura em que a integração regional na SADC prevê eliminar daqui a três anos as bar-reiras em termos de impostos aduanei-ros na exportação de produtos da África do Sul e de outros países da SADC, o que praticamente é uma medida que fará face a uma nova realidade da região. Daqui a mais dois ou três anos, essa isenção dos mineiros fará mais sentido porque prova-velmente haverá a questão do IVA ainda por se definir», frisou aquele dirigente.

Adquirida recentemente pela Walmart, a maior distribuidora mundial (contando com um universo de mais de dois milhões de funcionários), a Kawena encontra-se numa fase de reestruturação, passando por um período de integração que inicia em Março e que irá durar entre um a três anos. A Massmart possui varias divisões, nomea-damente a Masscash, Massbuild, o Game e a Massdiscount, sendo que cada uma delas possuem estatutos e critérios específicos. Com esta fusão, a empresa prevê o aumen-to dos seus trabalhadores dos 600 para um número que vai entre 2.000 a 2.500, até finais de 2013.

«Quanto aos trabalhadores que já estão

cá há mais de 15 anos, iremos mantê-los para que passem a sua experiência aos jovens, que serão contratados nesta fase de reestruturação, e quando chegar a al-tura muitos deles vão-se reformar. A lei é peremptória nisso. Nós temos 600 traba-lhadores no total e provavelmente cerca de 80 é que estão nessa fasquia dos 15–20 anos de trabalho», revelou Domenico Borriello.

O objectivo da Kawena em Moçambique passa por implementar serviços e opera-ções próprias para um país em franco de-senvolvimento. Na calha encontra-se um projecto de implementar uma linha de hi-permercados e supermercados para o con-sumidor de médio e baixo níveis. Os mes-mos foram desenhados num formato que engloba grandes espaços na zona sul. Mais concretamente o empreendimento irá sur-gir no Xai-xai num terreno com 4.000 me-tros quadrados, que englobará ainda um parque de estacionamento e um armazém para materiais de construção, e, em Tete (zona centro), onde a empresa possui um terreno com 2.700 metros quadrados.

falta Corporate Governance e recursos humanos adaptadosàs novas exigências

Um dos problemas apontados pelo diri-gente da Kawena é o facto de Moçambique

não possuir um Governo totalmente cor-porate, facto que dificulta muitas multi-nacionais - principalmente as americanas que vêm de um ambiente de corporate go-vernance, em que a lei choca com alguns princípios de países como Moçambique. Espera-se que o período de integração possa limar estes aspectos e que a Wal-mart possa evitar repetir erros cometidos em alguns países.

A situação precária de recursos humanos que o país enfrenta e que leva Moçambi-que a recorrer à mão-de-obra externa foi outro constrangimento apontado por Do-menico Borriello e para colmatar o mesmo a Kawena tem promovido formação inter-na, estando a investir nos seus quadros e a renovar as suas equipas que são maiorita-riamente compostas por jovens.

«Renovamos a nível do corpo directivo e de operações e agora vamos começar também com formações. A própria Mas-smart tem um plano de formação interna em pacotes e a certificação de cursos de desenvolvimento de negócios e de estraté-gias muito próprios, e pequenos cursos de especialização para estes ambientes cor-porate propriamente ditos».

Certo mesmo é que a rede de distribuição em Moçambique irá mudar muito em bre-ve, assumindo uma faceta mais adaptada aos desafios da SADC e aos objectivos do comércio regional.c

«Os mineiros hoje são mais bem pagos do que há 15

anos. O sul-africano que tem um nível académico mais

baixo ou que vive nas zonas rurais - e que antes não

queria ir trabalhar para as minas porque considerava

um trabalho menor - hoje já encara os salários como um

bom motivo para aderir a este tipo de actividade» hugo jacinto, director de Operações Administrativas,

e domenico borriello, director-geral

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revista capital março 2011

ENTREVISTA REGIÕES INHAMBANE30

Indústria não pode entrar em choque com o turismoUma das missões definidas no Plano

Estratégico do município de Inhambane 2009 – 2019, é a atracção de investimen-tos na área de turismo comércio e indús-tria, privilegiando o aproveitamento dos recursos locais, criando condições para um desenvolvimento socioeconómico municipal. O que está a ser feito de modo a atrair esses investimentos?

O que temos vindo a fazer para atrair o investimento na área do turismo são con-tactos com vários investidores desta área. Devo dizer que me encontro em Maputo exactamente para uma reunião com in-teressados em investir, em Inhambane, na área de turismo. Na sequência disso, inaugurou-se, no ano passado, um ho-tel de cinco estrelas com a designação de ‘Casa do Capitão’ que marca presença a nível da cidade de Inhambane. Estamos a prever para breve, embora ainda não haja datas para a inauguração, a abertura de uma outra estância turística na praia de Rocha chamada ‘Milholo’, de alta quali-dade e com a categoria de cinco estrelas. E, por outro lado, outro estabelecimento hoteleiro se encontra ainda em construção na praia de Rocha com a designação de ‘África Futura’.

Portanto, para além destes existem ou-tros pequenos investidores que estão a aparecer na cidade para fazer pequenos lodges. Mas falei basicamente de ho-téis que marcam presença na cidade de Inhambane, e que são conhecidos a nível da região e do mundo.

No caso da Casa do Capitão, trata-se de um empreendimento sul-africano?

Os donos da ‘Casa do Capitão’ têm uma rede de hotéis na África do Sul mas não são sul-africanos. São das Seicheles. Mas o investimento que se fez ali é sul-africano.

Em relação aos dois últimos empreen-dimentos de que me falou na praia de Rocha, quem são os investidores e quais são os valores englobados nesses inves-timentos?

Se calhar não estou em condições de te-cer os valores gastos, mas devo dizer que durante o discurso da inauguração, o dono do hotel teria dito que investiu cerca de 17 milhões de dólares na ‘Casa do Capitão’. Quanto a este que está a ser construído na praia de Rocha não posso avançar com os valores, pois não tenho dados concretos.

Faz parte de um investidor português? Não. O da praia da Rocha é de um sul-

Helga Nunes [entrevista] . Luis Muianga [Fotos]

«A cidade de Inhambane é quase eminentemente turística. E eu, pessoalmente, também não gostaria de ver muitas indústrias na cidade de Inhambane porque podem criar choques entre o turismo e a indústria. A cidade de Inhambane está mais virada para descanso e estudo, se aparecem por lá muitas indústrias que podem criar barulho e afugentar os turistas… é uma opinião pessoal»

africano que se juntou aos moçambicanos. Já o da praia do Tofo é de um português e não sei se tem alguma sociedade mas é um português chamado Nuno Sarmento que está à frente do projecto.

houve alguma evolução positiva nos últimos anos em termos de recepção de turistas. Qual é normalmente o perfil do turista que acede à cidade de Inham-bane? O que é que ele gosta de fazer, e o que pretende quando lá chega?

Temos cerca de três actividades princi-pais na área de turismo. Temos o banho na praia. Temos aquilo a que chamamos de mergulho na praia e a pesca em si. En-tão, grande parte dos turistas, sobretudo estrangeiros, vêm mais para praticar o mergulho e para a pesca desportiva.

No fim do ano passado, mais concreta-mente em Dezembro, por acaso vieram muitos moçambicanos, coisa que há mui-to tempo não acontecia. Se formos verifi-car, os moçambicanos surgem mais com a intenção de tomar banho e passear pela praia. São muito poucos os moçambicanos que aparecem com a intenção de praticar pesca desportiva ou mergulho.

Que contribuição em termos fiscais o

Presidente do município de Inhambane, lourenço macul

Page 31: Revista Capital 39

«Quanto à indústria pesqueira, até estamos a

fazer trabalhos no sentido de aparecerem investidores.

Há um senhor que se encontra a montar câmaras

frigoríficas e que vai começar a processar o pescado. Facto que autorizamos, com muito

gosto, porque Inhambane também é uma área que tem

muita produção de peixe, camarão, lagosta, e por aí

adiante. É uma indústria que achamos que não vai entrar em choque com o turismo,

por isso aceitamos»

sector turístico traz ao município? Infelizmente, em termos de impostos

temos alguns problemas porque os im-postos provenientes do turismo ainda vão todos para o Governo. Nós, como Muni-cípio, beneficiamos de uma parte muito reduzida, que é o caso daqueles que vêm fazer campismo. Montam tendas num de-terminado espaço e então aluga-se aquele pequeno espaço. Mas o resto daqueles im-postos vão directamente para os cofres do Governo e não do Município.

Indústria sem grande expressão

Dizia que a indústria não tem grande expressão na cidade, mas existem algu-mas fábricas. Que tipo de fábricas ex-istem e o que está a ser feito nesse sec-tor?

Na verdade, Inhambane é uma cidade com as actividades mais viradas para a pesca, turismo e pequeno comércio. Em termos de indústria, temos apenas duas indústrias que, por coincidência, são de fabrico de óleo e sabão. A diferença é que cada uma tem o seu investidor, mas a acti-vidade é a mesma. Depois existem peque-nas carpintarias sem muita expressão, que fazem portas para as construções e alguns que têm a iniciativa de fazer pequenas as-sociações para a área de construção, mas também são coisas pequenas.

A que se deve essa apatia em termosindustriais? A cidade de Inhambane é quase emi-

nentemente turística. E eu, pessoalmente, também não gostaria de ver muitas in-dústrias na cidade de Inhambane porque podem criar choques entre o turismo e a indústria. A cidade de Inhambane está mais virada para o descanso e estudo. Se aparecem por lá muitas indústrias que po-dem criar barulho e afugentar os turistas… é uma opinião pessoal.

E em termos de agro-indústria, e até mesmo a indústria pesqueira, podia existir um desenvolvimento maior, uma vez que não é uma indústria pro-priamente poluente e até se coaduna de certa forma com o desenvolvimento turístico…

Quanto à indústria pesqueira, até esta-mos a fazer trabalhos no sentido de apa-recerem investidores. Há um senhor que se encontra a montar câmaras frigoríficas e que vai começar a processar o pescado. Facto que autorizamos, com muito gosto,

porque Inhambane também é uma área que tem muita produção de peixe, cama-rão, lagosta, e por aí adiante. É uma indús-tria que achamos que não vai entrar em choque com o turismo, por isso aceitamos.

Quantos pescadores em termos concre-tos existem em Inhambane?

A nível da cidade de Inhambane exis-tem 300 pescadores artesanais e dois in-dustriais que são os que vão ao alto mar, levam 15 dias e depois trazem peixe. Ago-ra, aqueles pequenos que vão e voltam no mesmo dia são 300.

E o que colhem no mar é para o consu-mo interno da cidade?

Fundamentalmente, aqueles da pesca ar-tesanal. A pesca industrial está mais vol-tada para a exportação do que para o con-sumo interno. É verdade que não há falta de peixe no mercado, mas é mais para a exportação - o que é bom porque faz com que a nossa província também cresça em termos de divisas.

Na agroindústria, o sabão e o óleo são feitos de copra de coco e são essas duas fábricas de óleo e sabão que temos na agroindústria.

Vou falar de Murrumbene que não não faz parte da minha área. Lá temos duas fábricas que fazem sumo porque lá tem muita manga, agora fala-se de uma ter-ceira fábrica para a produção de sumo de ananás que é muito produzido no distrito de Inharrime e penso que a fábrica venha a ser instalada em Inhambane cidade.

Quais são os principais desafios que an-tevê para o seu município?

Há um aspecto muito importante que eu queria realçar em relação à área de turismo. Nós estamos mais virados para, neste momento, pôr a nossa cidade muito limpa. Mas existe um problema: a parte de cimento da cidade de Inhambane cir-cunscreve-se apenas a uma coisa pequena, o resto são bairros sub-urbanos e lá as pes-soas vivem de qualquer maneira, e não há arruamentos. Então, a nossa aposta é que todo o território que se chama cidade de Inhambane tenha arruamentos, tenha or-denamento em termos de água canalizada, tenha energia, e isso pode permitir que ve-nhamos a atrair mais investidores, sobre-tudo para a área de turismo. Pois, agora, a pessoa anda um pouco na cidade e logo entra no subúrbio e recua de volta para a cidade. No subúrbio apesar de não haver muito lixo, o turismo não é praticável.c

Indústria não pode entrar em choque com o turismo

ENTREVISTA REGIÕES INHAMBANE 31

Page 32: Revista Capital 39

revista capital março 2011

REPORTAGEM TRANSPORTES32

Conjuntura internacionalagrava problema dos transportes no PaísA mobilidade de pessoas e bens é um factor crítico no desenvolvimento de qualquer economia. No caso dos municípios de Maputo, Matola e tantos outros espalhados pelo País, este factor é negativamente influenciado por aspectos que vão desde a existência e o estado das vias ao preço dos com-bustíveis no mercado internacional, transformando, pouco a pouco, algo, que devia estar ao alcance de todos, num serviço cujo acesso é condiciona-do.

Actualmente, nas horas de ponta, as pa-ragens dos municípios de Maputo e Ma-tola são caracterizadas por longas filas de pessoas, que aguardam durante horas, debaixo do sol radiante ou da chuva inten-sa, por um transporte para chegar ao seu destino. Mas a paisagem nem sempre foi essa, assim sendo, questiona-se: A popula-ção cresceu e o número de viaturas já não responde à demanda? Ou o número de au-tocarros é que reduziu? Na verdade, tudo aconteceu de forma inversa: a população aumentou e o número de transportes de passageiros diminuiu. Neste caso, enten-de-se por crescimento da população, não apenas o aumento do número de habitan-

tes, mas também o aumento do número de pessoas que necessitam de transporte para o exercício das suas actividades diárias, como é o caso de estudantes que passaram a frequentar escolas mais distantes das suas casas, ou de pessoas que passaram a residir mais longe dos seus postos de tra-balho, e vice-versa.

Os serviços públicos de transporte de passageiros nas principais cidades do País são prestados, maioritariamente, por pe-quenos operadores do sector privado que utilizam viaturas vulgarmente chamadas de “chapas”, na sua maioria com capaci-dade para 15 lugares sentados, e um me-nor número de veículos com 25 lugares.

Em Maputo e em outras grandes cidades, estes serviços são complementados por empresas públicas que operam autocarros de maior capacidade.

Em 2008, ano em que aconteceram as manifestações populares por conta da su-bida da tarifa dos transportes semi-colecti-vos de passageiros, a USAID financiou um estudo produzido pela Nathan Associates, denominado “Proposta de Política dos Transportes Urbanos para Moçam-bique”. De acordo como o documento, os serviços de transportes públicos em Ma-puto são ineficazes, inadequados, não são fiáveis e a relação custo/eficiência é fraca. A maior parte das viaturas usadas é ina-

Page 33: Revista Capital 39

março 2011 revista capital

33REPORTAGEM TRANSPORTES

Conjuntura internacionalagrava problema dos transportes no País

dequada para o fim a que se destina, en-contra-se em mau estado de conservação e a sua condução é má. “É insustentável na medida em que se não forem tomadas medidas drásticas em breve, a capacida-de do sistema irá baixar, a qualidade do serviço prestado irá deteriorar-se e os custos aos utentes irão aumentar”, refere o mesmo estudo. Desta forma, conclui-se que o cenário que se vive hoje já tinha sido previsto há alguns anos, contudo as medidas tomadas pelo Governo não foram suficientes para reverter a situação. Aliás, logo após as manifestações de Fevereiro de 2008, o Governo decidiu subsidiar as gasolineiras - um processo que custou aos cofres do Estado centenas de milhões de dólares.

Sustentabilidade do negóciodos chapas ‘em cheque’

Em 2008, o Governo e os transportado-res rubricaram um memorando, à luz do qual só haveria subsídio em caso do preço do litro de gasóleo (combustível usado na maioria dos transportes semi-colectivos) exceder os 31 meticais. O gasóleo, não ex-

cedeu a fasquia prevista, mas um veículo não vive só de combustível, as outras com-ponentes que garantem o funcionamento do automóvel foram sofrendo agravamen-tos decorrentes da flutuação cambial. Por-tanto, mesmo que o preço do gasóleo não tivesse sofrido nenhum agravamento, de 2008 a esta parte, ainda assim manter o negócio seria oneroso demais.

Por outro lado, o estudo em alusão de-fende que o actual sistema é insustentá-vel e que continuará a deteriorar-se em termos de capacidade, segurança e quali-dade, enquanto os custos aumentarão de forma constante em termos reais. Aos ní-veis actuais, os rendimentos provenientes dos serviços dos chapas são inadequados para a manutenção e reposição da frota de viaturas ou para alargar a capacidade que será necessária com o aumento da procu-ra. Com o tempo, as tarifas que cobrem os custos serão insuportáveis para um núme-ro cada vez maior de utentes. E devido à

mês Ano brentDez 1997 16,41Dez 1998 10,51Dez 1999 25,51Dez 2000 23,80Dez 2001 20,57Dez 2002 30,15Dez 2003 29,31Dez 2004 40,37Dez 2005 58,10Dez 2006 60,67Dez 2007 93,68Dez 2008 40,55Dez 2009 77,64Jan 2010 71,46Fev 77,65Mar 82,70Abr 87,44Mai 74,65Jun 74,73Jul 77,45Ago 74,64Set 82,16Out 83,15Nov 86,04Dez 92,62Jan 2011 100,84

Luis

Mui

anga

USD

Page 34: Revista Capital 39

revista capital março 2011

REPORTAGEM TRANSPORTES34

oscilação cambial os custos de operação têm vindo a aumentar de forma constante, nos últimos anos, enquanto a receita líqui-da dos operadores tem vindo a baixar.

Entretanto, o Fundo de Desenvolvimen-to dos Transportes surge como uma das respostas do Governo ao problema dos transportes no País. O mesmo tem em vis-ta facilitar a aquisição de autocarros, quer pelo sector público quer pelo sector priva-do. A entidade foi criada em Setembro do ano passado e, até ao momento, já conse-guiu mobilizar 208 autocarros através de três acordos.

Preço do petróleo no mercadointernacional dispara em flecha

O preço do barril do petróleo no merca-do internacional vem disparando desde 2008, como resultado da relação entre a oferta e a procura. A demanda por petró-leo aumentou, especialmente por parte dos gigantes China e Índia. Por outro lado, a cotação do petróleo também foi influen-ciada por problemas enfrentados pelos pa-íses exportadores. A indústria petrolífera e os oleodutos na Nigéria e no Iraque, por exemplo, costumam a ser alvo de ataques. Devido a esses problemas, cresce a pre-ocupação de que a oferta não vá suprir a demanda, e o preço sobe.

Depois veio a crise financeira que ori-ginou uma queda acentuada do preço do barril até finais de 2008 e princípios de 2009. Gradualmente, os preços foram subindo até que o barril voltou a rondar os 110 dólares, influenciado pela instabi-lidade política no Médio Oriente, região responsável por cerca de 30% da produ-ção mundial de petróleo. Desta forma, enquanto “a poeira não baixar no mundo arábe”, o preço do barril do petróleo vai evoluir de forma inversa à lei da gravidade e alguns economistas já prevêm que possa atingir os 220 dólares.c

Os jovens comprometeram-se a en-contrar os mecanismos de contornar a crise e promover o desenvolvimento do país, após um encontro realizado entre o Conselho Nacional da Juventude e o Ministro dos Transportes e Comunica-ções, Paulo Zucula.Paulo Zucula abordou o apoio que o seu Ministério se encontra a prestar aos municípios como forma suprir o défice de condições em matéria de transportes. Como tal, a informação ventilada foi a de que foram adquiridos 220 autocar-ros, dos quais 150 estarão em Moçambi-que ainda durante este primeiro semes-tre. Actualmente, os moçambicanos não pagam o preço real do bilhete nos trans-portes públicos porque o Governo sub-sidia o sector em pouco mais de meio milhão de dólares norte-americanos por ano. Para o ministro da pasta em causa, esse género de subsídios enfraquece a economia nacional.Por outro lado, o tráfego que se regista em Maputo na chamada “hora de pon-ta” foi também um assunto em debate,

perante o qual o Ministério se encontra a equacionar medidas para colmatar a situação.Convidada a contribuir, a delegação do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), encabeçada pelo seu respectivo presidente, Osvaldo Petersburgo, falou do combate à corrupção que envolve a polícia fiscalizadora do tráfego rodovi-ário, sobretudo no que diz respeito aos transportes semi-colectivos. Na mesma esteira de pensamento, o aumento do parque automóvel para tão poucas vias de acesso à capital (Maputo) foi outro aspecto para o qual a CNJ sugeriu uma análise. O CNJ falou ainda do estímulo que se pode dar aos jovens no que concerne à abertura de empresas de transporte pú-blico (como um acto de empreendedo-rismo) e recebeu do ministro Pulo Zucu-la o convite para participar no Conselho Consultivo do seu Ministério, de modo a compreender as políticas internas.

Benigno Papelo

Juventude busca soluçõespara crise dos transportes

«A demanda por petróleo aumentou,

especialmente por parte dos

gigantes China e Índia. Por outro

lado, a cotação do petróleo também

foi influenciada por problemas

enfrentados pelos países

exportadores.»

Luis Muianga

Page 35: Revista Capital 39

março 2011 revista capital

35REPORTAGEM TRANSPORTES

A saga dos transporte públicose privados em Maputo e na Matola

Para entender melhor os efeitos do problema dos transportes na economia dos municípios afectados, a “Capital” entrevistou o economista e docente universitário Vasco Nhabinde.

De acordo com o académico, os proble-mas que geralmente afectam os transpor-tes públicos em particular, nos países em desenvolvimento, como é o caso de Mo-çambique, prendem-se essencialmente com a falta de um sistema de gestão ade-quado que, por sua vez, está associado à fraca capacidade de planificação e gestão dos recursos humanos. Além disso, as in-fraestruturas como estradas também não contribuem para o seu bom funcionamen-to. Se acrescermos a estes problemas as migracões do meio rural para o urbano em busca de melhores condições de vida, en-tão o problema dos transportes é agravado significativamente. O estudioso analisa o sistema de trans-

porte das cidades de Maputo e Matola e refere que neles podem observar-se ca-racterísticas semelhantes às que foram descritas. Uma gestão deficiente do sis-tema de transporte (em grande parte por falta de uma especialização adequada na gestão dos transportes), infraestruturas de estradas problemáticas, entre outros problemas. Estes problemas parecem ser aqueles que mais afectam não só o siste-ma de transporte público, mas também o privado. No caso do sistema público acres-ce- a falta de uma adequada planificação e gestão de rotas, um plano de manutenção deficiente, entre outros problemas exó-genos à gestão e que estão intimamente ligados ao comportamento oportunista dos seus trabalhadores. No caso dos trans-

portes privados, os problemas podem ser alinhados com alguns dos problemas en-frentados pelos transportes públicos, mas com a agravante de que os transportado-res privados tendem a confundir, em mui-tos casos, a receita com o lucro. Este é, na realidade, um dos grandes problemas do empresariado nacional. Nhabinde realça que um sistema de

transporte que não é confiável afecta o sis-tema produção da região empregadora, já que desgasta o trabalhador por causa das longas filas de espera e muitas vezes sem um horário bem definido, fazendo com que o trabalhador não faça uso pleno do fundo de tempo disponível para produção e, portanto, uma certa capacidade da em-presa fica ociosa, ou seja, não usada na sua potencialidade. A ineficiência do sistema de transportes nos municípios de Mapu-to e da Matola contribui para uma larga ineficiência produtiva nas duas (e entre) cidades (aqui urge um estudo no sentido de avaliar com detalhe a perda de produ-tividade associada). A consequência mais visível do deficiente funcionamento do sistema de transporte (público e privado) é o notório aumento do parque automó-vel nas duas cidades, desviando assim os recursos que poderiam ser poupados para usos alternativos em programas de inves-timentos que aumentam a produção e o emprego e, aumentando a capacidade de lucro e efectividade das empresas. Assim sendo, o académico traça como sa-

ída treinar cada vez mais os gestores des-tes transportes em matéria de planificação e gestão em todos os campos, incluindo gestão de rotas, tempo, sobretudo, em am-biente de aumento significativo de tráfego. O alto tráfego aumenta o tempo de uma

rota e, consequentemente, contribui para aumento de atrasos. Melhorar o sistema de manutenção e a introdução de sistemas que tendem a reduzir o comportamen-to oportunístico dos trabalhadores dos transportes públicos. Muitos países como a França, Austrália e África do Sul usam sistemas tecnológicos para gerir o seu sistema de transporte. No caso da África do Sul, o sistema de controlo de rotas e tempo é, também, muito usado pelo sec-tor privado de transportes. Este sistema reduz a probabilidade de desvio de rotas e ou tendências para reportar situações não realísticas. E por fim, Nhabinde defende o desen-

volvimento de infraestruturas requer uma planificação bem concebida e muita coragem, a estratégia de realocação para desenvolver novas infraestruturas de es-tradas de qualidade e amplas (que permi-tem o escoamento do tráfego com maior fluidez) nas zonas de partida, mas sem esquecer as ligações com as zonas das che-gadas, que é fundamental e pode ser um ponto de partida para se ter um sistema de transportes efectivos, lucrativos e de con-fiança.c

Luis Muianga

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revista capital março 2011

REPORT TRANSPORTS36

International state of affairs worsens the transport problem in the CountryThe mobility of the people and goods, is a critical factor in the development of any economy. In the case of the Maputo and Matola municipalities, and so many others scattered throughout the country, this factor is negatively influenced by issues that range from the existence and state of the roads to the price of fuel in the international market, transforming, little by little, something that should be within everyone’s reach, into a service with limi-ted access.

Presently, in rush-hours bus stops in Ma-puto and Matola municipalities are cha-racterized by enormous queues of people, who wait for long hours, under the hot sun and intense rain, for a means of transport to arrive at their destination. But this was not always the case, and so, we ask: did the population grow and the number of vehicle no longer meets the demand)? Or did the number of buses decrease? In fact, everything happened in an inverse manner: the population increased and the number of public transports decreased. In this case, by population increase we mean not only the increase in the num-ber of inhabitants, but also the increase in the number of people who need transport for their daily activities, such as students whose schools are now further away from their homes, or people who now live fur-

ther away from their work place, and vice-versa.Public transport services in the country’s

main cities are in most cases carried out by small private sectors’ operators who use vehicles commonly known as «chapas, the majority of which have the capacity for 15 seated places, and a smaller num-ber of vehicles with 25 places. In Maputo and other large cities these services are complemented by public companies which operate buses with larger capacity.In 2008, the year of public manifestations

due to the increase in the fees of passen-gers’ semi-collective transports, USAID financed a study brought forward by Na-than Associates, entitled «Policy Proposal for Rural Transports in Mozambique» . According to the document, public trans-port services in Maputo are ineffective,

inadequate, unreliable and the connec-tion cost/efficiency is weak. Most of the vehicles used are inadequate for the pur-pose designed, they are badly maintained and do not drive well. «This cannot carry on and if drastic measures are not taken soon, the system’s capacity will decrease, the quality of the services rendered will deteriorate and the costs to the users will increase», as per the mentioned study. Therefore, it is concluded that the scenario which we are presently living was foreseen some years back; however, the measures taken by the Government were not suffi-cient to revert the situation. Besides, right after the February 2008 manifestations, the government decided to subsidize the oil companies – a process which cost the State Safe hundreds of millions of dollars.

«(...)public transport services in Maputo are ineffective,

inadequate, unreliable and the connection cost/

efficiency is weak. Most of the vehicles used are

inadequate for the purpose designed, they are badly

maintained and do not drive well. “This cannot carry on and if drastic measures are

not taken soon, the system’s capacity will decrease,

the quality of the services rendered will deteriorate and

the costs to the users will increase”

Luis Muianga

Page 37: Revista Capital 39

março 2011 revista capital

37REPORT TRANSPORTS

International state of affairs worsens the transport problem in the Country

Sustainability of the «chapas»business ‘at risk’

In 2008, the government and the trans-porters initialled a memorandum, accor-ding to which there would only be subsi-dies should the price of diesel (fuel mostly used in semi-collective transports) exceed 31 meticais. Diesel did not exceed the fore-seen ceiling, but a vehicle does not live on fuel alone. Other elements which guaran-tee its running suffered escalations due to the exchange fluctuations. Therefore, even if there was no increase in the price of die-sel from 2008 to present, to maintain the business would be far too costly.In the meantime, the Transport Develo-

pment Fund emerges as one of the gover-nment replies to the transport problem. This Fund has the purpose of facilitating the purchase of buses, either by the pubic or the private sector.

Luis Muianga

DR. Google

Page 38: Revista Capital 39

revista capital março 2011

REPORT TRANSPORTS38

After a meeting between the Youth Na-tional Council and the Minister of Trans-ports and Communications, Paulo Zucula, the Youth showed its commitment in fin-ding a solution for the crises and in pro-moting the country’s development.

Paulo Zucula mentioned the support which his Ministry is granting the Munici-palities in order to make up for the deficit in the conditions concerning transports. As such, the information debated was that 220 buses were purchased, 150 of which will be in Mozambique during this first quarter. Presently, the Mozambican peo-ple do not pay the real price for the ticket of public transports, because the Govern-ment subsidizes the sector in just over half a million US dollars per year. For the Mi-nister with this Portfolio, this type of sub-sidy weakens the national economy.

On the other hand, the traffic registered in Maputo in the so-called «rush-hour»

was also a matter of debate, in sight of which the Ministry is analysing measures to appease the situation.

Asked to contribute, the delegation of the Youth National Council, headed by its Pre-sident, Osvaldo Petersburgo, mentioned the fight against corruption which involves the supervising highway patrol, mainly in what concerns semi-collective transports. In the same line of thought, the fleet in-crease for such limited access roads to the Capital (Maputo) was another matter to which the YNC suggested be analysed.

The YNC also mentioned the incentives which can be given to the youth in regards to the opening of public transport compa-nies (as an act of entrepreneurship) and received from Minister Paulo Zucula the invitation to participate in his Advisory Board, in order to understand the internal policies.

Benigno Papelo

Youth seeks solutionsfor transport crises

Price of fuel in the Internationalmarket soaring

The cost of the barrel of fuel in the in-ternational market has been soaring since 2008, as a result of the relation between the supply and the demand. The fuel de-mand has risen, mainly by the colossal China and India. On the other hand, fuel’s quote was also influenced by problems faced by exporting countries. The oil in-dustry and the pipelines in Nigeria and in Iraq, for example, are usually attack targets. Due to this problem, the constant worry is that the supply will not meet the demand and that the prices will increase.

Then, the financial crises gave rise to a striking drop in the cost of the barrel up to the end of 2008, beginning of 2009. Gradually, the prices increased and the barrel’s cost was once again 110 dollars influenced by the political instability in the Middle East, region responsible for around 30% of the world’s oil production. Therefore, while the «dust does not settle down in the Arab world», the price of a barrel of oil will progress in a form inverse to the law of gravity and some economists already foresee that it could reach 220 dollars.c

«The cost of the barrel of fuel in the international

market has been soaring since 2008, as a result of the relation between the supply

and the demand. The fuel demand has risen, mainly by the colossal China and India.

On the other hand, fuel’s quote was also influenced by problems faced by exporting

countries. The oil industry and the pipelines in Nigeria

and in Iraq, for example, are usually attack targets. Due

to this problem, the constant worry is that the supply

will not meet the demand and that the prices will

increase.»

DR. google

Page 39: Revista Capital 39

março 2011 revista capital

39REPORT TRANSPORTS

The public and private transports saga in Maputo and Matola

In order to better understand the effects of the transport problems in the economy of the municipalities affected, «Capital» magazine interviewed economist and university lecturer Vasco Nhabinde.

According to the academic, the problems which generally affect public transports in particular, in countries under develop-ment, such as Mozambique, are essentially linked up to the lack of an adequate mana-gement system, which in turn, is associa-ted to the weak planning and management capacity of human resources. Furthermo-re, neither do roads infrastructures con-tribute to its good running. If we add to these problems that of the migration from rural to urban areas in search of better li-ving conditions in the cities, the transport problem will worsen significantly.

The lecturer analyses the Maputo and Matola’s transport systems and mentions that they have similar characteristics to those which have been described: Inade-quate management of the transport sys-tem (mainly due to the lack of adequate specialization in transport management), infrastructures of problematic roads, are amongst other problems. These problems seem to be those which mostly affect not only the public, but also the private trans-port system. In the case of the public sys-tem it is coupled by the lack of adequate planning and route management, an ina-dequate maintenance plan, among other problems exogenous to the management, and which are closely liaised to its workers opportunistic behaviour. In the case of private transports, the problems may be in line with some faced by public transports, making it worse as private transports tend to confuse, in many cases, the revenue with the profit. This is, in reality, one of the greatest problems of the national business world.

Nhabinde emphasizes that a non-reliable transport system affects the manufactu-ring system of the employing region, as it wears down the worker due to the long waiting queues, and often without a well defined schedule, thus making the worker waste production time. Certain part of the company becomes inactive, i.e., not used to its full capacity. The inadequate transport system in Maputo and Matola, contributes to a large production inefficiency in both cities (and between them) (a detailed stu-dy should be carried out to assess the loss of productivity associated with this). The

most apparent consequence of the ina-dequate running of the transport system (public and private) is the well-known in-crease in the fleet in both cities, diverting the resources which could be spared and used in alternative investment programs to increase production and job-creation, and thus increasing the profit capacity and effectiveness of companies.

In this manner, the academic outlines a solution: more training for the mana-gement of these transports in the subject of planning and management in all fields, including route management, and above all, in an environment with significant tra-ffic increase. Intense traffic increases the time en route, thus contributing to delay increases. Improve the maintenance sys-tem and introduce systems which tend to reduce the opportunistic behaviour of the

public transport workers. Many countries, such as France, Australia and South Afri-ca use technological systems to manage its transport system. In the case of South Africa, the route and time control syste-ms are also largely used by the transport private sector. This system reduces the probability of route deviations and/or the tendencies to report non-realistic situa-tions. Lastly, Nhabinde vindicates that the development of infrastructures requires well conceived planning and a lot of cou-rage, the reallocation strategy to develop large and good quality roads new strate-gies (which allow the smoother flowing of traffic) in the zones of departure, without forgetting the liaisons with the arriving zones which is fundamental. This could be a starting point to an effective, profitable and reliable transport system.c

Luis Muianga

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Sérgio Mabombo [texto]

O Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos de Portugal (IPTM) recomenda que o sector privado moçambicano deve apostar na persuasão para que em Moçam-bique haja melhorias na legislação marí-tima, apontada como o principal entrave para o desenvolvimento da área.

Na conferência organizada pelo Instituto Superior de Transportes e Comunicações, sobre as Actividades Portuárias ficou defi-nido que a classe decisória precisa perceber as vantagens que uma legislação marítima favorável poderá trazer para o desenvolvi-mento da indústria de cabotagem nacional.

Portugal entende que oferecer uma mo-tivação ao empresariado nacional, da área de cabotagem, significa criar condições competitivas semelhantes às dos seus con-correntes, a nível da região da SADC. En-tretanto, o cenário de transportes maríti-mos que se desenha em Moçambique ainda oferece muito poucos motivos que possam encorajar os investidores. Alguns analistas dizem mesmo que a cabotagem em Moçam-bique não existe.

A persuasão para a melhoriade políticas é recomendada

Os inúmeros problemas enfrentados pela Navique (uma empresa que opera na cabo-tagem nacional e no tráfego regional) para o pagamento de taxas foi tomado como “termómetro” para medir as dificuldades impostas pelas políticas da área.

Domingos Bainha, analista da área de ca-botagem, garante que nenhum operador irá colocar o seu contentor no porto saben-do que não há cabotagem na nossa costa. «Quantos operadores deixam de colocar os seus contentores nos Portos nacionais por saberem que em Moçambique não há cabotagem?», questionou o analista.

Por sua vez, João Carvalho, PCA do IPTM, fez perceber que as dificuldades que Mo-çambique experimenta hoje, na área de ca-botagem, já foram enfrentadas por Portugal há cinco anos. Entretanto, uma forte cam-panha de persuasão junto à classe política permitiu simplificar um conjunto de proce-dimentos de actividades portuárias. Hoje, o país de Camões já é uma referência incon-tornável no transporte marítimo a nível da União Europeia. O exemplo é recomendado para o empresariado moçambicano.

A conferência sobre as Actividades Por-tuárias permitiu entender que a consciên-cia de proceder à melhoraria na legislação marítima existe, faltando apenas a vontade política para a materialização dos inúmeros

«Entretanto, e enquanto o País não faz uma melhor regulamentação da sua actividade de cabotagem, os investidores fazem contas aos ganhos económicos que se podiam obter com uma legislação marítima favorável que teima em não chegar.»

Legislação marítimaé um entrave à cabotagem

projectos em stand By, que aguardam me-lhor ambiente no mercado.

Entretanto, e enquanto o País não faz uma melhor regulamentação da sua actividade de cabotagem, os investidores fazem contas aos ganhos económicos que se podiam ob-ter com uma legislação marítima favorável que teima em não chegar. MTC pretende leis flexíveis

O Ministério dos Transportes e Comuni-cações (MTC) já manifestou o interesse em trazer a almejada motivação para o sector privado nacional, que projecta explorar o transporte marítimo. Em 2010, o ministro dos Transportes e Comunicações, Paulo Zucula, avançou que o organismo que di-rige pretende flexibilizar algumas leis do transporte marítimo (tal como fez a Libé-ria), de modo a oferecer um mercado ideal para investidores nacionais. A decisão iria também atrair as empresas da região SADC interessadas em explorar todos os serviços portuários da costa moçambicana.

Por outro lado, a cooperação com Portu-gal na área (que dura há 40 anos) poderá trazer outra dinâmica. Actualmente, decor-re um trabalho com um estaleiro nacional de modo a criar-se uma empresa mista, uma organização que irá fabricar barcos para abastecer o mercado nacional.

Por outro lado, o titular da pasta dos Transportes e Comunicações já tinha pro-metido que até ao início do segundo tri-mestre do presente ano (Março e Abril)

Moçambique irá contar com dois navios. Os navios que irão transportar carga e pes-soas custaram aos cofres do Ministério seis milhões de euros.

O Ministério dos Transportes e Comuni-cações ainda não possui nenhum estudo sobre os ganhos que o transporte marítimo trará para a economia, comparativamente com o rodoviário. Apesar do facto, enten-de que em termos de custos, o transporte no mar é mais barato. O PCA do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos de Portugal (IPTM), João Carvalho, con-substanciou o facto durante a conferência sobre as Actividades Portuárias realizada em Maputo. Carvalho dá a esse propósito o exemplo de que uma carga de 300 conten-tores pode ser transportada por apenas um navio, ao passo que para deslocar a mesma carga por via rodoviária seriam necessários 300 camiões.c

41SECTOR TRANSPORTES

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Page 42: Revista Capital 39

figura 1: Tamanho das Empresas por Número de Camiões

figura 2: Percentagem da empresa detida por estrangeiros ou nacionais

Figura 3. Rotas percorridas de acordo com a dimensão das empresas transportadoras

revista capital março 2011

ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS42

Após um estudo de mercado realizado pela Intercampus, foi possível definir a caracterização do mercado dos transportes rodoviários em Moçambique. Saiba tudo sobre as suas rotas, loca-lizações e sobre a distribuição geográfica.

Estudo sobre o sector de transporte rodoviário em Moçambique

Em 2007, o Ministério dos Transportes realizou um in-quérito a 118 empresas trans-portadoras em Moçambique, nas províncias de Maputo,

Sofala e Nampula. O estudo contemplou empresas oficiais de transporte, tanto for-mais como informais, que foram seleccio-nadas aleatoriamente em locais de natural agregação de transportadores, tais como a

entrada do porto e os terminais de carga. Em 2011, será realizada a segunda edição do mesmo estudo sob a implementação da Intercampus - Estudos de Mercado, Lda.

As figuras 1 e 2 revelam a distribuição da amostra de acordo com a dimensão (Figu-ra 1) e com a percentagem da empresa de-tida por capitais nacionais e estrangeiros (Figura 2).

Na figura 2, nota-se que uma grande par-

te dos capitais nas empresas transporta-doras pertencem a nacionais.

As figuras 3 e 4 revelam uma segmenta-ção natural do mercado em termos de rotas percorridas de acordo com a dimensão das transportadoras. Na figura 3, destacam-se as rotas dos pequenos transportadores que se concentram nas rotas domésticas, nomeadamente de Maputo-Inhambane, Maputo-Beira e Nampula-Nacala. Por

Page 43: Revista Capital 39

Figura 4. Número de empresas que indicaram operar fora do País.

Figura 5. Número de empresas na amostra a operar nos diferentes corredores transfronteiriços

março 2011 revista capital

43ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS

Estudo sobre o sector de transporte rodoviário em Moçambique

outro lado, os transportadores de maior dimensão estão proporcionalmente mais representados nos corredores transfron-teiriços.

A figura 4 representa a distribuição de empresas que desenvolvem actividade fora de Moçambique, de acordo com a sua dimensão.

Grande parte das empresas transporta-doras que operam em corredores trans-fronteiriços concentram-se sobretudo no corredor de Maputo em direcção à Swazi-lândia e à África do Sul , bem como em

corredores para o Malawi e para a Zâmbia, conforme o indicado na figura 5. A figu-ra 6 revela, no entanto, que transportes transfronteiriços representam ainda uma pequena proporção da actividade total das empresas.

A Intercampus

A Intercampus – Estudos de Mercado, Lda. é uma empresa de direito moçambi-cana e iniciou formalmente a sua activida-de em Moçambique em 2007 sendo parte

integrante do Grupo Internacional GfK. O Grupo GfK é a quarta maior empresa

de estudos de Mercado no mundo. A sua actividade abrange cinco áreas: Custom Research, Retail & Technology, Consumer Tracking, Healthcare e Media. O Grupo é composto por 150 empresas em mais de 100 países e com mais de 10 000 colabora-dores. Em 2009, as vendas do Grupo GfK ascenderam a 1,16 mil milhões de euros.

Para mais informações contactar [email protected]

Page 44: Revista Capital 39

44

revista capital março 2011

Confunde-se ganho das empresas com ganho da economia nacional

Sérgio Mabombo [texto]

SECTOR INDÚSTRIA

Em Moçambique há uma confusão que se faz na distinção entre o que é o ganho das empresas e o ganho da economia como um todo, segundo a constatação do econo-mista Nuno Castel Branco, feita durante a conferência “Competitividade Industrial em Moçambique”.

O economista pronunciou-se em reacção à decisão do Executivo moçambicano em não rever os contratos com os megapro-jectos, alegando que estas já geram muito rendimento à economia nacional, um rendimento estimado em 9.5 biliões de dólares além do aumento das exportações. O economista adverte que tem de se distin-guir o que a empresa ganha e a vantagem que o facto representa para a economia como um todo.

Castel Branco faz notar ainda que o dis-curso contém uma mentira por omissão, ao defender a existência de 9.5 biliões de dólares e outras vantagens nas mãos do Estado, sem, no entanto, fazer alusão àquilo que o País perde pelo facto dos megaprojectos não contribuírem de forma significativa para a economia, devido aos benefícios fiscais que possuem.

A inexistência de um sistema de trans-porte adequado, o elevado custo de investi-

mento no país, a má qualidade das escolas e a inexistência de um sistema de com-petitividade adequado entre as Pequenas e Médias Empresas constitui o cenário im-posto pela insignificante contribuição fis-cal dos megaprojectos no País. E a análise mereceu apreciação positiva por parte dos industriais presentes na conferência.

O economista avançou ainda que o actual sistema caracterizado por um benefício fiscal para os megaprojectos só persiste porque existe ajuda externa ao Orçamento do Estado, o que de uma forma indirecta financia as multinacionais. Por outro lado, estas poderão beneficiar também da dívida pública crescente que advém do referido facto.

O Executivo projecta que Moçambique irá tornar-se num país de rendimento médio nos próximos 10 anos, realçando a contribuição da indústria extractiva no crescimento do PIB nacional. O peso da indústria transformadora na economia na-cional situa-se em 14 por cento, nos últi-mos cinco anos. Entretanto, os industriais advertem que a porosidade da economia extractiva poderá manter a maioria dos moçambicanos na pobreza e assim impe-dir a industrialização, independentemente

«A cooperação com o Brasil, a China e a Índia poderá trazer benefícios económicos gigantescos para Moçambique, caso a indústria nacional ofereça em troca produtos acabados, segundo o Nicolas –Vignon, economista da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul.»

do nível de riqueza que venha a ser gerado. Gerar riqueza em si não resulta na indus-trialização, segundo as conclusões do de-bate. A advertência visa chamar, por outro lado, uma maior vocação nos sistemas de governação de modo a construírem uma verdadeira industrialização, ao invés de defender o status-quo da economia extrac-tiva.

Na conferência também foram analisa-das as vantagens que a indústria nacional poderá beneficiar no actual contexto de abertura de mercado. A cooperação com o Brasil, a China e a Índia poderá trazer benefícios económicos gigantescos para Moçambique, caso a indústria nacional ofereça em troca produtos acabados, se-gundo o Nicolas-Vignon, economista da Universidade de Witwatersrand, na Áfri-ca do Sul. Segundo o mesmo, a indústria chinesa de construção civil, que está cada vez mais presente em Moçambique, ape-nas se faz sentir na questão infraestrutural e de forma pontual, como na construção de estradas ou edifícios ministeriais, sem no entanto estar virada para a provisão de postos de trabalho.

Por sua vez, a Associação Industrial de Moçambique (AIMO) ofereceu um outro ponto de partida, que acredita poder catapultar a indústria nacional para uma maior competitividade. Na óptica deste organismo, o impacto vistoso da indústria nacional requer um investimento forte na mão-de-obra, estímulo ao investimento para a industrialização, benefícios fiscais e financiamentos adequados à realidade económica do país.c

DR. Google

Page 45: Revista Capital 39

Dados avançados no seminário “Petró-leo, Gás e Minerais em Moçambique – Políticas, Governação e Desenvol-vimento Local” sobre o investimento em minerais e hidrocarbonetos mostram que, desde a proclamação da independência nacional, o Governo moçambicano conce-deu um total de 105 licenças de exploração de carvão mineral, esperando-se que ou-tras três sejam emitidas até finais de 2012.

De acordo com Costa Júnior, quadro do Ministério dos Recursos Minerais, foram identificadas no país mais sete bacias car-boníferas de grande potencial nas pro-víncias de Tete, Manica, Cabo Delgado e Niassa, no centro e norte do País, respec-tivamente.

«Até 2013, o Estado vai atribuir mais duas ou três concessões de pesquisa e prospecção de carvão. Recentemente, foram identificadas novas áreas com po-tencial para a ocorrência de carvão em Niassa, Manica, Tete e Cabo Delgado», disse Costa Júnior.

Paralelamente, as actividades nas minas de Moatize e Benga, exploradas pelas em-presas Vale e Riversdale, respectivamente, encontram-se num estágio avançado, es-perando-se o início das produções para o segundo semestre de 2011. Os dois projec-tos irão desenvolver centrais termoeléctri-cas que vão produzir 2.000 megawatts em Benga e 2.600 megawatts em Moatize.

No que concerne à área de gás, o Governo prevê um aumento no investimento para 600 milhões de dólares norte-americanos por ano, duplicando os investimentos do ano passado, facto que poderá incremen-tar a produção dos actuais 120 para 183 mil milhões de gigajoules.

Relativamente à exploração petrolífera, estima-se que o país possa vir a amealhar nos próximos dez anos cerca de dois bili-ões de dólares, sendo que nos últimos 35 anos os investimentos em Moçambique na área dos petróleos atingiram os quatro bi-liões de dólares.

Um dos problemas apontados por alguns

participantes do encontro foi a alegada violação dos direitos das populações das regiões, onde são instalados projectos de exploração petrolífera e mineral por parte dos investidores, bem como o comodismo do Governo em relação ao assunto.

Jeremias Gujane, representante da justiça ambiental, que abordou o tema «Impactos sociais da exploração de minerais: Estudo de caso – Vale Mo-çambique Lda.» apontou, como exem-plo, o facto de os investidores não respeita-rem os direitos básicos das comunidades, como é o caso das casas construídas no processo da deslocação das populações não reunirem condições para habitação.

Por outro lado, o académico moçambi-cano João Mosca preveniu para a possi-bilidade de, a longo prazo, os projectos de petróleo, gás e minerais levarem ao «em-pobrecimento rural», uma vez que «gran-de parte da riqueza proveniente destes projectos não fica nos locais de onde ela é extraída».c

março 2011 revista capital

45SECTOR ENERGIA

Arsénia Sithoye [texto]

Mais licenças paraa exploração de carvão“Petróleo, Gás e Minerais em Moçambique – Políticas, Governação e De-senvolvimento Local” foi o lema do seminário co-organizado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), o Instituto de Estudos Sociais e Econó-micos (IESE), o Centro de Integridade Pública (CIP) e a IBIS – Educação para o Desenvolvimento, que juntou representantes de várias organiza-ções não-governamentais.

Costa Júnior, quadro do Ministério dos Recursos Minerais, acredita que com a dinâmica que o País regista na procu-ra de carvão por mineradoras interna-cionais, Moçambique poderá tornar-se num dos maiores produtores e exporta-dores de carvão do mundo. Estas afirma-ções vêm secundar a dos analistas inter-nacionais, segundo as quais as reservas de Tete são as mais valiosas desde que a Bacia de Bowen, na Austrália, iniciou a produção intensiva na década de 1960.

Apontado pelo FMI e pela revista The Economist como um dos dez países do mundo com maior crescimento econó-mico para a próxima década, Moçam-bique atravessa um boom devido, em parte, às impressionantes reservas de carvão da província de Tete. Contudo, mantêm-se as disparidades e a depen-dência externa.

Com o agravamento das condições at-mosféricas no sub-continente australia-no, o preço do carvão subiu de 225 para

250 dólares por tonelada no espaço de um mês. Com as empresas mineiras a anunciarem que não serão capazes de cumprir as obrigações contratuais, o sec-tor energético prevê que o preço atinja os 400 ou 500 dólares por tonelada.

Por enquanto, estima-se que o sector de recursos minerais reverta apenas 2% para o Produto Interno Bruto. Não obs-tante, as perspectivas apontam para os 15%.

AS

Reservas de carvão de Tetesão as mais valiosas do mundo

Page 46: Revista Capital 39

revista capital março 2011

SECTOR BANCA46

Financiamento às empresárias ainda é esquivoO baixo nível de acesso aos serviços micro-financeiros por parte das empre-sárias nacionais continua a ser um constrangimento ao desenvolvimento dos seus negócios.

Sérgio Mabombo [texto]

Dois aspectos contrastam quando a Organização Internacional de Trabalho (OIT) analisa o ambiente do empresariado feminino em Moçambique: Por um lado, as empresárias queixam-se de uma banca não disponível para atender às suas ne-cessidades. Por outro lado, canta-se que o sector bancário regista um crescimento recorde nos últimos anos.

Rotafina Donco, coordenadora da OIT, desvenda o mistério afirmando que há pouca divulgação dos serviços microfi-nanceiros. O acesso aos mesmos fica mais distante ainda quando 70 por cento da po-pulação vive no meio rural, onde existem poucas possibilidades de penetração dos serviços financeiros. Estes só cobrem 22.2 por cento da população, dos quais apenas uma parte insignificante corresponde ao sexo feminino.

Tal como em Maputo, a província de So-fala verifica um crescimento desusado do empresariado feminino. Ana Maria Fer-nandes, presidente da Associação de Mu-lheres de Negócios e Executivas de Sofala (AMUNE) pretende que haja uma revisão no nível de juros cobrados pelos poucos serviços micro-financeiros. «Estes levam quase todo budget do negócio no processo

de amortização dos empréstimos», afir-ma.

O empresariado feminino de Nampula pretende buscar a experiência do asso-ciativismo feminino da capital do País, de modo a criar uma relação de confiança com o sector bancário. Joana Mlula, em-presária que explora a área de avicultura queixa-se pelo facto do sector bancário ainda menosprezar a empresária ao nível da província de Nampula. Entretanto, es-pera-se que o associativismo empresarial feminino possa trazer uma relação saudá-vel das empreendedoras com os bancos.

Para fazer face ao problema, a OIT pre-tende promover a criação de uma rede de plataformas de financiamento para mulheres de negócios. Entretanto, mes-mo que a plataforma seja implementada, a parca formação da maioria das empre-sárias constitui um obstáculo que barra a credibilidade destas junto das instituições financeiras.

Em 2010, o IFC, em parceria com o BCI, concedeu uma formação a um total de 200 empresárias de moçambicanas. A iniciati-va já verifica algum impacto. Actualmen-te, cerca de 50 por cento das empresárias formadas começam a aplicar nos seus ne-

gócios ferramentas de Gestão de Custos; Orçamentação; Acesso a oportunidades de Mercado; Vendas e Estratégias de Di-ferenciação de Mercados. Contudo, o refe-rido impacto ainda é uma gota no oceano, considerando o imenso trabalho que ainda está para ser realizado na área de forma-ção.

O seminário de divulgação do estudo sobre o ambiente do empreendedorismo feminino em Moçambique, realizado em Março deste ano, deixou algumas reco-mendações que poderão trazer melhorias no nível de acesso aos serviços financeiros. As mesmas visam criar mecanismos de atracção dos Serviços de Desenvolvimento de Negócios (SDN) para as zonas suburba-nas, onde o acesso é reduzido. A massifica-ção do uso das tecnologias de informação e Comunicação (TIC) é outro desafio à vista, numa lista que totaliza dez propostas.

A implementação das recomendações será feita entre 2012 a 2015, período que se acredita oferecer maiores oportunida-des de financiamento devido à implemen-tação do PARPA (Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta) e outros programas financiados pelas Nações Uni-das (ONU).c

Page 47: Revista Capital 39

março 2011 revista capital

47SECTOR BANCA

Quatro bancos detêm 90%do mercado moçambicano

Os quatro maiores bancos de Moçambi-que detêm 90 por cento do mercado na-cional, enquanto os restantes 10 por cento da quota do mercado são detidos por nove instituições financeiras, numa lista com-posta por 13 bancos.

A análise deixa perceber que a concor-rência do sector bancário nacional é feita somente pelas referidas quatro institui-ções financeiras, que são compostas pelo Banco Internacional de Moçambique (BIM), pelo Banco Comercial e de Inves-timento, pelo Standard Bank, e pelo Bar-clays Bank Moçambique.

Os dados sobre a banca nacional, relati-vos ao exercício financeiro de 2009, foram fornecidos durante a cerimónia de lança-mento da pesquisa sobre o sector Bancário em Moçambique realizada em Fevereiro do presente ano pela KPMG, uma empresa de Auditoria e Consultoria em coordena-ção com a Associação Moçambicana dos Bancos (AMB).

A desproporção não constitui um cenário desejável na medida em que o ideal para o sector financeiro nacional era ter os 13 bancos analisados na pesquisa a concor-rer para a totalidade do mercado, segundo Celso Raposo, gestor e auditor na KPMG.

Os activos totais de cada um dos quatro maiores bancos nacionais em 2009 foram calculados em mais de 48 mil milhões de meticais para o BIM, em mais de 34 mil

milhões de meticais para o Banco Interna-cional e de Investimentos, em mais de 25 mil milhões de meticais para o Standard Bank enquanto o Barclays Bank Moçam-bique obteve mais de 9 mil milhões de me-ticais.

Entretanto, os estudos em curso, efec-tuados pela KPMG indicam que o cenário descrito tende a melhorar, embora de uma forma muito lenta. Actualmente, os luga-res cimeiros tendem a ser disputados por cinco ou seis bancos, com realce para a as-censão gradual do African Banking Corpo-ration e do First National Bank.

Os bancos menos expressivos, que fazem parte do ranking, são na sua maioria os que se lançaram no mercado nacional há pouco tempo, tais como o Banco Oportu-nidade, cujos activos totais somam pouco mais de 172 milhões de meticais e o Banco Mercantil e de Investimento, com mais de 402 milhões de meticais. Os respectivos bancos ocupam a 13ª e 12ª posições, res-pectivamente.

O BIM e o Banco Comercial e de Inves-timentos (BCI) - os dois maiores da lista - são os que tiveram maior aumento dos seus activos capitais. O BIM, encaixou mais de 48 mil milhões de meticais, em 2009, depois de ter superado os 35 mil milhões de meticais, em 2008. Por sua vez, o Banco Comercial e de Investimentos superou os 34 mil milhões de meticais, em

2009, depois de obter mais de 23 mil mi-lhões de meticais de 2008.

A KPMG anunciou que está em curso, a pesquisa relativa ao exercício bancário de 2010, cuja divulgação terá lugar ainda no presente ano.c

«O BIM e o Banco Comercial e de Investimentos (BCI) - os dois maiores da lista - são os que tiveram maior aumento dos seus activos capitais. O BIM, encaixou mais de 48 mil milhões de meticais, em 2009, depois de ter superado os 35 mil milhões de meticais, em 2008. Por sua vez, o Banco Comercial e de Investimentos superou os 34 mil milhões de meticais, em 2009, depois de obter mais de 23 mil milhões de meticais de 2008»

Sérgio Mabombo [texto]

CLASSIF. NOME DA INSTITUIÇÃO ACTIVOS TOTAIS 2009 ACTIVOS TOTAIS 2008

1° banco Internacional de moçambique 48,274,966 35,477,276

2° banco Comercial e de Investimento 34,722,681 23,829,899

3° Standard bank 25,722,681 21,360,549

4° barclays bank moçambique 9,306,100 7,947,422

5° African Bank Corporation 4,316,240 2,667,065

6° First National Bank 2,753,966 1,839,382

7° Mozabanco 1,686,901 664,724

8° Banco Procredit 1,647,400 1,116,695

9° Mauritius Commercial Bank 1,647,400 1,11,695

10° Banco Terra 1,213,219 328,853

11° International Commercial Bank 610,176 328,579

12° Banco Mercantil e de Investimento 402,723 377,764

13° Banco Oportunidade 117,062 151,790

Fonte: KPMG

Page 48: Revista Capital 39

revista capital março 2011

FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS48

O regime fiscal das zonas económicasespeciais e francas industriais

As zonas Económicas Especiais (ZEE) e Francas Industriais (ZFI) constituem importantes instrumentos de promoção das exportações, contribuin-

do significativamente para o crescimento económico e competitividade do país, be-neficiando por esse facto de regimes jurí-dicos especiais, nomeadamente o fiscal e aduaneiro.

Além da isenção de impostos sobre as mercadorias, os operadores e empresas nas ZEE e ZFI beneficiam da isenção de direitos aduaneiros e Imposto sobre o Va-lor Acrescentado (IVA) na importação de materiais de construção, máquinas, equi-pamentos, acessórios e outros bens para a sua actividade, bem como isenções e re-duções da taxa do Imposto sobre o Ren-dimento das Pessoas Colectivas (IRPC) ao longo do projecto, de acordo com o Código de Benefícios Fiscais aprovado pela Lei nº 4/2009, de 12 de Janeiro.

Com o presente texto pretendemos apre-sentar um resumo sobre os procedimentos e requisitos para o reconhecimento dos benefícios fiscais relativos as ZEE e ZFI, na esteira da publicação recente do Regime Fiscal e Aduaneiro das Zonas Económi-cas Especiais (ZEE) e das Zonas Francas Industriais (ZFI), aprovado pelo Diploma Ministerial n.º 202/2010 de 24 de Novem-bro. Deste modo esperamos também con-tribuir para a compreensão e divulgação do referido regime.

Porque o espaço que nos é concedido não permite uma análise exaustiva, o presen-te artigo cingir-se-á apenas à uma breve abordagem sobre o regime fiscal das refe-ridas zonas.

Como forma elucidativa e para melhor

compreensão aproveitamos para apresen-tar o conceito de ZEE e de ZFI.

a) Conceito de ZEE

A ZEE é definida como sendo uma área de actividade económica, geograficamente delimitada e regida por regime aduaneiro especial com base no qual todas as mer-cadorias que aí entrem, se encontrem, circulem, se transformem ou saiam de Moçambique estão totalmente isentas de quaisquer imposições aduaneiras, fiscais e parafiscais correlacionadas.

b) Conceito de ZFI

A ZFI é considerada como sendo a área ou unidade ou série de unidades de acti-vidade industrial, geograficamente delimi-tada e regulada por um regime aduaneiro específico na base do qual as mercadorias que aí se encontrem ou circulem destina-das maioritariamente à produção de arti-gos de exportação estão isentos de todas as imposições aduaneiras, fiscais e parafis-cais correlacionadas.

Âmbito do Regulamento

O regulamento do Regime Fiscal aplica-se aos operadores e empresas que exerçam actividades económicas elegíveis e devida-mente certificadas ao regime de ZEE ou ZFI.

Mas para que tais entidades possam ver reconhecidos os benefícios fiscais é neces-sário que estejam devidamente certifica-dos e que, entre outros, reúnam os seguin-tes requisitos:

a) Obter o número de identificação tribu-tária (NUIT);

b) Ter sede efectiva na área geográfica de

Katia Tourais Jussub*

Page 49: Revista Capital 39

março 2011 revista capital

49FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS

O regime fiscal das zonas económicasespeciais e francas industriais

uma ZEE ou ZFI;

c) Dispor do sistema de contabilidade empresarial, de acordo com o Plano Geral de Contabilidade, bem como das exigên-cias do Código do IRPC e Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRPS);

d) Não ter cometido as infracções de na-tureza fiscal e aduaneira nos termos da Lei nº 2/2006 de 22 de Março.

Procedimentos fiscais

A nível de procedimentos fiscais, o di-ploma em referência regula de forma clara como as empresas existentes na área ge-ográfica de ZEE/ZFI e respectivos opera-dores devem proceder, nomeadamente quanto a:

Transição para o regime fiscal

As empresas que à data de entrada em vigor do Regulamento do Código dos Be-nefícios Fiscais em Outubro de 2009 fun-cionavam na área geográfica da ZEE, de-vem apresentar na Direcção Fiscal da área competente a devida declaração de altera-ções, fazendo menção da transferência do regime normal para o especial de ZEE.

Adicionalmente, estas empresas deverão regularizar a sua situação tributária rela-tivamente ao regime em que inicialmente estavam enquadradas, no prazo de 30 dias a contar da data de obtenção certificado de empresa de ZEE.

Importa acrescentar ainda que, as em-presas que realizem exclusivamente operações na área geográfica de ZEE e

funcionem neste regime, e que à data da obtenção do certificado de empresa ZEE tenham crédito relativamente ao IVA, de-verão solicitar o respectivo reembolso.

Quanto às empresas que desenvolvam actividades dentro e fora da área geográfi-ca de uma ZEE ou ZFI, estas devem discri-minar na sua contabilidade e declarações a apresentar ao fisco as operações sujeitas ao regime normal de tributação das do re-gime especial.

facturação

No que diz respeito à emissão de factu-ras ou documentos equivalentes emitidos pelos operadores e empresas das ZEE ou ZFI, o regulamento consagra uma práti-ca já aceite nalgumas situações pelo fisco, que é o uso simultâneo da língua e moeda nacionais e estrangeiras.

Isenção do IvA

Para efeitos da isenção do IVA, os bens e serviços adquiridos no mercado inter-no com destino às ZEE e ZFI devem ser comprovadas através de Declaração emi-tida pelos adquirentes ou utilizadores dos mesmos, nomeadamente através de um certificado de IVA.

determinação da despesa fiscal

Quanto à determinação da despesa fis-cal, importa referir que os operadores e empresas de ZEE e ZFI devem organizar a sua contabilidade de modo que os resul-tados das operações e variações patrimo-niais sujeitas ao regime geral se distingam claramente dos resultados das operações no âmbito das ZEE e ZFI.

«As empresas que à data de entrada em vigor do Regulamento do Código dos Benefícios Fiscais em Outubro de 2009 funcionavam na área geográfica da ZEE, devem apresentar na Direcção Fiscal da área competente a devida declaração de alterações, fazendo menção da transferência do regime normal para o especial de ZEE. »

Para esse efeito, os operadores e empre-sas devem ainda apresentar anualmente a Declaração Periódica de Rendimentos e a Declaração Anual de Informação Conta-bilística e Fiscal, anexando para o efeito o Modelo /01-BF mostrando o cálculo do benefício fiscal respectivo.

Nota final

O presente Regulamento aplicável às ZEE e ZFI contribui para uma maior certe-za jurídica ao estabelecer os procedimen-tos para a aplicação do respectivo regime fiscal, promovendo assim o investimento nas referidas zonas.

Consultora Tax and Legal Services

PricewaterhouseCoopers Legal – Sociedade Unipessoal, Limitada

[email protected]

Page 50: Revista Capital 39

BCI associa-se ao Judo Moçambicano

Desde 14 de Julho de 2010 que o BCI, no âmbito da sua Responsabilidade Social, apoia o judoca moçambicano Edson Madeira, que pretende iniciar a sua jornada rumo aos Jogos Olímpicos de 2012. Edson Madeira é a referência nacional do Judo em Moçambique, tendo entra-do no judo com apenas 12 anos e desde essa altura que faz parte da Selecção, é o único atleta que passou por todas as camadas inferiores e que representa a selecção até hoje. Para além de sempre ter sido o mais novo da Selecção é o mais experiente. O Judoca ganhou recentemente uma Bolsa do COI (Comité Olímpico Inter-nacional), que lhe permitirá treinar em paris, num Centro de alto rendimen-to, para as qualificações para Londres 2012, para o Campeonato Africano no Senegal em Abril, e os Pan Africanos de 03 a 18 de Setembro em Maputo. Edson Madeira considera a parceria com o BCI uma oportunidade para a promoção da sua imagem, interna e ex-ternamente. Confessa que sem o apoio do BCI seria complicado conseguir fa-zer estágios com outros atletas de nível mundial com o objectivo de participar nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012.

Consulte: www.bci.co.mz

desde 14 de julho de 2010 que o bCI, no âmbito da sua Responsabilidade Social, apoia o judoca moçambicano Edson madeira, que pretende iniciar a sua jornada rumo aos Jogos Olímpicos de 2012.Edson madeira é a referência nacional do judo em moçambique, tendo entrado no judo com apenas 12 anos e desde essa altura que faz parte da Selecção, é o único atleta que passou por todas as camadas inferiores e que representa a selecção até hoje.

Page 51: Revista Capital 39

março 2011 revista capital

51RESENHA JURÍDICA FERREIRA ROCHA

Rita C. Relvas *

Com o objectivo de fomentar as relações económicas en-tre Moçambique e Portugal, foi celebrada em 1991 a Con-venção para Evitar a Dupla

Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos Sobre o Rendimento.

E conforme o previsto, as relações eco-nómicas entre Moçambique e Portugal têm registado um aumento significativo. Contudo, apesar dos aumentos registados, subsistem algumas dúvidas no que se re-fere aos deveres fiscais a que as socieda-des de direito moçambicano estão sujeitas quando efectuam um pagamento a uma sociedade de direito português, nomeada-mente quanto à obrigação de retenção na fonte que sobre estas impende enquanto substitutos tributários.

Neste artigo analisaremos apenas a obri-gação de retenção na fonte que decorre do pagamento de royalties a sociedades de direito português.

Nos termos da Lei 34/2007 de 31 de De-zembro, que aprovou o Código do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Colec-tivas (CIRPC) e da Convenção celebrada entre Moçambique e Portugal o termo “Royalty” refere-se a uma categoria de rendimento na qual se inserem as retribui-ções de qualquer natureza atribuídas pelo uso ou concessão do uso de (i) um direito de autor sobre uma obra literária artística ou científica (ii) uma marca de fabrico ou de comércio (iii) um programa de com-putador (iv) um equipamento industrial, comercial ou científico. Nesta categoria de rendimento incluem-se ainda os paga-mentos efectuados a título de remunera-ção pela assistência técnica prestada em conexão com o uso ou a concessão de uso dos direitos ou bens referidos.

O rendimento que é gerado através do

pagamento de Royalties, devidos por uma sociedade de direito moçambicano a uma sociedade de direito português por conta do uso de um direito, de uma marca, de um programa de computador ou de um equipamento industrial, está sujeito ao pa-gamento de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC).

Por conseguinte, as sociedades de direito português estão sujeitas ao pagamento de IRPC sempre que obtiverem rendimentos não isentos em território moçambicano. A forma legal de assegurar o cumprimento desta obrigação fiscal é através do meca-nismo de retenção na fonte previsto no artigo 67.o do CIRPC, neste caso e nos ter-mos do n.o 1 do artigo 62.o do referido Có-digo a taxa de retenção na fonte prevista é de 20% e aplica-se aos países com os quais Moçambique não tem acordos de dupla tributação celebrados.

No entanto, por força da aplicação do n.o 2 do artigo 12.o da Convenção celebrada entre Moçambique e Portugal a taxa de retenção aplicável nos pagamentos a efec-tuar a sociedades de direito português é de 10%.

A sociedade de direito moçambicano, ao ser obrigada pela Administração Fiscal a proceder à retenção dos 10% devidos pela sociedade de direito português a título de IRPC, assume a qualidade de “substituto tributário” desta em Moçambique.

Pelo exposto concluímos que constitui obrigação tributária das sociedades de di-reito moçambicano proceder à entrega do montante de imposto retido por conta do pagamento de royalties efectuado a uma sociedade de direito português.c

*Consultora da Ferreira Rocha & Associados – Sociedade de Advogados, Limitada

[email protected]

«...as sociedades de direito português estão sujeitas ao pagamento de IRPC sempre que obtiverem rendimentos não isentos em território moçambicano. A forma legal de assegurar o cumprimento desta obrigação fiscal é através do mecanismo de retenção na fonte previsto no artigo 67.o do CIRPC, neste caso e nos termos do n.o 1 do artigo 62.o do referido Código a taxa de retenção na fonte prevista é de 20% e aplica-se aos países com os quais Moçambique não tem acordos de dupla tributação celebrados»

Pagamento de Royaltiesa sociedades de direito português

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revista capital março 2011

GESTÃO E CONTABILIDADE ERNST & YOUNG52

Félix Sengo*

Excelência EmpresarialUm olhar sobre a Importância do Planeamento Estratégico

Introdução

O planeamento estratégico pode ser entendido como um processo de formulação de estratégias organizacionais através do qual se pretende

alcançar a inserção da empresa e de sua missão no meio ambiente em que ela ope-ra. O planeamento estratégico, não é um conjunto de regras que devem ser segui-das por uma empresa num determinado momento e depois esperar que passados alguns dias ela obtenha os resultados pla-neados. É sim, um processo contínuo de interacção entre a organização e o meio ambiente visando identificar os factores competitivos do mercado e do seu po-tencial interno que podem assegurar um melhor posicionamento na realização dos seus planos de acção e no alcance das suas metas para assegurar a vantagem compe-titiva em relação a concorrência.

Na verdade, na luta pela excelência em-presarial e optimização do desempenho económico, financeiro e social das empre-sas por um lado, e pela sua sobrevivência no mundo actual com mudanças constan-tes e imprevisíveis, o planeamento estra-tégico aparece como um olhar estratégico dos gestores do seu meio ambiente na pro-cura de melhores formas para transformar os problemas que surgem no seu dia a dia em oportunidades e definir claramente os motivos da existência das suas empresas, e o ponto em que elas devem estar para manter os sucessos hoje e no futuro.

Etapas para a Elaboraçãodo Planeamento Estratégico

De acordo com o Oliveira (2007) a formu-lação do planeamento estratégico passa necessariamente por quatro etapas prin-cipais, nomeadamente: (i) diagnostico estratégico; (ii) definição da missão da or-ganização (iii) definição dos instrumentos

prescritivos e quantitativos e (iv) controlo e avaliação.

O diagnóstico estratégico compreende a primeira etapa do processo de planea-mento estratégico e procura responder a pergunta básica sobre “qual é a situação real actual da empresa quanto aos seus processos de gestão internos e externos?”- nesta fase faz-se uma radiografia exaustiva do que a empresa tem de bom, regular ou ruim nos seus processos de gestão. É tam-bém, nesta etapa que é feita a avaliação competitiva das potencialidades da em-presa destacando-se os seus pontos fortes – que precisam ser explorados com maior intensidade ainda e os seus pontos fracos ou fragilidades que precisam ser corrigi-dos ou eliminados. Na prática no diagnós-tico estratégico faz-se o levantamento do estado actual dos seguintes componentes principais da empresa: (i) visão da empre-sa, (ii) valores da empresa, (iii) ambiente externo, (iv) ambiente interno e (v) con-correntes.

Na segunda etapa procura-se avaliar a missão da organização como a razão de ser da empresa, determinando o moti-vo principal da sua existência no mercado, definindo o mercado alvo que deseja ser-vir, onde pretende actuar. De acordo com o Chiavenato (2003), “a missão da organi-zação é o elemento que traduz as respon-sabilidades e pretensões da organização no ambiente de negócios, define o negócio e delimita o seu ambiente de actuação”

Os instrumentos prescritivos e quan-titativos compreendem a terceira etapa na qual se dão respostas as questões bási-cas de planeamento estratégico, tais como: “onde é que se quer chegar?”,e “como che-gar à situação que se pretende?” – esta fase integra dois tipos de instrumentos intimamente interligados: (i) instrumen-tos prescritivos que incluem os objectivos, desafios e metas estratégicos; estratégias e

«Na verdade, na luta pela excelência empresarial e

optimização do desempenho económico, financeiro e social das empresas

por um lado, e pela sua sobrevivência no mundo

actual com mudanças constantes e imprevisíveis, o planeamento estratégico

aparece como um olhar estratégico dos gestores

do seu meio ambiente na procura de melhores

formas para transformar os problemas que surgem

no seu dia a dia em oportunidades e definir claramente os motivos da existência das suas

empresas, e o ponto em que elas devem estar para manter os sucessos hoje e

no futuro.»

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53GESTÃO E CONTABILIDADE ERNST & YOUNG

Excelência EmpresarialUm olhar sobre a Importância do Planeamento Estratégico

políticas funcionais e projectos e planos de acção; (ii) instrumentos quantitativos que integram projecções económicas -finan-ceiras (orçamentos), associados à estru-tura da empresa que seão indispensáveis para a execução dos planos de acção, pro-jectos e das actividades planeadas.

A etapa de controlo e avaliação está ligada à implementação dos sistemas de controlo e avaliação da implementação do planeamento estratégico, sobretudo no que respeita aos objectivos e desafios esta-belecidos e as estratégias e políticas segui-das pela empresa.

factores críticos de sucesso

Os factores críticos de sucesso (CSF- Cri-tical Sucess Factor em inglês) podem ser entendidos como os pontos chaves que definem o sucesso ou fracasso dos objecti-

vos duma empresa fixados no processo do planeamento estratégico. Estes factores, devem ser identificados no processo de definição dos objectivos e tomados como condições determinantes que devem ser cumpridas para garantir a sobrevivência e manutenção dos sucessos da empresa. Neste contexto, os factores críticos de su-cessos podem ser vistos, também como as actividades chaves do negócio da em-presa que precisam de ser eficientemente bem executadas para que a empresa pos-sa atingir os seus objectivos estratégicos. Eles representam, então as partes críticas dos processos de gestão da empresa cujo desempenho é determinante para a exce-lência e o sucesso empresarial. Nesta pers-pectiva, teremos factores críticos de suces-so ligados: (i) a manutenção da posição competitiva da empresa no mercado; (ii) a inovação dos processos de gestão e tecno-lógicos; (iii) a produtividade do trabalho;

(iv) aos recursos produtivos (v) ao rendi-mento financeiro, (vi) ao desempenho dos gestores, (vii) ao desempenho do pessoal em geral e (viii) a responsabilidade social e ambiental. Por exemplo, a manutenção da posição competitiva da empresa como factor crítico de sucesso está associado ao facto de um dos objectivos estratégicos da empresa ser caracterizado pela definição da posição competitiva que a ela pretende alcançar no mercado em relação aos seus concorrentes. A inovação dos processos de gestão e tecnológicos na empresa é um fac-tor crítico de sucesso determinante para a gestão da diferenciação dos produtos/ser-viços ou da marca/nome da empresa no mercado. É a inovação constante dos pro-cessos de gestão que permite a empresa fazer e manter diferença no mercado em relação aos seus concorrentes.

Considerações conclusivas

O planeamento estratégico deve ser visto como um processo contínuo no qual se pretende moldar o pensamento da em-presa como um todo na procura da defi-nição dos melhores sistemas de gestão da empresa no meio ambiente em que se encontra, com o objectivo de orientá-la para uma posição cada vez melhor no fu-turo. O processo de planeamento estraté-gico começa com a autoavaliação da em-presa para captar e manter actualizado o conhecimento da sua situação real actual em relação ao ambiente externo e interno, visando identificar e monitorar as suas vantagens competitivas em relação aos concorrentes. Neste processo é importan-te também, a identificação dos factores críticos de sucessos como pontos chaves através dos quais a empresa pode definir as principais orientações que os seus ges-tores devem seguir na implementação dos processos de gestão alinhados à realização dos seus objectivos e planos estratégicos.c

(*) Audit Manager na Ernst & Young

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vOdACOm Empresa oferecebibliotecas a escolas primárias no Niassa

A Vodacom ofereceu pouco mais de um milhar de livros a seis escolas primárias da província do Niassa com o objectivo de melhorar as condições de ensino e apren-dizagem dos estudantes do distrito de Lago. A oferta é avaliada em cerca de 253.000 meticais e insere-se no âmbito do progra-ma de responsabilidade social da empresa, que aposta e investe no acesso à educação para todos. A cerimónia de entrega do material com-posto por livros didácticos, literários e dicionários, contou com a presença da pi-rectora provincial de Educação do Niassa e dos directores e estudantes das escolas beneficiadas.Para a Administração da Vodacom, «esta iniciativa reveste-se de um profundo sig-nificado, por acontecer na Província do Niassa e por permitir que os estudantes desta província passem a ter acesso a fontes de aprendizagem semelhantes aos das escolas dos principais centros urba-nos do País».«Acreditamos que a aposta na educação a nível nacional contribui para que Mo-çambique se prepare para ser um País mais desenvolvido, com menos carências e com um futuro promissor para todas as crianças e jovens».A Vodacom desenvolve sistematicamente, a par da sua política comercial e empresa-rial que visa levar as comunicações a todos os moçambicanos, uma política de respon-sabilidade social que tem como principal enfoque as áreas da Educação, Saúde, Desporto e Cultura.Tanto a nível interno como no meio en-volvente, a Vodacom também desenvol-ve acções que visam prevenir e evitar os malefícios advindos do HIV Sida e adopta práticas que visam minorar as consequên-cias deste mal na sociedade moçambicana.

OIT OIT oferece unidades móveis ao Ministério do Trabalho

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) procedeu, em Maputo, à entrega de unidades móveis de formação profissional ao Ministério do Trabalho (MITRAB), no âmbito do apoio aos projectos de criação de emprego e auto-emprego dos jovens nas zonas rurais.Trata-se de três viaturas, totalmente equi-padas com meios de formação técnica, que irão garantir a criação de oportunidades de formação profissional em diversos ramos de actividade para os jovens dos distritos, sobretudo os que não têm a capacidade de irem formar-se nas zonas urbanas. O lote foi entregue ao INEFP (Instituto Nacional de Emprego e Formação Profis-sional), estando direccionado para as áre-as de Hotelaria e Turismo (2 unidades) e uma para a Serralharia Civil.As viaturas entregues à ministra do Tra-balho, Maria Helena Taipo, pelo director regional da OIT-Escritório de Lusaka, Martin Clemensson, serão distribuídas pelas províncias de Inhambane, Nampula e Sofala. Com estas unidades, o País pas-sa a contar actualmente com um total de seis, sendo que as outras 3 se encontram nas Províncias de Sofala, Tete e Zambézia, para os cursos de Construção Civil e Hote-laria e Turismo.

lAm Companhia aérea apresenta em Portugal voos Lisboa-Maputo

A LAM – Linhas Aéreas de Moçambique, apresentou oficialmente, no dia 22 de Fe-vereiro, ao mercado português e europeu, o início dos voos ligando as cidades de Lis-boa e Maputo. A apresentação feita no Hotel VIP Grand Lisboa tinha por objectivo comunicar es-pecificamente em Portugal e para a Euro-pa, as oportunidades que a LAM oferece aos seus parceiros, agentes de viagem, intervenientes directos na actividade em-presarial, turística e a todos interessados em investir, bem como passar excelentes momentos em Moçambique.Os voos LAM serão efectuados numa ae-ronave Boeing B767-300ER e sairão de Lisboa para Maputo às terças-feiras e aos sábados. Sobre estes voos, o PCA da LAM, Eng. José Viegas, defende que «o bom ambien-te de negócios em Moçambique e as exce-lentes potencialidades turísticas, aliadas à melhoria substancial, que se verifica na qualidade das infraestruturas de acolhi-mento e suporte aos turistas, são uma ex-celente oportunidade para dinamização de um maior fluxo de visitantes».A LAM esteve presente na BTL – Feira In-ternacional de Turismo de Lisboa (23 - 27 de Fevereiro de 2011) com stand próprio para estar mais próxima dos clientes do mercado português e europeu, a promo-ver a sua operação intercontinental, assim como os voos regionais e domésticos.

55COMUNICADO

março 2011 revista capital

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revista capital março 2011

Entreposto adere à moçambicanidade, mas investe em mercados externos

Arsénia Sithoye [texto] . Sérgio Costa [foto]

S eis empresas pertencentes ao grupo entreposto adquiriram o selo Made In Mozambique, num acto que visa enaltecer e valorizar

os produtos e serviços prestados por este grupo, que nasceu e se internacionalizou a partir de Moçambique.

O grupo engloba empresas como a Moçambique Industrial, Toyota de Moçambique, Moçambique Florestal, Ser-visis Moçambique, Carpremium e Nyala Safaris, que actuam em diferentes tipos de actividades, sendo a do ramo automóvel mais conhecida devido à destacada posição de liderança que assume no mercado.

A Moçambique Industrial dedica-se à gestão de plantações florestais e de aproveitamento de transformação de ma-deira do eucalipto para a produção de postes de madeira, que servem entre out-ras aplicações para a electrificação e para a produção de travessas para as linhas fér-reas. A empresa possui uma unidade in-dustrial em Dondo onde dispõem de uma estação de tratamento de madeira, que, neste momento, é a única em funciona-mento em Moçambique.

Para além de levar a electricidade a uma parcela cada vez maior do território e da

população, a Moçambique Industrial ex-porta parte da sua produção para países vizinhos como a África do sul, a Suazilân-dia e o Botswana, o que segundo o presi-dente do Grupo Entreposto de Moçam-bique, Nuno de Sousa, contribui para a balança comercial de Moçambique, para as receitas do Estado, além de possibilitar a substituição da importação.

A Nyala Safaris actua no ramo do turis-mo e é uma empresa cuja actividade está focalizada essencialmente na captação de clientes estrangeiros e que, em paralelo, assegura uma estância turística susten-tável que se dedica à caça.

Grupo aposta nos recursos nacionais

«Estas duas empresas são, a nosso ver, dois bons exemplos pois o Grupo utiliza recursos locais, materiais e humanos, promovendo de uma forma relevante a criação de valor acrescentado e o desen-volvimento regional, sendo que contribui em simultâneo para a redução do défice da nossa balança comercial», sublinhou Nuno de Sousa.

Com instalações em quase todas as capi-tais provinciais, o grupo actua igualmente

em áreas de serviços como o aluguer de viaturas, gestão de frotas e tecnologias de informação, empregando no conjunto das suas actividades 1.022 colaboradores, dos quais cerca de 75% (mais precisamente 655 colaboradores) desenvolvem activi-dades fora da província de Maputo.

O grupo tem como visão para o futuro a consolidação e sustentação da posição que detém na área automóvel e para o efeito está em concepção, até 2015, um plano que passa pelo investimento de 1 milhão de dólares no reajustamento de equipa-mentos, 100 milhões de dólares para in-stalações e construções, e 300 mil dólares serão alocados para os programas de for-mação.

«Estamos com expectativas positivas em relação a Moçambique e queremos crescer. Queremos também explorar a oportunidade de entrada em negócios emergentes no sector de serviços, e de en-ergias, e desenvolver a componente imo-biliária», revelou aquele representante.

De referir que de Moçambique o Grupo Entreposto expandiu-se para Portugal, Brasil e Espanha, actuando nesses países em diversas áreas de actividade.c

EMPRESAS ENTREPOSTO56

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buSINESS bREAKfAST

A CCMP – Câmara de Comércio Moçam-bique Portugal organiza, por ocasião da visita a Moçambique da AES – Associação Empresarial Sines, de Portugal, um Busi-ness Breakfast, no dia 14 de Março, pelas 8h30, em data, hora e local ainda por con-firmar, subordinado ao tema “Oportuni-dades de Investimento no Mercado Moçambicano”.Participarão no evento outras instituições como a CTA – Confederação das Associa-ções Económicas de Moçambqiue, CPI – Centro de Promoção de Investimentos, GAZEDA – Gabinete paras as Zonas Eco-nómicas de Desenvolvimento Acelerado e Conselho Municipal da Matola.A AES far-se-á representar com cerca de oito empresas que actuam nas áreas de Consultoria, Formação, Distribuição, Obras Públicas, Turismo e Limpeza Indus-trial, entre outras.

A CTA Em NAIRObI

A CTA participou, no dia 22 de Feve-reiro, em Nairobi, na reunião anual do «East and Southern African Busi-ness Membership Organisation Ne-twork» (ESA BMO) que congrega dez pa-íses, representados pelas organizações do Sector Privado como a CTA. A reunião tinha como objectivo a aprova-ção dos trabalhos efectuados pelo grupo durante o ano 2010 nas áreas seguintes: (i) Melhoria da cadeia de valor no agro-negócio; (ii) Melhoria da administração fiscal; (iii) Harmonização dos procedimentos fronteiriços; (iv) Combate à contrafacção e comércio ilícito. Esses trabalhos servirão de base de diálo-go com o Governo de cada país.Para obter mais informações, visite o por-tal: www.esabmonetwork.org.

CÓdIGO SObREGOvERNAÇÃOCORPORATIvA

O Instituto de Directores de Moçambique, uma instituição com a qual a CTA tem parceria, informa que já está à disposição no portal: www.iodmz.com, o projecto do Código sobre Governação Corporativa de Moçambique. O mesmo descreve os prin-cípios que asseguram a sustentabilidade, transparência e eficácia das empresas mo-çambicanas. O código foi desenhado de modo a que seja implementado em todo o tipo de organizações.

vISITA dA EQuIPATÉCNICA dA INdONÉSIAA mOÇAmbIQuE

No quadro da cooperação bilateral entre a República de Moçambique e a República da Indonésia, uma equipa técnica daquele País pretende visitar o nosso País entre os dias 16 e 19 de Março corrente, acompa-nhada por empresários que manifestam o interesse de investir em Moçambique nas áreas de produção de arroz, exploração de gás natural, desenvolvimento de parques industriais, entre outras.

"dOING buSINESSWITh AfRICA"

A Primeira Conferência Internacional de Parcerias Comerciais irá ter lugar em Te-

nerife - Ilhas Canárias, do dia 29 de Mar-ço a 1 de Abril. A mesma reunirá oficiais séniores do sector privado e público afri-canos, norte-americanos, europeus e asi-áticos, com interesse em investimento e crescimento no continente africano.As empresas interessadas devem-se regis-tar até ao dia 28 de Fevereiro no endereço: http://www.cvent.com

CTA REÚNE CEN

No âmbito das actividades do Conselho Empresarial Nacional, que preconizou, dentre outras, a realização de encontros trimestrais, a CTA organizou um encontro, a ter lugar no dia 4 de Março próximo, às 8 horas, no Hotel Polana que contou com a presença da Ministra dos Recursos Mine-rais. Refira-se que dois pontos de agenda marcaram o encontro, designadamente: Actividades e funcionamento do CEN e apresentação das oportunidades de negó-cio no sector dos recursos minerais.

57SECTOR PRIVADO CTA

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revista capital março 2011

Relação com a China é “péssima” para a indústria brasileira

A Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) considera que a relação do Brasil com a China é importante, mas “péssima” do ponto de vista industrial.

Segundo o director do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, o Brasil registou no ano passado o maior défice com o país asiático em ma-nufacturados - 23,5 mil milhões de dólares (17,6 mil milhões de euros), o que repre-sentou um aumento de 60% face a 2009.

No total, o Brasil teve um saldo positivo de 5,2 mil milhões de dólares (3,9 mil mi-lhões de euros) no comércio com a China em 2010, mas, segundo Giannetti da Fon-seca, este resultado deveu-se à alta expor-tação de produtos básicos e à alta nos pre-ços internacionais.

No sector de manufacturados, o défice com a China “vem crescendo de forma devastadora”, adverte o director da Fiesp. De acordo com Giannetti da Fonseca, em 2003 o saldo negativo neste sector com a China era de 600 milhões de dólares (450 milhões de euros).

A Fiesp destacou ainda que, além do défice recorde nas manufacturas, o país asiático manteve-se, pelo segundo ano consecutivo, como o maior destino das ex-portações brasileiras, recebendo 15,2% de toda a venda brasileira ao exterior.

«Nesta relação bilateral, o desequilíbrio nas trocas comercias é evidente. Enquan-to 97,5% das importações brasileiras da China foram de bens manufacturados, apenas 5% das exportações brasileiras são provenientes deste sector», salienta a Fiesp.

Os dados do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp revelam que o preço médio dos bens vendidos pela China ao Brasil é significa-tivamente inferior ao valor importado do restante do mundo, o que gera um dese-quilíbrio no comércio mundial.

«Dos 20 maiores produtos importados da China pelo Brasil, 16 deles têm o preço bem inferior à media mundial. Em produ-tos como lâmpadas, faróis e tubos eléctri-cos, a diferença chega a 90%», exemplifi-ca a Fiesp.c

«Nesta relação bilateral, o desequilíbrio nas trocas comercias é evidente. Enquanto 97,5% das importações brasileiras da China foram de bens manufacturados, apenas 5% das exportações brasileiras são provenientes deste sector»

NEGÓCIOS BRASIL58

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www.prime-consulting.org

59ESTIILOS DE VIDA

O início deste ano tem sido mar-cado por notícias sobre a agi-tação social em vários países africanos e do Médio Oriente.

Costa do Marfim, Tunisia, Egipto, Líbia, entre outros. Quase todos eles marcados por regimes políticos que estão no poder há décadas. Apanhados praticamente de surpresa por movimentos sociais baseados na Internet, onde a velocidade de comuni-cação é infinitamente superior aos meios de comunicação tradicionais graças à dis-seminação dos telemóveis. O sucesso das várias demonstrações populares inspira

movimentos em quase todo o mundo e sente-se o nervosismo, pois os diversos sistemas políticos não têm capacidade de resposta suficientemente rápida para re-solver os problemas actuais da população. No canal Euronews, Armando Emílio Ge-buza, Presidente da República de Moçam-bique, deu uma entrevista onde aponta o diálogo como uma das soluções para a resolução das várias crises que existem no contexto do continente.

Há dias, a estatística sobre o turismo moçambicano, um dos sectores estraté-gicos onde a imagem para o exterior é

fundamental, mostrou um decréscimo em relação ao ano anterior. Não será al-heia a estes números a agitação social dos primeiros dias de Setembro de 2010, tal como os dias de revolução que levaram à deposição de Mubarak no Egipto irão in-fluenciar negativamente os números do turismo do país das pirâmides... mas, com certeza, outros países verão os números das suas estatísticas turísticas subirem se se mostrarem como uma alternativa ca-paz... usando de forma inteligente a velo-cidade das redes sociais.

Rui Batista na b

oca

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O problema da solução

F alar de Fela Kuti é falar do Afro-beat, um estilo que criou, tocou, cantou e vibrou, numa fusão complexa entre o jazz, o funk , o

rhythm’n’blues e os milenares ritmos de África Ocidental. Com o saxofone de Kuti em primeiro plano, fazia-se acompanhar (em verdadeiros transes musicais) por um coro feminino, inúmeros instrumentos de sopro, e claro, por uma incrível percussão.

Fela não foi apenas um músico. Ele foi compositor, activista dos direitos huma-nos e um feroz crítico da classe política do seu país. Ele arrastou um mar de admira-dores, quer pela sua música vibrante, quer pela mensagem contida nas suas letras.

Considerado por muitos um dos maiores músicos de África, Fela Anikulapo Kuti é originário da Nigéria. Nasceu em 1938 no seio de uma familia da classe média, onde desde muito cedo foi influenciado pela música e pela política. A sua mãe foi a primeira mulher nigeriana a conduzir um automóvel e foi uma activista feminista contra o colonialismo. O seu pai, pastor da Igreja Protestante, era por sua vez um excelente pianista.

Em 1958, rumou para Londres com o ob-jectivo de estudar medicina, mas a paixão pela música revelou ser maior e enveredou pelo estudo da mesma, formando em 1961 a sua primeira banda, os Koola Lobitos, que depressa se tornou uma presença as-sídua na noite londrina.

Mais tarde, em 1969, ao fazer um tour pelos EUA, depara-se com movimentos intelectuais e líderes negros que marca-ram a época, como Malcom X, os Panteras Negras, assim como outros defensores do Afrocentrismo. É então que desperta para a política e decide mudar o rumo da sua carreira, primeiro alterando o nome de

Koola Lobitos para Nigeria70 e, segun-do, tornando o seu som num meio para veicular mensagens políticas de crítica no seu país. Em pouco tempo, torna-se num verdadeiro êxito, sendo que os seus maiores fãs pertenciam à classe mais po-bre da Nigéria. Tudo porque Fela torna-se na voz do povo ao criticar abertamente o governo. Este incomodado com a sua mú-sica, tentou por diversas vezes silenciá-lo, prendendo-o, agredindo-o, sem no entan-to o conseguir calar.

Faleceu a 2 de agosto de 1997, vítima de Sida. Mais de um milhão as pessoas que

assistiram ao seu funeral e embora ausen-te, Fela ainda se mantém como o expoente máximo do Afrobeat no cenário musical.

Deixou no seu legado uma vasta obra com mais de uma centena de discos, pois recusava-se terminantemente a tocar a sua música depois de a gravar.

Fela Kuti é um fenómeno. Sugiro a quem o deseje conhecer melhor um documentá-rio de 1982 intitulado “Music is the Wea-pon”. Trata-se de um registo que ilustra de forma crua e dura toda a sua vida.

Sara L. Grosso

O último rebeldeFela Kuti

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ESTILOS DE VIDA60

O objectivo deste livro, com a chancela da editora Círculo de Leitores, é prover os gestores dos principais vectores de actu-

ação num processo de internacionalização em África. Esta análise, que se pretende objectiva e pedagógica, é também uma se-rena apologia de esperança no continente africano.

Actualmente, Angola procede a fortes investimentos em Portugal ao passo que a comunidade lusa investe esforços no ter-reno dos PALOP. Nesta sua démarche, o autor Rui Moreira de Carvalho, que hoje é assessor da Administração da Caixa Ge-ral de Depósitos, procurou “simplificar e sistematizar a informação disponível, particularmente referente à denominada economia real, ou seja, promover a com-

preensão da realidade africana”. O autor alia a sua experiência de gestor

em Portugal, Brasil e Moçambique a uma vertente académica e de investigação, fac-to que abre o arco da pesquisa e que lhe permite reflectir sobre os fundamentos para se competir no mundo.

Ao mesmo tempo, esta obra constitui um contributo relevante para o apetrecha-mento dos quadros dos países africanos e dos gestores de empresas que já estejam ou venham a trabalhar em ou com África. Segundo o ex-ministro Mira Amaral, tra-ta-se de «um livro de leitura obrigatória para quem se interessa pela problemática de desenvolvimento socioeconómica afri-cana no contexto da economia global em que vivemos.»

Compreender + África

gale

ria

• Exposição Fotográfica de Mário Macilau De 23 de Fevereiro a 05 de Marco de 2011 Mediateca do BCI, Espaço Joaquim Chissano

E steve patente na Mediateca do BCI - Espaço Joaquim Chissano, a segunda exposição individual de 2011 de Mário Macilau – Life

goes on. Resultado de um projecto de dois anos, a colecção de fotografias em exposi-ção trazem ao público cenas do quotidiano das pessoas que vivem na e da lixeira do

Hulene, nos arredores de Maputo.Retrato de uma dura realidade, a exposi-ção de Macilau não pode deixar de impres-sionar. Único destino do lixo produzido por Maputo, a lixeira a céu aberto garan-te a subsistência de mais de 200 pessoas, seja através da separação e venda de reci-cláveis ou da própria utilização do que é

comestível e usável. Numa homenagem à comunidade que vive do Hulene, Macilau fez deste um projecto especial, mostrando uma abordagem sensível de um cenário pesado. As fotografias de Macilau, reuni-das pela primeira vez em exposição indi-vidual, são acima de tudo sobre pessoas. Pessoas que nos comovem pelo que tra-zem à sua volta e carregam consigo.Mário Macilau nasceu e vive em Maputo. Autodidacta, começa a fotografar em 2007 quando troca o telemóvel da sua mãe pela sua primeira máquina fotográfica. Recen-temente, representou Moçambique no VI Festival Internacional de Fotografia em Bangladesh. Actualmente, é artista em re-sidência no Bag Factory, em Joanesburgo e finalista do BESphoto 2011, no Museu Colecção Berardo em Lisboa. Tem parti-cipado em diversas exposições colectivas e festivais nacionais e internacionais. En-tre outros prémios recebeu uma Menção Honrosa pelo Museu Nacional de Arte de Maputo (2009), o 1.° Prémio da revis-ta sul-africana Amandla, (2009), e mais recentemente, em 2010, o 2.° Prémio do Centro Cultural Franco Moçambicano (Mulheres e Fronteiras), e o 2.° Prémio The Courrier Internacional.

Rita Neves, Fundação PLMJ

Life goes on

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Chevrolet e seus baixos consumos em exibição

auto

O Grupo Entreposto Comercial lançou no mercado nacional, o automóvel da marca a Chevro-let, reconhecida mundialmente

como a quarta maior marca automóvel.No acto do lançamento da marca, o pre-sidente do Grupo Entreposto Comercial de Moçambique, Nuno Sousa, disse que «Esta era a única marca de viatura que faltava estar representada em Moçambi-que. Os nossos automóveis são conhecidos pelo excelente design, qualidade compro-vada e pelos preços surpreendentes, que procuram mudar as regras do mercado. Não ficam por aqui, os modelos Chevrolet representam um excelente investimento para os seus proprietários.Nuno Sousa garantiu que o automóvel foi fabricado segundo os mais elevados pa-drões de referência, proporcionando fiabi-lidade durante anos. «No entanto, no caso de qualquer imprevisto, existem serviços, sem custos adicionais», afirmou.A Chevrolet diz oferecer pacotes de finan-ciamento adequados às necessidades de clientes, que poderão ser encontrados nos distribuidores autorizados. Os represen-tantes da Chevrolet consideram este veí-culo um dos mais económicos do mercado em termos de consumo de combustível, gastando em média, 5 litros aos 100 qui-lómetros.

ESTILOS DE VIDA . AUTO

março 2011 revista capital

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revista capital março 2011

VISÃO62

Egipto e o paradoxo da democraciaDiogo Costa* [texto]

P arece ser traço definidor do es-pírito dos tempos do debate político contemporâneo que os intelectuais públicos sacrifi-

quem princípios doutrinários, filosóficos ou religiosos em favor de posicionamentos baseados na estrutura de poder geopolíti-ca. Em vez das acções dos governos serem influenciadas pelo que dizem os intelectu-ais públicos, são os intelectuais públicos a serem influenciados pelas acções dos go-vernos.

O dado que um intelectual é de direita ou esquerda não basta para informar se, em uma transição aleatória do autoritarismo para a democracia, o intelectual estará ao lado dos revolucionários ou se favorecerá a manutenção do regime.

Por exemplo, quando o governo america-no tenta interferir nos governos da Améri-ca Central, as esquerdas latino-americanas denunciam a violação da autodetermina-ção dos povos. Mas quando é Hugo Chaves quem tenta manipular o desenvolvimento político de um país da América Central, a esquerda prontamente justifica sua actua-ção como legítima e em favor dos interes-ses reais da sociedade.

Fiz este preâmbulo geral para discutir o caso do Egipto em particular. Quando Sa-ddam Hussein foi derrubado pelo governo dos Estados Unidos, a direita lembrou de sua perversidade e de como seu governo violava os direitos humanos mais bási-cos. Mas quando é um aliado americano que está para cair, a direita já fala logo de instabilidade, caos, e prevê o declínio da sociedade egípcia assim que a oposição chegue ao poder. Por outro lado, esquer-das que agora comemoram a saída de um líder antidemocrático desculpavam os cri-mes de Ahmadinejad (e, por tabela, o líder supremo Ali Khamenei) por sua veemente oposição aos Estados Unidos.

Os intelectuais públicos devem prezar pela consistência filosófica, mesmo quan-do ela contradiz sua fidelidade geopolítica.

No caso particular do Egipto, é facto que Hosni Mubarak tipifica um ditador a ten-tar perpetuar a sua linhagem hereditária no poder. É compreensível que o povo egípcio lute pela queda de um líder que manteve o país na pobreza e sem o direito de abrir a boca para reclamar.

Mas, é claro, as coisas sempre podem piorar. Uma mera oposição a determinada ditadura não faz de um grupo necessaria-mente uma força pela democracia. Fidel Castro e Che Guevara não eram uma força democrática na Cuba de 1959. Tampouco a oposição a Getúlio Vargas colocava os in-tegralistas dos anos 30 em comunhão com os ideais democráticos.

Não há, de facto, certezas sobre o futuro de um Egipto pós-Mubarak. Apesar do te-mor que seu nome desperta, há ambigui-dade de expectativas quanto ao possível governo da Irmandade Muçulmana. Por um lado, não restam dúvidas que líderes da Irmandade se vêem como agentes de um processo jihadista contra o Ocidente. Mas a Irmandade muçulmana não é um movimento monolítico, nem sem qualquer esperança. Em anos recentes, a Irmanda-de foi criticada por outros grupos radicais islâmicos pela sua moderação. O Centro de Mídia Al Fajr, a principal rede de divul-gação da Al Qaeda, recentemente declarou que “A Irmandade Muçulmana pensa que a democracia é o caminho a ser tomado para a mudança, enquanto os grupos jihad acreditam que o caminho é através da jihad”.

Jihadistas ou não, ainda se deve conside-rar o facto de que o poder da Irmandade pode não ser tão grande quanto se imagi-na. Realmente, eleições abertas provavel-mente aumentariam a sua participação no governo, mas até isso é discutível. Muba-rak proibiu toda a oposição que pudesse ameaçar o seu poder. A Irmandade é o único grupo de oposição permitido pelo governo egípcio. As manifestações da Ir-mandade eram usadas por Mubarak como argumento a favor de sua permanência: ou ele, ou a jihad.

Comparada à possibilidade de um es-tado jihadista, a ditadura de Mubarak parece um refúgio dos direitos humanos. Mas a comparação é falsa, porque não se conhece exactamente qual é a real menta-lidade da oposição egípcia. E a esperança de um governo moderado com certo grau de pluralismo e liberdade não é descabida. Justificar a permanência de um ditador no poder porque “poderia ficar pior” justifi-caria também a permanência de Saddam Hussein.

O que os entusiastas das revoluções do mundo árabe não podem ignorar é que o sucesso ocidental não existiria sem o cons-titucionalismo democrático. A soberania popular não pode significar a soberania ilimitada da maioria, ou dos grupos que conseguem fazer-se representar maiorita-riamente num governo. Um estado em que homossexuais são punidos com a morte, mulheres são espancadas, não-religiosos e cristãos são perseguidos e organizações terroristas recebem dinheiro público, não pode entrar no mesmo elenco das demo-cracias ocidentais.

As ameaças para a segurança de outros países sempre figuram em análises polí-ticas. Mas qualquer avaliação das pers-pectivas para o Egipto precisa lembrar os princípios constitucionalistas que permi-tem às democracias ocidentais um grau de liberdade e prosperidade sem igual na his-tória humana. A soberania popular requer limites constitucionais que a precedam. Esse é o paradoxo da democracia. Com-preendê-lo é papel dos cientistas políticos. Infelizmente, eles estão mais interessados em reagir à posição egípcia em dinâmicas geopolíticas do que preocupados com o bem-estar da sociedade egípcia e socieda-des vizinhas.c

* Editor de Ordem LivreFonte: ordemlivre.org

«Não há, de facto, certezas sobre o futuro de um Egipto pós-Mubarak. Apesar do temor que seu nome desperta, há ambiguidade de expectativas quanto ao possível governo da Irmandade Muçulmana. Por um lado, não restam dúvidas que líderes da Irmandade se vêem como agentes de um processo jihadista contra o Ocidente. »

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