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Revista científica da Associação de defesa, promoção e acesso a Cultura e Educação Narrativa da
Imaginação, voltada à análise de experiências e pesquisas sobre role playing.
EDITOR-CHEFE RESPONSÁVEL
Ms. Rafael Correia Rocha – Universidad Columbia del Paraguay
EQUIPE EXECUTIVA
Ms. Rafael Correia Rocha – UCP
CONSELHO CONSULTIVO
Pedro Gustavo Silva Ribeiro – UFU
Dr. Tulio Barbosa – UFU
Rafael Carneiro Vasques - UNESP Araraquara
COLABORADORES EXTERNOS
Jaime Daniel Cancela
Rafael Carneiro Vasques
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS A NOSSOS PADRINHOS E MADRINHAS
Wanderlei Corrêa dos Santos Júnior
https://www.padrim.com.br/MaisDados
ENTREVISTAS: Rafael Carneiro Vasques
TRANSCRIÇÕES: Rafael Correia Rocha
REVISÃO: Rafael Correia Rocha e Rafael Carneiro Vasques
DIAGRAMAÇÃO: Rafael Correia Rocha
FORMATAÇÃO: Rafael Correia Rocha
CAPA: Rafael Correia Rocha
BANCO DE IMAGENS: fornecido por Rafael Carneiro Vasques
PERIODICIDADE: eventual (Edição especial)
INDEXADORES: Sumários.org e Latinex
DISPONÍVEL EM: http://www.narrativadaimaginacao.org.br/home/revista
CORRESPONDÊNCIA
Narrativa da Imaginação
Rua Quintino Bocaiúva, 2801 – B. Lagoinha - CEP 38400-544 – Uberlândia/MG
E-mail: [email protected]
MAIS DADOS é uma publicação virtual e impressa Narrativa da Imaginação.
Número editado pela mesma em fevereiro de 2018
R349 Revista Mais Dados – Ano 5, v. 1 (2018) -
Uberlândia, MG: Narrativa da Imaginação, 2015.
v. : il. ; 15 cm.
ISSN: 2358-1301.
1. Entrevista 2. Jogos 3. Role-playing game (RPG) I.
Título
CDD 794
CDU 79
Apresentação
“Nós somos um fluxo, como o sopro através de uma flauta, ou o
sangue percorrendo nossas veias. A forma da nossa alma controla o
fluxo e a melodia gerada pela nossa circulação através de nossa é a
nossa memória” Douglas Quinta Reis
Esta é a primeira edição especial da revista, feita não baseada em um tema, mas em uma
pessoa, Douglas Quinta Reis, sócio fundador da Editora Devir, uma pessoa que teve um
impacto profundo na história do RPG no Brasil e influenciou Portugal, Itália, Espanha entre
outros países da América Latina. Esta edição é baseada na última entrevista do Douglas
para o público RPGista, realizada por Rafael Carneiro Vasques, quem vem desde 2016
produzindo uma série de entrevistas com figuras do RPG nacional e também acompanhou
o projeto do ultimo RPG em que Douglas estava trabalhando.
Seu falecimento ocorreu em 13/10/2017, por infarto fulminante aos 63 anos, foi noticiado
pelo Estadão, Isto é, Folha, Portal imprensa, O Tempo, RPG Notícias, entre outros, ao
mesmo tempo ocorreu uma comoção diante da comunidade RPGista, orientada por Jaime
Daniel Cancela, para lembrar do dia de nascimento, 24/02/2018, como um dia que
marcado no agora e no devir como Dia nacional do RPG.
A Revista Mais Dados, sente profundamente a passagem do amigo Douglas, e o
homenageia nesta Edição como manifestação de nossa admiração pelos grandes feitos e
por ser esse sujeito que de maneira simples e divertida, trabalhou com o que amava e
afetou positivamente a vida de milhares de pessoas nos últimos 30 anos.
Rafael Correia Rocha
Editor Chefe
SUMÁRIO
Estudos sobre RPG: História do RPG no Brasil. Devir Livraria: Parte 1 | página 6
https://www.youtube.com/watch?v=b38y-KrKeNE&t=12s Por Rafael Carneiro Vasques
Estudos sobre RPG: História do RPG no Brasil. Devir Livraria: Parte 2 | página 17
https://www.youtube.com/watch?v=pvm0mD18LS8&t=25s Por Rafael Carneiro Vasques
Estudos sobre RPG: História do RPG no Brasil. Devir Livraria: Parte 3 | página 28
https://www.youtube.com/watch?v=KQfWNI977Os&t=30s Por Rafael Carneiro Vasques
Estudos sobre RPG: História do RPG no Brasil. Devir Livraria: Parte 4 | página 38
https://www.youtube.com/watch?v=O9w-k44UwYE&t=724 Por Rafael Carneiro Vasques
O último RPG de Douglas Quinta Reis | página 49
Por Rafael Carneiro Vasques
Últimas palavras de um velho alquimista | página 52
Por Jaime Daniel Rodríguez Cancela
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Rafael - Bom. Olá, meu nome é Rafael e hoje nós vamos iniciar algumas entrevistas né,
pra gente recontar ou buscar a história do RPG no Brasil... O nosso primeiro programa de
entrevistas, de conversas, vai ser com Douglas Quinta Reis, fundador da Devir né. Então,
antes de mais nada... primeiro, Douglas, muito obrigado!
Douglas – Imagina, eu que agradeço.
Rafael - Eu o conheço há 22, 21 anos?
Douglas - Mais ou menos... bastante [risos]!
Rafael – Uns vinte anos já...
Douglas – Por aí...
Rafael – Então o Douglas então, ele é o fundador, um dos fundadores de uma editora que
afetou, alterou a vida de muita gente, e eu queria então [fazer] a primeira pergunta ao
Douglas que é: O que ele... como surgiu a Devir? Qual foi a origem da Devir? Quem criou,
porque criou? Então, por favor...
Douglas - Hum... A origem... A Devir nasceu de um acidente, basicamente né. Os
fundadores da Devir todos trabalhavam com computação e todos gostavam de história em
quadrinho. E uma vez, um dia a gente conversando, eu e o Mauro, nós saímos para
almoçar... e chegamos à conclusão de que “putz, por que a gente não pode abrir uma loja
pra vender gibi usado?” Porque era uma coisa que nos atraía. E lembro que a gente saiu
daquele almoço e passamos numa loja de livros usados e compramos um monte de
histórias em quadrinhos, uma sacola mesmo... “Esse é o começo! Vamos trabalhar...”. E aí
alguns dias depois a gente chegou e “putz, porque ao invés disso não passamos a
importar gibi, né. Tenho amigos que se reúne no centro todo sábado no Centro Cultural”
(chamava “alguma coisa HQ” lá, não sei...) “Que discute história em quadrinho e é difícil ler
porque tem sequência e as importadoras não se preocupam com a sequência...” E a gente
começou a Devir, basicamente, para prestar um serviço que a gente gostaria de ter. E aí
em 87 a gente registrou a Devir né, e começou a importar histórias em quadrinho.
Basicamente, tentando garantir que uma pessoa que estivesse lendo uma história que
tinha sequência, que ela consiga ler o número oito, ler o número nove, ler o número dez...
Rafael - Porque no Brasil não era uma época... em que...
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Douglas – Não, não... Não era. Tinha poucas importadoras, acho que tinha só a Siciliano
que importava revistas de fato, e aí você conseguia encontrar na Siciliano, lá na Laselva e
alguns dos lugares que a Siciliano distribuía... quadrinho americano né. E a Leonardo da
Vinci importava quadrinho italiano e francês, então você encontrava em uma livraria
francesa, mas era uma coisa completamente aleatória, se encontrava... alguma coisa.
Rafael – Entendi. E como foi o contato com RPG? Parece que foi uma coincidência.
Douglas – Ah... Claro que a gente não comprava gibi da Marvel nem da DC, naquelas
quantidades que a gente importava, a gente comprava de um distribuidor, né. E pra nossa
sorte o distribuidor não trabalha só com aquilo que você quer, ele trabalha com outras
coisas. E a gente começou a importar outras coisas né... a gente importava uma revista de
estratégia chamada “Strategies and Techniques” que trazia jogos de tabuleiro, jogos de
estratégia, simulação. E a gente começou a importar revista Dragon, revista Dungeon,
começou a importar ficção científica... e um dia apareceu lá uma series de romances... do
George Martin inclusive, ele era o organizador.
Chamava Wild Cards, tinha sido publicada uma série nos Estados Unidos, outra série
estava sendo publicada na Inglaterra. E a série da Inglaterra, em particular, tinha capa do
Timothy Truman, que era um cara de quem a gente gostava muito... isso interessou para
importar aquilo lá. E a gente tinha um boletim chamado ”Recado” e... a gente queria
colocar alguma informação sobre os livros, a gente colocava antes das pessoas pedirem.
Eu sabia muito pouco sobre o George Martin, quem era, o que era Wild Cards, e a gente
foi procurando informação. Não tinha internet... fax já era uma coisa rara.
Então a informação era bastante restrita nesse aspecto, não era fácil. E a gente acabou
descobrindo que tinha um jogo baseado no Wild Cards. E a gente entrou em contato com a
editora e uma pessoa lá, muito simpática, nos mandou uma caixa de livros de GURPS. A
gente sabia um pouco de RPG antes... e GURPS foi uma coisa interessante né,
principalmente porque ele permitia que a gente fizesse... ele não era uma limitação. Bom, a
gente escreveu o boletim, publicou, vendeu os livros do Martin... E quando a gente decidiu
fazer o RPG, em 90 né, a gente teve muita discussão né, de “o que é que nós vamos
fazer?”.
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E tinha lá a opção de fazer o RPG do Batman que era da Mayfair1, tinha a opção de fazer o
Star Wars, que era de alguém lá... não vou lembrar...
Rafael - West End... não era?
Douglas – West End Games! E... eu sugeri [fazer] GURPS, porque assim... Eu achava que
qualquer cenário pré-definido era uma limitação. Não é porque eu gosto de Batman que eu
vou jogar RPG. RPG era uma coisa completamente desconhecida. Era a mesma coisa que
falar assim “Ah... vamos compor samba” e fosse pra Noruega e falasse “vamos compor
samba!”...
Rafael - [risos]
Douglas - Os caras não têm ideia do que é aquilo! Podem até gostar de música, mas...
Então, a gente ia propor uma atividade que precisava do maior número de pessoas pra
fazer ela funcionar, então qualquer limitação que eu colocasse no meio do caminho... “ah,
se o cara não gostar de Batman ele não vai fazer, ou se ele não gostar de Star Wars ele
não vai fazer”. Hoje em dia todo mundo gosta de Star Wars...
Rafael - [risos]
Douglas – Mas é... Então a gente acabou optando pelo GURPS porque era o único que
não tinha um cenário atrelado. Mas eu andei pra frente... Vou ter que voltar pra trás.
Porque a gente foi fazer isso? Porque a importação da revista Dugeons e da Dragons,
levou a gente a conhecer um monte de gente que jogava Dungeons & Dragons. E a gente
passou a importar Dungeons & Dragons, principalmente a caixa vermelha. A gente chegou
a uma vez fazer um pedido pra TCR, pra mandar 50 caixas toda semana. Toda semana
chegava 50 caixas... Independente do que a gente falasse, sim ou não, vinha 50 caixas.
Rafael – E vendia as 50?
Douglas – Vendia... vendia. Tinha muita gente no Rio de Janeiro que jogava Dungeons &
Dragons. Muita, muita.
Rafael - Mais no Rio do que em São Paulo?
1 Mayfair Games, editora. http://www.mayfairgames.com
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Douglas – Mais no Rio que São Paulo. Esse pessoal vinha do intercambio né, o pessoal ia
morar um ano em algum lugar da América do Norte e voltava sabendo jogar RPG, e aí os
caras ensinavam os amigos, e aí precisava de material...
Rafael - Era questão de geração Xerox também né?
Douglas – É, é... muita gente fazia cópia, xerox... O que ajudou a disseminar né. Mas a
gente passou a importar com regularidade e aí bateu aquela coisa assim... “putz, isso
aqui... 200 páginas em inglês exigem um bocado de trabalho do cidadão... em outra língua
ainda. E aí, pra isso crescer e virar de fato um negócio, eu preciso [de uma versão] em
português”. E aí a gente precisou escolher um, e aí começou a discussão... Batman, Star
Wars, ou sei lá o que. Tinha o MERP2, que era Senhor dos Anéis, que na época era uma
coisa bem pouco conhecida. Tinha uma edição ruim da Art Nova né... E então a gente
optou pelo GURPS.
Rafael – Depois que a gente... Assim, saiu o GURPS, começou todo um trabalho né de
divulgação... E eu lembro até hoje que quando eu tive contato com o GURPS eu vi o
T.W.E.R.P.S.3, era um encartezinho... era umas oito páginas...
Douglas - Eram mais, eram umas 24 páginas. [risos]
Rafael – [risos] Tá... mas, agora de memória... Mas era muito simples, ao mesmo tempo
em que foi muito importante, assim, pra aprender a jogar a mecânica, também era genérico
né...
Douglas – Essa é uma sina nossa...
Rafael – E como foi essa seleção... Ah, vamos trazer esse, vamos trazer o Vampiro,
quando começa a...
Douglas – Quando começou a abrir? Bom, um por vez né... eu acho que o GURPS vem
antes do Vampiro né. GURPS no caso foi uma brincadeira. Quando a gente começou a
organizar o primeiro encontro internacional, o Tadeu comentou “a gente podia fazer
2 MERP, ou Middle-Earth Role Playing.
3 T.W.E.R.P.S., sigla em inglês para “O sistema de RPG mais fácil do mundo”. http://raccoon.com.br/2011/11/09/t-w-e-
r-p-s-disponivel-no-drivethru-rpg/
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alguma coisa para dar pros mestres de presente... Ah você vai lá mestrar? Então vamos
dar alguma coisa só pra quem mestrou”.
E a gente precisava de um RPG pequeno, e GURPS tinha duas coisas: era pequeno, era
simples, era genérico... e fácil de negociar. Era de uma empresa pequena chamada...
Game Silence? Eu não lembro mais o nome, acho que era Game Silence. Era de um
coronel americano, era maior fabricante de dados dos Estados Unidos na época. E aí a
gente conversou com ele e ele cedeu pra gente o GURPS. Mas como toda empresa
pequena nos Estados Unidos, o cara tinha um jogo, tinha uma arte pro jogo, mas a gente
não podia usar a arte em uma versão brasileira, porque não tinha comprado a arte do
artista, né. O cara tinha vendido a arte para aquela edição.
Então a gente negociou o GURPS por alguma coisa em torno de 100 dólares para publicar
no Brasil. E aí quem fez toda a arte do GURPS foi o Marcatti. Tudo que tem lá foi o
Marcatti que fez. Ele tem um traço...
Rafael – Muito característico...
Douglas – É, não... mas um traço meio que caricato também, que combinava com o senso
de humor do T.W.E.R.P.S. E a gente publicou em 93 para um encontro internacional. Era
mais uma coisa “vamos fazer uma coisa pequena...”. E aí, depois no Sampa4 isso virou
uma tradição, e a gente começou a publicar sempre um RPG pequeno em cada Sampa...
Rafael – Teve o Refrão por exemplo...
Douglas – Teve o Refrão... Teve o Mulheres Machonas, o segundo, o terceiro... e assim
por diante. Teve um monte deles. O Vampiro foi interessante, porque a gente queria
expandir, “e agora, pra onde a gente vai, né”. E quando a gente foi procurar Vampiro, ele já
tinha sido contratado por uma empresa em Portugal e era... o contrato era com a língua
portuguesa, então a gente não podia fazer, isso foi em... 92? 93, eu acho. A gente entrou
em contato com a White Wolf, “ah não, não pode”, foi exatamente em maio de 93, ou
junho. Mas... engraçado, e essa empresa tinha feito Battletech em Portugal né, e eles
entraram em contato com a gente através do Peter, da Forbidden5 e eles queriam o trocar
4 Encontro Sampa RPG
5 Forbidden Planet – loja de RPG.
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o GURPS pelo Battletech. A gente trocou 500 exemplares de GURPS, por 500 exemplares
de Battletech que era uma coisa... Foi a primeira vez que a gente importou um jogo de
tabuleiro, um jogo de miniatura. E a gente conheceu o dono da empresa lá, José de
Freitas, que depois virou sócio da gente em Portugal. E ele tinha contratado várias coisas
Car Wars, Battletech e Vampiro: a Máscara, depois ele acabou tendo um problema e
desistiu da empresa e então, tempos depois da gente saber que ele tinha comprado, ele
ligou em disse “olha, tinha o Vampiro, não quero mais. Vocês querem fazer?” E aí nos
cedeu o direito, inclusive a capa!
Rafael – Que já tinha [sido] elaborada...
Douglas – É... então vampiro foi uma novela que serviu pra conhecer o José de Freitas
direito e depois a gente fez uma sociedade juntos...
Rafael – E aí o Vampiro foi um estouro, não é?
Douglas - Vampiro foi um estouro, de fato, eu acho que até a terceira edição do D&D, eu
acho que tinha sido até a quarta, foi a coisa que a gente mais vendeu em toda a história.
Eu nunca fiz essa comparação, talvez ainda seja. Foi um estouro, Vampiro foi um
estouro... e ele não é um jogo de guerra, não é um jogo de horror, é um jogo de política... e
é uma coisa que brasileiro não gosta, bem por aí né... [risos]. Mas ele tinha uma vantagem
grande, ele fascinava as mulheres, então ele trouxe essa outra metade do publico que tava
alijada pelos jogadores em Dungeons & Dragons. As mulheres gostavam do tema e acho
que isso ajudou no sucesso, a disseminar bastante.
Rafael - Aí depois vocês publicaram alguns... Toons, Paranoia... alguns... Castelo de
Falkenstein, que foram alguns livros que vieram junto, né? Ou vocês...
Douglas – É, eram outras empresas né, que a gente conhecia... teve um momento que a
gente conhecia 100% da indústria do RPG né, autores, editores. E a gente foi fazendo
coisas pra, digamos assim, alargar a visão do jogador brasileiro. A gente poderia ter falado
assim “vamos publicar tudo que se fez de Vampiro, tudo que fez de GURPS e pronto”, mas
a gente achava que existia mais vida inteligente lá, e fomos escolhendo alguns pra fazer,
Refrão era engraçado, Paranoia era uma maneira diferente de jogar, Castelo Falkenstein
lindíssimo e tinha um sistema bacana, então a gente foi procurando outros RPGs...
Rafael – E aí foi abrindo o leque...
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Douglas – Foi abrindo o leque pra tentar...é.
Rafael - Uma coisa que me chama atenção... abriu muito o leque, mas tinha pouco
material nacional, teve... se a gente pensar os mini GURPS principalmente...
Douglas – principalmente.
Rafael - Curumatara, que é um livro jogo e etc... E a que se deu isso? Porque, no seu
entender?
Douglas – Veja, tem vários motivos, o principal eu acho é que a gente tinha um monte de
coisa pra publicar, tinha um monte de livro de Vampiro, e pensando no ponto de vista
estritamente comercial é muito mais prático publicar Vampiro, ou Mago, Lobisomem ou sei
lá o que, do que se dar ao trabalho de testar um sistema...
Rafael – Do que desenvolver uma marca, né?
Douglas – É... que testar um sistema né. Chega um camarada e fala “ah, eu criei um RPG
de...” sei lá o que, qualquer coisa que seja. Eu preciso testar um sistema, olhar um cenário,
isso exigia um tempo que a gente não tinha, né. Não era só uma questão de “um vai
vender mais do que o outro”, a gente não queria simplesmente publicar. “Chegou aqui, tem
uma coisa, vamos publicar”, não. A gente queria publicar uma coisa que tinha o mínimo de
qualidade, e testar, avaliar essa qualidade num RPG é uma coisa que demora. Eu
preciso... não é só ler, que teria que jogar um monte de vezes e falar “funciona ou não
funciona” e putz, a gente não tinha tempo. Tinha que ser uma empresa espartana. Não
tinha um monte de gente lá “Ahhh, vamos jogar!”. Nunca teve isso e não agora, nem pros
tabuleiros.
Rafael – Vocês jogam poucos jogos?
Douglas – Hoje em dia a gente joga um pouco mais. A gente sempre jogou né, sempre
jogou, mas...
Rafael – Mas nunca na quantidade...
Douglas – ...nunca na quantidade que a gente gostaria, com o tempo que a gente
gostaria. Aí uma pessoa que trabalhava com a gente e com o Tadeu, um americano que
conhecia RPG completamente, assim, que tinha sido criado com RPG, morava no
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Wisconsin, ao lado da Gen Con... então, ele sempre dizia “se você não é capaz de criar um
dragão melhor do que o da TCR, porque você vai publicar outro?”. Então se eu não tinha
nada melhor em horror do que Vampiro, porque eu vou criar uma outra coisa, semelhante
ou inferior àquela que eu já tenho? E eu acho que [ele] tinha razão. A gente tentou alargar
naquelas áreas em que não tinha nada, Toon ou Paranóia, mas naquilo que a gente tinha
alguém parecido, porque eu ia procurar algo inferior?
Rafael – [assente que sim] Bom... Você comentou sobre o Sampa RPG que depois virou
RPG SP, como que surgiram os encontros internacionais? Como foi a ideia, como foi o
desafio? O trabalho, né.
Douglas – Bom, outra vez né, não tinha internet e... divulgação... informação era uma
coisa difícil, né. É interessante né, existiam revistas que traziam filmografia de um ator, ou
todos os episódios de um seriado. Era uma coisa insana procurar informação. A gente
tinha consciência de que pra que alguma coisa cresça, eu preciso contar pra pessoas que
ela existe, e a gente não tinha um meio de comunicação. Então a gente procurou uma
maneia de contar pras pessoas pessoalmente, então “vamos tentar reunir as pessoas aqui,
em algum lugar e contar pra elas, e mostrar pra elas o que a gente ta fazendo, e
conversar, ouvir o que elas têm pra dizer, né. Por isso a gente criou o Encontro
Internacional. Chamava Encontro Internacional, ao invés de “qualquer coisa Con”, porque a
gente achava que a ideia era fazer um encontro mesmo, gente daqui e gente de fora.
Rafael – Não era uma Convenção, era um Encontro.
Douglas – É, não era uma convenção, era um Encontro. A ideia era se encontrar e,
inclusive, em todos os eventos, no último dia a gente tinha uma reunião no fim do evento
pra conversar com todo mundo e falar “E aí, o que vocês acharam, o que pode melhorar?”
Porque a ideia era, de fato, fazer o hobbie crescer e nesse aspecto a gente foi muito
ajudado por um monte de mestres, que iam lá, mestravam e depois diziam “olha, foi bom
isso, foi ruim aquilo. Vamos fazer assim ou assado”.
Rafael - E os convidados internacionais? Assim, como que selecionava... o que...
Douglas – Bom, a gente conhecia um monte deles né, o primeiro eu a gente trouxe foi o
Steve Jackson, por razões óbvias, o primeiro RPG foi o GURPS, em 93 a gente só tinha
GURPS. E o Steve Jackson parecia um cara... um molde né. Em 94 foi Mark Rein-Hagen
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junto com o Vampiro né. Chegou Vampiro, chegou Mark Rein-Hagen. E em 95 foi outra vez
o Steve Jackson, Marco Pecota e Dave Arneson, que era o criador do RPG. A gente foi
convidando pessoas que estavam relacionadas com aquilo que a gente estava fazendo e
que fossem importantes dentro do mundo do RPG.
Por exemplo, o David Adson foi a escolha mais feliz que a gente podia fazer em 95, porque
95 eu acho que foi o auge do RPG do ponto de vista de divulgação. Tinha, sei lá, cinco
empresas publicando RPG, ou seis, não sei quantas, mas tinha três muito grandes. Tinha
a Abril publicando RPG, tinha a Ediouro, que é ainda uma grande editora... Tinha a Estrela,
tinha a Grow, todo mundo fazendo muito RPG. E o Dave Arneson foi um cara que quando
ele chegou aqui, ele tinha um RPG em cada uma daquelas empresas. A Ediouro tinha lá
um suplemento, do Dave Arneson, a Abril tinha um monte de coisa do Dave Arneson,
Dungeons & Dragons era dele. A gente também tinha alguma coisa do Dave Arneson,
funcionou pra todo mundo né.
Rafael - Eu lembro em 95, uma característica muito... Quando eu vi o Dave Arneson, o
queixo dele, ele estava com um abscesso no queixo e parece que vocês tiveram que
ajudar, que ele passou mal...
Douglas – Foi, foi... é o Dave Arneson era bem louquinho. O cara queria vir ao Brasil né,
só que ele era diabético né, e uma ou duas semanas antes de vir ao Brasil ele extraiu um
dente e o dentista dele deu lá alguma coisa para ele fazer um bochecho, mas ele disse pro
camarada que vinha pro Brasil. E veio. E... Eu não sei se ele cuidou direito ou não cuidou
direito, o fato é que aquilo infeccionou. E como ele tinha uma barba grande, a gente no
princípio não percebia. Foi no último dia, se você ver as fotos do último dia ele tinha uma
bola [no queixo] vermelha, que deu pela infecção. E no último dia ele pediu pra ir pro hotel
mais cedo, levei ele pro hotel às duas... quatro da tarde, eu acho, passei numa farmácia...
Ah! ele não trouxe o troço pra fazer o bochecho! Ele pediu pra eu passar na farmácia pra
comprar “um coiso”, eu comprei, levei ele pro hotel e combinei com ele que a gente ia
almoçar no dia seguinte.
E combinei de ele me ligar às 11 da manhã, pra eu ir busca-lo. Ele não ligou às 11h, não
ligou às 11h30. 12h eu liguei pro hotel, transferiram pro quarto dele, ele atendeu e me
disse que ele não conseguia levantar da cama e que estava muito mal. Eu peguei o carro,
fui até no hotel, que era aqui no Paraíso, era pertinho da Devir... E quando entrei no quarto
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eu levei um susto, o quarto tinha um cheiro brutal de pus, aí... ele não conseguia mais
levantar da cama mesmo e tava muito fraco, aí nós pegamos ele, levamos pro hospital...
Na verdade antes levamos ele num médico, a Ana Maria conhecia um médico também no
Paraíso, fomos lá em clima de urgência, o cara examinou e disse “Está muito infeccionado,
vou ter que fazer uma cirurgia”. Levamos ele pro Sírio6, que é lá encostado, e ele ficou lá
uma semana. E eu acompanhei a cirurgia, por que ele não falava português, o médico não
falava inglês... [risos] precisava estabelecer um diálogo ali... e foi uma coisa horrorosa...
esse tipo de coisa eu não sei...
Rafael – Mas terminou bem né?
Douglas – Terminou, terminou! [risos] Mas eu lembro que o cara passava... ele tinha um
líquido que ele passava toda hora no queixo do Dave Arneson, muito forte né... Um
antisséptico muito forte. O cheiro daquilo me deixou muito mareado, mas muito mesmo. O
médico até falou “nossa, você sofre demais?” eu falei “não, de jeito nenhum, mas o cheiro
disso aqui está me matando!” E depois o Silvio Martins ficou uma semana com o Dave
Arneson no hospital, dia e noite. E eu até falava ”Silvio, você tem que ver o lado bom...
Daqui uns anos, todo mundo vai poder dizer, ‘ah, eu conheci o Dave Arneson, ele veio pro
Brasil, eu tenho um autógrafo dele’ e você vai ser o único que vai poder dizer ‘Eu limpei a
bunda dele”... [risos]
Rafael – [risos]
Douglas – “Você vai ter que ficar cuidando dele” e o Silvio ficou, o tempo inteiro. O resto
[do pessoal] se espalhou, o Steve Jackson foi pra Minas Gerais, outro foi pra Belo
Horizonte, Ouro Preto, sei lá onde...
Rafael - O Pecota?
Douglas – O Pecota foi pra Curitiba, pra um Encontro que tinha lá e o Dave Arneson ficou
no hospital, depois ele foi pro Rio, mas com um curativo que... [risos] parecia uma barba
branca de esparadrapo.
6 Hospital Sírio-Libanês
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Rafael - Os outros convidados têm algum fato, alguma história?
Douglas - Tem um monte delas, como todos eles né, esse povo é muito interessante. O
Mark Rein-Hagen reclama até hoje que a Regina Casé mordeu o pescoço dele. Ela... foi
muito bacana, ela foi vestida de vampiro né, porque a gente ia fazer o primeiro live action
no Brasil, que foi no encontro internacional, e ela... foi vestida de vampiro, conversou com
ele e, de fato, na entrevista, mordeu ele e mordeu o Paulo Roberto também. Ela gostava
de morder...
Rafael – [risos].
Douglas - E ele comentou isso muito tempo... O Greg Kostikyan veio com a mulher dele,
que teve um surto no avião, de Curitiba pro Rio, Curitiba-SP, SP-Rio... Teve muita
turbulência, a mulher surtou e disse que não ia viajar mais. Depois de muita conversa ela
disse que só ia se sentasse do lado do marido dela e a gente teve que conversar com o
comandante. “Vem cá, você vai sentar do lado de seu marido”, aí ela embarcou. Quando
estava resolvido ele ligou para casa para falar com os filhos, e aí voltou chorando por que
a ex-mulher arrumou uma encrenca com ele no telefone...
Rafael: Gerenciamento de crise, né?
Douglas: O tempo inteiro! O Mike Pondsmith, foi difícil embarcar ele de volta, né, você
lembra disso?
Rafael: Lembro, Lembro!
Douglas: Pondsmith era um negro de sei lá...1,90m de altura...
Rafael: Com Allstar vermelho...
Douglas: ...allstar vermelho, calça azul e camisa amarela né, uma barba comprida. E ele
chegou, nós chegamos, no aeroporto em São Paulo e a segurança da America Air Line
não queria embarcar o homem, queria revistar ele inteiro, eu disse “o cara é um convidado
né”, aí a mulher quis saber de quem, eu disse “da secretaria de cultura”, eu tinha o convite
da secretaria de cultura comigo, mostrei para ela, mostrei o livro que ele tinha vindo lançar
e aí embarcaram o homem. Naquele dia também fizemos Curitiba-São Paulo e ele fez São
Paulo... sei lá pra onde ele ia... ele morava perto de São Francisco, uma cidade perto de
São Francisco e... o avião de Curitiba saiu atrasado, tinham perdido a reserva dele.
19
Rafael – [risos] Conhecendo o Brasil!
Douglas – É, é...
Rafael - Mas todos sempre muito atenciosos.
Douglas – Ah, muito bem-humorados né, assim... claro, a gente não é uma agencia de
turismo e nem eles se consideravam estrelas, eles vinham aqui passear, né. Então todo
mundo sempre levou numa muito boa, muito boa mesmo... Quem que veio mais... a
Margareth Weis foi genial, a gente foi com ela na festa de São Vito, ela adorou, achou a
coisa mais maravilhosa do mundo.
Rafael – É eles... se divertiram, sem dúvida
Douglas – Ah sim, sim! O Justin... eu fui com o Justin aqui no Rio de Janeiro, o outro lá,
como é que chama...Steve Jackson também, o pessoal gostava. A gente procurava... tinha
um questionário sobre “o que você quer fazer”, eu lembro que o Mike Mulvihill...
Rafael – Que era do Shadowrun?
Douglas – Shadowrun. Esse, putz, depois, toda vez que eu ia nos Estados Unidos ele
fazia questão de sair comigo e a Silvana... Um dia ele pegou a gente em Chicago e passou
dois dias com a gente e mostrou a cidade inteira, ele era de lá, ele amava o lugar, então a
gente acabava criando uma relação muito boa.
Rafael – Por falar na questão então do Mercado, falando do internacional. Tem algumas
diferenças e semelhanças entre o mercado internacional, o mercado nacional...
Douglas - Ah cara, o mercado nacional não existia né, quando a gente começou não tinha
mercado nacional, a gente começou vendendo pra uma loja, que era o Alex´s Books(?). E
depois de alguns meses a gente começou a vender para uma segunda loja, que era a
Muito Prazer, que era na São João isso foi indo gradualmente. Em 90... não lembro mais, a
gente fez a primeira bienal do livro, a primeira bienal que a gente participou, a segunda
[bienal] do livro no Rio, e isso ampliou bastante a Devir porque como a gente tava no Rio...
no Rio tenho a impressão que tem mais gente que fala inglês, que lê inglês e outras
línguas, então como a gente estava importando histórias em quadrinhos isso ampliou
bastante o número de clientes nossos né.
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A gente passou a vender para seis ou sete [lojas] do Rio, uma de Niterói, então agora a
gente era internacional... quer dizer, [vendia] para o estado de São Paulo e o Estado do
Rio. Depois, com as bienais a gente passou a vender pro resto do Brasil, então esse foi um
mercado que foi sendo criado loja a loja né, e que mesmo hoje ele não é um mercado
organizado, no sentido de... ele é semi-organizado, mas não é profissional. Nos Estados
Unidos a maioria das lojas é completamente profissional.
Aqui ainda a gente tem um monte de dono de loja que é um ex-jogador ou um ex-leitor, ou
continua sendo um leitor... então é um cara que gosta do assunto e resolve ganhar a vida
com aquilo, mas não tem a menor ideia, não sabe nada de administração. Não tenho nada
contra isso, mas é só uma característica, uma diferença, no resto do mundo os caras estão
lá fazendo um negócio e aprendem rapidinho.
Só para dar um exemplo, nos Estados Unidos você não compra quadrinhos do distribuidor
se você não pagar à vista, e se paga antecipado. Se a gente tentar instalar isso aqui,
metade das lojas deixam de existir ou deixam de comprar imediatamente né, elas vivem do
crédito, são iniciativas pessoais. Então, aqui o crédito custa muito caro, a gente paga, sei
lá, hoje 4% ao mês, nos Estados Unidos custa 4% ao ano. Então, existem diferenças,
digamos, culturais, mas tem também diferenças fiscais...
Rafael – Econômicas...
Douglas - Econômicas, no mundo é muito diferente... muito diferente mesmo
Rafael - E o jogadores, assim, você chegou a ir em algumas convenções nos Estados
Unidos, você vê alguma diferença entre os jogadores, dessa comunidade?
Douglas – A gente... Brasileiro tem uma tendência cultural, eu acho, de não dar muito
valor para as regras... assim...
Rafael – [risos] Em tudo né?
Douglas – [risos] em tudo, em todos os lugares, é uma coisa cultural. Então tem lá a regra
no RPG mas... bom... E eu lembro que o que Mike Mulvihill, por um acaso que a gente
acabou de falar, veio pra cá eu acho que no quarto Internacional, e ele estava acabando
de editar uma edição nova do Shadownrun, que eu acho que é a terceira edição do
Shadownrun e se você olhar essa edição em particular tem um agradecimento aos
jogadores brasileiros.
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Porque ele disse que vir ao Brasil mudou a maneira dele enxergar o RPG, ele viu como as
pessoas jogavam quanta importância elas davam para ser literal com as regras e falou
“Putz, isso que é jogar RPG, não é o que a gente faz lá!”. Então ele voltou para casa e
reconstruiu todo o sistema de regras de magia, porque aquilo tinha muito mais a ver com o
que a gente estava fazendo aqui, que ele achava muito melhor do que se fazia lá. Então a
gente como jogador de RPG, é muito diferente dos americanos, não sei do resto do
mundo, mas dos americanos em particular, sem dúvida a gente é muito diferente.
Rafael – Eles são muito mais focados né?
Douglas - A gente tem muito mais improvisador, e na vida toda né?
Rafael – Macunaíma né?
Douglas – Macunaíma total! A maioria do resto do mundo... o cara é organizado, ele
prepara a aventura, ele não improvisa muito, ele sabe todos os pontos que ele vai passar,
aqui a gente deixa solto, a vida inteira a gente faz assim...
Rafael – (Risos)
Douglas – Inclusive os nossos lojistas são muito menos organizados que os outros,
improvisam muito mais, a gente é muito mais improvisado. A gente cria... tem uma
autoconfiança muito maior, sei lá porque, do que os outros.
Rafael – Entendi, e nesse mercado que surge, que aparece, como era a relação com
outras editoras, com as revistas, sites... que estava começando a aparecer internet, né?
Douglas – Assim... como é que era a relação... Eu diria que na maior parte dos casos,
cordial né. Assim, algumas dessas empresas a gente tem relacionamento até hoje, por
exemplo, a Jambô em Porto Alegre é um grande parceiro nosso, a gente tem discutido
inclusive algumas parcerias bem importantes ainda hoje, né. O Cristiano de Minas.
Rafael - Da Conclave né?
Douglas – Da Conclave, o cara é sério, inteligente, então acho que, mesmo a Trama7 né,
no Brasil a gente estava tentando fazer um bolo para um dia dividir. Precisa né... E é claro
que para construir alguma coisa a gente precisa investir, uns precisam investir mais, outros
7 Editora Trama, que publicava a revista Dragão Brasil.
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precisam menos, mas a gente estava lá para tentar fazer funcionar. Acho que no geral era
assim, e boa parte desse pessoal continua no mercado, de uma maneira ou de outra.
Rafael – Eu estava pensando um pouquinho na época, quando tive contato com os RPGs
tinha uma Marques Saraiva?
Douglas - Marques Saraiva.
Rafael – Marques Saraiva, né? Vocês tinham contato com eles também?
Douglas - Sim, tinha a gente distribuía os livros deles né. Esses livros fizeram uma
diferença importante em muitos lugares, outro dia encontrei com o Goldfarb8, que era dono
da livraria Belas Artes ele comentou que Marques Saraiva vendia muito. A gente teve um
evento em Diadema, no ano passado, e tinha uma mesa redonda era eu, o Goldfarb e
mais outro autor dali, de Diadema. E ele lembrava né, pois a livraria Belas Artes era uma
das livrarias que trabalhava com o nosso material. Os livros de jogos da Marques Saraiva
foram importantes porque eles eram uma espécie de do it yourself. Era o primeiro passo
pro cara entender o que era um RPG. Era um livro que destruía a estrutura convencional,
no sentido que você escolhe o caminho que você quer seguir. E eles publicaram vários, e a
gente vendeu algumas dezenas de milhares de livros da Marques Saraiva.
Eles devem ter publicado uns 20, 30 títulos ou um pouco mais. E, interessante né, a
questão das escolas, na primeira coisa que a gente fez com escola, na Gibiteca, tinha uma
professora de uma escola chamada Fernando Pessoa...
Rafael - Aqui de São Paulo mesmo?
Douglas – Aqui de São Paulo, e ela comentou que o primeiro contato que ela tinha tido
com RPG tinha sido um livro da Marques Saraiva. Essa professora era muito inteligente...
ela tinha reparado que os alunos estavam passando um livro de mão em mão, para a
classe inteira, e tinha aquele zum-zum-zum em torno daquilo. E ela pediu pra ver o livro e
os alunos emprestaram o livro pra ela ler.
Ela levou o livro pra casa, leu, achou aquilo interessante, voltou pra classe na semana
seguinte e fez uma proposta, que ela não ia dar prova naquele bimestre ou semestre, sei
lá, ela preferia analisar um livro daquele tipo escrito pelos alunos, se eles topavam. Eles
8 José Luiz Goldfarb, segundo proprietário da livraria Belas Artes, até 2003.
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toparam. E ela disse que foi a vez que os alunos dela escreveram de boa vontade o texto
mais longo da carreira dela. Então, é claro, quando você tem uma coisa que interessa o
aluno, isso sempre ajuda né. E o fato dela conhecer, também ajudava ela a conversar com
o aluno porque você está falando a mesma linguagem, então os livros jogos foram muito,
muito importantes. Continua sendo né, a Jambô continua publicando.
Rafael – Continua publicando... Sobre essa questão assim, você falou da educação, podia
falar então como a Devir entrou nessa discussão de RPG e educação, todo encontro
internacional tinha palestra de RPG e educação? Tinha um dia voltado para as escolas?
Douglas - Eu acho que foi desde o terceiro... segundo ou terceiro.
Rafael – Eu lembro já do terceiro, porque o meu primeiro foi o terceiro.
Douglas – No terceiro tinha, acho que o Dave Arneson...
Rafael – Com o David Arneson, inclusive ele que falava.
Douglas – Tinha. Porque, né? Assim, a gente procura os caminhos, as possibilidades que
a gente tem na mão, né. E, claro talvez, se o mercado brasileiro fosse tão organizado
quanto o americano ou, sei lá, o francês, a gente nunca tivesse chegado na escola né.
Rafael – Sim.
Douglas – Mas... ele [o produto] estava pronto né, coloco lá, o distribuidor, distribui, as
lojas vendem e a gente vai vivendo. E não, a gente tinha que divulgar. E RPG é uma coisa
de contar história e que a gente achava muitíssimo interessante. Eu acho que fabular e
pensar uma história é um processo... depois eu vou voltar nessa questão num evento na
escola em Sapopemba, eu não sei se você tava não, mas...
Rafael – Em 97 ou 96, por aí, eu lembro que fui em Sapopemba com você, fui eu e o
Morte9.
Douglas - foi um evento numa escola e de manhã não funcionou direito e teve um almoço
na escola, e teve uma sessão de tarde e eu lembro dos mestres todos conversaram
chegaram a conclusão que o problema todo era os alunos, eles não conseguiam se
imaginar na pele de ninguém que não fossem eles. E isso e um coisa muito triste, a
9 Marco Morte, ilustrador de vários RPGs e jogos de tabuleiros.
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imaginação. Como diz o mote da Devir Espanha: “não existe futuro sem imaginação” então
se eu não sou capaz de imaginar o futuro ele não existe, então a gente achava RPG uma
coisa importante. E existia um lugar em São Paulo que abrigava todas as minorias culturais
né, que era a Gibiteca Henfil. A Gibiteca Henfil tinha convenção de horror, que era
Horrorcon, e como era uma Gibiteca e a gente importava história em quadrinhos era um
lugar natural para gente ter uma relação, a gente fazia coisas na Gibiteca com regularidade
e quando apareceu o RPG, a Gibiteca abraçou o RPG, e tinha gente bastante envolvida na
Gibiteca. E eles também gostaram do RPG e isso é uma coisa que pode interessa a todas
as bibliotecas, porque as pessoas gostam disso e leem para poder jogar ou para preparar
uma aventura isso pode ser interessante em uma biblioteca. A gente começou, fez grande
demonstrações, primeiro para a bibliotecária, olha existe uma coisa que pode levar público
para a sua biblioteca. Depois a secretaria de cultura fez encontros de RPG para as
bibliotecas e as pessoas começaram a frequentar as bibliotecas por causa tinha RPG lá, e
tinha dia de jogo em diversas bibliotecas e tem até hoje no Centro Cultural10, e da
biblioteca para a escola foi um passo. E a gente deu um curso na Gibiteca também e ai
convidou, fiz o convite oficinal no diário oficial do município, e foi uma montanha de
professores, e alguns deles gostaram muito, e depois eles foram espalhando isso pela
rede toda, ai a secretaria de cultura me contratou para dar cursos em diversas, chamado
o que é RPG quer a gente diz o que, até preparar uma aventura, em diversas bibliotecas. E
aí outra vez isso era divulgado dentro da secretaria de cultura e de educação, e muitos
professores. E eles se interessaram por essa característica operação, a criatividade, todo
mundo tem que se expressar, obedecer às regras, e a hierarquia, existe uma hierarquia
mestre ou narrador e jogador, e bom, e a gente começou a fazer coisa nas escolas.
Fizemos simpósio para professor, fizemos palestra, aa gente convidava escola para ir no
encontro internacional, a gente chegou a levar quase 2000 alunos em um encontro
internacional de escola pública. Era completamente grátis era só arrumar um ônibus, para
a gente era uma festa.
Rafael – era no Ibirapuera, é?
Douglas - Foi o Ibirapuera, começou no Ibirapuera, e acho que, desde o segundo no
Ibirapuera.
10 Centro Cultural São Paulo, localizado ao lado do metrô Vergueiro.
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Rafael – Uma coisa que eu lembrei, o Encontro Internacional, começou no Ibirapuera, mas
depois de um tempo ele começou a migrar.
Douglas - É, que a secretaria do meio ambiente resolveu um dia que a gente não podia
fazer mais evento lá, ai a gente teve que sair, a gente fez ainda dentro do parque, o 4º foi
dentro do Pavilhão Manuel da Nobrega, depois o 5º foi no Galpão Fábrica, depois voltou
outra vez ficou um ano ou dois, depois a gente foi lá para o Mart Center e depois para o
Arquidiocesano, então essas mudanças foram impostas pelo universo, nós estaríamos até
hoje no Ibirapuera, o Ibirapuera tinha uma vantagem bastante grande, nosso objetivo que
era divulgar, estava no meio de um lugar aberto, público com um bando de gente, um
bando de gente fantasiada inclusive que dava um colorido especial. E aí passavam um
monte de gente que se interessava por aquilo, então desde o primeiro a gente tinha
sempre um lugar no encontro que se chamava o que é RPG. Que era para os passantes
perguntarem e lá e alguém explicava eu diabo era aquilo, inclusive tinha um professor que
fazia isso. Que era um professor que frequentava a Gibiteca e jogava muito RPG com os
alunos lá. Então ele ficava lá ensinando o que é RPG.
Rafael - Esses eventos eles, com o pessoal fantasiado chegou a gerar algum problema,
alguma comoção, eu lembro por exemplo que tinha uma cara, mas isso acho que no Mart
Center que ia de diabo e passeava.
Douglas – Assim, comoção não né, assim eu acho que causava alguma estranheza por
exemplo, se você fosse no parque Ibirapuera ou no Mart Center, na hora da chegada do
pessoal, que era sábado de manhã, você ia encontrar um monte de gente fantasiada
andando, alguns se fantasiavam no próprio evento, mas boa parte já vinha de casa, então
eu acho que isso causava uma estranheza, mas nunca soube de ninguém que fosse
reclamar. O que houve uma vez, houve um rapaz que estava com uma katana no evento,
ele levou para brincar, ele achava bonita, e a gente teve que recolher, depois começou a
recolher tudo que parecesse...
Rafael – uma arma?
Douglas – É, a única coisa que causou algum mal-estar, foi que tinha o pessoal que fazia
combate medieval e isso provocava uma reação interessante no público, e uma senhora
frequentadora do parque Ibirapuera foi reclamar na administração que a gente estava
incentivando a violência. Não é nada disso, combate medieval é uma simulação.
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Rafael – Uma das brincadeiras que a gente fazia, a gente saia lá de Minas Gerais, etc.
chegava de manhãzinha em São Paulo, como chegar no evento? A brincadeira é: saia do
metrô e siga o pessoal vestido de preto, porque está todo mundo indo para o mesmo lugar.
Douglas – Enquanto o evento era aberto no Ibirapuera a gente não tinha a menor ideia,
tinha uma estimativa porque a gente sabia quantas mesas tinha.
Rafael – Quantos jogadores passaram.
Douglas – Aí a gente tinha alguma ideia, até porque era uma obrigação da Gibiteca que
estava na organização eles precisavam desses números para fazer os relatórios deles,
mas no geral, só quando a gente foi para o Mart Center que a gente passou a cobrar
ingressos, que a gente tinha uma ideia de público, mas chegou a terá 15 mil pessoas.
Rafael – No fim de semana inteiro, nos três dias.
Douglas – Isso. Nos três dias, não sei, nos dois dias, porque a parte paga.
Rafael – ah sim por que na escola...
Douglas – sim, porque na escola tinha uma ideia também outra vez não sei, quanta gente
ia, a gente fazia escola e tinha mesa livre então, para as escolas, eu sei que teve ano que
a gente teve que fazer três sessões tanto para escolas quanto no sábado, na sexta para as
escolas e no sábado... porque tinha muita aventura escrita a gente marcou três sessões,
depois a gente voltou para duas, porque ficou meio desajeitado, o tempo era curto. Mas
era muita gente de fato, mas digamos que contado chegou a ter 15 mil, e era interessante
essa coisa do... porque começou a acontecer também acho que foi um embrião no nosso
meio, não que nasceu aqui, mas o cosplay.
Rafael – A ideia não existia aqui.
Douglas – Não existia. Tinha uma moça que eu acho que ia desde o terceiro ela ia com
uma fantasia lindíssima ela tinha uma máscara branca e ela ia toda de preto, ninguém
sabia quem a moça era, ela não jogava RPG só andava com aquela fantasia pelo evento
inteiro e... era fotografada e ia embora, então, isso começou a acontecer também uma
monte de gente que queria fazer cosplay ou se fantasiar, e ia para evento fazer isso.
Rafael – Ficar andando.
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Douglas – Continuava acontecendo no Anime Friends e era uma coisa que tinha muito lá,
então eu lembro uma vez, naquela época ia muito televisão e rádio no encontro
internacional, então por causa disso, eu lembro que uma vez um camarada falou “meu
deus uma cosia dessa acontecendo em São Paulo e ninguém sabe” e é de verdade, pouca
gente sabia, fora os jogadores de RPG, pouca gente sabia.
Rafael – Uma pergunta, a Pirataria chegou a ser um problema para vocês?
Douglas- Não de verdade né, assim há vários tipos de pirataria, a básica é xerox que era
até a aparição da internet, xerox era o maior meio de pirataria, e eu até lembro que uma
vez alguém propôs, imprimir um livro azul para coibir a pirataria, porque o azul não sai na
xerox. Se imprimir em azul claro.
Rafael – Ahnn, talvez porque o AD&D tinha umas partes em azul né?
Douglas – É, ele não sai na xerox.
Douglas - O vermelho sai como preto e o azul não sai, mas assim, eu acho que isso era
mais uma, existe todo tipo de gente nesse mundo, mas na maioria dos casos seria uma
atitude desesperada de “eu quero jogar e não tenho, então eu tiro xerox”.
Rafael – Então “eu não tenho dinheiro, não consigo os livros” né?
Douglas – Então não afetava de fato né e outra eu vi muito grupo se cotizar cada um dá
uma parte comprar o livro, dava para o mestre, ele ia ler em casa para todo mundo jogar.
Então eu não acho que pirataria atrapalhou assim, falar assim “ah não, deixamos de
ganhar dinheiro, ou deixamos de publicar mais ou menos porque tinha pirataria” mesmo a
internet, botaram muita coisa na internet, tem até hoje e não vejo que isso atrapalhou.
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Rafael – Até então, já, abordar isso aí, as questões de transformações no mercado né o
desenvolvendo cada vez mais maior do videogame, porque o videogame dos anos 90 é
bem diferente do videogame de hoje.
Douglas – Muito.
Rafael - Os jogos online, os jogos de tabuleiro, a internet que desenvolveu muito né, e o
Magic também e até fazer um comentário sobre essa questão, eu lembro que nos
encontros internacionais, você tinha, no stand da devir tinham muitos livros importados e
com o tempo, diminuiu, assim vocês não ofereciam tanto ou não trazia mais tanto.
Douglas - Isso é interessante porque a gente vive em uma época que, digamos, toda
informação está disponível, muito mais informação que a pessoa pode consumir em 5 ou 6
encarnações, ou mais, então, mas apesar disso toda a informação que eles publicam,
disponível, boa parte das pessoas está muito mais desenformada do que naquela época,
porque o pessoal consumia RPG importado, elas estevam interessados em coisas
diferentes “ah quero um de horror, quero um disso, um daquilo...” elas queriam o que está
acontecendo no mundo, e lá tinha uma monte de editora publicando um monte de coisa né,
e o que aconteceu com o passar do tempo e com a chegada... pode ser coincidência, com
a chegada da internet foi que as pessoas passaram a focar só naquelas coisas que elas já
conheciam, conheciam talvez mais profundamente, mas conheciam, digamos elas foram
estreitando o leque do que elas observaram, e com isso elas passaram a jogar muito mais
os jogos já publicados no Brasil do que os que não estavam. Então obviamente a gente
teve que parar de importar, coisas diferentes que nos dava muito prazer, mas.
Rafael – Mas economicamente não era viável.
Douglas - Não, ninguém mais queria comprar, então, isso é um paradoxo né, acho
interessante, como disponibilizar informação para as pessoas não se informassem.
Rafael – e os videogames?
Douglas – então, na verdade o RPG é o grande vencedor né, a maioria dos grandes
videogames são RPGs, o formato continua viva só que em uma escala muitíssimo maior,
sei lá, Warcraft essas coisas, Ragnarok são RPGs online centenas de pessoas jogando
todos ao mesmo tempo, apenas disso muita gente gosta de jogar com grupo em casa é
uma coisa mais pessoal, mais sentimental. O videogame não atrapalhou o RPG muito pelo
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contrário elevou o gênero a um tamanho que ele nunca imaginava chegar, é claro que os
de mesa hoje são muito menos jogados hoje, por causa que tem disponível online você
senta no seu computador e conecta com um monte de gente e sai jogando, não precisa
preparar nada. E outro Paradoxo, a gente criou um monte de ferramentas eletrônicas para
poupar tempo e hoje nós temos menos tempo. Então as pessoas têm menos tempo para
prepara ruma aventura, para ir com os amigos né, sei lá.
Rafael - Então, como você vê, é uma atividade que Devir também, os jogos de tabuleiro
esse crescimento nos últimos tempos, junto com o videogame cada vez mais com
melhores gráficos, o mercado, com jogos variados, como você vê os jogos de tabuleiro,
eles acabam...
Douglas – ah os jogos de tabuleiro mudaram muito principalmente na Europa, acho que
dos fim dos anos 90, quando foi publicado Settlers of Catan, que é um jogo fácil de
aprender as regras e difícil ser um bom jogador, precisa jogar bastante, e ver o
mecanismo, muitíssimo interessante, porque eu estou dizendo isso, porque existiam dois
tipos de jogos, ou os jogos tipo banco imobiliário onde você joga um dado, anda em um
tabuleiro e faz alguma coisa dependendo da casa onde você caiu ou jogos de simulação
muito complicados que demoravam sei lá, 5 ou 6 horas para ser jogados, e maioria das as
pessoas não tem esse tempo ou não estavam dispostas a gastar esse tempo para simular
uma batalha qualquer da segunda guerra mundial, seja lá o que for. Então os jogos
estavam limitados por, o que aconteceu depois do Catan, é que as pessoas começaram a
criar jogos mais simples mas ainda que dependiam muito menos da sorte e mais da
estratégia, na inteligência de quem estava jogando, Carcassonne é assim, tem uma lista
imensa de jogos e claro, em um pais que faz muito frio como a Alemanha por exemplo
acho que é o maior mercado de jogo do mundo, as pessoas no inverso preferem ficar em
casa, e ai não tem nada para fazer e ai jogam, e na medida que se tem jogos
interessantes, acho que você joga em uma hora ou menos e aprende as regras, se você
quiser jogar uma centenas de vezes sem saber jogar aquilo, e domina a estratégia daquilo,
os jogos se espalharam muitos, então agora eles estão saindo da Europa e invadindo o
mesmo do mundo, alguns jogos como Catan são importantes para o mundo inteiro. A
gente divide o mundo em dois pedaços jogos para jogadores, que são Guerra do Anel,
jogos de simulação, que são cinco horas, uma hora para montar o tabuleiro e cinco para
jogar aquilo e jogos familiares, que são jogos para os civis, você pode jogar com sua
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família, com seus amigos, eles não precisam saber o que acontece na trilogia do Senhor
dos Anéis para poder jogar. E isso tem se espalhando muito rapidamente.
Rafael – E tem mercado para os dois.
Douglas – Tem mercado para os dois, claro tem mercado para os dois, por que? Por que
hoje e não vinte anos atrás? Claro existem hoje jogos de usam e abusam da estratégia,
também exigem que as pessoas pensem para jogar, mas também não existem, alguns
costumes de vinte anos atrás né, pretexto para a gente se reunir, também não existem
mais, as pessoas não vão mais para jogar RPG, sei lá online, as pessoas não vão juntas
para assistir um show, a não ser que seja um grande concerto, o teatro está diminuindo.
Rafael – O cinema né.
Douglas - Se juntar fica uma coisa, o tabuleiro é um bom pretexto para isso, e hoje nos
temos uma oferta de jogos que você pode jogar com os amigos e a família vastíssimo,
para todos os gêneros, para todos os tipos de pessoa, desde humor, Tinco por exemplo é
um jogo maravilhoso, você joga em 40 segundos uma rodada em 12 minutos uma partida,
eu tenho uma história do Tinco legal, no dia que o Brasil perdeu para a Alemanha de 7x1,
a gente estava aqui, a família inteira estava aqui, ai o jogo começou foi 1 a 0, 2 a 0, ai nos
3 a 0 o pessoal já estava debandando, ai minha sobrinha comentou, “ah, vamos jogar
buraco?” aí eu falei “putz não sei se eu tenho baralho” aí a Silvana foi o baralho por ai,
enquanto procurava o baralho eu falei “vamos ver esso aqui” e eu tinha um protótipo do
Tinco, e ai o pessoal esqueceu o Buraco e ficou jogando aqui, até que minha mãe depois
me pediu “me arruma um jogo daquele que dá risada”.
Rafael - (Risos)
Douglas – Então, é essa a capacidade que os jogos têm hoje de digamos, atingir as
pessoas que não estão preocupadas com o jogo, estão ali e você pode oferecer uma
atividade como diversão, o que você está fazendo e crescer bastante.
Rafael - Sobre falar um momento que foi muito complicado, os crimes que relacionaram
ao RPG em Teresópolis, Ouro Preto, em determinado momento começou a pipocar muito,
aparecer muito, isso atrapalhou a Devir, não atrapalhou.
Douglas – A Devir não atrapalhou, atrapalhou o RPG né, o que começou uma onda de
falação né, tentando incriminar o RPG por uma série de coisas e ai as pessoas que não
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sabiam direito ou não estavam acompanhando os casos de perto, começaram a achar que
RPG de fato estava fazendo aquilo, e ai escolas começaram a não querer usar né, pais
começam a dizer para os filhos “olha você não vai jogar isso, porque isso era coisa do
demônio, isso faz as pessoas matarem umas ás outras isso atrapalhou muito o RPG
porque, no sentido que, foi feita muita propaganda negativa. O interessante que eu acho
disso, é que as mesmas pessoas que fizeram propaganda negativa, normalmente que os
casos que foram esclarecidos e se descobriu com o RPG não teve nada com aquilo,
ninguém foi divulgar, todo mundo divulga a tragédia, ninguém divulga o que acontece dois
anos depois.
Rafael – A resolução.
Douglas – O escândalo todo mundo quer, então, em outros casos em fatos que se
comprou que o RPG não tinha qualquer coisa haver, o caso de Ouro Preto, os caras foram
inocentados, os moradores da republica que eram jogadores de RPG que forma acusados
no caso foram inocentados, no caso de Teresópolis não tinha nada a ver com aquilo.
Rafael – E aí?
Douglas - Mas ninguém falou anda, ninguém foi lá e “oh, desculpa aí, falamos que era
então, não era nada disso”.
Rafael – Chegaram até a obrigar os jogos de RPG a ter a faixa etária, né?
Douglas - Faixa etária exato, isso foi lá, na iniciativa de Belo Horizonte a assistência
classificou os jogos e aí a gente faz, mas veja não existe nenhuma lei que obriga isso,
existe uma portaria do ministério da Justiça, dizendo que a gente deve classificar jogos,
nunca existiu uma lei sobre o assunto.
Rafael – é nisso acaba de certa forma, liberando as coisas “olha o ministério falou então...”
Douglas – Ah! Veja, é bom e é ruim, sei lá alguém que leu e botou uma idade lá, eu tenho
mais nada com isso. Por outro lado, fica o cinema né, se a loja vender para alguém abaixo
daquela idade e a fiscalização estiver lá. É como se você fosse classificar literatura né, isso
aqui é para maior de 14 anos, então se eu tiver 13 e meio eu não posso ler. É como data
de validade, quando a cabeça da pessoa muda de fato para ela compreender ou não,
então classificar literatura é impedir que certas pessoas leiam assim certas coisas em certa
idade, sei lá se isso é bom ou ruim. Eu lembro perfeitamente quando eu tinha uns 17 eu
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comecei a ler, eu comecei a ler antes, mas quando eu tinha 17, estava lendo Garcia
Marques, que você lê com uns quatorze, um livro de uma estrutura, de uma editora
chamada Arte Nova, publicava livros em um formato que chamava jornalivro, e eles
publicaram um conto do Garcia Marques chamado a “Mulher que chegava as seis” em um
jornalivro, era legal, porque era um monte de literatura por dois reais, era o preço de um
jornal. Mas e aí? O que você faz quando você quer ler né? Não se publicava muito Garcia
Marques no Brasil, infelizmente, na época, e eu passei a comprar coisas importadas e eu
lembro da minha mãe olhando do Garcia Marques que chamada Enterro do Diabo e em
espanhol era La Hojarasca e tinha um casal de esqueletos na capa e minha mãe olhando
aquilo, eu cheguei em casa, e ela estava limpando a casa, e ela pegou meus livros e
estava olhando aquilo muito preocupada “Meu Deus, o que meu filho está fazendo”. Então,
é muito difícil avaliar o que uma pessoa pode, deve ou não ler. É muito difícil uma pessoa
de fora fazer essa avaliação com essa pessoa que tá, e por que razão ela está lendo, às
vezes eu acho que ela não devia ler mesmo. Não sei que devia fazer essa avaliação, se
seria a mesma pessoa. Então, isso de um lado, do outro lado, eu lembro que, o lado
contrário né, por que deveria fazer uma avaliação? Uma vez eu levei a minha mãe para
assistir todos os episódios de Flash Gordon da história. Fizera uma grande sessão de
Flash Gordon no MASP e eu levei minha mãe. Putz grila, não aguentava mais, eles
passaram direto né, sem cortes, estão passaram, sei lá uns 60 ou 70 episódios de Flash
Gordon todas as introduções e todos os finais, tinha um minuto de introdução, episodio,
final, depois repetia o final depois, na introdução tinha o final do anterior e a história era
assim, não aguentava mais aquela introdução. Mas e quando nós saímos do.. coiso, né,
minha mãe estava feliz porque ela assista aquilo quando eu era criança, mas ela disse
uma coisa interessante “ainda bem que eu vim aqui” eu falei por que? Ela disse “quando
eu era criança eu tive um monte de pesadelos, aí eu descobri que era uma cena que
passava muito do Flash Gordon, uma cena com uns planetas. E ela disse que a mãe dela
assistia Flash Gordon, e levava ela ao cinema, porque no tempo dela não existia censura,
então ela era bebê de colo, a mãe deve ter levou ao cinema, ela deve ter visto aquelas
cenas e ficou gravada na memória dela e para ela ter digo esses pesadelos que teve.
Então esse é outro lado, tem certas coisas que de fato não devia ver, quem é capaz de
avaliar isso eu não sei.
Rafael – Essa é uma outra discussão.
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Douglas - É uma outra discussão, né, mas não estou infeliz que tenha avaliação de RPG
eu só não sei quem é que deve fazer. Se a pessoa devia conhecer RPG, e saber qual é o
tema que está sendo tratado, para depois decidir uma idade. Quem deve ler Senhor dos
Anéis, menor de quatorze ou maior de catorze.
Rafael – E até é uma coisa interessante, que como a criação é do grupo, você pode pegar
aquele livro e transformar em um conto de fadas ou uma história pesadíssima.
Douglas – Qualquer história, né.
Rafael – O narrador e os jogadores vão imprimir o interesse deles, e isso quer dizer, eu
posso jogar, baseado no RPG, jogar algo que não tem nada que está dentro do livro, então
eu posso colocar cenas pesadíssimas em um ambiente leve.
Douglas – Eu passei a minha vida profissional jogando RPG com iniciantes, vai num, eu
ia, em encontro em encontro, e principalmente em Curitiba “ah ninguém sabe jogar” “você
quer jogar, eu vou te ensinar” fiz isso um monte de vezes, e minha aventura era
chapeuzinho vermelho, a mãe de vocês mandou vocês levarem o lanche para a vovó, e
existe uma caminho pela floresta para onde vocês vão? Para floresta é lógico, a pergunta.
Mas naquela floresta eles encontraram tudo que a minha imaginação pudesse criar né,
eles encontraram o coelho da Alice no pais das Maravilhas, o jacaré do Peter Pan, Smurfs,
a ponte do Monte Python, a casa do João e Maria, eu ia povoando aquela floresta com o
que eu conseguisse improvisar, então eu podia ir para um conto de fadas e qualquer ligar e
ainda é chapeuzinho vermelho. Eles encontravam o dragão de São Jorge que era
apaixonado pelo lanche que eles estavam levando e começou a aparecer quando eles
estavam com o “Faro bom”. Então, o que você põe na aventura, não depende da premissa
depende de quem está criando, e eu ia onde os jogadores iam, ser um bom RPG é assim,
os jogadores é que levam para algum lugar, você só vai...
Rafael – Aparando as arestas.
Douglas – Um livro de RPG, a gente não classifica como literatura, que é uma coisa que
está pronta, mas classifica RPG que é uma coisa que depende não do que se diz no livro,
mas depende de quem está criando... a vida é assim.
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Rafael – Vou perguntar quando você disse quando a devir começou a vender no Rio do
Janeiro, mas você poderia falar um pouco sobre a Devir em outros países, Devir Espanha,
Devir Portugal, Chile também né?
Douglas – Chile, México.
Rafael – México. Como isso se deu primeiro e como isso afeta até as decisões brasileiras.
Douglas – Ok, isso foi casual né, boa parte da vida da gente a gente estava no lugar certo,
na hora certa. Então como a gente estava no mercado do RPG a gente descobriu o Magic
no início né. E a gente foi lá, e eu fui conversar com a Wizards, que a empresa era
pequena e ficou muito grande de repente, e tinha que se organizar as pressas. Então...
mas e a gente conseguiu distribuir Magic no Brasil foi uma coisa, conseguiu porque o
camarada que cuidava disso lá era um cara extremamente inteligente o chamava John
Jordan, chama né, que era uma americano que tinha sido criado na Itália. E ele veio no
Brasil e a gente criou um plano para ter Magic no Brasil, o nosso contrato era com a língua
portuguesa, para o Brasil, hoje em dia não é mais assim tá, a Wizards mudou muito desde
que foi vendida para a Hasbro, bastante mesmo. Mas então, como a gente tinha direito
com a língua portuguesa, a filial europeia da Wizards exigiu que a gente abrisse uma
empresa em Portugal, e a gente foi procurar o José de Freitas, velho conhecida que fazia o
Battletech e bom, precisa montar uma empresa aqui, e ele abriu uma empresa em
Portugal, depois de uma ano a dois, como a gente estava fazendo um bom trabalho em
Portugal, a Wizards nos ofereceu a Espanha. Distribuir na Espanha também, aí eu fui
contar para o pessoal, o José de Freitas teve que ir para a Espanha, hoje a gente está na
península ibérica com Português e Espanhol, a América Latina é uma península ibérica,
metade fala português metade fala espanhol. Então, o primeiro momento que isso ficou
claro, nem foi com o Magic, foi com o hero...
Rafael – D&D?
Douglas – Não... era Mage..
Rafael - Mage Knight
Douglas - Acho que esse foi o primeiro que percebemos isso, se distribui em Portugal
Espanha, porque não na América Latina? A distribuição do Mage Knight na américa Latina,
36
era toda nossa quando ele apareceu. Então a gente foi e fez uma proposta para a Wizards,
poxa, a gente tinha em português e espanhol nesses países, porque não em toda
América? Então a gente abriu uma empresa nos Estados Unidos, em um lugar muito
estranho para quem quer distribuir para América Latina que era Seattle, porque ficava
perto da Wizards e um monte de empresa importante, nesta altura. E aí, estávamos nos
Estados Unidos, felizes distribuindo para América toda, e tinha um cliente importante no
Chile que um dia resolveu sair do negócio e o Chile era muito importante, demais para a
gente, e falei vamos mudar para o Chile. Depois é, o México é um lugar tão informal
quanto o Brasil, então as lojas não conseguiam comprar Magic por causa da informalidade
que as outras tinham, tinha muito contrabando, então chegamos a conclusão que tinha que
ter uma coisa local no México, então a gente esta lá no México. E mais recentemente, a
gente meio que foi empurrado para Itália, outra vez pela Wizards, então a gente está na
Itália, então a gente está em, sei lá, sete países.
Rafael – E vocês, existe alguma influência de uma país para o outro?
Douglas – Existe muita troca de conversa, cada um foi criado no seu momento, no seu
mercado, então as empresas não são iguais, a gente não é uma multinacional nesse
sentido que você for olhar, não é uma crítica, olha a Hasbro uma empresa extremamente
bem organizada, todo mundo trabalha igual em todos os lugares, eu acho que funciona
muito para empresa. A gente como é cigano né, como diz o Joaquim, lá da Espanha, isso
é uma empresa, uma multinacional de cigano, então a gente foi criado e teve que se virar
cada uma no seu mercado, aqui não tinha recursos ou organização suficiente para impor
qualquer coisa em Portugal ou Espanha. Sobrevive aí. Cada um sobrevive do jeito que era
capaz. Então as empresas são completamente diferentes, elas são completamente
independentes, tomam decisões por si, mas a gente conversa. Por exemplo, a Espanha
começou a trabalhar com jogos de tabuleiro 15 anos atrás, eles estavam lá na Europa,
sabiam o que estava acontecendo, e fora isso os caras estavam lá com grandes jogadores
de tabuleiro, “ah vamos fazer isso aqui”, e estavam lá fazendo e a gente estava aqui. E de
vez em quando a gente importava um ou outro em espanhol, inclusive, mas não era uma
coisa que tivesse prestado tanto atenção assim, e hoje eles são importantes no mercado
europeu de tabuleiro. E agora isso nos favorece, porque eu tô lá colocado, tem um monte
de gente que já conhece a gente, eles já estão fazendo jogos importantes em espanhol, e
a gente passa a fazer em português para o Brasil, para Portugal e espero que algum dia
para Angola.
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Rafael – (Risos)
Douglas - E então e algumas coisas de fato da gente trabalha com um monte de
empresas de quadrinhos no Brasil, ajuda no momento que eu quero publicar em Portugal,
ou o fato de Portugal publicar um monte de mangá, pode um dia ajudar a gente a publicar
mangá aqui. Então, a gente ainda é independente, a gente ainda... cada um toma a sua
decisão, mas a gente conversa bastante, a gente faz reuniões semestrais, todo mundo
junta em um lugar, e vamos discutir o que está acontecendo em cada lugar, vamos
conversar, “ah o que aconteceu, isso está funcionando bem, isso que não está funcionado”
e mais recentemente a gente resolveu pela primeira vez unificar a comunicação, “todo
mundo vai usar o mesmo logo, por favor todo mundo usa o mesmo logo da Devir”.
Rafael e Douglas - (risos)
Douglas – Cada um tinha um site sabe, agora vamos tentar dar uma cara para essa
empresa que parece séria, porque queira ou não queira, eu... eu veja, eu publiquei outro
dia no nosso blog lá, tem um verso, uma estrofe de uma música do Vicente Barreto, que eu
acho maravilhosa, é assim, “a gente é torto igual ao Garrincha e Aleijadinho”
Rafael – Ah eu li.
Douglas – E a gente é torto igual ao Garrincha e Aleijadinho, sinto muito, eu tenho orgulho
disso, a gente começou do nada né, e nunca recebeu nenhum investimento de fora, e
conseguiu criar uma empresa que... foi importante na vida de um monte de gente, então, é,
mas a medida que a gente foi crescendo, a gente começando a ter relação com empresas
que acham isso importante. Que acham importante não ser torto, ok. Então, a gente
precisa dar essa impressão que não é torto. Então hoje tem o site, Devir.com, onde tem
bandeira para todos os outros países, você pode entrar por ali e você vai achar todos os
países, e ali é o início de uma tentativa de unificação da cara da Devir, com que a gente se
apresenta para o mundo, não como a gente é, mas como a gente se apresenta. E isso está
começando a se espalhar né é difícil porque todo mundo tem vício né, uma empresa que
tem o que, 28 anos que nunca, sempre fez as capas dos livros sem falar com ninguém,
depende, agora tem um logo oficial que a gente usa em todos os lugares, então esse é um
choque cultural bastante grande.
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Rafael - ...me veio uma questão na cabeça, já passou o assunto mas, se o senhor puder
falar como foi quando a Grow, Estrela, Ediouro e abril saíram do mercado e vocês
acabaram incorporam o AD&D, Shadowrun. O que isso acabou gerando?
Douglas - Na verdade, quando eles entraram foi a maior maravilha do mundo, a gente
podia ficar preocupada Puta, um monte de concorrência, eles estavam publicando jogos
muitos bons, que significava menos negócio para a gente, muito pelo contrário, Abril, Grow
e Ediouro, eles tinham uma capacidade de divulgação (estrela) muito maior que a gente,
então eles colocaram RPG e lugares que a gente não atingiria nunca, a Devir era uma
distribuidora regional , todas as bancas, vinte mil pontos de venda, Dungeon and Dragons
foi maravilho, RPG em lugar que nunca chegaria se os caras não tivessem entrado.
Depois descobriram que não era negócio para eles, pois existe um monte de trabalho e
você não vai vender tanto quanto você espera, e como a gente organizava encontro
internacional quem distribuía a maioria dessas empresas... eles procuravam a gente “ah
nos vamos sair, vocês querem ficar com o estoque, quer ficar com o contrato e a gente foi
ficando”... por exemplo, o único senão que tinha ai, é que a gente ficou com uma
quantidade de obrigações muito maior que a gente era, eu tinha que dar conta de publicar
Shadowrun, eu tinha que dar conta de publicar Dungeons and Dragons, eu tinha que dar
conta de publicar o GURPS... e a gente ainda era uma empresa pequena com um monte
de negócio da mão que não era capaz de dar vazão e também não queria publicar
qualquer coisa de qualquer jeito, se até hoje a gente comete erro imagina se fosse... então
na hora que eles saíram sobrou um monte de negócio semiconstruído, o que ajudou
bastante também outra vez , se caiu um monte de negócio bom na sua mão, no seu colo...
ok, “muito obrigado senhor”, por favor, repita. Mas... também exigiu que a gente se
reorganiza-se um monte de vezes, passamos a vida inteira se reconstruindo.
Rafael - O D&D foi muito grande?
Douglas - foi, foi... não sei qual edição, acho que a terceira, a 3.5 a gente vendeu sei lá,
30.000 exemplares do Livro do Jogador, que são um monte de livro. 30.000 Livros do
Jogador significa provavelmente 25.000 [Livros] do Mestre uns 20 do [Livro dos] Monstros
é muita coisa.
Rafael – Neste sentido, aí a Hasbro resolveu, em determinado momento, não vender os
direitos...
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Douglas - É, nessa última edição, sinto que fazer isso, só eles iam fazer
Rafael - Eles não deram nenhuma explicação?
Douglas - Não assim, eu posso até inventar alguma hipótese, eu sei que existia uma
diferença entre o presidente da Wizards na época e um grupo de desenvolvimento de RPG
que participava do Dungeons and Dragons... e eu não sei por qual razão, mas desenvolver
um RPG é uma coisa que leva um tempo, exige um monte de recursos, exige gastar um
monte de dinheiro em artes, fazer a arte toda nova e que Dungeons and Dragons tem, digo
são bonitos, e... aí você fala assim, “quantos livros você vai vender ah eu vou vender
100.000” putz, não vai dar para pagar a conta... então, é a impressão que eu tenho... é que
chegaram à conclusão, putz se eu fosse vender 100.000 em inglês e o resto eu vou
receber que 15 a 20 mil dólares de royalties dos outros e não vou pagar essa conta então
eu vou tentar vender para o mundo interior para ver se eu pago a conta. Essa é minha...se
eu fosse o editor era nisso que eu estava pensando, se eu fosse inventar uma hipótese era
essa que eu inventaria isso, é outra vez é um chute meu, e virou isso e tá decidido.
Rafael - É, a bola é minha...
Douglas – “a bola é minha e eu faço o que eu quiser”.
Rafael - sobre o mercado atual, hoje em dia aparece muito financiamento coletivo, de
editoras de autores independentes, né, ou a gente tem hoje nos E.U.A. muito e-book né,
eles colocam livros de edições antigas para vender, em E-book, esses RPGs estão
independência o sujeitos vai e cria por conta própria escreve, os live actions hoje em dia,
que são os larps, é... qual era a visão da Devir quanto a isso, se planeja, não planeja?
Douglas - Bom, vou dividir em duas partes, primeiros os e-books, depois o financiamento
coletivo. A devir tem alguns contratos para publicar livro eletrônico, um deles inclusive foi
um pedido da distribuidora do Ender´s Game, porque eles achavam que se tivesse o livro
eletrônico divulgaria mais o filme, então pediram que a gente fizesse e a gente fez, então
eu fui conversar com as lojas que vendiam livro eletrônico, e eles me mostram uma
cláusula no contrato deles que era ilegal, o contrato tem uma coisa que não posso cumprir,
que é o seguinte, sei lá por qual razão, porque se você compra um livro na livraria e por
acaso você tomar chuva e o livro molhar o problema é seu e não da livraria. As lojas que
vendem livro eletrônico acham que tem que garantir para a pessoa que comprou o livro
41
eletrônico que vão ter o livro para resto da vida. O que me parece insano, então quando
você compra um livro eletrônico a editor até garante que você pode ir lá e baixar para o
resto da vida aquele livro, a livraria pode prometer isso que ela tiver a garantia que ela vai
ter aquele livro. Então ela faz um contrato com a editora, onde diz que eu dou ela o direito
manter o livro lá, para quem já comprou, mesmo que isso rompa esse contrato, eu disse,
desculpa, mas eu não posso assinar isso, porque eu não sei, meu contrato com os autores
não garante isso. E no Brasil existe uma coisa chamada direito autoral, que não existe nos
Estados Unidos. No Brasil não existe Lei de direito autoral, existe lei de copyright, que é
uma coisa completamente diferente lá. Estados Unidos existe o copyright, ou seja, você
negocia o dinheiro de reproduzir uma obra, que diferente do direito autoral que existe no
Brasil, que existe na França. Que discute o direito do autor como e quanto autor, então o
autor do Brasil embora ele me venda o direito de produzir o livro, ele não vendeu a alma,
então se eu decidir que quero transformar o personagem dele e transformar em botar
propaganda de cigarro, ele pode dizer ”não, não, eu sou contra fumo, meu personagem
não vai fazer propaganda de cigarro” e ele como autor tem esse direito no Brasil, não tem
no resto do mundo. Se eu posso garantir que o livro vai estar lá, aqui eu não posso, então
não me vejo no direito de colocar um livro eletrônico na Saraiva, na Cultura ou sei lá onde,
na Apple Store onde isso está assinado no meu contrato e eu não posso garantir isso para
nenhum deles e não posso fazer isso com o meu autor. A menos que, a gente assine o
contrato onde está definido que vai ser assim, então como não tem nenhum contrato assim
até hoje, eu não vendo livro eletrônico para ninguém. Sei lá, é, qual é o efeito eletrônico, eu
sou velho suficiente para não ler muito, embora acesse sites que tem livros a disposição,
Domínio público, Projeto Gutenberg, Projeto Gutenberg na Austrália, tem uma série de
livros ai, em geral eu inclino livro para ler, eu gosto de sentar em espaço natural ou eu
gosto de acender o abajur e ficar lendo, acho laptop no colo desconfortável... às vezes um
ipad... mas, até onde eu sei, né, isso é uma coisa que vem decrescendo, a venda [de livros
eletrônicos], ela a parou de crescer, eu não sei para onde a gente caminha, se para livro
eletrônico ou para livro de papel, ou seja lá qual forma que a gente vai transmitir
informação nem sei se o formato livro sobrevive né? Tinha uma livro aqui em cima, que se
chama Maravilhas do conto português, essa é uma ontologia que foi escrita por alguém,
isso é uma coisa que não sobrevive no livro eletrônico você vai ao pedações como você
vai ditando essas coisas, eu sei que tem um processo famoso do Pink Floyd contra a
gravadora, proibindo a gravadora de vender as músicas do álbum separados, ou compra o
álbum inteiro, isso faz parte do que eles iam fazer com o músico, como se comprasse a
42
nova sinfonia de Beethoven eu só quero o coral, não quero o resto” desculpe não faz muito
sentido, então quando eu passo por uma coisa eletrônica eu começo a ver esse tipo de
aberração que no físico não existe, existe digamos mensagens contraditórias do público
em geral. Hoje, a venda de vinil está crescendo, é, sei lá porque. Quando a gente publicou
o livro do Carlos Ruas, Um Sábado Qualquer, que tava de graça na internet para todo
mundo a gente vendeu duas edições, porque estava de graça, porque as pessoas
compraram? E o cara tinha um monte de fila lá, e gente para autografar o livro, que não dá
para autografar um livro eletrônico, que é um monte de bit, não sei para onde vai, mas
enquanto a gente tiver apego pela relação com o autor, a gente vai, ainda vai ter alguma
coisa física, mas não sei para onde vai, como a gente nunca vendeu eletronicamente eu
não sou capaz de comparar. Tanto lá, quanto por é, financiamento coletivo.
Rafael - financiamento Coletivo.
Douglas - Nosso autor de tabuleiro da Espanha, Xavi Garriga, ele acha que a gente não
devemos fazer financiamento coletivo, porque como editores nós devemos ter certeza do
que estamos publicando, se eu tenho certeza do que eu estou publicando, eu me sinto na
obrigação de fazer o investimento necessário, não vou dizer assim, vou publicar esse jogo
“Se” vocês me derem o dinheiro. Que teoricamente é o que faz o financiamento coletivo,
ou eu acredito no que eu estou fazendo ou eu não acredito, esta tem sido a posição da
gente, não vai mudar, até hoje tem sido essa a posição se eu acredito eu público, se eu
não acredito, eu não tenho nada contra quem faz né, imagino, muita gente que faz e diz
“que isso é bom para divulgar o produto, eu estou preocupado com o dinheiro”, pode ser...
Outra vez continuo sendo antiquado, continuo fazendo as coisas da maneira que talvez a
gente deve-se mudar, mas a gente ainda tem alguns valores, talvez antiquados a gente
ainda acredita em ter uma relação com o autor, que vai um pouco além do comercial, eu
acredito no seu trabalho e vou trabalhar por ele e a gente espera que o autor também
trabalhe pelo trabalho dele. Ele faz indo nas escolas, uns trinta dias, note de autografo,
dando entrevista, sei lá, isso é tudo que a gente pede, essa é a relação que existe.
Rafael - O futuro do RPG, da Devir?
Douglas - Eu falei em algum momento, não sei se estava gravando ou não, não existe
futuro sem imaginação, para imaginar um futuro, a gente está se espalhando feito uma
praga, é... uns países, uns povos, mas o que é mais interessante talvez é, eu acho que a
43
gente vai continuar produzindo, aquilo que a gente gosta de fazer, uma vez eu, eu fui
convidado para fazer parte de um FIQ fazer parte de uma mesa redonda, era eu, Rogério
de Campos e Sidney Gusman, e em algum momento lá alguém perguntou, para os três da
mesa, qual é o critério de escolha dos títulos, qual é o critério editorial, “eu sou editor”,
ainda bem que eu fui o primeiro responder, porque deu tempo de criar um critério.
Rafael - (Risos)
Douglas - a gente não tinha lá um critério formal, uma comissão, que escolhe, não tem
nada disso, por enquanto. E eu disse mais ou menos o critério que a gente usa até hoje,
gente não publica nada que a gente não compraria para a gente mesmo. Um cara quer
publicar um livro ou um jogo, seja lá o que for, por que ele é moda nesse momento, por
tem um seriado, e que daqui três meses vai estar na prateleira de todo mundo como
memorabilia. Eu não estou interessado, eu quero jogos para serem jogados, livros para
serem lidos, essa é a função de cada editor, então a gente procura, publicar aquelas
coisas que nos interessam, claro e tem coisas que nos interessam e coisas que vão vender
mais que vai vender menos, claro que a gente tenta unir as duas coisas. O que nos
interessa e o que vai vender alguma coisa suficiente ir lá fazer o que nos interessa. Tem
uma fala de um editor italiano, que dizia assim ou diz, “vou continuar publicando até ser
preso” então é mais ou menos isso, o objetivo, quando a gente começou a Devir o objetivo
era “vou me aposentar rico, e vou arrumar uma casa nas Bahamas e não vou fazer mais
nada na vida” começou querendo fazer um trabalho que a gente acha interessante, que
queria ter disponível para a gente, e a gente continua fazendo isso, editar é uma coisa
apaixonante se a gente gosta de livro e de jogo, mas se tem oportunidade de trabalhar
com aquilo, você vê tanta coisa boa para fazer, que vira uma paixão, por isso quando eu
disse, eu quero publicar até se peso, por que o cara acha que pode falir por publicar mais
do que devia ou coisas erradas, por que ele acha proibido que ele vai ser preso, por que
qualquer questão de censura, mas uma questão talvez econômica, publicar também é uma
loteria, você não sabe qual vai ser a reação do público, e quando você vai atrás do que já é
sucesso, você está em um jogo de cartas marcadas, nem a compensação nem emocional,
nem pessoal, nem financeira é a mesma, então quando você descobre se vai lá, você
descobre uma coisa nova e publica uma coisa nova, a satisfação é muito maior e o retorno
é muito maior, quando eu entro em um negócio que já é famoso, os custos são sempre
muito maiores, quando eu entro em uma negócio que está no começo, até a relações são
44
diferentes, são mais amistosas. A gente sempre anda por essas beiradas, espero que a
gente continue produzindo, as coisas que interessam para quem trabalha lá, por muito
tempo, seja videogame, tabuleiro, seja jogo de tabuleiro, seja livros, cadeias de literatura,
RPG não importa, o que a gente gosta de fazer também a gente não deve sair, a gente
gosta de entretenimento, claro publica algumas coisas sérias, no geral entretenimento
gosta da ideia que sabe escolhe bons tipos de entretenimento para as pessoas.
Rafael - Enquanto ao futuro do RPG na Devir?
Douglas - Ok, a gente está trabalhando algumas coisas né, que a gente tem lá, tem
algumas coisas sendo produzidas de Pathfinder, tem algumas coisas sendo produzidas de
Um anel, que tão trabalhando e eu estou trabalhando na tradução e adaptação do sistema
italiano chamado Lex Arcana, que é, era um jogo, foi escrito por dois italianos, ambientado
no império romano, eu estou tentando generalizar, eu quero, tirar toda a parte que, toda
vestimenta do cenário e ficar com o sistema e ai a partir dele, e aí eu quero, a partir dele
eu quero, eu vou produzir uma coisa parecida com GURPS regras básicas, eu quero um
RPG de 48 páginas, custando 15 reais para vender nas escolas. Para todo mundo que
queira saber o que é RPG e não precise ler 250 páginas ou quinhentas e oitenta, que nem
o Pathfinder.
Rafael - Começa com esse depois vai ler os 500...
Douglas - Depois se você achar que é uma coisa que vale apenas você vai procurar não é
uma coisa fácil tenho que fazer nas horas vagas por que tenho outras funções, mas, e a
gente está voltando para a escola, fazendo evento em escola, tabuleiro ajuda muito,
porque é uma coisa inteligível porque o professor não sabe o que RPG, ele sabe o que
Banco Imobiliário e WAR, então fala tabuleiro ele tem alguma noção. Os alunos
obviamente preferem jogar do que ficar na aula, é melhor jogar qualquer coisa do que ficar
na aula de matemática, trigonometria, sei lá o que, então todo mundo gosta da ideia, os
eventos têm sido bons para todo mundo. E queira ou não queira, alguns jogos de fato
ensinam alguma coisa para a pessoas, raciocinar, existem jogos cooperativos como Ilha
Proibida, Pandemia, vários outros, que a gente tem publicados alguns outros, e alguns
jogos tem mecânicas completamente diferentes de qualquer coisa que você possa
imaginar. Codinomes, por exemplo, é um jogo que você joga e você tem que conhecer
[seu parceiro], você joga em equipe, ou você conhece seu parceiro ou você tem que tipo
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de referências culturais ele tem ou você nunca vai ganhar uma partida, porque você tem
que passar pistas com uma palavra só. Então é, acho essas coisas ensinam as pessoas
apensar juntas, e pode ter utilidade muito grande, então acho que trabalho de escola deve
ficar divertido. Então a gente vai voltar com RPG nas escolas.
Rafael - Uma coisa interessante é que, eu lembro, eu comecei a dar aula em Poços de
Caldas em uma escola pública estava na quinta seria na aula de História quando eu olho
um aluno no fundo da sala com um livro do jogador terceira edição, lendo, com aquelas
letras deste tamanho, um livro, quinta série, e ai eu falei: “Mateus guarda o D&D, que
depois a gente conversa” “ah, o senhor joga RPG?”. “Jogo.” Desse dia em diante ele
sempre foi muito ativo porque meu deus o professor sabe que mundo estou lidando. Sobre
a Devir, eu queria que você falasse, primeiro, você mudaria alguma coisa nesses 29 anos?
Douglas - Não, não, assim, poderia ter sido mais fácil, mas eu acho que fosse muito mais
fácil não poderia ter tão divertido. A gente tinha uma conversa interna, eu, Mauro e Eliana,
se tem uma coisa que a gente não pode reclamar é de que a vida ter sido monótona. Ela
nunca foi monótona, sempre teve que correr atrás de alguma coisa, seja por estar tendo
que correr atrás de alguma coisa, ou porque estava crescendo o por que tinha problemas a
resolver. Então, isso a gente não pode reclamar, a vida não foi monótona, foram 29 anos
de coisas compensadoras do ponto de vista de satisfação. Então não, não mudaria nada.
Como eu disse em algum momento aí, a gente começou exatamente do nada, começou
com o equivalente na época a quatro mil dólares. Foi uma carga, a única coisa que a gente
fez foi sempre reinvestir o tempo inteiro. Saiu distribuindo dinheiro, em estrutura, não que
existisse algum plano, vamos virar uma nova multinacional e dominar o mundo, uma nova
Hasbro, Estrela, ou a Grow, seja lá o que for, a gente só queria continuar fazendo, e o
grande problema do mundo é que a medida que você vai tomando contato com essas
coisas você vai descobrindo cada vez mais coisa boa para você fazer. Esse “pô, agora eu
preciso de mais para fazer mais”, então a gente passa o tempo inteiro colocando tudo em
volta lá para fazer máquina. Mas, eu não mudaria isso não, foi isso que gerou toda a
satisfação.
Rafael - Por fim, eu queria que você comentasse que nesses 29, qual a marca que a Devir
deixou em uma geração, em uma juventude e adolescência que hoje são adultos, pais,
professores, e pesquisadores, e muito dessa experiência acabou sendo, de certa forma,
direcionada ou muito influenciada pelo seu trabalho, pelo trabalho de vocês.
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Douglas - Eu encontro bastante gente por ai que “puta, nossa, RPG” o último Comic Con
tinha um rapaz que foi lá fazer uma entrevistas, e ele estava visivelmente nervoso, ele
estava tenso, “desculpa, você mudou minha vida”. Isso é, putz, é uma satisfação imensa,
eu não quero mudar a vida de alguém, ou dizer para as pessoas o que é importante para
elas fazerem ou não, esse é um carma muito grande para carregar, sei lá quanto tempo eu
vou levar para mudar esse carma. Mudei a vida das pessoas, mas é muito bom saber, é
gratificante saber, o que a gente fez foi importante, de alguma maneira, e eu vejo isso toda
hora, encontro um monte de gente por aí. São casos interessante, por exemplo, a Silvana
tem uma sobrinha que estudava em Bandeirantes, na época de ser jogador de RPG nunca
teve muito prestígio. Aí um dia ela comentou, “minha tia trabalha lá” “qual o nome dela?”
“Silvana” “Silvana! Você conhece?” “é, é a minha tia né?” e aí ela começou a ser
reverenciada. Então eu mesmo um dia eu estava no aeroporto, eu ia... e não conseguia
fazer o meu check-in, estava uma confusão, era American Airlines, estava uma confusão,
uma gente de gente para todo lado e ninguém se entendia, eu fui lá naqueles totens e não
consegui, diz assim, procura um funcionário da American Airlines. Aí estava passando uma
moça, mostrei para ela “Por favor, me ajuda aqui. Não está lendo”, [ela respondeu] “então
vai lá, e fala com alguém do check-in” eu olhei para fila falei “vou perder o avião, né?”
“Você não é funcionária da American Airlines?”. “Eu sou, está escrito aqui”, mas ela não
conseguia resolver. E ai quando eu estava meio indeciso sobre o que fazer, eu ouvi uma
voz dizendo “Oi, Douglas, tudo bem?” Eu olhei e estava lá, o Daniel Borba: “Oi, tudo bem,
está perdido?”, “ah não consigo fazer check-in”. Aí no caminho ele me disse que ele era o
coordenador do Check-in da American Airlines naquele aeroporto (risos). Aí ele me levou
lá, passou pela fila dos privilégios todos, “por favor você faz o Check-in dele”, em 30
segundos ela fez o Check-in. Não é pelo privilégio, o cara me ajudou muito, porque eu ia
perder o avião mesmo. É interessante, quando a gente começou o internacional em 1993,
eu conheci um monte de gente que tinha 12 e 13 anos, e agora eu encontro essas pessoas
com 30 e 40, e eles são adultos, fazem alguma coisa da vida né. E dão valor, por aquilo
que a gente fazia naquela época. Então é sempre agradável encontrar, porque a gente
começa a falar de coisas boas, dos dois lados. Para ele que ia lá se divertir, e para a gente
que estava lá organizando, porque organizar festa é tão bom quanto participar da festa,
então a gente produzir alguma coisa que a gente dividiu com o público o tempo inteiro.
Dividiu no sentido de ser prazeroso. Para a gente não era chato, realizar o trabalho, talvez
se eu estivesse vendendo computadores como eu estava antes fosse chato, mas... mas a
gente estava fazendo uma coisa que foi bom para a gente e para o público que era o
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nosso cliente, e essa foi a melhor coisa possível. A melhor coisa dos 20 anos e a melhor
coisa de encontrar esse pessoal por ai, tem uma rapaz não vou dizer o nome dele, não em
lembro, encontros sempre ele, e ele me chama de padrinho, todo lugar padrinho não sei o
que, e eu encontro ele está com mulher, filho, filho já grande, e tem um monte de gente
que eu encontro por ai, o filho dele vai na Devir, o Alberto mesmo, filho dele vai lá comprar
Yu-gi-oh, eu não conheci o Alberto Criança, conheci adulto. É muito bom, o fato de que, as
pessoas que estava acompanhando a gente, dá valor e a gente possa dividir essa coisa aí,
se encontrar e falar com alegria, comentar coma alegria o passado, foi uma coisa ótima
para todo mundo, acho que foi a coisa mais valiosa, mais importante que a gente tirou da
Devir. O quanto as pessoas gostaram e guardam em si até hoje.
Rafael - Bom, as pessoas se encerraram, depois de um pouquinho de fala, e muitas outras
imagino que vocês todos vão comentar... Lembrei de uma última pergunta sobre os dois
criadores do D&D.
Douglas - O David Arneson e o Gary Gygax.
Rafael - Eu lembrei agora nos 45 do segundo tempo
Douglas - Eu conheci muito mais o David Arneson porque ele já veio no Brasil, e toda
história, fiz uma operação com ele, traduzinho para ele, David Arneson era mais retraído, e
eu acho que ele era... a impressão que eu tenho é que o David Arneson foi o cara que...
criou o RPG no sentido, ah vou fazer uma coisa de contar uma história do campo de
batalha, vou contar a contar a história desse soldado e daquele, e vamos esquecer os
papéis eu acho que o Gary Gygax era mais o técnico o cara que escrevia as regras, tinha
criado regras para jogos de estratégia e sabia como manusear isso, e a junção dos dois
criou algo muito especial. O Gary Gygax conheci muito mais superficialmente, [e] mais,
conheci a TSR, encontrava com ele nos eventos e conversamos muito mais
profissionalmente. Eu sei que eles se desentenderam em uma altura da vida, e David
Arneson saiu da TSR que era a empresa dos dois, mas é... ainda bem que eles fizeram.
(Risos).
Rafael - Que bom que eles fizeram
Douglas - É para louvar os caras criaram, e eu fico feliz quando, por exemplo, olho um
dicionário como o Webster e tem um verbete chamado Dungeons & Dragons, você olha a
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enciclopédia Britânica tem um verbete sobre o David Arneson, os caras criaram algo
importante.
Rafael - Douglas Obrigado pela contribuição.
Douglas - Obrigado a você.
Rafael - A gente vai continuar entrevistando outras pessoas do cenário do RPG Nacional,
gente, obrigado, e a gente se vê na próxima, tchau tchau.
49
O último RPG de Douglas Quinta Reis
Conheci o Douglas Quinta Reis em 1995, quando ele ministrou um curso sobre RPG
na Educação na Casa da Cultura de Poços de Caldas. Na época, eu tinha 15 anos e já
jogava RPGs. A conversa com ele foi tranquila e enriquecedora, como continuou sendo. A
partir daí, reencontrava-o todos os anos nos Encontros Internacionais de RPG que
ocorriam em São Paulo.
Durante estes 22 anos, conversamos sobre muitas coisas, mas principalmente
sobre RPG, literatura, ciência, história, etc. Retrospectivamente o que me espanta é como
ele conversava seriamente de igual para igual com um jovem de 15 anos sobre os mais
variados assuntos.
Passei a frequentar a Devir Livraria todas as vezes em que vinha para São Paulo e
sempre era muito bem recebido por ele. Acompanhei, a partir de 2002, todos os Simpósios
de RPG e Educação promovidos pela Ludus Culturalis e, mesmo com o fim da instituição e
dos eventos de RPG, continuei mantendo contato com o Douglas, trocando informações
sobre jogos, experiências, etc.
Muitas vezes eu lhe mostrava fotos sobre minhas atividades na escola, sobre a
quantidade de jovens jogando juntos, jogos de RPG e larp que utilizava com os alunos, etc.
até que recebi um e-mail dele: “Quero publicar sua dissertação de mestrado sobre RPG e
educação. Vamos voltar para o RPG na educação. Quero, inclusive, retomar o contato com
os pesquisadores da área de RPG e educação.” Ensaiava-se um grande retorno.
O contato continuou frequente. Resolvi escrever e experimentar edularps e, após
alguns testes, procurei-o novamente para falar sobre um edularp escrito por mim chamado
“A perdição troiana” e combinamos de publicar o jogo até que outro e-mail dele chegou
para mim: “Gostaria de fazer uma reunião com você”. Marcamos um dia e ele me convidou
para escrever RPG para a Devir: “Voltei para o RPG e quero publicar um livro barato e
acessível. Tem um RPG italiano, chamado Lex Arcana, que o tornarei genérico e precisarei
de alguém que escreva suplementos. Topa?”
Respondi afirmativamente, mas que precisaria de um grupo de criação e, ao sair do
escritório da Devir, mandei mensagens convidando amigos e iniciamos as discussões.
Douglas nos mandou os arquivos já traduzidos e começamos a organizar o livro, mas tinha
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uma dificuldade: o sistema de magias de Lex Arcana estava preparado para narrativas em
uma Roma antiga e mágica, sendo, portanto, muito específico.
Em outra visita à Devir, ele me informou: “mandei colocar larps em nosso cardápio
de jogos a serem oferecidos para as escolas”. E, meses depois, a publicação já previa a
utilização de larps junto de RPGs, jogos de tabuleiro, etc.
Durante o trabalho de organização para Lex Arcana, um membro de nosso grupo
(Matheus) escreveu um texto para pensar sobre um sistema de magia para a versão
genérica deste jogo. Enviei-o para o Douglas, para apontar-lhe: estamos trabalhando. E a
resposta dele foi: “Que acha de deixarmos Lex Arcana de lado e fazermos um sistema
novo baseado nestas regras? Creio que os professores de redação vão adorar este
sistema de regras”. Nosso grupo aceitou prontamente e passamos a trabalhar como loucos
em um sistema chamado Imaginaria (sem acento, do latim).
Grupo reunido, trabalho em andamento e convidamos o Douglas no dia 7 de maio
para uma reunião para explicar o sistema. Assim que chegou, por volta das 14 horas,
servi-lhe um chá e começamos a conversa com nossas discussões e reflexões.
Um dos pontos em tensão era sobre a escolha entre duas palavras: “Aventura” e
“Paixão”. Douglas ouviu e propôs uma sugestão: “Romance”. Ficamos bem satisfeitos. Em
determinado momento nós lhe perguntamos: “Tem problema em utilizar termos como
Ethos e Habitus?”. Sua resposta foi automática: “Eu usei ‘abascanto’”. E começou a rir.
Depois de um tempo de discussão, ele nos disse: “Nunca vi um RPG ser feito com tanta
preocupação com os termos utilizados”. Ao final da reunião voltamos para nossas vidas
muito satisfeitos.
Passamos meses criando o sistema e testando suas regras, mas ainda faltava algo:
um sistema de magia. Apesar de termos um sistema de RPG completo e testado, não
tínhamos regras para resolver o problema inicial. Comentei com o Douglas, que me
respondeu: “A magia tem seu preço”.
Conseguimos resolver o jogo e ele chegou a ser anunciado no World RPG Fest de
Curitiba para o fim de 2017 ou o começo de 2018. Estava quase pronto para publicarmos.
Outubro chegou e concluímos o livro. Mandei-o num e-mail e liguei para o Douglas
no dia 10 de outubro, que prontamente respondeu: “Vou lança-lo na Virada Nerd. Quero
este livro custando 20 reais.”
Dia 11 recebi um e-mail dele em que me avisava que mandaria os contratos dia 16
de outubro e que gostaria de publicar vários livros, não apenas o módulo básico. No
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entanto, no dia 13 de outubro, acordamos todos com uma notícia extremamente triste:
Douglas falecera.
Passei 22 anos admirando seu trabalho e, quando finalmente começamos a
trabalhar juntos, ele se foi. A princípio não sabíamos mais o que fazer, mas decidimos
reorganizar o jogo e alteramos seu nome para Hybris, visto que está mais próximo do tema
das histórias a serem narradas pelo jogo.
Resta-nos a certeza de que não podemos deixar de publicar o último RPG que o
Douglas participou de sua confecção.
Rafael Carneiro Vasques
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Últimas palavras sobre um velho alquimista
Em dezembro de 2017 a Devir Livraria fez uma exposição no Museu da Imagem e do Som.
Nela havia um painel gigante homenageando Douglas Reis, comparando-o com um bardo.
Não concordo com isso. Douglas não era apenas um contador de histórias. Douglas era
mais um transmutador, um mago que pegava conhecimentos e transformava em algo
maior, uma história que se transformava em uma lição, uma experiência que podia se
transformar em uma aventura. Como se fosse um alquimista.
Falar do Douglas é meio difícil depois de tudo isso que vocês devem ter lido antes deste
texto. Meu amigo Rafael Vasques conseguiu fazer uma entrevista maravilhosa com o
Douglas, e ainda falar sobre um dos últimos projetos que ele tinha planejado.
Depois de uma entrevista como essa, pode parecer que não há nada mais a dizer, mas
não é verdade, porque, Douglas pouco falava sobre si. E essa é a faceta mais interessante
dele, talvez mais ainda do que toda sua vasta obra. Porque Douglas Reis era o tipo de
pessoa que o mundo diminui muito quando perdemos sua presença.
Meu relacionamento com ele começou a diversos anos, não sei bem precisar exatamente
quando foi, algo próximo do ano 2000. Fui apresentado por outro amigo que também já se
foi, Marcelo Leite, durante um dos primeiros EIRPG. “Esse é o Douglas, um dos donos da
Devir”, e me apresenta para um senhor aproximadamente dez anos mais velho que eu
(quinze, na verdade), franzino, carregando cadeiras e mesas no desmonte do evento. Esse
senhor, sem nunca ter me visto, estendeu sua mão e segurou firme, com um sorriso
sincero. Qualquer dúvida que eu tivesse, se desfez naquele momento.
Nos anos seguintes, eu vi muito esse senhor, que me impressionou cada vez mais.
Douglas era sócio fundador da LUDUS CULTURALIS, associação que estimulava o uso de
estratégias lúdicas na educação, com certa ênfase no RPG. Eu entrei na associação como
Coordenador de equipe, virei coordenador geral e depois presidente da associação por 4
anos. Em nossas reuniões pude acompanhar melhor aquele homem de aspecto sonhador,
sempre muito calmo e com grande tendência a escutar as pessoas. Não era incomum ele
fechar os olhos e dar a impressão a seus interlocutores que estava dormindo,
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principalmente em discussões mais longas. Mas essa impressão passava logo, pois ele
rapidamente mostrava que estava sim atento a tudo.
Esse talento de Douglas para ouvir o tornava muito procurado. Sempre havia um escritor
querendo mostrar um novo livro, ou um quadrinista, ou um designer de jogos... e ele
pacientemente escutava cada assunto. Isso era fruto do respeito grande que ele possuía
pelas pessoas. Sua disposição para escutar era genuína, assim como sua aversão por
discussão. Em uma certa ocasião, quando mencionei uma discussão que acontecia na
internet, lembro dele olhando para o horizonte invisível, algo que só ele enxergava, então
virou pra mim e disse “A vida é muito curta para desperdiçarmos nosso tempo com coisas
tolas. Deixa eles falarem o que quiserem.”
Seu caráter “meio-Zen” era um estilo de vida. Em outra ocasião, discutíamos sobre
publicações. Ele então me vira e diz que o critério dele para publicar qualquer coisa era
que ele tinha que se orgulhar daquele livro, não interessa o assunto. Se isso acontecesse,
ele publicaria. Isso explica várias publicações que destoaram da linha editorial da Devir no
passar dos anos. Numa outra discussão, conversávamos sobre as muitas críticas que
livros da Devir recebiam críticas por erros de produção. Ele então respondia que ele
acreditava que as pessoas sempre melhorariam, desde que devidamente estimuladas.
Enfim, Douglas tinha um jeito único de ver a vida. Era um observador do gênero humano.
Era um devorador voraz de livros de assuntos muito diversificados. Era um humanista, mas
apaixonado por ciências. Era um ótimo ouvinte, mas sempre tinha uma história para
contar, com um final intrigante ou engraçado. Douglas era um amigo e mentor.
Em sua memória, resolvi criar a ideia do Dia Nacional do RPG. Por causa disso eu escrevi
vários textos, e este é um dos últimos. Eu não sei mais o que escrever sobre ele, mas
posso dizer que sua falta é muito dolorosa. O mundo perdeu uma cor, uma cor importante,
quando ele se foi. Podemos viver sem essa cor, mas ela fará muita falta.
E este momento, quando o silêncio avança, seria neste momento que ele contaria uma
história muito divertida. Porque assim era Douglas Reis, um homem que só queria fazer as
pessoas a seu redor mais felizes. E este é o seu legado.
Jaime Daniel Rodríguez Cancela
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NORMATIVAS PARA PUBLICAÇÃO
1. A Revista MAIS DADOS aceita apenas artigos inéditos para publicação. 2. Os artigos são recebidos por meio eletrônico no e-
mail: [email protected] 3. Artigos devem conter no minimo 25.000 caracteres (sem espaço), resumo, palavras-
chave, abstract e keywords e deve ser salvo em arquivo Word. Devendo conter e-mail de contato, titulação e filiação do autor.
4. A formatação de entrevistas, jogos, resenhas e traduções será discutida diretamente com o editor chefe pelo e-mail informado.
NOTAS DE ORIENTAÇÃO SOBRE FORMATAÇÃO
4.1. Os artigos deverão ser acompanhados de resumos, em português e inglês ou
espanhol, com extensão entre 5 e 10 linhas, acompanhados por 3 a 5 palavras-chave
nos dois idiomas.
4.2. A formatação da primeira página deverá seguir os seguintes parâmetros:
a) título em caixa alta, centralizado, em negrito, fonte Times tamanho 14;
b) subtítulo centralizado, em negrito, fonte Times 12, com primeira letra maiúscula e o
restante em caixa baixa;
c) nome do autor, alinhado à margem direita, em negrito e em fonte Times tamanho
12, seguido de RESUMO, PALAVRAS CHAVE, ABSTRACT e KEYWORDS, todos em
fonte Times tamanho 12.
d) Em nota de pé de página, deverá aparecer a instituição em que trabalha e a
titulação acadêmica.
4.3. O texto deve ser formatado em:
a) fonte: Times, tamanho 12;
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b) espaçamento entre linhas: 1,5;
c) margens: 3 cm superior e esquerda, 2 cm inferior e direita;
d) Alinhamento: justificado
e) parágrafo: recuo de 1,25 cm na primeira linha e espaçamento de 0 ponto, antes e
depois.
4.4. As citações constituem-se de transcrições de materiais com mais de três linhas.
Devem aparecer abaixo do texto, em fonte Times tamanho 10, sem aspas, com recuo
de 4 cm da margem esquerda, sem recuo da margem direita, que permanece alinhada
ao resto do texto, e com menção ao trabalho consultado em nota de rodapé.
4.5. As ilustrações (fotos, tabelas e gráficos) quando forem absolutamente
indispensáveis, deverão ser apresentada no corpo do texto, acompanhadas da
respectiva legenda (de acordo com a respectiva legenda) na sua forma definitiva.
4.6. As notas de rodapé deverão ser indicadas no corpo do texto por algarismo
arábico em ordem crescente e listadas no rodapé da página, em fonte Times tamanho
10, com alinhamento justificado e espaçamento entre linhas simples.
4.7. A publicação de jogos devem conter como elementos obrigatórios: título e
referencia bibliográfica/ludográfica, os demais são variáveis de acordo com o tipo de
jogo. Segue abaixo sugestão do editor:
ORIENTAÇÕES SOBRE CITAÇÕES
5.1. Livro:
SOBRENOME, Nome. Título em negrito. Local de publicação: Editora, data.
Ex.: PORTELLI, Alessandro. República dos Sciuscia. São Paulo: Salesiana, 2004.
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5.2. Texto em coletânea:
SOBRENOME, Nome. Título. In: SOBRENOME, Nome
(Org.). Título do livro em negrito. Local de publicação: Editora, data. p. inicial-
final.
Ex.: KHOURY, Yara Aun. Muitas memórias, outras histórias: cultura e o sujeito de
história. In: ALMEIDA, Paulo Roberto de; FENELON, Déa Rirbeiro; KHOURY, Yara
Aun; MACIEL, Laura Antunes (Orgs.). Muitas memórias, outras histórias. São
Paulo: Olho d’Água, 2004. p. 116-138.
5.3. Artigo em periódico:
SOBRENOME, Nome. Título. Título do periódico em negrito. Local de publicação,
volume, número, página inicial-página final, mês e ano da publicação.
Ex.: MARTINS, Estevão. Historiografia: o sentido da escrita e a escrita do
sentido.Historia & Perspectivas, Uberlândia, n. 40, p. 55-80, jan.-jun. 2009.
5.4. Trabalho acadêmico:
SOBRENOME, Nome. Título em negrito: subtítulo. Ano de Depósito. Folhas.
Teses/Dissertação/Monografia/Trabalho de conclusão de curso (Nome do Curso)–
Unidade onde foi defendida, Universidade, Local, ano de defesa.
Ex.: FREITAS, Sheille Soares. Por falar em cultura: história que marcam a cidade.
2009. 209 f. Tese (Doutorado em História Social)–Instituto de História, Universidade
Federal
5.5. Artigo e/ou matéria de jornal:
SOBRENOME, Nome. Título. Título do jornal, Local, data. Caderno, p.
Ex.: HOFLING, E. Livro descreve os 134 tipos de aves no campus da USP. O
Estado de S. Paulo, São Paulo, 15 out. 1993. Cidades, Caderno 7, p. 15. Depoimento
a Luiz Roberto de Souza Queiroz.
57
5.6. Imagens em movimento:
TÍTULO: subtítulo. Diretor, produtor. Local: Produtora, Data. Especificação do suporte
em unidades físicas. Notas complementares.
Ex.: BAGDA Café. Direção: Percy Adlon. Alemanha: Paris Vídeo Filmes, 1988. 1 filme
(96 min)
5.7. Documento iconográfico ( fotografias, cartões postais, gravuras e outros):
SOBRENOME, Nome. Título. Data. Características físicas (especificações do suporte,
indicação de cor, dimensões).
Se o documento estiver em forma impressa ou meio eletrônico, acrescentam-se os
dados da publicação (local, editora, data) ou endereço eletrônico.
Ex.: COMETA de Harley, 1986. 1 fotografia, p&b., 12cm x 8 cm. NORMANDIA: Lago
Caracaranã. Normandia: Desenho Letra e Música, 1986. 1 cartão-postal, color., 11cm
x 15cm. RAUSCHER, B. B. da S. Dublê de Corpo. 1985. 10 gravuras, xirograv., p&b.,
61cm x 92cm. Coleção Particular.
5.8. Documento eletrônico:
Para documentos em suporte eletrônico, são necessárias, ainda, as informações
sobre o endereço eletrônico, apresentado entre os sinais < >, precedidos da
expressão “Disponível em:” e a data de acesso ao documento, precedida da
expressão “Acesso em:”.
Ex.: AUTONOMIA universitária: anteprojeto da Andifes. Disponível em:
<http://www.ufba.br/autonomia-andifes.html>. Acesso em: 30 abr. 1989.
5.9. Jogo
Desenvolvedor. Titulo. Categoria. Local: ano.
Ex: Grow. Perfil 5. Tabuleiro. São Paulo: 1997
5. Ao final do texto, em página anexa, informar o endereço anexo completo para correspondência e telefone de contato.
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6. A simples remessa dos originais implica em autorização para publicação, que fica condicionada a provação de pelo menos 2 pareceristas do conselho executivo. Todos os trabalhos serão previamente apreciados pelo Conselho Executivo da Revista e enviados, para análise, aos pareceristas indicados por ele.
7. Os originais submetidos à apreciação do Conselho Executivo não serão devolvidos. A Revista compromete-se a informar os autores sobre a publicação ou não de seus artigos.
Revista MAIS DADOS
Endereço:
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Narrativa da
Imaginação
Revista MAIS DADOS
Quintino Bocaiúva, 2801 – Bairro: Lagoinha
CEP.: 38400-056 – Uberlândia – MG
Home page:
http://narrativadaimaginacao.org.br/home/revista/
E-mail:
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REGIMENTO INTERNO DA REVISTA MAIS DADOS
DESENVOLVIDA PELA ONG NARRATIVA DA IMAGINAÇÃO
Art. 1º – A Revista Mais Dados é uma publicação virtual e periódica – em princípio,
anual – destinada exclusivamente à divulgação de temas relacionados com Role
playing.
Art. 2º – A Revista Mais Dados será dirigida por um Conselho Editorial, composto de
três membros: a) Dois professores do quadro docente da Universidade Federal de
Uberlândia, sendo eleitos pela direção da ONG; b) Um Editor Chefe responsável,
escolhido pela ONG que exercerá as funções de secretariado, junto ao conselho
executivo.
Art. 3º – Subordinadas e votadas pelo Conselho Editorial coexistirá duas Conselhos
menores:
a) Conselho consultivo – composta por notáveis pesquisadores, nacionais e
internacionais, articulistas da Revista Mais Dados, a critério do Conselho Editorial.
b) Conselho executivo – Composta por um membro do conselho Editorial, mais dois
mestres ou doutorandos, selecionados pelo mesmo conselho.
Parágrafo Primeiro – O mandato dos membros dos três colegiados será de quatro
anos, coincidentes, admitida a recondução.
Parágrafo Segundo – O Conselho Editorial e a Conselho consultivo escolherão um de
seus membros, professor, para exercer a respectiva Presidência, com mandato de
quatro anos, admitida a recondução.
Parágrafo Terceiro – Todas as decisões serão tomadas por maioria de votos dos
membros presentes, ou, excepcionalmente, por correio eletrônico.
Art. 4º – Ao Conselho Editorial compete:
a) Incluir, manter ou excluir os membros do conselho consultivo e executivo;
b) Deliberar sobre os casos omissos ou não resolvidos pelo Conselho consultivo;
c) Decidir sobre recursos impetrados contra deliberações do Conselho consultivo;
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Art. 5º – À Conselho consultivo compete:
a) Deliberar sobre as normas de publicação da Revista;
b) Selecionar matérias para publicação;
c) Nomear pareceristas em casos de publicações que ensejem dúvida ou polêmica;
Art. 6º – À Conselho Executivo compete:
1. a) Formatação, execução e organização da estrutura da revista; 2. b) Ilustrações, capa, e design da revista; 3. c) Organização do site, arquivar documentação, informar pareceristas e autores junto
ao conselho editorial.
Art. 7º – Os trabalhos encaminhados à Revista serão distribuídos igualmente entre os
membros do conselho consultivo para apreciação. Em caso de necessidade, poderão
ser submetidos ao Conselho Editorial ou utilizados consultores ad hoc. Compete à
Conselho consultivo a análise sobre os trabalhos a publicar.
Art. 8º – Os autores de artigos deverão ser sempre professores, ex-professores,
professores visitantes, professores convidados e alunos de graduação ou pós-
graduação.
Art. 9º – Todos os artigos deverão ter unitermos (palavras-chave), resumo em inglês
(abstract). Deverão também ser apresentados em forma de arquivo.doc.
Art. 10º – A bibliografia final, as citações e as notas de rodapé deverão ser
apresentadas segundo as normas técnicas da ABNT, em vigor na data da publicação.
Art. 11º – Não serão publicados: a) os trabalhos com mais de 40 (quarenta)
páginas; b) os já publicados em periódicos de grande circulação no meio
jurídico; c) sentenças, votos, acórdãos e pareceres.
Parágrafo Único – Serão admitidos, em cada publicação, até dois trabalhos em língua
estrangeira. Esse limite poderá ser ultrapassado, em casos excepcionais, a critério do
Conselho consultivo.
Art. 12º – Não deverão ser publicados mais de um artigo do mesmo autor, no mesmo
número da Revista. Devendo haver um espaçamento de duas edições de publicação,
promovendo a diversidade de autores e títulos.
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Art. 13º – Os casos omissos serão resolvidos pela Conselho consultivo e, em última
instância, pelo Conselho Editorial.
Art. 14º – Este Regulamento entra em vigor nesta data.
Uberlândia, 25 de Novembro de 2016.
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Resumo da Submissão:
Editor: Analisa á relevância do trabalho e envia para dois parecerista:
CONSELHO CONSULTIVO (Parecer sobre os trabalhos):
1 e 2 aprovam sem modificação: aprovado
1 aprova e 2 aprovam com modificações: retorna ao autor por um tempo
1 e 2 aprovam com modificações: retorna ao autor por um tempo
1 aprova e 2 reprova: envia para um terceiro avaliador
1 e 2 reprovam: reprovado