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FUNDADO POR COLEGAS, CLUBE DE FOTOGRAFIA CAPTURA IMAGENS NA SERRA DE PACATUBA TRADICIONAL BEBIDA DO ESTADO ESTÁ PRESTES A GANHAR SELO DE ORIGEM E QUALIDADE RITOS E ENCANTOS DO MAIOR BLOCO DE AFOXÉ DO MUNDO No. 16 Janeiro/Fevereiro 2009 - Edição Bimestral UMA VIAGEM LINGUÍSTICA SEM TREMA | OUTROS CARNAVAIS | O ARTILHEIRO QUE NUNCA FEZ UM GOL A revista de quem é do Banco do Nordeste

Revista Conterrâneos BNB 16 - "O lirismo de Zé Marcolino"

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Revista Conterrâneos BNB 16 - "O lirismo de Zé Marcolino"

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Page 1: Revista Conterrâneos BNB 16 - "O lirismo de Zé Marcolino"

FUNDADO POR COLEGAS,CLUBE DE FOTOGRAFIA

CAPTURA IMAGENS NA SERRADE PACATUBA

TRADICIONAL BEBIDADO ESTADO ESTÁ PRESTES

A GANHAR SELO DEORIGEM E QUALIDADE

RITOS E ENCANTOS DO MAIOR BLOCO DEAFOXÉ DO MUNDO

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UMA VIAGEM LINGUÍSTICA SEM TREMA | OUTROS CARNAVAIS | O ARTILHEIRO QUE NUNCA FEZ UM GOL

A revista de quem é do Banco do Nordeste

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O lirismo de Zé Marcolino

Poeta paraibano que louvava suas raízes nos versos de suas canções

deixou fortes marcas por onde passou.

Douglas Xavier

Bolsista de nível superior Super - PB

[email protected] sem métrica, mas transbordantes de lirismo, assim são as composições de Zé Marcolino. Imortalizado por suas canções, muitas delas gravadas por Luiz Gonzaga, José Marcolino Alves (nome de batismo) tem posição de destaque na musicalidade do sertão nordestino. Nascido em 28 de junho de 1930, natural do município de Sumé (PB), o compositor é o autor da música Sala de Reboco, cantada pelo Rei do Baião e diversos intérpretes brasileiros.

Sala de reboco é hoje uma marca expressiva da poesia tão peculiar de Zé Marcolino. Além das várias versões já gravadas e regravadas da canção, ela foi também tema do único disco lançado pelo artista paraibano. No Recife, uma casa de forró adotou o nome Sala de Reboco em homenagem ao poeta e à famosa composição, onde conhecidos artistas da região tocam o original forró pé-de-serra. Espalhados pelo Nordeste, existem grupos musicais, não necessariamente de forró, que também levam o mesmo título.

A canção, entretanto, transcendeu a esfera musical. Durante muito tempo, em Sumé, existiu um bar com o mesmo nome, que pertencia a Jurandy Ferreira de Oliveira, conhecido no município como Danda. No bar, o grande admirador de Zé Marcolino expunha fotogra'as, um busto do artista, seu violão e outros artigos.

O “Sala de Reboco”, inaugurado ainda quando o compositor era vivo, foi fechado há poucos meses. Todos os artigos antes expostos no bar, agora estão abrigados na casa de Danda; um verdadeiro museu em homenagem ao artista paraibano.

Jurandy relembra a 'gura de Zé Marcolino com muito saudosismo, e o descreve como “uma pessoa maravilhosa, artista fora de série, um cara muito culto”.

Na dança

Na cidade do poeta, uma trupe carrega também a marca de seu maior sucesso. O Grupo de Cultura Sala de

Todo tempo quanto houver pra mim é pouco

Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco

Enquanto o fole tá fungando, tá gemendo

Vou dançando e vou dizendo

Meu sofrê pra ela só

E ninguém nota que eu tô lhe conversando

E nosso amor vai aumentando e pra que coisa mais mió”.

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alegorias de uma vida rural a realidade de seu povo.

É uma personalidade ainda presente no cenário cultural nordestino, sobretudo pelas canções imortais que continuam sendo gravadas e reproduzidas por muitos artistas.

Há quem tenha motivos especiais para se orgulhar. Um benebeano que conheceu de perto o grande artista: seu 'lho, o colega José Itagibá Alves1, funcionário do BNB, lotado no Ambiente de Auditoria Interna, núcleo do Recife.

“Papai, Zé Marcolino, ou ‘poeta’, expressão que usava para falar com todos (‘bom dia, poeta; como vai, poeta; poeta, hoje vai chover!’, dizia ele), ao longo da vida, realizou muitos dos seus sonhos de menino: ser barbeiro, comerciante, compositor, poeta, cantor, constituir família etc, mas continuou com a alma de criança até os seus últimos dias, sem nunca ter parado de sonhar”, comenta Itagibá.

Gonzagão, ídolo e parceiro

Zé Marcolino sempre foi fã do cantor e compositor Luiz Gonzaga. Tanto que por muitas vezes tentou contato com seu ídolo por meio de cartas, porém sem sucesso. Não obstante, Zé Marcolino teve a surpreendente oportunidade de encontrar com Gonzagão sem precisar se deslocar de sua cidade.

Reboco, criado em 1988, é uma das maiores evidências da poesia do Zé Marcolino na região do Cariri paraibano. Fundado por José Medeiros Batista (Duda), com a intenção de “resgatar e divulgar a cultura local”, o “Sala de Reboco” desde seus primeiros passos faz sucesso em Sumé e cidades vizinhas.

Mantendo as origens do forró sertanejo, o grupo de dança se apresenta sempre com um trio pé-de-serra, com zabumba, triângulo e sanfona. Com o propósito de divulgar a cultura local, é praxe em suas apresentações uma breve contextualização a respeito da vida e obra de Zé Marcolino.

Hoje com marca registrada, o Grupo de Cultura Sala de Reboco já virou tradição, sendo sempre convidado a participar dos principais eventos da região, especialmente nas datas festivas de Sumé.

Alma de poeta

Regionalista por natureza, o compositor imprimia nos versos de suas poesias o ambiente, as pessoas e os causos daquelas redondezas. Zé Marcolino expressou com palavras de um vocabulário sertanejo e

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fotográfico

do acervo do

colecionador

Danda, em Sumé

“Daqui eu mando lembrança,

Mais segura e mais direta,

Pra minha choupana humilde,

Aonde mora um poeta,

Sete "lhos, uma esposa:

Felicidade completa.”

Origem de Sala de Reboco

Segundo se conta, no sertão, quando uma casa passava por reforma e ganhava paredes de reboco, era regra o proprietário promover uma festa com a família e vizinhos, a 'm de comemorar a novidade. Daí a origem da expressão “sala de reboco”; um salão adaptado cuja inauguração agitava a vida de toda a vizinhança, pois era motivo de festa, com música pra dançar junto, fazendo a alegria dos moradores das redondezas.

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Passou a fazer shows pelo Estado com um conjunto próprio. Em 1983, lançou seu único LP, cujo título remete à famosa canção Sala de Reboco. O disco contou com a produção do Quinteto Violado, grupo musical formado em Pernambuco, no ano 1971.

Todas as suas histórias ao lado de Luiz Gonzaga são contadas no livro “Cantadores, Prosas Sertanejas e Outras Conversas”, uma autobiogra'a do poeta, publicada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, em 1987. Na obra, Zé Marcolino relata curiosas experiências envolvendo seu ídolo, durante viagens e apresentações.

Disco-tributo

Com sua morte, Zé Marcolino deixou órfão um extenso repertório, desconhecido do público. Por muito tempo, suas canções inéditas mantiveram-se guardadas, mas, em 2004, um CD de tributo ao artista trouxe à tona 15 novas músicas. Intitulado “Pedra de Amolar”, o CD foi produzido pela cantora e compositora Socorro Lira.

Ela conta que o projeto surgiu de uma visita à 'lha do compositor, Fátima Marcolino, responsável pelos direitos autorais. Foi quando Socorro Lira conheceu o repertório. “Quando eu vi aquilo, eu disse: dá um disco”, lembra Socorro.

O disco “Pedra de Amolar” faz parte do projeto “Memórias da Paraíba” e conta com participação de Flávio José, Quintento Violado, Marinês, Sivuca, entre outros artistas. Neste trabalho, a tecnologia eletrônica permitiu que Bira Marcolino gravasse uma música com o pai falecido, num dueto permeado de história e saudade.

Ao lado do ídolo

Luiz Gonzaga

Marcolino toca triângulo

num grupo pé-de -serra

Em 1961, o Rei do Baião esteve em Sumé. E tudo o que Zé Marcolino queria era apresentar suas músicas ao ídolo. Mas frustrou-se na primeira tentativa, pois Luiz Gonzaga o recebeu como a qualquer outro fã, sem recordar de suas cartas, uma vez que recebia muitas de outros admiradores. E quando o paraibano lhe falou das canções que havia escrito, ouviu de seu cantor predileto uma pergunta que colocou em xeque a qualidade de sua obra: “será que as músicas prestam?”. Assim, desa'ou Gonzaga o seu grande fã.

Num primeiro momento, o acontecido deixou o poeta cabisbaixo e desesperançado, a ponto de desistir do seu grande sonho: ter suas poesias cantadas por Luiz Gonzaga. No entanto, um novo ânimo lhe encheu a alma, e um outro encontro ocorreu. Dessa vez, Zé Marcolino teve a chance de cantar suas músicas a Gonzaga.

Como resultado desse encontro, nasceu a parceria entre o Rei do Baião e Zé Marcolino. Em 1962, Luiz Gonzaga lançou o LP “O Véio Macho”, com seis músicas de autoria do compositor paraibano: Serrote Agudo, No Piancó, Sertão de Aço, Pássaro Carão, Matuto Aperreado e A Dança do Nicodemo, ou seja, metade do repertório do disco.

A convite do Velho Lua, Zé Marcolino mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a fazer parte do conjunto de músicos do Rei do Baião. Mas, o apego às raízes limitou sua carreira ao lado de Gonzagão. Por saudade de sua terra, o paraibano retornou após 10 meses.

Maleta e violão, objetos que marcaram a vida de Zé Marcolino

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