Revista Contraponto 1ed. 2012

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         N      Ó     S     Q     U     E     R     E     M     O     S     A

         S     U     A     P     A     R

         C     E     R     I     A

        p    r     i    m    a    v    e    r    a    @     l    e     j     o    r    n    a     l     i    s    m    o .    c

        o    m .     b    r

    A Liga Estudantil deJornalismo está atuandona estruturação internada organização. Este éo momento para am-pliar horizontes e fazeracontecer. Se você ou asua empresa acredita no

    desenvolvimento socialatravés da comunicaçãoe da informação, estamosdispostos a por isso emprática. Entre em contato,nós cumpriremos nossamissão.

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    Editorial

    Com riqueza de palavras, de culturae de sentimentos, a Liga Estudantilde Jornalismo Primavera forma--se diante da certeza. Esta que nosmotiva a construir uma ideologiaapoiada em horas de debate, trocasde informações, leituras coletivas,

    descontentamento com a realidadee atitude de mudança para a valo-rização do ser. No dia 11 de junhode 2011, inauguramos uma novafase em nossas vidas. Esta revistaé o fruto público de estudos incan-sáveis, de entrevistas muito bempensadas, nas abordagens criati-

     vas, com o foco na introspecção dadiversidade comunitária. Realiza-mos aqui uma discussão. De repor-

    tagem em reportagem, exploramosos sentidos mais nobres do jorna-lismo. Um conteúdo vindo da pró-pria educação de seus produtores,respeitando as observações diáriase a cultura adquirida dentro da aca-demia. Ancorada, inclusive, pelosprofessores que semearam em seus

    alunos um anseio pela qualidadeda informação, pela profundidadedada às questões, pela objetivida-de expressada nos textos e, sobre-tudo, pelo interesse público que o

     jornalismo traz consigo que nãodeixaremos ser esquecido. Itens e

    mais itens, separados por vírgulas,figuram numa lista interminável deexpressões que culminam nas pá-ginas a seguir. Não há compromis-so com as respostas concretas, elasnão movem o mundo, buscamosas perguntas que não nos deixamem uma zona de conforto social.Desejamos a você, uma excelenteleitura.

    Formada por acadêmicosde jornalismo, residentes na cidadede Chapecó, Santa Catarina, a LigaEstudantil de Jornalismo Primave-ra é uma organização não-gover-namental sem fins lucrativos. emem seus pilares estatutários a inde-pendência editorial e é patrocinada

    A LIGA ESTUDANTIL apenas por ideologias de mudança.Os membros da LEJ Primavera nãotêm uma única convicção e muitomenos o mesmo objetivo de vida.Pelo contrário, vivem a discordare discutirem arduamente cada pa-rágrafo publicado. Acreditamos na

    pluralidade, no debate e vivemosenraizados por um sentimento deliberdade para pensar e expressar.Em comum, a busca por um jorna-lismo capaz de despertar uma so-ciedade adormecida no senso co-mum. Daí Primavera, nome dadoa Liga Estudantil. Uma analogia di-reta com o fim da escuridão do in-

     verno, esperança de mudança quenão nos deixa parados. A ONG foi

    criada na noite fria e inspiradorade 11 de junho de 2011, através deuma dinâmica criadora da visão,dos valores e da missão. Para co-nhecer melhor e ter contato com aLEJ e seus membros, acesse o sitelejornalismo.com.br .

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    CONTRAPONTO

    A revista da Liga Estudantil de JornalismoProdução

    Camila Dourani Arruda

    Eduardo Kauê Florão

    Isabela SudattiJulherme José Pires

    Kaehryan Alyssa Fauth

    Luiz Antonio Pancotte

    Lydiana Caroline Rossetti Orso

    Natan Augusto Silveira

    Pricila Eduarda Lira

    Stéfany Cristina Breda Ozelame

    Vinicius Alexandre Farfus

    Todos os direitos reservadosLiga Estudantil de Jornalismo Primavera © 2012

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    PANAROTTOCULT 12

    Mapa

    JORNALISTA GANHA BEM?

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    A SOCIEDADE POR SLIM18

    A ARTE DESCOMPLICADA

    A VIDA DE ASSESSOR DE IMPRENSA24

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    Artes Visuais

    Arte: um bicho de uma cabeçaAs confusões em relação à arte podem ser desfeitas com uma única atitude

    Luiz A. Pancotte

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    AArte pode ser definidasob um ponto de vistabastante simples: comouma maneira de expres-

    sarmos sentimentos, sensações, vi- vências ou espaços através da utili-zação de uma linguagem gráfica ouestética. Neste sentido, percebe-seque há certa dificuldade em definirformalmente o que é arte, uma vezque ela necessita ser compreendi-da dentro de um contexto históri-co social, onde uma determinadaobra foi escrita, pintada, elaborada.Arte significa expressão. Desde omomento em que o homem elabo-rou as famosas pinturas na grutade Lascaux (França), essa forma

    de expressão vem acompanhandodiferentes momentos históricos,sociais e econômicos, os quais ohomem moderno experimentou.anto como forma de expressãode um sentimento ou vivência, ouutilizada para difundir até mesmoideais políticos, a arte, sob deter-minados aspectos, é caracterizadacomo uma forma de linguagem.

    Quem nunca entrou emum museu ou em um teatro e ao

     ver uma obra de arte ou ouvir uma

    música erudita se perguntou: o quesignifica isso realmente? Ao se fa-zer essa pergunta, o observador ououvinte passa a ter seus sentidosprovocados. E é justamente issoque uma obra de arte significa:uma explosão de sentimentos des-pertos, onde a vivência pessoal doartista se mostra totalmente des-pida diante do observador. Ques-tões passam a ser feitas, dúvidascomeçam a surgir, sentimentos depaixão, ódio, amor, etc. udo aflorado consciente ou inconsciente doobservador. Nesse sentido, definirarte passa a ser a tarefa mais difíciloutorgada a um ser humano, uma

     vez que arte pode ser em última

    instância inerente a apenas um in-divíduo da raça humana. Você jápediu a algum artista para definir aarte? Não? Então não pergunte issonunca. Não se tem uma definiçãoexata do que é.  Ao frequentar locais ondematerial artístico é exibido, o ob-servador deve se despir de todo equalquer preconceito. Desta forma

    não haverá confronto com a ideiado artista. Como a arte tambémsignifica a herança de determina-

    dos aspectos que influenciam nalinguagem técnica da criação doartista, o resultado é algumas obrasmais apreciadas do que outras.Consequentemente, algumas obraspassam a ser definidas como belas,audíveis, legíveis ou não. Despidode preconceito em uma exposiçãode arte ou audição de uma orques-tra sinfônica, a primeira reaçãoserá principalmente emocional,seguida dos sentimentos de aceita-ção. Indiferente de qual seja a rea-ção do público, é uma reação, quetraduz o objetivo de todo e qual-quer artista: despertar emoções noobservador.

    Como é usual dar valor so-

    mente quando a arte está inseridaem um contexto, muitas vezes elapassa despercebida aos olhos ououvidos. Um exemplo claro dissoestá em uma experiência feita peloTe Washington Post. A propos-ta foi colocar Joshua Bell, um dosmaiores violinistas do mundo, to-car seu Stradivarius, estimado emtrês milhões de dólares, em uma

    estação de metrô de Nova Iorque.De calça jeans, camiseta e boné,Bell tocou por mais de 45 minutos

    Artistas de-batem a arte ecomo enxergá-la

    Izabel Vizotto

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    o seu instrumento. O resultado: foipraticamente ignorado pelos quepassavam pelo local. Alguns diasantes, Bell havia se apresentado noSymphony Hall de Boston, ondeuma boa cadeira custa a bagatelade US$ 100.  Arte provoca controvér-sias, uma vez que sua própria de-

    finição abrangente permite talsituação. O que pode ser conside-rado belo e estético para uma de-terminada parcela da populaçãopode ser ofensivo e não ser reves-tido do próprio conceito de arteou a qualquer aspecto teórico quea remete a esta concepção. No en-tanto, não se pode esquecer que,mais ou menos elaboradas, mani-festações artísticas são capazes dequebrar paradigmas e remeter auma dimensão de reflexão, dúvidase emoções. A história da arte estárepleta de exemplos que quebramos limites da estética convencionale entram para o panteão das obras--primas imortais: os Girassóis deVan Gough, a Capela Cistina, pin-tada por Michelangelo e os auto--retratos de Frida Kahlo.

     A arte de rua deve ficar restritasomente às ruas?A grafitagem, facilmente observa-

    da em paredes e muros externosde grandes cidades, reflete tal dis-cussão. Até pouco tempo conside-rada um movimento de contesta-ção, passa a ter conotação artísticaquando seus traços e formas de lin-guagem refletem a realidade sociale histórica dos criadores. al refle-xão se faz com os movimentos so-

    ciais que divulgam as rádios comu-nitárias, dança de rua, embaladaspelo ritmo do funk, com letras re-cheadas de frases de protestos e decontestações. É importante ressal-tar que esse tipo de arte possui ummovimento “de baixo para cima”,isto é, surgido nas classes sociaismais desfavoráveis e se proliferamnas consideradas mais elevadas.Contudo, em um primeiro mo-mento, este deslocamento encon-trava forte barreira por motivospreconceituosos, uma vez que osditos intelectuais pertenciam a es-sas classes mais abastadas. Afinal,arte é cultura, e mesmo assim nãochega a todas as classes sociais.

    Durante toda a históriada humanidade, a arte vem sendoutilizada também para razões obs-

    curas, com fins políticos. Desde osantigos egípcios e babilônios, elafoi usada intensamente para de-monstrar o poderio de um sobe-

    rano, considerado uma repre-sentação divina sobre a terra.Sendo divino, as concepçõesde vida após a morte assu-miam uma dimensão impor-tante, inclusive no cotidianoda população. Grandes monu-mentos erigidos como tumbasmortuárias atingiam o graumáximo de sofisticação. NaGrécia e Roma antigas, igual-mente, as obras representavamo feito de dominação de outrospovos, em que esses impériosabsorviam não somente suasriquezas, mas também aspec-tos culturais. A famosa obradessa época, a Coluna de raja-

    no, magnificamente ilustra esteexemplo. Utilizando-se de uma

    linguagem artística até então nãoimaginada, pode ser observada ahistória de dominação do impérioromano sobre povos com poderiobélico inferior. Esta obra de arteaté hoje inspira artistas, principal-mente os que utilizam a linguagemcinematográfica para divulgar uma

    ideia ou emoção. No mundo mo-derno, outros inúmeros exemplospodem ser abordados. Métodos dedivulgação dos ideais nazistas du-rante a primeira metade do séculopassado, onde a fotografia e o cine-ma passam a assumir uma impor-tância bastante grande para divul-gação desses ideais, abrangendo omaior número possível de pessoas.

    A arte, mesmo que deturpada deseu nobre ideal, deixa de ser vistasomente por poucas pessoas e pas-sa a agregar grandes massas da po-pulação entre seu público.  Indiferente da maneiracomo é produzida e divulgada, nosdias atuais, a arte pode atingir dife-rentes culturas e classes sociais. Aoestabelecer uma real comunicaçãocom a obra e o autor, facilmente o

    público percebe que a arte não éum bicho de sete cabeças.

       A  u    d  r   i  a  n   C  a  s  s  a  n  e    l    l   i

    Artes Visuais

    Landahlauts

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    A fotografia nãoé o bicho, mascada vez é maispopular

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    Impacto

    A ARTE DE MANIPULAR

    BONECOSKaehryan Fauth

    Parecia ser dia. O céu, amare-lado, confundia a pessoa lar-gada sob o céu encoberto de

    nuvens cinza. Aparentemen-te acordou agora, sem saber de nada.Como chegou ali? Acordou mas con-tinua parada, como se não tivesse for-ça, vontade de sair de onde está. Mise-rável, sujeita a tudo, porém nada tãoruim quanto o que já lhe aconteceu.Algo estava visivelmente a mantendopresa ao nada, mas o quê? Cordascaíam de seus punhos. Presas ao ven-to, demonstravam pesar mais do que

    o ferro. iraram tudo que a mantinha viva. iraram sua vida sem sequer amatar. Extorquiram sua alma e agora

     já não vê a própria vida que restou. Há vida que depende de evolução, cons-trução de ideais e propósitos. Há vida,que depende dos outros mais do quede si próprio, vida que inexiste semmanipuladores. Marionetes não temalma.  Antes o céu resplandecia no

    brilho por trás das nuvens brancas,tudo tinha mais cor e

    autonomia vivenciada no desabrocharde flores, me lembro bem. emposbons, as pessoas tinham opção. Opta-

     vam pelo mais conveniente, mas semdeixar o bom senso de lado. Algumasnão se davam ao trabalho de julgar asopiniões, mas faziam valer seu pré--julgamento. Lembro-me bem, tãobem que me assusto de pensar comotudo foi acabar assim. O que vejoagora são pessoas presas à cordas in-

     visíveis, transparentes ao seu própriosenso. O tempo parou para elas. Sãoas novas cobaias do círculo vicioso de

    estagnação crítica e social. São as no- vas marionetes da elite.  A sociedade foi sendo apu-nhalada aos poucos, das mais diver-sas formas. Com sorrisos, sussurros,promessas, passado, tudo foi moldadopara que parecesse conveniente àque-la realidade. O contexto, porém, nãoexigia análise. Cidadãos e soldados,com a farda colorida, que as poucosfoi desbotando. Os sorrisos e a cordia-

    lidade deram lugar a tempos difíceis,pintados na tela em tons de cinza,

    que aos poucos aumentaram seu con-traste para definir o preto e o branco,diferenças distintas. udo aconteceu

    pela busca desenfreada por uma vidaperfeita, uma vida perfeita, o “sonhoamericano”, que sempre será um so-nho. As vestes pesavam sob os ombrosdos soldados, que não eram regidospor si próprios, e sim, pela ambiçãoenganosa.  O decreto foi a definição deum líder que teria de trazer redenção,mas trouxe apenas discórdia entre asclasses. O julgamento consistiu em fa-

    tores artificiais, anilina pura jogada nachuva, pra dar cor ao que estava mor-to. Votos à quem não merecia sequerchance. Manipulação teatral. A raçaalienada não se importou com a abs-tenção de seus votos. Uma cesta delesfoi dada em troca de promessas. Votosbaratos. A raça que se opunha ao jogotinha um semblante guerreiro, porém

    Chan360

    crônica

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    uma cesta vazia, carregada com a der-rota. A cesta branca, pura e repleta deplanos que jamais seriam colocadosem prática.  A sociedade foi dominada de-mocraticamente. O líder se levantoue ninguém se opôs. Bastou. O líderpersuadiu. Usou sua retórica da forma

    mais convincente possível ao olho dosingênuos. Qualquer um que o contra-dissesse estava condenado a uma sen-tença de exclusão silenciadora. O ideal

     já não era superação, não era voltar aoque foi, era dominação.  Um ideal em comum, sujeitoa modificações da própria mente dosmembros da tribo. Individualismo.Agregados por pensamentos em co-mum, segregados da massa pelo fato

    de perceberem aos poucos que, na verdade nunca fizeram parte dela. Oteatro de cordas, no qual os figurantesnão eram aqueles que viviam, e sim ossoberanos sobre toda a rede. Os prota-gonistas da paródia da vida.  O líder finalmente dominoua massa, com todos os truques e fer-ramentas que não lhe custaram nadaque não fosse seu tempo. A história énarrada de maneira trágica pela usur-pação de almas através da persuasão

    desenfreada, concluída em promessassonegadas: mentiras. Não há como

     voltar no tempo e reformar as ideolo-gias. O início comprometeu o fim detal forma que as amarrações presasnos punhos dos atordoados sejam tãofortes quanto às máscaras de gelo quemumificam meu rosto. Manipulaçãocamuflada. As ameaças transpassam

    os direitos e vozes. Guerra fria pós--moderna.  Meus olhos enxergam tudo.Ainda que meus lábios não se me-cham, posso narrar silenciosamenteo massacre de todo um povo. A fra-queza maior é a dor que transpassaminhas veias ao ver toda uma geração

    sujeita ao nada. Destinada a sofrer porseus próprios erros, escolhida a dedopor seus próprios enganos. Metafo-ricamente, é como nascer borboletacom as asas cortadas. Viver sete diassem sequer poder voar. É como teruma tela e não poder pintar. É comoter cabeça e não querer pensar.

    ManipularDiante de tais fatos, chego à conclusão

    de que a arte de manipular envolve aaptidão das duas partes: a opressora ea oprimida. Ou talvez, o manipuladore a marionete. Certas artes como ma-nipulação de ventríloquos exige umaligação constante entre o manipuladore o ventríloquo. Já na manipulação debonecos há uma total entrega de atos.O boneco está sujeito aos desejos dequem o manipula, sem limites nemcumplicidade, relação de troca: vidapor aplausos.

      A manipulação de bonecosexige primordialmente duas aptidõesessenciais ao manipulador: retórica edesenvoltura. Já do boneco, o que se es-pera é o que virá de quem o manipula.Ele é mera peça do teatro, detalhe doshow que precisa estar de acordo como que seu mestre exige, mas a troco dequê? De sua pele seca emanam suspi-ros de quem um dia pôde ser algo enão foi. A questão não é ser boneco ou

     vent rí-

    loquo. A real indagação é o por quê deseres humanos se submeterem a car-gos tão cruéis, de manipuladores desua própria raça, enquanto outros sesujeitam a serem manipulados, papeltão lamentável em uma peça vivencialque não atrai nada além do comodis-mo e da exploração de sua própria

    raça.  Não é cômodo nem recom-pensador. É o que o meio lhe propõe.Onde está o contraponto ao meio?Onde está a resposta dos oprimidos?Nada se resolve enquanto não for dito.A manipulação só é efetiva quando háa sujeição de ambos os lados, se nãohouver, haverá luta. As etapas nãoenvolvem ciclos de convencimento,na maioria das vezes inclui apenas a

    repressão, atos desencadeados pelaestagnação psicológica. Ausência dealma. Alma que só desperta com co-res, raios de sol. A esperança hiberna-da na gélida chuva.  Os raios em meio às nuvensnegras dão o sinal de que a chuva não

     vai tardar. É a última chance. O mani-pulado despertado, aprisionado, podeenfim acordar de seu sono atordoantecom a chuva. O reino do “felizes parasempre” estava materializado naquela

    imensidão de pessoas em busca de umpropósito enquanto eram usadas. Umideal em comum, sujeito a modifica-ções contextuais da própria mente dosmembros da tribo. Individualismoou massa incrédula? Enfim, o últimoentardecer antes de um novo dia, odespertar trará novas fontes e ideais.Autonomia e emancipação. Vejo aolonge, o sol. Com ele, a esperança doreprimido.

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    Paralelo

    PARA CONSTRUIR UMA

    CULTURA EM NÍVEISCamila ArrudaUma grande “peça teatral”, estre-lada pelo “ator” Roberto Pana-rotto. É assim que o graduado emLetras – que trabalha com litera-

    tura, quadrinhos, cinema, produ-ção audiovisual, designer, publi-cidade e jornalismo – encara seus38 anos de vida. Fazia teatro naescola, escrevia, dirigia e inter-pretava. “Com os cabelos e a bar-bas sempre crescendo”, estas sãoas informações que você encontrasobre Panarotto no Facebook. DeChapecó, Santa Catarina, a figu-

    ra, conhecida pelos vinte anos daBanda Repolho ou nos seis anosdo programa de televisão Voodo Morcego, hoje atua no StudioAlice. Onde se estuda, se cria,se produz, se planeja, se inventacomunicação. Além do Studio,atua como professor de realida-de regional, cinema e processoscriativos na Universidade Comu-nitária da Região de Chapecó.Desde 1991 na irreverente Ban-da Repolho, mais uma de tantasparcerias dos irmãos Roberto eDemétrio Panarotto, desconstróie brinca com os cenários ao redor.No “Agito com Balalau” (acb2.wordpress.com), há oito anos Ro-berto escreve algo a partir de umponto de vista. O dele. É a partirdeste olhar que Roberto Pana-

    rotto concede entrevista a CON-TRAPONTO sobre a ideia plurale nivelada da cultura e como amanipulação social limita e cega

    a percepção cultural. CONTRAPONTO: O que quali-ficar como cultura no contexto

    pós-moderno, o que pode ser no-minado como cultura?Roberto Panarotto: É difícil medircultura, dizer que eu tenho maiscultura que você, mas eu acho quea cultura se faz em níveis. É difícil

     você transitar no mundo globali-zado de hoje, a tua percepção emrelação às coisas muda quando

     você conhece mais coisas. Eu gos-

    to de usar o exemplo da leitura e opróprio processo de aprendizagemque você tem dentro disso, você écriança e lê: o gato, o gato e o no-

     velo de lã, o gato bebe leite. Vocêtem três, quatro, cinco anos, e o teupoder de percepção está voltadopara aquilo. Se você nunca maisler, quando tu tiver vinte anos a tuapercepção da leitura vai continuardentro da mesma linha de raciocí-nio, quer dizer você precisa treinar,o cérebro entre aspas é um mús-culo, você precisa fomentar ele.Aí quando você começa a ler maiscoisas você vai exigindo um graude dificuldade maior, então con-sequentemente, vai chegar a certaidade que você vai querer ler PauloCoelho, legal é leitura, mas vai che-gar o momento que você vai que-

    rer ler o Luiz Carlos Borges, JaimesJoice, Ulisses, que é uma outra coi-sa bem mais complexa. Então paramim a cultura se faz neste sentido,

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    gamos assim. Quer dizer, vocêestava vivendo em um mundo“x” na década de 1950 e 1960, eessas pessoas pensaram em al-ternativas. A contracultura temesse lado de pensar a cultura deuma forma mais abrangente, ede certa forma valorizar coisasque não eram tidas e vistas comoarte. Lógico que o termo “con-tracultura” está muito vincula-do àquele período, assim como

     você dizer que o Barroco estava vinculado com aquele período,hoje você pode fazer uma obracom características barrocas. Acontracultura vai permanecerali, mas muitas das coisas que a

    gente pensa para o Unocultural(Programa de incentivo cultu-ral dirigido por R. Panarotto naUnochapecó), por exemplo, tal-

     vez carreguem esses princípios.Se você tem na mídia Ivete San-galo e as bandas baianas – quesão covers delas mesmas – vocêtem que mostrar para as pessoasque existem alternativas. Então,

    está todo mundo olhando para umlado você tem que virar o rosto dapessoa para o outro. Aquele mo-

     vimento foi muito importante na-quele período, porque ele fez com

    que aumentassem as possibilida-des. A ideia da cultura, a meu en-tender, tem que ser plural. A horaque tu tiveres batendo sempre namesma nota, não tem sentido. Nãotem sentido você restringir umuniverso de possibilidades a umacoisa só. Os movimentos que pen-

    savam alternativas naquela épocahoje não fazem muito sentido. Porque hoje você tem outra realidade,

     você não repete as coisas. em umlivro do Deleu-ze, filósofo francês,que fala em diferença e repetição.Quer dizer, as coisas se repetem,mas elas não são iguais, você nun-

       U  n  o  c  u    l   t  u  r  a    l   D   i  v  u    l  g  a  ç   ã  o

    O projetoUnoculturalentra no terceiroano

    Paralelo

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    ca vai conseguir fazerum novo Woodstock.Outro conceito ligado aesse movimento da con-tracultura é a liberdade.

    Abrir as portas da percepção. Queé muito bacana, mas tu não podeslevar ao pé da risca hoje. Hoje tu

    podes abrir as portas da percepção vendo um show do Otto, om Zé,Vitor Ramil. u podes pensar quea droga hoje é mais uma opção,mas não pode ser “a” opção. Mes-

    mo não usando, eu não soucontra. Mas as pessoas queficam muito presas a isso

    não fazem nada. As pessoasnão ficaram famosas porqueusavam drogas, elas ficaramfamosas porque elas pen-savam, porque elas produ-ziam coisas diferentes. CP: Como isso te influen-cia?Panarotto: Influencia-memuito nessa coisa que co-

    meça a surgir meio pós isso,que se ninguém está fazen-

    do por ti então faz. Um dosprincípios do movimento punk:faça você mesmo. E aí em termos dereferência a gente bebe muito des-sa coisa: de você olhar e ver que es-sas pessoas estavam pensando emcoisas diferentes, estavam olhandopara o outro lado, estavam vendo

    o mundo de uma forma diferente.Eu gosto de citar a frase do “filó-sofo” Xirú Missioneiro: “o mundopara ser mundo tem quer de tudoum pouco”. Óbvio que é brincadei-

    ra, mas esta frase tem um sentidoabsurdo. Quer dizer, a gente viveem um mundo que é plural, praque limitar se tu podes abrir aspossibilidades? Por que dizer quesó isso é legal e passar o dia intei-ro fumando maconha, se tu podesfazer muitas outras coisas? Semolhar pelo lado do preconceito. Ea mesma coisa com a música. Porque ficar ouvindo só sertanejo etomando cerveja no final de se-mana? Mas isso é o reflexo cultu-ral do trabalho, como é a novela, atelevisão, a manipulação. CP: É relacionado à indústriacultural, que desde a teoria cri-

    tica já fazia menção a essa domi-nação?Panarotto: É. Nesse caso a massi-ficação é utilizada de forma polí-tica. Porque o cara trabalha o diainteiro – não sei se tem um paísem que as pessoas trabalhem tan-

    to quanto no Brasil – de forma es-crava e no sentido de não pensar.Chega o final da tarde em casa tu

    não vais querer ler o Dostoievski.u vais querer ver a novela “Fogoe Paixão” e ouvir o Fogo e Paixãodo Vando. Isso tudo tem um fatorpolítico dentro da nossa sociedade,que é uma forma de você manipu-lar. Você vai manipular as pessoasdessa forma: coloca trabalhar o diainteiro, dá dois dias de folga e ven-de cerveja, por exemplo, e divulga

    que cerveja é bom. E aí a ideia demassificação e a percepção da in-dústria cultural. Volto a dizer nãosou contra. Eu adoro cinema, quenasce dentro de uma indústriacultural. Mas é a mesma percep-ção, você pega o cinema produzi-do em Hollywood, ele é produzidoe pensado desde o início para sercomercial, para ganhar dinheiro epara dar retorno. Mas em paralelo

    a isso surge o cinema russo, surge omovimento francês com a Nouvel-le vague, que faz coisas geniais. Aítu cais naquela ideia que eu acho

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    que é a diferença entre entreteni-mento e cultura. Entretenimentoé entreter somente. Cultura podeser entretenimento também, mas émais profundo, não é tão raso. Maseu acho que é importante. Para

     viabilizar uma exposição eu preci-so de dinheiro, esbarro na questão

    comercial, na indústria da massa,na indústria cultural. CP: E o Unocultural, surge com aideia de não limitar as possibili-dades culturais?Panarotto: Você é aquilo que vocêconsome, mas principalmente

     você é o reflexo do que a sua fa-mília te proporciona. Então, por

    exemplo, eu e o Demétrio Pana-rotto – meu irmão que é guitarristada Banda Repolho – somos aquide Chapecó, a gente tinha acesso acoisas simples como ver o meu pailendo o tempo todo, eu não via omeu pai de outra forma a não serlendo. Em casa a gente tinha aces-so a televisão, mas a gente tinhaacesso a uma biblioteca e meu pai

    tinha discos e fitas cassete, e a mi-nha mãe era professora e pintava.Então, a gente cresce na década de1970 em Chapecó em um universoque é totalmente ligado a questões

    culturais. Em função da nossa li-gação com a música surge a BandaRepolho, que propõe brincar como cenário, desconstruir. Em 1997,chegou o momento de entrarmosna universidade, onde você mudaa tua percepção de mundo. E aí agente olhou e disse: a universidade

    deveria proporcionar cultura. Naépoca, trouxemos om Zé e Zé Ge-raldo, além de mobilizar uma sériede outras coisas e organizar showsde amigos. Passou aquele período,entramos no mercado de trabalhoe cinco anos depois eu volto para auniversidade com a mesma fixação,achando que esta mesma universi-dade deveria proporcionar eventos

    culturais. Aí eu começo a perceberisso de uma maneira diferenciada,dessa vez como professor. Na épo-ca, conversei com o Ricardo Rava-nello que era Diretor de Marketinge Comunicação da Unochapecóe propus um evento musical. Se oestado não consegue nem dar o bá-sico para a população, como é que

     vai gerar cultura que é “supérfluo”,

    não deveria, mas cultura é supér-fluo – tu deixas de ler um livro, masnão deixa de comer. Então o proje-to começou a potencializar algunstrabalhos, trazendo gente de fora

    no sentido musical, cinema, teatro,e apostando nas produções locais.O Unocultural está apenas come-çando o segundo ano de trabalho,mas a ideia é evoluir. Enfim, a ideiado projeto surge dessa necessidade.É aquele princípio que eu falei noinício de você construir a cultura. CP: Em relação ao público doUnocultural, são as mesmas pes-soas?Panarotto: Depende da atração, éum público muito plural. Isso é ba-cana, porque quando você terminao projeto e atinge 10 mil pessoas,diversifica muito o público. 

    CP: A ideia é ir disseminando aproposta através disso?Panarotto: Com certeza, para esteano estamos planejando trazero Marcelo Camelo. Pode ser quenem todas as pessoas gostem, mas

     você coloca mil pessoas para assis-tir o show e novecentas saem satis-feitas e falando maravilhas. Sem-pre apostando na diversidade, não

    queremos bater sempre na mesmatecla. Isso tem a ver com que vocêdisse de potencializar.

    Paralelo

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    Conhecido como o braçoforte do capitalismo naAmérica Latina, o Brasilé o país da desigualdade.

    erra onde a educação não flores-ce, as instituições não se atualizame uma parte da população passafome. Em gravíssimo estado dealerta, os movimentos sociais estãocada vez mais estrangulados. Ape-sar da evolução comunicacional,através da internet, e a formaçãode diversos protestos online, a so-ciedade está presa na invisibilidadedos conceitos mercantilistas. Osestrategistas trocaram a opressãocoercitiva pela conceitual. Hoje em

    dia as pessoas estão presas no quea teoria do jornalismo “espiral dosilêncio” impecavelmente explica.A teoria defende que os indivíduosbuscam a integração social atravésda observação dos outros, e pro-curam se expressar dentro dos pa-râmetros da maioria, para evitar oisolamento. A cultura popular de-seducada e empobrecida é terreno

    fértil para a abordagem ideológica epragmática dos tradicionais veícu-los de comunicação.A implementação demodelos baseados nopadrão consumistaé peça chave para amanutenção do sis-tema, e infelizmente

     já estão impregnadosna sociedade. Acha-mos que votamos emquem é melhor paranós, mas somos se-duzidos por outras

    Contexto

    A FALSA DEMOCRACIACrônicas de uma sociedade iludida, vivendo na ficção

    Julherme J. Pires

    “verdades”. Alguns filósofos e so-ciólogos consideram a democraciabrasileira e residente na maioriados países do ocidente, não ope-rante. E até mesmo exerça o con-trário de seu papel. Ou seja, umregime atuando em estado de opa-cidade.  Para exemplificar o enfra-quecimento das tradições, está odesaparecimento das festas popu-lares. As que ainda persistem sãobasicamente religiosas e existemnas regiões mais pobres e desloca-das dos grandes centros ou longeaté mesmo do perímetro de alcan-ce dos meios de comunicação. O

    etnólogo, musicólogo e folclorista,Luís da Câmara Cascudo contex-tualiza o maior exemplo: “o car-naval de hoje é de desfile, carnavalassistido, paga-se para ver. O car-naval, digamos, de 1922 era com-partilhado, dançado, pulado, gri-tado, catucado. Agora não é maisassim, é para ser visto”. Quandoos povos perdem as suas culturas,

    ficam mais suscetíveis a serem do-minados.

      Escreve Eduardo Galeanoem sua obra prima As Veias Aber-tas da América Latina: “a demo-cracia formal teria continuidadecaso se pudesse garantir que nãoescaparia ao controle dos donos dopoder”. O trecho mostra o porquêda opção “democrática”. Os países

     vivem reféns de forte influênciapolítica de opressores. Por muitas

     vezes eles mudam de nome, massempre estão lá. São forças quefazem girar o mercado de capi-tais. Nos EUA, os grandes bancoscomandam o clero político, comomostra o documentário vencedordo Oscar de 2011, Trabalho Inter-

    no. Em outros países, como do mo-saico europeu, pegando o exemploa Espanha, são enforcados porpolíticas econômicas nocivas à in-tegridade social da própria popu-lação. Lá, o povo já está entenden-do a mecânica de funcionamentodo sistema. O movimento spanishrevolution  é a maior prova disso.rata-se de um movimento ínte-

    gro e sem liderança, que está avan-çando sobre esta falsa democraciaque impera nos países capitalistasdo ocidente. Isso porque a atitu-de contaminou diversos outrospaíses, como Israel e Inglaterra.Expandiu-se tanto, que chegouao berço da calúnia, os EstadosUnidos da América. Com outronome, mas com o mesmo objeti-

     vo, os indignados lutam contra asupremacia do 1% mais rico, quedetém cerca de 40% das riquezasdo país. Nada como um espelhopara o mundo.

    artigo

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    Música

    Barulho de ôni-bus ao fundo,“licença”, “vocêpega sempre

    esse ônibus?”. Slim: “UmCD sai a R$10,00, eu façotrês por 25. Aceito passede ônibus, metrô e tic-ket restaurante”, concluio rapper. Um dos pas-

    sageiros, observando odiscurso do músico per-gunta, “Será que é bomisso aí?”. “Olha, não seinão, viu. Com essa vozaí, imagine cantando...deve ser o fim!”, respon-de uma passageira. Estadescrição é da primeirafaixa do primeiro álbum

    do rapper Slim Rimo-grafia, FinanceiramentePobre (2003). Aí já vem oaviso claro de que se tratade um repertório inde-

    pendente de gravadorae que preza pelo espíri-to original do rap – ritmand poesy . É, você vaiencontrar gente dizendoque rap não é música. Noentanto, resultado de umarranjo, com batidas pró-prias (okey!?), este estilomusical tem se tornado

    um ponto de fuga paraas letras mais bem pen-sadas da música brasi-leira atualmente. Quemouve Slim Rimografia naprimeira vez pensa queé brincadeira, mas é sóir clicando nas seguintespara descobrir uma fonterica de pensamento críti-

    co e anseio por transfor-mação.  Dentro do uni-

     verso criado pelo magodas rimas, destacam-se

    faixas tanto do primei-ro, quanto do segundo eterceiro álbuns. Em In-trospectivo (2006), a faixaNovos Tempos faz a men-te do ouvinte dar um so-lavanco. “Novos tempos,pessoas sem tempo pranada, selva de concretoe cimento, onde tento vi-

     ver e sonhar”. O refrão éapenas a porta de entra-da para a reflexão intensadisposta ao decorrer daletra. As batidas aqui sãomisturadas com outrossons presentes na vidamoderna: leia-se celu-lares, carros... “A vida éum grande carnaval, você

    tem que se fantasiar paraser alguém pelo que tem,nunca pelo que é”.

    Slim Rimografia éum rapaz comum, como

    ESSA É PA TOCA NA RÁDIOComo a dupla de rappers Slim Rimografia e Thiago Beats faz da música um recanto de teorias e

    uma análise profunda da sociedade contemporânea

    Julherme J. Pires

    explica a faixa  Autobio- grafia. Em entrevista aCONRAPONO eleesclarece que concluiu oEnsino Médio. Mesmoassim, suas letras estãoabastecidas com as prin-cipais teorias da pós--modernidade (ou con-temporaneidade). São

    encontrados vestígiosdestas convergências emdiversos trechos de seusálbuns. O Filósofo e an-tropólogo francês, EdgarMorin, dá uma pinceladado que é a contempora-neidade: “o século XXfez a aliança com duasbarbáries, uma carrega

    a guerra, massacre, de-portação e fanatismo, e aoutra é anônima e gélidaao contato, seu interiorabriga a “racionalização,

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    MAIS QUE EXISTIR

    “Hoje minha vida é difícil mesinto sempre tão inseguro.Os dias me assustam quandocaminhando pelas ruas pensono futuro.”

    “Sonhos, morreram prematu-ros em dias duros e frios.”

    “Coração cheio de magoas

    sorrir?É quase um desafio. Seguroas lágrimas, solitário entremilhões de almas que vagam.Perdido entre tristes passosnesse deserto sem água”.

    “O que me resta?Revolta é voz da frustração que

    me testa.

    Em cada brinde quesaúda a derrota entrebotecos e festas”.

    “A fé move mon-tanhas, ateu, meuspés ficam estáti-cos. A esperançase foi e hoje os

     versos melo-dramáticos, me

    diz...”

    Viver, é bem maisque existir(força pra lutar)Viver, é bemmais que existir(força pra sorrir)Viver, é bemmais que existir

    Viver..

    que só conhece o cálculoe ignora o indivíduo, seucorpo, seus sentimentos,sua alma e que multiplica

    o poderio da morte e daservidão técnico-indus-triais”. O grande carnavalé claramente o resultadoda racionalização calcu-lista erguida pela socie-dade ao longo do séculopassado.

      “Pensar o Pós--modernismo implicaem refletir o contrastedaquele com o Moder-

    nismo e como este rom-pe com a Modernidade,herdeira da tradição queopera com a racionalida-de iluminista nas ciên-cias, na tecnologia e atémesmo nas artes”, explicao professor da Faculdadede Arquitetura, Artes eComunicação da UNESP,Olympio José Pinheiro,

    em seu artigo “AEncruzilhada deJanus Bifrons:Arte, Ciência

    e ecnologia naContemporaneida-de”. E neste processode alteração,provocadoessen-

    cialmente pelomodo de produ-ção capitalista,desestabi l izou

    até mesmo os valores sociais,principalmenteno Ocidente. “Oamor se corrom-peu, a fé virouateu. Até o amormorreu entre Ju-lietas e Romeus.Humanidade emruínas me lem-bra o coliseu. Nospúlpitos não seise são Profetas oufariseus. Pra al-guns é o apogeu,pra mim apo-calipse. Huma-

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    nidade na escuridão vivendo umeterno eclipse.”, diz a letra de Epifa-nia, do mais recente disco de Slim,

     Mais que existir   (2009). Neste, orapper apresenta seu pessimismona mais alta voltagem. O ponto deefusão negativa chega na faixa quedá nome ao álbum, Mais que exis-tir: “em muito luto pra tão pouca

    luta, valores invertidos orgulho dofracasso, vergonha de ser bem su-cedido. Conduta contrária de tudoaquilo que acredito. Vai vendo,hoje vitória não é quem vence maise sim quem sofre menos!”  Mas é claro, não se pensaa atualidade sem olhar para trás.Slim faz o paralelo explícito. A ex-plicação, digamos perfeita, da atualsituação dos negros no Brasil. Nafaixa Zumbi, ele justifica o resga-te histórico necessário e essencialpara formular a poesia crítica:

    “Apagar a história é ensinar a ig-norar. (...) Sabe quem Zumbi foi...aquele que lutou, morreu por você,foi...”. De fato, Zumbi é um heróinacional, tanto que o dia de suamorte virou o “dia da consciêncianegra”, feriado adotado por maisde 200 municípios em todo Brasil.Desde as batalhas nos quilombos,muita coisa mudou. “A rotina ti-rou a inspiração da poesia, tirouas cores do pincel do quadro que

    o pintor coloria,tirou a emoçãoda canção e dequem a fazia, ti-rou a felicidadedo palhaço e o

    sorriso da ale-gria”, cantarolaa faixa NovosTempos. Slim vaialém: “Escravi-dão não acabouse sabe o quemudou? temosnossas própriasenzala bem lon-

    ge da casa do sinhô”, diz na faixaCanção da Vitória.  Apesar de forte, os versosde Slim vão de encontro ao pen-samento de Edgar Morin: “Se amodernidade é definida como féincondicional no progresso, na tec-nologia, na ciência, no desenvolvi-mento econômico então – conclui– esta modernidade está morta”.

    Foi no primeiro álbum, que SlimRimografia pôde ter alcançado suaobra-prima. rata-se de a músicaPoeticamente a Vida. Num trecho,

    ele e Morin chegam a quase unifor-midade: “Amor hoje confundidocom bens matérias. Dinheiro fazdas pessoas: assassinos, celebrida-des, estrelas ou marginais.” Aliás, oprimeiro álbum já tem uma riquezaintelectual de amplitude extrema.O trecho, “baseado em fatos reais,aqui não tem ficção; nosso efeitocausa efeito, deixo todo mundobobo; informação, não alienaçãocomo nas novelas da globo”, vemdela. E veja que esta não é a únicacrítica a mídia tradicional expostanas letras do rapper. O Professordo Departamento de Comunica-ção da Faculdade de Comunicaçãoda Universidade Federal da Bahia

    e pesquisador do Conselho Nacio-nal de Pesquisa (CNPq), AntonioAlbino Canelas Rubim, entende acontemporaneidade como a “IdadeMídia”. E ele utiliza de exemplosclaros de livros e artigos intitula-dos com o tema. “‘Aldeia Global’(McLuhan, 1974), ‘Era da Infor-mação’ ou ‘Sociedade Rede’ (Cas-tells, 1992), ‘Sociedade Informá-

    tica’ (Schaff, 1991), ‘Sociedade daInformação’ (Lyon, 1988; Kumar,1997, dentre outros), ‘Socieda-de Conquistada pela Comunica-ção’ (Miège, 1989), ‘Sociedade daComunicação’ ou ‘Sociedade dosMass Media’ (Vattimo, 1991), ‘So-ciedade da Informação ou da Co-municação’ (Soares, 1996), ‘Capi-talismo de Informação’ (Jameson,

    1991) e ‘Planetas mídias’ (Moraes,1998). odas estas denominações,entre muitas outras possíveis, têmsido insistentemente evocadas para

    CONTRAPONTO: Quem escre- ve as letras?Slim Rimofragia: odas as letrassão escritas por mim “Slim Rimo-grafia” sempre escrevi muito antes

    dos raps já fazia alguns poemas etextos.

    CP: No que se baseia para asescrever?

    SR: Na vida não só na minha vida,mas em toda vida que nos cercaacho muito inspirador observaro mundo e roubar poemas docotidiano.

    CP: Qual é o grau de instrução,tanto do Slim como do Tiago(e de quem escreve e dos outrosparticipantes em geral)?

    SR: 2º grau completo acho que amaioria tem esse nível de intrução.

    CP: Qual é o objetivo das letras? Éprovocar um despertar da socie-

    dade para as questões abordadasou simplesmente fazer poesia?SR: Acho que os dois fazer poesiaé um despertar particular, espa-lhar poesia é compartilhar essa

    Cássio Abreu

    Música

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    “aprisionados” em falsas identida-des sejam reconhecidos pela socie-dade”.  Está mais do que claro deque cultura não é algo adicional ousupérfluo. É um elemento funda-mental para a identidade de umasociedade. E eis o porquê de“mago das rimas”: “Ocuspocus,abra kadabra, poder transfor-mador com a magia das pala-

     vras. Sim simsalabim, alaka-sam, que se abram os portaisdo conhecimento guardadospela fada guardiã. Aqui chama-da denominada biblioteca, commagia parecida com a que foi

    construída templos astecas. Ri-mas mágicas a serviço da cons-trução de um novo ser comnovas filosofias, um novo saber.Somos bruxos, magos e centu-riões, do povo os verdadeirose legítimos guardiões, monta-dos num cavalo alado chama-do cultura”. Esta obra, Rimagia,também está no primeiro ál-

    bum. Ao longo dos três álbuns,Slim Rimografia dá mostras deestar conectado com os estudosmais avançados da pós-mo-

    dizer o contemporâneo.  Parte desta sociedade estána cultura. E é quase unânime entreos estudiosos das ciências sociais,de elaque se tratar de a mais im-portante. Susana de Castro é dou-tora em filosofia pela Ludwig-Ma-ximillian Universität de Munique(Alemanha) e professora de Filoso-fia da Educação do Departamentode Fundamentos da Educação daFaculdade de Educação da UFRJ.Em seu artigo “Nancy Fraser e ateoria da justiça na Contempora-neidade”, ela explica que “em paísescomo o Brasil, com enormes dis-paridades econômicas, seria uma

    grande alienação acharmos que aquestão cultural se sobrepõe à eco-nômica”. E o professor da mesmauniversidade carioca, Claudio dePaiva Franco, explica “desestabili-zar o pensamento vigente de umasociedade, o senso comum, ques-tionar a origem das coisas é umatarefa desafiadora. É dessa formaque o multiculturalismo é apresen-

    tado: como algo perturbador que,ao questionar vários aspectos da vida social, pode propiciar novaspossibilidades para que indivíduos

     vontade de mudar algo de sentira vida é despertar pro mundo éacordar pra vida.

    CP: Vocês têm outras ações sociais

    fora da música?SR: O Tiago (Beats) trabalha comSilkscreen eu Slim só faço músicase por alguns anos fui arte educa-dor porem os shows não nos deixa

    muito tempo livre para fazerprojetos sociais apenas pequenosworkshop e palestras.

    CP: O que pensam sobre o capita-

    lismo?SR: Não é o melhor porem é im-possivel ser comunista ou socialis-ta num sistema capitalista temosa necessidade do dinheiro, mas

     jamais ser escravo dele.

    CP: Planos para o futuro da du-pla?SR: Fazer muita música.

    Janaina Castelo Branco/siteNOIZ

    dernidade. Isso sechama visão. Nãoé olhar somentepara o próprio um-bigo. É perceber oque acontece a sua

     volta. Cultura numnível elevado geratransformação equem a detém seliberta do censo co-mum e das corren-

    tes das informações pagas. “Escuta:tem muito luto pra tão pouca luta.Você escuta muito discurso e vêpouca conduta”, este verso da faixaPostura  conclui bem esta reporta-gem.

    Na faixa Honra Meu Mérito, Slim canta: “Pianos tocam notas e acordes tão tristes.Soldados lutam por paz que não existe”. Esta leitura é similar a feita ainda nadécada de 40 pelo jornalista e escritor inglês Eric Arthur Blair, mais conhecidocomo George Orwell. Em sua obra 1984, Blair trabalha conceitos sociais pensandoem 40 anos para mais tarde. “E, como é praxe, os grupos dominantes das trêspotências ao mesmo tempo sabem e ignoram o que estão fazendo. Dedicam a vidaà conquista do mundo, mas também sabem que é necessário continuar a guerra,sem fim e sem vitória”. Neste trecho do livro, Blair explica como os “mandantes”organizam uma agenda militar para controlar a população criando patriotismo emedo. Um modelo de dominação presente em nossa sociedade.

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    Jornalismo

    JORNALISMO INSTITUCIONALIZADOEntre tantas definições e especulações sobre o mercado da Assessoria de Imprensa, a CP foi

    em busca do que é, o que faz e o que os profissionais pensam sobre

    Lydiana Rossetti

    O

    ato de comunicar se-gundo o dicionárioé fazer saber, por emcontato, tornar co-

    mum. E é o que querem muitasempresas: fazer com que a infor-mação rápida, passageira, se tornealgo permanente, conhecido pelaspessoas. Afinal quem não é vistonão é lembrado.  As empresas estão utili-zando cada vez mais as estratégiase os meios de comunicação parafirmarem relacionamento com seupúblico, seja ele interno ou exter-

    no. As assessorias de comunicaçãosão a peça chave para esta relação,que é realizada por departamentointerno ou pela contratação de ins-tituições especializadas no assunto.O que envolve os três campos daárea da comunicação social: Jorna-lismo, Relações Públicas e Publici-dade e Propaganda.  Especialmente aos profis-

    sionais de jornalismo cabe a fun-ção de assessor de imprensa. Estaprática profissional consolidou-seapós a segunda guerra mundial, edesde a criação sofreu muito pre-

    conceito e desconfiança dos pro-fissionais da imprensa, que acredi-tavam que este segmento limitavaa atuação de um jornalista, quaseque uma traição à profissão. Em al-guns países se nega até hoje a con-dição de jornalista para profissio-nais que trabalham nesta área. Parao professor universitário e autor dolivro A Reportagem, Nilson Lage, osurgimento das assessorias contri-buiu decisivamente para a profis-sionalização do setor de comuni-cação social, com a delimitação deposições, o lado de quem fornece e

    o de quem coleta a informação.  Um assessor de imprensaexerce serviços muito maiores queapenas a produção e reproduçãode releases. Elaboração de produ-tos jornalísticos como fotografias,programas de rádio ou televisão,edição de periódicos destinado aopúblico externo e interno do órgãoassessorado, e a participação na

    definição de estratégias de co-municação também fazem partedas funções deste profissional.  Para a jornalista e coor-denadora do Núcleo de Relações

    com o Mercado do Senai de Cha-pecó, Ana Paula Eckert, a funçãode assessorar cabe totalmente aum jornalista, preferencialmenteformado, que além da produção dematerial sobre a empresa, sabe lidarcom a imprensa. Ana cita o exem-plo de solicitações de entrevista damídia local. Os veículos entram em

       A  u  r  o  r  a    d   i  v  u    l  g  a  ç   ã  o

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    contato com ela para designar al-guém que saiba falar sobre o temaa ser tratado, portanto ela comoassessora deve conhecer desde apessoa que entenda o assunto até apessoa que se porte bem na frentedas câmeras, que saiba concederuma entrevista.  Desde 2005, Ana trabalha

    no Senai. Entrou na empresa ain-da na faculdade, mas não atuavana área. Em 2007, um ano antesde se formar, entrou para o Nú-cleo onde hoje é a coordenadora.Ela conta que o trabalho realiza-do é uma comunicação integrada.Além dela, uma publicitária e umaadministradora trabalham no se-

    tor, desenvolvem desde uminformativo a organizaçãode eventos.

    As organizaçõesMostrar o assessorado nãosignifica deixar de lado ointeresse público. anto in-terna quanto externa a in-

    formação deve ser impor-tante para o “destinatário”.Um produto produzido

     jornalisticamente só teráresultados se for de interes-se da sociedade. De acordocom a Gerente de Comuni-cação Social, Isabel Cristi-na rierveiler Machado, édesta forma que a comuni-

    cação da Aurora Alimentosprocura trabalhar.  A comunicação in-terna funciona com o auxí-lio de jornais murais, rádio,revista, para que funcio-nários sintam-se parte da

    empresa. Há 12 anos, a Auroracontrata uma empresa terceirizadapara prestar assessoria de imprensa

    externa. Para Isabel, a comunica-ção é essencial para o crescimentoe fortalecimento da instituição. “Sea empresa não se comunicar com opúblico, fica a mercê do mercado”,explica.  É também o que Ana afir-ma, “não vejo o Senai sem esse se-tor”, quando se refere ao núcleo quetrabalha. Para ela, um profissionaltem que estar sempre aberto a no-

     vas experiências, não se prender aapenas a sua função e mostrar paraa empresa o quanto a comunicaçãoé necessária.

    As vantagens e as desvantagensNa região muitas empresas aindanão perceberam a importância deter ou contratar os serviços na áreade comunicação. “Grandes empre-sas que poderiam ter um profis-sional atuando não possuem, ou apessoa não é formada”, conta Ana.Ao contrário de Ana, a responsávelpela assessoria de imprensa da em-presa Nova Multicomunicação deChapecó, Camila Farias, acreditaque esta é uma área que ganhama cada dia mais reconhecimento.Eles assessoram oito empresas,sem contar as que contratam osserviços eventualmente.

    Camila acredita que a comunica-ção terceirizada com a qual tra-balha, seja a mais vantajosa. “Parauma empresa manter um profissio-nal é muito caro. Então terceirizaré a melhor opção. Muitas empresasnão precisam de uma assessoriadiária”, explica.  Mesmo com a vontade re-pentina que às vezes toma conta

    em pegar um assunto que rendauma boa pauta e começar a redi-gir o texto, Ana Paula gosta mui-to do que faz, “não me vejo saindodaqui”. Ela confessa que onde tra-balha não se fala em piso salarial,mas sim em planos de cargos e sa-lários, e por trabalhar oito horas ea função agregar outros processosempresariais acaba ganhando mais

    que um repórter, por exemplo.  Benefícios como plano desaúde, odontológico, auxílio cre-che, além de não precisar trabalharem feriados, fins de semana e fazerplantão, são fatores que Ana acre-dita a deixar estável e confortávelna área em que trabalha. Com umolhar exterior aos meios, já quenunca trabalhou em um, ela co-menta: “em um veículo de comu-

    nicação é mais difícil crescer emquestão de cargo, o que é diferenteem uma empresa de outra área”.

    Assessoriatem pressãomenor emrelação a tempo

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    Jornalismo

    SER JORNALISTA? EIS A QUESTÃONatan Silveira

    Sete horas da noite. Aprova-dos através do vestibular ouprocesso seletivo especial,chegam à universidade para

    o início do ano letivo. O curso es-colhido: Jornalismo. De um lado– acomodados dentro da sala deaula -, os calouros esperam ansio-

    sos a entrada do professor com asprimeiras palavras sobre a profis-são. De outro, veteranos, mestres eprofissionais da área prontos para“aprontar” com os novos alunos.Entre uma e outra brincadeira, de-poimentos são apresentados aosacadêmicos. De um deles sai a se-guinte afirmação: “Ser jornalistanão é fácil. Se trabalha muito, mas

    se ganha pouco”. A partir daí, umapergunta “percorre” os neurôniosdos estudantes. Vale a pena ser jor-nalista?  O jornalista chapecoense,Rafael Henzel, 37 anos, diz que

     vale e declara que a profissão éapaixonante. “O futuro promissorestá nas relações profissionais queo jornalista desenvolverá na carrei-

    ra”, revela. E qual é o motivo paraexistir tanta paixão, deve imaginara maioria dos acadêmicos? ParaHenzel, é pela importância quea profissão tem frente à socieda-

    de. Ele explica que o jornalismo éuma das ferramentas importantespara educar e orientar a população,bem como deve ser utilizada parafiscalizar e auxiliar o crescimentoeconômico e cultural de uma cida-de, de um estado ou até mesmo dopaís. O diretor tesoureiro do Sindi-

    cato dos Jornalistas do Rio Grandedo Sul (SJRS), Antonio Barcellos,se mostra convergente ao conceitode Rafael e acrescenta: “O jornalis-mo é o termômetro da consolida-ção democrática”.  No livro O Que é Ser Jor-nalista, Ricardo Noblat discorresobre o problema que a imprensanorte-americana enxergava: o con-

    trole de muitos veículos de comu-nicação por um número reduzidode empresários – fato semelhanteao ocorrido no Brasil entre 1930 e1960, com os Diários Associadosde Assis Chateaubriand. Contudo,no caso descrito por Noblat, os do-nos das megaempresas pensavam o

     jornalismo como um negócio quedeveria ser subordinado a outros

    mais lucrativos. Entretanto, o jor-nalista e escritor, expõe a função eo método como o profissional develidar com essas intempéries. “O

     jornalista veio ao mundo para cor-

    rer atrás da notícia e oferecê-la aoestimado público da melhor ma-neira possível. Com precisão, cla-reza e honestidade”, afirma. Assim,a indicação apresentada no livropor Ricardo – sem querer – com-plementa a ideia relatada por Hen-zel e Barcellos. Porém, para muitos

    estudantes de Jornalismo, estes ar-gumentos são considerados pouco.Hoje, o fator preponderante para acontinuação no curso é a questãosalarial e a situação acerca do di-ploma que regulamenta o exercícioda profissão de jornalista.

    Mito ou Realidade?No dia 17 de junho de 2009, nove

    ministros do Supremo ribunalFederal discutiram a problemáticasobre a obrigatoriedade do diplo-ma de jornalista. Com oito votoscontra, a formação em um cursosuperior de Jornalismo deixou deser necessária para a atuação em

     veículos de comunicação ou asses-sorias de imprensa profissionais.Mas, esta medida não significou

    o fim dos cursos da área nas uni- versidades brasileiras. Na ocasião,apenas o ministro Marco Auréliodefendeu o diploma para o exercí-cio da profissão. Desde então, mo-

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    bilizações e debates sobre a impor-tância do diploma são realizadospelos sindicatos de jornalistas emtodo o país, relata Barcellos. Desta-ca-se o abaixo-assinado online a fa-

     vor das PECs 33/2009 e 386/2009,de autoria do senador AntônioCarlos Valadares (PSB-SE) e dodeputado Paulo Pimenta (P-RS),respectivamente, disponibilizado

    no site da Fede-ração Nacionaldos Jornalistas(FENAJ) a partirdo mês de agos-to do ano pas-sado. Para An-tonio Barcellos,

    a maior dificul-dade na adesãodas manifesta-ções sindicaisda profissão, é obaixo índice desindicalizaçãodos jornalistas.“Por tradição o

     jornalista ‘abra-

    ça’ todas as cate-gorias, menos asua”, conta.  odavia, afolha de paga-mento do pro-fissional nãotem influênciado diploma degraduação em

    curso superior.Pelo menos essa é a posição dopresidente do Sindicato dos Jorna-listas de Santa Catarina (SJSC), Ru-bens Lunge. Em seu ponto de vista,existem outras questões mais rele-

     vantes e que determinam a quan-tia embolsada. Lunge cita comoexemplo, a experiência adquiridapelo profissional. Na mesma linhade raciocínio, Henzel coloca outro

    fator, não menos importante: a ne-gociação. O jornalista chapecoenselembra uma situação que aconte-ceu com ele no Rio de Janeiro. Sem

    formação superior, foi contratadopor uma emissora de televisão ea questão salarial foi definida emacordo com o veículo de comuni-cação. Aspecto também levantadopor Rafael Henzel, diz respeito àburocrática abertura de uma em-presa, no intuito de aumentar arenda. “Utilizei minha experiênciade 15 anos em veículos de comu-nicação para montar uma empresade assessoria de imprensa. enhouma renda muito maior”, enfatiza.  O problema é que a cria-tividade nem sempre aflora nasmentes e almas jornalisticamenteformadas. Para muitos, a academiaserve apenas para proporcioná-los

    a garantia da diplomação. Resul-tado: uma mesa, um computador,uma térmica de café e alguns co-pinhos descartáveis, além da faltade independência do profissional.Então são das redações que saemos mitos da profissão? Pode-se di-zer que sim. Entretanto, para Bar-cellos, há um pingo de verdade naquestão. O diretor tesoureiro do

    SJRS diz que a situação dos jorna-listas é semelhante a dos profes-sores, contudo os profissionais daeducação começaram a escancararseus salários de fome, enquanto os

     jornalistas não o fazem por excessode vaidade. “No jornalismo existeum grande glamour e um pequenosalário”, ressalta.  Porém, Rubens Lunge ana-

    lisa de forma diferente. A tese queo presidente do SJSC utiliza é a se-guinte: falta compreensão dos jor-nalistas quanto à remuneração. Opiso salarial da categoria estipula-do pelo sindicato é apenas uma re-ferência e deveria servir como basepara os recém-formados, tambémchamados de “focas”. Uma pesqui-sa do Departamento Intersindicalde Estatística e Estudos Socioeco-

    nômicos (DIEESE), apontou queos jornalistas catarinenses rece-bem, em média, mais de dois milreais mensais. Para Lunge, é inte-

    Natan Silveira

    Rafael Renzelem jogo daChapecoense:dá trabalho, mas

     vale

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    ressante que os profissionais comuma carreira consolidada utilizem--se de um quesito apresentado porRafael Henzel: negociar os venci-mentos com o veículo de comuni-cação. Discussão encerrada? Claroque não. Os pisos salariais tambémsão debatidos.

    Na esperança de dias melhoresPor que eu ganho tão pouco? Gos-taria de ganhar mais, pois mereço.Perguntas e respostas dessa rele-

     vância são encontradas em qual-quer empresa. E as redações jor-

    nalísticas não fogem o padrão. Atéporque no Brasil não existe apenasum “salário mínimo” para jornalis-tas. Cada sindicato estadual estipu-la o seu piso. Mas, porque existemdiscrepâncias entre os estados, quepodem chegar a 60%? Lunge e Bar-cellos, em consenso, têm a orien-tação. Na opinião dos membrosdos sindicatos estaduais do RS e

    SC, a falta de sindicalização, ou atémesmo o apoio às mobilizações edebates da categoria, por parte dosprofissionais, contribui para a es-tagnação no valor dos vencimen-tos. “O salário dos jornalistas serámelhor quando a categoria quiserque isso ocorra, demonstrando issoem participação em assembléiasdos jornalistas, em ações concretassobre a necessidade de melhoraissalariais, em manifestações coleti-

     vas”, adverte Lunge.  O mesmo argumento é uti-lizado pelos dois, quanto ao futuroda profissão no país. Barcellos semostra confiante e otimista. “e-mos muito claro que é uma batalhaque depende muito do aumento donosso exército de jornalistas”, res-salta. Para ele, esta é a maneira de

    expor o risco que a sociedade correna informação decorrente da con-tratação, pelos veículos de comuni-cação, de profissionais sem forma-ção superior.

    Valores

    Bob Esponja, Pokémon e

    Os Simpsons fazem par-te da rotina de muitascrianças, que trocam seus

    carrinhos, bonecas e brincadeiraspela televisão. Deste modo, a faltade atividades físicas, pode causardanos a aprendizagem e a saúde outorná-las suscetíveis ao conteúdoexibido pela mídia. O desenvolvi-mento infantil nos aspectos mo-

    tor, emocional, social e intelectual,depende do que a criança aprendee acredita ser correto. Assim, a in-fluência da V e seus programascontribui ou atrapalha para esteprogresso pessoal?  Segundo o pesquisador ale-mão em neurobiologia, ManfredSpitzer, em entrevista concedidaao Zero Hora, a V engorda, em-burrece e torna as crianças agres-sivas. Ele afirma que crianças quepassam mais de quatro horas pordia na frente da televisão possuemdéficit de concentração e tem pro-

    A INFLUÊNCIA DA

    TELINHANa frente da televisão, crianças ficam expostas ao lado bom eruim da tecnologia

    Stéfany Breda

    Jornalismo

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    blemas sérios com a aprendizagem.Contudo, a psicóloga Michele Ga-boardi Lucas, diz que a televisãoé somente um fator, mas não ocausador da falta de atenção. “Se acriança consegue se concentrar emoutras coisas, até mesmo na televi-

    são, o problema não é de concen-tração”, afirma.  Michele explica que omundo da fantasia é positivo epode favorecer os pequenos, sobreos aspectos de esperteza e intelec-tualidade. odavia, deve existiruma dosagem do tempo de expo-sição na frente da V. “O acompa-nhamento dos pais, no controle dotempo é de extrema importância”,

    ressalta.  A colocação de limites en-sina às crianças a diferença entrea fantasia e o real. Deixá-la fazer

    todas as suas vontades, construi-rá uma barreira entre pai e filho,quando for citada a palavra “não”,

     já que as crianças estão acostuma-das a fazer tudo o que desejam, nomomento em que lhes interessam.Uma palavra negativa soará como

    uma “ tempestade”.  V Cultura, Disney Juniorse V Futura. Para a dona de casaEliane Gnoato, estes são os canaismais indicados para crianças. Elia-ne é mãe de Eloisa Gnoato, de seteanos. “O conteúdo destes canaisajudam na criatividade e no desen-

     volvimento das crianças. Ensinam jogos, brincadeiras e atividades quedespertam o pensar dos pequenos”,

    conta.  Os canais indicados porEliane são educativos, transmitecultura, curiosidades informações,

    brincadeiras, dentre outras pro-gramações que contribuem para aeducação das crianças. Conta comdesenhos animados e educativos,como cocoricó, para descontrair.  Pais, professores, legis-ladores e educadores se preocu-

    pam com os programas expostosas crianças. De nada adianta estesensinarem de uma forma, se a te-levisão orienta de outra. Este é umgrande desafio a quem realmentese preocupa com o futuro da na-ção.

    As propagandas de roupase brinquedos acabam induzindo ascrianças a serem seres consumis-tas desde pequenos. Dessa forma,

    quanto mais tiverem, mais irãoquerer. Muitas vezes a justificati-

     va é ausência dos pais. É o caso dapequena Larissa Ribeiro que alega

    Dimitris Papazimouris

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    precisar de uma boneca para lhefazer companhia enquanto a mãeestá fora. “ Vou ter com o que brin-car quando você tiver no trabalho”,relata Larissa de cinco anos.

    ais atitudes geram proble-mas no convívio com outras crian-ças e até mesmo na afetividadecom os pais. Com o grande avançodo desenvolvimento tecnológico,os pais já não têm mais tempo deficar junto com os filhos. Eles aca-bam passando o dia todo no traba-lho. Os filhos ficam nas escolas oucom babás. A noite, os pais já estãocansados demais para dar atenção.  Em “A criança e a V”, Ra-quel Soifer, afirma que as sequên-

    cias dos desenhos animados, dasséries ou das propagandas cujospersonagens as crianças tendem aimitar desde tenra idade, não temrelação com a realidade cotidiana emantêm os pequenos em um mun-do totalmente distanciado dela. Emlugar de oferecer modelos educati-

     vos, tais personagens destacam-sepor sua astucia cruel, sua imorali-

    dade e sua maldade. “Os supostosheróis de programas apresentadosdiariamente na televisão e que têmestado mais em moda acentuam atendência infantil a limitação, como que incitam as crianças a come-ter atos imprudentes e perigosos,como atirar-se no espaço, subirpelas paredes, fazer traquinagens,etc”, escreve.

    A partir deste fato contem-porâneo percebe-se a diferença nasrelações familiares comparadas aopassado. As mães ficavam em casacuidando dos filhos e ensinando àsmeninas os trabalhos domésticos.Os pais levavam os meninos paraajudá-los nas plantações e no cui-dado com os animais. Desta forma,além das crianças ficarem acompa-nhadas dos pais, aprendiam desde

    muito cedo como cuidar de si e dacasa. Outro fator importante é queas famílias eram maiores, portan-to as crianças tinham com quem

    brincar, se comunicar e aprender.Não ficavam isolados em frente àtelevisão por não terem compa-nhias. Além disso, somente as fa-mílias mais opulentas tinham aces-so a V. Ela - a televisão - não eraum aparelho essencial na vida dasfamílias. O instrumento preponde-rante na época era o rádio.

    Os pais devem ter cons-ciência de que as crianças precisamter limites. Por ficarem muitas ve-zes, o dia todo em casa, a grandeparceira dos pequenos acaba sendoa V. Aspecto com mesmo grau derelevância, é que os pais acabamquerendo aliar atenção com des-canso. O que acaba gerando atitu-

    des nem sempre corretas a seremtomadas. O caso de Adriane Car-

     valho, de nove anos é um exempo.Ela conta que assiste televisão comos pais à noite. Novelas, o progra-ma A Fazenda e filmes, são os pro-gramas mais assistidos pela famíliadela. Percebemos que essa é a for-ma dos pais de Adriane dedicaremum pouco mais de atenção e cari-

    nho a menina  A professora LeocimaraLaura de Faria, explica que em salade aula, estas questões estão semprepresentes. Manifestam a preocupa-ção com a situação da criança quefica diretamente sob a influênciada V e das outras mídias. “Cada

     vez mais aumenta o número de fa-mílias que estão entrando para o

    mercado de trabalho e deixando osfilhos sozinhos em casa. “Eles têm,muitas vezes, como único enlevo aprópria V”, revela.  O tempo que as crianças fi-cam expostas em frente à televisão,pode tanto trazer pontos positivosquanto negativos. Depende de umadosagem que não vicie e nem apre-sente às crianças cenas contra indi-cadas. Essa falta de cuidado pode

    provocar conflitos futuros. Então adica da psicóloga Michele, é que ospais adquiram novos hábitos, paraconviver mais com as crianças.

    Valores

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     N    Ó     S    Q   

     U    E    R    E    M    O    S   

     A    S    U    A    P    A   

     R    C    E    R    I     A   

      p   r   i     m  a  

     v   e   r   a   @  l     e    j     o  

     r   n   a   l     i     s   m  o  

     . c   o   m  . b    r  

    A Liga Estudantil deJornalismo está atuandona estruturação interna

    da organização. Este éo momento para am-

    pliar horizontes e fazeracontecer. Se você ou a

    sua empresa acredita no

    desenvolvimento socialatravés da comunicaçãoe da informação, estamos

    dispostos a por isso emprática. Entre em contato,

    nós cumpriremos nossamissão.

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    O clipe que propagandeia a Copado Mundo de 2014, que será noBrasil, mostra uma mesa de reu-niões de um escritório em NovaYork. Um grito de gol ecoa de umlugar longinquo e um americanoengravatado diz (em inglês): “Vocêouviu isso?”.  O vídeo segue mostrando

    as nossas belezas naturais comoas lindas praias do Rio de Janeiroe as cataratas de Foz de Iguaçu. Olocutor termina: “O Brasil está techamando. Celebre a vida aqui”.  Aqui no Brasil, porém, a

     voz das ruas parece mais protestodo que comemoração. Apaixona-dos por futebol, os torcedores di-zem ter sua cidadania ameaçadapor acordos de gabinete e seus di-

    reitos roubados pelas exigências daFIFA e pelas obras faraônicas querasgam as cidades.  É o que se lê no dossiê

    “Mega-eventos e violações de Di-reitos Humanos no Brasil”, pre-parado pela Articulação Nacionaldos Comitês Populares da Copa edas Olimpíadas, e lançado nestasegunda-feira (12) de forma simul-tânea pela Pública e em atos de Co-mitês Populares por todo o país.  No Rio de Janeiro, have-

    rá uma concentração em frente àPrefeitura às 10h30; em Belo Ho-rizonte haverá uma marcha que seconcentrará na Praça 7 às 14h; emCuritiba, uma marcha sairá às 10hrumo à Prefeitura de São José dosPinhais. Em Natal haverá uma au-diência pública; em São Paulo e emPorto Alegre, o documento seráentregue às devidas prefeituras,enquanto em Brasília o comitê re-

    gional irá buscar o governo federal.

    Acompanhamento das obrasO lançamento do documento

    acontece pouco depois da Arti-culação lançar um site próprio(http://www.portalpopulardacopa.org) que deve acompanhar a situa-ção dos torcedores na contagemdos dias para a Copa do Mundo.  anto o site quanto o rela-tório foram produzidos conjunta-mente por comitês populares, que

    são agremiações de organizaçõessociais e pessoas que serão atingi-das pelas obras em Belo Horizonte,Brasilia, Cuiabá, Curitiba, Forta-leza, Manaus, Natal, Porto Alegre,Recife, Rio de Janeiro, Salvador eSão Paulo.  Além de denúncias de

     violações de direitos, o documen-to traz um quadro completo deacompanhamento das obras para a

    Copa do Mundo, incluindo custosprevistos, valores licitados e comoestá o andamento até o momento.  A reforma do Maracanã,

    Nação

    DOSSIÊ INÉDITO REVELA ABUSOS

    RUMO À COPA DO MUNDOA Pública teve acesso ao relatório feito por organizações populares das 12 cidades-sedes da

    Copa. Ele diz que o povo e os seus direitos estão ficando de fora.

    Agência Pública 12/12/2011

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    por exemplo, tinha um valor pre- visto em 600 milhões mas acabousendo licitada a um valor de 859milhões, metade pago pelo BNDESsegundo o dossiê. Da mesma for-ma, os píeres do porto do Rio deJaneiro, cujo custo estimado erade 314 milhões, foram licitados a610 milhões. O mesmo ocorre comdezenas de projetos apontados nolevantamento.

    É só o começoOs movimentos populares, apoia-dos por acadêmicos e pesquisado-res, estimam que pelo menos 170mil pessoas têm seu direito à mo-radia violado ou ameaçado pelosmega-eventos que estão por vir, emespecial a Copa do Mundo de 2014

    e as Olimpíadas de 2016.  O dossiê aponta que a rea-lização da Copa do Mundo 2014em doze cidades e das Olimpíadas

    2016 no Rio de Janeiro agrega no- vos elementos críticos à já gravequestão habitacional nessas capi-tais: grandes projetos urbanos comimpactos econômicos, fundiários,urbanísticos, ambientais e sociais.Por exemplo, devem se proliferaros condomínios de luxo e centrosempresariais que não “comportam”pobreza em seus arredores, ou quepodem atropelar comunidadespara se expandir.  Não há dados oficiais sobreos despejos; o documento faz umaestimativa a partir de relatos dequem mora nas cidades.  Até o início de dezembro,havia 21 casos de vilas e favelas nascidades de Belo Horizonte, Curiti-ba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife,

    Rio de Janeiro e São Paulo que fo-ram desocupadas, segundo o relatode seus moradores, “com estraté-gias de guerra”.

      “(São) estratégias de guerrae perseguição, como a marcação decasas a tinta sem esclarecimentos, ainvasão de domicílios sem manda-dos judiciais, a apropriação inde-

     vida e destruição de bens móveis,a terceirização da violência verbalcontra os moradores, as ameaçasà integridade física e aos direitosfundamentais das famílias, o cortedos serviços públicos ou a demo-lição e o abandono dos escombrosde uma em cada três casas subse-qüentes, para que toda e qualquerfamília tenha como vizinho o ce-nário de terror”, diz o documento.  Um dos casos mais em-blemáticos é o do Parque LinearVárzeas do ietê, na cidade deSão Paulo. “Dividida em três eta-

    pas, a obra prevê a construção deuma avenida, ‘Via Parque’, para‘valorizar a região’ [...] que fica àsmargens da rodovia Ayrton Sen-

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    na, entre o Aeroporto Internacio-nal de Guarulhos e o futuro está-dio do Corinthians, provável sedepaulista na Copa do Mundo, emItaquera. Mais de 4.000 famílias

     já foram removidas do local semserem consultadas sobre a implan-tação do parque e sem saber paraonde iriam. Outras 6.000 famíliasaguardam, ignorando seu destino.‘Pegaram nós de surpresa. Comum projeto de tamanha proporção,a comunidade no mínimo tinhaque ser consultada. [...] As famí-lias foram morar ali há mais de 40

    anos, quando ainda não era Áreade Proteção Ambiental’, diz o lídercomunitário Oswaldo Ribeiro”.  Um dos locais mais amea-çados é Fortaleza, que segundo odocumento terá mais de 15.000famílias atingidas por empreen-dimentos relacionados à Copa doMundo.

    Exploração dos trabalhadores ge-rou 10 greves pelo paísA Fifa determinou que as obras dosestádios deveriam estar prontasantes de 31 de dezembro de 2012, atempo de sediar a Copa das Confe-derações em 2013.  Diversas vezes Jérôme Valc-ke, secretário-geral da entidade, fezpronunciamentos em que alertavapara o atraso das obras e cobravado país um ritmo mais acelerado.Diante de tanta pressão, alguém ti-nha que pagar a conta.  Segundo o dossiê, foramos trabalhadores das obras: “Essapressão parece favorecer tambémàs próprias empreiteiras, uma vezque contribuiu para os atropeloslegais, aportes adicionais de re-cursos públicos, irregularidades

    nos processos de licenciamento deobras e inconsistência e incomple-tude de alguns projetos licitadossem qualquer segurança econômi-ca, ambiental e juridical”, afirma o

    documento.  “Mais do que isso: serviucomo pretexto para as violaçõesde direitos dos trabalhadores nasobras dos estádios e dos projetosde infraestrutura. A conjugaçãoentre a magnitude das obras e oscronogramas supostamente aper-tados para realizar os empreendi-mentos já tem resultado em máscondições de trabalho e na supe-rexploração dos operários, a des-peito das cifras milionárias desti-nadas às obras”.  Em pouco tempo, mobili-zações, paralisações e greves co-meçaram a pipocar pelo país.  O dossiê contabiliza que

    até novembro de 2011, foram re-gistradas pelo menos dez para-lisações em seis dos 12 estádiosque serão usados para a Copa: noMineirão em Belo Horizonte, noMané Garrincha em Brasília, noArena Verdão em Cuiabá, ArenaCastelão em Fortaleza, no ArenaPernambuco em Recife e até noMaracanã, no Rio de Janeiro.

      Entre as principais reivin-dicações das greves estavam des-de aumento salarial e concessãode benefícios como plano de saú-de, auxílio alimentação e garantiade transporte até melhoria nascondições de trabalho (em espe-cial, os trabalhadores reclamamdas condições de segurança, salu-bridade e alimentação), aumento

    do pagamento para horas extrase o fim do acúmulo de tarefas e jornadas de trabalho “desumana-mente prolongadas”.

    O povo, excluído da festaEnquanto os movimento sociaisestão promovendo cada vez maiso debate sobre as obras da Copa, apopulação em geral não participados órgãos e da estrutura de or-

    ganização de sua preparação. Asportas estão fechadas à participa-ção popular, segundo o dossiê.  “Informações sobre os

    Nação

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    processos de preparação para aCopa do Mundo de 2014 e os Jo-gos Olímpicos de 2016 não sãoapenas negadas à população emgeral, mas mantidas secretas atémesmo para os órgãos de con-trole do próprio Estado, como oMinistério Público” diz o dossiê, eainda: “Nesse contexto, vemos aspopulações atingidas fora das ins-tâncias decisórias e mesmo semter acesso à informações básicaspara a defesa de seus direitos. En-quanto isso, uma diversidade deorganismos são instituídos em ní-

     vel federal, estadual e municipal,tais como grupos gestores, comi-tês, câmaras temáticas e secreta-

    rias especiais da copa”.

    Passada a Copa, fica o legadoEm uma carta anexa ao docu-mento, os comitês populares semostram preocupados com o le-gado dos mega-eventos.  Dizem que até agora não éevidente que as obras contribuamminimamente para a inclusão

    social e a ampliação de direitossociais, econômicos, culturais eambientais: “Ao contrário, a fal-ta de diálogo e transparência dosinvestimentos aponta para a re-petição do que ocorreu no perío-do dos Jogos Panamericanos de2007, quando assistimos ao des-perdício de recursos públicos (deacordo com o CU, mais de R$

    3,4 bilhões foram gastos de formaindevida, mas ninguém foi puni-do) em obras superfaturadas quese transformaram em elefantesbrancos”.

    apublica.org 

    O brasileiro está

    pagando umafesta em que omundo todo irádesfrutar

     S  a m  J   a  v a nr  o uh 

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    Literatura

    Ler para crescerKaehryan Fauth

    “Era uma vez...”, quantas mãessabem o quão importanteé contar histórias para seusfilhos desde que nascem? Já

     viemos ao mundo condicionadosa aprender as diversas formas delinguagem para que possamos noscomunicar na sociedade. O psi-

    cólogo Peter Jusczyk da Universi-dade Johns Hopkins, nos EstadosUnidos, descobriu que seis mesesapós o nascimento os bebês já sãocapazes de associar sons e pala-

     vras aos seus significados. Pareceimpossível, mas a capacidade deaprendizagem do ser humano co-meça desde sua formação no úte-ro, e continua mais intensamente

    nos primeiros anos de vida. Umapesquisa realizada em Chicago, noEstado da Califórnia, também nosEstados Unidos, revela que filhosestimulados pelos pais com gestosou mesmo à interação com outrascrianças têm uma maior facilidadede socialização e de descobrir pala-

     vras novas. Outro segredo, nem tãosecreto assim, é o incentivo a leitu-ra, que além de ajudar a criança amemorizar a grafia das palavras,ajuda também a estimular a cons-trução de frases mais harmônicas.

    A boa leitura é base da for-

    mação cultural de qualquerpessoa, são registros históri-cos feitos em livros que nosapresentam a diferentes cultu-ras, hábitos, realidades, ideo-logias, entre tantas outras coi-sas. Mas quantos livros você lêpor ano? Segundo a Câmara

    Brasileira do Livro, cada bra-sileiro lê pouco mais de doislivros por ano. Este núme-ro, sem dúvidas, é alarmantee influencia diretamente naeconomia, inclusive na clas-se social de cada indivíduo.É verdade, o Brasil está longede ter uma formação escolarhomogênea, mas com o in-

    centivo à leitura é possível darasas para que alunos ampliemseus pensamentos, sonhos eobjetivos. Os ingleses mantémuma média de cinco livros lidosanualmente. No que isso resulta? AInglaterra possui um dos melhoressistemas de ensino do mundo. Asescolas têm papel fundamental deeducadoras e formadoras de bonshábitos, mas, a leitura é um prin-cípio que deve ser instigado tantona escola como pelos educadoresfundamentais, os pais.

    Segundo o Ministério da

    Educação, a leitura desenvolve orepertório cultural, instiga o sen-so crítico, amplia o conhecimen-to geral, o vocabulário, estimulaa criatividade, emoções e claro,prepara melhor a criança, e con-sequentemente facilita o ato de es-crever. Mas afinal, qual a fórmula

    para o estímulo da leitura? Para aprofessora de Língua Portuguesa,Juceli Morello Lovatto, o segredoé começar pelo que a pessoa mais

    Noukka Signe

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    gosta, “o interesse pela leitura dá--se, principalmente, pelo estímulofavorável e pelo aguçar da curiosi-

    dade sobre o fabuloso mundo daescrita”. Para ela, a leitura culminaem discussões mais consistentes

    além de inquietação e satisfaçãopelo conhecimento, “podemos nosarrepender de não ter lido, masnunca de ter lido!”, afirma.

    O jornalista iago Franzadmite que nas disciplinas de reda-

    ção e língua portuguesa havia mui-ta cobrança, “Os professores pro-curavam manter a originalidadede cada aluno, mas quase sempreos textos corrigidos eram rabisca-

    dos com sugestões”. Segundo ele,cobrava-se muito o uso de palavrasalternativas para evitar a repetição

    exaustiva. A partir disso, já é pos-sível estabelecer alguns objetivospara quem lê mais: a leitura como

    meio de se informar, de estudar, eacima de tudo de forma prazerosa.Quanto mais cedo houver essa bus-ca, seja por qualquer um dos obje-tivos, mais eficazes serão os livros.Lembre-se: antes um livro na mão

    do que dois na estante. Ler é umato contínuo de desenvolvimentoda capacidade crítica, o processoda leitura exige um esforço que ga-rante uma compreensão ampliada

    do mundo, de nós mesmos e danossa relação com a sociedade.

    Gíria ou armadilha?“Saca” esse “lance” das gírias? Sãoexpressões que geralmente surgem

    entre os jovens e têm signi-ficados específicos. Elas têmcaráter popular e surgiramcomo uma espécie de identi-dade cultural de determina-dos grupos ou tribos. Gírianão é sinônimo de falta deinstrução ou de mau uso daspalavras, é uma busca pelarepresentação de algo quenão tem significado especí-fico ainda, ou que tem umsignificado que complicademais a expressividade dotermo.

    Estas palavras que se agre-gam e aos poucos tomamconta do vocabulário tem

    um papel muito importan-te, o de renovação das ex-pressões linguísticas. Elasexistem desde sempre edistinguem gerações. Algu-mas gírias são situacionais,outras se camuflam e aospoucos se infiltram no nos-so cotidiano, tomando con-ta dele até mesmo de forma

    imperceptível. As gírias pas-saram de regionais ou de de-terminados grupos sociais, a

    socialização a nível mundial,tendo como principal vetor de di-

     vulgação a internet. Mas é precisoestar atento: quem tem o costumede usar gírias precisa se autovigiarpara não usá-las em momentosinapropriados. Afinal, você não vai

    a um evento formal com uma rou-pa de ginástica, “tá ligado”?

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    Silvio anaka