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ARNALDO MESQUITA (1930-2011) in http://ruyluisgomes.blogspot.com/ Janeiro 2011

Revista Correio do Porto EXTRA: Arnaldo Mesquita

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Revista Correio do Porto EXTRA: Arnaldo Mesquita

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ARNALDO MESQUITA (1930-2011)in http://ruyluisgomes.blogspot.com/

Janeiro 2011

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Notas do Editor

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Imagem antiga Imagem recente

Edição de Paulo Moreira Lopes, devidamente identificado no site www.correiodoporto.comDesign gráfico: Leunam - Paginação: André Oliveira

A divulgação dos conteúdos e imagens insertos nesta revista virtual não tem fins lucrativos.Todos os textos são acompanhados da identificação do seu autor e alojamento na internet.

A revista foi concebida com recurso ao programa informático Adobe Illustrator.Foi concebida para o tamanho A4 com testes efectuados em suporte de papel, dobrado e agrafado no estabelecimento Dr. Scan

Mr. Print, sito no Arrábida Shopping.

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Notas do Editor

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O advogado, o patrono e o estagiárioEncontrava-se inscrito como advogado desde 4 de Julho de 1956, sendo portador da cédula profissional nº 826 P e com escritório no Porto.

imagem que eu tinha guardado do meu colega, Dr. Arnaldo Mesquita, foi profundamente abalada quando me confrontei com a fotogra-

fia que se exibe na capa. Houve como que um choque entre ambas, a antiga e a agora descoberta. Eu via-o como uma figura imponente, sisuda e macambúzia, para não dizer com cara de poucos amigos, o que encaixava à justa com a imagem antiga.Neste momento, depois de vista a última fotografia, passei a encará-lo como um homem desa-fiador, atrevido e até, porque não dizê-lo, simpático. Esta última pose, em particular o segurar a cabeça com as duas mãos, orientou a curva da boca para cima o que o beneficiou. Em suma, deu-lhe um ar descontraído. Aliás, por efeito da posição das mãos, os lábios quase que se abrem para esboçar um sorriso.É óbvio que prefiro, ou melhor, sinto mais empatia pela última versão.

Como ia dizendo, a fotografia da capa foi para mim uma revelação, pois durante o estágio (1993-1995) habituei-me a vê-lo sempre com cara de caso. Parecia um ser à margem da sociedade. No entanto, quando era referido em alguma conversa, sobressaía a admiração por aquele colega. Trocávamos bons dias, boas tardes, mas nunca mais do que isso. O interesse dele não passava por mim, mas pelo meu patrono. Este recebia-o sempre com muita cerimónia, apesar da amizade pessoal e profissional que nutriam um pelo outro. A seguir era tudo misterioso. Nunca soube ao que ia. Segredos profissionais e discrição, digo eu hoje. O que posso garantir é que havia muita cumplicidade entre ambos. Eu diria que se falavam com o olhar.

Após ter lido tantos factos interessantes (cfr: textos nas páginas seguintes), fica-me a impressão de estarmos perante um homem esquecido pelos seus contemporâ-neos e pelas gerações entretanto aparecidas. Fica-me também a estranheza de me ter cruzado tantas vezes com ele, ali na rua do Almada (estágio) ou posteriormente nos tribunais (Paredes e Porto, essencialmente), sem que o tivesse abordado e, quem sabe, ouvido em discurso

directo as história que hoje leio.Resta-me agora os textos da presente revista virtual para conhecer melhor este mui ilustre advo-gado, natural de Lousada (Torno), cuja coragem e combatividade marcaram uma época.

Em obediência aos mais elementares princípios de direito, inúmeras vezes abordados no estágio, houve uma preocupação de seleccionar os textos que observas-sem as regras da tutela dos direitos de personalidade (cfr: artigo 70.º e seguintes do Código Civil), de modo a que não ofendessem a ima-gem moral do visado que, diga-se, goza de protecção mesmo depois da sua morte (cfr: n.º 1, do arti-go 71.º do C.C.). Desde já se informa que não foi obtida prévia autori-zação dos herdeiros do Dr. Arnaldo Mesqui-ta quanto à publicação das fotografias insertas nesta revista virtual. Tal omissão é justificada pela sua notoriedade, o cargo que desempenhou e o seu interesse cultural. Além disso, a reprodução da maio-ria das imagens vem enquadrada na de lugares públicos, relativa a factos de interesse público e que decorreram publicamente (cfr: n.º 2 do artigo 79.º do C.C.).

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Olhar (im)parcialPor Nelson Oliveira in http://www.verdadeiroolhar.pt/

e http://jslousada.blogspot.com/

Com o falecimento do Dr. Arnaldo Mesquita, no dia 1 de Janeiro, desapareceu uma das maiores referências do país no combate à ditadura.Arnaldo Mesquita não foi apenas um advogado sério e competente: foi, acima de tudo, um combatente enérgico contra a injustiça, a intolerância e a resignação. Militante do Partido Comunista desde 1949, revelou uma fortaleza ideológica e uma coerência política verdadeiramente notáveis. Preso três vezes pela PIDE, submetido a torturas e humilhações, entre as quais a famigerada tortura do sono, que lhe destruiu a saúde, demon-strou força e convicção inabaláveis para prosseguir a luta antifascista, na defesa dos presos políticos e dos perseguidos pelo regime.Duas notáveis vitórias jurídicas, num clima de medo e de repressão, reforçaram-lhe o respeito e admiração dos democratas, na mesma proporção da retaliação fascista. A primeira, quando obteve de inúmeros intelectuais e juristas – inclusive de alas conservadoras – e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem o apoio explícito contra as famigeradas “medidas de segu-rança”. Maria Piedade encontrava-se detida pela PIDE enquanto o marido, evadido de Peniche, não

fosse recapturado.Estava, por isso, refém da polícia, que, assim, poderia, legalmente, perpetuar-lhe a prisão. Ao fazer revogar esta medida discricionária e intolerável, Arnaldo Mesquita atingiu os fundamentos repressivos do regime. O mesmo efeito alcan-çou o seu segundo importante triunfo jurídico, ao conseguir ver anuladas as declarações dos presos sem a presença dos advogados defensores. Uma proeza que lhe valeu uma justa homenagem de muitos democratas, apesar da posterior revogação pelo Governo de Marcelo Caetano. Na Assembleia Municipal de Lousada e nas inter-venções públicas foi sempre fiel a si próprio e às suas convicções: enérgico, obstinado, interventivo, insubmisso… A sua poesia, editada pela Câmara de Lousada em várias obras, jorra torrencial e telúrica, numa ligação umbilical aos seus ideais, à rebeldia, à terra natal – Senhora Aparecida onde nasceu, faria no próximo domingo 81 anos.Quando a Câmara Municipal o condecorou com a Medalha de Prata de Mérito Municipal, em 2008 – a culminar, aliás, várias outras homenagens anteriores –, estava a consagrar o advogado, o poeta, o antifascista. No fundo, estava a reconhecer em Arnaldo Mesquita a

estatura ética, cívica, política e cultural de um cidadão de corpo inteiro, que lutou e sofreu pelas suas ideias, na esperança de um país melhor. Concordemos ou não com a ideologia que professava, não poderemos nunca negar o seu contributo decisivo para a implan-tação do regime democrático em que vivemos. Nesta hora de despe-dida, é hora de nos curvarmos pela sua coerência e agradecer-lhe o seu combate.

Arnaldo Mesquita

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Arnaldo Mesquita

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Justa homenagemin http://www.avante.pt/

aleceu no dia 1 de Janeiro, aos 80 anos, o camarada Arnaldo Mesquita, membro do Sector Intelectual da Direcção da Organização

Regional do Porto do PCP. O Secretariado do Comité Central enviou à sua família as sentidas condolências pelo desaparecimento daquele destacado militante comunista.Nas cerimónias fúnebres, em Torno, Lousada, donde era natural, Albano Nunes, do Secretariado do Partido, lem-brou o «homem digno e solidário que, no exercício da sua profissão, na sua actividade cívica, na sua intervenção política como democrata consequente e militante comunista, nos deixa o seu exemplo de lutador incansável e corajoso, que a perseguição movida pela PIDE não vergou e que sempre, nos bons como nos maus momentos e nas curvas mais apertadas da luta, esteve sempre do lado certo da História: com o seu povo, com o seu Partido, com o seu País».Desde jovem, quando estudante em Coimbra, Arnaldo Mesquita despertou para o combate político antifas-cista, nomeadamente no MUD Juvenil, cuja direcção integrou, tendo participado, posteriormente, em todas as batalhas do Movimento de Oposição Democrática junto a outros destacados antifascistas como Ruy Luís Gomes, Virgínia Moura, Lobão Vital ou José Morgado.«Em 1949 aderiu ao Partido Comunista Português a que se manteve fiel até ao fim da vida. Fortemente vigiado e perseguido, foi preso três vezes tendo tido sempre um comportamento digno perante os torcionários da PIDE. Como advogado, destacou-se pela sua intensa e combativa actividade em defesa dos presos políticos. Ao seu consultório, acorriam muitos

F democratas perseguidos pelo fascismo, nomeadamente jovens, que sempre encontravam nele a solidariedade, a palavra amiga e o encorajamento que procuravam», lembrou ainda Albano Nunes.Membro da Comissão Regional do Porto de Socorro aos Presos Políticos e, depois do 25 de Abril, fundador da

União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), Arnaldo Mesquita contribui sempre para a luta libertadora da classe operária, tendo sido sucessiva-mente eleito para a Assembleia Munici-pal de Lousada, primeiro nas listas da FEPU, depois nas da APU e CDU. Recebeu a medalha de mérito do municí-pio em 2008.Arnaldo Mesquita deixa ainda obra publicada. «São de um poema seu as palavras que dizem que um homem novo ou velho/saiba manter-se de pé/quanto mais dobre o joelho mais deixa de ser quem é/e de dobrado nem se vê. Men-sagem luminosa, palavras particular-mente certeiras e oportunas num

momento em que procuram roubar-nos conquistas e direitos que tanto custaram a alcançar», concluiu Albano Nunes.

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Até à eternidadeLuís Ângelo Fernandes in http://www.jornaltvs.net/

Faleceu o Dr. Arnaldo Mesquita. No primeiro dia do ano, pelas 13h00, no Hospital de Santo António, onde estava internado na sequência de uma queda, associada a uma pneumonia, terminava a sua última batalha, com a coragem e a digni-dade de sempre.Nascido em 16 de Janeiro de 1930, na Senhora Aparecida, onde fez a instrução primária, rumou a Guima-rães, onde, como aluno interno, em estabelecimento anexo ao Liceu Martins Sarmento, dirigido por clérigos, completou o curso liceal. Rumou, então, a Coimbra, em 1947, para iniciar o curso de Direito, abandonando a vocação de profes-sor, por saber de antemão que não seria aceite na função pública devido às convicções comunistas

que já professava.No ano seguinte, envolveu activa-mente na candidatura presidencial do General Norton de Matos, vindo a filiar-se no Partido Comunista em 1949. Em Coimbra, realizou um importante trabalho de agitação política na Associação Académica e no Movimento de Unidade Democrática Juvenil.Licenciou-se em 1954, sendo depois convocado para o serviço militar, que cumpriu em Penafiel, Coimbra, Santa Margarida e no Porto, casando então por civil com Maria Alcina Gomes, sua companheira de sempre, da qual teve dois filhos.No dia imediato ao casamento, foi para o Tribunal Plenário do Porto, estagiando com o advogado Armando Bacelar na defesa do Prof.

Ruy Luís Gomes, Virgínia de Moura e outros elementos do Movimento Nacional Democrático, acusados pelo regime de antipatriotismo, incorrendo numa pena até 20 anos de prisão. Encarregado de proceder a todas as anotações relevantes durante o processo de julgamento, acabou preso pela PIDE, em 1955, por não facultar os apontamentos, entretanto remetidos a advogados influentes. Esteve detido preventi-vamente durante seis meses na Cadeia do Aljube.Em 1959 foi novamente preso, sob a acusação de participação no 5.º Congresso clandestino do PCP e de ser diri-gente do Partido, incorrendo em 12 anos de prisão. Neste período foi submetido à famigerada tortura do sono, durante 160 horas consecu-tivas, com interrogatório diário de várias horas, durante duas semanas sucessivas. A experiência, muito traumatizante, está relatada no livro de poemas "Amanhã Virás", escrito na prisão. Acabou absolvido, em 1960.Arnaldo Mesquita conquista especial notoriedade em 1964 como defensor de Maria Piedade, a quem a PIDE tinha aplicado as chamadas "medidas de segurança": ficaria presa como represália enquanto o marido, Joaquim Gomes, evadido de Peniche com Álvaro Cunhal, não fosse recapturado.

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Arnaldo Mesquita

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Arnaldo Mesquita

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Liderando um amplo movimento de contestação de juristas e intelec-tuais, alguns mesmo ligados ao regime, e a denúncia no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, conseguiu a libertação da sua constituinte, suscitando a fúria da PIDE que o prendeu pela terceira vez. O apoio de Francisco Salgado Zenha e do seu defensor Armando Bacelar foram determinantes para a sua absolvição, mas não impediu a grave deterioração do seu estado de saúde.Mesmo assim, manteve-se no exercício da advocacia e o seu escritório, no Porto, passou a sede de humilhados e ofendidos do fascismo. Viria, aliás, a alcançar retumbante êxito judicial, com a jurisprudência de as declarações dos presos políticos serem nulas sem a presença dos seus advogados.Com o "25 de Abril", foi eleito para a Assembleia Municipal de Lousada durante vários mandatos, destacando-se pelo seu carácter persistente e combativo.Talentoso poeta, publicou, além de "Amanhã Virás" (1971), "70 Poesias Breves" (1987), "Em Tempo de Fascismo" (1987), "Sejam Amplas as Janelas " (1999), "Aquele" (2000) e "Dispersos"

(2001), todas edições de autor; "As Duas Vozes" (2003), Edições Avante" e "Aves Ledas" (2006), "À Mulher" (2008) e "Nascido no Monte" (2009), edições da Câmara Municipal de Lousada. Era, também, cronista regular no TVS.O Município de Lousada condecorou-o, em Julho de 2008, com a Medalha de Prata de Mérito Municipal, pelo seu percurso como resistente antifascista, advogado e poeta, e em 9 de Maio de 2009 era homenageado pela União dos Resistentes Antifascistas Portu-gueses.Quando, no passado domingo, dia 2 de Janeiro, eram quase 17h00, o seu corpo, coberto pela bandeira do PCP, vindo da capela de Cedofeita, onde esteve em câmara ardente, chegou ao cemitério do Torno, eram muitos os populares que aguarda-vam para a última despedida.O elogio fúnebre, lido por Albano Nunes, do Comité Central do PCP, resumiu o percurso coerente, corajoso e com-bativo de Arnaldo Mesquita, a sua estatura ética e a sua fortaleza ideológica.No funeral viram-se o Presidente da Assembleia Municipal, Dr. Mário Fonseca; o Vice-Presidente da Câmara, Dr. Pedro Machado; a

Vereadora Dr.ª Cristina Moreira; Prof. José Santalha, Presidente da Comissão Política do PS/Lousada; o deputado municipal Francisco Xavier; os Presidentes das Juntas do Torno e de Vilar do Torno; Jaime Toga e Teresa Lopes, do Comité Central do PCP; Dr. Cristiano Ribeiro, da Assembleia Municipal de Paredes, entre muitos outros companheiros e admiradores.Na laje sepulcral, o epitáfio, já inscrito há vários meses, exalta: "Paz no mundo, fascismo nunca mais", rematando com Karl Marx: "De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades". Arnaldo Mesquita, fiel a si próprio. Os amanhãs ainda cantam. Até à eternidade.

Em Julho de 2008, Arnaldo Mesquita foi distinguido com a Medalha de Prata de Mérito Municipal, devido ao reco-nhecimento pelo seu percurso profissional, cívico, político e intelectual. Na altura, o Presidente da Câmara de Lousada, Dr. Jorge Magalhães, relembrou o seu percurso de "membro da Assem-bleia Municipal de Lousada

durante vários mandatos, nos quais assumiu sempre uma atitude atenta e vigilante, apresentando propostas concretas e bem inten-cionadas, tendo em vista o desen-volvimento local".No seu discurso o Presidente da Câmara teve ainda oportunidade de referir que "o Dr. Arnaldo Mesquita foi perse-guido, preso e torturado, e submetido a constante

provação física e psicológica, mas revelando uma capacidade combativa e uma fidelidade incansável às suas convicções, que o elegem como um resistente de grande coragem. O seu percurso de jurista permitiu-lhe defender muitos humilhados e ofendidos da Ditadura”.

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Homenagem a Arnaldo Mesquita, lutador Antifascista

in http://www.urap.pt/

Arnaldo Mesquita

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Foi no dia 9 de Maio de 2009 na Cooperativa Arvore, no Porto, recebido com cravos vermelhos e a saudação que lhe é tão querida - 25 DE ABRIL SEMPRE, FASCISMO NUNCA MAIS - que ARNALDO MESQUITA foi homenageado, pela URAP, por camaradas e amigos dos

mais diversos quadrantes, numa manifestação simples, mas carre-gada de afecto e de grande apreço pelo Homem e pelo Cidadão, que sem desfalecimentos na incessante luta pela conquista da Liberdade e da Democracia, com sacrifício da sua vida pessoal, familiar e profis-

sional, sempre se manteve fiel aos seus ideais. A sua persistente luta contra o fascismo, valeram-lhe a animosidade e a perseguição do regime salazarista, a prisão nas masmorras da PIDE.

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Arnaldo Mesquita

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Como Advogado, distinguiu-se na defesa corajosa de outros presos políticos nos famigerados Tribunais Plenários. Os valores da democra-cia, a luta pela libertação do nosso povo e pela melhoria das suas condições de vida, a solidariedade activa para com os mais fracos e oprimidos são atributos que definem a sua personalidade e que tornaram, mais do que merecida, imperiosa esta homenagem. Significativa-mente, nestes dias de Abril e Maio, os dias da Liberdade.As intervenções de Macedo Varela, seu companheiro de profissão e luta que testemunhou vários passos da sua vida de lutador e de Amigo, do Bastonário da Ordem dos Advoga-dos que ali prestou homenagem ao profissional e ao cidadão de convicções e de coragem; Jerónimo de Sousa que, em nome do seu Partido, relevou a generosidade com que prestou o seu apoio político e jurídico experiente a todos os perseguidos pelo fascismo que procuraram o seu conselho, a sua coerência ideológica, as prisões e as torturas a que foi submetido pela

PIDE, a sua intervenção cívica antes e depois de Abril de Manuel Coelho dos Santos que foi seu defensor enquanto preso político e deu relevo à sua postura corajosa perante a PIDE, de Maria da Piedade Gomes que lembrou com comoção o envolvimento profundo de Arnaldo Mesquita no processo da sua libertação, condenada que estava às famigeradas "medidas de segu-rança"; de mulheres autarcas, de formações políticas diferentes, que deram testemunho comovido da postura exemplar deste defensor da Liberdade, do Homem solidário com quem aprenderam a valorizar o exercício da Democracia; tal como a força que foi dada à leitura de alguns dos seus poemas, confir-maram a justeza desta Homenagem.A URAP que, na pessoa de Maria José Ribeiro, moderou a sessão, entendeu manifestar a sua hom-enagem com a publicação da entrevista que recentemente lhe foi feita, com a cooperação da sua Companheira de sempre, Maria Alcina, e onde ressalta a sua perso-nalidade sensível e

combativa, o carácter vertical e uma inabalável firmeza de princípios.Nascido em 16 de Janeiro de 1930, na freguesia do Torno, concelho de Lousada, Advogado de Profissão, pertenceu, enquanto estudante, em Coimbra, à Direcção do MUD Juvenil. Aderiu ao Partido Comuni-sta Português em 1949. Foi preso três vezes pela PIDE. Foi Membro da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Foi membro da Assembleia Municipal de Lousada, eleito nas Listas da APU, FEPU e CDU. Foi distinguido com a medalha de Prata de Mérito Munici-pal da Câmara Municipal de Lousada, em 2008.Arnaldo Mesquita, numa interven-ção coloquial, profundamente sentida e cheia de conteúdo, alertou para o perigo do fascismo se instalar por aí. É preciso lutar! Esclarecer as pessoas, transformar as pequenas em grandes lutas, os pequenos protestos em grandes protestos; Lutar pela defesa das liberdades, organizadamente, a nível sindical, sócio-profissional e político, com todos os antifascistas!, disse.

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Homenagem da Ordem dos Advogados

Por Jerónimo Martins in http://www.oa.pt/

Faleceu recentemente no Porto o Senhor Dr. Arnaldo Mesquita, Mui Ilustre Advogado, bem conhecido em todo o País. Seu pas-samento devido a doença prolongada deixa-nos a todos mais pobres.Na verdade, a sua luta firme e intransigente na defesa da Liber-dade e dos Direitos Fundamentais, ao longo de várias décadas levou-o a estar presente nos momentos essenciais em que era difícil, muito difícil, lutar por tais objectivos mas, era necessário e indispensável que tal fosse feito.

O Senhor Dr. Arnaldo Mesquita esteve sempre presente nessas circunstâncias tendo várias vezes sido preso pela polícia política do Estado Novo.A sua intervenção no Tribunal Plenário em defesa de presos políticos constitui um dos factos mais salientes da sua acção cívica e profissional.O senhor Dr. Arnaldo Mesquita foi um Advogado que, ao longo de toda a sua vida profissional honrou a Advocacia e prestigiou a Ordem dos Advogados.

A este intemerato defensor dos Direitos Humanos, quer a Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados prestar a sua homenagem, evocando-O com respeito e admiração, afim de que Seu exemplo nos anime na luta sem fim pelos Direitos Humanos.Jerónimo Martins1.º Vice-Presidente do Conselho Geral da Ordem dos Advogados e Presidente da Comissão dos Direi-tos Humanos da Ordem dos Advogados.

Arnaldo Mesquita

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O camarada Arnaldo Mesquita in http://www.porto.pcp.pt/

A DORP do PCP cumpre o doloroso dever de informar o falecimento do camarada Arnaldo Pereira de Oliveira Mesquita, membro do Sector Intelectual da Direcção da Organização Regional do Porto do PCP.Advogado, natural da freguesia de Torno, Lousada, Arnaldo Mesquita tornou-se membro do PCP em 1949, tendo pertencido enquanto estudante de Coimbra à direcção do MUD Juvenil, tendo participado em todas as grandes batalhas políticas da oposição democrática, até ao 25 de Abril.

Resistente antifascista, foi preso três vezes e torturado pela PIDE, além de julgado no Tribunal Plenário do Porto depois de prolongada deten-ção, vindo a ser absolvido, em 1960.Foi membro da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos tendo desenvolvido intensa activi-dade, em Tribunal Plenário, na defesa de vários presos políticos.Foi membro da Assembleia Munici-pal de Lousada, eleito nas listas da APU, FEPU e CDU.Foi distinguido com a Medalha de Prata de Mérito Municipal pela Câmara Municipal de Lousada

Era membro da URAP – União de Resistentes Antifascistas Portu-gueses. Ao seu perfil de lutador antifascista, e de cidadão activo nas grandes batalhas cívicas, acrescia ainda a faceta de escritor, tendo publicado diversos livros, onde a poesia era inseparável do seu percurso de lutador pela liberdade e uma sociedade mais justa.O seu desaparecimento representa uma grande perda para o Partido, tendo o Secretariado do Comité Central apresentado já à sua Família as sentidas condolências do Partido Comunista Português.

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um homem novo ou velhosaiba manter-se de péquanto mais dobre o joelho mais deixa de ser quem ée de dobrado nem se vê.