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ISSN 1677-0668 ANO XII Nº 48 abril / junho de 2012 Revista de Publicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal ARTIGOS Controles de capitais, sobrevalori- zação cambial e termos de troca: uma análisedo caso brasileiro recente José Luis Oreiro O Brasil está preparado para enfrentar as turbulências decorrentes do agravamento da crise mundial? José Matias Pereira A crise financeira mundial de 2007-2008 e a Grande Depressão: algumas lições Fernando Ferrari Filho e Gustavo Teixeira Ferreira da Silva Fundo Social do Petróleo: concepção e implicações macrofinanceiras Eduardo Toledo Neto O baixo crescimento do PIB e as medidas do Governo Carlos Eduardo de Freitas, César Augusto Moreira Bergo, José Fernando Cosentino Tavares e José Luiz Pagnussat Análise comparativa das discre- pâncias entre os rendimentos dos assalariados do setor público e do setor privado na região metropo- litana de São Paulo e no Distrito Federal: 1992 a 2011 Júlio Miragaya Bolsa Família e seus impactos nas condições de vida da população brasileira Paulo de Martino Jannuzzi O baixo crescimento do PIB brasileiro preocupa economistas. Apesar das ações adequadas do governo, o quadro de pessimismo no setor produtivo ainda não se reverteu

Revista de Conjutura n. 48

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Revista de Conjuntura do CoreconDF

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ISSN

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ANO XII Nº 48 abril / junho de 2012

Revista de

Publicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal

ARTIGOS

Controles de capitais, sobrevalori-zação cambial e termos

de troca: uma análisedo caso brasileiro recente

José Luis Oreiro

O Brasil está preparado para enfrentar as turbulências

decorrentes do agravamento da crise mundial?José Matias Pereira

A crise fi nanceira mundial de 2007-2008 e a Grande

Depressão: algumas liçõesFernando Ferrari Filho e

Gustavo Teixeira Ferreira da Silva

Fundo Social do Petróleo: concepção e implicações

macrofi nanceirasEduardo Toledo Neto

O baixo crescimento do PIB e as medidas do Governo

Carlos Eduardo de Freitas, César Augusto Moreira Bergo,

José Fernando Cosentino Tavares e José Luiz Pagnussat

Análise comparativa das discre-pâncias entre os rendimentos dosassalariados do setor público e do setor privado na região metropo-

litana de São Paulo e no Distrito Federal: 1992 a 2011

Júlio Miragaya

Bolsa Família e seus impactos nas condições de vida da

população brasileiraPaulo de Martino Jannuzzi

O baixo crescimento do PIB brasileiro preocupa economistas. Apesar das

ações adequadas do governo, o quadro de pessimismo no setor produtivo

ainda não se reverteu

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Page 3: Revista de Conjutura n. 48

A assinatura da Revista de Conjuntura pode ser efetuada contatando o Corecon-DF. O valor da assinatura é de

R$ 40,00 anuais, o que equivale a quatro edições da revista.

03 Controles de capitais, sobrevalorização cambial e termos de troca: uma análise

do caso brasileiro recente José Luis Oreiro

08O Brasil está preparado para enfrentar as

turbulências decorrentes do agravamento da crise mundial?

José Matias Pereira

12A crise fi nanceira mundial de 2007-2008

e a Grande Depressão: algumas liçõesFernando Ferrari Filho e

Gustavo Teixeira Ferreira da Silva

16Fundo Social do Petróleo: concepção e

implicações macrofi nanceirasEduardo Toledo Neto

25O baixo crescimento do PIB e

as medidas do GovernoCarlos Eduardo de Freitas, César Augusto

Moreira Bergo, José Fernando Cosentino Tavares e José Luiz Pagnussat

38Análise comparativa das discrepâncias

entre os rendimentos dos assalariados do setor público e do setor privado na região

metropolitana de São Paulo e no Distrito Federal: 1992 a 2011

Júlio Miragaya

43Bolsa Família e seus impactos

nas condições de vida da população brasileira

Paulo de Martino Jannuzzi

2 Editorial

ÍndicePublicação do Conselho Regional de

Economia do Distrito Federal

ANO XII Nº 48 abril / junho de 2012

ConjunturaRevista de

Nesta edição

Page 4: Revista de Conjutura n. 48

Editor responsávelJosé Luiz Pagnussat

Conselho editorialCarlos Eduardo de FreitasElder Linton Alves de AtaújoJosé Fernando Cosentino TavaresJosé Roberto Novaes de AlmeidaHumberto Vendelino RichterMaurício Barata de Paula PintoNewton Ferreira da Silva MarquesTito Belchior Silva MoreiraJúlio Miragaya

Jornalista responsávelCamila Fiorese (Reg. DRT/DF: 7851)

Redação e editoração eletrônicaCamila Fiorese

Revisão Letícia Sallorenzo

Tiragem: 4.000Periodicidade: trimestral

As matérias assinadas por colaboradores não refl etem, necessariamente, a posição da entidade. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte.

CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA DA 11ª REGIÃO - DF

PresidenteJusçanio Umbelino de Souza

Vice-presidenteMaria Cristina de Araújo

Conselheiros efetivosCarlos Eduardo de FreitasOscar Henrique Belo Santos Tito Belchior Silva Moreira Gilson Duarte Ferreira dos SantosCarlito Roberto ZanettiPaulo Roberto Amorim LoureriroJusçanio Umbelino de SouzaMaria Cristina de Araújo Evilasio da Silva Salvador

Conselheiros suplentesPaulo Luiz Figueiredo de OliveiraMiguel RendyElder Linton Alves de Araujo Bento de Matos FélixJucemar José ImperatoriCésar Augusto Moreira BergoRoberto Bocaccio Piscitelli Mônica Beraldo Fabrício da Silva Humberto Vendelino Richter

Delegado eleitor efetivoMario Sergio Fernandez Sallorenzo

Delegado eleitor suplenteJusçanio Umbelino de Souza

Conselheiro federal efetivo pelo DFRoberto Bocaccio Piscitelli

Conselheiros federais suplentes pelo DFJúlio Miragaya Max Leno de Almeida

Equipe do Corecon-DF

Gerente executivoRonaldo Galloti Schroeder

Angeilton Francisco Lima Faleiro Camila FioreseHélio Matheus Silva de OliveiraIraci da Costa Lopes Jamildo Cezário Gomes Michele Cantuária Soares

EstagiáriasLayane Martins Rocha – JornalismoVanessa Navarros Guerra da Silva – DireitoAmanda Stefany Souza Bernardo – Ensino médio

End.: SCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202CEP 70300-907 – Brasília/DFTel: (61) 3225-9242 / 3223-14293964-8366 / 3964-8368Fax: (61) 3964-8364E-mail: [email protected]: www.corecondf.org.brHorário de funcionamento:das 8h às 18h (sem intervalo)

O baixo crescimento da economia brasileira no primeiro semestre de 2012, após estagnação

no segundo semestre de 2011, é refl exo, em parte, do desaquecimento da economia global. Mas

também resulta das políticas econômicas restritivas adotadas pelo governo para trazer a infl ação

para dentro da meta no ano de 2011 – além da timidez do governo em estimular a economia no

primeiro semestre deste ano, atemorizado ainda pelo fantasma da infl ação.

O crescimento do PIB em 2012 já está fortemente comprometido e os riscos agora são o fe-

chamento de unidades produtivas de setores importantes da economia e o desemprego. Não há

alternativas para o governo, a não ser adotar medidas mais consistentes com as dimensões da cri-

se econômica conjuntural, em articulação com os setores produtivos. Nesse sentido, os Conselhos

Setoriais (Conselhos de Competitividade), com a participação de empresários e trabalhadores, são

uma boa iniciativa – mas não sufi ciente para ouvir todos os segmentos da economia e regiões do

Brasil.

Os bons fundamentos macroeconômicos brasileiros permitem maior ousadia dos gestores das

políticas econômicas. A infl ação está em queda; a dívida líquida do setor público caiu quase 50%

desde 2002 e o saldo primário é positivo; o país tem reservas internacionais que superam 370 bi-

lhões de dólares e continua sendo uma das melhores opções de investimentos para o resto do

mundo.

O desaquecimento atual da economia é a oportunidade para realizar os ajustes tão demanda-

dos pelo setor produtivo e pela sociedade brasileira. Sem infl ação, o governo pode trazer a taxa de

juros básica da economia para um patamar comparável ao das demais economias de mercado; re-

duzir o custo da divida pública, pela qual ainda se pagam juros elevados; promover ajustes nas des-

pesas públicas; e romper com a cultura do desperdício, que abrange a maioria dos órgãos públicos

e infl uencia a conduta de seus dirigentes. O baixo nível de poupança pública e, consequentemente,

de investimento em infraestrutura, é um dos principais fatores restritivos ao crescimento no Brasil.

É necessário ampliar os investimentos públicos e o fi nanciamento de longo prazo destinado ao

setor produtivo para reativar o crescimento da economia de forma sustentável.

As vantagens econômicas brasileiras, considerando os recursos naturais do país, os bons funda-

mentos macroeconômicos e a efi ciência do setor produtivo, quando comparadas com as dos países

vizinhos, que apresentam melhor desempenho, mostram que não é plausível o baixo crescimento

brasileiro.

A queda conjuntural na competitividade de alguns setores da economia nacional é refl exo da

política econômica adotada (câmbio e juros), das sobretaxas que pesam sobre eles e dos “subsídios

indiretos” praticados por um grande número de países. O Brasil tem a tecnologia, a matéria-prima e

os recursos naturais mais adequados para a produção de bioenergia e, no entanto, está importando

álcool de milho dos EUA. O Brasil tem uma indústria de frango e de porcos dentre as mais efi cientes

e modernas do mundo, mas enfrenta difi culdades no mercado internacional, em parte causadas

pela própria política econômica brasileira. O Brasil tem a maior reserva de terras agricultáveis dis-

poníveis no mundo e, ainda assim, teve um crescimento relativamente pequeno nas últimas duas

décadas na produção de grãos, quando comparado com países vizinhos. O Brasil tem o pré-sal e, no

entanto, a Petrobras está revendo os seus investimentos.

Enfi m, precisamos de planejamento e de mais ousadia dos gestores públicos e privados. A eco-

nomia brasileira nas últimas três décadas apresentou desempenho pífi o, nos anos 1980, em razão

da crise da dívida externa e da hiperinfl ação e nos anos 1990, em razão das políticas neoliberais ado-

tadas, em parte impostas pela “banca internacional”, mas também pelo alinhamento dos dirigen-

tes políticos brasileiros e da maioria dos países latino-americanos com essas políticasà época. Na

década de 2000 a economia brasileira também teve um desempenho aquém do desejado, apesar

das melhores taxas de crescimento, em parte proporcionadas pela ampliação das políticas sociais.

Nesta década, o Brasil foi um dos países latinoamericanos de menor crescimento, quando compa-

rado com os principais vizinhos da região. O baixo crescimento econômico economia brasileira em

2011 e 2012 é o sinal de alerta. Não podemos ter mais uma década de baixo crescimento, enquanto

China, Índia e os demais países em desenvolvimento se mantêm com alto desempenho.

EditorialEditorialPublicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal

ConjunturaRevista de

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abril / junho de 2012

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José Luis Oreiro

Um dos argumentos da sabedoria convencional

contra a imposição de controles de capitais na economia

brasileira – que tem sido feita de forma bastante tímida

por parte do governo brasileiro nos anos recentes – é

que eles tornariam mais difícil a captação de recursos no

exterior, ou seja, a captação de poupança externa. Dada

a notória escassez de poupança doméstica no Brasil,

a poupança externa seria então condição necessária

para o fi nanciamento do investimento produtivo da

economia brasileira, atualmente em torno de 20% do

PIB. Além disso, continua a sabedoria convencional: para

que o governo possa aumentar a taxa de crescimento

do PIB que é compatível com a estabilidade da taxa de

infl ação para um patamar de 5% a.a., é necessário um

aumento signifi cativo da taxa de investimento (para

algo próximo a 24% do PIB), o que reforça ainda mais

a dependência da economia brasileira com respeito

à poupança externa. Dessa forma, a política mais

inteligente a ser adotada pelo governo seria remover

todos os obstáculos para a captação de recursos no

exterior por parte de residentes no Brasil. Sendo assim,

os controles de capitais ainda existentes na economia

brasileira deveriam ser plenamente abolidos com a

implantação da plena conversibilidade do Real. Nessas

condições, argumentam os fi lósofos da sabedoria

convencional, a economia brasileira poderia captar

com facilidade uma poupança externa entre 4 e 5% do

PIB, sem maiores riscos para o equilíbrio intertemporal

do balanço de pagamentos.

Esse raciocínio da sabedoria convencional se apoia

em duas hipóteses fundamentais. A primeira é que as

poupanças externa e doméstica são complementares,

ao invés de substitutas. A segunda hipótese é que

os controles de capitais não são capazes de afetar

a trajetória da taxa real de câmbio e, dessa forma,

o montante de fi nanciamento externo requerido

pela economia brasileira – posto que a taxa real de

câmbio de equilíbrio depende da relação entre a taxa

de investimento e a taxa de poupança doméstica

numa pequena economia aberta. Sendo assim, uma

desvalorização permanente da taxa real de câmbio

só seria possível por intermédio de um aumento

permanente da poupança doméstica. Dessa forma,

variações da taxa real de câmbio seriam, em geral,

precedidas por variações na poupança doméstica.

A sabedoria convencional acredita que a poupança

é logica e temporalmente anterior ao investimento, de

tal forma que um aumento deste requer um aumento

prévio da taxa de poupança da economia. Nesse

contexto, para que ocorra um aumento do investimento

é necessário que ocorra um aumento da poupança

doméstica (privada + pública) e/ou um aumento da

poupança externa. Se o setor privado doméstico ou o

setor público não estiverem dispostos a aumentar a

sua taxa de poupança, então o investimento só poderá

aumentar em função de um aumento da poupança

externa, ou seja, do défi cit em conta corrente.

A introdução de controles de capitais difi cultaria

esse processo ao tornar menos atrativa a compra de

ativos domésticos por residentes no exterior. Dessa

forma, o défi cit em conta corrente requerido para o

aumento do investimento produtivo não poderia ser

fi nanciado pela entrada de capitais, ou seja, o superávit

da conta de capitais do balanço de pagamentos seria

insufi ciente para o fi nanciamento integral do défi cit

em conta corrente. Nesse caso, haveria um défi cit

Controles de capitais, sobrevalorização

cambial e termos de troca: uma análise

do caso brasileiro recente

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O efeito fi nal da introdução dos

controles de capitais seria, portanto, uma

forte recessão produzida pelo ajustamento da taxa de juros

resultante da aceleração infl acionária induzida pelo desequilíbrio do

balanço de pagamentos.

no balanço de pagamentos, que resultaria ou numa

redução das reservas internacionais (caso o Banco

Central decida garantir a estabilidade da taxa real de

câmbio), ou numa forte desvalorização da taxa real de

câmbio (caso a autoridade monetária não intervenha

no mercado cambial). Neste segundo cenário, a

desvalorização súbita da taxa de câmbio produziria

uma forte elevação da taxa de infl ação, o que obrigaria

o Banco Central a fazer uma grande elevação da

taxa de juros, de forma a manter a infl ação dentro da

meta defi nida pelo Conselho Monetário Nacional. O

efeito fi nal da introdução dos controles de capitais

seria, portanto, uma forte recessão produzida pelo

ajustamento da taxa de juros resultante da aceleração

infl acionária induzida pelo desequilíbrio do balanço de

pagamentos.

Esse raciocínio da sabedoria convencional é

falacioso. Em primeiro lugar, como já foi demonstrado

por Keynes (1936) e Kaldor (1956), o investimento

precede logica e temporalmente a poupança tanto

no curto como no longo prazo1. Dessa forma, o

investimento, sempre e em todo lugar, determina

um volume equivalente de poupança agregada. A

repartição do volume de poupança entre poupança

doméstica e poupança externa depende criticamente

da taxa real de câmbio. Quanto mais apreciada for a

taxa real de câmbio, maior será o salário real e, portanto,

a participação dos trabalhadores na renda nacional.

Como a propensão a poupar a partir dos lucros é maior

do que a propensão a poupar a partir dos salários, a

apreciação da taxa real de câmbio reduz a poupança

agregada do setor privado. Supondo a validade da

condição de Marshall-Lerner, a apreciação da taxa real

de câmbio irá resultar numa redução das exportações

líquidas a médio e longo prazo, de forma a produzir

um aumento do défi cit em conta corrente, ou seja, um

aumento da poupança externa. Isto posto, a apreciação

da taxa real de câmbio resulta numa substituição de

poupança doméstica por poupança externa (Bresser-

Pereira, 2009), dando origem à necessidade de atração

de capitais externos (ou seja, superávit na conta capital)

para o equilíbrio do balanço de pagamentos, que exige

o relaxamento dos controles de capitais. Em outras

palavras, a poupança externa e a captação de recursos

no exterior só são necessárias para o equilíbrio da

balança de pagamentos se a taxa real de câmbio estiver

sobrevalorizada.

No que se refere à segunda hipótese do modelo

da sabedoria convencional, deve-se ressaltar que

ela se apoia na inelasticidade do produto potencial

com respeito à demanda agregada. Nesse contexto,

um aumento da absorção doméstica – por exemplo,

devido a um aumento dos gastos do governo – não

pode ser atendido por um aumento do produto real

no longo prazo, uma vez que ele seria igual ao produto

potencial, determinado pela tecnologia e pela dotação

de fatores da economia em consideração. Com isso, o

equilíbrio no mercado de bens exige uma redução da

demanda externa pela produção doméstica, o que só

pode ser viabilizado por intermédio de uma apreciação

da taxa real de câmbio. Mutatis mutandis, uma redução

da absorção doméstica – devido, por exemplo, a uma

redução do consumo privado ou dos gastos públicos

– irá induzir uma depreciação da taxa real de câmbio

para o reequilíbrio no mercado de bens.

1 No curto prazo a poupança agregada total se ajusta ao investimento por intermédio de variações do nível de emprego e do grau de utilização da capacidade produtiva. No longo prazo, o ajuste se dá por variações da participação dos lucros na renda nacional.

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No que se refere à hipótese de inelasticidade do

produto potencial com respeito à demanda agregada,

a boa teoria econômica e a evidência empírica (Oreiro

et al, 2010; Libanio 2009) mostram que ela é igualmente

falaciosa. Com efeito, tal como ressaltado por Kaldor

(1988), tanto a acumulação de fatores de produção

como o ritmo de progresso tecnológico dependem,

no longo prazo, do ritmo de crescimento da demanda

agregada autônoma. Isso se deve ao fato de que (i) o

investimento em capital fixo responde positivamente

às expectativas de crescimento da demanda dos

empresários em função do efeito acelerador; (ii) a

taxa de crescimento da força de trabalho responde ao

crescimento da demanda por trabalho, por intermédio

de mudanças nas horas trabalhadas no curto prazo, da

taxa de participação no médio prazo e do tamanho da

população no longo prazo; (iii) o ritmo de crescimento

da produtividade do trabalho responde ao crescimento

da produção devido à existência de economias

estáticas e dinâmicas de escala consubstanciadas na lei

de Kaldor-Verdoorn.

Sendo assim, é muito mais razoável tratar a taxa

real de câmbio como uma variável exógena do ponto

de vista do processo de acumulação de capital. Nesse

contexto, constata-se que entre janeiro de 2003

e fevereiro de 2012 a taxa real efetiva de câmbio

da economia brasileira sofreu uma valorização de

37,32% (Figura 1). No mesmo período, a participação

da indústria de transformação no PIB caiu de 18,01%

para 14,59%. Os dados indicam de forma inexorável

a ocorrência de um processo de desindustrialização

da economia brasileira, causada, entre outros fatores,

pela sobrevalorização da taxa real de câmbio. Essa

desindustrialização irá condenar nosso país a uma

semiestagnação, uma vez que a indústria é o motor de

crescimento de longo prazo das economias capitalistas,

por ser a fonte das economias estáticas e dinâmicas de

escala, o setor que possui os maiores encadeamentos

para frente e para trás na cadeia produtiva e por ser a

fonte ou o principal difusor do progresso técnico para

o restante da economia.

Embora os efeitos negativos da apreciação cambial

sobre a indústria de transformação sejam relativamente

consensuais entre os economistas, subsistem sérias

dúvidas a respeito do que pode ser feito para lidar

com o problema. Nesse contexto, é possível identificar

claramente três posições distintas. Um primeiro grupo

de economistas, mais ligado à ortodoxia neoclássica,

acredita que a sobrevalorização cambial é um

problema estrutural derivado da implementação, de

jure, do Estado do Bem-Estar Social pela Constituição

de 1988 e, de facto, pelo governo do PT desde 2003.

As políticas de redistribuição de renda atuariam no

sentido de produzir uma expansão dos gastos públicos,

o que limitaria os graus de liberdade do setor público

para aumentar o superávit primário como proporção

do PIB. Dessa forma, não seria possível operacionalizar

a contração fiscal requerida para a desvalorização da

taxa real de câmbio. Como a sociedade brasileira teria

feito uma escolha bem clara pelo Estado do Bem-

Estar Social com a eleição de Lula (e, posteriormente,

Dilma), segue-se que a sobrevalorização cambial é

irreversível e, por conseguinte, o país está condenado

à desindustrialização.

Um segundo grupo de economistas, fortemente

ligado à equipe econômica do governo, acredita que

a valorização da taxa real de câmbio está relacionada

com as transformações ocorridas na economia

mundial, em particular a ascensão da China ao

status de grande potência econômica. A demanda

aparentemente insaciável da China por matérias-

primas e commodities teria gerado uma elevação dos

preços dos bens primários exportados pelo Brasil, e

Figura 1 - Taxa Real Efetiva de Câmbio,

Termos de Troca e Superávit Primário do

Setor Público (2003/01-2012/02)

Fonte: IPEADATA. Elaboração do autor.

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Essa desindus- trialização irá conde- nar nosso país a uma

semiestagnação, uma vez que a

indústria é o motor de crescimento de longo prazo das economias

capitalistas por ser a fonte das economias estáticas e dinâmicas

de escala...

atua no sentido de produzir uma melhoria significativa

dos termos de troca da economia brasileira. Essa

melhoria teria resultado numa forte apreciação

da taxa real de câmbio. Dado que a mudança na

configuração mundial de poder econômico é um fato

irreversível, a apreciação da taxa real de câmbio seria

um fenômeno de caráter permanente, sobre o qual

a política econômica pouco pode fazer a respeito.

Nesse contexto, a desindustrialização tem que ser

enfrentada, não pela mudança na política cambial,

que seria inócua sobre a dinâmica do câmbio real, mas

pela volta ao protecionismo comercial prevalecente

durante a vigência do modelo de industrialização por

substituição de importações.

Por fim, os economistas ligados ao “novo

desenvolvimentismo” acreditam que a valorização da

taxa real de câmbio nos últimos anos foi decorrência,

fundamentalmente, da adoção do “populismo

cambial”, uma vez que a sobrevalorização da taxa

real de câmbio produz um aumento temporário do

salário real. O aumento do salário real nos últimos

anos, embora insustentável a longo prazo (pois não

decorre do aumento de produtividade do trabalho,

mas da sobrevalorização do câmbio), tem se mostrado

politicamente eficaz no sentido de garantir ao partido

do governo a vitória nos pleitos eleitorais. Nesse

contexto, a desindustrialização tem que ser enfrentada,

não pelo retorno do modelo protecionista dos anos

1970, mas pela mudança na política cambial.

Uma análise dos dados da economia brasileira

no período em consideração nos permite descartar,

de imediato, a posição defendida pela ortodoxia

neoclássica. Com efeito, no período que estamos

analisando, enquanto a taxa real de câmbio apresentava

uma apreciação de 37,42%, o superávit primário

do setor público (% PIB) permaneceu praticamente

estável, aumentando míseros 2,14%. Daqui se segue

que a política fiscal não pode ser culpada pela

sobrevalorização do câmbio.

O mesmo não pode ser dito a respeito dos termos

de troca, que apresentaram uma valorização de 37,43%

no período, guardando uma correlação de -0,6127 com

a taxa real de câmbio.

Isso não quer dizer, contudo, que a tendência

à valorização dos termos de troca imponha uma

tendência inexorável à sobrevalorização cambial. Isso

porque, ao decompor o período 2003-2012 em dois

subperíodos (2003-2008 e 2009-2012), verifica-se que

a correlação entre câmbio real e termos de troca caiu

de forma abrupta após a erupção da crise econômica

mundial de 2008. Com efeito, no período 2003-2008

a correlação entre câmbio real e termos de troca era

igual a -0,698; ao passo que no período 2009-2012 a

correlação caiu para -0,3323, ou seja, menos da metade

do que o observado no período anterior. Essa queda do

coeficiente de correlação explica por que, após a crise

de 2008, o aumento espetacular dos termos de troca

da economia brasileira não resultou numa apreciação

muito maior da taxa real de câmbio do que a que

efetivamente observada.

Por que a correlação entre câmbio e termos de

troca caiu após a crise de 2008? A explicação é que,

desde então, o governo e o BC têm adotado um piso

implícito para a taxa de câmbio, e atuam de forma

coordenada para evitar que o câmbio caia abaixo de

certo nível crítico (índice 80 na série de câmbio real

efetivo). Para tanto, o governo e o BC têm usado vários

instrumentos, como os controles de capitais e a política

de incremento das reservas internacionais.

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Mas se o governo e o BC são capazes de impedir

que o câmbio real caia abaixo de um certo nível crítico,

então eles também seriam capazes de produzir uma

desvalorização administrada da taxa de câmbio, caso

estivessem dispostos a fazê-lo. Daqui se segue que o

câmbio sobrevalorizado é resultado de uma decisão

do governo. Não interessa ao governo desvalorizar

o câmbio, pois isso traria prejuízos eleitorais.

Nesse contexto, o enfrentamento do problema da

desindustrialização passa, necessariamente, pela volta

ao protecionismo dos anos 1970.

Com base nesse razoado, constata-se que a boa

teoria econômica e a experiência brasileira mostram

que a introdução de controles de capitais é uma política

necessária para permitir a administração da taxa real

de câmbio por parte dos formuladores de política

econômica. Se a intensidade dos controles de capitais

for adequada, o governo poderá administrar a taxa

real de câmbio, colocando-a no valor requerido para

eliminar o déficit em conta corrente. Mas isso pode não

ser suficiente para induzir um crescimento econômico

acelerado. Se a economia sofrer de doença holandesa,

a taxa real de câmbio requerida pelo setor industrial

para se manter competitivo com respeito ao resto do

mundo será maior (ou seja, mais depreciada) do que

a taxa real de câmbio requerida para o equilíbrio em

conta corrente do balanço de pagamentos (Bresser-

Pereira, 2009). Nesse caso, além dos controles de

capitais, o governo deverá introduzir um imposto sobre

as exportações de bens primários.

Referências Bibliográficas

BRESSER-PEREIRA, L.C. (2009). Globalização e

Competição. Campus: Rio de Janeiro.

KALDOR, N. (1956). “Alternative Theories of

Distribution”. Review of Economic Studies, vol. XXIII.

----------------- (1988). “The Role of Effective Demand in

the Short and Long-Run Growth” In: Barrère, A. (org.).

The Foundations of Keynesian Analysis. Macmillan

Press: London.

KEYNES, J.M. (1936). The General Theory of

Employment, Interest and Money. Macmillan Press:

Londres.

LIBANIO, G. (2009) “Aggregate demand and the

endogeneity of the natural rate of growth: evidence

from Latin American Countries”. Cambridge Journal

of Economics, 33.

OREIRO, J.L; NAKABASHI, L., SOUZA, G.J. (2010).

“A economia brasileira puxada pela demanda

agregada”. Revista de Economia Política, Vol. 30, N.4.

José Luis Oreiro [email protected] Professor do Departamento de Economia da Universidade de

Brasília, Pesquisador Nível IC do CNPq, Diretor de Relações

Institucionais da Associação Keynesiana Brasileira e

líder do Grupo de Pesquisa “Macroeconomia Estruturalista do

Desenvolvimento”, cadastrado no CNPq.

Página pessoal: www.joseluisoreiro.ecn.br.

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O Brasil está preparado para

enfrentar as turbulências decorrentes

do agravamento da crise mundial?

José Matias Pereira

Observa-se no mundo contemporâneo que o Esta-

do-nação vem enfrentando nas últimas três décadas

enormes difi culdades para cumprir suas atribuições

de promover ajustamentos na alocação de recursos,

na distribuição da renda e, em especial, para manter a

estabilidade econômica (Musgrave, 1989). A retomada

da crise econômica mundial, apesar dos esforços feitos

pela maioria dos governantes no mundo, em especial

os dirigentes dos países que integram os denominados

zeus (membros dos 17 países da zona do euro mais os

Estados Unidos) para amenizar a desaceleração das

suas economias, veio aprofundar ainda mais a gravida-

de do cenário global.

Nesse debate merecem destaque os riscos da pos-

sível saída da Grécia da zona do euro. Isso está exigindo

que os países que integram o bloco preparem um pla-

no de contingência individual, na eventualidade de a

Grécia decidir deixar a moeda única. Deve-se ressaltar

que os lideres dos países-membros do bloco europeu,

notadamente França e Alemanha, sabem que isso po-

derá provocar uma propagação descontrolada da crise

da dívida.

O agravamento da crise mundial, por sua vez, está

acelerando o nascimento de um mundo diferente da-

quele que conhecemos, no qual será decisiva a utiliza-

ção intensiva de novas tecnologias, que irão permitir a

construção de novas bases das economias dos países

mais ricos, notadamente no campo de produção de

energia. É previsível, nesse novo cenário, que impor-

tantes questões geopolíticas, culturais e ambientais no

mundo fi carão relegadas a um plano secundário, con-

forme fi cou evidenciado nos baixos resultados alcança-

dos na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvol-

vimento Sustentável (Rio+20), realizada no Brasil, de 13

a 22 de junho de 2012.

Estudos e indicadores sobre a extensão da cri-

se econômica mundial

Os estudos, relatórios e indicadores econômicos e

sociais divulgados em 2011 e nesta primeira metade de

2012 pelas principais instituições multilaterais e órgãos

de pesquisa econômica e de estatística nacionais (Ban-

co Mundial, FMI, OCDE, IBGE, BC) explicitam a gravidade

e a extensão da crise econômica mundial, cujos refl exos

estão afetando de maneira preocupante a economia

brasileira. É possível constatar nesses documentos que,

na sua maioria, os países desenvolvidos estão enfren-

tando sérias difi culdades socioeconômicas, traduzidas

na queda do PIB, recessão, deterioração nos mercados

de trabalho e redução da renda. Aparecem no topo

dessa lista de países em difi culdades Grécia, Portugal,

Espanha e Itália, e num pelotão secundário França, Ale-

manha e Estados Unidos.

Segundo o relatório da OCDE sobre as perspectivas

da economia mundial divulgado no dia 22 de maio de

2012, a zona do euro permanece paralisada, com um

PIB que registrará uma leve contração de 0,1% neste

ano. Em 2013, ele crescerá 0,9%, e a atividade também

será maior em escala mundial, com um crescimento

global de 4,2%. Para a OCDE, a zona do euro representa

8

Page 11: Revista de Conjutura n. 48

9

abril / junho de 2012

a principal fonte de risco para a economia mundial. Re-

corde-se que, no relatório anterior, a OCDE previa que o

bloco europeu teria este ano um crescimento de 0,2%.

A instituição mantém, no entanto, a previsão de cresci-

mento econômico mundial de 3,4% para 2012.

Ainda de acordo com o relatório da OCDE, a econo-

mia mundial tenta mais uma vez retomar o crescimen-

to, com base em uma modesta reativação do comércio

e uma confiança maior. Mas faz isto com ritmos dife-

rentes, com um crescimento mais vigoroso nos Estados

Unidos e Japão que na zona do euro, enquanto os gran-

des países emergentes registram uma recuperação cí-

clica moderada. Nos EUA, o PIB crescerá 2,4% em 2012

(a previsão anterior era de 2%), e em 2013 o resultado

será de 2,6%.

Os cortes feitos pela OCDE nas suas previsões de

crescimento para a zona do euro em 2012 ocorreram

em função das fortes contrações na Itália - cuja econo-

mia deve encolher 1,7% - e na Espanha, que deve regis-

trar queda de 1,6% no PIB. Em relação à Grécia, a OCDE

projeta uma contração de 5,3% em 2012. A economia

de Portugal deve encolher 3,2%. Mas ambos devem

voltar a crescer no segundo semestre de 2013. Já para

as economias mais centrais da zona do euro, a OCDE

têm previsões mais positivas. O PIB da França deve cres-

cer 0,6% este ano, e a Alemanha deve registrar expan-

são de 1,2%.

O reconhecimento explícito, por parte dos líderes

do G8 (grupo dos países mais ricos, mais a Rússia), tra-

duzido no incipiente comunicado final do encontro

que foi realizado em meados de maio de 2012, de que

a recuperação da economia mundial apresenta sinais

promissores, mas fortes ventos contrários persistem, re-

vela as fortes dificuldades que eles estão enfrentando

nos campos econômico e político em seus respectivos

países. A afirmação dos governos daqueles países de

que estão preocupados em estimular o crescimento

e os empregos – e que estão determinados a adotar

todas as medidas necessárias para reforçar e revigorar

nossas economias – evidencia de maneira clara a exis-

tência de fortes divergências sobre a estratégia de cada

governante do G8 no que diz respeito à forma de pro-

mover o crescimento e reduzir o déficit.

Perspectivas da economia brasileira

O PIB do Brasil, conforme prevê o relatório da OCDE,

vai crescer 3,2% em 2012, e 4,2% em 2013. A organiza-

ção destaca ainda que a inflação deverá diminuir para

4,9% neste ano e aumentar para 5,3% em 2013.

A inflação brasileira, alerta a OCDE, poderá voltar à

tona em razão do apertado mercado de trabalho e da

recuperação do crescimento do crédito. Isso pode ser

exacerbado caso o Banco Central continue cortando

as taxas de juros. Para a instituição, a visão do governo

de que as taxas de juros brasileiras não podem voltar

aos antigos níveis, considerados excessivamente altos,

está correta. Ainda assim existem riscos associados ao

movimento do governo para reduzir os juros. O corte

de taxas de empréstimos por parte dos bancos estatais

brasileiros pressiona os bancos privados a fazerem o

mesmo, mas isso tende a aumentar a inadimplência da

pessoa física e pode impor riscos para os bancos priva-

dos. O governo poderá, por isso, ter de intervir em al-

gum momento para conter um crescimento de crédito

possivelmente desestabilizador.

O Brasil, para a OCDE, continua atraindo fluxos sig-

nificativos de capital estrangeiro, o que resulta em uma

taxa de câmbio forte, porém volátil. As exportações,

em particular do setor manufatureiro, estão sofrendo

com a valorização do real e os desafios estruturais. Na

avaliação da organização, as medidas do governo para

conter a alta da moeda nacional podem, no máximo,

fornecer um alívio temporário. Diz o relatório que re-

solver questões estruturais de competitividade e tirar

vantagem das pressões de concorrência geradas pelo

comércio aberto irá melhorar o crescimento da produ-

tividade no longo prazo.

A análise da OCDE sustenta que o período de fraco

crescimento do Brasil parece estar chegando ao fim,

mas ainda existem riscos na forma de inflação, crédi-

to e competitividade. A atividade está projetada para

aumentar rapidamente e, então, se desacelerar gradu-

almente para taxas em linha com a tendência, puxada

pelo consumo privado e o investimento. Diante desse

cenário instável, torna-se possível fazer as seguintes in-

dagações: em que intensidade o Brasil será afetado pelo

agravamento da crise econômica mundial? O Brasil está

preparado para enfrentar essas dificuldades?

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A análise da OCDE sustenta que o

período de fraco crescimento do

Brasil parece estar chegando ao

fim, mas ainda existem riscos na forma

de inflação, crédito e competitividade.

A extensão dos efeitos da crise econômica mundial no Brasil

Recorde-se, inicialmente, que o forte crescimento

de 7,5% do PIB do Brasil em 2010 teve como base de

comparação um crescimento negativo da economia

em 2009. Por sua vez, o desempenho do PIB em 2011,

estimado em 4,5%, ficou abaixo do projetado pelo go-

verno brasileiro, alcançando apenas 2,7%, sendo que a

agropecuária teve um crescimento de 3,9%, serviços de

2,7%, e a indústria apenas 1,6% (IBGE, 2012).

O baixo desempenho do setor industrial nos últi-

mos anos mostra que o país está em processo de de-

sindustrialização. Diante desse quadro, fica cada vez

mais premente a necessidade de uma estruturação

consistente das bases de competitividade do Brasil, o

que requer a elevação da produtividade por meio da

educação de qualidade e pela priorização da ciência e

tecnologia, em especial da inovação.

A economia brasileira se contraiu 0,35% em março

de 2012, na comparação com fevereiro, na série com

ajuste sazonal, conforme indicam os dados do IBC-Br

divulgado pelo Banco Central. Registre-se que esse

índice se apresenta como uma prévia do PIB do país.

No acumulado do primeiro trimestre deste ano, o IBC-

Br sinaliza que a atividade econômica registrou alta

de 0,15% na comparação com o quarto trimestre de

2011. Por sua vez, os dados divulgados pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início

de junho deste ano mostram que o Produto Interno

Bruto do país cresceu 0,2% nos primeiros três meses

de 2012. Esses resultados mostram uma clara perda

de dinamismo da economia brasileira, provocada pela

perda da competitividade da indústria, a queda na taxa

de crescimento do varejo e do consumo, que sofreu o

impacto do aumento do endividamento e do crédito

mais seletivo. Nesse sentido, a projeção inicial do

governo federal de crescimento do PIB para 4,5% em

2012 necessita ser revisada para menos. Os números

do IBC-Br e do IBGE evidenciam que o PIB brasileiro

deverá ficar um pouco acima de 2,0% este ano, e a

demanda doméstica, com incremento da renda e baixo

desemprego, continuará a ser o principal motor do

crescimento do país.

As autoridades econômicas brasileiras, diante das

evidências de agravamento da crise, além de reco-

nhecer que o PIB do país não poderá crescer os 4,5%

projetados pelo governo inicialmente, estão conscien-

tes de que no rol dos principais desafios que têm para

2012 está o de acelerar o crescimento em um cenário

mundial adverso, razão pela qual destacam que não

é algo trivial e automático. Para o governo federal, o

aumento do crescimento passa pela dinamização dos

investimentos, em manter um “mercado interno forte”,

pela solidez fiscal e pelo controle da inflação, além de

manter o câmbio favorável e ampliar o crédito e reduzir

as taxas de juros do sistema financeiro. Nesse sentido,

é preciso que o governo continue a reduzir o custo fi-

nanceiro no país e a avançar nas reformas do sistema

tributário, orientado pela desoneração.

Análise do nível de consistência da política econômica do Brasil

Observa-se no elenco das políticas priorizadas pelo

governo a continuidade de redução das taxas de ju-

ros, a adoção de medidas para evitar a sobrevaloriza-

ção do real frente ao dólar, a redução do percentual do

recolhimento compulsório dos bancos para aumentar

a oferta de crédito na economia, a redução do spread

bancário (diferença entre o que os bancos pagam para

10

Page 13: Revista de Conjutura n. 48

11

abril / junho de 2012

captar dinheiro e o que eles cobram dos clientes em

empréstimos), a elevação do nível dos investimentos

públicos, a continuidade na política de desoneração do

setor industrial e a promoção de ajustes incipientes de

controle dos capitais estrangeiros especulativos.

A desaceleração da economia e a inflação dentro

dos parâmetros aceitáveis são indicadores que per-

mitem dar continuidade às reduções da taxa Selic nos

próximos meses. Ao utilizar a política monetária, por

meio da aceleração da queda dos juros, o governo bus-

ca manter aquecido o consumo no mercado interno.

Observa-se que a política de estímulo ao crédito – por

ter a capacidade para fazer a atividade econômica res-

ponder de forma rápida – tem sido citada nos discursos

oficiais como a principal estratégia do governo central.

Para isso, pretendem atuar em quatro frentes: reduzir

a taxa Selic, o spread bancário (diferença entre o que

os bancos pagam para captar dinheiro e o que eles

cobram dos clientes em empréstimos), afrouxar regras

prudenciais e liberar compulsórios.

Partimos do entendimento de que essas ações e

medidas adotadas isoladamente na área de oferta de

crédito, em que pesem ser necessárias, não serão sufi-

cientes para que o Brasil enfrente de maneira adequa-

da os complexos problemas socioeconômicos decor-

rentes do agravamento dos efeitos da crise econômica

mundial, que começam a chegar com mais intensidade

no Brasil, com destaque para a queda nos preços das

commodities. É relevante destacar que as principais

ameaças estão no cenário externo, e que o Brasil não

dispõe de instrumentos políticos e econômicos para

modificar esse cenário.

Conclusão

É relevante destacar que a postura cautelosa, e até

de ceticismo, por parte dos principais atores econômi-

cos, políticos e sociais no mundo é decorrente de um

ambiente onde estão presentes enormes incertezas

e turbulências, como por exemplo, a forma como irá

ocorrer o processo de desaceleração da economia chi-

nesa, as dificuldades para a retomada do crescimento

da economia dos EUA e os riscos decorrentes de uma

possível saída de algum membro da zona do euro. Es-

ses fenômenos representam uma ameaça concreta à

estabilidade da economia global, e devem ser avalia-

dos de forma contínua e incorporados pelos governan-

tes nas suas decisões políticas, notadamente nas suas

políticas econômicas.

Argumentamos, por fim, com base nos dados e nas

análises aqui expostas, que as políticas econômicas im-

plementadas pelo governo brasileiro para enfrentar as

turbulências presentes na economia mundial mostram-

se insuficientes para fazer frente às fortes ameaças

externas. Esse cenário nos permite alertar, a partir do

entendimento de que o Brasil não possui capacidade

de influenciar o ambiente externo, sobre a necessida-

de de o governo federal preparar de forma adequada

o ambiente macroeconômico com reformas e ajustes

na sua política econômica. Nesse sentido, acreditamos

que além da utilização da política monetária, o governo

federal necessitará promover ajustes consistentes nas

políticas fiscal (redução das despesas governamentais)

e cambial (intervenções fortes para evitar a valorização

do real frente ao dólar), e assim permitir que o país ele-

ve o seu nível de competitividade externa e reduza as

importações.

José Matias Pereira [email protected], advogado, doutor em ciência política (UCM-Espanha),

pós-doutor em administração pela FEA/USP, é professor-pesqui-

sador associado do programa de pós-graduação em contabili-

dade da Universidade de Brasília. Autor, entre outros, de Curso de:

Administração Pública, 3. ed. São Paulo:

Atlas, 2010; Finanças Públicas: A política orçamentária no Brasil, 5. ed.

São Paulo: Atlas, 2010; e, Curso de Administração

Estratégica, São Paulo: Atlas, 2011.

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A crise fi nanceira mundial de

2007-2008 e a Grande Depressão:

algumas lições

Fernando Ferrari Filho e Gustavo Teixeira Ferreira da Silva

A magnitude da crise fi nanceira mundial de 2007-

2008, originada a partir da crise do subprime nos

Estados Unidos, recolocou em evidência o debate

sobre as origens e determinantes de crises fi nanceiras

e, consequentemente, da utilização de instrumentos

de política econômica tanto no sentido de prevenção

quanto de mitigação de seus efeitos sobre o lado real

da economia. Não é demais lembrar que a recente crise

teve sua origem em um contexto de políticas baseadas

na ideologia neoliberal, que levaram os mercados

fi nanceiros a um estado de total desregulamentação

e liberalização, a partir da concepção da “teoria dos

mercados efi cientes”, alicerçada na crença da “efi ciência”

dos mercados fi nanceiros autorregulados1.

Para os pós-keynesianos, as crises fi nanceiras são

um fenômeno natural e resultam da própria dinâmica

de funcionamento dos mercados fi nanceiros em

economias monetárias da produção2. Em um contexto

de fi nanças desreguladas, de globalização do capital

e de ausência de uma estrutura de salvaguarda que

exerça um papel de emprestador de última instância

em nível global, as crises fi nanceiras acabam por ter

um impacto expressivo sobre a demanda efetiva,

o que resulta tanto em períodos de recessão e,

eventualmente, em depressão, quanto de elevação

das taxas de desemprego. Essas características foram

observadas tanto na Grande Depressão dos anos 1930

quanto na crise fi nanceira mundial de 2007-2008.

Nesse particular, tendo como base uma análise

comparativa de ambas as crises, é possível verifi car que,

embora os impactos iniciais da recente crise tenham

sido tão expressivos ou maiores que os da Grande

Depressão, a capacidade de recuperação registrada

a partir do fi nal de 2009 contrasta fortemente com a

persistente deterioração da atividade econômica nos

anos 1930. Nesse breve texto procuramos, inicialmente,

demonstrar que uma possível explicação para essa

diferença passa pelo fato de que, contrariamente ao

período da Grande Depressão, em que as políticas

fi scal e monetária não foram operacionalizadas de

maneira a mitigar a crise, em 2008 e 2009 as políticas

de bailout (resgates de natureza fi scal e monetária)

adotadas foram relativamente efi cientes. Em seguida,

são apresentadas, sucintamente, as principais lições da

crise fi nanceira mundial de 2007-2008.

Comparação entre as duas grandes crises

A despeito de a crise fi nanceira mundial de 2007-

2008 e a Grande Depressão, (1929-1933), possuírem suas

especifi cidades, é possível apontar alguns elementos

comuns entre elas para efeito de comparação. Para

tanto, são feitas ligeiras análises comparativas dos

ambientes institucional e macroeconômico conjuntural

e de variáveis macroeconômicas selecionadas das

referidas crises.

1 Segundo esta abordagem, as crises fi nanceiras são “anomalias”, e decorrem somente de interferências no nível de “efi ciência” desses mercados. 2 Ver, por exemplo, Minsky, H. P. Stabilizing an Unstable Economy. New York, Macgraw-hill, 1986.

12

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abril / junho de 2012

No que diz respeito ao ambiente institucional,

a livre mobilidade de capitais na ausência de um

emprestador de última instância em nível mundial

foi uma característica de ambos os períodos. E, nesse

caso, como resultado, o espaço de atuação de políticas

macroeconômicas domésticas também se mostrou

bastante limitado. Entretanto, enquanto no padrão

câmbio-ouro o compromisso dos bancos centrais

era com a paridade das taxas de câmbio fi xas em

detrimento da adoção de políticas macroeconômicas

domésticas, no ambiente da globalização fi nanceira

essas políticas estiveram restringidas pelo “jogo” de

confi ança dos mercados fi nanceiros3.

No ambiente conjuntural macroeconômico, nos

anos 1920, mais especifi camente após a segunda metade

dessa década, aprofundaram-se os desequilíbrios em

transações correntes dos principais países. Na ocasião,

os desequilíbrios estiveram associados a: (a) assimetria

das taxas de câmbio entre os países, (b) assimetria dos

fl uxos de pagamento, em especial aqueles associados

às reparações de Guerra, e (c) elevada instabilidade

dos fl uxos de capital internacional. Nos anos 1990 e

nos primeiros anos da década de 2000, houve uma

instabilidade dos fl uxos de capital, o que resultou em

sucessivas crises fi nanceiras, principalmente nos países

em desenvolvimento. Ademais, a relativa expansão

da economia mundial nos anos 2000 ocorreu com

acentuado desequilíbrio entre as economias.

Resumindo: em ambos os períodos a conjuntura

econômica é marcada tanto por acentuados

desequilíbrios entre as principais economias quanto

pela instabilidade dos fl uxos de capital internacional.

Contudo, no ambiente do padrão câmbio-ouro, os

desequilíbrios entre os países foram, em geral, resultado

dos pagamentos de reparações da Guerra e dos

níveis em que as taxas de câmbio foram estabilizadas.

Em contrapartida, nos anos 2000 os desequilíbrios

caracterizaram-se, principalmente, entre as economias

em desenvolvimento e as desenvolvidas4.

Observando-se as origens especifi cas da Grande

Depressão e da crise fi nanceira mundial de 2007-2008,

pode-se afi rmar que ambas foram defl agradas com a

reversão de um boom especulativo, o que acarretou

um processo de defl ação dos ativos e de mudança das

expectativas dos agentes nos mercados fi nanceiros.

Tal situação aprofundou a instabilidade dos fl uxos de

capital internacional e resultou em pressões sobre as

taxas de câmbio e sobre os balanços de pagamentos,

principalmente naqueles países que estavam mais

vulneráveis externamente (entre eles os do leste

europeu em 2008), o que se tornou problemático na

ausência de um emprestador de última instância em

nível mundial.

Por fi m, em ambos os períodos, o boom especulativo

foi possibilitado por mecanismos e instrumentos

de especulação que surgiram a partir de inovações

fi nanceiras. Nesse particular, a alavancagem fi nanceira

verifi cada na origem de ambas as crises ocorreu com

a elevada participação de empréstimos de fontes não-

bancárias: agentes não-regulados e não-autorizados ao

socorro estatal. Em suma, nas origens das duas crises

‘‘

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Não é demais lembrar que a recente crise teve sua origem em um contexto de

políticas baseadas na ideologia neoliberal,

que levaram os mercados fi nanceiros a um estado de total

desregulamentação e liberalização...

3 Expressão usada por Paul Krugman em A crise de 2008 e economia da depressão. Rio de Janeiro, Elsevier, 2009.4 Segundo os dados do FMI, o resultado em conta corrente das economias avançadas passou de um défi cit de US$ 270 bilhões em 2000 para mais de US$ 530 bilhões em 2008, ao passo que o superávit em conta corrente das economias emergentes passou de US$ 42 bilhões em 2000 para US$ 724 bilhões em 2008. Ano em que o acúmulo de reservas internacionais por parte dos países emergentes foi US$ 5,5 trilhões.

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havia mecanismos e instrumentos de especulação em

um ambiente desregulado.

Quando se analisam as variáveis macroeconômicas

selecionadas, duas características chamam a atenção.

Por um lado, um aspecto evidente é que ambos foram

fenômenos globais; por outro lado, a profundidade e

duração das fases iniciais das crises foram distintas.

Vejamos os dados: as perdas nos mercados de

ações e a contratação do comércio mundial foram

signifi cativamente maiores na crise de 2007-2008. Os

mercados de ações desvalorizaram-se cerca de 50% no

primeiro ano da crise de 2008, e durante igual período

da crise de 1929, a queda não chegou a 20%. Contudo,

enquanto os mercados de ações mostraram tendência

de forte recuperação a partir de 2009, a queda persistiu

por aproximadamente três anos durante a Grande

Depressão, chegando a -70%.

Assim como no mercado de ações, a redução do

comércio mundial (volume) foi mais forte no primeiro

ano da crise de 2007-2008 do que em igual período

da Grande Depressão, 20% e 10%, respectivamente.

Por sua vez, em meados de 2009 o comércio mundial

apresentava uma tendência de estabilização, enquanto

na Grande Depressão a retração do volume do

comércio mundial chegou a 30% em 19325.

O declínio inicial da produção industrial mundial

na recente crise foi tão grande quanto na Grande

Depressão (cerca de 13%). Todavia, a recuperação

registrada ao fi nal de 2009 contrasta fortemente com a

deterioração da produção industrial durante a Grande

Depressão, que chegou a quase 40% no terceiro ano.

Ao longo do período da crise de 1929-1933, as taxas

de desemprego aumentaram expressivamente, como

resultado da queda contínua do nível de atividade

econômica, ao passo que na crise de 2007-2008 as

taxas de desemprego se elevaram de maneira menos

dramática.

A magnitude das políticas fi scal e monetária é sem

dúvida o fator de maior contraste entre as duas crises.

Com a crise de 2007-2008 os governos não pouparam

esforços em reduzir as taxas de juros e ampliar o défi cit

(ou diminuir o superávit) fi scal. Em 2008, verifi cou-se

uma rodada de iniciativas pelos bancos centrais graças

a uma operação coordenada das políticas monetárias.

Diante da crise, muitos países reduziram suas taxas

de juros. No Brasil, a taxa básica de juros (Selic) caiu

de 12,75% para 8,75% em 2009. A taxa de juros na

zona do euro chegou a menos de 1%. Por sua vez, o

resultado fi scal (em termos percentuais do PIB) das

economias emergentes e dos países desenvolvidos

atingiu, em 2009, valores médios próximos a -5% e

-10%, respectivamente.

Na Grande Depressão, os bancos centrais se viram

desencorajados a intervir em benefício do sistema

bancário em virtude da prioridade do câmbio fi xo

do padrão câmbio-ouro. A atuação da política fi scal

também se mostrou bastante limitada, pois, por um

lado, houve restrições impostas pela própria lógica do

padrão câmbio-ouro. As altas taxas de juros elevavam

a dívida pública, o que, por sua vez, exacerbou a

instabilidade dos fl uxos de capitais, resultando, por

conseguinte, em maiores pressões sobre as taxas de

câmbio. Por outro lado, predominava a visão de que

os governos deviam manter o orçamento equilibrado.

Com isso, muitos governos, inclusive o norte-americano,

viam o equilíbrio orçamentário como uma condição

necessária para a estabilidade econômica.

Para fi nalizar a análise comparativa, não é demais

ressaltar que, no que diz respeito à adoção (ou não)

de políticas econômicas contracíclicas, no período

da Grande Depressão o “argumento” keynesiano de

incentivos à demanda efetiva era desconhecido, ao

passo que no contexto da recente crise fi nanceira

mundial a percepção da efi ciência de políticas de

cunho keynesiano é bastante consolidada.

Lições da crise fi nanceira mundial de 2007-

2008

Desde o início da crise do subprime, a despeito

da relativa recuperação e “estabilidade” econômicas

verifi cadas ao fi nal de 2009 e ao longo de 2010, pode-

se afi rmar que pouco, ou quase nada, foi feito em

termos tanto de alteração do ambiente institucional

5 Quando se leva em conta a queda do valor do comércio mundial na Grande Depressão, a redução é bem maior, cerca de 60%.

14

Page 17: Revista de Conjutura n. 48

15

abril / junho de 2012

do sistema monetário e financeiro internacional,

quanto de redução dos desequilíbrios fiscais e de

conta corrente das principais economias. Em relação

aos referidos desequilíbrios, por exemplo, a zona

do euro tem nos mostrado o quanto a falta de uma

coordenação econômica global e a adoção de políticas

econômicas restritivas, à la one size fits all, contribuem

para o aprofundamento da recessão e a elevação das

taxas de desemprego dos países da região.

Nesse sentido, é importante ressaltar que as medidas

econômicas implementadas tanto por instituições

econômicas internacionais como o FMI, quanto pelos

policy makers, apesar de terem evitado uma depressão

econômica, mostraram-se incapazes de solucionar os

problemas financeiros e reais da economia mundial,

principalmente porque políticas fiscais e monetárias

ex post tão somente mitigam impactos de crises

financeiras sobre a atividade produtiva.

Ademais, a crise financeira mundial, por um lado,

deixou clara a necessidade de se reestruturar o

sistema monetário e financeiro mundial, condição

imprescindível para que a economia mundial volte

a trilhar períodos de estabilidade macroeconômica,

semelhantes àqueles observados no período de

Bretton Woods. Por outro lado, ela colocou em xeque

um dos princípios básicos do capitalismo liberal: a não-

intervenção do Estado na economia. Nesse sentido,

sucintamente, as principais lições da atual crise são as

seguintes:

(1) Crises financeiras são cada vez mais recorrentes

no contexto de desregulamentação financeira e de

liberalização dos fluxos cambiais e de capitais;

(2) Os mercados, especialmente os financeiros,

não são eficientes, autorreguláveis, como

argumentam os economistas do mainstream;

(3) Crises financeiras são essencialmente

endógenas. Nesse sentido, tendo como referência

a “hipótese de instabilidade financeira” de

Minsky (1986), crises financeiras ocorrem porque

“prosperidade, inerentemente, gera instabilidade”;

(4) Em um mundo globalizado, as implicações

econômicas e sociais das crises financeiras são

muito mais dramáticas;

(5) O Estado deve sinalizar, direta ou indiretamente,

um ambiente institucional favorável às tomadas de

decisões de gastos dos agentes econômicos, o que

J.M.Keynes (The General Theory of Employment,

Interest and Money, 1936, capitulo 24) chamou de

“socialização do investimento”;

(6) Devem ser criadas regras operacionais para

o sistema monetário e financeiro mundial para (i)

evitar crises globais de demanda efetiva, (ii) garantir

a liquidez internacional para expandir a demanda

efetiva mundial, (iii) coibir a livre mobilidade dos

fluxos de capitais especulativos e (iv) regulamentar

as operações derivativas “exóticas” e outras práticas

financeiras (por exemplo, alavancagem excessiva de

instituições financeiras), entre outras.

Fernando Ferrari Filho [email protected] titular do Departamento de Ciências Econômicas da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

e pesquisador do CNPq.

Gustavo Teixeira Ferreira da Silva [email protected]

Professor do Departamento de Economia da Universidade do

Extremo Sul Catarinense (Unesc).

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Fundo Social do Petróleo:

concepção e implicações

macrofi nanceiras

Eduardo Toledo Neto

Os Fundos Soberanos de Riqueza (FSR) são

atores-chave do atual panorama fi nanceiro global.

Apresentam um impressionante aumento no volume

de recursos fi nanceiros e consequentes investimentos

em países hospedeiros decorrentes de um permanente

acúmulo de riqueza nacional. Tais riquezas surgiram

normalmente a partir da formação permanente de

signifi cativos superávits comerciais resultantes da

comercialização de commodities (petróleo, gás, metais

e minerais) ou pelos elevados montantes de reservas

cambiais ofi ciais.

Atualmente, os FSR alcançaram montante superior

a US$ 5 trilhões nos ativos sob seu gerenciamento,

com expectativa de crescentes recursos fi nanceiros

(haja vista o comportamento médio, no mercado de

preços, das commodities e seus níveis crescentes de

demanda internacional). A maioria dos novos Fundos

Soberanos de Riqueza tem sido formada em economias

emergentes.

No entanto, os benefícios proporcionados pelas

receitas geradas pela exportação de recursos naturais

podem levar a graves danos econômicos. Isto se dá

em decorrência do regime cambial fl utuante aplicado

e da pressão política por internalização, ou aplicação

imediata da maior quantidade possível das receitas

petrolíferas na economia doméstica. Implica possíveis

resultados como perda da competitividade dos

produtos industriais locais e pressões infl acionárias

decorrentes da demanda agregada local expandida. A

pressão macroeconômica com a apreciação do câmbio,

aumento de liquidez e maior amplitude da demanda

podem causar severos impactos na atividade, emprego

e renda de setores sensíveis da economia.

Alguns países enxergam os Fundos Soberanos

de Riqueza como veículos de ameaça potencial às

estruturas fi nanceiras e industriais estratégicas dos

países hospedeiros. Dessa forma, a entrada dos FSR

em países desenvolvidos é vista com receio devido à

abrangência dos investimentos, que podem ir além

do setor fi nanceiro. Ou seja, as economias emergentes,

que detêm a maioria dos FSR criados, apresentam

condições de efetuar aquisições em segmentos

estratégicos, o que suscita uma onda protecionista por

parte das economias avançadas.

O processo brasileiro de uso do instrumento Fundo

Soberano de Riqueza foi iniciado em 2008 com a criação

do Fundo Soberano do Brasil (FSB), pela Lei nº 11.887

de 24 de dezembro de 2008, visando a promoção

de investimentos em ativos no Brasil e no exterior,

a formação de poupança pública, a mitigação dos

efeitos dos ciclos econômicos e o fomento a projetos

de interesse estratégico do país, localizados no exterior.

O Estado brasileiro optou pela criação de um

novo FSR em decorrência das potenciais reservas de

hidrocarbonetos encontrados na região do pré-sal e das

possibilidades de obtenção de maiores rentabilidades

com operações offshore de fundos fi nanceiros; logo, em

2010, foi criado o Fundo Social (FS), por meio da Lei nº

12.351, de 22 de dezembro de 2010, visando constituir

fonte de recursos para o desenvolvimento social e

16

Page 19: Revista de Conjutura n. 48

17

abril / junho de 2012

regional, na forma de programas e projetos nas áreas

de combate à pobreza e de desenvolvimento.

A adoção desse instrumento pode desempenhar

um papel decisivo na gestão de elevados recursos

financeiros. Isso gera benefícios à sociedade em

decorrência da aplicação de uma governança

corporativa consistente que proporcione melhores

condições de acompanhamento da distribuição e

aplicação e monitoramento dos resultados, juntamente

com a preocupação de também promover equidade

intergeracional às futuras gerações. Com isso, o Fundo

Social é analisado à luz das prioridades e demandas

da sociedade, com base em sua concepção e suas

implicações macrofinanceiras. A ideia é alcançar os

objetivos de constituição de poupança pública de

longo prazo, oferecer recursos para o desenvolvimento

social e regional, e de estabilização econômica.

II. Fundos Soberanos de Riqueza

2.1 Marco Conceitual, Limitações e Possibilidades

Os Fundos Soberanos de Riqueza foram definidos,

pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos,

como meio de investimento governamental, fundado

por ativos em moedas externas, e gerenciamento

separado das reservas em moeda doméstica (Kimmitt,

2008). E de forma complementar, pode-se considerar a

seminal definição de Andrew Razanov sobre os FSR, que

os conceitua como fundos estabelecidos para proteger

o orçamento e a economia doméstica das volatilidades

de suas receitas e ajudar a autoridade monetária a

esterilizar a liquidez indesejada, constituindo poupança

para as futuras gerações, ou utilizando os recursos para

o desenvolvimento econômico e social (Schimbor,

2009).

As fontes de riqueza podem ser classificadas em duas

categorias: fundos de commodity, que são estabelecidos

por meio de recursos originados por impostos ou

receitas da exportação de commodities; e os fundos

de não commodity, com recursos compostos pela

transferência de reservas internacionais acumuladas

por superávits comerciais: o excesso de receitas obtido

a partir da exportação de produtos manufaturados é

transferido para esses fundos (Kimmitt, 2008).

Segundo o FMI (2008), os FSR são um grupo

heterogêneo, com vários objetivos, e que podem ser nominados como:

Fundo de Estabilização – tem o objetivo primário de proteger o orçamento fiscal e a economia doméstica contra a oscilação no nível de preços das commodities, em especial, do petróleo;

Fundo de Poupança – permite a conversão de ativos não renováveis em um diversificado portfólio de ativos e de mitigação dos efeitos da Doença Holandesa, de forma a poupar os recursos financeiros para as futuras gerações;

Fundo de Investimentos – para se alcançar maior retorno nas políticas de investimento.

Fundo de Desenvolvimento – para financiar projetos socioeconômicos ou promover política industrial que proporcione incremento no potencial de crescimento e produção do País.

Fundo de Reserva para Aposentadoria – para fornecer garantias de pensão ou aposentadoria no balanço do governo. Atua como fonte adicional à contribuição individual para pensão.

Vale ressaltar que existem distinções entre os

FSR e as reservas oficiais. A reserva oficial pode ser

definida como ativos externos que estão disponíveis

e controlados por autoridades monetárias para

financiamento direto de déficits de pagamento,

que devem regular a magnitude destes déficits,

indiretamente, pela intervenção no mercado cambial

para afetar a troca de moedas externas e outros

propósitos (U.S. Department of Treasury, 2007).

No entanto, Monitor Group and Fondazione Eni

Enrico Mattei (2008: p.6-7) formularam uma definição

para FSR com base nas características essenciais

que diferenciariam estes fundos de outro veículo de

investimento de propriedade do Estado. Um Fundo

Soberano de Riqueza é um fundo de investimento por

cinco critérios:

1) Pertence diretamente a um governo soberano;

2) Gerenciamento independente de outras

instituições financeiras do Estado;

3) Não apresenta predominância explícita de

obrigações de pensões;

4) Investe em várias classes de ativos financeiros

por maiores retornos comerciais;

Page 20: Revista de Conjutura n. 48

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ura

5) Apresenta proporções significativas de

publicidade internacional de seus relatórios de

investimento.

2.2 Panorama Internacional

O primeiro exemplo de criação de um Fundo

Soberano de Riqueza ocorreu no Kuwait, pela

Autoridade Governamental responsável pela política,

de investimentos do país, em 1953. A principal

motivação foi estabelecer a proteção do padrão de

vida nacional das flutuações no preço das exportações

primárias do Kuwait, e tornar fonte de recursos, em

particular, do comércio de petróleo. No entanto, uma

grande variedade de fundos soberanos foi instituída

no que diz respeito à renda e à localização geográfica,

alcançando-se, em 2011, o quantitativo de 51 FSR; em

2012, 60 FSR; e também atingindo montante superior

a US$ 5 trilhões em ativos líquidos, conforme pode ser

visualizado na amostra dos quinze maiores Fundos

Soberanos de Riqueza (SWF Institute, 2011).

Tabela 1 - Quinze maiores fundos soberanos por ativos sob gestão

Fonte: SWF Institute (2012) / Posição: Junho 2012

Em 2007, os FSR controlavam US$ 3,3 trilhões

em ativos, ou 2% do total das transações globais.

Alguns economistas projetam que o total de ativos

sob a gestão dos Fundos Soberanos de Riqueza deve

alcançar US$ 12 trilhões em 2012, ou 10% de todas as

transações financeiras globais (Kimmitt, 2008; Bacci,

2008; Schimbor, 2009).

Kimmitt (2008) destaca que apesar de os Fundos

Soberanos de Riqueza terem sido criados na década

de 1950, o recente e elevado crescimento gerou um

grande negócio que envolve distintos interesses.

Com isso, aumentaram as preocupações dos países

hospedeiros. No ano 2000, havia 20 FSR gerenciando

ativos totais de vários bilhões de dólares; de lá para

cá foram criados mais 20 FSR (desse total, metade foi

criada depois de 2005).

Segundo Kimmitt (2008), os FSR são suficientemente

grandes para adquirir importância no sistema

financeiro mundial. Atualmente, os ativos já atingem o

patamar de mais de 50% do total das reservas externas

oficiais e nível superior às reservas externas oficiais das

economias avançadas, conforme Tabela 2:

Tabela 2 - Comparativo entre as reservas oficiais e os fundos soberanos de riqueza no mundo

Fonte: SWF Institute(2012); FMI (2012) *Valores referentes ao mês de dezembro de cada exercício / ** Posição Março de 2012

(R$ Bilhões)

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Page 21: Revista de Conjutura n. 48

19

abril / junho de 2012

III. Instrumento Fundo Social

3.1 Concepção

A utilização do instrumento Fundo Soberano de

Riqueza em decorrência da venda de recursos minerais

e as participações governamentais ligadas à atividade

de exploração e produção destes recursos, bem como

os recursos gerados por superávits em conta-corrente,

obtidos por fl uxos fi nanceiros e comerciais positivos, e

com certa constância, trouxeram condições para que

o Brasil aplicasse este instrumento a fi m de angariar

semelhantes vantagens econômicas e políticas,

tais como a justiça intergeracional, a aquisição de

participações em empresas estrangeiras e a redução

na pressão por aumento dos gastos públicos, devido às

descobertas de novos reservatórios na Região do Pré-

Sal.

O Brasil decidiu criar o Fundo Social1 para constituir

fonte de recursos ao desenvolvimento social e regional,

na forma de programas e projetos nas áreas de

combate à pobreza e de desenvolvimento da educação,

cultura, esporte, saúde pública, ciência e tecnologia,

meio ambiente, e mitigação e adaptação às mudanças

climáticas.

Por esse regulamento, o Fundo Social – FS – visa

constituir poupança pública de longo prazo com

base nas receitas auferidas pela União, oferecendo

fonte de recursos para o desenvolvimento social e

regional, e proporcionando condições de mitigação

das fl utuações de renda e de preços na economia

nacional, decorrentes das variações na renda gerada

pelas atividades de produção e exploração de petróleo

e de outros recursos não renováveis.

Os recursos do Fundo Social são constituídos por

parcela do valor do Bônus de Assinatura dos contratos

de partilha de produção; parcela dos royalties que

cabe à União, deduzidas as partes destinadas aos seus

órgãos específi cos; receita advinda da comercialização

de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos

fl uidos da União; royalties e participação especial das

áreas localizadas no pré-sal contratadas sob regime

de concessão, sob administração direta da União; e

resultados de aplicações fi nanceiras do FS.

Vale ressaltar que os recursos do FS para aplicação

nos programas e projetos serão decorrentes do retorno

sobre o capital. Esses programas e projetos devem estar

presentes no Plano Plurianual (PPA) e na Lei de Diretrizes

Orçamentárias, e consignados na Lei Orçamentária

Anual. Do ponto de vista tributário, não deverá incidir

imposto ou contribuição social de competência da

União nas operações de crédito, câmbio e seguro e

sobre rendimentos e lucros do fundo de investimento.

Em relação aos investimentos e aplicações do FS,

estas operações serão destinadas, preferencialmente,

aos ativos no exterior, para mitigar a volatilidade de

renda e de preços na economia nacional. O FS terá

funcionamento semelhante ao já instituído para o FSB,

apenas para fi ns de aplicação dos recursos fi nanceiros

no exterior. Desta forma, a União poderá participar,

com recursos do FS, como cotista única, de fundo de

investimento específi co, com fi nalidade promover a

aplicação em ativos no Brasil e no exterior. Esse fundo

de investimento deverá responder por suas obrigações

com os bens e direitos integrantes de seu patrimônio.

O Fundo Social é um mecanismo de promoção

da equidade intergeracional, haja vista o aspecto

fi nito do recurso natural. Desta forma, o consumo no

presente causa redução no nível de disponibilidade de

petróleo para as futuras gerações. Nesse sentido, além

do FS manter a receita proveniente da exploração e

produção de petróleo separada de outras receitas do

Estado, promove-se a formação de poupança pública

de longo prazo, com a transformação do capital natural

em capital fi nanceiro. Esse capital é preservado de

forma intertemporal, graças a metas de rentabilidade

mínima que proporcionem a atualização do principal e

a geração de excedentes de recursos para aplicação no

desenvolvimento regional e social do Brasil.

3.2 Experiência do Fundo Soberano do Brasil

Os recursos do Fundo Soberano do Brasil2 – FSB -

são destinados, exclusivamente, para investimentos,

para a aquisição de ativos fi nanceiros externos

e na integralização de cotas do Fundo Fiscal de

Investimentos e Estabilização - FFIE.

1 Lei nº 12.351, de 22 de dezembro de 2010.2 Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008.

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A União está autorizada a emitir, a valor de mercado,

sob a forma de colocação direta em favor do FSB,

títulos da Dívida Pública Mobiliária Federal. Além dessa

capitalização, os recursos do FSB podem também

ser providos por recursos do Tesouro Nacional,

em correspondência às dotações consignadas na

Lei Orçamentária Anual; ações de sociedade de

economia mista federal, excedentes ao necessário,

para manutenção de seu controle pela União ou

outros direitos com valor patrimonial; e resultados de

aplicações fi nanceiras à sua conta.

As aplicações em ativos fi nanceiros do FSB

terão rentabilidade mínima estimada por operação,

ponderada pelo risco, equivalente à taxa Libor

(London Interbank Offered Rate) de seis meses. Os

recursos decorrentes de resgastes do FSB atenderão,

exclusivamente, o objetivo de mitigar os efeitos dos

ciclos econômicos, com destinação prevista em Lei

Orçamentária Anual.

Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional (STN)

no Brasil, o FSB está em fase de estruturação de

procedimentos, processos e rotinas operacionais. E para

a realização de investimentos no exterior, foi celebrado

convênio entre a STN e o Banco Central do Brasil (BC)

para a operacionalização de leilões de compra e venda

de moeda estrangeira em nome do FSB. Esse convênio

permitiu que o FSB realize as operações utilizando os

sistemas e a estrutura de leilões do BC; não envolvendo

transferência de recursos fi nanceiros entre estas

instituições (Ministério da Fazenda, 2012).

O Relatório de Gestão do FSB, no exercício de 2011,

realizou um comparativo entre o Patrimônio Líquido

do FFIE, em 31/12/2010, capitalizado pela TJLP, e seu

Patrimônio Líquido efetivo, em 31/12/2011, conforme

Tabela 3, destacando a signifi cativa queda de 15,84%

no Patrimônio Líquido. A principal justifi cativa para

tal queda foi relacionada às variações de preços das

ações da Petrobras e do Banco do Brasil no período

(Ministério da Fazenda, 2012).

3 Grupo de sete nações industrializadas, formado em 1975: França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos.

Tabela 3 - Rentabilidade mensal do FFIE

Fonte: BNDES (TJLP) e BB DTVM (FFIE)

3.3 Princípios de Santiago

Os países emergentes adquiriram relevância no

mercado fi nanceiro mundial na última década, ao

assumirem a posição de investidores. Essa preocupação

tornou-se ainda mais evidente em conseqüência do

volume dos recursos e das intenções de alocação dos

investimentos dos FSR.

Em virtude do aumento em tamanho e número de

FSR, o Fundo Monetário Internacional (FMI) determinou

atenção reforçada, diante das potenciais conseqüências

sobre os mercados fi nanceiros e os investimentos.

Os países que compõem o G73 solicitaram código de

boas práticas, a fi m de fortalecer a transparência e

previsibilidade desses fundos soberanos.

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Page 23: Revista de Conjutura n. 48

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A preocupação dos governos, empresas,

acadêmicos e demais atores do mercado bra-sileiro sobre a possível ocorrência da doença holandesa surgiu em

decorrência do aumento das exportações de com-

modities agrícolas; da possibilidade de expor-tação de biocombustí-

veis, em especial, do eta-nol; e das descobertas

de petróleo na camada do pré-sal brasileiro.

Assim, o Grupo de Trabalho Internacional dos

Fundos Soberanos de Riqueza– GTI – foi criado

em 01 de maio de 2008, em Washington, por 26

países-membros do FMI, ficando responsável por

iniciar o processo, facilitado e coordenado pelo FMI,

estabelecendo os Princípios de Santiago. Os FSR são

instituições de central importância para ajudar no

aumento da gestão das finanças públicas, alcance da

estabilidade macroeconômica e apoio do crescimento

de alta qualidade (IWG, 2008).

Boucher (2011), Secretário Geral Adjunto da OCDE,

destaca que, do ponto de vista dos países hospedeiros,

é crucial a transparência e accountability na formulação

de políticas governamentais, especialmente para

o alcance de uma maior segurança nacional e

fortalecimento da responsabilidade corporativa.

3.4 Doença Holandesa, Equidade Intergeracional e Estabilização Econômica

A preocupação dos governos, empresas,

acadêmicos e demais atores do mercado brasileiro

sobre a possível ocorrência da doença holandesa

surgiu em decorrência do aumento das exportações

de commodities agrícolas; da possibilidade de

exportação de biocombustíveis, em especial, do

etanol; e das descobertas de petróleo na camada

do pré-sal brasileiro. Essa preocupação é resultado

do potencial crescimento do Brasil no grupo dos

maiores exportadores mundiais de petróleo, de forma

a pressionar o mercado de câmbio, com a valorização

do real e seus efeitos da perda de competitividade no

mercado externo na indústria brasileira.

Inicialmente, pode-se dizer que a percepção

seminal desse fenômeno tenha se dado na Holanda,

cuja economia foi marcada pelas descobertas de

reservatórios de gás natural, em campos offshore,

durante o início dos anos 1960, não implicando

aumento da produtividade pelo ingresso da renda

do gás. O influxo dessas rendas apreciou a moeda e

o preço dos produtos domésticos. Isso derrubou a

produção e aumentou o desemprego, que chegou a

5,5% em meados da década de 1970 nos setores de

produtos comercializáveis (Mahmudlov, 2002: p.5). Ou

seja, a queda da indústria holandesa como resultado da

rápida expansão do gás foi denominada como “Doença

Holandesa” (Coronil, 1997: p.7).

De forma análoga, a teoria da Doença Holandesa

prevê que a desindustrialização sempre aconteça

em um país que tem recursos (dos quais derivam as

rendas ricardianas) e não adota as medidas necessárias

para neutralização da doença. Assim, apesar do

fenômeno afetar a economia brasileira, ainda que

menos intenso ou menos grave do que os observados

nos países cuja produção é especializada em uma ou

poucas commodities que geram expressivas rendas

ricardianas, suas conseqüências em termos de lenta

desindustrialização são preocupantes (Bresser-Pereira

e Marconi, 2008).

E apesar da “benção” de descobertas de recursos

petrolíferos, o desenvolvimento de países ricos em

exploração de recursos naturais tem, historicamente,

apresentado péssimo desempenho se comparado

aos países não ricos em recursos naturais, em

termos de desempenho do Produto Interno Bruto

e dos indicadores sociais. Nesse sentido, um

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boom do petróleo ocasionaria uma redução do

manufaturamento, e o principal mecanismo desse

trabalho seria a real apreciação do câmbio (Corden,

1982; Corden e Neary, 1984). Isto é a Doença Holandesa

(Hausmann e Rigobon, 2003:p.4-5).

Os modelos da Doença Holandesa são aplicados

sob vários aspectos macroeconômicos para um

problema específico, mas sua característica principal

é a ênfase na renda e produção real nos diferentes

setores (Corden, 1985:p.183). Mas Corden e Wiljnbergen

(1984) definiram a Doença Holandesa como “o baixo

desempenho econômico de países ricos em recursos

naturais”.

Conforme Bresser-Pereira e Marconi (2008), a

análise do comportamento recente do comércio

exterior brasileiro mostrou que o aumento dos preços

das commodities exportadas e a eliminação dos

mecanismos de neutralização agravaram a Doença

Holandesa. A desindustrialização se manifesta no

aumento da participação das commodities no valor

adicionado total e na redução da participação do

valor adicionado do setor de manufaturados no valor

adicionado da produção de bens comercializáveis.

Alguns sintomas da Doença Holandesa que a

economia brasileira vem sofrendo são os seguintes

(Bresser-Pereira e Marconi, 2008):

a) Redução da taxa de câmbio, em função do

aumento das exportações, sendo mais intenso para

commodities que os manufaturados, no período

entre 2002 e 2007;

b) Evolução positiva da balança comercial das

commodities após 1992, enquanto os manufaturados

sofreram retração;

c) Evolução das commodities na balança comercial

é desassociada da taxa de câmbio, evidenciando

que outros fatores influem no comportamento

das vendas e compras externas destes produtos,

enquanto a evolução da balança comercial dos

manufaturados é fortemente vinculada à da taxa de

câmbio;

d) Os preços e quantum das exportações

de commodities cresceram mais que os dos

manufaturados;

e) Aumento da participação das commodities no

valor adicionado total; e

f ) Queda na participação dos não-comercializáveis

na renda nacional, e diminuição da participação dos

manufaturados comercializáveis no valor agregado

total de bens comercializáveis.

Por outro lado, o incremento das exportações de

manufaturados contribui para o desenvolvimento

do país de duas formas: a) pelo lado da demanda,

estimulando a produção deste setor, o qual exerce

um grande impacto positivo e encadeador sobre a

produtividade e a renda per capita de toda a economia;

e b) pelo lado da oferta, gerando externalidades

que podem ser aproveitadas por toda a indústria,

na medida em que a concorrência externa induz

a aprimoramentos no processo produtivo que são

incorporados pelos demais setores da economia

(Bresser-Pereira e Marconi, 2008).

A ocorrência efetiva da Doença Holandesa também

pode ser considerada como uma conseqüência da má

gestão da renda do petróleo. Dessa maneira, os fundos

do petróleo podem assumir papel fundamental na

prevenção do desequilíbrio entre o desenvolvimento

econômico e o crescimento da renda do petróleo em

um país; atuando como um mecanismo de estabilização

dos gastos no propósito de aumentar o bem-estar da

população e diminuir o nível de desemprego.

A principal meta da criação de fundos é manter

a receita dos recursos naturais separadas de outras

receitas do Estado, no intuito de neutralizar os efeitos

das vultosas entradas de receita na taxa de câmbio,

exportações, setores manufaturados da economia, e/

ou para assegurar a equidade intergeracional.

Há indícios de que os efeitos cumulativos dos

setores agrícola, mineral e petrolífero possam gerar

volume de receita suficiente para que ocorra uma

significativa apreciação da moeda e conseqüentes

distorções de preços domésticos, implicando alcance

de taxas de crescimento bastante superiores aos

produtos manufaturados, bem como modificações

consequentes no preço relativo dos produtos na pauta

de exportação. No entanto, apesar de o aumento das

quantidades exportadas afetar o crescimento do

valor das exportações de commodities, o impacto

22

Page 25: Revista de Conjutura n. 48

23

abril / junho de 2012

não será reduzido, mas de forma contrária, pode ser

compensado pelos efeitos das crescentes exportações

do Setor Petróleo.

As principais preocupações de ameaça da

Doença Holandesa se concretizam no momento em

que são atribuídos elevados riscos à apreciação do

Real, promovida por esses setores e seus potenciais

efeitos na indústria brasileira por meio da queda

de produtividade e perda de competitividade no

mercado externo. Com isso, a questão principal não

está na ameaça, pois ela é real, mas sim no quantum

de Doença Holandesa pode ser verificado e se irá se

manifestar de forma mais abrupta ou permanecerá

em patamares administráveis, haja vista os efeitos

cumulativos intersetoriais e condições de crescimento

das exportações brasileiras.

IV. Conclusão

Os Fundos Soberanos de Riqueza adquiriram

vultoso volume e têm despertado muita preocupação

nos países hospedeiros, em virtude dos investimentos

não se restringirem apenas à esfera comercial. Nesse

cenário, o Brasil optou pela criação do Fundo Social, em

2010, para tratar da apropriação dos recursos a serem

auferidos pela exploração e produção de petróleo e

gás na região do pré-sal.

E com a acumulação potencial de riqueza nacional

em decorrência da exportação de commodities e dos

superávits comerciais pode trazer benefícios imediatos

no curto prazo, mas também perigos, no curto e longo

prazo, tal como a desindustrialização, a qual pode

ocorrer lentamente, e paulatinamente, podendo ser

potencializada pela tendência de aumento no nível de

preços das commodities como o petróleo, o ferro, o aço

e as agrícolas. Este estudo ressalta que o efeito conjunto

das commodities de gerar significativos superávits

comerciais pode provocar uma situação desfavorável

ao Brasil pelo fenômeno da Doença Holandesa.

O mecanismo Fundo Social foi criado para oferecer

solução, no curto prazo, para os impactos das elevadas

exportações de petróleo, por meio da formação de

poupança pública de longo prazo, promovendo a

equidade intergeracional, por preservar a riqueza

nacional para as gerações futuras, e estabelecer

parcela dos rendimentos para composição de fonte de

recursos, no presente, para os programas e projetos de

desenvolvimento social e regional brasileiro.

No atual panorama financeiro internacional, as

operações de investimento dos Fundos de Riqueza

Soberana, por serem de longo prazo, podem alcançar

níveis de rentabilidade superiores a fundos de

investimento de curto e médio prazo, a exemplo do

fundo norueguês, denominado “Government Pension

Fund-Global”, que concentra em seus ativos 60,6% em

ações de companhias.

Nesse sentido, é primordial que a gestão do

Fundo Social adote práticas corporativas, atuando

em cooperação com os demais Fundos de Riqueza

Soberana, com transparência no acompanhamento e

controle dos resultados pelo povo brasileiro e para a

segurança nacional de países hospedeiros.

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‘‘

‘‘

A principal meta da criação de fundos

é manter a receita dos recursos naturais separadas de outras

receitas do Estado, no intuito de neutralizar

os efeitos das vultosas entradas de receita na taxa de câmbio,

exportações, setores manufaturados da

economia, e/ou para assegurar a equidade

intergeracional.

Page 26: Revista de Conjutura n. 48

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outlines the currency practices of America’s major

trading partners. United States of America- USA. June,

2007.

24

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abril / junho de 2012

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abril / junho de 2012

O baixo crescimento do PIB e as medidas do Governo

Carlos Eduardo de Freitas, César Augusto Moreira Bergo,

José Fernando Cosentino Tavares e José Luiz Pagnussat

O Produto Interno Bruto brasileiro, depois de ter

estagnado no segundo semestre de 2011, teve mau

desempenho no primeiro trimestre deste ano, com

crescimento de apenas 0,2% em relação ao trimestre

anterior. As expectativas para o segundo trimestre

de 2012 também são ruins, considerando o Índice

de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br)

para abril e maio praticamente nulos, e vários outros

indicadores negativos já divulgados, como a queda

da produção industrial pelo terceiro mês seguido, em

maio; a queda do emprego na indústria; o aumento

do pessimismo dos empresários da indústria e

do comércio; a manutenção dos altos estoques; a

estagnação das exportações no primeiro semestre, em

relação a igual período de 2011; e a queda das vendas

no varejo em maio, a maior desde o fi nal de 2008, após

crescimento elevado nos primeiros meses do ano.

Somou-se a isso o comportamento decepcionante da

agricultura, que enfrentou problemas climáticos no

primeiro semestre e instabilidade nos preços dos seus

produtos de exportação.

Este artigo pretende analisar o cenário econômico,

as razões do pequeno crescimento do PIB neste início

de ano e as medidas que vêm sendo adotadas pelo

governo no sentido de estimular a economia; e refl ete

as principais conclusões, nem sempre unânimes,

dos vários encontros sobre o tema que o Grupo de

Conjuntura do Conselho Regional de Economia do

DF promoveu neste primeiro semestre de 2012. Neles

foram abordados os resultados da economia em 2011

e tendências para 2012 (17 de março); as razões de a

economia caminhar em ritmo aquém do PIB potencial

(23 de março); as medidas do governo para a redução

do spread bancário (21 de abril); e os dados que

mostravam o baixo crescimento do PIB e as medidas

do governo, após a divulgação do PIB trimestral pelo

IBGE (16 de junho).

A análise do “Grupo de Conjuntura”

Ainda no mês de março, a conclusão a que se chegou

foi de que o Brasil vinha crescendo muito abaixo do

“produto potencial” e que a economia continuava

desacelerando. Os fatores externos ajudavam a explicar

em parte as expectativas menos otimistas do setor

produtivo. Com o agravamento da crise internacional,

pareceu necessário que a política macroeconômica

fosse mais bem calibrada, para se combater a infl ação

com o mínimo de desemprego e máximo crescimento

econômico possíveis.

O freio de política monetária aplicado no segundo

semestre de 2011 para trazer a infl ação para dentro

da meta demorou a ser solto. O objetivo de segurar

os preços foi alcançado com o desaquecimento da

economia. A duras penas, a infl ação acumulada recuou

no último mês do ano para o limite superior da meta.

Ocorre que com isso comprometeu-se a atividade

econômica em todo o primeiro semestre de 2012. Por

outro lado, no âmbito microeconômico, as políticas

setoriais focalizadas adotadas pelo governo, apesar de

positivas se mostravam tímidas, incapazes de reverter

com rapidez esse quadro.

O dilema dos gestores da política econômica

é calibrar os estímulos à economia e os riscos

infl acionários. O viés foi o de controle dos preços.

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ura

O fato é que as altas taxas da infl ação brasileira

girando consistentemente acima de 5% a.a., não,

refl etem apenas a temperatura da economia. Elas têm

uma componente inercial importante; portanto, o

crescimento do PIB ao nível do produto potencial não

signifi ca infl ação zero no Brasil, mas o patamar inercial,

que é elevado. O risco de escalada dos preços não existia

nem no começo do ano, nem neste fi nal de semestre,

considerando o ritmo lento da atividade econômica

e a reduzida probabilidade de choques infl acionários

no curto prazo. A infl ação deve manter a trajetória de

convergência para o centro da meta, como sinaliza

o resultado do IPCA do mês de junho, praticamente

nulo. Um choque infl acionário previsível, entretanto,

é a valorização do dólar, que só deve se ampliar de

forma mais consistente em 2014, quando a taxa de

juros americana começar a subir – o que, de outro

lado, poderá trazer algum alívio à indústria brasileira,

com recuperação parcial da competitividade, o que

resultará em substituição de importações, ampliação

das exportações e retomada da economia.

A conclusão do “Grupo de Conjuntura” foi que as

novas circunstâncias da economia mundial impuseram

condições muito mais severas de concorrência à

indústria de transformação brasileira. Trata-se de fato

novo que impacta no potencial de crescimento do

Brasil. Mas, também, a política de estimulo à economia

vinha sendo insufi ciente para reverter o cenário de

baixo crescimento. Nesse contexto, é preocupante a

questão das baixas taxas de poupança e investimento

e das difi culdades “estruturais” para aumentá-las. A

solução para os gargalos de infraestrutura da economia

brasileira está sendo adiada, por motivos de ordem

política, ambiental e de gestão. Apesar de as despesas

do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)

terem aumentado, esse feito se deve a transferências

expressivas até maio, sem contrapartida do Tesouro,

para o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR),

ou seja, para a construção e entrega de habitações a

preço fortemente subsidiado no âmbito do programa

Minha Casa, Minha Vida, em lugar de investimentos em

infraestrutura.

Fundamentos macroeconômicos

Em contraposição, é importante registrar que o

Brasil apresenta fundamentos macroeconômicos

sólidos, como destaca o presidente do Banco Central,

Alexandre Tombini: “com robustos colchões de liquidez

em moeda estrangeira e no Sistema Financeiro

Nacional”1, além do amplo espaço de manobra na

política monetária e fi scal. Isso denota a capacidade

de absorver os impactos da crise internacional e

a possibilidade de manter relativamente vigoroso

o crescimento econômico brasileiro, apesar da

desaceleração da economia mundial.

Os dados mostram que, no âmbito fi scal, o superávit

primário do setor público mantém-se elevado e o

défi cit nominal estável, não obstante a redução da

taxa de juros. Mesmo com crescimento econômico

praticamente nulo, houve rápido declínio da dívida

líquida do setor público (que, em números de maio,

está em 35% do PIB), em grande parte por força da

depreciação do real, pois o governo federal é credor

líquido em dólares. Não que, de resto, a situação em

2012 venha se caracterizando como cômoda nesse

âmbito, uma vez que a arrecadação está se frustrando

em valores substanciais mês após mês sem que se

cogite de usar a margem do PAC para o abatimento das

despesas – até agora o governo preserva o discurso

de que a meta primária do exercício será alcançada

integralmente para contribuir com o Banco Central no

controle dos preços, pois é objetivo do governo alterar

em defi nitivo dois preços da economia: câmbio e juros.

No âmbito monetário, com a infl ação em declínio,

o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco

Central pode reduzir ainda mais a taxa de juros, além

de haver um amplo espaço para adoção de medidas

macroprudenciais, no sentido de aumentar a liquidez

da economia e prosseguir com a fl exibilização da oferta

de crédito. Em relação à taxa Selic, o consenso Focus

(6 de julho) é de que chegará a 7,5% a.a. no fi m do

período, mas pode ser menos.

1 Apresentação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em Audiência Pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, em 12 de junho de 2012.

26

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abril / junho de 2012

A política monetária ainda está bastante restritiva,

com as alíquotas de depósitos compulsórios2 elevadas,

apesar da crise internacional e da retração da demanda

interna. Na avaliação do presidente do Banco Central3,

as reservas bancárias estão elevadas e o sistema

fi nanceiro sólido, considerando que o índice de capital

médio dos bancos brasileiros está acima de 16% e,

portanto, com relativa folga em relação ao índice de

capital mínimo de Basiléia (8%) e ao índice de capital

mínimo regulatório (11%). Tombini relata ainda as

avaliações positivas do Fundo Monetário Internacional

e Banco Mundial, de que “o sistema fi nanceiro brasileiro

é estável, com baixos níveis de risco sistêmico e reservas

de liquidez consideráveis”.

Os indicadores externos e as reservas internacionais

estão praticamente inalterados. Não há nenhum

risco externo no curto prazo. O défi cit em conta

corrente supera 50 bilhões de dólares, mas está sendo

fi nanciado pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED).

O saldo das transações correntes nos cinco primeiros

meses de 2012 foi ligeiramente melhor do que o

registrado em igual período em 2011, em razão da

redução das remessas líquidas de renda. Entretanto,

houve aumento nos gastos líquidos com serviços e o

superávit comercial foi menor.

Os dados da balança comercial do primeiro

semestre mostram queda das exportações (-0,9%)

e aumento das importações (4,6%), totalizando US$

117,2 bilhões e US$ 110,1 bilhões, respectivamente. O

saldo comercial do semestre foi de US$ 7,1 bilhões –

queda de 45,4% em relação ao primeiro semestre de

2011. As exportações foram afetadas pela queda nos

preços de alguns produtos importantes, como minério

de ferro (-18,7%), carne de frango (-6,5%) e açúcar em

bruto (-1,4). A elevação do câmbio e a recuperação

dos preços de algumas commodities agrícolas devem

infl uenciar positivamente o saldo comercial no

segundo semestre. Em síntese, as perspectivas são de

estabilidade no défi cit em transações correntes e recuo

no saldo comercial no agregado do ano de 2012.

Baixo crescimento do PIB

Os dados dessazonalizados das Contas Nacionais

Trimestrais do IBGE confi rmaram as expectativas de

baixo crescimento da economia neste início de ano.

O PIB do primeiro trimestre de 2012 cresceu 0,2%

em comparação com o quarto trimestre de 2011. O

pior desempenho foi da agropecuária, que caiu 7,3%,

seguida dos serviços, que pouco cresceram (0,6%).

Houve aparente início de recuperação da indústria, de

1,7%, após três trimestres no vermelho.

Pela ótica da demanda, a desaceleração do PIB foi

puxada pela queda da Formação Bruta de Capital Fixo,

cujo crescimento está negativo há três trimestres, com

recuo acentuado no primeiro trimestre de 2012 (-1,8%),

além do fraco desempenho das exportações (0,2%).

Somente a administração pública aumentou seu ritmo

em relação ao último trimestre de 2011.

2 O depósito compulsório – parte das captações dos bancos comerciais e outras instituições fi nanceiras que fi ca depositada no Banco Central – é um dos instrumentos que o BC usa para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. Esse mecanismo infl uencia diretamente a disponibilidade de crédito e a taxa de juros na ponta.3 Apresentação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em Audiência Pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, em 12 de junho de 2012.4 Banco Central, Relatório de Infl ação, Vol 14, nº 2, junho de 2012. p. 16.

‘‘

‘‘

O saldo das transa-ções correntes nos

cinco primeiros meses de 2012 foi ligeiramente

melhor do que o registrado em igual

período em 2011, em razão da redução das remessas líquidas de

renda. Entretanto, hou-ve aumento nos gastos líquidos com serviços e o superávit comercial

foi menor.

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O consumo das famílias se manteve com taxa

relativamente baixa de crescimento (1%) no primeiro

trimestre de 2012, ainda não reagindo à flexibilização

da política monetária e de crédito. As medidas do

governo no sentido da redução das taxas de juros e

do spread bancário e de ampliação das concessões de

crédito deverão, supostamente, incentivar o consumo

das famílias ao longo do segundo semestre, quando

pode, também, ocorrer uma reativação gradual dos

investimentos.

Os resultados do primeiro trimestre levaram o

governo a rever a sua projeção do PIB para o ano. O

Ministério da Fazenda mantém oficialmente certo

otimismo, com a expectativa de crescimento de 3,5% no

ano, mas o Banco Central, no último Relatório de Inflação

(de junho) reviu a taxa para 2,5%, ante 3,5% constantes

dos dois relatórios anteriores. Segundo o Banco

Central, “a nova estimativa incorpora os resultados do

primeiro trimestre 2012; dados preliminares referentes

ao segundo trimestre, período em que a retomada da

atividade vem ocorrendo de forma bastante gradual;

e a atualização do cenário macroeconômico para a

segunda metade do ano”4.

No setor de serviços, o destaque negativo foi a

atividade de intermediação financeira e seguros, em

queda de 0,8%. Os demais subsetores apresentaram

crescimento baixo ou moderado, com o melhor

desempenho ficando com serviços de “administração,

educação e saúde publicas” (1,8%), seguidos do

comércio (1,3%) no trimestre.

Tabela 1 Variação (%) trimestral do PIB e subsetores (em relação ao trimestre anterior, com ajuste sazonal)

Ano/ Trimestre2010 2011 2012

I II III IV I II III IV I

Agropecuária 4,6 2,2 -5,1 0,1 6,8 -1,8 1,2 -0,1 -7,3

Indústria 2,6 1,3 0,1 1,0 1,4 -0,4 -0,8 -0,5 1,7

Extrativa Mineral 10,2 1,3 0,7 0,5 0,8 1,0 0,3 1,5 -0,5

Transformação 2,3 0,8 0,2 0,2 1,3 -0,3 -1,8 -2,2 1,9

Construção 1,7 4,2 -1,6 1,6 1,2 0,9 0,1 0,8 1,5

Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana 1,4 3,0 0,0 1,0 1,0 1,2 0,7 0,1 1,5

Serviços 1,3 1,1 1,4 1,0 0,5 0,8 -0,3 0,4 0,6

Comércio 3,4 0,8 2,1 1,3 1,1 0,7 -1,1 0,6 1,3

Transporte, armazenagem e correio 2,8 0,9 1,0 1,0 1,3 -0,2 0,1 0,2 0,9

Serviços de informação 1,7 1,5 1,0 0,6 1,4 2,7 -0,3 1,1 0,6

Intermediação financeira e seguros 3,2 2,5 2,8 1,7 -0,4 0,7 0,7 0,1 -0,8

Outros Serviços 0,4 0,8 1,2 1,2 0,3 0,6 -0,5 0,3 0,2

Serviços imobiliários e aluguel 0,2 0,4 0,4 0,6 0,2 0,2 0,3 0,6 0,1

Admin., educação e saúde públicas -0,4 0,6 0,8 1,0 0,5 0,5 0,1 0,4 1,8

PIBpm (PIB a preços de mercado) 2,1 1,2 0,9 1,0 0,9 0,5 -0,1 0,2 0,2

Consumo das famílias 1,7 0,9 2,4 1,9 0,5 0,6 -0,1 1,0 1,0

Consumo da Administração Pública 0,8 1,2 0,8 0,2 -0,2 2,1 -0,8 0,5 1,5

Formação Bruta de Capital Fixo 3,9 3,6 3,2 -0,2 2,1 1,1 -0,6 -0,6 -1,8

Exportação de Bens e Serviços 6,4 -0,3 3,9 2,6 -2,2 2,1 1,8 1,8 0,2

Importação de Bens e Serviços 12,3 3,9 6,2 1,7 1,1 4,9 -1,8 2,1 1,1

Fonte: IBGE. Elaboração dos autores.

Nesse mesmo sentido vai a Pesquisa Mensal de

Comércio (PMC) do IBGE, apontando crescimento

elevado do volume de vendas no comércio varejista

(com ajuste sazonal), no acumulado do ano até maio

(9%). Todos os oito segmentos cresceram no ano.

Ocorre que em maio a variação de vendas em volume

em relação ao mês anterior foi negativa (-0,8%),

28

Page 31: Revista de Conjutura n. 48

29

abril / junho de 2012

Tabela 2Variação da produção física industrial por categoria de uso (trimestre contra trimestre

imediatamente anterior e variação mensal, em %)

2011 2012 Acumulado

1º 2º 3º 4º 1º Abril MaioNo

Ano

Abr 12/

Abr 11

12

meses

Bens de Capital 4,0 -1,2 0,8 -3,8 -9,0 1,9 -1,8 -9,8 -4,1 -1,7

Bens Intermediários 0,5 0,2 -1,0 -0,4 -1,0 0,0 0,2 -1,5 -2,0 -0,6

Bens de Consumo ... ... ... ... ... -0,7 -2,8 -2,0 -2,3 -1,4

Duráveis 3,9 -6,6 -2,2 -3,8 -1,4 -0,5 -2,2 -10,3 -6,1 -6,1

Semi e Não Duráveis 1,1 -1,0 0,2 -1,1 2,0 -1,4 -2,1 0,7 -1,1 0,1

Indústria Geral 0,9 -0,4 -0,8 -1,6 -0,5 -0,2 -0,9 -2,8 -2,9 -1,1

Fonte: IBGE.

revertendo o sinal positivo dos dois últimos meses. A

PMC ampliada, que inclui também “veículos, motos,

partes e peças” e “material de construção”, revelou que

até maio o primeiro teve fraco desempenho (-0,8%)

e o segundo, elevado crescimento (11,1%), refletindo,

neste caso, a forte expansão do crédito habitacional. A

redução continuada dos juros deve manter aquecido

esse setor.

Desempenho da indústria

A variação trimestral do PIB da indústria (trimestre

contra trimestre imediatamente anterior, com ajuste

sazonal) apresentada na Tabela 1 mostra, pela ótica

da produção, aparente recuperação dos diversos

subsetores, exceto a indústria extrativa mineral (-0,5%).

Registraram-se: transformação (1,9%); construção

(1,5%); e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza

urbana (1,5%).

Os dados desagregados por subsetores mostram

ainda que o crescimento da indústria de transformação

de 1,9%, neste primeiro trimestre, não recuperou

a queda acentuada observada nos três trimestres

anteriores (-0,4, -1,8 e -2,2%, respectivamente). Na

comparação com o primeiro trimestre de 2011, a

indústria de transformação teve queda de 2,6% (que

a Tabela não mostra). Segundo o IBGE, este resultado

foi influenciado pela “redução da produção da

indústria automotiva; de máquinas e equipamentos;

metalurgia, borracha e plástico; máquinas, aparelhos

e materiais elétricos; e artigos do vestuário e calçados”.

As atividades desse segmento industrial que

apresentaram resultados positivos, com crescimento

da produção, foram o de “eletrodomésticos das linhas

branca e marrom, outros equipamentos de transporte,

químicos, celulose e papel, perfumaria, cimento e

minerais não metálicos”.

Ainda na comparação com o primeiro trimestre de

2011, os demais subsetores da indústria apresentaram

crescimento: eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza

urbana (3,6%), construção civil (3,3%) e extrativa mineral

(2,2%). O crescimento da indústria da construção civil

(3,3%) reflete o crescimento do crédito nominal com

recursos direcionados, que foi de 21,8% no período.

Os dados do PIB incluem a “desova” de estoques.

Nesse sentido os dados de produção física da indústria

levantados na Pesquisa Industrial Mensal – Produção

Física (PIM-PF) do IBGE (com ajuste sazonal) constituem

um bom indicador do desempenho do setor industrial.

De acordo com eles, houve retração da produção

neste início de ano. A produção física, até maio, mostra

redução da atividade industrial em todos os meses

do ano, resultando em queda de 3,4% nos primeiros

cinco meses do ano. O setor já havia encolhido 1,8%

no terceiro quadrimestre de 2011. O acumulado nos

últimos doze meses, até maio, foi negativo em 1,8%.

A Tabela 2 apresenta os dados por categorias de uso,

em que os produtos são agregados em sua atividade

industrial de origem. No acumulado do ano (até maio),

as indústrias de bens de consumo semiduráveis e não

duráveis se manteviveram estáveis (0,0%). Os demais

setores por categoria de uso da indústria se retraíram

no período: bens de capital (-12,0%), bens de consumo

duráveis (-10,0%) e bens intermediários (-2,0%).

Page 32: Revista de Conjutura n. 48

Revi

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‘‘

‘‘

A cronologia dos pacotes baixados mos-

tra a reavaliação constante por parte

do governo da temperatura da

economia. No início de dezembro de 2011, o governo reduziu o IPI

e o IOF cobrado sobre o financiamento

ao consumo para produtos com índice

de eficiência energética “classe A”.

Esses números chamam a atenção para a

deterioração do investimento e justificam as

sucessivas iniciativas de incentivo à indústria e à

reativação da economia adotadas pelo governo

a partir de 2011 e intensificadas neste ano.

Num primeiro momento, o governo lançou uma

série de medidas de defesa em razão da perda de

competitividade da indústria no comércio internacional,

em parte explicada pela sobrevalorização (“guerra”)

cambial, cujo marco inicial foi o pacote apresentado

no Plano Brasil Maior em agosto de 2011, que incluía

também estímulos ao investimento e à inovação,

centrados no financiamento e em desonerações

tributárias. Em 2012, o governo intensificou suas

iniciativas voltadas para os setores mais vulneráveis:

com o objetivo de conter a sobrevalorização cambial,

o governo aumentou sucessivamente o Imposto sobre

Operações Financeiras (IOF) sobre a entrada de capitais.

A lista de medidas de incentivo à indústria,

adotadas de forma pulverizada e gradativa, inclui ainda

a redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP),

parâmetro para os empréstimos do Banco Nacional

de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); a

expansão do crédito, com redução dos juros e spread

bancários; a redução de impostos; e a ampliação

das compras governamentais, a exemplo do “PAC

equipamentos” lançado no final de junho; e a linha

de crédito via BNDES para projetos de infraestrutura

e mobilidade urbana dos Estados. No fim de junho, a

redução de alíquotas do IPI para os produtos da linha

branca e para móveis foi prorrogada por mais três

meses.

A cronologia dos pacotes baixados mostra a

reavaliação constante por parte do governo da

temperatura da economia. No início de dezembro de

2011, o governo reduziu o IPI e o IOF cobrado sobre o

financiamento ao consumo para produtos com índice

de eficiência energética “classe A”. Reduziu também

a alíquota do Programa de Integração Social e da

Contribuição para a o Financiamento da Seguridade

Social (PIS/Cofins) de produtos alimentícios. No

início de abril, o governo introduziu novo pacote de

estímulo ao consumo, em especial de bens duráveis,

e de apoio à indústria, que abrangeu a desoneração

da folha de pagamento, com o fim da contribuição

patronal para 15 setores industriais; um programa de

incentivos à cadeia produtiva de veículos automotores;

financiamento das exportações; estímulo à indústria

nacional nas compras governamentais; desoneração

de impostos e contribuições para investimentos, entre

outras medidas. Em maio (21/5), foi lançado novo

conjunto de medidas financeiras (mais crédito, juros

menores e aumento de prazos) e tributárias (redução

do IOF e IPI) para estimular os setores automotivos e

de bens de capital. Essas medidas se somam à redução

da taxa Selic e às continuas reduções dos juros dos

bancos públicos no sentido de forçar a baixa dos juros

ao consumidor.

Os pacotes de incentivos, desonerações tributárias,

mais crédito e juros menores não foram ainda

suficientes para reverter, até maio, a estagnação da

indústria, nem o índice de confiança da indústria

(junho). Segundo a Federação das Indústrias do Estado

de São Paulo (Fiesp), a atividade industrial caiu 0,6% em

maio. A queda do Índice Nacional de Atividade (INA)

levou a Fiesp a revisar sua projeção de crescimento do

PIB em 2012 para 1,8%. Na avaliação da entidade, o PIB

da Indústria de transformação deve fechar o ano com

0,8% negativo.

30

Page 33: Revista de Conjutura n. 48

31

abril / junho de 2012

Agropecuária

O baixo desempenho da agropecuária no primeiro

trimestre reflete os problemas climáticos e a redução

da demanda por alguns produtos no mercado

internacional. Entretanto, vários indicadores apontam

para uma recuperação nos próximos trimestres.

A previsão da safra de grãos (cereais, leguminosas e

oleaginosas) no levantamento da produção realizado

pelo IBGE em maio e junho foi revista, dado o excelente

resultado da “safrinha” de milho (aumento de 59,6%)

e de outras culturas em sua segunda ou terceira

safras, conforme se observa nos dados da Tabela 3.

Tabela 3 Brasil: Safras 2011 e 2012 – levantamento de junho de 2012

Produtos AgrícolasProdução ( t )

Safra 2011 Safra 2012 Var. %

Algodão herbáceo (caroço) 3.083.775 3.207.720 4,0

Amendoim (em casca) 1ª safra 240.302 301.175 25,3

Arroz (em casca) 13.444.425 11.452.628 -14,8

Feijão (em grão) 1ª safra 1.952.422 1.244.252 -36,3

Manona (baga) 115.274 45.177 -60,8

Milho (em grão) 1ª safra 34.167.667 33.781.767 -1,1

Soja (em grão) 74.941.773 65.730.655 -12,3

Subtotal (1ª safra) 127.945.638 115.763.374 -9,5

Amendoim (em casca) 2ª safra 15.755 11.054 -29,8

Aveia (em grão) 349.651 392.540 12,3

Centeio (em grão) 3.521 3.149 -10,6

Cevada (em grão) 303.748 347.087 14,3

Feijão (em grão) 2ª safra 1.112.435 1.201.957 8,0

Feijão (em grão) 3ª safra 435.516 438.735 0,7

Girassol (em grão) 77.552 111.115 43,3

Milho (em grão) 2ª safra 22.104.773 35.275.962 59,6

Sorgo (em grão) 1.909.187 1.798.315 -5,8

Trigo (em grão) 5.695.468 5.239.961 -8,0

Triticale (em grão) 137.612 142.583 3,6

Subtotal (2ª safra e inverno) 32.145.218 44.962458 39,9

Total (Safra de Grãos) 160 090 856 160 725 832 0,4

Outros produtos

Batata-inglesa – Total 3.894.750 3.511.892 -9,8

Batata inglesa 1ª safra 1.721.420 1.587.441 -7,8

Batata inglesa 2ª safra 1.297.278 1.036.592 -20,1

Batata inglesa 3ª safra 876.052 887.859 1,3

Cacau (em amêndoa) 245.448 238.294 -2,9

Café (em grão) - Total 2.658.049 3.049.078 14,7

Café (em grão) arábica 1.965.404 2.289.282 16,5

Café (em grão) canephora 692.645 759 796 9,7

Cana-de-açúcar 715.143.562 662.014.177 -7,4

Cebola 1.355.981 1.382.671 2,0

Laranja 19.831.787 19.855.324 0,1

Mandioca 25.329.667 24.617.728 -2,8

Fonte: IBGE.

Page 34: Revista de Conjutura n. 48

Revi

sta d

e Con

junt

ura

Nos levantamentos anteriores, a expectativa era de

queda na safra de grãos, enquanto no levantamento

divulgado em junho a previsão foi de crescimento de

0,4% em relação à safra recorde de 2011. A maior parte

da safra de grãos se refere à safra de verão, que está

em fase final de colheita e concentra grande parte da

produção nacional.

A estimativa de junho para a produção dos 21

produtos pesquisados pelo IBGE mostra que 10

apresentam variação positiva em relação ao ano

anterior: algodão (4,0%); amendoim (21,9%); aveia

(12,3%); café (14,7%); cebola (2,0%); cevada (14,3%);

girassol (43,3%); laranja (0,1%); milho (22,7%) e triticale

(3,6%). Os 11 produtos ou safras com variação negativa

são: arroz (-14,8%); batata inglesa (-9,8%); cacau (-2,9%);

cana-de-açúcar (-7,4%); centeio (-10,6); feijão (-17,6%);

mamona (-60,8%); mandioca (-2,8%); soja (-12,3%);

sorgo (-5,8%); e trigo (-8,0%).

A seca na Região Sul do país foi a principal

determinante das perdas acentuadas na safra de

verão, em especial as de soja, milho e feijão (1ª safra).

A produção gaúcha foi a mais afetada, mas também

foram prejudicados os demais estados da Região, além

de parte do Sudeste e o sudoeste de Mato Grosso do

Sul. O sul de Minas Gerais enfrentou estiagem entre

os meses de fevereiro e março de 2012 e as regiões

de cana no estado de São Paulo tiveram precipitações

pluviométricas abaixo da média em agosto e setembro

de 2011, e novamente nos meses de fevereiro e

março de 2012, o que prejudicou a cultura. Por outro

lado, ocorreu atraso na colheita da cana por conta do

excesso de chuvas em abril. A Região Nordeste também

sofreu com forte estiagem e teve perdas expressivas na

agricultura e na pecuária. A mais castigada foi a região

do semiárido nordestino, que teve perdas nas culturas

de feijão e de milho superiores a 80%.

A seca no Sul atingiu também a produção dos países

vizinhos: Argentina, Uruguai e Paraguai, reduzindo-lhes

fortemente a produção de grãos, mas não foi suficiente

para reverter a tendência de queda dos preços

internacionais da maioria dos produtos nos primeiros

meses do ano. Entretanto, os problemas climáticos no

início do desenvolvimento das culturas da safra de

verão do Hemisfério Norte, em especial nos EUA, fez

com que houvesse uma reação forte das cotações da

maioria dos produtos agrícolas no final do semestre.

O aumento dos preços no mercado internacional

e a desvalorização do real proporcionaram ganhos

excepcionas aos agricultores que ainda não haviam

comercializado parte da sua produção, além de

propiciar boas opções de venda no mercado futuro

da safra que será plantada em novembro e colhida no

segundo trimestre de 2013. Pode-se dizer que retornou

a euforia ao campo, com a boa remuneração dos seus

produtos.

A pecuária também foi mal no período. Os dados do

primeiro trimestre foram de retração em quase todas

as atividades. Segundo o IBGE, o “abate de frangos”

foi o único a registrar aumento no 1º trimestre de

2012, cresceu 3,2% em relação ao último trimestre

de 2011 e 4,3% sobre o primeiro trimestre de 2011. O

abate de bovinos (1,681 milhão de toneladas), no 1°

trimestre de 2012, foi 3,9% menor que o registrado no

4º trimestre de 2011, mas 2,4% superior ao registrado

em igual período de 2011. O abate de suínos também

decresceu (-4,9%) em relação ao 4º trimestre de 2011,

mas foi 4% maior que o de igual período de 2011. O

setor foi afetado negativamente pelas restrições de

importações de alguns países, o que resultou em

ampliação da oferta para o mercado interno e queda

nos preços ao produtor.

‘‘ ‘‘

A seca na Região Sul do país foi a

principal determinante das perdas acentuadas

na safra de verão, em especial as de

soja, milho e feijão (1ª safra).

32

Page 35: Revista de Conjutura n. 48

33

abril / junho de 2012

O bom desempenho do setor avícola no primeiro

trimestre alcançou a produção de ovos de galinha,

que cresceu 1,4% em relação ao 4º trimestre de 2011

e 8,2% sobre 1º trimestre do mesmo ano. Entretanto, o

setor apresentou redução da produção nos meses de

abril a junho e deverá continuar retraído no segundo

semestre, dado o aumento de custos de produção, com

a elevação dos preços do milho e soja.

Já a pecuária bovina pode reverter a tendência nos

próximos trimestres, em virtude da manutenção da

oferta de boi gordo e ampliação do abate até o início

do segundo semestre, que normalmente corresponde

ao início da “entressafra” no setor da pecuária, em razão

da continuidade das chuvas nas regiões produtoras

do Centro Oeste e, atipicamente, as boas pastagens na

região, que é a principal produtora nacional (34,8%).

O comportamento dos preços do boi acompanhou

o movimento sazonal e se manteve em declínio no

primeiro semestre, mas essa tendência deve se reverter

a partir de julho ou agosto, com o início da entressafra,

período de seca na região do cerrado e geadas no sul. A

piora sazonal nas condições das pastagens nas regiões

produtoras resulta em redução da oferta de animais

para abate, uma vez que a produção em confinamento

responde por apenas 5% do total de abates.

A aquisição de leite teve queda de 2,9% no primeiro

trimestre de 2012, comparando-se com o quarto

trimestre de 2011, mas teve crescimento 4,4% na

comparação com o 1º trimestre de 2011.

Em síntese, o baixo resultado do PIB da agropecuária

no primeiro trimestre não reflete as previsões de

produção e a melhora nas condições climáticas e

de preços dos produtos no mercado internacional

e interno. A seca norte-americana beneficia os

agricultores brasileiros, com a elevação dos preços e

aquecimento da demanda pelos produtos nacionais.

O PIB da agropecuária nos próximos trimestres deverá

refletir as melhores condições de mercado e de

produção do setor.

A previsão de aquecimento do setor agropecuário

se deve também ao novo Plano Agrícola e Pecuário

(PAP) da safra 2012/2013 (“Plano Safra 2012/2013”),

dados o aumento do volume de recursos (7,4%), em

relação ao plano anterior e a redução dos juros nos

financiamentos.

Análise das medidas de estímulo à economia

Os dados que vêm sendo divulgados neste primeiro

semestre de 2012 mostram que as medidas de estímulo

à economia são necessárias e as ações do governo nas

relações de comércio externo, no sentido da conquista

de novos mercados para os produtos nacionais e de

defesa comercial, adequadas.

Entretanto, cabem algumas ponderações sobre

os principais mecanismos utilizados pelo governo e

a sua focalização. Neste sentido, procurou-se avaliar

a questão da renúncia fiscal; a expansão do crédito;

e as ações voltadas para redução dos juros e spread

bancários.

No primeiro caso, os incentivos fiscais se

concentraram na indústria automobilística. Cadeia

produtiva importante, grande pagadora de impostos

e geradora de empregos, sofre significativamente nos

primeiros sinais de crise na economia. A redução de

impostos, em especial o IPI, vem se mostrando eficiente

para estimular as vendas de automóveis e garantir os

empregos no setor. Deixemos de lado a controvérsia

sobre os custos do incentivo, que não devem ser

analisados linearmente, como tem sido feito por alguns

setores da mídia, visto que a reativação da produção

recupera parte da renúncia fiscal.

Entretanto, dois pontos devem ser destacados como

problemas: primeiro, a concentração dos incentivos

nesse setor e o abandono de vários outros, afetados

fortemente pela crise econômica e pela competição

predatória de produtos importados; segundo, a

inoportunidade do aumento de vendas de automóveis

para o mercado interno, dado o excesso de veículos

circulando nas grandes e médias cidades brasileiras,

o que vem prejudicando o bem estar da população.

O crescimento exponencial da frota tem provocado

grandes engarrafamentos e mais emissão de CO2.

Por outro lado, os incentivos constituem também um

“presente de grego” aos consumidores das classes C e

D, que estão se endividando e comprometendo parcela

crescente do orçamento familiar na compra do carro

popular novo.

A percepção é de que o governo não tem feito o dever

de casa: planejar as ações com base em estudos mais

precisos dos impactos da crise econômica nos diversos

Page 36: Revista de Conjutura n. 48

Revi

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e Con

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ura

setores da economia, para avaliar melhor a necessidade

de ajuda a cada setor; e escolher cuidadosamente as

alternativas de apoio mais eficientes. Mas há também

bons exemplos de ações oportunas do governo,

como o Plano de Safra 2012/2013, já referido, que traz

incentivos para o setor agropecuário, tanto voltados

para a sua expansão, como no sentido de reverter a

perda de competitividade momentânea de segmentos

localizados, como a produção de carne suína.

A segunda preocupação é com a concentração das

ações no incentivo à demanda via crédito. Os riscos

da expansão sem precedentes do crédito no Brasil

são fortes: o “boom imobiliário” e o endividamento

crescente de famílias e empresas são os sinais de alerta.

O volume de crédito do sistema financeiro cresceu

5,2% no ano e 18,3% nos últimos 12 meses (até maio). O

maior crescimento em 12 meses ocorreu na habitação

(39,8%), referente ao saldo com recursos direcionados.

O endividamento dos brasileiros superou em

maio, pela primeira vez, 50% do PIB, segundo dados

do Banco Central. O crescimento recente se deu

fundamentalmente com a expansão do crédito dos

bancos públicos. O fato é que a inadimplência voltou a

aumentar e as taxas de juros continuam excessivamente

elevadas, apesar da redução marginal ocorrida no ano,

como se verá a seguir.

Redução dos juros e spread bancário

A redução das taxas de juros ao consumidor

encontra contexto favorável, com as sucessivas

reduções da taxa Selic pelo Banco Central – em

razão, por sua vez, da trajetória declinante dos preços

favorecida pelo processo de desinflação global e

pelo cenário de sua convergência para o centro da

meta (4,5%). A estratégia do governo foi utilizar os

bancos públicos para forçar as instituições financeiras

privadas a reduzir também suas taxas e spreads.

Os juros praticados na economia brasileira são

exorbitantes. O lucro dos bancos é expressivo e cresceu

muito na última década. Entre 2003 e 2011, o lucro

do setor bancário cresceu 250%, enquanto a inflação

medida pelo IPCA foi de 55%. No mesmo período, o

lucro dos cinco maiores bancos operando no Brasil

aumentou 354%. Outro indicador de lucratividade

do setor é a relação lucro sobre o patrimônio líquido

que, em 2011, para todo o sistema foi de 16,5%,

e para os 5 maiores bancos foi superior a 22%.

Instituição2003

(R$ bilhões)

2011

(R$ bilhões)

Cresc. %

2003/11

(%) Lucro/

Patr. Liq.¹

Banco do Brasil 2,38 12,1 408,4 22,2

Bradesco 2,30 11,02 379,1 21,3

CEF 1,60 5,2 225,0 29,6

Itaú 3,15 14,6 363,5 22,3

Santander 1,74 7,8 348,3 16,2

Total (5 bancos) 11,17 50,72 354,1 -

Todos os Bancos 16,97 59,39 250,0 16,5

Tabela 4 Lucro dos bancos - total e dos 5 principais bancos – 2003 e 2011

Fonte: Banco Central. (¹) Lucro dos bancos em 2011 sobre o patrimônio líquido.

‘‘ ‘‘

O endividamento dos brasileiros

superou em maio, pela primeira vez, 50% do PIB, segundo dados do Banco Central. O

crescimento recente se deu fundamentalmente

com a expansão do crédito dos

bancos públicos.

34

Page 37: Revista de Conjutura n. 48

35

abril / junho de 2012

Observa-se também que o aumento do lucro

dos bancos públicos foi elevado no período 2003 a

2011. O lucro do Banco do Brasil apresentou o maior

crescimento (408,4%) e a Caixa, o menor (225%), mas

com a maior relação lucro sobre o patrimônio líquido

(29,6%). Nesse sentido, a estratégia do governo de impor

via bancos públicos a redução dos juros parece correta,

mas não tem sido eficaz. Os bancos públicos reduziram

os juros e expandiram fortemente o crédito, enquanto

os bancos privados foram mais parcimoniosos, com

reduções focalizadas e pequeno aumento do crédito,

protegendo-se da inadimplência.

Como resultado, apesar da ação do governo, o

spread bancário – diferença entre a taxa de captação

e a taxa de aplicação – no Brasil continua um dos

mais altos do mundo. A redução no ano foi de apenas

2,2%, passando de 27,8% em janeiro para 24,7% a.a.

em maio. A queda foi menor para a pessoa jurídica

(-1,1%) e maior para pessoa física (-3,2%), cujo spread

supera 30% (30,5%, em maio). A redução dos juros foi

um pouco maior (-4,2%) em razão da queda na taxa de

captação (-2,0%). Os juros para pessoa jurídica caíram

3,2% no ano (até maio) e para pessoa física, 5,0%.

Assim, em maio de 2012 a taxa média de aplicação

foi de 32,9% a.a., com as pessoas físicas pagando

juros de 38,8%, e as pessoas jurídicas, 25% a.a. Esses

dados, divulgados pelo Banco Central (em 26 de junho

de 2012), em nota mensal para a imprensa sobre

política monetária, registram que a ação do governo

na redução dos juros e do spread bancários não

tem funcionado, as margens dos bancos continuam

elevadas e as taxas de juros em patamares abusivos.

A ideia do governo de utilizar a redução de juros

para “gerar concorrência” e derrubar os spreads

bancários parece ter esbarrado numa estrutura

de mercado oligopolizada, onde a competição

entre os grandes conglomerados financeiros se

dá por diversas formas, menos pelo preço do

produto, no caso dos bancos, o preço do dinheiro,

refletido nas taxas de juros por eles cobradas.

Certamente o crescimento da inadimplência,

dada a sua grande participação na composição dos

juros cobrados pelos bancos (mais de 30%), também

ajuda a explicar em parte a resistência dos bancos

na redução do spread. Historicamente, essa margem

acompanhou a evolução da inadimplência, que tem

também como componentes: o custo administrativo

(13%); compulsório, subsídio cruzado, encargos

fiscais e FGC (Fundo Garantidor de Crédito); impostos

(mais de 20%); além da margem bruta e líquida do

spread (situada em torno de 30% ao longo dos anos).

A elevada margem líquida do spread bancário mostra

que há um largo espaço de redução dos juros no Brasil.

É necessário, além de baixar as taxas cobradas pelos

bancos públicos, aprimorar a regulação e a concorrência

entre os bancos, dentre outros mecanismos que levem

ao recuo dos juros a patamares mais civilizados no Brasil.

As seguidas intervenções do governo nos bancos

públicos, descuidando-se aparentemente de uma

avaliação mais precisa dos seus impactos sobre as

instituições, podem estar causando prejuízos e sugerem

cautela. Certamente o esforço histórico do Banco do

Brasil nos últimos anos de inserção internacional deve

ter sofrido desgastes importantes, incluindo o efeito

sobre a cotação de suas ações na Bolsa de Valores.

‘‘

‘‘

Como resultado, apesar da ação do governo, o spread

bancário – diferença entre a taxa de captação

e a taxa de aplicação – no Brasil continua um

dos mais altos do mundo. A redução no ano foi de apenas 2,2%, passando

de 27,8% em janeiro para 24,7% a.a.

Page 38: Revista de Conjutura n. 48

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PeríodoTaxa de aplicação Taxa de captação Spread² Inadimplência

Geral PJ PF Geral PJ PF Geral PJ PF PJ PF

2008

Jan 37,3 24,7 48,8 11,6 11,0 12,2 25,7 13,7 36,6 2,0 7,0

Jun 38,0 26,6 49,1 13,5 12,7 14,4 24,5 13,9 34,7 1,7 7,4

Dez 43,3 30,7 57,9 12,6 12,3 12,9 30,7 18,4 45,0 1,8 8,0

2009

Jan 42,4 31,0 55,0 11,9 12,2 11,5 30,5 18,8 43,5 2,0 8,2

Jun 36,6 27,4 45,6 9,4 9,2 9,8 27,2 18,2 35,8 3,4 8,6

Dez 34,3 25,5 42,7 9,9 9,0 11,1 24,4 16,5 31,6 3,8 7,7

2010

Jan 35,1 26,5 43,0 10,0 9,1 11,2 25,1 17,4 31,8 3,8 7,5

Jun 34,6 27,3 40,4 11,1 10,4 11,8 23,5 16,9 28,6 3,6 6,5

Dez 35,0 27,9 40,6 11,5 10,9 12,1 23,5 17,0 28,5 3,5 5,7

2011

Jan 37,4 29,3 43,8 11,8 11,2 12,4 25,6 18,1 31,4 3,6 5,7

Jun 39,5 30,8 46,1 12,2 11,9 12,5 27,3 18,9 33,6 3,8 6,4

Dez 37,1 28,2 43,8 10,2 10,3 10,1 26,9 17,9 33,7 3,9 7,4

2012

Jan 38,0 28,7 45,1 10,2 10,2 10,2 27,8 18,5 34,9 4,0 7,6

Fev 38,1 28,6 45,4 9,7 9,8 9,6 28,4 18,8 35,8 4,1 7,6

Mar* 37,3 27,7 44,4 9,3 9,3 9,3 28,0 18,4 35,1 4,1 7,4

Abr* 35,1 26,3 41,8 8,8 8,8 8,9 26,3 17,5 32,9 4,1 7,8

Mai* 32,9 25,0 38,8 8,2 8,2 8,3 24,7 16,8 30,5 4,1 8,0

Variação p.p

No mês -2,2 -1,3 -3,0 -0,6 -0,6 -0,6 -1,6 -0,7 -2,4 0,0 0,2

No trimestre -5,2 -3,6 -6,6 -1,5 -1,6 -1,3 -3,7 -2,0 -5,3 0,0 0,4

No ano -4,2 -3,2 -5,0 -2,0 -2,1 -1,8 -2,2 -1,1 -3,2 0,2 0,6

Em 12 meses -7,1 -6,1 -8,0 -3,9 -3,5 -4,2 -3,2 -2,6 -3,8 0,3 1,6

Tabela 5Taxa de juros e spread bancários¹ (em %) para pessoa física e jurídica no Brasil

Fonte: Banco Central. (1) Inclui as operações pactuadas a juros prefixados, pós-fixados e flutuantes, realizadas com pessoas jurídicas e

físicas. 2) Spread obtido pela diferença entre as taxas de aplicação e de captação. * Dados preliminares.

Conclusão

A economia brasileira está estagnada há três

trimestres e vem reagindo lentamente às medidas de

incentivo do governo. Apesar dos bons fundamentos

macroeconômicos, a economia terá um baixo

crescimento no ano e o setor produtivo ainda não

reverteu o quadro de pessimismo. A evolução de

alguns indicadores importantes da economia no

final do segundo trimestre sinaliza uma tendência

mais favorável no segundo semestre, diante do

comportamento absolutamente decepcionante do

primeiro.

O cenário desejável é que a economia volte a

acelerar e retome o crescimento no segundo semestre,

influenciada pelas medidas de incentivo à ampliação

dos investimentos, de flexibilização da política

monetária e de medidas de estímulo à atividade

industrial e ao consumo, adotadas pelo governo.

As preocupações que persistem são com o

crescimento acelerado do endividamento das famílias

e empresas, com a resistência a queda dos juros ao

tomador final e com o aumento da inadimplência.

Preocupam, ainda, os riscos vindos do ambiente

econômico externo, onde prevalece um nível de

incerteza muito acima do usual. O setor exportador,

apesar da mudança cambial benigna, não tem

encontrado um mercado receptivo para os produtos

manufaturados e semimanufaturados e agora amarga

a redução de preços de algumas commodities.

A conclusão foi que as ações do governo são

adequadas e necessárias, tanto o estímulo à economia,

36

Page 39: Revista de Conjutura n. 48

37

abril / junho de 2012

José Fernando Cosentino [email protected]

Economista e consultor de orçamento da Câmara dos Deputados

José Luiz [email protected]

Mestre em economia pela Universidade de Brasília. Economista do

Conselho Regional de Economia do DF. Professor da Enap – Escola

Nacional de Administração Pública e da UDF – Centro Universitário

do Distrito Federal. Ex-presidente do Corecon-DF (1990, 1994 e

2009/10), do Cofecon 1996) e da ANGE (1999/2001).

César Augusto Moreira Bergo [email protected]

Economista e sociólogo. Mestre em mercado financeiro e especialis-

ta em governança corporativa e administração estratégica. Foi pre-

sidente e diretor de instituição financeira e ocupou diversos cargos

executivos em banco federal. Conselheiro do Corecon-DF.

Carlos Eduardo de [email protected]

Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

(1966) com mestrado em Economia pela EPGE/FGV (1970). Foi

Diretor do Banco Central (Área Externa - 1985 a 1988 / Área de

Liquidações e Desestatização - 1999 a 2003) e

Secretário de Política Econômica (1993).

Conselheiro do Corecon-DF

como a decisão de baixar os juros dos bancos públicos

como instrumento de indução à queda dos juros na

economia. A avaliação crítica se refere à pulverização

das medidas e a sua adoção em sucessivos pacotes,

dessa forma cultivando-se a crise e sinalizando para o

mercado que o governo não tem uma avaliação precisa

da natureza das dificuldades que enfrenta. Pode ser

que o governo esteja propagando pessimismo nos

setores produtivos. Os gestores da política econômica

devem, ao contrário, difundir confiança nos rumos da

economia e acentuar, também, os pontos fortes das

medidas adotadas.

Nada obstante a qualidade técnica de muitas

medidas adotadas pelo governo se analisadas

separadamente, não se pode esquecer que a discussão

estratégica deve preceder a discussão técnica, e

isto parece não estar acontecendo. Tal circunstância

tem gerado impactos nocivos nas expectativas dos

agentes econômicos, pois agrava a percepção de

risco e contribui para o adiamento dos investimentos

necessários à estabilidade e crescimento econômicos.

As sucessivas alterações nas regras de mercado, como

no caso de cobrança de IOF, implicam custos diretos e

indiretos, seja pelas constantes alterações ensejadas nos

sistemas informatizados das instituições financeiras,

seja pelo encarecimento do custo dos empréstimos.

Isso gera incertezas para o setor produtivo e para os

investidores estrangeiros.

Page 40: Revista de Conjutura n. 48

Revi

sta d

e Con

junt

ura

Revi

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eCon

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ura

Análise comparativa das discrepâncias entre os rendimentos dos assalariados

do setor público e do setor privado na região metropolitana de São Paulo e

no Distrito Federal: 1992 a 2011Júlio Miragaya

Os assalariados do setor público no Distrito Federal,

cujo rendimento médio em 2011 foi de R$ 5.008,00,

apresentavam remuneração 112,7% superior aos

de seus pares na região metropolitana de São Paulo

(R$ 2.355,00). Por sua vez, os assalariados do setor

privado nesta última possuíam rendimento médio no

mesmo ano (R$ 1.462,00) 21,7% superior aos de seus

pares na Capital da República (R$ 1.201,00).

Gráfi co 1: Rendimento médio dos trabalhadores em 2011 (por região e setor)

Se tais dados revelam a condição do Distrito Federal

de “meca” do serviço público no país, expõe também

a relativa fragilidade de seu setor privado, cujos

rendimentos são mais de quatro vezes menores que

no setor público e explicam o motivo da juventude

brasiliense aspirar tanto o ingresso no setor público.

1. A dimensão da discrepância

O mercado de trabalho no Brasil tem apresentado

uma expressiva recuperação nos últimos anos,

destacando-se a redução da taxa de desemprego,

com a ampliação do nível de ocupação acima do

crescimento da População Economicamente Ativa

(PEA) e o aumento do rendimento do pessoal ocupado.

38

Page 41: Revista de Conjutura n. 48

39

abril / junho de 2012

Ocorre que tanto a ocupação quanto o rendimento

não apresentam comportamento uniforme ao se

analisarem os dados por região e por setor de atividade

econômica.

Uma abordagem da evolução do mercado de

trabalho nos últimos 20 anos na região metropolitana

de São Paulo e no Distrito Federal revela que o

rendimento médio mensal do pessoal ocupado no

Distrito Federal em 2011 foi de R$ 2.093,00, superior

em 37,1% ao verificado na região metropolitana de São

Paulo (R$ 1.527,00), conforme revela o Quadro 1.

Essa diferença vem se acentuando nos últimos anos.

Em 1992, o rendimento dos ocupados no DF era 26,6%

superior ao verificado na região metropolitana de São

Paulo, mas a diferença chegou a cair para apenas 2,0%

em 1997 e desde então vem se acentuando.

Gráfico 2: Rendimento médio dos ocupados (1992-2011)

A explicação para tal comportamento vem da

evolução dos rendimentos dos assalariados no setor

público nas duas metrópoles. Em 1992, os rendimentos

dos assalariados do setor público na Capital da

República eram 63,8% superiores aos da Região

Metropolitana de São Paulo. Até 1998, essa diferença

caiu para 27,9%, devido a uma maior majoração dos

servidores em São Paulo (34,0%) que no DF (6,1%),

mas voltou a subir para 63,9% em 2003 devido à maior

contração dos rendimentos em São Paulo (- 27,1%) do

que no DF (- 8,0%).

Desde então, coincidindo com o início do governo

Lula, os rendimentos dos assalariados do setor público

vêm aumentando, mas muito mais fortemente no

Distrito Federal, com aumento real de 49,45%, do

que na Região Metropolitana de São Paulo (15,16%),

levando o rendimento médio na Capital Federal a

superar em 112,7% o verificado em São Paulo.

Gráfico 3: Rendimento médio dos assalariados do setor público (1992-2011)

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Revi

sta d

e Con

junt

ura

Entre os assalariados do setor privado, a relação é

inversa: os rendimentos na Região Metropolitana de

São Paulo são superiores aos verificados no Distrito

Federal. A diferença oscila entre o máximo de 47,1%

em 1998 e o mínimo de 16,6% em 2009, e é atualmente

21,7% maior.

Gráfico 4: Rendimento médio dos assalariados do setor privado (1992-2011)

Tais números revelam a enorme relevância do setor

público para a economia do Distrito Federal e de sua

pequena importância na Região Metropolitana de São

Paulo, visto que nesta o dinamismo é determinado pelo

setor privado, em particular o setor industrial, que paga

os maiores salários, e que tem reduzida expressão no

Distrito Federal.

Observa-se que a diferença entre os rendimentos

dos assalariados do setor público e do setor privado

tem se ampliado nos últimos anos, mas de forma

moderada na Região Metropolitana de São Paulo –

evoluiu de 32,1% em 1992 para 46,0% em 1998; 44,8%

em 2003 e 61,1% em 2011. No Distrito Federal, essa

evolução foi mais acentuada: de 170,0% em 1992 para

178,6% em 1998; 213,2% em 2003 e 317,0% em 2011,

ou seja, mais de quatro vezes superior.

Gráfico 5: Setores público e privado de São Paulo e Distrito Federal (1992-2011)

40

Page 43: Revista de Conjutura n. 48

41

abril / junho de 2012

2. Evolução da ocupação

Os níveis de ocupação no Distrito Federal e na

região metropolitana de São Paulo apresentaram dois

períodos com comportamentos distintos nos últimos

20 anos, com um modesto crescimento entre 1992 e

2003, o que resultou numa elevação do contingente

e da taxa de desemprego, e entre 2003 e 2011, com

o refluxo desta, em função de uma forte expansão do

emprego (Quadro 02).

No primeiro período, a ocupação cresceu 3,05% ao

ano no Distrito Federal enquanto a PEA cresceu ao ritmo

anual de 3,98%. Isso resultou num aumento de 127%

no contingente desempregado, de 113 mil para 257

mil. Na região metropolitana de São Paulo, enquanto

a PEA cresceu 2,19% ao ano, o contingente ocupado

aumentou 1,67%, aumento de 66,3% no número de

desempregados, de 1,168 milhão para 1,942 milhão.

No período entre 2003 e 2011, o quadro sofreu

profunda alteração, com a geração de novos postos

de trabalho acima do aumento da PEA. Dessa forma,

enquanto no DF a PEA desacelerou para crescimento

de 2,79% ao ano, o contingente ocupado cresceu em

4,43% ao ano, o que levou a uma queda de 32,3% no

contingente desempregado, para 174 mil. Já na região

metropolitana de São Paulo, o crescimento da PEA caiu

para 1,20% ao ano, ao passo que a ocupação aumentou

seu ritmo de crescimento para 2,61% anuais, fazendo

com que o número de desempregados refluísse em

42,0%, para 1.127 mil.

Deve-se ressaltar que a expansão do nível de

ocupação dos assalariados do setor público cresceu

em velocidade bem menor que entre os assalariados

do setor privado, tanto no Distrito Federal quanto na

Grande São Paulo. Na Capital, o aumento do emprego

no setor público entre 1992 e 2011 foi de 40,6%

enquanto no setor privado foi de 149,1%. Já em São

Paulo, a expansão da ocupação no setor público foi de

apenas 7,5% entre 1992 e 2011, frente aos 53,8% entre

os assalariados do setor privado.

Gráfico 6: Desemprego em São Paulo e Distrito Federal (1992-2011)

‘‘

‘‘

Tais números revelam a enorme relevância

do setor público para a economia

do Distrito Federal e de sua pequena

importância na Região Metropolitana de

São Paulo, visto que nesta o dinamismo é

determinado pelo setor privado, em particular o

setor industrial...

Page 44: Revista de Conjutura n. 48

Revi

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e Con

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ura

O comportamento variou entre os vários setores de

atividade econômica. Tanto no Distrito Federal quanto

na Grande São Paulo, a maior expansão ocorreu no

setor de serviços (186,7% no DF e 98,3% na Grande

SP), seguido pelo comércio e construção civil. No setor

industrial, o emprego ficou praticamente estável na

Grande São Paulo, setor que respondia por 26,4%

das ocupações em 1992 e que recuou para 18,0% em

2011. Já no DF, o emprego industrial tem participação

marginal, de 4,3% em 1992 e de 3,8% em 2011.

Crescimento moderado ocorreu também no emprego

doméstico.

Gráfico 7: Aumento da ocupação, por região e setor (1992-2011)

Júlio [email protected]

Economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e

Econômicas da Universidade Cândido Mendes no Rio de Janeiro.

Mestre em Gestão Territorial pelo Departamento de Geografia da

UnB. Doutorando em Desenvolvimento Sustentável no CDS/UnB.

Diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento

do Distrito Federal (Codeplan), presidente do Instituto Brasiliense

de Estudos de Economia Regional (Ibrase). Conselheiro do Conselho

Federal de Economia eleito para o triênio 2011/13 e coordenador da

Comissão de Política Econômica do Cofecon. 42

Page 45: Revista de Conjutura n. 48

43

abril / junho de 2012

43

abril / junho de 2012

Bolsa Família e seus impactos nas condições de vida da

população brasileira Paulo de Martino Jannuzzi

Os aportes crescentes de recursos públicos em

Políticas Sociais têm gerado impactos importantes nas

condições de vida da população brasileira nas últimas

duas décadas e, particularmente, nos últimos 10 anos.

De um patamar de gasto em políticas sociais de 13% do

Produto Interno Bruto (PIB) nos anos 1980, o país passou

a aportar mais recentemente, somados os recursos do

governo federal, dos estados e dos municípios, um

montante de quase 25% do PIB na área social, como

consequência da implementação das ações e direitos

sociais inscritos na Constituição de 1988 e a priorização

da agenda de combate à pobreza, à desigualdade

e às iniquidades históricas de diversos segmentos

populacionais. Entre 1995 e 2009, o gasto social per

capita teria duplicado, em valores reais, passado de

cerca de R$ 1.400,00 para R$ 2.800 por habitante. Nesse

período tem-se observado, particularmente na esfera

federal, mas com repercussão ou indução também

em estados e municípios, um movimento sistemático

de ampliação do escopo e da escala dos programas

e ações em Educação, Saúde, Trabalho, Habitação,

Previdência Social e Desenvolvimento Social1.

A contrapartida desse volume de recursos na

estruturação e fortalecimento de programas sociais

tem se revelado por diversas evidências do cotidiano,

pelo Censo Demográfi co 2010 e de outras pesquisas

como a forte queda da pobreza, da mortalidade infantil,

da desigualdade e pelo aumento da formalização do

emprego, da renda, do nível educacional e consumo

de alimentos e bens duráveis no país. Observadas em

todas as regiões e segmentos populacionais, essas

tendências têm sido particularmente intensas nas

áreas e estratos mais pobres. De fato, a comparação

de resultados dos Censos Demográfi cos 2000 e 2010

revela que a extrema pobreza caiu 40% na zona rural e

37% no Nordeste. A mortalidade infantil diminuiu mais

de 55% no Nordeste e 49% entre famílias em extrema

pobreza2.

Se é fato que a melhoria das condições de vida

nos últimos 10 anos se deve aos efeitos sinérgicos do

conjunto dessas políticas sociais, não há como negar

que a intensidade da queda da pobreza e os avanços

sociais nas áreas mais pobres se processou, em boa

medida, pela expansão e cobertura focalizada do

programa Bolsa Família. É o que se evidencia na seção

seguinte.

Bolsa Família: expansão e impactos

O Programa Bolsa Família foi instituído em 2003

com o propósito de integrar, em um único programa,

as ações de transferência de renda então existentes no

governo federal - Bolsa-Escola, Bolsa Alimentação e

Auxílio-Gás-, e, por meio de articulações institucionais,

aquelas em operação em estados e municípios. O

programa prevê a concessão de algumas modalidades

de benefícios monetários a famílias em situação de

pobreza, em função do nível de vulnerabilidade, do

número de crianças e adolescentes na família. A partir

1 Castro, J.A. (2011) Política social no Brasil: marco conceitual e análise da ampliação do escopo, escala e gasto público. Brasília, Revista Brasileira de Monitoramento e Avaliação, n,1, p.66-95, jan-jul 2011.2 Martignoni, E.M. Mortalidade infantil por regiões e faixas de renda domiciliar per capita nos Censos Demográfi cos 2000 e 2010. Estudo Técnico SAGI, Brasília, n.5, 2012.

Page 46: Revista de Conjutura n. 48

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ura

de julho deste ano, com os ajustes e inovações trazidos

no Plano Brasil Sem Miséria e Brasil Carinhoso, o valor

médio do benefício passou a ser de 134 reais.

É importante registrar que o programa prevê o

cumprimento de contrapartidas -condicionalidades-

das famílias, como a frequência escolar das crianças

e adolescentes e cuidados básicos de saúde da

criança e gestante. A cada dois anos os benefi ciários

precisam atualizar seus dados - inclusive de

rendimentos - no Cadastro Único de Programas

Sociais, quando a condição de benefi ciário é

reavaliada. Complementarmente, há ações específi cas

de acompanhamento socioassistencial de famílias

com crianças e adolescentes em situação de

descumprimento das condicionalidades e outras

questões específi cas, além de iniciativas de oferta

de cursos de qualifi cação profi ssional e inclusão

produtiva nos estados e municípios. Trata-se, pois, de

um programa com características mistas entre o PANES

uruguaio (desenhado especialmente como programa

de proteção social) e o Chile Solidário (com foco

nas atividades de qualifi cação e inclusão produtiva),

procurando garantir uma renda mínima que permita

às famílias viver com menos agrura e proporcionar

oportunidades para sua superação da condição de

pobreza3.

Da sua criação até 2010, o Programa Bolsa Família

expandiu-se de 3,6 milhões para 12,5 milhões de

famílias. Dados mais atualizados do programa revelam

que, em maio de 2012, o programa já atingia 13,4

famílias benefi ciárias, resultado do esforço de “busca

ativa” de segmentos populacionais vulneráveis

ainda não contemplados no Bolsa, ação prevista no

lançamento do Plano Brasil Sem Miséria em junho de

2011. Tal expansão, em curto espaço de tempo, não

teria sido possível sem o envolvimento das prefeituras

na gestão do programa, na contratação de pessoal para

cadastramento de potenciais benefi ciários, entrega de

cartões e acompanhamento das condicionalidades. De

fato, o Censo Anual do Sistema Único da Assistência

Social mostra que o número de técnicos municipais

envolvidos na operação do Bolsa Família e dos

Programas Socioassistênciais (Serviço de Proteção

Integral à Família, Atividades Socioeducativas etc) nos

equipamentos públicos básicos do sistema mais do

que dobrou entre 2007 e 2011, quando já atingia quase

60 mil trabalhadores4.

Ao longo desse período o programa vem

produzindo impactos signifi cativos nas condições

de vida de seus benefi ciários. O primeiro efeito mais

evidente do programa, conjugado com outros fatores

e políticas, tem sido sua contribuição na diminuição

da pobreza no país. Entre 2000 e 2010, o número de

pessoas com renda domiciliar per capita até 140 reais

passou de 48 milhões para 31 milhões. O contingente

de pessoas em extrema pobreza - com renda até 70

reais per capita - caiu de 25 milhões para 16,2 milhões,

com diminuição particularmente intensa do semiárido

nordestino. Não fosse o bom grau de focalização do

programa junto aos mais vulneráveis, certamente não

se obteriam tais resultados.

3 Soares, S.;Satyro,N. O Programa Bolsa Família: desenho institucional, impactos e possibilidades futuras. Texto para Discussão IPEA, Brasilia, n.1424, 2009.4 MDS. Censo SUAS 2011. Brasília, 2011 (prelo).

‘‘

‘‘

De fato, a compara-ção de resultados

dos Censos Demo-gráfi cos 2000 e 2010 revela que a extrema

pobreza caiu 40 % na zona rural e 37% no Nordeste. A mor-

talidade infantil dimi-nuiu mais de 55%

no Nordeste e 49% entre famílias em extrema pobreza2.

44

Page 47: Revista de Conjutura n. 48

45

abril / junho de 2012

Além da sua contribuição na redução dos níveis

de pobreza no país, o Bolsa Família tem produzido

efeitos específi cos - impactos - nas condições

educacionais e saúde de seus benefi ciários. É o que

revela estudo recentemente divulgado pelo Ministério

de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),

a Avaliação de Impacto do Bolsa Família - 2ª rodada

(AIBF II)5. Trata-se de uma pesquisa desenhada para

captar os impactos específi cos do programa em várias

dimensões socioecônomicas, isolando-os dos efeitos

dos demais programas sociais existentes. A amostra

da pesquisa abrangeu 269 municípios em todo o país,

coletando informações de mais de 11 mil famílias

inscritas ou não no Cadastro Único, benefi ciárias ou

não do Programa Bolsa Família, já entrevistadas na 1ª

rodada da pesquisa, realizada em 2005.

No que diz respeito à educação, a pesquisa revela

que crianças benefi ciárias do Bolsa apresentaram

progressão escolar da ordem de seis pontos percentuais

maior que crianças de mesmo perfi l socioeconômico

não benefi ciárias. No Nordeste, o programa teria

proporcionado um aumento signifi cativo na frequência

escolar das crianças benefi ciárias, o que pode também

ter contribuído para alguma redução do trabalho

infantil, impacto captado marginalmente na pesquisa.

A AIBF II também mostra que o programa gerou

impactos efetivos na melhoria das condições de saúde

de crianças benefi ciárias, reduzindo a desnutrição

aguda e garantindo cumprimento mais regular do

calendário de vacinas. Mulheres grávidas benefi ciárias

do programa também se mostraram mais presentes no

acompanhamento pré-natal.

Corroborando os resultados de vários outros

estudos compilados pelo IPEA6 sobre a relação entre

Bolsa Família e oferta de trabalho, a pesquisa demonstra

que o programa não provoca efeito desmobilizador de

benefi ciários no mercado laboral, seja em termos de

ocupação, procura de emprego ou jornada de trabalho.

Chefes de famílias benefi ciárias, de 30 a 55 anos

de idade, apresentam nível de atividade, ocupação

e jornada muito próximos aos de chefes de nível

socioeconômico equivalente. Estudo técnico realizado

no MDS com dados do Censo Demográfi co 2010 sobre

a participação masculina no mercado de trabalho, de

benefi ciários ou não do programa, apontam no mesmo

sentido7.

Com relação à participação feminina, a pesquisa

revela que as mulheres benefi ciárias apresentam

menor taxa de ocupação que as não benefi ciárias,

embora estejam sujeitas a risco maior de desemprego e

levem mais tempo para conseguir trabalho. A pesquisa

apontou evidências também de que, à época de sua

realização, no segundo semestre de 2009, mulheres

benefi ciárias tenderiam a ajustar sua carga semanal

de trabalho às custas da formalização do vínculo, por

opção de buscar trabalho com jornada menor ou

desconhecimento da compatibilidade entre ter carteira

assinada e ser benefi ciária do Bolsa Família. Como os

demais achados do estudo, essas evidências precisam

continuar a ser investigadas, sobretudo considerando

a continuidade do dinamismo do emprego e de

sua formalização em todo o país e segmentos

populacionais.

De qualquer forma, tais resultados refutam a

hipótese de que a falta de mão-de-obra no Nordeste ou

outras regiões do Brasil decorreria de um suposto efeito

“preguiça” do programa, que retiraria trabalhadores da

força de trabalho no país. Ao contrário, como mostraram

estudos de vários pesquisadores, o programa Bolsa

Família tem contribuído para manter o dinamismo

econômico no país, pelos seus efeitos multiplicadores

no consumo de alimentos e bens duráveis que as

transferências de renda têm criado junto a segmentos

antes excluídos do mercado consumidor nacional.

Para cada 1 real gasto do programa, o Produto Interno

Bruto aumentaria R$ 1,44, depois de percorrido todo

o circuito de consumo, distribuição e produção na

economia8. A suposta falta de mão de obra decorreria,

5 SAGI. Avaliação de Impacto do Bolsa Família – 2ª. Rodada. Brasília, MDS, 2012. 6 Batista,L.F.; Soares,S. O Que se Sabe Sobre os Efeitos das Transferências de Renda Sobre a Oferta de Trabalho. Texto para Discussão IPEA, Brasilia, n.1738, 2012.7 Sousa, M.F. Diferenciais de inserção no mercado de trabalho entre benefi ciários e não benefi ciários do Programa Bolsa Família no Censo Demográfi co 2010. Estudo Técnico SAGI, Brasília, n.4, 2012. 8 Castro, J.A; Mostafa,J. Herculano,P. Gastos com Políticas Social: alavanca para o crescimento com distribuição de renda. Comunicados IPEA. Brasília, nº 75, 2011

Page 48: Revista de Conjutura n. 48

Revi

sta d

e Con

junt

ura

pois, do contexto de quase pleno emprego em que se

encontra a economia brasileira, movida pelo volume de

investimentos públicos e privados e pela sustentação

do consumo - de benefi ciários e não benefi ciários - nos

últimos anos.

A pesquisa também revela que as mulheres

benefi ciárias - que em sua larga maioria são as titulares

do cartão do Bolsa - vêm adquirindo maior autonomia

e poder nas decisões familiares e na compra de bens

duráveis, remédios e vestuário, comparativamente a

mulheres não benefi ciárias. Mulheres benefi ciárias

também têm ampliado sua autonomia na decisão

de participar do mercado de trabalho e sobre uso de

métodos contraceptivos, tendências que certamente

contribuíram para a expressiva diminuição da

fecundidade no país entre 2000 e 2010, inclusive entre

mulheres de baixa renda. De fato, entre aquelas com

renda domiciliar per capita até 70 reais, a fecundidade

caiu de 5,1 fi lhos para 3,6 no período9.

A maior autonomia no uso de contraceptivos

e a queda tão expressiva da fecundidade entre

mulheres de baixa renda mostram que o programa

não tem efeito pró-natalista, assim como não o

tiveram iniciativas progressistas da envergadura da

ampliação da licença maternidade nos anos 200010.

Se nem mesmo países europeus com políticas

deliberadamente pró-natalistas, com estímulos

econômicos e fi scais bem mais signifi cativos para as

famílias, conseguiram reverter a tendência de declínio

da fecundidade, não é factível esperar efeito diferente

das mudanças introduzidas nos últimos meses, como

a extensão do benefício variável do Bolsa Família de

três para cinco fi lhos e a complementação de renda

do Brasil Carinhoso, voltado às famílias com crianças

de 0 a 6 anos. Na realidade, a expansão da oferta de

creches públicas e conveniadas previstas na ação pode

potencializar a queda da fecundidade entre mulheres

benefi ciárias, por viabilizar a retomada de projetos de

volta à escola e reingresso antecipado ao mercado de

trabalho, aspirações manifestadas pelas mulheres em

outra pesquisa em execução pelo Ministério.

Esses resultados contribuem, certamente, para

trazer novas evidências para o debate acalorado e

muitas vezes, pouco informado, sobre méritos, vieses,

efeitos positivos e externalidade do Programa Bolsa

Família, nos meios de comunicação e academia11.

O fato é que o programa tem produzido impactos

signifi cativos no bem estar de seus benefi ciários e,

por extensão, pelo seu tamanho e características,

sobre a população brasileira em geral. Como todo

programa público operado a seis mãos - união, estados

e municípios - há certamente aprimoramentos a fazer,

inovações a testar e implementar. É por isso que é

importante continuar investigando sua operação, seus

efeitos e suas difi culdades, como o MDS faz com o Bolsa

Família e seus outros programas e ações, por meio da

Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI).

9 Patrício, L.O. Fecundidade por regiões e faixas de renda domiciliar per capita nos Censos Demográfi cos 2000 e 2010. Estudo Técnico SAGI, Brasília, n.6, 2012. 10 Patrício, L.O. Considerações sobre a ação Brasil Carinhoso sobre a fecundidade. Estudo Técnico SAGI, Brasília, n.7, 2012.11 Bichir, R. O Bolsa Família na berlinda? Os desafi os atuais dos programas de transferência de renda. Novos Estudos Cebrap. São Paulo, v.87, p.114-129,2010.

‘‘

‘‘

... a pesquisa revela que as mulheres

benefi ciárias apresen-tam menor taxa de

ocupação que as não benefi ciárias, embora

estejam sujeitas a risco maior de desem-

prego e levem mais tempo para con-

seguir trabalho.

46

Page 49: Revista de Conjutura n. 48

47

abril / junho de 2012

Conclusão: a prática de realização e publicização de pesquisas de avaliação

A pesquisa AIBF, realizada em 2005, replicada em

2009 e prevista em 2013, constitui-se em uma das mais

de 130 pesquisas de avaliação e estudos avaliativos que

a SAGI tem realizado desde 2004. Estas pesquisas têm

a finalidade de subsidiar o Ministério e suas Secretarias

Nacionais na elaboração de diagnósticos para desenho

de programas, análise da implementação de ações e

serviços e à mensuração de resultados e impactos das

políticas de desenvolvimento social e combate à fome

junto à população brasileira.

Estes estudos e pesquisas de avaliação são

realizados, em alguns casos, pela equipe técnica da

própria SAGI, porém, em sua maioria, por meio de

contratações de instituições de pesquisas externas e

independentes, selecionadas por processos licitatórios,

por editais junto ao CNPq e por julgamento de

mérito técnico junto a organismos internacionais.

Os resultados dessas pesquisas têm sido divulgados

na forma de artigos e fichas técnicas encartadas na

publicação Cadernos de Estudos (nº5 e nº13, em

particular), em livros e, progressivamente, em estudos

técnicos e sumários executivos, todos disponíveis há

mais de oito anos na Internet (www.mds.gov.br/sagi).

Além de publicações em papel, a larga maioria desses

materiais está em suporte digital, disponível no Acervo

Virtual de Políticas e Programas de Desenvolvimento

Social da SAGI no mesmo site. Adicionalmente, o

MDS oferece ainda as bases de dados de pesquisas

quantitativas, para que pesquisadores possam realizar

estudos complementares e produzir conhecimento

adicional para aprimoramento das ações do Ministério.

O Brasil vem mudando para melhor pela escolha

da sociedade brasileira e pela determinação política

do governo de priorizar investimentos em programas

sociais. No conjunto das políticas sociais estruturadas

na última década, o Bolsa Família tem apresentado

impactos positivos na redução da pobreza e

desigualdade e na melhoria das condições educacionais

e de saúde dos filhos das famílias beneficiárias. Mas

certamente há aprimoramentos a fazer no programa e

em outras ações do Plano Brasil Sem Miséria. É por essa

razão que o MDS continua investindo na realização

de pesquisas de avaliação e tornando-as públicas. E é

por isso que o Bolsa Família seguirá ocupando lugar

de destaque no Sistema de Proteção Social que o

Brasil está finalmente logrando construir, em busca de

padrões de bem-estar compatíveis com a sua posição

de sexta maior economia mundial, em busca, enfim, do

país que queremos. Um país rico, um país sem pobreza.

Mapas e Gráficos ilustrativos da melhoria das condições de vida no Brasil

Page 50: Revista de Conjutura n. 48

Revi

sta d

e Con

junt

ura Paulo de Martino Jannuzzi

[email protected]ário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério de

Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). É graduado

em Matemática, mestre em Administração Pública e doutor em

Demografia. É Professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e também da

Escola Nacional de Administração Pública (ENAP).

48

Page 51: Revista de Conjutura n. 48

49

abril / junho de 2012

49

abril / junho de 2012

O Programa de Educação Tutorial (PET) é voltado

para os alunos de graduação com o objetivo de esti-

mular atividades ligadas a pesquisa, ensino e extensão.

O grupo PET Economia da UnB é o mais antigo do Bra-

sil – foi criado em 1979. Atualmente conta com a par-

ticipação de 14 alunos de diferentes semestres (entre

bolsistas e voluntários) que participam – na presença

de um professor tutor – de diversas reuniões de caráter

coletivo. A ideia é que os alunos troquem experiências

e conhecimentos, aprendam além do visto em sala de

aula, contribuam para o aperfeiçoamento constante do

curso de economia, tenham contato com revistas aca-

dêmicas de diferentes linhas de pensamento e que dis-

cutam artigos de temas diversifi cados, para assim ter

acesso a informações relevantes ao entendimento do

sistema econômico como um todo.

Uma das atividades mais importantes do programa

é o trabalho de monografi a que cada aluno realiza ao

longo do ano com a orientação de um professor do de-

partamento. Esse trabalho pode ser feito em qualquer

temática dentro da área econômica que seja de inte-

resse do estudante. E em 2011 o grupo PET Economia

lançou a primeira edição do livro anual com todas as

monografi as desenvolvidas pelos alunos que fi zeram

parte do programa no ano de 2010. A segunda edição

foi lançada em abril de 2012, Junto com a publicação do

livro é realizado também um “Congresso PET Economia

UnB” para apresentação oral e debate dos trabalhos,

com ampla participação dos alunos de graduação do

departamento e de alunos de outros departamentos.

Os trabalhos publicados neste livro foram fruto de

grande dedicação por parte dos petianos, que mostra-

ram um amadurecimento acadêmico e pessoal inten-

so durante sua realização. As monografi as abordaram

temas bastante interessantes, com uma qualidade ele-

vada, e o mérito é ainda maior se levarmos em conta

que os pesquisadores ainda são alunos de graduação

com pouca experiência em pesquisa. Além disso, é im-

portante lembrar e agradecer a participação de todos

os professores do departamento de economia da UnB

que estiveram presentes diretamente na orientação

desses trabalhos e também em diversos seminários

promovidos pelo PET.

Você pode conhecer um pouco mais do trabalho

do grupo PET Economia UnB, os alunos que fazem

parte do programa e também as duas edições do livro

de monografi as no site: http://petecounb.wordpress.

com/. Fique à vontade para entrar em contato conosco!

Geovana Lorena BertussiProfessora Adjunta do Departamento de Economia da

UnB, Coordenadora do PET- Economia/ UnB). O Programa de Educação

Tutorial (PET) faz parte da Política Nacional de Iniciação Científi ca e é mantido

pela SESu/MEC.

Livro de Monografi as – PET Economia UnB

Desde a edição 47, a Revista de Conjuntura abrirá este espaço para que os coordenadores, professores e alunos dos cursos de economia do Distrito Federal possam divulgar informações dos cursos sobre assuntos pertinentes aos de interesse dos economistas. As notas e informes, com a identifi cação dos autores, devem ser encaminhadas para o e-mail: [email protected].

INFORMES DOS CURSOS DE ECONOMIA DO DF

Page 52: Revista de Conjutura n. 48

Revi

sta d

e Con

junt

ura

50

Page 53: Revista de Conjutura n. 48

Acesse o site do Corecon-DF

www.corecondf.org.br

Conheça e fi que por dentro

das ações do Conselho. Consulte as

vantagens oferecidas através dos

convênios do Corecon-DF

com várias empresas.

No espaço “Leia e Opine”,

o economista poderá enviar

pequena nota expondo sua opinião

sobre algum fato marcante do

dia ou da semana,

que considere importante.

Page 54: Revista de Conjutura n. 48
Page 55: Revista de Conjutura n. 48

COMECE A FAZER PARTE DESDE JÁ DA SUA COMUNIDADE PROFISSIONAL!

Compareça ao Conselho Regional de Economia do Distrito Federal e obtenha sua Carteira de Estudante de Ciências Econômicas.

O estudante credenciado terá os mesmos benefícios oferecidos aos economistas registrados, em igualdade de condições, exceto aqueles diretamente relacionados ao exercício profissional que sejam privativos dos profissionais registrados por determinação da lei.

Ao apresentar a credencial em qualquer Conselho Regional de Economia, o portador poderá consultar a legislação regulamentadora da profissão do economista, extrair cópias de artigos sobre temas de economia e ter acesso às publicações do Sistema COFECON/CORECONs, videotecas e bibliotecas, além de conseguir descontos nos eventos do Sistema COFECON/CORECONs.

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS:

Faculdade, mencionando data prevista de conclusão do curso (original e cópia);

www.corecondf.org.br

Aluno e aluna de

de qualquer período ou sérieCiências Econômicas

Page 56: Revista de Conjutura n. 48

Conselho Regional de Economia da 11ª Região-DFSCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202

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