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Revista de Conjuntura do CoreconDF
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ISSN
1677
-066
8
ANO XII Nº 48 abril / junho de 2012
Revista de
Publicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal
ARTIGOS
Controles de capitais, sobrevalori-zação cambial e termos
de troca: uma análisedo caso brasileiro recente
José Luis Oreiro
O Brasil está preparado para enfrentar as turbulências
decorrentes do agravamento da crise mundial?José Matias Pereira
A crise fi nanceira mundial de 2007-2008 e a Grande
Depressão: algumas liçõesFernando Ferrari Filho e
Gustavo Teixeira Ferreira da Silva
Fundo Social do Petróleo: concepção e implicações
macrofi nanceirasEduardo Toledo Neto
O baixo crescimento do PIB e as medidas do Governo
Carlos Eduardo de Freitas, César Augusto Moreira Bergo,
José Fernando Cosentino Tavares e José Luiz Pagnussat
Análise comparativa das discre-pâncias entre os rendimentos dosassalariados do setor público e do setor privado na região metropo-
litana de São Paulo e no Distrito Federal: 1992 a 2011
Júlio Miragaya
Bolsa Família e seus impactos nas condições de vida da
população brasileiraPaulo de Martino Jannuzzi
O baixo crescimento do PIB brasileiro preocupa economistas. Apesar das
ações adequadas do governo, o quadro de pessimismo no setor produtivo
ainda não se reverteu
A assinatura da Revista de Conjuntura pode ser efetuada contatando o Corecon-DF. O valor da assinatura é de
R$ 40,00 anuais, o que equivale a quatro edições da revista.
03 Controles de capitais, sobrevalorização cambial e termos de troca: uma análise
do caso brasileiro recente José Luis Oreiro
08O Brasil está preparado para enfrentar as
turbulências decorrentes do agravamento da crise mundial?
José Matias Pereira
12A crise fi nanceira mundial de 2007-2008
e a Grande Depressão: algumas liçõesFernando Ferrari Filho e
Gustavo Teixeira Ferreira da Silva
16Fundo Social do Petróleo: concepção e
implicações macrofi nanceirasEduardo Toledo Neto
25O baixo crescimento do PIB e
as medidas do GovernoCarlos Eduardo de Freitas, César Augusto
Moreira Bergo, José Fernando Cosentino Tavares e José Luiz Pagnussat
38Análise comparativa das discrepâncias
entre os rendimentos dos assalariados do setor público e do setor privado na região
metropolitana de São Paulo e no Distrito Federal: 1992 a 2011
Júlio Miragaya
43Bolsa Família e seus impactos
nas condições de vida da população brasileira
Paulo de Martino Jannuzzi
2 Editorial
ÍndicePublicação do Conselho Regional de
Economia do Distrito Federal
ANO XII Nº 48 abril / junho de 2012
ConjunturaRevista de
Nesta edição
Editor responsávelJosé Luiz Pagnussat
Conselho editorialCarlos Eduardo de FreitasElder Linton Alves de AtaújoJosé Fernando Cosentino TavaresJosé Roberto Novaes de AlmeidaHumberto Vendelino RichterMaurício Barata de Paula PintoNewton Ferreira da Silva MarquesTito Belchior Silva MoreiraJúlio Miragaya
Jornalista responsávelCamila Fiorese (Reg. DRT/DF: 7851)
Redação e editoração eletrônicaCamila Fiorese
Revisão Letícia Sallorenzo
Tiragem: 4.000Periodicidade: trimestral
As matérias assinadas por colaboradores não refl etem, necessariamente, a posição da entidade. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte.
CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA DA 11ª REGIÃO - DF
PresidenteJusçanio Umbelino de Souza
Vice-presidenteMaria Cristina de Araújo
Conselheiros efetivosCarlos Eduardo de FreitasOscar Henrique Belo Santos Tito Belchior Silva Moreira Gilson Duarte Ferreira dos SantosCarlito Roberto ZanettiPaulo Roberto Amorim LoureriroJusçanio Umbelino de SouzaMaria Cristina de Araújo Evilasio da Silva Salvador
Conselheiros suplentesPaulo Luiz Figueiredo de OliveiraMiguel RendyElder Linton Alves de Araujo Bento de Matos FélixJucemar José ImperatoriCésar Augusto Moreira BergoRoberto Bocaccio Piscitelli Mônica Beraldo Fabrício da Silva Humberto Vendelino Richter
Delegado eleitor efetivoMario Sergio Fernandez Sallorenzo
Delegado eleitor suplenteJusçanio Umbelino de Souza
Conselheiro federal efetivo pelo DFRoberto Bocaccio Piscitelli
Conselheiros federais suplentes pelo DFJúlio Miragaya Max Leno de Almeida
Equipe do Corecon-DF
Gerente executivoRonaldo Galloti Schroeder
Angeilton Francisco Lima Faleiro Camila FioreseHélio Matheus Silva de OliveiraIraci da Costa Lopes Jamildo Cezário Gomes Michele Cantuária Soares
EstagiáriasLayane Martins Rocha – JornalismoVanessa Navarros Guerra da Silva – DireitoAmanda Stefany Souza Bernardo – Ensino médio
End.: SCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202CEP 70300-907 – Brasília/DFTel: (61) 3225-9242 / 3223-14293964-8366 / 3964-8368Fax: (61) 3964-8364E-mail: [email protected]: www.corecondf.org.brHorário de funcionamento:das 8h às 18h (sem intervalo)
O baixo crescimento da economia brasileira no primeiro semestre de 2012, após estagnação
no segundo semestre de 2011, é refl exo, em parte, do desaquecimento da economia global. Mas
também resulta das políticas econômicas restritivas adotadas pelo governo para trazer a infl ação
para dentro da meta no ano de 2011 – além da timidez do governo em estimular a economia no
primeiro semestre deste ano, atemorizado ainda pelo fantasma da infl ação.
O crescimento do PIB em 2012 já está fortemente comprometido e os riscos agora são o fe-
chamento de unidades produtivas de setores importantes da economia e o desemprego. Não há
alternativas para o governo, a não ser adotar medidas mais consistentes com as dimensões da cri-
se econômica conjuntural, em articulação com os setores produtivos. Nesse sentido, os Conselhos
Setoriais (Conselhos de Competitividade), com a participação de empresários e trabalhadores, são
uma boa iniciativa – mas não sufi ciente para ouvir todos os segmentos da economia e regiões do
Brasil.
Os bons fundamentos macroeconômicos brasileiros permitem maior ousadia dos gestores das
políticas econômicas. A infl ação está em queda; a dívida líquida do setor público caiu quase 50%
desde 2002 e o saldo primário é positivo; o país tem reservas internacionais que superam 370 bi-
lhões de dólares e continua sendo uma das melhores opções de investimentos para o resto do
mundo.
O desaquecimento atual da economia é a oportunidade para realizar os ajustes tão demanda-
dos pelo setor produtivo e pela sociedade brasileira. Sem infl ação, o governo pode trazer a taxa de
juros básica da economia para um patamar comparável ao das demais economias de mercado; re-
duzir o custo da divida pública, pela qual ainda se pagam juros elevados; promover ajustes nas des-
pesas públicas; e romper com a cultura do desperdício, que abrange a maioria dos órgãos públicos
e infl uencia a conduta de seus dirigentes. O baixo nível de poupança pública e, consequentemente,
de investimento em infraestrutura, é um dos principais fatores restritivos ao crescimento no Brasil.
É necessário ampliar os investimentos públicos e o fi nanciamento de longo prazo destinado ao
setor produtivo para reativar o crescimento da economia de forma sustentável.
As vantagens econômicas brasileiras, considerando os recursos naturais do país, os bons funda-
mentos macroeconômicos e a efi ciência do setor produtivo, quando comparadas com as dos países
vizinhos, que apresentam melhor desempenho, mostram que não é plausível o baixo crescimento
brasileiro.
A queda conjuntural na competitividade de alguns setores da economia nacional é refl exo da
política econômica adotada (câmbio e juros), das sobretaxas que pesam sobre eles e dos “subsídios
indiretos” praticados por um grande número de países. O Brasil tem a tecnologia, a matéria-prima e
os recursos naturais mais adequados para a produção de bioenergia e, no entanto, está importando
álcool de milho dos EUA. O Brasil tem uma indústria de frango e de porcos dentre as mais efi cientes
e modernas do mundo, mas enfrenta difi culdades no mercado internacional, em parte causadas
pela própria política econômica brasileira. O Brasil tem a maior reserva de terras agricultáveis dis-
poníveis no mundo e, ainda assim, teve um crescimento relativamente pequeno nas últimas duas
décadas na produção de grãos, quando comparado com países vizinhos. O Brasil tem o pré-sal e, no
entanto, a Petrobras está revendo os seus investimentos.
Enfi m, precisamos de planejamento e de mais ousadia dos gestores públicos e privados. A eco-
nomia brasileira nas últimas três décadas apresentou desempenho pífi o, nos anos 1980, em razão
da crise da dívida externa e da hiperinfl ação e nos anos 1990, em razão das políticas neoliberais ado-
tadas, em parte impostas pela “banca internacional”, mas também pelo alinhamento dos dirigen-
tes políticos brasileiros e da maioria dos países latino-americanos com essas políticasà época. Na
década de 2000 a economia brasileira também teve um desempenho aquém do desejado, apesar
das melhores taxas de crescimento, em parte proporcionadas pela ampliação das políticas sociais.
Nesta década, o Brasil foi um dos países latinoamericanos de menor crescimento, quando compa-
rado com os principais vizinhos da região. O baixo crescimento econômico economia brasileira em
2011 e 2012 é o sinal de alerta. Não podemos ter mais uma década de baixo crescimento, enquanto
China, Índia e os demais países em desenvolvimento se mantêm com alto desempenho.
EditorialEditorialPublicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal
ConjunturaRevista de
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José Luis Oreiro
Um dos argumentos da sabedoria convencional
contra a imposição de controles de capitais na economia
brasileira – que tem sido feita de forma bastante tímida
por parte do governo brasileiro nos anos recentes – é
que eles tornariam mais difícil a captação de recursos no
exterior, ou seja, a captação de poupança externa. Dada
a notória escassez de poupança doméstica no Brasil,
a poupança externa seria então condição necessária
para o fi nanciamento do investimento produtivo da
economia brasileira, atualmente em torno de 20% do
PIB. Além disso, continua a sabedoria convencional: para
que o governo possa aumentar a taxa de crescimento
do PIB que é compatível com a estabilidade da taxa de
infl ação para um patamar de 5% a.a., é necessário um
aumento signifi cativo da taxa de investimento (para
algo próximo a 24% do PIB), o que reforça ainda mais
a dependência da economia brasileira com respeito
à poupança externa. Dessa forma, a política mais
inteligente a ser adotada pelo governo seria remover
todos os obstáculos para a captação de recursos no
exterior por parte de residentes no Brasil. Sendo assim,
os controles de capitais ainda existentes na economia
brasileira deveriam ser plenamente abolidos com a
implantação da plena conversibilidade do Real. Nessas
condições, argumentam os fi lósofos da sabedoria
convencional, a economia brasileira poderia captar
com facilidade uma poupança externa entre 4 e 5% do
PIB, sem maiores riscos para o equilíbrio intertemporal
do balanço de pagamentos.
Esse raciocínio da sabedoria convencional se apoia
em duas hipóteses fundamentais. A primeira é que as
poupanças externa e doméstica são complementares,
ao invés de substitutas. A segunda hipótese é que
os controles de capitais não são capazes de afetar
a trajetória da taxa real de câmbio e, dessa forma,
o montante de fi nanciamento externo requerido
pela economia brasileira – posto que a taxa real de
câmbio de equilíbrio depende da relação entre a taxa
de investimento e a taxa de poupança doméstica
numa pequena economia aberta. Sendo assim, uma
desvalorização permanente da taxa real de câmbio
só seria possível por intermédio de um aumento
permanente da poupança doméstica. Dessa forma,
variações da taxa real de câmbio seriam, em geral,
precedidas por variações na poupança doméstica.
A sabedoria convencional acredita que a poupança
é logica e temporalmente anterior ao investimento, de
tal forma que um aumento deste requer um aumento
prévio da taxa de poupança da economia. Nesse
contexto, para que ocorra um aumento do investimento
é necessário que ocorra um aumento da poupança
doméstica (privada + pública) e/ou um aumento da
poupança externa. Se o setor privado doméstico ou o
setor público não estiverem dispostos a aumentar a
sua taxa de poupança, então o investimento só poderá
aumentar em função de um aumento da poupança
externa, ou seja, do défi cit em conta corrente.
A introdução de controles de capitais difi cultaria
esse processo ao tornar menos atrativa a compra de
ativos domésticos por residentes no exterior. Dessa
forma, o défi cit em conta corrente requerido para o
aumento do investimento produtivo não poderia ser
fi nanciado pela entrada de capitais, ou seja, o superávit
da conta de capitais do balanço de pagamentos seria
insufi ciente para o fi nanciamento integral do défi cit
em conta corrente. Nesse caso, haveria um défi cit
Controles de capitais, sobrevalorização
cambial e termos de troca: uma análise
do caso brasileiro recente
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O efeito fi nal da introdução dos
controles de capitais seria, portanto, uma
forte recessão produzida pelo ajustamento da taxa de juros
resultante da aceleração infl acionária induzida pelo desequilíbrio do
balanço de pagamentos.
no balanço de pagamentos, que resultaria ou numa
redução das reservas internacionais (caso o Banco
Central decida garantir a estabilidade da taxa real de
câmbio), ou numa forte desvalorização da taxa real de
câmbio (caso a autoridade monetária não intervenha
no mercado cambial). Neste segundo cenário, a
desvalorização súbita da taxa de câmbio produziria
uma forte elevação da taxa de infl ação, o que obrigaria
o Banco Central a fazer uma grande elevação da
taxa de juros, de forma a manter a infl ação dentro da
meta defi nida pelo Conselho Monetário Nacional. O
efeito fi nal da introdução dos controles de capitais
seria, portanto, uma forte recessão produzida pelo
ajustamento da taxa de juros resultante da aceleração
infl acionária induzida pelo desequilíbrio do balanço de
pagamentos.
Esse raciocínio da sabedoria convencional é
falacioso. Em primeiro lugar, como já foi demonstrado
por Keynes (1936) e Kaldor (1956), o investimento
precede logica e temporalmente a poupança tanto
no curto como no longo prazo1. Dessa forma, o
investimento, sempre e em todo lugar, determina
um volume equivalente de poupança agregada. A
repartição do volume de poupança entre poupança
doméstica e poupança externa depende criticamente
da taxa real de câmbio. Quanto mais apreciada for a
taxa real de câmbio, maior será o salário real e, portanto,
a participação dos trabalhadores na renda nacional.
Como a propensão a poupar a partir dos lucros é maior
do que a propensão a poupar a partir dos salários, a
apreciação da taxa real de câmbio reduz a poupança
agregada do setor privado. Supondo a validade da
condição de Marshall-Lerner, a apreciação da taxa real
de câmbio irá resultar numa redução das exportações
líquidas a médio e longo prazo, de forma a produzir
um aumento do défi cit em conta corrente, ou seja, um
aumento da poupança externa. Isto posto, a apreciação
da taxa real de câmbio resulta numa substituição de
poupança doméstica por poupança externa (Bresser-
Pereira, 2009), dando origem à necessidade de atração
de capitais externos (ou seja, superávit na conta capital)
para o equilíbrio do balanço de pagamentos, que exige
o relaxamento dos controles de capitais. Em outras
palavras, a poupança externa e a captação de recursos
no exterior só são necessárias para o equilíbrio da
balança de pagamentos se a taxa real de câmbio estiver
sobrevalorizada.
No que se refere à segunda hipótese do modelo
da sabedoria convencional, deve-se ressaltar que
ela se apoia na inelasticidade do produto potencial
com respeito à demanda agregada. Nesse contexto,
um aumento da absorção doméstica – por exemplo,
devido a um aumento dos gastos do governo – não
pode ser atendido por um aumento do produto real
no longo prazo, uma vez que ele seria igual ao produto
potencial, determinado pela tecnologia e pela dotação
de fatores da economia em consideração. Com isso, o
equilíbrio no mercado de bens exige uma redução da
demanda externa pela produção doméstica, o que só
pode ser viabilizado por intermédio de uma apreciação
da taxa real de câmbio. Mutatis mutandis, uma redução
da absorção doméstica – devido, por exemplo, a uma
redução do consumo privado ou dos gastos públicos
– irá induzir uma depreciação da taxa real de câmbio
para o reequilíbrio no mercado de bens.
1 No curto prazo a poupança agregada total se ajusta ao investimento por intermédio de variações do nível de emprego e do grau de utilização da capacidade produtiva. No longo prazo, o ajuste se dá por variações da participação dos lucros na renda nacional.
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No que se refere à hipótese de inelasticidade do
produto potencial com respeito à demanda agregada,
a boa teoria econômica e a evidência empírica (Oreiro
et al, 2010; Libanio 2009) mostram que ela é igualmente
falaciosa. Com efeito, tal como ressaltado por Kaldor
(1988), tanto a acumulação de fatores de produção
como o ritmo de progresso tecnológico dependem,
no longo prazo, do ritmo de crescimento da demanda
agregada autônoma. Isso se deve ao fato de que (i) o
investimento em capital fixo responde positivamente
às expectativas de crescimento da demanda dos
empresários em função do efeito acelerador; (ii) a
taxa de crescimento da força de trabalho responde ao
crescimento da demanda por trabalho, por intermédio
de mudanças nas horas trabalhadas no curto prazo, da
taxa de participação no médio prazo e do tamanho da
população no longo prazo; (iii) o ritmo de crescimento
da produtividade do trabalho responde ao crescimento
da produção devido à existência de economias
estáticas e dinâmicas de escala consubstanciadas na lei
de Kaldor-Verdoorn.
Sendo assim, é muito mais razoável tratar a taxa
real de câmbio como uma variável exógena do ponto
de vista do processo de acumulação de capital. Nesse
contexto, constata-se que entre janeiro de 2003
e fevereiro de 2012 a taxa real efetiva de câmbio
da economia brasileira sofreu uma valorização de
37,32% (Figura 1). No mesmo período, a participação
da indústria de transformação no PIB caiu de 18,01%
para 14,59%. Os dados indicam de forma inexorável
a ocorrência de um processo de desindustrialização
da economia brasileira, causada, entre outros fatores,
pela sobrevalorização da taxa real de câmbio. Essa
desindustrialização irá condenar nosso país a uma
semiestagnação, uma vez que a indústria é o motor de
crescimento de longo prazo das economias capitalistas,
por ser a fonte das economias estáticas e dinâmicas de
escala, o setor que possui os maiores encadeamentos
para frente e para trás na cadeia produtiva e por ser a
fonte ou o principal difusor do progresso técnico para
o restante da economia.
Embora os efeitos negativos da apreciação cambial
sobre a indústria de transformação sejam relativamente
consensuais entre os economistas, subsistem sérias
dúvidas a respeito do que pode ser feito para lidar
com o problema. Nesse contexto, é possível identificar
claramente três posições distintas. Um primeiro grupo
de economistas, mais ligado à ortodoxia neoclássica,
acredita que a sobrevalorização cambial é um
problema estrutural derivado da implementação, de
jure, do Estado do Bem-Estar Social pela Constituição
de 1988 e, de facto, pelo governo do PT desde 2003.
As políticas de redistribuição de renda atuariam no
sentido de produzir uma expansão dos gastos públicos,
o que limitaria os graus de liberdade do setor público
para aumentar o superávit primário como proporção
do PIB. Dessa forma, não seria possível operacionalizar
a contração fiscal requerida para a desvalorização da
taxa real de câmbio. Como a sociedade brasileira teria
feito uma escolha bem clara pelo Estado do Bem-
Estar Social com a eleição de Lula (e, posteriormente,
Dilma), segue-se que a sobrevalorização cambial é
irreversível e, por conseguinte, o país está condenado
à desindustrialização.
Um segundo grupo de economistas, fortemente
ligado à equipe econômica do governo, acredita que
a valorização da taxa real de câmbio está relacionada
com as transformações ocorridas na economia
mundial, em particular a ascensão da China ao
status de grande potência econômica. A demanda
aparentemente insaciável da China por matérias-
primas e commodities teria gerado uma elevação dos
preços dos bens primários exportados pelo Brasil, e
Figura 1 - Taxa Real Efetiva de Câmbio,
Termos de Troca e Superávit Primário do
Setor Público (2003/01-2012/02)
Fonte: IPEADATA. Elaboração do autor.
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Essa desindus- trialização irá conde- nar nosso país a uma
semiestagnação, uma vez que a
indústria é o motor de crescimento de longo prazo das economias
capitalistas por ser a fonte das economias estáticas e dinâmicas
de escala...
atua no sentido de produzir uma melhoria significativa
dos termos de troca da economia brasileira. Essa
melhoria teria resultado numa forte apreciação
da taxa real de câmbio. Dado que a mudança na
configuração mundial de poder econômico é um fato
irreversível, a apreciação da taxa real de câmbio seria
um fenômeno de caráter permanente, sobre o qual
a política econômica pouco pode fazer a respeito.
Nesse contexto, a desindustrialização tem que ser
enfrentada, não pela mudança na política cambial,
que seria inócua sobre a dinâmica do câmbio real, mas
pela volta ao protecionismo comercial prevalecente
durante a vigência do modelo de industrialização por
substituição de importações.
Por fim, os economistas ligados ao “novo
desenvolvimentismo” acreditam que a valorização da
taxa real de câmbio nos últimos anos foi decorrência,
fundamentalmente, da adoção do “populismo
cambial”, uma vez que a sobrevalorização da taxa
real de câmbio produz um aumento temporário do
salário real. O aumento do salário real nos últimos
anos, embora insustentável a longo prazo (pois não
decorre do aumento de produtividade do trabalho,
mas da sobrevalorização do câmbio), tem se mostrado
politicamente eficaz no sentido de garantir ao partido
do governo a vitória nos pleitos eleitorais. Nesse
contexto, a desindustrialização tem que ser enfrentada,
não pelo retorno do modelo protecionista dos anos
1970, mas pela mudança na política cambial.
Uma análise dos dados da economia brasileira
no período em consideração nos permite descartar,
de imediato, a posição defendida pela ortodoxia
neoclássica. Com efeito, no período que estamos
analisando, enquanto a taxa real de câmbio apresentava
uma apreciação de 37,42%, o superávit primário
do setor público (% PIB) permaneceu praticamente
estável, aumentando míseros 2,14%. Daqui se segue
que a política fiscal não pode ser culpada pela
sobrevalorização do câmbio.
O mesmo não pode ser dito a respeito dos termos
de troca, que apresentaram uma valorização de 37,43%
no período, guardando uma correlação de -0,6127 com
a taxa real de câmbio.
Isso não quer dizer, contudo, que a tendência
à valorização dos termos de troca imponha uma
tendência inexorável à sobrevalorização cambial. Isso
porque, ao decompor o período 2003-2012 em dois
subperíodos (2003-2008 e 2009-2012), verifica-se que
a correlação entre câmbio real e termos de troca caiu
de forma abrupta após a erupção da crise econômica
mundial de 2008. Com efeito, no período 2003-2008
a correlação entre câmbio real e termos de troca era
igual a -0,698; ao passo que no período 2009-2012 a
correlação caiu para -0,3323, ou seja, menos da metade
do que o observado no período anterior. Essa queda do
coeficiente de correlação explica por que, após a crise
de 2008, o aumento espetacular dos termos de troca
da economia brasileira não resultou numa apreciação
muito maior da taxa real de câmbio do que a que
efetivamente observada.
Por que a correlação entre câmbio e termos de
troca caiu após a crise de 2008? A explicação é que,
desde então, o governo e o BC têm adotado um piso
implícito para a taxa de câmbio, e atuam de forma
coordenada para evitar que o câmbio caia abaixo de
certo nível crítico (índice 80 na série de câmbio real
efetivo). Para tanto, o governo e o BC têm usado vários
instrumentos, como os controles de capitais e a política
de incremento das reservas internacionais.
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Mas se o governo e o BC são capazes de impedir
que o câmbio real caia abaixo de um certo nível crítico,
então eles também seriam capazes de produzir uma
desvalorização administrada da taxa de câmbio, caso
estivessem dispostos a fazê-lo. Daqui se segue que o
câmbio sobrevalorizado é resultado de uma decisão
do governo. Não interessa ao governo desvalorizar
o câmbio, pois isso traria prejuízos eleitorais.
Nesse contexto, o enfrentamento do problema da
desindustrialização passa, necessariamente, pela volta
ao protecionismo dos anos 1970.
Com base nesse razoado, constata-se que a boa
teoria econômica e a experiência brasileira mostram
que a introdução de controles de capitais é uma política
necessária para permitir a administração da taxa real
de câmbio por parte dos formuladores de política
econômica. Se a intensidade dos controles de capitais
for adequada, o governo poderá administrar a taxa
real de câmbio, colocando-a no valor requerido para
eliminar o déficit em conta corrente. Mas isso pode não
ser suficiente para induzir um crescimento econômico
acelerado. Se a economia sofrer de doença holandesa,
a taxa real de câmbio requerida pelo setor industrial
para se manter competitivo com respeito ao resto do
mundo será maior (ou seja, mais depreciada) do que
a taxa real de câmbio requerida para o equilíbrio em
conta corrente do balanço de pagamentos (Bresser-
Pereira, 2009). Nesse caso, além dos controles de
capitais, o governo deverá introduzir um imposto sobre
as exportações de bens primários.
Referências Bibliográficas
BRESSER-PEREIRA, L.C. (2009). Globalização e
Competição. Campus: Rio de Janeiro.
KALDOR, N. (1956). “Alternative Theories of
Distribution”. Review of Economic Studies, vol. XXIII.
----------------- (1988). “The Role of Effective Demand in
the Short and Long-Run Growth” In: Barrère, A. (org.).
The Foundations of Keynesian Analysis. Macmillan
Press: London.
KEYNES, J.M. (1936). The General Theory of
Employment, Interest and Money. Macmillan Press:
Londres.
LIBANIO, G. (2009) “Aggregate demand and the
endogeneity of the natural rate of growth: evidence
from Latin American Countries”. Cambridge Journal
of Economics, 33.
OREIRO, J.L; NAKABASHI, L., SOUZA, G.J. (2010).
“A economia brasileira puxada pela demanda
agregada”. Revista de Economia Política, Vol. 30, N.4.
José Luis Oreiro [email protected] Professor do Departamento de Economia da Universidade de
Brasília, Pesquisador Nível IC do CNPq, Diretor de Relações
Institucionais da Associação Keynesiana Brasileira e
líder do Grupo de Pesquisa “Macroeconomia Estruturalista do
Desenvolvimento”, cadastrado no CNPq.
Página pessoal: www.joseluisoreiro.ecn.br.
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O Brasil está preparado para
enfrentar as turbulências decorrentes
do agravamento da crise mundial?
José Matias Pereira
Observa-se no mundo contemporâneo que o Esta-
do-nação vem enfrentando nas últimas três décadas
enormes difi culdades para cumprir suas atribuições
de promover ajustamentos na alocação de recursos,
na distribuição da renda e, em especial, para manter a
estabilidade econômica (Musgrave, 1989). A retomada
da crise econômica mundial, apesar dos esforços feitos
pela maioria dos governantes no mundo, em especial
os dirigentes dos países que integram os denominados
zeus (membros dos 17 países da zona do euro mais os
Estados Unidos) para amenizar a desaceleração das
suas economias, veio aprofundar ainda mais a gravida-
de do cenário global.
Nesse debate merecem destaque os riscos da pos-
sível saída da Grécia da zona do euro. Isso está exigindo
que os países que integram o bloco preparem um pla-
no de contingência individual, na eventualidade de a
Grécia decidir deixar a moeda única. Deve-se ressaltar
que os lideres dos países-membros do bloco europeu,
notadamente França e Alemanha, sabem que isso po-
derá provocar uma propagação descontrolada da crise
da dívida.
O agravamento da crise mundial, por sua vez, está
acelerando o nascimento de um mundo diferente da-
quele que conhecemos, no qual será decisiva a utiliza-
ção intensiva de novas tecnologias, que irão permitir a
construção de novas bases das economias dos países
mais ricos, notadamente no campo de produção de
energia. É previsível, nesse novo cenário, que impor-
tantes questões geopolíticas, culturais e ambientais no
mundo fi carão relegadas a um plano secundário, con-
forme fi cou evidenciado nos baixos resultados alcança-
dos na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvol-
vimento Sustentável (Rio+20), realizada no Brasil, de 13
a 22 de junho de 2012.
Estudos e indicadores sobre a extensão da cri-
se econômica mundial
Os estudos, relatórios e indicadores econômicos e
sociais divulgados em 2011 e nesta primeira metade de
2012 pelas principais instituições multilaterais e órgãos
de pesquisa econômica e de estatística nacionais (Ban-
co Mundial, FMI, OCDE, IBGE, BC) explicitam a gravidade
e a extensão da crise econômica mundial, cujos refl exos
estão afetando de maneira preocupante a economia
brasileira. É possível constatar nesses documentos que,
na sua maioria, os países desenvolvidos estão enfren-
tando sérias difi culdades socioeconômicas, traduzidas
na queda do PIB, recessão, deterioração nos mercados
de trabalho e redução da renda. Aparecem no topo
dessa lista de países em difi culdades Grécia, Portugal,
Espanha e Itália, e num pelotão secundário França, Ale-
manha e Estados Unidos.
Segundo o relatório da OCDE sobre as perspectivas
da economia mundial divulgado no dia 22 de maio de
2012, a zona do euro permanece paralisada, com um
PIB que registrará uma leve contração de 0,1% neste
ano. Em 2013, ele crescerá 0,9%, e a atividade também
será maior em escala mundial, com um crescimento
global de 4,2%. Para a OCDE, a zona do euro representa
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a principal fonte de risco para a economia mundial. Re-
corde-se que, no relatório anterior, a OCDE previa que o
bloco europeu teria este ano um crescimento de 0,2%.
A instituição mantém, no entanto, a previsão de cresci-
mento econômico mundial de 3,4% para 2012.
Ainda de acordo com o relatório da OCDE, a econo-
mia mundial tenta mais uma vez retomar o crescimen-
to, com base em uma modesta reativação do comércio
e uma confiança maior. Mas faz isto com ritmos dife-
rentes, com um crescimento mais vigoroso nos Estados
Unidos e Japão que na zona do euro, enquanto os gran-
des países emergentes registram uma recuperação cí-
clica moderada. Nos EUA, o PIB crescerá 2,4% em 2012
(a previsão anterior era de 2%), e em 2013 o resultado
será de 2,6%.
Os cortes feitos pela OCDE nas suas previsões de
crescimento para a zona do euro em 2012 ocorreram
em função das fortes contrações na Itália - cuja econo-
mia deve encolher 1,7% - e na Espanha, que deve regis-
trar queda de 1,6% no PIB. Em relação à Grécia, a OCDE
projeta uma contração de 5,3% em 2012. A economia
de Portugal deve encolher 3,2%. Mas ambos devem
voltar a crescer no segundo semestre de 2013. Já para
as economias mais centrais da zona do euro, a OCDE
têm previsões mais positivas. O PIB da França deve cres-
cer 0,6% este ano, e a Alemanha deve registrar expan-
são de 1,2%.
O reconhecimento explícito, por parte dos líderes
do G8 (grupo dos países mais ricos, mais a Rússia), tra-
duzido no incipiente comunicado final do encontro
que foi realizado em meados de maio de 2012, de que
a recuperação da economia mundial apresenta sinais
promissores, mas fortes ventos contrários persistem, re-
vela as fortes dificuldades que eles estão enfrentando
nos campos econômico e político em seus respectivos
países. A afirmação dos governos daqueles países de
que estão preocupados em estimular o crescimento
e os empregos – e que estão determinados a adotar
todas as medidas necessárias para reforçar e revigorar
nossas economias – evidencia de maneira clara a exis-
tência de fortes divergências sobre a estratégia de cada
governante do G8 no que diz respeito à forma de pro-
mover o crescimento e reduzir o déficit.
Perspectivas da economia brasileira
O PIB do Brasil, conforme prevê o relatório da OCDE,
vai crescer 3,2% em 2012, e 4,2% em 2013. A organiza-
ção destaca ainda que a inflação deverá diminuir para
4,9% neste ano e aumentar para 5,3% em 2013.
A inflação brasileira, alerta a OCDE, poderá voltar à
tona em razão do apertado mercado de trabalho e da
recuperação do crescimento do crédito. Isso pode ser
exacerbado caso o Banco Central continue cortando
as taxas de juros. Para a instituição, a visão do governo
de que as taxas de juros brasileiras não podem voltar
aos antigos níveis, considerados excessivamente altos,
está correta. Ainda assim existem riscos associados ao
movimento do governo para reduzir os juros. O corte
de taxas de empréstimos por parte dos bancos estatais
brasileiros pressiona os bancos privados a fazerem o
mesmo, mas isso tende a aumentar a inadimplência da
pessoa física e pode impor riscos para os bancos priva-
dos. O governo poderá, por isso, ter de intervir em al-
gum momento para conter um crescimento de crédito
possivelmente desestabilizador.
O Brasil, para a OCDE, continua atraindo fluxos sig-
nificativos de capital estrangeiro, o que resulta em uma
taxa de câmbio forte, porém volátil. As exportações,
em particular do setor manufatureiro, estão sofrendo
com a valorização do real e os desafios estruturais. Na
avaliação da organização, as medidas do governo para
conter a alta da moeda nacional podem, no máximo,
fornecer um alívio temporário. Diz o relatório que re-
solver questões estruturais de competitividade e tirar
vantagem das pressões de concorrência geradas pelo
comércio aberto irá melhorar o crescimento da produ-
tividade no longo prazo.
A análise da OCDE sustenta que o período de fraco
crescimento do Brasil parece estar chegando ao fim,
mas ainda existem riscos na forma de inflação, crédi-
to e competitividade. A atividade está projetada para
aumentar rapidamente e, então, se desacelerar gradu-
almente para taxas em linha com a tendência, puxada
pelo consumo privado e o investimento. Diante desse
cenário instável, torna-se possível fazer as seguintes in-
dagações: em que intensidade o Brasil será afetado pelo
agravamento da crise econômica mundial? O Brasil está
preparado para enfrentar essas dificuldades?
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A análise da OCDE sustenta que o
período de fraco crescimento do
Brasil parece estar chegando ao
fim, mas ainda existem riscos na forma
de inflação, crédito e competitividade.
A extensão dos efeitos da crise econômica mundial no Brasil
Recorde-se, inicialmente, que o forte crescimento
de 7,5% do PIB do Brasil em 2010 teve como base de
comparação um crescimento negativo da economia
em 2009. Por sua vez, o desempenho do PIB em 2011,
estimado em 4,5%, ficou abaixo do projetado pelo go-
verno brasileiro, alcançando apenas 2,7%, sendo que a
agropecuária teve um crescimento de 3,9%, serviços de
2,7%, e a indústria apenas 1,6% (IBGE, 2012).
O baixo desempenho do setor industrial nos últi-
mos anos mostra que o país está em processo de de-
sindustrialização. Diante desse quadro, fica cada vez
mais premente a necessidade de uma estruturação
consistente das bases de competitividade do Brasil, o
que requer a elevação da produtividade por meio da
educação de qualidade e pela priorização da ciência e
tecnologia, em especial da inovação.
A economia brasileira se contraiu 0,35% em março
de 2012, na comparação com fevereiro, na série com
ajuste sazonal, conforme indicam os dados do IBC-Br
divulgado pelo Banco Central. Registre-se que esse
índice se apresenta como uma prévia do PIB do país.
No acumulado do primeiro trimestre deste ano, o IBC-
Br sinaliza que a atividade econômica registrou alta
de 0,15% na comparação com o quarto trimestre de
2011. Por sua vez, os dados divulgados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início
de junho deste ano mostram que o Produto Interno
Bruto do país cresceu 0,2% nos primeiros três meses
de 2012. Esses resultados mostram uma clara perda
de dinamismo da economia brasileira, provocada pela
perda da competitividade da indústria, a queda na taxa
de crescimento do varejo e do consumo, que sofreu o
impacto do aumento do endividamento e do crédito
mais seletivo. Nesse sentido, a projeção inicial do
governo federal de crescimento do PIB para 4,5% em
2012 necessita ser revisada para menos. Os números
do IBC-Br e do IBGE evidenciam que o PIB brasileiro
deverá ficar um pouco acima de 2,0% este ano, e a
demanda doméstica, com incremento da renda e baixo
desemprego, continuará a ser o principal motor do
crescimento do país.
As autoridades econômicas brasileiras, diante das
evidências de agravamento da crise, além de reco-
nhecer que o PIB do país não poderá crescer os 4,5%
projetados pelo governo inicialmente, estão conscien-
tes de que no rol dos principais desafios que têm para
2012 está o de acelerar o crescimento em um cenário
mundial adverso, razão pela qual destacam que não
é algo trivial e automático. Para o governo federal, o
aumento do crescimento passa pela dinamização dos
investimentos, em manter um “mercado interno forte”,
pela solidez fiscal e pelo controle da inflação, além de
manter o câmbio favorável e ampliar o crédito e reduzir
as taxas de juros do sistema financeiro. Nesse sentido,
é preciso que o governo continue a reduzir o custo fi-
nanceiro no país e a avançar nas reformas do sistema
tributário, orientado pela desoneração.
Análise do nível de consistência da política econômica do Brasil
Observa-se no elenco das políticas priorizadas pelo
governo a continuidade de redução das taxas de ju-
ros, a adoção de medidas para evitar a sobrevaloriza-
ção do real frente ao dólar, a redução do percentual do
recolhimento compulsório dos bancos para aumentar
a oferta de crédito na economia, a redução do spread
bancário (diferença entre o que os bancos pagam para
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captar dinheiro e o que eles cobram dos clientes em
empréstimos), a elevação do nível dos investimentos
públicos, a continuidade na política de desoneração do
setor industrial e a promoção de ajustes incipientes de
controle dos capitais estrangeiros especulativos.
A desaceleração da economia e a inflação dentro
dos parâmetros aceitáveis são indicadores que per-
mitem dar continuidade às reduções da taxa Selic nos
próximos meses. Ao utilizar a política monetária, por
meio da aceleração da queda dos juros, o governo bus-
ca manter aquecido o consumo no mercado interno.
Observa-se que a política de estímulo ao crédito – por
ter a capacidade para fazer a atividade econômica res-
ponder de forma rápida – tem sido citada nos discursos
oficiais como a principal estratégia do governo central.
Para isso, pretendem atuar em quatro frentes: reduzir
a taxa Selic, o spread bancário (diferença entre o que
os bancos pagam para captar dinheiro e o que eles
cobram dos clientes em empréstimos), afrouxar regras
prudenciais e liberar compulsórios.
Partimos do entendimento de que essas ações e
medidas adotadas isoladamente na área de oferta de
crédito, em que pesem ser necessárias, não serão sufi-
cientes para que o Brasil enfrente de maneira adequa-
da os complexos problemas socioeconômicos decor-
rentes do agravamento dos efeitos da crise econômica
mundial, que começam a chegar com mais intensidade
no Brasil, com destaque para a queda nos preços das
commodities. É relevante destacar que as principais
ameaças estão no cenário externo, e que o Brasil não
dispõe de instrumentos políticos e econômicos para
modificar esse cenário.
Conclusão
É relevante destacar que a postura cautelosa, e até
de ceticismo, por parte dos principais atores econômi-
cos, políticos e sociais no mundo é decorrente de um
ambiente onde estão presentes enormes incertezas
e turbulências, como por exemplo, a forma como irá
ocorrer o processo de desaceleração da economia chi-
nesa, as dificuldades para a retomada do crescimento
da economia dos EUA e os riscos decorrentes de uma
possível saída de algum membro da zona do euro. Es-
ses fenômenos representam uma ameaça concreta à
estabilidade da economia global, e devem ser avalia-
dos de forma contínua e incorporados pelos governan-
tes nas suas decisões políticas, notadamente nas suas
políticas econômicas.
Argumentamos, por fim, com base nos dados e nas
análises aqui expostas, que as políticas econômicas im-
plementadas pelo governo brasileiro para enfrentar as
turbulências presentes na economia mundial mostram-
se insuficientes para fazer frente às fortes ameaças
externas. Esse cenário nos permite alertar, a partir do
entendimento de que o Brasil não possui capacidade
de influenciar o ambiente externo, sobre a necessida-
de de o governo federal preparar de forma adequada
o ambiente macroeconômico com reformas e ajustes
na sua política econômica. Nesse sentido, acreditamos
que além da utilização da política monetária, o governo
federal necessitará promover ajustes consistentes nas
políticas fiscal (redução das despesas governamentais)
e cambial (intervenções fortes para evitar a valorização
do real frente ao dólar), e assim permitir que o país ele-
ve o seu nível de competitividade externa e reduza as
importações.
José Matias Pereira [email protected], advogado, doutor em ciência política (UCM-Espanha),
pós-doutor em administração pela FEA/USP, é professor-pesqui-
sador associado do programa de pós-graduação em contabili-
dade da Universidade de Brasília. Autor, entre outros, de Curso de:
Administração Pública, 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2010; Finanças Públicas: A política orçamentária no Brasil, 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2010; e, Curso de Administração
Estratégica, São Paulo: Atlas, 2011.
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A crise fi nanceira mundial de
2007-2008 e a Grande Depressão:
algumas lições
Fernando Ferrari Filho e Gustavo Teixeira Ferreira da Silva
A magnitude da crise fi nanceira mundial de 2007-
2008, originada a partir da crise do subprime nos
Estados Unidos, recolocou em evidência o debate
sobre as origens e determinantes de crises fi nanceiras
e, consequentemente, da utilização de instrumentos
de política econômica tanto no sentido de prevenção
quanto de mitigação de seus efeitos sobre o lado real
da economia. Não é demais lembrar que a recente crise
teve sua origem em um contexto de políticas baseadas
na ideologia neoliberal, que levaram os mercados
fi nanceiros a um estado de total desregulamentação
e liberalização, a partir da concepção da “teoria dos
mercados efi cientes”, alicerçada na crença da “efi ciência”
dos mercados fi nanceiros autorregulados1.
Para os pós-keynesianos, as crises fi nanceiras são
um fenômeno natural e resultam da própria dinâmica
de funcionamento dos mercados fi nanceiros em
economias monetárias da produção2. Em um contexto
de fi nanças desreguladas, de globalização do capital
e de ausência de uma estrutura de salvaguarda que
exerça um papel de emprestador de última instância
em nível global, as crises fi nanceiras acabam por ter
um impacto expressivo sobre a demanda efetiva,
o que resulta tanto em períodos de recessão e,
eventualmente, em depressão, quanto de elevação
das taxas de desemprego. Essas características foram
observadas tanto na Grande Depressão dos anos 1930
quanto na crise fi nanceira mundial de 2007-2008.
Nesse particular, tendo como base uma análise
comparativa de ambas as crises, é possível verifi car que,
embora os impactos iniciais da recente crise tenham
sido tão expressivos ou maiores que os da Grande
Depressão, a capacidade de recuperação registrada
a partir do fi nal de 2009 contrasta fortemente com a
persistente deterioração da atividade econômica nos
anos 1930. Nesse breve texto procuramos, inicialmente,
demonstrar que uma possível explicação para essa
diferença passa pelo fato de que, contrariamente ao
período da Grande Depressão, em que as políticas
fi scal e monetária não foram operacionalizadas de
maneira a mitigar a crise, em 2008 e 2009 as políticas
de bailout (resgates de natureza fi scal e monetária)
adotadas foram relativamente efi cientes. Em seguida,
são apresentadas, sucintamente, as principais lições da
crise fi nanceira mundial de 2007-2008.
Comparação entre as duas grandes crises
A despeito de a crise fi nanceira mundial de 2007-
2008 e a Grande Depressão, (1929-1933), possuírem suas
especifi cidades, é possível apontar alguns elementos
comuns entre elas para efeito de comparação. Para
tanto, são feitas ligeiras análises comparativas dos
ambientes institucional e macroeconômico conjuntural
e de variáveis macroeconômicas selecionadas das
referidas crises.
1 Segundo esta abordagem, as crises fi nanceiras são “anomalias”, e decorrem somente de interferências no nível de “efi ciência” desses mercados. 2 Ver, por exemplo, Minsky, H. P. Stabilizing an Unstable Economy. New York, Macgraw-hill, 1986.
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No que diz respeito ao ambiente institucional,
a livre mobilidade de capitais na ausência de um
emprestador de última instância em nível mundial
foi uma característica de ambos os períodos. E, nesse
caso, como resultado, o espaço de atuação de políticas
macroeconômicas domésticas também se mostrou
bastante limitado. Entretanto, enquanto no padrão
câmbio-ouro o compromisso dos bancos centrais
era com a paridade das taxas de câmbio fi xas em
detrimento da adoção de políticas macroeconômicas
domésticas, no ambiente da globalização fi nanceira
essas políticas estiveram restringidas pelo “jogo” de
confi ança dos mercados fi nanceiros3.
No ambiente conjuntural macroeconômico, nos
anos 1920, mais especifi camente após a segunda metade
dessa década, aprofundaram-se os desequilíbrios em
transações correntes dos principais países. Na ocasião,
os desequilíbrios estiveram associados a: (a) assimetria
das taxas de câmbio entre os países, (b) assimetria dos
fl uxos de pagamento, em especial aqueles associados
às reparações de Guerra, e (c) elevada instabilidade
dos fl uxos de capital internacional. Nos anos 1990 e
nos primeiros anos da década de 2000, houve uma
instabilidade dos fl uxos de capital, o que resultou em
sucessivas crises fi nanceiras, principalmente nos países
em desenvolvimento. Ademais, a relativa expansão
da economia mundial nos anos 2000 ocorreu com
acentuado desequilíbrio entre as economias.
Resumindo: em ambos os períodos a conjuntura
econômica é marcada tanto por acentuados
desequilíbrios entre as principais economias quanto
pela instabilidade dos fl uxos de capital internacional.
Contudo, no ambiente do padrão câmbio-ouro, os
desequilíbrios entre os países foram, em geral, resultado
dos pagamentos de reparações da Guerra e dos
níveis em que as taxas de câmbio foram estabilizadas.
Em contrapartida, nos anos 2000 os desequilíbrios
caracterizaram-se, principalmente, entre as economias
em desenvolvimento e as desenvolvidas4.
Observando-se as origens especifi cas da Grande
Depressão e da crise fi nanceira mundial de 2007-2008,
pode-se afi rmar que ambas foram defl agradas com a
reversão de um boom especulativo, o que acarretou
um processo de defl ação dos ativos e de mudança das
expectativas dos agentes nos mercados fi nanceiros.
Tal situação aprofundou a instabilidade dos fl uxos de
capital internacional e resultou em pressões sobre as
taxas de câmbio e sobre os balanços de pagamentos,
principalmente naqueles países que estavam mais
vulneráveis externamente (entre eles os do leste
europeu em 2008), o que se tornou problemático na
ausência de um emprestador de última instância em
nível mundial.
Por fi m, em ambos os períodos, o boom especulativo
foi possibilitado por mecanismos e instrumentos
de especulação que surgiram a partir de inovações
fi nanceiras. Nesse particular, a alavancagem fi nanceira
verifi cada na origem de ambas as crises ocorreu com
a elevada participação de empréstimos de fontes não-
bancárias: agentes não-regulados e não-autorizados ao
socorro estatal. Em suma, nas origens das duas crises
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Não é demais lembrar que a recente crise teve sua origem em um contexto de
políticas baseadas na ideologia neoliberal,
que levaram os mercados fi nanceiros a um estado de total
desregulamentação e liberalização...
3 Expressão usada por Paul Krugman em A crise de 2008 e economia da depressão. Rio de Janeiro, Elsevier, 2009.4 Segundo os dados do FMI, o resultado em conta corrente das economias avançadas passou de um défi cit de US$ 270 bilhões em 2000 para mais de US$ 530 bilhões em 2008, ao passo que o superávit em conta corrente das economias emergentes passou de US$ 42 bilhões em 2000 para US$ 724 bilhões em 2008. Ano em que o acúmulo de reservas internacionais por parte dos países emergentes foi US$ 5,5 trilhões.
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havia mecanismos e instrumentos de especulação em
um ambiente desregulado.
Quando se analisam as variáveis macroeconômicas
selecionadas, duas características chamam a atenção.
Por um lado, um aspecto evidente é que ambos foram
fenômenos globais; por outro lado, a profundidade e
duração das fases iniciais das crises foram distintas.
Vejamos os dados: as perdas nos mercados de
ações e a contratação do comércio mundial foram
signifi cativamente maiores na crise de 2007-2008. Os
mercados de ações desvalorizaram-se cerca de 50% no
primeiro ano da crise de 2008, e durante igual período
da crise de 1929, a queda não chegou a 20%. Contudo,
enquanto os mercados de ações mostraram tendência
de forte recuperação a partir de 2009, a queda persistiu
por aproximadamente três anos durante a Grande
Depressão, chegando a -70%.
Assim como no mercado de ações, a redução do
comércio mundial (volume) foi mais forte no primeiro
ano da crise de 2007-2008 do que em igual período
da Grande Depressão, 20% e 10%, respectivamente.
Por sua vez, em meados de 2009 o comércio mundial
apresentava uma tendência de estabilização, enquanto
na Grande Depressão a retração do volume do
comércio mundial chegou a 30% em 19325.
O declínio inicial da produção industrial mundial
na recente crise foi tão grande quanto na Grande
Depressão (cerca de 13%). Todavia, a recuperação
registrada ao fi nal de 2009 contrasta fortemente com a
deterioração da produção industrial durante a Grande
Depressão, que chegou a quase 40% no terceiro ano.
Ao longo do período da crise de 1929-1933, as taxas
de desemprego aumentaram expressivamente, como
resultado da queda contínua do nível de atividade
econômica, ao passo que na crise de 2007-2008 as
taxas de desemprego se elevaram de maneira menos
dramática.
A magnitude das políticas fi scal e monetária é sem
dúvida o fator de maior contraste entre as duas crises.
Com a crise de 2007-2008 os governos não pouparam
esforços em reduzir as taxas de juros e ampliar o défi cit
(ou diminuir o superávit) fi scal. Em 2008, verifi cou-se
uma rodada de iniciativas pelos bancos centrais graças
a uma operação coordenada das políticas monetárias.
Diante da crise, muitos países reduziram suas taxas
de juros. No Brasil, a taxa básica de juros (Selic) caiu
de 12,75% para 8,75% em 2009. A taxa de juros na
zona do euro chegou a menos de 1%. Por sua vez, o
resultado fi scal (em termos percentuais do PIB) das
economias emergentes e dos países desenvolvidos
atingiu, em 2009, valores médios próximos a -5% e
-10%, respectivamente.
Na Grande Depressão, os bancos centrais se viram
desencorajados a intervir em benefício do sistema
bancário em virtude da prioridade do câmbio fi xo
do padrão câmbio-ouro. A atuação da política fi scal
também se mostrou bastante limitada, pois, por um
lado, houve restrições impostas pela própria lógica do
padrão câmbio-ouro. As altas taxas de juros elevavam
a dívida pública, o que, por sua vez, exacerbou a
instabilidade dos fl uxos de capitais, resultando, por
conseguinte, em maiores pressões sobre as taxas de
câmbio. Por outro lado, predominava a visão de que
os governos deviam manter o orçamento equilibrado.
Com isso, muitos governos, inclusive o norte-americano,
viam o equilíbrio orçamentário como uma condição
necessária para a estabilidade econômica.
Para fi nalizar a análise comparativa, não é demais
ressaltar que, no que diz respeito à adoção (ou não)
de políticas econômicas contracíclicas, no período
da Grande Depressão o “argumento” keynesiano de
incentivos à demanda efetiva era desconhecido, ao
passo que no contexto da recente crise fi nanceira
mundial a percepção da efi ciência de políticas de
cunho keynesiano é bastante consolidada.
Lições da crise fi nanceira mundial de 2007-
2008
Desde o início da crise do subprime, a despeito
da relativa recuperação e “estabilidade” econômicas
verifi cadas ao fi nal de 2009 e ao longo de 2010, pode-
se afi rmar que pouco, ou quase nada, foi feito em
termos tanto de alteração do ambiente institucional
5 Quando se leva em conta a queda do valor do comércio mundial na Grande Depressão, a redução é bem maior, cerca de 60%.
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do sistema monetário e financeiro internacional,
quanto de redução dos desequilíbrios fiscais e de
conta corrente das principais economias. Em relação
aos referidos desequilíbrios, por exemplo, a zona
do euro tem nos mostrado o quanto a falta de uma
coordenação econômica global e a adoção de políticas
econômicas restritivas, à la one size fits all, contribuem
para o aprofundamento da recessão e a elevação das
taxas de desemprego dos países da região.
Nesse sentido, é importante ressaltar que as medidas
econômicas implementadas tanto por instituições
econômicas internacionais como o FMI, quanto pelos
policy makers, apesar de terem evitado uma depressão
econômica, mostraram-se incapazes de solucionar os
problemas financeiros e reais da economia mundial,
principalmente porque políticas fiscais e monetárias
ex post tão somente mitigam impactos de crises
financeiras sobre a atividade produtiva.
Ademais, a crise financeira mundial, por um lado,
deixou clara a necessidade de se reestruturar o
sistema monetário e financeiro mundial, condição
imprescindível para que a economia mundial volte
a trilhar períodos de estabilidade macroeconômica,
semelhantes àqueles observados no período de
Bretton Woods. Por outro lado, ela colocou em xeque
um dos princípios básicos do capitalismo liberal: a não-
intervenção do Estado na economia. Nesse sentido,
sucintamente, as principais lições da atual crise são as
seguintes:
(1) Crises financeiras são cada vez mais recorrentes
no contexto de desregulamentação financeira e de
liberalização dos fluxos cambiais e de capitais;
(2) Os mercados, especialmente os financeiros,
não são eficientes, autorreguláveis, como
argumentam os economistas do mainstream;
(3) Crises financeiras são essencialmente
endógenas. Nesse sentido, tendo como referência
a “hipótese de instabilidade financeira” de
Minsky (1986), crises financeiras ocorrem porque
“prosperidade, inerentemente, gera instabilidade”;
(4) Em um mundo globalizado, as implicações
econômicas e sociais das crises financeiras são
muito mais dramáticas;
(5) O Estado deve sinalizar, direta ou indiretamente,
um ambiente institucional favorável às tomadas de
decisões de gastos dos agentes econômicos, o que
J.M.Keynes (The General Theory of Employment,
Interest and Money, 1936, capitulo 24) chamou de
“socialização do investimento”;
(6) Devem ser criadas regras operacionais para
o sistema monetário e financeiro mundial para (i)
evitar crises globais de demanda efetiva, (ii) garantir
a liquidez internacional para expandir a demanda
efetiva mundial, (iii) coibir a livre mobilidade dos
fluxos de capitais especulativos e (iv) regulamentar
as operações derivativas “exóticas” e outras práticas
financeiras (por exemplo, alavancagem excessiva de
instituições financeiras), entre outras.
Fernando Ferrari Filho [email protected] titular do Departamento de Ciências Econômicas da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e pesquisador do CNPq.
Gustavo Teixeira Ferreira da Silva [email protected]
Professor do Departamento de Economia da Universidade do
Extremo Sul Catarinense (Unesc).
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Fundo Social do Petróleo:
concepção e implicações
macrofi nanceiras
Eduardo Toledo Neto
Os Fundos Soberanos de Riqueza (FSR) são
atores-chave do atual panorama fi nanceiro global.
Apresentam um impressionante aumento no volume
de recursos fi nanceiros e consequentes investimentos
em países hospedeiros decorrentes de um permanente
acúmulo de riqueza nacional. Tais riquezas surgiram
normalmente a partir da formação permanente de
signifi cativos superávits comerciais resultantes da
comercialização de commodities (petróleo, gás, metais
e minerais) ou pelos elevados montantes de reservas
cambiais ofi ciais.
Atualmente, os FSR alcançaram montante superior
a US$ 5 trilhões nos ativos sob seu gerenciamento,
com expectativa de crescentes recursos fi nanceiros
(haja vista o comportamento médio, no mercado de
preços, das commodities e seus níveis crescentes de
demanda internacional). A maioria dos novos Fundos
Soberanos de Riqueza tem sido formada em economias
emergentes.
No entanto, os benefícios proporcionados pelas
receitas geradas pela exportação de recursos naturais
podem levar a graves danos econômicos. Isto se dá
em decorrência do regime cambial fl utuante aplicado
e da pressão política por internalização, ou aplicação
imediata da maior quantidade possível das receitas
petrolíferas na economia doméstica. Implica possíveis
resultados como perda da competitividade dos
produtos industriais locais e pressões infl acionárias
decorrentes da demanda agregada local expandida. A
pressão macroeconômica com a apreciação do câmbio,
aumento de liquidez e maior amplitude da demanda
podem causar severos impactos na atividade, emprego
e renda de setores sensíveis da economia.
Alguns países enxergam os Fundos Soberanos
de Riqueza como veículos de ameaça potencial às
estruturas fi nanceiras e industriais estratégicas dos
países hospedeiros. Dessa forma, a entrada dos FSR
em países desenvolvidos é vista com receio devido à
abrangência dos investimentos, que podem ir além
do setor fi nanceiro. Ou seja, as economias emergentes,
que detêm a maioria dos FSR criados, apresentam
condições de efetuar aquisições em segmentos
estratégicos, o que suscita uma onda protecionista por
parte das economias avançadas.
O processo brasileiro de uso do instrumento Fundo
Soberano de Riqueza foi iniciado em 2008 com a criação
do Fundo Soberano do Brasil (FSB), pela Lei nº 11.887
de 24 de dezembro de 2008, visando a promoção
de investimentos em ativos no Brasil e no exterior,
a formação de poupança pública, a mitigação dos
efeitos dos ciclos econômicos e o fomento a projetos
de interesse estratégico do país, localizados no exterior.
O Estado brasileiro optou pela criação de um
novo FSR em decorrência das potenciais reservas de
hidrocarbonetos encontrados na região do pré-sal e das
possibilidades de obtenção de maiores rentabilidades
com operações offshore de fundos fi nanceiros; logo, em
2010, foi criado o Fundo Social (FS), por meio da Lei nº
12.351, de 22 de dezembro de 2010, visando constituir
fonte de recursos para o desenvolvimento social e
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regional, na forma de programas e projetos nas áreas
de combate à pobreza e de desenvolvimento.
A adoção desse instrumento pode desempenhar
um papel decisivo na gestão de elevados recursos
financeiros. Isso gera benefícios à sociedade em
decorrência da aplicação de uma governança
corporativa consistente que proporcione melhores
condições de acompanhamento da distribuição e
aplicação e monitoramento dos resultados, juntamente
com a preocupação de também promover equidade
intergeracional às futuras gerações. Com isso, o Fundo
Social é analisado à luz das prioridades e demandas
da sociedade, com base em sua concepção e suas
implicações macrofinanceiras. A ideia é alcançar os
objetivos de constituição de poupança pública de
longo prazo, oferecer recursos para o desenvolvimento
social e regional, e de estabilização econômica.
II. Fundos Soberanos de Riqueza
2.1 Marco Conceitual, Limitações e Possibilidades
Os Fundos Soberanos de Riqueza foram definidos,
pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos,
como meio de investimento governamental, fundado
por ativos em moedas externas, e gerenciamento
separado das reservas em moeda doméstica (Kimmitt,
2008). E de forma complementar, pode-se considerar a
seminal definição de Andrew Razanov sobre os FSR, que
os conceitua como fundos estabelecidos para proteger
o orçamento e a economia doméstica das volatilidades
de suas receitas e ajudar a autoridade monetária a
esterilizar a liquidez indesejada, constituindo poupança
para as futuras gerações, ou utilizando os recursos para
o desenvolvimento econômico e social (Schimbor,
2009).
As fontes de riqueza podem ser classificadas em duas
categorias: fundos de commodity, que são estabelecidos
por meio de recursos originados por impostos ou
receitas da exportação de commodities; e os fundos
de não commodity, com recursos compostos pela
transferência de reservas internacionais acumuladas
por superávits comerciais: o excesso de receitas obtido
a partir da exportação de produtos manufaturados é
transferido para esses fundos (Kimmitt, 2008).
Segundo o FMI (2008), os FSR são um grupo
heterogêneo, com vários objetivos, e que podem ser nominados como:
Fundo de Estabilização – tem o objetivo primário de proteger o orçamento fiscal e a economia doméstica contra a oscilação no nível de preços das commodities, em especial, do petróleo;
Fundo de Poupança – permite a conversão de ativos não renováveis em um diversificado portfólio de ativos e de mitigação dos efeitos da Doença Holandesa, de forma a poupar os recursos financeiros para as futuras gerações;
Fundo de Investimentos – para se alcançar maior retorno nas políticas de investimento.
Fundo de Desenvolvimento – para financiar projetos socioeconômicos ou promover política industrial que proporcione incremento no potencial de crescimento e produção do País.
Fundo de Reserva para Aposentadoria – para fornecer garantias de pensão ou aposentadoria no balanço do governo. Atua como fonte adicional à contribuição individual para pensão.
Vale ressaltar que existem distinções entre os
FSR e as reservas oficiais. A reserva oficial pode ser
definida como ativos externos que estão disponíveis
e controlados por autoridades monetárias para
financiamento direto de déficits de pagamento,
que devem regular a magnitude destes déficits,
indiretamente, pela intervenção no mercado cambial
para afetar a troca de moedas externas e outros
propósitos (U.S. Department of Treasury, 2007).
No entanto, Monitor Group and Fondazione Eni
Enrico Mattei (2008: p.6-7) formularam uma definição
para FSR com base nas características essenciais
que diferenciariam estes fundos de outro veículo de
investimento de propriedade do Estado. Um Fundo
Soberano de Riqueza é um fundo de investimento por
cinco critérios:
1) Pertence diretamente a um governo soberano;
2) Gerenciamento independente de outras
instituições financeiras do Estado;
3) Não apresenta predominância explícita de
obrigações de pensões;
4) Investe em várias classes de ativos financeiros
por maiores retornos comerciais;
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ura
5) Apresenta proporções significativas de
publicidade internacional de seus relatórios de
investimento.
2.2 Panorama Internacional
O primeiro exemplo de criação de um Fundo
Soberano de Riqueza ocorreu no Kuwait, pela
Autoridade Governamental responsável pela política,
de investimentos do país, em 1953. A principal
motivação foi estabelecer a proteção do padrão de
vida nacional das flutuações no preço das exportações
primárias do Kuwait, e tornar fonte de recursos, em
particular, do comércio de petróleo. No entanto, uma
grande variedade de fundos soberanos foi instituída
no que diz respeito à renda e à localização geográfica,
alcançando-se, em 2011, o quantitativo de 51 FSR; em
2012, 60 FSR; e também atingindo montante superior
a US$ 5 trilhões em ativos líquidos, conforme pode ser
visualizado na amostra dos quinze maiores Fundos
Soberanos de Riqueza (SWF Institute, 2011).
Tabela 1 - Quinze maiores fundos soberanos por ativos sob gestão
Fonte: SWF Institute (2012) / Posição: Junho 2012
Em 2007, os FSR controlavam US$ 3,3 trilhões
em ativos, ou 2% do total das transações globais.
Alguns economistas projetam que o total de ativos
sob a gestão dos Fundos Soberanos de Riqueza deve
alcançar US$ 12 trilhões em 2012, ou 10% de todas as
transações financeiras globais (Kimmitt, 2008; Bacci,
2008; Schimbor, 2009).
Kimmitt (2008) destaca que apesar de os Fundos
Soberanos de Riqueza terem sido criados na década
de 1950, o recente e elevado crescimento gerou um
grande negócio que envolve distintos interesses.
Com isso, aumentaram as preocupações dos países
hospedeiros. No ano 2000, havia 20 FSR gerenciando
ativos totais de vários bilhões de dólares; de lá para
cá foram criados mais 20 FSR (desse total, metade foi
criada depois de 2005).
Segundo Kimmitt (2008), os FSR são suficientemente
grandes para adquirir importância no sistema
financeiro mundial. Atualmente, os ativos já atingem o
patamar de mais de 50% do total das reservas externas
oficiais e nível superior às reservas externas oficiais das
economias avançadas, conforme Tabela 2:
Tabela 2 - Comparativo entre as reservas oficiais e os fundos soberanos de riqueza no mundo
Fonte: SWF Institute(2012); FMI (2012) *Valores referentes ao mês de dezembro de cada exercício / ** Posição Março de 2012
(R$ Bilhões)
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III. Instrumento Fundo Social
3.1 Concepção
A utilização do instrumento Fundo Soberano de
Riqueza em decorrência da venda de recursos minerais
e as participações governamentais ligadas à atividade
de exploração e produção destes recursos, bem como
os recursos gerados por superávits em conta-corrente,
obtidos por fl uxos fi nanceiros e comerciais positivos, e
com certa constância, trouxeram condições para que
o Brasil aplicasse este instrumento a fi m de angariar
semelhantes vantagens econômicas e políticas,
tais como a justiça intergeracional, a aquisição de
participações em empresas estrangeiras e a redução
na pressão por aumento dos gastos públicos, devido às
descobertas de novos reservatórios na Região do Pré-
Sal.
O Brasil decidiu criar o Fundo Social1 para constituir
fonte de recursos ao desenvolvimento social e regional,
na forma de programas e projetos nas áreas de
combate à pobreza e de desenvolvimento da educação,
cultura, esporte, saúde pública, ciência e tecnologia,
meio ambiente, e mitigação e adaptação às mudanças
climáticas.
Por esse regulamento, o Fundo Social – FS – visa
constituir poupança pública de longo prazo com
base nas receitas auferidas pela União, oferecendo
fonte de recursos para o desenvolvimento social e
regional, e proporcionando condições de mitigação
das fl utuações de renda e de preços na economia
nacional, decorrentes das variações na renda gerada
pelas atividades de produção e exploração de petróleo
e de outros recursos não renováveis.
Os recursos do Fundo Social são constituídos por
parcela do valor do Bônus de Assinatura dos contratos
de partilha de produção; parcela dos royalties que
cabe à União, deduzidas as partes destinadas aos seus
órgãos específi cos; receita advinda da comercialização
de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos
fl uidos da União; royalties e participação especial das
áreas localizadas no pré-sal contratadas sob regime
de concessão, sob administração direta da União; e
resultados de aplicações fi nanceiras do FS.
Vale ressaltar que os recursos do FS para aplicação
nos programas e projetos serão decorrentes do retorno
sobre o capital. Esses programas e projetos devem estar
presentes no Plano Plurianual (PPA) e na Lei de Diretrizes
Orçamentárias, e consignados na Lei Orçamentária
Anual. Do ponto de vista tributário, não deverá incidir
imposto ou contribuição social de competência da
União nas operações de crédito, câmbio e seguro e
sobre rendimentos e lucros do fundo de investimento.
Em relação aos investimentos e aplicações do FS,
estas operações serão destinadas, preferencialmente,
aos ativos no exterior, para mitigar a volatilidade de
renda e de preços na economia nacional. O FS terá
funcionamento semelhante ao já instituído para o FSB,
apenas para fi ns de aplicação dos recursos fi nanceiros
no exterior. Desta forma, a União poderá participar,
com recursos do FS, como cotista única, de fundo de
investimento específi co, com fi nalidade promover a
aplicação em ativos no Brasil e no exterior. Esse fundo
de investimento deverá responder por suas obrigações
com os bens e direitos integrantes de seu patrimônio.
O Fundo Social é um mecanismo de promoção
da equidade intergeracional, haja vista o aspecto
fi nito do recurso natural. Desta forma, o consumo no
presente causa redução no nível de disponibilidade de
petróleo para as futuras gerações. Nesse sentido, além
do FS manter a receita proveniente da exploração e
produção de petróleo separada de outras receitas do
Estado, promove-se a formação de poupança pública
de longo prazo, com a transformação do capital natural
em capital fi nanceiro. Esse capital é preservado de
forma intertemporal, graças a metas de rentabilidade
mínima que proporcionem a atualização do principal e
a geração de excedentes de recursos para aplicação no
desenvolvimento regional e social do Brasil.
3.2 Experiência do Fundo Soberano do Brasil
Os recursos do Fundo Soberano do Brasil2 – FSB -
são destinados, exclusivamente, para investimentos,
para a aquisição de ativos fi nanceiros externos
e na integralização de cotas do Fundo Fiscal de
Investimentos e Estabilização - FFIE.
1 Lei nº 12.351, de 22 de dezembro de 2010.2 Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008.
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ura
A União está autorizada a emitir, a valor de mercado,
sob a forma de colocação direta em favor do FSB,
títulos da Dívida Pública Mobiliária Federal. Além dessa
capitalização, os recursos do FSB podem também
ser providos por recursos do Tesouro Nacional,
em correspondência às dotações consignadas na
Lei Orçamentária Anual; ações de sociedade de
economia mista federal, excedentes ao necessário,
para manutenção de seu controle pela União ou
outros direitos com valor patrimonial; e resultados de
aplicações fi nanceiras à sua conta.
As aplicações em ativos fi nanceiros do FSB
terão rentabilidade mínima estimada por operação,
ponderada pelo risco, equivalente à taxa Libor
(London Interbank Offered Rate) de seis meses. Os
recursos decorrentes de resgastes do FSB atenderão,
exclusivamente, o objetivo de mitigar os efeitos dos
ciclos econômicos, com destinação prevista em Lei
Orçamentária Anual.
Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional (STN)
no Brasil, o FSB está em fase de estruturação de
procedimentos, processos e rotinas operacionais. E para
a realização de investimentos no exterior, foi celebrado
convênio entre a STN e o Banco Central do Brasil (BC)
para a operacionalização de leilões de compra e venda
de moeda estrangeira em nome do FSB. Esse convênio
permitiu que o FSB realize as operações utilizando os
sistemas e a estrutura de leilões do BC; não envolvendo
transferência de recursos fi nanceiros entre estas
instituições (Ministério da Fazenda, 2012).
O Relatório de Gestão do FSB, no exercício de 2011,
realizou um comparativo entre o Patrimônio Líquido
do FFIE, em 31/12/2010, capitalizado pela TJLP, e seu
Patrimônio Líquido efetivo, em 31/12/2011, conforme
Tabela 3, destacando a signifi cativa queda de 15,84%
no Patrimônio Líquido. A principal justifi cativa para
tal queda foi relacionada às variações de preços das
ações da Petrobras e do Banco do Brasil no período
(Ministério da Fazenda, 2012).
3 Grupo de sete nações industrializadas, formado em 1975: França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos.
Tabela 3 - Rentabilidade mensal do FFIE
Fonte: BNDES (TJLP) e BB DTVM (FFIE)
3.3 Princípios de Santiago
Os países emergentes adquiriram relevância no
mercado fi nanceiro mundial na última década, ao
assumirem a posição de investidores. Essa preocupação
tornou-se ainda mais evidente em conseqüência do
volume dos recursos e das intenções de alocação dos
investimentos dos FSR.
Em virtude do aumento em tamanho e número de
FSR, o Fundo Monetário Internacional (FMI) determinou
atenção reforçada, diante das potenciais conseqüências
sobre os mercados fi nanceiros e os investimentos.
Os países que compõem o G73 solicitaram código de
boas práticas, a fi m de fortalecer a transparência e
previsibilidade desses fundos soberanos.
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A preocupação dos governos, empresas,
acadêmicos e demais atores do mercado bra-sileiro sobre a possível ocorrência da doença holandesa surgiu em
decorrência do aumento das exportações de com-
modities agrícolas; da possibilidade de expor-tação de biocombustí-
veis, em especial, do eta-nol; e das descobertas
de petróleo na camada do pré-sal brasileiro.
Assim, o Grupo de Trabalho Internacional dos
Fundos Soberanos de Riqueza– GTI – foi criado
em 01 de maio de 2008, em Washington, por 26
países-membros do FMI, ficando responsável por
iniciar o processo, facilitado e coordenado pelo FMI,
estabelecendo os Princípios de Santiago. Os FSR são
instituições de central importância para ajudar no
aumento da gestão das finanças públicas, alcance da
estabilidade macroeconômica e apoio do crescimento
de alta qualidade (IWG, 2008).
Boucher (2011), Secretário Geral Adjunto da OCDE,
destaca que, do ponto de vista dos países hospedeiros,
é crucial a transparência e accountability na formulação
de políticas governamentais, especialmente para
o alcance de uma maior segurança nacional e
fortalecimento da responsabilidade corporativa.
3.4 Doença Holandesa, Equidade Intergeracional e Estabilização Econômica
A preocupação dos governos, empresas,
acadêmicos e demais atores do mercado brasileiro
sobre a possível ocorrência da doença holandesa
surgiu em decorrência do aumento das exportações
de commodities agrícolas; da possibilidade de
exportação de biocombustíveis, em especial, do
etanol; e das descobertas de petróleo na camada
do pré-sal brasileiro. Essa preocupação é resultado
do potencial crescimento do Brasil no grupo dos
maiores exportadores mundiais de petróleo, de forma
a pressionar o mercado de câmbio, com a valorização
do real e seus efeitos da perda de competitividade no
mercado externo na indústria brasileira.
Inicialmente, pode-se dizer que a percepção
seminal desse fenômeno tenha se dado na Holanda,
cuja economia foi marcada pelas descobertas de
reservatórios de gás natural, em campos offshore,
durante o início dos anos 1960, não implicando
aumento da produtividade pelo ingresso da renda
do gás. O influxo dessas rendas apreciou a moeda e
o preço dos produtos domésticos. Isso derrubou a
produção e aumentou o desemprego, que chegou a
5,5% em meados da década de 1970 nos setores de
produtos comercializáveis (Mahmudlov, 2002: p.5). Ou
seja, a queda da indústria holandesa como resultado da
rápida expansão do gás foi denominada como “Doença
Holandesa” (Coronil, 1997: p.7).
De forma análoga, a teoria da Doença Holandesa
prevê que a desindustrialização sempre aconteça
em um país que tem recursos (dos quais derivam as
rendas ricardianas) e não adota as medidas necessárias
para neutralização da doença. Assim, apesar do
fenômeno afetar a economia brasileira, ainda que
menos intenso ou menos grave do que os observados
nos países cuja produção é especializada em uma ou
poucas commodities que geram expressivas rendas
ricardianas, suas conseqüências em termos de lenta
desindustrialização são preocupantes (Bresser-Pereira
e Marconi, 2008).
E apesar da “benção” de descobertas de recursos
petrolíferos, o desenvolvimento de países ricos em
exploração de recursos naturais tem, historicamente,
apresentado péssimo desempenho se comparado
aos países não ricos em recursos naturais, em
termos de desempenho do Produto Interno Bruto
e dos indicadores sociais. Nesse sentido, um
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boom do petróleo ocasionaria uma redução do
manufaturamento, e o principal mecanismo desse
trabalho seria a real apreciação do câmbio (Corden,
1982; Corden e Neary, 1984). Isto é a Doença Holandesa
(Hausmann e Rigobon, 2003:p.4-5).
Os modelos da Doença Holandesa são aplicados
sob vários aspectos macroeconômicos para um
problema específico, mas sua característica principal
é a ênfase na renda e produção real nos diferentes
setores (Corden, 1985:p.183). Mas Corden e Wiljnbergen
(1984) definiram a Doença Holandesa como “o baixo
desempenho econômico de países ricos em recursos
naturais”.
Conforme Bresser-Pereira e Marconi (2008), a
análise do comportamento recente do comércio
exterior brasileiro mostrou que o aumento dos preços
das commodities exportadas e a eliminação dos
mecanismos de neutralização agravaram a Doença
Holandesa. A desindustrialização se manifesta no
aumento da participação das commodities no valor
adicionado total e na redução da participação do
valor adicionado do setor de manufaturados no valor
adicionado da produção de bens comercializáveis.
Alguns sintomas da Doença Holandesa que a
economia brasileira vem sofrendo são os seguintes
(Bresser-Pereira e Marconi, 2008):
a) Redução da taxa de câmbio, em função do
aumento das exportações, sendo mais intenso para
commodities que os manufaturados, no período
entre 2002 e 2007;
b) Evolução positiva da balança comercial das
commodities após 1992, enquanto os manufaturados
sofreram retração;
c) Evolução das commodities na balança comercial
é desassociada da taxa de câmbio, evidenciando
que outros fatores influem no comportamento
das vendas e compras externas destes produtos,
enquanto a evolução da balança comercial dos
manufaturados é fortemente vinculada à da taxa de
câmbio;
d) Os preços e quantum das exportações
de commodities cresceram mais que os dos
manufaturados;
e) Aumento da participação das commodities no
valor adicionado total; e
f ) Queda na participação dos não-comercializáveis
na renda nacional, e diminuição da participação dos
manufaturados comercializáveis no valor agregado
total de bens comercializáveis.
Por outro lado, o incremento das exportações de
manufaturados contribui para o desenvolvimento
do país de duas formas: a) pelo lado da demanda,
estimulando a produção deste setor, o qual exerce
um grande impacto positivo e encadeador sobre a
produtividade e a renda per capita de toda a economia;
e b) pelo lado da oferta, gerando externalidades
que podem ser aproveitadas por toda a indústria,
na medida em que a concorrência externa induz
a aprimoramentos no processo produtivo que são
incorporados pelos demais setores da economia
(Bresser-Pereira e Marconi, 2008).
A ocorrência efetiva da Doença Holandesa também
pode ser considerada como uma conseqüência da má
gestão da renda do petróleo. Dessa maneira, os fundos
do petróleo podem assumir papel fundamental na
prevenção do desequilíbrio entre o desenvolvimento
econômico e o crescimento da renda do petróleo em
um país; atuando como um mecanismo de estabilização
dos gastos no propósito de aumentar o bem-estar da
população e diminuir o nível de desemprego.
A principal meta da criação de fundos é manter
a receita dos recursos naturais separadas de outras
receitas do Estado, no intuito de neutralizar os efeitos
das vultosas entradas de receita na taxa de câmbio,
exportações, setores manufaturados da economia, e/
ou para assegurar a equidade intergeracional.
Há indícios de que os efeitos cumulativos dos
setores agrícola, mineral e petrolífero possam gerar
volume de receita suficiente para que ocorra uma
significativa apreciação da moeda e conseqüentes
distorções de preços domésticos, implicando alcance
de taxas de crescimento bastante superiores aos
produtos manufaturados, bem como modificações
consequentes no preço relativo dos produtos na pauta
de exportação. No entanto, apesar de o aumento das
quantidades exportadas afetar o crescimento do
valor das exportações de commodities, o impacto
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não será reduzido, mas de forma contrária, pode ser
compensado pelos efeitos das crescentes exportações
do Setor Petróleo.
As principais preocupações de ameaça da
Doença Holandesa se concretizam no momento em
que são atribuídos elevados riscos à apreciação do
Real, promovida por esses setores e seus potenciais
efeitos na indústria brasileira por meio da queda
de produtividade e perda de competitividade no
mercado externo. Com isso, a questão principal não
está na ameaça, pois ela é real, mas sim no quantum
de Doença Holandesa pode ser verificado e se irá se
manifestar de forma mais abrupta ou permanecerá
em patamares administráveis, haja vista os efeitos
cumulativos intersetoriais e condições de crescimento
das exportações brasileiras.
IV. Conclusão
Os Fundos Soberanos de Riqueza adquiriram
vultoso volume e têm despertado muita preocupação
nos países hospedeiros, em virtude dos investimentos
não se restringirem apenas à esfera comercial. Nesse
cenário, o Brasil optou pela criação do Fundo Social, em
2010, para tratar da apropriação dos recursos a serem
auferidos pela exploração e produção de petróleo e
gás na região do pré-sal.
E com a acumulação potencial de riqueza nacional
em decorrência da exportação de commodities e dos
superávits comerciais pode trazer benefícios imediatos
no curto prazo, mas também perigos, no curto e longo
prazo, tal como a desindustrialização, a qual pode
ocorrer lentamente, e paulatinamente, podendo ser
potencializada pela tendência de aumento no nível de
preços das commodities como o petróleo, o ferro, o aço
e as agrícolas. Este estudo ressalta que o efeito conjunto
das commodities de gerar significativos superávits
comerciais pode provocar uma situação desfavorável
ao Brasil pelo fenômeno da Doença Holandesa.
O mecanismo Fundo Social foi criado para oferecer
solução, no curto prazo, para os impactos das elevadas
exportações de petróleo, por meio da formação de
poupança pública de longo prazo, promovendo a
equidade intergeracional, por preservar a riqueza
nacional para as gerações futuras, e estabelecer
parcela dos rendimentos para composição de fonte de
recursos, no presente, para os programas e projetos de
desenvolvimento social e regional brasileiro.
No atual panorama financeiro internacional, as
operações de investimento dos Fundos de Riqueza
Soberana, por serem de longo prazo, podem alcançar
níveis de rentabilidade superiores a fundos de
investimento de curto e médio prazo, a exemplo do
fundo norueguês, denominado “Government Pension
Fund-Global”, que concentra em seus ativos 60,6% em
ações de companhias.
Nesse sentido, é primordial que a gestão do
Fundo Social adote práticas corporativas, atuando
em cooperação com os demais Fundos de Riqueza
Soberana, com transparência no acompanhamento e
controle dos resultados pelo povo brasileiro e para a
segurança nacional de países hospedeiros.
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Secretary General. Speech in Beijing. May, 2011.
‘‘
‘‘
A principal meta da criação de fundos
é manter a receita dos recursos naturais separadas de outras
receitas do Estado, no intuito de neutralizar
os efeitos das vultosas entradas de receita na taxa de câmbio,
exportações, setores manufaturados da
economia, e/ou para assegurar a equidade
intergeracional.
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24
25
abril / junho de 2012
25
abril / junho de 2012
O baixo crescimento do PIB e as medidas do Governo
Carlos Eduardo de Freitas, César Augusto Moreira Bergo,
José Fernando Cosentino Tavares e José Luiz Pagnussat
O Produto Interno Bruto brasileiro, depois de ter
estagnado no segundo semestre de 2011, teve mau
desempenho no primeiro trimestre deste ano, com
crescimento de apenas 0,2% em relação ao trimestre
anterior. As expectativas para o segundo trimestre
de 2012 também são ruins, considerando o Índice
de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br)
para abril e maio praticamente nulos, e vários outros
indicadores negativos já divulgados, como a queda
da produção industrial pelo terceiro mês seguido, em
maio; a queda do emprego na indústria; o aumento
do pessimismo dos empresários da indústria e
do comércio; a manutenção dos altos estoques; a
estagnação das exportações no primeiro semestre, em
relação a igual período de 2011; e a queda das vendas
no varejo em maio, a maior desde o fi nal de 2008, após
crescimento elevado nos primeiros meses do ano.
Somou-se a isso o comportamento decepcionante da
agricultura, que enfrentou problemas climáticos no
primeiro semestre e instabilidade nos preços dos seus
produtos de exportação.
Este artigo pretende analisar o cenário econômico,
as razões do pequeno crescimento do PIB neste início
de ano e as medidas que vêm sendo adotadas pelo
governo no sentido de estimular a economia; e refl ete
as principais conclusões, nem sempre unânimes,
dos vários encontros sobre o tema que o Grupo de
Conjuntura do Conselho Regional de Economia do
DF promoveu neste primeiro semestre de 2012. Neles
foram abordados os resultados da economia em 2011
e tendências para 2012 (17 de março); as razões de a
economia caminhar em ritmo aquém do PIB potencial
(23 de março); as medidas do governo para a redução
do spread bancário (21 de abril); e os dados que
mostravam o baixo crescimento do PIB e as medidas
do governo, após a divulgação do PIB trimestral pelo
IBGE (16 de junho).
A análise do “Grupo de Conjuntura”
Ainda no mês de março, a conclusão a que se chegou
foi de que o Brasil vinha crescendo muito abaixo do
“produto potencial” e que a economia continuava
desacelerando. Os fatores externos ajudavam a explicar
em parte as expectativas menos otimistas do setor
produtivo. Com o agravamento da crise internacional,
pareceu necessário que a política macroeconômica
fosse mais bem calibrada, para se combater a infl ação
com o mínimo de desemprego e máximo crescimento
econômico possíveis.
O freio de política monetária aplicado no segundo
semestre de 2011 para trazer a infl ação para dentro
da meta demorou a ser solto. O objetivo de segurar
os preços foi alcançado com o desaquecimento da
economia. A duras penas, a infl ação acumulada recuou
no último mês do ano para o limite superior da meta.
Ocorre que com isso comprometeu-se a atividade
econômica em todo o primeiro semestre de 2012. Por
outro lado, no âmbito microeconômico, as políticas
setoriais focalizadas adotadas pelo governo, apesar de
positivas se mostravam tímidas, incapazes de reverter
com rapidez esse quadro.
O dilema dos gestores da política econômica
é calibrar os estímulos à economia e os riscos
infl acionários. O viés foi o de controle dos preços.
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O fato é que as altas taxas da infl ação brasileira
girando consistentemente acima de 5% a.a., não,
refl etem apenas a temperatura da economia. Elas têm
uma componente inercial importante; portanto, o
crescimento do PIB ao nível do produto potencial não
signifi ca infl ação zero no Brasil, mas o patamar inercial,
que é elevado. O risco de escalada dos preços não existia
nem no começo do ano, nem neste fi nal de semestre,
considerando o ritmo lento da atividade econômica
e a reduzida probabilidade de choques infl acionários
no curto prazo. A infl ação deve manter a trajetória de
convergência para o centro da meta, como sinaliza
o resultado do IPCA do mês de junho, praticamente
nulo. Um choque infl acionário previsível, entretanto,
é a valorização do dólar, que só deve se ampliar de
forma mais consistente em 2014, quando a taxa de
juros americana começar a subir – o que, de outro
lado, poderá trazer algum alívio à indústria brasileira,
com recuperação parcial da competitividade, o que
resultará em substituição de importações, ampliação
das exportações e retomada da economia.
A conclusão do “Grupo de Conjuntura” foi que as
novas circunstâncias da economia mundial impuseram
condições muito mais severas de concorrência à
indústria de transformação brasileira. Trata-se de fato
novo que impacta no potencial de crescimento do
Brasil. Mas, também, a política de estimulo à economia
vinha sendo insufi ciente para reverter o cenário de
baixo crescimento. Nesse contexto, é preocupante a
questão das baixas taxas de poupança e investimento
e das difi culdades “estruturais” para aumentá-las. A
solução para os gargalos de infraestrutura da economia
brasileira está sendo adiada, por motivos de ordem
política, ambiental e de gestão. Apesar de as despesas
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
terem aumentado, esse feito se deve a transferências
expressivas até maio, sem contrapartida do Tesouro,
para o Fundo de Arrendamento Residencial (FAR),
ou seja, para a construção e entrega de habitações a
preço fortemente subsidiado no âmbito do programa
Minha Casa, Minha Vida, em lugar de investimentos em
infraestrutura.
Fundamentos macroeconômicos
Em contraposição, é importante registrar que o
Brasil apresenta fundamentos macroeconômicos
sólidos, como destaca o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini: “com robustos colchões de liquidez
em moeda estrangeira e no Sistema Financeiro
Nacional”1, além do amplo espaço de manobra na
política monetária e fi scal. Isso denota a capacidade
de absorver os impactos da crise internacional e
a possibilidade de manter relativamente vigoroso
o crescimento econômico brasileiro, apesar da
desaceleração da economia mundial.
Os dados mostram que, no âmbito fi scal, o superávit
primário do setor público mantém-se elevado e o
défi cit nominal estável, não obstante a redução da
taxa de juros. Mesmo com crescimento econômico
praticamente nulo, houve rápido declínio da dívida
líquida do setor público (que, em números de maio,
está em 35% do PIB), em grande parte por força da
depreciação do real, pois o governo federal é credor
líquido em dólares. Não que, de resto, a situação em
2012 venha se caracterizando como cômoda nesse
âmbito, uma vez que a arrecadação está se frustrando
em valores substanciais mês após mês sem que se
cogite de usar a margem do PAC para o abatimento das
despesas – até agora o governo preserva o discurso
de que a meta primária do exercício será alcançada
integralmente para contribuir com o Banco Central no
controle dos preços, pois é objetivo do governo alterar
em defi nitivo dois preços da economia: câmbio e juros.
No âmbito monetário, com a infl ação em declínio,
o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central pode reduzir ainda mais a taxa de juros, além
de haver um amplo espaço para adoção de medidas
macroprudenciais, no sentido de aumentar a liquidez
da economia e prosseguir com a fl exibilização da oferta
de crédito. Em relação à taxa Selic, o consenso Focus
(6 de julho) é de que chegará a 7,5% a.a. no fi m do
período, mas pode ser menos.
1 Apresentação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em Audiência Pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, em 12 de junho de 2012.
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abril / junho de 2012
A política monetária ainda está bastante restritiva,
com as alíquotas de depósitos compulsórios2 elevadas,
apesar da crise internacional e da retração da demanda
interna. Na avaliação do presidente do Banco Central3,
as reservas bancárias estão elevadas e o sistema
fi nanceiro sólido, considerando que o índice de capital
médio dos bancos brasileiros está acima de 16% e,
portanto, com relativa folga em relação ao índice de
capital mínimo de Basiléia (8%) e ao índice de capital
mínimo regulatório (11%). Tombini relata ainda as
avaliações positivas do Fundo Monetário Internacional
e Banco Mundial, de que “o sistema fi nanceiro brasileiro
é estável, com baixos níveis de risco sistêmico e reservas
de liquidez consideráveis”.
Os indicadores externos e as reservas internacionais
estão praticamente inalterados. Não há nenhum
risco externo no curto prazo. O défi cit em conta
corrente supera 50 bilhões de dólares, mas está sendo
fi nanciado pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED).
O saldo das transações correntes nos cinco primeiros
meses de 2012 foi ligeiramente melhor do que o
registrado em igual período em 2011, em razão da
redução das remessas líquidas de renda. Entretanto,
houve aumento nos gastos líquidos com serviços e o
superávit comercial foi menor.
Os dados da balança comercial do primeiro
semestre mostram queda das exportações (-0,9%)
e aumento das importações (4,6%), totalizando US$
117,2 bilhões e US$ 110,1 bilhões, respectivamente. O
saldo comercial do semestre foi de US$ 7,1 bilhões –
queda de 45,4% em relação ao primeiro semestre de
2011. As exportações foram afetadas pela queda nos
preços de alguns produtos importantes, como minério
de ferro (-18,7%), carne de frango (-6,5%) e açúcar em
bruto (-1,4). A elevação do câmbio e a recuperação
dos preços de algumas commodities agrícolas devem
infl uenciar positivamente o saldo comercial no
segundo semestre. Em síntese, as perspectivas são de
estabilidade no défi cit em transações correntes e recuo
no saldo comercial no agregado do ano de 2012.
Baixo crescimento do PIB
Os dados dessazonalizados das Contas Nacionais
Trimestrais do IBGE confi rmaram as expectativas de
baixo crescimento da economia neste início de ano.
O PIB do primeiro trimestre de 2012 cresceu 0,2%
em comparação com o quarto trimestre de 2011. O
pior desempenho foi da agropecuária, que caiu 7,3%,
seguida dos serviços, que pouco cresceram (0,6%).
Houve aparente início de recuperação da indústria, de
1,7%, após três trimestres no vermelho.
Pela ótica da demanda, a desaceleração do PIB foi
puxada pela queda da Formação Bruta de Capital Fixo,
cujo crescimento está negativo há três trimestres, com
recuo acentuado no primeiro trimestre de 2012 (-1,8%),
além do fraco desempenho das exportações (0,2%).
Somente a administração pública aumentou seu ritmo
em relação ao último trimestre de 2011.
2 O depósito compulsório – parte das captações dos bancos comerciais e outras instituições fi nanceiras que fi ca depositada no Banco Central – é um dos instrumentos que o BC usa para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. Esse mecanismo infl uencia diretamente a disponibilidade de crédito e a taxa de juros na ponta.3 Apresentação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em Audiência Pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, em 12 de junho de 2012.4 Banco Central, Relatório de Infl ação, Vol 14, nº 2, junho de 2012. p. 16.
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O saldo das transa-ções correntes nos
cinco primeiros meses de 2012 foi ligeiramente
melhor do que o registrado em igual
período em 2011, em razão da redução das remessas líquidas de
renda. Entretanto, hou-ve aumento nos gastos líquidos com serviços e o superávit comercial
foi menor.
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O consumo das famílias se manteve com taxa
relativamente baixa de crescimento (1%) no primeiro
trimestre de 2012, ainda não reagindo à flexibilização
da política monetária e de crédito. As medidas do
governo no sentido da redução das taxas de juros e
do spread bancário e de ampliação das concessões de
crédito deverão, supostamente, incentivar o consumo
das famílias ao longo do segundo semestre, quando
pode, também, ocorrer uma reativação gradual dos
investimentos.
Os resultados do primeiro trimestre levaram o
governo a rever a sua projeção do PIB para o ano. O
Ministério da Fazenda mantém oficialmente certo
otimismo, com a expectativa de crescimento de 3,5% no
ano, mas o Banco Central, no último Relatório de Inflação
(de junho) reviu a taxa para 2,5%, ante 3,5% constantes
dos dois relatórios anteriores. Segundo o Banco
Central, “a nova estimativa incorpora os resultados do
primeiro trimestre 2012; dados preliminares referentes
ao segundo trimestre, período em que a retomada da
atividade vem ocorrendo de forma bastante gradual;
e a atualização do cenário macroeconômico para a
segunda metade do ano”4.
No setor de serviços, o destaque negativo foi a
atividade de intermediação financeira e seguros, em
queda de 0,8%. Os demais subsetores apresentaram
crescimento baixo ou moderado, com o melhor
desempenho ficando com serviços de “administração,
educação e saúde publicas” (1,8%), seguidos do
comércio (1,3%) no trimestre.
Tabela 1 Variação (%) trimestral do PIB e subsetores (em relação ao trimestre anterior, com ajuste sazonal)
Ano/ Trimestre2010 2011 2012
I II III IV I II III IV I
Agropecuária 4,6 2,2 -5,1 0,1 6,8 -1,8 1,2 -0,1 -7,3
Indústria 2,6 1,3 0,1 1,0 1,4 -0,4 -0,8 -0,5 1,7
Extrativa Mineral 10,2 1,3 0,7 0,5 0,8 1,0 0,3 1,5 -0,5
Transformação 2,3 0,8 0,2 0,2 1,3 -0,3 -1,8 -2,2 1,9
Construção 1,7 4,2 -1,6 1,6 1,2 0,9 0,1 0,8 1,5
Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana 1,4 3,0 0,0 1,0 1,0 1,2 0,7 0,1 1,5
Serviços 1,3 1,1 1,4 1,0 0,5 0,8 -0,3 0,4 0,6
Comércio 3,4 0,8 2,1 1,3 1,1 0,7 -1,1 0,6 1,3
Transporte, armazenagem e correio 2,8 0,9 1,0 1,0 1,3 -0,2 0,1 0,2 0,9
Serviços de informação 1,7 1,5 1,0 0,6 1,4 2,7 -0,3 1,1 0,6
Intermediação financeira e seguros 3,2 2,5 2,8 1,7 -0,4 0,7 0,7 0,1 -0,8
Outros Serviços 0,4 0,8 1,2 1,2 0,3 0,6 -0,5 0,3 0,2
Serviços imobiliários e aluguel 0,2 0,4 0,4 0,6 0,2 0,2 0,3 0,6 0,1
Admin., educação e saúde públicas -0,4 0,6 0,8 1,0 0,5 0,5 0,1 0,4 1,8
PIBpm (PIB a preços de mercado) 2,1 1,2 0,9 1,0 0,9 0,5 -0,1 0,2 0,2
Consumo das famílias 1,7 0,9 2,4 1,9 0,5 0,6 -0,1 1,0 1,0
Consumo da Administração Pública 0,8 1,2 0,8 0,2 -0,2 2,1 -0,8 0,5 1,5
Formação Bruta de Capital Fixo 3,9 3,6 3,2 -0,2 2,1 1,1 -0,6 -0,6 -1,8
Exportação de Bens e Serviços 6,4 -0,3 3,9 2,6 -2,2 2,1 1,8 1,8 0,2
Importação de Bens e Serviços 12,3 3,9 6,2 1,7 1,1 4,9 -1,8 2,1 1,1
Fonte: IBGE. Elaboração dos autores.
Nesse mesmo sentido vai a Pesquisa Mensal de
Comércio (PMC) do IBGE, apontando crescimento
elevado do volume de vendas no comércio varejista
(com ajuste sazonal), no acumulado do ano até maio
(9%). Todos os oito segmentos cresceram no ano.
Ocorre que em maio a variação de vendas em volume
em relação ao mês anterior foi negativa (-0,8%),
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abril / junho de 2012
Tabela 2Variação da produção física industrial por categoria de uso (trimestre contra trimestre
imediatamente anterior e variação mensal, em %)
2011 2012 Acumulado
1º 2º 3º 4º 1º Abril MaioNo
Ano
Abr 12/
Abr 11
12
meses
Bens de Capital 4,0 -1,2 0,8 -3,8 -9,0 1,9 -1,8 -9,8 -4,1 -1,7
Bens Intermediários 0,5 0,2 -1,0 -0,4 -1,0 0,0 0,2 -1,5 -2,0 -0,6
Bens de Consumo ... ... ... ... ... -0,7 -2,8 -2,0 -2,3 -1,4
Duráveis 3,9 -6,6 -2,2 -3,8 -1,4 -0,5 -2,2 -10,3 -6,1 -6,1
Semi e Não Duráveis 1,1 -1,0 0,2 -1,1 2,0 -1,4 -2,1 0,7 -1,1 0,1
Indústria Geral 0,9 -0,4 -0,8 -1,6 -0,5 -0,2 -0,9 -2,8 -2,9 -1,1
Fonte: IBGE.
revertendo o sinal positivo dos dois últimos meses. A
PMC ampliada, que inclui também “veículos, motos,
partes e peças” e “material de construção”, revelou que
até maio o primeiro teve fraco desempenho (-0,8%)
e o segundo, elevado crescimento (11,1%), refletindo,
neste caso, a forte expansão do crédito habitacional. A
redução continuada dos juros deve manter aquecido
esse setor.
Desempenho da indústria
A variação trimestral do PIB da indústria (trimestre
contra trimestre imediatamente anterior, com ajuste
sazonal) apresentada na Tabela 1 mostra, pela ótica
da produção, aparente recuperação dos diversos
subsetores, exceto a indústria extrativa mineral (-0,5%).
Registraram-se: transformação (1,9%); construção
(1,5%); e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza
urbana (1,5%).
Os dados desagregados por subsetores mostram
ainda que o crescimento da indústria de transformação
de 1,9%, neste primeiro trimestre, não recuperou
a queda acentuada observada nos três trimestres
anteriores (-0,4, -1,8 e -2,2%, respectivamente). Na
comparação com o primeiro trimestre de 2011, a
indústria de transformação teve queda de 2,6% (que
a Tabela não mostra). Segundo o IBGE, este resultado
foi influenciado pela “redução da produção da
indústria automotiva; de máquinas e equipamentos;
metalurgia, borracha e plástico; máquinas, aparelhos
e materiais elétricos; e artigos do vestuário e calçados”.
As atividades desse segmento industrial que
apresentaram resultados positivos, com crescimento
da produção, foram o de “eletrodomésticos das linhas
branca e marrom, outros equipamentos de transporte,
químicos, celulose e papel, perfumaria, cimento e
minerais não metálicos”.
Ainda na comparação com o primeiro trimestre de
2011, os demais subsetores da indústria apresentaram
crescimento: eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza
urbana (3,6%), construção civil (3,3%) e extrativa mineral
(2,2%). O crescimento da indústria da construção civil
(3,3%) reflete o crescimento do crédito nominal com
recursos direcionados, que foi de 21,8% no período.
Os dados do PIB incluem a “desova” de estoques.
Nesse sentido os dados de produção física da indústria
levantados na Pesquisa Industrial Mensal – Produção
Física (PIM-PF) do IBGE (com ajuste sazonal) constituem
um bom indicador do desempenho do setor industrial.
De acordo com eles, houve retração da produção
neste início de ano. A produção física, até maio, mostra
redução da atividade industrial em todos os meses
do ano, resultando em queda de 3,4% nos primeiros
cinco meses do ano. O setor já havia encolhido 1,8%
no terceiro quadrimestre de 2011. O acumulado nos
últimos doze meses, até maio, foi negativo em 1,8%.
A Tabela 2 apresenta os dados por categorias de uso,
em que os produtos são agregados em sua atividade
industrial de origem. No acumulado do ano (até maio),
as indústrias de bens de consumo semiduráveis e não
duráveis se manteviveram estáveis (0,0%). Os demais
setores por categoria de uso da indústria se retraíram
no período: bens de capital (-12,0%), bens de consumo
duráveis (-10,0%) e bens intermediários (-2,0%).
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A cronologia dos pacotes baixados mos-
tra a reavaliação constante por parte
do governo da temperatura da
economia. No início de dezembro de 2011, o governo reduziu o IPI
e o IOF cobrado sobre o financiamento
ao consumo para produtos com índice
de eficiência energética “classe A”.
Esses números chamam a atenção para a
deterioração do investimento e justificam as
sucessivas iniciativas de incentivo à indústria e à
reativação da economia adotadas pelo governo
a partir de 2011 e intensificadas neste ano.
Num primeiro momento, o governo lançou uma
série de medidas de defesa em razão da perda de
competitividade da indústria no comércio internacional,
em parte explicada pela sobrevalorização (“guerra”)
cambial, cujo marco inicial foi o pacote apresentado
no Plano Brasil Maior em agosto de 2011, que incluía
também estímulos ao investimento e à inovação,
centrados no financiamento e em desonerações
tributárias. Em 2012, o governo intensificou suas
iniciativas voltadas para os setores mais vulneráveis:
com o objetivo de conter a sobrevalorização cambial,
o governo aumentou sucessivamente o Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF) sobre a entrada de capitais.
A lista de medidas de incentivo à indústria,
adotadas de forma pulverizada e gradativa, inclui ainda
a redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP),
parâmetro para os empréstimos do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); a
expansão do crédito, com redução dos juros e spread
bancários; a redução de impostos; e a ampliação
das compras governamentais, a exemplo do “PAC
equipamentos” lançado no final de junho; e a linha
de crédito via BNDES para projetos de infraestrutura
e mobilidade urbana dos Estados. No fim de junho, a
redução de alíquotas do IPI para os produtos da linha
branca e para móveis foi prorrogada por mais três
meses.
A cronologia dos pacotes baixados mostra a
reavaliação constante por parte do governo da
temperatura da economia. No início de dezembro de
2011, o governo reduziu o IPI e o IOF cobrado sobre o
financiamento ao consumo para produtos com índice
de eficiência energética “classe A”. Reduziu também
a alíquota do Programa de Integração Social e da
Contribuição para a o Financiamento da Seguridade
Social (PIS/Cofins) de produtos alimentícios. No
início de abril, o governo introduziu novo pacote de
estímulo ao consumo, em especial de bens duráveis,
e de apoio à indústria, que abrangeu a desoneração
da folha de pagamento, com o fim da contribuição
patronal para 15 setores industriais; um programa de
incentivos à cadeia produtiva de veículos automotores;
financiamento das exportações; estímulo à indústria
nacional nas compras governamentais; desoneração
de impostos e contribuições para investimentos, entre
outras medidas. Em maio (21/5), foi lançado novo
conjunto de medidas financeiras (mais crédito, juros
menores e aumento de prazos) e tributárias (redução
do IOF e IPI) para estimular os setores automotivos e
de bens de capital. Essas medidas se somam à redução
da taxa Selic e às continuas reduções dos juros dos
bancos públicos no sentido de forçar a baixa dos juros
ao consumidor.
Os pacotes de incentivos, desonerações tributárias,
mais crédito e juros menores não foram ainda
suficientes para reverter, até maio, a estagnação da
indústria, nem o índice de confiança da indústria
(junho). Segundo a Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo (Fiesp), a atividade industrial caiu 0,6% em
maio. A queda do Índice Nacional de Atividade (INA)
levou a Fiesp a revisar sua projeção de crescimento do
PIB em 2012 para 1,8%. Na avaliação da entidade, o PIB
da Indústria de transformação deve fechar o ano com
0,8% negativo.
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31
abril / junho de 2012
Agropecuária
O baixo desempenho da agropecuária no primeiro
trimestre reflete os problemas climáticos e a redução
da demanda por alguns produtos no mercado
internacional. Entretanto, vários indicadores apontam
para uma recuperação nos próximos trimestres.
A previsão da safra de grãos (cereais, leguminosas e
oleaginosas) no levantamento da produção realizado
pelo IBGE em maio e junho foi revista, dado o excelente
resultado da “safrinha” de milho (aumento de 59,6%)
e de outras culturas em sua segunda ou terceira
safras, conforme se observa nos dados da Tabela 3.
Tabela 3 Brasil: Safras 2011 e 2012 – levantamento de junho de 2012
Produtos AgrícolasProdução ( t )
Safra 2011 Safra 2012 Var. %
Algodão herbáceo (caroço) 3.083.775 3.207.720 4,0
Amendoim (em casca) 1ª safra 240.302 301.175 25,3
Arroz (em casca) 13.444.425 11.452.628 -14,8
Feijão (em grão) 1ª safra 1.952.422 1.244.252 -36,3
Manona (baga) 115.274 45.177 -60,8
Milho (em grão) 1ª safra 34.167.667 33.781.767 -1,1
Soja (em grão) 74.941.773 65.730.655 -12,3
Subtotal (1ª safra) 127.945.638 115.763.374 -9,5
Amendoim (em casca) 2ª safra 15.755 11.054 -29,8
Aveia (em grão) 349.651 392.540 12,3
Centeio (em grão) 3.521 3.149 -10,6
Cevada (em grão) 303.748 347.087 14,3
Feijão (em grão) 2ª safra 1.112.435 1.201.957 8,0
Feijão (em grão) 3ª safra 435.516 438.735 0,7
Girassol (em grão) 77.552 111.115 43,3
Milho (em grão) 2ª safra 22.104.773 35.275.962 59,6
Sorgo (em grão) 1.909.187 1.798.315 -5,8
Trigo (em grão) 5.695.468 5.239.961 -8,0
Triticale (em grão) 137.612 142.583 3,6
Subtotal (2ª safra e inverno) 32.145.218 44.962458 39,9
Total (Safra de Grãos) 160 090 856 160 725 832 0,4
Outros produtos
Batata-inglesa – Total 3.894.750 3.511.892 -9,8
Batata inglesa 1ª safra 1.721.420 1.587.441 -7,8
Batata inglesa 2ª safra 1.297.278 1.036.592 -20,1
Batata inglesa 3ª safra 876.052 887.859 1,3
Cacau (em amêndoa) 245.448 238.294 -2,9
Café (em grão) - Total 2.658.049 3.049.078 14,7
Café (em grão) arábica 1.965.404 2.289.282 16,5
Café (em grão) canephora 692.645 759 796 9,7
Cana-de-açúcar 715.143.562 662.014.177 -7,4
Cebola 1.355.981 1.382.671 2,0
Laranja 19.831.787 19.855.324 0,1
Mandioca 25.329.667 24.617.728 -2,8
Fonte: IBGE.
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Nos levantamentos anteriores, a expectativa era de
queda na safra de grãos, enquanto no levantamento
divulgado em junho a previsão foi de crescimento de
0,4% em relação à safra recorde de 2011. A maior parte
da safra de grãos se refere à safra de verão, que está
em fase final de colheita e concentra grande parte da
produção nacional.
A estimativa de junho para a produção dos 21
produtos pesquisados pelo IBGE mostra que 10
apresentam variação positiva em relação ao ano
anterior: algodão (4,0%); amendoim (21,9%); aveia
(12,3%); café (14,7%); cebola (2,0%); cevada (14,3%);
girassol (43,3%); laranja (0,1%); milho (22,7%) e triticale
(3,6%). Os 11 produtos ou safras com variação negativa
são: arroz (-14,8%); batata inglesa (-9,8%); cacau (-2,9%);
cana-de-açúcar (-7,4%); centeio (-10,6); feijão (-17,6%);
mamona (-60,8%); mandioca (-2,8%); soja (-12,3%);
sorgo (-5,8%); e trigo (-8,0%).
A seca na Região Sul do país foi a principal
determinante das perdas acentuadas na safra de
verão, em especial as de soja, milho e feijão (1ª safra).
A produção gaúcha foi a mais afetada, mas também
foram prejudicados os demais estados da Região, além
de parte do Sudeste e o sudoeste de Mato Grosso do
Sul. O sul de Minas Gerais enfrentou estiagem entre
os meses de fevereiro e março de 2012 e as regiões
de cana no estado de São Paulo tiveram precipitações
pluviométricas abaixo da média em agosto e setembro
de 2011, e novamente nos meses de fevereiro e
março de 2012, o que prejudicou a cultura. Por outro
lado, ocorreu atraso na colheita da cana por conta do
excesso de chuvas em abril. A Região Nordeste também
sofreu com forte estiagem e teve perdas expressivas na
agricultura e na pecuária. A mais castigada foi a região
do semiárido nordestino, que teve perdas nas culturas
de feijão e de milho superiores a 80%.
A seca no Sul atingiu também a produção dos países
vizinhos: Argentina, Uruguai e Paraguai, reduzindo-lhes
fortemente a produção de grãos, mas não foi suficiente
para reverter a tendência de queda dos preços
internacionais da maioria dos produtos nos primeiros
meses do ano. Entretanto, os problemas climáticos no
início do desenvolvimento das culturas da safra de
verão do Hemisfério Norte, em especial nos EUA, fez
com que houvesse uma reação forte das cotações da
maioria dos produtos agrícolas no final do semestre.
O aumento dos preços no mercado internacional
e a desvalorização do real proporcionaram ganhos
excepcionas aos agricultores que ainda não haviam
comercializado parte da sua produção, além de
propiciar boas opções de venda no mercado futuro
da safra que será plantada em novembro e colhida no
segundo trimestre de 2013. Pode-se dizer que retornou
a euforia ao campo, com a boa remuneração dos seus
produtos.
A pecuária também foi mal no período. Os dados do
primeiro trimestre foram de retração em quase todas
as atividades. Segundo o IBGE, o “abate de frangos”
foi o único a registrar aumento no 1º trimestre de
2012, cresceu 3,2% em relação ao último trimestre
de 2011 e 4,3% sobre o primeiro trimestre de 2011. O
abate de bovinos (1,681 milhão de toneladas), no 1°
trimestre de 2012, foi 3,9% menor que o registrado no
4º trimestre de 2011, mas 2,4% superior ao registrado
em igual período de 2011. O abate de suínos também
decresceu (-4,9%) em relação ao 4º trimestre de 2011,
mas foi 4% maior que o de igual período de 2011. O
setor foi afetado negativamente pelas restrições de
importações de alguns países, o que resultou em
ampliação da oferta para o mercado interno e queda
nos preços ao produtor.
‘‘ ‘‘
A seca na Região Sul do país foi a
principal determinante das perdas acentuadas
na safra de verão, em especial as de
soja, milho e feijão (1ª safra).
32
33
abril / junho de 2012
O bom desempenho do setor avícola no primeiro
trimestre alcançou a produção de ovos de galinha,
que cresceu 1,4% em relação ao 4º trimestre de 2011
e 8,2% sobre 1º trimestre do mesmo ano. Entretanto, o
setor apresentou redução da produção nos meses de
abril a junho e deverá continuar retraído no segundo
semestre, dado o aumento de custos de produção, com
a elevação dos preços do milho e soja.
Já a pecuária bovina pode reverter a tendência nos
próximos trimestres, em virtude da manutenção da
oferta de boi gordo e ampliação do abate até o início
do segundo semestre, que normalmente corresponde
ao início da “entressafra” no setor da pecuária, em razão
da continuidade das chuvas nas regiões produtoras
do Centro Oeste e, atipicamente, as boas pastagens na
região, que é a principal produtora nacional (34,8%).
O comportamento dos preços do boi acompanhou
o movimento sazonal e se manteve em declínio no
primeiro semestre, mas essa tendência deve se reverter
a partir de julho ou agosto, com o início da entressafra,
período de seca na região do cerrado e geadas no sul. A
piora sazonal nas condições das pastagens nas regiões
produtoras resulta em redução da oferta de animais
para abate, uma vez que a produção em confinamento
responde por apenas 5% do total de abates.
A aquisição de leite teve queda de 2,9% no primeiro
trimestre de 2012, comparando-se com o quarto
trimestre de 2011, mas teve crescimento 4,4% na
comparação com o 1º trimestre de 2011.
Em síntese, o baixo resultado do PIB da agropecuária
no primeiro trimestre não reflete as previsões de
produção e a melhora nas condições climáticas e
de preços dos produtos no mercado internacional
e interno. A seca norte-americana beneficia os
agricultores brasileiros, com a elevação dos preços e
aquecimento da demanda pelos produtos nacionais.
O PIB da agropecuária nos próximos trimestres deverá
refletir as melhores condições de mercado e de
produção do setor.
A previsão de aquecimento do setor agropecuário
se deve também ao novo Plano Agrícola e Pecuário
(PAP) da safra 2012/2013 (“Plano Safra 2012/2013”),
dados o aumento do volume de recursos (7,4%), em
relação ao plano anterior e a redução dos juros nos
financiamentos.
Análise das medidas de estímulo à economia
Os dados que vêm sendo divulgados neste primeiro
semestre de 2012 mostram que as medidas de estímulo
à economia são necessárias e as ações do governo nas
relações de comércio externo, no sentido da conquista
de novos mercados para os produtos nacionais e de
defesa comercial, adequadas.
Entretanto, cabem algumas ponderações sobre
os principais mecanismos utilizados pelo governo e
a sua focalização. Neste sentido, procurou-se avaliar
a questão da renúncia fiscal; a expansão do crédito;
e as ações voltadas para redução dos juros e spread
bancários.
No primeiro caso, os incentivos fiscais se
concentraram na indústria automobilística. Cadeia
produtiva importante, grande pagadora de impostos
e geradora de empregos, sofre significativamente nos
primeiros sinais de crise na economia. A redução de
impostos, em especial o IPI, vem se mostrando eficiente
para estimular as vendas de automóveis e garantir os
empregos no setor. Deixemos de lado a controvérsia
sobre os custos do incentivo, que não devem ser
analisados linearmente, como tem sido feito por alguns
setores da mídia, visto que a reativação da produção
recupera parte da renúncia fiscal.
Entretanto, dois pontos devem ser destacados como
problemas: primeiro, a concentração dos incentivos
nesse setor e o abandono de vários outros, afetados
fortemente pela crise econômica e pela competição
predatória de produtos importados; segundo, a
inoportunidade do aumento de vendas de automóveis
para o mercado interno, dado o excesso de veículos
circulando nas grandes e médias cidades brasileiras,
o que vem prejudicando o bem estar da população.
O crescimento exponencial da frota tem provocado
grandes engarrafamentos e mais emissão de CO2.
Por outro lado, os incentivos constituem também um
“presente de grego” aos consumidores das classes C e
D, que estão se endividando e comprometendo parcela
crescente do orçamento familiar na compra do carro
popular novo.
A percepção é de que o governo não tem feito o dever
de casa: planejar as ações com base em estudos mais
precisos dos impactos da crise econômica nos diversos
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setores da economia, para avaliar melhor a necessidade
de ajuda a cada setor; e escolher cuidadosamente as
alternativas de apoio mais eficientes. Mas há também
bons exemplos de ações oportunas do governo,
como o Plano de Safra 2012/2013, já referido, que traz
incentivos para o setor agropecuário, tanto voltados
para a sua expansão, como no sentido de reverter a
perda de competitividade momentânea de segmentos
localizados, como a produção de carne suína.
A segunda preocupação é com a concentração das
ações no incentivo à demanda via crédito. Os riscos
da expansão sem precedentes do crédito no Brasil
são fortes: o “boom imobiliário” e o endividamento
crescente de famílias e empresas são os sinais de alerta.
O volume de crédito do sistema financeiro cresceu
5,2% no ano e 18,3% nos últimos 12 meses (até maio). O
maior crescimento em 12 meses ocorreu na habitação
(39,8%), referente ao saldo com recursos direcionados.
O endividamento dos brasileiros superou em
maio, pela primeira vez, 50% do PIB, segundo dados
do Banco Central. O crescimento recente se deu
fundamentalmente com a expansão do crédito dos
bancos públicos. O fato é que a inadimplência voltou a
aumentar e as taxas de juros continuam excessivamente
elevadas, apesar da redução marginal ocorrida no ano,
como se verá a seguir.
Redução dos juros e spread bancário
A redução das taxas de juros ao consumidor
encontra contexto favorável, com as sucessivas
reduções da taxa Selic pelo Banco Central – em
razão, por sua vez, da trajetória declinante dos preços
favorecida pelo processo de desinflação global e
pelo cenário de sua convergência para o centro da
meta (4,5%). A estratégia do governo foi utilizar os
bancos públicos para forçar as instituições financeiras
privadas a reduzir também suas taxas e spreads.
Os juros praticados na economia brasileira são
exorbitantes. O lucro dos bancos é expressivo e cresceu
muito na última década. Entre 2003 e 2011, o lucro
do setor bancário cresceu 250%, enquanto a inflação
medida pelo IPCA foi de 55%. No mesmo período, o
lucro dos cinco maiores bancos operando no Brasil
aumentou 354%. Outro indicador de lucratividade
do setor é a relação lucro sobre o patrimônio líquido
que, em 2011, para todo o sistema foi de 16,5%,
e para os 5 maiores bancos foi superior a 22%.
Instituição2003
(R$ bilhões)
2011
(R$ bilhões)
Cresc. %
2003/11
(%) Lucro/
Patr. Liq.¹
Banco do Brasil 2,38 12,1 408,4 22,2
Bradesco 2,30 11,02 379,1 21,3
CEF 1,60 5,2 225,0 29,6
Itaú 3,15 14,6 363,5 22,3
Santander 1,74 7,8 348,3 16,2
Total (5 bancos) 11,17 50,72 354,1 -
Todos os Bancos 16,97 59,39 250,0 16,5
Tabela 4 Lucro dos bancos - total e dos 5 principais bancos – 2003 e 2011
Fonte: Banco Central. (¹) Lucro dos bancos em 2011 sobre o patrimônio líquido.
‘‘ ‘‘
O endividamento dos brasileiros
superou em maio, pela primeira vez, 50% do PIB, segundo dados do Banco Central. O
crescimento recente se deu fundamentalmente
com a expansão do crédito dos
bancos públicos.
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abril / junho de 2012
Observa-se também que o aumento do lucro
dos bancos públicos foi elevado no período 2003 a
2011. O lucro do Banco do Brasil apresentou o maior
crescimento (408,4%) e a Caixa, o menor (225%), mas
com a maior relação lucro sobre o patrimônio líquido
(29,6%). Nesse sentido, a estratégia do governo de impor
via bancos públicos a redução dos juros parece correta,
mas não tem sido eficaz. Os bancos públicos reduziram
os juros e expandiram fortemente o crédito, enquanto
os bancos privados foram mais parcimoniosos, com
reduções focalizadas e pequeno aumento do crédito,
protegendo-se da inadimplência.
Como resultado, apesar da ação do governo, o
spread bancário – diferença entre a taxa de captação
e a taxa de aplicação – no Brasil continua um dos
mais altos do mundo. A redução no ano foi de apenas
2,2%, passando de 27,8% em janeiro para 24,7% a.a.
em maio. A queda foi menor para a pessoa jurídica
(-1,1%) e maior para pessoa física (-3,2%), cujo spread
supera 30% (30,5%, em maio). A redução dos juros foi
um pouco maior (-4,2%) em razão da queda na taxa de
captação (-2,0%). Os juros para pessoa jurídica caíram
3,2% no ano (até maio) e para pessoa física, 5,0%.
Assim, em maio de 2012 a taxa média de aplicação
foi de 32,9% a.a., com as pessoas físicas pagando
juros de 38,8%, e as pessoas jurídicas, 25% a.a. Esses
dados, divulgados pelo Banco Central (em 26 de junho
de 2012), em nota mensal para a imprensa sobre
política monetária, registram que a ação do governo
na redução dos juros e do spread bancários não
tem funcionado, as margens dos bancos continuam
elevadas e as taxas de juros em patamares abusivos.
A ideia do governo de utilizar a redução de juros
para “gerar concorrência” e derrubar os spreads
bancários parece ter esbarrado numa estrutura
de mercado oligopolizada, onde a competição
entre os grandes conglomerados financeiros se
dá por diversas formas, menos pelo preço do
produto, no caso dos bancos, o preço do dinheiro,
refletido nas taxas de juros por eles cobradas.
Certamente o crescimento da inadimplência,
dada a sua grande participação na composição dos
juros cobrados pelos bancos (mais de 30%), também
ajuda a explicar em parte a resistência dos bancos
na redução do spread. Historicamente, essa margem
acompanhou a evolução da inadimplência, que tem
também como componentes: o custo administrativo
(13%); compulsório, subsídio cruzado, encargos
fiscais e FGC (Fundo Garantidor de Crédito); impostos
(mais de 20%); além da margem bruta e líquida do
spread (situada em torno de 30% ao longo dos anos).
A elevada margem líquida do spread bancário mostra
que há um largo espaço de redução dos juros no Brasil.
É necessário, além de baixar as taxas cobradas pelos
bancos públicos, aprimorar a regulação e a concorrência
entre os bancos, dentre outros mecanismos que levem
ao recuo dos juros a patamares mais civilizados no Brasil.
As seguidas intervenções do governo nos bancos
públicos, descuidando-se aparentemente de uma
avaliação mais precisa dos seus impactos sobre as
instituições, podem estar causando prejuízos e sugerem
cautela. Certamente o esforço histórico do Banco do
Brasil nos últimos anos de inserção internacional deve
ter sofrido desgastes importantes, incluindo o efeito
sobre a cotação de suas ações na Bolsa de Valores.
‘‘
‘‘
Como resultado, apesar da ação do governo, o spread
bancário – diferença entre a taxa de captação
e a taxa de aplicação – no Brasil continua um
dos mais altos do mundo. A redução no ano foi de apenas 2,2%, passando
de 27,8% em janeiro para 24,7% a.a.
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PeríodoTaxa de aplicação Taxa de captação Spread² Inadimplência
Geral PJ PF Geral PJ PF Geral PJ PF PJ PF
2008
Jan 37,3 24,7 48,8 11,6 11,0 12,2 25,7 13,7 36,6 2,0 7,0
Jun 38,0 26,6 49,1 13,5 12,7 14,4 24,5 13,9 34,7 1,7 7,4
Dez 43,3 30,7 57,9 12,6 12,3 12,9 30,7 18,4 45,0 1,8 8,0
2009
Jan 42,4 31,0 55,0 11,9 12,2 11,5 30,5 18,8 43,5 2,0 8,2
Jun 36,6 27,4 45,6 9,4 9,2 9,8 27,2 18,2 35,8 3,4 8,6
Dez 34,3 25,5 42,7 9,9 9,0 11,1 24,4 16,5 31,6 3,8 7,7
2010
Jan 35,1 26,5 43,0 10,0 9,1 11,2 25,1 17,4 31,8 3,8 7,5
Jun 34,6 27,3 40,4 11,1 10,4 11,8 23,5 16,9 28,6 3,6 6,5
Dez 35,0 27,9 40,6 11,5 10,9 12,1 23,5 17,0 28,5 3,5 5,7
2011
Jan 37,4 29,3 43,8 11,8 11,2 12,4 25,6 18,1 31,4 3,6 5,7
Jun 39,5 30,8 46,1 12,2 11,9 12,5 27,3 18,9 33,6 3,8 6,4
Dez 37,1 28,2 43,8 10,2 10,3 10,1 26,9 17,9 33,7 3,9 7,4
2012
Jan 38,0 28,7 45,1 10,2 10,2 10,2 27,8 18,5 34,9 4,0 7,6
Fev 38,1 28,6 45,4 9,7 9,8 9,6 28,4 18,8 35,8 4,1 7,6
Mar* 37,3 27,7 44,4 9,3 9,3 9,3 28,0 18,4 35,1 4,1 7,4
Abr* 35,1 26,3 41,8 8,8 8,8 8,9 26,3 17,5 32,9 4,1 7,8
Mai* 32,9 25,0 38,8 8,2 8,2 8,3 24,7 16,8 30,5 4,1 8,0
Variação p.p
No mês -2,2 -1,3 -3,0 -0,6 -0,6 -0,6 -1,6 -0,7 -2,4 0,0 0,2
No trimestre -5,2 -3,6 -6,6 -1,5 -1,6 -1,3 -3,7 -2,0 -5,3 0,0 0,4
No ano -4,2 -3,2 -5,0 -2,0 -2,1 -1,8 -2,2 -1,1 -3,2 0,2 0,6
Em 12 meses -7,1 -6,1 -8,0 -3,9 -3,5 -4,2 -3,2 -2,6 -3,8 0,3 1,6
Tabela 5Taxa de juros e spread bancários¹ (em %) para pessoa física e jurídica no Brasil
Fonte: Banco Central. (1) Inclui as operações pactuadas a juros prefixados, pós-fixados e flutuantes, realizadas com pessoas jurídicas e
físicas. 2) Spread obtido pela diferença entre as taxas de aplicação e de captação. * Dados preliminares.
Conclusão
A economia brasileira está estagnada há três
trimestres e vem reagindo lentamente às medidas de
incentivo do governo. Apesar dos bons fundamentos
macroeconômicos, a economia terá um baixo
crescimento no ano e o setor produtivo ainda não
reverteu o quadro de pessimismo. A evolução de
alguns indicadores importantes da economia no
final do segundo trimestre sinaliza uma tendência
mais favorável no segundo semestre, diante do
comportamento absolutamente decepcionante do
primeiro.
O cenário desejável é que a economia volte a
acelerar e retome o crescimento no segundo semestre,
influenciada pelas medidas de incentivo à ampliação
dos investimentos, de flexibilização da política
monetária e de medidas de estímulo à atividade
industrial e ao consumo, adotadas pelo governo.
As preocupações que persistem são com o
crescimento acelerado do endividamento das famílias
e empresas, com a resistência a queda dos juros ao
tomador final e com o aumento da inadimplência.
Preocupam, ainda, os riscos vindos do ambiente
econômico externo, onde prevalece um nível de
incerteza muito acima do usual. O setor exportador,
apesar da mudança cambial benigna, não tem
encontrado um mercado receptivo para os produtos
manufaturados e semimanufaturados e agora amarga
a redução de preços de algumas commodities.
A conclusão foi que as ações do governo são
adequadas e necessárias, tanto o estímulo à economia,
36
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abril / junho de 2012
José Fernando Cosentino [email protected]
Economista e consultor de orçamento da Câmara dos Deputados
José Luiz [email protected]
Mestre em economia pela Universidade de Brasília. Economista do
Conselho Regional de Economia do DF. Professor da Enap – Escola
Nacional de Administração Pública e da UDF – Centro Universitário
do Distrito Federal. Ex-presidente do Corecon-DF (1990, 1994 e
2009/10), do Cofecon 1996) e da ANGE (1999/2001).
César Augusto Moreira Bergo [email protected]
Economista e sociólogo. Mestre em mercado financeiro e especialis-
ta em governança corporativa e administração estratégica. Foi pre-
sidente e diretor de instituição financeira e ocupou diversos cargos
executivos em banco federal. Conselheiro do Corecon-DF.
Carlos Eduardo de [email protected]
Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(1966) com mestrado em Economia pela EPGE/FGV (1970). Foi
Diretor do Banco Central (Área Externa - 1985 a 1988 / Área de
Liquidações e Desestatização - 1999 a 2003) e
Secretário de Política Econômica (1993).
Conselheiro do Corecon-DF
como a decisão de baixar os juros dos bancos públicos
como instrumento de indução à queda dos juros na
economia. A avaliação crítica se refere à pulverização
das medidas e a sua adoção em sucessivos pacotes,
dessa forma cultivando-se a crise e sinalizando para o
mercado que o governo não tem uma avaliação precisa
da natureza das dificuldades que enfrenta. Pode ser
que o governo esteja propagando pessimismo nos
setores produtivos. Os gestores da política econômica
devem, ao contrário, difundir confiança nos rumos da
economia e acentuar, também, os pontos fortes das
medidas adotadas.
Nada obstante a qualidade técnica de muitas
medidas adotadas pelo governo se analisadas
separadamente, não se pode esquecer que a discussão
estratégica deve preceder a discussão técnica, e
isto parece não estar acontecendo. Tal circunstância
tem gerado impactos nocivos nas expectativas dos
agentes econômicos, pois agrava a percepção de
risco e contribui para o adiamento dos investimentos
necessários à estabilidade e crescimento econômicos.
As sucessivas alterações nas regras de mercado, como
no caso de cobrança de IOF, implicam custos diretos e
indiretos, seja pelas constantes alterações ensejadas nos
sistemas informatizados das instituições financeiras,
seja pelo encarecimento do custo dos empréstimos.
Isso gera incertezas para o setor produtivo e para os
investidores estrangeiros.
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ura
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Análise comparativa das discrepâncias entre os rendimentos dos assalariados
do setor público e do setor privado na região metropolitana de São Paulo e
no Distrito Federal: 1992 a 2011Júlio Miragaya
Os assalariados do setor público no Distrito Federal,
cujo rendimento médio em 2011 foi de R$ 5.008,00,
apresentavam remuneração 112,7% superior aos
de seus pares na região metropolitana de São Paulo
(R$ 2.355,00). Por sua vez, os assalariados do setor
privado nesta última possuíam rendimento médio no
mesmo ano (R$ 1.462,00) 21,7% superior aos de seus
pares na Capital da República (R$ 1.201,00).
Gráfi co 1: Rendimento médio dos trabalhadores em 2011 (por região e setor)
Se tais dados revelam a condição do Distrito Federal
de “meca” do serviço público no país, expõe também
a relativa fragilidade de seu setor privado, cujos
rendimentos são mais de quatro vezes menores que
no setor público e explicam o motivo da juventude
brasiliense aspirar tanto o ingresso no setor público.
1. A dimensão da discrepância
O mercado de trabalho no Brasil tem apresentado
uma expressiva recuperação nos últimos anos,
destacando-se a redução da taxa de desemprego,
com a ampliação do nível de ocupação acima do
crescimento da População Economicamente Ativa
(PEA) e o aumento do rendimento do pessoal ocupado.
38
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abril / junho de 2012
Ocorre que tanto a ocupação quanto o rendimento
não apresentam comportamento uniforme ao se
analisarem os dados por região e por setor de atividade
econômica.
Uma abordagem da evolução do mercado de
trabalho nos últimos 20 anos na região metropolitana
de São Paulo e no Distrito Federal revela que o
rendimento médio mensal do pessoal ocupado no
Distrito Federal em 2011 foi de R$ 2.093,00, superior
em 37,1% ao verificado na região metropolitana de São
Paulo (R$ 1.527,00), conforme revela o Quadro 1.
Essa diferença vem se acentuando nos últimos anos.
Em 1992, o rendimento dos ocupados no DF era 26,6%
superior ao verificado na região metropolitana de São
Paulo, mas a diferença chegou a cair para apenas 2,0%
em 1997 e desde então vem se acentuando.
Gráfico 2: Rendimento médio dos ocupados (1992-2011)
A explicação para tal comportamento vem da
evolução dos rendimentos dos assalariados no setor
público nas duas metrópoles. Em 1992, os rendimentos
dos assalariados do setor público na Capital da
República eram 63,8% superiores aos da Região
Metropolitana de São Paulo. Até 1998, essa diferença
caiu para 27,9%, devido a uma maior majoração dos
servidores em São Paulo (34,0%) que no DF (6,1%),
mas voltou a subir para 63,9% em 2003 devido à maior
contração dos rendimentos em São Paulo (- 27,1%) do
que no DF (- 8,0%).
Desde então, coincidindo com o início do governo
Lula, os rendimentos dos assalariados do setor público
vêm aumentando, mas muito mais fortemente no
Distrito Federal, com aumento real de 49,45%, do
que na Região Metropolitana de São Paulo (15,16%),
levando o rendimento médio na Capital Federal a
superar em 112,7% o verificado em São Paulo.
Gráfico 3: Rendimento médio dos assalariados do setor público (1992-2011)
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Entre os assalariados do setor privado, a relação é
inversa: os rendimentos na Região Metropolitana de
São Paulo são superiores aos verificados no Distrito
Federal. A diferença oscila entre o máximo de 47,1%
em 1998 e o mínimo de 16,6% em 2009, e é atualmente
21,7% maior.
Gráfico 4: Rendimento médio dos assalariados do setor privado (1992-2011)
Tais números revelam a enorme relevância do setor
público para a economia do Distrito Federal e de sua
pequena importância na Região Metropolitana de São
Paulo, visto que nesta o dinamismo é determinado pelo
setor privado, em particular o setor industrial, que paga
os maiores salários, e que tem reduzida expressão no
Distrito Federal.
Observa-se que a diferença entre os rendimentos
dos assalariados do setor público e do setor privado
tem se ampliado nos últimos anos, mas de forma
moderada na Região Metropolitana de São Paulo –
evoluiu de 32,1% em 1992 para 46,0% em 1998; 44,8%
em 2003 e 61,1% em 2011. No Distrito Federal, essa
evolução foi mais acentuada: de 170,0% em 1992 para
178,6% em 1998; 213,2% em 2003 e 317,0% em 2011,
ou seja, mais de quatro vezes superior.
Gráfico 5: Setores público e privado de São Paulo e Distrito Federal (1992-2011)
40
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abril / junho de 2012
2. Evolução da ocupação
Os níveis de ocupação no Distrito Federal e na
região metropolitana de São Paulo apresentaram dois
períodos com comportamentos distintos nos últimos
20 anos, com um modesto crescimento entre 1992 e
2003, o que resultou numa elevação do contingente
e da taxa de desemprego, e entre 2003 e 2011, com
o refluxo desta, em função de uma forte expansão do
emprego (Quadro 02).
No primeiro período, a ocupação cresceu 3,05% ao
ano no Distrito Federal enquanto a PEA cresceu ao ritmo
anual de 3,98%. Isso resultou num aumento de 127%
no contingente desempregado, de 113 mil para 257
mil. Na região metropolitana de São Paulo, enquanto
a PEA cresceu 2,19% ao ano, o contingente ocupado
aumentou 1,67%, aumento de 66,3% no número de
desempregados, de 1,168 milhão para 1,942 milhão.
No período entre 2003 e 2011, o quadro sofreu
profunda alteração, com a geração de novos postos
de trabalho acima do aumento da PEA. Dessa forma,
enquanto no DF a PEA desacelerou para crescimento
de 2,79% ao ano, o contingente ocupado cresceu em
4,43% ao ano, o que levou a uma queda de 32,3% no
contingente desempregado, para 174 mil. Já na região
metropolitana de São Paulo, o crescimento da PEA caiu
para 1,20% ao ano, ao passo que a ocupação aumentou
seu ritmo de crescimento para 2,61% anuais, fazendo
com que o número de desempregados refluísse em
42,0%, para 1.127 mil.
Deve-se ressaltar que a expansão do nível de
ocupação dos assalariados do setor público cresceu
em velocidade bem menor que entre os assalariados
do setor privado, tanto no Distrito Federal quanto na
Grande São Paulo. Na Capital, o aumento do emprego
no setor público entre 1992 e 2011 foi de 40,6%
enquanto no setor privado foi de 149,1%. Já em São
Paulo, a expansão da ocupação no setor público foi de
apenas 7,5% entre 1992 e 2011, frente aos 53,8% entre
os assalariados do setor privado.
Gráfico 6: Desemprego em São Paulo e Distrito Federal (1992-2011)
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Tais números revelam a enorme relevância
do setor público para a economia
do Distrito Federal e de sua pequena
importância na Região Metropolitana de
São Paulo, visto que nesta o dinamismo é
determinado pelo setor privado, em particular o
setor industrial...
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O comportamento variou entre os vários setores de
atividade econômica. Tanto no Distrito Federal quanto
na Grande São Paulo, a maior expansão ocorreu no
setor de serviços (186,7% no DF e 98,3% na Grande
SP), seguido pelo comércio e construção civil. No setor
industrial, o emprego ficou praticamente estável na
Grande São Paulo, setor que respondia por 26,4%
das ocupações em 1992 e que recuou para 18,0% em
2011. Já no DF, o emprego industrial tem participação
marginal, de 4,3% em 1992 e de 3,8% em 2011.
Crescimento moderado ocorreu também no emprego
doméstico.
Gráfico 7: Aumento da ocupação, por região e setor (1992-2011)
Júlio [email protected]
Economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e
Econômicas da Universidade Cândido Mendes no Rio de Janeiro.
Mestre em Gestão Territorial pelo Departamento de Geografia da
UnB. Doutorando em Desenvolvimento Sustentável no CDS/UnB.
Diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento
do Distrito Federal (Codeplan), presidente do Instituto Brasiliense
de Estudos de Economia Regional (Ibrase). Conselheiro do Conselho
Federal de Economia eleito para o triênio 2011/13 e coordenador da
Comissão de Política Econômica do Cofecon. 42
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Bolsa Família e seus impactos nas condições de vida da
população brasileira Paulo de Martino Jannuzzi
Os aportes crescentes de recursos públicos em
Políticas Sociais têm gerado impactos importantes nas
condições de vida da população brasileira nas últimas
duas décadas e, particularmente, nos últimos 10 anos.
De um patamar de gasto em políticas sociais de 13% do
Produto Interno Bruto (PIB) nos anos 1980, o país passou
a aportar mais recentemente, somados os recursos do
governo federal, dos estados e dos municípios, um
montante de quase 25% do PIB na área social, como
consequência da implementação das ações e direitos
sociais inscritos na Constituição de 1988 e a priorização
da agenda de combate à pobreza, à desigualdade
e às iniquidades históricas de diversos segmentos
populacionais. Entre 1995 e 2009, o gasto social per
capita teria duplicado, em valores reais, passado de
cerca de R$ 1.400,00 para R$ 2.800 por habitante. Nesse
período tem-se observado, particularmente na esfera
federal, mas com repercussão ou indução também
em estados e municípios, um movimento sistemático
de ampliação do escopo e da escala dos programas
e ações em Educação, Saúde, Trabalho, Habitação,
Previdência Social e Desenvolvimento Social1.
A contrapartida desse volume de recursos na
estruturação e fortalecimento de programas sociais
tem se revelado por diversas evidências do cotidiano,
pelo Censo Demográfi co 2010 e de outras pesquisas
como a forte queda da pobreza, da mortalidade infantil,
da desigualdade e pelo aumento da formalização do
emprego, da renda, do nível educacional e consumo
de alimentos e bens duráveis no país. Observadas em
todas as regiões e segmentos populacionais, essas
tendências têm sido particularmente intensas nas
áreas e estratos mais pobres. De fato, a comparação
de resultados dos Censos Demográfi cos 2000 e 2010
revela que a extrema pobreza caiu 40% na zona rural e
37% no Nordeste. A mortalidade infantil diminuiu mais
de 55% no Nordeste e 49% entre famílias em extrema
pobreza2.
Se é fato que a melhoria das condições de vida
nos últimos 10 anos se deve aos efeitos sinérgicos do
conjunto dessas políticas sociais, não há como negar
que a intensidade da queda da pobreza e os avanços
sociais nas áreas mais pobres se processou, em boa
medida, pela expansão e cobertura focalizada do
programa Bolsa Família. É o que se evidencia na seção
seguinte.
Bolsa Família: expansão e impactos
O Programa Bolsa Família foi instituído em 2003
com o propósito de integrar, em um único programa,
as ações de transferência de renda então existentes no
governo federal - Bolsa-Escola, Bolsa Alimentação e
Auxílio-Gás-, e, por meio de articulações institucionais,
aquelas em operação em estados e municípios. O
programa prevê a concessão de algumas modalidades
de benefícios monetários a famílias em situação de
pobreza, em função do nível de vulnerabilidade, do
número de crianças e adolescentes na família. A partir
1 Castro, J.A. (2011) Política social no Brasil: marco conceitual e análise da ampliação do escopo, escala e gasto público. Brasília, Revista Brasileira de Monitoramento e Avaliação, n,1, p.66-95, jan-jul 2011.2 Martignoni, E.M. Mortalidade infantil por regiões e faixas de renda domiciliar per capita nos Censos Demográfi cos 2000 e 2010. Estudo Técnico SAGI, Brasília, n.5, 2012.
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de julho deste ano, com os ajustes e inovações trazidos
no Plano Brasil Sem Miséria e Brasil Carinhoso, o valor
médio do benefício passou a ser de 134 reais.
É importante registrar que o programa prevê o
cumprimento de contrapartidas -condicionalidades-
das famílias, como a frequência escolar das crianças
e adolescentes e cuidados básicos de saúde da
criança e gestante. A cada dois anos os benefi ciários
precisam atualizar seus dados - inclusive de
rendimentos - no Cadastro Único de Programas
Sociais, quando a condição de benefi ciário é
reavaliada. Complementarmente, há ações específi cas
de acompanhamento socioassistencial de famílias
com crianças e adolescentes em situação de
descumprimento das condicionalidades e outras
questões específi cas, além de iniciativas de oferta
de cursos de qualifi cação profi ssional e inclusão
produtiva nos estados e municípios. Trata-se, pois, de
um programa com características mistas entre o PANES
uruguaio (desenhado especialmente como programa
de proteção social) e o Chile Solidário (com foco
nas atividades de qualifi cação e inclusão produtiva),
procurando garantir uma renda mínima que permita
às famílias viver com menos agrura e proporcionar
oportunidades para sua superação da condição de
pobreza3.
Da sua criação até 2010, o Programa Bolsa Família
expandiu-se de 3,6 milhões para 12,5 milhões de
famílias. Dados mais atualizados do programa revelam
que, em maio de 2012, o programa já atingia 13,4
famílias benefi ciárias, resultado do esforço de “busca
ativa” de segmentos populacionais vulneráveis
ainda não contemplados no Bolsa, ação prevista no
lançamento do Plano Brasil Sem Miséria em junho de
2011. Tal expansão, em curto espaço de tempo, não
teria sido possível sem o envolvimento das prefeituras
na gestão do programa, na contratação de pessoal para
cadastramento de potenciais benefi ciários, entrega de
cartões e acompanhamento das condicionalidades. De
fato, o Censo Anual do Sistema Único da Assistência
Social mostra que o número de técnicos municipais
envolvidos na operação do Bolsa Família e dos
Programas Socioassistênciais (Serviço de Proteção
Integral à Família, Atividades Socioeducativas etc) nos
equipamentos públicos básicos do sistema mais do
que dobrou entre 2007 e 2011, quando já atingia quase
60 mil trabalhadores4.
Ao longo desse período o programa vem
produzindo impactos signifi cativos nas condições
de vida de seus benefi ciários. O primeiro efeito mais
evidente do programa, conjugado com outros fatores
e políticas, tem sido sua contribuição na diminuição
da pobreza no país. Entre 2000 e 2010, o número de
pessoas com renda domiciliar per capita até 140 reais
passou de 48 milhões para 31 milhões. O contingente
de pessoas em extrema pobreza - com renda até 70
reais per capita - caiu de 25 milhões para 16,2 milhões,
com diminuição particularmente intensa do semiárido
nordestino. Não fosse o bom grau de focalização do
programa junto aos mais vulneráveis, certamente não
se obteriam tais resultados.
3 Soares, S.;Satyro,N. O Programa Bolsa Família: desenho institucional, impactos e possibilidades futuras. Texto para Discussão IPEA, Brasilia, n.1424, 2009.4 MDS. Censo SUAS 2011. Brasília, 2011 (prelo).
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De fato, a compara-ção de resultados
dos Censos Demo-gráfi cos 2000 e 2010 revela que a extrema
pobreza caiu 40 % na zona rural e 37% no Nordeste. A mor-
talidade infantil dimi-nuiu mais de 55%
no Nordeste e 49% entre famílias em extrema pobreza2.
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Além da sua contribuição na redução dos níveis
de pobreza no país, o Bolsa Família tem produzido
efeitos específi cos - impactos - nas condições
educacionais e saúde de seus benefi ciários. É o que
revela estudo recentemente divulgado pelo Ministério
de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),
a Avaliação de Impacto do Bolsa Família - 2ª rodada
(AIBF II)5. Trata-se de uma pesquisa desenhada para
captar os impactos específi cos do programa em várias
dimensões socioecônomicas, isolando-os dos efeitos
dos demais programas sociais existentes. A amostra
da pesquisa abrangeu 269 municípios em todo o país,
coletando informações de mais de 11 mil famílias
inscritas ou não no Cadastro Único, benefi ciárias ou
não do Programa Bolsa Família, já entrevistadas na 1ª
rodada da pesquisa, realizada em 2005.
No que diz respeito à educação, a pesquisa revela
que crianças benefi ciárias do Bolsa apresentaram
progressão escolar da ordem de seis pontos percentuais
maior que crianças de mesmo perfi l socioeconômico
não benefi ciárias. No Nordeste, o programa teria
proporcionado um aumento signifi cativo na frequência
escolar das crianças benefi ciárias, o que pode também
ter contribuído para alguma redução do trabalho
infantil, impacto captado marginalmente na pesquisa.
A AIBF II também mostra que o programa gerou
impactos efetivos na melhoria das condições de saúde
de crianças benefi ciárias, reduzindo a desnutrição
aguda e garantindo cumprimento mais regular do
calendário de vacinas. Mulheres grávidas benefi ciárias
do programa também se mostraram mais presentes no
acompanhamento pré-natal.
Corroborando os resultados de vários outros
estudos compilados pelo IPEA6 sobre a relação entre
Bolsa Família e oferta de trabalho, a pesquisa demonstra
que o programa não provoca efeito desmobilizador de
benefi ciários no mercado laboral, seja em termos de
ocupação, procura de emprego ou jornada de trabalho.
Chefes de famílias benefi ciárias, de 30 a 55 anos
de idade, apresentam nível de atividade, ocupação
e jornada muito próximos aos de chefes de nível
socioeconômico equivalente. Estudo técnico realizado
no MDS com dados do Censo Demográfi co 2010 sobre
a participação masculina no mercado de trabalho, de
benefi ciários ou não do programa, apontam no mesmo
sentido7.
Com relação à participação feminina, a pesquisa
revela que as mulheres benefi ciárias apresentam
menor taxa de ocupação que as não benefi ciárias,
embora estejam sujeitas a risco maior de desemprego e
levem mais tempo para conseguir trabalho. A pesquisa
apontou evidências também de que, à época de sua
realização, no segundo semestre de 2009, mulheres
benefi ciárias tenderiam a ajustar sua carga semanal
de trabalho às custas da formalização do vínculo, por
opção de buscar trabalho com jornada menor ou
desconhecimento da compatibilidade entre ter carteira
assinada e ser benefi ciária do Bolsa Família. Como os
demais achados do estudo, essas evidências precisam
continuar a ser investigadas, sobretudo considerando
a continuidade do dinamismo do emprego e de
sua formalização em todo o país e segmentos
populacionais.
De qualquer forma, tais resultados refutam a
hipótese de que a falta de mão-de-obra no Nordeste ou
outras regiões do Brasil decorreria de um suposto efeito
“preguiça” do programa, que retiraria trabalhadores da
força de trabalho no país. Ao contrário, como mostraram
estudos de vários pesquisadores, o programa Bolsa
Família tem contribuído para manter o dinamismo
econômico no país, pelos seus efeitos multiplicadores
no consumo de alimentos e bens duráveis que as
transferências de renda têm criado junto a segmentos
antes excluídos do mercado consumidor nacional.
Para cada 1 real gasto do programa, o Produto Interno
Bruto aumentaria R$ 1,44, depois de percorrido todo
o circuito de consumo, distribuição e produção na
economia8. A suposta falta de mão de obra decorreria,
5 SAGI. Avaliação de Impacto do Bolsa Família – 2ª. Rodada. Brasília, MDS, 2012. 6 Batista,L.F.; Soares,S. O Que se Sabe Sobre os Efeitos das Transferências de Renda Sobre a Oferta de Trabalho. Texto para Discussão IPEA, Brasilia, n.1738, 2012.7 Sousa, M.F. Diferenciais de inserção no mercado de trabalho entre benefi ciários e não benefi ciários do Programa Bolsa Família no Censo Demográfi co 2010. Estudo Técnico SAGI, Brasília, n.4, 2012. 8 Castro, J.A; Mostafa,J. Herculano,P. Gastos com Políticas Social: alavanca para o crescimento com distribuição de renda. Comunicados IPEA. Brasília, nº 75, 2011
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pois, do contexto de quase pleno emprego em que se
encontra a economia brasileira, movida pelo volume de
investimentos públicos e privados e pela sustentação
do consumo - de benefi ciários e não benefi ciários - nos
últimos anos.
A pesquisa também revela que as mulheres
benefi ciárias - que em sua larga maioria são as titulares
do cartão do Bolsa - vêm adquirindo maior autonomia
e poder nas decisões familiares e na compra de bens
duráveis, remédios e vestuário, comparativamente a
mulheres não benefi ciárias. Mulheres benefi ciárias
também têm ampliado sua autonomia na decisão
de participar do mercado de trabalho e sobre uso de
métodos contraceptivos, tendências que certamente
contribuíram para a expressiva diminuição da
fecundidade no país entre 2000 e 2010, inclusive entre
mulheres de baixa renda. De fato, entre aquelas com
renda domiciliar per capita até 70 reais, a fecundidade
caiu de 5,1 fi lhos para 3,6 no período9.
A maior autonomia no uso de contraceptivos
e a queda tão expressiva da fecundidade entre
mulheres de baixa renda mostram que o programa
não tem efeito pró-natalista, assim como não o
tiveram iniciativas progressistas da envergadura da
ampliação da licença maternidade nos anos 200010.
Se nem mesmo países europeus com políticas
deliberadamente pró-natalistas, com estímulos
econômicos e fi scais bem mais signifi cativos para as
famílias, conseguiram reverter a tendência de declínio
da fecundidade, não é factível esperar efeito diferente
das mudanças introduzidas nos últimos meses, como
a extensão do benefício variável do Bolsa Família de
três para cinco fi lhos e a complementação de renda
do Brasil Carinhoso, voltado às famílias com crianças
de 0 a 6 anos. Na realidade, a expansão da oferta de
creches públicas e conveniadas previstas na ação pode
potencializar a queda da fecundidade entre mulheres
benefi ciárias, por viabilizar a retomada de projetos de
volta à escola e reingresso antecipado ao mercado de
trabalho, aspirações manifestadas pelas mulheres em
outra pesquisa em execução pelo Ministério.
Esses resultados contribuem, certamente, para
trazer novas evidências para o debate acalorado e
muitas vezes, pouco informado, sobre méritos, vieses,
efeitos positivos e externalidade do Programa Bolsa
Família, nos meios de comunicação e academia11.
O fato é que o programa tem produzido impactos
signifi cativos no bem estar de seus benefi ciários e,
por extensão, pelo seu tamanho e características,
sobre a população brasileira em geral. Como todo
programa público operado a seis mãos - união, estados
e municípios - há certamente aprimoramentos a fazer,
inovações a testar e implementar. É por isso que é
importante continuar investigando sua operação, seus
efeitos e suas difi culdades, como o MDS faz com o Bolsa
Família e seus outros programas e ações, por meio da
Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI).
9 Patrício, L.O. Fecundidade por regiões e faixas de renda domiciliar per capita nos Censos Demográfi cos 2000 e 2010. Estudo Técnico SAGI, Brasília, n.6, 2012. 10 Patrício, L.O. Considerações sobre a ação Brasil Carinhoso sobre a fecundidade. Estudo Técnico SAGI, Brasília, n.7, 2012.11 Bichir, R. O Bolsa Família na berlinda? Os desafi os atuais dos programas de transferência de renda. Novos Estudos Cebrap. São Paulo, v.87, p.114-129,2010.
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... a pesquisa revela que as mulheres
benefi ciárias apresen-tam menor taxa de
ocupação que as não benefi ciárias, embora
estejam sujeitas a risco maior de desem-
prego e levem mais tempo para con-
seguir trabalho.
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Conclusão: a prática de realização e publicização de pesquisas de avaliação
A pesquisa AIBF, realizada em 2005, replicada em
2009 e prevista em 2013, constitui-se em uma das mais
de 130 pesquisas de avaliação e estudos avaliativos que
a SAGI tem realizado desde 2004. Estas pesquisas têm
a finalidade de subsidiar o Ministério e suas Secretarias
Nacionais na elaboração de diagnósticos para desenho
de programas, análise da implementação de ações e
serviços e à mensuração de resultados e impactos das
políticas de desenvolvimento social e combate à fome
junto à população brasileira.
Estes estudos e pesquisas de avaliação são
realizados, em alguns casos, pela equipe técnica da
própria SAGI, porém, em sua maioria, por meio de
contratações de instituições de pesquisas externas e
independentes, selecionadas por processos licitatórios,
por editais junto ao CNPq e por julgamento de
mérito técnico junto a organismos internacionais.
Os resultados dessas pesquisas têm sido divulgados
na forma de artigos e fichas técnicas encartadas na
publicação Cadernos de Estudos (nº5 e nº13, em
particular), em livros e, progressivamente, em estudos
técnicos e sumários executivos, todos disponíveis há
mais de oito anos na Internet (www.mds.gov.br/sagi).
Além de publicações em papel, a larga maioria desses
materiais está em suporte digital, disponível no Acervo
Virtual de Políticas e Programas de Desenvolvimento
Social da SAGI no mesmo site. Adicionalmente, o
MDS oferece ainda as bases de dados de pesquisas
quantitativas, para que pesquisadores possam realizar
estudos complementares e produzir conhecimento
adicional para aprimoramento das ações do Ministério.
O Brasil vem mudando para melhor pela escolha
da sociedade brasileira e pela determinação política
do governo de priorizar investimentos em programas
sociais. No conjunto das políticas sociais estruturadas
na última década, o Bolsa Família tem apresentado
impactos positivos na redução da pobreza e
desigualdade e na melhoria das condições educacionais
e de saúde dos filhos das famílias beneficiárias. Mas
certamente há aprimoramentos a fazer no programa e
em outras ações do Plano Brasil Sem Miséria. É por essa
razão que o MDS continua investindo na realização
de pesquisas de avaliação e tornando-as públicas. E é
por isso que o Bolsa Família seguirá ocupando lugar
de destaque no Sistema de Proteção Social que o
Brasil está finalmente logrando construir, em busca de
padrões de bem-estar compatíveis com a sua posição
de sexta maior economia mundial, em busca, enfim, do
país que queremos. Um país rico, um país sem pobreza.
Mapas e Gráficos ilustrativos da melhoria das condições de vida no Brasil
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junt
ura Paulo de Martino Jannuzzi
[email protected]ário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). É graduado
em Matemática, mestre em Administração Pública e doutor em
Demografia. É Professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e também da
Escola Nacional de Administração Pública (ENAP).
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O Programa de Educação Tutorial (PET) é voltado
para os alunos de graduação com o objetivo de esti-
mular atividades ligadas a pesquisa, ensino e extensão.
O grupo PET Economia da UnB é o mais antigo do Bra-
sil – foi criado em 1979. Atualmente conta com a par-
ticipação de 14 alunos de diferentes semestres (entre
bolsistas e voluntários) que participam – na presença
de um professor tutor – de diversas reuniões de caráter
coletivo. A ideia é que os alunos troquem experiências
e conhecimentos, aprendam além do visto em sala de
aula, contribuam para o aperfeiçoamento constante do
curso de economia, tenham contato com revistas aca-
dêmicas de diferentes linhas de pensamento e que dis-
cutam artigos de temas diversifi cados, para assim ter
acesso a informações relevantes ao entendimento do
sistema econômico como um todo.
Uma das atividades mais importantes do programa
é o trabalho de monografi a que cada aluno realiza ao
longo do ano com a orientação de um professor do de-
partamento. Esse trabalho pode ser feito em qualquer
temática dentro da área econômica que seja de inte-
resse do estudante. E em 2011 o grupo PET Economia
lançou a primeira edição do livro anual com todas as
monografi as desenvolvidas pelos alunos que fi zeram
parte do programa no ano de 2010. A segunda edição
foi lançada em abril de 2012, Junto com a publicação do
livro é realizado também um “Congresso PET Economia
UnB” para apresentação oral e debate dos trabalhos,
com ampla participação dos alunos de graduação do
departamento e de alunos de outros departamentos.
Os trabalhos publicados neste livro foram fruto de
grande dedicação por parte dos petianos, que mostra-
ram um amadurecimento acadêmico e pessoal inten-
so durante sua realização. As monografi as abordaram
temas bastante interessantes, com uma qualidade ele-
vada, e o mérito é ainda maior se levarmos em conta
que os pesquisadores ainda são alunos de graduação
com pouca experiência em pesquisa. Além disso, é im-
portante lembrar e agradecer a participação de todos
os professores do departamento de economia da UnB
que estiveram presentes diretamente na orientação
desses trabalhos e também em diversos seminários
promovidos pelo PET.
Você pode conhecer um pouco mais do trabalho
do grupo PET Economia UnB, os alunos que fazem
parte do programa e também as duas edições do livro
de monografi as no site: http://petecounb.wordpress.
com/. Fique à vontade para entrar em contato conosco!
Geovana Lorena BertussiProfessora Adjunta do Departamento de Economia da
UnB, Coordenadora do PET- Economia/ UnB). O Programa de Educação
Tutorial (PET) faz parte da Política Nacional de Iniciação Científi ca e é mantido
pela SESu/MEC.
Livro de Monografi as – PET Economia UnB
Desde a edição 47, a Revista de Conjuntura abrirá este espaço para que os coordenadores, professores e alunos dos cursos de economia do Distrito Federal possam divulgar informações dos cursos sobre assuntos pertinentes aos de interesse dos economistas. As notas e informes, com a identifi cação dos autores, devem ser encaminhadas para o e-mail: [email protected].
INFORMES DOS CURSOS DE ECONOMIA DO DF
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50
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No espaço “Leia e Opine”,
o economista poderá enviar
pequena nota expondo sua opinião
sobre algum fato marcante do
dia ou da semana,
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Compareça ao Conselho Regional de Economia do Distrito Federal e obtenha sua Carteira de Estudante de Ciências Econômicas.
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Ao apresentar a credencial em qualquer Conselho Regional de Economia, o portador poderá consultar a legislação regulamentadora da profissão do economista, extrair cópias de artigos sobre temas de economia e ter acesso às publicações do Sistema COFECON/CORECONs, videotecas e bibliotecas, além de conseguir descontos nos eventos do Sistema COFECON/CORECONs.
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Faculdade, mencionando data prevista de conclusão do curso (original e cópia);
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de qualquer período ou sérieCiências Econômicas
Conselho Regional de Economia da 11ª Região-DFSCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202
CEP 70300-907 - Brasília -DF Tels: (61) 3225-9242 / 3223-1429
3964-8366 / 3964-8368Fax: (61) 3964-8364
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interesses da categoria e
trabalha pela valorização
dos economistas.
Mas, para que esta luta seja
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a participação de todos.
Visite o seu Conselho.
Critique. Dê sugestões.
Participe! A conquista é de todos.
Não quebre a corrente!