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APRESENTAÇÃO A presente edição da Revista de Educação da APEOESP contem subsídios para os professores da rede pública estadual, associados do nosso sindicato, que se inscreverão nos próximos concursos públicos promovidos pela Secretaria de Estado da Educação e que participarão das provas instituídas pelo governo. Organizada pela Secretaria de Formação, esta publicação contém as resenhas dos livros que compõem a bibliografia dos concursos, realizadas por profissionais altamente qualificados, de forma a contribuir para os professores possam obter o melhor desempenho nas provas. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de registrar nossa posição contrária ás avaliações excludentes que vem sendo promovidas pela Secretaria Estadual da Educação que, além de tudo, desrespeita os professores ao divulgar extensa bibliografia a poucos dias da prova, inclusive contendo vários títulos esgotados. Esperamos, no entanto, que todos os professores possam extrair desta edição da Revista de Educação o máximo proveito, obtendo alto rendimento nas provas dos concursos e avaliações. Nossa luta é por mais concursos prossegue, com a periodicidade necessária a uma drástica redução no número de professores temporários, agregando mais qualidade ao ensino e profissionalizando, cada vez mais, o magistério estadual. A periodicidade dos concursos a cada quatro anos com ritmo mais acelerado nos próximos dois anos foi uma conquista nossa e vamos exigir que seja efetivada. A diretoria

Revista de Geografia

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APRESENTAO

A presente edio da Revista de Educao da APEOESP contem subsdios para os professores da rede pblica estadual, associados do nosso sindicato, que se inscrevero nos prximos concursos pblicos promovidos pela Secretaria de Estado da Educao e que participaro das provas institudas pelo governo. Organizada pela Secretaria de Formao, esta publicao contm as resenhas dos livros que compem a bibliografia dos concursos, realizadas por profissionais altamente qualificados, de forma a contribuir para os professores possam obter o melhor desempenho nas provas. Ao mesmo tempo, no podemos deixar de registrar nossa posio contrria s avaliaes excludentes que vem sendo promovidas pela Secretaria Estadual da Educao que, alm de tudo, desrespeita os professores ao divulgar extensa bibliografia a poucos dias da prova, inclusive contendo vrios ttulos esgotados. Esperamos, no entanto, que todos os professores possam extrair desta edio da Revista de Educao o mximo proveito, obtendo alto rendimento nas provas dos concursos e avaliaes. Nossa luta por mais concursos prossegue, com a periodicidade necessria a uma drstica reduo no nmero de professores temporrios, agregando mais qualidade ao ensino e profissionalizando, cada vez mais, o magistrio estadual. A periodicidade dos concursos a cada quatro anos com ritmo mais acelerado nos prximos dois anos foi uma conquista nossa e vamos exigir que seja efetivada. A diretoria

Bibliografia para Geografia 1. ABSABER, Aziz. Os domnios de natureza no Brasil: potncialidades paisagsticas. So Paulo: Ateli, 2007. 2. CASTELLS, Manuel. A Galxia da internet: reflexes sobre a internet, os negcios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 3. CASTROGIOVANNI, A. Carlos; CALLAI, Helena; KAERCHER, Nestor Andr. Ensino de Geografia: prticas e textualizaes no cotidiano. Porto Alegre: Mediao, 2001. 4. DURAND, Marie-Franoise et. al. Atlas da Mundializao: compreender o espao mundial contemporneo. Traduo de Carlos Roberto Sanchez Milani. So Paulo: Saraiva, 2009. 5. ELIAS, Denise. Globalizao e Agricultura. So Paulo: EDUSP, 2003. 6. GUERRA, Jos Teixeira; COELHO Maria Clia Nunes. Unidades de Conservao: abordagens e caractersticas geogrficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. 7. HAESBAERT, Rogrio; PORTO-GONALVES, Carlos Walter. A nova desordem mundial. So Paulo: UNESP, 2006. 8. HUERTAS, Daniel Monteiro. da fachada atlntica imensido amaznica: fronteira agrcola e integrao territorial. So Paulo: Annablume, 2009 9. MAGNOLI, Demtrio. Relaes Internacionais: teoria e histria. So Paulo: Saraiva, 2004. 10. MARTINELLI, Marcelo. Mapas da Geografia e da Cartografia Temtica. So Paulo: Contexto, 2003. 11. SALGADO-LABOURIAU, Maria La. Histria ecolgica da Terra. So Paulo: Edgard Blucher, 1996. 12. SANTOS, Milton. Por uma outra Globalizao. Rio de Janeiro: Record, 2004. 13. SOUZA, Marcelo Lopes. O ABC do Desenvolvimento Urbano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 14. THRY, Herv; MELLO, Neli Aparecida. Atlas do Brasil: disparidades e dinmicas do territrio. So Paulo: EDUSP, 2008 15. TOLEDO, Maria Cristina Motta de; FAIRCHILD, Thomas Rich; TEIXEIRA, Wilson. (Org.). Decifrando a Terra. So Paulo: IBEP, 2009.

1. ABSABER, Aziz. Os domnios de natureza no Brasil: potncialidades paisagsticas. So Paulo: Ateli, 2007.

POTNCIALIDADES:PAISAGENS BRASILEIRAS A paisagem a herana (de processos fisiogrficos e biolgicos) e patrimnio coletivo dos povos que as herdam. o territrio de atuao das suas comunidades. 1. Os grandes domnios paisagsticos brasileiros

O territrio brasileiro apresenta um mostrurio complexo de paisagens ecolgicas do mundo tropical. Existem seis grandes domnios paisagsticos. Quatro so intertropicais e dois subtropicais: 1) Terras baixas florestadas da Amaznia. 2) As depresses interplanlticas. 3) Os "mares de morros". 4) Os chapades cobertos por cerrados e penetrados por florestas galerias. 5) Os planaltos das Araucrias. 6) Domnios das pradarias mistas.

2. "Mares de morros", cerrados e caatingas: Geomorfologia comparada Existem, grosso modo, trs imensos domnios morfoclimticos. So recobertos por trs das principais provncias fitogeogrficas do mundo tropical: 1) Domnio das regies serranas, de morros mamelonares do Sudeste: Uma rea de climas tropicais e subtropicais midos. Inclu a zona da mata, atingindo o sul e a parte oriental do Brasil.

2) Domnio dos chapades tropicais do Brasil Central: rea subquente, de regime pluviomtrico e duas estaes (veres chuvosos e invernos secos). Presente na zona dos cerrados e florestas galerias. 3) Domnios das depresses intermontanas e interplanlticas do Nordeste semirido: a rea subequatorial e tropical semirida. Abrange a zona das caatingas.

3. Nos vastos espaos dos cerrados

Nas reas de cerrados (muito destrudas, atualmente, pela ao antrpica), existiam florestas baixas, de troncos finos e esguios. As principais regies que sofreram as alteraes foram: Tringulo Mineiro, Mato Grosso (sentido lesteoeste e sul-norte) e o centro de Gois. Os cerrados, tambm chamados de campos cerrados, formam um conjunto semelhante aos cerrades. Os climas apresentam o mesmo regime: as temperaturas apresentam mdias anuais mnimas entre 20 e 22C e mximas entre 24 a 26C. A umidade do ar atinge nveis muito baixos no inverno e muito elevados no vero. A aparncia xeromrfica de muitas espcies do cerrado falsa: trata-se de um pseudoxeromorfismo. A combinao de fatores fsicos, ecolgicos e biticos que caracterizam o cerrado , na aparncia, homognea, extensvel a grandes espaos. uma rea formada no apenas por chapades, mas trata-se de um domnio morfoclimtico onde ocorre a maior extensividade de formas homogneas relativas de todo o Planalto Brasileiro (Planalto Central). Durante um longo perodo geolgico (de 12 a 18 mil anos), as principais mudanas ocorridas foram: - O conjunto de cerrados, no Planalto Central, era menor e menos contnuo. - Chapadas arenticas, de Urucaia, tiveram climas secos, cerrados degradados, estepes ou manchas de caatingas. - Catingas predominavam no norte das bordas acidentadas (regio de Braslia). - No extremo sul de Mato Grosso, onde existem campos de vacaria, ocorriam subestepes e campos limpos, com climas mais frios e secos. - Onde ocorrem as Matas de Dourados, deveriam ocorrer bosques subtropicais.

- Os cerrades formam um patrimnio biolgico arcaico. Quando degredados por aes antrpicas, no se refazem facilmente e no se recompe. Os cerrados, por sua vez, foram deles originados e resistem s aes antrpicas.

4. Domnio Tropical Atlntico

No conjunto do territrio intertropical e subtropical brasileiro, destaca-se o contnuo norte-sul das Matas Atlnticas, na categoria de segundo complexo principal. Originalmente, cobria o sudeste do Rio Grande do Norte e o sudeste de Santa Catarina, incluindo trs enclaves: as matas biodiversas da Serra Gacha, as florestas de Iguau e as do extremo oeste dos planaltos paranaenses. As florestas tropicais costeiras formam reas de transio com as reas de caatingas, cerrados, cerrades campestres e planaltos de araucrias. Uma das mais famosas reas de transio entre a zona da mata e os sertes conhecida como "agreste". As matas tropicais esto associadas s altas temperaturas e forte umidade (exemplo: Serra do Itapanha, em Bertioga, com ndices pluviomtricos superiores a 4.500 mm anuais). Atingem a linha da costa, cobrindo tabuleiros no Nordeste, espores e costes na Serra do Mar (pes-de-acar, penedos e pontes rochosos). Entre as matas tropicais e o litoral, destacam-se formaes de restingas (faixas arenosas com cobertura florstica). Minas Gerais (Vale do Rio Doce, Serra do Mar e Mantiqueira - rea tpica de mares de morro) recebe a denominao de Zona da Mata Mineira. Em So Paulo, as matas tropicais penetram o interior dos planaltos, onde formam mosaicos de cerrados e matas em solos calcrios e de terras roxas. Aparecem penetraes de bosques de araucrias nas grandes altitudes da Serra da Mantiqueira (Campos de Jordo) e no Planalto da Bocaina. Na Serra do Jardim (em Valinhos, Vinhedo), nos altos da Serra do Japi (em Jundia), nos campos e mataces (em Salto e Itu) e na Serra de So Francisco (em Rio Claro), ocorrem mini-redutos de cactceas e bromlias. Por fim, necessrio registrar as matas tropicais densas do norte do Paran em dois trechos: no Pontal do Paranapanema e no litoral, com penetraes na faixa ocidental de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, h a ocorrncia de planaltos no norte gacho e na Serra Gacha (Aparados). O domnio dos mares de morros constitui um fator para o conhecimento morfogentico das reas intertropicais.

5. Amaznia brasileira: um macrodomnio

A Amaznia destaca-se pela continuidade de suas florestas, pela ordem de grandeza de sua principal rede hidrogrfica e pela variao de seus ecossistemas; tanto em nvel regional como de altitude. Trata-se do cinturo de maior diversidade biolgica do planeta. Tem um domnio permanente da massa de ar mido, de grande nebulosidade, de baixa amplitude trmica e de ausncia de pronunciadas estaes secas em quase todo os seis subespaos regionais. Nas reas perifricas, observa-se forte sazonalidade, incluindo a "friagem", que vai desde o oeste de Rondnia at o Acre. Essa quantidade de gua, na Amaznia, resultado direto da excepcional pluviosidade: a bacia Amaznia corresponde a 20% da gua doce do planeta. Os critrios populares para a classificao da malha hidrogrfica tm valor cientfico: as cores dos rios, a ordem de grandeza dos cursos d'gua, sua largura, volume e posio fisiogrfica, assim como o sentido, continuidade e duplicidade da correnteza. As imagens de satlites apontam uma visualizao mais completa e integrada do catico quadro de produo de espaos antrpicos sobre a natureza da regio. Vrias atividades so responsveis pela devastao da Amaznia: fracassos agropecurios, rodovias, loteamentos de espaos silvestres com ausncia administrativa, derrubadas e queimadas. 6. Caatinga: o domnio dos sertes secos O domnio das caatingas um dos trs espaos semiridos da Amrica do Sul. A caatinga a rea seca mais homognea do ponto de vista fisiogrfico, ecolgico e social. As razes da existncia de um grande espao semirido, insulado num quadrante de um continente predominantemente mido, so complexas. Os rios do Nordeste chegam ao mar (so exorricos); so intermitentes, peridicos, com solos salinizados (Rio Grande do Norte: esturios assoreados para a produo de sal) e depende das condies climticas. Poucos rios so perenes (rios que vm de longe) como o So Francisco ("Velho Chico", "Nilo Caboclo" ou "Brasileiro") e o Parnaba (entre o Maranho e Piau). A populao se concentra nas reas de maior umidade: entre o serto, uma rea de criao extensiva de gado, e o agreste, terras para a criao de caprinos (produo de leite) e sequeiros - plantas forrageiras como milho, feijo e mandioca.

Essa regio teve fortes fluxos de migrao entre 1950, 1960 e 1970. Tem um comrcio intenso no interior, representado por grandes feiras: Caruaru, Feira de Santana, Juazeiro do Norte e outras. A iniciativa estatal foi de grande importncia para a economia e sociedade nordestinas. Houve a construo de grandes usinas hidreltricas, estmulos industrializao, programas de audagem, irrigao, perfurao de poos, irrigao das reas de sequeiros e reviso dos lenis d'gua.

7. Planaltos de Araucrias e pradarias mistas

O Brasil Meridional uma rea onde a tropicalidade se perde. rea de cobertura vegetal, com bosques de araucrias e climas temperados e midos, principalmente nas grandes altitudes planlticas. Tem rios perenes com dois perodos de cheias. Ao lado dessa cobertura vegetal, aparecem formaes de cerrados, matas tropicais e pradarias mistas. Para entender a geologia e a geomorfologia do sul do Brasil, necessrio partir do perfil leste-oeste dos trs estados do sul do Brasil: 1) Primeiro Planalto: rea cristalina que acompanha o Atlntico (Planalto do Paran, Serra Geral e Aparados). 2) Segundo Planalto: rea sedimentar com depresses e chapades. Possui reas carbonferas em Santa Catarina, Uruanga, Cricima, Lauro Mller e colinas do baixo Jacu (no Rio Grande do Sul). Formaes uniformes, como o caso de Vila Velha, no Paran. 3) Terceiro Planalto: rea de solos sedimentares (arenito) e vulcnicos (basaltos); regio de cuestas e solos de terra roxa. No Rio Grande do Sul, aparecem colinas onduladas conhecidas como coxilhas, formando a Campanha Gacha. O povoamento do sul do pas compe um captulo parte:- Colonizao alem: desde o Vale dos Rios dos Sinos at os sops das serranias, rinces de Nova Petrpolis, Canela e Gramado. Em Santa Catarina, no Vale do rio Itajai-Au. - Colonizao italiana: regio dos vinhedos (Caxias do Sul, Bento Gonalves e Farroupilha), dirigindo-se tambm para o oeste e norte do Rio Grande do Sul e para o oeste de Santa Catarina e do Paran.- Lusobrasileiros: de Laguna at a regio costeira, indo tambm para a barra da

Lagoa dos Patos (Colnia de Sacramento).- Aorianos: colonizaram as coxilhas da depresso de Porto Alegre at o rio Pardo e Santa Maria, destaque para a regio metropolitana de Porto Alegre (Porto dos Casais), importante centro cultural universitrio, industrial e porto fluvial.

8.0 Domnio dos cerrados

Paisagem que domina grande parte do Brasil Central, tambm ocorre em Minas Gerais, So Paulo, Bahia, Piau, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondnia, Roraima e Par. Apresenta uma vegetao tpica e um clima tropical mido e seco. o segundo maior bioma do Brasil. Possui vrios aspectos fisionmicos: rvores (cerrades), cerrados e campos sujos (vegetao arbustiva e herbcea). Vegetao com variedade de espcies: rvores de troncos finos, retorcidos e de cascas grossas (cortia). A densidade da drenagem nessa regio baixa (o Planalto Central o divisor d'gua). Os rios so perenes, do tipo fluvial tropical (cheias de vero e vazantes de inverno). Os componentes de relevo na rea central dos cerrados so produtos de condicionantes climticos. Quanto ao relevo, o Planalto Central a principal unidade geomorfolgica, composto por terrenos cristalinos (erodidos) e sedimentares (chapadas e chapades). Nesse domnio, em funo da existncia de solos cidos, sempre prevalece a prtica da pecuria extensiva para o corte, o que determina um grande desmatamento para a formao de pastagens. Recentemente, verifica-se a correo dos solos cidos (calagem) e o incio de uma atividade agrcola mais intensa (soja, milho, tomate, laranja). Ao sul desse domnio, observa-se a existncia de solos mais frteis (terra roxa), com intensa atividade agrcola (regio de Dourados e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul). Alm das atividades agrrias e da pecuria extensiva, a expanso urbana e a construo de rodovias e ferrovias contribuem para a ocupao irregular dos cerrados. necessrio observar trs diretrizes bsicas para conciliar desenvolvimento e proteo dos patrimnios genticos:

1) Exigir a preservao dos cerrados e cerrades localizados nas reas elevadas dos interflvios (bancos genticos). 2) Preservao de faixas de cerrados e campestres nas baixas vertentes dos chapades. 3) Congelamento total do uso dos solos que se encontram nas faixas de matas de galeria, com vistas preservao mltipla das faixas aluviais florestadas, assim como das veredas existentes sua margem.

9. Domnio da natureza e famlias de ecossistemas

O conceito de ecossistema foi introduzido na Cincia por Arthur Tansley, em 1935. o sistema ecolgico de uma regio, que envolve fatores abiticos e biticos do local. O termo "bioma" passou a ser utilizado por bilogos de vrios pases, s vezes se confundindo com o termo ecossistema. Comeou a ser usado com superficialidade e se desdobrou em conceitos de maior aplicabilidade e versatilidade: Bioma, zonobioma, psamobioma, helobioma e rupreste bioma. No Brasil, os bilogos deram preferncia ao termo bioma, notadamente rupreste bioma. Em 1968, George Bertrand publicou uma tipologia de espaos naturais, desdobrada em zonas de paisagens ecolgicas, domnios (macro) regionais de natureza e regies diferenciadas intradomnios. Agregam-se trs termos na tentativa de substituir os termos ecossistemas / biomas: geossitemas, geofceis e getipo.

ANEXOS I. Relictos, Redutos e Refgios (os caprichos da natureza e a capacidade evocadora da terminologia cientfica)

Em linguagem simblica, usamos expresses conceituais para designar "ilhas" de vegetao: relictos, enclaves, redutos e refgios. - Relictos: Aplicada para designar qualquer espcie vegetal. Encontrada em uma localidade especfica e circundada por vrios trechos de outros ecossistemas. - Enclave, redutos e refgios: Manchas de ecossistemas tpicos de outras provncias, encravadas no interior de um domnio de natureza diferente refletem a dinmica de mudanas climticas e paleoecolgicas.

II. Cerrados e Mandacarus rea de Salto-ltu e referncia para investigaes envolvendo condies climticas do passado. Essa regio e seus arredores apresentam uma das mais importantes paisagens fitogeogrficas e geolgicas do Brasil. Encontra-se grande cobertura vegetal, ecossistemas de cerrados cactceos residuais (mandacarus), matas de fundo de vales e encostas baixas. A presena de caatingas na regio anterior presena dos cerrados, das manchas florestais biodiversas do fundo dos vales regionais e dos setores das serranias de So Roque (Jundia). Inclui as laterais da Serra do Jardim (Valinhos-Vinhedo) e da Serra do Japi (Jundia). Provavelmente, a regio apresentava, em um passado geolgico, perodos semiridos.

III. Paisagens de exceo e canyons brasileiros Paisagens de exceo constituem fatos isolados, de diferentes aspectos fsicos e ecolgicos inseridos no corpo das paisagens naturais. Destacam-se: 1) Exemplos de topografia ruiniformes: - Piau: Sete Cidades de Piracuruca e Serra da Capivara. - Sudeste de Gois: Torres do Rio Bonito. - Norte de Tocantins: Segundo Planalto do Paran (Vila Velha).

- Mato Groso: Chapada dos Guimares. - Pontes rochosos do tipo po de acar. - Penedos ou "Dedos de Deus", no Rio de Janeiro, Terespolis, Vitria e pontos da Serra do Mar. 2) Icebergs, sob a forma de montes e ilhas rochosas, pontilham nos domnios das caatingas: em Milagres (Bahia), Quixad, Jaguaribe e Sobral (Cear) e regio de Patos, no alto do serto da Paraba. 3) Macios elevados (900-1000 m), voltados para ventos midos do leste e sudeste nos sertes secos, apresentam florestas tropicais de encostas e "ps de serra". 4) Canyons brasileiros envolvendo grandes variedades de nomes: gargantas, rasges, boqueires, grutas largas, sovaces, itambs, passos fundos, desfiladeiros e estreitos. Esto no Piau, Paran e sudeste de Gois. 5) O macio de Itatiaia (RJ) e a alta meseta do Pico de Roraima so excees nos altiplanos do Brasil. 6) No caso das plancies, a exceo vai para a Plancie do Pantanal.

Sntese elaborada por Maria Lcia E. B. de Camargo

2. CASTELLS, Manuel. A Galxia da internet: reflexes sobre a internet, os negcios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

Castells inicia esse trabalho comparando a internet com a energia eltrica, assim como a ltima estava para o xito da fbrica e da corporao, a primeira est para a era da informao e da rede. O autor alerta que se por um lado as redes proliferam no domnio da economia e da sociedade superando em desempenho antigas organizaes, por outro lado ainda tem dificuldade de concentrar recursos e metas alm de realizar tarefas de grande complexidade. Uma nova estrutura social do final do sculo XX baseada em redes envolve trs processos: flexibilidade administrativa da economia (produo e

comrcio) e globalizao do capital, a necessidade da sociedade em liberdade individual e comunicao e os avanos da computao e telecomunicaes. Desde o primeiro ano de uso disseminado da rede (1995) o nmero de usurios no parou de avanar, todas as atividades humanas passam a ser estruturadas por ela, motivo pelo qual estar excludo dela seria a maior das excluses. O autor alerta que estamos entrando a toda velocidade na galxia da Internet num estado de perplexidade informada (pg. 9). A velocidade e o ritmo das transformaes dificultam um estudo emprico da influncia da internet no cotidiano e no mundo acadmico. Extrapola-se sobre as maravilhas que a rede pode propiciar ao mesmo tempo em que, denunciase seu poder alienante. Tambm a rede foi castigada pelo mercado de capitais que influncia psicologicamente as pessoas dificultando uma real avaliao da gesto de uma empresa Apesar de no esgotar o assunto Castells espera com o seu texto lanar alguma luz sobre a interao entre a Internet, os negcios e a sociedade. A esperana do autor em reduzir uma sociedade que vive em desigualdade reside no fato de acreditar que qualquer tecnologia pode ser experimentada, apropriada e modificada. A Internet por ter sido criada como uma tecnologia da comunicao pode realmente levar a uma ideia de liberdade, claro que isso depende de inmeros contextos e processos. A nova economia fundamentada no uso da Internet promove um crescimento da produtividade sem precedentes, inclusive podendo alavancar a economia terceiro-mundista. Mas, sem perder os ps no cho Castells enfatiza que: A elasticidade da Internet a torna particularmente suscetvel a intensificar as tendncias contraditrias presentes em nosso mundo. Nem utopia nem distopia, a Internet a expresso de ns mesmos, atravs de um cdigo de comunicao especfico, que devemos compreender se quisermos mudar nossa realidade (pg. 11).

Surpreendentemente o autor no tratou dos assuntos ligados diretamente educao e educao eletrnica. Sua base de trabalho de campo a Amrica do Norte, coletando algumas outras informaes sobre outros pases inclusive o Brasil.

Os principais eventos que conduziram criao e formao da Internet esto ligados ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria durante os anos 1960. O grupo de cientistas envolvidos (ARPA) fez uso de uma revolucionria tcnica de telecomunicaes e comutao por pacote criando um programa chamado Arpanet. Os ns dessa rede foram se espalhando por diversas Universidades norteAmericanas e nos anos 1970 j falava-se em redes de redes. Mas apenas no incio da dcada de 1990 que a rede deixa de ser domnio militar, ocorreu ento o desregulamento e a privatizao da companhia resultando na constituio da Internet. Castells procura demonstrar que a Arpanet no foi a nica fonte da Internet, seu programa inicial permitiu que vrias Universidades, estudantes tcnicos e cientistas desenvolvessem outros ns de comunicao. A partir desse momento a Internet cresce rapidamente. Sob domnio pblico surgem inclusive movimentos como o da fonte aberta que culminou com a criao do sistema LINUX. Fator relevante para a Internet abraar o mundo foi a criao do sistema www. Os projetos de associao fontes de informao atravs da computao interativa remontam os anos de 1940. Mas somente nos anos 1990 o sistema conseguiu ser aplicado, um sotware que permitia obter e acrescentar informao de e para qualquer computador atravs da Internet... (pg. 18). Um sistema de hipertexto navegador /editor chamado world wide web ou rede mundial. Nessa dcada tambm foi disseminado o uso dos navegadores, como atesta Castells: em meados da dcada de 1990 a Internet estava privatizada e dotada de uma arquitetura tcnica

aberta, que permitia a interconexo de todas as redes de computadores em qualquer lugar do mundo... (pg. 19). Castells acredita que a Internet tenha surgido de uma improvvel unio da big science (investigaes cientficas carssimas), da pesquisa militar e da cultura militar sendo os centros universitrios o ponto de encontro. Apesar da origem militar da Rede, era interesse inicial do governo norteAmricano financiar a cincia da computao. No entanto, como de origem militar, a nova criao dependia de trs elementos: flexibilidade, ausncia de um centro de comando, e autonomia mxima de cada n. Sempre enfatizando a origem militar da Internet sob o comando do departamento de Defesa dos Estados Unidos, Castells explica que havia uma boa dose de autonomia dos cientistas que compunham o grupo de pesquisas (Arpanet). Como algo que fora pensado, os ns necessrios para o desenvolvimento do que viria a ser a Internet foi disseminado nos grandes centros Universitrios. Como algo projetado, toda essa revoluo tecnolgica teve origem nos contextos do trmino da Segunda Guerra e da Guerra Fria, justamente por conta da busca da supremacia tecnolgica que os Estados Unidos teriam tornado o desenvolvimento da Internet algo muito flexvel, o contrrio no ocorrera na extinta Unio Sovitica o que acabaria por contribuir sua derrocada nos anos 1980. Sempre exigindo grandes recursos o desenvolvimento da rede no teria sido possvel nas mos das Corporaes, tendo sido recusada por grandes companhias telefnicas. Dependente de instituies governamentais e centros universitrios a Internet era um projeto caro demais para as empresas privadas, mas tambm para as companhias pblicas. Em grande medida foi o grupo de cientistas e estudantes envolvidos na criao e desenvolvimento da Internet que fizeram a ligao entre a Big Science e a contracultura das dcadas de 1960 e 1970. No que eles se interessassem por movimentos sociais ativistas, mas desenvolviam uma contracultura dentro do progresso tecnolgico. Essa cultura estudantil

adotou a interconexo de computadores como um instrumento da livre comunicao, e, no caso de suas manifestaes mais polticas (...) como um instrumento de libertao, que, junto com o computador pessoal, daria s pessoas o poder da informao, que lhes permitiria se libertar tanto dos governos como das corporaes (pg. 26). A abertura da arquitetura da Arpanet levou-a sua rpida globalizao, valendo-se de protocolos de telecomunicaes independentes do poder pblico a sua flexibilidade interagiu diferentes sistemas estabelecendo seu o padro como o global. Qualquer pessoa com conhecimento tcnico podia se ligar a Internet, mltiplas contribuies de diversos hackers comprovam a teoria da tecnologia onde os usurios so seus produtores (pg. 28) o que foi potncializado na Internet pela sua velocidade. Desde o seu incio sob a gide de diversas organizaes governamentais a Internet foi se privatizando culminando na criao da Internet Corporation fos Assigned Names and Numbers (ICANN) sem fins lucrativos que assume a administrao do sistema de nomes de domnio e administrao do sistema de servidores de raiz, anteriormente desenvolvidas por organizaes governamentais (pg. 31). Segundo Castells qualquer pessoa com conhecimento tcnico pode ser membro da Instituio, a despeito de uma viso romntica de uma comunidade global, as eleies para a ICANN no esto isentas de lobbies, provocando protestos da Unio Europeia que v a instituio sob amplo domnio Amricano, mas que para o autor a instituio ainda ter uma compartilhao cultural mais ampla e internacionalizada. De acordo com Castells a produo social da Internet fruto da ao cultural de um lado dos produtores/usurios de outro dos consumidores/usurios. Haveria assim quatro culturas que estruturam a Internet: a tecnomeritocrtica, a hacker, a cultura comunitria virtual e a cultura empresarial. Esto estruturadas hierarquicamente levando Castells a acreditar em uma abertura culturalmente determinada (pg. 36).

A tecnoelites encabeam o projeto de se criar um sistema de comunicao eletrnico global, fazem parte dos tecnoquadros aqueles que respeitam uma srie de proposies tais como: publicar trabalhos, seguir normas formais e informais, comunicao aberta de suas pesquisas, o que em grande parte enraza a cultura da Internet na tradio acadmica, em sua reputao, do exame dos pares e o crdito dos autores. A segunda cultura, a Hacker, de difcil definio, cercada de ambiguidades, por isso Castells considera que a melhor maneira de compreender os valores especficos e a organizao da cultura Hacker considerar o processo de desenvolvimento do movimento da fonte aberta como uma extenso do movimento original do software gratuito (pg. 38). Um dos grandes exemplos dessa abertura o de Linus Torvalds, sempre precisando de ajuda para desenvolver seus sistemas publicava seus trabalhos frequentemente, uma ampla cooperao propiciou em 1993 ao seu sistema, o LINUX. Um sistema operacionalmente melhor que os patenteados UNIX. No entanto o sistema LINUX permanece ainda distante dos usurios/consumidores sem sofisticao. Na verdade, dentro da cultura hacker ocorre a aplicao das regras da tecnomeritocracia, surge dentre os hackers uma mistura entre a alegria da criatividade com a reputao entre os pares. Acima de tudo deve-se garantir a liberdade de criar e se apropriar do conhecimento, ainda que os prprios hackers reivindicam o direito de escolher o desenvolvimento comercial de suas aplicaes a principal condio no trair o acesso aberto. A comunidade hacker tem grande satisfao em ser inovadora e doadora, envolve-a um sentimento comunitrio, baseado na integrao ativa a uma comunidade, que se estrutura em torno de costumes e princpios de organizao social informal (pg. 43). Cises ocorrem entre as

comunidades, mas nunca so de cunho ideolgico, mas sim sempre tecnolgicos, apesar disso so agudos os conflitos resultando mesmo em expulses das comunidades.

Um diferenciador da cultura hacker so seus encontros virtuais, raramente ocorrem encontros formais, justamente os hackers so reconhecidos pelos seus nomes virtuais. verdade que por conta das inmeras caractersticas da cultura hacker muitos a consideraram uma marginalidade psicolgica, mas seus participantes na verdade so pessoas ditas normais pessoas que vivem em famlia e vivem uma vida regular. A verdadeira cultura hacker tambm no enxerga limites quanto ao princpio de doar, no importa se em naes desenvolvidas ou no, a falta de recursos podem levar as pessoas a criar suas prprias solues. Mas h tambm as subculturas hackers montadas sob princpios polticos lutando pela liberdade total da Internet, tambm nesse caminho surgem os cyberpunks e os crackers alguns deles sabotadores polticos de um mundo que vigiado. Isso no os envolveria no cibercrime mas obviamente a sociedade os enxerga com muita apreenso. Tambm as comunidades virtuais tm seu valor na Internet, a princpio muitos dessa comunidade eram hackers, mas com o tempo ganharam muitos adeptos. No so necessariamente exmios programadores, mas, com a exploso da Internet realizaram muitas contribuies sociais, no entanto sua contribuio comercial foi decisiva. Nas palavras de Castells: Assim, enquanto a cultura hacker forneceu os fundamentos tecnolgicos da Internet, a cultura comunitria moldou suas formas sociais, processos e usos. (pg. 47); As origens das comunidades on-line so muito parecidas com as origens dos movimentos de contra cultura da dcada de 1960. Mas no momento em que ela se expande ela tambm distancia-se dos movimentos de contra cultura que se enfraquecera pouco a pouco. Movimentos sociais de todos os tipos surgiram entre as comunidades: ambientalistas, extremistas, correios para sexo. O que para Castells no representa um sistema de valores coerentes como a cultura hacker, mas que apresentam ao menos duas caractersticas bsicas: a comunicao livre e a formao autnoma de redes, difundindo-se para todo o domnio social.

Por fim a cultura empresarial foi formada a partir de crculos fechados de tecnlogos e comunidades organizadas. Castells v as relaes da Internet com bastante relativismo frente aos outros domnios do mundo dos negcios. A Internet tornou-se a partir dos anos 1990 a fora propulsora da nova economia, em uma poca em que a renovao empresarial partiu de ideias e no do capital, a realizao de poder transformar poder mental em dinheiro tornou-se a pedra angular da cultura empresarial do vale do silcio e da indstria da Internet em geral (pg. 49). Essas ideias passaram a ser vendidas em ofertas pblicas na bolsa de valores. Mas h uma grande diferena entre a Internet e as outras empresas, enquanto estas procuram prever o futuro do mercado a Internet vende o futuro. A estratgia mudar o mundo atravs da tecnologia. Mas a Internet mantm uma relao simbitica com o capital de risco, se odeiam, mas precisam um do outro. Castells entende que a cultura empresarial a cultura do dinheiro, e na Internet essa cultura assombrosa. Desenvolve-se dentro dela tambm a cultura do trabalho e da gratificao imediata. As pessoas envolvidas nessa cultura so em geral solteiras e chegam a apresentar um ndice de relacionamento cvico 22% menor do que a mdia nos Estados Unidos. Artistas e ambiciosos desse mundo empresarial transformaram a Internet de uma crena tecnocrtica do progresso dos seres humanos, na espinha dorsal de nossas vidas. Um movimento significativo da Internet na economia eletrnica a possibilidade de surgir uma Nasdaq eletrnica, inclusive em uma tendncia de a transao eletrnica ser o ncleo do mercado financeiro e para a consolidao das bolsas de valores de todo o mundo. Suas vantagens so: o custo das transaes muito menores, os investimentos on-line que mobilizam poupanas de todo o mundo, grande fluxo de informao, ausncia de intermedirios e rpidas reaes s intempries do mercado.

Mas isso tudo no impediu a Internet de sofrer com o que Castells chama de turbulncias de informao, os mercados agem de diversas formas sob diversas incertezas. Houve uma mudana qualitativa dos mercados na Era da Internet, fugindo de controle, resultado de uma complexidade catica. Ocorre tambm a especulao das supervalorizaes das empresas da Internet assim como a subestimao fruto tambm dos humores do mercado. A bolha de 2000 de fato afetou quase todas as empresas tecnolgicas, poucas empresas escaparam das perdas. A Internet provoca uma volatilidade maior e consequentemente uma maior alternncia de alta e quedas bruscas.

Algumas importantes caractersticas surgem com a sociedade da Internet, por exemplo, a necessidade do aprender a aprender, de transformar a informao em conhecimento. Com isso, vem tambm a possibilidade do ressurgimento da autonomia no trabalho com uma agregao do capital e desagregao do trabalho. Com relao diviso dos gneros no trabalho a incorporao estrutural de mulheres ao mercado de foi a base indispensvel para o

desenvolvimento da nova economia, com consequncias duradouras para a vida familiar e para o conjunto da estrutura social (pg. 78). Por fim tem provocado a formao e mobilizao de uma mo de obra imigrante especializada

Com relao aproximao da Internet com outras mdias como a televiso, o futuro do vdeo interativo ainda exige muitos recursos que ainda a sociedade no dispe. Mas Castells entende que a Internet no tomou e nem ir substituir outras mdias, ele acredita que trata-se de um uso ativo, associado a uma variedade de interesses, na maioria dos casos de orientao muito prtica, ao passo que o mundo do entretenimento da mdia fica confinado ao tempo disponvel para relaxamento passvel (pg.159)

Embora considere todas as muitas dificuldades que permeiam uma implantao e utilizao em curto prazo deste tipo de tecnologia como produto de consumo vivel e eficiente, Castells acredita que esta uma tendncia que ser perseguida por muitos cientistas e que receber a maior parte de investimentos progressivos e crescentes nos prximos anos, mesmo se ainda puder demorar mais de duas dcadas para se experimentarem resultados considerveis neste setor. A demanda por livre expresso interativa, coisa que a mdia tradicional estagnou, encontra a possibilidade de ocorrer nas formas de comunicao geradas na nova economia.

Castells ao analisar a poltica da Internet entende que a rede mundial de computadores permite uma maior troca de informaes e,

consequentemente, um maior controle da sociedade civil sobre as aes dos governantes. Pode se apresentar como um importante mecanismo aliado da democracia, permitindo e oferecendo um espao de fcil acesso para informaes e encontros virtuais a custos baixos e com uma maior flexibilidade da dependncia das variveis de tempo e espao. Esta tecnologia tambm no est isenta de formas de controle e manipulao, como ocorre em algumas naes, que possuem filtros nos servidores, impedindo o acesso de informaes que os seus controladores considerem perigosas ou que no queiram tornar pblicas. Sendo a rede Internet um meio de comunicao e de troca de informaes, controlar o seu acesso sempre uma forma de poder, tratando-se, de uma relao essencialmente poltica. O autor alerta para os perigos de uma confiana exagerada das novas possibilidades da rede.

A Internet possui a sua Geografia, a dos lugares em rede. Estes novos lugares tambm tm uma mobilidade urbana.

Castells discute sobre ser a Era da Internet a responsvel pelo fim da Geografia, ou seja, desprovida de lugares, o que na verdade no corresponde ocorre de fato. A geografia da Internet tem uma forma prpria, seus espaos possuem contornos, novas configuraes territoriais emergem de processos simultneos de concentrao, descentralizao e conexes espaciais. H uma infraestrutura de telecomunicaes da Internet que forma uma verdadeira topografia de ns em rede mundial. A maior capacidade de desenvolver conexes centrais entre os pases continua nas mos dos EUA desenvolvendo-se na Europa uma segunda sede de roteadores. A dimenso geogrfica analisada em trs perspectivas: a sua geografia tcnica, a distribuio espacial de seus usurios e a geografia econmica da produo da Internet. Os EUA despontam ainda como o pas coma maior quantidade e as melhores condies de acesso e produo de informaes. Mas esta realidade extremamente desigual se comparada a outras reas do globo, como a Amrica Latina, grande parte da sia e principalmente a quase totalidade da frica. A dimenso da diviso digital diz respeito desigualdade de acesso Internet. A partir do conjunto de dados recolhidos por Castells, possvel verificar que a diviso digital no um fenmeno homogneo e esttico, mas que ela se apresenta distintamente nas diferentes regies do globo. A Internet, portanto continua a se apresentar distribuda de forma extremamente desigual em todo o planeta. Ainda que a difuso do crescimento do nmero de usurios vem sendo extremamente rpida, essa difuso segue o padro da riqueza, da tecnologia e do poder. O controle da produo mantm-se no vale do Silcio conectado a outros importantes ns da rede como na Sucia, Finlndia e Japo. Essa produo espacializa-se nas periferias das grandes metrpoles formando uma metropolizao seletiva. Os EUA so tambm os maiores produtores de domnios por cada mil habitantes, inclusive exportando essa produo para outros pases.

H de fato ainda muitas barreiras para a democratizao da Internet, por exemplo 78% dos websites so em ingls, gerando uma a diviso digital numa perspectiva global. A nova diviso tecnolgica digital tem como pando de fundo uma real disparidades de conhecimento entre as naes. O mais paradoxal da Internet ela provocar ao mesmo tempo o aumento da riqueza e do desenvolvimento, mas tambm a pobreza e a degradao ambiental. So essas algumas das justificativas de Castells para explicar o processo global de desenvolvimento desigual da diviso digital: com a nova economia antigas formas de produo desapareceram e seus antigos atores no foram includos no novo sistema produtivo, os sistemas educacionais esto ainda muito atrasados estruturalmente e

tecnologicamente em entre a maior parte das naes, a nova economia no escapa aos redemoinhos financeiros e suas crises globais, novos gigantescos xodos rurais j esto ocorrendo, as negociaes coletivas de trabalhadores vo sendo desorganizadas, abriu-se precedentes para o crime globalizado, enfraquecimento das instituies polticas. Castells alerta que a Internet de fato uma tecnologia da liberdade mas pode libertar os poderosos para oprimir os desinformados (pg. 225). Mas possvel que nesse novo ambiente da comunicao, o da sociedade em rede, continuem a surgir movimentos como os de antiglobalizao. As redes da Internet ainda propiciam comunicao livre e global, mas eles podem acabar sendo controlados por interesses comerciais, polticos ou

ideolgicos. Por fim e fundamentalmente Castells relembra que apenas com uma reestruturao dos sistemas educacionais e que se poder chegar a uma verdadeira democratizao da Internet e o fim da excluso digital. Tambm o bem-estar social est em cheque, novos contratos sociais devero emergir, talvez por isso mesmo seja necessrio imaginar um certo controle do mercado da nova economia, com instituies internacionais que possam regular eficientemente suas aes.

Contraditoriamente ao mesmo tempo em que a nova economia impele busca de mais recursos naturais degradando o meio ambiente ela que, atravs da Internet pode fornecer conhecimento para um desenvolvimento sustentvel do processo produtivo.

Questes

1) Nem utopia (ideal) nem distopia (utopia negativa), a Internet a reflexo de ns mesmos. Considerando esse pensamento de Manuel Castells em A galxia da Internet, pode-se considerar que essa tecnologia:

a) Supera em desempenho nas esferas econmicas e sociais todas as antigas organizaes. b) Est estruturada por um lado na flexibilidade, globalizao do capital, avanos das telecomunicaes e por outro em uma sociedade individual controlada. c) Intensifica as tendncias contraditrias da sociedade uma vez que pode ser alienante e libertadora. d) menos exclusiva que antigas organizaes, pois est baseada nos princpios da liberdade. e) Permite a ns mesmos control-la, tornando-a alienante ou libertadora.

2) A produo social da Internet estruturada hierarquicamente por quatro culturas: a tecnomeritocrtica, a hacker, das comunidades virtuais e das empresas. Qual das alternativas se adqua melhor ao princpio hierrquico estabelecido por Castells?

a) A comunidade empresarial est na base da hierarquia, pois ainda no despertaram definitivamente para as inovaes da Internet. b) As tecnoelites esto no topo justamente porque foram elas que no princpio idealizaram tecnologicamente e comercialmente a Internet. c) A cultura hacker faz o elo de ligao entre as comunidades virtuais e as empresas de um lado e as tecnoelites de outro, dando liberdade e comercializando a Internet. d) A cultura empresarial foi a ltima de fato a se interessar pela Internet, a partir dos anos 1990 quando essa tecnologia torna-se a grande fora propulsora da economia. e) uma hierarquia atemporal seguindo critrios econmicos, onde os ltimos passaram a dominar a Internet.

3) O advento da nova economia bem como do uso das novas tecnologia e de comunicao alterou e est alterando os padres de organizao do mundo do trabalho. Assinale a alternativa abaixo que contm apenas as afirmativas que corroboram com essas alteraes:

I Busca da autonomia do trabalho e o desenvolvimento do conceito de aprender a aprender. II Diviso e distribuio espacial total dos meios e modos de produo dos diversos setores da economia, inclusive das novas tecnologias. III Uma diviso mais equitativa entre os gneros, possibilitando maior acesso das mulheres ao mercado de trabalho. IV Antigas formas de produo cedem espao para as novas formas acarretando em novas ondas migratrias campo-cidade.

V A diminuio de movimentos de migraes internacionais de mo de obra tecnologicamente qualificada.

a) I, II e V b) I, II e III c) I, III e V d) I, III e IV e) II, III e IV

4) O mapa a seguir diz respeito taxa de penetrao da Internet na populao das naes, com relao a isso possvel afirmar que:

a) A distribuio desigual do nmero de usurios atravs do planeta reflete um movimento de maior integrao no futuro, uma vez que j se encontram significativos nmeros de internautas em naes subdesenvolvidas. b) A taxa de penetrao da Internet equnime tanto entre as naes ditas desenvolvidas como entre as em desenvolvimento e subdesenvolvidas.

c) Apesar de uma rpida difuso da Internet esta ainda segue o padro da riqueza, da tecnologia e do poder, concentrada nas naes que despontaram como inovadoras. d) Apesar de os EUA, o norte da Europa e o Japo possurem as maiores taxas de penetrao da Internet, as legendas nos permitem identificar que em um breve futuro essa diferena ser muito menor. e) No possvel fazer uma real apreciao sobre as taxas de penetrao da Internet no mundo, uma vez que no h a disponibilidade de dados de muitas naes.

5) Sobre a democratizao da Internet incorreto afirmar que:

a) Movimentos como os de antiglobalizao e do livre acesso no encontram nela um meio eficaz de difuso. b) uma tecnologia da liberdade, mas pode libertar os poderosos para oprimir os desinformados. c) Sua democratizao depende da reforma dos sistemas educacionais em todo o planeta. d) O controle e a censura de certos domnios por algumas naes ainda representam uma barreira para a democratizao da Internet. e) Apesar de a Internet propiciar a liberdade da comunicao, h o temor de que ela se torne controlada por interesses comerciais, polticos e ideolgicos.

3. CASTROGIOVANNI, A. Carlos; CALLAI, Helena; KAERCHER, Nestor Andr. Ensino de Geografia: prticas e textualizaes no cotidiano. Porto Alegre: Mediao, 2001.Estudar o lugar para compreender o mundo

Helena Copetti Callai

A autora afirma que em Geografia uma das questes mais significativas, quando se trata do que estudar, diz respeito escala de anlise que ser considerada. Assim, ao estudar o espao geogrfico, a delimitao do mesmo um passo necessrio, pois que o espao imenso, planetrio, mundial. Questes como: 1-O que nele/dele estudar ? 2-Qual a referncia escala de anlise? 3-Em quais nveis ? - devem ser levadas em considerao, pois ao mesmo tempo em que o mundo global,as coisas da vida, as relaes sociais se concretizam nos lugares especficos. A compreenso da realidade do mundo atual se d a partir dos novos significados que assume a dimenso do espao local. Citando Milton Santos, a autora afirma : A globalizao e a localizao, fragmentando o espao, exigem que se pense,

dialeticamente, esta relao,pois cada lugar , sua maneira, o mundo... A histria concreta do nosso tempo repe a central(Santos,1996: 152). Estudar e compreender o espao, em Geografia, significa entender o que acontece no espao onde se vive para alm das suas condies naturais ou humanas, uma vez que, muitas vezes, a explicao pode estar fora, sendo necessrio buscar motivos internos e externos para se compreender o que acontece em cada lugar, pois o espao construdo a partir da histria das pessoas, dos grupos que nele vivem,das formas como questo do lugar numa posio

trabalham,como produzem,como se alimentam e como fazem/usufruem do lazer. Isso resgata a questo da identidade e de pertencimento, por isso fundamental que se busque reconhecer os vnculos afetivos que ligam as pessoas aos lugares, s paisagens e tornam significativo o seu estudo. Compreender o lugar em que se vive permite ao sujeito conhecer a sua histria e conseguir entender as coisas que ali acontecem.

Citando mais vez Milton Santos, cada lugar , ao mesmo tempo, objeto de uma razo global e de uma razo local,convivendo dialeticamente... (Santos,1996:273) Estudar o lugar, portanto, passa a ser o desafio constante para os professores e as aulas de Geografia. O lugar como categoria de anlise pressupe que se vislumbre o espao geogrfico considerado em seus aspectos relativos e relacionais no contexto em que se insere.

Princpios terico-metodolgicos de uma aula de Geografia

O processo de ensino-aprendizagem, segundo a autora, supe um determinado contedo e certos mtodos. A autora sugere alguns contedos e alguns mtodos.

1. Uma conscincia espacial = o material necessrio para que o aluno construa o seu conhecimento. Aprender a pensar significa elaborar, a partir do senso comum, do conhecimento produzido pela humanidade e do confronto com outros sabres, o seu conhecimento.

2. O olhar espacial = o modo de fazer Geografia, como devemos estudar a realidade. Uma realidade que tenha a ver com a vida dos alunos. Supe desencadear o estudo de marcas inscritas nesse espao. determinada realidade social verificando as

3. A escala de anlise = A escala de anlise (j tratada nesse texto) um critrio importante no estudo da Geografia. fundamental que se considere sempre os vrios nveis desta escala social de anlise. O local, o regional, o nacional e o mundial.

4. A natureza na anlise geogrfica = Na trajetria histrica, as sociedades constroem o espao subordinando, cada vez mais, a natureza e suas regras, devido aos avanos da tecnologia e pelas possibilidades de preveno e planejamento. Essa lgica da natureza precisa ser considerada e deve ser objeto de anlise da Geografia.

5. A paisagem = A paisagem revela a realidade do espao em um determinado momento do processo. O espao construdo ao longo do tempo de vida das pessoas, considerando-se as formas como vivem, o tipo de relao que existe entre elas e que estabelecem com a natureza. A paisagem o resultado do processo histrico de construo do espao. Obs: A autora cita, ainda, a estruturao e formao do espao - a dimenso histrica do espao - conceitos cotidianos/cientficos comparao/correlao Estabelecendo concluses identidades etc., entendemos as noes que estiveram contempladas nas explicaes anteriores.

Concluso:

Pensar globalmente e agir localmente significa entender como o mundo, como se organiza, como vem se transformando,como age o capital, como se estruturam as grandes empresas multinacionais e transnacionais, como acontece a produo, o destino do

produto, a circulao, a informao e o papel do Estado numa economia cada vez mais mundializada. Os lugares particulares se interligam entre si de forma seletiva, e de acordo com seus interesses locais/nacionais/mundiais. O espao concretiza todas estas relaes e torna-se fundamental estudar o particular e o local. Esta nova ordenao do espao, que se expressa a partir da globalizao, gera uma concentrao de riqueza e acentua o carter desigual do desenvolvimento e cada lugar responde de acordo com suas condies e capacidades. Lembremos Milton Santos,quando afirma que Vivemos uma poca em que as pessoas perderam a capacidade de visualizar a abrangncia do real.

Geografizando o jornal e outros cotidianos: prticas em Geografia para alm do livro didtico. Nestor Andr Kaercher

A importncia da geografia, presente em diferentes tipos de texto, que no o livro didtico, normalmente o maior inspirador para prepararmos as aulas, o Jornal, por mostrar o cotidiano, a atualidade e a importncia dos fatos dirios. No novidade essa interao, mas ela traz resultados satisfatrios, pois o jornal um recurso acessvel. O autor mostra trs formas distintas desse trabalho com Jornal. Alguns passos iniciais: 1. O que notcia ?

2. Que fatos viram notcia? 3. O que opinio ( do jornalista/dono do Jornal) ? 4. Qual o espao para poltica/economia/futebol ?

1. forma: O local Escolher, aps ouvir os alunos que notcia da cidade/local ir trabalhar. Levantar os passos iniciais acima para uma identificao clara do que analisar Exemplo- FOLHA DE SO PAULO p. 10, 25/7/1999 Ttulo: SUL GACHO TEM IDH SEMELHANTE AO NORDESTE Em um mapa do Brasil, localizar o R.G. do Sul,o Nordeste(quantos e quais s so os Estados). Localizar em um mapa do R.G. Sul quais cidades fazem parte do Sul gacho. Quais as novidades dessa comparao?

2. forma : O regional Exemplo: FOLHA DE SO PAULO p.10, 25/7/1999

Ttulo : PAR TEM FRAUDE EM REGISTRO DE TERRAS. Mesma sistemtica quanto aos mapas. As questes a serem levantadas so diferentes. Exemplo: na questo fundiria o que diz a Constituio Federal? Aqui no nosso municpio, o que h de semelhante/diferente ? Qual a opinio dos alunos sobre latifndio/Sem Terras? Quem(empresas/pessoas) so os maiores proprietrios dessas terras e fraudes? E a questo indgena ?

3. forma : O mundial Exemplo: FOLHA DE SO PAULO p. 10, 25/7/1999 Ttulo: REINO UNIDO TENTA DETER XODO URBANO. Em um mapa mundi localizar o Reino Unido. Localizar os pases que fazem parte do Reino Unido. Quais so os fatores que esto levando os britnicos a sarem de grandes cidades para cidades mdias ou pequenas. Esse fato ocorre tambm no Brasil e em nossa cidade? Qual a noo de Primeiro,Segundo e Terceiro Mundo? Isso ainda vale ?

Outras prticas no cotidiano.

No se trata de receita, nem novidade! Descrevemos aqui por termos obtido Respostas positivas por parte dos alunos. Alguns exemplos:

1-Pesquisas de preos = pesquisar, durante trs meses, a partir de uma tabela com os principais produtos a serem pesquisados. Utilizar diferentes referncias como DIEESE, FIPE, IPCA, INPC etc... 2-Entrevista com idosos = os alunos elaboram as principais perguntas sobre os idosos. Exemplo: valor da aposentadoria, asilos, relaes familiares, qualidade de vida, preos de medicamentos etc.

3-Colagem com msica= a partir de letras de msicas, escolhidas pelos alunos, os mesmos devero fazer colagens recortadas. com recortes de revistas, jornais etc., e um vdeo com fotos

4-Viajando no mapa mundi = Consiste em solicitar duas tarefas: A primeira distribuir um mapa mundi e os alunos escolhem cinco pases que gostariam de visitar. A segunda, consiste em fornecer aos alunos uma tabela com trs colunas (A-B-C), formando grupos cada qual com sua tabela. A imaginao do professor poder sugerir vrias formas de trabalhar (questes como economia, lngua, moeda, destaques etc.).

5-Tcnica da frase e do minuto =Pode ser desenvolvida com alunos de todas as idades, basicamente fazer com que expressem suas opinies e tragam, para a sala de aula, assuntos de seu interesse. Cria-se um calendrio mensal ou bimestral, encarregando-se um aluno, a cada incio de aula, de colocar no quadro(lousa) uma frase para reflexo. O aluno deve justificar por que a trouxe. Os colegas podero dar subsdios e acrescentar o que sabem sobre a mesma.

Concluso Algumas certezas e muitas dvidas.

O autor relata que os resultados de suas experincias, no Ensino Fundamental e Mdio, foram bastante satisfatrios porque os alunos participaram mais das aulas de geografia e mudaram a concepo de que a geografia uma disciplina chata e maante, restrita apenas aos livros didticos.

O autor alerta que nenhuma das atividades propostas prescindem do contedo e que o ideal articular os mesmos com as diferentes atividades. O autor tambm no desmerece as aulas expositivas e que o importante superar a viso do espao como palco, suporte de nossa existncia.

Apreenso e compreenso do espao geogrfico. Antonio Carlos Castrogiovanni

Segundo o autor, pesquisas comprovam que muitos professores que atuam nas sries iniciais no foram alfabetizados em Geografia. Assim, as crianas chegam 5. srie sem as noes conceituais que compreenderia tal alfabetizao (entendida como a construo de noes bsicas de cartografia-localizao, organizao, representao e dinamicamente pelas sociedades). Dessa forma o ensino de Geografia deve preocupar-se com o espao nas suas multidimenses. O espao tudo e todos. Compreende todas as estruturas e formas de organizao. Os signos trabalhados nos dois primeiros ciclos (1. a 4. sries) pelos chamados Estudos Sociais, tendem a aparecer sem significado frente ao mundo do aluno. Muitas vezes so incompreendidos pelos prprios professores. Faltam significaes para o professor e, mais ainda, para o educando. compreenso da estrutura do espao elaborado

Todo o trabalho espacial deve conter o sentimento de provocao dos porqus,para qus e para quem. O quando e o como so indispensveis no entendimento do processo. Em sntese, nos primeiros anos da escolarizao deve-se trabalhar com a idia de alfabetizao em Estudos Sociais, incluindo-se a a valorizao do espao e do tempo vivenciados. Nesse perodo, a criana inicia a construo da funo simblica (substituio de uma ao ou objeto por um smbolo,imagem ou palavra) e, com isso, ocorre a construo do espao significativo . Alguns exemplos que devem ser trabalhados nessa fase: 1. Vizinhana: Relaes em que os elementos so percebidos prximos uns aos outros no mesmo campo. 2. Separao: As crianas percebem que os objetos, embora prximos, ocupam

posies distintas no mesmo espao. 3. Ordem ou sucesso: Relaes que se estabelecem entre elementos vizinhos e separados.

d) Envolvimento: Estabelece-se no sentido das noes de interior/exterior, centralidade, proximidade, contorno etc.

e) Continuidade: Envolve o conhecimento de pontos colocados em sequncia no espao, o desenho de uma paisagem por exemplo.

f) Noes fundamentais: Envolvem as noes de direita/esquerda,frente/atrs, em cima/embaixo e ao lado de.

g) Pontos cardeais: Norte/Sul e Leste/Oeste

colocar fig. 1 p. 22

Atividades sugeridas: 1. caa ao tesouro 2. caminhada pelo bairro e arredores 3. quem o vizinho 4. batalha naval 5. limites e fronteiras(entre municpios e Estados) 6. disco voador 7. o banho de papel 8. equador corporal 9. meridiano corporal 10. construo dos pontos cardeais em sala de aula 11. o surgimento das cidades etc...

4. DURAND, Marie-Franoise et. al. Atlas da Mundializao: compreender o espao mundial contemporneo. Traduo de Carlos Roberto Sanchez Milani. So Paulo: Saraiva, 2009. ESPAOS EM CONTRASTE

ESPAOS VAZIOS E CHEIOS

Desigualdades espaciais e sociais A populao do mundo encontra-se distribuda de forma desigual. Encontramos espaos quase vazios, enquanto em outros h densidade muito alta. H uma tendncia de aprofundamento dessas diferenas. Alguns dados ajudam no sentido de esclarecer essa tendncia:

dos dez pases com mais de 100 milhes de habitantes no incio do sculo XXI, sete situam-se no Sul.

As populaes dos Estados mais pobres iro crescer mais:

em 2007, representavam 82% da populao mundial; em 2050, esse ndice ser de 86%.

A acelerao do crescimento do nmero de habitantes recente na histria da humanidade.

Dos 5000 milhes de indivduos no incio do sculo XVI, a populao passou a 1 bilho no incio do sculo XIX, 1,5 bilho no incio do sculo XX, at atingir os atuais 6,5 bilhes de pessoas.

Nos anos 1960, os demgrafos projetavam uma populao de 15 bilhes de habitantes em 2050. Hoje, prev-se para 2075, um mximo de 9,2 bilhes de indivduos e dever ocorrer uma estabilizao em torno de 9 bilhes. O envelhecimento, as transformaes ecolgicas e a acelerao das mobilidades internas e internacionais podem influncia r evolues mais complexas imperfeitamente descritas no esquema clssico da transio demogrfica. A evoluo nos ltimos 40 anos mostra caminhos bem distintos: regies de crescimento contnuo, como Amrica Latina, frica e sia, regies de baixo crescimento, como a Amrica do Norte, Europa, Austrlia e China. regies com diminuio da populao total como a Rssia e a Europa do Leste.

Um mundo mais denso

Com exceo da sia do Sul e da Europa, o povoamento do planeta perifrico, frequentemente costeiro e cada vez mais urbano. A sia sozinha representa 60% da populao mundial. Alm de inmeras e grandes cidades, as mais altas densidades em grandes extenses territoriais so majoritariamente rurais. A Europa, intensamente cultivada e urbanizada acumula todas as densidades. O eixo Londres-Itlia do Norte um espao urbano quase contnuo de produo e de intercmbios de rara densidade no planeta.

Vastas regies menos povoadas O povoamento das Amricas, essencialmente costeiro, mais denso no Norte do que ao Sul. A colonizao produziu um fenmeno demogrfico:

o trfico de escravos tirou um enorme contingente humano da frica para povoar o Sul dos Estados Unidos, o Caribe e o Brasil.

Aps as independncias e as abolies da escravatura, o sculo XIX testemunhou a chegada macia de migrantes europeus. Nos Estados Unidos, o desenvolvimento das costas leste e oeste reforam a tese de ocupao costeira. Na Amrica do Sul, o espao pouco ocupado na sua poro interior. O povoamento s denso na regio do Rio da Prata e em menos grau, na regio dos Andes, No Brasil, a maior ocupao se verifica na regio litornea, com a presena de grandes aglomeraes. A Amaznia apresenta uma das mais baixas densidades do mundo. Na frica, a regio do Magreb, o vale do Nilo, a regio dos Grandes Lagos e o Golfo da Guin so os arquiplagos de povoamento mais densos. Nessa regio, a Nigria destaca-se por ser um gigante demogrfico. Quase vazio, o Saara um espao de circulao de nmades mercadores ou pastores, at mesmo de guerreiros, traficantes ou intermediadores. A floresta equatorial abriga apenas pequenos grupos de populao Os efeitos acumulados do trfico, da ausncia de Estados e de sistemas coloniais predatrios contribuem para explicar essas baixas densidades. As

desigualdades de desenvolvimento e os conflitos explicam, por sua vez, os deslocamentos abruptos, frequentes e macios, voluntrios ou impostos.

A URBANIZAO DO MUNDO

O arquiplago das cidades globais Em 1800 o mundo tinha apenas 2% de habitantes urbanos; hoje eles somam 50% e provvel que, em 2030, representem 60% da populao mundial. Com o crescimento econmico dos pases emergentes a urbanizao acelerou-se bruscamente. Quase todos os Estados Amricanos, a exemplo da Europa e da Rssia, apresentam taxas de urbanizao superiores a 70%. Na sia e na frica, a proporo da populao urbana inferior mdia mundial, mas as taxas de crescimento das grandes cidades so as mais elevadas do mundo. Em 1950, apenas a cidade de Nova York ultrapassava 10 milhes de habitantes; em 2000 19 aglomeraes possuam mais de 20 milhes. Desde a dcada de 1930, os gegrafos evidenciam as relaes entre a hierarquia das cidades.

As cidades globais contemporneas desenvolvem mais laos entre si do que com o meio ambiente local e mesmo nacional, acumulando, assim, todos os poderes de natureza econmica, financeira, poltica, de informao e cultural.

Nesses gigantescos polos urbanos interdependentes e em permanente concorrncia desenvolvem-se todos os fluxos de intercmbios globais: portos, aeroportos, anis rodovirios,

plataformas logsticas e de informao, bolsas de valores, sedes de empresas, centros universitrios e de pesquisa, centros de criao audiovisual e a internet.

A fragmentao social e espacial Nos Estados Unidos a periurbanizao acelerou-se a partir dos anos 1950. Atualmente, mais da metade da populao urbana vive em subrbios (suburbs) caracterizados por um habitat individual pouco denso de servios e de empregos de ponta. As sociedades muito desiguais do Sul passam pelos mesmos processos de polarizao social e espacial, ainda mais marcantes, em razo do aumento acelerado das populaes. Aos centros de negcios e bairros residncias mais favorecidos e protegidos, contrapem-se favelas, towmships, slums, onde vive 1/3 da populao urbana mundial. Na periferia, ou no prprio corao do tecido urbano, as ocupaes precrias instalam-se em zonas degradadas ou inviveis para a construo, poludas, perigosas, sem gua potvel e sem rede de esgotos. Abandonados pelos Estados, pelas administraes municipais e mesmo pelas agncias de desenvolvimento, os habitantes se mobilizam em associaes e ONGs locais, s vezes com apoios de ONGs nacionais ou transnacionais, na tentativa de legalizar sua habitao e desenvolver servios de base. Essas populaes jovens originrios da zona rural, forados a abandon-la em decorrncia da misria ou dos conflitos, e trabalhadores pobres h muitas geraes so confrontadas com a violncia e condenadas a empregos mal remunerados, atuando frequentemente no setor informal da economia (54% na frica, 65% nos pases rabes, 39% na Amrica Latina).

MIGRAES DO PASSADO

A fico de uma fixidez do passado

Durante os ltimos 40 anos, a duplicao da quantidade total de migrantes internacionais, sincrnica acelerao dos processos de globalizao, trouxe essa questo de forma brusca e em vrios contextos para o centro dos debates polticos e econmicos O recorte progressivo do mundo em Estados nacionais conduziu pouco ao esquecimento de uma histria da humanidade marcada por mobilidades de longas distncias. Todos os tipos de circulaes ampliam-se os fluxos de capitais circulam quase sem restrio; a informao generalizada, ubqua e contnua , mas no as circulaes de indivduos: por todos os lados existem freios s migraes. Estimados em mais de 200 milhes, os migrantes internacionais representam cerca de 3% da populao mundial, divididos em propores iguais entre migrao de trabalho, familiar e de refugiados.

Imensos territrios construdos por fluxos macios de migrantes Desde o incio da Antiguidade o mundo marcado por rotas milenares (ouro, especiarias, seda, sal, mbar, peles etc.), eixos de intercmbios que religam os espaos frequentemente recortados de forma no definitiva, propiciando fluxos de pessoas e de bens materiais e imateriais. Como os homens, circulam suas ideias e seus modos de vida: o individualismo, o capitalismo, o Estado nacional, as religies, as tcnicas e as lnguas.

Choques, atritos, encontros e intercmbios, produziram misturas e hibridaes: melting-pot, multiculturalismo e mestiagem. Em outros lugares e mais tarde em termos negativos para a frica e positivo para o novo mundo muitos estados e sociedades tornaram-se o produto histrico das migraes.

A migrao foi muitas vezes uma escolha sem sada ou mesmo um constrangimento absoluto, mas raramente uma deciso.

O trfico de escravos, sistema comercial altamente lucrativo de migraes foradas (durante o sculo VII ao incio do sculo XIX) foi o trfico oriental dos negreiros muulmanos entre a frica Oriental e o Oriente Prximo e Mdio, a sia e o Sul da Europa. O comrcio triangular deslocou, por sua vez, durante mais de quatro sculos, mais de 10 milhes de africanos para a Amrica do Norte, Amrica do Sul e Caribe. No final do sculo XIX, mais de 50 milhes de europeus, fugindo das crises agrcolas, da pobreza e das perseguies, migraram para as Amricas. Devem se somar a essas migraes os deslocamentos Sul-Sul, muito menos conhecidos. Em parte movidos pelas necessidades de aprovisionamento de matrias-primas da Revoluo Industrial europeia, importantes deslocamentos foram organizados desde a ndia e a China em direo s grandes plantaes de todo o Sudeste Asitico (12 milhes de trabalhadores chineses e 30 milhes de indianos, nos anos 1930).

A virada dos Trinta Anos Gloriosos Depois da Segunda Guerra Mundial, a reconstruo da Europa e o forte crescimento econmico produziram uma retomada dos movimentos migratrios de orientao Sul-Norte. Dos anos 1970 em diante, marcados pelos choques do petrleo e pela reduo do crescimento econmico, quase todas as fronteiras fecharam-se para as migraes.

UM MUNDO EM MOVIMENTO

Presso migratria Muitas pessoas circulam pelo mundo: turistas, funcionrios e gestores de empresas. Mas, a maior parte dos que se deslocam por um tempo mais longo constituda de migrantes internacionais.

A pobreza a principal causa da mobilidade, mas as defasagens entre sociedades jovens e em processo de envelhecimento, os conflitos, a difuso da informao, a reduo dos custos de transporte e as demandas de mo de obra nos pases do Norte alimentam os desejos de partida.

A partir dos anos 1970, com o fechamento das fronteiras, gerou um grande nmero de clandestinos e de novas formas de trficos. Redes mafiosas transnacionais prosperam com a misria (passadores, negociantes de documentos falsos, de trabalhadores clandestinos, de empregadas e de prostitutas). Os Estados contribuem com a organizao da exportao da sua mo de obra pletrica e pobre. o caso de sia Ocidental e Filipinas.

Local, nacional, transnacional. Elos entre lugares e sociedades, os migrantes vivem de forma diferente, conforme as sociedades de chegada tenham sido construdas a partir da imigrao (Estados Unidos, Austrlia) ou tenham passado recentemente do estatuto de regio emigrao ao de regio de imigrao. Caso da Europa. No primeiro caso, a identidade nacional se construiu em torno da valorizao da diversidade. Na Europa, as perdas dos imprios coloniais, a construo da Unio supranacional, as deslocalizaes de empresas e mundializao da cultura geram dificuldades identitrias que reforam ainda mais a crise econmica atual. Embora reafirmado os direitos humanos, grupos polticos, governos e setores da populao estigmatizaram os imigrantes em nome da segurana pblica, restringem seus direitos ou os expulsam.

REFUGIADOS E DESLOCADOS

67 milhes de deslocamentos forados Refugiados internacionais, demandantes de asilo, deslocados internos, aptridas, refugiados ambientais...O nmero de indivduos que abandonaram seu local de residncia para sobreviver no cessa de crescer. Nas ltimas dez dcadas, entre 15 e 25 milhes de pessoas sofreram algum tipo de violncia que as levaram a partir, na maioria das vezes para um destino prximo, no interior das fronteiras de seu prprio Estado (deslocados) ou alm dessas fronteiras (refugiados) At o final da Guerra Fria, os refugiados eram muito mais numerosos do que os deslocados, porm as propores inverteram-se desde ento. Os deslocados constituem um contingente de:

1 milho de pessoas no leste da Repblica Democrtica do Congo, 2 milhes no Sudo 2 milhes no Iraque.

A imagem tpica do refugiado mudou bastante:

Inicialmente tratava-se de indivduos fugindo comunismo; hoje, so massas desesperadas.

do

Uma ferramenta multilateral imperfeita A Revoluo Russa e, em seguida, a Primeira Guerra Mundial e o desmembramento dos imprios na Europa geram os primeiros fluxos de refugiados (5 milhes). A Sociedade das Naes cria o Escritrio Internacional Nansen para os Refugiados. A Segunda Guerra provoca uma exploso desses nmeros (40 milhes), e a ONU estabelece, em 1947, uma nova organizao que se tornar o ACNUR (Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados), em 1951, assegurando os direitos fundamentais dos refugiados: asilo garantia contra reenvios forados para as situaes de perigo ou perseguies ajuda na repatriao consentida

A Conveno de Genebra define o estatuto dos refugiados, sua proteo e seus direitos e deveres. O Protocolo Adicional de 1967 amplia o mandato do ACNUR e serve de base para dispositivos regionais de proteo na frica e na Amrica Latina. Mais de 50 milhes de refugiados no mundo receberam ajuda, e estima-se em cerca de 8 milhes o nmero de pessoas vivendo em campos de refugiados h pelo menos dez anos.

RICOS E POBRES

Crescimento complexo das desigualdades Depois de um crescimento importante a partir dos anos 1850, as desigualdades se estabilizaram a partir de 1950, sem que a globalizao tenha provocado uma convergncia das economias nacionais. Nos anos 1960, enquanto a maioria dos pases situava-se em torno do PIB mdio por habitante, o grupo de pases intermedirios foi, desde ento, reduzindo-se. Os pases ricos foram alcanados por alguns pases ditos em desenvolvimento (PED): os novos pases industrializados (Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura) e aqueles com baixos salrios e grande capacidade tecnolgica (China, ndia, Rssia).

A evoluo das desigualdades no mundo ocupa um lugar central e controverso nos debates sobre a globalizao. A globalizao dinamizou o crescimento, gerando, porm, desigualdades nos pases do Sul em fase de crescimento. A internacionalizao do mercado de trabalho conduziu a um vis que favorece o trabalho qualificado e a uma crescente concorrncia mundial por baixos salrios. A desigualdade global (ou mundial) mede as desigualdades entre indivduos em meio populao mundial. Ela est hoje em ligeiro declnio:

Os 2,5 bilhes de indivduos mais pobres ou seja, 40% da populao mundial detm 5% da renda global, ao passo que os 10% mais ricos controlam 54%.

Um a cada 2 indivduos vive com menos de 2 dlares por dia e 1 a cada 5, com menos de 1 dlar por dia (patamar de pobreza absoluta)

O DESENVOLVIMENTO DO MUNDO

Velhos e ricos ao Norte Os progressos da medicina e o acesso aos cuidados favoreceram um prolongamento da durao da vida. Assim, o aumento da quantidade de pessoas idosas na populao total, acelerou-se no momento em que comearem a envelhecer as geraes nascidas aps a 2 Guerra Mundial. Com isso, cerca de da populao ter 65 anos ou mais nos prximos anos Uma qualidade mdia de vida elevada, uma proteo social ainda bastante presente e a generalizao do controle dos nascimentos produziram um decrscimo brutal na natalidade, que no garante mais a renovao das geraes. Em um contexto de crise da imigrao e de crise econmica, esse envelhecimento constitui um desafio econmico, poltico e social de primeira ordem. Todos os Estados e indivduos sero afetados pela criao de estruturas de cuidados e assistncia a pessoas muito idosas, pelo aumento com despesas com sade, pela transformao da estrutura de idade da populao ativa, financiamento das aposentadorias, mudanas fiscais pela evoluo das relaes de fora e de poder entre geraes e pelas questes relativas tica no final da vida. As chamadas migraes de substituio alteraro apenas baixas de crescimento natural, e as novas mobilidades nacionais ou internacionais dos aposentados das classes favorecidas produziro um efeito apenas marginal.

Jovens e pobres ao Sul

A reduo da mortalidade e o prolongamento da durao da vida, so freados, sobretudo na frica subsaariana, pela manuteno e difuso de doenas infecciosas e parasitrias (aids, malria, etc) e pelos conflitos. Sem proteo social nem acesso contracepo, a natalidade, embora decrescente por toda a parte, permanece ainda muito elevada. As regies e os grupos mais pobres so os que mais contam com crianas e adolescentes. Essa estrutura demogrfica, em grande parte ligada pobreza, contribui para mant-la ou acentua-la. As demandas crescentes de escolas, centros de sade e de empregos se acumulam. Os Estados so incapazes de realizar os investimentos essenciais, uma vez que as suas economias foram liberalizadas sob presso, tornando-as ainda

mais vulnerveis s crises econmicas, alm da necessidade de reduzir as despesas pblicas. A visibilidade dessas desigualdades aumenta gradualmente, e as dificuldades de sobrevivncia, a ausncia de formao, e o desemprego macio no do aos jovens outra sada a no ser a migrao, a fim de educarse, ou de encontrar um trabalho, ainda que precrio. O envelhecimento tocar tambm as sociedades do Sul; em 2020, por exemplo, a ndia ter mais de 140 milhes de velhos, na maioria extremamente pobre.

VIVER E MORRER

As condies da sade no mundo melhoram consideravelmente nos ltimos 50 anos. A expectativa de vida mdia aumentou em 18 anos e a taxa de mortalidade infantil dividiu-se por trs, graas s vacinas e ao tratamento de crianas doentes

Viver... mas por muito tempo? De 1955 a 2005, a expectativa mdia de vida cresceu mais na sia, no Oriente Mdio, na Amrica Latina e no Caribe. Essas mesmas disparidades podem ser encontradas dentro dos Estados: um indivduo de bairros perifricos pobres de Washington vive em mdia 20 anos menos do que um habitante de Maryland; um operrio francs, sete anos menos do que um funcionrio de uma repartio. Essas discrepncias traduzem a combinao de fatores tais como: alimentao higiene escolaridade nvel de condies de vida e de trabalho grau de desenvolvimento dos Estados

Nos pases em que a expectativa mdia de vida de 70 anos, a expectativa de vida com boa sade varia de 57 a 65 anos.

Gerar a vida sem morrer Desafio de sade pblica para as organizaes internacionais e as ONGs h 20 anos, e primeira causa de mortalidade feminina nos pases do Sul, a mortalidade materna, por sua vez, quase no diminui: mais de 500 mil mulheres no mundo morrem, anualmente, de complicaes relacionadas gravidez ou ao parto. Em 200 milhes de gravidezes anuais no mundo, quase a metade representa gravidez no desejada ou planejada, e um quarto delas resulta em aborto, legal ou clandestino estes ltimos contribuem decisivamente para a mortalidade materna. Na China e na ndia, so frequentemente praticados abortos seletivos de meninas, em razo de uma preferncia por meninos e da difuso da ecografia.

Poder cuidar-se Os pases pobres, que investem menos de 3% da renda nacional na rea da sade, dispem frequentemente de servios de sade deficientes, nos quis os prprios pacientes devem pagar diretamente as despesas. Cerca de 250 milhes de pessoas empobrecem a cada ano em consequncia de despesas com a sade, 150 milhes delas de maneira catastrfica. Aproximadamente 400 milhes de chineses, dos quais 36% so habitantes urbanos, no possuem cobertura mdica, da mesma forma que 47 milhes de norte-Amricanos.

DOENAS MUNDIAIS

O envelhecimento, a urbanizao, as migraes, a globalizao dos cmbios econmicos, as desigualdades sociais, os hbitos alimentares, o desmatamento, as mudanas climticas... Muitos parmetros influncia ram a evoluo da situao sanitria do mundo.

Uma nova ecloso de epidemias?

Com advento da agricultura e da pecuria no Neoltico, inmeras epidemias surgem em decorrncia da proximidade entre homens e animais O comrcio por caravanas ou martimo contribui, por volta do ano mil, para a unificao microbiana da Europa e da sia e para as Amricas e Oceania. Do sculo XIV ao XIX, a maioria dos pases adotou o sistema de quarentena ou de cordo sanitrio, a fim de evitar a propagao das doenas infecciosas (peste, gripe, rubola, febre amarela, sfilis, clera, tuberculose, lepra etc). Desde ento, a identificao de novas patologias (aids, SARS, gripe aviria), e a ocorrncia de doenas j conhecidas (meningite, dengue, chikungunya), ou o ressurgimento de doenas que se pensavam erradicadas (tuberculose, varola, peste), levam a considerar uma nova ecloso de epidemias, favorecida pela globalizao e pelos passos errticos da segurana alimentar ou ainda pelo risco do bioterrorismo. A dengue, por exemplo, propagou-se por uma centena de pases em todos os continentes por meio do comrcio de pneus usados. As doenas infecciosas atingem principalmente os pases do Sul, onde representam 56% da mortalidade (8% nos pases do Norte). A malria, primeira doena parasitria mundial, leva morte 2 milhes de pessoas a cada ano, essencialmente na frica subsaariana.

Progresso das doenas no transmissveis Fora da frica, as doenas no transmissveis fazem mais vtimas do que as doenas infecciosas. A maior parte dessas doenas est ligada ao estilo de vida (alimentao, consumo de lcool, tabagismo sedentarismo etc.) e ao prolongamento da vida. Com presena marcante nos pases ricos, sobretudo entre as populaes menos favorecidas, o diabetes alcana os pases mais pobres. Em um mundo mais urbano, a alimentao tradicional sofre a concorrncia de pratos prontos, mais baratos, porm, mais gordurosos e mais doces. Caracterizando o incio de uma pandemia, o nmero de diabticos no mundo passou de 30 milhes em 1985 para 135 milhes em 1995 e 246 milhes e, 2007 (aumento de 82% em dez anos, 720% em vinte anos). O uso do tabaco encontra-se estagnado, at mesmo decrescente, nos pases ricos, graas preveno, taxao e aos processos judiciais contra a indstria do tabaco. No entanto, nos pases emergentes e em desenvolvimento o consumo de tabaco tem aumentado consideravelmente.

Um mercado mundial da sade A atual evoluo das doenas no mundo e o aumento global das despesas com sade estimulam a indstria farmacutica mundial que deve confrontar-se com desafios importantes: o corte de reembolsos dos tratamentos, o nvel elevado das despesas de marketing e de venda; os gastos com pesquisa e desenvolvimento, o progresso das farmacutica tradicional. biotecnologias faz concorrncia indstria

Tambm dentro deste contexto, as controvrsias ticas e ambientais acabam por prejudicar sua imagem. A indstria farmacutica encontra-se dominada pelas grandes empresas dos pases desenvolvidos, que se preocupam muito pouco com as necessidades dos pases em desenvolvimento: menos de 10% dos investimentos da pesquisa mdicas so destinados s doenas que representam 90% da morbidade mundial. As grandes empresas do Norte opem-se incessantemente aos produtores de medicamentos genricos do Sul.

SABERES EM CONCORRNCIA

Desigualdade de oportunidades O conhecimento um bem muito mal distribudo no mundo. Mais de 50% da populao das sociedades africanas e da sia Ocidental ainda analfabeta. Na Europa e na Amrica do Norte, estima-se um nmero entre 8 e 43% de adultos iletrados, conforme o pas.

Entre bem pblico mundial e comrcio dos servios

A forma como a globalizao se manifesta, transforma o ensino superior, que, em vrios contextos, vem se desestatizando, desinstitucionalizando e provocando uma mudana de atores e de escalas. Os debates so calorosos entre os defensores de uma modernizao segundo a qual o ensino superior um servio negocivel no mbito da OMC e os que defendem sua preservao como bem pblico. O campus universitrio do Norte reformou-se, investindo nas questes de contedos educativos, financiamento e destinos dos estudantes no final do curso. Elas se internacionalizaram, captando estudantes, professores e pesquisadores internacionais (intercmbios, estabelecimento de campus no estrangeiro ou na internet). Na Europa, o processo de Bolonha, lanado em 1999 por 29 estados europeus harmoniza os nveis de formao e favorece a mobilidade dos estudantes e incentiva a criao de polos de excelncia Por todos os lados, novos atores, tradicionalmente exteriores ao setor do ensino superior (empresas, associaes profissionais), intervm em campo ou desenvolvem formaes privadas com fins lucrativos.

Comparaes e concorrncia

As universidades posicionam-se em um mercado de trabalho global, graas ao sistema de acreditao (selo de qualidade ISO) e de avaliao (hierarquia dos resultados) realizados por agncias pblicas ou privadas

A mobilidade dos crebros

Alm da mobilidade dos estudantes, a concorrncia global explica o incremento das migraes de trabalhadores qualificados. Pesquisadores europeus partem para trabalhar em laboratrios norte-Amricanos. Os pases pobres perdem suas foras mais bem formadas, que buscam salrios e condies de trabalho e de carreiras melhores. Esse mercado mundial de competncias se desenvolve, porm, em detrimento das sociedades mais pobres do Sul e em prol das grandes firmas globais.

DIVISES DIGITAIS

A revoluo da informtica A desregulamentao macia das telecomunicaes acelera a circulao de informaes e amplia sua quantidade. As empresas multinacionais, encontram-se ao lado de simples indivduos, em meio a redes conectando lugares, sociedade e, potncialmente todos os indivduos Desde 20 anos atrs a convergncia das inovaes nos campos da informtica, das telecomunicaes e do audiovisual uma realidade dos atores privados transnacionais que operam na escala global, independentemente dos Estados e de seus territrios.

O surgimento da Internet Criada por volta dos anos 1960, conjuntamente por pesquisadores e militares, a internet conecta indivduos desde os anos 1970-1980, graas colonizao em rede de computadores distantes e ao e-mail. Em 1990, o surgimento da web, servio baseado na ideia de link de hipertexto, modifica as condies de acesso informao. Em 1994, um primeiro navegador acelera a fluidez do trfego e, a seguir, ferramentas de busca garantem mais preciso e densidade aos intercmbios, enquanto as conexes de banda larga e novos formatos de compreenso passam a permitir a transferncia de dados cada vez mais volumosos. Rompe-se a relao que associava, desde Gutenberg, a escrita e a impresso.

A lgica de estoque de informaes substituda pela dinmica de fluxos contnuos.

Redes hierarquizadas A sociedade da informao diminui as distncias sem, porm, anul-las ou reduzir todos os lugares a uma mesma escala de valores. A internet conecta milhares de redes de maneira hipercentralizada. Somente as principais cidades do mundo, particularmente no mbito das grandes empresas, tm a capacidade de inovao e os recursos tcnicos e financeiros para produzir, organizar e controlar as redes, hospedando nelas, sobretudo servidores e centros de estocagem de dados.

O advento da internet em todos os campos da vida social provoca nos pases do Sul um misto de inquietaes e de esperanas: percepo de um risco real de marginalizao agravada, mas, ao mesmo tempo, de uma possvel recuperao. Na Amrica do Sul, sobretudo no Brasil, os servios pblicos, as ONGs e os indivduos particulares esto cada vez mais conectados.

Novas mobilidades A progresso fulgurante dos telefones celulares permite, porm, a liberao, em parte, da telefonia fixa e do computador, dando incio a uma recuperao digital nos pases em desenvolvimento.

Controles e liberdades Essa dimenso espetacular da globalizao , ao mesmo tempo, estimulante e preocupante. Por exemplo, uma associao de direito californiano, ligada ao Departamento de Comrcio dos Estados Unidos (ICANN), que gerencia os servidores-raiz, a atribuio de endereos IP e os nomes de domnios. Aqui e acol, os dados pessoais acumulados sobre cada usurio de ferramentas de busca so conservados sem muita transparncia quanto ao seu uso potncial para fins comerciais ou de segurana.

A REGIONALIZAO DO MUNDO

DIVERSIDADE DAS REGIONALIZAES

Uma importante evoluo dos ltimos 50 anos Paralelamente concluso do processo de universalizao do Estado por meio da descolonizao, que marca a 2 do sculo XX, o sistema internacional testemunha o nascimento de diferentes processos de integrao regional. Algumas organizaes regionais foram criadas aps a Segunda Guerra Mundial (Organizao dos Estados Amricanos em 1948 e Comunidade

Econmica Europeia em 1957 e, logo a seguir, no contexto da Guerra Fria (ASEAN em 1967) e dos processos de descolonizao (Organizao da Unidade Africana), em 1963, com uma renovao e uma extenso desse fenmeno nos anos de 1990.

Integrao poltica ou neorregionalismo As apelaes em curso de integrao regional (o processo) ou de bloco regional (o resultado) reagrupam, de fato, conjuntos com graus de integrao bastante diferenciados e definies variadas de competncias: algumas integraes so puramente econmicas ou comerciais (NAFTA), outras so monetrias (UEMOA e CEMAC), outras ainda so polticas ou militares (Unio Africana, Conselho de Cooperao do Golfo etc.). Do ponto de vista econmico e comercial, distinguem-se tradicionalmente quatro graus de integrao: a zona de livre-comrcio, a unio alfandegria, o mercado comum e a unio econmica e monetria de que a Unio Europeia o exemplo mais avanado. A construo europeia um verdadeiro laboratrio de integrao poltica e econmica que busca transcender o contexto estatal nacional. Todas as tentativas de adoo desse modelo na sia, na frica ou na Amrica Latina fracassaram. Apenas o Mercosul, lanado em 1991 com base no modelo europeu, expressa certo impulso nesse sentido. A intensa dinmica da globalizao econmica e o fim da Guerra Fria permitiram o surgimento de uma forma de regionalismo aberto, ou neorregionalismo, no qual a integrao se torna uma ferramenta de eficcia econmica para uma melhor insero dos pases e economias nos fluxos da globalizao. Economicamente eficaz, porm a ausncia de solidariedade e de mecanismos de redistribuio fragiliza consideravelmente a regio nos casos de crise econmica.

Regionalizao e globalizao Mesmo que permaneam dvidas sobre o futuro do multilateralismo, as relaes entre grandes polos regionais se desenvolvem com mais ou menos xito, por meio de dilogos bilaterais entre conjuntos regionais institucionalizados (UE-Mercosul, UE-ASEAN).

A EUROPA EM CONSTRUO

Resultado de conjunturas histricas particulares e dos voluntarismos de atores mltiplos, privilegiando um consenso ao afastar ao mximo as delegaes de soberania, a construo europeia o processo de integrao regional, mais antigo e mais avanado. Uma construo poltica complexa Nem um superestado nem uma simples organizao de cooperao, a Europa constri-se por delegaes progressivas de soberania que permitem o comunitarismo de algumas polticas (sobretudo a Poltica Agrcola Comum PAC) e a implantao de uma estrutura institucional complexa. Polticas de redistribuio interna permitem a correo das disparidades regionais (fundos estruturais). A integrao poltica aprofunda-se somente com o Tratamento de Maastricht (1993), que estende os poderes do Parlamento (procedimento de co-deciso) e cria uma cidadania europeia. Embora inmeros domnios (direito fiscal, direito social etc.) sejam de competncia nacional, o direito comunitrio impe-se, doravante, sobre o direito nacional nos domnios em que as polticas tornaram-se comunitrias.

Integraes diferenciadas Enquanto uma unio com mais Estados (de seis Estados-membros em 1957 para 27 em 2008) necessita de maior harmonia das polticas comuns. A Europa um espao poltico de fronteiras imprecisas, e os pases no pertencem todos s mesmas instituies: Espao Schengen, Zona Euro, OTAN, Conselho da Europa etc. Apesar das crticas as pesquisas de opinio demonstram uma adeso gradual dos cidados a valores comuns e uma construo lenta de um espao pblico europeu.

A EUROPA ATOR GLOBAL Contendo 1/3 do PIB mundial, a metade da ajuda ao desenvolvimento e um mercado interno de meio bilho de habitantes, a Unio Europeia um ator fundamental no mundo contemporneo. Sendo uma potncia econmica e comercial ativa (sobretudo na OMC), a Europa tem dificuldades em impor-se como ator diplomtico e militar. Esse distanciamento diz respeito s condies particulares da construo europeia

(comeo da Guerra Fria e papel central da OTAN), fundada na busca do consenso e na maior importncia dada integrao econmica em relao integrao poltica.

Uma potncia comercial Ao mesmo tempo em que 65% dos intercmbios dos Estados-membros se fazem de forma intracomunitria, a UE tambm a primeira potncia comercial do mundo e representa mais de um tero do comrcio mundial. Da mesma forma, a UE negocia diretamente inmeros acordos bilaterais com pases ou espaos regionais, frequentemente com o objetivo de ir alm do comrcio (Unio Europeia/ Mercosul) ou de implementar estruturas de dilogo mais informais (sobretudo com os pases asiticos). Enfim, desde 1975, os acordos frica, Caribe e Pacfico (ACP) unem a Unio a 79 pases por meio de um acordo comercial preferncial e de cooperao econmica (Conveno de Lom, complementada pelo Acordo de Cotonou de 2000, atualmente em negociao).

A potncia normativa? Desde 2003, a Poltica Europeia de Vizinhana (PEV) define um primeiro crc