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TRABALHO DECENTE Debate tripartite PELO FIM DA EXPLORAÇÃO NO TRABALHO REVISTA DA SECRETARIA DO TRABALHO, EMPREGO E ECONOMIA SOLIDÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ | JULHO DE 2012 Acervo MTE Trabalhadores em condições análogas a de escravo na colheita de banana, em Guaratuba-PR, resgatados em fiscalização da SRTE-PR.

Revista do Trabalho Decente

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Revista desenvolvida para a Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social

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Page 1: Revista do Trabalho Decente

TRABALHOTRABALHODECENTE

Debate Debate tripartite

PELO FIM DA EXPLORAÇÃO NO TRABALHO

REVISTA DA SECRETARIA DO TRABALHO, EMPREGO E ECONOMIA SOLIDÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ | JULHO DE 2012

Ace

rvo

MTE

Trabalhadores em condições análogas a de

escravo na colheita de banana, em Guaratuba-PR, resgatados em fiscalização da

SRTE-PR.

Page 2: Revista do Trabalho Decente

2

EXEMPLO DE TRIPARTISMO

OS BENEFÍCIOS DO DIÁLOGO SOCIAL

TRABALHO DECENTE É OBJETIVO DA OIT

FIM DO TRABALHO ESCRAVO É PRIORIDADE

OS DELEGADOSELEITOS

ETAPAS MACRORREGIONAIS ENRAIZAM DEBATES

PEÇAS FUNDAMENTAIS

A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

NECESSIDADE IMEDIATA

SETS ASSINA TERMO COM A OIT

4

23

47

52

13

40

10

32

21

45

TRABALHO DECENTE SE CONSOLIDA NO PARANÁ 15

O OBJETIVO DAS POLÍTICAS PARA OS JOVENS 16

PRODUTIVIDADE ALIADAÀ MODERNIZAÇÃO 19

O PAPEL DO CONSELHO DO TRABALHO 24

NEGOCIAÇÃO É DIÁLOGO SOCIAL 26

PARANÁ: MAIOR PISO REGIONAL DO PAÍS 27

PELO BEM DA MAIORIA 30

A NECESSIDADE DA QUALIFICAÇÃO 34

DIFERENÇAS HISTÓRICAS 36

QUADRO DE CONVENÇÕES DA OIT

SAÚDE E SEGURANÇA: PRIORIDADES

49

38

PROCEDIMENTOS PARA UTILIZAÇÃO DA OIT 53

Page 3: Revista do Trabalho Decente

SETS

GOVERNADORBeto Richa

SECRETÁRIO DE ESTADO DO TRABALHO, EMPREGO E ECONOMIA SOLIDÁRIALuiz Claudio Romanelli

DIRETOR GERAL DA SECRETARIAMarcello Alvarenga Panizzi

CHEFE DE GABINETEÉlcio Luiz Coltro

DEPARTAMENTO DE GESTÃO DO SISTEMA PÚBLICO DE TRABALHO, EMPREGO E RENDAJosé Maurino de Oliveira Martins

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIACarlos Manuel Vasconcelos Santos

DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES DO TRABALHONuncio Mannala

REDAÇÃO E EDIÇÃOAndrea Mayumi Maciel Naiady Piva

SECRETARIA DE ESTADO DO TRABALHO, EMPREGO E ECONOMIA SOLIDÁRIA

Rua Pedro Ivo, 750 - Centro80010-020 Curitiba - ParanáTel: (41) 3883-2500

STADIUM COMUNICAÇÃO

Rua Fernandes de Barros, 55 Cristo Rei | 80050-360Curitiba - ParanáTel: (41) 3082-8783

EDITORIALA Conferência Estadual foi o pontapé para instituirmos o “traba-

lho decente” como o paradigma a partir do qual a questão trabalhista

passa a ser encarada no estado do Paraná. A participação de mais de 2

mil pessoas ao longo de todas as etapas do processo são a prova de que

poder público, trabalhadores, empregadores e sociedade civil estão

sensibilizados para a importância do tema.

Mais de 200 proposições foram elencadas em um esforço de cons-

truir um olhar de trabalho decente em relação aos diferentes temas

em pauta. Diversos representantes do governo, dos trabalhadores e

dos empregadores levantaram que a igualdade de gênero, o combate

ao trabalho análogo à escravidão e a erradicação do trabalho infantil

são temas essenciais a serem abordados. Resta agora estabelecermos

as prioridades de ação de maneira organizada.

A Conferência não foi apenas um evento, mas um processo de

construção que contou com etapas regionais, reuniões preparatórias

e um real envolvimento da comunidade. Seu principal fruto foi a ma-

turação do diálogo social no estado. Prova disso é o clima de coletivi-

dade presente na plenária fi nal e a inclusão dos itens não consensuais

no relatório fi nal.

O tripartismo é peça fundamental para existência do direito

do trabalho e deve estar presente no dia-a-dia das políticas pú-

blicas e negociações coletivas. Com o debate entre as três partes,

será possível que se chegue mais facilmente a acordos que satis-

façam os envolvidos.

Pensar o trabalho decente é desenvolver um modelo de desenvol-

vimento para a economia, é responder à questão: como aliar cres-

cimento econômico e direitos sociais? Na dinâmica e diversifi cada

economia paranaense esta questão deve nortear desde as políticas

públicas até as menores relações trabalhistas cotidianas.REALIZAÇÃO: APOIO:

SETS

LUIZ CLAUDIO ROMANELLI é secretário de Estado do Trabalho,

Emprego e Economia Solidária do Paraná

Page 4: Revista do Trabalho Decente

4

EXEMPLODE TRIPARTISMO

Conferência estadual cumpre o papel de organizar as questões trabalhistas sob a égide do trabalho decente

Sets

Page 5: Revista do Trabalho Decente

SETS

A Conferência Estadual do Trabalho De-

cente do Paraná foi realizada em 25 e 26 de

novembro de 2011 em Curitiba, como ini-

ciativa da Secretaria de Estado do Trabalho,

Emprego e Economia Solidária (Sets), em

parceria com o Grupo Executivo do Traba-

lho Decente do estado e com a Superinten-

dência Regional do Ministério do Trabalho

e Emprego (MTE).

O evento reuniu os 580 delegados eleitos

nas seis conferências macrorregionais que

ocorreram em outubro em todas as regiões

do estado, além de contar com observado-

res e convidados nacionais e internacio-

nais. Para orientar os debates, a mesa de

abertura abordou os desafios para a cons-

trução da Agenda do Trabalho Decente no

Paraná e contou com as contribuições do

professor da UFPR Sandro Lunard, do as-

sessor jurídico da Federação das Associa-

ções Comerciais e Empresariais do Estado

do Paraná (Faciap) João Carlos Regis, e com

o secretário estadual do Trabalho, Emprego

e Economia Solidária, Luiz Claudio Roma-

Representações dos três segmentos estiveram presentes na mesa de

abertura da conferência.

Page 6: Revista do Trabalho Decente

6

As macrorregionais tiveram início em 8

de outubro em Pato Branco, e foram segui-

das por Cascavel (7 de outubro), Maringá

(20 de outubro), Londrina (21 de outubro),

Curitiba (27 de outubro) e Ponta Grossa (28

de outubro). Ao todo, cerca de 2 mil pesso-

as compareceram às seis etapas.

O Decreto 1.652/11 do Governo do Estado

determinou a criação do Grupo Executivo do

Trabalho Decente, que funcionou de modo

tripartite e foi responsável pela organização

das conferências. O diretor do Departamen-

to de Gestão do Sistema Público de Traba-

lho, Emprego e Renda da Sets, José Maurino

de Oliveira Martins, lembra que no início do

processo havia uma expectativa de que tal-

vez não fosse possível reunir trabalhadores,

empregadores e poder público para debater

temas tão polêmicos, mas a Conferência foi

um sucesso e comprovou que isto era pos-

sível.

Os 580 delegados dos três segmentos representaram

as cerca de 2000 pessoas presentes nas etapas

macrorregionais

“O TRIPARTISMO NÃO PODE SER CONSTRUÍDO

EM TESE, ELE SÓ É POSSÍVEL NA PRÁTICA E

A CONFERÊNCIA FOI UMA PRÁTICA PRIVILEGIADA”

JOSÉ MAURINO, DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE GESTÃO DO SISTEMA

PÚBLICO DE TRABALHO, EMPREGO E RENDA

SETS

Page 7: Revista do Trabalho Decente

SETS

No entendimento do diretor do Depar-

tamento de Relações do Trabalho da SETS,

Nuncio Mannala, o funcionamento da co-

missão, “em que todas as decisões foram to-

madas de maneira consensual e respeitosa”,

foi fundamental para o estabelecimento de

uma tradição de diálogo tripartite no estado.

José Maurino explica que “o tripartismo não

pode ser construído em tese, ele só é possí-

vel na prática e a conferência foi uma prática

privilegiada”.

Romanelli ressalta que a construção tri-

partite da agenda “é a forma moderna do

mundo do trabalho estabelecer pactos de

superação da situação indigna a que as pes-

soas estão submetidas”. Para ele, o espaço

da Conferência Estadual gerou um processo

de discussão sobre o trabalho que envolvia

no debate o mundo real da economia, por

meio de suas representações. “Isto é ex-

tremamente importante para ir pactuando

estas condições melhores na vida dos tra-

balhadores e não deixar que se reproduzam

condições de trabalho ou de vida que são

combatidas no ideário da agenda do traba-

lho decente.”

A Conferência paranaense debateu mais

de 200 temas o que, na opinião de Nuncio,

favorece o avanço nos pontos para os quais

são tiradas resoluções e também a convi-

vência entre os atores do trabalho. Refle-

xos disso podem ser vistos na existência de

relações mais respeitosas nas negociações

salariais de algumas categorias. Mannala

ressalta que este processo é um aprendiza-

do, que pode avançar e retroceder.

A participação de diferentes setores do

governo na definição e implementação das

políticas públicas e de sociedades de clas-

se e da sociedade civil permite um debate

sobre o trabalho como algo que influencia

em todos os aspectos da vida. O assessor

técnico do gabinete da Secretaria Estadual

de Ciência e Tecnologia (Seti) Aroldo Mes-

sias de Mello Junior relata que a Seti par-

ticipou do espaço levando as contribuições

de sua área, como em questões relativas à

formação profissional. Para a Secretaria da

Saúde, que participou em todas as etapas, o

foco foi no debate sobre como se dará a dis-

tribuição da Política Estadual de Saúde do

Trabalhador, lançada em 23 de setembro de

2011 após a realização de eventos em todas

as 22 regionais de saúde do estado.

O presidente da Força Sindical do Para-

ná, Sérgio Butka, orgulha-se de sua entida-

de ter participado ativamente do processo

de organização da Conferência Estadual do

Trabalho Decente. Ele destaca que a cen-

tral, em conjunto com o governo, entida-

des patronais e demais centrais “ajudou na

construção de um evento democrático que

levantou importantes propostas do Paraná

para serem levadas à conferência nacional”.

A Federação da Agricultura do Estado do

Paraná buscou articular a presença de seus

Page 8: Revista do Trabalho Decente

8

representantes em diversas regiões do esta-

do com o apoio técnico nos debates. O dire-

tor financeiro da Faep, João Luiz Rodrigues

Biscaia, lembra que “a federação tem feito,

por meio da Comissão Nacional do Trabalho e

Previdência da Confederação da Agricultura e

Pecuária do Brasil contribuições para o aper-

feiçoamento da Norma Regulamentadora 31,

que trata do trabalho decente no meio rural”.

A Faep esteve presente em todas as reuniões

de preparação da Conferência.

O Ministério Público do Trabalho do Para-

ná (MPT/PR) cumpriu um papel diferente dos

demais, de formulação de política. A procu-

radora do MPT/PR Cristiane Maria Sbalqueiro

Lopes explica que a ação do Ministério “foi

no sentido de esclarecer coisas que feririam a

Constituição Federal, impedir propostas que

diminuíssem os direitos sociais e ratificar as

que garantiam aumentos dos direitos sociais”.

Para ela, é importante a compreensão de que a

Conferência é um espaço político, e não jurí-

dico, e neste sentido a grande força do espaço

está no fato de que as ideias ali consolidadas

em propostas são fruto de um debate político,

e é isto que dá aos debates força para que não

fiquem apenas no papel, não sejam ignoradas

na formulação de políticas públicas.

O diferencial desta conferência foi a

união entre os posicionamentos das dife-

rentes centrais sindicais em todos os temas,

na opinião do secretário adjunto de Saúde

e Segurança no Trabalho da União Geral

dos Trabalhadores (UGT-Paraná), Elizeu de

Oliveira Freitas. As centrais sindicais reali-

zaram de duas a três reuniões antes de cada

etapa macrorregional e dividiram tarefas

dentro dos grupos de discussão. “Mais im-

portante para nós foi ter participado com

representantes da central em todas as sedes

de discussão onde as conferências foram

realizadas” opina Freitas.

A participação em todas as etapas também

foi destacada pelo presidente da Nova Central

Sindical de Trabalhadores do Estado do Paraná

“É IMPORTANTE PARA NÃO DEIXAR QUE SE REPRODUZAM

CONDIÇÕES DE TRABALHO OU DE VIDA QUE SÃO COMBATIDAS

NO IDEÁRIO DA AGENDA DO TRABALHO DECENTE”

LUIZ CLÁUDIO ROMANELLI, SECRETÁRIO DO TRABALHO

Sets

Page 9: Revista do Trabalho Decente

SETS

(NCST/Paraná), Denílson Pestana da Costa. A

entidade mobilizou sindicatos filiados para as

seis etapas realizadas, o que permitiu a eleição

de 48 delegados e cinco suplentes para partici-

par da Conferência Estadual e, para a nacional,

a indicação de quatro delegados titulares e dois

suplentes dentre as 15 vagas destinadas à ban-

cada de trabalhadores.

Já a participação do professor Ronaldo Bal-

tar, do setor de Ciências Sociais da Universidade

Estadual de Londrina (UEL), foi com o objetivo

de enraizar um maior envolvimento da Univer-

sidade no tema, uma vez que não houve uma

participação institucional da UEL, embora vá-

rios departamentos desenvolvam projetos de

pesquisa e extensão sobre os temas da Agenda

do Trabalho Decente.

O advogado da Faciap João Carlos Régis

defende que o compromisso da Conferência

Estadual “é o de ajustar o compromisso

para a construção inteligente e paulatina de

um novo método para as relações entre os

entes produtivos”. Em sua visão, este com-

promisso é “uma espécie de comprometi-

mento sério e responsável de parte a parte,

mais precisamente das autoridades do Es-

tado”.

Régis destaca que a riqueza do país é pro-

duzida por aqueles que trabalham e produ-

zem, no entanto a carga tributária representa

cerca de 30% dos salários e 45% das receitas

mensais de uma empresa. Isto, na opinião de

Régis “faz com que sejamos o povo que mais

paga impostos no mundo e o que menos re-

cebe serviços e atendimentos de saúde, edu-

cação, segurança e seguridade social”.

Luiz Claudio Romanelli assume compromisso da Sets

com o trabalho decente.

Page 10: Revista do Trabalho Decente

10

A realização de seis etapas macrorregio-

nais na conferência paranaense cumpriu

um papel de incorporar as especificidades

políticas e econômicas das diferentes re-

giões do Paraná, debates que subsidiaram

a etapa estadual e deram frutos em termos

de políticas públicas.

Fruto da discussão da agenda em 2011, a

Sets criou um grupo de trabalho para pro-

mover o enfrentamento à substituição de

mão de obra no setor sucroalcooleiro pela

mecanização. O secretário Luiz Claudio

Romanelli explica que este é um exemplo

de ação objetiva criada a partir das confe-

rências, na busca de se fazer um diálogo

entre trabalhadores e empregadores.

Outro debate presente com força nas ma-

crorregionais foi a dificuldade na inserção

das pessoas com deficiência no mundo do

trabalho. Constatou-se que era necessário

uma melhor qualificação dos atendentes

nas Agências do Trabalhador, e foram to-

madas medidas para capacitar e treinar nas

agências pelo menos um profissional com

condição de poder inserir de fato as pesso-

as com deficiência no mercado. Romanelli

aponta que “são coisas muito pontuais, mas

muito práticas que são resultantes deste

ETAPAS MACRORREGIONAIS ENRAIZAM DEBATES

Abertura da etapa realizada em Maringá.

Page 11: Revista do Trabalho Decente

SETS

debate, desta discussão”.Algumas enti-

dades tiveram como foco a participação

em todas as etapas do processo. É o caso

da Força Sindical do Paraná e da União

Geral dos Trabalhadores. A Secretaria da

Saúde buscou fazer o mesmo, enviando a

cada conferência delegações das respecti-

vas regiões.

Mas houve participações pontuais

também de grupos e entidades que tem

foco em uma determinada região. É o caso

dos pesquisadores do Departamento de

Ciências Sociais da Universidade Estadu-

al de Londrina (UEL), membros do proje-

to de pesquisa sobre Agenda do Trabalho

Decente coordenado pelo professor Ro-

naldo Baltar. “Já vínhamos acompanhan-

do e preparando indicadores para o moni-

toramento das condições de trabalho no

Paraná” conta o professor, que por conta

deste acúmulo participou da Conferência

Preparatória de Ibiporã e da Macrorregio-

nal de Londrina.

De cima para baixo: o secretário municipal do Trabalho de Curitiba, Paulo Bracarense, fala na etapa do litoral; Romanelli comanda a etapa de Ponta Grossa; público foi excelente na conferência de Londrina.

Fotos: Sets

Page 12: Revista do Trabalho Decente

12

O diretor do Departamento de Relações do Trabalho da SETS, Nuncio Mannala, abre a Conferência Macrorregional de Maringá.

Sets

Page 13: Revista do Trabalho Decente

SETS

A 87.ª Conferência Internacional do Tra-

balho realizada em Genebra (Suiça) em

1999 foi um marco na história da Organiza-

ção Internacional do Trabalho (OIT). Nela

foi instituído o conceito de “trabalho de-

cente” como uma síntese dos objetivos da

organização, de forma a definir a tarefa do

instituição internacionalmente.

A OIT destaca-se entre as agências da

ONU por ser a única composta de forma

tripartite, contendo membros do poder pú-

blico, de representantes de trabalhadores

e de empregadores. Os setores constroem

em conjunto as metas

e agendas das ações a

serem desenvolvidas.

A instituição desta

agenda objetiva “in-

centivar as medidas em

prol da igualdade e dis-

tribuição justa de ren-

da por meio do traba-

lho”, conforme explica

o professor de Ciências

Sociais da Universidade

Estadual de Londrina

(UEL)z Ronaldo Baltar.

Pesquisador de políti-

cas públicas, desenvolvimento, emprego e

trabalho decente, Baltar reforça que o com-

promisso da agenda deve ser tornar o traba-

lho um meio para a promoção da qualidade

de vida e da geração de renda, para que todos

possam participar da produção de riqueza, o

professor afirma que “um país não pode ser

rico com trabalhadores pobres” e ressalta

que a pobreza e a desigualdade estão associa-

das ao desemprego ou ao subemprego.

Há uma relação entre a agenda do trabalho

decente e outras agendas internacionais que ob-

jetivam a erradicação da miséria e da discrimi-

nação, explica Baltar.

Ele cita como exemplo

os Objetivos do Milênio

promovidos pelo Pro-

grama das Nações Uni-

das para o Desenvol-

vimento. Devido a esta

afinidade, os indica-

dores usados para ava-

liação quantitativa do

trabalho decente asse-

melham-se aos utiliza-

dos por outras agências,

mas o professor explica

que “a diferença está no

TRABALHO DECENTE É O OBJETIVO DA OIT

“O TRABALHO DECENTE É

IMPORTANTE POIS ENVOLVE O GOVERNO E

OS PATRÕES NO DEBATE”RONI BARBOSA,

EX-PRESIDENTE DA CUT/PR

Conceito criado em 1999 tem pautado a atuação internacional da OIT pela erradicação de formas exploratórias de trabalho

Page 14: Revista do Trabalho Decente

14

enfoque às relações de trabalho e na busca de al-

ternativas pelo diálogo social”. Assim, a análise

dos indicadores partem do pressuposto de que

não se deve buscar o desenvolvimento econô-

mico com empregos precários, discriminatórios

e que não respeitem os direitos fundamentais.

Na visão do ex-presidente da CUT-PR,

Roni Barbosa, o trabalho decente é impor-

tante “pois envolve o governo e os patrões

no debate”. O presidente da Nova Central

Sindical de Trabalhadores do Paraná e do

Conselho Estadual do Trabalho, Denilson

Pestana da Costa, lembra que o conceito

se estrutura nos quatro objetivos estraté-

gicos da OIT: a promoção do emprego de

qualidade, a extensão da proteção social,

o respeito às nor-

mas internacio-

nais e aos prin-

cípios e direitos

fundamentais no

trabalho e o for-

talecimento do

diálogo social.

Estes direitos e

princípios foram

normatizados em

convenções in-

ternacionais do

trabalho e constituem a Declaração dos

Direitos e Princípios Fundamentais do

Trabalho, lançada em 1998, durante a 87.ª

Conferência Internacional do Trabalho.

A preocupação com a qualidade de tra-

balho, com a existência de segurança e

rendimento adequado é ressaltada pelo

coordenador do Departamento de Rela-

ções do Trabalho da Secretaria Estadual

do Trabalho, Emprego e Economia Solidá-

ria do Paraná, Nuncio Mannala. Ele afirma

que o trabalho envolve o convívio familiar,

o acesso a serviços públicos e a assistência

social, ou seja, uma visão de totalidade, e

que a agenda do trabalho decente deve ser

pensada a partir desta perspectiva.

Pestana defende que um trabalho ca-

paz de garantir uma vida digna é condição

fundamental para a superar a pobreza, re-

duzir as desigualdades, garantir a governa-

bilidade democrática e o desenvolvimento

sustentável. Ronaldo Baltar destaca a ex-

periência brasileira, em que a distribuição

de renda, a inovação e o investimento são

os pilares do desenvolvimento. Isto se es-

trutura na garantia dos direitos aos traba-

lhadores — o que gera custos às empresas,

mas forma a base de um mercado consumi-

dor estável e rentável. O professor sintetiza:

“os princípios do trabalho decente não são

incompatíveis com o desenvolvimento; os

países desenvolvidos adotaram princípios

mais próximos da

agenda do traba-

lho decente, que

prevê criação de

empregos com

qualidade, salá-

rio justo, condi-

ções de trabalho

e respeito aos tra-

balhadores”.

Mannala crê

que o objetivo

da economia é se

desenvolver para comportar empregos de

qualidade, e acredita ser necessário um

desenvolvimento regional compatível com

a dinâmica das localidades, que descons-

trua a lógica de que algumas regiões são

muito ricas e outras pobres.

A crise econômica, que atualmente afe-

ta países da Europa, coloca na agenda a

pauta do trabalho decente, já que os pla-

nos de austeridade e a reconfiguração das

relações trabalhistas estão no centro do

debate para a resposta à crise. Na opinião

de Baltar, o aumento do desemprego pres-

siona por redução de salários e condições

de trabalho, e dificulta a construção de es-

paços de diálogo social. No entanto, é nes-

“OS PRINCÍPIOS DO TRABALHO

DECENTE NÃO SÃO INCOMPATÍVEIS COM O DESENVOLVIMENTO”

RONALDO BALTAR, PROFESSOR DA UEL

Page 15: Revista do Trabalho Decente

SETS

te momento que os organismos internacio-

nais devem promover ações com governos,

empresários, trabalhadores e sociedade

civil em prol do trabalho decente. O pro-

fessor lembra que os países que investiram

em um mercado de trabalho com direitos e

garantias de salário tendem a sair da crise

com mais força e rapidez.

mentação da agenda deve estar articulada com

o desenvolvimento do Paraná para cada região.

De acordo com os dados da Pesquisa Nacio-

nal por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE,

o Paraná está entre os cinco primeiros estados da

federação nos indicadores sociais de oportunida-

de de emprego; formas de trabalho a ser abolido;

rendimentos adequados e trabalho produtivo;

igualdade de oportunidades; seguridade social e

diálogo social; e contexto econômico e social do

trabalho decente. Além disso, o Paraná pode ser

considerado um exemplo em iniciativas de eco-

nomia solidária e cooperativismo, e em soluções

locais para geração de emprego e renda por meio

de arranjos produtivos locais, na opinião de Ro-

naldo Baltar. Isto porque o estado tem bom nível

de geração de empregos formais, e uma rede bem

articulada de capacitação e recolocação de traba-

lhadores no mercado de trabalho.

O próximo passo para construção de uma

Agenda Estadual é o estabelecimento de priori-

dades: quais os locais e cadeias de produção do

estado merecem especial atenção e ações mais

efetivas. A funcionária do escritório regional da

Sets de Curitiba Alzimara Bacellar explica que

nas discussões das conferências macrorregio-

nais buscou-se chegar a resultados concretos

“para a conferência terminar em um bom en-

tendimento, garantindo que as partes se ma-

nifestassem” e assim fosse o mais democráti-

co possível de forma a garantir o tripartismo.

A igualdade de gênero, o combate ao trabalho

análogo à escravidão e a erradicação do traba-

lho infantil são temas apontados como ques-

tões que devem ser resolvidas com urgência.

A necessidade de estabelecer priorida-

des dentre as pautas é sintetizada por Nuncio

Mannala: “onde vamos gerar empregos, que

tipo de empregos, o que nós planejamos para a

cadeia produtiva do estado? Isso tudo tem que

estar claro para o conjunto da sociedade”. Mas

Ronaldo Baltar destaca que a construção dos

mecanismos de diálogo social por meio das

conferências é o principal mote na construção

da agenda.

O processo de estadualização da agenda exi-

ge uma compreensão da realidade da economia

regional, suas dinâmicas e distintos cenários em

seu interior. O professor Ronaldo Baltar relata

que a industrialização e ampliação do agrone-

gócio ocorridas nos últimos 20 anos no Paraná

geraram novas oportunidades de investimento e

crescimento em várias regiões do estado.

Porém, este crescimento foi desigual, com a

concentração de investimentos em algumas re-

giões e falta de investimento em outras. O pro-

fessor destaca que se apresenta no estado uma

situação acima da média brasileira para quase

todos os indicadores de Trabalho Decente. No

entanto, quando analisadas as mesmas infor-

mações município a município percebe-se que a

implementação de uma agenda única para o tra-

balho decente no estado é inadequada.

A construção de uma agenda estadual que

inicie com discussões e análises locais, passe pe-

las macrorregiões até chegar à estadual é impor-

tante para verificar que cada região terá diferen-

tes prioridades de ação, baseadas nas demandas

locais apresentadas em conferência, e a imple-

TRABALHO DECENTE SE CONSOLIDA NO PARANÁ

Page 16: Revista do Trabalho Decente

16

No Brasil, o trabalho tem grande relevân-

cia para os jovens, sendo que muitos iniciam a

vida profissional antes de atingir a idade míni-

ma legal. São empregos que muitas vezes apre-

sentam-se como temporários, sem perspectiva

de carreira ou crescimento profissional, aponta

o professor de Ciências Sociais da Universidade

Estadual de Londrina Ronaldo Baltar. Para ele, a

principal demanda da juventude é a capacitação

para o mercado de trabalho, “sobretudo na for-

mação de técnicos de diversos setores”.

O foco da Agenda Nacional do Trabalho De-

cente para a Juventude é a criação de políticas

para jovens entre 15 e 29 anos. Embora a idade

mínima por lei para ingresso no trabalho no país

seja de 16 anos, jovens de 14 e 15 anos podem se

enquadrar como menor aprendiz. Já os menores

de 16 anos fora desta condição e os menores de

14 anos em qualquer emprego estão em situação

trabalho infantil, que deve ser combatido.

O emprego formal de aprendizes no Paraná,

em 2010, abrangia 11.449 jovens, de acordo com

o “Anuário do Sistema Público de Emprego, Tra-

balho e Renda 2010-2011” publicado pelo Dieese.

Segundo dados do Ministério do Trabalho e Em-

prego (MTE), em 2009 eram mais de 34 milhões

de jovens e adolescentes entre 15 e 29 anos que

trabalhavam ou procuravam emprego. Baltar

atenta para o fato que, de acordo com dados da

Relação Anual de Informações Sociais do MTE,

dois terços dos contratos de trabalho são encer-

rados antes de atingirem um ano; e o tempo mé-

dio do emprego formal não chega a quatro anos.

Esta rotatividade tem impacto na juventude,

O OBJETIVO DAS POLÍTICAS PARA OS JOVENS

Fotos: Levy Ferreira / Serc

Page 17: Revista do Trabalho Decente

SETS

porque, via de regra, o salário médio dos admiti-

dos é menor que o salário médio dos desligados.

No mesmo ano, no Paraná, 79% dos 2,4 milhões

de jovens entre 16 e 29 anos do estado estavam

incluídos na população economicamente

ativa, e dentre estes, 31,7% estavam sem

carteira assinada.

Para o jovem estar inserido nas caracte-

rísticas de trabalho decente, ele deve não

apenas ter oportunidade de conseguir um

emprego de qualidade, mas ter as condi-

ções de construção de sua trajetória pro-

fissional. O assessor técnico do gabinete

da Secretaria da Ciência, Tecnologia e En-

sino Superior do Paraná, Aroldo Messias de

Mello Junior, acredita que o momento certo

para a entrada de jovens no mercado de tra-

balho é após o ensino médio.

Mello diz que muitas vezes a escolha de

uma profissão é feita sem que haja conhe-

cimento da realidade de seu trabalho “pre-

judicando sobremaneira a formação ade-

quada e equilibrada do profissional”. Para o

professor Baltar “a geração do primeiro emprego

deve ser ampliada para atender a entrada de jo-

vens no mercado”, o que deve vir acompanhado

de um aumento na qualidade do emprego.

Na sociedade atual, recai sobre os jovens o

peso do desemprego e do trabalho precário. Ao

serem analisados outros aspectos, também se

constata que as mulheres jovens e os jovens ne-

gros estão entre os que mais têm dificuldades de

acesso ao trabalho decente.

Os jovens apresentam desvantagens em rela-

ção aos adultos: o desemprego é mais alto, a in-

formalidade se apresenta de forma pronunciada

e eles estão mais presentes em ocupações que

indicam maior precariedade.

Na Agenda Nacional de Trabalho Decente

para a Juventude são propostas quatro priorida-

des: mais e melhor educação; conciliação de es-

tudos, trabalho e vida familiar; inserção ativa e

digna no mundo do trabalho; diálogo social.

“A ESCOLHA DA PROFISSÃO SEM CONHECIMENTO

DA REALIDADEDA PREJUDICA

SOBREMANEIRA A FORMAÇÃO ADEQUADA

E EQUILIBRADA DO PROFISSIONAL”

AROLDO MESSIAS DE MELLO JÚNIORASSESSOR TÉCNICO DA SETI

Conferência da Juventude do

Paraná debateu trabalho entre

os sete eixos principais.

Page 18: Revista do Trabalho Decente

18

Corte de cana enfrenta

transição para mecanização.

Albari Rosa

Page 19: Revista do Trabalho Decente

SETS

Apesar do aumento da área de

colheita no Paraná ter passado de

5,1 milhões de hectares em 1995,

para 6,5 milhões em 2006, 170 mil

pessoas deixaram de trabalhar em

empregos rurais, segundo artigo de

Maria Salete Zanchet publicado na

Revista Paranaense de Desenvolvimen-

to, com base no último Censo Agro-

pecuário.

O diretor-financeiro da Fede-

ração da Agricultura do Estado do

Paraná (Faep), João Luiz Rodrigues

Biscaia, aponta que uma forma de

potencializar o setor agrícola seria

um maior investimento em infraes-

trutura. Biscaia aponta ações como

a duplicação das rodovias, a ex-

pansão das ferrovias e melhorias no

porto de Paranaguá como medidas

que iriam baratear o custo da pro-

dução agrícola local.

O presidente da Federação dos

Trabalhadores na Agricultura do

Estado do Paraná (Fetaep), Ademir

Mueller, alerta para a necessidade

da formalização do setor: “no Brasil,

70% dos assalariados do campo não

são registrados e no Paraná, 60%;

para os próximos dois anos temos

que, no mínimo, ter metade dos tra-

balhadores na formalidade”. O Sis-

tema Faep/Senar realiza ações para

instruir os produtores rurais em re-

lação ao cumprimento da legislação

trabalhista.

Dentre os programas da Faep

está o “Casa em Ordem”, que leva

aos produtores rurais noções so-

bre o correto cumprimento das leis

trabalhistas, previdenciárias, am-

bientais e tributárias. Biscaia relata

que até o momento foram realizadas

1.176 palestras para mais de 40 mil

produtores em todo o estado.

O Senar desenvolve cursos de

formação profissional que já capaci-

taram 960 mil pessoas desde 1993 e,

a cada mês, realiza mais de mil cur-

sos sobre diversas atividades rurais.

A agricultura familiar é respon-

sável por 75% da alimentação dos

brasileiros e por 72% dos postos de

trabalho no campo no Paraná, se-

gundo a Fetaep. O presidente da

Federação defende que as políticas

públicas devam ser voltadas para a

manutenção dos trabalhadores no

campo, “até porque a agricultura

familiar gera ao Estado metade dos

gastos que se teria para manter um

posto de trabalho na cidade”.

Um dos principais suportes à

agricultura familiar e aos pequenos

produtores paranaenses é o Ins-

tituto Paranaense de Assistência

Técnica e Extensão Rural (Emater),

que está presente em quase todos os

municípios do estado.

Para financiamento, os pequenos

produtores (até quatro módulos ru-

rais) têm acesso ao Programa Nacio-

nal de Fortalecimento da Agricul-

tura Familiar (Pronaf), do Governo

Federal, com juros que vão de 1% a

4% ao ano, dependendo da ativida-

de dos agricultores. Os demais pro-

dutores pagam, em média, 6,75% ao

ano em juros.

PRODUTIVIDADE ALIADA À MODERNIZAÇÃO

FORTALECER AAGRICULTURA FAMILIAR

Setor agrícola busca equilibrar desenvolvimento com a inserção dos trabalhadores nos preceitos do trabalho decente

Albari Rosa

Page 20: Revista do Trabalho Decente

20

Educação é a principal arma no combate ao trabalho infantil.

A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

Alb

ari R

osa

Page 21: Revista do Trabalho Decente

SETS

A urgência da luta pela erradicação do

trabalho infantil no Paraná ficou ainda mais

evidente com a divulgação de dados do Censo

2010 do IBGE. De acordo com os números, 6%

das crianças paranaenses entre 10 e 13 anos

trabalham, o que representa aumento de 19%

em relação aos índices de 2000.

Para compreender melhor este número (que

contabiliza um total de 42.118 casos) é preciso

entender quem são estas crianças. No mapa do

trabalho infanto-juvenil realizado pelo Insti-

tuto Paranaense de Desenvolvimento Econô-

mico e Social (Ipardes) a partir do Censo de

2000, levantou-se que, entre as crianças ocu-

padas com idade de 10 a 13 anos, quase 70%

pertencem a famílias cuja renda mensal per

capita é de até um salário mínimo; entre os

adolescentes de 14 a 17 anos o número de famí-

lias em extrema pobreza cai para 42%.

Outro dado significativo que consta no

mapa é que 14,9% das crianças entre 10 e 13

anos que trabalham não frequentam a escola,

enquanto entre as que não trabalham apenas

3,2% estão fora do âmbito escolar. Juliana

Müller Sabbag, da Coordenação de Proteção

Social Especial da Secretaria da Família e De-

senvolvimento Social do Paraná, explica que

por muito tempo a política para o trabalho

infantil foi vista apenas como uma questão

de assistência social. Para ela, a maior prova

disso é que estas famílias estão incluídas no

Bolsa Família e no Programa de Erradicação

do Trabalho Infantil (Peti). Em sua avaliação

isto é importante, mas o viés que realmente

emancipa é o de oferecer uma alternativa por

meio da educação.

Para tirar a criança do trabalho e colocá-

la no banco da escola é preciso que haja um

debate também com as famílias, por isso, Ju-

liana explica que quando esta modalidade de

trabalho é encontrada os pais e responsáveis

são encaminhados para compreender qual é a

sua função na criação da criança. Programas

como o Peti oferecem auxílio financeiro às fa-

mílias para garantir que a inserção dos jovens

na escola seja efetiva.

Originado em 1996, o programa oferece

R$ 40 por mês por beneficiário em cidades

com mais de 250 mil habitantes; e R$ 25 em

municípios menores. Têm direito famílias

cuja renda mensal não ultrapasse R$ 140 por

pessoa. Como contrapartida, o programa

exige matrícula e frequência mínima de 85%

na escola e carteira de vacinação em dia. Fi-

cam de fora do programa os beneficiários do

bolsa-família. No Paraná são mais de 5.000

famílias assistidas pelo programa.

A Secretaria da Família e Desenvolvimento

Social aposta na ampliação de vagas em esco-

las de tempo integral. Segundo Juliana, esta

A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

Forma moderna de combate à exploração de crianças não pode depender apenas de ações assistenciais

Page 22: Revista do Trabalho Decente

22

decisão ocorre “porque a alternativa ao tra-

balho infantil é oferecer uma formação aos

adolescentes, possibilitar que eles tenham

um espaço para ficar enquanto os pais tra-

balham”. Além disso, ela destaca que estas

escolas possibilitam aos alunos uma melhor

formação tanto profissional, quanto em cida-

dania e questões relativas a direitos.

A Secretaria atua com a ideia de que é preciso

que a criança saiba o que acontece com a vida e

com o corpo dela quando trabalha. Juliana ex-

plica que quando a criança trabalha perde todas

as possibilidades que são garantidas pelo Esta-

tuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma

vez que com isso ela “tem uma antecipação das

etapas de desenvolvimento e isso terá consequ-

ências ruins no fu-

turo, pois tanto seu

físico quanto sua

maturidade podem

ficar prejudica-

dos porque ela não

consegue se desen-

volver totalmente”.

As escolas em tem-

po integral buscam

desenvolver estes

potenciais e ofere-

cem atividades es-

portivas e artísticas.

Com o programa Mais Educação do Ministério

da Educação (MEC) a previsão é que se constru-

am 300 escolas deste modelo no Paraná.

O secretário do Trabalho, Emprego e Econo-

mia Solidária do Paraná, Luiz Cláudio Romanelli,

pontua que é preciso enfrentar uma questão

cultural: a crença de que é normal e até mesmo

positivo uma criança com menos de 14 anos tra-

balhar, e que isto é educativo. “Mudar isso na

cabeça das pessoas, dos empregadores e mesmo

dos pais é muito difícil; acho que este talvez seja

um dos maiores desafios que nós temos”, opina.

A criação de uma comissão de trabalho vi-

sando o conhecimento da extensão dos pro-

blemas existentes relacionados à exploração do

trabalho infantil, escravo e outros é apontado

pelo assessor técnico do gabinete da Secretaria

de Ciência e Tecnologia (Seti), Aroldo Messias

de Mello Júnio, como uma medida que poderia

surtir efeito rápido e de maior amplitude.

Dentre as cadeias produtivas que exploram

o trabalho infantil, algumas são consideradas

como “piores formas de trabalho infantil”.

Juliana Sabbag destaca entre essas o trabalho

com lixo, em lavouras (muitas vezes em conta-

to com agrotóxicos) e na rua, onde as crianças

ficam submetidas a atropelamentos, alicia-

mentos e à exploração sexual. Dentre estas, o

professor da UFPR Sandro Lunard Nicoladeli

destaca que há no Paraná cadeias produtivas

em que há exploração do trabalho infantil in-

clusive com forte

presença de pros-

tituição.

Uma das for-

mas de combate a

estes casos é por

meio de uma Co-

missão Estadual

Interinstitucional

de Enfrentamento

à Violência Contra

Crianças e Ado-

lescentes (CEIEV-

CA), uma vez que

o trabalho infantil é uma violação de direito. Já

o Plano Estadual de Enfrentamento à Violência

Contra a Criança e o Adolescente prevê comis-

sões regionais e municipais de combate ao tra-

balho infantil.

Há uma relação intrínseca entre o traba-

lho infantil e o feminino, já que a vida pro-

fissional das mães influencia a proteção so-

cial, de criação e auxílio das crianças que um

dia serão trabalhadoras. Este fator é apon-

tado pelo coordenador do Departamento de

Relações do Trabalho da Sets, Nuncio Man-

nala, como um dos motivos que justificam o

combate à desigualdade de gênero no mundo

do trabalho.

“A ALTERNATIVA AO TRABALHO INFANTIL

É OFERECER UMA FORMAÇÃO AOS

ADOLESCENTES”JULIANA MÜLLER SABBAG,

SEC. DA FAMÍLIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Page 23: Revista do Trabalho Decente

SETS

OS BENEFÍCIOS DO DIÁLOGO SOCIAL

Conselho Estadual do Trabalho: espaço permanente de debate entre governo, empregadores e trabalhadores.

Conferência Estadual do Trabalho Decente no Paraná é exemplo de ação tripartite

O relatório final da Conferência Estadual do

Trabalho Decente no Paraná, com propostas sobre

os quatro eixos abordados no encontro, é fruto

de uma plenária final encaminhada de maneira

totalmente consensual. Sem ter havido nenhuma

votação na plenária, as propostas em que houve

divergência aparecem no relatório como tendo

sido “destacadas” por alguma das bancadas. A

inclusão dos itens não consensuais no documento

cumpre papel de registrar opiniões sobre temas

polêmicos, com vistas a estimular que o debate

sobre eles seja mantido na busca de uma resolução

consensual no futuro.

O secretário adjunto de Saúde e Segurança no

Trabalho da União Geral dos Trabalhadores do

Paraná (UGT-Paraná), Elizeu de Oliveira Freitas,

pontua que o relatório é um exemplo de diálogo

social, pois “ao invés de irmos para o embate, foi

fruto de uma construção de consensos”.

Por ser a primeira conferência, não havia

precedentes sobre de que forma o tripartismo

deveria funcionar, em especial sobre quais são suas

instâncias de decisão. O coordenador de Relações

do Trabalho da Secretaria do Trabalho, Emprego e

Economia Solidária (Sets), Nuncio Mannala, vê a

Conferência como o pontapé inicial para a cons-

Sets

Page 24: Revista do Trabalho Decente

24

forma e que é preciso um processo de aproximação

de interesses, o que demonstra que há muito para

se avançar no tripartismo.

O diretor do Departamento de Gestão do Sis-

tema Público de Trabalho, Emprego e Renda da

Sets, José Maurino de Oliveira Martins, acredita

que a Sets passou a ser referência de tripartismo

no estado, como aglutinadora do debate sobre o

trabalho e que, internamente, “a construção de

uma agenda do trabalho decente foi a primeira

vez que a Sets vivenciou de fato a experiência do

tripartismo” e, com isso, os técnicos que passaram

por este processo saíram muito mais fortalecidos

e engajados no mundo do trabalho.

O Conselho Estadual do Trabalho (CET) dá as di-

retrizes que orientam o Sistema Público de Trabalho,

“O MINISTÉRIO PÚBLICO DO

TRABALHO SERIA UMA AMÁLGAMA

ENTRE TODAS ESTAS INSTITUIÇÕES, NÃO

SE ENQUADRA EM NENHUMA DAS

TRÊS CATEGORIAS”CRISTIANE MARIA SBALQUEIRO LOPES, PROCURADORA DO MPT

trução do tripartismo no estado. Mannala ressalta

que consenso é diferente de maioria, e explica que

nas reuniões de preparação da conferência “caso

houvesse alguma dificuldade, parava-se a reunião

e tínhamos reuniões separadas por bancadas; após

ver qual era a discussão, a questão central, havia

um novo acerto”.

O tripartismo é fundamental para a

existência do direito do trabalho e é a única

forma possível de discussão do trabalho e

de definição dos direitos sociais, na opinião

da procuradora do Ministério Público do

Trabalho do Paraná (MPT/PR), Cristiane

Maria Sbalqueiro Lopes. “O MPT seria uma

amálgama entre todas estas instituições,

não se enquadra em nenhuma das três ca-

tegorias”, comenta Cristiane sobre o papel

do Ministério na construção do tripartismo.

Na opinião da procuradora, a maior difi-

culdade neste processo de construção está em

convencer as partes a abrir mão de benefícios

em detrimento do avanço geral e cita como

exemplo o medo do setor empresarial de fazer

concessões em momentos de crescimento

econômico e não conseguir mantê-las em

uma posterior ocasião de crise. Cristiane defende

que os consensos já existentes tomem a forma de

lei, e que espaços como as conferências devem

exercer uma importante pressão para a efetivação

destas leis.

O professor de Ciências Sociais da Universidade

Estadual de Londrina (UEL) Ronaldo Baltar reforça

que as proposições das conferências não têm força

de lei e, por isso, dependem da vontade política

das partes. “Muitas destas medidas serão adotadas

voluntariamente por sindicatos, organizações da

sociedade civil, empresas e governo; e outras irão

depender de aprovação no legislativo ou de serem

instituídas por outras esferas do Estado”, diz.

Nuncio Mannala aponta a dificuldade de

efetivação de um diálogo franco, em especial

pela tradição existente na sociedade de que os

segmentos sociais busquem apenas aquilo que é

vantajoso para si. Mannala acredita que não há

mais condição de o desenvolvimento ocorrer desta

O PAPEL DO CONSELHO DO TRABALHO

Luiz Claudio Romanelli e Denilson Pestana da

Costa durante reunião sobre o piso mínimo

regional.

Page 25: Revista do Trabalho Decente

SETSSets

Page 26: Revista do Trabalho Decente

26

Emprego e Renda. O presidente da Nova Central

Sindical de Trabalhadores do Paraná (NCST/Para-

ná) e atual presidente do CET, Denílson Pestana

da Costa, defende que é “por meio destes fóruns

que é possível buscar o comprometimento de

cada segmento no estabelecimento de políticas

voltadas ao mundo do trabalho, pois é muito

mais fácil se implantar uma política quando

as pessoas e segmentos participaram de sua

concepção”.

O diretor financeiro da Federação da Agri-

cultura do Estado do Paraná (Faep), João Luiz

Rodrigues Biscaia, critica o CET na condução

dos debates acerca do piso mínimo regional

paranaense em 2012. Biscaia acredita que

a atuação do CET “impôs uma posição em

relação aos níveis de reajuste sem aceitar as

ponderações do setor patronal”, o que compro-

meteu o respaldo do tripartismo neste espaço.

O secretário do Trabalho, Emprego e

Economia Solidária do Paraná, Luiz Claudio

Romanelli, defende que o fato do CET não ser

deliberativo não o enfraquece, uma vez que

ele é decisivo para algumas questões, como

para a aprovação da aplicação de recursos

do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

“Como secretário do Trabalho tenho procu-

rado valorizar o papel do Conselho”, ressalta

Romanelli, que aponta o respaldo dado pela

Sets ao CET como uma forma de fortalecimento

daquele espaço.

Dentre as experiências municipais de

conselhos está o da cidade de Curitiba. O

secretário municipal do Trabalho e Emprego

de Curitiba, Paulo Bracarense, relata que o

Conselho Municipal de Trabalho e Emprego

tem poder decisório, pois é lá que é deliberado

o orçamento do município para a área. Para

o secretário, a presença de diferentes visões

de mundo naquele espaço gera conflito, mas

“enriquece a inserção do poder público no

mundo real do trabalho, porque você está

ali sendo monitorado e muitas vezes sendo

determinado pelo Conselho e tem que ouvir,

discutir e buscar hegemonia lá dentro”.

A noção de diálogo social pode ser estendida

aos espaços de negociação coletiva, na opinião do

professor de Direito da UFPR Sandro Lunard, por

estes serem espaços de concentração social e paci-

ficação dos conflitos. Lunard defende que é preciso

“privilegiar e proteger as formas de composição

dos conselhos coletivos de trabalho”. A opinião é

reforçada por Biscaia, que aponta as convenções

coletivas como um espaço em que “se procura

ajustar os interesses dos trabalhadores com os do

setor empregador”.

O advogado da Federação das Associações

Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap) João

Carlos Régis vê a conferência como um momento

em que são acertados compromissos comuns pelas

partes. Para ele esta construção é permanente e

deve ser realizada de “forma paciente e constante,

sem cotejos e colisões de interesses, ideias e muito

menos ideologias”.

NEGOCIAÇÃO É DIÁLOGO SOCIAL

PARANÁ: MAIOR PISO REGIONAL DO PAÍS

“É PRECISO PROTEGER AS

FORMAS DE COMPOSIÇÃO

DOS CONSELHOS COLETIVOS DE

TRABALHORONADO BALTAR, PROFESSOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UEL

Page 27: Revista do Trabalho Decente

SETS

O estabelecimento do piso regional por parte

das unidades da federação é uma oportunidade

de se definir um valor mínimo de vencimento

superior ao do salário mínimo nacional, de forma

que contemple a realidade da economia local. O

piso paranaense, que existe desde 2006, é cerca

de 30% mais alto que o nacional, o que o torna

o maior do país. Com a lei promulgada em 1º de

maio de 2012, o valor atual do piso paranaense, que

abrange quatro grupos de categorias profissionais,

varia de R$ 783,20 a R$ 904,20.

O presidente da NCST/Paraná e do Conselho

Estadual do Trabalho (CET), Denílson Pestana da

Costa, acredita que ter o maior piso do país “signi-

fica demonstrar que o estado pode ser indutor de

desenvolvimento, sinalizando para a sociedade a

necessidade de uma melhor distribuição de renda

entre as camadas mais populares”.

Na opinião de Pestana, o processo de distribui-

ção de renda pelo qual o Brasil e o Paraná passam

foi peça fundamental para blindar a economia

local no enfrentamento à crise de 2009. “Enquanto

outros estados que não praticavam essas políticas

sofreram de forma contundente os efeitos da crise

mundial, o Paraná continuou batendo recordes na

geração de emprego e renda.”

O piso é aplicado somente a categorias que

não possuem convenção coletiva ou lei nacional

que regulamente o piso vigente, no entanto ele

cria um contexto em que há maior interesse

de negociação entre as partes, uma vez que na

ausência de convenção ou acordo não é mais o

salário mínimo nacional que irá servir como base,

e sim um valor superior.

O coordenador de Relações do Trabalho da Sets,

Nuncio Mannala, atenta para o fato que o piso

paranaense estabelece valores que, via de regra, já

são praticados na economia paranaense, e aponta

que a partir deste debate as centrais sindicais têm

tido a possibilidade de regulamentar algumas

áreas como a construção civil, o setor de madeira

e o de cimento.

PARANÁ: MAIOR PISO REGIONAL DO PAÍS

Novo piso mínimo foi

sancionado com um

reajuste de 10,32%.

ANPr

Page 28: Revista do Trabalho Decente

28

DISCREPÂNCIA DE RENDA AINDA É ALTA

Na região sul do país, salário dos brancos é, em média, 70% maior do que o dos negros

Seed

Page 29: Revista do Trabalho Decente

SETS

Segundo dados da OIT, 88% dos dirigentes de

empresas são brancos, enquanto apenas 12% são

negros. Além disso, os negros recebem pouco

mais da metade do salário dos brancos.

De acordo com dados do Censo 2010 do IBGE

os rendimentos da população branca estão bem

acima dos da população negra. Embora o Sul

seja a região em que essa diferença é menor, os

brancos ainda recebem em média 70% a mais

do que os autodeclarados negros.

É preciso aca-

bar com a discri-

minação sofrida

pelos negros no

mercado de tra-

balho, promo-

vendo a igualdade

de oportunidades

e de tratamento.

Uma das manei-

ras mais efetivas

de se alcançar

esse objetivo é

fomentando po-

líticas afirmativas

de combate à dis-

criminação. Uma

vez no emprego, também deve ser assegurado o

crescimento profissional do trabalhador.

O coordenador de Relações do Trabalho da

Sets, Nuncio Mannala, alerta que o preconceito

racial ainda existe no país, mesmo que se diga

que é algo superado. Prova disso é que nas ne-

gociações coletivas a pauta racial está sempre

presente, mas o compromisso do dirigente em

mantê-la nunca é o mesmo que aquele estabe-

lecido com as cláusulas econômicas.

Nos últimos anos houve uma melhora de

alguns indicadores em relação aos negros, mas

de forma lenta e ainda longe de alcançar uma

igualdade com os brancos. Para que esse grau

de igualdade seja atingido, é necessário que o

Estado e a iniciativa privada tenham programas

e medidas especiais para corrigir o desequilíbrio

ainda existente.

Fórum discutiu a diversidade etnicorracial com professores de Curitiba e Pinhais.

A participação dos negros no mercado de

trabalho ainda é influenciada por visões racistas

presentes na população. Após um longo período

de escravidão, os negros são grande alvo de

desigualdade na sociedade atual. O diretor do

Departamento de Gestão do Sistema Público

de Trabalho, Emprego e Renda da Secretaria

de Estado do Trabalho, Emprego e Economia

Solidária do Paraná (Sets), José Maurino de

Oliveira Martins, milita no movimento negro

e aponta que as

políticas públicas

para negros no

Paraná esbarram

na necessidade de

que se admita que

o racismo existe.

“Na rede de-

tectamos situação

de racismo, se um

empregador liga e

diz que não quer

um empregado

negro não há nada

de sutil, é racis-

mo escancarado”

alerta.

Segundo a OIT, a situação dos negros é

desfavorável na sociedade devido ao escasso

poder de negociação e às barreiras culturais

que dificultam o acesso a melhores posições

no mercado de trabalho. Os negros tendem a

ser segregados em cargos menos qualificados

e pior remunerados, com dificuldade de as-

censão social.

Independente do grau de escolaridade, os

negros recebem salários médios inferiores aos

brancos, além de enfrentarem uma jornada

de trabalho maior e permanecerem mais

tempo no mercado de trabalho - entrando

mais jovens e saindo mais tarde. Além disso,

os negros são a maioria entre os desempre-

gados e trabalhadores informais, e os que

desempenham trabalhos de baixo prestígio

ou pouco valorizados.

“SE UM EMPREGADOR LIGA E DIZ QUE NÃO

QUER UM EMPREGADO NEGRO NÃO HÁ NADA DE SUTIL, É RACISMO

ESCANCARADO”

JOSÉ MAURINO MARTINS, DIRETOR DO DEP. DE GESTÃO DO SISTEMA

PÚBLICO DE TRABALHO

Page 30: Revista do Trabalho Decente

30

Segundo dados da OIT, apenas 19,1%

dos homens e 16,9% das mulheres no

Brasil são sindicalizados. O baixo índice

coloca um desafio ao país, uma vez que

a organização sindical é uma estrutura

importante para a implementação dos

princípios do trabalho decente no país.

Para proteger os direitos sindicais, o Brasil

ratificou em 1952 a Convenção 98 da OIT,

relativa à aplicação dos princípios do di-

reito de organização e negociação coletiva.

O princípio que norteia a convenção

é a proteção contra atos que atentem

contra a liberdade sindical, em especial

nos casos em que um trabalhador fique

ameaçado de perder o emprego caso in-

gresse em um sindicato ou não se desfilie;

e quando há dispensa de trabalhador em

função deste ter se filiado a um sindicato

ou ter participado de atividades sindicais

fora das horas de trabalho.

Para o professor de Direito da UFPR

Sandro Lunard Nicoladeli, a liberdade

sindical é um direito humano que deve

ser reconhecido e protegido universal-

mente, e é algo que reveste-se de funda-

mental importância para a OIT, devido

à estrutura tripartite da organização.

Lunard aponta sete princípios e di-

reitos sobre liberdade sindical: o direito

à filiação e construção de organizações

e sem autorização prévia; o direito de

redigir estatutos e regramentos admi-

nistrativos; o direito de eleger livremente

seus representantes; direito de greve,

de organizar suas ações políticas sem

a ingerência de autoridades públicas; a

proteção contra a dissolução ou suspen-

são de entidades por parte de autoridades

públicas; o direito de gozar de adequada

proteção contra atos de discriminação

antissindical; e o direito à negociação

coletiva livre e voluntária.

Um imbróglio em termos de ne-

gociação coletiva no país é o setor do

serviço público, que tem suas relações

trabalhistas regidas pelo Regime Jurídi-

co Único (RJU) e não pela Consolidação

das Leis Trabalhistas (CLT). O secretá-

rio do Trabalho, Emprego e Economia

Solidária do Paraná, Luiz Cláudio

Romanelli, acredita que com o modelo

atual “dificilmente haverá (no serviço

público) um processo de negociação nos

moldes preconizados pela OIT, devido

à complexidade destas relações”.

Romanelli defende que, se o regime

do setor público funcionasse nos mes-

mos moldes do setor privado, a nego-

ciação seria “um caminho natural”, mas

que no modelo atual é difícil incorporar a

negociação. O Brasil já é signatário, mas

ainda não regulamentou, a Convenção

151 da OIT, que estabelece condições

de associação e liberdade sindical no

setor público.

Para se alcançar o trabalho decente,

é preciso que existam condições para a

realização da negociação coletiva. Ela é

vista como a forma mais justa de tornar

clara a relação entre patrões e empregados

e resolver pendências.

A procuradora do Ministério Público

do Trabalho do Paraná (MPT/PR) Cris-

tiane Maria Sbalqueiro Lopes defende a

autonomia de negociação e explica que o

MPT não intervém nas negociações. No

entanto, Cristiane ressalta que há acordos

que são concessões unilaterais dos tra-

balhadores, e que não se pode fazer um

acordo para “estragar direitos que foram

conquistados socialmente. Não diga que

isto é um acordo, isto é fraude e o MPT

irá combater com unhas e dentes”, diz.

Cristiane pondera que é justificável

que, em momentos de crise, em prol

da coletividade, trabalhadores aceitem

concessões pontuais, mas que isto é

diferente de ter os direitos atacados por

entidades falsas.

PELO BEMDA MAIORIA

Negociações coletivas devem respeitar autonomia das partes sem que haja retirada de direitos

Page 31: Revista do Trabalho Decente

SETS

Dentre os princípios da liberdade sindical estão

os direitos a greve e negociações.

Felipe Rosa

Page 32: Revista do Trabalho Decente

32

O desenvolvimento de atividades de micro-

empresas e de empresas de pequeno porte é

condição fundamental para o desenvolvimento

estável da economia nacional. São empresas

que cumprem papel importante na absorção

da mão-de-obra que está em busca do pri-

meiro emprego e contribuem na habilitação

de trabalhadores.

A grande diversidade econômica do estado

do Paraná coloca a questão das pequenas em-

presas como algo fundamental para garantir

um desenvolvimento que permita às diferentes

localidades terem uma economia desenvolvi-

da e independente, que se articule entre si e

não dependa exclusivamente da produção de

grandes cidades e polos econômicos.

Um dos desafios é ampliar o rendimento

e a remuneração dos trabalhadores destas

empresas. De acordo com o “Anuário do

Trabalho na Micro e Pequena Empresa 2010-

2011”, publicado pelo Dieese em parceria com

o Sebrae, em 2010 no Paraná a remuneração

média dos empregados em microempresas

foi de R$ 965,00, em pequenas empresas

de R$1.234,00 e em médias e grandes de R$

1.594,00. No Brasil, no mesmo período, as

médias foram de R$ 947,00, R$ 1.231,00 e R$

1.786,00, respectivamente.

A Secretaria de Estado da Indústria, Co-

mércio e Assuntos do Mercosul do Paraná

(Seim), em parceria com o Sebrae, criou o

programa Territórios da Cidadania, para

desenvolver quatro regiões do estado em que

há IDH baixo e menor desenvolvimento, com

o objetivo de estabelecer um diagnóstico dos

municípios e montar comitês gestores com

as lideranças locais. O programa atinge a

região do Vale do Ribeira, Paraná Centro,

Norte Pioneiro e Cantuquiriguaçu.

O coordenador de Desenvolvimento Indus-

trial e Comercial da Seim, Mario José Doria da

Fonseca, explica que estes municípios estão

sendo capacitados para receber políticas públi-

cas como o Banco do Empreendedor e o Banco

Social, ação que é realizada pelo Fórum das

Microempresas e Empresas de Pequeno Porte

do Paraná, criado pela Secretaria. “É preciso

fortalecer as micro empresas e empresas de

pequeno porte, porque são elas que geram

renda e dão sustentabilidade aos pequenos

municípios”, defende Fonseca.

No Paraná, em 2010, eram 494.403 micro e

pequenas empresas, distribuídas da seguinte

forma: 58.959 (11,9%) na área da indústria,

24.534 (5%) na construção, 257.706 (52,1%) no

comércio e 153.204 (31%) em serviços. 24,2% es-

tavam na capital do estado, e 75,8% no interior.

Em junho de 2003, foi criada a Secretaria

Nacional de Economia Solidária (Senaes), no

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

PEÇASFUNDAMENTAISMicro e pequenas empresas têm grande importância no desenvolvimento da sociedade atual

Page 33: Revista do Trabalho Decente

SETS

Constituem a economia solidária as formas

de trabalho autônomo, individuais ou co-

letivas que optam pela autogestão, ou seja,

administração participativa e democrática

dos empreendimentos.

Com a criação da Senaes, o MTE passou a

proteger os interesses não só dos assalariados,

mas também do cooperativismo e do associati-

vismo urbano. O rural fi ca sob responsabilidade

do Ministério da Agricultura.

Políticas públicas e incentivos trazem novas perspectivas para micro e pequenos empresários.

Chuniti Kawamura / ANPr

ANPr

Page 34: Revista do Trabalho Decente

34

A qualificação profissional é uma etapa fun-

damental para a inserção dos grupos vulneráveis

ao desemprego. O Governo Federal promove o

Plano Nacional de Qualificação, que é dividido

em Planos Territoriais de Ocupação (em parceria

com estados, municípios e entidades sem fins

lucrativos), Projetos Especiais de Qualificação

(em parceria com entidades do movimento so-

cial e organizações não-governamentais) e em

Planos Setoriais de Qualificação (em parceria

com sindicatos, empresas, movimentos sociais,

governos municipais e estaduais).

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE), uma nova política pública de qualificação

deve entender esta prática como uma construção

social, e não apenas como um processo individual

derivado de exigências do mercado de trabalho.

O secretário estadual do Trabalho, Emprego

e Economia Solidária do Paraná, Luiz Cláudio

Romanelli, relata que há uma dificuldade de

se efetivar uma inserção real das pessoas com

deficiência no mercado de trabalho, e a Secretaria

tem tomado iniciativas para minimizar isso,

como o treinamento de atendentes nas Agências

do Trabalhador para auxiliar estas pessoas.

O professor de Direito da UFPR Sandro Lu-

nard Nicoladeli encara a qualificação como uma

política transversal, que deve dialogar com a

educação e o trabalho, uma vez que a “educa-

ção profissionalizante é um eixo temático que

interessa ao mundo do trabalho, mas interessa

substancialmente à educação”.

O coordenador do Departamento de Relações

do Trabalho da Secretaria de Estado do Trabalho,

Emprego e Economia Solidária do Paraná (Sets),

Nuncio Mannala, relata que há uma dificul-

dade em especial na inserção de dependentes

químicos, pessoas abandonadas, em trabalho

de prostituição e com doenças do trabalho.

Mannala defende que haja políticas prioritárias

para estes setores no campo do trabalho, e não

apenas do resgate social. O secretário munici-

pal do Trabalho e Emprego de Curitiba, Paulo

Bracarense, defende que o dever da qualificação

A NECESSIDADE DAQUALIFICAÇÃO

Secs

Page 35: Revista do Trabalho Decente

SETS

profissional deve ser tanto do poder público, que

deve alocar mais recursos do Fundo de Amparo

ao Trabalhador (FAT) para qualificação; quanto

dos empregadores, que devem compreender a

tarefa de capacitação como sua.

O diretor do Departamento de Gestão do

Sistema Público de Trabalho, Emprego e Renda

da Sets, José Maurino de Oliveira, destaca que o

principal entrave para a qualificação é a dificul-

dade de financiamento. José Maurino defende que

isto deve ser resolvido com um sistema único de

trabalho, emprego e renda, nos moldes do SUAS e

do SUS. “Temos que garantir um financiamento

do sistema público com a participação das esferas

municipal, estadual e federal.”

Bracarense vê como positivo que a área do

Programa Brasil Sem Miséria destinada ao Pro-

grama Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e

Emprego (Pronatec) foi alocada no Ministério

do Desenvolvimento Social, o que significa que

cresce no país uma ideia de que o desenvolvi-

mento tem que deixar de se focar em programas

de resgate social.

José Maurino aponta o programa como um

exemplo de articulação entre diferentes esferas

do poder: “o Pronatec é um passo para uma

qualificação na altura do que o trabalhador

necessita, em tempo curto e na medida certa”.

A Secretaria de Estado de Ciência, Tecno-

logia e Ensino Superior desenvolve ações de

parceria para viabilizar ao jovem trabalhador

oportunidades do desenvolvimento, vinculadas

à formação e ao auxílio no desenvolvimento da

sociedade como um todo. José Maurino aponta

o programa como um exemplo de articulação

entre diferentes esferas do poder: “o Pronatec é

um passo para termos uma qualificação na altura

do que o trabalhador e as regiões necessitam, em

tempo curto e na medida certa”.

Entre 2008 e 2010, 14.648 jovens paranaenses

foram cadastrados no ProJovem Trabalhador

(programa destinado à inserção de jovens

desempregados no mercado e em alernativas

de geração de renda), sendo 10.330 mulheres e

4.318 homens.

Dentre as ações da Sets para o setor está a

oferta de cursos profissionalizantes em parce-

rias com instituições federais (como o Instituto

Federal do Paraná) e com prefeituras municipais,

por meio da disponibilização dos laboratórios das

instituições de ensino superior do estado para a

formação de profissionais na área de tecnologia,

contribuindo com a formação de mão de obra

especializada.

Qualificação é importante para inserção e reinserção no mercado de trabalho.

Centros Estaduais

de Educação Profissional auxiliam na

qualificação.

José

Fer

nand

o O

gura

Page 36: Revista do Trabalho Decente

36

A discriminação por gênero no emprego vai

contra os princípios de trabalho decente, pois

viola a dignidade da trabalhadora. De acordo

com o secretário municipal do Trabalho e Em-

prego de Curitiba, Paulo Bracarense, há uma

questão cultural histórica sobre o trabalho

feminino no país. Ele lembra que há pouco

tempo a mulher sequer era aceita no mercado

de trabalho, e que até a década de 1960 cargos

como o de bancário eram exclusivamente

masculinos. Apesar do atraso, esse quadro

tem evoluído constantemente com a entrada

de mulheres em setores predominantemente

masculinos, como as forças armadas, a con-

dução de táxis e ônibus, e o funcionalismo

público, entre outros.

Segundo dados da OIT, nos cargos de chefia

as mulheres ocupam apenas 29% das posições.

Além disso, a taxa de formalidade é mais

baixa: entre os homens, são 57%, enquanto

entre as mulheres é de 50,7%.

A população feminina é um pouco maior

do que a população masculina em todas as

regiões do Brasil, mesmo assim, o percentual

de ocupação feminina é menor que a mascu-

lina, além de ser pior remunerada.

A funcionária do escritório regional da

Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego

e Economia Solidária (Sets) de Curitiba Al-

zimara Bacellar aponta que nas conferências

macrorregionais do trabalho decente, o debate

de gênero apenas tocava a questão do trabalho,

sem ser aprofundado. “Tivemos discussões

acaloradas se o trabalho doméstico deveria

ser regido pela mesma legislação que os outros

trabalhadores, só o fato de isto ainda ser uma

discussão é sintomático de que ainda temos

muitas coisas atrasadas”, opina Alzimara.

É importante ressaltar que uma parcela

significativa das trabalhadoras realiza traba-

lho doméstico e ainda não conseguiu adquirir

os mesmos direitos que a maioria das outras

profissões. A categoria chega a atingir 19%

DIFERENÇAS HISTÓRICAS

Políticas de igualdade de gênero ainda não superaram anos de diferenças entre trabalho feminino e masculino

Delegadas discutem propostas na 3.ª Conferência Estadual de Políticas para as Mulheres.

Page 37: Revista do Trabalho Decente

SETS

da ocupação das mulheres. Ainda pouco

respeitado no Brasil, o trabalho doméstico é

campeão do déficit do trabalho decente, ou

seja, não cumpre as condições necessárias de

igualdade, liberdade e segurança.

Segundo dados da última Pesquisa Nacional

por Amostra de Domícios (PNAD) do IBGE,

apenas 27% das trabalhadoras domésticas têm

carteira assinada. Isso reflete outros agravan-

tes da categoria, como a baixa remuneração

e as condições precárias de trabalho, com

desrespeito, humilhação e falta de proteção

social. A secretária estadual de Trabalho e

Emprego Decente da Central dos Trabalha-

dores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Maria

de Fátima de Azevedo Ferreira, lamenta que

ainda hoje “mesmo em países com governos

mais democráticos a mulher ainda sofre vio-

lência, ainda é assediada e, principalmente,

não é valorizada dentro do trabalho”.

O salário mensal médio no Brasil para

trabalhadoras domésticas com carteira as-

sinada é de R$ 523,00. Já entre aquelas que

não têm carteira, o valor cai para R$ 303,00.

Embora alguns passos já tenham sido dados

para que as trabalhadoras domésticas atin-

jam a plenitude de seus direitos, ainda são

necessárias muitas iniciativas para se chegar

a uma solução efetiva.

A Convenção 100 da OIT, ratificada pelo

Brasil, estabelece mecanismos para a igual-

dade de remuneração entre homens e mu-

lheres por trabalho de igual valor. Entre as

medidas previstas está a avaliação dos postos

de trabalho com base nas tarefas a serem exe-

cutadas e, assim, diferenças salariais podem

ser estabelecidas para diferentes trabalhos,

mas não para diferentes sexos exercendo a

mesma função. Já a Convenção 111 busca evi-

tar a discriminação em matéria de emprego

e ocupação, tanto por sexo quanto por raça,

cor, religião, opinião política, ascendência

nacional ou origem social.

Maria de Fátima defende que a luta para que

as mulheres tenham igualdade de condição

econômica concerne também aos homens,

porque não é possível que se tenha uma socie-

dade sem que haja a participação da mulher de

igual para igual em todos os âmbitos da vida.

Para Alzimara Bacellar questões como a

dupla jornada e os salários menores das mu-

lheres ainda não foram assimiladas por todos

os integrantes do mundo do trabalho como

um problema que precisa ser combatido, mas

é otimista e avalia que “esta discussão da

agenda do trabalho decente contribui para

dar visibilidade à sociedade para a questão

das mulheres”.

149 propostas foram aprovadas na conferência.

Fotos: Osvaldo Ribeiro / ANPr

Page 38: Revista do Trabalho Decente

38

Entre as linhas de ação da Agenda Nacional

do Trabalho Decente, está a implementação de

uma Política Nacional de Segurança e Saúde

do Trabalhador. Para isso, é necessário uma

consonância com as normas internacionais

do trabalho, a fim de garantir um ambiente

seguro e saudável.

Segundo dados do Ministério da Previdên-

cia e da Assistência Social, entre 2004 e 2009

houve uma redução dos acidentes de trabalho

em 26,11% e a taxa de mortalidade por aciden-

tes de trabalho caiu 39,51%. Mesmo assim, os

patamares no Brasil são considerados altos e

precisam ser reduzidos. Esses dados abrangem

apenas os trabalhadores do setor formal ou que

possuem contratos de trabalho registrados.

As políticas em relação à saúde do trabalhador

são um dos temas prioritários abordados pela

atual gestão da Secretaria do Trabalho, Em-

prego e Economia Solidária do Paraná (Sets),

segundo o secretário Luiz Cláudio Romanelli,

que aponta as doenças ocupacionais como sendo

o foco do debate.

Romanelli explica que uma das ações da

Sets é a intervenção em plantas industriais que

funcionam com equipamentos que hoje estão

em desuso em outro locais. Há necessidade de

estes equipamentoss serem adaptados e ade-

quados à proteção do trabalhador, ou serem

substituídos por equipamentos mais modernos.

O secretário também aponta que em linhas nas

quais parte do trabalho é automatizado e outra

parte exige grande esfoço do trabalhador há

alto índice de lesão.

Para a Secretaria de Estado da Saúde, a

prioridade é a capacitação de profissionais nos

Centros de Referência de Saúde do Trabalhador

(Cerest) com ênfase em questões como doen-

ças derivadas de agrotóxicos, perda auditiva

por indução ao ruído, acidentes com material

biológico e outros agravos. A secretaria também

orienta empresas para que tomem medidas de

proteção dos trabalhadores.

As mudanças sofridas no ambiente de traba-

lho nos últimos anos levaram a uma alteração

também do quadro de saúde dos empregados,

aumentando a incidência de doenças relaciona-

das ao trabalho, como as lesões por esforço re-

petitivo (LER) e os distúrbios ósteo-musculares

relacionados ao trabalho (DORT), entre outras.

Por outro lado, há setores em que a impos-

sibilidade de uma mecanização completa traz

dificuldades à saúde do trabalhador, como o

caso da fumicultura. O secretário Romanelli

afirma que há impactos tanto para a saúde do

agricultor quanto de sua família.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT)

tratou o tema de saúde e segurança como uma

das questões prioritárias na Conferência Es-

tadual de Trabalho Decente. O ex-presidente

SAÚDE E SEGURANÇA:PRIORIDADES

Redução de doenças ocupacionais é desafio para modernização do trabalho

Page 39: Revista do Trabalho Decente

SETS

da entidade, Roni Barbosa, ressalta que tem

chamado a atenção da central o grande número

de trabalhadores mutilados e adoecidos em

alguns setores industriais do Paraná, como o

da alimentação. “Participamos da Conferência

para tentar reverter este quadro, são questões

que precisamos expor à sociedade para que

medidas sejam tomadas”, diz.

São necessárias medidas específicas para

assegurar a saúde e a segurança dos trabalha-

dores brasileiros. Por isso, é necessário ampliar

as ações, por meio da Política Nacional de Se-

gurança e Saúde do Trabalhador, e também por

programas realizados pelas próprias empresas.

Um ponto importante é o aprofundamento

do estudo sobre o acidente no trajeto enquanto

acidente de trabalho para fins trabalhistas. Tam-

bém é preciso reformular o Código Brasileiro de

Ocupações e as normas regulamentadoras, em

razão de estes não atenderem às atividades in-

salubres e de penosidades em certas categorias.

O número de mortes em acidentes de trabalho

é apontado como grave pelo coordenador do

Departamento de Relações do Trabalho da Sets,

Nuncio Mannala. Ela alerta para casos que não

entram nas estatísticas de mortes por trabalho,

como o caso de inúmeros motofretistas que

morrem em acidentes de trânsito e, por não

terem carteira assinada, não são considerados

como acidentes de trabalho.

Mannala aponta que uma das dificuldades

no debate da relação entre saúde e o trabalho é

de que não há um apontamento organizado em

relação a isso, o tema é discutido em diversos

espaços e esferas, mas enquanto isto não for

reunido em torno de uma agenda, a situação

não será transformada.

Quanto aos acidentes de trabalho, Nuncio

Mannala aponta a necessidade de se mudar

imediatamente a NR5 e permitir que os cipeiros

tenham três anos de cursos relativos ao mundo

do trabalho, e não apenas um ano de estabi-

lidade no emprego. Mas isto esbarra em uma

dinâmica do mercado de trabalho, em que há

pouca estabilidade nos empregos. Na opinião

de Mannala isto é algo que deve ser combatido,

e as empresas que não seguram a rotatividade

de seus empregados deveriam ser sobretaxadas.

O momento de redução do desemprego no

Brasil é visto como uma chance de afinar qual

política de saúde e segurança no trabalho deve

ser construída no país.

Trabalhadores do Porto de Paranaguá são orientados sobre questões relativas à segurança do trabalho.

Appa

Page 40: Revista do Trabalho Decente

40

FIM DO TRABALHO ESCRAVO É PRIORIDADE

E ntre 2010 e 2011, 148 trabalhadores fo-

ram libertos de situação análoga à es-

cravidão no Paraná, o equivalente a

2,95% dos 5.010 libertos no Brasil no período.

Um número alto para um país que encerrou a es-

cravidão há 124 anos, porém é sintoma de que há

no país uma crescente conscientização da ne-

cessidade da eliminação deste tipo de trabalho.

Para a diretora da OIT no Brasil, Laís Abra-

mo, “o trabalho forçado é a mais clara antí-

tese do trabalho decente”, e é a incorporação

desta perspectiva que leva o país a enfren-

tar esta questão — o que ocorre desde 1995,

quando o Governo Federal admitiu a existên-

cia de trabalho escravo perante a OIT. O se-

cretário do trabalho e emprego de Curitiba,

Paulo Bracarense, comenta que “a questão do

trabalho escravo está na gênese do conceito

de trabalho decente”.

O decreto 1538/1995 criou estruturas para

combater este crime, sendo as principais delas

o Grupo Executivo para o Combate ao Trabalho

Escravo e o Grupo Móvel de Fiscalização. De lá

para cá, 42 mil pessoas foram libertadas graças

às ações do Ministério do Trabalho e Emprego

que contam com a contribuição de entidades

da sociedade civil. A Comissão Pastoral da Ter-

ra (CPT) estima que, entre 1970 e 1993, mais de

85 mil trabalhadores foram escravizados e que,

atualmente, há no país 25 mil pessoas nesta

condição.

O advogado da Federação das Associações

Comerciais e Empresariais do Paraná, João Carlos

Régis, acredita que o trabalho análogo ao escra-

Sin

trco

m L

ondr

ina

Page 41: Revista do Trabalho Decente

SETS

vo está perto de ser erradicado no Brasil, assim

como o trabalho infantil. Para Régis, isto se deve

à evolução que ocorreu na relação entre os entes

sociais e “tornou as relações de trabalho mais

saudáveis e amistosas”.

No Paraná, 16 empresas figuram na lista do

trabalho escravo mantida pelo MTE. Nela cons-

tam os empregadores flagrados mantendo traba-

lhadores nesta condição. O nome passa a figurar

na lista somente quando é lavrado o auto de in-

fração, ou seja, quando há notificação adminis-

trativa de reconhecimento da existência do tra-

balho análogo ao escravo por parte do MTE. Em

2011 a SRTE/PR inspecionou 10.259 empresas

para verificar o cumprimento da legislação tra-

balhista e combater a informalidade, alcançando

1.069.820 trabalhadores no estado.

O procurador do Ministério Público do Tra-

balho do Paraná, Gláucio Araújo de Oliveira,

explica que as punições a quem explora este

tipo de trabalho podem ser judiciais (na esfera

cível ou criminal) ou administrativas, quando

oriundas do Poder Executivo.

Na esfera administrativa, constam os

autos de infração emitidos pelo MTE. Para

cada infração encontrada, é emitido um

auto em separado; em uma mesma fisca-

lização pode ser encontrada ausência de

registro em carteira, de equipamento de

proteção individual, ocorrência de traba-

lho infantil, entre outros.

Em Londrina, trabalhadores da construção civil oriundos

de Sergipe tiveram salários

atrasados, direitos

sonegados e carteiras

retidas.

“O TRABALHO FORÇADO É A MAIS

CLARA ANTÍTESE DO TRABALHO

DECENTE”

LAÍS ABRAMO, DIRETORA DA OIT NO BRASIL

Quando a ocorrência é confirmada, são apli-

cadas multas de até R$ 12 mil e é efetuado o paga-

mento dos salários e encargos aos empregados, o

que permite que recebam o seguro-desemprego.

Os trabalhadores são assistidos e encaminhados

ao seu local de origem, com transporte de res-

ponsabilidade do empregador.

As medidas de fiscalização e punição são

acompanhadas de ações que visam à reinserção

dos trabalhadores no mercado de trabalho, com

a inclusão em programas sociais que garantam

renda e dêem acesso a qualificação profissional.

O ex-presidente da Central Única dos Trabalha-

dores do Paraná, Roni Barbosa, ressalta que “a

questão do trabalho é emancipadora, e há cate-

gorias em maior dificuldade, como em situação

de escravidão e miséria. Há um plano do Gover-

no Federal de erradicar isso até 2014 e isso deve

ser construído por toda a sociedade”.

Dentre as decisões judiciais possíveis está o

estabelecimento de Termos de Ajuste de Conduta

com o MPT. O autuado compromete-se em não

repetir as ações que constam no termo, sob pena

de multa ou outras punições. Há ainda a possi-

bilidade de a justiça ajuizar ações de dano moral

contra o empregador.

Criminalmente, os autores ficam sujeitos ao

artigo 149 do Código Penal, que prevê reclusão

de dois a oito anos, multa e pena correspondente

à violência aos condenados por reduzir alguém

a condição de escravo. O código prevê agrava-

mento a quem comete o crime contra criança

ou adolescente, ou motivado pot preconceito de

raça, cor, etnia, religião ou origem.

Além destas medidas, está em trâmite a Pro-

posta de Emenda Constitucional 438/2001, co-

nhecido como “PEC do trabalho escravo”, que

estabelece a expropriação da terra nas áreas em

que o trabalho escravo for constatado, com a re-

versão da área ao assentamento dos colonos que

nela já trabalhavam.

Um desafio para o trabalho decente no Para-

ná é diagnosticar em quais cadeias produtivas há

maior precariedade, na opinião do professor de

Direito da UFPR, Sandro Lunard Nicoladeli.

Page 42: Revista do Trabalho Decente

42

“Há cadeias em que existe trabalho

escravo e prostituição infantil, que

devem ser enfrentadas de frente”.

Para o professor de Ciências Sociais

da Universidade Estadual de Londrina

Ronaldo Baltar, com os dados do Cen-

so 2010, será possível definir o foco a

ser adotado em cada município, em

relação ao trabalho decente. Mas o

professor aponta que “o combate às

formas de trabalhos análogas à escra-

vidão precisa avançar ainda mais”.

No Brasil, o principal foco de escra-

vidão está no campo, espaço em que

a exploração coexiste com modernas

práticas de exploração agropecuária.

O Atlas do Trabalho Escravo no Brasil,

organizado por pesquisadores da Uni-

versidade de São Paulo e da Univer-

sidade Estadual Paulista, define que

o perfil típico do trabalhador nestas

condições no século XXI é o de “um

migrante maranhense, do Norte de

Tocantins ou oeste do Piauí, homem,

analfabeto funcional, levado para as

fronteiras móveis da Amazônia, em

municípios de criação recente, onde é

utilizado principalmente em ativida-

des vinculadas ao desmatamento”.

Apesar de o trabalho análogo ao

escravo ser por vezes chamado de “es-

cravidão branca”, para diferenciar-se

daquela abolida na Lei Áurea, dados

CADEIAS PRODUTIVAS DE MAIOR GRAVIDADE

GLÁUCIO ARAÚJO DE OLIVEIRA, PROCURADOR DO TRABALHO

da OIT mostram que este é um tipo de

trabalho que tem cor: 81% dos traba-

lhadores encontrados nesta situação

no Brasil eram não brancos, ainda que

este segmento represente 50,3% da

população brasileira. Dentre estes tra-

balhadores, 18,3% eram analfabetos e

45% analfabetos funcionais.

O procurador do Trabalho Gláu-

cio Araújo de Oliveira explica que, no

Paraná, o foco das ações no campo

tem sido no plantio da erva-mate e

do pinus. O procurador relata que es-

tes casos são marcados por condições

degradantes do meio ambiente de tra-

balho, semelhantes ao encontrado na

Fazenda Ribeirão das Pedras de Baixo,

o primeiro caso de condenação crimi-

nal sobre o tema no estado.

De acordo com o relato feito pela

fiscalização e reproduzido

na sentença, os cem tra-

balhadores libertados na

ocasião trabalhavam no

plantio e extração de ma-

deira, e eram “alojados em

barracos de lona, sem ins-

talação sanitária, higiene

ou privacidade, utilizando

água de riacho para beber,

cozinhar e tomar banho”.

No alojamento, os traba-

lhadores ficavam sujeitos

ao ataque de animais pe-

çonhentos, a frio e calor

intensos.

De acordo com o relato, os traba-

lhadores ficavam presos na fazenda,

uma vez que esta fica a 32 km da cida-

de e não existia transporte a não ser o

proporcionado pela empresa. Na fisca-

lização, foram encontrados cadernos

em que eram anotados as mercadorias

consumidas pelos trabalhadores, cujo

valor era descontado dos dias de tra-

balho “de modo que, ao final, quase

nada sobrava aos obreiros”.

O procurador diz que com a fisca-

lização no campo constata-se que os

empregadores tem tomado providên-

cias para melhorar o ambiente de tra-

balho, como a viabilização de cadeiras

e mesa para almoço, sanitários e mó-

veis no campo.

No espaço urbano o número de ca-

sos de trabalho escravo é crescente.

Gláucio Araújo alerta para o aumento

de ações na construção civil, em es-

pecial com trabalhadores oriundos do

nordeste e relata que “estas pessoas se

sujeitam às condições impostas pelo

contratante, ao trabalho precário que

é estabelecido e não recebem equipa-

mento de segurança, não há camas,

roupa de cama, água potável e sanitá-

rios em condição suficiente”

O fluxo migratório no Paraná tem

grande variação de acordo com cada

região. O estado enfrenta o desafio de

lidar com uma rede migratória com-

plexa, em que há um grande trânsito

de trabalhadores que migram entre as

diferentes regiões, e ao mesmo tempo

há vinda de trabalhadores oriundos de

“PESSOAS SE SUJEITAM ÀS

CONDIÇÕES IMPOSTAS PELO CONTRATANTE,

AO TRABALHO PRECÁRIO QUE É ESTABELECIDO“

Page 43: Revista do Trabalho Decente

SETS

desenvolver quatro territórios onde há

IDH baixo e menos desenvolvimento.

“Tem que fortalecer as micro empre-

sas e as de pequeno porte, que geram

renda e dão sustentabilidade aos pe-

quenos municípios”, opina.

Procurador Gláucio de Oliveira empreende forte luta no MPT contra o trabalho escravo contemporâneo.

MÁRIO JOSÉ DORIA DA FONSECA, COORDENADOR DA SEJU

“TEM QUE FORTALECER AS

MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, QUE

GERAM RENDA E SUSTENTAM OS PEQUENOS

MUNICÍPIOS”

outras localidades.

De acordo com dados do Instituto

Paranaense de Desenvolvimento Eco-

nômico e Social (Ipardes) organizados

pelo professor da UEL, Ronaldo Baltar,

entre 2000 e 2007 o sudoeste do esta-

do teve um saldo migratório negativo

de 28,6% e a região centro-ocidental

(em que Campo Mourão é a principal

cidade) teve saldo negativo de 18%.

Por outro lado, no mesmo período, a

região metropolitana de Curitiba teve

saldo positivo de 9,9%, o que pesou

para o que o saldo migratório do esta-

do fosse de 210.976 novos moradores.

Segundo pesquisa divulgada em

2011 pelo Instituto Brasileiro de Ge-

ografia e Estatística (IBGE), o saldo

positivo é devido a trabalhadores que

buscam uma melhora de vida no es-

tado e ao retorno de paranaenses que

tentaram a vida na agricultura em es-

tados como Mato Grosso e Rondônia

ou em empregos em grandes centros,

e não foram bem sucedidos.

Para a absorção de mão-de-obra

nos grandes centros urbanos é neces-

sária a fiscalização para evitar o traba-

lho análogo ao escravo, em especial na

construção civil. Além disso é preciso

que se dê a garantia de alojamentos

adequados e fiscalizar os am-

bientes de trabalho em que há

mão-de-obra migratória irre-

gular.

O projeto Territórios da

Cidadania, articulado pela

Secretaria da Justiça, Cida-

dania e Direitos Humanos do

Paraná com o Sebrae, busca

o desenvolvimento regional

como forma de minimizar a

necessidade de migração de

trabalhadores. De acordo com

o coordenador de desenvol-

vimento industrial e comer-

cial da Seju, Mario José Doria

da Fonseca, o projeto objetiva

Fetraconspar

Page 44: Revista do Trabalho Decente

44

decente tem fundamental importância, já que

por ela passam debates sobre a discriminação

de gênero e raça, de igualdade de oportunida-

des e tratamento.

Além disso, os trabalhadores domésticos

não têm acesso aos direitos da CLT quando

não há registro em CTPS. Para minimizar tal

questão, existem legislações específicas para o

setor, como a lei 10.208/01 que garante direito

ao seguro-desemprego e ao FGTS, embora de

maneira facultativa. Além disso, há garantia à

estabilidade provisória de gestantes por cinco

meses após o parto e trinta dias de férias remu-

neradas anuais.

A questão da contribuição previdenciária das

empregadas domésticas é um desafio central,

na opinião de Mannala. Para ele, a dificuldade é

que o vínculo empregatício em geral é estabele-

cido com pessoa física e não jurídica. “Se ela não

contribuir e sofrer um acidente dentro da minha

casa, sou eu que tenho que arcar com a conse-

quência, porque é um acidente de trabalho”,

exemplifica, e defende que a maneira de se evitar

isso é o estabelecimento e o respeito à convenção

coletiva de trabalho da categoria.

O Brasil é signatário desde 1957 da Convenção

89 da OIT, relativa aos trabalhadores domésticos.

Na 100ª Conferência Internacional do Trabalho

ocorrida em 2011, os delegados brasileiros foram

favoráveis à Convenção Internacional do Traba-

lho 189, relativa à equiparação de direitos entre

empregados domésticos e não domésticos, ainda

não ratificada pelo Brasil.

Integrantes do MST promovem ato em Brasília pedindo a aprovação da “PEC do Trabalho Escravo”.

Um tema de destaque na Conferência Macror-

regional de Cascavel foi o trabalho doméstico, que

no Brasil é 93% exercido por mulheres, de acordo

com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí-

lios realizada pelo IBGE. As cerca de 6,7 milhões

de mulheres empregadas no trabalho doméstico

representam 17% das que trabalham no Brasil,

mais do que as ocupadas no comércio e reparação

(16,8%) e na educação, saúde e serviços sociais

(16,7%). No Paraná são 500 mil trabalhadoras; 300

mil na informalidade.

O coordenador do Departamento de Relações

do Trabalho da Secretaria Regional do Trabalho,

Emprego e Economia Solidária do Paraná, Nun-

cio Mannala, ressalta que o trabalho destas mu-

lheres influi na educação, na família, nos jovens

e crianças, uma vez que em geral são elas as res-

ponsáveis pela organização familiar. “A questão

das trabalhadoras envolve a proteção social, o

auxílio a essas crianças que serão trabalhadores,

um dia terão família”, comenta Mannala, que

acredita que ao se falar de 500 mil postos de tra-

balho domésticos, deve se levar em conta que são

vagas das quais dependem a vida de cerca de 2

milhões de pessoas.

Para a OIT, o trabalho doméstico é uma das

atividades para as quais a noção de trabalho

A QUESTÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO

José Cruz / Abr

Page 45: Revista do Trabalho Decente

SETS

Os chamados “empregos verdes” são os

realizados em postos que ajudam a proteger

e restaurar ecossistemas e a biodiversidade;

que reduzem o consumo de energia, materiais

e água por meio de estratégias de prevenção

altamente eficazes, que descarbonizam a

economia e que minimizam ou evitam por

completo a geração de todas as formas de

resíduos e poluição.

O Plano Nacional de Trabalho Decente

busca combater, ao mesmo tempo, duas

grandes crises: a econômica internacional

e a climática. Por isso, a ideia é se chegar a

uma economia sustentável, com políticas

coerentes e programas eficazes que permitam

a criação de uma economia favorável ao meio

ambiente, com alto número de empregos e

baixo consumo de carbono.

A Organização Internacional do Trabalho

lançou a Iniciativa Empregos Verdes em 2009

“para promover as oportunidades, a igualda-

de e a transição a uma economia sustentável,

e para induzir os governos, empregadores e

trabalhadores a se comprometerem com um

NECESSIDADE IMEDIATA

Pesquisas para utilização de novas fontes de energia auxiliam na criação de mais empregos sustentáveis.

Produção de empregos verdes combate crise econômica e ambiental

José Cruz / Abr

Alb

ari R

osa

Page 46: Revista do Trabalho Decente

46

diálogo sobre políticas coerentes e programas

eficazes, a fim de criar uma economia favorável

ao meio ambiente, com empregos verdes e um

trabalho decente para todos”.

Segundo a OIT, em 2010 eram 2,90 milhões

de empregos verdes existentes no Brasil, o

que correspondia a 6,6% do total de vínculos

empregatícios nacionais. O Paraná apresen-

tava destaque no cenário brasileiro, sendo

responsável por 177 mil empregos verdes,

correspondentes a 6,1% do total deste tipo

de atividade no país.

O diretor-financeiro da Federação da

Agricultura do Estado do Paraná (Faep),

João Luiz Rodrigues Biscaia, comenta que a

agricultura orgânica tem sido um setor privi-

legiado em termos

de pesquisas, por

ser um importante

nicho de mercado.

A pesquisa na área

de sustentabilida-

de ambiental tem

sido crescente e

ocorre em espaços

do governo, como

o Instituto Agro-

nômico do Paraná

(Iapar) e a Empresa

Brasileira de Pes-

quisa Agropecuária (Embrapa); da iniciativa

privada, como o Cooperativa Central de

Pesquisa Agrícola, Tecnologia da Nossa Terra

(Coodetec) e em empresas especializadas.

Biscaia defende que o produtor rural é o

principal interessado na sustentabilidade no

campo, uma vez que “quem vive da natureza

precisa dela para continuar produzindo, e

há um equívoco dizer que o produtor rural

é um desmatador cruel e um grande polui-

dor”. Prega ainda que é um desafio para o

desenvolvimento conciliar a produção e a

sustentabilidade, pois para produzir alimen-

tos é necessário desmatar uma propriedade,

e isso deve ocorrer de maneira equilibrada.

Dizer que a agricultura produz terra

arrasada é um mito, defende Biscaia, que

afirma que “basta circular pelo interior do

estado para verificar o quanto existe mata”

e defende que o grande poluidor não é o

campo, e sim a cidade, que “não tem mata

ciliar para proteger os rios, e despeja nesses

mesmos rios o seu esgoto sem tratamento,

que o entope de lixo”.

O desafio de construção de empregos

verdes não está só no campo. O advogado

da Federação das Associações Comerciais e

Empresariais do Paraná (Faciap), João Carlos

Régis, comenta o caso da Associação Co-

mercial do Paraná (ACP) como um exemplo

a ser seguido, por ter constituído o Conselho

d a Ação pa ra a

Sustentabilidade

Social Empresa-

rial (Casem). Na

opi n ião de Ré-

gis, foi em função

do Casem que a

ONU convidou a

entidade a subs-

cre ver o Pac to

Global, iniciativa

pl a nejad a pa ra

empresas com-

prometid as em

alinhar suas operações e estratégias com os

dez princípios universalmente aceitos nas

áreas de direitos humanos, trabalho, meio

ambiente e combate à corrupção.

Segu ndo relatório do Depa r ta mento

Intersindical de Estatística e Estudos So-

cioeconômicos (Dieese) de junho de 2011,

entre 2008 e 2010 os empregos verdes em

Curitiba aumentaram 12,4% mais do que a

média de crescimento na cidade Curitiba (de

de 10%). As atividades de telecomunicação

e teleatendimento são as que detêm o maior

número de empregos verdes na cidade, com

14.845 postos de trabalho, um aumento de

19,1% no período.

“‘É UM EQUÍVOCO DIZER QUE O

PRODUTOR RURAL É UM DESMATADOR

E UM GRANDE POLUIDOR”

JOÃO LUIZ RODRIGUES BISCAIA, DIRETOR-FINANCEIRO DA FAEP

Page 47: Revista do Trabalho Decente

SETS

Quinze representantes de

trabalhadores, empregadores e

governo, além de cinco da sociedade

civil foram eleitos para representar o

Paraná para a Conferência Nacional do

Emprego e Trabalho Decente.

GOVERNO (TITULARES)

André Luiz Lievore | Chefe de

Escritório de Cornélio Procópio da

SETS/PR

Antenor Itacir Gabriel | Chefe de

Escritório de Pato Branco da SETS/PR

Antonio Carlos Camargo | Assessor

Técnico da SETS/PR

Cesar T. Bassani | Diretor da

Secretaria Municipal de Trabalho e

Emprego de Curitiba

Gilberto Aluisio Dagnoni Truiz |

Gerente da Agência do Trabalhador

de Umuarama da SETS/PR

José Maurino de Oliveira Martins |

Coordenador do Cesine da SETS/PR

Leila Maria Raboni | Assessora da

Sup. do MTE/PR

Luiz Claudio Romanelli | Secretário

Estadual da SETS/PR

Nuncio Mannala | Coordenador

do Departamento de Relações do

Trabalho da SETS/PR

Paulo Afonso Bracarense Costa |

Secretário da Secretaria Municipal de

Trabalho e Emprego de Curitiba

Roberto Tavares Canto | Coodenador

do Patronato da Secretária de Justiça

e Cidadania do Estado do Paraná

Ronaldo Baltar | Professor da UEL

Roselei Guber Delai | Gerente da

Agência do Trabalhador de Palotina

Sandro Lunard Nicodeli | Professor

da UFPR

Sérgio Zadorosny Filho | Chefe de

Escritório de Ponta Grossa SETS/PR

GOVERNO (SUPLENTES)

Aparecido de Sampaio Batista |

Professor da Seed/PR

Dominga de Paula Carpenedo |

Agência do Trabalhador de Cascavel

Neiva Regina Piccinin | Assistente

Administrativa da SETS/PR

Ubirajara Maristany | Gerente

da Agência do Trabalhador de

Paranaguá da SETS/PR

Valdecir Priester |Agência do

Trabalhador de Francisco Beltrão da

SETS-PR

Vilson Marques da Silva | Prefeitura

Municipal de São José dos Pinhais

SOCIEDADE CIVIL (TITULARES)

Claudiamari C. dos Santos | Diretora

da Marcha Mundial de Mulheres

Doris Margareth de Jesus | Indicada

pela União Brasileira das Mulheres

Dirce de Souza | Diretora da

Associação das Mulheres

Comunitárias Faxinalenses

Lucio Antonio Brandão | Diretor do

Ilitic

Maria de Fátima Costamilan

| Diretora da Agência de

Desenvolvimento Solidário

Stanley Kennedy Garcia | Diretor da

Adecesc

SOCIEDADE CIVIL (SUPLENTES)

Gilvane Lopes Pereira | Diretora da UBM

Marilda Ribeiro da Silva | Diretora da

Marcha Mundial de Mulheres

TRABALHADORES (TITULARES)

Celso José dos Santos | Diretoria CUT

Denilson Pestana da Costa |

Presidente da NCST/Paraná

Edson Roberto Evangelista | Diretoria

do Sindicato dos Metalúrgicos da

Grande Curitiba

Eliseu de Oliveira Freitas | Diretoria

do Sintespar

Gerti José Nunes | Presidente da

Saemac

João Ideilson Claudino da Cruz |

Diretoria da CTB

Marisa Stédile | Diretoria da CUT

DELEGADOS ELEITOS

Page 48: Revista do Trabalho Decente

48

Marcos Antonio Beroldo | Diretoria

do Sintricomu

Patrick Leandro Baptista | Diretoria

da CUT

Regina Perpétua da Cruz | Diretoria

da CUT

Roni Anderson Barbosa | Presidente

da CUT

Rubens José Stelmak | Diretoria do

Sind. das Cervejarias e Bebidas em

Geral

Romério Moreira da Silva | Diretoria

do Sind. de Fiação Téxtil de Curitiba

e Região

Sérgio Machado dos Santos |

Diretoria do Sinetrapitel

Sonia Maria Marchi | Diretoria da

Fed. dos Servidores do Paraná

TRABALHADORES (SUPLENTES)

Edilson José Gabriel | Diretoria CUT

Ermínio Ferreira Santana | Diretoria

da STI (Campo Largo e São Miguel do

Iguaçu)

Joanir Ferreira | Diretoria da Força

Sindical

José Alexandre dos Santos | Diretoria

do Sintracon

Luis Carlos Alves de Lara | Diretoria

da UGT

Silvana Aparecida de Oliveira |

Diretoria do Sismar

EMPREGADORES (TITULARES)

Anderson Eugenio Lechechem |

Diretoria Fecoopar/Ocepar

Edson José de Vasconselos | Diretoria

da Fiep

Carlos Alberto de Sotti Lopes |

Diretoria Fecomércio

Henrique Willian Bego Soares |

Diretoria Faep

João Alberto Soares de Andrade |

Sindimadeiras

João Carlos Régis | Diretoria da Faciap

Jean Carlos Ruthes | Diretoria

Fecoopar/Ocepar

Larissa Lucca | Diretoria Fehospar

Leonardo Piantavini | Diretoria Faep

Luis Antonio Borges | Diretoria Fiep

Luis C. Favarin | Diretoria

Fecomércio

Lusia Massinhan | Diretoria

Fecoopar/Ocepar

Raquel Benitez Kruger | Diretoria

Setapar

Roberto Luis Hart Teixeira de Freitas

| Diretoria Fepasc

Klauss Dias Kuhnen | Diretoria Faep

EMPREGADORES(SUPLENTES)

Carlos Roberto Goncalves | Diretoria

Ocepar

Doralice Fagundes Marchioro |

Diretoria Sind. Rural Patronal

Mauri M. Bevervanço | Diretoria

Sindiponta

Priscila Fátima Caetano de Lima |

Diretoria Fiep

Rosemberg G. de Sá | Diretoria dos

Sind. dos Hospitais de Maringá

Said Khaled Omar | Diretoria

Sindilojistas

COMISSÃO ORGANIZADORA ESTADUAL

GOVERNO

Maria Eulete Messias | Secretaria de

Estado da Educação

José Lucio dos Santos | Secretaria de

Estado da Saúde

TRABALHADORES

Denilson Pestana | Diretoria da NCST

Maria de F. de AzevedoFerreira

| Central de Trabalhadores e

Trabalhadoras

EMPREGADORES

Klauss Dias Kuhnen | FAEP

Carlos A. de Sotti Lopes | Fecomércio

Relator e Ponto Focal da Delegação

do Estado do Paraná a participar da

CNETD em Brasília

Antonio Carlos Camargo | Assessor

Técnico da SETS/PR

Page 49: Revista do Trabalho Decente

SETS

Conv. Título AdoçãoOIT

Ratificação Brasil Observação

3Convenção relativa ao Emprego das Mulheres antes e depois do parto (Proteção à Maternidade)

1919 26/04/1934 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 103 em 26.07.1961.

4 Convenção relativa ao trabalho noturno das mulheres 1919 26/04/1934 Denunciada em 12.05.1937

5 Idade Mínima de Admissão nos Trabalhos Industriais 1919 26/04/1934 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 138 em 28.06.2001.

6 Trabalho Noturno dos Menores na Indústria 1919 26/04/1934

7Convenção sobre a Idade Mínima para Admissão de Menores no Trabalho Marítimo (Revista em 1936)

1920 08/06/1936 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 58 em 09.01.1974.

11 Direito de Sindicalização na Agricultura 1921 25/04/1957

12 Indenização por Acidente do Trabalho na Agricultura 1921 25/04/1957

14 Repouso Semanal na Indústria 1921 25/04/1957

16 Exame Médico de Menores no Trabalho Marítimo 1921 08/06/1936

19Igualdade de Tratamento (Indenização por Acidente de Trabalho)

1925 25/04/1957

21 Inspeção dos Emigrantes a Bordo dos Navios 1926 18/06/1965

22 Contrato de Engajamento de Marinheiros 1926 18/06/1965

26 Métodos de Fixação de Salários Mínimos 1928 25/04/1957

29 Trabalho Forçado ou Obrigatório 1930 25/04/1957

41Convenção Relativa ao Trabalho Noturno das Mulheres (Revista, 1934)

1934 08/06/1936 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 89 em 24.04.1957.

42 Indenização por Enfermidade Profissional (revista) 1934 08/06/1936

45Emprego de Mulheres nos Trabalhos Subterrâneos das Minas

1935 22/09/1938

52 Férias Remuneradas 1936 22/09/1938 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 132 em 23.09.1998.

53Certificados de Capacidade dos Oficiais da Marinha Mercante

1936 12/10/1938

58 Idade Mínima no Trabalho Marítimo (Revista) 1936 12/10/1938 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 138 em 26.06.2001.

80 Revisão dos Artigos Finais 1946 13/04/1948

81 Inspeção do Trabalho na Indústria e no Comércio 1947 11/10/1989

88 Organização do Serviço de Emprego 1948 25/04/1957

89 Trabalho Noturno das Mulheres na Indústria (Revista) 1948 25/04/1957

91 Férias Remuneradas dos Marítimos (Revista) 1949 18/06/1965 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 146 em 24.09.1998.

92 Alojamento de Tripulação a Bordo (Revista) 1949 08/06/1954

93Convenção sobre Salários, Duração de Trabalho a Bordo e Tripulação (Revista em 1949)

1949 18/06/1965 A Convenção não entrou em vigor.

94 Cláusulas de Trabalho em Contratos com Órgãos Públicos 1949 18/06/1965

O Brasi tem apresentado uma participação ativa na OIT, tendo ratificado as principais Convenções da OIT (81 no total), conforme se esclarece com a apresentação do quadro informativo da OIT/Brasil, disponível em www. oitbrasil.org.br/convention.

Page 50: Revista do Trabalho Decente

50

95 Proteção do Salário 1949 25/04/1957

96 Concernente aos escritórios remunerados de empregos 1949 21/06/1957

97 Trabalhadores Migrantes (Revista) 1949 18/06/1965

98 Direito de Sindicalização e de Negociação Coletiva 1949 18/11/1952

99 Métodos de Fixação de Salário Mínimo na Agricultura 1951 25/04/1957

100Igualdade de Remuneração de Homens e Mulheres Trabalhadores por Trabalho de Igual Valor

1951 25/04/1957

101 Férias Remuneradas na Agricultura 1952 25/04/1957 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 132 em 23.09.1998.

102 Normas Mínimas da Seguridade Social 1952 15/06/2009

103 Amparo à Maternidade (Revista) 1952 18/06/1965

104 Abolição das Sanções Penais no Trabalho Indígena 1955 18/06/1965

105 Abolição do Trabalho Forçado 1957 18/06/1965

106 Repouso Semanal no Comércio e nos Escritórios 1957 18/06/1965

107 Populações Indígenas e Tribais 1957 18/06/1965 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 169 em 25-07-2002.

108 Documentos de Identidade dos Marítimos 1958 05/11/1963 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 185, em 21.01.2010.

109Convenção sobre os Salários, a Duração do Trabalho a Bordo e as Lotações (revista em 1958)

1958 30/11/1966 A Convenção não entrou em vigor.

110Convenção sobre as Condições de Emprego dos Trabalhadores em Fazendas

1958 01/03/1965 Denunciada em 28.08.1970

111 Discriminação em Matéria de Emprego e Ocupação 1958 26/11/1965

113 Exame Médico dos Pescadores 1959 01/03/1965

115 Proteção Contra as Radiações 1960 05/09/1966

116 Revisão dos Artigos Finais 1961 05/09/1966

117 Objetivos e Normas Básicas da Política Social 1962 24/03/1969

118Igualdade de Tratamento entre Nacionais e Estrangeiros em Previdência Social

1962 24/03/1969

119 Proteção das Máquinas 1963 16/04/1992

120 Higiene no Comércio e nos Escritórios 1964 24/03/1969

122 Política de Emprego 1964 24/03/1969

124Exame Médico dos Adolescentes para o Trabalho Subterrâneo nas Minas

1965 21/08/1970

125 Certificados de Capacidade dos Pescadores 1966 21/08/1970

126 Alojamento a Bordo dos Navios de Pesca 1966 12/04/1994

127 Peso Máximo das Cargas 1967 21/08/1970

131Fixação de Salários Mínimos, Especialmente nos Países em Desenvolvimento

1970 04/05/1983

132 Férias Remuneradas (Revista) 1970 23/09/1998

133Alojamento a Bordo de Navios (Disposições Complementares)

1970 16/04/1992

134 Prevenção de Acidentes do Trabalho dos Marítimos 1970 25/07/1996

135 Proteção de Representantes de Trabalhadores 1971 18/05/1990

Page 51: Revista do Trabalho Decente

SETS

136 Proteção Contra os Riscos da Intoxicação pelo Benzeno 1971 24/03/1993

137 Trabalho Portuário 1973 12/08/1994

138 Idade Mínima para Admissão 1973 28/06/2001

139Prevenção e Controle de Riscos Profissionais Causados por Substâncias ou Agentes Cancerígenos

1974 27/06/1990

140 Licença Remunerada para Estudos 1974 16/04/1992

141 Organizações de Trabalhadores Rurais 1975 27/09/1994

142 Desenvolvimento de Recursos Humanos 1976 24/11/1981

144 Consultas Tripartites sobre Normas Internacionais do Trabalho 1976 27/09/1994

145 Continuidade no Emprego do Marítimo 1976 18/05/1990

146 Convenção Relativa às Férias Anuais Pagas dos Marítimos 1976 24/09/1998

147 Normas Mínimas da Marinha Mercante 1976 17/01/1991

148 Contaminação do Ar, Ruído e Vibrações 1977 14/01/1982

151 Direito de Sindicalização e Relações de Trabalho na Administração Pública 1978 15/06/2010

152 Segurança e Higiene dos Trabalhos Portuários 1979 18/05/1990

154 Fomento à Negociação Coletiva 1981 10/07/1992

155 Segurança e Saúde dos Trabalhadores 1981 18/05/1992

158 Término da Relação de Trabalho por Iniciativa do Em-pregador 1982 05/01/1995 Denunciada em 20.11.1996

159 Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas Deficientes 1983 18/05/1990

160 Estatísticas do Trabalho (Revista) 1985 02/07/1990

161 Serviços de Saúde do Trabalho 1985 18/05/1990

162 Utilização do Amianto com Segurança 1986 18/05/1990

163 Bem-Estar dos Trabalhadores Marítimos no Mar e no Porto 1987 04/03/1997

164 Proteção à Saúde e Assistência Médica aos Trabalha-dores Marítimos 1987 04/03/1997

166 Repatriação de Trabalhadores Marítimos 1987 04/03/1997

167 Convenção sobre a Segurança e Saúde na Construção 1988 19/05/2006

168 Promoção do Emprego e Proteção Contra o Desemprego 1988 24/03/1993

169 Sobre Povos Indígenas e Tribais 1989 25/07/2002

170 Segurança no Trabalho com Produtos Químicos 1990 23/12/1996

171 Trabalho Noturno 1990 18/12/2002

174 Convenção sobre a Prevenção de Acidentes Industriais Maiores 1993 02/08/2001

176 Convenção sobre segurança e saúde nas minas 1995 18/05/2006

178Convenção Relativa à Inspeção das Condições de Vida e de Trabalho dos Trabalhadores Marítimos

1996 21/12/2007

182Convenção sobre Proibição das Piores Formas de Traba-lho Infantil e Ação Imediata para sua Eliminação

1999 02/02/2000

185Convenção sobre os Documentos de Identidade da gente do mar (Revista)

2003 21/01/2010

Page 52: Revista do Trabalho Decente

52

O Escritório da OIT no Brasil e a Secretaria de

Estado do Trabalho, Emprego e Economia Soli-

dária assinaram um termo de cooperação para a

Agenda do Trabalho Decente do Estado. O evento

ocorreu em Maringá e contou com a participação

da Diretora do Escritório da OIT, Laís Abramo, e do

secretário Luiz Claudio Romanelli. O objetivo do

acordo é definir as prioridades, os resultados e as

estratégias para a promoção do trabalho decente.

Depois da Bahia e do Mato Grosso, da região

do ABC Paulista e de Curitiba, a Agenda do Tra-

balho Decente do Paraná seria a próxima a ser

formalmente constituída. Esta agenda é fruto das

discussões ocorridas na realização das Conferências

Estaduais de Trabalho Decente. O encontro reuniu

representantes das organizações de trabalhadores,

empregadores e do poder público. “O objetivo é

buscar soluções que garantam trabalho decente

para a população, ao definir as prioridades e

estratégias para a promoção do trabalho decente

no Paraná”, destacou Romanelli. A diretora Laís

Abramo palestrou sobre proteção social, na qual

destacou o compromisso do governo ao promover

o diálogo entre trabalhadores, empregadores e a

esfera pública.

Também foi apresentado um painel sobre o mapa

situacional e os indicadores sociais da macrorregião

de Maringá, coordenado pelo chefe de Divisão do

Sistema Público de Trabalho, Emprego e Renda,

José Maurino, e pelo diretor do Departamento de

Relações do Trabalho, Nuncio Mannala, ambos da

Secretaria do Trabalho.

SETS ASSINA TERMO COM A OIT

Memorando busca a elaboração, promoção e implantação da Agenda do Trabalho Decente no Paraná

O secretário Luiz Claudio Romanelli e a diretora da OIT Laís Abramo assinam o termo de cooperação.

Sets

Page 53: Revista do Trabalho Decente

SETS

Com a pretensão de controlar

o c u mpr i mento, p or p a r te do s

Estados-membros, das convenções

ratificadas, a OIT estabelece dois

procedimentos contenciosos: a re-

clamação e a queixa. São mecanismos

especiais de controle, baseados na

apresentação de uma representação

contra Estado-membro que viola

sistematicamente uma ou várias

normas internacionais do traba-

lho. O controle por queixa só pode

ser exercido por representação de

um Estado-membro contra outro

Trabalho pode se dar através de um

mecanismo regular de controle ou por

um mecanismo especial de controle.

Os órgãos de controle da Orga-

nização Internacional do Trabalho

apoiam-se em três pilares:

Examinam o respeito por parte dos

Estados-membros de suas obrigações

relativas às normas da OIT;

Du ra nte os referidos exa mes,

pronunciam-se sobre o singnificado

e alcance das Normas Internacionais

do Trabalho (NITs);

Como resultado de sua atuação,

cria-se paulatinamente um “corpo

jurisprudencial”.

Os mecanismos regulares de con-

trole estão cimentados na obrigação

de apresentar regularmente relatórios

sobre a aplicação de cada uma das

convenções fundamentais ratificadas.

Esse controle é exercido pela OIT em

relação aos Estados-membros.

Todo o sistema de controle da OIT

objetiva o cumprimento das obrigações

contraídas pelos Estados-membros,

seja porque aderiram à Constituição

da OIT, seja porque ratificaram as con-

venções. Implica num exame objetivo

e imparcial de todos os pontos em

discussão por personalidades inde-

pendentes e altamente qualificadas.

O sistema de controle serve para

monitorar o Estado, verificando se

sua atuação interna está em confor-

midade com as normas internacionais

de trabalho a que se comprometeu a

cumprir. Como uma das hipóteses

desse sistema de controle é o monito-

ramento a partir de denúncias feitas

contra o Estado, acaba por se tornar

também um instrumento de atuação

de entidades representativas das ca-

tegorias nacionais, na defesa de seus

membros contra o Estado violador. Não

há contencioso entre categorias. As

denúncias são sempre contra o Estado.

É importante frisar que, verificado o

descumprimento de alguma norma da

OIT, esta só poderá ser acionada quan-

do esgotados os recursos internos junto

ao Estado das partes prejudicadas.

Estado-membro da OIT.

Já para a reclamação, a matéria está

prevista no documento intitulado

“Regulamento relativo ao procedi-

mento para a discussão de reclamações

apresentadas com base nos artigos 24

e 25 da Constituição da OIT, de 1932,

com suas modificações posteriores.”.

O artigo 24 da Constituição da Or-

ganização Internacional do Trabalho

sobre o direito à reclamação:

“Toda reclamação, dirigida à Re-

partição Internacional do Trabalho,

por uma organização profissional de

empregados ou de empregadores,

e segundo a qual um dos Estados-

-membros não tenha assegurado

satisfatoriamente a execução de

uma convenção a que o Estado haja

aderido, poderá ser transmitida pelo

Conselho de Administração ao Go-

verno em questão e este poderá ser

convidado a fazer, sobre a matéria, a

declaração que julgar conveniente.”

E, continua no artigo 25:

“Se nenhuma declaração for en-

viada pelo Governo em questão, num

prazo razoável, ou se a declaração

recebida não parecer satisfatória ao

Conselho de Administração, este úl-

timo terá o direito de tornar pública

a referida reclamação e , segundo o

caso, a resposta dada.”

Assim, verifica-se que somente as

organizações (sindicais ou análogas)

podem iniciar o procedimento de re-

clamação, cujo objeto concerte apenas

o descumprimento de uma convenção

ratificada. Portanto, o impulso inicial

para o procedimento de reclamação

deve ser das organizações.

Enviada a reclamação, seu trâmite

obedecerá a um procedimento nessa

ordem:

PROCEDIMENTOS PARA A UTILIZAÇÃO DA OIT

SISTEMA DE CONTROLE

O sistema de controle de aplica-

ção das Normas Internacionais do

CONTROLE REGULAR

CONTROLE POR PROVOCAÇÃO: RECLAMAÇÃO E QUEIXA

Sets

Page 54: Revista do Trabalho Decente

54

A | Imediatamente após o recebimento da reclamação, o Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho (RIT) acusará seu recebimento e informará o Estado acusado;

B | O Diretor-Geral transmitirá a reclamação à Mesa do Conselho de Administração (CA);

C | A reclamação só será admitida quanto à forma se cumprir com os seguintes requisitos: haver sido comunicada por escrito; proceda de uma organização profissional de empregadores ou trabalhadores; faça expressa referência ao art. 24 da Constituição da OIT; refira-se a um membro da Organização e uma convenção por este ratificada; afirme que esse Estado não assegura, de maneira satisfatória, o efetivo cumprimento, dentro de sua jurisdição, da convenção em causa;

D | A Mesa do CA informará ao CA sobre admissibilidade formal da reclamação;

E | Admitida a reclamação quanto à forma pelo CA, este designará um comitê de três dos seus membros, oriundos dos grupos governamentais, de empregadores e de trabalhadores, para examiná-lo quanto ao mérito. Caso a recla-mação admitida se refira a questões sindicais, poderá ser remetida ao Comitê de Liberdade Sindical, conforme será tratado em apartado;

F | O Comitê poderá solicitar, a todo tempo, informações complementares à organização acusadora; notificar a re-clamação ao governo interessado, bem como solicitar-lhe, se necessário, seu posicionamento a respeito, assim como informações complementares; poderá, também, arrolar testemunhas ou representantes para esclarecimentos;

G | Um representante do Comitê poderá visitar o país, a fim de obter, através de contatos diretos com autoridades e órgãos competentes, informações sobre o objeto da reclamação;

H | Findo o exame da reclamação, o Comitê apresentará um relatório ao CA apresentando suas conclusões e formu-lando recomendações para a decisão;

I | O governo interessado será convidado a participar, com direito de palavra mas sem direito a voto, quando a Mesa do CA verificar a admissibilidade da reclamação e o CA apresentar o relatório do Comitê sobre as questões de fundo, sempre a portas fechadas;

J | O CA determinará, quando pertinente, a publicação de reclamação, e, se houver, a declaração do governo interes-sado, finalizando assim, o procedimento;

K | A RIT comunicará, qualquer que seja a decisão, ao governo interessado e à organização querelante;

L | Esses procedimentos serão aplicados mesmo em relação às reclamações apresentadas contra Estados que já não sejam Membros da OIT, desde que estes continuem vinculados às convenções

* O conteúdo das páginas 53 e 54 foram extraídos do livro “Manual de direito internacional do trabalho: teoria geral e prática perante a OIT”, organizado por André Passos, Fernanda Negrão Pereira, Sandro Lunard Nicoladeli , Tatyana Scheila Friedrich e Vinícius Cechinel - 1ª Edição - Curitiba: Ed. Íthala, 2012.

FLUXOGRAMA DO PROCEDIMENTO

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