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MORUMBI Aleksandar Mandic, grande empresário e precursor da internet no país. ANO10EDIÇÃO73AGOSTO2010 EDIÇÃO 73 AGOSTO 2010 ESPECIAL BELEZA Cuide de você GASTRONOMIA Pães e cafés divinos EGOTRIP Quatro amigos rumo ao Deserto do Atacama

Revista Dolce Morumbi Aleksandar Mandic

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MORUMBI

Aleksandar Mandic, grande empresário e precursor da internet no país.

ANO10EDIÇÃO73AGOSTO2010

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ÃO 73

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ESPECIAL BELEZA Cuide de você GASTRONOMIA Pães e cafés divinos EGOTRIP Quatro amigos rumo ao Deserto do Atacama

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• Por Fádua Capel lar i • Foto Fláv ia Sara iva

O cara da webPara se ter uma ideia não é preciso muito esforço, elas aparecem a qualquer

dia e hora, basta conversar com um amigo, com alguém da família ou um co-

lega de trabalho. Grandes ideias, aquelas que rendem dinheiro e dão um up na

vida, não surgem com a mesma frequência, mas grande parte dos que lerem

este texto já a tiveram alguma vez na vida. Simples ou mais elaboradas, colocar

uma ideia em prática e ter a sorte de vê-la dando certo não é para qualquer um.

Nesta edição, Dolce ouviu a história de um homem que, um dia, ainda jovem,

teve uma grande ideia, acreditou nela e a viu revolucionar o país. A história é de

Aleksandar Mandic, pioneiro da internet no Brasil.

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O cara da web

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de visitas e comecei a trabalhar”. Assim nasceu a BBS Mandic, um sistema de troca de arquivos que contava apenas com um micro 286, com 60 megabytes de capa-cidade e uma linha telefônica. “Na época a linha era caríssima, custa-va em torno de US$ 4 mil, mas eu queria mostrar a tecnologia para as pessoas”.

Como era novidade, os clien-tes só apareceram depois de uns três ou quatro meses, mas aqui-lo que havia começado apenas como um hobby, com o tempo se expandiu, e um tempo depois ele recebeu a visita de alguns técnicos da Telesp em 1992. O motivo? Os seus usuá rios haviam derrubado a central de telefonia de Pinheiros. “Imagine, todas aquelas pessoas ligando para um número só! Então

to foi de US$ 30 mil. Já em 94 ele ganhou US$ 800 mil e em 95, US$ 2 milhões. Mesmo assim, o quadro de funcionários não au-mentou. “Éramos três funcionários: eu, um técnico e uma menina que fazia a nota fiscal”.

Em 1995, ainda em seu apar-tamento, Mandic chegou a ter 95 linhas telefônicas e 10 mil usuários disputando a conexão – o número era praticamente o total de usuários no Brasil.

No mesmo ano a internet foi li-berada no país para uso comercial e seu número de clientes aumen-tou consideravelmente. Começava um verdadeiro fenômeno no Brasil. “Foi em 25 de agosto de 1995, e dessa data até o mês de novembro do mesmo ano, eu passei de 10 mil para 40 mil usuários. Em qua-

chamada modem. Na outra ponta desse modem, se colocava a linha telefônica e assim pessoas de dife-rentes localidades trocavam infor-mações por via desse aparelho. Ao ver aquilo, falei pro meu chefe que poderíamos ter na empresa”.

A ideia era boa e inovadora, mas por falta de recursos básicos não foi implantada. Pela iniciativa, Mandic recebeu um bônus: um mês de férias. “Eu analisei e vi que nenhum meio de comunicação ti-nha dado errado, então porque a internet daria? Foi aí que eu pedi demissão da Siemens. Cheguei em casa e contei a decisão pra minha mulher que, claro, não me levou a sério. No dia seguinte era meu primeiro dia de trabalho, então saí do meu quarto, entrei no quarto

a empresa desenvolveu um projeto para não sobrecarregar o sistema, e eu percebi a magnitude do que estava lidando”.

A INTERNET NO BRASILDurante esse tempo, Mandic

foi técnico, cuidou das questões fi-nanceiras, foi telefonista e faxineiro da sua empresa. Fazia tudo sozi-nho 24h por dia porque o BBS não podia parar.

Quando decidiu sair da Sie-mens, ganhava quase US$ 2 mil por mês. Em 1992, quando mon-tou a BBS, sua empresa faturou, o ano todo, US$ 3 mil. “Minha mulher dizia ‘você com as tuas ideias, só quero ver onde a gente vai parar’”.

Mas as coisas começaram a mudar e em 1993 seu faturamen-

tro meses quadrupliquei o que eu tinha conseguido em cinco anos, e esse número, que parecia ser uma coisa legal, não foi”.

A estrutura da empresa não es-tava preparada para dar suporte a tantos usuários na época, e Mandic sabia que isso faria cair a qualidade do serviço. “A empresa ia ‘quebrar’ e eu só via duas saídas: abaixar o máximo a qualidade ou achar um sócio que quisesse investir para que ela voltasse a crescer”.

Mas abaixar a qualidade faria com que ele perdesse clientes, e antes mesmo de tomar qualquer decisão, com muita sorte e antes que novembro chegasse ao fim, ele recebeu uma ligação importante. “Sorte é uma coisa que só acontece com você e não pode ser confundi-

No período que fiquei em casa, me lembrei de uma frase de Ferdinand Porsche que

dizia: ‘Eu não encontrei o carro de meus sonhos, assim decidi montar o meu.

nome, Aleksandar, foi escolhido pelo pai. Filho de sérvios, Aleksandar Carlos

Mandic nasceu no Brasil em 1954. Cursou a escola técnica, em São Paulo, e se formou em 1972, mesmo ano em que in-gressou na Siemens Ltda., dando início à sua carreira profissional. Lá, ele trabalhou na área de Automa-ção Industrial com computadores de processo.

Depois de ficar por 17 anos na empresa, Mandic deixou tudo para trás para abrir o próprio ne-gócio e, no quarto de hóspedes de seu apartamento, montou um dos primeiros provedores de internet do Brasil. “Acho que foi mais ou menos em 1989, eu vi um com-putador acoplado a uma peça

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Não acho que o Google vai dominar a internet. O Google é uma empresa muito bem colocada, mas as coisas vão mudar, o mundo muda, é só esperar.

da com oportunidade. Então, quan-do alguém lhe procurar, atenda”.

Do outro lado da linha, a oferta era clara. “A pessoa que me ligou só disse ‘aqui é fulano, trabalho em tal empresa, e eu vou ser rápido e claro. Nós investimos em dois tipos de empresa: as com alto potencial de crescimento e as mal adminis-tradas – ambas nós conseguimos vender com um alto lucro. Aqui não temos amor à empresa, temos amor ao dinheiro’.

Aquilo era tudo o que Mandic queria ouvir naquele momento. “Falei sim, a auditoria foi feita na noite de Natal com o pessoal da Pricewaterhouse, e nós passamos a noite contando modens e com-putadores”.

O negócio foi vendido para a Impsat Corporation, empresa de tecnologia e informação do grupo empresarial argentino Pescarmo-nao. “Chega uma hora em que é preciso vender a empresa porque, ou ela cresce, ou você vende, ou você perpetua. E eu decidi vender. Três meses depois estourou a in-ternet, e se eu não tivesse vendi-do, tinha perdido tudo. “Na época o mercado dizia que eu tive visão e vendi a empresa na hora certa, mas na verdade eu vendi porque já não enxergava mais nada nela”.

E assim a Mandic se foi.

O NASCIMENTO DO IGUm mês e meio após a venda,

um headhunter bateu à sua porta e lhe ofereceu um trabalho como executivo. “Executivo é legal, pen-

sei. Tem férias, direito a aposen-tadoria e, quando acaba o expe-diente vai embora pra casa”. Mas a empresa traçou um perfil cheio de exigências e Mandic só atendia à última: ter experiência no mercado brasileiro de internet.

Mesmo assim ele voou de São Paulo a Brasília para conversar com a equipe da antiga Brasil Telecom, atualmente Oi. “Disseram que es-tavam a fim de abrir um provedor de internet, perguntaram o que eu achava e como fazia. Eu disse ‘óti-ma ideia, dá a internet de graça’. E então expliquei como tudo funcio-nava, eles gostaram, me agradece-ram e eu vim embora”.

Duas semanas depois, Man-dic recebeu uma ligação de Beto Sicupira, um dos donos das Lo-jas Americanas, que lhe fez uma proposta. “Eu tive uma ideia muito boa, nós vamos juntar a Brasil Te-lecom e a Telemar e vamos montar um provedor de acesso”.

A sociedade foi firmada e, jun-tos, Beto, o publicitário baiano Ni-zan Guanaes, o jornalista Matinas Suzuki Jr., que cuidou de todo o conteúdo, e Mandic como técnico, fundaram o iG – Internet Grátis.

Apesar de fundada, a empresa ainda não existia.

Em 5 de janeiro de 2000 Man-dic foi até o escritório de Pedro Moreira Salles, dono do Unibanco, para pedir um empréstimo, mas antes mesmo de dizer o que tinha ido fazer ali, ele ouviu algo impor-tante que o fez voltar para o iG com uma informação muito mais valiosa

que os US$ 2 milhões de dólares que buscava. Durante a conversa ele descobriu que o banqueiro tam-bém era sócio da Zip Net e que ela seria vendida. “Não sei se ele disse de propósito, mas eu dei meia-volta correndo porque o iG não tinha sido inaugurado justamente pela falta de linhas telefônicas, nós precisáva-mos de 200 mil linhas e não tinha no mercado”.

Após uma conversa com os sócios, os quatro resolveram dar um susto em Moreira Salles e bo-laram uma estratégia que acabou dando certo. Eles voltaram lá e disseram que sabiam da venda da Zip e que em duas semanas iam inaugurar o iG. “Como ele não conseguiria vender a empresa em duas semanas, o negócio ia valer zero. Então fizemos a proposta de alugar a empresa dele por seis me-ses, e ele topou”.

Proposta feita no dia 6, contra-to assinado no dia 7 e, em 9 de ja-neiro de 2000, uma segunda-feira, o iG foi inaugurado. Na propagan-da, o ator Thiago Lacerda falava em rede nacional para todos os canais de televisão.

O sucesso foi tão grande que logo no primeiro dia eles cadastra-ram 32 mil usuários.

DUAS DÉCADAS DE SUCESSO ABSOLUTO

Na época os negócios iam bem, mas Mandic queria mais. Resolveu sair do cargo de execu-tivo do iG, mas continuar como sócio, e reabrir sua empresa. Não

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sabia o que fazer já que o iG ofe-recia a internet de graça. Conte-údo, segundo ele mesmo afi rma, não era sua vocação. Foi então que se lembrou do e-mail, que não sofria qualquer tipo de alte-ração havia sete anos. “Qualquer coisa que precisava ser melhora-da custava muito dinheiro para a empresa, por isso ninguém mexia com o e-mail, ele era a ovelha negra. Então eu resolvi criar um e-mail diferente, e sem saber que era impossível, fui lá e fi z: conse-gui vender e-mail, que era uma coisa que todo provedor dava de graça. Até hoje tem gente que me pergunta como eu consegui e ainda consigo fazer isso”.

No decorrer da sua trajetória, Mandic se tornou um homem de grandes ideias, e após participar desse grande projeto como exe-cutivo e, posteriormente, sócio, re-solveu vender sua participação e se dedicar a novos planos.

Em 2002 retomou o domínio da marca “MANDIC” para relançar a empresa MANDIC Internet, com ser-viços de acesso e sistema de e-mail.

PASSADO, PRESENTE E FUTURO

O ano de 1999 fi cou marcado na vida do empresário: a Man-dic Internet S.A. foi indicada pela Universidade de Harvard como empresa “case” de integração em países de risco e crescimento e ainda lhe rendeu prêmios como ‘Empreendedor Master do Ano’, pela Ernst & Young, duas vezes o prêmio mais importante da inter-net brasileira: o ‘Melhor Provedor IBEST 97/98’ e o ‘Melhor Prove-dor IBEST 98/99’, e em 2006, o ‘SUCESU 40 anos’ da Associação de Usuários de Informática e Tele-comunicações.

Tire o S da palavra crise. Crie, é muito fácil.Em 2010, completando 20

anos de experiência em internet no mercado brasileiro – a festa foi no Jockey Club de São Pau-lo para mais de mil pessoas – a MANDIC está sempre inovando e cria diversos produtos que visam ampliar a gama de possibilidades online para empresas de peque-no, médio e grande porte. Com prestação de serviços que vão desde web 2.0 e e-mail marke-ting até uma infi nidade de formas de proteção e sigilo de mensa-gens enviadas e recebidas, a empresa oferece todo o apoio necessário para o uso efi ciente destas ferramentas.

Para perpetuar a história do ‘Bill Gates Brasileiro’, Aleksandar Mandic, morador do Morumbi há 16 anos, eterniza trajetórias de sucesso nos livros Mandicas (ver box), onde compila e comenta citações de empresários e pes-soas renomadas da história, que serviram como fi losofi a de vida que o ajudaram a alcançar o su-cesso e nunca desistir de inovar, e Mandic.com.br, escrito por Mi-riam Ibañez.

Vestido com uma camiseta do Super-Homem, ele acredita que o futuro da internet será a tecnologia 4G e que a fórmula para chegar ao sucesso é o trabalho. “Ser empre-endedor é chato, dá trabalho, mas para ser bom é preciso arriscar sempre e ser humilde dentro do seu grupo. A pessoa só deve usar a prepotência com ela mesma e com as suas vontades”.

Questionado sobre planos fu-turos, Mandic é enigmático. “Nós nunca paramos de pensar. Todo mundo tem ideias, mas só isso não adianta. A ideia tem que ter o seu segredo para que ninguém a copie. Tem que ter o sonho atrás”.

Mandic sempre foi um grande colecionador de frases e em 2006, lançou seu livro, intitulado ‘Mandicas’, onde selecionou 167 frases dos principais empreendedores do Brasil.

‘Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez’

‘Amigo não pede desconto’

‘Se mentir, seja breve’

‘Quer ver um circo de horrores, ligue para sua empresa’

‘A audácia é a primeira coisa nos negócios - a segunda e a terceira também’

‘É melhor errar rápido que acertar lento’

‘A humildade, se você não tem por virtude, precisa ter por esperteza’

‘A imaginação é mais importante que o conhecimento’

‘O cliente é um alvo móvel’

‘Diga não quando você tem vontade de dizer não’

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Aleksandar_Mandic

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