Revista Em Discussão! | nº 27 | Maio de 2016 | Saneamento

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  • Os principais debates do Senado Federal Ano 7 - N 27 - maio de 2016

    SaneamenTO

    Violncia contra a mulher

    Resenha aposentadoria

    a linha divisria da sade pblicaEpidemias provocadas pelo Aedes aegypti pem em xeque infraestrutura para guas, esgoto e resduos slidos

  • Aos leitoresSeis anos depois de ser lanada, a

    revista Em Discusso! reformula o seu projeto editorial. A partir deste nme-ro, deixa de ser monotemtica. Alm de ampliarmos o nmero de mat-rias, criamos duas novas sees. Em Pauta um espao para notas. E abrigar fotos que agreguem ao valor jornalstico qualidade tcnica excepcio-nal. Brasil em Debate apresentar, no formato de resenha, estudos divul-gados pela Consultoria Legislativa.

    Ainda que o tratamento de mais as-suntos possa significar uma diminuio de amplitude na abordagem de cada um deles, Em Discusso! no per-deu o compromisso com a anlise e o aprofundamento. Apenas trabalhar com recortes mais estreitos, buscando, dentro dessa delimitao, chegar de maneira sucinta aos aspectos cruciais dos diversos problemas que desafiam a atividade legislativa.

    Eleito para figurar como destaque desta edio, o saneamento bsico j foi, por trs vezes, objeto de exame pela revista. Nas duas primeiras, o que esteve em evidncia foi a destinao inadequada dos resduos slidos. Na terceira, a crise de abastecimento de gua. O assunto volta no momento em que o pas se defronta com uma srie de fragilidades em matria de infraes-trutura e comportamento evidenciadas pela trplice epidemia provocada pelo mosquito Aedes aegypti.

    Sensvel comoo nacional em torno dos casos de microcefalia atri-budos ao vrus Zika, a equipe da revista buscou entender os proble-mas nas reas de abastecimento de gua potvel, coleta e tratamento de esgotos, drenagem de guas pluviais e coleta de lixo. E o fez tendo como guia a avaliao do Plano Nacional

    de Saneamento Bsico (Plansab) pelo Senado. Desde 2014, as comisses permanentes da Casa se dedicam, por fora de resoluo, a analisar as diversas polticas pblicas, uma das funes precpuas do Parlamento.

    J a abordagem da desigualdade de gneros est calcada na avaliao da Poltica Nacional de Enfrentamento Violncia contra as Mulheres. Tambm a foram encontradas fragilidades pe-los senadores. E, da mesma forma que no caso das epidemias, a realidade foi prdiga em nos fornecer elementos dramticos para avivar a cor neces-sariamente sbria dos relatrios: no apenas se registraram inmeras agres-ses em maro. Uma juza de So Paulo teve o corpo encharcado com gasolina dentro da prpria vara que coordena no Frum do Butant: justamente a que cuida da violncia domstica.

    Tatiane Moreira Lima ficou cerca de 30 minutos como refm de Alfredo Jos dos Santos, que ameaou incen-di-la caso no gravasse um vdeo no celular inocentando-o da acusao de ter batido na ex-mulher. A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) diz concor-dar com a interpretao da juza de que sofreu violncia de gnero. Ou seja, se no lugar dela estivesse um homem, o agressor no teria cometido o ato.

    Ironicamente, como a desvelar uma dupla vulnerabilidade, a pauta da mu-lher liga-se do saneamento quando se observam os encargos pesados das mes de bebs com microcefalia. Em apuros, pais rejeitam filhos e abando-nam as companheiras. No sem motivo, portanto, a m formao decorrente da zika abriu novo embate entre grupos favorveis e contrrios ao aborto.

    Boa leitura!

    Atrasos no saneamento prejudicam as crianas pobres, que so mais

    afetadas pelas epidemias

    Mesa do Senado Federal

    Presidente: Renan CalheirosPrimeiro-vice-presidente: Jorge Viana Segundo-vice-presidente: Romero JucPrimeiro-secretrio: Vicentinho Alves Segundo-secretrio: Zeze PerrellaTerceiro-secretrio: Gladson Cameli Quarta-secretria: ngela PortelaSuplentes de secretrio: Srgio Peteco, Joo Alberto Souza, Elmano Frrer, Douglas Cintra

    Secretrio-geral da Mesa: Luiz Fernando BandeiraDiretora-geral: Ilana Trombka

    Expediente

    Diretora: Virgnia Malheiros GalvezDiretora-adjunta: Edna de Souza Carvalho Diretora de Jornalismo: Ester Monteiro

    A revista Em Discusso! editada pela Secretaria Agncia e Jornal do Senado

    Diretor: Ricardo Icassatti HermanoDiretor-adjunto: Flvio Faria Editor-chefe: Nelson Luiz de OliveiraEdio e reportagem: Andr Falco, Janana Arajo, Nelson Luiz de OliveiraResenha: Augusto Cesar de CastroColaborao: Trcio Ribas Torres e Silvio BurleCapa: Priscilla Paz sobre foto de Codevasf (divulgao)Diagramao: Bruno Bazlio e Priscilla PazArte: Bruno Bazlio, Cssio Sales Costa, Claudio Portella, Diego Jimenez, Flvia Gonalves e Priscilla PazReviso: Fernanda Vidigal, Joseana Paganine, Juliana Steck, Silvio Burle e Tatiana BeltroPesquisa de fotos: Braz Flix, Fernando Bizerra e Leonardo STratamento de imagem: Afonso Celso F.A. Oliveira e Roberto SuguinoCirculao e atendimento ao leitor: (61) 3303-3333

    Fechamento desta edio: 26 de abril de 2016

    Tiragem: 10 mil exemplares

    Site: www.senado.leg.br/emdiscussao E-mail: [email protected] Twitter: @Agencia_Senado www.facebook.com/SenadoFederalTel.: 0800 612211Via N2, Unidade de Apoio 3 do Senado Federal, 70165-920, Braslia, DF

    A reproduo do contedo permitida, desde que citada a fonte.

    Siga a tramitao dos projetos: www.senado.leg.br

    Impresso pela Secretaria de Editorao e Publicaes (Segraf)

    Secretaria deComunicao Social

    Secretaria deComunicao Social

    3www.senado.leg.br/emdiscussao

  • A tramitao dos projetos pode ser acompanhada no

    site do Senado: www.senado.leg.br

    Veja e oua mais em:

    em pautapropaganda de cigarro

    Liberao do jogo

    banda Larga

    Um dos itens em pauta na Comisso Especial do Desenvolvimento Nacional o projeto que amplia as medidas de combate ao tabagismo (PLS 769/2015). Do senador Jos Serra (PSDB-SP), a proposta probe a propaganda ou promoo de cigarros nos locais de venda, entre outras restries. A matria conta com o apoio do relator, senador Otto Alencar (PSD-BA), mas o senador Gladson Cameli (PP-AC) pediu vistas do projeto e promete apresentar um voto em separado. Teme que as medidas causem desemprego e estimulem a pirataria e o contrabando. Serra afirma que as despesas diretas com a sade dos fumantes esto hoje em R$ 23 bilhes ao ano, enquanto as receitas de tributao dos cigarros esto na casa dos R$ 11 bilhes.

    Aguarda incluso na pauta do Plenrio o substitutivo do senador Blairo Maggi (PR-MT) ao Projeto de Lei do Senado (PLS) 186/2014, do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que legaliza os chamados jogos de azar. Jogo do bicho, bingos e cassinos podem voltar legalidade. O assunto, no entanto, polmico. Segundo Nogueira, o Brasil deixa de arrecadar em torno de R$ 15 bilhes anuais por causa da falta de regulamentao dos jogos de azar. no mnimo incoerente

    dar um tratamento diferenciado para o jogo do bicho e, ao mesmo tempo, permitir e regulamentar as modalidades de loteria federal hoje existentes, diz o senador. Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), o jogo concentra renda, ao tirar dinheiro de muitos em favor de apenas um ganhador. No entender dele, prticas ilcitas envolvendo drogas e prostituio podem ser estimuladas com a regularizao do jogo.

    O anncio de que, a partir de 2017, as operadoras de banda larga passaro a cortar o acesso dos usurios que atingirem o limite de sua franquia de dados e oferecero pacotes com franquias diferenciadas gerou uma reao rpida na sociedade: com apoio de 20 mil cidados, foi admitida pelo Senado uma ideia legislativa que probe as operadoras de cortar ou diminuir a velocidade de acesso internet dos usurios residenciais que tiverem esgotado o limite de suas franquias. A ideia legislativa um mecanismo de participao popular gerenciado pelo Portal e-Cidadania. A proposta que trata da banda larga ser examinada pela Comisso de Direitos Humanos e Legislao Participativa (CDH) na forma de sugesto legislativa. E a Comisso de Cincia e Tecnologia (CCT) do Senado tambm dever debater o assunto, conforme adiantou seu presidente, o senador Lasier Martins (PDT-RS). Para o senador Walter Pinheiro (sem partido-BA), a limitao por volume de trfego representa uma violao dissimulada do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), que probe a discriminao de contedo na rede.

    Plenrio do Senado Federal durante sesso especial destinada a homenagear a Ordem DeMolay, instituio voltada para para a educao de jovens

    SUMRIO

    EpidEmias E sanEamEntoServios de abastecimento e drenagem

    de guas, alm da limpeza urbana e da coleta de esgotos, influem diretamente no

    controle de doenas. Esforo da populao aliado a aes do governo contra o Aedes

    aegypti mostram-se insuficientes sem um planejamento eficaz para o saneamento bsico

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    Estudo da Consultoria Legislativa do Senado aborda a questo da

    aposentadoria por idade e elenca razes pelas quais o pas precisa mobilizar-se em torno da reforma da Previdncia. O custo de adiar uma reestruturao cresce tanto

    quanto o deficit do sistema

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    A violncia contra a mulher continua alarmante, apesar de programas e aes

    destinados a resolver o problema a cargo dos estados e dos municpios. Poltica

    pblica de enfrentamento s agresses foi avaliada pelo Senado, que solicitou

    providncias ao governo federal

    machismo pERsistE

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    Cassino de Icara em Niteri, 1932: jogo j foi legal no Brasil

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    4 maio de 2016 www.senado.leg.br/emdiscussao 5

  • A vinculao clara entre os problemas no saneamento e a tr-plice epidemia partiu tambm da Organizao das Naes Unidas (ONU) em comunicado de 11 de maro em Genebra.

    Enquanto o mundo busca so-lues de alta tecnologia para o vrus Zika, no devemos esquecer o pssimo estado da gua e do acesso a saneamento pelos po-bres, disse o relator especial das Naes Unidas sobre o direito hu-mano gua potvel e ao sanea-mento, Lo Heller.

    H uma forte ligao entre os sistemas deficientes de saneamen-to com o surto atual do mosqui-to transmissor do vrus zika, bem como de dengue, febre amarela e chicungunha, completou.

    A preocupao com a epidemia de dengue e o risco do aumento de casos de zika e chicungunha predominou nos discursos pro-feridos durante sesso solene do Congresso Nacional do dia 15 de fevereiro, no Plenrio do Senado, em homenagem Campanha da Fraternidade de 2016, ancorada no direito sade e ao saneamen-to bsico, com o tema Casa co-mum, nossa responsabilidade.

    A proliferao de dengue, zika e chicungunha se deve boa vida que temos dado ao mosquito Ae-des aegypti, disse o presidente do Senado, Renan Calheiros. Em 25 de fevereiro, durante a sesso te-mtica de debates no Plenrio, ele prometeria dar prioridade a pro-postas de combate ao mosquito.

    ONU e igrejas ligam doenas a sujeira e falta d'gua

    O dia 17 de novem-bro de 2015 ficar ma rc ado c omo aquele no qual o Zika vrus e a doena de mesmo nome entraram definitivamente na lista das grandes preocu-paes nacionais. A Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) confir-mou naquela data a presena do agente no lquido amnitico de duas mulheres que tiveram be-bs com microcefalia na Para-ba. O material foi examinado a partir da insistncia da mdica Adriana Melo, a primeira a des-confiar da relao entre o Zika e as ms-formaes. Haviam se passado ento 26 dias a par-tir das primeiras notificaes do aumento dos casos dessa m-for-mao ao Ministrio da Sade, em 22 de outubro.

    Trs meses depois, em 24 de fevereiro, a Comisso de Desen-volvimento Regional e Turismo (CDR) aprovaria um relatrio de avaliao do Plano Nacional de Saneamento Bsico (Plan-sab), poltica pblica coordenada pelo governo federal e executada em cooperao com os estados, o Distrito Federal e os muni-cpios. Na ocasio, o relator da proposta, senador Randolfe Ro-drigues (PSOL-AP), foi muito claro ao relacionar diretamente a epidemia de zika, observada

    j em abril de 2015, aos proble-mas de abastecimento regular de gua potvel, coleta e tratamento de esgotos, drenagem de guas pluviais e recolhimento e desti-nao de resduos slidos (lixo). O parlamentar mencionou ainda a insuficincia dos gastos com a sade pblica.

    No tenho dvida, [essas] so as reais causas de termos hoje uma epidemia do Aedes ae-gypti sem controle. O Aedes ae-gypti no epidemia s do zika. do zika, da chicungunha e da dengue. J est comprovado que a mutao do mosquito possi-bilitou que um dos ambientes naturais favorveis a ele fosse a ausncia de saneamento bsico, afirmou o senador, que apre-sentou proposta de emenda Constituio (PEC) incluindo esse servio no rol dos direi-tos fundamentais previstos na Constituio.

    A opinio de Randolfe a mesma da senadora Simone Tebet (PMDB-MS). Ela se manifestara sobre o assunto na reunio ante-rior da CDR, quando da apresen-tao do relatrio, que trata espe-cificamente da gesto do plano, sob os pontos de vista da elabora-o de programas e da comunica-o entre o Plansab, o Plano Plu-rianual (PPA) e o Oramento Ge-ral da Unio.

    Estamos colhendo, infeliz-mente, frutos amargos. A falta de saneamento causa mortalidade infantil por conta de diarreia, doenas de pele. E a sociedade, como um todo, est sendo pre-judicada por causa do Aedes ae-gypti, analisou a senadora.

    DiagnsticoO que a avaliao a cargo de

    Randolfe desvela um plano montado em cima de diagns-tico correto da realidade, com ampla participao de atores do poder pblico e da sociedade, mas que contm equvocos de concepo, como o estabeleci-mento de metas rgidas e oti-mistas demais, agora frustra-das pela crise econmica. Entre os erros de execuo, possvel mencionar o excessivo fraciona-mento de programas e aes e a gesto oramentria errtica.

    No podemos dourar a p-lula. No podemos ter planos que venham a causar a sensa-o de que no tem dever cum-prido depois. Essa uma ques-to complexa, advertiu Simone Tebet.

    De fato. Os erros do Plan-sab, em si, no explicam todo o contexto no qual o Aedes ae-gypti prolifera. Para melhor en-tender a adaptao do mosquito ao Brasil, preciso ouvir, por

    O avano da dengue e o aparecimento da zika e da chicungunha confirmam a inadequao do Plano Nacional de Saneamento Bsico. Em avaliao no

    Senado, a poltica pblica do governo federal mereceu uma srie de reparos

    epideMiaS, a conta do despreparo

    SANEAMENTO

    exemplo, o rumor das multides aglomeradas em loteamentos irre-gulares, virtuais cidadelas contra estratgias de saneamento, e pen-sar no aquecimento global e nas suas chuvas torrenciais.

    Como lembrou o senador Do-nizeti Nogueira (PT-TO), na mesma reunio, o plano pelo me-nos aponta um rumo, o que, no entender dele, prefervel falta de direo vivida anterior-mente e aos magros oramentos criticados quando da elaborao da Lei 11.445/2007, a matriz do Plansab, que de 2013.

    Em duas dcadas a partir de 2014, programou-se aplicar R$ 508,4 bilhes de fontes federais (59%) e de governos estaduais e municipais, prestadores de servi-os de saneamento, iniciativa pri-

    Lixo nas cidades brasileiras: resultado de servios pblicos deficientes e pouco cuidado por parte dos cidados

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  • vada e organismos internacionais (41%). O dinheiro, agora redu-zido em pelo menos um tero, se-ria destinado a obras como cana-lizao de esgotos (medidas estru-turais) e melhoria da gesto e ca-pacitao tcnica (medidas estru-

    turantes). Estas ltimas so vistas como uma saudvel novidade para evitar que os recursos se desper-dicem pela falta de bons projetos e administrao competente de obras, alm do carter clientelista de muitas iniciativas.

    Num estudo de 2008, ano das primeiras discusses do plano, constatou-se, conforme explicita o relatrio, a existncia de um entorno regulatrio instvel, com entidades que cumprem o traba-lho de fiscalizao ou regulao com fraca capacidade tcnica e institucional e com a presena de metas contratuais que nem sem-pre esto claramente definidas e so difceis de auditar.

    QualidadesMesmo admitindo-se um con-

    texto mais amplo, o Plansab, como apontam os consultores do Senado e os especialistas convida-dos pela Casa para audincias p-blicas e sesses temticas, deve ter sua responsabilidade muito bem definida, ainda que seja uma pea a ser preservada pelas suas inme-ras qualidades. A principal distor-o do plano foi vincul-lo a um cenrio durante o qual o pas cres-ceria mdia de 4% ao ano, com inflao baixa, diminuio da d-vida pblica e aumento dos inves-timentos estatais, por exemplo.

    O monitoramento dessas ex-pectativas estava previsto, inclu-sive no dia a dia, mas a orienta-o era analisar em profundidade o comportamento desses mlti-plos fatores junto com os resulta-dos do PPA, de quatro em qua-tro anos. Deduz-se do Plansab que era mais importante a con-fiana na fora indutora das pro-jees de um futuro exuberante do que verificar a sria histrica dos investimentos no setor e as disponibilidades oramentrias a cada quadrinio e a cada ano.

    Assim, como observa Ran-dolfe Rodrigues, projetou-se, de forma irrealista, eliminar em 2023 os deficits em abasteci-mento de gua potvel. A destina-o adequada de resduos slidos seria integral em 2033, ano em que o deficit no esgotamento sa-nitrio (coleta e tratamento) no passaria de 7%.

    O presidente da CDR, sena-dor Davi Alcolumbre (DEM-AP), alertou: no ritmo atual de investi-mentos, dificilmente a meta ser cumprida. Evidentemente a falta de recursos sempre ser o grande gargalo dessa discusso.

    Para dison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, um dos maiores desafios do plano in-vestir R$ 300 bilhes somente em gua e esgoto durante duas dcadas quando o pas conse-gue aplicar, em mdia, R$ 10 bi-lhes por ano no setor. E so gri-tantes as diferenas regionais: So Paulo responsvel por um tero do investimento; o Par tem ape-nas 3,8% da populao atendida com a coleta de esgoto.

    Os nmeros do primeiro ano de avaliao, constantes do rela-trio Diagnstico AE2014, publi-cado pelo Ministrio das Cidades, corroboram as expectativas de Alcolumbre. Houve crescimento

    apenas residual (0,2 ponto per-centual) no ndice de atendimento total com rede de abastecimento de gua, comparado a 2013. O fornecimento chegou a 82,5% das necessidades ao final de 2014.

    A coleta de esgotos teve um crescimento de 1,3 ponto percen-tual e est atualmente em 57,6% do que seria necessrio no meio urbano. No total do pas, o per-centual atendido de 49,8%. Em relao ao indicador mdio na-

    cional de tratamento dos esgotos gerados (decorrente do forneci-mento regular de gua), obser-vou-se em 2014 aumento de 1,8 ponto percentual, quando compa-rado a 2013, dando continuidade curva de crescimento do indi-cador, mas com atendimento de somente 40,8% das necessidades. O Diagnstico AE2014 chama a ateno para o fato de que o vo-lume de esgotos tratados saltou de 3,624 bilhes de metros cbicos em 2013 para 3,764 bilhes em

    Randolfe Rodrigues, relator da avaliao do Plansab, taxativo quanto ao mau desempenho da poltica pblica, enquanto Davi Alcolumbre pessimista sobre as metas fixadas para 2033. Donizeti Nogueira elogia o plano por ter dado um rumo ao setor

    Os principais problemas da poltica de saneamento

    Fonte: Comisso de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), com apoio da Consultoria Legislativa do Senado

    O Plansab foi avaliado em cumprimento a resoluo do Senado que determina a anlise das polticas pblicas por parte das comisses permanentes da Casa

    Cenrio econmico otimista com abundncia de recursos para investimentos, inflao em baixa e

    juros em queda. Projetou-se o crescimento do PIB em 4% ao ano

    Metodologia inadequada para fixao das metas por desconsiderar a capacidade de financiamento

    historicamente verificada e a capacidade de gesto dos rgos do setor

    Falta de planos e projetos tecnicamente embasados para fazer as obras necessrias e uma

    inadequao entre necessidades e disponibilidades reduzem a factibilidade das aes

    Metas de servios de saneamento perpassando cinco mandatos inseridas em uma lei no

    oramentria, ou seja, sem garantia de efetiva destinao dos recursos

    Pouca ateno s vises dos demais atores envolvidos no processo decisrio de alocao de recursos,

    como parlamentares e gestores dos estados e municpios

    Fracasso de metas ambiciosas, como a da erradicao dos lixes em 2014, levando ao comprometimento,

    desnecessrio, do teor de verdade do plano

    Tutela das decises pela esfera federal. O Plansab foi alm do diagnstico e das grandes linhas de

    ao, das projees de investimento e do acompanhamento da poltica

    Falta de comunicao entre o Plansab e o Plano Plurianual com a indicao no PPA dos componentes,

    objetivos e indicadores do Plansab a serem materializados pelas verbas

    Excesso de programas e detalhamento exagerado de projetos e atividades. Para um

    perodo de quatro anos, recursos pulverizados em 400 programas podem mostrar-se insuficientes

    Descompasso entre os montantes autorizados anualmente e os valores efetivamente utilizados

    por falhas no caminho entre o planejamento e a implementao das aes

    Concentrao de recursos e planejamento no mbito federal em funo das distores do arranjo

    federativo. O governo central deve se ocupar apenas de intervenes estruturantes

    Abuso da inscrio de despesas em restos a pagar, o que dificulta o controle sobre a aplicao do dinheiro

    e o desempenho dos programas, prejudicando outras iniciativas sem dotao oramentria

    A geografia do saneamento e a desigualdadeDeficits no fornecimento de gua tratada e na coleta de esgotos espelham diferenas de renda e organizao entre os estados e as regies

    Fonte: Ministrio das Cidades

    o nmero de brasileiros atendidos por alguma alternativa individual de

    esgotamento sanitrio (fossas spticas ou sumidouro, fossa rudimentar, vala a cu aberto, lanamento em cursos d'gua, lanamento em galerias de

    guas pluviais e outros)

    17,4milhes

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    Percentual da populao urbana atendida pela rede de gua

    90%

    Percentual da populao urbana atendida pela rede de coleta de esgoto

    70%

    8 maio de 2016 www.senado.leg.br/emdiscussao 9

  • Governo v crescimento

    Em debate no Senado, o repre-sentante do Ministrio das Cida-des, Ernani Ciraco de Miranda, reconheceu a lenta maturao do Plansab. A meta de criao de pla-nos municipais de saneamento, por exemplo, no foi cumprida em 2014. De qualquer forma, o minis-trio aponta uma distncia brutal entre o que era aplicado em 2003 e o presente. De R$ 739 milhes, os valores efetivamente gastos passaram a R$ 6,4 bilhes em 2010 e a R$ 11,4 bilhes em 2014. De ponta a ponta, uma diferena de 1.442%

    Municpio Brasil mostra realidade do saneamento

    Drenagem tem deficit ainda no mensurado

    A questo do saneamento b-sico entrou tambm na pauta do programa da TV Senado Muni-cpio Brasil. Antonio Cordeiro Netto, professor de Engenharia Civil e Ambiental da Universi-dade de Braslia (UnB), afirma em entrevista que muito do que est acontecendo em matria de infestao do Aedes aegypti de-corre das carncias desse setor. A falta de recursos um dos fa-tores que prejudicam as metas do saneamento. Segundo Clu-dia Lins, assessora de Meio Am-biente da Confederao Nacio-nal de Municpios (CNM), comum os prefeitos no con-seguirem dinheiro ao mesmo tempo para o abastecimento de gua e para a coleta de esgotos.

    A cidade de Valparaso de Gois apresentada no pro-grama como um municpio t-pico brasileiro, no qual o sane-amento uma tarefa ainda por ser totalmente cumprida: a gua chega a 98% da populao, mas s 30% do esgoto coletado. Jos Mrio Cavalcante, gerente da Saneago no distrito, exime a empresa pelos danos ao meio ambiente e sade pblica. De acordo com ele, a Saneago no se responsabiliza pelo esgoto que lanado clandestinamente em rios. O que chega at sua central de efluentes tratado com 95%

    de eficincia.Valparaso igualmente um

    exemplo do que ocorre em ge-ral no Brasil quando se trata da drenagem urbana, o escoamento adequado das guas pluviais. S 30% das necessidades do muni-cpio so atendidas nesse aspecto, o que tem a ver com a falta de in-vestimentos, mas tambm com o crescimento acelerado da cidade, distante 40 quilmetros de Bra-slia. A expanso urbana desor-denada aumenta a impermeabili-zao do solo e cria outras barrei-ras drenagem, segundo Thadeu Abicalil, especialista em sanea-mento do Banco Mundial.

    ParceriaA secretria de Infraestrutura

    de Valparaso, Cynthia Borges, argumenta que o custo do ser-vio de drenagem muito alto e no pode ser bancado apenas com recursos municipais. Muito provavelmente por isso, pesquisa do IBGE constatou que 90% dos municpios com mais de 500 mil habitantes sofrem com alagamentos e a eroso do solo.

    Com tantos problemas, a so-luo encontrada para o lixo um alvio para Valparaso. Ao contrrio do usual na maior parte do pas, acordo com o mu-nicpio de Cidade Ocidental permite que os resduos slidos

    O escoamento apropriado de guas pluviais o primo pobre do saneamento bsico. De co-meo, h inconsistncias no mo-delo de indicadores e nas informa-es prestadas aos planejadores do governo federal pelas prefeituras e outros atores envolvidos com o servio.

    Diferenas conceituais entre uma enchente, que ocorre em pla-ncies no meio rural, e um alaga-mento, comum nas reas urbanas impermeabilizadas, podem mui-tas vezes no ser respeitadas pe-los informantes. Isso prejudica

    o diagnstico e as solues dos problemas.

    Apesar das inconsistncias esta-tsticas, o nmero de ocorrncias dos diversos tipos de inundaes vem experimentando visvel au-mento com reflexos negativos na qualidade de vida da populao e no patrimnio pblico e privado, alm da perda de vidas huma-nas e do aumento na transmisso de doenas. O dano ambiental igualmente srio.

    medida que a urbanizao avana, h progressiva deteriora-o da qualidade dos rios, devido

    a um aumento da capacidade de escoamento por conta da imper-meabilizao de superfcies; ele-vao da produo de sedimentos por conta da eroso e dos resduos slidos; e alterao da qualidade da gua [por causa da] lavagem de ruas, transporte de material slido e ligaes clandestinas de esgoto s redes de gua pluvial, observa a coordenadora de Fiscalizao da Superintendncia de Drenagem Urbana da Agncia Reguladora de guas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), Caro-linne Isabella Dias Gomes.

    A falta de coleta ou a destinao inadequada dos resduso slidos tem contribudo com a propagao do Aedes aegypti

    2014, correspondendo a um incre-mento de 3,9% ou 140 milhes de metros cbicos.

    Quanto ao recolhimento e destinao dos resduos slidos, dados compilados em 2015 pelo Ministrio do Meio Ambiente mostram que, dos 5.570 muni-cpios brasileiros, somente 2.215 (39,8%) dispem rejeitos de ma-neira adequada em aterros sani-trios. Esse nmero sugeriria um fracasso da poltica, conforme Randolfe Rodrigues. que 100% dos municpios deveriam estar adequados em 2014. Os n-meros fornecidos pela Associao Brasileira de Empresas de Lim-peza Pblica e Resduos Especiais (Abrelpe), em relatrio de 2014, mostram que apenas 58,4% do lixo tinha destinao adequada em 2014, contra 58,3% em 2013 um crescimento de 0,1 ponto percentual. Em 2014, cerca de 65% dos municpios registraram alguma iniciativa em matria de seletividade da coleta.

    sejam destinados a um aterro sani-trio a 11 quilmetros de distncia.

    O Municpio Brasil entrevis-tou especialistas em saneamento de diversas instituies, alm de parlamentares e consultores do Senado. Pode ser assistido na pgina da TV no portal do Se-nado ou no canal da emissora no YouTube.

    O que os governos e os cidados podem fazer para melhorar o saneamento bsico?

    Osmar da Silva Laranjeiras Como saneamento no chama voto porque o produto est enterrado, os prefeitos devem ser responsabilizados pela falta dessa infraestrutura. O trabalho gradativo, mas deve comear hoje.

    Flavio Edesio Os governantes usarem bem os recursos e a populao fiscalizar as obras pblicas.

    Amazonino Soares Junior Cumprir a lei do Plano Nacional dos Resduos Slidos j seria um bom comeo.

    Hugo Fernandes Planejamento mais polticas anticorrupo com uma pitada de boa vontade resolvem.

    Acesse o debate: http://migre.me/tqF2d

    Pas ainda s voltas com uma montanha de lixoDestinao adequada baixa, assim como a seletividade da coleta

    Fonte: Panorama dos Resduos Slidos no Brasil, Abrelpe, 2014; Diagnstico do Manejo dos Resduos Slidos Urbanos, 2014

    TAN

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    Percentual dos municpios com iniciativas de coleta seletiva por faixa populacional

    Percentual dos municpios com iniciativas de coleta seletiva por regio

    Percentual dos municpios por tipo de destinao Nordeste

    Sul

    Norte

    SudesteCentro-Oeste

    Lixo

    Aterro controladoAterro sanitrio

    Norte53,1%

    Centro-Oeste 37,5%

    Nordeste42,8%

    at 49,9 mil habitantes

    50 mil a 99,9 mil habitantes

    100 mil a 499,9 mil habitantes

    mais de 500 mil habitantes

    Sudeste85%

    Sul84,7%

    20,7% 25,4%

    28,1%24,9%

    46,5%

    95%

    90%

    70%63%

    10,1%

    30,8%

    59,1%

    12,2%33,4%35,1%

    31,5% 38,6%

    49,2%

    54,4%

    10 maio de 2016 www.senado.leg.br/emdiscussao 11

  • As necessidades do Brasil em saneamento bsico tm uma configurao labirntica, o que torna difcil eleger a estrat-gia mais adequada para supr--las. Se, como avalia o consul-tor do Senado Victor Carvalho Pinto, a principal falha de ges-to est na ponta do sistema, ou seja, nos estados e municpios, cabe entender que essa defici-ncia est ligada a outras tantas em matria oramentria, regu-latria e de relacionamento en-tre a Unio e os demais entes federados.

    Uma das lacunas a da assis-tncia federal para evitar que os recursos remetidos aos estados e municpios se percam por falta de bons projetos e de falhas na

    administrao de empresas ou departamentos de gua e es-gotos. Pinto sugere como sada o estmulo criao de mais agncias reguladoras para co-brar a correta aplicao de ver-bas em saneamento.

    Com estrutura enxuta e a co-brana de taxas das companhias e departamentos, alm do reco-lhimento de multas, essas agn-cias ajudariam a economizar di-nheiro pblico e tornar mais r-pida e eficiente a instalao de infraestrutura, inclusive de dre-nagem urbana.

    TarifasConforme o consultor, com-

    panhias dependentes das ad-ministraes estaduais e depar-tamentos cujos caixas se con-fundem com os das prefeituras vivem problemas crnicos de receita. Cooperam para essa si-tuao ineficincia administra-tiva pura e simples, inadequa-o do quadro de pessoal em termos tcnicos e quantitati-vos, cobrana de tarifas mdi-cas para atendimento a neces-sidades sociais (ou ausncia de cobrana) e as perdas de gua no caminho at as residncias, que andam na faixa de 37%. H ainda a falta de hidrmetros adequados e mesmo a ausncia de hidrmetros.

    A imensa maioria dos depar-tamentos e empresas est falida porque a tarifa muito baixa e os consumidores esto livres para gastar vontade, afirma Pinto. O resultado pouco in-vestimento em obras para su-prir as necessidades. Estudo da Confederao Nacional da In-dstria (CNI) de 2014 diz que, no ritmo atual, o Brasil s vai atingir todas as metas do Plan-sab em 2054.

    O consultor do Senado alerta para a baixa capacidade de en-dividamento dos estados, mu-nicpios e suas empresas em ra-zo da Lei de Responsabilidade

    Fiscal (LRF). No momento, o governo federal e os estados es-to, inclusive, negociando uma repactuao de dvidas, o que deve aliviar essa presso. Em qualquer hiptese, Pinto v como saudvel um debate so-bre a viabilidade da privatiza-o desses servios, apesar do preconceito de muitos quanto atuao de particulares nessa rea. Bastaria regular bem para evitar abusos, argumenta.

    InvasesO planejamento destinado a

    universalizar o saneamento b-sico tem entre seus maiores ini-migos a ocupao irregular do solo nas reas urbanas. O con-sultor do Senado observa que como o problema cresce sem parar, projees como as cons-tantes do Plansab (R$ 508 bi-lhes at 2033) podem se res-sentir de algum artificialismo e construir cenrios imprecisos

    Desperdcio e m gesto fragilizam modelo

    Tcnico usa aparelho de geofonia para detectar vazamento de gua em Campo Verde (MT): perda de gua no Brasil chega a 37%

    Dever de casa por fazer

    Fonte: Cepal 2015, SNIS 2014 e Banco Mundial. Elaborao Instituto Trata Brasil. * PIB per capita de 2012. ** No caso da Argentina, o

    estudo trazia apenas valores de atendimento urbano de esgoto. No caso do Brasil, registram-se, entre parnteses, os dados do SNIS

    2014, que so inferiores aos dados da Cepal para o pas (62,6%)

    Renda nacional no um fator determinante de eficincia em saneamento

    Venezuela

    Chile

    Mxico

    Colmbia

    Equador

    Peru

    Argentina**

    Uruguai

    Bolvia

    Brasil**

    Costa Rica

    Honduras

    El Salvador

    Guatemala

    Rep. Dominicana

    Nicargua

    Paraguai

    94,1%

    93,6%

    88,4%

    87,2%

    75,8%

    74,9%

    69%

    65,9%

    63,1%

    62,6% (49,8%)

    50,7%

    45,3%

    45%

    43,9%

    40,1%

    23,3%

    22,7%

    Percentual de atendimento pela

    rede de esgotoPIB per capita*

    US$ 12.771

    US$ 14.528

    US$ 10.325

    US$ 7.903

    US$ 6.345

    US$ 6.541

    US$ 12.509

    US$ 16.806

    US$ 3.124

    US$ 11.384

    US$ 10.415

    US$ 2.434

    US$ 4.119

    US$ 3.673

    US$ 6.163

    US$ 1.963

    US$ 4.712

    Uma paisagem favorvel proliferao de mosquitosA falta de planejamento, a conduo inadequada de polticas pblicas e a resistncia da populao a um maior cuidado com a disposio do lixo e a limpeza de guas paradas so ingredientes da trplice epidemia

    1. Deficincias no recolhimento e na destinao dos resduos slidos

    2. Depsitos de pneus a cu aberto 3. Falta de abastecimento de gua4. Problemas na drenagem urbana, como o excesso

    de impermeabilizao e a falta de escoamento5. Degradao de ruas e caladas6. Ocupao urbana irregular. Falta de

    planejamento urbanstico e conflitos entre o Estado e os ocupantes retardam ou impedem aes de saneamento

    7. Ocupao irregular de margens de rios e vrzeas8. Esgoto a cu aberto9. Lagos urbanos e fontes sem inspeo sanitria10. Elevao da temperatura e aumento de chuvas

    torrencias pelo desmatamento

    Fonte: elaborao prpria

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    12 maio de 2016 www.senado.leg.br/emdiscussao 13

  • Para o senador, no vai ser so-mente com panf leto que se vai combater o mosquito, mesmo que se mobilize todo o Exrcito Brasi-leiro e as Foras Armadas.

    Uma alternativa procurar or-ganizaes que lutam pela trans-parncia na aplicao de verbas pblicas e aquelas que promovem peties por meio de redes sociais e e-mail.

    Na Ouvidoria do Tribunal de Contas da Unio (TCU), o ci-dado pode apresentar denn-cias contra atos de gesto ilegais ou irregulares. Segundo o TCU, a Constituio federal garante a qualquer pessoa o direito de de-nunciar desrespeitos lei, o que estimula a participao no con-trole dos gestores pblicos.

    A Controladoria-Gera l da Unio (CGU) outro local onde o cidado pode se manifestar para propor ideia que aprimore polticas e servios pblicos, requerer providncia da administrao pblica federa l e denunciar atos ilcitos e malversao de recursos, entre outras opes. Tambm pelo Ministrio Pblico possvel apresentar denncias de irregularidades.

    Mobilizao contra Aedes: cidado atua e fiscaliza poder pblico

    Promover campanhas de com-bate ao Aedes aegypti uma ao na qual se deposita grande f quando o assunto a trplice epidemia causada pelo mosquito. Durante audincia conjunta em 18 de fevereiro das Comisses de Agricultura e Reforma Agrria (CRA) e Senado do Futuro (CSF), Rose Monnerat, pesquisadora da Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, relatou o trabalho desenvolvido em 2006, em So Se-bastio, no Distrito Federal, onde o problema ainda era somente o alto ndice de casos de dengue.

    Capacitamos todos os envol-vidos: lderes comunitrios, agen-tes de sade e do servio de lim-peza urbana e voluntrios. Di-vidimos a cidade em 18 zonas e distribumos o biolarvicida tam-bm em condomnios, onde fize-mos uma gincana com as crianas para envolv-los no trabalho e de-pois houve uma grande participa-o das escolas da cidade. muito importante quando a populao trabalha junto com a gente, disse a pesquisadora.

    Com instituies pblicas e privadas de sade, educao e lim-peza, foi organizado um mutiro: os horrios da coleta de lixo foram divulgados populao e biolarvi-cidas foram distribudos na zona

    urbana e rural da cidade. Rose mencionou ainda aes comple-mentares, nas quais foram feitas palestras e se utilizaram cartazes, faixas e carros de som. Segundo ela, o alto ndice de infestao de larvas de mosquito na cidade considerado risco de epidemia caiu de 4,06 para 0,4. Depois de seis meses de campanha, foram registrados 70 casos de dengue numa populao de 90 mil habi-tantes, o que no mais conside-rado padro epidmico.

    Em meio a tantos registros re-centes de dengue, chicungunha e zika esses ltimos com con-sequncias graves para os fetos de mulheres que contrarem o vrus grvidas , o governo lanou a campanha ZikaZero, mobili-zando as Foras Armadas, agen-tes de sade e a administrao p-blica federal para eliminar focos do mosquito em residncias e pr-dios pblicos. At que ponto a po-pulao responde ao chamado do poder pblico algo difcil de ser medido, mas o esforo para cons-cientizar o que pode diminuir sensivelmente os casos das doen-as transmitidas pelo Aedes.

    O governo do Rio de Janeiro, por exemplo, sugere em sua p-gina na internet que o cidado entre na mobilizao para sensi-

    bilizar os vizinhos distribuindo folhetos com informaes so-bre o combate ao mosquito e a gravidade das doenas que ele transmite.

    Outra sugesto fazer reuni-es de moradores para salientar a importncia da participao cole-tiva e sugerir ao sndico que con-verse com os funcionrios do con-domnio para combater possveis criadouros. Debates em associa-es de moradores e parquias ou outros espaos comunitrios so bem-vindos do mesmo modo.

    DennciasMas a populao tambm pode

    agir na f iscalizao da aplica-o dos recursos pblicos de sa-neamento, como coleta de lixo e abastecimento de gua. No re-latrio da Comisso de Desen-volvimento Regional e Turismo (CDR) que avalia o saneamento bsico como poltica pblica, o se-nador Randolfe Rodrigues (Rede- AP) chama a ateno para a ur-gncia em se equilibrar o volume de recursos aplicados com as lacu-nas nesse setor.

    Isso um problema que no endmico, mas que est se con-f irmando crnico na estrutura das polticas pblicas, alertou Randolfe.

    Rose Monnerat, da Embrapa, capacitou moradores de So Sebastio (DF) para o combate a epidemias

    Participao social: folhetos

    de preveno sobre riscos das doenas

    podem ser distribudos

    em prdios e ruas por iniciativa

    dos prprios moradores

    Mutiro em rgo pblico no Rio de Janeiro leva servidores ao combate a criadouros do mosquito, buscando e eliminando possveis focos

    Aes humanas como o des-matamento para ocupao imobi-liria geram mudanas climticas que esto associadas ao aumento dos casos de doenas transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti e de outros males. Essa a relao que vem sendo traada pelo Painel In-tergovernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC), criado em 1988 por uma iniciativa da Organizao Meteorolgica Mundial (OMM) e do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

    Na publicao Mudana Clim-tica e Sade: um perfil do Brasil, da Organizao Pan-Americana da Sade (Opas) e do Ministrio da

    Sade, so evidenciadas algumas conse quncias das mudanas cli-mticas na sade humana.

    Um impacto indireto a alte-rao de ecossistemas e de ciclos biolgicos, geogrficos e qumicos, que podem aumentar a incidncia de doenas infecciosas. Alguns es-tudos demonstram que microorga-nismos podem se expandir muito alm de suas fronteiras geogr-ficas naturais devido elevao das temperaturas, que pode afetar tambm a distribuio de alguns vetores de doenas infecciosas e endmicas, como malria, dengue e febre amarela, relata o docu-mento.

    Pesquisadores da Escola Nacio-nal de Sade Pblica Srgio Arouca (Ensp/Fiocruz) apresentaram estu-do que avaliou a conexo entre va-riaes climticas e o risco de den-gue na cidade do Rio de Janeiro. Os resultados indicaram que, entre os 2001 e 2009, o aumento de 1 C na temperatura mnima em um ms ocasionou o aumento de 45% nos casos de dengue no ms seguinte. Tambm pode ter correspondido elevao de 10 milmetros na preci-pitao de chuvas aumento de 6% dos casos da doena.

    Mudanas climticas tambm afetam padres epidemiolgicos

    Em Sarapu (SP), dona de casa cuida de possveis focos do Aedes aegypti. Atitude tornou-se comum na populao aps trabalho de conscientizao feito desde o ano passado pela vigilncia sanitria nas residncias e escolas dos municpio. O resultado foi um vero sem casos de doenas transmitidas pelo mosquito.

    portal.tcu.gov.br/ouvidoria

    sistema.ouvidorias.gov.br

    cidadao.mpf.mp.br

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    14 maio de 2016 www.senado.leg.br/emdiscussao 15

  • Mais de cem emendas de de-putados e senadores foram apre-sentadas Medida Provisria 712/2016, que prev o ingresso forado de agentes de sade em imveis abandonados ou cujos proprietrios no so localizados. A comisso mista que analisa a MP, presidida por Paulo Bauer (PSDB-SC), j se reuniu para ou-vir representantes dos Ministrios da Sade, do Planejamento e da Justia. Outras audincias pblicas com especialistas esto previstas antes da apresentao do relatrio.

    Evidentemente a MP tem fora de lei, mas, mesmo antes da sua aprovao, alguns municpios,

    como o de So Paulo, tm leis que disciplinam o tema.

    Para mudar a MP que tam-bm prev a realizao de campa-nhas educativas e de orientao populao como exemplo de aes para conter as doenas causadas pelos vrus da dengue, chicungu-nha e zika , muitos parlamen-tares sugeriram a aplicao de multa em caso de resistncia dos proprietrios que dificultarem o acesso dos agentes a residncias ou descumprirem determinaes das autoridades sanitrias.

    O poder pblico no pode permanecer inerte ao identificar que alguns cidados descumprem reiterada e recorrentemente as orientaes das autoridades sani-trias e de sade e pem em risco a sade de toda a populao, jus-tif icou o senador Drio Berger (PMDB-SC) em sua emenda.

    Em audincia na comisso mista da MP, Giovanini Evelim Coelho, da Coordenao-Geral do Programa Nacional de Con-trole de Dengue do Ministrio da Sade, disse que a medida um elemento adicional de apoio s equipes de sade para garantir o maior percentual de visitas poss-vel. Segundo Coelho, ela no to-mada de forma isolada e faz parte de um conjunto de outras aes a cargo dos governos federal, esta-

    duais e municipais para enfrentar os graves problemas trazidos pelas epidemias.

    Coelho destacou que o controle do Aedes aegypti basea do, em grande parte, na mobilizao da comunidade para remover criadou-ros e manter o ambiente doms-tico livre da presena do mosquito, com o importante trabalho dos agentes de sade e militares nas vi-sitas aos domiclios, levando infor-maes e realizando o tratamento qumico de depsitos de gua.

    Esse trabalho regular e roti-neiro faz parte do escopo das me-didas preconizadas pelo governo federal em parceria com os esta-dos e municpios, observou.

    Ingresso fora em imveis apenas parte da soluo

    Perdas econmicas e custos oramentrios

    O impacto econmico da den-gue nos servios de sade, nos ambientes de trabalho e nas sa-las de aula foi medido em es-tudo feito por especialistas de instituies brasileiras e tambm do Mxico, Estados Unidos e Gr-Bretanha.

    Os pesquisadores tomaram por base 2.035 pessoas infectadas em Goinia, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Teresina, Recife e Belm, no perodo de setembro de 2012 a agosto de 2013, quando mais de 2 milhes de casos suspeitos de dengue e 569 mortes foram regis-trados no Sistema de Informao de Agravos de Notif icao (Si-nan), do Ministrio da Sade.

    No campo oramentrio, o gasto anual nos servios de sade foi estimado em torno de R$ 1 bilho por ano. As despesas indi-retas da populao com a doena que incluem os dias perdidos de trabalho ou na escola, desloca-mento e alimentao para unida-des de sade e outros encargos alcanaram R$ 1,7 bilho.

    Em audincia da comisso mista da MP 712/2016, o depu-tado Osmar Terra (PMDB-RS) chamou a ateno para os cor-tes nas verbas para a sade e sua influncia no tratamento da sn-drome de Guillain-Barr e das crianas com microcefalia.

    Custo de UTIsSe h um rgo que no pode

    ter o oramento cortado nessa crise toda o Ministrio da Sade. Hoje so 2 mil casos de sndrome de Guillain-Barr por ano, em mdia, e ns vamos chegar a 6 mil. Portanto, vai aumentar a de-manda de leitos de UTI enor-memente. Crianas com retardo mental severo que esto nascendo com microcefalia no vo cami-nhar nem falar. Isso tudo tem custo, alertou o deputado.

    Conforme a deputada Carmen Zanotto (PPS-SC), a falta de re-cursos financeiros atinge as trs esferas de governo. Resulta que as gestantes no podem, por exem-plo, utilizar o ultrassom para con-firmar ou no o diagnstico de microcefalia.

    So muitos os desafios: garan-tir o atendimento nos centros de referncia a mes que precisam viajar com seus filhos para con-sultas, medir com preciso o per-metro enceflico dos bebs e am-

    parar crianas abandonadas por causa da microcefalia.

    Uma diferena mnima na hora de medir pode levar o beb a s ser estimulado quando ele es-tiver com 4 ou 5 anos. Ou seja, naquela microcefalia com con-sequncias moderadas, o beb pode no ser estimulado precoce-mente, observou a deputada, que enfermeira.

    Drio Berger foi um dos parlamentares a propor multa para proprietrios que descumprirem orientaes das autoridades sanitrias

    Espera por atendimento e exame para dengue pode chegar a seis horas no Hospital Albert Schuweizer, em Realengo, no Rio de Janeiro

    Custo de doentes para o sistema de sade de R$ 1 bilho. Pacientes tambm perdem dias de trabalho e de escola, o que onera a economia

    Especialistas participam de audincia na comisso mista da MP 712/2016, presidida pelo senador Paulo Bauer (ao centro)

    Tratamento qumico de depsitos de gua uma das alternativas para eliminao de focos do Aedes aegypti

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    maio de 2016 www.senado.leg.br/emdiscussao16

  • Os muitos males provocados pela falta de saneamento

    O saneamento precrio cria o ambiente propcio a muitas ou-tras doenas alm das transmiti-das pelo mosquito Aedes aegypti. Elas so causadas pela ingesto de gua contaminada ou pelo contato da pele ou mucosas com a prpria gua, lixo ou solo infectados.

    Foi o que ocorreu a atletas de

    remo, vela e natao de vrios pa-ses no ano passado, quando trei-navam para os Jogos Olmpicos deste ano no Rio de Janeiro. Se-guidos episdios de diarreia e v-mito colocaram as deficincias do saneamento bsico do Brasil na imprensa internacional. Chegou--se inclusive a levantar a hiptese

    de cancelamento de provas.Boa parte dessas doenas tem

    ciclo de transmisso feco-oral, aquele em que agentes causadores presentes nas fezes humanas ou de animais entram pela boca de uma pessoa, que se contamina. Isso pode ocorrer pelo uso de gua no tratada, tanto para beber quanto para lavar alimentos. Tambm se d por falta de cuidados de hi-giene de quem se sujou com fe-zes e pela falta de destinao ade-quada dos dejetos e do lixo, que ficam expostos a moscas domsti-cas e outros insetos e acabam por comprometer a higiene.

    As diarreias esto em primeiro lugar entre as doenas causadas por fatores ambientais, como po-breza, desnutrio, m qualidade dos alimentos consumidos, falta de condies de higiene pessoal e ausncia de saneamento bsico.

    Apesar da multiplicidade de fatores, no difcil estabelecer uma relao entre a precariedade do saneamento e as molstias que acometem a populao.

    Estudo feito pela pesquisadora Denise Kronemberger, a pedido do Instituto Trata Brasil, ava-liou a relao entre sade e sane-amento e seus impactos nos 100 maiores municpios do Brasil en-tre 2008 e 2011.

    InternaesUma das concluses da pes-

    quisa foi que, em 2010, os baixos ndices de coleta de esgotos foram acompanhados por altas taxas de internao por diarreias em 60 de um total de 100 cidades pesquisa-das. Entre as 20 cidades com me-nor taxa de internao, em mdia, 78% de populao atendida por coleta de esgotos. Por outro lado, nas dez cidades com maiores ta-xas de internao, tem-se cerca de 29% de populao atendida por

    coleta de esgotos. Os resultados do estudo re-

    foram a constatao de que as crianas so as mais vulner-veis. Nas 100 cidades analisa-das, foram registradas 28.594 internaes de crianas de at 5 anos, ou seja, 53% do to-tal das internaes no Bra-sil (54.339). O total de inter-naes custa cerca de R$ 140 milhes por ano ao Sistema nico de Sade (SUS).

    poca da apresentao dos resultados da pesquisa, o pre-sidente executivo do Instituto Trata Brasil, dison Carlos, afirmou: Infelizmente, o aten-dimento em saneamento bsico ainda divide o Brasil. Cidades bem atendidas em gua e es-goto economizam recursos com sade e seus cidados so mais saudveis, sobretudo as crian-as. Enquanto isso, outras cida-des gastam muito em interna-es e condenam seus cidados a conviverem com mais doenas da gua poluda.

    Esse casamento perverso afeta principalmente as popula-es de baixa renda em todo o mundo, mais suscetveis a adoe-cer devido associao com ou-tros fatores, entre os quais a des-nutrio. Segundo a Organiza-o Mundial da Sade (OMS), 88% das mortes por diarreias no mundo so causadas pelo sa-neamento inadequado. Dessas mortes, aproximadamente 84%

    so de crianas, sendo a segunda maior causa de mortes em me-nores de 5 anos. Estima-se que 1,5 milho de crianas nessa faixa etria morram a cada ano vtimas de doenas diarreicas.

    Especialistas das Naes Uni-das tambm apontam a impor-tncia de se investir em sane-amento bsico. Segundo eles, a cada U$ 1 gasto com trata-mento de esgoto, so economi-zados U$ 4 em atendimento de sade. A oferta de esgoto enca-nado melhora o ndice de De-senvolvimento Humano (IDH) de uma localidade e foi inclu-da entre os Objetivos de De-senvolvimento do Milnio, srie de metas socioeconmicas que os pases se comprometeram a atingir at 2015.

    Campanha Alm das diarreias, inme-

    ras doenas so causadas pela precariedade nesse servio. En-tre elas, a febre tifoide, a fe-bre paratifoide, as shigeloses, a clera, a hepatite A, a ame-base, a giardase, a leptospi-rose, a poliomelite, a ancilosto-mase (amarelo), a ascaridase (lombriga), a tenase, a cisticer-cose, a filariose (elefantase) e a esquistossomose.

    O tema do saneamento b-sico como ao de sade esteve presente no Senado nas discus-ses sobre as doenas transmi-tidas pelo Aedes aegypti e a par-

    tir da Campanha da Fraterni-dade Ecumnica de 2016, da Conferncia Nacional dos Bis-pos do Brasil (CNBB), cujo objetivo chamar a ateno para a necessidade de melhorar as condies de saneamento do pas. A campanha teve como tema este ano Casa comum, nossa responsabilidade e foi tema de sesso solene do Se-nado em fevereiro.

    O senador Cristovam Buar-que (PDT-DF), um dos parla-mentares que solicitaram a ses-so solene, afirmou que seria melhor que a CNBB no preci-sasse trazer o saneamento como tema de uma Campanha da Fraternidade pelo fato de que isso j fosse coisa de histria.

    surpreendente que isso seja novidade, porque, ao longo de toda a histria do Brasil, ns relegamos o saneamento, a gua limpa, a coleta de lixo nas ca-sas dos pobres do Brasil. Isso fato, protestou Cristovam.

    O presidente da CNBB, dom Srgio da Rocha, lembrou as palavras do papa Francisco. O pontfice escreveu em mensa-gem por ocasio da abertura oficial da Campanha da Frater-nidade de 2016 que o acesso gua potvel e ao esgotamento sanitrio condio necessria para a superao da injustia so-cial e para a erradicao da po-breza e da fome, para a supera-o dos altos ndices de morta-

    Palafitas em Bangladesh: mortes por diarreia atingem 1,5 milho de crianas com menos de 5 anos em todo o mundo

    Cristovam (D) na sesso solene em homenagem Campanha da Fraternidade: "calamidade das epidemias no surpreende"

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    18 maio de 2016 www.senado.leg.br/emdiscussao 19

  • lidade infantil e de doenas evi-tveis, e para a sustentabilidade ambiental.

    E dom Srgio acrescentou que a falta de saneamento bsico des-tri a casa comum, a famlia co-mum que habita essa casa, espe-cialmente os mais pobres. A falta de saneamento bsico mata.

    O senador Va ldir Raupp (PMDB) defendeu a ampliao dos investimentos e citou o exem-plo de seu estado, Rondnia, onde apenas 3,63% dos habitantes tm

    atendimento total de saneamento, o que faz o estado ser o pior do Brasil neste quesito.

    Doenas que so facilmente controlveis em regies saneadas chegam a matar em lugares onde o tratamento de esgoto negli-genciado, constatou.

    A desigualdade regional na oferta desses servios foi igual-mente objeto das consideraes da senadora ngela Portela (PT-RR). Citando dados do IBGE, a parla-mentar lembrou que o Brasil teve

    grande avano nos ltimos anos, mas h muitos problemas a serem superados.

    Cerca de 98% da populao brasileira possui acesso gua po-tvel, mas algo em torno de 17% dos municpios brasileiros ainda no dispem de fornecimento de gua encanada. Na comparao campo/cidade, possvel consta-tar que 99% da populao urbana tem acesso a gua potvel, en-quanto na rea rural o ndice de 84%, observou.

    Expanso desordenada das cidades ajudou o mosquito

    O mosquito Aedes aeg ypti, como o prprio nome diz, origi-nrio do Egito e foi descrito cien-tificamente pela primeira vez em 1762. Os entomlogos, cientis-tas que estudam os insetos e suas relaes com o homem e o meio ambiente, acreditam que ele se di-fundiu pelas regies mais quentes do planeta a partir do sculo 16, com as Grandes Navegaes.

    Os primeiros registros de epi-demias de dengue no continente americano so do incio do sculo 19 e, no Brasil, os primeiros relatos datam do fim do mesmo sculo. O mosquito era um problema no Brasil no incio do sculo 20 por-que transmitia a febre amarela nas cidades. Como resultado das me-didas de controle da febre amarela, o Aedes aegypti foi erradicado do pas em 1955. Mas o relaxamento das medidas no final da dcada de 1960 permitiu que o mosquito vol-tasse. Hoje, ele encontrado em mais de 4 mil municpios e em to-dos os estados brasileiros.

    A principal caracterstica do mosquito ser endoflico, ou seja, busca o interior das casas para se abrigar e se alimenta do sangue das pessoas. As aes de controle so mais complexas justamente pelo fato de o mosquito estar den-tro das casas explica Giovanini Coelho, coordenador do Pro-grama Nacional de Controle da Dengue, do Ministrio da Sade.

    Coelho assinala que expanso

    do Aedes aegypti no Brasil e em outros pases est relacionada, em boa medida, desordem urbans-tica e ausncia de infraestrutura, principalmente a oferta regular de gua e o destino adequado ao lixo. Ao lado disso, o consumo de materiais no biodegradveis, como embalagens plsticas e de vidro, mudou as caractersticas do lixo e aumentou a oferta de po-tenciais criadouros. Uma simples tampinha pode acumular gua e abrigar os ovos do mosquito.

    PesticidasA maioria dos criadouros pode

    ser neutralizada por meio de pro-cedimentos mecnicos ou fsicos, como vedar reservatrios de gua ou encher com areia os suportes (pratos) de vasos para plantas.

    A ao dos agentes de sade prioriza o uso de pesticidas que matam as larvas do mosquito. Ocorre que a repetio desse m-todo levou ao problema da resistn-cia aos venenos. Um programa de monitoramento do Ministrio da Sade promoveu a substituio do produto mais comumente usado.

    O desafio maior, no entanto, o desenvolvimento e uso de novas tecnologias de combate. Especia-listas que participaram de audi-ncia pblica promovida em feve-reiro pelas Comisses de Agricul-tura e Reforma Agrria (CRA) e Senado do Futuro (CSF) disseram aos senadores que bioinseticidas,

    mosquitos geneticamente modifi-cados e bactrias capazes de infec-tar insetos so algumas das armas disponveis no mercado na guerra ao Aedes aegypti.

    Para contar com essa artilha-ria em seu arsenal, preciso que o Brasil invista em pesquisa e es-timule parcerias entre instituies de pesquisa e empresas. Na opi-nio de Coelho, o grande limite ao uso das novas tecnologias j disponveis, inclusive uma vacina contra a dengue, o custo, pois todos esses instrumentos precisam ser usados em larga escala para al-canar os resultados desejados.

    Para Coelho, as pessoas se acostumaram dengue, mas a zika voltou a despertar a ateno para o combate ao mosquito Fonte: Fundao Oswaldo Cruz e Ministrio da Sade

    Trplice epidemiaNo passado, a maior preocupao com o mosquito no Brasil era a transmisso da febre amarela nas cidades. Eliminado na dcada de 1950, ele voltou e se espalhou por todo o pas, provocando grandes epidemias de dengue e agora de zika e chicungunha

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    Vrus originrio do Egito, na frica. No incio do sculo 19 ocorreu a primeira epidemia no continente americano (no Peru) e surtos no Caribe, nos Estados Unidos, na Colmbia e na Venezuela. H quatro subtipos do vrus em circulao.

    Vrus originrio da frica, isolado pela primeira vez em 1952, na Tanznia. Os primeiros surtos foram documentados no Sudeste Asitico e na ndia em 1953.

    Vrus isolado pela primeira vez em 1947, na floresta Zika, em Uganda, frica e hoje presente tambm na sia, na Oceania e na Amrica do Sul.

    Ocorre desde o fim do sculo 19. Os primeiros casos foram no Rio de Janeiro e em Curitiba.

    Os primeiros casos foram importados em 2010 e os primeiros casos de transmisso dentro do pas foram registrados em 2014.

    Os primeiros registros da doena no pas so do incio de 2015.

    y Febre alta (39 C a 40 C), que comea subitamente.

    yDores nos msculos, nas articulaes, na cabea, atrs dos olhos.

    yManchas vermelhas, s vezes com coceira.

    y Pode haver comprometimento do sistema nervoso central e de rgos como pulmes, corao, fgado e rins.

    y Febre alta (39 C a 40 C), que comea subitamente.

    y Inchao nas articulaes e dores intensas, que dificultam atividades rotineiras.

    yManchas vermelhas, com coceira intensa.

    y Persistncia da dor por meses ou at anos, em alguns casos, com queda da produtividade na populao economicamente ativa (entre 20 e 60 anos de idade).

    y Febre leve ou at mesmo ausente.

    yDores no muito intensas nas articulaes, em geral nas extremidades, s vezes acompanhadas de inchao.

    yManchas vermelhas, com coceira intensa. Olhos vermelhos e averso luz.

    yComprometimento neurolgico que provoca debilidade muscular. Possibilidade de reao autoimune (sndrome de Guillain-Barr), que pode levar paralisia cerebral. Tambm pode estar relacionada a anomalias congnitas como a microcefalia.

    396.582 casos em todo pas at fevereiro de 2016 (aumento de 52,6% em relao ao mesmo perodo do ano anterior).

    51 mortes em todo o pas at fevereiro de 2016 (reduo de 74% em relao ao mesmo perodo do ano anterior).

    3.748 casos suspeitos em 18 unidades da Federao e 284 casos confirmados at fevereiro de 2016.

    Ainda no h a totalizao do nmero de casos no pas. At fevereiro de 2016, 22 unidades da Federao confirmaram casos de transmisso autctone (no importada) do vrus.

    6.776 casos de microcefalia suspeitos de associao a infeces congnitas foram investigados desde outubro de 2015 no pas. Destes, 944 foram confirmados e 130 tiveram resultado positivo para o Zika vrus.

    chicungunhaDengue zika

    So trs arboviroses ou doenas infecciosas transmitidas por mosquitos, particularmente pelo Aedes aegypti e pelo Aedes albopictus

    O mosquito Aedes albopictus, que

    tambm transmite a febre amarela

    silvestre, est presente em

    800 municpios brasileiros

    O mosquito Aedes aegypti est presente

    em 4 mil municpios brasileiros

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    20 maio de 2016 www.senado.leg.br/emdiscussao 21

  • 2322 www.senado.leg.br/emdiscussaomaio de 2016

    Com deficit de R$ 130 bilhes (*) estimado para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em 2016, ante R$ 89,2 bilhes de 2015, o Bra-sil um pas com mais indagaes que certezas no campo previdenci-rio. justamente o formato de per-guntas e respostas que o consultor do Senado Pedro Fernando Nery es-colheu como forma de provocar, di-daticamente, uma srie de questio-namentos sobre o requisito da idade mnima para aposentadoria no setor privado mesmo como uma exi-gncia a mais no caso de quem vier a pedir aposentadoria por tempo de contribuio.

    Atualmente, uma das pr-condi-es para o homem deixar a ativa no setor privado ter cumprido 35 anos como contribuinte. A mulher tem de cumprir 30 anos. J no setor pblico, o tempo de contribuio de, no m-nimo 20 anos (**), mas h limites por idade estabelecidos: 60 anos (ho-mens) e 55 anos (mulheres).

    Na mdia, calcula Nery, os traba-lhadores brasileiros conseguem atu-almente se aposentar por tempo de contribuio entre 52 (mulheres) e 55 anos (homens), embora a expectativa de vida no Brasil j passe de 79 (ho-mens) e 82 anos (mulheres).

    Nas prximas dcadas, no po-der ser mais considerado natu-ral uma aposentadoria precoce, en-quanto o trabalhador ainda tem boas condies de trabalhar ou de fato trabalha, assim como hoje no considerado natural que quem no est desempregado receba o seguro--desemprego, adverte o consultor no Texto para Discusso Idade M-

    nima Perguntas e Respostas, que integra a coletnea de trabalhos do Ncleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Legislativa do Senado. Anlises sobre temas de interesse da agenda nacional destinados aos mem-bros da Casa so tambm disponibi-lizadas ao pblico.

    Pelo Regime Geral da Previdncia (RGPS), a aposentadoria por idade pode ser alcanada no meio urbano por homens que chegam aos 65 anos e, por mulheres, aos 60. Para os tra-balhadores rurais, as idades so 60 para homens e 55 para mulheres.

    Independentemente do gnero e da localizao geogrfica, o benef-cio por idade s pode ser concedido se a pessoa tiver, pelo menos, 15 anos de contribuio Previdncia. Alm dessas possibilidades, o brasileiro tambm pode se aposentar por inva-lidez ou receber um benefcio a partir

    de 65 anos quando no tiver meios de prover sua subsistncia, nem de t--la provida por sua famlia. o bene-fcio mensal de um salrio-mnimo nos termos da Lei Orgnica da As-sistncia Social (Loas), o BPC-Idoso, que no custeado pela Previdncia Social.

    Nery observa que as despesas da Previdncia vm crescendo inin-terruptamente medida que au-menta a expectativa de vida dos brasileiros e reduzem-se as taxas de natalidade.

    H, assim, claro potencial para de-sequilbrio do sistema. O estabeleci-mento da idade mnima para todos poderia ajudar a resolver essa equao de modo que, no futuro, os traba-lhadores permaneceriam mais tempo trabalhando e os aposentados menos tempo recebendo benefcios.

    A idade mnima e a reforma da Previdncia

    o braSiL eM debaTe

    De acordo com o consultor, nos prximos anos, essa tendncia [de desequilbrio do sistema] continuar pressionando pela alta da carga tribu-tria, pela alta da taxa de juros, pela reduo do investimento pblico ne-cessrio para o crescimento da econo-mia e pela reduo das despesas com polticas pblicas necessrias para reduzir a desigualdade social. No li-mite, a Previdncia teria dificuldade em arcar com seus compromissos pe-rante os beneficirios e ter de fazer reformas bruscas.

    Ao comparar a situao brasileira com a de outros pases, Nery mos-tra que a existncia de uma idade m-nima como pr-requisito para apo-sentadoria por tempo de contribuio quase universal. De acordo com o estudo, apenas 12 outros pases no impem essa condio.

    Dezenas de pases promoveram ou esto promovendo reformas em suas previdncias nas ltimas dcadas, principalmente devido transio demogrfica e dificuldades financei-ras. E essas mudanas foram promo-vidas por governos de esquerda, de centro e de direita.

    Do ponto de vista da distribuio de renda, por exemplo, a idade m-nima poderia atenuar a concentra-o causada pela Previdncia urbana, cujos benefcios so bem maiores que os da aposentadoria por invalidez, penso por morte, aposentadoria por idade, benefcios para idosos e Bolsa Famlia.

    O pas j tem mais de 5,4 milhes de aposentados por tempo de contri-buio (com benefcio mdio de R$ 2.494) e mais de 9,7 milhes de apo-sentados por idade (benefcio mdio de R$ 1.222). A aposentadoria por idade rene 53% do total de benefi-cirios e 39% das despesas da RGPS. J a aposentadoria por tempo de con-tribuio rene 29% dos benefici-rios e 45% das despesas.

    O consultor empenha-se em de-monstrar que uma nova reforma da Previdncia , alm de necess-ria, inevitvel. O modelo brasileiro o segundo mais insustentvel do planeta, perdendo apenas para o da Tailndia.

    Em 2014, o deficit da Previdn-cia Social havia somado R$ 56,69 bi-lhes, o equivalente a 1% do PIB. De 2014 para 2015, o rombo do INSS j havia avanado 51%, uma piora de R$ 29,12 bilhes. A Previdncia So-cial respondeu pela maior parte do deficit pblico do ano passado.

    Mesmo diante da necessidade ur-gente de mudanas, um passo dessa extenso para os trabalhadores da iniciativa privada exigiria regras de carncia e de transio. A de carn-cia serviria para preservar direitos de pessoas que podero se aposentar nos prximos anos, garantindo para esses as regras antigas. A de transio di-minuiria os impactos da reforma para os trabalhadores que j esto no mer-cado de trabalho, mas ainda distantes da aposentadoria.

    Nery diz que uma das possibi-lidades que o governo proponha idade mnima de 65 anos para homens e 60 para mulheres que queiram se aposentar por tempo

    de contribuio a partir de 2027, mesma idade encontrada em pa-ses como Chile e Argentina. Com o tempo, esses limites convergiriam.

    Na opinio do consultor, a socie-dade precisa superar ideias preconce-bidas, segundo as quais a reforma da Previdncia encarada como des-monte, corte de direitos duramente conquistados, ou punio das pes-soas por viverem mais. O mais sen-sato seria partir com celeridade em busca de um modelo de Previdncia slida, capaz de satisfazer expectati-vas de direito.

    Ele considera igualmente que a reforma fortaleceria o Estado, ate-nuaria as chances da sua insolvncia e permitiria que ele tivesse recursos para buscar cumprir os objetivos fun-damentais da Repblica, pactuados na Constituio, de garantir o desen-volvimento nacional, erradicar a po-breza e reduzir as desigualdades so-ciais e regionais.

    Acesse o estudo de Pedro Fer-nando Nery em https ://goo.gl /f9S2Gw. Outros Estudos Legislativos da Consultoria do Senado esto em https://goo.gl/K38gru.

    (*) e (**) Nmeros no constantes do Texto para Discusso

    Pedro Fernando Nery mestre e Dou-torando em Economia pela Universida-de de Braslia (UnB). Como consultor

    legislativo, atua no Ncleo de Eco-nomia, mais par-ticularmente na rea de Econo-mia do Traba-lho, Renda e

    Previdncia

    idade, invalidez e tempo de contribuio

    Fonte: Elaborao prpria, a partir de dados do Boletim Estatstico da Previdncia Social de novembro de 2015.

    A idade mnima para a aposentadoria equilibraria o caixa da Previdncia e permitiria melhor distribuio da renda entre os aposentados

    17% 16%29%

    45%

    53% 35%

    benefcios despesas

    Invalidez Tempo de Contribuio Idade

    Deficit crescente

    Fonte: Elaborao prpria, a partir das projees de Tafner (2015)

    Despesas com aposentadorias, penses e BPC-Idoso 2015 a 2050(Em R$ de 2015)

    R$ 338 bilhes

    R$ 1,3 trilho

    2015

    300

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    1200

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    2050

  • Polticas pblicas se ampliam e mudam de contorno em busca de maior efetividade e adaptao ao aperto oramentrio, enquanto persiste o quadro de agresses sustentado pelo machismo, novas fronteiras econmicas e a banalizao dos valores

    Sada MeLHorar redes de proTeo

    ViOlNciA cONTrA A MulhEr

    Em pleno ms de maro, quando se intensificam as lutas pelos direitos da mulher, duas es-tudantes, ambas com 20 anos de idade, foram mortas na capital do pas. Uma delas, Louise Ri-beiro, por seu colega e ex-namo-rado Vincius Neres, dentro do laboratrio de biologia da Uni-versidade de Braslia (UnB). Ele confessou o crime. A outra, Jane Carla Fernandes Cunha, que cur-sava gesto pblica em uma facul-dade particular, foi assassinada a tiros em casa pelo ex-compa-nheiro Jhonatan Pereira Alves, que se matou em seguida. Ele j

    tinha queixa registrada por Jane na polcia, o que, ao lado do vn-culo afetivo, uma caracterstica muito comum nos casos de bru-talidade contra a mulher no Bra-sil, de acordo com os nmeros do Mapa da Violncia divulgado em novembro de 2015. O pas est em 5 lugar entre os mais vio-lentos do mundo, com 105 mil assassinatos de mulheres entre 1980 e 2013. A taxa de homic-dios de 4,8 por 100 mil mulhe-res, quando no Reino Unido no passa de 0,1 por 100 mil.

    Pea de referncia do relat-rio da Comisso de Direitos Hu-manos e Legislao Participativa (CDH) do Senado sobre a pol-tica adotada pelo governo federal

    para enfrentar a violncia contra a mulher, o Mapa detalha uma re-alidade assustadora: a maioria das vtimas experimenta o momento fatdico da morte nos prprios do-miclios (27,1% dos casos). Ou-tras constataes: cresce a agres-sividade contra mulheres negras e os crimes letais diminuem timi-damente nas capitais, ao passo que aumentam no interior, espe-cialmente em municpios de porte mdio. Barcelos, cidade histrica e turstica do Amazonas, passou de 2 homicdios por 100 mil mu-lheres, em 2009, para 11 por 100 mil, em 2013. Sabe-se que entre os aspectos de localidades violen-tas esto a desestruturao socio--cultural e familiar causada pelo crescimento rpido e desordenado e os obstculos ao suprimento de servios como o de educao,

    segurana pblica, iluminao de ruas e de equipamentos adequa-dos de lazer, cultura e esportes.

    ArquiteturaO relatrio da CDH, voltado

    para analisar o desenho da pol-tica, no entra nesse tipo de apre-ciao e nem taxativo sobre os acertos e falhas dos programas e aes, embora avalie positivamente o sistema de denncias Ligue 180, alguns programas de reeducao de agressores e o banco de dados Ipenha, desenvolvido de forma localizada no Piau.

    No obstante, faz recomenda-es ao governo federal, entre as quais a de que a poltica de en-frentamento considere a distri-buio dos homicdios pelas di-versas etnias ou cores da popula-o feminina. Orientao de car-ter mais estruturante diz respeito prpria arquitetura da poltica: nota-se a falta de avaliao te-rica da cadeia de causalidade en-tre o diagnstico da magnitude e dimenses do problema, o dese-nho da interveno governamen-tal e os resultados que se desejam

    alcanar com a interveno.O modo como se faz a

    diviso de responsabi-lidades entre os entes federados interfere na transparncia sobre a aplicao de re-cursos (veja grfico na prxima pgina)

    e nos efeitos da polt ica. Con-

    forme esclarece

    a consultora legislativa Conceio Lima Alves, a esfera federal no se responsabiliza pelas delegacias da mulher nem pelas notif ica-es de atendimentos abertas nos hospitais.

    O governo desenha a poltica que estados e municpios execu-tam. Mas j se pode ver que alguns resultados esto aparecendo, como a excluso de todas as capitais no ranking dos 100 municpios com as maiores taxas mdias de homi-cdio de mulheres, explica.

    A Lei Maria da Penha (Lei

    O Ligue 180 envia as denncias para a segurana pblica com cpia ao Ministrio Pblico de cada estado e a outros rgos de investigao

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    Estudante foi asfixiada no laboratrio de biologia da universidade. Assassino declarou no saber motivo que o levou a cometer o crime

    25www.senado.leg.br/emdiscussaomaio de 201624

  • 11.340/2006) pontua vrias anli-ses contidas no relatrio, ainda que no seja, ela mesma, objeto de ava-liao. A lei usualmente mencio-nada como a principal arma jur-dica contra a violncia domstica, mas, dentro ou fora do Senado, h dificuldades em se traar uma re-lao estatstica direta entre essa norma e eventuais freios impostos ou autoimpostos a impulsos homi-cidas. De todo modo, como diver-sas aes so decorrentes de man-damentos da lei, conclui-se que a norma tem contribudo para evi-tar atos violentos na seara doms-tica. O problema que, em razo do aumento da disposio para de-nunciar e das agresses motivadas

    por diversos estmulos em voga, como o uso de drogas, os condu-tores de polticas pblicas topam com muitas variveis desconheci-das na hora de quantificar e qua-lificar de maneira acurada a violn-cia que tem vitimado a mulher ao longo dos ltimos anos.

    O que levou as taxas de assassi-natos a cair nos estados de Rond-nia, Esprito Santo, Pernambuco, So Paulo e Rio de Janeiro? Cir-cunstncias locais, que devem ser estudadas, mais que fatores glo-bais. difcil indicar uma tendn-cia nacional, diz o Mapa. O co-tejo com o relatrio sugere uma possvel relao entre aumento de verbas e resultados. So Paulo e

    Rio de Janeiro esto entre os esta-dos que apresentaram diminuio dos ndices de violncia contra a mulher desde a edio da Lei Ma-ria da Penha e que receberam os maiores volumes de recursos para aes de enfrentamento no per-odo de 2008 a 2015 (veja grfico na pgina ao lado).

    FeminicdioMesmo na incerteza, 10 anos

    depois da LMP, outras barreiras so erguidas no ordenamento ju-rdico. A Lei do Feminicdio (Lei 13.104/2015) uma delas.

    Esse um marco porque trans-mite a mensagem clara de que a sociedade rejeita qualquer teoria que culpabilize a vtima, vitimize o agressor e fomente a impuni-dade, alm de no mais tolerar o assassinato de mulheres como de-monstrao do poder masculino, afirma a senadora Regina Sousa (PT-PI), relatora da avaliao con-duzida tecnicamente pela Consul-toria Legislativa do Senado.

    Alm do combate s agresses, ela destaca a preveno, a assis-tncia e a garantia de direitos das mulheres que integram a poltica pblica avaliada. Tais necessida-des esto includas em servios que tiveram prioridade nos inves-timentos do governo federal en-tre 2013 e 2015: a j mencionada Central de Atendimento Mulher (Ligue 180), o atendimento s mulheres em situao de violncia

    Promulgada em 30 de maro, a Re-soluo 7/2016 do Senado criou, no mbito da Casa, o Observatrio da Mulher contra a Violncia, que vai ana-lisar e produzir estatsticas e relatrios a partir de dados oficiais e pblicos so-bre o assunto. Proposto pela senadora Simone Tebet (PMDB-MS), o observa-trio tambm vai elaborar e coordenar projetos de pesquisa sobre as polticas de preveno, atendimento s vtimas e combate violncia.

    O servio funcionar dentro da es-trutura do DataSenado, unidade res-ponsvel por sondar a opinio pblica sobre temas do interesse do Parlamen-to. Outra resoluo promulgada (PRS 8/2016) determina que o DataSenado produza anlises e relatrios estatsticos para subsidiar as avaliaes de polticas pblicas pelas comisses permanentes.

    E o material vai orientar da mesma for-ma o trabalho da Procuradoria Especial da Mulher do Senado e da Comisso Permanente Mista de Combate Vio-lncia contra a Mulher (CMCVM).

    No campo da informao, o diag-nstico das polticas pblicas de com-bate violncia contra a mulher apre-sentado CDH gerou um importante fruto: o projeto de lei (PLS 8/2016), que cria a Poltica Nacional de Informa-es Estatsticas Relacionadas Violn-cia contra a Mulher (Pnainfo), aprova-do pela Casa no ltimo dia de maro e enviado Cmara.

    O Pnainfo integra os rgos de atendimento mulher em situao de

    violncia dos Poderes Executivo, Legis-lativo e Judicirio. Sero produzidas in-formaes como o perfil das mulheres agredidas, o local das ocorrncias e as caractersticas do agressor para compo-rem cadastro nacional de informaes que facilitar comparao sistemtica dos ndices de violncia.

    e a Casa da Mulher Brasileira. Os recursos antes estavam mais pulverizados.

    Somente para o Ligue 180, as verbas empenhadas passaram de menos de R$ 3 milhes, em 2008, para mais de R$ 13 mi-lhes, em 2015. De 2014 para 2015, as chamadas aumentaram 54,4%, alcanando 749.024 aten-dimentos mdia de 62.418 por ms e 2.052 por dia.

    Do mesmo modo, houve o au-mento dos recursos no Oramento destinados Secretaria de Polticas para as Mulheres (SPM) de R$ 41,88 milhes em 2008 para R$ 151,64 milhes em 2015. Ainda assim, as polticas sofrem as conse-quncias da crise fiscal instaurada em 2014 e que motivou a queda dos valores efetivamente pagos a obras e servios (grfico na pgina anterior). Isso gerou advertncia no relatrio da CDH.

    Se os ndices de violncia per-manecem alarmantes, parece que a prpria implementao de po-lticas j um resultado em si. Desde 2003, a Lei 10.778 tornou compulsria a notificao de atos praticados contra as vtimas aten-didas nos servios de sade. Antes disso, as ocorrncias eram mais comumente registradas nas de-legacias da mulher a primeira foi criada em 1985.

    Simone Tebet props a criao de observatrio estatstico no Senado

    a partir de dados oficiais e pblicos

    Fonte: Secretaria de Polticas para as Mulheres (SPM)

    Acre

    Gois

    Pernambuco

    Bahia

    Minas Gerais

    Rio Grande do Sul

    Sergipe

    Roraima

    Amap

    Mato Grosso

    Rio de Janeiro

    Distrito Federal

    Paraba

    Alagoas

    Maranho

    Piau

    Cear

    Par

    Rondnia

    Tocantins

    Ampliao e consolidao da rede de servios especializados de atendimento s mulheres em situao de violnciaCapacitao de profissionais para atendimento a mulheres em situao de violncia Apoio a iniciativas de fortalecimento dos direitos humanos das mulheres em situao de violnciaApoio a iniciativas de preveno violncia contra as mulheresAtendimento a mulheres em situao de violncia

    Amazonas

    Mato Grosso do Sul

    Rio Grande do Norte

    So Paulo

    Esprito Santo

    Paran

    Santa Catarina

    50 1510 20 25Milhes

    Orado x empenhadoDistribuio, por estado, de recursos repassados a entidades no mbito de aes voltadas ao enfrentamento da violncia contra as mulheres

    Observatrio da Mulher vai gerar estatsticas e anlisesOrado x empenhado x pago

    Fonte: Secretaria de Polticas para as Mulheres (SPM)

    Aes contra a violncia: curvas diferentes devem-se dinmica de execuo de despesas, j que recursos orados podem ser contingenciados, por exemplo

    2008

    20

    100

    60

    140

    180

    Milh

    es

    Oramento aprovado (autorizado + crditos adicionais)Empenhado (servios e obras contratados e convnios assinados)Executado (pago + Restos a Pagar pagos)

    2010 2012 20142009 2011 2013 2015

    Regina Sousa: a sociedade rejeita qualquer teoria que

    culpe a vtima e leve impunidade do agressor

    ndices de violncia continuam alarmantes, mas so influenciados pelo aumento das notificaes feitas pelas prprias vtimas

    EDIL

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    26 maio de 2016 www.senado.leg.br/emdiscussao 27

  • -se e no portar-se ou, em outro quadrante, aquelas ciosas de um maior grau de liberdade indivi-dual em relao aos cdigos politi-camente corretos. Foi o que se deu em fevereiro deste ano, quando a atriz Fernanda Torres publicou no jornal Folha de S. Paulo um artigo criticando o que considerava ex-cessos do feminismo:

    Minha bab era um avio de mulher, uma mulata mineira chamada Irene que causava fu-ror onde quer que passasse. Eu ia para a escola ouvindo os homens uivando, ganindo, gemendo, nas obras, nas ruas, enquanto ela se-guia orgulhosa. Sempre associei esse fenmeno magia da Irene. O assdio no a diminua (...), era um poder admirvel que ela possua e que nunca cheguei a ex-perimentar. (...) A vitimizao do discurso feminista me irrita mais do que o machismo. Fora as ques-tes prticas e sociais, muitas ve-

    zes a dependncia, a aceitao e a sujeio da mulher partem dela mesma.

    Mea culpaDepois de receber uma sarai-

    vada de reprimendas, Fernanda publicou um novo artigo em que rejeitava os termos do primeiro:

    Cresci num ambiente de ex-trema liberdade, conquistada, diga-se, com a ajuda de movimen-tos feministas anteriores a mim. Era uma poca de um machismo muito arraigado, do qual guardo heranas, mas que, lamentavel-mente, ainda poca no estava identificado de forma direta com o estupro e a violncia. (...) En-tendi com as respostas ao meu ar-tigo que, hoje, os movimentos fe-ministas lutam para que essa as-sociao seja clara. Inclusive no que se refere ao direito de ir e vir sem assdio. Refleti durante toda semana e o que me cabe so pro-

    fundas desculpas. Procurarei estar atenta e comprometida com essas reivindicaes.

    No Senado, a procuradora es-pecial da Mulher, Vanessa Graz-ziotin (PCdoB-AM), resumiu a complexidade do tema durante um debate nas Comisses de Di-reitos Humanos (CDH) e de As-suntos Sociais (CAS), em abril de 2014: Ns carregamos uma grande dose de machismo, no apenas os homens, mas tambm as mulheres. Todo ser humano fruto do ambiente em que foi criado e, apesar da legislao cri-minalizar a discriminao, as pr-ticas sociais precisam ser modifi-cadas para garantir igualdade en-tre homens e mulheres.

    Segundo a subsecretria de Po-lticas para as Mulheres do Dis-trito Federal, Lcia Bessa, com a internet, manifestam-se fenme-nos no campo da invaso de pri-vacidade, entre os quais a emis-so de comentrios que no se caracterizam pela temperana e, por isso mesmo, so reveladores de quo profunda ainda a cul-tura da misoginia. Sintomatica-mente, a Lei Maria da Penha no trata apenas da violncia fsica e sexual, mas tambm moral, psico-lgica e patrimonial.

    Depois de protagonizar no Face-book a campanha Eu no Mereo ser Estuprada, a jornalista Nana Queiroz, hoje diretora-executiva do site AzMina, participou em reunio conjunta da CDH e da CAS de de-bate sobre o estudo do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea) que a levara a protestar. A princpio, os pesquisadores afirma-ram que 65% dos brasileiros consi-deravam merecido a mulher ser ata-cada se mostrasse o corpo. Depois corrigiram o percentual para 26%, alegando erro de tabulao.

    Na ocasio, Nana recomendou que a sociedade e o poder pblico educassem as crianas desde cedo para entenderem as situaes de assdio.

    Em entrevista a Em Discus-so! , ela classificou a campanha como muito importante para que se entendesse que a vtima jamais pode ser culpabilizada pela violn-cia e pelo estupro. Ainda assim, a pgina do Facebook teve que ser fechada porque muitos homens aproveitaram o espao para insultar e ameaar as participantes.

    Na opinio de Nana, a acusao aos grupos de ativismo de ferirem as liberdades individuais no campo da linguagem, por exemplo, no se sustenta. A liberdade de oprimir, ningum nunca deveria ter tido, cobra.

    Mas ela aconselha os ativistas a no transformarem o politicamente correto em algo muito rgido, um discurso excludente, do qual par-ticipe uma militncia fechada em si mesma, levando as pessoas co-muns a serem acusadas de precon-ceito e outras atitudes.

    Lenincia com estupro causou polmica nas redes

    Vanessa Grazziotin: compartilhamos, homens e mulheres, uma grande dosagem de machismo

    Nos ltimos anos, o debate em torno da igualdade de gne-ros, isto , dos papis sociais atri-budos a cada sexo, tem atingido temperaturas elevadas no Brasil graas a pelo menos dois fatores associados: a atuao da Secre-taria de Polticas para as Mulhe-res (SPM), criada em 2003 pelo governo Lula, e a ampliao do acesso internet.

    Os esforos da SPM e de secre-tarias similares nos outros nveis da Federao, assim como de or-ganizaes no governamentais, em colocar o tema na agenda do pas combinou-se ao trnsito livre e intenso de informao pela rede mundial de computadores e dina-mizou a discusso. Como natu-ral em todo processo que comea a gerar mudanas legais e de com-portamento, as posies sobre essa demanda se explicitaram e ganha-ram destaque.

    At o final do segundo man-dato de Fernando Henrique Car-doso (1999 a 2002), quando foi criada a Secretaria dos Direitos da Mulher do Ministrio da Jus-tia, a questo era tratada no m-bito do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), institudo em 1985, primeiro ano da chamada Nova Repblica, quando a imprensa escrita estava

    presa somente ao papel.

    Chega de Fiu Fiu medida que as redes disponi-

    bilizaram um fluxo ininterrupto de mensagens de todos os mati-zes e fontes, as palavras de ordem clssicas e as mais recentes ganha-ram o colorido que vai da reivin-dicao por salrios equivalen-tes at o direito de abortar. Agora exige-se respeito radical e minu-cioso soberania da mulher sobre o seu corpo, o que inclui o direito de no receber cantadas, de no ser assediada, nem com o ances-tral fiu fiu ou olhares maliciosos, muito menos com apalpadelas.

    Gente, eu quero no ter que mudar de caminho para no pas-sar sozinha onde tem um monte de homens parados. Foi exata-mente o que fiz h pouco. Passei tanto tempo da vida ouvindo um monte de besteiras na rua que j nem percebo mais e acabo me pri-vando de certas coisas, comentou Lygia Pontes em 4 de dezembro de 2014, numa postagem na p-gina da comunidade Chega de Fiu Fiu do Facebook.

    A outra novidade que a cor-rente central da luta por igualdade de gneros confluiu para um es-turio onde se encontraram ca-tegorias de vtimas relacionadas,

    como a dos homossexuais e a dos transgneros. A internet serviu do mesmo modo para mostrar que a questo do assdio, considerada como um ponto crucial da opres-so masculina, embora encontra-dia no Brasil, um problema a preocupar mulheres e autoridades em Londres ou Pequim.

    Do exterior, veio igualmente a inspirao para muitas formas de protesto. A Marcha das Vadias ga-nhou notoriedade durante as ico-noclsticas manifestaes de ju-nho de 2013. Incorporar o nome ofensivo uma estratgia de cer-tos grupos para reverter a agres-so a eles direcionada pelos que acham que, se uma mulher mos-tra o corpo, um tipo de libertina sexual e no deve reclamar nem de assdio nem de estupro.

    Na babel da internet, disputa ateno uma mirada de casos de violncia, registrados ou no em v-deo. Pode ser a mulher que foi to-cada indevidamente no Carnaval, pode ser o assdio a meninas de 10, 11 anos por um familiar.

    Se as polmicas unem mulhe-res que sofreram algum tipo de aproximao ou contato violento da parte dos homens (a maio-ria, segundo as pesquisas), pem no extremo oposto aquelas que defendem maior recato no vestir-

    Igualdade de gneros entra de vez na pauta

    Marcha das Vadias em Braslia: mulheres reivindicam soberania