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ESPAÇO EM AÇÃO Assim se passaram dez anos ESPAÇO EM AÇÃO 2001 - 2011 2001 - 2011 EDIÇÃO ESPECIAL COMEMORATIVA Outubro 2011

Revista Espaço em Ação

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ESPAÇOEMAÇÃO

Assim se passaram

dez anos

ESPAÇOEMAÇÃO

2001 - 20112001 - 2011

EDIÇÃO ESPECIAL COMEMORATIVA Outubro 2011

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Em seus 30 anos de carreira o artista plásticoMarcelus Bob homenageia os 10 anos de

existência do Espaço Solidário.

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O Projeto Amigos da Comunidade, reduziu o nível demortalidade infantil, que era na ordem de 60 por mil.

Índice

04- Dez por mil

02 - EDITORIAL

Compreender melhor essa etapa da vida e refletir anossa relação com ela.

- Os conceitos de velhice

O legado dos idosos para a nossa formação humana.- Ensinamentos

23 - ESPAÇO & CIA

22 - VISÕES SOBRE O ESPAÇO

Desde 2001, o centro acolhe, idosos moradores, algunsque passam o dia, de segunda a sexta-feira, e outrosque frequentam a casa para participar de atividadesespecíficas.

- 10 anos de muita história

- CAPA: Espaço Solidário

14 - VELHICE EM VERSOS

03 - APRESENTAÇÃO

16 - FATOS E FOTOS

20 - GENTE DO ESPAÇO

24 - DESPEDIDA

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A relação intrínseca entre os idosos, suas moradas e asmarcas deixadas ao longo do tempo.

- As casas que habitam08

Acasa que abriga a nossa velhice.

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EXPEDIENTEDiretoria do Centro Sócio Pastoral

Presidente

Vice presidente

Equipe

Pe. Robério Camilo da Silva

Edilsa Gadelha do NascimentoLoyse M. R. M. deAndradeFrancisca Etelvina deAraújo

Adriano Costa da Silva

Aparecida Fernandes

Edú Gráfica

Ion deAndrade

Josélia Silva dos Santos

Projeto Gráfico

Revisão

Impressão

Diretor de Redação

Diretor de Arte e Diagramação

Revisão Final

Entrevistas

Fotografias

Capa

Colaboradores

Tiragem

Luiz Marinho Júnior

Adriano Costa da Silva

Luiz Marinho Júnior

Luiz Marinho JúniorRosimere Vasconcelos (DRT/RN 590)

Adriano Costa da SilvaFrank SwatmanLoyse M. R. M. deAndradeLuiz Marinho JúniorNicole Miesher

Adriano Costa da Silva

Márcio Ribeiro da SilvaSilvania Maria da Conceição

1.000 exemplares

Idosos MoradoresAna Maria da Silva, 64Ana Hilda Pereira da Silva, 77Alaíde Maria da Silva, 87Cornélia Otacília da Silva, 82Damião Domingos da Silva, 71Edite Dantas Correia, 80Francisca Maria da Silva, 77Jorge Moreira, 75João da Cruz de Souza, 76Jovelina Severiano da Silva, 80Josefa Cardoso da Silva, 98JoséAlves de Farias, 77José Carvalho, 82Luiz Silvestre, 72Luiz dos Santos, 62MariaAuxiliadora Saraiva de Brito, 87Maria Francisca Quirino da Costa, 64Maria de Lourdes Rodrigues, 74Maria Gasparina da Costa, 72Paulo Germano, 89Rita Felipe Dantas, 81Sebastiana de Pontes, 89Vicência Maria do Nascimento, 85

Casa de taipa, o marco daslembranças dos nossos idosos.Cheiro de barro molhado, fumaçado candeeiro, retrato de santosna parede, criançada sentada nochão bat ido esperando acomida...Um passado vivo nos olhares dosidosos!Obrigado pelo presente!

Padre Robério é pároco da ParóquiaNossa Senhora de Lourdes,presidente do Centro Sócio PastoralNossa Senhora da Conceição ecoordenador do setor das PastoraisSociais daArquidiocese de Natal/RN.

EDITORIAL

ESPAÇO EM AÇÃO - 201102

Comecei a fazer parte da história doESPAÇO SOLIDÁRIO no dia 09 de outubrode 2008, quando fui nomeado pároco daParóquia Nossa Senhora de Lourdes peloArcebispo D. Matias Patrício de Macedo.Comigo chegou também o Pe. MarceloCezarino, que havia sido ordenado dois diasantes, ou seja, no dia 07. Passamos a morarem Mãe Luiza, na casa do Padre Sabino.

No meu primeiro contato com oambiente do Espaço Solidário, logo mechamou a atenção a alegria dos moradores,o carinho dos funcionários e a arrumação doambiente. Aos poucos fui compreendendo onível de humanização alcançado peloconjunto todo. Chamou a atenção a grandevontade de viver de todos os moradores,expressa na filosofia de vida da donaNenen, que dizia que matava a morte todosos dias. Ela tem razão. Cada dia vivido éuma vitória. Aprendi a olhar para o EspaçoSolidário como sendo um oásis, um espaçoda esperança, da vida. O tempo foipassando e, na convivência com o bairro, fuime surpreendendo com o aumento daviolência, principalmente entre a juventude.Fui refletindo sobre o contraste visível:enquanto o idoso quer viver, parte dajuventude está se matando, seja com oalarmante índice de assassinatos entre osjovens com menos de 25 anos ou pelogrande envolvimento com as drogas. Outrodia, depois do assassinato de dois jovens,uma idosa me disse: “Padre, eu acho quedaqui a pouco só vai ter gente velha nonosso bairro, pois os jovens estão sematando”. Tenho refletido muito sobre isso.Nossa luta continua para que todos tenhamvida em abundância como pede Jesus.

Pe Robério Camilo da SilvaPároco

Idosos DiaristasAbílio Soares da SilvaAlice Bezerra da Silva RodriguesAna Maria deAraújo CaetanoCarmelitaAlves de LimaDamião Francisco dos S.Elino Galvão do NascimentoFrancisca da SilvaFranciscoAlves SobrinhoHilda C. da SilvaIdalina Leite da SilvaJoão Felix da SilvaJosé Ribamar SimplícioJosefa Leonardo de MouraJosefa Matias da SilvaMaria Emilia do NascimentoMaria Dias Santos da SilvaMaria da PazAssunçãoMaria do Carmo da SilvaMaria da Cruz EuflazinoMaria Dias Santos da SilvaMaria Juraci RodriguesMaria Julia de MouraMaria Olivia Santos GomesMaria das Dores CiriacoMaria de LourdesAparecidaMaria de Lourdes Costa da SilvaMaria de Lourdes FerreiraMaria de Lourdes SilvestreMaria Madalena de JesusMaria Nazaré da SilvaMaria Mercedes da SilvaMarina Vital da SilvaNeuza Ferreira da SilvaOdete Silva de FariasPascoal Barracho de MedeirosPedro Matias do NascimentoRegina Felipe de SantanaRenato Batista de OliveiraSeverina Dantas da SilvaSeverina LuizaTereza Rodrigues da Costa

Adriana de Queiroz XavierAildo Saraiva PeixotoAnísio Roberto de AssisCélia Maria Oliveira da SilvaDayana do Nascimento Vieira de AssisDeygreson Rodrigo Soares da SilvaFrancisca Darc BezerraGilson da CruzIeda Maria de SouzaIraneide de França BorgesJosé Carlos EuflausinoJoseane Costa da SilvaJoseane Domingos da Silva GomesLuana Cibely Leandro dos SantosLuciene Santos da RochaLucileide Barbosa da SilvaLuiza Belarmino de OliveiraMaria de Fátima da SilvaMaria Elizabeth de SousaMarly do NascimentoNágma Lima de OliveiraNailda Soares FerreiraPatrícia Rodrigues da SilvaQuitéria Maria de JesusRosileide Maria de Jesus CostaSimone Kelly Gomes

Funcionários do Espaço Solidário

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ESPAÇO EM AÇÃO - 2011 03

Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição,situado em Mãe Luiza, existe desde 1983 e foi fundado peloPe. Sabino Gentili. Iniciou suas atividades com cursosprofissionalizantes e uma escolinha de alfabetização paracrianças, a Escola Espaço Livre, e com cursos dealfabetização para adultos. Seguiu seu caminho com açõesna área da saúde da criança, com o Projeto Amigos daComunidade, com a construção da Casa Crescer, de segundoturno para jovens, com a urbanização da favela do Sopapo e,finalmente, com o Espaço Solidário

Ao longo destes vinte e oito anos, o Centro esteve àfrente da organização de diversos seminários comunitáriosem Mãe Luiza. Os vários seminários discutiram a infância, asaúde, a adolescência, a mobilização política e odesenvolvimento do bairro. Cada vez que um seminário eraorganizado, uma nova atividade do Centro surgia.

Dizia o Pe. Sabino que o Centro deveria cumprir amissão e ser a instituição meio, através da qual a credibilidadeda Igreja Católica poderia ser oferecida à comunidade paralevantar os caídos e ser fermento para a organização do povo;um espaço instituído para ajudar a resolver os problemas dacomunidade.

A história do Centro continua e, atualmente, na gestãodo Pe. Robério, temos novos desafios. O espírito de ação etrabalho, entretanto, continua o mesmo. Hoje comemoramosos 10 anos do Espaço Solidário e, logo, logo,comemoraremos a concretização do Ginásio Poliesportivo daEscola Dinarte Mariz, que trará mais espaços de esporte,lazer e cultura para a comunidade.

O Centro Sócio-Pastoral continua presente nacomunidade e vai onde há maiores necessidades.

Celebrar a vida

Dez anos de solidariedade contínua.Cada minuto preenchido do mesmo conteúdo:solidariedade. É verdade. No Espaço que oPadre Sabino idealizou e viabilizou em MãeLuiza, para responder às necessidades dosidosos, existe algo diferente. Não se trataapenas de mais uma casa de longapermanência, nem tão pouco um abrigo paraidosos. É um espaço para a vivência daSolidariedade. É um verdadeiro espaço deconvivência. Lá, o cuidador também écuidado. Tudo é celebração, porque a vida évivida com muita intensidade. Seguindo ametodologia da participação, os moradoressão parte ativa, grandes colaboradores; tudoé resolvido na famosa roda de conversa,quando a vida é partilhada e respeitada.Dignidade acima de tudo, gerando qualidade,e tudo isso al imentado pela forçatransformadora do Evangelho, que é o amor.Por isso, nestes dez anos de existência,celebramos a vida, na sua maturidadecarregada de experiências enriquecidas napartilha, descarregadas nas lembranças;celebramos a vida não como um peso, mascom muita intensidade, alimentada pelaalegria da vitória cotidiana. Parabéns, PadreSabino, pela bonita atitude de amar o próximo;esta festa chega ao céu e daqui escutamossua gargalhada de satisfação; escutamosvocê dizer não mais: “tá compreendendo?”mas, vocês compreenderam. Parabéns atodos os que fazem O ESPAÇO; àadministração, aos funcionários, voluntários,moradores e diaristas por mostrarem a belezada convivência na diversidade. Não bastadeixar a vida me levar. Tenho que viver e nãoter a vergonha de ser feliz.

APRESENTAÇÃO

Centro Sócio

Dedicatória

Ao padre Sabino ,pela eterna presença.

Aos idosos, pela vivênciacompartilhada.

(In Memorian)

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Assim se passaram

dez anos| Ion de Andrade

projeto foi montado para en-frentar os níveis muito elevadosde mortalidade infantil no bairro,da ordem de 60 por mil.

No projeto, um grupo de 10visitadoras de saúde visitavatodas as gestantes e criançascom menos de um ano, comvisitas temáticas mensais. Elasdiscutiam com as mães sobrealeitamento materno, diarreias ere id ra tação , pneumon ias ,vacinas, alimentação no primeiroano de vida, dentre outras e se

Projeto Amigos da Comunidade

“O Projeto Amigosda Comunidade,

reduziu o nível demortalidade infantil,que era na ordem de

60 por mil para 10por mil”

agentes comunitários de saúde foi implantado nobairro, o que representou, embora não com osmesmos métodos, uma responsabilização do poderpúblico pela atenção à saúde neste nível.

A análise dos fatos e o diálogo com a

dentre outras e se tornavam referência para asmães no que toca às questões de orientação àsaúde.

No grupo, tínhamos reuniões semanais paradiscutir cada caso mais preocupante e pensar em

diarréias, que correspondiam àépoca a praticamente metade dosóbitos, seguidos das pneumonias.

Ao longo dos dez anos defuncionamento do projeto,assistimos a uma reduçãoprogressiva dos problemasrelacionados à saúde materno-infantil e, simultaneamente,f o m o s a c o m p a n h a n d o ocrescimento dos problemas naárea da saúde dos idosos. Poresta época, o programa deagentes comunitários de saúde foi

CAPA: Espaço Solidário

As ações na área da saúde do Centro SócioPastoral se iniciaram de maneira maissistematizada com o Projeto Amigos da

Comunidade, no início dos anos 90. Este montado

pensar em saídas possíveis. A partir do projeto, amortalidade no bairro passou a cair, alcançandonúmeros que passaram a girar entre 10 e 14 por mil.O principal grupo de causas reduzido foi o das

Não me pergunte pela minha idade, porque tenho todas as idades. Eu tenhoa idade da infância, da adolescência, da maturidade e da velhice”.

Cora Coralina.

ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

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Dr. Ion Andrade é pediatra esanitarista por vocação, geriatrapor destino. Acompanha asatividades do Centro há mais devinte anos.

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comunidade foi demonstrando à equipe a necessidade demudarmos o foco e de termos uma ação focada na atenção aoidoso. O envelhecimento da população em Mãe Luiza foirevelando problemas diversos como solidão, ausência defamílias ou de relações sociais e afetivas e até mesmo caos deexploração e violência contra idosos.

Refletindo sobre a situação dosidosos em nossa comunidade, nósvisitadoras que trabalha-mos

hoje no Espaço Solidário, con-cluimos: amaioria dos idosos morava em casa eeram bem cuidados, mas tínhamos queter um olhar para os que estavam emdificuldades.

Passamos a visitar os idosos emsituação de risco. Começamos a escutá-los e prestar atenção a cada situação.

Alguns idosos se queixavam deque, quando se ficava velho, não se tinhamais nem ouvidos nem voz. Outrosmoravam sozinhos. Muitos tinham quecuidar de netos sem a menor condição defazê-lo.

Nós começamos a nos tornarconfidentes, ouvindo queixas e lamentos.Muitos idosos reclamavam que ninguémconversava com eles. Um senhor chegoua perguntar: “será que idoso écontagioso?”

Observamos que alguns idosospassavam a dormir na sala ou no corredorpara deixar o espaço para filhos ou netos.

Passamos também a escutar asfamílias. Muitas com preocupações pornão poder dar toda atenção ao idoso.Outras com mágoas de um passado derelações difíceis. Uma visitadora lembraque a filha de uma idosa perguntou: “Sóporque mãe tem cabelos brancos quetenho que esquecer o que me fezpassar?!”

Nessa convivência de partilha eaconselhamento, foi preciso, em algunsmomentos, tomar medidas, colocaralguns idosos em Instituição fora de MãeLuiza, sabendo que isso representavauma ruptura e um distanciamento da terraque eles tinham conquistado a duraspenas.

Foi por essas problemáticas que,aos poucos, o sonho foi nascendo! MãeLuiza precisava de um espaço quepudesse acolher o seu idoso, um espaçoque pudesse ajudar a fortalecer relações.

Este conjuntode coisas foi o motorda criação do Espa-ço Solidário, e amaioria das visitado-ras de saúde do pro-j e t o A m i g o s d aC o m u n i d a d e f o iincorporada à novainiciativa do Centro,que antecipou, nalei tura sobre osproblemas de MãeLuiza, a necessida-de de cuidados paraos nossos idosos.

| VISITADORAS: Elizabeth Sousa,

Joseane Gomes, Nailda Ferreira,

Simone Kelly Gomes

Francisca Darc de Assis,

Marli do Nascimento e

O encontro comidosos e famíliasem dificuldade

ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

Page 8: Revista Espaço em Ação

CAPA: Espaço Solidário

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| Loyse de Andrade

3,1% da população. Em 1995, o númerosubiu para 4,9% e hoje chega a 10,4 %.Os cálculos indicam que até 2050, 30 %das pessoas no país terão 60 anos oumais. Proporção quase 3 vezes maiorque a dos dias de hoje.

Em Mãe Luiza, a realidade não édiferente. Em 2000, as pessoas a cimade 60 anos representava 6,9% da popu-lação (1117 idosos). A média na época,era bem inferior a média nacional, pro-vavelmente devido à situação de exclu-são social sofrida pelos moradores dobairro. Hoje a situação mudou. Os da-dos do IBGE 2010 apontam para uma

dos do IBGE 2010 apontam para uma média acima da médianacional. Os idosos do bairro representam 10,8% da população(1622 idosos). Esses novos dados revelam a permanência dosidosos na comunidade e aponta para um exílio dos mais jovens.

A expectativa de vida no país aumentou e passou de 70 anosem 1999 a uma média de 73,1de vida no país aumentou e passou de70 anos em 1999 a uma média de 73,1 anos em 2009. As mulherestêm quase 10 anos a mais de mulheres têm quase 10 anos a mais deesperança de vida que os homens (elas vivem em media até 77anos, enquanto eles, até 69,4 anos).

O Brasil avançou muito nas políticas públicas voltadas para asquestões da velhice, porém ainda há muito a fazer. O Estatuto doIdoso, Título I, Artigo 3, afirma:

Sabemos também quantas famílias são vulneráveis eprivadas de direitos. Compartilhamos com as famílias e os idosos asalegrias da convivência e as angústias que o envelhecimento podeprovocar numa estrutura familiar já fragilizada.

Sabemos que, hoje, menos de 1% da população de idososmora em Instituição de Longa Permanência.

É obrigação da família, dacomunidade, da sociedade e do poder publico assegurar ao idosocom absoluta prioridade, a efetivação do direito a vida, à saúde, àalimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho,à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivênciafamiliar e comunitária.

ciona nas modalidades deInstituição de Longa Per-manência, Centro Dia eCentro de Convivência. Eleacolhe, hoje, 24 idososmoradores, 15 a 20 idososque passam o dia, de se-gunda a sexta, e mais umamédia de 30 idosos quefrequentam a casa paraparticipar de atividades es-pecíficas. Entre eles, 12%têm menos de 60 anos,30% têm entre 60 e 70anos, 32% entre 71 e 80anos e 26% têm acima de

Espaço Solidário

10 anosde muita história!

2001 - 2011

Espaço Solidário

10 anosde muita história!

Os cuidados ecarinhos inspiram

segurança; a inserçãonas tarefas

domésticas favorece asensação de

pertencimento

80 anos.Hoje contamos com uma

equipe de trabalho de 27 pessoas,cuja maioria consta de moradoresdo bairro.

O idoso que freqüenta diáriaou ocasionalmente o EspaçoSolidário busca ampliar os seusespaços de convivência. Oscuidados e carinhos inspiramsegurança; a inserção nas tarefasdomésticas favorece a sensaçãode pertencimento; as reuniões epasseios semanais incentivam aparticipação e a cidadania; a fisio-terapia, terapia ocupacional, pis-cina, massagem e cuidadosindividuais fortalecem a auto esti-ma; o acompanhamento à saúdeprevine e ajuda a viver com digni-dade; as festas e encontros inte-gram; as missas e celebraçõesconfortam.

O Espaço Solidário foi seconstruindo na urgênciade dar uma resposta aos

idosos da comunidade. Elepretende proporcionar qualidadede vida, assegurando direitos,q u e r s e r u m e s p a ç o d eaprendizagem permanente dereflexão sobre questões doenvelhecimento e aspira a ser umelo entre idosos, familiares,comun idade e soc iedade.

Desde 2001, o centro fun-

ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

No Brasil, como no mundo, a população idosa vemcrescendo. Nos anos 70, segundo o IBGE (Instituto Brasileirode Geografia e Estatística ela correspondia a

Page 9: Revista Espaço em Ação

Os conceitos de velhiceque permeiam o Espaço Solidário

O Espaço Solidário estásempre buscando com-preender melhor essa

etapa da vida que é a velhice. Emreunião, tentamos refletir sobre anossa relação com a velhice.

Lembramos do PadreSabino que nos dizia quetrabalhávamos antes de tudo,com pessoas, com gente cujatrajetória de vida os fez chegar àvelhice. Trabalhamos comcidadãos de direitos.

O nosso trabalho visa aobem estar do idoso, queremosque ele possa continuar no quegosta e no que quer na medida dopossível.

A equipe se coloca comosensível às necessidades doidoso, tentando atender suasdemandas numa troca derelações (pensar o idoso comosujeito). O nosso trabalho estátodo voltado para que o idosopossa ter uma vida digna e plena.

As dificuldades que en-contramos ao lidar com a velhiceé, às vezes, o descompasso queexiste entre os desejos de inde-pendência e as possibilidadesreais que têm certos idosos. Fa-toque faz com que os cuidadossejam interpretados comoimposição ou autoritarismo.

Observou-se que por seruma fase perto do fim da vida, avelhice nos remete à morte e

Breve relato:

| Idosos e equipe

precisamos lidar com essesentimento.

Sentimos às vezes o desejode ver uma vida se terminar porter se tornada difícil e sofrida. Umdesejo que nos remete aosentimento de compaixão, dequerer saber o outro em paz.

10 anos de história permitefazer algumas consta-tações:

Moradores do EspaçoSolidário que vieram amargos,contando histórias de vida durase sofridas, passaram ao longo dotempo de convivência, a fazeruma leitura mais positiva, maisot imista do seu passado,relatando, aos poucos, também

otimista do seu passado,relatando, aos poucos, tambémas alegrias dos bons momentoslembrados.

Ao refletir sobre esse fato,pensamos que quando pessoastêm um espaço de carinho,acolhida e participação, quandose tornam confiantes e seguraspor se sentirem amparadas, elastêm maiores condições derepensar (reconstruir) o seu pas-sado de forma mais leve.

Pensando a própria velhice,os idosos acreditam que é umprivilégio ter se chegado a essaidade, mesmo se, às vezes,queriam poder voltar no tempo.Comentam sobre os aspectosdifíceis da velhice, como aslimitações e perdas de todaordem que chegam com maiorintensidade nessa fase.

Os idosos lembram oquanto as alegrias e o sofri-mentoda vida fizeram deles o que sãohoje. Relatam a impor-tância dasrelações de afeto e carinhocolocadas como indis-pensáveispara se viver bem.

Segundo toda equipe doEspaço Solidário: A velhice ésomente a continuação de umavida que durou, ela é a vida toda.É a vida inteira! Feita de expe-riências positivas e negativas quemuito ensinaram.

Observou-se que por seruma fase perto do fim da vida, avelhice nos remete à morte econstatamos o medo que certosidosos sentem, principalmente aoanoitecer. Percebemos tambémc o m o n ó s , c u i d a d o r e s ,precisamos lidar com esse

A velhice ésomente a

continuação deuma vida que

durou, ela é a vidatoda

07ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

Page 10: Revista Espaço em Ação

CAPA: Espaço Solidário

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Ao pensar os 10anos do EspaçoSolidário, casa

que ampara a velhice,imaginamos resgatar ascasas que abrigaramtoda a trajetória de vidados idosos.

Acabamos nosencantando com osrelatos dos idosos sobreas casas de suainfância. E foi ao longodas conversas quesurgiu a ideia de cons-truir um marco quepudesse fazer a ponteentre passado e pre-sente.

“(Re) construímosjuntos em mutirão a casada nossa infân-cia!”

Ela devia ser detaipa, com um teto depalha, porta e janela.

Muitos idosos vi-giaram a construção,alguns pisaram o barro!Discutimos o que nãopodia faltar na casa!

Aqui está ela! “Acasa da nossa infânciadentro da casa da nos-sa velhice! Símbolo denossa raiz e identida-de.”

Fecha –se o ciclo!

ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

Foto

:Luiz

Marinho

Page 11: Revista Espaço em Ação

para espairecer, mulheres e ho-mens enchiam seus cachimboscom fumo de rolo e aproveitavam oterreiro da casa (extensão da ca-sa em frente a porta, também dechão batido, que era varrido todosos dias com vassoura de garran-cho). Sentados em troncos demadeiras ou esteiras de palhas,davam muitas baforadas jogandoconversa fora. Em algumas tinhabancos ou tamboretes com umamesa num canto. Nas paredes,viam-se sempre retratos do casalou da família (tirados nas feiras) ede santos, como Padim Padre Cí-cero, São Francisco de Canindé, eo(a) padroeiro(a) da cidade, Cora-ção de Jesus e Coração de Maria.Todos enfeitados com bastantefitas de seda coloridas. Também sepodia ver um espelho para seadmirar o rosto logo após lavá-lo eantes de sair.

Nas salas das famílias demais posses, havia sempre umoratório repleto de santos (dadevoção dos donos da casa), on-de todos se reuniam para fazersuas orações e promessas mil.Tinha também um baú que guar-dava alguma louça de porcelana epanos bordados ou de renda. Tu-do herdado do passado saudosodessa família, para ser usado ape-nas em ocasiões especiais.

O quarto era o espaço paradescanso do casal e das crianças,quando pequenas, que, logo aocompletarem o quarto ano de ida-de, eram colocadas para dormir noquarto ao lado (quando tinha) ouna sala. Na maioria dos quartos

, alémdas redes, continham uma cama“da casa de nossa infância”

A

A

o observarmos os relatosdos idosos sobre

, concluímosque a maioria das casas dessaépoca era de taipa e cobertas compalhas de coqueiro ou telhas.Salvo algumas, cons-truídas maispróximas dos centros urbanos enas grandes fazendas, que eramde alvenaria e cobertas comtelhas. As casas de taipa erampequenas, divididas em três vãos,um quarto uma sala e umacozinha. E as maiores continhamno máximo quatro vãos. Uma sala,dois quartos (um do casal e outropara as crianças), uma cozi-nha.Finalizando a casa, um alpendrecoberto com palhas. O piso era dechão batido. A mobília se resumiaem bancos ou tambo-retes na sala.Quando possuíam camas, estaseram feitas de vara ou de madeira,e o colchão era de junco, geral-mente comprado nas feiras. Obanho era no rio ou cacimba, ondetambém se lavava toda a roupa dacasa.

Durante o dia, a iluminaçãodas casas ficava por conta do reiSol e à noite, esta era feita porlamparinas, candeeiros e ou lam-piões. Todos munidos de um paviofeito de algodão e abastecidoscom querosene.

sala era o espaço para sereceber as pessoas e fazeras refeições. Em algumas

“a casa denossa infância”

Os espaços, o mobiliário e suautilização

| Ednalva Paulocasas, as refeições eram feitasnuma mesa, com toda a famíliareunida, sentada em bancos,tamboretes. Já em outras, só ospais comiam à mesa e as criançascomiam no chão sobre uma esteirade palha de carnaúba. Todos es-peravam pelo pai para que a refei-ção fosse servida. Depois que to-dos rezavam, a mãe colocava acomida nos pratos, um por um, co-meçando pelo prato do pai.

Na sa la também setrabalhava. Sobre uma esteira de

palha de carnaúba. Todos espe-ravam pelo pai para que a refeiçãofosse servida. Depois que todosrezavam, a mãe colocava a comi-da nos pratos, um por um, come-çando pelo prato do pai.

Na sala também se trabalha-va. Sobre uma esteira de palha decarnaúba, a família reunida fazia detudo: debulhava o feijão e o milho, amãe consertava as roupas dafamília, trançava palha de car-naúba para fazer chapéu ou estei-ra e trocava os bilros para os bicose as rendas. E, nas horas vagas, as

para espairecer,mulheres e homens

enchiam seuscachimbos comfumo de rolo eaproveitavam o

terreiro da casa

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CAPA: Espaço Solidário

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¹Trancinha. Fio ou cordão delgado de ouro.²Alguidar: vasilha de barro ou metal, rasa, em forma de tronco ou cone invertido, muito usada em cerimônias religiosas de origem africana.

de vara ou madeira com um col-chão (feito de junco) e um penico debarro ou de ágata, debaixo da cama.Havia também um cabide de paredepara pendurar as rou-pas em uso euma mala grande ou um baú demadeira, para as roupas limpas ereservadas para as ocasiõesdistintas (feira, missa ou festa). Eem algumas casas, quando suasdonas eram mais vaidosas, o baúservia para guar-dar os enfeites ecuidados femini-nos, tais comobrincos, trancel im¹, pulseira(folheados a ouro, vindos doJuazeiro e Canindé), colar ediadema. E também vaselina Zezé,água de cheiro, baton, ruge e pó dearroz (tudo comprado na feira) parao embelezamento das patroas(como os homens se refe-riam assuas mulheres respei-tosamente) edas mocinhas.

O último vão da casa era acozinha e um reservado, uma es-pécie de despensa, munida de umjirau pendurado no teto para guar-dar a mistura (todo e qualquer tipode carnes). Nesta se achava o fo-gão, que quando não era no chão,feito com três pedras e uma trem-peem cima para por as panelas debarro, era feito em cima de um jirauonde podia se colocar até três bocascom trempes. Embaixo destesguardava-se a lenha para o usodiário.A lenha para abastecer o fogoera pega no mato. Os pais iam paraas matas, cortavam a lenha comfoice e transportavam-na em feixesobre a cabeça, em carroça ou nolombo dos burros (jegue), arrumadonos cambitos. Os mantimentosmenos perecíveis eram guardadosnum caixote amarrado com corda oucom peia de couro, e o cadeado eraum nó. A louça de barro ou de ágataera acomodada numa tábua grandedo lado oposto, um pouco acima dofogão, ao alcance da mão. E umpote com água limpa para beber ecozinhar, coberto com um pano desaco bem limpo.

Atrás das casas, tinhasempre uma latada (puxado coberto

saco bem limpo.Atrás das casas, tinha sem-pre

uma latada (puxado coberto compalhas de coqueiro, sobre duasforquilhas e três linhas) feita paraproteger o jirau de varas onde selavava toda a louça, numa bacia dealumínio ou aguidá² de barro. Umtorno (uma espécie de suporte demadeira enfiado na parede) parapendurar todo tipo de tralha (corda,arreios, cangalha...). A jarra comágua para lavar a louça da casa e ospés de todos, antes de dormir.

O banheiro – quando tinha –

era de palhas de coqueiro no meio doquintal. Em algumas casas, era uma

era uma peça única (um retângulo ouum quadrado também de chão deareia onde se colocava madeira ouentão algumas pedras que resolviamo problema); em outras, era divididoem duas partes. Uma para o banho,onde eram coloca-dos uma jarra eum caneco e, na outra, uma latrina(espécie de bojo sanitário feito debarro). Esta era a realidade dascasas mais urbanas. Nas casas doin te r i o r, p r i nc ipa l -men te asribeirinhas, o banho acon-tecia no rioou lagoa, onde também era lavadatoda a roupa da casa. E quando nãoexistia latrina, as necessidades eramfeitas no mato, durante o dia, e, ànoite, num pinico de barro ou ágatacujos dejetos se atiravam no mato,logo ao amanhe-cer ou num buraco a

cer ou num buraco a céu aberto,feito no fundo do quintal, prote-gidoapenas por alguns pedaços demadeira para a acomodação dequem precisasse usar.

Na maioria das casas, cos-tumavam criar um cachorro vira-lata, que era como da família. Esteajudava nas caçadas e tomavaconta da casa, dando conta dequem chegava ou saía. Geralmen-te, tinham nomes de peixes(Tubarão, Tainha, Baleia), salvoapenas Duke para os machos eTuninha para as fêmeas.

pouco se brincava. Nestas asbrincadeiras aconteciam junto comas obrigações. No roçado, ajudandoo pai no cuidado da la-voura, namata, juntando a lenha para fazer osfeixes, no rio ou ca-cimba,buscando água para abas-tecer ospotes e jarras da casa. Dormia-se eacordava-se cedo, daí não se tinhatempo para brin-cadeiras. Salvoquando se ia a alguma quermesseou para um grupo escolar da cidadeem que se morava (o que só algunspuderam frequentar).

ara finalizar, lembraram-sedo cheiro

. Cheirava a barromolhado no inverno, quando chovia;a flor de Benedita, maracu-já ejasmim na primavera; a chá dealecrim, capim santo, louro e ci-dreira no outono; a mangaba,maçaranduba, canjarana, araçá,manga, goiti, jaca e cambuí no ve-rão; a mingau de araruta, ave dearribação, nambu e piaba assada nabrasa, galinha caipira torrada napanela de barro, feijão verde commaxixe e coentro cozido na água eno sal, café torrado no caco, cocadae bala de coco em todas asestações...

“Na casa de nossa infância”

“da casa de nossainfância”

O cheiro da nossa infância

P

Cheirava a barromolhado no inverno,quando chovia; a flor

de Benedita,maracujá e jasmim

na primavera

As casas que habitam nossas lembranças e corações

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11ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

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CAPA: Espaço Solidário

| relato da equipe

Nós, da equipe do EspaçoSolidário, refletimos, emreuniões, sobre o legado

dos idosos para a nossa forma-çãohumana.

Alguns falam da admiraçãoque sentem por certos idososquando observam a vontade queeles têm de viver. Às vezes, mes-mo muito debilitados, curtem mo-mentos como um banho, umsimples pentear de cabelo, umcheiro de comida, uma demons-tração de carinho, superando as-sim limitações.

Outros falam da agressi-vidade de certos idosos, forma deexpressão que motivou a equipe aaprender a interagir sem medo ecom respeito.

Temos certa satisfação aover idosos que não aceitam tudo erevidam quando se sentem agre-didos. Gostamos de ver idososbuscando ao máximo sua inde-pendência, mesmo com importan-tes dificuldades visuais.

Gostamos de ver idosas quedividem com outros o que têm demelhor (poesia, cordel, canto,receita, mas também carinho,preocupação, cuidado...)

A relação com os idosos dacasa é tão intensa que há momen-tos em que não sabemos se so-mos nós que cuidamos deles ou sesão eles que cuidam de nós.

Quando temos dificuldadesem lidar com um idoso, tentamostransformar a experiência negati-va em aprendizagem.

Muito se poderia dizer so-breo que aprendemos com os ido-sos.Todos nós colocamos que

sos. Todos nós colocamos queaprendemos a enfrentar e lutarpela vida com toda sua dificulda-de. Que não devemos nos abater eque, mesmo com toda a adver-sidade, temos que compartilhar oque temos de bom com as outraspessoas. Aprendemos a ter maispaciência com as debilidades dosoutros, a ter mais paciênciaconosco também.

A nossa convivência com osidosos alargou nossa percepçãoda vida, aprendemos a nos alegrarmais.

Somos muito gratos a cadaum dos idosos pela contribuição anossa formação humana.

Nossos desafios

Os desafios são muitos, poismanter a Casa na direçãoque pretendemos, exige

dedicação permanente.O Espaço Solidário, com

seus inúmeros atores (equipe,idosos, colaboradores variados,comunidade, etc.), vive em relaçãopermanente com a diversidadehumana em todos os seusespaços. Nós não queremossomente aprender a tolerância erespeitar as diferenças, queremos:

Incorporar as diferenças,fazer delas novas possibilidadespara que possamos crescer nadivers idade, po is segundoTaramarca (2005), é somente nadiversidade que se constrói anossa humanidade!

12 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

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VELHICE EM VERSOS

14

PoemasO Dia do Idoso

Como é boa a nossa velhiceNa nossa terceira idadeDepois de coroa achadaCom essa vida avançadaPara nós elas fazem festaFoi embora todo estresseNós sentimos mais segurançaPra chegar lá não tem pressa

Como foi bom este estatutoO idoso vive melhorFrancisca já fez 80É uma tataravóGosta de viajar sóÉ lúcida que admiraDá inveja pra famíliaComo é forte a minha avó

Viva nós da terceira idadeViva quem criou esse diaViva a nós de Mãe LuizaVivendo com alegriaViva nossa superioraMuita paz pra elas todasDeus anda em nossa guiaSerá que somos vencedoras?

| Mª de Lourdes C. da SilvaUma mãe macho

Peço ao Espírito SantoEle me dá guia e luzCom a força de JesusAjudar no meu trabalhoO bem eu procuro e achoOs filhos pra mãe é tudoSó penso no seu futuroPorque sou uma mãe macho

Onze filhos pra criarPelo o pai abandonadosA mãe estava presenteVivendo sempre ao seu ladoAs vezes eu falava altoEra o meu desabafoExausta e com sofrimentoSempre sendo uma mãe macho

Eu faço o que estou dizendoE digo o que estou fazendoFilho tu siga meus passosSempre o que prometo eu façoDigo a Deus muito abrigadoNós nunca passamos fomeTambém nunca fomos erradoPorque sou uma mãe macho

Ô meu Deus muito obrigadoPor tudo que tens nos dadoPor Jesus fomos criadoOs filhos podem entenderE toda hora agradecerA Lourdes que estava ao ladoO melhor que eles merecemPorque tem uma mãe macho

| Mª de Lourdes C. da SilvaUm lugar bom de viver

O Espaço SolidárioSe encontra em Mãe LuizaFundado em 2001Para abrigar nossa bisa

Lá vivem muitos idososPorém alguns não moram láAlguns passam o diaE sua família vão lhes buscar

O ambiente é muito ricoFresco e arejadoPois de naturezaEle está rodeado

Sua comida é variadaPeixe, frango ou carneassadaFeita com carinhoPelas pessoas da casa

Um lugar bom de viverE também de se morarOs idosos passam boa partedo tempoNo pátio a descansar

| ALUNOS DA CASA CRESCER

Jonathan Cardoso Ferreira, 13 anosSayonara Gomes da Silva, 14 anos

Giovanna Michele Santos, 13 anos

Um lindo cantinho

Nos dias de hojeOs idosos têm que merecerUm lindo cantinhoPara se fortalecer

Esse cantinho tem coisasPara se admirarPiscina e um jardimE amigos a encantar

Os idosos à esperaDe amigos, familiarNo pátio do EspaçoA conversar e descansar

Essa imagemNos chamou muita atençãoAo irmos visitarEssa instituição

Chama-se Espaço SolidárioEsse grande coraçãoUm cantinho especialNa nossa memória e na doancião.

| ALUNOS DA CASA CRESCER

Leandro José do Nascimento, 14 anosMarcel Mendes, 14 anosThiago Alexandre, 15 anos

Francisco Bartolomeu Lopes, 14 anos

Com a Altura da Idade a Casa se Acrescenta| Fernando Echevarría, in “Figuras”

Com a altura da idade a casa se acrescenta.Não é que aumente a quantidade ao espaço.Mas, sendo mais longínquos, o desapego pensamaior distância quando se fica a olhá-lo.Ou, se quiserem, uma realezase instala à volta dessa altura de anos,de forma a que os objectos apareçamna luz de quase já nem os amarmos.Então a casa distende-se na intensainteligência de estarmosa ver as coisas amarem-se a si mesmas.Ou com a forma a difundir seu espaço.

FOTO: http://www.babelmatrix.org/works/hu/Echevarr%C3%ADa,_Fernando

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Alice de nossas vidas

Cordel| Wilson Palá

Em mil novecentos e trintaAlice Palá nasceu.Eram 04 de agostoQuanto o fato aconteceu.Nas terras de GoianinhaEssa menina cresceu.

Uma criança sapeca,Resolvida e animadaFalava com todo mundo,Não tinha medo de nadaE quando moça, mostravaQue era determinada.

De exemplo, vou contar:Quando sua mãe, Chiquinha,Sentiu falta de um peruSó duvidou da vizinhaMas não podia provarA certeza ela não tinha.

Quando que D. AliceCom a sua espertezaFoi procurar no lixoPara provar com certezaQue a comadre vizinhaEstava com safadeza.

A marinha brasileiraNão gostou do visualRemanejou as famíliasDo habitat naturalVindo pra Mãe LuizaComo destino final.

Alice comprou uma casaCom a indenização.Da beira do mar saiuNão por sua decisão.E veio subir o morroPra completar a missão.

A entrada em Mãe LuizaFoi um tanto triunfalParecia comitivaDe um dia especialTreze filhos era o legadoDaquele jovem casal.

No bairro de Mãe LuizaWilton, porém chegouFechando a procriaçãoDaquela mãe que gerouCatorze filhos legítimosOnde só um não vingou.

Zé Bernardo e AliceCom muita simplicidadeAjudaram a construirPartes da sociedadeCom 82 parentesCom suas diversidades.

Nasceram 14 filhos,33 netos geraram28 os bisnetosLogo se apresentaramE 07 tataranetosAs gerações completaram.

Alice determinouAté as forças perderE a cada um que gerouNunca deixou de atenderAté o último diaQue veio a falecer.

Em 21 de agostoDesse ano correnteD. Alice desencarnaFrágil mas conscienteDizendo no seu olharQue sempre estará presente.

A comadre não sabiaUm detalhe importante:O danado do peruMancava a todo instanteE a sua perna tortaEra a prova relevante.

A perna do tal peruJá estava enterradaMisturada com as penasNum buraco na estrada.Alice, porém provouQue a comadre foi a ladra.

E da sua espertezaZé Bernardo já sabiaPois vivia a visitá-laNo local de moradiaSendo o Zé bonitinhoSeu companheiro e guia.

Zé Bonitinho ficouPor Alice apaixonado.Quando ia visitá-laLevava José de ladoE o coração de AlicePor José foi despertado.

Começando a nova vida.Com poucos bens e recursosE só a certeza da idaPra uma nova geraçãoAinda não concebida.

Os primeiros nove filhosNasceram em Goianinha:Severino, Lourdes e Neco,Dorinha, Cacau e Sinha,Lindalva, Lúcia e PetaFormavam a primeira linha.

No ano sessenta e cincoO destino era Natal.Foram quase retirantesEm busca da capitalPara melhorar de vidaComo meta principal.

Zé Bernardo vem na frentePro trabalho garantir.A família ficou láSem como poder partir.Alice bem decididaA solução foi provir.

Casaram em quarenta e nove

No exercito brasileiroProcurou o capitãoPedindo-lhe sem rodeioA ordem de permissãoPara poder se mudarUsando o caminhão.

E no dia combinadoE como foi prometidoA gurizada embarcouPro destino decididoSabendo que em NatalNada estava garantido.

Na praia de areia pretaChegou a família inteiraConstruíram um casebreEm uma vila praieiraFeito de vara e barroE pedaços de madeira.

E bem na praia do pintoErgueram o novo larZé Bernardo já estavaNo instituto a trabalharAjudando o pedreiroErguer o museu do mar.

Alice dentro de casaCuidava dos seus rebentos:Em primeiro a saúde;Segundo o alimentoEm seguida ela insistiaBuscar o conhecimento.

Nessa rotina diáriaTentavam sobreviver.A família ia crescendoCom vontade de viver.No bairro de Areia Preta04 filhos iam crescer.

Veio Manoel MariaChamado de Severino.Logo depois vem AntonioFuçando o seu destinoE Betinha apareceCom o lado feminino.

Inda da praia do pintoWilson vem encarnarFoi o último a nascerNaquele belo lugarDe dunas altas e brancasEntre a mata e o mar.

ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

Alice Palá de Souza04/08/1930 - 21/08/2011

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FATOS E FOTOS

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RASTROS DE CONVIVÊNCIA

Conhecendo o Parque da Cidade

Na praia da Redinha “velha”

Visita ao Parque das Dunas

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17ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

Reunião semanal no Espaço Solidário

Iate Clube Natal

Apreciando a vista no Norte Shopping

RASTROS DE CONVIVÊNCIA

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FATOS E FOTOS

RASTROS DE CONVIVÊNCIA

Vista do Iate Clube

Passeio em Ponta Negra

Aquário de Natal em Santa Rita

18 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

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19ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

RASTROS DE CONVIVÊNCIA

Pôr-do-sol na Pedra do Rosário

Mirante da Redinha

Entardecer no Potengi

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GENTE DO ESPAÇO

Parafraseando o quadro de entrevistas presente no jornal Fala Mãe Luiza,periódico de responsabilidade do Centro Sócio que também compartilhou com a comunidadeesses 10 anos de Espaço Solidário, apresentamos o Gente do Espaço. Emprestamos do Faladuas entrevistas, uma de Maria da Conceição Varela, já falecida, e outra de Jovelina da Silva,80. Ambas moradoras do centro de convivência compartilharam conosco suas experiênciasde vida e vivência comunitária.

Gente do Morro,

lá bem mocinha... Sempre gostei muito decriança. Quando morei no Rio de Janeirotrabalhei numa creche uns nove meses e lá meperguntaram. – Você prefere cuidar de nênia oumenino? Aí eu respondi: – O que vier eu tomoconta! Afreira chefe riu e disse: –Ah! Você é dasterras de Lampião, por isso é tão valente! É...quem chegava lá no sul, vindo do Norte erachamado assim. Perdi minha mãe cedo, eu nãome lembro dela, sei que chamava-se Joana emorreu de parto no 25º filho. Eu sou uma dasderradeiras e fui criada por 3 gênios, primeiropelo irmão mais velho, Severino, bebia e batiana gente, depois por Pedro (irmão) e por últimopor Chico que era Cabo da Polícia.Nunca fui à escola e as rimas que sei foi meuirmão Pedro que lia pra mim e eu decorei. Eleaprendeu a ler com mamãe.

Deus é tudo, é meu pai, é tudo... Umaocasião estava numa casa de pessoas crentesfazendo aquela ladainha. Eles me cercaram pratentar me converter e aceitar Jesus, ai eu dissebem atrevida, empurrando eles... – Chega pralá, eu estou aqui porque Jesus consentiu que euviesse, se ele não quisesse eu não existia!

De uns tempos pra cá tudo mudou, asmeninas hoje crescem mais rápido e é tudo commenino nos braços logo cedo. Acho que abagunça nas ruas é maior, tem muita gentefazendo besteira a noite na rua. Mas o povo hoje

Deus

Os dias atuais

MVC:

MVC:

com menino nos braços logo cedo. Acho que abagunça nas ruas é maior, tem muita gentefazendo besteira a noite na rua. Mas o povohoje é mais sabido.

É ter confiança em Deus e trabalhar quea gente vence. Hoje é tudo mais fácil. Quandoeu era criança a gente tinha que plantar earrancar batata, milho, arroz e feijão na roça, ea gente via onça pintada bem pertinho...naquele tempo não tinha nem energia elétrica.Uma vez estava com meus irmãos assandocastanha e brincando no mato, aí o fogo tomouconta de um canavial, saímos correndoaperreados e um dos irmãos nem foi pra casa,fugiu com medo de apanhar. O dono das canasfoi lá em casa reclamar a papai, que lherespondeu: - Agora já queimou, o senhormanda cortar e levar pra o engenho e taresolvido. Dessa vez a gente não apanhou.Mas eu sempre fui muito medonha.

“Me distraio assim, contando história,passo mais o tempo. Sou aposentada, nãofaço quase nada... mas já trabalhei muito emcasa de gente grande, como osAlves, Marinhoe Farache... mas hoje eles nem dão conta dagente.”

Futuro

MVC:

D. Nenê passa a maior parte do temposentada. Segundo ela sua maior distraçãoatualmente é contar histórias.

MVC:

Já sabe o dia, não é?” É a respostaque dona Nenê tem pra quem deseja sabersuas origens. ,conhecida como Nenê desde criança, tem 82anos. Ela nasceu em Pedro Velho-RN, masmorou em Várzea e Nova Cruz, também naregiãoAgreste.Apesar de muita lucidez, ela não tem certezade quando veio morar em Mãe Luíza, contaque morou na Rua Oeste, no Alecrim e deacordo com as contas, faz mais de 30 anosque está em Mãe Luiza, na casa que dividecom o sobrinho Eduardo – 38 anos, o qualcuida desde os quatro meses de idade.Com muito bom humor ela cativa todos que avisitam contando suas histórias da juventudejunto aos irmãos e nas casas onde trabalhou.Além dos serviços domésticos fazia mandado,levava encomendas. ”Eu gostava de sair,andava ligeiro, num instante eu ia e voltava.”Há cerca de um ano, depois de sofrer umaqueda D. Nenê sente dificuldades para andar,porque uma perna ainda dói muito, masmovimenta-se dentro de casa com a ajuda dealguém.

Ah! Tem tantas... mas vou contarumas... Eu trabalhei 16 anos na casa de umafamília muito conhecida aqui, os Farache.Cheguei lá pra ser babá, depois a cozinheirafoi embora, ai eu fiquei cozinhando. Cheguei lábem mocinha... Sempre gostei muito decriança. Quando morei no Rio de Janeirotrabalhei numa creche uns nove meses e lá me

Eu nasci na era 18 no dia de NossaSenhora.

Maria da Conceição Varela

MCV:

As histórias

20 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

Conceição Varela

Page 23: Revista Espaço em Ação

Jovelina Severiano da Silva

Chegada

Luta e resistência

, 77,

conhe-cida na comunidade como “Maria

Bala-bá”, moradora do Espaço Solidário,

fala sobre a sua caminhada no processo

de construção do bairro.

“Eu vim da minha terra (Picuí/PB) pra cáem 1942, só tinha mato e dois barracosde palha. Na época não tinha posto desaúde, escola, energia elétrica e nemágua encanada. As casas eram muitodistantes, era só a mata virgem. A casaque eu morei onde hoje é a Atalaia é acasa de “Galego” que foi amigo do meumarido”.“Luiza era a moradora mais velha, elacriava cabra e morava perto da Cacimbado Pinto, fazia os partos das mulheres daépoca. Era uma pessoa muito boa, porisso aqui se chama Mãe Luiza”.

“A maior dificuldade sempre foiconseguir água. Nós íamos até aCacimba do Pinto na praia para buscarágua doce. Eu vinha com duas latas de

Cacimba do Pinto na praia para buscarágua doce. Eu vinha com duas latas deágua no lombo ou trazia nos barris emcima de um burro, ficávamos lá até asdez horas da noite. Quando chegavaem casa bebia, dava ao burrinho,tomávamos banho e então, botava oanimal para dormir”.“Eu vendia água para o povo que viviamorrendo de sede. Uma carga de águavalia dois mirreis, e não era só eu quevendia não, tinha outras pessoas que jámorreram como Galego, Geraldo eMiguel. Vendia muita água, e foi comesse dinheiro que eu fiz uma casinha.Também tinha seu Zé Verdureiro queainda está vivo, o povo chamava eleassim porque ele vendia verdura”.“Quando alguém adoecia ia para oHospital dos Pescadores na Ribeira, látambém pegávamos o remédio, se nãotivesse a gente usava remédio caseiro.Eu sei fazer remédio caseiro. Durante anoite era tudo escuro, não tinha luzelétrica. Na época não tinha segurançanem soldado, mas tinha o juizado demenores que vinha pegar as criançasque ficavam pela rua”.

Melhorias

Melhorias

“Depois de muito tempo, quando jáhavia chegado muita gente por aqui,colocaram uma caixa d'água e maistarde a luz elétrica. Então, começou amelhorar por que foram botandoescola, igreja e o posto. Não tem um péde castanholas perto do posto daGuanabara? Fui eu que plantei”.“Hoje apesar de ter muita gente quenão presta, Mãe Luiza é bom e melhordo que antes. Eu tenho um filho enetos, quero que eles trabalhem e tododia encomendo eles a Deus”.

BATE-BOLA

AMOR:Casamento

ALEGRIA:Trabalhar

PASSADO:Viagem a Brasília

CONQUISTA:Ser conhecida no bairro

PRESENTE:É bom

TRISTEZA:A morte de minha irmã

CANTINHO BOM:Espaço Solidário

21ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

JovelinaSeveriano

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VISÕES SOBRE O ESPAÇO

Refletir sobre a velhice junto com as crianças e adolescentes da Casa Crescer e da EscolaEspaço Livre, está sendo um transpor de estereótipos, um quebrar de paradigmasconstruídos por nossa sociedade altamente focada na ilusão da juventude eterna.

Promover esse debate e troca de experiências, contribuirá sem dúvidas para a construção de umnovo olhar e percepção por parte dessa geração que já percebemos mais aberta ao diferente.

Ao longo desses dez anos de Espaço Solidário, vários foram os momentos em que asescolas se fizeram presentes no convívio dos idosos. Seja em saraus preparados especialmentepelas crianças com mamulengos, poesias e músicas, apresentados no pátio do Espaço Solidário,ou em visitas dos próprios idosos a Casa durante os festejos juninos, aberturas das olimpíadas emostras culturais, esse relacionamento se estreita e fortalece laços.

Transformar conceitos, repensar, não é algo fácil. Em certa discussão, percebemos que aidéia de um abrigo de idosos ainda assusta muitos dos nossos jovens. Para alguns, esses locaisseriam espaços de abandono, lugar de morte e esquecimento. Contudo, após uma longa visita asdependências do Espaço Solidário e conhecimento de sua rotina, várias percepções mudaram.

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Descortinando a Convivência| Luiz Marinho Júnior

“Deixa de manha de noite e de dia, toda criança diz que tudo é seuHei, menino! Hei, menina! Larga disso, lagartixaQue nessa ciranda o mundo inteiro é meu, é seu, é meu, é seu...”

Palavra cantada

“Gostei de conhecer o Espaço Solidário.limpo, agradável e bem organizado. Quero morar láquando for idoso. É um lugar de paz e muito amor”.Carlos Eduardo Bezerra, 13, aluno da CasaCrescer.

Para a Casa Crescer e Escola Espaço Livre,não basta discutir ou visualizar o idoso como algodistante da realidade jovem. É preciso oportunizaresse encontro. Promover as sensações visuais,táteis e auditivas. Descortinar uma convivência quese faz necessária. Afinal, os índices mostrados peloIBGE demonstram que a população idosa no Brasilsó aumenta, e em Mãe Luiza não é diferente.Aprender a encarar a velhice, na atualidade, comoparte constituinte de um ciclo de vida deve ser algonatural e dialético.

Ter feito parte desses 10 anos de EspaçoSolidário nos deixa muito orgulhosos, pois sentimosfazer parte dessa grande construção humanadesenvolvida pelo Centro Sócio em busca de umacomunidade mais digna e igualitária em todos ossentidos.

Ilustração produzida por Ivo Gabriel, 6, alunoda Escola Espaço Livre.

ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

Page 25: Revista Espaço em Ação

ESPAÇO & CIA

23

Nossa equipe é uma turma dedicada e comprometida que ao longo dos anos vêmcrescendo e se aperfeiçoando. Participou ativamente da construção do EspaçoSolidário, refletindo e repensando suas práticas, procurando se apropriar

melhor das questões do envelhecimento. Um grupo que busca superar suas limitaçõesno cotidiano e sem o qual não seria possível uma comemoração tão bonita esignificativa. Lembramos das famílias que apóiam, questionam e se fazempresente nos cuidados com os idosos. Pensamos com carinho em seu Martins(Marcos Antonio Martins) que há anos trabalha como voluntário consertando quaseque semanalmente nossas “cansadas” máquinas de lavar, em dona Dadá (Idalina Leiteda Silva) e dona Hilda (Hilda C. da Silva) costureiras da comunidade que ajustam,costuram e transformam as roupas dos idosos e em Neide (Edneide Batista de Lima)que confecciona os bolos (diet e ligth) deliciosos e lindos das nossas festas.

Não podemos esquecer Iracy Garcia, que durante vários anos cuidou dasidosas da comunidade com exercícios e alongamento, de Iara Lopes que alegrava asnossas reuniões semanais e da profª Maria do Socorro Nunes que promove até hojeensaios para embelezar nossas festas

Como seria o Espaço Solidário sem os nossos médicos que nosacompanham há tanto tempo: Dr. Ion Andrade, Dr. Francisco de Assis, Dra FátimaJorge, Dr. Hilton Vilas Bôas, Dr. Iedson Marques do Nascimento, Dr. João Luiz Câmarada Silva, Dra Lígia Cerqueira, Dra Denise Dantas e, mais recentemente, Dra LuciaMilena Coelho, Dra Célia Maria de Souza, e Dra Regina Maria Oliveira de Miranda, nosdando segurança e tranquilidade para lidar com a saúde do nosso idoso.

Recordamos com carinho da família de dona Crinaura Cavalcanti, e da famíliado Dr. Álvaro Pires, sempre por perto, atentos às nossas necessidades, Grupo deOração Peregrinas de Nossa Senhora na pessoa de Nina Rosa Câmara de Macedocom os bingos anuais que já ajudaram tanto o Espaço Solidário com portas novas,colchões, ventiladores, e recentemente, as calhas.

Somos gratos a Rede Mais DaTerra na pessoa de Eugênio Pacelli deMedeiros que diariamente, há anos, vem deixar o nosso pão de cada dia e a Kitanda doLucas na pessoa de LuizAntonio Bentes que também vem deixar semanalmente frutase verduras de qualidade!

Agradecemos as inúmeras pessoas anônimas que vêm deixar pão, fraldas,cestas básicas, produtos de higiene pessoal, dentre outros, apoiando o trabalho eatendendo concretamente as necessidades da casa e a Margarida Maria Medeiros quepresenteie sempre os idosos com colônias e perfumes.

Que bom que nos fins de semana diversos grupos religiosos e outros vêmviver e compartilhar momentos com os idosos do Espaço Solidário!

E os nossos convênios e parcerias com as Universidades FARN (Faculdadepara Desenvolvimento do Rio Grande do Norte), UNP (Universidade Potiguar) e UFRN(Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além do IFRN (Instituto Federal do RioGrande do Norte), que contribuem de muitas maneiras, inclusive com estudantes defisioterapia e enfermagem, interagindo de maneira positiva com os idosos.

Lembramos também da nossa parceria com a Prefeitura Municipal do Natal,pois o Espaço Solidário está prestando serviço de proteção social especial de altacomplexidade, sendo reconhecido como política de assistência na modalidade deserviço de acolhimento institucional.

E os nosso amigos da Suíça, Alemanha e Itália. Quantos jovens e adultos jápassaram em Mãe Luiza se encantando e deixando suas marcas? Ao longo de todatrajetória do Centro Sócio Pastoral se juntaram a nós contribuindo ativamente naconcretização dos nossos sonhos, colaborando na construção de um mundo maisjusto, mais humano.

Amigos & ParceirosComo falar do Espaço Solidário sem lembrar da equipe,amigos e parceiros?

Association des

Suisse

Amis de Mãe Luiza

THE AMEROPA FOUNDATION

BASEL - SUIÇA

ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

Page 26: Revista Espaço em Ação

Em várias reuniões, refletimos sobre o significado que oEspaço Solidário tem para todos nós, tanto os moradoresquanto para os que aqui passam o dia.Vimos o quanto gostamos desta casa, dos idosos

presentes e de todos que aqui trabalham.Alguns, de nós, falaram que não tinham mais como

continuar morando sozinhos. Outros, que estavam doentes e quenão tinham ninguém que pudesse cuidar deles.

Comentamos: “aqui é melhor que lá na minha casa!”Falamos da comida e do tratamento. “Quando me

chamam para tomar banho, eu saio toda cheirosa, perfumada e apele toda encerada!” comentou Vivência.

Seu José conta: “É o seguinte, ela (a casa) está na vida dagente. Eu vivia andando pra lá e pra cá, aqui eu descanso aspernas.”

Para a maioria de nós, pensamos o Espaço Solidáriocomo sendo nossa casa.

Foi aqui, que encontramos carinho e apoio.Outros, que passam o dia no ES, dizem ter duas casas, e

para um Damião, o Espaço é melhor, porque ele não briga comninguém.

Carmelita comenta que quando vê a Kombi chegarpassando para pegá-la, já fica feliz.

Ao nos perguntarmos: Essa é a casa da nossa velhice?Rita respondeu: “aqui é muito bom, mas eu vou levando a vida,deixando a velhice pra lá ! Não penso na velhice.”

Lurdes relata: “cheguei morrendo e estou viva!”Jorge, olhando para todos nós, disse: “a velhice está aqui!

Um andando, outro caindo e a gente vai vivendo!Agente se senteno meio de uma família!”

José Carvalho brinca: “não me sinto velho, sou um garotousado!”

Claro que falamos de nossas desavenças, das brigasentre nós e com a equipe, do nosso sofrimento de, às vezes, nãopoder fazer as coisas sozinhos.

Falamos também que a casa nem sempre corresponde àsnossas expectativas. Alguns queriam que se fizesse mais para sepoder voltar a andar, para se poder comer o que se quer, semsempre pensar em dieta!

Quando se fala que o Espaço Solidário é a casa aondeterminaremos os nossos dias, comentamos que preferimos ver acasa como sendo um espaço de celebração da vida.

Peçamos a Deus para abençoar a todos nós.

Ao passar esses anos todos compartilhando arealidade da casa, podemos dizer que aos poucos a casa foientrando “na vida da gente.” Hoje muitos entre nós apercebemos como nossa.

A NOSSA VELHICE| Loyse de Andrade

A casa que abrigaDESPEDIDA

24 ESPAÇO EM AÇÃO - 2011

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Mural grafitado porCarlos Augusto da Silva Dantas

para a área verde do Espaço Solidário.

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