54
Ano 1 nº 1

Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Segunda edição da Revista Formação, Sujeitos & Práticas

Citation preview

Page 1: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

Ano 1nº 1

Page 2: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2
Page 3: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

Prefeitura de Belo Horizonte

Secretaria Municipal de Educação

Coordenação Geral

Dagmá Brandão Silva

Equipe Técnica

Adalgisa MatosGeraldo LaraGláucia VieiraMaria Célia da CunhaMaria Aparecida de AlmeidaSandra de Lacerda

Revisão

Tadeu Rodrigo Ribeiro

Projeto gráfico e diagramação

Gustavo Rocha de Souza

Fotos

Equipe do projeto 3º Ciclo Sujeitos & Práticas

Revista Formação - Sujeitos & Práticas

Publicação: Biblioteca do Professor/Equipe do 3º CicloE-mail: [email protected] Fone: 3277-8854

Para localizar, acesse: intranet da Educação>Publicações>Revista FormaçãoSujeitos & Práticas, ou acesse o link:http://issuu.com/sujeitos_praticas_smedbh/docs/revista_sujeitos_praticas#embed

Para localizar o tutorial para submissão de artigos, relatos, notícias, e outros,acesse o link abaixo:

Ir para o tutorial

Page 4: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

SumárioAPRESENTAÇÃO

ENTREVISTA

Divulga aí Professor!

Fala aí Estudante!

LABORATÓRIOS EM AÇÃO

LA Educação Física

LA Aprendizes da Ciência

RELATO DE PRÁTICA

Relato de Experiências de Leitura para o 3º Ciclo

Relato de Experiência da 2ª Jornada Literária da RME - 2012

“Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil”

Memória - História

SEÇÃO BIBLIOTECA

NOSSA AGENDA

5

6

45

15

26

33

36

41

11

48

Page 5: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

No segundo número da revista Formação Sujeitos & Práticas, buscamos dar

continuidade à divulgação de práticas exitosas de professores e demais profissionais da

educação no 3º ciclo do ensino fundamental da Rede Municipal de Educação de Belo

Horizonte. Os artigos e relatos apresentados referem-se a projetos e trabalhos educativos

desenvolvidos durante o ano letivo de 2013.

Na seção Entrevista, destacamos o diálogo de dois professores e de um estudante da

Escola Municipal Murilo Rubião no qual falam do trabalho interdisciplinar desenvolvido na

escola e que possibilitou a participação e apresentação na 3ª FCC&T.

Na seção Laboratórios em Ação, o artigo “Saberes, Conhecimentos e Sentidos

Vivenciados na 3ª Feira de Ciências, Cultura & Tecnologia da Rede Municipal de Educação

de Belo Horizonte” traz uma exposição da 3ª FCC&T e das conquistas alcançadas nessa

ação pedagógica com o ensino de ciências e o trabalho nas outras disciplinas na

perspectiva da pesquisa e investigação. Em seguida a este artigo, o hiperlink remete aos

resumos dos trabalhos expostos na 3ª FCC&T enviados pelos professores e às resenhas

elaboradas pelos avaliadores dos trabalhos.

Ainda nesta seção, o artigo “Diálogos entre a Educação Física e as Crianças e os Jovens no

Cotidiano da Escola” destaca a necessidade de um movimento contínuo na busca de

soluções para o trabalho educativo com os adolescentes do 3º ciclo, problematizando o

papel da Educação Física para o alinhamento de uma concepção do seu ensino, que

prioriza a construção de sentidos, a troca, a vivência, a inclusão, o respeito às diferenças

de gênero, ou até “as mais sutis: moral, estética, cognitiva e ética”.

Na seção Relato da Prática, apresentamos a trajetória da auxiliar de biblioteca Zenaide

Corrêa da Silva, da Escola Municipal Profª Maria de Mazarello, na 2ª Jornada Literária

2012, cujo tema foi Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil. Há, ali, também

um relato do grupo de funcionárias da biblioteca da Escola Municipal Maria Assunção de

Marco sobre sua mobilização em função do tema da 3ª Jornada Literária, Histórias de

Famílias, para motivar os estudantes do 3º ciclo. Fecha a seção uma breve narrativa da

bibliotecária Gláucia Grossi, da Escola Municipal Santos Dumont, sobre como descobriu

maneiras de envolver estudantes do 3º ciclo nos processos de leitura.

Na Seção Biblioteca, apresentamos uma seleção de livros indicados para a formação de

professores e um hiperlink com uma intensa lista de livros literários indicados para

trabalhar com os adolescentes.

Confira ainda a Agenda das ações futuras do Projeto 3º Ciclo para 2014.

Dagmá Brandão Silva

Apresentação

Page 6: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

6

EntrevistaDivulga aí Professor!A Revista eletrônica Formação - Sujeitos & Práticas pretende ser

um canal de divulgação das práticas e reflexões do cotidiano dos

profissionais da educação, especialmente dos professores do 3º

ciclo. Durante a 3ª Feira de Ciências, Cultura & Tecnologia, os

professores Fernando Rezende e Sandra Breder, da Escola Municipal

Murilo Rubião, apresentaram, numa perspectiva interdisciplinar, os

trabalhos realizados por eles com seus estudantes do 9º ano. Em

visita à escola no momento de certificação e confraternização com

os 50 estudantes que participaram da III Mostra de Informática e

da 3ª Feira de Ciências, Cultura & Tecnologia nas fases escolar e

municipal, conhecemos um pouco mais do trabalho e de seus

estudantes.

Formação - Sujeitos & PráticasVocês organizaram a 3ª Feira de Ciências, Cultura eTecnologia da EMMR e a III Mostra de Informática da EMMR,em que estes trabalhos se diferenciam e qual é o ponto emcomum entre eles?

Fernando Rezende

A III Mostra de Informática, que aconteceu, no dia 21 desetembro, na escola, é um projeto que une a informática com todasas demais disciplinas da escola. Há atividades para estudantes detodo o 3º ciclo. O ponto em comum é que os grupos de alunos sãoos mesmos das aulas de Informática e das aulas de Ciências, porexemplo, porém a parte de pesquisa, construção da proposta eapresentação em slides ficou com a Informática ao passo que aparte de construção de trabalhos para exposição ficou por conta daCiências. A fase escolar da 3ª Feira de Ciências, que aconteceu nodia 29 do mesmo mês, deu visibilidade a todos os trabalhos criadose apresentados pelos nossos estudantes. Há trabalhos de LínguaPortuguesa, Matemática, Inglês e Artes. O planejamento de 2013

Page 7: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

7

foi assim definido: 7º ano - Língua Portuguesa e Artes; 8º ano -Matemática, Inglês e Artes; e 9º ano - Ciências.

Sandra Breder

O mundo tornou-se globalizado, tendo como idioma universal atecnologia. Atualmente, a informática é a principal ferramentatecnológica das massas e relevante no processo educacional.Nossos educandos nasceram na era dos espaços, dos temposvirtuais e é neles que aprenderam a viver e vivem comnaturalidade.

As ciências, de um modo geral provocadoras de coceirinhas nasideias, encantam, intrigam e movimentam a busca peloconhecido “desconhecido” e, assim, estimulam os trabalhosescolares de jovens cientistas.

Atualmente, somos adultos e crianças "conectados" 24 horas e,concorrendo com a realidade em que o relógio marca o tempoem horas, é inimaginável que o ensino de Ciências não seprontificasse em acompanhar essa nova revolução. Daí, Ciênciase Informática se interagem, se unem e juntas avançam namelhoria da qualidade da educação básica, por simplesmenteassim serem consideradas.

Formação - Sujeitos & PráticasComo aconteceu a interdisciplinaridade?

Fernando Rezende

A interdisciplinaridade vem acontecendo desde o início doprojeto, em 2006. A Informática em todo momento visaapresentar, dentre outros objetivos, os recursos que o professortem e aqueles que podem servir de metodologias de ensino comapoio da tecnologia. A parceria com Ciências ficou maisfrequente nas turmas de 9º ano por terem o foco nas Feiras deCiências da PBH, porém já houve exposição de trabalhosparceiros com Língua Portuguesa (produção de livrinhos),Matemática e Inglês (exposição de quadros).

Sandra Breder

A afinidade entre as duas disciplinas não é diferente das outras.Na verdade, a interdisciplinaridade se faz quando o educador

Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica

Page 8: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

8

estimula ou se sente estimulado a praticá-la. Entre umaconversa e outra em meio aos diversos ambientes escolares comos alunos, por meio de relatos do cotidiano, das trocas deexperiências ou convite a presenciá-las, o desejo de planejar, deampliar os conhecimentos e as suas aplicações singelamenteocorrem. O que importa para nós é possibilitar ao aluno o fazeracontecer na busca do conhecimento, preferencialmente pormeio das interações entre eles e deles com os diversos meios.

Formação - Sujeitos & PráticasQuais foram as ferramentas digitais que você utilizou noprocesso de ensino e aprendizagem? Dê um exemplo desua mediação.

Fernando Rezende

O instrumento mais usado com certeza é o computador, porémjá usamos a câmara fotográfica e filmadora. Outro aparelho degrande uso é o projetor. Um exemplo de sua utilização está notrabalho parceiro entre Informática e Língua Portuguesa:“Produção de Textos na Informática”. Nele, houve um combinadoentre as disciplinas: os alunos foram convidados a produzirtextos em sala de aula, escrevendo-os em seu caderno; e, naaula de informática, digitando-os. Depois de digitado, eram lidosda exibição com o uso do data show para toda a turma. Aomesmo tempo em que era lida a produção do aluno, o professorcomentava os pontos em destaque. Depois de lidos todos, osestudantes eram convidados a reparar seus erros; e, em algunscasos, até mesmo a produzir outro, para depois fazer oacabamento final e, em seguida, a formatação com o uso doseditores de textos. Os melhores trabalhos viraram pequenoslivros.

Formação - Sujeitos & PráticasNa Mostra de Informática, você apresenta produção detextos em parceria com a Língua Portuguesa; edição delistas em parceria com Geografia e Ciências; edição detabelas em parceria com História; edição de folders emparceria com Arte; edição de quadrinhos em parceria coma Língua Portuguesa. Como acontecem essas parcerias?

Fernando Rezende

A parceria com a Língua Portuguesa está relatada na pergunta 3,

Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica

Page 9: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

9

porém as demais foram feitas informalmente. Como o tempo daInformática é pequeno em relação às demais disciplinas (1 aulapor semana), todo o projeto de parceria é pensado para sertrabalhado ao longo do trimestre. A construção de tabelas elistas foram aulas ensinadas no momento de transição entretrimestres. A construção de quadrinhos está sendo planejada eexecutada em parceria com Artes, assim como Ciências.

Formação - Sujeitos & PráticasQuais são os indicadores de sucesso do trabalhodesenvolvido com seus estudantes apresentados na IIIMostra de Informática?

Fernando Rezende

Acredito que o reconhecimento de alguns professores e onúmero de comentários positivos realizados pelos visitantes na3ª Feira de Ciências, Cultura & Tecnologia da PBH, realizada noParque Municipal, são indicadores marcantes. A direção daescola pedindo para que se continue com o projeto em 2014 éoutro forte indicador. Porém, o mais importante é a reação dosalunos em sala de aula. Grande parte mudou de postura aoreconhecer a importância da disciplina e da contribuição docomputador no ambiente escolar.

Sandra Breder

Os resultados do Avalia BH na disciplina Ciências dos últimostrês anos, com os quais a escola se mantém com médiassuperiores às das escolas da sua Regional e à da RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte e que indicam a cada ano umaelevação no nível avançado; o envolvimento dos alunos, tanto osdiretamente quanto os indiretamente envolvidos com as feiras; eos conceitos nas disciplinas envolvidas. Todos esses indicadoresapontam um crescente interesse e ajudam a comprovar osucesso do trabalho interdisciplinar desenvolvido nas Feiras deCiências.

Formação - Sujeitos & PráticasQuais são os pontos que precisam melhorar em relação àrealização de feiras e mostras tanto na fase escolarquanto na fase municipal?

Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica

Page 10: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

10

Fernando Rezende

Tivemos reconhecimentos consideráveis no ambiente escolar,contudo é preciso ainda aumentar a participação e envolvimentodo grupo de professores. Sem dúvida alguma, a fase escolar éimportante. Nossos alunos, assim que são selecionados para afase municipal, ficam superinteressados em fazer seus trabalhoscada vez melhores. Uma premiação adequada ajudaria noincentivo aos projetos futuros. O Projeto 3º Ciclo é de sumaimportância para recuperar o gosto de frequentar a escola.Gosto tão necessário para melhorar o aprendizado de nossosestudantes.

Sandra Breder

As inovações - tanto por parte da Rede Municipal, quanto porconta da unidade escolar - são esperadas e, por vezes,surpreendentes. Às vezes, nos vemos “sozinhos”, outras vezescobrados e advertidos, por vezes elogiados e estimulados. Enfim,trabalhar com um cronograma de ação acertado e respeitadodesde o princípio do ano é o passo principal. Para sersatisfatório, o projeto tem que dar sua arrancada com os alunosjá na primeira etapa do ano letivo. É fundamental planejar comos administradores, coordenadores, auxiliares, docentes ediscentes diversos, de forma a respeitar os calendários, espaços,trabalhos e tempos de cada um. Os quesitos divulgação dosvencedores e a premiação são o carro-chefe das duas fases esão supervalorizados pelos educandos e estimuladores daautoestima deles. Portanto, precisam acontecer de forma maisdinâmica na Rede Municipal.

As rodas giram e geram movimentos que se valorizam a cada

giro, que gerarão e girarão novas rodas.

Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica

Page 11: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

11

Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica

Formação - Sujeitos & PráticasPara você, o que é aprender?

Alacyr

Aprender é estar a cada dia descobrindo coisas novas e tendomais sabedoria das coisas que não sabia.

Formação - Sujeitos & PráticasO que você tem aprendido nas aulas de informática quecontribuiu com as outras disciplinas?

Alacyr

As aulas de informática sempre envolvem outras disciplinascomo Inglês, Ciências, Geografia Matemática, Língua Portuguesae outras. A Informática envolvendo outras disciplinas ajudamuito na hora do aprendizado na sala de aula.

Formação - Sujeitos & PráticasPensando nas tecnologias, o que você ainda não sabefazer e gostaria de aprender?

Alacyr

A tecnologia sempre fornece coisas novas para aprender. Mesmoquando achamos que já estamos sabendo tudo sobre tecnologia,vem algo novo e curioso para aprender. Eu gostaria de aprendersobre a tecnologia de funcionamento das placas de comandoinfravermelho.

Formação - Sujeitos & PráticasDo que você já aprendeu, o que você consegue ensinarpara os colegas?

Alacyr

O que eu já aprendi sobre a tecnologia é que algumas coisas são

EntrevistaFala aí Estudante!Alacyr é um estudante do 9º ano da Escola Municipal MuriloRubião e participou dos trabalhos desenvolvidos pelosprofessores Fernando e Sandra.

Page 12: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

12

simples de explicar, mas algumas coisas não são. Mas, comcalma, consigo alcançar um bom resultado.

Formação - Sujeitos & PráticasO que você aprendeu com o trabalho desenvolvido naFeira de Ciências?

Alacyr

Com o trabalho da Feira de Ciências, aprendi que todos ostrabalhos têm de ser feitos e refeitos. Porque, mesmo achandoque o trabalho está bom, ainda tem muito para desenvolver noprotejo. Mas é bom participar de uma feira de ciências e deinformática porque aprendemos, a cada dia, mais coisas novas!

Page 13: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2
Page 14: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

Laboratóriosem ação

Page 15: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

15

Diálogos entre aEducação Física e ascrianças e os jovensno cotidiano daescola

Túlio Campos1

Atualmente, constatamos

um sentimento de grande

inquietação e indignação

ante as transformações que

vêm ocorrendo na sociedade

contemporânea e seus efeitos sobre a vida, a cultura, o trabalho

e as relações sociais. O neoliberalismo e a nova ordem

econômica vêm acarretando uma série de consequências

alarmantes na vida dos sujeitos. Vários exemplos da presente

crise social podem ser observados, como a crescente fragilização

dos laços conjugais, a explosão urbana com todas as dificuldades

decorrentes de viver em grandes cidades, a valorização da vida

privada e a globalização cultural.

Na vida cotidiana, ponderamos que o contexto atual tem

suscitado o embrutecimento das relações sociais, em decorrência

da forma assumida pela expansão capitalista, como pode ser

averiguado nos infindáveis e espantosos fenômenos de tensão e

de violência expressos nas diversas linguagens midiáticas.

Por sua vez, a perplexidade e a apreensão tomam conta do

nosso cotidiano. Em decorrência de inúmeras transformações

políticas, econômicas, culturais e sociais, em um curto espaço de

tempo, os sujeitos são incessantemente impulsionados a lidar

Laboratório de Aprendizagem

Educação Física

1 Mestre em Lazer pela Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional -

EEFFTO/UFMG. Docente do Curso de Educação Física do Centro Universitário de Sete

Lagoas - UNIFEMM. Professor de Educação Física da Rede Municipal de Belo Horizonte,

na Escola Municipal Maria da Assunção de Marco. Contato: [email protected].

Page 16: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

16

com um ritmo de vida no qual o consumo ganha papel central

em suas vidas, um “incondicional apreço pela novidade” (Pereira,

2002). Desde a Revolução Industrial, beneficiado pelo ideário da

modernidade, de superação, de eficiência e de progresso, o

capitalismo, nas suas entranhas, tem gerado relações de

produção e consumo.

Diante disso, na contemporaneidade, vivemos num ritmo de vida

incessante, marcado pela era da velocidade, na qual a “avidez

pela novidade” (Pereira, 2002) constrói novas formas de

experimentar o mundo, “uma realidade instável e fragmentária”

(SARLO, 2000, p. 30). Nesse aspecto, as relações pessoais e as

ações dos sujeitos se metamorfoseiam em atos pautados na

“efemeridade”, na “superficialidade” e na “trivialidade” (Pereira,

2002). Considerando as palavras de Pereira e colaboradoras

(2007, p. 101), “hoje, as relações que mantemos com as coisas

- e também com as pessoas - conferem marca ao tempo em que

vivemos: relações fugazes, flexíveis, dinâmicas e descartáveis”

(p. 101).

Bauman (2001) aponta que os processos de individualização da

sociedade vêm causando o enclausuramento dos sujeitos em

relações pautadas no desrespeito ao outro e na intolerância a

diversidades. Para o autor, estamos vivendo na sociedade do

medo, em que as pessoas estão no estado da “mixofobia”, ou

seja, o medo de se misturar, consequentemente mais

vulneráveis aos processos de violência que tendem a aumentar.

Esse quadro deixa-nos apreensivos e impulsionados a

compreender e buscar caminhos para esse universo que compõe

o cotidiano de nossas vidas, das nossas relações sociais e,

concomitamente, das instituições que se propõem a transformar

essas realidades. Nesse cenário, que papel cabe à educação das

crianças e dos adolescentes? Que papel cabe à Educação Física?

Discorrer acerca desses questionamentos é desafiador, uma vez

que, não raro, fica a sensação de que as instituições vêm

negando o que é de sua autoria: formação de sujeitos capazes

Page 17: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

17

não apenas de se adaptar à sociedade em que vivem, mas de

transformá-la e reinventá-la (CALDEIRA, 2001). A Educação

Física se insere num plano de reflexão acerca dessas diferentes

problemáticas, estando atenta à atualização das demandas

socioculturais, uma vez que, entre suas finalidades, juntamente

com a escola, inscreve-se, além da produção e socialização do

conhecimento, precisamente a crítica das formas de organização

da cultura (TABORDA DE OLIVEIRA; OLIVEIRA; VAZ, 2008).

Para tal, proponho, neste momento, pensarmos a educação a

partir do par experiência/sentido, como nos sugere Bondía

(2002). Segundo o autor, costuma-se pensar a educação a partir

de dois pontos de vista: da ciência e técnica e da teoria e

prática. No primeiro, as pessoas que trabalham com educação

são concebidas como sujeitos técnicos que aplicam com maior

ou menor eficácia as diversas tecnologias pedagógicas

produzidas, remetendo a uma perspectiva positiva e retificadora.

Já no segundo ponto de vista, essas mesmas pessoas aparecem

como sujeitos críticos que se comprometem, com maior ou

menor êxito, com práticas educativas concebidas na maioria das

vezes sob uma perspectiva política. Todavia, para Bondía, esses

dois pontos não conseguem sustentar outra perspectiva de

Page 18: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

18

educação que vá além daquilo que vem sendo posto nas últimas

décadas no campo pedagógico, distinguindo a formação entre os

chamados técnicos e os chamados críticos.

Não raro, temos deparado com um enorme contingente de

políticas educacionais que concebe a educação/conhecimento

como uma acumulação de saberes que possibilita os educandos

“raciocinar”, “calcular”, “medir”, “testar” ou “argumentar”.

Dayrell (1996) alerta sobre isso ao afirmar que na escola os

conhecimentos valorizados são aqueles que buscam resultados,

reduzidos a produtos, resultados e conclusões, sem dar conta do

valor determinante dos processos. Nesse sentido, a diversidade

acaba sendo “reduzida a diferenças apreendidas na ótica da

cognição (bom ou mau aluno, esforçado ou preguiçoso, etc.) ou

na do comportamento” (p. 138). Na Educação Física, pouco

problematizamos o caráter natural atribuído ao corpo, como se

fosse meramente biológico, manipulável. Em práticas

pedagógicas que operam com a compreensão da infância e da

juventude enquanto estágios de desenvolvimento, fases ou

etapas construídas abstratamente, tem-se a presunção do

controle e da previsibilidade. Nesse sentido, universalizamos e

fragmentamos os sujeitos, desconsiderando as várias maneiras

de ser criança e ser jovem na escola, nas aulas de Educação

Física, na família e na sociedade (DEBORTOLI; LINHALES; VAGO,

2002).

Minha insistência neste ensaio é perspectivar uma educação que

“busque dar sentido ao que somos e ao que nos acontece”

(BONDÍA, 2002, p. 21). Para Bondía, a experiência é algo que

nos acontece, nos toca, porém a experiência é algo cada vez

mais raro pelo excesso de informação (obsessão pela

informação), pelo excesso de opinião, pela falta de tempo e pelo

excesso de trabalho. Assim, afirma o autor que “nós somos

sujeitos ultrainformados, transbordantes de opiniões e

superestimados, mas também cheios de vontade e hiperativos”.

Nesse sentido, “os aparatos educacionais também funcionam

Page 19: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

19

cada vez mais no sentido tornar impossível que algo nos

aconteça” (BONDÍA, 2002, p. 24). Nesse enredo, qual Escola e

qual Educação Física são possíveis? De que maneira podemos

pensar a Educação Física “para” e “com” as crianças e os jovens?

Considero importante, assim como Vago (2009, p. 26),

compreender a escola enquanto um lugar com uma identidade,

uma responsabilidade social e uma expectativa social, ou seja,

“um lugar de culturas, um lugar das culturas e um lugar entre

culturas”, com a responsabilidade de transmitir e perpetuar a

experiência humana considerada cultura.

A escola é um lugar de circulação das culturas porque tem como

responsabilidade realizar o humano direito a um patrimônio por todos

produzidos: conhecer, fruir e usufruir as culturas diversas produzidas

pelos humanos (VAGO, 2009, p. 27).

Não podemos negligenciar que a escola é um lugar de “tensão

permanente”, uma vez que nela estão presentes diferentes

interesses (escola, família e sociedade), relações de poder,

práticas escolares e outras diversificadas práticas sociais que

chegam ao “chão da escola” (VAGO, 2009). Nesse sentido, é

preciso também pensar o corpo na escola. Bondía (2002) alerta

sobre isso ao apontar que a vida humana vem reduzindo-se ao

simples entendimento do corpo numa dimensão biológica. Assim

discorre o autor:

[...] a 'vida' se reduz à sua dimensão biológica, à satisfação das

necessidades (geralmente induzidas, sempre incrementadas pela lógica

do consumo), à sobrevivência dos indivíduos e da sociedade. Pense-se no

que significa para nós 'qualidade de vida' ou 'nível de vida': nada mais

que a posse de uma série de cacarecos para uso e desfrute (BONDÍA,

2002, p. 27).

A escola necessita compreender o corpo/sujeito na dimensão da

totalidade, possibilitando ao sujeito construir novas referências

sobre seu corpo e o corpo do outro. Nas palavras de Gimeno-

Sacristan; Pérez-Gomez (1998, p. 24):

A escola deve fomentar a pluralidade de formas de viver, pensar e sentir,

estimular o pluralismo e cultivar a originalidade das diferenças individuais

Page 20: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

20

como expressão mais genuína da riqueza da comunidade humana e da

tolerância social.

De acordo com Vago (2009, p. 33), “compreender a realidade

biológica do corpo é imprescindível, no limite e na potência que

expressa”, todavia trabalhar e conceber o “corpo reduzido a sua

biologia empobrece o olhar” que lançamos às crianças e aos

jovens.

Tudo isso nos provoca a construir processos pedagógicos mais

desafiantes, que reconheçam toda a diversidade das

experiências que essas crianças e jovens carregam consigo para

o espaço escolar. Dayrell (1996) alerta que se faz necessário

superar a homogeneização e universalização dos processos de

ensino/aprendizagem2 presente nas escolas, pois “o tratamento

uniforme dado pela escola só vem consagrar a desigualdade e as

injustiças das origens sociais dos alunos”. Nesse sentido, o autor

sugere que, para compreendermos as crianças e os jovens que

chegam à escola, torna-se imprescindível apreendê-los como

“sujeitos socioculturais”, ou seja, superando “a visão

homogeneizante e estereotipada da noção de aluno, dando-lhe

um outro significado” (p. 140).

Diante disso, pode-se afirmar que a “escola é polissêmica”, ou

seja, tem uma multiplicidade de sentidos, não podendo ser

tomada como um dado universal, com um sentido único.

Portanto, como afirma Dayrell (1996, p. 144):

[...] implica levar em conta que seu espaço, seus tempos, suas relações

podem estar sendo significados de forma diferenciada, tanto pelos

alunos, quanto pelos professores, dependendo da cultura e projeto dos

diversos grupos sociais nela existentes.

Outro aspecto importante a ser destacado é que a escola

constitui um espaço de formação humana, portanto um espaço

2 De acordo com Dayrell (1996, p. 139), “a escola é vista como instituição única, com

seus sentidos e objetivos, tendo como função garantir a todos o acesso ao conjunto de

conhecimentos socialmente acumulados pela sociedade. Tais conhecimentos, porém, são

reduzidos a produtos, resultados e conclusões, sem se levar em conta o valor

determinante dos processos”.

Page 21: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

21

de ampliação das experiências sociais, históricas e culturais

(DAYRELL, 1996; VAGO, 2009). Assim, a escola pública não

pode seguir outro caminho senão “constituir-se como tempo e

espaço de inclusão, debate, construção coletiva e realização

plena de direitos sociais” (DEBORTOLI; LINHALES; VAGO, 2002,

p. 93). Concomitantemente, a escola influencia e torna-se

influenciada pela diversidade presente no seu cotidiano. Tais

implicações desafiam a pensar um projeto de Educação Física

que busque “escutar” o que os alunos querem nos dizer com

suas ações durante sua permanência nos diferentes espaços da

escola.

Nessa perspectiva, um dos princípios fundamentais da Educação

Física é compreender as crianças e os jovens como atores

sociais, concretizando o direito e a possibilidade de participarem

da construção da sociedade e da cultura (DEBORTOLI, 2009). Na

nossa intervenção pedagógica, comporta-se, assim, um desafio:

Organizar o ensino para que seus estudantes realizem o direito de

conhecer, de provar, de criar, de recriar e de reinventar, de fazer de

muitas maneiras, de brincar com essas práticas, garantindo-lhes a

expansão de suas experiências com esse rico patrimônio cultural. Em

outras palavras: a Educação Física tem potência para ser um tempo de

fruir, de usufruir, de viver e de produzir essa cultura, um lugar de

enriquecer a experiência humana, posto que essas práticas são

possibilidades afetivas, lúdicas e estéticas de apreender e entender o

mundo - e de agir nele (VAGO, 2009, p. 35).

Em nossa sociedade, ainda sobressai o entendimento de que as

crianças devem ser preparadas para um futuro idealizado pelo

adulto. Essa concepção desenvolvimentista posiciona a criança

enquanto sujeito imaturo, inacabado, um “vir-a-ser” linear e

previsível, e não pela competência do aqui e agora, afastando-a

do mundo das atividades socialmente reconhecidas. Em relação

aos jovens, criamos representações sociais que desprestigiam

sua existência social, concreta e valorosa. O adolescente é

aquele que não é mais criança e também não é adulto. Não raro,

desconsideramos, nas relações com os adolescentes, as

Page 22: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

22

variações nas dimensões corporais, a maturação sexual, as

alterações hormonais. Quando trabalhamos sob esses pontos de

vista, as crianças e os adolescentes são concebidos como

sujeitos incapazes de ser “porta-vozes” de seus próprios desejos

e direitos.

Proponho, pois, problematizar uma suposta incapacidade

sociopolítica das crianças e dos adolescentes no contexto da

escola, particularmente quando concebidos como algo natural, e

não como uma construção histórica, cultural e social. Reforçar

essa menorização da infância e da juventude em relação ao

adulto esvazia nossa capacidade de perceber suas ações nas

relações sociais, sendo percebidos apenas como organismos em

processo de desenvolvimento, maturação e socialização. De

acordo com Debortoli

(2009, p. 39), ser

sujeito “significa

concretizar o direito e a

possibilidade de

participar da construção

da sociedade e da

cultura”.

A Educação Física é

uma área de

conhecimento escolar;

e, como tal, possui

conhecimentos

específicos que devem

ser compartilhados,

aprendidos, vivenciados

e ressignificados por

professores e

educandos, num processo de construção dialética do

conhecimento (FREITAS, 2008). Historicamente, diante de

muitas situações sociais, homens e mulheres, crianças e adultos

Page 23: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

23

produziram saberes que significaram os movimentos,

transformando-os em práticas sociais e culturais, sistematizadas

e organizadas, que, de acordo com o Coletivo de Autores (1992),

podem ser reunidos em cinco grandes blocos de conhecimentos:

os jogos, brinquedos e brincadeiras, as danças, os esportes, as

ginásticas e as lutas.

Esses conhecimentos permitem pensar em projetos de ensino

capazes de problematizar a relação entre indivíduo e sociedade,

entre sujeito e cultura (DEBORTOLI, 2009). Segundo Leite

(1994), há uma tendência no pensamento pedagógico de colocar

como questões opostas a participação dos educandos e a

apropriação de conhecimentos disciplinares. No entanto, tal

oposição não tem sentido, pois os conhecimentos escolares não

surgem do acaso, eles são fruto da interação dos grupos sociais

com sua realidade cultural. Sendo assim, os projetos de ensino

são a possibilidade de resolver questões relevantes do cotidiano;

o educando irá defrontar-se com os conhecimentos das diversas

disciplinas e poderá compreender e intervir em sua realidade

(FREITAS; CAMPOS, 2011).

Neste momento, pontuo que acredito numa educação que

conceba as crianças e os adolescentes como sujeitos de direitos,

na qual conhecimento e vida humana não sejam entendidos

como algo sem sentido no seu cotidiano, dentro e/ou fora da

escola, e sim “uma forma singular de estar no mundo que é ética

e estética” (BONDÍA, 2002, p. 28).

Por fim, está posto à Educação e à Educação Física o desafio de

serem capazes de propor práticas concretas para seus diferentes

sujeitos em realidades que se apresentam diversas. Dessa

maneira, Debortoli (2009, p. 43) sugere que um caminho para

tal é o acolhimento: “Talvez a primeira resposta seja o

acolhimento. O desafio da sensibilidade. Desafio de uma

aproximação ética e estética do outro. Estarmos atentos às

diferenças mais sutis: morais, estéticas, cognitivas, éticas”.

Page 24: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

24

Referências

BAUMAN, Z. A sociedade individualizada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BONDIA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira

de Educação. Rio de Janeiro: ANPEd, n. 19, p. 19-28, jan./abr. 2002.

CALDEIRA, A. M. S. A formação de Professores de Educação Física: quais saberes e

quais habilidades?. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Porto Alegre: CBCE,

v. 22, n. 3, p. 87-103. mai. 2001.

Carmem Lucia Soares et al. Metodologia de Ensino da Educação Física. São Paulo:

Cortez, 1992.

DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sociocultural. In: Juarez Dayrell (Org.).

Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG,

1996.

DEBORTOLI, J. A. O. Adolescência(s): identidade e formação humana. In.

CARVALHO, Alyson; SALLES, Fátima; GUIMARÃES, Marilia (Orgs.). Belo Horizonte:

Editora UFMG, Proex, 2009. 118p.

DEBORTOLI, J. A. O.; LINHALES, M. A.; VAGO, T. M. Infância e conhecimento escolar:

princípios para a construção de uma Educação Física. Pensar a Prática. Goiânia:

UFG, v. 5, n. 1, p. 92-105, 2002.

FREITAS, A. F. S.; CAMPOS, T. Educação Física nos primeiros anos escolares.

Presença Pedagógica. Belo Horizonte: Dimensão, v. 17, n. 102, p. 13-19, nov./dez.

2011.

FREITAS, A. F. S. Corpo, movimento e linguagem: em busca do conhecimento na

escola de Educação Infantil. 2008. 142 f. Dissertação (Mestrado em Educação) -

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.

LEITE, Lúcia Helena Alvarez. A pedagogia de projetos em questão. In: Belo Horizonte.

Secretaria Municipal de Educação. Curso de diretores da rede municipal. Belo

Horizonte: SMED, 1994.

PEREIRA, R. M. RIBES. Tudo ao mesmo tempo agora! Considerações sobre a infância

no presente. In: GONDRA, José Gonçalves (Org.). História, infância e

escolarização. Rio de Janeiro: Sette Letras, 2002. p. 131-148.

SACRISTÁN, J. Gimeno. Avaliação. In: PÉREZ GÓMEZ, Angel I.; SACRISTÁN, J.

Gimeno. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed. 1998.

OLIVEIRA, Marcos Aurélio Taborda de ; OLIVEIRA, Luciane Paiva Alves de ; VAZ,

Alexandre Fernandez. Sobre a corporalidade e a escolarização: contribuições para a

reorientação das práticas escolares da disciplina de educação física. Pensar a Prática

(on-line). Goiânia: UFG, v. 11, n. 3, p. 212-236, 2008. Disponível em:

<http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef>. Acesso em: nov. 2013.

VAGO, T. M. Pensar a Educação Física na Escola: para uma formação cultural da

infância e da juventude. Cadernos de Formação RBCE. Porto Alegre: CBCE, v. 1, n.

1, p. 25-42. 2009.

Page 25: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

25

Page 26: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

26

Saberes, conhecimentos e

sentidos vivenciados na 3ª

Feira de Ciências, Cultura

& Tecnologia da Rede

Municipal de Educação de

Belo Horizonte.

Dagmá Brandão e Silva1

Maria Célia da Cunha Pinto2

A Secretaria Municipal de

Educação de Belo Horizonte,

por meio da Gerência de Coordenação da Política Pedagógica e

de Formação, realizou no dia dois de outubro a 3ª Feira de

Ciências, Cultura & Tecnologia - 3ª FCCT, que se caracteriza

como uma atividade científica, cultural e tecnológica que

promove a atualização, fomento e implementação de mudanças

significativas no processo ensino e aprendizagem e incentiva o

desenvolvimento da cultura investigativa.

A 3ª FCCT está destinada a estabelecer interação e trocas de

experiências entre estudantes do 3º ciclo da RME com a

população de Belo Horizonte, por meio da exposição e publicação

de produções científicas, culturais, artísticas e tecnológicas

realizadas no contexto educativo. A possibilidade de apresentar e

discutir seus projetos com profissionais da educação e visitantes

destaca essa ação no cenário educacional belo-horizontino.

Foram apresentados 84 trabalhos cujos temas estavam

relacionados às ciências da natureza, arte, cultura, história,

literatura, matemática e tecnologias. As diferentes áreas

Laboratório de Aprendizagem

Aprendizes da Ciência

1 Gerente da GCPF.

2 Professora da RME.

Page 27: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

27

contempladas possibilitaram a expressão de conteúdos e

habilidades diversas. Quem visitou a feira pôde, ao mesmo

tempo, conhecer o corpo humano ou o universo; aprender um

pouco mais de sustentabilidade, fazendo uma horta de cultivo

vertical ou uma casa usando garrafa PET; e ainda aprender sobre

a bacia do córrego Capão e a grandeza da Lapinha. Os jovens

não economizaram na criatividade: poesia, animação, curta-

metragem e a exploração de figuras de linguagem foram

exemplos de trabalhos apresentados.3

Durante a 3º FCCT, os visitantes tiveram a oportunidade de

participar de oficinas oferecidas pelo Museu de Ciências Naturais

da PUC-Minas e pela organização não governamental

Mensageiros das Águas. A Secretaria de Estado de Ciências,

Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais - SECTES

apresentou os temas a serem explorados na Semana Nacional de

Ciência e Tecnologia - Ciência, Saúde e Esporte, que ocorrerá no

período de 21 a 27 de outubro de 2013. A exposição do Núcleo

de Relações Étnico-Raciais enfocou João Cândido, almirante

negro, líder da Revolta da Chibata, 1910, que lutou pelo fim dos

castigos corporais e pela igualdade racial na Marinha Brasileira,

marcando a atuação de João Cândido no cenário dos Direitos

Humanos no Brasil.

Os trabalhos apresentados na 3ª FCCT trouxeram reflexões que

vão ao encontro dos pressupostos teórico-metodológicos da

proposta curricular da RME, que detalharemos a seguir.

O movimento científico e pedagógico, que se traduz por meio da

feira, enfatiza a equidade dos conhecimentos escolares. As

Proposições Curriculares Municipais - PCMs, ou intenções

educativas para a educação básica, partem do pressuposto de

que não há prioridade de determinados conhecimentos, uma vez

que não há ciência mais importante que outra, o que implica

dizer que não há disciplinas que devam ser privilegiadas.

3 Veja o guia de visitação da 3ª FCCT, lá você encontrará todos os trabalhos

apresentados e ainda as atividades diversas que foram oferecidas aos visitantes.

Page 28: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

28

Proposições Curriculares foram elaboradas com o objetivo de garantir a

todos os educandos o direito aos conhecimentos sociais das várias

disciplinas, aos valores, aos comportamentos e às atitudes que lhes

permitam compreender e transitar no mundo (p. 6 - Textos

introdutórios).

A 3ª FCCT pauta-se pelo entendimento da pesquisa científica

relacionada a todas as ciências: humanas, exatas e naturais,

buscando garantir a diversidade científica, cultural, artística e

tecnológica. Nessa concepção, a 3ª FCCT se caracteriza como

espaço transformador da atuação crítica, artística, científica,

tecnológica que proporciona vivências dos estudantes em

experimentos significativos de cada projeto de trabalho

abrangendo dois ou mais conhecimentos disciplinares.

As PCMs buscam o desenvolvimento de capacidades construídas

por meio de vivências escolares de ensino e aprendizagem

comprometidas com a diversidade, por meio de ações

diversificadas que consideram as diferenças de ritmos e formas

de aprender, o que colabora para a criação de oportunidades

igualitárias para todos.

A partir dos inúmeros trabalhos planejados, organizados e

apresentados sob a coordenação de professores de diferentes

áreas, os estudantes puderam, por meio das suas produções,

dar respostas aos questionamentos apresentados na página 10

dos Textos Introdutórios das Proposições Curriculares da RME:

Se aqui apresentamos o que ensinar e aprender, pretendemos prosseguir

em discussões e em construção de respostas para desafios já

demandados pelos educadores: Como desenvolver sugestões específicas

de ensino que possibilitem a construção das capacidades/habilidades

desejáveis, conforme o contexto da escola? Como avaliar o

desenvolvimento das capacidades/habilidades? Como registrar o

diagnóstico das avaliações? Como trabalhar de forma interdisciplinar?

Como trabalhar com temas/problemas/questões investigativas? Como

construir projetos específicos para avançar/trabalhar as dificuldades de

aprendizagens específicas de agrupamentos de estudantes? Como

desenvolver estas Proposições Curriculares considerando o estágio de

desenvolvimento do estudante dentro do ciclo?

Page 29: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

29

A articulação dos temas dos trabalhos desenvolvidos na feira

com os conteúdos disciplinares de sala de aula e sua

contextualização, de modo mais amplo, representaram, além de

importantes elementos motivacionais, formas efetivas de

contribuição para a educação científica dos estudantes.

As práticas apresentadas na 3ª FCCT contribuíram para uma

melhor compreensão das teorias científicas e das diversas

formas com que os cientistas atuam na organização da

experimentação, no levantamento de problemas e na elaboração

de hipóteses que marcam a origem dos conhecimentos

científicos.

Mesmo naqueles trabalhos que não envolveram explicitamente

essas questões, pudemos observar que, em muitos deles, pela

escolha dos próprios temas, implicitamente a contextualização

estava presente. Tal é o caso, por exemplo, dos trabalhos

relacionados ao uso de drogas, métodos contraceptivos e

prevenção à dengue.

As expectativas quanto à elaboração de uma feira de ciências

são ambiciosas, principalmente se levarmos em conta que

grande parte dos trabalhos são consequência do

desenvolvimento de projetos investigativos articulados ao longo

do ano letivo que tiveram sua culminância na FCCT.

Outro aspecto importante a se destacar é que, dentre os

trabalhos apresentados, houve a colaboração de pessoas da

comunidade como profissionais da saúde, pais ou grupos

comunitários, o que possibilitou a socialização de saberes e

conhecimentos articulados.

Por fim, ressaltamos, como contribuição significativa e que

consolida e amplia os resultados obtidos da 3ª FCCT, a avaliação

realizada por parte dos visitantes, profissionais da educação,

gestores e dos próprios estudantes expositores sobre a

apresentação e os resultados obtidos dos trabalhos. Os

estudantes, no evento, mobilizaram diversas capacidades

Page 30: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

30

adquiridas, construídas e consolidadas em todo o processo de

aprendizagem que culminou na 3ª Feira de Ciências,Cultura e

Tecnologia da RME.4

Mediante as análises realizadas, ficou clara a importância do

trabalho coletivo na escola, principalmente pela interação

potencializada nas atividades desenvolvidas antes e durante a

feira, incluindo a sua repercussão além dos muros escolares.

Feiras de ciências são atividades que devem ser estimuladas,

pois se constituem numa excelente oportunidade de a escola

interagir com a cidade. E, em relação a 3ª FCCT, o que fica para

todos nós educadores e educandos é muito mais do que vimos e

ouvimos. A 3ª FCCT potencializou e evidenciou o sentimento de

alegria e entusiasmo que todos sentiram ao expor sua produção

de conhecimento. Afinal, aprender ainda é a maior experiência

transformadora do ser humano.

Referência

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Prefeitura de Belo Horizonte.

Desafios da formação. Proposições Curriculares do Ensino Fundamental -

textos introdutórios. Belo Horizonte: Secretaria Municipal de Educação, 2010.

Os links abaixo direcionam o leitor para os resumos dos

trabalhos da 3ª Feira de Ciências & Tecnologia de 2013, assim

como para as resenhas elaboradas por seus avaliadores.

4 O Manual do Avaliador foi criado para orientar a avaliação dos trabalhos.

Resumos

Resenhas

Page 31: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2
Page 32: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

Relatos de práticapedagógica

Page 33: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

33

Relato de Experiências de Leiturapara o 3º CicloGláucia Grossi de Faria1

Com minha vivência em quase vinte anos trabalhando em

bibliotecas escolares, percebo que o grande projeto de incentivo

à leitura que tenho desempenhado é procurar traduzir em livros

os interesses dos alunos.

No período que passo na Escola Municipal Santos Dumont, tenho

notado que é mais comum os estudantes de 1º e 2º ciclo

pegarem livros emprestados durante as suas idas à biblioteca.

Mesmo aqueles mais desinteressados acabam levando algum

livro por influência dos colegas, ajudados pelos professores e por

nós funcionários. Mas percebi que os alunos do 3º ciclo visitam

mais a biblioteca para conversar com os companheiros, jogar

xadrez no horário de recreio ou para fazer alguma pesquisa. Os

que realmente gostam de ler continuam usando a biblioteca

frequentemente. Mas o percentual dos outros leitores cai muito

do 2º para o 3º ciclo.

As compras dos livros são feitas de acordo com as listas de

sugestões deixadas nos balcões das bibliotecas que coordeno.

1 Bibliotecária e coordenadora de bibliotecas na Regional Leste.

Page 34: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

34

Como as sugestões feitas pelos alunos estavam repetitivas,

pesquisei, na internet, sobre adolescentes que gostavam de ler,

o que estavam lendo e quais as novidades no mercado editorial.

Depois de listar muitos livros indicados por vários leitores

vorazes, comecei a fazer a melhor parte do trabalho. Comecei a

lê-los, munida do meu e-book, o que facilitou ainda mais o meu

propósito.

Entusiasmada com quase cem títulos lidos durante dois meses,

paralelamente procurava fazer os orçamentos dos livros a fim de

adquiri-los pela Caixa Escolar da Escola.

Mostrei minha ideia para a professora de Língua Portuguesa das

turmas do 7º ano. Ela me incentivou mais ainda nas minhas

tarefas, e marcamos visitas às salas de aulas. Assim, acabei

envolvendo as demais professoras de Língua Portuguesa do 3º

ciclo, pois precisava do apoio delas para motivar os alunos.

Gravei as imagens das capas dos livros em um pen drive e,

munida de um notebook, fui às salas de aula, apresentando as

resenhas de cada um deles, passando - e consequentemente

despertando - o meu entusiasmo para os alunos. De cada sala

que eu saía, sentia que os alunos ficavam curiosos para ler os

livros. E, durante uma semana, enquanto aguardávamos o

recebimento do material tão esperado, os estudantes me

perguntavam o tempo todo, pelos corredores da escola, quando

eles chegariam à biblioteca. Assim que os livros foram

entregues, disponibilizamos o mais rápido possível para o

empréstimo. O serviço de processamento técnico dos livros foi

exaustivo.

Tem sido um sucesso a busca pelos livros. E, como um livro puxa

outro, desejo que o movimento não pare na biblioteca.

Continuo pesquisando nos blogs e vídeos do Youtube, mas

espero, também, que os alunos coloquem recados sobre as

impressões dos livros lidos no painel da biblioteca, criando uma

rede de troca de informações divertida.

Page 35: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

35

Abaixo segue lista dos blogs que tenho consultado e anexo os

títulos dos livros comprados e suas resenhas:

- http://cabineliteraria.com.br;

- http://clubedolivro.worldpress.com;

- http://corujinhaleitora.blogspot.com.br;

- http://estantedanini,.com.br;

- http://euvomitopalavras.blogspot.com.br;

- http://frappuccinomochabranco.blogspot.com.br;

- http://garotait.com.br;

- http://henribneto.blogspt;

- http://lerounaoler.com.br;

- http://nossocdl.blogspot.com;

- http://valerumlivro.com.br;

- http://www.amountofwords.com;

- http://ww.babidewet.com;

- http://www.burnbook.com.br;

- http://www.carolsabar.com.br;

- http://www.cerejacomglitter.com.br;

- http://www.wishingaboo.com.

O link abaixo direciona para o resultado de uma pesquisa feita

na internet, pela bibliotecária Glaucia Grossi, sobre o que os

adolescentes gostam de ler, além das novidades no mercado

editorial.

Clique aqui

Page 36: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

36

Relato de Experiência da 2ªJornada Literária da RME - 2012 -“Sons, Cores, Imagens e Sabores:Áfricas no Brasil”1

Zenaide Corrêa da Silva2

Mais um dia, e a escola vai adquirindo vida à medida que as

pessoas vão chegando. Crianças, adolescentes, adultos. Mestres

e aprendizes na nossa jornada. Ora num papel, ora noutro. Nos

corredores, os sorrisos, as palavras soltas, os anseios e as

esperanças.

Meu trabalho na biblioteca exige pouco diante daquilo que tenho

a oferecer. Sempre busco ir além daquilo que me é proposto.

Quero ser vida numa biblioteca viva. Vi na 2ª Jornada Literária

da RME - Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil,

uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. Então

me lancei de corpo e alma nesse projeto.

Foi na Casa África que teve início minha trajetória na 2ª Jornada

Literária da RME. Ouvindo o africano Ibrahima Gaye naquela

manhã, percebi que meus conhecimentos sobre a África, seu

povo e nossa descendência eram muito superficiais. Também me

dei conta de que o tema proposto iria modificar o modo de ver

meu país, a África e meu próprio ser. Diante dos relatos ali

apresentados, me senti instigada a ir além. E a frase “O homem

é o remédio do homem.”, citada por ele naquele encontro,

passou a fazer parte de minhas reflexões.

Biblioteca: o processo

No primeiro momento, separei toda a literatura afro-brasileira

existente na biblioteca da escola e fiz uma exposição. Também

1 Relato classificado em 1º lugar na categoria Relato de Participação na 2ª JornadaLiterária da RME/BH - “Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil”.

2 Auxiliar de biblioteca na Escola Municipal Maria de Mazarello.

Page 37: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

37

fiz murais de EVA com motivos afros nos quais expus vários

livros, cartazes com frases e convites para se conhecer o acervo

selecionado. São muitos livros, porém, até então, poucos haviam

sido apreciados pelos estudantes, professores e demais

funcionários. Percebi que, dando visibilidade maior aos livros, os

estudantes e professores se interessaram e passaram a levá-los

para casa.

Selecionei contos africanos para serem contados aos estudantes.

Os professores trouxeram suas turmas para a biblioteca, onde

eu, além de falar sobre a cultura negra, também promovi

momentos reflexivos sobre o papel desses jovens na sociedade

preconceituosa em que vivemos.

Em um desses encontros, houve um momento inusitado que não

posso deixar de relatar. Um estudante negro pegou uma revista

Galileu que trazia um gorila na capa e começou a gozar um

colega também negro, chamando-o de macaco. Percebi como o

tema trazia tensão para aqueles jovens. Como estratégia, resolvi

questionar a atitude preconceituosa do estudante. Diante do seu

silênico, posicionei- me, contando à turma ali presente o relato

do africano sobre a chegada ao Brasil. Das suas expectativas de

vir para um país que tinha grande descendência africana e de

sua decepção ao chegar aqui e ver a maioria negra em

Page 38: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

38

subempregos e favelas. E de sua decisão de ficar no Brasil e

lutar contra a discriminação racial. E fiz a pergunta ao grupo:

“De que tamanho é o seu preconceito, ele começa ou termina

em vocês?”.

Deixei claro que somos nós que escrevemos nossa história,

independentemente de como ela se esboça. Acredito que aqueles

jovens tenham se sensibilizado, pois, ao término da aula, vários

levaram livros da exposição afro-brasileira para casa, inclusive o

autor da brincadeira de mau gosto.

Outro momento valioso aconteceu quando um estudante trouxe

um poema escrito por ele para que eu pudesse ler. Era um

poema que, a princípio, não trazia elementos suficientes para ser

publicado, mas a sua leitura me fez perceber um desejo tão

intenso de dizer algo que me emocionei. Ele dizia que queria que

seu poema fosse escolhido porque iria mostrá-lo ao pai. Quis

saber o porquê e ele respondeu: “Professora, meu pai é preto,

mas ele não gosta de preto. Quando a gente tá andando no

passeio e ele vê um preto mais preto que ele, ele manda a gente

atravessar a rua. Eu quero que ele leia minha poesia. Se estiver

num livro, ele vai ler”.

Nesse momento, tive certeza de que o livro que estamos

produzindo não é o fim, é um meio. Sentei-me com ele e disse:

“Você acabou de fazer poesia. Vamos reescrever seu poema,

para que ele possa fazer parte do livro”.

A contação e a leitura de contos e poemas afros feitos por mim e

pelos estudantes foi de descobertas e encantamento. Os

estudantes se envolveram e produziram textos. Os livros de

poesia tiveram lugar de destaque, e os estudantes puderam

conhecer melhor seus autores e sua visão de mundo.

Foi realizada na escola uma mostra afro-brasileira que envolveu

todos os profissionais do turno da manhã. Pesquisas, trabalhos

manuais e cartazes foram confeccionados na biblioteca para esse

evento, que foi um sucesso.

Page 39: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

39

Quanto aos textos produzidos pelos estudantes, participei de

forma ativa com a professora Isis Almeida, orientando-os

individualmente. Esse trabalho envolveu trocas de experiência,

momentos de reflexão, diálogo franco e aberto sobre o tema.

Também participei do projeto gráfico do livro de poesias “Elos” -

sobre a cultura afro-brasileira - com o professor de Arte Fabrício

Fidélis, num trabalho de pesquisa intenso, com o qual

aprendemos muito. Ficou claro para mim que um povo que

valoriza seus antepassados fortalece seus descendentes.

Também sou o processo. Mergulho no eu

Abordar um tema de tamanha complexidade exigiu-me

discernimento e entrega. Foi preciso fazer um exame de

consciência e visitar situações em minha vida em que agi de

forma discriminatória. Não é fácil adimitir-se preconceituosa. É

preciso perceber além do inconsciente coletivo, pois ele camufla

certas atitudes preconceituosas em nome de uma sociedade

politicamente correta, porém historicamente racista em suas

ações.

Ainda me lembro da minha avó negra falando: “Zenaide, veja

bem com quem vai se casar. Eu apurei a raça, casei com branco,

sua mãe também. Veja lá”. Na época, não entendia bem, mas já

era introjetado na minha cabeça o preconceito. E da pior forma -

por pessoas que tinham papel fundamental na minha educação.

Lembro-me ainda de quando tinha 14 anos e entrei para o grupo

de jovens de uma igreja e comecei a gostar de um menino

negro. Sentia-me culpada e fui me confessar. O padre ficou

indiferente e apenas me mandou rezar, fortalecendo ainda mais

o sentimento de que negro é diferente. Uma diferença feia.

Hoje, olhando para trás, percebo quantas vezes me omiti ou

assumi uma postura preconceituosa e racista, reforçando em

ações e pensamentos aquilo que aprendi erroneamente.

Crescer como pessoa demanda envolvimento em questões que

Page 40: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

40

nos parecem alheias, mas que fazem parte de todos nós.

Acredito, hoje, que o ser humano se fortalece na sua cultura e se

torna anônimo quando a nega. Quem sou eu?

Eu quero ser luz, afro-descendente cheia de orgulho. Vigilante de

minhas fraquezas. Uma mulher íntegra que é orgulho para seu

país.

Burocracia e pessoas...

Criar, recriar, remover sentimentos, bailar nas ideias - tudo é

fantástico. Porém devemos estar cientes de que não podemos

depender da boa vontade alheia, do compromisso do outro, de

informações truncadas que não viabilizam o processo, pois é

extremamente desgastante. Em vários momentos, vivenciei esse

desgaste. Contudo, existem também aqueles que nos dão as

mãos e estão dispostos a arriscar em prol de uma educação

plena. Nisso consiste o sucesso. Mas dizer que foi fácil... Ah! Não

foi não.

Verdade nua e crua

A maioria dos profissionais da escola não se envolveu

efetivamente na 2ª Jornada Literária - de 2012. O tema acabou

sendo trabalhado de forma rápida e superficia. A falta de

conhecimento, a dificuldade do tema, a falta de tempo dos

profissionais envolvidos em outros projetos também dificultou

muito o processo. O que temos nos textos são vivências,

desejos, questionamentos que foram despertados por alguns

professores. O tema está latente em nós pedindo para ser

explorado e apropriado. Espero que este relato desperte quem

está adormecido, quem tem sede de vida. E que a temática

Sons, Cores, Imagens e Sabores: Africas no Brasil seja tratado

com mais empenho e o respeito que merece por todos.

O resultado: valeu a pena

Poemas lindos, autoestima elevada, sentimento de dever

cumprido. O resultado aliado ao processo foi além do que

esperava.

”E aprendi que se depende sempre de tantas muitas diferentes

gentes... Todas as pessoas sempre são as marcas das lições

diárias de outras tantas pessoas...” (Gonzaguinha).

Page 41: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

41

Memória - História

Izabel Cristina de Almeida1Maria do Carmo Ferreira Umbelino2

Com o intuito de não só de construir o conceito de memória

atrelado à concepção do “fazer história”, mas também de

trabalhar o conceito de memória com um grupo de

adolescentes, que traz em sua trajetória vivências de uma

memória recente, as funcionárias da biblioteca da Escola

Municipal Maria Assunção de Marco - EMMAM propuseram, como

preparo e elemento motivador para a execução dos trabalhos

propostos pela “Jornada Literária”, uma atividade prévia, prática

e lúdica, contemplando momentos de memória poética e

memória visual.

Com parceria da Coordenação Pedagógica da professora de

Língua Portuguesa e com o apoio de professores e auxiliares de

serviços, foi montado no hall da biblioteca um “Salão de

Memória”. No auditório anexo a esse espaço, realizou-se uma

conversa com os alunos, futuros produtores de textos.

No “Salão de Memória”, foi oportunizado aos estudantes um

contato com o conceito de memória familiar. No referido espaço,

entre porta-retratos de cenas de famílias e textos literários

descritivos da situação familiar, era possível apreciar também

mobiliários antigos, rádios, relógios, ferros de brasa, máquinas

de moer carne, colcha de retalho, álbuns de família, caixinhas de

música e oratórios.

Tais peças expostas constituíram um depositário da memória

familiar. Os textos de cunho literário descritivos das fotos

despertaram o entendimento da conexão TRABALHO, MEMÓRIA,

HISTÓRIA.

A fim de sensibilizar os educandos para a proposta de trabalho,

1 Auxiliar de biblioteca na Escola Municipal Maria Assunção de Marco - EMMAM.

2 Professora na Escola Municipal Maria Assunção de Marco - EMMAM.

Page 42: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

42

projetava-se como pano de fundo a seguinte frase: “O que fora

significativo a memória guardou, e tudo se fez história”.

Também compondo o salão da memória, foi montado um painel

com fotos da escola desde a sua fundação até os dias atuais.

Acima do painel, lia-se em grandes letras: “TRABALHO,

MEMÓRIA, HISTÓRIA”; e, logo abaixo, via-se a inscrição

seguinte: “Esta escola tem memória, ela faz HISTÓRIA”.

Após apreciar todo o acervo do “MUSEUZINHO”, assim

carinhosamente denominado pelos alunos, e já os tendo

PROVOCADO bastante, os alunos foram convidados a se dirigir

ao auditório, onde, em um tom poético, as auxiliares de

biblioteca declamaram. A memória foi exaltada:

“Oh tristeza me desculpe

Estou de malas prontas

Hoje a poesia...”;

“Meu pai montava a cavalo, e ia para o campo

Minha mãe ficava sentada...”;

“Mas as cosas findas,

muito mais que lindas,

Essas ficarão”;

“Eu daria tudo que tivesse

Pra voltar aos tempos de criança...

Tantas histórias... tantas questões...”.

Após a apresentação das poesias, os alunos foram instigados a

adivinhar um objeto nunca visto por eles: um oratório de

tropeiro das Minas Gerias, do séc. XVIII -XIX, que, pela parte

Page 43: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

43

externa e ainda fechado, sugeria várias ideias.

Toda uma história foi contada em torno daquela peça enigmática.

Ainda nesse contexto, foi apresentada uma foto de um “domingo no

parque” de BH, em 1957. Foi lido com muita emoção, um texto

literário alusivo à foto.

E, diante de tantas memórias e de tantas emoções, só nos restou

apreciar, posteriormente, os lindos textos produzidos pelos alunos.

Referências

ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 1997.

Le GOFF, jaques. Enciclopédia Einaudi – memória – história. INCM, v. 1, 1997.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Indez. Belo Horizonte: Miguilim, 1989.

Page 44: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

Seção Biblioteca

Page 45: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

45

Indicação de literatura

Adolescência na escola: soltar a corda e segurar a pontaMargarete Parreira Miranda

A partir de problemas apresentados por professores em

grupos de estudo e com base na teoria psicanalítica, a autora

lança indicadores fundamentais para a compreensão de alguns

elementos que estão em jogo nesse relacionamento.

A formação social da mente: o desenvolvimento dosprocessos psicológicos superioresLev Semenovich Vigotski

A formação social da mente é uma seleção cuidadosa dos

ensaios mais importantes de Vigotski, editada por um grupo

de eminentes estudiosos de sua obra.

O mistério das bolas de gude: histórias de humanosquase invisíveisGilberto Dimenstein

Na obra, o autor vai atrás de personagens de diversas origens,

com uma história em comum: o desejo de criar alternativas à

desesperança vivida pelos que se encontram em situação de

risco.

Para aprender matemáticaSergio Lorenzato

Pretendendo tornar a aprendizagem da matemática

significativa e agradável, esta obra aborda 25 princípios

educacionais cuja aplicação favorece um ensino de qualidade.

Pedagogia empreendedoraFernando Dolabela

As questões que permeiam a educação empreendedora têm

por tarefa, principalmente, fortalecer os valores

empreendedores na sociedade, dar sinalização positiva para a

capacidade individual e coletiva de gerar valores para toda a

comunidade, como a capacidade de inovar, ser autônomo, ser

protagonista, bem como de buscar a sustentabilidade.

Page 46: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

46

O laboratório de ensino de matemática na formação deprofessoresSergio Lorenzato

A obra mostra que se pode desempenhar um importante papel

no ensino e na aprendizagem da matemática. Apresenta também

diferentes concepções e utilizações do laboratório de ensino de

matemática, extensa bibliografia referente ao tema e muitas

sugestões de materiais didáticos.

Aprender com jogos e situações-problemaLino de Macedo; Ana Lúcia S. Petty; Norimar Christie Passos

Os autores apresentam seu modo de trabalhar, os princípios

teóricos que animam sua prática, sua convicção de que jogos e

situações-problema podem ser recursos úteis para uma

aprendizagem diferenciada e significativa.

Page 47: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2
Page 48: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

������������

�����������ABCADE�CFB����C�A�A����C��A��A�����A���C���ACA�������A���

���������AB

CDEF��� �D��� �F���� �F���� CD��� C����� �����E�

A � �

����������

AB�CC��DC�EF������DC��F

B

B��B��

! "

# $

�������

�EC�����F�

%

�������E�������CF�����

A

&B�CC��DC�EF������DC��F

AA

AB��B��

A� A�

AB A!

&�������

�EC�����F�

A"

A������E�������CF�����

���������

�B�CC��DC�EF������DC��F

A# A$

����������A��B��

A% �

CDEF��

�A

�����B��E

��

'�������

�EC�����F�

��

�������E�������CF�����

�B

'���������

�B�CC��DC�EF������DC��F

�!

&B��B��

�" �#

�$ �%

(�������

�EC�����F�

������E�������CF�����

�)*)+��

� !�CC��CE

����CE"#�$%���F�����&�F��

A 'EC��F��%�'ECE�F�����'EC��

� (�����'E��������)�$*�

��

Page 49: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

,��-����AB

CDEF��� �D��� �F���� �F���� CD��� C����� �����E�

A

���A��A���������

� � B

! "

��������

�EC�������

#

��������E�������C������

$

���������

AB�CC��DC�EF������DC��F

%

(B��B��

A AA

���A��EA���E

A� A�

�������

�EC�����F�

AB

A������E�������CF�����

A!

(���������

B�CC��DC�EF������DC��F

A"

'B��B��

A# A$

A% �

A�������

�EC�����F�

�A

������E�������CF�����

��

���������

(B�CC��DC�EF������DC��F

��

&B��B��

�B �!

�" �#

��������

�EC�����F�

�$

�������E�������CF�����

�%

'���������

&B�CC��DC�EF������DC��F

B��B��

�A

�)*)+��

� !�CC��CE

����CE"#�$%���F�����&�F��

A 'EC��F��%�'ECE�F�����'EC��

� (�����'E��������)�$*�

��

Page 50: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

./+0-����AB

CDEF��� �D��� �F���� �F���� CD��� C����� �����E�

A

� � B !

���������

"

(B��B��

# $

C�B��F�E��E

% A AA A�

���A��EA�������E

A� AB A!

A" A# A$ A%

����EA���E��

� �A ��

�� �B �! �" �# �$ �%

�)*)+��

� !�CC��CE

����CE"#�$%���F�����&�F��

A 'EC��F��%�'ECE�F�����'EC��

� (�����'E��������)�$*�

��

Page 51: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

�*-C�-����AB

CDEF��� �D��� �F���� �F���� CD��� C����� �����E�

A

B��B��

� �

B !

��������

�EC�����F�

"

��������E�������CF�����

#

A����������

B�CC��DC�EF������DC��F

$

(B��B��

% A

���A��EAC��E

AA A�

�������

�EC�����F�

A�

A������E�������CF�����

AB

(����������

B�CC��DC�EF������DC��F

A!

�EE�B���A��A��EE�A

��B���

A" A#

A$ A%

A�������

�EC�����F�

�������E�������CF�����

�A

&����������

(B�CC��DC�EF������DC��F

��

'B��B��

�� �B

�! �"

��������

�EC�����F�

�#

������E�������CF�����

�$

����������

'B�CC��DC�EF������DC��F

B��B��

� �A

�)*)+��

� !�CC��CE

����CE"#�$%���F�����&�F��

A 'EC��F��%�'ECE�F�����'EC��

� (�����'E��������)�$*�

��

Page 52: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

C)�),��-����AB

CDEF��� �D��� �F���� �F���� CD��� C����� �����E�

A �

��������

�EC�������

��������E�������C������

B

�����������

AB�CC��DC�EF������DC��F

!

B��B��

" #

B����B�!BF��A��A"�E��

$ %

�������

�EC�����F�

A

A������E�������CF�����

AA

(����������

B�CC��DC�EF������DC��F

A�

B��B��

A� AB

A! A"

A�������

�EC�����F�

A#

������E�������CF�����

A$

����������

(B�CC��DC�EF������DC��F

A%

'B��B��

� �A

�� ��

��������

�EC�����F�

�B

�������E�������CF�����

�!

'����������

B�CC��DC�EF������DC��F

�"

(B��B��

�# �$

�% �

�)*)+��

� !�CC��CE

����CE"#�$%���F�����&�F��

A 'EC��F��%�'ECE�F�����'EC��

� (�����'E��������)�$*�

��

Page 53: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

-/�/��-����AB

CDEF��� �D��� �F���� �F���� CD��� C����� �����E�

A

��������E�������C������

����������

B�CC��DC�EF������DC��F

AB��B��

B !

" #

�������

�EC�����F�

$

A������E�������CF�����

%

(����������

B�CC��DC�EF������DC��F

A

B��B��

AA A�

���A��EA���B��E

��EE�A��B���A

����F���

A� AB A!

���A��AC���EE�

A" A# A$ A%

� �A

�������

�EC�����F�

��

�������E�������CF�����

��

'����������

(B�CC��DC�EF������DC��F

�B

B��B��

�! �"

�# �$

'�������

�EC�����F�

�%

������E�������CF�����

�����������

'B�CC��DC�EF������DC��F

�A

�B��B��

�)*)+��

� !�CC��CE

����CE"#�$%���F�����&�F��

A 'EC��F��%�'ECE�F�����'EC��

� (�����'E��������)�$*�

��

Page 54: Revista Formação, Sujeitos & Práticas - Ano 1 - Nº 2

+-1),��-����AB

CDEF��� �D��� �F���� �F���� CD��� C����� �����E�

A �

#�B���E

� B

(�������

�EC������

! " # $ %

A AA A� A� AB A!

C�F�������A��A$��%���F�

A"

A# A$ A% � �A �� ��

�B �! �" �# �$ �% �

�)*)+��

� !�CC��CE

� ����CE"#�$%��� �����&� ��

A 'EC�� ��%�'ECE� �����'EC��

� (�����'E��������)�$*�

��