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Revista Frame

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Revista sobre cinema alternativo

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índice.

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Mulheres à beira de um ataque de nervos

Simplesmente Complicado

Casablanca

Em Paris

O fim nas telas

Frases

O Passado

Apenas o Fim

“ ”

3.

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editorial.

4.

Marina [email protected]

Relacionamentos amorosos são inerentes a nossa vida. Encontrar a pessoa certa não é tarefa fácil, e rompimentos são inevitáveis. Mas para quem está passando por um término, pouco adianta dizer que é um processo normal e passageiro. Fins vêm acompanhados de dor, frustração, raiva e tristeza, para nomear apenas alguns dos sentimentos que costumam tomar conta da gente.

Filmes são “espelhos dos conflitos senti-mentais humanos”, como bem resumiu Laís Montagnana na matéria de capa. E a Frame traz esse mês uma seleção de filmes que tratam de fins de relacionamentos. É possível perceber como cada personagem tem um jeito diferente de lidar com o fim, assim como acontece na vida real. Na seção “Volta ao mundo” é pos-sível ainda ver como a cultura pode influenciar as reações das pessoas.

Andy Warhol uma vez disse: “São os filmes que tem conduzido as coisas. Eles mostram o que devemos fazer, como fazê-lo, quando, como se sentir sobre o que fizemos, e como aparentar aquilo que sentimos.” Com os filmes dessa edição, esperamos mostrar que por mais difícil que seja lidar com o término de um rela-cionamento, a vida continua. E quando tudo passa, vemos que foi apenas o fim.

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lançamento.

Regina Colon

Depois de “Do que as mul-heres gostam”, “Alguém tem que ceder” e “O amor não

tira férias”, a especialista em comédia-romântica, Nancy Meyers, apresenta “Simplesmente Complicado”.

Com a habilidade de reunir um óti-mo elenco, Meyers traz Meryl Streep, Alec Baldwin e Steve Martin. Cada um dos três é reconhecido por sua capaci-dade para comédia e se mostram con-fortáveis em seus personagens.

O filme se inicia com champagne, revelando o atrito entre Jane (Streep) e Jake (Baldwin), divorciados há dez anos. Jane é dona de uma confeitaria muito famosa e uma cozinheira recon-hecida por todos ao redor. Apesar do sucesso profissional ela ainda lamenta

a falta de êxito em seu casamento e o fato de que seu ex está casado com Agness (Lake Bell) uma mulher muito mais nova. Jake, por sua vez, está com problemas no seu novo casamento. Agness quer ter um filho, sendo que Jake já tem que aguentar Pedro, filho de sua mulher e um terror. A vida de Jane e Jake muda quando ambos estão hospedados no mesmo hotel para a formatura de um dos seus três filhos. É quando, depois de alguns drinks, os dois passam a noite juntos. Após esse acontecimento, começam a ter um caso e Jane se vê na situação de amante de seu ex-marido. Enquanto isso, o ar-quiteto Adam aparece na vida de Jane e está formado o triângulo amoroso que sustenta todo o filme.

Com ótimas cenas de paisagens ou de comidas, Simplesmente Compli-cado mostra um mundo rico e bonito, no qual os problemas também existem, marca registrada da roteirista e diretora Nancy Meyers.

Outra marca de Meyers é mostrar como o amor é importante para pes-soas acima de 40 anos, deixando em segundo plano os personagens mais jo-vens e atendendo a um público especí-fico e na maioria das vezes, feminino.

“Simplesmente Complicado” pode ser considerado mais do mesmo da co-média-romântica. É muito açúcar para pouca história, apesar disso, o seu final não é o natural do gênero, e pode ser considerado um dos poucos que não traz o tão batido final feliz.

Simplesmente Complicado

Nancy Meyers conseguiu reunir uma variedade de clichês e um belíssimo trio de protagonis-tas. “Simplesmente Complicado” é a clássica história da mulher mais velha que é trocada por uma mais nova. Também a da mãe que se sente abandonada na enorme casa pelos filhos que cresceram. O famoso enredo de Meyers dos problemas pelos quais os ricos passam. Aparecem também os clichês da cirurgia plástica, o do homem mais velho que não consegue ter filho e o das quatro amigas que se unem para falar mal dos ex-maridos. Apesar disso, qualquer filme que conte com esse trio de peso está longe de ser um fracasso. Os diálogos rápidos e irônicos entre Streep e Baldwin rendem boas risadas. A cena que mostra os per-sonagens Jane e Adam sob os efeitos da maconha também valem a pena. E para ir contra a corrente de todos os clichês vistos ao longo do filme, o final mostra ninguém dando certo com ninguém, o que quebra a ideia do happy end da comédia-romântica. Simplesmente Complicado apresenta uma Meryl Streep atuando sem esforço, um Alec Baldwin famoso na comédia americana e um Steve Martin engraçado conhecido por todos. Acrescente nisso uma boa dose de lugar-comum e um final diferente - mas não surpreendente.

Simplesmente o de sempre

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capa.

O fim nas telas

Entenda o que se passa na cabecinha dos corações partidos através de três lon-gas que abordam fins de relacionamentosLaís Montagnana

Espelho dos conflitos sentimentais humanos, o cinema passou a abordar as dúvidas e angústias do homem, refletindo os dramas de determinadas épocas. Não é estranho então ver a quantidade

inestimável de filmes que tem como tema principal aquela que pode ser considerada a mais antiga dor humana: o fim de um relacionamento e como encarar a desilusão amorosa.

Não adianta, quando o amor acaba ou é interrompido não há como passar ileso por esse processo de aceitação sem um turbilhão de senti-mentos e pensamentos fervilhando em sua cabeça, o que pode acabar originando as mais diversas reações para enfrentar o fim. Olhando para a arte a fim de entender a vida, a revista Frame escolheu três filmes que abordam o fim de relacionamentos para entender o que se passa nas cabe-cinhas dos corações partidos.

“O amor nada mais é do que um agrupamento bagunçado de carência, desespero, medo da morte, insegurança sobre o tamanho do pênis e a necessidade egoísta de colecionar o coração de outras pessoas.” (Brilho eterno de uma mente sem lembranças)

6.

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500 dias com ela“Essa é uma história sobre um garoto que

conhece uma garota, mas você deve saber logo de começo: essa não é uma história de amor, é uma história sobre amor”. Mal começa o filme e o narrador já alerta os desavisados para não se entregarem à película achando que esta é uma love story de final feliz porque estes irão se machu-car, mas ninguém dá atenção ao aviso... Ao nos simpatizar com o jovem Tom (Joseph Gordon-Levitt), sentimos as mesmas dores do rapaz após o seu rompimento com a encantadora Summer (Zooey Deschanel).

Dirigido por Marc Webb e lançado em 2009, “500 dias com ela” conta a história de Tom, que levava uma vida medíocre trabalhando numa em-presa de cartões quando encontrou sua razão de existência na nova assistente de seu chefe, Sum-mer. O rapaz que cresceu ouvindo The Smiths e outras músicas tristes do pop britânico cultivou uma visão idealizada do amor, na qual só seria feliz a partir do momento em que encontrasse “the one”. Já Summer, que se mostrava cética a re-speito do amor, acaba por se envolver com Tom, mas sempre deixando claro que não quer nada sério com o rapaz. Contudo, Tom vai negando os indícios de Summer e estabelecendo a ilusão de que os dois estão na mesma sintonia e mer-gulha de cabeça no relacionamento.

Quando o namoro termina, Tom então tem uma dificuldade imensa para enfrentar o fim simplesmente porque ele não aceita esse fim, como ele próprio diz: “E não quero superá-la, eu a quero de volta”. As especialistas em Psico-terapia Psicanalítica, Patrícia Mazonezi e Aline

Rodrigues, explicam que a dificuldade para su-perar o fim depende muito do mito que a pessoa cria sobre o relacionamento. “Se a pessoa tem a ideia rígida de que vai ficar com a outra pelo resto da vida, de que esse é seu plano de vida e não pode ser alterado, vai ser muito complicado e doloroso se adaptar à perda daquele grande amor porque, para ela, com a separação sua vida perdeu o sentido”, explicam as psicólogas.

Após o rompimento, Tom segue na con-tramão das atitudes usuais de pessoas que ter-minam um relacionamento. Ao invés de focar nos pontos negativos e nos desentendimentos do namoro a fim de esquecê-lo mais rápido, ele só vê o que quer enxergar do ex-relacionamen-to: as partes boas, se aprisionando então numa visão de como tudo estava perfeito e como ele não queria ter perdido isso.

É preciso um grande tempo de luto e fossa, com direito a muito The Smiths, Jack Daniel’s, encontros imaginários, noites em claro, dias de pijama, perda de fé no amor e cultivo de ódio aos casais felizes, para Tom voltar a todos os momentos dos 500 dias que passou junto a Summer, os bons e também os ruins. Aos pou-cos ele vai se dando conta de que aquele amor não era possível, e vai vendo nas suas lembran-ças que na verdade ele amava mais a Summer, do que ela ele. Só aí ele vai retomando a própria vida, e buscando seus objetivos, como trabalhar como arquiteto.

“Superar o fim do relacionamento é um mo-mento importante de crescimento pessoal no qual você se dá conta de que por mais que esteja

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apaixonado pelo outro, sua existência não pode se resumir a isso. Mas há um processo para isso, e a dor é uma etapa da qual, se você está envolvido, não tem como escapar, nem a pessoa mais desen-volvida consegue pular essa etapa. Aceitar a perda e sair da depressão, é um momento posterior, porque se você está envolvido necessariamente você vai querer a pessoa de volta, não tem como evitar”, completa Patrícia.

500 dias com ela transporta os cinco estágios pelos quais as pessoas que estão no final da vida passam para alguém que está superando uma desi-lusão amorosa. Primeiro Tom passa pela negação, raiva, barganha e depressão para finalmente aceit-ar o fim, seguir em frente e quem sabe recomeçar o ciclo novamente.

8.

Você acabou de passar por um fim de namoro, está sentindo a angústia do rompimento e não sabe o que fazer com tanta dor? Não se preocupe, Rob Gordon ensina você como passar pela fossa: basta colocar toda a culpa do seu sofrimento na música pop.

“Algumas das minhas músicas preferidas: ‘Only love can break your heart’ por Neil Young, ‘Last night I dreamed that somebody loved me’ por The Smiths, ‘Call me’ por Areta Franklin, ‘I don’t want to talk about it’ por qualquer pessoa (...) Algumas dessas músicas eu ouvi uma vez por semana na média (trezen-tas vezes no primeiro mês, de vez em quando depois), desde que eu tinha 16, 19 ou 21 anos. Como isso pode não te deixar ferido em algum lugar? Como você pode não se tornar o tipo de pessoa capaz de se quebrar em pequenos pedaços quando o primeiro amor dá errado? O que veio primeiro, a música ou a tristeza? Eu ouvia música porque eu era triste? Ou eu era triste porque eu ouvia música? Todos esses álbuns te transfor-mam numa pessoa melancólica? As pessoas se preocupam com crianças brincando com ar-mas, e adolescentes assistindo a vídeos violentos; nós temos medo que algum tipo de cultura da violência vai tomar conta de-

les. Ninguém se preocupa com crianças ouvindo milhares – literalmente milhares – de músicas sobre corações partidos, rejeição, dor, tristeza e perda.”

Rob (John Cusack) é o herói/anti-herói do livro “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby, que ganhou versão cinematográfica em 2000 com a direção de Stephen Frears. Nas próprias palavras do es-critor, o romance é uma comédia sobre medo de comprometimento, odiar seu trabalho, falhar no amor e outras canções pop favoritas. Em decla-ração no seu site oficial, Nick Hornby confessou que a adaptação cinematográfica foi fiel ao livro, sendo que a única coisa que mudou de uma versão para a outra foi a música. Para Hornby a música é uma parte da conexão pessoal à obra, ou seja, os responsáveis pela a adaptação do romance para as telonas viram a história de Rob como uma história sobre eles próprios, e acabaram transferindo suas músicas ao filme. Nada mais justo do que escolher a trilha sonora da própria vida.

Rob (John Cusack) é o herói/anti-herói do livro “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby, que ganhou versão cinematográfica em 2000 com a direção de Stephen Frears. Nas próprias palavras do escritor, o romance é uma comédia sobre medo de com-prometimento, odiar seu trabalho, falhar no amor e outras canções pop favoritas. Em declaração no seu site oficial, Nick Hornby confessou que a adaptação cinematográfica foi fiel ao livro, sendo que a única coisa que mudou de uma versão para

Alta fidelidade

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a outra foi a música. Para Hornby a música é uma parte da conexão pessoal à obra, ou seja, os responsáveis pela a adaptação do romance para as telonas viram a história de Rob como uma história sobre eles próprios, e acabaram transferindo suas músicas ao filme. Nada mais justo do que escolher a trilha sonora da própria vida.

Dono de uma loja de discos de vinil à beira da falência, Rob nutre uma relação ambígua com a música, por onde busca forças, reconfor-to e ao mesmo tempo a faz de objeto de culpa e tortura na hora da fossa. Após a namorada sair de casa e abandonar Rob, ele reorganiza sua in-terminável coleção de LP’s e relembra o Top 5 dos piores foras que já levou, a fim de entender o que deu errado em todos os seus outros rela-cionamentos passados. O interessante é que, assim como em 500 dias com ela, conhecemos a história através da visão do protagonista e com isso só nos é mostrado o que este quer enxergar. Desse modo, da mesma forma que Tom num momento de lucidez percebe que há tempos seu relacionamento apresentava racha-duras, Rob nos mostra sua face de vítima para mais tarde se tornar vilão.

Após fazer essa retomada mental, e ir pro-curar suas ex para entender por que houve o fim do relacionamento, há uma racionalização dessas memórias, e ele se dá conta de que não eram elas que terminavam com ele, mas sim ele que provocava ou fazia alguma coisa para que elas terminassem. A psicóloga Aline explica que esperar ou fazer com que o outro termine a relação é um mecanismo utilizado para não ter que lidar com essa responsabilidade, com o sentimento de culpa por ter terminado, ou ainda enfrentar as questões existenciais do por que do término, como: “Será que eu não sei

amar?”. Ela analisa: “Ao colocar a culpa do térmi-no no outro, isso passa a ser problema do outro, então a pessoa fica na postura de vítima e não tem que lidar com nada, porque a vítima é pas-siva. O outro que terminou. O que foi que eu fiz? Eu não fiz nada, a culpa é do outro”.

Durante o filme Rob também exibe uma postura narcisista como se essa fosse uma proteção para ele não se relacionar porque ele não consegue lidar com esses foras, com essas perdas, com essas frustrações da vida e com os riscos que o comprometimento pode trazer. Tanto que o fato de ele ficar listando frequent-emente os Top 5 da sua vida é uma maneira de ele, à todo momento, ficar lembrando desses momentos.

Culpar a ex ou a música pop pela dor do fim pode não ser a melhor maneira para lidar com término de um relacionamento, mas em Alta Fi-delidade essa receita, com certeza, rende ótimas reflexões e boas risadas.

Brilho eterno de uma mente sem lembranças

É assim, de forma abrupta, que Joel (Jim Carrey) descobre que após uma briga a sua en-tão namorada, a impulsiva Clem (Kate Wins-let), resolveu por um fim na relação dos dois e esquecê-lo definitivamente. Num impulso de raiva e desespero, ao tomar consciência de que a pessoa que ele ama resolveu apagá-lo, literal-mente, da memória, Joel decide se submeter ao mesmo procedimento. Na realidade imaginada pelo roteirista Charlie Kaufman, para o filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

“Clementine Kruczynski apagou Joel Barish de sua memória, por favor, não mencione o relacionamento deles para ela novamente. Obrigado.”

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(2004), é possível que os corações partidos recorram ao revolucionário processo do Dr. Howard Mierz-waik (Tom Wilkinson) que consiste simplesmente em apagar todas as lembranças da pessoa escolhida da memória de seu paciente.

Grande parte do filme se passa nas lembranças de Joel durante o processo mental que ele faz de relembrar suas memórias de Clem para então apagá-la no procedimento. O diretor do longa, Michel Gondry, deu vida a es-sas cenas introduzindo-nos na cabeça de Joel de uma forma bem onírica. Charlie Haufman explica no seu site oficial que escolheu essa relação entre coração-mente porque acredita que: “Suas emoções estão no seu cérebro, sendo assim este parece ser um local natural para ambientar a história. A história é sobre emoções e memória, e ambos estão no seu cérebro. Se eu tivesse ambientado a história no co-ração, ela seria apenas sobre sangue sendo bombeado”.

Clem e Joel tentam pegar um atalho para encurtar a dor do fim ao deletar as lembranças da pessoa mo-tivo de tanto sofrimento. Entretanto, não adianta sufocar a dor, é preciso olhar para ela a fim de superá-la. A

psicóloga Aline explica que as pessoas que não olham para a dor do fim do relacionamento e emendam em outra relação acabam repetindo a mesma experiência e até o mesmo padrão de pessoas. “É comum essas pessoas pensarem: ‘Poxa, só me atraio por tal tipo de homem! ’, mas elas também não olham o porquê disso, e é preciso olhar, porque a tendência é de isso se repetir”, afirma Aline. Essa repetição fica clara no caso de Mary (Kirsten Dusnt), que mesmo após ter apagado da sua memória as lembranças de seu relacionamento com seu chefe, volta a se apaixonar por ele.

Além disso, a psicóloga Patrícia argumenta que os momentos de crise são enriquecedores porque ajudam a

pessoa a ver os outros de uma forma inteira, a ver que apesar das feridas que o ex deixou ele não é só defeitos. “Ao sair daquele mundo ilusório onde as pessoas são divididas em boas ou ruins, fica mais fácil lidar com frustra-ções, porque isso ajuda as pessoas a perceberem que a vida não é estável, ela tem seu movimento, horas pra bom, horas não. Além do que só de ter o registro da própria condição de superação já enriquecedor”, analisa Patrícia.

Costumeiramente, quando há o rompimento, e até mesmo para con-seguir romper a relação, as pessoas procuram escancarar os defeitos do outro num processo de denegri-lo para elas mesmas aceitarem o fim, porque num primeiro momento é muito mais difícil de esquecer o ex se você fica pensando nas qualidades dele. É dessa maneira que Joel se con-vence de esquecer Clem de vez e sub-mete-se ao procedimento de apagá-la. Contudo, o relacionamento que não deu certo também faz parte de Joel, e ao deletá-lo ele também acaba dele-tando um registro da sua história, e é exatamente quando Joel está tentan-do esquecer Clem, que ele percebe todo o lado bom do relacionamento e o quanto ele ainda a ama. Assim ele começa uma luta para tentar se es-conder em suas memórias e impedir que apaguem Clem porque, assim como o filme deixa claro, você pode apagar alguém de sua mente, mas tirá-lo do seu coração é outra história.

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Argentina

Separação como ponto de partida

Uma história que começa terminando. Antes de tudo, O Passado, do argenti-no-brasileiro Hector Babenco, fala de relações de amor, obsessão, loucura e intensidade. A frase dita pela ex-mulher “a separação também pode fazer parte de uma história de amor” define tudo o que acontece com Ramini (Gael Garcia Bernal), o protagonista. Através de muito silêncio, nudez e insanidades, ele passa por três relacionamentos, cada qual com o seu nível de comprometimento. Salta aos olhos o seu sofrimento ao encarar todas as situações, tentando se manter centrado a todo momento. E quando isso já não é mais possível, a única volta é lidar com o passado, que se encontra dentro de uma caixa de fotos antigas. “O pas-sado é um bloco que não se pode sepa-rar”, diz Ramini. Vemos, então, o jovem tradutor esquecer-se de tudo o que ficou junto dessa caixa. Em meio a paisagens que se opõem, ora no meio de cidades conturbadas e cinzas, ora em praias com horizonte de céu azul, as lembranças vão se perdendo e é necessário anotar atrás de cada foto para se ter elas guardadas novamente. Aqui, Babenco demonstra que – talvez – haja vida depois de uma separação de longos anos, sabendo ap-enas como colocar seu ponto final.

Algo que dure doze anos é muita vida. Mui-tas experiências, situações, pessoas, lugares, sonhos, realizações, frustrações e fotos. Como lidar com toda essa bagagem depois que se

deixam esses anos no passado? É esse o questionamento que o casal – ou ex-casal - Ramini e Sofia enfrenta em “O Passado”, de Hector Babenco.

Ramini (Gael García Bernal) é tradutor de francês e inglês, que foi casado doze anos com Sofia (Analía Couceyro), sua paixão de adolescente que durou demais. Assim que se separam, cada um vive momentos e situa-ções diferentes, porém entrelaçadas. Ramini conhece uma modelo neurótica por ciúme que, por causa de So-fia, acaba com a própria vida. A segunda mulher com quem se envolve também é tradutora, e mais uma vez a interferência da ex-mulher acaba com o relacionamento de Ramini. Os dois vivem se encontrando e Sofia con-trola a vida do ex-marido de perto, fazendo com que os dois percam a razão inúmeras vezes e separadamente em todas.

O filme é baseado no livro homônimo do escritor ar-gentino Alan Pauls, que são memórias jogadas sem uma história concreta. Babenco demorou um ano e meio para construir Ramini em torno de muita confusão sentimental e questões levantadas, sem respostas.

Logo no começo da história, uma personagem resume tudo quando afirma que é necessário que “sigamos juntos em busca da verdade que está escondida dentro de nós, essa verdade, que quando a encontramos e identificamos devolve-nos uma harmonia e uma plenitude que faz com que as coisas simples da vida como respirar, valham a pena”. E é isso que se vê em todo o enredo desenvolvido pelo diretor. A busca por algo que não é encontrado em nenhum dos tempos; passado, presente e futuro. Cenas acontecem, relacionamentos começam e terminam, mas a identidade de cada um dos envolvidos na separação se per-deu após os doze anos. Sobraram apenas pequenos frag-mentos que estão guardados em um caixa, com o valor de um peso morto. E a história dos dois, cada um para um lado, só começa quando o filme realmente termina.

Fragmentos dentro da caixaRegina Colon

volta ao mundo.

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Espanha

ataque de nervosRegina Colon

Ao som de “Soy Infeliz”, in-terpretada por Lola Beltrán, imagens recortadas de revis-

tas femininas dos anos 50 e 60 levam o expectador a entrar no mundo de nervos das mulheres que atravessam o filme espanhol “Mulheres à beira de um ataque de nervos”.

Em 1988, Pedro Almodóvar já havia feito alguns filmes, mas até então, não havia chegado ao recon-hecimento do mercado cinematográ-fico. Foi somente com este longa que o ousado diretor espanhol deu o primeiro passo para o rol de gala do cinema, com a indicação ao Oscar de

Melhor Filme Estrangeiro em 1989.Em Madrid, Pepa (Carmem Mau-

ra) esta sobrevivendo de calmantes depois que Iván (Fernando Guillén), amante de muitos anos, a deixou por telefone, exigindo somente uma mala com os seus pertences. Pepa tem um segredo e necessita contar para Iván, que se esquiva dela a todo o momen-to. A vida fica mais confusa quando sua amiga Candela (María Barranco) aparece apaixonada por um terroris-ta xiita que vai atacar um vôo para Estocolmo, e quando o casal Carlos (Antônio Bandeiras) e Marisa (Rossy de Palma) surge para alugar o seu

Teia de loucuras, obsessões e realidades

Mulheres à beira de um

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Uma caricatura do drama

Desde a sua abertura até a última cena, “Mulheres à beira de um ataque de nervos” tenta represen-tar o universo feminino das paixões, dos homens, das roupas, das loucu-ras e obsessões. Característico de Almodóvar mostrar o que se passa na cabeça de uma mulher, quase sempre acertando na medida. A personagem Pepa surge em uma teia de problemas, entrelaçando todos os outros participantes da trama e criando relações carrega-das de lágrimas, risos, bizarrices, calmantes e gazpacho. As cores aparecem como mais um persona-gem e exteriorizam as emoções das cenas, como por exemplo, quando, já no final, Pepa corre para o salva-mento de seu ex-amante, tendo o vermelho quase que cem por cento em seu corpo. Um dos momentos que mais definem este filme acon-tece dentro do mambo-táxi, com Pepa, a vizinha e o taxista soltando várias definições que finalizam a loucura da história, afirmando que “não há mulher perigosa sabendo-lhe tratar” e que “é muito mais fácil aprender mecânica do que psicologia feminina”. A confusão de cenas, informações e persona-gens marcam toda a trama e nem em seu diálogo final há uma expli-cação ou uma resolução de todas as questões. O que acontece com cada personagem? Não se tem certeza. A loucura permanece afir-mando que, salvo somente alguns exageros, o universo feminino não se define.

apartamento. E a perseguição entre a ex-mulher de Iván, Lú-cia (Julieta Serrano) e Pepa dão o tom final da loucura.

“Mulheres à beira de um ataque de nervos” apresenta vários elementos que explicam a própria história e que são recor-rentes nas obras de Almodóvar. A personagem principal é uma atriz de televisão e dubladora de filmes norte-americanos, e aí, ve-mos a questão da metalinguagem, quando os diálogos dos filmes se tornam verdade na realidade do que assistimos.

Impossível não citar as constantes cores que representam emoções e personalidades. No livro “Con-versas com Almodóvar”, de Frederic Strauss, o diretor explica o porquê do constante uso do vermelho em suas obras, falando da representação dessa cor na cultura chinesa: “[o vermelho] é

a cor dos condenados à morte. Isso faz dele uma cor especifica-mente humana, já que todos os seres humanos estão condenados à morte”. Dessa forma, o ver-melho surge no lugar do preto, para representar o luto que Pepa sente em relação ao amor vivido com Iván.

Além das cores, cenas e obje-tos caracterizam o universo que se quer demonstrar. O enorme terraço com casais de animais e plantas, vários relógios na cabe-ceira da cama, brinco em forma-tos de cafeteira, fogo no lençol e gazpacho batizado com calm-ante, pequenos detalhes que con-tam o que está por traz do drama do mau amor. “Mulheres à beira de um ataque de nervos” é com-plexo na loucura, porém simples no enredo e seus segredos são o que respondem as questões do filme.

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ParisEm

A atual Nouvelle VaguePaulo Gomes Netto

Um filme de relacionamentos. Esse é “Dans Paris”, ou como foi traduzido ao vir em festivais para o Brasil, “Em Paris”. A história lançada em 2006 na França e 2007 no Brasil traz Paul, interpretado por

Romain Duris, que ao entrar em depressão depois de finalizar um relacionamento, volta a morar com o pai e o irmão, Jona-than, vivido por Louis Garrel, um jovem bon vivant. O filme se concentra na relação dos dois irmãos, mas mostra outros vários conflitos familiares, entre pais separados porque a mãe fugiu com outro e uma irmã que morreu aos 17 anos de idade. Tudo isso, apesar dos temas pesados, sem melancolia no produto fi-nal. O diretor Christophe Honoré, fã assumido do Nouvelle Vague, traz para sua obra mais uma pitada da vertente do cinema francês.

França

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15.

É o terceiro longa do diretor francês, no qual ele pega emprestado alguns cortes e monólogos de Fran-çois Truffaut e Jean-Luc Godard, mostrando ainda mais evidentemente sua paixão pelo Nouvelle Vague. Hon-oré gostou tanto do trabalho de Louis Garrel quando fizeram a produção “Ma Mère” (sem tradução oficial para o Brasil),que o convidou para partici-par desse e de mais três filmes até en-tão: “As Canções de Amor”, “A Bela Junie”, e “Não Minha Filha, Você Não Irá Dançar”. Com Romain Duris, o diretor havia trabalhado também em 17 fois Cécile Cassard (também sem tradução oficial). “Meu primeiro desejo foi filmar novamente com es-ses dois atores que já tinham atuado em meus filmes anteriores. E oferecer a eles papéis que permitissem uma abordagem nova”, comentou Honoré em entrevista à Folha de S. Paulo. “Ao longo dos filmes, vou percebendo que, para mim, a família é o verda-

deiro lugar de minhas histórias. E o que me interessa é observar como os sentimentos circulam dentro da famí-lia”, ele completa.

Filho do cineasta Philippe Garrel (diretor de “A Fronteira...” e “Aman-tes Constantes”), Louis trabalha bastante com o pai, além de Honoré. Também entrevistado pela Folha, o jovem ator comenta como é tra-balhar com os diretores. “Acho meu

Filmes franceses são ousados, diferentes e be-los. Sempre belos. Afinal , o que mais se pode esperar de produções que tem a cidade mais romântica do mundo como pano de fundo? Apesar de uma temática pesada de conflitos familiares, “Em Paris” não se deixa entregar à melancolia, e retrata com sensibilidade o rela-cionamento dos irmãos em uma fase difícil de depressão de um deles. O diretor e roteirista Christophe Honoré ousa ao colocar nus fron-tais que, embora pudesse haver outra maneira de demonstrar isso, ajuda na definição da per-sonalidade de Jonathan, interpretado por um Louis Garrel um tanto quanto caricato, que se

pai um gênio. Ele acessa o cinema a um só tempo como pintor e poeta. É muito emocionante, belo e inspirador ver um poeta pintor que faz filmes. Já Christophe Honoré é impulsionado pela literatura”, comenta Garrel.

Nada como uma sessão de cinema francês atual com um toque de Nou-velle Vague. É a França ganhando o mundo com um cinema muito bem apresentável.

apresenta como narrador da história e se dá o direito de interrompê-la, recontá-la e até in-teragir diretamente com o espectador. Reforçam essa metalinguística os cortes de quadros sem preocupação em continuidade do diretor e al-gumas narrações em off (fator esse que, apesar de divertido, atrapalha um pouco por lembrar ao espectador que ele está no cinema e tirá-lo da imersão por alguns minutos). A cidade está sempre de fundo e tem boa parte mostrada no filme e a trilha sonora composta majoritariamente por um piano acompanhado de sax e violão de vez em quando, dá o toque final de uma obra parisiense de primeira.

A sutil tristeza de Paris

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16.

Brasil

Apenas o fimCom apenas 20 anos de idade, Matheus Souza, en-

tão estudante de cinema da PUC no Rio de Janeiro, recebeu uma Menção Honrosa no Festival do Rio

(evento internacional de cinema que acontece anualmente na Cidade Maravilhosa), além do prêmio de melhor filme pelo júri popular por “Apenas o Fim”. Parece incrível, não? Mas essas honrarias foram muito bem entregues, de acordo com o públi-co que acompanhou a história de um casal prestes a se separar. É simples: ela chega para ele e diz “Preciso ir. Quero algo novo da minha vida. Podemos fazer sexo até eu ir ou conversar”. Para que não subisse a restrição etária da produção, eles pas-sam uma hora e vinte minutos conversando sobre vários temas relacionados a si mesmos e à cultura pop. E aí as referências abordam desde boy bands à Star Wars e Orkut, entre He-Man, Pokémon, Power Rangers e muito mais.

“Comecei a escrever acho que em Junho de 2007. Filma-mos em Janeiro de 2008” comenta Matheus em entrevista ao blog Judão, da MTV. Além de diretor, o rapaz também

Paulo Gomes Netto

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17.

Finalizando com chave de ouro

Não é a toa que “Apenas o Fim” foi tão homenag-eado em festivais e pela crítica. É mais uma prova de que um bom roteiro é a base essencial para um bom filme. A produção do iniciante Matheus Souza mostra o último encontro de um casal de namorados que vão se separar com uma delica-deza imensa e regada de diálogos com menções ao mundo pop. Aliás, a projeção inteira mostra a conversa final entre eles, que tem referências o tempo todo, desde o mais clássico de Star Wars, passando por menções a ícones pop dos anos 90, como Power Rangers, Cavaleiros do Zodíaco, Tartarugas Ninja e Backstreet Boys , chegando até a atualidade com Orkut, o filme A Bússola de Ouro e citando até o site Omelete. O dire-tor abusa dos planos longos, mas de maneira não cansativa, pois a maioria desses são feitos enquanto os namorados caminham e conver-sam, sempre em uma dinâmica diferente com a câmera. E o recurso de intercalar cenas do passado do casal em preto e branco foi muito bem colocado, fazendo a monocromia reme-ter ao passado. Texto ótimo, trilha bem casa-da com imagem, o diretor usa até referências metalinguísticas quando os namorados passam pela gravação do filme de um tal de Matheus! Um ótimo filme que, apesar de usar a conversa como estrutura, possui uma essência emocional que é sutilmente colocada e perceptiva.

“Apenas o Fim” ganhou o Brasil, passou a ser cultuado por fãs do cinema nacional e respeitado até por aqueles quem nem valorizam tanto as obras brasileiras. Com todo o sucesso, o diretor já pensa no futuro. “Eu tenho uns três roteiros de longas meio que prontos. Em diferentes níveis de produção. Tem um que é megalomaníaco, outro que é no nível “Ape-nas o Fim” de produção e outro que é meio termo” co-menta Matheus. Mas parece que o jovem também está ligeiramente aflito quanto a seu próximo trabalho. “É muito difícil escolher o segundo filme. É aquele que vai acabar dando razão pra quem falou bem ou pra quem falou mal de mim” finaliza ele.

escreveu o roteiro e todas as referências pop são de sua própria experiência de vida. Foram 11 dias de fil-magem com o dinheiro de uma rifa de whisky como capital inicial. Em outra entrevista, dessa vez ao blog Super da Abril, Matheus fala sobre a produção de “Apenas o Fim”. “Eu sempre fui super apaixonado por cinema. Desde o dia que eu vi ‘A Bela e a Fera’, eu sabia que queria fazer isso. Mas era difícil, porque eu estava no terceiro período da faculdade e longa é uma coisa que só o pessoal dos períodos mais avança-dos faz” comenta o diretor estreante. “Foi então que eu tive essa ideia meio maluca de convencer as pes-soas a fazer um filme comigo, um longa possível. Eu peguei várias referências de filmes que eu gosto muito, com bastante diálogo, poucos personagens. Eu sem-pre gostei muito de diálogos. E foi assim” completa Matheus.

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tirando o pó.

Definitivamente, um clássico

Assistir a filmes em preto-e-branco é sempre uma experiência nova e en-riquecedora. Poucas pessoas param e pensam que as luzes e os figurinos foram todos montados visando o que ficava melhor na tela monocromática. Mas esse é um pensamento de uma geração que cresceu vendo filmes coloridos, por isso a “novidade” da experiência em preto-e-branco. No clássico Casablanca, além de toda a estética montada cuidadosamente, en-contramos uma história extremamente bem amarrada e consistente. O dire-tor Michel Curtiz desenvolveu de ma-neira magnífica o roteiro escrito a oito mãos, baseado em na peça Everybody Comes to Rick’s. Além disso, frases e diálogos memoráveis dão força às personalidades bem definidas dos pro-tagonistas, Rick e Ilsa, brilhantemente interpretados por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Curtiz abusa dos mo-vimentos de câmera aproximando e afastando durante a ação, conseguindo conduzir a atenção do espectador para que esse acompanhe os rápidos diálo-gos distribuídos por toda a película, além de enquadramentos muito bem colocados que dão ainda mais beleza à trama e conseguem seu propósito, geralmente de mistério. Vale ressaltar a trilha de Max Steiner com arranjos derivados do hino francês e, é claro, As Time Goes By.

Casablanca foi inspirado em uma peça não aceita pela Broadway. Na história de Everybody Comes to

Rick’s, os ex-amantes Rick e Ilsa se separam em Paris e voltam a se encontrar em Casa-blanca, rodeados pela tensão da Segunda Grande Guerra e impedidos de ficarem juntos devido a demais fatores. Ganhador de três Oscars (melhor filme, melhor dire-tor e melhor roteiro), concorreu ainda nas categorias: música original, ator principal, ator coadjuvante, fotografia e edição. “Um beijo pode ser apenas um beijo, (...) mas ‘Casablanca’ permanece firme no coração das massas e dos gourmets cinematográficos como uma experiência amorosa inesquecív-el” comenta o crítico brasileiro Sérgio Au-gusto, em entrevista à Folha de São Paulo.

Mas nem tudo são flores. Houve di-versos problemas durante a produção do filme, mas esses acabaram por ajudar Casablanca a se tornar o sucesso que é hoje. Primeiramente o fato de o roteiro nem estar terminado quando as filmagens começaram. A atriz Ingrid Bergman relata em suas memórias que, ao perguntar ao diretor Michael Curtiz por quem Ilsa estava apaixonada, o diretor apenas dizia: “Ainda não sei, enquanto isso... represente”, e essa

ordem fez com que a atriz se entregasse em cada cena, seja com Rick, seja com o outro integrante desse triângulo amoroso. Em outra confusão, o premiado composi-tor Max Steiner queria trocar a música As Time Goes By, vinda de um show da Broadway, por uma canção original de sua autoria, mas não foi possível porque Ingrid Bergman havia cortado seu cabelo para outro trabalho, e a equipe não con-seguiu uma peruca que ficasse bem na atriz para que fossem rodadas novamente as cenas em que a música estava inserida, impossibilitando assim a troca. Sorte do produtor Hal B. Wallis, pois a música ficou marcada no filme e se tornou um grande sucesso nas emissoras de rádio americanas, promovendo ainda mais a película. “Tudo é falso nessa história. Os vistos de saída nunca existiram. (...) Não sabíamos nada a respeito do que acontecia lá realmente e, aliás, não estávamos nem aí” comentou um dos roteiristas do filme, Julius Epstein, em entrevista ao programa Cinéma-Ciné-mas, em 1988.

Apesar disso, suas temáticas de patrio-tismo, romance e liberdade fizeram com que se tornasse um clássico instantâneo, que vive até hoje.

Paulo Gomes Netto

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frases.

Paul: Então nós não estamos mais apaixonados?Anna: Não, nós não estamos.(Em Paris)

Clementine: É isso, Joel. Daqui a pouco vai acabar.Joel: Eu sei.Clementine: O que a gente faz?Joel: Aproveita.(Brilho Eterno de uma mente sem lembranças)

Summer: Eu acordei um dia e eu simplesmente sabia.

Tom: Sabia o que?Summer: O que eu nunca tive

certeza com você.(500 dias com ela)

Rob: Seria bom pensar que desde que eu tinha 14 anos, as coisas mudaram. Relacionamen-tos se tornaram mais sofisticados. Mulheres menos cruéis. Peles mais grossas. Instintos mais desenvolvidos. Mas parece ter um elemento daquela tarde em tudo que aconteceu comigo desde então. Todas minhas histórias românticas são uma versão misturada daquela primeira.(Alta fidelidade)

Clementine: Eu queria que você tivesse ficado.Joel: Eu queria ter ficado também. Agora eu queria ter ficado. Eu queria ter feito muitas coisas. Eu queria...eu queria ter ficado.(Brilho eterno de uma mente sem lembranças)

Tom: O que aconteceu? Por que eles não deram certo?Summer: O que sempre acontece. A vida.(500 dias com ela)

Summer: Você não estava errado Tom. Você só estava errado sobre

mim.(500 dias com ela)

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Rick: Quanto tempo se pas-sou desde que estivemos juntos querida?Ilsa: Eu não contei os dias.Rick: Bom, eu contei. Todos eles. Principalmente, eu me lembro do último. O final selvagem. Um cara esperando numa plataforma de trem na chuva com uma expressão cômica porque seu interior tinha sido chutado.(Casablanca)

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