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CASES MICROSOFT Inclusão digital promove o crescimento em Campo Limpo Paulista. Pág. 11 A cidadania em Serra Azul. Pág. 24 Produzido por: Rudolph Giuliani Inspiração para líderes de todo o mundo

Revista Gestao e Inovacao 02

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Inclusão digital promove o crescimento em Campo Limpo Paulista. Pág. 11

A cidadania em Serra Azul. Pág. 24

Produzido por:

Rudolph GiulianiInspiração para líderes de todo o mundo

Microsoft

Afesta

Criada no Brasil em 1987, a HSM é uma empresa internacional que reúne os principais pensadores do management e executivos da atualidade, para analisar, debater e construir os cenários futuros dos negócios. Por meio de conferências, publicações impressas e conteúdo on-line, procura desafios, propõe novos parâmetros e acredita no conhecimento como o único caminho para a mudança e o desenvolvimento.

editorial

Conselho editorial:Carlos Ferreira

Lisa PolloniPaulo CunhaRoger Melo

Coordenação de Produção:Keila Taira

Gerente de unid. de negócios – HSM

assistente de Produção:Tania Baartz Leite

Analista de produção editorial – HSM

redação: Alexandra Delfino de Sousa

assessoria de imprensa Microsoft: S2 Comunicações integradas

arte:Mare Magnum

revisão:Verba Editorial

Gestão & Inovação é uma

publicação produzida por HSM do Brasil e Microsoft do Brasil.

O conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos autores

S u M á r i o

4 Rudolph Giuliani Inspiração para líderes de todo o mundo

11 Educação para o desenvolvimento

13 Parceiros por um Brasil mais eficiente

16 Sustentabilidade no Brasil

24 Inclusão e cidadania

26 Soluções locais, impacto global

29 Games: Brasil tem grande potencial

“Inovação para a competitividade”: a expressão que já virou moda no mundo da gestão, é, em realidade, um enorme desafio. A conexão entre inovação e competitividade se dá somente a partir de uma adequada gestão. E uma gestão voltada à competitividade se dá por meio de trabalho duro, focado, consciente e consistente. Inovação requer talento e criatividade, mas não vem por acaso. Inovação para a competitividade é baseada em aprendizado, organização, construção e, fundamentalmente, aplicação.

No Brasil, como em outras nações, a competitividade deve ser uma causa abraçada por gestores públicos e privados. E já o é, em grande medida. A Revista Gestão & Inovação traz, nesta edição, exemplos de como a filosofia da inovação vem pavimentando o caminho brasileiro para a competitividade.

Se inovar depende de aprendizado, é sobre isso que falamos nas matérias que mostram os benefícios que trazem o apoio à educação no Brasil. O programa Mais Educação, desenvolvido pela Prefeitura de Campo Limpo Paulista, é um caso de sucesso. Ao estimular a inclusão digital e a profissionalização dos jovens, o município demonstra um compromisso de longo prazo com a sociedade. E foi pensando no desenvolvimento da sociedade que professores da Escola Estadual Francisco Ferreira de Freitas, da cidade paulista de Serra Azul, promoveram eleições digitais entre os alunos. Vale a pena conhecer esse exemplo premiado de promoção da cidadania.

Esta edição traz, também, o inspirador exemplo do líder Rudolph Giuliani, o ex-prefeito de Nova York que, desde criança, aprendeu a pensar e a agir de uma maneira que o leva a olhar as situações sob prismas incomuns e, portanto, a inovar nas estratégias e nas táticas. Giuliani é uma referência da importância da capacidade de organização e de construção, das quais o aprendizado depende para ser aplicado.

Se aplicação é o requisito que completa o caminho para a competitividade, o concurso XNA Challenge e os projetos apoiados pela parceria Microsoft Research-Fapesp são casos que se destacam. Ambas as iniciativas estimulam nossos talentos a buscar soluções práticas, seja para demandas de mercado, seja para o desenvolvimento social do País.

Colocar a tecnologia a serviço da produtividade dos processos é uma das vantagens da Certificação Digital. Aproveite para conhecer, aqui, mais sobre essa facilidade e suas perspectivas de aplicação no mercado nacional – e na sua vida.

Falamos em tecnologia, em mercado, em competitividade. Mas falamos, também, em compromisso de longo prazo. É por isso que o tema da sustentabilidade está nesta edição de Gestão & Inovação. Para que possamos refletir se nossa estratégia competitiva está alinhada às exigências do planeta. Boa leitura!

Boa reflexão!

Michel levyPresidente da Microsoft Brasil

Conhecimento, estratégia, coragem e resultados

Estratégia

Conhecimento, estratégia, coragem e resultados

Conselho 1: Não se deixe intimidar Ao recordar uma passagem de sua infân­cia, Giuliani conta como aprendeu a não abaixar a cabeça diante das dificulda­des, nem se submeter a adversários que tentam se impor pela força. Um verda­deiro líder deverá ser prudente e calmo, mas nunca covarde. Deve saber quando e como brigar pelo que quer.

Meu pai era um excelente lutador de boxe. Ele falava dos combates com todo detalhe, explicando-me estratégias e técnicas dos grandes lutadores.

No boxe, ele falava, a virtude mais importante é saber manter a calma: “Keep your cool, get the job done” (Fique calmo, faça o que tem que ser feito). Essa é a melhor lição que meu pai me ensinou, e ele a repetia incan-savelmente. Conservar a calma, prin-cipalmente quando quem está perto de você está inquieto ou agitado. Ele repetia que a pessoa que consegue manter a calma pode ajudar os ou-

tros, controlar a situação, colocar as coisas em ordem. O lutador que perde a cabeça no primeiro golpe terminará no chão. Se conservar a calma, porém, até mesmo quando recebe um golpe, poderá buscar a oportunidade de devolver o golpe.

Meu pai começou a lutar boxe quando eu era uma criança e conti-nuou com suas aulas durante toda a minha adolescência. Eu era segui-dor dos Yankees, mas morava a al-gumas quadras de Ebbets Field, no Brooklyn – território dos Dodgers – e logo descobri que aquelas lições seriam de muita utilidade.

Anos depois, meu pai me disse que, se alguma vez eu fosse atacado, eu teria de imaginar que estava num ringue, manter a calma e procurar os pontos fracos do adversário. Uma das regras da liderança pelas quais me guio tem a ver com as primeiras lições, tem a ver com o primeiro encrenqueiro que enfrentei. Eu o chamarei Albert.

Rudolph Giuliani destacou-se como um dos prefeitos de mais sucesso da história recente dos Estados Unidos. Além de ter virado o jogo numa Nova York castigada pela criminalidade e paralisada por serviços públicos deficientes, o ex-prefeito entrou para o rol de grandes líderes mundiais durante a crise decorrente dos atentados terroristas de 11 de setembro.Nesta matéria inspiradora, Giuliani compartilha suas experiências de vida desde a infância, mostrando como foram importantes para transformá-lo num líder eficaz. Um líder que aprende, planeja, luta pelo que quer e realiza. Seu depoimento é agrupado, aqui, em quatro conselhos.

Rudolph Giuliani Inspiração para líderes de todo o mundo

Quando eu era criança, minha família morava no primeiro andar de uma casa de dois andares e a fa-mília do meu tio William morava no outro. O tio Willie era agente da po-lícia de Nova York. Era um homem muito alto e magro, tinha um aspecto muito sério com o uniforme e eu fi-cava impressionado. Era um homem tranqüilo e reservado, que passava horas lendo o jornal sob uma árvore à frente da minha casa.

Ao lado de nossa casa morava outra família, cujo pai também era policial. Por alguma razão, meu tio não gostava dele. Ele tinha um filho que se chamava Albert – um menino gordo, dois anos mais velho que eu. Eu tinha cinco anos. Albert se apro-veitava de seu físico para intimidar as outras crianças. Ele as derrubava e sentava sobre elas.

Meu tio lia Spring 3100, a revista dos policiais. Como gostava muito de ler, eu folheava aquela revista, olhava as fotografias dos bandidos procura-dos, as novas tecnologias da polícia, mas não por muito tempo: meu tio sempre a tirava das minhas mãos. Um dia, ele estava sentado sozinho sob a árvore e me chamou. Tinha um exemplar de Spring 3100 ao lado e perguntou:

– Você quer a revista, certo?– Sim. – Quer ficar com ela? – Sim! – Deixe o Albert fora de comba-

te e eu a darei para você. Olha, teu pai tem te ensinado a lutar. Aplica um par de ganchos como os que teu pai te ensinou e o Albert começará a chorar como um neném. Ele é um gordo grosso e os encrenqueiros não são tão duros como parecem.

Para mim, a proposta não estava tão clara, porque Albert pesava muito mais do que eu. Mas o tio Willie me mostrou a revista e me deixou dar uma olhada, antes de tirá-la de mim e repetir que ela seria minha, somente quando eu fizesse o Albert chorar.

Pouco depois, meu tio estava sen-tado sob a árvore e eu vi o Albert

fazendo suas maldades de sempre, empurrando as crianças mais novas. Não lembro exatamente como come-çou. A única coisa que eu sei é que, de repente, eu estava brigando com ele. Comecei a bater no seu rosto, como meu pai havia me ensinado, e as pes-soas começavam a se juntar em volta. O Albert não conseguiu me acertar nem uma vez ou, se ele conseguiu, eu estava tão entusiasmado que não percebi. O nariz dele começou a san-grar, um olho estava ficando roxo e, no fim, ele começou a chorar e fugiu correndo para casa.

Não passou muito tempo antes que a mãe do Albert viesse à nossa casa arrastando seu filho. De acor-do com ela, eu era um pequeno monstro. “Por que você fez isso?”, minha mãe perguntou. Eu olhava para o meu tio que estava a poucos metros dali, com a esperança de que ele reconhecesse que era ele quem havia me envolvido naquilo. Mas ele continuou ali, tranqüilo, como se não soubesse o que estava acontecendo.

– O Albert estava mexendo com as crianças e eu decidi bater nele.

Minha mãe me deu um tapa, na frente daquelas pessoas. E falou:

– Peça desculpas agora. Hoje à noite, eu vou contar para seu pai. Ele, sim, vai bater em você.

– Não quero me desculpar. Foi ele quem começou.

Aquilo me valeu um segundo tapa. Ela tornou a exigir que eu me desculpasse. Eu sei quando sou ven-cido. O Albert continuava chorando e eu falei, de má vontade:

– Sinto muito, Albert. Minha mãe nos obrigou a dar as

mãos. Eu olhei para o meu tio e pen-sei: “Pelo menos ele podia me dar a famosa revista”. Mas não disse nada. Subi lentamente para o meu quarto. Uns vinte minutos depois, a filha dele veio me ver. Ela trazia aquele exem-plar da Spring 3100.

– Meu pai pediu para eu te dar isto, porque você tem de ficar de cas-tigo o dia todo.

Eu olhei pela janela. O tio Willie continuava sob a árvore. Ele não olhava para onde eu estava, mas o vi fazendo um gesto inconfundível com a cabeça, dando-me os parabéns por ter ficado de boca fechada sobre nos-

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so acordo e por ter batido no Albert. Naquela noite, minha mãe contou o acontecido ao meu pai. Eu ouvia meus pais falando no quarto ao lado que eu iria ficar com má reputação, que era preciso me endireitar. Minha mãe falou que era culpa do meu pai, por me ensinar a lutar boxe, e ele teria que me dar uma surra daquelas que a gente não esquece. Meu pai foi me ver, mas, antes de adotar a adequada expressão desaprovadora, ele falou:

– Você bateu no Albert? Meu Deus do céu! Ele é dois anos mais velho que você e pesa 11 quilos a mais!

Minha mãe estava muito brava. Começou a falar que meu pai estava ajudando a me transformar num en-crenqueiro. Mas, naquela noite, não me bateram.

Outras vezes minha mãe tentou que meu pai me desse uma boa sur-ra, mas ele sempre evitou. Quando minha mãe pedia para meu pai me castigar, ele me levava até o porão e fingia me bater. Minha mãe nunca soube, mas ele ensinava-me, então, a lutar boxe. No dia da briga com o Albert, sua reação foi espontânea demais para poder fazer o papel de

sempre. Eu contei como tinha acer-tado o Albert e ele me disse:

– Ótimo! Isso é o que eu sempre lhe falo: quando começar uma briga, você tem que saber aquilo que você quer fazer.

Ele sempre me lembrava:– Nunca brigue com alguém me-

nor do que você. Nunca se transforme num encrenqueiro.

Quando eu vejo um “encrenquei-ro”, um dominador, reajo de forma visceral. Quando alguém se acha su-perior e tenta impor sua opinião pela força, eu deixo claro que não tolero esse tipo de coação. Se um adversário em alguma negociação ameaça tornar público algo que acredita que vai me prejudicar, eu falo: “De acordo, vamos em frente, vamos chamar uma coleti-va de imprensa”. Se alguém ameaça me abandonar para conseguir algo, eu aceito sua demissão e pronto.

Conselho 2: Uma luta começa com um planoNa Prefeitura de Nova York, Giuliani se viu diante da necessidade de mostrar força. Era necessário deixar claro ao adversário que seu poder se esvaziara. O plano, então, previa surpreender o oponente com uma nova estratégia.

No final de 1999, a empresa de transportes metropolitanos de Nova York ameaçava entrar em greve. Teria sido uma catástrofe, principalmente porque haveria uma festa para re-ceber o novo milênio na cidade. O convênio com a empresa expirava à meia-noite do dia 15 de dezembro e os condutores de metrô e de ônibus estavam pensando em parar o tra-balho. No estado de Nova York, a lei Taylor proíbe que os trabalhadores de serviços públicos façam greve, ten-do convênio ou não. Ainda assim, os prefeitos anteriores concediam anistia para os grevistas como parte do pacote de medidas por meio do qual eram convencidos a voltar ao trabalho.

A empresa de transportes metro-politanos é um órgão estatal; seus empregados não trabalham para o

município. Entretanto, como os ci-dadãos e visitantes de Nova York são os principais usuários de um sistema de transporte público que é usado por 8 milhões de pessoas por dia – um terço do volume total do país – a cidade pagaria as conseqüências de uma greve. Isso havia ficado claro durante as administrações anteriores. Tínhamos de deter o sindicato.

A razão pela qual um líder deve enfrentar os encrenqueiros é também a mais simples: é o certo. Um outro motivo era que eu deveria estabelecer a pauta. É como no recreio da esco-la: se você deixar que alguém tire o dinheiro do seu lanche na segunda-feira, o mesmo acontecerá na terça, na quarta e em todos os dias até que você esteja disposto a brigar. Se ti-véssemos permitido que o sindicato paralisasse a cidade, ou se tivéssemos aceitado suas exigências, coagidos pela ameaça da greve ilegal, qualquer outro sindicato poderia fazer a mes-ma coisa.

Reunimos os documentos para preparar um requerimento que evi-tasse a greve. Entramos em contato com a equipe de advogados da em-presa de transportes, mas também pensávamos em defender nossos interesses. O caso foi presidido por Michael Pesce, o juiz administrati-vo adjunto do Tribunal Superior do Brooklyn.

Meu conselheiro empresarial, Mike Hess, chamou o juiz Pesce para explicar a gravidade da situação. To-dos estavam preocupados com a che-gada do milênio, e Seattle tinha can-celado a celebração do novo milênio por medo de ações terroristas. O que Nova York menos precisava, àquela altura, era ser tomada como refém por um sindicato que jogava com es-ses temores para conseguir o que não tinha conseguido com negociações adequadas. O juiz compreendeu a magnitude da situação e pediu para Mike ir à sua casa para uma reunião de urgência.

Mike apresentou-se na casa do juiz Pesce às sete horas da manhã do dia

“O líder deve acreditar em sua gente, até quando eles não acreditam em si mesmos.”

15 de dezembro de 1999. Lá fora ain-da estava escuro e frio. O juiz recebeu o Mike de roupão. Dois advogados do meu escritório e dois do departamen-to jurídico do Estado estavam lá. O juiz sentou-se à mesa da cozinha, com todas aquelas panelas em volta, revi-sou e assinou o requerimento. O Mike não ficou surpreso, porque aquela greve teria sido um ato claramente ilegal, mas eu falei que precisávamos algo mais. Cabia a possibilidade de que os grevistas desafiassem o reque-rimento pensando que a cidade não faria nada, como sempre.

Precisávamos de uma ordem mui-to mais contundente. Mike expôs tudo isso ao juiz, que lhe perguntou qual era exatamente sua idéia. Mike sugeriu que para cada trabalhador da empresa que faltasse no dia 16 de dezembro fosse cobrada uma multa de 25.000 dólares, que aumentaria para 50.000 no dia 17 de dezembro, para 100.000 no dia 18 e assim por diante. Além disso, no dia 16 de de-zembro seria cobrada uma multa de um milhão de dólares do sindicato dos trabalhadores do transporte, dois milhões no dia 17, quatro milhões no dia 18.

O juiz concordou. Porém, todas essas quantias não significariam nada, se quem estivesse do outro lado da mesa de negociações não acreditasse que essas multas seriam realmente cobradas. Os potenciais grevistas tinham de estar convenci-dos, não apenas de que aquilo que faziam era ilegal, mas também de que a administração atual era dura o suficiente para fazer que as multas fossem pagas. Naquele mesmo dia, o sindicato recapitulou.

Na coletiva de imprensa, na qual anunciamos que a greve havia sido suspensa, Mike Hess estava comigo. Um jornalista perguntou com qual critério havíamos estabelecido o valor de 25.000 dólares. Eu pedi para o Mike responder, e ele começou a falar de “menor produtividade” e “danos punitivos”. Nunca soube como chegou a esse número, mas funcionou.

Enfrentar os encrenqueiros e não se deixar intimidar não é fácil. A ra-zão pela qual você deve fazer isso o quanto antes é que, desta forma, você não terá de fazê-lo com freqüência.

Conselho �: Estude, leia, aprenda por conta própriaCom sua mãe, Giuliani conheceu o fan­tástico mundo dos livros. E nunca mais o deixou. De nada adiantam o valor e a coragem, se não há a curiosidade, o pra­zer da investigação, que contribui para chegar a descobertas que alimentam bons planos e bons argumentos.

Minha mãe, Helen Giuliani, exer-ceu uma enorme influência na mi-nha educação. Ela adorava ensinar. Havia se formado como a melhor da sua turma no colegial e tinha feito o magistério, mas com a Grande De-pressão no seu auge e como seu pai havia falecido, ela teve que começar a trabalhar em outra atividade para manter sua família. Em vez de dar aula para uma turma, ela me trans-formou no seu aluno favorito. Ela gostava especialmente de história e me mostrou com convicção que co-nhecer o passado revelaria a completa história do mundo. Costumava ler para mim em voz alta e me encora-java a usar a minha imaginação para representar as diferentes cenas.

Ela transformava um simples passeio de carro por Long Island em uma aula, porque me estimula-va a imaginar como era aquele lugar quando os índios o habitavam e como tinha mudado com a chegada de Co-lombo e dos colonos que o seguiram. Minha mãe adorava os livros e os via como uma fonte de prazer mais do que como uma ferramenta ou uma tarefa penosa, e infundia a idéia de que um livro poderia levar o leitor a qualquer lugar, e que poderíamos dominar qualquer assunto, se lêsse-mos sobre ele com a devida atenção. Dizia que ler um livro podia nos levar em férias.

Ela havia chegado às ilhas do Pa-cífico lendo sobre o Havaí e visitado

a Toscana lendo O Tormento e o Êxtase – a biografia de Michelangelo, de Ir-ving Stone. Eu morria de vontade de estudar história na escola e, quando, finalmente, chegou a hora, meus li-vros me pareceram um tesouro. Eu os acariciava e os cheirava, fascinado pelos mundos que eram descritos em suas páginas.

Ainda gosto do aspecto, o toque e o cheiro dos livros. Durante meus primeiros anos de estudante, segui o estrito programa elaborado pela minha mãe: a lição de casa primeiro e a brincadeira depois. Conforme fui crescendo, descobri o beisebol e as garotas e comecei a resistir a essa disciplina, mas o amor pelos estudos nunca me abandonou. Claro que ha-via matérias de que eu gostava pouco e outras de que eu não gostava nem um pouco. Mas minha mãe me in-fundiu um grande amor pelo conhe-cimento e entusiasmo por aprender coisas novas.

Ela ensinou-me, também, uma estratégia educativa: sempre que eu quisesse aprender algo, deveria tentar ensiná-lo a mim mesmo. Com o tem-po, desenvolvi a romântica idéia de que não poderia encontrar soluções secretas nos livros. Leio com cons-ciência sobre qualquer assunto com o qual me comprometo e o faço com a convicção de que vou aprender coi-sas que ninguém mais conhece sobre esse assunto.

Conselho �: Não deixe para os especialistasGiuliani desenvolve, ao longo de sua vida, uma base autônoma de conhecimentos que lhe permite avaliar a capacidade de seus conselheiros e serve de fonte de inspiração em ocasiões de crises agudas, como a do atentado de 11 de setembro.

Todo bom líder deve desenvolver uma base autônoma. Não importa o talento de seus conselheiros e colabo-radores. Na medida do possível, você deve abordar os problemas com seus próprios conhecimentos. Isso não significa que um prefeito deva saber

mais sobre doenças do que seu secre-tário de saúde ou mais sobre comple-xidades das contas municipais do que o secretário de orçamento. O gerente de uma empresa de restaurantes não tem de ser um cheff, a maioria dos diretores de companhias aéreas não é formada por pilotos qualificados e muito menos por mecânicos ou res-ponsáveis pelas bagagens. Mas um líder deveria ter adquirido, por inicia-tiva própria, conhecimentos sobre as áreas que coordena. Qualquer pessoa que for assumir uma organização tem de dedicar tempo a estudar conscien-ciosamente.

No melhor dos casos, o líder de um sistema complexo domina um ou dois departamentos. Fui o tercei-

ro funcionário mais importante do Departamento de Justiça e Fiscal do Distrito Sul, de modo que, como pre-feito, tinha a certeza que conhecia muito sobre a aplicação da Lei para contribuir significativamente com isso. Mas eu não era especialista em saúde, assistência social ou política fiscal. O motivo pelo qual recrutei especialistas foi beneficiar-me de seus conhecimentos e idéias, mas nunca confiei cegamente neles.

Meu trabalho como líder era fazer com que as peças se encai-xassem da forma mais convenien-te. Nem sequer o especialista mais bem intencionado pode saber se suas recomendações para resolver um problema vão entrar em choque ou

vão interferir com o enfoque escolhi-do por outro conselheiro. Portanto, eu me guiava por umas idéias e uma filosofia, enquanto me aprofundava nas diferentes áreas, mas minha res-ponsabilidade, acima de tudo, era adquirir conhecimentos úteis.

Desenvolver a competência pes-soal não é algo que deva ser feito simplesmente porque é nosso dever (embora o seja), nem porque é diver-tido saber como as coisas funcionam (e é muito). É a melhor maneira de eliminar preconceitos e pretensões entre as pessoas que querem nos inf luenciar. Suponhamos que alguém – o diretor da sua empresa, a imprensa ou um investidor com influência – esteja tentando dar uma de esperto com você e diz, com mui-ta certeza, que “todo mundo sabe que tal coisa se faz assim”. Você terá de ter conhecimento suficiente para saber se o que ele fala é verdade. Isso vai ajudar você a distinguir entre aqueles que são verdadeiramente competentes e os que são ideologi-camente volúveis.

Se as pessoas sabem que você faz o que deve ser feito e esperam que você coloque sobre a mesa seus conheci-mentos, é menos provável que tentem enganar você. Você vai perceber que sua equipe vai se apresentar para as reuniões mais bem preparada.

Finalmente, há um fator psicoló-gico que me leva novamente para as aulas de história que a minha mãe me dava. Se você lê o bastante sobre um assunto, você poderá revelar seu mis-tério e, em última instância, compre-ender sua essência. Portanto, se você possui uma mente inquisitiva, você pode obter um sucesso desconhecido até mesmo àqueles que dedicaram ao assunto muito mais tempo. Uma pes-soa brilhante que não se deixa travar pelos maus hábitos ou pela filosofia “é assim que sempre foi feito” pode se transformar num catalisador da mudança.

Durante as semanas que se segui-ram ao desastre do World Trade Cen-ter, procurava tempo para aprender

“A razão pela qual um líder deve enfrentar os encrenqueiros é também a mais simples: é o certo.”

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mais sobre os problemas que haviam caído sobre a cidade e buscava fontes de conhecimento e inspiração. Pouco depois de 11 de setembro, trouxe-ram-me um exemplar de Bin Laden: o homem que declarou a guerra aos Esta-dos Unidos. Reuni-me com Bodansky para falar de seu livro e sentei-me com Henry Kissinger para falar sobre terrorismo mundial.

Essa forma de aprender a dominar um assunto não era nova para mim. Quando passei para o exercício priva-do da advocacia, em 1977, já havia ex-perimentado o sucesso, mas percebi que ia entrar na área do direito civil, com a qual não tinha contato desde a minha época de estagiário. Comecei a procurar os textos importantes – so-bre lei antimonopólio, procedimentos civis, direito mercantil – e eu os li do começo ao fim. O juiz MacMahon costumava dizer que o melhor de ser advogado é que você se torna um es-pecialista numa grande variedade de assuntos. Ele mergulhava em qualquer assunto que tivesse relação com o caso em que trabalhava.

Tudo isso re-forçou em mim o hábito de comprar livros, de ler sobre qualquer desafio diante do qual me encontrasse. O fato de ter meus próprios conheci-mentos sobre cada coisa me ajudou a dirigir organiza-ções que antes não compreendia.

D e p o i s d o atentado contra o World Trade Center, logo nos transformaríamos no país que mais utilizava a tecno-logia do DNA no mundo. Talvez seja

esse um benefício que não esperáva-mos dos atentados: realizamos mais análises genéticas do que qualquer outro país. Mesmo assim, quando eu li o Genoma, nunca teria imaginado que um dia estaria sentado com o doutor Charles Hirsch, escutando sua explicação sobre o fato de que, após a tragédia de 11 de setembro, a identificação da maioria das vítimas foi reduzida a buscar restos celulares microscópicos.

Às duas e meia da madrugada do dia 12 de setembro de 2001, che-guei à casa do meu amigo Howard Koeppel, por onde passava a maioria das noites. Vi parte das notícias e, lá pelas três horas, fui dormir. Junto da minha cama havia um exemplar da biografia de Churchill, de Roy Jenkins, um livro que estava lendo esporadicamente. Durante o dia, não havia deixado de pensar em Londres durante os bombardeios e de men-cionar isso enquanto ia de um lugar

para outro na cida-de. Estimulava os nova-iorquinos a serem tão valentes como havia sido o povo britânico.

Li até as quatro e meia da madru-gada, inclusive a parte em que Churchil se torna ministro em 1940, apesar das dúvidas de seu partido, principalmente por desespero. De-pois, passei direta-mente para a bata-lha da Inglaterra e para a forma com com que ele soube manter o valor e a determinação de seu povo, enquan-to era atacado. Ver como Churchil en-frentava aquelas horas de escuridão com um otimismo

incrível deu-me forças. Quando ter-minei a biografia, senti vontade de ler Churchil com suas próprias pala-vras. Joe Lhota me deu seu exemplar de Their Finest Hour, de Churchill, e, durante duas semanas, no começo de outubro, eu o carregava comigo todo o tempo.

Assim, eu tinha um método quando chegou o 11 de setembro. Eu não podia dizer “sejam valentes”, a não ser que eu estivesse disposto a ir pelas ruas, nem podia dizer para não entrarem em pânico por causa do Antrax, a não ser que estivesse disposto a ir para os lugares onde se suspeitava que o perigo estivesse. Ali é onde se vê o otimismo do líder. Se o líder se render, todos se rendem e não há esperança. No meu caso, houve ocasiões, principalmente em 1994, quando herdei bilhões de déficit com a Prefeitura, em que eu não tinha certeza de que poderíamos vencer. Mas não podia anunciar: “estamos experimentando essa restrição e aquela técnica para reduzir a criminalidade e acho que talvez funcione”. Devia acre-ditar naquilo e ter fé.

O líder deve infundir confiança, deve acreditar em seu próprio juízo, em sua gente, até mesmo quando eles não acreditam em si mesmos. Às ve-zes, o otimismo do líder está baseado em algo que apenas ele conhece. Mas, outras vezes, o líder tem de ser otimis-ta, simplesmente porque, se ele não for, ninguém será. Você deve tentar lutar, mesmo com más perspectivas. Menos mal que a maioria dos líderes não tem de se preocupar com ações militares nem com a segurança de um povo em tempos de guerra. Porém, quando minha cidade foi atacada pelo ar – a poucos quarteirões do meu escritório, a uns poucos quilô-metros da minha casa – e milhares de nova-iorquinos morreram, inclusive centenas de pessoas que correram para salvar outros, senti-me agrade-cido por ter estudado a vida de um líder como Churchil. A inspiração e a coragem que obtive ao ler sobre ele estavam ali quando precisei.

“Leio com a convicção de que

vou aprender coisas que ninguém mais

conhece.”

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educação para o desenvolvimentoPrograma Mais Educação: inclusão digital em Campo Limpo Paulista

apoio da iniciativa privada, foram lançados cursos técnicos profissio-nalizantes, bolsas de estudo para pós-graduação e especialização de professores e cursos de informática certificados pela Microsoft. O alvo é o desenvolvimento econômico e social do município, por meio da inclusão social, capacitação de profissionais e atração de empresas interessadas em investir na região. Quem revela essa intenção é o próprio Hashimoto:

Ser o maior pólo de qualifica-ção na área de educação do Brasil é o audacioso objetivo

da Prefeitura de Campo Limpo Pau-lista, município de 75.000 habitantes, localizado a 60 quilômetros da cidade de São Paulo. Para atingir tal intento, o prefeito Armando Hashimoto e a sua equipe não dormiram no pon-to: deram vida e força ao Programa Mais Educação, anunciado em Cam-po Limpo Paulista em 2006. Com o

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Hashimoto: “Campo limpo Paulista terá condições únicas para tornar-se um importante pólo tecnológico, atraindo indústrias”. r

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“Com a formação de um contingente de mão-de-obra especializada em to-dos os níveis, Campo Limpo Paulista terá condições únicas para tornar-se um importante pólo tecnológico, atraindo indústrias”.

Inclusão, para Hashimoto, passa pela tecnologia da informação. As-sim, o programa de inclusão digital de Campo Limpo Paulista envolveu a disseminação de cursos de infor-mática para alunos da rede munici-pal e até mesmo da rede estadual de ensino naquele município. A partir de uma proposta feita à Secretaria de Educação do Estado, o prefei-to Hashimoto se comprometeu a doar os computadores e treinar os professores, ao passo que o Estado se responsabilizou pela construção dos laboratórios. Além disso, foram criados três Centros Municipais de Informática (CMIs), onde as aulas ti-veram início em março de 2007, com mais de 4.000 matriculados.

Os alunos dos CMIs têm à sua disposição 300 computadores e 11 laboratórios, onde estudantes têm acesso gratuito a cursos de informá-tica com a certificação Microsoft, que é responsável pelo conteúdo peda-gógico das aulas ministradas tanto nos CMIs quanto nas escolas. Essa formação inclui a qualificação bási-ca oferecida pelo programa Aluno Monitor, que faz parte da iniciativa Parceiros da Aprendizagem, da Mi-crosoft (veja quadro acima). O Aluno Monitor foca professores e alunos e ensina a navegação na Internet, o uso do sistema operacional Windows e das ferramentas do Office, além das noções de programação e de manu-tenção dos computadores. Hashimoto aprova: “Com esse programa, além de capacitar o corpo docente e os alu-nos, mostramos que a tecnologia não é uma inimiga, e sim uma ferramenta obrigatória para a entrada e a perma-nência no mercado de trabalho”.

Adicionalmente ao Programa Aluno Monitor, a cidade de Campo Limpo Paulista disponibiliza gratui-tamente aos seus alunos e professores os cursos da Academia de Tecnolo-gia da Informação da Microsoft (IT Academy). Cursos profissionalizantes em administração de redes, desenvol-vimento de soluções, programação e engenharia de sistemas em Windows Server estão no currículo da IT Aca-demy. “Mais do que infra-estrutura de hardware e conectividade, a pre-feitura preocupou-se em fornecer conteúdo de qualidade aos alunos cidadãos”, ressalta Eduardo Tacla, sócio-diretor da Helix Tecnologia e Educação, empresa parceira da Mi-crosoft e responsável pela implemen-tação do projeto.

Campo Limpo Paulista é cida-de pioneira, na América Latina, a implantar integralmente todos os produtos Microsoft da área da Edu-cação. A parceria da Prefeitura com a Microsoft teve início em julho de 2006 e chegou a ser parte da pauta da Worldwide Partner Conference, evento da Microsoft ocorrido em ju-lho de 2007. Na ocasião, o caso de Campo Limpo Paulista foi exposto e elogiado.

Mais do que uma boa notícia, Campo Limpo Paulista pode ser uma referência a muitas cidades brasileiras. Segundo dados do re-latório preliminar do Sistema de Informações dos Conselhos Muni-cipais de Educação (Sicme), divul-gado em janeiro, somente 41% dos municípios brasileiros elaboraram seu Plano Municipal de Educação (PME). O plano é previsto no Plano Nacional de Educação e define os rumos da educação no município. Sua criação envolve o poder legis-lativo da cidade e deve contar com a participação da sociedade. Esta, ganhando voz, talvez deseje pôr em discussão a necessidade de inclusão digital em sua região. Nesse sentido, as conquistas de Campo Limpo Pau-lista podem ser fonte de informação e de inspiração.

Lançada em 2003, a iniciativa global da Microsoft Parceiros na Aprendizagem tem

como objetivos capacitar alunos e professores no uso da tecnologia da informação para que atinjam seu potencial pleno e contribuir para a melhoria do processo de aprendizagem.

A abrangência do programa é global, mas suas atividades são definidas e implementa-das localmente, em parceria com governos e instituições, de modo a atender às necessi-dades específicas de cada região. O Brasil foi um dos primeiros países a aderir à iniciativa. Hoje, há acordos de cooperação firmados com 11 estados brasileiros.

ParCeiroS na aPrendizageM: iMPaCto loCal

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Acomunidade técnica e em-presarial do Brasil está na expectativa pelos resultados das experimentações da

tecnologia do Certificado de Atri-buto Digital no âmbito da ICP-Brasil (Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira). A proposta, que visa a complementar o sistema de assina-turas digitais e conferir mais prati-cidade aos processos burocráticos relacionados a transações diversas, é resultado de trabalhos desenvolvidos pela Microsoft Brasil e pela Serasa, que apresentaram suas conclusões durante o 5º Certforum (Fórum de Certificação Digital), ocorrido entre 30 de outubro e 1º de novembro de 2007, em Brasília. O projeto contou com o apoio do Laboratório de Tec-nologia da Unesp (Universidade Esta-dual Paulista), que desenvolveu toda a parte de aplicação. Permitindo acesso eficiente a qualificações de pessoas físicas e jurídicas, o Certificado de Atributo Digital promete facilitar a vida dos brasileiros (veja quadro na página 14).

Parceiros por um Brasil mais eficiente Microsoft e serasa

aperfeiçoam sistema de certificação digital, que coloca o país à frente de seus vizinhos

DEsEnvOLviMEntO

roberto Prado, da Microsoft: “o Brasil é motivo de orgulho”

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Trata-se de uma assinatura virtual, que vem sendo usada há seis anos

no Brasil em operações realizadas via Internet, como compras e movimenta-ções bancárias, para identificar tanto pessoas físicas quanto jurídicas.

O Certificado Digital é um documento digitalizado emitido por uma Autoridade Certificadora (AC), como a Serasa, e carrega dados como o nome, o CPF e o e-mail do seu titular. Além disso, contém dois números: uma chave pública e outra privada, sendo que a chave privada garante o sigilo do titular. A chave pública permite que outras pes-soas possam ter acesso aos dados. Há diferentes tipos de certificados digitais

e níveis de segurança correspondentes. Os certificados podem ser visualizados na tela de um computador, desde que se use o devido software visualizador de certificados.

Para solicitar um Certificado Digital, o interessado deve dirigir-se a uma Autoridade de Registro (AR), como uma agência dos Correios, que é vinculada a uma AC que, por sua vez, emite o certificado, mediante o pagamento de uma taxa. Uma AC deve ser certificada pelo ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação), que é a Autoridade Cer-tificadora Raiz (AC Raiz) e que controla a ICP-Brasil (Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira).

O que é CertifiCaçãO Digital?Segundo Igor Rocha, gerente de

certificação digital da Serasa, a apli-cação desse conceito é viável no con-texto do país e será bem-vinda pela sociedade, na qual a demanda por eficiência é evidente. “Os atributos digitais fornecem informações que vão além dos dados de identificação como os do RG e do CPF. Será pos-sível saber o grau de autonomia de certa pessoa para tomar decisões ou o seu status perante organizações como os conselhos regionais, para citar al-gumas possibilidades”, explica Rocha. O representante da Serasa esclarece que o momento é de debates sobre o tema que atraiu a atenção da im-prensa e dos gestores de Tecnologia da Informação com uma intensida-de que o surpreendeu. “Ao longo de 2008, esperamos que as discussões evoluam e, quem sabe, entraremos em 2009 com o contexto definido”, antecipa Rocha.

“Hoje, apenas alguns grupos espe-cíficos utilizam a certificação digital, mas ela vai entrar no dia-a-dia do bra-sileiro”, explica Rocha, que compara essa nova tecnologia à introdução do celular em nossas vidas. “No começo, era mais caro, restrito a pequenos extratos da população. Depois, os custos caíram e o uso foi populari-zado”, exemplifica.

A mesma expectativa é compar-tilhada por Roberto Prado, gerente de estratégias de mercado da Mi-crosoft Brasil: “A curva de adoção

do recurso dos atributos digitais vai se acentuar com o tempo e com a maior adoção da certificação digi-tal”. Nesse sentido, Rocha acrescen-ta: “estamos apenas respondendo a uma necessidade de mercado, pois as empresas já demandam recursos que permitam automati-zar os fluxos de documentos assi-nados digitalmente”. Segundo o executivo, tanto a Serasa quanto a Microsoft trabalham para atender os anseios decorrentes da necessida-de de análise de atributos. Hoje, essa análise é feita por meio da consulta a bancos de dados isolados, como os sistemas das instituições bancá-rias. De acordo com Rocha, “O que

ocorre é uma multiplicação desne-cessária de esforços e a proposta é simplificar”. Além disso, a Serasa busca conquistar a homologação como Autoridade Certificadora de Atributos (ACA), por meio da qual passará a emitir os certificados de atributo digital. Hoje, a Serasa já é uma Autoridade Certificadora (veja quadro acima).

Por meio da Pesquisa Nacional Sobre Certificação Digital, a VF Intelligence mostra que esse recurso já conta com adesão bastante signifi-cativa. Durante o primeiro trimestre de 2007, a empresa entrevistou mais de 400 profissionais de empresas de TI, segurança da informação e ges-tão de riscos e verificou que a certi-ficação digital está presente em 62% das empresas. Dentre essas, 46% usa a certificação digital para conferir segurança na troca de documentos eletrônicos, 21% voltam-se para as transações via Internet, 14% buscam segurança das mensagens eletrônicas e 19% têm outras motivações.

Outros fatores, como as exigên-cias da Receita Federal para entrega eletrônica, com assinatura digital, das Declarações de Informações Eco-nômicas Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) – para os que trabalham no sistema de lucro real – e a adequação

Pode substituir vários cartões e do-cumentos que costumamos levar em nossa carteira, pois os atributos dirão, por exemplo, se você é habilitado a dirigir, se é registrado na Ordem dos Advogados, se ocupa cargo público, a que plano de saúde você tem direi-to, ou se está em dia com a justiça eleitoral;

Atesta um único atributo, ou seja, uma mesma pessoa por ter vários certifica-dos de atributo;

O CertifiCaDO De atributO Digital Tem prazo de validade determinado; Pode ser cancelado pelo emissor; Pode ser emitido sem a presença do

usuário, via Internet; É assinado digitalmente por uma

Autoridade Certificadora de Atributos (ACA), que pode ser, por exemplo, o Crea (Conselho Regional de Engenha-ria, Arquitetura e Agronomia) ou o TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Uma ACA é, por sua vez, certificada por uma Autoridade Certificadora (AC).

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do varejo eletrônico à Nota Fiscal Ele-trônica, já impulsionam a adesão à certificação digital. Durante o 5º Cert-forum, Gastão Mattos, consultor do Comitê de Varejo Online da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, anunciou: “Se o usuário tiver um cer-tificado digital, haverá a opção de assinar digitalmente a compra feita. Para o lojista, será bom, porque, além de autenticar o cliente, a ferramenta dará a garantia de que o cliente acei-tou as condições da venda”.

Serasa e Microsoft têm, agora, o desafio de disseminar o conceito

a comunicação com a comunidade técnica”, declara Prado, que destaca que o uso do formato Open XML é uma grande força da nova proposta, já que o formato aberto, que per-mite a interoperabilidade entre as plataformas, é uma demanda dos profissionais de tecnologia e dos usuários de softwares. O formato aberto torna mais práticas as atu-alizações dos dados de cada titular do Certificado de Atributo Digital. Prado esclarece, ainda, que a segu-rança do formato e a capacidade do sistema de suportar múltiplas assinaturas foram determinantes na opção pelo Open XML.

Uma dupla pioneira – A parceria Microsoft-Serasa existe há mais de três anos, desde que essas empresas buscaram, juntas, soluções relaciona-das ao e-CPF e e-CNPJ. Na visão de Rocha, além de pioneira, a iniciati-va em torno dos atributos digitais é uma parceria feliz, na qual se unem a competência da Serasa em certifi-cações digitais e o conhecimento da Microsoft em padrões abertos e no desenvolvimento de aplicações. “A Microsoft dará concretude, na prá-tica, ao que a Serasa apregoa.”

Para Prado, a iniciativa também coloca em destaque a posição do país: “O Brasil sai na frente dos demais paí-ses da América Latina e, comparado aos Estados Unidos, por exemplo, tem uma situação mais favorável”. Prado explica que todos os certifi-cados emitidos no Brasil convergem para uma única autoridade certifica-dora – a Autoridade Certificadora Raiz, da ICP-Brasil. “Nos Estados Unidos, existe mais de uma autori-dade certificadora, o que dificulta os processos.” Otimista com a ampla aplicação do Certificado de Atributo Digital no país, Prado acrescenta: “O Brasil é motivo de orgulho”. A Espanha é outro país que tem sido bem-sucedido no uso da certificação digital, a qual vem sendo difundida desde 2002 naquele país – na mesma época em que a tecnologia teve início no Brasil.

dos certificados de atributos. Para isso, disponibilizaram na Internet um relatório (também chamado white paper) em que a solução é esmiuça-da. O acesso ao relatório se dá pelo endereço www.certificadodigital.com.br/certforum2007. Além disso, foi criado o site Porta 25 (http://porta25.technetbrasil.com.br), por meio do qual é possível conhecer ações da Microsoft no campo da certificação de atributos e outras aplicações do formato aberto, e até opinar sobre o tema. “O principal objetivo dessa iniciativa é melhorar

igor rocha, da Serasa: “a certificação digital vai entrar para o dia-a-dia do brasileiro”

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o horizonte de um século, a temperatu-ra média do planeta subirá em torno de 2ºC, prevê o Painel Intergovernamental

sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Isso pode ser catas-trófico para os ecossistemas e a socie-dade. Regiões tropicais sofrerão com períodos de seca e desertificação, por exemplo.O IPCC alerta que, para man-ter o planeta dentro de limites seguros de temperatura,até 2050 as emissões de CO2 na atmosfera terão de ser reduzidas em no mínimo 50%.

as empresas brasileiras podem não estar atentas a pontos relevantes da agenda da sustentabilidade em sua estratégia, como mostra pesquisa da FDC coordenada por Cláudio Bruzzi Boechat, professor da Fundação Dom Cabral

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PEsquisa & DEsEnvOLviMEntO

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Sustentabilidade no Brasil

aLta gErênCia

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Diante de tudo isso, as empresas encontram oportunidades de negó-cios ampliadas e, ao mesmo tempo, precisam responder a preocupações quanto ao impacto do crescimento econômico no ambiente e na socie-dade. A organização inglesa Accoun-tAbility e a brasileira Fundação Dom Cabral (FDC) investigam a situação nessa área, de empresas do Brasil e de outros países, desde 2003, buscando, com suas informações, responder a três perguntas:

Como as mudanças em curso po-dem afetar o futuro da humanidade (e das empresas, por tabela)?

Sustentabilidade no BrasilDevido às mudanças climáticas,

grandes investimentos serão neces-sários para diminuir as emissões de gases do efeito estufa, adequar as in-fra-estruturas e enfrentar as prováveis catástrofes naturais. E esse pode ser apenas um dos desafios que teremos de defrontar como sociedade e como indivíduos.

Além do ambiente natural, ou-tras dimensões seguirão seu curso, algumas delas com tendências de crescimento mutuamente alimenta-das. As desigualdades econômicas e sociais são abundantes e não param de crescer. Um dos desafios da hu-

manidade é diminuir as diferenças de riqueza entre países e pessoas. Disparidades de renda e de acesso à educação e à saúde causam res-sentimentos. Precisamos encontrar formas de desenvolver economias mais ricas e inclusivas. A inclusão de novos grupos populacionais no mer-cado de consumo pode pressionar as fontes de recursos naturais e, ao mesmo tempo, gerar novas oportu-nidades de negócios. Tecnologias ra-dicalmente inovadoras para energia, alimentação, transporte e moradias serão criadas para viabilizar esses movimentos.

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A idéia da sustentabilidade está asso-ciada à preservação da capacidade de atender as necessidades das gerações presentes e futuras.

As atuais percepções sobre a natu-reza alertam para os riscos de negligen-ciar a dependência dos seres vivos em relação aos sistemas que permitem a vida no planeta. Não se pode pensar na sustentabilidade de um sistema isolado, uma vez que as dinâmicas evolutivas de mudança se dão em processos intera-tivos e simultâneos. Sob condições de desequilíbrio, os sistemas ecológicos tendem a buscar novo equilíbrio e se reorganizar, não necessariamente pre-servando as mesmas condições em que o desenvolvimento humano tem se baseado. E este, numa perspectiva histórica, apóia-se no desenvolvimento de sistemas sociais e econômicos. A sustentabilidade do desenvolvimento social e econômico no longo prazo depende da capacidade humana de entender esse contexto e preservar o equilíbrio dos sistemas naturais e sociais dos quais todos dependemos.

Por outro lado, a idéia da responsabi-lidade implica comportamento compro-metido com valores éticos, que levem em conta as conseqüências para os outros. Esse tipo de comportamento é básico para sociedades mais cooperativas e está mais presente em algumas culturas do que em outras. À luz da perspectiva transgeracional da sustentabilidade, o comportamento responsável tem uma visão de longo prazo.

gestão responsável Por sua imensa capacidade de afetar

os sistemas naturais e sociais, as em-presas possuem papel fundamental no desenvolvimento sustentável de todas as sociedades modernas. O setor empre-sarial se vê inequívoca e inevitavelmente envolvido na busca de um padrão de desenvolvimento que seja sustentável. Ao querer assumir papel explícito na construção do desenvolvimento sus-tentável, uma empresa visa à integra-ção – desde a concepção até a gestão do negócio – dos princípios e critérios do desenvolvimento sustentável.

A transformação real do papel das empresas na sociedade deveria ser sistêmica, em vez das mudanças perifé-ricas em operações empresariais ou do enfoque concentrado em investimento social privado. Por exemplo, qual a rele-vância do envelhecimento da população para o futuro de uma empresa? É pos-sível pensar em aspectos operacionais, como a contratação de funcionários acima das faixas etárias atualmente priorizadas, e no planejamento da aposentadoria. Mais enriquecedor, po-rém, ao se tratar o assunto de maneira estratégica, seria situá-lo na análise de ameaças e oportunidades e em relação aos recursos disponíveis, para então construir soluções adequadas a cada contexto de estratégia de negócios. Isso porque o enfoque negocial seria o tra-tamento estratégico das questões para a sustentabilidade, buscando sinergias, o que difere das inúmeras práticas que,

sob a denominação de responsabilidade social ou corporativa, podem ser tão periféricas que nada impeça sua im-plementação à margem do núcleo de negócios da empresa.

O conjunto de responsabilidades de uma empresa constitui-se justamente pelas relações que estabelece em seu sistema. Como atuam em um sistema de interesses múltiplos, os quais impactam e pelos quais são impactadas, as em-presas se tornam ponto de convergência (ou divergência) de interesses diversos. Mais: para promover a sustentabilidade, essas responsabilidades vão além de uma percepção de curto prazo, exigin-do uma visão de longo prazo. Como a definição do que de fato se espera no futuro resulta de um processo dinâmico, que comporta conotações locais espe-cíficas e requer a conciliação de uma multiplicidade de interesses, a busca da sustentabilidade impõe perseguir o diálogo amplo, a negociação e o equilí-brio, nessa acomodação de interesses. A gestão empresarial que promove a sus-tentabilidade deve, portanto, fomentar essa qualidade de relacionamento com todas as partes interessadas.

Dois elementos caracterizam uma gestão empresarial como responsável e sustentável (veja figura): o permanente diálogo com os stakehol-

ders, por meio dos quais a empresa influencia e é influenciada de forma constante, adequando-se às mudanças externas;

a inserção das questões das partes interessadas (inclusive as futuras gera-ções) no planejamento estratégico.

A incorporação, à estratégia, de de-terminado desafio da sustentabilidade é bom indício de seu posicionamento entre os temas mais relevantes para o direcionamento futuro da empresa, exi-gindo certo grau de discussão quanto à inter-relação que o desafio mantém com outros temas relevantes, para inserção no mercado e competitividade. Alguns autores têm sugerido a necessidade de a política da responsabilidade social corporativa evoluir de elemento adicional às operações para parte da estratégia de negócios, funcionando mais como contribuição aos objetivos da empresa e menos como “desvio” deles.

gestão responsável para a sustentabilidade

StakeholdersBalanço

integrado

Projetos funcionais Projetos

corporativos

Desafios

Estratégia

Metas

Diálogo

Indicadores

Planejamentoestratégico

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Como as organizações podem construir vantagens competitivas sustentáveis?

Qual o grau de influência das em-presas na sustentabilidade?

Para tanto, os pesquisadores de-senvolveram o conceito de “compe-titividade responsável”, base para a criação de indicadores que tentam esclarecer o impacto da responsabi-lidade social das empresas na com-petitividade dos países. Um deles é o Índice de Responsabilidade Corpo-rativa Nacional, que procura medir o comportamento responsável das em-presas, observando o compromisso do governo no estabelecimento de leis, incentivos e acordos internacionais, para estimular as empresas a serem responsáveis, e as estratégias e ações responsáveis das empresas, indepen-dentemente da interferência governa-mental. Outra medida é o Índice de Competitividade Responsável (ICR), que permite avaliar como as práticas empresariais responsáveis podem afe-tar a competitividade nacional.

Em três rodadas de estudo – 2003, 2005 e 2007 –, os indicadores foram aprimorados e aplicados a grupos crescentes de países. Os principais resultados comprovam uma relação forte entre o grau de responsabi-lidade social das empresas de um país e a competitividade nacional. Mostram ainda os países nórdicos como grandes líderes da competiti-vidade responsável. Países emergen-tes, como Chile, Tailândia, Índia e Estônia, demonstram preocupação e já apresentam alguns resultados po-

sitivos em questões relacionadas à sus-tentabilidade. Chi-na e Estados Unidos mostram resultados negativos, em con-seqüência, sobretu-do, do desrespeito ao meio ambiente (quanto isso afetará sua competitividade ainda não se sabe). O Brasil ocupa uma

posição mediana nos dois indica-dores, mas o curioso é que aparece como um dos quatro países em que o grau relativamente alto de ICR se traduz menos na competitividade nacional.

A compreensão desse fenômeno pode indicar caminhos para políticas públicas que aumentem a competi-tividade responsável nacional. Isso pode levar, por exemplo, à conquis-ta de nichos de mercado no mundo que valorizam produtos de empresas responsáveis.

Os �1 desafiosEm outra pes -

quisa , buscando aprofundar o co-nhecimento do caso brasileiro, um mapa dos desafios da sus-tentabilidade no Bra-sil foi construído na Fundação Dom Ca-bral, com base em levantamentos na mídia e entrevistas com especialistas. Justamente por con-cretizar o conceito da sustentabilida-de, o mapa com 31 desafios (veja quadro na página 20) fornece alguns parâmetros para reflexão.

O Brasil é um país que, de longa data, apresenta obs-tinadas taxas de sub-

desenvolvimento, apesar de excelente desempenho em vários campos, da inovação tecnológica ao desempenho empresarial. Se a evidente disparida-de social observada no Brasil repre-senta entrave ao desenvolvimento, pensado em termos convencionais, a mesma situação se constata no desen-volvimento sustentável – uma vez que este implica noções de justiça social e igualdade de oportunidades como componentes essenciais.

Assim, em uma lista de desafios da sustentabilidade, predominam temas tradicionais para o desenvolvimento. Os temas relacionados diretamente com a sustentabilidade ambiental aparecem em poucos, mas importan-tes tópicos; prevalecem as questões socioeconômicas. E, entre os temas emergentes que vêm claramente se destacando, estão: combate às pan-demias; efeitos socioeconômicos do envelhecimento da população; neces-sidade de maior espaço nos sistemas de governança corporativa para pre-ocupações relativas ao desempenho ambiental e social; e modelos mentais

Percentual

ainda não incorporados 33,9

incorporados apenas aos 12,6 cenários

incorporados aos objetivos ou às 53,5 ações estratégicas

Os desafios e as empresas do Brasil

Percentual

Falta de articulação 26,5 interinstitucional

Baixa relevância do tema para a estratégia 16,0 de negócios

Dificuldade para traduzir o desafio em 8,3 termos financeiros

Dificuldade técnica para traduzir o desafio em 7,3 objetivos estratégicos

Dificuldade para sensibilizar pessoas 5,9 na organização

Conflito com outros interesses 1,7 da empresa

Outros obstáculos 34,3

Principais obstáculos para a incorporação dos desafios da sustentabilidade

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Mapa de desafios da sustentabilidade

1 Condição de equilíbrio dos ecossistemas impacto da expansão populacional e industrial no equilíbrio dos ecossistemas e na perda e provisão de serviços ambientais* irreversível da biodiversidade e de outros serviços ambientais.

2 energia Pressão gerada pelos padrões de produção e consumo de produtos e serviços nas fontes de energia para as gerações presentes e futuras.

3 Mudança climática Efeitos das emissões de gases do efeito estufa na estabilidade climática.

4 água impactos da expansão populacional e industrial nas fontes de recursos hídricos.

5 Saúde pública acesso restrito da população a medicamentos e serviços médicos (prevenção, tratamento e orientação em geral).

6 Pandemias velocidade com que novos vírus se propagam mundialmente, podendo causar a perda de milhares de vidas humanas.

7 Produção de alimentos impactos ambientais e socioeconômicos negativos resultantes da maneira como os alimentos são predominantemente produzidos.

8 oferta e condições de moradia Precariedade e escassez de moradia para a população de baixa renda.

9 distribuição de renda Desigualdade acentuada nos níveis de renda entre indivíduos e entre regiões.

10 discriminação e desigualdade racial Discriminação étnica e desigualdade socioeconômica entre as populações branca, negra, parda e indígena.

11 desigualdade de gênero Desigualdades socioeconômicas entre homens e mulheres.

12 envelhecimento da população impactos socioeconômicos resultantes do aumento da longevidade e, conseqüentemente, do aumento do percentual de idosos na população.

13 Precariedade dos sistemas de Escassez de investimentos na manutenção e expansão da infra-estrutura infra-estrutura (energia, transporte, comunicação) no país.

14 Capital social Baixa capacidade das comunidades no sentido de solucionarem seus problemas e construírem seu próprio futuro.

15 Qualidade da educação básica acesso restrito da população a uma educação básica de qualidade.

16 educação para a sustentabilidade incapacidade dos modelos educacionais para ampliar a percepção das pessoas quanto às conseqüências diretas e indiretas de suas ações individuais e coletivas, nas dimensões social, econômica e ambiental do desenvolvimento da sociedade.

17 Corrupção e falta de ética Banalização da corrupção e de práticas antiéticas em todos os níveis da sociedade.

18 Violência e tráfico Comércio ilegal de pessoas, armas, drogas e mercadorias pirateadas, e suas conseqüências para a sociedade.

19 oportunidades de trabalho e renda Escassez de oportunidades de trabalho e renda.

20 empregabilidade Despreparo das pessoas para a contínua renovação de competências exigida pelo mercado de trabalho.

21 Consumo Baixo grau de conscientização do consumidor em relação aos impactos ambientais, sociais e econômicos de padrões de produção e consumo.

22 Marketing influência do marketing na comunicação e disseminação de valores incompatíveis com o desenvolvimento sustentável.

23 Cadeia produtiva Falta de uniformidade, ao longo das cadeias produtivas, no que diz respeito à manutenção de padrões éticos elevados e de práticas econômicas, ambientais e sociais compatíveis com o desenvolvimento sustentável.

24 Concorrência desleal utilização de práticas ilegais para aumentar a competitividade das empresas.

25 apoio político e políticas públicas utilização do apoio político e de políticas públicas para o favorecimento de interesses particulares em detrimento das condições sociais, ambientais ou econômicas relevantes ao desenvolvimento sustentável.

26 impactos econômicos locais Falta de foco em atividades cujos impactos econômicos gerem benefícios às comunidades locais mais necessitadas.

27 governança corporativa Os sistemas de governança corporativa atuais caracterizam-se por um modelo que tende a resultar no privilégio do desempenho econômico-financeiro em detrimento do desempenho social e ambiental.

28 Precarização do trabalho Ocupação informal e deterioração das condições de trabalho ao longo da cadeia produtiva.

29 estresse Desequilíbrio entre a dedicação ao trabalho e vida pessoal.

30 Comprometimento com valores incoerência entre as atitudes individuais e os valores e os princípios éticos declarados e princípios pelas pessoas (seja atuando como indivíduo, seja atuando por meio de instituições).

31 Cidadania Baixo engajamento das pessoas na garantia do cumprimento de seus direitos e deveres como cidadãos.

* Serviços ambientais são os benefícios proporcionados às pessoas pelos ecossistemas. Incluem serviços provisionais como alimento, água, madeira e fibras; serviços de regulação que afetam o clima, enchentes, doenças, resíduos, e qualidade da água; serviços culturais que incluem a provisão de recreação, benefícios estéticos e espirituais; e serviços de suporte como a formação de solo, fotossíntese e ciclo de nutrientes.

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Atributo 4 Atributo 3

1 Comprometimento com valores e princípios 86,7

2 governança corporativa 80,0

3 Estresse 76,7

4 Energia 73,3

5 ética e sustentabilidade na cadeia produtiva 73,3

6 qualidade da educação básica 70,0

7 Corrupção e falta de ética 66,7

8 impacto econômico local 66,7

9-10 Água 66,3

Empregabilidade 66,3

11 Capital social 66,3

12 Educação para a sustentabilidade 66,3

13 Equilíbrio dos ecossistemas e serviços ambientais 60,0

14-15 Concorrência desleal 60,0

Precarização do trabalho 60,0

16 Cidadania 60,0

17 Mudança climática 56,7

18 Oportunidades de trabalho e renda 56,7

19-20 apoio político e políticas públicas 53,3

Marketing para a sustentabilidade 53,3

21 Desigualdade de gênero 50,0

22 Consumo consciente 46,7

23 Discriminação e desigualdade racial 46,7

24 Precariedade dos sistemas de infra-estrutura 43,3

25 Distribuição de renda 40,0

26 Envelhecimento da população 33,3

27 saúde pública 26,7

28 violência e tráfico 23,3

29 Oferta e condições de moradia 20,0

30 Pandemias 13,3

31 Produtos alimentícios 10,0

Ranking do grau de incorporação dos desafios nas empresas do Brasil (em %)

Men

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mais apropriados para educar as pes-soas quanto aos efeitos sistêmicos de processos e ações.

O posicionamento das empresasEmbora se observe no Brasil sig-

nificativa mobilização empresarial em torno dos temas ligados à res-ponsabilidade social empresarial, as companhias podem não estar tra-tando de pontos relevantes em seu processo estratégico, o que reduz a possibilidade de que os desafios da sustentabilidade sejam adequada-mente analisados, priorizados e ali-nhados internamente com os demais objetivos estratégicos das empresas. Assim, podem ser gerados resultados desfavoráveis ou perdas de oportuni-dades, tanto para os negócios como para a sociedade.

A pesquisa da FDC tenta verificar de que forma os desafios da sustenta-bilidade estão incorporados à estra-tégia de negócios das empresas no Brasil ou, em outras palavras, lançar luz sobre a intensidade da inserção do setor empresarial na viabilização do desenvolvimento sustentável brasi-leiro. Com isso, mostra à sociedade, e particularmente aos estrategistas de empresas, as discrepâncias na incor-

poração dos desafios às estratégias empresariais, bem como na interpre-tação da relevância desses desafios. No momento em que os temas sustentabi-lidade e responsabilidade corporativa são tão citados no meio empresarial, muitas vezes associados à excelência gerencial, pode-se indagar sobre até que ponto convergem as duas agendas – do desenvolvimento sustentável e da estratégia empresarial.

O universo almejado foi compos-to por 134 empresas brasileiras que se declaram comprometidas com a sustentabilidade por meio de crité-rios como ser signatária do Global Compact, participar do Dow Jones Sustainability Index ou ser integrante do grupo da ISO 26000 (Instituto Ethos). Ao todo, 30 organizações res-ponderam ao questionário, represen-tando construção civil, mineração,

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Cláudio Bruzzi Boechat é professor e pesquisador gerente de Projetos do Núcleo Andrade Gutierrez de Sus-tentabilidade e Responsabilidade Corporativa, da Fundação Dom Cabral (FDC), sediada em Minas Gerais. É re-presentante do Brasil na Principles for Responsible Management Education Taskforce, do Global Compact/Nações Unidas, e representante da FDC no Comitê Brasileiro do Pacto Global e na Globally Responsible Leadership Initiative, da Fundação Européia para o Desenvolvimento da Gestão.

Formado engenheiro eletricista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem especialização em enge-nharia econômica, pela Fundação Dom Cabral. Foi secretário-executivo do

Saiba mais sobre Cláudio Boechat

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Programa Mineiro da Qualidade e Produ-tividade, diretor-presidente do Instituto Qualidade Minas e gerente da Cemig, onde atuou como coordenador corpo-rativo de promoção da qualidade.

agroindústria, siderurgia, eletroele-trônicos, setor financeiro, energia e outros setores.

Os 31 desafios da sustentabilidade encontram-se moderadamente inse-ridos no planejamento estratégico das empresas. Em mais da metade dos casos, os desafios incorporam-se aos objetivos ou às ações estratégicas, sendo que em um terço deles o tema não foi incorporado ao planejamento estratégico (veja quadro na página 19). O ranking do grau de incorporação dos desafios é apresentado no quadro da página anterior.

O que as empresas acham importante

Perguntados sobre a importân-cia dos desafios para os negócios, os pesquisados concentraram suas respostas em “alta” e “moderada” importância. A correlação entre as variáveis revelou que, quando a im-portância do desafio da sustentabili-dade é considerada baixa, este tende a não ser incorporado aos objetivos ou às ações estratégicas. Já quando a importância é alta, o tema tende a ser incorporado (veja quadro na página anterior). A conseqüência é que os desafios sociais dificilmente

são incorporados à estratégia das empresas.

As empresas vêem os impactos negativos?

O impacto do negócio sobre os desafios revelou que os estrategistas os enxergam como positivos (70,4% dos casos). Poucos (3,8%) consideram os impactos negativos. Isso ocorre até mesmo com os temas nos quais os impactos são mais evidentes, por serem diretos.

No desafio distribuição de renda (“desigualdade acentuada nos níveis de renda entre indivíduos e entre re-giões”), de grande destaque no Brasil, não houve sequer uma resposta indi-cando impacto negativo, enquanto 86,7% das empresas o classificaram como positivo. De maneira semelhan-te, o desafio “discriminação e desi-gualdade racial” não teve respostas avaliando seu impacto como negativo, enquanto 66,7% o classificaram como positivo, e 33,3% nulo.

O quadro geral revela que as em-presas vêem seu papel na sustentabili-dade como não impactante do ponto de vista negativo. Se parcela crítica do setor empresarial não percebe seus impactos na sustentabilidade

como negativos, de que setores ou instituições se podem esperar me-didas que revertam a persistência de tantos desafios tradicionais ao (sub)desenvolvimento do Brasil?

Quais são os obstáculosQuando solicitados a apontar o

principal obstáculo para enfrentar o desafio da incorporação dos itens do desenvolvimento sustentável à estratégia de negócios, a “falta de articulação institucional (entre em-presas, setor público e sociedade ci-vil)” aparece em primeiro lugar na lista de obstáculos sugeridos, com 26,5% dos casos. A seguir vem “baixa relevância do tema para a estratégia da empresa”, assinalada em 16% dos casos (veja quadro na página 19).

A competitividade viávelSabe-se já que o modelo de com-

petitividade predominante hoje não é sustentável. A prática empresarial responsável só vai gerar retorno para os países que estabelecerem uma “ação coletiva” de toda a sociedade, governo e sociedade civil incluídos. Os líderes empresariais precisam entender a enorme responsabilida-de que têm, uma vez que eles e seus liderados constituem a parte mais forte da sociedade, quer do ponto de vista econômico, quer do tecnológico ou educacional. A competitividade responsável ainda está no estágio inicial e seu avanço depende de um grande esforço que produza os resul-tados que a humanidade reclama. As investigações sobre o ambiente em-presarial brasileiro indicam que os líderes, os gestores organizacionais e as instâncias da sociedade devem se articular em torno de políticas públicas que promovam o compor-tamento responsável das pessoas e das organizações – se realmente qui-sermos promover o desenvolvimento sustentável.

Este artigo tem co-autoria de Rober-ta Paro, pesquisadora da Fundação Dom Cabral.

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AcDi

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CiDaDania

safio, os professores Patrícia Mara Estrela Manso e José Donizete Manso colocaram em prática um novo mo-delo de eleições. Nasceram, assim, as Exceleições.

“Se o Brasil é pioneiro no voto di-gital, a idéia era fazer algo semelhante na escola e aumentar a participação de todos”, conta Patrícia. Um segundo objetivo era transformar uma ativida-de extracurricular anual em uma ação interdisciplinar, que extrapolasse as fronteiras da aula de História.

O desafio era enorme. Além do

ensinar cidadania não é tarefa fácil, mas a tecnologia pode ajudar a estimular o envolvi-

mento juvenil. É o que comprova a Escola Estadual Francisco Ferreira de Freitas, que realizou a “1ª Exceleições do Grêmio Estudantil ‘FFF’: Inclusão, Interatividade e Cidadania!”

Localizada a região de Ribeirão Preto (SP), em Serra Azul (município com 9.000 habitantes), a escola preci-sava tornar a escolha dos representan-tes do grêmio estudantil “FFF” mais atraente aos alunos. Diante desse de-

Com a eleição digital, escola paulista recupera motivação política dos alunos e dissemina conhecimento multidisciplinar

inclusão e cidadania

alunos da escola estadual Francisco Ferreira de Freitas no laboratório de informática

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pouco interesse dos alunos, a sala de informática estava desativada e apenas uma máquina se encontrava disponí-vel para estruturar o projeto. Mesmo assim, a urna eletrônica foi criada com o auxílio dos aplicativos PowerPoint e Excel, da Microsoft. Outras ferramen-tas, como o Word, o Paint e o Internet Explorer também contribuíram para o processo de renovação dos membros do grêmio, que se tornou, assim, mais dinâmico e acabou despertando nos alunos e nos professores o desejo de inclusão digital.

Diversas atividades foram desen-volvidas com os alunos. Os professores das disciplinas Português, História e Matemática planejaram exercícios re-lacionados ao pleito, como aulas sobre o movimento estudantil, a linguagem utilizada em propagandas políticas e a pesquisa boca-de-urna. “A escola pe-gou fogo. Tivemos seis chapas inscritas, cada uma com 15 integrantes de séries diferentes”, relata Patrícia. Ao todo, 650 alunos da 5ª à 8ª série do Ensino Fundamental e do 1º ao 3º ano do Ensi-no Médio ajudaram a eleger, em abril, a chapa Movimento Estudantil a Favor da Escola (MEFE). “Para mim, foi uma experiência ótima. Fortaleceu ainda mais a minha responsabilidade para com a escola”, diz Deborah Frassetto Giolo, aluna da 7ª série e integrante de uma das chapas.

Voto digital já se espalhou – Às vésperas da escolha da nova forma-ção do Grêmio “FFF”, outro colégio estadual do município de Serra Azul já havia demonstrado interesse em adotar o modelo informatizado, o que deve ocorrer em 2008. Além dis-so, a Diretoria de Ensino de Ribeirão Preto tem a intenção de realizar uma orientação técnica para que outras escolas realizem o projeto.

A iniciativa da Escola Estadual Francisco Ferreira de Freitas cons-tituiu uma experiência única, prin-cipalmente para aqueles que não ti-nham contato com computador. Por esse motivo, foi vencedora do Prêmio Microsoft Educadores Inovadores Brasil – 2007, na categoria Educador Inovador. O projeto também foi sele-cionado entre os melhores do mundo na final mundial do prêmio, realizada em outubro de 2007, na Finlândia. Entre as 89 idéias inovadoras apre-sentadas por 48 países, as Exceleições conquistaram o 3º lugar.

De acordo com o professor José Donizete, o trabalho desenvolvido teve sucesso, porque surgiu para aten-der uma necessidade dos alunos. Com a movimentação política renascida

dentro do colégio, a participação dos alunos e a cobrança aumentaram. A nova gestão eleita já conseguiu rea-lizar mudanças, como a reativação da sala de informática e a liberação da música nos horários de intervalo. Duas grandes conquistas que podem contribuir para tornar a vivência es-colar mais atraente.

Para 2008, está prevista a in-clusão das disciplinas Sociologia, Filosofia e Geografia no processo eleitoral, além de melhorias nos procedimentos, como o aumento dos pontos de votação. “O educador não pode perder a oportunidade de transformar a aprendizagem em um processo multilateral, e a informática permite isso”, diz, com entusiasmo, Donizete.

inclusão e cidadania

Patrícia Mara e José donizete Manso, reconhecidos como educadores inovadores, e seus alunos-cidadãos

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Soluções locais, impacto global Progressos no âmbito da propriedade

intelectual podem impulsionar competitividade do Brasil

M enos de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil é destinado a investimentos

em P&D (Pesquisa e Desenvolvi-mento). Esse percentual é cerca de metade daquele que apresentam os países desenvolvidos. Importantes iniciativas, contudo, têm contribuí-do para que os investimentos sejam ampliados. O Governo Federal, ciente da necessidade de promover a com-

melhoria do tratamento dado à pro-priedade intelectual no País.

No mês de janeiro, The Heritage Foundation e The Wall Street Journal lançaram seu estudo anual sobre li-berdade econômica, o Index of economic freedom. O relatório prevê dez catego-rias em cima das quais 162 países fo-ram avaliados. O Brasil obteve 55,9% de liberdade econômica, o que o colo-ca na 101ª posição do ranking. Uma das categorias abrangidas pelo estudo é o respeito à propriedade intelectual, na qual o Brasil atingiu 50% pelo terceiro ano consecutivo, situando-se um pouco acima da média mundial e deixando para trás 15 países das Américas (veja tabela na página ao lado).

Segundo o Index of economic freedom, a proteção aos direitos de propriedade intelectual no Brasil melhorou, mas a pirataria persiste e o judiciário é ine-ficiente (apesar de os contratos serem seguros), o que leva à perda de pontos no ranking. Ainda de acordo com o relatório, o Brasil é uma potência re-gional, mas não se sobressai nas dez categorias abrangidas pelo estudo.

Independentemente da avaliação a ser feita, no futuro, pela The Heritage Foundation ou por qualquer outra entidade, o prognóstico é positivo em relação às questões que envolvem a propriedade intelectual no Brasil. A movimentação da sociedade brasileira

PEsquisa & DEsEnvOLviMEntO

petitividade das empresas nacionais no mercado mundial, tem estimulado a pesquisa e a inovação por meio de diversas ações. Exemplos disso são o lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da Ciência e Tecnologia, a criação de linhas de crédito especiais no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social) e na Finep

(Financiadora de Estudos e Projetos), a modernização do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial),

a Lei de Inovação e a Lei do Bem (veja detalhes no quadro da página ao lado). O que se es-pera é que a iniciativa privada se sinta cada vez mais estimulada a apostar no potencial intelectual brasileiro. Um dos fatores que

tendem a promover esse estímulo é a

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PaC da Ciência e tecnologia – lança-do em novembro de 2007, o Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional prevê investimentos de quase US$ 28 bilhões até 2010, com vistas a ampliar para 1,5% a participação dos investimentos em P&D em relação ao PIB. São quatro as principais linhas de ação: expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação; promoção da inovação tecnológica nas empresas; pesquisa, desenvolvimento e inovação em áreas estratégicas e ciência tecnologia e inovação para o desenvolvimento social. O Plano também destina dinheiro para bolsas de mestrado e de doutorado. Além do incremento de 68% na quantidade de concessões, haverá reajuste de 20% no valor das bolsas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) a partir de março de 2008.

BndeS – possui programas de crédito especificamente voltados à inova-ção, como o Prosoft (Programa para o Desenvolvimento da Indústria de Software e Serviços de Tecnologia da Informação).Finep – realiza financiamentos não reem-bolsáveis a empresas e pesquisadores, por meio de programas como o PRO-PESQ (Programa de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica), além de finan-ciamentos reembolsáveis, como o (PIESP – Programa de Apoio a Instituições de Ensino Superior Privadas).inPi – o órgão, que é uma autarquia federal, foi reestruturado para promover maior eficiência na análise dos pedidos de registro. Os resultados foram aprova-dos e, em setembro de 2007, o Brasil foi aceito como Autoridade Internacional de Busca e de Exame Preliminar na Assem-bléia-Geral do Tratado de Cooperação de Patentes. As empresas brasileiras podem, com isso, fazer depósitos de

Mais oxigênio à produção intelectual

em torno do tema acelerou-se nos úl-timos meses. Em outubro de 2007, foi realizada a audiência pública “Lei de patente e desenvolvimento nacional”, na Câmara Federal, por onde trami-tam diversos projetos sugerindo alte-rações na legislação de propriedade intelectual. Se ainda não há consenso em muitos aspectos, há, ao menos, um objetivo comum: facilitar os investi-mentos na produção de conhecimento e nas inovações tecnológicas é investir no desenvolvimento do Brasil.

Investimentos privados a servi-ço da sociedade – empresas como Embraer, Fleury, Microsoft, Natura, Nestlé e Telefônica são alguns exem-plos de organizações reconhecidas por seus investimentos em pesquisa científica e inovação. Elas demons-tram preocupação não apenas com seu próprio crescimento, mas com a sociedade, que se favorece com a aplicação efetiva do desenvolvimen-to científico nos mercados interno e externo. Uma das maneiras de

que a iniciativa privada dispõe para apoiar a produção de conhecimento é conveniar-se a instituições como a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e agências de fomento correlatas, que mantêm programas de apoio às pes-quisas por meio de parcerias entre universidades e empresas.

O Instituto Microsoft Research-FAPESP de Pesquisas em TI (Tecno-

logia da Informação) é um dos casos bem-sucedidos de parceria. Criado em abril de 2007 com uma vocação social, o Instituto prevê investimentos da ordem de R$ 1,6 milhão, em cinco anos, no financiamento de pesqui-sas que estimularão o envolvimento de estudantes de graduação e pós-graduação em seus projetos, que resultarão na publicação de artigos científicos, no desenvolvimento de

patentes em outros países diretamente no INPI, sem a necessidade de enviá-los à análise de um escritório estrangeiro. Com a redução da burocracia e dos custos de registro, o número de pedidos internacionais deve crescer.lei da inovação (Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004) – incentiva a inovação e a pesquisa científica e tec-nológica por meio da aproximação dos envolvidos no processo de inovação e do estímulo à criação de empresas de base tecnológica.lei do Bem (Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005) – visa a incentivar inovações tecnológicas pelas empresas, seja na criação de novos produtos ou processos, seja na inclusão de funciona-lidades ou características aos produtos e processos já existentes, focando o aumento de qualidade, produtividade e competitividade. Concede incentivos fiscais, como a dedução, no Imposto de Renda, dos dispêndios com P&D.

respeito à propriedade intelectualPontuação no Index of economic freedom Paíse das Américas

90% Barbados,Canadá,Chile,EstadosUnidos

80% Bahamas

70% Uruguai

65% TrinidadeTobago

50% Belize,Brasil,CostaRica,ElSalvador,Jamaica,México,Suriname

40% Colômbia,Guiana,Peru

35% Paraguai

30% Argentina,Equador,Guatemala,Honduras,Panamá,RepúblicaDominicana

25% Bolívia,Nicarágua

10% Cuba,Haiti,Venezuela

Fonte: The Heritage Foundation.

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propriedade intelectual e na promo-ção da inclusão digital no Brasil. O objetivo é colocar, cada vez mais, a ciência a serviço da sociedade.

Michel Levy, presidente da Micro-soft Brasil, mostra-se entusiasmado com o potencial brasileiro no desen-volvimento de tecnologias voltadas às necessidades sociais e econômicas do país: “Esperamos estimular pesquisa-dores brasileiros a continuar fazendo pesquisa de alta qualidade. A Micro-soft é a empresa de tecnologia que mais investe em pesquisa no mundo e este é um passo fundamental na consolidação do país como platafor-

ma de pesquisa em TI”. Para Michel Levy, pesquisa, inovação e crescimen-to econômico têm correlação direta: “Os investimentos em capital humano geram inovação que, por sua vez, gera desenvolvimento social”, disse.

A união de esforços entre a Mi-crosoft Research e a FAPESP busca encontrar soluções para questões tecnológicas complexas, como a organização de infra-estruturas de redes de comunicação e a criação de interfaces intuitivas, computadores e outros dispositivos de baixo custo que possam ser usados por comunidades de baixa renda.

Projetos de impacto local e global – Nesse sentido, cinco projetos foram selecionados para receber o apoio do Instituto. Tais projetos foram encabeçados por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP). Os projetos seleciona-dos estão voltados para a inclusão so-cial, inclusão digital, infra-estrutura em áreas rurais, gestão de atividade agrária e melhoria de serviços públi-cos de saúde e de outras naturezas. Jaime Puente, gerente de programa

de pesquisas externas para a América Latina da Microsoft Research, justi-fica o investimento da empresa: “Por meio do suporte a esses projetos e da continuidade da nossa aliança com a FAPESP, esperamos ajudar os pes-quisadores e cientistas a enfrentar e solucionar as principais dificuldades sociais e tecnológicas do país”.

O processo de seleção das pro-postas foi bastante competitivo. “As propostas selecionadas preencheram os requisitos de excelência em pesqui-sa, ousadia e conexão possível com aplicações, além das demais especi-ficações da chamada”, afirma Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor cien-tífico da FAPESP. O executivo obser-vou que os cinco primeiros projetos aprovados abordam questões locais, mas podem ter impacto mundial. Em entrevista à Agência FAPESP, decla-rou: “Nada impede um cientista de produzir conhecimentos específicos que possam interessar a pessoas de outras partes do mundo. O estudo de problemas locais para a produção de conclusões gerais é um dos grandes desafios da comunidade acadêmica para o avanço do conhecimento”.

e-Cidadania: busca desenvolver mo-delos de interfaces para inclusão de iletrados e indivíduos com necessidades especiais em serviços de governo eletrô-nico. Será coordenado pela professora Maria Cecília Calani Baranauskas, do Instituto de Computação da Unicamp, e realizado em parceria com a prefeitura de Campinas.PorSimples: criará programas para sim-plificar conteúdos de internet e facilitar a compreensão de textos por portadores de necessidades especiais, crianças em processo de alfabetização e analfabetos funcionais. Será conduzido pela profes-sora Sandra Maria Aluísio, do Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação da USP de São Carlos.

e-Farms: objetiva investigar alternativas para comunicação entre áreas rurais com pouca infra-estrutura e desenvolver modelos e métodos de gerenciamento de dados captados por sensores (de solo e satélites) para apoio ao plane-jamento de pequenos agricultores e cooperativas agrícolas. Será coordena-do pela professora Claudia Maria Bauzer Medeiros, do Instituto de Computação da Unicamp.Projeto Borboleta: propõe tornar mais rápido o atendimento prestado pelos serviços públicos de saúde a partir de um protótipo baseado em celulares in-teligentes (PDA). Médicos e enfermeiros terão sempre atualizado e acessível o prontuário do paciente, poderão trans-

Projetos selecionados pelo instituto Microsoft research–FaPEsP de Pesquisas em ti

mitir imagens para pré-diagnósticos a distância e para o acompanhamento do quadro clínico. O sistema permitirá também que cuidadores (familiares res-ponsáveis pelo trato diário do paciente) recebam instruções por mensagens de celular. A coordenação será do professor Fabio Kon, do Instituto de Matemática e Estatística da USP.X-gov: vai investigar formas de integrar diferentes meios eletrônicos – internet, celular e TV interativa – nas diversas etapas da prestação de serviços pú-blicos ao cidadão, e propor modelos adaptáveis pelo gestor público ao tipo de serviço oferecido. A condução será da professora Lucia Vilela Leite Filgueiras, da Escola Politécnica da USP.

Fundada em 1991, a Microsoft Research foca tanto as pesquisas

em ciência da computação como em engenharia de software. O seu prin-cipal objetivo é ampliar a experiência dos usuários com computadores, reduzir custos com o desenvolvimento e manutenção de softwares e criar novas tecnologias que ajudem as pessoas e as empresas a atingir seus potenciais plenos.

MiCroSoFt reSearCH

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a segunda edição do concurso XNA Challenge Brasil, que seleciona a melhor implemen-

tação de um jogo para PC ou Xbox-360 utilizando a plataforma gratuita Microsoft XNA, foi concluída no dia 15 de janeiro. A premiação dos es-tudantes vencedores aconteceu na sede da Microsoft Brasil. Os concor-rentes trabalharam sob o tema “Meio Ambiente Sustentável”, coincidente

com o tema do Imagine Cup 2008 (veja quadro na página 31). O 2º XNA Challenge Brasil foi organizado pela Microsoft com o apoio da Abragames (Associação Brasileira das Desenvol-vedoras de Jogos Eletrônicos) com base numa dupla aposta: no talento brasileiro e no mercado de jogos do País (veja entrevista com Milton Beck, na página seguinte)

O grande vencedor foi Vítor Au-

Games: Brasil tem grande potencialincentivar os talentos brasileiros e apoiar o crescimento do mercado

MErCaDO BrasiLEirO

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gusto Wolf Antonioli, que cursa Enge-nharia de Computação na Unicamp (Universidade Estadual de Campi-nas). Vítor é autor do jogo Recicle, que ganhou uma vaga no Microsoft Academic Days on Game Development in Computer Science Education. Trata-se de um evento acadêmico sobre o desenvolvimento de jogos, realiza-do a bordo do Celebry Century, um cruzeiro marítimo que sai de Miami, nos EUA, com destino a Port Key e Cozumel, no Caribe. Todas as despe-sas da viagem serão pagas pela Micro-soft. Além do prêmio do júri, o jogo Recicle também foi o escolhido pelo voto popular. Vítor ganhou, com isso, três games para PC e uma Microsoft

Como o sr. vê as perspectivas do mercado brasileiro de jogos eletrô-nicos?

Sou otimista quanto ao futuro do mercado brasileiro de games. O Brasil tem grande potencial nesse setor. Vem evoluindo nos últimos anos e ainda tem muito a crescer. O cenário atual já é interessante, uma vez que a base insta-lada, em termos de quantidades de PCs (Computadores Pessoais) é enorme – e ainda vai aumentar. Assim, é também alta a absorção de jogos que utilizam PCs. Os jogos que utilizam console, que são os chamados videogames, como o Xbox, estão, porém, num estágio merca-dológico mais incipiente no Brasil.

Qual a importância do Xna Challenge para o País?

Oportunidades como a do XNA Challenge são uma aposta inteligente no talento brasileiro. Temos grandes promessas entre os estudantes e o concurso estimula o desenvolvimento de profissionais locais. O fato de ser uma etapa da Imagine Cup, por meio da qual a competência brasileira pode obter visibilidade mundial, como vem ocorrendo nos últimos anos, também é

um fator a ser destacado.

Que vantagem têm os competidores ao utilizar a plataforma de desenvol-vimento Xna?

A plataforma XNA vem ao encontro dos sonhos dos desenvolvedores de jogos, pois permite que a aplicação seja feita do início ao fim, ou seja, permite treinamento pessoal e a satisfação da concretização do projeto. Ela é gratuita e possibilita a criação de títulos totalmente inovadores.

uma questão que sempre ronda o mercado de desenvolvimento de soft­wares é a do respeito à proprie-dade intelectual. nesse aspecto, como o sr. percebe o consumidor brasileiro?

O consumidor brasileiro está mais consciente, mas ainda há um longo caminho a ser trilhado. Com a maior complexidade da inteligência artificial, fazer jogos exige investimentos cada vez mais altos, que devem ser voltados a uma escala mundial, porque o risco envolvido também é alto. Compreender esse aspecto e agir em conformidade com essa compreensão nem sempre

ConFira oS gaMeS VenCedoreS

1º lugar: recicle – a missão do joga-dor é despoluir um rio, movimentando lixeiras de reciclagem e coletando detritos, segundo seu tipo.

2º lugar: City rain – o jogador deve montar sua cidade, respeitando noções de urbanismo e sustentabilidade.

3º lugar: alice, os Parasitas e o livro do tempo – o jogador co-manda Alice, que deve destruir os parasitas que infectam os humanos, fazendo-os extrair todos os recursos do planeta.

webcam. Feliz, declarou: “Quero agra-decer ao público e aos jurados pelo reconhecimento, e dizer a todos que participem dos concursos, pois são uma grande oportunidade”.

O segundo colocado no concur-so foi Guilherme Oliveira Campos, autor do jogo City Rain. Guilherme cursa Sistemas de Operação na Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) e recebeu um kit contendo um Windows Vista Home Premium, um mouse Micro-soft e cinco games da empresa para PC. Bruno Pereira Evangelista, que cursa Ciência da Computação na UFMG (Universidade Federal de Minas Ge-rais), conquistou a terceira colocação, com o jogo Alice, os Parasitas e o Livro

um mercado promissor Entrevista com Milton Beck, diretor de home entertainment da Microsoft Brasil

é simples para as pessoas. Entidades como a ABES (Associação Brasileira das Empresas de Softwares) e a BSA (Business Sof tware All iance) têm contribuído para a conscientização da sociedade em vários níveis, até mesmo na educação das autoridades de fiscalização, já que não é, muitas vezes, fácil distinguir entre o produto pirata e o original.

Foto Milton?

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são, inovação, aderência ao tema do concurso, qualidade (design, funcionalidades e execução), con-sistência da apresentação descrita do jogo, na primeira fase, com a sua implementação e capacidade do concorrente de apresentar o projeto pessoalmente.

Estudantes, professores e profis-sionais do mercado acompanharam o evento, que faz parte do Programa Potencial Ilimitado, da Microsoft, que é voltado às ações de cidadania. “A qualidade dos trabalhos apre-sentados no curto período que ofe-recemos para desenvolvimento é motivo de grande satisfação para nós”, afirmou Amintas Lopes Neto, gerente de novas tecnologias e pla-taformas para o setor acadêmico da Microsoft Brasil. O executivo salien-tou que, a partir do que aprende-ram com a avaliação dos jurados e com o próprio desenvolvimento de seus projetos, os estudantes pode-rão aprimorar seus trabalhos com vistas a participar da categoria De-senvolvimento de Jogos da Imagine Cup 2008.

O concurso consistiu em duas fases: uma avaliação por uma co-missão julgadora (composta de fun-cionários da Microsoft, membros da Abragames, imprensa especializada e convidados) e uma apresentação pessoal feita pelos cinco finalistas escolhidos na primeira fase. Para chegar aos vencedores, a comissão levou em conta os critérios diver-

iMagine CuP 2008

A sexta edição da Imagine Cup, a copa do mundo da computação,

foi lançada no mês de dezembro no Brasil. Estudantes de tecnologia foram desafiados a construir um mundo onde a tecnologia seja aliada do pla-neta. Sob o tema “Imagine um mundo onde a tecnologia possibilita um meio ambiente sustentável”, a competição é dividida em três módulos: Soluções Tecnológicas, Desafio de Capacidade e Arte Digital.

Mais de 100.000 estudantes de 100 países e regiões já participaram da Imagine Cup. Nos últimos anos, os brasileiros têm obtido destaque. Na edição de 2007, alunos da UFPE (Universidade Federal de Pernambu-co) conquistaram o primeiro lugar na categoria Sistemas Embarcados e estudantes da Unesp (Universidade Estadual Paulista) ficaram com o terceiro lugar na categoria Filme de Curta Metragem.

do Tempo. Bruno foi premiado com um kit contendo mouse, leitor de impressão digital e cinco jogos para PC (veja des-crição dos jogos na página ao lado).

Os outros dois finalistas foram Ca-rolina Simões Gomes, da Unicamp, com o jogo Gariman, e José Luís Lou-renço, da Univale (Universidade do Vale do Rio Doce), com The Great Adventures of Ted.

Vítor antonioli, da unicamp, conquista o primeiro lugar com o jogo recicle (imagem abaixo) – por um meio ambiente sustentável

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