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Revista do IGP Instituto-Geral de Perícias - Secretaria da Justiça e da Segurança - RS - Ano 3 - nº3 - Janeiro 2007

Revista IGP/RS nº 3

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Revista do IGPInstituto-Geral de Perícias - Secretaria da Justiça e da Segurança - RS - Ano 3 - nº3 - Janeiro 2007

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A publicação do terceiro número da Revista do IGP, editada anualmente desde 2004,

consolida uma das principais vocações do Instituto-Geral de Perícias, a produção científica. O

ano de 2006 foi particularmente importante neste aspecto. O Instituto esteve representado

nos mais importantes eventos da área pericial realizados no Brasil, tendo os seus servidores

obtido destaque nacional nessas oportunidades.

Também, em âmbito local, esse processo foi motivo de orgulho para a Instituição com

a realização de dois Seminários e um Encontro Nacional. No dia 17 de julho de 2006, data do

nono aniversário do Instituto, e ainda no dia 18, aconteceu o I Seminário de Estudos e

Pesquisas do IGP, aberto a todos os órgãos de segurança pública do Estado. Neste evento, os

profissionais da perícia gaúcha que no 1º semestre deste ano, participaram de congressos e

seminários em outras unidades da federação apresentaram seus trabalhos científicos, trazen-

do esse conhecimento para os servidores da segurança do Rio Grande do Sul.

Já em novembro, o IGP recebeu o 4º Encontro de Dirigentes-Gerais de Órgãos Periciais

do Brasil, encontro que já havia sediado em 2004. Também nesse mês, ocorreu em Porto

Alegre, o I Seminário Brasileiro de Engenharia Forense, da Associação Brasileira de

Criminalística, organizado basicamente pelos peritos do RS, com o apoio do Instituto. Estes

eventos foram muito bem sucedidos tanto sob o aspecto organizacional como, no caso do

Seminário, científico.

Por tudo isso, espera-se que essas iniciativas, seja a da Revista, seja a de eventos técnicos,

continuem sendo uma das prioridades do IGP sempre. Hoje, publica-se a Revista do IGP

com muito esforço, mas também com muita satisfação, pois se tem a certeza que ela represen-

ta a consolidação da capacidade e do conhecimento científico da perícia gaúcha. Essa edição

traz no seu conteúdo um pouco disso tudo que aconteceu em 2006.

Aproveite e boa leitura!

A Direção-Geral

Expediente

Conselho Editorial

Áureo Luiz Figueiredo Martins

Maria Cristina Bottizzo de Farias

Arthur Saldanha de Menezes Jr.

Rafael Silva do Nascimento

Francisco Silveira Benfica

Fábio Pereira das Neves Leite

Eduardo Lima Silva

Daniela Batistella

Projeto Gráfico

Raquel Friedrich

Rafael Silva do Nascimento

Diagramação

Rafael Silva do Nascimento

Jornalista Responsável

Eduardo Lima Silva - Registro de Jor-

nalista Profissional Diplomado No 9.981

(DRT/RS - Ministério do Trabalho)

Impressão

CORAG - Companhia Rio-Gran-

dense de Artes Gráficas

Tiragem

1.000 exemplares

Distribuição Gratuita e Dirigida

Contato

www.igp.rs.gov.br

[email protected]

Governador do Estado do Rio

Grande do Sul

Germano Rigotto

Secretário da Justiça e da Segurança

Omar Jacques Amorim

Instituto-Geral de Perícias

Rua Voluntários da Pátria, 1358 - 3º - Porto

Alegre - RS - 90230-010

Diretor-Geral

Áureo Luiz Figueiredo Martins

Corregedor

Fernando da Silva da Costa

Supervisora Técnica

Maria Cristina B. de Farias

Diretor Administrativo

Sérgio Luiz de Oliveira Lopes

Departamento de Criminalística

Diretora

Eliana Sarres Pessoa

Departamento de Identificação

Diretor

Guilherme Ferreira Lopes

Departamento Médico-Legal

Diretor

Marcos Rovinski

Laboratório de Perícias

Chefe

Fábio Pereira das Neves Leite

Editorial

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A Utilização da Análise de DNA em Desastres em Massa: Participação

Brasileira na Identificação dos Corpos do Incêncio no Paraguai

Matte, Cecília H.F.a; Schwengber, Solange Pereirab; Carvalho, Bianca de

Almeidac; Raimann, Paulo Eduardod; Leite, Fábio P.N.e

Laboratório de Perícias, Instituto-Geral de Perícias - SJS, Porto Alegre/RS

Em agosto de 2004 ocorreu um incêndio no supermerca-

do Ycuá Bolaños em Assunção, no Paraguai. No momento do

incêndio estavam presentes cerca de mil pessoas entre funcio-

nários e clientes. Destas, mais de 400 morreram. Estabeleceu-

se um caos em meio à tragédia, onde centenas de pessoas bus-

cavam informações a respeito das vítimas e reclamavam pelos

corpos de seus familiares. O Ministério Público do Paraguai

montou um esquema de organização envolvendo representan-

tes de inúmeras entidades, possibilitando que a entrega dos cor-

pos fosse agilizada. Num primeiro momento, os familiares fi-

zeram o reconhecimento visual das vítimas e também através

da identificação de objetos pessoais (Bezerra, 2005).

Os incêndios em locais públicos são apenas um dos vários

tipos de desastres coletivos de grande magnitude que podem

ocorrer. Estes desastres podem ser decorrentes de causas natu-

rais (enchentes ou terremotos), atos intencionais (atentados a

bombas), e causas acidentais (incêndios e queda de avião)

(Alonso et al, 2005). Independente da causa que levou a ocor-

rência de um grande número de vítimas graves ou fatais, a iden-

tificação das vítimas é uma ação necessária e que deve ser reali-

zada o mais brevemente possível, não somente pelo fator hu-

mano (o direito das famílias receberem e enterrarem os corpos

das vítimas), mas também por questões cíveis (emissão de cer-

tidão de óbito, pensões e seguros de vida) e criminais (quando

há um culpado pelo ato, este deve ser responsabilizado e as

famílias das vítimas indenizadas). Esta identificação de vítimas

pode ser realizada com o auxílio de técnicas como a antropolo-

gia forense, a impressão digital, a odontologia forense, a radio-

logia e o exame de DNA (Andelinovic et al, 2005). Qualquer

que seja a técnica utilizada, a preservação do local e das vítimas

é fundamental, pois, no momento em que se vasculham os des-

troços, pode ocorrer a fragmentação dos corpos e também a

contaminação das amostras, o que dificultará a obtenção de

resultados rápidos. Desta forma, para que essa organização dos

destroços seja efetiva, é necessária a formação de uma equipe

forense multidisciplinar (Tsokos et al, 2005).

No caso do Paraguai, dois dias após o desastre, chegou ao

local um grupo pericial formado por um consórcio internacio-

nal de colaboração, onde estavam presentes peritos médico-

legistas e odonto-legistas do Rio Grande do Sul, peritos médi-

co-legistas de Brasília, peritos e papiloscopistas da Polícia Fe-

deral, peritos da Espanha e papiloscopistas do Chile. Este gru-

po ficou responsável pela identificação dos 86 corpos que não

haviam sido reconhecidos pelos familiares. Estes corpos foram

armazenados em dois caminhões frigoríficos e transportados a

um ginásio onde foram separados de acordo com o sexo, idade

e possibilidade de reconhecimento. Ao mesmo tempo em que

era realizada a identificação por meio dos métodos

antropométricos, arcada dentária, radiografias e lesões cirúrgi-

cas, os papiloscopistas realizavam a coleta e comparação de

impressão digital. Mais da metade dos corpos foi identificado

durante este processo. O restante apresentava um grau tão avan-

çado de carbonização que somente seria possível identificar com

o uso da análise de DNA (Bezerra, 2005)

A coleta de amostras para o exame de DNA deve ser rea-

lizada logo após a identificação possível pelos médicos-legistas,

odonto-legistas e papiloscopistas, mesmo quando esta identifi-

cação for positiva, pois pode ser necessário um futuro con-

fronto genético para elucidação de dúvidas com relação a iden-

tidade do indivíduo e troca de corpos (Alonso et al, 2005). A

escolha do tipo de amostra a ser coletada depende da conserva-

ção da amostra. Dentes e ossos são os materiais que se preser-

vam por mais tempo, mesmo quando submetidos a diferentes

fatores de degradação (Andelinovic et al, 2005; Edson et al,

2004). A limpeza do material pode ser um fator importante

antes da extração do DNA para diminuir o risco de contamina-

ção com perfis genéticos de outras vítimas. Paralelamente à

coleta de amostras dos corpos e fragmentos, deve ser realizada

a coleta de material de referência dos supostos cadáveres. Exis-

tem duas possibilidades: o uso de referências diretas, como es-

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covas de dentes, biópsias anteriores e amostras de sangue de

laboratórios de análises clínicas, ou referência de familiares pró-

ximos como sangue ou swab oral da mãe, pai, filhos ou irmãos.

O problema da utilização de referências diretas é a possibilida-

de de troca de material ou mistura de material, dificultando a

obtenção do perfil genético de referência da vítima ou levando

a uma falsa exclusão. No caso em questão, preferiu-se coletar

amostras biológicas dos familiares mais próximos das vítimas,

através de swabs com células da mucosa oral e sangue em car-

tões do tipo FTA.

A identificação pelo DNA pode ser realizada através da

amplificação das amostras utilizando-se diferentes sistemas. Os

sistemas autossômicos STR possibilitam a comparação direta

das amostras e também permitem que seja estabelecido um vín-

culo genético entre as amostras de referência e da vítima. Os

sistemas de amplificação específicos de cromossomo Y permi-

tem verificar a possibilidade das amostras comparadas perten-

cerem ao mesmo ramo patrilíneo, sendo útil em casos onde a

única referência disponível é de um irmão de uma vítima do

sexo masculino, e ambos são filhos do mesmo pai. O DNA

mitocondrial é uma ferramenta importante que fornece ele-

mentos para verificar se as amostras comparadas possuem o

mesmo haplótipo mitocondrial, o que significa que elas podem

pertencer ao mesmo ramo matrilíneo. Além disso, devido ao

fato do DNA mitocondrial apresentar várias cópias por célula,

ele permite a análise em amostras muito degradadas, obtendo-

se um sucesso de análise muito maior do que com o DNA

nuclear (Edson et al, 2004). Também nos casos de alto grau de

degradação é possível a utilização de conjuntos de SNPs.

Através do consórcio internacional formado para identi-

ficação das vítimas do incêndio no Paraguai, a Espanha ficou

responsável pela análise dos materiais biológicos coletados dos

cadáveres, contando com o auxílio do IPDNA da Polícia Civil

de Brasília. A maioria dos corpos foi identificada utilizando-se

marcadores STR autossômicos. Restaram doze corpos

genotipados pela Espanha e um corpo genotipado por Brasília

que não tiveram sucesso na sua identificação, já que não foi

obtido vínculo com os familiares testados. Além disso, resta-

ram 17 famílias a procura dos seus familiares. Este resultado

demonstrou que poderia ter ocorrido erro na entrega inicial

dos cadáveres ou que, dentre os fragmentos resultantes de ex-

plosões que ocorreram durante o incêndio e também do trans-

porte dos cadáveres, poderia haver algum que não pertencia a

nenhum dos corpos testados, sendo de um corpo totalmente

fragmentado. Desta forma, em um acordo entre o Governo

Federal brasileiro e o Ministério Público do Paraguai, foram

enviadas amostras de referência coletadas de 165 famílias (en-

tre elas as 17 que não haviam recebido corpo e também de

famílias que queriam a confirmação de que enterraram o corpo

certo), as quais foram divididas entre quatro laboratórios brasi-

leiros forenses ligados à Segurança Pública: Rio Grande do Sul,

Brasília, Paraná e Rio de Janeiro, que ficaram responsáveis pela

extração, genotipagem e comparação com os perfis genéticos

dos corpos.

No final de junho de 2005 foram entregues os laudos dos

laboratórios ao Ministério Público do Paraguai. Dos 13 cadá-

veres testados, dois incluíram como pertencentes às famílias que

ainda não haviam recebido o corpo do seu familiar e cinco in-

cluíram como pertencentes à famílias que já haviam recebido

um corpo, indicando que realmente ocorreu troca de cadáveres,

levando à necessidade de exumação dos corpos trocados para

análise. Além disso, foi realizado um estudo comparativo entre

os fragmentos de corpos genotipados em Brasília e as referên-

cias das 165 famílias. A primeira comparação entre os perfis de

STR dos familiares e dos doze cadáveres não identificados, com

os obtidos dos fragmentos anatômicos demonstrou que nenhum

dos cadáveres não identificados apresentou compatibilidade de

vínculo genético com as famílias testadas e que alguns dos frag-

mentos analisados podem apresentar grau de parentesco com

estas famílias, mas seria necessária a análise de um número mai-

or de regiões de STR para confirmar esta hipótese.

Quando estamos tratando de desastres em massa, o nú-

mero de amostras biológicas para manipular e analisar geral-

mente é grande, o que mostra a importância de uma integração

nacional entre laboratórios. Para que seja possível a troca de

informações entre os laboratórios, deve ocorrer uma padroni-

zação das técnicas utilizadas com o objetivo de se obter os re-

sultados em tempo semelhante, o uso de kits validados para que

os resultados sejam confiáveis e também a padronização dos

marcadores a serem utilizados para possibilitar a devida compa-

ração, sendo em número suficiente para se obter estatísticas

satisfatórias. Quando se utiliza um número pequeno de

marcadores, é comum a ocorrência de falsos positivos, isto é, a

inclusão de um suposto como sendo a vítima quando não é.

Isso pode acontecer principalmente quando se utilizam

marcadores que têm alelos muito comuns, o que aumenta o

número de “matches”. Um exemplo prático da dificuldade de

trabalhar com um número pequeno de marcadores foi visto

quando realizada a comparação entre os perfis dos fragmentos

e dos familiares. Quando o laboratório de Brasília amplificou os

fragmentos, foram utilizados apenas nove loci, o que resultou

na primeira análise, à várias inclusões. Como o resultado não foi

satisfatório, não foi liberado um laudo e, sim, um relatório apresen-

tando os resultados e solicitando que fosse amplificado um número

maior de regiões. Aumentando para 14 loci, a maioria das inclusões

se tornou exclusões.

Uma questão muito importante em discussão atualmente é a

implantação de ferramentas de bioinformática na área de genética

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forense. Em casos de desastres em massa, onde se observa um nú-

mero muito elevado de vítimas, um programa de banco de dados

que tenha uma grande capacidade de armazenamento de perfis ge-

néticos e que possibilite a comparação genética de múltiplas amos-

tras de vítimas e de referência considerando todas as possibilidades

de vínculo de parentesco é de grande utilidade (Alonso et al, 2005).

Considerando a diversidade genética do Brasil, que apresenta carac-

terísticas genéticas regionalizadas, e considerando casos como o do

Paraguai, onde analisamos uma população com diferenças genéticas

da nossa, o programa deve ter a opção de utilizar diferentes freqüên-

cias populacionais, de acordo com a população em estudo. Se todos

os laboratórios que se envolveram no caso do Paraguai possuíssem

um programa destes, o resultado das análises teria sido liberado em

um tempo menor. Atualmente, podemos citar como exemplo de

programa, o CODIS, do FBI, que é utilizado em diversos países, o

software Pedigree, da ESR da Nova Zelândia, que foi utilizado na

identificação das vítimas do Tsunami na Indonésia para confronta-

ção genética e banco de dados, além de muitos outros que já foram

ou estão sendo desenvolvidos em vários países, incluindo o Brasil.

O incêndio ocorrido no Paraguai reafirmou a importância da

utilização do exame de DNA no processo de identificação de víti-

mas, e a necessidade de implementação de um programa de banco

de dados de perfis genéticos e comparação genética, com o objetivo

de agilizar a liberação dos corpos dos envolvidos, atendendo a um

princípio ético, principalmente com relação aos familiares das víti-

mas. Para isso, uma padronização de análises se faz necessária, com

a elaboração de um manual e implantação de treinamentos para iden-

tificação em desastres em massa, com o envolvimento de profissio-

nais das mais diversas áreas de atuação de todos os estados brasileiros.

Com relação à análise de DNA:

a) O número de vítimas é uma informação impor-

tante para verificar a capacidade dos laboratórios

de atenderem às análises;

b) Os corpos têm que estar acessíveis para a coleta

de amostras, serem conservados e estarem à dis-

posição da perícia;

c) O grau de degradação dos corpos vai influenciar

tanto no tipo de amostra a ser coletada como no

tipo de análise a ser realizada;

d) Como alternativa nos casos em que a degradação

é muito evidente, o DNA mitocondrial parece ser

a análise mais viável para se obter dados que

direcionem a identificação, sendo precedida da

análise autossômica quando verificada a ocorrên-

cia de coincidência haplotípica entre as amostras

das vítimas e das referências;

d) Deve-se evitar a ocorrência de fragmentação dos

corpos, pois aumenta o número de análises já que,

além de comparar os fragmentos com as amos-

tras de referência, também deverão ser compara-

dos entre si, para verificar se pertencem a um

mesmo corpo;

e) É necessário verificar quais amostras de referência

disponíveis, tentando buscar os familiares mais

próximos.

Esta experiência servirá como modelo de atuação para o

caso de futuras tragédias de grandes proporções.

Bibliografia

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L. F., Iturralde, M. J., Fernández-Rodríguez A., Atienza

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s00414-005-0031-4

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M., Primorac, D.. Twelve-year Experience In

Figura 1 – Proposta de atuação para identificação de vítimas e fragmentos em casos de desastres em massa.

Page 6: Revista IGP/RS nº 3

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Identification of Skeletal Remains from Mass Graves.

Croatian Medical Journal 2005;46(4):530-539.

[5] Edson, S.M., Ross, J.P., Coble, M.D., Parsons, T.J.,

Barritt, S.M. Naming the Dead – Confronting the

Realities of Rapid Identification of Degraded

Skeletal Remains. Forensic Science Rev 2004;

6(1):63-90.

Autores

[a] Perito Químico Forense.

[b] Perito Químico Toxicologista.

[c] Perito Químico Forense.

[d] Papiloscopista.

[e] Perito Criminalístico.

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Análise da Dispersão de Resíduos de Tiro de Sub-Metralhadora e Fuzil

Automático Leve Coletados Diretamente do Corpo do Atirador

Abel, Liegea; Santos, Miriam S.b; Dick, Luís F. P. c

Departamento de Criminalística, Instituto-Geral de Perícias, Secretaria da Justiça e da Segurança eCentro de Microscopia Eletrônica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Porto Alegre, Rio Grande do Sul

1. Introdução

Neste trabalho, dentro do programa nacional Pólvora, o

microscópio eletrônico de varredura foi empregado na deter-

minação da distribuição de micropartículas de GSR (gun shot

residues) no corpo do atirador após testes de tiro com sub-me-

tralhadora e fuzil automático leve, sob condições controladas.

2. Materiais e Métodos

Seis testes de tiro foram efetuados por dois oficiais do 3º

Batalhão de Polícia do Exército/MD, no ambiente aberto da

linha de tiro da corporação (Fojtášek et al.,2003), com munição

apropriada produzida pela CBC. Os grupos de teste são dados

na Tabela 1. Previamente a cada seqüência de tiros, fitas

condutoras adesivas dupla-face de 10X10 mm foram

posicionadas em 15 pontos específicos do corpo do atirador

segundo o esquema da Figura 1. Imediatamente após cada tes-

te de tiro as fitas adesivas foram coletadas e acondicionadas em

caixas individuais de coleta.

As 90 amostras resultantes da coleta foram analisadas de

forma manual (Brozek-Mucha e Jankowicz,2001) sobre stubs de

alumínio, com voltagem de aceleração de 20 kV e busca por

elétrons retroespalhados (Romolo e Margot,2001), no micros-

cópio eletrônico de varredura JEOLSEM 5800 com

microssonda para realização de espectroscopia de energia

dispersiva (EDS) de raios-X Noran dos elementos boro até urânio.

Figura 1: Pontos de coleta de GSR

Tabela 1: Armamento, posições e situações de tiro para cada grupo de coleta de GSR.

3. Resultados

Consideraram-se apenas as composições de elementos

denominadas exclusivas e características de GSR apresentadas na

Tabela 2. Nos seis grupos de amostras foram encontradas

particulas exclusivas esféricas ou em agregados esferóides, deno-

tando sua solidificação na atmosfera, com diâmetros entre 1 e

30 μm, contendo Pb, Ba e Sb, freqüentemente acompanhadas

de Al e, eventualmente, de Fe, Sn, Ca, Cl, Si, Cu, Zn, K, Mn e S.

Em paralelo, houve a deposição de partículas de GSR exclusivas

de formatos distintos (Garofano et al.,1999), não necessaria-

mente esféricas (Flynn et al.,1998), que poderiam ser considera-

das atípicas, indicando sua solidificação sobre as superfícies ou a

impactação sobre as mesmas ainda na forma pastosa. Partícu-

las de GSR características foram detectadas em quantidades mai-

ores do que aquelas exclusivas. Houve a deposição de partículas

com diâmetros variáveis que atingiam cerca de 200 μm, conten-

do Na, Cl e K, atribuíveis à contaminação das amostras por

suor do atirador e manuseio, ou contendo Al, Si e Ca, referen-

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tes a partículas de poeira de alumino-silicatos de cálcio. Em

relação à dispersão de GSR no corpo do atirador, os resultados

estão resumidos na Tabela 2. Verifica-se que os pontos de cole-

ta da mão e antebraço esquerdos, à frente das janelas de ejeção

das armas e distantes em torno de 20 a 25 cm das mesmas

(pontos 8, 9 e 10) exibem a maior deposição de particulados de

GSR, seguidos do ponto 1, referente ao dedo que aciona o

gatilho, posicionado em torno de 15 cm para trás da citada

janela.

4. Conclusões

Os tiros com FAL resultaram em deposição preferencial

de particulados de GSR exclusivos e característicos na lateral poste-

rior da mão esquerda, no dedo indicador direito e na região

abdominal do atirador. Já o uso de sub-metralhadora produziu

maior deposição de GSR na região abdominal, no dedo pole-

gar esquerdo e na região interna do antebraço esquerdo, próxi-

ma ao pulso. Os tiros em rajada com submetralhadora propici-

aram grande deposição de GSR ao redor dos olhos do atirador

e nas regiões internas de seus antebraços. Para os dois tipos de

armas, a posição de assalto induziu a maior dispersão de

particulados de GSR nas áreas internas dos membros superio-

res, em direção aos ombros, compatível com a maior aproxima-

ção dos braços à janela de ejeção. Quanto à presença de GSR

exclusivas, houve a deposição não apenas de partículas esferóides,

como também de particulados não necessariamente esféricos,

que poderiam, em uma leitura isolada, confundir-se com partí-

culas oriundas de contaminação ocupacional (Cardinetti et

al.,2004). Adicionalmente, houve intensa deposição de partícu-

las de GSR características, oriundas dos eventos de tiro, embora

contivessem apenas um ou dois dos elementos postulados.

Agradecimentos

SENASP/MJ, CNPq, 3º Batalhão de Polícia do Exérci-

to/MD, Peritos da Seção de Balística Forense do DC/IGP-RS

e Secretaria do CME/UFRGS.

Referências Bibliográficas

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the possibility of differentiation between various

types of ammunition by means of GSR

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Orlando, G.; Gravina, L.; Ferrari, F.; Di Tullio, D.;

Torresi, L. X-ray mapping technique: a preliminary

study in discriminating gunshot residue particles

from aggregates of environmental occupational

Tabela 2: Distribuição de particulados de GSR no corpo do atirador. Achados múltiplos

de partículas de mesma composição, não considerando outros elementos presentes, estão in-

dicados nos parênteses.

A B

EDC F

Figura 2: Distribuição dos particulados de GSR sobre o corpo do atirador nas condições de tiro da Tabela 1. As áreas vermelhas correspondem a partículas exclusivas (Pb-Ba-Sb, Ba-Sb);

as áreas azuis correspondem a partículas características (Pb-Ba, Pb-Sb, Pb, Ba, Sb).

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9

origin, Forensic Science International 143 (2004)

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[3] Flynn, J.; Stoilovic, M.; Lennard, C.; Prior, I.;

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Distribution of GSR particles in the

surroundings of shooting pistol, Forensic Science

International 132 (2003) 99-105.

[5] Garofano, L.; Capra, M.; Ferrari, F.; Bizzaro, G.P.;

Di Tullio, D.; Dell’Olio, M.; Ghitti, A. Gunshot

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Science International 103 (1999) 1-21.

[6] Romolo, F. S.; Margot, P. Identification of gunshot

residue: a critical review, Forensic Science

International 119 (2001) 195-211.

Autores

[a] Perita Criminalística da Seção de Balística do De-

partamento de Criminalística de Porto Alegre-RS;

Mestre em Ciências Biológicas: Bioquímica;

[b] Técnica do Centro de Microscopia Eletrônica da Uni-

versidade Federal do Rio Grande do Sul CME-UFRGS;

[c] Professor do Departamento de Metalurgia da Es-

cola de Engenharia da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul – UFRGS e do Centro de

Microscopia Eletrônica/CME-UFRGS; Doutor em

Metalurgia Física: Corrosão.

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A Concepção Sistêmica na Definição da Causa no Acidente de Tráfego

Aragão, Ranvier Feitosaa

Instituto de Criminalística, Fortaleza, Ceará

A ambição do trabalho pericial é o de oferecer uma expli-

cação, uma causa eficiente para a ocorrência. Didaticamente

falando, explicar um fenômeno ou acontecimento é responder

à pergunta “por que aconteceu?”, e trazer à tona “o motivo

pelo qual”, revelando a sua etiologia e os princípios técnicos e

científicos que o presidem.

A investigação dos acontecimentos, com toda a naturali-

dade, traz sempre à tona a pergunta “por que razão?”. A ques-

tão de revelar a causa é imprescindível, particularmente quan-

do se procura definir responsabilidades, o que se torna inviável

sem o conhecimento da causa patrocinadora.

Reza o princípio da causalidade, que nada acontece sem

causa. Todo fenômeno e tudo que acontece tem uma origem,

uma razão de ser, de existir, uma causa ou causas que o antece-

dem e o produzem.

Como se percebe, o princípio da causalidade, se ocupan-

do do vínculo, do nexo lógico entre causa e efeito, da relação

entre o princípio e o fim, entre antecedente e conseqüente, se

aplica perfeitamente à sucessão de eventos com caráter neces-

sário que ocorrem no tempo e no espaço.

Numa ocorrência antecedida por uma corrente de evento

ou fatores, a causa, conforme o princípio da causalidade, é

explicada pelo evento ou fator sem o qual a ocorrência não

teria se verificado.

Cada evento ou fator é considerado isoladamente, e a cau-

sa da ocorrência é facilmente determinada pela chamada regra

da supressão hipotética, ou seja, a causa será o evento ou fator

necessário, aquele que suprimido na mente, a ocorrência não se

efetivaria.

Thomas Kuhn (1922 - ) entende que a riqueza científica

está nos confrontos paradigmáticos, teorias, métodos, etc, em

que um deles busca eliminar ou pelo menos sobrepor aos ou-

tros. Defendeu que o progresso científico não é incremental,

mas progride em passos via mudança de paradigma, quando

um paradigma é superado e substituído por outro, de modo

que qualquer teoria pode se deparar com anomalias, acumular

divergências, perdendo força para as novas teorias concorren-

tes que se estruturam.

Na explicação sistêmica, os fatores ou eventos são con-

siderados interativamente, pelo que não mais deflui uma causa

isolada, mas causas, representadas pelo conjunto dos eventos

ou fatores que reciprocamente contribuíram para a ocorrência,

compreendendo todas as ações mútuas que atuaram ativa ou

passivamente e não o evento ou fator solitário na ordem

têmporo-espacial.

Pioneiro em nosso país no emprego pericial desse dispo-

sitivo, o Perito Criminalístico Eng° Rodrigo Kleinübing, citado

por Neto, o aplica aos acidentes de tráfego, findando por enu-

merar os fatores causais intervenientes, como por exemplo:

a) Fator veículo: desgaste excessivo dos pneumáticos;

b) Fator viário-ambiental: superfície asfáltica polida

e molhada;

c) Fator humano: excesso de velocidade.

O adjetivo sistêmica provém da expressão pensamento sistêmico

que expressa o novo paradigma emergente da ciência contem-

porânea, também chamada de ciência pós-moderna ou ciência

novo-paradigmática.

Vivemos uma época de transição entre o paradigma da

ciência tradicional (clássica, moderna) e o novo paradigma – o

pensamento sistêmico que pouco a pouco vai se descortinando,

se impondo e sepultando o modelo anterior, via convivência

pacífica.

Importa destacar que não é a ciência em si que está em

metamorfose, o que está mudando é o modo de fazê-la, o pen-

sar e o agir de operadores da ciência, presentemente um peque-

no grupo de adeptos, diga-se de passagem que, adotando uma

nova visão de mundo, começou a conceber e a produzir

sistemicamente, equivalendo dizer, pensando no todo e não no

individual, contrapondo-se à fragmentação do saber, promo-

vendo a integração das partes, substituindo a disjunção e a

redução pela contextualização, deslocando-se dos compartimen-

tos estanques da ciência clássica (disciplinas científicas) para

cultivar a transdisciplinariedade, passou a atuar de forma com-

plexa, totalitária e interativa.

O paradigma da ciência tradicional é dito newtoniano,

mecanicista; outros ainda o chamam de cartesiano em alusão

Page 11: Revista IGP/RS nº 3

11

ao racionalismo de René Descartes (1596 – 1650), tornando o

mundo cognoscível por via de sua decomposição (análise) dos

elementos que a constituem. Começou a ser modelada no sécu-

lo XVI com a revolução gelileana, veio se mantendo através

dos séculos e chegou a nós, definiu-se e se estabilizou com o

sucesso da física newtoniana, particularmente com a concep-

ção de mundo-máquina, estável, eterno, reversível, ordenado e

mecanicista (operado por leis físicas), pelo que, na concepção

de Vasconcellos, assume as seguintes características:

a) Simplicidade – separando o mundo em partes é possível

entender o todo;

b) Estabilidade – o mundo foi, é e será como está, e nele as

coisas se repetem com regularidade, pelo que se pode prever e

controlar os fenômenos dos quais se tem conhecimento de causa;

c) Objetividade - é possível conhecer o mundo tal qual ele é na realidade.

Esse paradigma de ciência, newtoniano e/ou cartesiano,

entrou em crise com Einstein, a mecânica quântica e outras

descobertas científicas desde o início do século XX, iniciando,

desde então, uma profunda e irreversível revolução científica

ainda em curso, dando margem para o aparecimento do novo

paradigma que está emergindo. Nas palavras de Santos, “em

vez da eternidade, a história; em vez do determinismo, a

imprevisibilidade; em vez do mecanicismo, a interpenetração, a

espontaneidade e a auto-organização; em vez da ordem, a de-

sordem; em vez da necessidade, a criatividade e o acidente”.

Fazendo uma pequena ilustração, no paradigma newtoniano o

tempo é absoluto e a massa inercial, na teoria einsteiniana o

tempo é relativo (depende do referencial) e a massa é função da

velocidade. Paralelamente, o princípio da incerteza de

Heinsemberg joga por terra o determinismo.

Assim, a simplicidade, a estabilidade e a objetividade, no novo

modelo, transmutaram-se para a complexidade, a instabilidade e a

intersubjetividade, respectivamente, conforme pontua Vasconcellos:

a) Complexidade – os fenômenos devem ser observados

contextualizados, vez que a simplicidade oblitera as inter-

relações entre os fatos;

b) Instabilidade – o mundo é dinâmico e continuamente mutável,

decorrendo na imprevisibilidade de alguns fenômenos;

c) Intersubjetividade – a “realidade” depende do observador,

isto é, o sujeito sempre interage com o conhecimento adquirido.

Havendo sido gestada no ventre da ciência tradicional

(clássica ou moderna), é natural a prática da Criminalística afer-

rar-se aos paradigmas desta. Entretanto, sendo permeável, ha-

veremos de esperar que a Criminalística Brasileira, sempre se

atualizando pela incorporação de novas idéias, dê um salto qua-

litativo, abrindo-se menos timidamente e cada vez mais rapida-

mente para os paradigmas da ciência contemporânea.

Referências Bibliográficas

[1] CARNAP, Rudolf. O caráter metodológico dos conceitos teóri-

cos, in Os pensadores. Editora Abril SA, 1975. São Paulo –

SP.

[2] CHALMERS, Alan. A fabricação da ciência. Editora

Unesp, 1994. São Paulo – SP.

[3] FORMOSINHO, Sebastião J. O imprimatur da ci-

ência – das razões dos homens e da natureza na mudança

científica. Coimbra Editora, 1994. Coimbra – Portu-

gal.

[4] HEISENBERG, Werner. Física e filosofia. Editora

Universidade de Brasília, 1988. Brasília- DF.

[5] HEGENBERG, Leonidas. Saber de e saber que –

alicerces da racionalidade. Editora Vozes Ltda, 1999.

Petrópolis. RJ.

[6]HENRY, John. A revolução científica e as origens da ciência

moderna. Jorge Zahar Editor, 1998. Rio de Janeiro.

[7] JAPIASSU, Hilton. Questões epistemológicas. Imago

Editora Ltda, 1981. Rio de Janeiro, RJ. A revolução

científica moderna. Editora Letras & Letras, 1997.

São Paulo – SP.

[8] KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científi-

cas. Editora Perspectiva SA, 1998. São Paulo – SP.

[9] NETO, Osvaldo Negrini, e KLEINÜBING,

Rodrigo, Dinâmica dos acidentes de Trânsito -

análises, reconstruções e prevenção. 2ª Edição.

Millennium Editora Ltda, 2005. Campinas - SP.

[10] OMNÈS, Roland. Filosofia da ciência contemporânea.

Editora Unesp, 2001. São Paulo – SP.

[11] SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as

ciências. Edições Afrontamento, 1989. Porto – Portu-

gal. Introdução a uma ciência pós-moderna. Edições

Afrontamento, 2002. Porto – Portugal.

[12] VASCONCELLOS, Maria José Esteves. Pensamen-

to sistêmico – o novo paradigma da ciência. Papirus Edi-

tora, 2002. Campinas – SP.

[13] WITTGENSTEIN, Ludwig. Tratado lógico-filosófico. Fun-

dação Calouste Gulbenkian, 1995. Lisboa – Portugal.

Investigações filosóficas. Fundação Calouste Gulbenkian,

1995. Lisboa – Portugal.

WOLF, Ursula e Ernst Tugendhat. Propedêutica lógico-

semântica. Editora Vozes Ltda, 2005. Petrópolis, RJ.

Autor

[a] Perito Criminalístico Engenheiro do Instituto de

Criminalística do Ceará.

Page 12: Revista IGP/RS nº 3

12

Uma Visão de Comunicação Social para a Criminalística

Silva, Eduardo Limaa

Departamento de Criminalística, Instituto-Geral de Perícias, Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Introdução

Este trabalho apresenta a atividade de Comunicação Soci-

al, com ênfase na Assessoria de Imprensa, a partir da experiên-

cia de criação e montagem da Assessoria de Comunicação So-

cial do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, abor-

dando, dentro do campo das ciências sociais e humanas, aspec-

tos teóricos e práticos relacionados com a Criminalística e os

Peritos.

Noções de Teoria do Jornalismo nas linhas da evolução

histórica do capitalismo e da análise dos conflitos de

interesses das classes sociais: Notícia como aproxima-

ção da realidade sob a ótica capitalista

O foco principal do presente artigo é um conjunto de

noções práticas de Comunicação Social aplicada à Criminalística.

No entanto, ele também está alicerçado em alguns conhecimen-

tos teóricos das ciências sociais e humanas que são revisados

neste tópico inicial. O trabalho desenvolvido ampara-se na com-

preensão do conceito de jornalismo lato sensu na linha de asso-

ciação à evolução histórica do capitalismo, observada em

Habermas1, e muito utilizada por Genro Filho2 e Marcondes

Filho3. A razão dessa escolha tem a ver com a predominância

do sistema capitalista de produção na atual sociedade brasileira

com influência sobre todas atividades, inclusive, a Criminalística.

Nessa mesma trilha teórica, também se utiliza a análise

dos conflitos de interesses de classes sociais que desde a Idade

Média estabeleceu as divisões entre capital e trabalho, impondo

toda uma diversidade cultural nos hábitos, costumes, tradições

e comportamentos no uso da comunicação até os dias de hoje.

A partir disso, selecionou-se conceitos de notícia, maté-

ria-prima do jornalismo e foco do processo de comunicação

social escolhido, que por si só dão uma visão inicial da questão

a ser equacionada por qualquer assessoria na área da Comuni-

cação Social:

- É sobre a notícia que se centra o interesse principal do

jornalismo (Marcondes Filho4).

- A notícia é a informação transformada em mercadoria

com todos os seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais.

Ela pertence ao jogo de forças da sociedade e só é compreensí-

vel por meio de sua lógica. Essa lógica supõe três dimensões de

inserção da notícia como fator de sobrevivência econômica do

veículo: a) como mercadoria; b) como veiculador ideológico;

c) como estabilizador político (Marcondes Filho5).

- Para a maioria, as notícias são o único modo de conhe-

cer o que ocorre ao seu redor (Ramirez6).

- Notícia é o que interessa aos jornalistas (Herraiz7).

- Notícia é a representação social da realidade cotidiana

produzida institucionalmente que se manifesta na construção

de um mundo possível. Mundo possível é o resultado do cruza-

mento entre o mundo real (onde ocorrem os fatos) e o mundo

de referência (onde estão as construções culturais do que é

mundo) (Alsina8).

- As notícias, como informação relevante legitimada para

a sociedade, reforçam o status quo mediante a reificação dos pro-

blemas sociais e da estrutura social (Solosky9).

Declaração de Intenções

No processo de construção da Assessoria de Comunica-

ção Social (ACS) do Instituto-Geral de Perícias do Estado do

Rio Grande do Sul (IGP-RS), tendo em mente que esse era um

novo caminho a ser percorrido, além do conhecimento teórico,

foi através da prática diária que se encontrou as formas para

que as atividades necessárias se consolidassem. Para tanto, no

início do planejamento, em março de 2003, foram traçadas al-

gumas diretrizes, chamadas então de Declaração de Intenções,

que abarcavam, três itens, na forma que segue:

Visão: A ACS é uma ferramenta para que o IGP-RS seja

reconhecido e respeitado pela sociedade como órgão de segu-

rança pública na busca por melhores condições de trabalho (re-

muneração e infra-estrutura).

Disputa pela comunicação: O IGP-RS disputa espaço nos

veículos de comunicação com as Polícias Civil e Militar. Para

entender os avanços do órgão no processo de comunicação

Page 13: Revista IGP/RS nº 3

13

deve-se comparar a dimensão de cada organização em relação

o número de servidores que abriga e o espaço que cada um tem

ocupado. Para fins dessa mensuração, registra-se que o Estado

do Rio Grande do Sul, em setembro de 2005, contava com

cerca de 23.400 policiais militares, 5.800 policiais civis e 700

servidores no quadro do IGP-RS (peritos, papiloscopistas, fo-

tógrafos e auxiliares de perícia).

Considerações sobre o Processo de Comunicação: O pro-

cesso de comunicação ocorre em progressão geométrica. A

comunicação é um dado apenas monitorável, pois não é possí-

vel se ter controle sobre ela. Para atingir o maior número de

receptores não é necessário, nem conveniente, ocupar espaço

apenas nos principais veículos de comunicação. É preciso aten-

der a todos, em todos os níveis, pois não é sempre que se tem a

manchete de capa e mesmo assim precisa-se de divulgação.

O jornalista busca obter resultados com o menor esforço.

É preciso que ele seja atendido com rapidez e objetividade para

que o IGP-RS se torne fonte de informação e ocupe espaços

nos veículos de comunicação.

Quando se briga contra a imprensa, mesmo vencendo,

acaba-se derrotado. Quando um jornalista publica algo errado,

ele deve ser esclarecido e não contradito. Devemos explicar,

nunca justificar. A explicação deve ser pró-ativa (apresentando

soluções), jamais amparada em deficiências de difícil resolução

no curto prazo.

A incompetência dá desculpas. A competência apresenta

resultados. E a competência mal divulgada, além de não ser

reconhecida, passa por incompetência.

Tópicos sobre Assessoria de Imprensa

A conscientização da Direção do IGP-RS a respeito de

como deveria funcionar uma Assessoria de Imprensa foi o pas-

so seguinte na consolidação da ACS. Nessa ação, foram utiliza-

das as recomendações da Federação Nacional dos Jornalistas

contidas no Manual dos Jornalistas em Assessoria de Comunicação.

Registram-se as principais delimitações relativas à Assessoria

de Imprensa:

- É o serviço de administração das informações

jornalísticas e do seu fluxo das fontes para os ve-

ículos de comunicação e vice-versa.

- É prestada a pessoas físicas e jurídicas de caráter

público ou privado.

- Trata-se de serviço especializado privativo dos jor-

nalistas.

- É responsável por múltiplas atividades e desempe-

nha papel estratégico na política de comunicação

dos assessorados.

- Facilita os contatos com as informações, prepara

textos de apoio, administra as listagens referentes

aos veículos e cuida para que as peculiaridades de

cada um deles sejam respeitadas.

- Permanente interpretação crítica e seletiva do am-

biente exterior.

- Capacidade de detectar indícios de alterações em

várias áreas e segmentos da sociedade.

- Antever objeções, inconvenientes e mal-entendi-

dos a alguma ação planejada pelos usuários de seus

serviços.

- Colaborar com os setores de planejamento estra-

tégico e político dos assessorados.

- Ajuda na identificação de acertos e erros, sugerin-

do formas de aperfeiçoamento ou soluções.

- Evitar posições contraditórias entre os setores, atra-

vés da uniformização da linguagem de todos que

tiverem contatos com os veículos de comunica-

ção, estendendo-se aos comunicados internos.

Erros e Equívocos Freqüentes na Comunicação

Na chamada Declaração de Intenções, iniciou-se a abor-

dagem dos erros que acontecem no processo de Comunicação

Social. Nesse item, trata-se um pouco mais sobre a questão,

pois faz parte da aprendizagem a compreensão dos equívocos

mais freqüentes que devem ser evitados. Essas situações foram

antecipadamente divulgadas entre a Direção do IGP-RS para

facilitar o trabalho da ACS. São considerados erros e equívocos

freqüentes na comunicação de acordo com o Manual dos Jorna-

listas em Assessoria de Comunicação da Federação Nacional dos

Jornalistas:

- Pressão sobre a notícia, visando a inserção de de-

terminado assunto ou a sustação de notícia desfa-

vorável. Em qualquer redação séria, isso é causa

de indignação.

- Pressão sobre os profissionais. Na mesma linha do

item anterior e com o mesmo resultado não dese-

jado.

- Mentira. Tende a ser apenas um paliativo que não

resolve o problema e muitas vezes o amplia. A

verdade mesmo desagradável ou inconveniente é

melhor compreendida do que a mentira descoberta

e não fecha portas.

- Presença oportunista no noticiário. A participação

no noticiário só deve acontecer quando há inte-

resse jornalístico na notícia a ser divulgada.

- Discriminação. Deve-se garantir que todos os veí-

culos recebam as informações da mesma forma e

em tempo hábil a fim de evitar a sensação de dis-

Page 14: Revista IGP/RS nº 3

14

criminação. Todos veículos de comunicação são

importantes independentes do seu tamanho e au-

diência, pois cada veículo tem suas próprias pecu-

liaridades e diferenças de público e enfoque.

- Quem diz o que é notícia. Quem determina a im-

portância das notícias é a imprensa e não quem

quer a sua divulgação.

- Avaliação por centimetragem. A eficiência da as-

sessoria de imprensa não se mede pelo número

de centímetros das matérias publicadas e sim pelo

relacionamento que ela mantém com os órgãos

de comunicação.

- Aluguel de nome. O expediente de alugar o nome

de um jornalista além de contraproducente é

freqüentemente ilegal, pois não garante a qualida-

de de trabalho e também causa indignação entre

os profissionais sérios.

- Desrespeito à assessoria.

- Regalias concedidas a jornalistas. Deterioram o re-

lacionamento com a imprensa e não dão direito

de se exigir a publicação de matérias.

- Porta-voz. O assessor de imprensa não é porta-

voz da instituição, cargo, aliás, em desuso. Os jor-

nalistas dão preferência as informações obtidas

diretamente com as fontes das notícias.

Objetivos Principais da Comunicação Social em um

Órgão Pericial

No caso do IGP-RS, foram estabelecidos objetivos prin-

cipais para ACS considerando a característica de órgão de segu-

rança pública estadual responsável pelos serviços periciais e de

identificação:

- Integração: Integrar o órgão pericial na política

de comunicação social da Secretaria da Justiça e

da Segurança do Estado do Rio Grande do Sul

(SJS-RS).

- Divulgação: Criar um sistema de divulgação das

atividades periciais e de identificação, gerando uma

pauta positiva.

- Assessoramento: Assessorar a Direção-Geral do

IGP-RS e os servidores do órgão nas relações com

a imprensa, na área editorial e na organização de

eventos (cerimonial e protocolo).

- Reconhecimento: Buscar o reconhecimento pú-

blico do IGP-RS como um órgão vinculado a SJS-

RS.

- Visibilidade: Comunicar com simplicidade, cla-

reza, interesse e repetição de mensagens para dar

visibilidade aos pontos principais do IGP-RS jun-

to à opinião pública.

Fluxo de Informações e Avaliação de Impacto em um

Órgão Pericial

O fluxo de informações e a avaliação de impacto da co-

municação social no IGP-RS também integram os objetivos

principais traçados. No entanto, dada a sua relevância, esses

itens são tratados com uma maior especificidade.

A ACS tem a responsabilidade de planejar e viabilizar o

fluxo de informações entre o IGP-RS e a imprensa, avaliando o

impacto das informações interna e externamente (Avaliação).

Na rotina de atividades, a ACS deve e tem estado junto à

Direção-Geral do IGP-RS nos debates e nas tomadas de deci-

são que envolve três tipos de ações: divulgação de informações,

repercussão pública dos fatos e respostas demandadas pela so-

ciedade (Decisão).

Em especial, quanto à divulgação, é fundamental que

todas as informações do IGP-RS fornecidas por servidores

do órgão tenham a intermediação da ACS para que se possa

avaliar e distribuir o conteúdo a todos os veículos de im-

prensa, de acordo com a política de comunicação social da

SJS-RS.

O Perito e a Imprensa

Dentre todas as particularidades de um órgão pericial, é

na relação entre o perito e a imprensa que recaem as maiores

atenções da ACS. A ausência de referenciais históricos motivou

a necessidade de uma pequena revisão da legislação circunscri-

ta à Constituição Federal e ao Código de Processo Penal. Em

seguida, estabeleceu-se um conjunto de Orientações Gerais aos

Peritos. Por fim, buscou-se na obra de Espindula10 os elemen-

tos relativos à presença da imprensa no Local de Crime.

Da Constituição Federal, foram trazidos para reflexão cinco

incisos do Art 5°, que trata dos direitos e deveres individuais e

coletivos:

- IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo

vedado o anonimato.

- V - é assegurado o direito de resposta, proporcio-

nal ao agravo, além da indenização por dano ma-

terial, moral ou à imagem.

- IX - é livre a expressão da atividade intelectual,

artística, científica e de comunicação, independen-

temente de censura ou licença.

- X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a

honra e a imagem das pessoas, assegurado o direi-

to a indenização pelo dano material ou moral de-

corrente de sua violação.

Page 15: Revista IGP/RS nº 3

15

- XIV - é assegurado a todos o acesso à informação

e resguardado o sigilo da fonte, quando necessá-

rio ao exercício profissional.

Dentre a riqueza de pontos encontrados no Código de

Processo Penal, fixou-se o foco no Art. 20 devido à importân-

cia do laudo pericial dentro do inquérito policial: a autoridade

assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato

ou exigido pelo interesse da sociedade.

A partir daí o IGP-RS fixou Orientações Gerais para o

relacionamento dos Peritos com a Imprensa:

- Segurança: O Perito só deve falar com a Impren-

sa quando se sentir seguro para tanto.

- Priorização: O Perito deverá priorizar nas suas

manifestações à Imprensa a apresentação do que

representa o serviço que realiza e as informações

de natureza burocrática, tais como, prazos e hie-

rarquias.

- Sigilo: O Perito não deve falar sobre resultados

técnicos para a Imprensa antes da conclusão do

laudo pericial.

- Hierarquia: Concluído o laudo, caberá à cadeia

hierárquica a decisão sobre a forma de divulgação

dos resultados à Imprensa, não sendo essa uma

decisão que o Perito possa tomar isoladamente.

- Integração: A divulgação de resultados depende

de prévio acordo com a autoridade policial, prefe-

rencialmente com anuência da SJS-RS, podendo

o Perito participar desse processo.

- Ética: A manifestação em tese do Perito à Impren-

sa sobre questões técnicas é livre desde que ob-

servados os princípios éticos, devendo ser evitada

quando, mesmo em tese, se estiver tratando de

questão técnica que envolva perícia em andamen-

to efetuada por outro Perito do IGP-RS.

- Imagem Pessoal: A preservação da imagem pes-

soal é decisão exclusiva do Perito e deve ser regra

até a conclusão do laudo, podendo o Perito se

abster da participação da divulgação dos resulta-

dos à Imprensa se assim o desejar.

Especificamente, quanto ao Local de Crime, o IGP-RS

optou por adotar algumas orientações contidas no tópico A

imprensa no local de crime do manual Local de Crime de

Espindula:

- Os limites a serem impostos ao trabalho da im-

prensa devem restringir-se àqueles determinados

pela necessidade de evitar destruição de vestígios.

- É preciso esclarecer ao jornalista no local de crime

sobre a necessidade de se preservar os vestígios

para que os peritos possam extrair as informações

técnicas deixadas pela vítima(s) e agressor(es).

Considerando situações de precariedade das con-

dições de trabalho, os profissionais da imprensa

podem colaborar com os peritos na iluminação

de locais durante a noite, operar fotografias ou

emprestar filmes, fornecer cópia de imagens gra-

vadas, etc. O perito deve esclarecer a sua limita-

ção técnica no local. Ao passar informações, deve

ressaltar que não se trata de qualquer conclusão.

- O melhor procedimento é combinar com a autori-

dade policial que estiver presente, para que ela, ao

final dos exames periciais, após ouvir algumas

considerações dos peritos, converse com os

jornalistas.É preciso que peritos, delegados de

polícia, demais policiais e promotores de justiça,

quando no local do crime, aproveitem essas opor-

tunidades de contato com os órgãos de imprensa

– tanto no local do crime, como em outras situa-

ções – para esclarecerem a eles o quanto é neces-

sário à correta preservação de um local de crime,

solicitando-lhes que divulguem em seus veículos

de comunicação, para que a população em geral

passe a também respeitar e preservar esses locais.

Conselhos para Entrevistados e para Quem Precisam

Falar na Televisão

Além das orientações específicas para a atividade pericial

e sua relação com a imprensa, é preocupação da ACS a prepa-

ração dos assessorados para que suas manifestações nos meios

de comunicação ocorram da forma mais apropriada possível.

Por isso, compilou-se da bibliografia da Comunicação Social

alguns conselhos úteis. Primeiramente, apresentam-se Conse-

lhos para Entrevistados de Erbolato11:

- Verificar se as declarações vão ser transcritas

ipsis verbis. Nesse caso, deverá se ter mais cui-

dado.

- Declarações com objetivo de esclarecer melhor as-

suntos que não podem ser publicados (em off) de-

vem anteceder dois cuidados: ou que o repórter

não repita o que lhe foi dito, ou que, pelo menos,

não identifique a fonte onde a informação foi

obtida.

- Fatos e números são mais apreciados pelos jorna-

listas do que frases bonitas. O entrevistado deve

manter espírito de cooperação.

- O entrevistado que se apresenta com uma pilha

de livros e documentos não cria a melhor ima-

gem de si próprio. O repórter vai a busca de uma

Page 16: Revista IGP/RS nº 3

16

história.

- A presença de outras pessoas pode levar mais facil-

mente a declarações que não deveriam figurar na

entrevista.

- Se na entrevista existir matéria delicada, que jus-

tifique o receio do entrevistado, este pode con-

seguir sempre, pelo menos, que os pontos prin-

cipais lhe sejam lidos por telefone (fax/

internet).

- Não chutar a resposta!

- O jornalista não gosta que lhe marquem uma en-

trevista e depois não lhe respondam às perguntas

que vai fazer. Se há muita coisa que não se pode

dizer, evite ser entrevistado.

- Nenhum entrevistador procura o entrevistado para

criar problemas. O repórter quer apenas uma boa

história que perde o interesse se as respostas fo-

rem muito limitadas. Lembre que a realização pro-

fissional e a cotação do trabalho do jornalista de-

pendem da imagem de isenção, de confiança e

escrupolosidade que ele cria com um trabalho sé-

rio e sem atrito.

Também são importantes os Conselhos dedicados a quem

precisa falar na televisão encontrados na obra de Maciel12:

- Se você pretende ser compreendido quando fala

na televisão busque a clareza. Lembre que os fa-

tos - e as palavras - podem contribuir tanto para

obscurecer quanto para tornar claro o significado

do que é dito.

- A comunicação é um processo de tornar as coi-

sas mais simples e não mais complicadas. Se você

torna mais simples a idéia que quer transmitir

ela vai ser entendida mais facilmente, por um

maior número de pessoas, e de maneira mais

correta.

- Em qualquer situação prefira as palavras mais sim-

ples e curtas e construa as frases na ordem direta

(sujeito, predicado, complementos).

- É fundamental que a pessoa, ao falar na televisão,

acredite no que está dizendo.

- O excesso de dados, o uso excessivo de informa-

ções, sempre vai dificultar a compreensão. Por isto

a fala de televisão deve ser extremamente simples,

direta e objetiva. Lembre sempre que o

telespectador vai ouvir apenas uma vez o que você

vai dizer para ele.

- Quanto mais coloquial for a nossa mensagem, mais

estaremos tocando nos sentimentos dos

telespectadores.

Mandamentos do Telejornalismo

Sendo o principal referencial de comunicação na socieda-

de atual, a televisão não poderia deixar de receber um trata-

mento mais profundo dentro do espectro de conhecimento que

a ACS deve passar aos assessorados. Tendo como meta a inser-

ção do órgão pericial no noticiário televisivo, faz parte do con-

junto de Orientações a aprendizagem de como uma notícia pode

adquirir maior valor para o telejornalismo. De Maciel13, foram

buscados os dez mandamentos da área, acrescidos de comentá-

rios específicos para a atividade pericial:

- A notícia está onde estão as câmeras. As câmeras

estão onde está o poder. Cabe à perícia buscar formas

de aproximar suas atividades dos detentores de poder para

que suas notícias sejam divulgadas. Convidar o Presidente,

o Ministro, o Governador, o Secretário para eventos é uma

das formas de se atingir esse objetivo.

- Notícia importante é a que entra no jornal das oito

da noite. Ou seja, o interesse do telejornal é que baliza a

importância das notícias.

- Se um político não consegue dar o recado em 15

segundos, corta. O mesmo vale para o Perito, por isso, a

objetividade nas entrevistas é tão fundamental.

- Se presidente fala é notícia. Vale o mesmo para o Mi-

nistro, o Governador e o Secretário, sendo importante mantê-

los informados sobre as atividades periciais.

- Se o concorrente tem, é preciso dar. Aqui se relembra

a necessidade da divulgação ampla das informações desde o

início, pois uma vez que um órgão de comunicação tiver a

notícia os demais também vão quere-la.

- Entre a bela e a fera, use a bela. No universo da segurança

pública, muitas vezes, a perícia é a bela, pois é o momento da

elucidação de fatos que causam comoção na sociedade.

- Se os grandes jornais publicaram, a televisão deve

dar. Reitera-se o mandamento de que se o concorrente tem,

é preciso dar.

- Se for importante, mas a imagem é pobre, conte.

Se for trivial, mas a imagem é boa, mostre. As

novas tecnologias aplicadas à Criminalística são excelentes

mananciais de imagens para o telejornalismo.

- Se não aconteceu hoje, não é notícia. Aqui se trata

da velocidade da informação. Ás vezes, o Perito procura a

ACS dizendo que na semana passada entregou um laudo

pericial importante e que não foi divulgado. A resposta é:

não foi e nem será. Não se podem perder as oportunidades

de divulgação no momento dos fatos.

- Deixe o telespectador feliz. Novamente, pode-se consi-

derar a perícia como o momento de deixar o telespectador

feliz, quando se apresenta a solução para crimes.

Page 17: Revista IGP/RS nº 3

17

Relatório de Atividades da ACS do IGP-RS

A ACS do IGP-RS entrou em funcionamento em março

de 2003. Nos primeiros 30 meses, as principais atividades reali-

zadas foram:

- Acompanhamento da Direção Geral do IGP-RS

em viagens ao interior do Estado do Rio Grande

do Sul.

- Agendamento de entrevistas e da cobertura das ati-

vidades do IGP-RS.

- Coleta e organização de informações sobre assun-

tos específicos, busca de informações específicas

e seleções de notícias de interesse imediato.

- Criação da SEMANA DO IGP-RS para comemo-

ração do aniversário do órgão.

- Divulgação para imprensa de informações, suges-

tões de pauta, materiais impressos, pastas de im-

prensa, comunicados, artigos especiais, mensagens

eletrônicas, fotos e notícias.

- Lançamento da Revista do IGP-RS, publicação de

natureza técnico-científica.

- Manutenção de informações no site da SJS-RS.

- Monitoramento diário dos noticiários.

- Organização de arquivo com material jornalístico.

- Produção de materiais de divulgação e de apoio

com apresentação do IGP-RS.

- Produção de notícias (cursos, laudos, eventos, uti-

lidade pública, etc.).

- Realização da interface entre o IGP-RS e a imprensa.

- Realização de eventos, cerimonial e protocolo.

Reflexão Final

A Comunicação Social deve ser uma ferramenta para que

a Perícia Criminalística seja reconhecida e respeitada pela soci-

edade como atividade fundamental para a efetivação da Segu-

rança Pública e da Justiça na busca por melhores condições de

trabalho, tais como, remuneração apropriada e infra-estrutura

adequada.

A apresentação do trabalho desenvolvido pela ACS do

IGP-RS como uma visão de comunicação social para a

Criminalística pode servir de base para que outras iniciativas

dessa natureza sejam desenvolvidas em todo território nacional.

Notas

[1] Referência na bibliografia de Genro Filho:

HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera

pública/investigação quanto a uma categoria da socie-

dade burguesa. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro,

1984.

[2] GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmide;

para uma teoria marxista do jornalismo. 2. ed. Porto

Alegre, Ortiz, 1989

[3] MARCONDES FILHO, Ciro. O capital da notícia;

jornalismo como produção social da segunda natureza. 2.

ed. São Paulo, Ática, 1989.

[4] Idem.

[5] Ibidem.

[6] RAMIREZ, Maria Helena Hérnandez. Qué son

lás noticias? Comunicación y sociedad. Guadalajara,

Centro de Estudos de la Información y la

Comunicación de la Universidad de Guadalajara,

ago. 1992.

[7] Referência na bibliografia de Alsina: HERRAIZ,

I., 1966: 19.

[8] ALSINA, Miguel Rodrigo. Lás noticias. In: La

producción de la noticia. Barcelona, Piados, 1996.

[9] Referência na bibliografia de Ramirez: SOLOSKY,

J., “News reporting and professionalism: Some

constraints on the reporting of the news”, Media

culture and society. London: Sage, n. 11, 1989: 207-228.

[10] ESPINDULA, Alberi et al. Local de crime: isola-

mento e preservação, exames periciais e investigação crimi-

nal. Brasília: Alberi Espindula ed., 2002.

[11] Referência na bibliografia de Maciel:

ERBOLATO, Mário. Técnicas de codificação em jorna-

lismo – redação, captação e edição no jornal diário. São

Paulo: Ática, 1991.

[12] MACIEL, Pedro. Guia para falar (e aparecer) bem na

televisão. Porto Alegre: Sagra/DC/LUZZATTO,

1993.

[13] Idem.

Autor

[a] Perito Criminalístico - [email protected].

Page 18: Revista IGP/RS nº 3

18

Anomalias que Interferem na Identificação Datiloscópica: Sindactilia e

Hemimelia

Pinheiro, Luciana Bruma; Silveira, Rita de Cássia O.b

Departamento de Identificação, Instituto-Geral de Perícias - SJS, Porto Alegre/RS

Introdução

Os papiloscopistas são os peritos do Instituto Geral de

Perícias do Estado do Rio Grande do Sul, cuja atribuição é o

exame das impressões datiloscópicas, ou digitais, além das im-

pressões palmares (palmas das mãos) e plantares (plantas dos

pés). No seu trabalho diário deparam-se, muitas vezes, com

anomalias congênitas ou não, as quais podem gerar classifica-

ções especiais para efeitos de arquivamento e se tornam defini-

tivas em casos de confronto ou identificação criminal.

Este artigo, trata de dois tipos de anomalias entre as

mais observadas, quer seja na literatura específica ou na rotina

de coleta das impressões digitais. São elas: a sindactilia e a

hemimelia.

Sindactilia

A sindactilia é a fusão dos dedos das mãos ou dos pés, que

pode se dar em dois ou mais dedos, unidos entre si por mem-

branas interdigitais que se estendem nos mesmos dedos. É a

falha da diferenciação entre dedos adjacentes. Haverá

polisindactilia quando houver vários dedos aderidos, mas é muito

raro.

Trata-se de uma malformação congênita pouco freqüente

e pode ser classificada como completa ou total, incompleta ou

parcial e terminal. A sindactilia completa compreende a união

total de nervos, vasos sangüíneos, tendões e ossos. Será incom-

pleta ou parcial, quando a comissura interdigital não se esten-

der até a falange distal, unindo apenas uma fração dos dedos,

permanecendo a extensão restante livre. A sindactilia terminal

une somente a falange distal (partes extremas dos dedos). Clas-

sifica-se, também, a sindactilia entre simples e complexa: será

simples quando a união se der somente pelas partes moles e no

tecido normal, sem fusão óssea. Complexa, quando as falanges

adjacentes forem unidas (sinostose) ou existe falange acessó-

ria interposta, apresentando conexão óssea entre os dedos

(Figura 1).

A sindactilia, geralmente, está associada a síndromes de-

correntes de malformação intra-uterina por causas variadas. É

a separação da estrutura embrionária da pele da mão ou pé que

ocorre, normalmente, entre a sexta e a oitava semana de gesta-

ção. É a anomalia congênita mais freqüente da mão, entretanto,

ocorre uma vez a cada dois mil, duzentos e cinqüenta nasci-

mentos, e o envolvimento é bilateral e simétrico em cerca de

cinqüenta por cento dos casos.

Figura. 1. Classificação da sindactilia. A. Sindactilia simples e completa. B. Simples e

incompleta. C e D. Sindactilia complexa.

Existem estudos, principalmente dentro da Teratologia

(ramo da ciência que trata dos aspectos do desenvolvimento

pré-natal anormal, incluindo suas causas), que agentes

ambientais (drogas e vírus), podem produzir perturbações se-

Page 19: Revista IGP/RS nº 3

19

veras de desenvolvimento do embrião. Calcula-se que entre sete

e dez por cento dos defeitos congênitos sejam resultado da ação

danosa de drogas, vírus e outros fatores ambientais. Na

sindactilia especificamente, existe suspeita de efeito do medica-

mento hidantoína usado pela mãe durante a gravidez.

[...] A sindactilia é mais comum entre os dedos mé-

dio e anular (57%); a seguir, em ordem decrescen-

te de freqüência, entre os dedos mínimo e anular

(27%); entre os dedos médio e indicador (14%) e

menos freqüentemente entre os dedos polegar e

indicador (3%), uma vez que o polegar se desen-

volve mais cedo que os outros dedos. Os homens

são afetados duas vezes mais que as mulheres

(TACHDJIAN,1995, p. 222).

Esta anomalia ocorre mais freqüentemente por causas

hereditárias ou como característica de portadores de Síndrome

de Down, associada a outras alterações congênitas. Com me-

nor incidência, é detectada em outras enfermidades raras, como

a Síndrome de Apert, Síndrome de Carpenter, Síndrome de

Pfeiffer, Cornélia de Lange.

1 Síndrome de Down

A Síndrome de Down, descrita como trissomia do

cromossomo 21, apresenta a incidência aproximada de um para

cada seiscentos nascimentos, podendo aumentar esta probabi-

lidade conforme a idade da mãe. O quadro clínico inclui diver-

sos sintomas. Sob o ponto de vista papiloscópico, resta saber

que é bastante considerável o número de anomalias encontra-

das em mãos e pés, como também o percentual elevado de ocor-

rência nos portadores desta enfermidade (Tabela 1).

2 Síndrome de Apert

A Síndrome de Apert, também chamada de Acrocefa-

losindactilia Tipo I, foi descrita como uma Síndrome por Apert

em 1906. É um defeito genético que pode ser herdado dos pais

ou como uma mutação nova, durante o período de gestação.

Primeiramente afeta a cabeça, com vários graus de sindactilia

complexa das mãos e dos pés. Sua condição é muito rara, pro-

vavelmente ocorrendo em uma a cada duzentos mil nascimen-

tos. Não se sabe a causa, pois sua etiologia é desconhecida.

Entretanto, é um distúrbio genético com uma herança domi-

nante forte. Como mutação, é mais esporádica ainda.

Segundo Tachdjian, (1995), na Síndrome de Apert verda-

deira a mão tem aparência de uma luva com sindactilia comple-

xa e completa dos dedos: indicador, médio e anular. Os três

dedos centrais estão fundidos com união óssea interdigital e

uma unha comum (Fig. 2). O dedo mínimo com freqüência

exibe sindactilia de partes moles com dedo anular, mas com

uma unha independente. O polegar é curto e desviado radical-

mente na articulação metacarpofalangiana; algumas vezes este

se apresenta separado, mas pode se apresentar unido com os

outros dedos. A palma tem forma de colher e funciona como

um remo, com movimentos grosseiros.

São três os tipos de configurações de mãos associadas à

Síndrome de Apert: Classe I: com fusão dos dedos 2,3 e 4, com

os dedos 1 e 5 separados; Classe II – fusão dos dedos 2, 3, 4 e

5 com o dedo 1 separado e, Classe III – fusão completa de

todos os dedos.

3 Síndrome de Carpenter

A Síndrome de Carpenter, chamada de Acro-

cefalopolisindactilia Tipo II, é uma enfermidade rara e heredi-

tária que, entre outras deformidades e anomalias, provoca

malformações de dedos das mãos e dos pés, com polidactilia

(dedos extranumerários), braquidactilia (dedos curtos),

clinodactilia (curvamento de um dedo).

4 Síndrome de Pfeiffer

A Síndrome de Pfeiffer ou Acrocefalosindactilia V, Subtipo

I é doença hereditária rara, que apresenta sintomas específicos

Figura 2. Sindactilia completa (Síndrome de Apert)Tabela 1 - Porcentagens das alterações fenotípicas em 114 crianças com T21.

Page 20: Revista IGP/RS nº 3

20

Figura 4. Exemplo de classificação constante de individual datiloscópica de um indivíduo

portador de sindactilia

Fig. 3. Separação da sindactilia simples completa dos dedos anular e médio.

de outras áreas e que não interferem na classificação

datiloscópica, mas para o interesse dos papiloscopistas, exibe

hipoplasia de falanges médias com polegares curtos e largos,

sindactilia, clinodactilia.

5 Cornélia de Lange

A Cornélia de Lange é também conhecida como Síndrome

de Brachmann de Lange, Síndrome de Amstelodamensis

Degenerativa e Síndrome de Lange. Enfermidade rara caracte-

rizada por atraso de desenvolvimento intra-uterino e pós-natal,

com malformações ósteo-musculares esqueléticas de mãos, pés,

braços e pernas. Apresenta também sindactilia e adactilia (au-

sência de dedos). Não é hereditária porque são raras as situa-

ções em que há mais que um caso na família e a probabilidade

de ocorrência é de um a dois por cento. Há uma estimativa de

que um em cada dez mil nascimentos em todo o mundo, sejam

afetados por esta alteração. Nesta Síndrome, as mãos e os pés

são pequenos, o quinto dedo está geralmente encurvado e, por

vezes, as crianças apresentam uma membrana interdigital entre

o segundo e o terceiro dedos dos pés.

Tratamento

A sindactilia é passível de reversão mediante cirurgia re-

paradora. A finalidade desta cirurgia é separar os dedos unidos

para que possam se abrir tão normalmente quanto possível

melhorando a função e a aparência da mão. O planejamento e a

idade da intervenção cirúrgica podem variar conforme os de-

dos afetados e do grau de complexidade e envolvimento da

sindactilia. Os dedos de comprimentos diferentes devem ser

separados precocemente, pois o mais longo desenvolverá uma

contratura em flexão e um desvio lateral. Quanto mais precoce

for a separação, menos obstáculos haverá para o crescimento

dos dedos. Como regra, o polegar e o indicador devem ser se-

parados por volta dos seis meses de idade; os dedos mínimo e

anular, antes de um ano de idade. No que se refere aos dedos

indicador e médio, as articulações interfalangianas, principal-

mente as distais, não se encontram no mesmo nível, logo a se-

paração deve ser feita por volta de um ano de idade, para se

evitar a contratura em flexão. Quanto aos dedos médio e anu-

lar, que têm praticamente o mesmo comprimento, não há ur-

gência na separação, podendo-se esperar até que a criança te-

nha dois ou três anos de idade (Fig.3).

Classificação Datiloscópica após Cirurgia

Como já citado anteriormente, as anomalias interferem

na classificação datiloscópica, que é, em última análise, a opera-

ção que tem por fim consignar os símbolos (letras e números)

de cada desenho papilar até se chegar á fórmula datiloscópica

de cada indivíduo. Esta fórmula é muito importante, pois de-

terminará para qual arquivo a individual datiloscópica será en-

viada. Feita a classificação, obtém-se a SÉRIE (codificação atri-

buída à mão direita) e SEÇÃO (codificação atribuída à mão

esquerda). Sendo mal classificada, a individual datiloscópica

deixará de ir para seu respectivo local no arquivo, e poderá se

perder, causando prejuízos irreparáveis para a seção

datiloscópica.

Em se tratando de codificação, o Departamento de Iden-

tificação do Estado do Rio Grande do Sul, possui uma tabela

padrão usada por todos os papiloscopistas, onde estão listados

os tipos de anomalias e seus respectivos códigos a fim de se

efetuar a conversão da classificação papiloscópica em codificação

a ser informada no sistema. É neste ponto que ocorre a altera-

ção da classificação datiloscópica, pois um indivíduo portador

de sindactilia, e quaisquer dedos unidos são classificados como

sindactilia, seguido da inscrição SINDACTILIA, na individual

datiloscópica, não importando o tipo (Fig. 4), levará o código

77. Se esse mesmo indivíduo tiver se submetido a uma cirurgia

Page 21: Revista IGP/RS nº 3

21

Figura 5. Adactilia

reparadora, terá sua impressão digital classificada de acordo com

o dactilograma apresentado. Mas, se em decorrência da incisão,

as cicatrizes se posicionarem na falange distal de forma a preju-

dicar o dactilograma, este será classificado como cicatriz (X),

ficando alterado para o código 55.

Como se vê, a sindactilia não é definitiva, pois mediante

cirurgia plástica reparadora o indivíduo tem a possibilidade de

melhorar a aparência e funcionalidade de sua mão, trazendo-

lhe inúmeros benefícios. Entretanto, é recomendável que após

a reparação, ele procure o Posto de Identificação mais próximo

para encaminhar a segunda via da Carteira de Identidade, caso

já seja cadastrado no Departamento de Identificação do Esta-

do do Rio Grande do Sul, submetendo-se a nova coleta para

posterior classificação, viabilizando a busca técnica para futu-

ras identificações (criminal, cadavérica, unificações, confron-

tos, etc.) caso sejam necessárias.

Hemimelia

A hemimelia é um tipo de amputação congênita que se

define como a ausência do antebraço e da mão (Fig. 5), e é,

dentre as anomalias na formação de membros, uma das mais

freqüentes. Pode-se citar também a amelia que é ausência com-

pleta do membro superior, a acheiria, definida como ausência

da mão, a adactilia, a falta do metacarpo e falanges (Fig. 6) e a

afalangia, que corresponde a inexistência de todas as falanges

(Fig. 7).

- A deficiência esquelética congênita mais comum

no membro superior é a falta de dois terços distais

do antebraço, do punho e da mão. De acordo com

a classificação de Dundee de 1974, esta seria uma

deficiência transversa de terço superior de ante-

braço. Classificações anteriores utilizavam os ter-

mos hemimelia e meromelia combinadas com o

nível e o tipo de deficiência. A classificação de

Dundee simplifica a terminologia e divide todas

as deficiências esqueléticas congênitas em trans-

versa e longitudinal. A transversa é definida como

a ausência de todos os elementos esqueléticos

distais. A longitudinal diz respeito a perdas que

se estendem paralelamente ao eixo longo do mem-

bro (BRITO, 2003, p. 4).

De acordo com Brito (2003), num estudo realizado no

Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clíni-

cas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,

foi realizado um levantamento referente às cirurgias de ampu-

tações realizadas na Instituição no período de 1992 a 1997, 4%

dos pacientes do sexo masculino e 22,56% do sexo feminino.

Quanto às etiologias: traumática, 67,90%; tumoral, 17,67%; in-

fecciosa, 6,27%; congênita, 5,58% e, vascular, 2,32%. Para este

estudo, é relevante somente o percentual referente à incidência

de casos congênitos.

Hemimelia é, portanto, a ausência congênita da porção

distal de um ou mais membros e pode se dividir em hemimelia

transversa terminal, hemimelia paraxial terminal e hemimelia

paraxial intercalar.

- Hemimelia transversa terminal: Ocorre quando toda a

porção distal de um membro está ausente. É sinô-

nimo de amputação congênita.

Figura 6. Afalangia.. Figura 7. Hemimelia.

Page 22: Revista IGP/RS nº 3

22

- Hemimelia paraxial terminal: Define as deficiências

esqueléticas de antebraços e pernas, nas quais há

ausência de um dos ossos longos desses segmen-

tos e seus respectivos raios dactilares, ou ainda as

deficiências isoladas dos raios dactilares: laterais

ou centrais.

- Hemimelia paraxial intercalar: Corresponde às defici-

ências esqueléticas de antebraços e pernas, nas

quais há ausência de um dos ossos longos desses

segmentos, sem, contudo, haver comprometimen-

to de seus raios dactilares.

Conclusão

A hemimelia não possui qualquer relação com a

sindactilia, no que diz respeito a sintomas ou quadro clínico.

Resta saber somente que cada uma delas é um tipo diferente

de anomalia. O que têm em comum é o fato de ambas serem

decorrentes de malformações congênitas, quer sejam genéti-

cas, hereditárias ou em razão de agentes ambientais, e o fato

de estarem diretamente relacionados com a classificação

datiloscópica.

O exame destas deformidades, também tratadas como

aberrações por alguns pesquisadores e autores, trouxe à tona

uma realidade: a precariedade de estudos na área, principal-

mente, em relação à papiloscopia. Poucas são as obras exis-

tentes, muitas até esgotadas, que se tornaram extintas, verda-

deiras raridades inacessíveis.

Almeja-se, portanto, que através deste artigo um núme-

ro cada vez maior de papiloscopistas e datiloscopistas desen-

volva o interesse em registrar, catalogar e estudar casos rele-

vantes, não só referentes às anomalias, como também a res-

peito dos demais dactilogramas, ampliando e compartilhando

seus conhecimentos e experiências, aumentando a bibliogra-

fia existente, para principalmente, consolidar o caráter cientí-

fico e especialista da papiloscopia no campo da identificação

humana.

Bibliografia

[1] BRITO, Christina May M. de. Causas mais co-

muns de amputação nos membros superiores

e inferiores. In: DMR - Divisão de Medicina de

Reabilitação do Hospital das Clínicas da Facul-

dade de Medicina da Universidade de São Paulo.

São Paulo. Disponível em http://www. saude

paravoce.com.br/telefisiatria/aulasdidaticas/

Z89.9 1/pagina4.htm. Acesso em: 18 nov. 2003.

[2] GONSALVES, Elisa Pereira. Iniciação à pes-

quisa científica. 3. ed. Campinas: Alínea, 2003.

[3] JOHANN, Jorge Renato (Coord.). Introdução

ao método científico. 2. ed. Canoas: Ed. Ulbra,

2001.

[4] LACERDA, Nuno. Trissomia 21. In: Associa-

ção Portuguesa de Portadores de Trissomia 21.

Portugal. Disponível em http://www.umm.edu/

esp_imagepages/1763.htm. Acesso em: 17 nov.

2003.

[5] ORTIZ, E.; FORTET, J.; CELADA, J. Tema 68.

Mano Congênita. In: Sociedad Española de Ci-

rurgia Plástica Reparadora Y Estética. Espanha.

Disponível em: http://www.secpre.org/

documentos%20manual %2068.html. Acesso em:

17 nov. 2003.

[6] OS MENINOS Cornélia. São Paulo: Medicina e

Saúde, n. 56, junho, 2002.

[7] RAUBER, Jaime José (Coord.). Apresentação de

trabalhos científicos. Passo Fundo: Ediupf, 2002.

[8] REZENDE, Joffre M. de. Linguagem médica. Pa-

tologia Tropical, Goiânia, n.30 (2), p. 251-254,

jul-dez. 2001.

[9] RIO GRANDE DO SUL (Estado). Departamen-

to de Identificação. Manual Técnico. Porto Ale-

gre, 2003.

[10] SENE, Maria Joaquina Medeiros; BRASIL, Eliete

Mari Doncato. Manual para elaboração de tra-

balhos técnico-científicos. Porto Alegre: FAPA,

2003.

[11] SERVIÇO DE IDENTIFICAÇÃO DO EXÉR-

CITO. Identificação e datiloscopia. Brasília, DF.

1981.

[12] TACHDJIAN, Mihran O. Ortopedia pediátrica.

São Paulo: Mandi, 1995. p. 222-236.

Autor

[a] Papiloscopista - [email protected].

[b] Papiloscopista - [email protected].

Page 23: Revista IGP/RS nº 3

23

Proposta de Análise Perceptivo-Auditiva de Voz e Fala para Uso em

Fonética Forense

Porto, Aline Costaa; Gonçalves, Cíntia Schivinsckib

Departamento de Criminalística, Instituto-Geral de Perícias, Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Introdução

Este trabalho versa sobre a aplicação da análise perceptivo-

auditiva no âmbito forense, especificamente na perícia de veri-

ficação de falantes. Originalmente, esta análise é utilizada na

avaliação diagnóstica e no tratamento dos distúrbios vocais, ou

seja, na clínica de voz e fala. Com o avanço e especialização dos

procedimentos periciais, evidenciou-se a necessidade e, por con-

seqüência, o efetivo surgimento de uma nova área de emprego

desse método de avaliação. Dessa forma, o quadro abaixo

contextualiza a APA, no que se refere ao seu uso em perícias

criminais.

A fim de caracterizar os conceitos admitidos neste traba-

lho, temos que Fonética Forense é a área que abrange delitos que

envolvem vozes registradas em algum tipo de mídia, enquanto

a Verificação de Falantes, por definição, busca determinar se duas

falas foram produzidas por um mesmo locutor (Hollien, 2002).

A APA, por sua vez, é a análise subjetiva da voz, a impressão

total gerada por essa voz, sendo necessária para a sua realização

a escuta cuidadosa e repetida, visando à percepção de traços

vocais e lingüísticos.

O uso da APA para avaliação da função vocal iniciou no

século XIX, com a aferição subjetiva da voz, exigindo somente

o ouvido humano como instrumento de avaliação (Nemr e cols.,

2005). De maneira geral, a APA observa: 1) as características

gerais do falante; 2) os parâmetros vocais (incluindo caracterís-

ticas de fonte e filtro), como por exemplo, o tipo de voz, ataque

vocal, foco de ressonância, pitch, loudness, qualidade da emis-

são e outros; 3) os parâmetros lingüísticos da fala e do discurso,

entre eles, a existência de alterações fonéticas e fonológicas, a

velocidade e o ritmo de fala, particularidades co-articulatórias,

dialeto e idioleto.

Vários autores afirmam que, embora a análise acústica (AA)

tenha oferecido admiráveis progressos nas últimas duas déca-

das, a percepção do clínico ainda mantém-se em primazia (Bar-

ros, Carrara-de-Angelis, 2002; Behlau, 2004 e outros). Assim,

justifica-se nosso empenho em adaptar a APA às particularida-

des encontradas no âmbito da prática forense, pois se conside-

ra que: a) essa área está em processo de consolidação, necessi-

tando de resultados de pesquisa científicas; b) a APA é univer-

salmente aceita; c) várias bibliografias trazem informações que

tornam o conteúdo da APA menos subjetivo e frágil do que

inicialmente possa parecer; d) já existem protocolos e escalas

de avaliação visando uniformizar a APA, em sua aplicação clí-

nica, entre eles: VPAS- Voice Profile Analysis Scheme (2000), CAPE

V- Consensus Auditory Perceptual Evaluation of Voice (2003),

GRBASI/ RASAT- Grade, Roughness, Breathness, Asteny, Strain

(1980) + Instability (1996) e e) tem-se a possibilidade de utilizar

os dados da análise acústica para comprovar os achados

perceptivos-auditivos (Corazza e cols., 2004; Camargo e cols.,

2004; Behlau e cols., 2004; Figueredo e cols., 2004; Nemr e

cols., 2005; outros).

A APA pode, eventualmente, ser entendida como

inapropriada para a atividade forense, uma vez que não é, em

essência, objetivamente mensurável. Entretanto, destacamos:

que a conclusão de um laudo se dá por juízo de convencimen-

to, para formação do qual são considerados diversos fatores;

que a APA não é o único exame pericial realizado no trabalho

de Verificação de Falantes e que a subjetividade da APA é rela-

tiva e questionável. No entanto, fica claro que a realização da

APA requer conhecimento técnico e experiência clínica em voz

e fala, fato pelo qual apontamos a importância da presença do

fonoaudiólogo na equipe multiprofissional de perícia em Foné-

tica Forense.

Buscamos então, neste trabalho, pesquisar, questionar a

pertinência e conjugar em um instrumento, os parâmetros uti-

lizados na APA de voz e fala. Objetivamos também, adaptar

esse instrumento às necessidades e especificidades do âmbito

forense.

Materiais e métodos

Inicialmente, foram feitos o levantamento bibliográfico e

a fundamentação teórica para a montagem do protocolo-pilo-

Page 24: Revista IGP/RS nº 3

24

to, sendo considerados, para tanto, os fatores que permeiam

o trabalho de Verificação de Falantes. A seguir, procedeu-se à

aplicação do mesmo na rotina de análise de casos em anda-

mento na Seção de Fonética Forense do DC- Departamento

de Criminalística do IGP/RS- Instituto Geral de Perícias do

Rio Grande do Sul, o que possibilitou a elaboração da versão

final do instrumento, após a realização das modificações ne-

cessárias.

Resultados e discussão

Como resultado obteve-se o protocolo de APA de voz e

fala dirigido à prática forense, sendo sua versão final apresenta-

da no ANEXO 1. Com a mencionada aplicação do instrumen-

to foi possível perceber que nem todos os 22 itens elencados na

APA-CONFRONTO são sempre utilizados, sendo necessário

considerar as particularidades de cada caso. Contudo, obser-

vou-se uma certa tranqüilidade na realização do trabalho peri-

cial, devido à existência desse material abrangente, pré-defini-

do, com parâmetros a serem utilizados no confronto. Ficou-

nos óbvio, que o instrumento não dispensa o conhecimento

técnico do perito, pelo contrário, reforça que esse conhecimen-

to é específico e indispensável para que se proceda à análise

perceptivo-auditiva de voz e fala de maneira criteriosa e funda-

mentada. O profissional deverá, depois de feito o confronto

entre os áudios questionados e padrão, depreender quais ele-

mentos positivos e negativos do cotejo são dignos de registro,

expandindo, então, a descrição discursiva destes, a fim de que

constem no laudo.

Conclusão

Este trabalho tratou do papel da APA na prática de verifi-

cação de falantes em fonética forense, tendo como objetivo

pesquisar, questionar a pertinência e conjugar em um instru-

mento os parâmetros comumente utilizados, adaptando-o às

necessidades e especificidades do âmbito forense. Com a apli-

cação, prevista na metodologia, foi possível constatar a

efetividade e pertinência do protocolo proposto, não sendo

descartada, porém, a necessidade de realização de novas pes-

quisas envolvendo a temática.

Referências bibliográficas

[1]Barros, A.P.B.; Carrara-de-Angelis, E. Avaliação

Perceptivo-Auditiva da Voz. In: Dedivits, R.A.;

Barros, A.P.B. Métodos de Avaliação e Diagnóstico de

Laringe e Voz. São Paulo: Lovise, 2002.

[2]Behlau, M.; Pontes, P. Avaliação e Tratamento das

Disfonias. São Paulo: Lovise, 1995.

[3] Behlau, M.; Madazio, G.; Feijó, D.; Pontes, P. Ava-

liação de Voz. In: Behlau, M. Voz: O Livro do

Especialista. Rio de Janeiro: Revinter, 2004.

[4] Boone, D.R.; McFarlane, S.C. A Voz e a terapia

Vocal. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

[5] Braid, A.C.M. Fonética Forense. Campinas:

Millennium, 2003.

[6] Camargo, Z.; Vilarim, G.S.; Cukier, S. Parâmetros

Perceptivo-auditivos e acústicos de longo termo

da qualidade vocal de indivíduos disfônicos. Rev.

CEFAC, São Paulo, v.6, n.2, 189-96, abr-jun, 2004.

[7] Consensus Auditory-Perceptual Evaluation of

Voice (CAPE-V). Elaborado pela American

Speech-Language-Hearing Association’s (ASHA)

Division 3: Voice and Voice Disorders,

Department of Communication Science and

Disorders, University of Pittsburg. Pittsburgh on

June 10-11, 2002.

[8] Corazza, V.R.; Silva, V.F.C.; Queija, D.S.; Dedivits,

R.A.; Barros, A.P.B. Correlação entre os achados

estroboscópicos, perceptivo-auditivos e acústicos

em adultos sem queixa vocal. Rev. Bras.

Otorrinolaringol. vol.70 nº.1, 30-4, São Paulo jan./

fev. 2004.

[9] Dejonckere, P.; Remacle, M.; Freznel-Elbaz, E.

Reliability and relevance of differentiated

perceptual evaluation of pathological voice quality.

In: Clemente, M.P. (ed.): Voice update. Amsterdam:

Elsevier, 1996.

[10] Figueiredo, L.C.; Gonçalves, M.I.R.; Pontes, A.;

Pontes, P. Estudo do comportamento vocal no ciclo mens-

trual: avaliação perceptivo-auditiva, acústica e auto-

perceptiva. Rev. Bras. Otorrinolaringol. vol.70 nº.3

São Paulo May/ June 2004.

[11] Hirano, M. Clinical examination of voice. New

York: Springer-Verlag, 1981.

[12] Nemr, K.; Amar, A.; Abrahão, M.; Leite, G.C.A.;

Köhle, J.; Santos, A.O.; Correa, L.A.C. Análise com-

parativa entre avaliação fonoaudiológica perceptivo-

auditiva, análise acústica e laringoscopias indiretas

para avaliação vocal em população com queixa vo-

cal. Rev. Bras. Otorrinolaringol. vol.71 nº.1 São Pau-

lo jan./ fev. 2005.

[13] Porto, A.C.; Gonçalves, C.S. A avaliação

perceptivo-auditiva (APA) na verificação de falan-

tes em fonética forense. In: Anais do VI Seminário

Nacional de Fonética Forense e III Seminário Nacional

de Perícias em Crimes de Informática, São Paulo, 2006.

Page 25: Revista IGP/RS nº 3

25

Autores

[a] Perita Criminal, Fonoaudióloga, Especialista em

Motricidade Oral/ CFFa. E-mail: aline-

[email protected].

[b] Perita Criminal, Fonoaudióloga, Mestre em Lin-

güística Aplicada/PUCRS, Especialista em Lin-

guagem/CFFa, Especializanda em Motricidade

Oral/CEFAC. E-mail: cintia-goncalves@igp.

rs.gov.br.

6. Foco vertical de ressonância (equilibrado, baixo/laringo-faríngeo, oral, alto/hipernasal)

7. Foco horizontal de ressonância (anterior equilibrado, posterior)

8. Ataque vocal (isocrônico, brusco, soproso)

9. Pitch e Tom habitual (alto, adequado, baixo)

10. Gama Tonal (normal, monoaltura, excessiva)

11 Loudness (fraco, adequado, forte)

12. Qualidade da emissão (tremor à respiração, uso do ar de reserva, quebras de sonoridade ou freqüência, flutuações ou decréscimos na freqüência e intensidade, modificações globais na qualidade vocal)

13. Hábitos vocais (pigarro, cliques no trato vocal, outros)

14. Tipo de articulação (adequada, imprecisa, travada, exagerada)

15. Alterações fonéticas (ceceios anterior ou lateral, dorsalização de /r/, outras)

16. Alterações fonológicas (processos de substituição ou de estrutura silábica)

17. Velocidade de fala (adequada, lentificada, aumentada)

18. Ritmo de fala (regular, rígido, irregular)

19. Fluência (bloqueios, pausas, repetições, prolongamentos, uso de interjeições, evitações, hesitações)

20. Coordenação Pneumofonoarticulatória (adequada, inadequada)

21. Idioleto 22. Elementos dialetais (uso de

regras do estilo coloquial, gramática, léxico, sotaque)

23. Outros P= prejudicado, M= masculino, F= feminino, OFAs= órgãos fonoarticulatórios, GRBSAI= Grade-Roughness-Breathness-Asteny-Strain-Instability, A= alterado, D= discreto, M= moderado, S= severo

ANEXO I - PROTOCOLO DE ANÁLISE PERCEPTIVO-AUDITIVA DE VOZ E FALA

EM PERÍCIA DE VERIFICAÇÃO DE FALANTES (Porto e Gonçalves, 2006)

Protocolo de Análise Perceptivo-Auditiva de Voz e Fala

em perícia de Verificação de Falantes

Identificação:

Caso: Protocolo: Suspeito: Alcunha:

Análise perceptivo-auditiva (APA):

PRELIMINAR (quanto ao material questionado e seleção de elementos a serem considerados na coleta de padrão de voz e fala)

DE CONFRONTO (quanto à comparação dos registros questionado e padrão, com apontamento de possibilidade de corroboração via análise instrumental e conclusão)

Parâmetro

No áudio questionado

No áudio padrão Na análise instrumental

+, - ou P

1. Características gerais do falante (voz M/F, criança/adolescente/adulto/idoso, estado de saúde geral e dos OFAs, condição sócio-cultural e intelectual)

2. Voz normal ou com indício de patologia

3. Escala GRBASI (0A, 1D, 2M, 3S)

4. Tipo de voz (rouca/áspera/soprosa/sus surrada/fluida/gutural/com primida/tensa-estrangulada/ bitonal/diplofônica/polifôni ca/monótona/trêmula/pasto sa/ branca ou destimbrada/ crepitante/infantilizada/femi nilizada/virilizada/presbifôni ca/hipernasal/hiponasal/de nasalidade mista)

5. Registro vocal (elevado, modal peito/misto/cabeça, basal)

Figura 1 - Protocolo de Análise Perceptivo-Auditiva de Voz e Fala em perícia de Verificação de Falantes.

Figura 2 - Contextualização da Análise Perceptivo-Auditiva em Perícias Criminais

Page 26: Revista IGP/RS nº 3

26

Avaliação dos Resultados Obtidos nos Exames Toxicológicos Realiza-

dos pelo Laboratório de Perícias durante o Ano de 2005

Fassinaa, Viviane; Franck a, Maria C.; Laschuk a, Eduardo F.; Leite b, Fábio P.

das N.; Schuck a, Carla A.; Scolmeistera, Daniel e Silva a, Silvana M.

Setor de Toxicologia, Laboratório de Perícias, Instituto Geral de Perícias – SJS/RS

1. Introdução

O Laboratório de Perícias tem por ofício realizar exames

laboratoriais em amostras orgânicas de pessoas vivas e de cadá-

veres; em substâncias orgânicas e inorgânicas; em vegetais e em

quaisquer outras amostras a ele encaminhadas para fins perici-

ais, a pedido de autoridades policiais, judiciárias e/ou militares,

do Departamento Médico-Legal (DML) e do Departamento

de Criminalística (DC).

Atualmente, o Laboratório de Perícias oferece as seguin-

tes análises de rotina (ver tabela 1).

No caso de materiais biológicos enviados pelo Departa-

mento Médico-Legal e por seus postos, são recebidas amostras

de sangue, humor vítreo, urina, fígado, cérebro, estômago e

conteúdo gástrico pelo setor de toxicologia forense do Labora-

tório. A(s) matriz(es) enviada(s) determina(m) as seguintes pos-

sibilidades de exame: sangue (somente pesquisa e dosagem de

álcool e determinação de carboxiemoglobina), humor vítreo

(somente pesquisa de álcool), urina (somente pesquisa de álcool

e de psicotrópicos) e vísceras (somente psicotrópicos e venenos).

A gama de substâncias testadas também varia em função

da matriz. A pesquisa de psicotrópicos em amostras de urina

envolve a busca de THC (princípio ativo da Cannabis sativa) e/

ou metabólitos e de cocaína e/ou metabólitos, tanto de indiví-

duos vivos quanto de mortos. No caso de amostras de vísceras,

tendo em vista que as análises podem ser imprescindíveis para

a determinação da causa mortis, a mesma pesquisa envolve a

investigação de quatro classes de compostos: drogas básicas

(cocaína, carbamazepina, amitriptilina, lidocaína, imipramina,

sertralina, nortriptilina), barbitúricos (barbital, fenobarbital),

hidantoínas (fenitoína) e fenotiazínicos (clorpromazina,

levomepromazina). Pelo mesmo motivo, a pesquisa de venenos

nas mesmas matrizes abarca quatro classes de substâncias: alcalóides

(estricnina), carbamatos (carbo-furan, aldicarb, tiodicarb),

organofosforados (malation, metil-paration, acefato, metamidofós),

inorgânicos (nitrito/ nitrato de sódio/ potássio – salitre).

Afora as análises de dosagem alcoólica e de pesquisa de

carboxiemoglobina, que são exames quantitativos, todos os

demais exames oferecidos pelo Laboratório de Perícias são qua-

litativos, conduzindo apenas a resultados positivos ou negati-

vos para um determinado composto ou grupo.

Seguindo as normas internacionais da UNDCP (United

Nation Drug Control Programm) para análises toxicológicas, a

pesquisa de substâncias ou grupos de substâncias em matrizes

biológicas pressupõe o emprego de métodos de triagem (de

alta sensibilidade, porém menor especificidade) e de métodos

confirmatórios (de alta especificidade) utilizando duas

metodologias distintas, visando à redução de resultados falsos

positivos e falsos negativos. Para que o resultado de uma análi-

se seja considerado como positivo tanto o resultado da triagem

quanto o da confirmação devem ser positivos, segundo os cri-

térios pré-determinados e internacionalmente aceitos.

Tratamento semelhante é dispensado às amostras não-bi-

ológicas, enviadas pelas autoridades policiais, para que sejam

efetuados os mesmos tipos de exames quando forem pertinen-

tes ao inquérito policial.

O presente trabalho tem como objetivo fazer um levanta-

mento dos resultados obtidos durante o último ano (2005), pelos

grupos do setor de toxicologia forense do Laboratório de Perí-

cias do IGP, responsáveis pela execução das análises

toxicológicas em material biológico e das pesquisas de psico-

trópicos/ venenos em material não-biológico, relacionando os

resultados positivos e negativos obtidos com os respectivos histó-

ricos informados, de modo que se possa traçar um perfil dos casos

positivos e seu histórico e de forma que isso possa servir de escla-

recimento e de orientação para as futuras solicitações de análises.

2. Materiais e Métodos

No período de janeiro a dezembro de 2005 foram consi

Page 27: Revista IGP/RS nº 3

27

derados todos os resultados obtidos nas análises toxicológicas

realizadas pelo setor de toxicologia do Laboratório de Perícias:

1) em materiais biológicos enviados pelo DML e seus

postos, de acordo com as solicitações dos peritos

médico-legistas;

2) em materiais diversos enviados pelas delegacias de

polícia de todo o estado, de acordo com as solici-

tações de cada autoridade policial.

Os exames solicitados foram realizados conforme as

metodologias abaixo descritas:

1) Pesquisa e dosagem de álcool em sangue/ urina/ humor vítreo (24)

a) Amostragem por “Headspace”. Equipamento:

Amostrador Headspace Tekmar Dohrmann

7000HT;

b) Análise da amostra por cromatografia a gás - (ver tabela 2);

2) Determinação de carboxiemoglobina em sangue (30)

a)Espectroscopia Ultravioleta / Visível. Equipamento:

Perkin Elmer Lambda 35. Técnica: Beutler e West

utilizando comprimentos de onda de 420 nm e

432 nm.

3) Pesquisa de psicotrópicos em urina (25)

a) Triagem toxicológica por Imunoensaio

Enzimático EMIT para canabinóides utilizando

equipamento ETS Plus e limite de corte de 50

ng/mL;

b) Triagem toxicológica por Imunoensaio Enzimático

EMIT para metabólito de cocaína (benzo-

ilecgonina) utilizando equipamento ETS Plus e

limite de corte de 300 ng/mL;

c) Confirmação dos resultados positivos na triagem

para cocaína e/ou seus metabólitos por

Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria

de Massas.(ver tabela 3);

d) Confirmação dos resultados positivos na tria-

gem para THC e/ou seus metabólitos por

Croma-tografia em Camada Delgada.(ver tabe-

la 4);

4) Pesquisa de psicotrópicos em estômago e conteúdo, fígado e cérebro (26)

e Pesquisa de venenos em estômago e conteúdo e fígado (28) – e - Pesquisa

de psicotrópicos (27) e venenos (29) em materiais diversos (seringas, com-

primidos, restos alimentares, etc.)

a) Triagem Toxicológica por grupos: Cromatografia

em camada delgada. Tipo de placa: Cromatofolha

de Alumínio recoberta com sílica gel 60 mesh com

indicador de fluorescência.(ver tabela 5)

b) Confirmação dos resultados positivos na triagem

e identificação das substâncias: Cromatografia

gasosa / Espectrometria de Massas. (ver tabela 6)

Cada grupo tabulou seus resultados em função do

número de análises realizadas, número de resulta-

dos positivos na triagem e na confirmação e his-

tórico informado.

Tabela 1 - Análises de rotina oferecidas pelo Laboratório de Perícias

Page 28: Revista IGP/RS nº 3

28

3. Resultados e Discussão

A) Exames Solicitados pelo Departamento Médico-Legal e seus Postos

a) Pesquisa e dosagem de álcool em sangue/ urina/

humor vítreo (24)

No período de janeiro a dezembro de 2005 foram realiza-

das 6446 análises de pesquisa e/ou dosagem de álcool em amos-

tras de sangue, urina e humor vítreo. Considerando-se como

positivo um resultado maior ou igual a 01(um) dg de álcool/ L

de sangue, menos da metade dessas amostras (40,2 %) fornece-

ram resultados positivos, 57,6 % foram negativas e 2,2 % não

apresentaram condições para análise. Uma vez que a grande

maioria das amostras analisadas (5972 – 92,6 %) apresentou

informações acerca da condição do indivíduo analisado (vivo/

morto) e seu histórico, foi possível o relacionamento desses

elementos com os resultados obtidos, conforme colocado nos

gráficos de 1 a 4.

A maior parte das amostras analisadas (73 %) provém de

indivíduos mortos e produziu resultados considerados negati-

vos (menor que 1 dg/L). Inversamente, no caso de indivíduos

vivos, cerca de metade das amostras forneceu resultado positi-

vo.

Analisando-se o gráfico 4, pode-se concluir que a maioria

das amostras enviadas ao Laboratório de Perícias para pesquisa

e dosagem alcoólica decorre de indivíduos cujo histórico está

relacionado com mortes a investigar, acidentes de trânsito e

atropelamento, homicídio por projetil de arma de fogo, ocor-

rência policial (vivo) e acidente de trânsito (vivo).

Considerando-se apenas os resultados positivos e seus his-

tóricos (gráfico 5), observa-se o mesmo perfil do gráfico 4.

Tomando-se por base o valor de 6(seis) dg de álcool/ L de

sangue, limite legal, estabelecido pelo Código Brasileiro de Trân-

sito, que comprova que o indivíduo se acha impedido de dirigir

veículo automotor, foi constatado que apenas 27,8 % das amos-

tras analisadas apresentavam resultado maior ou igual a este

valor, representando a minoria dos resultados tanto no caso de

indivíduos vivos quanto no de indivíduos mortos, conforme os

gráficos de 6 e 7.

b) Pesquisa de carboxiemoglobina em sangue (30)

No período compreendido entre janeiro a dezembro de

2005, foram recebidas 102 amostras de sangue para a determi-

nação do índice de saturação por carboxiemoglobina, visando

a avaliação do nível de intoxicação por monóxido de carbono.

Dessas 102 amostras, 58 % apresentaram um índice de satura-

ção de carboxiemoglobina igual ou inferior a 10 % (índice con-

siderado como normal para indivíduos fumantes e não expos-

tos a concentrações tóxicas de monóxido de carbono), 30%

apresentaram índices entre 10-60 % de saturação (índice que

revela vários níveis de intoxicação por monóxido de carbono) e

cerca de 10 % mostraram índices superiores a 60 % de satura-

ção (valores associados à morte por envenenamento por

monóxido de carbono). Aproximadamente 2% das amostras

não mostraram condições para análise.

Excetuando-se 8 amostras (7,8 %), todas as demais apre-

sentaram informações acerca de seus respectivos históricos,

permitindo o relacionamento dos resultados com os mesmos,

conforme explicitado no gráfico 9.

Essencialmente os históricos relacionados com morte

Tabela 3

Tabela 4

Tabela 2 - Curva de calibração de 1,5 – 40 dg/L – pontos em duplicata

Page 29: Revista IGP/RS nº 3

29

(IS>60 %) ou intoxicação por inalação de monóxido de carbo-

no (10 % <IS<60 %) envolvem apenas grande queimado, mor-

te acidental por queimadura, envenenamento e morte a investi-

gar.

c) Pesquisa de psicotrópicos em urina

Entre janeiro e dezembro de 2005 foram realizadas 5105

análises para pesquisa de THC/ metabólitos e cocaína/

metabólitos em amostras de urina, coletadas de indivíduos vi-

vos e mortos. A maior parte das análises (62 %) forneceu resul-

tado negativo para os parâmetros avaliados, sendo que a gran-

de maioria dos casos positivos está relacionado com o consu-

mo de maconha, conforme se pode observar pelo gráfico 10

Observou-se ampla predominância de resultados negati-

vos para quaisquer dos parâmetros avaliados nas amostras

coletadas post mortem, contrariamente ao obtido nos casos en-

volvendo indivíduos vivos nos quais os resultados encontra-

ram-se igualmente divididos (gráficos 11 e 12).

O gráfico 13 relaciona o percentual de análises em urina

realizadas com os históricos informados. Praticamente a meta-

de das amostras recebidas eram provenientes de indivíduos vi-

vos envolvidos em ocorrência policial, seguida discretamente

por aquelas relacionadas à acidente de trânsito (vivo e post mortem)

e homicídio por projetil de arma de fogo (post mortem).

Analisando-se o gráfico 14, constata-se que 80 % dos re-

sultados positivos para, pelo menos uma das drogas testadas e/

ou seus metabólitos, está relacionada a ocorrências policiais

envolvendo indivíduos vivos, seguida discretamente por homi-

cídios por paf e acidentes de trânsito.

d) Pesquisa de psicotrópicos e venenos em amostras

de vísceras

Considerando-se o período de janeiro a dezembro de 2005,

foram realizadas 8389 análises em 2083 vísceras associadas a

1348 indivíduos. Destas análises, a quase totalidade (99,04 %)

forneceu resultado negativo para quaisquer dos grupos testa-

dos.

Mais da metade dos casos analisados procedia de morte

súbita, PAF e acidente de trânsito. Nenhum resultado positivo

foi encontrado nas análises realizadas em amostras relaciona-

das aos históricos de PAF, acidente de trânsito, homicídio, afo-

gamento, homicídio por arma branca, queda, choque, carboni-

zado, acidente, acidente de trabalho, traumatismo, asfixia me-

cânica, uso de drogas, enfarto, exumação, estrangulamento, cir-

rose hepática, intoxicação por gás, obstrução de vias aéreas e

agressão (Tabela 2).

Os 63 casos (0,96 %) nos quais ao menos uma víscera

forneceu resultado positivo para, pelo menos, um composto

Gráfico 1 - Análises Realizadas 2005 - Histórico Informado Gráfico 2 - Post Mortem - Resultados

Gráfico 3 - Vivos Resultados Gráfico 4 - Análises 2005

Page 30: Revista IGP/RS nº 3

30

pesquisado possuíam como histórico essencialmente: morte

súbita, envenenamento, overdose e ingestão de medicamentos,

conforme mostra a tabela 2.

A julgar pela grande variação dos históricos apresentados,

a alta incidência de resultados negativos não surpreende. Isto

pode ser explicado, se considerarmos que a metodologia analí-

tica empregada nos exames realizados em vísceras foi desen-

volvida objetivando a elucidação direta da causa mortis e, por-

tanto prevê somente a detecção de grandes quantidades das

substâncias pesquisadas, situação típica apenas dos casos de

envenenamento, superdosagem de drogas ou medicamentos,

intoxicação grave, etc. O uso recreativo de sustâncias de abuso

ou o uso prescrito de determinados medicamentos, embora

possam estar relacionados indiretamente com a causa mortis,

não podem ser avaliados pela mesma metodologia, logo a soli-

citação de exames sem o devido critério conduz a resultados

previsíveis (negativos) e irrelevantes.

Nos casos positivos, foram identificadas 22 substâncias

diferentes, sendo a maior parte delas pertencente ao grupo dos

psicotrópicos (65 %), seguida por venenos inorgânicos e orgâ-

nicos, de acordo com a tabela 3. Nos episódios em que foi com-

provada a ingestão anormal de nitrito (salitre), pode-se consta-

tar que as amostras pertenciam a indivíduos provenientes da

serra gaúcha, região característica de manufatura de embutidos.

Nas zonas de plantio de fumo ou outras culturas agrícolas, os

praguicidas e herbicidas, em particular o Carbofuran, substitu-

Tabela 5

Tabela 6

Gráfico 5 – Relação entre o percentual de resultados positivos e seus respectivos históricos.

Page 31: Revista IGP/RS nº 3

31

íram a estricnina, historicamente usada como veneno de elei-

ção nos casos de suicídio, mas que hoje em dia, dada à facilida-

de de acesso a outras substâncias tão tóxicas quanto esta, tem

caído em desuso.

A) Exames Solicitados pelas Autoridades Policiais

Durante o ano de 2005 foram atendidas 99 solicitações de

exames, efetuadas pelas autoridades policiais de todo o estado,

em materiais diversos (seringas, papéis, sacolas, envelopes, pa-

nelas, águas, cápsulas, restos alimentares, comprimidos etc.) e

decorrentes dos mais variados históricos constantes nos bole-

tins de ocorrência (briga entre vizinhos, apreensões, envenena-

mento, tentativa de envenenamento, averiguação, etc), impossi-

bilitando a tabulação dos resultados por tipo de histórico. Das

99 solicitações, 24 determinavam a pesquisa de psicotrópicos

no material enviado (24,2 %), 50 pediam a pesquisa de venenos

(50,5 %) e 25 (25,3 %) demandavam perícias especiais (não de

rotina), resultando na execução de pelo menos 295 análises em

materiais diversos. Destas, apenas 43 apresentaram resultados

positivos para alguma substância, conforme constante na tabe-

la 4. Mesmo apresentando um índice baixo de análises positivas

(14,6 %), este é muito maior do que aqueles obtidos para os

mesmos tipos de exames, realizados em amostras de urina e de

vísceras. Isto pode ser explicado, se considerarmos que a maior

parte destas solicitações visava à efetiva constatação da presen-

ça de uma determinada substância ou grupo, baseadas em fatos

concretos (posse de psicotrópicos, mortes, envenenamentos,

etc.), ao invés de apenas averiguar uma possibilidade remota da

mesma existir ou solicitar exames de forma rotineira. Além dis-

so, as concentrações das substâncias pesquisadas em materiais

brutos são bem maiores do que aquelas encontradas em mate-

riais biológicos, sendo, portanto, mais adequadas para a

metodologia empregada nas análises.

Nos casos positivos, foram identificadas 19 substâncias

diferentes, sendo a maior parte delas pertencente ao grupo dos

psicotrópicos (56 %), em especial ao grupo das anfetaminas, segui-

da por venenos orgânicos e inorgânicos, de acordo com a tabela 4.

Gráfico 6 – Resultados das análises realizadas em amostras coletadas de indivíduos vivos,

considerando-se como positivo valores maiores ou iguais a 06 dg de álcool/litro de sangue.

Gráfico 7 - Resultados das análises realizadas em amostras coletadas de indivíduos mor-

tos, considerando-se como positivo valores maiores ou iguais a 06 dg de álcool/litro de sangue.

Gráfico 8 - Resultado das análises de carboxiemoglobina em amostras de sangue e seu

significado.

Gráfico 10 - Resultados das análises de pesquisa de psicotrópicos realizadas em

amostras de urina.

Page 32: Revista IGP/RS nº 3

32

Tabela 7 - Códigos dos históricos fornecido pelo DML

4. Conclusões

A maior parte dos exames toxicológicos realizados pelos

peritos do setor de toxicologia forense do Laboratório de Perí-

cias do IGP em amostras biológicas e não-biológicas, encami-

nhadas pelo DML e seus postos e autoridades policiais, duran-

te o ano de 2005 apresentaram resultados negativos para os

parâmetros avaliados. Excetuando-se os casos de pesquisa de

psicotrópicos em urina, a maioria das amostras biológicas envi-

adas para a realização dos demais exames é proveniente de in-

divíduos mortos. Os históricos predominantes das amostras

biológicas recebidas são, no caso de indivíduos vivos, ocorrên-

cia policial e acidente de trânsito/ atropelamento e, no caso de

indivíduos mortos, morte súbita, verificação de óbito, acidente

de trânsito e homicídio por PAF. Foram identificadas 36 subs-

tâncias diferentes, considerando-se as análises realizadas em

material biológico e não-biológico.

A quase totalidade de resultados negativos para qual-

quer das análises solicitadas em amostras de vísceras, associ-

ada à variação dos históricos informados, sugere a não-ado-

ção de critérios para a solicitação de exames nestas matrizes.

A metodologia empregada nas análises envolvendo estas ma-

trizes não se mostrou adequada para a determinação de uso

normal de substâncias de abuso ou de medicamentos sob

prescrição, sendo necessário o oferecimento da análise ade-

quada em matriz alternativa, como o sangue (em andamen-

to).

Finalmente, espera-se que o conhecimento destes resulta-

dos possa servir de orientação, juntamente com os achados da

necropsia e de seu histórico, para a solicitação de futuros exa-

mes de forma mais criteriosa e direcionada à real necessidade,

tanto por parte dos médico-legistas quanto de parte das autori-

Page 33: Revista IGP/RS nº 3

33

dades policiais, o que sem dúvida economizará tempo e dinhei-

ro, bem como agilizará a emissão de laudos e o trâmite dos

inquéritos policiais.

5. Autores

[a] Perito Químico-Forense.

[b] Perito Criminalístico.

Gráfico 9 – Relação entre os índices de saturação de Carboxiemoglobina e seus respectivos históricos informados.

Gráfico 11 - Resultados das análises realizadas em amostras com histórico, coletadas de

indivíduos vivos, considerando como positivo resultados de cocaína e/ou THC.

Gráfico 12 - Resultados das análises realizadas em amostras com histórico, coletadas de

indivíduos mortos, considerando como positivo resultados de cocaína e/ou THC.

Page 34: Revista IGP/RS nº 3

34

Gráfico 13 - Relação entre percentual de análises realizadas em amostras de urina e o tipo de histórico, excetuando-se 3,8 % de casos com históricos não informados.

Gráfico 14 - Relação entre o percentual de amostras positivas para a presença de pelo menos uma das substâncias pesquisadas e

/ou seus metabólitos e o tipo de histórico.

Page 35: Revista IGP/RS nº 3

35

Avaliação dos Riscos Ocupacionais nas Rotinas do Posto de

Criminalística de Santa Maria

Moro, Rafael N. ª

Posto de Criminalística de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul

Resumo

Este estudo tem por objetivo identificar os riscos ocupacionais inerentes às atividades da perícia criminal. A abragência desta

análise considera a rotina do Posto de Criminalística de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Não foram considerados nesse estudo os

riscos classificados como ergonômicos.

1. Introdução

A palavra risco origina-se do latim riscus, do verbo resecare-

cortar; significa perigo, inconveniente, dano ou fatalidade even-

tual, provável, às vezes até possível. No ambiente de trabalho,

podem ser ocultos, quando o trabalhador não suspeita de sua

existência; latentes, quando causam danos em situação de emer-

gência; reais, quando conhecidos por todos, mas com pouca

possibilidade de controle, quer pelos elevados custos exigidos,

quer pela ausência de vontade política para solucioná-los

(Bulhões, 1994).

O conceito de Risco Ocupacional é utilizado por profissi-

onais de higiene e segurança do trabalho para se referir aos riscos à

saúde ou à vida dos trabalhadores, decorrentes de suas atividades

ocupacionais (FREITAS, PORTO & MOREIRA, 2002).

Ao estudar-se a história da humanidade, percebe-se que o

ambiente de trabalho tem sido causa de mortes, doenças e inca-

pacidades para um grande número de pessoas. Entendido como

o conjunto de todas as condições de vida no local de trabalho,

engloba tanto as características do próprio local (dimensões,

iluminação, ventilação, ruído, presença de poeiras, gases ou va-

pores e fumaças), como os elementos conexos à atividade em si

(tipo de trabalho, posição do trabalhador, ritmo de trabalho,

ocupação do tempo, jornada laboral diária, turnos, horário se-

manal, alienação e não valorização do patrimônio intelectual e

profissional) (Oddone et al, 1986).

As várias situações presentes no ambiente laboral po-

dem tornar-se nocivas, dependendo da sua intensidade e tam-

bém do tempo de contato dos indivíduos às mesmas. Os traba-

lhadores, sem escolha, submetem-se às relações, organizações,

condições e aos ambientes de trabalho, expondo-se fisicamen-

te a poeira, vapores, gases, calor, barulho, acidentes e jornadas

de trabalho, situações sobre as quais não têm controle algum

(Lopes et al, 1996).

Os riscos à saúde dos trabalhadores são todos os fatores

ambientais que podem causar lesão, doença ou inaptidão ou

afetar o seu bem estar e o da comunidade (Burguess, 1997).

Este conjunto de fatores, também conhecido como riscos

ocupacionais (Bulhões, 1994; Marziale, 1995; Lopes et al, 1996),

favorece o acontecimento de acidentes, sofrimentos e doenças

prejudicando a saúde dos trabalhadores pela exposição

ocupacional aos agentes que lhe são prejudiciais (Bulhões, 1994;

Lopes et al, 1996).

Os riscos ocupacionais são classificados em: físicos,

químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos.

Consideram-se agentes de risco físico as diversas for-

mas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores,

tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas

extremas, radiações ionizantes e não ionizantes, ultra-som, ma-

teriais cortantes e pontiagudos, etc.

Agentes químicos são aqueles causadores em potencial

de doenças profissionais devido a sua ação química sobre o

organismo dos trabalhadores. Podem ser encontrados na for-

ma sólida, líquida e gasosa. Consideram-se agentes de risco

químico substâncias, compostos ou produtos que possam pe-

netrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poei-

ras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou ainda que,

pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou

serem absorvidos pelo organismo, através da pele ou por

ingestão.

Agentes biológicos são microorganismos causadores de

doença, com os quais o trabalhador pode entrar em contato no

Page 36: Revista IGP/RS nº 3

36

exercício de suas atividades profissionais. Entre muitas doen-

ças causadas por agentes biológicos, inclui-se a tuberculose, a

brucelose, o tétano, a malária, a febre amarela e o carbúnculo.

Agentes mecânicos são responsáveis por uma série de le-

sões nos trabalhadores, como cortes, fratura, escoriações, quei-

maduras, etc.

Exemplos de agentes mecânicos:

- Máquinas sem proteção;

- Arranjo físico deficiente;

- Instalações elétricas deficientes;

- Ferramentas defeituosas ou inadequadas;

- Equipamento de Proteção Individual inadequado;

- Pisos defeituosos ou escorregadios;

- Empilhamentos precários ou fora de prumo; etc.

Os riscos ergonômicos são causadores de doença, carac-

terizando-se por atitudes e hábitos profissionais prejudiciais à

saúde, os quais podem refletir no esqueleto e órgãos do corpo

humano. A adoção desses comportamentos no posto de traba-

lho pode criar deformações físicas, atitudes viciosas, modifica-

ções da estrutura óssea, etc.

Exemplos de situações anti-ergonômicas:

- A falta de bancos e assentos ajustáveis;

- Trabalho físico pesado;

- Posturas incorretas e posições incômodas;

- Ritmos excessivos.

- Trabalho em regime de turno ou noturno;

- Jornada prolongada;

- Conflitos, etc.

2. Metodologia

Na avaliação desses riscos, foram descritos os atendimen-

tos prestados pelo referido Posto de Criminalística, no período

de 18 de maio de 2004 a 31 de dezembro de 2004. Para tanto,

do ponto de vista metodológico, o presente estudo pode ser

classificado como um estudo de caso singular, de natureza qua-

l i t a t i v a .

A abordagem qualitativa se justifica por ser uma forma

adequada para compreender a natureza de um fenômeno soci-

al; no entanto, mesmo usando-se a metodologia quantitativa,

em certos casos, há limitações ao tentar explicitar problemas

complexos, segundo Richardson (1985).

A pesquisa qualitativa torna-se importante especialmente

pela questão do homem enquanto ator social, que ganha cada

vez mais corpo e é estudado pelas Ciências Sociais, que se pre-

ocupa com os seus significados, conforme lembra Minayo (1996).

Godoy (1995a) observa que a pesquisa qualitativa envolve

a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e pro-

cessos interativos pelo contato direto do pesquisador com a

situação que está estudando, procurando sempre entender os

fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, isto é, dos par-

ticipantes da situação em estudo.

Ainda, conforme Godoy (1995b) existem três métodos

para realizar-se uma pesquisa qualitativa: pesquisa documental,

estudo de caso e etnografia. O escolhido para este trabalho foi

o estudo de caso. Este mesmo autor observa que o estudo de

caso se caracteriza como um tipo de pesquisa para a qual o

objeto é uma unidade que se analisa profundamente, isto é,

enfoca o exame detalhado de um ambiente, de um simples su-

jeito, ou de uma situação em particular.

3. Resultados

Além dos riscos associados aos tipos de ocorrências, exis-

tem também os riscos associados ao tipo de local onde ocorre

o crime, ou seja, aquele em que deve comparecer o Perito para

realizar o seu trabalho.

A seguir descreve-se cada uma destas ocorrências, eviden-

ciando os riscos e a forma de atendimento prestado.

3.1 Exame pericial em local de morte violenta

Nesse tipo de local, os riscos mais relevantes são gerados

por agentes biológicos, por exemplo, sangue, vísceras, entre

outros. Mas também deve-se atentar para a arma do crime, no

caso de objetos pérfuro-cortantes, incisivos e agudos que, além

do risco mecânico que seu manejo inadequado pode gerar, há

também o risco de contaminação por agentes biológicos. Já, os

locais de morte por disparo de arma de fogo, quando a arma

ainda estiver no local do crime, representam uma fonte consi-

derável de riscos mecânicos, na medida em que o exame inade-

quado da arma irá expor toda a equipe aos riscos mecânicos.

3.2 Exame pericial em local de ocorrência de tráfego

Analisando esse tipo de atendimento destacam-se os ris-

cos biológicos, quando da existência de vítimas fatais ou feri-

dos, além dos riscos mecânicos representados por estilhas de

vidro, lataria de veículos. Ainda, quando o trânsito não for to-

talmente interrompido há ainda o risco de atropelamento.

3.3 Exame pericial em local de disparo de arma de fogo

Nesses locais, geralmente, os riscos mais significativos são

os riscos biológicos gerados por prováveis ferimentos. Ainda,

Page 37: Revista IGP/RS nº 3

37

devem ser considerados os riscos mecânicos gerados por frag-

mentos de vidros, no caso de residências e automóveis, e latarias

de automóveis, no caso de veículos. Também é importante des-

tacar o risco de queda de altura, presente quando houver a ne-

cessidade de examinar a fachada de uma edificação.

3.4 Exame pericial em vítimas fatais encontradas em local de incêndio

Quando do atendimento a esses locais deve-se atentar aos

riscos físicos, representados por materiais que ainda podem estar

com temperaturas elevadas e pela energia elétrica, caso essa ainda

não tenha sido desativada. Nesses locais deve-se dar especial

atenção aos riscos mecânicos, pois muitas vezes existem pre-

gos, porções de madeira pontiagudas, fragmentos de vidro, la-

tas entre outros materiais. Também há a possibilidade de ocor-

rência de riscos biológicos, caso ainda exista algum material

biológico da vítima. Outro fato que deve ser levado em consi-

deração é o caso do incêndio ter consumido algum tipo de

material tóxico, o que poderá gerar fumos ou vapores nocivos à

saúde do trabalhador, caracterizando-se em fonte de risco quí-

mico.

3.5 Exame pericial em local de acidente de trabalho com víti-

mas fatais

Esse tipo de ocorrência apresenta uma grande variedade

de fatores de risco, pois pode o Perito ter de comparecer aos

mais variados ambientes de trabalho, estando assim sujeito aos

riscos ocupacionais gerados pelo tipo de atividade desenvolvi-

da no local periciado. O Perito pode, por exemplo, ter de com-

parecer em canteiros de obras, estando por sua vez exposto aos

riscos laborais encontrados nesse tipo de ambiente, entre os

quais se destaca o risco de quedas em altura, risco de ferimentos

por materiais pontiagudos ou cortantes, entre outros. Também

pode deparar-se com riscos de natureza química, no caso de

acidentes de trabalho com produtos químicos, ou que por sua

reação tenham sido gerados vapores ou fumos nocivos à saúde

do trabalhador.

3.6 Riscos associados ao local da ocorrência

No caso dos atendimentos em zona rural, além do risco

associado ao tipo de ocorrência, existe o risco associado aos

animais venenosos, sujeitando a equipe aos riscos Biológicos.

Os atendimentos realizados em bairros nobres podem

deixar o Perito a mercê do aparato de segurança encontrado nes-

ses locais como, por exemplo, cães de guarda, resultando em

fatores de ordem biológica. Atualmente, as cercas eletrônicas

têm sido usadas com muita freqüência e podem sujeitar a equi-

pe ao risco de choques elétricos, resultando em exposição a

fatores de natureza física.

Em geral, os atendimentos realizados em vias públicas tra-

zem à equipe, além des riscos associados à natureza da ocor-

rência, o risco eminente de atropelamento, sendo que a situa-

ção mais severa é observada no caso dos atendimentos notur-

nos nas rodovias, as quais não dispõem de iluminação artificial.

Ao comparecer nas regiões precariamente urbanizadas das

cidades, devido às impróprias condições de higiene e sanea-

mento, a equipe poderá se expor a uma significativa gama de

riscos biológicos, tais como: piolho, sarna, entre outras doen-

ças causadas pelas deficiências características dessas áreas.

4. Conclusão

Foram verificados e analisados os vários riscos

ocupacionais a que estão sujeitos os Peritos Criminais do Posto

de Criminalística de Santa Maria, Rio Grande do Sul. A partir

disso pode-se constatar que na maioria dos casos a segurança

do profissional depende tão somente de seu bom senso, pois

não existem procedimentos específicos para essa atividade.

O mister pericial além de desafiador é inovador, pois de-

pende de hipóteses e teses, que argumentadas com embasa-

mento técnico, irão auxiliar na investigação policial. Apresenta,

ainda, grande número de riscos aos seus trabalhadores, riscos

esses associados não só ao tipo de ocorrência atendida, mas

também associados ao local onde tais fatos ocorrem.

O fato de a atividade ser tão dinâmica dificulta a criação

de normas e procedimentos rígidos, devendo o perito sempre

atentar para os riscos e ameaças inerentes a sua atividade pro-

fissional. Cabe ao Perito zelar sempre pela sua segurança e tam-

bém pela segurança de sua equipe.

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Autor

[a] Perito Criminal do Posto do Departamento de

Criminalística de Santa Maria-RS; rafael-

[email protected].

Page 39: Revista IGP/RS nº 3

39

Estudo de Caso de Determinação de Vestígios de Poluição Atmosférica

por Material Particulado Proveniente de Metais Utilizando Microscópio

Eletrônico de Varredura

Barbieri, Cristina Barazzettia; Abel, Liegeb; Bittencourt, Pedro

Augusto Loguercioc

Departamento de Criminalística, Instituto-Geral de Perícias, Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Resumo

O presente trabalho trata-se de um caso de perícia criminal ambiental relativo a suposto crime de poluição ocasionado por uma

fábrica de equipamentos agrícolas. Uma das etapas do processo fabril era a fundição de sucata de ferro e alumínio para moldagem das

peças em um compartimento com diversas aberturas para o exterior e sem equipamentos para abatimento das emissões atmosféricas.

O Microscópio Eletrônico de Varredura foi utilizado em uma amostra coletada da superfície de uma parede onde havia deposição de

fuligem para caracterização dos metais ali depositados. Os resultados obtidos apontaram para uma composição de elementos metá-

licos similar àquela dos metais fundidos permitindo uma associação do material depositado na parede com os fumos emitidos pelas

caldeiras. O microscópio eletrônico de varredura é um recurso analítico que deve ser explorado na qualificação e quantificação de

vestígios de poluição por metais, inclusive poluição atmosférica.

Abstract

The present work is based on an enviromental crime exam related to an alleged crime of pollution caused by a manufacturer of

agricultural machines. One step of the industrial process was melting the iron and alluminium to cast parts of the machines. The

metal melting was performed in a furnace located in a compartment with several openings to the outside and without any kind of

equipment to control the atmospheric emissions produced. The Scanning Eletronic Microscope was used in a sample collected from

the surface of a wall inside the facilities of the manufacturer where there was a thick layer of soot to determine the metal components.

The results pointed to a composition of metallic elements similar to the melt metals establishing a relationship between the material

in the wall and the furnace emissions. The Scanning Eletronic Microscope is an analytical resource which must be explored in

qualifying and quantifying metal pollution vestiges, including atmospheric pollution.

1. Introdução

Em março de 2005 os peritos compareceram ao local em

questão, uma fábrica de implementos agrícolas, para realização

de exames periciais por solicitação da Policia Civil. O motivo

da ocorrência teria sido denúncia do vizinho da empresa devi-

do à poeira que chegava até sua casa na utilização do jato de

areia pela empresa questionada.

2 Materiais e Métodos

Os exames periciais foram realizados por meio de obser-

vação direta do local e medições efetuadas com o auxílio de

trena de 50m.

Foi coletada uma amostra da superfície da parede do sani-

tário a qual foi acondicionada no interior de um saco plástico

etiquetado. A amostra foi encaminhada para a representante no

Rio Grande do Sul do convênio da Secretaria Nacional de Se-

gurança Pública (SENASP) com as universidades para utiliza-

ção de recursos de microscopia eletrônica, Perita Criminalística

Liege Abel, e, então, submetida à análise. A análise foi realizada

com Microscópio Eletrônico de Varredura com detector EDS

(Energy Dispersive X-Ray Detector- - Detector de energia dis-

persada de raios x), marca JEOL, modelo JSM 5800, no Centro

de Microscopia Eletrônica da Universidade Federal do Rio Gran-

de do Sul.

3. Resultados e Discussão

3.1 Descrição da área questionada1

Page 40: Revista IGP/RS nº 3

40

3.1.1 Instalações da empresa

A empresa questionada se tratava de uma indústria de

máquinas e implementos agrícolas que produziria correias

transportadoras, elevadores agrícolas, equipamentos de pré-

limpeza e classificação de sementes, silos, máquinas

canjiqueiras, secadores de grãos, empilhadeiras, entre ou-

tros.

As instalações da referida empresa consistiam em basi-

camente três prédios distribuídos num terreno. No prédio de

dois pavimentos localizado na parte dos fundos do terreno

havia diversas dependências onde era realizada a maioria das

etapas do processo industrial. As janelas da parede sul do lo-

cal onde era feita a moldagem das chapas, voltadas para a pro-

priedade do reclamante apresentavam deposição de uma ca-

mada bastante espessa de fuligem, especialmente nos vidros

das partes basculantes. Ainda neste prédio, estavam o vestiá-

rio e sanitários. As janelas dos sanitários comunicavam-se com

a dependência onde estavam as fornalhas de fundição apre-

sentando camada espessa de fuligem. Esta camada de fuligem

também tornou enegrecido o teto destas dependências e a

parte superior das paredes que não era revestida com azule-

jos. As superfícies e os rejuntes dos azulejos, bem como o

reservatório de descarga do vaso sanitário e tubulações

acopladas, também apresentavam enegrecimento pela depo-

sição continuada de fuligem.

As fornalhas de fundição localizavam-se numa dependên-

cia no pavimento inferior do prédio. Esta dependência apre-

sentava cobertura de telhas de fibrocimento com vedação pre-

cária apresentando um trecho aberto entre o teto e a parede

leste permitindo o escape dos gases e fumos da fundição

para o terreno lindeiro a leste. Contígua à parede sul desta

dependência havia uma chaminé de tijolos e cimento cuja co-

municação com o compartimento onde estavam as fornalhas

era feito por uma abertura na parte superior da parede. No

interior deste compartimento havia duas fornalhas: uma para

fundição de metais ferrosos e outra para fundição de alumí-

nio.

Junto à parede sul do prédio havia um galpão em madeira

onde era feito o jateamento das peças usinadas. No interior

deste galpão havia um equipamento mecânico acoplado a um

compressor de ar por mangueiras de borracha ao qual era adici-

onada areia peneirada.

3.1.2 Processo industrial

As atividades desenvolvidas no processo industrial, de acor-

do com informações contidas no formulário encaminhado ao

órgão ambiental estadual para solicitação de licença ambiental

eram basicamente as seguintes: recebimento e armazenamento

dos insumos (barras de aço, madeira, rolamentos, parafusos,

correias, ferro gusa, barras e chapas de ferro e latas de alumí-

nio), usinagem e modelagem do ferro e alumínio, corte,

moldagem, modelagem e soldagem das barras e chapas de fer-

ro e aço, corte, moldagem e modelagem de madeira, junção das

peças de metal e madeira, pintura, montagem dos equipamen-

tos e comercialização.

Ainda segundo o referido documento, a empresa con-

sumiria, em média 3.500kW de energia elétrica por mês e o

seu regime de funcionamento seria de 8,5horas/dia, 22 dias/

mês, 11 meses/ano. As matérias primas utilizadas seriam:

barras de aço, madeira, rolamentos, parafusos, correias, fer-

ro gusa, barras e chapas de ferro, latas de alumínio. O com-

bustível utilizado no forno de fusão/fundição seria o óleo

combustível (filoil) cuja média de consumo foi relatada como

18l/dia.

3.2 Vestígios e indícios relacionados com os fatos

questionados

3.2.1 Jato de areia

Nas superfícies internas do compartimento onde era feito

o jateamento com areia observava-se a deposição de material

particulado bastante fino, de coloração clara. Foi constatado

também que o galpão apresentava diversas frestas entre as tá-

buas que constituíam suas paredes.

3.2.2 Fundição

O processo de fundição do ferro e do alumínio era reali-

zado em um compartimento com diversas aberturas: as jane-

las para os banheiros/vestiário dos funcionários, na parte su-

perior da parede norte, um vão entre o teto e a parede leste,

uma abertura que se comunicava internamente com a chami-

né na parede sul e outra abertura na parede sul do comparti-

mento de fundição, junto à chaminé, que estava parcialmente

oclusa por telhas de fibrocimento. Neste compartimento não

foram observados quaisquer dispositivos ou equipamentos

para coleta, direcionamento ou abatimento dos gases e fumos

emitidos pelos fornos. No interior deste compartimento ob-

servava-se depósito de fuligem sobre as superfícies, inclusive

as verticais. Este depósito de fuligem também podia ser ob-

servado no interior dos banheiros/vestiário, nas janelas da

parede sul e na abertura na parede sul do compartimento de

fundição, junto à chaminé. O depósito de fuligem nas janelas

caracteriza a dispersão dos poluentes para o exterior das ins-

talações empresa.

Page 41: Revista IGP/RS nº 3

41

3.3 Resultados das análises das amostras

Duas subamostras das amostras do raspado de parede

coletado no banheiro da empresa questionada foram

selecionadas e submetidas à análise por microscopia eletrônica

com detector EDS. As fotomicrografias correspondentes es-

tão representadas nas Figuras 1 e 2.

Nesta subamostra foi efetuada leitura com o detector EDS

em dois pontos, Ponto 1 e Ponto 2 e na área 3. Os resultados

obtidos encontram-se na Tabela 1 (Composição atômica

percentual da amostra). O erro percentual por elemento en-

contra-se na Tabela 2.

Nesta subamostra foi efetuada leitura com o detector EDS

em cinco pontos, Pontos 1 a 5 e nas áreas 6 e 7. Os resultados

obtidos encontram-se na Tabela 3 (Composição atômica

percentual da amostra). O erro percentual por elemento en-

contra-se na Tabela 4.

3.4 Aspectos relacionados à poluição proveniente de

fundições

A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM)1

classifica a atividade industrial de Fabricação de Máquinas e

Aparelhos, com Tratamento Superfície Inclusive Tratamento

Térmico, com Fundição e com Pintura como tendo potencial

poluidor alto.

No caso em questão, a indústria tinha como etapas de seu

processo fabril a fundição de ferro para fabricação de peças e a

pintura dos equipamentos e máquinas produzidos.

O ferro fundido é uma liga de ferro (Fe)-carbono (C)-

silício (Si) que contém 2-4% de carbono e 0,25-3,00% de silício

além de percentuais variados de manganês (Mn), enxofre (S) e

fósforo (P). Elementos como níquel (Ni), cromo (Cr),

molibdênio (Mo), cobre (Cu), vanádio (V) e titânio (Ti) podem

ser adicionados para formar ligas. As fundições produzem três

tipos principais de ferro fundido: o ferro cinzento, o ferro dúctil

e o ferro maleável (CCME, 2002). Dentre estes, o mais

comumente utilizado é o ferro cinzento.

As emissões dos fornos de fundição incluem material

particulado, monóxido de carbono, compostos orgânicos,

dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio e pequenas quantida-

des de compostos clorados e fluorados (EPA, 1971).

Fumos de particulados finos emitidos pelos fornos de fun-

dição resultam da condensação dos metais e óxidos metálicos

volatilizados. As maiores concentrações de emissões se dão nas

etapas do processo onde as portas dos fornos são abertas (EPA,

1971).

As análises efetuadas com o Microscópio Eletrônico de

Varredura nas amostras coletadas da superfície da parede do

banheiro/vestiário da empresa apontaram para uma composi-

ção de elementos depositados na parede semelhante àquela exis-

tente nos materiais fundidos, que seriam sucata de ferro e alu-

mínio. No processo de fusão dos elementos, os fumos origina-

dos, ao se dispersarem pelo ambiente, carregam partículas de

tamanhos variados dos elementos fundidos que vão se deposi-

tando nas superfícies.

De acordo com a Companhia de Tecnologia de Sanea-

mento Ambiental (CETESB) 2, o material particulado é um

conjunto de poluentes constituídos de poeiras, fumaças e todo

o tipo de material sólido e líquido que se mantém suspenso na

atmosfera por causa de seu pequeno tamanho. Esse poluente

resulta da queima incompleta de combustíveis e de seus aditivos,

de processos industriais e do desgaste de pneus e freios. Em

geral são provenientes da fumaça emitida pelos veículos movi-

Figura 1: Fotomicrografia de subamostra de raspado de parede. Voltagem de aceleração:

20,0kV. Aumento 750X.

Figura 2: Fotomicrografia de subamostra (1) de raspado de parede. Voltagem de

aceleração: 20,0kV. Aumento 850X.

Page 42: Revista IGP/RS nº 3

42

Tabela 2: Percentual de erro por elemento.

Tabela 1: Concentração atômica percentual detectada nos pontos 1 e 2 e área 3 da subamostra representada na Figura 2.

Tabela 3: Concentração atômica percentual detectada nos pontos 1 a 5 e áreas 6 e 7 da subamostra representada na Figura 6.

Tabela 4: Percentual de erro por elemento.

dos a óleo diesel; da fumaça expelida pelas chaminés das indús-

trias ou pelas queimadas; da poeira depositada nas ruas e dos

resíduos de processos industriais que utilizam material granula-

do; de obras viárias ou que movimentam terra, areia, etc.

O material particulado serve de meio de transporte para

outras substâncias, como hidrocarbonetos e metais, que se agre-

gam às partículas. Entre as partículas inaláveis, as mais grossas

ficam retidas na parte superior do sistema respiratório, enquan-

to as mais finas, devido ao seu tamanho diminuto, podem atin-

gir os alvéolos pulmonares, que se constituem na região mais

profunda do sistema respiratório. Entre os sintomas relaciona-

dos com a inalação do material particulado estão as alergias,

asma e bronquite crônica. Causa também irritação nos olhos e

garganta, reduzindo a resistência às infecções. Estudos recen-

tes (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2002) apontam o

ozônio superficial e o material particulado como fatores de

constrição dos vasos sanguíneos podendo levar a infartos e

outros processos isquêmicos.

Na empresa questionada foram constatadas, basicamente,

duas fontes de emissão de material particulado: as fornalhas de

fundição e o jato de areia.

Os efeitos ambientais do material particulado estão relaci-

onados à redução da visibilidade, acidificação de ambientes aqu-

áticos, alterações no balanço de nutrientes em nas bacias

hidrográficas e águas costeiras, danos a florestas e culturas sen-

síveis e em danos a prédios e monumentos.

4 . Conclusões

a) No local examinado estava instalada e em operação uma

indústria de máquinas e implementos agrícolas;

b) havia instalações e equipamentos para jateamento com

areia no interior de um galpão de madeira na parte dos fundos

da indústria;

c) não foram observados quaisquer processos, dispositi-

vos ou equipamentos de controle ou minimização da poluição

sonora ou do ar no estabelecimento periciado;

d)foram constatados vestígios de poluição do ar por ma-

Page 43: Revista IGP/RS nº 3

43

terial particulado proveniente das fornalhas de fundição de fer-

ro e alumínio tanto nas partes internas como externas da em-

presa;

e) o Microscópio Eletrônico de Varredura com detector

EDS é uma técnica analítica a ser explorada na qualificação e

quantificação dos vestígios de poluição ambiental, inclusive de

poluição atmosférica.

5 Bibliografia

[1]Disponível em: http://www.fepam.rs.gov.br/cen-

tral/tab_enquadramento/tab_ramos.asp?titulo1=

I N D U S T R I A & t i t u l o 2 =

INDUSTRIA%20MECANICA&tipo=2&grupo=C12

http://www.cetesb.sp.gov.br/Ar/ar_saude.asp

[2]American Heart Association - Air pollution cau-

ses healthy blood vessels to constrict.(2002). Dis-

ponível em http://www.americanheart.org/

presenter. jhtml?identifier=3001181.

[3]CCME. The Canadian Council of Ministers

of Environment Canada (2002). Mult i-

pol lutant Emiss ion Reduction Analys is

Foundation (MERAF) for the Iron and Steel

Sector- Final Report. Disponível em: http://

w w w . c c m e . c a / a s s e t s / p d f /

iron_steel_final_meraf_e.pdf.

[4]EPA. U. S. Environment Protection Agency (1971)

Air Pollution Aspects of the Iron Foundry

Industry, APTD-0806 (NTIS PB 204 712). Dis-

ponível em: http://www.epa .gov/ttn/chief/

ap42/ch12/final/c12s10.pdf.

Autores

[a] Perita Criminalística.

[b] Perita Criminalística.

[c] Perito Criminal.

Page 44: Revista IGP/RS nº 3

44

O Registro Permanente do Ponteiro do Velocímetro de Veículos

Automotores, após um Evento de Colisão, Utilizado como Elemento

para a Perícia

Júnior, Wilson Toresana

Seção de Engenharia Legal; Departamento de Criminalística, Instituto Geral de Perícias - SJS-RS

1. Introdução

A determinação das causas de um acidente de trânsito é

fundamental para a aplicação da justiça e em programas de pre-

venção, em razão do que é preciso que o exame pericial utilize-

se de métodos investigatórios baseados em sistemas de análise

com fundamentação científica e em seguros elementos de pro-

va de ordem técnico-material.

A perícia de acidente de trânsito fundamenta-se basica-

mente nos vestígios encontrados no pavimento, nas posições

finais adquiridas pelos veículos, na sede e localização das avari-

as decorrentes do acidente, na dinâmica do evento e ainda na

condição mecânica dos veículos.

Em alguns acidentes de trânsito, pode-se constatar que o

ponteiro indicador do velocímetro, de veículos participantes

destes eventos, permanece registrando uma determinada velo-

cidade fixa. Tal fato tem induzido a imprensa de uma forma

geral, as autoridades oficiais, os técnicos e peritos a uma avalia-

ção precipitada da real velocidade em que estes veículos desen-

volviam no momento do evento.

Este trabalho tem como objetivo discutir a utilização do

registro permanente do ponteiro do velocímetro de veículos

automotores, após um evento de colisão, como elemento para

a perícia de acidentes de trânsito, utilizando-se de exames peri-

ciais em eventos passados, da descrição técnica do funciona-

mento de um velocímetro e ainda da opinião de peritos e técni-

cos especialistas na área.

2. Funcionamento do Velocímetro e Norma

Regulamentadora

Com o mostrador situado no painel do automóvel, o ve-

locímetro indica a velocidade do veículo. Nesse instrumento,

costuma-se incluir também um hodômetro, que fornece a qui-

lometragem percorrida. Na maioria dos veículos comerciais, o

tipo de velocímetro mais usado é o magnético. O tipo mais

comum de velocímetro é dotado de um ponteiro sobre uma

escala circular ou em arco, mas às vezes o indicador é digital.

O velocímetro magnético (figura 2.1) consiste em um

imã permanente H que gira com o eixo E; junto a ele, está

como uma armadura e sobre um eixo independente, um disco

de alumínio A terminado em fórmula de campânula C , do qual

faz parte a agulha indicadora J. O eixo do disco e a agulha são

mantidos presos à tampa fixa T por uma mola fina R em espi-

ral. Ao girar o imã H induz correntes elétricas no disco A, cri-

ando um fraco campo magnético, razão pela qual o disco tende

a acompanhar a rotação do imã, mas é contido pela mola R;

quanto mais rápida for a rotação de H (ou seja, quanto maior

for a velocidade do automóvel) maior intensidade terá a força

de arrasto e maior será o desvio da agulha J, contrapondo-se à mola.

A tomada de movimento para o eixo E (figura 2.2) tem

lugar na saída do secundário S do câmbio de marchas, por meio

de uma engrenagem, quase sempre um sem-fim; por um cabo

flexível, transmite-se a rotação, proporcional à das rodas, até o

velocímetro instalado no painel de instrumentos.

No Brasil, a Norma NBR 7817, da ABNT, fixa as condi-

ções exigíveis para a aceitação e recebimento de indicadores de

medidores de velocidade (velocímetros), utilizados em veículos

Figura 2.1: Velocímetro magnético.

Page 45: Revista IGP/RS nº 3

45

rodoviários automotores.

3. Estudo de Casos

A atividade pericial em locais de acidentes de trânsito, jun-

to ao Departamento de Criminalística – Seção de Engenharia

Legal - IGP-RS, acrescentado de pesquisas técnicas, tem pro-

porcionado uma visão científica do tópico abordado, permitin-

do, desta forma, a busca de esclarecimento e convencimento,

os quais, até o momento, apontam para o descarte do registro

permanente do ponteiro do velocímetro como elemento do

exame pericial. A seguir está apresentado um caso de destaque

na mídia gaúcha, relativo ao assunto em questão.

No dia 23 de dezembro de 2002, o jornal Zero Hora es-

tampava em sua capa uma fotografia (figura 3.1) do painel de

instrumentos de um automóvel Ford-Ka, envolvido em um

acidente de trânsito em Veranópolis, resultando em 5 mortes,

onde o ponteiro do velocímetro estava parado e registrava uma

velocidade de 180 km/h.

Tal acontecimento proporcionou uma discussão: a veloci-

dade registrada e perpetuada pelo ponteiro do velocímetro do

veículo Ford-ka representaria a velocidade da colisão do auto-

móvel no acidente de trânsito em que se envolveu? Segundo a

Polícia Rodoviária Estadual, o automóvel teria perdido o con-

trole, rodando e invadindo a pista contrária, colidindo contra

um caminhão e, ainda, teria produzido 17 metros de marcas de

frenagem na pista.

Em condições ideais, i.e., pista reta, ao nível do mar e ape-

nas com o motorista, a ficha técnica fornecida pela Ford indica

que a máxima velocidade atingida pelo Ford-Ka seria de 186

Km/h, podendo apresentar, ainda, um erro de leitura na or-

dem de 10%, como previsto pela NBR7817. Considerando-se

que o veículo possuia 5 ocupantes, que o trecho do acidente

não apresentava uma reta longa e que antes da colisão o veículo

girou e produziu 17 metros de marcas de pneumáticos, pode-

mos inferir que o automóvel Ford-Ka não atingiria uma veloci-

dade próxima de 180 km/h naquela ocasião.

A pergunta que se faz, então, é por que o ponteiro do velo-

címetro registrava um valor tão elevado para a velocidade? Ana-

lisando o sistema formado por cabos e pela parte indutora, com

a violência do impacto, o ponteiro registrador poderia marcar

qualquer velocidade entre 0 e 220 Km/h, pois os danos causados

avariaram completamente o sistema, tornando-o sem eficiência.

Interessante o caso de um automóvel GM-Monza que se

chocou frontalmente contra um poste de concreto, provocan-

do avarias de grave intensidade em sua estrutura. O ponteiro

do velocímetro registrava, após a colisão, 0 Km/h. Seria esta a

velocidade no momento do impacto contra o poste? É eviden-

te a incompatibilidade encontrada, confirmando a análise anterior.

4. Discussão e Conclusão

Em acidentes de trânsito é relativamente comum, após

eventos de colisão envolvendo veículos automotores, encon-

trar o ponteiro do velocímetro trancado e registrando uma de-

terminada velocidade diferente de zero. Então, de forma preci-

pitada e sem argumentos técnicos, a primeira idéia que surge é

que aquela velocidade registrada e perpetuada seria a que o veí-

culo possuia no momento da colisão.

Em busca de opiniões de especialistas internacionais e de

referências bibliográficas a respeito do assunto, pode-se cons-

tatar que a convicção formada pelos peritos e estudiosos é, na

grande maioria, de que o registro permanente do ponteiro do

velocímetro, após uma colisão envolvendo veículos automotores,

deve ser desconsiderada, por não haver comprovação científica

da proporcionalidade existente entre a velocidade real e a regis-

trada pelo velocímetro do veículo.

5. Referências Bibliograficas

[1] M. Arias-Paz, Manual do Automóvel, p.593.

[2] Http://www.tarorigin.com, Speedometer Locked

in Position Following a Collision.

[3] Jornal Zero Hora, 23 de dezembro de 2002, p.4.

Figura 2.2: Tomada de movimento para o velocímetroFigura 3.1: O ponteiro do velocímetro do Ford-Ka trancou em 180 km/h

Page 46: Revista IGP/RS nº 3

46

[4] NBR 7817 – Indicador do Medidor de Velocida-

de (Velocímetro) e Distância (Hodômetro) de

Veículos Rodoviários Automotores.

[5] Baker, Keneth S., Traffic Collision Investigation

and Traffic Accident Reconstruction. North

Western University.

Autor

[a] Perito Criminal do Departamento de Crimi-

nalística, Equipe de Acidentes de Trânsito da Se-

ção de Engenharia Legal; Engenheiro Mecânico e

Doutor em Engenharia.

Page 47: Revista IGP/RS nº 3

47

Introdução

O presente estudo visualiza trazer novos paradigmas para

a Papiloscopia, para que, mostrando sua relevante importância

nas relações sociais e humanas, transcenda suas aplicabilidades

de identificação civil, criminal ou cadavérica, para o uso prog-

nóstico de clínica genética patológica e clínica genética poten-

cial.

A partir da década de 1960, os estudos das impressões

digitais passaram a ganhar ênfase em clínica Médica, em con-

seqüência da observação de uma série de anomalias congêni-

tas, muitas das quais determinadas por aberrações

cromossômicas, as quais estão associadas a características digi-

tais pouco usuais e o surgimento da linha simiana.

Na literatura científica, existe um grande número de estu-

dos nos quais se busca averiguar a existência de eventuais asso-

ciações entre características dermotoglíficas e anomalias, doenças,

inteligência, ou até o tipo de fibra muscular (potencial genético ou

inteligência cinestésico-corporal).

Para esse fim, buscamos uma fundamentação histórica

conceitual que correlacione o tipo de impressão digital com a

patologia, a inteligência, ou a potencialidade genética, dando

ênfase a essa última.

Contextualização histórica

Desde o aparecimento do ser humano na face da terra,

ele vem tomando conhecimento de si, suas formas, caracterís-

ticas, possibilidades e potencialidades. Segundo pesquisadores

do INI (1987) existem indícios de que, no período neolítico, os

seres humanos se apercebiam das linhas desenhadas na palma

da mão, planta do pé e ponta dos dedos. Consoante Eraldo

Rabello (2002), incontáveis vezes, o homem primitivo os terá

visto moldados em relevo nos primeiros utensílios de argila

manipulados por ele mesmo, impressos em seus instrumentos

por suas extremidades digitais tingidas com o sangue das pre-

sas abatidas, ou com corantes naturais e pigmentos de que se

utilizava para as pinturas rupestres, ou ainda, como coloca

Tavares Jr. (1991), decalcando sua mão, geralmente a esquerda,

em argila na entrada da caverna.

Na passagem da pré-história para história antiga alguns

povos se usaram do conhecimento dessas linhas papilares para

fins preditivos e adivinhatórios. (Cuminns & midlo, 1961). A

Quiromancia é uma prática que surgiu na Índia há oito (8) mil

anos. Considerada um presente de Samudra, deus do mar. De-

nominada Hast Samudrika Shastra, que significa “sabedoria da

palma”, ela atravessou vários séculos e Chegou no ocidente tra-

zido pelos povos ciganos oriundos daquele país. Todavia pes-

quisas apontam para os chineses como um dos primeiros po-

vos a apresentarem algum tipo de estudo e uso dos dermatóglifos

para fins de identificção civil ou criminal, pois como afirma

Robles (2004), em seu livro “Das Impressões Digitais nos Lo-

cais de Crime”:

“Documentos históricos mostram que as cristas papilares eram usa-

das como forma de identificação pessoal na China, a partir do ano 300

a.C. Em algumas áreas impressões digitais foram gravadas em argila,

para fins criminai. Durante a dinastia Jin (220-420 d.C) o papel e a

seda substituíram as superfícies escritas em argila e madeira. Marcas de

mãos e dedos passaram a ser gravadas com tinta.”

Desenhos Papilares e Inteligência Cinestésico-Corporal

Godoy Neto, João Baptista dea

Departamento de Identificação, Instituto-Geral de Perícias - SJS, Porto Alegre/RS

Resumo

Ao longo de sua trajetória, o homem vem se conhecendo pouco a pouco, encontrando diversas formas de se identificar ou

diferenciar dos demais quanto a sua forma, conduta ou potencial.

No extremo de seus membros, encontra um “selo natural” que está diretamente ligado à formação do seu tecido epitelial,

sistema nervoso e vascular. Os desenhos papilares estão condicionados por um mecanismo genético chamado poligênico, ou seja,

esses desenhos epiteliais são determinados pela ação integrada dos vários genes espalhados pelos diversos cromossomos de nossas

células. Esse é o indicativo de toda sua potencialidade ou possibilidade histórica passada, presente e futura.

Page 48: Revista IGP/RS nº 3

48

No século XVI, a Quiromancia foi ensinada nas faculda-

des de Medicina de Halle e Leipzig, na Alemanha. Na segunda

metade do século XVII, inicia-se o período científico da

Papiloscopia, caracterizado pela abordagem técnico-científica

de identificação através das impressões papilares, com as des-

cobertas das estruturas anatômicas das linhas papilares e de

suas propriedades fisiológicas. Alguns estudiosos, como Locard,

consideram como marco inicial, o ano de 1664, em que o

Anatomista Italiano Marcelo Malpighi, dá início ao estudo ci-

entífico dessa particularidade da Anatomia Humana, com o tra-

balho denominado “Epístola sobre o órgão externo do tato”, conje-

turando se as papilas encontradas nos ventres das mãos tinham

as mesmas funções das papilas da língua.

A prática, que passou pela Idade Média com o nome de

quirologia, chegou ao final do século XIX, por intermédio do

médico alemão Krumm-Heller, que traduziu o material de

Aristóteles para a medicina com o nome de “Tratado de

Quirologia Médica”. Heller entendia que os sinais das mãos

completavam aqueles encontrados nos exames de sangue, radi-

ografias, tecidos do corpo humano, olhos, língua, ou seja, eles

eram um depósito dessas informações. Os estudos sobre os

dermatoglifos auxiliam nos pré-diagnósticos sobre desajustes

na saúde e identifica os talentos próprios de cada pessoa,

direcionando-a conforme a sua vocação. “Os dermatoglifos

servem para que tenhamos conhecimento de nossas

potencialidades. O que a pessoa fizer no presente constrói para

o futuro, promovendo uma melhora da qualidade de vida”.

Em 1880, Henry Faulds, médico inglês que trabalhava no

Hospital Tsukiji no Japão, sugeria a Sir Charles Darwin, médico

e naturalista inglês, estudar as impressões digitais para determi-

nação da hereditariedade, explanando seu sistema de classifica-

ção e as formas de gravar as impressões digitais. Darwin, em

idade avançada e debilitada por problemas de saúde, informou-

o de que não poderia ajudá-lo, mas prometia repassar os mate-

riais que recebera para seu sobrinho, Sir Francis Galton.

O catedrático articulista, médico, antropólogo e fisiologista

inglês Sir Fancis Galton, com seus exaustivos estudos sobre os

papilogramas, influenciados pelos estudos de João Purkinje,

Willian Herschel, Henry Faulds, Charles Darwin e outros, dei-

xou um legado de vastíssima importância para a ciência da iden-

tificação humana, contudo não conseguindo sucesso quanto às

possíveis relações das impressões papilares com hereditarieda-

de, raça, inteligência, moral ou posição social.

Harold Cummins é reconhecido mundialmente como o

“Pai da Dermatoglifia”, termo este utilizado primeiramente na

42ª reunião anual da American Association of Anatomists, em

1926, para descrever o estudo científico das cristas papilares

encontradas nos dedos, nas palmas das mãos e nas plantas dos

pés, transformando assim o termo “Papiloscopia” definitiva-

mente em uma ciência médico genética e biológica, e o respon-

sável pela introdução do sistema datiloscópico no Federal Bureau

of Investigation nos Estados Unidos.

Cummins estudou praticamente todos os aspectos antro-

pológicos, genéticos e embriológicos das impressões digitais,

inclusive a mal-formação das mãos com dois (2) a sete (7) de-

dos. Baseado em trabalhos de vários antecessores, desenvolveu

várias pesquisas originais, dentre as quais se destaca o dignóstico

da Síndrome de Down, em 1936, fazendo uma ligação genética

entre esta doença e a presença da Dobra dos Símios (Simian

Crease), e o fato de possuírem apenas uma prega de flexão no

quinto dedo. A Dobra dos Símios não está associada unica-

mente à ocorrência da Síndrome de Down, mas também à

Síndrome de Aarskog ou síndrome alcoólica fetal, e ocorre a

cada 30 pessoas normais, caracterizadas apenas por uma dobra

palmar, enquanto o comum seriam duas.

Pessoas afetadas pela Síndrome de Down possuem mãos

largas e curtas, com dedos curtos e grossos, e tendem a ter

menos assimetria entre as mãos esquerda e direita e, ainda, pos-

suem praticamente apenas dois conjuntos de fórmulas

datiloscópicas: ou, com as Presilhas tendo propensão de serem

extremamente verticalizadas. São encontrados poucos casos de

Arco, Verticilo, ou Presilhas Externas na mão esquerda ou Pre-

silha Internas na mão direita. Outro fator marcante é que a

região tênar geralmente é pequena ou ausente enquanto que o

hipotênar é extremamente largo (Sarpal, 2002).

Em 1929 Cummins publicou o artigo “The Topographic

History of the Volar Pads (Walking Pads; Tastbaellen) In The

Human Embry”, onde descreve a formação e desenvolvimen-

to das cristas volares no feto humano. Em 1943, junto com

Charles Midlo, escreve “Finger Prints, Palms and Soles - An

Introduction to Dermatoglyphics”, considerada a “Bíblia da

Dermatoglifia” (Campbell, 1998), livro dedicado a Harris

Hawthorne Wilder, em sua opinião o pioneiro neste estudo,

onde afirma que “Todos os fetos desenvolvem formações de

cristas em conformidade com o plano morfológico. Há varia-

ção considerável nas relações de tempo do aparecimento e re-

gressão dessas formações” (Cummins, 1943, p. 179) e ainda

“As várias configurações das cristas papilares não são determi-

nadas através de mecanismo autolimitativo dentro da pele. A

pele possui a capacidade para formar cristas, mas seus alinha-

mentos são responsabilidade das tensões causadas pelo cresci-

mento, assim como os alinhamentos da areia se devam aos

movimentos do vento e das ondas da praia... As formações de

cristas em um feto normal localizam-se diferenciadamente, de-

pendendo de seu crescimento,, cada uma sendo responsável

pela produção de uma das Configurações locais contidas no

plano morfológico do dermatóglifo. Se uma dessas configura-

ções não desaparecer completamente antes do tempo de for-

Page 49: Revista IGP/RS nº 3

49

mação da crista, sua presença determina uma área de discreta

configuração” (Cummings, 1943, ps. 184-185).

Com base nos estudos de Cummins recentemente che-

gou-se à conclusão que:

· O Prolapso de Válvula Mitral, uma forma de doença do

coração, está associado a uma ocorrência muito alta de Arcos;

· Câncer de Peito está associado a uma alta incidência de

Verticilos;

Foram encontradas mais correlações entre as doenças de

origem genéticas, porém também foram observados relaciona-

mentos entre as impressões digitais e o Mal de Alzheimer, Tu-

berculose, Diabetes, Câncer, doenças de origem psicológicas,

tais como, esquizofrenia, mal-comportamento, autismo, depres-

são maníaca, timidez excessiva, retardamento, alcoolismo etc.

Alguns psiquiatras forenses sugerem inclusive que devem

ser assinalados em seus laudos, sempre que houver, os estigmas

físicos, dentre esses a inversão da fórmula digital (Palomba, 1992,

p. 12). Tais conclusões levaram dois pediatras, Johnson e Opitz,

em 1973, em seu famoso estudo sobre o desenvolvimento clí-

nico das crianças na cidade de Iowa, afirmarem que a análise

das impressões digitais “deveria ser uma parte da rotina dos

exames pediátricos” (Johnson & Opitz, 1973, p. 101), após ob-

servarem o forte acoplamento entre o comportamento das cri-

anças e os padrões dos datilogramas.

Johnson e Opitz dão igualmente uma visão razoável, ain-

da que simplificada, da Linha de Sydney, linha esta que tem sido

associada à leucemia infantil pela medicina. A Linha de Sydney

foi primeiramente descrita por dois australianos, Purvis-Smith

e Menser, que inicialmente acreditavam se tratar de uma ocor-

rência geográfica local e só posteriormente a associaram tam-

bém à Síndrome de Down e à ocorrência de rubéola (Sarpal,

2002).

Antropologicamente, os datilogramas têm sido usados para

determinar a origem de vários tipos de grupos, como por exem-

plo, ao determinar que os habitantes originais das Ilhas do Pa-

cífico emigraram da Ásia e não da América do Sul, conforme

os estudos de Thor Heyerdahl. Até recentemente, quando o

teste de DNA ainda não era usual, o método cientificamente

mais aceitável, para determinar se gêmeos vieram do mesmo

ovo ou não, era o teste das impressões digitais.

Ao longo dos séculos XIX, XX, e atualmente no XXI,

Venerados estudiosos da Europa e das Américas têm dedicado

largos períodos de seus tempos para pesquisas que relacionam

as impressões papilares com algum tipo de distúrbio ou poten-

cial genético. Desde o início da década de 1960, os geneticistas

verificaram padrões específicos de impressões digitais e palmares

associados a inúmeras síndromes genéticas e passaram a utilizá-

los como mais um dos recursos para diagnóstico clínico. Na

mesma época, alguns estudiosos russos também iniciaram es-

tudos relacionando às impressões digitais com os tipos de fi-

bras musculares.

Enquanto renomados estudiosos têm relacionado impres-

sões digitais com patologias genéticas, aspectos psicológicos e

tipos de inteligência, como as que visam quantificar as inteli-

gências Verbo-Linguística, Lógico-Matemático, ou ainda de in-

teligência geral, não verbal, de aplicação individual e coletiva,

como o teste psicométrico G-36. Os russos têm estudado a

relação das impressões digitais com o tipo de fibra muscular e

aptidões motoras, quantificando ou identificando a inteligência

Cinestésica-Corporal, tanto para descobertas de talentos, como

para detectar as deficiências do atleta e supri-las com um pro-

grama de treinamento adequado.

De acordo com Fernandes Filho (1997), durante muitos

anos médicos geneticistas russos realizaram centenas de biópsias

de dois músculos dos membros inferiores, o gastrocnêmio e o

vasto lateral, indicando um vínculo entre o tipo de fibra mus-

cular e o tipo de impressão digital.

Gastrocnêmio (Gêmeos), um músculo grande que dá a

panturrilha uma forma arredondada, cuja origem se dá através

dos dois tendões que partem da face posterior dos côndilos

femorais e sua inserção ocorre na superfície superior do calcâneo

de ação motor primária da flexão plantar.

Vasto-lateral que é um músculo localizado na metade in-

ferior da face externa da coxa que tem ação de motor primário

da extensão do joelho.

José Fernandes Filho, professor da Universidade Castelo

Branco (UCB), no Rio de Janeiro, aprendeu a utilizar a

Dermatoglifia no Centro de Pesquisas VNIIFK, em Moscou,

onde concluiu seu doutorado, trazendo essa técnica para o Bra-

sil na segunda metade da década de 1990. Outro pesquisador

que passou uma temporada em Moscou, na Agência Federal

dos Esportes e Cultura Física, foi João Paulo Borin, que defen-

deu sua tese de Doutorado na UNICAMP em 2002, também

trazendo para o Brasil esse método que fez dos Russos os mais

fortes competidores dos jogos olímpicos.

Contextualização científica

O termo Dermatoglifia (palavra híbrida que se origina do

latim, dermo – pele, e do grego, glyphia – gravar) é o nome técni-

co dos desenhos formados pelo alinhamento das papilas e

correspondem as linhas finas e delicadas que ocorrem nas pon-

tas dos dedos, palmas das mãos e plantas dos pés e que são

usadas para identificação civil, criminal e cadavérica. Atualmente

os desenhos papilares são utilizados em Medicina como

complementação diagnóstica de problemas de feto que tenham

ocorrido no período de formação das papilas dérmicas e das

pregas de flexão.

Page 50: Revista IGP/RS nº 3

50

Segundo a Enciclopédia Mirador Internacional, volume

oito (8), 1995, pg. 3796 à 3798, a partir do momento da con-

cepção (união do óvulo com o espermatozóide), os gametas

combinam genótipo do novo ser. Quando da passagem de

embrião para feto até o sexto mês formam-se e definem-se os

desenhos digitais. De acordo com Nikitiuk (1988), citado por

Fernandes Filho (1997), os desenhos papilares se formam no

primeiro trimestre da gestação a partir do folheto germinativo

blastogênico chamado ectoderma, do qual também são forma-

dos a epiderme, glândulas sudoríparas e o sistema nervoso em

quanto que a derme, capilares, linfa, tecidos conjuntivos e outra

organelas provem da mesênquima mesodermica, Nakano (2005).

As formações das cristas papilares estão condicionadas por um

mecanismo genético chamado poligênico; isto significa que es-

tes desenhos são determinados pela ação integrada de vários

genes, espalhados por diversos cromossomos, em nossas célu-

las; e as pregas de flexão, que são linhas mais profundamente

marcadas e correspondem ao dobramento da pele em relação a

uma articulação subjacente formam-se no último trimestre.

Papilas (Mamilas) são protuberâncias epiteliais formados

pelas terminações nervosas (como corpúsculos de Meissner),

vasos capilares, fibras colágenos e elásticas (Dângelo e Fattini,

2002), que nas extremidades dos membros como no ventre das

mãos e dos pés aumentam de tamanho, têm a finalidade de

melhorar o atrito para apreensão de objetos e locomoção. As

papilas podem apresentar-se de forma cônica, hemisférica, ci-

líndrica ou ligeiramente alargada no extremo livre com vértices

arredondados ou achatados (Moraes, 1947). São simples as que

possuem um vértice (monocúspides), e compostas as de dois

vértices (bicúspides) ou ainda com três vértices (tricúspides)

(E. Rabello, 2002). Nas palmas das mãos e plantas dos pés po-

dem atingir um tamanho de 110 a 225 milésimo de milímetros

(Tavares Jr. 1991).

A partir dos estudos de Purkije, passando por Galton

(1881), Vucetich (1891), de Henry (1897), Cuminns (1926),

Midlo (1929) e Gladkova (1946) podemos afirmar que existem

basicamente três tipos de padrões digitais: Arco (Arch em in-

glês e Duga em russo), Presilha (Loop,Petlia) e Verticilo

(Whorsh,Zavitok), sendo a forma das marcas uma característi-

ca qualitativa. José Fernandes Filho (1997), acentua que além

dos padrões, considera-se a quantidade de linhas (QL), o

somatório da quantidade total de linhas de todos os dedos

(SQTL) e calcula-se o índice de Deltas (D10), que representa a

característica quantitativa.

Segundo Beiguelman (1982), em Genética Clínica a fór-

mula datiloscópica é representada de modo diverso. Assim, não

se usa uma notação diferente para indicar os padrões do pole-

gar e dos outros dedos. Os símbolos empregados são as iniciais

das designações inglesas dadas aos padrões. Nesse idioma, o

Arco é denominado Arch, a Presilha é chamada Loop e o

Verticilo de Whorl. As Presilhas são classificadas como ulnar

ou radial.

Conforme Fernandes Filho (1997) a avaliação da intensi-

dade das marcas efetua-se, inicialmente na presença dos DEL-

TAS, e calculando-se o índice de deltas (D10), que pode ser, no

mínimo “0”, e no máximo “20”. O valor de índice de Deltas

igual à “0” (zero) aparece quando a marca digital apresenta-se

sob a forma do arco “A”, onde não há deltas. A presilha por

apresentar somente um delta pode atingir um índice de “10”

(dez), enquanto que o verticilo por apresentar dois deltas pode-

rá chegar a um índice Déltico (D10) igual à “20” (vinte). Essa

relação é bem simples e de fácil aplicação, pois quanto maior o

índice de deltas (D10), melhor a coordenação motora.

A Dermatoglifia aplicada à clínica médica observa tam-

bém as impressões palmares e plantares. Nas impressões

palmares é possível a distinsão de seis áreas de configuração, ou

seja, a área tênar, a hipotênar e a interdigitais I, II, III e IV.

Visto que a área interdigital I apresenta-se associado à área tênar,

ambas costumam ser mencionada pela maioria dos autores como

área tênar interdigital I ou área tênar I, encontramos ainda as

linhas palmares ou pregas palmares, que são as linhas maiores

na palma da mão, as chmadas linhas da vida (linha longitudi-

nal), do coração (linha medial) e da cabeça (linha distal). Nas

impressões plantares, as áreas de configurações são homólogas

às verificadas nas impressões palmares. A única diferença con-

siste em considerar a área distal da região tênar em conjunto

com a área interdigital I, a qual é designada pelo nome de área

halucal.

Segundo FERNANDES e ROQUETI (1998), o objetivo

da dermatoglifia, como um processo pedagógico para a seleção

nos esportes, é identificar o potencial genético de um indiví-

duo.

De acordo com Abramova et al. (1996), o desenho mais

simples é o arco, o intermediário é a presilha e os mais comple-

xos são os verticilos. O arco é encontrado mais raramente do

que a presilha e o verticilo sendo mais comumente verificado

nos 2º e 3º dedos; a presilha é a mais comum e apresentam-se

normalmente nos 3º e 5º dedos e o verticilo é encontrado com

um pouco mais de freqüência e tem maior incidência nos 1º e

5º dedos.

De acordo com Jose Fernandes Filho (1997), mais recen-

temente, estudos revelaram que atletas apresentam maior nú-

mero de Verticilos, quando comparados a sedentários. Em se-

dentários, o padrão predominante é o Arco. As Presilhas estão

relacionadas com maior quantidade de fibras brancas, e os

Verticilos, com as fibras vermelhas. Entretanto, é fundamental

compreender que os dermatóglifos somente podem revelar in-

formações sobre a natureza neuromuscular, e não sobre toda a

Page 51: Revista IGP/RS nº 3

51

constelação tissular necessária para o desenvolvimento de apti-

dões e performances físicas e esportivas.

Os médicos hindus descobriram que as mãos humanas

eram um microcosmo do corpo, e continham valiosas informa-

ções que permitiam orientar as pessoas no sentido de melhorar

sua qualidade de vida. Nos dias de hoje esta disciplina é obriga-

tória nas Escolas de Medicina daquele país. Da Índia se trasla-

dou para o Oriente Médio, com o nome de IL-MULL-KAFF, e

de lá para a Europa. O médico AVERROES, radicado no sul da

Espanha, elaborou um tratado de Medicina ao qual chamou de

QUANOM FIULL TIB, onde descreve extensamente esta dis-

ciplina que recebeu o nome de QUIROSCOPIA. Exame obje-

tivo que diagnostica as potencialidades do organismo tanto fí-

sicas quanto psicológicas. Os sábios da Antigüidade identifica-

ram cada talento humano com um órgão do corpo. Desta ma-

neira, quando não se usa um talento, o órgão que lhe

corresponde inicia um processo de sinalização. Exemplo: quando

fazemos algo contra a nossa vontade, um trabalho desagradá-

vel e obrigatório, tendemos a pensar que por termos ingerido

algum alimento que não caiu bem no estômago, este fez mal ao

fígado. Ledo engano! O fígado é o órgão da vontade, a qual

contrariada o atinge diretamente, e porque nosso organismo é

sábio, nos avisa.

Aplicabilidade ou relação com a inteligência cinestésico-

corporal

Os estudos de Moskatova (1998), Filin (1996), Sobral

(1988), Zakharov, (1992) mostram que a preparação de um atleta

deve começar ainda na segunda infância, com a orientação do

jovem para um grupo de modalidades às quais suas caracterís-

ticas fisiológicas e psíquicas se enquadram, evitando o desper-

dício do potencial genético.

Os processos de revelação, escolha fundamentada e

direcionamento de talentos esportivos realizados por intermé-

dio de exames fisiológicos e neuromuscular selecionados para

avaliação dos atletas devem conter um altíssimo padrão de

especificidade e cientificidade. Com certeza estes procedimen-

tos facilitariam um melhor conhecimento do atleta em questão,

contudo não permitiria que fossem conhecidas as totalidades

dos potencias genéticos do mesmo, permitiria que conhecêsse-

mos somente o quanto sua habilidades físicas ou propriedades

motoras estão desenvolvidas.

Um atleta de alto nível deve atender a todas as exigências

da modalidade com um mínimo de desvio do seu padrão, cons-

tituindo assim em uma minoria populacional, pois predisposi-

ções não podem ser criadas, mas serem inatas aos indivíduos.

As impressões digitais tornam-se um fator determinante para o

sucesso esportivo, permitindo a identificação do potencial

neuromuscular do indivíduo, logo após o seu nascimento.

Fernandes Filho (1997), diz que o modelo de Impressões

Digitais permite escolher com maior otimização a especializa-

ção no esporte em relação ao talento individual. Este pressu-

posto é um instrumento eficaz que equipes podem dispor para

conhecer antecipadamente sua performance. Através deste pro-

cedimento poderia se obter não só a maximização do rendi-

mento esportivo, mas também o correto direcionamento de

esforços, tempo e dinheiro. Desta forma e com o intuito de

vislumbrar a performance futura e adequada de atletas, verifi-

ca-se que a fase inicial deve obter a contribuição da dermatoglifia

através da obtenção das Impressões Digitais necessárias ao es-

tudo.

Para prescrever um programa de treinamento, o especia-

lista deve levar em conta os tipos de impressões digitais (Arco,

Presilha ou Verticilo) encontradas nos dez dedos para uma pri-

meira avaliação qualitativa do aluno. Em seguida contar a quan-

tidade de linhas (QL) e fazer o somatório da quantidade total

de linhas encontradas nos dez dedos (SQTL) para uma avalia-

ção quantitativa, sendo que a quantidade de linhas pode apre-

sentar uma variabilidade de zero a 200 linhas ou mais. Quanto

mais próximo do zero for à contagem de linhas, maior a apti-

dão para desenvolver força e velocidade. Caso contrário, se a

contagem das linhas dérmicas se aproximarem de 200 pode se

afirmar que este indivíduo tem um elevado potencial de resis-

tência muscular, coordenação motora e capacidade aeróbica.

As combinações dos tipos digitais podem ter varias signi-

ficações. Um indivíduo que apresenta um predomínio de presi-

lhas (P) possui mais fibras brancas (tipo IIB, rápidas ou FT).

Por isso hipertrofia os músculos e ganha força com uma certa

facilidade. Quando o indivíduo tem uma predominância de

verticilos (V), apresenta maior quantidade de fibras vermelhas

(tipo I, lenta ou ST). Pessoas que apresentam essa característica

demoram mais para ganharem força, porém apresentam boa

coordenação motora e afinidade com exercícios de longa dura-

ção ou aeróbicos. Já aqueles indivíduos que possuem grande

quantidade de arcos (A) têm força total, entretanto precisam

trabalhar muita a coordenação motora.

Segundo Fernandes Filho (1997), Guba e Tchernova rela-

tam que as complexidades das marcas indicam o prognóstico

da compleição física; Chuartz e Alekceev reportam a relação

entre a quantidade de linhas e o VO2 máx nos grupos femini-

nos, refletindo a correlação da complexidade da forma da mar-

ca das impressões digitais e a resistência física. Em 1992,

Abramova associa os princípios da dermatoglifia com as quali-

dades físicas: resistência aeróbica, velocidade, coordenação e

força em atividades cíclicas.

Abramova et al. (1995), A classificação do conjunto dos

índices dermatoglíficos e dos índices somato-funcionais entre

Page 52: Revista IGP/RS nº 3

52

remadores acadêmicos, altamente qualificados, onde a baixa

complexidade dos desenhos, ou seja, um diminuto índice Déltico

(D10), e um apequenado somatório da quantidade total de li-

nhas (SQTL) se correlacionam com o alto nível de manifesta-

ções de força e de potência. Porém, o alto nível do D10 e SQTL,

se correlaciona com o alto nível de coordenação e com uma

elevada resistência aeróbica. Os valores mínimos do D10 e SQTL

caracterizam uma necessidade de desenvolvimento da capaci-

dade de coordenação motora (ABRAMOVA; JDANOVA;

NIKITINA, 1990).

Consoante pesquisas de Abramova, (1995), o alto nível do

índice Déltico (D10), o elevado percentual de presilhas e

verticilos, uma pequena percentagem de arcos e um nível mé-

dio de SQTL, são comuns às modalidades esportivas de exten-

sas longitudes como o ciclismo de estrada, o esqui, o biatlo e o

ciclismo de velódromo (Presilhas-63,5% a 70,9%, Verticilos-

27,7% a 31,2%). Porém, em modalidades como o voleibol há

um aumento no percentual de verticilos (37,3%) e uma dimi-

nuição do percentual de presilhas (62,7%) em relação às moda-

lidades mais longas como o ciclismo de estrada.

O emprego apropriado do conhecimento antecipado das

possibilidades e tendências genéticas somadas à contribuição

de ambiente propício ao treinamento pode contribuir, embora

não de maneira única, para a determinação do talento e tam-

bém para o seu desenvolvimento (SKINNER, 2002).

Conclusão

Desta forma, podemos concluir que as Impressões Digi-

tais como marcas genéticas funcionam como indicadores de

talentos motores e que as mesmas diferenciam não só a domi-

nante funcional e o desporto, mas também uma especialização

mais refinada, de forma que, os novos modelos de utilização da

Papiloscopia ou da Dermatoglifia são de suma importância tanto

Tabela 1 - Particularidades da Dermatoglifia Digital entre os Atletas Soviéticos de Alto Rendimento Representantes de Modalidades Olímpicas (Master Desportivo de Classe

Internacional e Emérito Master Desportivo

Tabela 2 - Particularidades da Dermatoglifia Digital Entre os Atletas Brasileiros de Alto Rendimento.

Fonte: Abramova et al. (1995 citada por FERNANDES FILHO, 1997), adaptada pelo autor deste artigo.

Fonte: Dantas (2001), João (2000), Medina (2002), Dos Anjos (2002), José Fernandes Filho (1997), Silva, R. F. (2003) e Ferreira (2003c, 2003d), adaptada pelo autor deste artigo.

Page 53: Revista IGP/RS nº 3

53

para o desporto de alto nível, na descobertas de talentos, como

na busca da melhora da qualidade de vida e saúde do estudante

ou do trabalhador, onde a identificação do potencial genético,

com sua fidedigna correlação entre impressões digitais e tipos

de fibras musculares, sendo de fácil aplicabilidade e de baixo

custo financeiro, vem favorecer a elaboração de um adequado

programa de treinamento, ginástica terapêutica ou compensa-

tória laboral.

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Tabela 3 - Particularidades da Impressões Digitais Entre os Jogadores de Voleibol e Basquetebol Brasileiros de Alto Rendimento

Fonte: Fernandes Filho (1997) e adaptada pelo autor deste artigo.

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Observações

A análise das Impressões Digitais (ID) de atletas de alto

rendimento desportivo e de diferentes posições de jogo (TA-

BELAS 1, 2 e 3) mostrou a ocorrência dos índices totais das

Impressões Digitais especificamente em algumas modalidades

esportivas.

Os dados anteriormente levantados foram obtidos em

amostras da Rússia, Ucrânia, Bielorrussia e da população do

Cáucaso. As estimativas e dados coletados em nosso país viri-

am a ser material precioso sobre o assunto e teriam certamente

imediata aplicação dentro deste método.

Autor

[a] Papiloscopista - [email protected].

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55

Page 56: Revista IGP/RS nº 3

Índice

Revista do IGPAno 3 - nº 3

Janeiro de 2007

A Utilização da Análise de DNA em Desastres em Massa: Participação Brasileirana Identificação dos Corpos do Incêncio no Paraguai...........................................3

Análise da Dispersão de Resíduos de Tiro de Sub-Metralhadora e FuzilAutomático Leve Coletados Diretamente do Corpo do Atirador............................7

A Concepção Sistêmica na Definição da Causa no Acidente de Tráfego..............10

Uma Visão de Comunicação Social para a Criminalística.....................................12

Anomalias que Interferem na Identificação Datiloscópica: Sindactilia eHemimelia...............................................................................................................18

Proposta de Análise Perceptivo-Auditiva de Voz e Fala para Uso em FonéticaForense....................................................................................................................23

Avaliação dos Resultados Obtidos nos Exames Toxicológicos Realizados peloLaboratório de Perícias durante o Ano de 2005......................................................26

Avaliação dos Riscos Ocupacionais nas Rotinas do Posto de Criminalística deSanta Maria.............................................................................................................35

Estudo de Caso de Determinação de Vestígios de Poluição Atmosférica porMaterial Particulado Proveniente de Metais Utilizando Microscópio Eletrônico deVarredura.................................................................................................................39

O Registro Permanente do Ponteiro do Velocímetro de Veículos Automotores,após um Evento de Colisão, Utilizado como Elemento para a Perícia..................44

Desenhos Papilares e Inteligência Cinestésico-Corporal.......................................47

Índice