56
Ano 4 · Nº 14 · 2011 · ISSN 1980-1378 PomPéia Brasileira Ruínas de Alcântara são sinais dos ciclos de apogeu e decadência Biodiversidade: o olhar quilombola PosiÇÃo CaNGUrU Pesquisa comprova efeitos nas infecções hospitalares aBaCaXi TUriaÇU Estudos devem tornar o fruto, genuinamente maranhense, mais competitivo

Revista Inovação Ed. 14

Embed Size (px)

DESCRIPTION

BIODIVERSIDADE O OLHAR QUILOMBOLA

Citation preview

Page 1: Revista Inovação Ed. 14

Ano 4 · Nº 14 · 2011 · ISSN 1980-1378

PomPéia BrasileiraRuínas de Alcântara

são sinais dos ciclos de apogeu e decadência

Biodiversidade: o olhar quilombola

PosiÇÃo CaNGUrUPesquisa comprova efeitos nas

infecções hospitalares

aBaCaXi TUriaÇUEstudos devem tornar o fruto,

genuinamente maranhense, mais competitivo

Page 2: Revista Inovação Ed. 14

2 Revista Inovação nº 14 / 2011

Cada vez mais, o Maranhão destaca-se na área de inovação tecnológica e científica. Para impulsionar esse avanço, o Governo do Estado e a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FaPema) criaram o PaTroNaGe, um sistema de administração de bolsas e auxílios.

O PaTroNaGe é um instrumento indispensável para facilitar a gestão de informação e apoio logístico aos pesquisadores. O acesso foi aprimorado e agora está muito mais fácil, inclusive para estrangeiros.

• Pedido e acompanhamento de solicitaçãode bolsa ou auxílio;• Gerenciamento de avaliação;• Cadastro de consultores ad-hoc eavaliação de proposta on-line;• Relatório parcial e final do projeto;• Solicitação de Renovação de Bolsa.

Vantagens do novo PATRONAGE:

www.fapema.br/patronage

Page 3: Revista Inovação Ed. 14

SUMÁRIO

050608141620263438424650

Editorial

Editais

PompéiaBrasileira

Biodiesel Congelado

Uma nova cura

Desvendando a mente psicopata

Biodiversidade: o olhar quilombola

Planta do Bem

Carrapatos

Um futuro mais interativo

O doce sabor de Turiaçu

Sim, nós temos ciência e tecnologia

Page 4: Revista Inovação Ed. 14

Ensaios

Inovação e tecnologia é fundamental para o

crescimento da sua indústria

Serviços Laboratoriais: Ensaio e/ou teste de desempenho para qualificar produtos e processos, preferencialmente fundamentado em normas técnicas ou procedimentos sistematizados nas áreas da construção civil, cerâmica, metalmecânica, alimentos e água.

Assessoria e Consultoria em Processo Produtivo: Diagnóstico, orientação e assessoria técnica, voltadas à implantação, otimização e melhoria de processos e produtos de forma customizada, nas áreas de Meio Ambiente, Alimentos, Energia, Logística, Mecânica e Vestuário .

Assessoria e Consultoria em Meio Ambiente: Diagnóstico, orientação e solução de problemas na área de saneamento e meio ambiente, tais como: apoio na utilização racional de recursos naturais ( e no uso de “tecnologias de produção mais limpa”, tratamento de efluentes, implantação de sistemas de gestão ambiental e soluções no que tange ao passivo ambiental.

Para utilizar os nossos serviços e encontrar a melhor solução para sua indústria, solicite-nos uma visita pelo telefone (98) 2109-1872 ou site: www.fiema.org.br.

legislação e gestão de resíduos)

CONHEÇA OS SERVIÇOS TÉCNICOS TECNOLÓGICOS DO SENAI:

Page 5: Revista Inovação Ed. 14

Governadora do Estado do MaranhãoRoseana Sarney Murad

Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Desenvolvimento TecnológicoOlga Maria Lenza Simão

Diretora-Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do MaranhãoRosane Nassar Meireles Guerra

Diretora Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do MaranhãoRita de Maria Seabra Nogueira de Candanedo Guerra

Diretora Administrativo-Financeira da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do MaranhãoStael Chaves Pereira

Coordenadora do Núcleo de Difusão Científica (NDC)Nathalia Ramos

EditorRomulo Gomes

RedaçãoElizete Silva, Ivandro Coêlho, Juliana Mendes, Patrícia Liana, Priscila Cardoso, Romulo Gomes, Tatiana Salles e Venilson Gusmão

Revisão Romulo Gomes e Gabriela Moreira

ArtePatrícia Régia e Motta Junior

FotosBreno Farhat, Camila Chaves, Edgar Rocha, Gabriela Rodrigues, Gustavo Baxter, Juliana Mendes, Márcio Vasconcelos e Priscila Cardoso

Fale [email protected].: (98) 2109-1433 / 1435

FAPEMAAvenida Beira Mar, nº 342 - CentroSão Luís-MA - CEP: 65010-070 Tel: (98) 2109-1400 / Fax: (98) 2109-1411

E X P E D I E N T E

E D I T O R I A L

A busca pelo progresso, nos últimos séculos, cus-tou o sacrifício de nossas riquezas naturais. Na ten-tativa de um desenvolvimento a qualquer preço, foi deixado de lado o equilíbrio entre os interesses dos homens e a conservação de recursos tão necessários à vida humana. Mas, em pequenos nichos, podemos encontrar populações que garantem seu sustento pre-servando o ambiente à sua volta.

É o que vamos mostrar com a reportagem de capa desta edição, realidade em duas comunidades quilom-bolas. A pesquisadora Gabriela Rodrigues embrenhou-se nos povoados São Sebastião dos Pretos e Catucá, no município maranhense de Bacabal, para investigar como os moradores se relacionam com a biodiversida-de. O resultado é surpreendente!

Na escolha das pesquisas para a revista Inovação da Fapema, procuramos contemplar diferentes cam-pos do conhecimento. Você poderá fazer um passeio pelos ciclos de Alcântara, que foi apelidada, em razão do seu conjunto de ruínas, de Pompéia Brasileira. Des-tacamos, também, informações para tornar mais com-petitivo o abacaxi “Turiaçu”, fruto genuinamente ma-ranhense, famoso por seu sabor doce e cheiro forte.

Fruto de pesquisas realizadas por maranhenses, sa-íram, ainda, novidades para o combate à infecção hos-pitalar de bebês prematuros. A solução? Colo de mãe. A posição canguru, usada para aquecer e controlar a frequência cardíaca, também ajuda a descolonizar bactérias em crianças internadas em UTIs. Das plantas que fazem bem, trazemos resultados quanto aos efei-tos do jambolão, conhecido também como azeitona preta, no combate à obesidade.

Você completa a leitura com uma reportagem so-bre as propriedades físico-químicas no biodiesel que congela a baixas temperaturas, e sobre uma inovação tecnológica para destravar a interatividade da TV digi-tal. Por fim, a investigação de fitoterápicos para com-bater carrapatos.

Esta edição começa com uma entrevista sobre Pompéia Brasileira. Aproveite. Boa leitura!

Ano 4 · Nº 14 · 2011 · ISSN 1980-1378

PomPéia BrasileiraRuínas de Alcântara

são sinais dos ciclos de

apogeu e decadência

Biodiversidade: o olhar quilombola

PosiÇÃo CaNGUrUPesquisa comprova efeitos nas

infecções hospitalares

aBaCaXi TUriaÇUEstudos devem tornar o fruto,

genuinamente maranhense,

mais competitivo

Page 6: Revista Inovação Ed. 14

6 Revista Inovação nº 14 / 2011

A Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desen-volvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e a Secretaria da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Desenvolvimento Tecnológico do Maranhão (SECTEC) encabeçam as ações da Se-mana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) no Estado. O tema deste ano é “Mudanças climáticas, desastres naturais e prevenção de riscos”. As ativi-dades acontecerão entre os dias 17 e 23 de outubro, no estacionamento do São Luís Shopping.

Sucesso de público em sua primeira edição, a SNCT no Maranhão já se consolidou como um dos grandes eventos científicos e tecnológicos do Brasil, sendo transmitido até pela Globo News. O evento agrega não só a pesquisa e o conhecimento, mas também faz com que a sociedade discuta e reflita sobre as estratégias de se prevenir riscos e garantir seu bem estar.

EDIT IS

Durante sua vida, você já plantou uma árvore, teve um filho e escre-veu um livro? Se das três alternati-vas a última foi a que apresentou resposta negativa, tem a chance de tornar realidade com apoio da FAPEMA. Por meio do Programa de Apoio à Publicação de Artigos (APUB), a fundação pretende difun-dir a produção científica e tecnoló-gica, em revistas, livros, catálogos e editoração eletrônica técnico-científicas.

O edital já beneficiou vários pes-quisadores maranhenses que apre-sentaram propostas para obtenção de apoio financeiro.

Programa de Apoio à Publicação de Artigos - APUB

O Prêmio Fapema é a maior premiação cientí-fica do Norte/Nordeste e tem por objetivo reco-nhecer o talento dos pesquisadores maranhenses e estimular a divulgação científica, tecnológica e de inovação maranhense. A premiação é realizada anualmente pelo Governo do Estado, por meio da FAPEMA. Neste ano, a premiação chega à sétima edição, com o tema “São Luís 400 anos: Revisitan-do o Passado e Construindo o Futuro”.

O edital tem duas novidades: a categoria Em-presa Inovadora e outra modalidade de Divulga-ção Científica, Vídeo/Filme, que, obrigatoriamen-te, deverá ser baseado na temática.

A premiação é destinada a estudantes do en-sino fundamental, técnico, médio, da graduação, pesquisadores mestres e doutores, profissionais da comunicação social, inventores locais e pesso-as que tenham contribuído para preservação dos bens imateriais e “saberes populares”.

O prêmio deste ano está dividido em nove categorias: Pesquisador Júnior, Jovem Cientista, Dissertação Mestrado, Tese de Doutorado, Pesqui-sador Sênior, Divulgação Científica, Inovação Tec-nológica, Desenvolvimento Humano e Empresa Inovadora.

Page 7: Revista Inovação Ed. 14
Page 8: Revista Inovação Ed. 14

EN

TRE

VIS

TA PomPéia BRASILEIRA

Urbanista encontra nas ruínas de Alcântara sinais para entender os movimentos da cidade nos ciclos de apogeu e decadência

Por Romulo Gomes

8 Revista Inovação nº 14 / 2011

Page 9: Revista Inovação Ed. 14

Már

cio V

asco

ncel

os

Na expedição ao Maranhão para tratar da peste, em 1905, os médicos sani-

taristas Adolfo Lindemberg e Vic-tor Godinho conheceram a rua da Amargura, em Alcântara, que os fez lembrar algo já visto no sul da Itália: a cidade de Pompéia, devastada pelas lavas do vulcão Vesúvio. A típica ci-dade romana havia sido totalmente encoberta, no ano 79 d.C, e a po-pulação soterrada. Dezoito séculos depois, um agricultor encontrou fragmentos de muro, que serviu de ponto de partida para o trabalho de arqueólogos. Nas escavações, foram encontradas casas, prédios públicos e teatros, semelhantes às ruínas da his-tórica cidade maranhense.

Mas diferente do lugar que lhe rendeu a alcunha de Pompéia Brasi-leira, conferida pelos médicos viajan-

tes, Alcântara não sofreu devastação natural; o cataclismo que atingiu a antiga sede da aristocracia rural do Maranhão foi econômico. Mais um arruinamento, em uma história regida por ciclos de apogeu e deca-dência. As marcas deixadas no tecido urbano alcantarense por essas trans-formações foram estudadas pela pes-quisadora Grete Soares Pflueger, do Departamento de Arquitetura e Ur-banismo, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), que buscava entender o fenômeno da morte das cidades. A pesquisa foi financiada pela FAPEMA, por meio do edital Universal.

Os primeiros a ver o arruinamen-to naquelas terras foram os índios tupinambás, da então aldeia Tapui-tapera, exterminada pelos portugue-ses. Nesse espaço, os colonizadores

Page 10: Revista Inovação Ed. 14

10 Revista Inovação nº 14 / 2011

Már

cio V

asco

ncel

os

Page 11: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 11

ergueram a próspera Alcântara, sustentada pelos saldos do algo-dão e, mais tarde, pela industria-lização. Entre os anos de 1770 e 1809, a cidade era o centro da aristocracia rural agroexportadora e mantinha fortes relações com a capital da metrópole, Lisboa. “Al-cântara serve para compreender os movimentos dinâmicos que têm as cidades, de conexão e descone-xão das redes locais e globais, que são teorias bem contemporâneas do urbanismo. Esses diferentes ritmos cronológicos, econômicos, urbanos, temporais fazem a dinâ-mica das cidades”, pontua Grete Pflueger.

No período de apogeu, o tra-çado urbano ganhou tons sofisti-cados. As construções seguiam a estrutura de uma aldeia religiosa, com casarões levantados em torno dos conventos do Carmo e Mer-cês e da Igreja Matriz. “Na praça central, há um conjunto de arqui-tetura barroca de suma importân-cia para o Estado”, afirma a pes-quisadora, ressaltando, também, a presença do estilo do Marquês de Pombal, o mesmo usado no plano de reconstrução de Lisboa, após o terremoto de 1775. O alçado pombalino pode ser encontrado em edificações de Alcântara e de São Luís.

Os sobrados desse período têm cinco portas, cinco janelas e reves-timento de azulejos. “O conjunto urbano do final do século XVIII possui requinte de acabamento. Mas no século XIX, com a deca-dência econômica, houve um pro-cesso sistemático de arruinamento dos sobrados”, explica. A rua Bela Vista, construída de frente para o mar, passou a ser chamada de rua da Amargura, uma referência em-blemática ao declínio da cidade.

“Alcântara é conhecida ora como monumento, ora como ci-dade em ruínas, pelo conjunto ex-pressivo das ruínas que tem den-tro da malha urbana. São ruínas de alto porte, como da Matriz e do Palácio Negro”, observa Grete Pflueger. Existem diversas classifi-cações para as ruínas. As de Alcân-tara são chamadas de “augustas”, com destaque aos palácios cons-truídos para receber o imperador Dom Pedro II, que nunca chegou a visitá-la.

Novos aPoGeUs, Novos deClíNios

Em quase metade do século passado, da década de 1940 à de 1970, Alcântara foi considerada uma cidade morta, um fenômeno urbano especial, de acordo com Grete Pflueguer. Esse fato pode-ria ter sido amenizado em 1948, quando a cidade foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Mas na década seguinte foi instala-do um presídio de segurança máxi-ma. “A cidade realmente não ficou morta, mas decadente e isolada. Alcântara foi excluída das políticas públicas, urbanas e econômicas”, enfatizou a pesquisadora.

A construção do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) representou o início do novo pe-ríodo de transformações. A cidade reabriu o diálogo entre o local e o global, em um processo delicado. “Alcântara tem uma comunidade que ficou decadente e, de certo modo, despreparada. Recebeu um empreendimento de grande porte, que poderia trazer uma grande es-perança de alavancar a economia do Estado. No entanto, há um descompasso”, frisa Grete Pflueger.

Page 12: Revista Inovação Ed. 14

12 Revista Inovação nº 14 / 2011

A pesquisadora chegou à conclusão de que os diferentes períodos de apogeu não conseguiram elevar a economia de Alcân-tara. Para além das ruínas históricas, está em expansão uma cidade informal, com traços de favelas, ocupação de encostas e manguezais. Para a construção do CLA, foram necessários 52% do terrítório.

As cidades mortas ou aquelas que pa-raram de crescer, a exemplo de Alcântara, estão no centro do debate contemporâneo do urbanismo, dando base para se pensar nos problemas das cidades. É um “estudo do urbanismo às avessas”, como classifica a pesquisadora, servindo às discussões so-bre planejamento urbano em geral. “Em Alcântara configuram-se várias Alcântaras: a histórica, na perspectiva do mundo co-lonial; e global, na perspectiva da base”.

Már

cio V

asco

ncel

osM

árcio

Vas

conc

elos

Page 13: Revista Inovação Ed. 14

Esses debates ficam a cargo de historiadores e agora com o novo olhar do urbanismo. Aos poe-tas, o jeito morto da cidade inspira.

Por isso não é certo dizer (...) (...) que melhor se vê uma cidade quando – como Alcântara todos os habitantes se foram e nada resta deles (sequer um espelho de aparador num daqueles aposentos sem teto) – se não entre as ruínas a persistente certeza de que naquele chão onde agora crescem carrapichos eles efetivamente dançaram (e quase se ouvem vozes e gargalhadas que se acendem e apagam nas dobras da brisa) Mas se é espantoso pensar como tanta coisa sumiu, tantos guarda-roupas e camas e mucamas tantas e tantas saias, anáguas, sapatos dos mais variados modelos arrastados pelo ar junto com as nuvens, a isso responde a manhã que com suas muitas e azuis velocidades segue em frente alegre e sem memória

(Ferreira Goulart, Poema Sujo – um fragmento: “Velocidades”)

Revista Inovação nº 14 / 2011 13

Már

cio V

asco

ncel

os

Pesquisa apoiada

pelo edital

Universal/FAPEMA

010/2009,

APP: 1077/09

Page 14: Revista Inovação Ed. 14

14 Revista Inovação nº 14 / 2011

BIODIESEL CONGELADO

Pesquisadores buscam solução para a maior deficiência do combustível limpo: o congelamento em baixas temperaturas

Por Tatiana Salles

No século XXI, o que a ambição do homem mais busca é a mágica

de construir o desenvolvimen-to sem agredir o meio ambiente. Depois de muito destruir, come-çou a descobrir a importância de preservar. Foi com essa proposta que surgiu o biodiesel, energia ecologicamente correta, porque polui menos. Só que esse biocom-bustível tem um grande desafio a ser superado: o congelamento a baixas temperaturas. Os pesquisa-dores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Adenilson dos Santos e Marta Célia Dantas Silva querem entender o processo de cristalização dos biocombustí-veis, para criar uma forma de ini-bir o congelamento.

Em regiões mais frias, como no sul do Brasil, ficaria inviável utilizá-lo. “O biodiesel cristaliza

quando chega à temperatura de 5ºC, formando aglomerados que restringem ou impedem o fluxo livre dos combustíveis nas tu-bulações e filtros dos veículos e, assim, prejudica o motor. Nossa pesquisa busca descobrir aditivos que inibam essa cristalização”, ex-plicou Adenilson dos Santos.

Para isso, o primeiro passo é entender quais propriedades en-contradas no biocombustível são passíveis de congelamento. O maior desafio dos pesquisadores é melhorar o fluxo a baixas tem-peraturas, para que o produto seja utilizado como combustível al-ternativo ao diesel convencional. “Um biodiesel que hoje se usa no Maranhão poderá, futuramente, ser usado na Europa”, aponta o pesquisador.

Já se sabe que o biodiesel tem a temperatura de cristalização variá-

vel, de acordo com a matéria-prima utilizada. Por exemplo, a mamona cristaliza em temperatura mais alta do que a soja; já o babaçu, em tem-peratura mais baixa do que a soja. 

Nos postos de combustíveis, o biodiesel é encontrado mistura-do com o diesel de petróleo, mas somente na concentração de 3%. Os pesquisadores esperam que esse percentual aumente, até que se chegue a um combustível puro.

Outro detalhe que agrega va-lor à pesquisa do biodiesel é a in-clusão social dos pequenos produ-tores de  mamona, soja, girassol e outras oleagenosas,    pela geração de emprego e renda, que movi-menta a economia local. O maior benefício, entretanto, é ambiental. “Temos um combustível menos poluente, ecologicamente correto, fruto de uma energia limpa”, enu-mera Adenilson dos Santos.

Page 15: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 15

A pesquisa recebe financiamen-to da Fundação de Amparo à Pes-quisa e ao Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e do Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex). Esse fi-nanciamento deu condições para aquisição do “Difratômetro de raio X de baixa temperatura”, equipa-mento importante para o estudo.

O projeto coordenado pelo doutor em Física, pela Universi-dade de Campinas (Unicamp), Adenilson  dos Santos, em parce-ria com a professora Maria Célia Dantas, doutora em Química pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), conta com colaboração de alunos das duas universidades e de instituições da Paraíba e São Paulo.

o qUe é Biodiesel?O biodiesel é um combustível

biodegradável, derivado de fontes renováveis, podendo ser obtido em diferentes processos, como o craqueamento, a esterificação ou pela transerterificação.

A lei nº 11.097, de 13 de janei-ro de 2005, define biodiesel como um biocombustível derivado de biomassa renovável, para uso em motores de combustão interna com ignição por compressão ou, conforme regulamento, para ge-ração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou to-talmente combustíveis de origem fóssil.

“O combustível fóssil, um dia, acaba. Por isso, as pesquisas são importantes; para descobrir al-ternativas nesse sentido”, disse o pesquisador.

O biodiesel    pode ser produ-zido a partir de gorduras animais ou de óleos vegetais, existentes em muitas espécies no Brasil, como a mamona, dendê, girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e soja. 

A expectativa dos pesquisa-dores é que futuramente outros vegetais sejam utilizados, como a castanha do Pará, pequi e pum-punha.

O Biodiesel substitui total ou parcialmente o óleo diesel de petróleo em motores ciclodiesel automotivos (de caminhões, tra-tores, camionetas, automóveis etc) ou estacionários (geradores de eletricidade, calor etc).

Pesquisa apoiada

pelo Edital

PRONEX/FAPEMA/

CNPq 006/2009,

sob o protocolo:

1237/09

Page 16: Revista Inovação Ed. 14

16 Revista Inovação nº 14 / 2011

Hugo Gabriel nasceu três meses antes do previs-to, pesando 930g – bem abaixo dos 3,5kg ideais

para um menino recém-nascido. O bebê é fruto de um procedimento de fertiliza-ção, que deu à mamãe Janayna Arruda outros dois filhos na mesma gestação.

O nascimento conturbado não permitiu que os bebês fossem imedia-tamente para casa desfrutar o carinho dos familiares e o aconchego do lar. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal foi o local onde Janayna viveu os momentos iniciais da maternidade de primeira viagem.

A fragilidade de recém-nascidos como Hugo Gabriel inspira muitos cui-dados. Uma das medidas adotadas pelas maternidades brasileiras, ainda dentro das UTIs, para agilizar a recuperação desses bebês, é a Posição Canguru, tera-pia alternativa que surgiu na Colômbia, na década de 70, como método subs-titutivo da tecnologia de incubadoras, que existiam em número insuficiente.

O que, no início, servia apenas para estabilizar a temperatura do corpo trans-formou-se em ferramenta para oferecer uma série de benefícios ao bebê. “A Posi-ção Canguru simula o ambiente intrau-terino e isso é muito importante para o

Além de estabilizar a temperatura, a frequência cardíaca e a oxigenação do bebê, a Posição Canguru, agora, possui um benefício muito mais nobre: curar infecções hospitalares. A descoberta é fruto de pesquisas realizadas no Hospital Universitário Materno Infantil de São Luís.Por Priscila Cardoso

UMA NOVA Cura

Page 17: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 17

Edga

r Roc

ha

Page 18: Revista Inovação Ed. 14

desenvolvimento afetivo, neuro-lógico e cognitivo do bebê. Eles atingem uma profundidade de sono muito maior quando estão na posição, o que contribui, inclusive, com o desenvolvimento cerebral, por meio da formação de sinapses neurônais”, explica o pesquisador Fernando Lamy Filho.

a desCoBerTa

Fernando Lamy Filho é es-pecialista em Neonatologia. Há dez anos, durantes alguns surtos de infecção na UTI Neonatal do Hospital Universitário Materno Infantil de São Luís, percebeu que aqueles bebês cujas mães cos-tumavam colocá-los na Posição Canguru se descolonizaram das

bactérias com muito mais facili-dade. “Observando isso, resolve-mos sistematizar a pesquisa e ob-tivemos o seguinte resultado: no grupo de bebês infectados, 50% dos submetidos à Posição Can-guru foram descolonizados sem a ajuda de medicamentos. Do ou-tro grupo, que não foi submetido à posição, apenas 20% se desco-lonizaram sem o auxílio de remé-dios. Esta é uma pesquisa inédita em todo o mundo; não existe essa informação nos anais da ciência”, comemora.

Isso se dá porque as bactérias comunitárias existentes na pele da mãe, apesar de menos nocivas, são mais resistentes que as bacté-rias hospitalares. Dessa forma, em contato com a mãe, o bebê au-menta suas defesas.

“Outra justificativa importan-te para a realização deste trabalho é que, normalmente, o processo de descolonização é feito com antibióticos e antissépticos mui-to fortes, o que, embora não seja imediatamente prejudicial ao bebê, inclui certos riscos, como, por exemplo, o de o germe criar ainda mais resistências ao antibi-ótico”, argumenta o pediatra, que também é mestre e doutor em Saúde da Criança e da Mulher, pela Fiocruz (RJ).

Antes, os bebês infectados com bactérias hospitalares eram privados da aproximação com a mãe. Agora, o contato pele a pele, comprovadamente, ajuda a fazer com que essas crianças se recu-perem mais depressa e de forma natural. “Não tivemos problema

18 Revista Inovação nº 14 / 2011

Page 19: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 19

algum de segurança quanto a isso. Nenhum bebê passou mal, ne-nhum teve alteração de frequência cardíaca ou de oxigenação. Medi-mos tudo isso durante o trabalho e não tivemos que interrompê-lo em momento algum”, ressalta Fernando Lamy, sobre pesquisa apoiada pela Fundação de Am-paro à Pesquisa e ao Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA).

méTodo CaNGUrU

A Posição Canguru é um dos eixos em que se apoia o Método Canguru, uma política pública do governo brasileiro para humaniza-ção da saúde, que prioriza, além do contato entre mãe e bebê, a ama-mentação e a realização de algumas práticas, para que o tempo de inter-nação do recém-nascido seja o me-nos traumático possível. Uma das

principais razões do método é esti-mular o envolvimento afetivo entre o bebê e a família. “Quando o bebê acaba de nascer e fica isolado da fa-mília, ocorre uma separação muito grande, não só física, como afetiva. Esse contato, então, é fundamental para que a mãe identifique aquela criança como sua e, depois de me-ses dentro da UTI, ela vá para casa como um ser que já faz parte da fa-mília”, justifica o pesquisador.

Pesquisa apoiada pelo

Edital Universal/

FAPEMA 04/2010,

sob o protocolo

1087/2010

Page 20: Revista Inovação Ed. 14

20 Revista Inovação nº 14 / 2011

EN

TRE

VIS

TAE

NTR

EV

ISTA

Desvendando a mente

psicopataA mente criminosa tem sido objeto de estudos médicos e

biológicos há muitos anos.

Nesta entrevista, psicóloga maranhense fala sobre pesquisas

recentes que têm o transtorno da psicopatia como tema.

Crimes sempre chocam a sociedade e a cada nova ocorrência que vem à público, perguntas como “por que ele agiu assim?” e “em que ele esta-va pensando quando fez isso?” são repetidas à

exaustão. Mas essas e outras dúvidas não rondam só a nossa mente. A ciência também quer encontrar respostas para elas e há anos estuda quem é e porque age o criminoso.

No século XIX, o criminalista italiano Cesare Lom-broso (1835-1909) tentou identificar criminosos apenas pela configuração de seu crânio ou de suas feições faciais. Para ele, o crime era decorrente de um atavismo, uma volta de tendências primitivas que os seres humanos “normais” teriam superado ao longo da evolução, estando, assim, os criminosos mais próximos dos animais do que o restante da humanidade, e evidenciariam isso através de determinados traços físicos. Anos mais tarde, os nazistas usaram as teorias de Lombroso para mandar pessoas com determinadas medi-das cranianas para campos de concentração.

Hoje, já se sabe que aparência física não tem, neces-sariamente, ligação com o crime, mas a ciência não desistiu de estudar a mente criminosa. Na contemporaneidade, os estudos científicos modernos têm se concentrado no estudo do indivíduo popularmente conhecido como psicopata. A psicóloga Francisca Morais da Silveira*, doutora em Teoria e Pesquisa do Comportamento, falou à Inovação Fapema sobre o tema:

inovação Fapema: Há muita confusão entre os termos sociopatia e psicopatia, sendo que este último é mais fa-miliar ao público. São sinônimos ou se referem a distúrbios diferentes?

Francisca morais da silveira: Psicopatia refere-se a um transtorno caracterizado por atos anti-sociais contínuos e principalmente por uma inabilidade de seguir normas sociais em muitos aspectos do desenvolvimento da adolescência e da vida adulta. Pessoas identificadas com este transtorno não apresentam quaisquer sinais de anormalidade mental (alucinações, delírios, ansiedade excessiva, dentre outras), o que dificulta sensivelmente o diagnóstico. Teóricos do comportamento relatam em seus artigos científicos que a psicopatia e a sociopatia são denominadas como transtorno de personalidade anti-social (TPA). Os termos psicopata, sociopata, anti-social, transtornos de conduta, delinquên-cia, borderline e muitos outros congêneres, juntamente com conceitos tais como Personalidade Criminosa, Personalida-de Psicopática e Propensão ao Delito, estão atualmente sendo revisados por pesquisadores e, particularmente, pela Psiquiatria Forense.

Por Patrícia Liana

Page 21: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 21

A psicóloga Francisca Morais da Silveira, doutora em Teoria e Pesquisa do Comportamento

i. F.: Nos últimos anos, a figura do psicopata parece ter ga-nhado destaque, fazendo com que até o cidadão comum saiba, ainda que minimamente, a que o termo se refere. Es-tudos sobre o tema também estão proliferando. Como expli-car esse interesse?

F.m.s.: Essa área de estudo tem chamado atenção de psi-cólogos, sociólogos e antropólogos, devido à maior atenção da mídia às ocorrências violentas na sociedade. Considero que a grande atenção dada ao psicopata, atualmente, tem relação com dois aspectos. Primeiramente, devido ao desen-volvimento das pesquisas sobre as bases neurobiológicas do funcionamento do cérebro em geral e da personalidade, e, como segundo aspecto, o enorme potencial de destrutivida-de de alguns psicopatas, caso tenham acesso aos instrumen-tos que a tecnologia e a ciência disponibilizam.

i. F.: A palavra psicopata é usada de maneira bem genérica pela sociedade para descrever comportamentos que consi-dera “inadequados” ou “doentios”, mas o que realmente caracteriza o indivíduo portador desse distúrbio?

F.m.s.: Psicopatas normalmente apresentam uma inteli-gência média e alguns são muito inteligentes. Demons-tram boa verbalização, sendo convincentes nas suas argumentações. Alguns podem ter alterações no lobo frontal [a parte do cérebro que controla o relaciona-mento com as pessoas] e nos circuitos que controlam as emoções. Estas alterações fazem com que sejam agressi-vos, irritadiços, estabeleçam relações muito perturbadas, possuam ausência de empatia, ausência de remorso e culpa, apresentem promiscuidade sexual, impulsividade, irresponsabilidade, incapacidade de se responsabilizar por suas ações, mintam e manipulem com facilidade, apresentando um desembaraço e certo charme superfi-cial em suas conquistas.

i. F.: A psicopatia tem uma idade certa para se manifestar?

F.m.s.: O Transtorno de Personalidade Anti-social (TPA) apresenta como características um transtorno de nature-za crônica, que começa com um transtorno de conduta, em torno dos 15 anos de idade, e consolida-se como TPA aos 18 anos. É mais comum em homens do que em mulheres, apresentando componentes genéticos, familia-res, neurológicos e sociais.

i. F.: Se a psicopatia é um distúrbio de natureza crônica, a Psicologia tem meios de ao menos amenizar os sinto-mas?

F.m.s.: Não há um tratamento terapêutico especifico de sucesso para os portadores de transtornos de personali-dade anti-social. Na análise experimental do comporta-mento, trabalha-se com a descrição das contingências e a modificação dos padrões comportamentais. Isso requer a alteração dessas contingências, que devem ser substi-tuídas por outras mais adequadas. O psicólogo identifica as contingências atuais que operam na vida do paciente e reconhece sua funcionalidade, conforme o condiciona-mento do indivíduo. Podem surgir possíveis mudanças na configuração das contingências atuais e, dessa for-ma, cabe ao psicólogo estabelecer contingências que possam controlar os comportamentos do paciente. O objetivo nesse ponto é alcançar mudanças no repertó-rio comportamental na direção desejada pelo paciente e pelo psicólogo/terapeuta. O paciente tanto pode ter seu comportamento controlado por regras (descritas pelo terapeuta), como por consequências naturais pro-

Page 22: Revista Inovação Ed. 14

EN

TRE

VIS

TA

“Psicopatia refere-se a um transtorno caracterizado por atos anti-sociais contínuos e

principalmente por uma inabilidade de seguir normas sociais em muitos

aspectos do desenvolvimento da adolescência e da vida adulta.”

duzidas pelo seu comportamento em ambientes naturais. A ideia é que durante o processo terapêutico o cliente tenha condições de descrever as contingências que controlam seu comportamento e de reorganizar essas contingências, de forma a diminuir o controle aversivo a que vem responden-do e passe a apresentar um repertório comportamental sob controle de reforçadores positivos. É importante destacar que seria quase impossível para o portador de TPA alcançar os objetivos da terapia comportamental. Para isso, ele teria que acreditar e querer fazer modificações em seus padrões comportamentais, para alteração das contingências atuais que fazem parte de sua vida, substituindo-as.

i. F.: Você pode nos citar algumas pesquisas de destaque nessa área?

F.m.s.: Posso citar o neurologista carioca Ricardo de Olivei-ra Sousa, que realizou ressonância magnética em 279 pes-soas com distúrbios neuropsiquiátricos. Ele concluiu que o cérebro de alguns indivíduos responde de forma diferente de uma pessoa normal, quando levado a fazer julgamentos mo-rais, que envolvem emoções sociais, como arrependimento, culpa e compaixão. Diferente das emoções primárias, como o medo, que dividimos com os animais, as emoções so-ciais são mais sofisticadas, exclusivas dos humanos - têm a ver com nossa interação com os outros. Os resultados preliminares do estudo deste pesquisador sugerem que os

psicopatas têm muito pouca pena ou culpa, dois alicerces da capacidade de cooperação humana. Mas sentem desprezo e desejo de vingança. Em 2004, em uma conferência reali-zada no Rio de Janeiro, Oliveira compartilhou com colegas do mundo todo os resultados preliminares de seus estudos sobre o mapeamento das emoções no cérebro, realizado em parceria com o neurorradiologista Jorge Moll Neto. O trabalho foi inédito. Oliveira também apresentou o conceito de ‘psicopata comunitário’, aquele indivíduo que pode não ser um serial killer, mas causa estrago por onde passa. Ele destaca nessa categoria tipos como o individuo golpista; o sujeito que não tem emprego e vive de trapaças; aquele que cultiva amizades por interesse e descarta as pessoas depois de obter o que deseja; o sujeito que vive de explorar a tia ve-lhinha; ou o executivo inescrupuloso que desfalca a empre-sa. Este último, também é conhecido como psicopata cor-porativo ou do colarinho-branco. Nesta mesma conferência no Rio, esteve presente um dos maiores especialistas do mundo, o canadense Robert Hare, que, em 2004, publicou a Escala Hare PCL-R, escala de avaliação de psicopatia, que traz importante contribuição para diversas pesquisas. Essa escala é utilizada no sistema penitenciário brasileiro quando necessitamos fazer avaliação criminológica para progressão de regime penitenciário, para indulto, comutação de pena, Livramento Condicional e outras solicitações que dependem das Comissões Técnicas de Classificação e que têm como objetivo avaliar o grau de periculosidade e de readaptação

22 Revista Inovação nº 14 / 2011

Page 23: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 23

“O Transtorno de Personalidade Anti-social (TPA) é mais comum em homens do que em mulheres,

apresentando componentes genéticos, familiares,

neurológicos e sociais.”

à vida em comunidade. Pesquisadores como Nelson Hauck Filho, Marco Antônio Pereira Teixeira e Ana Cristina Garcia Dias fizeram revisão da literatura sobre a psicopatia. Os es-tudos desses pesquisadores evidenciaram a necessidade de realização de estudos empíricos sobre o construto [concei-tos teóricos não observáveis, como o amor, o medo, etc] na população brasileira, bem como o desenvolvimento de medidas para sua avaliação. O Fazzani Neto (1994) investi-gou o Comportamento Violento: Aspectos Teóricos, Análise da Apreensão e Representação de Imagens em Protocolos de Rorschach de Examinandos Violentos, em sua tese de doutorado em Psicologia na USP. Outro exemplo vem do psicólogo britânico Adrian Raine, que há 30 anos estuda a mente criminosa. Ele destaca que o fator genético sinalizado por uma falha cerebral aumenta em 50% a probabilidade do indivíduo se tornar criminoso. Por meio dos resultados de sua pesquisa, constatou que 50% do comportamento vio-lento são atribuídos à genética, 35% a fatores ambientais e apenas 15% ao histórico familiar do indivíduo. Ele tem se dedicado a estudar as origens dos desvios de conduta que

levam pessoas a matar a sangue-frio seguidamente ou apenas uma única vez. Aaron T. Beck é professor de psiquiatria na Universidade da Pensilvânia e presidente do Beck Institute Cognitive Therapy. Autor de mais de 450 publicações, já recebeu numerosos prêmios de organizações profissionais e científicas. Ele tem trabalhado extensivamente com transtor-nos da personalidade, principalmente, investigando o uso da terapia cognitiva para esses transtornos.

i. F.: Os estudos citados parecem ter centrado seus esforços na relação entre genética e meio social. Qual sua opinião sobre esse posicionamento?

F.m.s.: Concordo plenamente com os resultados das pes-quisas do neurologista Ricardo de Oliveira, que relata existir uma herança genética complexa para violência e agressivi-dade, cujo percentual varia de uma pessoa para outra. Que essa carga será modelada pelo ambiente. Portanto, não exis-te oposição entre o que é físico e o que é cultural ou social, mas sim uma interação desses aspectos. O cultural atua por

Page 24: Revista Inovação Ed. 14

24 Revista Inovação nº 14 / 2011

EN

TRE

VIS

TA

meio do cérebro, que é social. O individuo apresenta determinadas estruturas que determinam nossa forma de interagir com as outras pessoas. Existem áreas mo-rais no nosso cérebro ligadas a valores, ética, ideolo-gia, julgamento. O que a cultura faz é nos dizer o que é moral e o que é ético; mas é estrutural a capacidade ou falta dela de processar o julgamento. Você pode criar duas pessoas no mesmo ambiente violento, mas a maneira como elas vão experimentar os sentimen-tos será diferente, em função da carga genética de cada uma. Essa bagagem determina como filtramos ou modulamos as experiências a que somos expos-tos, e determina também o que vai nos interessar no ambiente, o que nos é mais significativo a partir dessa predisposição. Se você tem pais violentos você tende à violência, mas é a genética que oferece um potencial que o ambiente vai modelar. Agora, se o indivíduo tem uma predisposição genética muito alta para a vio-lência, ele pode ser muito bem educado, com cuida-dores carinhosos e equilibrados emocionalmente, mas tenderá a cometer ações violentas.

“Existem áreas morais no nosso cérebro ligadas a valores, ética, ideologia, julgamento. O que a

cultura faz é nos dizer o que é moral e o que é ético; mas é estrutural

a capacidade ou falta dela de processar o julgamento.”

*Francisca Morais da Silveira é professora adjunta da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e membrodo Conselho Penitenciário do Estado do Maranhão.

Page 25: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 25

Objetivo: Proteger os sinais que individualizam os produtos e serviços de outros iguais ou semelhantes de uma determinada empresa distinguindo-os de seus concorrentes.

Objetivo: Proteger o aspecto ornamental ou estético de um objeto. Pode consistir de características tridimensionais, como a forma ou a superfície do objeto, ou de características bidimensionais, como padrões, linhas ou cores.

Objetivo: Proteger uma invenção e garantir ao titular os direitos exclusivos para usar sua invenção por um período limitado de tempo, sendo invenção definida como uma nova solução para um problema técnico.

Objetivo: Proteger a qualidade e reputação dos produtos, vinculando qualquer expressão ou sinal utilizado para indicar a origem do produto (uma região, lugar específico ou, excepcionalmente, um país).

Objetivo: Proteger todas as obras do domínio literário, científico e artístico, qualquer que seja o modo ou a forma de expressão.

COORDENAÇÃO DE INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO

(98) 2109 1400 / (98) 2109 1445e-mail: [email protected]

w w w . f a p e m a . b r

Proteja sua criação

Page 26: Revista Inovação Ed. 14

Biodiversidade: o olhar Quilombola

Comunidades quilombolas de Bacabal são exemplo de relação

sustentável com o meio ambientePor Romulo Gomes

Meninas e o cofo

Cam

ila X

avie

r

26 Revista Inovação nº 14 / 2011

Gab

riela

B. R

odrig

ues

Page 27: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 27

De frente para o casal de barrigudeiras que co-nheceu desde a infância, e até hoje permanece preservado, o homem de 70 anos é contun-dente ao afirmar o tamanho das árvores: 300

metros de altura. Na imaginação do Sr. Gildásio, os “paus”, como se refere às plantas, ganharam essa dimensão pela importância que têm para a composição da paisagem que o acompanha por toda a vida. Relatos assim, colhidos pela pesquisadora Gabriela Barros Rodrigues, nas comunidades remanescentes de quilombolas de São Sebastião dos Pretos e de Catucá, no município de Bacabal, ajudaram a sustentar sua hipótese de que moradores de quilombos se relacionam bem com a biodiversidade à sua volta, promovendo o que há de mais necessário: a conservação. “Essas comunidades resguardam o ambiente onde estão, principalmente, porque

permanecem lá; mas ações do cotidiano foram nos mostran-do que várias espécies são resguardadas mediante o uso”, aponta a mestre em Biodiversidade, da Universidade Fede-ral do Maranhão. Precisam usar, logo conservam. A lógica parece simples; no entanto, deixou de ser empregada pela maioria dos povos.

Já embrenhada nessas comunidades, distantes da capital maranhense cerca de 250 km, a pesquisadora cons-truiu, com os quilombolas, mapas qualitativos - também chamados de mapas mentais ou êmicos -, para saber como era a paisagem antes e como está agora. Da memória deles, saíram referências que permitiram demarcar a situação da biodiversidade e até das manifestações sociais, culturais e religiosas dos dois quilombos.

Sr. Gildasio e o Boi Beija Flor

Gabr

iel B

. Rod

rigue

s

Page 28: Revista Inovação Ed. 14

28 Revista Inovação nº 14 / 2011

CU

LTU

RA

Crianças, jovens, adultos e idosos (os an-tigos) participaram de atividades diferentes e, de acordo com a faixa etária, foram divididos em uma gradiente de importância. Donos de experiência e de muito a lembrar, os antigos ficaram no topo de relevância. Com eles, o levantamento foi feito com registros audiovisuais e fotográficos. Os jo-vens fizeram oficinas de fotografia e, em seguida, saíram para fotografar o que consideravam mais significante na comunidade; cada um teve direito a três cliques. As crianças, por sua vez, soltam a imaginação em desenhos produzidos com a técnica de bricolagem, buscando matéria-prima local (se-mentes, folhas, flores, terra etc.).

Simpatia de “Couro de Guachinim” e máquina fotográfica de barro

Mapa de São Sebastião dos Pretosdesenhos produzidos com a técnica de bricolagem

Gabr

iela

B. R

odrig

ues

Gabr

iela

B. R

odrig

ues

Page 29: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 29

Depois de produzidos os mapas mentais, cada comunidade votou e elegeu o desenho que mais combinava com a realidade dela. A comuni-dade de São Sebastião dos Pretos apresentou um mapa com as características do lugar. Os morado-res colocaram as manifestações do boi, do terecô (manifestação com traços da umbanda), a igreja, um açude e peixes de vários tamanhos. “O interes-sante desses mapas mentais é que eles se coloca-ram nas imagens. Normalmente, quando se traba-lha com essa técnica, as pessoas desenham o que é natural, mas não se incluem no meio ambiente”, destacou Gabriela Rodrigues.

Um desenho que “não ficou bonito” foi escolhido pela comunidade de Catucá como mais representativo. A estética do mapa foi colocada de lado, dando lugar ao desenho que contemplou

detalhes: a casa de farinha, o campo de futebol, um açude peque-no. “Ficamos duas horas processando esse mapa, porque gerou uma discussão enorme. No final, eles votaram por um que mostrava, in-clusive, as “soltas” - lugar onde as mulheres pegam o babaçu. Foi o desenho com a cara deles”, ressaltou a pesquisadora.

Mapa de Catucádesenhos produzidos com a técnica de bricolagem

Manifestação religiosa do Tereco

Bren

o Fa

rhat

Page 30: Revista Inovação Ed. 14

30 Revista Inovação nº 14 / 2011

Os primeiros mapas abriram caminho para outros. No segundo momento, os quilombolas registraram suas lem-branças ou saberes sobre os temas: animal de pêlo, animal de couro, animal de bico, animal de casco, plantas medi-cinais, festas e visitação, calendário lunar e manifestações culturais. A composição da paisagem, pela memória, não teve caráter quantitativo; a proposta era buscar indícios de conservação da biodiversidade. E a pesquisadora encontrou.

No quilombo de São Sebastião dos Pretos, com seus 1.093 hectares, foi constatada a preservação do frag-mento de mata onde está inserida a comunidade; por lá se encontra um babaçual e uma surpreendente variedade de plantas medicinais. “As plantas medicinais foram uma sur-presa na pesquisa, porque existem mais indícios do que se esperava”, observou Gabriela Rodrigues.

A mesma abundância foi descoberta no quilombo de Catucá, que só possui 60 hectares de área. A comunidade resguarda fartura e, para algumas espécies, preserva proto-colos de manejo e uso com traços sagrados. “Tem o relato de uma espécie chamada ‘cebola berrante’, que a gente só pode tirar no verão, porque se tirar no inverno ela nunca mais nasce. Elas usam para tratar doenças pulmonares dos meninos”, conta a pesquisadora, reforçando a ideia de que o uso é fator primordial para a conservação.

Contra “doença de menino”, a indicação é patuá de couro de guaxinim – uma espécie de amuleto usado na pajelança, o que justifica a recorrente citação do animal nos

relatos dos quilombolas. A receita é completada com ben-zeção e gergelim. “Essa manifestação junta vegetal, animal e imaginário, sugerindo que a relação que eles têm com o natural, de repente, é muito maior do que a nossa”, analisa.

O desenho da conservação da biodiversidade e da paisagem, nos estudos de Gabriela Rodrigues, se funda-mentou na memória dos moradores. Por isso, ela ressalva que o relato de ocorrência ou não de determinadas espécies é condicionado ao trânsito daquelas pessoas pelos territó-rios dos dois quilombos ou ainda pelo entorno. Em Catucá, por exemplo, a última vez que dizem ter visto um grande felino foi em 1975. Os quilombolas de São Sebastião dos Pretos, entretanto, garantem que há dois anos uma onça rondou a comunidade.

Mas na mesma área que ainda resguarda até um jacaré, morador do pequeno e oscilante açude de Catu-cá, há espécies vegetais e animais que não se viu mais. A preguiça-carneira, de maior tamanho, deixou de habitar as matas do lugar; hoje, só é possível achar uma espécie cha-mada de “preguiça-chuí”, de menor porte. A hortelã do mato ou hortelã brava entrou para o grupo das espécies desaparecidas, pela falta de uso, acredita a pesquisadora. Assim também aconteceu com a cujuba, que servia para fazer vasilhames, e foi substituída pelos utensílios de plásti-co – a fruta ainda existe, porém só apareceu nas descrições de um morador antigo, ao lembrar sua utilidade na Semana Santa, para a confecção da cabeça de Judas.

A preocupação, entretanto, volta-se para um hábito que se repete pelas comunidades rurais maranhenses. A roça-do-toco é, segundo análise da pesquisa-dora, o principal problema ambiental dos quilombos. “É um tipo de feitura agríco-la convencional baseada em queimadas, provocando impactos, com a diminuição da avifauna e geração de gás-carbônico. Tudo isso compromete a paisagem”, asse-gura a mestre em Biodiversidade.

Paisagem - Roça de Toco

Gusta

vo B

axte

r

Page 31: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 31

Arquitetura

Moro em um quilombo?!“Muitos têm consciência e outros não”, afirma Ga-

briela Rodrigues, quando avalia a percepção dos quilombo-las sobre o local onde vivem. A pesquisadora utilizou teatro de bonecos como técnica de mobilização. Para uma pro-vocação inicial, a primeira peça apresentada foi “Eu moro em um quilombo e você?”. A intenção era levá-los a se reconhecer como moradores de uma comunidade quilom-bola, dentro de uma concepção atual, que difere do caráter de resistência do Quilombo de Zumbi, em Alagoas, ou do Quilombo de Ambrósio, em Minas Gerais.

Em 1742, no momento em que surgiram as primei-ras experiências, era considerado quilombo qualquer junção de mais de duas pessoas negras, afastadas do sistema ofi-cial da colônia. No contexto atual, e sob o ordenamento da Constituição de 1988, são remanescentes de quilombolas os descendentes de escravos, originalmente africanos – no caso do Maranhão, incluem-se os afroameríndios (somató-rio da matriz africana com os indígenas).

Os moradores de São Sebastião dos Pretos têm duas versões, sustentadas pela oralidade, para explicar como a comunidade foi formada. Em uma delas, contam que dois

casais de negros aquilombados, ou seja, unidos contra o sistema colonial, escaparam de Belém, parando sua fuga nas terras que hoje formam o quilombo. Os descendentes seriam oriundos, portanto, dessas duas famílias-tronco. A essa versão se contrapõe a crença em uma rota de dispersão a partir de Pedreiras, rumo a Bacabal. Gabriela Rodrigues acredita ser mais real esta possibilidade, considerando que outros levantamentos do imaginário das comunidades do entorno sugerem essa mesma origem.

No Quilombo de Catucá, paira a história de que ali teria sido uma fazenda com mesmo nome. O povoamento nesse espaço, em forma de quilombo, é mais recente. A moradora mais antiga é dona Orondina, de 83 anos, filha e neta de escravos que teriam sido encarregados da Fazenda Catucá. Alguns registros reforçam essa explicação. “Existe a manifestação de uma novena para Nossa Senhora da Con-ceição, realizada no final de novembro e início de dezem-bro, na qual se utiliza uma imagem de madeira que dizem ter 200 anos. Esse signo relevante, em termos de história, nos faz pensar que Catucá possa ter mais tempo do que se imagina”, pondera a pesquisadora.

Gusta

vo B

axte

r

Page 32: Revista Inovação Ed. 14

32 Revista Inovação nº 14 / 2011

Os quilombos do Maranhão, e os demais do Brasil, são comunidades essencialmente rurais, com raízes no processo es-cravocrata brasileiro. Na região de Bacabal, por sua riqueza de babaçuais, o extrativismo tornou-se uma das principais atividades econômicas. O babaçu é todo aproveitado. “Do mesocarpo é ex-traído o chocolate; o resíduo do chocolate com o do coco vira leite de coco; esse leite elas misturam com o chocolate e formam uma superbebida, muito nutritiva. Mas o azeite, por exemplo, dá um trabalho danado para fazer e só custa R$ 6,00”, explica Gabriela Rodrigues.

A exploração do babaçu é penosa. Depois da colheita nas soltas, as mulheres se reúnem em pulitões – uma espécie de muti-rão -, para a quebra do coco. Horas com a machadinha em punho transformam-se em apenas R$ 0,65, por quilo. A casca do coco vira carvão nas caieiras, com o qual cozinham seus alimentos.

Na comunidade de Catucá, um grupo de 15 mulheres conseguiu uma alternativa mais lucrativa e menos árdua de traba-lho. Sem o apoio dos homens, que não acreditavam na ideia, elas montaram uma horta comunitária, praticando um cultivo ecologi-camente correto, já que não usam agroquímicos. Juntas, prepara-ram o terreno, plantaram e, agora, colhem uma renda de quase R$ 100,00, por semana, vendendo os produtos aos domingos na Feira Municipal de Bacabal.

“A comunidade de São Sebastião dos Pretos, que é maior, quer fazer uma horta também, porque já não se quer quebrar coco. Isso é algo preocupante para mim, porque penso que, quando dei-xarem de saber fazer com o coco, não vão mais ter a preocupação de conservá-lo”, alertou Rodrigues.

A horta das mulheres

Cotidiano quilombola e alimentos

Gusta

vo B

axte

r

Page 33: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 33

Crianças e cascudo sete léguas

Ao serem questionados sobre o que comeram nas últimas 24h, o peixe “cascudo sete léguas” teve lugar dife-renciado nas respostas dos quilombolas dessas duas comunidades. Quando se re-ferem a outras espécies, a nomeação fica restrita ao modo de preparo (peixe frito ou cozido); o cascudo, mais presente na alimentação deles, é chamado, digamos, pelo nome.

Com os mais antigos, aprende-ram que é preciso estar preparado para os momentos de escassez. “Chegamos às comunidades no momento da pirace-ma. Cada morador já tinha mais de 50 quilos de peixe para salgar e secar. Tudo feito em mutirão”, descreve Gabriela.

A caça também se tornou proto-colo cotidiano e do imaginário, diz a pes-quisadora. “As crianças capturam beija-flor e comem o coração do passarinho. Eles juram que isso os deixa mais fortes”, comenta a pesquisadora, destacando que esses hábitos são vistos como naturais, sem recortes de exotismo.

Hábitos

Pesca e caça complementam o que é produzido nas lavouras de subsistên-cia. Na base da alimentação dos quilombolas está também a vinagreira (verde ou roxa), com a qual fazem o tradicional cuxá, e ainda arroz, feijão, milho, macaxeira e mandioca (farinha).

Gabriela Rodrigues compilou esses dados no Diagnóstico Socioambiental, que já foi entregue à comunidade de São Sebastião dos Pretos, no mês de março. Catucá receberá em novembro. Com apoio da Secretaria Estadual de Cultura do Maranhão e da Fundação Municipal de Cultura de São Luís, será lançado livro de

bolso, com 26 fotografias e 20 filmi-nhos sobre o cotidiano dessas comu-nidades. O lançamento acontecerá no dia 29 de novembro, na Galeria Zaque Pedro, localizada no Centro da capital maranhense.

Gusta

vo B

axte

r

Gusta

vo B

axte

r

A ideia é produzir, a partir do cotidiano deles, materiais educativos – apontados por 17% dos quilombolas como principais meios de informação e comunicação. Observando suas pró-prias experiências, com o mesmo olhar que consegue transformar barrigudei-ras de 20 metros em árvores gigantes-cas de 300 metros, os quilombolas po-derão reforçar a aptidão que possuem de conviver bem com a biodiversidade.

Pesquisa apoiada

pelo edital Bolsa

de Mestrado/

FAPEMA, sob

o protocolo

520/2008

Page 34: Revista Inovação Ed. 14

34 Revista Inovação nº 14 / 2011

Índices alarmantes são apre-sentados diariamente em relação aos hábitos da vida moderna e suas implicações

na saúde pública. A má alimenta-ção e falta de atividade física são fatores recorrentes quando o as-sunto é qualidade de vida. Entre os principais vilões da vida sau-dável, apontados pelos médicos, estão a obesidade e alterações san-guíneas prejudiciais, como coles-terol e triglicerídeo elevados.

Alterações desse tipo e outras associadas, como hipertensão arte-rial, fumo e diabetes, além de fato-res genéticos, são responsáveis por originar graves doenças vasculares, como o acidente vascular cerebral

(AVC) e o infarto agudo do mio-cárdio, que estão entre as princi-pais causas de morte de adultos em idade reprodutiva no Brasil.

O estudo da eficácia terapêuti-ca de plantas utilizadas como me-dicinais tem sido uma alternativa apontada por estudiosos para a re-dução de fatores de risco para do-enças cardiovasculares. Um pro-jeto da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), coordenado pela professora Marilene Olivei-ra Borges e com colaboração dos pesquisadores Antônio Carlos Romão e Antônio Marcus Paes, analisa a eficácia de plantas pre-sentes na flora maranhense, larga-mente utilizadas pela população,

a exemplo da azeitona doce; do “noni” e do “capim-limão” para o tratamento de doenças.

Uma vertente desse proje-to foi seguida pelo farmacêutico Lucas Martins França, durante mestrado em Ciências da Saúde (UFMA), sua dissertação mos-trou resultados inéditos do ex-trato hidroalcoólico das folhas de Syzygium cumini, planta tam-bém conhecida como “azeitona preta”, “jambolão” ou “jamelão”, com ampla distribuição pelo Bra-sil e muito comum no litoral do Maranhão. “O estudo surgiu em função da grande utilização dessa espécie pela população no trata-mento do diabetes, colesterol alto,

Pesquisa mostra efeito da folha da azeitona preta no combate à obesidade e às gorduras sanguíneas de animais

Por Juliana Mendes

do BemPlanta

Page 35: Revista Inovação Ed. 14

diarreia, entre outros males”, revelou Lucas França.

A importância da planta foi reco-nhecida pelo Ministério da Saúde, em 2009, ao ser incluída na Rela-ção Nacional de Plantas Me-dicinais de Interesse ao SUS (RENISUS).

Estudos com outras partes da espécie, como a semente, já tiveram sua eficácia pré-clínica comprovada na diminuição do açúcar no sangue e como antiin-flamatório, mas não havia relatos dos efeitos das folhas na redução dos níveis de gordura sanguínea e tecidual. Essa ação foi demons-trada pelo tratamento com o ex-trato das folhas do “jambolão”, em modelos experimentais de obesidade e hiperlipidemia (elevação da gordura no san-gue) em ratos. Na maior dose utilizada, o tratamento reduziu as concentrações sanguíneas do colesterol total (24%), triglice-rídeos (43%) e glicose (50%), além de reduzir acúmulo de gordura abdominal (42%) em ratos obesos.

Os resultados do estu-do indicam que a planta apresenta efeito sobre o ganho de peso e nas alte-rações das gorduras san-guíneas, revelando que as folhas dessa espécie promove-ram efeitos benéficos nos organis-

Page 36: Revista Inovação Ed. 14

36 Revista Inovação nº 14 / 2011

mos dos animais obesos, podendo, futuramente, ser utilizada como matéria prima para medicamen-tos contra essas doenças. “Ainda são necessários estudos posterio-res para confirmar esses efeitos em outros modelos de obesidade, além de análises mais aprofunda-das sobre suas possíveis reações ad-versas, uma vez que, mesmo sendo natural, não há nenhum remédio isento de toxicidade”, destaca o pesquisador.

O trabalho foi apresentado no XX Congresso Ítalo-Latinoameri-cano de Etnomedicina, realizado no mês de setembro, na cidade de Fortaleza (CE). “A ideia é divul-gar esses relevantes achados, para estimular a comunidade científica a realizar mais estudos sobre esses efeitos, com o intuito de tornar o uso dessa planta pela população cada vez mais eficaz e seguro”, ava-lia Lucas França.

obesidade no mundoDados mundiais revelam que

há mais de um milhão de adultos com excesso de peso e, pelo me-nos, 300 mil sofrem de obesida-de clínica. Estimativas de estudos mostram que no mundo há mais obesos do que subnutridos, assim a obesidade é um problema que atingiu número recorde de crian-ças nas últimas décadas. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, em estudo de 2010, nas vinte e sete capitais, mais de 48% da po-pulação adulta está com sobrepeso e 15% é obesa.

Os malefícios do excesso de peso e da obesidade não afetam somente a qualidade de vida e a saúde das pessoas, mas causam problemas psicológicos e de dimi-nuição da autoestima, refletindo em diversos aspectos da vida social, como capacidade de aprendizado e concentração. Assim, os estudos buscam resultados contra a doen-ça, modificando rapidamente as al-ternativas de trata-mento, devido aos frequentes efeitos colaterais dos me-dicamentos contra a obesidade.

Níveis de Redução

Gli

cose

Co

lest

ero

l To

tal

Tri

gli

cerí

de

os

Go

rdu

ra A

bd

om

ina

l

24% 43% 42%50%

Pesquisador utilizou animais para testar benefícios da planta.

Julia

na M

ende

s

Pesquisa apoiada

pelo edital Bolsa

de Mestrado/

FAPEMA, sob

o protocolo

740/2008

Page 37: Revista Inovação Ed. 14
Page 38: Revista Inovação Ed. 14

38 Revista Inovação nº 14 / 2011

carrapatoPor Ivandro Coêlho

Fitoterápico pode ajudar a combatê-lo e a melhorar a qualidade de vida da população

Page 39: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 39

Projeto desenvolvi-do pelo pesquisador Lívio Martins, do Centro de Ciên-

cias Agrárias e Ambientais, da Universidade Federal do Maranhão (CCAA/UFMA), pode ajudar a resolver um pro-blema muito conhecido dos produtores rurais do Mara-nhão: o carrapato. O foco cen-tral da pesquisa é a obtenção de um fitoterápico (medica-mento obtido empregando-se exclusivamente matérias-pri-mas vegetais), para controle de carrapatos bovinos e de cães.

A seleção das plantas para a produção do medicamento é feita na reserva extrativista Chapada Limpa, localizada em Chapadinha-MA, a 250 quilômetros da capital São Luís. De acordo com o pes-quisador, um dos objetivos do projeto é garantir a certifica-

ção e a comercialização dos produtos pela comunidade, produzidos a partir de plan-tas como cujuba, sapucaia e sapucarana. “Sabendo que a planta pesquisada tem efi-ciência sobre o carrapato, a idéia é retornar à comunidade e garantir que ela possa, futu-ramente, produzir e explorar essa planta comercialmente”, declarou.

Além da viabilidade eco-nômica, o estudo de Fitoterá-picos Contra Carrapatos pode trazer outros benefícios à po-pulação. Uma vantagem seria a diminuição do uso de pro-dutos químicos no tratamento dos animais, o que reduziria a contaminação de alimentos como a carne e o leite. “Em nossa região, é muito comum ver produtores tratando os animais com produtos quími-cos e retirando o leite, o que

provoca contaminação direta. Isso está associado indireta-mente ao aumento do câncer e doenças degenerativas em geral. Então, se diminuirmos a utilização desses produtos, teremos um menor resíduo destes produtos na carne e no leite”, garante Lívio Martins.

Várias instituições do Brasil e do exterior colabo-ram com o projeto. Além de pesquisadores da Universi-dade Federal do Maranhão (UFMA), participam profes-sores da Universidade Esta-dual do Ceará (UECE), Uni-versidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade de São Paulo (USP), Universida-de Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e alunos bolsistas de iniciação científica, de mestrado e dou-torado. Os resultados desse

Page 40: Revista Inovação Ed. 14

40 Revista Inovação nº 14 / 2011

trabalho já foram apresentados em con-gressos internacionais na Argentina, Ca-nadá e China. A próxima apresentação será na Espanha.

O grupo de pesquisa do professor Lívio Martins trabalha há mais de dez anos com produtos naturais no controle de carrapato. Além da seleção das plantas da região do Baixo Parnaíba, os pesqui-sadores coletam outras espécies nativas do nordeste. “Fizemos o depósito de uma patente com plantas que apresentam boa atividade, com concentração letal baixa”, informou o pesquisador. No futuro, po-dem ser criadas empresas no Maranhão, para a produção desses fitoterápicos.

Etapas da pesquisa – Segundo Lívio Martins, a pesquisa passa por quatro eta-pas: seleção, teste, verificação da viabili-dade econômica e produção no mercado. Essas fases não têm necessariamente o mesmo período. Para ele, o lançamento do produto no mercado é a parte mais difícil, pois não depende somente da uni-versidade, mas também da indústria e de outros parceiros. “A principal vantagem é que a população poderá utilizar futu-ramente produtos eficientes e livres de resíduos sintéticos”, afirmou.

O projeto Fitoterápicos Contra Carra-pato tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico do Maranhão (FAPE-MA), do Banco do Nordeste (BNB) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tenológico (CNPq).

Page 41: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 41

o CarraPaTo

Os carrapatos são artrópodes da classe Arachinida, a mesma das aranhas. Tanto os machos quantos as fêmeas se alimentam de san-gue (são hematófagos). Os carrapatos mais comuns nos cães são da espécie Rhipicephalus sanguineus (conhecido como carrapa-to-vermelho-do-cão), porém o cão também pode ser parasitado, acidentalmente, por outras espécies, como o Amblyomma (car-rapato estrela), encontrado em áreas rurais ou de mata. O ciclo de vida dos carrapatos, independentemente da espécie, possui três fases: larva, ninfa e adulto. Cada fêmea pode colocar de 200 a 3000 ovos por dia. Devido ao seu ciclo de vida, um único carrapato pode parasitar vários hospedeiros diferentes, entre animais e seres humanos, o que aumenta as chances de transmissão de doenças. O carrapato ao se alimentar do sangue de um animal infectado, transmitirá o agente etiológico da doença aos demais hospedei-ros. Além dos cães, os carrapatos podem transmitir agentes que causam doenças graves nos humanos, como a Febre Maculosa e a Doença de Lyme. Fonte: http://dogdicas.com.br/607/carrapatos-como-combater-e-controlar

FiToTeráPiCos No Brasil

O Brasil possui a maior diversidade genética vegetal do mundo, com cerca de 55.000 espécies catalogadas de um total estimado entre 350 mil e 550 mil espécies. Há ampla tradição de uso das plantas medicinais, vinculada ao conhecimento tradicional (popu-lar). Vale ressaltar que medicamentos homeopáticos não são con-siderados fitoterápicos. Importante conhecer suas propriedades biológicas e características botânicas para assim contribuir com a preservação das espécies.Fonte: http://www.emex.com.br/sua_alimentacao/sua_alimentacao/id/274/r/o-que-sao-fitoterapicos

Pesquisa apoiada

pelo edital

Universal/FAPEMA

010/2009, sob

protocolo nº

881/2009

Page 42: Revista Inovação Ed. 14

Ver o noticiário do dia an-terior, acessar mais infor-mações sobre a receita que acabou de ser mostrada

no programa de culinária ou mesmo fazer compras pela televisão apenas com o número do cartão de crédito. Esta é uma das facetas da TV digital que nem todo mundo conhece: a inte-ratividade. Muita gente acha que a TV digital traz consigo apenas o conceito de excelência em som e imagem, mas poder agregar a esse fluxo um terceiro tipo de conteúdo, como aplicações e softwares, já é uma realidade.

T-autor, uma alternativa para destravar a interatividade na Tv digital

Por Priscila Cardoso

Um futuro mais

interativo

42 Revista Inovação nº 14 / 2011

Page 43: Revista Inovação Ed. 14

Mas, afinal, se a interatividade na TV é tão fantástica, por que ainda não foi disseminada? Um dos maiores problemas encontra-dos pelas emissoras de televisão é o custo. Além de pessoal com conhecimento em linguagem de programação, o desenvolvimento de um aplicativo funcional e com layout chamativo levaria meses. “Quem desenvolve um aplicativo geralmente não tem domínio so-bre design e acaba apresentando

um software bruto, pouco atrati-vo, o que facilita a reprovação do produto pela empresa”, justifica Márcio Carneiro, coordenador do Laboratório de TV do Curso de Comunicação Social da UFMA.

A solução encontrada por Car-neiro foi democratizar a interati-vidade via TV digital e sistemas IPTV. Para isso, ele desenvolveu um software voltado especifica-mente para jornalistas, editores, publicitários, ou seja, para os res-

ponsáveis pela produção do conte-údo da televisão. “Com o T-Autor, os produtores de conteúdo passam a ter mais liberdade, numa tendên-cia que segue os mesmos pricípios do ambiente de internet. Para as empresas, o programa permite a in-clusão da interatividade nos fluxos de trabalho com redução de custos, menor necessidade de pessoal espe-cializado, agilidade no desenvolvi-mento e muito mais possibilidades de criar e experimentar novos for-

Revista Inovação nº 14 / 2011 43

Page 44: Revista Inovação Ed. 14

44 Revista Inovação nº 14 / 2011

matos, utilizando a ferramenta para testes e versões finalizadas para veiculação”, es-clarece.

Por meio da interatividade na TV digi-tal, informações antes acessadas apenas pela internet poderão ficar disponíveis, com o auxílio do controle remoto. De acordo com uma pesquisa do instituto Sensus, apenas 45% da população brasileira tem acesso à rede mundial de computadores. “Nesse caso, a interatividade na TV digital pode até ser considerada uma política pública, porque pode promover inclusão social, ao

oferecer serviços públicos para toda popu-lação, porque a televisão está em todos os lugares”, argumenta Márcio Carneiro.

O programa é um construtor de aplica-ções gráfico-intuitivo, ou seja, o operador trabalha arrastando os elementos de forma simples e rápida, já que os vários modelos, ou os templates, já estão disponíveis. “O T-Autor é formado por caixinhas pré-deter-minadas para serem preenchidas, a critério do operador, seja com textos, imagens, tex-tos dinâmicos e até leitor de feeds”, explica o pesquisador.

Prisc

ila C

ardo

so

O pesquisador Márcio Carneiro com os estudantes de Jornalismo e bolsistas do Labcom, Jéssica Wernz e Bruno Lacerda

Page 45: Revista Inovação Ed. 14

iNovaÇÃo GaNHa o mUNdo

Em julho deste ano, o gru-po de pesquisa que desenvolve o projeto foi convidado para apresentar essa solução em um evento da ITU (Internacional Telecommunication Union), uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU), que cuida das tecnologias de comunicação e informação. Na ocasião, além do projeto mara-nhense, apenas o da PUC-RJ, que possui o laboratório de TV digital de excelência do Bra-sil, foi exibido. O software foi

muito bem recebido e se tor-nou alvo de interesses comer-ciais. Carneiro afirma que o T-Autor não desperta somente o interesse local. “O produto possui um mercado potencial bastante abrangente, já que o sistema digital brasileiro foi adotado por 13 países, alguns da América Latina e outros na África”.

O projeto recebe apoio da Fundação de Amparo à Pes-quisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do

Maranhão (FAPEMA), por meio do PAPPE – Integração (Programa de Apoio à Pesquisa na Empresa), que visa a esti-mular a inovação, aumentando a competitividade das empre-sas maranhenses. “E a inovação onde está? Está em trazer algo que antes era restrito a progra-madores para as pessoas que efetivamente fazem televisão. Não existe nada parecido no mercado que seja focado nesse público”, justifica.

TelesPeCTador aTivo

No mundo virtual, por meio das redes sociais, principalmente dos blogs, as pessoas saíram da posição passiva e passaram a ser também autores de conteúdo. Na TV, isso também será possível. “Imagine um professor preparando uma videoaula de geografia. Com o T-Autor, ele po-deria, por exemplo, tornar a exposi-ção bem mais dinâmica, criando um menu que desse acesso a mapas, da-dos históricos, informações adicio-nais e assim por diante”, vislumbra Carneiro.

Com o desenvolvimento destas novas ferramentas, uma coisa é certa: ninguém mais vai adormecer vendo televisão.

Pesquisa apoiada

pelo PAPPE/

FAPEMA/FINEP

003/2010,

sob protocolo

1144/10

Revista Inovação nº 14 / 2011 45

Page 46: Revista Inovação Ed. 14

46 Revista Inovação nº 14 / 2011

O dOCE Turiaçu

Page 47: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 47

Sabor doce, cheiro for-te e coloração amare-la fazem do abacaxi “Turiaçu” uma espécie

bastante apreciada pelos con-sumidores maranhenses. Cul-tivado exclusivamente em co-munidades rurais do pequeno município de mesmo nome, a 460 quilômetros de São Luís, o fruto transformou o local em segundo maior pólo produtor de abacaxi do Estado, com uma área plantada de 150 hec-tares.

O modo de plantio do aba-caxi “Turiaçu”, no entanto, ainda é rudimentar, com baixo emprego de tecnologia. Trata-se do chamado sistema “tacu-

ruba”, caracterizado pelo cul-tivo itinerante e pelo “plantio direto na pedra” – nome dado em alusão ao solo bastante pe-dregoso de algumas áreas da região. “As mudas são planta-das sem espaçamento definido, com baixo ou nenhum uso de insumos externos e elevado emprego da mão-de-obra fa-miliar”, explica o pesquisador da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), José Ri-bamar Gusmão Araújo.

Doutor em Agronomia (área Horticultura-Fruticul-tura) e professor do Programa de Pós-Graduação em Agroe-cologia do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UEMA,

José Ribamar Gusmão Araújo coordena, há cinco anos, pes-quisa visando a melhorar o sis-tema de produção do abacaxi “Turiaçu”. Atualmente, dedi-ca-se ao projeto Avaliação da época de plantio e determinação do ponto de colheita de abacaxi Turiaçu no município de Turia-çu, Maranhão.

A pesquisa é feita em parce-ria com um grupo de professo-res da UEMA, com o intuito de medir a qualidade do fruto em diferentes épocas de plan-tio, e para definir um ponto de colheita adequado às exigên-cias de mercado. “Pretendemos aumentar a vida de prateleira do produto, reduzir o nível de

Por Ivandro Coêlho

Pesquisas da UEMA buscam melhorar o plantio e definir ponto de colheita do abacaxi “Turiaçu”. Mudanças na produção podem tornar o apreciado fruto mais competitivo no mercado regional e nacional.

SABOR dETuriaçu

Page 48: Revista Inovação Ed. 14

48 Revista Inovação nº 14 / 2011

perdas e oferecer maior segurança aos produtores na comercializa-ção”, afirma o pesquisador.

O experimento de campo foi instalado em 2010, na comunida-de de Serra dos Paz, Turiaçu, mas o plantio aconteceu em seis épo-cas distintas – de fevereiro a ju-lho. Em setembro deste ano, serão colhidos os frutos do plantio do primeiro mês. Os resultados serão divulgados a partir de março de 2011, com ênfase para a qualidade física do fruto (peso e tamanho) e o ponto de maturação adequado para cada época de plantio.

O projeto é apoiado pela Fun-dação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FA-PEMA), e tem a participação de bolsistas de iniciação científica e alunos de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Agroeco-logia da Uema (CCA/UEMA). A prefeitura Municipal de Tu-riaçu, a Associação de Produto-res de Abacaxi de Serra dos Paz, AGERP/SEDAGRO e Embrapa-Cocais também colaboram com os trabalhos.

BeNeFíCios

Para o pesquisador José Riba-mar Gusmão Araújo, a pesquisa deve beneficiar tanto quem pro-duz quanto a população. Os pro-dutores poderão aumentar o tem-po de oferta de frutos no mercado, passando dos atuais 3 ou 4 meses para até 7 meses ao ano. “Com isso, eles poderão planejar melhor as atividades, utilizar mão de obra de forma mais eficiente e progra-mar a colheita para períodos mais favoráveis de preço”, aponta o pes-

quisador. Já o consumidor terá acesso a um produto de qualida-de, por um período maior.

ComParaÇÃo No merCado

A excelente qualidade do aba-caxi “Turiaçu”, segundo os espe-cialistas, deve-se à combinação de fatores genéticos, climáticos, características do solo e baixa utilização de agrotóxicos. Tudo isso permite a maturação em ple-no período seco do ano (agosto a novembro), com baixa umidade relativa e temperaturas elevadas, produzindo frutos de sabor doce agradável.

Apesar da qualidade superior, o abacaxi “Turiaçu” ainda é consi-derado um produto pouco conhe-cido. De acordo com o pesquisa-dor Fabrício Reis, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), há um número muito pequeno de pesquisas sobre as características da fisiologia pós-colheita dos fru-tos, em comparação, por exemplo, com a variedade mais consumida no Brasil - a Pérola.

“O Maranhão e os pesquisa-dores não podem abrir mão de co-nhecer e desenvolver um produto que tem condições de oferecer oportunidades de mercado e ge-ração de renda àqueles que vivem da agricultura familiar”, alerta Fa-brício Reis. Para ele, é importante reconhecer o abacaxi “Turiaçu” como fruta de excelência, incen-tivando futuros trabalhos que o elevem a status de produto de ex-portação.

Para divulgar melhor as quali-dades da variedade genuinamen-

Page 49: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 49

te maranhense no meio acadêmico e tornar essa espécie mais competitiva no mercado regional e nacional, o pes-quisador está comparando os abacaxis “Turiaçu” e “Pérola”. O projeto Carac-terização da fisiologia pós-colheita das cultivares “Turiaçu” e “Pérola” de aba-caxi: um estudo comparativo é apoiado pela FAPEMA. Professores da UEMA de São Luís e Imperatriz, além de es-tudantes de mestrado e de graduação, também colaboram com o estudo.

“Os produtores poderão aumentar o tempo

de oferta de frutos no mercado, passando dos

atuais 3 ou 4 meses para até 7 meses ao ano.”

aBaCaXi TUriaÇU

O cultivo de abacaxi Turiaçu (Ananas comosus L. Merril, Família Bromeliaceae) é nativo do município de Turiaçu-MA. A planta apresenta espinho nas folhas, ciclo - do plantio à colheita - de 18 a 20 meses e a colheita estende-se de agosto a dezembro. Cada planta produz, em mé-dia, 12 mudas do tipo filhote. O fruto possui peso médio de 1.620g, apropria-do para o mercado in natura.

Pesquisa apoiada

pelo edital

Universal/FAPEMA

010/2009,

sob protocolo

1109/2009

Page 50: Revista Inovação Ed. 14

Sim, Nós Temos CiêNCia e TeCNoloGia!Com o tema “Mudanças climáticas, desastres naturais e prevenção de riscos”, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia acontece simultaneamente em todo o Brasil e pretende estimular o debate sobre a prevenção de riscos e redução dos impactos naturais.

50 Revista Inovação nº 14 / 2011

Page 51: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 51

O sentimento de soli-dariedade do povo brasileiro, que se ma-

nifesta durante a ocorrência de catástrofes, é comovente e visto em grandes mobilizações nos telejornais de rede nacional. No entanto, tais demonstrações de compaixão não são suficientes para mudar a origem destes pro-blemas, como, por exemplo, as mudanças climáticas. Foi-se o tempo em que os períodos de chuva eram determinados. A

seca também, que antes assola-va apenas lugares específicos, já ocorre onde menos se espera.

O grande desafio das autori-dades é minimizar as consequên-cias trazidas por essas mudanças climáticas, como, por exemplo as fortes chuvas, que ocasionam deslizamentos de encostas, en-chentes, falta de água potável e, consequentemente, um com-prometimento da saúde pública.

A escassez de água, elemento básico para sobrevivência huma-

na, é outro problema, deixando crianças e idosos com saúde de-bilitada e cidades inteiras em si-tuação de emergência.

O Brasil não tem uma tradi-ção de prevenção de riscos. As tragédias surgem e, com elas, também as mobilizações solidá-rias. De um lado, o poder públi-co e, do outro, a sociedade, ates-tando, assim, a importância de se estabelecer um diálogo sobre a prevenção e treinamento para tais situações.

Por Tatiana Salles

Page 52: Revista Inovação Ed. 14

52 Revista Inovação nº 14 / 2011

sNCTUm dos focos da Semana Na-

cional de Ciência e Tecnologia, realizada em todo o país, de 17 a 23 de outubro, é estimular o de-bate em todos os setores da socie-dade sobre a prevenção de riscos e redução dos impactos naturais. Na edição de 2011, a Semana quer unir ciência, tecnologia e so-ciedade em favor da prevenção e minimização dos impactos.

Com o tema “Mudanças cli-máticas, desastres naturais e pre-venção de riscos”, a Semana chega a São Luís sob a coordenação da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FA-

PEMA) e Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Sectec), na área externa do Shopping São Luís.

O evento é aberto ao público em geral e une no mesmo espa-ço instituições de ensino e pes-quisa, universidades, professores, pesquisadores, todos juntos para discutir diversos aspectos e as evi-dências científicas sobre o impac-to das atividades humanas no cli-ma do planeta e, principalmente, sobre as medidas preventivas mais adequadas a serem adotadas em escala local e global.

“É um evento de grande im-portância, porque oportuniza a popularização da ciência e promo-ve o que está sendo realizado nas

áreas da ciência e tecnologia ma-ranhenses”, observou a presidente da FAPEMA, Rosane Nassar Mei-reles Guerra.

A coordenação da SNCT é de responsabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia por meio do Departamento de Popularização e Difusão de C&T para Secretaria de C&T para inclusão social.

Paralelamente, como parte da programação da Semana, a FAPEMA promove a II Mostra Científica Maranhense, que tem como objetivo divulgar as produ-ções científicas e ideias inovadoras de pesquisadores locais. Em espe-cial, projetos que comunguem da mesma proposta do tema da Se-mana.

Page 53: Revista Inovação Ed. 14

Revista Inovação nº 14 / 2011 53

Cidade da CiêNCia e TeCNoloGia

A área do estacionamento do Shopping São Luís, um total de 7.000 m², se tornará a cidade da Ciência e Tecnologia. Serão mon-tados 38 stands, 6 auditórios e 12 tendas. Toda essa estrutura contará com o apoio de sessenta monitores, que irão acompanhar e orientar os visitantes, além de dar suporte aos parceiros.

Em 2010, a realização de 600 atividades durante os sete dias da SNCT, colocou o Maranhão em 3º lugar no ranking dos estados do Nordeste com maior quantida-de de ações e em 8º lugar do Bra-sil, segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Já na Mostra Científica, durante o ano passado, foram desenvolvidas 350 ações. “Queremos criar am-bientes de aproximação da socie-dade com a ciência e tecnologia, que são estratégicas para se pro-mover o desenvolvimento”, desta-cou Rosane Guerra

Para melhorar ainda mais essa marca, pesquisadores, estudantes, gestores de universidades e esco-las, empresários, secretários de Estado e prefeitos se uniram para promover atividades de populari-zação científica em todos os mu-nicípios do Estado.

A expectativa de público para a edição de 2011 da SNCT é de 20 mil pessoas e, para prender a aten-ção de todo esse público, uma vas-ta programação foi pensada, com

palestras, exposições de pôsteres e protótipos de inovação, minicur-sos e stands institucionais, além de visitas a laboratórios das univer-sidades e ao Parque Botânico da Vale. Outra atração que deve cha-mar atenção dos participantes é o planetário, que, ano passado, foi um sucesso, principalmente entre os estudantes. As grandes novida-des deste ano são o cubo mágico, que escaneia pessoas e as transfor-ma em avatares do mundo virtual, e uma mesa multi touch, onde os visitantes poderão fazer uma via-gem interativa por São Luís.

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia acontece, anualmen-te, desde 2004, quando foi criada por decreto. Na primeira edição, 257 instituições, distribuídas por

Page 54: Revista Inovação Ed. 14

PromoveNdo CiêNCia

Como forma de mobilizar a população em geral, principal-mente jovens e crianças, por meio de temas ligados à ciência com atividades que valorizem a criati-vidade, a FAPEMA realizou este ano duas rodadas do edital de Po-pularização da Ciência e Tecno-logia, para oferecer recursos que variam de R$ 2 mil (Instituições de Ensino Médio) a 4 mil (Ins-tituições de Ensino Superior), como forma de apoiar ações nos mais diferentes lugares do Estado. “Convidamos todos os parceiros a abraçarem a iniciativa, para que juntos possamos levar ao maior número possível de pessoas o co-nhecimento científico”, afirmou Olga Simão, Secretária de Estado de Ciência e Tecnologia.

Já foram beneficiadas insti-tuições como a Escola Cidade de São João de Ribamar, que pôde, em 2010, fazer sua primeira feira de ciências. Os alunos puderam ainda fazer excursão até a Praça Maria Aragão, para acompanhar as atividades centrais.

As instituições podem realizar dias de portas abertas, tendas da ciência em praças públicas, feiras de ciência, concursos, oficinas e visitas de cientistas às escolas.

252 municípios do país, promo-veram 1.848 atividades. Em 2009, este número saltou para cerca de 25.000 atividades, em quase 500 municípios brasileiros.

ParCeiros

São parceiros na realização do evento as secretarias de Estado Meio Ambiente (SEMA), Edu-

cação (SEDUC), Casa Civil, Ga-binete Militar, de Cidades e De-senvolvimento Urbano (SECID), Igualdade Racial (SEIR), de Pla-nejamento, Orçamento e Gestão (SEPLAN) e Desenvolvimento Agrário (SEDAGRO).

Também são parceiros a Uni-versidades Federal do Maranhão (UFMA) e Estadual do Maranhão (UEMA), Uniceuma, Instituto

Federal do Maranhão (IFMA), entre outras instituições de ensino superior.

Estarão presentes, ainda, re-presentantes do Centro de Lan-çamento de Alcântara (CLA), da Açademia Maranhense de Letras (AML) e empresas privadas, como Vale, Alumar, Eletronorte, Suza-no, Renosa e Banco do Brasil.

54 Revista Inovação nº 14 / 2011

Page 55: Revista Inovação Ed. 14
Page 56: Revista Inovação Ed. 14

Avenida Beira Mar, nº 342 - CentroSão Luís-MA - CEP: 65010-070

Tel: (98) 2109-1400 / Fax: (98) 2109-1411