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ISSN 1413-2605 REVISTA JURÍDICA IN VERBIS REALIZAÇÃO ACADÊMICOS DO CURSO DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Número 04 • Segundo Semestre· 1996 EDITORA DA UFRN - EDUFRN

REVISTA JURÍDICA IN VERBIS · Óton anselmo de oliveira diretora do ccsa maria do socorro de azevedo borba professores convioados bento herculano duarte neto cleanto fortunato darci

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Page 1: REVISTA JURÍDICA IN VERBIS · Óton anselmo de oliveira diretora do ccsa maria do socorro de azevedo borba professores convioados bento herculano duarte neto cleanto fortunato darci

ISSN 1413-2605

REVISTA JURIacuteDICA

IN VERBIS

REALIZACcedilAtildeO

ACADEcircMICOS DO CURSO DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO GRANDE DO NORTE

Nuacutemero 04 bull Segundo Semestremiddot 1996

EDITORA DA UFRN - EDUFRN

Tiragem desta ediccedilatildeo 400 exemplares

Os artigos assinados satildeo de exclusiva responsabilidade dos autores Eacute permitida a

reproduccedilatildeo total ou parcial dos artigos desta revista desde que seja citada a fonte

Toda a correspondecircncia para revista deveraacute ser endereccedilada agrave

PROFESSORA MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO BORBA DIRETORA

DO CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

AVENIDA SALGADO FILHO CAMPUS UNIVERSITAacuteRIO NATAL - RN

CEP 59072-870 NA T ALRN

REVISTA JURIDICA IN VERBIS

v2 n 4 (dez 1996 - )

Natal Editora da UFRN - EDUFRN 1996_

Semestral

1 Direito - Perioacutedico I Universidade Federal do Rio Grande

do Norte Centro de Ciecircncias Sociais Aplicadas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE

CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE DIREITO CURSO DE

DIREITO

REVISTA JURIacuteDICA IN VERBIS

REITOR

JOSEacute IVONILDO DO REcircGO

VICE REITOR

OacuteTON ANSELMO DE OLIVEIRA

DIRETORA DO CCSA

MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO BORBA

PROFESSORES CONVIOADOS

BENTO HERCULANO DUARTE NETO

CLEANTO FORTUNATO

DARCI PINHEIRO

EDILSON PEREIRA NOBRE JUacuteNIOR

FRANCISCO BARROS DIAS

IVAN LIRA DE CARVALHO

JULlANO SIQUEIRA

LUiS ALBERTO DANTAS FILHO

MARCELO NAVARRO RIBEIRO DANTAS

MARIA DO PERPEacuteTUO SOCORRO

WANDERLEY MARIA DOS REMEacuteDIOS

FONTES

MONICA FURTADO

NADJA CALDAS LOPES CARDOSO

ROSENITE ALVES DE OLIVEIRA

TATIANA MENDES CUNHA

WAL TER NUNES DA SILVA JUacuteNIOR

PROFESSOR HONORARlO

IVAN MACIEL DE ANDRADE

COMISSAtildeO EOITORIAL

CAIO CEacuteSAR MARQUES BEZERRA

FLAacuteVIA SOUSA DANTAS

FRANCISCO GLAUBER PESSOA

ALVES GIORGIO SINEDINO DE ARAUacuteJO

SIVANILDO DE ARAUacuteJO DANTAS

CAPA

PROFESSORA FAacuteTIMA MARIA DANTAS

COSTA

NORMALIZACcedilAtildeO

PROFESSORA MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO

BORBA

EDITORACcedilAtildeO ELETRONICA

CAIO CEacuteSAR MARQUES BEZERRA

IN VERBIS

EDITORIAL

Pois eacute outra vez aspiramos lutamos e conseguimos a publicaccedilatildeo de mais

um nuacutemero da revista juriacutedica In Verbis (natildeo sem a labuta oacutebvia de praxe mas

recompensados com o feedback que a nossa revista vem recebendo)

Na verdade nossos esforccedilos natildeo podiam ter melhor regozijo A

divulgaccedilatildeo dos perioacutedicos anteriores por todo Brasil e vaacuterias universidades estrangeiras

citemos Coimbra e Harvard como exemplo soacute nos tem trazido prazer e satisfaccedilatildeo

Agradecimentos agraves funcionaacuterias do setor de doaccedilatildeo da Biblioteca Zila Mamede que nos

ajudaram bastante nesse Intento

Sem embargo da modeacutestia devida podemos dizer que a semente lanccedilada

na primeira revista eacutepoca na qual o nuacutemero de artigos natildeo ultrapassou treze limitados

ao maacuteximo de trecircs folhas jaacute se tomou ao longo da nossa incipiente histoacuteria uma bela

aacutervore de raiacutezes fortes pois com o total de quase 40 trabalhos recebidos ficou a certeza

de que a In Verbis eacute um veiculo perene dos graduandos do Curso de Direito da UFRN

para divulgaccedilatildeo do melhor de cada semestre

Para reunirmos os artigos o intenso fomento inicial foi substituiacutedo pela

iniciativa espontacircnea e numerosa dos estudantes restando agrave Comissatildeo Editorial a grata

mas natildeo menos difiacutecil tarefa de estabelecermos limites e criteacuterios para a publicaccedilatildeo

dos trabalhos que se enquadrassem ao perfil da nossa revista (vide ao fim deste

volume as regras atualizadas para apresentaccedilatildeo de originais) modificando a realidade

anterior de publicar quase a totalidade dos artigos entregues

Eacute com prazer que informamos que hoje natildeo somente os estudantes da

UFRN mas tambeacutem os de outras instituiccedilotildees de ensino bem assim os jaacute graduados na

ciecircncia do direito estatildeo honrando-nos com sua produccedilatildeo intelectual

Em virtude desta profiacutecua e dignificante mostra de que estatildeo os que

fazem a comunidade juriacutedica potiguar mais do que nunca fazendo valer os anseios de

produccedilatildeo cientiacutefica de que dela se espera estamos em atenccedilatildeo agraves sugestotildees dos nossos

abnegados lentes insistindo para que os alunos procurem a orientaccedilatildeo de professores e

profissionais do direito ao elaborarem seus trabalhos com vistas a um maior apego

juriacutedico - cientifico agrave temaacutetica a ser proposta e a evitar-se tambeacutem a repeticcedilatildeo da forma

de abordagem a qual eacute dada aos temas

Eacute evidente que produzir uma revista de quarenta artigos seria

impraticaacutevel (natildeo indesejaacutevel) e tambeacutem extremamente maccedilante ao leitor Por isso

pedimos a compreensatildeo daqueles que dispensaram seu tempo almejando a publicaccedilatildeo

dos seus artigos e natildeo atingiram sua meta pois de modo algum isto constitui demeacuterito

porquanto todos os trabalhos alcanccedilaram excelente niacutevel Essa realidade transformasse

sim em um novo desafio arraigado pela realidade do elevado niacutevel de propriedade com

que os temas vem sendo tratados

Por isso que foi adotado pelos editores o criteacuterio de privilegiar os

trabalhos dos estudantes da graduaccedilatildeo que obtiveram melhor conceito junto ao corpo

discente Enfim renovamos o convite para que todos continuem colaborando conosco

A Revista Juriacutedica In Verbis ciente tambeacutem das modernidades e da

praticidade com que os computadores nos permitem conviver hoje em dia para breve

estaraacute inaugurando o nosso endereccedilo na Internet ampliando por conseguinte os meios

de divulgaccedilatildeo da nossa cultura juriacutedica

Outrossim os entendimentos no sentido de reconhecer-se a nossa

gloriosa In Verbis como publicaccedilatildeo oficial da UFRN (estaacute dando assim apta a emissatildeo

de certificados) estatildeo encaminhados Com o apoio prometido pela Pr6-Reitoria de

Extensatildeo Universitaacuteria queremos crer que para o proacuteximo nuacutemero esse ideal jaacute seraacute

realidade

Alguns dos nossos pioneiros companheiros - de grata lembranccedila -

Eduardo Medeiros Cavalcanti e Faacutebio Barbalho Leite se formaram e deixaram o

Conselho Editorial ocupados agora com a realidade concreta da realizaccedilatildeo profissional

restando-nos um certo vazio e a nossa grande torcida a estes noveacuteis operadores do

Direito Mas em compensaccedilatildeo juntaram-se a noacutes nessa batalha aacuterdua que eacute publicar a

In Verbis os colegas Flaacutevia Sousa Dantas e Sivanildo de Arauacutejo Dantas que desde

logo se integraram agrave filosofia da revista colaborando substancialmente para este

nuacutemero Fica o convite para que outros graduandos venham e ajudem-nos a perpetuar

essa realidade

Agradecemos ao Magniacutefico Reitor Ivonildo Recircgo agrave Diretora do CCSA

Professora Socorro Barba e ao nosso aguerrido Professor Walter Nunes da Silva Juacutenior

(que junto com a segunda estaacute conosco desde os nossos primoacuterdios incentivando e

dando-nos a certeza de sermos absolutamente normais em levar essa ideacuteia agrave frente) por

possibilitarem a impressatildeo deste nuacutemero junto agrave Editora Universitaacuteria e natildeo mais com

recursos proacuteprios (que por sinal estavam deveras escassos) Fica o obrigado e a

esperanccedila concreta de que esta alianccedila seja duradoura

Por derradeiro expressamos a nossa gratidatildeo a todos os professores que

nos ajudaram analisando os trabalhos aconselhando-nos ouvindo-nos e loacutegico

encorajando-nos a fazer mais este nuacutemero

Que a acolhida deste novo volume alcance o ecircxito proveitoso dos

anteriores e lance as luzes para o proacuteximo

Como dito no iniacutecio a planta cresceu e criou raiacutezes cabe-nos a todos

agora regaacute-la para que natildeo soccedilobrem os nobres esforccedilos expendidos ateacute aqui pela

comunidade acadecircmica

A COMISSAtildeO EDITORIAL

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO ABORTO E DA PENA DE

MORTE

Adrianne Maria Ribeiro de Souza

BREVE ENFOQUE ACERCA DA ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA NO

PROCESSO TRABALHISTA Alba Paulo de Azevedo

ARBITRAGEM A Lei nordm 930796 Azevedo Hamilton Cartaxo

DESVINCULACcedilAtildeO DA SEPARACcedilAtildeO DOS PODERES COM A

IDEacuteIA DE DEMOCRACIA Car1ine Regina de Negreiros Cabral

ASPECTOS DA REINCIDEcircNCIA PARA EFEITO DE CONCESSAtildeO

DE LIVRAMENTO CONDICIONAL Cristina Silva Macecircdo

A INFORMATIZACcedilAtildeO DAS ELEICcedilOtildeES A EXPERIEcircNCIA DA

JUSTICcedilA ELEITORAL EM NATAL RN Eliane Nascimento de Meio

DO NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL E SUAS IMPLICACcedilOtildeES

Everton Amaral de Arauacutejo

DOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO E SEUS POSSIVEIS

EFEITOS INFRINGENTES Francisco Glauber Pessoa Alves

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO REQUISITO EMBARACcedilOSO A ATIVIDADE

POSTULATOacuteRIA Joatildeo Eduardo Ribeiro de Oliveira

NEOLlBERALlSMO INIMIGO DA CIDADANIA Leifson Gonccedilalves

Holder da Silva

AUTORIDADE COATORA EM MANDADO DE SEGURANCcedilA -

ANAacuteLISE COM BASE EM CASO CONCRETO Luana Pedrosa de Figueiredo

Cruz

Eacute A JUSTICcedilA A REAL META DO DIREITO Roberto Di Sena Juacutenior

COMENTAacuteRIOS Agrave LEI QUE REGULAMENTA A PRODUCcedilAtildeO DE

PROVAS MEDIANTE INTERCEPT ACcedilAtildeO DE COMUNICACcedilOtildeES Rossana de

Arauacutejo Rocha

QUEM ASSUME A TITULARIDADE DE UMA PREFEITURA

CASO O PREFEITO ELEITO VENHA A FALECER ANTES DA

DIPLOMACcedilAtildeO Sivanildo de Arauacutejo Dantas

ABRE TEUS OLHOS THEacuteMIS Vanessa Alessandra Pereira

CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Vicente Eliacutesio de Oliveira Neto

DIREITO A EDUCACcedilAtildeO E INICIATIVA PRIVADA Vladimir

Azevedo de Mello

CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO ABORTO E DA PENA DE

MORTE

Adrianne Maria Ribeiro de Souza Acadecircmica do 9deg periacuteodo do Curso de

Direito da UFRN

A moral poliacutetica natildeo pode oferecer agrave Sociedade qualquer vantagem

perduraacutevel se natildeo estiver baseada em sentimentos indeleacuteveis do coraccedilatildeo humano

Cesare Beccaria

o aborto e a pena de morte Poucos temas tecircm dividido tanto a sociedade

como estes O primeiro continua na clandestinidade enquanto o segundo tem sua versatildeo

mais sutil nas precaacuterias instalaccedilotildees carceraacuterias espalhadas por todo o pais A anaacutelise de

ambos suscita necessariamente indagaccedilotildees morais sociais econocircmicas poliacuteticas e

religiosas onde sobra complexidade e falta consenso Aqueles que os condenam vecircem

neles um problema que deflagra as mazelas de uma sociedade extremamente injusta

Por sua vez os defensores consideram-nos como soluccedilatildeo imediata para uma situaccedilatildeo

que se apresenta insustentaacutevel

Problema ou soluccedilatildeo ambos potildeem fim ao bem mais precioso do ser

humano a vida Aliaacutes eacute esta a consequumlecircncia mais inquietante a respeito do aborto e da

pena de morte Uma vida abreviada eacute um bem irrecuperaacutevel Uma vez consumados natildeo

haveraacute mais lugar para retrocesso Inexistiratildeo meios de corrigir erros Gostando ou natildeo

ao legalizar tais situaccedilotildees a sociedade sempre deparar-se-aacute com a seguinte pergunta

temos o direito de tirar a vida de algueacutem

A despeito do peso moral de tais questotildees defender o aborto e a pena de

morte eacute ateacute cocircmodo afinal eacute mais faacutecil livrar-se de qualquer maneira de um problema

a enfrentaacute-Io Complicado eacute procurar soluccedilotildees significativas que se algum dia forem

alcanccediladas demandaratildeo um empenho exaustivo natildeo soacute do governo mas de toda a

sociedade Para ter resultados concretos e duradouros natildeo haacute outro caminho senatildeo o de

uma profunda reforma social no paiacutes1

Natildeo raro eacute tentar expor o problema como se fosse um caacutelculo

matemaacutetico de propriedade transitiva de igualdade Atente-se por exemplo ao que se

comenta sobre a pena de morte Se eacute sabido que as dificuldades financeiras de algueacutem

incitam a violecircncia e se nada podemos fazer para resolver tais problemas - porque jaacute nos

bastam os nossos - entatildeo nada podemos fazer para amenizar toda esta violecircncia em

1 Nesse particular Virgiacutelio Donnici em seu estudo sobre a criminal idade no Brasil considera

que a miseacuteria e a pobreza causam desvios de comportamento e que aqui surge uma crescente

criminalidade aquisitiva e assustadora () cujos autores superlotam as prisotildees brasileiras

anotando-se que os seus ocupantes satildeo produtos de uma inadaptaccedilatildeo social e econocircmica () os

paacuterias da sociedade brasileira injusta e desigual sociedade falida que precisa ser mudada na sua

estrutura social de maneira funda e total com uma melhor distribuiccedilatildeo de riqueza sob pena de

nos tornarmos um Brasil de assassinos todos armados agrave procura de comida agrave procura de paz agrave

procura de tranquumlilidade que natildeo pode ser resolvida pela violecircncia policial como se o problema

da criminal idade crescente no Brasil fosse um problema de poliacutecia de matar para eliminar

aqueles que incomodam mas que na verdade o Estado natildeo Ihes daacute condiccedilotildees miacutenimas para

sobreviver Ob Cit p 238

potencialrdquo Sendo assim porque percorrer este caminho tatildeo demorado e difiacutecil que eacute o

da redistribuiccedilatildeo de renda enquanto assistimos aos nossos jovens serem mortos por um

par de tecircnis

O problema eacute que atenuar os iacutendices da violecircncia proporcionando

melhoria de vida agraves camadas marginalizadas da sociedade ateacute pode parecer uma

realidade distante mas o agente da violecircncia eacute um alvo concreto A injeccedilatildeo letal ou a

cadeira eleacutetrica eacute capaz de acabar em segundos com este agente impedindo-o de vez de

proliferar a violecircncia que gera BECCARIA em brilhante reflexatildeo acerca da pena de

morte argumenta que ela natildeo se apoia em nenhum direito Eacute guerra que se declara a um

cidadatildeo pelo paiacutes que considera necessaacuteria ou uacutetil a eliminaccedilatildeo desse cidadatildeo Em

seguida completa e desafia se eu provar contudo que a morte nada tem de uacutetil ou

necessaacuterio ganharia a causa da humanidaderdquo2

Eacute flagrante e por vezes compreensiacutevel esta insatisfaccedilatildeo com toda a

violecircncia desmedida da qual somos viacutetimas potenciais A cada noticiamento da

imprensa cresce o sentimento de revolta e a necessidade de obter soluccedilotildees imediatas

Quando o cidadatildeo comum abre o jornal e lecirc manchetes como Bala perdida de um

assalto vitima crianccedila que brincava por perto fica difiacutecil natildeo pensar na hipoacutetese ainda

que por segundos com simpatia As passeatas em prol da paz no Rio de Janeiro e em

Satildeo Paulo a pressatildeo em tomo da reforma do Coacutedigo Penal satildeo apenas alguns dos sinais

deste estado de descontentamento que nos tem acometido3

Chegar a uma conclusatildeo sobre o que considerar ou natildeo quando da

aplicaccedilatildeo de uma pena de morte eacute tarefa no miacutenimo densa O caso concreto eacute sempre

desafiador e a consulta agraves obras claacutessicas norteia mas eacute o seu senso comum quem

ditaraacute as regras do certo e do justo4

Preocupante pois eacute saber que este julgador

encontra-se numa sociedade onde ainda se manteacutem especialmente na regiatildeo Nordeste

as mesmas amarras do coronelismo aacuteureo da deacutecada de 20 A atividade jurisdicional

desta sociedade estaacute confiada a um poder judiciaacuterio em regra lento e pouco

aparelhado onde o juiz por vezes sequer possui um ambiente de trabalho digno e

coerente com a relevante funccedilatildeo que exerce Ambos representantes da dicotomia

sociedade-juiz iratildeo estar agrave frente da aplicaccedilatildeo da pena capital atraveacutes da instituiccedilatildeo do

tribunal do juacuteri Por isso eacute de bom alvitre analisar tais aspectos antes de defendecirc-Ia e

soacute entatildeo responder com isenccedilatildeo de acircnimo a seguinte pergunta O Brasil tem estrutura

2 Cesare Beccaria Dos delitos e das penas ob cit p 45

3 Tenha-se como exemplo o texto de um informe do Jornal do Brasil que traduz com

perfeiccedilatildeo a consciecircncia coletiva sobre o assunto E eacute bom lembrar que esta cidade natildeo eacute uma selva porque na selva o otimismo milenar criou regras de comportamento O mais forte devora o mais fraco dentro do equiliacutebrio ecoloacutegico e natural Na megaloacutepole sem respeito pelo homem como no Rio a situaccedilatildeo eacute muito pior Aqui natildeo haacute regra ou lei a natildeo ser a da cobiccedila que contamina e explode na noite escura em orgias de sangue rito e celebraccedilatildeo de um tempo de assassinos 25 jul 1982

4 Satildeo diversos os trabalhos cientiacuteficos cujas obras tornaram-se claacutessicos do estudo da

criminologia dentre as quais destacam-se as contribuiccedilotildees antropoloacutegicas de Lombroso endocrinoloacutegicas de Nicola Pende biotipoloacutegiacutecas de Kreschemer geneacuteticas de Havelock psicoloacutegicas de Watson socioloacutegicas de Ferri psicanaliacuteticas de Freud e morais de Abercombry Todas oferecem ao julgador visotildees controvertidas ao mesmo que o conscientiza da multiplicidade

de enfoques sobre o mesmo tema

para comportar a responsabilidade que eacute adotar a pena capital

O paiacutes natildeo pode julgar-se preparado para uma puniccedilatildeo tatildeo severa sem a

certeza de que asseguraraacute um julgamento o mais justo possiacutevel Uma questatildeo tatildeo

delicada onde o condenado perderaacute sua vida merece um envolvimento maior do

julgador em relaccedilatildeo a uma lide patrimonial

A pena capital estaacute prevista somente para os crimes dolosos contra a

vida o que nos regride ao Coacutedigo de Hamurabi e seu princiacutepio middotolho por olho dente por

dente Na concepccedilatildeo superficial de seus defensores eacute nesta conduta delituosa que se

revela a parcela mais hedionda e indesejaacutevel da sociedade Necessaacuterio poreacutem levar em

consideraccedilatildeo o estresse diaacuterio do mundo moderno capaz de nos deixar agrave mercecirc de

circunstacircncias adversas potencialmente violentos Eacute por essa razatildeo que o homiciacutedio ao

contraacuterio do que aparenta natildeo eacute o crime dos socialmente irrecuperaacuteveis Os crimes

contra o patrimocircnio satildeo evitados sobretudo por um senso eacutetico muito forte que uma vez

desassociados de dificuldades econocircmicas raramente tenderatildeo a surtir rompantes

delituosos Natildeo eacute o que ocorre com o homiciacutedio As circunstacircncias que detonam a

praacutetica desta violecircncia extremada satildeo cheias de peculiaridades que natildeo podem ser

desconsideradas5

Eacute perfeitamente possiacutevel que um cidadatildeo comum numa briga de

tracircnsito depois de um dia cheio perca a paciecircncia e impensadamente saque uma arma

A sociedade tema obrigaccedilatildeo moral de refletir sobre tais aspectos e soacute

entatildeo concluir se a pena de morte realmente resolve De todos os questionamentos aqui

apostos este eacute sem duacutevida o mais crucial Confiar que os iacutendices de criminalidade

diminuiratildeo face agrave possibilidade de uma iminente puniccedilatildeo numa cadeira eleacutetrica eacute ateacute

ingecircnuo Uma pessoa normal decidida a cometer um delito jaacute se despiu completamente

de seus princiacutepios morais e o faraacute por interesses diversos que anularam a consciecircncia do

mal a ser produzido ou da puniccedilatildeo a que ficaraacute sujeito E isto natildeo eacute soacute consequumlecircncia de

um sistema punitivo falho que produz a certeza da impunidade propaganda como o

grande mal do ordenamento penal paacutetrio natildeo importa o quanto esteja bem estruturado o

sistema penal de uma naccedilatildeo os delitos sempre existiratildeo por razotildees as mais banais O

indiviacuteduo disposto a cometer um crime dificilmente vislumbraraacute a cena de sua execuccedilatildeo

com injeccedilotildees letais6 Os Estados Unidos um dos paiacuteses mais desenvolvidos do mundo

adotou a pena de morte em muitos estados-membros de sua federaccedilatildeo e nem por isso

5 Vitorino Prata Castelo Branco inicia seu estudo sobre a criminalidade indagando-se por que o

homem furta agride eou mata Conclui que o homem eacute um animal como qualquer outro

sujeito agraves mesmas leis que regem todos os seres vivos no destino da sobrevivecircncia e da

perpetuaccedilatildeo da Espeacutecie Leis bioloacutegicas referentes agrave vida leis mesoloacutegicas referentes ao meio

ambiente leis socioloacutegicas referentes agrave convivecircncia social leis patoloacutegicas referentes agrave

moleacutestias diversas especialmente mentais Ob Cit p 15

6 Esta conclusatildeo embora considere a regra natildeo eacute absoluta Reconheccedilo o poder repressor das

normas penais entendo-as poreacutem sem forccedila perante pessoas amorais Neste sentido distancio-me da sempre respeitada opiniatildeo de Beccaria para o qual sendo as leis cumpridas agrave letra qualquer cidadatildeo pode calcular exatamente os inconvenientes de uma accedilatildeo reprovaacutevel e Isto eacute uacutetil pois este conhecimento poderaacute fazer com que se desvie do crime Ob Cit p 16 O doutrinador criminalista Emst Seelig em sua obra Manual de Criminologia Z registra um

fato interessante o estado psiacutequico do condenado eacute fundamentalmente muito variado segundo

sua personalidade Muitos assassinos desejam expiar o seu crime por meio da morte outros ao

contraacuterio - especialmente os criminosos profissionais - apresentam-se em frente da morte

proacutexima com a qual jaacute contava embotados e fazem consideraccedilotildees cinicas Cp) O ladratildeo

assassino de Paris Charrier fumava um cigarro agrave vista da guilhotina Ob Cit p 181 e 182

deixou de ter um dos maiores iacutendices de criminalidade que conhecemos7

Aqueles que condenam o aborto e a pena de morte inevitavelmente

deparam-se com delicadas questotildees intencionalmente indagadas para derrubar seus

argumentos tais como E se fosse vocecirc O que vocecirc faria para lidar com uma gravidez

indesejada ou com o assassinato brutal de um parente querido

Pode-se rebater tais indagaccedilotildees argumentando que o ideal seria no

primeiro caso que a gravidez fosse devidamente evitada e no segundo caso que a

marginal idade fosse atenuada pela garantia a todos de uma vida digna sem a miseacuteria

que induz agrave violecircncia Mas como atingir este ideal se apenas 22 aproximadamente

das mulheres brasileiras na faixa de 15 a 54 anos utiliza algum meacutetodo anticonceptivo e

se 286 da populaccedilatildeo vive nas mais precaacuterias condiccedilotildees de moradia (entenda-se

barracos ou favelas) Num paiacutes onde 561 natildeo tem instruccedilatildeo e ou sequer completam

um ano de estudo8

O ideal de uma sociedade mais justa seria aquele em que todos tivessem

acesso efetivo ao miacutenimo necessaacuterio A Carta Magna nacional inclusive elenca no art

3ordm e incisos aqueles que constituem os objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa

do Brasil a saber a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e solidaacuteria a garantia do

desenvolvimento nacional a erradicaccedilatildeo da pobreza e da marginalizaccedilatildeo e a reduccedilatildeo

das desigualdades sociais e regionais bem como a promoccedilatildeo do bem de todos sem

preconceito de origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de

discriminaccedilatildeo Esteticamente bonito sem duacutevida mas infelizmente apenas teoacuterico na

realidade hodierna

Pelo menos a pena capital inobstante seus adeptos ainda se resume a

projetos de lei que tramitam nas gavetas do Congresso Nacional e ateacute que se cogite

seriamente sobre a sua legalizaccedilatildeo eacute certo que seraacute questionada por uma sociedade

tradicionalmente aversa a esta hipoacutetese Este eacute um aspecto positivo

O mesmo infelizmente natildeo ocorre com relaccedilatildeo ao aborto porque quer o

governo ou a sociedade condenem a sua praacutetica ou natildeo ela existe e vai continuar

existindo independentemente de legalizaccedilatildeo Enquanto os poliacuteticos desconversam sobre

o tema para natildeo se comprometerem ou a igreja repudia o uso de preservativo o aborto

continua acontecendo clandestinamente em ldquofundos de quintais onde mulheres pagam

fortunas para abortar nas mais precaacuterias condiccedilotildees possiacuteveis correndo inclusive riscos

de vida

Eacute este o aspecto mais traacutegico que muitos me ldquoesquecemrdquo de abordar

quando estatildeo em seus discursos ldquoproacute vida e famiacutelia brasileira Na realidade poucas

satildeo as mulheres que diante das dificuldades financeiras pelas quais passam da

violecircncia do mundo moderno e da falta o que eacute bem frequumlente do apoio do

7 Nos paises de cultura elevada poupados a convulsotildees poliacuteticas graves as execuccedilotildees tornaram-

se cada vez mais raras Agrave praacutetica crescente do indulto seguiu-se finalmente e pouco a pouco a

aboliccedilatildeo da pena de morte Paises como a Noruega Sueacutecia e Alemanha que aboliram-na em

definitivo desde 19051921 e 1937 respectivamente Na Aacuteustria em 1746 Sonnenfels

defendeu a tese segundo a qual as penas de morte deveriam ser substituiacutedas pelo trabalho

forccedilado severo para fins de utilidade puacuteblica Mas foi somente em 1950 que esta naccedilatildeo

suprimiu com forccedila de lei a pena capital 8 Dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE constantes na

mais recente pesquisa por amostra de domiciacuteliosrdquo realizada no ano de 1995 Ressalve-se entretanto que a pesquisa foi feita somente com 10 do total de domiciacutelios de cada Estado-membro da federaccedilatildeo segundo a proacutepria rotina desta instituiccedilatildeo

companheiro optariam por enfrentar tudo isso e criariam seus filhos sozinhas E

indubitavelmente todos estes problemas vatildeo estar muito mais incutidos nas mentes

delas na hora de tomar uma decisatildeo do que a figura do padre de sua paroacutequia dizendo

que o aborto eacute contra as leis de Deus ou o dispositivo do Coacutedigo Penal que o tipifica

como crime

Um dos argumentos a favor do aborto sustenta-se na negaccedilatildeo da vida

nos primeiros meses de gestaccedilatildeo portanto natildeo haveria de se falar em crime Ao

discutir a legalizaccedilatildeo do aborto eacute imprescindiacutevel distinguir a partir de qual momento

haacute vida no feto A questatildeo natildeo eacute pacifica A religiatildeo entende vivo o ser desde a

concepccedilatildeo mas a medicina tende a considerar a vida a partir da formaccedilatildeo total dos

oacutergatildeos essenciais do feto De qualquer forma ainda que nos primeiros meses natildeo haja

vida propriamente dita o aborto potildee termo a esta expectativa agrave certeza futura de

formaccedilatildeo de uma vida Daiacute ser compreensiacutevel a propaganda anti-aborto que o

classifica como assassinato em qualquer estaacutegio da gravidez9

Adentre-se no caso do aborto eugeneacutesico criminoso agrave luz das normas

penais brasileiras

Coloquemo-nos entretanto no lugar da crianccedila Seraacute que um bebecirc

disforme condenado a passar o resto de sua vida totalmente dependente dos outros se

tivesse que escolher optaria por viver dessa forma Pode-se considerar vida a simples

passagem pelo mundo sem desfrutar das coisas mais elementares da nossa existecircncia

como constituir famiacutelia ou participar do progresso de seu paiacutes 10

Por outro lado a simples hipoacutetese por mais iacutenfima que seja de uma

resposta positiva jaacute eacute capaz por si soacute de tomar o aborto uma praacutetica incogitaacutevel e

criminosa Esta resposta infelizmente jamais teremos

Tais consideraccedilotildees podem parecer superficiais demais frente a um

assunto tatildeo complexo e polecircmico mas eacute loacutegico a intenccedilatildeo natildeo eacute exaurir o tema que

demandaria muito mais que este despretensioso artigo para ser devidamente debatido A

proposta poreacutem eacute exatamente a que por ora aqui se encontra ou seja abordar alguns

aspectos do aborto e da pena de morte com isenccedilatildeo da corriqueira conclusatildeo a favor ou

contra Mesmo porque embora cientes desses aspectos na pressa de tomarmos algum

posicionamento natildeo raro deixamos de ponderaacute-Ios

10 o eminente mestre penalista Magalhatildees de Noronha posiciona-se

radicalmente contra a hipoacutetese do chamado aborto eugeneacutesico ou eugecircnico vide

consideraccedilotildees apostas no Diaacuterio de Satildeo Paulo de 02 de agosto de 1962 transcritas e

reafirmadas em sua obra de Direito Penal cujo texto ele finaliza da seguinte forma

Como quer que seja todo ser nascido de mulher possua a forma que possuir eacute

humano eacute homem eacute sujeito de direito e tem personalidade A doutrina do Direito

9 Paulo Seacutergio Leite Fernandes argumenta que No aspecto moral alguns natildeo reconhecem vida

no ovo Crecircem que enquanto o feto natildeo adquiriu semelhanccedila agrave pessoa humana inexiste qualquer Impedimento agrave extirpaccedilatildeo Satildeo censurados com razatildeo pelos que natildeo estabelecem qualquer distinccedilatildeo entre o oacutevulo apenas fecundado e o feto jaacute desenvolvido Eacute claro que nenhuma diferenccedila haacute entre um e outro porque em ambos haacute uma centelha haacute vida independentemente da forma ou das caracteriacutesticas humanas adquiridas por um e ausentes no outro O problema fundamental ou essencial eacute que os defensores do abortamento natildeo sentem questotildees de consciecircncia na extirpaccedilatildeo de um oacutevulo fecundado com poucos dias de vida sentindo-as entretanto quando o produto a ser extirpado jaacute se apresenta agrave sua imagem e semelhanccedila O ato no entanto em qualquer caso eacute o mesmo pois aquele que natildeo tem forma humana a teria breve natildeo fosse destruiacutedordquo Ob Cit p 47

Romano que negava capacidade juriacutedica aos que contra formam humani generis

converso more proceantur natildeo seria hoje toleraacutevel Ob Cit p 63 e Diaacuterio de Satildeo

Paulo 12 ago 1962

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BECCARIA Cesare Dos delitos e das penas Traduccedilatildeo de Torrieri

Guimaratildees Satildeo Paulo Hemus Editora

BRANCO Vitorino Prata Castelo Criminologia 1- 00 - Satildeo Paulo

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CASTIGLlONE Teodolino contemporacircnea - Satildeo Paulo Lombroso

perante a criminologia Saraiva 1962

DONNICI Virgilio Luiz A criminalidade no Brasil (meio milecircnio de

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VERGARA Pedro Dos motivos determinantes no Direito Penal 2- ed -

Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1980

FERNANDES Paulo Seacutergio Leite Aborto e infanticiacutedio 1- ed - Rio

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Nacional por amostra de domiciacutelios 1995

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1994 Vol 2

PACINI Dante Filosofia da ciecircncia criminal - Rio de Janeiro Editora J

Di Giorgio 1983

SEELlG Emst Manual de criminologia 2 Traduccedilatildeo de Guilherme de

Oliveira revisado por Eduardo Correia - Coimbra Coimbra Editora 1950

SUTHERLAND Edwin H Principies of criminology 3- ed - Chicago

J B

Lippincott Company 1939

TARDE Gabriel A criminalidade comparada Traduccedilatildeo de Ludy Veloso

Rio de Janeiro Editora Nacional de Direito 1957

TAYLOR lan Paul Walton e Jock Young Criminologia criacutetica

Traduccedilatildeo de Juarez Cirino dos Santos e Seacutergio Tancredo - Rio de Janeiro Ediccedilotildees

Graal 1980

VERGARA Pedro Dos motivos determinantes no Direito Penal 2- ed -

Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1980

BREVE ENFOQUE ACERCA DA ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA NO

PROCESSO TRABALHISTA

Alba Paulo de Azevedo Acadecircmica do 7deg Periodo do Curso de Direito da

UFRN

1Exoacuterdio 2Consideraccedilotildees iniciais 3 Perfil histoacuterico 4 Cabimento

5 Procedimento 6Agrave guisa de arremate 7 Bibliografia

1 EXOacuteRDIO

Ab initio cumpre asseverar que o afatilde deste ensaio eacute apresentar numa

exibiccedilatildeo de um instante algumas observaccedilotildees atinentes agrave ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA no

acircmbito da JUSTICcedilA OBREIRA

Seratildeo trazidas agrave baila as inovaccedilotildees da Accedilatildeo Monitoacuteria agrave luz da lei

Ndeg 9079 de 14 de julho de 1995 bem como sua adequaccedilatildeo agrave seara trabalhista

fundamentalmente pela celeridade do procedimento fator de profunda relevacircncia para a

soluccedilatildeo dos conflitos laboristas Celeridade que se mostra cada vez mais urgente face agrave

condiccedilatildeo social desfavoraacutevel do trabalhador imposta pela conjuntura soacutecio-econocircmico-

poliacutetica Eis por que a azaacutefama de uma resposta jurisdicional agraves pretensotildees deduzidas

pelo trabalhador urge nos dias atuais sob pena de agravamento dessa condiccedilatildeo social

constrangedora

Certamente faltaratildeo muitos pontos a abordar poreacutem valeraacute este

breve estudo se porventura forem suscitadas discussotildees que tragam soluccedilotildees para os

impasses no que tange ao cabimento da Monitoacuteria na Justiccedila do Trabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A Accedilatildeo Monitoacuteria criada pela Lei Ndeg 9079 de 140795 foi instituiacuteda

em nosso sistema processual acrescentando-se trecircs artigos ao CPC no final da parte que

disciplina os procedimentos especiais de jurisdiccedilatildeo contenciosa

Na liccedilatildeo do ilustre JOSEacute ROGEacuteRIO CRUZ e TUCCI a Accedilatildeo Monitoacuteria

eacute O meio pelo qual o credor de quantia certa ou de coisa determinada cujo creacutedito

esteja comprovado por documento haacutebil requerendo a prolaccedilatildeo de provimento judicial

consubstanciado em uacuteltima anaacutelise num mandado de pagamento ou de entrega de

coisa visa a obter a satisfaccedilatildeo de seu direito

Trata-se entatildeo de accedilatildeo de conhecimento condenatoacuteria de cogniccedilatildeo

sumaacuteria e com rito especial tendo por objetivo maior alcanccedilar-se o tiacutetulo executivo de

maneira antecipada sem a demora de um processo de conhecimento tiacutepico que

apresenta uma sentenccedila de meacuterito recurso e transito em julgado

Com efeito eacute real a possibilidade de o trabalhador fazer uso da

Monitoacuteria pois eacute exatamente no processo do trabalho onde a necessidade da soluccedilatildeo

raacutepida dos conflitos se manifesta de forma dramaacutetica Ademais estariacuteamos tatildeo-somente

utilizando o procedimento especial civil de forma subsidiaacuteria Obviamente haacute que se

respeitar as peculiaridades do procedimento trabalhista

3 PERFIL HISTOacuteRICO

Natildeo se trata de um instituto oriundo do direito paacutetrio Eis que a

preocupaccedilatildeo com a demora do procedimento ordinaacuterio remonta aos legisladores

medievos e estes vieram a instituir o procedimento sumaacuterio Segundo o ilustre

magistrado MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO a Accedilatildeo Monitoacuteria do direito

brasileiro deriva da siacutentese de dois procedimentos medievais em um deles a accedilatildeo

sumaacuteria se fundava em escritura puacuteblica ou privada cuja certeza do direito alegado

estampada em prova preconstituiacuteda permitia ao juiz proferir desde logo sentenccedila

executiva contanto que citado o reacuteu o outro procedimento dava azo agrave expediccedilatildeo de um

mandado de solvendo inaudita altera parte ou seja natildeo havia citaccedilatildeo para audiecircncia

preacutevia do reacuteu e este era chamado para cumprir a obrigaccedilatildeo Neste caso o reacuteu poderia

arguumlir determinadas exceccedilotildees e obviamente a ordem judicial natildeo seria executada

passando a accedilatildeo a ser regida pelo procedimento ordinaacuterio

A Monitoacuteria deve ser embasada em prova escrita podendo o reacuteu

embargar hipoacutetese em que o mandado de solvendo perderaacute a eficaacutecia resolvendo-se

meramente em simples instrumento de citaccedilatildeo

Sucesso em vaacuterias legislaccedilotildees da Europa como na Itaacutelia Alemanha

Aacuteustria Franccedila e Beacutelgica a Monitoacuteria reflete duas espeacutecies de procedimento o puro e

o documental No primeiro a emissatildeo da ordem de pagamento natildeo se lastreia

necessariamente na existecircncia de prova escrita da diacutevida ao passo que no documental a

determinaccedilatildeo judicial deve sempre basear-se em prova incontestaacutevel do creacutedito

Via de regra o procedimento injuntivo ou monitoacuterio exige os mesmos

requisitos do procedimento comum devendo ser iniciado mediante peticcedilatildeo escrita

visando agrave obtenccedilatildeo de decisatildeo condenatoacuteria

Na Alemanha pode ser iniciado verbalmente e visa agrave obtenccedilatildeo de um

simples mandado de pagamento Todavia para o deferimento do mandado de

pagamento haacute legislaccedilotildees que exigem a exibiccedilatildeo de prova escrita incontestaacutevel

(ITAacuteLIA E BEacuteLGICA) Outros sistemas processuais exigem apenas a exibiccedilatildeo com a

exordial de prova justificativa do requerimento formulado (FRANCcedilA ALEMANHA

AacuteUSTRIA)

O legislador brasileiro aderiu ao procedimento documental quando

preceitua no art 1102a do CPC - DA accedilatildeo monitoacuteria compete a quem pretender com

base em prova escrita sem eficaacutecia de tiacutetulo executivo pagamento de soma em

dinheiro entrega de coisa fungiacutevel ou de determinado bem moacutevel

O modelo claacutessico da teacutecnica monitoacuteria foi adotado pelo sistema

processual paacutetrio onde o pronunciamento jurisdicional alvitrado eacute proferido inaudita

altera parte diferindo-se assim para um momento ulterior a possibilidade do

contraditoacuterio

Eacute de bom alvitre lembrar que a prova escrita do creacutedito deve ser

desprovida de eficaacutecia executiva

O escopo evidenciado em todas as legislaccedilotildees desses paiacuteses -

ALEMANHA AUSTRIA ITAacuteLIA FRANCcedilA BRASIL - no procedimento injuntivo

eacute essencialmente a ceacutelere constituiccedilatildeo de um tiacutetulo executivo judicial

4 CABIMENTO

A Monitoacuteria reflete basicamente um duplo objetivo A finalidade

primeira evidencia-se no cumprimento voluntariamente do mandado de solvendo pelo

devedor satisfazendo portanto a obrigaccedilatildeo de plano caso isso natildeo ocorra tem-se a

formaccedilatildeo do titulo executivo judicial A constituiccedilatildeo do tiacutetulo executivo judicial se

traduz no segundo escopo podendo se dar em duas situaccedilotildees quais sejam na ausecircncia

de oposiccedilatildeo pelo reacuteu ao mandado judicial ou pela rejeiccedilatildeo dos embargos pelo juiz

Ora o processo monitoacuterio vem a colocar-se entre o processo de

conhecimento e o processo de execuccedilatildeo encurtando o processo de conhecimento de

maneira a prescindir do cumprimento da fase instrutoacuteria e formalizaccedilatildeo da fase

decisoacuteria e em adequada antecipaccedilatildeo do processo de execuccedilatildeo face agrave desnecessaacuteria

instrumentalizaccedilatildeo por tiacutetulo constituiacutedo atraveacutes de sentenccedila ou da assemelhaccedilatildeo na

titulaccedilatildeo preacute-constituida

A execuccedilatildeo por quantia certa contra devedor solvente retrata a

modalidade de execuccedilatildeo mais frequumlente no processo trabalhista pois que a natureza do

creacutedito do trabalhador eacute na maioria das vezes pecuniaacuteria

O cabimento e a utilidade da Accedilatildeo Monitoacuteria no acircmbito da Justiccedila

Trabalhista satildeo notaacuteveis bem assim como outras accedilotildees especiais do processo civil jaacute

tiveram utilidade nesta aacuterea p ex a de consignaccedilatildeo em pagamento a de depoacutesito a de

embargos de terceiros

Atraveacutes da Monitoacuteria o trabalhador que possuir prova escrita de uma

obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa ou de entrega de coisa assumida pelo empregador

poderaacute solicitar ao juiz que conceda Iiminarmente e sem audiecircncia do reacuteu um

mandado para que este quite de imediato a obrigaccedilatildeo sob pena de o seu silecircncio

motivar o proferimento de sentenccedila que passaraacute a funcionar como tiacutetulo executivo

judicial

O cabimento da Accedilatildeo Monitoacuteria no acircmbito trabalhista suscita opiniotildees

divergentes como podemos constatar atraveacutes dos posicionamentos em dissensatildeo de dois

magistrados Para o nobre SEacuteRGIO PINTO MARTINS de Satildeo Paulo a monitoacuteria eacute

incompatiacutevel com as determinaccedilotildees do processo trabalhista pois neste soacute se pode

executar tiacutetulo executivo judicial como regra tomando impossiacutevel a execuccedilatildeo de algo

que nem sequer eacute tiacutetulo executivo como ocorre na accedilatildeo monitoacuteria Natildeo obstante essa

concepccedilatildeo aduzida para o ilustre MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO do Paranaacute

seria injustificaacutevel que se venha a cerrar as portas para a accedilatildeo monitoacuteria com sua

vocaccedilatildeo para tomar menos larga e aflitiva a distacircncia entre a pretensatildeo do autor e o

resultado praacutetico que deseja obter com a entrega da prestaccedilatildeo jurisdicional invocada

Com a devida vecircnia aos posicionamentos contraacuterios agrave Monitoacuteria filio-

me agraves palavras do Magistrado MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO por

vislumbrar na Monitoacuteria uma das soluccedilotildees para inuacutemeras pretensotildees do trabalhador

brasileiro

Ademais como jaacute mostramos anteriormente a Accedilatildeo Monitoacuteria natildeo eacute de

execuccedilatildeo e sim um meio para chegar-se ao tiacutetulo executivo judicial haja vista que o

direito do trabalho natildeo admite a execuccedilatildeo de tiacutetulos extrajudiciais

5 PROCEDIMENTO

A preservaccedilatildeo da especificidade do procedimento trabalhista eacute

fundamental Para tanto entendemos que a Accedilatildeo Monitoacuteria no direito do trabalho

carece de adaptaccedilotildees

Como jaacute enfatizamos a peccedila vestibular deve ser instruiacuteda por

documento que legitime o exerciacutecio da referida accedilatildeo Tal requisito encontra-se natildeo

somente no art 1102 a do CPC como na proacutepria CL T art 787 segundo o qual A

reclamaccedilatildeo escrita deveraacute ser formulada em duas vias e desde logo acompanhada dos

documentos em que se fundar

O autor uma vez preenchidos os requisitos do art 640 da CL T

requereraacute em sua peticcedilatildeo inicial a expediccedilatildeo do mandado de pagamento previsto no

art 1102 do CPC

O Magistrado verificando que a peticcedilatildeo estaacute devidamente elaborada

deferiraacute a emissatildeo do mandado de solvendo onde o objeto seraacute estabelecido atraveacutes do

tipo de obrigaccedilatildeo a ser cumprida pelo reacuteu quais sejam a entrega da coisa fungiacutevel ou

bem moacutevel determinado ou o pagamento de soma em dinheiro

Na seara processual civil o reacuteu eacute citado para em quinze (15) dias

cumprir a obrigaccedilatildeo ou ofertar embargos Entretanto segundo a liccedilatildeo do ilustre

MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO com a qual concordamos no sistema do

processo trabalhista tal procedimento deve ser adaptado agraves peculiaridades deste

processo Entatildeo o reacuteu seraacute citado para cumprir o mandado ou satisfazer a obrigaccedilatildeo

a) em audiecircncia b) que deveraacute ser a primeira desimpedida nos cinco dias subsequumlentes

(CL T art 841 Caput)

Ora a designaccedilatildeo dessa audiecircncia visa a colocar em praacutetica o escopo

singular da justiccedila obreira que eacute a soluccedilatildeo dos conflitos pela soluccedilatildeo negociada e natildeo

apenas a propiciar um momento para o reacuteu responder agrave accedilatildeo ou adimplir sua obrigaccedilatildeo

Destarte no dia aprazado para realizar-se a audiecircncia podemos imaginar

algumas situaccedilotildees possiacuteveis de ocorrer a) se o autor natildeo comparecer o processo seraacute

extinto sem julgamento do meacuterito Caso receba salaacuterio inferior ou igual ao dobro do

miacutenimo legal ficaraacute dispensado do pagamento das despesas e custas processuais b) se o

reacuteu natildeo comparecer aleacutem de revel seraacute confesso quanto aos fatos alegados na inicial

Todavia natildeo haveraacute confissatildeo ficta caso haja diversos reacuteus e um ou alguns deles

conteste a accedilatildeo ou ainda se o litiacutegio versar sobre direitos indisponiacuteveis c) caso a peccedila

inicial esteja desacompanhada de instrumento puacuteblico que a lei repute indispensaacutevel agrave

prova do ato como o reacuteu deixou de responder significa dizer que natildeo ofereceu

embargos logo forma-se de pleno direito o tiacutetulo executivo judicial convertendo-se o

mandado inicial em mandado executivo(art 1102 c caput - CPC) Eacute mister ressaltar

que a falta de embargos natildeo significa que necessariamente ocorreraacute a constituiccedilatildeo do

tiacutetulo executivo judicial pois para que se forme o tiacutetulo eacute indispensaacutevel que o juiacutezo

acolha o pedido do autor e d) finalmente caso o reacuteu compareccedila ele poderaacute proceder de

vaacuterias formas satisfazer a obrigaccedilatildeo transacionar excepcionar oferecer embargos ou

reconvir

Naturalmente cada atitude dessas supra mencionadas merece um

estudo aprofundado para uma melhor elucidaccedilatildeo acerca do tema em comento Contudo

podemos dizer que a reconvenccedilatildeo eacute a que suscita controveacutersias quanto a sua

possibilidade no procedimento monitoacuterio

6 Agrave GUISA DE ARREMATE

O tema trazido a propoacutesito deixou estampado que o fim especiacutefico do

procedimento monitoacuterio eacute a formaccedilatildeo de um tiacutetulo executivo judicial razatildeo pela qual o

mandado de solvendo eacute expedido antes mesmo da citaccedilatildeo do reacuteu se bem que a eficaacutecia

daquele instrumento judicial fica condicionada agrave ausecircncia de reaccedilatildeo pelo reacuteu haja vista

que opondo-se o reacuteu a eficaacutecia do mandado seraacute desfeita resolvendo-se em mera

citaccedilatildeo pois a partir daiacute a accedilatildeo teraacute curso pelo procedimento ordinaacuterio Ainda assim

vemos na Monitoacuteria um instituto perfeitamente cabiacutevel no processo trabalhista

inclusive em se tratando de tiacutetulos extrajudiciais levando-se em conta que o processo

do trabalho em vigor repele a execuccedilatildeo de tiacutetulo extrajudicial Aleacutem disso faz-se

urgente uma resposta jurisdicional agraves pretensotildees do trabalhador pois o que se denota eacute

uma condiccedilatildeo social cada vez mais desigual entre patratildeo e empregado

Em face dessa realidade vislumbramos na Monitoacuteria um dos

instrumentos possiacuteveis para se fazer mais ceacutelere o exerciacutecio da atividade jurisdicional

no acircmbito da justiccedila do trabalho principalmente se observarmos que a demora de uma

resposta jurisdicional numa conjuntura social desigual como a nossa pode conduzir o

trabalhador a situaccedilotildees oprobriosas

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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ARBITRAGEM A Lei nordm 930796

Azevedo Hamilton Cartaxo Acadecircmico do 7ordm peiacuteodo do Curso de Direito

da UFRN

I-Introacuteito

Nos uacuteltimos dias em razatildeo da ediccedilatildeo da Lei n 9307 de 23 de setembro

de 1996 tem-se ouvido falar com bastante frequumlecircncia na miacutedia em geral e no meio

juriacutedico em arbitragem Por ser assunto inusual daiacute derivando seu pouco

conhecimento eacute possiacutevel que se subestime a importacircncia que este instituto juriacutedico

pode vir a ter quanto ao bem-estar da sociedade em geral

A jurisdiccedilatildeo eacute a atividade estatal de decidir as lides e impor suas

decisotildees a fim de atingir seu objetivo uacuteltimo a pacificaccedilatildeo dos conflitos que surgem no

seio da sociedade com justiccedila Este conceito trazido com variaccedilotildees sem significacircncia

pela doutrina eacute beliacutessimo A um soacute momento daacute-se a quem o tem seu direito material

e garante-se tranquumlilidade interna ao grupo social

Mas existe um grave problema A jurisdiccedilatildeo como atividade estatal tem

falhado Agrave exceccedilatildeo do que acontece em alguns paiacuteses completamente desenvolvidos o

processo estatal tomou-se tatildeo caro e lento que ao final acabou afastando de si a

personagem fundamental da democracia a sociedade Mas para sermos justos

lembremos que um Judiciaacuterio lento natildeo eacute privileacutegio brasileiro Um artigo publicado

recentemente no jornal americano The Washington Postrdquo mostra que no Japatildeo o

lapso temporal necessaacuterio ao tracircmite de uma accedilatildeo eacute de 20 a 30 anos

Como sabemos o julgamento de uma accedilatildeo com justiccedila eacute por vezes

intrincado e envolve complexas questotildees de fato e de direito some-se a isso as

condiccedilotildees precaacuterias em que o subdimensionado judiciaacuterio brasileiro eacute obrigado a

trabalhar Isto provoca o que chamamos de demanda reprimida a sociedade tem um

sem nuacutemero de conflitos que natildeo vecirc resolvidos pela justiccedila estatal Numa eacutepoca em que

o ser humano amadurece cada vez mais raacutepido bombardeado que eacute com uma

gigantesca carga de informaccedilotildees uma gama cada vez maior de indiviacuteduos toma-se

consciente de que existem direitos fundamentais dos quais satildeo titulares e um deles eacute o

de ver resolvidos seus conflitos de forma raacutepida e paciacutefica Situaccedilotildees de inseguranccedila

juriacutedica e de tensotildees sociais contiacutenuas causam no cidadatildeo um sentimento generalizado

de desamparo e descrenccedila nas instituiccedilotildees juriacutedico-poliacuteticas que ali deveriam estar para

servi-Io a extensatildeo das consequumlecircncias dessa marginalizaccedilatildeo de uma grande parcela da

populaccedilatildeo soacute a Histoacuteria mostraraacute

Natildeo haacute exceccedilotildees Qualquer de noacutes sofre arrepios ao cogitar a hipoacutetese de

ir agrave Justiccedila e esperar sete ou dez anos para ter seu pleito apreciado Natildeo somos assim tatildeo

longevos isso eacute 10 da vida meacutedia de um ser humano

Outro aspecto importante eacute o custo da litigacircncia em juiacutezo Diga-se que

isto eacute suficiente para dele afastar a maior parte dos conflitos de interesses aqueles em

que particulares satildeo uma das partes Raciocinemos na realidade econocircmico-social de

nosso paiacutes que nuacutemero de indiviacuteduos satildeo suficientemente dotados financeiramente para

custearem um processo ciacutevel - natildeo sujeito ao Juizado Especial - com recursos apelaccedilotildees

e advogado ateacute seu desfecho em que podem vir a ser condenados inclusive com o ocircnus

da sucumbecircncia A resposta inelutaacutevel eacute muito poucos

As tentativas tradicionais de solucionar o problema tecircm naufragado

Tentou-se de tudo tribunais de alccedilada mudanccedilas no processo civil mais juiacutezes mais

cartoacuterios funcionaacuterios dinheiro informatizaccedilatildeo Tribunais com mais de 20 membros

passaram a ser comuns chegamos a extremos como em Satildeo Paulo de mais de uma

centena de desembargadores no Tribunal de Justiccedila Nada disso mudou um dado

concreto com uma demanda sempre crescente muitas dezenas de milhares de

processos em alguns Estados um juiz vecirc-se forccedilado a analisar um nuacutemero absurdo de

processos por mecircs Pergunta-se numa situaccedilatildeo que praticamente obriga agrave automaccedilatildeo

que espeacutecie de prestaccedilatildeo jurisdicional pode ser esperada

Eacute nesse contexto no anseio pelo acesso de todos e de cada membro da

sociedade a uma ordem juriacutedica justa que - numa efetiva mudanccedila de mentalidade -

foram recebidas com juacutebilo as leis dos Juizados Especiais Ciacuteveis e Criminais e do Juiacutezo

Arbitra Quanto agrave primeira espeacutecie normativa aqui natildeo seraacute tratada pois isso jaacute foi

feito por juristas com muitas luzes tomando ociosas quaisquer consideraccedilotildees que se

porventura viesse a fazer acerca dela O objetivo deste trabalho eacute apenas examinar as

linhas mestras do Juiacutezo Arbitral e as vantagens que oferece

II - Distinccedilatildeo Mediaccedilatildeo Conciliaccedilatildeo e Arbitragem

Existem diversos meacutetodos extrajudiciais de soluccedilatildeo de conflitos mas

uma distinccedilatildeo importante a ser colocada eacute a existente entre mediaccedilatildeo conciliaccedilatildeo e

arbitragem Na mediaccedilatildeo as proacuteprias partes voluntariamente resolvem seu conflito

com o auxiacutelio de um terceiro atraveacutes de um acordo Distingue-se da conciliaccedilatildeo na

medida em que nesta o conciliador possui um papel ativo que consiste em apoacutes

considerar os argumentos parciais propor soluccedilotildees que poderatildeo sendo adotadas vir

a dirimir a contenda Por serem provenientes das vontades individuais das partes com

ou sem auxiacutelio mediaccedilatildeo e conciliaccedilatildeo satildeo chamados meacutetodos autocompositivos de

soluccedilatildeo de conflitos

Noutro passo temos a arbitragem meacutetodo heterocompositivo em que

natildeo alcanccedilado entendimento as partes elegem um terceiro o aacuterbitro e assumem o

compromisso de cumprir-lhe a decisatildeo

III - Principais Vantagens da Arbitragem

Teacutecnica - Em questotildees complexas que envolvam conhecimento

aprofundado de algum ramo bastante especiacutefico do conhecimento como as que tratam

de know-how especializado em aacutereas como bioengenharia informaacutetica processos

industriais etc o juiz dificilmente estaacute qualificado a bem decidir a questatildeo gerando agraves

partes fundado receio diante da imprevisibilidade do teor do provimento jurisdicional

Em privilegiada situaccedilatildeo encontra-se a arbitragem posto ser possiacutevel a nomeaccedilatildeo de

um teacutecnico para a posiccedilatildeo de aacuterbitro que pode inclusive a criteacuterio das partes proferir

decisatildeo fundada apenas em equumlidade (art 2deg da Lei nordm 930796)

Sigilo - Com exceccedilatildeo das questotildees que correm em segredo de justiccedila os

processos que tramitam na justiccedila comum satildeo de conhecimento puacuteblico Isso toma

inviaacutevel que lhe sejam submetidas contendas em que a divulgaccedilatildeo de seu conteuacutedo

provoca prejuiacutezos irreparaacuteveis agraves partes sejam eles de ordem moral ou econocircmica

Soluccedilatildeo jaacute adotada pelas multinacionais a arbitragem elimina este inconveniente jaacute

que sujeitos agraves sanccedilotildees das legislaccedilotildees penal e civil os aacuterbitros estatildeo obrigados ao

sigilo

Confianccedila - Ao inverso da jurisdiccedilatildeo estatal aos litigantes em Juiacutezo

arbitral eacute garantida a certeza quanto agrave pessoa do aacuterbitro que elegem livremente

Presteza nos Julgamentos ndash O Juiacutezo ArbitraI escapa agrave rigidez dos

processo civil agraves partes eacute facultado estabelecerem ateacute o proacuteprio procedimento Os

litigantes a quem normalmente interessa o julgamento mais expedito possiacutevel haveratildeo

de decidir-se por aacuterbitro que Ihes garanta essa caracteriacutestica dificilmente encontrada no

judiciaacuterio

Atmosfera - A rapidez tambeacutem eacute assegurada porque no juiacutezo arbitral

ainda existe um certo clima de diaacutelogo que muitas vezes se extingue ao se bater agraves

portas da justiccedila diminuindo as chances de um possiacutevel acordo

IV - CONVENCcedilAtildeO DE ARBITRAGEM CLAacuteUSULA

COMPROMISSOacuteRIA E COMPROMISSO ARBITRAL

A lei estabeleceu o gecircnero convenccedilatildeo de arbitragem do qual satildeo

espeacutecies a claacuteusula com promissoacuteria e o compromisso arbitral A claacuteusula

compromiss6ria eacute a convenccedilatildeo atraveacutes da qual as partes em um contrato comprometem-

se a submeter agrave arbitragem os litiacutegios que possam vir a surgir relativamente a tal

contrato A nova lei em seu art 4 a 8 a ela trouxe novo disciplinamento legal agora

considerada obrigaccedilatildeo de fazer cujo adimplemento eacute sujeito agrave tutela especiacutefica a ela

natildeo se aplicando a regra nem o potest precise cogi ad factum Negando-se uma das

partes a assinar o compromisso arbitral conforme o ajuste contratual o juiz poderaacute -

obedecido o due process of law- por meio de sentenccedila estabelececirc-Io

O compromisso arbitral a seu turno constitui convenccedilatildeo atraveacutes da qual

as partes submetem um litiacutegio agrave arbitragem de uma ou mais pessoas podendo ser

judicial ou extrajudicial O compromisso arbitral eacute um instrumento distinto lavrado

entre as partes em estrita observacircncia aos preceitos legais sob pena de ser o instrumento

eivado de nulidade absoluta Finnado o compromisso arbitral fica devidamente

constituiacutedo o foro arbitral cuja sentenccedila natildeo comporta recurso ao Poder Judiciaacuterio

nem conforme veremos requer sua homologaccedilatildeo (art 18 da Lei nordm 930796)

Portanto para que fique bem entendido na claacuteusula compromissoacuteria a

parte assume a obrigaccedilatildeo de firmar compromisso arbitral quanto a lides que derivem do

contrato em que ela estiver inserta

V - DA EXECUCcedilAtildeO DA SENTENCcedilA

Num grande avanccedilo talvez o mais estrateacutegico deles agrave sentenccedila arbitral

condenatoacuteria foi atribuiacutedo o status de tiacutetulo executivo (art 31 da Lei nordm 930796)

inserindo-se no rol daqueles contemplados no art 585 VII do CPC Dessa forma as

partes ficam livres do embaraccedilo de ir ao Judiciaacuterio e submeter-lhe agrave apreciaccedilatildeo

questatildeo jaacute decidida Caso o decisum possua algum viacutecio este poderaacute ser examinado

no processo de execuccedilatildeo por meio dos embargos cabiacuteveis (art 33 sect 3deg) ou ainda via

accedilatildeo ordinaacuteria pedindo seja decretada sua nulidade (art 31) Dispensa-se portanto

homologaccedilatildeo do laudo arbitral que caso fomecida pelo Poder Judiciaacuterio viraacute apenas

dar ainda maior certeza a um tiacutetulo a que a lei jaacute atribui forccedila executiva

Ressalte-se ainda que quanto agraves sentenccedilas estrangeiras eliminou-se a

esdruacutexula figura do duplo exequatur no paiacutes de origem e no Brasil sendo agora

bastante apenas o concedido pelo Supremo Tribunal Federal (art 35)

VI - CONCLUSAtildeO

Cappelletti brilhante processualista italiano chamou esse

movimento universal de acesso agrave Justiccedila de a terceira onda Mostrou-nos que o Juiacutezo

Arbitral eacute muitas vezes o mais adequado agrave obtenccedilatildeo de justiccedila

De nula valia seraacute a nova Lei se apesar dela continuarmos a tratar a

Juiacutezo Arbitral como algueacutem jaacute disse com solene ignoracircncia Cabe aos operadores

juriacutedicos em suas esferas particulares de accedilatildeo sermos corajosos e tomarmos a noacutes a

responsabilidade da criaccedilatildeo de uma cultura de arbitragem Eliminemos o que denomino

cultura de ir a juiacutezo que faz com que alguns ainda mesmerizados com o processo

nele vislumbram um fim em si mesmo

Agraves partes interessa a soluccedilatildeo mais ceacutelere de seus conflitos natildeo a

complexidade dos procedimentos a profundidade das peticcedilotildees pareceres e sentenccedilas

Na era das fraccedilotildees de segundo natildeo haacute razatildeo para esperar meses com frequumlecircncia vaacuterios

anos pelo desfecho

de um feito quando evitaacutevel

Como anota a Dra Ada Pellegrini Grinover por ser o processo judicial

tatildeo caro demorado e complicado existe uma grande litigacircncia latente Haacute este imenso e

virgem campo do Direito a explorar que tem como uma de suas douradas recompensas

proporcionar aos membros de nossa sociedade a melhor soluccedilatildeo juriacutedica possiacutevel

A concluir sempre digno de lembranccedila eacute o ensinamento de Ihering para

quem lutar pelo direito natildeo eacute apenas pleitear em Juizo eacute mais eacute natildeo se

conformar com a injusticcedila eacute pugnar pela cidadania

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Lei nordm 9307 de 23 de setembro de 1996 Publicada no Diaacuterio Oficial da

Uniatildeo em 24 de setembro de 1996 Brasiacutelia _ DF

GRINOVER Ada Pellegrini - Tese Aspectos da Conciliaccedilatildeo no Atual

Direito Processual Livro de Teses II - Os Novos Acessos agrave Justiccedila _ XVI Conferecircncia

Nacional dos Advogados Fortaleza _ CE (1996)

BASSO Maristela - Tese Ampliaccedilatildeo do Uso da Arbitragem _ A

Revitalizaccedilatildeo da Arbitragem no Brasil sob um Enfoque Realista e um Espiacuterito

Diferente Livro de Teses 11 - Os Novos Acessos agrave Justiccedila _ XVI Conferecircncia Nacional

dos Advogados Fortaleza _ CE (1996)

PINHEIRO NETO - ADVOGADOS Internet http

WWWdprmregovbrdpgcfOO_phtm

MALLET Estevam - Conferecircncia proferida no I Congresso de Direito

Processual Brasileiro Natal- RN (1996)

DESVINCULACcedilAtildeO DA SEPARACcedilAtildeO DOS PODERES COM A

IDEacuteIA DE DEMOCRACIA

Carline Regina de Negreiros Cabral Acadecircmica de Direito 3degperiacuteodo

LETAT CEST MOI Esta frase concebida pelo Rei Luiacutes XIV (1661 -

1715) tomou-se o siacutembolo supremo do Absolutismo Monaacuterquico Francecircs Na Idade

Moderna entre o seacuteculo XV e o final do seacuteculo XVIII o Poder concentrava-se em

apenas uma pessoa que assumia todos os poderes do Estado - comandava exeacutercitos

distribuiacutea a Justiccedila entre os suacuteditos decretava as leis e arrecadava tributos

A Nobreza com esta grande concentraccedilatildeo de Poder acumulou muitas

riquezas enquanto que a maior parcela da populaccedilatildeo era cada vez mais explorada pelos

altos tributos Surgiu depois uma nova classe social - a Burguesia - que pela

descoberta de novos continentes e o aperfeiccediloamento das navegaccedilotildees mariacutetimas era

cada vez mais emergente e consciente da importacircncia de mudanccedilas no Antigo Regime

visto que o mesmo natildeo correspondia ao seu interesse Dentro deste contexto deu iniacutecio

a lutas entre estas duas classes sociais

Entre os acontecimentos que combateram o Absolutismo destacam-se a

Revoluccedilatildeo Inglesa de 1689 quando foi assinada a Declaraccedilatildeo dos Direitos - BiII of

Rights - que previa por exemplo a liberdade de imprensa garantias para o livre

exerciacutecio da Justiccedila Puacuteblica e enfim garantia a limitaccedilatildeo do poder do Rei pelo

Parlamento a Declaraccedilatildeo de Independecircncia das 13 colocircnias americanas em 1776 que

defendia a liberdade individual e o respeito aos direitos fundamentais do ser humano a

Revoluccedilatildeo Francesa - cujo lema era a Liberdade a Igualdade e a Fraternidade-

proclamou a ceacutelebre Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo Os principais

pontos defendidos era o respeito pelo Estado agrave dignidade da pessoa humana a

liberdade e a igualdade dos cidadatildeos perante a Lei o direito agrave propriedade individual a

liberdade de pensamento e de opiniatildeo

Ao lado desse movimento poliacutetico-econocircmico surgiu um movimento

cultural conhecido como lIuminismo Vaacuterias teorias combatendo o Absolutismo foram

editadas Entre elas pode-se citar a obra De LEspirit des Lois de MONTESQUIEU

que defende a triparticcedilatildeo dos poderes do Estado em Legislativo Executivo e Judiciaacuterio

Ele acreditava que desta forma poderia ser evitado abusos dos governantes e estarem

protegidas as liberdades individuais Ele afirma

Haacute em cada Estado trecircs espeacutecies de poderes o poder legislativo o

poder executivo e o poder judiciaacuterio Pelo primeiro o priacutencipe ou

magistrado faz leis por certo tempo ou para sempre e corrige ou ab-

roga as que estatildeo feitas Pelo segundo faz a paz ou a guerra envia

ou recebe embaixadas estabelece a seguranccedila previne as invasotildees

Pelo terceiro pune os crimes ou julga as querelas dos indiviacuteduos A

liberdade poliacutetica num cidadi1o eacute esta tranquumlilidade de espiacuterito que

proveacutem da opiniatildeo que cada um possui de sua seguranccedila e para que

se tenha esta liberdade cumpre que o governo seja de tal modo que

um cidadatildeo natildeo possa temer outro cidadatildeo Natildeo haveraacute tambeacutem

liberdade se o poder de julgar natildeo estiver separado do poder

legislativo o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadatildeos seria

arbitraacuterio pois o juiz seria o legislador Se estivesse ligado ao poder

executivo o juiz poderia ter forccedila de opressor() O poder judiciaacuterio

natildeo deve ser outorgado a um Corpo permanentes e sim exercido por

pessoas extraiacutedas do povo de modo prescrito pela lei para formar um

Tribunal que dure apenas o tempo necessaacuterio Desta maneira o poder

de julgar tatildeo terriacutevel entre os homens natildeo estaacute ligado nem a certa

situaccedilatildeo nem a uma certa profissatildeo torna-se por assim dizer nulo e

invisiacutevel Os outros dois poderes poderiam preferivelmente ser

outorgados a corpos permanentes porque natildeo se exercem sobre

nenhum indiviacuteduo sendo um somente a vontade geral do Estado e

outro somente a execuccedilatildeo dessa vontade geral Poreacutem se os tribunais

natildeo devem ser fixar os julgamentos devem secirc-lo a tal ponto que

nunca sejam mais do que um texto exato da lei Se fossem uma

opiniatildeo particular do juiz viver-se-ia na Sociedade sem saber

precisamente os compromissos que nela satildeo assumidos Jaacute que num

Estado Livre todo Homem que supotildee ter uma alma livre deve

governar a si proacuteprio eacute necessaacuterio que o povo no seu conjunto

possua o poder legislativo Eacute preciso que o povo atraveacutes de seus

representantes faccedila o que natildeo pode fazer por si mesmo A grande

vantagem dos representantes eacute que satildeo capazes de discutir os

negoacutecios puacuteblicos O povo natildeo eacute de modo algum capaz disso fato

que constitui um dos graves inconvenientes da democracia Se o

poder executivo natildeo tem direito de vetar os empreendimentos d6 corpo

legislativo este uacuteltimo seria despoacutetico porque como pode atribuir a

si proacuteprio todo o poder que possa imaginar destruiria todos os

demais poderes mas natildeo eacute preciso que o corpo legislativo tenha

reciprocamente a faculdade de paralisar o poder executivo porque

tendo a execuccedilatildeo limites por sua natureza eacute inuacutetil limitaacute-Ia () No

acircmbito do poder judiciaacuterio poderia acontecer que a lei que eacute ao

mesmo tempo clarividente e cega fosse em certos casos muito

rigorosa Poreacutem os juizes de uma naccedilatildeo natildeo satildeo como dissemos

mais que a boca que pronuncia as sentenccedilas da lei seres inanimados

que natildeo podem moderar nem sua forccedila nem seu rigorrdquo1

Essa obra dava atribuiccedilotildees restritas ao Estado que devido ao contexto

histoacuterico da eacutepoca MONTESQUIEU estava preocupado natildeo com a eficiecircncia estatal

mas em garantir a liberdade individual Foi a Intenccedilatildeo de enfraquecer o poder de

Estado complementando a funccedilatildeo Iimitadora exercida pela Constituiccedilatildeo que impocircs a

separaccedilatildeo dos poderes como um dos dogmas do Estado Moderno Como afirma

DALMO DALLARI eacute importante assinalar que essa Teoria teve acolhida e foi

consagrada numa eacutepoca em que se buscavam meios para enfraquecer o Estado uma vez

que natildeo se admitia sua interferecircncia na Vida Social a natildeo ser como

vigilante e conservador das situaccedilotildees estabelecidas pelos indiviacuteduosrdquo2

Na teoria de Separaccedilatildeo dos Poderes3 consagrado nas Constituiccedilotildees

vinculou-se agrave ideacuteia de Democracia dando origem a uma nova doutrina conhecida como

1 MONTESQUIEU De LEspirit des Lois Satildeo Paulo Abril 1978p150

2 DALLARI Dalmo de Abreu Elementos da teoria geral do estadoSatildeo Paulo Saraiva P 184

3 O que existe na verdade eacute a distribuiccedilatildeo de funccedilotildees a 6rgaos distintos que exercem o Poder

soberano do Estado jaacute que o Poder do Estado eacute uno e indivisiacutevel

a TEORIA DOS FREIOS E CONTRAPESOS onde se defende a interpenetraccedilatildeo entre

os poderes visando a limitaccedilatildeo reciacuteproca

Na Constituiccedilatildeo de 1988 esta teoria encontra-se presente Visualizemo-

Ia

O Poder Executivo na pessoa do Presidente da Repuacuteblica tem as

seguintes atribuiccedilotildees frente aos demais poderes

a) Iniciar a ediccedilatildeo de normas em mateacuterias previamente determinadas

(art 61 sect 1deg)

b) Sancionar ou vetar um projeto caso seja considerado inconstitucional

(art 66 sect 1deg)

c) Adotar medidas provisoacuterias em caso de relevacircncia e urgecircncia(art 62)

e elaborar leis delgadas (art 68)

d) Nomear Ministros do Supremo Tribunal Federal (art 10 paraacutegrafo

uacutenico) do Superior Tribunal de Justiccedila (art 104 paraacutegrafo uacutenico) Tribunal Superior

do Trabalho (art 111 1deg1) os Juizes do Tribunal Regional do Trabalho membros do

Tribunal Superior Eleitoral (art 119 sect 2deg) Juizes do Tribunal Regional Eleitoral (art

120 sect 1deg3deg) Ministro do Superior Tribunal Militar (art 123) e o Procurador Geral da

Repuacuteblica (art 128 sect 1deg)

O Poder Legislativo sobre os demais

a) Resolver acerca de Tratados e Acordos Internacionais (art 49 sect 1deg)

b) Sustar os atos normativos do poder executivo que exorbitem do poder

regulamentar ou dos limites de delegaccedilatildeo legislativa (art 49 sect5deg)

c) Julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da Repuacuteblica e

apreciar sobre a execuccedilatildeo dos planos de governo (art 49 sect 9deg)

d) Exercer fiscalizaccedilatildeo sobre o Presidente Vice-Presidente Ministros de

Estados do STF o Procurador geral da Repuacuteblica e o Advogado Geral da Uniatildeo nos

crimes de responsabilidade (art 52 sect 10 2deg)

e) Aprovar previamente a indicaccedilatildeo do executivo para determinados

cargos ( art 52 3deg 4deg)

f) Rejeitar do veto do Presidente (art 66 sect sect 5deg e 6deg)

O Poder Judiciaacuterio impotildee-se sobre os demais

a) controlar a legitimidade da Constitucionalidade das Leis

b) Agir de maneira fiscalizadora obrigando-os a permanecer nos limites

de suas respectivas esferas de competecircncias caso venha a ocorrer exorbitacircncia dos

demais poderes

Muitas criacuteticas satildeo tecidas a respeito da Teoria de MONTESQUIEU

Esta no contexto histoacuterico em que o autor se inseria atendia as necessidades de sua

eacutepoca que era a limitaccedilatildeo do Poder do Estado e natildeo a sua eficiecircncia no entanto com a

evoluccedilatildeo social o Estado passou a ser cada vez mais solicitado e suas aacutereas de atuaccedilatildeo

tendem a expandir-se e abranger aacutereas ateacute entatildeo impenetraacuteveis Essa necessidade de

expansatildeo toma-se inconciliaacutevel com os modelos da Separaccedilatildeo dos Poderes Apesar

disso reluta-se em modificar a organizaccedilatildeo do Estado por este estaacute vinculado a ideacuteia de

Democracia

Atualmente estes trecircs poderes encontram-se em crise Veja a seguir em

quais pontos e suas possiacuteveis soluccedilotildees

No Poder Executivo reclama-se principalmente da quantidade

incalculaacutevel de Medidas Provisoacuterias Cientistas Poliacuteticos jaacute as compararam aos AI-Atos

Institucionais da Ditadura A maneira indisciplinada com que as mesmas satildeo editadas

chega a ser constrangedora como eacute o caso do reajuste das mensalidades escolares e da

Reforma Administrativa Dezenas de MPs foram editadas sem maiores detalhamentos e

por tempo de vigecircncia curto que soacute vecircm a complicar a situaccedilatildeo existente - Parece que o

Poder Executivo natildeo faz jus ao que estaacute presente na Constituiccedilatildeo onde diz que as

MPs devem ser utilizadas em caso de relevacircncia e urgecircncia Necessita-se portanto de

um maior rigor na adoccedilatildeo destas Medidas

Quanto ao Poder Legislativo encontra-se satirizado frente a opiniatildeo

puacuteblica em virtude de envolvimento em escacircndalos Recentemente houve uma CPI de

estarrecer o paiacutes pela envergadura de denuacutencias e provas que vieram agrave luz Aleacutem disso

reclama-se da lentidatildeo com que elaboram as leis - sua funccedilatildeo basilar - Exige-se a

execuccedilatildeo de outras funccedilotildees que Ihes satildeo conferidas como o de fiscalizar as contas

prestadas pelo Poder Executivo e a sustaccedilatildeo de atos normativos do Poder Executivo que

exorbitem a limitaccedilatildeo de delegaccedilatildeo legislativa Muitas satildeo as prerrogativas concedidas

aos parlamentares como a preacutevia licenccedila para a instauraccedilatildeo e continuidade de processos

e a imunidade parlamentar o que muitas vezes satildeo usufruiacutedas de forma abusiva

Considerando esta realidade sugere--se ao Poder Legislativo a criaccedilatildeo

de comissotildees na Constituiccedilatildeo onde as mesmas teratildeo poderes de investigaccedilatildeo proacuteprios

das autoridades judiciais e durante o recesso haveraacute uma Comissatildeo Representativa do

Congresso Nacional cuja composiccedilatildeo reproduziraacute quanto possiacutevel a representaccedilatildeo

partidaacuteria (art 58 sect 30)

Quanto ao Judiciaacuterio o novo contexto social exige uma maior

aproximaccedilatildeo da Justiccedila com o povo Exemplo bem sucedido deste anseio eacute a criaccedilatildeo

dos Juizados Especiais de Pequenas Causas (Lei 909995) que estabelece um

procedimento raacutepido e barato orientado pelos criteacuterios da oralidade simplicidade e

informalidade buscando sempre que possiacutevel a conciliaccedilatildeo ou a transaccedilatildeo aleacutem de

desafogar a Justiccedila Comum Nos processos satildeo cabiacuteveis inuacutemeros recursos que

dificultam a sentenccedila final ser proferida mais raacutepida aleacutem de existirem inuacutemeras

formalidades processuais acarretando na morosiacutedade do andamento dos feitos Os

Magistrados encontram sob sua responsabilidade um nuacutemero muito elevado de

processos - haacute casos que chegam a 15 mil - consistindo assim num outro empecilho para

a sua agilidade

O objetivo da Teoria da Separaccedilatildeo dos Poderes era conter o poder em

volta do Estado como foi dito anteriormente Essa realidade natildeo eacute mais condizente com

a nossa cujos maacuteximos valores satildeo a eficiecircncia dos resultados e a alta probabilidade de

sua consecuccedilatildeo O Estado hoje deve abranger aacutereas como a previdecircncia a educaccedilatildeo o

social e o econocircmico

Fazendo uma reflexatildeo sobre a atuaccedilatildeo do Poder Legislativo - legalizado

e legitimado - questiona-se se este atende as necessidades daqueles que representa - o

povo - se assegura a liberdade e os interesses desse

Quanto ao Poder Executivo se ele age com o mesmo rigor na cobranccedila

de tributos aos banqueiros e ruralistas e aos pequenos empresaacuterios jaacute que todos satildeo

iguais perante a lei

Em relaccedilatildeo ao Poder Judiciaacuterio percebe-se que este encontra-se

acentuadamente desacreditado perante a opiniatildeo puacuteblica devido a dificuldade que existe

para o povo ingressar em Juiacutezo ( elevadas custas processuais morosidade na resoluccedilatildeo

dos conflitos etc)Observase tambeacutem que algumas autoridades fazem do uso do Poder

que lhe eacute atribuiacutedo um comeacutercio e esquecem o Princiacutepio da Imparcialidade e a

constante busca pela Justiccedila

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DALLARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19a

Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

MALUF Sahid Teoria Geral do Estado 23ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva1995

MONTESQUIEU O Espiacuterito das Leis Coleccedilatildeo middot ldquoOs Pensadores 2a

Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Abril1978

NOBRE JUacuteNIOR Edilson Pereira Independecircncia dos poderes no

regime democraacutetico e as exigecircncias da sociedade hodierna Revista do Curso de Direito

- RCD Natal Editora Universitaacuteria 1996

Dossiecirc Judiciaacuterio Revista USP Editora USP

ASPECTOS DA REINCIDEcircNCIA PARA EFEITO DE

CONCESSAtildeO DE LIVRAMENTO CONDICIONAL

Cristina Silva Macecircdo

Bacharelanda do Curso de Direito da UFRN

INTRODUCcedilAtildeO

Pode-se conceituar livramento condicional como a antecipaccedilatildeo

provisoacuteria da liberdade de um condenado agrave pena privativa de liberdade sujeita agrave

imposiccedilatildeo de termos que deveratildeo ser rigorosamente seguidos cuja hipoacutetese adversa

implicaraacute em sua revogaccedilatildeo

Natildeo objetiva o presente trabalho discorrer acerca dos pressupostos ou

condiccedilotildees para o gozo do instituto em baila Entretanto importa salientar que natildeo se

trata de um simples benefiacutecio ou um favor do juiacutezo das execuccedilotildees penais Consiste

em direito subjetivo do reacuteu verificados os requisitos que autorizam sua concessatildeo

O aspecto a ser aqui tratado repousa na anaacutelise da reincidecircncia para

efeito de concessatildeo de livramento condicional Evidentemente natildeo se tem a pretensatildeo

de esgotar o tema mas tatildeo somente de dar iniacutecio a estudos que permitam suprir as

lacunas constantes na doutrina e jurisprudecircncia fartamente consultadas poreacutem com

poucas respostas para algumas situaccedilotildees trazidas agrave lume

HIPOacuteTESES LEGAIS

O artigo 83 do Coacutedigo Penal estabelece de forma categoacuterica

O juiz poderaacute conceder livramento condicional ao condenado a pena

privativa de Liberdade igualou superior a dois anos desde que

Conforme seraacute demonstrado haacute uma intensa preocupaccedilatildeo do legislador

em disciplinar as condiccedilotildees de concessatildeo de livramento condicional para o condenado

reincidente Todavia a excessiva atenccedilatildeo dispensada pelo preceito normativo cria uma

certa confusatildeo no momento de adequar a lei ao caso concreto em especial quando pode

ser verificada a reincidecircncia do apenado

I - CUMPRIDO MAIS DE UM TERCcedilO DA PENA SE O

CONDENADO NAtildeO FOR REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO E TIVER

BONS ANTECEDENTES

Poucas indagaccedilotildees residem no tocante agrave aplicabilidade do inciso I Caso

natildeo haja reincidecircncia em crime doloso e tenha o reacuteu bons antecedentes impotildee-se o

cumprimento de apenas um terccedilo da pena que lhe foi imposta para preencher o lapso

temporal que autorize a concessatildeo do benefiacutecio

Todavia importa proceder ao apreccedilo do alcance da expressatildeo natildeo ser

reincidente em crime doloso

O texto legal permite a submissatildeo do condenado de trecircs hipoacuteteses a) natildeo

ter cometido mais de um crime qualquer que seja sua natureza (tecnicamente primaacuterio)

b) ser reincidente poreacutem em crimes culposos e c) ser reincidente mas ter cometido um

crime doloso e um culposo

A vaga redaccedilatildeo do inciso I concede permissibilidade agrave

sua aplicabilidade em qualquer dos casos suso mencionados haja vista que todas estatildeo

inseridas no preceito natildeo ser reincidente em crime doloso

Impossiacutevel determinar a intenccedilatildeo do dispositivo Acredita-se que tal

norma foi concebida no fito de regular o instituto do livramento condicional aos

apenados tecnicamente primaacuterios No entanto o silecircncio da lei no que concerne aos

crimes culposos chega a preocupar natildeo restando alternativa ao julgador que natildeo seja

pela inserccedilatildeo de tais infraccedilotildees no inciso I por ser este o mais beneacutefico dentre os outros

que dispotildeem acerca da reincidecircncia

Outro exemplo quando algueacutem jaacute foi condenado por um crime culposo

e lhe sobrevenha uma sentenccedila condenatoacuteria imputando uma conduta iliacutecita

impregnada do elemento volitivo de delinquumlir (dolo) Neste caso haacute reincidecircncia mas

natildeo houve a praacutetica de mais de um crime doloso o que importaria na aplicaccedilatildeo do

inciso seguinte (II) A interpretaccedilatildeo mais correta parece ser a aplicaccedilatildeo deste inciso I

uma vez que apesar de falha a literalidade do dispositivo remete apenas agrave

primariedade em crime doloso restando silente no tocante agrave presenccedila de culpa no

proceder do agente

Resta ainda uma lacuna a ser preenchida em caso de praacutetica de mais de

um crime culposo qual hipoacutetese legal aplicar A obviedade do inciso I merece

prevalecer conclusatildeo esta alcanccedilada sem demandar maiores esforccedilos interpretativos

Merece registro apenas a omissatildeo aqui referida

II - CUMPRIDA MAIS DE METADE SE O CONDENADO FOR

REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO

Natildeo haacute discussatildeo ou controveacutersia acerca da reincidecircncia em crimes

dolosos ou seja da praacutetica consecutiva de infraccedilotildees causadas pela vontade deliberada

do agente Insiste-se apenas no registro a omissatildeo do legislador em tratar da

reincidecircncia em crime culposo conforme jaacute foi exposto restando ainda um aspecto a

ser tratado logo a seguir

v - cumprido mais de dois terccedilos da pena nos casos de condenaccedilatildeo por

crime hediondo praacutetica da tortura traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e

terrorismo se o apenado natildeo for reincidente especiacutefico em crimes dessa natureza

Reside no inciso V implantado atraveacutes da Lei ndeg 807290 (Lei dos

Crimes Hediondos) o maior empeccedilo de aplicaccedilatildeo da norma penal aqui tratada A

hipoacutetese antevista no preceito normativo natildeo preenche a diversidade de casos que

podem chegar agraves matildeos do Juiz das Execuccedilotildees Penais do Representante do Ministeacuterio

Puacuteblico e ateacute do Conselheiro Penitenciaacuterio obstando a devida apreciaccedilatildeo do fato

Seraacute trazida agrave lume no entanto apenas a seguinte situaccedilatildeo o denunciado

responde em juiacutezo pela praacutetica de um crime doloso diverso daqueles mencionados no

inciso V do artigo 83 do Coacutedigo Penal Enquanto aguarda a decisatildeo judicial comete um

novo iliacutecito desta vez inserido no dispositivo supramencionado

No caso em tela natildeo haacute reincidecircncia sendo o denunciado tecnicamente

primaacuterio a teor do artigo 63 do Coacutedigo Penal cuja redaccedilatildeo estabelece que esta somente

se perfaz quando ocorre a praacutetica de uma nova infraccedilatildeo apoacutes o tracircnsito em julgado de

sentenccedila que tenha condenado o agente em crime anterior

Faz-se de bom alvitre tratar as duas condutas de formas distintas posto

que se tratam de infraccedilotildees de naturezas diversas Apoacutes julgado e condenado por ambos

os crimes em decisotildees apartadas dever-se-aacute proceder o caacutelculo para efeito de concessatildeo

de livramento condicional tambeacutem de forma individual para cada pena de acordo com o

dispositivo que for aplicaacutevel

Por exemplo um agente responde por crime de moeda falsa processado

e julgado na Justiccedila Federal e no decorrer da instruccedilatildeo processual incorre em traacutefico

iliacutecito de entorpecentes de competecircncia da Justiccedila Estadual sendo condenado em

ambos os processos ao cumprimento de penas de cinco e quatro anos respectivamente

Apoacutes determinado tempo entra com pedido de livramento condicional perante o Juiacutezo

das Execuccedilotildees Como apreciar tal pleito

Eacute mais coerente aplicar o inciso I verificando se jaacute foi cumprido 13 da

sanccedilatildeo imposta pela conduta de moeda falsa (1 ano e 8 meses) posto que ao tempo da

praacutetica da primeira infraccedilatildeo o reacuteu seria enquadrado em tal hipoacutetese Em seguida

procede-se o apreccedilo do lapso temporal demandado para a concessatildeo do benefiacutecio no

segundo delito computando-se 23 da pena de cinco anos cominada pelo crime de

traacutefico de entorpecentes (2 anos e 8 meses) em conformidade com o inciso V

Finalmente soma-se os dois quocientes para chegar ao tempo real de privaccedilatildeo de

liberdade que autoriza o deferimento do pedido ou seja 04 anos e 04 meses Caso o

apenado natildeo tenha cumprido este periacuteodo da pena que lhe foi cominada natildeo faraacute jus ao

livramento

Submeter a pena total de no caso nove anos ao regime do inciso V

demonstra descabida interpretaccedilatildeo prejudicial ao reacuteu posto que a natureza da primeira

infraccedilatildeo (moeda falsa) eacute considerada menos grave uma vez que natildeo estaacute elencada

dentre os crimes hediondos Inexistindo razatildeo de ser em qualquer tratamento que assim

lhe seja dispensado

Ressalte-se que tal hipoacutetese deveraacute ser aplicada em caso de natildeo

configuraccedilatildeo de reincidecircncia conforme jaacute foi exposto Caso a segunda infraccedilatildeo ocorra

apoacutes o trAnsito em julgado da primeira sentenccedila condenatoacuteria figura indiscutiacutevel a

apreciaccedilatildeo do caso sob a eacutegide do inciso 11 do artigo 83 do Coacutedigo Penal

REINCIDEcircNCIA ESPECIacuteFICA

O inciso V dispotildee ainda sobre o instituto da reincidecircncia especiacutefica

escusando-se de tecer maiores consideraccedilotildees a respeito remanescendo agrave doutrina

definir o que venha a ser tal instituto permanecendo inflamada a discussatildeo de seu

alcance

A parte dominante da doutrina em virtude do nuacutemero de adeptos

concebe que a reincidecircncia especifica do dispositivo legal suso mencionado ocorre em

virtude da praacutetica de dois crimes equiparados sob algum aspecto pela lei penal Assim

entende-se que a praacutetica de mais de um crime considerado hediondo pela Lei ndeg

807290 (ou equiparado a hediondo) permite a caracterizaccedilatildeo da reincidecircncia

especiacutefica

AURINO LOPES MONTEIRO ilustre representante deste pensamento

prolata a seguinte assertiva

A reincidecircncia especifica na Lei nordm 8072 que natildeo pode ser regida

pelo conceito legal revogado pela Lei ndeg 6416 de 24-04-77 fica

configurada quando o agente comete um crime entre os mencionados

na lei apoacutes ter transitado em julgado sentenccedila condenatoacuteria que o

tenha condenado por crime anterior tambeacutem relacionado no mesmo

diploma legal Natildeo eacute necessaacuterio que seja crime idecircntico ou

semelhante ao anterior como bem indica a expressatildeo dessa natureza

inscrita no dispositivo mas apenas que ambos estejam abrangidos

pela Lei nordm 80721

Em suma a reincidecircncia especifica natildeo importa na praacutetica de dois

sequumlestros ou dois Estupros Sua caracterizaccedilatildeo repousa na incorrecircncia de duas ou mais

infraccedilotildees inseridas no contexto da Lei dos Crimes Hediondos

Todavia parte dos doutrinadores discorda de tal entendimento sob o

aduzido que a Lei ndeg 807290 abriga infraccedilotildees das mais diversas estirpes desde crimes

contra o meio ambiente ateacute crimes contra os costumes cujas naturezas figuram como

sendo diametralmente opostas desmerecendo destarte o tratamento idecircntico

dispensado pela Lei dos Crimes Hediondos

Eis o entendimento de ALBERTO SILVA FRANCO2 sobre a mateacuteria

O que relaciona o estupro simples ou qualificado ao delito de

terrorismo O que haacute de comum entre o crime de epidemia com

resultado de morte e o delito de tortura Evidentemente nada Em

ponto algum de relevo os referidos tipos suportam um juizo

aproximativo Onde buscar entatildeo a a conotaccedilatildeo especiacutefica dessa

reincidecircncia

Depois porque natildeo pode o legislador nem o inteacuterprete decretar que

delitos tatildeo diacutespares tatildeo dessemelhantes possuam uma igualou

mesma natureza

Mais uma vez a redaccedilatildeo do texto legal concede permissibilidade agrave

dubiedade de interpretaccedilotildees Inobstante assistir razatildeo aos que discordam do primeiro

posicionamento eacute possivel verificar que a intenccedilatildeo do dispositivo repousou em obstar o

agraciamento do livramento condicional agravequelas pessoas que praticam crimes

1 apud MIRABETE Julio Fabbrini Op Cit pp 326 e 327

2 Op Cil p 1058

considerados hediondos reiteradas vezes Trata-se aqui de mero exerciacutecio de

interpretaccedilatildeo

Em respaldo a tal posicionamento recorra-se agrave liccedilatildeo de JULIO

FABBRINI MIRABETE ao definir a interpretaccedilatildeo como o processo loacutegico que

procura estabelecer a vontade da lei que nao eacute necessariamente a vontade do

legislador3

O liame que une os delitos elencados na Lei ndeg 807290 reside nos

efeitos de tais crimes sempre significativos aterradores e increpados de violecircncia que

atinge todos os bens juriacutedicos pelo dispositivo protegidos seja a liberdade seja o meio

ambiente seja a vida

Conclui-se por fim que apesar da impropriedade do preceito normativo

em remeter agrave reincidecircncia especifica resta compreendido que a mens legis do

dispositivo residiu em coibir a incorrecircncia repetida de crimes de efeitos siacutemiles sob o

aspecto da violecircncia que causam quando praticados

CONCLUSAtildeO

Conforme se fez possiacutevel observar existe uma infinidade de hipoacuteteses a

serem submetidas ao crivo de um nuacutemero limitado de normas Os casos aqui elencados

configuram simples exemplos elaborados com base em duacutevidas concebidas no decorrer

da pouca praacutetica de estudante estagiaacuteria na Justiccedila Federal de Primeira Instacircncia e

voluntaacuteria na Vara de Execuccedilotildees Penais da Justiccedila Estadual

Eacute evidente que o tema natildeo resta esgotado Todavia algumas omissotildees

figuram pelo menos em tese dirimidas graccedilas ao exerciacutecio interpretativo da norma

instituto este que se mostra sempre imperioso recorrer quando se defronta com fatos

natildeo previstos em lei

Importa ressaltar que a interpretaccedilatildeo em sede de Direito Penal e

Processual Penal deveraacute atender natildeo somente a mens legis mas tambeacutem os princiacutepios

insculpidos nestes ramos do direito de modo a prover o alcance da finalidade da norma

e em caso de duacutevida sobre a aplicabilidade de criteacuterios de interpretaccedilatildeo recorrer-se ao

bom senso ou ao preceito que mais se molda aos ideais de justiccedila inseridos em

cada um de noacutes

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DELMANTO Celso Coacutedigo Penal Comentado 3ordf ed Rio de Janeiro

Renovar 1991

FRANCO Alberto Silva SILVA JUacuteNIOR Joseacute BETANHO Luiacutez

Carlos STOCO Rui FEL TRIN Sebastiatildeo Oscar GUASTINI Vicente Celso da

Rocha e NINNO Wilson Coacutedigo Penal e sua interpretaccedilatildeo jurisprudencial 5ordf ed Satildeo

Paulo Revista dos Tribunais 1995

JESUS Damaacutesio E de Direito Penal vol 01 17ordf ed Satildeo Paulo

Saraiva 1993

MIRABETE Julio Fabbrini Execuccedilatildeo Penal 5ordf ed Satildeo Paulo Atlas

3 In Processo Penal p 70

1994

____ Processo Penal 3ordf ed Satildeo Paulo Atlas 1994

A INFORMATIZACcedilAtildeO DAS ELEICcedilOtildeES A EXPERIEcircNCIA DA

JUSTICcedilA ELEITORAL EM NATALRN

Eliane Nascimento de Melo

Acadecircmica do 7ordm Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

1INTRODUCcedilAtildeO

Os meios eletrocircnicos de processamento de dados tecircm provocado uma

verdadeira revoluccedilatildeo neste final de seacuteculo inclusive nos meios juriacutedicos Com a

informaacutetica o processo eleitoral tomou-se ainda mais ceacutelere embora jaacute o fosse em

virtude da exiguumlidade dos prazos e dos institutos processuais que o caracterizam como

a preclusatildeo e perempccedilatildeo conforme observamos na Lei 6490 (Lei das Inelegibilidades)

Art 16 - Os prazos a que se referem os artigos 30 e seguintes desta

Lei Complementar satildeo peremptoacuterios e contiacutenuos e correm em

Secretaria ou Cartoacuterio e a partir da data do encerramento do prazo

para registro de candidatos natildeo se suspendem aos saacutebados

domingos e feriados (grifos nossos)

Pretende-se aqui relatar rapidamente a informatizaccedilatildeo do

processo eleitoral limitando nosso objeto de estudo agrave evoluccedilatildeo da chamada terceira

grande faserdquo (a apuraccedilatildeo) conforme denominaccedilatildeo de Joel Joseacute Cacircndido1 focalizando a

experiecircncia da Justiccedila Eleitoral em NatalRN

Consiste a apuraccedilatildeo segundo aquele autor em abrir as urnas examinar

ceacutedula por ceacutedula qual foi a manifestaccedilatildeo de vontade do eleitor e registrar o conteuacutedo

dos votos sejam nominais nulos ou em branco em documentos apropriadosrdquo2

Ousamos discordar do conceito do grande jurista por acharmos que tal

conceituaccedilatildeo refere-se unicamente agrave contagem dos votos e seu registro nos boletins de

urna e porque contrasta com o Coacutedigo Eleitoral no momento em que este estabelece

que a competecircncia para a apuraccedilatildeo das eleiccedilotildees seraacute a) das Juntas Eleitorais nas Zonas

sob sua jurisdiccedilatildeo b) dos Tribunais Regionais Eleitorais nas eleiccedilotildees para Deputado

Estadual e Federal Senador e Governador do Estado e Vice-Governador e c) do

Tribunal Superior Eleitoral na eleiccedilatildeo para Presidente da Repuacuteblica3 Na verdade o

Tribunal Superior totaliza os resultados que recebe dos Tribunais Regionais e estes

totalizam os resultados provenientes das Juntas Para os fins a que se propotildee este

estudo entendemos a apuraccedilatildeo num sentido amplo abrangendo aleacutem do conceito do

mestre tambeacutem a totalizaccedilatildeo dos votos

Antes de seguirmos adiante esclarecemos que eacute de nosso entendimento

que a finalidade preciacutepua da informatizaccedilatildeo da apuraccedilatildeo eacute coibir a fraude eleitoral que

as paacuteginas da Histoacuteria do Brasil tatildeo escandalosamente registram Um livro inteiro

dedicado ao tema da fraude eleitoral na Histoacuteria brasileira natildeo seria suficiente para

1 Cacircndido Joel Joseacute Direito eleitoral brasileiro p 191

2 Op cit p 191

3 Coacutedigo Eleitoral artigo 158 incisos I a 111

relatar todo o casuiacutesmo com que jaacute foi tratada a opiniatildeo popular Sobremodo correta eacute a

expressatildeo da equipe do TRERJ

Em toda a passagem histoacuterica da Justiccedila eleitoral natildeo haacute um pleito em

que a situaccedilatildeo mais preocupante no antes durante e depois natildeo tenha sido a fraude

Criou-se a Justiccedila Eleitoral por causa da fraude Discute-se fraude haacute sessenta e

quatro anos informatizam-se as eleiccedilotildees por causa das fraudesrdquo4

11 ELEICcedilOtildeES ANTERIORES A 1986

Um dos primeiros problemas que verificamos na apuraccedilatildeo das eleiccedilotildees

anteriores a 1986 foi a extensatildeo do prazo necessaacuterio aos trabalhos de contagem e

totalizaccedilatildeo dos votos O Coacutedigo Eleitoral no artigo 159 fixa o prazo de 10 (dez) dias

para a apuraccedilatildeo e a Lei n0 699682 determina

Art 14 A apuraccedilatildeo poderaacute ser iniciada a partir do recebimento

da primeira urna prolongando-se pelo tempo necessaacuterio

observado o prazo maacuteximo de 10 (dez) dias

Este prazo podia ainda ser prorrogado por mais cinco dias por solicitaccedilatildeo

da Junta No caso da apuraccedilatildeo ser da competecircncia do TRE esse prazo era de 30 dias

podendo ser prorrogado por mais 15

A Junta Apuradora nas citadas eleiccedilotildees era - e ainda o eacute - composta de

um Juiz de Direito e dois ou quatro cidadatildeos idocircneos Assim aleacutem da morosidade no

processamento das informaccedilotildees verifica-se a implicaccedilatildeo de um custo real muito alto

pois aleacutem do fato da Justiccedila Eleitoral depender do resultado da apuraccedilatildeo para o

prosseguimento de suas atividades normais os idocircneos cidadatildeos enquanto a serviccedilo da

Justiccedila satildeo afastados de suas atividades produtivas gerando certa despesa indireta

Vale lembrar em geral eram escolhidos funcionaacuterios de agecircncias bancaacuterias contadores

e operadores de caixa em virtude da maior experiecircncia com planilhas

Mesmo para esses profissionais os mapotildees de totalizaccedilatildeo - totalizadores

progressivos manuais eram um grande problema uma falha na simples leitura de um

uacutenico nuacutemero era capaz de comprometer todo o trabalho executado sem falar das

repetidas e exaustivas conferecircncias ateacute chegar com alguma precisatildeo ao resultado final

O problema mais grave poreacutem era a fraude Ateacute se chegar ao resultado

final muitas pessoas manipulavam os votos jaacute que era preciso contar as ceacutedulas para

cada cargo depois separar os montinhos por candidato Imagine-se a falta de

fiscalizaccedilatildeo ou fiscais cansados de tanto observar a apuraccedilatildeo para aumentar ou

diminuir a votaccedilatildeo de certo candidato nenhum momento seria mais conveniente E eacute

sabido tambeacutem que o recurso contra a apuraccedilatildeo natildeo eacute admitido salvo na hipoacutetese de ter

4 Rio de Janeiro TRE A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico p 70

havido impugnaccedilatildeo perante a Junta contra as nulidades arguumlidas no momento da

apuraccedilatildeo (Coacutedigo Eleitoral artigo 171) Haacute ainda vaacuterios outros momentos em que

verificamos a possibilidade da fraude na proacutepria votaccedilatildeo5 na contagem das ceacutedulas no

preenchimento do BU (Boletim de Uma) entre outros

12 A SECRETARIA DE INFORMAacuteTICA

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte regulamentou a

competecircncia e atribuiccedilotildees da Secretaria de Informaacutetica atraveacutes da Resoluccedilatildeo nO

00391-TRElRN

Em 03 de novembro de 1992 a Secretaria de Informaacutetica passou a

denominar-se Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica e o TRERN atraveacutes da Resoluccedilatildeo

ndeg 01892 aprovou o seu organograma e atribuiccedilotildees Essa Coordenaccedilatildeo Regional de

Informaacutetica foi diretamente responsaacutevel pelo processamento dos dados referentes agraves

eleiccedilotildees de 1992 do alistamento ao caacutelculo do tempo de propaganda eleitoral gratuita e

em Natal tambeacutem pela totalizaccedilatildeo dos votos

A Lei 886894 reorganizou os quadros das Secretarias do Tribunal

Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais O Tribunal Superior Eleitoral

expediu Resoluccedilatildeo regulamentando a Lei e fixando os organogramas das Secretarias

citadas A partir de entatildeo a Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica transformou-se em

Secretaria de Informaacutetica denominaccedilatildeo que traz na atualidade

2PROCEDIMENTOS ELETROcircNICOS NA APURACcedilAtildeO DE

ELEICcedilOtildeES ANTERIORES

21 ELEICcedilOtildeES ENTRE 1986 E 1992

Nas eleiccedilotildees de 1988 1989 e 1990 no Rio Grande do Norte o

processamento dos boletins de urna jaacute fora informatizado sendo realizado por

empresa contratada para este fim - o SERPRO As empresas contratadas em todo o

pais agrave eacutepoca trabalhavam com computadores de grande porte mainframes que

manipulam um nuacutemero extremamente elevado de informaccedilotildees e operam com uma

vasta quantidade de perifeacutericos de entrada e saiacuteda de dados O sistema era instalado

permanecendo ateacute o final do trabalho contratado quando entatildeo os dados eram

transferidos para fitas magneacuteticas

Limitava-se a Secretaria de Informaacutetica do Tribunal Regional Eleitoral

a equipes de conferecircncia Estas equipes conferiam os relatoacuterios da digitaccedilatildeo realizada

5 No jaacute citado A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico encontramos

referecircncia tambeacutem ao chamado voto de carreirinha ou voto formiguinha

Referem-se as expressotildees aos votos preenchidos com a mesma caligrafia eacute o tipo de

fraude em que o componente da mesa receptora ou da Junta Apuradora preenche as ceacutedulas o

que diminui sensivelmente o percentual de votos em branco

pela SERPRO que por sua vez digitava e totalizava os dados constantes dos BUs

No mais a apuraccedilatildeo continuava a se realizar nos moldes das anteriores

22 ELEICcedilOtildeES DE 1992

A partir da Resoluccedilatildeo nordm 00391-TERRN o TRE passou a realizar

diretamente o processamento de todos os documentos relativos agrave atualizaccedilatildeo dos

cadastros eleitorais como FAEs - Formulaacuterios de Alistamento Eleitoral FASEs -

Formulaacuterios de Acompanhamento da Situaccedilatildeo do Eleitor Justificativas Eleitorais e

Canhotos de Votaccedilatildeo remetidos agrave Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica por todas as

Zonas Eleitorais do Estado

Dos primeiros microcomputadores monousuaacuterios que dispunha para

realizar o processamento de tais documentos a Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica

passou a operar em 1992 com um sistema de rede composto de um gerenciador do

sistema e de dados e alguns terminais de digitaccedilatildeo

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a contagem dos votos

fosse realizada pelas mesas receptoras nos termos do Coacutedigo Eleitoral artigos 188 a

196 Se tudo corresse conforme planejado a conclusatildeo da apuraccedilatildeo ocorreria no

maacuteximo em apenas trecircs dias

Vaacuterios fatores contribuiacuteram para a imperfeiccedilatildeo do sistema no primeiro

turno o despreparo e o cansaccedilo dos mesaacuterios a falha na fiscalizaccedilatildeo por parte dos

partidos poliacuteticos a proacutepria apresentaccedilatildeo do Boletim de Urna entre outros O grande

calcanhar de Aquiles no entanto foi mesmo o enorme percentual de erro encontrado

nos BUmiddots A totalizaccedilatildeo sofreu um atraso em relaccedilatildeo ao prazo anteriormente previsto e

mesmo assim os trabalhos de apuraccedilatildeo foram encerrados em 07 (sete) de outubro

apenas 04 (quatro) dias apoacutes a data da eleiccedilatildeo e um recorde em relaccedilatildeo agraves eleiccedilotildees

anteriores

O segundo turno eliminou a contagem pelas mesas receptoras e os BU s

foram preenchidos pelas proacuteprias Juntas Apuradoras eliminando-se sensivelmente a

margem de erros de preenchimento

23 ELEICcedilOtildeES DE 1994

Para o pleito de 1994 o Rio Grande do Norte foi dividido em sete poacutelos

de processamento6 e treze zonas isoladas

7 aleacutem das quatro zonas da Capital que

tambeacutem funcionaram isoladamente

As zonas isoladas processavam apenas os dados de cada uma

transmitindo-os via Renpac para a Secretaria de Informaacutetica do TRERN atraveacutes de

linhas discadas atilde exceccedilatildeo das zonas da Capital que como os poacutelos utilizaram linhas

dedicadas

Nos Poacutelos o trabalho exigia mais cuidado em virtude dos mesmos

reunirem em um uacutenico local os BUs provenientes das Juntas Eleitorais de vaacuterias

6 Joatildeo Cacircmara Caicoacute Mossoroacute Currais Novos Pau dos Ferros Accedilu e Nova Cruz

7 Funcionaram isoladamente as seguintes Zonas S 6 8 13 163033 3S 44 SO

S1 S3 68 com sedes nas Comarcas de Macalba Cearaacute-Mirim Satildeo Paulo do Potengi Santo AntOnio Santa Cruz Macau Mossor6 Apodi Monte Alegre Pamamirim Satildeo Gonccedilalo do Amarante Tangaraacute e Santa Cruz respectivamente

zonas No poacutelo de Joatildeo Cacircmara por exemplo foram processados os dados de oito

Zonas 10a

- Joatildeo Cacircmara 14ordf -Touros 17ordf - Lajes 19a

- Satildeo Tomeacute 46a

- Taipu 52a

-

Satildeo Bento do Norte 48a - Pedro Avelino e 62ordf - Poccedilo Branco num total de 438 seccedilotildees

As Juntas Apuradoras de cada Zona Eleitoral funcionaram normalmente em suas sedes

O transporte dos BUs foi inteiramente efetuado pela Empresa Brasileira de Correios e

Teleacutegrafos que tinha um roteiro e horaacuterios fixos para passar em cada Zona Os BUs

vinham lacrados em envelopes sedex Recebidos no poacutelo eram conferidos digitados e

novamente conferidos Encerrada corretamente a digitaccedilatildeo do BU era feita a

transmissatildeo para o TRE que totalizava as seccedilotildees do Estado e transmitia os dados para o

TSE Natildeo eacute preciso dizer que a distacircncia entre as Zonas era tal que a possibilidade de

troca ou adulteraccedilatildeo do BU natildeo estava totalmente descartada e os trabalhos dos

funcionaacuterios dos Correios deve ser lembrado pela idoneidade com que foi efetuado

especialmente no Poacutelo de Joatildeo Cacircmara onde tivemos oportunidade de trabalhar durante

as citadas eleiccedilotildees

O escrutiacutenio8 foi o tradicional e a apuraccedilatildeo foi parcialmente realizada

nas Juntas onde foram contados os votos e preenchidos os BUs O processamento

destes assemelhou-se ao de 1992 em Natal com a diferenccedila de ter sido utilizado em

todas as Zonas Eleitorais do Estado Aliaacutes em todo o Brasil com a totalizaccedilatildeo dos

votos para Presidente da Repuacuteblica realizada pelo TSE

Natildeo podemos deixar de mencionar a seguranccedila do sistema que se

utilizava de senhas pessoais imunizaccedilatildeo de todos os micros contra viacuterus criptografia

para armazenamento e transmissatildeo de dados e armazenamento de senhas rotinas de

senha e contra senha nas etapas de transmissatildeo backup automaacutetico e recursos de

auditoria9

Com um sistema assim a fraude na digitaccedilatildeo e totalizaccedilatildeo estava

totalmente abolida posto que o relatoacuterio da digitaccedilatildeo de cada BU tinha de coincidir

com o BU divulgado pela Junta Fraude mesmo somente tomou-se possiacutevel na recepccedilatildeo

dos votos e na apuraccedilatildeo conforme foi detectada no Rio de Janeiro por modo tatildeo

intenso que toda a eleiccedilatildeo proporcional do Estado foi anulada encontrando-se

caracterizado

entre outros tipos de fraude o voto de carreirinha10

3 A INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO ELEITORAL NO PLEITO

DE 1996

A Lei 910095 nos artigos 18 a 20 trata do Sistema Eletrocircnico de

Votaccedilatildeo e Apuraccedilatildeo Esta foi a grande novidade das eleiccedilotildees de 1996 a urna

eletrocircnica11

Agora natildeo somente a apuraccedilatildeo foi eletrocircnica mas o escrutiacutenio tambeacutem

8 Adotamos o conceito de escrutiacutenio de Joseacute Afonso da Silva no seu Curso de direito

constitucional positivo p 309 que diferencia sufraacutegio voto e escrutiacutenio entendendo este

uacuteltimo como o modo de exerciacutecio do voto Referimo-nos portanto agrave votaccedilatildeo 9 Conforme treinamento efetuado pela M6dulo empresa responsaacutevel pela seguranccedila do sistema

utilizado 10

Ver nota ao item 1 1 onde trata de fraude na votaccedilatildeo 11

Enquanto pesquisaacutevamos para a elaboraccedilao deste texto ficamos surpresos quando

descobrimos que jaacute houve em 1932 uma maacutequina de votar que tornava o voto rigorosamente

secreto e que s6 nao foi utilizada devido ao seu elevado custo

naqueles locais onde autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral na conformidade do

texto legal

Art 18 O Tribunal Superior Eleitoral poderaacute autorizar os

Tribunais Regionais a utilizarem em uma ou mais Zonas Eleitorais

o sistema eletrocircnico de votaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

sect 10 A autorizaccedilatildeo poderaacute se referir apenas agrave apuraccedilatildeo

Vaacutelida eacute a liccedilatildeo de Joel Joseacute Cacircndido A lei trata de uma faculdade

mesmo porque natildeo poderia obrigar as Zonas Eleitorais a utilizarem o sistema eletrocircnico

pois precisava preocupar-se tambeacutem com aquelas afastadas sem possibilidade de

implantaccedilatildeo da nova tecnologia Tal exigecircncia pelo extremismo tornaria impraticaacutevel o

processo democraacutetico eleitoral

Regulamentando a lei citada atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg 19515 de

180496 o Tribunal Superior Eleitoral determinou

Art 5deg Seraacute utilizado o Sistema Eletrocircnico de Votaccedilatildeo nas capitais e

nos municiacutepios com mais de duzentos mil eleitores tomando-se como

referecircncia o eleitorado definido para as eleiccedilotildees gerais de 1994 (Lei

nordm 910095 art 18 caput)

Da adequada utilizaccedilatildeo da votaccedilatildeo informatizada dependeu o resultado

final do processo de apuraccedilatildeo dos votos nestas eleiccedilotildees

O procedimento era muito simples A uma era liberada pelo presidente

da mesa receptora atraveacutes de um microterminal posteriormente agrave identificaccedilatildeo do

eleitor Este na cabina deveria digitar e confirmar os votos para prefeito e vereador

Apoacutes confirmado o voto fosse ele vaacutelido em branco ou nulo a uma o imprimiria e a

ceacutedula seria depositada pela proacutepria maacutequina num recipiente a ela acoplado Isto

satisfaria uma dupla necessidade asseguraria o sigilo do voto posto que as ceacutedulasrdquo

caem da maacutequina sendo depositadas aleatoriamente e permitiria que se recontassem os

votos no caso de impugnaccedilatildeo por parte de algum partido poliacutetico coligaccedilatildeo ou

candidato

Vale aqui chamar a atenccedilatildeo para a importacircncia da fiscalizaccedilatildeo realizada

pelos partidos e coligaccedilotildees tanto para assegurar o sigilo do voto como a correta

execuccedilatildeo das tarefas da mesa receptora Considerando-se a situaccedilatildeo de ausecircncia de

fiscalizaccedilatildeo em uma seccedilatildeo eleitoral mais distante e a possibilidade de os componentes

da mesa natildeo serem pessoas tatildeo idocircneas como exige o trabalho que realizam poderiacuteamos

estar diante de um caso em que natildeo comparecendo o eleitor e de posse do nuacutemero do

tiacutetulo que consta da folha de votaccedilatildeo os componentes da mesa receptora poderiam

muito bem liberar a urna e entrar com os votos que Ihes fossem convenientes Quem

iria conferir uma a uma cada assinatura da folha de votaccedilatildeo A participaccedilatildeo dos

partidos foi aleacutem de efetiva uma das vigas para a idoneidade do pleito testemunhado

Natildeo existe um sistema que natildeo possa ser burlado mas eacute preciso que se

afaste totalmente o fantasma da fraude para que se possa garantir a continuidade do

processo democraacutetico pois a estabilidade do Estado de Direito depende de eleiccedilotildees cujo

resultado reflita a vontade da maioria Lembramos que a finalidade mor da urna

eletrocircnica eacute assegurar natildeo apenas a celeridade mas tambeacutem a lisura dos resultados

Temos de reconhecer poreacutem a enormidade do avanccedilo ocasionado pela

utilizaccedilatildeo da urna eletrocircnica e o reflexo disto na apuraccedilatildeo foi uma questatildeo de poucas

horas necessaacuterias para permitir que os dados das diversas urnas fossem reunidos e

certificar-se de que houve o cumprimento das formalidades exigidas pela Lei e pelas

Instruccedilotildees do TSE e tivemos o resultado final

Nos demais municiacutepios do Rio Grande do Norte a votaccedilatildeo seguiu agrave

maneira tradicional A apuraccedilatildeo realizou-se de modo semelhante ao pleito de 1994 os

votos contados pelas Juntas Eleitorais que preenchiam os boletins de urna e os

encaminhavam para processamento Natildeo houve os poacutelos que observamos em 1994

Desta vez cada Zona de per si foi responsaacutevel pela apuraccedilatildeo eletrocircnica com o

suporte dado pelo Tribunal Regional Eleitoral Eacute que apoacutes o pleito de 1994 todo o

equipamento utilizado pelos poacutelos foi distribuiacutedo pelas Zonas Eleitorais e desde entatildeo

foi feito um trabalho de automaccedilatildeo dos serviccedilos dos Cartoacuterios Eleitorais como Vg a

digitaccedilatildeo dos FAEs e FASEs por funcionaacuterios de cada Cartoacuterio

4 CONCLUSAtildeO

O sistema eletrocircnico de votaccedilatildeo e apuraccedilatildeo foi muito questionado

Normal que o fosse Os mais jovens estatildeo acostumados a avanccedilos raacutepidos o mesmo

natildeo se pode dizer dos mais vividos Aleacutem disso por tratar-se de experiecircncia pioneira

na maior parte dos Estados grande era a ansiedade por saber se iria mesmo dar certo

Ateacute que ponto ele asseguraria a idoneidade da eleiccedilatildeo

Acredito que havendo uma fiscalizaccedilatildeo eficiente natildeo haacute o que se

questionar quanto agrave lisura do pleito havendo a utilizaccedilatildeo da urna eletrocircnica no modelo

determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral Uma preocupaccedilatildeo poreacutem era geral por

representar um avanccedilo tatildeo raacutepido seraacute que noacutes jaacute estaacutevamos preparados para usaacute-Ia

Os eleitores analfabetos natildeo seriam mais facilmente manipulados

Os nossos legisladores esqueceram da grande maioria analfabeta do

nosso pais e por isso ensinar os eleitores a usar a urna foi um trabalho por demais

preocupante Alguns funcionaacuterios da Justiccedila Eleitoral sentiram mesmo dificuldade em

ensinar aos eleitores como utilizar a urna apesar da enorme campanha realizada pelo

TSE Agrave primeira vista os eleitores tinham medo do equipamento principalmente os

analfabetos e os mais idosos Vencido o medo outro passo largo era manuseaacute-Ia

Encontramos uma eleitora que tinha duacutevidas quanto ao isolamento eleacutetrico do

equipamento Achava que levaria choques se errasse na hora de votar Certamente que

haacute extrema facilidade no uso da urna eletrocircnica especialmente porque o teclado

equumlivale ao de um telefone Usaacute-Ia eacute tatildeo faacutecil quanto operar uma maacutequina de saldos e

extratos bancaacuterios Os nossos parlamentares esqueceram apenas que natildeo eacute muito grande

o nuacutemero de eleitores que possuem conta bancaacuteria e mesmo entre os que as possuem

relevante eacute o nuacutemero dos que necessitam de orientaccedilatildeo dos funcionaacuterios das agecircncias

cada vez que precisam operaacute-Ias

Outro ponto trouxe preocupaccedilatildeo o voto dos eleitores cegos Pensando

neles o teclado da uma possui os signos em braiIIe abaixo de cada tecla bem como o

ponto de identificaccedilatildeo da tecla ndeg 5 de forma que o eleitor cego soacute precisava localizar

os siacutembolos desejados e tocar as teclas correspondentes Mas as maacutequinas variam

quanto agrave sensibilidade de forma que os teclados de algumas satildeo tatildeo sensiacuteveis que o

miacutenimo toque digita vaacuterios nuacutemeros enquanto o de outras necessita de pressatildeo bem

maior

Impossibilitado de ver o que estaacute digitando o eleitor cego desde que

tenha treinado bastante pode ateacute acertar a sequumlecircncia desejada das teclas mas natildeo pode

ter certeza de que os nuacutemeros recebidos pela uma foram os que ele tinha a intenccedilatildeo de

digitar

Bem sabemos que os eleitores cegos satildeo em nuacutemero bastante reduzido e

eacute por este motivo que o Coacutedigo Eleitoral prevecirc uma seccedilatildeo especial para cegos

alfabetizados pelo sistema braille com o fim de garantir-Ihes a participaccedilatildeo no processo

eleitoral e principalmente o segredo do voto Em virtude de serem tatildeo poucos natildeo se

deve chegar ao extremo de achar que tais votos natildeo fazem diferenccedila como ouvimos

outro dia de certo cidadatildeo

O que se quer garantir a esses eleitores eacute o direito constitucional que tecircm

de exercer o sufraacutegio ativo natildeo importa quantos satildeo eles Importa que satildeo sujeitos de

direitos e devem exercecirc-Ios Para resolver a questatildeo apontamos duas soluccedilotildees tomar os

votos dos cegos da forma tradicional utilizando-se a velha ceacutedula eleitoral ou anexar

fones de ouvido agrave urna Neste uacuteltimo caso o cego os utilizaria para certificar-se de que

teclou os nuacutemeros desejados e realizou corretamente as operaccedilotildees Achamos que a

uacuteltima soluccedilatildeo seria a mais adequada

Em todas as eleiccedilotildees satildeo computados votos em branco Alguns

eleitores por um motivo qualquer depositavam a ceacutedula sem preenchimento Na sua

simplicidade deviam acreditar que natildeo digitando nuacutemero algum nestas eleiccedilotildees ou

simplesmente natildeo confirmando nada estariam em situaccedilatildeo equivalente agravequela O TSE

resolveu entatildeo prever uma forma de encerrar a votaccedilatildeo quando o eleitor demorasse

por demais a votar ou decidisse natildeo votar Tratava-se da suspensatildeo do voto o

presidente da mesa receptora digitaria uma senha que suspenderia o voto anulando-o

Talvez a mais profunda criacutetica que temos a fazer ao uso da uma eletrocircnica seja com

relaccedilatildeo a este procedimento Ora trata-se ao nosso ver de profunda

inconstitucionalidade pois o voto eacute direito previsto na Carta Magna e todos no pleno

exerciacutecio dos seus direitos poliacuteticos natildeo soacute podem como devem exercecirc-Io Temos que

o voto nulo no conceito de Joseacute Afonso da Silva com quem concordamos natildeo eacute voto

O presidente da seccedilatildeo ao anular o voto do eleitor agrediria o sistema democraacutetico e

ainda contribuiria para diminuir o quociente eleitoral aleacutem de cometer um crime

conforme o Coacutedigo Eleitoral

Art 297 - Impedir ou embaraccedilar o exerciacutecio do sufraacutegio

Pena _ detenccedilatildeo ateacute seis meses e pagamento de 60 a 90 dias-multa

Mas a tecnologia natildeo favoreceu as pretensotildees da Corte e na fase de

testes percebeu-se que uma falha da programaccedilatildeo travava o sistema cada vez que a

senha de suspensatildeo era usada e no uacuteltimo instante o TSE proibiu o uso das senhas

aliaacutes uacutenica para todo o Brasil

Com isto outro problema surgia Se o presidente da seccedilatildeo natildeo poderia

encerrar a votaccedilatildeo do eleitor que deixou a cabina sem votar como fazer para liberar a

uma o que soacute ocorria com a confirmaccedilatildeo do voto para vereador O eleitor teria

necessariamente que votar e a mesa teria que ter redobrado cuidado em verificar que a

urna

tinha sido liberada

Temos ouvido testemunhos vaacuterios e ateacute presenciamos a atitude tomada

quando natildeo se conseguia convencer o eleitor a confirmar o voto o presidente da seccedilatildeo

reunia os fiscais de partidos presentes e um outro componente da mesa e juntos iam ateacute

a cabina de votaccedilatildeo digitavam 99999 e confirmavam anulando o segundo voto do

eleitor Achamos que tal atitude equumlivale ao uso da senha e tem os mesmos efeitos

trazendo duas diferenccedilas naquela a responsabilidade era do presidente da seccedilatildeo e nesta

satildeo responsaacuteveis todos os componentes da mesa receptora e os fiscais de partido

presentes no momento naquela o crime seria o do artigo 297 nesta seria conforme o

caso concreto ou o previsto no artigo 309 ou o do artigo 312 que assim versam

Art 309 ndash Vota tentar votar mais de uma vez em lugar de outrem

Pena - reclusatildeo ateacute trecircs anos

Art 312 - Violar ou tentar violar o sigilo do voto

Pena ndash detenccedilatildeo ateacute dois anosrdquo12

Natildeo seria o caso do Tribunal Superior Eleitoral rever o sistema utilizado

e valer-se de um recurso disponiacutevel nos caixas eletrocircnicos de qualquer banco ou numa

ligaccedilatildeo telefocircnica o limite de tempo Se o eleitor estaacute digitando ou confirmando

nenhum problema Se nada fosse digitado apoacutes algum tempo a proacutepria maacutequina

emitiria o confirma e encerraria a votaccedilatildeo do eleitor registrando em branco ou nulo

ou vaacutelido conforme o que houvesse sido digitado pelo eleitor

Por fim indagaacutevamos se os mesaacuterios saberiam operar com seguranccedila a

uma eletrocircnica Como se sabe as eleiccedilotildees de 1992 trouxeram o inconveniente de em

seu primeiro turno obrigarem agrave contagem dos votos de cada urna e o consequumlente

preenchimento dos BUs pelas mesas receptoras nas proacuteprias dependecircncias das seccedilotildees

eleitorais A experiecircncia por negativa que se mostrou natildeo foi repetida nem no segundo

turno daquelas eleiccedilotildees nem nas eleiccedilotildees de 1994

Nestas eleiccedilotildees voltou a haver a previsatildeo de emissatildeo dos boletins de

urna pelas mesas receptoras tanto onde houve votaccedilatildeo eletrocircnica como onde esta natildeo

ocorreu desde que no uacuteltimo caso houvesse a autorizaccedilatildeo do Tribunal Superior

Eleitoral

Onde houve votaccedilatildeo eletrocircnica a participaccedilatildeo das mesas receptoras foi

decisiva Basta considerar a competecircncia do Presidente da Mesa Receptora prevista no

artigo 15 da Resoluccedilatildeo TSE n0 19515 de 18 de abril de 1996 como iniciar a votaccedilatildeo

com emissatildeo da zereacutesima e encerraacute-Ia imprimindo o boletim de uma e gerando o

disquete de dados Aqueles que tem a vivecircncia dos Cartoacuterios Eleitorais sabem como eacute

difiacutecil encontrar eleitores com certo grau de instruccedilatildeo para compor as mesas Eacute comum

encontrarmos mesaacuterios que nem sequer concluiacuteram a quarta seacuterie do primeiro grau

Seraacute que essas pessoas teriam tranquumlilidade para operar as urnas Saberiam pelo menos

emitir as zereacutesimas Esta eacute um relatoacuterio inicial impresso pelo equipamento e que

cumpre dupla finalidade informar quantidade zero de votos na urna para todos os

candidatos e inicializar o sistema de votaccedilatildeo Um dos funcionaacuterios envolvidos nos

trabalhos testemunhou um presidente de seccedilatildeo tatildeo nervoso que natildeo conseguia entender

12

Como nosso tema Mo trata de crimes eleitorais remetemos o leitor ao livro de Joel Joseacute

Candido cuja citaccedilatildeo encontra-se no item 5 (referecircncias bibliograacuteficas)

a instruccedilatildeo da maacutequina de confirmar a emissatildeo da zereacutesima Dirigiu-se ao primeiro

quase histeacuterico afirmando que a maacutequina havia quebrado

De qualquer forma qualquer travamento da urna durante a votaccedilatildeo

ensejaria a transformaccedilatildeo do sistema eletrocircnico em tradicional com a urna plaacutestica

continuando acoplada ao equipamento e desde que houvesse votado mais de um eleitor

Era inclusive uma das providecircncias para assegurar o sigilo do voto do primeiro eleitor

que soacute poderia sair da seccedilatildeo apoacutes o voto do segundo eleitor

Vaacuterios procedimentos de emergecircncia foram previstos como a utilizaccedilatildeo

de baterias externas caso houvesse falta de energia Algumas umas precisaram utilizar-

se destes procedimentos de emergecircncia Verificamos tambeacutem que haacute uma necessidade

de aprimoramento do equipamento Talvez elas como uma maacutequina xerox natildeo tivessem

durabilidade para aguumlentar as ruas como aguumlentaram por meses na divulgaccedilatildeo do voto

eletrocircnico e na hora que natildeo deveria o microterminal piscava os leds sem ter

problemas na energia natildeo atendia agraves consultas ou natildeo liberava a uma e neste momento

a votaccedilatildeo tinha de ser convertida em manual

Nos lugares em que autorizada pelo TSE poderia haver contagem dos

votos pela mesa receptora Desta vez poreacutem tomou-se a precauccedilatildeo de exigir que fosse

feita na presenccedila da Junta Eleitoral (Resoluccedilatildeo TSE ndeg 19540 de 030596 artigo 51)

Assim o procedimento de votaccedilatildeo correria normalmente e a mesa deveria deslocar-se

para o local designado e apenas laacute chegando sob supervisatildeo da Junta Eleitoral

procederia a contagem dos votos preenchendo o boletim de uma Seguir-se-ia a revisatildeo

aritmeacutetica do boletim pela Junta que deveria abrir a urna e conferir os votos caso a

contagem da mesa natildeo permitisse o fechamento do BU (Coacutedigo Eleitoral artigos 189 a

195) Natildeo houve registro deste procedimento em Natal

Eacute forccediloso reconhecer no entanto como foi largo o passo dado para a

lisura do processo eleitoral como o define Joel Joseacute Cacircndido Um bom exemplo disto eacute

a determinaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo do TSE ndeg 19541 de 030596 contida no paraacutegrafo

uacutenico do artigo 13 que os dados utilizados no processamento eletrocircnico tatildeo logo este

seja concluiacutedo sejam colocados agrave disposiccedilatildeo dos partidos atraveacutes da INTERNET para

permitir possam eles conferir os dados processados com as coacutepias de que disporatildeo dos

BUs

Ainda estamos aprendendo a caminhar democraticamente mas os

casos de fraude como ocorreu no Rio de Janeiro em 1994 satildeo coibidos com mais

firmeza Os cidadatildeos jaacute se sentem mais agrave vontade para falar de poliacutetica partidaacuteria e para

dar suas opiniotildees ao mesmo tempo em que confiam mais nos resultados eleitorais Os

eleitores tecircm sede de participaccedilatildeo poliacutetica Natildeo temos duacutevidas que compareceriam agraves

urnas mesmo que o voto fosse facultativo Assim natildeo fosse natildeo veriacuteamos idosos

amparados em cadeiras de rodas fazendo questatildeo de participar quando haacute muito jaacute natildeo

precisam mais fazecirc-Io Mais do que os jovens eles sabem qual a sensaccedilatildeo de natildeo poder

opinar Eles viveram o periacuteodo ditatorial enquanto a juventude apenas leu sobre o

assunto

A informaacutetica tem invadido todos os espaccedilos sendo extremamente uacutetil agrave

democracia Pudemos certificar-nos disto no pleito que testemunhamos Com certeza

ocorreram falhas posto que foram homens que o elaboraram mas eacute certo tambeacutem que

ele foi mais uma etapa no aprendizado do Brasil rumo ao amadurecimento democraacutetico

Em 1994 o presidente do Tribunal Superior Eleitoral na eacutepoca Ministro Sepuacutelveda

Pertence declarou que a apuraccedilatildeo eletrocircnica era o funeral da fraude eleitoral Cremos

que estava certo Com base nisto podemos afirmar com convicccedilatildeo que se a apuraccedilatildeo

eletrocircnica era o funeral estamos assistindo ao sepultamento da fraude e finalmente

chegando ao tatildeo sonhado respeito pela vontade popular que caracteriza a democracia

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Eleiccedilotildees municipais 1996

legislaccedilatildeo consolidada 2ed Brasiacutelia Secretaria de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo do

TSE 1996

BRASIL Legislaccedilatildeo eleitoral e partidaacuteria 10ed Brasiacutelia Senado

Federal Subsecretaria de Ediccedilotildees Teacutecnicas 1994

CAcircNDIDO Joel Joseacute Direito eleitoral brasileiro 6ed rev atual e

ampl Bauru EDIPRO1996

GODOY Mayr Eleiccedilotildees municipais comentaacuterios agraves disposiccedilotildees legais

que incidem no pleito local Satildeo Paulo LEUD 1996 P 152-159

MANUAL de legislaccedilatildeo

eleitoral e partidaacuteria Fortaleza TRECE Assembleacuteia Legislativa do Estado do Cearaacute

1996

RIBEIRO Faacutevila Direito Eleitoral 4ed Rio de Janeiro Forense 1996

RIO DE JANEIRO Tribunal Regional Eleitoral Projeto Memoacuteria

Eleitoral A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico Edvaldo Ramos e Sousa

Coordenador Rio de Janeiro Infobook 1996

SILVA De Plaacutecido e Vocabulaacuterio juriacutedico 3ed Rio de Janeiro

Forense 1993

SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 8ed

rev ampl Satildeo Paulo Malheiros 1992

TELLES Ney Moura Direito eleitoral comentaacuterios agrave Lei 9100 de 29

de setembro de 1995 Resoluccedilotildees e Jurisprudecircncia do Tribunal Superior Eleitoral

Leme Editora de Direito 1996 P67-136

DO NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL E SUAS

IMPLICACcedilOtildeES

EVERTON AMARAL DE ARAUacuteJO

Acadecircmico do 7deg periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

1 INTRODUCcedilAtildeO

O estudo do nome civil das pessoas naturais sempre proporciona

interesse haja vista se tratar de tema que diz respeito a toda sociedade A nossa atenccedilatildeo

se voltaraacute especificamente agrave pessoa natural do direito civil Este estudo comportaraacute duas

anaacutelises sobremaneira interligadas uma sob o aspecto individualista do nome e outra

vislumbrada sob o ponto de vista puacuteblico do nome

Natildeo se buscaraacute tecer minuciosamente todo o tema uma vez que eacute

bastante amplo Analisaremos o que haacute de mais interessante e atualizado no que se

refere a este assunto sobretudo voltados aos aspectos particular e puacuteblico que o

envolvem Para isso partiremos desde as configuraccedilotildees espacial e temporal deste tema

passando pelo seu exame teoacuterico para rematar com a praticidade que lhe eacute peculiar

o nome civil das pessoas naturais pela sua riqueza de conteuacutedo merece

ser apresentado com tudo que o envolve poreacutem apenas buscaremos expor o suficiente agrave

elucidaccedilatildeo das nossas curiosidades e ao suprimento do que desconhecemos quanto ao

que haacute de relevante deste assunto tudo isso relacionado aos dispositivos de direito que

regulamentam este tema

2 DA NOTIacuteCIA HISTOacuteRICA E GEOGRAacuteFICA

Eacute sabido que a busca pela individualizaccedilatildeo das pessoas inicia-se pela

identificaccedilatildeo destas e o seu nome eacute um dos sinais exteriores que melhor as qualificam

juntamente com os seus estados e domiciacutelio

As diversas culturas no tempo e no espaccedilo manifestaram e ainda hoje

apresentam suas especificidades quanto aos nomes dos seus indiviacuteduos Vale expor

algumas das mais curiosas

Dos ensinamentos de Washington de Barros Monteiro1 verifica-se que

entre os gregos o nome era uacutenico e individual e que natildeo se transmitiam aos seus

descendentes como Soacutecrates e Platatildeo Inicialmente era tambeacutem uacutenico para os hebreus

posteriormente passaram os indiviacuteduos a ser identificados pelos proacuteprios nomes ligados

aos dos seus ascendentes como Joseacute Bar-Jacoacute ou seja Joseacute filho de Jacoacute ou ainda

Barrabaacutes isto eacute filho de Abaacutes que foi identificado apenas pela filiaccedilatildeo visto que o seu

primeiro nome se perdera no tempo Esta forma ainda hoje se constata entre os aacuterabes

por exemplo Ali Ben Mustafaacute ou seja Ali filho de Mustafaacute

Entre os romanos havia uma certa complexidade uma vez que os nomes

se compunham pela identificaccedilatildeo da gens e do nome proacuteprio de cada indiviacuteduo em que

depois ainda veio a se acrescentar - especificamente nos homens - o cognome Com o

tempo em funccedilatildeo das circunstacircncias histoacutericas surgiram novas modificaccedilotildees

Passaram a ser utilizados sobrenomes inspirados nas qualidades nos sinais ou nas

profissotildees individuais e tambeacutem em animais ou plantas Satildeo exemplos Valente

Branco Monteiro Carvalho etc Ou ainda utilizavam a identificaccedilatildeo paterna como

Afonso Henriques isto eacute Afonso filho de Henrique

1 In Curso de Direito Civil Parte Geral 31ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 1993 paacutegs 87 e 88

Os russos utilizam uma terminaccedilatildeo apropriada para os homens e outra

para as mulheres vitch ou vicz e ovna respectivamente Por exemplo Alexandre

Markovicz ou seja Alexandre filho de Marcos ou Naacutedia Petrova isto eacute Naacutedia filha

de Pedro Jaacute para os romenos a terminaccedilatildeo eacute esco assim se verifica com Lupesco ou

Popesco E para os ingleses eacute son por exemplo Stevenson

Enfim houve uma grande diversidade de maneiras utilizadas para se

designar os nomes dos indiviacuteduos das diversas culturas atraveacutes dos tempos em diversas

regiotildees estes satildeo apenas alguns exemplos lecionados por aquele professor

Entre noacutes modernamente o nome eacute composto e na linguagem popular

eacute reduzido ao prenome isto eacute ao nome proacuteprio que eacute dado ao indiviacuteduo por ocasiatildeo do

nascimento como Paulo Maria etc Poreacutem para a doutrina paacutetria a compreensatildeo deve

ser mais ampla assim o nome eacute constituiacutedo pelo prenome e pelo patroniacutemico e ainda

em alguns casos pelos agnomes e pelas partiacuteculas de do das etc

3 DOS ELEMENTOS COMPONENTES DO NOME CIVIL

O nome civil compotildee-se geralmente do prenome e do patroniacutemico ou

apelido de famiacutelia podendo ainda se apresentar ocasionalmente o agnome ou as

partiacuteculas de da das de Los etc

O prenome eacute a designaccedilatildeo proacutepria de cada indiviacuteduo que eacute escolhida

quase livremente pelos responsaacuteveis da pessoa Dissemos quase livremente porque se

devem observar algumas restriccedilotildees que exporemos mais adiante Pois bem o prenome

pode ser simples como Joatildeo ou composto como Joatildeo Alberto ou Paula Maria Regina

Jaacute o patroniacutemico comumente chamado de sobrenome eacute o elemento

caracterizador da famiacutelia da qual proveacutem o indiviacuteduo eacute o sinal de sua descendecircncia

filiaccedilatildeo estirpe e em alguns casos ateacute da procedecircncia regional Enfim eacute o elemento

adquirido pela pessoa por direito logo que nasce Pode ser simples como Silva ou

composto como Silva Costa ou Barros Silva Costa

Os agnomes e as partiacuteculas jaacute mencionadas satildeo componentes do nome

tambeacutem todavia satildeo encontrados em apenas alguns desses Os agnomes satildeo sinais

distintivos que se acrescentam ao nome completo da pessoa de forma a diferenciaacute-Ia de

uma outra Satildeo exemplos de agnomes Neto Filho Juacutenior etc As partiacuteculas (de da

dos de La etc) tambeacutem satildeo integrantes do nome das pessoas como em Joseacute da Silva

Maria das Dores ou Antocircnio de Los Santos

Haacute outros elementos por alguns chamados de secundaacuterios que natildeo satildeo

reconhecidos pelo direito paacutetrio como componentes do nome satildeo eles os tiacutetulos

honoriacuteficos como Conde ou Duque os tiacutetulos eclesiaacutesticos como Cardeal ou Padre os

qualificativos de identidade oficial como Senador ou Juiz e os tiacutetulos acadecircmicos e

cientiacuteficos como Mestre ou Doutor2

4 DA NATUREZA JURIacuteDICA DO NOME CIVIL

A doutrina natildeo eacute uniacutessona quanto agrave natureza juriacutedica do nome Haacute quem

o qualifique como um instituto de direito puacuteblico como direito subjetivo do indiviacuteduo

2 In Diniz Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 1ordm vol 7ordf ed Satildeo Paulo Saraiva

1989 paacuteg 100

como instituiccedilatildeo de poliacutecia civil como propriedade sui generis etc

Nos afiliamos agrave teoria ecleacutetica que funde o dever social com o direito

subjetivo sendo assim um direito e um dever Pois uma vez que o indiviacuteduo tem a

obrigaccedilatildeo de usar conservar e manter o nome sendo um ocircnus pessoal em favor da

sociedade em contrapartida o Direito deve tutelar o nome da pessoa impedindo o seu

uso indevido por outrem e protegendo a faculdade individual de usaacute-Io

5 DA IMPORTAcircNCIA DO NOME CIVIL

O nome civil da pessoa natural eacute o sinal exterior individualizador e

qualificador desta Juntamente com o estado e o domiciacutelio o nome eacute elemento de

reconhecimento e identificaccedilatildeo da pessoa a niacutevel de sociedade

Haacute pois dois aspectos relevantes a serem observados no estudo do nome

A questatildeo do direito individual da pessoa em possuir um nome e por este ser

designada e haacute tambeacutem a relevacircncia desta qualificaccedilatildeo no seio da sociedade

Ora se as pessoas natildeo possuiacutessem nomes ou se estes fossem confusos

iguais ou inconvenientes certamente haveria graves prejuiacutezos no acircmbito das relaccedilotildees

juriacutedicas Natildeo se saberia ao certo com quem se contratou ou quem eacute o seu devedor ou

como se dirigir aos demais membros da comunidade de forma que natildeo restassem

duacutevidas ou erros

Eacute assim um tema bastante interessante e que aguccedila a nossa curiosidade

uma vez que todos possuiacutemos um nome e eacute geralmente atraveacutes deste roacutetulo que

primeiro nos apresentamos As pessoas carregam-no durante toda a vida inclusive apoacutes

a morte Pois homenageiam-se os indiviacuteduos com a aposiccedilatildeo dos seus nomes a ruas

bibliotecas ginaacutesios esportivos etc Portanto mesmo apoacutes o falecimento remoto da

pessoa eacute possiacutevel identificaacute-Ia atraveacutes do seu nome

Desta forma o Legislador natildeo poderia ignoraacute-lo Tanto eacute assim que

logo em seu artigo 12 o Coacutedigo Civil brasileiro impotildee que sejam inscritos em registro

puacuteblico entre outros fatos juriacutedicos os nascimentos Vale mencionar o que dispotildee a

Lei ndeg 601573 a chamada Lei dos Registros Puacuteblicos quanto ao registro do nome

civil da pessoa natural Tal Lei preceitua em seu artigo 54 4deg que o assento de

nascimento deveraacute conter o nome e o prenome que forem postos agrave crianccedila

Entendemos que o texto legal tenha se referido ao prenome e ao patroniacutemico da pessoa

Natildeo se admite que a pessoa natildeo tenha nome tanto eacute assim que o Legislador menciona

imposiccedilotildees ao Oficial do Registro basta verificar o caput do artigo 55 da referida Lei

in verbis

Quando o declarante natildeo indicar o nome completo o oficial lanccedilaraacute

adiante do prenome escolhido o nome do pai e na falta o da matildee se

forem conhecidos e natildeo o impedir a condiccedilatildeo de ilegitimidade salvo

o reconhecimento no ato

Eacute evidente que tal dispositivo legal deve ser interpretado agrave luz da

Constituiccedilatildeo que natildeo mais admite distinccedilotildees ou qualificaccedilotildees entre os filhos Quando

formos tratar da modificaccedilatildeo do nome em virtude do reconhecimento de paternidade e

da adoccedilatildeo nos aprofundaremos nesta questatildeo

6 DA ALTERACcedilAtildeO DO NOME COM O ALCANCE DA

MAIORIDADE CIVIL

A Lei ndeg 601573 a chamada Lei dos Registros Puacuteblicos disciplina as

possibilidades de modificaccedilatildeo do nome civil Iniciaremos por estudar a primeira que eacute

a mais simples e ao mesmo tempo acreditamos ser a mais desconhecida de todas

Prescreve o artigo 56 da referida Lei in verbis

O interessado no primeiro ano apoacutes ter atingido a maioridade civil

poderaacute pessoalmente ou por procurador bastante alterar o nome

desde que natildeo prejudique os apelidos de familia averbando-se a

alteraccedilatildeo que seraacute publicada pela imprensa

Assim ao completar vinte e um (21) anos de idade - o que corresponde agrave

nossa maioridade civil nos termos do artigo 9deg caput do Coacutedigo Civil brasileiro - a

pessoa interessada poderaacute se dirigir ao cartoacuterio competente e solicitar que o Oficial do

Registro Puacuteblico proceda agraves alteraccedilotildees desejadas

Eacute relevante dizer que a orientaccedilatildeo legal deve ser respeitada ou seja natildeo

se poderaacute alterar os apelidos de famiacutelia uma vez que satildeo inatingiacuteveis nos termos da

Lei

Afora isso o interessado poderaacute pedir ao Oficial do Registro - portanto

em via administrativa e natildeo judicial - que altere o seu nome Como exemplo fictiacutecio

utilizaremos o nome de uma mulher registrada como Mary Paula Costa Barbosa Pode

esta mulher pedir-lhe que traduza o seu nome para o vernaacuteculo passando a se chamar

Maria Paula Costa Barbosa Ou pode pedir-lhe que acrescente ao seu nome outro

prenome passando a se chamar Mary Paula Helena Costa Barbosa Ou poderaacute pedir-lhe

que acrescente ao seu nome o prenome ou o apelido de famiacutelia da matildee ou da avoacute o

apelido do pai ou do avocirc enfim haacute vaacuterias hipoacuteteses Evidentemente prenome ou

apelido aqueles que natildeo constem do seu nome original Desejando entatildeo homenagear o

seu avocirc solicita-lhe que acrescente ao seu nome o apelido daquele passando a se

chamar Mary Paula Lopes Costa Barbosa Ou ainda pode pedir-lhe que altere a ordem

dos elementos componentes do seu nome passando a se chamar Paula Mary Costa

Barbosa Em uma outra hipoacutetese pode querer suprimir do seu nome algum elemento

passando a ser chamada apenas de Mary Costa Barbosa

Vale dizer que haacute quem ensine que tais alteraccedilotildees devem apresentar justo

motivo e que as transformaccedilotildees dos prenomes simples em duplo e vice-versa natildeo seratildeo

possiacuteveis no casos dos nomes ceacutelebres como Marco Antocircnio Joatildeo Batista etc3

Com o devido respeito natildeo concordamos com tal justificaccedilatildeo nem com

qual restriccedilatildeo uma vez que entendemos natildeo caber ao Oficial do Registro obstar o

exerciacutecio da faculdade individual exercida de boa-feacute pelo interessado E mais ainda

deve aquele apenas atentar para a seriedade atraveacutes da qual o interessado lhe apresenta a

solicitaccedilatildeo isto eacute se natildeo quer apenas maliciosamente gracejar Qualquer posterior juiacutezo

de valor a ser externado natildeo eacute o Oficial do Registro quem deve emiti-Io e sim o juiz

3 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

nas hipoacuteteses que estudaremos no proacuteximo item O mais importante eacute que desta

maneira respeita-se a seguranccedila juriacutedica que deve ser observada no acircmbito das relaccedilotildees

sociais pois uma instabilidade proporcionada pela variabilidade indiscriminada do

nome das pessoas certamente seria perniciosa agrave sociedade

Enfim satildeo estas as alteraccedilotildees possiacuteveis do nome do indiviacuteduo que

completa a maioridade Trata-se de uma oportunidade para as pessoas que de alguma

maneira pretendem fazer ajustes no seu nome sem que precisem ingressar em juiacutezo e

consequentemente apresentar um justo motivo para se permitir tais modificaccedilotildees haja

vista que geralmente natildeo podiacuteamos emitir opiniatildeo no momento do nosso registro por

razotildees oacutebvias

Verifica-se que eacute este um procedimento bastante simplificado E

repita-se devem ser preservados os apelidos de famiacutelia e as demais disposiccedilotildees legais

daquele artigo

7 DAS DEMAIS POSSIBILIDADES DE MODIFICACcedilAtildeO DO NOME

CIVIL

Em se perdendo a oportunidade supra estudada isto eacute a alteraccedilatildeo do

nome no ano em que se alcanccedila da maioridade civil instante em que o procedimento eacute

bem mais simples pode ainda o interessado recorrer agraves outras hipoacuteteses previstas pelo

direito paacutetrio

A Lei dos Registros Puacuteblicos em seu artigo 57 caput prescreve in

verbis

Qualquer alteraccedilatildeo posterior de nome somente por exceccedilatildeo e

motivadamente apoacutes audiecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico seraacute

permitida por sentenccedila do juiz a que estiver sujeito o registro

arquivando-se o mandado e publicando-se a alteraccedilatildeo pela

imprensa

Assim se na hipoacutetese anterior do alcance da maioridade os

procedimentos eram bem mais simples agora - passada e natildeo exercida aquela

faculdade na ocasiatildeo propicia - a Lei impotildeem maiores rigores Haja vista que o

interessado deveraacute apresentar prova suficiente ao juiz que poderaacute natildeo acatar as

alegaccedilotildees daquele uma vez que a Lei dispotildee que deve haver um justo motivo para que

excepcionalmente o juiz _ por sentenccedila _ determine a modificaccedilatildeo requerida com a

observacircncia dos demais procedimentos legais

A mesma Lei dos Registros Puacuteblicos regulamenta

outros casos em que haacute possibilidade de modificaccedilatildeo do nome civil das

pessoas Vale citar os dispositivos legais que disciplinam esta mateacuteria o paraacutegrafo

uacutenico do jaacute mencionado artigo 55 o artigo 58 caput e o seu paraacutegrafo uacutenico Tais

preceitos legais respectivamente impotildeem o seguinte

Os oficiais do registro civil natildeo registraratildeo prenomes suscetiacuteveis de

expor ao ridiacuteculo os seus portadores Quando os pais natildeo se

conformarem com a recusa o oficial este submeteraacute por escrito o caso

independentemente da cobranccedila de quaisquer emolumentos agrave decisatildeo

do juiz competente

O prenome seraacute imutaacutevel

Paraacutegrafo uacutenico Quando entretanto for evidente o erro graacutefico do

prenome admite-se a retificaccedilatildeo bem como a SUa mudanccedila mediante

sentenccedila do juiz a requerimento do interessado no caso do paraacutegrafo

uacutenico do art 55 se o Oficial natildeo o houver impugnado

Pois bem nestes termos o Legislador paacutetrio disciplinou a

admissibilidade da modificaccedilatildeo do nome civil das pessoas A doutrina e a

jurisprudecircncia cuidaram de alargar mais ainda as margens destes preceitos legais

Desenvolveram-se novas e abrangentes interpretaccedilotildees as quais exporemos adiante

Verifica-se a Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome das pessoas pela

correccedilatildeo de erro graacutefico evidente nos casos dos nomes ridiacuteculos ou exoacuteticos pelo uso

prolongado e constante de um nome diverso daquele registrado pela utilizaccedilatildeo de

apelido no caso dos homocircnimos pelo acreacutescimo de patroniacutemico de ascendente nos

casos de embaraccedilos em funccedilatildeo de atividade Profissional pelo concubinato pelo

casamento separaccedilatildeo judicial e divoacutercio no caso de reconhecimento de paternidade

pela adoccedilatildeo no caso de traduccedilatildeo para o portuguecircs de nome estrangeiro e pela

mudanccedila de sexo

Vale dizer que a jurisprudecircncia vem aceitando a admissibilidade da

pessoa que mesmo menor possa requerer atraveacutes do seu representante ou assistente

legal a alteraccedilatildeo de nome ridiacuteculo a correccedilatildeo de erro graacutefico ou a inclusatildeo do apelido

de famiacutelia materno natildeo aguardando a maioridade para proceder a tais solicitaccedilotildees4

Inicialmente analisaremos a hipoacutetese de erro graacutefico do prenome

Como jaacute foi mencionado no paraacutegrafo uacutenico do artigo 58 da Lei dos Registros

Puacuteblicos eacute admissiacutevel a retificaccedilatildeo do prenome registrado com evidente erro de

grafia como Maucelo quando o correto seria Marcelo ou Anrique ao inveacutes de

Henrique E mais ainda admite-se a correccedilatildeo do prenome registrado no diminutivo

como Teresinha quando o certo deveria ser Teresa5

Quanto aos nomes ridiacuteculos ou exoacuteticos tambeacutem eacute admissiacutevel a

modificaccedilatildeo destes A mencionada Lei se refere apenas ao prenome Assim

disciplina hipoacuteteses como as das pessoas registradas por Sim Batista ou Antocircnio

Aparecido que Solicitaram a modificaccedilatildeo para Jorge Sim Batista e apenas Antocircnio

respectivamente6 Portanto satildeo estes casos mais simples Neste mesmo contexto se

encaixa a hipoacutetese das pessoas registradas com nomes do tipo Hitler ou Luacutecifer

Poreacutem constam dos arquivos do INPS nomes jocosos como Rolando Pela Escada

4 1n Diniz Maria Helena Ob Cit paacuteg 102

5 In Monteiro Washington de Barros Ob cit paacuteg 90

6 In Fuhrer Maximilianus Claacuteudio Ameacuterica Resumo de Direito Civil 14ordf ediccedilatildeo Malheiros

1996 paacuteg 31

Abaixo e Joatildeo Cara de Joseacute7

Eacute realmente incompreensiacutevel como os seus responsaacuteveis foram tatildeo

insensiacuteveis ao ponto de puni-los com tamanho castigo Nestes casos nos salta aos olhos

a possibilidade de modificaccedilatildeo por completo de tais nomes e natildeo apenas o prenome

como dispocircs a referida Lei

Haacute outros casos em que determinadas pessoas fazem uso constante e

prolongado de determinados nomes que natildeo satildeo os que foram grafados por ocasiatildeo dos

seus registros Tais pessoas de boa-feacute utilizam-se deste outro nome de tal maneira que

passam a ser no meio social identificadas por eles Um exemplo de pessoa que

requereu tal modificaccedilatildeo eacute o de uma mulher cujo nome registrado era Maria Aparecida

poreacutem ela era reconhecida socialmente como sendo Maria Luciana8 Portanto em tais

casos tambeacutem haacute admissibilidade de modificaccedilatildeo do nome uma vez reconhecida a boa

intenccedilatildeo do interessado

Hipoacutetese semelhante eacute a das pessoas que utilizam apelidos para se

apresentarem Podem pois acostar tais designaccedilotildees aos seus nomes uma vez que se

agregaram de tal maneira agrave personalidade daquelas que ateacute pode-se dizer tomaram-se

parte da caracterizaccedilatildeo daqueles indiviacuteduos Estas pessoas possuem alcunhas que usam

habitualmente Eacute este um fato que ocorre com certa frequumlecircncia entre noacutes sobretudo nos

meios artiacutestico e poliacutetico Os exemplos mais conhecidos satildeo o da cantora Xuxa e o do

poliacutetico Lula

Certamente jaacute ouvimos estoacuterias de pessoas que foram confundidas com

marginais Eacute este um problema grave que pode ocorrer com determinadas pessoas ou

seja ser confundidas com outras por terem os mesmos nomes Trata-se da homoniacutemia

Em se demonstrando este justo motivo para modificaccedilatildeo do nome devido a ocorrecircncia

daquela natildeo haacute como se negar a admissibilidade da alteraccedilatildeo do nome do indiviacuteduo

interessado Por exemplo pessoas que possuem nomes como Maria Aparecida da Silva

ou Joseacute da Silva apresentam um relevante motivo agrave admissibilidade da modificaccedilatildeo dos

seus nomes uma vez que satildeo muito comuns no Brasil

Outra Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome da pessoa natural eacute quando

haacute permissatildeo a que se incluam apelidos de famiacutelia de ascendente ao seu nome original

Consoante jaacute foi exposto a pessoa tem direito logo que nasce ao patroniacutemico dos seus

ascendentes Portanto pode solicitar o acreacutescimo de apelido de famiacutelia que natildeo conste

evidentemente do seu nome original Vale dizer que eacute esta uma das soluccedilotildees mais

utilizadas para a soluccedilatildeo dos problemas relativos atilde homoniacutemia que jaacute foi acima

estudada

Eacute mister informar que se vem inclusive permitindo o acreacutescimo de

patroniacutemico que natildeo tenha sido utilizado por uma ou mais geraccedilotildees ou ainda a

inclusatildeo do apelido de madrasta ou de tutor9

O paraacutegrafo primeiro do artigo 57 da Lei dos Registros Puacuteblicos

apresenta uma outra Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome da pessoa Trata-se da

7 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

8 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

9 1n Fuhrer Maximilianus ClaacuteUdio Ameacuterico Ob cit paacuteg 32

averbaccedilatildeo do nome abreviado da pessoa que exerce ou pretende exercer atividade

mercantil com o intuito de evitar embaraccedilos quando se quiser fazer parte de firma

comercial ou exercitar suas atividades O texto legal tanto se refere agrave atividade

mercantil quanto a qualquer outra atividade profissional

O mesmo artigo 57 agora em seus paraacutegrafos segundo e seguintes

tambeacutem disciplina a modificaccedilatildeo do nome da pessoa que se relaciona em concubinato

com outra Permite-se que um companheiro adote o apelido do outro desde que sejam

observados alguns requisitos quais sejam anuecircncia do outro uniatildeo por mais de cinco

anos ou existecircncia de filho nenhum deles pode ser casado e deve haver

impossibilidade legal a que se casem A Lei apresenta os procedimentos a serem

atendidos e mesmo se dirigindo apenas agrave mulher deve ser interpretada para ambos os

companheiros agrave luz do entendimento da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica no inciso I do seu

artigo 50 onde homens e mulheres tecircm os mesmos direitos e obrigaccedilotildees

O casamento tambeacutem eacute uma oportunidade para que as mulheres

alterem seus nomes Trata-se de uma faculdade que esta possui em acrescentar ou

natildeo os apelidos do marido com a celebraccedilatildeo do matrimocircnio Outrora era obrigada a

inclui-Ios poreacutem com a publicaccedilatildeo da Lei ndeg 651577 que eacute a chamada Lei do

Divoacutercio passou a ser optativo tal acreacutescimo Neste sentido nova redaccedilatildeo foi

determinada ao paraacutegrafo uacutenico do artigo 240 do Coacutedigo Civil brasileiro onde se lecirc

que a mulher poderaacute acrescer aos seus os apelidos do marido Poreacutem deveraacute perdecirc-

Ios com a anulaccedilatildeo do casamento com a separaccedilatildeo judicial - se culpada - ou com o

divoacutercio nos termos dos artigos 17 e 18 daquela Lei Contudo entende-se que haacute

temperamentos ao rigor legal ou seja se a mulher provar que suportaraacute graves

prejuiacutezos com a supressatildeo dos apelidos do ex-marido Por exemplo se for ela uma

artista ou mesmo uma outra profissional que seja reconhecida ou identificada

atraveacutes daquele patroniacutemico poderaacute requerer ao juiz que lhe permita a utilizaccedilatildeo

daqueles mesmo apoacutes a extinccedilatildeo da sociedade conjugal uma vez que sobejamente

prove a possibilidade da ocorrecircncia de tais ou quais danos

Um tema bastante controvertido que devemos analisar eacute a questatildeo da

modificaccedilatildeo do nome da pessoa em decorrecircncia do reconhecimento da paternidade

Muitos doutrinadores ainda trazem fortes cargas de preconceito quanto ao estudo da

filiaccedilatildeo Portanto eacute vaacutelido desde jaacute apresentarmos o entendimento constitucional

acerca deste assunto O paraacutegrafo 6deg do artigo 227 da Lei Maior impotildee a proibiccedilatildeo de

quaisquer designaccedilotildees discriminatoacuterias com relaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo posto que os filhos

havidos ou natildeo do casamento ou os adotados deveratildeo ter os mesmos direitos e

qualificaccedilotildees isto eacute satildeo todos filhos e apenas isso Logo natildeo mais eacute admissiacutevel que os

doutrinadores tragam em suas obras distinccedilotildees quanto agrave filiaccedilatildeo ou em razatildeo da

adoccedilatildeo Assim com os devidos temperamentos entende-se da liccedilatildeo de Serpa Lopes10

que o reconhecimento da paternidade pode ocorrer em duas ocasiotildees no ato do registro

do nascimento instante em que se lhe seratildeo acrescentados os apelidos do que o

reconhecer ou em um momento posterior quando poderaacute o interessado solicitar o

acreacutescimo do nome daquele que provou ser seu genitor

A adoccedilatildeo eacute um outro exemplo de possibilidade de modificaccedilatildeo do nome

da pessoa natural neste sentido dispotildee realmente a Lei ndeg 806990 que eacute o festejado

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente em seu artigo 47 caput e paraacutegrafo 5deg Preceitua

o texto legal que atraveacutes de sentenccedila judicial constitui-se a adoccedilatildeo que seraacute inscrita no

10

In Curso de Direito Civil volume I 7ordf ed Rio de Janeiro Freitas Bastos 1989 paacutegs 288 e 289

registro civil e conferiraacute ao adotado o nome do adotante e a pedido deste eacute admissiacutevel

a modificaccedilatildeo do prenome daquele

Pode ainda o interessado requerer a traduccedilatildeo do seu nome para o

vernaacuteculo fazendo prova de justo motivo para tal modificaccedilatildeo por exemplo se se trata

de nome de difiacutecil pronuncia ou compreensatildeo Tanto pode ser requerida tal modificaccedilatildeo

pelo estrangeiro como pelo brasileiro nato que possua nome estrangeiro11

Quanto aos

estrangeiros tal disciplina legal eacute efetivada nos termos da Lei nordm 681580 competindo

ao Ministro da Justiccedila autorizar esta alteraccedilatildeo do nome Permite-se ainda pela referida

Lei a faculdade de traduzirem ou adaptarem os seus nomes agrave liacutengua portuguesa no ato

da naturalizaccedilatildeo

Outro tema bastante controvertido eacute o da mudanccedila de sexo praacutetica que

estaacute cada vez mais se banalizando por todo o mundo Neste instante natildeo satildeo oportunas

discussotildees quanto a moralidade ou natildeo deste fato ou quanto a permissibilidade legal ou

natildeo destes procedimentos O fato eacute que provada a mudanccedila de sexo atraveacutes de periacutecia

meacutedico-legal eacute admissiacutevel a adaptaccedilatildeo do nome da pessoa agrave nova situaccedilatildeo constatada

O direito paacutetrio natildeo tutela a livre disponibilidade da mudanccedila do sexo no que andou

bem tanto eacute que muitos dos interessados recorrem aos profissionais europeus para

efetuar as intervenccedilotildees ciruacutergicas necessaacuterias ao alcance deste seu objetivo

Por fim em respeito a Orlando Gomes12

devemos expor uma uacuteltima

hipoacutetese de alteraccedilatildeo do nome sustentada por ele Trata-se da modificaccedilatildeo necessaacuteria do

nome do filho em funccedilatildeo da mudanccedila do nome do pai pois defende este professor que a

natureza do nome pede que coincida o da prole com o dos genitores

Portanto satildeo estas as hipoacuteteses reconhecidas pelo direito paacutetrio como as

possiacuteveis de modificar os nomes civis das pessoas naturais Evidentemente o

Legislador natildeo disciplinou cada uma delas minuciosamente apenas sinalizou a

admissibilidade legal em alguns casos Chegamos a todas estas atraveacutes do exerciacutecio de

interpretaccedilatildeo jurisprudencial e dos assentamentos doutrinaacuterios que permitiram uma

melhor mais justa e mais ampla compreensatildeo do tema

8 DA PROTECcedilAtildeO JURIacuteDlCA DO NOME

O nome das pessoas merece especial proteccedilatildeo pelo direito que natildeo

permite a usurpaccedilatildeo destes por outrem Em se provando o prejuiacutezo nesta hipoacutetese eacute

admissiacutevel a reparaccedilatildeo civil ou a incidecircncia penal correspondentes

Quanto aos direitos autorais tal tutela eacute bem mais abrangente

Prescreve o artigo 25 e seu inciso li da chamada Lei dos Direitos Autorais (Lei ndeg

598873) que eacute direito moral do autor o de ter seu nome pseudocircnimo ou sinal

convencional indicado ou anunciado como sendo seu na utilizaccedilatildeo da sua obra

Como exemplos mais conhecidos de portadores de pseudocircnimos encontramos

Voltaire e EI Grecco

Embora tais designaccedilotildees natildeo faccedilam parte dos nomes registrado das

pessoas os pseudocircnimos utilizados de maneira constante e legiacutetima integram-se de

tal forma agraves personalidades dos seus portadores no exerciacutecio de suas atividades - que

satildeo geralmente artiacutesticas - que o direito natildeo poderia esquececirc-Ias

11

In Fuumlhrer Maximilianus Claacuteudio Ameacuterica Ob cit paacuteg 32

Poreacutem eacute importante dizer que natildeo se deve interpretar com extrema

rigorosidade tal proteccedilatildeo Pois eacute possiacutevel a utilizaccedilatildeo do nome ou mesmo do

pseudocircnimo de outrem sem a intenccedilatildeo de lucro como eacute o caso da citaccedilatildeo de obra

cultural ou cientiacutefica Tal citaccedilatildeo enaltece o autor E ainda mesmo se permite a criacutetica

desfavoraacutevel da sua obra desde que sem a intenccedilatildeo de achincalhamento do autor12

Por fim vale mencionar o Direito Penal O Coacutedigo Penal brasileiro

disciplina e penaliza quem usa indevidamente o nome comercial ou o tiacutetulo de

estabelecimento alheio nos termos do inciso VII paraacutegrafo primeiro do seu artigo 196

E a Lei das contravenccedilotildees Penais pune em seu artigo 68 quem se recusa a fornecer

dados pessoais de identificaccedilatildeo dentre os quais se incluem o nome agrave autoridade que os

solicite

9 CONCLUSAtildeO

O Legislador foi riacutegido o suficiente para natildeo permitir que por capricho

ou maacute-feacute as pessoas modificassem seus nomes constantemente Ora se isso fosse

possiacutevel seria tatildeo prejudicial agrave sociedade quanto se as pessoas natildeo tivessem nome

algum Destas duas maneiras haveria o caos Pois o indiviacuteduo poderia querer hoje se

chamar Pedro amanhatilde Joatildeo e depois Francisco Enfrentariacuteamos graves dificuldades

para identificar quem nos devia ou por qual designaccedilatildeo deviacuteamos nos referir agrave

determinada pessoa Tambeacutem foi o aquele bastante flexiacutevel ao permitir algumas

modificaccedilotildees de forma que a pessoa natildeo fosse obrigada a suportar um nome que lhe

seja um verdadeiro peso causando-lhe constrangimentos confusotildees ou desconforto

Por sua vez a doutrina e a jurisprudecircncia trataram de interpretar as

disposiccedilotildees legais enriquecendo-as e posteriormente adaptando-as agraves realidades natildeo

observadas pelo Legislador Desta maneira satisfazendo agraves necessidades mais gritantes

da sociedade quanto aos ajustes dos nomes dos seus componentes

Alguns dos nossos doutrinadores natildeo se aprofundaram tanto em seu

estudo talvez porque natildeo quisessem se alongar Todavia acreditamos sim que pelo

fato deste assunto ensejar alguns temas polecircmicos como mudanccedila de sexo relaccedilotildees

concubinaacuterias reconhecimento de paternidade ou outros elementos essencialmente

valorativos e pessoais Temas estes que suscitam juiacutezos de valor a ser Possivelmente

extemados

10 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DINIZ Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 10 voI 70

ed Satildeo Paulo Saraiva 1989

FUumlHRER Maximilianus Claacuteudio Ameacuterico Resumo de Direito Civil

140 ediccedilatildeo Malheiros 1996

12

In Introduccedilatildeo ao Direito Civil 8 ed Rio de Janeiro Forense 1966 paacuteg 139

GOMES Orlando Introduccedilatildeo ao Direito Civil 80 ed Rio de Janeiro

Forense 1986

LOPES Miguel Maria de Serpa Curso de Direito Civil volume I 70

ed Rio de Janeiro Freitas Bastos 1989

MONTEIRO Washington de Barros Curso de Direito Civil Parte

Geral 31deg ed Satildeo Paulo Saraiva 1993

PEREIRA Caio Maacuterio da Silva Instituiccedilotildees de Direito Civil volume

I 138 ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense 1992

RODRIGUES Siacutelvio Direito Civil v1 25deg ed Satildeo Paulo Saraiva

1995 WALD Arnoldo Curso de Direito Civil Brasileiro vol 1 78 ed Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 1992

DOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO E SEUS POSSIacuteVEIS

EFEITOS INFRINGENTES

Francisco Glauber Pessoa Alves

Acadecircmico do 8ordm periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

SUMAacuteRIO I INTROacuteITO - lI DAS PRIMEIRAS REFEREcircNCIAS

HISTOacuteRICAS DOS EMBARGOS DECLARATOacuteRIOS EM NOSSO CONTEJTO

NORMATIVO - III DA SISTEMATIZACcedilAtildeO NO CPC VIGENTE - IV DA NA TU REZA

JURIacuteDICA V HIPOacuteTESES DE INTERPOSICcedilAtildeO E SEUS EFEITOS - VI OUTRA

FUNCcedilAtildeO DOS EMBARGOS DECLARA TOacuteRIOS - VII DA PROBLEMAacuteTICA DA

INFRINGEcircNCIA E EMBARGOS MERAMENTE PROTELATOacuteRIOS (COMO REPRIMI-

LOS) - VIU DO ESGOTAMENTO DA ATIVIDADE JURISDICIONAL - VII2

RETRATACcedilAtildeO OU NAtildeO DO JULGADOR POSSIBILIDADE OU NAtildeO DE FAZEcirc-LA -

VII3 PODE O JUIacuteZO A QUO SINGULAR SUBSUMIR-SE NA COMPETENCIA

DEVOLUTIVA DO OacuteRGAtildeO FRACIONARIO AD QUEM E COMO INTERPRETAR

ISSO Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DO DUPLO GRAU DE JURISDICcedilAtildeOVIII DAS

HIPOacuteTESES DE MODIFICACcedilAtildeO ALBERGADAS PELA JURISPRUDEcircNCIA - IX

CONCLUSAtildeO - REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

I - INTROacuteITO

De longa data vem a discussatildeo juriacutedica sobre a par da natureza juriacutedica

dos embargos de declaraccedilatildeo a possibilidade de atribuir efeitos infringentes a dito

instrumento juriacutedico

Em verdade a doutrina e mesmo alguns posicionamentos pretorianos

respeitaacuteveis vecircm titubeando na afirmativa desse caraacuteter substitutivo com o fito

acredita este humilde escriba de evitar-se a enxurrada de embargos declaratoacuterios com

efeitos infringentes que poderia acontecer transformado que estaria em um recurso

anocircmalo a contrariu sensu das normas insculpidas nos arts 463 cc 535 do Diploma

Regimental Civil

Esse estudo tem o escopo de ser mais um subsiacutedio com as limitaccedilotildees

oacutebvias de espaccedilo para o desanuviamento do assunto Com a consciecircncia da

complexidade do tema

A primeira parte do trabalho diz respeito a alguns breves comentaacuterios

sobre a teoria geral dos recursos estudando-se apoacutes agrave luz daquela os embargos

declaratoacuterios

O restante do estudo aprofundar-se-aacute na anaacutelise dos efeitos infringentes

e seus possiacuteveis oacutebices trazendo ao cotejo alguns exemplos praacuteticos

Fez-se questatildeo de frisar todas as fontes _ por respeito aos eminentes

autores - dos pensamentos embasadores das ideacuteias que adiante seratildeo descritas sob a

forma de notas _ que serviram ainda para alguns apontamentos - esperando que natildeo

fique prejudicada a leitura bem assim a concisatildeo do trabalho

II - DAS PRIMEIRAS REFEREcircNCIAS HISTOacuteRICAS DOS

EMBARGOS DECLARATOacuteRIOS EM NOSSO CONTEXTO NORMATIVO

Remontam agraves mais antigas raiacutezes do direito codificado Luso -

brasileiro o instituto em comento tendo sido previsto nas Ordenaccedilotildees Afonsinas

(Livro III tiacutet LXIX sect 4deg e til LXI sect 40) Manuelinas (Livro III tiacutet L sect 5deg e til

LXI sect 4deg) e Filipinas (Livro III til LXVI sect 60) Presente esteve ainda no vetusto

Regulamento 737 datado de 1850 (nos arts 641-643) e na Consolidaccedilatildeo Ribas (arts

1500 e ss) nos Coacutedigos Estaduais de Processo (Bahia art 1239 Distrito Federal

art 1179 Minas Gerais art 1439 Rio de Janeiro art 2333 Pernambuco art

1434) e no Coacutedigo de Processo Civil de 1939 (arts 840 e 862) bem como sob

formas e Procedimentos outros nas legislaccedilotildees de povos diversos12

III ndash DA SISTEMATIZACcedilAtildeO NO CPC VIGENTE

Conquanto seja previsto hoje somente nos arts 535 a 538 no

Capitulo V Tiacutetulo X do Livro I do Codex Processual Civil natildeo foi sempre assim

pois que antes da reforma vinda agrave lume com a Lei 8950 de 131294 estava

presente no Capitulo VIII que trata da Sentenccedila e Da Coisa Julgada inclusive com

prazo diferenciado (48h) do previsto no Tiacutetulo dos Recursos (5 dias) o que era

sempre alvo de criticas3

A reforma trouxe aleacutem da unificaccedilatildeo do prazo (cinco dias) no juiacutezo

singular ou colegiado a interrupccedilatildeo do prazo para interposiccedilatildeo de outros recursos

concedida agora a ambas as partes4 a exclusatildeo da hipoacutetese de duacutevida como fundamento

de sua interposiccedilatildeo e o agravamento da sanccedilatildeo para o caso do embargante de maacute-feacute

visando o mero protelamento do feito

De prima facie denota-se a disposiccedilatildeo velada do legislador em incluir os

embargos declaratoacuterios como recurso5 - ou um seu assemelhado anocircmalo - assim

disposto para melhor organicidade do Estatuto de Ritos

1 Cf E D Moniz de Arag30 Embargos de Declaraccedil30 RT 63311-23 extraldo de Joseacute Carlos

Barbosa Moreira Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil 51 ed v V537 Rio col Forense

1985 V537 ou Sergio Bermudes Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil v V1207 S30

Paulo col da Ed RT 1975

2 Cf ainda Seacutergio Sahione FadeI Coacutedigo de Processo Civil Comentado Tomo III 1974 paacuteg

171 3 Socircnia M Almeida Batista Embargos de Declaraccedil30 - Inovaccedilotildees da Reforma RP 8027

4 A lei anterior n30 era clara o que gerava controveacutersias jurisprudenciais

5 Pela sua disposiccedilatildeo expressa no art 536 IV e pela unificaccedilatildeo no Titulo dos Recursos (pela

Lei 895094)

IV - DA NATUREZA JURIacuteDICA

Questatildeo principal do nosso estudo eacute a definiccedilatildeo do enquadramento

juridico dos embargos declaratoacuterios

A doutrina natildeo eacute unacircnime e parte dela6 rejeita a natureza de recurso na

sua forma mais pura a ser inflingida ao dito instituto

Antes de mais nada impende trazer agrave tona a fim de uma melhor anaacutelise

cientiacutefica do tema o conceito e os pressupostos necessaacuterios aos recursos - para

esclarecer o juizo de admissibilidade recursal e sua aplicabilidade aos embargos

declaratoacuterios

Para Nelson Nery Juacutenior O recurso eacute medida destinada a provocar na

mesma relaccedilatildeo juriacutedica processual o reexame ou integraccedilatildeo da decisatildeo impugnadardquo7

O Mestre Oviacutedio Batista sempre mencionado o entende como o

procedimento atraveacutes do qual a parte ou quem esteja legitimado a intervir na causa

provoca o reexame das decisotildees judiciais a fim de que elas sejam invalidadas ou

reformadas pelo proacuteprio magistrado que as proferiu ou por algum oacutergatildeo de jurisdiccedilatildeo

Superior8

Humberto Theodoro Juacutenior citando o mesmo Amaral Santos leciona

recurso como sendo o poder de provocar o reexame de uma decisatildeo pela mesma

autoridade judiciaacuteria ou por outra hierarquicamente superior visando a obter a sua

reforma ou modificaccedilatildeordquo9

Por outro lado para que haja o provimento jurisdicional necessaacuterio se

faz antes de adentrar-se no meacuterito do recurso (ou seja na anaacutelise do seu teor juriacutedico

e da pertinecircncia dos seus fundamentos - e isso se chama juiacutezo de meacuterito) proceder ao

juiacutezo de admissibilidade que natildeo eacute outra coisa senatildeo a verificaccedilatildeo a ser feita para

confirmar se o recurso reveste-se dos requisitos miacutenimos necessaacuterios para a anaacutelise

posterior de seu inteiro teor juriacutedico - o juiacutezo de meacuterito de que se falou

Nery Junior em seu prestigiado magisteacuterio10

os subdivide em

pressupostos intriacutensecos e extriacutensecos

Os primeiros satildeo o cabimento a legitimaccedilatildeo para recorrer e o interesse

para recorrer

O mencionado autor compara ainda esses ditos pressupostos agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo justificando tal raciociacutenio no de que o recurso eacute manifestaccedilatildeo do

6 Moniz de Aragatildeo ob mencionada Sergio Bermudes A Reforma do Coacutedigo de Processo

Civil Saraiva p l01 7 Aspectos da Teoria Geral dos Recursos no Processo Civil RP 51155 8 Curso de Processo Civil Processo de Conhecimento Vol I 3 ed

Sergio Antonio Fabris Editor p 345

9 Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Direito Processual

Civil e Processo de Conhecimento Vol I 12 ed Editora Forense p 541 10

Ob citada

direito de accedilatildeo

Assim o cabimento11

corresponderia agrave possibilidade juriacutedica do

pedido a legitimidade para recorrer12

seria equivalente agrave legitimatio ad causam e o

interesse em recorrer13

corresponderia o interesse processual

Jaacute os pressupostos extriacutensecos seriam extemos agrave decisatildeo que se pretende

impugnar sendo eles a tempestividade14

a regularidade formal15

a inexistecircncia de fato

impeditivo ou extintivo do poder de recorrer16

e o preparo17

Oviacutedio Batista18

- lastreado nos ensinamentos de Barbosa Moreira -

classifica de maneira semelhante agrave Nery Juacutenior excetuando-se a inexistecircncia de fato

impeditivo ou extintivo do direito de recorrer o qual entende ser um pressuposto

intriacutenseco

O insigne Humberto Theodoro19

classifica diferentemente os

pressupostos Para ele existiriam os objetivos - as pessoas legitimadas a recorrer - e os

objetivos - recorribilidade da decisatildeo tempestividade do recurso singularidade do

recurso20

adequaccedilatildeo do recurso preparo motivaccedilatildeo e forma

Excogitando-se dos conceitos de recurso - lato sensu - dados verifica-se

que os embargos de declaraccedilatildeo enquanto meacutetodo de complementaccedilatildeo do decisum natildeo

se aperfeiccediloam no conceito de recurso - partindo-se da premissa que soacute eacute recurso

quando se tem a capacidade de modificar o meacuterito podendo substituiacute-Io

Ainda do que foi visto reputa-se apto ao juiacutezo de admissibilidade dos

embargos declaratoacuterios a exigecircncia de quase todos os pressupostos reclamados pelo

juizo de admissibilidade dos recursos a quem neologiacutesticamente chamaremos de

puros

Dessarte soacute natildeo seria possiacutevel a exigecircncia no que toca agrave regularidade

11 Este se desdobraria ainda em recorribilidade (do decisum) e adequaccedilatildeo (ser o recurso

idocircneo para atacar a decisatildeo) 12

Estaacute prevista especificamente em lei (art 499 do CPC) sendo as partes o Ministeacuterio Puacuteblico

ndash como parte ou como custus legis ndash e o terceiro prejudicado ndash demonstrando o seu interesse

juriacutedico na causa ou sejam o liame existente entre a decisatildeo e o prejuiacutezo que ela lhe teria

causado 13

Caracterizado pelo binocircmio necessidade ndash de o recurso ser p uacutenico meio de se obter o bem

juriacutedico almejado ndash e utilidade ndash a sucumbecircncia da parte recorrente - Este uacuteltimo aspecto

entendemos intimamente ligado ao conceito da possibilidade juriacutedica lato sensu 14

O recurso deve ser interposto dentro dos prazos legais sendo estes peremptoacuterios 15

Ou seja a forma como o recurso deve ser interposto ndash o que muitas vezes eacute definido em lei

(ex arts 514 524 525 dentre outros todos do CPC) 16

Dizendo respeito agrave preclusatildeo loacutegica perfazendo-se pela desistecircncia do recurso interposto ou

aquiescecircncia (taacutecita ou expressa) agrave decisatildeo 17

Este ensejador da deserccedilatildeo caso natildeo devidamente pago Interessante observar no caso

concreto o Regimento interno de cada oacutergatildeo referentemente a exigibilidade ou natildeo do preparo

Eacute que agrave guisa de esclarecimento existem Pretoacuterios que o dispensam (conforme ocorre por

exemplo com o Agravo de Instrumento no Tribunal Regional Federal da 5ordf regiatildeo) 18

Ob Mencionada p 352 19

Ob Jaacute falada pp 549-550 20

Este uacuteltimo expressatildeo do princiacutepio da singularidade dos recursos segundo o qual de qualquer

decisatildeo recorriacutevel cada apenas um recurso Ver a esse respeito Rui Portanova in princiacutepios do

Processo Civil Livraria do Advogado Editora p 271

formal21

e ao preparo22

Outro argumento utilizado pela respeitaacutevel doutrina de Cacircndido Rangel

Dinamarca eacute o fato de que estando o instituto previsto dentro do tiacutetulo destinado aos

recursos assim o legislador o teria definido Parece que o legislador conheceu dos

embargos do fino processualista23

tanto que os recebeu para declarar que na sua

opiniatildeo os embargos satildeo recursordquo24

Posto que legalmente esteja previsto como tal (art 496 IV do Codex

Processua) a rigor25

os embargos declaratoacuterios natildeo seriam recurso pois como dito

antes natildeo estariam aparelhados por lei a provocar o reexame da decisatildeo pela autoridade

judiciaacuteria

Mas o problema natildeo eacute tatildeo simploacuterio assim e a tendecircncia vem sendo natildeo

sem obstaacuteculos de aceitar-se os embargos como verdadeiros recursos tanto mais pela

sua disposiccedilatildeo no CPC26

Joseacute Frederico Marques dissertando sobre os embargos declaratoacuterios

diz Recurso exclusivamente de retrataccedilatildeo os embargos de declaraccedilatildeo permitem o

reexame do acoacuterdatildeo embargado pelos juizes de que emanou27

Mais adiante remata

Trata-se de um procedimento recursal porque existe nos embargos de declaraccedilatildeo

pedido de reparaccedilatildeo do gravame resultante de obscuridade duacutevida28

ou contradiccedilatildeo

bem como de omissatildeo29

Dissertando sobre o assunto Oviacutedio Batista entende embargos de

declaraccedilatildeo como o instrumento de que a parte se vale para pedir ao magistrado

prolator de uma dada sentenccedila que a esclareccedila em seus pontos obscuros ou a

complete quando omissa ou finalmente que lhe repare ou elimine eventuais

contradiccedilotildees que ela porventura contenha30

21

Diz-se isso porquanto a interposiccedilatildeo dos embargos declaratoacuterios seja tatildeo desprovida de

exigecircncias - eacute feito por meio de uma simples peticcedilatildeo - que entendemos inexistente na espeacutecie

um maior rigor no aspecto formal do seu processamento conquanto seja expressamente - e

logicamente - necessaacuterio a indicaccedilatildeo no corpo da peticcedilatildeo da obscuridade contradiccedilatildeo ou

omissatildeo sob pena de seu natildeo conhecimento ateacute mesmo em obediecircncia ao principio da

dialeticidade dos recursos (cf Rui Portanova ob citada pp 275-2n) 22

Ao que a lei dispensa expressamente (art 536 CPC) 23

Em referecircncia a Sergio Bermudes - in Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil VII n 19B

esp p 210 - que entende ser uma ldquoPena que natildeo se possam opor embargos de declaraccedilatildeo

para que o legislador declare qual a natureza dos embargos neste Coacutedigordquo 24

A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil 3ordf ed Malheiros p 203 25

Isto eacute partindo-se sempre da premissa de que soacute eacute recurso quando pode-se a partir de sua interposiccedilatildeo alterar o meacuterito do julgado - e natildeo apenas esclarececirc-Io

26 Nesse sentido expressamente Dinamarco como visto Nelson Nery Junior em sua obra

Aspectos da Reforma do Coacutedigo de Processo Civil RP 79129 e ainda em seu Coacutedigo de

Processo Civil Comentado p 965 Humberto Theodoro Juacutenior ob citada p 577 Antonio de

Paacutedua Ferraz Nogueira Princiacutepios Fundamentais dos Embargos de Declaraccedilatildeo in Revista de

Processo 77(1 Carreira Alvim Accedilatildeo Monitoacuteria e Temas Polecircmicos da Reforma Processual

Dei Reyp235 27

Manual de Direito Processual Civil Vol 111 - Processo de Conhecimento 2 parte Saraiva 2

ed p 161 28

Hipoacutetese atualmente excluiacuteda do ordenamento juriacutedico como se explicitaraacute mais agrave frente 29

Ob e p citadas

30

Ob mencionada p 380

Para Vicente Greco Filho amparado em Moacyr Amaral Santos satildeo os

embargos declaratoacuterios um recurso interposto perante o mesmo juiacutezo em que proferiu

a decisatildeo recorrida visando agrave sua declaraccedilatildeo ou reforma31

Humberto Theodoro de maneira anaacuteloga a Vicente Greco (jaacute a vendo

como recurso) entende-os como recurso destinado a pedir ao juiz ou tribunal prolator

da decisatildeo que esclareccedila duacutevida32

afaste obscuridade supra omissatildeo ou elimine

contradiccedilatildeo existente no julgado33

Denota-se portanto que quando da nova anaacutelise do julgado exsurge uma

transformaccedilatildeo - e natildeo complementaccedilatildeo ou integraccedilatildeo - do mesmo efetivam-se os

embargos declaratoacuterios como recurso natildeo mais apenas no sentido legal - como jaacute visto

- mas tambeacutem no sentido juriacutedico (presente que estaria a premissa34

de que jaacute falamos)

Para pocircr termo a esse toacutepico conceituaremos embargos de declaraccedilatildeo

como o instrumento juriacutedico forma recursal natildeo pura destinado a esclarecer

obscuridades a eliminar contradiccedilotildees ou a suprir omissotildees das sentenccedilas decisotildees e

eventualmente despachos que a despeito da natildeo previsatildeo legal reveste-se em casos

excepcionais de efeitos infringentes quando entatildeo passa a ser de fato e de direito

recurso

V - HIPOacuteTESES DE INTERPOSICAtildeO E SEUS EFEITOS

Prevecirc o Coacutedigo no art 535 a possibilidade da parte embargar de

declaraccedilatildeo (I) quando houver na sentenccedila ou no acoacuterdatildeo obscuridade ou contradiccedilatildeo

ou ainda (11) quando for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou

tribunal

A citada Lei 895094 expurgou como jaacute dito a hipoacutetese de interposiccedilatildeo

dos embargos em caso de duacutevida35

cujo conceito era sempre questionado36

e acabava

gerando outra duacutevida37

O cabimento agrave sentenccedila e natildeo soacute ao acoacuterdatildeo dentro do proacuteprio Capiacutetulo

V do Tiacutetulo X foi inserido tambeacutem pela lei retro mencionada uniformizando o

tratamento e o prazo consoante jaacute dito38

31

Apud Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob jaacute referida

32 Vide nota 28

33 Ob citada p 577

34 Vide nota 25 35

Para contento de alguns respeitaacuteveis doutrinadores cf Antonio de Paacutedua Ferraz (ob

citada) Rogeacuterio lauria Tucci Curso de Direito Processual Civil Processo de

Conhecimento 3390 Seabra Fagundes Dos Recursos Ordinaacuterios em Mateacuteria Civil p

150 Marcos Afonso Borges Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil 2264

36 Muitos a compreendiam como jaacute inserida nos conceitos de contradiccedilatildeo e Obscuridade

como a Professora Sonia Marcia Hase de Almeida Baptista em sua obra dos Embargos de

Declaraccedilatildeo Ed RT 2 ed 1993 pp 115 e 116

37 Como para Dinamarco ob citada p 204 para quem 4 duacutevida eacute um estado Subjetivo de

difiacutecil verificaccedilatildeo ou comprovaccedilatildeo e duvidosa relevacircncia juriacutedica 38

Vide Toacutepico III

Construiacuteram a doutrina39

e a jurisprudecircncia40

a possibilidade de

interposiccedilatildeo quanto agraves decisotildees interlocutoacuterias41

e ateacute quanto aos meros despachos42

o

que natildeo eacute mais do que loacutegico uma vez que estes dois uacuteltimos provimentos judiciais a

par das sentenccedilas podem conter falhas devendo entatildeo serem reparadas mediante o

instituto em comento43

Obscuridade eacute tudo aquilo capaz de dificultar a compreensatildeo do

julgamento Pode cingir-se a todo o decisum ou a somente um de seus pontos

Natildeo haacute duacutevidas de que a obscuridade pode situar-se tanto na

fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo quanto na parte decisoacuteria uma vez que aquela eacute quem

muitas vezes leva agrave falta de clareza da decisatildeo

Contradiccedilatildeo eacute quando no acoacuterdatildeo se incluem proposiccedilotildees entre si

inconciliaacuteveisrdquo44

Eacute um viacutecio da sentenccedila bem mais seacuterio do que a obscuridade

defendendo-se e recomendando-se ao julgador que a interprete com olhos vivos

equiparando-se-Ihe ainda incoerecircncias e incongruecircncias45

Jaacute a omissatildeo ocorre quando o juiz ou tribunal deixa de apreciar ponto

sobre o qual deveria pronunciar-se expliacutecitando-se nas questotildees natildeo dirimidas

suscitadas pela parte ou apreciaacuteveis ex-offiacuteciacuteo46

Revestem-se os embargos hoje de efeito apenas interruptivo47

expressamente previsto em lei (art 538 caput do CPC) Tal efeito eacute aplicado em

relaccedilatildeo a todas as partes do processo e natildeo apenas ao embargante (ainda no mesmo

artigo supra mencionado) Acabaram-se assim as duacutevidas de interpretaccedilatildeo relativamente

ao efeito suspensivo no que concerne agrave contagem dos prazos para as partes -

39

Oviacutedio Batista ob citada p 381 Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery em Coacutedigo

de Processo Civil Comentado 2 ed Editora Revista dos Tribunais p 965 Sergio Bermudes A

Reforma do Coacutedigo de Processo Civil Saraiva p 101 Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob

citada 40

RT 561137 JT A 66178 11455 12159 (Apud Theotocircnio Negratildeo em seu Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo Processual em Vigor 27 ed art 535 nota 11e p 412) ainda JTA 68142682747484 e 12159 (Apud Nelson Nery Junior in Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil citada anteriormente p 967

41 Moniz de Aragatildeo ob citada nega a possibilidade de interposiccedilatildeo quanto agraves interlocutoacuterias e

aos despachos dizendo ainda ser impossiacutevel qualquer concessatildeo Para ele o instrumento

adequado seria o pedido de esclarecimentos Pennissa venia entende-se hoje tal raciociacutenio no

tocante agraves interlocutoacuterias como superado Acreditamos natildeo ter como de fato natildeo tem o

pedido de esclarecimentos o alcance que os embargos declaratoacuterios podem vir a ter (a

modificaccedilatildeo da decisatildeo) 42

Conforme o mesmo Sergio Bermudes A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil p citada 43

O que natildeo afasta a figura do pedido de esclarecimentos mas apenas garante a faculdade dada agrave parte para evitar a preclusatildeo temporal em caso de o julgador natildeo acolher os ditos esclarecimentos (Cf Oviacutedio Batista ob citada p 381) 44

Cf Paacutedua Nogueira espelhando-se em Joseacute Carlos Barbosa Moreira - ob citada p 8 45

Cf Moniz de Aragatildeo ob citada p 16

46 Vide a respeito o Toacutepico VI

47 Natildeo tem efeito devolutivo pois natildeo devolve o conhecimento da mateacuteria a um oacutergatildeo de

jurisdiccedilatildeo ad quem

diferenciada ou natildeo

VI - OUTRA FUNCcedilAtildeO DOS EMBARGOS DECLARA TOacuteRIOS

Natildeo haacute que se olvidar que outra funccedilatildeo dos embargos decorrente do

inciso 11 do art 535 bem como da necessidade do afunilamento dos recursos junto ao

Superior Tribunal de Justiccedila e ao Supremo Tribunal Federal seja a de

prequestionamento

Com efeito a teor das Suacutemulas 28248

e 35649

do STF50

necessaacuterio se

faz o prequestionamento - que eacute a provocaccedilatildeo do oacutergatildeo jurisdicional para que se

pronuncie sobre dado assunto - para interposiccedilatildeo de recursos especiais e

extraordinaacuterios ventilando-se a quaestio iuris federal ou constitucional suscitada sob

pena de seu natildeo conhecimento por aqueles Excelsos Pretoacuterios

VII - DA PROBLEMAacuteTICA DA INFRINGEcircNCIA E

EMBARGOS MERAMENTE PROTELATOacuteRIOS (COMO REPRIMI-

LOS)

VII1 - DO ESGOTAMENTO DA ATIVIDADE

JURISDICIONAL

A primeira dificuldade a ser explanada por conta do presente toacutepico

adveacutem da norma inserta no art 463 vg

Ao publicar a sentenccedila de meacuterito o juiz cumpre e acaba o oficio

jurisdicional soacute podendo alteraacute-Ia

I - para lhe corrigir de oficio ou a requerimento inexatidotildees

materiais ou lhe retificar erros de caacutelculo

II - por meio de embargos de declaraccedilatildeo

Com efeitos parecem despiciendos maiores comentaacuterios sobre a

plausibilidade de o juiz ou tribunal (a disposiccedilatildeo retro mencionada deve ser entendida

extensivamente) voltar a rever (ainda que para corrigir) um seu julgado

48

ldquoEacute inadmissiacutevel o recurso extraordinaacuterio quando natildeo ventilada na decisatildeo recorrida a questatildeo federal suscitada

49

O ponto omisso da decisatildeo sobre o qual natildeo foram opostos embargos declaratoacuterios natildeo

pode ser objeto de recurso extraordinaacuterio por faltar o requisito do prequestionamento 50

Aplicaacuteveis subsidiariamente e com menor rigor no Superior Tribunal de Justiccedila

Por ser assim pode o magistrado ou oacutergatildeo fracionaacuterio voltar a atuar no

feito na hipoacutetese do inciso I e nas do inciso II

Afunda portanto qualquer entendimento no sentido de obstaculizar

com fulcro no caput do artigo ora em estudo a infringecircncia nos embargos declaratoacuterios

porquanto que em sede de interpretaccedilatildeo aconselha-se prevalecer a cabeccedila da norma em

detrimento dos incisos e aquela proacutepria abre em sua segunda parte as exceccedilotildees para a

sistematizaccedilatildeo do que se defende aqui

Cabe definir sim a extensatildeo das hipoacuteteses em que os embargos

declaratoacuterios podem incidir bem como dos seus efeitos em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

impugnada

VII2 - RETRATACcedilAtildeO DO JULGADOR POSSIBILIDADE OU

NAtildeO DE FAZEcirc-LA

Decorrente da possibilidade anterior eacute a abertura para que o magistrado

verificando que natildeo mais subsistem as razotildees de seu convencimento - examinadas as

alegaccedilotildees feitas pela parte em embargos de declaraccedilatildeo e desde que suficientemente

ciente disso - prolate nova decisatildeo mais condizente com o direito

Sabe-se que dentro do proacuteprio Coacutedigo de Processo Civil eacute dado ao

magistrado retratar-se de sua decisatildeo (vide hipoacutetese no agravo de instrumento arts 523

sect 2deg e 529 - que no caso eacute interlocutoacuteria portanto natildeo terminativa do feito) bem como

nas hipoacuteteses de relaccedilatildeo juriacutedica continuada em havendo modificaccedilotildees no estado de

fato ou de direito ou em outros casos previstos na legislaccedilatildeo (conforme art 471 I e li

do mesmo diploma legal) o qual o exemplo mais claacutessico eacute o da sentenccedila proferida em

accedilatildeo de alimentos

Aqui certamente entra o argumento dos que defendem de maneira

arguta o principio da seguranccedila das relaccedilotildees juriacutedicas

Eacute bem verdade que no paiacutes onde prepondera a litigacircncia como regra e

natildeo como exceccedilatildeo pensa-se de logo caso tenhamos os embargos declaratoacuterios

literalmente como recurso na enxurrada destes para impugnar decisotildees 1deg) por que o

mesmo pode teoricamente falando ser interposto natildeo infinitamente mas vaacuterias vezes

2deg) que dado o seu efeito interruptivo prolongaria-se demais a anaacutelise da decisatildeo pelo

oacutergatildeo ad quem

De maneira inversa entendemos que a proacutepria lei e a doutrina mais

autorizada jaacute prevecircem as soluccedilotildees

Para o primeiro oacutebice a proacutepria lex (art 538 do Diploma Processual

Civil) autoriza ao julgador verificando serem os embargos protelatoacuterios a aplicaccedilatildeo de

multa de 1 sobre o valor da causa Em caso de reiteraccedilatildeo a multa eacute elevada a 10

condicionando-se a interposiccedilatildeo de qualquer outro recurso ao depoacutesito do valor

respectivo

Ora se se passa a entender os embargos declaratoacuterios como recurso de

lege lata51

o raciociacutenio eacute esse _ logicamente a comprovaccedilatildeo do depoacutesito seraacute tambeacutem

necessaacuteria ateacute mesmo no caso de interposiccedilatildeo de novos embargos Acreditamos assim

que nem todo litigante vai querer embargar inadvertidamente a menos que o valor da

causa seja iacutenfimo

Aqui abrem-se outras vertentes se o valor da causa eacute iacutenfimo o que se

faz

Sabemos que haacute o instrumento juriacutedico previsto para resoluccedilatildeo de tal

problema que eacute a impugnaccedilatildeo ao valor da causa52

devendo serem as partes zelosas para

com esse aspecto

Outrossim em caso de inflaccedilatildeo galopante conquanto estejamos com a

mesma controlada essa realidade era ateacute bem pouco tempo presente o que nos faz

sempre repensaacute-Ia - como seria a atualizaccedilatildeo desse valor da causa

Natildeo vemos outra alternativa senatildeo que a contadoria judicial proceda a

essa atualizaccedilatildeo a evitar-se maiores incidentes praacuteticos

Cabem ainda as sanccedilotildees previstas para a litigacircncia de maacute-feacute (countemp of

court) previstas nos arts 16 a 18 do CPC devendo o magistrado aplicaacute-Ias quando

tiver certo da ausecircncia de boas intenccedilotildees da parte com todo o vigor da lei

Outra opccedilatildeo - talvez a que nos pareccedila mais adequada - para a prevenccedilatildeo

da interposiccedilatildeo desregrada de embargos declaratoacuterios visando a postergaccedilatildeo do feito

aponta-nos o Mestre Cacircndido Rangel Dinamarco para quem MA modificaccedilatildeo do

julgado em casos assim eacute absolutamente ilegiacutetima quando feita sem a parte

embargada em contraditoacuterio Ainda que nada disponha a lei a respeito a observtincia

do contraditoacuterio nesses casos eacute de rigor constitucional e viola a garantia do

contraditoacuterio do julgamento feito sem oportunidade para a resposta do embargado53

(grifado)

Vemos assim acompanhando o raciocinio do mencionado autor como

perfeitamente possiacutevel a ouvida da parte contraacuteria quando sinta o julgador que a

decisatildeo merece ser reformada essa possibilidade por meio de embargos declaratoacuterios eacute

a exceccedilatildeo como salientaremos adiante

Em sendo assim jaacute seria outro fundamento para o natildeo conhecimento de

embargos manifestamente protelatoacuterios

Consequumlecircncia do antes exposto seria a soluccedilatildeo tambeacutem do problema do

efeito interruptivo (o 2deg apresentado) causando o adiamento anormal da interposiccedilatildeo do

recurso comumente admitido (apelaccedilatildeo recurso especial entre outros) Os causiacutedicos

das partes sucumbentes por prudecircncia natildeo os interporiam desmedidamente sob pena

de seu natildeo conhecimento e subsequumlente natildeo interrupccedilatildeo do prazo para novos recursos

VII3 - PODE O JUIacuteZO A QUO SINGULAR SUBSUMIR-SE NA

COMPETEcircNCIA DEVOLUTIVA DO OacuteRGAtildeO FRACIONAacuteRIO AD QUEM E

COMO INTERPRETAR ISSO Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DO DUPLO GRAU DE

51

Art 496 IV do CPC 52

A ser processada no prazo da defesa e na forma do art 261 do Regimento Processual 53

Ob citada p 206

JURISDICcedilAtildeO

Outro problema que vem agrave tona eacute saber se o juiz ou tribunal ao aceitar o

efeito transformador dos embargos declaratoacuterios - em sede de sentenccedilas54

terminativas

com ou sem meacuterito - natildeo estaria retardando a possiacutevel devoluccedilatildeo do julgamento ao

oacutergatildeo ad quem

Data vecircnia entendemos que a negativa se impotildee Em verdade ao

aceitar-se tais efeitos aos embargos declaratoacuterios estaacute o proacuteprio magistrado (dentro

sempre de seu prudente arbiacutetrio) reconhecendo o erro (crasso) que cometeu Seria justo

e necessaacuterio ter a parte que submeter-se obrigatoriamente ao recurso para o oacutergatildeo

superior para que visse a manifesta ilegalidade remediada

Temos conhecimentos de que modernamente vem o direito processual se

constituindo mais do que nunca a par de sua autonomia como ciecircncia juriacutedica em um

instrumento para consecuccedilatildeo dos direitos ofendidos das partes e mais

contemporaneamente para a composiccedilatildeo amigaacutevel dos litiacutegios

Expoente dessa nova tendecircncia processual Cacircndido Rangel Dinamarco

com proficuidade resume As ondas renovatoacuterias caracterizadoras das novas

tendecircncias do direito processual soacute se mostram concretas e uacuteteis na medida em que os

ideais de ampliaccedilatildeo da tutela jurisdicional se traduzam em teacutecnicas capazes de

melhorar os resultados apresentados aos consumidores do serviccedilo que satildeo os

membros da populaccedilatildeordquo55

Assim eacute cediccedilo que por exemplo uma apelaccedilatildeo (e a hipoacutetese vale para

quase todos os outros recursos com algumas mudanccedilas) leva para ser processada e

julgada um lapso temporal por demais longo Quanto de tempo e custos a parte e o

Judiciaacuterio poderiam ver poupados a adotar-se uma interpretaccedilatildeo mais aberta finaliacutestica

do objetivo do processo para os embargos declaratoacuterios

Sim diga-se isso pois embora improacutepriordquo56

o prazo de 5 (cinco) dias

do art 537 1- parte para que o juiz ou oacutergatildeo colegiado decida os embargos ainda

assim eacute um prazo bem menor do que o de uma apelaccedilatildeo ou mesmo um agravo - hoje

54

Nas interlocutoacuterias haacute de se analisar caso a caso a real necessidade da interposiccedilatildeo dos

embargos com efeitos infringentes uma vez que ao agravo de instrumento pode ser conferido o

efeito suspensivo em Iiminar bem como vecircm entendendo pioneiramente alguns pretoacuterios a

possibilidade da concessatildeo in li mine do pedido denegado (hipoacutetese de soluccedilatildeo para os casos

de decisotildees interlocutoacuterias denegatoacuterias que natildeo foram previstas pelo art 527 11 do CPC)

cientes que estatildeo estes colegiados do moderno espiacuterito de celeridade e natildeo prejuiacutezo agraves partes de

que veio encoberta a reforma (o Tribunal Regional Federal da 5 Regiatildeo eacute um honroso exemplo

conforme asseverou o eminente Professor e Juiz Federal potiguar Francisco Barros Dias em

Curso ministrado no Auditoacuterio da Justiccedila Federal de 07 a 11 de outubro de 1996) Outrossim

em pronunciamentos bastante recentes vecircm alguns Desembargadores do Tribunal de Justiccedila do

Rio Grande do Norte tambeacutem adotando esse entendimento na vanguarda do moderno direito

processual amparado na doutrina de Neacutelson Nery Juacutenior e Rosa Maria Andrade Nery in ob jaacute

citada 55

A Instrumentalidade das Formas 3 ed Malheiros p 227 56

Satildeo aqueles prazos em que a desobediecircncia natildeo leva a nada pois a lei natildeo prevecirc uma sanccedilatildeo

com efeito suspensivo possiacutevel

Nos tribunais a apresentaccedilatildeo deles seraacute sempre na sessatildeo subsequumlente

(CF 2- parte do artigo mencionado) ainda que saibamos que na maioria das vezes tal

natildeo aconteceraacute Mas o que se quer ressaltar eacute a ideacuteia de agilidade com que este

instrumento juriacutedico sui generis de impugnaccedilatildeo das decisotildees pode revestir-se

Nem se diga tambeacutem que esse raciociacutenio eacute um oacutebice ao princiacutepio do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo (para Rui Portanova em trabalho que merece louvores melhor

seria dizecirc-Io duplo grau miacutenimo pois no direito paacutetrio haacute uma infindaacutevel possibilidade

de recursos57

) - aqui entendido como acesso aos diferentes graus de jurisdiccedilatildeo - uma

vez que seraacute mantida a possibilidade de acesso ao juiacutezo imediatamente superior (pelos

recursos de praxe)

Suponhamos que a parte entre com os embargos declaratoacuterios aspirando

que lhe sejam conferidos efeitos infringentes (de maneira direta58

ou reflexatildeo59

o juiz

retrata-se da decisatildeo (entendemos necessaacuterio como jaacute dito a ouvida da parte contraacuteria

em obseacutequio ao contraditoacuterio) Eacute dado a parte antes beneficiada e agora prejudicada

com o provimento jurisdicional interpor novos embargos de declaraccedilatildeo infringentes em

seus efeitos (esclareccedila-se contudo que essa oportunidade soacute deve ser concedida uma

uacutenica vez a cada uma das partes e em hipoacuteteses excepcionais)

Essa nova interposiccedilatildeo tanto pode ter a pretensatildeo honesta de mais uma

vez mudar a decisatildeo (hipoacutetese que quer parecer-nos pouco provaacutevel) ou de apenas

protelar o andamento do feito ou ainda de realmente visar esclarecer o julgado nas

hipoacuteteses do art 535 _ natildeo devendo serem logicamente admitidos

Ora natildeo haacute problema No primeiro caso o juiz se pronunciaraacute (se jaacute natildeo

o fez) no prazo de lei que eacute bastante exiacuteguo confirmando ou mudando (essa hipoacutetese

queremos deixar para o abstrato por que natildeo poderia o Juiz estar sempre se retratando

o que soacute seria aceitaacutevel uma uacutenica vez) a sua decisatildeo daiacute por diante entendendo

protelatoacuterios - o que evitaria a utilizaccedilatildeo leviana do instituto - quaisquer novos

embargos com esse escopo (sujeitas tais interposiccedilotildees agrave regra do art538)

Jaacute no caso da interposiccedilatildeo de embargos pela parte outrora beneficiada

unicamente e para protelar o feito caberaacute ao adequado preparo intelectual do

magistrado repelir a situaccedilatildeo como visto no subtoacutepico anterior

Aiacute entra o prudente arbiacutetrio do juiz pois se modificou - essa eacute sempre a

exceccedilatildeo repita-se - a sentenccedila o fez estribado em razotildees bastante fortes60

natildeo seria

consoante com o sistema processual vigente61

a sua retrataccedilatildeo indefinida

57 Cf ob citada p 265 58

Entendemos de forma direta quando a intenccedilatildeo da parte for manifestamente de atacar o

meacuterito objetivando expressamente a reforma da decisatildeo 59

A maneira reflexa como a vemos daacute-se quando a parte tenta intenta com os embargos

realmente visando afastar obscuridade eliminar contradiccedilatildeo ou suprir omissatildeo da forma como

permite o art 535 do CPC soacute que esses viacutecios estatildeo tatildeo arraigados e maculam tanto a decisatildeo

que o acolhimento dos embargos transmuda totalmente seu teor 60

Fundadas no prejuiacutezo manifesto que a(s) parte(s) poderiam ter com a decisatildeo originaacuteria 61

Se bem que a tiacutetulo meramente exemplificativo ao recurso de agravo eacute dada essa

possibilidade em que o juiz pode retratar-se de sua decisatildeo (tanto na hipoacutetese do retido como no

de instrumento) podendo fazecirc-Io uma uacutenica vez quando do andamento do recurso Caso a parte

Cabe ainda mais uma vez deles natildeo conhececirc-los o julgador quando

forem - manifestamente e fora de qualquer duacutevida protelatoacuterios considerando-se natildeo

interrompido o prazo para outros recursos62

Eacute sempre bom frisar que esse efeito infringente natildeo pode ser entendido

como regra mas a exceccedilatildeo O que se pretende eacute que o julgador conheccedila desses

embargos de declaraccedilatildeo excepcionaisrdquo com o espiacuterito aberto63

expurgando-se dogmas

e maniqueiacutesmos quanto ao ultrapassado efeito complementar e integrador dos

embargos entendendo-os sim como meio idocircneo para reforma das decisotildees em alguns

casos especiais em que o error in judicando ou o error in procedendo forem gritantes

Acreditamos que essa eacute uma ideacuteia a ser realmente pensada com muita

parcimocircnia

VIII - DAS HIPOacuteTESES DE MODIFICACcedilAtildeO ALBERGADAS PELA

JURISPRUDEcircNCIA

Tecircm-se entendido como possiacutevel a interposiccedilatildeo de embargos com efeitos

infringentes nas seguintes hipoacuteteses64

10) erro manifesto de julgamento65

20) quando

houver erro material no exame dos autosrdquo66

30) erro evidente quanto agrave tempestividade

do recurso natildeo conhecido67

agrave intempestividade de recurso conhecido68

agrave qualificaccedilatildeo

juriacutedica do fato69

a formalidade essencial natildeo observada nos autos70

a fato relevante

com repercussatildeo sobre a conclusatildeo do julgado71

a recurso conhecido por equiacutevoco

contraacuteria sinta-se prejudicada teraacute de interpor outro recurso se quiser atacar a decisatildeo jaacute

retratada Vide a respeito os arts 523 sect 2deg e 529 todos do Coacutedigo de Processo Civil

62 Haacute entendimentos mutatis mutandis (pois datam de antes da lei

895094) nesse sentido natildeo interrupccedilatildeo do prazo - quando os embargos satildeo intempestivos ou incabiacuteveis ou ainda interpostos contra decisatildeo que em termos claros rejeitou outros embargos de declaraccedilatildeo cf RT J 150327 e JTA 118394 colhido por Theotocircnio Negratildeo ob citada art 538 notas 2 e 4 p 416 (A jurisprudecircncia eacute anterior agrave reforma da lei)

63

Assim jaacute o disse o Indigitado Ministro Marco Aureacutelio no Recurso Extraordinaacuterio nordm 111787

in RTJ 138249

64

Cf o prestigiado Theotocircnio Negratildeo ob citada nota 1 Ob ao art 535 pp 410-411 65

RSTJ 39289 66

STJRJ18554 67

5T J_3a Turma REsp 3994-MS reI Min Nilson Naves j 21691 receberam os embs vu

DJU 12891 p 10553 l col STJ-4 Turma REsp 6739-BA rei Min 5aacutelvio de Figueiredo j 13891 deram provimento VU DJU 9991 p 12207 l col em ST J-4 Turma REsp 13100GO rei Min Athos Carneiro j 29692 deram provimento VU DJU 3892 p 11323 2 col em STF-RT 600238 RT 618194 633163 RJT JESP 5025 96366 JTA 38389 55168 5931394352 Lex-JTA 73257 74215 BoI AASP 1290213 1436154 RP 39317 68

ST J-1 Turma AG 23785-5-SP-AgRg-EDcl rei Min Demoacutecrito Reinaldo j 91292 receberam os embs VU DJU 15293 p 16702 col em 69

JTA 93385 70

RJT JERGS 168153 71

RTFR 15201 RP 57253 JT A 108287 ST J-4 Turma REsp 19564-SP rei Min Barros Monteiro j 18592 natildeo conheceram VU DJU 22692 p 9765 2 col em ST J-1 Seccedilatildeo MS 913-DF reI Min Ameacuterico Luz j 121191 homologaram a desistecircncia vu DJU

manifesto72

dentre outras hipoacuteteses

Nelson Nery Juacutenior73

expressamente indica as seguintes hipoacuteteses a)

correccedilatildeo de erro material manifesto b) suprimento de omissatildeo c) extirpaccedilatildeo de

contradiccedilatildeo

Mas entende ainda o autor possiacutevel contra decisotildees ultra petita74

erro

manifesto75

e erro de fato76

Em hipoacuteteses bastante assemelhadas Antonio de Paacutedua Ferraz

Nogueira77

indica a possibilidade de efeitos infringentes nos embargos declaratoacuterios

quando a) a apelaccedilatildeo ou agravo natildeo forem conhecidos em face de equivocada afericcedilatildeo

do prazo de interposiccedilatildeo ou por qualquer erro material b) quando houver omissatildeo de

decisatildeo quanto a questatildeo que se pretende seja objeto de recursos especial e

extraordinaacuterio - de que jaacute se falou - podendo ensejar outra conclusatildeo de modo a

modificar o aresto c) houver contradiccedilatildeo inadvertida que se mantida macularaacute o

julgado e contrariaraacute o sentido do fundamento da decisatildeo

Veja-se que os casos exemplificados satildeo bastante abrangentes A tiacutetulo

meramente confirmatoacuterio entendemos que os embargos declaratoacuterios com efeitos

infringentes podem ser interpostos sempre que houver um erro grave de um

determinado provimento jurisdicional78

De lembrar ainda que o STF por natildeo dispor de outros recursos para suas

decisotildees sempre aceitou com largueza os embargos de declaraccedilatildeo com efeitos

modificativos79

IX - CONCLUSAtildeO

Ex positis concluiacutemos

1deg) Os embargos de declaraccedilatildeo satildeo formas

recursais anocircmalas inseridas pelo legislador no Tiacutetulo dos Recursos do

CPC mais pela similitude do que pela natureza

23991 p 17503 2 col em ST J-4 Turma REsp 3227-ES-EDcl rei Min Athos Cameiro j 6891 deram provimento VU DJU 23991 p 130852 col em STJ-2 Turma REsp 13667-SP rei Min Ameacuterico Luz j 21291 VU DJU 3292 p 455 1 col em 72

ST J-RT 670182 73

Comentaacuterios ob citada pp 965-966 74

RSTJ 50556 75

STJ 1 T EDclREsp 47206-7-DF rei Min Demoacutecrito Reinaldo VU j 821995 DJU

631995 p 4319 76

JTACivSP 110256 108287 100178933858631853168 RT 562146 RTJ 57145

Lex-JT A 105352 RJT JRS 69136 77

Ob citada 78

Exemplos praacuteticos ocorridos com este estudioso foram o de acolhimento pelo magistrado de oficio de prescriccedilatildeo intercorrente em sede de direitos patrimoniais (a despeito de norma legal em sentido contraacuterio e amplos entendimentos jurisprudenciais no mesmo sentido) bem como de errocircnea extinccedilatildeo total do feito quando se requereu a desistecircncia em relaccedilatildeo a apenas um dos demandados 79

Vide para maiores esclarecimentos Thetocircnio Negratildeo ob citada na nota 3 ao art 337 do

Regimento Interno do STF agraves pp 1269-1270 Vide ainda citadas pelo mesmo autor RT J

941167 E 114351

2deg) Satildeo previstos especificamente para integrar complementar ou

aclarear o julgador podendo em alguns desses casos modificar o julgado

3deg) Quando assim o fazem acreditamos que

transformam-se efetivamente e no contexto em que conhecemos em

recurso

4deg) Haacute uma tendecircncia bastante forte na doutrina e na jurisprudecircncia de

aceitaacute-Ios com efeitos infringentes em casos de erros absurdos em decisotildees

(terminativas ou natildeo) e ateacute mesmo em despachos

5deg) O julgador deve deles conhececirc-Ios com o espiacuterito acolhedor sempre

levando em conta a interpretaccedilatildeo finalista do processo como instrumento adequado a

atingir-se a composiccedilatildeo dos conflitos e ainda e talvez precipuamente o fator tempo a

que a parte se submeteraacute aguardando o processamento de um verdadeiro recurso que

demande mais complexidade quando em determinadas hipoacuteteses o mesmo julgador

poderia decidir a questatildeo de maneira bastante satisfatoacuteria

6ordm) os ditos efeitos infringentes podem dar-se de maneira reflexa (quando

satildeo os embargos utilizados na forma e para os efeitos previstos no art 535) ou

diretamente (vislumbrando-se claramente a modificaccedilatildeo do decisum ainda que tambeacutem

supedaneados no art 535)

7ordm) A modificaccedilatildeo dos efeitos quando assim feita de forma direta deve

necessariamente passar pelo crivo do contraditoacuterio

8deg) Haacute de se tomar paracircmetros (cabendo ao prudente arbiacutetrio e saber do

magistrado) para essa substancial mudanccedila do julgado ou seja o caso em concreto deve

ser verdadeiramente ensejador de tal medida

9ordm) ademais disso agraves partes caberaacute verificarem a viabilidade de tal

atitude adequando-a sob as penas do art 538 do natildeo conhecimento do recurso

meramente protelatoacuterio (com a consequumlente natildeo interrupccedilatildeo do prazo para a

interposiccedilatildeo de outros recursos) e ainda da litigacircncia de maacute-feacute

Pela propriedade de conteuacutedo achamos por bem transcrever o

ensinamento do preclaro Antonio Carlos de Arauacutejo Cintra ao afirmar que na

potencialidade proacutepria dos embargos de declaraccedilatildeo estaacute contida a forccedila de

alterar a decisatildeo embargada na medida em que isto seja necessaacuterio para atender

agrave sua finalidade legal de esclarecer a obscuridade resolver a contradiccedilatildeo ou

suprir a omissatildeo verificada naquela decisatildeo Qualquer restriccedilatildeo que se oponha a

essa forccedila modificativa dos embargos de declaraccedilatildeo nos estritos limites

necessaacuterios agrave consecuccedilatildeo de sua finalidade especifica constituiraacute artificialismo

injustificaacutevel que produziraacute a mutilaccedilatildeo do institutordquo80

Ora se ficou demonstrado que mesmo quando os embargos cumprem

sua funccedilatildeo especiacutefica (esclarecer a obscuridade resolver a contradiccedilatildeo e suprir a

omissatildeo) eacute possiacutevel a alteraccedilatildeo substancial do julgado eacute inegaacutevel que em tais casos

assumam os embargos a natureza de recurso tanto mais quando tecircm a intenccedilatildeo

manifesta de infringir-lhe o meacuterito

E se na espeacutecie de maneira natildeo intencional transmuda o julgado natildeo

soacute retificando-o mas ateacute mesmo invertendo paradoxalmente seu conteuacutedo eacute

plenamente aceitaacutevel que em decisotildees teratoloacutegicas - no sentido de prejuiacutezo

irreparaacutevel ou de natildeo razoabilidade de que a parte se submeta agrave interposiccedilatildeo de outros

recursos que demandem maior tempo de processamento - possa o oacutergatildeo julgador

aceitaacute-Ios com efeitos infringentes

80

Apud Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob citada

Ao permitir tal assertiva entendemos que o princiacutepio da infringecircncia dos

embargos declaratoacuterios em hipoacuteteses esdruacutexulas deve ser estendido (de maneira racional

e observando sempre o juiz o caso em concreto no particular) possibilitando agraves partes a

menor forma de prejuiacutezo atendo-se o processo para o atendimento do trinocircmio custo-

tempo-benefiacutecio da prestaccedilatildeo jurisdicional pois como jaacute disse citado Ministro Marco

Aureacutelio a parte tem direito agrave entrega da prestaccedilatildeo jurisdicional de forma clara e

precisa Cumpre ao oacutergatildeo julgador apreciar os embargos de declaraccedilatildeo com o

espiacuterito aberto entendendo-o como meio indispensaacutevel agrave seguranccedila nos

provimentos judiciaisrdquo81

Xndash REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Alvim J E Carreira Accedilatildeo Monitoacuteria e Temas Polecircmicos da Reforma

Processual Dei Rey Belo Horizonte 1995

Aragatildeo E D Moniz de Embargos de Declaraccedilatildeo RT 63311

Baptista Sonia M de Almeida Embargos de Declaraccedilatildeo - Inovaccedilotildees da

Reforma RP 8027

Bermudes Sergio A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil Saraiva 2-

ed Satildeo Paulo 1996

Borges Marcos Afonso Embargos de Declaraccedilatildeo - Omissatildeo - Efeito

Modificativo RP 51191

Dinamarco Cacircndido Rangel

A Instrumentalidade do Processo 3ordf ed Malheiros Satildeo Paulo 1993

A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil 3ordf ed Malheiros Satildeo Paulo

1993

Fadei Sergio Sahione Coacutedigo de Processo Civil Comentado Tomo III J

Kofino Editor 1974

Marques Joseacute Frederico Manual de Direito Processual Civil Vol 111 -

Processo de Conhecimento 28 parte Saraiva 2

8 ed

Negratildeo Theotocircnio Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo Processual

em Vigor 27 ed Saraiva Satildeo Paulo 1996

Nery Junior Nelson

81

Cf nota 63

Aspectos da Teoria Geral dos Recursos no Processo Civil RP 51155

Reflexotildees Sobre o Sistema dos Recursos Ciacuteveis na Reforma Processual

de 1994 RP 79118

Nery Junior Nelson Nery Rosa Maria Andrade Coacutediao de Processo

Civil Comentado 28 ed Editora Revista dos Tribunais SAo Paulo 1996

Nogueira Antonio de Paacutedua Ferraz Princiacutepios Fundamentais dos

Embargos de Declaraccedilatildeo (Com as Alteraccedilotildees da Lei 895094) RP 777

Portanova Rui Princiacutepios do Processo Civil Livraria do Advogado

Editora Porto Alegre 1995

Silva Ovidio A Batista da Curso de Processo Civil Vol I - Processo de

Conhecimento 3ordf ed Sergio Antonio Fabris Editor Porto Alegre 1996

Theodoro Juacutenior Humberto Theodoro Curso de Direito Processual

Civil Vol I - Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento 12

ed Editora Forense Rio de Janeiro 1994

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO REQUISITO EMBARACcedilOSO Agrave

ATIVIDADE POSTULA TOacuteRIA

Joatildeo Eduardo Ribeiro de Oliveira

Concluinte do Curso de Direito da UFRN

Sumaacuterio I - A reforma atual e o art 282 do CPC II - As tendecircncias

da accedilatildeo no decorrer do tempo III Lentidatildeo processual e esquecimento do pedido de

citaccedilatildeo IV - Situaccedilotildees aparentemente discutiacuteveis VA citaccedilatildeo estatal VI -

Referecircncias bibliograacuteficas

I A REFORMA ATUAL E O ARTIGO 282 DO CPC

A preocupaccedilatildeo em se adaptar as normas juriacutedicas ao clamor popular

com a real satisfaccedilatildeo jurisdicional culminou na extensa e complexa revisatildeo do Coacutedigo

de Processo Civil

O volume excessivo de contendas nos diversos juiacutezos do paiacutes e o

insuficiente nuacutemero de magistrados terminam por ensejar modificaccedilotildees na legislaccedilatildeo

notada mente a processual com o propoacutesito de alcanccedilar a tatildeo pretendida efetividade do

processo

Nessa intenccedilatildeo foi formada a comissatildeo que realizaria o Anteprojeto de

Modificaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil (1985) Apesar da desaprovaccedilatildeo do referido

esboccedilo conseguiram esses estudiosos embasar a novel comissatildeo encarregada da difiacutecil

tarefa de reforma da regecircncia processual

De forma consentacircnea preferiram os notaacuteveis revisores fazer uma

reelaboraccedilatildeo descentralizada por meio de sucessivos projetos de lei que permitiram

uma raacutepida tramitaccedilatildeo do processo legislativo

Evitou-se o longo debate que seria travado se todo um anteprojeto fosse

enviado ao Legislativo como ocorreu com a tentativa de criaccedilatildeo do novo Coacutedigo Civil

(Projeto de lei 63475) Aleacutem do mais permaneceu iacutentegra a estrutura do CPC o que

favoreceraacute a compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos novos textos legais insertos

Alteraccedilotildees das mais significantes revolucionaram o campo processual

comeccedilando a tornaacute-Io mais que um centro de tecnicismo um processo de resultados1

Assim eacute a possibilidade de efetivaccedilatildeo antecipada do direito pleiteado segundo os

moldes do artigo 273 do CPC Nesse contexto pode-se hoje auferir o beneficio

provindo do mandamento judicial logo na fase de apreciaccedilatildeo inicial da peccedila

postulatoacuteria se ultrapassados os requisitos preacutevios e presentes as exigecircncias para

antecipaccedilatildeo da satisfaccedilatildeo

O alargamento do repuacutedio agrave deslealdade das partes igualmente foi tema

da restauraccedilatildeo legislativa modernizando-se a sistemaacutetica de repressatildeo agrave litigacircncia de

maacute-feacute com a aplicaccedilatildeo do countemp of court (disciplina dos atos atentaacutetorios agrave

dignidade da Justiccedila) e de condenaccedilotildees civis - as astreintes de origem francesa - (art

18 CPC)

Tambeacutem foram disciplinadas pequenas incorreccedilotildees como a

desencontrada nomeaccedilatildeo dos procedimentos civis A Lei 924595 destinou o

procedimento sumariacutessimo agraves causas de menor complexidade quando alterou os

dispositivos 275 a 281 do CPC O termo laudo passou a ser especifico do perito ou

1 Cacircndido Rangel Dinamarca A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil p 20

seja do agente oficial de esclarecimento teacutecnico enquanto que o parecer seraacute

nomenclatura do exame pericial realizado pelos assistentes das partes (art 433 do CPC

modificado pela Lei 845592)

Outra finalidade foi tornar alguns procedimentos mais ceacuteleres e isentos

de certos estorvos De tal forma ocorreu por exemplo com a execuccedilatildeo das obrigaccedilotildees

de fazer e natildeo fazer com a accedilatildeo de consignaccedilatildeo com os embargos de declaraccedilatildeo e

recentemente com o agravo sofredor de total remodelagem com o advento da Lei

913995

Essas mudanccedilas provecircm da concepccedilatildeo majoritaacuteria de que os modernos

caminhos do Direito devem tender sempre para a pacificaccedilatildeo social O processo natildeo

mais basta por si soacute reduzido a uma profunda anaacutelise cientiacutefica direcionada para o

aprimoramento proacuteprio sem a visatildeo funcional que atualmente eacute aplicada

Hoje com essa evoluccedilatildeo conceitual muitas praacuteticas do cotidiano

judicial estatildeo sendo revitalizadas seja pela interpretaccedilatildeo do julgador ou pela

recomposiccedilatildeo dos institutos processuais A desnecessidade de requisiccedilatildeo expressa de

citaccedilatildeo do demandado eacute um toacutepico a ser estudado dentro desse contexto

Entretanto antes das consideraccedilotildees centrais sobre o chamamento

explicito do reacuteu eacute importante para o desenrolar do tema a exatificaccedilatildeo do avanccedilo por

que passou o direito de accedilatildeo ateacute chegar ao momento presente

II AS TENDEcircNCIAS DA ACcedilAtildeO NO DECORRER DO TEMPO

Natildeo obstante a quase unacircnime confirmaccedilatildeo da dissidecircncia entre o direito

de accedilatildeo e o direito material tutelado ou seja da pretensatildeo pura de reivindicar um

beneficio concreto nem sempre tal clareza foi assente A possibilidade de intervenccedilatildeo

estatal para se evitar um confronto humano progrediu com o passar dos anos ateacute chegar

agrave fase atual de instrumento

Apoacutes a superaccedilatildeo do momento selvagem de resoluccedilatildeo dos conflitos

predominou o direito privado dos romanos no qual havia completa preponderacircncia dos

contratos (ou quase-contratos) sobre as relaccedilotildees da vida romana Decorrente dessa

concepccedilatildeo privatista accedilatildeo e direito substancial convergiram para um mesmo sentido O

direito de accedilatildeo era simplesmente e nada mais que o proacuteprio privileacutegio subjetivo agitado

A fase imanentista claacutessica ou sincreacutetica estava vigorando

Foi na Alemanha que se firmou o berccedilo da independecircncia da accedilatildeo

quando MUTHER WINDSCHEID e BUumlLLOW comeccedilaram a defender a diferenciaccedilatildeo

entre o direito agrave proteccedilatildeo do Estado e o beneficio material atribuiacutedo Do pensamento de

sincretismo passa-se a estabelecer a autonomia entre os dois ramos

Pregou WACH valendo-se das ideacuteias mutherianas a autonomia da accedilatildeo

como direito empreendido contra o Estado por ser este o responsaacutevel pela

concretizaccedilatildeo da paciacutefica convivecircncia humana Mas o direito de accedilatildeo somente se

tomaria existente se a prestaccedilatildeo jurisdicional fosse entregue ao postulante atraveacutes de

sentenccedila pois nesse momento estaria nascendo concretamente Foi nesses termos que o

supracitado estudioso concebeu a Teoria do Direito Concreto agrave Tutela

CHIOVENDA propugnou o destino do requerimento judicial incidente

sobre o reacuteu e natildeo contra o Estado Esse direito se configura como um poder atribuiacutedo ao

demandante na medida em que o reacuteu natildeo pode impedir o ingresso do autor em juiacutezo

da mesma forma que o mandataacuterio natildeo pode impedir que o mandante revogue a

procuraccedilatildeo2

2 Fernando da Costa Tourinho Filho Processo Penal voI 1 p 268

Posteriormente iniciou-se novo progresso cientiacutefico (PLOSZ e

DEGENKOLB) ao se conceber a subsistecircncia do direito de accedilatildeo natildeo soacute quando haacute uma

sentenccedila favoraacutevel mas tambeacutem pelo simples fato de existecircncia de interesse protegido

abstratamente pelo Direito MOACIR AMARAL DOS SANTOS explica Haacute pois

lugar para que se distingam dois interesses diversos o interesse tutelado pelo direito e o

interesse na tutela daquele pelo Estado3

O interesse na eliminaccedilatildeo dos empecilhos agrave fruiccedilatildeo de bens humanos

(chamado de secundaacuterio por MOACIR AMARAL DOS SANTOS) qualifica-se como o

direito subjetivo que viabiliza o interesse principal (aquilo que eacute desejado pelo homem e

que natildeo estaacute ao seu alcance)

Por isso eacute abstrata a pretensatildeo de ingresso judicial pois natildeo se

condiciona necessariamente agrave existecircncia efetiva de um direito subjetivo material ()

bastando que o sujeito do direito de accedilatildeo para exercecirc-Io se refira a um interesse

primaacuterio juridicamente protegido4

Entre a total ausecircncia de limites para a solicitaccedilatildeo jurisdicional e a

vinculaccedilatildeo estrita agrave procedecircncia da sentenccedila situou-se LIEBMAN reconhecendo o

exerciacutecio pleno do direito de accedilatildeo mas que eacute preciso o trespasse de certos requisitos

para o exame juriacutedico da lide

O entendimento do mestre se resume em suas proacuteprias liccedilotildees

Inconcebiacutevel eacute que se reconheccedila indistintamente como quer a teoria da accedilatildeo como

direito abstrato a toda e qualquer pessoa sem qualquer condicionamento o direito de

pedir a prestaccedilatildeo da tutela jurisdicional5

As lides alcanccedilam a possibilidade de apreciaccedilatildeo integral pelo Judiciaacuterio

atraveacutes do juiacutezo de admissibiacutelidade consoante ponderaccedilatildeo do Professor WALTER

NUNES DA SILVA JR O Oacutergatildeo Judicante soacute pode e deve se pronunciar acerca do

meacuterito da questatildeo se o titular da pretensatildeo satisfizer as condiccedilotildees da accedilatildeo e pressupostos

processuais6

Sem a presenccedila desses preacutevios condicionamentos o postulante manteacutem

a prerrogativa de ser ouvido pelo Estado mas natildeo de receber uma elaboraccedilatildeo

sentencial acerca do cabimento ou natildeo de seu direito Limita-se o ente estatal a afirmar

que a pretensatildeo natildeo pocircde ser analisada por carecircncia dos elementos imprescindiacuteveis a

uma examinaccedilatildeo mais complexa

Apoacutes constataccedilatildeo da viabilidade da accedilatildeo e do processo (atraveacutes da

averiguaccedilatildeo das condiccedilotildees da accedilatildeo e dos pressupostos processuais respectivamente) eacute

dado iniacutecio agrave investigaccedilatildeo profunda da Iiccedila

Diferencia-se nitidamente o exame inicial da lide da anaacutelise meritoacuteria

que redundaraacute na sentenccedila pois esta sobre tender para os valores de seguranccedila

juriacutedica e da Justiccedila eacute especifica e iacutendividualizante concernindo ao pedido e sua

fundamentaccedilatildeo Consequumlentemente como a implementaccedilatildeo da admissibilidade eacute

exigecircncia que atende ao principio da economia processual eacute ela de ser examinada

3 Moacir Amaral dos Santos Primeiras Linhas de Direito Processual

Civil vol 1 p 147 4 Moacir A dos Santos ibid p 148 5 Liebman apud Walter Nunes da Silva Juacutenior Condiccedilotildees da Accedilatildeo e Pressupostos Processuais

p 75 6 Ob cit p 70

sempre antes da fundamentaccedilatildeo7

Frutos da nova geraccedilatildeo autonomista nasceram no Brasil os coacutedigos de

1939 e 1973 este uacuteltimo o atual regimento em termo de processo civil A marca

peculiar dessas criaccedilotildees juriacutedicas foi o extremo tecnicismo imposto pela necessidade de

se acentuar a independecircncia processual

Atingida a perfeita conformaccedilatildeo da existecircncia independente da seara

processual foi originada uma nova revitalizaccedilatildeo no meio juriacutedico mundial

enxergando-se o processo mais como meio de apaziguamento social A supra-

importacircncia das regras procedimentais cedeu espaccedilo para os objetivos extriacutensecos do

instrumentalismo

A instrumental idade do processo se solidifica no pensamento de um de

seus maiores mentores CAcircNDIDO RANGEL DINAMARCO quando diz Eacute preciso

aleacutem do objetivo puramente juriacutedico da jurisdiccedilatildeo encarar tambeacutem as tarefas que lhe

cabem perante a sociedade e perante o Estado como tal8 O processualista inicia o

abandono da visatildeo introspectiva para despertar uma intensa interferecircncia social

III LENTIDAtildeO PROCESSUAL E ESQUECIMENTO DO

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO

Eacute sabido que natildeo cabe ao julgador iniciar a atividade jurisdicional em

desabono da movimentaccedilatildeo da parte Resguardando-se os princiacutepios da igualdade e da

imparcialidade eacute que sobressai o princiacutepio de que cabe ao interessado trazer a juiacutezo suas

razotildees a identificaccedilatildeo (qualificaccedilatildeo) da pessoa a suportar os efeitos de uma provaacutevel

decisatildeo judicial e as demais informaccedilotildees condizentes com a postulaccedilatildeo judicial

(princiacutepio da demanda)

A citaccedilatildeo eacute o ato processual que objetiva comunicar ao demandado o

litiacutegio judicial proposto contra o mesmo para que entatildeo possa reagir contra a

pretensatildeo ajuizada auxiliando o juiz na busca da verdade Por ser pressuposto

processual a presenccedila do ato citatoacuterio significa que o processo somente evoluiraacute se o

chamado da parte demandada tiver sido realizado satisfatoriamente Herdou-se para os

sistemas juriacutedicos atuais o brocardo nemo debet inauditus damnari (ningueacutem deve ser

condenado sem ser ouvido) segundo observaccedilatildeo de EDSON PRATA9

A peticcedilatildeo inicial eacute justamente o instrumento haacutebil a propiciar a

concessatildeo das necessidades patrimoniais ou pessoais por atuaccedilatildeo do magistrado oacutergatildeo

especialmente incumbido dessa outorga Eacute de interesse do Estado disciplinar o

conteuacutedo do requisitoacuterio e o faz enaltecendo os atributos insupriveis para o intento

judicial significando que na falta de qualquer deles natildeo estaraacute a outra parte em

condiccedilotildees de exercer o direito de defesa na sua plenitude nem o juiz teraacute os elementos

suficientes agrave aplicaccedilatildeo da lei10

Como principal orientador do elenco que deve coexistir na exordial

termos no CPC

Art 282 A peticcedilatildeo indicaraacute

7 Donaldo Arnaldo apud Marcelo Navarro Ribeiro Dantas Admissibilidade e Meacuterito na

Execuccedilatildeo p 26 8 A Instrumentalidade do Processo p 153

9 Crise do Processo p 59

10 James Eduardo Oliveira Juizo de Admissibilidade da Peticcedil30 Inicial p 39

I - O juiz ou tribunal a que eacute dirigida

II - os nomes prenomes estado civil profissatildeo domiciacutelio e

residecircncia do autor e do reacuteu

III - o fato e os fundamentos juriacutedicos do pedido 1 - () pedido

com suas especificaccedilotildees

v - o valor da causa

JI] - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos

fatos alegados

VII - o requerimento vara a citaccedilatildeo do reacuteu (destaque intencional)

De acordo com a eventual ausecircncia dos supracitados itens na

peticcedilatildeo inicial verificam-se defeitos substanciais que exigem pronto

indeferimento e defeitos natildeo-substanciais que importam em outorga de lance

proacuteprio de correccedilatildeo 11

Em atenccedilatildeo aos artigos 282 a 285 e 295 do CPC estaacute o julgador

condicionado a possibilitar a emenda da inicial indeferi-Ia sem estudo do pedido ou

determinar a convocaccedilatildeo do demandado

A carecircncia dos incisos I V e VI do art 282 (e o artigo 283 do CPC)

embora natildeo proporcionem de imediato o desprezo da inicial devem ser providenciados

sob pena de impossibilidade de julgamento O inciso VII daquele artigo eacute o uacutenico que

se prende unicamente a uma formalidade natildeo dificultando a subsequumlente apreciaccedilatildeo do

feito ante sua inobservacircncia

O defeito de falta de citaccedilatildeo eacute de forma natildeo adentrando na substacircncia da

accedilatildeo como fazem os incisos li 111 e IV do mesmo dispositivo

Pois bem A falta do pedido de citaccedilatildeo acarreta despacho ordinatoacuterio do

juiz determinando que o solicitante afirme o desejo de chamamento do reacuteu Em esparsas

linhas o advogado obedeceraacute ao mandamento judicial para soacute depois conseguir o

regular andamento do feito o que poderaacute demandar um tempo excessivamente longo

pois envolve natildeo soacute ato do juiz mas da secretaria judiciaacuteria do oacutergatildeo de publicidade e

da proacutepria parte

A cientificaccedilatildeo da parte oposta se encerra como absolutamente loacutegica

Ao ingressar em juiacutezo a parte solicitante deseja ter resposta do Estado o que soacute pode

ser feito com a oitiva do indicado por atenccedilatildeo obrigatoacuteria ao devido processo legal

acolhedor dos princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa

Mesmo com o nascimento de uma nova mentalidade muitos

profissionais da aacuterea juriacutedica relutam em admitir a impraticidade do inciso VII do art

282 do CPC Esse eacute o entendimento de MARCELO GUIMARAtildeES RODRIGUES Tal

orientaccedilatildeo equipara-se a uma faca de dois gumes Ao deixar-se de lado certas regras

essenciais do processo que visam a lhe conferir estabilidade seguranccedila e legitimidade

pode-se tambeacutem estar abrindo caminho para uma completa generalizada e incontrolaacutevel

11 James Eduardo Oliveira ob cit p 39

insubordinaccedilatildeo do procedimento agrave lei12

Com o devido respeito pensamos que inocorre a gravidade salientada

pelo ilustre doutrinador Sendo somente uma das facetas que exprimem a organizaccedilatildeo

social natildeo almeja o Poder Judiciaacuterio desconsiderar a existecircncia da lei mesmo porque

dela necessita para concretamente dirimir as insatisfaccedilotildees sociais

Aleacutem do mais a produccedilatildeo legislativa conteacutem as mesmas limitaccedilotildees

encontradas em todas as atividades do homem Eacute preciso que o julgador se previna da

possiacutevel imperfeiccedilatildeo de uma norma porquanto ao se considerar o principio elementar

da falibilidade e da arbitrariedade eventuais do legislador na elaboraccedilatildeo da norma legal

o juiz natildeo pode apercebendo-se disso aplicaacute-Ia simplesmente13

A corrente que nega a possibilidade do julgador citar de ofiacutecio o reacuteu

pugna pela maacutecula agrave imparcialidade e isonomia obrigatoacuterias nas relaccedilotildees juriacutedicas que

envolvem julgamento Todavia natildeo se vecirc qualquer ferimento aos princiacutepios acima

exaltados

A arguumliccedilatildeo de desrespeito agrave imparcialidade do julgador natildeo convence

primeiro porque o juiz manda citar como ente estatal interessado somente em

exterminar o desequiliacutebrio social conforme os interesses da coletividade segundo pelo

fato de que a lide jaacute estaacute iniciada com o trespasse dos fundamentos e da pretensatildeo do

autor embora que de forma ainda natildeo triangular

Natildeo haacute tambeacutem sentido em se dizer que a citaccedilatildeo ex officio resultaria em

benefiacutecio para uma das partes O suplicado teraacute prazo para alegar mateacuteria de defesa da

mesma forma que na circunstacircncia do rogo citatoacuterio existente na peccedila proemial A

contestaccedilatildeo natildeo obteacutem vantagens ou prejuizos com a diligecircncia oficial de citaccedilatildeo

Inversamente o informe realizado sem a solicitaccedilatildeo direta do autor

encontra respaldo na insubstituiacutevel economia processual sem macular nenhum outro

princiacutepio implantado no ordenamento juriacutedico

Prova tambeacutem consistente de que o requerimento da citaccedilatildeo possui

importacircncia secundaacuteria na atividade processual reside na disposiccedilatildeo contida no

paraacutegrafo 1deg do artigo 214 (CPC) sect 1deg O comparecimento espontacircneo do reacuteu supre

entretanto a falta de citaccedilatildeo (Igual regulamentaccedilatildeo eacute encontrada no art 18 sect 3deg da

Lei dos Juizados Especiais Ciacuteveis e Criminais - 909995)

Oportunamente ressalta o Professor FRANCISCO BARROS DIAS O

princiacutepio da economia faz nascer vaacuterios outros que se entrelaccedilam perfeitamente tais

como o aproveitamento dos atos processuais a renovaccedilatildeo dos atos processuais o

12 A Ineacutepcia da Inicial por Falta do Requerimento da Citaccedilatildeo Prevalece a Finalidade ou o

Pressuposto de Ordem Puacuteblica diante do Principio Dispositivo p 276

13

Dagoberto Romani O Juiz entre a Lei e o Direito p 234

prejuiacutezo a finalidade e a especificidade14

O objetivo do ato quando alcanccedilado torna-o eficaz Do contraacuterio natildeo

haveria por que inserir o paraacutegrafo uacutenico do art 250 no CPC do qual se extrai a

essecircncia do principio da finalidade e do aproveitamento dos atos processuais

sustentando a legalidade do suprimento judicial

IV SITUACcedilOtildeES APARENTEMENTE DISCUTIacuteVEIS

Haacute casos que agrave primeira vista poderiam impedir uma maior diligecircncia

por parte do julgador Satildeo exemplos a citaccedilatildeo de litisconsortes necessaacuterios como o

cocircnjuge (incisos do sect 1 o do artigo 10 do CPC) os confinantes condocircminos e

eventuais interessados nas accedilotildees divisoacuterias demarcatoacuterias e de usucapiatildeo a intervenccedilatildeo

de terceiros do Capitulo VI - Tiacutetulo 11 do CPC e a intimaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

quando inevitaacutevel sua participaccedilatildeo

Nessas circunstacircncias seria forccedilosa a ordem de emenda da inicial para

suprir o pedido de chamamento Ainda assim eacute possiacutevel se assegurar que

insubstituiacuteveis satildeo os atributos trazidos pelo demandante de identificaccedilatildeo do

Iitisconsorte do confinante do condocircmino e do interessado

Para julgar a lide faz-se obrigatoacuteria a inclusatildeo do nome qualificaccedilatildeo

profissatildeo e endereccedilo para trazer o potencial litigante ao campo do processo

informativos esses que satildeo requisitados pelo inciso II do art 282 do CPC e natildeo pelo seu

inciso VII notabilizador do propoacutesito de comunicar a demanda ao reacuteu

Alguns estudiosos defendem nesse contexto a reformulaccedilatildeo do inciso

VII do art 282 substituindo o requerimento de citaccedilatildeo por uma correta e inequiacutevoca

promoccedilatildeo postulatoacuteria da mesma forma que foi utilizada no art 47 sect uacutenico do CPC

quando determina que o autor promova a citaccedilatildeo dos Litissconsortes Promover

significa entregar agrave autoridade judicial todas as informaccedilotildees pessoais do litisconsorte

que facilitaratildeo a notiacutecia do intento

A exigecircncia de qualificaccedilatildeo da parte acontece igualmente na intervenccedilatildeo

de terceiros quando o opoente o nomeante o denunciante e o reacuteu no chamamento ao

processo (arts 57 65 71 e 78 do CPC respectivamente) provocam a entrada do

litigante pela sua especificaccedilatildeo e natildeo pelo singelo pleito de citaccedilatildeo

Eacute certo que nestas suposiccedilotildees quando a minudecircncia do provaacutevel

litigante natildeo puder ser efetivada por questatildeo de incerteza quanto a sua localizaccedilatildeo ou

sua identidade seraacute prudente o patrono informar a necessidade de citaccedilatildeo editaliacutecia por

desconhecimento de quem seja o Litisconsorte ou onde se localize

Outro aspecto merecedor de atenccedilotildees eacute o chamamento do Ministeacuterio

Puacuteblico por intimaccedilatildeo Embora natildeo se trate de citaccedilatildeo eacute indispensaacutevel segundo

imposiccedilatildeo do art 82 do CPC haver observaccedilatildeo e controle do cumprimento das

disposiccedilotildees legais em especiacuteficas lides

Haacute a intenccedilatildeo do Estado em velar pela inteira observacircncia da lei natildeo se

cogitando o porquecirc da solicitaccedilatildeo da parte quando se deveria favorecer a automaacutetica

intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico como acontece nas accedilotildees de usucapiatildeo (art 944 do

CPC)

Inadmite-se aqui a necessidade de identificaccedilatildeo do ingressante como nos

casos anteriores sendo a nulidade cominada para a falta de intimaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico notoacuteria atecnicidade do art 84 do CPC quando exige requerimento expliacutecito

14

Nulidades Processuais Civis p 26

de intimaccedilatildeo a ser feito pela parte o que poderia ser determinado oficialmente nos

litiacutegios discriminados por lei

Natildeo eacute o pedido de citaccedilatildeo em si que se configura como problema para

continuaccedilatildeo d a lide mas a falta de identificaccedilatildeo de determinado sujeito Com certeza o

qualificativo do reacuteu eacute realizado juntamente com o pedido de convocaccedilatildeo em

decorrecircncia da sistemaacutetica processual mas nem por isso a citaccedilatildeo se toma

predominante

V A CITACcedilAtildeO ESTATAL

Como se vecirc a funccedilatildeo do processo eacute muito maior do que supunham os

cultores do autonomismo Aleacutem de instrumento de progressatildeo dos atos que levaratildeo agrave

sentenccedila eacute meio por qual a sociedade se manteacutem em equiliacutebrio O interesse coletivo

hegemocircnico em todas as relaccedilotildees sociais eacute plenamente consagrado tambeacutem no

contraditoacuterio presente entre os litigantes

A excessiva postura metodoloacutegica culmina no retardamento do teacutermino

do litiacutegio Natildeo eacute raro militantes do Direito condenarem a ordem de ciecircncia determinada

pelos juizes apoacutes constataccedilatildeo de omissatildeo na peticcedilatildeo Nota-se o apego a formalidades

natildeo essenciais ao desenvolvimento da funccedilatildeo jurisdicional

No processo penal tambeacutem se concebe idecircntica situaccedilatildeo de acordo com

a profunda sapiecircncia do Professor TOURINHO FILHO que advoga a obrigatoriedade

do pedido de citaccedilatildeo na denuacutencia1516

Contraditando os argumentos formalistas merecem transcriccedilatildeo os

ensinamentos de JOSEacute ROBERTO DOS SANTOS BEDAQUE nos quais se assenta a

magna funccedilatildeo encerrada no processo

Eacute preciso revisitar os institutos processuais todos concebidos segundo

a visa o autonomista ou conceitual da ciecircncia processual a fim de conferir a eles nova

feiccedilatildeo a partir das necessidades identificadas na fase instrumentalista17

A ordem de citaccedilatildeo deve ser empreendida mesmo na inocorrecircncia de sua

menccedilatildeo na peticcedilatildeo inicial dado que o magistrado antes de ser ente estatal eacute agente

social como elucida HANS REICHEL O juiz eacute obrigado por forccedila do seu cargo a

afastar-se conscientemente de uma disposiccedilatildeo legal quando essa disposiccedilatildeo de tal modo

contraria o sentimento eacutetico da generalidade das pessoas que pela sua observacircncia a

autoridade do Direito e da lei correria num perigo mais grave do que atraveacutes de sua

inobservacircncia18

Em estudo sobre a norma juriacutedica no que tange agrave sua interpretaccedilatildeo o

Professor IVAN LIRA DE CARVALHO declara a inevitaacutevel atuaccedilatildeo do julgador

moderno em face da normatizaccedilatildeo legal Enquanto texto frio e latente espelha tatildeo-soacute o

instante da sua confecccedilatildeo ou do seu incorporamento ao conjunto normativo Cabe ao

15

ob cit p 350 16

Com a mesma exigecircncia o art34 do Decreto-Lei 976046 o arte 3deg sect 1deg da Lei 319357 o art

13 da Lei 489865 o art 6deg 111 da Lei 683080 o art 288 I do RISTF e o art 4deg 11 da Lei

886694 Por outro lado o art 840 sect 1 0 da CL T exime implicitamente a reclamaccedil30 do pedido de

citaccedilatildeo (notificaccedilatildeo) 17

Joseacute Roberto dos Santos Bedaque Direito e Processo - Influecircncia do Direito Material sobre o

Processo p 15 18

apud Dagoberto Romani ob cit p 234

Como se vecirc a funccedilatildeo do processo eacute muito maior do

inteacuterprete vivificaacute-l e dar-lhe a destinaccedilatildeo adequada agraves exigecircncias soacutecio-culturais dos

seus suacuteditos assim entendidos pela submissatildeo gerada pela coercibilidade das normas19

O importante natildeo eacute formalizar o manifesto desiacutegnio do autor em tomar o

demandado ciente mas o proacuteprio ato citatoacuterio no qual o oficial de justiccedila ou outro

oacutergatildeo escolhido pela lei proporciona a comunicaccedilatildeo processual e pode atestar a recusa

ou o desaparecimento do demandado natildeo cabendo agraves partes realizaacute-Io por evidente

maacutecula aos princiacutepios processuais

A supressatildeo ou modernizaccedilatildeo do inciso VII do artigo 282 natildeo iraacute

desencadear a tatildeo almejada celeridade processual e resolver todos os problemas afetos

ao Judiciaacuterio mas eacute uma impropriedade digna de ser corrigida atraveacutes das remediaccedilotildees

legislativas vindouras

Contudo deposita-se mais esperanccedila no sentimento de dinamismo e

Justiccedila dos juiacutezes (falando propriamente em magistrados de qualquer instacircncia)

compromissados em extirpar no tempo mais breve as contendas humanas trazidas a

juiacutezo No limiar do seacuteculo XXI onde tudo jaacute se direciona agrave simplicidade as atitudes

retroacutegradas ficaratildeo inteiramente agrave margem do progresso humano

VI REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AL VIM Joseacute Carreira Coacutedigo de Processo Civil Reformado Belo

Horizonte Dei Rey 1995

BEDAQUE Joseacute Roberto dos Santos Direito e Processo - Influecircncia do

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BERMUDES Seacutergio A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil Rio de

Janeiro Freitas Bastos 1995

CARVALHO Ivan Lira de A Interpretaccedilatildeo da Norma Juriacutedica

(Constitucional e Infraconstitucional) RT JE Vol 111 Satildeo Paulo Vellenich 1993

COUTURE Eduard J Introduccedilatildeo ao Estudo do Processo Civil trad

Mozart Victor Russomano 3ordf ed Rio de Janeiro Forense 1995

DANTAS Marcelo Navarro Ribeiro Admissibilidade e Meacuterito na

Execuccedilatildeo Revista de Processo ndeg 47 Satildeo Paulo Ed RT 1987

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Acadecircmica de Direito Natal EDUFRN

19

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DINAMARCO Cacircndido Rangel A Reforma do Coacutedigo de Processo

Civil 28 ed Satildeo Paulo Malheiros 1995

____________ A Instrumentalidade do Processo 38 ed Satildeo Paulo

Malheiros 1993

GRINOVER Ada Pellegrini FERNANDES Antocircnio Scarance e

GOMES FILHO Antocircnio Magalhatildees As Nulidades do Processo Penal 48 ed Satildeo

Paulo Malheiros 1995

OLIVEIRA James Eduardo Juiacutezo de Admissibilidade da Peticcedilatildeo Inicial

Revista dos Tribunais ndeg 688 Satildeo Paulo Ed RT 1993

PRATA Edson A crise do Processo Revista dos Tribunais ndeg 632 Satildeo

Paulo Ed RT 1988

RODRIGUES Marcelo Guimaratildees A Ineacutepcia da Inicial por Falta de

Requerimento de Citaccedilatildeo Prevalece a Finalidade ou o Pressuposto de Ordem Puacuteblica

diante do Princiacutepio Dispositivo Revista dos Tribunais ndeg 682 Satildeo Paulo Ed RT

1992

ROMANI Dagoberto O Juiz entre a Lei e o Direito Revista dos

Tribunais ndeg 633 Satildeo Paulo Ed RT 1988

SANTOS Moacir Amaral dos Primeiras Linhas de Direito Processual

Civil 158 ed Satildeo Paulo Saraiva 1992

SILVA JR Walter Nunes da Condiccedilotildees da Accedilatildeo e Pressupostos

Processuais Revista de Processo ndeg 64 Satildeo Paulo Ed RT 1991

TOURINHO FILHO Fernando da Costa Processo Penal Vo11 158 ed

Satildeo Paulo Saraiva 1994

NEOLlBERALlSMO INIMIGO DA CIDADANIA

Leifson Gonccedilalves Holder da Silva

Acadecircmico do 3deg periacuteodo do curso de Direito da UFRN

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Baseado no texto de Luiacutes Fernandes proferido na 8deg Conferecircncia

Nacional do PC do B procurarei fazer uma reflexatildeo sobre a natureza do neoliberalismo

e das consequumlecircncias de sua transformaccedilatildeo em projeto hegemocircnico e dominante na

maior parte do mundo capitalista neste fim de seacuteculo

O autor afirma que o termo neoliberalismo natildeo deve ser usado de forma

indiscriminada como adjetivo pejorativo para agravequelas medidas ou poliacuteticas com as quais

natildeo se estaacute de acordo Deve-se sim procurar entender essa expressatildeo em toda a sua

plenitude a fim de se compreender os pressupostos que caracterizam a economia

mundial em sua nova reestruturaccedilatildeo diante de transformaccedilotildees teacutecnicas e econocircmicas

principalmente no que se refere agrave Divisatildeo Internacional do Trabalho Pressupostos estes

que estatildeo condicionados agrave loacutegica do modeloneoliberal e que visam de todas as

maneiras redefinir o comeacutercio internacional de forma que os paiacuteses menos

desenvolvidos se tomem mais dependentes1

Torna-se interessante (para natildeo dizer imprescindiacutevel) entender como

ressurgiu a ideologia liberal e como ela eacute passada aos paiacuteses do terceiro mundo dentro

deste contexto global

S6 a partir desta compreensatildeo mais completa e precisa eacute que seraacute

possivel comeccedilar a desvendar e perceber de forma mais clara a poliacutetica nacional

imposta pelo atual Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e a evoluccedilatildeo da

sociedade brasileira neste momento crucial diante da transiccedilatildeo por que passam a

economia e a sociedade internacional como consequumlecircncias da expansatildeo neoliberal

Antes de se analisar o neoliberalismo propriamente dito eacute importante

que se faccedila uma breve elucidaccedilatildeo de seu desenvolvimento histoacuterico ateacute o momento

atual com a finalidade de mostrar sua gecircnese e os motivos que levaram a sua

progressatildeo se tornando dominante hoje na maioria do mundo

2 - DESENVOLVIMENTO HISTOacuteRICO

1 Os grifos existentes no artigo satildeo i1ustrativos e de responsabilidade inteira do autor

A histoacuteria do neoliberalismo tem suas raiacutezes no seacuteculo XVIII mais

precisamente no liberalismo claacutessico que veio dar origem ao tema em questatildeo

Este liberalismo surgiu como doutrina e movimento de caraacuteter

progressista principalmente contra o despotismo dos Estados absolutistas e contra as

restriccedilotildees mercantilistas agrave formaccedilatildeo de um uacutenico mercado comum sob a proteccedilatildeo do

processo de desenvolvimento da industrializaccedilatildeo capitalista

As restriccedilotildees oriundas do mercantilismo causavam um certo entrave

econocircmico na medida em que a prosperidade econocircmica de um paiacutes deveria ser

conseguida atraveacutes de uma balanccedila comercial favoraacutevel (positiva) da proibiccedilatildeo da

entrada de mercadorias estrangeiras (se possiacutevel) e por uma acumulaccedilatildeo de

metais_preciosos siacutembolos e base da vida econocircmica e riqueza nacional considerados

indispensaacuteveis agrave sobrevivecircncia e ao fortalecimento da soberania

O sujeito econocircmico central era o Estado jaacute que efetuava uma forte

intervenccedilatildeo econocircmica a fim de aumentar seu poderio atraveacutes da obtenccedilatildeo de ouro e

prata Entretanto em geral a corrida por metais acabou ocasionando como resultado

uma asfixia econocircmica para os Estados que adotaram este modelo

O liberalismo econocircmico veio em contrapartida defender a liberdade de

mercado contra este sistema mercantilista recebendo fundamentaccedilatildeo teoacuterica por parte

dos fisiocratas que propunham o laissez-faire laissez-passerrdquo

Esse serviu de base para a Escola claacutessica (corrente cientiacutefico-

econocircmica) desenvolvida na Inglaterra a qual se aproveitou de imediato de seus ideais

avanccedilados jaacute que era a primeira potecircncia capitalista do mundo visando posteriormente

subordinar o conjunto do globo ao seu predomiacutenio industrial

A Escola Claacutessica afirmava que um mercado livre e competitivo

determinaria a produccedilatildeo os preccedilos2 (lei da oferta e da procura) e a distribuiccedilatildeo de

renda Com isso o liberalismo tenderia a reduzir ao miacutenimo a interferecircncia do Estado

nas atividades econocircmicas individuais Oportunamente nesse sentido segundo a

foacutermula pitoresca de Hellpachs a melhor posiccedilatildeo que o Estado e a economia podem

assumir um a face do outro eacute a de ficar afastado trecircs passos um do outro

Contudo natildeo se negava o Estado porque o liberalismo natildeo significava

anarquismo apenas deveriam ser afastadas suas intromissotildees inuacuteteis

Posteriormente no entanto com a consolidaccedilatildeo do novo mercado global

capitalista sob preponderacircncia inglesa por volta do seacutec XIX o capitalismo

emancipador progressista e ateacute revolucionaacuterio deu vez a um capitalismo opressivo e

espoliador Capitalismo este agora conservador voltado para a justificaccedilatildeo ideoloacutegica

das injusticcedilas operantes derivadas da exploraccedilatildeo Por meio da ideologia capitalista

procurava-se justificar convenientemente os fatos da vida social como se quisesse

preservaacute-Ia de possiacuteveis desequiliacutebrios ou conflitos ao niacutevel da praacutetica

Em oposiccedilatildeo a esta sociedade de classes surgiram o operariado os

sindicatos as teorias socialistas e marxistas (como alternativas teoacutericas e poliacuteticas

libertadoras) aleacutem da demanda por direitos e a produccedilatildeo de leis refletindo conquistas

sociais (natildeo sem antes ocorrerem protestos e pressotildees por parte do proletariado)

Atraveacutes dos sindicatos os operaacuterios unidos e consequumlentemente mais fortes

2 Foram utilizados como par3metro da fundamentaccedil30 teoacuterica no Desenvolvimento Histoacuterico os

autores Luis Manoel Rebelo Fernandes Raymond Barre Leocircncio Martins Rodrigues Wilson

Cano Joseacute Jenoiacuteno dentre outros

reivindicaram seus direitos alterando aos poucos as relaccedilotildees de trabalho trazendo

melhorias agrave classe operaacuteria A autonomia da vontade nas relaccedilotildees do empregador com o

empregado foi reduzida jaacute que a legislaccedilatildeo social veio restringir este livre

entendimento entre as partes Os abusos do liberalismo foram tantos que o Estado por

intermeacutedio do legislador diminuiu a liberdade do patratildeo para dar mais consistecircncia agrave do

trabalhador impondo a contrataccedilatildeo dentro de determinados paracircmetros Foi uma reaccedilatildeo

clara contra esse liberalismo opressor e tirano

A Europa Ocidental conseguiu contornar as tensotildees do poacutes-guerra

atraveacutes da ajuda econocircmica (Plano Marshall) voltando-se para a construccedilatildeo de uma

rede de assistecircncia social impecaacutevel e cariacutessima associada ao bem-estar objetivando

uma distribuiccedilatildeo de renda e proteccedilatildeo dos cidadatildeos contra os desequiliacutebrios sociais

O curso do desenvolvimento favorecia agraves posiccedilotildees e tendecircncias de

esquerda os sindicatos se fortaleciam os partidos socialistas viam seus votos

aumentarem e o intervencionismo estatal crescia com a regulamentaccedilatildeo da sociedade

De uma ideologia que ascendeu e dominou o seacuteculo passado o

liberalismo claacutessico acabou sendo gradativamente e por fim inteiramente descartado

pelos desenvolvimentos mundiais na primeira metade do seacuteculo XX Ele natildeo pocircde

suportar duas guerras mundiais depressatildeo econocircmica (quebra da bolsa de Nova York)

protecionismos emergentes aleacutem de uma ascensatildeo de Estados Socialistas e de Bem-

Estar (Welfare State) levando ao seu decliacutenio

Entretanto este natildeo foi seu fim como poderia parecer em uma

perspectiva de desenvolvimento das teorias de economia dirigida e do socialismo de

Estado O liberalismo sofreu uma revitalizaccedilatildeo em 1947 quando um grupo de

pensadores liberais se reuniram para discutir as bases de uma ofensiva contra teorias e

praacuteticas socialistas e intervencionistas entatildeo predominantes formando a chamada

Sociedade de Mont Peacutelerin

Esta articulaccedilatildeo poacutes-guerra teve um papel decisivo no lanccedilamento das

bases teoacutericas do novo liberalismo agora denominado neoliberalismo

Este tomou um impulso substancial a partir da segunda metade da

deacutecada de 70 periacuteodo em que o estadismo e o planeiamento central comeccedilaram a

definhar e a quebrar como consequumlecircncia de uma crise econocircmica internacional aliada a

transformaccedilotildees tecnoloacutegicas que trouxeram grandes repercussotildees levando agrave ruptura

destes modelos de Estado Foi principalmente nos governos de Margareth Tacher

(Primeira Ministra denominada e conhecida como dama de ferro) no Reino Unido

(1979-1990) e do Presidente Ronald Reagan nos Estados Unidos (1979-1990) que deu-

se o revigoramento da ideologia liberal Propondo medidas limitadoras do Estado na

economia procederam-se agraves sucessivas privatizaccedilotildees e tentativas de derrubar as

tradicionais barreiras protecionistas adotadas por muitos paiacuteses

As novas tecnologias tambeacutem geraram natildeo soacute novas formas de produzir

mas tiveram impactos impressionantes sobre a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das

estrateacutegias de competitividade

Os Estados direcionaram-se a uma competiccedilatildeo desenfreada com uma

absurda e acelerada corrida agrave rnodernidade destruindo todo o sentido e o direito

social construiacutedo na era do Welfare State Assim a competiccedilatildeo a eficiecircncia e o ecircxito

econocircmico passaram a ser vistos positivamente O individualismo ligado agrave afirmaccedilatildeo

das liberdades individuais e dos direitos humanos deram vez ao individualismo soacuterdido

desmontando os valores do solidarismo para afirmar e justificar a desigualdade social

como inevitaacutevel consequumlecircncia da liberdade humana A seguranccedila o conforto e a

liberdade do proacuteximo passaram a ser ameaccedilados pela neuroacutetica necessidade de poder e

pelo egoiacutesmo consumista O que passou a ser considerado moderno foi o retorno a

Adam Smith (filoacutesofo e economista inglecircs que influenciou de forma decisiva na

formaccedilatildeo e no fortalecimento do capitalismo contemporacircneo) Neste iacutenterim a grande

campanha neoliberal se espalhou pelo mundo e as transnacionais cantaram vitoacuteria

quando viram o urso russo passar agrave condiccedilatildeo de cordeiro capitalista

No rastro desta nova realidade - Terceira Revoluccedilatildeo Industrial

globalizaccedilatildeo crise econocircmica etc - eacute que afirmou-se a hegemonia da ideologia

neoliberal exaltando a excelecircncia do novo mercado e do novo individualismo

3 - CONTEXTO MUNDIAL

A revoluccedilatildeo doutrinaacuteria trazida pelo neoliberalismo apresenta novas

bases teoacutericas que tecircm sido utilizadas como a fonte intelectual para redirecionamentos

nas poliacuteticas de gestatildeo macroeconocircmica (aspectos globais da economia) e social de

diversos paiacuteses em grande parte do globo

Conveacutem esclarecer que a adoccedilatildeo de uma poliacutetica neoliberal por parte da

maioria destes paiacuteses ao longo dos uacuteltimos anos objetivando obter uma maior

integraccedilatildeo econocircmica natildeo foi um ato de livre e espontacircnea vontade como

aparentemente poderia sugerir uma anaacutelise mais superficial

Na verdade esse neoliberalismo vem sendo imposto por pressotildees

externas procedentes de paiacuteses desenvolvidos aos paises subdesenvolvidos atraveacutes de

organismos internacionais principalmente o FMI - Fundo Monetaacuterio Internacional o

Banco Mundial e o BID - Banco Internacional de Desenvolvimento Os paiacuteses

devedores do mundo capitalista perifeacuterico vecircm cedendo agraves exigecircncias da implantaccedilatildeo

de poliacuteticas neoliberais como condiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo do apoio poliacutetico das grandes

potecircncias bem como para conseguir a liberaccedilatildeo de escassos recursos financeiros dos

bancos e agecircncias internacionais na forma de investimentos Estes paiacuteses tecircm sofrido

coaccedilotildees agressivas para eliminar as restriccedilotildees e diminuir os obstaacuteculos alfandegaacuterios agraves

mercadorias importadas Segundo um correspondente do New York Timeso FMI jaacute

derrubou mais governos que Marx e Lecircnin juntosmiddot (Michael Moffit O dinheiro do

mundo p131) Isto no fundo estaacute acarretando um alargamento do abismo existente

entre o primeiro e o terceiro mundo o qual torna-se cada vez mais indefeso submisso e

dependente

Com a intenccedilatildeo de colocar este esquema em praacutetica os paiacuteses ricos

(forccedilas neoliberais) formaram blocos econocircmicos neoprotecionistas (verdadeiras

fortalezas econocircmicas como o NAFT A o Mercado Comum Europeu e a aacuterea de

influecircncia japonesa no Paciacutefico) com o intento de proteger seus mercados internos e ao

mesmo tempo condicionar aos demais paiacuteses a abertura de mercado - sob a

argumentaccedilatildeo da integraccedilatildeo econocircmica globalizaccedilatildeo eficiecircncia alegando ser

uma poliacutetica econocircmica correta para atrair capitais externos

De fato os paiacuteses desenvolvidos caiacuteram numa evidente contradiccedilatildeo jaacute

que fecharam suas fronteiras contra a invasatildeo de matildeo-de-obra estrangeira (blocos

econocircmicos) ao mesmo tempo em que difundiram e defenderam uma ideologia

neoliberal baseada justamente na supressatildeo das barreiras alfandegaacuterias e das cotas de

importaccedilatildeo Assim foi intensificado o movimento de capitais bens e serviccedilos

mantendo entretanto a movimentaccedilatildeo humana do trabalho sob proibiccedilatildeo ou riacutegido

controle Os paiacuteses do 1deg mundo abriram as suas fronteiras internas em uma aparente

atitude liberal mas fecharam mais do que nunca as externas Essa atitude - de

praticarem o que criticam nos outros - mina por si soacute a autoridade de impor poliacuteticas

neoliberais por parte dos paiacuteses desenvolvidos

Contudo apesar da incoerecircncia entre palavras e accedilotildees o neoliberalismo

defendido pelas grandes potecircncias vem tomando forccedila no contexto mundial

espalhando-se rapidamente revelando-se natildeo se tratar de mero projeto intelectual ou

poliacutetico desconectado de bases soacutelidas

31 - BASES E JUSTIacuteFICATIVAS DA OFENSIVA NEOLIBERAL

Vivemos hoje a estruturaccedilatildeo de uma ordem internacional cuja feiccedilatildeo

ainda natildeo se encontra totalmente definida Poreacutem os princiacutepios baacutesicos que norteiam as

poliacuteticas econocircmicas neoliberais que mais vecircm se destacando resumem-se

principalmente em

a) Ajuste Fiscal3

O sistema fiscal estimula a sonegaccedilatildeo por cobrar tributos exagerados de

um nuacutemero reduzido de pessoas e empresas Com a sua reforma torna-se possiacutevel

desonerar as empresas e aumentar sua competitividade ainda podendo elevar a

arrecadaccedilatildeo porque haveria (em tese) menos sonegadores

b) Privatizaccedilatildeo (Desestatizaccedilatildeo das forccedilas produtivas)

Assim o governo elimina gastos com as estatais e gera caixas O

dinheiro levantado ainda pode permitir a diminuiccedilatildeo da diacutevida puacuteblica Com a reduccedilatildeo

do tamanho do Estado toma-se mais faacutecil de ser administrado podendo dedicar mais

atenccedilatildeo e dinheiro aos problemas sociais

c) Abertura Comercial e Financeira

A eliminaccedilatildeo de barreiras agrave importaccedilatildeo agrave entrada de capital estrangeiro

e agrave remessa de lucros gera uma aplicaccedilatildeo em investimentos incentivando-se o

comeacutercio aleacutem de aumentar a reserva cambial nacional

d) Reestruturaccedilatildeo do Sistema Previdenciaacuterio

Com a privatizaccedilatildeo do Sistema Previdenciaacuterio ou pelo menos parte dele

o Estado arca com menos gastos jaacute que divide sua folha com a iniciativa privada

Assim tambeacutem pode reequilibrar as contas puacuteblicas evitando a volta da inflaccedilatildeo

Aleacutem dessas outras medidas importantes tambeacutem vecircm completar este

quadro que de maneira geral se orienta para a reduccedilatildeo do tamanho do controle e dos

3 o embasamento doutrinaacuterio do Contexto Mundial foi respaldado principalmente nos

professores Luis Manoel Rebelo Fernandes (UFF) Roosenez de Carvalho Teixeira e Joatildeo Rodrigues Neto (UFRN) dentre outros

gastos do Estado na economia

32 - CONSEQUumlEcircNCIAS

O resultado dessa ofensiva neoliberal natildeo poderia ser melhor para os

paiacuteses do primeiro mundo

A iniciativa privada desses paiacuteses impotildee mais facilmente seus

interesses atraveacutes da formaccedilatildeo de grandes grupos capitalistas detentores de tecnologia e

capital que acabam se configurando em blocos de poder poliacutetico-econocircmico os

quais natildeo atuam somente sobre as relaccedilotildees econocircmicas mas procuram modificar essa

estrutura para aumentar ainda mais as suas vantagens em paiacuteses perifeacutericos que vecircm

adotando poliacuteticas neoliberais Dominar as maacutequinas produziacute-Ias ter acesso ao seu uso

representa dentre outras coisas desfrutar certo domiacutenio sobre os que natildeo as possuem

Isto pode significar natildeo soacute o controle de empresas de menor porte mas ateacute controle na

definiccedilatildeo da poliacutetica econocircmica de paiacuteses inteiros

Com isso as decisotildees econocircmicas no seio dessas naccedilotildees jaacute natildeo

pertencem aos milhotildees de indiviacuteduos que as integram mas estatildeo concentradas nas matildeos

de minorias (carteacuteis e multinacionais) que monopolizam o poder em proveito proacuteprio

Nesse estaacutegio de desenvolvimento em que predomina a internacionalizaccedilatildeo do capital

consolida-se a interdependecircncia crescente das grandes transnacionais ultrapassando

suas fronteiras de origem e colocando as questotildees nacionais em segundo plano Assim

os interesses dos Estados ficam mais do que nunca atrelados aos interesses do capital

internacional Segundo o economista Gilberto Dupas do Nuacutecleo de Estudos

Estrateacutegicos da USP as maiores corporaccedilotildees mundiais estatildeo decidindo basicamente o

que como quando e onde produzir os bens e serviccedilos utilizados pelos seres humanos

(Revista Veja 030496) Com isso alguns criam a histoacuteria enquanto outros a maioria

sofrem e suportam a histoacuteria que aqueles estatildeo escrevendo

Por outro lado cara paiacuteses subdesenvolvidos (como eacute o caso do Brasil)

as consequumlecircncias satildeo no miacutenimo devastadoras

Com a crescente evoluccedilatildeo que vem acontecendo no mundo atual as

naccedilotildees procuram alternativas para se adaptarem diante da modernizaccedilatildeo dos meios de

comunicaccedilatildeo produccedilatildeo e da abertura do mercado buscando acompanhar a

competitividade crescente entre as atividades do mercado

Mesmo a Ruacutessia que jaacute foi uma grande potecircncia mundial sentiu o

impacto devastador que uma abertura econocircmica eacute capaz de causar A expectativa de

vida do russo passou de 65 anos no socialismo para 58 com o capitalismo e a

tendecircncia eacute o alargamento dessa diferenccedila O aumento da marginalidade e a

proliferaccedilatildeo das drogas tambeacutem acompanharam essa abertura De acordo com

estimativas do proacuteprio governo 1 em cada 6 jovens russos seratildeo viciados ateacute o ano

2000 No geral as condiccedilotildees de vida excetuando o surgimento de uma pequena classe

burguesa que ascendeu juntamente com o capitalismo soacute se deterioraram para a

maioria dos trabalhadores russos Se antes eles natildeo podiam comprar um big-mac

(sanduiacuteche mundialmente difundido por uma cadeia de lanchonetes americana) por

falta de opccedilatildeo agora natildeo podem compraacute-lo por falta de dinheiro (fonte 48 Hours -

GNT)

A busca ansiosa para conseguir melhores preccedilos e maior qualidade na

elaboraccedilatildeo do produto tem resultado num retrocesso nas relaccedilotildees entre capital e

trabalho ao se ignorar princiacutepios e normas vigentes referentes agraves relaccedilotildees trabalhistas

No intuito de reduzir encargos sociais e enxugar a estrutura empresarial

as empresas iniciaram demissotildees e firmaram novos contratos com prestadoras de

serviccedilos para executarem as mesmas atividades antes elaboradas com viacutenculo laboral

pelos funcionaacuterios demitidos (fenocircmeno denominado de terceirizaccedilatildeo) Os empregados

terceirizados apesar de possuiacuterem todas as caracteriacutesticas necessaacuterias a uma relaccedilatildeo

direta de emprego com a empresa beneficiada satildeo remunerados pela empresa locadora

de serviccedilos que paga salaacuterios mais baixos

A intervenccedilatildeo cada vez menor do Estado nas relaccedilotildees de trabalho

multiplicou as relaccedilotildees atiacutepicas acarretando consequumlecircncias desastrosas agrave classe dos

trabalhadores por fraudar direitos e garantias fundamentais

Com toda essa desregulamentaccedilatildeo trabalhista sem a devida postura

critica () as garantias sociais conquistadas pelos trabalhadores tecircm

ficado somente nas linhas dos diplomas legais () Isto tem trazido

seacuterios problemas de ordem social e juriacutedica como o alto iacutendice de

demissatildeo desemprego subempregos matildeo-de-obra barata

fomentaccedilatildeo dos contratos atiacutepicos flexibilizaccedilatildeo das normas

trabalhistas fraude aos direitos e garantias sociais instabilidade nas

relaccedilotildees empregatiacutecias formaccedilatildeo de uma classe totalmente

destituiacuteda de sindicato que possa reivindicar seus direitos e

representaacute-los aleacutem do proacuteprio enfraquecimento dos movimentos

sindicaisrdquo (Revista Juriacutedica ln Verbis UFRNCCSA v2 n 3 Natal

Ed Nordeste 1996 p 174 181)

A exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra de mulheres e crianccedilas tambeacutem foi

intensificada no Brasil principalmente a partir do governo do Presidente Fernando

Collor de Mello (1990 a 1992) diretamente relacionado com o processo de

terceirizaccedilatildeo O trabalho infantil proibido por lei e por isso clandestino retira grande

parte das crianccedilas das escolas e de pouco ou quase nada valem as campanhas ou

fiscalizaccedilotildees frequumlentes contra ele jaacute que a necessidade eacute um contra-aliado de peso num

paiacutes onde 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo do niacutevel de pobreza (Brasil O Livro dos

500 anos p 112 Satildeo Paulo 1996) Ainda de acordo com o socioacutelogo Joseacute de Moura

Martins 40 mil dos 85 mil casos de trabalho escravo no paiacutes nos uacuteltimos 20 anos

envolviam meninos e meninas (Cadernos do Terceiro Mundo Rio de Janeiro v21 n

188 p 1619 ago 1995)

Para conseguir preccedilos melhores e qualidade mais alta em sua guerra

internacional contra os concorrentes empresas tambeacutem tecircm aumentado muito os seus

iacutendices de automaccedilatildeo A maior velocidade no processo de fabricaccedilatildeo garante menores

custos e consequumlentemente a possibilidade de colocar o produto no mercado com

preccedilos mais reduzidos liquidando ainda mais postos de trabalho

Por incriacutevel que pareccedila uma legislaccedilatildeo que protege e encarece o

trabalho tem levado ao aumento de desemprego nos paiacuteses que adotam essas garantias

jaacute que satildeo provavelmente excluiacutedos de muitos projetos de investimento Ficou tatildeo

dispendioso contratar um trabalhador europeu com a sua pilha de benefiacutecios que as

grandes corporaccedilotildees europeacuteias estatildeo transportando seus novos negoacutecios para fora do

continente (30 mundo) e natildeo haacute nada que os governos europeus possam fazer

Hoje para empresas que operam em escala mundial a origem da

tecnologia da mateacuteria prima e do trabalho natildeo tem a menor importacircncia desde que seu

custo seja baixo e sua qualidade alta Assim obtecircm natildeo soacute maiores lucros mas melhores

condiccedilotildees para enfrentar as crises trabalhistas sobretudo nos paises do terceiro mundo

onde os governos locais se encarregam de reprimir os sindicatos as organizaccedilotildees

populares e suas manifestaccedilotildees A vantagem econocircmica dos paises industrializados tem

aumentado tambeacutem graccedilas a reduccedilatildeo da dependecircncia de mateacuterias primas de fonte uacutenica

gerada pelo maior dinamismo das relaccedilotildees comerciais

Com isso o aumento vertiginoso do desemprego pode gerar nos

proacuteximos anos uma crise social de proporccedilotildees nunca vistas Com a economia sendo

cada vez mais internacionalizada os conflitos tambeacutem se generalizam Soacute para se ter

uma ideacuteia a Alemanha estaacute com a taxa de desemprego mais alta desde a II Guerra

Mundial (Antenor Nascimento Neto 1996) O desemprego tambeacutem atingiu 23 da

populaccedilatildeo economicamente ativa na Espanha e atinge agora os niacuteveis mais elevados

desde a grande depressatildeo dos anos 30 de acordo com o especialista americano Jeremy

Rifkim no seu livro O Fim do Emprego O mercado de trabalho deixa espaccedilos cada vez

maiores para o crescimento da economia informal que vem se transformando na forma

moderna de ajuste do mercado (moderna porque se produz em um contexto de

modernizaccedilatildeo capitalista)

Outra consequumlecircncia desastrosa da investida neoliberal e do consequumlente

processo de globalizaccedilatildeo estaacute no desaparecimento das fronteiras nacionais Os governos

natildeo conseguem mais deter os movimentos do capital internacional Essa hegemonia do

capital financeiro internacional toma-se uma faca de dois gumes na medida em que

vem mascarar as reservas cambiais nacionais criando uma falsa ilusatildeo de que satildeo

soacutelidas quando na verdade o que se tem de fato eacute tecircm aumentado muito os seus iacutendices

de automaccedilatildeo A maior velocidade no processo de fabricaccedilatildeo garante menores custos e

consequumlentemente a possibilidade de colocar o produto no mercado com preccedilos mais

reduzidos liquidando ainda mais postos de trabalho

Por incriacutevel que pareccedila uma legislaccedilatildeo que protege e encarece o

trabalho tem levado ao aumento de desemprego nos paiacuteses que adotam essas garantias

jaacute que satildeo provavelmente excluiacutedos de muitos projetos de investimento Ficou tatildeo

dispendioso contratar um trabalhador europeu com a sua pilha de benefiacutecios que as

grandes corporaccedilotildees europeacuteias estatildeo transportando seus novos negoacutecios para fora do

continente (30 mundo) e natildeo haacute nada que os governos europeus possam fazer

Hoje para empresas que operam em escala mundial a origem da

tecnologia da mateacuteria prima e do trabalho natildeo tem a menor importacircncia desde que seu

custo seja baixo e sua qualidade alta Assim obtecircm natildeo soacute maiores lucros mas melhores

condiccedilotildees para enfrentar as crises trabalhistas sobretudo nos paises do terceiro mundo

onde os governos locais se encarregam de reprimir os sindicatos as organizaccedilotildees

populares e suas manifestaccedilotildees A vantagem econocircmica dos paises industrializados tem

aumentado tambeacutem graccedilas a reduccedilatildeo da dependecircncia de mateacuterias primas de fonte uacutenica

gerada pelo maior dinamismo das relaccedilotildees comerciais

Com isso o aumento vertiginoso do desemprego pode gerar nos

proacuteximos anos uma crise social de proporccedilotildees nunca vistas Com a economia sendo

cada vez mais internacionalizada os conflitos tambeacutem se generalizam Soacute para se ter

uma ideacuteia a Alemanha estaacute com a taxa de desemprego mais alta desde a II Guerra

Mundial (Antenor Nascimento Neto 1996) O desemprego tambeacutem atingiu 23 da

populaccedilatildeo economicamente ativa na Espanha e atinge agora os niacuteveis mais elevados

desde a grande depressatildeo dos anos 30 de acordo com o especialista americano Jeremy

Rifkim no seu livro O Fim do Emprego O mercado de trabalho deixa espaccedilos cada vez

maiores para o crescimento da economia informal que vem se transformando na forma

moderna de ajuste do mercado (moderna porque se produz em um contexto de

modernizaccedilatildeo capitalista)

Outra consequumlecircncia desastrosa da investida neoliberal e do consequumlente

processo de globalizaccedilatildeo estaacute no desaparecimento das fronteiras nacionais Os

governos natildeo conseguem mais deter os movimentos do capital internacional Essa

hegemonia do capital financeiro internacional toma-se uma faca de dois gumes na

medida em que vem mascarar as reservas cambiais nacionais criando uma falsa ilusatildeo

de que satildeo soacutelidas quando na verdade o que se tem de fato eacute dinheiro especulativo As

poliacuteticas neoliberais tecircm se apresentado como as mais capacitadas para atrair esse

capital flutuante de modo a financiar um novo ciclo de desenvolvimento O dinheiro

volaacutetil gira pelos vaacuterios mercados financeiros mundiais como o das bolsas de valores

do Cacircmbio ou dos juros Essa situaccedilatildeo tem levado ao reforccedilo de atividades

especulativas em detrimento de atividades produtivas acentuando o caraacuteter negativo

do sistema capitalista Como se natildeo bastasse apesar do capital volaacutetil impulsionar

negoacutecios ele soacute estaciona em paiacuteses estaacuteveis Assim transforma-se em um perigo para

os paiacuteses de economia fraca jaacute que o controle da inflaccedilatildeo natildeo significa necessariamente

a existecircncia de uma economia forte O proacuteprio desenvolvimento natildeo se reduz a

simples crescimento econocircmico Para ser autecircntico deve ser integral (Paulo VI In

Populorom Progressio n14 Editora Borges)

O exemplo mais marcante da perda do controle do movimento do

capital externo foi o Meacutexico que no final de 94 quebrou quando o dinheiro volaacutetil que

laacute estava fugiu

Eacute inegaacutevel tambeacutem Que a retraccedilatildeo das estruturas do capitalismo de

Estado tem gerado privatizaccedilotildees Que vecircm desmontando instrumentos fundamentais de

soberania dos paiacuteses em desenvolvimento reforccedilando e intensificando ainda mais a

domina catildeo imperialista sobre esses paiacuteses Que jaacute eram dependentes Estes satildeo

literalmente chantageados tornando-se refeacutens da necessidade de criar condiccedilotildees

vantajosas para a atraccedilatildeo do capital itinerante dos mercados globalizados

Aleacutem de vaacuterias outras consequumlecircncias terriacuteveis que ainda natildeo foram

enumeradas uma das piores eacute o agravamento das desigualdades sociais e a polarizaccedilatildeo

entre ricos e pobres Enquanto alguns paiacuteses andam mais depressa regiotildees inteiras

ficam para traacutes acentuando ainda mais o processo de exclusatildeo fragmentaccedilatildeo e

segmentaccedilatildeo social A iniquumlidade social decorrente da maacute distribuiccedilatildeo de rendas soacute tem

agravado este quadro concentrando a fortuna no bolso de uns poucos e deixando

bilhotildees de pessoas na miseacuteria

A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo a populaccedilatildeo dos paiacuteses desenvolvidos diminuiu de

262 em 1980 para 242 em 1990 Enquanto isso concentrou maior parcela da

riqueza mundial pois em 1980 detinha 773 do PNB (Produto Nacional Bruto)

mundial e passou a ter 831 em 1990 Em 1962 20 da populaccedilatildeo mundial mais rica

concentrava 30 vezes mais renda do que 20 da populaccedilatildeo mais pobre Jaacute em

199420 dos ricos concentravam 60 vezes mais do que os mesmos 20 da populaccedilatildeo

mais pobre (Cadernos do Terceiro Mundo n 188 p 4 ago 1996) Ainda de acordo

com um estudo recente realizado pela ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) cerca de

um bilhatildeo de seres humanos vivem em miseacuteria absoluta mais de um bilhatildeo passa fome

e quase a mesma quantidade eacute analfabeta O proacuteprio BID em dezembro de 1990

admitiu que os governos impulsionaram grandes mudanccedilas econocircmicas mas uma vez

mais as estruturas sociais permaneceram inalteradas e os programas de ajuste tenderam

a agravar as desigualdades (Cadernos do Terceiro Mundo n 188 p 26 ago 1995)

Vecirc-se assim que a estrutura econocircmica atual eacute incapaz de dar condiccedilotildees de vida para

toda a populaccedilatildeo

Em contrapartida muitos paises vecircm se conscientizando desta

realidade opressora levando a gerar problemas nos processos de estabilizaccedilatildeo nas

economias emergentes As vitoacuterias eleitorais dos ex-comunistas em paises do Leste

europeu e na Ruacutessia a greve contra a reforma previdenciaacuteria na Franccedila a intensificaccedilatildeo

dos movimentos internacionais sindicais - como a FSM (Federaccedilatildeo Sindical Mundial)

CMT (Confederaccedilatildeo Mundial do Trabalho) e CISL Confederaccedilatildeo Internacional de

Sindicatos Livres) a greve geral de 36 horas que parou a Argentina no uacuteltimo dia 26 de

setembro contra a recessatildeo e a perda da legislaccedilatildeo trabalhista e mesmo a criaccedilatildeo do

Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon) no Brasil representam uma

seacuterie de sinais pontuais de que as sociedades comeccedilam a reagir politicamente contra o

neoliberalismo e o desmonte social patrocinado por ele (Fontes Jornal Nacional 26 set

Rede Globo e Cadernos do Terceiro Mundo n 188 ago 1995)

4 - CONTEXTO NACIONAL

A inserccedilatildeo do Brasil nesta conjuntura econocircmica mundial tambeacutem

ocorreu a partir da implantaccedilatildeo das poliacuteticas neoliberais sugeridas por Instituiccedilotildees

Financeiras Internacionais Nota-se dessa forma que o pais natildeo foge agrave regra do contexto

mundial

Foi mais precisamente com a posse do governo Collor em 1990 que a

ofensiva neoliberal efetivamente tomou corpo Apoacutes o impeachment ela passou por um

periacuteodo de estagnaccedilatildeo mas foi retomada a todo vapor com a eleiccedilatildeo de Fernando

Henrique Cardoso em 1994

Eacute essencial observar de que maneira a economia brasileira vai se

incluindo nesse contexto internacional bem como analisar os objetivos da ideologia

neoliberal propagada por FHC

Jaacute em seu discurso de posse o Presidente afirmou que o grande desafio

da presente situaccedilatildeo brasileira eacute precisamente este a inserccedilatildeo do Brasil no sistema

produtivo internacional para servir os interesses nacionais e populares (Folha de Satildeo

Paulo 100794) Soacute resta saber a quais interesses nacionais e populares ele se refere

se satildeo os do Brasil ou das grandes potecircncias que querem se aproveitar da situaccedilatildeo De

qualquer forma ele continua sua explicaccedilatildeo sustentando ser necessaacuterio um Estado

reformado capaz de abrir-se eficazmente agraves pressotildees e aos interesses da populaccedilatildeo

especialmente da maioria de pobres que vive uma cidadania incompleta

Ai criam-se novas promessas privatizar reformar o Estado a

Previdecircncia Social como condiccedilotildees para que os mais pobres possam viver uma

cidadania completa Enquanto isso a massa dos brasileiros recebe aposentadorias e

pensotildees irrisoacuterias depois de trabalhar 30 ou 35 anos ao mesmo tempo em que os

parlamentares privilegiados tecircm esses benefiacutecios com agraves vezes apenas oito anos de

mandato

Para colocar em praacutetica seus objetivos a classe dominante vem

utilizando a miacutedia de uma forma indiscriminada destruindo o que a populaccedilatildeo deveria

possuir de melhor seu senso critico e sua dignidade Na ideologia difundida por esta

classe privilegiada interesses particulares manifestam-se como se fossem de interesse

geral impedindo os grupos subalternos de visualizarem sua real situaccedilatildeo e de

exprimirem suas proacuteprias aspiraccedilotildees Fala-se do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo quase

como se fossem acontecimentos naturais como se natildeo tivessem sido decididos por

mentes poderosas De fato um dos maiores ecircxitos do liberalismo contemporacircneo

neoliberalismo consiste em haver ganho adeptos entre suas viacutetimas

A TV (meio de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de alienaccedilatildeo que utiliza a

transmissatildeo e recepccedilatildeo de imagens visuais) eacute inundada com o slogan de Privatizaccedilatildeo

Democraacutetica - Apoacuteie essa Ideacuteia tentando convencer a populaccedilatildeo do Brasil de que a

soluccedilatildeo das dificuldades seraacute resolvida atraveacutes de reformas e privatizaccedilotildees o que natildeo eacute

verdade Nada mais satildeo do que uma forma de esconder os problemas estruturais do

Estado

Em seu programa de governo batizado de Matildeos agrave Obra Brasil FHC

prometeu acelerar as privatizaccedilotildees para abater a diacutevida puacuteblica aumentar investimentos

e ajudar na reforma do Estado Com isso pretende-se modificar a Constituiccedilatildeo alterar

leis e mudar haacutebitos para evitar o retorno da inflaccedilatildeo descontrolada e estimular o

crescimento da economia (ou pelo menos essa eacute a justificativa) Dessa forma qualquer

semelhanccedila com as reformas neoliberais - receitadas pelos banqueiros internacionais - e

a atual revisatildeo constitucional brasileira natildeo eacute mera coincidecircncia

O governo atual vem propondo ao Congresso reformas de profunda

mudanccedila na estrutura social e poliacutetica do paiacutes as quais vatildeo repercutir na vida de

aproximadamente 157827834 brasileiros (estimativas oficiais da Fundaccedilatildeo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE - para 96) Assim devido ao seu alcance as

reformas de emenda agrave Constituiccedilatildeo promulgada em 05 de outubro de 1988 deveriam

ser submetidas a um plebiscito precedido de um amplo debate pelos meios de

comunicaccedilatildeo para que o povo decidisse pelo voto se deveriam ou natildeo serem postas

em vigor Contudo o Governo nem chegou a cogitar essa possibilidade em uma niacutetida

atitude autoritaacuteria apesar da oposiccedilatildeo por meio de protestos e reivindicaccedilotildees populares

Conveacutem esclarecer que o Direito como fenocircmeno social natildeo pode ficar

indiferente agraves transformaccedilotildees que ocorrem dentro da sociedade Tambeacutem eacute salutar o

controle da inflaccedilatildeo e o crescimento da economia Eacute oacutebvia a necessidade de reformas jaacute

que o estatismo brasileiro produziu burocratismo corporativismo rendas monopoacutelicas

privadas a partir de decisotildees puacuteblicas ineficiecircncia e estrangulamento da democracia

Hodiernamente tambeacutem eacute verdade que natildeo se justifica mais a presenccedila do Estado em

vaacuterios setores da economia onde o dinheiro puacuteblico eacute gasto em obras e empresas

estatais natildeo prioritaacuterias mal dimensionadas ou desnecessaacuterias transformando-se num

cabide de empregos numa fonte de votos para os poliacuteticos e de poder para os

burocratas O Senado eacute um bom exemplo dessa falta de desprendimento de parentes e

correligionaacuterios poliacuteticos onde no ano de 1989 apenas 4 dos funcionaacuterios eram

concursados aleacutem do fato de que seis em cada dez eram parentes de senadores e ex-

senadores (Casas de Escacircndalos Jornal do Brasil Rio de Janeiro p10 22 fev 1989)

Isto para natildeo se falar da tendecircncia a favorecer as zonas urbanas em detrimento das aacutereas

rurais da falta de capacitaccedilatildeo governamental da crescente corrupccedilatildeo e das estruturas

verticais A maacute administraccedilatildeo puacuteblica soacute vem agravar este quadro com o socorro de

bilhotildees de reais agrave bancos e empresas falidas gastos desnecessaacuterios com sedes luxuosas

compra e aluguel de imoacuteveis decoraccedilatildeo de gabinetes etc subsiacutedios indevidos a setores

da economia ou a grupos privilegiados de funcionaacuterios aleacutem de mordomias (despesas

particulares) pagas com dinheiro dos cofres puacuteblicos A primeira impressatildeo eacute a de que

em mateacuteria de moralidade puacuteblica tudo estaacute por fazer O que se pode esperar de um

paiacutes onde o sistema eacute duro cruel e intransigente

Todavia o Estado natildeo pode sucumbir como principal agente da

instituiccedilatildeo e da garantia da ordem normativa e juriacutedica da sociedade Ele deve reforccedilar

sob novas formas e alternativas as suas funccedilotildees baacutesicas de promotor do bem-estar

social e da sociedade de equiliacutebrio com poliacuteticas positivas de garantia dos trabalhadores

e dos direitos humanos O Direito como harmonizador das relaccedilotildees sociais

intersubjetivas tambeacutem deve procurar se ajustar agraves mudanccedilas e agraves novas realidades

sem deixar de ter como aspiraccedilatildeo uma sociedade melhor e mais justa Tanto o Estado

como o Direito satildeo ferramentas desta para que seja constituiacuteda de indiviacuteduos felizes

Entretanto para salvar o capitalismo o neoliberalismo parece estar

disposto a sacrificar os direitos sociais conquistados a duras penas pela populaccedilatildeo De

uma garantia de liberdade e proteccedilatildeo a lei parece estar se transformando em uma

camisa de forccedila para o indiviacuteduo Aleacutem de legiacutetima a lei precisa ser justa De fato

nem tudo o Que eacute legal eacute justo

Compete principalmente a noacutes - cientistas professores advogados

procuradores magistrados estudantes assim como tantos outros profissionais do

Direito - impedirmos que o Estado e a proacutepria instacircncia juriacutedica tomem-se instrumentos

ao serviccedilo do desenvolvimento do crescimento e da expansatildeo em lugar de estarem ao

serviccedilo da ordem e da seguranccedila Natildeo constituiacutemos meros expectadores de uma

realidade juriacutedica exterior Ao contraacuterio participamos ativamente do processo de

construccedilatildeo da ordem juriacutedica atraveacutes de esforccedilos incessantes na investigaccedilatildeo na

interpretaccedilatildeo e na aplicaccedilatildeo do direito nos casos concretos (enquadramento de um fato

na previsatildeo de determinada norma) O operador juriacutedico nunca deve se esquecer de sua

responsabilidade para com a sociedade a qual deposita sua confianccedila naquele como

mantenedor primordial do Estado Democraacutetico de Direito ao qual todos noacutes

pertencemos

Estamos diante de uma contradiccedilatildeo Convivemos com uma moeda dita

mais valorizada que o doacutelar mas o salaacuterio natildeo daacute para atender as necessidades de

subsistecircncia da maioria da populaccedilatildeo brasileira A Constituiccedilatildeo Brasileira determina

em seu artigo 7deg inciso IV que o salaacuterio miacutenimo para o trabalhador deve ser capaz de

atender a suas necessidades vitais baacutesicas e agraves de sua famiacutelia com moradia

alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede fazer vestuaacuterio higiene transporte e previdecircncia

socialrdquo dentre outros enumerados No entanto de acordo com a medida provisoacuteria nordm

1463-3 de 260796 o salaacuterio miacutenimo atual corresponde a exatamente R$ 11200 Em

outras palavras seu valor diaacuterio corresponde a R$ 373 ou se vocecirc preferir a R$ 015 a

hora

O Brasil e principalmente o povo vecircm sendo sacrificados para manter

sua economia estaacutevel Enquanto o paiacutes eacute a deacutecima economia mundial (seu PIB eacute o

deacutecimo entre os maiores do planeta) passa para a 63ordf posiccedilatildeo quando se trata de

qualidade de vida de seus habitantes De acordo com Gilberto Paim professor de

Economia da Universidade Estaacutecio de Saacute a renda per capita dos brasileiros embora

bem maior que haacute 25 anos ainda eacute relativamente baixa US$ 320000 por ano Soacute para

se ter uma ideacuteia os 20 maiores latifundiaacuterios do Brasil detecircm 17 milhotildees de hectares o

que corresponde a aproximadamente 45 das terras Soacute aqui no Rio Grande do Norte

por volta de 100 mil famiacutelias de trabalhadores rurais ainda natildeo tecircm terra para cultivar

enfrentando uma situaccedilatildeo de penuacuteria e retaliaccedilotildees por parte da Poliacutecia Militar (O

FOacuteRUM n 2 dez 1995) Infelizmente o campo continua a produzir sangue e a terra a

gerar massacres

Enquanto isso FHC insiste em afirmar que ldquo o grande desafio do

Brasil neste final de seacuteculo justiccedila social Este seraacute o objetivo do meu governo

(seraacute)

Com esse discurso demagoacutegico o presidente continua a impor sua

poliacutetica neoliberal - ao tentar acabar com os monopoacutelios ao fazer concessotildees de

serviccedilos puacuteblicos a agilizar as privatizaccedilotildees e reformas etc - procurando atender a

interesses externos em nome da famosa ldquojusticcedila social As ldquoportas do paiacutes jaacute estatildeo

abertas aos banqueiros de qualquer parte do mundo desde agosto de 1995 podendo

comprar bancos privados participar dos que jaacute existem e abrir filiais ou agecircncias no

Brasil Essa abertura do sistema financeiro soacute aconteceu porque o governo viu nela uma

grande possibilidade de se livrar de problemas com bancos falidos o que vinha

arranhando muito a sua imagem Com essa medida o governo procurou ser ldquosimpaacutetico

e ao mesmo tempo se livrar de problemas (Revista Veja p 99 30 ago 1995)

Outra Consequumlecircncia desse modelo privatizador entrevista eacute o

esfacelamento de Induacutestrias Nacionais e Estatais Que vatildeo sucumbindo aos poucos

passando para o controle da iniciativa privada internacional abrindo novas fontes de

acumulaccedilatildeo para os grandes grupos monopolistas privados Com esse objetivo o

ministro das financcedilas do Reino Unido Kenneth Clarke veio ao Brasil no final do ano

passado a fim de prospectar possibilidades de negoacutecios para empresas britacircnicas na

Ameacuterica do Sul em especial no que diz respeito agrave privatizaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

Essa ldquoprivatizaccedilatildeo do Estado soacute vem aumentando a submissatildeo do povo brasileiro cada

vez mais aos interesses da classe social Que se encontra no topo Lamentavelmente

uma legislaccedilatildeo antipatrioacutetica tambeacutem tem permitido que grupos econocircmicos

estrangeiros dominem em proveito proacuteprio grande parte das riquezas naturais do Brasil

Para se ter uma noccedilatildeo desta desnacionalizaccedilatildeo das reservas minerais brasileiras basta

verificar as concessotildees de lavras (licenccedilas para mineraccedilatildeo) jaacute concedidas Ao contraacuterio

da tendecircncia atual deveriacuteamos procurar dar cada vez mais prestiacutegio forccedila e autoridade

para as empresas genuinamente brasileiras que realmente lutam pelo Brasil e natildeo pelo

enriquecimento da fortuna dos estrangeiros

Devemos considerar que a situaccedilatildeo econocircmica eacute delicada que a pobreza

continua a se alastrar e que o ideal de melhoria social estaacute cada vez mais longe afinal

de contas ldquomiseacuteria e democracia natildeo coexistem( Herbert de Souza o Betinho)

Essas soacute satildeo algumas consequumlecircncias negativas Infelizmente ainda

existem outras que vecircm se somar a essas e aumentar este quadro caoacutetico que se

intensifica no Brasil

O povo brasileiro precisa urgentemente se conscientizar dessa realidade

camuflada que continua atendendo a interesses variados que soacute visam a exploraccedilatildeo do

paiacutes Natildeo podemos continuar aceitando o absurdo como coisa normal

Seraacute que ldquoPara tomar consciecircncia da necessidade de mudanccedilas eacute

tambeacutem necessaacuterio ser sacudido pelos fatos pelo encontro com a injusticcedila pelos pobres

em desespero (Pierre Imberdis e Xavier Perrim) Jaacute eacute hora de assumir nosso destino

por nossa conta procurando desvendar o jogo de interesses que se esconde por traacutes dos

discursos ideoloacutegicos propagados pelos detentores do poder econocircmico-poliacutetico

Eacute preciso uma tomada de atitude que leve a pensar quem eacute que estaacute se

beneficiando mais com a reforma do Estado antes que esse processo devastador

privatize o paiacutes por completo a ponto de natildeo sobrar nada genuinamente brasileiro a natildeo

ser o nome BRASIL

5 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E SOLUCcedilOtildeES

De todo o exposto pode-se concluir que a ofensiva neoliberal tem

direcionado o Brasil a um processo de ldquoilusatildeo onde o povo eacute levado a acreditar que a

soluccedilatildeo para as iniquumlidades estaacute nas reformas Eacute imprescindiacutevel entretanto perquirir as

reais importacircncias dessas reformas e ter cautela para que destas modificaccedilotildees natildeo

decorram prejuiacutezos irreparaacuteveis para os cidadatildeos acabando com o pouco que resta do

paiacutes

A estabilizaccedilatildeo da moeda e o controle da inflaccedilatildeo tecircm sido mais

importantes do que poliacuteticas de criaccedilatildeo de empregos melhorias na sauacutede educaccedilatildeo

habitaccedilatildeo etc O neoliberalismo tem trazido a primeiro plano a palavra eficiecircncia e

relegado a plano inferior a palavra equidade Natildeo devemos e natildeo podemos nos enganar

Nos paiacuteses subdesenvolvidos como o Brasil os problemas de desenvolvimento natildeo satildeo

somente econocircmicos satildeo ainda e sobretudo humanos Eacute necessaacuterio que os governos se

empenhem a fundo para que ao desenvolvimento econocircmico corresponda o progresso

social

Tudo natildeo passa de uma nova ideologia Que visa recriar velhas formas de

acumulaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de capital utilizadas no seacuteculo XVIII e que hoje satildeo

denominadas de neoliberalismo Este transformou-se em maacutescara por detraacutes da qual os

interesses econocircmicos dominantes tiram proveito do poder poliacutetico fazendo com que os

paiacuteses mais desenvolvidos aumentem seu domiacutenio permitindo seu fortalecimento no

cenaacuterio mundial

Vale salientar que o Brasil natildeo deve se fechar completamente num

middotostracismo econocircmico-financeiro a par do resto do mundo o que fatalmente o levaria

a um entrave e a um retrocesso no desenvolvimento tecnoloacutegico agravando-se o atraso

econocircmico aumentando as dificuldades nos planos de emprego e de competitividade no

mercado internacional Nesse sentido Luiacutes Roberto Martins presidente da EDS

consultoria de Satildeo Paulo diz que middota induacutestria envelhece fica incapaz de produzir coisas

melhores e baratas a inflaccedilatildeo sobe e a capacidade de criar empregos cai (Antenor

Nascimento Neto A Roda Global Veia Rio de Janeiro 3 ab 96)

Contudo essa abertura de mercado deve se dar de forma gradativa Antes

o governo deve procurar fortalecer o mercado interno acabar com a cartelizaccedilatildeo e com

o monopoacutelio de vaacuterios setores da economia (evitando uma concorrecircncia imperfeita

onde o ofertante tem capacidade para influir ou controlar o preccedilo) etc e soacute entatildeo o paiacutes

estaraacute apto a se inserir no contexto mundial com as mesmas chances Eacute preciso uma

globalizaccedilatildeo (natildeo me refiro agravequela da TV) sem exclusatildeo Em seu artigo 219 a proacutepria

Carta Magna preza que o mercado interno bull seraacute incentivado de modo a viabilizar o

desenvolvimento cultural e s6cioecon6mico o bem estar da populaccedilatildeo e a autonomia

tecnol6gica do Pais Contudo o concreto eacute muitas vezes o inverso daquilo que as

ideacuteias dominantes manifestam

Vocecirc jaacute parou para pensar se no uacuteltimo dia 7 de setembro comemoramos

147 anos de independecircncia ou por outro lado foram mais 147 anos de subordinaccedilatildeo

domiacutenio exploraccedilatildeo interferecircncia sujeiccedilatildeo e manipulaccedilatildeo

Cabe agrave todos noacutes e principalmente a populaccedilatildeo mais esclarecida o

dever de defender os interesses nacionais e sociais que vecircm sendo usurpados como

tambeacutem conscientizar o resto da populaccedilatildeo Devemos reagir contra o simples

desmantelamento do Estado propondo reformas modemizadoras que aumentem a

eficiecircncia e que resgatem sua funccedilatildeo de promotor da justiccedila social Quero nossa naccedilatildeo

soberana independente autocircnoma livre de qualquer laccedilo ou compromisso opressor

senhora de suas proacuteprias accedilotildees um Brasil ldquobelo forte impaacutevido colasso (Joaquim

Osoacuterio Duque Estrada)

Para isso o Estado natildeo deve retirar-se totalmente da economia

procurando utilizar poliacuteticas econocircmicas eficazes para que a classe mais rica possa

estender os benefiacutecios da sauacutede da educaccedilatildeo e da previdecircncia puacuteblica aos excluiacutedos

sem que o proacuteprio Estado se tome um peso demasiado para a sociedade possibilitando

assim o acesso do povo agrave cidadania

Partindo desse pressuposto justifica-se a intervenccedilatildeo do Estado de uma

forma complementar assumindo funccedilotildees corretivas (para o controle de distorccedilotildees e

desequiliacutebrios do mercado) supletivas (para ocupar espaccedilos natildeo preenchidos pela

iniciativa empresarial privada por omissatildeo ou incapacidade) e coordenativas (para

balizar a accedilatildeo econocircmica da sociedade) Tambeacutem eacute importante a coexistecircncia da

propriedade privada e estatal dos meios de produccedilatildeo procurando conciliar o interesse

puacuteblico com o interesse privado Contudo a iniciativa empresarial deve ser mantida sob

vigilacircncia do Estado que tem por escopo preservar o bem comum Assim a adoccedilatildeo de

uma espeacutecie de intervencionismo moderado eacute salutar um meio termo entre a liberdade

econocircmica absoluta e o total controle do Estado sobre a economia sendo sempre este

fiscalizado pela naccedilatildeo

Naccedilatildeo esta que tem obrigaccedilatildeo de contribuir natildeo apenas com denuacutencias

Ser cidadatildeo natildeo eacute acomodaccedilatildeo Eacute participaccedilatildeo A cidadania tem que ser permanente a

noacutes cabe fiscalizar agir pressionar cobrar - a cada momento e sempre

O desejo do povo deve ser conjugado ao enorme potencial econocircmico do

paiacutes soacute assim os maiores problemas poderatildeo ser ultrapassados Eacute um desafio a longo

prazo afinal de contas satildeo quase 500 anos de exploraccedilatildeo mas que eacute possiacutevel se unirmos

nossas forccedilas middotPor que esperar se podemos comeccedilar tudo de novo Agora mesmo A

humanidade eacute desumana Mas ainda temos chance O sol nasce para todos Soacute natildeo sabe

quem natildeo quer (Dado Villla-Lobos Renato Russo Marcelo Bonfaacute)

Temos que ter propostas poliacuteticas proacuteprias para grandes temas nacionais

no campo social como por exemplo a educaccedilatildeo e a reforma agraacuteria que estatildeo tatildeo em

evidecircncia hoje em dia

Quando natildeo fornecemos ao individuo a condiccedilatildeo de construir a si mesmo

(constructor sur) natildeo podemos esperar que se construa sadiamente Em contrapartida

um povo educado toma-se mais esclarecido e informado da sua real situaccedilatildeo fazendo

com que deixe sua apatia de lado e se organize para exigir seus direitos Quanto mais

desenvolve sua educaccedilatildeo quanto mais assimila e analisa conhecimentos e experiecircncias

mais reflete o indiviacuteduo sobre o processo em que estaacute imerso tomando-se mais

politizado (questionador) e mais reflexivo (autoquestionador)

O governo contudo natildeo tem interesse em proporcionar uma educaccedilatildeo de

qualidade O Brasil tem hoje a terceira maior taxa de evasatildeo escolar do mundo atraacutes

somente do Haiti e GuineacuteBissau causada em grande parte pela necessidade dos

menores reforccedilarem o orccedilamento familiar (satildeo cerca de sete milhotildees e meio de crianccedilas

e adolescentes entre 10 e 17 anos) O nuacutemero de analfabetos ultrapassa atualmente os

17 milhotildees ou seja mais de 16 da populaccedilatildeo acima de 14 anos Estima-se que no

ano 2000 esse nuacutemero poderaacute chegar aos 23 milhotildees representando uma populaccedilatildeo

que supotildee-se seraacute em tomo dos 180 milhotildees (Brasil o livro dos 500 anos p 112 Satildeo

Paulo 1996) Assim uma grande parcela natildeo tem acesso agrave educaccedilatildeo constituindo

apenas matildeo-de-obra barata massa de manobra poliacutetica e da miacutedia Esta triste realidade

natildeo eacute novidade apesar da educaccedilatildeo receber na Constituiccedilatildeo atual um tratamento bem

mais detalhado que nas anteriores

Dentre os princiacutepios que tratam do tema podem-se destacar a

gratuidade do ensino puacuteblico a valorizaccedilatildeo dos profissionais do ensino e a garantia do

padratildeo de qualidade (art 206 incisos IV V e VII respectivamente) Contudo por que

seraacute que o ensino privado se prolifera os professores da rede puacuteblica satildeo mal

remunerados e os alunos reclamam das condiccedilotildees educacionais

Vecirc-se o caso das Universidades por exemplo a Universidade Privada

estaacute sendo comprada por parte da sociedade que natildeo consegue vaga ou teme a

competiccedilatildeo para o ingresso na Universidade Puacuteblica como a soluccedilatildeo para o ensino

superior quando sabe-se que 80 de todos os estudantes universitaacuterios brasileiros

entram na rede privada poreacutem 60 de todos os formados saem eacute da rede puacuteblica Das

873 entidades existentes no ensino de 3deg grau apenas 25 satildeo puacuteblicas (opcitp) O

mais grave ao se pretender tirar do Estado a responsabilidade peAacutea Universidade

Puacuteblica eacute que aleacutem da maioria natildeo poder pagar a escola privada o fato da

Universidade natildeo precisar se submeter a um mercado perifeacuterico ajuda a garantir a

independecircncia do proacuteprio paiacutes constituindo uma frente fundamental ao

desenvolvimento

A reforma agraacuteria tambeacutem vem responder ao interesse paacutetrio do Brasil e

de toda a sociedade uma vez que sua efetivaccedilatildeo representa avanccedilo econocircmico e social

Soacute a pequena propriedade familiar atende a 75 do consumo nacional Todavia natildeo

basta dar terras Da mesma forma eacute preciso um apoio governamental dando condiccedilatildeo

para sua concretizaccedilatildeo O paiacutes deve fortalecer suas administraccedilotildees estimular as

empresas de base e os pequenos agricultores para garantir um desenvolvimento de baixo

para cima e aprofundar as instituiccedilotildees democraacuteticas

Essas soacute foram algumas condiccedilotildees enumeradas para se reverter esse

quadro de abandono em que se encontra a maioria da populaccedilatildeo que eacute quem sofre as

piores consequumlecircncias desse descaso Infelizmente satildeo comuns entre noacutes as leis que

ficam apenas no papel enquanto o mundo real segue outras normas

Soacute a partir da exigecircncia de seus direitos eacute que o povo estaraacute apto a

readquirir sua cidadania jaacute que como disse Renato de Oliveira candidato a presidecircncia

da ANDES (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituiccedilotildees de Ensino Superior)

direitos natildeo defendidos satildeo direitos perdidos

Destarte justifica-se a mensagem deixada pela Declaraccedilatildeo Final da IX

Conferecircncia Continental Americana de Juristas realizada em Porto Alegre no ano de

19910 neoliberalismo busca destruir os fundamentos do trabalho A crise provocada

pelas classes dominantes natildeo pode servir de argumento para chantagem internacional

com a consequumlente agudiccedilatildeo das desigualdades sociais e a perda pelos trabalhadores de

suas conquistas atraveacutes da preterida f1exibilizaccedilatildeo das normas laborais

Apesar das previsotildees pessimistas ainda natildeo eacute tarde demais Natildeo existe

um mundo pronto e acabado no qual o homem seja uma criatura passiva Existe o

mundo que o homem faz em que ele estaacute e transforma Mesmo aquele que nada faz

para mudar estaacute fazendo o mundo um mundo irremediaacutevel

Soacute resta esperar que noacutes brasileiros reflitamos a respeito da ofensiva

neoliberal em que estamos nos inserindo pesando bem os proacutes e os contras a fim de

evitar que o pais seja levado a um caminho de consequumlecircncias nefastas Se queremos

amenizar as injusticcedilas melhorar os serviccedilos puacuteblicos dar melhores perspectivas ao

Brasil objetivando um desenvolvimento auto sustentado jaacute eacute hora de acordar esse

Gigante pela proacutepria natureza () Deitado eternamente em berccedilo esplecircndido (trechos

do Hino Nacional Brasileiro) procurando analisar a gravidade dos problemas sociais e

das verdadeiras causas de cada um unindo nossas forccedilas como resultado de uma

vontade nacional agindo principalmente e antes de tudo como cidadatildeos conscientes

Aiacute quem sabe um dia o preacircmbulo da Constituiccedilatildeo Federal se tome

realidade quando todos noacutes viveremos em ldquo um Estado Democraacutetico destinado a

assegurar o exerciacutecio dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-

estar o desenvolvimento a Igualdade e a justiccedila como valores supremos de uma

sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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de cultura 1957v 1

CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO v 21 n188 Rio de Janeiro

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Natal 20 ago de 1995

CARDOSO Otomar Lopes A diplomacia do subdesenvolvimento

Natal UFRN1979

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Janeiro Bloch 1988

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Brasil agora 3 ed Belo Horizonte Lecirc 1992

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NASCIMENTO NETO Antenor A roda global Veia Rio de Janeiro 3 ab 1996

NEVES Marcelo Encontro Regional dos Estudantes de Direito - ERED

13 Campina Grande 1996 (palestra proferida - professor da UFPE)

O FOacuteRUM Oacutergatildeo Informativo do Foacuterum dos Servidores Puacuteblicos v1

n 2 dez 1995

PATUacute Gustavo DIAS Otaacutevio Folha de Satildeo Paulo 30 dez 1995

REVISTA DO MERCOSUL Rio de Janeiro Ed Terceiro Mundo n31 ago de 1995

REVISTA JURIgraveDICA IN VERBIS v2 n3 Natal Ed Nordeste 1996

REVISTA VEJA 11 de janeiro de 1995

________ Terreno livre - paiacutes se abre aos bancos estrangeiros 30 de

agosto de 1995

RODRIGUES Leocircncio Martins O furacatildeo neoliberal Folha de Satildeo

Paulo Satildeo Paulo 4 set 1995

RODRIGUES NETO Joatildeo TEIXEIRA Roosenez de C Neoliberalismo

para o terceiro mundo O Poti Natal 23 jul 1995

_________ Desindexaccedilatildeo as duas faces do plano real O Poti Natal 23

jul 1995

_________ Plano real por quem os sinos dobram Gazeta do Oeste 4

set 1994

_________ A conjuntura econocircmica e o mercado de trabalho Diaacuterio de

Natal 7 jun 1996

VICENTINO Claacuteudio SCALZARETTO Reinaldo Nova ordem

internacional

AUTORIDADE COATORA EM MANDADO DE SEGURANCcedilA -

ANAacuteLISE COM BASE EM CASO CONCRETO

Luana Pedrosa de Figueiredo Cruz

Acadecircmica do 8ordm periacuteodo do Curso de Direito UFRN

Monitora da disciplina de Direito Civil VI - Direito de Famiacutelia

CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES

Com o advento da Medida Provisoacuteria ndeg 141596 e suas reediccedilotildees que

dentre outras determinaccedilotildees instituiu contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria para os servidores

inativos da Uniatildeo Federal eacute grande o nuacutemero de Mandados de Seguranccedila impetrados

pelos aposentados alegando a ilegalidade dos descontos nos seus proventos

Grande valia possui a anaacutelise do meacuterito da questatildeo poreacutem nos ateremos

ao aspecto que tange agrave parte passiva da Accedilatildeo

Anteriormente agrave anaacutelise que se seguiraacute satildeo necessaacuterios alguns conceitos

e breves consideraccedilotildees

MANDADO DE SEGURANCcedilA

Garantia Constitucional que eacute usando as palavras do Mestre Marcelo

Navarro Ribeiro Dantas ldquoo mandado de seguranccedila eacute remeacutedio constitucional emanado

do direito puacuteblico e destinado a proteger direitos liacutequidos e certos violados pela

autoridade puacuteblica desde que estes natildeo sejam amparados por habeas corpus ou habeas

data

Pode ser accedilatildeo de cogniccedilatildeo constitutiva declaratoacuteria ou condenatoacuteria

Por direito liacutequido e certo entende-se o incontestaacutevel com fato certo e

legalmente fundamentado Segundo Castro Nunes ldquose a norma de direito positivo

incidindo sobre fatos incontroversos criasse um direito teriacuteamos caracterizado entatildeo o

direito liacutequido e certo Jurisprudecircncia (desde o Supremo) e doutrina predominantes

hoje em dia entendem como direito liacutequido e certo para fins de seguranccedila aquele que

pode ser objeto de prova preacute-constituiacuteda porque o rito especialiacutessimo do mandado de

seguranccedila natildeo admite dilaccedilatildeo probatoacuteria

Assim a suposta lesatildeo ou ameaccedila do direito deve ser pertinentemente

provada quando da propositura da accedilatildeo de seguranccedila

AUTORIDADE COATORA

Questatildeo ainda bastante controversa eacute a de quem deve ocupar o poacutelo

passivo na relaccedilatildeo processual instaurada no Mandado de Seguranccedila

Primeiramente eacute necessaacuterio que se faccedila a distinccedilatildeo entre autoridade

puacuteblica e agente puacuteblico Este pratica atos meramente executoacuterios natildeo tem poder de

decisatildeo pois apenas cumpre ordem superior Aquele possui poder decisoacuterio na praacutetica

dos atos administrativos

Observe-se o dispositivo da lei nordm 153351 art 1ordm sect1ordm ldquoConsideram-

se autoridades para os efeitos desta lei os administradores ou representantes das

entidades autaacuterquicas e das pessoas naturais ou juriacutedicas com funccedilotildees delegadas do

Poder Puacuteblico somente no que entende com essas funccedilotildees

Deve-se considerar que os atos praticados por pessoas ou instituiccedilotildees

particulares cuja atividade seja apenas autorizada pelo Poder Puacuteblico natildeo satildeo passiacuteveis

de Mandado de Seguranccedila pois natildeo estatildeo desempenhando atividade delegada eacute o

entendimento extraiacutedo da Suacutemula 510 do STF

Tomando como exemplo a educaccedilatildeo um direito puacuteblico subjetivo para

que uma instituiccedilatildeo particular de ensino seja passiacutevel de Mandado de Seguranccedila eacute

preciso que o seu responsaacutevel pratique ato ilegal ou abusivo no tocante

especificamente agrave violaccedilatildeo do direito citado como por exemplo recusar-se

inexplicadamente a aceitar aluno o que natildeo seria cabiacutevel se fosse ato meramente de

administraccedilatildeo interna

Assim sendo autoridade coatora eacute quem praticou accedilatildeo ou omissatildeo

ferindo o direito liquido e certo do impetrante devendo excluir-se o que apenas

recomenda e estabelece normas para a execuccedilatildeo ou abstenccedilatildeo

Apesar de divergentes as linhas de pensamento tome-se como

predominante o entender de Hely Lopes Meirelles segundo o qual a impetraccedilatildeo deve

ser sempre dirigida contra a autoridade que tenha poderes e meios para praticar o

ato ordenado pelo Judiciaacuterio discordando assim das consideraccedilotildees de Pontes de

Miranda nas quais o coator eacute o executor da ordem salvo em praacutetica de ato por

obediecircncia a ordem direta

A autoridade coatora entatildeo eacute aquela que possui competecircncia e

instrumento juriacutedico que a habilite a desfazer o ato desde que lhe determine o

Judiciaacuterio

Portanto se o executor da ordem natildeo possui esses meios afastado estaacute

do poacutelo passivo a natildeo ser que aleacutem de ordenador seja ele tambeacutem o executor

CASO CONCRETO

Passando agora para a problemaacutetica atual tomemos o exemplo citado no

iniacutecio deste trabalho

Recentemente foi impetrado writ contra ato de autoridade do Secretaacuterio

de Recursos Humanos do Tribunal Regional Eleitoral no Rio Grande do Norte

alegando a ilegalidade do ato

O caso merece anaacutelise Observe-se a seguinte ementa

PROCESSO CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA I AUTORIDADE

COATORA Autoridade Coatora no mandado de seguranccedila eacute aquela que

tem a responsabilidade funcional de defender o ato impugnado Nos

mandados de seguranccedila preventivos que visam a inibir lanccedilamentos de

oficio a propoacutesito de tributos por homologaccedilatildeo essa autoridade eacute o

chefe do Oacutergatildeo em que estaacute lotado o agente fazendaacuterio que pratica os

atos de fiscalizaccedilatildeo 2 ERRO NA INDICACcedilAtildeO DA AUTORIDADE

COATORA EXTINCcedilAtildeO DO PROCESSO SEMJULGAMENTO DE

MEacuteRITO Se a impetraccedilatildeo for mal endereccedilada vale dizer se apontar

COl1l0 autoridade coatora quem natildeo tem a responsabilidade funcional

de defender o ato impugnado o processo deve ser extinto sem

julgamento de meacuterito Recurso ordinaacuterio improvido Recurso em

Mandado de Seguranccedila nordm 4897-6 _ SP Rei Min Ari Pargendler DJU

091095 Seccedilatildeo I p33536)

Trazendo o raciociacutenio para o caso sob anaacutelise atente-se tambeacutem para o

art 96 da Constituiccedilatildeo Federal que diz o seguinte

Compete privativamente

J - aos tribunais

a) eleger seus oacutergatildeos diretivos e elaborar seus regimentos internos

com observacircncia das normas de processo e das garantias

processuais das partes dispondo sobre a competecircncia e o

funcionamento dos respectivos oacutergatildeos jurisdicionais e

administrativos

b) organizar suas secretarias e serviccedilos auxiliares e os dos juiacutezos

que Ihes forem vinculados velando pelo exerciacutecio da atividade

correicional respectivardquo

Portanto eacute cristalino que os TREs satildeo dotados de autonomia

administrativa

In casu os descontos foram determinados pelo Presidente do oacutergatildeo

que eacute o ordenador de despesas segundo as informaccedilotildees processuais fornecidas nos

autos

Assim sendo natildeo pode o secretaacuterio de recursos humanos do tribunal ser

responsabilizado por cumprir ordem a que estaacute hierarquicamente submetido pois

mesmo que assim o desejasse natildeo seria competente por ser mero executor material O

Presidente do TRE sendo o ordenador de despesas assume a responsabilidade e

deveria estar no poacutelo passivo nesta demanda judicial

Este caso eacute deveras especiacutefico pois a questatildeo relacionada aos tribunais

diverge de outras situaccedilotildees onde seria possiacutevel responsabilizar o chefe do setor de

recursos humanos haja vista a possibilidade de delegaccedilatildeo de responsabilidade dentro

da estrutura administrativa do oacutergatildeo

Haacute tambeacutem a situaccedilatildeo dos quadros de pessoal das autarquias e

fundaccedilotildees puacuteblicas do Poder Executivo da Uniatildeo e administraccedilatildeo direta gerenciada

por um oacutergatildeo ligado ao Ministeacuterio da Administraccedilatildeo Federal e Reforma do Estado -

MARE (Lei 908295 art 36 Medida Provisoacuteria 134296 art 14 aliacutenea f Decreto

1412 de 070395 e Portaria 978 de 270396 do MARE Aqui observa-se a retirada

da competecircncia para o MARE e a respectiva autoridade coatora natildeo para o executor

material da ordem

Para fins de competecircncia antes de dirigir-se ao caso em tela eacute mister

esclarecer que a fixaccedilatildeo do juiacutezo competente independe da natureza do ato Deve ser

levado em conta a sede e categoria funcional da autoridade Acrescente-se que o fato de

o Mandado ser impetrado por exemplo perante as Justiccedilas Trabalhista ou Eleitoral natildeo

modifica a sua denominaccedilatildeo posto que eacute regido pelas mesmas normas e a diferente

competecircncia natildeo modifica a essecircncia do instituto

Deve entatildeo neste caso objeto de nossa anaacutelise o writ ser impetrado

perante o proacuteprio TRE contra seu Presidente em face da autonomia administrativa

pois competente eacute a sede funcional a qual pertence a autoridade coatora

Finalizando a soluccedilatildeo neste Mandado eacute a extinccedilatildeo do processo sem

julgamento de meacuterito posto que a autoridade foi erroneamente apontada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

COGAN JOSEacute DAMIAtildeO PINHEIRO MACHADO - Mandado de

Seguranccedila na Justiccedila Criminal e Ministeacuterio Puacuteblico - Saraiva 2 a ediccedilatildeo - Satildeo Paulo

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Mandado de Seguranccedila - Editora do Rio Grande do Norte - CERN NatalRN1984

FERRAZ SEacuteRGIO - Mandado de Seguranccedila ( individual e coletivo)

Aspectos Polecircmicos - Malheiros 2a ediccedilatildeo - Satildeo Paulo

MEIRELLES HEL Y LOPES - MANDADO DE SEGURANCcedilA -

Accedilatildeo Popular Accedilatildeo Civil Puacuteblica Mandado de Injunccedilatildeo Habeas Datardquo - Editora RT

13aediccedilatildeo Satildeo Paulo 1992

VELLOSO CARLOS MAacuteRIO DA SILVA - Conceito de Direito

Liacutequido e Certo - em Curso de Mandado de Seguranccedila

Pareceres em Mandado de Seguranccedila

PINHEIRO FILHO FRANCISCO XAVIER - Procurador Regional da

Repuacuteblica no Rio Grande do Norte Processo nordm 960006286-2 setembro de 1996

TEIXEIRA ANTOcircNIO EDIacuteLIO MAGALHAtildeES - Procurador da

Repuacuteblica no Rio Grande do Norte Processo nordm 960006645 - O outubro de 1996

Eacute A JUSTICcedilA A REAL META DO DIREITO

Roberto Di Sena Junior

Acadecircmico do 2ordm periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES

Antes de respondermos agrave pergunta aparentemente simples acima

proposta devemos abordar temas que nos forneccedilam o embasamento teoacuterico necessaacuterio agrave

correta soluccedilatildeo dessa questatildeo Primeiramente devemos saber o que o Direito eacute para

em seguida podermos especular sobre qual eacute sua finalidade Essa eacute uma tarefa

extremamente complexa visto que muitas satildeo as definiccedilotildees e acepccedilotildees da palavra

DIREITO natildeo obstante a isso tentaremos ultrapassar esse toacutepico sem muitas

controveacutersias se eacute que isso eacute possiacutevel (Definitio est initium omni disputatiom)

O CONCEITO DE DIREITO

Mesmo salientando que uma uacutenica definiccedilatildeo eacute incapaz de revelar todas

as diversas facetas da palavra DIREITO Paulo Nader tenta defini-Io como sendo o

conjunto de normas de conduta social imposto coercitivamente pelo Estado para a

realizaccedilatildeo da seguranccedila segundo criteacuterios de justiccedilardquo Este conceito do meu ponto de

vista eacute deveras peculiar haja vista explicitar a finalidade do Direito e o meio (o uacutenico

salienta-se) atraveacutes do qual este pode ser concretizado Outro conceito que merece ser

destacado no presente artigo eacute Dante Alighieri no qual ele diz ldquojus est realis al

personalis hominis ad hominem proportio qual servata societatim servate corrupta

corrumptirdquo1 Em ambos os conceitos nota-se a relaccedilatildeo direta entre Direito e o

estabelecimento da ordem e a manutenccedilatildeo da paz social Contrapondo as colocaccedilotildees

anteriores poderia ser invocada a definiccedilatildeo do famoso jurista Celso para o qual o

Direito eacute a arte do bom e do justo Essa definiccedilatildeo entretanto soa-me por demais

abstrata e para isso haacute uma explicaccedilatildeo os romanos assim como os gregos natildeo

diferenciavam Direito Moral Religiatildeo e Regras de Trato Social diferentemente do

que acontece contemporaneamente Este posicionamento por muitos de caraacuteter

positivista explico entretanto que natildeo o eacute pois os adeptos desta corrente limitam o

conceito de Direito agravequilo que estaacute conforme a lei (jus = lex) ou seja ao que eacute liacutecito

relaccedilatildeo esta cujos enunciados acima natildeo se propotildeem a fazer

Transpondo a fase da definiccedilatildeo de Direito que certamente muitos

discordaratildeo do que foi anteriormente exposto passemos para o segundo poreacutem mais

controvertido item

A ABSTRACcedilAtildeO DO CONCEITO DE JUSTICcedilA

Muito se fala sobre a justiccedila e de sua importacircncia para o Direito poreacutem

quando se trata de defini-Ia quase sempre se recorre a enunciados abstratos e de certa

forma inaplicaacuteveis agrave concretude da realidade cotidiana

A concepccedilatildeo claacutessica geralmente invocada pelos juristas atuais foi

formulada por Ulpiano na Roma antiga Para ele a justitia est constans et perpetua

voluntas jus suum unique tribuendi2 Sabe-se entretanto que esta eacute uma visiacutevel

expressatildeo da separaccedilatildeo social das classes entre dominantes e espoliados Assim explica

o jurista Joatildeo Mangabeira porque se a justiccedila consiste em dar a cada um o que eacute seu

decirc-se ao pobre a pobreza ao miseraacutevel a miseacuteria ao desgraccedilado a desgraccedila que isto eacute

o que eacute deles ()rdquo Se este conceito natildeo serve para definir a justiccedila seria entatildeo o de

Aristoacuteteles o ideal A saber a justiccedila eacute a observacircncia do meio termo enquanto a

injusticcedila se relaciona com os extremos Como poderiacuteamos pocircr em praacutetica tal

concepccedilatildeo Muitos condenam a pena de morte qual seria entatildeo o meio termo para a

soluccedilatildeo deste conflito O que seria justo nesse caso

Isto posto vemos a justiccedila por ser uma ideacuteia abstrata (inatingiacutevel) natildeo

pode ser o fim de uma ciecircncia concreta como o Direito que regulamenta a vida de todos

os indiviacuteduos de uma sociedade A justiccedila tal qual sua real influecircncia que exerce sobre

o Direito poderia ser entatildeo de forma mais plausiacutevel e concreta definida como sendo o

respeito pelas expectativas compreendidas na vida em sociedade na qual cada ser

humano tenha a possibilidade de desfrutar de existecircncia social e econocircmica completa e

igual Devemos entretanto atentar para o fato de que como disse Rousseau agrave falta de

sanccedilatildeo natural satildeo vatildes as leis de justiccedila entre os homens Cabe aos juristas entatildeo

aplicar LEGIacuteTIMAS3 atraveacutes de meios justos para se atingir a meta do Direito o fim

para o qual este foi criado a seguranccedila e a manutenccedilatildeo da paz social sem as quais os

1 ldquoOu seja Direito eacute a proporccedilatildeo real e pessoal de homem para homem que conservada

conserva a sociedade e que destruiacuteda a destroacuteirdquo 2 Isto eacute justiccedila eacute a constante e firme vontade de dar a cada um o que eacute seu

3 A legitimidade das leis eacute um assunto de importacircncia salutar que no entanto natildeo nos interessa

diretamente

seres humanos natildeo poderiam satisfazer seu appetitus societatis Explicando que a

manutenccedilatildeo da ordem e da paz natildeo implicam necesssariamente na manutenccedilatildeo do

status quo o qual sendo injusto deve certamente ser alvo implacaacutevel do Direito a

fim de sua superaccedilatildeo

A SEGURANCcedilA JURIacuteDICA

A seguranccedila com a conotaccedilatildeo acima exposta natildeo pode ser

compreendida meramente como a existecircncia de uma ordem juriacutedica isto eacute o

conhecimento do que eacute liacutecito e iliacutecito Estaacute em seu mais amplo sentido haja vista o

niacutevel social alcanccedilado pelo homem natildeo eacute soacute um fato eacute tambeacutem sobretudo um valor

A preservaccedilatildeo da paz social deve ser a meta do Direito posto que foi

com essa finalidade que ele foi criado natildeo podemos eacute claro chegar ao extremo de

compartilhar da opiniatildeo de Goethe que disse prefiro a injusticcedila agrave desordem A

seguranccedila plena eacute necessaacuteria mas ela soacute se sustenta se erguida sobre os firmes

alicerces da justiccedila

Concordamos portanto com o jurista cubano Camus quando disse que

entre justiccedila e seguranccedila existe uma muacutetua compenetraccedilatildeo sendo de absoluta

necessidade a coexistecircncia de ambos para o desenvolvimento ordenado de uma

sociedade civilizada

O homem natildeo eacute auto-suficiente nem no plano material nem no

espiritual Ele eacute um animal extremamente inseguro e dependente sendo a seguranccedila e

a estabilidade uma aspiraccedilatildeo comum a

todos indistintamente

Eacute este portanto o grande dilema do Direito a conciliaccedilatildeo entre justiccedila

e seguranccedila plena natildeo se podendo conceber esta sem aquela

CONCLUSAtildeO

Chegamos entatildeo agrave conclusatildeo de que o Direito tendo em vista sua

determinaccedilatildeo histoacuterico-social tem por escopo a manutenccedilatildeo da paz e da ordem sociais

sendo a justiccedila o UacuteNICO MEIO atraveacutes do qual este objetivo pode ser alcanccedilado de

forma plena e duradoura O Direito surgiu naturalmente como uma necessidade para

que os homens pudessem viver em sociedade sendo sua funccedilatildeo limitar a conduta de

indiviacuteduos que eventualmente possam colocar em risco a paciacutefica coexistecircncia coletiva

O Direito assim como o Estado surge como garantia juriacutedica social e poliacutetica contra o

medo que os sujeitos sociais tecircm dos outros sujeitos sociais os quais atraveacutes de contrato

firmado mutuamente entre si abdicam de certos direitos individuais em prol da

satisfaccedilatildeo de sua natural necessidade de viver em sociedade A inexistecircncia do Direito

nas sociedades modernas teria por consequumlecircncia a regressatildeo do homem a seu mais baixo

niacutevel de civilidade no qual eles viveriam num estado como o descrito por Hobbes de

bellum omnium contra omnes visto que soacute consegue realizar seu destino moral

quando inserido numa sociedade Isto posto vemos que apesar de bela a ideacuteia de ter a

justiccedila como finalidade do Direito eacute meramente ideoloacutegica Eacute claro que estando o

Direito inserido no campo das ciecircncias sociais onde nenhum conhecimento pode ser

tido como absoluto as opiniotildees contidas neste artigo satildeo perfeitamente passiacuteveis de

contestaccedilatildeo natildeo se tomando apesar disso invaacutelidas

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ARISTOacuteTELES Eacutetica a Nicocircmacos (Trad KURY Maacuterio da Gama) 2

ed Brasiacutelia Eunb

BEVILAacuteQUA Cloacutevis Obra filosoacutefica II - Filosofia social e juriacutedica Satildeo

Paulo Edusp 1975

GUSMAtildeO Paulo Dourado de Introduccedilatildeo ao Estudo do Direito 18 ed

Rio de Janeiro Forense 1995

LYRA FILHO Roberto O Que eacute Direito 5 ed Satildeo Paulo Brasiliense

1985 MENEZES Djacir Filosofia do Direito Rio de Janeiro Rio 1975

NADER Paulo Introduccedilatildeo ao Estudo do Direito Rio de Janeiro

Forense 1985

PLATAtildeO A Repuacuteblica (Trad PEREIRA Maria Helena da Rocha) 3

ed Satildeo Paulo FCG

POUND Roscoe Justiccedila conforme a lei Satildeo Paulo Ibrasa 1965

REALE Miguel Noccedilotildees preliminares de Direito 5 ed Satildeo Paulo

Saraiva 1978

ROUSSEAU Jean-Jacques O contrato social e outros escritos 4 ed Satildeo

Paulo Cultrix

COMENTAacuteRIOS Agrave LEI QUE REGULAMENTA A PRODUCcedilAtildeO

DE PROVAS MEDIANTE INTERCEPTACcedilAtildeO DE COMUNICACcedilOtildeES

ROSSANA DE AR4UacuteJO ROCHA

Acadecircmica do 6deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

INTRODUCcedilAtildeO

Depois de quase oito anos de vigecircncia da mais recente Constituiccedilatildeo

Federal brasileira foi publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 25 de julho do corrente

a Lei na 9296 de 24 de julho de 1996 que regulamenta o inciso XII parte final do

artigo 50 dessa Carta Magna

O inciso do qual a lei se refere tem aqui a sua redaccedilatildeo

Ar 5deg

XIl- eacute inviolaacutevel o sigilo da correspondecircncia e das comunicaccedilotildees

telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no

uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei

estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo

processual pena1

A regulamentaccedilatildeo desse inciso define as hipoacuteteses e formas em que

poderaacute ser violado o sigilo de comunicaccedilotildees telefocircnicas que por sinal a lei incluiu

outros tipos que natildeo estatildeo previstos no inciso para o colhimento de informaccedilotildees ligadas

ao fato delituoso que poderatildeo servir como provas que atendam os objetivos de uma

investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penal

Esta lei possui certa relevacircncia pois antes de ter entrado em vigor

muitos dos magistrados se sentiam desconfortaacuteveis ou se viam impossibilitados em

autorizar tal produccedilatildeo de provas o que dificultava intensamente o trabalho daqueles que

defendem toda uma sociedade contra atos criminosos de certos indiviacuteduos apesar da

existecircncia de doutrina e jurisprudecircncia favoraacuteveis

1 Constituiccedilatildeo Federativa da Repuacuteblica do Brasil de 05 de outubro de 1988

Prestando maior atenccedilatildeo no que jaacute foi dito eacute valioso notar que os nossos

atuais legisladores se preocuparam em incluir e proteger os novos tipos de

comunicaccedilotildees provenientes de avanccedilos tecnoloacutegicos que chegam constantemente ao

nosso paiacutes quando incluiacuteram a ldquo interceptaccedilatildeo do fluxo de comunicaccedilotildees em sistema

de informaacutetica e telemaacutetica (art 1deg paraacutegrafo uacutenico da Lei 929696) ao lado das

comunicaccedilotildees telefocircnicas Vejamos o artigo mencionado

Art 1ordm A interceptaccedilatildeo de comunicaccedilotildees telefocircnicas de qualquer

natureza para prova em investigaccedilatildeo criminal e em instruccedilatildeo

processual penal observaraacute o disposto nesta Lei e dependeraacute de

ordem do juiz competente da accedilatildeo principal sob segredo de justiccedila

Paraacutegrafo uacutenico o disposto nesta Lei aplica-se agrave interceptaccedilatildeo de

fluxo de comunicaccedilotildees em sistemas de informaacutetica e telemaacutetica

Ocorreu desse modo uma evoluccedilatildeo no pensamento dos

legisladores pela precisatildeo de suprir as necessidades decorrentes dos novos tempos

Portanto conclui-se a partir dessa evoluccedilatildeo que os legisladores constitucionais natildeo

contavam com o raacutepido avanccedilo tecnoloacutegico especificamente o da Informaacutetica e da

Telemaacutetica cujo grande expoente atual eacute a Internet a nova coqueluche mundial em

termos de comunicaccedilatildeo que chegou em nosso paiacutes no ano de 1992 abrangendo apenas

o meio acadecircmico e que somente enveredou-se no acircmbito comercial a partir do ano de

1995 Sem falar em outras formas de comunicaccedilatildeo via sistemas de computador

Vale lembrar que no inciso XII do art 5deg da nossa Lei Maior somente

as comunicaccedilotildees telefocircnicas poderiam ser passiacuteveis de interceptaccedilotildees para a

produccedilatildeo de provas mediante autorizaccedilatildeo judicial Exceccedilatildeo identificada na parte em

que o legislador escreveu ldquo salvo em uacuteltimo caso

Poreacutem muitos podem afirmar que a Lei 929696 eacute inconstitucional

por natildeo estarem previstas a Informaacutetica e Telemaacutetica no inciso XII do art 5deg da

Constituiccedilatildeo Federal Mas se pensarmos bem a informaacutetica e a Telemaacutetica podem

ser consideradas como ramificaccedilotildees das comunicaccedilotildees telefocircnicas por poderem

utilizar a via telefocircnica para efetuar os seus transportes de informaccedilotildees

A Internet e o fax por exemplo necessitam do canal telefocircnico para

poderem executar suas funccedilotildees de comunicaccedilatildeo

Desse modo estariacuteamos regredindo ao limitarmos a nossa compreensatildeo

em relaccedilatildeo ao que estaacute precisamente escrito no inciso constitucional entendendo que soacute

as comunicaccedilotildees telefocircnicas tem o ldquostatus de exceccedilatildeo

Outrossim natildeo se deve entender como uma agressatildeo agrave nossa Lei Maior o

fato de terem sido incluiacutedas novas espeacutecies de comunicaccedilatildeo mas sim como uma

complementaccedilatildeo necessaacuteria para natildeo fincarmos os peacutes de vez na idade da pedra em

relaccedilatildeo ao resto do mundo

Omissotildees agrave parte a discussatildeo sobre a exclusatildeo das outras formas de

comunicaccedilatildeo previstas no inciso constitucional em relaccedilatildeo a possibilidade de sofrerem

quebra justificaacutevel de sigilo merece maiores reflexotildees em separado devido a existecircncia

de complexidade peculiar Portanto natildeo seratildeo aqui abordadas

Feitos os devidos esclarecimentos deparamo-nos com a discussatildeo maior

que eacute o conflito de princiacutepios e consequumlentemente de direitos presentes em nossa

sociedade

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

A discutida lei e o inciso que a fundamentou mereceriam maiores

elogios caso natildeo existisse o conflito entre dois direitos primordiais presentes em nossa

sociedade que satildeo o direito agrave intimidade e o interesse social

Qual desses direitos julgamos o mais importante

Tarefa difiacutecil somente facilitada quando se pode analisar cada caso

especiacutefico Procedimento natildeo tatildeo utilizado por noacutes

Deve-se repetir que eacute louvaacutevel em termos o que estaacute escrito tanto no

dispositivo constitucional como na lei ordinaacuteria cujas essecircncias visam a proteger a

individualidade de cada cidadatildeo Afinal todos noacutes temos direito a usufruirmos de nossa

proacutepria intimidade Precisamos dela

Mas temos o direito de valermos-nos desta como um esconderijo ao

prejudicarmos pessoas inocentes Ai estaacute caracterizado o impasse pois se defende e

com razatildeo o direito de cada indiviacuteduo proteger a sua intimidade em oposiccedilatildeo agrave vontade

de muitos de terem ciecircncia de atos e fatos que natildeo lhes competem Todavia em

contrapartida faz-se imprescindiacutevel a notoriedade em relaccedilatildeo a atos e fatos nocivos agrave

sociedade como tambeacutem de quem os provocou para que sejam eficazmente anulados os

prejuiacutezos decorrentes de tais condutas

Nesse uacuteltimo caso falamos especificamente de todos que usam de meios

criminosos para obterem vantagens agraves custas de um sem nuacutemero de inocentes e que

acabam tendo os seus atos e suas identidades acobertadas pela lei

Esses natildeo podem usufruir do direito agrave intimidade da mesma maneira que

as pessoas de bem usufruem Deve-se sacrificar desse modo a privacidade do

criminoso a fim de que esse seja responsabilizado pelos seus atos

Surge entatildeo uma nova pergunta seria melhor proteger mil pessoas ou

uma soacute

Muitos poderiam argumentar que a Lei ndeg 929696 foi elaborada com

esse fim ou seja proteger os inocentes e chegar ao reconhecimento dos delinquumlentes

tendo como exemplo os arts 20 caput e incisos e 3deg caput e incisos aqui

apresentados

Art 2deg Natildeo seraacute admitida a interceptaccedilatildeo de comunicaccedilotildees

telefocircnicas quando ocorrer das hipoacuteteses

I - natildeo houver indiacutecios razoaacuteveis da autoria ou participaccedilatildeo em

infraccedilatildeo penal

Il- a prova puder ser feita por outros meios disponiacuteveis

III - o fato investigado constituir infraccedilatildeo penal punida no

maacuteximo com pena de detenccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Em qualquer hipoacutetese deve ser descrita com

clareza a situaccedilatildeo objeto da investigaccedilatildeo inclusive com a

indicaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos investigados salvo

impossibilidade manifesta devidamente justificada

Art 3deg A interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas poderaacute

ser determinada pelo juiz de oficio ou a requerimento

I- da autoridade policial criminal na investigaccedilatildeo

II- do representante do Ministeacuterio Puacuteblico na investigaccedilatildeo

criminal e na instruccedilatildeo processual penal

Haacute de se concordar que somente nas hipoacuteteses definidas em lei devam

existir as possibilidades de efetuar tais interceptaccedilotildees pois eacute inadmissiacutevel que qualquer

indiscutiacutevel inocente que poderia ser muito bem um vitima em potencial sofra tal

invasatildeo ou melhor dizendo violecircncia Haacute ainda a concordacircncia em relaccedilatildeo agraves pessoas

competentes que poderatildeo efetuar esse tipo de operaccedilatildeo Aleacutem do mais natildeo podemos

ficar do lado de grampeadores hackers crackers e qualquer outro tipo de invasor

de privacidade

Merece ressalva poreacutem o que estaacute disposto no inc 111 do art 2deg da

mencionada lei que proiacutebe as interceptaccedilotildees se a infraccedilatildeo penal que estiver sendo

investigada for punida no maacuteximo com a pena de detenccedilatildeo Este inciso deve ser

revisto pois muitas dessas infraccedilotildees penais satildeo altamente lesivas como por exemplo a

caluacutenia (art 138) a difamaccedilatildeo (art 139) a injuacuteria (art 140) a sonegaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo

de correspondecircncia (art 151 sect1deg inc I) a violaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo telegraacutefica

radiotelegraacutefica ou telefocircnica (art 151 sect inc li 111 e IV) a fabricaccedilatildeo fornecimento

aquisiccedilatildeo posse ou transporte de explosivos ou gaacutes toacutexico ou asfixiante (art 253) entre

outras

Mas aonde estaacute a verdadeira critica especifica sobre a Lei 929696

Bem muitos concordam que os maiores perigos satildeo aqueles que natildeo conhecemos ou

compreendemos

Segundo a lei soacute poderatildeo ser feitas interceptaccedilotildees nos casos em que

crimes jaacute tenham sido cometidos mas em muitos a tentativa de interceptar informaccedilotildees

importantes para o enriquecimento de investigaccedilotildees criminais e investigaccedilotildees

processuais penais natildeo mais possuem ecircxito por cuidados vaacuterios que os autores dos

crimes poderatildeo tomar para natildeo terem seus atos revelados ou serem eles proacuteprios

descobertos Perde-se desse modo a eficaacutecia de vaacuterias dessas tentativas pelo simples

fato de natildeo existirem viacutenculos que possam ser usados como provas

A nova lei eacute definitivamente limitadora natildeo no que se refere agraves

condiccedilotildees dos arts 2ordm e incs e 3dege incs mas por faltar a ela o caraacuteter preventivo e de

proteccedilatildeo ao princiacutepio da verdade real

DO CARAacuteTER PREVENTIVO

Natildeo eacute o objetivo apresentar aqui alguma foacutermula infaliacutevel de se evitar

que futuros crimes sejam desarticulados Foacutermulas que satildeo apresentadas como infaliacuteveis

merecem desconfianccedila Mas devemos abrir os horizontes para refletirmos se o que foi

determinado no passado estaacute surtindo efeitos positivos no presente Antes de mais nada

devemos observar o que estaacute disposto na nossa Constituiccedilatildeo para ver se ajustes

merecem ser feitos no tocante aos princiacutepios conflitantes Vejamos alguns exemplos de

procedimentos existentes de alguns governos no que se refere a interceptaccedilatildeo das

telecomunicaccedilotildees nos seus respectivos paiacuteses

O governo norte-americano atraveacutes da NSA (National Security Agency)

implantou um sistema de seguranccedila de comunicaccedilatildeo a partir de um programa de

computador para identificar conversaccedilotildees na Internet que se referissem ao Terrorismo

guerras traacutefico de drogas entre outros com o intuito de que planos criminosos contra a

Seguranccedila Nacional fossem descobertos e desarticulados2

Jaacute alguns usuaacuterios da rede das redes cansados de sofrerem constantes

invasotildees de Privacidade sentiram a necessidade de utilizar recursos da criptografia -

teacutecnica usada para transformar quaisquer tipos de informaccedilatildeo sejam eles um simples

texto imagens ou sons digitalizados em siacutembolos ininteligiacuteveis para pessoas que natildeo

tecircm autorizaccedilatildeo para visualizaacute-Ias - como forma de garantir o sigilo de suas mensagens

enviadas pelos canais inseguros e monitorados da Internet

Trata-se de ferramenta de proteccedilatildeo indubitavelrnente

eficaz em todo o mundo Tanto eacute que vai de encontro aos interesses de paiacuteses como a

Franccedila Iraque Paquistatildeo e Ruacutessia que proiacutebem o uso de qualquer tipo de Criptografia

pelos seus habitantes dentro dos seus limites territoriais como tambeacutem em relaccedilatildeo a

qualquer comunicaccedilatildeo entre esses e o mundo exterior3

Entendem aqueles paiacuteses que a criptografia eacute um empecilho ao

monitoramento de mensagens que poderiam conter Informaccedilotildees consideradas

perigosas isso talvez devido aos fortes esquemas dessa tecnologia que tomaram

impossiacutevel a decriptaccedilatildeo de tais mensagens e por conseguinte sua leitura e

monitoraccedilatildeo

Pelos motivos expostos o governo dos Estados Unidos da Ameacuterica

proiacutebe a exportaccedilatildeo de programas que contenham fortes esquemas de criptografia

Podemos observar portanto exemplos reais dos conflitos entre os

direitos individuais e os interesses comuns de uma naccedilatildeo

Embora o cidadatildeo individualmente sinta-se no direito de proteger a

privacidade de suas informaccedilotildees utilizando meacutetodos como a criptografia eacute dever dos

governos em geral combater atos criminosos em que sejam usados recursos das

telecomunicaccedilotildees como meio de articulaccedilatildeo ou que usem esses mesmos recursos como

instrumento dessas accedilotildees criminosas

Portanto se meacutetodos criptograacuteficos forem utilizados tambeacutem para

favorecerem accedilotildees criminosas como a distribuiccedilatildeo de material de pornografia infantil

via Internet nunca o governo teraacute condiccedilotildees plenas de descobrir as peculiaridades de tal

accedilatildeo e se terceiros no caso menores estatildeo sendo explorados por pessoas que lucram

com essa atividade iliacutecita

O uacuteltimo grande incidente envolvendo o exemplo supracitado ocorreu

recentemente na Internet envolvendo usuaacuterios espalhados por vaacuterios paiacuteses que

2 SCHNEIER Bruce E-Mail Security Wiley 1995

3 Informaccedilatildeo adquirida via Internet Listas de discussatildeo

receberam em suas caixas de correio eletrocircnico mensagens que ofereciam a aquisiccedilatildeo

desse tipo de material insinuando nas primeiras linhas que tais pessoas eram

consideradas apreciadoras de tal espeacutecie de pornografia afirmaccedilatildeo essa totalmente

inveriacutedica Portanto tais mensagens provocaram indignaccedilatildeo em grande parte desses

destinataacuterios que decidiram telefonar para o Departamento de Poliacutecia de Nova York O

FBI foi contactado e as investigaccedilotildees feitas por esse oacutergatildeo descobriram o endereccedilo

eletrocircnico supostamente usado para enviar essas mensagens Mas isso natildeo significa que

o esse caso jaacute estaacute concluiacutedo As investigaccedilotildees continuam graccedilas agrave poliacutetica de proteccedilatildeo

ao bem comum4

Os exemplos satildeo especiacuteficos para a Informaacutetica e Telemaacutetica mas essas

aacutereas natildeo detecircm unicamente os meacutetodos de seguranccedila preventiva As comunicaccedilotildees

telefocircnicas tambeacutem podem dispor de proteccedilatildeo Aleacutem disso haacute a necessidade desses

paiacuteses de usar tais artifiacutecios para proteger seus povos e territoacuterios

O nosso paiacutes natildeo eacute obrigado a seguir fielmente esse tipo de

procedimento e sim adequaacute-lo a fim de preservar a seguranccedila de seu territoacuterio e do

povo brasileiro Mas o que importa em toda essa discussatildeo sobre a violaccedilatildeo ou natildeo das

comunicaccedilotildees eacute a urgecircncia em viabilizar operaccedilotildees preventivas a fim de desvendar

planos criminosos e proteger a intimidade de pessoas inocentes como mais um

instrumento contra a criminalidade que em relaccedilatildeo a nossa sociedade revela-se atraveacutes

de crimes como o sequumlestro o traacutefico de entorpecentes entre muitos outros

Seria maravilhoso se todas as vezes em que houvesse a necessidade de se

fazer as mencionadas interceptaccedilotildees jaacute existisse uma autorizaccedilatildeo judicial para validaacute-

las Mas o caraacuteter temporal por muitas vezes influi no desenrolar dos fatos e na eficaacutecia

da accedilatildeo esclarecedora

DA PROTECcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DA VERDADE REAL

No que pertine ao princiacutepio da verdade real antes mesmo de esclarececirc-

lo faz-se mister ter uma ideacuteia do que seja o problema da admissibilidade da prova

iliacutecita

Por prova numa geneacuterica definiccedilatildeo entende-se que eacute o resultado da

produccedilatildeo de um estado de clareza de certeza na consciecircncia do juiz para que seja

indiscutiacutevel o entendimento a conclusatildeo da veracidade de um fato ocorrido e de quem o

cometeu

As provas iliacutecitas satildeo uma espeacutecie do gecircnero que a doutrina chama de

provas inadmissiacuteveis cujo grupo tambeacutem faz parte as provas ilegiacutetimas

As provas ilegiacutetimas contrariam as normas de natureza processual jaacute as

provas iliacutecitas contrariam as normas de natureza material

Com maior clareza diferencia Nuvolone quando afirma que em relaccedilatildeo

as provas ilegiacutetimas a proibiccedilatildeo tem natureza exclusivamente processual quando for

colocada em funccedilatildeo de interesses atinentes agrave loacutegica e agrave finalidade do processo tem

pelo contraacuterio as provas iliacutecitas natureza substancial quando embora sendo

mediatamente tambeacutem os interesses processuais eacute colocada essencialmente em funccedilatildeo

dos direitos que o ordenamento reconhece aos indiviacuteduos independentemente do

4 Informaccedilatildeo adquirida via Internet THE TOUR BUS - Lista de discussatildeo

processordquo5

Devemo-nos ater com maior atenccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave prova iliacutecita pois eacute

essa a espeacutecie usada para classificar no caso em questatildeo as interceptaccedilotildees de

comunicaccedilotildees telefocircnicas de informaacutetica e de telemaacutetica propositadas para servirem de

meio que ajude ao magistrado obter a conclusatildeo pela veracidade do fato a ser julgado

como tambeacutem do seu suposto autor mas que natildeo possuem autorizaccedilatildeo de juiz

competente na forma da lei

As provas iliacutecitas no tocante agraves interceptaccedilotildees satildeo assim definidas

quando da ausecircncia de autorizaccedilatildeo judicial havendo portanto a caracterizaccedilatildeo de

atentado aos direitos e liberdades fundamentais do indiviacuteduo e por consequumlecircncia a sua

intimidade

Apesar de cumpridos os requisitos necessaacuterios para que se possa fazer a

interceptaccedilatildeo a intenccedilatildeo de produccedilatildeo da prova e consequentemente a sua

admissibilidade pelo magistrado esbarra na ilicitude caso Inexista preacutevia autorizaccedilatildeo

judicial

Entatildeo podemos nos perguntar pela ausecircncia da aplicaccedilatildeo dos princiacutepios

da liberdade de admissatildeo da prova e o da verdade real quando a autorizaccedilatildeo judicial

natildeo existir ou natildeo tiver sido requerida a tempo

Discorrendo sobre esse uacuteltimo afirma Mirabete que com o princiacutepio da

verdade real se procura estabelecer que o jus puniendi somente seja exercido contra

aquele que praticou a infraccedilatildeo penal e nos exatos limites de sua culpa numa

investigaccedilatildeo que natildeo encontra limites na forma ou na iniciativa das partes Com ele se

exclui os limites artificiais da verdade formal eventualmente criado por atos ou

omissotildees das partes presunccedilotildees ficccedilotildees transaccedilotildees etc tatildeo comuns no processo

civilrdquo6

Vemos entatildeo que o princiacutepio da verdade real traduz a essecircncia do

processo penal de buscar a pureza da verdade de um fato especiacutefico e de quem o criou

Nobre pretensatildeo da Justiccedila que se enfraquece toda vez que se depara

com certas barreiras princiacutepio-normativo encontradas na Constituiccedilatildeo Federal bem

como nas leis ordinaacuterias

Apesar disso tudo despontam notaacuteveis reflexotildees em defesa do proacuteprio

principio da verdade real pelo bem da coletividade contra a impunidade dos

criminosos podendo muitas delas serem encontradas no que defende a teoria da

proporcionalidade em relaccedilatildeo as provas iliacutecitas

A teoria mencionada visa colocar na balanccedila os direitos individuais e os

interesses sociais com o fim de proteger o bem juriacutedico que possuir maior releveacute1ncia

em cada situaccedilatildeo concreta

Ao tomar partido interpreta-se que essa teoria permite a viabilidade de

proteccedilatildeo dos interesses sociais frente aos individuais quando o uacuteltimo servir de

imunidade a um transgressor da lei contra a coletividade

Como assim A teoria da proporcionalidade reconhece quando uma

prova eacute caracterizada como iliacutecita mas admite a sua produccedilatildeo quando o interesse social

for considerado de maior validade

5 Nuvolone apud GRINOVER Ada Pelegrini Liberdades Puacuteblicas e Processo Penal as interceptaccedilotildees telefocircnicas 2 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1982 p 97

6 MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo Penal 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1994 p 45

Reflitamos sobre as palavras de Paulo Luacutecio Nogueira quando diz que a

teoria da proporcionalidade eacute perfeitamente defensaacutevel pois tendo em vista o interesse

social ou puacuteblico deve este prevalecer sobre o privado que de modo algum merece ser

resguardado pela tutela legal quando o particular fez mau uso do seu direitordquo7

Apesar de dedicada defesa a esse tipo de prova eacute importante esclarecer

que as produccedilotildees de provas mediante interceptaccedilotildees das comunicaccedilotildees previstas na Lei

ndeg 929696 natildeo satildeo consideradas aqui como as uacutenicas para que se chegue a conclusatildeo

da verdade Sendo necessaacuterias deveratildeo compor o grupo de provas em juiacutezo que

ajudaratildeo na conclusatildeo do juiz quando este vier a sentenciar ou na dos jurados quando o

crime pertencer a competecircncia do Tribunal do Juacuteri

No caso de serem consideradas iliacutecitas caberaacute ao juiz competente a

partir de sua experiecircncia e entendimento admiti-las ou natildeo ao contraacuterio de se prender

ao que estaacute limitado em lei Pois o que importa realmente eacute o prevalecimento de

verdade sem vicias da verdade real

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo eacute o pensamento banalizar os direitos individuais e muito menos

prejudicar a integridade de sua proteccedilatildeo em prol dos interesses sociais

O objetivo almejado eacute natildeo deixar que a acircnsia pela verdade real seja

destruiacuteda deixando oacuterfatildeos os que sonham cada vez mais chegar perto de uma justiccedila

que natildeo deixe rastros duvidosos

Portanto devemos visar ao maacuteximo uma aproximaccedilatildeo do ainda utoacutepico

equiliacutebrio entre esses dois interesses em conflito o individual e o coletivo Ai sim os

direitos Individuais deixaratildeo de ser exageradamente valorizados quando servirem de

proteccedilatildeo aos que fizerem mau uso de seus direitos como os interesses sociais deixaratildeo

de ser tatildeo esquecidos e mal compreendidos

A conclusatildeo oacutebvia do pensamento aqui exposto eacute de que os interesses da

sociedade devem ser priorizados quando esta for lesionada em detrimento de

pretensotildees criminosas de alguns indiviacuteduos Natildeo poderia ser diferente

Mas antes de criticar a lei ordinaacuteria deve-se compreender em que

ambiente esta foi criada Entatildeo faz-se necessaacuteria uma reavaliaccedilatildeo da importacircncia dada a

cada princiacutepio normativo nas situaccedilotildees em que dispensam maior influecircncia

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de

1988 Lei ndeg 9296 de 24 de julho de 1996 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 25 de julho de

1996

GRINOVER Ada Pelegrini Liberdades Puacuteblicas e Processo Penal as

interceptaccedilotildees telefocircnicas 2

7 NOGUEIRA Paulo Luacutecio Curso Completo de Processo Penal 1600 Slio Paulo Saraiva

1994 169

ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1982

MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo Penal 3 ed Satildeo Paulo Atlas

1994

NOGUEIRA Paulo Luacutecio Curso Completo de Processo Penal 16 ed

Satildeo Paulo Saraiva 1994

SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo Satildeo

Paulo Malheiros 1994

SHNEIER Bruce E-Mail Securitv Wiley 1995

QUEM ASSUME A TITULARIDADE DE UMA PREFEITURA

CASO O PREFEITO ELEITO VENHA A FALECER ANTES DA

DIPLOMACcedilAtildeO

Sivanildo de A Dantas

Bacharelando do Curso de Direito da UFRN

O tema sobre a questatildeo de se saber quem teria a titularidade para assumir

a vaga de uma prefeitura caso o candidato eleito para prefeito venha a falecer antes da

diplomaccedilatildeo tem sido fonte inesgotaacutevel de polecircmicas a ponto de se colocarem em

posiccedilotildees antagocircnicas nomes de real valor no cenaacuterio nacional

Restaria menos polecircmica se o candidato jaacute tivesse sido diplomado e

polecircmica natildeo haveria caso jaacute tivesse sido empossado

Este estudo examinando a questatildeo relacionada ao tiacutetulo supra referido

deve ser considerado como uma hipoacutetese geneacuterica e abstrata

Eacute bem verdade que a discussatildeo reside no fato de inexistir norma

especiacutefica que cuide do caso objetivamente Haacute uma omissatildeo legal Daiacute serem

aplicaacuteveis na espeacutecie os princiacutepios gerais do direito

Na falta de norma expressa para solucionar um caso concreto o juiz

deve se valer dos meacutetodos interpretativos da norma juriacutedica

As leis quando satildeo criadas natildeo prevecircem todas as hipoacuteteses que poderatildeo

surgir na realidade social ateacute porque o mundo real eacute muito rico em nuances faacuteticas

Cabe ao juiz entretanto suprir essas lacunas atraveacutes dos recursos que lhe oferecem o

Direito sem o que estaria impossibilitado de prestar a tutela jurisdicional agrave qual estaacute

obrigado jaacute que natildeo pode deixar de julgar um caso a pretexto de inexistir lei

Prevendo essas situaccedilotildees o legislador paacutetrio inseriu na Lei de Introduccedilatildeo

ao Coacutedigo Civil o art 4deg que apresenta as diretrizes para o preenchimento de lacunas de

direito

Art 4deg Quando a lei for omissa o juiz decidiraacute de acordo com a

analogia os costumes e os princiacutepios gerais do direito

Chama-se auto-integraccedilatildeo o processo de preenchimento de lacunas que eacute

feito com recursos e elementos do proacuteprio sistema juriacutedico por princiacutepios nele contidos

Quando se busca recurso no Direito Natural a integraccedilatildeo denomina-se

doutrinariamente de heterointegraccedilatildeo

A princiacutepio cabe alertar que o estudo de qualquer tema juriacutedico deve

partir da percuciente anaacutelise da estrutura loacutegica da norma juriacutedica e da relaccedilatildeo entre

hipoacutetese real e hipoacutetese normativa Soacute apoacutes eacute que podemos transpor as conclusotildees

abstratas para as inferecircncias do tema suscitado

O tema ora analisado eacute fundamentalmente de competecircncia

constitucional eleitoral e de teoria geral do direito

Diz a Constituiccedilatildeo Federal no seu art 10 paraacutegrafo uacutenico

Art 1deg omissis 1 omissis

11 omissis

111 omissis

IV omissis

1 omissis

paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por

meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta

Constituiccedilatildeo

No plano constitucional vecirc-se pois que o poder eacute exclusividade do

povo (e natildeo de um indiviacuteduo) sendo portanto um poder indisponiacutevel A ningueacutem

nem mesmo agrave maior autoridade ou oacutergatildeo do Paiacutes eacute dada a faculdade de lhes tirar

esse direito

A proacutepria conceituaccedilatildeo claacutessica de democracia como governo do

povo pelo povo pressupotildee a liberdade Poliacutetica dos homens no sentido de

reconhecer-Ihes essa Possibilidade de Autodeterminaccedilatildeo ao escolher seus

governantes

O art 14 da Constituiccedilatildeo Federal soacute vem a corroborar com o

entendimento acima esposado ver bis

ldquoArt 14 A soberania popular seraacute exercida pelo sufraacutegio

universal

O que se extrai desse versiacuteculo eacute que o povo eacute soberano nas suas

decisotildees e o primado da soberania popular subordina a atuaccedilatildeo do Estado agrave vontade da

sociedade A vontade do povo eacute sempre certa e se dirige sempre ao bem comum Ainda

eacute atraveacutes do sufraacutegio que o povo outorga legitimidade aos governantes

Corolaacuterio dessa posiccedilatildeo eacute o axioma de que o poder emana do povo e em

seu nome deveraacute ser exercido

O Direito criaccedilatildeo do homem foi concebido para ser interpretado natildeo

como um conjunto de normas e princiacutepios isolados mas sim dentro de um sistema

Na falta de norma especiacutefica o aplicador do Direito deveraacute buscar dentro

das regras de hermenecircutica aquela que melhor se adequa ao fato

Agora traccediladas essas consideraccedilotildees vejo-me obrigado a voltar agrave questatildeo

inicial deste articulado quem assumiria a titularidade de uma prefeitura caso o

candidato eleito para prefeito viesse a falecer antes da diplomaccedilatildeo Caberia aqui a esta

altura mais uma indagaccedilatildeo quem teria legitimidade para exercecirc-la

Nessa linha de entendimento a questatildeo da titularidade passa

necessariamente pela questatildeo da legitimidade haja vista que no Estado Democraacutetico de

Direito ser titular do poder eacute ter legitimidade para exercecirc-lo Portanto este eacute requisito

daquele De outro acircngulo a titularidade soacute eacute legitima quando eacute aceita por aqueles que a

legitimaram Ou quando aquele que a deteacutem a recebeu por justo tiacutetulo

Lembra bem Joseacute Afonso da Silva1 citando os ensinamentos de Norberto

Bobbio que o poder legiacutetimo eacute um poder cujo tiacutetulo eacute justo um poder legal eacute um

poder cujo exerciacutecio eacute justo se legiacutetimo

Por esse pensar a legitimidade leva agrave titularidade a titularidade agrave posse

a posse agrave justiccedila

A efetividade de um poder como prova de sua legitimidade surge

atraveacutes de um princiacutepio de Direito Natural todo poder emana de Deus Se Deus eacute o

povo vox populi vox Dei Portanto no nosso caso particular essa noccedilatildeo tradicional

assentada na vontade de Deus sai do abstrato para o concreto atraveacutes de processo de

escolha em eleiccedilatildeo

Eacute o que acontece em nosso Paiacutes a cada quatro anos quando os muniacutecipes

vatildeo agraves umas escolher aleacutem dos seus representantes na Cacircmara o prefeito e o vice-

prefeito

O procedimento de escolha atraveacutes do sufraacutegio universal pressupotildee um

tipo de lei baacutesica o Coacutedigo Eleitoral Eacute atraveacutes dele que se disciplina a eleiccedilatildeo para

prefeito e vice-prefeito No entanto lei especifica poderaacute ser criada em relaccedilatildeo a cada

eleiccedilatildeo

Carece de consideraccedilatildeo o fato de antes de iniciado o processo eleitoral

os candidatos a candidatos atraveacutes de seus filiados passam por uma eleiccedilatildeordquo dentro

do proacuteprio partido Satildeo as convenccedilotildees Recebem ali a aquiescecircncia dos seus

Correligionaacuterios para disputar o pleito

Para as eleiccedilotildees de 031 096 o Congresso Nacional criou em

290995 a Lei ndeg 9100 determinando no seu art 86 que o Tribunal Superior Eleitoral

expediraacute todas as instruccedilotildees que julgar necessaacuterias agrave sua execuccedilatildeo

Com a Resoluccedilatildeo ndeg 19509 de 180496 o Tribunal Superior Eleitoral

expediu instruccedilotildees para o registro de candidaturas Em seu art 10 sect 2deg esse ato

normativo assim dispotildee

sect 2deg O registro de candidato a Prefeito e Vice-Prefeito far-se-aacute

sempre em chapa uacutenica e indivisiacutevel (Coacutedigo Eleitoral art 91)

Vecirc-se pois que os candidatos a prefeito e a vice-prefeito ao se

registrarem perante a Justiccedila Eleitoral fazem-no de forma vinculada a uma chapa una

e indivisiacutevel Importando assim a eleiccedilatildeo do prefeito com a do vice-prefeito com ele

registrado Observe-se bem que o nome do vice-prefeito natildeo precisa nem mesmo

1 Da Silva Joseacute Afonso Curso de Direito Constitucional Positivo 8middot Ed Rev

sao Paulo Malheiros 1992 p371

constar na chapa ele (o nome) estaacute impliacutecito

Neste palmilhar temos que no dia 03 de outubro transato

aconteceram as eleiccedilotildees em todos os municiacutepios do Brasil onde foram sufragados

nas urnas atraveacutes do voto popular os prefeitos e os vice-prefeitos na conformidade

do que dispotildee o sect 10 do art 20 da lei especiacutefica dessas eleiccedilotildees

Art 2deg Seraacute considerado eleito Prefeito o candidato que

obtiver a maioria de votos natildeo computados os em branco e os

nulos

sect 1ordm A eleiccedilatildeo do Prefeito importaraacute a do Vice-Prefeito com

ele registradordquo

Claro estaacute ateacute aqui que a eleiccedilatildeo do prefeito gera a do vice-prefeito com

ele registrado de forma que eles tambeacutem estatildeo visceralmente entrelaccedilados quanto aos

direitos deveres e obrigaccedilotildees

Acontece que para o nosso estudo realizadas as eleiccedilotildees e proclamados

os resultados vindo um prefeito eleito a falecer geraria duacutevidas sobre quem teria

legitimidade para lhe suceder apenas pelo simples fato de inexistir norma legal

especiacutefica disciplinando a mateacuteria

Realmente apoacutes uma profunda pesquisa na legislaccedilatildeo eleitoral paacutetria

constata-se a inexistecircncia de norma especiacutefica disciplinando a mateacuteria

Nesse particular nova figura de interpretaccedilatildeo da norma juriacutedica deve ser

evocada Trata-se da analogia Pesquisando nos dicionaacuterios paacutetrios do mais erudito ao

mais simples vamos encontrar em resumo a seguinte definiccedilatildeo daquele vocaacutebulo eacute a

teacutecnica juriacutedica atraveacutes da qual se suprem as omissotildees da lei aplicando a uma

determinada relaccedilatildeo juriacutedica as normas de direito objetivo disciplinadoras de casos

semelhantes Ou ainda pontos semelhantes entre coisas diferentes

Como diz Sydney Sanches2

Analogia consiste em aplicar a uma hipoacutetese nifo prevista

especialmente em lei disposiccedilatildeo relativa a caso semelhante

Pressupotildee semelhanccedila de relaccedilotildees Mas o recurso agrave analogia exige a

concordacircncia dos seguintes requisitos a) eacute indispensaacutevel que o fato

considerado ou a relaccedilatildeo juriacutedica contratual natildeo tenha sido tratado

ou tratada especificamente pelo legislador b) este todavia regulou

situaccedilatildeo que apresenta certo ponto comum de contrato certa

coincidecircncia ou semelhanccedila com a natildeo regulada c) a regra adotada

pelo legislador para a situaccedilatildeo regulada levou em conta sobretudo

aquele mesmo ponto comum de coincidecircncia ou semelhanccedila com a

situaccedilatildeo natildeo regulada (em suma a ratio iuris deve ser a mesma para

ambas as situaccedilotildees)

2 Sanches Sydney Os contratos atiacutepicos no campo do Direito Privado Satildeo Paulo DCI coluna

Legislaccedilatildeo e Tribunais 06 e 07-04-88

Prosseguindo na anaacutelise da mateacuteria temos em simetria com o caso ora

ensaiado o seguinte dispositivo constitucional

Art 79 Substituiraacute o Presidente no caso de impedimento e

suceder-Ihe_aacute no de vaga o Vice-Presidenterdquo

E o paraacutegrafo uacutenico do art 78 da citada Carta verbis

Paraacutegrafo uacutenico Se decorridos dez dias da data fixada para a

posse o Presidente ou o Vice-Presidente salvo motivo de forccedila

maior natildeo tiver assumido o cargo este seraacute declarado vago

Temos pois por linha simeacutetrica que na vacacircncia do cargo de prefeito

o preenchimento da vaga se daraacute com a posse do seu Sucessor poliacutetico o vice-prefeito

Natildeo eacute outra a conclusatildeo a que se chega com esses dispositivos da Carta

Magna subsidiariam ente aplicaacuteveis

Em face desses fundamentos constitucionais que bem caracterizam a

sucessatildeo do prefeito pelo vice-prefeito necessaacuterio eacute analisar e aplicar com a

prudecircncia que o caso exige o seguinte Acoacuterdatildeo do TSE de nuacutemero 9080 de

280688 que sob a relatoria do Ministro Roberto F Rosas pontifica verbis

1 Prefeito lnelegibilidade Cassaccedilatildeo do diploma por abuso

do poder econocircmico Fatos ocorridos entre o registro e a

diplomaccedilatildeo

2 O Vice-Prefeito eacute eleito simultaneamente com o Prefeito

Natildeo haacute votaccedilatildeo em separado nem registros diversos

Contaminaccedilatildeo da chapa Vicias que se estendem ao Vice-

Prefeito Aplicaccedilatildeo do art 21 da LC nO 5 O Vice-Prefeito

natildeo assume com a cassaccedilatildeo do diploma do Prefeito

3 O falecimento do Prefeito natildeo determina a extinccedilatildeo do

processo A relaccedilatildeo juriacutedica processual permanece pois haacute

interesse juriacutedico em relaccedilatildeo ao Vice-Prefeito A demanda

eleitoral natildeo se esgota no interesse do Prefeito

Nesse caso vecirc-se que o vice-prefeito ficou maculado natildeo em

relaccedilatildeo a si proacuteprio mas como instituiccedilatildeo uma vez que

O abuso do Poder econocircmico Contribuiu para a sua vitoacuteria Eacute soacute

No mais se assim natildeo fosse a maacutecula recairia somente na pessoa do prefeito e o

vice-prefeito assumiria

Dentro desse contexto por linhas transversas lemos o seguinte acoacuterdatildeo

do TSE

I - Do fato juriacutedico Maioria de votos alcanccedilada por algum

candidato em eleiccedilotildees majoritaacuterias irradia-se imediata e

simultacircnea ou sucessivamente ao momento em que um soacute voto

caido na urna faz definitiva essa maioria efeitos juriacutedicos

inclusive direito subjetivo a atos de apuraccedilatildeo de votos de

resoluccedilatildeo de impugnaccedilotildees de expediccedilatildeo de boletins eleitorais e

de diplomaccedilatildeo

II - Dessas consideraccedilotildees tem-se que eleito o Vice-Prefeito eacute titular

de direitos subjetivos que se natildeo podem extinguir pelo fato da morte

do Prefeito com quem fora eleito

1I1 - Diz-se vago o cargo puacuteblico que natildeo tem titular ou que de

qualquer sorte natildeo estaacute ocupado Para que o Vice-Prefeito assuma o

cargo de Prefeito basta que esteja vago natildeo ocupado

independentemente da posse do Prefeito eleito com o Vice-Prefeito

assumente

IV - Recurso provido (Acoacuterdatildeo ndeg 6289 de 120477 Relator

Ministro Firmino Ferreira Paz)

Por tudo isso alegar a esta altura que o vice-prefeito natildeo foi eleito para

substituir o prefeito nas suas ausecircncias ou lhe suceder no caso de vaga eacute ignorar o

oacutebvio

Legalismo - Haacute ainda aqueles que sob a batuta do legalismo perguntam

e onde estaacute disciplinado isso na lei Para aqueles que buscam na lei respostas a todas as

indagaccedilotildees natildeo vatildeo encontrar Mas para aqueles que entendem ser a lei uma pequena

fraccedilatildeo do direito certamente encontraratildeo

Os princiacutepios contidos no ordenamento normativo poderatildeo sempre ser

invocados para aplicaccedilatildeo direta aos casos concretos mormente na ausecircncia de norma

especiacutefica

Neste particular Geraldo Ataliba3 invocando os ensinamentos do Mestre

Argentino Agustiacuten Gordillo doutrina que

Principio eacute norma (regra de conduta) eacute tambeacutem muito mais que isso

Os princiacutepios satildeo linhas mestras os grandes nortes as diretrizes

magnas do sistema juriacutedico Apontam os rumos a serem seguidos por

toda a sociedade e obrigatoriamente perseguidos pelos oacutergatildeos do

governo (poderes constituiacutedos)

Eles expressam a substacircncia uacuteltima do querer popular seus objetivos e

3 Geralda Ataliba Repuacuteblica e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo RT 1985

p 6-7

desiacutegnios as linhas mestras da legislaccedilatildeo da administraccedilatildeo e da

jurisdiccedilatildeo Por estas natildeo podem ser contrariados tecircm que ser

prestigiados ateacute as uacuteltimas consequumlecircncias

Em seguida cita Joseacute Afonso da Silva

O principio aponta a direccedilatildeo o sentido em que devem ser entendidas

as normas que nele se apoacuteiam e ressalta natildeo poder o inteacuterprete extrair

conclusatildeo que contrarie um princiacutepio lhe comprometa as Exigecircncias

ou lhe negue as naturais consequumlecircncias

Ensinam os juristas que o Princiacutepio de uma estrada eacute o seu ponto de

partida

Por tudo isso inexistindo lei que discipline o referido tema haacute de se

recorrer aos Princiacutepios do direito agrave Jurisprudecircncia etc

Segundo colocado - Para aqueles que defendem a tese do segundo

colocado ser o substituto natural de prefeito eleito mas falecido antes da diplomaccedilatildeo

Discordamos Pois faacutecil eacute reconhecer que natildeo se pode transformar em vitoacuteria uma

derrota O segundo colocado foi reprovado Natildeo passou no vestibular das umas O

eleitor atraveacutes do voto o desaprovou No entender dos eleitores ele natildeo estaacute preparado

para dirigir os rumos de sua comunidade O povo natildeo quis o segundo colocado e sim o

primeiro e quem o substitui e ou Sucede Politicamente Portanto em havendo rejeiccedilatildeo

ao segundo colocado natildeo haacute mais por que insistir nessa tese

Por fim que decepccedilatildeo natildeo teriam os muniacutecipes ao assistir agrave posse de

quem foi derrotado nas urnas

Por outra o segundo colocado natildeo tem nem mesmo uma expectativa

de direito uma vez que estaacute desclassificado

A duacutevida para os defensores dessa corrente talvez resida na errocircnea

interpretaccedilatildeo do sect 4deg do art 77 da Constituiccedilatildeo Federal verbis

Art 77 A eleiccedilatildeo do Presidente e do Vice-Presidente da Repuacuteblica

realizar-se-aacute simultaneamente noventa dias antes do teacutermino do

mandato presidencial vigente

sect 4deg Se antes de realizado o segundo turno ocorrer morte

desistecircncia ou impedimento legal de candidato convocar-se-aacute

dentre os remanescentes o de maior votaccedilatildeo

Como eacute faacutecil de se observar o dispositivo supra mencionado diz respeito

agravequeles municiacutepios onde haja segundo turno no caso destas eleiccedilotildees apenas nos

municiacutepios com mais de duzentos mil eleitores

O Coacutedigo Eleitoral eacute claro quando se refere agrave substituiccedilatildeo de candidato

por motivo de falecimento

Art 101 ornissis

sect 2deg Nas eleiccedilotildees majoritaacuterias se o candidato vier a falecer ou

renunciar dentro do periacuteodo de 60 (sessenta) dias mencionados no

paraacutegrafo anterior o partido poderaacute substituiacute-Ia se o registro do

novo candidato estiver deferido ateacute 30 (trinta) dias antes do pleito

seratildeo confeccionadas novas ceacutedulas caso contraacuterio seratildeo utilizadas

as jaacute impressas computando-se para o novo candidato os votos

dados ao anteriormente registrado

Observe-se bem que o legislador se preocupou com essa hipoacutetese pois

geraria duacutevidas se natildeo fosse normatizada face a inexistecircncia de substituto Quanto a

depois da eleiccedilatildeo duacutevida natildeo haacute pois se o fato vier a acontecer nessa fase o substituto

ou sucessor natural assume pois jaacute existe

A Lei ndeg 910095 por seu turno soacute vem a reforccedilar esse entendimento

Art 14 Amiddot facultado ao partido ou coligaccedilatildeo substituir candidato que

venha a ser considerado inelegiacutevel que renunciar ou falecer apoacutes o

termo final do prazo do registro ou ainda que tiver seu registro

indeferido ou cancelado (Grifos nosso)

Veja-se que em nenhum momento a lei Eleitoral preocupou-se em

disciplinar essa situaccedilatildeo apoacutes as eleiccedilotildees Ateacute porque essa hipoacutetese jaacute estaacute prevista na

Constituiccedilatildeo Federal sendo desnecessaacuterio e redundante repeti-la

As hipoacuteteses em que o segundo colocado venha a ocupar a primeira

colocaccedilatildeo se datildeo nos casos de recurso pendente de indeferimento de registro de

candidatura que venha a ser julgado e provido apoacutes a diplomaccedilatildeo recurso contra a

diplomaccedilatildeo e ainda atraveacutes de accedilatildeo de impugnaccedilatildeo de mandato eletivo esta uacuteltima

nova figura de impugnaccedilatildeo insculpida na Constituiccedilatildeo Federal (art 14 sect sect 10 e 11)

Fora dessas hipoacuteteses natildeo vislumbramos motivo suficiente para reverter a posiccedilatildeo do

segundo colocado para o de primeiro transformando uma derrota em vitoacuteria

contrariando frontalmente o princiacutepio da vontade soberana dos muniacutecipes

A ideacuteia que queremos firmar aqui eacute que natildeo se pode dar a algueacutem o

poder de tornar elegiacutevel quem foi derrotado nas urnas pelo povo Admitir-se que pode

seria a admissatildeo de que o suacutedito desfizesse a decisatildeo do soberano inadmissiacutevel a todas

as luzes

O povo deseja a justiccedila oficial justa conceito mais faacutecil de enunciar do

que definir a partir da certeza de que satildeo muitos os que conhecem o pouco dos modos

de realizar o justo no caso concreto

Vice eacute eleito para ser Vice - Com a devida vecircnia para os que esta causa

advogam entendo ser falsa essa afirmaccedilatildeo parecendo-me ser fruto de um saudosismo

que soacute a histoacuteria explica a uacuteltima eleiccedilatildeo que tivemos com votaccedilatildeo separada para

cargos do executivo e seu respectivo vice foi no inicio da deacutecada de 1960 Apoacutes passou

a ser casada numa mesma chapa como temos hoje Essa mudanccedila se deu em

decorrecircncia da crise institucional criada pelos militares pois natildeo aceitavam que Joatildeo

Goulart middot0 Jango Vice-Presidente de Jacircnio Quadros assumisse a presidecircncia da

Repuacuteblica quando da renuacutencia deste

O saudoso Hely lopes Meirelles4 na sua claacutessica obra Direito Municipal

Brasileiro doutrina O Vice-Prefeito eacute o substituto nos afastamentos e o sucessor no

caso de vaga do Prefeito Eleito permanece como titular de um mandato executivo e na

expectativa do exerciacutecio do cargo de Prefeitordquo (1)

A questatildeo agora se situa no campo da ldquoexpectativa do exerciacutecio do

cargo que natildeo haacute que se confundir com ldquoexpectativa de direito

Para a primeira expressatildeo o direito adquirido jaacute se consumou resta

apenas exercitaacute-lo o que se daraacute no nosso caso com a efetividade de um pressuposto a

condicionante faacutetica da vacacircncia do cargo de prefeito

Para a segunda temos que sem o abono de certeza e liquidez existe

expectativa de direito pois inexiste prazo certo e compulsoacuterio Expectativa de direito eacute

pois algo que antecede a aquisiccedilatildeo de um direito

Uma coisa eacute a expectativa do direito outra distinta eacute a aquisiccedilatildeo do

direito diversa eacute o uso ou exerciacutecio desse direito

Quanto ao direito adquirido princiacutepio de direito natural cuidou de

disciplinar o legislador paacutetrio os pilares que deve modelar a sua aplicaccedilatildeo na lei de

Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil (Decreto-Lei nordm 4657 de 040942 com a redaccedilatildeo dada

pela lei nordm 3238 de 1deg0857) art 6deg sect 2deg

Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular ou

algueacutem por ele possa exercer como aqueles cujo comeccedilo de

exerciacutecio tenha termo erefixo ou condiccedilatildeo preestabelecida

inalteraacutevel a arbiacutetrio de outrem n (Grifos nosso)

Tem-se assim direito adquirido como aquele que entrou no patrimocircnio

de um titular dele natildeo mais podendo ser retirado

Por tudo que foi dito temos que o vice-prefeito eacute o sucessor do prefeito

em caso de vaga e o substituto natural nos casos de impedimentos ou licenccedilas

Eleiccedilatildeo - A eleiccedilatildeo do Vice-Prefeito estaacute prevista na Constituiccedilatildeo

Federal e ela se daacute com a do Prefeito de forma vinculada (CF art 29 incisos I 11 e 111)

Proclamaccedilatildeo - A proclamaccedilatildeo eacute a publicaccedilatildeo do resultado final feita apoacutes

a contagem dos votos

Dentro desse contexto cabem as observaccedilotildees de Tito Costa5 segundo o

qual a proclamaccedilatildeo eacute um ato que Complementa todo o processo eleitoral mas natildeo

comporta qualquer tipo de recurso Eventuais reclamaccedilotildees contra esse ato soacute Poderatildeo

ser apresentados sob a forma do recurso adequado ao ensejo da diplomaccedilatildeo Veja-se

que natildeo haacute um consenso entre os doutrinadores quanto agraves etapas do processo eleitoral

chegando Tito Costa a afirmar que a proclamaccedilatildeo eacute um ato que complementa todo o

processo eleitoral

Diplomaccedilatildeo - eacute o atestado oficial (afirmaccedilatildeo) de que o candidato

obteve votos suficientes para o cargo a que se candidatou

A diplomaccedilatildeo natildeo eacute uma verdadeira decisatildeo judicial assemelhando-se

4 Meirelles Hely Lopes Direito Municipal Brasileiro 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 1993 (2

tiragem) p 529 5 Costa Tito Recursos em Mateacuteria Eleitoral 6 ed rev ampl e atual S30 Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1996 p 122

mais a um ato administrativo nada obstante traga em si consequumlecircncias juriacutedicas e

poliacuteticas

Diz o Coacutedigo Eleitoral no seu art 215

Art 215 Os candidatos eleitos assim como os suplentes

receberatildeo diploma assinado pelo Presidente do Tribunal Superior

Eleitoral do Tribunal Regional ou da Junta Eleitoral conforme o

caso

Paraacutegrafo uacutenico Do diploma deveraacute constar o nome do candidato a

indicaccedilatildeo da legenda sob a qual concorreu o cargo para o qual foi

eleito ou a sua classificaccedilatildeo como suplente e facultativamente outros

dados a criteacuterio do Juiz ou do Tribunal

Prevendo hipoacuteteses em que Poderaacute haver impugnaccedilatildeo agrave candidatura reza

o art 216

Ar 216 Enquanto o Tribunal Superior natildeo decidir o recurso

interposto contra a expediccedilatildeo do diploma poderaacute o diplomado

exercer o mandato em toda a sua plenitude

Pela dicccedilatildeo dos artigos supra mencionados colhe-se que mesmo tendo

sido interposto recurso contra a expediccedilatildeo de diploma o candidato eleito deve ser

diplomado Eacute que esse tipo de recurso natildeo tem efeito suspensivo exercendo o

candidato apoacutes a posse o mandato em toda a sua plenitude ateacute o tracircnsito em julgado

da decisatildeo final se essa lhe for desfavoraacutevel

Quanto a recurso contra a diplomaccedilatildeo (pois Jlatildeo cabe recurso contra a

proclamaccedilatildeo) o Coacutedigo Eleitoral atraveacutes do art 262 trata de especificar as hipoacuteteses

de cabimento

Art 262 O recurso contra expediccedilatildeo de diploma caberaacute somente

nos seguintes casos

I - inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato

II - errocircnea interpretaccedilatildeo da lei quanto agrave aplicaccedilatildeo do sistema de

representaccedilatildeo proporcional

III - erro de direito ou de fato na apuraccedilatildeo final quanto agrave

determinaccedilatildeo do quociente eleitoral ou partidaacuterio contagem de

votos e classificaccedilatildeo de candidato ou a sua contemplaccedilatildeo sob

determinada legenda

IV - concessatildeo ou denegaccedilatildeo do diploma em manifesta contradiccedilatildeo

com a prova dos autos na hipoacutetese do art 222

Outra indagaccedilatildeo que merece reparo e que eacute o ponto nodal do nosso

estudo eacute a alegaccedilatildeo de que o processo eleitoral se conclui com a diplomaccedilatildeo No caso

em questatildeo acontecendo superveniente morte de prefeito eleito antes dessa fase como

deveraacute se proceder

Para aqueles que defendem a formalidade da diplomaccedilatildeo como um ato

necessaacuterio ou essencial agrave aquisiccedilatildeo do direito de tomar posse que defendam essa

posiccedilatildeo Nada obsta

Poreacutem hatildeo de convir tambeacutem que o vice-prefeito sobrevivendo agrave

diplomaccedilatildeo haveraacute de ser diplomado e numa sequumlecircncia loacutegica na conformidade da lei

no dia 1deg de janeiro do ano seguinte agrave eleiccedilatildeo sucederaacute na posse o prefeito face agrave

vacacircncia do cargo deixado pela morte deste uacuteltimo

Conforme o Coacutedigo Eleitoral as fases que antecedem a diplomaccedilatildeo satildeo

seguindo uma ordem loacutegica e cronoloacutegica votaccedilatildeo apuraccedilatildeo e proclamaccedilatildeo

Duacutevidas natildeo haacute que para o nosso estudo as trecircs primeiras fases se

consumaram antes do oacutebito de prefeito eleito

As maiores duacutevidas e indagaccedilotildees residem nesta fase da diplomaccedilatildeo pois

afirmam que natildeo tendo sido diplomado o prefeito pois falecera antes da diplomaccedilatildeo a

sua ausecircncia implicaria a prejudicialidade da diplomaccedilatildeo e posse do vice-prefeito

A princiacutepio cabe por pertinente discutir com maior detenccedila a natureza

juriacutedica da diplomaccedilatildeo abstraindo-nos no entanto de tecer comentaacuterios acerca das

outras fases

A diplomaccedilatildeo Ocorre apoacutes as fases que lhe antecedem quais sejam

votaccedilatildeo apuraccedilatildeo e proclamaccedilatildeo Haacute um lapso temporal entre estas e aquela suficiente

para que as duacutevidas sejam dissipadas e as impugnaccedilotildees porventura existentes

resolvidas de forma que todo o processo se harmonize e se conforme

Tem por objetivo a diplomaccedilatildeo apoacutes resolvidas todas as pendengas

declarar os nomes dos eleitos no pleito conforme os resultados apurados e

proclamados

Joel Joseacute Cacircndido6 ensina

o que se atesta com a diplomaccedilatildeo eacute a existecircncia de uma eleiccedilatildeo

vaacutelida e seus resultados jaacute divulgados habilitando-se os eleitos

com o diploma a exercerem seus respectivos cargos a

diplomaccedilatildeo consagra a publicaccedilatildeo dos resultados que eacute seu

pressuposto fundamental

Por seu turno Faacutevila Ribeiro7 tecendo comentaacuterios sobre a

6 Cacircndido Joel Joseacute Direito Eleitoral Brasileiro 4ordf ed rev e atual Bauru

SP EDIPRO 1994 p 207 et seq

7 Ribeiro Faacutevila Direito Eleitoral 4ordf ed rev e ampl RioRJ Forense 1996 p

477

proclamaccedilatildeo e diplomaccedilatildeo dos eleitos afirma No momento da proclamaccedilatildeo deve

ser anunciada a data para a entrega do diploma dos eleitos que eacute o tiacutetulo expedido

pela Justiccedila Eleitoral para definir a Legitimidade dos representantes populares

Pelo exposto concluiacutemos que o ato da diplomaccedilatildeo tem natureza

meramente declaratoacuteria Pois jaacute existe uma situaccedilatildeo preacute-constituiacuteda que satildeo as fases

que a precedem natildeo havendo por que se falar em natureza constitutiva

Formalidade - O prefeito e o vice-prefeito satildeo eleitos nas urnas e natildeo

com o recebimento do diploma natildeo sendo necessaacuterio nem mesmo ir recebecirc-lo por

ocasiatildeo da diplomaccedilatildeo Isso eacute uma formalidade e diante do sufraacutegio universal popular

eacute ateacute irrelevante

O processo eleitoral conforme a maioria dos doutrinadores inicia-se

com a votaccedilatildeo e conclui-se com a diplomaccedilatildeo E tendo por base que a votaccedilatildeo eacute o

ponto culminante desse processo (sufraacutegiosoberania) natildeo seria forccedilar o entendimento

afirmar que as demais fases que a seguem satildeo acessoacuterias instrumentais natildeo tendo esses

procedimentos formais o condatildeo de obstaculizar uma decisatildeo soberana

Nunca eacute demais trazer agrave tona os ensinamentos processuais proferidos

pelo eminente Juiz Federal Magnus Augusto Delgado (membro do TRERN) nos autos

do processo ndeg 13094 proferido na sessatildeo do dia 160496 que mesmo se tratando de

mateacuterias distintas neste particular se afeiccediloa ao nosso caso pois a temaacutetica universal eacute a

mesma

O processo eacute um meio de realizaccedilatildeo do direito jamais um fim em si

mesmo O apego exacerbado agraves formas e filigranas delas

decorrentes pode levar na maioria dos casos ao proacuteprio

aniquilamento do direito material e este eacute o alvo nuclear merecedor

da primazia da atenccedilatildeo a ser dispensada pelo oacutergatildeo encarregado de

prestar a jurisdiccedilatildeo

Assim sendo essa possiacutevel mas bem discutiacutevel discrepacircncia formal natildeo

eacute suficiente para se impedir que o vice-prefeito seja diplomado tome posse e assuma a

vaga que lhe eacute de direito

Concluindo - Em tom final lembramos que natildeo se pode todavia alegar

o desconhecimento da importacircncia do vice pois haacute mais de uma deacutecada vivemos a

sua cultura chegando-se ateacute a afirmar em tom de prosa que vivemos em um paiacutes de

vices numa evidente referecircncia a alguns dos nossos Presidentes da Repuacuteblica (Joseacute

Sarney e Itamar Franco)

Por uacuteltimo as estatiacutesticas natildeo oficiais demonstram que hoje os vice-

prefeitos tecircm alta probabilidade de se tornarem titulares uma vez que os prefeitos

quando dos seus uacuteltimos anos de mandatos renunciam aos seus cargos para

concorrerem a cargos no legislativo assumindo a titularidade da prefeitura nessa

ocasiatildeo o vice-prefeito Hoje essas hipoacuteteses satildeo perfeitamente previsiacuteveis pelos

eleitores pois tornou-se uma praacutetica corriqueira entre os poliacuteticos Portanto natildeo haacute que

se votar apenas no titular esquecendo-se do vice muito pelo contraacuterio deve-se ter a

responsabilidade de votar no titular tendo em vista tambeacutem o vice pois este o

substituiraacute e suceder-lhe-aacute sempre que para isto for convocado

Assim natildeo sendo natildeo haacute motivo para a existecircncia do cargo de vice

Extinga-se

Por tudo isso a tese que mais correta se apresenta ara noacutes eacute a de que o

vice-prefeito assuma a titularidade do cargo de prefeito face a morte do seu titular antes

mesmo de sua diplomaccedilatildeo Pois poder foi legitimado pelo povo A contraacuterio sensu natildeo

seraacute democraacutetico pois natildeo decorreu da vontade do povo (art 10 da CF)

Eis em resumo o que tinha para expor sobre o tema Alcanccedilados meus

objetivos estaratildeo ao saber que mesmo de forma superficial abordei os seus principais

pontos rasgando os caminhos da exegese arrolando minhas opiniotildees

ABRE TEUS OLHOS THEacuteMIS

VANESSA ALESSANDRA PEREIRA

Acadecircmica do 7deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

Sumaacuterio I Introduccedilatildeo lI A Balanccedila Equiliacutebrio III A Espada e a

Forccedila IV A Venda e a Imparcialidade V Conclusatildeo VI Bibliografia

ldquoDireito natildeo destinado a converter-se em momento de vida eacute mera

aparecircncia de direitordquo1

I - INTRODUCcedilAtildeO

A evoluccedilatildeo dos modos de pensar da sociedade humana dos

comportamentos sociais dos tipos de crimes e penalidades a eles impostos da

complexidade e banalizaccedilatildeo da violecircncia urbana entre outros fatores tecircm levado de

uma forma geral a novas formas e estender o direito e por assim dizer de questionaacute-lo

Sob o tiacutetulo acima apresentado ouso contrapor-me agrave tradiccedilatildeo juriacutedica de

reverenciar a deusa Theacutemis juntamente com todo o simbolismo a ela arraigado A

balanccedila a espada e a venda representantes maiores dessa tradiccedilatildeo intocaacutevel da

atividade juriacutedica satildeo explicados e aceitos haacute seacuteculos como sendo o equiliacutebrio a forccedila e

a imparcialidade do direito Minha ousadia consiste justamente em questionar a sua

praticidade nos dias atuais desmascarando definiccedilotildees e pensamentos preestabelecidos

que na praacutetica natildeo passam de quimeras principalmente em nosso meio social marcado

pelas constantes ondas de violecircncia e desrespeito aos mais valorados direitos de um

povo

11 - A BALANCcedilA E O EQUILIacuteBRIO

Comecemos pela balanccedila posicionada em uma das matildeos da deusa da

Justiccedila e que representa o equiliacutebrio estabelecido entre as partes envolvidas nos

conflitos De um lado temos as classes menos favorecidas e de outro uma elite egoiacutesta

e economicamente superior Nesse diapasatildeo infelizmente natildeo haacute espaccedilo para o

almejado equiliacutebrio juriacutedico O que vemos diariamente eacute o acuacutemulo incalculaacutevel de leis

elaboradas com o uacutenico e exclusivo escopo de privilegiar uma minoria quando a grande

parcela da populaccedilatildeo sofre com a ausecircncia de normas que a beneficiem

Para que haja esse equiliacutebrio eacute preciso pocircr em praacutetica o princiacutepio da

igualdade juriacutedica perante a lei tatildeo bem sedimentado no artigo 5deg da Constituiccedilatildeo

Federal e ao mesmo tempo tatildeo criticado pelos mais diversos setores da sociedade

principalmente quando analisado sob a oacutetica da vida social A professora e advogada

Vera Luacutecia C Vassouras retrata bem essa questatildeo ao afirmar que ldquoA igualdade

juriacutedica no Brasil eacute pura forma seu conteuacutedo se engendra como veiacuteculo

ideoloacutegico de mascaramento das desigualdades veiacuteculo de injusticcedilas sociais e

1 REALE Miguel liccedilotildees Preliminares de Direito 22 ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 p 256

mecanismo de reproduccedilatildeo do sistema capitalista de dominaccedilatildeo2 Vai mais aleacutem

ao estabelecer a ideacuteia de que essa igualdade eacute um mito ldquo uma grande mentira

ideoloacutegica que tomou a consciecircncia daqueles que natildeo admitem o progresso e a

verdadeira cultura (multidisciplinar) para as massas3

Ainda com relaccedilatildeo a essa questatildeo cumpre-nos destacar o pensamento

do professor JOAtildeO BAPTISTA HERKENHOFF corroborando a certeza da

inexistecircncia de uma igualdade juriacutedica em nosso paiacutes Para ele Natildeo seratildeo

condutoras do artesanato democraacutetico as velhas e caducas categorias do Direito

com todos os seus mitos e falsidades a comeccedilar pelo da igualdade de todos

perante a lei igualdade impossiacutevel dentro de uma estrutura social fundada na

desigualdade e na iniquumlidade4

III - A ESPADA E A FORCcedilA

Jaacute dizia RUDOLF VON IHERING que A espada sem a balanccedila eacute a

forccedila brutal a balanccedila sem a espada eacute a impotecircncia do direito5 Usa-se o

simbolismo da espada como arma para a defesa do direito Mas aproveito e pergunto

que direito eacute esse que estaacute sendo defendido O direito de que classe social estaacute se

buscando De quais interesses estaraacute o legislador a defender Respostas existem mas

infelizmente a populaccedilatildeo chegou a um estaacutegio tal de letargia e descrenccedila nas

instituiccedilotildees sociais que claramente passou a conviver com a violecircncia e o descaso do

poder puacuteblico sem mais questionar os porquecircs nem buscar soluccedilotildees para os problemas

que a afligem

Hodiernamente o que vemos natildeo eacute a espada da Justiccedila e sim as

armas dos bandidos que matam e destroem o sonho de uma sociedade justa e

comprometida com os ideais de justiccedila e paz social Destarte a violecircncia que antes

era vista apenas pela televisatildeo ou lida atraveacutes dos jornais desceu dos morros saiu das

favelas e chegou ateacute noacutes de forma assustadora e alarmante Isto porque a sociedade

que prega o sucesso e ascensatildeo dos individuos eacute a mesma que Ihes nega

oportunidades levando essas pessoas a buscarem seu espaccedilo de forma ilegal e

violenta Passamos assim a ser prisioneiros dentro de um universo criado para

imperar a ordem mas que discrimina seus membros alijando-Ihes da condiccedilatildeo de

cidadatildeos

IV - A VENDA E A IMPARCIALIDADE

Dentre as curiosidades surgidas acerca dos siacutembolos que representam a

2 in o Mito da Igualdade Juriacutedica no Brasil Notas Criticas sobre a Igualdade

Formal Satildeo Paulo Edicon 1994 p 123

3 Opcit p15

4 in Para onde vai o Direito Reflexotildees sobre o papel do Direito e do

jurista Porto Alegre Livraria do Advogado 1996 p 78

5 in A Luta pelo Direito 16 ed Rio de Janeiro Forense 1996 p01

Justiccedila outra que impressiona aos estudiosos do Direito eacute a imagem daquela figura

poderosa e destemida da deusa Theacutemis tendo os olhos cobertos por uma venda Com o

tempo percebemos que esse modelo de imparcialidade a noacutes imposto natildeo passa de

ilusatildeo fruto que eacute de um pensamento caduco e cego agrave realidade social e juriacutedica em

que vivemos

Carnelutti por sua vez afirmava que ldquoA justiccedila humana natildeo pode ser

senatildeo uma justiccedila parcial a sua humanidade natildeo pode senatildeo resolver-se na sua

parcialidade Tudo aquilo que se pode fazer eacute buscar diminuir esta parcialidade6

Nesse diapasatildeo fica uma criacutetica ao judiciaacuterio oacutergatildeo criado para estabelecer a lei e o

direito mas que inuacutemeras vezes erra originando a descrenccedila e a desconfianccedila por parte

daqueles que o provocam

Hoje podemos afirmar que a Justiccedila brasileira eacute eminentemente elitista

parcial e conservadora com honrosas exceccedilotildees mas que se perdem no emaranhado da

desordem juriacutedica Diante do exposto fica a certeza da perniciosa parcialidade do

judiciaacuterio e da imperiosa necessidade de bradarmos contra a mesma Ricos ou pobres

pretos ou brancos eis o objetivo do direito eis o sonho de toda uma sociedade

Nesse contexto urge pois destacar o desabafo do jaacute mencionado

professor JOAtildeO BAPTISTA HERKENHOFF que clama

Abaixo a hipoacutecrita neutralidade de advogados procuradores juizes

desembargadores ministros Essa neutralidade sempre protegeu escolhas

de conservaccedilatildeo das estruturas e de manutenccedilatildeo do status quo Sejamos

verdadeiros Faccedilamos opccedilotildees puacuteblicas e honestas Decidamos por qual

mundo lutaremos que interesses consideramos legiacutetimos e merecedores

da tutela de nossas valoraccedilotildees7

V - CONCLUSAtildeO

Ao depois do exposto resta-me deixar um testemunho como acadecircmica

de direito e mais ainda como parte integrante de uma sociedade marcada pelas

mazelas de um poder cujo pensamento eacute sedimentado na maioria das vezes em

conceitos retroacutegrados e por demais individualistas

Embora em assim me posicionando tenho consciecircncia de que as

responsabilidades precisam ser divididas De um lado o judiciaacuterio agindo na tutela dos

interesses individuais e coletivos Do outro a sociedade interessada precipuamente

na construccedilatildeo de um paiacutes que honre as suas instituiccedilotildees Esse eacute o pensamento do

eminente Juiz Federal e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

WAL TER NUNES DA SILVA JUacuteNIOR quando diz Natildeo se reclame amanhatilde

dos que fazem a justiccedila concentrando as desconfianccedilas na lei e pior ainda no

Judiciaacuterio A justiccedila natildeo nasce nem termina no Judiciaacuterio A justiccedila eacute uma

comunhatildeo de accedilotildees sociais levadas a cabo natildeo soacute pelo Estado como tambeacutem

por cada um de noacutes dentro dos nossos deveres e responsabilidades como

6 in As Miseacuterias do processo Penal Itaacutelia Conan 1995 p 34

7 Op cit p 75

profissionais e sobretudo como cidadatildeos8

Diante disso permitam-me fazer um apelo a todos aqueles que ora

compartilham comigo a anguacutestia de um direito injusto o inconformismo diante da

impunidade o medo da violecircncia Eacute chegada a hora de nos unirmos abrindo os olhos

para os problemas acima levantados dividindo as culpas e buscando a verdadeira

justiccedila Para isso ouso gritar Abre teus olhos Theacutemis

VI - REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

CARNELUTTI Francesco As Miseacuterias do Processo Penal Traduccedilatildeo de

Joseacute Antonio Cardinalli Satildeo Paulo Conan 1995

HERKENHOFF Joatildeo Baptista Para onde vai o Direito reflexotildees sobre

o papel do Direito e do jurista Porto Alegre Livraria do Advogado 1996

IHERING Rudolf Von A Luta pelo Direito Traduccedilatildeo de Joatildeo

Vasconcelos 16 ed Rio de Janeiro Forense 1996

REALE Miguel Liccedilotildees Preliminares de Direito 22 ed Satildeo Paulo

Saraiva 1995

VASSOURAS Vera Luacutecia C O mito da igualdade juriacutedica no Brasil

notas criacuteticas sobre igualdade formal Satildeo Paulo Edicon 1995

8 in o Direito Penal e a Criminalidade Trabalho apresentado na I Jornada de Direito Penal e Processo

Penal promovida pelo DAAC - Diretoacuterio Acadecircmico Amara Cavalcanti do Curso de Direito da UFRN

CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRACcedilAtildeO

PUacuteBLICA

VICENTE ELIacuteSIO DE O NETO

Bacharel em Direito pela UFRN

I - Introduccedilatildeo 2 - O Controle Jurisdicional 21 Definiccedilatildeo e

Generalidades 22 O Controle Jurisdicional e a Constituiccedilatildeo de 1988 23

Privileacutegios da Administraccedilatildeo Puacuteblica 3 - Meios de Controle 31 Generalidades 32

Habeas Cor pus 33 Habeas Data 34 Mandado de Injunccedilatildeo 35 lvandado de

Seguranccedila Individual 36 Mandado de Seguranccedila Coletivo 37 Accedilatildeo Popular 38

Accedilatildeo Civil Puacuteblica 4 - Limites ou Restriccedilotildees ao Controle Judiciaacuterio 41

Generalidades 42 Quanto agrave A1ateacuteria 43 Quanto agrave Amplitude do Ato de Controle

44 Quanto agrave Oportunidade do Pronunciamento 45 Quanto agrave Extensatildeo do

Pronunciamento 5 - Conclusatildeo 6 ndash Bibliografia

1 - INTRODUCcedilAtildeO

O tema deste estudo eacute o Controle Jurisdicional da Administraccedilatildeo

Puacuteblica Seu objeto as limitaccedilotildees ou restriccedilotildees a que estaacute submetido Mais

precisamente eacute investigar em que sentido podemos falar em restriccedilotildees ao controle

jurisdicional e de que decorrem

Buscando atingir o fim pretendido dividimos o trabalho em quatro

parte aleacutem desta introduccedilatildeo

Na primeira expendemos uma definiccedilatildeo do controle seu alcance fins e

fundamentos indicamos seu fortalecimento com o advento da Carta Magna de 1988 e

ainda elencamos os privileacutegios que caracterizam a atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo em Juiacutezo

Em seguida tratamos dos remeacutedios constitucionais de que podem fazer

uso os administradores em defesa de seus direitos individuais e interesses coletivos e

difusos ameaccedilados ou violados pelos comportamentos ilegiacutetimos da Administraccedilatildeo

Ao cuidarmos das restriccedilotildees ao controle efetuamos uma siacutentese das

opiniotildees a respeito a que tivemos acesso Feito isso passamos a expor a concepccedilatildeo que

nos pareceu mais correta e fundamentada e por conseguinte a que aderimos no estaacutegio

em que se encontram os nossos estudos

Por fim apresentamos nossas conclusotildees

2 - O CONTROLE JURISDICIONAL

21 DEFINICcedilAtildeO E GENERALIDADES

Define-se o controle jurisdicional como sendo aquele que eacute exercido

exclusivamente pelo Poder Judiciaacuterio em virtude de provocaccedilatildeo dos interessados por

intermeacutedio de instrumentos especiacuteficos ou inespeciacuteficos assegurados aos administrados

na Constituiccedilatildeo e na legislaccedilatildeo infra-constitucional para apreciaccedilatildeo in concreto dos

comportamentos da Administraccedilatildeo Puacuteblica quer para invalidar suas condutas ilegais

constrangecirc-la ao desempenho das atividades a que estaacute obrigada ou ainda condenaacute-la a

indenizar os lesados reparando os danos a que deu causa1

Seu exerciacutecio eacute da competecircncia exclusiva do Poder Judiciaacuterio por ser o

ordenamento juriacutedico nacional daqueles que se filiam ao sistema da jurisdiccedilatildeo una

(artigo 5D inciso XXXV da Constituiccedilatildeo Federal de 1988) A necessidade de

provocaccedilatildeo para que opere justifica-se como eacute sabido pelo imperativo da

imparcialidade do judiciaacuterio Quanto aos instrumentos ou meios dedicamos toda uma

parte de nosso estudo (ponto 3)

Conquanto a maior parte dos doutrinadores pesquisados refiram-se ao

controle dos atos administrativos preferimos adotar o vocaacutebulo comportamentos de

que faz uso Celso Antocircnio Bandeira de Mello2 a fim de incluir os atos da

Administraccedilatildeo particularmente os materiais sobre os quais indiscutivelmente eacute

exercido o controle jurisdicional

Eacute bem verdade no entanto que o Controle Judicial da Administraccedilatildeo

encarado como teacutecnica de contenccedilatildeo e equiliacutebrio das funccedilotildees estatais destina-se

precipuamente agrave apreciaccedilatildeo dos atos administrativos

Fixe-se tambeacutem que o controle incide sobre os oacutergatildeos do Poder

Executivo assim como atinge os atos praticados pelos oacutergatildeos dos demais Poderes

quando praticados no desempenho de funccedilatildeo tipicamente administrativa3

O relevante serviccedilo que cumpre para a garantia do Estado de Direito

chega ao ponto de se afirmar ser o controle jurisdicional aliado ao princiacutepio da

legalidade um dos seus fundamentos4 Lembrando-se os ensinamentos do inesqueciacutevel

Seabra Fagundes administrar eacute aplicar a lei de oficio Assim sendo a instituiccedilatildeo de

uma teacutecnica posta agrave disposiccedilatildeo de um outro Poder para aferir a conformidade da atuaccedilatildeo

da Administraccedilatildeo com as disposiccedilotildees normativas inquestionavelmente eacute o fundamento

de um Estado em que impera o primado da lei

Do que se acaba de expor eacute que resulta a costumeira afirmaccedilatildeo segundo

a qual o controle judicial visa anular os atos ilegais da Administraccedilatildeo Natildeo haacute negar a

correccedilatildeo e coerecircncia da assertiva Acreditamos todavia para que se natildeo incorra em

equiacutevoco que a melhor doutrina eacute aquela em que se afirma expressamente ser uma das

finalidades do controle assegurar uma atuaccedilatildeo administrativa em consonacircncia com o

conjunto dos princiacutepios que lhe satildeo impostos pela ordem normativa informadores do

regime juriacutedico-administrativo como os da legalidade impessoalidade moralidade

1 Definiccedilatildeo formulada a partir principalmente das liccedilotildees de Celso Antocircnio Bandeira de Mello (ldquoCurso de

Direito Administrativordquo Satildeo Paulo Malheiros Editores pp 605 e 606

2 Op Cit p 117

3 Hely Lopes Meirelles Op Cit P 605 Maria Sylvia Zanella di Pietro ldquoDireito Administrativordquo Satildeo

Paulo Atlas Editora p 478 4 Maria Sylvia Zanella di Pietro op Cit p 492

publicidade motivaccedilatildeo razoabilidade proporcionalidade da responsabilidade do

Estado por Atos Administrativos e quaisquer outros que derivem da supremacia do

interesse puacuteblico sobre o privado e da indisponibilidade pela Administraccedilatildeo por

interesses puacuteblicos5

Ponderam os estudiosos que em regra os atos administrativos em geral

estatildeo sujeitos agrave apreciaccedilatildeo pelo Judiciaacuterio Feito isto cuidam os mesmos de chamar a

atenccedilatildeo para as peculiaridades da apreciaccedilatildeo judicial dos atos discricionaacuterios

restringe-se agrave competecircncia eacute exclusivamente da legalidade natildeo pode invadir o

meacuterito administrativoPoreacutem efetuados aquelas ressalvas normalmente discorrem de

modo a concluir uns mais outros menos que as restriccedilotildees inicialmente elencadas natildeo

estreitam tanto a apreciaccedilatildeo dos atos discricionaacuterios pelo Judiciaacuterio

Natildeo nos interessa aqui tratar longa mente do tema Para os fins deste

trabalho importa somente que se registre a extensatildeo do controle judicial quando o ato

impugnado eacute efetivamente discricionaacuterio A soluccedilatildeo do problema assim acreditamos

soacute se encontra na anaacutelise realizada por Celso Antocircnio Bandeira de Mello6 Eacute que o

mestre inverte a questatildeo busca traccedilar os limites e a correta concepccedilatildeo da

discricionariedade para posteriormente determinar a extensatildeo Sintetiza o autor que o

Judiciaacuterio em face de ato discricionaacuterio poderaacute investigar os motivos do ato ou seja

os pressupostos de fato que embasaram a atuaccedilatildeo administrativa a fim de verificar

se realmente subsistem e satildeo idocircneos para determinar a atuaccedilatildeo administrativa

examinaraacute a finalidade contida na norma de competecircncia a fim de invalidaacute-los caso

praticados com desvio de poder e por fim deve o juiz averiguar a causa do ato ou seja

a relaccedilatildeo de adequaccedilatildeo entre os pressupostos e o seu objeto sem a qual o ato

discricionaacuterio eacute nulo

22 O CONTROLE JURISDICIONAL E A CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

O advento da Constituiccedilatildeo de 1988 eacute de significativa importacircncia para o

Controle Jurisdicional da Administraccedilatildeo Puacuteblica em funccedilatildeo de seu fortalecimento e

ampliaccedilatildeo por obra do legislador constituinte

No texto constitucional em vigor foram expressos novos remeacutedios como

o mandado de seguranccedila coletivo e o habeas data a accedilatildeo popular foi ampliada e a accedilatildeo

civil puacuteblica obteacutem status constitucional

6

7 Luacutecia Valle Figueiredo Curso de Direito Administrativo sao Paulo

Malheiros Editores p 243

3 Hely Lopes Meirelles Op cit p 605 Maria Sylvia Zanella Di Pietro

Direito Administrativo Paulo Atlas Edi1ora p 478

4 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op ci1 p 492

5 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op ci1 p 478 Hely Lopes Meirelles

op ci1 p 606

5 Maria Sylvia Zanella di Pietro op Cit p 478 Hely Lopes Meirelles op cit p 606

6 Op cit Cap XV pp 450 a 471

Inovou o texto Magno em relaccedilatildeo agrave mateacuteria ao estabelecer que a ameaca

de lesatildeo eacute bastante para que seja prestada a tutela jurisdicional (artigo 5deg inciso

XXXV) Consequumlecircncia necessaacuteria que daiacute resulta para o controle jurisdicional eacute sua

agilizaccedilatildeo7 o que nos leva a concluir que jaacute natildeo se mais pode indicar como proacuteprio dele

ocorrer a posteriori como ateacute entatildeo era encarado

No entanto entendemos que a mais importante novidade relaciona-se

com a garantia dos direitos coletivos e difusos por representar fundo golpe nas

doutrinas individualistas e liberais que tanta influecircncia ainda exercem em nossa ordem

juriacutedica

23 PRIVILEacuteGIOS DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Em juiacutezo a Administraccedilatildeo Puacuteblica goza determinados privileacutegios que

lhe satildeo reconhecidos em decorrecircncia da supremacia do interesse puacuteblico sobre o

individual Dentre eles destacam- se

a) Juiacutezo Privativo

No acircmbito federal eacute a Justiccedila Federal de 1ordf e 2

ordf instacircncia (Juizes

Federais e Tribunais Regionais Federais) em que satildeo julgadas as accedilotildees em que

participem a Uniatildeo suas autarquias e empresas puacuteblicas Entretanto as sociedades de

economia mista e fundaccedilotildees de direito privado atuam na Justiccedila Comum Ademais as

accedilotildees relativas agrave falecircncia e acidentes de trabalho bem como as da competecircncia da

Justiccedila Eleitoral e do Trabalho estatildeo excluiacutedas da apreciaccedilatildeo da Justiccedila Federal

Por sua vez os Estados e os Municiacutepios tambeacutem dispotildeem deste

privileacutegio nos termos de suas Leis de Organizaccedilatildeo Judiciaacuteria que estabelecem as

Varas da Fazenda Puacuteblica

b) Prazos

A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios assim como

suas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico quando partes em accedilatildeo judicial dispotildeem

de prazo em quaacutedruplo para contestar e em dobro para recorrer (artigo 188 do Coacutedigo

de Processo Civil)

c) Duplo Grau de Jurisdiccedilatildeo

Sujeitam-se ao duplo grau necessaacuterio de jurisdiccedilatildeo as sentenccedilas

proferidas contra a Uniatildeo os Estados e os Municiacutepios bem como a que julga

improcedente a execuccedilatildeo de diacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica que soacute produziratildeo efeitos

caso confirmadas pelo Tribunal (artigo 475 incisos 11 e 111 do Coacutedigo de Processo

Civil) Este benefiacutecio natildeo se aplica agraves autarquias fundaccedilotildees empresas puacuteblicas e

sociedades de economia mista

d) Processo Especial de Execuccedilatildeo

Privileacutegio de status constitucional eacute o que estabelece o artigo 100 da Lei

Maior Trata-se do pagamento atraveacutes de precatoacuterio requisitoacuterio das obrigaccedilotildees

pecuniaacuterias da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal dos Municiacutepios e suas

respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico decorrentes de sentenccedila judicial

e) Pagamento das Despesas Judiciais

As despesas dos atos processuais efetuadas a requerimento da Fazenda

7 Luacutecia Valle Figueiredo Curso de Direito Administrativo Satildeo Paulo Malheiros Editores p 243

Puacuteblica seratildeo pagas ao final pelo vencido (artigo 27 do Coacutedigo de Processo Civil)

Haacute tambeacutem a dispensa do preparo quando os recursos forem interpostos

pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios e respectivas autarquias (artigo 511 paraacutegrafo uacutenico

do Coacutedigo de Processo Civil)

3 - MEIOS DE CONTROLE

31 GENERALIDADES

Apoacutes ressalvarem em uniacutessono que os administrados podem se valer

contra os atos administrativos ilegais de todas as accedilotildees e procedimentos (ordinaacuterio

sumaacuterio ou especial) cuidam os administrativistas dos denominados meios de

controlerdquo8 ou garantias dos administradosrdquo

9

Eacute princiacutepio fundamental da Ordem Juriacutedica paacutetria a apreciaccedilatildeo pelo

Judiciaacuterio de toda e qualquer lesatildeo ou ameaccedila a direito seja ele individual coletivo ou

difuso nos termos do artigo 5deg inciso XXXV da Carta Magna do qual se infere ter o

constituinte de 88 optado pelo sistema da jurisdiccedilatildeo una Portanto sofrendo o

administrado violaccedilatildeo ou ameaccedila de violaccedilatildeo de seus direitos individuais em virtude de

comportamento postura ou ato da administraccedilatildeo ou ainda percebendo o cidadatildeo que

da atividade administrativa resultou ou iraacute resultar malferido direito coletivo ou difuso

a ambos eacute facultado provocar o controle corretivo do Judiciaacuterio posto que a tutela

jurisdicional haacute de ser requerida (artigo 20 do Coacutedigo de Processo Civil) a fim de que

cesse a ameaccedila ou lesatildeo resultante do ato ilegal

Percebendo as particularidades das relaccedilotildees travadas entre a

Administraccedilatildeo e os administrados da importacircncia do vulto dos interesses puacuteblicos e

particulares em jogo bem como das dificuldades enfrentadas para que sejam

equacionados pacificamente tratou o constituinte de estabelecer institutos destinados

especificamente a garantir os direitos dos particulares em face dos atos abusivos do

administrador por meio do pronunciamento do Poder Judiciaacuterio Costuma a doutrina

denominaacute-los remeacutedios constitucionais porque tecircm por escopo assegurar os direitos

fundamentais Em verdade satildeo ao mesmo tempo direitos e garantias em sentido

instrumental satildeo direitos como o direito de accedilatildeo em sentido material satildeo garantias pois

estabelecidos no texto constitucional para a proteccedilatildeo dos direitos nele previstos10

Dentre os meios de controle da Administraccedilatildeo pelo Judiciaacuterio

destacam-se o Habeas corpus o Habeas Data o Mandado de Injunccedilatildeo o Mandado

de Seguranccedila Individual o Mandado de Seguranccedila Coletivo a Accedilatildeo popular e a

Accedilatildeo Civil Puacuteblica Como veremos a seguir os quatro primeiros cumprem papel de

garantias de direitos individuais enquanto os trecircs uacuteltimos prestam grande

contribuiccedilatildeo na preservaccedilatildeo dos direitos coletivos e difusos

32 HABEAS CORPUS

8 Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 498

9 Hely Lopes Meirelles op cit p 614 Diogo de Figueiredo Moreira

Neto ldquoCurso de Direito Administrativordquo 8ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense p 535

10

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 499

Instituto que antecede historicamente o Eu 1 Direito surgiu o

Habeas Corpus precisamente na Inglaterra em 1215 prescrito na Magna Carta

imposta ao Rei Joatildeo Sem Terra pela qual a nobreza rebelde impocircs restriccedilotildees ao

poder real

No direito brasileiro o Habeas Corpus remonta ao periacuteodo imperial

previsto no Coacutedigo de Processo Criminal de 1832 em seu artigo 340 verbiacutes

Todo cidadatildeo que entender que ele ou otrl1 sofre prisatildeo ilegal ou

constrangimento ilegal em sua liberdade tem direito de pedir uma

ordem de bdquohabeas corpus em seu favor

Hodiernamente trata-se de garantia constitucional que tem por fim

assegurar o direito de locomoccedilatildeo de ir e vir ameaccedilada ou atingida por violecircncia ou

coaccedilatildeo decorrente de ato ilegal ou abusivo

Remeacutedio assegurado a qualquer indiviacuteduo (artigo 50 inciso LXVIII) sua

impetraccedilatildeo eacute gratuita (artigo 5deg inciso UXil1i Constituiccedilatildeo Federal) e dispensa

procurador judicial bem como qualquer formalidade impeditiva de seu exerciacutecio

Meio pelo qual o Judiciaacuterio exerce controle corretivo dos atos

administrativos ilegiacutetimos praticados por autoridade no exerciacutecio do Poder de Poliacutecia de

Seguranccedila natildeo eacute o habeas cor pus infelizmente via processual haacutebil para se alcanccedilar a

tutela jurisdicional necessaacuteria agrave proteccedilatildeo dos militares que sofrem prisatildeo disciplinar

resultante de ato administrativo punitivo disciplinar militar ilegal por forccedila do que

dispotildee o paraacutegrafo 2deg do artigo 142 da Constituiccedilatildeo Federal

33 HABEAS DATA

Lembrando o passado (praacutetica das autoridades responsaacuteveis pela

repressatildeo poliacutetica durante o regime militar que armazenavam em arquivos sigilosos

informaccedilotildees acerca da vida pessoal e poliacutetica dos opositores da ditadura) e prevendo o

futuro (proliferaccedilatildeo dos bancos de dados informatizados) inovou o constituinte de 66

ao dar origem ao habeas data remeacutedio constitucional que tem por fim assegurar o

conhecimento eou a retificaccedilatildeo de informaccedilotildees relativas agrave pessoa do impetrante

constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caraacuteter

puacuteblico (artigo 5deg inciso LXXII aliacuteneas a e b)

Garantia de que se poderaacute valer gratuitamente (artigo 5deg inciso

LXXVII) entende a doutrina11

que a accedilatildeo de Habeas Data tem por fim tutelar a

intimidade a vida privada a honra e a imagem dos indiviacuteduos contra o uso e

conservaccedilatildeo em registros de dados falhos obtidos por meios fraudulentos ou ilegais

bem como a introduccedilatildeo em tais registros de dados sensiacuteveis relativos agrave origem racial

opiniatildeo poliacutetica religiosa e filosoacutefica orientaccedilatildeo sexual etc

11

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 500-1

34 MANDADO DE INJUNCcedilAtildeO

Podemos definir o Mandado de Injunccedilatildeo como a medida constitucional

de que se vale o indiviacuteduo para buscar a tutela jurisdicional apta a viabilizar o exerciacutecio

dos direitos e liberdades constitucionais ou das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade

agrave soberania e agrave cidadania inexequumliacutevel por falta de norma regulamentadora (artigo 5ordm

inciso LXXI da Constituiccedilatildeo Federal)

A utilizaccedilatildeo da garantia tem por pressuposto a inexistecircncia de norma

regulamentadora (lei ou regulamento) e a inviabilizaccedilatildeo do exerciacutecio dos direitos e

liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade agrave soberania e agrave

cidadania12

Sua finalidade eacute a obtenccedilatildeo de um pronunciamento judicial que

reconhecendo a ausecircncia de norma regulamentadora estipule as condiccedilotildees para que o

impetrante exercite o direito de liberdade ou prerrogativa

35 MANDADO DE SEGURANCcedilA INDIVIDUAL

Mandado de Seguranccedila eacute o remeacutedio constitucional que se destina a

assegurar direito liacutequido e certo natildeo amparado por haacutebeas corpus ou habeas data

contra ato ilegal ou praticado com abuso de poder por autoridade puacuteblica ou agente de

pessoa juriacutedica no exerciacutecio) atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico (artigo 5deg inciso LXIX)

Regulamentado pela Lei nordm 1533 de 31 01 dezembro de 1951 o

Mandado de Seguranccedila individual tem por objeto a correccedilatildeo de ato ilegal (omissivo ou

comissivo) atentatoacuterio a direito liacutequido e certo do impetrante

A expressatildeo direito liacutequido e certo eacute por todos criticada Eacute que na

verdade ela natildeo se refere ao direito objetivo norma que o Judiciaacuterio decide ser

aplicaacutevel ao caso concreto Refere-se ao direito subjetivo do impetrante que deve ser

aferido pelo exame dos fatos alegados e devidamente provados atraveacutes dos documentos

que acompanham a inicial salvo na hipoacutetese do paraacutegrafo uacutenico do artigo 6ordm da Lei ndeg

15335113

O ato que se pretende invalidar por intermeacutedio do mandamus deve ter

sido praticado com o viacutecio da i1egalidade ou abuso de poder consoante se expressou o

legislador constitucional Tal enunciado somente se justifica pela tradiccedilatildeo posto que

nos tempos hodiernos eacute paciacutefica a compreensatildeo doutrinaacuteria segundo a qual a

ilegalidade eacute gecircnero de que o abuso de poder eacute apenas uma de suas espeacutecies

A autoridade que pratica ato passiacutevel de constriccedilatildeo denominada

autoridade coatora eacute aquela investida pela ordem juriacutedica na competecircncia ilegalmente

12

Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 557 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op Cit p 507

13 Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 552

utilizada14

Natildeo se confunde com o sujeito passivo do Mandado de Seguranccedila (Uniatildeo

Estados Municiacutepios ou quaisquer pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que

desempenhem atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico)

Eacute paciacutefico o entendimento de que o writ eacute instrumento preventivo e

repressivo Na primeira hipoacutetese a seguranccedila eacute concedida para coibir ameaccedila

comprovado o justo receio na segunda a seguranccedila eacute concedida a fim de que se

alcance a correccedilatildeo da lesatildeo provada por fatos incontroversos

Por fim registre-se a possibilidade de ser concedida medida liminar a

requerimento do impetrante que deveraacute ser concedida pelo Juiz (entendem alguns que

eacute faculdade discricionaacuteria com o que natildeo concordamos) ao despachar a inicial

determinando a suspensatildeo do ato impugnado quando for relevante o fundamento da

impugnaccedilatildeo e dele puder resultar a ineficaacutecia da medida caso seja deferida (artigo 7deg

inciso II da Lei 153351)

36 MANDADO DE SEGURANCcedilA COLETIVO

Inserido no texto constitucional em vigor o Mandado de Seguranccedila

Coletivo eacute a garantia de que dispotildeem os partidos poliacuteticos com representaccedilatildeo no

Congresso Nacional os sindicatos entidades de classe e associaccedilotildees legalmente

constituiacutedas e em funcionamento haacute pelo menos um ano estas uacuteltimas em defesa dos

interesses de seus membros ou associados (artigo 5deg inciso LXX)

Os pressupostos do writ coletivo satildeo os mesmos do individual15

ato

ilegal de autoridade do qual decorra lesatildeo ou ameaccedila a direito liacutequido e certo

Natildeo obstante as duacutevidas doutrinaacuterias e as vacilaccedilotildees da jurisprudecircncia

estamos com os que pregam ser a nova espeacutecie de mandado de seguranccedila instrumento

estabelecido para ampliar o elenco dos meios de controle corretivo dos atos i1egiacutetimos

praticados pela Administraccedilatildeo contra os interesses coletivos e difusos particularmente

quando manejado por partido poliacutetico bem como dos direitos subjetivos individuais e

coletivos reclamados pelas entidades sindicais e associaccedilotildees na defesa de seus

componentes e associados

No que diz respeito ao procedimento entende-se que deva ser observado

o estabelecido na Lei 15335116

37 ACcedilAtildeO POPULAR

Accedilatildeo popular eacute o meio constitucional conferido ao cidadatildeo na condiccedilatildeo

de substituto processual de todo o povo17

para invalidar ato lesivo ao patrimocircnio

puacuteblico ou de entidade de que o Estado participe agrave moralidade administrativa ao meio

14

Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 255 15

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit 521 16

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit 524 17

Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 554

ambiente e ao patrimocircnio histoacuterico e cultural (artigo 5deg inciso LXXIII)

Com seu procedimento estabelecido na Lei 471765 a accedilatildeo popular tem

por objeto a invalidaccedilatildeo do ato lesivo e a condenaccedilatildeo dos responsaacuteveis e beneficiaacuterios

ao pagamento de perdas e danos (artigo 11 da L A P )

A legitimidade para agir deferida exclusivamente ao cidadatildeo brasileiro

nato ou naturalizado no gozo dos direitos poliacuteticos eacute criticada pela doutrina mais

luacutecida 18

que defende sua extensatildeo agraves entidades de classe

O patrimocircnio que se busca proteger por meio da accedilatildeo popular engloba o

das pessoas juriacutedicas poliacuteticas suas autarquias empresas puacuteblicas e sociedades de

economia mista das sociedades muacutetuas de seguro nas quais a Uniatildeo representa os

segurados ausentes de serviccedilos sociais autocircnomos de instituiccedilotildees ou fundaccedilotildees para

cuja criaccedilatildeo ou custeio o tesouro puacuteblico haja concorrido ou concorra de empresas

incorporadas ao patrimocircnio puacuteblico de pessoas juriacutedicas subvencionadas pelos cofres

puacuteblicos bem como os bens e direitos de valor econocircmico artiacutestico esteacutetico histoacuterico

ou turiacutestico (artigo 1deg e paraacutegrafo 1deg da LAP)

Por fim em face do interesse puacuteblico que visa a accedilatildeo popular

resguardar poderaacute ser requerida a suspensatildeo Liminar do ato impugnado caso estejam

presentes no caso concreto as circunstacircncias previstas para a concessatildeo da medida

liminar em mandado de seguranccedila (artigo 5deg paraacutegrafo 4ordm)19

38 ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA

Accedilatildeo Civil Puacuteblica eacute o instrumento processual manejaacutevel para proteger o

meio ambiente o consumidor os bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico

turiacutestico e paisagiacutestico a ordem econocircmica bem como a qualquer outro interesse

coletivo ou difuso

Regulada pela Lei 737785 e prevista no texto constitucional (artigo

129 inciso 111) pode ser utilizada como excelente instrumento de controle da

Administraccedilatildeo pelo Judiciaacuterio nos casos em que os interesses difusos sejam ameaccedilados

ou violados por atos ilegiacutetimos das autoridades administrativas

Tendo por objetivo a condenaccedilatildeo pecuniaacuteria ou o cumprimento de

obrigaccedilatildeo de fazer ou natildeo fazer a accedilatildeo civil puacuteblica poderaacute ser cautelar buscando evitar

o dano iminente ou principal quando teraacute por escopo responsabilizar os que deram

causa ao dano

A propositura da accedilatildeo pode ser levada a efeito pelo Ministeacuterio Puacuteblico

pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios suas autarquias empresas puacuteblicas fundaccedilotildees

sociedade de economia mista bem como por associaccedilatildeo constituiacuteda haacute pelo menos um

ano e que tenha entre os seus fins institucionais a defesa dos interesses coletivos e

difusos (artigo 5deg e incisos I e 11)

4 - LIMITES OU RESTRICcedilOtildeES AO CONTROLE JUDICIAacuteRIO

18 Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 281

19 Theotocircnio Negrao Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo

Processual em Vigor Nota ao artigo 5deg 3a da LAP p 706

41 GENERALIDADES

A doutrina pesquisada dedica-se ao tema de trecircs formas distintas a

saber

a) a primeira abordagem afirmava no preteacuterito que os atos poliacuteticos os

legislativos e os interna corporis eram insuscetiacuteveis de apreciaccedilatildeo judicialrdquo20

Posteriormente evoluiu ao ponto de admitir que tais atos estavam sujeitos a controle

especialrdquo A justificativa que apresentam os que assim entendem eacute que tais atos

possuem um alto teor de discricionariedade seriam discricionaacuterios por excelecircncia do

que concluiacuteam ser muito restrita a apreciaccedilatildeo judicial dos mesmos

b) em situaccedilatildeo intermediaacuteria haacute quem nomine limites ao discorrer

sobre os atos poliacuteticos normativos e os interna corporis admitindo o controle

jurisdicional com fundamento no artigo 5deg inciso XXXV da Lei Maior21

c) por fim aborda-se a questatildeo de forma mais cuidadosa e profunda agrave

luz do texto constitucional referindo-se a restriccedilotildees ao controle judiciaacuterio justificadas

pelo princiacutepio do equiliacutebrio dos Poderes e da consequumlente distribuiccedilatildeo de competecircncia

levada a efeito pelo Estatuto Fundamental22

Eacute seguindo os caminhos abertos pela uacuteltima abordagem que passamos a

examinar o tema

42 QUANTO A MATEacuteRIA

O legislador constituinte tendo por escopo assegurar o necessaacuterio

equiliacutebrio entre os Poderes estabeleceu expressamente algumas hipoacuteteses em que a

competecircncia decisoacuteria eacute outorgada ao Senado Federal ao Congresso Nacional ao

Tribunal de Contas da Uniatildeo e aos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municiacutepios

Satildeo elas

a) Ao Senado Federal compete privativamente

O processo e julgamento do Presidente e do Vice-Presidente da

Repuacuteblica nos crimes de responsabilidade assim como dos Ministros de Estado nos

crimes da mesma natureza conexos com aqueles (artigo 52 inciso I)

O processo e julgamento dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e

do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do Advogado-Geral da Uniatildeo nos crimes de

responsabilidade (artigo 52 inciso II)

b) Eacute da competecircncia exclusiva do Congresso Nacional

O julgamento anual das Contas do Presidente da Repuacuteblica (artigo 49

inciso IX)

c) compete ao Tribunal de Contas da Uniatildeo aos Tribunais de Contas dos

20 Hely Lopes Meirelles op cit p 609

21

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 493 22

Diogo de Figueiredo op cit pp 189 a 192

Estados e dos Municiacutepios nas suas respectivas esferas

O julgamento das contas dos administradores e demais responsaacuteveis

por dinheiro bens e valores puacuteblicos da Administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as

fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico e as contas daqueles

que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao

eraacuterio puacuteblico (artigo 71 inciso li combinado com o artigo 75)

Em tais hipoacuteteses natildeo dispotildee o Judiciaacuterio de competecircncia para decidir

outorgada pela Constituiccedilatildeo ao Poder Legislativo ao Senado Federal ou aos oacutergatildeos

auxiliares do Legislativo No entanto natildeo satildeo tais mateacuterias insuscetiacuteveis de apreciaccedilatildeo

judicial O que o texto constitucional vedou ao Judiciaacuterio foi a competecircncia de decidi-

Ias Isto porque quem sofrer violaccedilatildeo de seus direitos causada pela decisatildeo proferida

nestes julgamentos poderaacute reclamar a tutela jurisdicional nos termos do artigo 5deg inciso

XXXV

Finalizando alerte-se que estas mateacuterias satildeo as uacutenicas para as quais a

Constituiccedilatildeo natildeo outorgou competecircncia decisoacuteria ao Judiciaacuterio

42 QUANTO Agrave AMPLITUDE DO ATO DE CONTROLE

Trata-se aqui de duas hipoacuteteses que restringem a amplitude da

apreciaccedilatildeo Natildeo se confundem com as hipoacuteteses de restriccedilotildees quanto agrave mateacuteria porque

nelas o Judiciaacuterio natildeo dispunha de competecircncia decisoacuteria outorgada a outro Poder

A primeira restriccedilatildeo refere-se ao remeacutedio constitucional do habeas

corpus cuja utilizaccedilatildeo natildeo cabe contra as puniccedilotildees disciplinares militares (artigo 142

paraacutegrafo 2deg) Ressalte-se que a restriccedilatildeo atinge o habeas corpus natildeo a competecircncia do

Judiciaacuterio na mateacuteria

A segunda restriccedilatildeo constitucional agrave amplitude do ato de controle

resulta do princiacutepio da separaccedilatildeo dos Poderes (artigos 2deg e 60 paraacutegrafo 4deg inciso 111)

Impede o princiacutepio constitucional que o ato de controle substitua a decisatildeo do

Legislativo e do Executivo viciada pela decisatildeo normativa ou administrativa que o

Judiciaacuterio entenda apropriada Nestes casos em que o Legislativo e o Executivo

praticam atos com fundamento na competecircncia constitucional que Ihes eacute proacutepria

eivados de ilegalidade a decisatildeo do Judiciaacuterio natildeo pode ir aleacutem do pronunciamento da

ilegalidade sob pena de malferir o princiacutepio da Separaccedilatildeo dos Poderes

44 QUANTO Agrave OPORTUNIDADE DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave oportunidade do pronunciamento

judicial apesar de natildeo se encontrar expressa no texto constitucional impotildee-se em razatildeo

de ordem loacutegica e tem por fundamento a separaccedilatildeo dos Poderes

Tal restriccedilatildeo ocorre nas hipoacuteteses em que o ato impugnado natildeo se

encontra perfeito Nestas situaccedilotildees natildeo poderaacute o Judiciaacuterio por uma razatildeo loacutegica

invalidar por exemplo um ato administrativo concreto se ele ainda natildeo se encontra

perfeito nem decidir que a autoridade administrativa deve se abster de praticaacute-lo

Entretanto em face da garantia constitucional da tutela preventiva poderaacute o Judiciaacuterio

impedir que o ato ao se tomar perfeito produza efeitos lesivos Outra natildeo pode ser a

soluccedilatildeo porque em casos desta espeacutecie a decisatildeo judicial que impedisse qualquer dos

outros Poderes de praticar os atos que lhe competem afrontaria a Constituiccedilatildeo

45 QUANTO Agrave EXTENSAtildeO DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave extensatildeo do pronunciamento eacute por todos

lembrada23

quando discorrem a respeito dos atos normativos em regra o

pronunciamento jurisdicional soacute produz efeitos entre as partes que integravam a relaccedilatildeo

juriacutedica processual decidida

Daiacute resultou que as leis e atos normativos natildeo se sujeitam agrave invalidaccedilatildeo

pelos meios de controle jurisdicional postos agrave disposiccedilatildeo dos administrados pois tais

atos legislativos e administrativos satildeo geneacutericos e abstratos e por isso natildeo atingem

direitos individuais Reconhecendo o Judiciaacuterio em um caso concreto em exame a

ilegalidade do ato normativo impugnado a decisatildeo proferida natildeo o invalida apenas

inadmite sua aplicaccedilatildeo Haacute poreacutem duas exceccedilotildees em que a lei em tese pode ser

invalidada

a) as leis de efeitos concretos24

Em verdade se estabelecem efeitos

concretos satildeo leis apenas formalmente pois materialmente satildeo atos administrativos

44 QUANTO Agrave OPORTUNIDADE DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave oportunidade do pronunciamento

judicial apesar de natildeo se encontrar expressa no texto constitucional impotildee-se em razatildeo

de ordem loacutegica e tem por fundamento a separaccedilatildeo dos Poderes

Tal restriccedilatildeo ocorre nas hipoacuteteses em que o ato impugnado natildeo se

encontra perfeito Nestas situaccedilotildees natildeo poderaacute o Judiciaacuterio por uma razatildeo loacutegica

invalidar por exemplo um ato administrativo concreto se ele ainda natildeo se encontra

perfeito nem decidir que a autoridade administrativa deve se abster de praticaacute-lo

Entretanto em face da garantia constitucional da tutela preventiva poderaacute o Judiciaacuterio

impedir que o ato ao se tomar perfeito produza efeitos lesivos Outra natildeo pode ser a

soluccedilatildeo porque em casos desta espeacutecie a decisatildeo judicial que impedisse qualquer dos

outros Poderes de praticar os atos que lhe competem afrontaria a Constituiccedilatildeo

45 QUANTO Agrave EXTENSAtildeO DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave extensatildeo do pronunciamento eacute por todos

23

Diogo de Figueiredo op cit p 191 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 493 Hely Lopes

Meirelles op cit p 610

lembrada24

quando discorrem a respeito dos atos normativos em regra o

pronunciamento jurisdicional soacute produz efeitos entre as partes que integravam a relaccedilatildeo

juriacutedica processual decidida

Daiacute resultou que as leis e atos normativos natildeo se sujeitam agrave invalidaccedilatildeo

pelos meios de controle jurisdicional postos agrave disposiccedilatildeo dos administrados pois tais

atos legislativos e administrativos satildeo geneacutericos e abstratos e por isso natildeo atingem

direitos individuais Reconhecendo o Judiciaacuterio em um caso concreto em exame a

ilegalidade do ato normativo impugnado a decisatildeo proferida natildeo o invalida apenas

inadmite sua aplicaccedilatildeo Haacute poreacutem duas exceccedilotildees em que a lei em tese pode ser

invalidada

a) as leis de efeitos concretos24 Em verdade se estabelecem efeitos

concretos satildeo leis apenas formalmente pois materialmente satildeo atos administrativos

b) as leis e atos normativos federais e estaduais que contrariem a

Constituiccedilatildeo Federal submetidos ao Supremo Tribunal Federal por via de Accedilatildeo Direta

de Inconstitucionalidade (artigo 102 inciso I aliacutenea a) Em se tratando de leis ou

atos normativos estaduais ou municipais contraacuterios agrave Constituiccedilatildeo Estadual compete

ao Tribunal de Justiccedila apreciar a representaccedilatildeo de inconstitucionalidade (artigo 125

paraacutegrafo 2deg)

5 - CONCLUSAtildeO

De todo o exposto extraiacutemos as conclusotildees que seguem

a) o controle jurisdicional da Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute exercido

exclusivamente pelo Judiciaacuterio mediante provocaccedilatildeo dos que buscam proteger seus

direitos individuais coletivos e difusos violados ou ameaccedilados por comportamentos

lesivos do Poder Puacuteblico

b) constitui o controle jurisdicional ao lado do princiacutepio da legalidade

um dos fundamentos do Estado de Direito

c) por intermeacutedio deste controle busca-se assegurar uma atuaccedilatildeo

administrativa em conformidade com os princiacutepios informadores do regime juriacutedico-

administrativo

d) a Constituiccedilatildeo de 66 veio indiscutivelmente fortalececirc-lo na medida

em que instituiu novos meios especiacuteficos de controle e por via destes ampliou a

proteccedilatildeo dos administrados ao tomar possiacutevel a defesa dos interesses coletivos e

difusos

e) ressalva-se contudo que em Juiacutezo goza a Administraccedilatildeo Puacuteblica de

privileacutegios que tecircm por fundamento a supremacia do interesse puacuteblico sobre o

particular

f) o Estatuto Fundamental prevecirc expressamente um conjunto de

garantias destinadas especificamente agrave proteccedilatildeo dos administrados contra os

comportamentos ilegiacutetimos da Administraccedilatildeo

g) nos dias atuais natildeo encontram amparo as opiniotildees doutrinaacuterias que

preguem a existecircncia no Estado Democraacutetico de Direito de atos insuscetiacuteveis de

24 Hely Lopes Meirelles op cit p 611 Diogo de Figueiredo op cit p

191

apreciaccedilatildeo judicial

h) as investigaccedilotildees a respeito das restriccedilotildees ou limitaccedilotildees ao controle

judicial natildeo podem partir da anaacutelise de certos atos que se pretendam dotados de alto

teor de discricionariedade i) tampouco eacute suficiente que se justifique a apreciaccedilatildeo judicial dos atos poliacuteticos normativos e interna corporis com base no artigo 5deg inciso XXXV da Lei Maior

i) tampouco eacute suficiente que se justifique a apreciaccedilatildeo judicial dos atos

poliacuteticos normativos e interna corporis com base no artigo 5D inciso XXXV da Lei

Maior

j) a investigaccedilatildeo a respeito das restriccedilotildees ao Controle Jurisdicional deve

ser levada a efeito agrave luz do texto constitucional

I) constituindo o Controle Jurisdicional um dos fundamentos do Estado

de Direito em princiacutepio soacute devem ser admitidas restriccedilotildees fundadas no princiacutepio da

Separaccedilatildeo e Equiliacutebrio dos Poderes cuja inobservacircncia inviabiliza o proacuteprio Estado de

Direito

m) em regra as restriccedilotildees ao controle quanto agrave mateacuteria quanto agrave

amplitude do pronunciamento quanto agrave oportunidade e quanto agrave extensatildeo do

pronunciamento encontram-se expressos na Constituiccedilatildeo ou nela se fundamentam

6 - BIBLIOGRAFIA

DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 5- ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Atlas 1995

FERRAZ Seacutergio Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica na Constituiccedilatildeo

de 1966 RTDP 4239

FIGUEIREDO Luacutecia valle Curso de Direito Administrativo 2-

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros Editores

MEIRELLES Hely Lopes Direito Administrativo Brasileiro 19-

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros Editores 1994

MELLO Celso Antocircnio Bandeira de Curso de Direito Administrativo

Sediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros Editores 1994

MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Curso de Direito

Administrativo 88 ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense 1989

NEGRAtildeO Theotocircnio (org) coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo

Processual em vigor 26- ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

OLIVEIRA Juarez de (org) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil 113 ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

DIREITO A EDUCACcedilAtildeO E INICIATIVA PRIVADA

Vladimir Azevedo de Mello

Acadecircmico do 3deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

A circunstacircncia de o direito natildeo caber por sorte aos povos sem

dificuldades antes de terem eles para o obter de se agitar e de lutar combater e

derramar o proacuteprio sangue esta circunstacircncia precisamente cria entre eles e o seu

direito esse laccedilo intimo que o risco da vida cria no parto entre a matildee e o novo

filho

Rudolf Von hering

INTRODUCcedilAtildeO

O trato da questatildeo educacional para as naccedilotildees seja nas que aspiram ao

status de primeiro mundo sejam nas que pretendem manter tal condiccedilatildeo eacute motivo de

preocupaccedilatildeo permanente da sociedade e dos governos O assunto em funccedilatildeo dos

desdobramentos que se projetam invariavelmente sobre todo o corpo social requer

cuidado e ocupa lugar de destaque nas poliacuteticas de desenvolvimento e de metas

econocircmicas Envolve a sociedade como um todo e volta-se aos interesses desta

No momento atual a questatildeo da presenccedila da escola privada no sistema

educacional brasileiro ante a grave crise pela qual passa o ensino puacuteblico e sobretudo

em face do problema dos valores alcanccedilados pelas mensalidades escolares coloca em

discussatildeo a posiccedilatildeo a ser adotada pelo Poder Puacuteblico em relaccedilatildeo ao direito de acesso agrave

escola

Seacuteria afronta aos ditames constitucionais eacute a adoccedilatildeo por empresaacuterios do

setor educacional de mecanismos que objetivam a limitaccedilatildeo do acesso e permanecircncia

dos educandos na escola privada nos moldes dos sistemas de proteccedilatildeo ao creacutedito

No tentame de evidenciar tais circunstacircncias discorreremos acerca dos

princiacutepios e direitos a serem observados no trato da questatildeo mormente o princiacutepio da

universalidade e os direitos sociais bem como sobre pertinecircncia da intervenccedilatildeo estatal

direta em relaccedilatildeo agrave limitaccedilatildeo dos valores a serem alcanccedilados pelas mensalidades

escolares

EDUCACcedilAtildeO - ABORDAGEM HISTOacuteRICA

A evoluccedilatildeo humana pronuncia-se em duas ordens distintas que lhe satildeo

poreacutem igualmente caracterizadoras a ordem natural e a ordem social

Em relaccedilatildeo agrave ordem natural as regras que determinam as suas

manifestaccedilotildees satildeo fixadas sem que aja sobre elas a vontade humana Satildeo elaboradas

tratando ao largo a ingerecircncia do homem

A ordem social por outro lado dista da ordem natural justamente por ser

conduzida segundo os desiacutegnios da voliccedilatildeo humana Eacute a accedilatildeo humana o fator

determinante da evoluccedilatildeo na ordem social

Acerca deste dualismo pronunciou-se J Elias Dubard de Moura Rocha

Por conta desta distinccedilatildeo substancial eacute que se pode distinguir a

Ordem Natural da Ordem Social Nesta o homem cria e modifica

renova e inova transforma e perpetua (grifo nosso) tudo conforme a

vontade humana em meio a fatores permanentes e circunstacircncias

variantes que condicionam mais ou menos a conduta Naquela o

homem sujeita-se agrave ordem acomodando-se a ela e se limita a uma

atitude meramente descritiva Ora as ahelhas organizam-se em

colmeacuteia a milhotildees e milhotildees de anos sem que tenha havido mudanccedila

e se houve foi por fatores externos e natildeo pela vontade de tais

insetos Nas sociedades humanas natildeo eacute necessaacuterio sequer

exemplificar as transformaccedilotildees havidas no curso de sua histoacuteria

Dera-se por impulsos volitivos dos elementos componentes isto eacute os

indiviacuteduos que as formavam Diferem-se pois Ordem natural e

Ordem social pela possibilidade real de os elementos componentes

modificarem a Ordem por impulso da vontade (221)

A evoluccedilatildeo na ordem social faz eclodir a necessidade de que a cada

geraccedilatildeo seja legada a carga de conquistas e aprendizados das geraccedilotildees anteriores

incluindo os elementos culturais caracterizantes do povo aleacutem dos avanccedilos teacutecnicos e

de produccedilatildeo Contudo a transmissatildeo dos conhecimentos construiacutedos natildeo se fez e natildeo

se faz meramente por meio de instituiccedilotildees de ensino tais como conhecidas

atualmente embora sejam elas hoje os instrumentos mais eficazes de educaccedilatildeo

O homem nos vaacuterios matizes da vida em sociedade acaba por educar

seu semelhante ainda que de maneira involuntaacuteria fazendo com que valores morais

eacuteticos ciacutevicos religiosos culturais e poliacuteticos aleacutem de outros sejam transmitidos e

perpetuados

Ao longo do processo histoacuterico no entanto as caracteriacutesticas dos

processos educacionais foram sendo alteradas havendo a presenccedila estatal desde os

primoacuterdios Em Esparta sob a lideranccedila de Licurgo a educaccedilatildeo do varatildeo era

atribuiccedilatildeo familiar ateacute os sete anos de idade quando era este entatildeo entregue ao

Estado que se encarregava de complementar o processo

Eacute de valia o magisteacuterio de Orlando Soares

De acordo com cada etapa histoacuterica dos diferentes povos e

civilizaccedilotildees bem como em virtude da influecircnciacutea de muacuteltiplos fatores

- culturais e sociais - podemos considerar que o caraacuteter da

educaccedilatildeo primitiva na eacutepoca tribal era natural espontacircneo o das

civilizaccedilotildees claacutessicas assumiu a forma essencialmente poliacutetica o

medieval teve a feiccedilatildeo religiosa o do seacuteculo XVII foi realista como

reflexo das preocupaccedilotildees com os meacutetodos cientiacuteficos pela busca do

conhecimento cada vez mais acurado com base na experiecircncia o do

seacuteculo XVIII foi racionalista inspirado no principio segundo o qual

nada existe que natildeo tenha razatildeo de ser isto eacute que natildeo seja

inteligiacutevel irrecusaacutevel a priori evidenciando-se com as

demonstraccedilotildees o do seacuteculo XLJ marcado pela intervenccedilatildeo do

Estado nas diretrizes educacionais na formaccedilatildeo da consciecircncia

nacional com a instituiccedilatildeo da escola primaacuteria universal gratuita e

obrigatoacuteria o do seacuteculo XV conquanto difiacutecil a sua distinccedilatildeo

sobretudo devido agrave existecircncia de dois Poacutelos poliacuteticos marcantes- isto

eacute os sistemas capitalista e socialista - revela anseios democraacuteticos

generalizados de afirmaccedilatildeo da soberania popular (4661)

Infere-se portanto que houve ao longo dos tempos o gradativo

abandono da ideacuteia da escola restrita ao seleto grupo dos mais abastados e agrave pequena

casta de soberanos sendo sedimentada principalmente durante os seacuteculos dezenove e

vinte a concepccedilatildeo da escola democraacutetica e acessiacutevel a todo o corpo de cidadatildeos ou

seja de caraacuteter universal

A escola de caraacuteter universal e gratuito recebe abrigo atualmente de

quase todos os sistemas juriacutedicos sobretudo daqueles em que a populaccedilatildeo experimenta

niacuteveis de vida superiores aos dos paiacuteses com elevados iacutendices de analfabetismo e evasatildeo

escolar

No Brasil da sanha jesuiacuteta direcionada agrave catequizaccedilatildeo dos nativos que

se valia de meacutetodos pedagoacutegicos rudimentares ateacute a instalaccedilatildeo dos primeiros cursos de

niacutevel superior em Olinda e Satildeo Paulo em 1827 a educaccedilatildeo foi tratada agrave miacutengua de

qualquer recurso puacuteblico sendo registrada ateacute mesmo no ano de 1800 uma

advertecircncia da coroa portuguesa mediante aviso real agrave Cacircmara Municipal de

Tamanduaacute em Minas Gerais por ter esta instituiacutedo uma escola primaacuteria

Apoacutes o malfadado golpe de 1964 o sistema educacional gerenciado

basicamente pelo Estado foi sucedido por um outro de natureza eminentemente

privada A nova sistemaacutetica perverteu a noccedilatildeo de que a educaccedilatildeo de qualidade eacute direito

de todos fazendo crer que a condiccedilatildeo sine qua non para o acesso ao bom ensino eacute a

condiccedilatildeo financeira e numa atitude de crime de lesa-paacutetria alijou parcela significativa

da populaccedilatildeo - por meio do arruinamento da boa escola puacuteblica - daquilo que eacute a

redenccedilatildeo de qualquer povo a educaccedilatildeo de qualidade

Atualmente embora receba tratamento constitucional e

seja regido pelo princiacutepio da universalidade o problema inerente ao direito agrave educaccedilatildeo

apresenta um quadro funesto sobretudo ante a ineacutercia governamental e que vem se

agravando pela sobre posiccedilatildeo qualitativa da escola privada em relaccedilatildeo agrave escola puacuteblica

o que impele a populaccedilatildeo ao abandono desta e agrave submissatildeo ao caraacuteter essencialmente

mercantilista daquela

EDUCACcedilAtildeO - ABORDAGEM JURIgraveDICA

O surgimento do Estado de Direito sucessor do Estado Absolutista traz

consigo a imposiccedilatildeo de que as accedilotildees estatais natildeo mais sejam orientadas pelos enlevos

do poder total Caracteriza-se basicamente pela sujeiccedilatildeo do agir do Estado assim como

dos cidadatildeos agrave baliza da lei e igualmente pela possibilidade de proteccedilatildeo destes

quando emanar daquele ato que exorbite os paracircmetros legalmente estabelecidos

O Estado de Direito em sua configuraccedilatildeo liberal marcada pela limitaccedilatildeo

da accedilatildeo estatal e pela abstraccedilatildeo generalidade e caraacuteter meramente sancionador da

ordem legal e em sua forma social assinalada pelo caraacuteter empreendedor do ente

estatal e com a lei voltada para a garantia das accedilotildees deste voltava-se agrave implementaccedilatildeo

de uma determinada ordem a ser estabelecida

Todavia o contorno Democraacutetico assumido pelo Estado de Direito

conduz agrave busca de objetivo diverso Deve tal instituiccedilatildeo tencionar a modificaccedilatildeo das

relaccedilotildees sociais objetivando a superaccedilatildeo das desigualdades e o estabelecimento de uma

sociedade mais justa e de uma accedilatildeo governamental voltada aos interesses da

coletividade

Com referecircncia ao tema Joseacute Luis Bolsan de Morais leciona

Quando assume o feitio democraacutetico o Estado de Direito tem como

objetivo a igualdade e assim natildeo lhe basta a imitaccedilatildeo ou a

promoccedilatildeo da atuaccedilatildeo estatal mas referenda a pretensatildeo agrave

transformaccedilatildeo do status quo A lei aparece como instrumento de

transformaccedilatildeo da sociedade natildeo estando mais atrelada

inelutavelmente agrave sanccedilatildeo ou promoccedilatildeo O fim a que pretende eacute a

constante reestruturaccedilatildeo das proacuteprias relaccedilotildees sociais (183)

O Estado brasileiro destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos

sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-estar o desenvolvimento a

igualdade e a justiccedila como valores de uma sociedade fraterna pluralista e sem

preconceitos fundada na harmonia social segundo as linhas preambulares da

Constituiccedilatildeo vigente cuja opccedilatildeo pela feiccedilatildeo democraacutetica vem insculpida jaacute no art 1ordm da

Carta Poliacutetica de 1988 deveraacute marcar as suas accedilotildees portanto pela geraccedilatildeo de esforccedilos

para que sejam atingidos e mantidos os objetivos supracitados especialmente os

delimitados e nascidos sob a rubrica de direitos e garantias individuais a exemplo dos

constantes do Tiacutetulo 11 de nossa Lei Maior

E eacute nesse contexto que se apresenta o direito agrave educaccedilatildeo adscrito na

Carta Magna em seu artigo 6ordm combinado com o artigo 205 O ditame constitucional

segundo Joseacute Afonso da Silvaeleva a educaccedilatildeo ao niacutevel dos direitos fundamentais do

homem (3302) e traz como consequumlecircncia o fato de que

se afirma que a educaccedilatildeo eacute um direito de todos com o que esse

direito eacute informado pelo princiacutepio da universalidade Realccedila-lhe o

valor juriacutedico por um lado a claacuteusula - a educaccedilatildeo eacute dever do

Estado e da famiacutelia - constante do mesmo artigo que completa a

situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva ao explicitar o titular do dever da

obrigaccedilatildeo contraposto agravequele direito Vale dizer todos tecircm direito agrave

educaccedilatildeo e o Estado tem o dever de prestaacute-Ia assim como a famiacutelia

(3302)

Sobre os desdobros da garantia do direito agrave educaccedilatildeo pronuncia-se ainda

o insigne constitucionalista

A norma assim explicitada - A educaccedilatildeo direito de todos e dever do

Estado e da famiacutelia (arts 205 e 227) - significa em primeiro

lugar que o Estado tem que aparelhar-se para fornecer a todos os

serviccedilos educacionais isto eacute oferecer ensino de acordo com os

princiacutepios estatuiacutedos na Constituiccedilatildeo (art 206) que ele tem que

ampliar cada vez mais as possibilidades de que todos venham a

exercer igualmente esse direito e em segundo lugar que todas as

normas da Constituiccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e ensino hatildeo que ser

interpretadas em funccedilatildeo daquela declaraccedilatildeo e no sentido de sua

plena e efetiva realizaccedilatildeo A constituiccedilatildeo mesma jaacute considerou que o

acesso ao ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito eacute direito

puacuteblico subjetivo equivale reconhecer que eacute direito plenamente

eficaz e de aplicabilidade imediata isto eacute direito exigiacutevel

judicialmente se natildeo for prestado espontaneamente (3302)

Segue ensinando o ilustre jurista

As normas tecircm ainda o significado juriacutedico de elevar a educaccedilatildeo agrave

categoria de serviccedilo puacuteblico essencial que ao poder puacuteblico impende

possibilitar a todos daiacute a preferecircncia constitucional pelo ensino

puacuteblico pelo que a iniciativa privada embora livre eacute no entanto

meramente secundaacuteria e condicionada (arts 209 e 23) (3302-

3)

O ensinamento do mestre constitucionalista serve de lastro para a

abordagem que seraacute sugerida para o tema sendo necessaacuterio entretanto tangenciar o

insculpido no art 209 da Lei Maior Reza

art 209 O ensino eacute livre agrave iniciativa privada atendidas as

seguintes condiccedilotildees

I - cumprimento das normas gerais da educaccedilatildeo nacional

II - autorizaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de qualidade pelo Poder Puacuteblico

O sistema educacional paacutetrio seguindo o espiacuterito democraacutetico e

pluralista avultado na Lex Mater abre ensanchas para a coexistecircncia do sistema puacuteblico

e gratuito e do sistema privado com fins lucrativos aleacutem dos sistemas de escolas

comunitaacuterias filantroacutepicas ou confessionais

Contudo os sistemas puacuteblico privado e os demais de outra natureza

encontram-se envoltos pelos mesmos princiacutepios constitucionais natildeo constituindo

sistemas estanques e regidos exclusivamente por regras proacuteprias A regra constitucional

remete todos os sistemas a seus princiacutepios fazendo respeitar evidentemente as

peculiaridades de cada um aleacutem de alguns valores da livre iniciativa

Ao Poder Puacuteblico impende a gestatildeo do sistema puacuteblico sendo de sua

atribuiccedilatildeo a garantia dos requisitos de acesso para todos e qualidade de ensino capaz de

assegurar instruccedilatildeo eficaz agrave populaccedilatildeo Ressalte-se que nesse mister o Estado peca por

inconstitucionalidade passiva permanentemente Eacute o non facere como posicionamento

do Poder Puacuteblico nacional

A participaccedilatildeo da iniciativa privada estaacute delimitada pelos termos do art

209 da Carta Magna Estaacute vinculada agrave autorizaccedilatildeo emanada do Poder Puacuteblico e depende

da obediecircncia agraves normas gerais de educaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de qualidade

Tais normas satildeo as referidas no inciso I do artigo 209 da Constituiccedilatildeo

Federal e surgem jaacute no proacuteprio texto constitucional sob a condiccedilatildeo de Direito Social

tal como disposto nos arts 6deg e 205 aleacutem das diretrizes traccediladas no artigo 206 e seus

incisos que devem permear por obrigatoacuterios toda a legislaccedilatildeo infraconstitucional

Os princiacutepios constitucionais devem nortear portanto natildeo soacute as

diretrizes das poliacuteticas puacuteblicas para a educaccedilatildeo mas tambeacutem a gerecircncia do segmento

privado

Esta circunstacircncia descaracteriza ateacute mesmo ao contraacuterio do que

sustentam os proprietaacuterios de escolas a natureza meramente empresarial dos

estabelecimentos de ensino privados afastando-os das imposiccedilotildees tipicamente

mercadoloacutegicas especialmente no que diz respeito agrave suspensatildeo do fornecimento dos

serviccedilos ao consumidor

Como consequumlecircncia natildeo deve ser acolhida pelo ordenamento juriacutedico

nacional a pretensatildeo do emprego de mecanismos que objetivam controlar o acesso agrave

escola privada por meio de consulta a serviccedilos de proteccedilatildeo ao creacutedito por natildeo se tratar

indubitavelmente de uma operaccedilatildeo creditiacutecia e sim do exerciacutecio de direito consagrado

pela Constituiccedilatildeo Cidadatilde

A reduccedilatildeo do problema ao acircmbito das relaccedilotildees creditiacutecias e da prestaccedilatildeo

convencional de serviccedilos eacute em si um procedimento iniacutequo pois a opccedilatildeo pela escola

privada eacute motivada muitas vezes pela ineacutepcia governamental no que diz respeito agrave

qualidade do ensino puacuteblico e esta deve ser a perspectiva a ser avaliada para a

resoluccedilatildeo dos embates juriacutedicos relacionados ao tema

Na maior parte dos casos natildeo surge em um poacutelo da demanda um devedor

contumaz Apresenta-se isto sim o cidadatildeo dominado de um lado pelo reveacutes

econocircmico e pela exorbitacircncia da maioria das mensalidades escolares e de outro pelo

solapamento da escola puacuteblica

Portanto para que o problema seja equacionado de forma que se

encontre uma soluccedilatildeo que atenda ao problema da existecircncia e viabilidade econocircmica

dos estabelecimentos privados bem como da compatibilizaccedilatildeo dos valores das

mensalidades eacute salutar a intervenccedilatildeo estatal sobretudo na esfera legislativa

Legislar a respeito caso fosse a escola privada um ente meramente

mercantil - hipoacutetese que pode ser tornada despicienda uma vez que nem sequer lhe

compete estabelecer o conteuacutedo miacutenimo a ser ministrado restando-lhe apenas a

possibilidade de um plus curricular - natildeo se constituiria afronta aos princiacutepios da livre

iniciativa e concorrecircncia O entendimento do Supremo Tribunal Federal ademais

parece apontar tambeacutem nestamiddot direccedilatildeo Eacute o que fica constatado em ementa da lavra do

Ministro Moreira Alves

Ementa - Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade da Lei conciliar o

fundamento da livre iniciativa e o princiacutepio da livre concorrecircncia

com os da defesa do consumidor e da reduccedilatildeo das desigualdades

sociais em conformidade com os ditames da justiccedila social pode o

Estado por via legislativa regular a poliacutetica de preccedilos de bens e

serviccedilos abusivo que eacute o poder econocircmico que visa o aumento

arbitraacuterio de lucros

- Natildeo eacute pois inconstitucional a Lei 8039 de 30 de maio de 1990

pelo fato de dispor sobre criteacuterios de reajuste das mensalidades

escolares ( bullbull r (Supremo Tribunal Federal Processo ADlQO

31993 Relator Ministro Moreira Alves Diaacuterio da Justiccedila de

300493)

Nada obstante o entendimento da Excelsa Corte jaacute tornar evidente a

possibilidade de que se legisle sobre a mateacuteria a indicaccedilatildeo de que este proceder deveria

assumir caraacuteter de obrigatoriedade todas as vezes em que se constatar abusividade na

estipulaccedilatildeo das mensalidades parece natildeo encontrar obstaacuteculos em nossa ordem

constitucional sobretudo porque a questatildeo da participaccedilatildeo da iniciativa privada assim

como citado algures estaacute vinculada agrave autorizaccedilatildeo emanada do Poder Puacuteblico e depende

da obediecircncia agraves normas gerais de educaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de qualidade

Nesse diapasatildeo insere-se a abordagem jaacute feita alhures de que cabe ao

Estado fomentar o acesso de todos ao ensino O Estado estaacute obrigado portanto a s6

conceder o exerciacutecio das atividades educacionais privadas agravequeles que possam oferececirc-

las de maneira que natildeo se tomem como agora o satildeo oacutebice ao exerciacutecio desse direito

sacrossanto

O Estado brasileiro incidiraacute em equiacutevoco se der tratamento que permita

apenas a garantia do lucro dos estabelecimentos de ensino privado e que imprima ao

cidadatildeo tratamento de refeacutem do poder econocircmico O empresaacuterio que natildeo conseguir

prestar seus serviccedilos agrave populaccedilatildeo de maneira acessiacutevel natildeo merece por contrariar as

determinaccedilotildees da Carta Poliacutetica de 1988 ter mantida a concessatildeo de exploraccedilatildeo do

serviccedilo Eacute defesa ao Estado em face do determinado na Constituiccedilatildeo sobre o tema e em

funccedilatildeo do alegado de elastecer a toleracircncia sobre a problemaacutetica das mensalidades

escolares

O quadro atual eacute grave O problema da inadimplecircncia nas escolas

particulares assumiu caraacuteter de urgecircncia para os empresaacuterios do ensino cuja maioria eacute

simulacro de educador A inadimplecircncia natildeo eacute um problema apenas de natureza privada

e natildeo habita exclusivamente a seara do Direito Civil pois se relaciona com o interesse

que toda a sociedade tem ou pelo menos deveria ter pela questatildeo educacional

Inadimplecircncia e direito agrave educaccedilatildeo natildeo estabelecem relaccedilatildeo direta e imediata de causa e

consequumlecircncia

Quando segmento significativo da sociedade manifesta-se

enfaticamente sobre o transtorno em que se tem transformado manter um filho na

escola que lhe eacute imposto como obrigatoacuterio natildeo soacute no texto constitucional mas

tambeacutem na legislaccedilatildeo penal e civil conjuntamente com o Estado este estaacute obrigado ou

a garantir o mesmo padratildeo de qualidade das escolas privadas nas escolas puacuteblicas e

em suficiente nuacutemero de vagas ou a ampliar a renda das famiacutelias de maneira que estas

possam suportar o ocircnus das mensalidades ou ainda a suprimir a concessatildeo de

exerciacutecio da atividade dada a impossibilidade de uma eficaz prestaccedilatildeo do serviccedilo uma

vez que educar crianccedilas e jovens eacute interesse de todos e natildeo deve sucumbir agrave

incompetecircncia empresarial daqueles que desafinados com os mais modernos preceitos

econocircmicos natildeo conseguem reduzir seus custos ou estatildeo viciados em lucros

exorbitantes

Por oportuno parece razoaacutevel uma anaacutelise o direito ao lucro deriva da

determinaccedilatildeo volitiva do sujeito que se dispotildee a pagar determinado preccedilo por produto

ou serviccedilo A manifestaccedilatildeo volitiva por motivar estipulaccedilatildeo negocial livre natildeo pode

portanto vir maculada por exemplo por ato de coaccedilatildeo A inadimplecircncia nesta

situaccedilatildeo levaraacute prontamente agraves consequumlecircncias previstas na legislaccedilatildeo

Situaccedilatildeo diversa poreacutem ocorre em relaccedilatildeo ao ensino Ao matricular em

instituiccedilatildeo de ensino seja ela puacuteblica ou privada menor sob sua responsabilidade os

pais ou responsaacuteveis natildeo estatildeo praticando um ato livre de coaccedilatildeo Mesmo que natildeo

saibam haacute naquela accedilatildeo resposta a imposiccedilatildeo legal que traz em seu conteuacutedo um

elemento sancionador caracterizador da coaccedilatildeo

Basta uma avaliaccedilatildeo perfunctoacuteria para que se evidencie a disparidade

das duas situaccedilotildees e para que entatildeo acolha-se a ideacuteia de que natildeo podem por

conseguinte projetar as mesmas consequumlecircncias

Ora raciocinar contrariamente seria admitir a possibilidade de que as

pessoas estatildeo obrigadas por lei a garantir a lucratividade alheia a todo custo o que natildeo

eacute veraz pois que as pessoas soacute devem ser compelidas a esta ou aquela accedilatildeo quando

disto depender a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio social natildeo se enquadrando a garantia de

lucro para os mercenaacuterios do saber na questatildeo em tela

Todavia surge uma indagaccedilatildeo por que optar pelo ensino privado de alto

custo quando haacute a possibilidade de ingresso em estabelecimentos oficiais graciosos por

determinaccedilatildeo da proacutepria Lei Maior

A refutaccedilatildeo surge mediante exame sobre o que objetivam os povos

quando decidem dedicar especial atenccedilatildeo agrave questatildeo do ensino A formaccedilatildeo das futuras

geraccedilotildees natildeo eacute apenas transmissatildeo automaacutetica de informaccedilotildees e dogmas de caraacuteter

cientifico moral ou cultural Eacute um processo elaborado por intermeacutedio do qual os fatores

de identidade cultural e nacional assim como o conhecimento cientiacutefico necessaacuterio ao

desenvolvimento tecnoloacutegico satildeo transmitidos agraves novas geraccedilotildees de forma a viabilizar

o desenvolvimento do paiacutes e a melhoria das condiccedilotildees sociais Supotildeem aquisiccedilatildeo de

uma consciecircncia criacutetica que possa auxiliar na resoluccedilatildeo das questotildees nacionais

O Estado brasileiro afastou-se tanto deste objetivo quanto da qualidade

do ensino ministrado em seus estabelecimentos enquanto a famiacutelia por seu turno

cumpre a sua obrigaccedilatildeo constitucional ao buscar sempre a educaccedilatildeo eficaz O governo

compele para a esfera privada - que ao menos aparentemente garante melhor qualidade

de ensino - aqueles que a custo de sacrifiacutecio podem arcar com o custeio do ensino

privado Por isso o cidadatildeo opta quase que forccedilosamente por pagar o ensino em

funccedilatildeo da incuacuteria governamental sobre o tema

A presenccedila da iniciativa privada na educaccedilatildeo pressupotildee lucro Mas visa

tambeacutem a garantir um sistema educacional plural em sintonia com o espiacuterito

democraacutetico exaustivamente ressaltado na Carta da Repuacuteblica Entretanto a questatildeo do

retomo econocircmico para aqueles que se ocupam da atividade educacional investindo em

instalaccedilotildees equipamentos e matildeo-de-obra especializada tambeacutem deve ser alvo de

anaacutelise eacutetica e juriacutedica por parte de toda a sociedade

O lucro eacute igualmente um dos mecanismos de manutenccedilatildeo do sistema

educacional multifaacuterio e tambeacutem deve receber proteccedilatildeo da ordem legal que deve

objetivar ateacute mesmo a puniccedilatildeo do mau pagador que se constitui elemento igualmente

danoso ao sistema de ensino

Todavia os mecanismos a serem adotados devem garantir proteccedilatildeo ao

direito agrave educaccedilatildeo no miacutenimo enquanto vigente o contrato celebrado com o

estabelecimento de ensino sem que seja vedado igualmente o direito agrave matriacutecula nas

instituiccedilotildees privadas em funccedilatildeo de consulta a sistemas de proteccedilatildeo ao creacutedito devendo

responder em caso de inadimplecircncia o patrimocircnio dos contratantes Em siacutentese parece

vaacutelida a adoccedilatildeo de quaisquer medidas de cobranccedila exceto aquelas que resultem na

suspensatildeo ou denegaccedilatildeo do exerciacutecio do direito

Ante o exposto e diante do atual quadro alguns segmentos da iniciativa

privada natildeo vecircm atendendo aos preceitos estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal fato

este que deveria conduzir tanto o Estado como a sociedade a analisar o problema sob

vaacuterios enfoques

Natildeo pode o Governo acuado por empresaacuterios do setor tratar a questatildeo

como essencialmente de natureza econocircmica mas sim fazer vergar os estorvos aos

princiacutepios da universalidade e da igualdade que regem a mateacuteria

A sociedade por sua vez deve buscar por meio dos canais democraacuteticos

de participaccedilatildeo poliacutetica a adoccedilatildeo dos instrumentos necessaacuterios ao pleno atendimento do

disposto nos sectsect 10 e 2

0 do art 208 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica superando a iacutendole

mercantilista do governo porquanto o embriatildeo do problema eacute sem reacutestia de duacutevida a

feiccedilatildeo estatal que relega os interesses sociais em proveito de uma elite pouco atenta aos

clamores da coletividade

CONCLUSAtildeO

A educaccedilatildeo de qualidade eacute questatildeo relevante Mereceu as becircnccedilatildeos da

Constituiccedilatildeo de 1988 e a participaccedilatildeo da iniciativa privada deve cumprir as normas

gerais da educaccedilatildeo nacional que nascem na proacutepria Carta Poliacutetica e que garantem a

igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola natildeo podendo o

ordenamento juriacutedico propor soluccedilotildees que se distanciem dessas premissas

Permitir a instauraccedilatildeo de controle de acesso mediante consulta a

serviccedilos de proteccedilatildeo ao creacutedito e de outras puniccedilotildees aos alunos que bloqueiem o

exerciacutecio do direito agrave educaccedilatildeo fere de morte natildeo soacute a Constituiccedilatildeo mas tambeacutem toda a

naccedilatildeo que se vecirc cada vez mais comprimida na vala comum dos povos analfabetos

Portanto as pelejas surgidas da negaccedilatildeo ou dos estorvos ao exerciacutecio do direito agrave

educaccedilatildeo natildeo devem merecer o mesmo tratamento dado agraves questotildees voltadas agrave

resoluccedilatildeo de problemas de cunho individual As questotildees juriacutedicas derivadas dos

embaraccedilos agraves garantias sociais embora possam trazer em seus arcabouccedilos entes

individualizados devem ser dirimidas considerando-se os interesses difusos envolvidos

As consequumlecircncias dos embaraccedilos ou da denegaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo

seja ela puacuteblica seja privada a uma parcela significativa da populaccedilatildeo seratildeo amargadas

por todo o corpo social e eacute em funccedilatildeo deste corpo que deve se posicionar o

ordenamento juriacutedico paacutetrio desprezando tanto quanto possiacutevel a imposiccedilatildeo de

interesses empresa rias que ambicionam lucratividade a todo custo

Todo o quadro trazido agrave baila poderia ateacute mesmo sugerir a natildeo

permanecircncia da iniciativa privada no setor mas tal procedimento poderia resultar em

malefiacutecio para a sociedade Contudo permitir que seja associado o direito agrave educaccedilatildeo de

qualidade agrave capacidade de pagamento de uma escola particular tambeacutem eacute grave erro e

apenas contribui para que se vaacute erigindo uma sociedade calcada na aceitaccedilatildeo da

desigualdade e da indiferenccedila para com os semelhantes

Educar um paiacutes estaacute longe de ser um filatildeo de natureza essencialmente

lucrativa e mercantil que mereccedila apenas abordagem mercadoloacutegica como quer sugerir

o furor neoliberal Eacute tarefa para os abnegados Eacute altruiacutesmo social e merece a proteccedilatildeo

integral do Direito

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

MORAIS Joseacute Luis Bolzan de Do Direito Social aos Interesses

Transindividuais - O Estado e o Direito na Ordem Contemporacircnea Livraria do

Advogado Porto Alegre 1996

ROCHA J Elias Dubard de Moura Poderes do Estado e Ordem Legal

Editora Universitaacuteria da UFPE Recife 1994

SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 108

ediccedilatildeo Malheiros Satildeo Paulo 1995

SOARES Orlando Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa

do Brasil 88 ediccedilatildeo Forense Rio de Janeiro 1996

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Tiragem desta ediccedilatildeo 400 exemplares

Os artigos assinados satildeo de exclusiva responsabilidade dos autores Eacute permitida a

reproduccedilatildeo total ou parcial dos artigos desta revista desde que seja citada a fonte

Toda a correspondecircncia para revista deveraacute ser endereccedilada agrave

PROFESSORA MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO BORBA DIRETORA

DO CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

AVENIDA SALGADO FILHO CAMPUS UNIVERSITAacuteRIO NATAL - RN

CEP 59072-870 NA T ALRN

REVISTA JURIDICA IN VERBIS

v2 n 4 (dez 1996 - )

Natal Editora da UFRN - EDUFRN 1996_

Semestral

1 Direito - Perioacutedico I Universidade Federal do Rio Grande

do Norte Centro de Ciecircncias Sociais Aplicadas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE

CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE DIREITO CURSO DE

DIREITO

REVISTA JURIacuteDICA IN VERBIS

REITOR

JOSEacute IVONILDO DO REcircGO

VICE REITOR

OacuteTON ANSELMO DE OLIVEIRA

DIRETORA DO CCSA

MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO BORBA

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BENTO HERCULANO DUARTE NETO

CLEANTO FORTUNATO

DARCI PINHEIRO

EDILSON PEREIRA NOBRE JUacuteNIOR

FRANCISCO BARROS DIAS

IVAN LIRA DE CARVALHO

JULlANO SIQUEIRA

LUiS ALBERTO DANTAS FILHO

MARCELO NAVARRO RIBEIRO DANTAS

MARIA DO PERPEacuteTUO SOCORRO

WANDERLEY MARIA DOS REMEacuteDIOS

FONTES

MONICA FURTADO

NADJA CALDAS LOPES CARDOSO

ROSENITE ALVES DE OLIVEIRA

TATIANA MENDES CUNHA

WAL TER NUNES DA SILVA JUacuteNIOR

PROFESSOR HONORARlO

IVAN MACIEL DE ANDRADE

COMISSAtildeO EOITORIAL

CAIO CEacuteSAR MARQUES BEZERRA

FLAacuteVIA SOUSA DANTAS

FRANCISCO GLAUBER PESSOA

ALVES GIORGIO SINEDINO DE ARAUacuteJO

SIVANILDO DE ARAUacuteJO DANTAS

CAPA

PROFESSORA FAacuteTIMA MARIA DANTAS

COSTA

NORMALIZACcedilAtildeO

PROFESSORA MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO

BORBA

EDITORACcedilAtildeO ELETRONICA

CAIO CEacuteSAR MARQUES BEZERRA

IN VERBIS

EDITORIAL

Pois eacute outra vez aspiramos lutamos e conseguimos a publicaccedilatildeo de mais

um nuacutemero da revista juriacutedica In Verbis (natildeo sem a labuta oacutebvia de praxe mas

recompensados com o feedback que a nossa revista vem recebendo)

Na verdade nossos esforccedilos natildeo podiam ter melhor regozijo A

divulgaccedilatildeo dos perioacutedicos anteriores por todo Brasil e vaacuterias universidades estrangeiras

citemos Coimbra e Harvard como exemplo soacute nos tem trazido prazer e satisfaccedilatildeo

Agradecimentos agraves funcionaacuterias do setor de doaccedilatildeo da Biblioteca Zila Mamede que nos

ajudaram bastante nesse Intento

Sem embargo da modeacutestia devida podemos dizer que a semente lanccedilada

na primeira revista eacutepoca na qual o nuacutemero de artigos natildeo ultrapassou treze limitados

ao maacuteximo de trecircs folhas jaacute se tomou ao longo da nossa incipiente histoacuteria uma bela

aacutervore de raiacutezes fortes pois com o total de quase 40 trabalhos recebidos ficou a certeza

de que a In Verbis eacute um veiculo perene dos graduandos do Curso de Direito da UFRN

para divulgaccedilatildeo do melhor de cada semestre

Para reunirmos os artigos o intenso fomento inicial foi substituiacutedo pela

iniciativa espontacircnea e numerosa dos estudantes restando agrave Comissatildeo Editorial a grata

mas natildeo menos difiacutecil tarefa de estabelecermos limites e criteacuterios para a publicaccedilatildeo

dos trabalhos que se enquadrassem ao perfil da nossa revista (vide ao fim deste

volume as regras atualizadas para apresentaccedilatildeo de originais) modificando a realidade

anterior de publicar quase a totalidade dos artigos entregues

Eacute com prazer que informamos que hoje natildeo somente os estudantes da

UFRN mas tambeacutem os de outras instituiccedilotildees de ensino bem assim os jaacute graduados na

ciecircncia do direito estatildeo honrando-nos com sua produccedilatildeo intelectual

Em virtude desta profiacutecua e dignificante mostra de que estatildeo os que

fazem a comunidade juriacutedica potiguar mais do que nunca fazendo valer os anseios de

produccedilatildeo cientiacutefica de que dela se espera estamos em atenccedilatildeo agraves sugestotildees dos nossos

abnegados lentes insistindo para que os alunos procurem a orientaccedilatildeo de professores e

profissionais do direito ao elaborarem seus trabalhos com vistas a um maior apego

juriacutedico - cientifico agrave temaacutetica a ser proposta e a evitar-se tambeacutem a repeticcedilatildeo da forma

de abordagem a qual eacute dada aos temas

Eacute evidente que produzir uma revista de quarenta artigos seria

impraticaacutevel (natildeo indesejaacutevel) e tambeacutem extremamente maccedilante ao leitor Por isso

pedimos a compreensatildeo daqueles que dispensaram seu tempo almejando a publicaccedilatildeo

dos seus artigos e natildeo atingiram sua meta pois de modo algum isto constitui demeacuterito

porquanto todos os trabalhos alcanccedilaram excelente niacutevel Essa realidade transformasse

sim em um novo desafio arraigado pela realidade do elevado niacutevel de propriedade com

que os temas vem sendo tratados

Por isso que foi adotado pelos editores o criteacuterio de privilegiar os

trabalhos dos estudantes da graduaccedilatildeo que obtiveram melhor conceito junto ao corpo

discente Enfim renovamos o convite para que todos continuem colaborando conosco

A Revista Juriacutedica In Verbis ciente tambeacutem das modernidades e da

praticidade com que os computadores nos permitem conviver hoje em dia para breve

estaraacute inaugurando o nosso endereccedilo na Internet ampliando por conseguinte os meios

de divulgaccedilatildeo da nossa cultura juriacutedica

Outrossim os entendimentos no sentido de reconhecer-se a nossa

gloriosa In Verbis como publicaccedilatildeo oficial da UFRN (estaacute dando assim apta a emissatildeo

de certificados) estatildeo encaminhados Com o apoio prometido pela Pr6-Reitoria de

Extensatildeo Universitaacuteria queremos crer que para o proacuteximo nuacutemero esse ideal jaacute seraacute

realidade

Alguns dos nossos pioneiros companheiros - de grata lembranccedila -

Eduardo Medeiros Cavalcanti e Faacutebio Barbalho Leite se formaram e deixaram o

Conselho Editorial ocupados agora com a realidade concreta da realizaccedilatildeo profissional

restando-nos um certo vazio e a nossa grande torcida a estes noveacuteis operadores do

Direito Mas em compensaccedilatildeo juntaram-se a noacutes nessa batalha aacuterdua que eacute publicar a

In Verbis os colegas Flaacutevia Sousa Dantas e Sivanildo de Arauacutejo Dantas que desde

logo se integraram agrave filosofia da revista colaborando substancialmente para este

nuacutemero Fica o convite para que outros graduandos venham e ajudem-nos a perpetuar

essa realidade

Agradecemos ao Magniacutefico Reitor Ivonildo Recircgo agrave Diretora do CCSA

Professora Socorro Barba e ao nosso aguerrido Professor Walter Nunes da Silva Juacutenior

(que junto com a segunda estaacute conosco desde os nossos primoacuterdios incentivando e

dando-nos a certeza de sermos absolutamente normais em levar essa ideacuteia agrave frente) por

possibilitarem a impressatildeo deste nuacutemero junto agrave Editora Universitaacuteria e natildeo mais com

recursos proacuteprios (que por sinal estavam deveras escassos) Fica o obrigado e a

esperanccedila concreta de que esta alianccedila seja duradoura

Por derradeiro expressamos a nossa gratidatildeo a todos os professores que

nos ajudaram analisando os trabalhos aconselhando-nos ouvindo-nos e loacutegico

encorajando-nos a fazer mais este nuacutemero

Que a acolhida deste novo volume alcance o ecircxito proveitoso dos

anteriores e lance as luzes para o proacuteximo

Como dito no iniacutecio a planta cresceu e criou raiacutezes cabe-nos a todos

agora regaacute-la para que natildeo soccedilobrem os nobres esforccedilos expendidos ateacute aqui pela

comunidade acadecircmica

A COMISSAtildeO EDITORIAL

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO ABORTO E DA PENA DE

MORTE

Adrianne Maria Ribeiro de Souza

BREVE ENFOQUE ACERCA DA ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA NO

PROCESSO TRABALHISTA Alba Paulo de Azevedo

ARBITRAGEM A Lei nordm 930796 Azevedo Hamilton Cartaxo

DESVINCULACcedilAtildeO DA SEPARACcedilAtildeO DOS PODERES COM A

IDEacuteIA DE DEMOCRACIA Car1ine Regina de Negreiros Cabral

ASPECTOS DA REINCIDEcircNCIA PARA EFEITO DE CONCESSAtildeO

DE LIVRAMENTO CONDICIONAL Cristina Silva Macecircdo

A INFORMATIZACcedilAtildeO DAS ELEICcedilOtildeES A EXPERIEcircNCIA DA

JUSTICcedilA ELEITORAL EM NATAL RN Eliane Nascimento de Meio

DO NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL E SUAS IMPLICACcedilOtildeES

Everton Amaral de Arauacutejo

DOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO E SEUS POSSIVEIS

EFEITOS INFRINGENTES Francisco Glauber Pessoa Alves

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO REQUISITO EMBARACcedilOSO A ATIVIDADE

POSTULATOacuteRIA Joatildeo Eduardo Ribeiro de Oliveira

NEOLlBERALlSMO INIMIGO DA CIDADANIA Leifson Gonccedilalves

Holder da Silva

AUTORIDADE COATORA EM MANDADO DE SEGURANCcedilA -

ANAacuteLISE COM BASE EM CASO CONCRETO Luana Pedrosa de Figueiredo

Cruz

Eacute A JUSTICcedilA A REAL META DO DIREITO Roberto Di Sena Juacutenior

COMENTAacuteRIOS Agrave LEI QUE REGULAMENTA A PRODUCcedilAtildeO DE

PROVAS MEDIANTE INTERCEPT ACcedilAtildeO DE COMUNICACcedilOtildeES Rossana de

Arauacutejo Rocha

QUEM ASSUME A TITULARIDADE DE UMA PREFEITURA

CASO O PREFEITO ELEITO VENHA A FALECER ANTES DA

DIPLOMACcedilAtildeO Sivanildo de Arauacutejo Dantas

ABRE TEUS OLHOS THEacuteMIS Vanessa Alessandra Pereira

CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Vicente Eliacutesio de Oliveira Neto

DIREITO A EDUCACcedilAtildeO E INICIATIVA PRIVADA Vladimir

Azevedo de Mello

CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO ABORTO E DA PENA DE

MORTE

Adrianne Maria Ribeiro de Souza Acadecircmica do 9deg periacuteodo do Curso de

Direito da UFRN

A moral poliacutetica natildeo pode oferecer agrave Sociedade qualquer vantagem

perduraacutevel se natildeo estiver baseada em sentimentos indeleacuteveis do coraccedilatildeo humano

Cesare Beccaria

o aborto e a pena de morte Poucos temas tecircm dividido tanto a sociedade

como estes O primeiro continua na clandestinidade enquanto o segundo tem sua versatildeo

mais sutil nas precaacuterias instalaccedilotildees carceraacuterias espalhadas por todo o pais A anaacutelise de

ambos suscita necessariamente indagaccedilotildees morais sociais econocircmicas poliacuteticas e

religiosas onde sobra complexidade e falta consenso Aqueles que os condenam vecircem

neles um problema que deflagra as mazelas de uma sociedade extremamente injusta

Por sua vez os defensores consideram-nos como soluccedilatildeo imediata para uma situaccedilatildeo

que se apresenta insustentaacutevel

Problema ou soluccedilatildeo ambos potildeem fim ao bem mais precioso do ser

humano a vida Aliaacutes eacute esta a consequumlecircncia mais inquietante a respeito do aborto e da

pena de morte Uma vida abreviada eacute um bem irrecuperaacutevel Uma vez consumados natildeo

haveraacute mais lugar para retrocesso Inexistiratildeo meios de corrigir erros Gostando ou natildeo

ao legalizar tais situaccedilotildees a sociedade sempre deparar-se-aacute com a seguinte pergunta

temos o direito de tirar a vida de algueacutem

A despeito do peso moral de tais questotildees defender o aborto e a pena de

morte eacute ateacute cocircmodo afinal eacute mais faacutecil livrar-se de qualquer maneira de um problema

a enfrentaacute-Io Complicado eacute procurar soluccedilotildees significativas que se algum dia forem

alcanccediladas demandaratildeo um empenho exaustivo natildeo soacute do governo mas de toda a

sociedade Para ter resultados concretos e duradouros natildeo haacute outro caminho senatildeo o de

uma profunda reforma social no paiacutes1

Natildeo raro eacute tentar expor o problema como se fosse um caacutelculo

matemaacutetico de propriedade transitiva de igualdade Atente-se por exemplo ao que se

comenta sobre a pena de morte Se eacute sabido que as dificuldades financeiras de algueacutem

incitam a violecircncia e se nada podemos fazer para resolver tais problemas - porque jaacute nos

bastam os nossos - entatildeo nada podemos fazer para amenizar toda esta violecircncia em

1 Nesse particular Virgiacutelio Donnici em seu estudo sobre a criminal idade no Brasil considera

que a miseacuteria e a pobreza causam desvios de comportamento e que aqui surge uma crescente

criminalidade aquisitiva e assustadora () cujos autores superlotam as prisotildees brasileiras

anotando-se que os seus ocupantes satildeo produtos de uma inadaptaccedilatildeo social e econocircmica () os

paacuterias da sociedade brasileira injusta e desigual sociedade falida que precisa ser mudada na sua

estrutura social de maneira funda e total com uma melhor distribuiccedilatildeo de riqueza sob pena de

nos tornarmos um Brasil de assassinos todos armados agrave procura de comida agrave procura de paz agrave

procura de tranquumlilidade que natildeo pode ser resolvida pela violecircncia policial como se o problema

da criminal idade crescente no Brasil fosse um problema de poliacutecia de matar para eliminar

aqueles que incomodam mas que na verdade o Estado natildeo Ihes daacute condiccedilotildees miacutenimas para

sobreviver Ob Cit p 238

potencialrdquo Sendo assim porque percorrer este caminho tatildeo demorado e difiacutecil que eacute o

da redistribuiccedilatildeo de renda enquanto assistimos aos nossos jovens serem mortos por um

par de tecircnis

O problema eacute que atenuar os iacutendices da violecircncia proporcionando

melhoria de vida agraves camadas marginalizadas da sociedade ateacute pode parecer uma

realidade distante mas o agente da violecircncia eacute um alvo concreto A injeccedilatildeo letal ou a

cadeira eleacutetrica eacute capaz de acabar em segundos com este agente impedindo-o de vez de

proliferar a violecircncia que gera BECCARIA em brilhante reflexatildeo acerca da pena de

morte argumenta que ela natildeo se apoia em nenhum direito Eacute guerra que se declara a um

cidadatildeo pelo paiacutes que considera necessaacuteria ou uacutetil a eliminaccedilatildeo desse cidadatildeo Em

seguida completa e desafia se eu provar contudo que a morte nada tem de uacutetil ou

necessaacuterio ganharia a causa da humanidaderdquo2

Eacute flagrante e por vezes compreensiacutevel esta insatisfaccedilatildeo com toda a

violecircncia desmedida da qual somos viacutetimas potenciais A cada noticiamento da

imprensa cresce o sentimento de revolta e a necessidade de obter soluccedilotildees imediatas

Quando o cidadatildeo comum abre o jornal e lecirc manchetes como Bala perdida de um

assalto vitima crianccedila que brincava por perto fica difiacutecil natildeo pensar na hipoacutetese ainda

que por segundos com simpatia As passeatas em prol da paz no Rio de Janeiro e em

Satildeo Paulo a pressatildeo em tomo da reforma do Coacutedigo Penal satildeo apenas alguns dos sinais

deste estado de descontentamento que nos tem acometido3

Chegar a uma conclusatildeo sobre o que considerar ou natildeo quando da

aplicaccedilatildeo de uma pena de morte eacute tarefa no miacutenimo densa O caso concreto eacute sempre

desafiador e a consulta agraves obras claacutessicas norteia mas eacute o seu senso comum quem

ditaraacute as regras do certo e do justo4

Preocupante pois eacute saber que este julgador

encontra-se numa sociedade onde ainda se manteacutem especialmente na regiatildeo Nordeste

as mesmas amarras do coronelismo aacuteureo da deacutecada de 20 A atividade jurisdicional

desta sociedade estaacute confiada a um poder judiciaacuterio em regra lento e pouco

aparelhado onde o juiz por vezes sequer possui um ambiente de trabalho digno e

coerente com a relevante funccedilatildeo que exerce Ambos representantes da dicotomia

sociedade-juiz iratildeo estar agrave frente da aplicaccedilatildeo da pena capital atraveacutes da instituiccedilatildeo do

tribunal do juacuteri Por isso eacute de bom alvitre analisar tais aspectos antes de defendecirc-Ia e

soacute entatildeo responder com isenccedilatildeo de acircnimo a seguinte pergunta O Brasil tem estrutura

2 Cesare Beccaria Dos delitos e das penas ob cit p 45

3 Tenha-se como exemplo o texto de um informe do Jornal do Brasil que traduz com

perfeiccedilatildeo a consciecircncia coletiva sobre o assunto E eacute bom lembrar que esta cidade natildeo eacute uma selva porque na selva o otimismo milenar criou regras de comportamento O mais forte devora o mais fraco dentro do equiliacutebrio ecoloacutegico e natural Na megaloacutepole sem respeito pelo homem como no Rio a situaccedilatildeo eacute muito pior Aqui natildeo haacute regra ou lei a natildeo ser a da cobiccedila que contamina e explode na noite escura em orgias de sangue rito e celebraccedilatildeo de um tempo de assassinos 25 jul 1982

4 Satildeo diversos os trabalhos cientiacuteficos cujas obras tornaram-se claacutessicos do estudo da

criminologia dentre as quais destacam-se as contribuiccedilotildees antropoloacutegicas de Lombroso endocrinoloacutegicas de Nicola Pende biotipoloacutegiacutecas de Kreschemer geneacuteticas de Havelock psicoloacutegicas de Watson socioloacutegicas de Ferri psicanaliacuteticas de Freud e morais de Abercombry Todas oferecem ao julgador visotildees controvertidas ao mesmo que o conscientiza da multiplicidade

de enfoques sobre o mesmo tema

para comportar a responsabilidade que eacute adotar a pena capital

O paiacutes natildeo pode julgar-se preparado para uma puniccedilatildeo tatildeo severa sem a

certeza de que asseguraraacute um julgamento o mais justo possiacutevel Uma questatildeo tatildeo

delicada onde o condenado perderaacute sua vida merece um envolvimento maior do

julgador em relaccedilatildeo a uma lide patrimonial

A pena capital estaacute prevista somente para os crimes dolosos contra a

vida o que nos regride ao Coacutedigo de Hamurabi e seu princiacutepio middotolho por olho dente por

dente Na concepccedilatildeo superficial de seus defensores eacute nesta conduta delituosa que se

revela a parcela mais hedionda e indesejaacutevel da sociedade Necessaacuterio poreacutem levar em

consideraccedilatildeo o estresse diaacuterio do mundo moderno capaz de nos deixar agrave mercecirc de

circunstacircncias adversas potencialmente violentos Eacute por essa razatildeo que o homiciacutedio ao

contraacuterio do que aparenta natildeo eacute o crime dos socialmente irrecuperaacuteveis Os crimes

contra o patrimocircnio satildeo evitados sobretudo por um senso eacutetico muito forte que uma vez

desassociados de dificuldades econocircmicas raramente tenderatildeo a surtir rompantes

delituosos Natildeo eacute o que ocorre com o homiciacutedio As circunstacircncias que detonam a

praacutetica desta violecircncia extremada satildeo cheias de peculiaridades que natildeo podem ser

desconsideradas5

Eacute perfeitamente possiacutevel que um cidadatildeo comum numa briga de

tracircnsito depois de um dia cheio perca a paciecircncia e impensadamente saque uma arma

A sociedade tema obrigaccedilatildeo moral de refletir sobre tais aspectos e soacute

entatildeo concluir se a pena de morte realmente resolve De todos os questionamentos aqui

apostos este eacute sem duacutevida o mais crucial Confiar que os iacutendices de criminalidade

diminuiratildeo face agrave possibilidade de uma iminente puniccedilatildeo numa cadeira eleacutetrica eacute ateacute

ingecircnuo Uma pessoa normal decidida a cometer um delito jaacute se despiu completamente

de seus princiacutepios morais e o faraacute por interesses diversos que anularam a consciecircncia do

mal a ser produzido ou da puniccedilatildeo a que ficaraacute sujeito E isto natildeo eacute soacute consequumlecircncia de

um sistema punitivo falho que produz a certeza da impunidade propaganda como o

grande mal do ordenamento penal paacutetrio natildeo importa o quanto esteja bem estruturado o

sistema penal de uma naccedilatildeo os delitos sempre existiratildeo por razotildees as mais banais O

indiviacuteduo disposto a cometer um crime dificilmente vislumbraraacute a cena de sua execuccedilatildeo

com injeccedilotildees letais6 Os Estados Unidos um dos paiacuteses mais desenvolvidos do mundo

adotou a pena de morte em muitos estados-membros de sua federaccedilatildeo e nem por isso

5 Vitorino Prata Castelo Branco inicia seu estudo sobre a criminalidade indagando-se por que o

homem furta agride eou mata Conclui que o homem eacute um animal como qualquer outro

sujeito agraves mesmas leis que regem todos os seres vivos no destino da sobrevivecircncia e da

perpetuaccedilatildeo da Espeacutecie Leis bioloacutegicas referentes agrave vida leis mesoloacutegicas referentes ao meio

ambiente leis socioloacutegicas referentes agrave convivecircncia social leis patoloacutegicas referentes agrave

moleacutestias diversas especialmente mentais Ob Cit p 15

6 Esta conclusatildeo embora considere a regra natildeo eacute absoluta Reconheccedilo o poder repressor das

normas penais entendo-as poreacutem sem forccedila perante pessoas amorais Neste sentido distancio-me da sempre respeitada opiniatildeo de Beccaria para o qual sendo as leis cumpridas agrave letra qualquer cidadatildeo pode calcular exatamente os inconvenientes de uma accedilatildeo reprovaacutevel e Isto eacute uacutetil pois este conhecimento poderaacute fazer com que se desvie do crime Ob Cit p 16 O doutrinador criminalista Emst Seelig em sua obra Manual de Criminologia Z registra um

fato interessante o estado psiacutequico do condenado eacute fundamentalmente muito variado segundo

sua personalidade Muitos assassinos desejam expiar o seu crime por meio da morte outros ao

contraacuterio - especialmente os criminosos profissionais - apresentam-se em frente da morte

proacutexima com a qual jaacute contava embotados e fazem consideraccedilotildees cinicas Cp) O ladratildeo

assassino de Paris Charrier fumava um cigarro agrave vista da guilhotina Ob Cit p 181 e 182

deixou de ter um dos maiores iacutendices de criminalidade que conhecemos7

Aqueles que condenam o aborto e a pena de morte inevitavelmente

deparam-se com delicadas questotildees intencionalmente indagadas para derrubar seus

argumentos tais como E se fosse vocecirc O que vocecirc faria para lidar com uma gravidez

indesejada ou com o assassinato brutal de um parente querido

Pode-se rebater tais indagaccedilotildees argumentando que o ideal seria no

primeiro caso que a gravidez fosse devidamente evitada e no segundo caso que a

marginal idade fosse atenuada pela garantia a todos de uma vida digna sem a miseacuteria

que induz agrave violecircncia Mas como atingir este ideal se apenas 22 aproximadamente

das mulheres brasileiras na faixa de 15 a 54 anos utiliza algum meacutetodo anticonceptivo e

se 286 da populaccedilatildeo vive nas mais precaacuterias condiccedilotildees de moradia (entenda-se

barracos ou favelas) Num paiacutes onde 561 natildeo tem instruccedilatildeo e ou sequer completam

um ano de estudo8

O ideal de uma sociedade mais justa seria aquele em que todos tivessem

acesso efetivo ao miacutenimo necessaacuterio A Carta Magna nacional inclusive elenca no art

3ordm e incisos aqueles que constituem os objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa

do Brasil a saber a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e solidaacuteria a garantia do

desenvolvimento nacional a erradicaccedilatildeo da pobreza e da marginalizaccedilatildeo e a reduccedilatildeo

das desigualdades sociais e regionais bem como a promoccedilatildeo do bem de todos sem

preconceito de origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de

discriminaccedilatildeo Esteticamente bonito sem duacutevida mas infelizmente apenas teoacuterico na

realidade hodierna

Pelo menos a pena capital inobstante seus adeptos ainda se resume a

projetos de lei que tramitam nas gavetas do Congresso Nacional e ateacute que se cogite

seriamente sobre a sua legalizaccedilatildeo eacute certo que seraacute questionada por uma sociedade

tradicionalmente aversa a esta hipoacutetese Este eacute um aspecto positivo

O mesmo infelizmente natildeo ocorre com relaccedilatildeo ao aborto porque quer o

governo ou a sociedade condenem a sua praacutetica ou natildeo ela existe e vai continuar

existindo independentemente de legalizaccedilatildeo Enquanto os poliacuteticos desconversam sobre

o tema para natildeo se comprometerem ou a igreja repudia o uso de preservativo o aborto

continua acontecendo clandestinamente em ldquofundos de quintais onde mulheres pagam

fortunas para abortar nas mais precaacuterias condiccedilotildees possiacuteveis correndo inclusive riscos

de vida

Eacute este o aspecto mais traacutegico que muitos me ldquoesquecemrdquo de abordar

quando estatildeo em seus discursos ldquoproacute vida e famiacutelia brasileira Na realidade poucas

satildeo as mulheres que diante das dificuldades financeiras pelas quais passam da

violecircncia do mundo moderno e da falta o que eacute bem frequumlente do apoio do

7 Nos paises de cultura elevada poupados a convulsotildees poliacuteticas graves as execuccedilotildees tornaram-

se cada vez mais raras Agrave praacutetica crescente do indulto seguiu-se finalmente e pouco a pouco a

aboliccedilatildeo da pena de morte Paises como a Noruega Sueacutecia e Alemanha que aboliram-na em

definitivo desde 19051921 e 1937 respectivamente Na Aacuteustria em 1746 Sonnenfels

defendeu a tese segundo a qual as penas de morte deveriam ser substituiacutedas pelo trabalho

forccedilado severo para fins de utilidade puacuteblica Mas foi somente em 1950 que esta naccedilatildeo

suprimiu com forccedila de lei a pena capital 8 Dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE constantes na

mais recente pesquisa por amostra de domiciacuteliosrdquo realizada no ano de 1995 Ressalve-se entretanto que a pesquisa foi feita somente com 10 do total de domiciacutelios de cada Estado-membro da federaccedilatildeo segundo a proacutepria rotina desta instituiccedilatildeo

companheiro optariam por enfrentar tudo isso e criariam seus filhos sozinhas E

indubitavelmente todos estes problemas vatildeo estar muito mais incutidos nas mentes

delas na hora de tomar uma decisatildeo do que a figura do padre de sua paroacutequia dizendo

que o aborto eacute contra as leis de Deus ou o dispositivo do Coacutedigo Penal que o tipifica

como crime

Um dos argumentos a favor do aborto sustenta-se na negaccedilatildeo da vida

nos primeiros meses de gestaccedilatildeo portanto natildeo haveria de se falar em crime Ao

discutir a legalizaccedilatildeo do aborto eacute imprescindiacutevel distinguir a partir de qual momento

haacute vida no feto A questatildeo natildeo eacute pacifica A religiatildeo entende vivo o ser desde a

concepccedilatildeo mas a medicina tende a considerar a vida a partir da formaccedilatildeo total dos

oacutergatildeos essenciais do feto De qualquer forma ainda que nos primeiros meses natildeo haja

vida propriamente dita o aborto potildee termo a esta expectativa agrave certeza futura de

formaccedilatildeo de uma vida Daiacute ser compreensiacutevel a propaganda anti-aborto que o

classifica como assassinato em qualquer estaacutegio da gravidez9

Adentre-se no caso do aborto eugeneacutesico criminoso agrave luz das normas

penais brasileiras

Coloquemo-nos entretanto no lugar da crianccedila Seraacute que um bebecirc

disforme condenado a passar o resto de sua vida totalmente dependente dos outros se

tivesse que escolher optaria por viver dessa forma Pode-se considerar vida a simples

passagem pelo mundo sem desfrutar das coisas mais elementares da nossa existecircncia

como constituir famiacutelia ou participar do progresso de seu paiacutes 10

Por outro lado a simples hipoacutetese por mais iacutenfima que seja de uma

resposta positiva jaacute eacute capaz por si soacute de tomar o aborto uma praacutetica incogitaacutevel e

criminosa Esta resposta infelizmente jamais teremos

Tais consideraccedilotildees podem parecer superficiais demais frente a um

assunto tatildeo complexo e polecircmico mas eacute loacutegico a intenccedilatildeo natildeo eacute exaurir o tema que

demandaria muito mais que este despretensioso artigo para ser devidamente debatido A

proposta poreacutem eacute exatamente a que por ora aqui se encontra ou seja abordar alguns

aspectos do aborto e da pena de morte com isenccedilatildeo da corriqueira conclusatildeo a favor ou

contra Mesmo porque embora cientes desses aspectos na pressa de tomarmos algum

posicionamento natildeo raro deixamos de ponderaacute-Ios

10 o eminente mestre penalista Magalhatildees de Noronha posiciona-se

radicalmente contra a hipoacutetese do chamado aborto eugeneacutesico ou eugecircnico vide

consideraccedilotildees apostas no Diaacuterio de Satildeo Paulo de 02 de agosto de 1962 transcritas e

reafirmadas em sua obra de Direito Penal cujo texto ele finaliza da seguinte forma

Como quer que seja todo ser nascido de mulher possua a forma que possuir eacute

humano eacute homem eacute sujeito de direito e tem personalidade A doutrina do Direito

9 Paulo Seacutergio Leite Fernandes argumenta que No aspecto moral alguns natildeo reconhecem vida

no ovo Crecircem que enquanto o feto natildeo adquiriu semelhanccedila agrave pessoa humana inexiste qualquer Impedimento agrave extirpaccedilatildeo Satildeo censurados com razatildeo pelos que natildeo estabelecem qualquer distinccedilatildeo entre o oacutevulo apenas fecundado e o feto jaacute desenvolvido Eacute claro que nenhuma diferenccedila haacute entre um e outro porque em ambos haacute uma centelha haacute vida independentemente da forma ou das caracteriacutesticas humanas adquiridas por um e ausentes no outro O problema fundamental ou essencial eacute que os defensores do abortamento natildeo sentem questotildees de consciecircncia na extirpaccedilatildeo de um oacutevulo fecundado com poucos dias de vida sentindo-as entretanto quando o produto a ser extirpado jaacute se apresenta agrave sua imagem e semelhanccedila O ato no entanto em qualquer caso eacute o mesmo pois aquele que natildeo tem forma humana a teria breve natildeo fosse destruiacutedordquo Ob Cit p 47

Romano que negava capacidade juriacutedica aos que contra formam humani generis

converso more proceantur natildeo seria hoje toleraacutevel Ob Cit p 63 e Diaacuterio de Satildeo

Paulo 12 ago 1962

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BECCARIA Cesare Dos delitos e das penas Traduccedilatildeo de Torrieri

Guimaratildees Satildeo Paulo Hemus Editora

BRANCO Vitorino Prata Castelo Criminologia 1- 00 - Satildeo Paulo

Sugestotildees Literaacuterias 1980

CASTIGLlONE Teodolino contemporacircnea - Satildeo Paulo Lombroso

perante a criminologia Saraiva 1962

DONNICI Virgilio Luiz A criminalidade no Brasil (meio milecircnio de

repressatildeo) - Rio de Janeiro Forense 1984

VERGARA Pedro Dos motivos determinantes no Direito Penal 2- ed -

Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1980

FERNANDES Paulo Seacutergio Leite Aborto e infanticiacutedio 1- ed - Rio

de Janeiro Forense Universitaacuteria 1972

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Pesquisa

Nacional por amostra de domiciacutelios 1995

NORONHA E Magalhatildees Direito Penal 26ordf ed - Satildeo Paulo Saraiva

1994 Vol 2

PACINI Dante Filosofia da ciecircncia criminal - Rio de Janeiro Editora J

Di Giorgio 1983

SEELlG Emst Manual de criminologia 2 Traduccedilatildeo de Guilherme de

Oliveira revisado por Eduardo Correia - Coimbra Coimbra Editora 1950

SUTHERLAND Edwin H Principies of criminology 3- ed - Chicago

J B

Lippincott Company 1939

TARDE Gabriel A criminalidade comparada Traduccedilatildeo de Ludy Veloso

Rio de Janeiro Editora Nacional de Direito 1957

TAYLOR lan Paul Walton e Jock Young Criminologia criacutetica

Traduccedilatildeo de Juarez Cirino dos Santos e Seacutergio Tancredo - Rio de Janeiro Ediccedilotildees

Graal 1980

VERGARA Pedro Dos motivos determinantes no Direito Penal 2- ed -

Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1980

BREVE ENFOQUE ACERCA DA ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA NO

PROCESSO TRABALHISTA

Alba Paulo de Azevedo Acadecircmica do 7deg Periodo do Curso de Direito da

UFRN

1Exoacuterdio 2Consideraccedilotildees iniciais 3 Perfil histoacuterico 4 Cabimento

5 Procedimento 6Agrave guisa de arremate 7 Bibliografia

1 EXOacuteRDIO

Ab initio cumpre asseverar que o afatilde deste ensaio eacute apresentar numa

exibiccedilatildeo de um instante algumas observaccedilotildees atinentes agrave ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA no

acircmbito da JUSTICcedilA OBREIRA

Seratildeo trazidas agrave baila as inovaccedilotildees da Accedilatildeo Monitoacuteria agrave luz da lei

Ndeg 9079 de 14 de julho de 1995 bem como sua adequaccedilatildeo agrave seara trabalhista

fundamentalmente pela celeridade do procedimento fator de profunda relevacircncia para a

soluccedilatildeo dos conflitos laboristas Celeridade que se mostra cada vez mais urgente face agrave

condiccedilatildeo social desfavoraacutevel do trabalhador imposta pela conjuntura soacutecio-econocircmico-

poliacutetica Eis por que a azaacutefama de uma resposta jurisdicional agraves pretensotildees deduzidas

pelo trabalhador urge nos dias atuais sob pena de agravamento dessa condiccedilatildeo social

constrangedora

Certamente faltaratildeo muitos pontos a abordar poreacutem valeraacute este

breve estudo se porventura forem suscitadas discussotildees que tragam soluccedilotildees para os

impasses no que tange ao cabimento da Monitoacuteria na Justiccedila do Trabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A Accedilatildeo Monitoacuteria criada pela Lei Ndeg 9079 de 140795 foi instituiacuteda

em nosso sistema processual acrescentando-se trecircs artigos ao CPC no final da parte que

disciplina os procedimentos especiais de jurisdiccedilatildeo contenciosa

Na liccedilatildeo do ilustre JOSEacute ROGEacuteRIO CRUZ e TUCCI a Accedilatildeo Monitoacuteria

eacute O meio pelo qual o credor de quantia certa ou de coisa determinada cujo creacutedito

esteja comprovado por documento haacutebil requerendo a prolaccedilatildeo de provimento judicial

consubstanciado em uacuteltima anaacutelise num mandado de pagamento ou de entrega de

coisa visa a obter a satisfaccedilatildeo de seu direito

Trata-se entatildeo de accedilatildeo de conhecimento condenatoacuteria de cogniccedilatildeo

sumaacuteria e com rito especial tendo por objetivo maior alcanccedilar-se o tiacutetulo executivo de

maneira antecipada sem a demora de um processo de conhecimento tiacutepico que

apresenta uma sentenccedila de meacuterito recurso e transito em julgado

Com efeito eacute real a possibilidade de o trabalhador fazer uso da

Monitoacuteria pois eacute exatamente no processo do trabalho onde a necessidade da soluccedilatildeo

raacutepida dos conflitos se manifesta de forma dramaacutetica Ademais estariacuteamos tatildeo-somente

utilizando o procedimento especial civil de forma subsidiaacuteria Obviamente haacute que se

respeitar as peculiaridades do procedimento trabalhista

3 PERFIL HISTOacuteRICO

Natildeo se trata de um instituto oriundo do direito paacutetrio Eis que a

preocupaccedilatildeo com a demora do procedimento ordinaacuterio remonta aos legisladores

medievos e estes vieram a instituir o procedimento sumaacuterio Segundo o ilustre

magistrado MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO a Accedilatildeo Monitoacuteria do direito

brasileiro deriva da siacutentese de dois procedimentos medievais em um deles a accedilatildeo

sumaacuteria se fundava em escritura puacuteblica ou privada cuja certeza do direito alegado

estampada em prova preconstituiacuteda permitia ao juiz proferir desde logo sentenccedila

executiva contanto que citado o reacuteu o outro procedimento dava azo agrave expediccedilatildeo de um

mandado de solvendo inaudita altera parte ou seja natildeo havia citaccedilatildeo para audiecircncia

preacutevia do reacuteu e este era chamado para cumprir a obrigaccedilatildeo Neste caso o reacuteu poderia

arguumlir determinadas exceccedilotildees e obviamente a ordem judicial natildeo seria executada

passando a accedilatildeo a ser regida pelo procedimento ordinaacuterio

A Monitoacuteria deve ser embasada em prova escrita podendo o reacuteu

embargar hipoacutetese em que o mandado de solvendo perderaacute a eficaacutecia resolvendo-se

meramente em simples instrumento de citaccedilatildeo

Sucesso em vaacuterias legislaccedilotildees da Europa como na Itaacutelia Alemanha

Aacuteustria Franccedila e Beacutelgica a Monitoacuteria reflete duas espeacutecies de procedimento o puro e

o documental No primeiro a emissatildeo da ordem de pagamento natildeo se lastreia

necessariamente na existecircncia de prova escrita da diacutevida ao passo que no documental a

determinaccedilatildeo judicial deve sempre basear-se em prova incontestaacutevel do creacutedito

Via de regra o procedimento injuntivo ou monitoacuterio exige os mesmos

requisitos do procedimento comum devendo ser iniciado mediante peticcedilatildeo escrita

visando agrave obtenccedilatildeo de decisatildeo condenatoacuteria

Na Alemanha pode ser iniciado verbalmente e visa agrave obtenccedilatildeo de um

simples mandado de pagamento Todavia para o deferimento do mandado de

pagamento haacute legislaccedilotildees que exigem a exibiccedilatildeo de prova escrita incontestaacutevel

(ITAacuteLIA E BEacuteLGICA) Outros sistemas processuais exigem apenas a exibiccedilatildeo com a

exordial de prova justificativa do requerimento formulado (FRANCcedilA ALEMANHA

AacuteUSTRIA)

O legislador brasileiro aderiu ao procedimento documental quando

preceitua no art 1102a do CPC - DA accedilatildeo monitoacuteria compete a quem pretender com

base em prova escrita sem eficaacutecia de tiacutetulo executivo pagamento de soma em

dinheiro entrega de coisa fungiacutevel ou de determinado bem moacutevel

O modelo claacutessico da teacutecnica monitoacuteria foi adotado pelo sistema

processual paacutetrio onde o pronunciamento jurisdicional alvitrado eacute proferido inaudita

altera parte diferindo-se assim para um momento ulterior a possibilidade do

contraditoacuterio

Eacute de bom alvitre lembrar que a prova escrita do creacutedito deve ser

desprovida de eficaacutecia executiva

O escopo evidenciado em todas as legislaccedilotildees desses paiacuteses -

ALEMANHA AUSTRIA ITAacuteLIA FRANCcedilA BRASIL - no procedimento injuntivo

eacute essencialmente a ceacutelere constituiccedilatildeo de um tiacutetulo executivo judicial

4 CABIMENTO

A Monitoacuteria reflete basicamente um duplo objetivo A finalidade

primeira evidencia-se no cumprimento voluntariamente do mandado de solvendo pelo

devedor satisfazendo portanto a obrigaccedilatildeo de plano caso isso natildeo ocorra tem-se a

formaccedilatildeo do titulo executivo judicial A constituiccedilatildeo do tiacutetulo executivo judicial se

traduz no segundo escopo podendo se dar em duas situaccedilotildees quais sejam na ausecircncia

de oposiccedilatildeo pelo reacuteu ao mandado judicial ou pela rejeiccedilatildeo dos embargos pelo juiz

Ora o processo monitoacuterio vem a colocar-se entre o processo de

conhecimento e o processo de execuccedilatildeo encurtando o processo de conhecimento de

maneira a prescindir do cumprimento da fase instrutoacuteria e formalizaccedilatildeo da fase

decisoacuteria e em adequada antecipaccedilatildeo do processo de execuccedilatildeo face agrave desnecessaacuteria

instrumentalizaccedilatildeo por tiacutetulo constituiacutedo atraveacutes de sentenccedila ou da assemelhaccedilatildeo na

titulaccedilatildeo preacute-constituida

A execuccedilatildeo por quantia certa contra devedor solvente retrata a

modalidade de execuccedilatildeo mais frequumlente no processo trabalhista pois que a natureza do

creacutedito do trabalhador eacute na maioria das vezes pecuniaacuteria

O cabimento e a utilidade da Accedilatildeo Monitoacuteria no acircmbito da Justiccedila

Trabalhista satildeo notaacuteveis bem assim como outras accedilotildees especiais do processo civil jaacute

tiveram utilidade nesta aacuterea p ex a de consignaccedilatildeo em pagamento a de depoacutesito a de

embargos de terceiros

Atraveacutes da Monitoacuteria o trabalhador que possuir prova escrita de uma

obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa ou de entrega de coisa assumida pelo empregador

poderaacute solicitar ao juiz que conceda Iiminarmente e sem audiecircncia do reacuteu um

mandado para que este quite de imediato a obrigaccedilatildeo sob pena de o seu silecircncio

motivar o proferimento de sentenccedila que passaraacute a funcionar como tiacutetulo executivo

judicial

O cabimento da Accedilatildeo Monitoacuteria no acircmbito trabalhista suscita opiniotildees

divergentes como podemos constatar atraveacutes dos posicionamentos em dissensatildeo de dois

magistrados Para o nobre SEacuteRGIO PINTO MARTINS de Satildeo Paulo a monitoacuteria eacute

incompatiacutevel com as determinaccedilotildees do processo trabalhista pois neste soacute se pode

executar tiacutetulo executivo judicial como regra tomando impossiacutevel a execuccedilatildeo de algo

que nem sequer eacute tiacutetulo executivo como ocorre na accedilatildeo monitoacuteria Natildeo obstante essa

concepccedilatildeo aduzida para o ilustre MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO do Paranaacute

seria injustificaacutevel que se venha a cerrar as portas para a accedilatildeo monitoacuteria com sua

vocaccedilatildeo para tomar menos larga e aflitiva a distacircncia entre a pretensatildeo do autor e o

resultado praacutetico que deseja obter com a entrega da prestaccedilatildeo jurisdicional invocada

Com a devida vecircnia aos posicionamentos contraacuterios agrave Monitoacuteria filio-

me agraves palavras do Magistrado MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO por

vislumbrar na Monitoacuteria uma das soluccedilotildees para inuacutemeras pretensotildees do trabalhador

brasileiro

Ademais como jaacute mostramos anteriormente a Accedilatildeo Monitoacuteria natildeo eacute de

execuccedilatildeo e sim um meio para chegar-se ao tiacutetulo executivo judicial haja vista que o

direito do trabalho natildeo admite a execuccedilatildeo de tiacutetulos extrajudiciais

5 PROCEDIMENTO

A preservaccedilatildeo da especificidade do procedimento trabalhista eacute

fundamental Para tanto entendemos que a Accedilatildeo Monitoacuteria no direito do trabalho

carece de adaptaccedilotildees

Como jaacute enfatizamos a peccedila vestibular deve ser instruiacuteda por

documento que legitime o exerciacutecio da referida accedilatildeo Tal requisito encontra-se natildeo

somente no art 1102 a do CPC como na proacutepria CL T art 787 segundo o qual A

reclamaccedilatildeo escrita deveraacute ser formulada em duas vias e desde logo acompanhada dos

documentos em que se fundar

O autor uma vez preenchidos os requisitos do art 640 da CL T

requereraacute em sua peticcedilatildeo inicial a expediccedilatildeo do mandado de pagamento previsto no

art 1102 do CPC

O Magistrado verificando que a peticcedilatildeo estaacute devidamente elaborada

deferiraacute a emissatildeo do mandado de solvendo onde o objeto seraacute estabelecido atraveacutes do

tipo de obrigaccedilatildeo a ser cumprida pelo reacuteu quais sejam a entrega da coisa fungiacutevel ou

bem moacutevel determinado ou o pagamento de soma em dinheiro

Na seara processual civil o reacuteu eacute citado para em quinze (15) dias

cumprir a obrigaccedilatildeo ou ofertar embargos Entretanto segundo a liccedilatildeo do ilustre

MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO com a qual concordamos no sistema do

processo trabalhista tal procedimento deve ser adaptado agraves peculiaridades deste

processo Entatildeo o reacuteu seraacute citado para cumprir o mandado ou satisfazer a obrigaccedilatildeo

a) em audiecircncia b) que deveraacute ser a primeira desimpedida nos cinco dias subsequumlentes

(CL T art 841 Caput)

Ora a designaccedilatildeo dessa audiecircncia visa a colocar em praacutetica o escopo

singular da justiccedila obreira que eacute a soluccedilatildeo dos conflitos pela soluccedilatildeo negociada e natildeo

apenas a propiciar um momento para o reacuteu responder agrave accedilatildeo ou adimplir sua obrigaccedilatildeo

Destarte no dia aprazado para realizar-se a audiecircncia podemos imaginar

algumas situaccedilotildees possiacuteveis de ocorrer a) se o autor natildeo comparecer o processo seraacute

extinto sem julgamento do meacuterito Caso receba salaacuterio inferior ou igual ao dobro do

miacutenimo legal ficaraacute dispensado do pagamento das despesas e custas processuais b) se o

reacuteu natildeo comparecer aleacutem de revel seraacute confesso quanto aos fatos alegados na inicial

Todavia natildeo haveraacute confissatildeo ficta caso haja diversos reacuteus e um ou alguns deles

conteste a accedilatildeo ou ainda se o litiacutegio versar sobre direitos indisponiacuteveis c) caso a peccedila

inicial esteja desacompanhada de instrumento puacuteblico que a lei repute indispensaacutevel agrave

prova do ato como o reacuteu deixou de responder significa dizer que natildeo ofereceu

embargos logo forma-se de pleno direito o tiacutetulo executivo judicial convertendo-se o

mandado inicial em mandado executivo(art 1102 c caput - CPC) Eacute mister ressaltar

que a falta de embargos natildeo significa que necessariamente ocorreraacute a constituiccedilatildeo do

tiacutetulo executivo judicial pois para que se forme o tiacutetulo eacute indispensaacutevel que o juiacutezo

acolha o pedido do autor e d) finalmente caso o reacuteu compareccedila ele poderaacute proceder de

vaacuterias formas satisfazer a obrigaccedilatildeo transacionar excepcionar oferecer embargos ou

reconvir

Naturalmente cada atitude dessas supra mencionadas merece um

estudo aprofundado para uma melhor elucidaccedilatildeo acerca do tema em comento Contudo

podemos dizer que a reconvenccedilatildeo eacute a que suscita controveacutersias quanto a sua

possibilidade no procedimento monitoacuterio

6 Agrave GUISA DE ARREMATE

O tema trazido a propoacutesito deixou estampado que o fim especiacutefico do

procedimento monitoacuterio eacute a formaccedilatildeo de um tiacutetulo executivo judicial razatildeo pela qual o

mandado de solvendo eacute expedido antes mesmo da citaccedilatildeo do reacuteu se bem que a eficaacutecia

daquele instrumento judicial fica condicionada agrave ausecircncia de reaccedilatildeo pelo reacuteu haja vista

que opondo-se o reacuteu a eficaacutecia do mandado seraacute desfeita resolvendo-se em mera

citaccedilatildeo pois a partir daiacute a accedilatildeo teraacute curso pelo procedimento ordinaacuterio Ainda assim

vemos na Monitoacuteria um instituto perfeitamente cabiacutevel no processo trabalhista

inclusive em se tratando de tiacutetulos extrajudiciais levando-se em conta que o processo

do trabalho em vigor repele a execuccedilatildeo de tiacutetulo extrajudicial Aleacutem disso faz-se

urgente uma resposta jurisdicional agraves pretensotildees do trabalhador pois o que se denota eacute

uma condiccedilatildeo social cada vez mais desigual entre patratildeo e empregado

Em face dessa realidade vislumbramos na Monitoacuteria um dos

instrumentos possiacuteveis para se fazer mais ceacutelere o exerciacutecio da atividade jurisdicional

no acircmbito da justiccedila do trabalho principalmente se observarmos que a demora de uma

resposta jurisdicional numa conjuntura social desigual como a nossa pode conduzir o

trabalhador a situaccedilotildees oprobriosas

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DINIZ Joseacute Janguiecirc Bezerra Temas de processo trabalhista Brasiacutelia

(DF) Edit Consulex 1996

MALTA Christovatildeo Piragibe Tostes Praacutetica do processo trabalhista 26

ed rev aum e atual Satildeo Paulo Ltr1995

MARTINS Seacutergio Pinto A Accedilatildeo Monitoacuteria no processo do trabalho

Revista Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo Ano II ndeg 10 p 25 marabr 1996

SALVADOR Antocircnio Raphael Silva Da Accedilatildeo Monitoacuteria e da

Tutela jurisdicional antecipada Comentaacuterios agrave Lei nordm 9079 de 140795 Satildeo Paulo

Malheiros 1995

SANTOS Emane Fideacutelis Dos novos perfis do processo civil brasileiro

Belo Horizonte Del Rey 1996

TEIXEIRA FILHO Manoel Antocircnio Accedilatildeo

Monitoacuteria no processo do trabalho Suplemento trabalhista Ltr 11095 Satildeo Paulo Ano

31 p 727 a 7361995

TUCCI Joseacute Rogeacuterio Cruz e Accedilatildeo Monitoacuteria lei 9079 de 14071995

1 ed 2 tir Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 1995

ARBITRAGEM A Lei nordm 930796

Azevedo Hamilton Cartaxo Acadecircmico do 7ordm peiacuteodo do Curso de Direito

da UFRN

I-Introacuteito

Nos uacuteltimos dias em razatildeo da ediccedilatildeo da Lei n 9307 de 23 de setembro

de 1996 tem-se ouvido falar com bastante frequumlecircncia na miacutedia em geral e no meio

juriacutedico em arbitragem Por ser assunto inusual daiacute derivando seu pouco

conhecimento eacute possiacutevel que se subestime a importacircncia que este instituto juriacutedico

pode vir a ter quanto ao bem-estar da sociedade em geral

A jurisdiccedilatildeo eacute a atividade estatal de decidir as lides e impor suas

decisotildees a fim de atingir seu objetivo uacuteltimo a pacificaccedilatildeo dos conflitos que surgem no

seio da sociedade com justiccedila Este conceito trazido com variaccedilotildees sem significacircncia

pela doutrina eacute beliacutessimo A um soacute momento daacute-se a quem o tem seu direito material

e garante-se tranquumlilidade interna ao grupo social

Mas existe um grave problema A jurisdiccedilatildeo como atividade estatal tem

falhado Agrave exceccedilatildeo do que acontece em alguns paiacuteses completamente desenvolvidos o

processo estatal tomou-se tatildeo caro e lento que ao final acabou afastando de si a

personagem fundamental da democracia a sociedade Mas para sermos justos

lembremos que um Judiciaacuterio lento natildeo eacute privileacutegio brasileiro Um artigo publicado

recentemente no jornal americano The Washington Postrdquo mostra que no Japatildeo o

lapso temporal necessaacuterio ao tracircmite de uma accedilatildeo eacute de 20 a 30 anos

Como sabemos o julgamento de uma accedilatildeo com justiccedila eacute por vezes

intrincado e envolve complexas questotildees de fato e de direito some-se a isso as

condiccedilotildees precaacuterias em que o subdimensionado judiciaacuterio brasileiro eacute obrigado a

trabalhar Isto provoca o que chamamos de demanda reprimida a sociedade tem um

sem nuacutemero de conflitos que natildeo vecirc resolvidos pela justiccedila estatal Numa eacutepoca em que

o ser humano amadurece cada vez mais raacutepido bombardeado que eacute com uma

gigantesca carga de informaccedilotildees uma gama cada vez maior de indiviacuteduos toma-se

consciente de que existem direitos fundamentais dos quais satildeo titulares e um deles eacute o

de ver resolvidos seus conflitos de forma raacutepida e paciacutefica Situaccedilotildees de inseguranccedila

juriacutedica e de tensotildees sociais contiacutenuas causam no cidadatildeo um sentimento generalizado

de desamparo e descrenccedila nas instituiccedilotildees juriacutedico-poliacuteticas que ali deveriam estar para

servi-Io a extensatildeo das consequumlecircncias dessa marginalizaccedilatildeo de uma grande parcela da

populaccedilatildeo soacute a Histoacuteria mostraraacute

Natildeo haacute exceccedilotildees Qualquer de noacutes sofre arrepios ao cogitar a hipoacutetese de

ir agrave Justiccedila e esperar sete ou dez anos para ter seu pleito apreciado Natildeo somos assim tatildeo

longevos isso eacute 10 da vida meacutedia de um ser humano

Outro aspecto importante eacute o custo da litigacircncia em juiacutezo Diga-se que

isto eacute suficiente para dele afastar a maior parte dos conflitos de interesses aqueles em

que particulares satildeo uma das partes Raciocinemos na realidade econocircmico-social de

nosso paiacutes que nuacutemero de indiviacuteduos satildeo suficientemente dotados financeiramente para

custearem um processo ciacutevel - natildeo sujeito ao Juizado Especial - com recursos apelaccedilotildees

e advogado ateacute seu desfecho em que podem vir a ser condenados inclusive com o ocircnus

da sucumbecircncia A resposta inelutaacutevel eacute muito poucos

As tentativas tradicionais de solucionar o problema tecircm naufragado

Tentou-se de tudo tribunais de alccedilada mudanccedilas no processo civil mais juiacutezes mais

cartoacuterios funcionaacuterios dinheiro informatizaccedilatildeo Tribunais com mais de 20 membros

passaram a ser comuns chegamos a extremos como em Satildeo Paulo de mais de uma

centena de desembargadores no Tribunal de Justiccedila Nada disso mudou um dado

concreto com uma demanda sempre crescente muitas dezenas de milhares de

processos em alguns Estados um juiz vecirc-se forccedilado a analisar um nuacutemero absurdo de

processos por mecircs Pergunta-se numa situaccedilatildeo que praticamente obriga agrave automaccedilatildeo

que espeacutecie de prestaccedilatildeo jurisdicional pode ser esperada

Eacute nesse contexto no anseio pelo acesso de todos e de cada membro da

sociedade a uma ordem juriacutedica justa que - numa efetiva mudanccedila de mentalidade -

foram recebidas com juacutebilo as leis dos Juizados Especiais Ciacuteveis e Criminais e do Juiacutezo

Arbitra Quanto agrave primeira espeacutecie normativa aqui natildeo seraacute tratada pois isso jaacute foi

feito por juristas com muitas luzes tomando ociosas quaisquer consideraccedilotildees que se

porventura viesse a fazer acerca dela O objetivo deste trabalho eacute apenas examinar as

linhas mestras do Juiacutezo Arbitral e as vantagens que oferece

II - Distinccedilatildeo Mediaccedilatildeo Conciliaccedilatildeo e Arbitragem

Existem diversos meacutetodos extrajudiciais de soluccedilatildeo de conflitos mas

uma distinccedilatildeo importante a ser colocada eacute a existente entre mediaccedilatildeo conciliaccedilatildeo e

arbitragem Na mediaccedilatildeo as proacuteprias partes voluntariamente resolvem seu conflito

com o auxiacutelio de um terceiro atraveacutes de um acordo Distingue-se da conciliaccedilatildeo na

medida em que nesta o conciliador possui um papel ativo que consiste em apoacutes

considerar os argumentos parciais propor soluccedilotildees que poderatildeo sendo adotadas vir

a dirimir a contenda Por serem provenientes das vontades individuais das partes com

ou sem auxiacutelio mediaccedilatildeo e conciliaccedilatildeo satildeo chamados meacutetodos autocompositivos de

soluccedilatildeo de conflitos

Noutro passo temos a arbitragem meacutetodo heterocompositivo em que

natildeo alcanccedilado entendimento as partes elegem um terceiro o aacuterbitro e assumem o

compromisso de cumprir-lhe a decisatildeo

III - Principais Vantagens da Arbitragem

Teacutecnica - Em questotildees complexas que envolvam conhecimento

aprofundado de algum ramo bastante especiacutefico do conhecimento como as que tratam

de know-how especializado em aacutereas como bioengenharia informaacutetica processos

industriais etc o juiz dificilmente estaacute qualificado a bem decidir a questatildeo gerando agraves

partes fundado receio diante da imprevisibilidade do teor do provimento jurisdicional

Em privilegiada situaccedilatildeo encontra-se a arbitragem posto ser possiacutevel a nomeaccedilatildeo de

um teacutecnico para a posiccedilatildeo de aacuterbitro que pode inclusive a criteacuterio das partes proferir

decisatildeo fundada apenas em equumlidade (art 2deg da Lei nordm 930796)

Sigilo - Com exceccedilatildeo das questotildees que correm em segredo de justiccedila os

processos que tramitam na justiccedila comum satildeo de conhecimento puacuteblico Isso toma

inviaacutevel que lhe sejam submetidas contendas em que a divulgaccedilatildeo de seu conteuacutedo

provoca prejuiacutezos irreparaacuteveis agraves partes sejam eles de ordem moral ou econocircmica

Soluccedilatildeo jaacute adotada pelas multinacionais a arbitragem elimina este inconveniente jaacute

que sujeitos agraves sanccedilotildees das legislaccedilotildees penal e civil os aacuterbitros estatildeo obrigados ao

sigilo

Confianccedila - Ao inverso da jurisdiccedilatildeo estatal aos litigantes em Juiacutezo

arbitral eacute garantida a certeza quanto agrave pessoa do aacuterbitro que elegem livremente

Presteza nos Julgamentos ndash O Juiacutezo ArbitraI escapa agrave rigidez dos

processo civil agraves partes eacute facultado estabelecerem ateacute o proacuteprio procedimento Os

litigantes a quem normalmente interessa o julgamento mais expedito possiacutevel haveratildeo

de decidir-se por aacuterbitro que Ihes garanta essa caracteriacutestica dificilmente encontrada no

judiciaacuterio

Atmosfera - A rapidez tambeacutem eacute assegurada porque no juiacutezo arbitral

ainda existe um certo clima de diaacutelogo que muitas vezes se extingue ao se bater agraves

portas da justiccedila diminuindo as chances de um possiacutevel acordo

IV - CONVENCcedilAtildeO DE ARBITRAGEM CLAacuteUSULA

COMPROMISSOacuteRIA E COMPROMISSO ARBITRAL

A lei estabeleceu o gecircnero convenccedilatildeo de arbitragem do qual satildeo

espeacutecies a claacuteusula com promissoacuteria e o compromisso arbitral A claacuteusula

compromiss6ria eacute a convenccedilatildeo atraveacutes da qual as partes em um contrato comprometem-

se a submeter agrave arbitragem os litiacutegios que possam vir a surgir relativamente a tal

contrato A nova lei em seu art 4 a 8 a ela trouxe novo disciplinamento legal agora

considerada obrigaccedilatildeo de fazer cujo adimplemento eacute sujeito agrave tutela especiacutefica a ela

natildeo se aplicando a regra nem o potest precise cogi ad factum Negando-se uma das

partes a assinar o compromisso arbitral conforme o ajuste contratual o juiz poderaacute -

obedecido o due process of law- por meio de sentenccedila estabelececirc-Io

O compromisso arbitral a seu turno constitui convenccedilatildeo atraveacutes da qual

as partes submetem um litiacutegio agrave arbitragem de uma ou mais pessoas podendo ser

judicial ou extrajudicial O compromisso arbitral eacute um instrumento distinto lavrado

entre as partes em estrita observacircncia aos preceitos legais sob pena de ser o instrumento

eivado de nulidade absoluta Finnado o compromisso arbitral fica devidamente

constituiacutedo o foro arbitral cuja sentenccedila natildeo comporta recurso ao Poder Judiciaacuterio

nem conforme veremos requer sua homologaccedilatildeo (art 18 da Lei nordm 930796)

Portanto para que fique bem entendido na claacuteusula compromissoacuteria a

parte assume a obrigaccedilatildeo de firmar compromisso arbitral quanto a lides que derivem do

contrato em que ela estiver inserta

V - DA EXECUCcedilAtildeO DA SENTENCcedilA

Num grande avanccedilo talvez o mais estrateacutegico deles agrave sentenccedila arbitral

condenatoacuteria foi atribuiacutedo o status de tiacutetulo executivo (art 31 da Lei nordm 930796)

inserindo-se no rol daqueles contemplados no art 585 VII do CPC Dessa forma as

partes ficam livres do embaraccedilo de ir ao Judiciaacuterio e submeter-lhe agrave apreciaccedilatildeo

questatildeo jaacute decidida Caso o decisum possua algum viacutecio este poderaacute ser examinado

no processo de execuccedilatildeo por meio dos embargos cabiacuteveis (art 33 sect 3deg) ou ainda via

accedilatildeo ordinaacuteria pedindo seja decretada sua nulidade (art 31) Dispensa-se portanto

homologaccedilatildeo do laudo arbitral que caso fomecida pelo Poder Judiciaacuterio viraacute apenas

dar ainda maior certeza a um tiacutetulo a que a lei jaacute atribui forccedila executiva

Ressalte-se ainda que quanto agraves sentenccedilas estrangeiras eliminou-se a

esdruacutexula figura do duplo exequatur no paiacutes de origem e no Brasil sendo agora

bastante apenas o concedido pelo Supremo Tribunal Federal (art 35)

VI - CONCLUSAtildeO

Cappelletti brilhante processualista italiano chamou esse

movimento universal de acesso agrave Justiccedila de a terceira onda Mostrou-nos que o Juiacutezo

Arbitral eacute muitas vezes o mais adequado agrave obtenccedilatildeo de justiccedila

De nula valia seraacute a nova Lei se apesar dela continuarmos a tratar a

Juiacutezo Arbitral como algueacutem jaacute disse com solene ignoracircncia Cabe aos operadores

juriacutedicos em suas esferas particulares de accedilatildeo sermos corajosos e tomarmos a noacutes a

responsabilidade da criaccedilatildeo de uma cultura de arbitragem Eliminemos o que denomino

cultura de ir a juiacutezo que faz com que alguns ainda mesmerizados com o processo

nele vislumbram um fim em si mesmo

Agraves partes interessa a soluccedilatildeo mais ceacutelere de seus conflitos natildeo a

complexidade dos procedimentos a profundidade das peticcedilotildees pareceres e sentenccedilas

Na era das fraccedilotildees de segundo natildeo haacute razatildeo para esperar meses com frequumlecircncia vaacuterios

anos pelo desfecho

de um feito quando evitaacutevel

Como anota a Dra Ada Pellegrini Grinover por ser o processo judicial

tatildeo caro demorado e complicado existe uma grande litigacircncia latente Haacute este imenso e

virgem campo do Direito a explorar que tem como uma de suas douradas recompensas

proporcionar aos membros de nossa sociedade a melhor soluccedilatildeo juriacutedica possiacutevel

A concluir sempre digno de lembranccedila eacute o ensinamento de Ihering para

quem lutar pelo direito natildeo eacute apenas pleitear em Juizo eacute mais eacute natildeo se

conformar com a injusticcedila eacute pugnar pela cidadania

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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Uniatildeo em 24 de setembro de 1996 Brasiacutelia _ DF

GRINOVER Ada Pellegrini - Tese Aspectos da Conciliaccedilatildeo no Atual

Direito Processual Livro de Teses II - Os Novos Acessos agrave Justiccedila _ XVI Conferecircncia

Nacional dos Advogados Fortaleza _ CE (1996)

BASSO Maristela - Tese Ampliaccedilatildeo do Uso da Arbitragem _ A

Revitalizaccedilatildeo da Arbitragem no Brasil sob um Enfoque Realista e um Espiacuterito

Diferente Livro de Teses 11 - Os Novos Acessos agrave Justiccedila _ XVI Conferecircncia Nacional

dos Advogados Fortaleza _ CE (1996)

PINHEIRO NETO - ADVOGADOS Internet http

WWWdprmregovbrdpgcfOO_phtm

MALLET Estevam - Conferecircncia proferida no I Congresso de Direito

Processual Brasileiro Natal- RN (1996)

DESVINCULACcedilAtildeO DA SEPARACcedilAtildeO DOS PODERES COM A

IDEacuteIA DE DEMOCRACIA

Carline Regina de Negreiros Cabral Acadecircmica de Direito 3degperiacuteodo

LETAT CEST MOI Esta frase concebida pelo Rei Luiacutes XIV (1661 -

1715) tomou-se o siacutembolo supremo do Absolutismo Monaacuterquico Francecircs Na Idade

Moderna entre o seacuteculo XV e o final do seacuteculo XVIII o Poder concentrava-se em

apenas uma pessoa que assumia todos os poderes do Estado - comandava exeacutercitos

distribuiacutea a Justiccedila entre os suacuteditos decretava as leis e arrecadava tributos

A Nobreza com esta grande concentraccedilatildeo de Poder acumulou muitas

riquezas enquanto que a maior parcela da populaccedilatildeo era cada vez mais explorada pelos

altos tributos Surgiu depois uma nova classe social - a Burguesia - que pela

descoberta de novos continentes e o aperfeiccediloamento das navegaccedilotildees mariacutetimas era

cada vez mais emergente e consciente da importacircncia de mudanccedilas no Antigo Regime

visto que o mesmo natildeo correspondia ao seu interesse Dentro deste contexto deu iniacutecio

a lutas entre estas duas classes sociais

Entre os acontecimentos que combateram o Absolutismo destacam-se a

Revoluccedilatildeo Inglesa de 1689 quando foi assinada a Declaraccedilatildeo dos Direitos - BiII of

Rights - que previa por exemplo a liberdade de imprensa garantias para o livre

exerciacutecio da Justiccedila Puacuteblica e enfim garantia a limitaccedilatildeo do poder do Rei pelo

Parlamento a Declaraccedilatildeo de Independecircncia das 13 colocircnias americanas em 1776 que

defendia a liberdade individual e o respeito aos direitos fundamentais do ser humano a

Revoluccedilatildeo Francesa - cujo lema era a Liberdade a Igualdade e a Fraternidade-

proclamou a ceacutelebre Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo Os principais

pontos defendidos era o respeito pelo Estado agrave dignidade da pessoa humana a

liberdade e a igualdade dos cidadatildeos perante a Lei o direito agrave propriedade individual a

liberdade de pensamento e de opiniatildeo

Ao lado desse movimento poliacutetico-econocircmico surgiu um movimento

cultural conhecido como lIuminismo Vaacuterias teorias combatendo o Absolutismo foram

editadas Entre elas pode-se citar a obra De LEspirit des Lois de MONTESQUIEU

que defende a triparticcedilatildeo dos poderes do Estado em Legislativo Executivo e Judiciaacuterio

Ele acreditava que desta forma poderia ser evitado abusos dos governantes e estarem

protegidas as liberdades individuais Ele afirma

Haacute em cada Estado trecircs espeacutecies de poderes o poder legislativo o

poder executivo e o poder judiciaacuterio Pelo primeiro o priacutencipe ou

magistrado faz leis por certo tempo ou para sempre e corrige ou ab-

roga as que estatildeo feitas Pelo segundo faz a paz ou a guerra envia

ou recebe embaixadas estabelece a seguranccedila previne as invasotildees

Pelo terceiro pune os crimes ou julga as querelas dos indiviacuteduos A

liberdade poliacutetica num cidadi1o eacute esta tranquumlilidade de espiacuterito que

proveacutem da opiniatildeo que cada um possui de sua seguranccedila e para que

se tenha esta liberdade cumpre que o governo seja de tal modo que

um cidadatildeo natildeo possa temer outro cidadatildeo Natildeo haveraacute tambeacutem

liberdade se o poder de julgar natildeo estiver separado do poder

legislativo o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadatildeos seria

arbitraacuterio pois o juiz seria o legislador Se estivesse ligado ao poder

executivo o juiz poderia ter forccedila de opressor() O poder judiciaacuterio

natildeo deve ser outorgado a um Corpo permanentes e sim exercido por

pessoas extraiacutedas do povo de modo prescrito pela lei para formar um

Tribunal que dure apenas o tempo necessaacuterio Desta maneira o poder

de julgar tatildeo terriacutevel entre os homens natildeo estaacute ligado nem a certa

situaccedilatildeo nem a uma certa profissatildeo torna-se por assim dizer nulo e

invisiacutevel Os outros dois poderes poderiam preferivelmente ser

outorgados a corpos permanentes porque natildeo se exercem sobre

nenhum indiviacuteduo sendo um somente a vontade geral do Estado e

outro somente a execuccedilatildeo dessa vontade geral Poreacutem se os tribunais

natildeo devem ser fixar os julgamentos devem secirc-lo a tal ponto que

nunca sejam mais do que um texto exato da lei Se fossem uma

opiniatildeo particular do juiz viver-se-ia na Sociedade sem saber

precisamente os compromissos que nela satildeo assumidos Jaacute que num

Estado Livre todo Homem que supotildee ter uma alma livre deve

governar a si proacuteprio eacute necessaacuterio que o povo no seu conjunto

possua o poder legislativo Eacute preciso que o povo atraveacutes de seus

representantes faccedila o que natildeo pode fazer por si mesmo A grande

vantagem dos representantes eacute que satildeo capazes de discutir os

negoacutecios puacuteblicos O povo natildeo eacute de modo algum capaz disso fato

que constitui um dos graves inconvenientes da democracia Se o

poder executivo natildeo tem direito de vetar os empreendimentos d6 corpo

legislativo este uacuteltimo seria despoacutetico porque como pode atribuir a

si proacuteprio todo o poder que possa imaginar destruiria todos os

demais poderes mas natildeo eacute preciso que o corpo legislativo tenha

reciprocamente a faculdade de paralisar o poder executivo porque

tendo a execuccedilatildeo limites por sua natureza eacute inuacutetil limitaacute-Ia () No

acircmbito do poder judiciaacuterio poderia acontecer que a lei que eacute ao

mesmo tempo clarividente e cega fosse em certos casos muito

rigorosa Poreacutem os juizes de uma naccedilatildeo natildeo satildeo como dissemos

mais que a boca que pronuncia as sentenccedilas da lei seres inanimados

que natildeo podem moderar nem sua forccedila nem seu rigorrdquo1

Essa obra dava atribuiccedilotildees restritas ao Estado que devido ao contexto

histoacuterico da eacutepoca MONTESQUIEU estava preocupado natildeo com a eficiecircncia estatal

mas em garantir a liberdade individual Foi a Intenccedilatildeo de enfraquecer o poder de

Estado complementando a funccedilatildeo Iimitadora exercida pela Constituiccedilatildeo que impocircs a

separaccedilatildeo dos poderes como um dos dogmas do Estado Moderno Como afirma

DALMO DALLARI eacute importante assinalar que essa Teoria teve acolhida e foi

consagrada numa eacutepoca em que se buscavam meios para enfraquecer o Estado uma vez

que natildeo se admitia sua interferecircncia na Vida Social a natildeo ser como

vigilante e conservador das situaccedilotildees estabelecidas pelos indiviacuteduosrdquo2

Na teoria de Separaccedilatildeo dos Poderes3 consagrado nas Constituiccedilotildees

vinculou-se agrave ideacuteia de Democracia dando origem a uma nova doutrina conhecida como

1 MONTESQUIEU De LEspirit des Lois Satildeo Paulo Abril 1978p150

2 DALLARI Dalmo de Abreu Elementos da teoria geral do estadoSatildeo Paulo Saraiva P 184

3 O que existe na verdade eacute a distribuiccedilatildeo de funccedilotildees a 6rgaos distintos que exercem o Poder

soberano do Estado jaacute que o Poder do Estado eacute uno e indivisiacutevel

a TEORIA DOS FREIOS E CONTRAPESOS onde se defende a interpenetraccedilatildeo entre

os poderes visando a limitaccedilatildeo reciacuteproca

Na Constituiccedilatildeo de 1988 esta teoria encontra-se presente Visualizemo-

Ia

O Poder Executivo na pessoa do Presidente da Repuacuteblica tem as

seguintes atribuiccedilotildees frente aos demais poderes

a) Iniciar a ediccedilatildeo de normas em mateacuterias previamente determinadas

(art 61 sect 1deg)

b) Sancionar ou vetar um projeto caso seja considerado inconstitucional

(art 66 sect 1deg)

c) Adotar medidas provisoacuterias em caso de relevacircncia e urgecircncia(art 62)

e elaborar leis delgadas (art 68)

d) Nomear Ministros do Supremo Tribunal Federal (art 10 paraacutegrafo

uacutenico) do Superior Tribunal de Justiccedila (art 104 paraacutegrafo uacutenico) Tribunal Superior

do Trabalho (art 111 1deg1) os Juizes do Tribunal Regional do Trabalho membros do

Tribunal Superior Eleitoral (art 119 sect 2deg) Juizes do Tribunal Regional Eleitoral (art

120 sect 1deg3deg) Ministro do Superior Tribunal Militar (art 123) e o Procurador Geral da

Repuacuteblica (art 128 sect 1deg)

O Poder Legislativo sobre os demais

a) Resolver acerca de Tratados e Acordos Internacionais (art 49 sect 1deg)

b) Sustar os atos normativos do poder executivo que exorbitem do poder

regulamentar ou dos limites de delegaccedilatildeo legislativa (art 49 sect5deg)

c) Julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da Repuacuteblica e

apreciar sobre a execuccedilatildeo dos planos de governo (art 49 sect 9deg)

d) Exercer fiscalizaccedilatildeo sobre o Presidente Vice-Presidente Ministros de

Estados do STF o Procurador geral da Repuacuteblica e o Advogado Geral da Uniatildeo nos

crimes de responsabilidade (art 52 sect 10 2deg)

e) Aprovar previamente a indicaccedilatildeo do executivo para determinados

cargos ( art 52 3deg 4deg)

f) Rejeitar do veto do Presidente (art 66 sect sect 5deg e 6deg)

O Poder Judiciaacuterio impotildee-se sobre os demais

a) controlar a legitimidade da Constitucionalidade das Leis

b) Agir de maneira fiscalizadora obrigando-os a permanecer nos limites

de suas respectivas esferas de competecircncias caso venha a ocorrer exorbitacircncia dos

demais poderes

Muitas criacuteticas satildeo tecidas a respeito da Teoria de MONTESQUIEU

Esta no contexto histoacuterico em que o autor se inseria atendia as necessidades de sua

eacutepoca que era a limitaccedilatildeo do Poder do Estado e natildeo a sua eficiecircncia no entanto com a

evoluccedilatildeo social o Estado passou a ser cada vez mais solicitado e suas aacutereas de atuaccedilatildeo

tendem a expandir-se e abranger aacutereas ateacute entatildeo impenetraacuteveis Essa necessidade de

expansatildeo toma-se inconciliaacutevel com os modelos da Separaccedilatildeo dos Poderes Apesar

disso reluta-se em modificar a organizaccedilatildeo do Estado por este estaacute vinculado a ideacuteia de

Democracia

Atualmente estes trecircs poderes encontram-se em crise Veja a seguir em

quais pontos e suas possiacuteveis soluccedilotildees

No Poder Executivo reclama-se principalmente da quantidade

incalculaacutevel de Medidas Provisoacuterias Cientistas Poliacuteticos jaacute as compararam aos AI-Atos

Institucionais da Ditadura A maneira indisciplinada com que as mesmas satildeo editadas

chega a ser constrangedora como eacute o caso do reajuste das mensalidades escolares e da

Reforma Administrativa Dezenas de MPs foram editadas sem maiores detalhamentos e

por tempo de vigecircncia curto que soacute vecircm a complicar a situaccedilatildeo existente - Parece que o

Poder Executivo natildeo faz jus ao que estaacute presente na Constituiccedilatildeo onde diz que as

MPs devem ser utilizadas em caso de relevacircncia e urgecircncia Necessita-se portanto de

um maior rigor na adoccedilatildeo destas Medidas

Quanto ao Poder Legislativo encontra-se satirizado frente a opiniatildeo

puacuteblica em virtude de envolvimento em escacircndalos Recentemente houve uma CPI de

estarrecer o paiacutes pela envergadura de denuacutencias e provas que vieram agrave luz Aleacutem disso

reclama-se da lentidatildeo com que elaboram as leis - sua funccedilatildeo basilar - Exige-se a

execuccedilatildeo de outras funccedilotildees que Ihes satildeo conferidas como o de fiscalizar as contas

prestadas pelo Poder Executivo e a sustaccedilatildeo de atos normativos do Poder Executivo que

exorbitem a limitaccedilatildeo de delegaccedilatildeo legislativa Muitas satildeo as prerrogativas concedidas

aos parlamentares como a preacutevia licenccedila para a instauraccedilatildeo e continuidade de processos

e a imunidade parlamentar o que muitas vezes satildeo usufruiacutedas de forma abusiva

Considerando esta realidade sugere--se ao Poder Legislativo a criaccedilatildeo

de comissotildees na Constituiccedilatildeo onde as mesmas teratildeo poderes de investigaccedilatildeo proacuteprios

das autoridades judiciais e durante o recesso haveraacute uma Comissatildeo Representativa do

Congresso Nacional cuja composiccedilatildeo reproduziraacute quanto possiacutevel a representaccedilatildeo

partidaacuteria (art 58 sect 30)

Quanto ao Judiciaacuterio o novo contexto social exige uma maior

aproximaccedilatildeo da Justiccedila com o povo Exemplo bem sucedido deste anseio eacute a criaccedilatildeo

dos Juizados Especiais de Pequenas Causas (Lei 909995) que estabelece um

procedimento raacutepido e barato orientado pelos criteacuterios da oralidade simplicidade e

informalidade buscando sempre que possiacutevel a conciliaccedilatildeo ou a transaccedilatildeo aleacutem de

desafogar a Justiccedila Comum Nos processos satildeo cabiacuteveis inuacutemeros recursos que

dificultam a sentenccedila final ser proferida mais raacutepida aleacutem de existirem inuacutemeras

formalidades processuais acarretando na morosiacutedade do andamento dos feitos Os

Magistrados encontram sob sua responsabilidade um nuacutemero muito elevado de

processos - haacute casos que chegam a 15 mil - consistindo assim num outro empecilho para

a sua agilidade

O objetivo da Teoria da Separaccedilatildeo dos Poderes era conter o poder em

volta do Estado como foi dito anteriormente Essa realidade natildeo eacute mais condizente com

a nossa cujos maacuteximos valores satildeo a eficiecircncia dos resultados e a alta probabilidade de

sua consecuccedilatildeo O Estado hoje deve abranger aacutereas como a previdecircncia a educaccedilatildeo o

social e o econocircmico

Fazendo uma reflexatildeo sobre a atuaccedilatildeo do Poder Legislativo - legalizado

e legitimado - questiona-se se este atende as necessidades daqueles que representa - o

povo - se assegura a liberdade e os interesses desse

Quanto ao Poder Executivo se ele age com o mesmo rigor na cobranccedila

de tributos aos banqueiros e ruralistas e aos pequenos empresaacuterios jaacute que todos satildeo

iguais perante a lei

Em relaccedilatildeo ao Poder Judiciaacuterio percebe-se que este encontra-se

acentuadamente desacreditado perante a opiniatildeo puacuteblica devido a dificuldade que existe

para o povo ingressar em Juiacutezo ( elevadas custas processuais morosidade na resoluccedilatildeo

dos conflitos etc)Observase tambeacutem que algumas autoridades fazem do uso do Poder

que lhe eacute atribuiacutedo um comeacutercio e esquecem o Princiacutepio da Imparcialidade e a

constante busca pela Justiccedila

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DALLARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19a

Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

MALUF Sahid Teoria Geral do Estado 23ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva1995

MONTESQUIEU O Espiacuterito das Leis Coleccedilatildeo middot ldquoOs Pensadores 2a

Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Abril1978

NOBRE JUacuteNIOR Edilson Pereira Independecircncia dos poderes no

regime democraacutetico e as exigecircncias da sociedade hodierna Revista do Curso de Direito

- RCD Natal Editora Universitaacuteria 1996

Dossiecirc Judiciaacuterio Revista USP Editora USP

ASPECTOS DA REINCIDEcircNCIA PARA EFEITO DE

CONCESSAtildeO DE LIVRAMENTO CONDICIONAL

Cristina Silva Macecircdo

Bacharelanda do Curso de Direito da UFRN

INTRODUCcedilAtildeO

Pode-se conceituar livramento condicional como a antecipaccedilatildeo

provisoacuteria da liberdade de um condenado agrave pena privativa de liberdade sujeita agrave

imposiccedilatildeo de termos que deveratildeo ser rigorosamente seguidos cuja hipoacutetese adversa

implicaraacute em sua revogaccedilatildeo

Natildeo objetiva o presente trabalho discorrer acerca dos pressupostos ou

condiccedilotildees para o gozo do instituto em baila Entretanto importa salientar que natildeo se

trata de um simples benefiacutecio ou um favor do juiacutezo das execuccedilotildees penais Consiste

em direito subjetivo do reacuteu verificados os requisitos que autorizam sua concessatildeo

O aspecto a ser aqui tratado repousa na anaacutelise da reincidecircncia para

efeito de concessatildeo de livramento condicional Evidentemente natildeo se tem a pretensatildeo

de esgotar o tema mas tatildeo somente de dar iniacutecio a estudos que permitam suprir as

lacunas constantes na doutrina e jurisprudecircncia fartamente consultadas poreacutem com

poucas respostas para algumas situaccedilotildees trazidas agrave lume

HIPOacuteTESES LEGAIS

O artigo 83 do Coacutedigo Penal estabelece de forma categoacuterica

O juiz poderaacute conceder livramento condicional ao condenado a pena

privativa de Liberdade igualou superior a dois anos desde que

Conforme seraacute demonstrado haacute uma intensa preocupaccedilatildeo do legislador

em disciplinar as condiccedilotildees de concessatildeo de livramento condicional para o condenado

reincidente Todavia a excessiva atenccedilatildeo dispensada pelo preceito normativo cria uma

certa confusatildeo no momento de adequar a lei ao caso concreto em especial quando pode

ser verificada a reincidecircncia do apenado

I - CUMPRIDO MAIS DE UM TERCcedilO DA PENA SE O

CONDENADO NAtildeO FOR REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO E TIVER

BONS ANTECEDENTES

Poucas indagaccedilotildees residem no tocante agrave aplicabilidade do inciso I Caso

natildeo haja reincidecircncia em crime doloso e tenha o reacuteu bons antecedentes impotildee-se o

cumprimento de apenas um terccedilo da pena que lhe foi imposta para preencher o lapso

temporal que autorize a concessatildeo do benefiacutecio

Todavia importa proceder ao apreccedilo do alcance da expressatildeo natildeo ser

reincidente em crime doloso

O texto legal permite a submissatildeo do condenado de trecircs hipoacuteteses a) natildeo

ter cometido mais de um crime qualquer que seja sua natureza (tecnicamente primaacuterio)

b) ser reincidente poreacutem em crimes culposos e c) ser reincidente mas ter cometido um

crime doloso e um culposo

A vaga redaccedilatildeo do inciso I concede permissibilidade agrave

sua aplicabilidade em qualquer dos casos suso mencionados haja vista que todas estatildeo

inseridas no preceito natildeo ser reincidente em crime doloso

Impossiacutevel determinar a intenccedilatildeo do dispositivo Acredita-se que tal

norma foi concebida no fito de regular o instituto do livramento condicional aos

apenados tecnicamente primaacuterios No entanto o silecircncio da lei no que concerne aos

crimes culposos chega a preocupar natildeo restando alternativa ao julgador que natildeo seja

pela inserccedilatildeo de tais infraccedilotildees no inciso I por ser este o mais beneacutefico dentre os outros

que dispotildeem acerca da reincidecircncia

Outro exemplo quando algueacutem jaacute foi condenado por um crime culposo

e lhe sobrevenha uma sentenccedila condenatoacuteria imputando uma conduta iliacutecita

impregnada do elemento volitivo de delinquumlir (dolo) Neste caso haacute reincidecircncia mas

natildeo houve a praacutetica de mais de um crime doloso o que importaria na aplicaccedilatildeo do

inciso seguinte (II) A interpretaccedilatildeo mais correta parece ser a aplicaccedilatildeo deste inciso I

uma vez que apesar de falha a literalidade do dispositivo remete apenas agrave

primariedade em crime doloso restando silente no tocante agrave presenccedila de culpa no

proceder do agente

Resta ainda uma lacuna a ser preenchida em caso de praacutetica de mais de

um crime culposo qual hipoacutetese legal aplicar A obviedade do inciso I merece

prevalecer conclusatildeo esta alcanccedilada sem demandar maiores esforccedilos interpretativos

Merece registro apenas a omissatildeo aqui referida

II - CUMPRIDA MAIS DE METADE SE O CONDENADO FOR

REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO

Natildeo haacute discussatildeo ou controveacutersia acerca da reincidecircncia em crimes

dolosos ou seja da praacutetica consecutiva de infraccedilotildees causadas pela vontade deliberada

do agente Insiste-se apenas no registro a omissatildeo do legislador em tratar da

reincidecircncia em crime culposo conforme jaacute foi exposto restando ainda um aspecto a

ser tratado logo a seguir

v - cumprido mais de dois terccedilos da pena nos casos de condenaccedilatildeo por

crime hediondo praacutetica da tortura traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e

terrorismo se o apenado natildeo for reincidente especiacutefico em crimes dessa natureza

Reside no inciso V implantado atraveacutes da Lei ndeg 807290 (Lei dos

Crimes Hediondos) o maior empeccedilo de aplicaccedilatildeo da norma penal aqui tratada A

hipoacutetese antevista no preceito normativo natildeo preenche a diversidade de casos que

podem chegar agraves matildeos do Juiz das Execuccedilotildees Penais do Representante do Ministeacuterio

Puacuteblico e ateacute do Conselheiro Penitenciaacuterio obstando a devida apreciaccedilatildeo do fato

Seraacute trazida agrave lume no entanto apenas a seguinte situaccedilatildeo o denunciado

responde em juiacutezo pela praacutetica de um crime doloso diverso daqueles mencionados no

inciso V do artigo 83 do Coacutedigo Penal Enquanto aguarda a decisatildeo judicial comete um

novo iliacutecito desta vez inserido no dispositivo supramencionado

No caso em tela natildeo haacute reincidecircncia sendo o denunciado tecnicamente

primaacuterio a teor do artigo 63 do Coacutedigo Penal cuja redaccedilatildeo estabelece que esta somente

se perfaz quando ocorre a praacutetica de uma nova infraccedilatildeo apoacutes o tracircnsito em julgado de

sentenccedila que tenha condenado o agente em crime anterior

Faz-se de bom alvitre tratar as duas condutas de formas distintas posto

que se tratam de infraccedilotildees de naturezas diversas Apoacutes julgado e condenado por ambos

os crimes em decisotildees apartadas dever-se-aacute proceder o caacutelculo para efeito de concessatildeo

de livramento condicional tambeacutem de forma individual para cada pena de acordo com o

dispositivo que for aplicaacutevel

Por exemplo um agente responde por crime de moeda falsa processado

e julgado na Justiccedila Federal e no decorrer da instruccedilatildeo processual incorre em traacutefico

iliacutecito de entorpecentes de competecircncia da Justiccedila Estadual sendo condenado em

ambos os processos ao cumprimento de penas de cinco e quatro anos respectivamente

Apoacutes determinado tempo entra com pedido de livramento condicional perante o Juiacutezo

das Execuccedilotildees Como apreciar tal pleito

Eacute mais coerente aplicar o inciso I verificando se jaacute foi cumprido 13 da

sanccedilatildeo imposta pela conduta de moeda falsa (1 ano e 8 meses) posto que ao tempo da

praacutetica da primeira infraccedilatildeo o reacuteu seria enquadrado em tal hipoacutetese Em seguida

procede-se o apreccedilo do lapso temporal demandado para a concessatildeo do benefiacutecio no

segundo delito computando-se 23 da pena de cinco anos cominada pelo crime de

traacutefico de entorpecentes (2 anos e 8 meses) em conformidade com o inciso V

Finalmente soma-se os dois quocientes para chegar ao tempo real de privaccedilatildeo de

liberdade que autoriza o deferimento do pedido ou seja 04 anos e 04 meses Caso o

apenado natildeo tenha cumprido este periacuteodo da pena que lhe foi cominada natildeo faraacute jus ao

livramento

Submeter a pena total de no caso nove anos ao regime do inciso V

demonstra descabida interpretaccedilatildeo prejudicial ao reacuteu posto que a natureza da primeira

infraccedilatildeo (moeda falsa) eacute considerada menos grave uma vez que natildeo estaacute elencada

dentre os crimes hediondos Inexistindo razatildeo de ser em qualquer tratamento que assim

lhe seja dispensado

Ressalte-se que tal hipoacutetese deveraacute ser aplicada em caso de natildeo

configuraccedilatildeo de reincidecircncia conforme jaacute foi exposto Caso a segunda infraccedilatildeo ocorra

apoacutes o trAnsito em julgado da primeira sentenccedila condenatoacuteria figura indiscutiacutevel a

apreciaccedilatildeo do caso sob a eacutegide do inciso 11 do artigo 83 do Coacutedigo Penal

REINCIDEcircNCIA ESPECIacuteFICA

O inciso V dispotildee ainda sobre o instituto da reincidecircncia especiacutefica

escusando-se de tecer maiores consideraccedilotildees a respeito remanescendo agrave doutrina

definir o que venha a ser tal instituto permanecendo inflamada a discussatildeo de seu

alcance

A parte dominante da doutrina em virtude do nuacutemero de adeptos

concebe que a reincidecircncia especifica do dispositivo legal suso mencionado ocorre em

virtude da praacutetica de dois crimes equiparados sob algum aspecto pela lei penal Assim

entende-se que a praacutetica de mais de um crime considerado hediondo pela Lei ndeg

807290 (ou equiparado a hediondo) permite a caracterizaccedilatildeo da reincidecircncia

especiacutefica

AURINO LOPES MONTEIRO ilustre representante deste pensamento

prolata a seguinte assertiva

A reincidecircncia especifica na Lei nordm 8072 que natildeo pode ser regida

pelo conceito legal revogado pela Lei ndeg 6416 de 24-04-77 fica

configurada quando o agente comete um crime entre os mencionados

na lei apoacutes ter transitado em julgado sentenccedila condenatoacuteria que o

tenha condenado por crime anterior tambeacutem relacionado no mesmo

diploma legal Natildeo eacute necessaacuterio que seja crime idecircntico ou

semelhante ao anterior como bem indica a expressatildeo dessa natureza

inscrita no dispositivo mas apenas que ambos estejam abrangidos

pela Lei nordm 80721

Em suma a reincidecircncia especifica natildeo importa na praacutetica de dois

sequumlestros ou dois Estupros Sua caracterizaccedilatildeo repousa na incorrecircncia de duas ou mais

infraccedilotildees inseridas no contexto da Lei dos Crimes Hediondos

Todavia parte dos doutrinadores discorda de tal entendimento sob o

aduzido que a Lei ndeg 807290 abriga infraccedilotildees das mais diversas estirpes desde crimes

contra o meio ambiente ateacute crimes contra os costumes cujas naturezas figuram como

sendo diametralmente opostas desmerecendo destarte o tratamento idecircntico

dispensado pela Lei dos Crimes Hediondos

Eis o entendimento de ALBERTO SILVA FRANCO2 sobre a mateacuteria

O que relaciona o estupro simples ou qualificado ao delito de

terrorismo O que haacute de comum entre o crime de epidemia com

resultado de morte e o delito de tortura Evidentemente nada Em

ponto algum de relevo os referidos tipos suportam um juizo

aproximativo Onde buscar entatildeo a a conotaccedilatildeo especiacutefica dessa

reincidecircncia

Depois porque natildeo pode o legislador nem o inteacuterprete decretar que

delitos tatildeo diacutespares tatildeo dessemelhantes possuam uma igualou

mesma natureza

Mais uma vez a redaccedilatildeo do texto legal concede permissibilidade agrave

dubiedade de interpretaccedilotildees Inobstante assistir razatildeo aos que discordam do primeiro

posicionamento eacute possivel verificar que a intenccedilatildeo do dispositivo repousou em obstar o

agraciamento do livramento condicional agravequelas pessoas que praticam crimes

1 apud MIRABETE Julio Fabbrini Op Cit pp 326 e 327

2 Op Cil p 1058

considerados hediondos reiteradas vezes Trata-se aqui de mero exerciacutecio de

interpretaccedilatildeo

Em respaldo a tal posicionamento recorra-se agrave liccedilatildeo de JULIO

FABBRINI MIRABETE ao definir a interpretaccedilatildeo como o processo loacutegico que

procura estabelecer a vontade da lei que nao eacute necessariamente a vontade do

legislador3

O liame que une os delitos elencados na Lei ndeg 807290 reside nos

efeitos de tais crimes sempre significativos aterradores e increpados de violecircncia que

atinge todos os bens juriacutedicos pelo dispositivo protegidos seja a liberdade seja o meio

ambiente seja a vida

Conclui-se por fim que apesar da impropriedade do preceito normativo

em remeter agrave reincidecircncia especifica resta compreendido que a mens legis do

dispositivo residiu em coibir a incorrecircncia repetida de crimes de efeitos siacutemiles sob o

aspecto da violecircncia que causam quando praticados

CONCLUSAtildeO

Conforme se fez possiacutevel observar existe uma infinidade de hipoacuteteses a

serem submetidas ao crivo de um nuacutemero limitado de normas Os casos aqui elencados

configuram simples exemplos elaborados com base em duacutevidas concebidas no decorrer

da pouca praacutetica de estudante estagiaacuteria na Justiccedila Federal de Primeira Instacircncia e

voluntaacuteria na Vara de Execuccedilotildees Penais da Justiccedila Estadual

Eacute evidente que o tema natildeo resta esgotado Todavia algumas omissotildees

figuram pelo menos em tese dirimidas graccedilas ao exerciacutecio interpretativo da norma

instituto este que se mostra sempre imperioso recorrer quando se defronta com fatos

natildeo previstos em lei

Importa ressaltar que a interpretaccedilatildeo em sede de Direito Penal e

Processual Penal deveraacute atender natildeo somente a mens legis mas tambeacutem os princiacutepios

insculpidos nestes ramos do direito de modo a prover o alcance da finalidade da norma

e em caso de duacutevida sobre a aplicabilidade de criteacuterios de interpretaccedilatildeo recorrer-se ao

bom senso ou ao preceito que mais se molda aos ideais de justiccedila inseridos em

cada um de noacutes

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DELMANTO Celso Coacutedigo Penal Comentado 3ordf ed Rio de Janeiro

Renovar 1991

FRANCO Alberto Silva SILVA JUacuteNIOR Joseacute BETANHO Luiacutez

Carlos STOCO Rui FEL TRIN Sebastiatildeo Oscar GUASTINI Vicente Celso da

Rocha e NINNO Wilson Coacutedigo Penal e sua interpretaccedilatildeo jurisprudencial 5ordf ed Satildeo

Paulo Revista dos Tribunais 1995

JESUS Damaacutesio E de Direito Penal vol 01 17ordf ed Satildeo Paulo

Saraiva 1993

MIRABETE Julio Fabbrini Execuccedilatildeo Penal 5ordf ed Satildeo Paulo Atlas

3 In Processo Penal p 70

1994

____ Processo Penal 3ordf ed Satildeo Paulo Atlas 1994

A INFORMATIZACcedilAtildeO DAS ELEICcedilOtildeES A EXPERIEcircNCIA DA

JUSTICcedilA ELEITORAL EM NATALRN

Eliane Nascimento de Melo

Acadecircmica do 7ordm Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

1INTRODUCcedilAtildeO

Os meios eletrocircnicos de processamento de dados tecircm provocado uma

verdadeira revoluccedilatildeo neste final de seacuteculo inclusive nos meios juriacutedicos Com a

informaacutetica o processo eleitoral tomou-se ainda mais ceacutelere embora jaacute o fosse em

virtude da exiguumlidade dos prazos e dos institutos processuais que o caracterizam como

a preclusatildeo e perempccedilatildeo conforme observamos na Lei 6490 (Lei das Inelegibilidades)

Art 16 - Os prazos a que se referem os artigos 30 e seguintes desta

Lei Complementar satildeo peremptoacuterios e contiacutenuos e correm em

Secretaria ou Cartoacuterio e a partir da data do encerramento do prazo

para registro de candidatos natildeo se suspendem aos saacutebados

domingos e feriados (grifos nossos)

Pretende-se aqui relatar rapidamente a informatizaccedilatildeo do

processo eleitoral limitando nosso objeto de estudo agrave evoluccedilatildeo da chamada terceira

grande faserdquo (a apuraccedilatildeo) conforme denominaccedilatildeo de Joel Joseacute Cacircndido1 focalizando a

experiecircncia da Justiccedila Eleitoral em NatalRN

Consiste a apuraccedilatildeo segundo aquele autor em abrir as urnas examinar

ceacutedula por ceacutedula qual foi a manifestaccedilatildeo de vontade do eleitor e registrar o conteuacutedo

dos votos sejam nominais nulos ou em branco em documentos apropriadosrdquo2

Ousamos discordar do conceito do grande jurista por acharmos que tal

conceituaccedilatildeo refere-se unicamente agrave contagem dos votos e seu registro nos boletins de

urna e porque contrasta com o Coacutedigo Eleitoral no momento em que este estabelece

que a competecircncia para a apuraccedilatildeo das eleiccedilotildees seraacute a) das Juntas Eleitorais nas Zonas

sob sua jurisdiccedilatildeo b) dos Tribunais Regionais Eleitorais nas eleiccedilotildees para Deputado

Estadual e Federal Senador e Governador do Estado e Vice-Governador e c) do

Tribunal Superior Eleitoral na eleiccedilatildeo para Presidente da Repuacuteblica3 Na verdade o

Tribunal Superior totaliza os resultados que recebe dos Tribunais Regionais e estes

totalizam os resultados provenientes das Juntas Para os fins a que se propotildee este

estudo entendemos a apuraccedilatildeo num sentido amplo abrangendo aleacutem do conceito do

mestre tambeacutem a totalizaccedilatildeo dos votos

Antes de seguirmos adiante esclarecemos que eacute de nosso entendimento

que a finalidade preciacutepua da informatizaccedilatildeo da apuraccedilatildeo eacute coibir a fraude eleitoral que

as paacuteginas da Histoacuteria do Brasil tatildeo escandalosamente registram Um livro inteiro

dedicado ao tema da fraude eleitoral na Histoacuteria brasileira natildeo seria suficiente para

1 Cacircndido Joel Joseacute Direito eleitoral brasileiro p 191

2 Op cit p 191

3 Coacutedigo Eleitoral artigo 158 incisos I a 111

relatar todo o casuiacutesmo com que jaacute foi tratada a opiniatildeo popular Sobremodo correta eacute a

expressatildeo da equipe do TRERJ

Em toda a passagem histoacuterica da Justiccedila eleitoral natildeo haacute um pleito em

que a situaccedilatildeo mais preocupante no antes durante e depois natildeo tenha sido a fraude

Criou-se a Justiccedila Eleitoral por causa da fraude Discute-se fraude haacute sessenta e

quatro anos informatizam-se as eleiccedilotildees por causa das fraudesrdquo4

11 ELEICcedilOtildeES ANTERIORES A 1986

Um dos primeiros problemas que verificamos na apuraccedilatildeo das eleiccedilotildees

anteriores a 1986 foi a extensatildeo do prazo necessaacuterio aos trabalhos de contagem e

totalizaccedilatildeo dos votos O Coacutedigo Eleitoral no artigo 159 fixa o prazo de 10 (dez) dias

para a apuraccedilatildeo e a Lei n0 699682 determina

Art 14 A apuraccedilatildeo poderaacute ser iniciada a partir do recebimento

da primeira urna prolongando-se pelo tempo necessaacuterio

observado o prazo maacuteximo de 10 (dez) dias

Este prazo podia ainda ser prorrogado por mais cinco dias por solicitaccedilatildeo

da Junta No caso da apuraccedilatildeo ser da competecircncia do TRE esse prazo era de 30 dias

podendo ser prorrogado por mais 15

A Junta Apuradora nas citadas eleiccedilotildees era - e ainda o eacute - composta de

um Juiz de Direito e dois ou quatro cidadatildeos idocircneos Assim aleacutem da morosidade no

processamento das informaccedilotildees verifica-se a implicaccedilatildeo de um custo real muito alto

pois aleacutem do fato da Justiccedila Eleitoral depender do resultado da apuraccedilatildeo para o

prosseguimento de suas atividades normais os idocircneos cidadatildeos enquanto a serviccedilo da

Justiccedila satildeo afastados de suas atividades produtivas gerando certa despesa indireta

Vale lembrar em geral eram escolhidos funcionaacuterios de agecircncias bancaacuterias contadores

e operadores de caixa em virtude da maior experiecircncia com planilhas

Mesmo para esses profissionais os mapotildees de totalizaccedilatildeo - totalizadores

progressivos manuais eram um grande problema uma falha na simples leitura de um

uacutenico nuacutemero era capaz de comprometer todo o trabalho executado sem falar das

repetidas e exaustivas conferecircncias ateacute chegar com alguma precisatildeo ao resultado final

O problema mais grave poreacutem era a fraude Ateacute se chegar ao resultado

final muitas pessoas manipulavam os votos jaacute que era preciso contar as ceacutedulas para

cada cargo depois separar os montinhos por candidato Imagine-se a falta de

fiscalizaccedilatildeo ou fiscais cansados de tanto observar a apuraccedilatildeo para aumentar ou

diminuir a votaccedilatildeo de certo candidato nenhum momento seria mais conveniente E eacute

sabido tambeacutem que o recurso contra a apuraccedilatildeo natildeo eacute admitido salvo na hipoacutetese de ter

4 Rio de Janeiro TRE A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico p 70

havido impugnaccedilatildeo perante a Junta contra as nulidades arguumlidas no momento da

apuraccedilatildeo (Coacutedigo Eleitoral artigo 171) Haacute ainda vaacuterios outros momentos em que

verificamos a possibilidade da fraude na proacutepria votaccedilatildeo5 na contagem das ceacutedulas no

preenchimento do BU (Boletim de Uma) entre outros

12 A SECRETARIA DE INFORMAacuteTICA

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte regulamentou a

competecircncia e atribuiccedilotildees da Secretaria de Informaacutetica atraveacutes da Resoluccedilatildeo nO

00391-TRElRN

Em 03 de novembro de 1992 a Secretaria de Informaacutetica passou a

denominar-se Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica e o TRERN atraveacutes da Resoluccedilatildeo

ndeg 01892 aprovou o seu organograma e atribuiccedilotildees Essa Coordenaccedilatildeo Regional de

Informaacutetica foi diretamente responsaacutevel pelo processamento dos dados referentes agraves

eleiccedilotildees de 1992 do alistamento ao caacutelculo do tempo de propaganda eleitoral gratuita e

em Natal tambeacutem pela totalizaccedilatildeo dos votos

A Lei 886894 reorganizou os quadros das Secretarias do Tribunal

Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais O Tribunal Superior Eleitoral

expediu Resoluccedilatildeo regulamentando a Lei e fixando os organogramas das Secretarias

citadas A partir de entatildeo a Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica transformou-se em

Secretaria de Informaacutetica denominaccedilatildeo que traz na atualidade

2PROCEDIMENTOS ELETROcircNICOS NA APURACcedilAtildeO DE

ELEICcedilOtildeES ANTERIORES

21 ELEICcedilOtildeES ENTRE 1986 E 1992

Nas eleiccedilotildees de 1988 1989 e 1990 no Rio Grande do Norte o

processamento dos boletins de urna jaacute fora informatizado sendo realizado por

empresa contratada para este fim - o SERPRO As empresas contratadas em todo o

pais agrave eacutepoca trabalhavam com computadores de grande porte mainframes que

manipulam um nuacutemero extremamente elevado de informaccedilotildees e operam com uma

vasta quantidade de perifeacutericos de entrada e saiacuteda de dados O sistema era instalado

permanecendo ateacute o final do trabalho contratado quando entatildeo os dados eram

transferidos para fitas magneacuteticas

Limitava-se a Secretaria de Informaacutetica do Tribunal Regional Eleitoral

a equipes de conferecircncia Estas equipes conferiam os relatoacuterios da digitaccedilatildeo realizada

5 No jaacute citado A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico encontramos

referecircncia tambeacutem ao chamado voto de carreirinha ou voto formiguinha

Referem-se as expressotildees aos votos preenchidos com a mesma caligrafia eacute o tipo de

fraude em que o componente da mesa receptora ou da Junta Apuradora preenche as ceacutedulas o

que diminui sensivelmente o percentual de votos em branco

pela SERPRO que por sua vez digitava e totalizava os dados constantes dos BUs

No mais a apuraccedilatildeo continuava a se realizar nos moldes das anteriores

22 ELEICcedilOtildeES DE 1992

A partir da Resoluccedilatildeo nordm 00391-TERRN o TRE passou a realizar

diretamente o processamento de todos os documentos relativos agrave atualizaccedilatildeo dos

cadastros eleitorais como FAEs - Formulaacuterios de Alistamento Eleitoral FASEs -

Formulaacuterios de Acompanhamento da Situaccedilatildeo do Eleitor Justificativas Eleitorais e

Canhotos de Votaccedilatildeo remetidos agrave Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica por todas as

Zonas Eleitorais do Estado

Dos primeiros microcomputadores monousuaacuterios que dispunha para

realizar o processamento de tais documentos a Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica

passou a operar em 1992 com um sistema de rede composto de um gerenciador do

sistema e de dados e alguns terminais de digitaccedilatildeo

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a contagem dos votos

fosse realizada pelas mesas receptoras nos termos do Coacutedigo Eleitoral artigos 188 a

196 Se tudo corresse conforme planejado a conclusatildeo da apuraccedilatildeo ocorreria no

maacuteximo em apenas trecircs dias

Vaacuterios fatores contribuiacuteram para a imperfeiccedilatildeo do sistema no primeiro

turno o despreparo e o cansaccedilo dos mesaacuterios a falha na fiscalizaccedilatildeo por parte dos

partidos poliacuteticos a proacutepria apresentaccedilatildeo do Boletim de Urna entre outros O grande

calcanhar de Aquiles no entanto foi mesmo o enorme percentual de erro encontrado

nos BUmiddots A totalizaccedilatildeo sofreu um atraso em relaccedilatildeo ao prazo anteriormente previsto e

mesmo assim os trabalhos de apuraccedilatildeo foram encerrados em 07 (sete) de outubro

apenas 04 (quatro) dias apoacutes a data da eleiccedilatildeo e um recorde em relaccedilatildeo agraves eleiccedilotildees

anteriores

O segundo turno eliminou a contagem pelas mesas receptoras e os BU s

foram preenchidos pelas proacuteprias Juntas Apuradoras eliminando-se sensivelmente a

margem de erros de preenchimento

23 ELEICcedilOtildeES DE 1994

Para o pleito de 1994 o Rio Grande do Norte foi dividido em sete poacutelos

de processamento6 e treze zonas isoladas

7 aleacutem das quatro zonas da Capital que

tambeacutem funcionaram isoladamente

As zonas isoladas processavam apenas os dados de cada uma

transmitindo-os via Renpac para a Secretaria de Informaacutetica do TRERN atraveacutes de

linhas discadas atilde exceccedilatildeo das zonas da Capital que como os poacutelos utilizaram linhas

dedicadas

Nos Poacutelos o trabalho exigia mais cuidado em virtude dos mesmos

reunirem em um uacutenico local os BUs provenientes das Juntas Eleitorais de vaacuterias

6 Joatildeo Cacircmara Caicoacute Mossoroacute Currais Novos Pau dos Ferros Accedilu e Nova Cruz

7 Funcionaram isoladamente as seguintes Zonas S 6 8 13 163033 3S 44 SO

S1 S3 68 com sedes nas Comarcas de Macalba Cearaacute-Mirim Satildeo Paulo do Potengi Santo AntOnio Santa Cruz Macau Mossor6 Apodi Monte Alegre Pamamirim Satildeo Gonccedilalo do Amarante Tangaraacute e Santa Cruz respectivamente

zonas No poacutelo de Joatildeo Cacircmara por exemplo foram processados os dados de oito

Zonas 10a

- Joatildeo Cacircmara 14ordf -Touros 17ordf - Lajes 19a

- Satildeo Tomeacute 46a

- Taipu 52a

-

Satildeo Bento do Norte 48a - Pedro Avelino e 62ordf - Poccedilo Branco num total de 438 seccedilotildees

As Juntas Apuradoras de cada Zona Eleitoral funcionaram normalmente em suas sedes

O transporte dos BUs foi inteiramente efetuado pela Empresa Brasileira de Correios e

Teleacutegrafos que tinha um roteiro e horaacuterios fixos para passar em cada Zona Os BUs

vinham lacrados em envelopes sedex Recebidos no poacutelo eram conferidos digitados e

novamente conferidos Encerrada corretamente a digitaccedilatildeo do BU era feita a

transmissatildeo para o TRE que totalizava as seccedilotildees do Estado e transmitia os dados para o

TSE Natildeo eacute preciso dizer que a distacircncia entre as Zonas era tal que a possibilidade de

troca ou adulteraccedilatildeo do BU natildeo estava totalmente descartada e os trabalhos dos

funcionaacuterios dos Correios deve ser lembrado pela idoneidade com que foi efetuado

especialmente no Poacutelo de Joatildeo Cacircmara onde tivemos oportunidade de trabalhar durante

as citadas eleiccedilotildees

O escrutiacutenio8 foi o tradicional e a apuraccedilatildeo foi parcialmente realizada

nas Juntas onde foram contados os votos e preenchidos os BUs O processamento

destes assemelhou-se ao de 1992 em Natal com a diferenccedila de ter sido utilizado em

todas as Zonas Eleitorais do Estado Aliaacutes em todo o Brasil com a totalizaccedilatildeo dos

votos para Presidente da Repuacuteblica realizada pelo TSE

Natildeo podemos deixar de mencionar a seguranccedila do sistema que se

utilizava de senhas pessoais imunizaccedilatildeo de todos os micros contra viacuterus criptografia

para armazenamento e transmissatildeo de dados e armazenamento de senhas rotinas de

senha e contra senha nas etapas de transmissatildeo backup automaacutetico e recursos de

auditoria9

Com um sistema assim a fraude na digitaccedilatildeo e totalizaccedilatildeo estava

totalmente abolida posto que o relatoacuterio da digitaccedilatildeo de cada BU tinha de coincidir

com o BU divulgado pela Junta Fraude mesmo somente tomou-se possiacutevel na recepccedilatildeo

dos votos e na apuraccedilatildeo conforme foi detectada no Rio de Janeiro por modo tatildeo

intenso que toda a eleiccedilatildeo proporcional do Estado foi anulada encontrando-se

caracterizado

entre outros tipos de fraude o voto de carreirinha10

3 A INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO ELEITORAL NO PLEITO

DE 1996

A Lei 910095 nos artigos 18 a 20 trata do Sistema Eletrocircnico de

Votaccedilatildeo e Apuraccedilatildeo Esta foi a grande novidade das eleiccedilotildees de 1996 a urna

eletrocircnica11

Agora natildeo somente a apuraccedilatildeo foi eletrocircnica mas o escrutiacutenio tambeacutem

8 Adotamos o conceito de escrutiacutenio de Joseacute Afonso da Silva no seu Curso de direito

constitucional positivo p 309 que diferencia sufraacutegio voto e escrutiacutenio entendendo este

uacuteltimo como o modo de exerciacutecio do voto Referimo-nos portanto agrave votaccedilatildeo 9 Conforme treinamento efetuado pela M6dulo empresa responsaacutevel pela seguranccedila do sistema

utilizado 10

Ver nota ao item 1 1 onde trata de fraude na votaccedilatildeo 11

Enquanto pesquisaacutevamos para a elaboraccedilao deste texto ficamos surpresos quando

descobrimos que jaacute houve em 1932 uma maacutequina de votar que tornava o voto rigorosamente

secreto e que s6 nao foi utilizada devido ao seu elevado custo

naqueles locais onde autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral na conformidade do

texto legal

Art 18 O Tribunal Superior Eleitoral poderaacute autorizar os

Tribunais Regionais a utilizarem em uma ou mais Zonas Eleitorais

o sistema eletrocircnico de votaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

sect 10 A autorizaccedilatildeo poderaacute se referir apenas agrave apuraccedilatildeo

Vaacutelida eacute a liccedilatildeo de Joel Joseacute Cacircndido A lei trata de uma faculdade

mesmo porque natildeo poderia obrigar as Zonas Eleitorais a utilizarem o sistema eletrocircnico

pois precisava preocupar-se tambeacutem com aquelas afastadas sem possibilidade de

implantaccedilatildeo da nova tecnologia Tal exigecircncia pelo extremismo tornaria impraticaacutevel o

processo democraacutetico eleitoral

Regulamentando a lei citada atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg 19515 de

180496 o Tribunal Superior Eleitoral determinou

Art 5deg Seraacute utilizado o Sistema Eletrocircnico de Votaccedilatildeo nas capitais e

nos municiacutepios com mais de duzentos mil eleitores tomando-se como

referecircncia o eleitorado definido para as eleiccedilotildees gerais de 1994 (Lei

nordm 910095 art 18 caput)

Da adequada utilizaccedilatildeo da votaccedilatildeo informatizada dependeu o resultado

final do processo de apuraccedilatildeo dos votos nestas eleiccedilotildees

O procedimento era muito simples A uma era liberada pelo presidente

da mesa receptora atraveacutes de um microterminal posteriormente agrave identificaccedilatildeo do

eleitor Este na cabina deveria digitar e confirmar os votos para prefeito e vereador

Apoacutes confirmado o voto fosse ele vaacutelido em branco ou nulo a uma o imprimiria e a

ceacutedula seria depositada pela proacutepria maacutequina num recipiente a ela acoplado Isto

satisfaria uma dupla necessidade asseguraria o sigilo do voto posto que as ceacutedulasrdquo

caem da maacutequina sendo depositadas aleatoriamente e permitiria que se recontassem os

votos no caso de impugnaccedilatildeo por parte de algum partido poliacutetico coligaccedilatildeo ou

candidato

Vale aqui chamar a atenccedilatildeo para a importacircncia da fiscalizaccedilatildeo realizada

pelos partidos e coligaccedilotildees tanto para assegurar o sigilo do voto como a correta

execuccedilatildeo das tarefas da mesa receptora Considerando-se a situaccedilatildeo de ausecircncia de

fiscalizaccedilatildeo em uma seccedilatildeo eleitoral mais distante e a possibilidade de os componentes

da mesa natildeo serem pessoas tatildeo idocircneas como exige o trabalho que realizam poderiacuteamos

estar diante de um caso em que natildeo comparecendo o eleitor e de posse do nuacutemero do

tiacutetulo que consta da folha de votaccedilatildeo os componentes da mesa receptora poderiam

muito bem liberar a urna e entrar com os votos que Ihes fossem convenientes Quem

iria conferir uma a uma cada assinatura da folha de votaccedilatildeo A participaccedilatildeo dos

partidos foi aleacutem de efetiva uma das vigas para a idoneidade do pleito testemunhado

Natildeo existe um sistema que natildeo possa ser burlado mas eacute preciso que se

afaste totalmente o fantasma da fraude para que se possa garantir a continuidade do

processo democraacutetico pois a estabilidade do Estado de Direito depende de eleiccedilotildees cujo

resultado reflita a vontade da maioria Lembramos que a finalidade mor da urna

eletrocircnica eacute assegurar natildeo apenas a celeridade mas tambeacutem a lisura dos resultados

Temos de reconhecer poreacutem a enormidade do avanccedilo ocasionado pela

utilizaccedilatildeo da urna eletrocircnica e o reflexo disto na apuraccedilatildeo foi uma questatildeo de poucas

horas necessaacuterias para permitir que os dados das diversas urnas fossem reunidos e

certificar-se de que houve o cumprimento das formalidades exigidas pela Lei e pelas

Instruccedilotildees do TSE e tivemos o resultado final

Nos demais municiacutepios do Rio Grande do Norte a votaccedilatildeo seguiu agrave

maneira tradicional A apuraccedilatildeo realizou-se de modo semelhante ao pleito de 1994 os

votos contados pelas Juntas Eleitorais que preenchiam os boletins de urna e os

encaminhavam para processamento Natildeo houve os poacutelos que observamos em 1994

Desta vez cada Zona de per si foi responsaacutevel pela apuraccedilatildeo eletrocircnica com o

suporte dado pelo Tribunal Regional Eleitoral Eacute que apoacutes o pleito de 1994 todo o

equipamento utilizado pelos poacutelos foi distribuiacutedo pelas Zonas Eleitorais e desde entatildeo

foi feito um trabalho de automaccedilatildeo dos serviccedilos dos Cartoacuterios Eleitorais como Vg a

digitaccedilatildeo dos FAEs e FASEs por funcionaacuterios de cada Cartoacuterio

4 CONCLUSAtildeO

O sistema eletrocircnico de votaccedilatildeo e apuraccedilatildeo foi muito questionado

Normal que o fosse Os mais jovens estatildeo acostumados a avanccedilos raacutepidos o mesmo

natildeo se pode dizer dos mais vividos Aleacutem disso por tratar-se de experiecircncia pioneira

na maior parte dos Estados grande era a ansiedade por saber se iria mesmo dar certo

Ateacute que ponto ele asseguraria a idoneidade da eleiccedilatildeo

Acredito que havendo uma fiscalizaccedilatildeo eficiente natildeo haacute o que se

questionar quanto agrave lisura do pleito havendo a utilizaccedilatildeo da urna eletrocircnica no modelo

determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral Uma preocupaccedilatildeo poreacutem era geral por

representar um avanccedilo tatildeo raacutepido seraacute que noacutes jaacute estaacutevamos preparados para usaacute-Ia

Os eleitores analfabetos natildeo seriam mais facilmente manipulados

Os nossos legisladores esqueceram da grande maioria analfabeta do

nosso pais e por isso ensinar os eleitores a usar a urna foi um trabalho por demais

preocupante Alguns funcionaacuterios da Justiccedila Eleitoral sentiram mesmo dificuldade em

ensinar aos eleitores como utilizar a urna apesar da enorme campanha realizada pelo

TSE Agrave primeira vista os eleitores tinham medo do equipamento principalmente os

analfabetos e os mais idosos Vencido o medo outro passo largo era manuseaacute-Ia

Encontramos uma eleitora que tinha duacutevidas quanto ao isolamento eleacutetrico do

equipamento Achava que levaria choques se errasse na hora de votar Certamente que

haacute extrema facilidade no uso da urna eletrocircnica especialmente porque o teclado

equumlivale ao de um telefone Usaacute-Ia eacute tatildeo faacutecil quanto operar uma maacutequina de saldos e

extratos bancaacuterios Os nossos parlamentares esqueceram apenas que natildeo eacute muito grande

o nuacutemero de eleitores que possuem conta bancaacuteria e mesmo entre os que as possuem

relevante eacute o nuacutemero dos que necessitam de orientaccedilatildeo dos funcionaacuterios das agecircncias

cada vez que precisam operaacute-Ias

Outro ponto trouxe preocupaccedilatildeo o voto dos eleitores cegos Pensando

neles o teclado da uma possui os signos em braiIIe abaixo de cada tecla bem como o

ponto de identificaccedilatildeo da tecla ndeg 5 de forma que o eleitor cego soacute precisava localizar

os siacutembolos desejados e tocar as teclas correspondentes Mas as maacutequinas variam

quanto agrave sensibilidade de forma que os teclados de algumas satildeo tatildeo sensiacuteveis que o

miacutenimo toque digita vaacuterios nuacutemeros enquanto o de outras necessita de pressatildeo bem

maior

Impossibilitado de ver o que estaacute digitando o eleitor cego desde que

tenha treinado bastante pode ateacute acertar a sequumlecircncia desejada das teclas mas natildeo pode

ter certeza de que os nuacutemeros recebidos pela uma foram os que ele tinha a intenccedilatildeo de

digitar

Bem sabemos que os eleitores cegos satildeo em nuacutemero bastante reduzido e

eacute por este motivo que o Coacutedigo Eleitoral prevecirc uma seccedilatildeo especial para cegos

alfabetizados pelo sistema braille com o fim de garantir-Ihes a participaccedilatildeo no processo

eleitoral e principalmente o segredo do voto Em virtude de serem tatildeo poucos natildeo se

deve chegar ao extremo de achar que tais votos natildeo fazem diferenccedila como ouvimos

outro dia de certo cidadatildeo

O que se quer garantir a esses eleitores eacute o direito constitucional que tecircm

de exercer o sufraacutegio ativo natildeo importa quantos satildeo eles Importa que satildeo sujeitos de

direitos e devem exercecirc-Ios Para resolver a questatildeo apontamos duas soluccedilotildees tomar os

votos dos cegos da forma tradicional utilizando-se a velha ceacutedula eleitoral ou anexar

fones de ouvido agrave urna Neste uacuteltimo caso o cego os utilizaria para certificar-se de que

teclou os nuacutemeros desejados e realizou corretamente as operaccedilotildees Achamos que a

uacuteltima soluccedilatildeo seria a mais adequada

Em todas as eleiccedilotildees satildeo computados votos em branco Alguns

eleitores por um motivo qualquer depositavam a ceacutedula sem preenchimento Na sua

simplicidade deviam acreditar que natildeo digitando nuacutemero algum nestas eleiccedilotildees ou

simplesmente natildeo confirmando nada estariam em situaccedilatildeo equivalente agravequela O TSE

resolveu entatildeo prever uma forma de encerrar a votaccedilatildeo quando o eleitor demorasse

por demais a votar ou decidisse natildeo votar Tratava-se da suspensatildeo do voto o

presidente da mesa receptora digitaria uma senha que suspenderia o voto anulando-o

Talvez a mais profunda criacutetica que temos a fazer ao uso da uma eletrocircnica seja com

relaccedilatildeo a este procedimento Ora trata-se ao nosso ver de profunda

inconstitucionalidade pois o voto eacute direito previsto na Carta Magna e todos no pleno

exerciacutecio dos seus direitos poliacuteticos natildeo soacute podem como devem exercecirc-Io Temos que

o voto nulo no conceito de Joseacute Afonso da Silva com quem concordamos natildeo eacute voto

O presidente da seccedilatildeo ao anular o voto do eleitor agrediria o sistema democraacutetico e

ainda contribuiria para diminuir o quociente eleitoral aleacutem de cometer um crime

conforme o Coacutedigo Eleitoral

Art 297 - Impedir ou embaraccedilar o exerciacutecio do sufraacutegio

Pena _ detenccedilatildeo ateacute seis meses e pagamento de 60 a 90 dias-multa

Mas a tecnologia natildeo favoreceu as pretensotildees da Corte e na fase de

testes percebeu-se que uma falha da programaccedilatildeo travava o sistema cada vez que a

senha de suspensatildeo era usada e no uacuteltimo instante o TSE proibiu o uso das senhas

aliaacutes uacutenica para todo o Brasil

Com isto outro problema surgia Se o presidente da seccedilatildeo natildeo poderia

encerrar a votaccedilatildeo do eleitor que deixou a cabina sem votar como fazer para liberar a

uma o que soacute ocorria com a confirmaccedilatildeo do voto para vereador O eleitor teria

necessariamente que votar e a mesa teria que ter redobrado cuidado em verificar que a

urna

tinha sido liberada

Temos ouvido testemunhos vaacuterios e ateacute presenciamos a atitude tomada

quando natildeo se conseguia convencer o eleitor a confirmar o voto o presidente da seccedilatildeo

reunia os fiscais de partidos presentes e um outro componente da mesa e juntos iam ateacute

a cabina de votaccedilatildeo digitavam 99999 e confirmavam anulando o segundo voto do

eleitor Achamos que tal atitude equumlivale ao uso da senha e tem os mesmos efeitos

trazendo duas diferenccedilas naquela a responsabilidade era do presidente da seccedilatildeo e nesta

satildeo responsaacuteveis todos os componentes da mesa receptora e os fiscais de partido

presentes no momento naquela o crime seria o do artigo 297 nesta seria conforme o

caso concreto ou o previsto no artigo 309 ou o do artigo 312 que assim versam

Art 309 ndash Vota tentar votar mais de uma vez em lugar de outrem

Pena - reclusatildeo ateacute trecircs anos

Art 312 - Violar ou tentar violar o sigilo do voto

Pena ndash detenccedilatildeo ateacute dois anosrdquo12

Natildeo seria o caso do Tribunal Superior Eleitoral rever o sistema utilizado

e valer-se de um recurso disponiacutevel nos caixas eletrocircnicos de qualquer banco ou numa

ligaccedilatildeo telefocircnica o limite de tempo Se o eleitor estaacute digitando ou confirmando

nenhum problema Se nada fosse digitado apoacutes algum tempo a proacutepria maacutequina

emitiria o confirma e encerraria a votaccedilatildeo do eleitor registrando em branco ou nulo

ou vaacutelido conforme o que houvesse sido digitado pelo eleitor

Por fim indagaacutevamos se os mesaacuterios saberiam operar com seguranccedila a

uma eletrocircnica Como se sabe as eleiccedilotildees de 1992 trouxeram o inconveniente de em

seu primeiro turno obrigarem agrave contagem dos votos de cada urna e o consequumlente

preenchimento dos BUs pelas mesas receptoras nas proacuteprias dependecircncias das seccedilotildees

eleitorais A experiecircncia por negativa que se mostrou natildeo foi repetida nem no segundo

turno daquelas eleiccedilotildees nem nas eleiccedilotildees de 1994

Nestas eleiccedilotildees voltou a haver a previsatildeo de emissatildeo dos boletins de

urna pelas mesas receptoras tanto onde houve votaccedilatildeo eletrocircnica como onde esta natildeo

ocorreu desde que no uacuteltimo caso houvesse a autorizaccedilatildeo do Tribunal Superior

Eleitoral

Onde houve votaccedilatildeo eletrocircnica a participaccedilatildeo das mesas receptoras foi

decisiva Basta considerar a competecircncia do Presidente da Mesa Receptora prevista no

artigo 15 da Resoluccedilatildeo TSE n0 19515 de 18 de abril de 1996 como iniciar a votaccedilatildeo

com emissatildeo da zereacutesima e encerraacute-Ia imprimindo o boletim de uma e gerando o

disquete de dados Aqueles que tem a vivecircncia dos Cartoacuterios Eleitorais sabem como eacute

difiacutecil encontrar eleitores com certo grau de instruccedilatildeo para compor as mesas Eacute comum

encontrarmos mesaacuterios que nem sequer concluiacuteram a quarta seacuterie do primeiro grau

Seraacute que essas pessoas teriam tranquumlilidade para operar as urnas Saberiam pelo menos

emitir as zereacutesimas Esta eacute um relatoacuterio inicial impresso pelo equipamento e que

cumpre dupla finalidade informar quantidade zero de votos na urna para todos os

candidatos e inicializar o sistema de votaccedilatildeo Um dos funcionaacuterios envolvidos nos

trabalhos testemunhou um presidente de seccedilatildeo tatildeo nervoso que natildeo conseguia entender

12

Como nosso tema Mo trata de crimes eleitorais remetemos o leitor ao livro de Joel Joseacute

Candido cuja citaccedilatildeo encontra-se no item 5 (referecircncias bibliograacuteficas)

a instruccedilatildeo da maacutequina de confirmar a emissatildeo da zereacutesima Dirigiu-se ao primeiro

quase histeacuterico afirmando que a maacutequina havia quebrado

De qualquer forma qualquer travamento da urna durante a votaccedilatildeo

ensejaria a transformaccedilatildeo do sistema eletrocircnico em tradicional com a urna plaacutestica

continuando acoplada ao equipamento e desde que houvesse votado mais de um eleitor

Era inclusive uma das providecircncias para assegurar o sigilo do voto do primeiro eleitor

que soacute poderia sair da seccedilatildeo apoacutes o voto do segundo eleitor

Vaacuterios procedimentos de emergecircncia foram previstos como a utilizaccedilatildeo

de baterias externas caso houvesse falta de energia Algumas umas precisaram utilizar-

se destes procedimentos de emergecircncia Verificamos tambeacutem que haacute uma necessidade

de aprimoramento do equipamento Talvez elas como uma maacutequina xerox natildeo tivessem

durabilidade para aguumlentar as ruas como aguumlentaram por meses na divulgaccedilatildeo do voto

eletrocircnico e na hora que natildeo deveria o microterminal piscava os leds sem ter

problemas na energia natildeo atendia agraves consultas ou natildeo liberava a uma e neste momento

a votaccedilatildeo tinha de ser convertida em manual

Nos lugares em que autorizada pelo TSE poderia haver contagem dos

votos pela mesa receptora Desta vez poreacutem tomou-se a precauccedilatildeo de exigir que fosse

feita na presenccedila da Junta Eleitoral (Resoluccedilatildeo TSE ndeg 19540 de 030596 artigo 51)

Assim o procedimento de votaccedilatildeo correria normalmente e a mesa deveria deslocar-se

para o local designado e apenas laacute chegando sob supervisatildeo da Junta Eleitoral

procederia a contagem dos votos preenchendo o boletim de uma Seguir-se-ia a revisatildeo

aritmeacutetica do boletim pela Junta que deveria abrir a urna e conferir os votos caso a

contagem da mesa natildeo permitisse o fechamento do BU (Coacutedigo Eleitoral artigos 189 a

195) Natildeo houve registro deste procedimento em Natal

Eacute forccediloso reconhecer no entanto como foi largo o passo dado para a

lisura do processo eleitoral como o define Joel Joseacute Cacircndido Um bom exemplo disto eacute

a determinaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo do TSE ndeg 19541 de 030596 contida no paraacutegrafo

uacutenico do artigo 13 que os dados utilizados no processamento eletrocircnico tatildeo logo este

seja concluiacutedo sejam colocados agrave disposiccedilatildeo dos partidos atraveacutes da INTERNET para

permitir possam eles conferir os dados processados com as coacutepias de que disporatildeo dos

BUs

Ainda estamos aprendendo a caminhar democraticamente mas os

casos de fraude como ocorreu no Rio de Janeiro em 1994 satildeo coibidos com mais

firmeza Os cidadatildeos jaacute se sentem mais agrave vontade para falar de poliacutetica partidaacuteria e para

dar suas opiniotildees ao mesmo tempo em que confiam mais nos resultados eleitorais Os

eleitores tecircm sede de participaccedilatildeo poliacutetica Natildeo temos duacutevidas que compareceriam agraves

urnas mesmo que o voto fosse facultativo Assim natildeo fosse natildeo veriacuteamos idosos

amparados em cadeiras de rodas fazendo questatildeo de participar quando haacute muito jaacute natildeo

precisam mais fazecirc-Io Mais do que os jovens eles sabem qual a sensaccedilatildeo de natildeo poder

opinar Eles viveram o periacuteodo ditatorial enquanto a juventude apenas leu sobre o

assunto

A informaacutetica tem invadido todos os espaccedilos sendo extremamente uacutetil agrave

democracia Pudemos certificar-nos disto no pleito que testemunhamos Com certeza

ocorreram falhas posto que foram homens que o elaboraram mas eacute certo tambeacutem que

ele foi mais uma etapa no aprendizado do Brasil rumo ao amadurecimento democraacutetico

Em 1994 o presidente do Tribunal Superior Eleitoral na eacutepoca Ministro Sepuacutelveda

Pertence declarou que a apuraccedilatildeo eletrocircnica era o funeral da fraude eleitoral Cremos

que estava certo Com base nisto podemos afirmar com convicccedilatildeo que se a apuraccedilatildeo

eletrocircnica era o funeral estamos assistindo ao sepultamento da fraude e finalmente

chegando ao tatildeo sonhado respeito pela vontade popular que caracteriza a democracia

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Eleiccedilotildees municipais 1996

legislaccedilatildeo consolidada 2ed Brasiacutelia Secretaria de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo do

TSE 1996

BRASIL Legislaccedilatildeo eleitoral e partidaacuteria 10ed Brasiacutelia Senado

Federal Subsecretaria de Ediccedilotildees Teacutecnicas 1994

CAcircNDIDO Joel Joseacute Direito eleitoral brasileiro 6ed rev atual e

ampl Bauru EDIPRO1996

GODOY Mayr Eleiccedilotildees municipais comentaacuterios agraves disposiccedilotildees legais

que incidem no pleito local Satildeo Paulo LEUD 1996 P 152-159

MANUAL de legislaccedilatildeo

eleitoral e partidaacuteria Fortaleza TRECE Assembleacuteia Legislativa do Estado do Cearaacute

1996

RIBEIRO Faacutevila Direito Eleitoral 4ed Rio de Janeiro Forense 1996

RIO DE JANEIRO Tribunal Regional Eleitoral Projeto Memoacuteria

Eleitoral A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico Edvaldo Ramos e Sousa

Coordenador Rio de Janeiro Infobook 1996

SILVA De Plaacutecido e Vocabulaacuterio juriacutedico 3ed Rio de Janeiro

Forense 1993

SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 8ed

rev ampl Satildeo Paulo Malheiros 1992

TELLES Ney Moura Direito eleitoral comentaacuterios agrave Lei 9100 de 29

de setembro de 1995 Resoluccedilotildees e Jurisprudecircncia do Tribunal Superior Eleitoral

Leme Editora de Direito 1996 P67-136

DO NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL E SUAS

IMPLICACcedilOtildeES

EVERTON AMARAL DE ARAUacuteJO

Acadecircmico do 7deg periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

1 INTRODUCcedilAtildeO

O estudo do nome civil das pessoas naturais sempre proporciona

interesse haja vista se tratar de tema que diz respeito a toda sociedade A nossa atenccedilatildeo

se voltaraacute especificamente agrave pessoa natural do direito civil Este estudo comportaraacute duas

anaacutelises sobremaneira interligadas uma sob o aspecto individualista do nome e outra

vislumbrada sob o ponto de vista puacuteblico do nome

Natildeo se buscaraacute tecer minuciosamente todo o tema uma vez que eacute

bastante amplo Analisaremos o que haacute de mais interessante e atualizado no que se

refere a este assunto sobretudo voltados aos aspectos particular e puacuteblico que o

envolvem Para isso partiremos desde as configuraccedilotildees espacial e temporal deste tema

passando pelo seu exame teoacuterico para rematar com a praticidade que lhe eacute peculiar

o nome civil das pessoas naturais pela sua riqueza de conteuacutedo merece

ser apresentado com tudo que o envolve poreacutem apenas buscaremos expor o suficiente agrave

elucidaccedilatildeo das nossas curiosidades e ao suprimento do que desconhecemos quanto ao

que haacute de relevante deste assunto tudo isso relacionado aos dispositivos de direito que

regulamentam este tema

2 DA NOTIacuteCIA HISTOacuteRICA E GEOGRAacuteFICA

Eacute sabido que a busca pela individualizaccedilatildeo das pessoas inicia-se pela

identificaccedilatildeo destas e o seu nome eacute um dos sinais exteriores que melhor as qualificam

juntamente com os seus estados e domiciacutelio

As diversas culturas no tempo e no espaccedilo manifestaram e ainda hoje

apresentam suas especificidades quanto aos nomes dos seus indiviacuteduos Vale expor

algumas das mais curiosas

Dos ensinamentos de Washington de Barros Monteiro1 verifica-se que

entre os gregos o nome era uacutenico e individual e que natildeo se transmitiam aos seus

descendentes como Soacutecrates e Platatildeo Inicialmente era tambeacutem uacutenico para os hebreus

posteriormente passaram os indiviacuteduos a ser identificados pelos proacuteprios nomes ligados

aos dos seus ascendentes como Joseacute Bar-Jacoacute ou seja Joseacute filho de Jacoacute ou ainda

Barrabaacutes isto eacute filho de Abaacutes que foi identificado apenas pela filiaccedilatildeo visto que o seu

primeiro nome se perdera no tempo Esta forma ainda hoje se constata entre os aacuterabes

por exemplo Ali Ben Mustafaacute ou seja Ali filho de Mustafaacute

Entre os romanos havia uma certa complexidade uma vez que os nomes

se compunham pela identificaccedilatildeo da gens e do nome proacuteprio de cada indiviacuteduo em que

depois ainda veio a se acrescentar - especificamente nos homens - o cognome Com o

tempo em funccedilatildeo das circunstacircncias histoacutericas surgiram novas modificaccedilotildees

Passaram a ser utilizados sobrenomes inspirados nas qualidades nos sinais ou nas

profissotildees individuais e tambeacutem em animais ou plantas Satildeo exemplos Valente

Branco Monteiro Carvalho etc Ou ainda utilizavam a identificaccedilatildeo paterna como

Afonso Henriques isto eacute Afonso filho de Henrique

1 In Curso de Direito Civil Parte Geral 31ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 1993 paacutegs 87 e 88

Os russos utilizam uma terminaccedilatildeo apropriada para os homens e outra

para as mulheres vitch ou vicz e ovna respectivamente Por exemplo Alexandre

Markovicz ou seja Alexandre filho de Marcos ou Naacutedia Petrova isto eacute Naacutedia filha

de Pedro Jaacute para os romenos a terminaccedilatildeo eacute esco assim se verifica com Lupesco ou

Popesco E para os ingleses eacute son por exemplo Stevenson

Enfim houve uma grande diversidade de maneiras utilizadas para se

designar os nomes dos indiviacuteduos das diversas culturas atraveacutes dos tempos em diversas

regiotildees estes satildeo apenas alguns exemplos lecionados por aquele professor

Entre noacutes modernamente o nome eacute composto e na linguagem popular

eacute reduzido ao prenome isto eacute ao nome proacuteprio que eacute dado ao indiviacuteduo por ocasiatildeo do

nascimento como Paulo Maria etc Poreacutem para a doutrina paacutetria a compreensatildeo deve

ser mais ampla assim o nome eacute constituiacutedo pelo prenome e pelo patroniacutemico e ainda

em alguns casos pelos agnomes e pelas partiacuteculas de do das etc

3 DOS ELEMENTOS COMPONENTES DO NOME CIVIL

O nome civil compotildee-se geralmente do prenome e do patroniacutemico ou

apelido de famiacutelia podendo ainda se apresentar ocasionalmente o agnome ou as

partiacuteculas de da das de Los etc

O prenome eacute a designaccedilatildeo proacutepria de cada indiviacuteduo que eacute escolhida

quase livremente pelos responsaacuteveis da pessoa Dissemos quase livremente porque se

devem observar algumas restriccedilotildees que exporemos mais adiante Pois bem o prenome

pode ser simples como Joatildeo ou composto como Joatildeo Alberto ou Paula Maria Regina

Jaacute o patroniacutemico comumente chamado de sobrenome eacute o elemento

caracterizador da famiacutelia da qual proveacutem o indiviacuteduo eacute o sinal de sua descendecircncia

filiaccedilatildeo estirpe e em alguns casos ateacute da procedecircncia regional Enfim eacute o elemento

adquirido pela pessoa por direito logo que nasce Pode ser simples como Silva ou

composto como Silva Costa ou Barros Silva Costa

Os agnomes e as partiacuteculas jaacute mencionadas satildeo componentes do nome

tambeacutem todavia satildeo encontrados em apenas alguns desses Os agnomes satildeo sinais

distintivos que se acrescentam ao nome completo da pessoa de forma a diferenciaacute-Ia de

uma outra Satildeo exemplos de agnomes Neto Filho Juacutenior etc As partiacuteculas (de da

dos de La etc) tambeacutem satildeo integrantes do nome das pessoas como em Joseacute da Silva

Maria das Dores ou Antocircnio de Los Santos

Haacute outros elementos por alguns chamados de secundaacuterios que natildeo satildeo

reconhecidos pelo direito paacutetrio como componentes do nome satildeo eles os tiacutetulos

honoriacuteficos como Conde ou Duque os tiacutetulos eclesiaacutesticos como Cardeal ou Padre os

qualificativos de identidade oficial como Senador ou Juiz e os tiacutetulos acadecircmicos e

cientiacuteficos como Mestre ou Doutor2

4 DA NATUREZA JURIacuteDICA DO NOME CIVIL

A doutrina natildeo eacute uniacutessona quanto agrave natureza juriacutedica do nome Haacute quem

o qualifique como um instituto de direito puacuteblico como direito subjetivo do indiviacuteduo

2 In Diniz Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 1ordm vol 7ordf ed Satildeo Paulo Saraiva

1989 paacuteg 100

como instituiccedilatildeo de poliacutecia civil como propriedade sui generis etc

Nos afiliamos agrave teoria ecleacutetica que funde o dever social com o direito

subjetivo sendo assim um direito e um dever Pois uma vez que o indiviacuteduo tem a

obrigaccedilatildeo de usar conservar e manter o nome sendo um ocircnus pessoal em favor da

sociedade em contrapartida o Direito deve tutelar o nome da pessoa impedindo o seu

uso indevido por outrem e protegendo a faculdade individual de usaacute-Io

5 DA IMPORTAcircNCIA DO NOME CIVIL

O nome civil da pessoa natural eacute o sinal exterior individualizador e

qualificador desta Juntamente com o estado e o domiciacutelio o nome eacute elemento de

reconhecimento e identificaccedilatildeo da pessoa a niacutevel de sociedade

Haacute pois dois aspectos relevantes a serem observados no estudo do nome

A questatildeo do direito individual da pessoa em possuir um nome e por este ser

designada e haacute tambeacutem a relevacircncia desta qualificaccedilatildeo no seio da sociedade

Ora se as pessoas natildeo possuiacutessem nomes ou se estes fossem confusos

iguais ou inconvenientes certamente haveria graves prejuiacutezos no acircmbito das relaccedilotildees

juriacutedicas Natildeo se saberia ao certo com quem se contratou ou quem eacute o seu devedor ou

como se dirigir aos demais membros da comunidade de forma que natildeo restassem

duacutevidas ou erros

Eacute assim um tema bastante interessante e que aguccedila a nossa curiosidade

uma vez que todos possuiacutemos um nome e eacute geralmente atraveacutes deste roacutetulo que

primeiro nos apresentamos As pessoas carregam-no durante toda a vida inclusive apoacutes

a morte Pois homenageiam-se os indiviacuteduos com a aposiccedilatildeo dos seus nomes a ruas

bibliotecas ginaacutesios esportivos etc Portanto mesmo apoacutes o falecimento remoto da

pessoa eacute possiacutevel identificaacute-Ia atraveacutes do seu nome

Desta forma o Legislador natildeo poderia ignoraacute-lo Tanto eacute assim que

logo em seu artigo 12 o Coacutedigo Civil brasileiro impotildee que sejam inscritos em registro

puacuteblico entre outros fatos juriacutedicos os nascimentos Vale mencionar o que dispotildee a

Lei ndeg 601573 a chamada Lei dos Registros Puacuteblicos quanto ao registro do nome

civil da pessoa natural Tal Lei preceitua em seu artigo 54 4deg que o assento de

nascimento deveraacute conter o nome e o prenome que forem postos agrave crianccedila

Entendemos que o texto legal tenha se referido ao prenome e ao patroniacutemico da pessoa

Natildeo se admite que a pessoa natildeo tenha nome tanto eacute assim que o Legislador menciona

imposiccedilotildees ao Oficial do Registro basta verificar o caput do artigo 55 da referida Lei

in verbis

Quando o declarante natildeo indicar o nome completo o oficial lanccedilaraacute

adiante do prenome escolhido o nome do pai e na falta o da matildee se

forem conhecidos e natildeo o impedir a condiccedilatildeo de ilegitimidade salvo

o reconhecimento no ato

Eacute evidente que tal dispositivo legal deve ser interpretado agrave luz da

Constituiccedilatildeo que natildeo mais admite distinccedilotildees ou qualificaccedilotildees entre os filhos Quando

formos tratar da modificaccedilatildeo do nome em virtude do reconhecimento de paternidade e

da adoccedilatildeo nos aprofundaremos nesta questatildeo

6 DA ALTERACcedilAtildeO DO NOME COM O ALCANCE DA

MAIORIDADE CIVIL

A Lei ndeg 601573 a chamada Lei dos Registros Puacuteblicos disciplina as

possibilidades de modificaccedilatildeo do nome civil Iniciaremos por estudar a primeira que eacute

a mais simples e ao mesmo tempo acreditamos ser a mais desconhecida de todas

Prescreve o artigo 56 da referida Lei in verbis

O interessado no primeiro ano apoacutes ter atingido a maioridade civil

poderaacute pessoalmente ou por procurador bastante alterar o nome

desde que natildeo prejudique os apelidos de familia averbando-se a

alteraccedilatildeo que seraacute publicada pela imprensa

Assim ao completar vinte e um (21) anos de idade - o que corresponde agrave

nossa maioridade civil nos termos do artigo 9deg caput do Coacutedigo Civil brasileiro - a

pessoa interessada poderaacute se dirigir ao cartoacuterio competente e solicitar que o Oficial do

Registro Puacuteblico proceda agraves alteraccedilotildees desejadas

Eacute relevante dizer que a orientaccedilatildeo legal deve ser respeitada ou seja natildeo

se poderaacute alterar os apelidos de famiacutelia uma vez que satildeo inatingiacuteveis nos termos da

Lei

Afora isso o interessado poderaacute pedir ao Oficial do Registro - portanto

em via administrativa e natildeo judicial - que altere o seu nome Como exemplo fictiacutecio

utilizaremos o nome de uma mulher registrada como Mary Paula Costa Barbosa Pode

esta mulher pedir-lhe que traduza o seu nome para o vernaacuteculo passando a se chamar

Maria Paula Costa Barbosa Ou pode pedir-lhe que acrescente ao seu nome outro

prenome passando a se chamar Mary Paula Helena Costa Barbosa Ou poderaacute pedir-lhe

que acrescente ao seu nome o prenome ou o apelido de famiacutelia da matildee ou da avoacute o

apelido do pai ou do avocirc enfim haacute vaacuterias hipoacuteteses Evidentemente prenome ou

apelido aqueles que natildeo constem do seu nome original Desejando entatildeo homenagear o

seu avocirc solicita-lhe que acrescente ao seu nome o apelido daquele passando a se

chamar Mary Paula Lopes Costa Barbosa Ou ainda pode pedir-lhe que altere a ordem

dos elementos componentes do seu nome passando a se chamar Paula Mary Costa

Barbosa Em uma outra hipoacutetese pode querer suprimir do seu nome algum elemento

passando a ser chamada apenas de Mary Costa Barbosa

Vale dizer que haacute quem ensine que tais alteraccedilotildees devem apresentar justo

motivo e que as transformaccedilotildees dos prenomes simples em duplo e vice-versa natildeo seratildeo

possiacuteveis no casos dos nomes ceacutelebres como Marco Antocircnio Joatildeo Batista etc3

Com o devido respeito natildeo concordamos com tal justificaccedilatildeo nem com

qual restriccedilatildeo uma vez que entendemos natildeo caber ao Oficial do Registro obstar o

exerciacutecio da faculdade individual exercida de boa-feacute pelo interessado E mais ainda

deve aquele apenas atentar para a seriedade atraveacutes da qual o interessado lhe apresenta a

solicitaccedilatildeo isto eacute se natildeo quer apenas maliciosamente gracejar Qualquer posterior juiacutezo

de valor a ser externado natildeo eacute o Oficial do Registro quem deve emiti-Io e sim o juiz

3 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

nas hipoacuteteses que estudaremos no proacuteximo item O mais importante eacute que desta

maneira respeita-se a seguranccedila juriacutedica que deve ser observada no acircmbito das relaccedilotildees

sociais pois uma instabilidade proporcionada pela variabilidade indiscriminada do

nome das pessoas certamente seria perniciosa agrave sociedade

Enfim satildeo estas as alteraccedilotildees possiacuteveis do nome do indiviacuteduo que

completa a maioridade Trata-se de uma oportunidade para as pessoas que de alguma

maneira pretendem fazer ajustes no seu nome sem que precisem ingressar em juiacutezo e

consequentemente apresentar um justo motivo para se permitir tais modificaccedilotildees haja

vista que geralmente natildeo podiacuteamos emitir opiniatildeo no momento do nosso registro por

razotildees oacutebvias

Verifica-se que eacute este um procedimento bastante simplificado E

repita-se devem ser preservados os apelidos de famiacutelia e as demais disposiccedilotildees legais

daquele artigo

7 DAS DEMAIS POSSIBILIDADES DE MODIFICACcedilAtildeO DO NOME

CIVIL

Em se perdendo a oportunidade supra estudada isto eacute a alteraccedilatildeo do

nome no ano em que se alcanccedila da maioridade civil instante em que o procedimento eacute

bem mais simples pode ainda o interessado recorrer agraves outras hipoacuteteses previstas pelo

direito paacutetrio

A Lei dos Registros Puacuteblicos em seu artigo 57 caput prescreve in

verbis

Qualquer alteraccedilatildeo posterior de nome somente por exceccedilatildeo e

motivadamente apoacutes audiecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico seraacute

permitida por sentenccedila do juiz a que estiver sujeito o registro

arquivando-se o mandado e publicando-se a alteraccedilatildeo pela

imprensa

Assim se na hipoacutetese anterior do alcance da maioridade os

procedimentos eram bem mais simples agora - passada e natildeo exercida aquela

faculdade na ocasiatildeo propicia - a Lei impotildeem maiores rigores Haja vista que o

interessado deveraacute apresentar prova suficiente ao juiz que poderaacute natildeo acatar as

alegaccedilotildees daquele uma vez que a Lei dispotildee que deve haver um justo motivo para que

excepcionalmente o juiz _ por sentenccedila _ determine a modificaccedilatildeo requerida com a

observacircncia dos demais procedimentos legais

A mesma Lei dos Registros Puacuteblicos regulamenta

outros casos em que haacute possibilidade de modificaccedilatildeo do nome civil das

pessoas Vale citar os dispositivos legais que disciplinam esta mateacuteria o paraacutegrafo

uacutenico do jaacute mencionado artigo 55 o artigo 58 caput e o seu paraacutegrafo uacutenico Tais

preceitos legais respectivamente impotildeem o seguinte

Os oficiais do registro civil natildeo registraratildeo prenomes suscetiacuteveis de

expor ao ridiacuteculo os seus portadores Quando os pais natildeo se

conformarem com a recusa o oficial este submeteraacute por escrito o caso

independentemente da cobranccedila de quaisquer emolumentos agrave decisatildeo

do juiz competente

O prenome seraacute imutaacutevel

Paraacutegrafo uacutenico Quando entretanto for evidente o erro graacutefico do

prenome admite-se a retificaccedilatildeo bem como a SUa mudanccedila mediante

sentenccedila do juiz a requerimento do interessado no caso do paraacutegrafo

uacutenico do art 55 se o Oficial natildeo o houver impugnado

Pois bem nestes termos o Legislador paacutetrio disciplinou a

admissibilidade da modificaccedilatildeo do nome civil das pessoas A doutrina e a

jurisprudecircncia cuidaram de alargar mais ainda as margens destes preceitos legais

Desenvolveram-se novas e abrangentes interpretaccedilotildees as quais exporemos adiante

Verifica-se a Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome das pessoas pela

correccedilatildeo de erro graacutefico evidente nos casos dos nomes ridiacuteculos ou exoacuteticos pelo uso

prolongado e constante de um nome diverso daquele registrado pela utilizaccedilatildeo de

apelido no caso dos homocircnimos pelo acreacutescimo de patroniacutemico de ascendente nos

casos de embaraccedilos em funccedilatildeo de atividade Profissional pelo concubinato pelo

casamento separaccedilatildeo judicial e divoacutercio no caso de reconhecimento de paternidade

pela adoccedilatildeo no caso de traduccedilatildeo para o portuguecircs de nome estrangeiro e pela

mudanccedila de sexo

Vale dizer que a jurisprudecircncia vem aceitando a admissibilidade da

pessoa que mesmo menor possa requerer atraveacutes do seu representante ou assistente

legal a alteraccedilatildeo de nome ridiacuteculo a correccedilatildeo de erro graacutefico ou a inclusatildeo do apelido

de famiacutelia materno natildeo aguardando a maioridade para proceder a tais solicitaccedilotildees4

Inicialmente analisaremos a hipoacutetese de erro graacutefico do prenome

Como jaacute foi mencionado no paraacutegrafo uacutenico do artigo 58 da Lei dos Registros

Puacuteblicos eacute admissiacutevel a retificaccedilatildeo do prenome registrado com evidente erro de

grafia como Maucelo quando o correto seria Marcelo ou Anrique ao inveacutes de

Henrique E mais ainda admite-se a correccedilatildeo do prenome registrado no diminutivo

como Teresinha quando o certo deveria ser Teresa5

Quanto aos nomes ridiacuteculos ou exoacuteticos tambeacutem eacute admissiacutevel a

modificaccedilatildeo destes A mencionada Lei se refere apenas ao prenome Assim

disciplina hipoacuteteses como as das pessoas registradas por Sim Batista ou Antocircnio

Aparecido que Solicitaram a modificaccedilatildeo para Jorge Sim Batista e apenas Antocircnio

respectivamente6 Portanto satildeo estes casos mais simples Neste mesmo contexto se

encaixa a hipoacutetese das pessoas registradas com nomes do tipo Hitler ou Luacutecifer

Poreacutem constam dos arquivos do INPS nomes jocosos como Rolando Pela Escada

4 1n Diniz Maria Helena Ob Cit paacuteg 102

5 In Monteiro Washington de Barros Ob cit paacuteg 90

6 In Fuhrer Maximilianus Claacuteudio Ameacuterica Resumo de Direito Civil 14ordf ediccedilatildeo Malheiros

1996 paacuteg 31

Abaixo e Joatildeo Cara de Joseacute7

Eacute realmente incompreensiacutevel como os seus responsaacuteveis foram tatildeo

insensiacuteveis ao ponto de puni-los com tamanho castigo Nestes casos nos salta aos olhos

a possibilidade de modificaccedilatildeo por completo de tais nomes e natildeo apenas o prenome

como dispocircs a referida Lei

Haacute outros casos em que determinadas pessoas fazem uso constante e

prolongado de determinados nomes que natildeo satildeo os que foram grafados por ocasiatildeo dos

seus registros Tais pessoas de boa-feacute utilizam-se deste outro nome de tal maneira que

passam a ser no meio social identificadas por eles Um exemplo de pessoa que

requereu tal modificaccedilatildeo eacute o de uma mulher cujo nome registrado era Maria Aparecida

poreacutem ela era reconhecida socialmente como sendo Maria Luciana8 Portanto em tais

casos tambeacutem haacute admissibilidade de modificaccedilatildeo do nome uma vez reconhecida a boa

intenccedilatildeo do interessado

Hipoacutetese semelhante eacute a das pessoas que utilizam apelidos para se

apresentarem Podem pois acostar tais designaccedilotildees aos seus nomes uma vez que se

agregaram de tal maneira agrave personalidade daquelas que ateacute pode-se dizer tomaram-se

parte da caracterizaccedilatildeo daqueles indiviacuteduos Estas pessoas possuem alcunhas que usam

habitualmente Eacute este um fato que ocorre com certa frequumlecircncia entre noacutes sobretudo nos

meios artiacutestico e poliacutetico Os exemplos mais conhecidos satildeo o da cantora Xuxa e o do

poliacutetico Lula

Certamente jaacute ouvimos estoacuterias de pessoas que foram confundidas com

marginais Eacute este um problema grave que pode ocorrer com determinadas pessoas ou

seja ser confundidas com outras por terem os mesmos nomes Trata-se da homoniacutemia

Em se demonstrando este justo motivo para modificaccedilatildeo do nome devido a ocorrecircncia

daquela natildeo haacute como se negar a admissibilidade da alteraccedilatildeo do nome do indiviacuteduo

interessado Por exemplo pessoas que possuem nomes como Maria Aparecida da Silva

ou Joseacute da Silva apresentam um relevante motivo agrave admissibilidade da modificaccedilatildeo dos

seus nomes uma vez que satildeo muito comuns no Brasil

Outra Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome da pessoa natural eacute quando

haacute permissatildeo a que se incluam apelidos de famiacutelia de ascendente ao seu nome original

Consoante jaacute foi exposto a pessoa tem direito logo que nasce ao patroniacutemico dos seus

ascendentes Portanto pode solicitar o acreacutescimo de apelido de famiacutelia que natildeo conste

evidentemente do seu nome original Vale dizer que eacute esta uma das soluccedilotildees mais

utilizadas para a soluccedilatildeo dos problemas relativos atilde homoniacutemia que jaacute foi acima

estudada

Eacute mister informar que se vem inclusive permitindo o acreacutescimo de

patroniacutemico que natildeo tenha sido utilizado por uma ou mais geraccedilotildees ou ainda a

inclusatildeo do apelido de madrasta ou de tutor9

O paraacutegrafo primeiro do artigo 57 da Lei dos Registros Puacuteblicos

apresenta uma outra Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome da pessoa Trata-se da

7 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

8 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

9 1n Fuhrer Maximilianus ClaacuteUdio Ameacuterico Ob cit paacuteg 32

averbaccedilatildeo do nome abreviado da pessoa que exerce ou pretende exercer atividade

mercantil com o intuito de evitar embaraccedilos quando se quiser fazer parte de firma

comercial ou exercitar suas atividades O texto legal tanto se refere agrave atividade

mercantil quanto a qualquer outra atividade profissional

O mesmo artigo 57 agora em seus paraacutegrafos segundo e seguintes

tambeacutem disciplina a modificaccedilatildeo do nome da pessoa que se relaciona em concubinato

com outra Permite-se que um companheiro adote o apelido do outro desde que sejam

observados alguns requisitos quais sejam anuecircncia do outro uniatildeo por mais de cinco

anos ou existecircncia de filho nenhum deles pode ser casado e deve haver

impossibilidade legal a que se casem A Lei apresenta os procedimentos a serem

atendidos e mesmo se dirigindo apenas agrave mulher deve ser interpretada para ambos os

companheiros agrave luz do entendimento da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica no inciso I do seu

artigo 50 onde homens e mulheres tecircm os mesmos direitos e obrigaccedilotildees

O casamento tambeacutem eacute uma oportunidade para que as mulheres

alterem seus nomes Trata-se de uma faculdade que esta possui em acrescentar ou

natildeo os apelidos do marido com a celebraccedilatildeo do matrimocircnio Outrora era obrigada a

inclui-Ios poreacutem com a publicaccedilatildeo da Lei ndeg 651577 que eacute a chamada Lei do

Divoacutercio passou a ser optativo tal acreacutescimo Neste sentido nova redaccedilatildeo foi

determinada ao paraacutegrafo uacutenico do artigo 240 do Coacutedigo Civil brasileiro onde se lecirc

que a mulher poderaacute acrescer aos seus os apelidos do marido Poreacutem deveraacute perdecirc-

Ios com a anulaccedilatildeo do casamento com a separaccedilatildeo judicial - se culpada - ou com o

divoacutercio nos termos dos artigos 17 e 18 daquela Lei Contudo entende-se que haacute

temperamentos ao rigor legal ou seja se a mulher provar que suportaraacute graves

prejuiacutezos com a supressatildeo dos apelidos do ex-marido Por exemplo se for ela uma

artista ou mesmo uma outra profissional que seja reconhecida ou identificada

atraveacutes daquele patroniacutemico poderaacute requerer ao juiz que lhe permita a utilizaccedilatildeo

daqueles mesmo apoacutes a extinccedilatildeo da sociedade conjugal uma vez que sobejamente

prove a possibilidade da ocorrecircncia de tais ou quais danos

Um tema bastante controvertido que devemos analisar eacute a questatildeo da

modificaccedilatildeo do nome da pessoa em decorrecircncia do reconhecimento da paternidade

Muitos doutrinadores ainda trazem fortes cargas de preconceito quanto ao estudo da

filiaccedilatildeo Portanto eacute vaacutelido desde jaacute apresentarmos o entendimento constitucional

acerca deste assunto O paraacutegrafo 6deg do artigo 227 da Lei Maior impotildee a proibiccedilatildeo de

quaisquer designaccedilotildees discriminatoacuterias com relaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo posto que os filhos

havidos ou natildeo do casamento ou os adotados deveratildeo ter os mesmos direitos e

qualificaccedilotildees isto eacute satildeo todos filhos e apenas isso Logo natildeo mais eacute admissiacutevel que os

doutrinadores tragam em suas obras distinccedilotildees quanto agrave filiaccedilatildeo ou em razatildeo da

adoccedilatildeo Assim com os devidos temperamentos entende-se da liccedilatildeo de Serpa Lopes10

que o reconhecimento da paternidade pode ocorrer em duas ocasiotildees no ato do registro

do nascimento instante em que se lhe seratildeo acrescentados os apelidos do que o

reconhecer ou em um momento posterior quando poderaacute o interessado solicitar o

acreacutescimo do nome daquele que provou ser seu genitor

A adoccedilatildeo eacute um outro exemplo de possibilidade de modificaccedilatildeo do nome

da pessoa natural neste sentido dispotildee realmente a Lei ndeg 806990 que eacute o festejado

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente em seu artigo 47 caput e paraacutegrafo 5deg Preceitua

o texto legal que atraveacutes de sentenccedila judicial constitui-se a adoccedilatildeo que seraacute inscrita no

10

In Curso de Direito Civil volume I 7ordf ed Rio de Janeiro Freitas Bastos 1989 paacutegs 288 e 289

registro civil e conferiraacute ao adotado o nome do adotante e a pedido deste eacute admissiacutevel

a modificaccedilatildeo do prenome daquele

Pode ainda o interessado requerer a traduccedilatildeo do seu nome para o

vernaacuteculo fazendo prova de justo motivo para tal modificaccedilatildeo por exemplo se se trata

de nome de difiacutecil pronuncia ou compreensatildeo Tanto pode ser requerida tal modificaccedilatildeo

pelo estrangeiro como pelo brasileiro nato que possua nome estrangeiro11

Quanto aos

estrangeiros tal disciplina legal eacute efetivada nos termos da Lei nordm 681580 competindo

ao Ministro da Justiccedila autorizar esta alteraccedilatildeo do nome Permite-se ainda pela referida

Lei a faculdade de traduzirem ou adaptarem os seus nomes agrave liacutengua portuguesa no ato

da naturalizaccedilatildeo

Outro tema bastante controvertido eacute o da mudanccedila de sexo praacutetica que

estaacute cada vez mais se banalizando por todo o mundo Neste instante natildeo satildeo oportunas

discussotildees quanto a moralidade ou natildeo deste fato ou quanto a permissibilidade legal ou

natildeo destes procedimentos O fato eacute que provada a mudanccedila de sexo atraveacutes de periacutecia

meacutedico-legal eacute admissiacutevel a adaptaccedilatildeo do nome da pessoa agrave nova situaccedilatildeo constatada

O direito paacutetrio natildeo tutela a livre disponibilidade da mudanccedila do sexo no que andou

bem tanto eacute que muitos dos interessados recorrem aos profissionais europeus para

efetuar as intervenccedilotildees ciruacutergicas necessaacuterias ao alcance deste seu objetivo

Por fim em respeito a Orlando Gomes12

devemos expor uma uacuteltima

hipoacutetese de alteraccedilatildeo do nome sustentada por ele Trata-se da modificaccedilatildeo necessaacuteria do

nome do filho em funccedilatildeo da mudanccedila do nome do pai pois defende este professor que a

natureza do nome pede que coincida o da prole com o dos genitores

Portanto satildeo estas as hipoacuteteses reconhecidas pelo direito paacutetrio como as

possiacuteveis de modificar os nomes civis das pessoas naturais Evidentemente o

Legislador natildeo disciplinou cada uma delas minuciosamente apenas sinalizou a

admissibilidade legal em alguns casos Chegamos a todas estas atraveacutes do exerciacutecio de

interpretaccedilatildeo jurisprudencial e dos assentamentos doutrinaacuterios que permitiram uma

melhor mais justa e mais ampla compreensatildeo do tema

8 DA PROTECcedilAtildeO JURIacuteDlCA DO NOME

O nome das pessoas merece especial proteccedilatildeo pelo direito que natildeo

permite a usurpaccedilatildeo destes por outrem Em se provando o prejuiacutezo nesta hipoacutetese eacute

admissiacutevel a reparaccedilatildeo civil ou a incidecircncia penal correspondentes

Quanto aos direitos autorais tal tutela eacute bem mais abrangente

Prescreve o artigo 25 e seu inciso li da chamada Lei dos Direitos Autorais (Lei ndeg

598873) que eacute direito moral do autor o de ter seu nome pseudocircnimo ou sinal

convencional indicado ou anunciado como sendo seu na utilizaccedilatildeo da sua obra

Como exemplos mais conhecidos de portadores de pseudocircnimos encontramos

Voltaire e EI Grecco

Embora tais designaccedilotildees natildeo faccedilam parte dos nomes registrado das

pessoas os pseudocircnimos utilizados de maneira constante e legiacutetima integram-se de

tal forma agraves personalidades dos seus portadores no exerciacutecio de suas atividades - que

satildeo geralmente artiacutesticas - que o direito natildeo poderia esquececirc-Ias

11

In Fuumlhrer Maximilianus Claacuteudio Ameacuterica Ob cit paacuteg 32

Poreacutem eacute importante dizer que natildeo se deve interpretar com extrema

rigorosidade tal proteccedilatildeo Pois eacute possiacutevel a utilizaccedilatildeo do nome ou mesmo do

pseudocircnimo de outrem sem a intenccedilatildeo de lucro como eacute o caso da citaccedilatildeo de obra

cultural ou cientiacutefica Tal citaccedilatildeo enaltece o autor E ainda mesmo se permite a criacutetica

desfavoraacutevel da sua obra desde que sem a intenccedilatildeo de achincalhamento do autor12

Por fim vale mencionar o Direito Penal O Coacutedigo Penal brasileiro

disciplina e penaliza quem usa indevidamente o nome comercial ou o tiacutetulo de

estabelecimento alheio nos termos do inciso VII paraacutegrafo primeiro do seu artigo 196

E a Lei das contravenccedilotildees Penais pune em seu artigo 68 quem se recusa a fornecer

dados pessoais de identificaccedilatildeo dentre os quais se incluem o nome agrave autoridade que os

solicite

9 CONCLUSAtildeO

O Legislador foi riacutegido o suficiente para natildeo permitir que por capricho

ou maacute-feacute as pessoas modificassem seus nomes constantemente Ora se isso fosse

possiacutevel seria tatildeo prejudicial agrave sociedade quanto se as pessoas natildeo tivessem nome

algum Destas duas maneiras haveria o caos Pois o indiviacuteduo poderia querer hoje se

chamar Pedro amanhatilde Joatildeo e depois Francisco Enfrentariacuteamos graves dificuldades

para identificar quem nos devia ou por qual designaccedilatildeo deviacuteamos nos referir agrave

determinada pessoa Tambeacutem foi o aquele bastante flexiacutevel ao permitir algumas

modificaccedilotildees de forma que a pessoa natildeo fosse obrigada a suportar um nome que lhe

seja um verdadeiro peso causando-lhe constrangimentos confusotildees ou desconforto

Por sua vez a doutrina e a jurisprudecircncia trataram de interpretar as

disposiccedilotildees legais enriquecendo-as e posteriormente adaptando-as agraves realidades natildeo

observadas pelo Legislador Desta maneira satisfazendo agraves necessidades mais gritantes

da sociedade quanto aos ajustes dos nomes dos seus componentes

Alguns dos nossos doutrinadores natildeo se aprofundaram tanto em seu

estudo talvez porque natildeo quisessem se alongar Todavia acreditamos sim que pelo

fato deste assunto ensejar alguns temas polecircmicos como mudanccedila de sexo relaccedilotildees

concubinaacuterias reconhecimento de paternidade ou outros elementos essencialmente

valorativos e pessoais Temas estes que suscitam juiacutezos de valor a ser Possivelmente

extemados

10 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DINIZ Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 10 voI 70

ed Satildeo Paulo Saraiva 1989

FUumlHRER Maximilianus Claacuteudio Ameacuterico Resumo de Direito Civil

140 ediccedilatildeo Malheiros 1996

12

In Introduccedilatildeo ao Direito Civil 8 ed Rio de Janeiro Forense 1966 paacuteg 139

GOMES Orlando Introduccedilatildeo ao Direito Civil 80 ed Rio de Janeiro

Forense 1986

LOPES Miguel Maria de Serpa Curso de Direito Civil volume I 70

ed Rio de Janeiro Freitas Bastos 1989

MONTEIRO Washington de Barros Curso de Direito Civil Parte

Geral 31deg ed Satildeo Paulo Saraiva 1993

PEREIRA Caio Maacuterio da Silva Instituiccedilotildees de Direito Civil volume

I 138 ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense 1992

RODRIGUES Siacutelvio Direito Civil v1 25deg ed Satildeo Paulo Saraiva

1995 WALD Arnoldo Curso de Direito Civil Brasileiro vol 1 78 ed Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 1992

DOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO E SEUS POSSIacuteVEIS

EFEITOS INFRINGENTES

Francisco Glauber Pessoa Alves

Acadecircmico do 8ordm periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

SUMAacuteRIO I INTROacuteITO - lI DAS PRIMEIRAS REFEREcircNCIAS

HISTOacuteRICAS DOS EMBARGOS DECLARATOacuteRIOS EM NOSSO CONTEJTO

NORMATIVO - III DA SISTEMATIZACcedilAtildeO NO CPC VIGENTE - IV DA NA TU REZA

JURIacuteDICA V HIPOacuteTESES DE INTERPOSICcedilAtildeO E SEUS EFEITOS - VI OUTRA

FUNCcedilAtildeO DOS EMBARGOS DECLARA TOacuteRIOS - VII DA PROBLEMAacuteTICA DA

INFRINGEcircNCIA E EMBARGOS MERAMENTE PROTELATOacuteRIOS (COMO REPRIMI-

LOS) - VIU DO ESGOTAMENTO DA ATIVIDADE JURISDICIONAL - VII2

RETRATACcedilAtildeO OU NAtildeO DO JULGADOR POSSIBILIDADE OU NAtildeO DE FAZEcirc-LA -

VII3 PODE O JUIacuteZO A QUO SINGULAR SUBSUMIR-SE NA COMPETENCIA

DEVOLUTIVA DO OacuteRGAtildeO FRACIONARIO AD QUEM E COMO INTERPRETAR

ISSO Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DO DUPLO GRAU DE JURISDICcedilAtildeOVIII DAS

HIPOacuteTESES DE MODIFICACcedilAtildeO ALBERGADAS PELA JURISPRUDEcircNCIA - IX

CONCLUSAtildeO - REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

I - INTROacuteITO

De longa data vem a discussatildeo juriacutedica sobre a par da natureza juriacutedica

dos embargos de declaraccedilatildeo a possibilidade de atribuir efeitos infringentes a dito

instrumento juriacutedico

Em verdade a doutrina e mesmo alguns posicionamentos pretorianos

respeitaacuteveis vecircm titubeando na afirmativa desse caraacuteter substitutivo com o fito

acredita este humilde escriba de evitar-se a enxurrada de embargos declaratoacuterios com

efeitos infringentes que poderia acontecer transformado que estaria em um recurso

anocircmalo a contrariu sensu das normas insculpidas nos arts 463 cc 535 do Diploma

Regimental Civil

Esse estudo tem o escopo de ser mais um subsiacutedio com as limitaccedilotildees

oacutebvias de espaccedilo para o desanuviamento do assunto Com a consciecircncia da

complexidade do tema

A primeira parte do trabalho diz respeito a alguns breves comentaacuterios

sobre a teoria geral dos recursos estudando-se apoacutes agrave luz daquela os embargos

declaratoacuterios

O restante do estudo aprofundar-se-aacute na anaacutelise dos efeitos infringentes

e seus possiacuteveis oacutebices trazendo ao cotejo alguns exemplos praacuteticos

Fez-se questatildeo de frisar todas as fontes _ por respeito aos eminentes

autores - dos pensamentos embasadores das ideacuteias que adiante seratildeo descritas sob a

forma de notas _ que serviram ainda para alguns apontamentos - esperando que natildeo

fique prejudicada a leitura bem assim a concisatildeo do trabalho

II - DAS PRIMEIRAS REFEREcircNCIAS HISTOacuteRICAS DOS

EMBARGOS DECLARATOacuteRIOS EM NOSSO CONTEXTO NORMATIVO

Remontam agraves mais antigas raiacutezes do direito codificado Luso -

brasileiro o instituto em comento tendo sido previsto nas Ordenaccedilotildees Afonsinas

(Livro III tiacutet LXIX sect 4deg e til LXI sect 40) Manuelinas (Livro III tiacutet L sect 5deg e til

LXI sect 4deg) e Filipinas (Livro III til LXVI sect 60) Presente esteve ainda no vetusto

Regulamento 737 datado de 1850 (nos arts 641-643) e na Consolidaccedilatildeo Ribas (arts

1500 e ss) nos Coacutedigos Estaduais de Processo (Bahia art 1239 Distrito Federal

art 1179 Minas Gerais art 1439 Rio de Janeiro art 2333 Pernambuco art

1434) e no Coacutedigo de Processo Civil de 1939 (arts 840 e 862) bem como sob

formas e Procedimentos outros nas legislaccedilotildees de povos diversos12

III ndash DA SISTEMATIZACcedilAtildeO NO CPC VIGENTE

Conquanto seja previsto hoje somente nos arts 535 a 538 no

Capitulo V Tiacutetulo X do Livro I do Codex Processual Civil natildeo foi sempre assim

pois que antes da reforma vinda agrave lume com a Lei 8950 de 131294 estava

presente no Capitulo VIII que trata da Sentenccedila e Da Coisa Julgada inclusive com

prazo diferenciado (48h) do previsto no Tiacutetulo dos Recursos (5 dias) o que era

sempre alvo de criticas3

A reforma trouxe aleacutem da unificaccedilatildeo do prazo (cinco dias) no juiacutezo

singular ou colegiado a interrupccedilatildeo do prazo para interposiccedilatildeo de outros recursos

concedida agora a ambas as partes4 a exclusatildeo da hipoacutetese de duacutevida como fundamento

de sua interposiccedilatildeo e o agravamento da sanccedilatildeo para o caso do embargante de maacute-feacute

visando o mero protelamento do feito

De prima facie denota-se a disposiccedilatildeo velada do legislador em incluir os

embargos declaratoacuterios como recurso5 - ou um seu assemelhado anocircmalo - assim

disposto para melhor organicidade do Estatuto de Ritos

1 Cf E D Moniz de Arag30 Embargos de Declaraccedil30 RT 63311-23 extraldo de Joseacute Carlos

Barbosa Moreira Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil 51 ed v V537 Rio col Forense

1985 V537 ou Sergio Bermudes Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil v V1207 S30

Paulo col da Ed RT 1975

2 Cf ainda Seacutergio Sahione FadeI Coacutedigo de Processo Civil Comentado Tomo III 1974 paacuteg

171 3 Socircnia M Almeida Batista Embargos de Declaraccedil30 - Inovaccedilotildees da Reforma RP 8027

4 A lei anterior n30 era clara o que gerava controveacutersias jurisprudenciais

5 Pela sua disposiccedilatildeo expressa no art 536 IV e pela unificaccedilatildeo no Titulo dos Recursos (pela

Lei 895094)

IV - DA NATUREZA JURIacuteDICA

Questatildeo principal do nosso estudo eacute a definiccedilatildeo do enquadramento

juridico dos embargos declaratoacuterios

A doutrina natildeo eacute unacircnime e parte dela6 rejeita a natureza de recurso na

sua forma mais pura a ser inflingida ao dito instituto

Antes de mais nada impende trazer agrave tona a fim de uma melhor anaacutelise

cientiacutefica do tema o conceito e os pressupostos necessaacuterios aos recursos - para

esclarecer o juizo de admissibilidade recursal e sua aplicabilidade aos embargos

declaratoacuterios

Para Nelson Nery Juacutenior O recurso eacute medida destinada a provocar na

mesma relaccedilatildeo juriacutedica processual o reexame ou integraccedilatildeo da decisatildeo impugnadardquo7

O Mestre Oviacutedio Batista sempre mencionado o entende como o

procedimento atraveacutes do qual a parte ou quem esteja legitimado a intervir na causa

provoca o reexame das decisotildees judiciais a fim de que elas sejam invalidadas ou

reformadas pelo proacuteprio magistrado que as proferiu ou por algum oacutergatildeo de jurisdiccedilatildeo

Superior8

Humberto Theodoro Juacutenior citando o mesmo Amaral Santos leciona

recurso como sendo o poder de provocar o reexame de uma decisatildeo pela mesma

autoridade judiciaacuteria ou por outra hierarquicamente superior visando a obter a sua

reforma ou modificaccedilatildeordquo9

Por outro lado para que haja o provimento jurisdicional necessaacuterio se

faz antes de adentrar-se no meacuterito do recurso (ou seja na anaacutelise do seu teor juriacutedico

e da pertinecircncia dos seus fundamentos - e isso se chama juiacutezo de meacuterito) proceder ao

juiacutezo de admissibilidade que natildeo eacute outra coisa senatildeo a verificaccedilatildeo a ser feita para

confirmar se o recurso reveste-se dos requisitos miacutenimos necessaacuterios para a anaacutelise

posterior de seu inteiro teor juriacutedico - o juiacutezo de meacuterito de que se falou

Nery Junior em seu prestigiado magisteacuterio10

os subdivide em

pressupostos intriacutensecos e extriacutensecos

Os primeiros satildeo o cabimento a legitimaccedilatildeo para recorrer e o interesse

para recorrer

O mencionado autor compara ainda esses ditos pressupostos agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo justificando tal raciociacutenio no de que o recurso eacute manifestaccedilatildeo do

6 Moniz de Aragatildeo ob mencionada Sergio Bermudes A Reforma do Coacutedigo de Processo

Civil Saraiva p l01 7 Aspectos da Teoria Geral dos Recursos no Processo Civil RP 51155 8 Curso de Processo Civil Processo de Conhecimento Vol I 3 ed

Sergio Antonio Fabris Editor p 345

9 Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Direito Processual

Civil e Processo de Conhecimento Vol I 12 ed Editora Forense p 541 10

Ob citada

direito de accedilatildeo

Assim o cabimento11

corresponderia agrave possibilidade juriacutedica do

pedido a legitimidade para recorrer12

seria equivalente agrave legitimatio ad causam e o

interesse em recorrer13

corresponderia o interesse processual

Jaacute os pressupostos extriacutensecos seriam extemos agrave decisatildeo que se pretende

impugnar sendo eles a tempestividade14

a regularidade formal15

a inexistecircncia de fato

impeditivo ou extintivo do poder de recorrer16

e o preparo17

Oviacutedio Batista18

- lastreado nos ensinamentos de Barbosa Moreira -

classifica de maneira semelhante agrave Nery Juacutenior excetuando-se a inexistecircncia de fato

impeditivo ou extintivo do direito de recorrer o qual entende ser um pressuposto

intriacutenseco

O insigne Humberto Theodoro19

classifica diferentemente os

pressupostos Para ele existiriam os objetivos - as pessoas legitimadas a recorrer - e os

objetivos - recorribilidade da decisatildeo tempestividade do recurso singularidade do

recurso20

adequaccedilatildeo do recurso preparo motivaccedilatildeo e forma

Excogitando-se dos conceitos de recurso - lato sensu - dados verifica-se

que os embargos de declaraccedilatildeo enquanto meacutetodo de complementaccedilatildeo do decisum natildeo

se aperfeiccediloam no conceito de recurso - partindo-se da premissa que soacute eacute recurso

quando se tem a capacidade de modificar o meacuterito podendo substituiacute-Io

Ainda do que foi visto reputa-se apto ao juiacutezo de admissibilidade dos

embargos declaratoacuterios a exigecircncia de quase todos os pressupostos reclamados pelo

juizo de admissibilidade dos recursos a quem neologiacutesticamente chamaremos de

puros

Dessarte soacute natildeo seria possiacutevel a exigecircncia no que toca agrave regularidade

11 Este se desdobraria ainda em recorribilidade (do decisum) e adequaccedilatildeo (ser o recurso

idocircneo para atacar a decisatildeo) 12

Estaacute prevista especificamente em lei (art 499 do CPC) sendo as partes o Ministeacuterio Puacuteblico

ndash como parte ou como custus legis ndash e o terceiro prejudicado ndash demonstrando o seu interesse

juriacutedico na causa ou sejam o liame existente entre a decisatildeo e o prejuiacutezo que ela lhe teria

causado 13

Caracterizado pelo binocircmio necessidade ndash de o recurso ser p uacutenico meio de se obter o bem

juriacutedico almejado ndash e utilidade ndash a sucumbecircncia da parte recorrente - Este uacuteltimo aspecto

entendemos intimamente ligado ao conceito da possibilidade juriacutedica lato sensu 14

O recurso deve ser interposto dentro dos prazos legais sendo estes peremptoacuterios 15

Ou seja a forma como o recurso deve ser interposto ndash o que muitas vezes eacute definido em lei

(ex arts 514 524 525 dentre outros todos do CPC) 16

Dizendo respeito agrave preclusatildeo loacutegica perfazendo-se pela desistecircncia do recurso interposto ou

aquiescecircncia (taacutecita ou expressa) agrave decisatildeo 17

Este ensejador da deserccedilatildeo caso natildeo devidamente pago Interessante observar no caso

concreto o Regimento interno de cada oacutergatildeo referentemente a exigibilidade ou natildeo do preparo

Eacute que agrave guisa de esclarecimento existem Pretoacuterios que o dispensam (conforme ocorre por

exemplo com o Agravo de Instrumento no Tribunal Regional Federal da 5ordf regiatildeo) 18

Ob Mencionada p 352 19

Ob Jaacute falada pp 549-550 20

Este uacuteltimo expressatildeo do princiacutepio da singularidade dos recursos segundo o qual de qualquer

decisatildeo recorriacutevel cada apenas um recurso Ver a esse respeito Rui Portanova in princiacutepios do

Processo Civil Livraria do Advogado Editora p 271

formal21

e ao preparo22

Outro argumento utilizado pela respeitaacutevel doutrina de Cacircndido Rangel

Dinamarca eacute o fato de que estando o instituto previsto dentro do tiacutetulo destinado aos

recursos assim o legislador o teria definido Parece que o legislador conheceu dos

embargos do fino processualista23

tanto que os recebeu para declarar que na sua

opiniatildeo os embargos satildeo recursordquo24

Posto que legalmente esteja previsto como tal (art 496 IV do Codex

Processua) a rigor25

os embargos declaratoacuterios natildeo seriam recurso pois como dito

antes natildeo estariam aparelhados por lei a provocar o reexame da decisatildeo pela autoridade

judiciaacuteria

Mas o problema natildeo eacute tatildeo simploacuterio assim e a tendecircncia vem sendo natildeo

sem obstaacuteculos de aceitar-se os embargos como verdadeiros recursos tanto mais pela

sua disposiccedilatildeo no CPC26

Joseacute Frederico Marques dissertando sobre os embargos declaratoacuterios

diz Recurso exclusivamente de retrataccedilatildeo os embargos de declaraccedilatildeo permitem o

reexame do acoacuterdatildeo embargado pelos juizes de que emanou27

Mais adiante remata

Trata-se de um procedimento recursal porque existe nos embargos de declaraccedilatildeo

pedido de reparaccedilatildeo do gravame resultante de obscuridade duacutevida28

ou contradiccedilatildeo

bem como de omissatildeo29

Dissertando sobre o assunto Oviacutedio Batista entende embargos de

declaraccedilatildeo como o instrumento de que a parte se vale para pedir ao magistrado

prolator de uma dada sentenccedila que a esclareccedila em seus pontos obscuros ou a

complete quando omissa ou finalmente que lhe repare ou elimine eventuais

contradiccedilotildees que ela porventura contenha30

21

Diz-se isso porquanto a interposiccedilatildeo dos embargos declaratoacuterios seja tatildeo desprovida de

exigecircncias - eacute feito por meio de uma simples peticcedilatildeo - que entendemos inexistente na espeacutecie

um maior rigor no aspecto formal do seu processamento conquanto seja expressamente - e

logicamente - necessaacuterio a indicaccedilatildeo no corpo da peticcedilatildeo da obscuridade contradiccedilatildeo ou

omissatildeo sob pena de seu natildeo conhecimento ateacute mesmo em obediecircncia ao principio da

dialeticidade dos recursos (cf Rui Portanova ob citada pp 275-2n) 22

Ao que a lei dispensa expressamente (art 536 CPC) 23

Em referecircncia a Sergio Bermudes - in Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil VII n 19B

esp p 210 - que entende ser uma ldquoPena que natildeo se possam opor embargos de declaraccedilatildeo

para que o legislador declare qual a natureza dos embargos neste Coacutedigordquo 24

A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil 3ordf ed Malheiros p 203 25

Isto eacute partindo-se sempre da premissa de que soacute eacute recurso quando pode-se a partir de sua interposiccedilatildeo alterar o meacuterito do julgado - e natildeo apenas esclarececirc-Io

26 Nesse sentido expressamente Dinamarco como visto Nelson Nery Junior em sua obra

Aspectos da Reforma do Coacutedigo de Processo Civil RP 79129 e ainda em seu Coacutedigo de

Processo Civil Comentado p 965 Humberto Theodoro Juacutenior ob citada p 577 Antonio de

Paacutedua Ferraz Nogueira Princiacutepios Fundamentais dos Embargos de Declaraccedilatildeo in Revista de

Processo 77(1 Carreira Alvim Accedilatildeo Monitoacuteria e Temas Polecircmicos da Reforma Processual

Dei Reyp235 27

Manual de Direito Processual Civil Vol 111 - Processo de Conhecimento 2 parte Saraiva 2

ed p 161 28

Hipoacutetese atualmente excluiacuteda do ordenamento juriacutedico como se explicitaraacute mais agrave frente 29

Ob e p citadas

30

Ob mencionada p 380

Para Vicente Greco Filho amparado em Moacyr Amaral Santos satildeo os

embargos declaratoacuterios um recurso interposto perante o mesmo juiacutezo em que proferiu

a decisatildeo recorrida visando agrave sua declaraccedilatildeo ou reforma31

Humberto Theodoro de maneira anaacuteloga a Vicente Greco (jaacute a vendo

como recurso) entende-os como recurso destinado a pedir ao juiz ou tribunal prolator

da decisatildeo que esclareccedila duacutevida32

afaste obscuridade supra omissatildeo ou elimine

contradiccedilatildeo existente no julgado33

Denota-se portanto que quando da nova anaacutelise do julgado exsurge uma

transformaccedilatildeo - e natildeo complementaccedilatildeo ou integraccedilatildeo - do mesmo efetivam-se os

embargos declaratoacuterios como recurso natildeo mais apenas no sentido legal - como jaacute visto

- mas tambeacutem no sentido juriacutedico (presente que estaria a premissa34

de que jaacute falamos)

Para pocircr termo a esse toacutepico conceituaremos embargos de declaraccedilatildeo

como o instrumento juriacutedico forma recursal natildeo pura destinado a esclarecer

obscuridades a eliminar contradiccedilotildees ou a suprir omissotildees das sentenccedilas decisotildees e

eventualmente despachos que a despeito da natildeo previsatildeo legal reveste-se em casos

excepcionais de efeitos infringentes quando entatildeo passa a ser de fato e de direito

recurso

V - HIPOacuteTESES DE INTERPOSICAtildeO E SEUS EFEITOS

Prevecirc o Coacutedigo no art 535 a possibilidade da parte embargar de

declaraccedilatildeo (I) quando houver na sentenccedila ou no acoacuterdatildeo obscuridade ou contradiccedilatildeo

ou ainda (11) quando for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou

tribunal

A citada Lei 895094 expurgou como jaacute dito a hipoacutetese de interposiccedilatildeo

dos embargos em caso de duacutevida35

cujo conceito era sempre questionado36

e acabava

gerando outra duacutevida37

O cabimento agrave sentenccedila e natildeo soacute ao acoacuterdatildeo dentro do proacuteprio Capiacutetulo

V do Tiacutetulo X foi inserido tambeacutem pela lei retro mencionada uniformizando o

tratamento e o prazo consoante jaacute dito38

31

Apud Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob jaacute referida

32 Vide nota 28

33 Ob citada p 577

34 Vide nota 25 35

Para contento de alguns respeitaacuteveis doutrinadores cf Antonio de Paacutedua Ferraz (ob

citada) Rogeacuterio lauria Tucci Curso de Direito Processual Civil Processo de

Conhecimento 3390 Seabra Fagundes Dos Recursos Ordinaacuterios em Mateacuteria Civil p

150 Marcos Afonso Borges Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil 2264

36 Muitos a compreendiam como jaacute inserida nos conceitos de contradiccedilatildeo e Obscuridade

como a Professora Sonia Marcia Hase de Almeida Baptista em sua obra dos Embargos de

Declaraccedilatildeo Ed RT 2 ed 1993 pp 115 e 116

37 Como para Dinamarco ob citada p 204 para quem 4 duacutevida eacute um estado Subjetivo de

difiacutecil verificaccedilatildeo ou comprovaccedilatildeo e duvidosa relevacircncia juriacutedica 38

Vide Toacutepico III

Construiacuteram a doutrina39

e a jurisprudecircncia40

a possibilidade de

interposiccedilatildeo quanto agraves decisotildees interlocutoacuterias41

e ateacute quanto aos meros despachos42

o

que natildeo eacute mais do que loacutegico uma vez que estes dois uacuteltimos provimentos judiciais a

par das sentenccedilas podem conter falhas devendo entatildeo serem reparadas mediante o

instituto em comento43

Obscuridade eacute tudo aquilo capaz de dificultar a compreensatildeo do

julgamento Pode cingir-se a todo o decisum ou a somente um de seus pontos

Natildeo haacute duacutevidas de que a obscuridade pode situar-se tanto na

fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo quanto na parte decisoacuteria uma vez que aquela eacute quem

muitas vezes leva agrave falta de clareza da decisatildeo

Contradiccedilatildeo eacute quando no acoacuterdatildeo se incluem proposiccedilotildees entre si

inconciliaacuteveisrdquo44

Eacute um viacutecio da sentenccedila bem mais seacuterio do que a obscuridade

defendendo-se e recomendando-se ao julgador que a interprete com olhos vivos

equiparando-se-Ihe ainda incoerecircncias e incongruecircncias45

Jaacute a omissatildeo ocorre quando o juiz ou tribunal deixa de apreciar ponto

sobre o qual deveria pronunciar-se expliacutecitando-se nas questotildees natildeo dirimidas

suscitadas pela parte ou apreciaacuteveis ex-offiacuteciacuteo46

Revestem-se os embargos hoje de efeito apenas interruptivo47

expressamente previsto em lei (art 538 caput do CPC) Tal efeito eacute aplicado em

relaccedilatildeo a todas as partes do processo e natildeo apenas ao embargante (ainda no mesmo

artigo supra mencionado) Acabaram-se assim as duacutevidas de interpretaccedilatildeo relativamente

ao efeito suspensivo no que concerne agrave contagem dos prazos para as partes -

39

Oviacutedio Batista ob citada p 381 Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery em Coacutedigo

de Processo Civil Comentado 2 ed Editora Revista dos Tribunais p 965 Sergio Bermudes A

Reforma do Coacutedigo de Processo Civil Saraiva p 101 Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob

citada 40

RT 561137 JT A 66178 11455 12159 (Apud Theotocircnio Negratildeo em seu Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo Processual em Vigor 27 ed art 535 nota 11e p 412) ainda JTA 68142682747484 e 12159 (Apud Nelson Nery Junior in Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil citada anteriormente p 967

41 Moniz de Aragatildeo ob citada nega a possibilidade de interposiccedilatildeo quanto agraves interlocutoacuterias e

aos despachos dizendo ainda ser impossiacutevel qualquer concessatildeo Para ele o instrumento

adequado seria o pedido de esclarecimentos Pennissa venia entende-se hoje tal raciociacutenio no

tocante agraves interlocutoacuterias como superado Acreditamos natildeo ter como de fato natildeo tem o

pedido de esclarecimentos o alcance que os embargos declaratoacuterios podem vir a ter (a

modificaccedilatildeo da decisatildeo) 42

Conforme o mesmo Sergio Bermudes A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil p citada 43

O que natildeo afasta a figura do pedido de esclarecimentos mas apenas garante a faculdade dada agrave parte para evitar a preclusatildeo temporal em caso de o julgador natildeo acolher os ditos esclarecimentos (Cf Oviacutedio Batista ob citada p 381) 44

Cf Paacutedua Nogueira espelhando-se em Joseacute Carlos Barbosa Moreira - ob citada p 8 45

Cf Moniz de Aragatildeo ob citada p 16

46 Vide a respeito o Toacutepico VI

47 Natildeo tem efeito devolutivo pois natildeo devolve o conhecimento da mateacuteria a um oacutergatildeo de

jurisdiccedilatildeo ad quem

diferenciada ou natildeo

VI - OUTRA FUNCcedilAtildeO DOS EMBARGOS DECLARA TOacuteRIOS

Natildeo haacute que se olvidar que outra funccedilatildeo dos embargos decorrente do

inciso 11 do art 535 bem como da necessidade do afunilamento dos recursos junto ao

Superior Tribunal de Justiccedila e ao Supremo Tribunal Federal seja a de

prequestionamento

Com efeito a teor das Suacutemulas 28248

e 35649

do STF50

necessaacuterio se

faz o prequestionamento - que eacute a provocaccedilatildeo do oacutergatildeo jurisdicional para que se

pronuncie sobre dado assunto - para interposiccedilatildeo de recursos especiais e

extraordinaacuterios ventilando-se a quaestio iuris federal ou constitucional suscitada sob

pena de seu natildeo conhecimento por aqueles Excelsos Pretoacuterios

VII - DA PROBLEMAacuteTICA DA INFRINGEcircNCIA E

EMBARGOS MERAMENTE PROTELATOacuteRIOS (COMO REPRIMI-

LOS)

VII1 - DO ESGOTAMENTO DA ATIVIDADE

JURISDICIONAL

A primeira dificuldade a ser explanada por conta do presente toacutepico

adveacutem da norma inserta no art 463 vg

Ao publicar a sentenccedila de meacuterito o juiz cumpre e acaba o oficio

jurisdicional soacute podendo alteraacute-Ia

I - para lhe corrigir de oficio ou a requerimento inexatidotildees

materiais ou lhe retificar erros de caacutelculo

II - por meio de embargos de declaraccedilatildeo

Com efeitos parecem despiciendos maiores comentaacuterios sobre a

plausibilidade de o juiz ou tribunal (a disposiccedilatildeo retro mencionada deve ser entendida

extensivamente) voltar a rever (ainda que para corrigir) um seu julgado

48

ldquoEacute inadmissiacutevel o recurso extraordinaacuterio quando natildeo ventilada na decisatildeo recorrida a questatildeo federal suscitada

49

O ponto omisso da decisatildeo sobre o qual natildeo foram opostos embargos declaratoacuterios natildeo

pode ser objeto de recurso extraordinaacuterio por faltar o requisito do prequestionamento 50

Aplicaacuteveis subsidiariamente e com menor rigor no Superior Tribunal de Justiccedila

Por ser assim pode o magistrado ou oacutergatildeo fracionaacuterio voltar a atuar no

feito na hipoacutetese do inciso I e nas do inciso II

Afunda portanto qualquer entendimento no sentido de obstaculizar

com fulcro no caput do artigo ora em estudo a infringecircncia nos embargos declaratoacuterios

porquanto que em sede de interpretaccedilatildeo aconselha-se prevalecer a cabeccedila da norma em

detrimento dos incisos e aquela proacutepria abre em sua segunda parte as exceccedilotildees para a

sistematizaccedilatildeo do que se defende aqui

Cabe definir sim a extensatildeo das hipoacuteteses em que os embargos

declaratoacuterios podem incidir bem como dos seus efeitos em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

impugnada

VII2 - RETRATACcedilAtildeO DO JULGADOR POSSIBILIDADE OU

NAtildeO DE FAZEcirc-LA

Decorrente da possibilidade anterior eacute a abertura para que o magistrado

verificando que natildeo mais subsistem as razotildees de seu convencimento - examinadas as

alegaccedilotildees feitas pela parte em embargos de declaraccedilatildeo e desde que suficientemente

ciente disso - prolate nova decisatildeo mais condizente com o direito

Sabe-se que dentro do proacuteprio Coacutedigo de Processo Civil eacute dado ao

magistrado retratar-se de sua decisatildeo (vide hipoacutetese no agravo de instrumento arts 523

sect 2deg e 529 - que no caso eacute interlocutoacuteria portanto natildeo terminativa do feito) bem como

nas hipoacuteteses de relaccedilatildeo juriacutedica continuada em havendo modificaccedilotildees no estado de

fato ou de direito ou em outros casos previstos na legislaccedilatildeo (conforme art 471 I e li

do mesmo diploma legal) o qual o exemplo mais claacutessico eacute o da sentenccedila proferida em

accedilatildeo de alimentos

Aqui certamente entra o argumento dos que defendem de maneira

arguta o principio da seguranccedila das relaccedilotildees juriacutedicas

Eacute bem verdade que no paiacutes onde prepondera a litigacircncia como regra e

natildeo como exceccedilatildeo pensa-se de logo caso tenhamos os embargos declaratoacuterios

literalmente como recurso na enxurrada destes para impugnar decisotildees 1deg) por que o

mesmo pode teoricamente falando ser interposto natildeo infinitamente mas vaacuterias vezes

2deg) que dado o seu efeito interruptivo prolongaria-se demais a anaacutelise da decisatildeo pelo

oacutergatildeo ad quem

De maneira inversa entendemos que a proacutepria lei e a doutrina mais

autorizada jaacute prevecircem as soluccedilotildees

Para o primeiro oacutebice a proacutepria lex (art 538 do Diploma Processual

Civil) autoriza ao julgador verificando serem os embargos protelatoacuterios a aplicaccedilatildeo de

multa de 1 sobre o valor da causa Em caso de reiteraccedilatildeo a multa eacute elevada a 10

condicionando-se a interposiccedilatildeo de qualquer outro recurso ao depoacutesito do valor

respectivo

Ora se se passa a entender os embargos declaratoacuterios como recurso de

lege lata51

o raciociacutenio eacute esse _ logicamente a comprovaccedilatildeo do depoacutesito seraacute tambeacutem

necessaacuteria ateacute mesmo no caso de interposiccedilatildeo de novos embargos Acreditamos assim

que nem todo litigante vai querer embargar inadvertidamente a menos que o valor da

causa seja iacutenfimo

Aqui abrem-se outras vertentes se o valor da causa eacute iacutenfimo o que se

faz

Sabemos que haacute o instrumento juriacutedico previsto para resoluccedilatildeo de tal

problema que eacute a impugnaccedilatildeo ao valor da causa52

devendo serem as partes zelosas para

com esse aspecto

Outrossim em caso de inflaccedilatildeo galopante conquanto estejamos com a

mesma controlada essa realidade era ateacute bem pouco tempo presente o que nos faz

sempre repensaacute-Ia - como seria a atualizaccedilatildeo desse valor da causa

Natildeo vemos outra alternativa senatildeo que a contadoria judicial proceda a

essa atualizaccedilatildeo a evitar-se maiores incidentes praacuteticos

Cabem ainda as sanccedilotildees previstas para a litigacircncia de maacute-feacute (countemp of

court) previstas nos arts 16 a 18 do CPC devendo o magistrado aplicaacute-Ias quando

tiver certo da ausecircncia de boas intenccedilotildees da parte com todo o vigor da lei

Outra opccedilatildeo - talvez a que nos pareccedila mais adequada - para a prevenccedilatildeo

da interposiccedilatildeo desregrada de embargos declaratoacuterios visando a postergaccedilatildeo do feito

aponta-nos o Mestre Cacircndido Rangel Dinamarco para quem MA modificaccedilatildeo do

julgado em casos assim eacute absolutamente ilegiacutetima quando feita sem a parte

embargada em contraditoacuterio Ainda que nada disponha a lei a respeito a observtincia

do contraditoacuterio nesses casos eacute de rigor constitucional e viola a garantia do

contraditoacuterio do julgamento feito sem oportunidade para a resposta do embargado53

(grifado)

Vemos assim acompanhando o raciocinio do mencionado autor como

perfeitamente possiacutevel a ouvida da parte contraacuteria quando sinta o julgador que a

decisatildeo merece ser reformada essa possibilidade por meio de embargos declaratoacuterios eacute

a exceccedilatildeo como salientaremos adiante

Em sendo assim jaacute seria outro fundamento para o natildeo conhecimento de

embargos manifestamente protelatoacuterios

Consequumlecircncia do antes exposto seria a soluccedilatildeo tambeacutem do problema do

efeito interruptivo (o 2deg apresentado) causando o adiamento anormal da interposiccedilatildeo do

recurso comumente admitido (apelaccedilatildeo recurso especial entre outros) Os causiacutedicos

das partes sucumbentes por prudecircncia natildeo os interporiam desmedidamente sob pena

de seu natildeo conhecimento e subsequumlente natildeo interrupccedilatildeo do prazo para novos recursos

VII3 - PODE O JUIacuteZO A QUO SINGULAR SUBSUMIR-SE NA

COMPETEcircNCIA DEVOLUTIVA DO OacuteRGAtildeO FRACIONAacuteRIO AD QUEM E

COMO INTERPRETAR ISSO Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DO DUPLO GRAU DE

51

Art 496 IV do CPC 52

A ser processada no prazo da defesa e na forma do art 261 do Regimento Processual 53

Ob citada p 206

JURISDICcedilAtildeO

Outro problema que vem agrave tona eacute saber se o juiz ou tribunal ao aceitar o

efeito transformador dos embargos declaratoacuterios - em sede de sentenccedilas54

terminativas

com ou sem meacuterito - natildeo estaria retardando a possiacutevel devoluccedilatildeo do julgamento ao

oacutergatildeo ad quem

Data vecircnia entendemos que a negativa se impotildee Em verdade ao

aceitar-se tais efeitos aos embargos declaratoacuterios estaacute o proacuteprio magistrado (dentro

sempre de seu prudente arbiacutetrio) reconhecendo o erro (crasso) que cometeu Seria justo

e necessaacuterio ter a parte que submeter-se obrigatoriamente ao recurso para o oacutergatildeo

superior para que visse a manifesta ilegalidade remediada

Temos conhecimentos de que modernamente vem o direito processual se

constituindo mais do que nunca a par de sua autonomia como ciecircncia juriacutedica em um

instrumento para consecuccedilatildeo dos direitos ofendidos das partes e mais

contemporaneamente para a composiccedilatildeo amigaacutevel dos litiacutegios

Expoente dessa nova tendecircncia processual Cacircndido Rangel Dinamarco

com proficuidade resume As ondas renovatoacuterias caracterizadoras das novas

tendecircncias do direito processual soacute se mostram concretas e uacuteteis na medida em que os

ideais de ampliaccedilatildeo da tutela jurisdicional se traduzam em teacutecnicas capazes de

melhorar os resultados apresentados aos consumidores do serviccedilo que satildeo os

membros da populaccedilatildeordquo55

Assim eacute cediccedilo que por exemplo uma apelaccedilatildeo (e a hipoacutetese vale para

quase todos os outros recursos com algumas mudanccedilas) leva para ser processada e

julgada um lapso temporal por demais longo Quanto de tempo e custos a parte e o

Judiciaacuterio poderiam ver poupados a adotar-se uma interpretaccedilatildeo mais aberta finaliacutestica

do objetivo do processo para os embargos declaratoacuterios

Sim diga-se isso pois embora improacutepriordquo56

o prazo de 5 (cinco) dias

do art 537 1- parte para que o juiz ou oacutergatildeo colegiado decida os embargos ainda

assim eacute um prazo bem menor do que o de uma apelaccedilatildeo ou mesmo um agravo - hoje

54

Nas interlocutoacuterias haacute de se analisar caso a caso a real necessidade da interposiccedilatildeo dos

embargos com efeitos infringentes uma vez que ao agravo de instrumento pode ser conferido o

efeito suspensivo em Iiminar bem como vecircm entendendo pioneiramente alguns pretoacuterios a

possibilidade da concessatildeo in li mine do pedido denegado (hipoacutetese de soluccedilatildeo para os casos

de decisotildees interlocutoacuterias denegatoacuterias que natildeo foram previstas pelo art 527 11 do CPC)

cientes que estatildeo estes colegiados do moderno espiacuterito de celeridade e natildeo prejuiacutezo agraves partes de

que veio encoberta a reforma (o Tribunal Regional Federal da 5 Regiatildeo eacute um honroso exemplo

conforme asseverou o eminente Professor e Juiz Federal potiguar Francisco Barros Dias em

Curso ministrado no Auditoacuterio da Justiccedila Federal de 07 a 11 de outubro de 1996) Outrossim

em pronunciamentos bastante recentes vecircm alguns Desembargadores do Tribunal de Justiccedila do

Rio Grande do Norte tambeacutem adotando esse entendimento na vanguarda do moderno direito

processual amparado na doutrina de Neacutelson Nery Juacutenior e Rosa Maria Andrade Nery in ob jaacute

citada 55

A Instrumentalidade das Formas 3 ed Malheiros p 227 56

Satildeo aqueles prazos em que a desobediecircncia natildeo leva a nada pois a lei natildeo prevecirc uma sanccedilatildeo

com efeito suspensivo possiacutevel

Nos tribunais a apresentaccedilatildeo deles seraacute sempre na sessatildeo subsequumlente

(CF 2- parte do artigo mencionado) ainda que saibamos que na maioria das vezes tal

natildeo aconteceraacute Mas o que se quer ressaltar eacute a ideacuteia de agilidade com que este

instrumento juriacutedico sui generis de impugnaccedilatildeo das decisotildees pode revestir-se

Nem se diga tambeacutem que esse raciociacutenio eacute um oacutebice ao princiacutepio do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo (para Rui Portanova em trabalho que merece louvores melhor

seria dizecirc-Io duplo grau miacutenimo pois no direito paacutetrio haacute uma infindaacutevel possibilidade

de recursos57

) - aqui entendido como acesso aos diferentes graus de jurisdiccedilatildeo - uma

vez que seraacute mantida a possibilidade de acesso ao juiacutezo imediatamente superior (pelos

recursos de praxe)

Suponhamos que a parte entre com os embargos declaratoacuterios aspirando

que lhe sejam conferidos efeitos infringentes (de maneira direta58

ou reflexatildeo59

o juiz

retrata-se da decisatildeo (entendemos necessaacuterio como jaacute dito a ouvida da parte contraacuteria

em obseacutequio ao contraditoacuterio) Eacute dado a parte antes beneficiada e agora prejudicada

com o provimento jurisdicional interpor novos embargos de declaraccedilatildeo infringentes em

seus efeitos (esclareccedila-se contudo que essa oportunidade soacute deve ser concedida uma

uacutenica vez a cada uma das partes e em hipoacuteteses excepcionais)

Essa nova interposiccedilatildeo tanto pode ter a pretensatildeo honesta de mais uma

vez mudar a decisatildeo (hipoacutetese que quer parecer-nos pouco provaacutevel) ou de apenas

protelar o andamento do feito ou ainda de realmente visar esclarecer o julgado nas

hipoacuteteses do art 535 _ natildeo devendo serem logicamente admitidos

Ora natildeo haacute problema No primeiro caso o juiz se pronunciaraacute (se jaacute natildeo

o fez) no prazo de lei que eacute bastante exiacuteguo confirmando ou mudando (essa hipoacutetese

queremos deixar para o abstrato por que natildeo poderia o Juiz estar sempre se retratando

o que soacute seria aceitaacutevel uma uacutenica vez) a sua decisatildeo daiacute por diante entendendo

protelatoacuterios - o que evitaria a utilizaccedilatildeo leviana do instituto - quaisquer novos

embargos com esse escopo (sujeitas tais interposiccedilotildees agrave regra do art538)

Jaacute no caso da interposiccedilatildeo de embargos pela parte outrora beneficiada

unicamente e para protelar o feito caberaacute ao adequado preparo intelectual do

magistrado repelir a situaccedilatildeo como visto no subtoacutepico anterior

Aiacute entra o prudente arbiacutetrio do juiz pois se modificou - essa eacute sempre a

exceccedilatildeo repita-se - a sentenccedila o fez estribado em razotildees bastante fortes60

natildeo seria

consoante com o sistema processual vigente61

a sua retrataccedilatildeo indefinida

57 Cf ob citada p 265 58

Entendemos de forma direta quando a intenccedilatildeo da parte for manifestamente de atacar o

meacuterito objetivando expressamente a reforma da decisatildeo 59

A maneira reflexa como a vemos daacute-se quando a parte tenta intenta com os embargos

realmente visando afastar obscuridade eliminar contradiccedilatildeo ou suprir omissatildeo da forma como

permite o art 535 do CPC soacute que esses viacutecios estatildeo tatildeo arraigados e maculam tanto a decisatildeo

que o acolhimento dos embargos transmuda totalmente seu teor 60

Fundadas no prejuiacutezo manifesto que a(s) parte(s) poderiam ter com a decisatildeo originaacuteria 61

Se bem que a tiacutetulo meramente exemplificativo ao recurso de agravo eacute dada essa

possibilidade em que o juiz pode retratar-se de sua decisatildeo (tanto na hipoacutetese do retido como no

de instrumento) podendo fazecirc-Io uma uacutenica vez quando do andamento do recurso Caso a parte

Cabe ainda mais uma vez deles natildeo conhececirc-los o julgador quando

forem - manifestamente e fora de qualquer duacutevida protelatoacuterios considerando-se natildeo

interrompido o prazo para outros recursos62

Eacute sempre bom frisar que esse efeito infringente natildeo pode ser entendido

como regra mas a exceccedilatildeo O que se pretende eacute que o julgador conheccedila desses

embargos de declaraccedilatildeo excepcionaisrdquo com o espiacuterito aberto63

expurgando-se dogmas

e maniqueiacutesmos quanto ao ultrapassado efeito complementar e integrador dos

embargos entendendo-os sim como meio idocircneo para reforma das decisotildees em alguns

casos especiais em que o error in judicando ou o error in procedendo forem gritantes

Acreditamos que essa eacute uma ideacuteia a ser realmente pensada com muita

parcimocircnia

VIII - DAS HIPOacuteTESES DE MODIFICACcedilAtildeO ALBERGADAS PELA

JURISPRUDEcircNCIA

Tecircm-se entendido como possiacutevel a interposiccedilatildeo de embargos com efeitos

infringentes nas seguintes hipoacuteteses64

10) erro manifesto de julgamento65

20) quando

houver erro material no exame dos autosrdquo66

30) erro evidente quanto agrave tempestividade

do recurso natildeo conhecido67

agrave intempestividade de recurso conhecido68

agrave qualificaccedilatildeo

juriacutedica do fato69

a formalidade essencial natildeo observada nos autos70

a fato relevante

com repercussatildeo sobre a conclusatildeo do julgado71

a recurso conhecido por equiacutevoco

contraacuteria sinta-se prejudicada teraacute de interpor outro recurso se quiser atacar a decisatildeo jaacute

retratada Vide a respeito os arts 523 sect 2deg e 529 todos do Coacutedigo de Processo Civil

62 Haacute entendimentos mutatis mutandis (pois datam de antes da lei

895094) nesse sentido natildeo interrupccedilatildeo do prazo - quando os embargos satildeo intempestivos ou incabiacuteveis ou ainda interpostos contra decisatildeo que em termos claros rejeitou outros embargos de declaraccedilatildeo cf RT J 150327 e JTA 118394 colhido por Theotocircnio Negratildeo ob citada art 538 notas 2 e 4 p 416 (A jurisprudecircncia eacute anterior agrave reforma da lei)

63

Assim jaacute o disse o Indigitado Ministro Marco Aureacutelio no Recurso Extraordinaacuterio nordm 111787

in RTJ 138249

64

Cf o prestigiado Theotocircnio Negratildeo ob citada nota 1 Ob ao art 535 pp 410-411 65

RSTJ 39289 66

STJRJ18554 67

5T J_3a Turma REsp 3994-MS reI Min Nilson Naves j 21691 receberam os embs vu

DJU 12891 p 10553 l col STJ-4 Turma REsp 6739-BA rei Min 5aacutelvio de Figueiredo j 13891 deram provimento VU DJU 9991 p 12207 l col em ST J-4 Turma REsp 13100GO rei Min Athos Carneiro j 29692 deram provimento VU DJU 3892 p 11323 2 col em STF-RT 600238 RT 618194 633163 RJT JESP 5025 96366 JTA 38389 55168 5931394352 Lex-JTA 73257 74215 BoI AASP 1290213 1436154 RP 39317 68

ST J-1 Turma AG 23785-5-SP-AgRg-EDcl rei Min Demoacutecrito Reinaldo j 91292 receberam os embs VU DJU 15293 p 16702 col em 69

JTA 93385 70

RJT JERGS 168153 71

RTFR 15201 RP 57253 JT A 108287 ST J-4 Turma REsp 19564-SP rei Min Barros Monteiro j 18592 natildeo conheceram VU DJU 22692 p 9765 2 col em ST J-1 Seccedilatildeo MS 913-DF reI Min Ameacuterico Luz j 121191 homologaram a desistecircncia vu DJU

manifesto72

dentre outras hipoacuteteses

Nelson Nery Juacutenior73

expressamente indica as seguintes hipoacuteteses a)

correccedilatildeo de erro material manifesto b) suprimento de omissatildeo c) extirpaccedilatildeo de

contradiccedilatildeo

Mas entende ainda o autor possiacutevel contra decisotildees ultra petita74

erro

manifesto75

e erro de fato76

Em hipoacuteteses bastante assemelhadas Antonio de Paacutedua Ferraz

Nogueira77

indica a possibilidade de efeitos infringentes nos embargos declaratoacuterios

quando a) a apelaccedilatildeo ou agravo natildeo forem conhecidos em face de equivocada afericcedilatildeo

do prazo de interposiccedilatildeo ou por qualquer erro material b) quando houver omissatildeo de

decisatildeo quanto a questatildeo que se pretende seja objeto de recursos especial e

extraordinaacuterio - de que jaacute se falou - podendo ensejar outra conclusatildeo de modo a

modificar o aresto c) houver contradiccedilatildeo inadvertida que se mantida macularaacute o

julgado e contrariaraacute o sentido do fundamento da decisatildeo

Veja-se que os casos exemplificados satildeo bastante abrangentes A tiacutetulo

meramente confirmatoacuterio entendemos que os embargos declaratoacuterios com efeitos

infringentes podem ser interpostos sempre que houver um erro grave de um

determinado provimento jurisdicional78

De lembrar ainda que o STF por natildeo dispor de outros recursos para suas

decisotildees sempre aceitou com largueza os embargos de declaraccedilatildeo com efeitos

modificativos79

IX - CONCLUSAtildeO

Ex positis concluiacutemos

1deg) Os embargos de declaraccedilatildeo satildeo formas

recursais anocircmalas inseridas pelo legislador no Tiacutetulo dos Recursos do

CPC mais pela similitude do que pela natureza

23991 p 17503 2 col em ST J-4 Turma REsp 3227-ES-EDcl rei Min Athos Cameiro j 6891 deram provimento VU DJU 23991 p 130852 col em STJ-2 Turma REsp 13667-SP rei Min Ameacuterico Luz j 21291 VU DJU 3292 p 455 1 col em 72

ST J-RT 670182 73

Comentaacuterios ob citada pp 965-966 74

RSTJ 50556 75

STJ 1 T EDclREsp 47206-7-DF rei Min Demoacutecrito Reinaldo VU j 821995 DJU

631995 p 4319 76

JTACivSP 110256 108287 100178933858631853168 RT 562146 RTJ 57145

Lex-JT A 105352 RJT JRS 69136 77

Ob citada 78

Exemplos praacuteticos ocorridos com este estudioso foram o de acolhimento pelo magistrado de oficio de prescriccedilatildeo intercorrente em sede de direitos patrimoniais (a despeito de norma legal em sentido contraacuterio e amplos entendimentos jurisprudenciais no mesmo sentido) bem como de errocircnea extinccedilatildeo total do feito quando se requereu a desistecircncia em relaccedilatildeo a apenas um dos demandados 79

Vide para maiores esclarecimentos Thetocircnio Negratildeo ob citada na nota 3 ao art 337 do

Regimento Interno do STF agraves pp 1269-1270 Vide ainda citadas pelo mesmo autor RT J

941167 E 114351

2deg) Satildeo previstos especificamente para integrar complementar ou

aclarear o julgador podendo em alguns desses casos modificar o julgado

3deg) Quando assim o fazem acreditamos que

transformam-se efetivamente e no contexto em que conhecemos em

recurso

4deg) Haacute uma tendecircncia bastante forte na doutrina e na jurisprudecircncia de

aceitaacute-Ios com efeitos infringentes em casos de erros absurdos em decisotildees

(terminativas ou natildeo) e ateacute mesmo em despachos

5deg) O julgador deve deles conhececirc-Ios com o espiacuterito acolhedor sempre

levando em conta a interpretaccedilatildeo finalista do processo como instrumento adequado a

atingir-se a composiccedilatildeo dos conflitos e ainda e talvez precipuamente o fator tempo a

que a parte se submeteraacute aguardando o processamento de um verdadeiro recurso que

demande mais complexidade quando em determinadas hipoacuteteses o mesmo julgador

poderia decidir a questatildeo de maneira bastante satisfatoacuteria

6ordm) os ditos efeitos infringentes podem dar-se de maneira reflexa (quando

satildeo os embargos utilizados na forma e para os efeitos previstos no art 535) ou

diretamente (vislumbrando-se claramente a modificaccedilatildeo do decisum ainda que tambeacutem

supedaneados no art 535)

7ordm) A modificaccedilatildeo dos efeitos quando assim feita de forma direta deve

necessariamente passar pelo crivo do contraditoacuterio

8deg) Haacute de se tomar paracircmetros (cabendo ao prudente arbiacutetrio e saber do

magistrado) para essa substancial mudanccedila do julgado ou seja o caso em concreto deve

ser verdadeiramente ensejador de tal medida

9ordm) ademais disso agraves partes caberaacute verificarem a viabilidade de tal

atitude adequando-a sob as penas do art 538 do natildeo conhecimento do recurso

meramente protelatoacuterio (com a consequumlente natildeo interrupccedilatildeo do prazo para a

interposiccedilatildeo de outros recursos) e ainda da litigacircncia de maacute-feacute

Pela propriedade de conteuacutedo achamos por bem transcrever o

ensinamento do preclaro Antonio Carlos de Arauacutejo Cintra ao afirmar que na

potencialidade proacutepria dos embargos de declaraccedilatildeo estaacute contida a forccedila de

alterar a decisatildeo embargada na medida em que isto seja necessaacuterio para atender

agrave sua finalidade legal de esclarecer a obscuridade resolver a contradiccedilatildeo ou

suprir a omissatildeo verificada naquela decisatildeo Qualquer restriccedilatildeo que se oponha a

essa forccedila modificativa dos embargos de declaraccedilatildeo nos estritos limites

necessaacuterios agrave consecuccedilatildeo de sua finalidade especifica constituiraacute artificialismo

injustificaacutevel que produziraacute a mutilaccedilatildeo do institutordquo80

Ora se ficou demonstrado que mesmo quando os embargos cumprem

sua funccedilatildeo especiacutefica (esclarecer a obscuridade resolver a contradiccedilatildeo e suprir a

omissatildeo) eacute possiacutevel a alteraccedilatildeo substancial do julgado eacute inegaacutevel que em tais casos

assumam os embargos a natureza de recurso tanto mais quando tecircm a intenccedilatildeo

manifesta de infringir-lhe o meacuterito

E se na espeacutecie de maneira natildeo intencional transmuda o julgado natildeo

soacute retificando-o mas ateacute mesmo invertendo paradoxalmente seu conteuacutedo eacute

plenamente aceitaacutevel que em decisotildees teratoloacutegicas - no sentido de prejuiacutezo

irreparaacutevel ou de natildeo razoabilidade de que a parte se submeta agrave interposiccedilatildeo de outros

recursos que demandem maior tempo de processamento - possa o oacutergatildeo julgador

aceitaacute-Ios com efeitos infringentes

80

Apud Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob citada

Ao permitir tal assertiva entendemos que o princiacutepio da infringecircncia dos

embargos declaratoacuterios em hipoacuteteses esdruacutexulas deve ser estendido (de maneira racional

e observando sempre o juiz o caso em concreto no particular) possibilitando agraves partes a

menor forma de prejuiacutezo atendo-se o processo para o atendimento do trinocircmio custo-

tempo-benefiacutecio da prestaccedilatildeo jurisdicional pois como jaacute disse citado Ministro Marco

Aureacutelio a parte tem direito agrave entrega da prestaccedilatildeo jurisdicional de forma clara e

precisa Cumpre ao oacutergatildeo julgador apreciar os embargos de declaraccedilatildeo com o

espiacuterito aberto entendendo-o como meio indispensaacutevel agrave seguranccedila nos

provimentos judiciaisrdquo81

Xndash REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Alvim J E Carreira Accedilatildeo Monitoacuteria e Temas Polecircmicos da Reforma

Processual Dei Rey Belo Horizonte 1995

Aragatildeo E D Moniz de Embargos de Declaraccedilatildeo RT 63311

Baptista Sonia M de Almeida Embargos de Declaraccedilatildeo - Inovaccedilotildees da

Reforma RP 8027

Bermudes Sergio A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil Saraiva 2-

ed Satildeo Paulo 1996

Borges Marcos Afonso Embargos de Declaraccedilatildeo - Omissatildeo - Efeito

Modificativo RP 51191

Dinamarco Cacircndido Rangel

A Instrumentalidade do Processo 3ordf ed Malheiros Satildeo Paulo 1993

A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil 3ordf ed Malheiros Satildeo Paulo

1993

Fadei Sergio Sahione Coacutedigo de Processo Civil Comentado Tomo III J

Kofino Editor 1974

Marques Joseacute Frederico Manual de Direito Processual Civil Vol 111 -

Processo de Conhecimento 28 parte Saraiva 2

8 ed

Negratildeo Theotocircnio Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo Processual

em Vigor 27 ed Saraiva Satildeo Paulo 1996

Nery Junior Nelson

81

Cf nota 63

Aspectos da Teoria Geral dos Recursos no Processo Civil RP 51155

Reflexotildees Sobre o Sistema dos Recursos Ciacuteveis na Reforma Processual

de 1994 RP 79118

Nery Junior Nelson Nery Rosa Maria Andrade Coacutediao de Processo

Civil Comentado 28 ed Editora Revista dos Tribunais SAo Paulo 1996

Nogueira Antonio de Paacutedua Ferraz Princiacutepios Fundamentais dos

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Portanova Rui Princiacutepios do Processo Civil Livraria do Advogado

Editora Porto Alegre 1995

Silva Ovidio A Batista da Curso de Processo Civil Vol I - Processo de

Conhecimento 3ordf ed Sergio Antonio Fabris Editor Porto Alegre 1996

Theodoro Juacutenior Humberto Theodoro Curso de Direito Processual

Civil Vol I - Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento 12

ed Editora Forense Rio de Janeiro 1994

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO REQUISITO EMBARACcedilOSO Agrave

ATIVIDADE POSTULA TOacuteRIA

Joatildeo Eduardo Ribeiro de Oliveira

Concluinte do Curso de Direito da UFRN

Sumaacuterio I - A reforma atual e o art 282 do CPC II - As tendecircncias

da accedilatildeo no decorrer do tempo III Lentidatildeo processual e esquecimento do pedido de

citaccedilatildeo IV - Situaccedilotildees aparentemente discutiacuteveis VA citaccedilatildeo estatal VI -

Referecircncias bibliograacuteficas

I A REFORMA ATUAL E O ARTIGO 282 DO CPC

A preocupaccedilatildeo em se adaptar as normas juriacutedicas ao clamor popular

com a real satisfaccedilatildeo jurisdicional culminou na extensa e complexa revisatildeo do Coacutedigo

de Processo Civil

O volume excessivo de contendas nos diversos juiacutezos do paiacutes e o

insuficiente nuacutemero de magistrados terminam por ensejar modificaccedilotildees na legislaccedilatildeo

notada mente a processual com o propoacutesito de alcanccedilar a tatildeo pretendida efetividade do

processo

Nessa intenccedilatildeo foi formada a comissatildeo que realizaria o Anteprojeto de

Modificaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil (1985) Apesar da desaprovaccedilatildeo do referido

esboccedilo conseguiram esses estudiosos embasar a novel comissatildeo encarregada da difiacutecil

tarefa de reforma da regecircncia processual

De forma consentacircnea preferiram os notaacuteveis revisores fazer uma

reelaboraccedilatildeo descentralizada por meio de sucessivos projetos de lei que permitiram

uma raacutepida tramitaccedilatildeo do processo legislativo

Evitou-se o longo debate que seria travado se todo um anteprojeto fosse

enviado ao Legislativo como ocorreu com a tentativa de criaccedilatildeo do novo Coacutedigo Civil

(Projeto de lei 63475) Aleacutem do mais permaneceu iacutentegra a estrutura do CPC o que

favoreceraacute a compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos novos textos legais insertos

Alteraccedilotildees das mais significantes revolucionaram o campo processual

comeccedilando a tornaacute-Io mais que um centro de tecnicismo um processo de resultados1

Assim eacute a possibilidade de efetivaccedilatildeo antecipada do direito pleiteado segundo os

moldes do artigo 273 do CPC Nesse contexto pode-se hoje auferir o beneficio

provindo do mandamento judicial logo na fase de apreciaccedilatildeo inicial da peccedila

postulatoacuteria se ultrapassados os requisitos preacutevios e presentes as exigecircncias para

antecipaccedilatildeo da satisfaccedilatildeo

O alargamento do repuacutedio agrave deslealdade das partes igualmente foi tema

da restauraccedilatildeo legislativa modernizando-se a sistemaacutetica de repressatildeo agrave litigacircncia de

maacute-feacute com a aplicaccedilatildeo do countemp of court (disciplina dos atos atentaacutetorios agrave

dignidade da Justiccedila) e de condenaccedilotildees civis - as astreintes de origem francesa - (art

18 CPC)

Tambeacutem foram disciplinadas pequenas incorreccedilotildees como a

desencontrada nomeaccedilatildeo dos procedimentos civis A Lei 924595 destinou o

procedimento sumariacutessimo agraves causas de menor complexidade quando alterou os

dispositivos 275 a 281 do CPC O termo laudo passou a ser especifico do perito ou

1 Cacircndido Rangel Dinamarca A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil p 20

seja do agente oficial de esclarecimento teacutecnico enquanto que o parecer seraacute

nomenclatura do exame pericial realizado pelos assistentes das partes (art 433 do CPC

modificado pela Lei 845592)

Outra finalidade foi tornar alguns procedimentos mais ceacuteleres e isentos

de certos estorvos De tal forma ocorreu por exemplo com a execuccedilatildeo das obrigaccedilotildees

de fazer e natildeo fazer com a accedilatildeo de consignaccedilatildeo com os embargos de declaraccedilatildeo e

recentemente com o agravo sofredor de total remodelagem com o advento da Lei

913995

Essas mudanccedilas provecircm da concepccedilatildeo majoritaacuteria de que os modernos

caminhos do Direito devem tender sempre para a pacificaccedilatildeo social O processo natildeo

mais basta por si soacute reduzido a uma profunda anaacutelise cientiacutefica direcionada para o

aprimoramento proacuteprio sem a visatildeo funcional que atualmente eacute aplicada

Hoje com essa evoluccedilatildeo conceitual muitas praacuteticas do cotidiano

judicial estatildeo sendo revitalizadas seja pela interpretaccedilatildeo do julgador ou pela

recomposiccedilatildeo dos institutos processuais A desnecessidade de requisiccedilatildeo expressa de

citaccedilatildeo do demandado eacute um toacutepico a ser estudado dentro desse contexto

Entretanto antes das consideraccedilotildees centrais sobre o chamamento

explicito do reacuteu eacute importante para o desenrolar do tema a exatificaccedilatildeo do avanccedilo por

que passou o direito de accedilatildeo ateacute chegar ao momento presente

II AS TENDEcircNCIAS DA ACcedilAtildeO NO DECORRER DO TEMPO

Natildeo obstante a quase unacircnime confirmaccedilatildeo da dissidecircncia entre o direito

de accedilatildeo e o direito material tutelado ou seja da pretensatildeo pura de reivindicar um

beneficio concreto nem sempre tal clareza foi assente A possibilidade de intervenccedilatildeo

estatal para se evitar um confronto humano progrediu com o passar dos anos ateacute chegar

agrave fase atual de instrumento

Apoacutes a superaccedilatildeo do momento selvagem de resoluccedilatildeo dos conflitos

predominou o direito privado dos romanos no qual havia completa preponderacircncia dos

contratos (ou quase-contratos) sobre as relaccedilotildees da vida romana Decorrente dessa

concepccedilatildeo privatista accedilatildeo e direito substancial convergiram para um mesmo sentido O

direito de accedilatildeo era simplesmente e nada mais que o proacuteprio privileacutegio subjetivo agitado

A fase imanentista claacutessica ou sincreacutetica estava vigorando

Foi na Alemanha que se firmou o berccedilo da independecircncia da accedilatildeo

quando MUTHER WINDSCHEID e BUumlLLOW comeccedilaram a defender a diferenciaccedilatildeo

entre o direito agrave proteccedilatildeo do Estado e o beneficio material atribuiacutedo Do pensamento de

sincretismo passa-se a estabelecer a autonomia entre os dois ramos

Pregou WACH valendo-se das ideacuteias mutherianas a autonomia da accedilatildeo

como direito empreendido contra o Estado por ser este o responsaacutevel pela

concretizaccedilatildeo da paciacutefica convivecircncia humana Mas o direito de accedilatildeo somente se

tomaria existente se a prestaccedilatildeo jurisdicional fosse entregue ao postulante atraveacutes de

sentenccedila pois nesse momento estaria nascendo concretamente Foi nesses termos que o

supracitado estudioso concebeu a Teoria do Direito Concreto agrave Tutela

CHIOVENDA propugnou o destino do requerimento judicial incidente

sobre o reacuteu e natildeo contra o Estado Esse direito se configura como um poder atribuiacutedo ao

demandante na medida em que o reacuteu natildeo pode impedir o ingresso do autor em juiacutezo

da mesma forma que o mandataacuterio natildeo pode impedir que o mandante revogue a

procuraccedilatildeo2

2 Fernando da Costa Tourinho Filho Processo Penal voI 1 p 268

Posteriormente iniciou-se novo progresso cientiacutefico (PLOSZ e

DEGENKOLB) ao se conceber a subsistecircncia do direito de accedilatildeo natildeo soacute quando haacute uma

sentenccedila favoraacutevel mas tambeacutem pelo simples fato de existecircncia de interesse protegido

abstratamente pelo Direito MOACIR AMARAL DOS SANTOS explica Haacute pois

lugar para que se distingam dois interesses diversos o interesse tutelado pelo direito e o

interesse na tutela daquele pelo Estado3

O interesse na eliminaccedilatildeo dos empecilhos agrave fruiccedilatildeo de bens humanos

(chamado de secundaacuterio por MOACIR AMARAL DOS SANTOS) qualifica-se como o

direito subjetivo que viabiliza o interesse principal (aquilo que eacute desejado pelo homem e

que natildeo estaacute ao seu alcance)

Por isso eacute abstrata a pretensatildeo de ingresso judicial pois natildeo se

condiciona necessariamente agrave existecircncia efetiva de um direito subjetivo material ()

bastando que o sujeito do direito de accedilatildeo para exercecirc-Io se refira a um interesse

primaacuterio juridicamente protegido4

Entre a total ausecircncia de limites para a solicitaccedilatildeo jurisdicional e a

vinculaccedilatildeo estrita agrave procedecircncia da sentenccedila situou-se LIEBMAN reconhecendo o

exerciacutecio pleno do direito de accedilatildeo mas que eacute preciso o trespasse de certos requisitos

para o exame juriacutedico da lide

O entendimento do mestre se resume em suas proacuteprias liccedilotildees

Inconcebiacutevel eacute que se reconheccedila indistintamente como quer a teoria da accedilatildeo como

direito abstrato a toda e qualquer pessoa sem qualquer condicionamento o direito de

pedir a prestaccedilatildeo da tutela jurisdicional5

As lides alcanccedilam a possibilidade de apreciaccedilatildeo integral pelo Judiciaacuterio

atraveacutes do juiacutezo de admissibiacutelidade consoante ponderaccedilatildeo do Professor WALTER

NUNES DA SILVA JR O Oacutergatildeo Judicante soacute pode e deve se pronunciar acerca do

meacuterito da questatildeo se o titular da pretensatildeo satisfizer as condiccedilotildees da accedilatildeo e pressupostos

processuais6

Sem a presenccedila desses preacutevios condicionamentos o postulante manteacutem

a prerrogativa de ser ouvido pelo Estado mas natildeo de receber uma elaboraccedilatildeo

sentencial acerca do cabimento ou natildeo de seu direito Limita-se o ente estatal a afirmar

que a pretensatildeo natildeo pocircde ser analisada por carecircncia dos elementos imprescindiacuteveis a

uma examinaccedilatildeo mais complexa

Apoacutes constataccedilatildeo da viabilidade da accedilatildeo e do processo (atraveacutes da

averiguaccedilatildeo das condiccedilotildees da accedilatildeo e dos pressupostos processuais respectivamente) eacute

dado iniacutecio agrave investigaccedilatildeo profunda da Iiccedila

Diferencia-se nitidamente o exame inicial da lide da anaacutelise meritoacuteria

que redundaraacute na sentenccedila pois esta sobre tender para os valores de seguranccedila

juriacutedica e da Justiccedila eacute especifica e iacutendividualizante concernindo ao pedido e sua

fundamentaccedilatildeo Consequumlentemente como a implementaccedilatildeo da admissibilidade eacute

exigecircncia que atende ao principio da economia processual eacute ela de ser examinada

3 Moacir Amaral dos Santos Primeiras Linhas de Direito Processual

Civil vol 1 p 147 4 Moacir A dos Santos ibid p 148 5 Liebman apud Walter Nunes da Silva Juacutenior Condiccedilotildees da Accedilatildeo e Pressupostos Processuais

p 75 6 Ob cit p 70

sempre antes da fundamentaccedilatildeo7

Frutos da nova geraccedilatildeo autonomista nasceram no Brasil os coacutedigos de

1939 e 1973 este uacuteltimo o atual regimento em termo de processo civil A marca

peculiar dessas criaccedilotildees juriacutedicas foi o extremo tecnicismo imposto pela necessidade de

se acentuar a independecircncia processual

Atingida a perfeita conformaccedilatildeo da existecircncia independente da seara

processual foi originada uma nova revitalizaccedilatildeo no meio juriacutedico mundial

enxergando-se o processo mais como meio de apaziguamento social A supra-

importacircncia das regras procedimentais cedeu espaccedilo para os objetivos extriacutensecos do

instrumentalismo

A instrumental idade do processo se solidifica no pensamento de um de

seus maiores mentores CAcircNDIDO RANGEL DINAMARCO quando diz Eacute preciso

aleacutem do objetivo puramente juriacutedico da jurisdiccedilatildeo encarar tambeacutem as tarefas que lhe

cabem perante a sociedade e perante o Estado como tal8 O processualista inicia o

abandono da visatildeo introspectiva para despertar uma intensa interferecircncia social

III LENTIDAtildeO PROCESSUAL E ESQUECIMENTO DO

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO

Eacute sabido que natildeo cabe ao julgador iniciar a atividade jurisdicional em

desabono da movimentaccedilatildeo da parte Resguardando-se os princiacutepios da igualdade e da

imparcialidade eacute que sobressai o princiacutepio de que cabe ao interessado trazer a juiacutezo suas

razotildees a identificaccedilatildeo (qualificaccedilatildeo) da pessoa a suportar os efeitos de uma provaacutevel

decisatildeo judicial e as demais informaccedilotildees condizentes com a postulaccedilatildeo judicial

(princiacutepio da demanda)

A citaccedilatildeo eacute o ato processual que objetiva comunicar ao demandado o

litiacutegio judicial proposto contra o mesmo para que entatildeo possa reagir contra a

pretensatildeo ajuizada auxiliando o juiz na busca da verdade Por ser pressuposto

processual a presenccedila do ato citatoacuterio significa que o processo somente evoluiraacute se o

chamado da parte demandada tiver sido realizado satisfatoriamente Herdou-se para os

sistemas juriacutedicos atuais o brocardo nemo debet inauditus damnari (ningueacutem deve ser

condenado sem ser ouvido) segundo observaccedilatildeo de EDSON PRATA9

A peticcedilatildeo inicial eacute justamente o instrumento haacutebil a propiciar a

concessatildeo das necessidades patrimoniais ou pessoais por atuaccedilatildeo do magistrado oacutergatildeo

especialmente incumbido dessa outorga Eacute de interesse do Estado disciplinar o

conteuacutedo do requisitoacuterio e o faz enaltecendo os atributos insupriveis para o intento

judicial significando que na falta de qualquer deles natildeo estaraacute a outra parte em

condiccedilotildees de exercer o direito de defesa na sua plenitude nem o juiz teraacute os elementos

suficientes agrave aplicaccedilatildeo da lei10

Como principal orientador do elenco que deve coexistir na exordial

termos no CPC

Art 282 A peticcedilatildeo indicaraacute

7 Donaldo Arnaldo apud Marcelo Navarro Ribeiro Dantas Admissibilidade e Meacuterito na

Execuccedilatildeo p 26 8 A Instrumentalidade do Processo p 153

9 Crise do Processo p 59

10 James Eduardo Oliveira Juizo de Admissibilidade da Peticcedil30 Inicial p 39

I - O juiz ou tribunal a que eacute dirigida

II - os nomes prenomes estado civil profissatildeo domiciacutelio e

residecircncia do autor e do reacuteu

III - o fato e os fundamentos juriacutedicos do pedido 1 - () pedido

com suas especificaccedilotildees

v - o valor da causa

JI] - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos

fatos alegados

VII - o requerimento vara a citaccedilatildeo do reacuteu (destaque intencional)

De acordo com a eventual ausecircncia dos supracitados itens na

peticcedilatildeo inicial verificam-se defeitos substanciais que exigem pronto

indeferimento e defeitos natildeo-substanciais que importam em outorga de lance

proacuteprio de correccedilatildeo 11

Em atenccedilatildeo aos artigos 282 a 285 e 295 do CPC estaacute o julgador

condicionado a possibilitar a emenda da inicial indeferi-Ia sem estudo do pedido ou

determinar a convocaccedilatildeo do demandado

A carecircncia dos incisos I V e VI do art 282 (e o artigo 283 do CPC)

embora natildeo proporcionem de imediato o desprezo da inicial devem ser providenciados

sob pena de impossibilidade de julgamento O inciso VII daquele artigo eacute o uacutenico que

se prende unicamente a uma formalidade natildeo dificultando a subsequumlente apreciaccedilatildeo do

feito ante sua inobservacircncia

O defeito de falta de citaccedilatildeo eacute de forma natildeo adentrando na substacircncia da

accedilatildeo como fazem os incisos li 111 e IV do mesmo dispositivo

Pois bem A falta do pedido de citaccedilatildeo acarreta despacho ordinatoacuterio do

juiz determinando que o solicitante afirme o desejo de chamamento do reacuteu Em esparsas

linhas o advogado obedeceraacute ao mandamento judicial para soacute depois conseguir o

regular andamento do feito o que poderaacute demandar um tempo excessivamente longo

pois envolve natildeo soacute ato do juiz mas da secretaria judiciaacuteria do oacutergatildeo de publicidade e

da proacutepria parte

A cientificaccedilatildeo da parte oposta se encerra como absolutamente loacutegica

Ao ingressar em juiacutezo a parte solicitante deseja ter resposta do Estado o que soacute pode

ser feito com a oitiva do indicado por atenccedilatildeo obrigatoacuteria ao devido processo legal

acolhedor dos princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa

Mesmo com o nascimento de uma nova mentalidade muitos

profissionais da aacuterea juriacutedica relutam em admitir a impraticidade do inciso VII do art

282 do CPC Esse eacute o entendimento de MARCELO GUIMARAtildeES RODRIGUES Tal

orientaccedilatildeo equipara-se a uma faca de dois gumes Ao deixar-se de lado certas regras

essenciais do processo que visam a lhe conferir estabilidade seguranccedila e legitimidade

pode-se tambeacutem estar abrindo caminho para uma completa generalizada e incontrolaacutevel

11 James Eduardo Oliveira ob cit p 39

insubordinaccedilatildeo do procedimento agrave lei12

Com o devido respeito pensamos que inocorre a gravidade salientada

pelo ilustre doutrinador Sendo somente uma das facetas que exprimem a organizaccedilatildeo

social natildeo almeja o Poder Judiciaacuterio desconsiderar a existecircncia da lei mesmo porque

dela necessita para concretamente dirimir as insatisfaccedilotildees sociais

Aleacutem do mais a produccedilatildeo legislativa conteacutem as mesmas limitaccedilotildees

encontradas em todas as atividades do homem Eacute preciso que o julgador se previna da

possiacutevel imperfeiccedilatildeo de uma norma porquanto ao se considerar o principio elementar

da falibilidade e da arbitrariedade eventuais do legislador na elaboraccedilatildeo da norma legal

o juiz natildeo pode apercebendo-se disso aplicaacute-Ia simplesmente13

A corrente que nega a possibilidade do julgador citar de ofiacutecio o reacuteu

pugna pela maacutecula agrave imparcialidade e isonomia obrigatoacuterias nas relaccedilotildees juriacutedicas que

envolvem julgamento Todavia natildeo se vecirc qualquer ferimento aos princiacutepios acima

exaltados

A arguumliccedilatildeo de desrespeito agrave imparcialidade do julgador natildeo convence

primeiro porque o juiz manda citar como ente estatal interessado somente em

exterminar o desequiliacutebrio social conforme os interesses da coletividade segundo pelo

fato de que a lide jaacute estaacute iniciada com o trespasse dos fundamentos e da pretensatildeo do

autor embora que de forma ainda natildeo triangular

Natildeo haacute tambeacutem sentido em se dizer que a citaccedilatildeo ex officio resultaria em

benefiacutecio para uma das partes O suplicado teraacute prazo para alegar mateacuteria de defesa da

mesma forma que na circunstacircncia do rogo citatoacuterio existente na peccedila proemial A

contestaccedilatildeo natildeo obteacutem vantagens ou prejuizos com a diligecircncia oficial de citaccedilatildeo

Inversamente o informe realizado sem a solicitaccedilatildeo direta do autor

encontra respaldo na insubstituiacutevel economia processual sem macular nenhum outro

princiacutepio implantado no ordenamento juriacutedico

Prova tambeacutem consistente de que o requerimento da citaccedilatildeo possui

importacircncia secundaacuteria na atividade processual reside na disposiccedilatildeo contida no

paraacutegrafo 1deg do artigo 214 (CPC) sect 1deg O comparecimento espontacircneo do reacuteu supre

entretanto a falta de citaccedilatildeo (Igual regulamentaccedilatildeo eacute encontrada no art 18 sect 3deg da

Lei dos Juizados Especiais Ciacuteveis e Criminais - 909995)

Oportunamente ressalta o Professor FRANCISCO BARROS DIAS O

princiacutepio da economia faz nascer vaacuterios outros que se entrelaccedilam perfeitamente tais

como o aproveitamento dos atos processuais a renovaccedilatildeo dos atos processuais o

12 A Ineacutepcia da Inicial por Falta do Requerimento da Citaccedilatildeo Prevalece a Finalidade ou o

Pressuposto de Ordem Puacuteblica diante do Principio Dispositivo p 276

13

Dagoberto Romani O Juiz entre a Lei e o Direito p 234

prejuiacutezo a finalidade e a especificidade14

O objetivo do ato quando alcanccedilado torna-o eficaz Do contraacuterio natildeo

haveria por que inserir o paraacutegrafo uacutenico do art 250 no CPC do qual se extrai a

essecircncia do principio da finalidade e do aproveitamento dos atos processuais

sustentando a legalidade do suprimento judicial

IV SITUACcedilOtildeES APARENTEMENTE DISCUTIacuteVEIS

Haacute casos que agrave primeira vista poderiam impedir uma maior diligecircncia

por parte do julgador Satildeo exemplos a citaccedilatildeo de litisconsortes necessaacuterios como o

cocircnjuge (incisos do sect 1 o do artigo 10 do CPC) os confinantes condocircminos e

eventuais interessados nas accedilotildees divisoacuterias demarcatoacuterias e de usucapiatildeo a intervenccedilatildeo

de terceiros do Capitulo VI - Tiacutetulo 11 do CPC e a intimaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

quando inevitaacutevel sua participaccedilatildeo

Nessas circunstacircncias seria forccedilosa a ordem de emenda da inicial para

suprir o pedido de chamamento Ainda assim eacute possiacutevel se assegurar que

insubstituiacuteveis satildeo os atributos trazidos pelo demandante de identificaccedilatildeo do

Iitisconsorte do confinante do condocircmino e do interessado

Para julgar a lide faz-se obrigatoacuteria a inclusatildeo do nome qualificaccedilatildeo

profissatildeo e endereccedilo para trazer o potencial litigante ao campo do processo

informativos esses que satildeo requisitados pelo inciso II do art 282 do CPC e natildeo pelo seu

inciso VII notabilizador do propoacutesito de comunicar a demanda ao reacuteu

Alguns estudiosos defendem nesse contexto a reformulaccedilatildeo do inciso

VII do art 282 substituindo o requerimento de citaccedilatildeo por uma correta e inequiacutevoca

promoccedilatildeo postulatoacuteria da mesma forma que foi utilizada no art 47 sect uacutenico do CPC

quando determina que o autor promova a citaccedilatildeo dos Litissconsortes Promover

significa entregar agrave autoridade judicial todas as informaccedilotildees pessoais do litisconsorte

que facilitaratildeo a notiacutecia do intento

A exigecircncia de qualificaccedilatildeo da parte acontece igualmente na intervenccedilatildeo

de terceiros quando o opoente o nomeante o denunciante e o reacuteu no chamamento ao

processo (arts 57 65 71 e 78 do CPC respectivamente) provocam a entrada do

litigante pela sua especificaccedilatildeo e natildeo pelo singelo pleito de citaccedilatildeo

Eacute certo que nestas suposiccedilotildees quando a minudecircncia do provaacutevel

litigante natildeo puder ser efetivada por questatildeo de incerteza quanto a sua localizaccedilatildeo ou

sua identidade seraacute prudente o patrono informar a necessidade de citaccedilatildeo editaliacutecia por

desconhecimento de quem seja o Litisconsorte ou onde se localize

Outro aspecto merecedor de atenccedilotildees eacute o chamamento do Ministeacuterio

Puacuteblico por intimaccedilatildeo Embora natildeo se trate de citaccedilatildeo eacute indispensaacutevel segundo

imposiccedilatildeo do art 82 do CPC haver observaccedilatildeo e controle do cumprimento das

disposiccedilotildees legais em especiacuteficas lides

Haacute a intenccedilatildeo do Estado em velar pela inteira observacircncia da lei natildeo se

cogitando o porquecirc da solicitaccedilatildeo da parte quando se deveria favorecer a automaacutetica

intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico como acontece nas accedilotildees de usucapiatildeo (art 944 do

CPC)

Inadmite-se aqui a necessidade de identificaccedilatildeo do ingressante como nos

casos anteriores sendo a nulidade cominada para a falta de intimaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico notoacuteria atecnicidade do art 84 do CPC quando exige requerimento expliacutecito

14

Nulidades Processuais Civis p 26

de intimaccedilatildeo a ser feito pela parte o que poderia ser determinado oficialmente nos

litiacutegios discriminados por lei

Natildeo eacute o pedido de citaccedilatildeo em si que se configura como problema para

continuaccedilatildeo d a lide mas a falta de identificaccedilatildeo de determinado sujeito Com certeza o

qualificativo do reacuteu eacute realizado juntamente com o pedido de convocaccedilatildeo em

decorrecircncia da sistemaacutetica processual mas nem por isso a citaccedilatildeo se toma

predominante

V A CITACcedilAtildeO ESTATAL

Como se vecirc a funccedilatildeo do processo eacute muito maior do que supunham os

cultores do autonomismo Aleacutem de instrumento de progressatildeo dos atos que levaratildeo agrave

sentenccedila eacute meio por qual a sociedade se manteacutem em equiliacutebrio O interesse coletivo

hegemocircnico em todas as relaccedilotildees sociais eacute plenamente consagrado tambeacutem no

contraditoacuterio presente entre os litigantes

A excessiva postura metodoloacutegica culmina no retardamento do teacutermino

do litiacutegio Natildeo eacute raro militantes do Direito condenarem a ordem de ciecircncia determinada

pelos juizes apoacutes constataccedilatildeo de omissatildeo na peticcedilatildeo Nota-se o apego a formalidades

natildeo essenciais ao desenvolvimento da funccedilatildeo jurisdicional

No processo penal tambeacutem se concebe idecircntica situaccedilatildeo de acordo com

a profunda sapiecircncia do Professor TOURINHO FILHO que advoga a obrigatoriedade

do pedido de citaccedilatildeo na denuacutencia1516

Contraditando os argumentos formalistas merecem transcriccedilatildeo os

ensinamentos de JOSEacute ROBERTO DOS SANTOS BEDAQUE nos quais se assenta a

magna funccedilatildeo encerrada no processo

Eacute preciso revisitar os institutos processuais todos concebidos segundo

a visa o autonomista ou conceitual da ciecircncia processual a fim de conferir a eles nova

feiccedilatildeo a partir das necessidades identificadas na fase instrumentalista17

A ordem de citaccedilatildeo deve ser empreendida mesmo na inocorrecircncia de sua

menccedilatildeo na peticcedilatildeo inicial dado que o magistrado antes de ser ente estatal eacute agente

social como elucida HANS REICHEL O juiz eacute obrigado por forccedila do seu cargo a

afastar-se conscientemente de uma disposiccedilatildeo legal quando essa disposiccedilatildeo de tal modo

contraria o sentimento eacutetico da generalidade das pessoas que pela sua observacircncia a

autoridade do Direito e da lei correria num perigo mais grave do que atraveacutes de sua

inobservacircncia18

Em estudo sobre a norma juriacutedica no que tange agrave sua interpretaccedilatildeo o

Professor IVAN LIRA DE CARVALHO declara a inevitaacutevel atuaccedilatildeo do julgador

moderno em face da normatizaccedilatildeo legal Enquanto texto frio e latente espelha tatildeo-soacute o

instante da sua confecccedilatildeo ou do seu incorporamento ao conjunto normativo Cabe ao

15

ob cit p 350 16

Com a mesma exigecircncia o art34 do Decreto-Lei 976046 o arte 3deg sect 1deg da Lei 319357 o art

13 da Lei 489865 o art 6deg 111 da Lei 683080 o art 288 I do RISTF e o art 4deg 11 da Lei

886694 Por outro lado o art 840 sect 1 0 da CL T exime implicitamente a reclamaccedil30 do pedido de

citaccedilatildeo (notificaccedilatildeo) 17

Joseacute Roberto dos Santos Bedaque Direito e Processo - Influecircncia do Direito Material sobre o

Processo p 15 18

apud Dagoberto Romani ob cit p 234

Como se vecirc a funccedilatildeo do processo eacute muito maior do

inteacuterprete vivificaacute-l e dar-lhe a destinaccedilatildeo adequada agraves exigecircncias soacutecio-culturais dos

seus suacuteditos assim entendidos pela submissatildeo gerada pela coercibilidade das normas19

O importante natildeo eacute formalizar o manifesto desiacutegnio do autor em tomar o

demandado ciente mas o proacuteprio ato citatoacuterio no qual o oficial de justiccedila ou outro

oacutergatildeo escolhido pela lei proporciona a comunicaccedilatildeo processual e pode atestar a recusa

ou o desaparecimento do demandado natildeo cabendo agraves partes realizaacute-Io por evidente

maacutecula aos princiacutepios processuais

A supressatildeo ou modernizaccedilatildeo do inciso VII do artigo 282 natildeo iraacute

desencadear a tatildeo almejada celeridade processual e resolver todos os problemas afetos

ao Judiciaacuterio mas eacute uma impropriedade digna de ser corrigida atraveacutes das remediaccedilotildees

legislativas vindouras

Contudo deposita-se mais esperanccedila no sentimento de dinamismo e

Justiccedila dos juiacutezes (falando propriamente em magistrados de qualquer instacircncia)

compromissados em extirpar no tempo mais breve as contendas humanas trazidas a

juiacutezo No limiar do seacuteculo XXI onde tudo jaacute se direciona agrave simplicidade as atitudes

retroacutegradas ficaratildeo inteiramente agrave margem do progresso humano

VI REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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Acadecircmica de Direito Natal EDUFRN

19

A Interpretaccedilatildeo da Norma Juriacutedica (Constitucional e Infraconstitucional) p 27

DINAMARCO Cacircndido Rangel A Reforma do Coacutedigo de Processo

Civil 28 ed Satildeo Paulo Malheiros 1995

____________ A Instrumentalidade do Processo 38 ed Satildeo Paulo

Malheiros 1993

GRINOVER Ada Pellegrini FERNANDES Antocircnio Scarance e

GOMES FILHO Antocircnio Magalhatildees As Nulidades do Processo Penal 48 ed Satildeo

Paulo Malheiros 1995

OLIVEIRA James Eduardo Juiacutezo de Admissibilidade da Peticcedilatildeo Inicial

Revista dos Tribunais ndeg 688 Satildeo Paulo Ed RT 1993

PRATA Edson A crise do Processo Revista dos Tribunais ndeg 632 Satildeo

Paulo Ed RT 1988

RODRIGUES Marcelo Guimaratildees A Ineacutepcia da Inicial por Falta de

Requerimento de Citaccedilatildeo Prevalece a Finalidade ou o Pressuposto de Ordem Puacuteblica

diante do Princiacutepio Dispositivo Revista dos Tribunais ndeg 682 Satildeo Paulo Ed RT

1992

ROMANI Dagoberto O Juiz entre a Lei e o Direito Revista dos

Tribunais ndeg 633 Satildeo Paulo Ed RT 1988

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Civil 158 ed Satildeo Paulo Saraiva 1992

SILVA JR Walter Nunes da Condiccedilotildees da Accedilatildeo e Pressupostos

Processuais Revista de Processo ndeg 64 Satildeo Paulo Ed RT 1991

TOURINHO FILHO Fernando da Costa Processo Penal Vo11 158 ed

Satildeo Paulo Saraiva 1994

NEOLlBERALlSMO INIMIGO DA CIDADANIA

Leifson Gonccedilalves Holder da Silva

Acadecircmico do 3deg periacuteodo do curso de Direito da UFRN

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Baseado no texto de Luiacutes Fernandes proferido na 8deg Conferecircncia

Nacional do PC do B procurarei fazer uma reflexatildeo sobre a natureza do neoliberalismo

e das consequumlecircncias de sua transformaccedilatildeo em projeto hegemocircnico e dominante na

maior parte do mundo capitalista neste fim de seacuteculo

O autor afirma que o termo neoliberalismo natildeo deve ser usado de forma

indiscriminada como adjetivo pejorativo para agravequelas medidas ou poliacuteticas com as quais

natildeo se estaacute de acordo Deve-se sim procurar entender essa expressatildeo em toda a sua

plenitude a fim de se compreender os pressupostos que caracterizam a economia

mundial em sua nova reestruturaccedilatildeo diante de transformaccedilotildees teacutecnicas e econocircmicas

principalmente no que se refere agrave Divisatildeo Internacional do Trabalho Pressupostos estes

que estatildeo condicionados agrave loacutegica do modeloneoliberal e que visam de todas as

maneiras redefinir o comeacutercio internacional de forma que os paiacuteses menos

desenvolvidos se tomem mais dependentes1

Torna-se interessante (para natildeo dizer imprescindiacutevel) entender como

ressurgiu a ideologia liberal e como ela eacute passada aos paiacuteses do terceiro mundo dentro

deste contexto global

S6 a partir desta compreensatildeo mais completa e precisa eacute que seraacute

possivel comeccedilar a desvendar e perceber de forma mais clara a poliacutetica nacional

imposta pelo atual Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e a evoluccedilatildeo da

sociedade brasileira neste momento crucial diante da transiccedilatildeo por que passam a

economia e a sociedade internacional como consequumlecircncias da expansatildeo neoliberal

Antes de se analisar o neoliberalismo propriamente dito eacute importante

que se faccedila uma breve elucidaccedilatildeo de seu desenvolvimento histoacuterico ateacute o momento

atual com a finalidade de mostrar sua gecircnese e os motivos que levaram a sua

progressatildeo se tornando dominante hoje na maioria do mundo

2 - DESENVOLVIMENTO HISTOacuteRICO

1 Os grifos existentes no artigo satildeo i1ustrativos e de responsabilidade inteira do autor

A histoacuteria do neoliberalismo tem suas raiacutezes no seacuteculo XVIII mais

precisamente no liberalismo claacutessico que veio dar origem ao tema em questatildeo

Este liberalismo surgiu como doutrina e movimento de caraacuteter

progressista principalmente contra o despotismo dos Estados absolutistas e contra as

restriccedilotildees mercantilistas agrave formaccedilatildeo de um uacutenico mercado comum sob a proteccedilatildeo do

processo de desenvolvimento da industrializaccedilatildeo capitalista

As restriccedilotildees oriundas do mercantilismo causavam um certo entrave

econocircmico na medida em que a prosperidade econocircmica de um paiacutes deveria ser

conseguida atraveacutes de uma balanccedila comercial favoraacutevel (positiva) da proibiccedilatildeo da

entrada de mercadorias estrangeiras (se possiacutevel) e por uma acumulaccedilatildeo de

metais_preciosos siacutembolos e base da vida econocircmica e riqueza nacional considerados

indispensaacuteveis agrave sobrevivecircncia e ao fortalecimento da soberania

O sujeito econocircmico central era o Estado jaacute que efetuava uma forte

intervenccedilatildeo econocircmica a fim de aumentar seu poderio atraveacutes da obtenccedilatildeo de ouro e

prata Entretanto em geral a corrida por metais acabou ocasionando como resultado

uma asfixia econocircmica para os Estados que adotaram este modelo

O liberalismo econocircmico veio em contrapartida defender a liberdade de

mercado contra este sistema mercantilista recebendo fundamentaccedilatildeo teoacuterica por parte

dos fisiocratas que propunham o laissez-faire laissez-passerrdquo

Esse serviu de base para a Escola claacutessica (corrente cientiacutefico-

econocircmica) desenvolvida na Inglaterra a qual se aproveitou de imediato de seus ideais

avanccedilados jaacute que era a primeira potecircncia capitalista do mundo visando posteriormente

subordinar o conjunto do globo ao seu predomiacutenio industrial

A Escola Claacutessica afirmava que um mercado livre e competitivo

determinaria a produccedilatildeo os preccedilos2 (lei da oferta e da procura) e a distribuiccedilatildeo de

renda Com isso o liberalismo tenderia a reduzir ao miacutenimo a interferecircncia do Estado

nas atividades econocircmicas individuais Oportunamente nesse sentido segundo a

foacutermula pitoresca de Hellpachs a melhor posiccedilatildeo que o Estado e a economia podem

assumir um a face do outro eacute a de ficar afastado trecircs passos um do outro

Contudo natildeo se negava o Estado porque o liberalismo natildeo significava

anarquismo apenas deveriam ser afastadas suas intromissotildees inuacuteteis

Posteriormente no entanto com a consolidaccedilatildeo do novo mercado global

capitalista sob preponderacircncia inglesa por volta do seacutec XIX o capitalismo

emancipador progressista e ateacute revolucionaacuterio deu vez a um capitalismo opressivo e

espoliador Capitalismo este agora conservador voltado para a justificaccedilatildeo ideoloacutegica

das injusticcedilas operantes derivadas da exploraccedilatildeo Por meio da ideologia capitalista

procurava-se justificar convenientemente os fatos da vida social como se quisesse

preservaacute-Ia de possiacuteveis desequiliacutebrios ou conflitos ao niacutevel da praacutetica

Em oposiccedilatildeo a esta sociedade de classes surgiram o operariado os

sindicatos as teorias socialistas e marxistas (como alternativas teoacutericas e poliacuteticas

libertadoras) aleacutem da demanda por direitos e a produccedilatildeo de leis refletindo conquistas

sociais (natildeo sem antes ocorrerem protestos e pressotildees por parte do proletariado)

Atraveacutes dos sindicatos os operaacuterios unidos e consequumlentemente mais fortes

2 Foram utilizados como par3metro da fundamentaccedil30 teoacuterica no Desenvolvimento Histoacuterico os

autores Luis Manoel Rebelo Fernandes Raymond Barre Leocircncio Martins Rodrigues Wilson

Cano Joseacute Jenoiacuteno dentre outros

reivindicaram seus direitos alterando aos poucos as relaccedilotildees de trabalho trazendo

melhorias agrave classe operaacuteria A autonomia da vontade nas relaccedilotildees do empregador com o

empregado foi reduzida jaacute que a legislaccedilatildeo social veio restringir este livre

entendimento entre as partes Os abusos do liberalismo foram tantos que o Estado por

intermeacutedio do legislador diminuiu a liberdade do patratildeo para dar mais consistecircncia agrave do

trabalhador impondo a contrataccedilatildeo dentro de determinados paracircmetros Foi uma reaccedilatildeo

clara contra esse liberalismo opressor e tirano

A Europa Ocidental conseguiu contornar as tensotildees do poacutes-guerra

atraveacutes da ajuda econocircmica (Plano Marshall) voltando-se para a construccedilatildeo de uma

rede de assistecircncia social impecaacutevel e cariacutessima associada ao bem-estar objetivando

uma distribuiccedilatildeo de renda e proteccedilatildeo dos cidadatildeos contra os desequiliacutebrios sociais

O curso do desenvolvimento favorecia agraves posiccedilotildees e tendecircncias de

esquerda os sindicatos se fortaleciam os partidos socialistas viam seus votos

aumentarem e o intervencionismo estatal crescia com a regulamentaccedilatildeo da sociedade

De uma ideologia que ascendeu e dominou o seacuteculo passado o

liberalismo claacutessico acabou sendo gradativamente e por fim inteiramente descartado

pelos desenvolvimentos mundiais na primeira metade do seacuteculo XX Ele natildeo pocircde

suportar duas guerras mundiais depressatildeo econocircmica (quebra da bolsa de Nova York)

protecionismos emergentes aleacutem de uma ascensatildeo de Estados Socialistas e de Bem-

Estar (Welfare State) levando ao seu decliacutenio

Entretanto este natildeo foi seu fim como poderia parecer em uma

perspectiva de desenvolvimento das teorias de economia dirigida e do socialismo de

Estado O liberalismo sofreu uma revitalizaccedilatildeo em 1947 quando um grupo de

pensadores liberais se reuniram para discutir as bases de uma ofensiva contra teorias e

praacuteticas socialistas e intervencionistas entatildeo predominantes formando a chamada

Sociedade de Mont Peacutelerin

Esta articulaccedilatildeo poacutes-guerra teve um papel decisivo no lanccedilamento das

bases teoacutericas do novo liberalismo agora denominado neoliberalismo

Este tomou um impulso substancial a partir da segunda metade da

deacutecada de 70 periacuteodo em que o estadismo e o planeiamento central comeccedilaram a

definhar e a quebrar como consequumlecircncia de uma crise econocircmica internacional aliada a

transformaccedilotildees tecnoloacutegicas que trouxeram grandes repercussotildees levando agrave ruptura

destes modelos de Estado Foi principalmente nos governos de Margareth Tacher

(Primeira Ministra denominada e conhecida como dama de ferro) no Reino Unido

(1979-1990) e do Presidente Ronald Reagan nos Estados Unidos (1979-1990) que deu-

se o revigoramento da ideologia liberal Propondo medidas limitadoras do Estado na

economia procederam-se agraves sucessivas privatizaccedilotildees e tentativas de derrubar as

tradicionais barreiras protecionistas adotadas por muitos paiacuteses

As novas tecnologias tambeacutem geraram natildeo soacute novas formas de produzir

mas tiveram impactos impressionantes sobre a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das

estrateacutegias de competitividade

Os Estados direcionaram-se a uma competiccedilatildeo desenfreada com uma

absurda e acelerada corrida agrave rnodernidade destruindo todo o sentido e o direito

social construiacutedo na era do Welfare State Assim a competiccedilatildeo a eficiecircncia e o ecircxito

econocircmico passaram a ser vistos positivamente O individualismo ligado agrave afirmaccedilatildeo

das liberdades individuais e dos direitos humanos deram vez ao individualismo soacuterdido

desmontando os valores do solidarismo para afirmar e justificar a desigualdade social

como inevitaacutevel consequumlecircncia da liberdade humana A seguranccedila o conforto e a

liberdade do proacuteximo passaram a ser ameaccedilados pela neuroacutetica necessidade de poder e

pelo egoiacutesmo consumista O que passou a ser considerado moderno foi o retorno a

Adam Smith (filoacutesofo e economista inglecircs que influenciou de forma decisiva na

formaccedilatildeo e no fortalecimento do capitalismo contemporacircneo) Neste iacutenterim a grande

campanha neoliberal se espalhou pelo mundo e as transnacionais cantaram vitoacuteria

quando viram o urso russo passar agrave condiccedilatildeo de cordeiro capitalista

No rastro desta nova realidade - Terceira Revoluccedilatildeo Industrial

globalizaccedilatildeo crise econocircmica etc - eacute que afirmou-se a hegemonia da ideologia

neoliberal exaltando a excelecircncia do novo mercado e do novo individualismo

3 - CONTEXTO MUNDIAL

A revoluccedilatildeo doutrinaacuteria trazida pelo neoliberalismo apresenta novas

bases teoacutericas que tecircm sido utilizadas como a fonte intelectual para redirecionamentos

nas poliacuteticas de gestatildeo macroeconocircmica (aspectos globais da economia) e social de

diversos paiacuteses em grande parte do globo

Conveacutem esclarecer que a adoccedilatildeo de uma poliacutetica neoliberal por parte da

maioria destes paiacuteses ao longo dos uacuteltimos anos objetivando obter uma maior

integraccedilatildeo econocircmica natildeo foi um ato de livre e espontacircnea vontade como

aparentemente poderia sugerir uma anaacutelise mais superficial

Na verdade esse neoliberalismo vem sendo imposto por pressotildees

externas procedentes de paiacuteses desenvolvidos aos paises subdesenvolvidos atraveacutes de

organismos internacionais principalmente o FMI - Fundo Monetaacuterio Internacional o

Banco Mundial e o BID - Banco Internacional de Desenvolvimento Os paiacuteses

devedores do mundo capitalista perifeacuterico vecircm cedendo agraves exigecircncias da implantaccedilatildeo

de poliacuteticas neoliberais como condiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo do apoio poliacutetico das grandes

potecircncias bem como para conseguir a liberaccedilatildeo de escassos recursos financeiros dos

bancos e agecircncias internacionais na forma de investimentos Estes paiacuteses tecircm sofrido

coaccedilotildees agressivas para eliminar as restriccedilotildees e diminuir os obstaacuteculos alfandegaacuterios agraves

mercadorias importadas Segundo um correspondente do New York Timeso FMI jaacute

derrubou mais governos que Marx e Lecircnin juntosmiddot (Michael Moffit O dinheiro do

mundo p131) Isto no fundo estaacute acarretando um alargamento do abismo existente

entre o primeiro e o terceiro mundo o qual torna-se cada vez mais indefeso submisso e

dependente

Com a intenccedilatildeo de colocar este esquema em praacutetica os paiacuteses ricos

(forccedilas neoliberais) formaram blocos econocircmicos neoprotecionistas (verdadeiras

fortalezas econocircmicas como o NAFT A o Mercado Comum Europeu e a aacuterea de

influecircncia japonesa no Paciacutefico) com o intento de proteger seus mercados internos e ao

mesmo tempo condicionar aos demais paiacuteses a abertura de mercado - sob a

argumentaccedilatildeo da integraccedilatildeo econocircmica globalizaccedilatildeo eficiecircncia alegando ser

uma poliacutetica econocircmica correta para atrair capitais externos

De fato os paiacuteses desenvolvidos caiacuteram numa evidente contradiccedilatildeo jaacute

que fecharam suas fronteiras contra a invasatildeo de matildeo-de-obra estrangeira (blocos

econocircmicos) ao mesmo tempo em que difundiram e defenderam uma ideologia

neoliberal baseada justamente na supressatildeo das barreiras alfandegaacuterias e das cotas de

importaccedilatildeo Assim foi intensificado o movimento de capitais bens e serviccedilos

mantendo entretanto a movimentaccedilatildeo humana do trabalho sob proibiccedilatildeo ou riacutegido

controle Os paiacuteses do 1deg mundo abriram as suas fronteiras internas em uma aparente

atitude liberal mas fecharam mais do que nunca as externas Essa atitude - de

praticarem o que criticam nos outros - mina por si soacute a autoridade de impor poliacuteticas

neoliberais por parte dos paiacuteses desenvolvidos

Contudo apesar da incoerecircncia entre palavras e accedilotildees o neoliberalismo

defendido pelas grandes potecircncias vem tomando forccedila no contexto mundial

espalhando-se rapidamente revelando-se natildeo se tratar de mero projeto intelectual ou

poliacutetico desconectado de bases soacutelidas

31 - BASES E JUSTIacuteFICATIVAS DA OFENSIVA NEOLIBERAL

Vivemos hoje a estruturaccedilatildeo de uma ordem internacional cuja feiccedilatildeo

ainda natildeo se encontra totalmente definida Poreacutem os princiacutepios baacutesicos que norteiam as

poliacuteticas econocircmicas neoliberais que mais vecircm se destacando resumem-se

principalmente em

a) Ajuste Fiscal3

O sistema fiscal estimula a sonegaccedilatildeo por cobrar tributos exagerados de

um nuacutemero reduzido de pessoas e empresas Com a sua reforma torna-se possiacutevel

desonerar as empresas e aumentar sua competitividade ainda podendo elevar a

arrecadaccedilatildeo porque haveria (em tese) menos sonegadores

b) Privatizaccedilatildeo (Desestatizaccedilatildeo das forccedilas produtivas)

Assim o governo elimina gastos com as estatais e gera caixas O

dinheiro levantado ainda pode permitir a diminuiccedilatildeo da diacutevida puacuteblica Com a reduccedilatildeo

do tamanho do Estado toma-se mais faacutecil de ser administrado podendo dedicar mais

atenccedilatildeo e dinheiro aos problemas sociais

c) Abertura Comercial e Financeira

A eliminaccedilatildeo de barreiras agrave importaccedilatildeo agrave entrada de capital estrangeiro

e agrave remessa de lucros gera uma aplicaccedilatildeo em investimentos incentivando-se o

comeacutercio aleacutem de aumentar a reserva cambial nacional

d) Reestruturaccedilatildeo do Sistema Previdenciaacuterio

Com a privatizaccedilatildeo do Sistema Previdenciaacuterio ou pelo menos parte dele

o Estado arca com menos gastos jaacute que divide sua folha com a iniciativa privada

Assim tambeacutem pode reequilibrar as contas puacuteblicas evitando a volta da inflaccedilatildeo

Aleacutem dessas outras medidas importantes tambeacutem vecircm completar este

quadro que de maneira geral se orienta para a reduccedilatildeo do tamanho do controle e dos

3 o embasamento doutrinaacuterio do Contexto Mundial foi respaldado principalmente nos

professores Luis Manoel Rebelo Fernandes (UFF) Roosenez de Carvalho Teixeira e Joatildeo Rodrigues Neto (UFRN) dentre outros

gastos do Estado na economia

32 - CONSEQUumlEcircNCIAS

O resultado dessa ofensiva neoliberal natildeo poderia ser melhor para os

paiacuteses do primeiro mundo

A iniciativa privada desses paiacuteses impotildee mais facilmente seus

interesses atraveacutes da formaccedilatildeo de grandes grupos capitalistas detentores de tecnologia e

capital que acabam se configurando em blocos de poder poliacutetico-econocircmico os

quais natildeo atuam somente sobre as relaccedilotildees econocircmicas mas procuram modificar essa

estrutura para aumentar ainda mais as suas vantagens em paiacuteses perifeacutericos que vecircm

adotando poliacuteticas neoliberais Dominar as maacutequinas produziacute-Ias ter acesso ao seu uso

representa dentre outras coisas desfrutar certo domiacutenio sobre os que natildeo as possuem

Isto pode significar natildeo soacute o controle de empresas de menor porte mas ateacute controle na

definiccedilatildeo da poliacutetica econocircmica de paiacuteses inteiros

Com isso as decisotildees econocircmicas no seio dessas naccedilotildees jaacute natildeo

pertencem aos milhotildees de indiviacuteduos que as integram mas estatildeo concentradas nas matildeos

de minorias (carteacuteis e multinacionais) que monopolizam o poder em proveito proacuteprio

Nesse estaacutegio de desenvolvimento em que predomina a internacionalizaccedilatildeo do capital

consolida-se a interdependecircncia crescente das grandes transnacionais ultrapassando

suas fronteiras de origem e colocando as questotildees nacionais em segundo plano Assim

os interesses dos Estados ficam mais do que nunca atrelados aos interesses do capital

internacional Segundo o economista Gilberto Dupas do Nuacutecleo de Estudos

Estrateacutegicos da USP as maiores corporaccedilotildees mundiais estatildeo decidindo basicamente o

que como quando e onde produzir os bens e serviccedilos utilizados pelos seres humanos

(Revista Veja 030496) Com isso alguns criam a histoacuteria enquanto outros a maioria

sofrem e suportam a histoacuteria que aqueles estatildeo escrevendo

Por outro lado cara paiacuteses subdesenvolvidos (como eacute o caso do Brasil)

as consequumlecircncias satildeo no miacutenimo devastadoras

Com a crescente evoluccedilatildeo que vem acontecendo no mundo atual as

naccedilotildees procuram alternativas para se adaptarem diante da modernizaccedilatildeo dos meios de

comunicaccedilatildeo produccedilatildeo e da abertura do mercado buscando acompanhar a

competitividade crescente entre as atividades do mercado

Mesmo a Ruacutessia que jaacute foi uma grande potecircncia mundial sentiu o

impacto devastador que uma abertura econocircmica eacute capaz de causar A expectativa de

vida do russo passou de 65 anos no socialismo para 58 com o capitalismo e a

tendecircncia eacute o alargamento dessa diferenccedila O aumento da marginalidade e a

proliferaccedilatildeo das drogas tambeacutem acompanharam essa abertura De acordo com

estimativas do proacuteprio governo 1 em cada 6 jovens russos seratildeo viciados ateacute o ano

2000 No geral as condiccedilotildees de vida excetuando o surgimento de uma pequena classe

burguesa que ascendeu juntamente com o capitalismo soacute se deterioraram para a

maioria dos trabalhadores russos Se antes eles natildeo podiam comprar um big-mac

(sanduiacuteche mundialmente difundido por uma cadeia de lanchonetes americana) por

falta de opccedilatildeo agora natildeo podem compraacute-lo por falta de dinheiro (fonte 48 Hours -

GNT)

A busca ansiosa para conseguir melhores preccedilos e maior qualidade na

elaboraccedilatildeo do produto tem resultado num retrocesso nas relaccedilotildees entre capital e

trabalho ao se ignorar princiacutepios e normas vigentes referentes agraves relaccedilotildees trabalhistas

No intuito de reduzir encargos sociais e enxugar a estrutura empresarial

as empresas iniciaram demissotildees e firmaram novos contratos com prestadoras de

serviccedilos para executarem as mesmas atividades antes elaboradas com viacutenculo laboral

pelos funcionaacuterios demitidos (fenocircmeno denominado de terceirizaccedilatildeo) Os empregados

terceirizados apesar de possuiacuterem todas as caracteriacutesticas necessaacuterias a uma relaccedilatildeo

direta de emprego com a empresa beneficiada satildeo remunerados pela empresa locadora

de serviccedilos que paga salaacuterios mais baixos

A intervenccedilatildeo cada vez menor do Estado nas relaccedilotildees de trabalho

multiplicou as relaccedilotildees atiacutepicas acarretando consequumlecircncias desastrosas agrave classe dos

trabalhadores por fraudar direitos e garantias fundamentais

Com toda essa desregulamentaccedilatildeo trabalhista sem a devida postura

critica () as garantias sociais conquistadas pelos trabalhadores tecircm

ficado somente nas linhas dos diplomas legais () Isto tem trazido

seacuterios problemas de ordem social e juriacutedica como o alto iacutendice de

demissatildeo desemprego subempregos matildeo-de-obra barata

fomentaccedilatildeo dos contratos atiacutepicos flexibilizaccedilatildeo das normas

trabalhistas fraude aos direitos e garantias sociais instabilidade nas

relaccedilotildees empregatiacutecias formaccedilatildeo de uma classe totalmente

destituiacuteda de sindicato que possa reivindicar seus direitos e

representaacute-los aleacutem do proacuteprio enfraquecimento dos movimentos

sindicaisrdquo (Revista Juriacutedica ln Verbis UFRNCCSA v2 n 3 Natal

Ed Nordeste 1996 p 174 181)

A exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra de mulheres e crianccedilas tambeacutem foi

intensificada no Brasil principalmente a partir do governo do Presidente Fernando

Collor de Mello (1990 a 1992) diretamente relacionado com o processo de

terceirizaccedilatildeo O trabalho infantil proibido por lei e por isso clandestino retira grande

parte das crianccedilas das escolas e de pouco ou quase nada valem as campanhas ou

fiscalizaccedilotildees frequumlentes contra ele jaacute que a necessidade eacute um contra-aliado de peso num

paiacutes onde 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo do niacutevel de pobreza (Brasil O Livro dos

500 anos p 112 Satildeo Paulo 1996) Ainda de acordo com o socioacutelogo Joseacute de Moura

Martins 40 mil dos 85 mil casos de trabalho escravo no paiacutes nos uacuteltimos 20 anos

envolviam meninos e meninas (Cadernos do Terceiro Mundo Rio de Janeiro v21 n

188 p 1619 ago 1995)

Para conseguir preccedilos melhores e qualidade mais alta em sua guerra

internacional contra os concorrentes empresas tambeacutem tecircm aumentado muito os seus

iacutendices de automaccedilatildeo A maior velocidade no processo de fabricaccedilatildeo garante menores

custos e consequumlentemente a possibilidade de colocar o produto no mercado com

preccedilos mais reduzidos liquidando ainda mais postos de trabalho

Por incriacutevel que pareccedila uma legislaccedilatildeo que protege e encarece o

trabalho tem levado ao aumento de desemprego nos paiacuteses que adotam essas garantias

jaacute que satildeo provavelmente excluiacutedos de muitos projetos de investimento Ficou tatildeo

dispendioso contratar um trabalhador europeu com a sua pilha de benefiacutecios que as

grandes corporaccedilotildees europeacuteias estatildeo transportando seus novos negoacutecios para fora do

continente (30 mundo) e natildeo haacute nada que os governos europeus possam fazer

Hoje para empresas que operam em escala mundial a origem da

tecnologia da mateacuteria prima e do trabalho natildeo tem a menor importacircncia desde que seu

custo seja baixo e sua qualidade alta Assim obtecircm natildeo soacute maiores lucros mas melhores

condiccedilotildees para enfrentar as crises trabalhistas sobretudo nos paises do terceiro mundo

onde os governos locais se encarregam de reprimir os sindicatos as organizaccedilotildees

populares e suas manifestaccedilotildees A vantagem econocircmica dos paises industrializados tem

aumentado tambeacutem graccedilas a reduccedilatildeo da dependecircncia de mateacuterias primas de fonte uacutenica

gerada pelo maior dinamismo das relaccedilotildees comerciais

Com isso o aumento vertiginoso do desemprego pode gerar nos

proacuteximos anos uma crise social de proporccedilotildees nunca vistas Com a economia sendo

cada vez mais internacionalizada os conflitos tambeacutem se generalizam Soacute para se ter

uma ideacuteia a Alemanha estaacute com a taxa de desemprego mais alta desde a II Guerra

Mundial (Antenor Nascimento Neto 1996) O desemprego tambeacutem atingiu 23 da

populaccedilatildeo economicamente ativa na Espanha e atinge agora os niacuteveis mais elevados

desde a grande depressatildeo dos anos 30 de acordo com o especialista americano Jeremy

Rifkim no seu livro O Fim do Emprego O mercado de trabalho deixa espaccedilos cada vez

maiores para o crescimento da economia informal que vem se transformando na forma

moderna de ajuste do mercado (moderna porque se produz em um contexto de

modernizaccedilatildeo capitalista)

Outra consequumlecircncia desastrosa da investida neoliberal e do consequumlente

processo de globalizaccedilatildeo estaacute no desaparecimento das fronteiras nacionais Os governos

natildeo conseguem mais deter os movimentos do capital internacional Essa hegemonia do

capital financeiro internacional toma-se uma faca de dois gumes na medida em que

vem mascarar as reservas cambiais nacionais criando uma falsa ilusatildeo de que satildeo

soacutelidas quando na verdade o que se tem de fato eacute tecircm aumentado muito os seus iacutendices

de automaccedilatildeo A maior velocidade no processo de fabricaccedilatildeo garante menores custos e

consequumlentemente a possibilidade de colocar o produto no mercado com preccedilos mais

reduzidos liquidando ainda mais postos de trabalho

Por incriacutevel que pareccedila uma legislaccedilatildeo que protege e encarece o

trabalho tem levado ao aumento de desemprego nos paiacuteses que adotam essas garantias

jaacute que satildeo provavelmente excluiacutedos de muitos projetos de investimento Ficou tatildeo

dispendioso contratar um trabalhador europeu com a sua pilha de benefiacutecios que as

grandes corporaccedilotildees europeacuteias estatildeo transportando seus novos negoacutecios para fora do

continente (30 mundo) e natildeo haacute nada que os governos europeus possam fazer

Hoje para empresas que operam em escala mundial a origem da

tecnologia da mateacuteria prima e do trabalho natildeo tem a menor importacircncia desde que seu

custo seja baixo e sua qualidade alta Assim obtecircm natildeo soacute maiores lucros mas melhores

condiccedilotildees para enfrentar as crises trabalhistas sobretudo nos paises do terceiro mundo

onde os governos locais se encarregam de reprimir os sindicatos as organizaccedilotildees

populares e suas manifestaccedilotildees A vantagem econocircmica dos paises industrializados tem

aumentado tambeacutem graccedilas a reduccedilatildeo da dependecircncia de mateacuterias primas de fonte uacutenica

gerada pelo maior dinamismo das relaccedilotildees comerciais

Com isso o aumento vertiginoso do desemprego pode gerar nos

proacuteximos anos uma crise social de proporccedilotildees nunca vistas Com a economia sendo

cada vez mais internacionalizada os conflitos tambeacutem se generalizam Soacute para se ter

uma ideacuteia a Alemanha estaacute com a taxa de desemprego mais alta desde a II Guerra

Mundial (Antenor Nascimento Neto 1996) O desemprego tambeacutem atingiu 23 da

populaccedilatildeo economicamente ativa na Espanha e atinge agora os niacuteveis mais elevados

desde a grande depressatildeo dos anos 30 de acordo com o especialista americano Jeremy

Rifkim no seu livro O Fim do Emprego O mercado de trabalho deixa espaccedilos cada vez

maiores para o crescimento da economia informal que vem se transformando na forma

moderna de ajuste do mercado (moderna porque se produz em um contexto de

modernizaccedilatildeo capitalista)

Outra consequumlecircncia desastrosa da investida neoliberal e do consequumlente

processo de globalizaccedilatildeo estaacute no desaparecimento das fronteiras nacionais Os

governos natildeo conseguem mais deter os movimentos do capital internacional Essa

hegemonia do capital financeiro internacional toma-se uma faca de dois gumes na

medida em que vem mascarar as reservas cambiais nacionais criando uma falsa ilusatildeo

de que satildeo soacutelidas quando na verdade o que se tem de fato eacute dinheiro especulativo As

poliacuteticas neoliberais tecircm se apresentado como as mais capacitadas para atrair esse

capital flutuante de modo a financiar um novo ciclo de desenvolvimento O dinheiro

volaacutetil gira pelos vaacuterios mercados financeiros mundiais como o das bolsas de valores

do Cacircmbio ou dos juros Essa situaccedilatildeo tem levado ao reforccedilo de atividades

especulativas em detrimento de atividades produtivas acentuando o caraacuteter negativo

do sistema capitalista Como se natildeo bastasse apesar do capital volaacutetil impulsionar

negoacutecios ele soacute estaciona em paiacuteses estaacuteveis Assim transforma-se em um perigo para

os paiacuteses de economia fraca jaacute que o controle da inflaccedilatildeo natildeo significa necessariamente

a existecircncia de uma economia forte O proacuteprio desenvolvimento natildeo se reduz a

simples crescimento econocircmico Para ser autecircntico deve ser integral (Paulo VI In

Populorom Progressio n14 Editora Borges)

O exemplo mais marcante da perda do controle do movimento do

capital externo foi o Meacutexico que no final de 94 quebrou quando o dinheiro volaacutetil que

laacute estava fugiu

Eacute inegaacutevel tambeacutem Que a retraccedilatildeo das estruturas do capitalismo de

Estado tem gerado privatizaccedilotildees Que vecircm desmontando instrumentos fundamentais de

soberania dos paiacuteses em desenvolvimento reforccedilando e intensificando ainda mais a

domina catildeo imperialista sobre esses paiacuteses Que jaacute eram dependentes Estes satildeo

literalmente chantageados tornando-se refeacutens da necessidade de criar condiccedilotildees

vantajosas para a atraccedilatildeo do capital itinerante dos mercados globalizados

Aleacutem de vaacuterias outras consequumlecircncias terriacuteveis que ainda natildeo foram

enumeradas uma das piores eacute o agravamento das desigualdades sociais e a polarizaccedilatildeo

entre ricos e pobres Enquanto alguns paiacuteses andam mais depressa regiotildees inteiras

ficam para traacutes acentuando ainda mais o processo de exclusatildeo fragmentaccedilatildeo e

segmentaccedilatildeo social A iniquumlidade social decorrente da maacute distribuiccedilatildeo de rendas soacute tem

agravado este quadro concentrando a fortuna no bolso de uns poucos e deixando

bilhotildees de pessoas na miseacuteria

A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo a populaccedilatildeo dos paiacuteses desenvolvidos diminuiu de

262 em 1980 para 242 em 1990 Enquanto isso concentrou maior parcela da

riqueza mundial pois em 1980 detinha 773 do PNB (Produto Nacional Bruto)

mundial e passou a ter 831 em 1990 Em 1962 20 da populaccedilatildeo mundial mais rica

concentrava 30 vezes mais renda do que 20 da populaccedilatildeo mais pobre Jaacute em

199420 dos ricos concentravam 60 vezes mais do que os mesmos 20 da populaccedilatildeo

mais pobre (Cadernos do Terceiro Mundo n 188 p 4 ago 1996) Ainda de acordo

com um estudo recente realizado pela ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) cerca de

um bilhatildeo de seres humanos vivem em miseacuteria absoluta mais de um bilhatildeo passa fome

e quase a mesma quantidade eacute analfabeta O proacuteprio BID em dezembro de 1990

admitiu que os governos impulsionaram grandes mudanccedilas econocircmicas mas uma vez

mais as estruturas sociais permaneceram inalteradas e os programas de ajuste tenderam

a agravar as desigualdades (Cadernos do Terceiro Mundo n 188 p 26 ago 1995)

Vecirc-se assim que a estrutura econocircmica atual eacute incapaz de dar condiccedilotildees de vida para

toda a populaccedilatildeo

Em contrapartida muitos paises vecircm se conscientizando desta

realidade opressora levando a gerar problemas nos processos de estabilizaccedilatildeo nas

economias emergentes As vitoacuterias eleitorais dos ex-comunistas em paises do Leste

europeu e na Ruacutessia a greve contra a reforma previdenciaacuteria na Franccedila a intensificaccedilatildeo

dos movimentos internacionais sindicais - como a FSM (Federaccedilatildeo Sindical Mundial)

CMT (Confederaccedilatildeo Mundial do Trabalho) e CISL Confederaccedilatildeo Internacional de

Sindicatos Livres) a greve geral de 36 horas que parou a Argentina no uacuteltimo dia 26 de

setembro contra a recessatildeo e a perda da legislaccedilatildeo trabalhista e mesmo a criaccedilatildeo do

Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon) no Brasil representam uma

seacuterie de sinais pontuais de que as sociedades comeccedilam a reagir politicamente contra o

neoliberalismo e o desmonte social patrocinado por ele (Fontes Jornal Nacional 26 set

Rede Globo e Cadernos do Terceiro Mundo n 188 ago 1995)

4 - CONTEXTO NACIONAL

A inserccedilatildeo do Brasil nesta conjuntura econocircmica mundial tambeacutem

ocorreu a partir da implantaccedilatildeo das poliacuteticas neoliberais sugeridas por Instituiccedilotildees

Financeiras Internacionais Nota-se dessa forma que o pais natildeo foge agrave regra do contexto

mundial

Foi mais precisamente com a posse do governo Collor em 1990 que a

ofensiva neoliberal efetivamente tomou corpo Apoacutes o impeachment ela passou por um

periacuteodo de estagnaccedilatildeo mas foi retomada a todo vapor com a eleiccedilatildeo de Fernando

Henrique Cardoso em 1994

Eacute essencial observar de que maneira a economia brasileira vai se

incluindo nesse contexto internacional bem como analisar os objetivos da ideologia

neoliberal propagada por FHC

Jaacute em seu discurso de posse o Presidente afirmou que o grande desafio

da presente situaccedilatildeo brasileira eacute precisamente este a inserccedilatildeo do Brasil no sistema

produtivo internacional para servir os interesses nacionais e populares (Folha de Satildeo

Paulo 100794) Soacute resta saber a quais interesses nacionais e populares ele se refere

se satildeo os do Brasil ou das grandes potecircncias que querem se aproveitar da situaccedilatildeo De

qualquer forma ele continua sua explicaccedilatildeo sustentando ser necessaacuterio um Estado

reformado capaz de abrir-se eficazmente agraves pressotildees e aos interesses da populaccedilatildeo

especialmente da maioria de pobres que vive uma cidadania incompleta

Ai criam-se novas promessas privatizar reformar o Estado a

Previdecircncia Social como condiccedilotildees para que os mais pobres possam viver uma

cidadania completa Enquanto isso a massa dos brasileiros recebe aposentadorias e

pensotildees irrisoacuterias depois de trabalhar 30 ou 35 anos ao mesmo tempo em que os

parlamentares privilegiados tecircm esses benefiacutecios com agraves vezes apenas oito anos de

mandato

Para colocar em praacutetica seus objetivos a classe dominante vem

utilizando a miacutedia de uma forma indiscriminada destruindo o que a populaccedilatildeo deveria

possuir de melhor seu senso critico e sua dignidade Na ideologia difundida por esta

classe privilegiada interesses particulares manifestam-se como se fossem de interesse

geral impedindo os grupos subalternos de visualizarem sua real situaccedilatildeo e de

exprimirem suas proacuteprias aspiraccedilotildees Fala-se do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo quase

como se fossem acontecimentos naturais como se natildeo tivessem sido decididos por

mentes poderosas De fato um dos maiores ecircxitos do liberalismo contemporacircneo

neoliberalismo consiste em haver ganho adeptos entre suas viacutetimas

A TV (meio de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de alienaccedilatildeo que utiliza a

transmissatildeo e recepccedilatildeo de imagens visuais) eacute inundada com o slogan de Privatizaccedilatildeo

Democraacutetica - Apoacuteie essa Ideacuteia tentando convencer a populaccedilatildeo do Brasil de que a

soluccedilatildeo das dificuldades seraacute resolvida atraveacutes de reformas e privatizaccedilotildees o que natildeo eacute

verdade Nada mais satildeo do que uma forma de esconder os problemas estruturais do

Estado

Em seu programa de governo batizado de Matildeos agrave Obra Brasil FHC

prometeu acelerar as privatizaccedilotildees para abater a diacutevida puacuteblica aumentar investimentos

e ajudar na reforma do Estado Com isso pretende-se modificar a Constituiccedilatildeo alterar

leis e mudar haacutebitos para evitar o retorno da inflaccedilatildeo descontrolada e estimular o

crescimento da economia (ou pelo menos essa eacute a justificativa) Dessa forma qualquer

semelhanccedila com as reformas neoliberais - receitadas pelos banqueiros internacionais - e

a atual revisatildeo constitucional brasileira natildeo eacute mera coincidecircncia

O governo atual vem propondo ao Congresso reformas de profunda

mudanccedila na estrutura social e poliacutetica do paiacutes as quais vatildeo repercutir na vida de

aproximadamente 157827834 brasileiros (estimativas oficiais da Fundaccedilatildeo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE - para 96) Assim devido ao seu alcance as

reformas de emenda agrave Constituiccedilatildeo promulgada em 05 de outubro de 1988 deveriam

ser submetidas a um plebiscito precedido de um amplo debate pelos meios de

comunicaccedilatildeo para que o povo decidisse pelo voto se deveriam ou natildeo serem postas

em vigor Contudo o Governo nem chegou a cogitar essa possibilidade em uma niacutetida

atitude autoritaacuteria apesar da oposiccedilatildeo por meio de protestos e reivindicaccedilotildees populares

Conveacutem esclarecer que o Direito como fenocircmeno social natildeo pode ficar

indiferente agraves transformaccedilotildees que ocorrem dentro da sociedade Tambeacutem eacute salutar o

controle da inflaccedilatildeo e o crescimento da economia Eacute oacutebvia a necessidade de reformas jaacute

que o estatismo brasileiro produziu burocratismo corporativismo rendas monopoacutelicas

privadas a partir de decisotildees puacuteblicas ineficiecircncia e estrangulamento da democracia

Hodiernamente tambeacutem eacute verdade que natildeo se justifica mais a presenccedila do Estado em

vaacuterios setores da economia onde o dinheiro puacuteblico eacute gasto em obras e empresas

estatais natildeo prioritaacuterias mal dimensionadas ou desnecessaacuterias transformando-se num

cabide de empregos numa fonte de votos para os poliacuteticos e de poder para os

burocratas O Senado eacute um bom exemplo dessa falta de desprendimento de parentes e

correligionaacuterios poliacuteticos onde no ano de 1989 apenas 4 dos funcionaacuterios eram

concursados aleacutem do fato de que seis em cada dez eram parentes de senadores e ex-

senadores (Casas de Escacircndalos Jornal do Brasil Rio de Janeiro p10 22 fev 1989)

Isto para natildeo se falar da tendecircncia a favorecer as zonas urbanas em detrimento das aacutereas

rurais da falta de capacitaccedilatildeo governamental da crescente corrupccedilatildeo e das estruturas

verticais A maacute administraccedilatildeo puacuteblica soacute vem agravar este quadro com o socorro de

bilhotildees de reais agrave bancos e empresas falidas gastos desnecessaacuterios com sedes luxuosas

compra e aluguel de imoacuteveis decoraccedilatildeo de gabinetes etc subsiacutedios indevidos a setores

da economia ou a grupos privilegiados de funcionaacuterios aleacutem de mordomias (despesas

particulares) pagas com dinheiro dos cofres puacuteblicos A primeira impressatildeo eacute a de que

em mateacuteria de moralidade puacuteblica tudo estaacute por fazer O que se pode esperar de um

paiacutes onde o sistema eacute duro cruel e intransigente

Todavia o Estado natildeo pode sucumbir como principal agente da

instituiccedilatildeo e da garantia da ordem normativa e juriacutedica da sociedade Ele deve reforccedilar

sob novas formas e alternativas as suas funccedilotildees baacutesicas de promotor do bem-estar

social e da sociedade de equiliacutebrio com poliacuteticas positivas de garantia dos trabalhadores

e dos direitos humanos O Direito como harmonizador das relaccedilotildees sociais

intersubjetivas tambeacutem deve procurar se ajustar agraves mudanccedilas e agraves novas realidades

sem deixar de ter como aspiraccedilatildeo uma sociedade melhor e mais justa Tanto o Estado

como o Direito satildeo ferramentas desta para que seja constituiacuteda de indiviacuteduos felizes

Entretanto para salvar o capitalismo o neoliberalismo parece estar

disposto a sacrificar os direitos sociais conquistados a duras penas pela populaccedilatildeo De

uma garantia de liberdade e proteccedilatildeo a lei parece estar se transformando em uma

camisa de forccedila para o indiviacuteduo Aleacutem de legiacutetima a lei precisa ser justa De fato

nem tudo o Que eacute legal eacute justo

Compete principalmente a noacutes - cientistas professores advogados

procuradores magistrados estudantes assim como tantos outros profissionais do

Direito - impedirmos que o Estado e a proacutepria instacircncia juriacutedica tomem-se instrumentos

ao serviccedilo do desenvolvimento do crescimento e da expansatildeo em lugar de estarem ao

serviccedilo da ordem e da seguranccedila Natildeo constituiacutemos meros expectadores de uma

realidade juriacutedica exterior Ao contraacuterio participamos ativamente do processo de

construccedilatildeo da ordem juriacutedica atraveacutes de esforccedilos incessantes na investigaccedilatildeo na

interpretaccedilatildeo e na aplicaccedilatildeo do direito nos casos concretos (enquadramento de um fato

na previsatildeo de determinada norma) O operador juriacutedico nunca deve se esquecer de sua

responsabilidade para com a sociedade a qual deposita sua confianccedila naquele como

mantenedor primordial do Estado Democraacutetico de Direito ao qual todos noacutes

pertencemos

Estamos diante de uma contradiccedilatildeo Convivemos com uma moeda dita

mais valorizada que o doacutelar mas o salaacuterio natildeo daacute para atender as necessidades de

subsistecircncia da maioria da populaccedilatildeo brasileira A Constituiccedilatildeo Brasileira determina

em seu artigo 7deg inciso IV que o salaacuterio miacutenimo para o trabalhador deve ser capaz de

atender a suas necessidades vitais baacutesicas e agraves de sua famiacutelia com moradia

alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede fazer vestuaacuterio higiene transporte e previdecircncia

socialrdquo dentre outros enumerados No entanto de acordo com a medida provisoacuteria nordm

1463-3 de 260796 o salaacuterio miacutenimo atual corresponde a exatamente R$ 11200 Em

outras palavras seu valor diaacuterio corresponde a R$ 373 ou se vocecirc preferir a R$ 015 a

hora

O Brasil e principalmente o povo vecircm sendo sacrificados para manter

sua economia estaacutevel Enquanto o paiacutes eacute a deacutecima economia mundial (seu PIB eacute o

deacutecimo entre os maiores do planeta) passa para a 63ordf posiccedilatildeo quando se trata de

qualidade de vida de seus habitantes De acordo com Gilberto Paim professor de

Economia da Universidade Estaacutecio de Saacute a renda per capita dos brasileiros embora

bem maior que haacute 25 anos ainda eacute relativamente baixa US$ 320000 por ano Soacute para

se ter uma ideacuteia os 20 maiores latifundiaacuterios do Brasil detecircm 17 milhotildees de hectares o

que corresponde a aproximadamente 45 das terras Soacute aqui no Rio Grande do Norte

por volta de 100 mil famiacutelias de trabalhadores rurais ainda natildeo tecircm terra para cultivar

enfrentando uma situaccedilatildeo de penuacuteria e retaliaccedilotildees por parte da Poliacutecia Militar (O

FOacuteRUM n 2 dez 1995) Infelizmente o campo continua a produzir sangue e a terra a

gerar massacres

Enquanto isso FHC insiste em afirmar que ldquo o grande desafio do

Brasil neste final de seacuteculo justiccedila social Este seraacute o objetivo do meu governo

(seraacute)

Com esse discurso demagoacutegico o presidente continua a impor sua

poliacutetica neoliberal - ao tentar acabar com os monopoacutelios ao fazer concessotildees de

serviccedilos puacuteblicos a agilizar as privatizaccedilotildees e reformas etc - procurando atender a

interesses externos em nome da famosa ldquojusticcedila social As ldquoportas do paiacutes jaacute estatildeo

abertas aos banqueiros de qualquer parte do mundo desde agosto de 1995 podendo

comprar bancos privados participar dos que jaacute existem e abrir filiais ou agecircncias no

Brasil Essa abertura do sistema financeiro soacute aconteceu porque o governo viu nela uma

grande possibilidade de se livrar de problemas com bancos falidos o que vinha

arranhando muito a sua imagem Com essa medida o governo procurou ser ldquosimpaacutetico

e ao mesmo tempo se livrar de problemas (Revista Veja p 99 30 ago 1995)

Outra Consequumlecircncia desse modelo privatizador entrevista eacute o

esfacelamento de Induacutestrias Nacionais e Estatais Que vatildeo sucumbindo aos poucos

passando para o controle da iniciativa privada internacional abrindo novas fontes de

acumulaccedilatildeo para os grandes grupos monopolistas privados Com esse objetivo o

ministro das financcedilas do Reino Unido Kenneth Clarke veio ao Brasil no final do ano

passado a fim de prospectar possibilidades de negoacutecios para empresas britacircnicas na

Ameacuterica do Sul em especial no que diz respeito agrave privatizaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

Essa ldquoprivatizaccedilatildeo do Estado soacute vem aumentando a submissatildeo do povo brasileiro cada

vez mais aos interesses da classe social Que se encontra no topo Lamentavelmente

uma legislaccedilatildeo antipatrioacutetica tambeacutem tem permitido que grupos econocircmicos

estrangeiros dominem em proveito proacuteprio grande parte das riquezas naturais do Brasil

Para se ter uma noccedilatildeo desta desnacionalizaccedilatildeo das reservas minerais brasileiras basta

verificar as concessotildees de lavras (licenccedilas para mineraccedilatildeo) jaacute concedidas Ao contraacuterio

da tendecircncia atual deveriacuteamos procurar dar cada vez mais prestiacutegio forccedila e autoridade

para as empresas genuinamente brasileiras que realmente lutam pelo Brasil e natildeo pelo

enriquecimento da fortuna dos estrangeiros

Devemos considerar que a situaccedilatildeo econocircmica eacute delicada que a pobreza

continua a se alastrar e que o ideal de melhoria social estaacute cada vez mais longe afinal

de contas ldquomiseacuteria e democracia natildeo coexistem( Herbert de Souza o Betinho)

Essas soacute satildeo algumas consequumlecircncias negativas Infelizmente ainda

existem outras que vecircm se somar a essas e aumentar este quadro caoacutetico que se

intensifica no Brasil

O povo brasileiro precisa urgentemente se conscientizar dessa realidade

camuflada que continua atendendo a interesses variados que soacute visam a exploraccedilatildeo do

paiacutes Natildeo podemos continuar aceitando o absurdo como coisa normal

Seraacute que ldquoPara tomar consciecircncia da necessidade de mudanccedilas eacute

tambeacutem necessaacuterio ser sacudido pelos fatos pelo encontro com a injusticcedila pelos pobres

em desespero (Pierre Imberdis e Xavier Perrim) Jaacute eacute hora de assumir nosso destino

por nossa conta procurando desvendar o jogo de interesses que se esconde por traacutes dos

discursos ideoloacutegicos propagados pelos detentores do poder econocircmico-poliacutetico

Eacute preciso uma tomada de atitude que leve a pensar quem eacute que estaacute se

beneficiando mais com a reforma do Estado antes que esse processo devastador

privatize o paiacutes por completo a ponto de natildeo sobrar nada genuinamente brasileiro a natildeo

ser o nome BRASIL

5 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E SOLUCcedilOtildeES

De todo o exposto pode-se concluir que a ofensiva neoliberal tem

direcionado o Brasil a um processo de ldquoilusatildeo onde o povo eacute levado a acreditar que a

soluccedilatildeo para as iniquumlidades estaacute nas reformas Eacute imprescindiacutevel entretanto perquirir as

reais importacircncias dessas reformas e ter cautela para que destas modificaccedilotildees natildeo

decorram prejuiacutezos irreparaacuteveis para os cidadatildeos acabando com o pouco que resta do

paiacutes

A estabilizaccedilatildeo da moeda e o controle da inflaccedilatildeo tecircm sido mais

importantes do que poliacuteticas de criaccedilatildeo de empregos melhorias na sauacutede educaccedilatildeo

habitaccedilatildeo etc O neoliberalismo tem trazido a primeiro plano a palavra eficiecircncia e

relegado a plano inferior a palavra equidade Natildeo devemos e natildeo podemos nos enganar

Nos paiacuteses subdesenvolvidos como o Brasil os problemas de desenvolvimento natildeo satildeo

somente econocircmicos satildeo ainda e sobretudo humanos Eacute necessaacuterio que os governos se

empenhem a fundo para que ao desenvolvimento econocircmico corresponda o progresso

social

Tudo natildeo passa de uma nova ideologia Que visa recriar velhas formas de

acumulaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de capital utilizadas no seacuteculo XVIII e que hoje satildeo

denominadas de neoliberalismo Este transformou-se em maacutescara por detraacutes da qual os

interesses econocircmicos dominantes tiram proveito do poder poliacutetico fazendo com que os

paiacuteses mais desenvolvidos aumentem seu domiacutenio permitindo seu fortalecimento no

cenaacuterio mundial

Vale salientar que o Brasil natildeo deve se fechar completamente num

middotostracismo econocircmico-financeiro a par do resto do mundo o que fatalmente o levaria

a um entrave e a um retrocesso no desenvolvimento tecnoloacutegico agravando-se o atraso

econocircmico aumentando as dificuldades nos planos de emprego e de competitividade no

mercado internacional Nesse sentido Luiacutes Roberto Martins presidente da EDS

consultoria de Satildeo Paulo diz que middota induacutestria envelhece fica incapaz de produzir coisas

melhores e baratas a inflaccedilatildeo sobe e a capacidade de criar empregos cai (Antenor

Nascimento Neto A Roda Global Veia Rio de Janeiro 3 ab 96)

Contudo essa abertura de mercado deve se dar de forma gradativa Antes

o governo deve procurar fortalecer o mercado interno acabar com a cartelizaccedilatildeo e com

o monopoacutelio de vaacuterios setores da economia (evitando uma concorrecircncia imperfeita

onde o ofertante tem capacidade para influir ou controlar o preccedilo) etc e soacute entatildeo o paiacutes

estaraacute apto a se inserir no contexto mundial com as mesmas chances Eacute preciso uma

globalizaccedilatildeo (natildeo me refiro agravequela da TV) sem exclusatildeo Em seu artigo 219 a proacutepria

Carta Magna preza que o mercado interno bull seraacute incentivado de modo a viabilizar o

desenvolvimento cultural e s6cioecon6mico o bem estar da populaccedilatildeo e a autonomia

tecnol6gica do Pais Contudo o concreto eacute muitas vezes o inverso daquilo que as

ideacuteias dominantes manifestam

Vocecirc jaacute parou para pensar se no uacuteltimo dia 7 de setembro comemoramos

147 anos de independecircncia ou por outro lado foram mais 147 anos de subordinaccedilatildeo

domiacutenio exploraccedilatildeo interferecircncia sujeiccedilatildeo e manipulaccedilatildeo

Cabe agrave todos noacutes e principalmente a populaccedilatildeo mais esclarecida o

dever de defender os interesses nacionais e sociais que vecircm sendo usurpados como

tambeacutem conscientizar o resto da populaccedilatildeo Devemos reagir contra o simples

desmantelamento do Estado propondo reformas modemizadoras que aumentem a

eficiecircncia e que resgatem sua funccedilatildeo de promotor da justiccedila social Quero nossa naccedilatildeo

soberana independente autocircnoma livre de qualquer laccedilo ou compromisso opressor

senhora de suas proacuteprias accedilotildees um Brasil ldquobelo forte impaacutevido colasso (Joaquim

Osoacuterio Duque Estrada)

Para isso o Estado natildeo deve retirar-se totalmente da economia

procurando utilizar poliacuteticas econocircmicas eficazes para que a classe mais rica possa

estender os benefiacutecios da sauacutede da educaccedilatildeo e da previdecircncia puacuteblica aos excluiacutedos

sem que o proacuteprio Estado se tome um peso demasiado para a sociedade possibilitando

assim o acesso do povo agrave cidadania

Partindo desse pressuposto justifica-se a intervenccedilatildeo do Estado de uma

forma complementar assumindo funccedilotildees corretivas (para o controle de distorccedilotildees e

desequiliacutebrios do mercado) supletivas (para ocupar espaccedilos natildeo preenchidos pela

iniciativa empresarial privada por omissatildeo ou incapacidade) e coordenativas (para

balizar a accedilatildeo econocircmica da sociedade) Tambeacutem eacute importante a coexistecircncia da

propriedade privada e estatal dos meios de produccedilatildeo procurando conciliar o interesse

puacuteblico com o interesse privado Contudo a iniciativa empresarial deve ser mantida sob

vigilacircncia do Estado que tem por escopo preservar o bem comum Assim a adoccedilatildeo de

uma espeacutecie de intervencionismo moderado eacute salutar um meio termo entre a liberdade

econocircmica absoluta e o total controle do Estado sobre a economia sendo sempre este

fiscalizado pela naccedilatildeo

Naccedilatildeo esta que tem obrigaccedilatildeo de contribuir natildeo apenas com denuacutencias

Ser cidadatildeo natildeo eacute acomodaccedilatildeo Eacute participaccedilatildeo A cidadania tem que ser permanente a

noacutes cabe fiscalizar agir pressionar cobrar - a cada momento e sempre

O desejo do povo deve ser conjugado ao enorme potencial econocircmico do

paiacutes soacute assim os maiores problemas poderatildeo ser ultrapassados Eacute um desafio a longo

prazo afinal de contas satildeo quase 500 anos de exploraccedilatildeo mas que eacute possiacutevel se unirmos

nossas forccedilas middotPor que esperar se podemos comeccedilar tudo de novo Agora mesmo A

humanidade eacute desumana Mas ainda temos chance O sol nasce para todos Soacute natildeo sabe

quem natildeo quer (Dado Villla-Lobos Renato Russo Marcelo Bonfaacute)

Temos que ter propostas poliacuteticas proacuteprias para grandes temas nacionais

no campo social como por exemplo a educaccedilatildeo e a reforma agraacuteria que estatildeo tatildeo em

evidecircncia hoje em dia

Quando natildeo fornecemos ao individuo a condiccedilatildeo de construir a si mesmo

(constructor sur) natildeo podemos esperar que se construa sadiamente Em contrapartida

um povo educado toma-se mais esclarecido e informado da sua real situaccedilatildeo fazendo

com que deixe sua apatia de lado e se organize para exigir seus direitos Quanto mais

desenvolve sua educaccedilatildeo quanto mais assimila e analisa conhecimentos e experiecircncias

mais reflete o indiviacuteduo sobre o processo em que estaacute imerso tomando-se mais

politizado (questionador) e mais reflexivo (autoquestionador)

O governo contudo natildeo tem interesse em proporcionar uma educaccedilatildeo de

qualidade O Brasil tem hoje a terceira maior taxa de evasatildeo escolar do mundo atraacutes

somente do Haiti e GuineacuteBissau causada em grande parte pela necessidade dos

menores reforccedilarem o orccedilamento familiar (satildeo cerca de sete milhotildees e meio de crianccedilas

e adolescentes entre 10 e 17 anos) O nuacutemero de analfabetos ultrapassa atualmente os

17 milhotildees ou seja mais de 16 da populaccedilatildeo acima de 14 anos Estima-se que no

ano 2000 esse nuacutemero poderaacute chegar aos 23 milhotildees representando uma populaccedilatildeo

que supotildee-se seraacute em tomo dos 180 milhotildees (Brasil o livro dos 500 anos p 112 Satildeo

Paulo 1996) Assim uma grande parcela natildeo tem acesso agrave educaccedilatildeo constituindo

apenas matildeo-de-obra barata massa de manobra poliacutetica e da miacutedia Esta triste realidade

natildeo eacute novidade apesar da educaccedilatildeo receber na Constituiccedilatildeo atual um tratamento bem

mais detalhado que nas anteriores

Dentre os princiacutepios que tratam do tema podem-se destacar a

gratuidade do ensino puacuteblico a valorizaccedilatildeo dos profissionais do ensino e a garantia do

padratildeo de qualidade (art 206 incisos IV V e VII respectivamente) Contudo por que

seraacute que o ensino privado se prolifera os professores da rede puacuteblica satildeo mal

remunerados e os alunos reclamam das condiccedilotildees educacionais

Vecirc-se o caso das Universidades por exemplo a Universidade Privada

estaacute sendo comprada por parte da sociedade que natildeo consegue vaga ou teme a

competiccedilatildeo para o ingresso na Universidade Puacuteblica como a soluccedilatildeo para o ensino

superior quando sabe-se que 80 de todos os estudantes universitaacuterios brasileiros

entram na rede privada poreacutem 60 de todos os formados saem eacute da rede puacuteblica Das

873 entidades existentes no ensino de 3deg grau apenas 25 satildeo puacuteblicas (opcitp) O

mais grave ao se pretender tirar do Estado a responsabilidade peAacutea Universidade

Puacuteblica eacute que aleacutem da maioria natildeo poder pagar a escola privada o fato da

Universidade natildeo precisar se submeter a um mercado perifeacuterico ajuda a garantir a

independecircncia do proacuteprio paiacutes constituindo uma frente fundamental ao

desenvolvimento

A reforma agraacuteria tambeacutem vem responder ao interesse paacutetrio do Brasil e

de toda a sociedade uma vez que sua efetivaccedilatildeo representa avanccedilo econocircmico e social

Soacute a pequena propriedade familiar atende a 75 do consumo nacional Todavia natildeo

basta dar terras Da mesma forma eacute preciso um apoio governamental dando condiccedilatildeo

para sua concretizaccedilatildeo O paiacutes deve fortalecer suas administraccedilotildees estimular as

empresas de base e os pequenos agricultores para garantir um desenvolvimento de baixo

para cima e aprofundar as instituiccedilotildees democraacuteticas

Essas soacute foram algumas condiccedilotildees enumeradas para se reverter esse

quadro de abandono em que se encontra a maioria da populaccedilatildeo que eacute quem sofre as

piores consequumlecircncias desse descaso Infelizmente satildeo comuns entre noacutes as leis que

ficam apenas no papel enquanto o mundo real segue outras normas

Soacute a partir da exigecircncia de seus direitos eacute que o povo estaraacute apto a

readquirir sua cidadania jaacute que como disse Renato de Oliveira candidato a presidecircncia

da ANDES (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituiccedilotildees de Ensino Superior)

direitos natildeo defendidos satildeo direitos perdidos

Destarte justifica-se a mensagem deixada pela Declaraccedilatildeo Final da IX

Conferecircncia Continental Americana de Juristas realizada em Porto Alegre no ano de

19910 neoliberalismo busca destruir os fundamentos do trabalho A crise provocada

pelas classes dominantes natildeo pode servir de argumento para chantagem internacional

com a consequumlente agudiccedilatildeo das desigualdades sociais e a perda pelos trabalhadores de

suas conquistas atraveacutes da preterida f1exibilizaccedilatildeo das normas laborais

Apesar das previsotildees pessimistas ainda natildeo eacute tarde demais Natildeo existe

um mundo pronto e acabado no qual o homem seja uma criatura passiva Existe o

mundo que o homem faz em que ele estaacute e transforma Mesmo aquele que nada faz

para mudar estaacute fazendo o mundo um mundo irremediaacutevel

Soacute resta esperar que noacutes brasileiros reflitamos a respeito da ofensiva

neoliberal em que estamos nos inserindo pesando bem os proacutes e os contras a fim de

evitar que o pais seja levado a um caminho de consequumlecircncias nefastas Se queremos

amenizar as injusticcedilas melhorar os serviccedilos puacuteblicos dar melhores perspectivas ao

Brasil objetivando um desenvolvimento auto sustentado jaacute eacute hora de acordar esse

Gigante pela proacutepria natureza () Deitado eternamente em berccedilo esplecircndido (trechos

do Hino Nacional Brasileiro) procurando analisar a gravidade dos problemas sociais e

das verdadeiras causas de cada um unindo nossas forccedilas como resultado de uma

vontade nacional agindo principalmente e antes de tudo como cidadatildeos conscientes

Aiacute quem sabe um dia o preacircmbulo da Constituiccedilatildeo Federal se tome

realidade quando todos noacutes viveremos em ldquo um Estado Democraacutetico destinado a

assegurar o exerciacutecio dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-

estar o desenvolvimento a Igualdade e a justiccedila como valores supremos de uma

sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO v 21 n188 Rio de Janeiro

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Natal 20 ago de 1995

CARDOSO Otomar Lopes A diplomacia do subdesenvolvimento

Natal UFRN1979

BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA Rio de

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DUARTE Gleuso Damasceno ANDRADE Durval Atildengelo Novo

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FERNANDES Luiacutes Os fundamentos da ofensiva neoliberal

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GENOINO Joseacute O neoliberalismo na contra prova Folha de Satildeo Paulo

Satildeo Paulo 2 jan 1996

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MIAILLE Michel Introduccedilatildeo criacutetica ao direito Lisboa Estampa 1994

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NEVES Marcelo Encontro Regional dos Estudantes de Direito - ERED

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PATUacute Gustavo DIAS Otaacutevio Folha de Satildeo Paulo 30 dez 1995

REVISTA DO MERCOSUL Rio de Janeiro Ed Terceiro Mundo n31 ago de 1995

REVISTA JURIgraveDICA IN VERBIS v2 n3 Natal Ed Nordeste 1996

REVISTA VEJA 11 de janeiro de 1995

________ Terreno livre - paiacutes se abre aos bancos estrangeiros 30 de

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RODRIGUES Leocircncio Martins O furacatildeo neoliberal Folha de Satildeo

Paulo Satildeo Paulo 4 set 1995

RODRIGUES NETO Joatildeo TEIXEIRA Roosenez de C Neoliberalismo

para o terceiro mundo O Poti Natal 23 jul 1995

_________ Desindexaccedilatildeo as duas faces do plano real O Poti Natal 23

jul 1995

_________ Plano real por quem os sinos dobram Gazeta do Oeste 4

set 1994

_________ A conjuntura econocircmica e o mercado de trabalho Diaacuterio de

Natal 7 jun 1996

VICENTINO Claacuteudio SCALZARETTO Reinaldo Nova ordem

internacional

AUTORIDADE COATORA EM MANDADO DE SEGURANCcedilA -

ANAacuteLISE COM BASE EM CASO CONCRETO

Luana Pedrosa de Figueiredo Cruz

Acadecircmica do 8ordm periacuteodo do Curso de Direito UFRN

Monitora da disciplina de Direito Civil VI - Direito de Famiacutelia

CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES

Com o advento da Medida Provisoacuteria ndeg 141596 e suas reediccedilotildees que

dentre outras determinaccedilotildees instituiu contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria para os servidores

inativos da Uniatildeo Federal eacute grande o nuacutemero de Mandados de Seguranccedila impetrados

pelos aposentados alegando a ilegalidade dos descontos nos seus proventos

Grande valia possui a anaacutelise do meacuterito da questatildeo poreacutem nos ateremos

ao aspecto que tange agrave parte passiva da Accedilatildeo

Anteriormente agrave anaacutelise que se seguiraacute satildeo necessaacuterios alguns conceitos

e breves consideraccedilotildees

MANDADO DE SEGURANCcedilA

Garantia Constitucional que eacute usando as palavras do Mestre Marcelo

Navarro Ribeiro Dantas ldquoo mandado de seguranccedila eacute remeacutedio constitucional emanado

do direito puacuteblico e destinado a proteger direitos liacutequidos e certos violados pela

autoridade puacuteblica desde que estes natildeo sejam amparados por habeas corpus ou habeas

data

Pode ser accedilatildeo de cogniccedilatildeo constitutiva declaratoacuteria ou condenatoacuteria

Por direito liacutequido e certo entende-se o incontestaacutevel com fato certo e

legalmente fundamentado Segundo Castro Nunes ldquose a norma de direito positivo

incidindo sobre fatos incontroversos criasse um direito teriacuteamos caracterizado entatildeo o

direito liacutequido e certo Jurisprudecircncia (desde o Supremo) e doutrina predominantes

hoje em dia entendem como direito liacutequido e certo para fins de seguranccedila aquele que

pode ser objeto de prova preacute-constituiacuteda porque o rito especialiacutessimo do mandado de

seguranccedila natildeo admite dilaccedilatildeo probatoacuteria

Assim a suposta lesatildeo ou ameaccedila do direito deve ser pertinentemente

provada quando da propositura da accedilatildeo de seguranccedila

AUTORIDADE COATORA

Questatildeo ainda bastante controversa eacute a de quem deve ocupar o poacutelo

passivo na relaccedilatildeo processual instaurada no Mandado de Seguranccedila

Primeiramente eacute necessaacuterio que se faccedila a distinccedilatildeo entre autoridade

puacuteblica e agente puacuteblico Este pratica atos meramente executoacuterios natildeo tem poder de

decisatildeo pois apenas cumpre ordem superior Aquele possui poder decisoacuterio na praacutetica

dos atos administrativos

Observe-se o dispositivo da lei nordm 153351 art 1ordm sect1ordm ldquoConsideram-

se autoridades para os efeitos desta lei os administradores ou representantes das

entidades autaacuterquicas e das pessoas naturais ou juriacutedicas com funccedilotildees delegadas do

Poder Puacuteblico somente no que entende com essas funccedilotildees

Deve-se considerar que os atos praticados por pessoas ou instituiccedilotildees

particulares cuja atividade seja apenas autorizada pelo Poder Puacuteblico natildeo satildeo passiacuteveis

de Mandado de Seguranccedila pois natildeo estatildeo desempenhando atividade delegada eacute o

entendimento extraiacutedo da Suacutemula 510 do STF

Tomando como exemplo a educaccedilatildeo um direito puacuteblico subjetivo para

que uma instituiccedilatildeo particular de ensino seja passiacutevel de Mandado de Seguranccedila eacute

preciso que o seu responsaacutevel pratique ato ilegal ou abusivo no tocante

especificamente agrave violaccedilatildeo do direito citado como por exemplo recusar-se

inexplicadamente a aceitar aluno o que natildeo seria cabiacutevel se fosse ato meramente de

administraccedilatildeo interna

Assim sendo autoridade coatora eacute quem praticou accedilatildeo ou omissatildeo

ferindo o direito liquido e certo do impetrante devendo excluir-se o que apenas

recomenda e estabelece normas para a execuccedilatildeo ou abstenccedilatildeo

Apesar de divergentes as linhas de pensamento tome-se como

predominante o entender de Hely Lopes Meirelles segundo o qual a impetraccedilatildeo deve

ser sempre dirigida contra a autoridade que tenha poderes e meios para praticar o

ato ordenado pelo Judiciaacuterio discordando assim das consideraccedilotildees de Pontes de

Miranda nas quais o coator eacute o executor da ordem salvo em praacutetica de ato por

obediecircncia a ordem direta

A autoridade coatora entatildeo eacute aquela que possui competecircncia e

instrumento juriacutedico que a habilite a desfazer o ato desde que lhe determine o

Judiciaacuterio

Portanto se o executor da ordem natildeo possui esses meios afastado estaacute

do poacutelo passivo a natildeo ser que aleacutem de ordenador seja ele tambeacutem o executor

CASO CONCRETO

Passando agora para a problemaacutetica atual tomemos o exemplo citado no

iniacutecio deste trabalho

Recentemente foi impetrado writ contra ato de autoridade do Secretaacuterio

de Recursos Humanos do Tribunal Regional Eleitoral no Rio Grande do Norte

alegando a ilegalidade do ato

O caso merece anaacutelise Observe-se a seguinte ementa

PROCESSO CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA I AUTORIDADE

COATORA Autoridade Coatora no mandado de seguranccedila eacute aquela que

tem a responsabilidade funcional de defender o ato impugnado Nos

mandados de seguranccedila preventivos que visam a inibir lanccedilamentos de

oficio a propoacutesito de tributos por homologaccedilatildeo essa autoridade eacute o

chefe do Oacutergatildeo em que estaacute lotado o agente fazendaacuterio que pratica os

atos de fiscalizaccedilatildeo 2 ERRO NA INDICACcedilAtildeO DA AUTORIDADE

COATORA EXTINCcedilAtildeO DO PROCESSO SEMJULGAMENTO DE

MEacuteRITO Se a impetraccedilatildeo for mal endereccedilada vale dizer se apontar

COl1l0 autoridade coatora quem natildeo tem a responsabilidade funcional

de defender o ato impugnado o processo deve ser extinto sem

julgamento de meacuterito Recurso ordinaacuterio improvido Recurso em

Mandado de Seguranccedila nordm 4897-6 _ SP Rei Min Ari Pargendler DJU

091095 Seccedilatildeo I p33536)

Trazendo o raciociacutenio para o caso sob anaacutelise atente-se tambeacutem para o

art 96 da Constituiccedilatildeo Federal que diz o seguinte

Compete privativamente

J - aos tribunais

a) eleger seus oacutergatildeos diretivos e elaborar seus regimentos internos

com observacircncia das normas de processo e das garantias

processuais das partes dispondo sobre a competecircncia e o

funcionamento dos respectivos oacutergatildeos jurisdicionais e

administrativos

b) organizar suas secretarias e serviccedilos auxiliares e os dos juiacutezos

que Ihes forem vinculados velando pelo exerciacutecio da atividade

correicional respectivardquo

Portanto eacute cristalino que os TREs satildeo dotados de autonomia

administrativa

In casu os descontos foram determinados pelo Presidente do oacutergatildeo

que eacute o ordenador de despesas segundo as informaccedilotildees processuais fornecidas nos

autos

Assim sendo natildeo pode o secretaacuterio de recursos humanos do tribunal ser

responsabilizado por cumprir ordem a que estaacute hierarquicamente submetido pois

mesmo que assim o desejasse natildeo seria competente por ser mero executor material O

Presidente do TRE sendo o ordenador de despesas assume a responsabilidade e

deveria estar no poacutelo passivo nesta demanda judicial

Este caso eacute deveras especiacutefico pois a questatildeo relacionada aos tribunais

diverge de outras situaccedilotildees onde seria possiacutevel responsabilizar o chefe do setor de

recursos humanos haja vista a possibilidade de delegaccedilatildeo de responsabilidade dentro

da estrutura administrativa do oacutergatildeo

Haacute tambeacutem a situaccedilatildeo dos quadros de pessoal das autarquias e

fundaccedilotildees puacuteblicas do Poder Executivo da Uniatildeo e administraccedilatildeo direta gerenciada

por um oacutergatildeo ligado ao Ministeacuterio da Administraccedilatildeo Federal e Reforma do Estado -

MARE (Lei 908295 art 36 Medida Provisoacuteria 134296 art 14 aliacutenea f Decreto

1412 de 070395 e Portaria 978 de 270396 do MARE Aqui observa-se a retirada

da competecircncia para o MARE e a respectiva autoridade coatora natildeo para o executor

material da ordem

Para fins de competecircncia antes de dirigir-se ao caso em tela eacute mister

esclarecer que a fixaccedilatildeo do juiacutezo competente independe da natureza do ato Deve ser

levado em conta a sede e categoria funcional da autoridade Acrescente-se que o fato de

o Mandado ser impetrado por exemplo perante as Justiccedilas Trabalhista ou Eleitoral natildeo

modifica a sua denominaccedilatildeo posto que eacute regido pelas mesmas normas e a diferente

competecircncia natildeo modifica a essecircncia do instituto

Deve entatildeo neste caso objeto de nossa anaacutelise o writ ser impetrado

perante o proacuteprio TRE contra seu Presidente em face da autonomia administrativa

pois competente eacute a sede funcional a qual pertence a autoridade coatora

Finalizando a soluccedilatildeo neste Mandado eacute a extinccedilatildeo do processo sem

julgamento de meacuterito posto que a autoridade foi erroneamente apontada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

COGAN JOSEacute DAMIAtildeO PINHEIRO MACHADO - Mandado de

Seguranccedila na Justiccedila Criminal e Ministeacuterio Puacuteblico - Saraiva 2 a ediccedilatildeo - Satildeo Paulo

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FERRAZ SEacuteRGIO - Mandado de Seguranccedila ( individual e coletivo)

Aspectos Polecircmicos - Malheiros 2a ediccedilatildeo - Satildeo Paulo

MEIRELLES HEL Y LOPES - MANDADO DE SEGURANCcedilA -

Accedilatildeo Popular Accedilatildeo Civil Puacuteblica Mandado de Injunccedilatildeo Habeas Datardquo - Editora RT

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VELLOSO CARLOS MAacuteRIO DA SILVA - Conceito de Direito

Liacutequido e Certo - em Curso de Mandado de Seguranccedila

Pareceres em Mandado de Seguranccedila

PINHEIRO FILHO FRANCISCO XAVIER - Procurador Regional da

Repuacuteblica no Rio Grande do Norte Processo nordm 960006286-2 setembro de 1996

TEIXEIRA ANTOcircNIO EDIacuteLIO MAGALHAtildeES - Procurador da

Repuacuteblica no Rio Grande do Norte Processo nordm 960006645 - O outubro de 1996

Eacute A JUSTICcedilA A REAL META DO DIREITO

Roberto Di Sena Junior

Acadecircmico do 2ordm periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES

Antes de respondermos agrave pergunta aparentemente simples acima

proposta devemos abordar temas que nos forneccedilam o embasamento teoacuterico necessaacuterio agrave

correta soluccedilatildeo dessa questatildeo Primeiramente devemos saber o que o Direito eacute para

em seguida podermos especular sobre qual eacute sua finalidade Essa eacute uma tarefa

extremamente complexa visto que muitas satildeo as definiccedilotildees e acepccedilotildees da palavra

DIREITO natildeo obstante a isso tentaremos ultrapassar esse toacutepico sem muitas

controveacutersias se eacute que isso eacute possiacutevel (Definitio est initium omni disputatiom)

O CONCEITO DE DIREITO

Mesmo salientando que uma uacutenica definiccedilatildeo eacute incapaz de revelar todas

as diversas facetas da palavra DIREITO Paulo Nader tenta defini-Io como sendo o

conjunto de normas de conduta social imposto coercitivamente pelo Estado para a

realizaccedilatildeo da seguranccedila segundo criteacuterios de justiccedilardquo Este conceito do meu ponto de

vista eacute deveras peculiar haja vista explicitar a finalidade do Direito e o meio (o uacutenico

salienta-se) atraveacutes do qual este pode ser concretizado Outro conceito que merece ser

destacado no presente artigo eacute Dante Alighieri no qual ele diz ldquojus est realis al

personalis hominis ad hominem proportio qual servata societatim servate corrupta

corrumptirdquo1 Em ambos os conceitos nota-se a relaccedilatildeo direta entre Direito e o

estabelecimento da ordem e a manutenccedilatildeo da paz social Contrapondo as colocaccedilotildees

anteriores poderia ser invocada a definiccedilatildeo do famoso jurista Celso para o qual o

Direito eacute a arte do bom e do justo Essa definiccedilatildeo entretanto soa-me por demais

abstrata e para isso haacute uma explicaccedilatildeo os romanos assim como os gregos natildeo

diferenciavam Direito Moral Religiatildeo e Regras de Trato Social diferentemente do

que acontece contemporaneamente Este posicionamento por muitos de caraacuteter

positivista explico entretanto que natildeo o eacute pois os adeptos desta corrente limitam o

conceito de Direito agravequilo que estaacute conforme a lei (jus = lex) ou seja ao que eacute liacutecito

relaccedilatildeo esta cujos enunciados acima natildeo se propotildeem a fazer

Transpondo a fase da definiccedilatildeo de Direito que certamente muitos

discordaratildeo do que foi anteriormente exposto passemos para o segundo poreacutem mais

controvertido item

A ABSTRACcedilAtildeO DO CONCEITO DE JUSTICcedilA

Muito se fala sobre a justiccedila e de sua importacircncia para o Direito poreacutem

quando se trata de defini-Ia quase sempre se recorre a enunciados abstratos e de certa

forma inaplicaacuteveis agrave concretude da realidade cotidiana

A concepccedilatildeo claacutessica geralmente invocada pelos juristas atuais foi

formulada por Ulpiano na Roma antiga Para ele a justitia est constans et perpetua

voluntas jus suum unique tribuendi2 Sabe-se entretanto que esta eacute uma visiacutevel

expressatildeo da separaccedilatildeo social das classes entre dominantes e espoliados Assim explica

o jurista Joatildeo Mangabeira porque se a justiccedila consiste em dar a cada um o que eacute seu

decirc-se ao pobre a pobreza ao miseraacutevel a miseacuteria ao desgraccedilado a desgraccedila que isto eacute

o que eacute deles ()rdquo Se este conceito natildeo serve para definir a justiccedila seria entatildeo o de

Aristoacuteteles o ideal A saber a justiccedila eacute a observacircncia do meio termo enquanto a

injusticcedila se relaciona com os extremos Como poderiacuteamos pocircr em praacutetica tal

concepccedilatildeo Muitos condenam a pena de morte qual seria entatildeo o meio termo para a

soluccedilatildeo deste conflito O que seria justo nesse caso

Isto posto vemos a justiccedila por ser uma ideacuteia abstrata (inatingiacutevel) natildeo

pode ser o fim de uma ciecircncia concreta como o Direito que regulamenta a vida de todos

os indiviacuteduos de uma sociedade A justiccedila tal qual sua real influecircncia que exerce sobre

o Direito poderia ser entatildeo de forma mais plausiacutevel e concreta definida como sendo o

respeito pelas expectativas compreendidas na vida em sociedade na qual cada ser

humano tenha a possibilidade de desfrutar de existecircncia social e econocircmica completa e

igual Devemos entretanto atentar para o fato de que como disse Rousseau agrave falta de

sanccedilatildeo natural satildeo vatildes as leis de justiccedila entre os homens Cabe aos juristas entatildeo

aplicar LEGIacuteTIMAS3 atraveacutes de meios justos para se atingir a meta do Direito o fim

para o qual este foi criado a seguranccedila e a manutenccedilatildeo da paz social sem as quais os

1 ldquoOu seja Direito eacute a proporccedilatildeo real e pessoal de homem para homem que conservada

conserva a sociedade e que destruiacuteda a destroacuteirdquo 2 Isto eacute justiccedila eacute a constante e firme vontade de dar a cada um o que eacute seu

3 A legitimidade das leis eacute um assunto de importacircncia salutar que no entanto natildeo nos interessa

diretamente

seres humanos natildeo poderiam satisfazer seu appetitus societatis Explicando que a

manutenccedilatildeo da ordem e da paz natildeo implicam necesssariamente na manutenccedilatildeo do

status quo o qual sendo injusto deve certamente ser alvo implacaacutevel do Direito a

fim de sua superaccedilatildeo

A SEGURANCcedilA JURIacuteDICA

A seguranccedila com a conotaccedilatildeo acima exposta natildeo pode ser

compreendida meramente como a existecircncia de uma ordem juriacutedica isto eacute o

conhecimento do que eacute liacutecito e iliacutecito Estaacute em seu mais amplo sentido haja vista o

niacutevel social alcanccedilado pelo homem natildeo eacute soacute um fato eacute tambeacutem sobretudo um valor

A preservaccedilatildeo da paz social deve ser a meta do Direito posto que foi

com essa finalidade que ele foi criado natildeo podemos eacute claro chegar ao extremo de

compartilhar da opiniatildeo de Goethe que disse prefiro a injusticcedila agrave desordem A

seguranccedila plena eacute necessaacuteria mas ela soacute se sustenta se erguida sobre os firmes

alicerces da justiccedila

Concordamos portanto com o jurista cubano Camus quando disse que

entre justiccedila e seguranccedila existe uma muacutetua compenetraccedilatildeo sendo de absoluta

necessidade a coexistecircncia de ambos para o desenvolvimento ordenado de uma

sociedade civilizada

O homem natildeo eacute auto-suficiente nem no plano material nem no

espiritual Ele eacute um animal extremamente inseguro e dependente sendo a seguranccedila e

a estabilidade uma aspiraccedilatildeo comum a

todos indistintamente

Eacute este portanto o grande dilema do Direito a conciliaccedilatildeo entre justiccedila

e seguranccedila plena natildeo se podendo conceber esta sem aquela

CONCLUSAtildeO

Chegamos entatildeo agrave conclusatildeo de que o Direito tendo em vista sua

determinaccedilatildeo histoacuterico-social tem por escopo a manutenccedilatildeo da paz e da ordem sociais

sendo a justiccedila o UacuteNICO MEIO atraveacutes do qual este objetivo pode ser alcanccedilado de

forma plena e duradoura O Direito surgiu naturalmente como uma necessidade para

que os homens pudessem viver em sociedade sendo sua funccedilatildeo limitar a conduta de

indiviacuteduos que eventualmente possam colocar em risco a paciacutefica coexistecircncia coletiva

O Direito assim como o Estado surge como garantia juriacutedica social e poliacutetica contra o

medo que os sujeitos sociais tecircm dos outros sujeitos sociais os quais atraveacutes de contrato

firmado mutuamente entre si abdicam de certos direitos individuais em prol da

satisfaccedilatildeo de sua natural necessidade de viver em sociedade A inexistecircncia do Direito

nas sociedades modernas teria por consequumlecircncia a regressatildeo do homem a seu mais baixo

niacutevel de civilidade no qual eles viveriam num estado como o descrito por Hobbes de

bellum omnium contra omnes visto que soacute consegue realizar seu destino moral

quando inserido numa sociedade Isto posto vemos que apesar de bela a ideacuteia de ter a

justiccedila como finalidade do Direito eacute meramente ideoloacutegica Eacute claro que estando o

Direito inserido no campo das ciecircncias sociais onde nenhum conhecimento pode ser

tido como absoluto as opiniotildees contidas neste artigo satildeo perfeitamente passiacuteveis de

contestaccedilatildeo natildeo se tomando apesar disso invaacutelidas

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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ROUSSEAU Jean-Jacques O contrato social e outros escritos 4 ed Satildeo

Paulo Cultrix

COMENTAacuteRIOS Agrave LEI QUE REGULAMENTA A PRODUCcedilAtildeO

DE PROVAS MEDIANTE INTERCEPTACcedilAtildeO DE COMUNICACcedilOtildeES

ROSSANA DE AR4UacuteJO ROCHA

Acadecircmica do 6deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

INTRODUCcedilAtildeO

Depois de quase oito anos de vigecircncia da mais recente Constituiccedilatildeo

Federal brasileira foi publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 25 de julho do corrente

a Lei na 9296 de 24 de julho de 1996 que regulamenta o inciso XII parte final do

artigo 50 dessa Carta Magna

O inciso do qual a lei se refere tem aqui a sua redaccedilatildeo

Ar 5deg

XIl- eacute inviolaacutevel o sigilo da correspondecircncia e das comunicaccedilotildees

telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no

uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei

estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo

processual pena1

A regulamentaccedilatildeo desse inciso define as hipoacuteteses e formas em que

poderaacute ser violado o sigilo de comunicaccedilotildees telefocircnicas que por sinal a lei incluiu

outros tipos que natildeo estatildeo previstos no inciso para o colhimento de informaccedilotildees ligadas

ao fato delituoso que poderatildeo servir como provas que atendam os objetivos de uma

investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penal

Esta lei possui certa relevacircncia pois antes de ter entrado em vigor

muitos dos magistrados se sentiam desconfortaacuteveis ou se viam impossibilitados em

autorizar tal produccedilatildeo de provas o que dificultava intensamente o trabalho daqueles que

defendem toda uma sociedade contra atos criminosos de certos indiviacuteduos apesar da

existecircncia de doutrina e jurisprudecircncia favoraacuteveis

1 Constituiccedilatildeo Federativa da Repuacuteblica do Brasil de 05 de outubro de 1988

Prestando maior atenccedilatildeo no que jaacute foi dito eacute valioso notar que os nossos

atuais legisladores se preocuparam em incluir e proteger os novos tipos de

comunicaccedilotildees provenientes de avanccedilos tecnoloacutegicos que chegam constantemente ao

nosso paiacutes quando incluiacuteram a ldquo interceptaccedilatildeo do fluxo de comunicaccedilotildees em sistema

de informaacutetica e telemaacutetica (art 1deg paraacutegrafo uacutenico da Lei 929696) ao lado das

comunicaccedilotildees telefocircnicas Vejamos o artigo mencionado

Art 1ordm A interceptaccedilatildeo de comunicaccedilotildees telefocircnicas de qualquer

natureza para prova em investigaccedilatildeo criminal e em instruccedilatildeo

processual penal observaraacute o disposto nesta Lei e dependeraacute de

ordem do juiz competente da accedilatildeo principal sob segredo de justiccedila

Paraacutegrafo uacutenico o disposto nesta Lei aplica-se agrave interceptaccedilatildeo de

fluxo de comunicaccedilotildees em sistemas de informaacutetica e telemaacutetica

Ocorreu desse modo uma evoluccedilatildeo no pensamento dos

legisladores pela precisatildeo de suprir as necessidades decorrentes dos novos tempos

Portanto conclui-se a partir dessa evoluccedilatildeo que os legisladores constitucionais natildeo

contavam com o raacutepido avanccedilo tecnoloacutegico especificamente o da Informaacutetica e da

Telemaacutetica cujo grande expoente atual eacute a Internet a nova coqueluche mundial em

termos de comunicaccedilatildeo que chegou em nosso paiacutes no ano de 1992 abrangendo apenas

o meio acadecircmico e que somente enveredou-se no acircmbito comercial a partir do ano de

1995 Sem falar em outras formas de comunicaccedilatildeo via sistemas de computador

Vale lembrar que no inciso XII do art 5deg da nossa Lei Maior somente

as comunicaccedilotildees telefocircnicas poderiam ser passiacuteveis de interceptaccedilotildees para a

produccedilatildeo de provas mediante autorizaccedilatildeo judicial Exceccedilatildeo identificada na parte em

que o legislador escreveu ldquo salvo em uacuteltimo caso

Poreacutem muitos podem afirmar que a Lei 929696 eacute inconstitucional

por natildeo estarem previstas a Informaacutetica e Telemaacutetica no inciso XII do art 5deg da

Constituiccedilatildeo Federal Mas se pensarmos bem a informaacutetica e a Telemaacutetica podem

ser consideradas como ramificaccedilotildees das comunicaccedilotildees telefocircnicas por poderem

utilizar a via telefocircnica para efetuar os seus transportes de informaccedilotildees

A Internet e o fax por exemplo necessitam do canal telefocircnico para

poderem executar suas funccedilotildees de comunicaccedilatildeo

Desse modo estariacuteamos regredindo ao limitarmos a nossa compreensatildeo

em relaccedilatildeo ao que estaacute precisamente escrito no inciso constitucional entendendo que soacute

as comunicaccedilotildees telefocircnicas tem o ldquostatus de exceccedilatildeo

Outrossim natildeo se deve entender como uma agressatildeo agrave nossa Lei Maior o

fato de terem sido incluiacutedas novas espeacutecies de comunicaccedilatildeo mas sim como uma

complementaccedilatildeo necessaacuteria para natildeo fincarmos os peacutes de vez na idade da pedra em

relaccedilatildeo ao resto do mundo

Omissotildees agrave parte a discussatildeo sobre a exclusatildeo das outras formas de

comunicaccedilatildeo previstas no inciso constitucional em relaccedilatildeo a possibilidade de sofrerem

quebra justificaacutevel de sigilo merece maiores reflexotildees em separado devido a existecircncia

de complexidade peculiar Portanto natildeo seratildeo aqui abordadas

Feitos os devidos esclarecimentos deparamo-nos com a discussatildeo maior

que eacute o conflito de princiacutepios e consequumlentemente de direitos presentes em nossa

sociedade

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

A discutida lei e o inciso que a fundamentou mereceriam maiores

elogios caso natildeo existisse o conflito entre dois direitos primordiais presentes em nossa

sociedade que satildeo o direito agrave intimidade e o interesse social

Qual desses direitos julgamos o mais importante

Tarefa difiacutecil somente facilitada quando se pode analisar cada caso

especiacutefico Procedimento natildeo tatildeo utilizado por noacutes

Deve-se repetir que eacute louvaacutevel em termos o que estaacute escrito tanto no

dispositivo constitucional como na lei ordinaacuteria cujas essecircncias visam a proteger a

individualidade de cada cidadatildeo Afinal todos noacutes temos direito a usufruirmos de nossa

proacutepria intimidade Precisamos dela

Mas temos o direito de valermos-nos desta como um esconderijo ao

prejudicarmos pessoas inocentes Ai estaacute caracterizado o impasse pois se defende e

com razatildeo o direito de cada indiviacuteduo proteger a sua intimidade em oposiccedilatildeo agrave vontade

de muitos de terem ciecircncia de atos e fatos que natildeo lhes competem Todavia em

contrapartida faz-se imprescindiacutevel a notoriedade em relaccedilatildeo a atos e fatos nocivos agrave

sociedade como tambeacutem de quem os provocou para que sejam eficazmente anulados os

prejuiacutezos decorrentes de tais condutas

Nesse uacuteltimo caso falamos especificamente de todos que usam de meios

criminosos para obterem vantagens agraves custas de um sem nuacutemero de inocentes e que

acabam tendo os seus atos e suas identidades acobertadas pela lei

Esses natildeo podem usufruir do direito agrave intimidade da mesma maneira que

as pessoas de bem usufruem Deve-se sacrificar desse modo a privacidade do

criminoso a fim de que esse seja responsabilizado pelos seus atos

Surge entatildeo uma nova pergunta seria melhor proteger mil pessoas ou

uma soacute

Muitos poderiam argumentar que a Lei ndeg 929696 foi elaborada com

esse fim ou seja proteger os inocentes e chegar ao reconhecimento dos delinquumlentes

tendo como exemplo os arts 20 caput e incisos e 3deg caput e incisos aqui

apresentados

Art 2deg Natildeo seraacute admitida a interceptaccedilatildeo de comunicaccedilotildees

telefocircnicas quando ocorrer das hipoacuteteses

I - natildeo houver indiacutecios razoaacuteveis da autoria ou participaccedilatildeo em

infraccedilatildeo penal

Il- a prova puder ser feita por outros meios disponiacuteveis

III - o fato investigado constituir infraccedilatildeo penal punida no

maacuteximo com pena de detenccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Em qualquer hipoacutetese deve ser descrita com

clareza a situaccedilatildeo objeto da investigaccedilatildeo inclusive com a

indicaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos investigados salvo

impossibilidade manifesta devidamente justificada

Art 3deg A interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas poderaacute

ser determinada pelo juiz de oficio ou a requerimento

I- da autoridade policial criminal na investigaccedilatildeo

II- do representante do Ministeacuterio Puacuteblico na investigaccedilatildeo

criminal e na instruccedilatildeo processual penal

Haacute de se concordar que somente nas hipoacuteteses definidas em lei devam

existir as possibilidades de efetuar tais interceptaccedilotildees pois eacute inadmissiacutevel que qualquer

indiscutiacutevel inocente que poderia ser muito bem um vitima em potencial sofra tal

invasatildeo ou melhor dizendo violecircncia Haacute ainda a concordacircncia em relaccedilatildeo agraves pessoas

competentes que poderatildeo efetuar esse tipo de operaccedilatildeo Aleacutem do mais natildeo podemos

ficar do lado de grampeadores hackers crackers e qualquer outro tipo de invasor

de privacidade

Merece ressalva poreacutem o que estaacute disposto no inc 111 do art 2deg da

mencionada lei que proiacutebe as interceptaccedilotildees se a infraccedilatildeo penal que estiver sendo

investigada for punida no maacuteximo com a pena de detenccedilatildeo Este inciso deve ser

revisto pois muitas dessas infraccedilotildees penais satildeo altamente lesivas como por exemplo a

caluacutenia (art 138) a difamaccedilatildeo (art 139) a injuacuteria (art 140) a sonegaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo

de correspondecircncia (art 151 sect1deg inc I) a violaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo telegraacutefica

radiotelegraacutefica ou telefocircnica (art 151 sect inc li 111 e IV) a fabricaccedilatildeo fornecimento

aquisiccedilatildeo posse ou transporte de explosivos ou gaacutes toacutexico ou asfixiante (art 253) entre

outras

Mas aonde estaacute a verdadeira critica especifica sobre a Lei 929696

Bem muitos concordam que os maiores perigos satildeo aqueles que natildeo conhecemos ou

compreendemos

Segundo a lei soacute poderatildeo ser feitas interceptaccedilotildees nos casos em que

crimes jaacute tenham sido cometidos mas em muitos a tentativa de interceptar informaccedilotildees

importantes para o enriquecimento de investigaccedilotildees criminais e investigaccedilotildees

processuais penais natildeo mais possuem ecircxito por cuidados vaacuterios que os autores dos

crimes poderatildeo tomar para natildeo terem seus atos revelados ou serem eles proacuteprios

descobertos Perde-se desse modo a eficaacutecia de vaacuterias dessas tentativas pelo simples

fato de natildeo existirem viacutenculos que possam ser usados como provas

A nova lei eacute definitivamente limitadora natildeo no que se refere agraves

condiccedilotildees dos arts 2ordm e incs e 3dege incs mas por faltar a ela o caraacuteter preventivo e de

proteccedilatildeo ao princiacutepio da verdade real

DO CARAacuteTER PREVENTIVO

Natildeo eacute o objetivo apresentar aqui alguma foacutermula infaliacutevel de se evitar

que futuros crimes sejam desarticulados Foacutermulas que satildeo apresentadas como infaliacuteveis

merecem desconfianccedila Mas devemos abrir os horizontes para refletirmos se o que foi

determinado no passado estaacute surtindo efeitos positivos no presente Antes de mais nada

devemos observar o que estaacute disposto na nossa Constituiccedilatildeo para ver se ajustes

merecem ser feitos no tocante aos princiacutepios conflitantes Vejamos alguns exemplos de

procedimentos existentes de alguns governos no que se refere a interceptaccedilatildeo das

telecomunicaccedilotildees nos seus respectivos paiacuteses

O governo norte-americano atraveacutes da NSA (National Security Agency)

implantou um sistema de seguranccedila de comunicaccedilatildeo a partir de um programa de

computador para identificar conversaccedilotildees na Internet que se referissem ao Terrorismo

guerras traacutefico de drogas entre outros com o intuito de que planos criminosos contra a

Seguranccedila Nacional fossem descobertos e desarticulados2

Jaacute alguns usuaacuterios da rede das redes cansados de sofrerem constantes

invasotildees de Privacidade sentiram a necessidade de utilizar recursos da criptografia -

teacutecnica usada para transformar quaisquer tipos de informaccedilatildeo sejam eles um simples

texto imagens ou sons digitalizados em siacutembolos ininteligiacuteveis para pessoas que natildeo

tecircm autorizaccedilatildeo para visualizaacute-Ias - como forma de garantir o sigilo de suas mensagens

enviadas pelos canais inseguros e monitorados da Internet

Trata-se de ferramenta de proteccedilatildeo indubitavelrnente

eficaz em todo o mundo Tanto eacute que vai de encontro aos interesses de paiacuteses como a

Franccedila Iraque Paquistatildeo e Ruacutessia que proiacutebem o uso de qualquer tipo de Criptografia

pelos seus habitantes dentro dos seus limites territoriais como tambeacutem em relaccedilatildeo a

qualquer comunicaccedilatildeo entre esses e o mundo exterior3

Entendem aqueles paiacuteses que a criptografia eacute um empecilho ao

monitoramento de mensagens que poderiam conter Informaccedilotildees consideradas

perigosas isso talvez devido aos fortes esquemas dessa tecnologia que tomaram

impossiacutevel a decriptaccedilatildeo de tais mensagens e por conseguinte sua leitura e

monitoraccedilatildeo

Pelos motivos expostos o governo dos Estados Unidos da Ameacuterica

proiacutebe a exportaccedilatildeo de programas que contenham fortes esquemas de criptografia

Podemos observar portanto exemplos reais dos conflitos entre os

direitos individuais e os interesses comuns de uma naccedilatildeo

Embora o cidadatildeo individualmente sinta-se no direito de proteger a

privacidade de suas informaccedilotildees utilizando meacutetodos como a criptografia eacute dever dos

governos em geral combater atos criminosos em que sejam usados recursos das

telecomunicaccedilotildees como meio de articulaccedilatildeo ou que usem esses mesmos recursos como

instrumento dessas accedilotildees criminosas

Portanto se meacutetodos criptograacuteficos forem utilizados tambeacutem para

favorecerem accedilotildees criminosas como a distribuiccedilatildeo de material de pornografia infantil

via Internet nunca o governo teraacute condiccedilotildees plenas de descobrir as peculiaridades de tal

accedilatildeo e se terceiros no caso menores estatildeo sendo explorados por pessoas que lucram

com essa atividade iliacutecita

O uacuteltimo grande incidente envolvendo o exemplo supracitado ocorreu

recentemente na Internet envolvendo usuaacuterios espalhados por vaacuterios paiacuteses que

2 SCHNEIER Bruce E-Mail Security Wiley 1995

3 Informaccedilatildeo adquirida via Internet Listas de discussatildeo

receberam em suas caixas de correio eletrocircnico mensagens que ofereciam a aquisiccedilatildeo

desse tipo de material insinuando nas primeiras linhas que tais pessoas eram

consideradas apreciadoras de tal espeacutecie de pornografia afirmaccedilatildeo essa totalmente

inveriacutedica Portanto tais mensagens provocaram indignaccedilatildeo em grande parte desses

destinataacuterios que decidiram telefonar para o Departamento de Poliacutecia de Nova York O

FBI foi contactado e as investigaccedilotildees feitas por esse oacutergatildeo descobriram o endereccedilo

eletrocircnico supostamente usado para enviar essas mensagens Mas isso natildeo significa que

o esse caso jaacute estaacute concluiacutedo As investigaccedilotildees continuam graccedilas agrave poliacutetica de proteccedilatildeo

ao bem comum4

Os exemplos satildeo especiacuteficos para a Informaacutetica e Telemaacutetica mas essas

aacutereas natildeo detecircm unicamente os meacutetodos de seguranccedila preventiva As comunicaccedilotildees

telefocircnicas tambeacutem podem dispor de proteccedilatildeo Aleacutem disso haacute a necessidade desses

paiacuteses de usar tais artifiacutecios para proteger seus povos e territoacuterios

O nosso paiacutes natildeo eacute obrigado a seguir fielmente esse tipo de

procedimento e sim adequaacute-lo a fim de preservar a seguranccedila de seu territoacuterio e do

povo brasileiro Mas o que importa em toda essa discussatildeo sobre a violaccedilatildeo ou natildeo das

comunicaccedilotildees eacute a urgecircncia em viabilizar operaccedilotildees preventivas a fim de desvendar

planos criminosos e proteger a intimidade de pessoas inocentes como mais um

instrumento contra a criminalidade que em relaccedilatildeo a nossa sociedade revela-se atraveacutes

de crimes como o sequumlestro o traacutefico de entorpecentes entre muitos outros

Seria maravilhoso se todas as vezes em que houvesse a necessidade de se

fazer as mencionadas interceptaccedilotildees jaacute existisse uma autorizaccedilatildeo judicial para validaacute-

las Mas o caraacuteter temporal por muitas vezes influi no desenrolar dos fatos e na eficaacutecia

da accedilatildeo esclarecedora

DA PROTECcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DA VERDADE REAL

No que pertine ao princiacutepio da verdade real antes mesmo de esclarececirc-

lo faz-se mister ter uma ideacuteia do que seja o problema da admissibilidade da prova

iliacutecita

Por prova numa geneacuterica definiccedilatildeo entende-se que eacute o resultado da

produccedilatildeo de um estado de clareza de certeza na consciecircncia do juiz para que seja

indiscutiacutevel o entendimento a conclusatildeo da veracidade de um fato ocorrido e de quem o

cometeu

As provas iliacutecitas satildeo uma espeacutecie do gecircnero que a doutrina chama de

provas inadmissiacuteveis cujo grupo tambeacutem faz parte as provas ilegiacutetimas

As provas ilegiacutetimas contrariam as normas de natureza processual jaacute as

provas iliacutecitas contrariam as normas de natureza material

Com maior clareza diferencia Nuvolone quando afirma que em relaccedilatildeo

as provas ilegiacutetimas a proibiccedilatildeo tem natureza exclusivamente processual quando for

colocada em funccedilatildeo de interesses atinentes agrave loacutegica e agrave finalidade do processo tem

pelo contraacuterio as provas iliacutecitas natureza substancial quando embora sendo

mediatamente tambeacutem os interesses processuais eacute colocada essencialmente em funccedilatildeo

dos direitos que o ordenamento reconhece aos indiviacuteduos independentemente do

4 Informaccedilatildeo adquirida via Internet THE TOUR BUS - Lista de discussatildeo

processordquo5

Devemo-nos ater com maior atenccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave prova iliacutecita pois eacute

essa a espeacutecie usada para classificar no caso em questatildeo as interceptaccedilotildees de

comunicaccedilotildees telefocircnicas de informaacutetica e de telemaacutetica propositadas para servirem de

meio que ajude ao magistrado obter a conclusatildeo pela veracidade do fato a ser julgado

como tambeacutem do seu suposto autor mas que natildeo possuem autorizaccedilatildeo de juiz

competente na forma da lei

As provas iliacutecitas no tocante agraves interceptaccedilotildees satildeo assim definidas

quando da ausecircncia de autorizaccedilatildeo judicial havendo portanto a caracterizaccedilatildeo de

atentado aos direitos e liberdades fundamentais do indiviacuteduo e por consequumlecircncia a sua

intimidade

Apesar de cumpridos os requisitos necessaacuterios para que se possa fazer a

interceptaccedilatildeo a intenccedilatildeo de produccedilatildeo da prova e consequentemente a sua

admissibilidade pelo magistrado esbarra na ilicitude caso Inexista preacutevia autorizaccedilatildeo

judicial

Entatildeo podemos nos perguntar pela ausecircncia da aplicaccedilatildeo dos princiacutepios

da liberdade de admissatildeo da prova e o da verdade real quando a autorizaccedilatildeo judicial

natildeo existir ou natildeo tiver sido requerida a tempo

Discorrendo sobre esse uacuteltimo afirma Mirabete que com o princiacutepio da

verdade real se procura estabelecer que o jus puniendi somente seja exercido contra

aquele que praticou a infraccedilatildeo penal e nos exatos limites de sua culpa numa

investigaccedilatildeo que natildeo encontra limites na forma ou na iniciativa das partes Com ele se

exclui os limites artificiais da verdade formal eventualmente criado por atos ou

omissotildees das partes presunccedilotildees ficccedilotildees transaccedilotildees etc tatildeo comuns no processo

civilrdquo6

Vemos entatildeo que o princiacutepio da verdade real traduz a essecircncia do

processo penal de buscar a pureza da verdade de um fato especiacutefico e de quem o criou

Nobre pretensatildeo da Justiccedila que se enfraquece toda vez que se depara

com certas barreiras princiacutepio-normativo encontradas na Constituiccedilatildeo Federal bem

como nas leis ordinaacuterias

Apesar disso tudo despontam notaacuteveis reflexotildees em defesa do proacuteprio

principio da verdade real pelo bem da coletividade contra a impunidade dos

criminosos podendo muitas delas serem encontradas no que defende a teoria da

proporcionalidade em relaccedilatildeo as provas iliacutecitas

A teoria mencionada visa colocar na balanccedila os direitos individuais e os

interesses sociais com o fim de proteger o bem juriacutedico que possuir maior releveacute1ncia

em cada situaccedilatildeo concreta

Ao tomar partido interpreta-se que essa teoria permite a viabilidade de

proteccedilatildeo dos interesses sociais frente aos individuais quando o uacuteltimo servir de

imunidade a um transgressor da lei contra a coletividade

Como assim A teoria da proporcionalidade reconhece quando uma

prova eacute caracterizada como iliacutecita mas admite a sua produccedilatildeo quando o interesse social

for considerado de maior validade

5 Nuvolone apud GRINOVER Ada Pelegrini Liberdades Puacuteblicas e Processo Penal as interceptaccedilotildees telefocircnicas 2 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1982 p 97

6 MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo Penal 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1994 p 45

Reflitamos sobre as palavras de Paulo Luacutecio Nogueira quando diz que a

teoria da proporcionalidade eacute perfeitamente defensaacutevel pois tendo em vista o interesse

social ou puacuteblico deve este prevalecer sobre o privado que de modo algum merece ser

resguardado pela tutela legal quando o particular fez mau uso do seu direitordquo7

Apesar de dedicada defesa a esse tipo de prova eacute importante esclarecer

que as produccedilotildees de provas mediante interceptaccedilotildees das comunicaccedilotildees previstas na Lei

ndeg 929696 natildeo satildeo consideradas aqui como as uacutenicas para que se chegue a conclusatildeo

da verdade Sendo necessaacuterias deveratildeo compor o grupo de provas em juiacutezo que

ajudaratildeo na conclusatildeo do juiz quando este vier a sentenciar ou na dos jurados quando o

crime pertencer a competecircncia do Tribunal do Juacuteri

No caso de serem consideradas iliacutecitas caberaacute ao juiz competente a

partir de sua experiecircncia e entendimento admiti-las ou natildeo ao contraacuterio de se prender

ao que estaacute limitado em lei Pois o que importa realmente eacute o prevalecimento de

verdade sem vicias da verdade real

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo eacute o pensamento banalizar os direitos individuais e muito menos

prejudicar a integridade de sua proteccedilatildeo em prol dos interesses sociais

O objetivo almejado eacute natildeo deixar que a acircnsia pela verdade real seja

destruiacuteda deixando oacuterfatildeos os que sonham cada vez mais chegar perto de uma justiccedila

que natildeo deixe rastros duvidosos

Portanto devemos visar ao maacuteximo uma aproximaccedilatildeo do ainda utoacutepico

equiliacutebrio entre esses dois interesses em conflito o individual e o coletivo Ai sim os

direitos Individuais deixaratildeo de ser exageradamente valorizados quando servirem de

proteccedilatildeo aos que fizerem mau uso de seus direitos como os interesses sociais deixaratildeo

de ser tatildeo esquecidos e mal compreendidos

A conclusatildeo oacutebvia do pensamento aqui exposto eacute de que os interesses da

sociedade devem ser priorizados quando esta for lesionada em detrimento de

pretensotildees criminosas de alguns indiviacuteduos Natildeo poderia ser diferente

Mas antes de criticar a lei ordinaacuteria deve-se compreender em que

ambiente esta foi criada Entatildeo faz-se necessaacuteria uma reavaliaccedilatildeo da importacircncia dada a

cada princiacutepio normativo nas situaccedilotildees em que dispensam maior influecircncia

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de

1988 Lei ndeg 9296 de 24 de julho de 1996 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 25 de julho de

1996

GRINOVER Ada Pelegrini Liberdades Puacuteblicas e Processo Penal as

interceptaccedilotildees telefocircnicas 2

7 NOGUEIRA Paulo Luacutecio Curso Completo de Processo Penal 1600 Slio Paulo Saraiva

1994 169

ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1982

MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo Penal 3 ed Satildeo Paulo Atlas

1994

NOGUEIRA Paulo Luacutecio Curso Completo de Processo Penal 16 ed

Satildeo Paulo Saraiva 1994

SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo Satildeo

Paulo Malheiros 1994

SHNEIER Bruce E-Mail Securitv Wiley 1995

QUEM ASSUME A TITULARIDADE DE UMA PREFEITURA

CASO O PREFEITO ELEITO VENHA A FALECER ANTES DA

DIPLOMACcedilAtildeO

Sivanildo de A Dantas

Bacharelando do Curso de Direito da UFRN

O tema sobre a questatildeo de se saber quem teria a titularidade para assumir

a vaga de uma prefeitura caso o candidato eleito para prefeito venha a falecer antes da

diplomaccedilatildeo tem sido fonte inesgotaacutevel de polecircmicas a ponto de se colocarem em

posiccedilotildees antagocircnicas nomes de real valor no cenaacuterio nacional

Restaria menos polecircmica se o candidato jaacute tivesse sido diplomado e

polecircmica natildeo haveria caso jaacute tivesse sido empossado

Este estudo examinando a questatildeo relacionada ao tiacutetulo supra referido

deve ser considerado como uma hipoacutetese geneacuterica e abstrata

Eacute bem verdade que a discussatildeo reside no fato de inexistir norma

especiacutefica que cuide do caso objetivamente Haacute uma omissatildeo legal Daiacute serem

aplicaacuteveis na espeacutecie os princiacutepios gerais do direito

Na falta de norma expressa para solucionar um caso concreto o juiz

deve se valer dos meacutetodos interpretativos da norma juriacutedica

As leis quando satildeo criadas natildeo prevecircem todas as hipoacuteteses que poderatildeo

surgir na realidade social ateacute porque o mundo real eacute muito rico em nuances faacuteticas

Cabe ao juiz entretanto suprir essas lacunas atraveacutes dos recursos que lhe oferecem o

Direito sem o que estaria impossibilitado de prestar a tutela jurisdicional agrave qual estaacute

obrigado jaacute que natildeo pode deixar de julgar um caso a pretexto de inexistir lei

Prevendo essas situaccedilotildees o legislador paacutetrio inseriu na Lei de Introduccedilatildeo

ao Coacutedigo Civil o art 4deg que apresenta as diretrizes para o preenchimento de lacunas de

direito

Art 4deg Quando a lei for omissa o juiz decidiraacute de acordo com a

analogia os costumes e os princiacutepios gerais do direito

Chama-se auto-integraccedilatildeo o processo de preenchimento de lacunas que eacute

feito com recursos e elementos do proacuteprio sistema juriacutedico por princiacutepios nele contidos

Quando se busca recurso no Direito Natural a integraccedilatildeo denomina-se

doutrinariamente de heterointegraccedilatildeo

A princiacutepio cabe alertar que o estudo de qualquer tema juriacutedico deve

partir da percuciente anaacutelise da estrutura loacutegica da norma juriacutedica e da relaccedilatildeo entre

hipoacutetese real e hipoacutetese normativa Soacute apoacutes eacute que podemos transpor as conclusotildees

abstratas para as inferecircncias do tema suscitado

O tema ora analisado eacute fundamentalmente de competecircncia

constitucional eleitoral e de teoria geral do direito

Diz a Constituiccedilatildeo Federal no seu art 10 paraacutegrafo uacutenico

Art 1deg omissis 1 omissis

11 omissis

111 omissis

IV omissis

1 omissis

paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por

meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta

Constituiccedilatildeo

No plano constitucional vecirc-se pois que o poder eacute exclusividade do

povo (e natildeo de um indiviacuteduo) sendo portanto um poder indisponiacutevel A ningueacutem

nem mesmo agrave maior autoridade ou oacutergatildeo do Paiacutes eacute dada a faculdade de lhes tirar

esse direito

A proacutepria conceituaccedilatildeo claacutessica de democracia como governo do

povo pelo povo pressupotildee a liberdade Poliacutetica dos homens no sentido de

reconhecer-Ihes essa Possibilidade de Autodeterminaccedilatildeo ao escolher seus

governantes

O art 14 da Constituiccedilatildeo Federal soacute vem a corroborar com o

entendimento acima esposado ver bis

ldquoArt 14 A soberania popular seraacute exercida pelo sufraacutegio

universal

O que se extrai desse versiacuteculo eacute que o povo eacute soberano nas suas

decisotildees e o primado da soberania popular subordina a atuaccedilatildeo do Estado agrave vontade da

sociedade A vontade do povo eacute sempre certa e se dirige sempre ao bem comum Ainda

eacute atraveacutes do sufraacutegio que o povo outorga legitimidade aos governantes

Corolaacuterio dessa posiccedilatildeo eacute o axioma de que o poder emana do povo e em

seu nome deveraacute ser exercido

O Direito criaccedilatildeo do homem foi concebido para ser interpretado natildeo

como um conjunto de normas e princiacutepios isolados mas sim dentro de um sistema

Na falta de norma especiacutefica o aplicador do Direito deveraacute buscar dentro

das regras de hermenecircutica aquela que melhor se adequa ao fato

Agora traccediladas essas consideraccedilotildees vejo-me obrigado a voltar agrave questatildeo

inicial deste articulado quem assumiria a titularidade de uma prefeitura caso o

candidato eleito para prefeito viesse a falecer antes da diplomaccedilatildeo Caberia aqui a esta

altura mais uma indagaccedilatildeo quem teria legitimidade para exercecirc-la

Nessa linha de entendimento a questatildeo da titularidade passa

necessariamente pela questatildeo da legitimidade haja vista que no Estado Democraacutetico de

Direito ser titular do poder eacute ter legitimidade para exercecirc-lo Portanto este eacute requisito

daquele De outro acircngulo a titularidade soacute eacute legitima quando eacute aceita por aqueles que a

legitimaram Ou quando aquele que a deteacutem a recebeu por justo tiacutetulo

Lembra bem Joseacute Afonso da Silva1 citando os ensinamentos de Norberto

Bobbio que o poder legiacutetimo eacute um poder cujo tiacutetulo eacute justo um poder legal eacute um

poder cujo exerciacutecio eacute justo se legiacutetimo

Por esse pensar a legitimidade leva agrave titularidade a titularidade agrave posse

a posse agrave justiccedila

A efetividade de um poder como prova de sua legitimidade surge

atraveacutes de um princiacutepio de Direito Natural todo poder emana de Deus Se Deus eacute o

povo vox populi vox Dei Portanto no nosso caso particular essa noccedilatildeo tradicional

assentada na vontade de Deus sai do abstrato para o concreto atraveacutes de processo de

escolha em eleiccedilatildeo

Eacute o que acontece em nosso Paiacutes a cada quatro anos quando os muniacutecipes

vatildeo agraves umas escolher aleacutem dos seus representantes na Cacircmara o prefeito e o vice-

prefeito

O procedimento de escolha atraveacutes do sufraacutegio universal pressupotildee um

tipo de lei baacutesica o Coacutedigo Eleitoral Eacute atraveacutes dele que se disciplina a eleiccedilatildeo para

prefeito e vice-prefeito No entanto lei especifica poderaacute ser criada em relaccedilatildeo a cada

eleiccedilatildeo

Carece de consideraccedilatildeo o fato de antes de iniciado o processo eleitoral

os candidatos a candidatos atraveacutes de seus filiados passam por uma eleiccedilatildeordquo dentro

do proacuteprio partido Satildeo as convenccedilotildees Recebem ali a aquiescecircncia dos seus

Correligionaacuterios para disputar o pleito

Para as eleiccedilotildees de 031 096 o Congresso Nacional criou em

290995 a Lei ndeg 9100 determinando no seu art 86 que o Tribunal Superior Eleitoral

expediraacute todas as instruccedilotildees que julgar necessaacuterias agrave sua execuccedilatildeo

Com a Resoluccedilatildeo ndeg 19509 de 180496 o Tribunal Superior Eleitoral

expediu instruccedilotildees para o registro de candidaturas Em seu art 10 sect 2deg esse ato

normativo assim dispotildee

sect 2deg O registro de candidato a Prefeito e Vice-Prefeito far-se-aacute

sempre em chapa uacutenica e indivisiacutevel (Coacutedigo Eleitoral art 91)

Vecirc-se pois que os candidatos a prefeito e a vice-prefeito ao se

registrarem perante a Justiccedila Eleitoral fazem-no de forma vinculada a uma chapa una

e indivisiacutevel Importando assim a eleiccedilatildeo do prefeito com a do vice-prefeito com ele

registrado Observe-se bem que o nome do vice-prefeito natildeo precisa nem mesmo

1 Da Silva Joseacute Afonso Curso de Direito Constitucional Positivo 8middot Ed Rev

sao Paulo Malheiros 1992 p371

constar na chapa ele (o nome) estaacute impliacutecito

Neste palmilhar temos que no dia 03 de outubro transato

aconteceram as eleiccedilotildees em todos os municiacutepios do Brasil onde foram sufragados

nas urnas atraveacutes do voto popular os prefeitos e os vice-prefeitos na conformidade

do que dispotildee o sect 10 do art 20 da lei especiacutefica dessas eleiccedilotildees

Art 2deg Seraacute considerado eleito Prefeito o candidato que

obtiver a maioria de votos natildeo computados os em branco e os

nulos

sect 1ordm A eleiccedilatildeo do Prefeito importaraacute a do Vice-Prefeito com

ele registradordquo

Claro estaacute ateacute aqui que a eleiccedilatildeo do prefeito gera a do vice-prefeito com

ele registrado de forma que eles tambeacutem estatildeo visceralmente entrelaccedilados quanto aos

direitos deveres e obrigaccedilotildees

Acontece que para o nosso estudo realizadas as eleiccedilotildees e proclamados

os resultados vindo um prefeito eleito a falecer geraria duacutevidas sobre quem teria

legitimidade para lhe suceder apenas pelo simples fato de inexistir norma legal

especiacutefica disciplinando a mateacuteria

Realmente apoacutes uma profunda pesquisa na legislaccedilatildeo eleitoral paacutetria

constata-se a inexistecircncia de norma especiacutefica disciplinando a mateacuteria

Nesse particular nova figura de interpretaccedilatildeo da norma juriacutedica deve ser

evocada Trata-se da analogia Pesquisando nos dicionaacuterios paacutetrios do mais erudito ao

mais simples vamos encontrar em resumo a seguinte definiccedilatildeo daquele vocaacutebulo eacute a

teacutecnica juriacutedica atraveacutes da qual se suprem as omissotildees da lei aplicando a uma

determinada relaccedilatildeo juriacutedica as normas de direito objetivo disciplinadoras de casos

semelhantes Ou ainda pontos semelhantes entre coisas diferentes

Como diz Sydney Sanches2

Analogia consiste em aplicar a uma hipoacutetese nifo prevista

especialmente em lei disposiccedilatildeo relativa a caso semelhante

Pressupotildee semelhanccedila de relaccedilotildees Mas o recurso agrave analogia exige a

concordacircncia dos seguintes requisitos a) eacute indispensaacutevel que o fato

considerado ou a relaccedilatildeo juriacutedica contratual natildeo tenha sido tratado

ou tratada especificamente pelo legislador b) este todavia regulou

situaccedilatildeo que apresenta certo ponto comum de contrato certa

coincidecircncia ou semelhanccedila com a natildeo regulada c) a regra adotada

pelo legislador para a situaccedilatildeo regulada levou em conta sobretudo

aquele mesmo ponto comum de coincidecircncia ou semelhanccedila com a

situaccedilatildeo natildeo regulada (em suma a ratio iuris deve ser a mesma para

ambas as situaccedilotildees)

2 Sanches Sydney Os contratos atiacutepicos no campo do Direito Privado Satildeo Paulo DCI coluna

Legislaccedilatildeo e Tribunais 06 e 07-04-88

Prosseguindo na anaacutelise da mateacuteria temos em simetria com o caso ora

ensaiado o seguinte dispositivo constitucional

Art 79 Substituiraacute o Presidente no caso de impedimento e

suceder-Ihe_aacute no de vaga o Vice-Presidenterdquo

E o paraacutegrafo uacutenico do art 78 da citada Carta verbis

Paraacutegrafo uacutenico Se decorridos dez dias da data fixada para a

posse o Presidente ou o Vice-Presidente salvo motivo de forccedila

maior natildeo tiver assumido o cargo este seraacute declarado vago

Temos pois por linha simeacutetrica que na vacacircncia do cargo de prefeito

o preenchimento da vaga se daraacute com a posse do seu Sucessor poliacutetico o vice-prefeito

Natildeo eacute outra a conclusatildeo a que se chega com esses dispositivos da Carta

Magna subsidiariam ente aplicaacuteveis

Em face desses fundamentos constitucionais que bem caracterizam a

sucessatildeo do prefeito pelo vice-prefeito necessaacuterio eacute analisar e aplicar com a

prudecircncia que o caso exige o seguinte Acoacuterdatildeo do TSE de nuacutemero 9080 de

280688 que sob a relatoria do Ministro Roberto F Rosas pontifica verbis

1 Prefeito lnelegibilidade Cassaccedilatildeo do diploma por abuso

do poder econocircmico Fatos ocorridos entre o registro e a

diplomaccedilatildeo

2 O Vice-Prefeito eacute eleito simultaneamente com o Prefeito

Natildeo haacute votaccedilatildeo em separado nem registros diversos

Contaminaccedilatildeo da chapa Vicias que se estendem ao Vice-

Prefeito Aplicaccedilatildeo do art 21 da LC nO 5 O Vice-Prefeito

natildeo assume com a cassaccedilatildeo do diploma do Prefeito

3 O falecimento do Prefeito natildeo determina a extinccedilatildeo do

processo A relaccedilatildeo juriacutedica processual permanece pois haacute

interesse juriacutedico em relaccedilatildeo ao Vice-Prefeito A demanda

eleitoral natildeo se esgota no interesse do Prefeito

Nesse caso vecirc-se que o vice-prefeito ficou maculado natildeo em

relaccedilatildeo a si proacuteprio mas como instituiccedilatildeo uma vez que

O abuso do Poder econocircmico Contribuiu para a sua vitoacuteria Eacute soacute

No mais se assim natildeo fosse a maacutecula recairia somente na pessoa do prefeito e o

vice-prefeito assumiria

Dentro desse contexto por linhas transversas lemos o seguinte acoacuterdatildeo

do TSE

I - Do fato juriacutedico Maioria de votos alcanccedilada por algum

candidato em eleiccedilotildees majoritaacuterias irradia-se imediata e

simultacircnea ou sucessivamente ao momento em que um soacute voto

caido na urna faz definitiva essa maioria efeitos juriacutedicos

inclusive direito subjetivo a atos de apuraccedilatildeo de votos de

resoluccedilatildeo de impugnaccedilotildees de expediccedilatildeo de boletins eleitorais e

de diplomaccedilatildeo

II - Dessas consideraccedilotildees tem-se que eleito o Vice-Prefeito eacute titular

de direitos subjetivos que se natildeo podem extinguir pelo fato da morte

do Prefeito com quem fora eleito

1I1 - Diz-se vago o cargo puacuteblico que natildeo tem titular ou que de

qualquer sorte natildeo estaacute ocupado Para que o Vice-Prefeito assuma o

cargo de Prefeito basta que esteja vago natildeo ocupado

independentemente da posse do Prefeito eleito com o Vice-Prefeito

assumente

IV - Recurso provido (Acoacuterdatildeo ndeg 6289 de 120477 Relator

Ministro Firmino Ferreira Paz)

Por tudo isso alegar a esta altura que o vice-prefeito natildeo foi eleito para

substituir o prefeito nas suas ausecircncias ou lhe suceder no caso de vaga eacute ignorar o

oacutebvio

Legalismo - Haacute ainda aqueles que sob a batuta do legalismo perguntam

e onde estaacute disciplinado isso na lei Para aqueles que buscam na lei respostas a todas as

indagaccedilotildees natildeo vatildeo encontrar Mas para aqueles que entendem ser a lei uma pequena

fraccedilatildeo do direito certamente encontraratildeo

Os princiacutepios contidos no ordenamento normativo poderatildeo sempre ser

invocados para aplicaccedilatildeo direta aos casos concretos mormente na ausecircncia de norma

especiacutefica

Neste particular Geraldo Ataliba3 invocando os ensinamentos do Mestre

Argentino Agustiacuten Gordillo doutrina que

Principio eacute norma (regra de conduta) eacute tambeacutem muito mais que isso

Os princiacutepios satildeo linhas mestras os grandes nortes as diretrizes

magnas do sistema juriacutedico Apontam os rumos a serem seguidos por

toda a sociedade e obrigatoriamente perseguidos pelos oacutergatildeos do

governo (poderes constituiacutedos)

Eles expressam a substacircncia uacuteltima do querer popular seus objetivos e

3 Geralda Ataliba Repuacuteblica e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo RT 1985

p 6-7

desiacutegnios as linhas mestras da legislaccedilatildeo da administraccedilatildeo e da

jurisdiccedilatildeo Por estas natildeo podem ser contrariados tecircm que ser

prestigiados ateacute as uacuteltimas consequumlecircncias

Em seguida cita Joseacute Afonso da Silva

O principio aponta a direccedilatildeo o sentido em que devem ser entendidas

as normas que nele se apoacuteiam e ressalta natildeo poder o inteacuterprete extrair

conclusatildeo que contrarie um princiacutepio lhe comprometa as Exigecircncias

ou lhe negue as naturais consequumlecircncias

Ensinam os juristas que o Princiacutepio de uma estrada eacute o seu ponto de

partida

Por tudo isso inexistindo lei que discipline o referido tema haacute de se

recorrer aos Princiacutepios do direito agrave Jurisprudecircncia etc

Segundo colocado - Para aqueles que defendem a tese do segundo

colocado ser o substituto natural de prefeito eleito mas falecido antes da diplomaccedilatildeo

Discordamos Pois faacutecil eacute reconhecer que natildeo se pode transformar em vitoacuteria uma

derrota O segundo colocado foi reprovado Natildeo passou no vestibular das umas O

eleitor atraveacutes do voto o desaprovou No entender dos eleitores ele natildeo estaacute preparado

para dirigir os rumos de sua comunidade O povo natildeo quis o segundo colocado e sim o

primeiro e quem o substitui e ou Sucede Politicamente Portanto em havendo rejeiccedilatildeo

ao segundo colocado natildeo haacute mais por que insistir nessa tese

Por fim que decepccedilatildeo natildeo teriam os muniacutecipes ao assistir agrave posse de

quem foi derrotado nas urnas

Por outra o segundo colocado natildeo tem nem mesmo uma expectativa

de direito uma vez que estaacute desclassificado

A duacutevida para os defensores dessa corrente talvez resida na errocircnea

interpretaccedilatildeo do sect 4deg do art 77 da Constituiccedilatildeo Federal verbis

Art 77 A eleiccedilatildeo do Presidente e do Vice-Presidente da Repuacuteblica

realizar-se-aacute simultaneamente noventa dias antes do teacutermino do

mandato presidencial vigente

sect 4deg Se antes de realizado o segundo turno ocorrer morte

desistecircncia ou impedimento legal de candidato convocar-se-aacute

dentre os remanescentes o de maior votaccedilatildeo

Como eacute faacutecil de se observar o dispositivo supra mencionado diz respeito

agravequeles municiacutepios onde haja segundo turno no caso destas eleiccedilotildees apenas nos

municiacutepios com mais de duzentos mil eleitores

O Coacutedigo Eleitoral eacute claro quando se refere agrave substituiccedilatildeo de candidato

por motivo de falecimento

Art 101 ornissis

sect 2deg Nas eleiccedilotildees majoritaacuterias se o candidato vier a falecer ou

renunciar dentro do periacuteodo de 60 (sessenta) dias mencionados no

paraacutegrafo anterior o partido poderaacute substituiacute-Ia se o registro do

novo candidato estiver deferido ateacute 30 (trinta) dias antes do pleito

seratildeo confeccionadas novas ceacutedulas caso contraacuterio seratildeo utilizadas

as jaacute impressas computando-se para o novo candidato os votos

dados ao anteriormente registrado

Observe-se bem que o legislador se preocupou com essa hipoacutetese pois

geraria duacutevidas se natildeo fosse normatizada face a inexistecircncia de substituto Quanto a

depois da eleiccedilatildeo duacutevida natildeo haacute pois se o fato vier a acontecer nessa fase o substituto

ou sucessor natural assume pois jaacute existe

A Lei ndeg 910095 por seu turno soacute vem a reforccedilar esse entendimento

Art 14 Amiddot facultado ao partido ou coligaccedilatildeo substituir candidato que

venha a ser considerado inelegiacutevel que renunciar ou falecer apoacutes o

termo final do prazo do registro ou ainda que tiver seu registro

indeferido ou cancelado (Grifos nosso)

Veja-se que em nenhum momento a lei Eleitoral preocupou-se em

disciplinar essa situaccedilatildeo apoacutes as eleiccedilotildees Ateacute porque essa hipoacutetese jaacute estaacute prevista na

Constituiccedilatildeo Federal sendo desnecessaacuterio e redundante repeti-la

As hipoacuteteses em que o segundo colocado venha a ocupar a primeira

colocaccedilatildeo se datildeo nos casos de recurso pendente de indeferimento de registro de

candidatura que venha a ser julgado e provido apoacutes a diplomaccedilatildeo recurso contra a

diplomaccedilatildeo e ainda atraveacutes de accedilatildeo de impugnaccedilatildeo de mandato eletivo esta uacuteltima

nova figura de impugnaccedilatildeo insculpida na Constituiccedilatildeo Federal (art 14 sect sect 10 e 11)

Fora dessas hipoacuteteses natildeo vislumbramos motivo suficiente para reverter a posiccedilatildeo do

segundo colocado para o de primeiro transformando uma derrota em vitoacuteria

contrariando frontalmente o princiacutepio da vontade soberana dos muniacutecipes

A ideacuteia que queremos firmar aqui eacute que natildeo se pode dar a algueacutem o

poder de tornar elegiacutevel quem foi derrotado nas urnas pelo povo Admitir-se que pode

seria a admissatildeo de que o suacutedito desfizesse a decisatildeo do soberano inadmissiacutevel a todas

as luzes

O povo deseja a justiccedila oficial justa conceito mais faacutecil de enunciar do

que definir a partir da certeza de que satildeo muitos os que conhecem o pouco dos modos

de realizar o justo no caso concreto

Vice eacute eleito para ser Vice - Com a devida vecircnia para os que esta causa

advogam entendo ser falsa essa afirmaccedilatildeo parecendo-me ser fruto de um saudosismo

que soacute a histoacuteria explica a uacuteltima eleiccedilatildeo que tivemos com votaccedilatildeo separada para

cargos do executivo e seu respectivo vice foi no inicio da deacutecada de 1960 Apoacutes passou

a ser casada numa mesma chapa como temos hoje Essa mudanccedila se deu em

decorrecircncia da crise institucional criada pelos militares pois natildeo aceitavam que Joatildeo

Goulart middot0 Jango Vice-Presidente de Jacircnio Quadros assumisse a presidecircncia da

Repuacuteblica quando da renuacutencia deste

O saudoso Hely lopes Meirelles4 na sua claacutessica obra Direito Municipal

Brasileiro doutrina O Vice-Prefeito eacute o substituto nos afastamentos e o sucessor no

caso de vaga do Prefeito Eleito permanece como titular de um mandato executivo e na

expectativa do exerciacutecio do cargo de Prefeitordquo (1)

A questatildeo agora se situa no campo da ldquoexpectativa do exerciacutecio do

cargo que natildeo haacute que se confundir com ldquoexpectativa de direito

Para a primeira expressatildeo o direito adquirido jaacute se consumou resta

apenas exercitaacute-lo o que se daraacute no nosso caso com a efetividade de um pressuposto a

condicionante faacutetica da vacacircncia do cargo de prefeito

Para a segunda temos que sem o abono de certeza e liquidez existe

expectativa de direito pois inexiste prazo certo e compulsoacuterio Expectativa de direito eacute

pois algo que antecede a aquisiccedilatildeo de um direito

Uma coisa eacute a expectativa do direito outra distinta eacute a aquisiccedilatildeo do

direito diversa eacute o uso ou exerciacutecio desse direito

Quanto ao direito adquirido princiacutepio de direito natural cuidou de

disciplinar o legislador paacutetrio os pilares que deve modelar a sua aplicaccedilatildeo na lei de

Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil (Decreto-Lei nordm 4657 de 040942 com a redaccedilatildeo dada

pela lei nordm 3238 de 1deg0857) art 6deg sect 2deg

Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular ou

algueacutem por ele possa exercer como aqueles cujo comeccedilo de

exerciacutecio tenha termo erefixo ou condiccedilatildeo preestabelecida

inalteraacutevel a arbiacutetrio de outrem n (Grifos nosso)

Tem-se assim direito adquirido como aquele que entrou no patrimocircnio

de um titular dele natildeo mais podendo ser retirado

Por tudo que foi dito temos que o vice-prefeito eacute o sucessor do prefeito

em caso de vaga e o substituto natural nos casos de impedimentos ou licenccedilas

Eleiccedilatildeo - A eleiccedilatildeo do Vice-Prefeito estaacute prevista na Constituiccedilatildeo

Federal e ela se daacute com a do Prefeito de forma vinculada (CF art 29 incisos I 11 e 111)

Proclamaccedilatildeo - A proclamaccedilatildeo eacute a publicaccedilatildeo do resultado final feita apoacutes

a contagem dos votos

Dentro desse contexto cabem as observaccedilotildees de Tito Costa5 segundo o

qual a proclamaccedilatildeo eacute um ato que Complementa todo o processo eleitoral mas natildeo

comporta qualquer tipo de recurso Eventuais reclamaccedilotildees contra esse ato soacute Poderatildeo

ser apresentados sob a forma do recurso adequado ao ensejo da diplomaccedilatildeo Veja-se

que natildeo haacute um consenso entre os doutrinadores quanto agraves etapas do processo eleitoral

chegando Tito Costa a afirmar que a proclamaccedilatildeo eacute um ato que complementa todo o

processo eleitoral

Diplomaccedilatildeo - eacute o atestado oficial (afirmaccedilatildeo) de que o candidato

obteve votos suficientes para o cargo a que se candidatou

A diplomaccedilatildeo natildeo eacute uma verdadeira decisatildeo judicial assemelhando-se

4 Meirelles Hely Lopes Direito Municipal Brasileiro 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 1993 (2

tiragem) p 529 5 Costa Tito Recursos em Mateacuteria Eleitoral 6 ed rev ampl e atual S30 Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1996 p 122

mais a um ato administrativo nada obstante traga em si consequumlecircncias juriacutedicas e

poliacuteticas

Diz o Coacutedigo Eleitoral no seu art 215

Art 215 Os candidatos eleitos assim como os suplentes

receberatildeo diploma assinado pelo Presidente do Tribunal Superior

Eleitoral do Tribunal Regional ou da Junta Eleitoral conforme o

caso

Paraacutegrafo uacutenico Do diploma deveraacute constar o nome do candidato a

indicaccedilatildeo da legenda sob a qual concorreu o cargo para o qual foi

eleito ou a sua classificaccedilatildeo como suplente e facultativamente outros

dados a criteacuterio do Juiz ou do Tribunal

Prevendo hipoacuteteses em que Poderaacute haver impugnaccedilatildeo agrave candidatura reza

o art 216

Ar 216 Enquanto o Tribunal Superior natildeo decidir o recurso

interposto contra a expediccedilatildeo do diploma poderaacute o diplomado

exercer o mandato em toda a sua plenitude

Pela dicccedilatildeo dos artigos supra mencionados colhe-se que mesmo tendo

sido interposto recurso contra a expediccedilatildeo de diploma o candidato eleito deve ser

diplomado Eacute que esse tipo de recurso natildeo tem efeito suspensivo exercendo o

candidato apoacutes a posse o mandato em toda a sua plenitude ateacute o tracircnsito em julgado

da decisatildeo final se essa lhe for desfavoraacutevel

Quanto a recurso contra a diplomaccedilatildeo (pois Jlatildeo cabe recurso contra a

proclamaccedilatildeo) o Coacutedigo Eleitoral atraveacutes do art 262 trata de especificar as hipoacuteteses

de cabimento

Art 262 O recurso contra expediccedilatildeo de diploma caberaacute somente

nos seguintes casos

I - inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato

II - errocircnea interpretaccedilatildeo da lei quanto agrave aplicaccedilatildeo do sistema de

representaccedilatildeo proporcional

III - erro de direito ou de fato na apuraccedilatildeo final quanto agrave

determinaccedilatildeo do quociente eleitoral ou partidaacuterio contagem de

votos e classificaccedilatildeo de candidato ou a sua contemplaccedilatildeo sob

determinada legenda

IV - concessatildeo ou denegaccedilatildeo do diploma em manifesta contradiccedilatildeo

com a prova dos autos na hipoacutetese do art 222

Outra indagaccedilatildeo que merece reparo e que eacute o ponto nodal do nosso

estudo eacute a alegaccedilatildeo de que o processo eleitoral se conclui com a diplomaccedilatildeo No caso

em questatildeo acontecendo superveniente morte de prefeito eleito antes dessa fase como

deveraacute se proceder

Para aqueles que defendem a formalidade da diplomaccedilatildeo como um ato

necessaacuterio ou essencial agrave aquisiccedilatildeo do direito de tomar posse que defendam essa

posiccedilatildeo Nada obsta

Poreacutem hatildeo de convir tambeacutem que o vice-prefeito sobrevivendo agrave

diplomaccedilatildeo haveraacute de ser diplomado e numa sequumlecircncia loacutegica na conformidade da lei

no dia 1deg de janeiro do ano seguinte agrave eleiccedilatildeo sucederaacute na posse o prefeito face agrave

vacacircncia do cargo deixado pela morte deste uacuteltimo

Conforme o Coacutedigo Eleitoral as fases que antecedem a diplomaccedilatildeo satildeo

seguindo uma ordem loacutegica e cronoloacutegica votaccedilatildeo apuraccedilatildeo e proclamaccedilatildeo

Duacutevidas natildeo haacute que para o nosso estudo as trecircs primeiras fases se

consumaram antes do oacutebito de prefeito eleito

As maiores duacutevidas e indagaccedilotildees residem nesta fase da diplomaccedilatildeo pois

afirmam que natildeo tendo sido diplomado o prefeito pois falecera antes da diplomaccedilatildeo a

sua ausecircncia implicaria a prejudicialidade da diplomaccedilatildeo e posse do vice-prefeito

A princiacutepio cabe por pertinente discutir com maior detenccedila a natureza

juriacutedica da diplomaccedilatildeo abstraindo-nos no entanto de tecer comentaacuterios acerca das

outras fases

A diplomaccedilatildeo Ocorre apoacutes as fases que lhe antecedem quais sejam

votaccedilatildeo apuraccedilatildeo e proclamaccedilatildeo Haacute um lapso temporal entre estas e aquela suficiente

para que as duacutevidas sejam dissipadas e as impugnaccedilotildees porventura existentes

resolvidas de forma que todo o processo se harmonize e se conforme

Tem por objetivo a diplomaccedilatildeo apoacutes resolvidas todas as pendengas

declarar os nomes dos eleitos no pleito conforme os resultados apurados e

proclamados

Joel Joseacute Cacircndido6 ensina

o que se atesta com a diplomaccedilatildeo eacute a existecircncia de uma eleiccedilatildeo

vaacutelida e seus resultados jaacute divulgados habilitando-se os eleitos

com o diploma a exercerem seus respectivos cargos a

diplomaccedilatildeo consagra a publicaccedilatildeo dos resultados que eacute seu

pressuposto fundamental

Por seu turno Faacutevila Ribeiro7 tecendo comentaacuterios sobre a

6 Cacircndido Joel Joseacute Direito Eleitoral Brasileiro 4ordf ed rev e atual Bauru

SP EDIPRO 1994 p 207 et seq

7 Ribeiro Faacutevila Direito Eleitoral 4ordf ed rev e ampl RioRJ Forense 1996 p

477

proclamaccedilatildeo e diplomaccedilatildeo dos eleitos afirma No momento da proclamaccedilatildeo deve

ser anunciada a data para a entrega do diploma dos eleitos que eacute o tiacutetulo expedido

pela Justiccedila Eleitoral para definir a Legitimidade dos representantes populares

Pelo exposto concluiacutemos que o ato da diplomaccedilatildeo tem natureza

meramente declaratoacuteria Pois jaacute existe uma situaccedilatildeo preacute-constituiacuteda que satildeo as fases

que a precedem natildeo havendo por que se falar em natureza constitutiva

Formalidade - O prefeito e o vice-prefeito satildeo eleitos nas urnas e natildeo

com o recebimento do diploma natildeo sendo necessaacuterio nem mesmo ir recebecirc-lo por

ocasiatildeo da diplomaccedilatildeo Isso eacute uma formalidade e diante do sufraacutegio universal popular

eacute ateacute irrelevante

O processo eleitoral conforme a maioria dos doutrinadores inicia-se

com a votaccedilatildeo e conclui-se com a diplomaccedilatildeo E tendo por base que a votaccedilatildeo eacute o

ponto culminante desse processo (sufraacutegiosoberania) natildeo seria forccedilar o entendimento

afirmar que as demais fases que a seguem satildeo acessoacuterias instrumentais natildeo tendo esses

procedimentos formais o condatildeo de obstaculizar uma decisatildeo soberana

Nunca eacute demais trazer agrave tona os ensinamentos processuais proferidos

pelo eminente Juiz Federal Magnus Augusto Delgado (membro do TRERN) nos autos

do processo ndeg 13094 proferido na sessatildeo do dia 160496 que mesmo se tratando de

mateacuterias distintas neste particular se afeiccediloa ao nosso caso pois a temaacutetica universal eacute a

mesma

O processo eacute um meio de realizaccedilatildeo do direito jamais um fim em si

mesmo O apego exacerbado agraves formas e filigranas delas

decorrentes pode levar na maioria dos casos ao proacuteprio

aniquilamento do direito material e este eacute o alvo nuclear merecedor

da primazia da atenccedilatildeo a ser dispensada pelo oacutergatildeo encarregado de

prestar a jurisdiccedilatildeo

Assim sendo essa possiacutevel mas bem discutiacutevel discrepacircncia formal natildeo

eacute suficiente para se impedir que o vice-prefeito seja diplomado tome posse e assuma a

vaga que lhe eacute de direito

Concluindo - Em tom final lembramos que natildeo se pode todavia alegar

o desconhecimento da importacircncia do vice pois haacute mais de uma deacutecada vivemos a

sua cultura chegando-se ateacute a afirmar em tom de prosa que vivemos em um paiacutes de

vices numa evidente referecircncia a alguns dos nossos Presidentes da Repuacuteblica (Joseacute

Sarney e Itamar Franco)

Por uacuteltimo as estatiacutesticas natildeo oficiais demonstram que hoje os vice-

prefeitos tecircm alta probabilidade de se tornarem titulares uma vez que os prefeitos

quando dos seus uacuteltimos anos de mandatos renunciam aos seus cargos para

concorrerem a cargos no legislativo assumindo a titularidade da prefeitura nessa

ocasiatildeo o vice-prefeito Hoje essas hipoacuteteses satildeo perfeitamente previsiacuteveis pelos

eleitores pois tornou-se uma praacutetica corriqueira entre os poliacuteticos Portanto natildeo haacute que

se votar apenas no titular esquecendo-se do vice muito pelo contraacuterio deve-se ter a

responsabilidade de votar no titular tendo em vista tambeacutem o vice pois este o

substituiraacute e suceder-lhe-aacute sempre que para isto for convocado

Assim natildeo sendo natildeo haacute motivo para a existecircncia do cargo de vice

Extinga-se

Por tudo isso a tese que mais correta se apresenta ara noacutes eacute a de que o

vice-prefeito assuma a titularidade do cargo de prefeito face a morte do seu titular antes

mesmo de sua diplomaccedilatildeo Pois poder foi legitimado pelo povo A contraacuterio sensu natildeo

seraacute democraacutetico pois natildeo decorreu da vontade do povo (art 10 da CF)

Eis em resumo o que tinha para expor sobre o tema Alcanccedilados meus

objetivos estaratildeo ao saber que mesmo de forma superficial abordei os seus principais

pontos rasgando os caminhos da exegese arrolando minhas opiniotildees

ABRE TEUS OLHOS THEacuteMIS

VANESSA ALESSANDRA PEREIRA

Acadecircmica do 7deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

Sumaacuterio I Introduccedilatildeo lI A Balanccedila Equiliacutebrio III A Espada e a

Forccedila IV A Venda e a Imparcialidade V Conclusatildeo VI Bibliografia

ldquoDireito natildeo destinado a converter-se em momento de vida eacute mera

aparecircncia de direitordquo1

I - INTRODUCcedilAtildeO

A evoluccedilatildeo dos modos de pensar da sociedade humana dos

comportamentos sociais dos tipos de crimes e penalidades a eles impostos da

complexidade e banalizaccedilatildeo da violecircncia urbana entre outros fatores tecircm levado de

uma forma geral a novas formas e estender o direito e por assim dizer de questionaacute-lo

Sob o tiacutetulo acima apresentado ouso contrapor-me agrave tradiccedilatildeo juriacutedica de

reverenciar a deusa Theacutemis juntamente com todo o simbolismo a ela arraigado A

balanccedila a espada e a venda representantes maiores dessa tradiccedilatildeo intocaacutevel da

atividade juriacutedica satildeo explicados e aceitos haacute seacuteculos como sendo o equiliacutebrio a forccedila e

a imparcialidade do direito Minha ousadia consiste justamente em questionar a sua

praticidade nos dias atuais desmascarando definiccedilotildees e pensamentos preestabelecidos

que na praacutetica natildeo passam de quimeras principalmente em nosso meio social marcado

pelas constantes ondas de violecircncia e desrespeito aos mais valorados direitos de um

povo

11 - A BALANCcedilA E O EQUILIacuteBRIO

Comecemos pela balanccedila posicionada em uma das matildeos da deusa da

Justiccedila e que representa o equiliacutebrio estabelecido entre as partes envolvidas nos

conflitos De um lado temos as classes menos favorecidas e de outro uma elite egoiacutesta

e economicamente superior Nesse diapasatildeo infelizmente natildeo haacute espaccedilo para o

almejado equiliacutebrio juriacutedico O que vemos diariamente eacute o acuacutemulo incalculaacutevel de leis

elaboradas com o uacutenico e exclusivo escopo de privilegiar uma minoria quando a grande

parcela da populaccedilatildeo sofre com a ausecircncia de normas que a beneficiem

Para que haja esse equiliacutebrio eacute preciso pocircr em praacutetica o princiacutepio da

igualdade juriacutedica perante a lei tatildeo bem sedimentado no artigo 5deg da Constituiccedilatildeo

Federal e ao mesmo tempo tatildeo criticado pelos mais diversos setores da sociedade

principalmente quando analisado sob a oacutetica da vida social A professora e advogada

Vera Luacutecia C Vassouras retrata bem essa questatildeo ao afirmar que ldquoA igualdade

juriacutedica no Brasil eacute pura forma seu conteuacutedo se engendra como veiacuteculo

ideoloacutegico de mascaramento das desigualdades veiacuteculo de injusticcedilas sociais e

1 REALE Miguel liccedilotildees Preliminares de Direito 22 ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 p 256

mecanismo de reproduccedilatildeo do sistema capitalista de dominaccedilatildeo2 Vai mais aleacutem

ao estabelecer a ideacuteia de que essa igualdade eacute um mito ldquo uma grande mentira

ideoloacutegica que tomou a consciecircncia daqueles que natildeo admitem o progresso e a

verdadeira cultura (multidisciplinar) para as massas3

Ainda com relaccedilatildeo a essa questatildeo cumpre-nos destacar o pensamento

do professor JOAtildeO BAPTISTA HERKENHOFF corroborando a certeza da

inexistecircncia de uma igualdade juriacutedica em nosso paiacutes Para ele Natildeo seratildeo

condutoras do artesanato democraacutetico as velhas e caducas categorias do Direito

com todos os seus mitos e falsidades a comeccedilar pelo da igualdade de todos

perante a lei igualdade impossiacutevel dentro de uma estrutura social fundada na

desigualdade e na iniquumlidade4

III - A ESPADA E A FORCcedilA

Jaacute dizia RUDOLF VON IHERING que A espada sem a balanccedila eacute a

forccedila brutal a balanccedila sem a espada eacute a impotecircncia do direito5 Usa-se o

simbolismo da espada como arma para a defesa do direito Mas aproveito e pergunto

que direito eacute esse que estaacute sendo defendido O direito de que classe social estaacute se

buscando De quais interesses estaraacute o legislador a defender Respostas existem mas

infelizmente a populaccedilatildeo chegou a um estaacutegio tal de letargia e descrenccedila nas

instituiccedilotildees sociais que claramente passou a conviver com a violecircncia e o descaso do

poder puacuteblico sem mais questionar os porquecircs nem buscar soluccedilotildees para os problemas

que a afligem

Hodiernamente o que vemos natildeo eacute a espada da Justiccedila e sim as

armas dos bandidos que matam e destroem o sonho de uma sociedade justa e

comprometida com os ideais de justiccedila e paz social Destarte a violecircncia que antes

era vista apenas pela televisatildeo ou lida atraveacutes dos jornais desceu dos morros saiu das

favelas e chegou ateacute noacutes de forma assustadora e alarmante Isto porque a sociedade

que prega o sucesso e ascensatildeo dos individuos eacute a mesma que Ihes nega

oportunidades levando essas pessoas a buscarem seu espaccedilo de forma ilegal e

violenta Passamos assim a ser prisioneiros dentro de um universo criado para

imperar a ordem mas que discrimina seus membros alijando-Ihes da condiccedilatildeo de

cidadatildeos

IV - A VENDA E A IMPARCIALIDADE

Dentre as curiosidades surgidas acerca dos siacutembolos que representam a

2 in o Mito da Igualdade Juriacutedica no Brasil Notas Criticas sobre a Igualdade

Formal Satildeo Paulo Edicon 1994 p 123

3 Opcit p15

4 in Para onde vai o Direito Reflexotildees sobre o papel do Direito e do

jurista Porto Alegre Livraria do Advogado 1996 p 78

5 in A Luta pelo Direito 16 ed Rio de Janeiro Forense 1996 p01

Justiccedila outra que impressiona aos estudiosos do Direito eacute a imagem daquela figura

poderosa e destemida da deusa Theacutemis tendo os olhos cobertos por uma venda Com o

tempo percebemos que esse modelo de imparcialidade a noacutes imposto natildeo passa de

ilusatildeo fruto que eacute de um pensamento caduco e cego agrave realidade social e juriacutedica em

que vivemos

Carnelutti por sua vez afirmava que ldquoA justiccedila humana natildeo pode ser

senatildeo uma justiccedila parcial a sua humanidade natildeo pode senatildeo resolver-se na sua

parcialidade Tudo aquilo que se pode fazer eacute buscar diminuir esta parcialidade6

Nesse diapasatildeo fica uma criacutetica ao judiciaacuterio oacutergatildeo criado para estabelecer a lei e o

direito mas que inuacutemeras vezes erra originando a descrenccedila e a desconfianccedila por parte

daqueles que o provocam

Hoje podemos afirmar que a Justiccedila brasileira eacute eminentemente elitista

parcial e conservadora com honrosas exceccedilotildees mas que se perdem no emaranhado da

desordem juriacutedica Diante do exposto fica a certeza da perniciosa parcialidade do

judiciaacuterio e da imperiosa necessidade de bradarmos contra a mesma Ricos ou pobres

pretos ou brancos eis o objetivo do direito eis o sonho de toda uma sociedade

Nesse contexto urge pois destacar o desabafo do jaacute mencionado

professor JOAtildeO BAPTISTA HERKENHOFF que clama

Abaixo a hipoacutecrita neutralidade de advogados procuradores juizes

desembargadores ministros Essa neutralidade sempre protegeu escolhas

de conservaccedilatildeo das estruturas e de manutenccedilatildeo do status quo Sejamos

verdadeiros Faccedilamos opccedilotildees puacuteblicas e honestas Decidamos por qual

mundo lutaremos que interesses consideramos legiacutetimos e merecedores

da tutela de nossas valoraccedilotildees7

V - CONCLUSAtildeO

Ao depois do exposto resta-me deixar um testemunho como acadecircmica

de direito e mais ainda como parte integrante de uma sociedade marcada pelas

mazelas de um poder cujo pensamento eacute sedimentado na maioria das vezes em

conceitos retroacutegrados e por demais individualistas

Embora em assim me posicionando tenho consciecircncia de que as

responsabilidades precisam ser divididas De um lado o judiciaacuterio agindo na tutela dos

interesses individuais e coletivos Do outro a sociedade interessada precipuamente

na construccedilatildeo de um paiacutes que honre as suas instituiccedilotildees Esse eacute o pensamento do

eminente Juiz Federal e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

WAL TER NUNES DA SILVA JUacuteNIOR quando diz Natildeo se reclame amanhatilde

dos que fazem a justiccedila concentrando as desconfianccedilas na lei e pior ainda no

Judiciaacuterio A justiccedila natildeo nasce nem termina no Judiciaacuterio A justiccedila eacute uma

comunhatildeo de accedilotildees sociais levadas a cabo natildeo soacute pelo Estado como tambeacutem

por cada um de noacutes dentro dos nossos deveres e responsabilidades como

6 in As Miseacuterias do processo Penal Itaacutelia Conan 1995 p 34

7 Op cit p 75

profissionais e sobretudo como cidadatildeos8

Diante disso permitam-me fazer um apelo a todos aqueles que ora

compartilham comigo a anguacutestia de um direito injusto o inconformismo diante da

impunidade o medo da violecircncia Eacute chegada a hora de nos unirmos abrindo os olhos

para os problemas acima levantados dividindo as culpas e buscando a verdadeira

justiccedila Para isso ouso gritar Abre teus olhos Theacutemis

VI - REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

CARNELUTTI Francesco As Miseacuterias do Processo Penal Traduccedilatildeo de

Joseacute Antonio Cardinalli Satildeo Paulo Conan 1995

HERKENHOFF Joatildeo Baptista Para onde vai o Direito reflexotildees sobre

o papel do Direito e do jurista Porto Alegre Livraria do Advogado 1996

IHERING Rudolf Von A Luta pelo Direito Traduccedilatildeo de Joatildeo

Vasconcelos 16 ed Rio de Janeiro Forense 1996

REALE Miguel Liccedilotildees Preliminares de Direito 22 ed Satildeo Paulo

Saraiva 1995

VASSOURAS Vera Luacutecia C O mito da igualdade juriacutedica no Brasil

notas criacuteticas sobre igualdade formal Satildeo Paulo Edicon 1995

8 in o Direito Penal e a Criminalidade Trabalho apresentado na I Jornada de Direito Penal e Processo

Penal promovida pelo DAAC - Diretoacuterio Acadecircmico Amara Cavalcanti do Curso de Direito da UFRN

CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRACcedilAtildeO

PUacuteBLICA

VICENTE ELIacuteSIO DE O NETO

Bacharel em Direito pela UFRN

I - Introduccedilatildeo 2 - O Controle Jurisdicional 21 Definiccedilatildeo e

Generalidades 22 O Controle Jurisdicional e a Constituiccedilatildeo de 1988 23

Privileacutegios da Administraccedilatildeo Puacuteblica 3 - Meios de Controle 31 Generalidades 32

Habeas Cor pus 33 Habeas Data 34 Mandado de Injunccedilatildeo 35 lvandado de

Seguranccedila Individual 36 Mandado de Seguranccedila Coletivo 37 Accedilatildeo Popular 38

Accedilatildeo Civil Puacuteblica 4 - Limites ou Restriccedilotildees ao Controle Judiciaacuterio 41

Generalidades 42 Quanto agrave A1ateacuteria 43 Quanto agrave Amplitude do Ato de Controle

44 Quanto agrave Oportunidade do Pronunciamento 45 Quanto agrave Extensatildeo do

Pronunciamento 5 - Conclusatildeo 6 ndash Bibliografia

1 - INTRODUCcedilAtildeO

O tema deste estudo eacute o Controle Jurisdicional da Administraccedilatildeo

Puacuteblica Seu objeto as limitaccedilotildees ou restriccedilotildees a que estaacute submetido Mais

precisamente eacute investigar em que sentido podemos falar em restriccedilotildees ao controle

jurisdicional e de que decorrem

Buscando atingir o fim pretendido dividimos o trabalho em quatro

parte aleacutem desta introduccedilatildeo

Na primeira expendemos uma definiccedilatildeo do controle seu alcance fins e

fundamentos indicamos seu fortalecimento com o advento da Carta Magna de 1988 e

ainda elencamos os privileacutegios que caracterizam a atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo em Juiacutezo

Em seguida tratamos dos remeacutedios constitucionais de que podem fazer

uso os administradores em defesa de seus direitos individuais e interesses coletivos e

difusos ameaccedilados ou violados pelos comportamentos ilegiacutetimos da Administraccedilatildeo

Ao cuidarmos das restriccedilotildees ao controle efetuamos uma siacutentese das

opiniotildees a respeito a que tivemos acesso Feito isso passamos a expor a concepccedilatildeo que

nos pareceu mais correta e fundamentada e por conseguinte a que aderimos no estaacutegio

em que se encontram os nossos estudos

Por fim apresentamos nossas conclusotildees

2 - O CONTROLE JURISDICIONAL

21 DEFINICcedilAtildeO E GENERALIDADES

Define-se o controle jurisdicional como sendo aquele que eacute exercido

exclusivamente pelo Poder Judiciaacuterio em virtude de provocaccedilatildeo dos interessados por

intermeacutedio de instrumentos especiacuteficos ou inespeciacuteficos assegurados aos administrados

na Constituiccedilatildeo e na legislaccedilatildeo infra-constitucional para apreciaccedilatildeo in concreto dos

comportamentos da Administraccedilatildeo Puacuteblica quer para invalidar suas condutas ilegais

constrangecirc-la ao desempenho das atividades a que estaacute obrigada ou ainda condenaacute-la a

indenizar os lesados reparando os danos a que deu causa1

Seu exerciacutecio eacute da competecircncia exclusiva do Poder Judiciaacuterio por ser o

ordenamento juriacutedico nacional daqueles que se filiam ao sistema da jurisdiccedilatildeo una

(artigo 5D inciso XXXV da Constituiccedilatildeo Federal de 1988) A necessidade de

provocaccedilatildeo para que opere justifica-se como eacute sabido pelo imperativo da

imparcialidade do judiciaacuterio Quanto aos instrumentos ou meios dedicamos toda uma

parte de nosso estudo (ponto 3)

Conquanto a maior parte dos doutrinadores pesquisados refiram-se ao

controle dos atos administrativos preferimos adotar o vocaacutebulo comportamentos de

que faz uso Celso Antocircnio Bandeira de Mello2 a fim de incluir os atos da

Administraccedilatildeo particularmente os materiais sobre os quais indiscutivelmente eacute

exercido o controle jurisdicional

Eacute bem verdade no entanto que o Controle Judicial da Administraccedilatildeo

encarado como teacutecnica de contenccedilatildeo e equiliacutebrio das funccedilotildees estatais destina-se

precipuamente agrave apreciaccedilatildeo dos atos administrativos

Fixe-se tambeacutem que o controle incide sobre os oacutergatildeos do Poder

Executivo assim como atinge os atos praticados pelos oacutergatildeos dos demais Poderes

quando praticados no desempenho de funccedilatildeo tipicamente administrativa3

O relevante serviccedilo que cumpre para a garantia do Estado de Direito

chega ao ponto de se afirmar ser o controle jurisdicional aliado ao princiacutepio da

legalidade um dos seus fundamentos4 Lembrando-se os ensinamentos do inesqueciacutevel

Seabra Fagundes administrar eacute aplicar a lei de oficio Assim sendo a instituiccedilatildeo de

uma teacutecnica posta agrave disposiccedilatildeo de um outro Poder para aferir a conformidade da atuaccedilatildeo

da Administraccedilatildeo com as disposiccedilotildees normativas inquestionavelmente eacute o fundamento

de um Estado em que impera o primado da lei

Do que se acaba de expor eacute que resulta a costumeira afirmaccedilatildeo segundo

a qual o controle judicial visa anular os atos ilegais da Administraccedilatildeo Natildeo haacute negar a

correccedilatildeo e coerecircncia da assertiva Acreditamos todavia para que se natildeo incorra em

equiacutevoco que a melhor doutrina eacute aquela em que se afirma expressamente ser uma das

finalidades do controle assegurar uma atuaccedilatildeo administrativa em consonacircncia com o

conjunto dos princiacutepios que lhe satildeo impostos pela ordem normativa informadores do

regime juriacutedico-administrativo como os da legalidade impessoalidade moralidade

1 Definiccedilatildeo formulada a partir principalmente das liccedilotildees de Celso Antocircnio Bandeira de Mello (ldquoCurso de

Direito Administrativordquo Satildeo Paulo Malheiros Editores pp 605 e 606

2 Op Cit p 117

3 Hely Lopes Meirelles Op Cit P 605 Maria Sylvia Zanella di Pietro ldquoDireito Administrativordquo Satildeo

Paulo Atlas Editora p 478 4 Maria Sylvia Zanella di Pietro op Cit p 492

publicidade motivaccedilatildeo razoabilidade proporcionalidade da responsabilidade do

Estado por Atos Administrativos e quaisquer outros que derivem da supremacia do

interesse puacuteblico sobre o privado e da indisponibilidade pela Administraccedilatildeo por

interesses puacuteblicos5

Ponderam os estudiosos que em regra os atos administrativos em geral

estatildeo sujeitos agrave apreciaccedilatildeo pelo Judiciaacuterio Feito isto cuidam os mesmos de chamar a

atenccedilatildeo para as peculiaridades da apreciaccedilatildeo judicial dos atos discricionaacuterios

restringe-se agrave competecircncia eacute exclusivamente da legalidade natildeo pode invadir o

meacuterito administrativoPoreacutem efetuados aquelas ressalvas normalmente discorrem de

modo a concluir uns mais outros menos que as restriccedilotildees inicialmente elencadas natildeo

estreitam tanto a apreciaccedilatildeo dos atos discricionaacuterios pelo Judiciaacuterio

Natildeo nos interessa aqui tratar longa mente do tema Para os fins deste

trabalho importa somente que se registre a extensatildeo do controle judicial quando o ato

impugnado eacute efetivamente discricionaacuterio A soluccedilatildeo do problema assim acreditamos

soacute se encontra na anaacutelise realizada por Celso Antocircnio Bandeira de Mello6 Eacute que o

mestre inverte a questatildeo busca traccedilar os limites e a correta concepccedilatildeo da

discricionariedade para posteriormente determinar a extensatildeo Sintetiza o autor que o

Judiciaacuterio em face de ato discricionaacuterio poderaacute investigar os motivos do ato ou seja

os pressupostos de fato que embasaram a atuaccedilatildeo administrativa a fim de verificar

se realmente subsistem e satildeo idocircneos para determinar a atuaccedilatildeo administrativa

examinaraacute a finalidade contida na norma de competecircncia a fim de invalidaacute-los caso

praticados com desvio de poder e por fim deve o juiz averiguar a causa do ato ou seja

a relaccedilatildeo de adequaccedilatildeo entre os pressupostos e o seu objeto sem a qual o ato

discricionaacuterio eacute nulo

22 O CONTROLE JURISDICIONAL E A CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

O advento da Constituiccedilatildeo de 1988 eacute de significativa importacircncia para o

Controle Jurisdicional da Administraccedilatildeo Puacuteblica em funccedilatildeo de seu fortalecimento e

ampliaccedilatildeo por obra do legislador constituinte

No texto constitucional em vigor foram expressos novos remeacutedios como

o mandado de seguranccedila coletivo e o habeas data a accedilatildeo popular foi ampliada e a accedilatildeo

civil puacuteblica obteacutem status constitucional

6

7 Luacutecia Valle Figueiredo Curso de Direito Administrativo sao Paulo

Malheiros Editores p 243

3 Hely Lopes Meirelles Op cit p 605 Maria Sylvia Zanella Di Pietro

Direito Administrativo Paulo Atlas Edi1ora p 478

4 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op ci1 p 492

5 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op ci1 p 478 Hely Lopes Meirelles

op ci1 p 606

5 Maria Sylvia Zanella di Pietro op Cit p 478 Hely Lopes Meirelles op cit p 606

6 Op cit Cap XV pp 450 a 471

Inovou o texto Magno em relaccedilatildeo agrave mateacuteria ao estabelecer que a ameaca

de lesatildeo eacute bastante para que seja prestada a tutela jurisdicional (artigo 5deg inciso

XXXV) Consequumlecircncia necessaacuteria que daiacute resulta para o controle jurisdicional eacute sua

agilizaccedilatildeo7 o que nos leva a concluir que jaacute natildeo se mais pode indicar como proacuteprio dele

ocorrer a posteriori como ateacute entatildeo era encarado

No entanto entendemos que a mais importante novidade relaciona-se

com a garantia dos direitos coletivos e difusos por representar fundo golpe nas

doutrinas individualistas e liberais que tanta influecircncia ainda exercem em nossa ordem

juriacutedica

23 PRIVILEacuteGIOS DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Em juiacutezo a Administraccedilatildeo Puacuteblica goza determinados privileacutegios que

lhe satildeo reconhecidos em decorrecircncia da supremacia do interesse puacuteblico sobre o

individual Dentre eles destacam- se

a) Juiacutezo Privativo

No acircmbito federal eacute a Justiccedila Federal de 1ordf e 2

ordf instacircncia (Juizes

Federais e Tribunais Regionais Federais) em que satildeo julgadas as accedilotildees em que

participem a Uniatildeo suas autarquias e empresas puacuteblicas Entretanto as sociedades de

economia mista e fundaccedilotildees de direito privado atuam na Justiccedila Comum Ademais as

accedilotildees relativas agrave falecircncia e acidentes de trabalho bem como as da competecircncia da

Justiccedila Eleitoral e do Trabalho estatildeo excluiacutedas da apreciaccedilatildeo da Justiccedila Federal

Por sua vez os Estados e os Municiacutepios tambeacutem dispotildeem deste

privileacutegio nos termos de suas Leis de Organizaccedilatildeo Judiciaacuteria que estabelecem as

Varas da Fazenda Puacuteblica

b) Prazos

A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios assim como

suas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico quando partes em accedilatildeo judicial dispotildeem

de prazo em quaacutedruplo para contestar e em dobro para recorrer (artigo 188 do Coacutedigo

de Processo Civil)

c) Duplo Grau de Jurisdiccedilatildeo

Sujeitam-se ao duplo grau necessaacuterio de jurisdiccedilatildeo as sentenccedilas

proferidas contra a Uniatildeo os Estados e os Municiacutepios bem como a que julga

improcedente a execuccedilatildeo de diacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica que soacute produziratildeo efeitos

caso confirmadas pelo Tribunal (artigo 475 incisos 11 e 111 do Coacutedigo de Processo

Civil) Este benefiacutecio natildeo se aplica agraves autarquias fundaccedilotildees empresas puacuteblicas e

sociedades de economia mista

d) Processo Especial de Execuccedilatildeo

Privileacutegio de status constitucional eacute o que estabelece o artigo 100 da Lei

Maior Trata-se do pagamento atraveacutes de precatoacuterio requisitoacuterio das obrigaccedilotildees

pecuniaacuterias da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal dos Municiacutepios e suas

respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico decorrentes de sentenccedila judicial

e) Pagamento das Despesas Judiciais

As despesas dos atos processuais efetuadas a requerimento da Fazenda

7 Luacutecia Valle Figueiredo Curso de Direito Administrativo Satildeo Paulo Malheiros Editores p 243

Puacuteblica seratildeo pagas ao final pelo vencido (artigo 27 do Coacutedigo de Processo Civil)

Haacute tambeacutem a dispensa do preparo quando os recursos forem interpostos

pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios e respectivas autarquias (artigo 511 paraacutegrafo uacutenico

do Coacutedigo de Processo Civil)

3 - MEIOS DE CONTROLE

31 GENERALIDADES

Apoacutes ressalvarem em uniacutessono que os administrados podem se valer

contra os atos administrativos ilegais de todas as accedilotildees e procedimentos (ordinaacuterio

sumaacuterio ou especial) cuidam os administrativistas dos denominados meios de

controlerdquo8 ou garantias dos administradosrdquo

9

Eacute princiacutepio fundamental da Ordem Juriacutedica paacutetria a apreciaccedilatildeo pelo

Judiciaacuterio de toda e qualquer lesatildeo ou ameaccedila a direito seja ele individual coletivo ou

difuso nos termos do artigo 5deg inciso XXXV da Carta Magna do qual se infere ter o

constituinte de 88 optado pelo sistema da jurisdiccedilatildeo una Portanto sofrendo o

administrado violaccedilatildeo ou ameaccedila de violaccedilatildeo de seus direitos individuais em virtude de

comportamento postura ou ato da administraccedilatildeo ou ainda percebendo o cidadatildeo que

da atividade administrativa resultou ou iraacute resultar malferido direito coletivo ou difuso

a ambos eacute facultado provocar o controle corretivo do Judiciaacuterio posto que a tutela

jurisdicional haacute de ser requerida (artigo 20 do Coacutedigo de Processo Civil) a fim de que

cesse a ameaccedila ou lesatildeo resultante do ato ilegal

Percebendo as particularidades das relaccedilotildees travadas entre a

Administraccedilatildeo e os administrados da importacircncia do vulto dos interesses puacuteblicos e

particulares em jogo bem como das dificuldades enfrentadas para que sejam

equacionados pacificamente tratou o constituinte de estabelecer institutos destinados

especificamente a garantir os direitos dos particulares em face dos atos abusivos do

administrador por meio do pronunciamento do Poder Judiciaacuterio Costuma a doutrina

denominaacute-los remeacutedios constitucionais porque tecircm por escopo assegurar os direitos

fundamentais Em verdade satildeo ao mesmo tempo direitos e garantias em sentido

instrumental satildeo direitos como o direito de accedilatildeo em sentido material satildeo garantias pois

estabelecidos no texto constitucional para a proteccedilatildeo dos direitos nele previstos10

Dentre os meios de controle da Administraccedilatildeo pelo Judiciaacuterio

destacam-se o Habeas corpus o Habeas Data o Mandado de Injunccedilatildeo o Mandado

de Seguranccedila Individual o Mandado de Seguranccedila Coletivo a Accedilatildeo popular e a

Accedilatildeo Civil Puacuteblica Como veremos a seguir os quatro primeiros cumprem papel de

garantias de direitos individuais enquanto os trecircs uacuteltimos prestam grande

contribuiccedilatildeo na preservaccedilatildeo dos direitos coletivos e difusos

32 HABEAS CORPUS

8 Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 498

9 Hely Lopes Meirelles op cit p 614 Diogo de Figueiredo Moreira

Neto ldquoCurso de Direito Administrativordquo 8ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense p 535

10

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 499

Instituto que antecede historicamente o Eu 1 Direito surgiu o

Habeas Corpus precisamente na Inglaterra em 1215 prescrito na Magna Carta

imposta ao Rei Joatildeo Sem Terra pela qual a nobreza rebelde impocircs restriccedilotildees ao

poder real

No direito brasileiro o Habeas Corpus remonta ao periacuteodo imperial

previsto no Coacutedigo de Processo Criminal de 1832 em seu artigo 340 verbiacutes

Todo cidadatildeo que entender que ele ou otrl1 sofre prisatildeo ilegal ou

constrangimento ilegal em sua liberdade tem direito de pedir uma

ordem de bdquohabeas corpus em seu favor

Hodiernamente trata-se de garantia constitucional que tem por fim

assegurar o direito de locomoccedilatildeo de ir e vir ameaccedilada ou atingida por violecircncia ou

coaccedilatildeo decorrente de ato ilegal ou abusivo

Remeacutedio assegurado a qualquer indiviacuteduo (artigo 50 inciso LXVIII) sua

impetraccedilatildeo eacute gratuita (artigo 5deg inciso UXil1i Constituiccedilatildeo Federal) e dispensa

procurador judicial bem como qualquer formalidade impeditiva de seu exerciacutecio

Meio pelo qual o Judiciaacuterio exerce controle corretivo dos atos

administrativos ilegiacutetimos praticados por autoridade no exerciacutecio do Poder de Poliacutecia de

Seguranccedila natildeo eacute o habeas cor pus infelizmente via processual haacutebil para se alcanccedilar a

tutela jurisdicional necessaacuteria agrave proteccedilatildeo dos militares que sofrem prisatildeo disciplinar

resultante de ato administrativo punitivo disciplinar militar ilegal por forccedila do que

dispotildee o paraacutegrafo 2deg do artigo 142 da Constituiccedilatildeo Federal

33 HABEAS DATA

Lembrando o passado (praacutetica das autoridades responsaacuteveis pela

repressatildeo poliacutetica durante o regime militar que armazenavam em arquivos sigilosos

informaccedilotildees acerca da vida pessoal e poliacutetica dos opositores da ditadura) e prevendo o

futuro (proliferaccedilatildeo dos bancos de dados informatizados) inovou o constituinte de 66

ao dar origem ao habeas data remeacutedio constitucional que tem por fim assegurar o

conhecimento eou a retificaccedilatildeo de informaccedilotildees relativas agrave pessoa do impetrante

constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caraacuteter

puacuteblico (artigo 5deg inciso LXXII aliacuteneas a e b)

Garantia de que se poderaacute valer gratuitamente (artigo 5deg inciso

LXXVII) entende a doutrina11

que a accedilatildeo de Habeas Data tem por fim tutelar a

intimidade a vida privada a honra e a imagem dos indiviacuteduos contra o uso e

conservaccedilatildeo em registros de dados falhos obtidos por meios fraudulentos ou ilegais

bem como a introduccedilatildeo em tais registros de dados sensiacuteveis relativos agrave origem racial

opiniatildeo poliacutetica religiosa e filosoacutefica orientaccedilatildeo sexual etc

11

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 500-1

34 MANDADO DE INJUNCcedilAtildeO

Podemos definir o Mandado de Injunccedilatildeo como a medida constitucional

de que se vale o indiviacuteduo para buscar a tutela jurisdicional apta a viabilizar o exerciacutecio

dos direitos e liberdades constitucionais ou das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade

agrave soberania e agrave cidadania inexequumliacutevel por falta de norma regulamentadora (artigo 5ordm

inciso LXXI da Constituiccedilatildeo Federal)

A utilizaccedilatildeo da garantia tem por pressuposto a inexistecircncia de norma

regulamentadora (lei ou regulamento) e a inviabilizaccedilatildeo do exerciacutecio dos direitos e

liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade agrave soberania e agrave

cidadania12

Sua finalidade eacute a obtenccedilatildeo de um pronunciamento judicial que

reconhecendo a ausecircncia de norma regulamentadora estipule as condiccedilotildees para que o

impetrante exercite o direito de liberdade ou prerrogativa

35 MANDADO DE SEGURANCcedilA INDIVIDUAL

Mandado de Seguranccedila eacute o remeacutedio constitucional que se destina a

assegurar direito liacutequido e certo natildeo amparado por haacutebeas corpus ou habeas data

contra ato ilegal ou praticado com abuso de poder por autoridade puacuteblica ou agente de

pessoa juriacutedica no exerciacutecio) atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico (artigo 5deg inciso LXIX)

Regulamentado pela Lei nordm 1533 de 31 01 dezembro de 1951 o

Mandado de Seguranccedila individual tem por objeto a correccedilatildeo de ato ilegal (omissivo ou

comissivo) atentatoacuterio a direito liacutequido e certo do impetrante

A expressatildeo direito liacutequido e certo eacute por todos criticada Eacute que na

verdade ela natildeo se refere ao direito objetivo norma que o Judiciaacuterio decide ser

aplicaacutevel ao caso concreto Refere-se ao direito subjetivo do impetrante que deve ser

aferido pelo exame dos fatos alegados e devidamente provados atraveacutes dos documentos

que acompanham a inicial salvo na hipoacutetese do paraacutegrafo uacutenico do artigo 6ordm da Lei ndeg

15335113

O ato que se pretende invalidar por intermeacutedio do mandamus deve ter

sido praticado com o viacutecio da i1egalidade ou abuso de poder consoante se expressou o

legislador constitucional Tal enunciado somente se justifica pela tradiccedilatildeo posto que

nos tempos hodiernos eacute paciacutefica a compreensatildeo doutrinaacuteria segundo a qual a

ilegalidade eacute gecircnero de que o abuso de poder eacute apenas uma de suas espeacutecies

A autoridade que pratica ato passiacutevel de constriccedilatildeo denominada

autoridade coatora eacute aquela investida pela ordem juriacutedica na competecircncia ilegalmente

12

Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 557 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op Cit p 507

13 Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 552

utilizada14

Natildeo se confunde com o sujeito passivo do Mandado de Seguranccedila (Uniatildeo

Estados Municiacutepios ou quaisquer pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que

desempenhem atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico)

Eacute paciacutefico o entendimento de que o writ eacute instrumento preventivo e

repressivo Na primeira hipoacutetese a seguranccedila eacute concedida para coibir ameaccedila

comprovado o justo receio na segunda a seguranccedila eacute concedida a fim de que se

alcance a correccedilatildeo da lesatildeo provada por fatos incontroversos

Por fim registre-se a possibilidade de ser concedida medida liminar a

requerimento do impetrante que deveraacute ser concedida pelo Juiz (entendem alguns que

eacute faculdade discricionaacuteria com o que natildeo concordamos) ao despachar a inicial

determinando a suspensatildeo do ato impugnado quando for relevante o fundamento da

impugnaccedilatildeo e dele puder resultar a ineficaacutecia da medida caso seja deferida (artigo 7deg

inciso II da Lei 153351)

36 MANDADO DE SEGURANCcedilA COLETIVO

Inserido no texto constitucional em vigor o Mandado de Seguranccedila

Coletivo eacute a garantia de que dispotildeem os partidos poliacuteticos com representaccedilatildeo no

Congresso Nacional os sindicatos entidades de classe e associaccedilotildees legalmente

constituiacutedas e em funcionamento haacute pelo menos um ano estas uacuteltimas em defesa dos

interesses de seus membros ou associados (artigo 5deg inciso LXX)

Os pressupostos do writ coletivo satildeo os mesmos do individual15

ato

ilegal de autoridade do qual decorra lesatildeo ou ameaccedila a direito liacutequido e certo

Natildeo obstante as duacutevidas doutrinaacuterias e as vacilaccedilotildees da jurisprudecircncia

estamos com os que pregam ser a nova espeacutecie de mandado de seguranccedila instrumento

estabelecido para ampliar o elenco dos meios de controle corretivo dos atos i1egiacutetimos

praticados pela Administraccedilatildeo contra os interesses coletivos e difusos particularmente

quando manejado por partido poliacutetico bem como dos direitos subjetivos individuais e

coletivos reclamados pelas entidades sindicais e associaccedilotildees na defesa de seus

componentes e associados

No que diz respeito ao procedimento entende-se que deva ser observado

o estabelecido na Lei 15335116

37 ACcedilAtildeO POPULAR

Accedilatildeo popular eacute o meio constitucional conferido ao cidadatildeo na condiccedilatildeo

de substituto processual de todo o povo17

para invalidar ato lesivo ao patrimocircnio

puacuteblico ou de entidade de que o Estado participe agrave moralidade administrativa ao meio

14

Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 255 15

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit 521 16

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit 524 17

Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 554

ambiente e ao patrimocircnio histoacuterico e cultural (artigo 5deg inciso LXXIII)

Com seu procedimento estabelecido na Lei 471765 a accedilatildeo popular tem

por objeto a invalidaccedilatildeo do ato lesivo e a condenaccedilatildeo dos responsaacuteveis e beneficiaacuterios

ao pagamento de perdas e danos (artigo 11 da L A P )

A legitimidade para agir deferida exclusivamente ao cidadatildeo brasileiro

nato ou naturalizado no gozo dos direitos poliacuteticos eacute criticada pela doutrina mais

luacutecida 18

que defende sua extensatildeo agraves entidades de classe

O patrimocircnio que se busca proteger por meio da accedilatildeo popular engloba o

das pessoas juriacutedicas poliacuteticas suas autarquias empresas puacuteblicas e sociedades de

economia mista das sociedades muacutetuas de seguro nas quais a Uniatildeo representa os

segurados ausentes de serviccedilos sociais autocircnomos de instituiccedilotildees ou fundaccedilotildees para

cuja criaccedilatildeo ou custeio o tesouro puacuteblico haja concorrido ou concorra de empresas

incorporadas ao patrimocircnio puacuteblico de pessoas juriacutedicas subvencionadas pelos cofres

puacuteblicos bem como os bens e direitos de valor econocircmico artiacutestico esteacutetico histoacuterico

ou turiacutestico (artigo 1deg e paraacutegrafo 1deg da LAP)

Por fim em face do interesse puacuteblico que visa a accedilatildeo popular

resguardar poderaacute ser requerida a suspensatildeo Liminar do ato impugnado caso estejam

presentes no caso concreto as circunstacircncias previstas para a concessatildeo da medida

liminar em mandado de seguranccedila (artigo 5deg paraacutegrafo 4ordm)19

38 ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA

Accedilatildeo Civil Puacuteblica eacute o instrumento processual manejaacutevel para proteger o

meio ambiente o consumidor os bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico

turiacutestico e paisagiacutestico a ordem econocircmica bem como a qualquer outro interesse

coletivo ou difuso

Regulada pela Lei 737785 e prevista no texto constitucional (artigo

129 inciso 111) pode ser utilizada como excelente instrumento de controle da

Administraccedilatildeo pelo Judiciaacuterio nos casos em que os interesses difusos sejam ameaccedilados

ou violados por atos ilegiacutetimos das autoridades administrativas

Tendo por objetivo a condenaccedilatildeo pecuniaacuteria ou o cumprimento de

obrigaccedilatildeo de fazer ou natildeo fazer a accedilatildeo civil puacuteblica poderaacute ser cautelar buscando evitar

o dano iminente ou principal quando teraacute por escopo responsabilizar os que deram

causa ao dano

A propositura da accedilatildeo pode ser levada a efeito pelo Ministeacuterio Puacuteblico

pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios suas autarquias empresas puacuteblicas fundaccedilotildees

sociedade de economia mista bem como por associaccedilatildeo constituiacuteda haacute pelo menos um

ano e que tenha entre os seus fins institucionais a defesa dos interesses coletivos e

difusos (artigo 5deg e incisos I e 11)

4 - LIMITES OU RESTRICcedilOtildeES AO CONTROLE JUDICIAacuteRIO

18 Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 281

19 Theotocircnio Negrao Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo

Processual em Vigor Nota ao artigo 5deg 3a da LAP p 706

41 GENERALIDADES

A doutrina pesquisada dedica-se ao tema de trecircs formas distintas a

saber

a) a primeira abordagem afirmava no preteacuterito que os atos poliacuteticos os

legislativos e os interna corporis eram insuscetiacuteveis de apreciaccedilatildeo judicialrdquo20

Posteriormente evoluiu ao ponto de admitir que tais atos estavam sujeitos a controle

especialrdquo A justificativa que apresentam os que assim entendem eacute que tais atos

possuem um alto teor de discricionariedade seriam discricionaacuterios por excelecircncia do

que concluiacuteam ser muito restrita a apreciaccedilatildeo judicial dos mesmos

b) em situaccedilatildeo intermediaacuteria haacute quem nomine limites ao discorrer

sobre os atos poliacuteticos normativos e os interna corporis admitindo o controle

jurisdicional com fundamento no artigo 5deg inciso XXXV da Lei Maior21

c) por fim aborda-se a questatildeo de forma mais cuidadosa e profunda agrave

luz do texto constitucional referindo-se a restriccedilotildees ao controle judiciaacuterio justificadas

pelo princiacutepio do equiliacutebrio dos Poderes e da consequumlente distribuiccedilatildeo de competecircncia

levada a efeito pelo Estatuto Fundamental22

Eacute seguindo os caminhos abertos pela uacuteltima abordagem que passamos a

examinar o tema

42 QUANTO A MATEacuteRIA

O legislador constituinte tendo por escopo assegurar o necessaacuterio

equiliacutebrio entre os Poderes estabeleceu expressamente algumas hipoacuteteses em que a

competecircncia decisoacuteria eacute outorgada ao Senado Federal ao Congresso Nacional ao

Tribunal de Contas da Uniatildeo e aos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municiacutepios

Satildeo elas

a) Ao Senado Federal compete privativamente

O processo e julgamento do Presidente e do Vice-Presidente da

Repuacuteblica nos crimes de responsabilidade assim como dos Ministros de Estado nos

crimes da mesma natureza conexos com aqueles (artigo 52 inciso I)

O processo e julgamento dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e

do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do Advogado-Geral da Uniatildeo nos crimes de

responsabilidade (artigo 52 inciso II)

b) Eacute da competecircncia exclusiva do Congresso Nacional

O julgamento anual das Contas do Presidente da Repuacuteblica (artigo 49

inciso IX)

c) compete ao Tribunal de Contas da Uniatildeo aos Tribunais de Contas dos

20 Hely Lopes Meirelles op cit p 609

21

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 493 22

Diogo de Figueiredo op cit pp 189 a 192

Estados e dos Municiacutepios nas suas respectivas esferas

O julgamento das contas dos administradores e demais responsaacuteveis

por dinheiro bens e valores puacuteblicos da Administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as

fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico e as contas daqueles

que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao

eraacuterio puacuteblico (artigo 71 inciso li combinado com o artigo 75)

Em tais hipoacuteteses natildeo dispotildee o Judiciaacuterio de competecircncia para decidir

outorgada pela Constituiccedilatildeo ao Poder Legislativo ao Senado Federal ou aos oacutergatildeos

auxiliares do Legislativo No entanto natildeo satildeo tais mateacuterias insuscetiacuteveis de apreciaccedilatildeo

judicial O que o texto constitucional vedou ao Judiciaacuterio foi a competecircncia de decidi-

Ias Isto porque quem sofrer violaccedilatildeo de seus direitos causada pela decisatildeo proferida

nestes julgamentos poderaacute reclamar a tutela jurisdicional nos termos do artigo 5deg inciso

XXXV

Finalizando alerte-se que estas mateacuterias satildeo as uacutenicas para as quais a

Constituiccedilatildeo natildeo outorgou competecircncia decisoacuteria ao Judiciaacuterio

42 QUANTO Agrave AMPLITUDE DO ATO DE CONTROLE

Trata-se aqui de duas hipoacuteteses que restringem a amplitude da

apreciaccedilatildeo Natildeo se confundem com as hipoacuteteses de restriccedilotildees quanto agrave mateacuteria porque

nelas o Judiciaacuterio natildeo dispunha de competecircncia decisoacuteria outorgada a outro Poder

A primeira restriccedilatildeo refere-se ao remeacutedio constitucional do habeas

corpus cuja utilizaccedilatildeo natildeo cabe contra as puniccedilotildees disciplinares militares (artigo 142

paraacutegrafo 2deg) Ressalte-se que a restriccedilatildeo atinge o habeas corpus natildeo a competecircncia do

Judiciaacuterio na mateacuteria

A segunda restriccedilatildeo constitucional agrave amplitude do ato de controle

resulta do princiacutepio da separaccedilatildeo dos Poderes (artigos 2deg e 60 paraacutegrafo 4deg inciso 111)

Impede o princiacutepio constitucional que o ato de controle substitua a decisatildeo do

Legislativo e do Executivo viciada pela decisatildeo normativa ou administrativa que o

Judiciaacuterio entenda apropriada Nestes casos em que o Legislativo e o Executivo

praticam atos com fundamento na competecircncia constitucional que Ihes eacute proacutepria

eivados de ilegalidade a decisatildeo do Judiciaacuterio natildeo pode ir aleacutem do pronunciamento da

ilegalidade sob pena de malferir o princiacutepio da Separaccedilatildeo dos Poderes

44 QUANTO Agrave OPORTUNIDADE DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave oportunidade do pronunciamento

judicial apesar de natildeo se encontrar expressa no texto constitucional impotildee-se em razatildeo

de ordem loacutegica e tem por fundamento a separaccedilatildeo dos Poderes

Tal restriccedilatildeo ocorre nas hipoacuteteses em que o ato impugnado natildeo se

encontra perfeito Nestas situaccedilotildees natildeo poderaacute o Judiciaacuterio por uma razatildeo loacutegica

invalidar por exemplo um ato administrativo concreto se ele ainda natildeo se encontra

perfeito nem decidir que a autoridade administrativa deve se abster de praticaacute-lo

Entretanto em face da garantia constitucional da tutela preventiva poderaacute o Judiciaacuterio

impedir que o ato ao se tomar perfeito produza efeitos lesivos Outra natildeo pode ser a

soluccedilatildeo porque em casos desta espeacutecie a decisatildeo judicial que impedisse qualquer dos

outros Poderes de praticar os atos que lhe competem afrontaria a Constituiccedilatildeo

45 QUANTO Agrave EXTENSAtildeO DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave extensatildeo do pronunciamento eacute por todos

lembrada23

quando discorrem a respeito dos atos normativos em regra o

pronunciamento jurisdicional soacute produz efeitos entre as partes que integravam a relaccedilatildeo

juriacutedica processual decidida

Daiacute resultou que as leis e atos normativos natildeo se sujeitam agrave invalidaccedilatildeo

pelos meios de controle jurisdicional postos agrave disposiccedilatildeo dos administrados pois tais

atos legislativos e administrativos satildeo geneacutericos e abstratos e por isso natildeo atingem

direitos individuais Reconhecendo o Judiciaacuterio em um caso concreto em exame a

ilegalidade do ato normativo impugnado a decisatildeo proferida natildeo o invalida apenas

inadmite sua aplicaccedilatildeo Haacute poreacutem duas exceccedilotildees em que a lei em tese pode ser

invalidada

a) as leis de efeitos concretos24

Em verdade se estabelecem efeitos

concretos satildeo leis apenas formalmente pois materialmente satildeo atos administrativos

44 QUANTO Agrave OPORTUNIDADE DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave oportunidade do pronunciamento

judicial apesar de natildeo se encontrar expressa no texto constitucional impotildee-se em razatildeo

de ordem loacutegica e tem por fundamento a separaccedilatildeo dos Poderes

Tal restriccedilatildeo ocorre nas hipoacuteteses em que o ato impugnado natildeo se

encontra perfeito Nestas situaccedilotildees natildeo poderaacute o Judiciaacuterio por uma razatildeo loacutegica

invalidar por exemplo um ato administrativo concreto se ele ainda natildeo se encontra

perfeito nem decidir que a autoridade administrativa deve se abster de praticaacute-lo

Entretanto em face da garantia constitucional da tutela preventiva poderaacute o Judiciaacuterio

impedir que o ato ao se tomar perfeito produza efeitos lesivos Outra natildeo pode ser a

soluccedilatildeo porque em casos desta espeacutecie a decisatildeo judicial que impedisse qualquer dos

outros Poderes de praticar os atos que lhe competem afrontaria a Constituiccedilatildeo

45 QUANTO Agrave EXTENSAtildeO DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave extensatildeo do pronunciamento eacute por todos

23

Diogo de Figueiredo op cit p 191 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 493 Hely Lopes

Meirelles op cit p 610

lembrada24

quando discorrem a respeito dos atos normativos em regra o

pronunciamento jurisdicional soacute produz efeitos entre as partes que integravam a relaccedilatildeo

juriacutedica processual decidida

Daiacute resultou que as leis e atos normativos natildeo se sujeitam agrave invalidaccedilatildeo

pelos meios de controle jurisdicional postos agrave disposiccedilatildeo dos administrados pois tais

atos legislativos e administrativos satildeo geneacutericos e abstratos e por isso natildeo atingem

direitos individuais Reconhecendo o Judiciaacuterio em um caso concreto em exame a

ilegalidade do ato normativo impugnado a decisatildeo proferida natildeo o invalida apenas

inadmite sua aplicaccedilatildeo Haacute poreacutem duas exceccedilotildees em que a lei em tese pode ser

invalidada

a) as leis de efeitos concretos24 Em verdade se estabelecem efeitos

concretos satildeo leis apenas formalmente pois materialmente satildeo atos administrativos

b) as leis e atos normativos federais e estaduais que contrariem a

Constituiccedilatildeo Federal submetidos ao Supremo Tribunal Federal por via de Accedilatildeo Direta

de Inconstitucionalidade (artigo 102 inciso I aliacutenea a) Em se tratando de leis ou

atos normativos estaduais ou municipais contraacuterios agrave Constituiccedilatildeo Estadual compete

ao Tribunal de Justiccedila apreciar a representaccedilatildeo de inconstitucionalidade (artigo 125

paraacutegrafo 2deg)

5 - CONCLUSAtildeO

De todo o exposto extraiacutemos as conclusotildees que seguem

a) o controle jurisdicional da Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute exercido

exclusivamente pelo Judiciaacuterio mediante provocaccedilatildeo dos que buscam proteger seus

direitos individuais coletivos e difusos violados ou ameaccedilados por comportamentos

lesivos do Poder Puacuteblico

b) constitui o controle jurisdicional ao lado do princiacutepio da legalidade

um dos fundamentos do Estado de Direito

c) por intermeacutedio deste controle busca-se assegurar uma atuaccedilatildeo

administrativa em conformidade com os princiacutepios informadores do regime juriacutedico-

administrativo

d) a Constituiccedilatildeo de 66 veio indiscutivelmente fortalececirc-lo na medida

em que instituiu novos meios especiacuteficos de controle e por via destes ampliou a

proteccedilatildeo dos administrados ao tomar possiacutevel a defesa dos interesses coletivos e

difusos

e) ressalva-se contudo que em Juiacutezo goza a Administraccedilatildeo Puacuteblica de

privileacutegios que tecircm por fundamento a supremacia do interesse puacuteblico sobre o

particular

f) o Estatuto Fundamental prevecirc expressamente um conjunto de

garantias destinadas especificamente agrave proteccedilatildeo dos administrados contra os

comportamentos ilegiacutetimos da Administraccedilatildeo

g) nos dias atuais natildeo encontram amparo as opiniotildees doutrinaacuterias que

preguem a existecircncia no Estado Democraacutetico de Direito de atos insuscetiacuteveis de

24 Hely Lopes Meirelles op cit p 611 Diogo de Figueiredo op cit p

191

apreciaccedilatildeo judicial

h) as investigaccedilotildees a respeito das restriccedilotildees ou limitaccedilotildees ao controle

judicial natildeo podem partir da anaacutelise de certos atos que se pretendam dotados de alto

teor de discricionariedade i) tampouco eacute suficiente que se justifique a apreciaccedilatildeo judicial dos atos poliacuteticos normativos e interna corporis com base no artigo 5deg inciso XXXV da Lei Maior

i) tampouco eacute suficiente que se justifique a apreciaccedilatildeo judicial dos atos

poliacuteticos normativos e interna corporis com base no artigo 5D inciso XXXV da Lei

Maior

j) a investigaccedilatildeo a respeito das restriccedilotildees ao Controle Jurisdicional deve

ser levada a efeito agrave luz do texto constitucional

I) constituindo o Controle Jurisdicional um dos fundamentos do Estado

de Direito em princiacutepio soacute devem ser admitidas restriccedilotildees fundadas no princiacutepio da

Separaccedilatildeo e Equiliacutebrio dos Poderes cuja inobservacircncia inviabiliza o proacuteprio Estado de

Direito

m) em regra as restriccedilotildees ao controle quanto agrave mateacuteria quanto agrave

amplitude do pronunciamento quanto agrave oportunidade e quanto agrave extensatildeo do

pronunciamento encontram-se expressos na Constituiccedilatildeo ou nela se fundamentam

6 - BIBLIOGRAFIA

DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 5- ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Atlas 1995

FERRAZ Seacutergio Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica na Constituiccedilatildeo

de 1966 RTDP 4239

FIGUEIREDO Luacutecia valle Curso de Direito Administrativo 2-

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros Editores

MEIRELLES Hely Lopes Direito Administrativo Brasileiro 19-

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros Editores 1994

MELLO Celso Antocircnio Bandeira de Curso de Direito Administrativo

Sediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros Editores 1994

MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Curso de Direito

Administrativo 88 ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense 1989

NEGRAtildeO Theotocircnio (org) coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo

Processual em vigor 26- ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

OLIVEIRA Juarez de (org) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil 113 ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

DIREITO A EDUCACcedilAtildeO E INICIATIVA PRIVADA

Vladimir Azevedo de Mello

Acadecircmico do 3deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

A circunstacircncia de o direito natildeo caber por sorte aos povos sem

dificuldades antes de terem eles para o obter de se agitar e de lutar combater e

derramar o proacuteprio sangue esta circunstacircncia precisamente cria entre eles e o seu

direito esse laccedilo intimo que o risco da vida cria no parto entre a matildee e o novo

filho

Rudolf Von hering

INTRODUCcedilAtildeO

O trato da questatildeo educacional para as naccedilotildees seja nas que aspiram ao

status de primeiro mundo sejam nas que pretendem manter tal condiccedilatildeo eacute motivo de

preocupaccedilatildeo permanente da sociedade e dos governos O assunto em funccedilatildeo dos

desdobramentos que se projetam invariavelmente sobre todo o corpo social requer

cuidado e ocupa lugar de destaque nas poliacuteticas de desenvolvimento e de metas

econocircmicas Envolve a sociedade como um todo e volta-se aos interesses desta

No momento atual a questatildeo da presenccedila da escola privada no sistema

educacional brasileiro ante a grave crise pela qual passa o ensino puacuteblico e sobretudo

em face do problema dos valores alcanccedilados pelas mensalidades escolares coloca em

discussatildeo a posiccedilatildeo a ser adotada pelo Poder Puacuteblico em relaccedilatildeo ao direito de acesso agrave

escola

Seacuteria afronta aos ditames constitucionais eacute a adoccedilatildeo por empresaacuterios do

setor educacional de mecanismos que objetivam a limitaccedilatildeo do acesso e permanecircncia

dos educandos na escola privada nos moldes dos sistemas de proteccedilatildeo ao creacutedito

No tentame de evidenciar tais circunstacircncias discorreremos acerca dos

princiacutepios e direitos a serem observados no trato da questatildeo mormente o princiacutepio da

universalidade e os direitos sociais bem como sobre pertinecircncia da intervenccedilatildeo estatal

direta em relaccedilatildeo agrave limitaccedilatildeo dos valores a serem alcanccedilados pelas mensalidades

escolares

EDUCACcedilAtildeO - ABORDAGEM HISTOacuteRICA

A evoluccedilatildeo humana pronuncia-se em duas ordens distintas que lhe satildeo

poreacutem igualmente caracterizadoras a ordem natural e a ordem social

Em relaccedilatildeo agrave ordem natural as regras que determinam as suas

manifestaccedilotildees satildeo fixadas sem que aja sobre elas a vontade humana Satildeo elaboradas

tratando ao largo a ingerecircncia do homem

A ordem social por outro lado dista da ordem natural justamente por ser

conduzida segundo os desiacutegnios da voliccedilatildeo humana Eacute a accedilatildeo humana o fator

determinante da evoluccedilatildeo na ordem social

Acerca deste dualismo pronunciou-se J Elias Dubard de Moura Rocha

Por conta desta distinccedilatildeo substancial eacute que se pode distinguir a

Ordem Natural da Ordem Social Nesta o homem cria e modifica

renova e inova transforma e perpetua (grifo nosso) tudo conforme a

vontade humana em meio a fatores permanentes e circunstacircncias

variantes que condicionam mais ou menos a conduta Naquela o

homem sujeita-se agrave ordem acomodando-se a ela e se limita a uma

atitude meramente descritiva Ora as ahelhas organizam-se em

colmeacuteia a milhotildees e milhotildees de anos sem que tenha havido mudanccedila

e se houve foi por fatores externos e natildeo pela vontade de tais

insetos Nas sociedades humanas natildeo eacute necessaacuterio sequer

exemplificar as transformaccedilotildees havidas no curso de sua histoacuteria

Dera-se por impulsos volitivos dos elementos componentes isto eacute os

indiviacuteduos que as formavam Diferem-se pois Ordem natural e

Ordem social pela possibilidade real de os elementos componentes

modificarem a Ordem por impulso da vontade (221)

A evoluccedilatildeo na ordem social faz eclodir a necessidade de que a cada

geraccedilatildeo seja legada a carga de conquistas e aprendizados das geraccedilotildees anteriores

incluindo os elementos culturais caracterizantes do povo aleacutem dos avanccedilos teacutecnicos e

de produccedilatildeo Contudo a transmissatildeo dos conhecimentos construiacutedos natildeo se fez e natildeo

se faz meramente por meio de instituiccedilotildees de ensino tais como conhecidas

atualmente embora sejam elas hoje os instrumentos mais eficazes de educaccedilatildeo

O homem nos vaacuterios matizes da vida em sociedade acaba por educar

seu semelhante ainda que de maneira involuntaacuteria fazendo com que valores morais

eacuteticos ciacutevicos religiosos culturais e poliacuteticos aleacutem de outros sejam transmitidos e

perpetuados

Ao longo do processo histoacuterico no entanto as caracteriacutesticas dos

processos educacionais foram sendo alteradas havendo a presenccedila estatal desde os

primoacuterdios Em Esparta sob a lideranccedila de Licurgo a educaccedilatildeo do varatildeo era

atribuiccedilatildeo familiar ateacute os sete anos de idade quando era este entatildeo entregue ao

Estado que se encarregava de complementar o processo

Eacute de valia o magisteacuterio de Orlando Soares

De acordo com cada etapa histoacuterica dos diferentes povos e

civilizaccedilotildees bem como em virtude da influecircnciacutea de muacuteltiplos fatores

- culturais e sociais - podemos considerar que o caraacuteter da

educaccedilatildeo primitiva na eacutepoca tribal era natural espontacircneo o das

civilizaccedilotildees claacutessicas assumiu a forma essencialmente poliacutetica o

medieval teve a feiccedilatildeo religiosa o do seacuteculo XVII foi realista como

reflexo das preocupaccedilotildees com os meacutetodos cientiacuteficos pela busca do

conhecimento cada vez mais acurado com base na experiecircncia o do

seacuteculo XVIII foi racionalista inspirado no principio segundo o qual

nada existe que natildeo tenha razatildeo de ser isto eacute que natildeo seja

inteligiacutevel irrecusaacutevel a priori evidenciando-se com as

demonstraccedilotildees o do seacuteculo XLJ marcado pela intervenccedilatildeo do

Estado nas diretrizes educacionais na formaccedilatildeo da consciecircncia

nacional com a instituiccedilatildeo da escola primaacuteria universal gratuita e

obrigatoacuteria o do seacuteculo XV conquanto difiacutecil a sua distinccedilatildeo

sobretudo devido agrave existecircncia de dois Poacutelos poliacuteticos marcantes- isto

eacute os sistemas capitalista e socialista - revela anseios democraacuteticos

generalizados de afirmaccedilatildeo da soberania popular (4661)

Infere-se portanto que houve ao longo dos tempos o gradativo

abandono da ideacuteia da escola restrita ao seleto grupo dos mais abastados e agrave pequena

casta de soberanos sendo sedimentada principalmente durante os seacuteculos dezenove e

vinte a concepccedilatildeo da escola democraacutetica e acessiacutevel a todo o corpo de cidadatildeos ou

seja de caraacuteter universal

A escola de caraacuteter universal e gratuito recebe abrigo atualmente de

quase todos os sistemas juriacutedicos sobretudo daqueles em que a populaccedilatildeo experimenta

niacuteveis de vida superiores aos dos paiacuteses com elevados iacutendices de analfabetismo e evasatildeo

escolar

No Brasil da sanha jesuiacuteta direcionada agrave catequizaccedilatildeo dos nativos que

se valia de meacutetodos pedagoacutegicos rudimentares ateacute a instalaccedilatildeo dos primeiros cursos de

niacutevel superior em Olinda e Satildeo Paulo em 1827 a educaccedilatildeo foi tratada agrave miacutengua de

qualquer recurso puacuteblico sendo registrada ateacute mesmo no ano de 1800 uma

advertecircncia da coroa portuguesa mediante aviso real agrave Cacircmara Municipal de

Tamanduaacute em Minas Gerais por ter esta instituiacutedo uma escola primaacuteria

Apoacutes o malfadado golpe de 1964 o sistema educacional gerenciado

basicamente pelo Estado foi sucedido por um outro de natureza eminentemente

privada A nova sistemaacutetica perverteu a noccedilatildeo de que a educaccedilatildeo de qualidade eacute direito

de todos fazendo crer que a condiccedilatildeo sine qua non para o acesso ao bom ensino eacute a

condiccedilatildeo financeira e numa atitude de crime de lesa-paacutetria alijou parcela significativa

da populaccedilatildeo - por meio do arruinamento da boa escola puacuteblica - daquilo que eacute a

redenccedilatildeo de qualquer povo a educaccedilatildeo de qualidade

Atualmente embora receba tratamento constitucional e

seja regido pelo princiacutepio da universalidade o problema inerente ao direito agrave educaccedilatildeo

apresenta um quadro funesto sobretudo ante a ineacutercia governamental e que vem se

agravando pela sobre posiccedilatildeo qualitativa da escola privada em relaccedilatildeo agrave escola puacuteblica

o que impele a populaccedilatildeo ao abandono desta e agrave submissatildeo ao caraacuteter essencialmente

mercantilista daquela

EDUCACcedilAtildeO - ABORDAGEM JURIgraveDICA

O surgimento do Estado de Direito sucessor do Estado Absolutista traz

consigo a imposiccedilatildeo de que as accedilotildees estatais natildeo mais sejam orientadas pelos enlevos

do poder total Caracteriza-se basicamente pela sujeiccedilatildeo do agir do Estado assim como

dos cidadatildeos agrave baliza da lei e igualmente pela possibilidade de proteccedilatildeo destes

quando emanar daquele ato que exorbite os paracircmetros legalmente estabelecidos

O Estado de Direito em sua configuraccedilatildeo liberal marcada pela limitaccedilatildeo

da accedilatildeo estatal e pela abstraccedilatildeo generalidade e caraacuteter meramente sancionador da

ordem legal e em sua forma social assinalada pelo caraacuteter empreendedor do ente

estatal e com a lei voltada para a garantia das accedilotildees deste voltava-se agrave implementaccedilatildeo

de uma determinada ordem a ser estabelecida

Todavia o contorno Democraacutetico assumido pelo Estado de Direito

conduz agrave busca de objetivo diverso Deve tal instituiccedilatildeo tencionar a modificaccedilatildeo das

relaccedilotildees sociais objetivando a superaccedilatildeo das desigualdades e o estabelecimento de uma

sociedade mais justa e de uma accedilatildeo governamental voltada aos interesses da

coletividade

Com referecircncia ao tema Joseacute Luis Bolsan de Morais leciona

Quando assume o feitio democraacutetico o Estado de Direito tem como

objetivo a igualdade e assim natildeo lhe basta a imitaccedilatildeo ou a

promoccedilatildeo da atuaccedilatildeo estatal mas referenda a pretensatildeo agrave

transformaccedilatildeo do status quo A lei aparece como instrumento de

transformaccedilatildeo da sociedade natildeo estando mais atrelada

inelutavelmente agrave sanccedilatildeo ou promoccedilatildeo O fim a que pretende eacute a

constante reestruturaccedilatildeo das proacuteprias relaccedilotildees sociais (183)

O Estado brasileiro destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos

sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-estar o desenvolvimento a

igualdade e a justiccedila como valores de uma sociedade fraterna pluralista e sem

preconceitos fundada na harmonia social segundo as linhas preambulares da

Constituiccedilatildeo vigente cuja opccedilatildeo pela feiccedilatildeo democraacutetica vem insculpida jaacute no art 1ordm da

Carta Poliacutetica de 1988 deveraacute marcar as suas accedilotildees portanto pela geraccedilatildeo de esforccedilos

para que sejam atingidos e mantidos os objetivos supracitados especialmente os

delimitados e nascidos sob a rubrica de direitos e garantias individuais a exemplo dos

constantes do Tiacutetulo 11 de nossa Lei Maior

E eacute nesse contexto que se apresenta o direito agrave educaccedilatildeo adscrito na

Carta Magna em seu artigo 6ordm combinado com o artigo 205 O ditame constitucional

segundo Joseacute Afonso da Silvaeleva a educaccedilatildeo ao niacutevel dos direitos fundamentais do

homem (3302) e traz como consequumlecircncia o fato de que

se afirma que a educaccedilatildeo eacute um direito de todos com o que esse

direito eacute informado pelo princiacutepio da universalidade Realccedila-lhe o

valor juriacutedico por um lado a claacuteusula - a educaccedilatildeo eacute dever do

Estado e da famiacutelia - constante do mesmo artigo que completa a

situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva ao explicitar o titular do dever da

obrigaccedilatildeo contraposto agravequele direito Vale dizer todos tecircm direito agrave

educaccedilatildeo e o Estado tem o dever de prestaacute-Ia assim como a famiacutelia

(3302)

Sobre os desdobros da garantia do direito agrave educaccedilatildeo pronuncia-se ainda

o insigne constitucionalista

A norma assim explicitada - A educaccedilatildeo direito de todos e dever do

Estado e da famiacutelia (arts 205 e 227) - significa em primeiro

lugar que o Estado tem que aparelhar-se para fornecer a todos os

serviccedilos educacionais isto eacute oferecer ensino de acordo com os

princiacutepios estatuiacutedos na Constituiccedilatildeo (art 206) que ele tem que

ampliar cada vez mais as possibilidades de que todos venham a

exercer igualmente esse direito e em segundo lugar que todas as

normas da Constituiccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e ensino hatildeo que ser

interpretadas em funccedilatildeo daquela declaraccedilatildeo e no sentido de sua

plena e efetiva realizaccedilatildeo A constituiccedilatildeo mesma jaacute considerou que o

acesso ao ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito eacute direito

puacuteblico subjetivo equivale reconhecer que eacute direito plenamente

eficaz e de aplicabilidade imediata isto eacute direito exigiacutevel

judicialmente se natildeo for prestado espontaneamente (3302)

Segue ensinando o ilustre jurista

As normas tecircm ainda o significado juriacutedico de elevar a educaccedilatildeo agrave

categoria de serviccedilo puacuteblico essencial que ao poder puacuteblico impende

possibilitar a todos daiacute a preferecircncia constitucional pelo ensino

puacuteblico pelo que a iniciativa privada embora livre eacute no entanto

meramente secundaacuteria e condicionada (arts 209 e 23) (3302-

3)

O ensinamento do mestre constitucionalista serve de lastro para a

abordagem que seraacute sugerida para o tema sendo necessaacuterio entretanto tangenciar o

insculpido no art 209 da Lei Maior Reza

art 209 O ensino eacute livre agrave iniciativa privada atendidas as

seguintes condiccedilotildees

I - cumprimento das normas gerais da educaccedilatildeo nacional

II - autorizaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de qualidade pelo Poder Puacuteblico

O sistema educacional paacutetrio seguindo o espiacuterito democraacutetico e

pluralista avultado na Lex Mater abre ensanchas para a coexistecircncia do sistema puacuteblico

e gratuito e do sistema privado com fins lucrativos aleacutem dos sistemas de escolas

comunitaacuterias filantroacutepicas ou confessionais

Contudo os sistemas puacuteblico privado e os demais de outra natureza

encontram-se envoltos pelos mesmos princiacutepios constitucionais natildeo constituindo

sistemas estanques e regidos exclusivamente por regras proacuteprias A regra constitucional

remete todos os sistemas a seus princiacutepios fazendo respeitar evidentemente as

peculiaridades de cada um aleacutem de alguns valores da livre iniciativa

Ao Poder Puacuteblico impende a gestatildeo do sistema puacuteblico sendo de sua

atribuiccedilatildeo a garantia dos requisitos de acesso para todos e qualidade de ensino capaz de

assegurar instruccedilatildeo eficaz agrave populaccedilatildeo Ressalte-se que nesse mister o Estado peca por

inconstitucionalidade passiva permanentemente Eacute o non facere como posicionamento

do Poder Puacuteblico nacional

A participaccedilatildeo da iniciativa privada estaacute delimitada pelos termos do art

209 da Carta Magna Estaacute vinculada agrave autorizaccedilatildeo emanada do Poder Puacuteblico e depende

da obediecircncia agraves normas gerais de educaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de qualidade

Tais normas satildeo as referidas no inciso I do artigo 209 da Constituiccedilatildeo

Federal e surgem jaacute no proacuteprio texto constitucional sob a condiccedilatildeo de Direito Social

tal como disposto nos arts 6deg e 205 aleacutem das diretrizes traccediladas no artigo 206 e seus

incisos que devem permear por obrigatoacuterios toda a legislaccedilatildeo infraconstitucional

Os princiacutepios constitucionais devem nortear portanto natildeo soacute as

diretrizes das poliacuteticas puacuteblicas para a educaccedilatildeo mas tambeacutem a gerecircncia do segmento

privado

Esta circunstacircncia descaracteriza ateacute mesmo ao contraacuterio do que

sustentam os proprietaacuterios de escolas a natureza meramente empresarial dos

estabelecimentos de ensino privados afastando-os das imposiccedilotildees tipicamente

mercadoloacutegicas especialmente no que diz respeito agrave suspensatildeo do fornecimento dos

serviccedilos ao consumidor

Como consequumlecircncia natildeo deve ser acolhida pelo ordenamento juriacutedico

nacional a pretensatildeo do emprego de mecanismos que objetivam controlar o acesso agrave

escola privada por meio de consulta a serviccedilos de proteccedilatildeo ao creacutedito por natildeo se tratar

indubitavelmente de uma operaccedilatildeo creditiacutecia e sim do exerciacutecio de direito consagrado

pela Constituiccedilatildeo Cidadatilde

A reduccedilatildeo do problema ao acircmbito das relaccedilotildees creditiacutecias e da prestaccedilatildeo

convencional de serviccedilos eacute em si um procedimento iniacutequo pois a opccedilatildeo pela escola

privada eacute motivada muitas vezes pela ineacutepcia governamental no que diz respeito agrave

qualidade do ensino puacuteblico e esta deve ser a perspectiva a ser avaliada para a

resoluccedilatildeo dos embates juriacutedicos relacionados ao tema

Na maior parte dos casos natildeo surge em um poacutelo da demanda um devedor

contumaz Apresenta-se isto sim o cidadatildeo dominado de um lado pelo reveacutes

econocircmico e pela exorbitacircncia da maioria das mensalidades escolares e de outro pelo

solapamento da escola puacuteblica

Portanto para que o problema seja equacionado de forma que se

encontre uma soluccedilatildeo que atenda ao problema da existecircncia e viabilidade econocircmica

dos estabelecimentos privados bem como da compatibilizaccedilatildeo dos valores das

mensalidades eacute salutar a intervenccedilatildeo estatal sobretudo na esfera legislativa

Legislar a respeito caso fosse a escola privada um ente meramente

mercantil - hipoacutetese que pode ser tornada despicienda uma vez que nem sequer lhe

compete estabelecer o conteuacutedo miacutenimo a ser ministrado restando-lhe apenas a

possibilidade de um plus curricular - natildeo se constituiria afronta aos princiacutepios da livre

iniciativa e concorrecircncia O entendimento do Supremo Tribunal Federal ademais

parece apontar tambeacutem nestamiddot direccedilatildeo Eacute o que fica constatado em ementa da lavra do

Ministro Moreira Alves

Ementa - Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade da Lei conciliar o

fundamento da livre iniciativa e o princiacutepio da livre concorrecircncia

com os da defesa do consumidor e da reduccedilatildeo das desigualdades

sociais em conformidade com os ditames da justiccedila social pode o

Estado por via legislativa regular a poliacutetica de preccedilos de bens e

serviccedilos abusivo que eacute o poder econocircmico que visa o aumento

arbitraacuterio de lucros

- Natildeo eacute pois inconstitucional a Lei 8039 de 30 de maio de 1990

pelo fato de dispor sobre criteacuterios de reajuste das mensalidades

escolares ( bullbull r (Supremo Tribunal Federal Processo ADlQO

31993 Relator Ministro Moreira Alves Diaacuterio da Justiccedila de

300493)

Nada obstante o entendimento da Excelsa Corte jaacute tornar evidente a

possibilidade de que se legisle sobre a mateacuteria a indicaccedilatildeo de que este proceder deveria

assumir caraacuteter de obrigatoriedade todas as vezes em que se constatar abusividade na

estipulaccedilatildeo das mensalidades parece natildeo encontrar obstaacuteculos em nossa ordem

constitucional sobretudo porque a questatildeo da participaccedilatildeo da iniciativa privada assim

como citado algures estaacute vinculada agrave autorizaccedilatildeo emanada do Poder Puacuteblico e depende

da obediecircncia agraves normas gerais de educaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de qualidade

Nesse diapasatildeo insere-se a abordagem jaacute feita alhures de que cabe ao

Estado fomentar o acesso de todos ao ensino O Estado estaacute obrigado portanto a s6

conceder o exerciacutecio das atividades educacionais privadas agravequeles que possam oferececirc-

las de maneira que natildeo se tomem como agora o satildeo oacutebice ao exerciacutecio desse direito

sacrossanto

O Estado brasileiro incidiraacute em equiacutevoco se der tratamento que permita

apenas a garantia do lucro dos estabelecimentos de ensino privado e que imprima ao

cidadatildeo tratamento de refeacutem do poder econocircmico O empresaacuterio que natildeo conseguir

prestar seus serviccedilos agrave populaccedilatildeo de maneira acessiacutevel natildeo merece por contrariar as

determinaccedilotildees da Carta Poliacutetica de 1988 ter mantida a concessatildeo de exploraccedilatildeo do

serviccedilo Eacute defesa ao Estado em face do determinado na Constituiccedilatildeo sobre o tema e em

funccedilatildeo do alegado de elastecer a toleracircncia sobre a problemaacutetica das mensalidades

escolares

O quadro atual eacute grave O problema da inadimplecircncia nas escolas

particulares assumiu caraacuteter de urgecircncia para os empresaacuterios do ensino cuja maioria eacute

simulacro de educador A inadimplecircncia natildeo eacute um problema apenas de natureza privada

e natildeo habita exclusivamente a seara do Direito Civil pois se relaciona com o interesse

que toda a sociedade tem ou pelo menos deveria ter pela questatildeo educacional

Inadimplecircncia e direito agrave educaccedilatildeo natildeo estabelecem relaccedilatildeo direta e imediata de causa e

consequumlecircncia

Quando segmento significativo da sociedade manifesta-se

enfaticamente sobre o transtorno em que se tem transformado manter um filho na

escola que lhe eacute imposto como obrigatoacuterio natildeo soacute no texto constitucional mas

tambeacutem na legislaccedilatildeo penal e civil conjuntamente com o Estado este estaacute obrigado ou

a garantir o mesmo padratildeo de qualidade das escolas privadas nas escolas puacuteblicas e

em suficiente nuacutemero de vagas ou a ampliar a renda das famiacutelias de maneira que estas

possam suportar o ocircnus das mensalidades ou ainda a suprimir a concessatildeo de

exerciacutecio da atividade dada a impossibilidade de uma eficaz prestaccedilatildeo do serviccedilo uma

vez que educar crianccedilas e jovens eacute interesse de todos e natildeo deve sucumbir agrave

incompetecircncia empresarial daqueles que desafinados com os mais modernos preceitos

econocircmicos natildeo conseguem reduzir seus custos ou estatildeo viciados em lucros

exorbitantes

Por oportuno parece razoaacutevel uma anaacutelise o direito ao lucro deriva da

determinaccedilatildeo volitiva do sujeito que se dispotildee a pagar determinado preccedilo por produto

ou serviccedilo A manifestaccedilatildeo volitiva por motivar estipulaccedilatildeo negocial livre natildeo pode

portanto vir maculada por exemplo por ato de coaccedilatildeo A inadimplecircncia nesta

situaccedilatildeo levaraacute prontamente agraves consequumlecircncias previstas na legislaccedilatildeo

Situaccedilatildeo diversa poreacutem ocorre em relaccedilatildeo ao ensino Ao matricular em

instituiccedilatildeo de ensino seja ela puacuteblica ou privada menor sob sua responsabilidade os

pais ou responsaacuteveis natildeo estatildeo praticando um ato livre de coaccedilatildeo Mesmo que natildeo

saibam haacute naquela accedilatildeo resposta a imposiccedilatildeo legal que traz em seu conteuacutedo um

elemento sancionador caracterizador da coaccedilatildeo

Basta uma avaliaccedilatildeo perfunctoacuteria para que se evidencie a disparidade

das duas situaccedilotildees e para que entatildeo acolha-se a ideacuteia de que natildeo podem por

conseguinte projetar as mesmas consequumlecircncias

Ora raciocinar contrariamente seria admitir a possibilidade de que as

pessoas estatildeo obrigadas por lei a garantir a lucratividade alheia a todo custo o que natildeo

eacute veraz pois que as pessoas soacute devem ser compelidas a esta ou aquela accedilatildeo quando

disto depender a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio social natildeo se enquadrando a garantia de

lucro para os mercenaacuterios do saber na questatildeo em tela

Todavia surge uma indagaccedilatildeo por que optar pelo ensino privado de alto

custo quando haacute a possibilidade de ingresso em estabelecimentos oficiais graciosos por

determinaccedilatildeo da proacutepria Lei Maior

A refutaccedilatildeo surge mediante exame sobre o que objetivam os povos

quando decidem dedicar especial atenccedilatildeo agrave questatildeo do ensino A formaccedilatildeo das futuras

geraccedilotildees natildeo eacute apenas transmissatildeo automaacutetica de informaccedilotildees e dogmas de caraacuteter

cientifico moral ou cultural Eacute um processo elaborado por intermeacutedio do qual os fatores

de identidade cultural e nacional assim como o conhecimento cientiacutefico necessaacuterio ao

desenvolvimento tecnoloacutegico satildeo transmitidos agraves novas geraccedilotildees de forma a viabilizar

o desenvolvimento do paiacutes e a melhoria das condiccedilotildees sociais Supotildeem aquisiccedilatildeo de

uma consciecircncia criacutetica que possa auxiliar na resoluccedilatildeo das questotildees nacionais

O Estado brasileiro afastou-se tanto deste objetivo quanto da qualidade

do ensino ministrado em seus estabelecimentos enquanto a famiacutelia por seu turno

cumpre a sua obrigaccedilatildeo constitucional ao buscar sempre a educaccedilatildeo eficaz O governo

compele para a esfera privada - que ao menos aparentemente garante melhor qualidade

de ensino - aqueles que a custo de sacrifiacutecio podem arcar com o custeio do ensino

privado Por isso o cidadatildeo opta quase que forccedilosamente por pagar o ensino em

funccedilatildeo da incuacuteria governamental sobre o tema

A presenccedila da iniciativa privada na educaccedilatildeo pressupotildee lucro Mas visa

tambeacutem a garantir um sistema educacional plural em sintonia com o espiacuterito

democraacutetico exaustivamente ressaltado na Carta da Repuacuteblica Entretanto a questatildeo do

retomo econocircmico para aqueles que se ocupam da atividade educacional investindo em

instalaccedilotildees equipamentos e matildeo-de-obra especializada tambeacutem deve ser alvo de

anaacutelise eacutetica e juriacutedica por parte de toda a sociedade

O lucro eacute igualmente um dos mecanismos de manutenccedilatildeo do sistema

educacional multifaacuterio e tambeacutem deve receber proteccedilatildeo da ordem legal que deve

objetivar ateacute mesmo a puniccedilatildeo do mau pagador que se constitui elemento igualmente

danoso ao sistema de ensino

Todavia os mecanismos a serem adotados devem garantir proteccedilatildeo ao

direito agrave educaccedilatildeo no miacutenimo enquanto vigente o contrato celebrado com o

estabelecimento de ensino sem que seja vedado igualmente o direito agrave matriacutecula nas

instituiccedilotildees privadas em funccedilatildeo de consulta a sistemas de proteccedilatildeo ao creacutedito devendo

responder em caso de inadimplecircncia o patrimocircnio dos contratantes Em siacutentese parece

vaacutelida a adoccedilatildeo de quaisquer medidas de cobranccedila exceto aquelas que resultem na

suspensatildeo ou denegaccedilatildeo do exerciacutecio do direito

Ante o exposto e diante do atual quadro alguns segmentos da iniciativa

privada natildeo vecircm atendendo aos preceitos estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal fato

este que deveria conduzir tanto o Estado como a sociedade a analisar o problema sob

vaacuterios enfoques

Natildeo pode o Governo acuado por empresaacuterios do setor tratar a questatildeo

como essencialmente de natureza econocircmica mas sim fazer vergar os estorvos aos

princiacutepios da universalidade e da igualdade que regem a mateacuteria

A sociedade por sua vez deve buscar por meio dos canais democraacuteticos

de participaccedilatildeo poliacutetica a adoccedilatildeo dos instrumentos necessaacuterios ao pleno atendimento do

disposto nos sectsect 10 e 2

0 do art 208 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica superando a iacutendole

mercantilista do governo porquanto o embriatildeo do problema eacute sem reacutestia de duacutevida a

feiccedilatildeo estatal que relega os interesses sociais em proveito de uma elite pouco atenta aos

clamores da coletividade

CONCLUSAtildeO

A educaccedilatildeo de qualidade eacute questatildeo relevante Mereceu as becircnccedilatildeos da

Constituiccedilatildeo de 1988 e a participaccedilatildeo da iniciativa privada deve cumprir as normas

gerais da educaccedilatildeo nacional que nascem na proacutepria Carta Poliacutetica e que garantem a

igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola natildeo podendo o

ordenamento juriacutedico propor soluccedilotildees que se distanciem dessas premissas

Permitir a instauraccedilatildeo de controle de acesso mediante consulta a

serviccedilos de proteccedilatildeo ao creacutedito e de outras puniccedilotildees aos alunos que bloqueiem o

exerciacutecio do direito agrave educaccedilatildeo fere de morte natildeo soacute a Constituiccedilatildeo mas tambeacutem toda a

naccedilatildeo que se vecirc cada vez mais comprimida na vala comum dos povos analfabetos

Portanto as pelejas surgidas da negaccedilatildeo ou dos estorvos ao exerciacutecio do direito agrave

educaccedilatildeo natildeo devem merecer o mesmo tratamento dado agraves questotildees voltadas agrave

resoluccedilatildeo de problemas de cunho individual As questotildees juriacutedicas derivadas dos

embaraccedilos agraves garantias sociais embora possam trazer em seus arcabouccedilos entes

individualizados devem ser dirimidas considerando-se os interesses difusos envolvidos

As consequumlecircncias dos embaraccedilos ou da denegaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo

seja ela puacuteblica seja privada a uma parcela significativa da populaccedilatildeo seratildeo amargadas

por todo o corpo social e eacute em funccedilatildeo deste corpo que deve se posicionar o

ordenamento juriacutedico paacutetrio desprezando tanto quanto possiacutevel a imposiccedilatildeo de

interesses empresa rias que ambicionam lucratividade a todo custo

Todo o quadro trazido agrave baila poderia ateacute mesmo sugerir a natildeo

permanecircncia da iniciativa privada no setor mas tal procedimento poderia resultar em

malefiacutecio para a sociedade Contudo permitir que seja associado o direito agrave educaccedilatildeo de

qualidade agrave capacidade de pagamento de uma escola particular tambeacutem eacute grave erro e

apenas contribui para que se vaacute erigindo uma sociedade calcada na aceitaccedilatildeo da

desigualdade e da indiferenccedila para com os semelhantes

Educar um paiacutes estaacute longe de ser um filatildeo de natureza essencialmente

lucrativa e mercantil que mereccedila apenas abordagem mercadoloacutegica como quer sugerir

o furor neoliberal Eacute tarefa para os abnegados Eacute altruiacutesmo social e merece a proteccedilatildeo

integral do Direito

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

MORAIS Joseacute Luis Bolzan de Do Direito Social aos Interesses

Transindividuais - O Estado e o Direito na Ordem Contemporacircnea Livraria do

Advogado Porto Alegre 1996

ROCHA J Elias Dubard de Moura Poderes do Estado e Ordem Legal

Editora Universitaacuteria da UFPE Recife 1994

SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 108

ediccedilatildeo Malheiros Satildeo Paulo 1995

SOARES Orlando Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa

do Brasil 88 ediccedilatildeo Forense Rio de Janeiro 1996

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Page 3: REVISTA JURÍDICA IN VERBIS · Óton anselmo de oliveira diretora do ccsa maria do socorro de azevedo borba professores convioados bento herculano duarte neto cleanto fortunato darci

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE

CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE DIREITO CURSO DE

DIREITO

REVISTA JURIacuteDICA IN VERBIS

REITOR

JOSEacute IVONILDO DO REcircGO

VICE REITOR

OacuteTON ANSELMO DE OLIVEIRA

DIRETORA DO CCSA

MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO BORBA

PROFESSORES CONVIOADOS

BENTO HERCULANO DUARTE NETO

CLEANTO FORTUNATO

DARCI PINHEIRO

EDILSON PEREIRA NOBRE JUacuteNIOR

FRANCISCO BARROS DIAS

IVAN LIRA DE CARVALHO

JULlANO SIQUEIRA

LUiS ALBERTO DANTAS FILHO

MARCELO NAVARRO RIBEIRO DANTAS

MARIA DO PERPEacuteTUO SOCORRO

WANDERLEY MARIA DOS REMEacuteDIOS

FONTES

MONICA FURTADO

NADJA CALDAS LOPES CARDOSO

ROSENITE ALVES DE OLIVEIRA

TATIANA MENDES CUNHA

WAL TER NUNES DA SILVA JUacuteNIOR

PROFESSOR HONORARlO

IVAN MACIEL DE ANDRADE

COMISSAtildeO EOITORIAL

CAIO CEacuteSAR MARQUES BEZERRA

FLAacuteVIA SOUSA DANTAS

FRANCISCO GLAUBER PESSOA

ALVES GIORGIO SINEDINO DE ARAUacuteJO

SIVANILDO DE ARAUacuteJO DANTAS

CAPA

PROFESSORA FAacuteTIMA MARIA DANTAS

COSTA

NORMALIZACcedilAtildeO

PROFESSORA MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO

BORBA

EDITORACcedilAtildeO ELETRONICA

CAIO CEacuteSAR MARQUES BEZERRA

IN VERBIS

EDITORIAL

Pois eacute outra vez aspiramos lutamos e conseguimos a publicaccedilatildeo de mais

um nuacutemero da revista juriacutedica In Verbis (natildeo sem a labuta oacutebvia de praxe mas

recompensados com o feedback que a nossa revista vem recebendo)

Na verdade nossos esforccedilos natildeo podiam ter melhor regozijo A

divulgaccedilatildeo dos perioacutedicos anteriores por todo Brasil e vaacuterias universidades estrangeiras

citemos Coimbra e Harvard como exemplo soacute nos tem trazido prazer e satisfaccedilatildeo

Agradecimentos agraves funcionaacuterias do setor de doaccedilatildeo da Biblioteca Zila Mamede que nos

ajudaram bastante nesse Intento

Sem embargo da modeacutestia devida podemos dizer que a semente lanccedilada

na primeira revista eacutepoca na qual o nuacutemero de artigos natildeo ultrapassou treze limitados

ao maacuteximo de trecircs folhas jaacute se tomou ao longo da nossa incipiente histoacuteria uma bela

aacutervore de raiacutezes fortes pois com o total de quase 40 trabalhos recebidos ficou a certeza

de que a In Verbis eacute um veiculo perene dos graduandos do Curso de Direito da UFRN

para divulgaccedilatildeo do melhor de cada semestre

Para reunirmos os artigos o intenso fomento inicial foi substituiacutedo pela

iniciativa espontacircnea e numerosa dos estudantes restando agrave Comissatildeo Editorial a grata

mas natildeo menos difiacutecil tarefa de estabelecermos limites e criteacuterios para a publicaccedilatildeo

dos trabalhos que se enquadrassem ao perfil da nossa revista (vide ao fim deste

volume as regras atualizadas para apresentaccedilatildeo de originais) modificando a realidade

anterior de publicar quase a totalidade dos artigos entregues

Eacute com prazer que informamos que hoje natildeo somente os estudantes da

UFRN mas tambeacutem os de outras instituiccedilotildees de ensino bem assim os jaacute graduados na

ciecircncia do direito estatildeo honrando-nos com sua produccedilatildeo intelectual

Em virtude desta profiacutecua e dignificante mostra de que estatildeo os que

fazem a comunidade juriacutedica potiguar mais do que nunca fazendo valer os anseios de

produccedilatildeo cientiacutefica de que dela se espera estamos em atenccedilatildeo agraves sugestotildees dos nossos

abnegados lentes insistindo para que os alunos procurem a orientaccedilatildeo de professores e

profissionais do direito ao elaborarem seus trabalhos com vistas a um maior apego

juriacutedico - cientifico agrave temaacutetica a ser proposta e a evitar-se tambeacutem a repeticcedilatildeo da forma

de abordagem a qual eacute dada aos temas

Eacute evidente que produzir uma revista de quarenta artigos seria

impraticaacutevel (natildeo indesejaacutevel) e tambeacutem extremamente maccedilante ao leitor Por isso

pedimos a compreensatildeo daqueles que dispensaram seu tempo almejando a publicaccedilatildeo

dos seus artigos e natildeo atingiram sua meta pois de modo algum isto constitui demeacuterito

porquanto todos os trabalhos alcanccedilaram excelente niacutevel Essa realidade transformasse

sim em um novo desafio arraigado pela realidade do elevado niacutevel de propriedade com

que os temas vem sendo tratados

Por isso que foi adotado pelos editores o criteacuterio de privilegiar os

trabalhos dos estudantes da graduaccedilatildeo que obtiveram melhor conceito junto ao corpo

discente Enfim renovamos o convite para que todos continuem colaborando conosco

A Revista Juriacutedica In Verbis ciente tambeacutem das modernidades e da

praticidade com que os computadores nos permitem conviver hoje em dia para breve

estaraacute inaugurando o nosso endereccedilo na Internet ampliando por conseguinte os meios

de divulgaccedilatildeo da nossa cultura juriacutedica

Outrossim os entendimentos no sentido de reconhecer-se a nossa

gloriosa In Verbis como publicaccedilatildeo oficial da UFRN (estaacute dando assim apta a emissatildeo

de certificados) estatildeo encaminhados Com o apoio prometido pela Pr6-Reitoria de

Extensatildeo Universitaacuteria queremos crer que para o proacuteximo nuacutemero esse ideal jaacute seraacute

realidade

Alguns dos nossos pioneiros companheiros - de grata lembranccedila -

Eduardo Medeiros Cavalcanti e Faacutebio Barbalho Leite se formaram e deixaram o

Conselho Editorial ocupados agora com a realidade concreta da realizaccedilatildeo profissional

restando-nos um certo vazio e a nossa grande torcida a estes noveacuteis operadores do

Direito Mas em compensaccedilatildeo juntaram-se a noacutes nessa batalha aacuterdua que eacute publicar a

In Verbis os colegas Flaacutevia Sousa Dantas e Sivanildo de Arauacutejo Dantas que desde

logo se integraram agrave filosofia da revista colaborando substancialmente para este

nuacutemero Fica o convite para que outros graduandos venham e ajudem-nos a perpetuar

essa realidade

Agradecemos ao Magniacutefico Reitor Ivonildo Recircgo agrave Diretora do CCSA

Professora Socorro Barba e ao nosso aguerrido Professor Walter Nunes da Silva Juacutenior

(que junto com a segunda estaacute conosco desde os nossos primoacuterdios incentivando e

dando-nos a certeza de sermos absolutamente normais em levar essa ideacuteia agrave frente) por

possibilitarem a impressatildeo deste nuacutemero junto agrave Editora Universitaacuteria e natildeo mais com

recursos proacuteprios (que por sinal estavam deveras escassos) Fica o obrigado e a

esperanccedila concreta de que esta alianccedila seja duradoura

Por derradeiro expressamos a nossa gratidatildeo a todos os professores que

nos ajudaram analisando os trabalhos aconselhando-nos ouvindo-nos e loacutegico

encorajando-nos a fazer mais este nuacutemero

Que a acolhida deste novo volume alcance o ecircxito proveitoso dos

anteriores e lance as luzes para o proacuteximo

Como dito no iniacutecio a planta cresceu e criou raiacutezes cabe-nos a todos

agora regaacute-la para que natildeo soccedilobrem os nobres esforccedilos expendidos ateacute aqui pela

comunidade acadecircmica

A COMISSAtildeO EDITORIAL

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO ABORTO E DA PENA DE

MORTE

Adrianne Maria Ribeiro de Souza

BREVE ENFOQUE ACERCA DA ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA NO

PROCESSO TRABALHISTA Alba Paulo de Azevedo

ARBITRAGEM A Lei nordm 930796 Azevedo Hamilton Cartaxo

DESVINCULACcedilAtildeO DA SEPARACcedilAtildeO DOS PODERES COM A

IDEacuteIA DE DEMOCRACIA Car1ine Regina de Negreiros Cabral

ASPECTOS DA REINCIDEcircNCIA PARA EFEITO DE CONCESSAtildeO

DE LIVRAMENTO CONDICIONAL Cristina Silva Macecircdo

A INFORMATIZACcedilAtildeO DAS ELEICcedilOtildeES A EXPERIEcircNCIA DA

JUSTICcedilA ELEITORAL EM NATAL RN Eliane Nascimento de Meio

DO NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL E SUAS IMPLICACcedilOtildeES

Everton Amaral de Arauacutejo

DOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO E SEUS POSSIVEIS

EFEITOS INFRINGENTES Francisco Glauber Pessoa Alves

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO REQUISITO EMBARACcedilOSO A ATIVIDADE

POSTULATOacuteRIA Joatildeo Eduardo Ribeiro de Oliveira

NEOLlBERALlSMO INIMIGO DA CIDADANIA Leifson Gonccedilalves

Holder da Silva

AUTORIDADE COATORA EM MANDADO DE SEGURANCcedilA -

ANAacuteLISE COM BASE EM CASO CONCRETO Luana Pedrosa de Figueiredo

Cruz

Eacute A JUSTICcedilA A REAL META DO DIREITO Roberto Di Sena Juacutenior

COMENTAacuteRIOS Agrave LEI QUE REGULAMENTA A PRODUCcedilAtildeO DE

PROVAS MEDIANTE INTERCEPT ACcedilAtildeO DE COMUNICACcedilOtildeES Rossana de

Arauacutejo Rocha

QUEM ASSUME A TITULARIDADE DE UMA PREFEITURA

CASO O PREFEITO ELEITO VENHA A FALECER ANTES DA

DIPLOMACcedilAtildeO Sivanildo de Arauacutejo Dantas

ABRE TEUS OLHOS THEacuteMIS Vanessa Alessandra Pereira

CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Vicente Eliacutesio de Oliveira Neto

DIREITO A EDUCACcedilAtildeO E INICIATIVA PRIVADA Vladimir

Azevedo de Mello

CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO ABORTO E DA PENA DE

MORTE

Adrianne Maria Ribeiro de Souza Acadecircmica do 9deg periacuteodo do Curso de

Direito da UFRN

A moral poliacutetica natildeo pode oferecer agrave Sociedade qualquer vantagem

perduraacutevel se natildeo estiver baseada em sentimentos indeleacuteveis do coraccedilatildeo humano

Cesare Beccaria

o aborto e a pena de morte Poucos temas tecircm dividido tanto a sociedade

como estes O primeiro continua na clandestinidade enquanto o segundo tem sua versatildeo

mais sutil nas precaacuterias instalaccedilotildees carceraacuterias espalhadas por todo o pais A anaacutelise de

ambos suscita necessariamente indagaccedilotildees morais sociais econocircmicas poliacuteticas e

religiosas onde sobra complexidade e falta consenso Aqueles que os condenam vecircem

neles um problema que deflagra as mazelas de uma sociedade extremamente injusta

Por sua vez os defensores consideram-nos como soluccedilatildeo imediata para uma situaccedilatildeo

que se apresenta insustentaacutevel

Problema ou soluccedilatildeo ambos potildeem fim ao bem mais precioso do ser

humano a vida Aliaacutes eacute esta a consequumlecircncia mais inquietante a respeito do aborto e da

pena de morte Uma vida abreviada eacute um bem irrecuperaacutevel Uma vez consumados natildeo

haveraacute mais lugar para retrocesso Inexistiratildeo meios de corrigir erros Gostando ou natildeo

ao legalizar tais situaccedilotildees a sociedade sempre deparar-se-aacute com a seguinte pergunta

temos o direito de tirar a vida de algueacutem

A despeito do peso moral de tais questotildees defender o aborto e a pena de

morte eacute ateacute cocircmodo afinal eacute mais faacutecil livrar-se de qualquer maneira de um problema

a enfrentaacute-Io Complicado eacute procurar soluccedilotildees significativas que se algum dia forem

alcanccediladas demandaratildeo um empenho exaustivo natildeo soacute do governo mas de toda a

sociedade Para ter resultados concretos e duradouros natildeo haacute outro caminho senatildeo o de

uma profunda reforma social no paiacutes1

Natildeo raro eacute tentar expor o problema como se fosse um caacutelculo

matemaacutetico de propriedade transitiva de igualdade Atente-se por exemplo ao que se

comenta sobre a pena de morte Se eacute sabido que as dificuldades financeiras de algueacutem

incitam a violecircncia e se nada podemos fazer para resolver tais problemas - porque jaacute nos

bastam os nossos - entatildeo nada podemos fazer para amenizar toda esta violecircncia em

1 Nesse particular Virgiacutelio Donnici em seu estudo sobre a criminal idade no Brasil considera

que a miseacuteria e a pobreza causam desvios de comportamento e que aqui surge uma crescente

criminalidade aquisitiva e assustadora () cujos autores superlotam as prisotildees brasileiras

anotando-se que os seus ocupantes satildeo produtos de uma inadaptaccedilatildeo social e econocircmica () os

paacuterias da sociedade brasileira injusta e desigual sociedade falida que precisa ser mudada na sua

estrutura social de maneira funda e total com uma melhor distribuiccedilatildeo de riqueza sob pena de

nos tornarmos um Brasil de assassinos todos armados agrave procura de comida agrave procura de paz agrave

procura de tranquumlilidade que natildeo pode ser resolvida pela violecircncia policial como se o problema

da criminal idade crescente no Brasil fosse um problema de poliacutecia de matar para eliminar

aqueles que incomodam mas que na verdade o Estado natildeo Ihes daacute condiccedilotildees miacutenimas para

sobreviver Ob Cit p 238

potencialrdquo Sendo assim porque percorrer este caminho tatildeo demorado e difiacutecil que eacute o

da redistribuiccedilatildeo de renda enquanto assistimos aos nossos jovens serem mortos por um

par de tecircnis

O problema eacute que atenuar os iacutendices da violecircncia proporcionando

melhoria de vida agraves camadas marginalizadas da sociedade ateacute pode parecer uma

realidade distante mas o agente da violecircncia eacute um alvo concreto A injeccedilatildeo letal ou a

cadeira eleacutetrica eacute capaz de acabar em segundos com este agente impedindo-o de vez de

proliferar a violecircncia que gera BECCARIA em brilhante reflexatildeo acerca da pena de

morte argumenta que ela natildeo se apoia em nenhum direito Eacute guerra que se declara a um

cidadatildeo pelo paiacutes que considera necessaacuteria ou uacutetil a eliminaccedilatildeo desse cidadatildeo Em

seguida completa e desafia se eu provar contudo que a morte nada tem de uacutetil ou

necessaacuterio ganharia a causa da humanidaderdquo2

Eacute flagrante e por vezes compreensiacutevel esta insatisfaccedilatildeo com toda a

violecircncia desmedida da qual somos viacutetimas potenciais A cada noticiamento da

imprensa cresce o sentimento de revolta e a necessidade de obter soluccedilotildees imediatas

Quando o cidadatildeo comum abre o jornal e lecirc manchetes como Bala perdida de um

assalto vitima crianccedila que brincava por perto fica difiacutecil natildeo pensar na hipoacutetese ainda

que por segundos com simpatia As passeatas em prol da paz no Rio de Janeiro e em

Satildeo Paulo a pressatildeo em tomo da reforma do Coacutedigo Penal satildeo apenas alguns dos sinais

deste estado de descontentamento que nos tem acometido3

Chegar a uma conclusatildeo sobre o que considerar ou natildeo quando da

aplicaccedilatildeo de uma pena de morte eacute tarefa no miacutenimo densa O caso concreto eacute sempre

desafiador e a consulta agraves obras claacutessicas norteia mas eacute o seu senso comum quem

ditaraacute as regras do certo e do justo4

Preocupante pois eacute saber que este julgador

encontra-se numa sociedade onde ainda se manteacutem especialmente na regiatildeo Nordeste

as mesmas amarras do coronelismo aacuteureo da deacutecada de 20 A atividade jurisdicional

desta sociedade estaacute confiada a um poder judiciaacuterio em regra lento e pouco

aparelhado onde o juiz por vezes sequer possui um ambiente de trabalho digno e

coerente com a relevante funccedilatildeo que exerce Ambos representantes da dicotomia

sociedade-juiz iratildeo estar agrave frente da aplicaccedilatildeo da pena capital atraveacutes da instituiccedilatildeo do

tribunal do juacuteri Por isso eacute de bom alvitre analisar tais aspectos antes de defendecirc-Ia e

soacute entatildeo responder com isenccedilatildeo de acircnimo a seguinte pergunta O Brasil tem estrutura

2 Cesare Beccaria Dos delitos e das penas ob cit p 45

3 Tenha-se como exemplo o texto de um informe do Jornal do Brasil que traduz com

perfeiccedilatildeo a consciecircncia coletiva sobre o assunto E eacute bom lembrar que esta cidade natildeo eacute uma selva porque na selva o otimismo milenar criou regras de comportamento O mais forte devora o mais fraco dentro do equiliacutebrio ecoloacutegico e natural Na megaloacutepole sem respeito pelo homem como no Rio a situaccedilatildeo eacute muito pior Aqui natildeo haacute regra ou lei a natildeo ser a da cobiccedila que contamina e explode na noite escura em orgias de sangue rito e celebraccedilatildeo de um tempo de assassinos 25 jul 1982

4 Satildeo diversos os trabalhos cientiacuteficos cujas obras tornaram-se claacutessicos do estudo da

criminologia dentre as quais destacam-se as contribuiccedilotildees antropoloacutegicas de Lombroso endocrinoloacutegicas de Nicola Pende biotipoloacutegiacutecas de Kreschemer geneacuteticas de Havelock psicoloacutegicas de Watson socioloacutegicas de Ferri psicanaliacuteticas de Freud e morais de Abercombry Todas oferecem ao julgador visotildees controvertidas ao mesmo que o conscientiza da multiplicidade

de enfoques sobre o mesmo tema

para comportar a responsabilidade que eacute adotar a pena capital

O paiacutes natildeo pode julgar-se preparado para uma puniccedilatildeo tatildeo severa sem a

certeza de que asseguraraacute um julgamento o mais justo possiacutevel Uma questatildeo tatildeo

delicada onde o condenado perderaacute sua vida merece um envolvimento maior do

julgador em relaccedilatildeo a uma lide patrimonial

A pena capital estaacute prevista somente para os crimes dolosos contra a

vida o que nos regride ao Coacutedigo de Hamurabi e seu princiacutepio middotolho por olho dente por

dente Na concepccedilatildeo superficial de seus defensores eacute nesta conduta delituosa que se

revela a parcela mais hedionda e indesejaacutevel da sociedade Necessaacuterio poreacutem levar em

consideraccedilatildeo o estresse diaacuterio do mundo moderno capaz de nos deixar agrave mercecirc de

circunstacircncias adversas potencialmente violentos Eacute por essa razatildeo que o homiciacutedio ao

contraacuterio do que aparenta natildeo eacute o crime dos socialmente irrecuperaacuteveis Os crimes

contra o patrimocircnio satildeo evitados sobretudo por um senso eacutetico muito forte que uma vez

desassociados de dificuldades econocircmicas raramente tenderatildeo a surtir rompantes

delituosos Natildeo eacute o que ocorre com o homiciacutedio As circunstacircncias que detonam a

praacutetica desta violecircncia extremada satildeo cheias de peculiaridades que natildeo podem ser

desconsideradas5

Eacute perfeitamente possiacutevel que um cidadatildeo comum numa briga de

tracircnsito depois de um dia cheio perca a paciecircncia e impensadamente saque uma arma

A sociedade tema obrigaccedilatildeo moral de refletir sobre tais aspectos e soacute

entatildeo concluir se a pena de morte realmente resolve De todos os questionamentos aqui

apostos este eacute sem duacutevida o mais crucial Confiar que os iacutendices de criminalidade

diminuiratildeo face agrave possibilidade de uma iminente puniccedilatildeo numa cadeira eleacutetrica eacute ateacute

ingecircnuo Uma pessoa normal decidida a cometer um delito jaacute se despiu completamente

de seus princiacutepios morais e o faraacute por interesses diversos que anularam a consciecircncia do

mal a ser produzido ou da puniccedilatildeo a que ficaraacute sujeito E isto natildeo eacute soacute consequumlecircncia de

um sistema punitivo falho que produz a certeza da impunidade propaganda como o

grande mal do ordenamento penal paacutetrio natildeo importa o quanto esteja bem estruturado o

sistema penal de uma naccedilatildeo os delitos sempre existiratildeo por razotildees as mais banais O

indiviacuteduo disposto a cometer um crime dificilmente vislumbraraacute a cena de sua execuccedilatildeo

com injeccedilotildees letais6 Os Estados Unidos um dos paiacuteses mais desenvolvidos do mundo

adotou a pena de morte em muitos estados-membros de sua federaccedilatildeo e nem por isso

5 Vitorino Prata Castelo Branco inicia seu estudo sobre a criminalidade indagando-se por que o

homem furta agride eou mata Conclui que o homem eacute um animal como qualquer outro

sujeito agraves mesmas leis que regem todos os seres vivos no destino da sobrevivecircncia e da

perpetuaccedilatildeo da Espeacutecie Leis bioloacutegicas referentes agrave vida leis mesoloacutegicas referentes ao meio

ambiente leis socioloacutegicas referentes agrave convivecircncia social leis patoloacutegicas referentes agrave

moleacutestias diversas especialmente mentais Ob Cit p 15

6 Esta conclusatildeo embora considere a regra natildeo eacute absoluta Reconheccedilo o poder repressor das

normas penais entendo-as poreacutem sem forccedila perante pessoas amorais Neste sentido distancio-me da sempre respeitada opiniatildeo de Beccaria para o qual sendo as leis cumpridas agrave letra qualquer cidadatildeo pode calcular exatamente os inconvenientes de uma accedilatildeo reprovaacutevel e Isto eacute uacutetil pois este conhecimento poderaacute fazer com que se desvie do crime Ob Cit p 16 O doutrinador criminalista Emst Seelig em sua obra Manual de Criminologia Z registra um

fato interessante o estado psiacutequico do condenado eacute fundamentalmente muito variado segundo

sua personalidade Muitos assassinos desejam expiar o seu crime por meio da morte outros ao

contraacuterio - especialmente os criminosos profissionais - apresentam-se em frente da morte

proacutexima com a qual jaacute contava embotados e fazem consideraccedilotildees cinicas Cp) O ladratildeo

assassino de Paris Charrier fumava um cigarro agrave vista da guilhotina Ob Cit p 181 e 182

deixou de ter um dos maiores iacutendices de criminalidade que conhecemos7

Aqueles que condenam o aborto e a pena de morte inevitavelmente

deparam-se com delicadas questotildees intencionalmente indagadas para derrubar seus

argumentos tais como E se fosse vocecirc O que vocecirc faria para lidar com uma gravidez

indesejada ou com o assassinato brutal de um parente querido

Pode-se rebater tais indagaccedilotildees argumentando que o ideal seria no

primeiro caso que a gravidez fosse devidamente evitada e no segundo caso que a

marginal idade fosse atenuada pela garantia a todos de uma vida digna sem a miseacuteria

que induz agrave violecircncia Mas como atingir este ideal se apenas 22 aproximadamente

das mulheres brasileiras na faixa de 15 a 54 anos utiliza algum meacutetodo anticonceptivo e

se 286 da populaccedilatildeo vive nas mais precaacuterias condiccedilotildees de moradia (entenda-se

barracos ou favelas) Num paiacutes onde 561 natildeo tem instruccedilatildeo e ou sequer completam

um ano de estudo8

O ideal de uma sociedade mais justa seria aquele em que todos tivessem

acesso efetivo ao miacutenimo necessaacuterio A Carta Magna nacional inclusive elenca no art

3ordm e incisos aqueles que constituem os objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa

do Brasil a saber a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e solidaacuteria a garantia do

desenvolvimento nacional a erradicaccedilatildeo da pobreza e da marginalizaccedilatildeo e a reduccedilatildeo

das desigualdades sociais e regionais bem como a promoccedilatildeo do bem de todos sem

preconceito de origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de

discriminaccedilatildeo Esteticamente bonito sem duacutevida mas infelizmente apenas teoacuterico na

realidade hodierna

Pelo menos a pena capital inobstante seus adeptos ainda se resume a

projetos de lei que tramitam nas gavetas do Congresso Nacional e ateacute que se cogite

seriamente sobre a sua legalizaccedilatildeo eacute certo que seraacute questionada por uma sociedade

tradicionalmente aversa a esta hipoacutetese Este eacute um aspecto positivo

O mesmo infelizmente natildeo ocorre com relaccedilatildeo ao aborto porque quer o

governo ou a sociedade condenem a sua praacutetica ou natildeo ela existe e vai continuar

existindo independentemente de legalizaccedilatildeo Enquanto os poliacuteticos desconversam sobre

o tema para natildeo se comprometerem ou a igreja repudia o uso de preservativo o aborto

continua acontecendo clandestinamente em ldquofundos de quintais onde mulheres pagam

fortunas para abortar nas mais precaacuterias condiccedilotildees possiacuteveis correndo inclusive riscos

de vida

Eacute este o aspecto mais traacutegico que muitos me ldquoesquecemrdquo de abordar

quando estatildeo em seus discursos ldquoproacute vida e famiacutelia brasileira Na realidade poucas

satildeo as mulheres que diante das dificuldades financeiras pelas quais passam da

violecircncia do mundo moderno e da falta o que eacute bem frequumlente do apoio do

7 Nos paises de cultura elevada poupados a convulsotildees poliacuteticas graves as execuccedilotildees tornaram-

se cada vez mais raras Agrave praacutetica crescente do indulto seguiu-se finalmente e pouco a pouco a

aboliccedilatildeo da pena de morte Paises como a Noruega Sueacutecia e Alemanha que aboliram-na em

definitivo desde 19051921 e 1937 respectivamente Na Aacuteustria em 1746 Sonnenfels

defendeu a tese segundo a qual as penas de morte deveriam ser substituiacutedas pelo trabalho

forccedilado severo para fins de utilidade puacuteblica Mas foi somente em 1950 que esta naccedilatildeo

suprimiu com forccedila de lei a pena capital 8 Dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE constantes na

mais recente pesquisa por amostra de domiciacuteliosrdquo realizada no ano de 1995 Ressalve-se entretanto que a pesquisa foi feita somente com 10 do total de domiciacutelios de cada Estado-membro da federaccedilatildeo segundo a proacutepria rotina desta instituiccedilatildeo

companheiro optariam por enfrentar tudo isso e criariam seus filhos sozinhas E

indubitavelmente todos estes problemas vatildeo estar muito mais incutidos nas mentes

delas na hora de tomar uma decisatildeo do que a figura do padre de sua paroacutequia dizendo

que o aborto eacute contra as leis de Deus ou o dispositivo do Coacutedigo Penal que o tipifica

como crime

Um dos argumentos a favor do aborto sustenta-se na negaccedilatildeo da vida

nos primeiros meses de gestaccedilatildeo portanto natildeo haveria de se falar em crime Ao

discutir a legalizaccedilatildeo do aborto eacute imprescindiacutevel distinguir a partir de qual momento

haacute vida no feto A questatildeo natildeo eacute pacifica A religiatildeo entende vivo o ser desde a

concepccedilatildeo mas a medicina tende a considerar a vida a partir da formaccedilatildeo total dos

oacutergatildeos essenciais do feto De qualquer forma ainda que nos primeiros meses natildeo haja

vida propriamente dita o aborto potildee termo a esta expectativa agrave certeza futura de

formaccedilatildeo de uma vida Daiacute ser compreensiacutevel a propaganda anti-aborto que o

classifica como assassinato em qualquer estaacutegio da gravidez9

Adentre-se no caso do aborto eugeneacutesico criminoso agrave luz das normas

penais brasileiras

Coloquemo-nos entretanto no lugar da crianccedila Seraacute que um bebecirc

disforme condenado a passar o resto de sua vida totalmente dependente dos outros se

tivesse que escolher optaria por viver dessa forma Pode-se considerar vida a simples

passagem pelo mundo sem desfrutar das coisas mais elementares da nossa existecircncia

como constituir famiacutelia ou participar do progresso de seu paiacutes 10

Por outro lado a simples hipoacutetese por mais iacutenfima que seja de uma

resposta positiva jaacute eacute capaz por si soacute de tomar o aborto uma praacutetica incogitaacutevel e

criminosa Esta resposta infelizmente jamais teremos

Tais consideraccedilotildees podem parecer superficiais demais frente a um

assunto tatildeo complexo e polecircmico mas eacute loacutegico a intenccedilatildeo natildeo eacute exaurir o tema que

demandaria muito mais que este despretensioso artigo para ser devidamente debatido A

proposta poreacutem eacute exatamente a que por ora aqui se encontra ou seja abordar alguns

aspectos do aborto e da pena de morte com isenccedilatildeo da corriqueira conclusatildeo a favor ou

contra Mesmo porque embora cientes desses aspectos na pressa de tomarmos algum

posicionamento natildeo raro deixamos de ponderaacute-Ios

10 o eminente mestre penalista Magalhatildees de Noronha posiciona-se

radicalmente contra a hipoacutetese do chamado aborto eugeneacutesico ou eugecircnico vide

consideraccedilotildees apostas no Diaacuterio de Satildeo Paulo de 02 de agosto de 1962 transcritas e

reafirmadas em sua obra de Direito Penal cujo texto ele finaliza da seguinte forma

Como quer que seja todo ser nascido de mulher possua a forma que possuir eacute

humano eacute homem eacute sujeito de direito e tem personalidade A doutrina do Direito

9 Paulo Seacutergio Leite Fernandes argumenta que No aspecto moral alguns natildeo reconhecem vida

no ovo Crecircem que enquanto o feto natildeo adquiriu semelhanccedila agrave pessoa humana inexiste qualquer Impedimento agrave extirpaccedilatildeo Satildeo censurados com razatildeo pelos que natildeo estabelecem qualquer distinccedilatildeo entre o oacutevulo apenas fecundado e o feto jaacute desenvolvido Eacute claro que nenhuma diferenccedila haacute entre um e outro porque em ambos haacute uma centelha haacute vida independentemente da forma ou das caracteriacutesticas humanas adquiridas por um e ausentes no outro O problema fundamental ou essencial eacute que os defensores do abortamento natildeo sentem questotildees de consciecircncia na extirpaccedilatildeo de um oacutevulo fecundado com poucos dias de vida sentindo-as entretanto quando o produto a ser extirpado jaacute se apresenta agrave sua imagem e semelhanccedila O ato no entanto em qualquer caso eacute o mesmo pois aquele que natildeo tem forma humana a teria breve natildeo fosse destruiacutedordquo Ob Cit p 47

Romano que negava capacidade juriacutedica aos que contra formam humani generis

converso more proceantur natildeo seria hoje toleraacutevel Ob Cit p 63 e Diaacuterio de Satildeo

Paulo 12 ago 1962

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1980

FERNANDES Paulo Seacutergio Leite Aborto e infanticiacutedio 1- ed - Rio

de Janeiro Forense Universitaacuteria 1972

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NORONHA E Magalhatildees Direito Penal 26ordf ed - Satildeo Paulo Saraiva

1994 Vol 2

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TARDE Gabriel A criminalidade comparada Traduccedilatildeo de Ludy Veloso

Rio de Janeiro Editora Nacional de Direito 1957

TAYLOR lan Paul Walton e Jock Young Criminologia criacutetica

Traduccedilatildeo de Juarez Cirino dos Santos e Seacutergio Tancredo - Rio de Janeiro Ediccedilotildees

Graal 1980

VERGARA Pedro Dos motivos determinantes no Direito Penal 2- ed -

Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1980

BREVE ENFOQUE ACERCA DA ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA NO

PROCESSO TRABALHISTA

Alba Paulo de Azevedo Acadecircmica do 7deg Periodo do Curso de Direito da

UFRN

1Exoacuterdio 2Consideraccedilotildees iniciais 3 Perfil histoacuterico 4 Cabimento

5 Procedimento 6Agrave guisa de arremate 7 Bibliografia

1 EXOacuteRDIO

Ab initio cumpre asseverar que o afatilde deste ensaio eacute apresentar numa

exibiccedilatildeo de um instante algumas observaccedilotildees atinentes agrave ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA no

acircmbito da JUSTICcedilA OBREIRA

Seratildeo trazidas agrave baila as inovaccedilotildees da Accedilatildeo Monitoacuteria agrave luz da lei

Ndeg 9079 de 14 de julho de 1995 bem como sua adequaccedilatildeo agrave seara trabalhista

fundamentalmente pela celeridade do procedimento fator de profunda relevacircncia para a

soluccedilatildeo dos conflitos laboristas Celeridade que se mostra cada vez mais urgente face agrave

condiccedilatildeo social desfavoraacutevel do trabalhador imposta pela conjuntura soacutecio-econocircmico-

poliacutetica Eis por que a azaacutefama de uma resposta jurisdicional agraves pretensotildees deduzidas

pelo trabalhador urge nos dias atuais sob pena de agravamento dessa condiccedilatildeo social

constrangedora

Certamente faltaratildeo muitos pontos a abordar poreacutem valeraacute este

breve estudo se porventura forem suscitadas discussotildees que tragam soluccedilotildees para os

impasses no que tange ao cabimento da Monitoacuteria na Justiccedila do Trabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A Accedilatildeo Monitoacuteria criada pela Lei Ndeg 9079 de 140795 foi instituiacuteda

em nosso sistema processual acrescentando-se trecircs artigos ao CPC no final da parte que

disciplina os procedimentos especiais de jurisdiccedilatildeo contenciosa

Na liccedilatildeo do ilustre JOSEacute ROGEacuteRIO CRUZ e TUCCI a Accedilatildeo Monitoacuteria

eacute O meio pelo qual o credor de quantia certa ou de coisa determinada cujo creacutedito

esteja comprovado por documento haacutebil requerendo a prolaccedilatildeo de provimento judicial

consubstanciado em uacuteltima anaacutelise num mandado de pagamento ou de entrega de

coisa visa a obter a satisfaccedilatildeo de seu direito

Trata-se entatildeo de accedilatildeo de conhecimento condenatoacuteria de cogniccedilatildeo

sumaacuteria e com rito especial tendo por objetivo maior alcanccedilar-se o tiacutetulo executivo de

maneira antecipada sem a demora de um processo de conhecimento tiacutepico que

apresenta uma sentenccedila de meacuterito recurso e transito em julgado

Com efeito eacute real a possibilidade de o trabalhador fazer uso da

Monitoacuteria pois eacute exatamente no processo do trabalho onde a necessidade da soluccedilatildeo

raacutepida dos conflitos se manifesta de forma dramaacutetica Ademais estariacuteamos tatildeo-somente

utilizando o procedimento especial civil de forma subsidiaacuteria Obviamente haacute que se

respeitar as peculiaridades do procedimento trabalhista

3 PERFIL HISTOacuteRICO

Natildeo se trata de um instituto oriundo do direito paacutetrio Eis que a

preocupaccedilatildeo com a demora do procedimento ordinaacuterio remonta aos legisladores

medievos e estes vieram a instituir o procedimento sumaacuterio Segundo o ilustre

magistrado MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO a Accedilatildeo Monitoacuteria do direito

brasileiro deriva da siacutentese de dois procedimentos medievais em um deles a accedilatildeo

sumaacuteria se fundava em escritura puacuteblica ou privada cuja certeza do direito alegado

estampada em prova preconstituiacuteda permitia ao juiz proferir desde logo sentenccedila

executiva contanto que citado o reacuteu o outro procedimento dava azo agrave expediccedilatildeo de um

mandado de solvendo inaudita altera parte ou seja natildeo havia citaccedilatildeo para audiecircncia

preacutevia do reacuteu e este era chamado para cumprir a obrigaccedilatildeo Neste caso o reacuteu poderia

arguumlir determinadas exceccedilotildees e obviamente a ordem judicial natildeo seria executada

passando a accedilatildeo a ser regida pelo procedimento ordinaacuterio

A Monitoacuteria deve ser embasada em prova escrita podendo o reacuteu

embargar hipoacutetese em que o mandado de solvendo perderaacute a eficaacutecia resolvendo-se

meramente em simples instrumento de citaccedilatildeo

Sucesso em vaacuterias legislaccedilotildees da Europa como na Itaacutelia Alemanha

Aacuteustria Franccedila e Beacutelgica a Monitoacuteria reflete duas espeacutecies de procedimento o puro e

o documental No primeiro a emissatildeo da ordem de pagamento natildeo se lastreia

necessariamente na existecircncia de prova escrita da diacutevida ao passo que no documental a

determinaccedilatildeo judicial deve sempre basear-se em prova incontestaacutevel do creacutedito

Via de regra o procedimento injuntivo ou monitoacuterio exige os mesmos

requisitos do procedimento comum devendo ser iniciado mediante peticcedilatildeo escrita

visando agrave obtenccedilatildeo de decisatildeo condenatoacuteria

Na Alemanha pode ser iniciado verbalmente e visa agrave obtenccedilatildeo de um

simples mandado de pagamento Todavia para o deferimento do mandado de

pagamento haacute legislaccedilotildees que exigem a exibiccedilatildeo de prova escrita incontestaacutevel

(ITAacuteLIA E BEacuteLGICA) Outros sistemas processuais exigem apenas a exibiccedilatildeo com a

exordial de prova justificativa do requerimento formulado (FRANCcedilA ALEMANHA

AacuteUSTRIA)

O legislador brasileiro aderiu ao procedimento documental quando

preceitua no art 1102a do CPC - DA accedilatildeo monitoacuteria compete a quem pretender com

base em prova escrita sem eficaacutecia de tiacutetulo executivo pagamento de soma em

dinheiro entrega de coisa fungiacutevel ou de determinado bem moacutevel

O modelo claacutessico da teacutecnica monitoacuteria foi adotado pelo sistema

processual paacutetrio onde o pronunciamento jurisdicional alvitrado eacute proferido inaudita

altera parte diferindo-se assim para um momento ulterior a possibilidade do

contraditoacuterio

Eacute de bom alvitre lembrar que a prova escrita do creacutedito deve ser

desprovida de eficaacutecia executiva

O escopo evidenciado em todas as legislaccedilotildees desses paiacuteses -

ALEMANHA AUSTRIA ITAacuteLIA FRANCcedilA BRASIL - no procedimento injuntivo

eacute essencialmente a ceacutelere constituiccedilatildeo de um tiacutetulo executivo judicial

4 CABIMENTO

A Monitoacuteria reflete basicamente um duplo objetivo A finalidade

primeira evidencia-se no cumprimento voluntariamente do mandado de solvendo pelo

devedor satisfazendo portanto a obrigaccedilatildeo de plano caso isso natildeo ocorra tem-se a

formaccedilatildeo do titulo executivo judicial A constituiccedilatildeo do tiacutetulo executivo judicial se

traduz no segundo escopo podendo se dar em duas situaccedilotildees quais sejam na ausecircncia

de oposiccedilatildeo pelo reacuteu ao mandado judicial ou pela rejeiccedilatildeo dos embargos pelo juiz

Ora o processo monitoacuterio vem a colocar-se entre o processo de

conhecimento e o processo de execuccedilatildeo encurtando o processo de conhecimento de

maneira a prescindir do cumprimento da fase instrutoacuteria e formalizaccedilatildeo da fase

decisoacuteria e em adequada antecipaccedilatildeo do processo de execuccedilatildeo face agrave desnecessaacuteria

instrumentalizaccedilatildeo por tiacutetulo constituiacutedo atraveacutes de sentenccedila ou da assemelhaccedilatildeo na

titulaccedilatildeo preacute-constituida

A execuccedilatildeo por quantia certa contra devedor solvente retrata a

modalidade de execuccedilatildeo mais frequumlente no processo trabalhista pois que a natureza do

creacutedito do trabalhador eacute na maioria das vezes pecuniaacuteria

O cabimento e a utilidade da Accedilatildeo Monitoacuteria no acircmbito da Justiccedila

Trabalhista satildeo notaacuteveis bem assim como outras accedilotildees especiais do processo civil jaacute

tiveram utilidade nesta aacuterea p ex a de consignaccedilatildeo em pagamento a de depoacutesito a de

embargos de terceiros

Atraveacutes da Monitoacuteria o trabalhador que possuir prova escrita de uma

obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa ou de entrega de coisa assumida pelo empregador

poderaacute solicitar ao juiz que conceda Iiminarmente e sem audiecircncia do reacuteu um

mandado para que este quite de imediato a obrigaccedilatildeo sob pena de o seu silecircncio

motivar o proferimento de sentenccedila que passaraacute a funcionar como tiacutetulo executivo

judicial

O cabimento da Accedilatildeo Monitoacuteria no acircmbito trabalhista suscita opiniotildees

divergentes como podemos constatar atraveacutes dos posicionamentos em dissensatildeo de dois

magistrados Para o nobre SEacuteRGIO PINTO MARTINS de Satildeo Paulo a monitoacuteria eacute

incompatiacutevel com as determinaccedilotildees do processo trabalhista pois neste soacute se pode

executar tiacutetulo executivo judicial como regra tomando impossiacutevel a execuccedilatildeo de algo

que nem sequer eacute tiacutetulo executivo como ocorre na accedilatildeo monitoacuteria Natildeo obstante essa

concepccedilatildeo aduzida para o ilustre MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO do Paranaacute

seria injustificaacutevel que se venha a cerrar as portas para a accedilatildeo monitoacuteria com sua

vocaccedilatildeo para tomar menos larga e aflitiva a distacircncia entre a pretensatildeo do autor e o

resultado praacutetico que deseja obter com a entrega da prestaccedilatildeo jurisdicional invocada

Com a devida vecircnia aos posicionamentos contraacuterios agrave Monitoacuteria filio-

me agraves palavras do Magistrado MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO por

vislumbrar na Monitoacuteria uma das soluccedilotildees para inuacutemeras pretensotildees do trabalhador

brasileiro

Ademais como jaacute mostramos anteriormente a Accedilatildeo Monitoacuteria natildeo eacute de

execuccedilatildeo e sim um meio para chegar-se ao tiacutetulo executivo judicial haja vista que o

direito do trabalho natildeo admite a execuccedilatildeo de tiacutetulos extrajudiciais

5 PROCEDIMENTO

A preservaccedilatildeo da especificidade do procedimento trabalhista eacute

fundamental Para tanto entendemos que a Accedilatildeo Monitoacuteria no direito do trabalho

carece de adaptaccedilotildees

Como jaacute enfatizamos a peccedila vestibular deve ser instruiacuteda por

documento que legitime o exerciacutecio da referida accedilatildeo Tal requisito encontra-se natildeo

somente no art 1102 a do CPC como na proacutepria CL T art 787 segundo o qual A

reclamaccedilatildeo escrita deveraacute ser formulada em duas vias e desde logo acompanhada dos

documentos em que se fundar

O autor uma vez preenchidos os requisitos do art 640 da CL T

requereraacute em sua peticcedilatildeo inicial a expediccedilatildeo do mandado de pagamento previsto no

art 1102 do CPC

O Magistrado verificando que a peticcedilatildeo estaacute devidamente elaborada

deferiraacute a emissatildeo do mandado de solvendo onde o objeto seraacute estabelecido atraveacutes do

tipo de obrigaccedilatildeo a ser cumprida pelo reacuteu quais sejam a entrega da coisa fungiacutevel ou

bem moacutevel determinado ou o pagamento de soma em dinheiro

Na seara processual civil o reacuteu eacute citado para em quinze (15) dias

cumprir a obrigaccedilatildeo ou ofertar embargos Entretanto segundo a liccedilatildeo do ilustre

MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO com a qual concordamos no sistema do

processo trabalhista tal procedimento deve ser adaptado agraves peculiaridades deste

processo Entatildeo o reacuteu seraacute citado para cumprir o mandado ou satisfazer a obrigaccedilatildeo

a) em audiecircncia b) que deveraacute ser a primeira desimpedida nos cinco dias subsequumlentes

(CL T art 841 Caput)

Ora a designaccedilatildeo dessa audiecircncia visa a colocar em praacutetica o escopo

singular da justiccedila obreira que eacute a soluccedilatildeo dos conflitos pela soluccedilatildeo negociada e natildeo

apenas a propiciar um momento para o reacuteu responder agrave accedilatildeo ou adimplir sua obrigaccedilatildeo

Destarte no dia aprazado para realizar-se a audiecircncia podemos imaginar

algumas situaccedilotildees possiacuteveis de ocorrer a) se o autor natildeo comparecer o processo seraacute

extinto sem julgamento do meacuterito Caso receba salaacuterio inferior ou igual ao dobro do

miacutenimo legal ficaraacute dispensado do pagamento das despesas e custas processuais b) se o

reacuteu natildeo comparecer aleacutem de revel seraacute confesso quanto aos fatos alegados na inicial

Todavia natildeo haveraacute confissatildeo ficta caso haja diversos reacuteus e um ou alguns deles

conteste a accedilatildeo ou ainda se o litiacutegio versar sobre direitos indisponiacuteveis c) caso a peccedila

inicial esteja desacompanhada de instrumento puacuteblico que a lei repute indispensaacutevel agrave

prova do ato como o reacuteu deixou de responder significa dizer que natildeo ofereceu

embargos logo forma-se de pleno direito o tiacutetulo executivo judicial convertendo-se o

mandado inicial em mandado executivo(art 1102 c caput - CPC) Eacute mister ressaltar

que a falta de embargos natildeo significa que necessariamente ocorreraacute a constituiccedilatildeo do

tiacutetulo executivo judicial pois para que se forme o tiacutetulo eacute indispensaacutevel que o juiacutezo

acolha o pedido do autor e d) finalmente caso o reacuteu compareccedila ele poderaacute proceder de

vaacuterias formas satisfazer a obrigaccedilatildeo transacionar excepcionar oferecer embargos ou

reconvir

Naturalmente cada atitude dessas supra mencionadas merece um

estudo aprofundado para uma melhor elucidaccedilatildeo acerca do tema em comento Contudo

podemos dizer que a reconvenccedilatildeo eacute a que suscita controveacutersias quanto a sua

possibilidade no procedimento monitoacuterio

6 Agrave GUISA DE ARREMATE

O tema trazido a propoacutesito deixou estampado que o fim especiacutefico do

procedimento monitoacuterio eacute a formaccedilatildeo de um tiacutetulo executivo judicial razatildeo pela qual o

mandado de solvendo eacute expedido antes mesmo da citaccedilatildeo do reacuteu se bem que a eficaacutecia

daquele instrumento judicial fica condicionada agrave ausecircncia de reaccedilatildeo pelo reacuteu haja vista

que opondo-se o reacuteu a eficaacutecia do mandado seraacute desfeita resolvendo-se em mera

citaccedilatildeo pois a partir daiacute a accedilatildeo teraacute curso pelo procedimento ordinaacuterio Ainda assim

vemos na Monitoacuteria um instituto perfeitamente cabiacutevel no processo trabalhista

inclusive em se tratando de tiacutetulos extrajudiciais levando-se em conta que o processo

do trabalho em vigor repele a execuccedilatildeo de tiacutetulo extrajudicial Aleacutem disso faz-se

urgente uma resposta jurisdicional agraves pretensotildees do trabalhador pois o que se denota eacute

uma condiccedilatildeo social cada vez mais desigual entre patratildeo e empregado

Em face dessa realidade vislumbramos na Monitoacuteria um dos

instrumentos possiacuteveis para se fazer mais ceacutelere o exerciacutecio da atividade jurisdicional

no acircmbito da justiccedila do trabalho principalmente se observarmos que a demora de uma

resposta jurisdicional numa conjuntura social desigual como a nossa pode conduzir o

trabalhador a situaccedilotildees oprobriosas

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DINIZ Joseacute Janguiecirc Bezerra Temas de processo trabalhista Brasiacutelia

(DF) Edit Consulex 1996

MALTA Christovatildeo Piragibe Tostes Praacutetica do processo trabalhista 26

ed rev aum e atual Satildeo Paulo Ltr1995

MARTINS Seacutergio Pinto A Accedilatildeo Monitoacuteria no processo do trabalho

Revista Literaacuteria de Direito Satildeo Paulo Ano II ndeg 10 p 25 marabr 1996

SALVADOR Antocircnio Raphael Silva Da Accedilatildeo Monitoacuteria e da

Tutela jurisdicional antecipada Comentaacuterios agrave Lei nordm 9079 de 140795 Satildeo Paulo

Malheiros 1995

SANTOS Emane Fideacutelis Dos novos perfis do processo civil brasileiro

Belo Horizonte Del Rey 1996

TEIXEIRA FILHO Manoel Antocircnio Accedilatildeo

Monitoacuteria no processo do trabalho Suplemento trabalhista Ltr 11095 Satildeo Paulo Ano

31 p 727 a 7361995

TUCCI Joseacute Rogeacuterio Cruz e Accedilatildeo Monitoacuteria lei 9079 de 14071995

1 ed 2 tir Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 1995

ARBITRAGEM A Lei nordm 930796

Azevedo Hamilton Cartaxo Acadecircmico do 7ordm peiacuteodo do Curso de Direito

da UFRN

I-Introacuteito

Nos uacuteltimos dias em razatildeo da ediccedilatildeo da Lei n 9307 de 23 de setembro

de 1996 tem-se ouvido falar com bastante frequumlecircncia na miacutedia em geral e no meio

juriacutedico em arbitragem Por ser assunto inusual daiacute derivando seu pouco

conhecimento eacute possiacutevel que se subestime a importacircncia que este instituto juriacutedico

pode vir a ter quanto ao bem-estar da sociedade em geral

A jurisdiccedilatildeo eacute a atividade estatal de decidir as lides e impor suas

decisotildees a fim de atingir seu objetivo uacuteltimo a pacificaccedilatildeo dos conflitos que surgem no

seio da sociedade com justiccedila Este conceito trazido com variaccedilotildees sem significacircncia

pela doutrina eacute beliacutessimo A um soacute momento daacute-se a quem o tem seu direito material

e garante-se tranquumlilidade interna ao grupo social

Mas existe um grave problema A jurisdiccedilatildeo como atividade estatal tem

falhado Agrave exceccedilatildeo do que acontece em alguns paiacuteses completamente desenvolvidos o

processo estatal tomou-se tatildeo caro e lento que ao final acabou afastando de si a

personagem fundamental da democracia a sociedade Mas para sermos justos

lembremos que um Judiciaacuterio lento natildeo eacute privileacutegio brasileiro Um artigo publicado

recentemente no jornal americano The Washington Postrdquo mostra que no Japatildeo o

lapso temporal necessaacuterio ao tracircmite de uma accedilatildeo eacute de 20 a 30 anos

Como sabemos o julgamento de uma accedilatildeo com justiccedila eacute por vezes

intrincado e envolve complexas questotildees de fato e de direito some-se a isso as

condiccedilotildees precaacuterias em que o subdimensionado judiciaacuterio brasileiro eacute obrigado a

trabalhar Isto provoca o que chamamos de demanda reprimida a sociedade tem um

sem nuacutemero de conflitos que natildeo vecirc resolvidos pela justiccedila estatal Numa eacutepoca em que

o ser humano amadurece cada vez mais raacutepido bombardeado que eacute com uma

gigantesca carga de informaccedilotildees uma gama cada vez maior de indiviacuteduos toma-se

consciente de que existem direitos fundamentais dos quais satildeo titulares e um deles eacute o

de ver resolvidos seus conflitos de forma raacutepida e paciacutefica Situaccedilotildees de inseguranccedila

juriacutedica e de tensotildees sociais contiacutenuas causam no cidadatildeo um sentimento generalizado

de desamparo e descrenccedila nas instituiccedilotildees juriacutedico-poliacuteticas que ali deveriam estar para

servi-Io a extensatildeo das consequumlecircncias dessa marginalizaccedilatildeo de uma grande parcela da

populaccedilatildeo soacute a Histoacuteria mostraraacute

Natildeo haacute exceccedilotildees Qualquer de noacutes sofre arrepios ao cogitar a hipoacutetese de

ir agrave Justiccedila e esperar sete ou dez anos para ter seu pleito apreciado Natildeo somos assim tatildeo

longevos isso eacute 10 da vida meacutedia de um ser humano

Outro aspecto importante eacute o custo da litigacircncia em juiacutezo Diga-se que

isto eacute suficiente para dele afastar a maior parte dos conflitos de interesses aqueles em

que particulares satildeo uma das partes Raciocinemos na realidade econocircmico-social de

nosso paiacutes que nuacutemero de indiviacuteduos satildeo suficientemente dotados financeiramente para

custearem um processo ciacutevel - natildeo sujeito ao Juizado Especial - com recursos apelaccedilotildees

e advogado ateacute seu desfecho em que podem vir a ser condenados inclusive com o ocircnus

da sucumbecircncia A resposta inelutaacutevel eacute muito poucos

As tentativas tradicionais de solucionar o problema tecircm naufragado

Tentou-se de tudo tribunais de alccedilada mudanccedilas no processo civil mais juiacutezes mais

cartoacuterios funcionaacuterios dinheiro informatizaccedilatildeo Tribunais com mais de 20 membros

passaram a ser comuns chegamos a extremos como em Satildeo Paulo de mais de uma

centena de desembargadores no Tribunal de Justiccedila Nada disso mudou um dado

concreto com uma demanda sempre crescente muitas dezenas de milhares de

processos em alguns Estados um juiz vecirc-se forccedilado a analisar um nuacutemero absurdo de

processos por mecircs Pergunta-se numa situaccedilatildeo que praticamente obriga agrave automaccedilatildeo

que espeacutecie de prestaccedilatildeo jurisdicional pode ser esperada

Eacute nesse contexto no anseio pelo acesso de todos e de cada membro da

sociedade a uma ordem juriacutedica justa que - numa efetiva mudanccedila de mentalidade -

foram recebidas com juacutebilo as leis dos Juizados Especiais Ciacuteveis e Criminais e do Juiacutezo

Arbitra Quanto agrave primeira espeacutecie normativa aqui natildeo seraacute tratada pois isso jaacute foi

feito por juristas com muitas luzes tomando ociosas quaisquer consideraccedilotildees que se

porventura viesse a fazer acerca dela O objetivo deste trabalho eacute apenas examinar as

linhas mestras do Juiacutezo Arbitral e as vantagens que oferece

II - Distinccedilatildeo Mediaccedilatildeo Conciliaccedilatildeo e Arbitragem

Existem diversos meacutetodos extrajudiciais de soluccedilatildeo de conflitos mas

uma distinccedilatildeo importante a ser colocada eacute a existente entre mediaccedilatildeo conciliaccedilatildeo e

arbitragem Na mediaccedilatildeo as proacuteprias partes voluntariamente resolvem seu conflito

com o auxiacutelio de um terceiro atraveacutes de um acordo Distingue-se da conciliaccedilatildeo na

medida em que nesta o conciliador possui um papel ativo que consiste em apoacutes

considerar os argumentos parciais propor soluccedilotildees que poderatildeo sendo adotadas vir

a dirimir a contenda Por serem provenientes das vontades individuais das partes com

ou sem auxiacutelio mediaccedilatildeo e conciliaccedilatildeo satildeo chamados meacutetodos autocompositivos de

soluccedilatildeo de conflitos

Noutro passo temos a arbitragem meacutetodo heterocompositivo em que

natildeo alcanccedilado entendimento as partes elegem um terceiro o aacuterbitro e assumem o

compromisso de cumprir-lhe a decisatildeo

III - Principais Vantagens da Arbitragem

Teacutecnica - Em questotildees complexas que envolvam conhecimento

aprofundado de algum ramo bastante especiacutefico do conhecimento como as que tratam

de know-how especializado em aacutereas como bioengenharia informaacutetica processos

industriais etc o juiz dificilmente estaacute qualificado a bem decidir a questatildeo gerando agraves

partes fundado receio diante da imprevisibilidade do teor do provimento jurisdicional

Em privilegiada situaccedilatildeo encontra-se a arbitragem posto ser possiacutevel a nomeaccedilatildeo de

um teacutecnico para a posiccedilatildeo de aacuterbitro que pode inclusive a criteacuterio das partes proferir

decisatildeo fundada apenas em equumlidade (art 2deg da Lei nordm 930796)

Sigilo - Com exceccedilatildeo das questotildees que correm em segredo de justiccedila os

processos que tramitam na justiccedila comum satildeo de conhecimento puacuteblico Isso toma

inviaacutevel que lhe sejam submetidas contendas em que a divulgaccedilatildeo de seu conteuacutedo

provoca prejuiacutezos irreparaacuteveis agraves partes sejam eles de ordem moral ou econocircmica

Soluccedilatildeo jaacute adotada pelas multinacionais a arbitragem elimina este inconveniente jaacute

que sujeitos agraves sanccedilotildees das legislaccedilotildees penal e civil os aacuterbitros estatildeo obrigados ao

sigilo

Confianccedila - Ao inverso da jurisdiccedilatildeo estatal aos litigantes em Juiacutezo

arbitral eacute garantida a certeza quanto agrave pessoa do aacuterbitro que elegem livremente

Presteza nos Julgamentos ndash O Juiacutezo ArbitraI escapa agrave rigidez dos

processo civil agraves partes eacute facultado estabelecerem ateacute o proacuteprio procedimento Os

litigantes a quem normalmente interessa o julgamento mais expedito possiacutevel haveratildeo

de decidir-se por aacuterbitro que Ihes garanta essa caracteriacutestica dificilmente encontrada no

judiciaacuterio

Atmosfera - A rapidez tambeacutem eacute assegurada porque no juiacutezo arbitral

ainda existe um certo clima de diaacutelogo que muitas vezes se extingue ao se bater agraves

portas da justiccedila diminuindo as chances de um possiacutevel acordo

IV - CONVENCcedilAtildeO DE ARBITRAGEM CLAacuteUSULA

COMPROMISSOacuteRIA E COMPROMISSO ARBITRAL

A lei estabeleceu o gecircnero convenccedilatildeo de arbitragem do qual satildeo

espeacutecies a claacuteusula com promissoacuteria e o compromisso arbitral A claacuteusula

compromiss6ria eacute a convenccedilatildeo atraveacutes da qual as partes em um contrato comprometem-

se a submeter agrave arbitragem os litiacutegios que possam vir a surgir relativamente a tal

contrato A nova lei em seu art 4 a 8 a ela trouxe novo disciplinamento legal agora

considerada obrigaccedilatildeo de fazer cujo adimplemento eacute sujeito agrave tutela especiacutefica a ela

natildeo se aplicando a regra nem o potest precise cogi ad factum Negando-se uma das

partes a assinar o compromisso arbitral conforme o ajuste contratual o juiz poderaacute -

obedecido o due process of law- por meio de sentenccedila estabelececirc-Io

O compromisso arbitral a seu turno constitui convenccedilatildeo atraveacutes da qual

as partes submetem um litiacutegio agrave arbitragem de uma ou mais pessoas podendo ser

judicial ou extrajudicial O compromisso arbitral eacute um instrumento distinto lavrado

entre as partes em estrita observacircncia aos preceitos legais sob pena de ser o instrumento

eivado de nulidade absoluta Finnado o compromisso arbitral fica devidamente

constituiacutedo o foro arbitral cuja sentenccedila natildeo comporta recurso ao Poder Judiciaacuterio

nem conforme veremos requer sua homologaccedilatildeo (art 18 da Lei nordm 930796)

Portanto para que fique bem entendido na claacuteusula compromissoacuteria a

parte assume a obrigaccedilatildeo de firmar compromisso arbitral quanto a lides que derivem do

contrato em que ela estiver inserta

V - DA EXECUCcedilAtildeO DA SENTENCcedilA

Num grande avanccedilo talvez o mais estrateacutegico deles agrave sentenccedila arbitral

condenatoacuteria foi atribuiacutedo o status de tiacutetulo executivo (art 31 da Lei nordm 930796)

inserindo-se no rol daqueles contemplados no art 585 VII do CPC Dessa forma as

partes ficam livres do embaraccedilo de ir ao Judiciaacuterio e submeter-lhe agrave apreciaccedilatildeo

questatildeo jaacute decidida Caso o decisum possua algum viacutecio este poderaacute ser examinado

no processo de execuccedilatildeo por meio dos embargos cabiacuteveis (art 33 sect 3deg) ou ainda via

accedilatildeo ordinaacuteria pedindo seja decretada sua nulidade (art 31) Dispensa-se portanto

homologaccedilatildeo do laudo arbitral que caso fomecida pelo Poder Judiciaacuterio viraacute apenas

dar ainda maior certeza a um tiacutetulo a que a lei jaacute atribui forccedila executiva

Ressalte-se ainda que quanto agraves sentenccedilas estrangeiras eliminou-se a

esdruacutexula figura do duplo exequatur no paiacutes de origem e no Brasil sendo agora

bastante apenas o concedido pelo Supremo Tribunal Federal (art 35)

VI - CONCLUSAtildeO

Cappelletti brilhante processualista italiano chamou esse

movimento universal de acesso agrave Justiccedila de a terceira onda Mostrou-nos que o Juiacutezo

Arbitral eacute muitas vezes o mais adequado agrave obtenccedilatildeo de justiccedila

De nula valia seraacute a nova Lei se apesar dela continuarmos a tratar a

Juiacutezo Arbitral como algueacutem jaacute disse com solene ignoracircncia Cabe aos operadores

juriacutedicos em suas esferas particulares de accedilatildeo sermos corajosos e tomarmos a noacutes a

responsabilidade da criaccedilatildeo de uma cultura de arbitragem Eliminemos o que denomino

cultura de ir a juiacutezo que faz com que alguns ainda mesmerizados com o processo

nele vislumbram um fim em si mesmo

Agraves partes interessa a soluccedilatildeo mais ceacutelere de seus conflitos natildeo a

complexidade dos procedimentos a profundidade das peticcedilotildees pareceres e sentenccedilas

Na era das fraccedilotildees de segundo natildeo haacute razatildeo para esperar meses com frequumlecircncia vaacuterios

anos pelo desfecho

de um feito quando evitaacutevel

Como anota a Dra Ada Pellegrini Grinover por ser o processo judicial

tatildeo caro demorado e complicado existe uma grande litigacircncia latente Haacute este imenso e

virgem campo do Direito a explorar que tem como uma de suas douradas recompensas

proporcionar aos membros de nossa sociedade a melhor soluccedilatildeo juriacutedica possiacutevel

A concluir sempre digno de lembranccedila eacute o ensinamento de Ihering para

quem lutar pelo direito natildeo eacute apenas pleitear em Juizo eacute mais eacute natildeo se

conformar com a injusticcedila eacute pugnar pela cidadania

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Lei nordm 9307 de 23 de setembro de 1996 Publicada no Diaacuterio Oficial da

Uniatildeo em 24 de setembro de 1996 Brasiacutelia _ DF

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Direito Processual Livro de Teses II - Os Novos Acessos agrave Justiccedila _ XVI Conferecircncia

Nacional dos Advogados Fortaleza _ CE (1996)

BASSO Maristela - Tese Ampliaccedilatildeo do Uso da Arbitragem _ A

Revitalizaccedilatildeo da Arbitragem no Brasil sob um Enfoque Realista e um Espiacuterito

Diferente Livro de Teses 11 - Os Novos Acessos agrave Justiccedila _ XVI Conferecircncia Nacional

dos Advogados Fortaleza _ CE (1996)

PINHEIRO NETO - ADVOGADOS Internet http

WWWdprmregovbrdpgcfOO_phtm

MALLET Estevam - Conferecircncia proferida no I Congresso de Direito

Processual Brasileiro Natal- RN (1996)

DESVINCULACcedilAtildeO DA SEPARACcedilAtildeO DOS PODERES COM A

IDEacuteIA DE DEMOCRACIA

Carline Regina de Negreiros Cabral Acadecircmica de Direito 3degperiacuteodo

LETAT CEST MOI Esta frase concebida pelo Rei Luiacutes XIV (1661 -

1715) tomou-se o siacutembolo supremo do Absolutismo Monaacuterquico Francecircs Na Idade

Moderna entre o seacuteculo XV e o final do seacuteculo XVIII o Poder concentrava-se em

apenas uma pessoa que assumia todos os poderes do Estado - comandava exeacutercitos

distribuiacutea a Justiccedila entre os suacuteditos decretava as leis e arrecadava tributos

A Nobreza com esta grande concentraccedilatildeo de Poder acumulou muitas

riquezas enquanto que a maior parcela da populaccedilatildeo era cada vez mais explorada pelos

altos tributos Surgiu depois uma nova classe social - a Burguesia - que pela

descoberta de novos continentes e o aperfeiccediloamento das navegaccedilotildees mariacutetimas era

cada vez mais emergente e consciente da importacircncia de mudanccedilas no Antigo Regime

visto que o mesmo natildeo correspondia ao seu interesse Dentro deste contexto deu iniacutecio

a lutas entre estas duas classes sociais

Entre os acontecimentos que combateram o Absolutismo destacam-se a

Revoluccedilatildeo Inglesa de 1689 quando foi assinada a Declaraccedilatildeo dos Direitos - BiII of

Rights - que previa por exemplo a liberdade de imprensa garantias para o livre

exerciacutecio da Justiccedila Puacuteblica e enfim garantia a limitaccedilatildeo do poder do Rei pelo

Parlamento a Declaraccedilatildeo de Independecircncia das 13 colocircnias americanas em 1776 que

defendia a liberdade individual e o respeito aos direitos fundamentais do ser humano a

Revoluccedilatildeo Francesa - cujo lema era a Liberdade a Igualdade e a Fraternidade-

proclamou a ceacutelebre Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo Os principais

pontos defendidos era o respeito pelo Estado agrave dignidade da pessoa humana a

liberdade e a igualdade dos cidadatildeos perante a Lei o direito agrave propriedade individual a

liberdade de pensamento e de opiniatildeo

Ao lado desse movimento poliacutetico-econocircmico surgiu um movimento

cultural conhecido como lIuminismo Vaacuterias teorias combatendo o Absolutismo foram

editadas Entre elas pode-se citar a obra De LEspirit des Lois de MONTESQUIEU

que defende a triparticcedilatildeo dos poderes do Estado em Legislativo Executivo e Judiciaacuterio

Ele acreditava que desta forma poderia ser evitado abusos dos governantes e estarem

protegidas as liberdades individuais Ele afirma

Haacute em cada Estado trecircs espeacutecies de poderes o poder legislativo o

poder executivo e o poder judiciaacuterio Pelo primeiro o priacutencipe ou

magistrado faz leis por certo tempo ou para sempre e corrige ou ab-

roga as que estatildeo feitas Pelo segundo faz a paz ou a guerra envia

ou recebe embaixadas estabelece a seguranccedila previne as invasotildees

Pelo terceiro pune os crimes ou julga as querelas dos indiviacuteduos A

liberdade poliacutetica num cidadi1o eacute esta tranquumlilidade de espiacuterito que

proveacutem da opiniatildeo que cada um possui de sua seguranccedila e para que

se tenha esta liberdade cumpre que o governo seja de tal modo que

um cidadatildeo natildeo possa temer outro cidadatildeo Natildeo haveraacute tambeacutem

liberdade se o poder de julgar natildeo estiver separado do poder

legislativo o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadatildeos seria

arbitraacuterio pois o juiz seria o legislador Se estivesse ligado ao poder

executivo o juiz poderia ter forccedila de opressor() O poder judiciaacuterio

natildeo deve ser outorgado a um Corpo permanentes e sim exercido por

pessoas extraiacutedas do povo de modo prescrito pela lei para formar um

Tribunal que dure apenas o tempo necessaacuterio Desta maneira o poder

de julgar tatildeo terriacutevel entre os homens natildeo estaacute ligado nem a certa

situaccedilatildeo nem a uma certa profissatildeo torna-se por assim dizer nulo e

invisiacutevel Os outros dois poderes poderiam preferivelmente ser

outorgados a corpos permanentes porque natildeo se exercem sobre

nenhum indiviacuteduo sendo um somente a vontade geral do Estado e

outro somente a execuccedilatildeo dessa vontade geral Poreacutem se os tribunais

natildeo devem ser fixar os julgamentos devem secirc-lo a tal ponto que

nunca sejam mais do que um texto exato da lei Se fossem uma

opiniatildeo particular do juiz viver-se-ia na Sociedade sem saber

precisamente os compromissos que nela satildeo assumidos Jaacute que num

Estado Livre todo Homem que supotildee ter uma alma livre deve

governar a si proacuteprio eacute necessaacuterio que o povo no seu conjunto

possua o poder legislativo Eacute preciso que o povo atraveacutes de seus

representantes faccedila o que natildeo pode fazer por si mesmo A grande

vantagem dos representantes eacute que satildeo capazes de discutir os

negoacutecios puacuteblicos O povo natildeo eacute de modo algum capaz disso fato

que constitui um dos graves inconvenientes da democracia Se o

poder executivo natildeo tem direito de vetar os empreendimentos d6 corpo

legislativo este uacuteltimo seria despoacutetico porque como pode atribuir a

si proacuteprio todo o poder que possa imaginar destruiria todos os

demais poderes mas natildeo eacute preciso que o corpo legislativo tenha

reciprocamente a faculdade de paralisar o poder executivo porque

tendo a execuccedilatildeo limites por sua natureza eacute inuacutetil limitaacute-Ia () No

acircmbito do poder judiciaacuterio poderia acontecer que a lei que eacute ao

mesmo tempo clarividente e cega fosse em certos casos muito

rigorosa Poreacutem os juizes de uma naccedilatildeo natildeo satildeo como dissemos

mais que a boca que pronuncia as sentenccedilas da lei seres inanimados

que natildeo podem moderar nem sua forccedila nem seu rigorrdquo1

Essa obra dava atribuiccedilotildees restritas ao Estado que devido ao contexto

histoacuterico da eacutepoca MONTESQUIEU estava preocupado natildeo com a eficiecircncia estatal

mas em garantir a liberdade individual Foi a Intenccedilatildeo de enfraquecer o poder de

Estado complementando a funccedilatildeo Iimitadora exercida pela Constituiccedilatildeo que impocircs a

separaccedilatildeo dos poderes como um dos dogmas do Estado Moderno Como afirma

DALMO DALLARI eacute importante assinalar que essa Teoria teve acolhida e foi

consagrada numa eacutepoca em que se buscavam meios para enfraquecer o Estado uma vez

que natildeo se admitia sua interferecircncia na Vida Social a natildeo ser como

vigilante e conservador das situaccedilotildees estabelecidas pelos indiviacuteduosrdquo2

Na teoria de Separaccedilatildeo dos Poderes3 consagrado nas Constituiccedilotildees

vinculou-se agrave ideacuteia de Democracia dando origem a uma nova doutrina conhecida como

1 MONTESQUIEU De LEspirit des Lois Satildeo Paulo Abril 1978p150

2 DALLARI Dalmo de Abreu Elementos da teoria geral do estadoSatildeo Paulo Saraiva P 184

3 O que existe na verdade eacute a distribuiccedilatildeo de funccedilotildees a 6rgaos distintos que exercem o Poder

soberano do Estado jaacute que o Poder do Estado eacute uno e indivisiacutevel

a TEORIA DOS FREIOS E CONTRAPESOS onde se defende a interpenetraccedilatildeo entre

os poderes visando a limitaccedilatildeo reciacuteproca

Na Constituiccedilatildeo de 1988 esta teoria encontra-se presente Visualizemo-

Ia

O Poder Executivo na pessoa do Presidente da Repuacuteblica tem as

seguintes atribuiccedilotildees frente aos demais poderes

a) Iniciar a ediccedilatildeo de normas em mateacuterias previamente determinadas

(art 61 sect 1deg)

b) Sancionar ou vetar um projeto caso seja considerado inconstitucional

(art 66 sect 1deg)

c) Adotar medidas provisoacuterias em caso de relevacircncia e urgecircncia(art 62)

e elaborar leis delgadas (art 68)

d) Nomear Ministros do Supremo Tribunal Federal (art 10 paraacutegrafo

uacutenico) do Superior Tribunal de Justiccedila (art 104 paraacutegrafo uacutenico) Tribunal Superior

do Trabalho (art 111 1deg1) os Juizes do Tribunal Regional do Trabalho membros do

Tribunal Superior Eleitoral (art 119 sect 2deg) Juizes do Tribunal Regional Eleitoral (art

120 sect 1deg3deg) Ministro do Superior Tribunal Militar (art 123) e o Procurador Geral da

Repuacuteblica (art 128 sect 1deg)

O Poder Legislativo sobre os demais

a) Resolver acerca de Tratados e Acordos Internacionais (art 49 sect 1deg)

b) Sustar os atos normativos do poder executivo que exorbitem do poder

regulamentar ou dos limites de delegaccedilatildeo legislativa (art 49 sect5deg)

c) Julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da Repuacuteblica e

apreciar sobre a execuccedilatildeo dos planos de governo (art 49 sect 9deg)

d) Exercer fiscalizaccedilatildeo sobre o Presidente Vice-Presidente Ministros de

Estados do STF o Procurador geral da Repuacuteblica e o Advogado Geral da Uniatildeo nos

crimes de responsabilidade (art 52 sect 10 2deg)

e) Aprovar previamente a indicaccedilatildeo do executivo para determinados

cargos ( art 52 3deg 4deg)

f) Rejeitar do veto do Presidente (art 66 sect sect 5deg e 6deg)

O Poder Judiciaacuterio impotildee-se sobre os demais

a) controlar a legitimidade da Constitucionalidade das Leis

b) Agir de maneira fiscalizadora obrigando-os a permanecer nos limites

de suas respectivas esferas de competecircncias caso venha a ocorrer exorbitacircncia dos

demais poderes

Muitas criacuteticas satildeo tecidas a respeito da Teoria de MONTESQUIEU

Esta no contexto histoacuterico em que o autor se inseria atendia as necessidades de sua

eacutepoca que era a limitaccedilatildeo do Poder do Estado e natildeo a sua eficiecircncia no entanto com a

evoluccedilatildeo social o Estado passou a ser cada vez mais solicitado e suas aacutereas de atuaccedilatildeo

tendem a expandir-se e abranger aacutereas ateacute entatildeo impenetraacuteveis Essa necessidade de

expansatildeo toma-se inconciliaacutevel com os modelos da Separaccedilatildeo dos Poderes Apesar

disso reluta-se em modificar a organizaccedilatildeo do Estado por este estaacute vinculado a ideacuteia de

Democracia

Atualmente estes trecircs poderes encontram-se em crise Veja a seguir em

quais pontos e suas possiacuteveis soluccedilotildees

No Poder Executivo reclama-se principalmente da quantidade

incalculaacutevel de Medidas Provisoacuterias Cientistas Poliacuteticos jaacute as compararam aos AI-Atos

Institucionais da Ditadura A maneira indisciplinada com que as mesmas satildeo editadas

chega a ser constrangedora como eacute o caso do reajuste das mensalidades escolares e da

Reforma Administrativa Dezenas de MPs foram editadas sem maiores detalhamentos e

por tempo de vigecircncia curto que soacute vecircm a complicar a situaccedilatildeo existente - Parece que o

Poder Executivo natildeo faz jus ao que estaacute presente na Constituiccedilatildeo onde diz que as

MPs devem ser utilizadas em caso de relevacircncia e urgecircncia Necessita-se portanto de

um maior rigor na adoccedilatildeo destas Medidas

Quanto ao Poder Legislativo encontra-se satirizado frente a opiniatildeo

puacuteblica em virtude de envolvimento em escacircndalos Recentemente houve uma CPI de

estarrecer o paiacutes pela envergadura de denuacutencias e provas que vieram agrave luz Aleacutem disso

reclama-se da lentidatildeo com que elaboram as leis - sua funccedilatildeo basilar - Exige-se a

execuccedilatildeo de outras funccedilotildees que Ihes satildeo conferidas como o de fiscalizar as contas

prestadas pelo Poder Executivo e a sustaccedilatildeo de atos normativos do Poder Executivo que

exorbitem a limitaccedilatildeo de delegaccedilatildeo legislativa Muitas satildeo as prerrogativas concedidas

aos parlamentares como a preacutevia licenccedila para a instauraccedilatildeo e continuidade de processos

e a imunidade parlamentar o que muitas vezes satildeo usufruiacutedas de forma abusiva

Considerando esta realidade sugere--se ao Poder Legislativo a criaccedilatildeo

de comissotildees na Constituiccedilatildeo onde as mesmas teratildeo poderes de investigaccedilatildeo proacuteprios

das autoridades judiciais e durante o recesso haveraacute uma Comissatildeo Representativa do

Congresso Nacional cuja composiccedilatildeo reproduziraacute quanto possiacutevel a representaccedilatildeo

partidaacuteria (art 58 sect 30)

Quanto ao Judiciaacuterio o novo contexto social exige uma maior

aproximaccedilatildeo da Justiccedila com o povo Exemplo bem sucedido deste anseio eacute a criaccedilatildeo

dos Juizados Especiais de Pequenas Causas (Lei 909995) que estabelece um

procedimento raacutepido e barato orientado pelos criteacuterios da oralidade simplicidade e

informalidade buscando sempre que possiacutevel a conciliaccedilatildeo ou a transaccedilatildeo aleacutem de

desafogar a Justiccedila Comum Nos processos satildeo cabiacuteveis inuacutemeros recursos que

dificultam a sentenccedila final ser proferida mais raacutepida aleacutem de existirem inuacutemeras

formalidades processuais acarretando na morosiacutedade do andamento dos feitos Os

Magistrados encontram sob sua responsabilidade um nuacutemero muito elevado de

processos - haacute casos que chegam a 15 mil - consistindo assim num outro empecilho para

a sua agilidade

O objetivo da Teoria da Separaccedilatildeo dos Poderes era conter o poder em

volta do Estado como foi dito anteriormente Essa realidade natildeo eacute mais condizente com

a nossa cujos maacuteximos valores satildeo a eficiecircncia dos resultados e a alta probabilidade de

sua consecuccedilatildeo O Estado hoje deve abranger aacutereas como a previdecircncia a educaccedilatildeo o

social e o econocircmico

Fazendo uma reflexatildeo sobre a atuaccedilatildeo do Poder Legislativo - legalizado

e legitimado - questiona-se se este atende as necessidades daqueles que representa - o

povo - se assegura a liberdade e os interesses desse

Quanto ao Poder Executivo se ele age com o mesmo rigor na cobranccedila

de tributos aos banqueiros e ruralistas e aos pequenos empresaacuterios jaacute que todos satildeo

iguais perante a lei

Em relaccedilatildeo ao Poder Judiciaacuterio percebe-se que este encontra-se

acentuadamente desacreditado perante a opiniatildeo puacuteblica devido a dificuldade que existe

para o povo ingressar em Juiacutezo ( elevadas custas processuais morosidade na resoluccedilatildeo

dos conflitos etc)Observase tambeacutem que algumas autoridades fazem do uso do Poder

que lhe eacute atribuiacutedo um comeacutercio e esquecem o Princiacutepio da Imparcialidade e a

constante busca pela Justiccedila

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DALLARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19a

Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

MALUF Sahid Teoria Geral do Estado 23ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva1995

MONTESQUIEU O Espiacuterito das Leis Coleccedilatildeo middot ldquoOs Pensadores 2a

Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Abril1978

NOBRE JUacuteNIOR Edilson Pereira Independecircncia dos poderes no

regime democraacutetico e as exigecircncias da sociedade hodierna Revista do Curso de Direito

- RCD Natal Editora Universitaacuteria 1996

Dossiecirc Judiciaacuterio Revista USP Editora USP

ASPECTOS DA REINCIDEcircNCIA PARA EFEITO DE

CONCESSAtildeO DE LIVRAMENTO CONDICIONAL

Cristina Silva Macecircdo

Bacharelanda do Curso de Direito da UFRN

INTRODUCcedilAtildeO

Pode-se conceituar livramento condicional como a antecipaccedilatildeo

provisoacuteria da liberdade de um condenado agrave pena privativa de liberdade sujeita agrave

imposiccedilatildeo de termos que deveratildeo ser rigorosamente seguidos cuja hipoacutetese adversa

implicaraacute em sua revogaccedilatildeo

Natildeo objetiva o presente trabalho discorrer acerca dos pressupostos ou

condiccedilotildees para o gozo do instituto em baila Entretanto importa salientar que natildeo se

trata de um simples benefiacutecio ou um favor do juiacutezo das execuccedilotildees penais Consiste

em direito subjetivo do reacuteu verificados os requisitos que autorizam sua concessatildeo

O aspecto a ser aqui tratado repousa na anaacutelise da reincidecircncia para

efeito de concessatildeo de livramento condicional Evidentemente natildeo se tem a pretensatildeo

de esgotar o tema mas tatildeo somente de dar iniacutecio a estudos que permitam suprir as

lacunas constantes na doutrina e jurisprudecircncia fartamente consultadas poreacutem com

poucas respostas para algumas situaccedilotildees trazidas agrave lume

HIPOacuteTESES LEGAIS

O artigo 83 do Coacutedigo Penal estabelece de forma categoacuterica

O juiz poderaacute conceder livramento condicional ao condenado a pena

privativa de Liberdade igualou superior a dois anos desde que

Conforme seraacute demonstrado haacute uma intensa preocupaccedilatildeo do legislador

em disciplinar as condiccedilotildees de concessatildeo de livramento condicional para o condenado

reincidente Todavia a excessiva atenccedilatildeo dispensada pelo preceito normativo cria uma

certa confusatildeo no momento de adequar a lei ao caso concreto em especial quando pode

ser verificada a reincidecircncia do apenado

I - CUMPRIDO MAIS DE UM TERCcedilO DA PENA SE O

CONDENADO NAtildeO FOR REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO E TIVER

BONS ANTECEDENTES

Poucas indagaccedilotildees residem no tocante agrave aplicabilidade do inciso I Caso

natildeo haja reincidecircncia em crime doloso e tenha o reacuteu bons antecedentes impotildee-se o

cumprimento de apenas um terccedilo da pena que lhe foi imposta para preencher o lapso

temporal que autorize a concessatildeo do benefiacutecio

Todavia importa proceder ao apreccedilo do alcance da expressatildeo natildeo ser

reincidente em crime doloso

O texto legal permite a submissatildeo do condenado de trecircs hipoacuteteses a) natildeo

ter cometido mais de um crime qualquer que seja sua natureza (tecnicamente primaacuterio)

b) ser reincidente poreacutem em crimes culposos e c) ser reincidente mas ter cometido um

crime doloso e um culposo

A vaga redaccedilatildeo do inciso I concede permissibilidade agrave

sua aplicabilidade em qualquer dos casos suso mencionados haja vista que todas estatildeo

inseridas no preceito natildeo ser reincidente em crime doloso

Impossiacutevel determinar a intenccedilatildeo do dispositivo Acredita-se que tal

norma foi concebida no fito de regular o instituto do livramento condicional aos

apenados tecnicamente primaacuterios No entanto o silecircncio da lei no que concerne aos

crimes culposos chega a preocupar natildeo restando alternativa ao julgador que natildeo seja

pela inserccedilatildeo de tais infraccedilotildees no inciso I por ser este o mais beneacutefico dentre os outros

que dispotildeem acerca da reincidecircncia

Outro exemplo quando algueacutem jaacute foi condenado por um crime culposo

e lhe sobrevenha uma sentenccedila condenatoacuteria imputando uma conduta iliacutecita

impregnada do elemento volitivo de delinquumlir (dolo) Neste caso haacute reincidecircncia mas

natildeo houve a praacutetica de mais de um crime doloso o que importaria na aplicaccedilatildeo do

inciso seguinte (II) A interpretaccedilatildeo mais correta parece ser a aplicaccedilatildeo deste inciso I

uma vez que apesar de falha a literalidade do dispositivo remete apenas agrave

primariedade em crime doloso restando silente no tocante agrave presenccedila de culpa no

proceder do agente

Resta ainda uma lacuna a ser preenchida em caso de praacutetica de mais de

um crime culposo qual hipoacutetese legal aplicar A obviedade do inciso I merece

prevalecer conclusatildeo esta alcanccedilada sem demandar maiores esforccedilos interpretativos

Merece registro apenas a omissatildeo aqui referida

II - CUMPRIDA MAIS DE METADE SE O CONDENADO FOR

REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO

Natildeo haacute discussatildeo ou controveacutersia acerca da reincidecircncia em crimes

dolosos ou seja da praacutetica consecutiva de infraccedilotildees causadas pela vontade deliberada

do agente Insiste-se apenas no registro a omissatildeo do legislador em tratar da

reincidecircncia em crime culposo conforme jaacute foi exposto restando ainda um aspecto a

ser tratado logo a seguir

v - cumprido mais de dois terccedilos da pena nos casos de condenaccedilatildeo por

crime hediondo praacutetica da tortura traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e

terrorismo se o apenado natildeo for reincidente especiacutefico em crimes dessa natureza

Reside no inciso V implantado atraveacutes da Lei ndeg 807290 (Lei dos

Crimes Hediondos) o maior empeccedilo de aplicaccedilatildeo da norma penal aqui tratada A

hipoacutetese antevista no preceito normativo natildeo preenche a diversidade de casos que

podem chegar agraves matildeos do Juiz das Execuccedilotildees Penais do Representante do Ministeacuterio

Puacuteblico e ateacute do Conselheiro Penitenciaacuterio obstando a devida apreciaccedilatildeo do fato

Seraacute trazida agrave lume no entanto apenas a seguinte situaccedilatildeo o denunciado

responde em juiacutezo pela praacutetica de um crime doloso diverso daqueles mencionados no

inciso V do artigo 83 do Coacutedigo Penal Enquanto aguarda a decisatildeo judicial comete um

novo iliacutecito desta vez inserido no dispositivo supramencionado

No caso em tela natildeo haacute reincidecircncia sendo o denunciado tecnicamente

primaacuterio a teor do artigo 63 do Coacutedigo Penal cuja redaccedilatildeo estabelece que esta somente

se perfaz quando ocorre a praacutetica de uma nova infraccedilatildeo apoacutes o tracircnsito em julgado de

sentenccedila que tenha condenado o agente em crime anterior

Faz-se de bom alvitre tratar as duas condutas de formas distintas posto

que se tratam de infraccedilotildees de naturezas diversas Apoacutes julgado e condenado por ambos

os crimes em decisotildees apartadas dever-se-aacute proceder o caacutelculo para efeito de concessatildeo

de livramento condicional tambeacutem de forma individual para cada pena de acordo com o

dispositivo que for aplicaacutevel

Por exemplo um agente responde por crime de moeda falsa processado

e julgado na Justiccedila Federal e no decorrer da instruccedilatildeo processual incorre em traacutefico

iliacutecito de entorpecentes de competecircncia da Justiccedila Estadual sendo condenado em

ambos os processos ao cumprimento de penas de cinco e quatro anos respectivamente

Apoacutes determinado tempo entra com pedido de livramento condicional perante o Juiacutezo

das Execuccedilotildees Como apreciar tal pleito

Eacute mais coerente aplicar o inciso I verificando se jaacute foi cumprido 13 da

sanccedilatildeo imposta pela conduta de moeda falsa (1 ano e 8 meses) posto que ao tempo da

praacutetica da primeira infraccedilatildeo o reacuteu seria enquadrado em tal hipoacutetese Em seguida

procede-se o apreccedilo do lapso temporal demandado para a concessatildeo do benefiacutecio no

segundo delito computando-se 23 da pena de cinco anos cominada pelo crime de

traacutefico de entorpecentes (2 anos e 8 meses) em conformidade com o inciso V

Finalmente soma-se os dois quocientes para chegar ao tempo real de privaccedilatildeo de

liberdade que autoriza o deferimento do pedido ou seja 04 anos e 04 meses Caso o

apenado natildeo tenha cumprido este periacuteodo da pena que lhe foi cominada natildeo faraacute jus ao

livramento

Submeter a pena total de no caso nove anos ao regime do inciso V

demonstra descabida interpretaccedilatildeo prejudicial ao reacuteu posto que a natureza da primeira

infraccedilatildeo (moeda falsa) eacute considerada menos grave uma vez que natildeo estaacute elencada

dentre os crimes hediondos Inexistindo razatildeo de ser em qualquer tratamento que assim

lhe seja dispensado

Ressalte-se que tal hipoacutetese deveraacute ser aplicada em caso de natildeo

configuraccedilatildeo de reincidecircncia conforme jaacute foi exposto Caso a segunda infraccedilatildeo ocorra

apoacutes o trAnsito em julgado da primeira sentenccedila condenatoacuteria figura indiscutiacutevel a

apreciaccedilatildeo do caso sob a eacutegide do inciso 11 do artigo 83 do Coacutedigo Penal

REINCIDEcircNCIA ESPECIacuteFICA

O inciso V dispotildee ainda sobre o instituto da reincidecircncia especiacutefica

escusando-se de tecer maiores consideraccedilotildees a respeito remanescendo agrave doutrina

definir o que venha a ser tal instituto permanecendo inflamada a discussatildeo de seu

alcance

A parte dominante da doutrina em virtude do nuacutemero de adeptos

concebe que a reincidecircncia especifica do dispositivo legal suso mencionado ocorre em

virtude da praacutetica de dois crimes equiparados sob algum aspecto pela lei penal Assim

entende-se que a praacutetica de mais de um crime considerado hediondo pela Lei ndeg

807290 (ou equiparado a hediondo) permite a caracterizaccedilatildeo da reincidecircncia

especiacutefica

AURINO LOPES MONTEIRO ilustre representante deste pensamento

prolata a seguinte assertiva

A reincidecircncia especifica na Lei nordm 8072 que natildeo pode ser regida

pelo conceito legal revogado pela Lei ndeg 6416 de 24-04-77 fica

configurada quando o agente comete um crime entre os mencionados

na lei apoacutes ter transitado em julgado sentenccedila condenatoacuteria que o

tenha condenado por crime anterior tambeacutem relacionado no mesmo

diploma legal Natildeo eacute necessaacuterio que seja crime idecircntico ou

semelhante ao anterior como bem indica a expressatildeo dessa natureza

inscrita no dispositivo mas apenas que ambos estejam abrangidos

pela Lei nordm 80721

Em suma a reincidecircncia especifica natildeo importa na praacutetica de dois

sequumlestros ou dois Estupros Sua caracterizaccedilatildeo repousa na incorrecircncia de duas ou mais

infraccedilotildees inseridas no contexto da Lei dos Crimes Hediondos

Todavia parte dos doutrinadores discorda de tal entendimento sob o

aduzido que a Lei ndeg 807290 abriga infraccedilotildees das mais diversas estirpes desde crimes

contra o meio ambiente ateacute crimes contra os costumes cujas naturezas figuram como

sendo diametralmente opostas desmerecendo destarte o tratamento idecircntico

dispensado pela Lei dos Crimes Hediondos

Eis o entendimento de ALBERTO SILVA FRANCO2 sobre a mateacuteria

O que relaciona o estupro simples ou qualificado ao delito de

terrorismo O que haacute de comum entre o crime de epidemia com

resultado de morte e o delito de tortura Evidentemente nada Em

ponto algum de relevo os referidos tipos suportam um juizo

aproximativo Onde buscar entatildeo a a conotaccedilatildeo especiacutefica dessa

reincidecircncia

Depois porque natildeo pode o legislador nem o inteacuterprete decretar que

delitos tatildeo diacutespares tatildeo dessemelhantes possuam uma igualou

mesma natureza

Mais uma vez a redaccedilatildeo do texto legal concede permissibilidade agrave

dubiedade de interpretaccedilotildees Inobstante assistir razatildeo aos que discordam do primeiro

posicionamento eacute possivel verificar que a intenccedilatildeo do dispositivo repousou em obstar o

agraciamento do livramento condicional agravequelas pessoas que praticam crimes

1 apud MIRABETE Julio Fabbrini Op Cit pp 326 e 327

2 Op Cil p 1058

considerados hediondos reiteradas vezes Trata-se aqui de mero exerciacutecio de

interpretaccedilatildeo

Em respaldo a tal posicionamento recorra-se agrave liccedilatildeo de JULIO

FABBRINI MIRABETE ao definir a interpretaccedilatildeo como o processo loacutegico que

procura estabelecer a vontade da lei que nao eacute necessariamente a vontade do

legislador3

O liame que une os delitos elencados na Lei ndeg 807290 reside nos

efeitos de tais crimes sempre significativos aterradores e increpados de violecircncia que

atinge todos os bens juriacutedicos pelo dispositivo protegidos seja a liberdade seja o meio

ambiente seja a vida

Conclui-se por fim que apesar da impropriedade do preceito normativo

em remeter agrave reincidecircncia especifica resta compreendido que a mens legis do

dispositivo residiu em coibir a incorrecircncia repetida de crimes de efeitos siacutemiles sob o

aspecto da violecircncia que causam quando praticados

CONCLUSAtildeO

Conforme se fez possiacutevel observar existe uma infinidade de hipoacuteteses a

serem submetidas ao crivo de um nuacutemero limitado de normas Os casos aqui elencados

configuram simples exemplos elaborados com base em duacutevidas concebidas no decorrer

da pouca praacutetica de estudante estagiaacuteria na Justiccedila Federal de Primeira Instacircncia e

voluntaacuteria na Vara de Execuccedilotildees Penais da Justiccedila Estadual

Eacute evidente que o tema natildeo resta esgotado Todavia algumas omissotildees

figuram pelo menos em tese dirimidas graccedilas ao exerciacutecio interpretativo da norma

instituto este que se mostra sempre imperioso recorrer quando se defronta com fatos

natildeo previstos em lei

Importa ressaltar que a interpretaccedilatildeo em sede de Direito Penal e

Processual Penal deveraacute atender natildeo somente a mens legis mas tambeacutem os princiacutepios

insculpidos nestes ramos do direito de modo a prover o alcance da finalidade da norma

e em caso de duacutevida sobre a aplicabilidade de criteacuterios de interpretaccedilatildeo recorrer-se ao

bom senso ou ao preceito que mais se molda aos ideais de justiccedila inseridos em

cada um de noacutes

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DELMANTO Celso Coacutedigo Penal Comentado 3ordf ed Rio de Janeiro

Renovar 1991

FRANCO Alberto Silva SILVA JUacuteNIOR Joseacute BETANHO Luiacutez

Carlos STOCO Rui FEL TRIN Sebastiatildeo Oscar GUASTINI Vicente Celso da

Rocha e NINNO Wilson Coacutedigo Penal e sua interpretaccedilatildeo jurisprudencial 5ordf ed Satildeo

Paulo Revista dos Tribunais 1995

JESUS Damaacutesio E de Direito Penal vol 01 17ordf ed Satildeo Paulo

Saraiva 1993

MIRABETE Julio Fabbrini Execuccedilatildeo Penal 5ordf ed Satildeo Paulo Atlas

3 In Processo Penal p 70

1994

____ Processo Penal 3ordf ed Satildeo Paulo Atlas 1994

A INFORMATIZACcedilAtildeO DAS ELEICcedilOtildeES A EXPERIEcircNCIA DA

JUSTICcedilA ELEITORAL EM NATALRN

Eliane Nascimento de Melo

Acadecircmica do 7ordm Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

1INTRODUCcedilAtildeO

Os meios eletrocircnicos de processamento de dados tecircm provocado uma

verdadeira revoluccedilatildeo neste final de seacuteculo inclusive nos meios juriacutedicos Com a

informaacutetica o processo eleitoral tomou-se ainda mais ceacutelere embora jaacute o fosse em

virtude da exiguumlidade dos prazos e dos institutos processuais que o caracterizam como

a preclusatildeo e perempccedilatildeo conforme observamos na Lei 6490 (Lei das Inelegibilidades)

Art 16 - Os prazos a que se referem os artigos 30 e seguintes desta

Lei Complementar satildeo peremptoacuterios e contiacutenuos e correm em

Secretaria ou Cartoacuterio e a partir da data do encerramento do prazo

para registro de candidatos natildeo se suspendem aos saacutebados

domingos e feriados (grifos nossos)

Pretende-se aqui relatar rapidamente a informatizaccedilatildeo do

processo eleitoral limitando nosso objeto de estudo agrave evoluccedilatildeo da chamada terceira

grande faserdquo (a apuraccedilatildeo) conforme denominaccedilatildeo de Joel Joseacute Cacircndido1 focalizando a

experiecircncia da Justiccedila Eleitoral em NatalRN

Consiste a apuraccedilatildeo segundo aquele autor em abrir as urnas examinar

ceacutedula por ceacutedula qual foi a manifestaccedilatildeo de vontade do eleitor e registrar o conteuacutedo

dos votos sejam nominais nulos ou em branco em documentos apropriadosrdquo2

Ousamos discordar do conceito do grande jurista por acharmos que tal

conceituaccedilatildeo refere-se unicamente agrave contagem dos votos e seu registro nos boletins de

urna e porque contrasta com o Coacutedigo Eleitoral no momento em que este estabelece

que a competecircncia para a apuraccedilatildeo das eleiccedilotildees seraacute a) das Juntas Eleitorais nas Zonas

sob sua jurisdiccedilatildeo b) dos Tribunais Regionais Eleitorais nas eleiccedilotildees para Deputado

Estadual e Federal Senador e Governador do Estado e Vice-Governador e c) do

Tribunal Superior Eleitoral na eleiccedilatildeo para Presidente da Repuacuteblica3 Na verdade o

Tribunal Superior totaliza os resultados que recebe dos Tribunais Regionais e estes

totalizam os resultados provenientes das Juntas Para os fins a que se propotildee este

estudo entendemos a apuraccedilatildeo num sentido amplo abrangendo aleacutem do conceito do

mestre tambeacutem a totalizaccedilatildeo dos votos

Antes de seguirmos adiante esclarecemos que eacute de nosso entendimento

que a finalidade preciacutepua da informatizaccedilatildeo da apuraccedilatildeo eacute coibir a fraude eleitoral que

as paacuteginas da Histoacuteria do Brasil tatildeo escandalosamente registram Um livro inteiro

dedicado ao tema da fraude eleitoral na Histoacuteria brasileira natildeo seria suficiente para

1 Cacircndido Joel Joseacute Direito eleitoral brasileiro p 191

2 Op cit p 191

3 Coacutedigo Eleitoral artigo 158 incisos I a 111

relatar todo o casuiacutesmo com que jaacute foi tratada a opiniatildeo popular Sobremodo correta eacute a

expressatildeo da equipe do TRERJ

Em toda a passagem histoacuterica da Justiccedila eleitoral natildeo haacute um pleito em

que a situaccedilatildeo mais preocupante no antes durante e depois natildeo tenha sido a fraude

Criou-se a Justiccedila Eleitoral por causa da fraude Discute-se fraude haacute sessenta e

quatro anos informatizam-se as eleiccedilotildees por causa das fraudesrdquo4

11 ELEICcedilOtildeES ANTERIORES A 1986

Um dos primeiros problemas que verificamos na apuraccedilatildeo das eleiccedilotildees

anteriores a 1986 foi a extensatildeo do prazo necessaacuterio aos trabalhos de contagem e

totalizaccedilatildeo dos votos O Coacutedigo Eleitoral no artigo 159 fixa o prazo de 10 (dez) dias

para a apuraccedilatildeo e a Lei n0 699682 determina

Art 14 A apuraccedilatildeo poderaacute ser iniciada a partir do recebimento

da primeira urna prolongando-se pelo tempo necessaacuterio

observado o prazo maacuteximo de 10 (dez) dias

Este prazo podia ainda ser prorrogado por mais cinco dias por solicitaccedilatildeo

da Junta No caso da apuraccedilatildeo ser da competecircncia do TRE esse prazo era de 30 dias

podendo ser prorrogado por mais 15

A Junta Apuradora nas citadas eleiccedilotildees era - e ainda o eacute - composta de

um Juiz de Direito e dois ou quatro cidadatildeos idocircneos Assim aleacutem da morosidade no

processamento das informaccedilotildees verifica-se a implicaccedilatildeo de um custo real muito alto

pois aleacutem do fato da Justiccedila Eleitoral depender do resultado da apuraccedilatildeo para o

prosseguimento de suas atividades normais os idocircneos cidadatildeos enquanto a serviccedilo da

Justiccedila satildeo afastados de suas atividades produtivas gerando certa despesa indireta

Vale lembrar em geral eram escolhidos funcionaacuterios de agecircncias bancaacuterias contadores

e operadores de caixa em virtude da maior experiecircncia com planilhas

Mesmo para esses profissionais os mapotildees de totalizaccedilatildeo - totalizadores

progressivos manuais eram um grande problema uma falha na simples leitura de um

uacutenico nuacutemero era capaz de comprometer todo o trabalho executado sem falar das

repetidas e exaustivas conferecircncias ateacute chegar com alguma precisatildeo ao resultado final

O problema mais grave poreacutem era a fraude Ateacute se chegar ao resultado

final muitas pessoas manipulavam os votos jaacute que era preciso contar as ceacutedulas para

cada cargo depois separar os montinhos por candidato Imagine-se a falta de

fiscalizaccedilatildeo ou fiscais cansados de tanto observar a apuraccedilatildeo para aumentar ou

diminuir a votaccedilatildeo de certo candidato nenhum momento seria mais conveniente E eacute

sabido tambeacutem que o recurso contra a apuraccedilatildeo natildeo eacute admitido salvo na hipoacutetese de ter

4 Rio de Janeiro TRE A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico p 70

havido impugnaccedilatildeo perante a Junta contra as nulidades arguumlidas no momento da

apuraccedilatildeo (Coacutedigo Eleitoral artigo 171) Haacute ainda vaacuterios outros momentos em que

verificamos a possibilidade da fraude na proacutepria votaccedilatildeo5 na contagem das ceacutedulas no

preenchimento do BU (Boletim de Uma) entre outros

12 A SECRETARIA DE INFORMAacuteTICA

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte regulamentou a

competecircncia e atribuiccedilotildees da Secretaria de Informaacutetica atraveacutes da Resoluccedilatildeo nO

00391-TRElRN

Em 03 de novembro de 1992 a Secretaria de Informaacutetica passou a

denominar-se Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica e o TRERN atraveacutes da Resoluccedilatildeo

ndeg 01892 aprovou o seu organograma e atribuiccedilotildees Essa Coordenaccedilatildeo Regional de

Informaacutetica foi diretamente responsaacutevel pelo processamento dos dados referentes agraves

eleiccedilotildees de 1992 do alistamento ao caacutelculo do tempo de propaganda eleitoral gratuita e

em Natal tambeacutem pela totalizaccedilatildeo dos votos

A Lei 886894 reorganizou os quadros das Secretarias do Tribunal

Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais O Tribunal Superior Eleitoral

expediu Resoluccedilatildeo regulamentando a Lei e fixando os organogramas das Secretarias

citadas A partir de entatildeo a Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica transformou-se em

Secretaria de Informaacutetica denominaccedilatildeo que traz na atualidade

2PROCEDIMENTOS ELETROcircNICOS NA APURACcedilAtildeO DE

ELEICcedilOtildeES ANTERIORES

21 ELEICcedilOtildeES ENTRE 1986 E 1992

Nas eleiccedilotildees de 1988 1989 e 1990 no Rio Grande do Norte o

processamento dos boletins de urna jaacute fora informatizado sendo realizado por

empresa contratada para este fim - o SERPRO As empresas contratadas em todo o

pais agrave eacutepoca trabalhavam com computadores de grande porte mainframes que

manipulam um nuacutemero extremamente elevado de informaccedilotildees e operam com uma

vasta quantidade de perifeacutericos de entrada e saiacuteda de dados O sistema era instalado

permanecendo ateacute o final do trabalho contratado quando entatildeo os dados eram

transferidos para fitas magneacuteticas

Limitava-se a Secretaria de Informaacutetica do Tribunal Regional Eleitoral

a equipes de conferecircncia Estas equipes conferiam os relatoacuterios da digitaccedilatildeo realizada

5 No jaacute citado A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico encontramos

referecircncia tambeacutem ao chamado voto de carreirinha ou voto formiguinha

Referem-se as expressotildees aos votos preenchidos com a mesma caligrafia eacute o tipo de

fraude em que o componente da mesa receptora ou da Junta Apuradora preenche as ceacutedulas o

que diminui sensivelmente o percentual de votos em branco

pela SERPRO que por sua vez digitava e totalizava os dados constantes dos BUs

No mais a apuraccedilatildeo continuava a se realizar nos moldes das anteriores

22 ELEICcedilOtildeES DE 1992

A partir da Resoluccedilatildeo nordm 00391-TERRN o TRE passou a realizar

diretamente o processamento de todos os documentos relativos agrave atualizaccedilatildeo dos

cadastros eleitorais como FAEs - Formulaacuterios de Alistamento Eleitoral FASEs -

Formulaacuterios de Acompanhamento da Situaccedilatildeo do Eleitor Justificativas Eleitorais e

Canhotos de Votaccedilatildeo remetidos agrave Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica por todas as

Zonas Eleitorais do Estado

Dos primeiros microcomputadores monousuaacuterios que dispunha para

realizar o processamento de tais documentos a Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica

passou a operar em 1992 com um sistema de rede composto de um gerenciador do

sistema e de dados e alguns terminais de digitaccedilatildeo

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a contagem dos votos

fosse realizada pelas mesas receptoras nos termos do Coacutedigo Eleitoral artigos 188 a

196 Se tudo corresse conforme planejado a conclusatildeo da apuraccedilatildeo ocorreria no

maacuteximo em apenas trecircs dias

Vaacuterios fatores contribuiacuteram para a imperfeiccedilatildeo do sistema no primeiro

turno o despreparo e o cansaccedilo dos mesaacuterios a falha na fiscalizaccedilatildeo por parte dos

partidos poliacuteticos a proacutepria apresentaccedilatildeo do Boletim de Urna entre outros O grande

calcanhar de Aquiles no entanto foi mesmo o enorme percentual de erro encontrado

nos BUmiddots A totalizaccedilatildeo sofreu um atraso em relaccedilatildeo ao prazo anteriormente previsto e

mesmo assim os trabalhos de apuraccedilatildeo foram encerrados em 07 (sete) de outubro

apenas 04 (quatro) dias apoacutes a data da eleiccedilatildeo e um recorde em relaccedilatildeo agraves eleiccedilotildees

anteriores

O segundo turno eliminou a contagem pelas mesas receptoras e os BU s

foram preenchidos pelas proacuteprias Juntas Apuradoras eliminando-se sensivelmente a

margem de erros de preenchimento

23 ELEICcedilOtildeES DE 1994

Para o pleito de 1994 o Rio Grande do Norte foi dividido em sete poacutelos

de processamento6 e treze zonas isoladas

7 aleacutem das quatro zonas da Capital que

tambeacutem funcionaram isoladamente

As zonas isoladas processavam apenas os dados de cada uma

transmitindo-os via Renpac para a Secretaria de Informaacutetica do TRERN atraveacutes de

linhas discadas atilde exceccedilatildeo das zonas da Capital que como os poacutelos utilizaram linhas

dedicadas

Nos Poacutelos o trabalho exigia mais cuidado em virtude dos mesmos

reunirem em um uacutenico local os BUs provenientes das Juntas Eleitorais de vaacuterias

6 Joatildeo Cacircmara Caicoacute Mossoroacute Currais Novos Pau dos Ferros Accedilu e Nova Cruz

7 Funcionaram isoladamente as seguintes Zonas S 6 8 13 163033 3S 44 SO

S1 S3 68 com sedes nas Comarcas de Macalba Cearaacute-Mirim Satildeo Paulo do Potengi Santo AntOnio Santa Cruz Macau Mossor6 Apodi Monte Alegre Pamamirim Satildeo Gonccedilalo do Amarante Tangaraacute e Santa Cruz respectivamente

zonas No poacutelo de Joatildeo Cacircmara por exemplo foram processados os dados de oito

Zonas 10a

- Joatildeo Cacircmara 14ordf -Touros 17ordf - Lajes 19a

- Satildeo Tomeacute 46a

- Taipu 52a

-

Satildeo Bento do Norte 48a - Pedro Avelino e 62ordf - Poccedilo Branco num total de 438 seccedilotildees

As Juntas Apuradoras de cada Zona Eleitoral funcionaram normalmente em suas sedes

O transporte dos BUs foi inteiramente efetuado pela Empresa Brasileira de Correios e

Teleacutegrafos que tinha um roteiro e horaacuterios fixos para passar em cada Zona Os BUs

vinham lacrados em envelopes sedex Recebidos no poacutelo eram conferidos digitados e

novamente conferidos Encerrada corretamente a digitaccedilatildeo do BU era feita a

transmissatildeo para o TRE que totalizava as seccedilotildees do Estado e transmitia os dados para o

TSE Natildeo eacute preciso dizer que a distacircncia entre as Zonas era tal que a possibilidade de

troca ou adulteraccedilatildeo do BU natildeo estava totalmente descartada e os trabalhos dos

funcionaacuterios dos Correios deve ser lembrado pela idoneidade com que foi efetuado

especialmente no Poacutelo de Joatildeo Cacircmara onde tivemos oportunidade de trabalhar durante

as citadas eleiccedilotildees

O escrutiacutenio8 foi o tradicional e a apuraccedilatildeo foi parcialmente realizada

nas Juntas onde foram contados os votos e preenchidos os BUs O processamento

destes assemelhou-se ao de 1992 em Natal com a diferenccedila de ter sido utilizado em

todas as Zonas Eleitorais do Estado Aliaacutes em todo o Brasil com a totalizaccedilatildeo dos

votos para Presidente da Repuacuteblica realizada pelo TSE

Natildeo podemos deixar de mencionar a seguranccedila do sistema que se

utilizava de senhas pessoais imunizaccedilatildeo de todos os micros contra viacuterus criptografia

para armazenamento e transmissatildeo de dados e armazenamento de senhas rotinas de

senha e contra senha nas etapas de transmissatildeo backup automaacutetico e recursos de

auditoria9

Com um sistema assim a fraude na digitaccedilatildeo e totalizaccedilatildeo estava

totalmente abolida posto que o relatoacuterio da digitaccedilatildeo de cada BU tinha de coincidir

com o BU divulgado pela Junta Fraude mesmo somente tomou-se possiacutevel na recepccedilatildeo

dos votos e na apuraccedilatildeo conforme foi detectada no Rio de Janeiro por modo tatildeo

intenso que toda a eleiccedilatildeo proporcional do Estado foi anulada encontrando-se

caracterizado

entre outros tipos de fraude o voto de carreirinha10

3 A INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO ELEITORAL NO PLEITO

DE 1996

A Lei 910095 nos artigos 18 a 20 trata do Sistema Eletrocircnico de

Votaccedilatildeo e Apuraccedilatildeo Esta foi a grande novidade das eleiccedilotildees de 1996 a urna

eletrocircnica11

Agora natildeo somente a apuraccedilatildeo foi eletrocircnica mas o escrutiacutenio tambeacutem

8 Adotamos o conceito de escrutiacutenio de Joseacute Afonso da Silva no seu Curso de direito

constitucional positivo p 309 que diferencia sufraacutegio voto e escrutiacutenio entendendo este

uacuteltimo como o modo de exerciacutecio do voto Referimo-nos portanto agrave votaccedilatildeo 9 Conforme treinamento efetuado pela M6dulo empresa responsaacutevel pela seguranccedila do sistema

utilizado 10

Ver nota ao item 1 1 onde trata de fraude na votaccedilatildeo 11

Enquanto pesquisaacutevamos para a elaboraccedilao deste texto ficamos surpresos quando

descobrimos que jaacute houve em 1932 uma maacutequina de votar que tornava o voto rigorosamente

secreto e que s6 nao foi utilizada devido ao seu elevado custo

naqueles locais onde autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral na conformidade do

texto legal

Art 18 O Tribunal Superior Eleitoral poderaacute autorizar os

Tribunais Regionais a utilizarem em uma ou mais Zonas Eleitorais

o sistema eletrocircnico de votaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

sect 10 A autorizaccedilatildeo poderaacute se referir apenas agrave apuraccedilatildeo

Vaacutelida eacute a liccedilatildeo de Joel Joseacute Cacircndido A lei trata de uma faculdade

mesmo porque natildeo poderia obrigar as Zonas Eleitorais a utilizarem o sistema eletrocircnico

pois precisava preocupar-se tambeacutem com aquelas afastadas sem possibilidade de

implantaccedilatildeo da nova tecnologia Tal exigecircncia pelo extremismo tornaria impraticaacutevel o

processo democraacutetico eleitoral

Regulamentando a lei citada atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg 19515 de

180496 o Tribunal Superior Eleitoral determinou

Art 5deg Seraacute utilizado o Sistema Eletrocircnico de Votaccedilatildeo nas capitais e

nos municiacutepios com mais de duzentos mil eleitores tomando-se como

referecircncia o eleitorado definido para as eleiccedilotildees gerais de 1994 (Lei

nordm 910095 art 18 caput)

Da adequada utilizaccedilatildeo da votaccedilatildeo informatizada dependeu o resultado

final do processo de apuraccedilatildeo dos votos nestas eleiccedilotildees

O procedimento era muito simples A uma era liberada pelo presidente

da mesa receptora atraveacutes de um microterminal posteriormente agrave identificaccedilatildeo do

eleitor Este na cabina deveria digitar e confirmar os votos para prefeito e vereador

Apoacutes confirmado o voto fosse ele vaacutelido em branco ou nulo a uma o imprimiria e a

ceacutedula seria depositada pela proacutepria maacutequina num recipiente a ela acoplado Isto

satisfaria uma dupla necessidade asseguraria o sigilo do voto posto que as ceacutedulasrdquo

caem da maacutequina sendo depositadas aleatoriamente e permitiria que se recontassem os

votos no caso de impugnaccedilatildeo por parte de algum partido poliacutetico coligaccedilatildeo ou

candidato

Vale aqui chamar a atenccedilatildeo para a importacircncia da fiscalizaccedilatildeo realizada

pelos partidos e coligaccedilotildees tanto para assegurar o sigilo do voto como a correta

execuccedilatildeo das tarefas da mesa receptora Considerando-se a situaccedilatildeo de ausecircncia de

fiscalizaccedilatildeo em uma seccedilatildeo eleitoral mais distante e a possibilidade de os componentes

da mesa natildeo serem pessoas tatildeo idocircneas como exige o trabalho que realizam poderiacuteamos

estar diante de um caso em que natildeo comparecendo o eleitor e de posse do nuacutemero do

tiacutetulo que consta da folha de votaccedilatildeo os componentes da mesa receptora poderiam

muito bem liberar a urna e entrar com os votos que Ihes fossem convenientes Quem

iria conferir uma a uma cada assinatura da folha de votaccedilatildeo A participaccedilatildeo dos

partidos foi aleacutem de efetiva uma das vigas para a idoneidade do pleito testemunhado

Natildeo existe um sistema que natildeo possa ser burlado mas eacute preciso que se

afaste totalmente o fantasma da fraude para que se possa garantir a continuidade do

processo democraacutetico pois a estabilidade do Estado de Direito depende de eleiccedilotildees cujo

resultado reflita a vontade da maioria Lembramos que a finalidade mor da urna

eletrocircnica eacute assegurar natildeo apenas a celeridade mas tambeacutem a lisura dos resultados

Temos de reconhecer poreacutem a enormidade do avanccedilo ocasionado pela

utilizaccedilatildeo da urna eletrocircnica e o reflexo disto na apuraccedilatildeo foi uma questatildeo de poucas

horas necessaacuterias para permitir que os dados das diversas urnas fossem reunidos e

certificar-se de que houve o cumprimento das formalidades exigidas pela Lei e pelas

Instruccedilotildees do TSE e tivemos o resultado final

Nos demais municiacutepios do Rio Grande do Norte a votaccedilatildeo seguiu agrave

maneira tradicional A apuraccedilatildeo realizou-se de modo semelhante ao pleito de 1994 os

votos contados pelas Juntas Eleitorais que preenchiam os boletins de urna e os

encaminhavam para processamento Natildeo houve os poacutelos que observamos em 1994

Desta vez cada Zona de per si foi responsaacutevel pela apuraccedilatildeo eletrocircnica com o

suporte dado pelo Tribunal Regional Eleitoral Eacute que apoacutes o pleito de 1994 todo o

equipamento utilizado pelos poacutelos foi distribuiacutedo pelas Zonas Eleitorais e desde entatildeo

foi feito um trabalho de automaccedilatildeo dos serviccedilos dos Cartoacuterios Eleitorais como Vg a

digitaccedilatildeo dos FAEs e FASEs por funcionaacuterios de cada Cartoacuterio

4 CONCLUSAtildeO

O sistema eletrocircnico de votaccedilatildeo e apuraccedilatildeo foi muito questionado

Normal que o fosse Os mais jovens estatildeo acostumados a avanccedilos raacutepidos o mesmo

natildeo se pode dizer dos mais vividos Aleacutem disso por tratar-se de experiecircncia pioneira

na maior parte dos Estados grande era a ansiedade por saber se iria mesmo dar certo

Ateacute que ponto ele asseguraria a idoneidade da eleiccedilatildeo

Acredito que havendo uma fiscalizaccedilatildeo eficiente natildeo haacute o que se

questionar quanto agrave lisura do pleito havendo a utilizaccedilatildeo da urna eletrocircnica no modelo

determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral Uma preocupaccedilatildeo poreacutem era geral por

representar um avanccedilo tatildeo raacutepido seraacute que noacutes jaacute estaacutevamos preparados para usaacute-Ia

Os eleitores analfabetos natildeo seriam mais facilmente manipulados

Os nossos legisladores esqueceram da grande maioria analfabeta do

nosso pais e por isso ensinar os eleitores a usar a urna foi um trabalho por demais

preocupante Alguns funcionaacuterios da Justiccedila Eleitoral sentiram mesmo dificuldade em

ensinar aos eleitores como utilizar a urna apesar da enorme campanha realizada pelo

TSE Agrave primeira vista os eleitores tinham medo do equipamento principalmente os

analfabetos e os mais idosos Vencido o medo outro passo largo era manuseaacute-Ia

Encontramos uma eleitora que tinha duacutevidas quanto ao isolamento eleacutetrico do

equipamento Achava que levaria choques se errasse na hora de votar Certamente que

haacute extrema facilidade no uso da urna eletrocircnica especialmente porque o teclado

equumlivale ao de um telefone Usaacute-Ia eacute tatildeo faacutecil quanto operar uma maacutequina de saldos e

extratos bancaacuterios Os nossos parlamentares esqueceram apenas que natildeo eacute muito grande

o nuacutemero de eleitores que possuem conta bancaacuteria e mesmo entre os que as possuem

relevante eacute o nuacutemero dos que necessitam de orientaccedilatildeo dos funcionaacuterios das agecircncias

cada vez que precisam operaacute-Ias

Outro ponto trouxe preocupaccedilatildeo o voto dos eleitores cegos Pensando

neles o teclado da uma possui os signos em braiIIe abaixo de cada tecla bem como o

ponto de identificaccedilatildeo da tecla ndeg 5 de forma que o eleitor cego soacute precisava localizar

os siacutembolos desejados e tocar as teclas correspondentes Mas as maacutequinas variam

quanto agrave sensibilidade de forma que os teclados de algumas satildeo tatildeo sensiacuteveis que o

miacutenimo toque digita vaacuterios nuacutemeros enquanto o de outras necessita de pressatildeo bem

maior

Impossibilitado de ver o que estaacute digitando o eleitor cego desde que

tenha treinado bastante pode ateacute acertar a sequumlecircncia desejada das teclas mas natildeo pode

ter certeza de que os nuacutemeros recebidos pela uma foram os que ele tinha a intenccedilatildeo de

digitar

Bem sabemos que os eleitores cegos satildeo em nuacutemero bastante reduzido e

eacute por este motivo que o Coacutedigo Eleitoral prevecirc uma seccedilatildeo especial para cegos

alfabetizados pelo sistema braille com o fim de garantir-Ihes a participaccedilatildeo no processo

eleitoral e principalmente o segredo do voto Em virtude de serem tatildeo poucos natildeo se

deve chegar ao extremo de achar que tais votos natildeo fazem diferenccedila como ouvimos

outro dia de certo cidadatildeo

O que se quer garantir a esses eleitores eacute o direito constitucional que tecircm

de exercer o sufraacutegio ativo natildeo importa quantos satildeo eles Importa que satildeo sujeitos de

direitos e devem exercecirc-Ios Para resolver a questatildeo apontamos duas soluccedilotildees tomar os

votos dos cegos da forma tradicional utilizando-se a velha ceacutedula eleitoral ou anexar

fones de ouvido agrave urna Neste uacuteltimo caso o cego os utilizaria para certificar-se de que

teclou os nuacutemeros desejados e realizou corretamente as operaccedilotildees Achamos que a

uacuteltima soluccedilatildeo seria a mais adequada

Em todas as eleiccedilotildees satildeo computados votos em branco Alguns

eleitores por um motivo qualquer depositavam a ceacutedula sem preenchimento Na sua

simplicidade deviam acreditar que natildeo digitando nuacutemero algum nestas eleiccedilotildees ou

simplesmente natildeo confirmando nada estariam em situaccedilatildeo equivalente agravequela O TSE

resolveu entatildeo prever uma forma de encerrar a votaccedilatildeo quando o eleitor demorasse

por demais a votar ou decidisse natildeo votar Tratava-se da suspensatildeo do voto o

presidente da mesa receptora digitaria uma senha que suspenderia o voto anulando-o

Talvez a mais profunda criacutetica que temos a fazer ao uso da uma eletrocircnica seja com

relaccedilatildeo a este procedimento Ora trata-se ao nosso ver de profunda

inconstitucionalidade pois o voto eacute direito previsto na Carta Magna e todos no pleno

exerciacutecio dos seus direitos poliacuteticos natildeo soacute podem como devem exercecirc-Io Temos que

o voto nulo no conceito de Joseacute Afonso da Silva com quem concordamos natildeo eacute voto

O presidente da seccedilatildeo ao anular o voto do eleitor agrediria o sistema democraacutetico e

ainda contribuiria para diminuir o quociente eleitoral aleacutem de cometer um crime

conforme o Coacutedigo Eleitoral

Art 297 - Impedir ou embaraccedilar o exerciacutecio do sufraacutegio

Pena _ detenccedilatildeo ateacute seis meses e pagamento de 60 a 90 dias-multa

Mas a tecnologia natildeo favoreceu as pretensotildees da Corte e na fase de

testes percebeu-se que uma falha da programaccedilatildeo travava o sistema cada vez que a

senha de suspensatildeo era usada e no uacuteltimo instante o TSE proibiu o uso das senhas

aliaacutes uacutenica para todo o Brasil

Com isto outro problema surgia Se o presidente da seccedilatildeo natildeo poderia

encerrar a votaccedilatildeo do eleitor que deixou a cabina sem votar como fazer para liberar a

uma o que soacute ocorria com a confirmaccedilatildeo do voto para vereador O eleitor teria

necessariamente que votar e a mesa teria que ter redobrado cuidado em verificar que a

urna

tinha sido liberada

Temos ouvido testemunhos vaacuterios e ateacute presenciamos a atitude tomada

quando natildeo se conseguia convencer o eleitor a confirmar o voto o presidente da seccedilatildeo

reunia os fiscais de partidos presentes e um outro componente da mesa e juntos iam ateacute

a cabina de votaccedilatildeo digitavam 99999 e confirmavam anulando o segundo voto do

eleitor Achamos que tal atitude equumlivale ao uso da senha e tem os mesmos efeitos

trazendo duas diferenccedilas naquela a responsabilidade era do presidente da seccedilatildeo e nesta

satildeo responsaacuteveis todos os componentes da mesa receptora e os fiscais de partido

presentes no momento naquela o crime seria o do artigo 297 nesta seria conforme o

caso concreto ou o previsto no artigo 309 ou o do artigo 312 que assim versam

Art 309 ndash Vota tentar votar mais de uma vez em lugar de outrem

Pena - reclusatildeo ateacute trecircs anos

Art 312 - Violar ou tentar violar o sigilo do voto

Pena ndash detenccedilatildeo ateacute dois anosrdquo12

Natildeo seria o caso do Tribunal Superior Eleitoral rever o sistema utilizado

e valer-se de um recurso disponiacutevel nos caixas eletrocircnicos de qualquer banco ou numa

ligaccedilatildeo telefocircnica o limite de tempo Se o eleitor estaacute digitando ou confirmando

nenhum problema Se nada fosse digitado apoacutes algum tempo a proacutepria maacutequina

emitiria o confirma e encerraria a votaccedilatildeo do eleitor registrando em branco ou nulo

ou vaacutelido conforme o que houvesse sido digitado pelo eleitor

Por fim indagaacutevamos se os mesaacuterios saberiam operar com seguranccedila a

uma eletrocircnica Como se sabe as eleiccedilotildees de 1992 trouxeram o inconveniente de em

seu primeiro turno obrigarem agrave contagem dos votos de cada urna e o consequumlente

preenchimento dos BUs pelas mesas receptoras nas proacuteprias dependecircncias das seccedilotildees

eleitorais A experiecircncia por negativa que se mostrou natildeo foi repetida nem no segundo

turno daquelas eleiccedilotildees nem nas eleiccedilotildees de 1994

Nestas eleiccedilotildees voltou a haver a previsatildeo de emissatildeo dos boletins de

urna pelas mesas receptoras tanto onde houve votaccedilatildeo eletrocircnica como onde esta natildeo

ocorreu desde que no uacuteltimo caso houvesse a autorizaccedilatildeo do Tribunal Superior

Eleitoral

Onde houve votaccedilatildeo eletrocircnica a participaccedilatildeo das mesas receptoras foi

decisiva Basta considerar a competecircncia do Presidente da Mesa Receptora prevista no

artigo 15 da Resoluccedilatildeo TSE n0 19515 de 18 de abril de 1996 como iniciar a votaccedilatildeo

com emissatildeo da zereacutesima e encerraacute-Ia imprimindo o boletim de uma e gerando o

disquete de dados Aqueles que tem a vivecircncia dos Cartoacuterios Eleitorais sabem como eacute

difiacutecil encontrar eleitores com certo grau de instruccedilatildeo para compor as mesas Eacute comum

encontrarmos mesaacuterios que nem sequer concluiacuteram a quarta seacuterie do primeiro grau

Seraacute que essas pessoas teriam tranquumlilidade para operar as urnas Saberiam pelo menos

emitir as zereacutesimas Esta eacute um relatoacuterio inicial impresso pelo equipamento e que

cumpre dupla finalidade informar quantidade zero de votos na urna para todos os

candidatos e inicializar o sistema de votaccedilatildeo Um dos funcionaacuterios envolvidos nos

trabalhos testemunhou um presidente de seccedilatildeo tatildeo nervoso que natildeo conseguia entender

12

Como nosso tema Mo trata de crimes eleitorais remetemos o leitor ao livro de Joel Joseacute

Candido cuja citaccedilatildeo encontra-se no item 5 (referecircncias bibliograacuteficas)

a instruccedilatildeo da maacutequina de confirmar a emissatildeo da zereacutesima Dirigiu-se ao primeiro

quase histeacuterico afirmando que a maacutequina havia quebrado

De qualquer forma qualquer travamento da urna durante a votaccedilatildeo

ensejaria a transformaccedilatildeo do sistema eletrocircnico em tradicional com a urna plaacutestica

continuando acoplada ao equipamento e desde que houvesse votado mais de um eleitor

Era inclusive uma das providecircncias para assegurar o sigilo do voto do primeiro eleitor

que soacute poderia sair da seccedilatildeo apoacutes o voto do segundo eleitor

Vaacuterios procedimentos de emergecircncia foram previstos como a utilizaccedilatildeo

de baterias externas caso houvesse falta de energia Algumas umas precisaram utilizar-

se destes procedimentos de emergecircncia Verificamos tambeacutem que haacute uma necessidade

de aprimoramento do equipamento Talvez elas como uma maacutequina xerox natildeo tivessem

durabilidade para aguumlentar as ruas como aguumlentaram por meses na divulgaccedilatildeo do voto

eletrocircnico e na hora que natildeo deveria o microterminal piscava os leds sem ter

problemas na energia natildeo atendia agraves consultas ou natildeo liberava a uma e neste momento

a votaccedilatildeo tinha de ser convertida em manual

Nos lugares em que autorizada pelo TSE poderia haver contagem dos

votos pela mesa receptora Desta vez poreacutem tomou-se a precauccedilatildeo de exigir que fosse

feita na presenccedila da Junta Eleitoral (Resoluccedilatildeo TSE ndeg 19540 de 030596 artigo 51)

Assim o procedimento de votaccedilatildeo correria normalmente e a mesa deveria deslocar-se

para o local designado e apenas laacute chegando sob supervisatildeo da Junta Eleitoral

procederia a contagem dos votos preenchendo o boletim de uma Seguir-se-ia a revisatildeo

aritmeacutetica do boletim pela Junta que deveria abrir a urna e conferir os votos caso a

contagem da mesa natildeo permitisse o fechamento do BU (Coacutedigo Eleitoral artigos 189 a

195) Natildeo houve registro deste procedimento em Natal

Eacute forccediloso reconhecer no entanto como foi largo o passo dado para a

lisura do processo eleitoral como o define Joel Joseacute Cacircndido Um bom exemplo disto eacute

a determinaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo do TSE ndeg 19541 de 030596 contida no paraacutegrafo

uacutenico do artigo 13 que os dados utilizados no processamento eletrocircnico tatildeo logo este

seja concluiacutedo sejam colocados agrave disposiccedilatildeo dos partidos atraveacutes da INTERNET para

permitir possam eles conferir os dados processados com as coacutepias de que disporatildeo dos

BUs

Ainda estamos aprendendo a caminhar democraticamente mas os

casos de fraude como ocorreu no Rio de Janeiro em 1994 satildeo coibidos com mais

firmeza Os cidadatildeos jaacute se sentem mais agrave vontade para falar de poliacutetica partidaacuteria e para

dar suas opiniotildees ao mesmo tempo em que confiam mais nos resultados eleitorais Os

eleitores tecircm sede de participaccedilatildeo poliacutetica Natildeo temos duacutevidas que compareceriam agraves

urnas mesmo que o voto fosse facultativo Assim natildeo fosse natildeo veriacuteamos idosos

amparados em cadeiras de rodas fazendo questatildeo de participar quando haacute muito jaacute natildeo

precisam mais fazecirc-Io Mais do que os jovens eles sabem qual a sensaccedilatildeo de natildeo poder

opinar Eles viveram o periacuteodo ditatorial enquanto a juventude apenas leu sobre o

assunto

A informaacutetica tem invadido todos os espaccedilos sendo extremamente uacutetil agrave

democracia Pudemos certificar-nos disto no pleito que testemunhamos Com certeza

ocorreram falhas posto que foram homens que o elaboraram mas eacute certo tambeacutem que

ele foi mais uma etapa no aprendizado do Brasil rumo ao amadurecimento democraacutetico

Em 1994 o presidente do Tribunal Superior Eleitoral na eacutepoca Ministro Sepuacutelveda

Pertence declarou que a apuraccedilatildeo eletrocircnica era o funeral da fraude eleitoral Cremos

que estava certo Com base nisto podemos afirmar com convicccedilatildeo que se a apuraccedilatildeo

eletrocircnica era o funeral estamos assistindo ao sepultamento da fraude e finalmente

chegando ao tatildeo sonhado respeito pela vontade popular que caracteriza a democracia

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Eleiccedilotildees municipais 1996

legislaccedilatildeo consolidada 2ed Brasiacutelia Secretaria de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo do

TSE 1996

BRASIL Legislaccedilatildeo eleitoral e partidaacuteria 10ed Brasiacutelia Senado

Federal Subsecretaria de Ediccedilotildees Teacutecnicas 1994

CAcircNDIDO Joel Joseacute Direito eleitoral brasileiro 6ed rev atual e

ampl Bauru EDIPRO1996

GODOY Mayr Eleiccedilotildees municipais comentaacuterios agraves disposiccedilotildees legais

que incidem no pleito local Satildeo Paulo LEUD 1996 P 152-159

MANUAL de legislaccedilatildeo

eleitoral e partidaacuteria Fortaleza TRECE Assembleacuteia Legislativa do Estado do Cearaacute

1996

RIBEIRO Faacutevila Direito Eleitoral 4ed Rio de Janeiro Forense 1996

RIO DE JANEIRO Tribunal Regional Eleitoral Projeto Memoacuteria

Eleitoral A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico Edvaldo Ramos e Sousa

Coordenador Rio de Janeiro Infobook 1996

SILVA De Plaacutecido e Vocabulaacuterio juriacutedico 3ed Rio de Janeiro

Forense 1993

SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 8ed

rev ampl Satildeo Paulo Malheiros 1992

TELLES Ney Moura Direito eleitoral comentaacuterios agrave Lei 9100 de 29

de setembro de 1995 Resoluccedilotildees e Jurisprudecircncia do Tribunal Superior Eleitoral

Leme Editora de Direito 1996 P67-136

DO NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL E SUAS

IMPLICACcedilOtildeES

EVERTON AMARAL DE ARAUacuteJO

Acadecircmico do 7deg periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

1 INTRODUCcedilAtildeO

O estudo do nome civil das pessoas naturais sempre proporciona

interesse haja vista se tratar de tema que diz respeito a toda sociedade A nossa atenccedilatildeo

se voltaraacute especificamente agrave pessoa natural do direito civil Este estudo comportaraacute duas

anaacutelises sobremaneira interligadas uma sob o aspecto individualista do nome e outra

vislumbrada sob o ponto de vista puacuteblico do nome

Natildeo se buscaraacute tecer minuciosamente todo o tema uma vez que eacute

bastante amplo Analisaremos o que haacute de mais interessante e atualizado no que se

refere a este assunto sobretudo voltados aos aspectos particular e puacuteblico que o

envolvem Para isso partiremos desde as configuraccedilotildees espacial e temporal deste tema

passando pelo seu exame teoacuterico para rematar com a praticidade que lhe eacute peculiar

o nome civil das pessoas naturais pela sua riqueza de conteuacutedo merece

ser apresentado com tudo que o envolve poreacutem apenas buscaremos expor o suficiente agrave

elucidaccedilatildeo das nossas curiosidades e ao suprimento do que desconhecemos quanto ao

que haacute de relevante deste assunto tudo isso relacionado aos dispositivos de direito que

regulamentam este tema

2 DA NOTIacuteCIA HISTOacuteRICA E GEOGRAacuteFICA

Eacute sabido que a busca pela individualizaccedilatildeo das pessoas inicia-se pela

identificaccedilatildeo destas e o seu nome eacute um dos sinais exteriores que melhor as qualificam

juntamente com os seus estados e domiciacutelio

As diversas culturas no tempo e no espaccedilo manifestaram e ainda hoje

apresentam suas especificidades quanto aos nomes dos seus indiviacuteduos Vale expor

algumas das mais curiosas

Dos ensinamentos de Washington de Barros Monteiro1 verifica-se que

entre os gregos o nome era uacutenico e individual e que natildeo se transmitiam aos seus

descendentes como Soacutecrates e Platatildeo Inicialmente era tambeacutem uacutenico para os hebreus

posteriormente passaram os indiviacuteduos a ser identificados pelos proacuteprios nomes ligados

aos dos seus ascendentes como Joseacute Bar-Jacoacute ou seja Joseacute filho de Jacoacute ou ainda

Barrabaacutes isto eacute filho de Abaacutes que foi identificado apenas pela filiaccedilatildeo visto que o seu

primeiro nome se perdera no tempo Esta forma ainda hoje se constata entre os aacuterabes

por exemplo Ali Ben Mustafaacute ou seja Ali filho de Mustafaacute

Entre os romanos havia uma certa complexidade uma vez que os nomes

se compunham pela identificaccedilatildeo da gens e do nome proacuteprio de cada indiviacuteduo em que

depois ainda veio a se acrescentar - especificamente nos homens - o cognome Com o

tempo em funccedilatildeo das circunstacircncias histoacutericas surgiram novas modificaccedilotildees

Passaram a ser utilizados sobrenomes inspirados nas qualidades nos sinais ou nas

profissotildees individuais e tambeacutem em animais ou plantas Satildeo exemplos Valente

Branco Monteiro Carvalho etc Ou ainda utilizavam a identificaccedilatildeo paterna como

Afonso Henriques isto eacute Afonso filho de Henrique

1 In Curso de Direito Civil Parte Geral 31ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 1993 paacutegs 87 e 88

Os russos utilizam uma terminaccedilatildeo apropriada para os homens e outra

para as mulheres vitch ou vicz e ovna respectivamente Por exemplo Alexandre

Markovicz ou seja Alexandre filho de Marcos ou Naacutedia Petrova isto eacute Naacutedia filha

de Pedro Jaacute para os romenos a terminaccedilatildeo eacute esco assim se verifica com Lupesco ou

Popesco E para os ingleses eacute son por exemplo Stevenson

Enfim houve uma grande diversidade de maneiras utilizadas para se

designar os nomes dos indiviacuteduos das diversas culturas atraveacutes dos tempos em diversas

regiotildees estes satildeo apenas alguns exemplos lecionados por aquele professor

Entre noacutes modernamente o nome eacute composto e na linguagem popular

eacute reduzido ao prenome isto eacute ao nome proacuteprio que eacute dado ao indiviacuteduo por ocasiatildeo do

nascimento como Paulo Maria etc Poreacutem para a doutrina paacutetria a compreensatildeo deve

ser mais ampla assim o nome eacute constituiacutedo pelo prenome e pelo patroniacutemico e ainda

em alguns casos pelos agnomes e pelas partiacuteculas de do das etc

3 DOS ELEMENTOS COMPONENTES DO NOME CIVIL

O nome civil compotildee-se geralmente do prenome e do patroniacutemico ou

apelido de famiacutelia podendo ainda se apresentar ocasionalmente o agnome ou as

partiacuteculas de da das de Los etc

O prenome eacute a designaccedilatildeo proacutepria de cada indiviacuteduo que eacute escolhida

quase livremente pelos responsaacuteveis da pessoa Dissemos quase livremente porque se

devem observar algumas restriccedilotildees que exporemos mais adiante Pois bem o prenome

pode ser simples como Joatildeo ou composto como Joatildeo Alberto ou Paula Maria Regina

Jaacute o patroniacutemico comumente chamado de sobrenome eacute o elemento

caracterizador da famiacutelia da qual proveacutem o indiviacuteduo eacute o sinal de sua descendecircncia

filiaccedilatildeo estirpe e em alguns casos ateacute da procedecircncia regional Enfim eacute o elemento

adquirido pela pessoa por direito logo que nasce Pode ser simples como Silva ou

composto como Silva Costa ou Barros Silva Costa

Os agnomes e as partiacuteculas jaacute mencionadas satildeo componentes do nome

tambeacutem todavia satildeo encontrados em apenas alguns desses Os agnomes satildeo sinais

distintivos que se acrescentam ao nome completo da pessoa de forma a diferenciaacute-Ia de

uma outra Satildeo exemplos de agnomes Neto Filho Juacutenior etc As partiacuteculas (de da

dos de La etc) tambeacutem satildeo integrantes do nome das pessoas como em Joseacute da Silva

Maria das Dores ou Antocircnio de Los Santos

Haacute outros elementos por alguns chamados de secundaacuterios que natildeo satildeo

reconhecidos pelo direito paacutetrio como componentes do nome satildeo eles os tiacutetulos

honoriacuteficos como Conde ou Duque os tiacutetulos eclesiaacutesticos como Cardeal ou Padre os

qualificativos de identidade oficial como Senador ou Juiz e os tiacutetulos acadecircmicos e

cientiacuteficos como Mestre ou Doutor2

4 DA NATUREZA JURIacuteDICA DO NOME CIVIL

A doutrina natildeo eacute uniacutessona quanto agrave natureza juriacutedica do nome Haacute quem

o qualifique como um instituto de direito puacuteblico como direito subjetivo do indiviacuteduo

2 In Diniz Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 1ordm vol 7ordf ed Satildeo Paulo Saraiva

1989 paacuteg 100

como instituiccedilatildeo de poliacutecia civil como propriedade sui generis etc

Nos afiliamos agrave teoria ecleacutetica que funde o dever social com o direito

subjetivo sendo assim um direito e um dever Pois uma vez que o indiviacuteduo tem a

obrigaccedilatildeo de usar conservar e manter o nome sendo um ocircnus pessoal em favor da

sociedade em contrapartida o Direito deve tutelar o nome da pessoa impedindo o seu

uso indevido por outrem e protegendo a faculdade individual de usaacute-Io

5 DA IMPORTAcircNCIA DO NOME CIVIL

O nome civil da pessoa natural eacute o sinal exterior individualizador e

qualificador desta Juntamente com o estado e o domiciacutelio o nome eacute elemento de

reconhecimento e identificaccedilatildeo da pessoa a niacutevel de sociedade

Haacute pois dois aspectos relevantes a serem observados no estudo do nome

A questatildeo do direito individual da pessoa em possuir um nome e por este ser

designada e haacute tambeacutem a relevacircncia desta qualificaccedilatildeo no seio da sociedade

Ora se as pessoas natildeo possuiacutessem nomes ou se estes fossem confusos

iguais ou inconvenientes certamente haveria graves prejuiacutezos no acircmbito das relaccedilotildees

juriacutedicas Natildeo se saberia ao certo com quem se contratou ou quem eacute o seu devedor ou

como se dirigir aos demais membros da comunidade de forma que natildeo restassem

duacutevidas ou erros

Eacute assim um tema bastante interessante e que aguccedila a nossa curiosidade

uma vez que todos possuiacutemos um nome e eacute geralmente atraveacutes deste roacutetulo que

primeiro nos apresentamos As pessoas carregam-no durante toda a vida inclusive apoacutes

a morte Pois homenageiam-se os indiviacuteduos com a aposiccedilatildeo dos seus nomes a ruas

bibliotecas ginaacutesios esportivos etc Portanto mesmo apoacutes o falecimento remoto da

pessoa eacute possiacutevel identificaacute-Ia atraveacutes do seu nome

Desta forma o Legislador natildeo poderia ignoraacute-lo Tanto eacute assim que

logo em seu artigo 12 o Coacutedigo Civil brasileiro impotildee que sejam inscritos em registro

puacuteblico entre outros fatos juriacutedicos os nascimentos Vale mencionar o que dispotildee a

Lei ndeg 601573 a chamada Lei dos Registros Puacuteblicos quanto ao registro do nome

civil da pessoa natural Tal Lei preceitua em seu artigo 54 4deg que o assento de

nascimento deveraacute conter o nome e o prenome que forem postos agrave crianccedila

Entendemos que o texto legal tenha se referido ao prenome e ao patroniacutemico da pessoa

Natildeo se admite que a pessoa natildeo tenha nome tanto eacute assim que o Legislador menciona

imposiccedilotildees ao Oficial do Registro basta verificar o caput do artigo 55 da referida Lei

in verbis

Quando o declarante natildeo indicar o nome completo o oficial lanccedilaraacute

adiante do prenome escolhido o nome do pai e na falta o da matildee se

forem conhecidos e natildeo o impedir a condiccedilatildeo de ilegitimidade salvo

o reconhecimento no ato

Eacute evidente que tal dispositivo legal deve ser interpretado agrave luz da

Constituiccedilatildeo que natildeo mais admite distinccedilotildees ou qualificaccedilotildees entre os filhos Quando

formos tratar da modificaccedilatildeo do nome em virtude do reconhecimento de paternidade e

da adoccedilatildeo nos aprofundaremos nesta questatildeo

6 DA ALTERACcedilAtildeO DO NOME COM O ALCANCE DA

MAIORIDADE CIVIL

A Lei ndeg 601573 a chamada Lei dos Registros Puacuteblicos disciplina as

possibilidades de modificaccedilatildeo do nome civil Iniciaremos por estudar a primeira que eacute

a mais simples e ao mesmo tempo acreditamos ser a mais desconhecida de todas

Prescreve o artigo 56 da referida Lei in verbis

O interessado no primeiro ano apoacutes ter atingido a maioridade civil

poderaacute pessoalmente ou por procurador bastante alterar o nome

desde que natildeo prejudique os apelidos de familia averbando-se a

alteraccedilatildeo que seraacute publicada pela imprensa

Assim ao completar vinte e um (21) anos de idade - o que corresponde agrave

nossa maioridade civil nos termos do artigo 9deg caput do Coacutedigo Civil brasileiro - a

pessoa interessada poderaacute se dirigir ao cartoacuterio competente e solicitar que o Oficial do

Registro Puacuteblico proceda agraves alteraccedilotildees desejadas

Eacute relevante dizer que a orientaccedilatildeo legal deve ser respeitada ou seja natildeo

se poderaacute alterar os apelidos de famiacutelia uma vez que satildeo inatingiacuteveis nos termos da

Lei

Afora isso o interessado poderaacute pedir ao Oficial do Registro - portanto

em via administrativa e natildeo judicial - que altere o seu nome Como exemplo fictiacutecio

utilizaremos o nome de uma mulher registrada como Mary Paula Costa Barbosa Pode

esta mulher pedir-lhe que traduza o seu nome para o vernaacuteculo passando a se chamar

Maria Paula Costa Barbosa Ou pode pedir-lhe que acrescente ao seu nome outro

prenome passando a se chamar Mary Paula Helena Costa Barbosa Ou poderaacute pedir-lhe

que acrescente ao seu nome o prenome ou o apelido de famiacutelia da matildee ou da avoacute o

apelido do pai ou do avocirc enfim haacute vaacuterias hipoacuteteses Evidentemente prenome ou

apelido aqueles que natildeo constem do seu nome original Desejando entatildeo homenagear o

seu avocirc solicita-lhe que acrescente ao seu nome o apelido daquele passando a se

chamar Mary Paula Lopes Costa Barbosa Ou ainda pode pedir-lhe que altere a ordem

dos elementos componentes do seu nome passando a se chamar Paula Mary Costa

Barbosa Em uma outra hipoacutetese pode querer suprimir do seu nome algum elemento

passando a ser chamada apenas de Mary Costa Barbosa

Vale dizer que haacute quem ensine que tais alteraccedilotildees devem apresentar justo

motivo e que as transformaccedilotildees dos prenomes simples em duplo e vice-versa natildeo seratildeo

possiacuteveis no casos dos nomes ceacutelebres como Marco Antocircnio Joatildeo Batista etc3

Com o devido respeito natildeo concordamos com tal justificaccedilatildeo nem com

qual restriccedilatildeo uma vez que entendemos natildeo caber ao Oficial do Registro obstar o

exerciacutecio da faculdade individual exercida de boa-feacute pelo interessado E mais ainda

deve aquele apenas atentar para a seriedade atraveacutes da qual o interessado lhe apresenta a

solicitaccedilatildeo isto eacute se natildeo quer apenas maliciosamente gracejar Qualquer posterior juiacutezo

de valor a ser externado natildeo eacute o Oficial do Registro quem deve emiti-Io e sim o juiz

3 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

nas hipoacuteteses que estudaremos no proacuteximo item O mais importante eacute que desta

maneira respeita-se a seguranccedila juriacutedica que deve ser observada no acircmbito das relaccedilotildees

sociais pois uma instabilidade proporcionada pela variabilidade indiscriminada do

nome das pessoas certamente seria perniciosa agrave sociedade

Enfim satildeo estas as alteraccedilotildees possiacuteveis do nome do indiviacuteduo que

completa a maioridade Trata-se de uma oportunidade para as pessoas que de alguma

maneira pretendem fazer ajustes no seu nome sem que precisem ingressar em juiacutezo e

consequentemente apresentar um justo motivo para se permitir tais modificaccedilotildees haja

vista que geralmente natildeo podiacuteamos emitir opiniatildeo no momento do nosso registro por

razotildees oacutebvias

Verifica-se que eacute este um procedimento bastante simplificado E

repita-se devem ser preservados os apelidos de famiacutelia e as demais disposiccedilotildees legais

daquele artigo

7 DAS DEMAIS POSSIBILIDADES DE MODIFICACcedilAtildeO DO NOME

CIVIL

Em se perdendo a oportunidade supra estudada isto eacute a alteraccedilatildeo do

nome no ano em que se alcanccedila da maioridade civil instante em que o procedimento eacute

bem mais simples pode ainda o interessado recorrer agraves outras hipoacuteteses previstas pelo

direito paacutetrio

A Lei dos Registros Puacuteblicos em seu artigo 57 caput prescreve in

verbis

Qualquer alteraccedilatildeo posterior de nome somente por exceccedilatildeo e

motivadamente apoacutes audiecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico seraacute

permitida por sentenccedila do juiz a que estiver sujeito o registro

arquivando-se o mandado e publicando-se a alteraccedilatildeo pela

imprensa

Assim se na hipoacutetese anterior do alcance da maioridade os

procedimentos eram bem mais simples agora - passada e natildeo exercida aquela

faculdade na ocasiatildeo propicia - a Lei impotildeem maiores rigores Haja vista que o

interessado deveraacute apresentar prova suficiente ao juiz que poderaacute natildeo acatar as

alegaccedilotildees daquele uma vez que a Lei dispotildee que deve haver um justo motivo para que

excepcionalmente o juiz _ por sentenccedila _ determine a modificaccedilatildeo requerida com a

observacircncia dos demais procedimentos legais

A mesma Lei dos Registros Puacuteblicos regulamenta

outros casos em que haacute possibilidade de modificaccedilatildeo do nome civil das

pessoas Vale citar os dispositivos legais que disciplinam esta mateacuteria o paraacutegrafo

uacutenico do jaacute mencionado artigo 55 o artigo 58 caput e o seu paraacutegrafo uacutenico Tais

preceitos legais respectivamente impotildeem o seguinte

Os oficiais do registro civil natildeo registraratildeo prenomes suscetiacuteveis de

expor ao ridiacuteculo os seus portadores Quando os pais natildeo se

conformarem com a recusa o oficial este submeteraacute por escrito o caso

independentemente da cobranccedila de quaisquer emolumentos agrave decisatildeo

do juiz competente

O prenome seraacute imutaacutevel

Paraacutegrafo uacutenico Quando entretanto for evidente o erro graacutefico do

prenome admite-se a retificaccedilatildeo bem como a SUa mudanccedila mediante

sentenccedila do juiz a requerimento do interessado no caso do paraacutegrafo

uacutenico do art 55 se o Oficial natildeo o houver impugnado

Pois bem nestes termos o Legislador paacutetrio disciplinou a

admissibilidade da modificaccedilatildeo do nome civil das pessoas A doutrina e a

jurisprudecircncia cuidaram de alargar mais ainda as margens destes preceitos legais

Desenvolveram-se novas e abrangentes interpretaccedilotildees as quais exporemos adiante

Verifica-se a Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome das pessoas pela

correccedilatildeo de erro graacutefico evidente nos casos dos nomes ridiacuteculos ou exoacuteticos pelo uso

prolongado e constante de um nome diverso daquele registrado pela utilizaccedilatildeo de

apelido no caso dos homocircnimos pelo acreacutescimo de patroniacutemico de ascendente nos

casos de embaraccedilos em funccedilatildeo de atividade Profissional pelo concubinato pelo

casamento separaccedilatildeo judicial e divoacutercio no caso de reconhecimento de paternidade

pela adoccedilatildeo no caso de traduccedilatildeo para o portuguecircs de nome estrangeiro e pela

mudanccedila de sexo

Vale dizer que a jurisprudecircncia vem aceitando a admissibilidade da

pessoa que mesmo menor possa requerer atraveacutes do seu representante ou assistente

legal a alteraccedilatildeo de nome ridiacuteculo a correccedilatildeo de erro graacutefico ou a inclusatildeo do apelido

de famiacutelia materno natildeo aguardando a maioridade para proceder a tais solicitaccedilotildees4

Inicialmente analisaremos a hipoacutetese de erro graacutefico do prenome

Como jaacute foi mencionado no paraacutegrafo uacutenico do artigo 58 da Lei dos Registros

Puacuteblicos eacute admissiacutevel a retificaccedilatildeo do prenome registrado com evidente erro de

grafia como Maucelo quando o correto seria Marcelo ou Anrique ao inveacutes de

Henrique E mais ainda admite-se a correccedilatildeo do prenome registrado no diminutivo

como Teresinha quando o certo deveria ser Teresa5

Quanto aos nomes ridiacuteculos ou exoacuteticos tambeacutem eacute admissiacutevel a

modificaccedilatildeo destes A mencionada Lei se refere apenas ao prenome Assim

disciplina hipoacuteteses como as das pessoas registradas por Sim Batista ou Antocircnio

Aparecido que Solicitaram a modificaccedilatildeo para Jorge Sim Batista e apenas Antocircnio

respectivamente6 Portanto satildeo estes casos mais simples Neste mesmo contexto se

encaixa a hipoacutetese das pessoas registradas com nomes do tipo Hitler ou Luacutecifer

Poreacutem constam dos arquivos do INPS nomes jocosos como Rolando Pela Escada

4 1n Diniz Maria Helena Ob Cit paacuteg 102

5 In Monteiro Washington de Barros Ob cit paacuteg 90

6 In Fuhrer Maximilianus Claacuteudio Ameacuterica Resumo de Direito Civil 14ordf ediccedilatildeo Malheiros

1996 paacuteg 31

Abaixo e Joatildeo Cara de Joseacute7

Eacute realmente incompreensiacutevel como os seus responsaacuteveis foram tatildeo

insensiacuteveis ao ponto de puni-los com tamanho castigo Nestes casos nos salta aos olhos

a possibilidade de modificaccedilatildeo por completo de tais nomes e natildeo apenas o prenome

como dispocircs a referida Lei

Haacute outros casos em que determinadas pessoas fazem uso constante e

prolongado de determinados nomes que natildeo satildeo os que foram grafados por ocasiatildeo dos

seus registros Tais pessoas de boa-feacute utilizam-se deste outro nome de tal maneira que

passam a ser no meio social identificadas por eles Um exemplo de pessoa que

requereu tal modificaccedilatildeo eacute o de uma mulher cujo nome registrado era Maria Aparecida

poreacutem ela era reconhecida socialmente como sendo Maria Luciana8 Portanto em tais

casos tambeacutem haacute admissibilidade de modificaccedilatildeo do nome uma vez reconhecida a boa

intenccedilatildeo do interessado

Hipoacutetese semelhante eacute a das pessoas que utilizam apelidos para se

apresentarem Podem pois acostar tais designaccedilotildees aos seus nomes uma vez que se

agregaram de tal maneira agrave personalidade daquelas que ateacute pode-se dizer tomaram-se

parte da caracterizaccedilatildeo daqueles indiviacuteduos Estas pessoas possuem alcunhas que usam

habitualmente Eacute este um fato que ocorre com certa frequumlecircncia entre noacutes sobretudo nos

meios artiacutestico e poliacutetico Os exemplos mais conhecidos satildeo o da cantora Xuxa e o do

poliacutetico Lula

Certamente jaacute ouvimos estoacuterias de pessoas que foram confundidas com

marginais Eacute este um problema grave que pode ocorrer com determinadas pessoas ou

seja ser confundidas com outras por terem os mesmos nomes Trata-se da homoniacutemia

Em se demonstrando este justo motivo para modificaccedilatildeo do nome devido a ocorrecircncia

daquela natildeo haacute como se negar a admissibilidade da alteraccedilatildeo do nome do indiviacuteduo

interessado Por exemplo pessoas que possuem nomes como Maria Aparecida da Silva

ou Joseacute da Silva apresentam um relevante motivo agrave admissibilidade da modificaccedilatildeo dos

seus nomes uma vez que satildeo muito comuns no Brasil

Outra Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome da pessoa natural eacute quando

haacute permissatildeo a que se incluam apelidos de famiacutelia de ascendente ao seu nome original

Consoante jaacute foi exposto a pessoa tem direito logo que nasce ao patroniacutemico dos seus

ascendentes Portanto pode solicitar o acreacutescimo de apelido de famiacutelia que natildeo conste

evidentemente do seu nome original Vale dizer que eacute esta uma das soluccedilotildees mais

utilizadas para a soluccedilatildeo dos problemas relativos atilde homoniacutemia que jaacute foi acima

estudada

Eacute mister informar que se vem inclusive permitindo o acreacutescimo de

patroniacutemico que natildeo tenha sido utilizado por uma ou mais geraccedilotildees ou ainda a

inclusatildeo do apelido de madrasta ou de tutor9

O paraacutegrafo primeiro do artigo 57 da Lei dos Registros Puacuteblicos

apresenta uma outra Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome da pessoa Trata-se da

7 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

8 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

9 1n Fuhrer Maximilianus ClaacuteUdio Ameacuterico Ob cit paacuteg 32

averbaccedilatildeo do nome abreviado da pessoa que exerce ou pretende exercer atividade

mercantil com o intuito de evitar embaraccedilos quando se quiser fazer parte de firma

comercial ou exercitar suas atividades O texto legal tanto se refere agrave atividade

mercantil quanto a qualquer outra atividade profissional

O mesmo artigo 57 agora em seus paraacutegrafos segundo e seguintes

tambeacutem disciplina a modificaccedilatildeo do nome da pessoa que se relaciona em concubinato

com outra Permite-se que um companheiro adote o apelido do outro desde que sejam

observados alguns requisitos quais sejam anuecircncia do outro uniatildeo por mais de cinco

anos ou existecircncia de filho nenhum deles pode ser casado e deve haver

impossibilidade legal a que se casem A Lei apresenta os procedimentos a serem

atendidos e mesmo se dirigindo apenas agrave mulher deve ser interpretada para ambos os

companheiros agrave luz do entendimento da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica no inciso I do seu

artigo 50 onde homens e mulheres tecircm os mesmos direitos e obrigaccedilotildees

O casamento tambeacutem eacute uma oportunidade para que as mulheres

alterem seus nomes Trata-se de uma faculdade que esta possui em acrescentar ou

natildeo os apelidos do marido com a celebraccedilatildeo do matrimocircnio Outrora era obrigada a

inclui-Ios poreacutem com a publicaccedilatildeo da Lei ndeg 651577 que eacute a chamada Lei do

Divoacutercio passou a ser optativo tal acreacutescimo Neste sentido nova redaccedilatildeo foi

determinada ao paraacutegrafo uacutenico do artigo 240 do Coacutedigo Civil brasileiro onde se lecirc

que a mulher poderaacute acrescer aos seus os apelidos do marido Poreacutem deveraacute perdecirc-

Ios com a anulaccedilatildeo do casamento com a separaccedilatildeo judicial - se culpada - ou com o

divoacutercio nos termos dos artigos 17 e 18 daquela Lei Contudo entende-se que haacute

temperamentos ao rigor legal ou seja se a mulher provar que suportaraacute graves

prejuiacutezos com a supressatildeo dos apelidos do ex-marido Por exemplo se for ela uma

artista ou mesmo uma outra profissional que seja reconhecida ou identificada

atraveacutes daquele patroniacutemico poderaacute requerer ao juiz que lhe permita a utilizaccedilatildeo

daqueles mesmo apoacutes a extinccedilatildeo da sociedade conjugal uma vez que sobejamente

prove a possibilidade da ocorrecircncia de tais ou quais danos

Um tema bastante controvertido que devemos analisar eacute a questatildeo da

modificaccedilatildeo do nome da pessoa em decorrecircncia do reconhecimento da paternidade

Muitos doutrinadores ainda trazem fortes cargas de preconceito quanto ao estudo da

filiaccedilatildeo Portanto eacute vaacutelido desde jaacute apresentarmos o entendimento constitucional

acerca deste assunto O paraacutegrafo 6deg do artigo 227 da Lei Maior impotildee a proibiccedilatildeo de

quaisquer designaccedilotildees discriminatoacuterias com relaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo posto que os filhos

havidos ou natildeo do casamento ou os adotados deveratildeo ter os mesmos direitos e

qualificaccedilotildees isto eacute satildeo todos filhos e apenas isso Logo natildeo mais eacute admissiacutevel que os

doutrinadores tragam em suas obras distinccedilotildees quanto agrave filiaccedilatildeo ou em razatildeo da

adoccedilatildeo Assim com os devidos temperamentos entende-se da liccedilatildeo de Serpa Lopes10

que o reconhecimento da paternidade pode ocorrer em duas ocasiotildees no ato do registro

do nascimento instante em que se lhe seratildeo acrescentados os apelidos do que o

reconhecer ou em um momento posterior quando poderaacute o interessado solicitar o

acreacutescimo do nome daquele que provou ser seu genitor

A adoccedilatildeo eacute um outro exemplo de possibilidade de modificaccedilatildeo do nome

da pessoa natural neste sentido dispotildee realmente a Lei ndeg 806990 que eacute o festejado

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente em seu artigo 47 caput e paraacutegrafo 5deg Preceitua

o texto legal que atraveacutes de sentenccedila judicial constitui-se a adoccedilatildeo que seraacute inscrita no

10

In Curso de Direito Civil volume I 7ordf ed Rio de Janeiro Freitas Bastos 1989 paacutegs 288 e 289

registro civil e conferiraacute ao adotado o nome do adotante e a pedido deste eacute admissiacutevel

a modificaccedilatildeo do prenome daquele

Pode ainda o interessado requerer a traduccedilatildeo do seu nome para o

vernaacuteculo fazendo prova de justo motivo para tal modificaccedilatildeo por exemplo se se trata

de nome de difiacutecil pronuncia ou compreensatildeo Tanto pode ser requerida tal modificaccedilatildeo

pelo estrangeiro como pelo brasileiro nato que possua nome estrangeiro11

Quanto aos

estrangeiros tal disciplina legal eacute efetivada nos termos da Lei nordm 681580 competindo

ao Ministro da Justiccedila autorizar esta alteraccedilatildeo do nome Permite-se ainda pela referida

Lei a faculdade de traduzirem ou adaptarem os seus nomes agrave liacutengua portuguesa no ato

da naturalizaccedilatildeo

Outro tema bastante controvertido eacute o da mudanccedila de sexo praacutetica que

estaacute cada vez mais se banalizando por todo o mundo Neste instante natildeo satildeo oportunas

discussotildees quanto a moralidade ou natildeo deste fato ou quanto a permissibilidade legal ou

natildeo destes procedimentos O fato eacute que provada a mudanccedila de sexo atraveacutes de periacutecia

meacutedico-legal eacute admissiacutevel a adaptaccedilatildeo do nome da pessoa agrave nova situaccedilatildeo constatada

O direito paacutetrio natildeo tutela a livre disponibilidade da mudanccedila do sexo no que andou

bem tanto eacute que muitos dos interessados recorrem aos profissionais europeus para

efetuar as intervenccedilotildees ciruacutergicas necessaacuterias ao alcance deste seu objetivo

Por fim em respeito a Orlando Gomes12

devemos expor uma uacuteltima

hipoacutetese de alteraccedilatildeo do nome sustentada por ele Trata-se da modificaccedilatildeo necessaacuteria do

nome do filho em funccedilatildeo da mudanccedila do nome do pai pois defende este professor que a

natureza do nome pede que coincida o da prole com o dos genitores

Portanto satildeo estas as hipoacuteteses reconhecidas pelo direito paacutetrio como as

possiacuteveis de modificar os nomes civis das pessoas naturais Evidentemente o

Legislador natildeo disciplinou cada uma delas minuciosamente apenas sinalizou a

admissibilidade legal em alguns casos Chegamos a todas estas atraveacutes do exerciacutecio de

interpretaccedilatildeo jurisprudencial e dos assentamentos doutrinaacuterios que permitiram uma

melhor mais justa e mais ampla compreensatildeo do tema

8 DA PROTECcedilAtildeO JURIacuteDlCA DO NOME

O nome das pessoas merece especial proteccedilatildeo pelo direito que natildeo

permite a usurpaccedilatildeo destes por outrem Em se provando o prejuiacutezo nesta hipoacutetese eacute

admissiacutevel a reparaccedilatildeo civil ou a incidecircncia penal correspondentes

Quanto aos direitos autorais tal tutela eacute bem mais abrangente

Prescreve o artigo 25 e seu inciso li da chamada Lei dos Direitos Autorais (Lei ndeg

598873) que eacute direito moral do autor o de ter seu nome pseudocircnimo ou sinal

convencional indicado ou anunciado como sendo seu na utilizaccedilatildeo da sua obra

Como exemplos mais conhecidos de portadores de pseudocircnimos encontramos

Voltaire e EI Grecco

Embora tais designaccedilotildees natildeo faccedilam parte dos nomes registrado das

pessoas os pseudocircnimos utilizados de maneira constante e legiacutetima integram-se de

tal forma agraves personalidades dos seus portadores no exerciacutecio de suas atividades - que

satildeo geralmente artiacutesticas - que o direito natildeo poderia esquececirc-Ias

11

In Fuumlhrer Maximilianus Claacuteudio Ameacuterica Ob cit paacuteg 32

Poreacutem eacute importante dizer que natildeo se deve interpretar com extrema

rigorosidade tal proteccedilatildeo Pois eacute possiacutevel a utilizaccedilatildeo do nome ou mesmo do

pseudocircnimo de outrem sem a intenccedilatildeo de lucro como eacute o caso da citaccedilatildeo de obra

cultural ou cientiacutefica Tal citaccedilatildeo enaltece o autor E ainda mesmo se permite a criacutetica

desfavoraacutevel da sua obra desde que sem a intenccedilatildeo de achincalhamento do autor12

Por fim vale mencionar o Direito Penal O Coacutedigo Penal brasileiro

disciplina e penaliza quem usa indevidamente o nome comercial ou o tiacutetulo de

estabelecimento alheio nos termos do inciso VII paraacutegrafo primeiro do seu artigo 196

E a Lei das contravenccedilotildees Penais pune em seu artigo 68 quem se recusa a fornecer

dados pessoais de identificaccedilatildeo dentre os quais se incluem o nome agrave autoridade que os

solicite

9 CONCLUSAtildeO

O Legislador foi riacutegido o suficiente para natildeo permitir que por capricho

ou maacute-feacute as pessoas modificassem seus nomes constantemente Ora se isso fosse

possiacutevel seria tatildeo prejudicial agrave sociedade quanto se as pessoas natildeo tivessem nome

algum Destas duas maneiras haveria o caos Pois o indiviacuteduo poderia querer hoje se

chamar Pedro amanhatilde Joatildeo e depois Francisco Enfrentariacuteamos graves dificuldades

para identificar quem nos devia ou por qual designaccedilatildeo deviacuteamos nos referir agrave

determinada pessoa Tambeacutem foi o aquele bastante flexiacutevel ao permitir algumas

modificaccedilotildees de forma que a pessoa natildeo fosse obrigada a suportar um nome que lhe

seja um verdadeiro peso causando-lhe constrangimentos confusotildees ou desconforto

Por sua vez a doutrina e a jurisprudecircncia trataram de interpretar as

disposiccedilotildees legais enriquecendo-as e posteriormente adaptando-as agraves realidades natildeo

observadas pelo Legislador Desta maneira satisfazendo agraves necessidades mais gritantes

da sociedade quanto aos ajustes dos nomes dos seus componentes

Alguns dos nossos doutrinadores natildeo se aprofundaram tanto em seu

estudo talvez porque natildeo quisessem se alongar Todavia acreditamos sim que pelo

fato deste assunto ensejar alguns temas polecircmicos como mudanccedila de sexo relaccedilotildees

concubinaacuterias reconhecimento de paternidade ou outros elementos essencialmente

valorativos e pessoais Temas estes que suscitam juiacutezos de valor a ser Possivelmente

extemados

10 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DINIZ Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 10 voI 70

ed Satildeo Paulo Saraiva 1989

FUumlHRER Maximilianus Claacuteudio Ameacuterico Resumo de Direito Civil

140 ediccedilatildeo Malheiros 1996

12

In Introduccedilatildeo ao Direito Civil 8 ed Rio de Janeiro Forense 1966 paacuteg 139

GOMES Orlando Introduccedilatildeo ao Direito Civil 80 ed Rio de Janeiro

Forense 1986

LOPES Miguel Maria de Serpa Curso de Direito Civil volume I 70

ed Rio de Janeiro Freitas Bastos 1989

MONTEIRO Washington de Barros Curso de Direito Civil Parte

Geral 31deg ed Satildeo Paulo Saraiva 1993

PEREIRA Caio Maacuterio da Silva Instituiccedilotildees de Direito Civil volume

I 138 ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense 1992

RODRIGUES Siacutelvio Direito Civil v1 25deg ed Satildeo Paulo Saraiva

1995 WALD Arnoldo Curso de Direito Civil Brasileiro vol 1 78 ed Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 1992

DOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO E SEUS POSSIacuteVEIS

EFEITOS INFRINGENTES

Francisco Glauber Pessoa Alves

Acadecircmico do 8ordm periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

SUMAacuteRIO I INTROacuteITO - lI DAS PRIMEIRAS REFEREcircNCIAS

HISTOacuteRICAS DOS EMBARGOS DECLARATOacuteRIOS EM NOSSO CONTEJTO

NORMATIVO - III DA SISTEMATIZACcedilAtildeO NO CPC VIGENTE - IV DA NA TU REZA

JURIacuteDICA V HIPOacuteTESES DE INTERPOSICcedilAtildeO E SEUS EFEITOS - VI OUTRA

FUNCcedilAtildeO DOS EMBARGOS DECLARA TOacuteRIOS - VII DA PROBLEMAacuteTICA DA

INFRINGEcircNCIA E EMBARGOS MERAMENTE PROTELATOacuteRIOS (COMO REPRIMI-

LOS) - VIU DO ESGOTAMENTO DA ATIVIDADE JURISDICIONAL - VII2

RETRATACcedilAtildeO OU NAtildeO DO JULGADOR POSSIBILIDADE OU NAtildeO DE FAZEcirc-LA -

VII3 PODE O JUIacuteZO A QUO SINGULAR SUBSUMIR-SE NA COMPETENCIA

DEVOLUTIVA DO OacuteRGAtildeO FRACIONARIO AD QUEM E COMO INTERPRETAR

ISSO Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DO DUPLO GRAU DE JURISDICcedilAtildeOVIII DAS

HIPOacuteTESES DE MODIFICACcedilAtildeO ALBERGADAS PELA JURISPRUDEcircNCIA - IX

CONCLUSAtildeO - REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

I - INTROacuteITO

De longa data vem a discussatildeo juriacutedica sobre a par da natureza juriacutedica

dos embargos de declaraccedilatildeo a possibilidade de atribuir efeitos infringentes a dito

instrumento juriacutedico

Em verdade a doutrina e mesmo alguns posicionamentos pretorianos

respeitaacuteveis vecircm titubeando na afirmativa desse caraacuteter substitutivo com o fito

acredita este humilde escriba de evitar-se a enxurrada de embargos declaratoacuterios com

efeitos infringentes que poderia acontecer transformado que estaria em um recurso

anocircmalo a contrariu sensu das normas insculpidas nos arts 463 cc 535 do Diploma

Regimental Civil

Esse estudo tem o escopo de ser mais um subsiacutedio com as limitaccedilotildees

oacutebvias de espaccedilo para o desanuviamento do assunto Com a consciecircncia da

complexidade do tema

A primeira parte do trabalho diz respeito a alguns breves comentaacuterios

sobre a teoria geral dos recursos estudando-se apoacutes agrave luz daquela os embargos

declaratoacuterios

O restante do estudo aprofundar-se-aacute na anaacutelise dos efeitos infringentes

e seus possiacuteveis oacutebices trazendo ao cotejo alguns exemplos praacuteticos

Fez-se questatildeo de frisar todas as fontes _ por respeito aos eminentes

autores - dos pensamentos embasadores das ideacuteias que adiante seratildeo descritas sob a

forma de notas _ que serviram ainda para alguns apontamentos - esperando que natildeo

fique prejudicada a leitura bem assim a concisatildeo do trabalho

II - DAS PRIMEIRAS REFEREcircNCIAS HISTOacuteRICAS DOS

EMBARGOS DECLARATOacuteRIOS EM NOSSO CONTEXTO NORMATIVO

Remontam agraves mais antigas raiacutezes do direito codificado Luso -

brasileiro o instituto em comento tendo sido previsto nas Ordenaccedilotildees Afonsinas

(Livro III tiacutet LXIX sect 4deg e til LXI sect 40) Manuelinas (Livro III tiacutet L sect 5deg e til

LXI sect 4deg) e Filipinas (Livro III til LXVI sect 60) Presente esteve ainda no vetusto

Regulamento 737 datado de 1850 (nos arts 641-643) e na Consolidaccedilatildeo Ribas (arts

1500 e ss) nos Coacutedigos Estaduais de Processo (Bahia art 1239 Distrito Federal

art 1179 Minas Gerais art 1439 Rio de Janeiro art 2333 Pernambuco art

1434) e no Coacutedigo de Processo Civil de 1939 (arts 840 e 862) bem como sob

formas e Procedimentos outros nas legislaccedilotildees de povos diversos12

III ndash DA SISTEMATIZACcedilAtildeO NO CPC VIGENTE

Conquanto seja previsto hoje somente nos arts 535 a 538 no

Capitulo V Tiacutetulo X do Livro I do Codex Processual Civil natildeo foi sempre assim

pois que antes da reforma vinda agrave lume com a Lei 8950 de 131294 estava

presente no Capitulo VIII que trata da Sentenccedila e Da Coisa Julgada inclusive com

prazo diferenciado (48h) do previsto no Tiacutetulo dos Recursos (5 dias) o que era

sempre alvo de criticas3

A reforma trouxe aleacutem da unificaccedilatildeo do prazo (cinco dias) no juiacutezo

singular ou colegiado a interrupccedilatildeo do prazo para interposiccedilatildeo de outros recursos

concedida agora a ambas as partes4 a exclusatildeo da hipoacutetese de duacutevida como fundamento

de sua interposiccedilatildeo e o agravamento da sanccedilatildeo para o caso do embargante de maacute-feacute

visando o mero protelamento do feito

De prima facie denota-se a disposiccedilatildeo velada do legislador em incluir os

embargos declaratoacuterios como recurso5 - ou um seu assemelhado anocircmalo - assim

disposto para melhor organicidade do Estatuto de Ritos

1 Cf E D Moniz de Arag30 Embargos de Declaraccedil30 RT 63311-23 extraldo de Joseacute Carlos

Barbosa Moreira Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil 51 ed v V537 Rio col Forense

1985 V537 ou Sergio Bermudes Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil v V1207 S30

Paulo col da Ed RT 1975

2 Cf ainda Seacutergio Sahione FadeI Coacutedigo de Processo Civil Comentado Tomo III 1974 paacuteg

171 3 Socircnia M Almeida Batista Embargos de Declaraccedil30 - Inovaccedilotildees da Reforma RP 8027

4 A lei anterior n30 era clara o que gerava controveacutersias jurisprudenciais

5 Pela sua disposiccedilatildeo expressa no art 536 IV e pela unificaccedilatildeo no Titulo dos Recursos (pela

Lei 895094)

IV - DA NATUREZA JURIacuteDICA

Questatildeo principal do nosso estudo eacute a definiccedilatildeo do enquadramento

juridico dos embargos declaratoacuterios

A doutrina natildeo eacute unacircnime e parte dela6 rejeita a natureza de recurso na

sua forma mais pura a ser inflingida ao dito instituto

Antes de mais nada impende trazer agrave tona a fim de uma melhor anaacutelise

cientiacutefica do tema o conceito e os pressupostos necessaacuterios aos recursos - para

esclarecer o juizo de admissibilidade recursal e sua aplicabilidade aos embargos

declaratoacuterios

Para Nelson Nery Juacutenior O recurso eacute medida destinada a provocar na

mesma relaccedilatildeo juriacutedica processual o reexame ou integraccedilatildeo da decisatildeo impugnadardquo7

O Mestre Oviacutedio Batista sempre mencionado o entende como o

procedimento atraveacutes do qual a parte ou quem esteja legitimado a intervir na causa

provoca o reexame das decisotildees judiciais a fim de que elas sejam invalidadas ou

reformadas pelo proacuteprio magistrado que as proferiu ou por algum oacutergatildeo de jurisdiccedilatildeo

Superior8

Humberto Theodoro Juacutenior citando o mesmo Amaral Santos leciona

recurso como sendo o poder de provocar o reexame de uma decisatildeo pela mesma

autoridade judiciaacuteria ou por outra hierarquicamente superior visando a obter a sua

reforma ou modificaccedilatildeordquo9

Por outro lado para que haja o provimento jurisdicional necessaacuterio se

faz antes de adentrar-se no meacuterito do recurso (ou seja na anaacutelise do seu teor juriacutedico

e da pertinecircncia dos seus fundamentos - e isso se chama juiacutezo de meacuterito) proceder ao

juiacutezo de admissibilidade que natildeo eacute outra coisa senatildeo a verificaccedilatildeo a ser feita para

confirmar se o recurso reveste-se dos requisitos miacutenimos necessaacuterios para a anaacutelise

posterior de seu inteiro teor juriacutedico - o juiacutezo de meacuterito de que se falou

Nery Junior em seu prestigiado magisteacuterio10

os subdivide em

pressupostos intriacutensecos e extriacutensecos

Os primeiros satildeo o cabimento a legitimaccedilatildeo para recorrer e o interesse

para recorrer

O mencionado autor compara ainda esses ditos pressupostos agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo justificando tal raciociacutenio no de que o recurso eacute manifestaccedilatildeo do

6 Moniz de Aragatildeo ob mencionada Sergio Bermudes A Reforma do Coacutedigo de Processo

Civil Saraiva p l01 7 Aspectos da Teoria Geral dos Recursos no Processo Civil RP 51155 8 Curso de Processo Civil Processo de Conhecimento Vol I 3 ed

Sergio Antonio Fabris Editor p 345

9 Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Direito Processual

Civil e Processo de Conhecimento Vol I 12 ed Editora Forense p 541 10

Ob citada

direito de accedilatildeo

Assim o cabimento11

corresponderia agrave possibilidade juriacutedica do

pedido a legitimidade para recorrer12

seria equivalente agrave legitimatio ad causam e o

interesse em recorrer13

corresponderia o interesse processual

Jaacute os pressupostos extriacutensecos seriam extemos agrave decisatildeo que se pretende

impugnar sendo eles a tempestividade14

a regularidade formal15

a inexistecircncia de fato

impeditivo ou extintivo do poder de recorrer16

e o preparo17

Oviacutedio Batista18

- lastreado nos ensinamentos de Barbosa Moreira -

classifica de maneira semelhante agrave Nery Juacutenior excetuando-se a inexistecircncia de fato

impeditivo ou extintivo do direito de recorrer o qual entende ser um pressuposto

intriacutenseco

O insigne Humberto Theodoro19

classifica diferentemente os

pressupostos Para ele existiriam os objetivos - as pessoas legitimadas a recorrer - e os

objetivos - recorribilidade da decisatildeo tempestividade do recurso singularidade do

recurso20

adequaccedilatildeo do recurso preparo motivaccedilatildeo e forma

Excogitando-se dos conceitos de recurso - lato sensu - dados verifica-se

que os embargos de declaraccedilatildeo enquanto meacutetodo de complementaccedilatildeo do decisum natildeo

se aperfeiccediloam no conceito de recurso - partindo-se da premissa que soacute eacute recurso

quando se tem a capacidade de modificar o meacuterito podendo substituiacute-Io

Ainda do que foi visto reputa-se apto ao juiacutezo de admissibilidade dos

embargos declaratoacuterios a exigecircncia de quase todos os pressupostos reclamados pelo

juizo de admissibilidade dos recursos a quem neologiacutesticamente chamaremos de

puros

Dessarte soacute natildeo seria possiacutevel a exigecircncia no que toca agrave regularidade

11 Este se desdobraria ainda em recorribilidade (do decisum) e adequaccedilatildeo (ser o recurso

idocircneo para atacar a decisatildeo) 12

Estaacute prevista especificamente em lei (art 499 do CPC) sendo as partes o Ministeacuterio Puacuteblico

ndash como parte ou como custus legis ndash e o terceiro prejudicado ndash demonstrando o seu interesse

juriacutedico na causa ou sejam o liame existente entre a decisatildeo e o prejuiacutezo que ela lhe teria

causado 13

Caracterizado pelo binocircmio necessidade ndash de o recurso ser p uacutenico meio de se obter o bem

juriacutedico almejado ndash e utilidade ndash a sucumbecircncia da parte recorrente - Este uacuteltimo aspecto

entendemos intimamente ligado ao conceito da possibilidade juriacutedica lato sensu 14

O recurso deve ser interposto dentro dos prazos legais sendo estes peremptoacuterios 15

Ou seja a forma como o recurso deve ser interposto ndash o que muitas vezes eacute definido em lei

(ex arts 514 524 525 dentre outros todos do CPC) 16

Dizendo respeito agrave preclusatildeo loacutegica perfazendo-se pela desistecircncia do recurso interposto ou

aquiescecircncia (taacutecita ou expressa) agrave decisatildeo 17

Este ensejador da deserccedilatildeo caso natildeo devidamente pago Interessante observar no caso

concreto o Regimento interno de cada oacutergatildeo referentemente a exigibilidade ou natildeo do preparo

Eacute que agrave guisa de esclarecimento existem Pretoacuterios que o dispensam (conforme ocorre por

exemplo com o Agravo de Instrumento no Tribunal Regional Federal da 5ordf regiatildeo) 18

Ob Mencionada p 352 19

Ob Jaacute falada pp 549-550 20

Este uacuteltimo expressatildeo do princiacutepio da singularidade dos recursos segundo o qual de qualquer

decisatildeo recorriacutevel cada apenas um recurso Ver a esse respeito Rui Portanova in princiacutepios do

Processo Civil Livraria do Advogado Editora p 271

formal21

e ao preparo22

Outro argumento utilizado pela respeitaacutevel doutrina de Cacircndido Rangel

Dinamarca eacute o fato de que estando o instituto previsto dentro do tiacutetulo destinado aos

recursos assim o legislador o teria definido Parece que o legislador conheceu dos

embargos do fino processualista23

tanto que os recebeu para declarar que na sua

opiniatildeo os embargos satildeo recursordquo24

Posto que legalmente esteja previsto como tal (art 496 IV do Codex

Processua) a rigor25

os embargos declaratoacuterios natildeo seriam recurso pois como dito

antes natildeo estariam aparelhados por lei a provocar o reexame da decisatildeo pela autoridade

judiciaacuteria

Mas o problema natildeo eacute tatildeo simploacuterio assim e a tendecircncia vem sendo natildeo

sem obstaacuteculos de aceitar-se os embargos como verdadeiros recursos tanto mais pela

sua disposiccedilatildeo no CPC26

Joseacute Frederico Marques dissertando sobre os embargos declaratoacuterios

diz Recurso exclusivamente de retrataccedilatildeo os embargos de declaraccedilatildeo permitem o

reexame do acoacuterdatildeo embargado pelos juizes de que emanou27

Mais adiante remata

Trata-se de um procedimento recursal porque existe nos embargos de declaraccedilatildeo

pedido de reparaccedilatildeo do gravame resultante de obscuridade duacutevida28

ou contradiccedilatildeo

bem como de omissatildeo29

Dissertando sobre o assunto Oviacutedio Batista entende embargos de

declaraccedilatildeo como o instrumento de que a parte se vale para pedir ao magistrado

prolator de uma dada sentenccedila que a esclareccedila em seus pontos obscuros ou a

complete quando omissa ou finalmente que lhe repare ou elimine eventuais

contradiccedilotildees que ela porventura contenha30

21

Diz-se isso porquanto a interposiccedilatildeo dos embargos declaratoacuterios seja tatildeo desprovida de

exigecircncias - eacute feito por meio de uma simples peticcedilatildeo - que entendemos inexistente na espeacutecie

um maior rigor no aspecto formal do seu processamento conquanto seja expressamente - e

logicamente - necessaacuterio a indicaccedilatildeo no corpo da peticcedilatildeo da obscuridade contradiccedilatildeo ou

omissatildeo sob pena de seu natildeo conhecimento ateacute mesmo em obediecircncia ao principio da

dialeticidade dos recursos (cf Rui Portanova ob citada pp 275-2n) 22

Ao que a lei dispensa expressamente (art 536 CPC) 23

Em referecircncia a Sergio Bermudes - in Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil VII n 19B

esp p 210 - que entende ser uma ldquoPena que natildeo se possam opor embargos de declaraccedilatildeo

para que o legislador declare qual a natureza dos embargos neste Coacutedigordquo 24

A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil 3ordf ed Malheiros p 203 25

Isto eacute partindo-se sempre da premissa de que soacute eacute recurso quando pode-se a partir de sua interposiccedilatildeo alterar o meacuterito do julgado - e natildeo apenas esclarececirc-Io

26 Nesse sentido expressamente Dinamarco como visto Nelson Nery Junior em sua obra

Aspectos da Reforma do Coacutedigo de Processo Civil RP 79129 e ainda em seu Coacutedigo de

Processo Civil Comentado p 965 Humberto Theodoro Juacutenior ob citada p 577 Antonio de

Paacutedua Ferraz Nogueira Princiacutepios Fundamentais dos Embargos de Declaraccedilatildeo in Revista de

Processo 77(1 Carreira Alvim Accedilatildeo Monitoacuteria e Temas Polecircmicos da Reforma Processual

Dei Reyp235 27

Manual de Direito Processual Civil Vol 111 - Processo de Conhecimento 2 parte Saraiva 2

ed p 161 28

Hipoacutetese atualmente excluiacuteda do ordenamento juriacutedico como se explicitaraacute mais agrave frente 29

Ob e p citadas

30

Ob mencionada p 380

Para Vicente Greco Filho amparado em Moacyr Amaral Santos satildeo os

embargos declaratoacuterios um recurso interposto perante o mesmo juiacutezo em que proferiu

a decisatildeo recorrida visando agrave sua declaraccedilatildeo ou reforma31

Humberto Theodoro de maneira anaacuteloga a Vicente Greco (jaacute a vendo

como recurso) entende-os como recurso destinado a pedir ao juiz ou tribunal prolator

da decisatildeo que esclareccedila duacutevida32

afaste obscuridade supra omissatildeo ou elimine

contradiccedilatildeo existente no julgado33

Denota-se portanto que quando da nova anaacutelise do julgado exsurge uma

transformaccedilatildeo - e natildeo complementaccedilatildeo ou integraccedilatildeo - do mesmo efetivam-se os

embargos declaratoacuterios como recurso natildeo mais apenas no sentido legal - como jaacute visto

- mas tambeacutem no sentido juriacutedico (presente que estaria a premissa34

de que jaacute falamos)

Para pocircr termo a esse toacutepico conceituaremos embargos de declaraccedilatildeo

como o instrumento juriacutedico forma recursal natildeo pura destinado a esclarecer

obscuridades a eliminar contradiccedilotildees ou a suprir omissotildees das sentenccedilas decisotildees e

eventualmente despachos que a despeito da natildeo previsatildeo legal reveste-se em casos

excepcionais de efeitos infringentes quando entatildeo passa a ser de fato e de direito

recurso

V - HIPOacuteTESES DE INTERPOSICAtildeO E SEUS EFEITOS

Prevecirc o Coacutedigo no art 535 a possibilidade da parte embargar de

declaraccedilatildeo (I) quando houver na sentenccedila ou no acoacuterdatildeo obscuridade ou contradiccedilatildeo

ou ainda (11) quando for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou

tribunal

A citada Lei 895094 expurgou como jaacute dito a hipoacutetese de interposiccedilatildeo

dos embargos em caso de duacutevida35

cujo conceito era sempre questionado36

e acabava

gerando outra duacutevida37

O cabimento agrave sentenccedila e natildeo soacute ao acoacuterdatildeo dentro do proacuteprio Capiacutetulo

V do Tiacutetulo X foi inserido tambeacutem pela lei retro mencionada uniformizando o

tratamento e o prazo consoante jaacute dito38

31

Apud Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob jaacute referida

32 Vide nota 28

33 Ob citada p 577

34 Vide nota 25 35

Para contento de alguns respeitaacuteveis doutrinadores cf Antonio de Paacutedua Ferraz (ob

citada) Rogeacuterio lauria Tucci Curso de Direito Processual Civil Processo de

Conhecimento 3390 Seabra Fagundes Dos Recursos Ordinaacuterios em Mateacuteria Civil p

150 Marcos Afonso Borges Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil 2264

36 Muitos a compreendiam como jaacute inserida nos conceitos de contradiccedilatildeo e Obscuridade

como a Professora Sonia Marcia Hase de Almeida Baptista em sua obra dos Embargos de

Declaraccedilatildeo Ed RT 2 ed 1993 pp 115 e 116

37 Como para Dinamarco ob citada p 204 para quem 4 duacutevida eacute um estado Subjetivo de

difiacutecil verificaccedilatildeo ou comprovaccedilatildeo e duvidosa relevacircncia juriacutedica 38

Vide Toacutepico III

Construiacuteram a doutrina39

e a jurisprudecircncia40

a possibilidade de

interposiccedilatildeo quanto agraves decisotildees interlocutoacuterias41

e ateacute quanto aos meros despachos42

o

que natildeo eacute mais do que loacutegico uma vez que estes dois uacuteltimos provimentos judiciais a

par das sentenccedilas podem conter falhas devendo entatildeo serem reparadas mediante o

instituto em comento43

Obscuridade eacute tudo aquilo capaz de dificultar a compreensatildeo do

julgamento Pode cingir-se a todo o decisum ou a somente um de seus pontos

Natildeo haacute duacutevidas de que a obscuridade pode situar-se tanto na

fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo quanto na parte decisoacuteria uma vez que aquela eacute quem

muitas vezes leva agrave falta de clareza da decisatildeo

Contradiccedilatildeo eacute quando no acoacuterdatildeo se incluem proposiccedilotildees entre si

inconciliaacuteveisrdquo44

Eacute um viacutecio da sentenccedila bem mais seacuterio do que a obscuridade

defendendo-se e recomendando-se ao julgador que a interprete com olhos vivos

equiparando-se-Ihe ainda incoerecircncias e incongruecircncias45

Jaacute a omissatildeo ocorre quando o juiz ou tribunal deixa de apreciar ponto

sobre o qual deveria pronunciar-se expliacutecitando-se nas questotildees natildeo dirimidas

suscitadas pela parte ou apreciaacuteveis ex-offiacuteciacuteo46

Revestem-se os embargos hoje de efeito apenas interruptivo47

expressamente previsto em lei (art 538 caput do CPC) Tal efeito eacute aplicado em

relaccedilatildeo a todas as partes do processo e natildeo apenas ao embargante (ainda no mesmo

artigo supra mencionado) Acabaram-se assim as duacutevidas de interpretaccedilatildeo relativamente

ao efeito suspensivo no que concerne agrave contagem dos prazos para as partes -

39

Oviacutedio Batista ob citada p 381 Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery em Coacutedigo

de Processo Civil Comentado 2 ed Editora Revista dos Tribunais p 965 Sergio Bermudes A

Reforma do Coacutedigo de Processo Civil Saraiva p 101 Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob

citada 40

RT 561137 JT A 66178 11455 12159 (Apud Theotocircnio Negratildeo em seu Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo Processual em Vigor 27 ed art 535 nota 11e p 412) ainda JTA 68142682747484 e 12159 (Apud Nelson Nery Junior in Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil citada anteriormente p 967

41 Moniz de Aragatildeo ob citada nega a possibilidade de interposiccedilatildeo quanto agraves interlocutoacuterias e

aos despachos dizendo ainda ser impossiacutevel qualquer concessatildeo Para ele o instrumento

adequado seria o pedido de esclarecimentos Pennissa venia entende-se hoje tal raciociacutenio no

tocante agraves interlocutoacuterias como superado Acreditamos natildeo ter como de fato natildeo tem o

pedido de esclarecimentos o alcance que os embargos declaratoacuterios podem vir a ter (a

modificaccedilatildeo da decisatildeo) 42

Conforme o mesmo Sergio Bermudes A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil p citada 43

O que natildeo afasta a figura do pedido de esclarecimentos mas apenas garante a faculdade dada agrave parte para evitar a preclusatildeo temporal em caso de o julgador natildeo acolher os ditos esclarecimentos (Cf Oviacutedio Batista ob citada p 381) 44

Cf Paacutedua Nogueira espelhando-se em Joseacute Carlos Barbosa Moreira - ob citada p 8 45

Cf Moniz de Aragatildeo ob citada p 16

46 Vide a respeito o Toacutepico VI

47 Natildeo tem efeito devolutivo pois natildeo devolve o conhecimento da mateacuteria a um oacutergatildeo de

jurisdiccedilatildeo ad quem

diferenciada ou natildeo

VI - OUTRA FUNCcedilAtildeO DOS EMBARGOS DECLARA TOacuteRIOS

Natildeo haacute que se olvidar que outra funccedilatildeo dos embargos decorrente do

inciso 11 do art 535 bem como da necessidade do afunilamento dos recursos junto ao

Superior Tribunal de Justiccedila e ao Supremo Tribunal Federal seja a de

prequestionamento

Com efeito a teor das Suacutemulas 28248

e 35649

do STF50

necessaacuterio se

faz o prequestionamento - que eacute a provocaccedilatildeo do oacutergatildeo jurisdicional para que se

pronuncie sobre dado assunto - para interposiccedilatildeo de recursos especiais e

extraordinaacuterios ventilando-se a quaestio iuris federal ou constitucional suscitada sob

pena de seu natildeo conhecimento por aqueles Excelsos Pretoacuterios

VII - DA PROBLEMAacuteTICA DA INFRINGEcircNCIA E

EMBARGOS MERAMENTE PROTELATOacuteRIOS (COMO REPRIMI-

LOS)

VII1 - DO ESGOTAMENTO DA ATIVIDADE

JURISDICIONAL

A primeira dificuldade a ser explanada por conta do presente toacutepico

adveacutem da norma inserta no art 463 vg

Ao publicar a sentenccedila de meacuterito o juiz cumpre e acaba o oficio

jurisdicional soacute podendo alteraacute-Ia

I - para lhe corrigir de oficio ou a requerimento inexatidotildees

materiais ou lhe retificar erros de caacutelculo

II - por meio de embargos de declaraccedilatildeo

Com efeitos parecem despiciendos maiores comentaacuterios sobre a

plausibilidade de o juiz ou tribunal (a disposiccedilatildeo retro mencionada deve ser entendida

extensivamente) voltar a rever (ainda que para corrigir) um seu julgado

48

ldquoEacute inadmissiacutevel o recurso extraordinaacuterio quando natildeo ventilada na decisatildeo recorrida a questatildeo federal suscitada

49

O ponto omisso da decisatildeo sobre o qual natildeo foram opostos embargos declaratoacuterios natildeo

pode ser objeto de recurso extraordinaacuterio por faltar o requisito do prequestionamento 50

Aplicaacuteveis subsidiariamente e com menor rigor no Superior Tribunal de Justiccedila

Por ser assim pode o magistrado ou oacutergatildeo fracionaacuterio voltar a atuar no

feito na hipoacutetese do inciso I e nas do inciso II

Afunda portanto qualquer entendimento no sentido de obstaculizar

com fulcro no caput do artigo ora em estudo a infringecircncia nos embargos declaratoacuterios

porquanto que em sede de interpretaccedilatildeo aconselha-se prevalecer a cabeccedila da norma em

detrimento dos incisos e aquela proacutepria abre em sua segunda parte as exceccedilotildees para a

sistematizaccedilatildeo do que se defende aqui

Cabe definir sim a extensatildeo das hipoacuteteses em que os embargos

declaratoacuterios podem incidir bem como dos seus efeitos em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

impugnada

VII2 - RETRATACcedilAtildeO DO JULGADOR POSSIBILIDADE OU

NAtildeO DE FAZEcirc-LA

Decorrente da possibilidade anterior eacute a abertura para que o magistrado

verificando que natildeo mais subsistem as razotildees de seu convencimento - examinadas as

alegaccedilotildees feitas pela parte em embargos de declaraccedilatildeo e desde que suficientemente

ciente disso - prolate nova decisatildeo mais condizente com o direito

Sabe-se que dentro do proacuteprio Coacutedigo de Processo Civil eacute dado ao

magistrado retratar-se de sua decisatildeo (vide hipoacutetese no agravo de instrumento arts 523

sect 2deg e 529 - que no caso eacute interlocutoacuteria portanto natildeo terminativa do feito) bem como

nas hipoacuteteses de relaccedilatildeo juriacutedica continuada em havendo modificaccedilotildees no estado de

fato ou de direito ou em outros casos previstos na legislaccedilatildeo (conforme art 471 I e li

do mesmo diploma legal) o qual o exemplo mais claacutessico eacute o da sentenccedila proferida em

accedilatildeo de alimentos

Aqui certamente entra o argumento dos que defendem de maneira

arguta o principio da seguranccedila das relaccedilotildees juriacutedicas

Eacute bem verdade que no paiacutes onde prepondera a litigacircncia como regra e

natildeo como exceccedilatildeo pensa-se de logo caso tenhamos os embargos declaratoacuterios

literalmente como recurso na enxurrada destes para impugnar decisotildees 1deg) por que o

mesmo pode teoricamente falando ser interposto natildeo infinitamente mas vaacuterias vezes

2deg) que dado o seu efeito interruptivo prolongaria-se demais a anaacutelise da decisatildeo pelo

oacutergatildeo ad quem

De maneira inversa entendemos que a proacutepria lei e a doutrina mais

autorizada jaacute prevecircem as soluccedilotildees

Para o primeiro oacutebice a proacutepria lex (art 538 do Diploma Processual

Civil) autoriza ao julgador verificando serem os embargos protelatoacuterios a aplicaccedilatildeo de

multa de 1 sobre o valor da causa Em caso de reiteraccedilatildeo a multa eacute elevada a 10

condicionando-se a interposiccedilatildeo de qualquer outro recurso ao depoacutesito do valor

respectivo

Ora se se passa a entender os embargos declaratoacuterios como recurso de

lege lata51

o raciociacutenio eacute esse _ logicamente a comprovaccedilatildeo do depoacutesito seraacute tambeacutem

necessaacuteria ateacute mesmo no caso de interposiccedilatildeo de novos embargos Acreditamos assim

que nem todo litigante vai querer embargar inadvertidamente a menos que o valor da

causa seja iacutenfimo

Aqui abrem-se outras vertentes se o valor da causa eacute iacutenfimo o que se

faz

Sabemos que haacute o instrumento juriacutedico previsto para resoluccedilatildeo de tal

problema que eacute a impugnaccedilatildeo ao valor da causa52

devendo serem as partes zelosas para

com esse aspecto

Outrossim em caso de inflaccedilatildeo galopante conquanto estejamos com a

mesma controlada essa realidade era ateacute bem pouco tempo presente o que nos faz

sempre repensaacute-Ia - como seria a atualizaccedilatildeo desse valor da causa

Natildeo vemos outra alternativa senatildeo que a contadoria judicial proceda a

essa atualizaccedilatildeo a evitar-se maiores incidentes praacuteticos

Cabem ainda as sanccedilotildees previstas para a litigacircncia de maacute-feacute (countemp of

court) previstas nos arts 16 a 18 do CPC devendo o magistrado aplicaacute-Ias quando

tiver certo da ausecircncia de boas intenccedilotildees da parte com todo o vigor da lei

Outra opccedilatildeo - talvez a que nos pareccedila mais adequada - para a prevenccedilatildeo

da interposiccedilatildeo desregrada de embargos declaratoacuterios visando a postergaccedilatildeo do feito

aponta-nos o Mestre Cacircndido Rangel Dinamarco para quem MA modificaccedilatildeo do

julgado em casos assim eacute absolutamente ilegiacutetima quando feita sem a parte

embargada em contraditoacuterio Ainda que nada disponha a lei a respeito a observtincia

do contraditoacuterio nesses casos eacute de rigor constitucional e viola a garantia do

contraditoacuterio do julgamento feito sem oportunidade para a resposta do embargado53

(grifado)

Vemos assim acompanhando o raciocinio do mencionado autor como

perfeitamente possiacutevel a ouvida da parte contraacuteria quando sinta o julgador que a

decisatildeo merece ser reformada essa possibilidade por meio de embargos declaratoacuterios eacute

a exceccedilatildeo como salientaremos adiante

Em sendo assim jaacute seria outro fundamento para o natildeo conhecimento de

embargos manifestamente protelatoacuterios

Consequumlecircncia do antes exposto seria a soluccedilatildeo tambeacutem do problema do

efeito interruptivo (o 2deg apresentado) causando o adiamento anormal da interposiccedilatildeo do

recurso comumente admitido (apelaccedilatildeo recurso especial entre outros) Os causiacutedicos

das partes sucumbentes por prudecircncia natildeo os interporiam desmedidamente sob pena

de seu natildeo conhecimento e subsequumlente natildeo interrupccedilatildeo do prazo para novos recursos

VII3 - PODE O JUIacuteZO A QUO SINGULAR SUBSUMIR-SE NA

COMPETEcircNCIA DEVOLUTIVA DO OacuteRGAtildeO FRACIONAacuteRIO AD QUEM E

COMO INTERPRETAR ISSO Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DO DUPLO GRAU DE

51

Art 496 IV do CPC 52

A ser processada no prazo da defesa e na forma do art 261 do Regimento Processual 53

Ob citada p 206

JURISDICcedilAtildeO

Outro problema que vem agrave tona eacute saber se o juiz ou tribunal ao aceitar o

efeito transformador dos embargos declaratoacuterios - em sede de sentenccedilas54

terminativas

com ou sem meacuterito - natildeo estaria retardando a possiacutevel devoluccedilatildeo do julgamento ao

oacutergatildeo ad quem

Data vecircnia entendemos que a negativa se impotildee Em verdade ao

aceitar-se tais efeitos aos embargos declaratoacuterios estaacute o proacuteprio magistrado (dentro

sempre de seu prudente arbiacutetrio) reconhecendo o erro (crasso) que cometeu Seria justo

e necessaacuterio ter a parte que submeter-se obrigatoriamente ao recurso para o oacutergatildeo

superior para que visse a manifesta ilegalidade remediada

Temos conhecimentos de que modernamente vem o direito processual se

constituindo mais do que nunca a par de sua autonomia como ciecircncia juriacutedica em um

instrumento para consecuccedilatildeo dos direitos ofendidos das partes e mais

contemporaneamente para a composiccedilatildeo amigaacutevel dos litiacutegios

Expoente dessa nova tendecircncia processual Cacircndido Rangel Dinamarco

com proficuidade resume As ondas renovatoacuterias caracterizadoras das novas

tendecircncias do direito processual soacute se mostram concretas e uacuteteis na medida em que os

ideais de ampliaccedilatildeo da tutela jurisdicional se traduzam em teacutecnicas capazes de

melhorar os resultados apresentados aos consumidores do serviccedilo que satildeo os

membros da populaccedilatildeordquo55

Assim eacute cediccedilo que por exemplo uma apelaccedilatildeo (e a hipoacutetese vale para

quase todos os outros recursos com algumas mudanccedilas) leva para ser processada e

julgada um lapso temporal por demais longo Quanto de tempo e custos a parte e o

Judiciaacuterio poderiam ver poupados a adotar-se uma interpretaccedilatildeo mais aberta finaliacutestica

do objetivo do processo para os embargos declaratoacuterios

Sim diga-se isso pois embora improacutepriordquo56

o prazo de 5 (cinco) dias

do art 537 1- parte para que o juiz ou oacutergatildeo colegiado decida os embargos ainda

assim eacute um prazo bem menor do que o de uma apelaccedilatildeo ou mesmo um agravo - hoje

54

Nas interlocutoacuterias haacute de se analisar caso a caso a real necessidade da interposiccedilatildeo dos

embargos com efeitos infringentes uma vez que ao agravo de instrumento pode ser conferido o

efeito suspensivo em Iiminar bem como vecircm entendendo pioneiramente alguns pretoacuterios a

possibilidade da concessatildeo in li mine do pedido denegado (hipoacutetese de soluccedilatildeo para os casos

de decisotildees interlocutoacuterias denegatoacuterias que natildeo foram previstas pelo art 527 11 do CPC)

cientes que estatildeo estes colegiados do moderno espiacuterito de celeridade e natildeo prejuiacutezo agraves partes de

que veio encoberta a reforma (o Tribunal Regional Federal da 5 Regiatildeo eacute um honroso exemplo

conforme asseverou o eminente Professor e Juiz Federal potiguar Francisco Barros Dias em

Curso ministrado no Auditoacuterio da Justiccedila Federal de 07 a 11 de outubro de 1996) Outrossim

em pronunciamentos bastante recentes vecircm alguns Desembargadores do Tribunal de Justiccedila do

Rio Grande do Norte tambeacutem adotando esse entendimento na vanguarda do moderno direito

processual amparado na doutrina de Neacutelson Nery Juacutenior e Rosa Maria Andrade Nery in ob jaacute

citada 55

A Instrumentalidade das Formas 3 ed Malheiros p 227 56

Satildeo aqueles prazos em que a desobediecircncia natildeo leva a nada pois a lei natildeo prevecirc uma sanccedilatildeo

com efeito suspensivo possiacutevel

Nos tribunais a apresentaccedilatildeo deles seraacute sempre na sessatildeo subsequumlente

(CF 2- parte do artigo mencionado) ainda que saibamos que na maioria das vezes tal

natildeo aconteceraacute Mas o que se quer ressaltar eacute a ideacuteia de agilidade com que este

instrumento juriacutedico sui generis de impugnaccedilatildeo das decisotildees pode revestir-se

Nem se diga tambeacutem que esse raciociacutenio eacute um oacutebice ao princiacutepio do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo (para Rui Portanova em trabalho que merece louvores melhor

seria dizecirc-Io duplo grau miacutenimo pois no direito paacutetrio haacute uma infindaacutevel possibilidade

de recursos57

) - aqui entendido como acesso aos diferentes graus de jurisdiccedilatildeo - uma

vez que seraacute mantida a possibilidade de acesso ao juiacutezo imediatamente superior (pelos

recursos de praxe)

Suponhamos que a parte entre com os embargos declaratoacuterios aspirando

que lhe sejam conferidos efeitos infringentes (de maneira direta58

ou reflexatildeo59

o juiz

retrata-se da decisatildeo (entendemos necessaacuterio como jaacute dito a ouvida da parte contraacuteria

em obseacutequio ao contraditoacuterio) Eacute dado a parte antes beneficiada e agora prejudicada

com o provimento jurisdicional interpor novos embargos de declaraccedilatildeo infringentes em

seus efeitos (esclareccedila-se contudo que essa oportunidade soacute deve ser concedida uma

uacutenica vez a cada uma das partes e em hipoacuteteses excepcionais)

Essa nova interposiccedilatildeo tanto pode ter a pretensatildeo honesta de mais uma

vez mudar a decisatildeo (hipoacutetese que quer parecer-nos pouco provaacutevel) ou de apenas

protelar o andamento do feito ou ainda de realmente visar esclarecer o julgado nas

hipoacuteteses do art 535 _ natildeo devendo serem logicamente admitidos

Ora natildeo haacute problema No primeiro caso o juiz se pronunciaraacute (se jaacute natildeo

o fez) no prazo de lei que eacute bastante exiacuteguo confirmando ou mudando (essa hipoacutetese

queremos deixar para o abstrato por que natildeo poderia o Juiz estar sempre se retratando

o que soacute seria aceitaacutevel uma uacutenica vez) a sua decisatildeo daiacute por diante entendendo

protelatoacuterios - o que evitaria a utilizaccedilatildeo leviana do instituto - quaisquer novos

embargos com esse escopo (sujeitas tais interposiccedilotildees agrave regra do art538)

Jaacute no caso da interposiccedilatildeo de embargos pela parte outrora beneficiada

unicamente e para protelar o feito caberaacute ao adequado preparo intelectual do

magistrado repelir a situaccedilatildeo como visto no subtoacutepico anterior

Aiacute entra o prudente arbiacutetrio do juiz pois se modificou - essa eacute sempre a

exceccedilatildeo repita-se - a sentenccedila o fez estribado em razotildees bastante fortes60

natildeo seria

consoante com o sistema processual vigente61

a sua retrataccedilatildeo indefinida

57 Cf ob citada p 265 58

Entendemos de forma direta quando a intenccedilatildeo da parte for manifestamente de atacar o

meacuterito objetivando expressamente a reforma da decisatildeo 59

A maneira reflexa como a vemos daacute-se quando a parte tenta intenta com os embargos

realmente visando afastar obscuridade eliminar contradiccedilatildeo ou suprir omissatildeo da forma como

permite o art 535 do CPC soacute que esses viacutecios estatildeo tatildeo arraigados e maculam tanto a decisatildeo

que o acolhimento dos embargos transmuda totalmente seu teor 60

Fundadas no prejuiacutezo manifesto que a(s) parte(s) poderiam ter com a decisatildeo originaacuteria 61

Se bem que a tiacutetulo meramente exemplificativo ao recurso de agravo eacute dada essa

possibilidade em que o juiz pode retratar-se de sua decisatildeo (tanto na hipoacutetese do retido como no

de instrumento) podendo fazecirc-Io uma uacutenica vez quando do andamento do recurso Caso a parte

Cabe ainda mais uma vez deles natildeo conhececirc-los o julgador quando

forem - manifestamente e fora de qualquer duacutevida protelatoacuterios considerando-se natildeo

interrompido o prazo para outros recursos62

Eacute sempre bom frisar que esse efeito infringente natildeo pode ser entendido

como regra mas a exceccedilatildeo O que se pretende eacute que o julgador conheccedila desses

embargos de declaraccedilatildeo excepcionaisrdquo com o espiacuterito aberto63

expurgando-se dogmas

e maniqueiacutesmos quanto ao ultrapassado efeito complementar e integrador dos

embargos entendendo-os sim como meio idocircneo para reforma das decisotildees em alguns

casos especiais em que o error in judicando ou o error in procedendo forem gritantes

Acreditamos que essa eacute uma ideacuteia a ser realmente pensada com muita

parcimocircnia

VIII - DAS HIPOacuteTESES DE MODIFICACcedilAtildeO ALBERGADAS PELA

JURISPRUDEcircNCIA

Tecircm-se entendido como possiacutevel a interposiccedilatildeo de embargos com efeitos

infringentes nas seguintes hipoacuteteses64

10) erro manifesto de julgamento65

20) quando

houver erro material no exame dos autosrdquo66

30) erro evidente quanto agrave tempestividade

do recurso natildeo conhecido67

agrave intempestividade de recurso conhecido68

agrave qualificaccedilatildeo

juriacutedica do fato69

a formalidade essencial natildeo observada nos autos70

a fato relevante

com repercussatildeo sobre a conclusatildeo do julgado71

a recurso conhecido por equiacutevoco

contraacuteria sinta-se prejudicada teraacute de interpor outro recurso se quiser atacar a decisatildeo jaacute

retratada Vide a respeito os arts 523 sect 2deg e 529 todos do Coacutedigo de Processo Civil

62 Haacute entendimentos mutatis mutandis (pois datam de antes da lei

895094) nesse sentido natildeo interrupccedilatildeo do prazo - quando os embargos satildeo intempestivos ou incabiacuteveis ou ainda interpostos contra decisatildeo que em termos claros rejeitou outros embargos de declaraccedilatildeo cf RT J 150327 e JTA 118394 colhido por Theotocircnio Negratildeo ob citada art 538 notas 2 e 4 p 416 (A jurisprudecircncia eacute anterior agrave reforma da lei)

63

Assim jaacute o disse o Indigitado Ministro Marco Aureacutelio no Recurso Extraordinaacuterio nordm 111787

in RTJ 138249

64

Cf o prestigiado Theotocircnio Negratildeo ob citada nota 1 Ob ao art 535 pp 410-411 65

RSTJ 39289 66

STJRJ18554 67

5T J_3a Turma REsp 3994-MS reI Min Nilson Naves j 21691 receberam os embs vu

DJU 12891 p 10553 l col STJ-4 Turma REsp 6739-BA rei Min 5aacutelvio de Figueiredo j 13891 deram provimento VU DJU 9991 p 12207 l col em ST J-4 Turma REsp 13100GO rei Min Athos Carneiro j 29692 deram provimento VU DJU 3892 p 11323 2 col em STF-RT 600238 RT 618194 633163 RJT JESP 5025 96366 JTA 38389 55168 5931394352 Lex-JTA 73257 74215 BoI AASP 1290213 1436154 RP 39317 68

ST J-1 Turma AG 23785-5-SP-AgRg-EDcl rei Min Demoacutecrito Reinaldo j 91292 receberam os embs VU DJU 15293 p 16702 col em 69

JTA 93385 70

RJT JERGS 168153 71

RTFR 15201 RP 57253 JT A 108287 ST J-4 Turma REsp 19564-SP rei Min Barros Monteiro j 18592 natildeo conheceram VU DJU 22692 p 9765 2 col em ST J-1 Seccedilatildeo MS 913-DF reI Min Ameacuterico Luz j 121191 homologaram a desistecircncia vu DJU

manifesto72

dentre outras hipoacuteteses

Nelson Nery Juacutenior73

expressamente indica as seguintes hipoacuteteses a)

correccedilatildeo de erro material manifesto b) suprimento de omissatildeo c) extirpaccedilatildeo de

contradiccedilatildeo

Mas entende ainda o autor possiacutevel contra decisotildees ultra petita74

erro

manifesto75

e erro de fato76

Em hipoacuteteses bastante assemelhadas Antonio de Paacutedua Ferraz

Nogueira77

indica a possibilidade de efeitos infringentes nos embargos declaratoacuterios

quando a) a apelaccedilatildeo ou agravo natildeo forem conhecidos em face de equivocada afericcedilatildeo

do prazo de interposiccedilatildeo ou por qualquer erro material b) quando houver omissatildeo de

decisatildeo quanto a questatildeo que se pretende seja objeto de recursos especial e

extraordinaacuterio - de que jaacute se falou - podendo ensejar outra conclusatildeo de modo a

modificar o aresto c) houver contradiccedilatildeo inadvertida que se mantida macularaacute o

julgado e contrariaraacute o sentido do fundamento da decisatildeo

Veja-se que os casos exemplificados satildeo bastante abrangentes A tiacutetulo

meramente confirmatoacuterio entendemos que os embargos declaratoacuterios com efeitos

infringentes podem ser interpostos sempre que houver um erro grave de um

determinado provimento jurisdicional78

De lembrar ainda que o STF por natildeo dispor de outros recursos para suas

decisotildees sempre aceitou com largueza os embargos de declaraccedilatildeo com efeitos

modificativos79

IX - CONCLUSAtildeO

Ex positis concluiacutemos

1deg) Os embargos de declaraccedilatildeo satildeo formas

recursais anocircmalas inseridas pelo legislador no Tiacutetulo dos Recursos do

CPC mais pela similitude do que pela natureza

23991 p 17503 2 col em ST J-4 Turma REsp 3227-ES-EDcl rei Min Athos Cameiro j 6891 deram provimento VU DJU 23991 p 130852 col em STJ-2 Turma REsp 13667-SP rei Min Ameacuterico Luz j 21291 VU DJU 3292 p 455 1 col em 72

ST J-RT 670182 73

Comentaacuterios ob citada pp 965-966 74

RSTJ 50556 75

STJ 1 T EDclREsp 47206-7-DF rei Min Demoacutecrito Reinaldo VU j 821995 DJU

631995 p 4319 76

JTACivSP 110256 108287 100178933858631853168 RT 562146 RTJ 57145

Lex-JT A 105352 RJT JRS 69136 77

Ob citada 78

Exemplos praacuteticos ocorridos com este estudioso foram o de acolhimento pelo magistrado de oficio de prescriccedilatildeo intercorrente em sede de direitos patrimoniais (a despeito de norma legal em sentido contraacuterio e amplos entendimentos jurisprudenciais no mesmo sentido) bem como de errocircnea extinccedilatildeo total do feito quando se requereu a desistecircncia em relaccedilatildeo a apenas um dos demandados 79

Vide para maiores esclarecimentos Thetocircnio Negratildeo ob citada na nota 3 ao art 337 do

Regimento Interno do STF agraves pp 1269-1270 Vide ainda citadas pelo mesmo autor RT J

941167 E 114351

2deg) Satildeo previstos especificamente para integrar complementar ou

aclarear o julgador podendo em alguns desses casos modificar o julgado

3deg) Quando assim o fazem acreditamos que

transformam-se efetivamente e no contexto em que conhecemos em

recurso

4deg) Haacute uma tendecircncia bastante forte na doutrina e na jurisprudecircncia de

aceitaacute-Ios com efeitos infringentes em casos de erros absurdos em decisotildees

(terminativas ou natildeo) e ateacute mesmo em despachos

5deg) O julgador deve deles conhececirc-Ios com o espiacuterito acolhedor sempre

levando em conta a interpretaccedilatildeo finalista do processo como instrumento adequado a

atingir-se a composiccedilatildeo dos conflitos e ainda e talvez precipuamente o fator tempo a

que a parte se submeteraacute aguardando o processamento de um verdadeiro recurso que

demande mais complexidade quando em determinadas hipoacuteteses o mesmo julgador

poderia decidir a questatildeo de maneira bastante satisfatoacuteria

6ordm) os ditos efeitos infringentes podem dar-se de maneira reflexa (quando

satildeo os embargos utilizados na forma e para os efeitos previstos no art 535) ou

diretamente (vislumbrando-se claramente a modificaccedilatildeo do decisum ainda que tambeacutem

supedaneados no art 535)

7ordm) A modificaccedilatildeo dos efeitos quando assim feita de forma direta deve

necessariamente passar pelo crivo do contraditoacuterio

8deg) Haacute de se tomar paracircmetros (cabendo ao prudente arbiacutetrio e saber do

magistrado) para essa substancial mudanccedila do julgado ou seja o caso em concreto deve

ser verdadeiramente ensejador de tal medida

9ordm) ademais disso agraves partes caberaacute verificarem a viabilidade de tal

atitude adequando-a sob as penas do art 538 do natildeo conhecimento do recurso

meramente protelatoacuterio (com a consequumlente natildeo interrupccedilatildeo do prazo para a

interposiccedilatildeo de outros recursos) e ainda da litigacircncia de maacute-feacute

Pela propriedade de conteuacutedo achamos por bem transcrever o

ensinamento do preclaro Antonio Carlos de Arauacutejo Cintra ao afirmar que na

potencialidade proacutepria dos embargos de declaraccedilatildeo estaacute contida a forccedila de

alterar a decisatildeo embargada na medida em que isto seja necessaacuterio para atender

agrave sua finalidade legal de esclarecer a obscuridade resolver a contradiccedilatildeo ou

suprir a omissatildeo verificada naquela decisatildeo Qualquer restriccedilatildeo que se oponha a

essa forccedila modificativa dos embargos de declaraccedilatildeo nos estritos limites

necessaacuterios agrave consecuccedilatildeo de sua finalidade especifica constituiraacute artificialismo

injustificaacutevel que produziraacute a mutilaccedilatildeo do institutordquo80

Ora se ficou demonstrado que mesmo quando os embargos cumprem

sua funccedilatildeo especiacutefica (esclarecer a obscuridade resolver a contradiccedilatildeo e suprir a

omissatildeo) eacute possiacutevel a alteraccedilatildeo substancial do julgado eacute inegaacutevel que em tais casos

assumam os embargos a natureza de recurso tanto mais quando tecircm a intenccedilatildeo

manifesta de infringir-lhe o meacuterito

E se na espeacutecie de maneira natildeo intencional transmuda o julgado natildeo

soacute retificando-o mas ateacute mesmo invertendo paradoxalmente seu conteuacutedo eacute

plenamente aceitaacutevel que em decisotildees teratoloacutegicas - no sentido de prejuiacutezo

irreparaacutevel ou de natildeo razoabilidade de que a parte se submeta agrave interposiccedilatildeo de outros

recursos que demandem maior tempo de processamento - possa o oacutergatildeo julgador

aceitaacute-Ios com efeitos infringentes

80

Apud Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob citada

Ao permitir tal assertiva entendemos que o princiacutepio da infringecircncia dos

embargos declaratoacuterios em hipoacuteteses esdruacutexulas deve ser estendido (de maneira racional

e observando sempre o juiz o caso em concreto no particular) possibilitando agraves partes a

menor forma de prejuiacutezo atendo-se o processo para o atendimento do trinocircmio custo-

tempo-benefiacutecio da prestaccedilatildeo jurisdicional pois como jaacute disse citado Ministro Marco

Aureacutelio a parte tem direito agrave entrega da prestaccedilatildeo jurisdicional de forma clara e

precisa Cumpre ao oacutergatildeo julgador apreciar os embargos de declaraccedilatildeo com o

espiacuterito aberto entendendo-o como meio indispensaacutevel agrave seguranccedila nos

provimentos judiciaisrdquo81

Xndash REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Alvim J E Carreira Accedilatildeo Monitoacuteria e Temas Polecircmicos da Reforma

Processual Dei Rey Belo Horizonte 1995

Aragatildeo E D Moniz de Embargos de Declaraccedilatildeo RT 63311

Baptista Sonia M de Almeida Embargos de Declaraccedilatildeo - Inovaccedilotildees da

Reforma RP 8027

Bermudes Sergio A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil Saraiva 2-

ed Satildeo Paulo 1996

Borges Marcos Afonso Embargos de Declaraccedilatildeo - Omissatildeo - Efeito

Modificativo RP 51191

Dinamarco Cacircndido Rangel

A Instrumentalidade do Processo 3ordf ed Malheiros Satildeo Paulo 1993

A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil 3ordf ed Malheiros Satildeo Paulo

1993

Fadei Sergio Sahione Coacutedigo de Processo Civil Comentado Tomo III J

Kofino Editor 1974

Marques Joseacute Frederico Manual de Direito Processual Civil Vol 111 -

Processo de Conhecimento 28 parte Saraiva 2

8 ed

Negratildeo Theotocircnio Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo Processual

em Vigor 27 ed Saraiva Satildeo Paulo 1996

Nery Junior Nelson

81

Cf nota 63

Aspectos da Teoria Geral dos Recursos no Processo Civil RP 51155

Reflexotildees Sobre o Sistema dos Recursos Ciacuteveis na Reforma Processual

de 1994 RP 79118

Nery Junior Nelson Nery Rosa Maria Andrade Coacutediao de Processo

Civil Comentado 28 ed Editora Revista dos Tribunais SAo Paulo 1996

Nogueira Antonio de Paacutedua Ferraz Princiacutepios Fundamentais dos

Embargos de Declaraccedilatildeo (Com as Alteraccedilotildees da Lei 895094) RP 777

Portanova Rui Princiacutepios do Processo Civil Livraria do Advogado

Editora Porto Alegre 1995

Silva Ovidio A Batista da Curso de Processo Civil Vol I - Processo de

Conhecimento 3ordf ed Sergio Antonio Fabris Editor Porto Alegre 1996

Theodoro Juacutenior Humberto Theodoro Curso de Direito Processual

Civil Vol I - Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento 12

ed Editora Forense Rio de Janeiro 1994

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO REQUISITO EMBARACcedilOSO Agrave

ATIVIDADE POSTULA TOacuteRIA

Joatildeo Eduardo Ribeiro de Oliveira

Concluinte do Curso de Direito da UFRN

Sumaacuterio I - A reforma atual e o art 282 do CPC II - As tendecircncias

da accedilatildeo no decorrer do tempo III Lentidatildeo processual e esquecimento do pedido de

citaccedilatildeo IV - Situaccedilotildees aparentemente discutiacuteveis VA citaccedilatildeo estatal VI -

Referecircncias bibliograacuteficas

I A REFORMA ATUAL E O ARTIGO 282 DO CPC

A preocupaccedilatildeo em se adaptar as normas juriacutedicas ao clamor popular

com a real satisfaccedilatildeo jurisdicional culminou na extensa e complexa revisatildeo do Coacutedigo

de Processo Civil

O volume excessivo de contendas nos diversos juiacutezos do paiacutes e o

insuficiente nuacutemero de magistrados terminam por ensejar modificaccedilotildees na legislaccedilatildeo

notada mente a processual com o propoacutesito de alcanccedilar a tatildeo pretendida efetividade do

processo

Nessa intenccedilatildeo foi formada a comissatildeo que realizaria o Anteprojeto de

Modificaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil (1985) Apesar da desaprovaccedilatildeo do referido

esboccedilo conseguiram esses estudiosos embasar a novel comissatildeo encarregada da difiacutecil

tarefa de reforma da regecircncia processual

De forma consentacircnea preferiram os notaacuteveis revisores fazer uma

reelaboraccedilatildeo descentralizada por meio de sucessivos projetos de lei que permitiram

uma raacutepida tramitaccedilatildeo do processo legislativo

Evitou-se o longo debate que seria travado se todo um anteprojeto fosse

enviado ao Legislativo como ocorreu com a tentativa de criaccedilatildeo do novo Coacutedigo Civil

(Projeto de lei 63475) Aleacutem do mais permaneceu iacutentegra a estrutura do CPC o que

favoreceraacute a compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos novos textos legais insertos

Alteraccedilotildees das mais significantes revolucionaram o campo processual

comeccedilando a tornaacute-Io mais que um centro de tecnicismo um processo de resultados1

Assim eacute a possibilidade de efetivaccedilatildeo antecipada do direito pleiteado segundo os

moldes do artigo 273 do CPC Nesse contexto pode-se hoje auferir o beneficio

provindo do mandamento judicial logo na fase de apreciaccedilatildeo inicial da peccedila

postulatoacuteria se ultrapassados os requisitos preacutevios e presentes as exigecircncias para

antecipaccedilatildeo da satisfaccedilatildeo

O alargamento do repuacutedio agrave deslealdade das partes igualmente foi tema

da restauraccedilatildeo legislativa modernizando-se a sistemaacutetica de repressatildeo agrave litigacircncia de

maacute-feacute com a aplicaccedilatildeo do countemp of court (disciplina dos atos atentaacutetorios agrave

dignidade da Justiccedila) e de condenaccedilotildees civis - as astreintes de origem francesa - (art

18 CPC)

Tambeacutem foram disciplinadas pequenas incorreccedilotildees como a

desencontrada nomeaccedilatildeo dos procedimentos civis A Lei 924595 destinou o

procedimento sumariacutessimo agraves causas de menor complexidade quando alterou os

dispositivos 275 a 281 do CPC O termo laudo passou a ser especifico do perito ou

1 Cacircndido Rangel Dinamarca A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil p 20

seja do agente oficial de esclarecimento teacutecnico enquanto que o parecer seraacute

nomenclatura do exame pericial realizado pelos assistentes das partes (art 433 do CPC

modificado pela Lei 845592)

Outra finalidade foi tornar alguns procedimentos mais ceacuteleres e isentos

de certos estorvos De tal forma ocorreu por exemplo com a execuccedilatildeo das obrigaccedilotildees

de fazer e natildeo fazer com a accedilatildeo de consignaccedilatildeo com os embargos de declaraccedilatildeo e

recentemente com o agravo sofredor de total remodelagem com o advento da Lei

913995

Essas mudanccedilas provecircm da concepccedilatildeo majoritaacuteria de que os modernos

caminhos do Direito devem tender sempre para a pacificaccedilatildeo social O processo natildeo

mais basta por si soacute reduzido a uma profunda anaacutelise cientiacutefica direcionada para o

aprimoramento proacuteprio sem a visatildeo funcional que atualmente eacute aplicada

Hoje com essa evoluccedilatildeo conceitual muitas praacuteticas do cotidiano

judicial estatildeo sendo revitalizadas seja pela interpretaccedilatildeo do julgador ou pela

recomposiccedilatildeo dos institutos processuais A desnecessidade de requisiccedilatildeo expressa de

citaccedilatildeo do demandado eacute um toacutepico a ser estudado dentro desse contexto

Entretanto antes das consideraccedilotildees centrais sobre o chamamento

explicito do reacuteu eacute importante para o desenrolar do tema a exatificaccedilatildeo do avanccedilo por

que passou o direito de accedilatildeo ateacute chegar ao momento presente

II AS TENDEcircNCIAS DA ACcedilAtildeO NO DECORRER DO TEMPO

Natildeo obstante a quase unacircnime confirmaccedilatildeo da dissidecircncia entre o direito

de accedilatildeo e o direito material tutelado ou seja da pretensatildeo pura de reivindicar um

beneficio concreto nem sempre tal clareza foi assente A possibilidade de intervenccedilatildeo

estatal para se evitar um confronto humano progrediu com o passar dos anos ateacute chegar

agrave fase atual de instrumento

Apoacutes a superaccedilatildeo do momento selvagem de resoluccedilatildeo dos conflitos

predominou o direito privado dos romanos no qual havia completa preponderacircncia dos

contratos (ou quase-contratos) sobre as relaccedilotildees da vida romana Decorrente dessa

concepccedilatildeo privatista accedilatildeo e direito substancial convergiram para um mesmo sentido O

direito de accedilatildeo era simplesmente e nada mais que o proacuteprio privileacutegio subjetivo agitado

A fase imanentista claacutessica ou sincreacutetica estava vigorando

Foi na Alemanha que se firmou o berccedilo da independecircncia da accedilatildeo

quando MUTHER WINDSCHEID e BUumlLLOW comeccedilaram a defender a diferenciaccedilatildeo

entre o direito agrave proteccedilatildeo do Estado e o beneficio material atribuiacutedo Do pensamento de

sincretismo passa-se a estabelecer a autonomia entre os dois ramos

Pregou WACH valendo-se das ideacuteias mutherianas a autonomia da accedilatildeo

como direito empreendido contra o Estado por ser este o responsaacutevel pela

concretizaccedilatildeo da paciacutefica convivecircncia humana Mas o direito de accedilatildeo somente se

tomaria existente se a prestaccedilatildeo jurisdicional fosse entregue ao postulante atraveacutes de

sentenccedila pois nesse momento estaria nascendo concretamente Foi nesses termos que o

supracitado estudioso concebeu a Teoria do Direito Concreto agrave Tutela

CHIOVENDA propugnou o destino do requerimento judicial incidente

sobre o reacuteu e natildeo contra o Estado Esse direito se configura como um poder atribuiacutedo ao

demandante na medida em que o reacuteu natildeo pode impedir o ingresso do autor em juiacutezo

da mesma forma que o mandataacuterio natildeo pode impedir que o mandante revogue a

procuraccedilatildeo2

2 Fernando da Costa Tourinho Filho Processo Penal voI 1 p 268

Posteriormente iniciou-se novo progresso cientiacutefico (PLOSZ e

DEGENKOLB) ao se conceber a subsistecircncia do direito de accedilatildeo natildeo soacute quando haacute uma

sentenccedila favoraacutevel mas tambeacutem pelo simples fato de existecircncia de interesse protegido

abstratamente pelo Direito MOACIR AMARAL DOS SANTOS explica Haacute pois

lugar para que se distingam dois interesses diversos o interesse tutelado pelo direito e o

interesse na tutela daquele pelo Estado3

O interesse na eliminaccedilatildeo dos empecilhos agrave fruiccedilatildeo de bens humanos

(chamado de secundaacuterio por MOACIR AMARAL DOS SANTOS) qualifica-se como o

direito subjetivo que viabiliza o interesse principal (aquilo que eacute desejado pelo homem e

que natildeo estaacute ao seu alcance)

Por isso eacute abstrata a pretensatildeo de ingresso judicial pois natildeo se

condiciona necessariamente agrave existecircncia efetiva de um direito subjetivo material ()

bastando que o sujeito do direito de accedilatildeo para exercecirc-Io se refira a um interesse

primaacuterio juridicamente protegido4

Entre a total ausecircncia de limites para a solicitaccedilatildeo jurisdicional e a

vinculaccedilatildeo estrita agrave procedecircncia da sentenccedila situou-se LIEBMAN reconhecendo o

exerciacutecio pleno do direito de accedilatildeo mas que eacute preciso o trespasse de certos requisitos

para o exame juriacutedico da lide

O entendimento do mestre se resume em suas proacuteprias liccedilotildees

Inconcebiacutevel eacute que se reconheccedila indistintamente como quer a teoria da accedilatildeo como

direito abstrato a toda e qualquer pessoa sem qualquer condicionamento o direito de

pedir a prestaccedilatildeo da tutela jurisdicional5

As lides alcanccedilam a possibilidade de apreciaccedilatildeo integral pelo Judiciaacuterio

atraveacutes do juiacutezo de admissibiacutelidade consoante ponderaccedilatildeo do Professor WALTER

NUNES DA SILVA JR O Oacutergatildeo Judicante soacute pode e deve se pronunciar acerca do

meacuterito da questatildeo se o titular da pretensatildeo satisfizer as condiccedilotildees da accedilatildeo e pressupostos

processuais6

Sem a presenccedila desses preacutevios condicionamentos o postulante manteacutem

a prerrogativa de ser ouvido pelo Estado mas natildeo de receber uma elaboraccedilatildeo

sentencial acerca do cabimento ou natildeo de seu direito Limita-se o ente estatal a afirmar

que a pretensatildeo natildeo pocircde ser analisada por carecircncia dos elementos imprescindiacuteveis a

uma examinaccedilatildeo mais complexa

Apoacutes constataccedilatildeo da viabilidade da accedilatildeo e do processo (atraveacutes da

averiguaccedilatildeo das condiccedilotildees da accedilatildeo e dos pressupostos processuais respectivamente) eacute

dado iniacutecio agrave investigaccedilatildeo profunda da Iiccedila

Diferencia-se nitidamente o exame inicial da lide da anaacutelise meritoacuteria

que redundaraacute na sentenccedila pois esta sobre tender para os valores de seguranccedila

juriacutedica e da Justiccedila eacute especifica e iacutendividualizante concernindo ao pedido e sua

fundamentaccedilatildeo Consequumlentemente como a implementaccedilatildeo da admissibilidade eacute

exigecircncia que atende ao principio da economia processual eacute ela de ser examinada

3 Moacir Amaral dos Santos Primeiras Linhas de Direito Processual

Civil vol 1 p 147 4 Moacir A dos Santos ibid p 148 5 Liebman apud Walter Nunes da Silva Juacutenior Condiccedilotildees da Accedilatildeo e Pressupostos Processuais

p 75 6 Ob cit p 70

sempre antes da fundamentaccedilatildeo7

Frutos da nova geraccedilatildeo autonomista nasceram no Brasil os coacutedigos de

1939 e 1973 este uacuteltimo o atual regimento em termo de processo civil A marca

peculiar dessas criaccedilotildees juriacutedicas foi o extremo tecnicismo imposto pela necessidade de

se acentuar a independecircncia processual

Atingida a perfeita conformaccedilatildeo da existecircncia independente da seara

processual foi originada uma nova revitalizaccedilatildeo no meio juriacutedico mundial

enxergando-se o processo mais como meio de apaziguamento social A supra-

importacircncia das regras procedimentais cedeu espaccedilo para os objetivos extriacutensecos do

instrumentalismo

A instrumental idade do processo se solidifica no pensamento de um de

seus maiores mentores CAcircNDIDO RANGEL DINAMARCO quando diz Eacute preciso

aleacutem do objetivo puramente juriacutedico da jurisdiccedilatildeo encarar tambeacutem as tarefas que lhe

cabem perante a sociedade e perante o Estado como tal8 O processualista inicia o

abandono da visatildeo introspectiva para despertar uma intensa interferecircncia social

III LENTIDAtildeO PROCESSUAL E ESQUECIMENTO DO

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO

Eacute sabido que natildeo cabe ao julgador iniciar a atividade jurisdicional em

desabono da movimentaccedilatildeo da parte Resguardando-se os princiacutepios da igualdade e da

imparcialidade eacute que sobressai o princiacutepio de que cabe ao interessado trazer a juiacutezo suas

razotildees a identificaccedilatildeo (qualificaccedilatildeo) da pessoa a suportar os efeitos de uma provaacutevel

decisatildeo judicial e as demais informaccedilotildees condizentes com a postulaccedilatildeo judicial

(princiacutepio da demanda)

A citaccedilatildeo eacute o ato processual que objetiva comunicar ao demandado o

litiacutegio judicial proposto contra o mesmo para que entatildeo possa reagir contra a

pretensatildeo ajuizada auxiliando o juiz na busca da verdade Por ser pressuposto

processual a presenccedila do ato citatoacuterio significa que o processo somente evoluiraacute se o

chamado da parte demandada tiver sido realizado satisfatoriamente Herdou-se para os

sistemas juriacutedicos atuais o brocardo nemo debet inauditus damnari (ningueacutem deve ser

condenado sem ser ouvido) segundo observaccedilatildeo de EDSON PRATA9

A peticcedilatildeo inicial eacute justamente o instrumento haacutebil a propiciar a

concessatildeo das necessidades patrimoniais ou pessoais por atuaccedilatildeo do magistrado oacutergatildeo

especialmente incumbido dessa outorga Eacute de interesse do Estado disciplinar o

conteuacutedo do requisitoacuterio e o faz enaltecendo os atributos insupriveis para o intento

judicial significando que na falta de qualquer deles natildeo estaraacute a outra parte em

condiccedilotildees de exercer o direito de defesa na sua plenitude nem o juiz teraacute os elementos

suficientes agrave aplicaccedilatildeo da lei10

Como principal orientador do elenco que deve coexistir na exordial

termos no CPC

Art 282 A peticcedilatildeo indicaraacute

7 Donaldo Arnaldo apud Marcelo Navarro Ribeiro Dantas Admissibilidade e Meacuterito na

Execuccedilatildeo p 26 8 A Instrumentalidade do Processo p 153

9 Crise do Processo p 59

10 James Eduardo Oliveira Juizo de Admissibilidade da Peticcedil30 Inicial p 39

I - O juiz ou tribunal a que eacute dirigida

II - os nomes prenomes estado civil profissatildeo domiciacutelio e

residecircncia do autor e do reacuteu

III - o fato e os fundamentos juriacutedicos do pedido 1 - () pedido

com suas especificaccedilotildees

v - o valor da causa

JI] - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos

fatos alegados

VII - o requerimento vara a citaccedilatildeo do reacuteu (destaque intencional)

De acordo com a eventual ausecircncia dos supracitados itens na

peticcedilatildeo inicial verificam-se defeitos substanciais que exigem pronto

indeferimento e defeitos natildeo-substanciais que importam em outorga de lance

proacuteprio de correccedilatildeo 11

Em atenccedilatildeo aos artigos 282 a 285 e 295 do CPC estaacute o julgador

condicionado a possibilitar a emenda da inicial indeferi-Ia sem estudo do pedido ou

determinar a convocaccedilatildeo do demandado

A carecircncia dos incisos I V e VI do art 282 (e o artigo 283 do CPC)

embora natildeo proporcionem de imediato o desprezo da inicial devem ser providenciados

sob pena de impossibilidade de julgamento O inciso VII daquele artigo eacute o uacutenico que

se prende unicamente a uma formalidade natildeo dificultando a subsequumlente apreciaccedilatildeo do

feito ante sua inobservacircncia

O defeito de falta de citaccedilatildeo eacute de forma natildeo adentrando na substacircncia da

accedilatildeo como fazem os incisos li 111 e IV do mesmo dispositivo

Pois bem A falta do pedido de citaccedilatildeo acarreta despacho ordinatoacuterio do

juiz determinando que o solicitante afirme o desejo de chamamento do reacuteu Em esparsas

linhas o advogado obedeceraacute ao mandamento judicial para soacute depois conseguir o

regular andamento do feito o que poderaacute demandar um tempo excessivamente longo

pois envolve natildeo soacute ato do juiz mas da secretaria judiciaacuteria do oacutergatildeo de publicidade e

da proacutepria parte

A cientificaccedilatildeo da parte oposta se encerra como absolutamente loacutegica

Ao ingressar em juiacutezo a parte solicitante deseja ter resposta do Estado o que soacute pode

ser feito com a oitiva do indicado por atenccedilatildeo obrigatoacuteria ao devido processo legal

acolhedor dos princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa

Mesmo com o nascimento de uma nova mentalidade muitos

profissionais da aacuterea juriacutedica relutam em admitir a impraticidade do inciso VII do art

282 do CPC Esse eacute o entendimento de MARCELO GUIMARAtildeES RODRIGUES Tal

orientaccedilatildeo equipara-se a uma faca de dois gumes Ao deixar-se de lado certas regras

essenciais do processo que visam a lhe conferir estabilidade seguranccedila e legitimidade

pode-se tambeacutem estar abrindo caminho para uma completa generalizada e incontrolaacutevel

11 James Eduardo Oliveira ob cit p 39

insubordinaccedilatildeo do procedimento agrave lei12

Com o devido respeito pensamos que inocorre a gravidade salientada

pelo ilustre doutrinador Sendo somente uma das facetas que exprimem a organizaccedilatildeo

social natildeo almeja o Poder Judiciaacuterio desconsiderar a existecircncia da lei mesmo porque

dela necessita para concretamente dirimir as insatisfaccedilotildees sociais

Aleacutem do mais a produccedilatildeo legislativa conteacutem as mesmas limitaccedilotildees

encontradas em todas as atividades do homem Eacute preciso que o julgador se previna da

possiacutevel imperfeiccedilatildeo de uma norma porquanto ao se considerar o principio elementar

da falibilidade e da arbitrariedade eventuais do legislador na elaboraccedilatildeo da norma legal

o juiz natildeo pode apercebendo-se disso aplicaacute-Ia simplesmente13

A corrente que nega a possibilidade do julgador citar de ofiacutecio o reacuteu

pugna pela maacutecula agrave imparcialidade e isonomia obrigatoacuterias nas relaccedilotildees juriacutedicas que

envolvem julgamento Todavia natildeo se vecirc qualquer ferimento aos princiacutepios acima

exaltados

A arguumliccedilatildeo de desrespeito agrave imparcialidade do julgador natildeo convence

primeiro porque o juiz manda citar como ente estatal interessado somente em

exterminar o desequiliacutebrio social conforme os interesses da coletividade segundo pelo

fato de que a lide jaacute estaacute iniciada com o trespasse dos fundamentos e da pretensatildeo do

autor embora que de forma ainda natildeo triangular

Natildeo haacute tambeacutem sentido em se dizer que a citaccedilatildeo ex officio resultaria em

benefiacutecio para uma das partes O suplicado teraacute prazo para alegar mateacuteria de defesa da

mesma forma que na circunstacircncia do rogo citatoacuterio existente na peccedila proemial A

contestaccedilatildeo natildeo obteacutem vantagens ou prejuizos com a diligecircncia oficial de citaccedilatildeo

Inversamente o informe realizado sem a solicitaccedilatildeo direta do autor

encontra respaldo na insubstituiacutevel economia processual sem macular nenhum outro

princiacutepio implantado no ordenamento juriacutedico

Prova tambeacutem consistente de que o requerimento da citaccedilatildeo possui

importacircncia secundaacuteria na atividade processual reside na disposiccedilatildeo contida no

paraacutegrafo 1deg do artigo 214 (CPC) sect 1deg O comparecimento espontacircneo do reacuteu supre

entretanto a falta de citaccedilatildeo (Igual regulamentaccedilatildeo eacute encontrada no art 18 sect 3deg da

Lei dos Juizados Especiais Ciacuteveis e Criminais - 909995)

Oportunamente ressalta o Professor FRANCISCO BARROS DIAS O

princiacutepio da economia faz nascer vaacuterios outros que se entrelaccedilam perfeitamente tais

como o aproveitamento dos atos processuais a renovaccedilatildeo dos atos processuais o

12 A Ineacutepcia da Inicial por Falta do Requerimento da Citaccedilatildeo Prevalece a Finalidade ou o

Pressuposto de Ordem Puacuteblica diante do Principio Dispositivo p 276

13

Dagoberto Romani O Juiz entre a Lei e o Direito p 234

prejuiacutezo a finalidade e a especificidade14

O objetivo do ato quando alcanccedilado torna-o eficaz Do contraacuterio natildeo

haveria por que inserir o paraacutegrafo uacutenico do art 250 no CPC do qual se extrai a

essecircncia do principio da finalidade e do aproveitamento dos atos processuais

sustentando a legalidade do suprimento judicial

IV SITUACcedilOtildeES APARENTEMENTE DISCUTIacuteVEIS

Haacute casos que agrave primeira vista poderiam impedir uma maior diligecircncia

por parte do julgador Satildeo exemplos a citaccedilatildeo de litisconsortes necessaacuterios como o

cocircnjuge (incisos do sect 1 o do artigo 10 do CPC) os confinantes condocircminos e

eventuais interessados nas accedilotildees divisoacuterias demarcatoacuterias e de usucapiatildeo a intervenccedilatildeo

de terceiros do Capitulo VI - Tiacutetulo 11 do CPC e a intimaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

quando inevitaacutevel sua participaccedilatildeo

Nessas circunstacircncias seria forccedilosa a ordem de emenda da inicial para

suprir o pedido de chamamento Ainda assim eacute possiacutevel se assegurar que

insubstituiacuteveis satildeo os atributos trazidos pelo demandante de identificaccedilatildeo do

Iitisconsorte do confinante do condocircmino e do interessado

Para julgar a lide faz-se obrigatoacuteria a inclusatildeo do nome qualificaccedilatildeo

profissatildeo e endereccedilo para trazer o potencial litigante ao campo do processo

informativos esses que satildeo requisitados pelo inciso II do art 282 do CPC e natildeo pelo seu

inciso VII notabilizador do propoacutesito de comunicar a demanda ao reacuteu

Alguns estudiosos defendem nesse contexto a reformulaccedilatildeo do inciso

VII do art 282 substituindo o requerimento de citaccedilatildeo por uma correta e inequiacutevoca

promoccedilatildeo postulatoacuteria da mesma forma que foi utilizada no art 47 sect uacutenico do CPC

quando determina que o autor promova a citaccedilatildeo dos Litissconsortes Promover

significa entregar agrave autoridade judicial todas as informaccedilotildees pessoais do litisconsorte

que facilitaratildeo a notiacutecia do intento

A exigecircncia de qualificaccedilatildeo da parte acontece igualmente na intervenccedilatildeo

de terceiros quando o opoente o nomeante o denunciante e o reacuteu no chamamento ao

processo (arts 57 65 71 e 78 do CPC respectivamente) provocam a entrada do

litigante pela sua especificaccedilatildeo e natildeo pelo singelo pleito de citaccedilatildeo

Eacute certo que nestas suposiccedilotildees quando a minudecircncia do provaacutevel

litigante natildeo puder ser efetivada por questatildeo de incerteza quanto a sua localizaccedilatildeo ou

sua identidade seraacute prudente o patrono informar a necessidade de citaccedilatildeo editaliacutecia por

desconhecimento de quem seja o Litisconsorte ou onde se localize

Outro aspecto merecedor de atenccedilotildees eacute o chamamento do Ministeacuterio

Puacuteblico por intimaccedilatildeo Embora natildeo se trate de citaccedilatildeo eacute indispensaacutevel segundo

imposiccedilatildeo do art 82 do CPC haver observaccedilatildeo e controle do cumprimento das

disposiccedilotildees legais em especiacuteficas lides

Haacute a intenccedilatildeo do Estado em velar pela inteira observacircncia da lei natildeo se

cogitando o porquecirc da solicitaccedilatildeo da parte quando se deveria favorecer a automaacutetica

intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico como acontece nas accedilotildees de usucapiatildeo (art 944 do

CPC)

Inadmite-se aqui a necessidade de identificaccedilatildeo do ingressante como nos

casos anteriores sendo a nulidade cominada para a falta de intimaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico notoacuteria atecnicidade do art 84 do CPC quando exige requerimento expliacutecito

14

Nulidades Processuais Civis p 26

de intimaccedilatildeo a ser feito pela parte o que poderia ser determinado oficialmente nos

litiacutegios discriminados por lei

Natildeo eacute o pedido de citaccedilatildeo em si que se configura como problema para

continuaccedilatildeo d a lide mas a falta de identificaccedilatildeo de determinado sujeito Com certeza o

qualificativo do reacuteu eacute realizado juntamente com o pedido de convocaccedilatildeo em

decorrecircncia da sistemaacutetica processual mas nem por isso a citaccedilatildeo se toma

predominante

V A CITACcedilAtildeO ESTATAL

Como se vecirc a funccedilatildeo do processo eacute muito maior do que supunham os

cultores do autonomismo Aleacutem de instrumento de progressatildeo dos atos que levaratildeo agrave

sentenccedila eacute meio por qual a sociedade se manteacutem em equiliacutebrio O interesse coletivo

hegemocircnico em todas as relaccedilotildees sociais eacute plenamente consagrado tambeacutem no

contraditoacuterio presente entre os litigantes

A excessiva postura metodoloacutegica culmina no retardamento do teacutermino

do litiacutegio Natildeo eacute raro militantes do Direito condenarem a ordem de ciecircncia determinada

pelos juizes apoacutes constataccedilatildeo de omissatildeo na peticcedilatildeo Nota-se o apego a formalidades

natildeo essenciais ao desenvolvimento da funccedilatildeo jurisdicional

No processo penal tambeacutem se concebe idecircntica situaccedilatildeo de acordo com

a profunda sapiecircncia do Professor TOURINHO FILHO que advoga a obrigatoriedade

do pedido de citaccedilatildeo na denuacutencia1516

Contraditando os argumentos formalistas merecem transcriccedilatildeo os

ensinamentos de JOSEacute ROBERTO DOS SANTOS BEDAQUE nos quais se assenta a

magna funccedilatildeo encerrada no processo

Eacute preciso revisitar os institutos processuais todos concebidos segundo

a visa o autonomista ou conceitual da ciecircncia processual a fim de conferir a eles nova

feiccedilatildeo a partir das necessidades identificadas na fase instrumentalista17

A ordem de citaccedilatildeo deve ser empreendida mesmo na inocorrecircncia de sua

menccedilatildeo na peticcedilatildeo inicial dado que o magistrado antes de ser ente estatal eacute agente

social como elucida HANS REICHEL O juiz eacute obrigado por forccedila do seu cargo a

afastar-se conscientemente de uma disposiccedilatildeo legal quando essa disposiccedilatildeo de tal modo

contraria o sentimento eacutetico da generalidade das pessoas que pela sua observacircncia a

autoridade do Direito e da lei correria num perigo mais grave do que atraveacutes de sua

inobservacircncia18

Em estudo sobre a norma juriacutedica no que tange agrave sua interpretaccedilatildeo o

Professor IVAN LIRA DE CARVALHO declara a inevitaacutevel atuaccedilatildeo do julgador

moderno em face da normatizaccedilatildeo legal Enquanto texto frio e latente espelha tatildeo-soacute o

instante da sua confecccedilatildeo ou do seu incorporamento ao conjunto normativo Cabe ao

15

ob cit p 350 16

Com a mesma exigecircncia o art34 do Decreto-Lei 976046 o arte 3deg sect 1deg da Lei 319357 o art

13 da Lei 489865 o art 6deg 111 da Lei 683080 o art 288 I do RISTF e o art 4deg 11 da Lei

886694 Por outro lado o art 840 sect 1 0 da CL T exime implicitamente a reclamaccedil30 do pedido de

citaccedilatildeo (notificaccedilatildeo) 17

Joseacute Roberto dos Santos Bedaque Direito e Processo - Influecircncia do Direito Material sobre o

Processo p 15 18

apud Dagoberto Romani ob cit p 234

Como se vecirc a funccedilatildeo do processo eacute muito maior do

inteacuterprete vivificaacute-l e dar-lhe a destinaccedilatildeo adequada agraves exigecircncias soacutecio-culturais dos

seus suacuteditos assim entendidos pela submissatildeo gerada pela coercibilidade das normas19

O importante natildeo eacute formalizar o manifesto desiacutegnio do autor em tomar o

demandado ciente mas o proacuteprio ato citatoacuterio no qual o oficial de justiccedila ou outro

oacutergatildeo escolhido pela lei proporciona a comunicaccedilatildeo processual e pode atestar a recusa

ou o desaparecimento do demandado natildeo cabendo agraves partes realizaacute-Io por evidente

maacutecula aos princiacutepios processuais

A supressatildeo ou modernizaccedilatildeo do inciso VII do artigo 282 natildeo iraacute

desencadear a tatildeo almejada celeridade processual e resolver todos os problemas afetos

ao Judiciaacuterio mas eacute uma impropriedade digna de ser corrigida atraveacutes das remediaccedilotildees

legislativas vindouras

Contudo deposita-se mais esperanccedila no sentimento de dinamismo e

Justiccedila dos juiacutezes (falando propriamente em magistrados de qualquer instacircncia)

compromissados em extirpar no tempo mais breve as contendas humanas trazidas a

juiacutezo No limiar do seacuteculo XXI onde tudo jaacute se direciona agrave simplicidade as atitudes

retroacutegradas ficaratildeo inteiramente agrave margem do progresso humano

VI REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AL VIM Joseacute Carreira Coacutedigo de Processo Civil Reformado Belo

Horizonte Dei Rey 1995

BEDAQUE Joseacute Roberto dos Santos Direito e Processo - Influecircncia do

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Janeiro Freitas Bastos 1995

CARVALHO Ivan Lira de A Interpretaccedilatildeo da Norma Juriacutedica

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Mozart Victor Russomano 3ordf ed Rio de Janeiro Forense 1995

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19

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DINAMARCO Cacircndido Rangel A Reforma do Coacutedigo de Processo

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GOMES FILHO Antocircnio Magalhatildees As Nulidades do Processo Penal 48 ed Satildeo

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Revista dos Tribunais ndeg 688 Satildeo Paulo Ed RT 1993

PRATA Edson A crise do Processo Revista dos Tribunais ndeg 632 Satildeo

Paulo Ed RT 1988

RODRIGUES Marcelo Guimaratildees A Ineacutepcia da Inicial por Falta de

Requerimento de Citaccedilatildeo Prevalece a Finalidade ou o Pressuposto de Ordem Puacuteblica

diante do Princiacutepio Dispositivo Revista dos Tribunais ndeg 682 Satildeo Paulo Ed RT

1992

ROMANI Dagoberto O Juiz entre a Lei e o Direito Revista dos

Tribunais ndeg 633 Satildeo Paulo Ed RT 1988

SANTOS Moacir Amaral dos Primeiras Linhas de Direito Processual

Civil 158 ed Satildeo Paulo Saraiva 1992

SILVA JR Walter Nunes da Condiccedilotildees da Accedilatildeo e Pressupostos

Processuais Revista de Processo ndeg 64 Satildeo Paulo Ed RT 1991

TOURINHO FILHO Fernando da Costa Processo Penal Vo11 158 ed

Satildeo Paulo Saraiva 1994

NEOLlBERALlSMO INIMIGO DA CIDADANIA

Leifson Gonccedilalves Holder da Silva

Acadecircmico do 3deg periacuteodo do curso de Direito da UFRN

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Baseado no texto de Luiacutes Fernandes proferido na 8deg Conferecircncia

Nacional do PC do B procurarei fazer uma reflexatildeo sobre a natureza do neoliberalismo

e das consequumlecircncias de sua transformaccedilatildeo em projeto hegemocircnico e dominante na

maior parte do mundo capitalista neste fim de seacuteculo

O autor afirma que o termo neoliberalismo natildeo deve ser usado de forma

indiscriminada como adjetivo pejorativo para agravequelas medidas ou poliacuteticas com as quais

natildeo se estaacute de acordo Deve-se sim procurar entender essa expressatildeo em toda a sua

plenitude a fim de se compreender os pressupostos que caracterizam a economia

mundial em sua nova reestruturaccedilatildeo diante de transformaccedilotildees teacutecnicas e econocircmicas

principalmente no que se refere agrave Divisatildeo Internacional do Trabalho Pressupostos estes

que estatildeo condicionados agrave loacutegica do modeloneoliberal e que visam de todas as

maneiras redefinir o comeacutercio internacional de forma que os paiacuteses menos

desenvolvidos se tomem mais dependentes1

Torna-se interessante (para natildeo dizer imprescindiacutevel) entender como

ressurgiu a ideologia liberal e como ela eacute passada aos paiacuteses do terceiro mundo dentro

deste contexto global

S6 a partir desta compreensatildeo mais completa e precisa eacute que seraacute

possivel comeccedilar a desvendar e perceber de forma mais clara a poliacutetica nacional

imposta pelo atual Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e a evoluccedilatildeo da

sociedade brasileira neste momento crucial diante da transiccedilatildeo por que passam a

economia e a sociedade internacional como consequumlecircncias da expansatildeo neoliberal

Antes de se analisar o neoliberalismo propriamente dito eacute importante

que se faccedila uma breve elucidaccedilatildeo de seu desenvolvimento histoacuterico ateacute o momento

atual com a finalidade de mostrar sua gecircnese e os motivos que levaram a sua

progressatildeo se tornando dominante hoje na maioria do mundo

2 - DESENVOLVIMENTO HISTOacuteRICO

1 Os grifos existentes no artigo satildeo i1ustrativos e de responsabilidade inteira do autor

A histoacuteria do neoliberalismo tem suas raiacutezes no seacuteculo XVIII mais

precisamente no liberalismo claacutessico que veio dar origem ao tema em questatildeo

Este liberalismo surgiu como doutrina e movimento de caraacuteter

progressista principalmente contra o despotismo dos Estados absolutistas e contra as

restriccedilotildees mercantilistas agrave formaccedilatildeo de um uacutenico mercado comum sob a proteccedilatildeo do

processo de desenvolvimento da industrializaccedilatildeo capitalista

As restriccedilotildees oriundas do mercantilismo causavam um certo entrave

econocircmico na medida em que a prosperidade econocircmica de um paiacutes deveria ser

conseguida atraveacutes de uma balanccedila comercial favoraacutevel (positiva) da proibiccedilatildeo da

entrada de mercadorias estrangeiras (se possiacutevel) e por uma acumulaccedilatildeo de

metais_preciosos siacutembolos e base da vida econocircmica e riqueza nacional considerados

indispensaacuteveis agrave sobrevivecircncia e ao fortalecimento da soberania

O sujeito econocircmico central era o Estado jaacute que efetuava uma forte

intervenccedilatildeo econocircmica a fim de aumentar seu poderio atraveacutes da obtenccedilatildeo de ouro e

prata Entretanto em geral a corrida por metais acabou ocasionando como resultado

uma asfixia econocircmica para os Estados que adotaram este modelo

O liberalismo econocircmico veio em contrapartida defender a liberdade de

mercado contra este sistema mercantilista recebendo fundamentaccedilatildeo teoacuterica por parte

dos fisiocratas que propunham o laissez-faire laissez-passerrdquo

Esse serviu de base para a Escola claacutessica (corrente cientiacutefico-

econocircmica) desenvolvida na Inglaterra a qual se aproveitou de imediato de seus ideais

avanccedilados jaacute que era a primeira potecircncia capitalista do mundo visando posteriormente

subordinar o conjunto do globo ao seu predomiacutenio industrial

A Escola Claacutessica afirmava que um mercado livre e competitivo

determinaria a produccedilatildeo os preccedilos2 (lei da oferta e da procura) e a distribuiccedilatildeo de

renda Com isso o liberalismo tenderia a reduzir ao miacutenimo a interferecircncia do Estado

nas atividades econocircmicas individuais Oportunamente nesse sentido segundo a

foacutermula pitoresca de Hellpachs a melhor posiccedilatildeo que o Estado e a economia podem

assumir um a face do outro eacute a de ficar afastado trecircs passos um do outro

Contudo natildeo se negava o Estado porque o liberalismo natildeo significava

anarquismo apenas deveriam ser afastadas suas intromissotildees inuacuteteis

Posteriormente no entanto com a consolidaccedilatildeo do novo mercado global

capitalista sob preponderacircncia inglesa por volta do seacutec XIX o capitalismo

emancipador progressista e ateacute revolucionaacuterio deu vez a um capitalismo opressivo e

espoliador Capitalismo este agora conservador voltado para a justificaccedilatildeo ideoloacutegica

das injusticcedilas operantes derivadas da exploraccedilatildeo Por meio da ideologia capitalista

procurava-se justificar convenientemente os fatos da vida social como se quisesse

preservaacute-Ia de possiacuteveis desequiliacutebrios ou conflitos ao niacutevel da praacutetica

Em oposiccedilatildeo a esta sociedade de classes surgiram o operariado os

sindicatos as teorias socialistas e marxistas (como alternativas teoacutericas e poliacuteticas

libertadoras) aleacutem da demanda por direitos e a produccedilatildeo de leis refletindo conquistas

sociais (natildeo sem antes ocorrerem protestos e pressotildees por parte do proletariado)

Atraveacutes dos sindicatos os operaacuterios unidos e consequumlentemente mais fortes

2 Foram utilizados como par3metro da fundamentaccedil30 teoacuterica no Desenvolvimento Histoacuterico os

autores Luis Manoel Rebelo Fernandes Raymond Barre Leocircncio Martins Rodrigues Wilson

Cano Joseacute Jenoiacuteno dentre outros

reivindicaram seus direitos alterando aos poucos as relaccedilotildees de trabalho trazendo

melhorias agrave classe operaacuteria A autonomia da vontade nas relaccedilotildees do empregador com o

empregado foi reduzida jaacute que a legislaccedilatildeo social veio restringir este livre

entendimento entre as partes Os abusos do liberalismo foram tantos que o Estado por

intermeacutedio do legislador diminuiu a liberdade do patratildeo para dar mais consistecircncia agrave do

trabalhador impondo a contrataccedilatildeo dentro de determinados paracircmetros Foi uma reaccedilatildeo

clara contra esse liberalismo opressor e tirano

A Europa Ocidental conseguiu contornar as tensotildees do poacutes-guerra

atraveacutes da ajuda econocircmica (Plano Marshall) voltando-se para a construccedilatildeo de uma

rede de assistecircncia social impecaacutevel e cariacutessima associada ao bem-estar objetivando

uma distribuiccedilatildeo de renda e proteccedilatildeo dos cidadatildeos contra os desequiliacutebrios sociais

O curso do desenvolvimento favorecia agraves posiccedilotildees e tendecircncias de

esquerda os sindicatos se fortaleciam os partidos socialistas viam seus votos

aumentarem e o intervencionismo estatal crescia com a regulamentaccedilatildeo da sociedade

De uma ideologia que ascendeu e dominou o seacuteculo passado o

liberalismo claacutessico acabou sendo gradativamente e por fim inteiramente descartado

pelos desenvolvimentos mundiais na primeira metade do seacuteculo XX Ele natildeo pocircde

suportar duas guerras mundiais depressatildeo econocircmica (quebra da bolsa de Nova York)

protecionismos emergentes aleacutem de uma ascensatildeo de Estados Socialistas e de Bem-

Estar (Welfare State) levando ao seu decliacutenio

Entretanto este natildeo foi seu fim como poderia parecer em uma

perspectiva de desenvolvimento das teorias de economia dirigida e do socialismo de

Estado O liberalismo sofreu uma revitalizaccedilatildeo em 1947 quando um grupo de

pensadores liberais se reuniram para discutir as bases de uma ofensiva contra teorias e

praacuteticas socialistas e intervencionistas entatildeo predominantes formando a chamada

Sociedade de Mont Peacutelerin

Esta articulaccedilatildeo poacutes-guerra teve um papel decisivo no lanccedilamento das

bases teoacutericas do novo liberalismo agora denominado neoliberalismo

Este tomou um impulso substancial a partir da segunda metade da

deacutecada de 70 periacuteodo em que o estadismo e o planeiamento central comeccedilaram a

definhar e a quebrar como consequumlecircncia de uma crise econocircmica internacional aliada a

transformaccedilotildees tecnoloacutegicas que trouxeram grandes repercussotildees levando agrave ruptura

destes modelos de Estado Foi principalmente nos governos de Margareth Tacher

(Primeira Ministra denominada e conhecida como dama de ferro) no Reino Unido

(1979-1990) e do Presidente Ronald Reagan nos Estados Unidos (1979-1990) que deu-

se o revigoramento da ideologia liberal Propondo medidas limitadoras do Estado na

economia procederam-se agraves sucessivas privatizaccedilotildees e tentativas de derrubar as

tradicionais barreiras protecionistas adotadas por muitos paiacuteses

As novas tecnologias tambeacutem geraram natildeo soacute novas formas de produzir

mas tiveram impactos impressionantes sobre a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das

estrateacutegias de competitividade

Os Estados direcionaram-se a uma competiccedilatildeo desenfreada com uma

absurda e acelerada corrida agrave rnodernidade destruindo todo o sentido e o direito

social construiacutedo na era do Welfare State Assim a competiccedilatildeo a eficiecircncia e o ecircxito

econocircmico passaram a ser vistos positivamente O individualismo ligado agrave afirmaccedilatildeo

das liberdades individuais e dos direitos humanos deram vez ao individualismo soacuterdido

desmontando os valores do solidarismo para afirmar e justificar a desigualdade social

como inevitaacutevel consequumlecircncia da liberdade humana A seguranccedila o conforto e a

liberdade do proacuteximo passaram a ser ameaccedilados pela neuroacutetica necessidade de poder e

pelo egoiacutesmo consumista O que passou a ser considerado moderno foi o retorno a

Adam Smith (filoacutesofo e economista inglecircs que influenciou de forma decisiva na

formaccedilatildeo e no fortalecimento do capitalismo contemporacircneo) Neste iacutenterim a grande

campanha neoliberal se espalhou pelo mundo e as transnacionais cantaram vitoacuteria

quando viram o urso russo passar agrave condiccedilatildeo de cordeiro capitalista

No rastro desta nova realidade - Terceira Revoluccedilatildeo Industrial

globalizaccedilatildeo crise econocircmica etc - eacute que afirmou-se a hegemonia da ideologia

neoliberal exaltando a excelecircncia do novo mercado e do novo individualismo

3 - CONTEXTO MUNDIAL

A revoluccedilatildeo doutrinaacuteria trazida pelo neoliberalismo apresenta novas

bases teoacutericas que tecircm sido utilizadas como a fonte intelectual para redirecionamentos

nas poliacuteticas de gestatildeo macroeconocircmica (aspectos globais da economia) e social de

diversos paiacuteses em grande parte do globo

Conveacutem esclarecer que a adoccedilatildeo de uma poliacutetica neoliberal por parte da

maioria destes paiacuteses ao longo dos uacuteltimos anos objetivando obter uma maior

integraccedilatildeo econocircmica natildeo foi um ato de livre e espontacircnea vontade como

aparentemente poderia sugerir uma anaacutelise mais superficial

Na verdade esse neoliberalismo vem sendo imposto por pressotildees

externas procedentes de paiacuteses desenvolvidos aos paises subdesenvolvidos atraveacutes de

organismos internacionais principalmente o FMI - Fundo Monetaacuterio Internacional o

Banco Mundial e o BID - Banco Internacional de Desenvolvimento Os paiacuteses

devedores do mundo capitalista perifeacuterico vecircm cedendo agraves exigecircncias da implantaccedilatildeo

de poliacuteticas neoliberais como condiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo do apoio poliacutetico das grandes

potecircncias bem como para conseguir a liberaccedilatildeo de escassos recursos financeiros dos

bancos e agecircncias internacionais na forma de investimentos Estes paiacuteses tecircm sofrido

coaccedilotildees agressivas para eliminar as restriccedilotildees e diminuir os obstaacuteculos alfandegaacuterios agraves

mercadorias importadas Segundo um correspondente do New York Timeso FMI jaacute

derrubou mais governos que Marx e Lecircnin juntosmiddot (Michael Moffit O dinheiro do

mundo p131) Isto no fundo estaacute acarretando um alargamento do abismo existente

entre o primeiro e o terceiro mundo o qual torna-se cada vez mais indefeso submisso e

dependente

Com a intenccedilatildeo de colocar este esquema em praacutetica os paiacuteses ricos

(forccedilas neoliberais) formaram blocos econocircmicos neoprotecionistas (verdadeiras

fortalezas econocircmicas como o NAFT A o Mercado Comum Europeu e a aacuterea de

influecircncia japonesa no Paciacutefico) com o intento de proteger seus mercados internos e ao

mesmo tempo condicionar aos demais paiacuteses a abertura de mercado - sob a

argumentaccedilatildeo da integraccedilatildeo econocircmica globalizaccedilatildeo eficiecircncia alegando ser

uma poliacutetica econocircmica correta para atrair capitais externos

De fato os paiacuteses desenvolvidos caiacuteram numa evidente contradiccedilatildeo jaacute

que fecharam suas fronteiras contra a invasatildeo de matildeo-de-obra estrangeira (blocos

econocircmicos) ao mesmo tempo em que difundiram e defenderam uma ideologia

neoliberal baseada justamente na supressatildeo das barreiras alfandegaacuterias e das cotas de

importaccedilatildeo Assim foi intensificado o movimento de capitais bens e serviccedilos

mantendo entretanto a movimentaccedilatildeo humana do trabalho sob proibiccedilatildeo ou riacutegido

controle Os paiacuteses do 1deg mundo abriram as suas fronteiras internas em uma aparente

atitude liberal mas fecharam mais do que nunca as externas Essa atitude - de

praticarem o que criticam nos outros - mina por si soacute a autoridade de impor poliacuteticas

neoliberais por parte dos paiacuteses desenvolvidos

Contudo apesar da incoerecircncia entre palavras e accedilotildees o neoliberalismo

defendido pelas grandes potecircncias vem tomando forccedila no contexto mundial

espalhando-se rapidamente revelando-se natildeo se tratar de mero projeto intelectual ou

poliacutetico desconectado de bases soacutelidas

31 - BASES E JUSTIacuteFICATIVAS DA OFENSIVA NEOLIBERAL

Vivemos hoje a estruturaccedilatildeo de uma ordem internacional cuja feiccedilatildeo

ainda natildeo se encontra totalmente definida Poreacutem os princiacutepios baacutesicos que norteiam as

poliacuteticas econocircmicas neoliberais que mais vecircm se destacando resumem-se

principalmente em

a) Ajuste Fiscal3

O sistema fiscal estimula a sonegaccedilatildeo por cobrar tributos exagerados de

um nuacutemero reduzido de pessoas e empresas Com a sua reforma torna-se possiacutevel

desonerar as empresas e aumentar sua competitividade ainda podendo elevar a

arrecadaccedilatildeo porque haveria (em tese) menos sonegadores

b) Privatizaccedilatildeo (Desestatizaccedilatildeo das forccedilas produtivas)

Assim o governo elimina gastos com as estatais e gera caixas O

dinheiro levantado ainda pode permitir a diminuiccedilatildeo da diacutevida puacuteblica Com a reduccedilatildeo

do tamanho do Estado toma-se mais faacutecil de ser administrado podendo dedicar mais

atenccedilatildeo e dinheiro aos problemas sociais

c) Abertura Comercial e Financeira

A eliminaccedilatildeo de barreiras agrave importaccedilatildeo agrave entrada de capital estrangeiro

e agrave remessa de lucros gera uma aplicaccedilatildeo em investimentos incentivando-se o

comeacutercio aleacutem de aumentar a reserva cambial nacional

d) Reestruturaccedilatildeo do Sistema Previdenciaacuterio

Com a privatizaccedilatildeo do Sistema Previdenciaacuterio ou pelo menos parte dele

o Estado arca com menos gastos jaacute que divide sua folha com a iniciativa privada

Assim tambeacutem pode reequilibrar as contas puacuteblicas evitando a volta da inflaccedilatildeo

Aleacutem dessas outras medidas importantes tambeacutem vecircm completar este

quadro que de maneira geral se orienta para a reduccedilatildeo do tamanho do controle e dos

3 o embasamento doutrinaacuterio do Contexto Mundial foi respaldado principalmente nos

professores Luis Manoel Rebelo Fernandes (UFF) Roosenez de Carvalho Teixeira e Joatildeo Rodrigues Neto (UFRN) dentre outros

gastos do Estado na economia

32 - CONSEQUumlEcircNCIAS

O resultado dessa ofensiva neoliberal natildeo poderia ser melhor para os

paiacuteses do primeiro mundo

A iniciativa privada desses paiacuteses impotildee mais facilmente seus

interesses atraveacutes da formaccedilatildeo de grandes grupos capitalistas detentores de tecnologia e

capital que acabam se configurando em blocos de poder poliacutetico-econocircmico os

quais natildeo atuam somente sobre as relaccedilotildees econocircmicas mas procuram modificar essa

estrutura para aumentar ainda mais as suas vantagens em paiacuteses perifeacutericos que vecircm

adotando poliacuteticas neoliberais Dominar as maacutequinas produziacute-Ias ter acesso ao seu uso

representa dentre outras coisas desfrutar certo domiacutenio sobre os que natildeo as possuem

Isto pode significar natildeo soacute o controle de empresas de menor porte mas ateacute controle na

definiccedilatildeo da poliacutetica econocircmica de paiacuteses inteiros

Com isso as decisotildees econocircmicas no seio dessas naccedilotildees jaacute natildeo

pertencem aos milhotildees de indiviacuteduos que as integram mas estatildeo concentradas nas matildeos

de minorias (carteacuteis e multinacionais) que monopolizam o poder em proveito proacuteprio

Nesse estaacutegio de desenvolvimento em que predomina a internacionalizaccedilatildeo do capital

consolida-se a interdependecircncia crescente das grandes transnacionais ultrapassando

suas fronteiras de origem e colocando as questotildees nacionais em segundo plano Assim

os interesses dos Estados ficam mais do que nunca atrelados aos interesses do capital

internacional Segundo o economista Gilberto Dupas do Nuacutecleo de Estudos

Estrateacutegicos da USP as maiores corporaccedilotildees mundiais estatildeo decidindo basicamente o

que como quando e onde produzir os bens e serviccedilos utilizados pelos seres humanos

(Revista Veja 030496) Com isso alguns criam a histoacuteria enquanto outros a maioria

sofrem e suportam a histoacuteria que aqueles estatildeo escrevendo

Por outro lado cara paiacuteses subdesenvolvidos (como eacute o caso do Brasil)

as consequumlecircncias satildeo no miacutenimo devastadoras

Com a crescente evoluccedilatildeo que vem acontecendo no mundo atual as

naccedilotildees procuram alternativas para se adaptarem diante da modernizaccedilatildeo dos meios de

comunicaccedilatildeo produccedilatildeo e da abertura do mercado buscando acompanhar a

competitividade crescente entre as atividades do mercado

Mesmo a Ruacutessia que jaacute foi uma grande potecircncia mundial sentiu o

impacto devastador que uma abertura econocircmica eacute capaz de causar A expectativa de

vida do russo passou de 65 anos no socialismo para 58 com o capitalismo e a

tendecircncia eacute o alargamento dessa diferenccedila O aumento da marginalidade e a

proliferaccedilatildeo das drogas tambeacutem acompanharam essa abertura De acordo com

estimativas do proacuteprio governo 1 em cada 6 jovens russos seratildeo viciados ateacute o ano

2000 No geral as condiccedilotildees de vida excetuando o surgimento de uma pequena classe

burguesa que ascendeu juntamente com o capitalismo soacute se deterioraram para a

maioria dos trabalhadores russos Se antes eles natildeo podiam comprar um big-mac

(sanduiacuteche mundialmente difundido por uma cadeia de lanchonetes americana) por

falta de opccedilatildeo agora natildeo podem compraacute-lo por falta de dinheiro (fonte 48 Hours -

GNT)

A busca ansiosa para conseguir melhores preccedilos e maior qualidade na

elaboraccedilatildeo do produto tem resultado num retrocesso nas relaccedilotildees entre capital e

trabalho ao se ignorar princiacutepios e normas vigentes referentes agraves relaccedilotildees trabalhistas

No intuito de reduzir encargos sociais e enxugar a estrutura empresarial

as empresas iniciaram demissotildees e firmaram novos contratos com prestadoras de

serviccedilos para executarem as mesmas atividades antes elaboradas com viacutenculo laboral

pelos funcionaacuterios demitidos (fenocircmeno denominado de terceirizaccedilatildeo) Os empregados

terceirizados apesar de possuiacuterem todas as caracteriacutesticas necessaacuterias a uma relaccedilatildeo

direta de emprego com a empresa beneficiada satildeo remunerados pela empresa locadora

de serviccedilos que paga salaacuterios mais baixos

A intervenccedilatildeo cada vez menor do Estado nas relaccedilotildees de trabalho

multiplicou as relaccedilotildees atiacutepicas acarretando consequumlecircncias desastrosas agrave classe dos

trabalhadores por fraudar direitos e garantias fundamentais

Com toda essa desregulamentaccedilatildeo trabalhista sem a devida postura

critica () as garantias sociais conquistadas pelos trabalhadores tecircm

ficado somente nas linhas dos diplomas legais () Isto tem trazido

seacuterios problemas de ordem social e juriacutedica como o alto iacutendice de

demissatildeo desemprego subempregos matildeo-de-obra barata

fomentaccedilatildeo dos contratos atiacutepicos flexibilizaccedilatildeo das normas

trabalhistas fraude aos direitos e garantias sociais instabilidade nas

relaccedilotildees empregatiacutecias formaccedilatildeo de uma classe totalmente

destituiacuteda de sindicato que possa reivindicar seus direitos e

representaacute-los aleacutem do proacuteprio enfraquecimento dos movimentos

sindicaisrdquo (Revista Juriacutedica ln Verbis UFRNCCSA v2 n 3 Natal

Ed Nordeste 1996 p 174 181)

A exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra de mulheres e crianccedilas tambeacutem foi

intensificada no Brasil principalmente a partir do governo do Presidente Fernando

Collor de Mello (1990 a 1992) diretamente relacionado com o processo de

terceirizaccedilatildeo O trabalho infantil proibido por lei e por isso clandestino retira grande

parte das crianccedilas das escolas e de pouco ou quase nada valem as campanhas ou

fiscalizaccedilotildees frequumlentes contra ele jaacute que a necessidade eacute um contra-aliado de peso num

paiacutes onde 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo do niacutevel de pobreza (Brasil O Livro dos

500 anos p 112 Satildeo Paulo 1996) Ainda de acordo com o socioacutelogo Joseacute de Moura

Martins 40 mil dos 85 mil casos de trabalho escravo no paiacutes nos uacuteltimos 20 anos

envolviam meninos e meninas (Cadernos do Terceiro Mundo Rio de Janeiro v21 n

188 p 1619 ago 1995)

Para conseguir preccedilos melhores e qualidade mais alta em sua guerra

internacional contra os concorrentes empresas tambeacutem tecircm aumentado muito os seus

iacutendices de automaccedilatildeo A maior velocidade no processo de fabricaccedilatildeo garante menores

custos e consequumlentemente a possibilidade de colocar o produto no mercado com

preccedilos mais reduzidos liquidando ainda mais postos de trabalho

Por incriacutevel que pareccedila uma legislaccedilatildeo que protege e encarece o

trabalho tem levado ao aumento de desemprego nos paiacuteses que adotam essas garantias

jaacute que satildeo provavelmente excluiacutedos de muitos projetos de investimento Ficou tatildeo

dispendioso contratar um trabalhador europeu com a sua pilha de benefiacutecios que as

grandes corporaccedilotildees europeacuteias estatildeo transportando seus novos negoacutecios para fora do

continente (30 mundo) e natildeo haacute nada que os governos europeus possam fazer

Hoje para empresas que operam em escala mundial a origem da

tecnologia da mateacuteria prima e do trabalho natildeo tem a menor importacircncia desde que seu

custo seja baixo e sua qualidade alta Assim obtecircm natildeo soacute maiores lucros mas melhores

condiccedilotildees para enfrentar as crises trabalhistas sobretudo nos paises do terceiro mundo

onde os governos locais se encarregam de reprimir os sindicatos as organizaccedilotildees

populares e suas manifestaccedilotildees A vantagem econocircmica dos paises industrializados tem

aumentado tambeacutem graccedilas a reduccedilatildeo da dependecircncia de mateacuterias primas de fonte uacutenica

gerada pelo maior dinamismo das relaccedilotildees comerciais

Com isso o aumento vertiginoso do desemprego pode gerar nos

proacuteximos anos uma crise social de proporccedilotildees nunca vistas Com a economia sendo

cada vez mais internacionalizada os conflitos tambeacutem se generalizam Soacute para se ter

uma ideacuteia a Alemanha estaacute com a taxa de desemprego mais alta desde a II Guerra

Mundial (Antenor Nascimento Neto 1996) O desemprego tambeacutem atingiu 23 da

populaccedilatildeo economicamente ativa na Espanha e atinge agora os niacuteveis mais elevados

desde a grande depressatildeo dos anos 30 de acordo com o especialista americano Jeremy

Rifkim no seu livro O Fim do Emprego O mercado de trabalho deixa espaccedilos cada vez

maiores para o crescimento da economia informal que vem se transformando na forma

moderna de ajuste do mercado (moderna porque se produz em um contexto de

modernizaccedilatildeo capitalista)

Outra consequumlecircncia desastrosa da investida neoliberal e do consequumlente

processo de globalizaccedilatildeo estaacute no desaparecimento das fronteiras nacionais Os governos

natildeo conseguem mais deter os movimentos do capital internacional Essa hegemonia do

capital financeiro internacional toma-se uma faca de dois gumes na medida em que

vem mascarar as reservas cambiais nacionais criando uma falsa ilusatildeo de que satildeo

soacutelidas quando na verdade o que se tem de fato eacute tecircm aumentado muito os seus iacutendices

de automaccedilatildeo A maior velocidade no processo de fabricaccedilatildeo garante menores custos e

consequumlentemente a possibilidade de colocar o produto no mercado com preccedilos mais

reduzidos liquidando ainda mais postos de trabalho

Por incriacutevel que pareccedila uma legislaccedilatildeo que protege e encarece o

trabalho tem levado ao aumento de desemprego nos paiacuteses que adotam essas garantias

jaacute que satildeo provavelmente excluiacutedos de muitos projetos de investimento Ficou tatildeo

dispendioso contratar um trabalhador europeu com a sua pilha de benefiacutecios que as

grandes corporaccedilotildees europeacuteias estatildeo transportando seus novos negoacutecios para fora do

continente (30 mundo) e natildeo haacute nada que os governos europeus possam fazer

Hoje para empresas que operam em escala mundial a origem da

tecnologia da mateacuteria prima e do trabalho natildeo tem a menor importacircncia desde que seu

custo seja baixo e sua qualidade alta Assim obtecircm natildeo soacute maiores lucros mas melhores

condiccedilotildees para enfrentar as crises trabalhistas sobretudo nos paises do terceiro mundo

onde os governos locais se encarregam de reprimir os sindicatos as organizaccedilotildees

populares e suas manifestaccedilotildees A vantagem econocircmica dos paises industrializados tem

aumentado tambeacutem graccedilas a reduccedilatildeo da dependecircncia de mateacuterias primas de fonte uacutenica

gerada pelo maior dinamismo das relaccedilotildees comerciais

Com isso o aumento vertiginoso do desemprego pode gerar nos

proacuteximos anos uma crise social de proporccedilotildees nunca vistas Com a economia sendo

cada vez mais internacionalizada os conflitos tambeacutem se generalizam Soacute para se ter

uma ideacuteia a Alemanha estaacute com a taxa de desemprego mais alta desde a II Guerra

Mundial (Antenor Nascimento Neto 1996) O desemprego tambeacutem atingiu 23 da

populaccedilatildeo economicamente ativa na Espanha e atinge agora os niacuteveis mais elevados

desde a grande depressatildeo dos anos 30 de acordo com o especialista americano Jeremy

Rifkim no seu livro O Fim do Emprego O mercado de trabalho deixa espaccedilos cada vez

maiores para o crescimento da economia informal que vem se transformando na forma

moderna de ajuste do mercado (moderna porque se produz em um contexto de

modernizaccedilatildeo capitalista)

Outra consequumlecircncia desastrosa da investida neoliberal e do consequumlente

processo de globalizaccedilatildeo estaacute no desaparecimento das fronteiras nacionais Os

governos natildeo conseguem mais deter os movimentos do capital internacional Essa

hegemonia do capital financeiro internacional toma-se uma faca de dois gumes na

medida em que vem mascarar as reservas cambiais nacionais criando uma falsa ilusatildeo

de que satildeo soacutelidas quando na verdade o que se tem de fato eacute dinheiro especulativo As

poliacuteticas neoliberais tecircm se apresentado como as mais capacitadas para atrair esse

capital flutuante de modo a financiar um novo ciclo de desenvolvimento O dinheiro

volaacutetil gira pelos vaacuterios mercados financeiros mundiais como o das bolsas de valores

do Cacircmbio ou dos juros Essa situaccedilatildeo tem levado ao reforccedilo de atividades

especulativas em detrimento de atividades produtivas acentuando o caraacuteter negativo

do sistema capitalista Como se natildeo bastasse apesar do capital volaacutetil impulsionar

negoacutecios ele soacute estaciona em paiacuteses estaacuteveis Assim transforma-se em um perigo para

os paiacuteses de economia fraca jaacute que o controle da inflaccedilatildeo natildeo significa necessariamente

a existecircncia de uma economia forte O proacuteprio desenvolvimento natildeo se reduz a

simples crescimento econocircmico Para ser autecircntico deve ser integral (Paulo VI In

Populorom Progressio n14 Editora Borges)

O exemplo mais marcante da perda do controle do movimento do

capital externo foi o Meacutexico que no final de 94 quebrou quando o dinheiro volaacutetil que

laacute estava fugiu

Eacute inegaacutevel tambeacutem Que a retraccedilatildeo das estruturas do capitalismo de

Estado tem gerado privatizaccedilotildees Que vecircm desmontando instrumentos fundamentais de

soberania dos paiacuteses em desenvolvimento reforccedilando e intensificando ainda mais a

domina catildeo imperialista sobre esses paiacuteses Que jaacute eram dependentes Estes satildeo

literalmente chantageados tornando-se refeacutens da necessidade de criar condiccedilotildees

vantajosas para a atraccedilatildeo do capital itinerante dos mercados globalizados

Aleacutem de vaacuterias outras consequumlecircncias terriacuteveis que ainda natildeo foram

enumeradas uma das piores eacute o agravamento das desigualdades sociais e a polarizaccedilatildeo

entre ricos e pobres Enquanto alguns paiacuteses andam mais depressa regiotildees inteiras

ficam para traacutes acentuando ainda mais o processo de exclusatildeo fragmentaccedilatildeo e

segmentaccedilatildeo social A iniquumlidade social decorrente da maacute distribuiccedilatildeo de rendas soacute tem

agravado este quadro concentrando a fortuna no bolso de uns poucos e deixando

bilhotildees de pessoas na miseacuteria

A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo a populaccedilatildeo dos paiacuteses desenvolvidos diminuiu de

262 em 1980 para 242 em 1990 Enquanto isso concentrou maior parcela da

riqueza mundial pois em 1980 detinha 773 do PNB (Produto Nacional Bruto)

mundial e passou a ter 831 em 1990 Em 1962 20 da populaccedilatildeo mundial mais rica

concentrava 30 vezes mais renda do que 20 da populaccedilatildeo mais pobre Jaacute em

199420 dos ricos concentravam 60 vezes mais do que os mesmos 20 da populaccedilatildeo

mais pobre (Cadernos do Terceiro Mundo n 188 p 4 ago 1996) Ainda de acordo

com um estudo recente realizado pela ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) cerca de

um bilhatildeo de seres humanos vivem em miseacuteria absoluta mais de um bilhatildeo passa fome

e quase a mesma quantidade eacute analfabeta O proacuteprio BID em dezembro de 1990

admitiu que os governos impulsionaram grandes mudanccedilas econocircmicas mas uma vez

mais as estruturas sociais permaneceram inalteradas e os programas de ajuste tenderam

a agravar as desigualdades (Cadernos do Terceiro Mundo n 188 p 26 ago 1995)

Vecirc-se assim que a estrutura econocircmica atual eacute incapaz de dar condiccedilotildees de vida para

toda a populaccedilatildeo

Em contrapartida muitos paises vecircm se conscientizando desta

realidade opressora levando a gerar problemas nos processos de estabilizaccedilatildeo nas

economias emergentes As vitoacuterias eleitorais dos ex-comunistas em paises do Leste

europeu e na Ruacutessia a greve contra a reforma previdenciaacuteria na Franccedila a intensificaccedilatildeo

dos movimentos internacionais sindicais - como a FSM (Federaccedilatildeo Sindical Mundial)

CMT (Confederaccedilatildeo Mundial do Trabalho) e CISL Confederaccedilatildeo Internacional de

Sindicatos Livres) a greve geral de 36 horas que parou a Argentina no uacuteltimo dia 26 de

setembro contra a recessatildeo e a perda da legislaccedilatildeo trabalhista e mesmo a criaccedilatildeo do

Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon) no Brasil representam uma

seacuterie de sinais pontuais de que as sociedades comeccedilam a reagir politicamente contra o

neoliberalismo e o desmonte social patrocinado por ele (Fontes Jornal Nacional 26 set

Rede Globo e Cadernos do Terceiro Mundo n 188 ago 1995)

4 - CONTEXTO NACIONAL

A inserccedilatildeo do Brasil nesta conjuntura econocircmica mundial tambeacutem

ocorreu a partir da implantaccedilatildeo das poliacuteticas neoliberais sugeridas por Instituiccedilotildees

Financeiras Internacionais Nota-se dessa forma que o pais natildeo foge agrave regra do contexto

mundial

Foi mais precisamente com a posse do governo Collor em 1990 que a

ofensiva neoliberal efetivamente tomou corpo Apoacutes o impeachment ela passou por um

periacuteodo de estagnaccedilatildeo mas foi retomada a todo vapor com a eleiccedilatildeo de Fernando

Henrique Cardoso em 1994

Eacute essencial observar de que maneira a economia brasileira vai se

incluindo nesse contexto internacional bem como analisar os objetivos da ideologia

neoliberal propagada por FHC

Jaacute em seu discurso de posse o Presidente afirmou que o grande desafio

da presente situaccedilatildeo brasileira eacute precisamente este a inserccedilatildeo do Brasil no sistema

produtivo internacional para servir os interesses nacionais e populares (Folha de Satildeo

Paulo 100794) Soacute resta saber a quais interesses nacionais e populares ele se refere

se satildeo os do Brasil ou das grandes potecircncias que querem se aproveitar da situaccedilatildeo De

qualquer forma ele continua sua explicaccedilatildeo sustentando ser necessaacuterio um Estado

reformado capaz de abrir-se eficazmente agraves pressotildees e aos interesses da populaccedilatildeo

especialmente da maioria de pobres que vive uma cidadania incompleta

Ai criam-se novas promessas privatizar reformar o Estado a

Previdecircncia Social como condiccedilotildees para que os mais pobres possam viver uma

cidadania completa Enquanto isso a massa dos brasileiros recebe aposentadorias e

pensotildees irrisoacuterias depois de trabalhar 30 ou 35 anos ao mesmo tempo em que os

parlamentares privilegiados tecircm esses benefiacutecios com agraves vezes apenas oito anos de

mandato

Para colocar em praacutetica seus objetivos a classe dominante vem

utilizando a miacutedia de uma forma indiscriminada destruindo o que a populaccedilatildeo deveria

possuir de melhor seu senso critico e sua dignidade Na ideologia difundida por esta

classe privilegiada interesses particulares manifestam-se como se fossem de interesse

geral impedindo os grupos subalternos de visualizarem sua real situaccedilatildeo e de

exprimirem suas proacuteprias aspiraccedilotildees Fala-se do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo quase

como se fossem acontecimentos naturais como se natildeo tivessem sido decididos por

mentes poderosas De fato um dos maiores ecircxitos do liberalismo contemporacircneo

neoliberalismo consiste em haver ganho adeptos entre suas viacutetimas

A TV (meio de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de alienaccedilatildeo que utiliza a

transmissatildeo e recepccedilatildeo de imagens visuais) eacute inundada com o slogan de Privatizaccedilatildeo

Democraacutetica - Apoacuteie essa Ideacuteia tentando convencer a populaccedilatildeo do Brasil de que a

soluccedilatildeo das dificuldades seraacute resolvida atraveacutes de reformas e privatizaccedilotildees o que natildeo eacute

verdade Nada mais satildeo do que uma forma de esconder os problemas estruturais do

Estado

Em seu programa de governo batizado de Matildeos agrave Obra Brasil FHC

prometeu acelerar as privatizaccedilotildees para abater a diacutevida puacuteblica aumentar investimentos

e ajudar na reforma do Estado Com isso pretende-se modificar a Constituiccedilatildeo alterar

leis e mudar haacutebitos para evitar o retorno da inflaccedilatildeo descontrolada e estimular o

crescimento da economia (ou pelo menos essa eacute a justificativa) Dessa forma qualquer

semelhanccedila com as reformas neoliberais - receitadas pelos banqueiros internacionais - e

a atual revisatildeo constitucional brasileira natildeo eacute mera coincidecircncia

O governo atual vem propondo ao Congresso reformas de profunda

mudanccedila na estrutura social e poliacutetica do paiacutes as quais vatildeo repercutir na vida de

aproximadamente 157827834 brasileiros (estimativas oficiais da Fundaccedilatildeo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE - para 96) Assim devido ao seu alcance as

reformas de emenda agrave Constituiccedilatildeo promulgada em 05 de outubro de 1988 deveriam

ser submetidas a um plebiscito precedido de um amplo debate pelos meios de

comunicaccedilatildeo para que o povo decidisse pelo voto se deveriam ou natildeo serem postas

em vigor Contudo o Governo nem chegou a cogitar essa possibilidade em uma niacutetida

atitude autoritaacuteria apesar da oposiccedilatildeo por meio de protestos e reivindicaccedilotildees populares

Conveacutem esclarecer que o Direito como fenocircmeno social natildeo pode ficar

indiferente agraves transformaccedilotildees que ocorrem dentro da sociedade Tambeacutem eacute salutar o

controle da inflaccedilatildeo e o crescimento da economia Eacute oacutebvia a necessidade de reformas jaacute

que o estatismo brasileiro produziu burocratismo corporativismo rendas monopoacutelicas

privadas a partir de decisotildees puacuteblicas ineficiecircncia e estrangulamento da democracia

Hodiernamente tambeacutem eacute verdade que natildeo se justifica mais a presenccedila do Estado em

vaacuterios setores da economia onde o dinheiro puacuteblico eacute gasto em obras e empresas

estatais natildeo prioritaacuterias mal dimensionadas ou desnecessaacuterias transformando-se num

cabide de empregos numa fonte de votos para os poliacuteticos e de poder para os

burocratas O Senado eacute um bom exemplo dessa falta de desprendimento de parentes e

correligionaacuterios poliacuteticos onde no ano de 1989 apenas 4 dos funcionaacuterios eram

concursados aleacutem do fato de que seis em cada dez eram parentes de senadores e ex-

senadores (Casas de Escacircndalos Jornal do Brasil Rio de Janeiro p10 22 fev 1989)

Isto para natildeo se falar da tendecircncia a favorecer as zonas urbanas em detrimento das aacutereas

rurais da falta de capacitaccedilatildeo governamental da crescente corrupccedilatildeo e das estruturas

verticais A maacute administraccedilatildeo puacuteblica soacute vem agravar este quadro com o socorro de

bilhotildees de reais agrave bancos e empresas falidas gastos desnecessaacuterios com sedes luxuosas

compra e aluguel de imoacuteveis decoraccedilatildeo de gabinetes etc subsiacutedios indevidos a setores

da economia ou a grupos privilegiados de funcionaacuterios aleacutem de mordomias (despesas

particulares) pagas com dinheiro dos cofres puacuteblicos A primeira impressatildeo eacute a de que

em mateacuteria de moralidade puacuteblica tudo estaacute por fazer O que se pode esperar de um

paiacutes onde o sistema eacute duro cruel e intransigente

Todavia o Estado natildeo pode sucumbir como principal agente da

instituiccedilatildeo e da garantia da ordem normativa e juriacutedica da sociedade Ele deve reforccedilar

sob novas formas e alternativas as suas funccedilotildees baacutesicas de promotor do bem-estar

social e da sociedade de equiliacutebrio com poliacuteticas positivas de garantia dos trabalhadores

e dos direitos humanos O Direito como harmonizador das relaccedilotildees sociais

intersubjetivas tambeacutem deve procurar se ajustar agraves mudanccedilas e agraves novas realidades

sem deixar de ter como aspiraccedilatildeo uma sociedade melhor e mais justa Tanto o Estado

como o Direito satildeo ferramentas desta para que seja constituiacuteda de indiviacuteduos felizes

Entretanto para salvar o capitalismo o neoliberalismo parece estar

disposto a sacrificar os direitos sociais conquistados a duras penas pela populaccedilatildeo De

uma garantia de liberdade e proteccedilatildeo a lei parece estar se transformando em uma

camisa de forccedila para o indiviacuteduo Aleacutem de legiacutetima a lei precisa ser justa De fato

nem tudo o Que eacute legal eacute justo

Compete principalmente a noacutes - cientistas professores advogados

procuradores magistrados estudantes assim como tantos outros profissionais do

Direito - impedirmos que o Estado e a proacutepria instacircncia juriacutedica tomem-se instrumentos

ao serviccedilo do desenvolvimento do crescimento e da expansatildeo em lugar de estarem ao

serviccedilo da ordem e da seguranccedila Natildeo constituiacutemos meros expectadores de uma

realidade juriacutedica exterior Ao contraacuterio participamos ativamente do processo de

construccedilatildeo da ordem juriacutedica atraveacutes de esforccedilos incessantes na investigaccedilatildeo na

interpretaccedilatildeo e na aplicaccedilatildeo do direito nos casos concretos (enquadramento de um fato

na previsatildeo de determinada norma) O operador juriacutedico nunca deve se esquecer de sua

responsabilidade para com a sociedade a qual deposita sua confianccedila naquele como

mantenedor primordial do Estado Democraacutetico de Direito ao qual todos noacutes

pertencemos

Estamos diante de uma contradiccedilatildeo Convivemos com uma moeda dita

mais valorizada que o doacutelar mas o salaacuterio natildeo daacute para atender as necessidades de

subsistecircncia da maioria da populaccedilatildeo brasileira A Constituiccedilatildeo Brasileira determina

em seu artigo 7deg inciso IV que o salaacuterio miacutenimo para o trabalhador deve ser capaz de

atender a suas necessidades vitais baacutesicas e agraves de sua famiacutelia com moradia

alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede fazer vestuaacuterio higiene transporte e previdecircncia

socialrdquo dentre outros enumerados No entanto de acordo com a medida provisoacuteria nordm

1463-3 de 260796 o salaacuterio miacutenimo atual corresponde a exatamente R$ 11200 Em

outras palavras seu valor diaacuterio corresponde a R$ 373 ou se vocecirc preferir a R$ 015 a

hora

O Brasil e principalmente o povo vecircm sendo sacrificados para manter

sua economia estaacutevel Enquanto o paiacutes eacute a deacutecima economia mundial (seu PIB eacute o

deacutecimo entre os maiores do planeta) passa para a 63ordf posiccedilatildeo quando se trata de

qualidade de vida de seus habitantes De acordo com Gilberto Paim professor de

Economia da Universidade Estaacutecio de Saacute a renda per capita dos brasileiros embora

bem maior que haacute 25 anos ainda eacute relativamente baixa US$ 320000 por ano Soacute para

se ter uma ideacuteia os 20 maiores latifundiaacuterios do Brasil detecircm 17 milhotildees de hectares o

que corresponde a aproximadamente 45 das terras Soacute aqui no Rio Grande do Norte

por volta de 100 mil famiacutelias de trabalhadores rurais ainda natildeo tecircm terra para cultivar

enfrentando uma situaccedilatildeo de penuacuteria e retaliaccedilotildees por parte da Poliacutecia Militar (O

FOacuteRUM n 2 dez 1995) Infelizmente o campo continua a produzir sangue e a terra a

gerar massacres

Enquanto isso FHC insiste em afirmar que ldquo o grande desafio do

Brasil neste final de seacuteculo justiccedila social Este seraacute o objetivo do meu governo

(seraacute)

Com esse discurso demagoacutegico o presidente continua a impor sua

poliacutetica neoliberal - ao tentar acabar com os monopoacutelios ao fazer concessotildees de

serviccedilos puacuteblicos a agilizar as privatizaccedilotildees e reformas etc - procurando atender a

interesses externos em nome da famosa ldquojusticcedila social As ldquoportas do paiacutes jaacute estatildeo

abertas aos banqueiros de qualquer parte do mundo desde agosto de 1995 podendo

comprar bancos privados participar dos que jaacute existem e abrir filiais ou agecircncias no

Brasil Essa abertura do sistema financeiro soacute aconteceu porque o governo viu nela uma

grande possibilidade de se livrar de problemas com bancos falidos o que vinha

arranhando muito a sua imagem Com essa medida o governo procurou ser ldquosimpaacutetico

e ao mesmo tempo se livrar de problemas (Revista Veja p 99 30 ago 1995)

Outra Consequumlecircncia desse modelo privatizador entrevista eacute o

esfacelamento de Induacutestrias Nacionais e Estatais Que vatildeo sucumbindo aos poucos

passando para o controle da iniciativa privada internacional abrindo novas fontes de

acumulaccedilatildeo para os grandes grupos monopolistas privados Com esse objetivo o

ministro das financcedilas do Reino Unido Kenneth Clarke veio ao Brasil no final do ano

passado a fim de prospectar possibilidades de negoacutecios para empresas britacircnicas na

Ameacuterica do Sul em especial no que diz respeito agrave privatizaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

Essa ldquoprivatizaccedilatildeo do Estado soacute vem aumentando a submissatildeo do povo brasileiro cada

vez mais aos interesses da classe social Que se encontra no topo Lamentavelmente

uma legislaccedilatildeo antipatrioacutetica tambeacutem tem permitido que grupos econocircmicos

estrangeiros dominem em proveito proacuteprio grande parte das riquezas naturais do Brasil

Para se ter uma noccedilatildeo desta desnacionalizaccedilatildeo das reservas minerais brasileiras basta

verificar as concessotildees de lavras (licenccedilas para mineraccedilatildeo) jaacute concedidas Ao contraacuterio

da tendecircncia atual deveriacuteamos procurar dar cada vez mais prestiacutegio forccedila e autoridade

para as empresas genuinamente brasileiras que realmente lutam pelo Brasil e natildeo pelo

enriquecimento da fortuna dos estrangeiros

Devemos considerar que a situaccedilatildeo econocircmica eacute delicada que a pobreza

continua a se alastrar e que o ideal de melhoria social estaacute cada vez mais longe afinal

de contas ldquomiseacuteria e democracia natildeo coexistem( Herbert de Souza o Betinho)

Essas soacute satildeo algumas consequumlecircncias negativas Infelizmente ainda

existem outras que vecircm se somar a essas e aumentar este quadro caoacutetico que se

intensifica no Brasil

O povo brasileiro precisa urgentemente se conscientizar dessa realidade

camuflada que continua atendendo a interesses variados que soacute visam a exploraccedilatildeo do

paiacutes Natildeo podemos continuar aceitando o absurdo como coisa normal

Seraacute que ldquoPara tomar consciecircncia da necessidade de mudanccedilas eacute

tambeacutem necessaacuterio ser sacudido pelos fatos pelo encontro com a injusticcedila pelos pobres

em desespero (Pierre Imberdis e Xavier Perrim) Jaacute eacute hora de assumir nosso destino

por nossa conta procurando desvendar o jogo de interesses que se esconde por traacutes dos

discursos ideoloacutegicos propagados pelos detentores do poder econocircmico-poliacutetico

Eacute preciso uma tomada de atitude que leve a pensar quem eacute que estaacute se

beneficiando mais com a reforma do Estado antes que esse processo devastador

privatize o paiacutes por completo a ponto de natildeo sobrar nada genuinamente brasileiro a natildeo

ser o nome BRASIL

5 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E SOLUCcedilOtildeES

De todo o exposto pode-se concluir que a ofensiva neoliberal tem

direcionado o Brasil a um processo de ldquoilusatildeo onde o povo eacute levado a acreditar que a

soluccedilatildeo para as iniquumlidades estaacute nas reformas Eacute imprescindiacutevel entretanto perquirir as

reais importacircncias dessas reformas e ter cautela para que destas modificaccedilotildees natildeo

decorram prejuiacutezos irreparaacuteveis para os cidadatildeos acabando com o pouco que resta do

paiacutes

A estabilizaccedilatildeo da moeda e o controle da inflaccedilatildeo tecircm sido mais

importantes do que poliacuteticas de criaccedilatildeo de empregos melhorias na sauacutede educaccedilatildeo

habitaccedilatildeo etc O neoliberalismo tem trazido a primeiro plano a palavra eficiecircncia e

relegado a plano inferior a palavra equidade Natildeo devemos e natildeo podemos nos enganar

Nos paiacuteses subdesenvolvidos como o Brasil os problemas de desenvolvimento natildeo satildeo

somente econocircmicos satildeo ainda e sobretudo humanos Eacute necessaacuterio que os governos se

empenhem a fundo para que ao desenvolvimento econocircmico corresponda o progresso

social

Tudo natildeo passa de uma nova ideologia Que visa recriar velhas formas de

acumulaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de capital utilizadas no seacuteculo XVIII e que hoje satildeo

denominadas de neoliberalismo Este transformou-se em maacutescara por detraacutes da qual os

interesses econocircmicos dominantes tiram proveito do poder poliacutetico fazendo com que os

paiacuteses mais desenvolvidos aumentem seu domiacutenio permitindo seu fortalecimento no

cenaacuterio mundial

Vale salientar que o Brasil natildeo deve se fechar completamente num

middotostracismo econocircmico-financeiro a par do resto do mundo o que fatalmente o levaria

a um entrave e a um retrocesso no desenvolvimento tecnoloacutegico agravando-se o atraso

econocircmico aumentando as dificuldades nos planos de emprego e de competitividade no

mercado internacional Nesse sentido Luiacutes Roberto Martins presidente da EDS

consultoria de Satildeo Paulo diz que middota induacutestria envelhece fica incapaz de produzir coisas

melhores e baratas a inflaccedilatildeo sobe e a capacidade de criar empregos cai (Antenor

Nascimento Neto A Roda Global Veia Rio de Janeiro 3 ab 96)

Contudo essa abertura de mercado deve se dar de forma gradativa Antes

o governo deve procurar fortalecer o mercado interno acabar com a cartelizaccedilatildeo e com

o monopoacutelio de vaacuterios setores da economia (evitando uma concorrecircncia imperfeita

onde o ofertante tem capacidade para influir ou controlar o preccedilo) etc e soacute entatildeo o paiacutes

estaraacute apto a se inserir no contexto mundial com as mesmas chances Eacute preciso uma

globalizaccedilatildeo (natildeo me refiro agravequela da TV) sem exclusatildeo Em seu artigo 219 a proacutepria

Carta Magna preza que o mercado interno bull seraacute incentivado de modo a viabilizar o

desenvolvimento cultural e s6cioecon6mico o bem estar da populaccedilatildeo e a autonomia

tecnol6gica do Pais Contudo o concreto eacute muitas vezes o inverso daquilo que as

ideacuteias dominantes manifestam

Vocecirc jaacute parou para pensar se no uacuteltimo dia 7 de setembro comemoramos

147 anos de independecircncia ou por outro lado foram mais 147 anos de subordinaccedilatildeo

domiacutenio exploraccedilatildeo interferecircncia sujeiccedilatildeo e manipulaccedilatildeo

Cabe agrave todos noacutes e principalmente a populaccedilatildeo mais esclarecida o

dever de defender os interesses nacionais e sociais que vecircm sendo usurpados como

tambeacutem conscientizar o resto da populaccedilatildeo Devemos reagir contra o simples

desmantelamento do Estado propondo reformas modemizadoras que aumentem a

eficiecircncia e que resgatem sua funccedilatildeo de promotor da justiccedila social Quero nossa naccedilatildeo

soberana independente autocircnoma livre de qualquer laccedilo ou compromisso opressor

senhora de suas proacuteprias accedilotildees um Brasil ldquobelo forte impaacutevido colasso (Joaquim

Osoacuterio Duque Estrada)

Para isso o Estado natildeo deve retirar-se totalmente da economia

procurando utilizar poliacuteticas econocircmicas eficazes para que a classe mais rica possa

estender os benefiacutecios da sauacutede da educaccedilatildeo e da previdecircncia puacuteblica aos excluiacutedos

sem que o proacuteprio Estado se tome um peso demasiado para a sociedade possibilitando

assim o acesso do povo agrave cidadania

Partindo desse pressuposto justifica-se a intervenccedilatildeo do Estado de uma

forma complementar assumindo funccedilotildees corretivas (para o controle de distorccedilotildees e

desequiliacutebrios do mercado) supletivas (para ocupar espaccedilos natildeo preenchidos pela

iniciativa empresarial privada por omissatildeo ou incapacidade) e coordenativas (para

balizar a accedilatildeo econocircmica da sociedade) Tambeacutem eacute importante a coexistecircncia da

propriedade privada e estatal dos meios de produccedilatildeo procurando conciliar o interesse

puacuteblico com o interesse privado Contudo a iniciativa empresarial deve ser mantida sob

vigilacircncia do Estado que tem por escopo preservar o bem comum Assim a adoccedilatildeo de

uma espeacutecie de intervencionismo moderado eacute salutar um meio termo entre a liberdade

econocircmica absoluta e o total controle do Estado sobre a economia sendo sempre este

fiscalizado pela naccedilatildeo

Naccedilatildeo esta que tem obrigaccedilatildeo de contribuir natildeo apenas com denuacutencias

Ser cidadatildeo natildeo eacute acomodaccedilatildeo Eacute participaccedilatildeo A cidadania tem que ser permanente a

noacutes cabe fiscalizar agir pressionar cobrar - a cada momento e sempre

O desejo do povo deve ser conjugado ao enorme potencial econocircmico do

paiacutes soacute assim os maiores problemas poderatildeo ser ultrapassados Eacute um desafio a longo

prazo afinal de contas satildeo quase 500 anos de exploraccedilatildeo mas que eacute possiacutevel se unirmos

nossas forccedilas middotPor que esperar se podemos comeccedilar tudo de novo Agora mesmo A

humanidade eacute desumana Mas ainda temos chance O sol nasce para todos Soacute natildeo sabe

quem natildeo quer (Dado Villla-Lobos Renato Russo Marcelo Bonfaacute)

Temos que ter propostas poliacuteticas proacuteprias para grandes temas nacionais

no campo social como por exemplo a educaccedilatildeo e a reforma agraacuteria que estatildeo tatildeo em

evidecircncia hoje em dia

Quando natildeo fornecemos ao individuo a condiccedilatildeo de construir a si mesmo

(constructor sur) natildeo podemos esperar que se construa sadiamente Em contrapartida

um povo educado toma-se mais esclarecido e informado da sua real situaccedilatildeo fazendo

com que deixe sua apatia de lado e se organize para exigir seus direitos Quanto mais

desenvolve sua educaccedilatildeo quanto mais assimila e analisa conhecimentos e experiecircncias

mais reflete o indiviacuteduo sobre o processo em que estaacute imerso tomando-se mais

politizado (questionador) e mais reflexivo (autoquestionador)

O governo contudo natildeo tem interesse em proporcionar uma educaccedilatildeo de

qualidade O Brasil tem hoje a terceira maior taxa de evasatildeo escolar do mundo atraacutes

somente do Haiti e GuineacuteBissau causada em grande parte pela necessidade dos

menores reforccedilarem o orccedilamento familiar (satildeo cerca de sete milhotildees e meio de crianccedilas

e adolescentes entre 10 e 17 anos) O nuacutemero de analfabetos ultrapassa atualmente os

17 milhotildees ou seja mais de 16 da populaccedilatildeo acima de 14 anos Estima-se que no

ano 2000 esse nuacutemero poderaacute chegar aos 23 milhotildees representando uma populaccedilatildeo

que supotildee-se seraacute em tomo dos 180 milhotildees (Brasil o livro dos 500 anos p 112 Satildeo

Paulo 1996) Assim uma grande parcela natildeo tem acesso agrave educaccedilatildeo constituindo

apenas matildeo-de-obra barata massa de manobra poliacutetica e da miacutedia Esta triste realidade

natildeo eacute novidade apesar da educaccedilatildeo receber na Constituiccedilatildeo atual um tratamento bem

mais detalhado que nas anteriores

Dentre os princiacutepios que tratam do tema podem-se destacar a

gratuidade do ensino puacuteblico a valorizaccedilatildeo dos profissionais do ensino e a garantia do

padratildeo de qualidade (art 206 incisos IV V e VII respectivamente) Contudo por que

seraacute que o ensino privado se prolifera os professores da rede puacuteblica satildeo mal

remunerados e os alunos reclamam das condiccedilotildees educacionais

Vecirc-se o caso das Universidades por exemplo a Universidade Privada

estaacute sendo comprada por parte da sociedade que natildeo consegue vaga ou teme a

competiccedilatildeo para o ingresso na Universidade Puacuteblica como a soluccedilatildeo para o ensino

superior quando sabe-se que 80 de todos os estudantes universitaacuterios brasileiros

entram na rede privada poreacutem 60 de todos os formados saem eacute da rede puacuteblica Das

873 entidades existentes no ensino de 3deg grau apenas 25 satildeo puacuteblicas (opcitp) O

mais grave ao se pretender tirar do Estado a responsabilidade peAacutea Universidade

Puacuteblica eacute que aleacutem da maioria natildeo poder pagar a escola privada o fato da

Universidade natildeo precisar se submeter a um mercado perifeacuterico ajuda a garantir a

independecircncia do proacuteprio paiacutes constituindo uma frente fundamental ao

desenvolvimento

A reforma agraacuteria tambeacutem vem responder ao interesse paacutetrio do Brasil e

de toda a sociedade uma vez que sua efetivaccedilatildeo representa avanccedilo econocircmico e social

Soacute a pequena propriedade familiar atende a 75 do consumo nacional Todavia natildeo

basta dar terras Da mesma forma eacute preciso um apoio governamental dando condiccedilatildeo

para sua concretizaccedilatildeo O paiacutes deve fortalecer suas administraccedilotildees estimular as

empresas de base e os pequenos agricultores para garantir um desenvolvimento de baixo

para cima e aprofundar as instituiccedilotildees democraacuteticas

Essas soacute foram algumas condiccedilotildees enumeradas para se reverter esse

quadro de abandono em que se encontra a maioria da populaccedilatildeo que eacute quem sofre as

piores consequumlecircncias desse descaso Infelizmente satildeo comuns entre noacutes as leis que

ficam apenas no papel enquanto o mundo real segue outras normas

Soacute a partir da exigecircncia de seus direitos eacute que o povo estaraacute apto a

readquirir sua cidadania jaacute que como disse Renato de Oliveira candidato a presidecircncia

da ANDES (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituiccedilotildees de Ensino Superior)

direitos natildeo defendidos satildeo direitos perdidos

Destarte justifica-se a mensagem deixada pela Declaraccedilatildeo Final da IX

Conferecircncia Continental Americana de Juristas realizada em Porto Alegre no ano de

19910 neoliberalismo busca destruir os fundamentos do trabalho A crise provocada

pelas classes dominantes natildeo pode servir de argumento para chantagem internacional

com a consequumlente agudiccedilatildeo das desigualdades sociais e a perda pelos trabalhadores de

suas conquistas atraveacutes da preterida f1exibilizaccedilatildeo das normas laborais

Apesar das previsotildees pessimistas ainda natildeo eacute tarde demais Natildeo existe

um mundo pronto e acabado no qual o homem seja uma criatura passiva Existe o

mundo que o homem faz em que ele estaacute e transforma Mesmo aquele que nada faz

para mudar estaacute fazendo o mundo um mundo irremediaacutevel

Soacute resta esperar que noacutes brasileiros reflitamos a respeito da ofensiva

neoliberal em que estamos nos inserindo pesando bem os proacutes e os contras a fim de

evitar que o pais seja levado a um caminho de consequumlecircncias nefastas Se queremos

amenizar as injusticcedilas melhorar os serviccedilos puacuteblicos dar melhores perspectivas ao

Brasil objetivando um desenvolvimento auto sustentado jaacute eacute hora de acordar esse

Gigante pela proacutepria natureza () Deitado eternamente em berccedilo esplecircndido (trechos

do Hino Nacional Brasileiro) procurando analisar a gravidade dos problemas sociais e

das verdadeiras causas de cada um unindo nossas forccedilas como resultado de uma

vontade nacional agindo principalmente e antes de tudo como cidadatildeos conscientes

Aiacute quem sabe um dia o preacircmbulo da Constituiccedilatildeo Federal se tome

realidade quando todos noacutes viveremos em ldquo um Estado Democraacutetico destinado a

assegurar o exerciacutecio dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-

estar o desenvolvimento a Igualdade e a justiccedila como valores supremos de uma

sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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REVISTA VEJA 11 de janeiro de 1995

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RODRIGUES Leocircncio Martins O furacatildeo neoliberal Folha de Satildeo

Paulo Satildeo Paulo 4 set 1995

RODRIGUES NETO Joatildeo TEIXEIRA Roosenez de C Neoliberalismo

para o terceiro mundo O Poti Natal 23 jul 1995

_________ Desindexaccedilatildeo as duas faces do plano real O Poti Natal 23

jul 1995

_________ Plano real por quem os sinos dobram Gazeta do Oeste 4

set 1994

_________ A conjuntura econocircmica e o mercado de trabalho Diaacuterio de

Natal 7 jun 1996

VICENTINO Claacuteudio SCALZARETTO Reinaldo Nova ordem

internacional

AUTORIDADE COATORA EM MANDADO DE SEGURANCcedilA -

ANAacuteLISE COM BASE EM CASO CONCRETO

Luana Pedrosa de Figueiredo Cruz

Acadecircmica do 8ordm periacuteodo do Curso de Direito UFRN

Monitora da disciplina de Direito Civil VI - Direito de Famiacutelia

CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES

Com o advento da Medida Provisoacuteria ndeg 141596 e suas reediccedilotildees que

dentre outras determinaccedilotildees instituiu contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria para os servidores

inativos da Uniatildeo Federal eacute grande o nuacutemero de Mandados de Seguranccedila impetrados

pelos aposentados alegando a ilegalidade dos descontos nos seus proventos

Grande valia possui a anaacutelise do meacuterito da questatildeo poreacutem nos ateremos

ao aspecto que tange agrave parte passiva da Accedilatildeo

Anteriormente agrave anaacutelise que se seguiraacute satildeo necessaacuterios alguns conceitos

e breves consideraccedilotildees

MANDADO DE SEGURANCcedilA

Garantia Constitucional que eacute usando as palavras do Mestre Marcelo

Navarro Ribeiro Dantas ldquoo mandado de seguranccedila eacute remeacutedio constitucional emanado

do direito puacuteblico e destinado a proteger direitos liacutequidos e certos violados pela

autoridade puacuteblica desde que estes natildeo sejam amparados por habeas corpus ou habeas

data

Pode ser accedilatildeo de cogniccedilatildeo constitutiva declaratoacuteria ou condenatoacuteria

Por direito liacutequido e certo entende-se o incontestaacutevel com fato certo e

legalmente fundamentado Segundo Castro Nunes ldquose a norma de direito positivo

incidindo sobre fatos incontroversos criasse um direito teriacuteamos caracterizado entatildeo o

direito liacutequido e certo Jurisprudecircncia (desde o Supremo) e doutrina predominantes

hoje em dia entendem como direito liacutequido e certo para fins de seguranccedila aquele que

pode ser objeto de prova preacute-constituiacuteda porque o rito especialiacutessimo do mandado de

seguranccedila natildeo admite dilaccedilatildeo probatoacuteria

Assim a suposta lesatildeo ou ameaccedila do direito deve ser pertinentemente

provada quando da propositura da accedilatildeo de seguranccedila

AUTORIDADE COATORA

Questatildeo ainda bastante controversa eacute a de quem deve ocupar o poacutelo

passivo na relaccedilatildeo processual instaurada no Mandado de Seguranccedila

Primeiramente eacute necessaacuterio que se faccedila a distinccedilatildeo entre autoridade

puacuteblica e agente puacuteblico Este pratica atos meramente executoacuterios natildeo tem poder de

decisatildeo pois apenas cumpre ordem superior Aquele possui poder decisoacuterio na praacutetica

dos atos administrativos

Observe-se o dispositivo da lei nordm 153351 art 1ordm sect1ordm ldquoConsideram-

se autoridades para os efeitos desta lei os administradores ou representantes das

entidades autaacuterquicas e das pessoas naturais ou juriacutedicas com funccedilotildees delegadas do

Poder Puacuteblico somente no que entende com essas funccedilotildees

Deve-se considerar que os atos praticados por pessoas ou instituiccedilotildees

particulares cuja atividade seja apenas autorizada pelo Poder Puacuteblico natildeo satildeo passiacuteveis

de Mandado de Seguranccedila pois natildeo estatildeo desempenhando atividade delegada eacute o

entendimento extraiacutedo da Suacutemula 510 do STF

Tomando como exemplo a educaccedilatildeo um direito puacuteblico subjetivo para

que uma instituiccedilatildeo particular de ensino seja passiacutevel de Mandado de Seguranccedila eacute

preciso que o seu responsaacutevel pratique ato ilegal ou abusivo no tocante

especificamente agrave violaccedilatildeo do direito citado como por exemplo recusar-se

inexplicadamente a aceitar aluno o que natildeo seria cabiacutevel se fosse ato meramente de

administraccedilatildeo interna

Assim sendo autoridade coatora eacute quem praticou accedilatildeo ou omissatildeo

ferindo o direito liquido e certo do impetrante devendo excluir-se o que apenas

recomenda e estabelece normas para a execuccedilatildeo ou abstenccedilatildeo

Apesar de divergentes as linhas de pensamento tome-se como

predominante o entender de Hely Lopes Meirelles segundo o qual a impetraccedilatildeo deve

ser sempre dirigida contra a autoridade que tenha poderes e meios para praticar o

ato ordenado pelo Judiciaacuterio discordando assim das consideraccedilotildees de Pontes de

Miranda nas quais o coator eacute o executor da ordem salvo em praacutetica de ato por

obediecircncia a ordem direta

A autoridade coatora entatildeo eacute aquela que possui competecircncia e

instrumento juriacutedico que a habilite a desfazer o ato desde que lhe determine o

Judiciaacuterio

Portanto se o executor da ordem natildeo possui esses meios afastado estaacute

do poacutelo passivo a natildeo ser que aleacutem de ordenador seja ele tambeacutem o executor

CASO CONCRETO

Passando agora para a problemaacutetica atual tomemos o exemplo citado no

iniacutecio deste trabalho

Recentemente foi impetrado writ contra ato de autoridade do Secretaacuterio

de Recursos Humanos do Tribunal Regional Eleitoral no Rio Grande do Norte

alegando a ilegalidade do ato

O caso merece anaacutelise Observe-se a seguinte ementa

PROCESSO CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA I AUTORIDADE

COATORA Autoridade Coatora no mandado de seguranccedila eacute aquela que

tem a responsabilidade funcional de defender o ato impugnado Nos

mandados de seguranccedila preventivos que visam a inibir lanccedilamentos de

oficio a propoacutesito de tributos por homologaccedilatildeo essa autoridade eacute o

chefe do Oacutergatildeo em que estaacute lotado o agente fazendaacuterio que pratica os

atos de fiscalizaccedilatildeo 2 ERRO NA INDICACcedilAtildeO DA AUTORIDADE

COATORA EXTINCcedilAtildeO DO PROCESSO SEMJULGAMENTO DE

MEacuteRITO Se a impetraccedilatildeo for mal endereccedilada vale dizer se apontar

COl1l0 autoridade coatora quem natildeo tem a responsabilidade funcional

de defender o ato impugnado o processo deve ser extinto sem

julgamento de meacuterito Recurso ordinaacuterio improvido Recurso em

Mandado de Seguranccedila nordm 4897-6 _ SP Rei Min Ari Pargendler DJU

091095 Seccedilatildeo I p33536)

Trazendo o raciociacutenio para o caso sob anaacutelise atente-se tambeacutem para o

art 96 da Constituiccedilatildeo Federal que diz o seguinte

Compete privativamente

J - aos tribunais

a) eleger seus oacutergatildeos diretivos e elaborar seus regimentos internos

com observacircncia das normas de processo e das garantias

processuais das partes dispondo sobre a competecircncia e o

funcionamento dos respectivos oacutergatildeos jurisdicionais e

administrativos

b) organizar suas secretarias e serviccedilos auxiliares e os dos juiacutezos

que Ihes forem vinculados velando pelo exerciacutecio da atividade

correicional respectivardquo

Portanto eacute cristalino que os TREs satildeo dotados de autonomia

administrativa

In casu os descontos foram determinados pelo Presidente do oacutergatildeo

que eacute o ordenador de despesas segundo as informaccedilotildees processuais fornecidas nos

autos

Assim sendo natildeo pode o secretaacuterio de recursos humanos do tribunal ser

responsabilizado por cumprir ordem a que estaacute hierarquicamente submetido pois

mesmo que assim o desejasse natildeo seria competente por ser mero executor material O

Presidente do TRE sendo o ordenador de despesas assume a responsabilidade e

deveria estar no poacutelo passivo nesta demanda judicial

Este caso eacute deveras especiacutefico pois a questatildeo relacionada aos tribunais

diverge de outras situaccedilotildees onde seria possiacutevel responsabilizar o chefe do setor de

recursos humanos haja vista a possibilidade de delegaccedilatildeo de responsabilidade dentro

da estrutura administrativa do oacutergatildeo

Haacute tambeacutem a situaccedilatildeo dos quadros de pessoal das autarquias e

fundaccedilotildees puacuteblicas do Poder Executivo da Uniatildeo e administraccedilatildeo direta gerenciada

por um oacutergatildeo ligado ao Ministeacuterio da Administraccedilatildeo Federal e Reforma do Estado -

MARE (Lei 908295 art 36 Medida Provisoacuteria 134296 art 14 aliacutenea f Decreto

1412 de 070395 e Portaria 978 de 270396 do MARE Aqui observa-se a retirada

da competecircncia para o MARE e a respectiva autoridade coatora natildeo para o executor

material da ordem

Para fins de competecircncia antes de dirigir-se ao caso em tela eacute mister

esclarecer que a fixaccedilatildeo do juiacutezo competente independe da natureza do ato Deve ser

levado em conta a sede e categoria funcional da autoridade Acrescente-se que o fato de

o Mandado ser impetrado por exemplo perante as Justiccedilas Trabalhista ou Eleitoral natildeo

modifica a sua denominaccedilatildeo posto que eacute regido pelas mesmas normas e a diferente

competecircncia natildeo modifica a essecircncia do instituto

Deve entatildeo neste caso objeto de nossa anaacutelise o writ ser impetrado

perante o proacuteprio TRE contra seu Presidente em face da autonomia administrativa

pois competente eacute a sede funcional a qual pertence a autoridade coatora

Finalizando a soluccedilatildeo neste Mandado eacute a extinccedilatildeo do processo sem

julgamento de meacuterito posto que a autoridade foi erroneamente apontada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

COGAN JOSEacute DAMIAtildeO PINHEIRO MACHADO - Mandado de

Seguranccedila na Justiccedila Criminal e Ministeacuterio Puacuteblico - Saraiva 2 a ediccedilatildeo - Satildeo Paulo

1992

DANTAS MARCELO NAVARRO RIBEIRO - Apontamentos sobre

Mandado de Seguranccedila - Editora do Rio Grande do Norte - CERN NatalRN1984

FERRAZ SEacuteRGIO - Mandado de Seguranccedila ( individual e coletivo)

Aspectos Polecircmicos - Malheiros 2a ediccedilatildeo - Satildeo Paulo

MEIRELLES HEL Y LOPES - MANDADO DE SEGURANCcedilA -

Accedilatildeo Popular Accedilatildeo Civil Puacuteblica Mandado de Injunccedilatildeo Habeas Datardquo - Editora RT

13aediccedilatildeo Satildeo Paulo 1992

VELLOSO CARLOS MAacuteRIO DA SILVA - Conceito de Direito

Liacutequido e Certo - em Curso de Mandado de Seguranccedila

Pareceres em Mandado de Seguranccedila

PINHEIRO FILHO FRANCISCO XAVIER - Procurador Regional da

Repuacuteblica no Rio Grande do Norte Processo nordm 960006286-2 setembro de 1996

TEIXEIRA ANTOcircNIO EDIacuteLIO MAGALHAtildeES - Procurador da

Repuacuteblica no Rio Grande do Norte Processo nordm 960006645 - O outubro de 1996

Eacute A JUSTICcedilA A REAL META DO DIREITO

Roberto Di Sena Junior

Acadecircmico do 2ordm periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES

Antes de respondermos agrave pergunta aparentemente simples acima

proposta devemos abordar temas que nos forneccedilam o embasamento teoacuterico necessaacuterio agrave

correta soluccedilatildeo dessa questatildeo Primeiramente devemos saber o que o Direito eacute para

em seguida podermos especular sobre qual eacute sua finalidade Essa eacute uma tarefa

extremamente complexa visto que muitas satildeo as definiccedilotildees e acepccedilotildees da palavra

DIREITO natildeo obstante a isso tentaremos ultrapassar esse toacutepico sem muitas

controveacutersias se eacute que isso eacute possiacutevel (Definitio est initium omni disputatiom)

O CONCEITO DE DIREITO

Mesmo salientando que uma uacutenica definiccedilatildeo eacute incapaz de revelar todas

as diversas facetas da palavra DIREITO Paulo Nader tenta defini-Io como sendo o

conjunto de normas de conduta social imposto coercitivamente pelo Estado para a

realizaccedilatildeo da seguranccedila segundo criteacuterios de justiccedilardquo Este conceito do meu ponto de

vista eacute deveras peculiar haja vista explicitar a finalidade do Direito e o meio (o uacutenico

salienta-se) atraveacutes do qual este pode ser concretizado Outro conceito que merece ser

destacado no presente artigo eacute Dante Alighieri no qual ele diz ldquojus est realis al

personalis hominis ad hominem proportio qual servata societatim servate corrupta

corrumptirdquo1 Em ambos os conceitos nota-se a relaccedilatildeo direta entre Direito e o

estabelecimento da ordem e a manutenccedilatildeo da paz social Contrapondo as colocaccedilotildees

anteriores poderia ser invocada a definiccedilatildeo do famoso jurista Celso para o qual o

Direito eacute a arte do bom e do justo Essa definiccedilatildeo entretanto soa-me por demais

abstrata e para isso haacute uma explicaccedilatildeo os romanos assim como os gregos natildeo

diferenciavam Direito Moral Religiatildeo e Regras de Trato Social diferentemente do

que acontece contemporaneamente Este posicionamento por muitos de caraacuteter

positivista explico entretanto que natildeo o eacute pois os adeptos desta corrente limitam o

conceito de Direito agravequilo que estaacute conforme a lei (jus = lex) ou seja ao que eacute liacutecito

relaccedilatildeo esta cujos enunciados acima natildeo se propotildeem a fazer

Transpondo a fase da definiccedilatildeo de Direito que certamente muitos

discordaratildeo do que foi anteriormente exposto passemos para o segundo poreacutem mais

controvertido item

A ABSTRACcedilAtildeO DO CONCEITO DE JUSTICcedilA

Muito se fala sobre a justiccedila e de sua importacircncia para o Direito poreacutem

quando se trata de defini-Ia quase sempre se recorre a enunciados abstratos e de certa

forma inaplicaacuteveis agrave concretude da realidade cotidiana

A concepccedilatildeo claacutessica geralmente invocada pelos juristas atuais foi

formulada por Ulpiano na Roma antiga Para ele a justitia est constans et perpetua

voluntas jus suum unique tribuendi2 Sabe-se entretanto que esta eacute uma visiacutevel

expressatildeo da separaccedilatildeo social das classes entre dominantes e espoliados Assim explica

o jurista Joatildeo Mangabeira porque se a justiccedila consiste em dar a cada um o que eacute seu

decirc-se ao pobre a pobreza ao miseraacutevel a miseacuteria ao desgraccedilado a desgraccedila que isto eacute

o que eacute deles ()rdquo Se este conceito natildeo serve para definir a justiccedila seria entatildeo o de

Aristoacuteteles o ideal A saber a justiccedila eacute a observacircncia do meio termo enquanto a

injusticcedila se relaciona com os extremos Como poderiacuteamos pocircr em praacutetica tal

concepccedilatildeo Muitos condenam a pena de morte qual seria entatildeo o meio termo para a

soluccedilatildeo deste conflito O que seria justo nesse caso

Isto posto vemos a justiccedila por ser uma ideacuteia abstrata (inatingiacutevel) natildeo

pode ser o fim de uma ciecircncia concreta como o Direito que regulamenta a vida de todos

os indiviacuteduos de uma sociedade A justiccedila tal qual sua real influecircncia que exerce sobre

o Direito poderia ser entatildeo de forma mais plausiacutevel e concreta definida como sendo o

respeito pelas expectativas compreendidas na vida em sociedade na qual cada ser

humano tenha a possibilidade de desfrutar de existecircncia social e econocircmica completa e

igual Devemos entretanto atentar para o fato de que como disse Rousseau agrave falta de

sanccedilatildeo natural satildeo vatildes as leis de justiccedila entre os homens Cabe aos juristas entatildeo

aplicar LEGIacuteTIMAS3 atraveacutes de meios justos para se atingir a meta do Direito o fim

para o qual este foi criado a seguranccedila e a manutenccedilatildeo da paz social sem as quais os

1 ldquoOu seja Direito eacute a proporccedilatildeo real e pessoal de homem para homem que conservada

conserva a sociedade e que destruiacuteda a destroacuteirdquo 2 Isto eacute justiccedila eacute a constante e firme vontade de dar a cada um o que eacute seu

3 A legitimidade das leis eacute um assunto de importacircncia salutar que no entanto natildeo nos interessa

diretamente

seres humanos natildeo poderiam satisfazer seu appetitus societatis Explicando que a

manutenccedilatildeo da ordem e da paz natildeo implicam necesssariamente na manutenccedilatildeo do

status quo o qual sendo injusto deve certamente ser alvo implacaacutevel do Direito a

fim de sua superaccedilatildeo

A SEGURANCcedilA JURIacuteDICA

A seguranccedila com a conotaccedilatildeo acima exposta natildeo pode ser

compreendida meramente como a existecircncia de uma ordem juriacutedica isto eacute o

conhecimento do que eacute liacutecito e iliacutecito Estaacute em seu mais amplo sentido haja vista o

niacutevel social alcanccedilado pelo homem natildeo eacute soacute um fato eacute tambeacutem sobretudo um valor

A preservaccedilatildeo da paz social deve ser a meta do Direito posto que foi

com essa finalidade que ele foi criado natildeo podemos eacute claro chegar ao extremo de

compartilhar da opiniatildeo de Goethe que disse prefiro a injusticcedila agrave desordem A

seguranccedila plena eacute necessaacuteria mas ela soacute se sustenta se erguida sobre os firmes

alicerces da justiccedila

Concordamos portanto com o jurista cubano Camus quando disse que

entre justiccedila e seguranccedila existe uma muacutetua compenetraccedilatildeo sendo de absoluta

necessidade a coexistecircncia de ambos para o desenvolvimento ordenado de uma

sociedade civilizada

O homem natildeo eacute auto-suficiente nem no plano material nem no

espiritual Ele eacute um animal extremamente inseguro e dependente sendo a seguranccedila e

a estabilidade uma aspiraccedilatildeo comum a

todos indistintamente

Eacute este portanto o grande dilema do Direito a conciliaccedilatildeo entre justiccedila

e seguranccedila plena natildeo se podendo conceber esta sem aquela

CONCLUSAtildeO

Chegamos entatildeo agrave conclusatildeo de que o Direito tendo em vista sua

determinaccedilatildeo histoacuterico-social tem por escopo a manutenccedilatildeo da paz e da ordem sociais

sendo a justiccedila o UacuteNICO MEIO atraveacutes do qual este objetivo pode ser alcanccedilado de

forma plena e duradoura O Direito surgiu naturalmente como uma necessidade para

que os homens pudessem viver em sociedade sendo sua funccedilatildeo limitar a conduta de

indiviacuteduos que eventualmente possam colocar em risco a paciacutefica coexistecircncia coletiva

O Direito assim como o Estado surge como garantia juriacutedica social e poliacutetica contra o

medo que os sujeitos sociais tecircm dos outros sujeitos sociais os quais atraveacutes de contrato

firmado mutuamente entre si abdicam de certos direitos individuais em prol da

satisfaccedilatildeo de sua natural necessidade de viver em sociedade A inexistecircncia do Direito

nas sociedades modernas teria por consequumlecircncia a regressatildeo do homem a seu mais baixo

niacutevel de civilidade no qual eles viveriam num estado como o descrito por Hobbes de

bellum omnium contra omnes visto que soacute consegue realizar seu destino moral

quando inserido numa sociedade Isto posto vemos que apesar de bela a ideacuteia de ter a

justiccedila como finalidade do Direito eacute meramente ideoloacutegica Eacute claro que estando o

Direito inserido no campo das ciecircncias sociais onde nenhum conhecimento pode ser

tido como absoluto as opiniotildees contidas neste artigo satildeo perfeitamente passiacuteveis de

contestaccedilatildeo natildeo se tomando apesar disso invaacutelidas

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ARISTOacuteTELES Eacutetica a Nicocircmacos (Trad KURY Maacuterio da Gama) 2

ed Brasiacutelia Eunb

BEVILAacuteQUA Cloacutevis Obra filosoacutefica II - Filosofia social e juriacutedica Satildeo

Paulo Edusp 1975

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Rio de Janeiro Forense 1995

LYRA FILHO Roberto O Que eacute Direito 5 ed Satildeo Paulo Brasiliense

1985 MENEZES Djacir Filosofia do Direito Rio de Janeiro Rio 1975

NADER Paulo Introduccedilatildeo ao Estudo do Direito Rio de Janeiro

Forense 1985

PLATAtildeO A Repuacuteblica (Trad PEREIRA Maria Helena da Rocha) 3

ed Satildeo Paulo FCG

POUND Roscoe Justiccedila conforme a lei Satildeo Paulo Ibrasa 1965

REALE Miguel Noccedilotildees preliminares de Direito 5 ed Satildeo Paulo

Saraiva 1978

ROUSSEAU Jean-Jacques O contrato social e outros escritos 4 ed Satildeo

Paulo Cultrix

COMENTAacuteRIOS Agrave LEI QUE REGULAMENTA A PRODUCcedilAtildeO

DE PROVAS MEDIANTE INTERCEPTACcedilAtildeO DE COMUNICACcedilOtildeES

ROSSANA DE AR4UacuteJO ROCHA

Acadecircmica do 6deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

INTRODUCcedilAtildeO

Depois de quase oito anos de vigecircncia da mais recente Constituiccedilatildeo

Federal brasileira foi publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 25 de julho do corrente

a Lei na 9296 de 24 de julho de 1996 que regulamenta o inciso XII parte final do

artigo 50 dessa Carta Magna

O inciso do qual a lei se refere tem aqui a sua redaccedilatildeo

Ar 5deg

XIl- eacute inviolaacutevel o sigilo da correspondecircncia e das comunicaccedilotildees

telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no

uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei

estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo

processual pena1

A regulamentaccedilatildeo desse inciso define as hipoacuteteses e formas em que

poderaacute ser violado o sigilo de comunicaccedilotildees telefocircnicas que por sinal a lei incluiu

outros tipos que natildeo estatildeo previstos no inciso para o colhimento de informaccedilotildees ligadas

ao fato delituoso que poderatildeo servir como provas que atendam os objetivos de uma

investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penal

Esta lei possui certa relevacircncia pois antes de ter entrado em vigor

muitos dos magistrados se sentiam desconfortaacuteveis ou se viam impossibilitados em

autorizar tal produccedilatildeo de provas o que dificultava intensamente o trabalho daqueles que

defendem toda uma sociedade contra atos criminosos de certos indiviacuteduos apesar da

existecircncia de doutrina e jurisprudecircncia favoraacuteveis

1 Constituiccedilatildeo Federativa da Repuacuteblica do Brasil de 05 de outubro de 1988

Prestando maior atenccedilatildeo no que jaacute foi dito eacute valioso notar que os nossos

atuais legisladores se preocuparam em incluir e proteger os novos tipos de

comunicaccedilotildees provenientes de avanccedilos tecnoloacutegicos que chegam constantemente ao

nosso paiacutes quando incluiacuteram a ldquo interceptaccedilatildeo do fluxo de comunicaccedilotildees em sistema

de informaacutetica e telemaacutetica (art 1deg paraacutegrafo uacutenico da Lei 929696) ao lado das

comunicaccedilotildees telefocircnicas Vejamos o artigo mencionado

Art 1ordm A interceptaccedilatildeo de comunicaccedilotildees telefocircnicas de qualquer

natureza para prova em investigaccedilatildeo criminal e em instruccedilatildeo

processual penal observaraacute o disposto nesta Lei e dependeraacute de

ordem do juiz competente da accedilatildeo principal sob segredo de justiccedila

Paraacutegrafo uacutenico o disposto nesta Lei aplica-se agrave interceptaccedilatildeo de

fluxo de comunicaccedilotildees em sistemas de informaacutetica e telemaacutetica

Ocorreu desse modo uma evoluccedilatildeo no pensamento dos

legisladores pela precisatildeo de suprir as necessidades decorrentes dos novos tempos

Portanto conclui-se a partir dessa evoluccedilatildeo que os legisladores constitucionais natildeo

contavam com o raacutepido avanccedilo tecnoloacutegico especificamente o da Informaacutetica e da

Telemaacutetica cujo grande expoente atual eacute a Internet a nova coqueluche mundial em

termos de comunicaccedilatildeo que chegou em nosso paiacutes no ano de 1992 abrangendo apenas

o meio acadecircmico e que somente enveredou-se no acircmbito comercial a partir do ano de

1995 Sem falar em outras formas de comunicaccedilatildeo via sistemas de computador

Vale lembrar que no inciso XII do art 5deg da nossa Lei Maior somente

as comunicaccedilotildees telefocircnicas poderiam ser passiacuteveis de interceptaccedilotildees para a

produccedilatildeo de provas mediante autorizaccedilatildeo judicial Exceccedilatildeo identificada na parte em

que o legislador escreveu ldquo salvo em uacuteltimo caso

Poreacutem muitos podem afirmar que a Lei 929696 eacute inconstitucional

por natildeo estarem previstas a Informaacutetica e Telemaacutetica no inciso XII do art 5deg da

Constituiccedilatildeo Federal Mas se pensarmos bem a informaacutetica e a Telemaacutetica podem

ser consideradas como ramificaccedilotildees das comunicaccedilotildees telefocircnicas por poderem

utilizar a via telefocircnica para efetuar os seus transportes de informaccedilotildees

A Internet e o fax por exemplo necessitam do canal telefocircnico para

poderem executar suas funccedilotildees de comunicaccedilatildeo

Desse modo estariacuteamos regredindo ao limitarmos a nossa compreensatildeo

em relaccedilatildeo ao que estaacute precisamente escrito no inciso constitucional entendendo que soacute

as comunicaccedilotildees telefocircnicas tem o ldquostatus de exceccedilatildeo

Outrossim natildeo se deve entender como uma agressatildeo agrave nossa Lei Maior o

fato de terem sido incluiacutedas novas espeacutecies de comunicaccedilatildeo mas sim como uma

complementaccedilatildeo necessaacuteria para natildeo fincarmos os peacutes de vez na idade da pedra em

relaccedilatildeo ao resto do mundo

Omissotildees agrave parte a discussatildeo sobre a exclusatildeo das outras formas de

comunicaccedilatildeo previstas no inciso constitucional em relaccedilatildeo a possibilidade de sofrerem

quebra justificaacutevel de sigilo merece maiores reflexotildees em separado devido a existecircncia

de complexidade peculiar Portanto natildeo seratildeo aqui abordadas

Feitos os devidos esclarecimentos deparamo-nos com a discussatildeo maior

que eacute o conflito de princiacutepios e consequumlentemente de direitos presentes em nossa

sociedade

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

A discutida lei e o inciso que a fundamentou mereceriam maiores

elogios caso natildeo existisse o conflito entre dois direitos primordiais presentes em nossa

sociedade que satildeo o direito agrave intimidade e o interesse social

Qual desses direitos julgamos o mais importante

Tarefa difiacutecil somente facilitada quando se pode analisar cada caso

especiacutefico Procedimento natildeo tatildeo utilizado por noacutes

Deve-se repetir que eacute louvaacutevel em termos o que estaacute escrito tanto no

dispositivo constitucional como na lei ordinaacuteria cujas essecircncias visam a proteger a

individualidade de cada cidadatildeo Afinal todos noacutes temos direito a usufruirmos de nossa

proacutepria intimidade Precisamos dela

Mas temos o direito de valermos-nos desta como um esconderijo ao

prejudicarmos pessoas inocentes Ai estaacute caracterizado o impasse pois se defende e

com razatildeo o direito de cada indiviacuteduo proteger a sua intimidade em oposiccedilatildeo agrave vontade

de muitos de terem ciecircncia de atos e fatos que natildeo lhes competem Todavia em

contrapartida faz-se imprescindiacutevel a notoriedade em relaccedilatildeo a atos e fatos nocivos agrave

sociedade como tambeacutem de quem os provocou para que sejam eficazmente anulados os

prejuiacutezos decorrentes de tais condutas

Nesse uacuteltimo caso falamos especificamente de todos que usam de meios

criminosos para obterem vantagens agraves custas de um sem nuacutemero de inocentes e que

acabam tendo os seus atos e suas identidades acobertadas pela lei

Esses natildeo podem usufruir do direito agrave intimidade da mesma maneira que

as pessoas de bem usufruem Deve-se sacrificar desse modo a privacidade do

criminoso a fim de que esse seja responsabilizado pelos seus atos

Surge entatildeo uma nova pergunta seria melhor proteger mil pessoas ou

uma soacute

Muitos poderiam argumentar que a Lei ndeg 929696 foi elaborada com

esse fim ou seja proteger os inocentes e chegar ao reconhecimento dos delinquumlentes

tendo como exemplo os arts 20 caput e incisos e 3deg caput e incisos aqui

apresentados

Art 2deg Natildeo seraacute admitida a interceptaccedilatildeo de comunicaccedilotildees

telefocircnicas quando ocorrer das hipoacuteteses

I - natildeo houver indiacutecios razoaacuteveis da autoria ou participaccedilatildeo em

infraccedilatildeo penal

Il- a prova puder ser feita por outros meios disponiacuteveis

III - o fato investigado constituir infraccedilatildeo penal punida no

maacuteximo com pena de detenccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Em qualquer hipoacutetese deve ser descrita com

clareza a situaccedilatildeo objeto da investigaccedilatildeo inclusive com a

indicaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos investigados salvo

impossibilidade manifesta devidamente justificada

Art 3deg A interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas poderaacute

ser determinada pelo juiz de oficio ou a requerimento

I- da autoridade policial criminal na investigaccedilatildeo

II- do representante do Ministeacuterio Puacuteblico na investigaccedilatildeo

criminal e na instruccedilatildeo processual penal

Haacute de se concordar que somente nas hipoacuteteses definidas em lei devam

existir as possibilidades de efetuar tais interceptaccedilotildees pois eacute inadmissiacutevel que qualquer

indiscutiacutevel inocente que poderia ser muito bem um vitima em potencial sofra tal

invasatildeo ou melhor dizendo violecircncia Haacute ainda a concordacircncia em relaccedilatildeo agraves pessoas

competentes que poderatildeo efetuar esse tipo de operaccedilatildeo Aleacutem do mais natildeo podemos

ficar do lado de grampeadores hackers crackers e qualquer outro tipo de invasor

de privacidade

Merece ressalva poreacutem o que estaacute disposto no inc 111 do art 2deg da

mencionada lei que proiacutebe as interceptaccedilotildees se a infraccedilatildeo penal que estiver sendo

investigada for punida no maacuteximo com a pena de detenccedilatildeo Este inciso deve ser

revisto pois muitas dessas infraccedilotildees penais satildeo altamente lesivas como por exemplo a

caluacutenia (art 138) a difamaccedilatildeo (art 139) a injuacuteria (art 140) a sonegaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo

de correspondecircncia (art 151 sect1deg inc I) a violaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo telegraacutefica

radiotelegraacutefica ou telefocircnica (art 151 sect inc li 111 e IV) a fabricaccedilatildeo fornecimento

aquisiccedilatildeo posse ou transporte de explosivos ou gaacutes toacutexico ou asfixiante (art 253) entre

outras

Mas aonde estaacute a verdadeira critica especifica sobre a Lei 929696

Bem muitos concordam que os maiores perigos satildeo aqueles que natildeo conhecemos ou

compreendemos

Segundo a lei soacute poderatildeo ser feitas interceptaccedilotildees nos casos em que

crimes jaacute tenham sido cometidos mas em muitos a tentativa de interceptar informaccedilotildees

importantes para o enriquecimento de investigaccedilotildees criminais e investigaccedilotildees

processuais penais natildeo mais possuem ecircxito por cuidados vaacuterios que os autores dos

crimes poderatildeo tomar para natildeo terem seus atos revelados ou serem eles proacuteprios

descobertos Perde-se desse modo a eficaacutecia de vaacuterias dessas tentativas pelo simples

fato de natildeo existirem viacutenculos que possam ser usados como provas

A nova lei eacute definitivamente limitadora natildeo no que se refere agraves

condiccedilotildees dos arts 2ordm e incs e 3dege incs mas por faltar a ela o caraacuteter preventivo e de

proteccedilatildeo ao princiacutepio da verdade real

DO CARAacuteTER PREVENTIVO

Natildeo eacute o objetivo apresentar aqui alguma foacutermula infaliacutevel de se evitar

que futuros crimes sejam desarticulados Foacutermulas que satildeo apresentadas como infaliacuteveis

merecem desconfianccedila Mas devemos abrir os horizontes para refletirmos se o que foi

determinado no passado estaacute surtindo efeitos positivos no presente Antes de mais nada

devemos observar o que estaacute disposto na nossa Constituiccedilatildeo para ver se ajustes

merecem ser feitos no tocante aos princiacutepios conflitantes Vejamos alguns exemplos de

procedimentos existentes de alguns governos no que se refere a interceptaccedilatildeo das

telecomunicaccedilotildees nos seus respectivos paiacuteses

O governo norte-americano atraveacutes da NSA (National Security Agency)

implantou um sistema de seguranccedila de comunicaccedilatildeo a partir de um programa de

computador para identificar conversaccedilotildees na Internet que se referissem ao Terrorismo

guerras traacutefico de drogas entre outros com o intuito de que planos criminosos contra a

Seguranccedila Nacional fossem descobertos e desarticulados2

Jaacute alguns usuaacuterios da rede das redes cansados de sofrerem constantes

invasotildees de Privacidade sentiram a necessidade de utilizar recursos da criptografia -

teacutecnica usada para transformar quaisquer tipos de informaccedilatildeo sejam eles um simples

texto imagens ou sons digitalizados em siacutembolos ininteligiacuteveis para pessoas que natildeo

tecircm autorizaccedilatildeo para visualizaacute-Ias - como forma de garantir o sigilo de suas mensagens

enviadas pelos canais inseguros e monitorados da Internet

Trata-se de ferramenta de proteccedilatildeo indubitavelrnente

eficaz em todo o mundo Tanto eacute que vai de encontro aos interesses de paiacuteses como a

Franccedila Iraque Paquistatildeo e Ruacutessia que proiacutebem o uso de qualquer tipo de Criptografia

pelos seus habitantes dentro dos seus limites territoriais como tambeacutem em relaccedilatildeo a

qualquer comunicaccedilatildeo entre esses e o mundo exterior3

Entendem aqueles paiacuteses que a criptografia eacute um empecilho ao

monitoramento de mensagens que poderiam conter Informaccedilotildees consideradas

perigosas isso talvez devido aos fortes esquemas dessa tecnologia que tomaram

impossiacutevel a decriptaccedilatildeo de tais mensagens e por conseguinte sua leitura e

monitoraccedilatildeo

Pelos motivos expostos o governo dos Estados Unidos da Ameacuterica

proiacutebe a exportaccedilatildeo de programas que contenham fortes esquemas de criptografia

Podemos observar portanto exemplos reais dos conflitos entre os

direitos individuais e os interesses comuns de uma naccedilatildeo

Embora o cidadatildeo individualmente sinta-se no direito de proteger a

privacidade de suas informaccedilotildees utilizando meacutetodos como a criptografia eacute dever dos

governos em geral combater atos criminosos em que sejam usados recursos das

telecomunicaccedilotildees como meio de articulaccedilatildeo ou que usem esses mesmos recursos como

instrumento dessas accedilotildees criminosas

Portanto se meacutetodos criptograacuteficos forem utilizados tambeacutem para

favorecerem accedilotildees criminosas como a distribuiccedilatildeo de material de pornografia infantil

via Internet nunca o governo teraacute condiccedilotildees plenas de descobrir as peculiaridades de tal

accedilatildeo e se terceiros no caso menores estatildeo sendo explorados por pessoas que lucram

com essa atividade iliacutecita

O uacuteltimo grande incidente envolvendo o exemplo supracitado ocorreu

recentemente na Internet envolvendo usuaacuterios espalhados por vaacuterios paiacuteses que

2 SCHNEIER Bruce E-Mail Security Wiley 1995

3 Informaccedilatildeo adquirida via Internet Listas de discussatildeo

receberam em suas caixas de correio eletrocircnico mensagens que ofereciam a aquisiccedilatildeo

desse tipo de material insinuando nas primeiras linhas que tais pessoas eram

consideradas apreciadoras de tal espeacutecie de pornografia afirmaccedilatildeo essa totalmente

inveriacutedica Portanto tais mensagens provocaram indignaccedilatildeo em grande parte desses

destinataacuterios que decidiram telefonar para o Departamento de Poliacutecia de Nova York O

FBI foi contactado e as investigaccedilotildees feitas por esse oacutergatildeo descobriram o endereccedilo

eletrocircnico supostamente usado para enviar essas mensagens Mas isso natildeo significa que

o esse caso jaacute estaacute concluiacutedo As investigaccedilotildees continuam graccedilas agrave poliacutetica de proteccedilatildeo

ao bem comum4

Os exemplos satildeo especiacuteficos para a Informaacutetica e Telemaacutetica mas essas

aacutereas natildeo detecircm unicamente os meacutetodos de seguranccedila preventiva As comunicaccedilotildees

telefocircnicas tambeacutem podem dispor de proteccedilatildeo Aleacutem disso haacute a necessidade desses

paiacuteses de usar tais artifiacutecios para proteger seus povos e territoacuterios

O nosso paiacutes natildeo eacute obrigado a seguir fielmente esse tipo de

procedimento e sim adequaacute-lo a fim de preservar a seguranccedila de seu territoacuterio e do

povo brasileiro Mas o que importa em toda essa discussatildeo sobre a violaccedilatildeo ou natildeo das

comunicaccedilotildees eacute a urgecircncia em viabilizar operaccedilotildees preventivas a fim de desvendar

planos criminosos e proteger a intimidade de pessoas inocentes como mais um

instrumento contra a criminalidade que em relaccedilatildeo a nossa sociedade revela-se atraveacutes

de crimes como o sequumlestro o traacutefico de entorpecentes entre muitos outros

Seria maravilhoso se todas as vezes em que houvesse a necessidade de se

fazer as mencionadas interceptaccedilotildees jaacute existisse uma autorizaccedilatildeo judicial para validaacute-

las Mas o caraacuteter temporal por muitas vezes influi no desenrolar dos fatos e na eficaacutecia

da accedilatildeo esclarecedora

DA PROTECcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DA VERDADE REAL

No que pertine ao princiacutepio da verdade real antes mesmo de esclarececirc-

lo faz-se mister ter uma ideacuteia do que seja o problema da admissibilidade da prova

iliacutecita

Por prova numa geneacuterica definiccedilatildeo entende-se que eacute o resultado da

produccedilatildeo de um estado de clareza de certeza na consciecircncia do juiz para que seja

indiscutiacutevel o entendimento a conclusatildeo da veracidade de um fato ocorrido e de quem o

cometeu

As provas iliacutecitas satildeo uma espeacutecie do gecircnero que a doutrina chama de

provas inadmissiacuteveis cujo grupo tambeacutem faz parte as provas ilegiacutetimas

As provas ilegiacutetimas contrariam as normas de natureza processual jaacute as

provas iliacutecitas contrariam as normas de natureza material

Com maior clareza diferencia Nuvolone quando afirma que em relaccedilatildeo

as provas ilegiacutetimas a proibiccedilatildeo tem natureza exclusivamente processual quando for

colocada em funccedilatildeo de interesses atinentes agrave loacutegica e agrave finalidade do processo tem

pelo contraacuterio as provas iliacutecitas natureza substancial quando embora sendo

mediatamente tambeacutem os interesses processuais eacute colocada essencialmente em funccedilatildeo

dos direitos que o ordenamento reconhece aos indiviacuteduos independentemente do

4 Informaccedilatildeo adquirida via Internet THE TOUR BUS - Lista de discussatildeo

processordquo5

Devemo-nos ater com maior atenccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave prova iliacutecita pois eacute

essa a espeacutecie usada para classificar no caso em questatildeo as interceptaccedilotildees de

comunicaccedilotildees telefocircnicas de informaacutetica e de telemaacutetica propositadas para servirem de

meio que ajude ao magistrado obter a conclusatildeo pela veracidade do fato a ser julgado

como tambeacutem do seu suposto autor mas que natildeo possuem autorizaccedilatildeo de juiz

competente na forma da lei

As provas iliacutecitas no tocante agraves interceptaccedilotildees satildeo assim definidas

quando da ausecircncia de autorizaccedilatildeo judicial havendo portanto a caracterizaccedilatildeo de

atentado aos direitos e liberdades fundamentais do indiviacuteduo e por consequumlecircncia a sua

intimidade

Apesar de cumpridos os requisitos necessaacuterios para que se possa fazer a

interceptaccedilatildeo a intenccedilatildeo de produccedilatildeo da prova e consequentemente a sua

admissibilidade pelo magistrado esbarra na ilicitude caso Inexista preacutevia autorizaccedilatildeo

judicial

Entatildeo podemos nos perguntar pela ausecircncia da aplicaccedilatildeo dos princiacutepios

da liberdade de admissatildeo da prova e o da verdade real quando a autorizaccedilatildeo judicial

natildeo existir ou natildeo tiver sido requerida a tempo

Discorrendo sobre esse uacuteltimo afirma Mirabete que com o princiacutepio da

verdade real se procura estabelecer que o jus puniendi somente seja exercido contra

aquele que praticou a infraccedilatildeo penal e nos exatos limites de sua culpa numa

investigaccedilatildeo que natildeo encontra limites na forma ou na iniciativa das partes Com ele se

exclui os limites artificiais da verdade formal eventualmente criado por atos ou

omissotildees das partes presunccedilotildees ficccedilotildees transaccedilotildees etc tatildeo comuns no processo

civilrdquo6

Vemos entatildeo que o princiacutepio da verdade real traduz a essecircncia do

processo penal de buscar a pureza da verdade de um fato especiacutefico e de quem o criou

Nobre pretensatildeo da Justiccedila que se enfraquece toda vez que se depara

com certas barreiras princiacutepio-normativo encontradas na Constituiccedilatildeo Federal bem

como nas leis ordinaacuterias

Apesar disso tudo despontam notaacuteveis reflexotildees em defesa do proacuteprio

principio da verdade real pelo bem da coletividade contra a impunidade dos

criminosos podendo muitas delas serem encontradas no que defende a teoria da

proporcionalidade em relaccedilatildeo as provas iliacutecitas

A teoria mencionada visa colocar na balanccedila os direitos individuais e os

interesses sociais com o fim de proteger o bem juriacutedico que possuir maior releveacute1ncia

em cada situaccedilatildeo concreta

Ao tomar partido interpreta-se que essa teoria permite a viabilidade de

proteccedilatildeo dos interesses sociais frente aos individuais quando o uacuteltimo servir de

imunidade a um transgressor da lei contra a coletividade

Como assim A teoria da proporcionalidade reconhece quando uma

prova eacute caracterizada como iliacutecita mas admite a sua produccedilatildeo quando o interesse social

for considerado de maior validade

5 Nuvolone apud GRINOVER Ada Pelegrini Liberdades Puacuteblicas e Processo Penal as interceptaccedilotildees telefocircnicas 2 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1982 p 97

6 MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo Penal 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1994 p 45

Reflitamos sobre as palavras de Paulo Luacutecio Nogueira quando diz que a

teoria da proporcionalidade eacute perfeitamente defensaacutevel pois tendo em vista o interesse

social ou puacuteblico deve este prevalecer sobre o privado que de modo algum merece ser

resguardado pela tutela legal quando o particular fez mau uso do seu direitordquo7

Apesar de dedicada defesa a esse tipo de prova eacute importante esclarecer

que as produccedilotildees de provas mediante interceptaccedilotildees das comunicaccedilotildees previstas na Lei

ndeg 929696 natildeo satildeo consideradas aqui como as uacutenicas para que se chegue a conclusatildeo

da verdade Sendo necessaacuterias deveratildeo compor o grupo de provas em juiacutezo que

ajudaratildeo na conclusatildeo do juiz quando este vier a sentenciar ou na dos jurados quando o

crime pertencer a competecircncia do Tribunal do Juacuteri

No caso de serem consideradas iliacutecitas caberaacute ao juiz competente a

partir de sua experiecircncia e entendimento admiti-las ou natildeo ao contraacuterio de se prender

ao que estaacute limitado em lei Pois o que importa realmente eacute o prevalecimento de

verdade sem vicias da verdade real

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo eacute o pensamento banalizar os direitos individuais e muito menos

prejudicar a integridade de sua proteccedilatildeo em prol dos interesses sociais

O objetivo almejado eacute natildeo deixar que a acircnsia pela verdade real seja

destruiacuteda deixando oacuterfatildeos os que sonham cada vez mais chegar perto de uma justiccedila

que natildeo deixe rastros duvidosos

Portanto devemos visar ao maacuteximo uma aproximaccedilatildeo do ainda utoacutepico

equiliacutebrio entre esses dois interesses em conflito o individual e o coletivo Ai sim os

direitos Individuais deixaratildeo de ser exageradamente valorizados quando servirem de

proteccedilatildeo aos que fizerem mau uso de seus direitos como os interesses sociais deixaratildeo

de ser tatildeo esquecidos e mal compreendidos

A conclusatildeo oacutebvia do pensamento aqui exposto eacute de que os interesses da

sociedade devem ser priorizados quando esta for lesionada em detrimento de

pretensotildees criminosas de alguns indiviacuteduos Natildeo poderia ser diferente

Mas antes de criticar a lei ordinaacuteria deve-se compreender em que

ambiente esta foi criada Entatildeo faz-se necessaacuteria uma reavaliaccedilatildeo da importacircncia dada a

cada princiacutepio normativo nas situaccedilotildees em que dispensam maior influecircncia

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de

1988 Lei ndeg 9296 de 24 de julho de 1996 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 25 de julho de

1996

GRINOVER Ada Pelegrini Liberdades Puacuteblicas e Processo Penal as

interceptaccedilotildees telefocircnicas 2

7 NOGUEIRA Paulo Luacutecio Curso Completo de Processo Penal 1600 Slio Paulo Saraiva

1994 169

ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1982

MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo Penal 3 ed Satildeo Paulo Atlas

1994

NOGUEIRA Paulo Luacutecio Curso Completo de Processo Penal 16 ed

Satildeo Paulo Saraiva 1994

SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo Satildeo

Paulo Malheiros 1994

SHNEIER Bruce E-Mail Securitv Wiley 1995

QUEM ASSUME A TITULARIDADE DE UMA PREFEITURA

CASO O PREFEITO ELEITO VENHA A FALECER ANTES DA

DIPLOMACcedilAtildeO

Sivanildo de A Dantas

Bacharelando do Curso de Direito da UFRN

O tema sobre a questatildeo de se saber quem teria a titularidade para assumir

a vaga de uma prefeitura caso o candidato eleito para prefeito venha a falecer antes da

diplomaccedilatildeo tem sido fonte inesgotaacutevel de polecircmicas a ponto de se colocarem em

posiccedilotildees antagocircnicas nomes de real valor no cenaacuterio nacional

Restaria menos polecircmica se o candidato jaacute tivesse sido diplomado e

polecircmica natildeo haveria caso jaacute tivesse sido empossado

Este estudo examinando a questatildeo relacionada ao tiacutetulo supra referido

deve ser considerado como uma hipoacutetese geneacuterica e abstrata

Eacute bem verdade que a discussatildeo reside no fato de inexistir norma

especiacutefica que cuide do caso objetivamente Haacute uma omissatildeo legal Daiacute serem

aplicaacuteveis na espeacutecie os princiacutepios gerais do direito

Na falta de norma expressa para solucionar um caso concreto o juiz

deve se valer dos meacutetodos interpretativos da norma juriacutedica

As leis quando satildeo criadas natildeo prevecircem todas as hipoacuteteses que poderatildeo

surgir na realidade social ateacute porque o mundo real eacute muito rico em nuances faacuteticas

Cabe ao juiz entretanto suprir essas lacunas atraveacutes dos recursos que lhe oferecem o

Direito sem o que estaria impossibilitado de prestar a tutela jurisdicional agrave qual estaacute

obrigado jaacute que natildeo pode deixar de julgar um caso a pretexto de inexistir lei

Prevendo essas situaccedilotildees o legislador paacutetrio inseriu na Lei de Introduccedilatildeo

ao Coacutedigo Civil o art 4deg que apresenta as diretrizes para o preenchimento de lacunas de

direito

Art 4deg Quando a lei for omissa o juiz decidiraacute de acordo com a

analogia os costumes e os princiacutepios gerais do direito

Chama-se auto-integraccedilatildeo o processo de preenchimento de lacunas que eacute

feito com recursos e elementos do proacuteprio sistema juriacutedico por princiacutepios nele contidos

Quando se busca recurso no Direito Natural a integraccedilatildeo denomina-se

doutrinariamente de heterointegraccedilatildeo

A princiacutepio cabe alertar que o estudo de qualquer tema juriacutedico deve

partir da percuciente anaacutelise da estrutura loacutegica da norma juriacutedica e da relaccedilatildeo entre

hipoacutetese real e hipoacutetese normativa Soacute apoacutes eacute que podemos transpor as conclusotildees

abstratas para as inferecircncias do tema suscitado

O tema ora analisado eacute fundamentalmente de competecircncia

constitucional eleitoral e de teoria geral do direito

Diz a Constituiccedilatildeo Federal no seu art 10 paraacutegrafo uacutenico

Art 1deg omissis 1 omissis

11 omissis

111 omissis

IV omissis

1 omissis

paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por

meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta

Constituiccedilatildeo

No plano constitucional vecirc-se pois que o poder eacute exclusividade do

povo (e natildeo de um indiviacuteduo) sendo portanto um poder indisponiacutevel A ningueacutem

nem mesmo agrave maior autoridade ou oacutergatildeo do Paiacutes eacute dada a faculdade de lhes tirar

esse direito

A proacutepria conceituaccedilatildeo claacutessica de democracia como governo do

povo pelo povo pressupotildee a liberdade Poliacutetica dos homens no sentido de

reconhecer-Ihes essa Possibilidade de Autodeterminaccedilatildeo ao escolher seus

governantes

O art 14 da Constituiccedilatildeo Federal soacute vem a corroborar com o

entendimento acima esposado ver bis

ldquoArt 14 A soberania popular seraacute exercida pelo sufraacutegio

universal

O que se extrai desse versiacuteculo eacute que o povo eacute soberano nas suas

decisotildees e o primado da soberania popular subordina a atuaccedilatildeo do Estado agrave vontade da

sociedade A vontade do povo eacute sempre certa e se dirige sempre ao bem comum Ainda

eacute atraveacutes do sufraacutegio que o povo outorga legitimidade aos governantes

Corolaacuterio dessa posiccedilatildeo eacute o axioma de que o poder emana do povo e em

seu nome deveraacute ser exercido

O Direito criaccedilatildeo do homem foi concebido para ser interpretado natildeo

como um conjunto de normas e princiacutepios isolados mas sim dentro de um sistema

Na falta de norma especiacutefica o aplicador do Direito deveraacute buscar dentro

das regras de hermenecircutica aquela que melhor se adequa ao fato

Agora traccediladas essas consideraccedilotildees vejo-me obrigado a voltar agrave questatildeo

inicial deste articulado quem assumiria a titularidade de uma prefeitura caso o

candidato eleito para prefeito viesse a falecer antes da diplomaccedilatildeo Caberia aqui a esta

altura mais uma indagaccedilatildeo quem teria legitimidade para exercecirc-la

Nessa linha de entendimento a questatildeo da titularidade passa

necessariamente pela questatildeo da legitimidade haja vista que no Estado Democraacutetico de

Direito ser titular do poder eacute ter legitimidade para exercecirc-lo Portanto este eacute requisito

daquele De outro acircngulo a titularidade soacute eacute legitima quando eacute aceita por aqueles que a

legitimaram Ou quando aquele que a deteacutem a recebeu por justo tiacutetulo

Lembra bem Joseacute Afonso da Silva1 citando os ensinamentos de Norberto

Bobbio que o poder legiacutetimo eacute um poder cujo tiacutetulo eacute justo um poder legal eacute um

poder cujo exerciacutecio eacute justo se legiacutetimo

Por esse pensar a legitimidade leva agrave titularidade a titularidade agrave posse

a posse agrave justiccedila

A efetividade de um poder como prova de sua legitimidade surge

atraveacutes de um princiacutepio de Direito Natural todo poder emana de Deus Se Deus eacute o

povo vox populi vox Dei Portanto no nosso caso particular essa noccedilatildeo tradicional

assentada na vontade de Deus sai do abstrato para o concreto atraveacutes de processo de

escolha em eleiccedilatildeo

Eacute o que acontece em nosso Paiacutes a cada quatro anos quando os muniacutecipes

vatildeo agraves umas escolher aleacutem dos seus representantes na Cacircmara o prefeito e o vice-

prefeito

O procedimento de escolha atraveacutes do sufraacutegio universal pressupotildee um

tipo de lei baacutesica o Coacutedigo Eleitoral Eacute atraveacutes dele que se disciplina a eleiccedilatildeo para

prefeito e vice-prefeito No entanto lei especifica poderaacute ser criada em relaccedilatildeo a cada

eleiccedilatildeo

Carece de consideraccedilatildeo o fato de antes de iniciado o processo eleitoral

os candidatos a candidatos atraveacutes de seus filiados passam por uma eleiccedilatildeordquo dentro

do proacuteprio partido Satildeo as convenccedilotildees Recebem ali a aquiescecircncia dos seus

Correligionaacuterios para disputar o pleito

Para as eleiccedilotildees de 031 096 o Congresso Nacional criou em

290995 a Lei ndeg 9100 determinando no seu art 86 que o Tribunal Superior Eleitoral

expediraacute todas as instruccedilotildees que julgar necessaacuterias agrave sua execuccedilatildeo

Com a Resoluccedilatildeo ndeg 19509 de 180496 o Tribunal Superior Eleitoral

expediu instruccedilotildees para o registro de candidaturas Em seu art 10 sect 2deg esse ato

normativo assim dispotildee

sect 2deg O registro de candidato a Prefeito e Vice-Prefeito far-se-aacute

sempre em chapa uacutenica e indivisiacutevel (Coacutedigo Eleitoral art 91)

Vecirc-se pois que os candidatos a prefeito e a vice-prefeito ao se

registrarem perante a Justiccedila Eleitoral fazem-no de forma vinculada a uma chapa una

e indivisiacutevel Importando assim a eleiccedilatildeo do prefeito com a do vice-prefeito com ele

registrado Observe-se bem que o nome do vice-prefeito natildeo precisa nem mesmo

1 Da Silva Joseacute Afonso Curso de Direito Constitucional Positivo 8middot Ed Rev

sao Paulo Malheiros 1992 p371

constar na chapa ele (o nome) estaacute impliacutecito

Neste palmilhar temos que no dia 03 de outubro transato

aconteceram as eleiccedilotildees em todos os municiacutepios do Brasil onde foram sufragados

nas urnas atraveacutes do voto popular os prefeitos e os vice-prefeitos na conformidade

do que dispotildee o sect 10 do art 20 da lei especiacutefica dessas eleiccedilotildees

Art 2deg Seraacute considerado eleito Prefeito o candidato que

obtiver a maioria de votos natildeo computados os em branco e os

nulos

sect 1ordm A eleiccedilatildeo do Prefeito importaraacute a do Vice-Prefeito com

ele registradordquo

Claro estaacute ateacute aqui que a eleiccedilatildeo do prefeito gera a do vice-prefeito com

ele registrado de forma que eles tambeacutem estatildeo visceralmente entrelaccedilados quanto aos

direitos deveres e obrigaccedilotildees

Acontece que para o nosso estudo realizadas as eleiccedilotildees e proclamados

os resultados vindo um prefeito eleito a falecer geraria duacutevidas sobre quem teria

legitimidade para lhe suceder apenas pelo simples fato de inexistir norma legal

especiacutefica disciplinando a mateacuteria

Realmente apoacutes uma profunda pesquisa na legislaccedilatildeo eleitoral paacutetria

constata-se a inexistecircncia de norma especiacutefica disciplinando a mateacuteria

Nesse particular nova figura de interpretaccedilatildeo da norma juriacutedica deve ser

evocada Trata-se da analogia Pesquisando nos dicionaacuterios paacutetrios do mais erudito ao

mais simples vamos encontrar em resumo a seguinte definiccedilatildeo daquele vocaacutebulo eacute a

teacutecnica juriacutedica atraveacutes da qual se suprem as omissotildees da lei aplicando a uma

determinada relaccedilatildeo juriacutedica as normas de direito objetivo disciplinadoras de casos

semelhantes Ou ainda pontos semelhantes entre coisas diferentes

Como diz Sydney Sanches2

Analogia consiste em aplicar a uma hipoacutetese nifo prevista

especialmente em lei disposiccedilatildeo relativa a caso semelhante

Pressupotildee semelhanccedila de relaccedilotildees Mas o recurso agrave analogia exige a

concordacircncia dos seguintes requisitos a) eacute indispensaacutevel que o fato

considerado ou a relaccedilatildeo juriacutedica contratual natildeo tenha sido tratado

ou tratada especificamente pelo legislador b) este todavia regulou

situaccedilatildeo que apresenta certo ponto comum de contrato certa

coincidecircncia ou semelhanccedila com a natildeo regulada c) a regra adotada

pelo legislador para a situaccedilatildeo regulada levou em conta sobretudo

aquele mesmo ponto comum de coincidecircncia ou semelhanccedila com a

situaccedilatildeo natildeo regulada (em suma a ratio iuris deve ser a mesma para

ambas as situaccedilotildees)

2 Sanches Sydney Os contratos atiacutepicos no campo do Direito Privado Satildeo Paulo DCI coluna

Legislaccedilatildeo e Tribunais 06 e 07-04-88

Prosseguindo na anaacutelise da mateacuteria temos em simetria com o caso ora

ensaiado o seguinte dispositivo constitucional

Art 79 Substituiraacute o Presidente no caso de impedimento e

suceder-Ihe_aacute no de vaga o Vice-Presidenterdquo

E o paraacutegrafo uacutenico do art 78 da citada Carta verbis

Paraacutegrafo uacutenico Se decorridos dez dias da data fixada para a

posse o Presidente ou o Vice-Presidente salvo motivo de forccedila

maior natildeo tiver assumido o cargo este seraacute declarado vago

Temos pois por linha simeacutetrica que na vacacircncia do cargo de prefeito

o preenchimento da vaga se daraacute com a posse do seu Sucessor poliacutetico o vice-prefeito

Natildeo eacute outra a conclusatildeo a que se chega com esses dispositivos da Carta

Magna subsidiariam ente aplicaacuteveis

Em face desses fundamentos constitucionais que bem caracterizam a

sucessatildeo do prefeito pelo vice-prefeito necessaacuterio eacute analisar e aplicar com a

prudecircncia que o caso exige o seguinte Acoacuterdatildeo do TSE de nuacutemero 9080 de

280688 que sob a relatoria do Ministro Roberto F Rosas pontifica verbis

1 Prefeito lnelegibilidade Cassaccedilatildeo do diploma por abuso

do poder econocircmico Fatos ocorridos entre o registro e a

diplomaccedilatildeo

2 O Vice-Prefeito eacute eleito simultaneamente com o Prefeito

Natildeo haacute votaccedilatildeo em separado nem registros diversos

Contaminaccedilatildeo da chapa Vicias que se estendem ao Vice-

Prefeito Aplicaccedilatildeo do art 21 da LC nO 5 O Vice-Prefeito

natildeo assume com a cassaccedilatildeo do diploma do Prefeito

3 O falecimento do Prefeito natildeo determina a extinccedilatildeo do

processo A relaccedilatildeo juriacutedica processual permanece pois haacute

interesse juriacutedico em relaccedilatildeo ao Vice-Prefeito A demanda

eleitoral natildeo se esgota no interesse do Prefeito

Nesse caso vecirc-se que o vice-prefeito ficou maculado natildeo em

relaccedilatildeo a si proacuteprio mas como instituiccedilatildeo uma vez que

O abuso do Poder econocircmico Contribuiu para a sua vitoacuteria Eacute soacute

No mais se assim natildeo fosse a maacutecula recairia somente na pessoa do prefeito e o

vice-prefeito assumiria

Dentro desse contexto por linhas transversas lemos o seguinte acoacuterdatildeo

do TSE

I - Do fato juriacutedico Maioria de votos alcanccedilada por algum

candidato em eleiccedilotildees majoritaacuterias irradia-se imediata e

simultacircnea ou sucessivamente ao momento em que um soacute voto

caido na urna faz definitiva essa maioria efeitos juriacutedicos

inclusive direito subjetivo a atos de apuraccedilatildeo de votos de

resoluccedilatildeo de impugnaccedilotildees de expediccedilatildeo de boletins eleitorais e

de diplomaccedilatildeo

II - Dessas consideraccedilotildees tem-se que eleito o Vice-Prefeito eacute titular

de direitos subjetivos que se natildeo podem extinguir pelo fato da morte

do Prefeito com quem fora eleito

1I1 - Diz-se vago o cargo puacuteblico que natildeo tem titular ou que de

qualquer sorte natildeo estaacute ocupado Para que o Vice-Prefeito assuma o

cargo de Prefeito basta que esteja vago natildeo ocupado

independentemente da posse do Prefeito eleito com o Vice-Prefeito

assumente

IV - Recurso provido (Acoacuterdatildeo ndeg 6289 de 120477 Relator

Ministro Firmino Ferreira Paz)

Por tudo isso alegar a esta altura que o vice-prefeito natildeo foi eleito para

substituir o prefeito nas suas ausecircncias ou lhe suceder no caso de vaga eacute ignorar o

oacutebvio

Legalismo - Haacute ainda aqueles que sob a batuta do legalismo perguntam

e onde estaacute disciplinado isso na lei Para aqueles que buscam na lei respostas a todas as

indagaccedilotildees natildeo vatildeo encontrar Mas para aqueles que entendem ser a lei uma pequena

fraccedilatildeo do direito certamente encontraratildeo

Os princiacutepios contidos no ordenamento normativo poderatildeo sempre ser

invocados para aplicaccedilatildeo direta aos casos concretos mormente na ausecircncia de norma

especiacutefica

Neste particular Geraldo Ataliba3 invocando os ensinamentos do Mestre

Argentino Agustiacuten Gordillo doutrina que

Principio eacute norma (regra de conduta) eacute tambeacutem muito mais que isso

Os princiacutepios satildeo linhas mestras os grandes nortes as diretrizes

magnas do sistema juriacutedico Apontam os rumos a serem seguidos por

toda a sociedade e obrigatoriamente perseguidos pelos oacutergatildeos do

governo (poderes constituiacutedos)

Eles expressam a substacircncia uacuteltima do querer popular seus objetivos e

3 Geralda Ataliba Repuacuteblica e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo RT 1985

p 6-7

desiacutegnios as linhas mestras da legislaccedilatildeo da administraccedilatildeo e da

jurisdiccedilatildeo Por estas natildeo podem ser contrariados tecircm que ser

prestigiados ateacute as uacuteltimas consequumlecircncias

Em seguida cita Joseacute Afonso da Silva

O principio aponta a direccedilatildeo o sentido em que devem ser entendidas

as normas que nele se apoacuteiam e ressalta natildeo poder o inteacuterprete extrair

conclusatildeo que contrarie um princiacutepio lhe comprometa as Exigecircncias

ou lhe negue as naturais consequumlecircncias

Ensinam os juristas que o Princiacutepio de uma estrada eacute o seu ponto de

partida

Por tudo isso inexistindo lei que discipline o referido tema haacute de se

recorrer aos Princiacutepios do direito agrave Jurisprudecircncia etc

Segundo colocado - Para aqueles que defendem a tese do segundo

colocado ser o substituto natural de prefeito eleito mas falecido antes da diplomaccedilatildeo

Discordamos Pois faacutecil eacute reconhecer que natildeo se pode transformar em vitoacuteria uma

derrota O segundo colocado foi reprovado Natildeo passou no vestibular das umas O

eleitor atraveacutes do voto o desaprovou No entender dos eleitores ele natildeo estaacute preparado

para dirigir os rumos de sua comunidade O povo natildeo quis o segundo colocado e sim o

primeiro e quem o substitui e ou Sucede Politicamente Portanto em havendo rejeiccedilatildeo

ao segundo colocado natildeo haacute mais por que insistir nessa tese

Por fim que decepccedilatildeo natildeo teriam os muniacutecipes ao assistir agrave posse de

quem foi derrotado nas urnas

Por outra o segundo colocado natildeo tem nem mesmo uma expectativa

de direito uma vez que estaacute desclassificado

A duacutevida para os defensores dessa corrente talvez resida na errocircnea

interpretaccedilatildeo do sect 4deg do art 77 da Constituiccedilatildeo Federal verbis

Art 77 A eleiccedilatildeo do Presidente e do Vice-Presidente da Repuacuteblica

realizar-se-aacute simultaneamente noventa dias antes do teacutermino do

mandato presidencial vigente

sect 4deg Se antes de realizado o segundo turno ocorrer morte

desistecircncia ou impedimento legal de candidato convocar-se-aacute

dentre os remanescentes o de maior votaccedilatildeo

Como eacute faacutecil de se observar o dispositivo supra mencionado diz respeito

agravequeles municiacutepios onde haja segundo turno no caso destas eleiccedilotildees apenas nos

municiacutepios com mais de duzentos mil eleitores

O Coacutedigo Eleitoral eacute claro quando se refere agrave substituiccedilatildeo de candidato

por motivo de falecimento

Art 101 ornissis

sect 2deg Nas eleiccedilotildees majoritaacuterias se o candidato vier a falecer ou

renunciar dentro do periacuteodo de 60 (sessenta) dias mencionados no

paraacutegrafo anterior o partido poderaacute substituiacute-Ia se o registro do

novo candidato estiver deferido ateacute 30 (trinta) dias antes do pleito

seratildeo confeccionadas novas ceacutedulas caso contraacuterio seratildeo utilizadas

as jaacute impressas computando-se para o novo candidato os votos

dados ao anteriormente registrado

Observe-se bem que o legislador se preocupou com essa hipoacutetese pois

geraria duacutevidas se natildeo fosse normatizada face a inexistecircncia de substituto Quanto a

depois da eleiccedilatildeo duacutevida natildeo haacute pois se o fato vier a acontecer nessa fase o substituto

ou sucessor natural assume pois jaacute existe

A Lei ndeg 910095 por seu turno soacute vem a reforccedilar esse entendimento

Art 14 Amiddot facultado ao partido ou coligaccedilatildeo substituir candidato que

venha a ser considerado inelegiacutevel que renunciar ou falecer apoacutes o

termo final do prazo do registro ou ainda que tiver seu registro

indeferido ou cancelado (Grifos nosso)

Veja-se que em nenhum momento a lei Eleitoral preocupou-se em

disciplinar essa situaccedilatildeo apoacutes as eleiccedilotildees Ateacute porque essa hipoacutetese jaacute estaacute prevista na

Constituiccedilatildeo Federal sendo desnecessaacuterio e redundante repeti-la

As hipoacuteteses em que o segundo colocado venha a ocupar a primeira

colocaccedilatildeo se datildeo nos casos de recurso pendente de indeferimento de registro de

candidatura que venha a ser julgado e provido apoacutes a diplomaccedilatildeo recurso contra a

diplomaccedilatildeo e ainda atraveacutes de accedilatildeo de impugnaccedilatildeo de mandato eletivo esta uacuteltima

nova figura de impugnaccedilatildeo insculpida na Constituiccedilatildeo Federal (art 14 sect sect 10 e 11)

Fora dessas hipoacuteteses natildeo vislumbramos motivo suficiente para reverter a posiccedilatildeo do

segundo colocado para o de primeiro transformando uma derrota em vitoacuteria

contrariando frontalmente o princiacutepio da vontade soberana dos muniacutecipes

A ideacuteia que queremos firmar aqui eacute que natildeo se pode dar a algueacutem o

poder de tornar elegiacutevel quem foi derrotado nas urnas pelo povo Admitir-se que pode

seria a admissatildeo de que o suacutedito desfizesse a decisatildeo do soberano inadmissiacutevel a todas

as luzes

O povo deseja a justiccedila oficial justa conceito mais faacutecil de enunciar do

que definir a partir da certeza de que satildeo muitos os que conhecem o pouco dos modos

de realizar o justo no caso concreto

Vice eacute eleito para ser Vice - Com a devida vecircnia para os que esta causa

advogam entendo ser falsa essa afirmaccedilatildeo parecendo-me ser fruto de um saudosismo

que soacute a histoacuteria explica a uacuteltima eleiccedilatildeo que tivemos com votaccedilatildeo separada para

cargos do executivo e seu respectivo vice foi no inicio da deacutecada de 1960 Apoacutes passou

a ser casada numa mesma chapa como temos hoje Essa mudanccedila se deu em

decorrecircncia da crise institucional criada pelos militares pois natildeo aceitavam que Joatildeo

Goulart middot0 Jango Vice-Presidente de Jacircnio Quadros assumisse a presidecircncia da

Repuacuteblica quando da renuacutencia deste

O saudoso Hely lopes Meirelles4 na sua claacutessica obra Direito Municipal

Brasileiro doutrina O Vice-Prefeito eacute o substituto nos afastamentos e o sucessor no

caso de vaga do Prefeito Eleito permanece como titular de um mandato executivo e na

expectativa do exerciacutecio do cargo de Prefeitordquo (1)

A questatildeo agora se situa no campo da ldquoexpectativa do exerciacutecio do

cargo que natildeo haacute que se confundir com ldquoexpectativa de direito

Para a primeira expressatildeo o direito adquirido jaacute se consumou resta

apenas exercitaacute-lo o que se daraacute no nosso caso com a efetividade de um pressuposto a

condicionante faacutetica da vacacircncia do cargo de prefeito

Para a segunda temos que sem o abono de certeza e liquidez existe

expectativa de direito pois inexiste prazo certo e compulsoacuterio Expectativa de direito eacute

pois algo que antecede a aquisiccedilatildeo de um direito

Uma coisa eacute a expectativa do direito outra distinta eacute a aquisiccedilatildeo do

direito diversa eacute o uso ou exerciacutecio desse direito

Quanto ao direito adquirido princiacutepio de direito natural cuidou de

disciplinar o legislador paacutetrio os pilares que deve modelar a sua aplicaccedilatildeo na lei de

Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil (Decreto-Lei nordm 4657 de 040942 com a redaccedilatildeo dada

pela lei nordm 3238 de 1deg0857) art 6deg sect 2deg

Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular ou

algueacutem por ele possa exercer como aqueles cujo comeccedilo de

exerciacutecio tenha termo erefixo ou condiccedilatildeo preestabelecida

inalteraacutevel a arbiacutetrio de outrem n (Grifos nosso)

Tem-se assim direito adquirido como aquele que entrou no patrimocircnio

de um titular dele natildeo mais podendo ser retirado

Por tudo que foi dito temos que o vice-prefeito eacute o sucessor do prefeito

em caso de vaga e o substituto natural nos casos de impedimentos ou licenccedilas

Eleiccedilatildeo - A eleiccedilatildeo do Vice-Prefeito estaacute prevista na Constituiccedilatildeo

Federal e ela se daacute com a do Prefeito de forma vinculada (CF art 29 incisos I 11 e 111)

Proclamaccedilatildeo - A proclamaccedilatildeo eacute a publicaccedilatildeo do resultado final feita apoacutes

a contagem dos votos

Dentro desse contexto cabem as observaccedilotildees de Tito Costa5 segundo o

qual a proclamaccedilatildeo eacute um ato que Complementa todo o processo eleitoral mas natildeo

comporta qualquer tipo de recurso Eventuais reclamaccedilotildees contra esse ato soacute Poderatildeo

ser apresentados sob a forma do recurso adequado ao ensejo da diplomaccedilatildeo Veja-se

que natildeo haacute um consenso entre os doutrinadores quanto agraves etapas do processo eleitoral

chegando Tito Costa a afirmar que a proclamaccedilatildeo eacute um ato que complementa todo o

processo eleitoral

Diplomaccedilatildeo - eacute o atestado oficial (afirmaccedilatildeo) de que o candidato

obteve votos suficientes para o cargo a que se candidatou

A diplomaccedilatildeo natildeo eacute uma verdadeira decisatildeo judicial assemelhando-se

4 Meirelles Hely Lopes Direito Municipal Brasileiro 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 1993 (2

tiragem) p 529 5 Costa Tito Recursos em Mateacuteria Eleitoral 6 ed rev ampl e atual S30 Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1996 p 122

mais a um ato administrativo nada obstante traga em si consequumlecircncias juriacutedicas e

poliacuteticas

Diz o Coacutedigo Eleitoral no seu art 215

Art 215 Os candidatos eleitos assim como os suplentes

receberatildeo diploma assinado pelo Presidente do Tribunal Superior

Eleitoral do Tribunal Regional ou da Junta Eleitoral conforme o

caso

Paraacutegrafo uacutenico Do diploma deveraacute constar o nome do candidato a

indicaccedilatildeo da legenda sob a qual concorreu o cargo para o qual foi

eleito ou a sua classificaccedilatildeo como suplente e facultativamente outros

dados a criteacuterio do Juiz ou do Tribunal

Prevendo hipoacuteteses em que Poderaacute haver impugnaccedilatildeo agrave candidatura reza

o art 216

Ar 216 Enquanto o Tribunal Superior natildeo decidir o recurso

interposto contra a expediccedilatildeo do diploma poderaacute o diplomado

exercer o mandato em toda a sua plenitude

Pela dicccedilatildeo dos artigos supra mencionados colhe-se que mesmo tendo

sido interposto recurso contra a expediccedilatildeo de diploma o candidato eleito deve ser

diplomado Eacute que esse tipo de recurso natildeo tem efeito suspensivo exercendo o

candidato apoacutes a posse o mandato em toda a sua plenitude ateacute o tracircnsito em julgado

da decisatildeo final se essa lhe for desfavoraacutevel

Quanto a recurso contra a diplomaccedilatildeo (pois Jlatildeo cabe recurso contra a

proclamaccedilatildeo) o Coacutedigo Eleitoral atraveacutes do art 262 trata de especificar as hipoacuteteses

de cabimento

Art 262 O recurso contra expediccedilatildeo de diploma caberaacute somente

nos seguintes casos

I - inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato

II - errocircnea interpretaccedilatildeo da lei quanto agrave aplicaccedilatildeo do sistema de

representaccedilatildeo proporcional

III - erro de direito ou de fato na apuraccedilatildeo final quanto agrave

determinaccedilatildeo do quociente eleitoral ou partidaacuterio contagem de

votos e classificaccedilatildeo de candidato ou a sua contemplaccedilatildeo sob

determinada legenda

IV - concessatildeo ou denegaccedilatildeo do diploma em manifesta contradiccedilatildeo

com a prova dos autos na hipoacutetese do art 222

Outra indagaccedilatildeo que merece reparo e que eacute o ponto nodal do nosso

estudo eacute a alegaccedilatildeo de que o processo eleitoral se conclui com a diplomaccedilatildeo No caso

em questatildeo acontecendo superveniente morte de prefeito eleito antes dessa fase como

deveraacute se proceder

Para aqueles que defendem a formalidade da diplomaccedilatildeo como um ato

necessaacuterio ou essencial agrave aquisiccedilatildeo do direito de tomar posse que defendam essa

posiccedilatildeo Nada obsta

Poreacutem hatildeo de convir tambeacutem que o vice-prefeito sobrevivendo agrave

diplomaccedilatildeo haveraacute de ser diplomado e numa sequumlecircncia loacutegica na conformidade da lei

no dia 1deg de janeiro do ano seguinte agrave eleiccedilatildeo sucederaacute na posse o prefeito face agrave

vacacircncia do cargo deixado pela morte deste uacuteltimo

Conforme o Coacutedigo Eleitoral as fases que antecedem a diplomaccedilatildeo satildeo

seguindo uma ordem loacutegica e cronoloacutegica votaccedilatildeo apuraccedilatildeo e proclamaccedilatildeo

Duacutevidas natildeo haacute que para o nosso estudo as trecircs primeiras fases se

consumaram antes do oacutebito de prefeito eleito

As maiores duacutevidas e indagaccedilotildees residem nesta fase da diplomaccedilatildeo pois

afirmam que natildeo tendo sido diplomado o prefeito pois falecera antes da diplomaccedilatildeo a

sua ausecircncia implicaria a prejudicialidade da diplomaccedilatildeo e posse do vice-prefeito

A princiacutepio cabe por pertinente discutir com maior detenccedila a natureza

juriacutedica da diplomaccedilatildeo abstraindo-nos no entanto de tecer comentaacuterios acerca das

outras fases

A diplomaccedilatildeo Ocorre apoacutes as fases que lhe antecedem quais sejam

votaccedilatildeo apuraccedilatildeo e proclamaccedilatildeo Haacute um lapso temporal entre estas e aquela suficiente

para que as duacutevidas sejam dissipadas e as impugnaccedilotildees porventura existentes

resolvidas de forma que todo o processo se harmonize e se conforme

Tem por objetivo a diplomaccedilatildeo apoacutes resolvidas todas as pendengas

declarar os nomes dos eleitos no pleito conforme os resultados apurados e

proclamados

Joel Joseacute Cacircndido6 ensina

o que se atesta com a diplomaccedilatildeo eacute a existecircncia de uma eleiccedilatildeo

vaacutelida e seus resultados jaacute divulgados habilitando-se os eleitos

com o diploma a exercerem seus respectivos cargos a

diplomaccedilatildeo consagra a publicaccedilatildeo dos resultados que eacute seu

pressuposto fundamental

Por seu turno Faacutevila Ribeiro7 tecendo comentaacuterios sobre a

6 Cacircndido Joel Joseacute Direito Eleitoral Brasileiro 4ordf ed rev e atual Bauru

SP EDIPRO 1994 p 207 et seq

7 Ribeiro Faacutevila Direito Eleitoral 4ordf ed rev e ampl RioRJ Forense 1996 p

477

proclamaccedilatildeo e diplomaccedilatildeo dos eleitos afirma No momento da proclamaccedilatildeo deve

ser anunciada a data para a entrega do diploma dos eleitos que eacute o tiacutetulo expedido

pela Justiccedila Eleitoral para definir a Legitimidade dos representantes populares

Pelo exposto concluiacutemos que o ato da diplomaccedilatildeo tem natureza

meramente declaratoacuteria Pois jaacute existe uma situaccedilatildeo preacute-constituiacuteda que satildeo as fases

que a precedem natildeo havendo por que se falar em natureza constitutiva

Formalidade - O prefeito e o vice-prefeito satildeo eleitos nas urnas e natildeo

com o recebimento do diploma natildeo sendo necessaacuterio nem mesmo ir recebecirc-lo por

ocasiatildeo da diplomaccedilatildeo Isso eacute uma formalidade e diante do sufraacutegio universal popular

eacute ateacute irrelevante

O processo eleitoral conforme a maioria dos doutrinadores inicia-se

com a votaccedilatildeo e conclui-se com a diplomaccedilatildeo E tendo por base que a votaccedilatildeo eacute o

ponto culminante desse processo (sufraacutegiosoberania) natildeo seria forccedilar o entendimento

afirmar que as demais fases que a seguem satildeo acessoacuterias instrumentais natildeo tendo esses

procedimentos formais o condatildeo de obstaculizar uma decisatildeo soberana

Nunca eacute demais trazer agrave tona os ensinamentos processuais proferidos

pelo eminente Juiz Federal Magnus Augusto Delgado (membro do TRERN) nos autos

do processo ndeg 13094 proferido na sessatildeo do dia 160496 que mesmo se tratando de

mateacuterias distintas neste particular se afeiccediloa ao nosso caso pois a temaacutetica universal eacute a

mesma

O processo eacute um meio de realizaccedilatildeo do direito jamais um fim em si

mesmo O apego exacerbado agraves formas e filigranas delas

decorrentes pode levar na maioria dos casos ao proacuteprio

aniquilamento do direito material e este eacute o alvo nuclear merecedor

da primazia da atenccedilatildeo a ser dispensada pelo oacutergatildeo encarregado de

prestar a jurisdiccedilatildeo

Assim sendo essa possiacutevel mas bem discutiacutevel discrepacircncia formal natildeo

eacute suficiente para se impedir que o vice-prefeito seja diplomado tome posse e assuma a

vaga que lhe eacute de direito

Concluindo - Em tom final lembramos que natildeo se pode todavia alegar

o desconhecimento da importacircncia do vice pois haacute mais de uma deacutecada vivemos a

sua cultura chegando-se ateacute a afirmar em tom de prosa que vivemos em um paiacutes de

vices numa evidente referecircncia a alguns dos nossos Presidentes da Repuacuteblica (Joseacute

Sarney e Itamar Franco)

Por uacuteltimo as estatiacutesticas natildeo oficiais demonstram que hoje os vice-

prefeitos tecircm alta probabilidade de se tornarem titulares uma vez que os prefeitos

quando dos seus uacuteltimos anos de mandatos renunciam aos seus cargos para

concorrerem a cargos no legislativo assumindo a titularidade da prefeitura nessa

ocasiatildeo o vice-prefeito Hoje essas hipoacuteteses satildeo perfeitamente previsiacuteveis pelos

eleitores pois tornou-se uma praacutetica corriqueira entre os poliacuteticos Portanto natildeo haacute que

se votar apenas no titular esquecendo-se do vice muito pelo contraacuterio deve-se ter a

responsabilidade de votar no titular tendo em vista tambeacutem o vice pois este o

substituiraacute e suceder-lhe-aacute sempre que para isto for convocado

Assim natildeo sendo natildeo haacute motivo para a existecircncia do cargo de vice

Extinga-se

Por tudo isso a tese que mais correta se apresenta ara noacutes eacute a de que o

vice-prefeito assuma a titularidade do cargo de prefeito face a morte do seu titular antes

mesmo de sua diplomaccedilatildeo Pois poder foi legitimado pelo povo A contraacuterio sensu natildeo

seraacute democraacutetico pois natildeo decorreu da vontade do povo (art 10 da CF)

Eis em resumo o que tinha para expor sobre o tema Alcanccedilados meus

objetivos estaratildeo ao saber que mesmo de forma superficial abordei os seus principais

pontos rasgando os caminhos da exegese arrolando minhas opiniotildees

ABRE TEUS OLHOS THEacuteMIS

VANESSA ALESSANDRA PEREIRA

Acadecircmica do 7deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

Sumaacuterio I Introduccedilatildeo lI A Balanccedila Equiliacutebrio III A Espada e a

Forccedila IV A Venda e a Imparcialidade V Conclusatildeo VI Bibliografia

ldquoDireito natildeo destinado a converter-se em momento de vida eacute mera

aparecircncia de direitordquo1

I - INTRODUCcedilAtildeO

A evoluccedilatildeo dos modos de pensar da sociedade humana dos

comportamentos sociais dos tipos de crimes e penalidades a eles impostos da

complexidade e banalizaccedilatildeo da violecircncia urbana entre outros fatores tecircm levado de

uma forma geral a novas formas e estender o direito e por assim dizer de questionaacute-lo

Sob o tiacutetulo acima apresentado ouso contrapor-me agrave tradiccedilatildeo juriacutedica de

reverenciar a deusa Theacutemis juntamente com todo o simbolismo a ela arraigado A

balanccedila a espada e a venda representantes maiores dessa tradiccedilatildeo intocaacutevel da

atividade juriacutedica satildeo explicados e aceitos haacute seacuteculos como sendo o equiliacutebrio a forccedila e

a imparcialidade do direito Minha ousadia consiste justamente em questionar a sua

praticidade nos dias atuais desmascarando definiccedilotildees e pensamentos preestabelecidos

que na praacutetica natildeo passam de quimeras principalmente em nosso meio social marcado

pelas constantes ondas de violecircncia e desrespeito aos mais valorados direitos de um

povo

11 - A BALANCcedilA E O EQUILIacuteBRIO

Comecemos pela balanccedila posicionada em uma das matildeos da deusa da

Justiccedila e que representa o equiliacutebrio estabelecido entre as partes envolvidas nos

conflitos De um lado temos as classes menos favorecidas e de outro uma elite egoiacutesta

e economicamente superior Nesse diapasatildeo infelizmente natildeo haacute espaccedilo para o

almejado equiliacutebrio juriacutedico O que vemos diariamente eacute o acuacutemulo incalculaacutevel de leis

elaboradas com o uacutenico e exclusivo escopo de privilegiar uma minoria quando a grande

parcela da populaccedilatildeo sofre com a ausecircncia de normas que a beneficiem

Para que haja esse equiliacutebrio eacute preciso pocircr em praacutetica o princiacutepio da

igualdade juriacutedica perante a lei tatildeo bem sedimentado no artigo 5deg da Constituiccedilatildeo

Federal e ao mesmo tempo tatildeo criticado pelos mais diversos setores da sociedade

principalmente quando analisado sob a oacutetica da vida social A professora e advogada

Vera Luacutecia C Vassouras retrata bem essa questatildeo ao afirmar que ldquoA igualdade

juriacutedica no Brasil eacute pura forma seu conteuacutedo se engendra como veiacuteculo

ideoloacutegico de mascaramento das desigualdades veiacuteculo de injusticcedilas sociais e

1 REALE Miguel liccedilotildees Preliminares de Direito 22 ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 p 256

mecanismo de reproduccedilatildeo do sistema capitalista de dominaccedilatildeo2 Vai mais aleacutem

ao estabelecer a ideacuteia de que essa igualdade eacute um mito ldquo uma grande mentira

ideoloacutegica que tomou a consciecircncia daqueles que natildeo admitem o progresso e a

verdadeira cultura (multidisciplinar) para as massas3

Ainda com relaccedilatildeo a essa questatildeo cumpre-nos destacar o pensamento

do professor JOAtildeO BAPTISTA HERKENHOFF corroborando a certeza da

inexistecircncia de uma igualdade juriacutedica em nosso paiacutes Para ele Natildeo seratildeo

condutoras do artesanato democraacutetico as velhas e caducas categorias do Direito

com todos os seus mitos e falsidades a comeccedilar pelo da igualdade de todos

perante a lei igualdade impossiacutevel dentro de uma estrutura social fundada na

desigualdade e na iniquumlidade4

III - A ESPADA E A FORCcedilA

Jaacute dizia RUDOLF VON IHERING que A espada sem a balanccedila eacute a

forccedila brutal a balanccedila sem a espada eacute a impotecircncia do direito5 Usa-se o

simbolismo da espada como arma para a defesa do direito Mas aproveito e pergunto

que direito eacute esse que estaacute sendo defendido O direito de que classe social estaacute se

buscando De quais interesses estaraacute o legislador a defender Respostas existem mas

infelizmente a populaccedilatildeo chegou a um estaacutegio tal de letargia e descrenccedila nas

instituiccedilotildees sociais que claramente passou a conviver com a violecircncia e o descaso do

poder puacuteblico sem mais questionar os porquecircs nem buscar soluccedilotildees para os problemas

que a afligem

Hodiernamente o que vemos natildeo eacute a espada da Justiccedila e sim as

armas dos bandidos que matam e destroem o sonho de uma sociedade justa e

comprometida com os ideais de justiccedila e paz social Destarte a violecircncia que antes

era vista apenas pela televisatildeo ou lida atraveacutes dos jornais desceu dos morros saiu das

favelas e chegou ateacute noacutes de forma assustadora e alarmante Isto porque a sociedade

que prega o sucesso e ascensatildeo dos individuos eacute a mesma que Ihes nega

oportunidades levando essas pessoas a buscarem seu espaccedilo de forma ilegal e

violenta Passamos assim a ser prisioneiros dentro de um universo criado para

imperar a ordem mas que discrimina seus membros alijando-Ihes da condiccedilatildeo de

cidadatildeos

IV - A VENDA E A IMPARCIALIDADE

Dentre as curiosidades surgidas acerca dos siacutembolos que representam a

2 in o Mito da Igualdade Juriacutedica no Brasil Notas Criticas sobre a Igualdade

Formal Satildeo Paulo Edicon 1994 p 123

3 Opcit p15

4 in Para onde vai o Direito Reflexotildees sobre o papel do Direito e do

jurista Porto Alegre Livraria do Advogado 1996 p 78

5 in A Luta pelo Direito 16 ed Rio de Janeiro Forense 1996 p01

Justiccedila outra que impressiona aos estudiosos do Direito eacute a imagem daquela figura

poderosa e destemida da deusa Theacutemis tendo os olhos cobertos por uma venda Com o

tempo percebemos que esse modelo de imparcialidade a noacutes imposto natildeo passa de

ilusatildeo fruto que eacute de um pensamento caduco e cego agrave realidade social e juriacutedica em

que vivemos

Carnelutti por sua vez afirmava que ldquoA justiccedila humana natildeo pode ser

senatildeo uma justiccedila parcial a sua humanidade natildeo pode senatildeo resolver-se na sua

parcialidade Tudo aquilo que se pode fazer eacute buscar diminuir esta parcialidade6

Nesse diapasatildeo fica uma criacutetica ao judiciaacuterio oacutergatildeo criado para estabelecer a lei e o

direito mas que inuacutemeras vezes erra originando a descrenccedila e a desconfianccedila por parte

daqueles que o provocam

Hoje podemos afirmar que a Justiccedila brasileira eacute eminentemente elitista

parcial e conservadora com honrosas exceccedilotildees mas que se perdem no emaranhado da

desordem juriacutedica Diante do exposto fica a certeza da perniciosa parcialidade do

judiciaacuterio e da imperiosa necessidade de bradarmos contra a mesma Ricos ou pobres

pretos ou brancos eis o objetivo do direito eis o sonho de toda uma sociedade

Nesse contexto urge pois destacar o desabafo do jaacute mencionado

professor JOAtildeO BAPTISTA HERKENHOFF que clama

Abaixo a hipoacutecrita neutralidade de advogados procuradores juizes

desembargadores ministros Essa neutralidade sempre protegeu escolhas

de conservaccedilatildeo das estruturas e de manutenccedilatildeo do status quo Sejamos

verdadeiros Faccedilamos opccedilotildees puacuteblicas e honestas Decidamos por qual

mundo lutaremos que interesses consideramos legiacutetimos e merecedores

da tutela de nossas valoraccedilotildees7

V - CONCLUSAtildeO

Ao depois do exposto resta-me deixar um testemunho como acadecircmica

de direito e mais ainda como parte integrante de uma sociedade marcada pelas

mazelas de um poder cujo pensamento eacute sedimentado na maioria das vezes em

conceitos retroacutegrados e por demais individualistas

Embora em assim me posicionando tenho consciecircncia de que as

responsabilidades precisam ser divididas De um lado o judiciaacuterio agindo na tutela dos

interesses individuais e coletivos Do outro a sociedade interessada precipuamente

na construccedilatildeo de um paiacutes que honre as suas instituiccedilotildees Esse eacute o pensamento do

eminente Juiz Federal e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

WAL TER NUNES DA SILVA JUacuteNIOR quando diz Natildeo se reclame amanhatilde

dos que fazem a justiccedila concentrando as desconfianccedilas na lei e pior ainda no

Judiciaacuterio A justiccedila natildeo nasce nem termina no Judiciaacuterio A justiccedila eacute uma

comunhatildeo de accedilotildees sociais levadas a cabo natildeo soacute pelo Estado como tambeacutem

por cada um de noacutes dentro dos nossos deveres e responsabilidades como

6 in As Miseacuterias do processo Penal Itaacutelia Conan 1995 p 34

7 Op cit p 75

profissionais e sobretudo como cidadatildeos8

Diante disso permitam-me fazer um apelo a todos aqueles que ora

compartilham comigo a anguacutestia de um direito injusto o inconformismo diante da

impunidade o medo da violecircncia Eacute chegada a hora de nos unirmos abrindo os olhos

para os problemas acima levantados dividindo as culpas e buscando a verdadeira

justiccedila Para isso ouso gritar Abre teus olhos Theacutemis

VI - REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

CARNELUTTI Francesco As Miseacuterias do Processo Penal Traduccedilatildeo de

Joseacute Antonio Cardinalli Satildeo Paulo Conan 1995

HERKENHOFF Joatildeo Baptista Para onde vai o Direito reflexotildees sobre

o papel do Direito e do jurista Porto Alegre Livraria do Advogado 1996

IHERING Rudolf Von A Luta pelo Direito Traduccedilatildeo de Joatildeo

Vasconcelos 16 ed Rio de Janeiro Forense 1996

REALE Miguel Liccedilotildees Preliminares de Direito 22 ed Satildeo Paulo

Saraiva 1995

VASSOURAS Vera Luacutecia C O mito da igualdade juriacutedica no Brasil

notas criacuteticas sobre igualdade formal Satildeo Paulo Edicon 1995

8 in o Direito Penal e a Criminalidade Trabalho apresentado na I Jornada de Direito Penal e Processo

Penal promovida pelo DAAC - Diretoacuterio Acadecircmico Amara Cavalcanti do Curso de Direito da UFRN

CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRACcedilAtildeO

PUacuteBLICA

VICENTE ELIacuteSIO DE O NETO

Bacharel em Direito pela UFRN

I - Introduccedilatildeo 2 - O Controle Jurisdicional 21 Definiccedilatildeo e

Generalidades 22 O Controle Jurisdicional e a Constituiccedilatildeo de 1988 23

Privileacutegios da Administraccedilatildeo Puacuteblica 3 - Meios de Controle 31 Generalidades 32

Habeas Cor pus 33 Habeas Data 34 Mandado de Injunccedilatildeo 35 lvandado de

Seguranccedila Individual 36 Mandado de Seguranccedila Coletivo 37 Accedilatildeo Popular 38

Accedilatildeo Civil Puacuteblica 4 - Limites ou Restriccedilotildees ao Controle Judiciaacuterio 41

Generalidades 42 Quanto agrave A1ateacuteria 43 Quanto agrave Amplitude do Ato de Controle

44 Quanto agrave Oportunidade do Pronunciamento 45 Quanto agrave Extensatildeo do

Pronunciamento 5 - Conclusatildeo 6 ndash Bibliografia

1 - INTRODUCcedilAtildeO

O tema deste estudo eacute o Controle Jurisdicional da Administraccedilatildeo

Puacuteblica Seu objeto as limitaccedilotildees ou restriccedilotildees a que estaacute submetido Mais

precisamente eacute investigar em que sentido podemos falar em restriccedilotildees ao controle

jurisdicional e de que decorrem

Buscando atingir o fim pretendido dividimos o trabalho em quatro

parte aleacutem desta introduccedilatildeo

Na primeira expendemos uma definiccedilatildeo do controle seu alcance fins e

fundamentos indicamos seu fortalecimento com o advento da Carta Magna de 1988 e

ainda elencamos os privileacutegios que caracterizam a atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo em Juiacutezo

Em seguida tratamos dos remeacutedios constitucionais de que podem fazer

uso os administradores em defesa de seus direitos individuais e interesses coletivos e

difusos ameaccedilados ou violados pelos comportamentos ilegiacutetimos da Administraccedilatildeo

Ao cuidarmos das restriccedilotildees ao controle efetuamos uma siacutentese das

opiniotildees a respeito a que tivemos acesso Feito isso passamos a expor a concepccedilatildeo que

nos pareceu mais correta e fundamentada e por conseguinte a que aderimos no estaacutegio

em que se encontram os nossos estudos

Por fim apresentamos nossas conclusotildees

2 - O CONTROLE JURISDICIONAL

21 DEFINICcedilAtildeO E GENERALIDADES

Define-se o controle jurisdicional como sendo aquele que eacute exercido

exclusivamente pelo Poder Judiciaacuterio em virtude de provocaccedilatildeo dos interessados por

intermeacutedio de instrumentos especiacuteficos ou inespeciacuteficos assegurados aos administrados

na Constituiccedilatildeo e na legislaccedilatildeo infra-constitucional para apreciaccedilatildeo in concreto dos

comportamentos da Administraccedilatildeo Puacuteblica quer para invalidar suas condutas ilegais

constrangecirc-la ao desempenho das atividades a que estaacute obrigada ou ainda condenaacute-la a

indenizar os lesados reparando os danos a que deu causa1

Seu exerciacutecio eacute da competecircncia exclusiva do Poder Judiciaacuterio por ser o

ordenamento juriacutedico nacional daqueles que se filiam ao sistema da jurisdiccedilatildeo una

(artigo 5D inciso XXXV da Constituiccedilatildeo Federal de 1988) A necessidade de

provocaccedilatildeo para que opere justifica-se como eacute sabido pelo imperativo da

imparcialidade do judiciaacuterio Quanto aos instrumentos ou meios dedicamos toda uma

parte de nosso estudo (ponto 3)

Conquanto a maior parte dos doutrinadores pesquisados refiram-se ao

controle dos atos administrativos preferimos adotar o vocaacutebulo comportamentos de

que faz uso Celso Antocircnio Bandeira de Mello2 a fim de incluir os atos da

Administraccedilatildeo particularmente os materiais sobre os quais indiscutivelmente eacute

exercido o controle jurisdicional

Eacute bem verdade no entanto que o Controle Judicial da Administraccedilatildeo

encarado como teacutecnica de contenccedilatildeo e equiliacutebrio das funccedilotildees estatais destina-se

precipuamente agrave apreciaccedilatildeo dos atos administrativos

Fixe-se tambeacutem que o controle incide sobre os oacutergatildeos do Poder

Executivo assim como atinge os atos praticados pelos oacutergatildeos dos demais Poderes

quando praticados no desempenho de funccedilatildeo tipicamente administrativa3

O relevante serviccedilo que cumpre para a garantia do Estado de Direito

chega ao ponto de se afirmar ser o controle jurisdicional aliado ao princiacutepio da

legalidade um dos seus fundamentos4 Lembrando-se os ensinamentos do inesqueciacutevel

Seabra Fagundes administrar eacute aplicar a lei de oficio Assim sendo a instituiccedilatildeo de

uma teacutecnica posta agrave disposiccedilatildeo de um outro Poder para aferir a conformidade da atuaccedilatildeo

da Administraccedilatildeo com as disposiccedilotildees normativas inquestionavelmente eacute o fundamento

de um Estado em que impera o primado da lei

Do que se acaba de expor eacute que resulta a costumeira afirmaccedilatildeo segundo

a qual o controle judicial visa anular os atos ilegais da Administraccedilatildeo Natildeo haacute negar a

correccedilatildeo e coerecircncia da assertiva Acreditamos todavia para que se natildeo incorra em

equiacutevoco que a melhor doutrina eacute aquela em que se afirma expressamente ser uma das

finalidades do controle assegurar uma atuaccedilatildeo administrativa em consonacircncia com o

conjunto dos princiacutepios que lhe satildeo impostos pela ordem normativa informadores do

regime juriacutedico-administrativo como os da legalidade impessoalidade moralidade

1 Definiccedilatildeo formulada a partir principalmente das liccedilotildees de Celso Antocircnio Bandeira de Mello (ldquoCurso de

Direito Administrativordquo Satildeo Paulo Malheiros Editores pp 605 e 606

2 Op Cit p 117

3 Hely Lopes Meirelles Op Cit P 605 Maria Sylvia Zanella di Pietro ldquoDireito Administrativordquo Satildeo

Paulo Atlas Editora p 478 4 Maria Sylvia Zanella di Pietro op Cit p 492

publicidade motivaccedilatildeo razoabilidade proporcionalidade da responsabilidade do

Estado por Atos Administrativos e quaisquer outros que derivem da supremacia do

interesse puacuteblico sobre o privado e da indisponibilidade pela Administraccedilatildeo por

interesses puacuteblicos5

Ponderam os estudiosos que em regra os atos administrativos em geral

estatildeo sujeitos agrave apreciaccedilatildeo pelo Judiciaacuterio Feito isto cuidam os mesmos de chamar a

atenccedilatildeo para as peculiaridades da apreciaccedilatildeo judicial dos atos discricionaacuterios

restringe-se agrave competecircncia eacute exclusivamente da legalidade natildeo pode invadir o

meacuterito administrativoPoreacutem efetuados aquelas ressalvas normalmente discorrem de

modo a concluir uns mais outros menos que as restriccedilotildees inicialmente elencadas natildeo

estreitam tanto a apreciaccedilatildeo dos atos discricionaacuterios pelo Judiciaacuterio

Natildeo nos interessa aqui tratar longa mente do tema Para os fins deste

trabalho importa somente que se registre a extensatildeo do controle judicial quando o ato

impugnado eacute efetivamente discricionaacuterio A soluccedilatildeo do problema assim acreditamos

soacute se encontra na anaacutelise realizada por Celso Antocircnio Bandeira de Mello6 Eacute que o

mestre inverte a questatildeo busca traccedilar os limites e a correta concepccedilatildeo da

discricionariedade para posteriormente determinar a extensatildeo Sintetiza o autor que o

Judiciaacuterio em face de ato discricionaacuterio poderaacute investigar os motivos do ato ou seja

os pressupostos de fato que embasaram a atuaccedilatildeo administrativa a fim de verificar

se realmente subsistem e satildeo idocircneos para determinar a atuaccedilatildeo administrativa

examinaraacute a finalidade contida na norma de competecircncia a fim de invalidaacute-los caso

praticados com desvio de poder e por fim deve o juiz averiguar a causa do ato ou seja

a relaccedilatildeo de adequaccedilatildeo entre os pressupostos e o seu objeto sem a qual o ato

discricionaacuterio eacute nulo

22 O CONTROLE JURISDICIONAL E A CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

O advento da Constituiccedilatildeo de 1988 eacute de significativa importacircncia para o

Controle Jurisdicional da Administraccedilatildeo Puacuteblica em funccedilatildeo de seu fortalecimento e

ampliaccedilatildeo por obra do legislador constituinte

No texto constitucional em vigor foram expressos novos remeacutedios como

o mandado de seguranccedila coletivo e o habeas data a accedilatildeo popular foi ampliada e a accedilatildeo

civil puacuteblica obteacutem status constitucional

6

7 Luacutecia Valle Figueiredo Curso de Direito Administrativo sao Paulo

Malheiros Editores p 243

3 Hely Lopes Meirelles Op cit p 605 Maria Sylvia Zanella Di Pietro

Direito Administrativo Paulo Atlas Edi1ora p 478

4 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op ci1 p 492

5 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op ci1 p 478 Hely Lopes Meirelles

op ci1 p 606

5 Maria Sylvia Zanella di Pietro op Cit p 478 Hely Lopes Meirelles op cit p 606

6 Op cit Cap XV pp 450 a 471

Inovou o texto Magno em relaccedilatildeo agrave mateacuteria ao estabelecer que a ameaca

de lesatildeo eacute bastante para que seja prestada a tutela jurisdicional (artigo 5deg inciso

XXXV) Consequumlecircncia necessaacuteria que daiacute resulta para o controle jurisdicional eacute sua

agilizaccedilatildeo7 o que nos leva a concluir que jaacute natildeo se mais pode indicar como proacuteprio dele

ocorrer a posteriori como ateacute entatildeo era encarado

No entanto entendemos que a mais importante novidade relaciona-se

com a garantia dos direitos coletivos e difusos por representar fundo golpe nas

doutrinas individualistas e liberais que tanta influecircncia ainda exercem em nossa ordem

juriacutedica

23 PRIVILEacuteGIOS DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Em juiacutezo a Administraccedilatildeo Puacuteblica goza determinados privileacutegios que

lhe satildeo reconhecidos em decorrecircncia da supremacia do interesse puacuteblico sobre o

individual Dentre eles destacam- se

a) Juiacutezo Privativo

No acircmbito federal eacute a Justiccedila Federal de 1ordf e 2

ordf instacircncia (Juizes

Federais e Tribunais Regionais Federais) em que satildeo julgadas as accedilotildees em que

participem a Uniatildeo suas autarquias e empresas puacuteblicas Entretanto as sociedades de

economia mista e fundaccedilotildees de direito privado atuam na Justiccedila Comum Ademais as

accedilotildees relativas agrave falecircncia e acidentes de trabalho bem como as da competecircncia da

Justiccedila Eleitoral e do Trabalho estatildeo excluiacutedas da apreciaccedilatildeo da Justiccedila Federal

Por sua vez os Estados e os Municiacutepios tambeacutem dispotildeem deste

privileacutegio nos termos de suas Leis de Organizaccedilatildeo Judiciaacuteria que estabelecem as

Varas da Fazenda Puacuteblica

b) Prazos

A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios assim como

suas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico quando partes em accedilatildeo judicial dispotildeem

de prazo em quaacutedruplo para contestar e em dobro para recorrer (artigo 188 do Coacutedigo

de Processo Civil)

c) Duplo Grau de Jurisdiccedilatildeo

Sujeitam-se ao duplo grau necessaacuterio de jurisdiccedilatildeo as sentenccedilas

proferidas contra a Uniatildeo os Estados e os Municiacutepios bem como a que julga

improcedente a execuccedilatildeo de diacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica que soacute produziratildeo efeitos

caso confirmadas pelo Tribunal (artigo 475 incisos 11 e 111 do Coacutedigo de Processo

Civil) Este benefiacutecio natildeo se aplica agraves autarquias fundaccedilotildees empresas puacuteblicas e

sociedades de economia mista

d) Processo Especial de Execuccedilatildeo

Privileacutegio de status constitucional eacute o que estabelece o artigo 100 da Lei

Maior Trata-se do pagamento atraveacutes de precatoacuterio requisitoacuterio das obrigaccedilotildees

pecuniaacuterias da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal dos Municiacutepios e suas

respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico decorrentes de sentenccedila judicial

e) Pagamento das Despesas Judiciais

As despesas dos atos processuais efetuadas a requerimento da Fazenda

7 Luacutecia Valle Figueiredo Curso de Direito Administrativo Satildeo Paulo Malheiros Editores p 243

Puacuteblica seratildeo pagas ao final pelo vencido (artigo 27 do Coacutedigo de Processo Civil)

Haacute tambeacutem a dispensa do preparo quando os recursos forem interpostos

pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios e respectivas autarquias (artigo 511 paraacutegrafo uacutenico

do Coacutedigo de Processo Civil)

3 - MEIOS DE CONTROLE

31 GENERALIDADES

Apoacutes ressalvarem em uniacutessono que os administrados podem se valer

contra os atos administrativos ilegais de todas as accedilotildees e procedimentos (ordinaacuterio

sumaacuterio ou especial) cuidam os administrativistas dos denominados meios de

controlerdquo8 ou garantias dos administradosrdquo

9

Eacute princiacutepio fundamental da Ordem Juriacutedica paacutetria a apreciaccedilatildeo pelo

Judiciaacuterio de toda e qualquer lesatildeo ou ameaccedila a direito seja ele individual coletivo ou

difuso nos termos do artigo 5deg inciso XXXV da Carta Magna do qual se infere ter o

constituinte de 88 optado pelo sistema da jurisdiccedilatildeo una Portanto sofrendo o

administrado violaccedilatildeo ou ameaccedila de violaccedilatildeo de seus direitos individuais em virtude de

comportamento postura ou ato da administraccedilatildeo ou ainda percebendo o cidadatildeo que

da atividade administrativa resultou ou iraacute resultar malferido direito coletivo ou difuso

a ambos eacute facultado provocar o controle corretivo do Judiciaacuterio posto que a tutela

jurisdicional haacute de ser requerida (artigo 20 do Coacutedigo de Processo Civil) a fim de que

cesse a ameaccedila ou lesatildeo resultante do ato ilegal

Percebendo as particularidades das relaccedilotildees travadas entre a

Administraccedilatildeo e os administrados da importacircncia do vulto dos interesses puacuteblicos e

particulares em jogo bem como das dificuldades enfrentadas para que sejam

equacionados pacificamente tratou o constituinte de estabelecer institutos destinados

especificamente a garantir os direitos dos particulares em face dos atos abusivos do

administrador por meio do pronunciamento do Poder Judiciaacuterio Costuma a doutrina

denominaacute-los remeacutedios constitucionais porque tecircm por escopo assegurar os direitos

fundamentais Em verdade satildeo ao mesmo tempo direitos e garantias em sentido

instrumental satildeo direitos como o direito de accedilatildeo em sentido material satildeo garantias pois

estabelecidos no texto constitucional para a proteccedilatildeo dos direitos nele previstos10

Dentre os meios de controle da Administraccedilatildeo pelo Judiciaacuterio

destacam-se o Habeas corpus o Habeas Data o Mandado de Injunccedilatildeo o Mandado

de Seguranccedila Individual o Mandado de Seguranccedila Coletivo a Accedilatildeo popular e a

Accedilatildeo Civil Puacuteblica Como veremos a seguir os quatro primeiros cumprem papel de

garantias de direitos individuais enquanto os trecircs uacuteltimos prestam grande

contribuiccedilatildeo na preservaccedilatildeo dos direitos coletivos e difusos

32 HABEAS CORPUS

8 Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 498

9 Hely Lopes Meirelles op cit p 614 Diogo de Figueiredo Moreira

Neto ldquoCurso de Direito Administrativordquo 8ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense p 535

10

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 499

Instituto que antecede historicamente o Eu 1 Direito surgiu o

Habeas Corpus precisamente na Inglaterra em 1215 prescrito na Magna Carta

imposta ao Rei Joatildeo Sem Terra pela qual a nobreza rebelde impocircs restriccedilotildees ao

poder real

No direito brasileiro o Habeas Corpus remonta ao periacuteodo imperial

previsto no Coacutedigo de Processo Criminal de 1832 em seu artigo 340 verbiacutes

Todo cidadatildeo que entender que ele ou otrl1 sofre prisatildeo ilegal ou

constrangimento ilegal em sua liberdade tem direito de pedir uma

ordem de bdquohabeas corpus em seu favor

Hodiernamente trata-se de garantia constitucional que tem por fim

assegurar o direito de locomoccedilatildeo de ir e vir ameaccedilada ou atingida por violecircncia ou

coaccedilatildeo decorrente de ato ilegal ou abusivo

Remeacutedio assegurado a qualquer indiviacuteduo (artigo 50 inciso LXVIII) sua

impetraccedilatildeo eacute gratuita (artigo 5deg inciso UXil1i Constituiccedilatildeo Federal) e dispensa

procurador judicial bem como qualquer formalidade impeditiva de seu exerciacutecio

Meio pelo qual o Judiciaacuterio exerce controle corretivo dos atos

administrativos ilegiacutetimos praticados por autoridade no exerciacutecio do Poder de Poliacutecia de

Seguranccedila natildeo eacute o habeas cor pus infelizmente via processual haacutebil para se alcanccedilar a

tutela jurisdicional necessaacuteria agrave proteccedilatildeo dos militares que sofrem prisatildeo disciplinar

resultante de ato administrativo punitivo disciplinar militar ilegal por forccedila do que

dispotildee o paraacutegrafo 2deg do artigo 142 da Constituiccedilatildeo Federal

33 HABEAS DATA

Lembrando o passado (praacutetica das autoridades responsaacuteveis pela

repressatildeo poliacutetica durante o regime militar que armazenavam em arquivos sigilosos

informaccedilotildees acerca da vida pessoal e poliacutetica dos opositores da ditadura) e prevendo o

futuro (proliferaccedilatildeo dos bancos de dados informatizados) inovou o constituinte de 66

ao dar origem ao habeas data remeacutedio constitucional que tem por fim assegurar o

conhecimento eou a retificaccedilatildeo de informaccedilotildees relativas agrave pessoa do impetrante

constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caraacuteter

puacuteblico (artigo 5deg inciso LXXII aliacuteneas a e b)

Garantia de que se poderaacute valer gratuitamente (artigo 5deg inciso

LXXVII) entende a doutrina11

que a accedilatildeo de Habeas Data tem por fim tutelar a

intimidade a vida privada a honra e a imagem dos indiviacuteduos contra o uso e

conservaccedilatildeo em registros de dados falhos obtidos por meios fraudulentos ou ilegais

bem como a introduccedilatildeo em tais registros de dados sensiacuteveis relativos agrave origem racial

opiniatildeo poliacutetica religiosa e filosoacutefica orientaccedilatildeo sexual etc

11

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 500-1

34 MANDADO DE INJUNCcedilAtildeO

Podemos definir o Mandado de Injunccedilatildeo como a medida constitucional

de que se vale o indiviacuteduo para buscar a tutela jurisdicional apta a viabilizar o exerciacutecio

dos direitos e liberdades constitucionais ou das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade

agrave soberania e agrave cidadania inexequumliacutevel por falta de norma regulamentadora (artigo 5ordm

inciso LXXI da Constituiccedilatildeo Federal)

A utilizaccedilatildeo da garantia tem por pressuposto a inexistecircncia de norma

regulamentadora (lei ou regulamento) e a inviabilizaccedilatildeo do exerciacutecio dos direitos e

liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade agrave soberania e agrave

cidadania12

Sua finalidade eacute a obtenccedilatildeo de um pronunciamento judicial que

reconhecendo a ausecircncia de norma regulamentadora estipule as condiccedilotildees para que o

impetrante exercite o direito de liberdade ou prerrogativa

35 MANDADO DE SEGURANCcedilA INDIVIDUAL

Mandado de Seguranccedila eacute o remeacutedio constitucional que se destina a

assegurar direito liacutequido e certo natildeo amparado por haacutebeas corpus ou habeas data

contra ato ilegal ou praticado com abuso de poder por autoridade puacuteblica ou agente de

pessoa juriacutedica no exerciacutecio) atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico (artigo 5deg inciso LXIX)

Regulamentado pela Lei nordm 1533 de 31 01 dezembro de 1951 o

Mandado de Seguranccedila individual tem por objeto a correccedilatildeo de ato ilegal (omissivo ou

comissivo) atentatoacuterio a direito liacutequido e certo do impetrante

A expressatildeo direito liacutequido e certo eacute por todos criticada Eacute que na

verdade ela natildeo se refere ao direito objetivo norma que o Judiciaacuterio decide ser

aplicaacutevel ao caso concreto Refere-se ao direito subjetivo do impetrante que deve ser

aferido pelo exame dos fatos alegados e devidamente provados atraveacutes dos documentos

que acompanham a inicial salvo na hipoacutetese do paraacutegrafo uacutenico do artigo 6ordm da Lei ndeg

15335113

O ato que se pretende invalidar por intermeacutedio do mandamus deve ter

sido praticado com o viacutecio da i1egalidade ou abuso de poder consoante se expressou o

legislador constitucional Tal enunciado somente se justifica pela tradiccedilatildeo posto que

nos tempos hodiernos eacute paciacutefica a compreensatildeo doutrinaacuteria segundo a qual a

ilegalidade eacute gecircnero de que o abuso de poder eacute apenas uma de suas espeacutecies

A autoridade que pratica ato passiacutevel de constriccedilatildeo denominada

autoridade coatora eacute aquela investida pela ordem juriacutedica na competecircncia ilegalmente

12

Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 557 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op Cit p 507

13 Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 552

utilizada14

Natildeo se confunde com o sujeito passivo do Mandado de Seguranccedila (Uniatildeo

Estados Municiacutepios ou quaisquer pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que

desempenhem atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico)

Eacute paciacutefico o entendimento de que o writ eacute instrumento preventivo e

repressivo Na primeira hipoacutetese a seguranccedila eacute concedida para coibir ameaccedila

comprovado o justo receio na segunda a seguranccedila eacute concedida a fim de que se

alcance a correccedilatildeo da lesatildeo provada por fatos incontroversos

Por fim registre-se a possibilidade de ser concedida medida liminar a

requerimento do impetrante que deveraacute ser concedida pelo Juiz (entendem alguns que

eacute faculdade discricionaacuteria com o que natildeo concordamos) ao despachar a inicial

determinando a suspensatildeo do ato impugnado quando for relevante o fundamento da

impugnaccedilatildeo e dele puder resultar a ineficaacutecia da medida caso seja deferida (artigo 7deg

inciso II da Lei 153351)

36 MANDADO DE SEGURANCcedilA COLETIVO

Inserido no texto constitucional em vigor o Mandado de Seguranccedila

Coletivo eacute a garantia de que dispotildeem os partidos poliacuteticos com representaccedilatildeo no

Congresso Nacional os sindicatos entidades de classe e associaccedilotildees legalmente

constituiacutedas e em funcionamento haacute pelo menos um ano estas uacuteltimas em defesa dos

interesses de seus membros ou associados (artigo 5deg inciso LXX)

Os pressupostos do writ coletivo satildeo os mesmos do individual15

ato

ilegal de autoridade do qual decorra lesatildeo ou ameaccedila a direito liacutequido e certo

Natildeo obstante as duacutevidas doutrinaacuterias e as vacilaccedilotildees da jurisprudecircncia

estamos com os que pregam ser a nova espeacutecie de mandado de seguranccedila instrumento

estabelecido para ampliar o elenco dos meios de controle corretivo dos atos i1egiacutetimos

praticados pela Administraccedilatildeo contra os interesses coletivos e difusos particularmente

quando manejado por partido poliacutetico bem como dos direitos subjetivos individuais e

coletivos reclamados pelas entidades sindicais e associaccedilotildees na defesa de seus

componentes e associados

No que diz respeito ao procedimento entende-se que deva ser observado

o estabelecido na Lei 15335116

37 ACcedilAtildeO POPULAR

Accedilatildeo popular eacute o meio constitucional conferido ao cidadatildeo na condiccedilatildeo

de substituto processual de todo o povo17

para invalidar ato lesivo ao patrimocircnio

puacuteblico ou de entidade de que o Estado participe agrave moralidade administrativa ao meio

14

Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 255 15

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit 521 16

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit 524 17

Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 554

ambiente e ao patrimocircnio histoacuterico e cultural (artigo 5deg inciso LXXIII)

Com seu procedimento estabelecido na Lei 471765 a accedilatildeo popular tem

por objeto a invalidaccedilatildeo do ato lesivo e a condenaccedilatildeo dos responsaacuteveis e beneficiaacuterios

ao pagamento de perdas e danos (artigo 11 da L A P )

A legitimidade para agir deferida exclusivamente ao cidadatildeo brasileiro

nato ou naturalizado no gozo dos direitos poliacuteticos eacute criticada pela doutrina mais

luacutecida 18

que defende sua extensatildeo agraves entidades de classe

O patrimocircnio que se busca proteger por meio da accedilatildeo popular engloba o

das pessoas juriacutedicas poliacuteticas suas autarquias empresas puacuteblicas e sociedades de

economia mista das sociedades muacutetuas de seguro nas quais a Uniatildeo representa os

segurados ausentes de serviccedilos sociais autocircnomos de instituiccedilotildees ou fundaccedilotildees para

cuja criaccedilatildeo ou custeio o tesouro puacuteblico haja concorrido ou concorra de empresas

incorporadas ao patrimocircnio puacuteblico de pessoas juriacutedicas subvencionadas pelos cofres

puacuteblicos bem como os bens e direitos de valor econocircmico artiacutestico esteacutetico histoacuterico

ou turiacutestico (artigo 1deg e paraacutegrafo 1deg da LAP)

Por fim em face do interesse puacuteblico que visa a accedilatildeo popular

resguardar poderaacute ser requerida a suspensatildeo Liminar do ato impugnado caso estejam

presentes no caso concreto as circunstacircncias previstas para a concessatildeo da medida

liminar em mandado de seguranccedila (artigo 5deg paraacutegrafo 4ordm)19

38 ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA

Accedilatildeo Civil Puacuteblica eacute o instrumento processual manejaacutevel para proteger o

meio ambiente o consumidor os bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico

turiacutestico e paisagiacutestico a ordem econocircmica bem como a qualquer outro interesse

coletivo ou difuso

Regulada pela Lei 737785 e prevista no texto constitucional (artigo

129 inciso 111) pode ser utilizada como excelente instrumento de controle da

Administraccedilatildeo pelo Judiciaacuterio nos casos em que os interesses difusos sejam ameaccedilados

ou violados por atos ilegiacutetimos das autoridades administrativas

Tendo por objetivo a condenaccedilatildeo pecuniaacuteria ou o cumprimento de

obrigaccedilatildeo de fazer ou natildeo fazer a accedilatildeo civil puacuteblica poderaacute ser cautelar buscando evitar

o dano iminente ou principal quando teraacute por escopo responsabilizar os que deram

causa ao dano

A propositura da accedilatildeo pode ser levada a efeito pelo Ministeacuterio Puacuteblico

pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios suas autarquias empresas puacuteblicas fundaccedilotildees

sociedade de economia mista bem como por associaccedilatildeo constituiacuteda haacute pelo menos um

ano e que tenha entre os seus fins institucionais a defesa dos interesses coletivos e

difusos (artigo 5deg e incisos I e 11)

4 - LIMITES OU RESTRICcedilOtildeES AO CONTROLE JUDICIAacuteRIO

18 Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 281

19 Theotocircnio Negrao Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo

Processual em Vigor Nota ao artigo 5deg 3a da LAP p 706

41 GENERALIDADES

A doutrina pesquisada dedica-se ao tema de trecircs formas distintas a

saber

a) a primeira abordagem afirmava no preteacuterito que os atos poliacuteticos os

legislativos e os interna corporis eram insuscetiacuteveis de apreciaccedilatildeo judicialrdquo20

Posteriormente evoluiu ao ponto de admitir que tais atos estavam sujeitos a controle

especialrdquo A justificativa que apresentam os que assim entendem eacute que tais atos

possuem um alto teor de discricionariedade seriam discricionaacuterios por excelecircncia do

que concluiacuteam ser muito restrita a apreciaccedilatildeo judicial dos mesmos

b) em situaccedilatildeo intermediaacuteria haacute quem nomine limites ao discorrer

sobre os atos poliacuteticos normativos e os interna corporis admitindo o controle

jurisdicional com fundamento no artigo 5deg inciso XXXV da Lei Maior21

c) por fim aborda-se a questatildeo de forma mais cuidadosa e profunda agrave

luz do texto constitucional referindo-se a restriccedilotildees ao controle judiciaacuterio justificadas

pelo princiacutepio do equiliacutebrio dos Poderes e da consequumlente distribuiccedilatildeo de competecircncia

levada a efeito pelo Estatuto Fundamental22

Eacute seguindo os caminhos abertos pela uacuteltima abordagem que passamos a

examinar o tema

42 QUANTO A MATEacuteRIA

O legislador constituinte tendo por escopo assegurar o necessaacuterio

equiliacutebrio entre os Poderes estabeleceu expressamente algumas hipoacuteteses em que a

competecircncia decisoacuteria eacute outorgada ao Senado Federal ao Congresso Nacional ao

Tribunal de Contas da Uniatildeo e aos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municiacutepios

Satildeo elas

a) Ao Senado Federal compete privativamente

O processo e julgamento do Presidente e do Vice-Presidente da

Repuacuteblica nos crimes de responsabilidade assim como dos Ministros de Estado nos

crimes da mesma natureza conexos com aqueles (artigo 52 inciso I)

O processo e julgamento dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e

do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do Advogado-Geral da Uniatildeo nos crimes de

responsabilidade (artigo 52 inciso II)

b) Eacute da competecircncia exclusiva do Congresso Nacional

O julgamento anual das Contas do Presidente da Repuacuteblica (artigo 49

inciso IX)

c) compete ao Tribunal de Contas da Uniatildeo aos Tribunais de Contas dos

20 Hely Lopes Meirelles op cit p 609

21

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 493 22

Diogo de Figueiredo op cit pp 189 a 192

Estados e dos Municiacutepios nas suas respectivas esferas

O julgamento das contas dos administradores e demais responsaacuteveis

por dinheiro bens e valores puacuteblicos da Administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as

fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico e as contas daqueles

que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao

eraacuterio puacuteblico (artigo 71 inciso li combinado com o artigo 75)

Em tais hipoacuteteses natildeo dispotildee o Judiciaacuterio de competecircncia para decidir

outorgada pela Constituiccedilatildeo ao Poder Legislativo ao Senado Federal ou aos oacutergatildeos

auxiliares do Legislativo No entanto natildeo satildeo tais mateacuterias insuscetiacuteveis de apreciaccedilatildeo

judicial O que o texto constitucional vedou ao Judiciaacuterio foi a competecircncia de decidi-

Ias Isto porque quem sofrer violaccedilatildeo de seus direitos causada pela decisatildeo proferida

nestes julgamentos poderaacute reclamar a tutela jurisdicional nos termos do artigo 5deg inciso

XXXV

Finalizando alerte-se que estas mateacuterias satildeo as uacutenicas para as quais a

Constituiccedilatildeo natildeo outorgou competecircncia decisoacuteria ao Judiciaacuterio

42 QUANTO Agrave AMPLITUDE DO ATO DE CONTROLE

Trata-se aqui de duas hipoacuteteses que restringem a amplitude da

apreciaccedilatildeo Natildeo se confundem com as hipoacuteteses de restriccedilotildees quanto agrave mateacuteria porque

nelas o Judiciaacuterio natildeo dispunha de competecircncia decisoacuteria outorgada a outro Poder

A primeira restriccedilatildeo refere-se ao remeacutedio constitucional do habeas

corpus cuja utilizaccedilatildeo natildeo cabe contra as puniccedilotildees disciplinares militares (artigo 142

paraacutegrafo 2deg) Ressalte-se que a restriccedilatildeo atinge o habeas corpus natildeo a competecircncia do

Judiciaacuterio na mateacuteria

A segunda restriccedilatildeo constitucional agrave amplitude do ato de controle

resulta do princiacutepio da separaccedilatildeo dos Poderes (artigos 2deg e 60 paraacutegrafo 4deg inciso 111)

Impede o princiacutepio constitucional que o ato de controle substitua a decisatildeo do

Legislativo e do Executivo viciada pela decisatildeo normativa ou administrativa que o

Judiciaacuterio entenda apropriada Nestes casos em que o Legislativo e o Executivo

praticam atos com fundamento na competecircncia constitucional que Ihes eacute proacutepria

eivados de ilegalidade a decisatildeo do Judiciaacuterio natildeo pode ir aleacutem do pronunciamento da

ilegalidade sob pena de malferir o princiacutepio da Separaccedilatildeo dos Poderes

44 QUANTO Agrave OPORTUNIDADE DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave oportunidade do pronunciamento

judicial apesar de natildeo se encontrar expressa no texto constitucional impotildee-se em razatildeo

de ordem loacutegica e tem por fundamento a separaccedilatildeo dos Poderes

Tal restriccedilatildeo ocorre nas hipoacuteteses em que o ato impugnado natildeo se

encontra perfeito Nestas situaccedilotildees natildeo poderaacute o Judiciaacuterio por uma razatildeo loacutegica

invalidar por exemplo um ato administrativo concreto se ele ainda natildeo se encontra

perfeito nem decidir que a autoridade administrativa deve se abster de praticaacute-lo

Entretanto em face da garantia constitucional da tutela preventiva poderaacute o Judiciaacuterio

impedir que o ato ao se tomar perfeito produza efeitos lesivos Outra natildeo pode ser a

soluccedilatildeo porque em casos desta espeacutecie a decisatildeo judicial que impedisse qualquer dos

outros Poderes de praticar os atos que lhe competem afrontaria a Constituiccedilatildeo

45 QUANTO Agrave EXTENSAtildeO DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave extensatildeo do pronunciamento eacute por todos

lembrada23

quando discorrem a respeito dos atos normativos em regra o

pronunciamento jurisdicional soacute produz efeitos entre as partes que integravam a relaccedilatildeo

juriacutedica processual decidida

Daiacute resultou que as leis e atos normativos natildeo se sujeitam agrave invalidaccedilatildeo

pelos meios de controle jurisdicional postos agrave disposiccedilatildeo dos administrados pois tais

atos legislativos e administrativos satildeo geneacutericos e abstratos e por isso natildeo atingem

direitos individuais Reconhecendo o Judiciaacuterio em um caso concreto em exame a

ilegalidade do ato normativo impugnado a decisatildeo proferida natildeo o invalida apenas

inadmite sua aplicaccedilatildeo Haacute poreacutem duas exceccedilotildees em que a lei em tese pode ser

invalidada

a) as leis de efeitos concretos24

Em verdade se estabelecem efeitos

concretos satildeo leis apenas formalmente pois materialmente satildeo atos administrativos

44 QUANTO Agrave OPORTUNIDADE DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave oportunidade do pronunciamento

judicial apesar de natildeo se encontrar expressa no texto constitucional impotildee-se em razatildeo

de ordem loacutegica e tem por fundamento a separaccedilatildeo dos Poderes

Tal restriccedilatildeo ocorre nas hipoacuteteses em que o ato impugnado natildeo se

encontra perfeito Nestas situaccedilotildees natildeo poderaacute o Judiciaacuterio por uma razatildeo loacutegica

invalidar por exemplo um ato administrativo concreto se ele ainda natildeo se encontra

perfeito nem decidir que a autoridade administrativa deve se abster de praticaacute-lo

Entretanto em face da garantia constitucional da tutela preventiva poderaacute o Judiciaacuterio

impedir que o ato ao se tomar perfeito produza efeitos lesivos Outra natildeo pode ser a

soluccedilatildeo porque em casos desta espeacutecie a decisatildeo judicial que impedisse qualquer dos

outros Poderes de praticar os atos que lhe competem afrontaria a Constituiccedilatildeo

45 QUANTO Agrave EXTENSAtildeO DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave extensatildeo do pronunciamento eacute por todos

23

Diogo de Figueiredo op cit p 191 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 493 Hely Lopes

Meirelles op cit p 610

lembrada24

quando discorrem a respeito dos atos normativos em regra o

pronunciamento jurisdicional soacute produz efeitos entre as partes que integravam a relaccedilatildeo

juriacutedica processual decidida

Daiacute resultou que as leis e atos normativos natildeo se sujeitam agrave invalidaccedilatildeo

pelos meios de controle jurisdicional postos agrave disposiccedilatildeo dos administrados pois tais

atos legislativos e administrativos satildeo geneacutericos e abstratos e por isso natildeo atingem

direitos individuais Reconhecendo o Judiciaacuterio em um caso concreto em exame a

ilegalidade do ato normativo impugnado a decisatildeo proferida natildeo o invalida apenas

inadmite sua aplicaccedilatildeo Haacute poreacutem duas exceccedilotildees em que a lei em tese pode ser

invalidada

a) as leis de efeitos concretos24 Em verdade se estabelecem efeitos

concretos satildeo leis apenas formalmente pois materialmente satildeo atos administrativos

b) as leis e atos normativos federais e estaduais que contrariem a

Constituiccedilatildeo Federal submetidos ao Supremo Tribunal Federal por via de Accedilatildeo Direta

de Inconstitucionalidade (artigo 102 inciso I aliacutenea a) Em se tratando de leis ou

atos normativos estaduais ou municipais contraacuterios agrave Constituiccedilatildeo Estadual compete

ao Tribunal de Justiccedila apreciar a representaccedilatildeo de inconstitucionalidade (artigo 125

paraacutegrafo 2deg)

5 - CONCLUSAtildeO

De todo o exposto extraiacutemos as conclusotildees que seguem

a) o controle jurisdicional da Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute exercido

exclusivamente pelo Judiciaacuterio mediante provocaccedilatildeo dos que buscam proteger seus

direitos individuais coletivos e difusos violados ou ameaccedilados por comportamentos

lesivos do Poder Puacuteblico

b) constitui o controle jurisdicional ao lado do princiacutepio da legalidade

um dos fundamentos do Estado de Direito

c) por intermeacutedio deste controle busca-se assegurar uma atuaccedilatildeo

administrativa em conformidade com os princiacutepios informadores do regime juriacutedico-

administrativo

d) a Constituiccedilatildeo de 66 veio indiscutivelmente fortalececirc-lo na medida

em que instituiu novos meios especiacuteficos de controle e por via destes ampliou a

proteccedilatildeo dos administrados ao tomar possiacutevel a defesa dos interesses coletivos e

difusos

e) ressalva-se contudo que em Juiacutezo goza a Administraccedilatildeo Puacuteblica de

privileacutegios que tecircm por fundamento a supremacia do interesse puacuteblico sobre o

particular

f) o Estatuto Fundamental prevecirc expressamente um conjunto de

garantias destinadas especificamente agrave proteccedilatildeo dos administrados contra os

comportamentos ilegiacutetimos da Administraccedilatildeo

g) nos dias atuais natildeo encontram amparo as opiniotildees doutrinaacuterias que

preguem a existecircncia no Estado Democraacutetico de Direito de atos insuscetiacuteveis de

24 Hely Lopes Meirelles op cit p 611 Diogo de Figueiredo op cit p

191

apreciaccedilatildeo judicial

h) as investigaccedilotildees a respeito das restriccedilotildees ou limitaccedilotildees ao controle

judicial natildeo podem partir da anaacutelise de certos atos que se pretendam dotados de alto

teor de discricionariedade i) tampouco eacute suficiente que se justifique a apreciaccedilatildeo judicial dos atos poliacuteticos normativos e interna corporis com base no artigo 5deg inciso XXXV da Lei Maior

i) tampouco eacute suficiente que se justifique a apreciaccedilatildeo judicial dos atos

poliacuteticos normativos e interna corporis com base no artigo 5D inciso XXXV da Lei

Maior

j) a investigaccedilatildeo a respeito das restriccedilotildees ao Controle Jurisdicional deve

ser levada a efeito agrave luz do texto constitucional

I) constituindo o Controle Jurisdicional um dos fundamentos do Estado

de Direito em princiacutepio soacute devem ser admitidas restriccedilotildees fundadas no princiacutepio da

Separaccedilatildeo e Equiliacutebrio dos Poderes cuja inobservacircncia inviabiliza o proacuteprio Estado de

Direito

m) em regra as restriccedilotildees ao controle quanto agrave mateacuteria quanto agrave

amplitude do pronunciamento quanto agrave oportunidade e quanto agrave extensatildeo do

pronunciamento encontram-se expressos na Constituiccedilatildeo ou nela se fundamentam

6 - BIBLIOGRAFIA

DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 5- ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Atlas 1995

FERRAZ Seacutergio Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica na Constituiccedilatildeo

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OLIVEIRA Juarez de (org) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil 113 ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

DIREITO A EDUCACcedilAtildeO E INICIATIVA PRIVADA

Vladimir Azevedo de Mello

Acadecircmico do 3deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

A circunstacircncia de o direito natildeo caber por sorte aos povos sem

dificuldades antes de terem eles para o obter de se agitar e de lutar combater e

derramar o proacuteprio sangue esta circunstacircncia precisamente cria entre eles e o seu

direito esse laccedilo intimo que o risco da vida cria no parto entre a matildee e o novo

filho

Rudolf Von hering

INTRODUCcedilAtildeO

O trato da questatildeo educacional para as naccedilotildees seja nas que aspiram ao

status de primeiro mundo sejam nas que pretendem manter tal condiccedilatildeo eacute motivo de

preocupaccedilatildeo permanente da sociedade e dos governos O assunto em funccedilatildeo dos

desdobramentos que se projetam invariavelmente sobre todo o corpo social requer

cuidado e ocupa lugar de destaque nas poliacuteticas de desenvolvimento e de metas

econocircmicas Envolve a sociedade como um todo e volta-se aos interesses desta

No momento atual a questatildeo da presenccedila da escola privada no sistema

educacional brasileiro ante a grave crise pela qual passa o ensino puacuteblico e sobretudo

em face do problema dos valores alcanccedilados pelas mensalidades escolares coloca em

discussatildeo a posiccedilatildeo a ser adotada pelo Poder Puacuteblico em relaccedilatildeo ao direito de acesso agrave

escola

Seacuteria afronta aos ditames constitucionais eacute a adoccedilatildeo por empresaacuterios do

setor educacional de mecanismos que objetivam a limitaccedilatildeo do acesso e permanecircncia

dos educandos na escola privada nos moldes dos sistemas de proteccedilatildeo ao creacutedito

No tentame de evidenciar tais circunstacircncias discorreremos acerca dos

princiacutepios e direitos a serem observados no trato da questatildeo mormente o princiacutepio da

universalidade e os direitos sociais bem como sobre pertinecircncia da intervenccedilatildeo estatal

direta em relaccedilatildeo agrave limitaccedilatildeo dos valores a serem alcanccedilados pelas mensalidades

escolares

EDUCACcedilAtildeO - ABORDAGEM HISTOacuteRICA

A evoluccedilatildeo humana pronuncia-se em duas ordens distintas que lhe satildeo

poreacutem igualmente caracterizadoras a ordem natural e a ordem social

Em relaccedilatildeo agrave ordem natural as regras que determinam as suas

manifestaccedilotildees satildeo fixadas sem que aja sobre elas a vontade humana Satildeo elaboradas

tratando ao largo a ingerecircncia do homem

A ordem social por outro lado dista da ordem natural justamente por ser

conduzida segundo os desiacutegnios da voliccedilatildeo humana Eacute a accedilatildeo humana o fator

determinante da evoluccedilatildeo na ordem social

Acerca deste dualismo pronunciou-se J Elias Dubard de Moura Rocha

Por conta desta distinccedilatildeo substancial eacute que se pode distinguir a

Ordem Natural da Ordem Social Nesta o homem cria e modifica

renova e inova transforma e perpetua (grifo nosso) tudo conforme a

vontade humana em meio a fatores permanentes e circunstacircncias

variantes que condicionam mais ou menos a conduta Naquela o

homem sujeita-se agrave ordem acomodando-se a ela e se limita a uma

atitude meramente descritiva Ora as ahelhas organizam-se em

colmeacuteia a milhotildees e milhotildees de anos sem que tenha havido mudanccedila

e se houve foi por fatores externos e natildeo pela vontade de tais

insetos Nas sociedades humanas natildeo eacute necessaacuterio sequer

exemplificar as transformaccedilotildees havidas no curso de sua histoacuteria

Dera-se por impulsos volitivos dos elementos componentes isto eacute os

indiviacuteduos que as formavam Diferem-se pois Ordem natural e

Ordem social pela possibilidade real de os elementos componentes

modificarem a Ordem por impulso da vontade (221)

A evoluccedilatildeo na ordem social faz eclodir a necessidade de que a cada

geraccedilatildeo seja legada a carga de conquistas e aprendizados das geraccedilotildees anteriores

incluindo os elementos culturais caracterizantes do povo aleacutem dos avanccedilos teacutecnicos e

de produccedilatildeo Contudo a transmissatildeo dos conhecimentos construiacutedos natildeo se fez e natildeo

se faz meramente por meio de instituiccedilotildees de ensino tais como conhecidas

atualmente embora sejam elas hoje os instrumentos mais eficazes de educaccedilatildeo

O homem nos vaacuterios matizes da vida em sociedade acaba por educar

seu semelhante ainda que de maneira involuntaacuteria fazendo com que valores morais

eacuteticos ciacutevicos religiosos culturais e poliacuteticos aleacutem de outros sejam transmitidos e

perpetuados

Ao longo do processo histoacuterico no entanto as caracteriacutesticas dos

processos educacionais foram sendo alteradas havendo a presenccedila estatal desde os

primoacuterdios Em Esparta sob a lideranccedila de Licurgo a educaccedilatildeo do varatildeo era

atribuiccedilatildeo familiar ateacute os sete anos de idade quando era este entatildeo entregue ao

Estado que se encarregava de complementar o processo

Eacute de valia o magisteacuterio de Orlando Soares

De acordo com cada etapa histoacuterica dos diferentes povos e

civilizaccedilotildees bem como em virtude da influecircnciacutea de muacuteltiplos fatores

- culturais e sociais - podemos considerar que o caraacuteter da

educaccedilatildeo primitiva na eacutepoca tribal era natural espontacircneo o das

civilizaccedilotildees claacutessicas assumiu a forma essencialmente poliacutetica o

medieval teve a feiccedilatildeo religiosa o do seacuteculo XVII foi realista como

reflexo das preocupaccedilotildees com os meacutetodos cientiacuteficos pela busca do

conhecimento cada vez mais acurado com base na experiecircncia o do

seacuteculo XVIII foi racionalista inspirado no principio segundo o qual

nada existe que natildeo tenha razatildeo de ser isto eacute que natildeo seja

inteligiacutevel irrecusaacutevel a priori evidenciando-se com as

demonstraccedilotildees o do seacuteculo XLJ marcado pela intervenccedilatildeo do

Estado nas diretrizes educacionais na formaccedilatildeo da consciecircncia

nacional com a instituiccedilatildeo da escola primaacuteria universal gratuita e

obrigatoacuteria o do seacuteculo XV conquanto difiacutecil a sua distinccedilatildeo

sobretudo devido agrave existecircncia de dois Poacutelos poliacuteticos marcantes- isto

eacute os sistemas capitalista e socialista - revela anseios democraacuteticos

generalizados de afirmaccedilatildeo da soberania popular (4661)

Infere-se portanto que houve ao longo dos tempos o gradativo

abandono da ideacuteia da escola restrita ao seleto grupo dos mais abastados e agrave pequena

casta de soberanos sendo sedimentada principalmente durante os seacuteculos dezenove e

vinte a concepccedilatildeo da escola democraacutetica e acessiacutevel a todo o corpo de cidadatildeos ou

seja de caraacuteter universal

A escola de caraacuteter universal e gratuito recebe abrigo atualmente de

quase todos os sistemas juriacutedicos sobretudo daqueles em que a populaccedilatildeo experimenta

niacuteveis de vida superiores aos dos paiacuteses com elevados iacutendices de analfabetismo e evasatildeo

escolar

No Brasil da sanha jesuiacuteta direcionada agrave catequizaccedilatildeo dos nativos que

se valia de meacutetodos pedagoacutegicos rudimentares ateacute a instalaccedilatildeo dos primeiros cursos de

niacutevel superior em Olinda e Satildeo Paulo em 1827 a educaccedilatildeo foi tratada agrave miacutengua de

qualquer recurso puacuteblico sendo registrada ateacute mesmo no ano de 1800 uma

advertecircncia da coroa portuguesa mediante aviso real agrave Cacircmara Municipal de

Tamanduaacute em Minas Gerais por ter esta instituiacutedo uma escola primaacuteria

Apoacutes o malfadado golpe de 1964 o sistema educacional gerenciado

basicamente pelo Estado foi sucedido por um outro de natureza eminentemente

privada A nova sistemaacutetica perverteu a noccedilatildeo de que a educaccedilatildeo de qualidade eacute direito

de todos fazendo crer que a condiccedilatildeo sine qua non para o acesso ao bom ensino eacute a

condiccedilatildeo financeira e numa atitude de crime de lesa-paacutetria alijou parcela significativa

da populaccedilatildeo - por meio do arruinamento da boa escola puacuteblica - daquilo que eacute a

redenccedilatildeo de qualquer povo a educaccedilatildeo de qualidade

Atualmente embora receba tratamento constitucional e

seja regido pelo princiacutepio da universalidade o problema inerente ao direito agrave educaccedilatildeo

apresenta um quadro funesto sobretudo ante a ineacutercia governamental e que vem se

agravando pela sobre posiccedilatildeo qualitativa da escola privada em relaccedilatildeo agrave escola puacuteblica

o que impele a populaccedilatildeo ao abandono desta e agrave submissatildeo ao caraacuteter essencialmente

mercantilista daquela

EDUCACcedilAtildeO - ABORDAGEM JURIgraveDICA

O surgimento do Estado de Direito sucessor do Estado Absolutista traz

consigo a imposiccedilatildeo de que as accedilotildees estatais natildeo mais sejam orientadas pelos enlevos

do poder total Caracteriza-se basicamente pela sujeiccedilatildeo do agir do Estado assim como

dos cidadatildeos agrave baliza da lei e igualmente pela possibilidade de proteccedilatildeo destes

quando emanar daquele ato que exorbite os paracircmetros legalmente estabelecidos

O Estado de Direito em sua configuraccedilatildeo liberal marcada pela limitaccedilatildeo

da accedilatildeo estatal e pela abstraccedilatildeo generalidade e caraacuteter meramente sancionador da

ordem legal e em sua forma social assinalada pelo caraacuteter empreendedor do ente

estatal e com a lei voltada para a garantia das accedilotildees deste voltava-se agrave implementaccedilatildeo

de uma determinada ordem a ser estabelecida

Todavia o contorno Democraacutetico assumido pelo Estado de Direito

conduz agrave busca de objetivo diverso Deve tal instituiccedilatildeo tencionar a modificaccedilatildeo das

relaccedilotildees sociais objetivando a superaccedilatildeo das desigualdades e o estabelecimento de uma

sociedade mais justa e de uma accedilatildeo governamental voltada aos interesses da

coletividade

Com referecircncia ao tema Joseacute Luis Bolsan de Morais leciona

Quando assume o feitio democraacutetico o Estado de Direito tem como

objetivo a igualdade e assim natildeo lhe basta a imitaccedilatildeo ou a

promoccedilatildeo da atuaccedilatildeo estatal mas referenda a pretensatildeo agrave

transformaccedilatildeo do status quo A lei aparece como instrumento de

transformaccedilatildeo da sociedade natildeo estando mais atrelada

inelutavelmente agrave sanccedilatildeo ou promoccedilatildeo O fim a que pretende eacute a

constante reestruturaccedilatildeo das proacuteprias relaccedilotildees sociais (183)

O Estado brasileiro destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos

sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-estar o desenvolvimento a

igualdade e a justiccedila como valores de uma sociedade fraterna pluralista e sem

preconceitos fundada na harmonia social segundo as linhas preambulares da

Constituiccedilatildeo vigente cuja opccedilatildeo pela feiccedilatildeo democraacutetica vem insculpida jaacute no art 1ordm da

Carta Poliacutetica de 1988 deveraacute marcar as suas accedilotildees portanto pela geraccedilatildeo de esforccedilos

para que sejam atingidos e mantidos os objetivos supracitados especialmente os

delimitados e nascidos sob a rubrica de direitos e garantias individuais a exemplo dos

constantes do Tiacutetulo 11 de nossa Lei Maior

E eacute nesse contexto que se apresenta o direito agrave educaccedilatildeo adscrito na

Carta Magna em seu artigo 6ordm combinado com o artigo 205 O ditame constitucional

segundo Joseacute Afonso da Silvaeleva a educaccedilatildeo ao niacutevel dos direitos fundamentais do

homem (3302) e traz como consequumlecircncia o fato de que

se afirma que a educaccedilatildeo eacute um direito de todos com o que esse

direito eacute informado pelo princiacutepio da universalidade Realccedila-lhe o

valor juriacutedico por um lado a claacuteusula - a educaccedilatildeo eacute dever do

Estado e da famiacutelia - constante do mesmo artigo que completa a

situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva ao explicitar o titular do dever da

obrigaccedilatildeo contraposto agravequele direito Vale dizer todos tecircm direito agrave

educaccedilatildeo e o Estado tem o dever de prestaacute-Ia assim como a famiacutelia

(3302)

Sobre os desdobros da garantia do direito agrave educaccedilatildeo pronuncia-se ainda

o insigne constitucionalista

A norma assim explicitada - A educaccedilatildeo direito de todos e dever do

Estado e da famiacutelia (arts 205 e 227) - significa em primeiro

lugar que o Estado tem que aparelhar-se para fornecer a todos os

serviccedilos educacionais isto eacute oferecer ensino de acordo com os

princiacutepios estatuiacutedos na Constituiccedilatildeo (art 206) que ele tem que

ampliar cada vez mais as possibilidades de que todos venham a

exercer igualmente esse direito e em segundo lugar que todas as

normas da Constituiccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e ensino hatildeo que ser

interpretadas em funccedilatildeo daquela declaraccedilatildeo e no sentido de sua

plena e efetiva realizaccedilatildeo A constituiccedilatildeo mesma jaacute considerou que o

acesso ao ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito eacute direito

puacuteblico subjetivo equivale reconhecer que eacute direito plenamente

eficaz e de aplicabilidade imediata isto eacute direito exigiacutevel

judicialmente se natildeo for prestado espontaneamente (3302)

Segue ensinando o ilustre jurista

As normas tecircm ainda o significado juriacutedico de elevar a educaccedilatildeo agrave

categoria de serviccedilo puacuteblico essencial que ao poder puacuteblico impende

possibilitar a todos daiacute a preferecircncia constitucional pelo ensino

puacuteblico pelo que a iniciativa privada embora livre eacute no entanto

meramente secundaacuteria e condicionada (arts 209 e 23) (3302-

3)

O ensinamento do mestre constitucionalista serve de lastro para a

abordagem que seraacute sugerida para o tema sendo necessaacuterio entretanto tangenciar o

insculpido no art 209 da Lei Maior Reza

art 209 O ensino eacute livre agrave iniciativa privada atendidas as

seguintes condiccedilotildees

I - cumprimento das normas gerais da educaccedilatildeo nacional

II - autorizaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de qualidade pelo Poder Puacuteblico

O sistema educacional paacutetrio seguindo o espiacuterito democraacutetico e

pluralista avultado na Lex Mater abre ensanchas para a coexistecircncia do sistema puacuteblico

e gratuito e do sistema privado com fins lucrativos aleacutem dos sistemas de escolas

comunitaacuterias filantroacutepicas ou confessionais

Contudo os sistemas puacuteblico privado e os demais de outra natureza

encontram-se envoltos pelos mesmos princiacutepios constitucionais natildeo constituindo

sistemas estanques e regidos exclusivamente por regras proacuteprias A regra constitucional

remete todos os sistemas a seus princiacutepios fazendo respeitar evidentemente as

peculiaridades de cada um aleacutem de alguns valores da livre iniciativa

Ao Poder Puacuteblico impende a gestatildeo do sistema puacuteblico sendo de sua

atribuiccedilatildeo a garantia dos requisitos de acesso para todos e qualidade de ensino capaz de

assegurar instruccedilatildeo eficaz agrave populaccedilatildeo Ressalte-se que nesse mister o Estado peca por

inconstitucionalidade passiva permanentemente Eacute o non facere como posicionamento

do Poder Puacuteblico nacional

A participaccedilatildeo da iniciativa privada estaacute delimitada pelos termos do art

209 da Carta Magna Estaacute vinculada agrave autorizaccedilatildeo emanada do Poder Puacuteblico e depende

da obediecircncia agraves normas gerais de educaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de qualidade

Tais normas satildeo as referidas no inciso I do artigo 209 da Constituiccedilatildeo

Federal e surgem jaacute no proacuteprio texto constitucional sob a condiccedilatildeo de Direito Social

tal como disposto nos arts 6deg e 205 aleacutem das diretrizes traccediladas no artigo 206 e seus

incisos que devem permear por obrigatoacuterios toda a legislaccedilatildeo infraconstitucional

Os princiacutepios constitucionais devem nortear portanto natildeo soacute as

diretrizes das poliacuteticas puacuteblicas para a educaccedilatildeo mas tambeacutem a gerecircncia do segmento

privado

Esta circunstacircncia descaracteriza ateacute mesmo ao contraacuterio do que

sustentam os proprietaacuterios de escolas a natureza meramente empresarial dos

estabelecimentos de ensino privados afastando-os das imposiccedilotildees tipicamente

mercadoloacutegicas especialmente no que diz respeito agrave suspensatildeo do fornecimento dos

serviccedilos ao consumidor

Como consequumlecircncia natildeo deve ser acolhida pelo ordenamento juriacutedico

nacional a pretensatildeo do emprego de mecanismos que objetivam controlar o acesso agrave

escola privada por meio de consulta a serviccedilos de proteccedilatildeo ao creacutedito por natildeo se tratar

indubitavelmente de uma operaccedilatildeo creditiacutecia e sim do exerciacutecio de direito consagrado

pela Constituiccedilatildeo Cidadatilde

A reduccedilatildeo do problema ao acircmbito das relaccedilotildees creditiacutecias e da prestaccedilatildeo

convencional de serviccedilos eacute em si um procedimento iniacutequo pois a opccedilatildeo pela escola

privada eacute motivada muitas vezes pela ineacutepcia governamental no que diz respeito agrave

qualidade do ensino puacuteblico e esta deve ser a perspectiva a ser avaliada para a

resoluccedilatildeo dos embates juriacutedicos relacionados ao tema

Na maior parte dos casos natildeo surge em um poacutelo da demanda um devedor

contumaz Apresenta-se isto sim o cidadatildeo dominado de um lado pelo reveacutes

econocircmico e pela exorbitacircncia da maioria das mensalidades escolares e de outro pelo

solapamento da escola puacuteblica

Portanto para que o problema seja equacionado de forma que se

encontre uma soluccedilatildeo que atenda ao problema da existecircncia e viabilidade econocircmica

dos estabelecimentos privados bem como da compatibilizaccedilatildeo dos valores das

mensalidades eacute salutar a intervenccedilatildeo estatal sobretudo na esfera legislativa

Legislar a respeito caso fosse a escola privada um ente meramente

mercantil - hipoacutetese que pode ser tornada despicienda uma vez que nem sequer lhe

compete estabelecer o conteuacutedo miacutenimo a ser ministrado restando-lhe apenas a

possibilidade de um plus curricular - natildeo se constituiria afronta aos princiacutepios da livre

iniciativa e concorrecircncia O entendimento do Supremo Tribunal Federal ademais

parece apontar tambeacutem nestamiddot direccedilatildeo Eacute o que fica constatado em ementa da lavra do

Ministro Moreira Alves

Ementa - Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade da Lei conciliar o

fundamento da livre iniciativa e o princiacutepio da livre concorrecircncia

com os da defesa do consumidor e da reduccedilatildeo das desigualdades

sociais em conformidade com os ditames da justiccedila social pode o

Estado por via legislativa regular a poliacutetica de preccedilos de bens e

serviccedilos abusivo que eacute o poder econocircmico que visa o aumento

arbitraacuterio de lucros

- Natildeo eacute pois inconstitucional a Lei 8039 de 30 de maio de 1990

pelo fato de dispor sobre criteacuterios de reajuste das mensalidades

escolares ( bullbull r (Supremo Tribunal Federal Processo ADlQO

31993 Relator Ministro Moreira Alves Diaacuterio da Justiccedila de

300493)

Nada obstante o entendimento da Excelsa Corte jaacute tornar evidente a

possibilidade de que se legisle sobre a mateacuteria a indicaccedilatildeo de que este proceder deveria

assumir caraacuteter de obrigatoriedade todas as vezes em que se constatar abusividade na

estipulaccedilatildeo das mensalidades parece natildeo encontrar obstaacuteculos em nossa ordem

constitucional sobretudo porque a questatildeo da participaccedilatildeo da iniciativa privada assim

como citado algures estaacute vinculada agrave autorizaccedilatildeo emanada do Poder Puacuteblico e depende

da obediecircncia agraves normas gerais de educaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de qualidade

Nesse diapasatildeo insere-se a abordagem jaacute feita alhures de que cabe ao

Estado fomentar o acesso de todos ao ensino O Estado estaacute obrigado portanto a s6

conceder o exerciacutecio das atividades educacionais privadas agravequeles que possam oferececirc-

las de maneira que natildeo se tomem como agora o satildeo oacutebice ao exerciacutecio desse direito

sacrossanto

O Estado brasileiro incidiraacute em equiacutevoco se der tratamento que permita

apenas a garantia do lucro dos estabelecimentos de ensino privado e que imprima ao

cidadatildeo tratamento de refeacutem do poder econocircmico O empresaacuterio que natildeo conseguir

prestar seus serviccedilos agrave populaccedilatildeo de maneira acessiacutevel natildeo merece por contrariar as

determinaccedilotildees da Carta Poliacutetica de 1988 ter mantida a concessatildeo de exploraccedilatildeo do

serviccedilo Eacute defesa ao Estado em face do determinado na Constituiccedilatildeo sobre o tema e em

funccedilatildeo do alegado de elastecer a toleracircncia sobre a problemaacutetica das mensalidades

escolares

O quadro atual eacute grave O problema da inadimplecircncia nas escolas

particulares assumiu caraacuteter de urgecircncia para os empresaacuterios do ensino cuja maioria eacute

simulacro de educador A inadimplecircncia natildeo eacute um problema apenas de natureza privada

e natildeo habita exclusivamente a seara do Direito Civil pois se relaciona com o interesse

que toda a sociedade tem ou pelo menos deveria ter pela questatildeo educacional

Inadimplecircncia e direito agrave educaccedilatildeo natildeo estabelecem relaccedilatildeo direta e imediata de causa e

consequumlecircncia

Quando segmento significativo da sociedade manifesta-se

enfaticamente sobre o transtorno em que se tem transformado manter um filho na

escola que lhe eacute imposto como obrigatoacuterio natildeo soacute no texto constitucional mas

tambeacutem na legislaccedilatildeo penal e civil conjuntamente com o Estado este estaacute obrigado ou

a garantir o mesmo padratildeo de qualidade das escolas privadas nas escolas puacuteblicas e

em suficiente nuacutemero de vagas ou a ampliar a renda das famiacutelias de maneira que estas

possam suportar o ocircnus das mensalidades ou ainda a suprimir a concessatildeo de

exerciacutecio da atividade dada a impossibilidade de uma eficaz prestaccedilatildeo do serviccedilo uma

vez que educar crianccedilas e jovens eacute interesse de todos e natildeo deve sucumbir agrave

incompetecircncia empresarial daqueles que desafinados com os mais modernos preceitos

econocircmicos natildeo conseguem reduzir seus custos ou estatildeo viciados em lucros

exorbitantes

Por oportuno parece razoaacutevel uma anaacutelise o direito ao lucro deriva da

determinaccedilatildeo volitiva do sujeito que se dispotildee a pagar determinado preccedilo por produto

ou serviccedilo A manifestaccedilatildeo volitiva por motivar estipulaccedilatildeo negocial livre natildeo pode

portanto vir maculada por exemplo por ato de coaccedilatildeo A inadimplecircncia nesta

situaccedilatildeo levaraacute prontamente agraves consequumlecircncias previstas na legislaccedilatildeo

Situaccedilatildeo diversa poreacutem ocorre em relaccedilatildeo ao ensino Ao matricular em

instituiccedilatildeo de ensino seja ela puacuteblica ou privada menor sob sua responsabilidade os

pais ou responsaacuteveis natildeo estatildeo praticando um ato livre de coaccedilatildeo Mesmo que natildeo

saibam haacute naquela accedilatildeo resposta a imposiccedilatildeo legal que traz em seu conteuacutedo um

elemento sancionador caracterizador da coaccedilatildeo

Basta uma avaliaccedilatildeo perfunctoacuteria para que se evidencie a disparidade

das duas situaccedilotildees e para que entatildeo acolha-se a ideacuteia de que natildeo podem por

conseguinte projetar as mesmas consequumlecircncias

Ora raciocinar contrariamente seria admitir a possibilidade de que as

pessoas estatildeo obrigadas por lei a garantir a lucratividade alheia a todo custo o que natildeo

eacute veraz pois que as pessoas soacute devem ser compelidas a esta ou aquela accedilatildeo quando

disto depender a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio social natildeo se enquadrando a garantia de

lucro para os mercenaacuterios do saber na questatildeo em tela

Todavia surge uma indagaccedilatildeo por que optar pelo ensino privado de alto

custo quando haacute a possibilidade de ingresso em estabelecimentos oficiais graciosos por

determinaccedilatildeo da proacutepria Lei Maior

A refutaccedilatildeo surge mediante exame sobre o que objetivam os povos

quando decidem dedicar especial atenccedilatildeo agrave questatildeo do ensino A formaccedilatildeo das futuras

geraccedilotildees natildeo eacute apenas transmissatildeo automaacutetica de informaccedilotildees e dogmas de caraacuteter

cientifico moral ou cultural Eacute um processo elaborado por intermeacutedio do qual os fatores

de identidade cultural e nacional assim como o conhecimento cientiacutefico necessaacuterio ao

desenvolvimento tecnoloacutegico satildeo transmitidos agraves novas geraccedilotildees de forma a viabilizar

o desenvolvimento do paiacutes e a melhoria das condiccedilotildees sociais Supotildeem aquisiccedilatildeo de

uma consciecircncia criacutetica que possa auxiliar na resoluccedilatildeo das questotildees nacionais

O Estado brasileiro afastou-se tanto deste objetivo quanto da qualidade

do ensino ministrado em seus estabelecimentos enquanto a famiacutelia por seu turno

cumpre a sua obrigaccedilatildeo constitucional ao buscar sempre a educaccedilatildeo eficaz O governo

compele para a esfera privada - que ao menos aparentemente garante melhor qualidade

de ensino - aqueles que a custo de sacrifiacutecio podem arcar com o custeio do ensino

privado Por isso o cidadatildeo opta quase que forccedilosamente por pagar o ensino em

funccedilatildeo da incuacuteria governamental sobre o tema

A presenccedila da iniciativa privada na educaccedilatildeo pressupotildee lucro Mas visa

tambeacutem a garantir um sistema educacional plural em sintonia com o espiacuterito

democraacutetico exaustivamente ressaltado na Carta da Repuacuteblica Entretanto a questatildeo do

retomo econocircmico para aqueles que se ocupam da atividade educacional investindo em

instalaccedilotildees equipamentos e matildeo-de-obra especializada tambeacutem deve ser alvo de

anaacutelise eacutetica e juriacutedica por parte de toda a sociedade

O lucro eacute igualmente um dos mecanismos de manutenccedilatildeo do sistema

educacional multifaacuterio e tambeacutem deve receber proteccedilatildeo da ordem legal que deve

objetivar ateacute mesmo a puniccedilatildeo do mau pagador que se constitui elemento igualmente

danoso ao sistema de ensino

Todavia os mecanismos a serem adotados devem garantir proteccedilatildeo ao

direito agrave educaccedilatildeo no miacutenimo enquanto vigente o contrato celebrado com o

estabelecimento de ensino sem que seja vedado igualmente o direito agrave matriacutecula nas

instituiccedilotildees privadas em funccedilatildeo de consulta a sistemas de proteccedilatildeo ao creacutedito devendo

responder em caso de inadimplecircncia o patrimocircnio dos contratantes Em siacutentese parece

vaacutelida a adoccedilatildeo de quaisquer medidas de cobranccedila exceto aquelas que resultem na

suspensatildeo ou denegaccedilatildeo do exerciacutecio do direito

Ante o exposto e diante do atual quadro alguns segmentos da iniciativa

privada natildeo vecircm atendendo aos preceitos estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal fato

este que deveria conduzir tanto o Estado como a sociedade a analisar o problema sob

vaacuterios enfoques

Natildeo pode o Governo acuado por empresaacuterios do setor tratar a questatildeo

como essencialmente de natureza econocircmica mas sim fazer vergar os estorvos aos

princiacutepios da universalidade e da igualdade que regem a mateacuteria

A sociedade por sua vez deve buscar por meio dos canais democraacuteticos

de participaccedilatildeo poliacutetica a adoccedilatildeo dos instrumentos necessaacuterios ao pleno atendimento do

disposto nos sectsect 10 e 2

0 do art 208 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica superando a iacutendole

mercantilista do governo porquanto o embriatildeo do problema eacute sem reacutestia de duacutevida a

feiccedilatildeo estatal que relega os interesses sociais em proveito de uma elite pouco atenta aos

clamores da coletividade

CONCLUSAtildeO

A educaccedilatildeo de qualidade eacute questatildeo relevante Mereceu as becircnccedilatildeos da

Constituiccedilatildeo de 1988 e a participaccedilatildeo da iniciativa privada deve cumprir as normas

gerais da educaccedilatildeo nacional que nascem na proacutepria Carta Poliacutetica e que garantem a

igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola natildeo podendo o

ordenamento juriacutedico propor soluccedilotildees que se distanciem dessas premissas

Permitir a instauraccedilatildeo de controle de acesso mediante consulta a

serviccedilos de proteccedilatildeo ao creacutedito e de outras puniccedilotildees aos alunos que bloqueiem o

exerciacutecio do direito agrave educaccedilatildeo fere de morte natildeo soacute a Constituiccedilatildeo mas tambeacutem toda a

naccedilatildeo que se vecirc cada vez mais comprimida na vala comum dos povos analfabetos

Portanto as pelejas surgidas da negaccedilatildeo ou dos estorvos ao exerciacutecio do direito agrave

educaccedilatildeo natildeo devem merecer o mesmo tratamento dado agraves questotildees voltadas agrave

resoluccedilatildeo de problemas de cunho individual As questotildees juriacutedicas derivadas dos

embaraccedilos agraves garantias sociais embora possam trazer em seus arcabouccedilos entes

individualizados devem ser dirimidas considerando-se os interesses difusos envolvidos

As consequumlecircncias dos embaraccedilos ou da denegaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo

seja ela puacuteblica seja privada a uma parcela significativa da populaccedilatildeo seratildeo amargadas

por todo o corpo social e eacute em funccedilatildeo deste corpo que deve se posicionar o

ordenamento juriacutedico paacutetrio desprezando tanto quanto possiacutevel a imposiccedilatildeo de

interesses empresa rias que ambicionam lucratividade a todo custo

Todo o quadro trazido agrave baila poderia ateacute mesmo sugerir a natildeo

permanecircncia da iniciativa privada no setor mas tal procedimento poderia resultar em

malefiacutecio para a sociedade Contudo permitir que seja associado o direito agrave educaccedilatildeo de

qualidade agrave capacidade de pagamento de uma escola particular tambeacutem eacute grave erro e

apenas contribui para que se vaacute erigindo uma sociedade calcada na aceitaccedilatildeo da

desigualdade e da indiferenccedila para com os semelhantes

Educar um paiacutes estaacute longe de ser um filatildeo de natureza essencialmente

lucrativa e mercantil que mereccedila apenas abordagem mercadoloacutegica como quer sugerir

o furor neoliberal Eacute tarefa para os abnegados Eacute altruiacutesmo social e merece a proteccedilatildeo

integral do Direito

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

MORAIS Joseacute Luis Bolzan de Do Direito Social aos Interesses

Transindividuais - O Estado e o Direito na Ordem Contemporacircnea Livraria do

Advogado Porto Alegre 1996

ROCHA J Elias Dubard de Moura Poderes do Estado e Ordem Legal

Editora Universitaacuteria da UFPE Recife 1994

SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 108

ediccedilatildeo Malheiros Satildeo Paulo 1995

SOARES Orlando Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa

do Brasil 88 ediccedilatildeo Forense Rio de Janeiro 1996

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Page 4: REVISTA JURÍDICA IN VERBIS · Óton anselmo de oliveira diretora do ccsa maria do socorro de azevedo borba professores convioados bento herculano duarte neto cleanto fortunato darci

IN VERBIS

EDITORIAL

Pois eacute outra vez aspiramos lutamos e conseguimos a publicaccedilatildeo de mais

um nuacutemero da revista juriacutedica In Verbis (natildeo sem a labuta oacutebvia de praxe mas

recompensados com o feedback que a nossa revista vem recebendo)

Na verdade nossos esforccedilos natildeo podiam ter melhor regozijo A

divulgaccedilatildeo dos perioacutedicos anteriores por todo Brasil e vaacuterias universidades estrangeiras

citemos Coimbra e Harvard como exemplo soacute nos tem trazido prazer e satisfaccedilatildeo

Agradecimentos agraves funcionaacuterias do setor de doaccedilatildeo da Biblioteca Zila Mamede que nos

ajudaram bastante nesse Intento

Sem embargo da modeacutestia devida podemos dizer que a semente lanccedilada

na primeira revista eacutepoca na qual o nuacutemero de artigos natildeo ultrapassou treze limitados

ao maacuteximo de trecircs folhas jaacute se tomou ao longo da nossa incipiente histoacuteria uma bela

aacutervore de raiacutezes fortes pois com o total de quase 40 trabalhos recebidos ficou a certeza

de que a In Verbis eacute um veiculo perene dos graduandos do Curso de Direito da UFRN

para divulgaccedilatildeo do melhor de cada semestre

Para reunirmos os artigos o intenso fomento inicial foi substituiacutedo pela

iniciativa espontacircnea e numerosa dos estudantes restando agrave Comissatildeo Editorial a grata

mas natildeo menos difiacutecil tarefa de estabelecermos limites e criteacuterios para a publicaccedilatildeo

dos trabalhos que se enquadrassem ao perfil da nossa revista (vide ao fim deste

volume as regras atualizadas para apresentaccedilatildeo de originais) modificando a realidade

anterior de publicar quase a totalidade dos artigos entregues

Eacute com prazer que informamos que hoje natildeo somente os estudantes da

UFRN mas tambeacutem os de outras instituiccedilotildees de ensino bem assim os jaacute graduados na

ciecircncia do direito estatildeo honrando-nos com sua produccedilatildeo intelectual

Em virtude desta profiacutecua e dignificante mostra de que estatildeo os que

fazem a comunidade juriacutedica potiguar mais do que nunca fazendo valer os anseios de

produccedilatildeo cientiacutefica de que dela se espera estamos em atenccedilatildeo agraves sugestotildees dos nossos

abnegados lentes insistindo para que os alunos procurem a orientaccedilatildeo de professores e

profissionais do direito ao elaborarem seus trabalhos com vistas a um maior apego

juriacutedico - cientifico agrave temaacutetica a ser proposta e a evitar-se tambeacutem a repeticcedilatildeo da forma

de abordagem a qual eacute dada aos temas

Eacute evidente que produzir uma revista de quarenta artigos seria

impraticaacutevel (natildeo indesejaacutevel) e tambeacutem extremamente maccedilante ao leitor Por isso

pedimos a compreensatildeo daqueles que dispensaram seu tempo almejando a publicaccedilatildeo

dos seus artigos e natildeo atingiram sua meta pois de modo algum isto constitui demeacuterito

porquanto todos os trabalhos alcanccedilaram excelente niacutevel Essa realidade transformasse

sim em um novo desafio arraigado pela realidade do elevado niacutevel de propriedade com

que os temas vem sendo tratados

Por isso que foi adotado pelos editores o criteacuterio de privilegiar os

trabalhos dos estudantes da graduaccedilatildeo que obtiveram melhor conceito junto ao corpo

discente Enfim renovamos o convite para que todos continuem colaborando conosco

A Revista Juriacutedica In Verbis ciente tambeacutem das modernidades e da

praticidade com que os computadores nos permitem conviver hoje em dia para breve

estaraacute inaugurando o nosso endereccedilo na Internet ampliando por conseguinte os meios

de divulgaccedilatildeo da nossa cultura juriacutedica

Outrossim os entendimentos no sentido de reconhecer-se a nossa

gloriosa In Verbis como publicaccedilatildeo oficial da UFRN (estaacute dando assim apta a emissatildeo

de certificados) estatildeo encaminhados Com o apoio prometido pela Pr6-Reitoria de

Extensatildeo Universitaacuteria queremos crer que para o proacuteximo nuacutemero esse ideal jaacute seraacute

realidade

Alguns dos nossos pioneiros companheiros - de grata lembranccedila -

Eduardo Medeiros Cavalcanti e Faacutebio Barbalho Leite se formaram e deixaram o

Conselho Editorial ocupados agora com a realidade concreta da realizaccedilatildeo profissional

restando-nos um certo vazio e a nossa grande torcida a estes noveacuteis operadores do

Direito Mas em compensaccedilatildeo juntaram-se a noacutes nessa batalha aacuterdua que eacute publicar a

In Verbis os colegas Flaacutevia Sousa Dantas e Sivanildo de Arauacutejo Dantas que desde

logo se integraram agrave filosofia da revista colaborando substancialmente para este

nuacutemero Fica o convite para que outros graduandos venham e ajudem-nos a perpetuar

essa realidade

Agradecemos ao Magniacutefico Reitor Ivonildo Recircgo agrave Diretora do CCSA

Professora Socorro Barba e ao nosso aguerrido Professor Walter Nunes da Silva Juacutenior

(que junto com a segunda estaacute conosco desde os nossos primoacuterdios incentivando e

dando-nos a certeza de sermos absolutamente normais em levar essa ideacuteia agrave frente) por

possibilitarem a impressatildeo deste nuacutemero junto agrave Editora Universitaacuteria e natildeo mais com

recursos proacuteprios (que por sinal estavam deveras escassos) Fica o obrigado e a

esperanccedila concreta de que esta alianccedila seja duradoura

Por derradeiro expressamos a nossa gratidatildeo a todos os professores que

nos ajudaram analisando os trabalhos aconselhando-nos ouvindo-nos e loacutegico

encorajando-nos a fazer mais este nuacutemero

Que a acolhida deste novo volume alcance o ecircxito proveitoso dos

anteriores e lance as luzes para o proacuteximo

Como dito no iniacutecio a planta cresceu e criou raiacutezes cabe-nos a todos

agora regaacute-la para que natildeo soccedilobrem os nobres esforccedilos expendidos ateacute aqui pela

comunidade acadecircmica

A COMISSAtildeO EDITORIAL

SUMAacuteRIO

CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO ABORTO E DA PENA DE

MORTE

Adrianne Maria Ribeiro de Souza

BREVE ENFOQUE ACERCA DA ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA NO

PROCESSO TRABALHISTA Alba Paulo de Azevedo

ARBITRAGEM A Lei nordm 930796 Azevedo Hamilton Cartaxo

DESVINCULACcedilAtildeO DA SEPARACcedilAtildeO DOS PODERES COM A

IDEacuteIA DE DEMOCRACIA Car1ine Regina de Negreiros Cabral

ASPECTOS DA REINCIDEcircNCIA PARA EFEITO DE CONCESSAtildeO

DE LIVRAMENTO CONDICIONAL Cristina Silva Macecircdo

A INFORMATIZACcedilAtildeO DAS ELEICcedilOtildeES A EXPERIEcircNCIA DA

JUSTICcedilA ELEITORAL EM NATAL RN Eliane Nascimento de Meio

DO NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL E SUAS IMPLICACcedilOtildeES

Everton Amaral de Arauacutejo

DOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO E SEUS POSSIVEIS

EFEITOS INFRINGENTES Francisco Glauber Pessoa Alves

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO REQUISITO EMBARACcedilOSO A ATIVIDADE

POSTULATOacuteRIA Joatildeo Eduardo Ribeiro de Oliveira

NEOLlBERALlSMO INIMIGO DA CIDADANIA Leifson Gonccedilalves

Holder da Silva

AUTORIDADE COATORA EM MANDADO DE SEGURANCcedilA -

ANAacuteLISE COM BASE EM CASO CONCRETO Luana Pedrosa de Figueiredo

Cruz

Eacute A JUSTICcedilA A REAL META DO DIREITO Roberto Di Sena Juacutenior

COMENTAacuteRIOS Agrave LEI QUE REGULAMENTA A PRODUCcedilAtildeO DE

PROVAS MEDIANTE INTERCEPT ACcedilAtildeO DE COMUNICACcedilOtildeES Rossana de

Arauacutejo Rocha

QUEM ASSUME A TITULARIDADE DE UMA PREFEITURA

CASO O PREFEITO ELEITO VENHA A FALECER ANTES DA

DIPLOMACcedilAtildeO Sivanildo de Arauacutejo Dantas

ABRE TEUS OLHOS THEacuteMIS Vanessa Alessandra Pereira

CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Vicente Eliacutesio de Oliveira Neto

DIREITO A EDUCACcedilAtildeO E INICIATIVA PRIVADA Vladimir

Azevedo de Mello

CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DO ABORTO E DA PENA DE

MORTE

Adrianne Maria Ribeiro de Souza Acadecircmica do 9deg periacuteodo do Curso de

Direito da UFRN

A moral poliacutetica natildeo pode oferecer agrave Sociedade qualquer vantagem

perduraacutevel se natildeo estiver baseada em sentimentos indeleacuteveis do coraccedilatildeo humano

Cesare Beccaria

o aborto e a pena de morte Poucos temas tecircm dividido tanto a sociedade

como estes O primeiro continua na clandestinidade enquanto o segundo tem sua versatildeo

mais sutil nas precaacuterias instalaccedilotildees carceraacuterias espalhadas por todo o pais A anaacutelise de

ambos suscita necessariamente indagaccedilotildees morais sociais econocircmicas poliacuteticas e

religiosas onde sobra complexidade e falta consenso Aqueles que os condenam vecircem

neles um problema que deflagra as mazelas de uma sociedade extremamente injusta

Por sua vez os defensores consideram-nos como soluccedilatildeo imediata para uma situaccedilatildeo

que se apresenta insustentaacutevel

Problema ou soluccedilatildeo ambos potildeem fim ao bem mais precioso do ser

humano a vida Aliaacutes eacute esta a consequumlecircncia mais inquietante a respeito do aborto e da

pena de morte Uma vida abreviada eacute um bem irrecuperaacutevel Uma vez consumados natildeo

haveraacute mais lugar para retrocesso Inexistiratildeo meios de corrigir erros Gostando ou natildeo

ao legalizar tais situaccedilotildees a sociedade sempre deparar-se-aacute com a seguinte pergunta

temos o direito de tirar a vida de algueacutem

A despeito do peso moral de tais questotildees defender o aborto e a pena de

morte eacute ateacute cocircmodo afinal eacute mais faacutecil livrar-se de qualquer maneira de um problema

a enfrentaacute-Io Complicado eacute procurar soluccedilotildees significativas que se algum dia forem

alcanccediladas demandaratildeo um empenho exaustivo natildeo soacute do governo mas de toda a

sociedade Para ter resultados concretos e duradouros natildeo haacute outro caminho senatildeo o de

uma profunda reforma social no paiacutes1

Natildeo raro eacute tentar expor o problema como se fosse um caacutelculo

matemaacutetico de propriedade transitiva de igualdade Atente-se por exemplo ao que se

comenta sobre a pena de morte Se eacute sabido que as dificuldades financeiras de algueacutem

incitam a violecircncia e se nada podemos fazer para resolver tais problemas - porque jaacute nos

bastam os nossos - entatildeo nada podemos fazer para amenizar toda esta violecircncia em

1 Nesse particular Virgiacutelio Donnici em seu estudo sobre a criminal idade no Brasil considera

que a miseacuteria e a pobreza causam desvios de comportamento e que aqui surge uma crescente

criminalidade aquisitiva e assustadora () cujos autores superlotam as prisotildees brasileiras

anotando-se que os seus ocupantes satildeo produtos de uma inadaptaccedilatildeo social e econocircmica () os

paacuterias da sociedade brasileira injusta e desigual sociedade falida que precisa ser mudada na sua

estrutura social de maneira funda e total com uma melhor distribuiccedilatildeo de riqueza sob pena de

nos tornarmos um Brasil de assassinos todos armados agrave procura de comida agrave procura de paz agrave

procura de tranquumlilidade que natildeo pode ser resolvida pela violecircncia policial como se o problema

da criminal idade crescente no Brasil fosse um problema de poliacutecia de matar para eliminar

aqueles que incomodam mas que na verdade o Estado natildeo Ihes daacute condiccedilotildees miacutenimas para

sobreviver Ob Cit p 238

potencialrdquo Sendo assim porque percorrer este caminho tatildeo demorado e difiacutecil que eacute o

da redistribuiccedilatildeo de renda enquanto assistimos aos nossos jovens serem mortos por um

par de tecircnis

O problema eacute que atenuar os iacutendices da violecircncia proporcionando

melhoria de vida agraves camadas marginalizadas da sociedade ateacute pode parecer uma

realidade distante mas o agente da violecircncia eacute um alvo concreto A injeccedilatildeo letal ou a

cadeira eleacutetrica eacute capaz de acabar em segundos com este agente impedindo-o de vez de

proliferar a violecircncia que gera BECCARIA em brilhante reflexatildeo acerca da pena de

morte argumenta que ela natildeo se apoia em nenhum direito Eacute guerra que se declara a um

cidadatildeo pelo paiacutes que considera necessaacuteria ou uacutetil a eliminaccedilatildeo desse cidadatildeo Em

seguida completa e desafia se eu provar contudo que a morte nada tem de uacutetil ou

necessaacuterio ganharia a causa da humanidaderdquo2

Eacute flagrante e por vezes compreensiacutevel esta insatisfaccedilatildeo com toda a

violecircncia desmedida da qual somos viacutetimas potenciais A cada noticiamento da

imprensa cresce o sentimento de revolta e a necessidade de obter soluccedilotildees imediatas

Quando o cidadatildeo comum abre o jornal e lecirc manchetes como Bala perdida de um

assalto vitima crianccedila que brincava por perto fica difiacutecil natildeo pensar na hipoacutetese ainda

que por segundos com simpatia As passeatas em prol da paz no Rio de Janeiro e em

Satildeo Paulo a pressatildeo em tomo da reforma do Coacutedigo Penal satildeo apenas alguns dos sinais

deste estado de descontentamento que nos tem acometido3

Chegar a uma conclusatildeo sobre o que considerar ou natildeo quando da

aplicaccedilatildeo de uma pena de morte eacute tarefa no miacutenimo densa O caso concreto eacute sempre

desafiador e a consulta agraves obras claacutessicas norteia mas eacute o seu senso comum quem

ditaraacute as regras do certo e do justo4

Preocupante pois eacute saber que este julgador

encontra-se numa sociedade onde ainda se manteacutem especialmente na regiatildeo Nordeste

as mesmas amarras do coronelismo aacuteureo da deacutecada de 20 A atividade jurisdicional

desta sociedade estaacute confiada a um poder judiciaacuterio em regra lento e pouco

aparelhado onde o juiz por vezes sequer possui um ambiente de trabalho digno e

coerente com a relevante funccedilatildeo que exerce Ambos representantes da dicotomia

sociedade-juiz iratildeo estar agrave frente da aplicaccedilatildeo da pena capital atraveacutes da instituiccedilatildeo do

tribunal do juacuteri Por isso eacute de bom alvitre analisar tais aspectos antes de defendecirc-Ia e

soacute entatildeo responder com isenccedilatildeo de acircnimo a seguinte pergunta O Brasil tem estrutura

2 Cesare Beccaria Dos delitos e das penas ob cit p 45

3 Tenha-se como exemplo o texto de um informe do Jornal do Brasil que traduz com

perfeiccedilatildeo a consciecircncia coletiva sobre o assunto E eacute bom lembrar que esta cidade natildeo eacute uma selva porque na selva o otimismo milenar criou regras de comportamento O mais forte devora o mais fraco dentro do equiliacutebrio ecoloacutegico e natural Na megaloacutepole sem respeito pelo homem como no Rio a situaccedilatildeo eacute muito pior Aqui natildeo haacute regra ou lei a natildeo ser a da cobiccedila que contamina e explode na noite escura em orgias de sangue rito e celebraccedilatildeo de um tempo de assassinos 25 jul 1982

4 Satildeo diversos os trabalhos cientiacuteficos cujas obras tornaram-se claacutessicos do estudo da

criminologia dentre as quais destacam-se as contribuiccedilotildees antropoloacutegicas de Lombroso endocrinoloacutegicas de Nicola Pende biotipoloacutegiacutecas de Kreschemer geneacuteticas de Havelock psicoloacutegicas de Watson socioloacutegicas de Ferri psicanaliacuteticas de Freud e morais de Abercombry Todas oferecem ao julgador visotildees controvertidas ao mesmo que o conscientiza da multiplicidade

de enfoques sobre o mesmo tema

para comportar a responsabilidade que eacute adotar a pena capital

O paiacutes natildeo pode julgar-se preparado para uma puniccedilatildeo tatildeo severa sem a

certeza de que asseguraraacute um julgamento o mais justo possiacutevel Uma questatildeo tatildeo

delicada onde o condenado perderaacute sua vida merece um envolvimento maior do

julgador em relaccedilatildeo a uma lide patrimonial

A pena capital estaacute prevista somente para os crimes dolosos contra a

vida o que nos regride ao Coacutedigo de Hamurabi e seu princiacutepio middotolho por olho dente por

dente Na concepccedilatildeo superficial de seus defensores eacute nesta conduta delituosa que se

revela a parcela mais hedionda e indesejaacutevel da sociedade Necessaacuterio poreacutem levar em

consideraccedilatildeo o estresse diaacuterio do mundo moderno capaz de nos deixar agrave mercecirc de

circunstacircncias adversas potencialmente violentos Eacute por essa razatildeo que o homiciacutedio ao

contraacuterio do que aparenta natildeo eacute o crime dos socialmente irrecuperaacuteveis Os crimes

contra o patrimocircnio satildeo evitados sobretudo por um senso eacutetico muito forte que uma vez

desassociados de dificuldades econocircmicas raramente tenderatildeo a surtir rompantes

delituosos Natildeo eacute o que ocorre com o homiciacutedio As circunstacircncias que detonam a

praacutetica desta violecircncia extremada satildeo cheias de peculiaridades que natildeo podem ser

desconsideradas5

Eacute perfeitamente possiacutevel que um cidadatildeo comum numa briga de

tracircnsito depois de um dia cheio perca a paciecircncia e impensadamente saque uma arma

A sociedade tema obrigaccedilatildeo moral de refletir sobre tais aspectos e soacute

entatildeo concluir se a pena de morte realmente resolve De todos os questionamentos aqui

apostos este eacute sem duacutevida o mais crucial Confiar que os iacutendices de criminalidade

diminuiratildeo face agrave possibilidade de uma iminente puniccedilatildeo numa cadeira eleacutetrica eacute ateacute

ingecircnuo Uma pessoa normal decidida a cometer um delito jaacute se despiu completamente

de seus princiacutepios morais e o faraacute por interesses diversos que anularam a consciecircncia do

mal a ser produzido ou da puniccedilatildeo a que ficaraacute sujeito E isto natildeo eacute soacute consequumlecircncia de

um sistema punitivo falho que produz a certeza da impunidade propaganda como o

grande mal do ordenamento penal paacutetrio natildeo importa o quanto esteja bem estruturado o

sistema penal de uma naccedilatildeo os delitos sempre existiratildeo por razotildees as mais banais O

indiviacuteduo disposto a cometer um crime dificilmente vislumbraraacute a cena de sua execuccedilatildeo

com injeccedilotildees letais6 Os Estados Unidos um dos paiacuteses mais desenvolvidos do mundo

adotou a pena de morte em muitos estados-membros de sua federaccedilatildeo e nem por isso

5 Vitorino Prata Castelo Branco inicia seu estudo sobre a criminalidade indagando-se por que o

homem furta agride eou mata Conclui que o homem eacute um animal como qualquer outro

sujeito agraves mesmas leis que regem todos os seres vivos no destino da sobrevivecircncia e da

perpetuaccedilatildeo da Espeacutecie Leis bioloacutegicas referentes agrave vida leis mesoloacutegicas referentes ao meio

ambiente leis socioloacutegicas referentes agrave convivecircncia social leis patoloacutegicas referentes agrave

moleacutestias diversas especialmente mentais Ob Cit p 15

6 Esta conclusatildeo embora considere a regra natildeo eacute absoluta Reconheccedilo o poder repressor das

normas penais entendo-as poreacutem sem forccedila perante pessoas amorais Neste sentido distancio-me da sempre respeitada opiniatildeo de Beccaria para o qual sendo as leis cumpridas agrave letra qualquer cidadatildeo pode calcular exatamente os inconvenientes de uma accedilatildeo reprovaacutevel e Isto eacute uacutetil pois este conhecimento poderaacute fazer com que se desvie do crime Ob Cit p 16 O doutrinador criminalista Emst Seelig em sua obra Manual de Criminologia Z registra um

fato interessante o estado psiacutequico do condenado eacute fundamentalmente muito variado segundo

sua personalidade Muitos assassinos desejam expiar o seu crime por meio da morte outros ao

contraacuterio - especialmente os criminosos profissionais - apresentam-se em frente da morte

proacutexima com a qual jaacute contava embotados e fazem consideraccedilotildees cinicas Cp) O ladratildeo

assassino de Paris Charrier fumava um cigarro agrave vista da guilhotina Ob Cit p 181 e 182

deixou de ter um dos maiores iacutendices de criminalidade que conhecemos7

Aqueles que condenam o aborto e a pena de morte inevitavelmente

deparam-se com delicadas questotildees intencionalmente indagadas para derrubar seus

argumentos tais como E se fosse vocecirc O que vocecirc faria para lidar com uma gravidez

indesejada ou com o assassinato brutal de um parente querido

Pode-se rebater tais indagaccedilotildees argumentando que o ideal seria no

primeiro caso que a gravidez fosse devidamente evitada e no segundo caso que a

marginal idade fosse atenuada pela garantia a todos de uma vida digna sem a miseacuteria

que induz agrave violecircncia Mas como atingir este ideal se apenas 22 aproximadamente

das mulheres brasileiras na faixa de 15 a 54 anos utiliza algum meacutetodo anticonceptivo e

se 286 da populaccedilatildeo vive nas mais precaacuterias condiccedilotildees de moradia (entenda-se

barracos ou favelas) Num paiacutes onde 561 natildeo tem instruccedilatildeo e ou sequer completam

um ano de estudo8

O ideal de uma sociedade mais justa seria aquele em que todos tivessem

acesso efetivo ao miacutenimo necessaacuterio A Carta Magna nacional inclusive elenca no art

3ordm e incisos aqueles que constituem os objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa

do Brasil a saber a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e solidaacuteria a garantia do

desenvolvimento nacional a erradicaccedilatildeo da pobreza e da marginalizaccedilatildeo e a reduccedilatildeo

das desigualdades sociais e regionais bem como a promoccedilatildeo do bem de todos sem

preconceito de origem raccedila sexo cor idade e quaisquer outras formas de

discriminaccedilatildeo Esteticamente bonito sem duacutevida mas infelizmente apenas teoacuterico na

realidade hodierna

Pelo menos a pena capital inobstante seus adeptos ainda se resume a

projetos de lei que tramitam nas gavetas do Congresso Nacional e ateacute que se cogite

seriamente sobre a sua legalizaccedilatildeo eacute certo que seraacute questionada por uma sociedade

tradicionalmente aversa a esta hipoacutetese Este eacute um aspecto positivo

O mesmo infelizmente natildeo ocorre com relaccedilatildeo ao aborto porque quer o

governo ou a sociedade condenem a sua praacutetica ou natildeo ela existe e vai continuar

existindo independentemente de legalizaccedilatildeo Enquanto os poliacuteticos desconversam sobre

o tema para natildeo se comprometerem ou a igreja repudia o uso de preservativo o aborto

continua acontecendo clandestinamente em ldquofundos de quintais onde mulheres pagam

fortunas para abortar nas mais precaacuterias condiccedilotildees possiacuteveis correndo inclusive riscos

de vida

Eacute este o aspecto mais traacutegico que muitos me ldquoesquecemrdquo de abordar

quando estatildeo em seus discursos ldquoproacute vida e famiacutelia brasileira Na realidade poucas

satildeo as mulheres que diante das dificuldades financeiras pelas quais passam da

violecircncia do mundo moderno e da falta o que eacute bem frequumlente do apoio do

7 Nos paises de cultura elevada poupados a convulsotildees poliacuteticas graves as execuccedilotildees tornaram-

se cada vez mais raras Agrave praacutetica crescente do indulto seguiu-se finalmente e pouco a pouco a

aboliccedilatildeo da pena de morte Paises como a Noruega Sueacutecia e Alemanha que aboliram-na em

definitivo desde 19051921 e 1937 respectivamente Na Aacuteustria em 1746 Sonnenfels

defendeu a tese segundo a qual as penas de morte deveriam ser substituiacutedas pelo trabalho

forccedilado severo para fins de utilidade puacuteblica Mas foi somente em 1950 que esta naccedilatildeo

suprimiu com forccedila de lei a pena capital 8 Dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE constantes na

mais recente pesquisa por amostra de domiciacuteliosrdquo realizada no ano de 1995 Ressalve-se entretanto que a pesquisa foi feita somente com 10 do total de domiciacutelios de cada Estado-membro da federaccedilatildeo segundo a proacutepria rotina desta instituiccedilatildeo

companheiro optariam por enfrentar tudo isso e criariam seus filhos sozinhas E

indubitavelmente todos estes problemas vatildeo estar muito mais incutidos nas mentes

delas na hora de tomar uma decisatildeo do que a figura do padre de sua paroacutequia dizendo

que o aborto eacute contra as leis de Deus ou o dispositivo do Coacutedigo Penal que o tipifica

como crime

Um dos argumentos a favor do aborto sustenta-se na negaccedilatildeo da vida

nos primeiros meses de gestaccedilatildeo portanto natildeo haveria de se falar em crime Ao

discutir a legalizaccedilatildeo do aborto eacute imprescindiacutevel distinguir a partir de qual momento

haacute vida no feto A questatildeo natildeo eacute pacifica A religiatildeo entende vivo o ser desde a

concepccedilatildeo mas a medicina tende a considerar a vida a partir da formaccedilatildeo total dos

oacutergatildeos essenciais do feto De qualquer forma ainda que nos primeiros meses natildeo haja

vida propriamente dita o aborto potildee termo a esta expectativa agrave certeza futura de

formaccedilatildeo de uma vida Daiacute ser compreensiacutevel a propaganda anti-aborto que o

classifica como assassinato em qualquer estaacutegio da gravidez9

Adentre-se no caso do aborto eugeneacutesico criminoso agrave luz das normas

penais brasileiras

Coloquemo-nos entretanto no lugar da crianccedila Seraacute que um bebecirc

disforme condenado a passar o resto de sua vida totalmente dependente dos outros se

tivesse que escolher optaria por viver dessa forma Pode-se considerar vida a simples

passagem pelo mundo sem desfrutar das coisas mais elementares da nossa existecircncia

como constituir famiacutelia ou participar do progresso de seu paiacutes 10

Por outro lado a simples hipoacutetese por mais iacutenfima que seja de uma

resposta positiva jaacute eacute capaz por si soacute de tomar o aborto uma praacutetica incogitaacutevel e

criminosa Esta resposta infelizmente jamais teremos

Tais consideraccedilotildees podem parecer superficiais demais frente a um

assunto tatildeo complexo e polecircmico mas eacute loacutegico a intenccedilatildeo natildeo eacute exaurir o tema que

demandaria muito mais que este despretensioso artigo para ser devidamente debatido A

proposta poreacutem eacute exatamente a que por ora aqui se encontra ou seja abordar alguns

aspectos do aborto e da pena de morte com isenccedilatildeo da corriqueira conclusatildeo a favor ou

contra Mesmo porque embora cientes desses aspectos na pressa de tomarmos algum

posicionamento natildeo raro deixamos de ponderaacute-Ios

10 o eminente mestre penalista Magalhatildees de Noronha posiciona-se

radicalmente contra a hipoacutetese do chamado aborto eugeneacutesico ou eugecircnico vide

consideraccedilotildees apostas no Diaacuterio de Satildeo Paulo de 02 de agosto de 1962 transcritas e

reafirmadas em sua obra de Direito Penal cujo texto ele finaliza da seguinte forma

Como quer que seja todo ser nascido de mulher possua a forma que possuir eacute

humano eacute homem eacute sujeito de direito e tem personalidade A doutrina do Direito

9 Paulo Seacutergio Leite Fernandes argumenta que No aspecto moral alguns natildeo reconhecem vida

no ovo Crecircem que enquanto o feto natildeo adquiriu semelhanccedila agrave pessoa humana inexiste qualquer Impedimento agrave extirpaccedilatildeo Satildeo censurados com razatildeo pelos que natildeo estabelecem qualquer distinccedilatildeo entre o oacutevulo apenas fecundado e o feto jaacute desenvolvido Eacute claro que nenhuma diferenccedila haacute entre um e outro porque em ambos haacute uma centelha haacute vida independentemente da forma ou das caracteriacutesticas humanas adquiridas por um e ausentes no outro O problema fundamental ou essencial eacute que os defensores do abortamento natildeo sentem questotildees de consciecircncia na extirpaccedilatildeo de um oacutevulo fecundado com poucos dias de vida sentindo-as entretanto quando o produto a ser extirpado jaacute se apresenta agrave sua imagem e semelhanccedila O ato no entanto em qualquer caso eacute o mesmo pois aquele que natildeo tem forma humana a teria breve natildeo fosse destruiacutedordquo Ob Cit p 47

Romano que negava capacidade juriacutedica aos que contra formam humani generis

converso more proceantur natildeo seria hoje toleraacutevel Ob Cit p 63 e Diaacuterio de Satildeo

Paulo 12 ago 1962

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BECCARIA Cesare Dos delitos e das penas Traduccedilatildeo de Torrieri

Guimaratildees Satildeo Paulo Hemus Editora

BRANCO Vitorino Prata Castelo Criminologia 1- 00 - Satildeo Paulo

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CASTIGLlONE Teodolino contemporacircnea - Satildeo Paulo Lombroso

perante a criminologia Saraiva 1962

DONNICI Virgilio Luiz A criminalidade no Brasil (meio milecircnio de

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VERGARA Pedro Dos motivos determinantes no Direito Penal 2- ed -

Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1980

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Nacional por amostra de domiciacutelios 1995

NORONHA E Magalhatildees Direito Penal 26ordf ed - Satildeo Paulo Saraiva

1994 Vol 2

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Di Giorgio 1983

SEELlG Emst Manual de criminologia 2 Traduccedilatildeo de Guilherme de

Oliveira revisado por Eduardo Correia - Coimbra Coimbra Editora 1950

SUTHERLAND Edwin H Principies of criminology 3- ed - Chicago

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TARDE Gabriel A criminalidade comparada Traduccedilatildeo de Ludy Veloso

Rio de Janeiro Editora Nacional de Direito 1957

TAYLOR lan Paul Walton e Jock Young Criminologia criacutetica

Traduccedilatildeo de Juarez Cirino dos Santos e Seacutergio Tancredo - Rio de Janeiro Ediccedilotildees

Graal 1980

VERGARA Pedro Dos motivos determinantes no Direito Penal 2- ed -

Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1980

BREVE ENFOQUE ACERCA DA ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA NO

PROCESSO TRABALHISTA

Alba Paulo de Azevedo Acadecircmica do 7deg Periodo do Curso de Direito da

UFRN

1Exoacuterdio 2Consideraccedilotildees iniciais 3 Perfil histoacuterico 4 Cabimento

5 Procedimento 6Agrave guisa de arremate 7 Bibliografia

1 EXOacuteRDIO

Ab initio cumpre asseverar que o afatilde deste ensaio eacute apresentar numa

exibiccedilatildeo de um instante algumas observaccedilotildees atinentes agrave ACcedilAtildeO MONITOacuteRIA no

acircmbito da JUSTICcedilA OBREIRA

Seratildeo trazidas agrave baila as inovaccedilotildees da Accedilatildeo Monitoacuteria agrave luz da lei

Ndeg 9079 de 14 de julho de 1995 bem como sua adequaccedilatildeo agrave seara trabalhista

fundamentalmente pela celeridade do procedimento fator de profunda relevacircncia para a

soluccedilatildeo dos conflitos laboristas Celeridade que se mostra cada vez mais urgente face agrave

condiccedilatildeo social desfavoraacutevel do trabalhador imposta pela conjuntura soacutecio-econocircmico-

poliacutetica Eis por que a azaacutefama de uma resposta jurisdicional agraves pretensotildees deduzidas

pelo trabalhador urge nos dias atuais sob pena de agravamento dessa condiccedilatildeo social

constrangedora

Certamente faltaratildeo muitos pontos a abordar poreacutem valeraacute este

breve estudo se porventura forem suscitadas discussotildees que tragam soluccedilotildees para os

impasses no que tange ao cabimento da Monitoacuteria na Justiccedila do Trabalho

2 CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS

A Accedilatildeo Monitoacuteria criada pela Lei Ndeg 9079 de 140795 foi instituiacuteda

em nosso sistema processual acrescentando-se trecircs artigos ao CPC no final da parte que

disciplina os procedimentos especiais de jurisdiccedilatildeo contenciosa

Na liccedilatildeo do ilustre JOSEacute ROGEacuteRIO CRUZ e TUCCI a Accedilatildeo Monitoacuteria

eacute O meio pelo qual o credor de quantia certa ou de coisa determinada cujo creacutedito

esteja comprovado por documento haacutebil requerendo a prolaccedilatildeo de provimento judicial

consubstanciado em uacuteltima anaacutelise num mandado de pagamento ou de entrega de

coisa visa a obter a satisfaccedilatildeo de seu direito

Trata-se entatildeo de accedilatildeo de conhecimento condenatoacuteria de cogniccedilatildeo

sumaacuteria e com rito especial tendo por objetivo maior alcanccedilar-se o tiacutetulo executivo de

maneira antecipada sem a demora de um processo de conhecimento tiacutepico que

apresenta uma sentenccedila de meacuterito recurso e transito em julgado

Com efeito eacute real a possibilidade de o trabalhador fazer uso da

Monitoacuteria pois eacute exatamente no processo do trabalho onde a necessidade da soluccedilatildeo

raacutepida dos conflitos se manifesta de forma dramaacutetica Ademais estariacuteamos tatildeo-somente

utilizando o procedimento especial civil de forma subsidiaacuteria Obviamente haacute que se

respeitar as peculiaridades do procedimento trabalhista

3 PERFIL HISTOacuteRICO

Natildeo se trata de um instituto oriundo do direito paacutetrio Eis que a

preocupaccedilatildeo com a demora do procedimento ordinaacuterio remonta aos legisladores

medievos e estes vieram a instituir o procedimento sumaacuterio Segundo o ilustre

magistrado MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO a Accedilatildeo Monitoacuteria do direito

brasileiro deriva da siacutentese de dois procedimentos medievais em um deles a accedilatildeo

sumaacuteria se fundava em escritura puacuteblica ou privada cuja certeza do direito alegado

estampada em prova preconstituiacuteda permitia ao juiz proferir desde logo sentenccedila

executiva contanto que citado o reacuteu o outro procedimento dava azo agrave expediccedilatildeo de um

mandado de solvendo inaudita altera parte ou seja natildeo havia citaccedilatildeo para audiecircncia

preacutevia do reacuteu e este era chamado para cumprir a obrigaccedilatildeo Neste caso o reacuteu poderia

arguumlir determinadas exceccedilotildees e obviamente a ordem judicial natildeo seria executada

passando a accedilatildeo a ser regida pelo procedimento ordinaacuterio

A Monitoacuteria deve ser embasada em prova escrita podendo o reacuteu

embargar hipoacutetese em que o mandado de solvendo perderaacute a eficaacutecia resolvendo-se

meramente em simples instrumento de citaccedilatildeo

Sucesso em vaacuterias legislaccedilotildees da Europa como na Itaacutelia Alemanha

Aacuteustria Franccedila e Beacutelgica a Monitoacuteria reflete duas espeacutecies de procedimento o puro e

o documental No primeiro a emissatildeo da ordem de pagamento natildeo se lastreia

necessariamente na existecircncia de prova escrita da diacutevida ao passo que no documental a

determinaccedilatildeo judicial deve sempre basear-se em prova incontestaacutevel do creacutedito

Via de regra o procedimento injuntivo ou monitoacuterio exige os mesmos

requisitos do procedimento comum devendo ser iniciado mediante peticcedilatildeo escrita

visando agrave obtenccedilatildeo de decisatildeo condenatoacuteria

Na Alemanha pode ser iniciado verbalmente e visa agrave obtenccedilatildeo de um

simples mandado de pagamento Todavia para o deferimento do mandado de

pagamento haacute legislaccedilotildees que exigem a exibiccedilatildeo de prova escrita incontestaacutevel

(ITAacuteLIA E BEacuteLGICA) Outros sistemas processuais exigem apenas a exibiccedilatildeo com a

exordial de prova justificativa do requerimento formulado (FRANCcedilA ALEMANHA

AacuteUSTRIA)

O legislador brasileiro aderiu ao procedimento documental quando

preceitua no art 1102a do CPC - DA accedilatildeo monitoacuteria compete a quem pretender com

base em prova escrita sem eficaacutecia de tiacutetulo executivo pagamento de soma em

dinheiro entrega de coisa fungiacutevel ou de determinado bem moacutevel

O modelo claacutessico da teacutecnica monitoacuteria foi adotado pelo sistema

processual paacutetrio onde o pronunciamento jurisdicional alvitrado eacute proferido inaudita

altera parte diferindo-se assim para um momento ulterior a possibilidade do

contraditoacuterio

Eacute de bom alvitre lembrar que a prova escrita do creacutedito deve ser

desprovida de eficaacutecia executiva

O escopo evidenciado em todas as legislaccedilotildees desses paiacuteses -

ALEMANHA AUSTRIA ITAacuteLIA FRANCcedilA BRASIL - no procedimento injuntivo

eacute essencialmente a ceacutelere constituiccedilatildeo de um tiacutetulo executivo judicial

4 CABIMENTO

A Monitoacuteria reflete basicamente um duplo objetivo A finalidade

primeira evidencia-se no cumprimento voluntariamente do mandado de solvendo pelo

devedor satisfazendo portanto a obrigaccedilatildeo de plano caso isso natildeo ocorra tem-se a

formaccedilatildeo do titulo executivo judicial A constituiccedilatildeo do tiacutetulo executivo judicial se

traduz no segundo escopo podendo se dar em duas situaccedilotildees quais sejam na ausecircncia

de oposiccedilatildeo pelo reacuteu ao mandado judicial ou pela rejeiccedilatildeo dos embargos pelo juiz

Ora o processo monitoacuterio vem a colocar-se entre o processo de

conhecimento e o processo de execuccedilatildeo encurtando o processo de conhecimento de

maneira a prescindir do cumprimento da fase instrutoacuteria e formalizaccedilatildeo da fase

decisoacuteria e em adequada antecipaccedilatildeo do processo de execuccedilatildeo face agrave desnecessaacuteria

instrumentalizaccedilatildeo por tiacutetulo constituiacutedo atraveacutes de sentenccedila ou da assemelhaccedilatildeo na

titulaccedilatildeo preacute-constituida

A execuccedilatildeo por quantia certa contra devedor solvente retrata a

modalidade de execuccedilatildeo mais frequumlente no processo trabalhista pois que a natureza do

creacutedito do trabalhador eacute na maioria das vezes pecuniaacuteria

O cabimento e a utilidade da Accedilatildeo Monitoacuteria no acircmbito da Justiccedila

Trabalhista satildeo notaacuteveis bem assim como outras accedilotildees especiais do processo civil jaacute

tiveram utilidade nesta aacuterea p ex a de consignaccedilatildeo em pagamento a de depoacutesito a de

embargos de terceiros

Atraveacutes da Monitoacuteria o trabalhador que possuir prova escrita de uma

obrigaccedilatildeo de pagar quantia certa ou de entrega de coisa assumida pelo empregador

poderaacute solicitar ao juiz que conceda Iiminarmente e sem audiecircncia do reacuteu um

mandado para que este quite de imediato a obrigaccedilatildeo sob pena de o seu silecircncio

motivar o proferimento de sentenccedila que passaraacute a funcionar como tiacutetulo executivo

judicial

O cabimento da Accedilatildeo Monitoacuteria no acircmbito trabalhista suscita opiniotildees

divergentes como podemos constatar atraveacutes dos posicionamentos em dissensatildeo de dois

magistrados Para o nobre SEacuteRGIO PINTO MARTINS de Satildeo Paulo a monitoacuteria eacute

incompatiacutevel com as determinaccedilotildees do processo trabalhista pois neste soacute se pode

executar tiacutetulo executivo judicial como regra tomando impossiacutevel a execuccedilatildeo de algo

que nem sequer eacute tiacutetulo executivo como ocorre na accedilatildeo monitoacuteria Natildeo obstante essa

concepccedilatildeo aduzida para o ilustre MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO do Paranaacute

seria injustificaacutevel que se venha a cerrar as portas para a accedilatildeo monitoacuteria com sua

vocaccedilatildeo para tomar menos larga e aflitiva a distacircncia entre a pretensatildeo do autor e o

resultado praacutetico que deseja obter com a entrega da prestaccedilatildeo jurisdicional invocada

Com a devida vecircnia aos posicionamentos contraacuterios agrave Monitoacuteria filio-

me agraves palavras do Magistrado MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO por

vislumbrar na Monitoacuteria uma das soluccedilotildees para inuacutemeras pretensotildees do trabalhador

brasileiro

Ademais como jaacute mostramos anteriormente a Accedilatildeo Monitoacuteria natildeo eacute de

execuccedilatildeo e sim um meio para chegar-se ao tiacutetulo executivo judicial haja vista que o

direito do trabalho natildeo admite a execuccedilatildeo de tiacutetulos extrajudiciais

5 PROCEDIMENTO

A preservaccedilatildeo da especificidade do procedimento trabalhista eacute

fundamental Para tanto entendemos que a Accedilatildeo Monitoacuteria no direito do trabalho

carece de adaptaccedilotildees

Como jaacute enfatizamos a peccedila vestibular deve ser instruiacuteda por

documento que legitime o exerciacutecio da referida accedilatildeo Tal requisito encontra-se natildeo

somente no art 1102 a do CPC como na proacutepria CL T art 787 segundo o qual A

reclamaccedilatildeo escrita deveraacute ser formulada em duas vias e desde logo acompanhada dos

documentos em que se fundar

O autor uma vez preenchidos os requisitos do art 640 da CL T

requereraacute em sua peticcedilatildeo inicial a expediccedilatildeo do mandado de pagamento previsto no

art 1102 do CPC

O Magistrado verificando que a peticcedilatildeo estaacute devidamente elaborada

deferiraacute a emissatildeo do mandado de solvendo onde o objeto seraacute estabelecido atraveacutes do

tipo de obrigaccedilatildeo a ser cumprida pelo reacuteu quais sejam a entrega da coisa fungiacutevel ou

bem moacutevel determinado ou o pagamento de soma em dinheiro

Na seara processual civil o reacuteu eacute citado para em quinze (15) dias

cumprir a obrigaccedilatildeo ou ofertar embargos Entretanto segundo a liccedilatildeo do ilustre

MANOEL ANTOcircNIO TEIXEIRA FILHO com a qual concordamos no sistema do

processo trabalhista tal procedimento deve ser adaptado agraves peculiaridades deste

processo Entatildeo o reacuteu seraacute citado para cumprir o mandado ou satisfazer a obrigaccedilatildeo

a) em audiecircncia b) que deveraacute ser a primeira desimpedida nos cinco dias subsequumlentes

(CL T art 841 Caput)

Ora a designaccedilatildeo dessa audiecircncia visa a colocar em praacutetica o escopo

singular da justiccedila obreira que eacute a soluccedilatildeo dos conflitos pela soluccedilatildeo negociada e natildeo

apenas a propiciar um momento para o reacuteu responder agrave accedilatildeo ou adimplir sua obrigaccedilatildeo

Destarte no dia aprazado para realizar-se a audiecircncia podemos imaginar

algumas situaccedilotildees possiacuteveis de ocorrer a) se o autor natildeo comparecer o processo seraacute

extinto sem julgamento do meacuterito Caso receba salaacuterio inferior ou igual ao dobro do

miacutenimo legal ficaraacute dispensado do pagamento das despesas e custas processuais b) se o

reacuteu natildeo comparecer aleacutem de revel seraacute confesso quanto aos fatos alegados na inicial

Todavia natildeo haveraacute confissatildeo ficta caso haja diversos reacuteus e um ou alguns deles

conteste a accedilatildeo ou ainda se o litiacutegio versar sobre direitos indisponiacuteveis c) caso a peccedila

inicial esteja desacompanhada de instrumento puacuteblico que a lei repute indispensaacutevel agrave

prova do ato como o reacuteu deixou de responder significa dizer que natildeo ofereceu

embargos logo forma-se de pleno direito o tiacutetulo executivo judicial convertendo-se o

mandado inicial em mandado executivo(art 1102 c caput - CPC) Eacute mister ressaltar

que a falta de embargos natildeo significa que necessariamente ocorreraacute a constituiccedilatildeo do

tiacutetulo executivo judicial pois para que se forme o tiacutetulo eacute indispensaacutevel que o juiacutezo

acolha o pedido do autor e d) finalmente caso o reacuteu compareccedila ele poderaacute proceder de

vaacuterias formas satisfazer a obrigaccedilatildeo transacionar excepcionar oferecer embargos ou

reconvir

Naturalmente cada atitude dessas supra mencionadas merece um

estudo aprofundado para uma melhor elucidaccedilatildeo acerca do tema em comento Contudo

podemos dizer que a reconvenccedilatildeo eacute a que suscita controveacutersias quanto a sua

possibilidade no procedimento monitoacuterio

6 Agrave GUISA DE ARREMATE

O tema trazido a propoacutesito deixou estampado que o fim especiacutefico do

procedimento monitoacuterio eacute a formaccedilatildeo de um tiacutetulo executivo judicial razatildeo pela qual o

mandado de solvendo eacute expedido antes mesmo da citaccedilatildeo do reacuteu se bem que a eficaacutecia

daquele instrumento judicial fica condicionada agrave ausecircncia de reaccedilatildeo pelo reacuteu haja vista

que opondo-se o reacuteu a eficaacutecia do mandado seraacute desfeita resolvendo-se em mera

citaccedilatildeo pois a partir daiacute a accedilatildeo teraacute curso pelo procedimento ordinaacuterio Ainda assim

vemos na Monitoacuteria um instituto perfeitamente cabiacutevel no processo trabalhista

inclusive em se tratando de tiacutetulos extrajudiciais levando-se em conta que o processo

do trabalho em vigor repele a execuccedilatildeo de tiacutetulo extrajudicial Aleacutem disso faz-se

urgente uma resposta jurisdicional agraves pretensotildees do trabalhador pois o que se denota eacute

uma condiccedilatildeo social cada vez mais desigual entre patratildeo e empregado

Em face dessa realidade vislumbramos na Monitoacuteria um dos

instrumentos possiacuteveis para se fazer mais ceacutelere o exerciacutecio da atividade jurisdicional

no acircmbito da justiccedila do trabalho principalmente se observarmos que a demora de uma

resposta jurisdicional numa conjuntura social desigual como a nossa pode conduzir o

trabalhador a situaccedilotildees oprobriosas

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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1 ed 2 tir Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 1995

ARBITRAGEM A Lei nordm 930796

Azevedo Hamilton Cartaxo Acadecircmico do 7ordm peiacuteodo do Curso de Direito

da UFRN

I-Introacuteito

Nos uacuteltimos dias em razatildeo da ediccedilatildeo da Lei n 9307 de 23 de setembro

de 1996 tem-se ouvido falar com bastante frequumlecircncia na miacutedia em geral e no meio

juriacutedico em arbitragem Por ser assunto inusual daiacute derivando seu pouco

conhecimento eacute possiacutevel que se subestime a importacircncia que este instituto juriacutedico

pode vir a ter quanto ao bem-estar da sociedade em geral

A jurisdiccedilatildeo eacute a atividade estatal de decidir as lides e impor suas

decisotildees a fim de atingir seu objetivo uacuteltimo a pacificaccedilatildeo dos conflitos que surgem no

seio da sociedade com justiccedila Este conceito trazido com variaccedilotildees sem significacircncia

pela doutrina eacute beliacutessimo A um soacute momento daacute-se a quem o tem seu direito material

e garante-se tranquumlilidade interna ao grupo social

Mas existe um grave problema A jurisdiccedilatildeo como atividade estatal tem

falhado Agrave exceccedilatildeo do que acontece em alguns paiacuteses completamente desenvolvidos o

processo estatal tomou-se tatildeo caro e lento que ao final acabou afastando de si a

personagem fundamental da democracia a sociedade Mas para sermos justos

lembremos que um Judiciaacuterio lento natildeo eacute privileacutegio brasileiro Um artigo publicado

recentemente no jornal americano The Washington Postrdquo mostra que no Japatildeo o

lapso temporal necessaacuterio ao tracircmite de uma accedilatildeo eacute de 20 a 30 anos

Como sabemos o julgamento de uma accedilatildeo com justiccedila eacute por vezes

intrincado e envolve complexas questotildees de fato e de direito some-se a isso as

condiccedilotildees precaacuterias em que o subdimensionado judiciaacuterio brasileiro eacute obrigado a

trabalhar Isto provoca o que chamamos de demanda reprimida a sociedade tem um

sem nuacutemero de conflitos que natildeo vecirc resolvidos pela justiccedila estatal Numa eacutepoca em que

o ser humano amadurece cada vez mais raacutepido bombardeado que eacute com uma

gigantesca carga de informaccedilotildees uma gama cada vez maior de indiviacuteduos toma-se

consciente de que existem direitos fundamentais dos quais satildeo titulares e um deles eacute o

de ver resolvidos seus conflitos de forma raacutepida e paciacutefica Situaccedilotildees de inseguranccedila

juriacutedica e de tensotildees sociais contiacutenuas causam no cidadatildeo um sentimento generalizado

de desamparo e descrenccedila nas instituiccedilotildees juriacutedico-poliacuteticas que ali deveriam estar para

servi-Io a extensatildeo das consequumlecircncias dessa marginalizaccedilatildeo de uma grande parcela da

populaccedilatildeo soacute a Histoacuteria mostraraacute

Natildeo haacute exceccedilotildees Qualquer de noacutes sofre arrepios ao cogitar a hipoacutetese de

ir agrave Justiccedila e esperar sete ou dez anos para ter seu pleito apreciado Natildeo somos assim tatildeo

longevos isso eacute 10 da vida meacutedia de um ser humano

Outro aspecto importante eacute o custo da litigacircncia em juiacutezo Diga-se que

isto eacute suficiente para dele afastar a maior parte dos conflitos de interesses aqueles em

que particulares satildeo uma das partes Raciocinemos na realidade econocircmico-social de

nosso paiacutes que nuacutemero de indiviacuteduos satildeo suficientemente dotados financeiramente para

custearem um processo ciacutevel - natildeo sujeito ao Juizado Especial - com recursos apelaccedilotildees

e advogado ateacute seu desfecho em que podem vir a ser condenados inclusive com o ocircnus

da sucumbecircncia A resposta inelutaacutevel eacute muito poucos

As tentativas tradicionais de solucionar o problema tecircm naufragado

Tentou-se de tudo tribunais de alccedilada mudanccedilas no processo civil mais juiacutezes mais

cartoacuterios funcionaacuterios dinheiro informatizaccedilatildeo Tribunais com mais de 20 membros

passaram a ser comuns chegamos a extremos como em Satildeo Paulo de mais de uma

centena de desembargadores no Tribunal de Justiccedila Nada disso mudou um dado

concreto com uma demanda sempre crescente muitas dezenas de milhares de

processos em alguns Estados um juiz vecirc-se forccedilado a analisar um nuacutemero absurdo de

processos por mecircs Pergunta-se numa situaccedilatildeo que praticamente obriga agrave automaccedilatildeo

que espeacutecie de prestaccedilatildeo jurisdicional pode ser esperada

Eacute nesse contexto no anseio pelo acesso de todos e de cada membro da

sociedade a uma ordem juriacutedica justa que - numa efetiva mudanccedila de mentalidade -

foram recebidas com juacutebilo as leis dos Juizados Especiais Ciacuteveis e Criminais e do Juiacutezo

Arbitra Quanto agrave primeira espeacutecie normativa aqui natildeo seraacute tratada pois isso jaacute foi

feito por juristas com muitas luzes tomando ociosas quaisquer consideraccedilotildees que se

porventura viesse a fazer acerca dela O objetivo deste trabalho eacute apenas examinar as

linhas mestras do Juiacutezo Arbitral e as vantagens que oferece

II - Distinccedilatildeo Mediaccedilatildeo Conciliaccedilatildeo e Arbitragem

Existem diversos meacutetodos extrajudiciais de soluccedilatildeo de conflitos mas

uma distinccedilatildeo importante a ser colocada eacute a existente entre mediaccedilatildeo conciliaccedilatildeo e

arbitragem Na mediaccedilatildeo as proacuteprias partes voluntariamente resolvem seu conflito

com o auxiacutelio de um terceiro atraveacutes de um acordo Distingue-se da conciliaccedilatildeo na

medida em que nesta o conciliador possui um papel ativo que consiste em apoacutes

considerar os argumentos parciais propor soluccedilotildees que poderatildeo sendo adotadas vir

a dirimir a contenda Por serem provenientes das vontades individuais das partes com

ou sem auxiacutelio mediaccedilatildeo e conciliaccedilatildeo satildeo chamados meacutetodos autocompositivos de

soluccedilatildeo de conflitos

Noutro passo temos a arbitragem meacutetodo heterocompositivo em que

natildeo alcanccedilado entendimento as partes elegem um terceiro o aacuterbitro e assumem o

compromisso de cumprir-lhe a decisatildeo

III - Principais Vantagens da Arbitragem

Teacutecnica - Em questotildees complexas que envolvam conhecimento

aprofundado de algum ramo bastante especiacutefico do conhecimento como as que tratam

de know-how especializado em aacutereas como bioengenharia informaacutetica processos

industriais etc o juiz dificilmente estaacute qualificado a bem decidir a questatildeo gerando agraves

partes fundado receio diante da imprevisibilidade do teor do provimento jurisdicional

Em privilegiada situaccedilatildeo encontra-se a arbitragem posto ser possiacutevel a nomeaccedilatildeo de

um teacutecnico para a posiccedilatildeo de aacuterbitro que pode inclusive a criteacuterio das partes proferir

decisatildeo fundada apenas em equumlidade (art 2deg da Lei nordm 930796)

Sigilo - Com exceccedilatildeo das questotildees que correm em segredo de justiccedila os

processos que tramitam na justiccedila comum satildeo de conhecimento puacuteblico Isso toma

inviaacutevel que lhe sejam submetidas contendas em que a divulgaccedilatildeo de seu conteuacutedo

provoca prejuiacutezos irreparaacuteveis agraves partes sejam eles de ordem moral ou econocircmica

Soluccedilatildeo jaacute adotada pelas multinacionais a arbitragem elimina este inconveniente jaacute

que sujeitos agraves sanccedilotildees das legislaccedilotildees penal e civil os aacuterbitros estatildeo obrigados ao

sigilo

Confianccedila - Ao inverso da jurisdiccedilatildeo estatal aos litigantes em Juiacutezo

arbitral eacute garantida a certeza quanto agrave pessoa do aacuterbitro que elegem livremente

Presteza nos Julgamentos ndash O Juiacutezo ArbitraI escapa agrave rigidez dos

processo civil agraves partes eacute facultado estabelecerem ateacute o proacuteprio procedimento Os

litigantes a quem normalmente interessa o julgamento mais expedito possiacutevel haveratildeo

de decidir-se por aacuterbitro que Ihes garanta essa caracteriacutestica dificilmente encontrada no

judiciaacuterio

Atmosfera - A rapidez tambeacutem eacute assegurada porque no juiacutezo arbitral

ainda existe um certo clima de diaacutelogo que muitas vezes se extingue ao se bater agraves

portas da justiccedila diminuindo as chances de um possiacutevel acordo

IV - CONVENCcedilAtildeO DE ARBITRAGEM CLAacuteUSULA

COMPROMISSOacuteRIA E COMPROMISSO ARBITRAL

A lei estabeleceu o gecircnero convenccedilatildeo de arbitragem do qual satildeo

espeacutecies a claacuteusula com promissoacuteria e o compromisso arbitral A claacuteusula

compromiss6ria eacute a convenccedilatildeo atraveacutes da qual as partes em um contrato comprometem-

se a submeter agrave arbitragem os litiacutegios que possam vir a surgir relativamente a tal

contrato A nova lei em seu art 4 a 8 a ela trouxe novo disciplinamento legal agora

considerada obrigaccedilatildeo de fazer cujo adimplemento eacute sujeito agrave tutela especiacutefica a ela

natildeo se aplicando a regra nem o potest precise cogi ad factum Negando-se uma das

partes a assinar o compromisso arbitral conforme o ajuste contratual o juiz poderaacute -

obedecido o due process of law- por meio de sentenccedila estabelececirc-Io

O compromisso arbitral a seu turno constitui convenccedilatildeo atraveacutes da qual

as partes submetem um litiacutegio agrave arbitragem de uma ou mais pessoas podendo ser

judicial ou extrajudicial O compromisso arbitral eacute um instrumento distinto lavrado

entre as partes em estrita observacircncia aos preceitos legais sob pena de ser o instrumento

eivado de nulidade absoluta Finnado o compromisso arbitral fica devidamente

constituiacutedo o foro arbitral cuja sentenccedila natildeo comporta recurso ao Poder Judiciaacuterio

nem conforme veremos requer sua homologaccedilatildeo (art 18 da Lei nordm 930796)

Portanto para que fique bem entendido na claacuteusula compromissoacuteria a

parte assume a obrigaccedilatildeo de firmar compromisso arbitral quanto a lides que derivem do

contrato em que ela estiver inserta

V - DA EXECUCcedilAtildeO DA SENTENCcedilA

Num grande avanccedilo talvez o mais estrateacutegico deles agrave sentenccedila arbitral

condenatoacuteria foi atribuiacutedo o status de tiacutetulo executivo (art 31 da Lei nordm 930796)

inserindo-se no rol daqueles contemplados no art 585 VII do CPC Dessa forma as

partes ficam livres do embaraccedilo de ir ao Judiciaacuterio e submeter-lhe agrave apreciaccedilatildeo

questatildeo jaacute decidida Caso o decisum possua algum viacutecio este poderaacute ser examinado

no processo de execuccedilatildeo por meio dos embargos cabiacuteveis (art 33 sect 3deg) ou ainda via

accedilatildeo ordinaacuteria pedindo seja decretada sua nulidade (art 31) Dispensa-se portanto

homologaccedilatildeo do laudo arbitral que caso fomecida pelo Poder Judiciaacuterio viraacute apenas

dar ainda maior certeza a um tiacutetulo a que a lei jaacute atribui forccedila executiva

Ressalte-se ainda que quanto agraves sentenccedilas estrangeiras eliminou-se a

esdruacutexula figura do duplo exequatur no paiacutes de origem e no Brasil sendo agora

bastante apenas o concedido pelo Supremo Tribunal Federal (art 35)

VI - CONCLUSAtildeO

Cappelletti brilhante processualista italiano chamou esse

movimento universal de acesso agrave Justiccedila de a terceira onda Mostrou-nos que o Juiacutezo

Arbitral eacute muitas vezes o mais adequado agrave obtenccedilatildeo de justiccedila

De nula valia seraacute a nova Lei se apesar dela continuarmos a tratar a

Juiacutezo Arbitral como algueacutem jaacute disse com solene ignoracircncia Cabe aos operadores

juriacutedicos em suas esferas particulares de accedilatildeo sermos corajosos e tomarmos a noacutes a

responsabilidade da criaccedilatildeo de uma cultura de arbitragem Eliminemos o que denomino

cultura de ir a juiacutezo que faz com que alguns ainda mesmerizados com o processo

nele vislumbram um fim em si mesmo

Agraves partes interessa a soluccedilatildeo mais ceacutelere de seus conflitos natildeo a

complexidade dos procedimentos a profundidade das peticcedilotildees pareceres e sentenccedilas

Na era das fraccedilotildees de segundo natildeo haacute razatildeo para esperar meses com frequumlecircncia vaacuterios

anos pelo desfecho

de um feito quando evitaacutevel

Como anota a Dra Ada Pellegrini Grinover por ser o processo judicial

tatildeo caro demorado e complicado existe uma grande litigacircncia latente Haacute este imenso e

virgem campo do Direito a explorar que tem como uma de suas douradas recompensas

proporcionar aos membros de nossa sociedade a melhor soluccedilatildeo juriacutedica possiacutevel

A concluir sempre digno de lembranccedila eacute o ensinamento de Ihering para

quem lutar pelo direito natildeo eacute apenas pleitear em Juizo eacute mais eacute natildeo se

conformar com a injusticcedila eacute pugnar pela cidadania

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Lei nordm 9307 de 23 de setembro de 1996 Publicada no Diaacuterio Oficial da

Uniatildeo em 24 de setembro de 1996 Brasiacutelia _ DF

GRINOVER Ada Pellegrini - Tese Aspectos da Conciliaccedilatildeo no Atual

Direito Processual Livro de Teses II - Os Novos Acessos agrave Justiccedila _ XVI Conferecircncia

Nacional dos Advogados Fortaleza _ CE (1996)

BASSO Maristela - Tese Ampliaccedilatildeo do Uso da Arbitragem _ A

Revitalizaccedilatildeo da Arbitragem no Brasil sob um Enfoque Realista e um Espiacuterito

Diferente Livro de Teses 11 - Os Novos Acessos agrave Justiccedila _ XVI Conferecircncia Nacional

dos Advogados Fortaleza _ CE (1996)

PINHEIRO NETO - ADVOGADOS Internet http

WWWdprmregovbrdpgcfOO_phtm

MALLET Estevam - Conferecircncia proferida no I Congresso de Direito

Processual Brasileiro Natal- RN (1996)

DESVINCULACcedilAtildeO DA SEPARACcedilAtildeO DOS PODERES COM A

IDEacuteIA DE DEMOCRACIA

Carline Regina de Negreiros Cabral Acadecircmica de Direito 3degperiacuteodo

LETAT CEST MOI Esta frase concebida pelo Rei Luiacutes XIV (1661 -

1715) tomou-se o siacutembolo supremo do Absolutismo Monaacuterquico Francecircs Na Idade

Moderna entre o seacuteculo XV e o final do seacuteculo XVIII o Poder concentrava-se em

apenas uma pessoa que assumia todos os poderes do Estado - comandava exeacutercitos

distribuiacutea a Justiccedila entre os suacuteditos decretava as leis e arrecadava tributos

A Nobreza com esta grande concentraccedilatildeo de Poder acumulou muitas

riquezas enquanto que a maior parcela da populaccedilatildeo era cada vez mais explorada pelos

altos tributos Surgiu depois uma nova classe social - a Burguesia - que pela

descoberta de novos continentes e o aperfeiccediloamento das navegaccedilotildees mariacutetimas era

cada vez mais emergente e consciente da importacircncia de mudanccedilas no Antigo Regime

visto que o mesmo natildeo correspondia ao seu interesse Dentro deste contexto deu iniacutecio

a lutas entre estas duas classes sociais

Entre os acontecimentos que combateram o Absolutismo destacam-se a

Revoluccedilatildeo Inglesa de 1689 quando foi assinada a Declaraccedilatildeo dos Direitos - BiII of

Rights - que previa por exemplo a liberdade de imprensa garantias para o livre

exerciacutecio da Justiccedila Puacuteblica e enfim garantia a limitaccedilatildeo do poder do Rei pelo

Parlamento a Declaraccedilatildeo de Independecircncia das 13 colocircnias americanas em 1776 que

defendia a liberdade individual e o respeito aos direitos fundamentais do ser humano a

Revoluccedilatildeo Francesa - cujo lema era a Liberdade a Igualdade e a Fraternidade-

proclamou a ceacutelebre Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo Os principais

pontos defendidos era o respeito pelo Estado agrave dignidade da pessoa humana a

liberdade e a igualdade dos cidadatildeos perante a Lei o direito agrave propriedade individual a

liberdade de pensamento e de opiniatildeo

Ao lado desse movimento poliacutetico-econocircmico surgiu um movimento

cultural conhecido como lIuminismo Vaacuterias teorias combatendo o Absolutismo foram

editadas Entre elas pode-se citar a obra De LEspirit des Lois de MONTESQUIEU

que defende a triparticcedilatildeo dos poderes do Estado em Legislativo Executivo e Judiciaacuterio

Ele acreditava que desta forma poderia ser evitado abusos dos governantes e estarem

protegidas as liberdades individuais Ele afirma

Haacute em cada Estado trecircs espeacutecies de poderes o poder legislativo o

poder executivo e o poder judiciaacuterio Pelo primeiro o priacutencipe ou

magistrado faz leis por certo tempo ou para sempre e corrige ou ab-

roga as que estatildeo feitas Pelo segundo faz a paz ou a guerra envia

ou recebe embaixadas estabelece a seguranccedila previne as invasotildees

Pelo terceiro pune os crimes ou julga as querelas dos indiviacuteduos A

liberdade poliacutetica num cidadi1o eacute esta tranquumlilidade de espiacuterito que

proveacutem da opiniatildeo que cada um possui de sua seguranccedila e para que

se tenha esta liberdade cumpre que o governo seja de tal modo que

um cidadatildeo natildeo possa temer outro cidadatildeo Natildeo haveraacute tambeacutem

liberdade se o poder de julgar natildeo estiver separado do poder

legislativo o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadatildeos seria

arbitraacuterio pois o juiz seria o legislador Se estivesse ligado ao poder

executivo o juiz poderia ter forccedila de opressor() O poder judiciaacuterio

natildeo deve ser outorgado a um Corpo permanentes e sim exercido por

pessoas extraiacutedas do povo de modo prescrito pela lei para formar um

Tribunal que dure apenas o tempo necessaacuterio Desta maneira o poder

de julgar tatildeo terriacutevel entre os homens natildeo estaacute ligado nem a certa

situaccedilatildeo nem a uma certa profissatildeo torna-se por assim dizer nulo e

invisiacutevel Os outros dois poderes poderiam preferivelmente ser

outorgados a corpos permanentes porque natildeo se exercem sobre

nenhum indiviacuteduo sendo um somente a vontade geral do Estado e

outro somente a execuccedilatildeo dessa vontade geral Poreacutem se os tribunais

natildeo devem ser fixar os julgamentos devem secirc-lo a tal ponto que

nunca sejam mais do que um texto exato da lei Se fossem uma

opiniatildeo particular do juiz viver-se-ia na Sociedade sem saber

precisamente os compromissos que nela satildeo assumidos Jaacute que num

Estado Livre todo Homem que supotildee ter uma alma livre deve

governar a si proacuteprio eacute necessaacuterio que o povo no seu conjunto

possua o poder legislativo Eacute preciso que o povo atraveacutes de seus

representantes faccedila o que natildeo pode fazer por si mesmo A grande

vantagem dos representantes eacute que satildeo capazes de discutir os

negoacutecios puacuteblicos O povo natildeo eacute de modo algum capaz disso fato

que constitui um dos graves inconvenientes da democracia Se o

poder executivo natildeo tem direito de vetar os empreendimentos d6 corpo

legislativo este uacuteltimo seria despoacutetico porque como pode atribuir a

si proacuteprio todo o poder que possa imaginar destruiria todos os

demais poderes mas natildeo eacute preciso que o corpo legislativo tenha

reciprocamente a faculdade de paralisar o poder executivo porque

tendo a execuccedilatildeo limites por sua natureza eacute inuacutetil limitaacute-Ia () No

acircmbito do poder judiciaacuterio poderia acontecer que a lei que eacute ao

mesmo tempo clarividente e cega fosse em certos casos muito

rigorosa Poreacutem os juizes de uma naccedilatildeo natildeo satildeo como dissemos

mais que a boca que pronuncia as sentenccedilas da lei seres inanimados

que natildeo podem moderar nem sua forccedila nem seu rigorrdquo1

Essa obra dava atribuiccedilotildees restritas ao Estado que devido ao contexto

histoacuterico da eacutepoca MONTESQUIEU estava preocupado natildeo com a eficiecircncia estatal

mas em garantir a liberdade individual Foi a Intenccedilatildeo de enfraquecer o poder de

Estado complementando a funccedilatildeo Iimitadora exercida pela Constituiccedilatildeo que impocircs a

separaccedilatildeo dos poderes como um dos dogmas do Estado Moderno Como afirma

DALMO DALLARI eacute importante assinalar que essa Teoria teve acolhida e foi

consagrada numa eacutepoca em que se buscavam meios para enfraquecer o Estado uma vez

que natildeo se admitia sua interferecircncia na Vida Social a natildeo ser como

vigilante e conservador das situaccedilotildees estabelecidas pelos indiviacuteduosrdquo2

Na teoria de Separaccedilatildeo dos Poderes3 consagrado nas Constituiccedilotildees

vinculou-se agrave ideacuteia de Democracia dando origem a uma nova doutrina conhecida como

1 MONTESQUIEU De LEspirit des Lois Satildeo Paulo Abril 1978p150

2 DALLARI Dalmo de Abreu Elementos da teoria geral do estadoSatildeo Paulo Saraiva P 184

3 O que existe na verdade eacute a distribuiccedilatildeo de funccedilotildees a 6rgaos distintos que exercem o Poder

soberano do Estado jaacute que o Poder do Estado eacute uno e indivisiacutevel

a TEORIA DOS FREIOS E CONTRAPESOS onde se defende a interpenetraccedilatildeo entre

os poderes visando a limitaccedilatildeo reciacuteproca

Na Constituiccedilatildeo de 1988 esta teoria encontra-se presente Visualizemo-

Ia

O Poder Executivo na pessoa do Presidente da Repuacuteblica tem as

seguintes atribuiccedilotildees frente aos demais poderes

a) Iniciar a ediccedilatildeo de normas em mateacuterias previamente determinadas

(art 61 sect 1deg)

b) Sancionar ou vetar um projeto caso seja considerado inconstitucional

(art 66 sect 1deg)

c) Adotar medidas provisoacuterias em caso de relevacircncia e urgecircncia(art 62)

e elaborar leis delgadas (art 68)

d) Nomear Ministros do Supremo Tribunal Federal (art 10 paraacutegrafo

uacutenico) do Superior Tribunal de Justiccedila (art 104 paraacutegrafo uacutenico) Tribunal Superior

do Trabalho (art 111 1deg1) os Juizes do Tribunal Regional do Trabalho membros do

Tribunal Superior Eleitoral (art 119 sect 2deg) Juizes do Tribunal Regional Eleitoral (art

120 sect 1deg3deg) Ministro do Superior Tribunal Militar (art 123) e o Procurador Geral da

Repuacuteblica (art 128 sect 1deg)

O Poder Legislativo sobre os demais

a) Resolver acerca de Tratados e Acordos Internacionais (art 49 sect 1deg)

b) Sustar os atos normativos do poder executivo que exorbitem do poder

regulamentar ou dos limites de delegaccedilatildeo legislativa (art 49 sect5deg)

c) Julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da Repuacuteblica e

apreciar sobre a execuccedilatildeo dos planos de governo (art 49 sect 9deg)

d) Exercer fiscalizaccedilatildeo sobre o Presidente Vice-Presidente Ministros de

Estados do STF o Procurador geral da Repuacuteblica e o Advogado Geral da Uniatildeo nos

crimes de responsabilidade (art 52 sect 10 2deg)

e) Aprovar previamente a indicaccedilatildeo do executivo para determinados

cargos ( art 52 3deg 4deg)

f) Rejeitar do veto do Presidente (art 66 sect sect 5deg e 6deg)

O Poder Judiciaacuterio impotildee-se sobre os demais

a) controlar a legitimidade da Constitucionalidade das Leis

b) Agir de maneira fiscalizadora obrigando-os a permanecer nos limites

de suas respectivas esferas de competecircncias caso venha a ocorrer exorbitacircncia dos

demais poderes

Muitas criacuteticas satildeo tecidas a respeito da Teoria de MONTESQUIEU

Esta no contexto histoacuterico em que o autor se inseria atendia as necessidades de sua

eacutepoca que era a limitaccedilatildeo do Poder do Estado e natildeo a sua eficiecircncia no entanto com a

evoluccedilatildeo social o Estado passou a ser cada vez mais solicitado e suas aacutereas de atuaccedilatildeo

tendem a expandir-se e abranger aacutereas ateacute entatildeo impenetraacuteveis Essa necessidade de

expansatildeo toma-se inconciliaacutevel com os modelos da Separaccedilatildeo dos Poderes Apesar

disso reluta-se em modificar a organizaccedilatildeo do Estado por este estaacute vinculado a ideacuteia de

Democracia

Atualmente estes trecircs poderes encontram-se em crise Veja a seguir em

quais pontos e suas possiacuteveis soluccedilotildees

No Poder Executivo reclama-se principalmente da quantidade

incalculaacutevel de Medidas Provisoacuterias Cientistas Poliacuteticos jaacute as compararam aos AI-Atos

Institucionais da Ditadura A maneira indisciplinada com que as mesmas satildeo editadas

chega a ser constrangedora como eacute o caso do reajuste das mensalidades escolares e da

Reforma Administrativa Dezenas de MPs foram editadas sem maiores detalhamentos e

por tempo de vigecircncia curto que soacute vecircm a complicar a situaccedilatildeo existente - Parece que o

Poder Executivo natildeo faz jus ao que estaacute presente na Constituiccedilatildeo onde diz que as

MPs devem ser utilizadas em caso de relevacircncia e urgecircncia Necessita-se portanto de

um maior rigor na adoccedilatildeo destas Medidas

Quanto ao Poder Legislativo encontra-se satirizado frente a opiniatildeo

puacuteblica em virtude de envolvimento em escacircndalos Recentemente houve uma CPI de

estarrecer o paiacutes pela envergadura de denuacutencias e provas que vieram agrave luz Aleacutem disso

reclama-se da lentidatildeo com que elaboram as leis - sua funccedilatildeo basilar - Exige-se a

execuccedilatildeo de outras funccedilotildees que Ihes satildeo conferidas como o de fiscalizar as contas

prestadas pelo Poder Executivo e a sustaccedilatildeo de atos normativos do Poder Executivo que

exorbitem a limitaccedilatildeo de delegaccedilatildeo legislativa Muitas satildeo as prerrogativas concedidas

aos parlamentares como a preacutevia licenccedila para a instauraccedilatildeo e continuidade de processos

e a imunidade parlamentar o que muitas vezes satildeo usufruiacutedas de forma abusiva

Considerando esta realidade sugere--se ao Poder Legislativo a criaccedilatildeo

de comissotildees na Constituiccedilatildeo onde as mesmas teratildeo poderes de investigaccedilatildeo proacuteprios

das autoridades judiciais e durante o recesso haveraacute uma Comissatildeo Representativa do

Congresso Nacional cuja composiccedilatildeo reproduziraacute quanto possiacutevel a representaccedilatildeo

partidaacuteria (art 58 sect 30)

Quanto ao Judiciaacuterio o novo contexto social exige uma maior

aproximaccedilatildeo da Justiccedila com o povo Exemplo bem sucedido deste anseio eacute a criaccedilatildeo

dos Juizados Especiais de Pequenas Causas (Lei 909995) que estabelece um

procedimento raacutepido e barato orientado pelos criteacuterios da oralidade simplicidade e

informalidade buscando sempre que possiacutevel a conciliaccedilatildeo ou a transaccedilatildeo aleacutem de

desafogar a Justiccedila Comum Nos processos satildeo cabiacuteveis inuacutemeros recursos que

dificultam a sentenccedila final ser proferida mais raacutepida aleacutem de existirem inuacutemeras

formalidades processuais acarretando na morosiacutedade do andamento dos feitos Os

Magistrados encontram sob sua responsabilidade um nuacutemero muito elevado de

processos - haacute casos que chegam a 15 mil - consistindo assim num outro empecilho para

a sua agilidade

O objetivo da Teoria da Separaccedilatildeo dos Poderes era conter o poder em

volta do Estado como foi dito anteriormente Essa realidade natildeo eacute mais condizente com

a nossa cujos maacuteximos valores satildeo a eficiecircncia dos resultados e a alta probabilidade de

sua consecuccedilatildeo O Estado hoje deve abranger aacutereas como a previdecircncia a educaccedilatildeo o

social e o econocircmico

Fazendo uma reflexatildeo sobre a atuaccedilatildeo do Poder Legislativo - legalizado

e legitimado - questiona-se se este atende as necessidades daqueles que representa - o

povo - se assegura a liberdade e os interesses desse

Quanto ao Poder Executivo se ele age com o mesmo rigor na cobranccedila

de tributos aos banqueiros e ruralistas e aos pequenos empresaacuterios jaacute que todos satildeo

iguais perante a lei

Em relaccedilatildeo ao Poder Judiciaacuterio percebe-se que este encontra-se

acentuadamente desacreditado perante a opiniatildeo puacuteblica devido a dificuldade que existe

para o povo ingressar em Juiacutezo ( elevadas custas processuais morosidade na resoluccedilatildeo

dos conflitos etc)Observase tambeacutem que algumas autoridades fazem do uso do Poder

que lhe eacute atribuiacutedo um comeacutercio e esquecem o Princiacutepio da Imparcialidade e a

constante busca pela Justiccedila

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DALLARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19a

Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

MALUF Sahid Teoria Geral do Estado 23ordf Ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Saraiva1995

MONTESQUIEU O Espiacuterito das Leis Coleccedilatildeo middot ldquoOs Pensadores 2a

Ediccedilatildeo Satildeo Paulo Abril1978

NOBRE JUacuteNIOR Edilson Pereira Independecircncia dos poderes no

regime democraacutetico e as exigecircncias da sociedade hodierna Revista do Curso de Direito

- RCD Natal Editora Universitaacuteria 1996

Dossiecirc Judiciaacuterio Revista USP Editora USP

ASPECTOS DA REINCIDEcircNCIA PARA EFEITO DE

CONCESSAtildeO DE LIVRAMENTO CONDICIONAL

Cristina Silva Macecircdo

Bacharelanda do Curso de Direito da UFRN

INTRODUCcedilAtildeO

Pode-se conceituar livramento condicional como a antecipaccedilatildeo

provisoacuteria da liberdade de um condenado agrave pena privativa de liberdade sujeita agrave

imposiccedilatildeo de termos que deveratildeo ser rigorosamente seguidos cuja hipoacutetese adversa

implicaraacute em sua revogaccedilatildeo

Natildeo objetiva o presente trabalho discorrer acerca dos pressupostos ou

condiccedilotildees para o gozo do instituto em baila Entretanto importa salientar que natildeo se

trata de um simples benefiacutecio ou um favor do juiacutezo das execuccedilotildees penais Consiste

em direito subjetivo do reacuteu verificados os requisitos que autorizam sua concessatildeo

O aspecto a ser aqui tratado repousa na anaacutelise da reincidecircncia para

efeito de concessatildeo de livramento condicional Evidentemente natildeo se tem a pretensatildeo

de esgotar o tema mas tatildeo somente de dar iniacutecio a estudos que permitam suprir as

lacunas constantes na doutrina e jurisprudecircncia fartamente consultadas poreacutem com

poucas respostas para algumas situaccedilotildees trazidas agrave lume

HIPOacuteTESES LEGAIS

O artigo 83 do Coacutedigo Penal estabelece de forma categoacuterica

O juiz poderaacute conceder livramento condicional ao condenado a pena

privativa de Liberdade igualou superior a dois anos desde que

Conforme seraacute demonstrado haacute uma intensa preocupaccedilatildeo do legislador

em disciplinar as condiccedilotildees de concessatildeo de livramento condicional para o condenado

reincidente Todavia a excessiva atenccedilatildeo dispensada pelo preceito normativo cria uma

certa confusatildeo no momento de adequar a lei ao caso concreto em especial quando pode

ser verificada a reincidecircncia do apenado

I - CUMPRIDO MAIS DE UM TERCcedilO DA PENA SE O

CONDENADO NAtildeO FOR REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO E TIVER

BONS ANTECEDENTES

Poucas indagaccedilotildees residem no tocante agrave aplicabilidade do inciso I Caso

natildeo haja reincidecircncia em crime doloso e tenha o reacuteu bons antecedentes impotildee-se o

cumprimento de apenas um terccedilo da pena que lhe foi imposta para preencher o lapso

temporal que autorize a concessatildeo do benefiacutecio

Todavia importa proceder ao apreccedilo do alcance da expressatildeo natildeo ser

reincidente em crime doloso

O texto legal permite a submissatildeo do condenado de trecircs hipoacuteteses a) natildeo

ter cometido mais de um crime qualquer que seja sua natureza (tecnicamente primaacuterio)

b) ser reincidente poreacutem em crimes culposos e c) ser reincidente mas ter cometido um

crime doloso e um culposo

A vaga redaccedilatildeo do inciso I concede permissibilidade agrave

sua aplicabilidade em qualquer dos casos suso mencionados haja vista que todas estatildeo

inseridas no preceito natildeo ser reincidente em crime doloso

Impossiacutevel determinar a intenccedilatildeo do dispositivo Acredita-se que tal

norma foi concebida no fito de regular o instituto do livramento condicional aos

apenados tecnicamente primaacuterios No entanto o silecircncio da lei no que concerne aos

crimes culposos chega a preocupar natildeo restando alternativa ao julgador que natildeo seja

pela inserccedilatildeo de tais infraccedilotildees no inciso I por ser este o mais beneacutefico dentre os outros

que dispotildeem acerca da reincidecircncia

Outro exemplo quando algueacutem jaacute foi condenado por um crime culposo

e lhe sobrevenha uma sentenccedila condenatoacuteria imputando uma conduta iliacutecita

impregnada do elemento volitivo de delinquumlir (dolo) Neste caso haacute reincidecircncia mas

natildeo houve a praacutetica de mais de um crime doloso o que importaria na aplicaccedilatildeo do

inciso seguinte (II) A interpretaccedilatildeo mais correta parece ser a aplicaccedilatildeo deste inciso I

uma vez que apesar de falha a literalidade do dispositivo remete apenas agrave

primariedade em crime doloso restando silente no tocante agrave presenccedila de culpa no

proceder do agente

Resta ainda uma lacuna a ser preenchida em caso de praacutetica de mais de

um crime culposo qual hipoacutetese legal aplicar A obviedade do inciso I merece

prevalecer conclusatildeo esta alcanccedilada sem demandar maiores esforccedilos interpretativos

Merece registro apenas a omissatildeo aqui referida

II - CUMPRIDA MAIS DE METADE SE O CONDENADO FOR

REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO

Natildeo haacute discussatildeo ou controveacutersia acerca da reincidecircncia em crimes

dolosos ou seja da praacutetica consecutiva de infraccedilotildees causadas pela vontade deliberada

do agente Insiste-se apenas no registro a omissatildeo do legislador em tratar da

reincidecircncia em crime culposo conforme jaacute foi exposto restando ainda um aspecto a

ser tratado logo a seguir

v - cumprido mais de dois terccedilos da pena nos casos de condenaccedilatildeo por

crime hediondo praacutetica da tortura traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins e

terrorismo se o apenado natildeo for reincidente especiacutefico em crimes dessa natureza

Reside no inciso V implantado atraveacutes da Lei ndeg 807290 (Lei dos

Crimes Hediondos) o maior empeccedilo de aplicaccedilatildeo da norma penal aqui tratada A

hipoacutetese antevista no preceito normativo natildeo preenche a diversidade de casos que

podem chegar agraves matildeos do Juiz das Execuccedilotildees Penais do Representante do Ministeacuterio

Puacuteblico e ateacute do Conselheiro Penitenciaacuterio obstando a devida apreciaccedilatildeo do fato

Seraacute trazida agrave lume no entanto apenas a seguinte situaccedilatildeo o denunciado

responde em juiacutezo pela praacutetica de um crime doloso diverso daqueles mencionados no

inciso V do artigo 83 do Coacutedigo Penal Enquanto aguarda a decisatildeo judicial comete um

novo iliacutecito desta vez inserido no dispositivo supramencionado

No caso em tela natildeo haacute reincidecircncia sendo o denunciado tecnicamente

primaacuterio a teor do artigo 63 do Coacutedigo Penal cuja redaccedilatildeo estabelece que esta somente

se perfaz quando ocorre a praacutetica de uma nova infraccedilatildeo apoacutes o tracircnsito em julgado de

sentenccedila que tenha condenado o agente em crime anterior

Faz-se de bom alvitre tratar as duas condutas de formas distintas posto

que se tratam de infraccedilotildees de naturezas diversas Apoacutes julgado e condenado por ambos

os crimes em decisotildees apartadas dever-se-aacute proceder o caacutelculo para efeito de concessatildeo

de livramento condicional tambeacutem de forma individual para cada pena de acordo com o

dispositivo que for aplicaacutevel

Por exemplo um agente responde por crime de moeda falsa processado

e julgado na Justiccedila Federal e no decorrer da instruccedilatildeo processual incorre em traacutefico

iliacutecito de entorpecentes de competecircncia da Justiccedila Estadual sendo condenado em

ambos os processos ao cumprimento de penas de cinco e quatro anos respectivamente

Apoacutes determinado tempo entra com pedido de livramento condicional perante o Juiacutezo

das Execuccedilotildees Como apreciar tal pleito

Eacute mais coerente aplicar o inciso I verificando se jaacute foi cumprido 13 da

sanccedilatildeo imposta pela conduta de moeda falsa (1 ano e 8 meses) posto que ao tempo da

praacutetica da primeira infraccedilatildeo o reacuteu seria enquadrado em tal hipoacutetese Em seguida

procede-se o apreccedilo do lapso temporal demandado para a concessatildeo do benefiacutecio no

segundo delito computando-se 23 da pena de cinco anos cominada pelo crime de

traacutefico de entorpecentes (2 anos e 8 meses) em conformidade com o inciso V

Finalmente soma-se os dois quocientes para chegar ao tempo real de privaccedilatildeo de

liberdade que autoriza o deferimento do pedido ou seja 04 anos e 04 meses Caso o

apenado natildeo tenha cumprido este periacuteodo da pena que lhe foi cominada natildeo faraacute jus ao

livramento

Submeter a pena total de no caso nove anos ao regime do inciso V

demonstra descabida interpretaccedilatildeo prejudicial ao reacuteu posto que a natureza da primeira

infraccedilatildeo (moeda falsa) eacute considerada menos grave uma vez que natildeo estaacute elencada

dentre os crimes hediondos Inexistindo razatildeo de ser em qualquer tratamento que assim

lhe seja dispensado

Ressalte-se que tal hipoacutetese deveraacute ser aplicada em caso de natildeo

configuraccedilatildeo de reincidecircncia conforme jaacute foi exposto Caso a segunda infraccedilatildeo ocorra

apoacutes o trAnsito em julgado da primeira sentenccedila condenatoacuteria figura indiscutiacutevel a

apreciaccedilatildeo do caso sob a eacutegide do inciso 11 do artigo 83 do Coacutedigo Penal

REINCIDEcircNCIA ESPECIacuteFICA

O inciso V dispotildee ainda sobre o instituto da reincidecircncia especiacutefica

escusando-se de tecer maiores consideraccedilotildees a respeito remanescendo agrave doutrina

definir o que venha a ser tal instituto permanecendo inflamada a discussatildeo de seu

alcance

A parte dominante da doutrina em virtude do nuacutemero de adeptos

concebe que a reincidecircncia especifica do dispositivo legal suso mencionado ocorre em

virtude da praacutetica de dois crimes equiparados sob algum aspecto pela lei penal Assim

entende-se que a praacutetica de mais de um crime considerado hediondo pela Lei ndeg

807290 (ou equiparado a hediondo) permite a caracterizaccedilatildeo da reincidecircncia

especiacutefica

AURINO LOPES MONTEIRO ilustre representante deste pensamento

prolata a seguinte assertiva

A reincidecircncia especifica na Lei nordm 8072 que natildeo pode ser regida

pelo conceito legal revogado pela Lei ndeg 6416 de 24-04-77 fica

configurada quando o agente comete um crime entre os mencionados

na lei apoacutes ter transitado em julgado sentenccedila condenatoacuteria que o

tenha condenado por crime anterior tambeacutem relacionado no mesmo

diploma legal Natildeo eacute necessaacuterio que seja crime idecircntico ou

semelhante ao anterior como bem indica a expressatildeo dessa natureza

inscrita no dispositivo mas apenas que ambos estejam abrangidos

pela Lei nordm 80721

Em suma a reincidecircncia especifica natildeo importa na praacutetica de dois

sequumlestros ou dois Estupros Sua caracterizaccedilatildeo repousa na incorrecircncia de duas ou mais

infraccedilotildees inseridas no contexto da Lei dos Crimes Hediondos

Todavia parte dos doutrinadores discorda de tal entendimento sob o

aduzido que a Lei ndeg 807290 abriga infraccedilotildees das mais diversas estirpes desde crimes

contra o meio ambiente ateacute crimes contra os costumes cujas naturezas figuram como

sendo diametralmente opostas desmerecendo destarte o tratamento idecircntico

dispensado pela Lei dos Crimes Hediondos

Eis o entendimento de ALBERTO SILVA FRANCO2 sobre a mateacuteria

O que relaciona o estupro simples ou qualificado ao delito de

terrorismo O que haacute de comum entre o crime de epidemia com

resultado de morte e o delito de tortura Evidentemente nada Em

ponto algum de relevo os referidos tipos suportam um juizo

aproximativo Onde buscar entatildeo a a conotaccedilatildeo especiacutefica dessa

reincidecircncia

Depois porque natildeo pode o legislador nem o inteacuterprete decretar que

delitos tatildeo diacutespares tatildeo dessemelhantes possuam uma igualou

mesma natureza

Mais uma vez a redaccedilatildeo do texto legal concede permissibilidade agrave

dubiedade de interpretaccedilotildees Inobstante assistir razatildeo aos que discordam do primeiro

posicionamento eacute possivel verificar que a intenccedilatildeo do dispositivo repousou em obstar o

agraciamento do livramento condicional agravequelas pessoas que praticam crimes

1 apud MIRABETE Julio Fabbrini Op Cit pp 326 e 327

2 Op Cil p 1058

considerados hediondos reiteradas vezes Trata-se aqui de mero exerciacutecio de

interpretaccedilatildeo

Em respaldo a tal posicionamento recorra-se agrave liccedilatildeo de JULIO

FABBRINI MIRABETE ao definir a interpretaccedilatildeo como o processo loacutegico que

procura estabelecer a vontade da lei que nao eacute necessariamente a vontade do

legislador3

O liame que une os delitos elencados na Lei ndeg 807290 reside nos

efeitos de tais crimes sempre significativos aterradores e increpados de violecircncia que

atinge todos os bens juriacutedicos pelo dispositivo protegidos seja a liberdade seja o meio

ambiente seja a vida

Conclui-se por fim que apesar da impropriedade do preceito normativo

em remeter agrave reincidecircncia especifica resta compreendido que a mens legis do

dispositivo residiu em coibir a incorrecircncia repetida de crimes de efeitos siacutemiles sob o

aspecto da violecircncia que causam quando praticados

CONCLUSAtildeO

Conforme se fez possiacutevel observar existe uma infinidade de hipoacuteteses a

serem submetidas ao crivo de um nuacutemero limitado de normas Os casos aqui elencados

configuram simples exemplos elaborados com base em duacutevidas concebidas no decorrer

da pouca praacutetica de estudante estagiaacuteria na Justiccedila Federal de Primeira Instacircncia e

voluntaacuteria na Vara de Execuccedilotildees Penais da Justiccedila Estadual

Eacute evidente que o tema natildeo resta esgotado Todavia algumas omissotildees

figuram pelo menos em tese dirimidas graccedilas ao exerciacutecio interpretativo da norma

instituto este que se mostra sempre imperioso recorrer quando se defronta com fatos

natildeo previstos em lei

Importa ressaltar que a interpretaccedilatildeo em sede de Direito Penal e

Processual Penal deveraacute atender natildeo somente a mens legis mas tambeacutem os princiacutepios

insculpidos nestes ramos do direito de modo a prover o alcance da finalidade da norma

e em caso de duacutevida sobre a aplicabilidade de criteacuterios de interpretaccedilatildeo recorrer-se ao

bom senso ou ao preceito que mais se molda aos ideais de justiccedila inseridos em

cada um de noacutes

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DELMANTO Celso Coacutedigo Penal Comentado 3ordf ed Rio de Janeiro

Renovar 1991

FRANCO Alberto Silva SILVA JUacuteNIOR Joseacute BETANHO Luiacutez

Carlos STOCO Rui FEL TRIN Sebastiatildeo Oscar GUASTINI Vicente Celso da

Rocha e NINNO Wilson Coacutedigo Penal e sua interpretaccedilatildeo jurisprudencial 5ordf ed Satildeo

Paulo Revista dos Tribunais 1995

JESUS Damaacutesio E de Direito Penal vol 01 17ordf ed Satildeo Paulo

Saraiva 1993

MIRABETE Julio Fabbrini Execuccedilatildeo Penal 5ordf ed Satildeo Paulo Atlas

3 In Processo Penal p 70

1994

____ Processo Penal 3ordf ed Satildeo Paulo Atlas 1994

A INFORMATIZACcedilAtildeO DAS ELEICcedilOtildeES A EXPERIEcircNCIA DA

JUSTICcedilA ELEITORAL EM NATALRN

Eliane Nascimento de Melo

Acadecircmica do 7ordm Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

1INTRODUCcedilAtildeO

Os meios eletrocircnicos de processamento de dados tecircm provocado uma

verdadeira revoluccedilatildeo neste final de seacuteculo inclusive nos meios juriacutedicos Com a

informaacutetica o processo eleitoral tomou-se ainda mais ceacutelere embora jaacute o fosse em

virtude da exiguumlidade dos prazos e dos institutos processuais que o caracterizam como

a preclusatildeo e perempccedilatildeo conforme observamos na Lei 6490 (Lei das Inelegibilidades)

Art 16 - Os prazos a que se referem os artigos 30 e seguintes desta

Lei Complementar satildeo peremptoacuterios e contiacutenuos e correm em

Secretaria ou Cartoacuterio e a partir da data do encerramento do prazo

para registro de candidatos natildeo se suspendem aos saacutebados

domingos e feriados (grifos nossos)

Pretende-se aqui relatar rapidamente a informatizaccedilatildeo do

processo eleitoral limitando nosso objeto de estudo agrave evoluccedilatildeo da chamada terceira

grande faserdquo (a apuraccedilatildeo) conforme denominaccedilatildeo de Joel Joseacute Cacircndido1 focalizando a

experiecircncia da Justiccedila Eleitoral em NatalRN

Consiste a apuraccedilatildeo segundo aquele autor em abrir as urnas examinar

ceacutedula por ceacutedula qual foi a manifestaccedilatildeo de vontade do eleitor e registrar o conteuacutedo

dos votos sejam nominais nulos ou em branco em documentos apropriadosrdquo2

Ousamos discordar do conceito do grande jurista por acharmos que tal

conceituaccedilatildeo refere-se unicamente agrave contagem dos votos e seu registro nos boletins de

urna e porque contrasta com o Coacutedigo Eleitoral no momento em que este estabelece

que a competecircncia para a apuraccedilatildeo das eleiccedilotildees seraacute a) das Juntas Eleitorais nas Zonas

sob sua jurisdiccedilatildeo b) dos Tribunais Regionais Eleitorais nas eleiccedilotildees para Deputado

Estadual e Federal Senador e Governador do Estado e Vice-Governador e c) do

Tribunal Superior Eleitoral na eleiccedilatildeo para Presidente da Repuacuteblica3 Na verdade o

Tribunal Superior totaliza os resultados que recebe dos Tribunais Regionais e estes

totalizam os resultados provenientes das Juntas Para os fins a que se propotildee este

estudo entendemos a apuraccedilatildeo num sentido amplo abrangendo aleacutem do conceito do

mestre tambeacutem a totalizaccedilatildeo dos votos

Antes de seguirmos adiante esclarecemos que eacute de nosso entendimento

que a finalidade preciacutepua da informatizaccedilatildeo da apuraccedilatildeo eacute coibir a fraude eleitoral que

as paacuteginas da Histoacuteria do Brasil tatildeo escandalosamente registram Um livro inteiro

dedicado ao tema da fraude eleitoral na Histoacuteria brasileira natildeo seria suficiente para

1 Cacircndido Joel Joseacute Direito eleitoral brasileiro p 191

2 Op cit p 191

3 Coacutedigo Eleitoral artigo 158 incisos I a 111

relatar todo o casuiacutesmo com que jaacute foi tratada a opiniatildeo popular Sobremodo correta eacute a

expressatildeo da equipe do TRERJ

Em toda a passagem histoacuterica da Justiccedila eleitoral natildeo haacute um pleito em

que a situaccedilatildeo mais preocupante no antes durante e depois natildeo tenha sido a fraude

Criou-se a Justiccedila Eleitoral por causa da fraude Discute-se fraude haacute sessenta e

quatro anos informatizam-se as eleiccedilotildees por causa das fraudesrdquo4

11 ELEICcedilOtildeES ANTERIORES A 1986

Um dos primeiros problemas que verificamos na apuraccedilatildeo das eleiccedilotildees

anteriores a 1986 foi a extensatildeo do prazo necessaacuterio aos trabalhos de contagem e

totalizaccedilatildeo dos votos O Coacutedigo Eleitoral no artigo 159 fixa o prazo de 10 (dez) dias

para a apuraccedilatildeo e a Lei n0 699682 determina

Art 14 A apuraccedilatildeo poderaacute ser iniciada a partir do recebimento

da primeira urna prolongando-se pelo tempo necessaacuterio

observado o prazo maacuteximo de 10 (dez) dias

Este prazo podia ainda ser prorrogado por mais cinco dias por solicitaccedilatildeo

da Junta No caso da apuraccedilatildeo ser da competecircncia do TRE esse prazo era de 30 dias

podendo ser prorrogado por mais 15

A Junta Apuradora nas citadas eleiccedilotildees era - e ainda o eacute - composta de

um Juiz de Direito e dois ou quatro cidadatildeos idocircneos Assim aleacutem da morosidade no

processamento das informaccedilotildees verifica-se a implicaccedilatildeo de um custo real muito alto

pois aleacutem do fato da Justiccedila Eleitoral depender do resultado da apuraccedilatildeo para o

prosseguimento de suas atividades normais os idocircneos cidadatildeos enquanto a serviccedilo da

Justiccedila satildeo afastados de suas atividades produtivas gerando certa despesa indireta

Vale lembrar em geral eram escolhidos funcionaacuterios de agecircncias bancaacuterias contadores

e operadores de caixa em virtude da maior experiecircncia com planilhas

Mesmo para esses profissionais os mapotildees de totalizaccedilatildeo - totalizadores

progressivos manuais eram um grande problema uma falha na simples leitura de um

uacutenico nuacutemero era capaz de comprometer todo o trabalho executado sem falar das

repetidas e exaustivas conferecircncias ateacute chegar com alguma precisatildeo ao resultado final

O problema mais grave poreacutem era a fraude Ateacute se chegar ao resultado

final muitas pessoas manipulavam os votos jaacute que era preciso contar as ceacutedulas para

cada cargo depois separar os montinhos por candidato Imagine-se a falta de

fiscalizaccedilatildeo ou fiscais cansados de tanto observar a apuraccedilatildeo para aumentar ou

diminuir a votaccedilatildeo de certo candidato nenhum momento seria mais conveniente E eacute

sabido tambeacutem que o recurso contra a apuraccedilatildeo natildeo eacute admitido salvo na hipoacutetese de ter

4 Rio de Janeiro TRE A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico p 70

havido impugnaccedilatildeo perante a Junta contra as nulidades arguumlidas no momento da

apuraccedilatildeo (Coacutedigo Eleitoral artigo 171) Haacute ainda vaacuterios outros momentos em que

verificamos a possibilidade da fraude na proacutepria votaccedilatildeo5 na contagem das ceacutedulas no

preenchimento do BU (Boletim de Uma) entre outros

12 A SECRETARIA DE INFORMAacuteTICA

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte regulamentou a

competecircncia e atribuiccedilotildees da Secretaria de Informaacutetica atraveacutes da Resoluccedilatildeo nO

00391-TRElRN

Em 03 de novembro de 1992 a Secretaria de Informaacutetica passou a

denominar-se Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica e o TRERN atraveacutes da Resoluccedilatildeo

ndeg 01892 aprovou o seu organograma e atribuiccedilotildees Essa Coordenaccedilatildeo Regional de

Informaacutetica foi diretamente responsaacutevel pelo processamento dos dados referentes agraves

eleiccedilotildees de 1992 do alistamento ao caacutelculo do tempo de propaganda eleitoral gratuita e

em Natal tambeacutem pela totalizaccedilatildeo dos votos

A Lei 886894 reorganizou os quadros das Secretarias do Tribunal

Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais O Tribunal Superior Eleitoral

expediu Resoluccedilatildeo regulamentando a Lei e fixando os organogramas das Secretarias

citadas A partir de entatildeo a Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica transformou-se em

Secretaria de Informaacutetica denominaccedilatildeo que traz na atualidade

2PROCEDIMENTOS ELETROcircNICOS NA APURACcedilAtildeO DE

ELEICcedilOtildeES ANTERIORES

21 ELEICcedilOtildeES ENTRE 1986 E 1992

Nas eleiccedilotildees de 1988 1989 e 1990 no Rio Grande do Norte o

processamento dos boletins de urna jaacute fora informatizado sendo realizado por

empresa contratada para este fim - o SERPRO As empresas contratadas em todo o

pais agrave eacutepoca trabalhavam com computadores de grande porte mainframes que

manipulam um nuacutemero extremamente elevado de informaccedilotildees e operam com uma

vasta quantidade de perifeacutericos de entrada e saiacuteda de dados O sistema era instalado

permanecendo ateacute o final do trabalho contratado quando entatildeo os dados eram

transferidos para fitas magneacuteticas

Limitava-se a Secretaria de Informaacutetica do Tribunal Regional Eleitoral

a equipes de conferecircncia Estas equipes conferiam os relatoacuterios da digitaccedilatildeo realizada

5 No jaacute citado A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico encontramos

referecircncia tambeacutem ao chamado voto de carreirinha ou voto formiguinha

Referem-se as expressotildees aos votos preenchidos com a mesma caligrafia eacute o tipo de

fraude em que o componente da mesa receptora ou da Junta Apuradora preenche as ceacutedulas o

que diminui sensivelmente o percentual de votos em branco

pela SERPRO que por sua vez digitava e totalizava os dados constantes dos BUs

No mais a apuraccedilatildeo continuava a se realizar nos moldes das anteriores

22 ELEICcedilOtildeES DE 1992

A partir da Resoluccedilatildeo nordm 00391-TERRN o TRE passou a realizar

diretamente o processamento de todos os documentos relativos agrave atualizaccedilatildeo dos

cadastros eleitorais como FAEs - Formulaacuterios de Alistamento Eleitoral FASEs -

Formulaacuterios de Acompanhamento da Situaccedilatildeo do Eleitor Justificativas Eleitorais e

Canhotos de Votaccedilatildeo remetidos agrave Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica por todas as

Zonas Eleitorais do Estado

Dos primeiros microcomputadores monousuaacuterios que dispunha para

realizar o processamento de tais documentos a Coordenaccedilatildeo Regional de Informaacutetica

passou a operar em 1992 com um sistema de rede composto de um gerenciador do

sistema e de dados e alguns terminais de digitaccedilatildeo

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a contagem dos votos

fosse realizada pelas mesas receptoras nos termos do Coacutedigo Eleitoral artigos 188 a

196 Se tudo corresse conforme planejado a conclusatildeo da apuraccedilatildeo ocorreria no

maacuteximo em apenas trecircs dias

Vaacuterios fatores contribuiacuteram para a imperfeiccedilatildeo do sistema no primeiro

turno o despreparo e o cansaccedilo dos mesaacuterios a falha na fiscalizaccedilatildeo por parte dos

partidos poliacuteticos a proacutepria apresentaccedilatildeo do Boletim de Urna entre outros O grande

calcanhar de Aquiles no entanto foi mesmo o enorme percentual de erro encontrado

nos BUmiddots A totalizaccedilatildeo sofreu um atraso em relaccedilatildeo ao prazo anteriormente previsto e

mesmo assim os trabalhos de apuraccedilatildeo foram encerrados em 07 (sete) de outubro

apenas 04 (quatro) dias apoacutes a data da eleiccedilatildeo e um recorde em relaccedilatildeo agraves eleiccedilotildees

anteriores

O segundo turno eliminou a contagem pelas mesas receptoras e os BU s

foram preenchidos pelas proacuteprias Juntas Apuradoras eliminando-se sensivelmente a

margem de erros de preenchimento

23 ELEICcedilOtildeES DE 1994

Para o pleito de 1994 o Rio Grande do Norte foi dividido em sete poacutelos

de processamento6 e treze zonas isoladas

7 aleacutem das quatro zonas da Capital que

tambeacutem funcionaram isoladamente

As zonas isoladas processavam apenas os dados de cada uma

transmitindo-os via Renpac para a Secretaria de Informaacutetica do TRERN atraveacutes de

linhas discadas atilde exceccedilatildeo das zonas da Capital que como os poacutelos utilizaram linhas

dedicadas

Nos Poacutelos o trabalho exigia mais cuidado em virtude dos mesmos

reunirem em um uacutenico local os BUs provenientes das Juntas Eleitorais de vaacuterias

6 Joatildeo Cacircmara Caicoacute Mossoroacute Currais Novos Pau dos Ferros Accedilu e Nova Cruz

7 Funcionaram isoladamente as seguintes Zonas S 6 8 13 163033 3S 44 SO

S1 S3 68 com sedes nas Comarcas de Macalba Cearaacute-Mirim Satildeo Paulo do Potengi Santo AntOnio Santa Cruz Macau Mossor6 Apodi Monte Alegre Pamamirim Satildeo Gonccedilalo do Amarante Tangaraacute e Santa Cruz respectivamente

zonas No poacutelo de Joatildeo Cacircmara por exemplo foram processados os dados de oito

Zonas 10a

- Joatildeo Cacircmara 14ordf -Touros 17ordf - Lajes 19a

- Satildeo Tomeacute 46a

- Taipu 52a

-

Satildeo Bento do Norte 48a - Pedro Avelino e 62ordf - Poccedilo Branco num total de 438 seccedilotildees

As Juntas Apuradoras de cada Zona Eleitoral funcionaram normalmente em suas sedes

O transporte dos BUs foi inteiramente efetuado pela Empresa Brasileira de Correios e

Teleacutegrafos que tinha um roteiro e horaacuterios fixos para passar em cada Zona Os BUs

vinham lacrados em envelopes sedex Recebidos no poacutelo eram conferidos digitados e

novamente conferidos Encerrada corretamente a digitaccedilatildeo do BU era feita a

transmissatildeo para o TRE que totalizava as seccedilotildees do Estado e transmitia os dados para o

TSE Natildeo eacute preciso dizer que a distacircncia entre as Zonas era tal que a possibilidade de

troca ou adulteraccedilatildeo do BU natildeo estava totalmente descartada e os trabalhos dos

funcionaacuterios dos Correios deve ser lembrado pela idoneidade com que foi efetuado

especialmente no Poacutelo de Joatildeo Cacircmara onde tivemos oportunidade de trabalhar durante

as citadas eleiccedilotildees

O escrutiacutenio8 foi o tradicional e a apuraccedilatildeo foi parcialmente realizada

nas Juntas onde foram contados os votos e preenchidos os BUs O processamento

destes assemelhou-se ao de 1992 em Natal com a diferenccedila de ter sido utilizado em

todas as Zonas Eleitorais do Estado Aliaacutes em todo o Brasil com a totalizaccedilatildeo dos

votos para Presidente da Repuacuteblica realizada pelo TSE

Natildeo podemos deixar de mencionar a seguranccedila do sistema que se

utilizava de senhas pessoais imunizaccedilatildeo de todos os micros contra viacuterus criptografia

para armazenamento e transmissatildeo de dados e armazenamento de senhas rotinas de

senha e contra senha nas etapas de transmissatildeo backup automaacutetico e recursos de

auditoria9

Com um sistema assim a fraude na digitaccedilatildeo e totalizaccedilatildeo estava

totalmente abolida posto que o relatoacuterio da digitaccedilatildeo de cada BU tinha de coincidir

com o BU divulgado pela Junta Fraude mesmo somente tomou-se possiacutevel na recepccedilatildeo

dos votos e na apuraccedilatildeo conforme foi detectada no Rio de Janeiro por modo tatildeo

intenso que toda a eleiccedilatildeo proporcional do Estado foi anulada encontrando-se

caracterizado

entre outros tipos de fraude o voto de carreirinha10

3 A INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO ELEITORAL NO PLEITO

DE 1996

A Lei 910095 nos artigos 18 a 20 trata do Sistema Eletrocircnico de

Votaccedilatildeo e Apuraccedilatildeo Esta foi a grande novidade das eleiccedilotildees de 1996 a urna

eletrocircnica11

Agora natildeo somente a apuraccedilatildeo foi eletrocircnica mas o escrutiacutenio tambeacutem

8 Adotamos o conceito de escrutiacutenio de Joseacute Afonso da Silva no seu Curso de direito

constitucional positivo p 309 que diferencia sufraacutegio voto e escrutiacutenio entendendo este

uacuteltimo como o modo de exerciacutecio do voto Referimo-nos portanto agrave votaccedilatildeo 9 Conforme treinamento efetuado pela M6dulo empresa responsaacutevel pela seguranccedila do sistema

utilizado 10

Ver nota ao item 1 1 onde trata de fraude na votaccedilatildeo 11

Enquanto pesquisaacutevamos para a elaboraccedilao deste texto ficamos surpresos quando

descobrimos que jaacute houve em 1932 uma maacutequina de votar que tornava o voto rigorosamente

secreto e que s6 nao foi utilizada devido ao seu elevado custo

naqueles locais onde autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral na conformidade do

texto legal

Art 18 O Tribunal Superior Eleitoral poderaacute autorizar os

Tribunais Regionais a utilizarem em uma ou mais Zonas Eleitorais

o sistema eletrocircnico de votaccedilatildeo e apuraccedilatildeo

sect 10 A autorizaccedilatildeo poderaacute se referir apenas agrave apuraccedilatildeo

Vaacutelida eacute a liccedilatildeo de Joel Joseacute Cacircndido A lei trata de uma faculdade

mesmo porque natildeo poderia obrigar as Zonas Eleitorais a utilizarem o sistema eletrocircnico

pois precisava preocupar-se tambeacutem com aquelas afastadas sem possibilidade de

implantaccedilatildeo da nova tecnologia Tal exigecircncia pelo extremismo tornaria impraticaacutevel o

processo democraacutetico eleitoral

Regulamentando a lei citada atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg 19515 de

180496 o Tribunal Superior Eleitoral determinou

Art 5deg Seraacute utilizado o Sistema Eletrocircnico de Votaccedilatildeo nas capitais e

nos municiacutepios com mais de duzentos mil eleitores tomando-se como

referecircncia o eleitorado definido para as eleiccedilotildees gerais de 1994 (Lei

nordm 910095 art 18 caput)

Da adequada utilizaccedilatildeo da votaccedilatildeo informatizada dependeu o resultado

final do processo de apuraccedilatildeo dos votos nestas eleiccedilotildees

O procedimento era muito simples A uma era liberada pelo presidente

da mesa receptora atraveacutes de um microterminal posteriormente agrave identificaccedilatildeo do

eleitor Este na cabina deveria digitar e confirmar os votos para prefeito e vereador

Apoacutes confirmado o voto fosse ele vaacutelido em branco ou nulo a uma o imprimiria e a

ceacutedula seria depositada pela proacutepria maacutequina num recipiente a ela acoplado Isto

satisfaria uma dupla necessidade asseguraria o sigilo do voto posto que as ceacutedulasrdquo

caem da maacutequina sendo depositadas aleatoriamente e permitiria que se recontassem os

votos no caso de impugnaccedilatildeo por parte de algum partido poliacutetico coligaccedilatildeo ou

candidato

Vale aqui chamar a atenccedilatildeo para a importacircncia da fiscalizaccedilatildeo realizada

pelos partidos e coligaccedilotildees tanto para assegurar o sigilo do voto como a correta

execuccedilatildeo das tarefas da mesa receptora Considerando-se a situaccedilatildeo de ausecircncia de

fiscalizaccedilatildeo em uma seccedilatildeo eleitoral mais distante e a possibilidade de os componentes

da mesa natildeo serem pessoas tatildeo idocircneas como exige o trabalho que realizam poderiacuteamos

estar diante de um caso em que natildeo comparecendo o eleitor e de posse do nuacutemero do

tiacutetulo que consta da folha de votaccedilatildeo os componentes da mesa receptora poderiam

muito bem liberar a urna e entrar com os votos que Ihes fossem convenientes Quem

iria conferir uma a uma cada assinatura da folha de votaccedilatildeo A participaccedilatildeo dos

partidos foi aleacutem de efetiva uma das vigas para a idoneidade do pleito testemunhado

Natildeo existe um sistema que natildeo possa ser burlado mas eacute preciso que se

afaste totalmente o fantasma da fraude para que se possa garantir a continuidade do

processo democraacutetico pois a estabilidade do Estado de Direito depende de eleiccedilotildees cujo

resultado reflita a vontade da maioria Lembramos que a finalidade mor da urna

eletrocircnica eacute assegurar natildeo apenas a celeridade mas tambeacutem a lisura dos resultados

Temos de reconhecer poreacutem a enormidade do avanccedilo ocasionado pela

utilizaccedilatildeo da urna eletrocircnica e o reflexo disto na apuraccedilatildeo foi uma questatildeo de poucas

horas necessaacuterias para permitir que os dados das diversas urnas fossem reunidos e

certificar-se de que houve o cumprimento das formalidades exigidas pela Lei e pelas

Instruccedilotildees do TSE e tivemos o resultado final

Nos demais municiacutepios do Rio Grande do Norte a votaccedilatildeo seguiu agrave

maneira tradicional A apuraccedilatildeo realizou-se de modo semelhante ao pleito de 1994 os

votos contados pelas Juntas Eleitorais que preenchiam os boletins de urna e os

encaminhavam para processamento Natildeo houve os poacutelos que observamos em 1994

Desta vez cada Zona de per si foi responsaacutevel pela apuraccedilatildeo eletrocircnica com o

suporte dado pelo Tribunal Regional Eleitoral Eacute que apoacutes o pleito de 1994 todo o

equipamento utilizado pelos poacutelos foi distribuiacutedo pelas Zonas Eleitorais e desde entatildeo

foi feito um trabalho de automaccedilatildeo dos serviccedilos dos Cartoacuterios Eleitorais como Vg a

digitaccedilatildeo dos FAEs e FASEs por funcionaacuterios de cada Cartoacuterio

4 CONCLUSAtildeO

O sistema eletrocircnico de votaccedilatildeo e apuraccedilatildeo foi muito questionado

Normal que o fosse Os mais jovens estatildeo acostumados a avanccedilos raacutepidos o mesmo

natildeo se pode dizer dos mais vividos Aleacutem disso por tratar-se de experiecircncia pioneira

na maior parte dos Estados grande era a ansiedade por saber se iria mesmo dar certo

Ateacute que ponto ele asseguraria a idoneidade da eleiccedilatildeo

Acredito que havendo uma fiscalizaccedilatildeo eficiente natildeo haacute o que se

questionar quanto agrave lisura do pleito havendo a utilizaccedilatildeo da urna eletrocircnica no modelo

determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral Uma preocupaccedilatildeo poreacutem era geral por

representar um avanccedilo tatildeo raacutepido seraacute que noacutes jaacute estaacutevamos preparados para usaacute-Ia

Os eleitores analfabetos natildeo seriam mais facilmente manipulados

Os nossos legisladores esqueceram da grande maioria analfabeta do

nosso pais e por isso ensinar os eleitores a usar a urna foi um trabalho por demais

preocupante Alguns funcionaacuterios da Justiccedila Eleitoral sentiram mesmo dificuldade em

ensinar aos eleitores como utilizar a urna apesar da enorme campanha realizada pelo

TSE Agrave primeira vista os eleitores tinham medo do equipamento principalmente os

analfabetos e os mais idosos Vencido o medo outro passo largo era manuseaacute-Ia

Encontramos uma eleitora que tinha duacutevidas quanto ao isolamento eleacutetrico do

equipamento Achava que levaria choques se errasse na hora de votar Certamente que

haacute extrema facilidade no uso da urna eletrocircnica especialmente porque o teclado

equumlivale ao de um telefone Usaacute-Ia eacute tatildeo faacutecil quanto operar uma maacutequina de saldos e

extratos bancaacuterios Os nossos parlamentares esqueceram apenas que natildeo eacute muito grande

o nuacutemero de eleitores que possuem conta bancaacuteria e mesmo entre os que as possuem

relevante eacute o nuacutemero dos que necessitam de orientaccedilatildeo dos funcionaacuterios das agecircncias

cada vez que precisam operaacute-Ias

Outro ponto trouxe preocupaccedilatildeo o voto dos eleitores cegos Pensando

neles o teclado da uma possui os signos em braiIIe abaixo de cada tecla bem como o

ponto de identificaccedilatildeo da tecla ndeg 5 de forma que o eleitor cego soacute precisava localizar

os siacutembolos desejados e tocar as teclas correspondentes Mas as maacutequinas variam

quanto agrave sensibilidade de forma que os teclados de algumas satildeo tatildeo sensiacuteveis que o

miacutenimo toque digita vaacuterios nuacutemeros enquanto o de outras necessita de pressatildeo bem

maior

Impossibilitado de ver o que estaacute digitando o eleitor cego desde que

tenha treinado bastante pode ateacute acertar a sequumlecircncia desejada das teclas mas natildeo pode

ter certeza de que os nuacutemeros recebidos pela uma foram os que ele tinha a intenccedilatildeo de

digitar

Bem sabemos que os eleitores cegos satildeo em nuacutemero bastante reduzido e

eacute por este motivo que o Coacutedigo Eleitoral prevecirc uma seccedilatildeo especial para cegos

alfabetizados pelo sistema braille com o fim de garantir-Ihes a participaccedilatildeo no processo

eleitoral e principalmente o segredo do voto Em virtude de serem tatildeo poucos natildeo se

deve chegar ao extremo de achar que tais votos natildeo fazem diferenccedila como ouvimos

outro dia de certo cidadatildeo

O que se quer garantir a esses eleitores eacute o direito constitucional que tecircm

de exercer o sufraacutegio ativo natildeo importa quantos satildeo eles Importa que satildeo sujeitos de

direitos e devem exercecirc-Ios Para resolver a questatildeo apontamos duas soluccedilotildees tomar os

votos dos cegos da forma tradicional utilizando-se a velha ceacutedula eleitoral ou anexar

fones de ouvido agrave urna Neste uacuteltimo caso o cego os utilizaria para certificar-se de que

teclou os nuacutemeros desejados e realizou corretamente as operaccedilotildees Achamos que a

uacuteltima soluccedilatildeo seria a mais adequada

Em todas as eleiccedilotildees satildeo computados votos em branco Alguns

eleitores por um motivo qualquer depositavam a ceacutedula sem preenchimento Na sua

simplicidade deviam acreditar que natildeo digitando nuacutemero algum nestas eleiccedilotildees ou

simplesmente natildeo confirmando nada estariam em situaccedilatildeo equivalente agravequela O TSE

resolveu entatildeo prever uma forma de encerrar a votaccedilatildeo quando o eleitor demorasse

por demais a votar ou decidisse natildeo votar Tratava-se da suspensatildeo do voto o

presidente da mesa receptora digitaria uma senha que suspenderia o voto anulando-o

Talvez a mais profunda criacutetica que temos a fazer ao uso da uma eletrocircnica seja com

relaccedilatildeo a este procedimento Ora trata-se ao nosso ver de profunda

inconstitucionalidade pois o voto eacute direito previsto na Carta Magna e todos no pleno

exerciacutecio dos seus direitos poliacuteticos natildeo soacute podem como devem exercecirc-Io Temos que

o voto nulo no conceito de Joseacute Afonso da Silva com quem concordamos natildeo eacute voto

O presidente da seccedilatildeo ao anular o voto do eleitor agrediria o sistema democraacutetico e

ainda contribuiria para diminuir o quociente eleitoral aleacutem de cometer um crime

conforme o Coacutedigo Eleitoral

Art 297 - Impedir ou embaraccedilar o exerciacutecio do sufraacutegio

Pena _ detenccedilatildeo ateacute seis meses e pagamento de 60 a 90 dias-multa

Mas a tecnologia natildeo favoreceu as pretensotildees da Corte e na fase de

testes percebeu-se que uma falha da programaccedilatildeo travava o sistema cada vez que a

senha de suspensatildeo era usada e no uacuteltimo instante o TSE proibiu o uso das senhas

aliaacutes uacutenica para todo o Brasil

Com isto outro problema surgia Se o presidente da seccedilatildeo natildeo poderia

encerrar a votaccedilatildeo do eleitor que deixou a cabina sem votar como fazer para liberar a

uma o que soacute ocorria com a confirmaccedilatildeo do voto para vereador O eleitor teria

necessariamente que votar e a mesa teria que ter redobrado cuidado em verificar que a

urna

tinha sido liberada

Temos ouvido testemunhos vaacuterios e ateacute presenciamos a atitude tomada

quando natildeo se conseguia convencer o eleitor a confirmar o voto o presidente da seccedilatildeo

reunia os fiscais de partidos presentes e um outro componente da mesa e juntos iam ateacute

a cabina de votaccedilatildeo digitavam 99999 e confirmavam anulando o segundo voto do

eleitor Achamos que tal atitude equumlivale ao uso da senha e tem os mesmos efeitos

trazendo duas diferenccedilas naquela a responsabilidade era do presidente da seccedilatildeo e nesta

satildeo responsaacuteveis todos os componentes da mesa receptora e os fiscais de partido

presentes no momento naquela o crime seria o do artigo 297 nesta seria conforme o

caso concreto ou o previsto no artigo 309 ou o do artigo 312 que assim versam

Art 309 ndash Vota tentar votar mais de uma vez em lugar de outrem

Pena - reclusatildeo ateacute trecircs anos

Art 312 - Violar ou tentar violar o sigilo do voto

Pena ndash detenccedilatildeo ateacute dois anosrdquo12

Natildeo seria o caso do Tribunal Superior Eleitoral rever o sistema utilizado

e valer-se de um recurso disponiacutevel nos caixas eletrocircnicos de qualquer banco ou numa

ligaccedilatildeo telefocircnica o limite de tempo Se o eleitor estaacute digitando ou confirmando

nenhum problema Se nada fosse digitado apoacutes algum tempo a proacutepria maacutequina

emitiria o confirma e encerraria a votaccedilatildeo do eleitor registrando em branco ou nulo

ou vaacutelido conforme o que houvesse sido digitado pelo eleitor

Por fim indagaacutevamos se os mesaacuterios saberiam operar com seguranccedila a

uma eletrocircnica Como se sabe as eleiccedilotildees de 1992 trouxeram o inconveniente de em

seu primeiro turno obrigarem agrave contagem dos votos de cada urna e o consequumlente

preenchimento dos BUs pelas mesas receptoras nas proacuteprias dependecircncias das seccedilotildees

eleitorais A experiecircncia por negativa que se mostrou natildeo foi repetida nem no segundo

turno daquelas eleiccedilotildees nem nas eleiccedilotildees de 1994

Nestas eleiccedilotildees voltou a haver a previsatildeo de emissatildeo dos boletins de

urna pelas mesas receptoras tanto onde houve votaccedilatildeo eletrocircnica como onde esta natildeo

ocorreu desde que no uacuteltimo caso houvesse a autorizaccedilatildeo do Tribunal Superior

Eleitoral

Onde houve votaccedilatildeo eletrocircnica a participaccedilatildeo das mesas receptoras foi

decisiva Basta considerar a competecircncia do Presidente da Mesa Receptora prevista no

artigo 15 da Resoluccedilatildeo TSE n0 19515 de 18 de abril de 1996 como iniciar a votaccedilatildeo

com emissatildeo da zereacutesima e encerraacute-Ia imprimindo o boletim de uma e gerando o

disquete de dados Aqueles que tem a vivecircncia dos Cartoacuterios Eleitorais sabem como eacute

difiacutecil encontrar eleitores com certo grau de instruccedilatildeo para compor as mesas Eacute comum

encontrarmos mesaacuterios que nem sequer concluiacuteram a quarta seacuterie do primeiro grau

Seraacute que essas pessoas teriam tranquumlilidade para operar as urnas Saberiam pelo menos

emitir as zereacutesimas Esta eacute um relatoacuterio inicial impresso pelo equipamento e que

cumpre dupla finalidade informar quantidade zero de votos na urna para todos os

candidatos e inicializar o sistema de votaccedilatildeo Um dos funcionaacuterios envolvidos nos

trabalhos testemunhou um presidente de seccedilatildeo tatildeo nervoso que natildeo conseguia entender

12

Como nosso tema Mo trata de crimes eleitorais remetemos o leitor ao livro de Joel Joseacute

Candido cuja citaccedilatildeo encontra-se no item 5 (referecircncias bibliograacuteficas)

a instruccedilatildeo da maacutequina de confirmar a emissatildeo da zereacutesima Dirigiu-se ao primeiro

quase histeacuterico afirmando que a maacutequina havia quebrado

De qualquer forma qualquer travamento da urna durante a votaccedilatildeo

ensejaria a transformaccedilatildeo do sistema eletrocircnico em tradicional com a urna plaacutestica

continuando acoplada ao equipamento e desde que houvesse votado mais de um eleitor

Era inclusive uma das providecircncias para assegurar o sigilo do voto do primeiro eleitor

que soacute poderia sair da seccedilatildeo apoacutes o voto do segundo eleitor

Vaacuterios procedimentos de emergecircncia foram previstos como a utilizaccedilatildeo

de baterias externas caso houvesse falta de energia Algumas umas precisaram utilizar-

se destes procedimentos de emergecircncia Verificamos tambeacutem que haacute uma necessidade

de aprimoramento do equipamento Talvez elas como uma maacutequina xerox natildeo tivessem

durabilidade para aguumlentar as ruas como aguumlentaram por meses na divulgaccedilatildeo do voto

eletrocircnico e na hora que natildeo deveria o microterminal piscava os leds sem ter

problemas na energia natildeo atendia agraves consultas ou natildeo liberava a uma e neste momento

a votaccedilatildeo tinha de ser convertida em manual

Nos lugares em que autorizada pelo TSE poderia haver contagem dos

votos pela mesa receptora Desta vez poreacutem tomou-se a precauccedilatildeo de exigir que fosse

feita na presenccedila da Junta Eleitoral (Resoluccedilatildeo TSE ndeg 19540 de 030596 artigo 51)

Assim o procedimento de votaccedilatildeo correria normalmente e a mesa deveria deslocar-se

para o local designado e apenas laacute chegando sob supervisatildeo da Junta Eleitoral

procederia a contagem dos votos preenchendo o boletim de uma Seguir-se-ia a revisatildeo

aritmeacutetica do boletim pela Junta que deveria abrir a urna e conferir os votos caso a

contagem da mesa natildeo permitisse o fechamento do BU (Coacutedigo Eleitoral artigos 189 a

195) Natildeo houve registro deste procedimento em Natal

Eacute forccediloso reconhecer no entanto como foi largo o passo dado para a

lisura do processo eleitoral como o define Joel Joseacute Cacircndido Um bom exemplo disto eacute

a determinaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo do TSE ndeg 19541 de 030596 contida no paraacutegrafo

uacutenico do artigo 13 que os dados utilizados no processamento eletrocircnico tatildeo logo este

seja concluiacutedo sejam colocados agrave disposiccedilatildeo dos partidos atraveacutes da INTERNET para

permitir possam eles conferir os dados processados com as coacutepias de que disporatildeo dos

BUs

Ainda estamos aprendendo a caminhar democraticamente mas os

casos de fraude como ocorreu no Rio de Janeiro em 1994 satildeo coibidos com mais

firmeza Os cidadatildeos jaacute se sentem mais agrave vontade para falar de poliacutetica partidaacuteria e para

dar suas opiniotildees ao mesmo tempo em que confiam mais nos resultados eleitorais Os

eleitores tecircm sede de participaccedilatildeo poliacutetica Natildeo temos duacutevidas que compareceriam agraves

urnas mesmo que o voto fosse facultativo Assim natildeo fosse natildeo veriacuteamos idosos

amparados em cadeiras de rodas fazendo questatildeo de participar quando haacute muito jaacute natildeo

precisam mais fazecirc-Io Mais do que os jovens eles sabem qual a sensaccedilatildeo de natildeo poder

opinar Eles viveram o periacuteodo ditatorial enquanto a juventude apenas leu sobre o

assunto

A informaacutetica tem invadido todos os espaccedilos sendo extremamente uacutetil agrave

democracia Pudemos certificar-nos disto no pleito que testemunhamos Com certeza

ocorreram falhas posto que foram homens que o elaboraram mas eacute certo tambeacutem que

ele foi mais uma etapa no aprendizado do Brasil rumo ao amadurecimento democraacutetico

Em 1994 o presidente do Tribunal Superior Eleitoral na eacutepoca Ministro Sepuacutelveda

Pertence declarou que a apuraccedilatildeo eletrocircnica era o funeral da fraude eleitoral Cremos

que estava certo Com base nisto podemos afirmar com convicccedilatildeo que se a apuraccedilatildeo

eletrocircnica era o funeral estamos assistindo ao sepultamento da fraude e finalmente

chegando ao tatildeo sonhado respeito pela vontade popular que caracteriza a democracia

7 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BRASIL Tribunal Superior Eleitoral Eleiccedilotildees municipais 1996

legislaccedilatildeo consolidada 2ed Brasiacutelia Secretaria de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo do

TSE 1996

BRASIL Legislaccedilatildeo eleitoral e partidaacuteria 10ed Brasiacutelia Senado

Federal Subsecretaria de Ediccedilotildees Teacutecnicas 1994

CAcircNDIDO Joel Joseacute Direito eleitoral brasileiro 6ed rev atual e

ampl Bauru EDIPRO1996

GODOY Mayr Eleiccedilotildees municipais comentaacuterios agraves disposiccedilotildees legais

que incidem no pleito local Satildeo Paulo LEUD 1996 P 152-159

MANUAL de legislaccedilatildeo

eleitoral e partidaacuteria Fortaleza TRECE Assembleacuteia Legislativa do Estado do Cearaacute

1996

RIBEIRO Faacutevila Direito Eleitoral 4ed Rio de Janeiro Forense 1996

RIO DE JANEIRO Tribunal Regional Eleitoral Projeto Memoacuteria

Eleitoral A Justiccedila Eleitoral de 1932 ao Voto Eletrocircnico Edvaldo Ramos e Sousa

Coordenador Rio de Janeiro Infobook 1996

SILVA De Plaacutecido e Vocabulaacuterio juriacutedico 3ed Rio de Janeiro

Forense 1993

SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 8ed

rev ampl Satildeo Paulo Malheiros 1992

TELLES Ney Moura Direito eleitoral comentaacuterios agrave Lei 9100 de 29

de setembro de 1995 Resoluccedilotildees e Jurisprudecircncia do Tribunal Superior Eleitoral

Leme Editora de Direito 1996 P67-136

DO NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL E SUAS

IMPLICACcedilOtildeES

EVERTON AMARAL DE ARAUacuteJO

Acadecircmico do 7deg periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

1 INTRODUCcedilAtildeO

O estudo do nome civil das pessoas naturais sempre proporciona

interesse haja vista se tratar de tema que diz respeito a toda sociedade A nossa atenccedilatildeo

se voltaraacute especificamente agrave pessoa natural do direito civil Este estudo comportaraacute duas

anaacutelises sobremaneira interligadas uma sob o aspecto individualista do nome e outra

vislumbrada sob o ponto de vista puacuteblico do nome

Natildeo se buscaraacute tecer minuciosamente todo o tema uma vez que eacute

bastante amplo Analisaremos o que haacute de mais interessante e atualizado no que se

refere a este assunto sobretudo voltados aos aspectos particular e puacuteblico que o

envolvem Para isso partiremos desde as configuraccedilotildees espacial e temporal deste tema

passando pelo seu exame teoacuterico para rematar com a praticidade que lhe eacute peculiar

o nome civil das pessoas naturais pela sua riqueza de conteuacutedo merece

ser apresentado com tudo que o envolve poreacutem apenas buscaremos expor o suficiente agrave

elucidaccedilatildeo das nossas curiosidades e ao suprimento do que desconhecemos quanto ao

que haacute de relevante deste assunto tudo isso relacionado aos dispositivos de direito que

regulamentam este tema

2 DA NOTIacuteCIA HISTOacuteRICA E GEOGRAacuteFICA

Eacute sabido que a busca pela individualizaccedilatildeo das pessoas inicia-se pela

identificaccedilatildeo destas e o seu nome eacute um dos sinais exteriores que melhor as qualificam

juntamente com os seus estados e domiciacutelio

As diversas culturas no tempo e no espaccedilo manifestaram e ainda hoje

apresentam suas especificidades quanto aos nomes dos seus indiviacuteduos Vale expor

algumas das mais curiosas

Dos ensinamentos de Washington de Barros Monteiro1 verifica-se que

entre os gregos o nome era uacutenico e individual e que natildeo se transmitiam aos seus

descendentes como Soacutecrates e Platatildeo Inicialmente era tambeacutem uacutenico para os hebreus

posteriormente passaram os indiviacuteduos a ser identificados pelos proacuteprios nomes ligados

aos dos seus ascendentes como Joseacute Bar-Jacoacute ou seja Joseacute filho de Jacoacute ou ainda

Barrabaacutes isto eacute filho de Abaacutes que foi identificado apenas pela filiaccedilatildeo visto que o seu

primeiro nome se perdera no tempo Esta forma ainda hoje se constata entre os aacuterabes

por exemplo Ali Ben Mustafaacute ou seja Ali filho de Mustafaacute

Entre os romanos havia uma certa complexidade uma vez que os nomes

se compunham pela identificaccedilatildeo da gens e do nome proacuteprio de cada indiviacuteduo em que

depois ainda veio a se acrescentar - especificamente nos homens - o cognome Com o

tempo em funccedilatildeo das circunstacircncias histoacutericas surgiram novas modificaccedilotildees

Passaram a ser utilizados sobrenomes inspirados nas qualidades nos sinais ou nas

profissotildees individuais e tambeacutem em animais ou plantas Satildeo exemplos Valente

Branco Monteiro Carvalho etc Ou ainda utilizavam a identificaccedilatildeo paterna como

Afonso Henriques isto eacute Afonso filho de Henrique

1 In Curso de Direito Civil Parte Geral 31ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 1993 paacutegs 87 e 88

Os russos utilizam uma terminaccedilatildeo apropriada para os homens e outra

para as mulheres vitch ou vicz e ovna respectivamente Por exemplo Alexandre

Markovicz ou seja Alexandre filho de Marcos ou Naacutedia Petrova isto eacute Naacutedia filha

de Pedro Jaacute para os romenos a terminaccedilatildeo eacute esco assim se verifica com Lupesco ou

Popesco E para os ingleses eacute son por exemplo Stevenson

Enfim houve uma grande diversidade de maneiras utilizadas para se

designar os nomes dos indiviacuteduos das diversas culturas atraveacutes dos tempos em diversas

regiotildees estes satildeo apenas alguns exemplos lecionados por aquele professor

Entre noacutes modernamente o nome eacute composto e na linguagem popular

eacute reduzido ao prenome isto eacute ao nome proacuteprio que eacute dado ao indiviacuteduo por ocasiatildeo do

nascimento como Paulo Maria etc Poreacutem para a doutrina paacutetria a compreensatildeo deve

ser mais ampla assim o nome eacute constituiacutedo pelo prenome e pelo patroniacutemico e ainda

em alguns casos pelos agnomes e pelas partiacuteculas de do das etc

3 DOS ELEMENTOS COMPONENTES DO NOME CIVIL

O nome civil compotildee-se geralmente do prenome e do patroniacutemico ou

apelido de famiacutelia podendo ainda se apresentar ocasionalmente o agnome ou as

partiacuteculas de da das de Los etc

O prenome eacute a designaccedilatildeo proacutepria de cada indiviacuteduo que eacute escolhida

quase livremente pelos responsaacuteveis da pessoa Dissemos quase livremente porque se

devem observar algumas restriccedilotildees que exporemos mais adiante Pois bem o prenome

pode ser simples como Joatildeo ou composto como Joatildeo Alberto ou Paula Maria Regina

Jaacute o patroniacutemico comumente chamado de sobrenome eacute o elemento

caracterizador da famiacutelia da qual proveacutem o indiviacuteduo eacute o sinal de sua descendecircncia

filiaccedilatildeo estirpe e em alguns casos ateacute da procedecircncia regional Enfim eacute o elemento

adquirido pela pessoa por direito logo que nasce Pode ser simples como Silva ou

composto como Silva Costa ou Barros Silva Costa

Os agnomes e as partiacuteculas jaacute mencionadas satildeo componentes do nome

tambeacutem todavia satildeo encontrados em apenas alguns desses Os agnomes satildeo sinais

distintivos que se acrescentam ao nome completo da pessoa de forma a diferenciaacute-Ia de

uma outra Satildeo exemplos de agnomes Neto Filho Juacutenior etc As partiacuteculas (de da

dos de La etc) tambeacutem satildeo integrantes do nome das pessoas como em Joseacute da Silva

Maria das Dores ou Antocircnio de Los Santos

Haacute outros elementos por alguns chamados de secundaacuterios que natildeo satildeo

reconhecidos pelo direito paacutetrio como componentes do nome satildeo eles os tiacutetulos

honoriacuteficos como Conde ou Duque os tiacutetulos eclesiaacutesticos como Cardeal ou Padre os

qualificativos de identidade oficial como Senador ou Juiz e os tiacutetulos acadecircmicos e

cientiacuteficos como Mestre ou Doutor2

4 DA NATUREZA JURIacuteDICA DO NOME CIVIL

A doutrina natildeo eacute uniacutessona quanto agrave natureza juriacutedica do nome Haacute quem

o qualifique como um instituto de direito puacuteblico como direito subjetivo do indiviacuteduo

2 In Diniz Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 1ordm vol 7ordf ed Satildeo Paulo Saraiva

1989 paacuteg 100

como instituiccedilatildeo de poliacutecia civil como propriedade sui generis etc

Nos afiliamos agrave teoria ecleacutetica que funde o dever social com o direito

subjetivo sendo assim um direito e um dever Pois uma vez que o indiviacuteduo tem a

obrigaccedilatildeo de usar conservar e manter o nome sendo um ocircnus pessoal em favor da

sociedade em contrapartida o Direito deve tutelar o nome da pessoa impedindo o seu

uso indevido por outrem e protegendo a faculdade individual de usaacute-Io

5 DA IMPORTAcircNCIA DO NOME CIVIL

O nome civil da pessoa natural eacute o sinal exterior individualizador e

qualificador desta Juntamente com o estado e o domiciacutelio o nome eacute elemento de

reconhecimento e identificaccedilatildeo da pessoa a niacutevel de sociedade

Haacute pois dois aspectos relevantes a serem observados no estudo do nome

A questatildeo do direito individual da pessoa em possuir um nome e por este ser

designada e haacute tambeacutem a relevacircncia desta qualificaccedilatildeo no seio da sociedade

Ora se as pessoas natildeo possuiacutessem nomes ou se estes fossem confusos

iguais ou inconvenientes certamente haveria graves prejuiacutezos no acircmbito das relaccedilotildees

juriacutedicas Natildeo se saberia ao certo com quem se contratou ou quem eacute o seu devedor ou

como se dirigir aos demais membros da comunidade de forma que natildeo restassem

duacutevidas ou erros

Eacute assim um tema bastante interessante e que aguccedila a nossa curiosidade

uma vez que todos possuiacutemos um nome e eacute geralmente atraveacutes deste roacutetulo que

primeiro nos apresentamos As pessoas carregam-no durante toda a vida inclusive apoacutes

a morte Pois homenageiam-se os indiviacuteduos com a aposiccedilatildeo dos seus nomes a ruas

bibliotecas ginaacutesios esportivos etc Portanto mesmo apoacutes o falecimento remoto da

pessoa eacute possiacutevel identificaacute-Ia atraveacutes do seu nome

Desta forma o Legislador natildeo poderia ignoraacute-lo Tanto eacute assim que

logo em seu artigo 12 o Coacutedigo Civil brasileiro impotildee que sejam inscritos em registro

puacuteblico entre outros fatos juriacutedicos os nascimentos Vale mencionar o que dispotildee a

Lei ndeg 601573 a chamada Lei dos Registros Puacuteblicos quanto ao registro do nome

civil da pessoa natural Tal Lei preceitua em seu artigo 54 4deg que o assento de

nascimento deveraacute conter o nome e o prenome que forem postos agrave crianccedila

Entendemos que o texto legal tenha se referido ao prenome e ao patroniacutemico da pessoa

Natildeo se admite que a pessoa natildeo tenha nome tanto eacute assim que o Legislador menciona

imposiccedilotildees ao Oficial do Registro basta verificar o caput do artigo 55 da referida Lei

in verbis

Quando o declarante natildeo indicar o nome completo o oficial lanccedilaraacute

adiante do prenome escolhido o nome do pai e na falta o da matildee se

forem conhecidos e natildeo o impedir a condiccedilatildeo de ilegitimidade salvo

o reconhecimento no ato

Eacute evidente que tal dispositivo legal deve ser interpretado agrave luz da

Constituiccedilatildeo que natildeo mais admite distinccedilotildees ou qualificaccedilotildees entre os filhos Quando

formos tratar da modificaccedilatildeo do nome em virtude do reconhecimento de paternidade e

da adoccedilatildeo nos aprofundaremos nesta questatildeo

6 DA ALTERACcedilAtildeO DO NOME COM O ALCANCE DA

MAIORIDADE CIVIL

A Lei ndeg 601573 a chamada Lei dos Registros Puacuteblicos disciplina as

possibilidades de modificaccedilatildeo do nome civil Iniciaremos por estudar a primeira que eacute

a mais simples e ao mesmo tempo acreditamos ser a mais desconhecida de todas

Prescreve o artigo 56 da referida Lei in verbis

O interessado no primeiro ano apoacutes ter atingido a maioridade civil

poderaacute pessoalmente ou por procurador bastante alterar o nome

desde que natildeo prejudique os apelidos de familia averbando-se a

alteraccedilatildeo que seraacute publicada pela imprensa

Assim ao completar vinte e um (21) anos de idade - o que corresponde agrave

nossa maioridade civil nos termos do artigo 9deg caput do Coacutedigo Civil brasileiro - a

pessoa interessada poderaacute se dirigir ao cartoacuterio competente e solicitar que o Oficial do

Registro Puacuteblico proceda agraves alteraccedilotildees desejadas

Eacute relevante dizer que a orientaccedilatildeo legal deve ser respeitada ou seja natildeo

se poderaacute alterar os apelidos de famiacutelia uma vez que satildeo inatingiacuteveis nos termos da

Lei

Afora isso o interessado poderaacute pedir ao Oficial do Registro - portanto

em via administrativa e natildeo judicial - que altere o seu nome Como exemplo fictiacutecio

utilizaremos o nome de uma mulher registrada como Mary Paula Costa Barbosa Pode

esta mulher pedir-lhe que traduza o seu nome para o vernaacuteculo passando a se chamar

Maria Paula Costa Barbosa Ou pode pedir-lhe que acrescente ao seu nome outro

prenome passando a se chamar Mary Paula Helena Costa Barbosa Ou poderaacute pedir-lhe

que acrescente ao seu nome o prenome ou o apelido de famiacutelia da matildee ou da avoacute o

apelido do pai ou do avocirc enfim haacute vaacuterias hipoacuteteses Evidentemente prenome ou

apelido aqueles que natildeo constem do seu nome original Desejando entatildeo homenagear o

seu avocirc solicita-lhe que acrescente ao seu nome o apelido daquele passando a se

chamar Mary Paula Lopes Costa Barbosa Ou ainda pode pedir-lhe que altere a ordem

dos elementos componentes do seu nome passando a se chamar Paula Mary Costa

Barbosa Em uma outra hipoacutetese pode querer suprimir do seu nome algum elemento

passando a ser chamada apenas de Mary Costa Barbosa

Vale dizer que haacute quem ensine que tais alteraccedilotildees devem apresentar justo

motivo e que as transformaccedilotildees dos prenomes simples em duplo e vice-versa natildeo seratildeo

possiacuteveis no casos dos nomes ceacutelebres como Marco Antocircnio Joatildeo Batista etc3

Com o devido respeito natildeo concordamos com tal justificaccedilatildeo nem com

qual restriccedilatildeo uma vez que entendemos natildeo caber ao Oficial do Registro obstar o

exerciacutecio da faculdade individual exercida de boa-feacute pelo interessado E mais ainda

deve aquele apenas atentar para a seriedade atraveacutes da qual o interessado lhe apresenta a

solicitaccedilatildeo isto eacute se natildeo quer apenas maliciosamente gracejar Qualquer posterior juiacutezo

de valor a ser externado natildeo eacute o Oficial do Registro quem deve emiti-Io e sim o juiz

3 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

nas hipoacuteteses que estudaremos no proacuteximo item O mais importante eacute que desta

maneira respeita-se a seguranccedila juriacutedica que deve ser observada no acircmbito das relaccedilotildees

sociais pois uma instabilidade proporcionada pela variabilidade indiscriminada do

nome das pessoas certamente seria perniciosa agrave sociedade

Enfim satildeo estas as alteraccedilotildees possiacuteveis do nome do indiviacuteduo que

completa a maioridade Trata-se de uma oportunidade para as pessoas que de alguma

maneira pretendem fazer ajustes no seu nome sem que precisem ingressar em juiacutezo e

consequentemente apresentar um justo motivo para se permitir tais modificaccedilotildees haja

vista que geralmente natildeo podiacuteamos emitir opiniatildeo no momento do nosso registro por

razotildees oacutebvias

Verifica-se que eacute este um procedimento bastante simplificado E

repita-se devem ser preservados os apelidos de famiacutelia e as demais disposiccedilotildees legais

daquele artigo

7 DAS DEMAIS POSSIBILIDADES DE MODIFICACcedilAtildeO DO NOME

CIVIL

Em se perdendo a oportunidade supra estudada isto eacute a alteraccedilatildeo do

nome no ano em que se alcanccedila da maioridade civil instante em que o procedimento eacute

bem mais simples pode ainda o interessado recorrer agraves outras hipoacuteteses previstas pelo

direito paacutetrio

A Lei dos Registros Puacuteblicos em seu artigo 57 caput prescreve in

verbis

Qualquer alteraccedilatildeo posterior de nome somente por exceccedilatildeo e

motivadamente apoacutes audiecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico seraacute

permitida por sentenccedila do juiz a que estiver sujeito o registro

arquivando-se o mandado e publicando-se a alteraccedilatildeo pela

imprensa

Assim se na hipoacutetese anterior do alcance da maioridade os

procedimentos eram bem mais simples agora - passada e natildeo exercida aquela

faculdade na ocasiatildeo propicia - a Lei impotildeem maiores rigores Haja vista que o

interessado deveraacute apresentar prova suficiente ao juiz que poderaacute natildeo acatar as

alegaccedilotildees daquele uma vez que a Lei dispotildee que deve haver um justo motivo para que

excepcionalmente o juiz _ por sentenccedila _ determine a modificaccedilatildeo requerida com a

observacircncia dos demais procedimentos legais

A mesma Lei dos Registros Puacuteblicos regulamenta

outros casos em que haacute possibilidade de modificaccedilatildeo do nome civil das

pessoas Vale citar os dispositivos legais que disciplinam esta mateacuteria o paraacutegrafo

uacutenico do jaacute mencionado artigo 55 o artigo 58 caput e o seu paraacutegrafo uacutenico Tais

preceitos legais respectivamente impotildeem o seguinte

Os oficiais do registro civil natildeo registraratildeo prenomes suscetiacuteveis de

expor ao ridiacuteculo os seus portadores Quando os pais natildeo se

conformarem com a recusa o oficial este submeteraacute por escrito o caso

independentemente da cobranccedila de quaisquer emolumentos agrave decisatildeo

do juiz competente

O prenome seraacute imutaacutevel

Paraacutegrafo uacutenico Quando entretanto for evidente o erro graacutefico do

prenome admite-se a retificaccedilatildeo bem como a SUa mudanccedila mediante

sentenccedila do juiz a requerimento do interessado no caso do paraacutegrafo

uacutenico do art 55 se o Oficial natildeo o houver impugnado

Pois bem nestes termos o Legislador paacutetrio disciplinou a

admissibilidade da modificaccedilatildeo do nome civil das pessoas A doutrina e a

jurisprudecircncia cuidaram de alargar mais ainda as margens destes preceitos legais

Desenvolveram-se novas e abrangentes interpretaccedilotildees as quais exporemos adiante

Verifica-se a Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome das pessoas pela

correccedilatildeo de erro graacutefico evidente nos casos dos nomes ridiacuteculos ou exoacuteticos pelo uso

prolongado e constante de um nome diverso daquele registrado pela utilizaccedilatildeo de

apelido no caso dos homocircnimos pelo acreacutescimo de patroniacutemico de ascendente nos

casos de embaraccedilos em funccedilatildeo de atividade Profissional pelo concubinato pelo

casamento separaccedilatildeo judicial e divoacutercio no caso de reconhecimento de paternidade

pela adoccedilatildeo no caso de traduccedilatildeo para o portuguecircs de nome estrangeiro e pela

mudanccedila de sexo

Vale dizer que a jurisprudecircncia vem aceitando a admissibilidade da

pessoa que mesmo menor possa requerer atraveacutes do seu representante ou assistente

legal a alteraccedilatildeo de nome ridiacuteculo a correccedilatildeo de erro graacutefico ou a inclusatildeo do apelido

de famiacutelia materno natildeo aguardando a maioridade para proceder a tais solicitaccedilotildees4

Inicialmente analisaremos a hipoacutetese de erro graacutefico do prenome

Como jaacute foi mencionado no paraacutegrafo uacutenico do artigo 58 da Lei dos Registros

Puacuteblicos eacute admissiacutevel a retificaccedilatildeo do prenome registrado com evidente erro de

grafia como Maucelo quando o correto seria Marcelo ou Anrique ao inveacutes de

Henrique E mais ainda admite-se a correccedilatildeo do prenome registrado no diminutivo

como Teresinha quando o certo deveria ser Teresa5

Quanto aos nomes ridiacuteculos ou exoacuteticos tambeacutem eacute admissiacutevel a

modificaccedilatildeo destes A mencionada Lei se refere apenas ao prenome Assim

disciplina hipoacuteteses como as das pessoas registradas por Sim Batista ou Antocircnio

Aparecido que Solicitaram a modificaccedilatildeo para Jorge Sim Batista e apenas Antocircnio

respectivamente6 Portanto satildeo estes casos mais simples Neste mesmo contexto se

encaixa a hipoacutetese das pessoas registradas com nomes do tipo Hitler ou Luacutecifer

Poreacutem constam dos arquivos do INPS nomes jocosos como Rolando Pela Escada

4 1n Diniz Maria Helena Ob Cit paacuteg 102

5 In Monteiro Washington de Barros Ob cit paacuteg 90

6 In Fuhrer Maximilianus Claacuteudio Ameacuterica Resumo de Direito Civil 14ordf ediccedilatildeo Malheiros

1996 paacuteg 31

Abaixo e Joatildeo Cara de Joseacute7

Eacute realmente incompreensiacutevel como os seus responsaacuteveis foram tatildeo

insensiacuteveis ao ponto de puni-los com tamanho castigo Nestes casos nos salta aos olhos

a possibilidade de modificaccedilatildeo por completo de tais nomes e natildeo apenas o prenome

como dispocircs a referida Lei

Haacute outros casos em que determinadas pessoas fazem uso constante e

prolongado de determinados nomes que natildeo satildeo os que foram grafados por ocasiatildeo dos

seus registros Tais pessoas de boa-feacute utilizam-se deste outro nome de tal maneira que

passam a ser no meio social identificadas por eles Um exemplo de pessoa que

requereu tal modificaccedilatildeo eacute o de uma mulher cujo nome registrado era Maria Aparecida

poreacutem ela era reconhecida socialmente como sendo Maria Luciana8 Portanto em tais

casos tambeacutem haacute admissibilidade de modificaccedilatildeo do nome uma vez reconhecida a boa

intenccedilatildeo do interessado

Hipoacutetese semelhante eacute a das pessoas que utilizam apelidos para se

apresentarem Podem pois acostar tais designaccedilotildees aos seus nomes uma vez que se

agregaram de tal maneira agrave personalidade daquelas que ateacute pode-se dizer tomaram-se

parte da caracterizaccedilatildeo daqueles indiviacuteduos Estas pessoas possuem alcunhas que usam

habitualmente Eacute este um fato que ocorre com certa frequumlecircncia entre noacutes sobretudo nos

meios artiacutestico e poliacutetico Os exemplos mais conhecidos satildeo o da cantora Xuxa e o do

poliacutetico Lula

Certamente jaacute ouvimos estoacuterias de pessoas que foram confundidas com

marginais Eacute este um problema grave que pode ocorrer com determinadas pessoas ou

seja ser confundidas com outras por terem os mesmos nomes Trata-se da homoniacutemia

Em se demonstrando este justo motivo para modificaccedilatildeo do nome devido a ocorrecircncia

daquela natildeo haacute como se negar a admissibilidade da alteraccedilatildeo do nome do indiviacuteduo

interessado Por exemplo pessoas que possuem nomes como Maria Aparecida da Silva

ou Joseacute da Silva apresentam um relevante motivo agrave admissibilidade da modificaccedilatildeo dos

seus nomes uma vez que satildeo muito comuns no Brasil

Outra Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome da pessoa natural eacute quando

haacute permissatildeo a que se incluam apelidos de famiacutelia de ascendente ao seu nome original

Consoante jaacute foi exposto a pessoa tem direito logo que nasce ao patroniacutemico dos seus

ascendentes Portanto pode solicitar o acreacutescimo de apelido de famiacutelia que natildeo conste

evidentemente do seu nome original Vale dizer que eacute esta uma das soluccedilotildees mais

utilizadas para a soluccedilatildeo dos problemas relativos atilde homoniacutemia que jaacute foi acima

estudada

Eacute mister informar que se vem inclusive permitindo o acreacutescimo de

patroniacutemico que natildeo tenha sido utilizado por uma ou mais geraccedilotildees ou ainda a

inclusatildeo do apelido de madrasta ou de tutor9

O paraacutegrafo primeiro do artigo 57 da Lei dos Registros Puacuteblicos

apresenta uma outra Possibilidade de modificaccedilatildeo do nome da pessoa Trata-se da

7 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

8 In Diniz Maria Helena Ob cit paacuteg 102

9 1n Fuhrer Maximilianus ClaacuteUdio Ameacuterico Ob cit paacuteg 32

averbaccedilatildeo do nome abreviado da pessoa que exerce ou pretende exercer atividade

mercantil com o intuito de evitar embaraccedilos quando se quiser fazer parte de firma

comercial ou exercitar suas atividades O texto legal tanto se refere agrave atividade

mercantil quanto a qualquer outra atividade profissional

O mesmo artigo 57 agora em seus paraacutegrafos segundo e seguintes

tambeacutem disciplina a modificaccedilatildeo do nome da pessoa que se relaciona em concubinato

com outra Permite-se que um companheiro adote o apelido do outro desde que sejam

observados alguns requisitos quais sejam anuecircncia do outro uniatildeo por mais de cinco

anos ou existecircncia de filho nenhum deles pode ser casado e deve haver

impossibilidade legal a que se casem A Lei apresenta os procedimentos a serem

atendidos e mesmo se dirigindo apenas agrave mulher deve ser interpretada para ambos os

companheiros agrave luz do entendimento da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica no inciso I do seu

artigo 50 onde homens e mulheres tecircm os mesmos direitos e obrigaccedilotildees

O casamento tambeacutem eacute uma oportunidade para que as mulheres

alterem seus nomes Trata-se de uma faculdade que esta possui em acrescentar ou

natildeo os apelidos do marido com a celebraccedilatildeo do matrimocircnio Outrora era obrigada a

inclui-Ios poreacutem com a publicaccedilatildeo da Lei ndeg 651577 que eacute a chamada Lei do

Divoacutercio passou a ser optativo tal acreacutescimo Neste sentido nova redaccedilatildeo foi

determinada ao paraacutegrafo uacutenico do artigo 240 do Coacutedigo Civil brasileiro onde se lecirc

que a mulher poderaacute acrescer aos seus os apelidos do marido Poreacutem deveraacute perdecirc-

Ios com a anulaccedilatildeo do casamento com a separaccedilatildeo judicial - se culpada - ou com o

divoacutercio nos termos dos artigos 17 e 18 daquela Lei Contudo entende-se que haacute

temperamentos ao rigor legal ou seja se a mulher provar que suportaraacute graves

prejuiacutezos com a supressatildeo dos apelidos do ex-marido Por exemplo se for ela uma

artista ou mesmo uma outra profissional que seja reconhecida ou identificada

atraveacutes daquele patroniacutemico poderaacute requerer ao juiz que lhe permita a utilizaccedilatildeo

daqueles mesmo apoacutes a extinccedilatildeo da sociedade conjugal uma vez que sobejamente

prove a possibilidade da ocorrecircncia de tais ou quais danos

Um tema bastante controvertido que devemos analisar eacute a questatildeo da

modificaccedilatildeo do nome da pessoa em decorrecircncia do reconhecimento da paternidade

Muitos doutrinadores ainda trazem fortes cargas de preconceito quanto ao estudo da

filiaccedilatildeo Portanto eacute vaacutelido desde jaacute apresentarmos o entendimento constitucional

acerca deste assunto O paraacutegrafo 6deg do artigo 227 da Lei Maior impotildee a proibiccedilatildeo de

quaisquer designaccedilotildees discriminatoacuterias com relaccedilatildeo agrave filiaccedilatildeo posto que os filhos

havidos ou natildeo do casamento ou os adotados deveratildeo ter os mesmos direitos e

qualificaccedilotildees isto eacute satildeo todos filhos e apenas isso Logo natildeo mais eacute admissiacutevel que os

doutrinadores tragam em suas obras distinccedilotildees quanto agrave filiaccedilatildeo ou em razatildeo da

adoccedilatildeo Assim com os devidos temperamentos entende-se da liccedilatildeo de Serpa Lopes10

que o reconhecimento da paternidade pode ocorrer em duas ocasiotildees no ato do registro

do nascimento instante em que se lhe seratildeo acrescentados os apelidos do que o

reconhecer ou em um momento posterior quando poderaacute o interessado solicitar o

acreacutescimo do nome daquele que provou ser seu genitor

A adoccedilatildeo eacute um outro exemplo de possibilidade de modificaccedilatildeo do nome

da pessoa natural neste sentido dispotildee realmente a Lei ndeg 806990 que eacute o festejado

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente em seu artigo 47 caput e paraacutegrafo 5deg Preceitua

o texto legal que atraveacutes de sentenccedila judicial constitui-se a adoccedilatildeo que seraacute inscrita no

10

In Curso de Direito Civil volume I 7ordf ed Rio de Janeiro Freitas Bastos 1989 paacutegs 288 e 289

registro civil e conferiraacute ao adotado o nome do adotante e a pedido deste eacute admissiacutevel

a modificaccedilatildeo do prenome daquele

Pode ainda o interessado requerer a traduccedilatildeo do seu nome para o

vernaacuteculo fazendo prova de justo motivo para tal modificaccedilatildeo por exemplo se se trata

de nome de difiacutecil pronuncia ou compreensatildeo Tanto pode ser requerida tal modificaccedilatildeo

pelo estrangeiro como pelo brasileiro nato que possua nome estrangeiro11

Quanto aos

estrangeiros tal disciplina legal eacute efetivada nos termos da Lei nordm 681580 competindo

ao Ministro da Justiccedila autorizar esta alteraccedilatildeo do nome Permite-se ainda pela referida

Lei a faculdade de traduzirem ou adaptarem os seus nomes agrave liacutengua portuguesa no ato

da naturalizaccedilatildeo

Outro tema bastante controvertido eacute o da mudanccedila de sexo praacutetica que

estaacute cada vez mais se banalizando por todo o mundo Neste instante natildeo satildeo oportunas

discussotildees quanto a moralidade ou natildeo deste fato ou quanto a permissibilidade legal ou

natildeo destes procedimentos O fato eacute que provada a mudanccedila de sexo atraveacutes de periacutecia

meacutedico-legal eacute admissiacutevel a adaptaccedilatildeo do nome da pessoa agrave nova situaccedilatildeo constatada

O direito paacutetrio natildeo tutela a livre disponibilidade da mudanccedila do sexo no que andou

bem tanto eacute que muitos dos interessados recorrem aos profissionais europeus para

efetuar as intervenccedilotildees ciruacutergicas necessaacuterias ao alcance deste seu objetivo

Por fim em respeito a Orlando Gomes12

devemos expor uma uacuteltima

hipoacutetese de alteraccedilatildeo do nome sustentada por ele Trata-se da modificaccedilatildeo necessaacuteria do

nome do filho em funccedilatildeo da mudanccedila do nome do pai pois defende este professor que a

natureza do nome pede que coincida o da prole com o dos genitores

Portanto satildeo estas as hipoacuteteses reconhecidas pelo direito paacutetrio como as

possiacuteveis de modificar os nomes civis das pessoas naturais Evidentemente o

Legislador natildeo disciplinou cada uma delas minuciosamente apenas sinalizou a

admissibilidade legal em alguns casos Chegamos a todas estas atraveacutes do exerciacutecio de

interpretaccedilatildeo jurisprudencial e dos assentamentos doutrinaacuterios que permitiram uma

melhor mais justa e mais ampla compreensatildeo do tema

8 DA PROTECcedilAtildeO JURIacuteDlCA DO NOME

O nome das pessoas merece especial proteccedilatildeo pelo direito que natildeo

permite a usurpaccedilatildeo destes por outrem Em se provando o prejuiacutezo nesta hipoacutetese eacute

admissiacutevel a reparaccedilatildeo civil ou a incidecircncia penal correspondentes

Quanto aos direitos autorais tal tutela eacute bem mais abrangente

Prescreve o artigo 25 e seu inciso li da chamada Lei dos Direitos Autorais (Lei ndeg

598873) que eacute direito moral do autor o de ter seu nome pseudocircnimo ou sinal

convencional indicado ou anunciado como sendo seu na utilizaccedilatildeo da sua obra

Como exemplos mais conhecidos de portadores de pseudocircnimos encontramos

Voltaire e EI Grecco

Embora tais designaccedilotildees natildeo faccedilam parte dos nomes registrado das

pessoas os pseudocircnimos utilizados de maneira constante e legiacutetima integram-se de

tal forma agraves personalidades dos seus portadores no exerciacutecio de suas atividades - que

satildeo geralmente artiacutesticas - que o direito natildeo poderia esquececirc-Ias

11

In Fuumlhrer Maximilianus Claacuteudio Ameacuterica Ob cit paacuteg 32

Poreacutem eacute importante dizer que natildeo se deve interpretar com extrema

rigorosidade tal proteccedilatildeo Pois eacute possiacutevel a utilizaccedilatildeo do nome ou mesmo do

pseudocircnimo de outrem sem a intenccedilatildeo de lucro como eacute o caso da citaccedilatildeo de obra

cultural ou cientiacutefica Tal citaccedilatildeo enaltece o autor E ainda mesmo se permite a criacutetica

desfavoraacutevel da sua obra desde que sem a intenccedilatildeo de achincalhamento do autor12

Por fim vale mencionar o Direito Penal O Coacutedigo Penal brasileiro

disciplina e penaliza quem usa indevidamente o nome comercial ou o tiacutetulo de

estabelecimento alheio nos termos do inciso VII paraacutegrafo primeiro do seu artigo 196

E a Lei das contravenccedilotildees Penais pune em seu artigo 68 quem se recusa a fornecer

dados pessoais de identificaccedilatildeo dentre os quais se incluem o nome agrave autoridade que os

solicite

9 CONCLUSAtildeO

O Legislador foi riacutegido o suficiente para natildeo permitir que por capricho

ou maacute-feacute as pessoas modificassem seus nomes constantemente Ora se isso fosse

possiacutevel seria tatildeo prejudicial agrave sociedade quanto se as pessoas natildeo tivessem nome

algum Destas duas maneiras haveria o caos Pois o indiviacuteduo poderia querer hoje se

chamar Pedro amanhatilde Joatildeo e depois Francisco Enfrentariacuteamos graves dificuldades

para identificar quem nos devia ou por qual designaccedilatildeo deviacuteamos nos referir agrave

determinada pessoa Tambeacutem foi o aquele bastante flexiacutevel ao permitir algumas

modificaccedilotildees de forma que a pessoa natildeo fosse obrigada a suportar um nome que lhe

seja um verdadeiro peso causando-lhe constrangimentos confusotildees ou desconforto

Por sua vez a doutrina e a jurisprudecircncia trataram de interpretar as

disposiccedilotildees legais enriquecendo-as e posteriormente adaptando-as agraves realidades natildeo

observadas pelo Legislador Desta maneira satisfazendo agraves necessidades mais gritantes

da sociedade quanto aos ajustes dos nomes dos seus componentes

Alguns dos nossos doutrinadores natildeo se aprofundaram tanto em seu

estudo talvez porque natildeo quisessem se alongar Todavia acreditamos sim que pelo

fato deste assunto ensejar alguns temas polecircmicos como mudanccedila de sexo relaccedilotildees

concubinaacuterias reconhecimento de paternidade ou outros elementos essencialmente

valorativos e pessoais Temas estes que suscitam juiacutezos de valor a ser Possivelmente

extemados

10 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

DINIZ Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 10 voI 70

ed Satildeo Paulo Saraiva 1989

FUumlHRER Maximilianus Claacuteudio Ameacuterico Resumo de Direito Civil

140 ediccedilatildeo Malheiros 1996

12

In Introduccedilatildeo ao Direito Civil 8 ed Rio de Janeiro Forense 1966 paacuteg 139

GOMES Orlando Introduccedilatildeo ao Direito Civil 80 ed Rio de Janeiro

Forense 1986

LOPES Miguel Maria de Serpa Curso de Direito Civil volume I 70

ed Rio de Janeiro Freitas Bastos 1989

MONTEIRO Washington de Barros Curso de Direito Civil Parte

Geral 31deg ed Satildeo Paulo Saraiva 1993

PEREIRA Caio Maacuterio da Silva Instituiccedilotildees de Direito Civil volume

I 138 ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense 1992

RODRIGUES Siacutelvio Direito Civil v1 25deg ed Satildeo Paulo Saraiva

1995 WALD Arnoldo Curso de Direito Civil Brasileiro vol 1 78 ed Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 1992

DOS EMBARGOS DE DECLARACcedilAtildeO E SEUS POSSIacuteVEIS

EFEITOS INFRINGENTES

Francisco Glauber Pessoa Alves

Acadecircmico do 8ordm periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

SUMAacuteRIO I INTROacuteITO - lI DAS PRIMEIRAS REFEREcircNCIAS

HISTOacuteRICAS DOS EMBARGOS DECLARATOacuteRIOS EM NOSSO CONTEJTO

NORMATIVO - III DA SISTEMATIZACcedilAtildeO NO CPC VIGENTE - IV DA NA TU REZA

JURIacuteDICA V HIPOacuteTESES DE INTERPOSICcedilAtildeO E SEUS EFEITOS - VI OUTRA

FUNCcedilAtildeO DOS EMBARGOS DECLARA TOacuteRIOS - VII DA PROBLEMAacuteTICA DA

INFRINGEcircNCIA E EMBARGOS MERAMENTE PROTELATOacuteRIOS (COMO REPRIMI-

LOS) - VIU DO ESGOTAMENTO DA ATIVIDADE JURISDICIONAL - VII2

RETRATACcedilAtildeO OU NAtildeO DO JULGADOR POSSIBILIDADE OU NAtildeO DE FAZEcirc-LA -

VII3 PODE O JUIacuteZO A QUO SINGULAR SUBSUMIR-SE NA COMPETENCIA

DEVOLUTIVA DO OacuteRGAtildeO FRACIONARIO AD QUEM E COMO INTERPRETAR

ISSO Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DO DUPLO GRAU DE JURISDICcedilAtildeOVIII DAS

HIPOacuteTESES DE MODIFICACcedilAtildeO ALBERGADAS PELA JURISPRUDEcircNCIA - IX

CONCLUSAtildeO - REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

I - INTROacuteITO

De longa data vem a discussatildeo juriacutedica sobre a par da natureza juriacutedica

dos embargos de declaraccedilatildeo a possibilidade de atribuir efeitos infringentes a dito

instrumento juriacutedico

Em verdade a doutrina e mesmo alguns posicionamentos pretorianos

respeitaacuteveis vecircm titubeando na afirmativa desse caraacuteter substitutivo com o fito

acredita este humilde escriba de evitar-se a enxurrada de embargos declaratoacuterios com

efeitos infringentes que poderia acontecer transformado que estaria em um recurso

anocircmalo a contrariu sensu das normas insculpidas nos arts 463 cc 535 do Diploma

Regimental Civil

Esse estudo tem o escopo de ser mais um subsiacutedio com as limitaccedilotildees

oacutebvias de espaccedilo para o desanuviamento do assunto Com a consciecircncia da

complexidade do tema

A primeira parte do trabalho diz respeito a alguns breves comentaacuterios

sobre a teoria geral dos recursos estudando-se apoacutes agrave luz daquela os embargos

declaratoacuterios

O restante do estudo aprofundar-se-aacute na anaacutelise dos efeitos infringentes

e seus possiacuteveis oacutebices trazendo ao cotejo alguns exemplos praacuteticos

Fez-se questatildeo de frisar todas as fontes _ por respeito aos eminentes

autores - dos pensamentos embasadores das ideacuteias que adiante seratildeo descritas sob a

forma de notas _ que serviram ainda para alguns apontamentos - esperando que natildeo

fique prejudicada a leitura bem assim a concisatildeo do trabalho

II - DAS PRIMEIRAS REFEREcircNCIAS HISTOacuteRICAS DOS

EMBARGOS DECLARATOacuteRIOS EM NOSSO CONTEXTO NORMATIVO

Remontam agraves mais antigas raiacutezes do direito codificado Luso -

brasileiro o instituto em comento tendo sido previsto nas Ordenaccedilotildees Afonsinas

(Livro III tiacutet LXIX sect 4deg e til LXI sect 40) Manuelinas (Livro III tiacutet L sect 5deg e til

LXI sect 4deg) e Filipinas (Livro III til LXVI sect 60) Presente esteve ainda no vetusto

Regulamento 737 datado de 1850 (nos arts 641-643) e na Consolidaccedilatildeo Ribas (arts

1500 e ss) nos Coacutedigos Estaduais de Processo (Bahia art 1239 Distrito Federal

art 1179 Minas Gerais art 1439 Rio de Janeiro art 2333 Pernambuco art

1434) e no Coacutedigo de Processo Civil de 1939 (arts 840 e 862) bem como sob

formas e Procedimentos outros nas legislaccedilotildees de povos diversos12

III ndash DA SISTEMATIZACcedilAtildeO NO CPC VIGENTE

Conquanto seja previsto hoje somente nos arts 535 a 538 no

Capitulo V Tiacutetulo X do Livro I do Codex Processual Civil natildeo foi sempre assim

pois que antes da reforma vinda agrave lume com a Lei 8950 de 131294 estava

presente no Capitulo VIII que trata da Sentenccedila e Da Coisa Julgada inclusive com

prazo diferenciado (48h) do previsto no Tiacutetulo dos Recursos (5 dias) o que era

sempre alvo de criticas3

A reforma trouxe aleacutem da unificaccedilatildeo do prazo (cinco dias) no juiacutezo

singular ou colegiado a interrupccedilatildeo do prazo para interposiccedilatildeo de outros recursos

concedida agora a ambas as partes4 a exclusatildeo da hipoacutetese de duacutevida como fundamento

de sua interposiccedilatildeo e o agravamento da sanccedilatildeo para o caso do embargante de maacute-feacute

visando o mero protelamento do feito

De prima facie denota-se a disposiccedilatildeo velada do legislador em incluir os

embargos declaratoacuterios como recurso5 - ou um seu assemelhado anocircmalo - assim

disposto para melhor organicidade do Estatuto de Ritos

1 Cf E D Moniz de Arag30 Embargos de Declaraccedil30 RT 63311-23 extraldo de Joseacute Carlos

Barbosa Moreira Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil 51 ed v V537 Rio col Forense

1985 V537 ou Sergio Bermudes Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil v V1207 S30

Paulo col da Ed RT 1975

2 Cf ainda Seacutergio Sahione FadeI Coacutedigo de Processo Civil Comentado Tomo III 1974 paacuteg

171 3 Socircnia M Almeida Batista Embargos de Declaraccedil30 - Inovaccedilotildees da Reforma RP 8027

4 A lei anterior n30 era clara o que gerava controveacutersias jurisprudenciais

5 Pela sua disposiccedilatildeo expressa no art 536 IV e pela unificaccedilatildeo no Titulo dos Recursos (pela

Lei 895094)

IV - DA NATUREZA JURIacuteDICA

Questatildeo principal do nosso estudo eacute a definiccedilatildeo do enquadramento

juridico dos embargos declaratoacuterios

A doutrina natildeo eacute unacircnime e parte dela6 rejeita a natureza de recurso na

sua forma mais pura a ser inflingida ao dito instituto

Antes de mais nada impende trazer agrave tona a fim de uma melhor anaacutelise

cientiacutefica do tema o conceito e os pressupostos necessaacuterios aos recursos - para

esclarecer o juizo de admissibilidade recursal e sua aplicabilidade aos embargos

declaratoacuterios

Para Nelson Nery Juacutenior O recurso eacute medida destinada a provocar na

mesma relaccedilatildeo juriacutedica processual o reexame ou integraccedilatildeo da decisatildeo impugnadardquo7

O Mestre Oviacutedio Batista sempre mencionado o entende como o

procedimento atraveacutes do qual a parte ou quem esteja legitimado a intervir na causa

provoca o reexame das decisotildees judiciais a fim de que elas sejam invalidadas ou

reformadas pelo proacuteprio magistrado que as proferiu ou por algum oacutergatildeo de jurisdiccedilatildeo

Superior8

Humberto Theodoro Juacutenior citando o mesmo Amaral Santos leciona

recurso como sendo o poder de provocar o reexame de uma decisatildeo pela mesma

autoridade judiciaacuteria ou por outra hierarquicamente superior visando a obter a sua

reforma ou modificaccedilatildeordquo9

Por outro lado para que haja o provimento jurisdicional necessaacuterio se

faz antes de adentrar-se no meacuterito do recurso (ou seja na anaacutelise do seu teor juriacutedico

e da pertinecircncia dos seus fundamentos - e isso se chama juiacutezo de meacuterito) proceder ao

juiacutezo de admissibilidade que natildeo eacute outra coisa senatildeo a verificaccedilatildeo a ser feita para

confirmar se o recurso reveste-se dos requisitos miacutenimos necessaacuterios para a anaacutelise

posterior de seu inteiro teor juriacutedico - o juiacutezo de meacuterito de que se falou

Nery Junior em seu prestigiado magisteacuterio10

os subdivide em

pressupostos intriacutensecos e extriacutensecos

Os primeiros satildeo o cabimento a legitimaccedilatildeo para recorrer e o interesse

para recorrer

O mencionado autor compara ainda esses ditos pressupostos agraves

condiccedilotildees da accedilatildeo justificando tal raciociacutenio no de que o recurso eacute manifestaccedilatildeo do

6 Moniz de Aragatildeo ob mencionada Sergio Bermudes A Reforma do Coacutedigo de Processo

Civil Saraiva p l01 7 Aspectos da Teoria Geral dos Recursos no Processo Civil RP 51155 8 Curso de Processo Civil Processo de Conhecimento Vol I 3 ed

Sergio Antonio Fabris Editor p 345

9 Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Direito Processual

Civil e Processo de Conhecimento Vol I 12 ed Editora Forense p 541 10

Ob citada

direito de accedilatildeo

Assim o cabimento11

corresponderia agrave possibilidade juriacutedica do

pedido a legitimidade para recorrer12

seria equivalente agrave legitimatio ad causam e o

interesse em recorrer13

corresponderia o interesse processual

Jaacute os pressupostos extriacutensecos seriam extemos agrave decisatildeo que se pretende

impugnar sendo eles a tempestividade14

a regularidade formal15

a inexistecircncia de fato

impeditivo ou extintivo do poder de recorrer16

e o preparo17

Oviacutedio Batista18

- lastreado nos ensinamentos de Barbosa Moreira -

classifica de maneira semelhante agrave Nery Juacutenior excetuando-se a inexistecircncia de fato

impeditivo ou extintivo do direito de recorrer o qual entende ser um pressuposto

intriacutenseco

O insigne Humberto Theodoro19

classifica diferentemente os

pressupostos Para ele existiriam os objetivos - as pessoas legitimadas a recorrer - e os

objetivos - recorribilidade da decisatildeo tempestividade do recurso singularidade do

recurso20

adequaccedilatildeo do recurso preparo motivaccedilatildeo e forma

Excogitando-se dos conceitos de recurso - lato sensu - dados verifica-se

que os embargos de declaraccedilatildeo enquanto meacutetodo de complementaccedilatildeo do decisum natildeo

se aperfeiccediloam no conceito de recurso - partindo-se da premissa que soacute eacute recurso

quando se tem a capacidade de modificar o meacuterito podendo substituiacute-Io

Ainda do que foi visto reputa-se apto ao juiacutezo de admissibilidade dos

embargos declaratoacuterios a exigecircncia de quase todos os pressupostos reclamados pelo

juizo de admissibilidade dos recursos a quem neologiacutesticamente chamaremos de

puros

Dessarte soacute natildeo seria possiacutevel a exigecircncia no que toca agrave regularidade

11 Este se desdobraria ainda em recorribilidade (do decisum) e adequaccedilatildeo (ser o recurso

idocircneo para atacar a decisatildeo) 12

Estaacute prevista especificamente em lei (art 499 do CPC) sendo as partes o Ministeacuterio Puacuteblico

ndash como parte ou como custus legis ndash e o terceiro prejudicado ndash demonstrando o seu interesse

juriacutedico na causa ou sejam o liame existente entre a decisatildeo e o prejuiacutezo que ela lhe teria

causado 13

Caracterizado pelo binocircmio necessidade ndash de o recurso ser p uacutenico meio de se obter o bem

juriacutedico almejado ndash e utilidade ndash a sucumbecircncia da parte recorrente - Este uacuteltimo aspecto

entendemos intimamente ligado ao conceito da possibilidade juriacutedica lato sensu 14

O recurso deve ser interposto dentro dos prazos legais sendo estes peremptoacuterios 15

Ou seja a forma como o recurso deve ser interposto ndash o que muitas vezes eacute definido em lei

(ex arts 514 524 525 dentre outros todos do CPC) 16

Dizendo respeito agrave preclusatildeo loacutegica perfazendo-se pela desistecircncia do recurso interposto ou

aquiescecircncia (taacutecita ou expressa) agrave decisatildeo 17

Este ensejador da deserccedilatildeo caso natildeo devidamente pago Interessante observar no caso

concreto o Regimento interno de cada oacutergatildeo referentemente a exigibilidade ou natildeo do preparo

Eacute que agrave guisa de esclarecimento existem Pretoacuterios que o dispensam (conforme ocorre por

exemplo com o Agravo de Instrumento no Tribunal Regional Federal da 5ordf regiatildeo) 18

Ob Mencionada p 352 19

Ob Jaacute falada pp 549-550 20

Este uacuteltimo expressatildeo do princiacutepio da singularidade dos recursos segundo o qual de qualquer

decisatildeo recorriacutevel cada apenas um recurso Ver a esse respeito Rui Portanova in princiacutepios do

Processo Civil Livraria do Advogado Editora p 271

formal21

e ao preparo22

Outro argumento utilizado pela respeitaacutevel doutrina de Cacircndido Rangel

Dinamarca eacute o fato de que estando o instituto previsto dentro do tiacutetulo destinado aos

recursos assim o legislador o teria definido Parece que o legislador conheceu dos

embargos do fino processualista23

tanto que os recebeu para declarar que na sua

opiniatildeo os embargos satildeo recursordquo24

Posto que legalmente esteja previsto como tal (art 496 IV do Codex

Processua) a rigor25

os embargos declaratoacuterios natildeo seriam recurso pois como dito

antes natildeo estariam aparelhados por lei a provocar o reexame da decisatildeo pela autoridade

judiciaacuteria

Mas o problema natildeo eacute tatildeo simploacuterio assim e a tendecircncia vem sendo natildeo

sem obstaacuteculos de aceitar-se os embargos como verdadeiros recursos tanto mais pela

sua disposiccedilatildeo no CPC26

Joseacute Frederico Marques dissertando sobre os embargos declaratoacuterios

diz Recurso exclusivamente de retrataccedilatildeo os embargos de declaraccedilatildeo permitem o

reexame do acoacuterdatildeo embargado pelos juizes de que emanou27

Mais adiante remata

Trata-se de um procedimento recursal porque existe nos embargos de declaraccedilatildeo

pedido de reparaccedilatildeo do gravame resultante de obscuridade duacutevida28

ou contradiccedilatildeo

bem como de omissatildeo29

Dissertando sobre o assunto Oviacutedio Batista entende embargos de

declaraccedilatildeo como o instrumento de que a parte se vale para pedir ao magistrado

prolator de uma dada sentenccedila que a esclareccedila em seus pontos obscuros ou a

complete quando omissa ou finalmente que lhe repare ou elimine eventuais

contradiccedilotildees que ela porventura contenha30

21

Diz-se isso porquanto a interposiccedilatildeo dos embargos declaratoacuterios seja tatildeo desprovida de

exigecircncias - eacute feito por meio de uma simples peticcedilatildeo - que entendemos inexistente na espeacutecie

um maior rigor no aspecto formal do seu processamento conquanto seja expressamente - e

logicamente - necessaacuterio a indicaccedilatildeo no corpo da peticcedilatildeo da obscuridade contradiccedilatildeo ou

omissatildeo sob pena de seu natildeo conhecimento ateacute mesmo em obediecircncia ao principio da

dialeticidade dos recursos (cf Rui Portanova ob citada pp 275-2n) 22

Ao que a lei dispensa expressamente (art 536 CPC) 23

Em referecircncia a Sergio Bermudes - in Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil VII n 19B

esp p 210 - que entende ser uma ldquoPena que natildeo se possam opor embargos de declaraccedilatildeo

para que o legislador declare qual a natureza dos embargos neste Coacutedigordquo 24

A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil 3ordf ed Malheiros p 203 25

Isto eacute partindo-se sempre da premissa de que soacute eacute recurso quando pode-se a partir de sua interposiccedilatildeo alterar o meacuterito do julgado - e natildeo apenas esclarececirc-Io

26 Nesse sentido expressamente Dinamarco como visto Nelson Nery Junior em sua obra

Aspectos da Reforma do Coacutedigo de Processo Civil RP 79129 e ainda em seu Coacutedigo de

Processo Civil Comentado p 965 Humberto Theodoro Juacutenior ob citada p 577 Antonio de

Paacutedua Ferraz Nogueira Princiacutepios Fundamentais dos Embargos de Declaraccedilatildeo in Revista de

Processo 77(1 Carreira Alvim Accedilatildeo Monitoacuteria e Temas Polecircmicos da Reforma Processual

Dei Reyp235 27

Manual de Direito Processual Civil Vol 111 - Processo de Conhecimento 2 parte Saraiva 2

ed p 161 28

Hipoacutetese atualmente excluiacuteda do ordenamento juriacutedico como se explicitaraacute mais agrave frente 29

Ob e p citadas

30

Ob mencionada p 380

Para Vicente Greco Filho amparado em Moacyr Amaral Santos satildeo os

embargos declaratoacuterios um recurso interposto perante o mesmo juiacutezo em que proferiu

a decisatildeo recorrida visando agrave sua declaraccedilatildeo ou reforma31

Humberto Theodoro de maneira anaacuteloga a Vicente Greco (jaacute a vendo

como recurso) entende-os como recurso destinado a pedir ao juiz ou tribunal prolator

da decisatildeo que esclareccedila duacutevida32

afaste obscuridade supra omissatildeo ou elimine

contradiccedilatildeo existente no julgado33

Denota-se portanto que quando da nova anaacutelise do julgado exsurge uma

transformaccedilatildeo - e natildeo complementaccedilatildeo ou integraccedilatildeo - do mesmo efetivam-se os

embargos declaratoacuterios como recurso natildeo mais apenas no sentido legal - como jaacute visto

- mas tambeacutem no sentido juriacutedico (presente que estaria a premissa34

de que jaacute falamos)

Para pocircr termo a esse toacutepico conceituaremos embargos de declaraccedilatildeo

como o instrumento juriacutedico forma recursal natildeo pura destinado a esclarecer

obscuridades a eliminar contradiccedilotildees ou a suprir omissotildees das sentenccedilas decisotildees e

eventualmente despachos que a despeito da natildeo previsatildeo legal reveste-se em casos

excepcionais de efeitos infringentes quando entatildeo passa a ser de fato e de direito

recurso

V - HIPOacuteTESES DE INTERPOSICAtildeO E SEUS EFEITOS

Prevecirc o Coacutedigo no art 535 a possibilidade da parte embargar de

declaraccedilatildeo (I) quando houver na sentenccedila ou no acoacuterdatildeo obscuridade ou contradiccedilatildeo

ou ainda (11) quando for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou

tribunal

A citada Lei 895094 expurgou como jaacute dito a hipoacutetese de interposiccedilatildeo

dos embargos em caso de duacutevida35

cujo conceito era sempre questionado36

e acabava

gerando outra duacutevida37

O cabimento agrave sentenccedila e natildeo soacute ao acoacuterdatildeo dentro do proacuteprio Capiacutetulo

V do Tiacutetulo X foi inserido tambeacutem pela lei retro mencionada uniformizando o

tratamento e o prazo consoante jaacute dito38

31

Apud Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob jaacute referida

32 Vide nota 28

33 Ob citada p 577

34 Vide nota 25 35

Para contento de alguns respeitaacuteveis doutrinadores cf Antonio de Paacutedua Ferraz (ob

citada) Rogeacuterio lauria Tucci Curso de Direito Processual Civil Processo de

Conhecimento 3390 Seabra Fagundes Dos Recursos Ordinaacuterios em Mateacuteria Civil p

150 Marcos Afonso Borges Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil 2264

36 Muitos a compreendiam como jaacute inserida nos conceitos de contradiccedilatildeo e Obscuridade

como a Professora Sonia Marcia Hase de Almeida Baptista em sua obra dos Embargos de

Declaraccedilatildeo Ed RT 2 ed 1993 pp 115 e 116

37 Como para Dinamarco ob citada p 204 para quem 4 duacutevida eacute um estado Subjetivo de

difiacutecil verificaccedilatildeo ou comprovaccedilatildeo e duvidosa relevacircncia juriacutedica 38

Vide Toacutepico III

Construiacuteram a doutrina39

e a jurisprudecircncia40

a possibilidade de

interposiccedilatildeo quanto agraves decisotildees interlocutoacuterias41

e ateacute quanto aos meros despachos42

o

que natildeo eacute mais do que loacutegico uma vez que estes dois uacuteltimos provimentos judiciais a

par das sentenccedilas podem conter falhas devendo entatildeo serem reparadas mediante o

instituto em comento43

Obscuridade eacute tudo aquilo capaz de dificultar a compreensatildeo do

julgamento Pode cingir-se a todo o decisum ou a somente um de seus pontos

Natildeo haacute duacutevidas de que a obscuridade pode situar-se tanto na

fundamentaccedilatildeo do acoacuterdatildeo quanto na parte decisoacuteria uma vez que aquela eacute quem

muitas vezes leva agrave falta de clareza da decisatildeo

Contradiccedilatildeo eacute quando no acoacuterdatildeo se incluem proposiccedilotildees entre si

inconciliaacuteveisrdquo44

Eacute um viacutecio da sentenccedila bem mais seacuterio do que a obscuridade

defendendo-se e recomendando-se ao julgador que a interprete com olhos vivos

equiparando-se-Ihe ainda incoerecircncias e incongruecircncias45

Jaacute a omissatildeo ocorre quando o juiz ou tribunal deixa de apreciar ponto

sobre o qual deveria pronunciar-se expliacutecitando-se nas questotildees natildeo dirimidas

suscitadas pela parte ou apreciaacuteveis ex-offiacuteciacuteo46

Revestem-se os embargos hoje de efeito apenas interruptivo47

expressamente previsto em lei (art 538 caput do CPC) Tal efeito eacute aplicado em

relaccedilatildeo a todas as partes do processo e natildeo apenas ao embargante (ainda no mesmo

artigo supra mencionado) Acabaram-se assim as duacutevidas de interpretaccedilatildeo relativamente

ao efeito suspensivo no que concerne agrave contagem dos prazos para as partes -

39

Oviacutedio Batista ob citada p 381 Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery em Coacutedigo

de Processo Civil Comentado 2 ed Editora Revista dos Tribunais p 965 Sergio Bermudes A

Reforma do Coacutedigo de Processo Civil Saraiva p 101 Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob

citada 40

RT 561137 JT A 66178 11455 12159 (Apud Theotocircnio Negratildeo em seu Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo Processual em Vigor 27 ed art 535 nota 11e p 412) ainda JTA 68142682747484 e 12159 (Apud Nelson Nery Junior in Comentaacuterios ao Coacutedigo de Processo Civil citada anteriormente p 967

41 Moniz de Aragatildeo ob citada nega a possibilidade de interposiccedilatildeo quanto agraves interlocutoacuterias e

aos despachos dizendo ainda ser impossiacutevel qualquer concessatildeo Para ele o instrumento

adequado seria o pedido de esclarecimentos Pennissa venia entende-se hoje tal raciociacutenio no

tocante agraves interlocutoacuterias como superado Acreditamos natildeo ter como de fato natildeo tem o

pedido de esclarecimentos o alcance que os embargos declaratoacuterios podem vir a ter (a

modificaccedilatildeo da decisatildeo) 42

Conforme o mesmo Sergio Bermudes A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil p citada 43

O que natildeo afasta a figura do pedido de esclarecimentos mas apenas garante a faculdade dada agrave parte para evitar a preclusatildeo temporal em caso de o julgador natildeo acolher os ditos esclarecimentos (Cf Oviacutedio Batista ob citada p 381) 44

Cf Paacutedua Nogueira espelhando-se em Joseacute Carlos Barbosa Moreira - ob citada p 8 45

Cf Moniz de Aragatildeo ob citada p 16

46 Vide a respeito o Toacutepico VI

47 Natildeo tem efeito devolutivo pois natildeo devolve o conhecimento da mateacuteria a um oacutergatildeo de

jurisdiccedilatildeo ad quem

diferenciada ou natildeo

VI - OUTRA FUNCcedilAtildeO DOS EMBARGOS DECLARA TOacuteRIOS

Natildeo haacute que se olvidar que outra funccedilatildeo dos embargos decorrente do

inciso 11 do art 535 bem como da necessidade do afunilamento dos recursos junto ao

Superior Tribunal de Justiccedila e ao Supremo Tribunal Federal seja a de

prequestionamento

Com efeito a teor das Suacutemulas 28248

e 35649

do STF50

necessaacuterio se

faz o prequestionamento - que eacute a provocaccedilatildeo do oacutergatildeo jurisdicional para que se

pronuncie sobre dado assunto - para interposiccedilatildeo de recursos especiais e

extraordinaacuterios ventilando-se a quaestio iuris federal ou constitucional suscitada sob

pena de seu natildeo conhecimento por aqueles Excelsos Pretoacuterios

VII - DA PROBLEMAacuteTICA DA INFRINGEcircNCIA E

EMBARGOS MERAMENTE PROTELATOacuteRIOS (COMO REPRIMI-

LOS)

VII1 - DO ESGOTAMENTO DA ATIVIDADE

JURISDICIONAL

A primeira dificuldade a ser explanada por conta do presente toacutepico

adveacutem da norma inserta no art 463 vg

Ao publicar a sentenccedila de meacuterito o juiz cumpre e acaba o oficio

jurisdicional soacute podendo alteraacute-Ia

I - para lhe corrigir de oficio ou a requerimento inexatidotildees

materiais ou lhe retificar erros de caacutelculo

II - por meio de embargos de declaraccedilatildeo

Com efeitos parecem despiciendos maiores comentaacuterios sobre a

plausibilidade de o juiz ou tribunal (a disposiccedilatildeo retro mencionada deve ser entendida

extensivamente) voltar a rever (ainda que para corrigir) um seu julgado

48

ldquoEacute inadmissiacutevel o recurso extraordinaacuterio quando natildeo ventilada na decisatildeo recorrida a questatildeo federal suscitada

49

O ponto omisso da decisatildeo sobre o qual natildeo foram opostos embargos declaratoacuterios natildeo

pode ser objeto de recurso extraordinaacuterio por faltar o requisito do prequestionamento 50

Aplicaacuteveis subsidiariamente e com menor rigor no Superior Tribunal de Justiccedila

Por ser assim pode o magistrado ou oacutergatildeo fracionaacuterio voltar a atuar no

feito na hipoacutetese do inciso I e nas do inciso II

Afunda portanto qualquer entendimento no sentido de obstaculizar

com fulcro no caput do artigo ora em estudo a infringecircncia nos embargos declaratoacuterios

porquanto que em sede de interpretaccedilatildeo aconselha-se prevalecer a cabeccedila da norma em

detrimento dos incisos e aquela proacutepria abre em sua segunda parte as exceccedilotildees para a

sistematizaccedilatildeo do que se defende aqui

Cabe definir sim a extensatildeo das hipoacuteteses em que os embargos

declaratoacuterios podem incidir bem como dos seus efeitos em relaccedilatildeo agrave decisatildeo

impugnada

VII2 - RETRATACcedilAtildeO DO JULGADOR POSSIBILIDADE OU

NAtildeO DE FAZEcirc-LA

Decorrente da possibilidade anterior eacute a abertura para que o magistrado

verificando que natildeo mais subsistem as razotildees de seu convencimento - examinadas as

alegaccedilotildees feitas pela parte em embargos de declaraccedilatildeo e desde que suficientemente

ciente disso - prolate nova decisatildeo mais condizente com o direito

Sabe-se que dentro do proacuteprio Coacutedigo de Processo Civil eacute dado ao

magistrado retratar-se de sua decisatildeo (vide hipoacutetese no agravo de instrumento arts 523

sect 2deg e 529 - que no caso eacute interlocutoacuteria portanto natildeo terminativa do feito) bem como

nas hipoacuteteses de relaccedilatildeo juriacutedica continuada em havendo modificaccedilotildees no estado de

fato ou de direito ou em outros casos previstos na legislaccedilatildeo (conforme art 471 I e li

do mesmo diploma legal) o qual o exemplo mais claacutessico eacute o da sentenccedila proferida em

accedilatildeo de alimentos

Aqui certamente entra o argumento dos que defendem de maneira

arguta o principio da seguranccedila das relaccedilotildees juriacutedicas

Eacute bem verdade que no paiacutes onde prepondera a litigacircncia como regra e

natildeo como exceccedilatildeo pensa-se de logo caso tenhamos os embargos declaratoacuterios

literalmente como recurso na enxurrada destes para impugnar decisotildees 1deg) por que o

mesmo pode teoricamente falando ser interposto natildeo infinitamente mas vaacuterias vezes

2deg) que dado o seu efeito interruptivo prolongaria-se demais a anaacutelise da decisatildeo pelo

oacutergatildeo ad quem

De maneira inversa entendemos que a proacutepria lei e a doutrina mais

autorizada jaacute prevecircem as soluccedilotildees

Para o primeiro oacutebice a proacutepria lex (art 538 do Diploma Processual

Civil) autoriza ao julgador verificando serem os embargos protelatoacuterios a aplicaccedilatildeo de

multa de 1 sobre o valor da causa Em caso de reiteraccedilatildeo a multa eacute elevada a 10

condicionando-se a interposiccedilatildeo de qualquer outro recurso ao depoacutesito do valor

respectivo

Ora se se passa a entender os embargos declaratoacuterios como recurso de

lege lata51

o raciociacutenio eacute esse _ logicamente a comprovaccedilatildeo do depoacutesito seraacute tambeacutem

necessaacuteria ateacute mesmo no caso de interposiccedilatildeo de novos embargos Acreditamos assim

que nem todo litigante vai querer embargar inadvertidamente a menos que o valor da

causa seja iacutenfimo

Aqui abrem-se outras vertentes se o valor da causa eacute iacutenfimo o que se

faz

Sabemos que haacute o instrumento juriacutedico previsto para resoluccedilatildeo de tal

problema que eacute a impugnaccedilatildeo ao valor da causa52

devendo serem as partes zelosas para

com esse aspecto

Outrossim em caso de inflaccedilatildeo galopante conquanto estejamos com a

mesma controlada essa realidade era ateacute bem pouco tempo presente o que nos faz

sempre repensaacute-Ia - como seria a atualizaccedilatildeo desse valor da causa

Natildeo vemos outra alternativa senatildeo que a contadoria judicial proceda a

essa atualizaccedilatildeo a evitar-se maiores incidentes praacuteticos

Cabem ainda as sanccedilotildees previstas para a litigacircncia de maacute-feacute (countemp of

court) previstas nos arts 16 a 18 do CPC devendo o magistrado aplicaacute-Ias quando

tiver certo da ausecircncia de boas intenccedilotildees da parte com todo o vigor da lei

Outra opccedilatildeo - talvez a que nos pareccedila mais adequada - para a prevenccedilatildeo

da interposiccedilatildeo desregrada de embargos declaratoacuterios visando a postergaccedilatildeo do feito

aponta-nos o Mestre Cacircndido Rangel Dinamarco para quem MA modificaccedilatildeo do

julgado em casos assim eacute absolutamente ilegiacutetima quando feita sem a parte

embargada em contraditoacuterio Ainda que nada disponha a lei a respeito a observtincia

do contraditoacuterio nesses casos eacute de rigor constitucional e viola a garantia do

contraditoacuterio do julgamento feito sem oportunidade para a resposta do embargado53

(grifado)

Vemos assim acompanhando o raciocinio do mencionado autor como

perfeitamente possiacutevel a ouvida da parte contraacuteria quando sinta o julgador que a

decisatildeo merece ser reformada essa possibilidade por meio de embargos declaratoacuterios eacute

a exceccedilatildeo como salientaremos adiante

Em sendo assim jaacute seria outro fundamento para o natildeo conhecimento de

embargos manifestamente protelatoacuterios

Consequumlecircncia do antes exposto seria a soluccedilatildeo tambeacutem do problema do

efeito interruptivo (o 2deg apresentado) causando o adiamento anormal da interposiccedilatildeo do

recurso comumente admitido (apelaccedilatildeo recurso especial entre outros) Os causiacutedicos

das partes sucumbentes por prudecircncia natildeo os interporiam desmedidamente sob pena

de seu natildeo conhecimento e subsequumlente natildeo interrupccedilatildeo do prazo para novos recursos

VII3 - PODE O JUIacuteZO A QUO SINGULAR SUBSUMIR-SE NA

COMPETEcircNCIA DEVOLUTIVA DO OacuteRGAtildeO FRACIONAacuteRIO AD QUEM E

COMO INTERPRETAR ISSO Agrave LUZ DO PRINCIacutePIO DO DUPLO GRAU DE

51

Art 496 IV do CPC 52

A ser processada no prazo da defesa e na forma do art 261 do Regimento Processual 53

Ob citada p 206

JURISDICcedilAtildeO

Outro problema que vem agrave tona eacute saber se o juiz ou tribunal ao aceitar o

efeito transformador dos embargos declaratoacuterios - em sede de sentenccedilas54

terminativas

com ou sem meacuterito - natildeo estaria retardando a possiacutevel devoluccedilatildeo do julgamento ao

oacutergatildeo ad quem

Data vecircnia entendemos que a negativa se impotildee Em verdade ao

aceitar-se tais efeitos aos embargos declaratoacuterios estaacute o proacuteprio magistrado (dentro

sempre de seu prudente arbiacutetrio) reconhecendo o erro (crasso) que cometeu Seria justo

e necessaacuterio ter a parte que submeter-se obrigatoriamente ao recurso para o oacutergatildeo

superior para que visse a manifesta ilegalidade remediada

Temos conhecimentos de que modernamente vem o direito processual se

constituindo mais do que nunca a par de sua autonomia como ciecircncia juriacutedica em um

instrumento para consecuccedilatildeo dos direitos ofendidos das partes e mais

contemporaneamente para a composiccedilatildeo amigaacutevel dos litiacutegios

Expoente dessa nova tendecircncia processual Cacircndido Rangel Dinamarco

com proficuidade resume As ondas renovatoacuterias caracterizadoras das novas

tendecircncias do direito processual soacute se mostram concretas e uacuteteis na medida em que os

ideais de ampliaccedilatildeo da tutela jurisdicional se traduzam em teacutecnicas capazes de

melhorar os resultados apresentados aos consumidores do serviccedilo que satildeo os

membros da populaccedilatildeordquo55

Assim eacute cediccedilo que por exemplo uma apelaccedilatildeo (e a hipoacutetese vale para

quase todos os outros recursos com algumas mudanccedilas) leva para ser processada e

julgada um lapso temporal por demais longo Quanto de tempo e custos a parte e o

Judiciaacuterio poderiam ver poupados a adotar-se uma interpretaccedilatildeo mais aberta finaliacutestica

do objetivo do processo para os embargos declaratoacuterios

Sim diga-se isso pois embora improacutepriordquo56

o prazo de 5 (cinco) dias

do art 537 1- parte para que o juiz ou oacutergatildeo colegiado decida os embargos ainda

assim eacute um prazo bem menor do que o de uma apelaccedilatildeo ou mesmo um agravo - hoje

54

Nas interlocutoacuterias haacute de se analisar caso a caso a real necessidade da interposiccedilatildeo dos

embargos com efeitos infringentes uma vez que ao agravo de instrumento pode ser conferido o

efeito suspensivo em Iiminar bem como vecircm entendendo pioneiramente alguns pretoacuterios a

possibilidade da concessatildeo in li mine do pedido denegado (hipoacutetese de soluccedilatildeo para os casos

de decisotildees interlocutoacuterias denegatoacuterias que natildeo foram previstas pelo art 527 11 do CPC)

cientes que estatildeo estes colegiados do moderno espiacuterito de celeridade e natildeo prejuiacutezo agraves partes de

que veio encoberta a reforma (o Tribunal Regional Federal da 5 Regiatildeo eacute um honroso exemplo

conforme asseverou o eminente Professor e Juiz Federal potiguar Francisco Barros Dias em

Curso ministrado no Auditoacuterio da Justiccedila Federal de 07 a 11 de outubro de 1996) Outrossim

em pronunciamentos bastante recentes vecircm alguns Desembargadores do Tribunal de Justiccedila do

Rio Grande do Norte tambeacutem adotando esse entendimento na vanguarda do moderno direito

processual amparado na doutrina de Neacutelson Nery Juacutenior e Rosa Maria Andrade Nery in ob jaacute

citada 55

A Instrumentalidade das Formas 3 ed Malheiros p 227 56

Satildeo aqueles prazos em que a desobediecircncia natildeo leva a nada pois a lei natildeo prevecirc uma sanccedilatildeo

com efeito suspensivo possiacutevel

Nos tribunais a apresentaccedilatildeo deles seraacute sempre na sessatildeo subsequumlente

(CF 2- parte do artigo mencionado) ainda que saibamos que na maioria das vezes tal

natildeo aconteceraacute Mas o que se quer ressaltar eacute a ideacuteia de agilidade com que este

instrumento juriacutedico sui generis de impugnaccedilatildeo das decisotildees pode revestir-se

Nem se diga tambeacutem que esse raciociacutenio eacute um oacutebice ao princiacutepio do

duplo grau de jurisdiccedilatildeo (para Rui Portanova em trabalho que merece louvores melhor

seria dizecirc-Io duplo grau miacutenimo pois no direito paacutetrio haacute uma infindaacutevel possibilidade

de recursos57

) - aqui entendido como acesso aos diferentes graus de jurisdiccedilatildeo - uma

vez que seraacute mantida a possibilidade de acesso ao juiacutezo imediatamente superior (pelos

recursos de praxe)

Suponhamos que a parte entre com os embargos declaratoacuterios aspirando

que lhe sejam conferidos efeitos infringentes (de maneira direta58

ou reflexatildeo59

o juiz

retrata-se da decisatildeo (entendemos necessaacuterio como jaacute dito a ouvida da parte contraacuteria

em obseacutequio ao contraditoacuterio) Eacute dado a parte antes beneficiada e agora prejudicada

com o provimento jurisdicional interpor novos embargos de declaraccedilatildeo infringentes em

seus efeitos (esclareccedila-se contudo que essa oportunidade soacute deve ser concedida uma

uacutenica vez a cada uma das partes e em hipoacuteteses excepcionais)

Essa nova interposiccedilatildeo tanto pode ter a pretensatildeo honesta de mais uma

vez mudar a decisatildeo (hipoacutetese que quer parecer-nos pouco provaacutevel) ou de apenas

protelar o andamento do feito ou ainda de realmente visar esclarecer o julgado nas

hipoacuteteses do art 535 _ natildeo devendo serem logicamente admitidos

Ora natildeo haacute problema No primeiro caso o juiz se pronunciaraacute (se jaacute natildeo

o fez) no prazo de lei que eacute bastante exiacuteguo confirmando ou mudando (essa hipoacutetese

queremos deixar para o abstrato por que natildeo poderia o Juiz estar sempre se retratando

o que soacute seria aceitaacutevel uma uacutenica vez) a sua decisatildeo daiacute por diante entendendo

protelatoacuterios - o que evitaria a utilizaccedilatildeo leviana do instituto - quaisquer novos

embargos com esse escopo (sujeitas tais interposiccedilotildees agrave regra do art538)

Jaacute no caso da interposiccedilatildeo de embargos pela parte outrora beneficiada

unicamente e para protelar o feito caberaacute ao adequado preparo intelectual do

magistrado repelir a situaccedilatildeo como visto no subtoacutepico anterior

Aiacute entra o prudente arbiacutetrio do juiz pois se modificou - essa eacute sempre a

exceccedilatildeo repita-se - a sentenccedila o fez estribado em razotildees bastante fortes60

natildeo seria

consoante com o sistema processual vigente61

a sua retrataccedilatildeo indefinida

57 Cf ob citada p 265 58

Entendemos de forma direta quando a intenccedilatildeo da parte for manifestamente de atacar o

meacuterito objetivando expressamente a reforma da decisatildeo 59

A maneira reflexa como a vemos daacute-se quando a parte tenta intenta com os embargos

realmente visando afastar obscuridade eliminar contradiccedilatildeo ou suprir omissatildeo da forma como

permite o art 535 do CPC soacute que esses viacutecios estatildeo tatildeo arraigados e maculam tanto a decisatildeo

que o acolhimento dos embargos transmuda totalmente seu teor 60

Fundadas no prejuiacutezo manifesto que a(s) parte(s) poderiam ter com a decisatildeo originaacuteria 61

Se bem que a tiacutetulo meramente exemplificativo ao recurso de agravo eacute dada essa

possibilidade em que o juiz pode retratar-se de sua decisatildeo (tanto na hipoacutetese do retido como no

de instrumento) podendo fazecirc-Io uma uacutenica vez quando do andamento do recurso Caso a parte

Cabe ainda mais uma vez deles natildeo conhececirc-los o julgador quando

forem - manifestamente e fora de qualquer duacutevida protelatoacuterios considerando-se natildeo

interrompido o prazo para outros recursos62

Eacute sempre bom frisar que esse efeito infringente natildeo pode ser entendido

como regra mas a exceccedilatildeo O que se pretende eacute que o julgador conheccedila desses

embargos de declaraccedilatildeo excepcionaisrdquo com o espiacuterito aberto63

expurgando-se dogmas

e maniqueiacutesmos quanto ao ultrapassado efeito complementar e integrador dos

embargos entendendo-os sim como meio idocircneo para reforma das decisotildees em alguns

casos especiais em que o error in judicando ou o error in procedendo forem gritantes

Acreditamos que essa eacute uma ideacuteia a ser realmente pensada com muita

parcimocircnia

VIII - DAS HIPOacuteTESES DE MODIFICACcedilAtildeO ALBERGADAS PELA

JURISPRUDEcircNCIA

Tecircm-se entendido como possiacutevel a interposiccedilatildeo de embargos com efeitos

infringentes nas seguintes hipoacuteteses64

10) erro manifesto de julgamento65

20) quando

houver erro material no exame dos autosrdquo66

30) erro evidente quanto agrave tempestividade

do recurso natildeo conhecido67

agrave intempestividade de recurso conhecido68

agrave qualificaccedilatildeo

juriacutedica do fato69

a formalidade essencial natildeo observada nos autos70

a fato relevante

com repercussatildeo sobre a conclusatildeo do julgado71

a recurso conhecido por equiacutevoco

contraacuteria sinta-se prejudicada teraacute de interpor outro recurso se quiser atacar a decisatildeo jaacute

retratada Vide a respeito os arts 523 sect 2deg e 529 todos do Coacutedigo de Processo Civil

62 Haacute entendimentos mutatis mutandis (pois datam de antes da lei

895094) nesse sentido natildeo interrupccedilatildeo do prazo - quando os embargos satildeo intempestivos ou incabiacuteveis ou ainda interpostos contra decisatildeo que em termos claros rejeitou outros embargos de declaraccedilatildeo cf RT J 150327 e JTA 118394 colhido por Theotocircnio Negratildeo ob citada art 538 notas 2 e 4 p 416 (A jurisprudecircncia eacute anterior agrave reforma da lei)

63

Assim jaacute o disse o Indigitado Ministro Marco Aureacutelio no Recurso Extraordinaacuterio nordm 111787

in RTJ 138249

64

Cf o prestigiado Theotocircnio Negratildeo ob citada nota 1 Ob ao art 535 pp 410-411 65

RSTJ 39289 66

STJRJ18554 67

5T J_3a Turma REsp 3994-MS reI Min Nilson Naves j 21691 receberam os embs vu

DJU 12891 p 10553 l col STJ-4 Turma REsp 6739-BA rei Min 5aacutelvio de Figueiredo j 13891 deram provimento VU DJU 9991 p 12207 l col em ST J-4 Turma REsp 13100GO rei Min Athos Carneiro j 29692 deram provimento VU DJU 3892 p 11323 2 col em STF-RT 600238 RT 618194 633163 RJT JESP 5025 96366 JTA 38389 55168 5931394352 Lex-JTA 73257 74215 BoI AASP 1290213 1436154 RP 39317 68

ST J-1 Turma AG 23785-5-SP-AgRg-EDcl rei Min Demoacutecrito Reinaldo j 91292 receberam os embs VU DJU 15293 p 16702 col em 69

JTA 93385 70

RJT JERGS 168153 71

RTFR 15201 RP 57253 JT A 108287 ST J-4 Turma REsp 19564-SP rei Min Barros Monteiro j 18592 natildeo conheceram VU DJU 22692 p 9765 2 col em ST J-1 Seccedilatildeo MS 913-DF reI Min Ameacuterico Luz j 121191 homologaram a desistecircncia vu DJU

manifesto72

dentre outras hipoacuteteses

Nelson Nery Juacutenior73

expressamente indica as seguintes hipoacuteteses a)

correccedilatildeo de erro material manifesto b) suprimento de omissatildeo c) extirpaccedilatildeo de

contradiccedilatildeo

Mas entende ainda o autor possiacutevel contra decisotildees ultra petita74

erro

manifesto75

e erro de fato76

Em hipoacuteteses bastante assemelhadas Antonio de Paacutedua Ferraz

Nogueira77

indica a possibilidade de efeitos infringentes nos embargos declaratoacuterios

quando a) a apelaccedilatildeo ou agravo natildeo forem conhecidos em face de equivocada afericcedilatildeo

do prazo de interposiccedilatildeo ou por qualquer erro material b) quando houver omissatildeo de

decisatildeo quanto a questatildeo que se pretende seja objeto de recursos especial e

extraordinaacuterio - de que jaacute se falou - podendo ensejar outra conclusatildeo de modo a

modificar o aresto c) houver contradiccedilatildeo inadvertida que se mantida macularaacute o

julgado e contrariaraacute o sentido do fundamento da decisatildeo

Veja-se que os casos exemplificados satildeo bastante abrangentes A tiacutetulo

meramente confirmatoacuterio entendemos que os embargos declaratoacuterios com efeitos

infringentes podem ser interpostos sempre que houver um erro grave de um

determinado provimento jurisdicional78

De lembrar ainda que o STF por natildeo dispor de outros recursos para suas

decisotildees sempre aceitou com largueza os embargos de declaraccedilatildeo com efeitos

modificativos79

IX - CONCLUSAtildeO

Ex positis concluiacutemos

1deg) Os embargos de declaraccedilatildeo satildeo formas

recursais anocircmalas inseridas pelo legislador no Tiacutetulo dos Recursos do

CPC mais pela similitude do que pela natureza

23991 p 17503 2 col em ST J-4 Turma REsp 3227-ES-EDcl rei Min Athos Cameiro j 6891 deram provimento VU DJU 23991 p 130852 col em STJ-2 Turma REsp 13667-SP rei Min Ameacuterico Luz j 21291 VU DJU 3292 p 455 1 col em 72

ST J-RT 670182 73

Comentaacuterios ob citada pp 965-966 74

RSTJ 50556 75

STJ 1 T EDclREsp 47206-7-DF rei Min Demoacutecrito Reinaldo VU j 821995 DJU

631995 p 4319 76

JTACivSP 110256 108287 100178933858631853168 RT 562146 RTJ 57145

Lex-JT A 105352 RJT JRS 69136 77

Ob citada 78

Exemplos praacuteticos ocorridos com este estudioso foram o de acolhimento pelo magistrado de oficio de prescriccedilatildeo intercorrente em sede de direitos patrimoniais (a despeito de norma legal em sentido contraacuterio e amplos entendimentos jurisprudenciais no mesmo sentido) bem como de errocircnea extinccedilatildeo total do feito quando se requereu a desistecircncia em relaccedilatildeo a apenas um dos demandados 79

Vide para maiores esclarecimentos Thetocircnio Negratildeo ob citada na nota 3 ao art 337 do

Regimento Interno do STF agraves pp 1269-1270 Vide ainda citadas pelo mesmo autor RT J

941167 E 114351

2deg) Satildeo previstos especificamente para integrar complementar ou

aclarear o julgador podendo em alguns desses casos modificar o julgado

3deg) Quando assim o fazem acreditamos que

transformam-se efetivamente e no contexto em que conhecemos em

recurso

4deg) Haacute uma tendecircncia bastante forte na doutrina e na jurisprudecircncia de

aceitaacute-Ios com efeitos infringentes em casos de erros absurdos em decisotildees

(terminativas ou natildeo) e ateacute mesmo em despachos

5deg) O julgador deve deles conhececirc-Ios com o espiacuterito acolhedor sempre

levando em conta a interpretaccedilatildeo finalista do processo como instrumento adequado a

atingir-se a composiccedilatildeo dos conflitos e ainda e talvez precipuamente o fator tempo a

que a parte se submeteraacute aguardando o processamento de um verdadeiro recurso que

demande mais complexidade quando em determinadas hipoacuteteses o mesmo julgador

poderia decidir a questatildeo de maneira bastante satisfatoacuteria

6ordm) os ditos efeitos infringentes podem dar-se de maneira reflexa (quando

satildeo os embargos utilizados na forma e para os efeitos previstos no art 535) ou

diretamente (vislumbrando-se claramente a modificaccedilatildeo do decisum ainda que tambeacutem

supedaneados no art 535)

7ordm) A modificaccedilatildeo dos efeitos quando assim feita de forma direta deve

necessariamente passar pelo crivo do contraditoacuterio

8deg) Haacute de se tomar paracircmetros (cabendo ao prudente arbiacutetrio e saber do

magistrado) para essa substancial mudanccedila do julgado ou seja o caso em concreto deve

ser verdadeiramente ensejador de tal medida

9ordm) ademais disso agraves partes caberaacute verificarem a viabilidade de tal

atitude adequando-a sob as penas do art 538 do natildeo conhecimento do recurso

meramente protelatoacuterio (com a consequumlente natildeo interrupccedilatildeo do prazo para a

interposiccedilatildeo de outros recursos) e ainda da litigacircncia de maacute-feacute

Pela propriedade de conteuacutedo achamos por bem transcrever o

ensinamento do preclaro Antonio Carlos de Arauacutejo Cintra ao afirmar que na

potencialidade proacutepria dos embargos de declaraccedilatildeo estaacute contida a forccedila de

alterar a decisatildeo embargada na medida em que isto seja necessaacuterio para atender

agrave sua finalidade legal de esclarecer a obscuridade resolver a contradiccedilatildeo ou

suprir a omissatildeo verificada naquela decisatildeo Qualquer restriccedilatildeo que se oponha a

essa forccedila modificativa dos embargos de declaraccedilatildeo nos estritos limites

necessaacuterios agrave consecuccedilatildeo de sua finalidade especifica constituiraacute artificialismo

injustificaacutevel que produziraacute a mutilaccedilatildeo do institutordquo80

Ora se ficou demonstrado que mesmo quando os embargos cumprem

sua funccedilatildeo especiacutefica (esclarecer a obscuridade resolver a contradiccedilatildeo e suprir a

omissatildeo) eacute possiacutevel a alteraccedilatildeo substancial do julgado eacute inegaacutevel que em tais casos

assumam os embargos a natureza de recurso tanto mais quando tecircm a intenccedilatildeo

manifesta de infringir-lhe o meacuterito

E se na espeacutecie de maneira natildeo intencional transmuda o julgado natildeo

soacute retificando-o mas ateacute mesmo invertendo paradoxalmente seu conteuacutedo eacute

plenamente aceitaacutevel que em decisotildees teratoloacutegicas - no sentido de prejuiacutezo

irreparaacutevel ou de natildeo razoabilidade de que a parte se submeta agrave interposiccedilatildeo de outros

recursos que demandem maior tempo de processamento - possa o oacutergatildeo julgador

aceitaacute-Ios com efeitos infringentes

80

Apud Antonio de Paacutedua Ferraz Nogueira ob citada

Ao permitir tal assertiva entendemos que o princiacutepio da infringecircncia dos

embargos declaratoacuterios em hipoacuteteses esdruacutexulas deve ser estendido (de maneira racional

e observando sempre o juiz o caso em concreto no particular) possibilitando agraves partes a

menor forma de prejuiacutezo atendo-se o processo para o atendimento do trinocircmio custo-

tempo-benefiacutecio da prestaccedilatildeo jurisdicional pois como jaacute disse citado Ministro Marco

Aureacutelio a parte tem direito agrave entrega da prestaccedilatildeo jurisdicional de forma clara e

precisa Cumpre ao oacutergatildeo julgador apreciar os embargos de declaraccedilatildeo com o

espiacuterito aberto entendendo-o como meio indispensaacutevel agrave seguranccedila nos

provimentos judiciaisrdquo81

Xndash REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Alvim J E Carreira Accedilatildeo Monitoacuteria e Temas Polecircmicos da Reforma

Processual Dei Rey Belo Horizonte 1995

Aragatildeo E D Moniz de Embargos de Declaraccedilatildeo RT 63311

Baptista Sonia M de Almeida Embargos de Declaraccedilatildeo - Inovaccedilotildees da

Reforma RP 8027

Bermudes Sergio A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil Saraiva 2-

ed Satildeo Paulo 1996

Borges Marcos Afonso Embargos de Declaraccedilatildeo - Omissatildeo - Efeito

Modificativo RP 51191

Dinamarco Cacircndido Rangel

A Instrumentalidade do Processo 3ordf ed Malheiros Satildeo Paulo 1993

A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil 3ordf ed Malheiros Satildeo Paulo

1993

Fadei Sergio Sahione Coacutedigo de Processo Civil Comentado Tomo III J

Kofino Editor 1974

Marques Joseacute Frederico Manual de Direito Processual Civil Vol 111 -

Processo de Conhecimento 28 parte Saraiva 2

8 ed

Negratildeo Theotocircnio Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo Processual

em Vigor 27 ed Saraiva Satildeo Paulo 1996

Nery Junior Nelson

81

Cf nota 63

Aspectos da Teoria Geral dos Recursos no Processo Civil RP 51155

Reflexotildees Sobre o Sistema dos Recursos Ciacuteveis na Reforma Processual

de 1994 RP 79118

Nery Junior Nelson Nery Rosa Maria Andrade Coacutediao de Processo

Civil Comentado 28 ed Editora Revista dos Tribunais SAo Paulo 1996

Nogueira Antonio de Paacutedua Ferraz Princiacutepios Fundamentais dos

Embargos de Declaraccedilatildeo (Com as Alteraccedilotildees da Lei 895094) RP 777

Portanova Rui Princiacutepios do Processo Civil Livraria do Advogado

Editora Porto Alegre 1995

Silva Ovidio A Batista da Curso de Processo Civil Vol I - Processo de

Conhecimento 3ordf ed Sergio Antonio Fabris Editor Porto Alegre 1996

Theodoro Juacutenior Humberto Theodoro Curso de Direito Processual

Civil Vol I - Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento 12

ed Editora Forense Rio de Janeiro 1994

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO REQUISITO EMBARACcedilOSO Agrave

ATIVIDADE POSTULA TOacuteRIA

Joatildeo Eduardo Ribeiro de Oliveira

Concluinte do Curso de Direito da UFRN

Sumaacuterio I - A reforma atual e o art 282 do CPC II - As tendecircncias

da accedilatildeo no decorrer do tempo III Lentidatildeo processual e esquecimento do pedido de

citaccedilatildeo IV - Situaccedilotildees aparentemente discutiacuteveis VA citaccedilatildeo estatal VI -

Referecircncias bibliograacuteficas

I A REFORMA ATUAL E O ARTIGO 282 DO CPC

A preocupaccedilatildeo em se adaptar as normas juriacutedicas ao clamor popular

com a real satisfaccedilatildeo jurisdicional culminou na extensa e complexa revisatildeo do Coacutedigo

de Processo Civil

O volume excessivo de contendas nos diversos juiacutezos do paiacutes e o

insuficiente nuacutemero de magistrados terminam por ensejar modificaccedilotildees na legislaccedilatildeo

notada mente a processual com o propoacutesito de alcanccedilar a tatildeo pretendida efetividade do

processo

Nessa intenccedilatildeo foi formada a comissatildeo que realizaria o Anteprojeto de

Modificaccedilatildeo do Coacutedigo de Processo Civil (1985) Apesar da desaprovaccedilatildeo do referido

esboccedilo conseguiram esses estudiosos embasar a novel comissatildeo encarregada da difiacutecil

tarefa de reforma da regecircncia processual

De forma consentacircnea preferiram os notaacuteveis revisores fazer uma

reelaboraccedilatildeo descentralizada por meio de sucessivos projetos de lei que permitiram

uma raacutepida tramitaccedilatildeo do processo legislativo

Evitou-se o longo debate que seria travado se todo um anteprojeto fosse

enviado ao Legislativo como ocorreu com a tentativa de criaccedilatildeo do novo Coacutedigo Civil

(Projeto de lei 63475) Aleacutem do mais permaneceu iacutentegra a estrutura do CPC o que

favoreceraacute a compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos novos textos legais insertos

Alteraccedilotildees das mais significantes revolucionaram o campo processual

comeccedilando a tornaacute-Io mais que um centro de tecnicismo um processo de resultados1

Assim eacute a possibilidade de efetivaccedilatildeo antecipada do direito pleiteado segundo os

moldes do artigo 273 do CPC Nesse contexto pode-se hoje auferir o beneficio

provindo do mandamento judicial logo na fase de apreciaccedilatildeo inicial da peccedila

postulatoacuteria se ultrapassados os requisitos preacutevios e presentes as exigecircncias para

antecipaccedilatildeo da satisfaccedilatildeo

O alargamento do repuacutedio agrave deslealdade das partes igualmente foi tema

da restauraccedilatildeo legislativa modernizando-se a sistemaacutetica de repressatildeo agrave litigacircncia de

maacute-feacute com a aplicaccedilatildeo do countemp of court (disciplina dos atos atentaacutetorios agrave

dignidade da Justiccedila) e de condenaccedilotildees civis - as astreintes de origem francesa - (art

18 CPC)

Tambeacutem foram disciplinadas pequenas incorreccedilotildees como a

desencontrada nomeaccedilatildeo dos procedimentos civis A Lei 924595 destinou o

procedimento sumariacutessimo agraves causas de menor complexidade quando alterou os

dispositivos 275 a 281 do CPC O termo laudo passou a ser especifico do perito ou

1 Cacircndido Rangel Dinamarca A Reforma do Coacutedigo de Processo Civil p 20

seja do agente oficial de esclarecimento teacutecnico enquanto que o parecer seraacute

nomenclatura do exame pericial realizado pelos assistentes das partes (art 433 do CPC

modificado pela Lei 845592)

Outra finalidade foi tornar alguns procedimentos mais ceacuteleres e isentos

de certos estorvos De tal forma ocorreu por exemplo com a execuccedilatildeo das obrigaccedilotildees

de fazer e natildeo fazer com a accedilatildeo de consignaccedilatildeo com os embargos de declaraccedilatildeo e

recentemente com o agravo sofredor de total remodelagem com o advento da Lei

913995

Essas mudanccedilas provecircm da concepccedilatildeo majoritaacuteria de que os modernos

caminhos do Direito devem tender sempre para a pacificaccedilatildeo social O processo natildeo

mais basta por si soacute reduzido a uma profunda anaacutelise cientiacutefica direcionada para o

aprimoramento proacuteprio sem a visatildeo funcional que atualmente eacute aplicada

Hoje com essa evoluccedilatildeo conceitual muitas praacuteticas do cotidiano

judicial estatildeo sendo revitalizadas seja pela interpretaccedilatildeo do julgador ou pela

recomposiccedilatildeo dos institutos processuais A desnecessidade de requisiccedilatildeo expressa de

citaccedilatildeo do demandado eacute um toacutepico a ser estudado dentro desse contexto

Entretanto antes das consideraccedilotildees centrais sobre o chamamento

explicito do reacuteu eacute importante para o desenrolar do tema a exatificaccedilatildeo do avanccedilo por

que passou o direito de accedilatildeo ateacute chegar ao momento presente

II AS TENDEcircNCIAS DA ACcedilAtildeO NO DECORRER DO TEMPO

Natildeo obstante a quase unacircnime confirmaccedilatildeo da dissidecircncia entre o direito

de accedilatildeo e o direito material tutelado ou seja da pretensatildeo pura de reivindicar um

beneficio concreto nem sempre tal clareza foi assente A possibilidade de intervenccedilatildeo

estatal para se evitar um confronto humano progrediu com o passar dos anos ateacute chegar

agrave fase atual de instrumento

Apoacutes a superaccedilatildeo do momento selvagem de resoluccedilatildeo dos conflitos

predominou o direito privado dos romanos no qual havia completa preponderacircncia dos

contratos (ou quase-contratos) sobre as relaccedilotildees da vida romana Decorrente dessa

concepccedilatildeo privatista accedilatildeo e direito substancial convergiram para um mesmo sentido O

direito de accedilatildeo era simplesmente e nada mais que o proacuteprio privileacutegio subjetivo agitado

A fase imanentista claacutessica ou sincreacutetica estava vigorando

Foi na Alemanha que se firmou o berccedilo da independecircncia da accedilatildeo

quando MUTHER WINDSCHEID e BUumlLLOW comeccedilaram a defender a diferenciaccedilatildeo

entre o direito agrave proteccedilatildeo do Estado e o beneficio material atribuiacutedo Do pensamento de

sincretismo passa-se a estabelecer a autonomia entre os dois ramos

Pregou WACH valendo-se das ideacuteias mutherianas a autonomia da accedilatildeo

como direito empreendido contra o Estado por ser este o responsaacutevel pela

concretizaccedilatildeo da paciacutefica convivecircncia humana Mas o direito de accedilatildeo somente se

tomaria existente se a prestaccedilatildeo jurisdicional fosse entregue ao postulante atraveacutes de

sentenccedila pois nesse momento estaria nascendo concretamente Foi nesses termos que o

supracitado estudioso concebeu a Teoria do Direito Concreto agrave Tutela

CHIOVENDA propugnou o destino do requerimento judicial incidente

sobre o reacuteu e natildeo contra o Estado Esse direito se configura como um poder atribuiacutedo ao

demandante na medida em que o reacuteu natildeo pode impedir o ingresso do autor em juiacutezo

da mesma forma que o mandataacuterio natildeo pode impedir que o mandante revogue a

procuraccedilatildeo2

2 Fernando da Costa Tourinho Filho Processo Penal voI 1 p 268

Posteriormente iniciou-se novo progresso cientiacutefico (PLOSZ e

DEGENKOLB) ao se conceber a subsistecircncia do direito de accedilatildeo natildeo soacute quando haacute uma

sentenccedila favoraacutevel mas tambeacutem pelo simples fato de existecircncia de interesse protegido

abstratamente pelo Direito MOACIR AMARAL DOS SANTOS explica Haacute pois

lugar para que se distingam dois interesses diversos o interesse tutelado pelo direito e o

interesse na tutela daquele pelo Estado3

O interesse na eliminaccedilatildeo dos empecilhos agrave fruiccedilatildeo de bens humanos

(chamado de secundaacuterio por MOACIR AMARAL DOS SANTOS) qualifica-se como o

direito subjetivo que viabiliza o interesse principal (aquilo que eacute desejado pelo homem e

que natildeo estaacute ao seu alcance)

Por isso eacute abstrata a pretensatildeo de ingresso judicial pois natildeo se

condiciona necessariamente agrave existecircncia efetiva de um direito subjetivo material ()

bastando que o sujeito do direito de accedilatildeo para exercecirc-Io se refira a um interesse

primaacuterio juridicamente protegido4

Entre a total ausecircncia de limites para a solicitaccedilatildeo jurisdicional e a

vinculaccedilatildeo estrita agrave procedecircncia da sentenccedila situou-se LIEBMAN reconhecendo o

exerciacutecio pleno do direito de accedilatildeo mas que eacute preciso o trespasse de certos requisitos

para o exame juriacutedico da lide

O entendimento do mestre se resume em suas proacuteprias liccedilotildees

Inconcebiacutevel eacute que se reconheccedila indistintamente como quer a teoria da accedilatildeo como

direito abstrato a toda e qualquer pessoa sem qualquer condicionamento o direito de

pedir a prestaccedilatildeo da tutela jurisdicional5

As lides alcanccedilam a possibilidade de apreciaccedilatildeo integral pelo Judiciaacuterio

atraveacutes do juiacutezo de admissibiacutelidade consoante ponderaccedilatildeo do Professor WALTER

NUNES DA SILVA JR O Oacutergatildeo Judicante soacute pode e deve se pronunciar acerca do

meacuterito da questatildeo se o titular da pretensatildeo satisfizer as condiccedilotildees da accedilatildeo e pressupostos

processuais6

Sem a presenccedila desses preacutevios condicionamentos o postulante manteacutem

a prerrogativa de ser ouvido pelo Estado mas natildeo de receber uma elaboraccedilatildeo

sentencial acerca do cabimento ou natildeo de seu direito Limita-se o ente estatal a afirmar

que a pretensatildeo natildeo pocircde ser analisada por carecircncia dos elementos imprescindiacuteveis a

uma examinaccedilatildeo mais complexa

Apoacutes constataccedilatildeo da viabilidade da accedilatildeo e do processo (atraveacutes da

averiguaccedilatildeo das condiccedilotildees da accedilatildeo e dos pressupostos processuais respectivamente) eacute

dado iniacutecio agrave investigaccedilatildeo profunda da Iiccedila

Diferencia-se nitidamente o exame inicial da lide da anaacutelise meritoacuteria

que redundaraacute na sentenccedila pois esta sobre tender para os valores de seguranccedila

juriacutedica e da Justiccedila eacute especifica e iacutendividualizante concernindo ao pedido e sua

fundamentaccedilatildeo Consequumlentemente como a implementaccedilatildeo da admissibilidade eacute

exigecircncia que atende ao principio da economia processual eacute ela de ser examinada

3 Moacir Amaral dos Santos Primeiras Linhas de Direito Processual

Civil vol 1 p 147 4 Moacir A dos Santos ibid p 148 5 Liebman apud Walter Nunes da Silva Juacutenior Condiccedilotildees da Accedilatildeo e Pressupostos Processuais

p 75 6 Ob cit p 70

sempre antes da fundamentaccedilatildeo7

Frutos da nova geraccedilatildeo autonomista nasceram no Brasil os coacutedigos de

1939 e 1973 este uacuteltimo o atual regimento em termo de processo civil A marca

peculiar dessas criaccedilotildees juriacutedicas foi o extremo tecnicismo imposto pela necessidade de

se acentuar a independecircncia processual

Atingida a perfeita conformaccedilatildeo da existecircncia independente da seara

processual foi originada uma nova revitalizaccedilatildeo no meio juriacutedico mundial

enxergando-se o processo mais como meio de apaziguamento social A supra-

importacircncia das regras procedimentais cedeu espaccedilo para os objetivos extriacutensecos do

instrumentalismo

A instrumental idade do processo se solidifica no pensamento de um de

seus maiores mentores CAcircNDIDO RANGEL DINAMARCO quando diz Eacute preciso

aleacutem do objetivo puramente juriacutedico da jurisdiccedilatildeo encarar tambeacutem as tarefas que lhe

cabem perante a sociedade e perante o Estado como tal8 O processualista inicia o

abandono da visatildeo introspectiva para despertar uma intensa interferecircncia social

III LENTIDAtildeO PROCESSUAL E ESQUECIMENTO DO

PEDIDO DE CITACcedilAtildeO

Eacute sabido que natildeo cabe ao julgador iniciar a atividade jurisdicional em

desabono da movimentaccedilatildeo da parte Resguardando-se os princiacutepios da igualdade e da

imparcialidade eacute que sobressai o princiacutepio de que cabe ao interessado trazer a juiacutezo suas

razotildees a identificaccedilatildeo (qualificaccedilatildeo) da pessoa a suportar os efeitos de uma provaacutevel

decisatildeo judicial e as demais informaccedilotildees condizentes com a postulaccedilatildeo judicial

(princiacutepio da demanda)

A citaccedilatildeo eacute o ato processual que objetiva comunicar ao demandado o

litiacutegio judicial proposto contra o mesmo para que entatildeo possa reagir contra a

pretensatildeo ajuizada auxiliando o juiz na busca da verdade Por ser pressuposto

processual a presenccedila do ato citatoacuterio significa que o processo somente evoluiraacute se o

chamado da parte demandada tiver sido realizado satisfatoriamente Herdou-se para os

sistemas juriacutedicos atuais o brocardo nemo debet inauditus damnari (ningueacutem deve ser

condenado sem ser ouvido) segundo observaccedilatildeo de EDSON PRATA9

A peticcedilatildeo inicial eacute justamente o instrumento haacutebil a propiciar a

concessatildeo das necessidades patrimoniais ou pessoais por atuaccedilatildeo do magistrado oacutergatildeo

especialmente incumbido dessa outorga Eacute de interesse do Estado disciplinar o

conteuacutedo do requisitoacuterio e o faz enaltecendo os atributos insupriveis para o intento

judicial significando que na falta de qualquer deles natildeo estaraacute a outra parte em

condiccedilotildees de exercer o direito de defesa na sua plenitude nem o juiz teraacute os elementos

suficientes agrave aplicaccedilatildeo da lei10

Como principal orientador do elenco que deve coexistir na exordial

termos no CPC

Art 282 A peticcedilatildeo indicaraacute

7 Donaldo Arnaldo apud Marcelo Navarro Ribeiro Dantas Admissibilidade e Meacuterito na

Execuccedilatildeo p 26 8 A Instrumentalidade do Processo p 153

9 Crise do Processo p 59

10 James Eduardo Oliveira Juizo de Admissibilidade da Peticcedil30 Inicial p 39

I - O juiz ou tribunal a que eacute dirigida

II - os nomes prenomes estado civil profissatildeo domiciacutelio e

residecircncia do autor e do reacuteu

III - o fato e os fundamentos juriacutedicos do pedido 1 - () pedido

com suas especificaccedilotildees

v - o valor da causa

JI] - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos

fatos alegados

VII - o requerimento vara a citaccedilatildeo do reacuteu (destaque intencional)

De acordo com a eventual ausecircncia dos supracitados itens na

peticcedilatildeo inicial verificam-se defeitos substanciais que exigem pronto

indeferimento e defeitos natildeo-substanciais que importam em outorga de lance

proacuteprio de correccedilatildeo 11

Em atenccedilatildeo aos artigos 282 a 285 e 295 do CPC estaacute o julgador

condicionado a possibilitar a emenda da inicial indeferi-Ia sem estudo do pedido ou

determinar a convocaccedilatildeo do demandado

A carecircncia dos incisos I V e VI do art 282 (e o artigo 283 do CPC)

embora natildeo proporcionem de imediato o desprezo da inicial devem ser providenciados

sob pena de impossibilidade de julgamento O inciso VII daquele artigo eacute o uacutenico que

se prende unicamente a uma formalidade natildeo dificultando a subsequumlente apreciaccedilatildeo do

feito ante sua inobservacircncia

O defeito de falta de citaccedilatildeo eacute de forma natildeo adentrando na substacircncia da

accedilatildeo como fazem os incisos li 111 e IV do mesmo dispositivo

Pois bem A falta do pedido de citaccedilatildeo acarreta despacho ordinatoacuterio do

juiz determinando que o solicitante afirme o desejo de chamamento do reacuteu Em esparsas

linhas o advogado obedeceraacute ao mandamento judicial para soacute depois conseguir o

regular andamento do feito o que poderaacute demandar um tempo excessivamente longo

pois envolve natildeo soacute ato do juiz mas da secretaria judiciaacuteria do oacutergatildeo de publicidade e

da proacutepria parte

A cientificaccedilatildeo da parte oposta se encerra como absolutamente loacutegica

Ao ingressar em juiacutezo a parte solicitante deseja ter resposta do Estado o que soacute pode

ser feito com a oitiva do indicado por atenccedilatildeo obrigatoacuteria ao devido processo legal

acolhedor dos princiacutepios do contraditoacuterio e da ampla defesa

Mesmo com o nascimento de uma nova mentalidade muitos

profissionais da aacuterea juriacutedica relutam em admitir a impraticidade do inciso VII do art

282 do CPC Esse eacute o entendimento de MARCELO GUIMARAtildeES RODRIGUES Tal

orientaccedilatildeo equipara-se a uma faca de dois gumes Ao deixar-se de lado certas regras

essenciais do processo que visam a lhe conferir estabilidade seguranccedila e legitimidade

pode-se tambeacutem estar abrindo caminho para uma completa generalizada e incontrolaacutevel

11 James Eduardo Oliveira ob cit p 39

insubordinaccedilatildeo do procedimento agrave lei12

Com o devido respeito pensamos que inocorre a gravidade salientada

pelo ilustre doutrinador Sendo somente uma das facetas que exprimem a organizaccedilatildeo

social natildeo almeja o Poder Judiciaacuterio desconsiderar a existecircncia da lei mesmo porque

dela necessita para concretamente dirimir as insatisfaccedilotildees sociais

Aleacutem do mais a produccedilatildeo legislativa conteacutem as mesmas limitaccedilotildees

encontradas em todas as atividades do homem Eacute preciso que o julgador se previna da

possiacutevel imperfeiccedilatildeo de uma norma porquanto ao se considerar o principio elementar

da falibilidade e da arbitrariedade eventuais do legislador na elaboraccedilatildeo da norma legal

o juiz natildeo pode apercebendo-se disso aplicaacute-Ia simplesmente13

A corrente que nega a possibilidade do julgador citar de ofiacutecio o reacuteu

pugna pela maacutecula agrave imparcialidade e isonomia obrigatoacuterias nas relaccedilotildees juriacutedicas que

envolvem julgamento Todavia natildeo se vecirc qualquer ferimento aos princiacutepios acima

exaltados

A arguumliccedilatildeo de desrespeito agrave imparcialidade do julgador natildeo convence

primeiro porque o juiz manda citar como ente estatal interessado somente em

exterminar o desequiliacutebrio social conforme os interesses da coletividade segundo pelo

fato de que a lide jaacute estaacute iniciada com o trespasse dos fundamentos e da pretensatildeo do

autor embora que de forma ainda natildeo triangular

Natildeo haacute tambeacutem sentido em se dizer que a citaccedilatildeo ex officio resultaria em

benefiacutecio para uma das partes O suplicado teraacute prazo para alegar mateacuteria de defesa da

mesma forma que na circunstacircncia do rogo citatoacuterio existente na peccedila proemial A

contestaccedilatildeo natildeo obteacutem vantagens ou prejuizos com a diligecircncia oficial de citaccedilatildeo

Inversamente o informe realizado sem a solicitaccedilatildeo direta do autor

encontra respaldo na insubstituiacutevel economia processual sem macular nenhum outro

princiacutepio implantado no ordenamento juriacutedico

Prova tambeacutem consistente de que o requerimento da citaccedilatildeo possui

importacircncia secundaacuteria na atividade processual reside na disposiccedilatildeo contida no

paraacutegrafo 1deg do artigo 214 (CPC) sect 1deg O comparecimento espontacircneo do reacuteu supre

entretanto a falta de citaccedilatildeo (Igual regulamentaccedilatildeo eacute encontrada no art 18 sect 3deg da

Lei dos Juizados Especiais Ciacuteveis e Criminais - 909995)

Oportunamente ressalta o Professor FRANCISCO BARROS DIAS O

princiacutepio da economia faz nascer vaacuterios outros que se entrelaccedilam perfeitamente tais

como o aproveitamento dos atos processuais a renovaccedilatildeo dos atos processuais o

12 A Ineacutepcia da Inicial por Falta do Requerimento da Citaccedilatildeo Prevalece a Finalidade ou o

Pressuposto de Ordem Puacuteblica diante do Principio Dispositivo p 276

13

Dagoberto Romani O Juiz entre a Lei e o Direito p 234

prejuiacutezo a finalidade e a especificidade14

O objetivo do ato quando alcanccedilado torna-o eficaz Do contraacuterio natildeo

haveria por que inserir o paraacutegrafo uacutenico do art 250 no CPC do qual se extrai a

essecircncia do principio da finalidade e do aproveitamento dos atos processuais

sustentando a legalidade do suprimento judicial

IV SITUACcedilOtildeES APARENTEMENTE DISCUTIacuteVEIS

Haacute casos que agrave primeira vista poderiam impedir uma maior diligecircncia

por parte do julgador Satildeo exemplos a citaccedilatildeo de litisconsortes necessaacuterios como o

cocircnjuge (incisos do sect 1 o do artigo 10 do CPC) os confinantes condocircminos e

eventuais interessados nas accedilotildees divisoacuterias demarcatoacuterias e de usucapiatildeo a intervenccedilatildeo

de terceiros do Capitulo VI - Tiacutetulo 11 do CPC e a intimaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico

quando inevitaacutevel sua participaccedilatildeo

Nessas circunstacircncias seria forccedilosa a ordem de emenda da inicial para

suprir o pedido de chamamento Ainda assim eacute possiacutevel se assegurar que

insubstituiacuteveis satildeo os atributos trazidos pelo demandante de identificaccedilatildeo do

Iitisconsorte do confinante do condocircmino e do interessado

Para julgar a lide faz-se obrigatoacuteria a inclusatildeo do nome qualificaccedilatildeo

profissatildeo e endereccedilo para trazer o potencial litigante ao campo do processo

informativos esses que satildeo requisitados pelo inciso II do art 282 do CPC e natildeo pelo seu

inciso VII notabilizador do propoacutesito de comunicar a demanda ao reacuteu

Alguns estudiosos defendem nesse contexto a reformulaccedilatildeo do inciso

VII do art 282 substituindo o requerimento de citaccedilatildeo por uma correta e inequiacutevoca

promoccedilatildeo postulatoacuteria da mesma forma que foi utilizada no art 47 sect uacutenico do CPC

quando determina que o autor promova a citaccedilatildeo dos Litissconsortes Promover

significa entregar agrave autoridade judicial todas as informaccedilotildees pessoais do litisconsorte

que facilitaratildeo a notiacutecia do intento

A exigecircncia de qualificaccedilatildeo da parte acontece igualmente na intervenccedilatildeo

de terceiros quando o opoente o nomeante o denunciante e o reacuteu no chamamento ao

processo (arts 57 65 71 e 78 do CPC respectivamente) provocam a entrada do

litigante pela sua especificaccedilatildeo e natildeo pelo singelo pleito de citaccedilatildeo

Eacute certo que nestas suposiccedilotildees quando a minudecircncia do provaacutevel

litigante natildeo puder ser efetivada por questatildeo de incerteza quanto a sua localizaccedilatildeo ou

sua identidade seraacute prudente o patrono informar a necessidade de citaccedilatildeo editaliacutecia por

desconhecimento de quem seja o Litisconsorte ou onde se localize

Outro aspecto merecedor de atenccedilotildees eacute o chamamento do Ministeacuterio

Puacuteblico por intimaccedilatildeo Embora natildeo se trate de citaccedilatildeo eacute indispensaacutevel segundo

imposiccedilatildeo do art 82 do CPC haver observaccedilatildeo e controle do cumprimento das

disposiccedilotildees legais em especiacuteficas lides

Haacute a intenccedilatildeo do Estado em velar pela inteira observacircncia da lei natildeo se

cogitando o porquecirc da solicitaccedilatildeo da parte quando se deveria favorecer a automaacutetica

intervenccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico como acontece nas accedilotildees de usucapiatildeo (art 944 do

CPC)

Inadmite-se aqui a necessidade de identificaccedilatildeo do ingressante como nos

casos anteriores sendo a nulidade cominada para a falta de intimaccedilatildeo do Ministeacuterio

Puacuteblico notoacuteria atecnicidade do art 84 do CPC quando exige requerimento expliacutecito

14

Nulidades Processuais Civis p 26

de intimaccedilatildeo a ser feito pela parte o que poderia ser determinado oficialmente nos

litiacutegios discriminados por lei

Natildeo eacute o pedido de citaccedilatildeo em si que se configura como problema para

continuaccedilatildeo d a lide mas a falta de identificaccedilatildeo de determinado sujeito Com certeza o

qualificativo do reacuteu eacute realizado juntamente com o pedido de convocaccedilatildeo em

decorrecircncia da sistemaacutetica processual mas nem por isso a citaccedilatildeo se toma

predominante

V A CITACcedilAtildeO ESTATAL

Como se vecirc a funccedilatildeo do processo eacute muito maior do que supunham os

cultores do autonomismo Aleacutem de instrumento de progressatildeo dos atos que levaratildeo agrave

sentenccedila eacute meio por qual a sociedade se manteacutem em equiliacutebrio O interesse coletivo

hegemocircnico em todas as relaccedilotildees sociais eacute plenamente consagrado tambeacutem no

contraditoacuterio presente entre os litigantes

A excessiva postura metodoloacutegica culmina no retardamento do teacutermino

do litiacutegio Natildeo eacute raro militantes do Direito condenarem a ordem de ciecircncia determinada

pelos juizes apoacutes constataccedilatildeo de omissatildeo na peticcedilatildeo Nota-se o apego a formalidades

natildeo essenciais ao desenvolvimento da funccedilatildeo jurisdicional

No processo penal tambeacutem se concebe idecircntica situaccedilatildeo de acordo com

a profunda sapiecircncia do Professor TOURINHO FILHO que advoga a obrigatoriedade

do pedido de citaccedilatildeo na denuacutencia1516

Contraditando os argumentos formalistas merecem transcriccedilatildeo os

ensinamentos de JOSEacute ROBERTO DOS SANTOS BEDAQUE nos quais se assenta a

magna funccedilatildeo encerrada no processo

Eacute preciso revisitar os institutos processuais todos concebidos segundo

a visa o autonomista ou conceitual da ciecircncia processual a fim de conferir a eles nova

feiccedilatildeo a partir das necessidades identificadas na fase instrumentalista17

A ordem de citaccedilatildeo deve ser empreendida mesmo na inocorrecircncia de sua

menccedilatildeo na peticcedilatildeo inicial dado que o magistrado antes de ser ente estatal eacute agente

social como elucida HANS REICHEL O juiz eacute obrigado por forccedila do seu cargo a

afastar-se conscientemente de uma disposiccedilatildeo legal quando essa disposiccedilatildeo de tal modo

contraria o sentimento eacutetico da generalidade das pessoas que pela sua observacircncia a

autoridade do Direito e da lei correria num perigo mais grave do que atraveacutes de sua

inobservacircncia18

Em estudo sobre a norma juriacutedica no que tange agrave sua interpretaccedilatildeo o

Professor IVAN LIRA DE CARVALHO declara a inevitaacutevel atuaccedilatildeo do julgador

moderno em face da normatizaccedilatildeo legal Enquanto texto frio e latente espelha tatildeo-soacute o

instante da sua confecccedilatildeo ou do seu incorporamento ao conjunto normativo Cabe ao

15

ob cit p 350 16

Com a mesma exigecircncia o art34 do Decreto-Lei 976046 o arte 3deg sect 1deg da Lei 319357 o art

13 da Lei 489865 o art 6deg 111 da Lei 683080 o art 288 I do RISTF e o art 4deg 11 da Lei

886694 Por outro lado o art 840 sect 1 0 da CL T exime implicitamente a reclamaccedil30 do pedido de

citaccedilatildeo (notificaccedilatildeo) 17

Joseacute Roberto dos Santos Bedaque Direito e Processo - Influecircncia do Direito Material sobre o

Processo p 15 18

apud Dagoberto Romani ob cit p 234

Como se vecirc a funccedilatildeo do processo eacute muito maior do

inteacuterprete vivificaacute-l e dar-lhe a destinaccedilatildeo adequada agraves exigecircncias soacutecio-culturais dos

seus suacuteditos assim entendidos pela submissatildeo gerada pela coercibilidade das normas19

O importante natildeo eacute formalizar o manifesto desiacutegnio do autor em tomar o

demandado ciente mas o proacuteprio ato citatoacuterio no qual o oficial de justiccedila ou outro

oacutergatildeo escolhido pela lei proporciona a comunicaccedilatildeo processual e pode atestar a recusa

ou o desaparecimento do demandado natildeo cabendo agraves partes realizaacute-Io por evidente

maacutecula aos princiacutepios processuais

A supressatildeo ou modernizaccedilatildeo do inciso VII do artigo 282 natildeo iraacute

desencadear a tatildeo almejada celeridade processual e resolver todos os problemas afetos

ao Judiciaacuterio mas eacute uma impropriedade digna de ser corrigida atraveacutes das remediaccedilotildees

legislativas vindouras

Contudo deposita-se mais esperanccedila no sentimento de dinamismo e

Justiccedila dos juiacutezes (falando propriamente em magistrados de qualquer instacircncia)

compromissados em extirpar no tempo mais breve as contendas humanas trazidas a

juiacutezo No limiar do seacuteculo XXI onde tudo jaacute se direciona agrave simplicidade as atitudes

retroacutegradas ficaratildeo inteiramente agrave margem do progresso humano

VI REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

AL VIM Joseacute Carreira Coacutedigo de Processo Civil Reformado Belo

Horizonte Dei Rey 1995

BEDAQUE Joseacute Roberto dos Santos Direito e Processo - Influecircncia do

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Janeiro Freitas Bastos 1995

CARVALHO Ivan Lira de A Interpretaccedilatildeo da Norma Juriacutedica

(Constitucional e Infraconstitucional) RT JE Vol 111 Satildeo Paulo Vellenich 1993

COUTURE Eduard J Introduccedilatildeo ao Estudo do Processo Civil trad

Mozart Victor Russomano 3ordf ed Rio de Janeiro Forense 1995

DANTAS Marcelo Navarro Ribeiro Admissibilidade e Meacuterito na

Execuccedilatildeo Revista de Processo ndeg 47 Satildeo Paulo Ed RT 1987

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Acadecircmica de Direito Natal EDUFRN

19

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DINAMARCO Cacircndido Rangel A Reforma do Coacutedigo de Processo

Civil 28 ed Satildeo Paulo Malheiros 1995

____________ A Instrumentalidade do Processo 38 ed Satildeo Paulo

Malheiros 1993

GRINOVER Ada Pellegrini FERNANDES Antocircnio Scarance e

GOMES FILHO Antocircnio Magalhatildees As Nulidades do Processo Penal 48 ed Satildeo

Paulo Malheiros 1995

OLIVEIRA James Eduardo Juiacutezo de Admissibilidade da Peticcedilatildeo Inicial

Revista dos Tribunais ndeg 688 Satildeo Paulo Ed RT 1993

PRATA Edson A crise do Processo Revista dos Tribunais ndeg 632 Satildeo

Paulo Ed RT 1988

RODRIGUES Marcelo Guimaratildees A Ineacutepcia da Inicial por Falta de

Requerimento de Citaccedilatildeo Prevalece a Finalidade ou o Pressuposto de Ordem Puacuteblica

diante do Princiacutepio Dispositivo Revista dos Tribunais ndeg 682 Satildeo Paulo Ed RT

1992

ROMANI Dagoberto O Juiz entre a Lei e o Direito Revista dos

Tribunais ndeg 633 Satildeo Paulo Ed RT 1988

SANTOS Moacir Amaral dos Primeiras Linhas de Direito Processual

Civil 158 ed Satildeo Paulo Saraiva 1992

SILVA JR Walter Nunes da Condiccedilotildees da Accedilatildeo e Pressupostos

Processuais Revista de Processo ndeg 64 Satildeo Paulo Ed RT 1991

TOURINHO FILHO Fernando da Costa Processo Penal Vo11 158 ed

Satildeo Paulo Saraiva 1994

NEOLlBERALlSMO INIMIGO DA CIDADANIA

Leifson Gonccedilalves Holder da Silva

Acadecircmico do 3deg periacuteodo do curso de Direito da UFRN

1 - INTRODUCcedilAtildeO

Baseado no texto de Luiacutes Fernandes proferido na 8deg Conferecircncia

Nacional do PC do B procurarei fazer uma reflexatildeo sobre a natureza do neoliberalismo

e das consequumlecircncias de sua transformaccedilatildeo em projeto hegemocircnico e dominante na

maior parte do mundo capitalista neste fim de seacuteculo

O autor afirma que o termo neoliberalismo natildeo deve ser usado de forma

indiscriminada como adjetivo pejorativo para agravequelas medidas ou poliacuteticas com as quais

natildeo se estaacute de acordo Deve-se sim procurar entender essa expressatildeo em toda a sua

plenitude a fim de se compreender os pressupostos que caracterizam a economia

mundial em sua nova reestruturaccedilatildeo diante de transformaccedilotildees teacutecnicas e econocircmicas

principalmente no que se refere agrave Divisatildeo Internacional do Trabalho Pressupostos estes

que estatildeo condicionados agrave loacutegica do modeloneoliberal e que visam de todas as

maneiras redefinir o comeacutercio internacional de forma que os paiacuteses menos

desenvolvidos se tomem mais dependentes1

Torna-se interessante (para natildeo dizer imprescindiacutevel) entender como

ressurgiu a ideologia liberal e como ela eacute passada aos paiacuteses do terceiro mundo dentro

deste contexto global

S6 a partir desta compreensatildeo mais completa e precisa eacute que seraacute

possivel comeccedilar a desvendar e perceber de forma mais clara a poliacutetica nacional

imposta pelo atual Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e a evoluccedilatildeo da

sociedade brasileira neste momento crucial diante da transiccedilatildeo por que passam a

economia e a sociedade internacional como consequumlecircncias da expansatildeo neoliberal

Antes de se analisar o neoliberalismo propriamente dito eacute importante

que se faccedila uma breve elucidaccedilatildeo de seu desenvolvimento histoacuterico ateacute o momento

atual com a finalidade de mostrar sua gecircnese e os motivos que levaram a sua

progressatildeo se tornando dominante hoje na maioria do mundo

2 - DESENVOLVIMENTO HISTOacuteRICO

1 Os grifos existentes no artigo satildeo i1ustrativos e de responsabilidade inteira do autor

A histoacuteria do neoliberalismo tem suas raiacutezes no seacuteculo XVIII mais

precisamente no liberalismo claacutessico que veio dar origem ao tema em questatildeo

Este liberalismo surgiu como doutrina e movimento de caraacuteter

progressista principalmente contra o despotismo dos Estados absolutistas e contra as

restriccedilotildees mercantilistas agrave formaccedilatildeo de um uacutenico mercado comum sob a proteccedilatildeo do

processo de desenvolvimento da industrializaccedilatildeo capitalista

As restriccedilotildees oriundas do mercantilismo causavam um certo entrave

econocircmico na medida em que a prosperidade econocircmica de um paiacutes deveria ser

conseguida atraveacutes de uma balanccedila comercial favoraacutevel (positiva) da proibiccedilatildeo da

entrada de mercadorias estrangeiras (se possiacutevel) e por uma acumulaccedilatildeo de

metais_preciosos siacutembolos e base da vida econocircmica e riqueza nacional considerados

indispensaacuteveis agrave sobrevivecircncia e ao fortalecimento da soberania

O sujeito econocircmico central era o Estado jaacute que efetuava uma forte

intervenccedilatildeo econocircmica a fim de aumentar seu poderio atraveacutes da obtenccedilatildeo de ouro e

prata Entretanto em geral a corrida por metais acabou ocasionando como resultado

uma asfixia econocircmica para os Estados que adotaram este modelo

O liberalismo econocircmico veio em contrapartida defender a liberdade de

mercado contra este sistema mercantilista recebendo fundamentaccedilatildeo teoacuterica por parte

dos fisiocratas que propunham o laissez-faire laissez-passerrdquo

Esse serviu de base para a Escola claacutessica (corrente cientiacutefico-

econocircmica) desenvolvida na Inglaterra a qual se aproveitou de imediato de seus ideais

avanccedilados jaacute que era a primeira potecircncia capitalista do mundo visando posteriormente

subordinar o conjunto do globo ao seu predomiacutenio industrial

A Escola Claacutessica afirmava que um mercado livre e competitivo

determinaria a produccedilatildeo os preccedilos2 (lei da oferta e da procura) e a distribuiccedilatildeo de

renda Com isso o liberalismo tenderia a reduzir ao miacutenimo a interferecircncia do Estado

nas atividades econocircmicas individuais Oportunamente nesse sentido segundo a

foacutermula pitoresca de Hellpachs a melhor posiccedilatildeo que o Estado e a economia podem

assumir um a face do outro eacute a de ficar afastado trecircs passos um do outro

Contudo natildeo se negava o Estado porque o liberalismo natildeo significava

anarquismo apenas deveriam ser afastadas suas intromissotildees inuacuteteis

Posteriormente no entanto com a consolidaccedilatildeo do novo mercado global

capitalista sob preponderacircncia inglesa por volta do seacutec XIX o capitalismo

emancipador progressista e ateacute revolucionaacuterio deu vez a um capitalismo opressivo e

espoliador Capitalismo este agora conservador voltado para a justificaccedilatildeo ideoloacutegica

das injusticcedilas operantes derivadas da exploraccedilatildeo Por meio da ideologia capitalista

procurava-se justificar convenientemente os fatos da vida social como se quisesse

preservaacute-Ia de possiacuteveis desequiliacutebrios ou conflitos ao niacutevel da praacutetica

Em oposiccedilatildeo a esta sociedade de classes surgiram o operariado os

sindicatos as teorias socialistas e marxistas (como alternativas teoacutericas e poliacuteticas

libertadoras) aleacutem da demanda por direitos e a produccedilatildeo de leis refletindo conquistas

sociais (natildeo sem antes ocorrerem protestos e pressotildees por parte do proletariado)

Atraveacutes dos sindicatos os operaacuterios unidos e consequumlentemente mais fortes

2 Foram utilizados como par3metro da fundamentaccedil30 teoacuterica no Desenvolvimento Histoacuterico os

autores Luis Manoel Rebelo Fernandes Raymond Barre Leocircncio Martins Rodrigues Wilson

Cano Joseacute Jenoiacuteno dentre outros

reivindicaram seus direitos alterando aos poucos as relaccedilotildees de trabalho trazendo

melhorias agrave classe operaacuteria A autonomia da vontade nas relaccedilotildees do empregador com o

empregado foi reduzida jaacute que a legislaccedilatildeo social veio restringir este livre

entendimento entre as partes Os abusos do liberalismo foram tantos que o Estado por

intermeacutedio do legislador diminuiu a liberdade do patratildeo para dar mais consistecircncia agrave do

trabalhador impondo a contrataccedilatildeo dentro de determinados paracircmetros Foi uma reaccedilatildeo

clara contra esse liberalismo opressor e tirano

A Europa Ocidental conseguiu contornar as tensotildees do poacutes-guerra

atraveacutes da ajuda econocircmica (Plano Marshall) voltando-se para a construccedilatildeo de uma

rede de assistecircncia social impecaacutevel e cariacutessima associada ao bem-estar objetivando

uma distribuiccedilatildeo de renda e proteccedilatildeo dos cidadatildeos contra os desequiliacutebrios sociais

O curso do desenvolvimento favorecia agraves posiccedilotildees e tendecircncias de

esquerda os sindicatos se fortaleciam os partidos socialistas viam seus votos

aumentarem e o intervencionismo estatal crescia com a regulamentaccedilatildeo da sociedade

De uma ideologia que ascendeu e dominou o seacuteculo passado o

liberalismo claacutessico acabou sendo gradativamente e por fim inteiramente descartado

pelos desenvolvimentos mundiais na primeira metade do seacuteculo XX Ele natildeo pocircde

suportar duas guerras mundiais depressatildeo econocircmica (quebra da bolsa de Nova York)

protecionismos emergentes aleacutem de uma ascensatildeo de Estados Socialistas e de Bem-

Estar (Welfare State) levando ao seu decliacutenio

Entretanto este natildeo foi seu fim como poderia parecer em uma

perspectiva de desenvolvimento das teorias de economia dirigida e do socialismo de

Estado O liberalismo sofreu uma revitalizaccedilatildeo em 1947 quando um grupo de

pensadores liberais se reuniram para discutir as bases de uma ofensiva contra teorias e

praacuteticas socialistas e intervencionistas entatildeo predominantes formando a chamada

Sociedade de Mont Peacutelerin

Esta articulaccedilatildeo poacutes-guerra teve um papel decisivo no lanccedilamento das

bases teoacutericas do novo liberalismo agora denominado neoliberalismo

Este tomou um impulso substancial a partir da segunda metade da

deacutecada de 70 periacuteodo em que o estadismo e o planeiamento central comeccedilaram a

definhar e a quebrar como consequumlecircncia de uma crise econocircmica internacional aliada a

transformaccedilotildees tecnoloacutegicas que trouxeram grandes repercussotildees levando agrave ruptura

destes modelos de Estado Foi principalmente nos governos de Margareth Tacher

(Primeira Ministra denominada e conhecida como dama de ferro) no Reino Unido

(1979-1990) e do Presidente Ronald Reagan nos Estados Unidos (1979-1990) que deu-

se o revigoramento da ideologia liberal Propondo medidas limitadoras do Estado na

economia procederam-se agraves sucessivas privatizaccedilotildees e tentativas de derrubar as

tradicionais barreiras protecionistas adotadas por muitos paiacuteses

As novas tecnologias tambeacutem geraram natildeo soacute novas formas de produzir

mas tiveram impactos impressionantes sobre a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo e das

estrateacutegias de competitividade

Os Estados direcionaram-se a uma competiccedilatildeo desenfreada com uma

absurda e acelerada corrida agrave rnodernidade destruindo todo o sentido e o direito

social construiacutedo na era do Welfare State Assim a competiccedilatildeo a eficiecircncia e o ecircxito

econocircmico passaram a ser vistos positivamente O individualismo ligado agrave afirmaccedilatildeo

das liberdades individuais e dos direitos humanos deram vez ao individualismo soacuterdido

desmontando os valores do solidarismo para afirmar e justificar a desigualdade social

como inevitaacutevel consequumlecircncia da liberdade humana A seguranccedila o conforto e a

liberdade do proacuteximo passaram a ser ameaccedilados pela neuroacutetica necessidade de poder e

pelo egoiacutesmo consumista O que passou a ser considerado moderno foi o retorno a

Adam Smith (filoacutesofo e economista inglecircs que influenciou de forma decisiva na

formaccedilatildeo e no fortalecimento do capitalismo contemporacircneo) Neste iacutenterim a grande

campanha neoliberal se espalhou pelo mundo e as transnacionais cantaram vitoacuteria

quando viram o urso russo passar agrave condiccedilatildeo de cordeiro capitalista

No rastro desta nova realidade - Terceira Revoluccedilatildeo Industrial

globalizaccedilatildeo crise econocircmica etc - eacute que afirmou-se a hegemonia da ideologia

neoliberal exaltando a excelecircncia do novo mercado e do novo individualismo

3 - CONTEXTO MUNDIAL

A revoluccedilatildeo doutrinaacuteria trazida pelo neoliberalismo apresenta novas

bases teoacutericas que tecircm sido utilizadas como a fonte intelectual para redirecionamentos

nas poliacuteticas de gestatildeo macroeconocircmica (aspectos globais da economia) e social de

diversos paiacuteses em grande parte do globo

Conveacutem esclarecer que a adoccedilatildeo de uma poliacutetica neoliberal por parte da

maioria destes paiacuteses ao longo dos uacuteltimos anos objetivando obter uma maior

integraccedilatildeo econocircmica natildeo foi um ato de livre e espontacircnea vontade como

aparentemente poderia sugerir uma anaacutelise mais superficial

Na verdade esse neoliberalismo vem sendo imposto por pressotildees

externas procedentes de paiacuteses desenvolvidos aos paises subdesenvolvidos atraveacutes de

organismos internacionais principalmente o FMI - Fundo Monetaacuterio Internacional o

Banco Mundial e o BID - Banco Internacional de Desenvolvimento Os paiacuteses

devedores do mundo capitalista perifeacuterico vecircm cedendo agraves exigecircncias da implantaccedilatildeo

de poliacuteticas neoliberais como condiccedilatildeo para a obtenccedilatildeo do apoio poliacutetico das grandes

potecircncias bem como para conseguir a liberaccedilatildeo de escassos recursos financeiros dos

bancos e agecircncias internacionais na forma de investimentos Estes paiacuteses tecircm sofrido

coaccedilotildees agressivas para eliminar as restriccedilotildees e diminuir os obstaacuteculos alfandegaacuterios agraves

mercadorias importadas Segundo um correspondente do New York Timeso FMI jaacute

derrubou mais governos que Marx e Lecircnin juntosmiddot (Michael Moffit O dinheiro do

mundo p131) Isto no fundo estaacute acarretando um alargamento do abismo existente

entre o primeiro e o terceiro mundo o qual torna-se cada vez mais indefeso submisso e

dependente

Com a intenccedilatildeo de colocar este esquema em praacutetica os paiacuteses ricos

(forccedilas neoliberais) formaram blocos econocircmicos neoprotecionistas (verdadeiras

fortalezas econocircmicas como o NAFT A o Mercado Comum Europeu e a aacuterea de

influecircncia japonesa no Paciacutefico) com o intento de proteger seus mercados internos e ao

mesmo tempo condicionar aos demais paiacuteses a abertura de mercado - sob a

argumentaccedilatildeo da integraccedilatildeo econocircmica globalizaccedilatildeo eficiecircncia alegando ser

uma poliacutetica econocircmica correta para atrair capitais externos

De fato os paiacuteses desenvolvidos caiacuteram numa evidente contradiccedilatildeo jaacute

que fecharam suas fronteiras contra a invasatildeo de matildeo-de-obra estrangeira (blocos

econocircmicos) ao mesmo tempo em que difundiram e defenderam uma ideologia

neoliberal baseada justamente na supressatildeo das barreiras alfandegaacuterias e das cotas de

importaccedilatildeo Assim foi intensificado o movimento de capitais bens e serviccedilos

mantendo entretanto a movimentaccedilatildeo humana do trabalho sob proibiccedilatildeo ou riacutegido

controle Os paiacuteses do 1deg mundo abriram as suas fronteiras internas em uma aparente

atitude liberal mas fecharam mais do que nunca as externas Essa atitude - de

praticarem o que criticam nos outros - mina por si soacute a autoridade de impor poliacuteticas

neoliberais por parte dos paiacuteses desenvolvidos

Contudo apesar da incoerecircncia entre palavras e accedilotildees o neoliberalismo

defendido pelas grandes potecircncias vem tomando forccedila no contexto mundial

espalhando-se rapidamente revelando-se natildeo se tratar de mero projeto intelectual ou

poliacutetico desconectado de bases soacutelidas

31 - BASES E JUSTIacuteFICATIVAS DA OFENSIVA NEOLIBERAL

Vivemos hoje a estruturaccedilatildeo de uma ordem internacional cuja feiccedilatildeo

ainda natildeo se encontra totalmente definida Poreacutem os princiacutepios baacutesicos que norteiam as

poliacuteticas econocircmicas neoliberais que mais vecircm se destacando resumem-se

principalmente em

a) Ajuste Fiscal3

O sistema fiscal estimula a sonegaccedilatildeo por cobrar tributos exagerados de

um nuacutemero reduzido de pessoas e empresas Com a sua reforma torna-se possiacutevel

desonerar as empresas e aumentar sua competitividade ainda podendo elevar a

arrecadaccedilatildeo porque haveria (em tese) menos sonegadores

b) Privatizaccedilatildeo (Desestatizaccedilatildeo das forccedilas produtivas)

Assim o governo elimina gastos com as estatais e gera caixas O

dinheiro levantado ainda pode permitir a diminuiccedilatildeo da diacutevida puacuteblica Com a reduccedilatildeo

do tamanho do Estado toma-se mais faacutecil de ser administrado podendo dedicar mais

atenccedilatildeo e dinheiro aos problemas sociais

c) Abertura Comercial e Financeira

A eliminaccedilatildeo de barreiras agrave importaccedilatildeo agrave entrada de capital estrangeiro

e agrave remessa de lucros gera uma aplicaccedilatildeo em investimentos incentivando-se o

comeacutercio aleacutem de aumentar a reserva cambial nacional

d) Reestruturaccedilatildeo do Sistema Previdenciaacuterio

Com a privatizaccedilatildeo do Sistema Previdenciaacuterio ou pelo menos parte dele

o Estado arca com menos gastos jaacute que divide sua folha com a iniciativa privada

Assim tambeacutem pode reequilibrar as contas puacuteblicas evitando a volta da inflaccedilatildeo

Aleacutem dessas outras medidas importantes tambeacutem vecircm completar este

quadro que de maneira geral se orienta para a reduccedilatildeo do tamanho do controle e dos

3 o embasamento doutrinaacuterio do Contexto Mundial foi respaldado principalmente nos

professores Luis Manoel Rebelo Fernandes (UFF) Roosenez de Carvalho Teixeira e Joatildeo Rodrigues Neto (UFRN) dentre outros

gastos do Estado na economia

32 - CONSEQUumlEcircNCIAS

O resultado dessa ofensiva neoliberal natildeo poderia ser melhor para os

paiacuteses do primeiro mundo

A iniciativa privada desses paiacuteses impotildee mais facilmente seus

interesses atraveacutes da formaccedilatildeo de grandes grupos capitalistas detentores de tecnologia e

capital que acabam se configurando em blocos de poder poliacutetico-econocircmico os

quais natildeo atuam somente sobre as relaccedilotildees econocircmicas mas procuram modificar essa

estrutura para aumentar ainda mais as suas vantagens em paiacuteses perifeacutericos que vecircm

adotando poliacuteticas neoliberais Dominar as maacutequinas produziacute-Ias ter acesso ao seu uso

representa dentre outras coisas desfrutar certo domiacutenio sobre os que natildeo as possuem

Isto pode significar natildeo soacute o controle de empresas de menor porte mas ateacute controle na

definiccedilatildeo da poliacutetica econocircmica de paiacuteses inteiros

Com isso as decisotildees econocircmicas no seio dessas naccedilotildees jaacute natildeo

pertencem aos milhotildees de indiviacuteduos que as integram mas estatildeo concentradas nas matildeos

de minorias (carteacuteis e multinacionais) que monopolizam o poder em proveito proacuteprio

Nesse estaacutegio de desenvolvimento em que predomina a internacionalizaccedilatildeo do capital

consolida-se a interdependecircncia crescente das grandes transnacionais ultrapassando

suas fronteiras de origem e colocando as questotildees nacionais em segundo plano Assim

os interesses dos Estados ficam mais do que nunca atrelados aos interesses do capital

internacional Segundo o economista Gilberto Dupas do Nuacutecleo de Estudos

Estrateacutegicos da USP as maiores corporaccedilotildees mundiais estatildeo decidindo basicamente o

que como quando e onde produzir os bens e serviccedilos utilizados pelos seres humanos

(Revista Veja 030496) Com isso alguns criam a histoacuteria enquanto outros a maioria

sofrem e suportam a histoacuteria que aqueles estatildeo escrevendo

Por outro lado cara paiacuteses subdesenvolvidos (como eacute o caso do Brasil)

as consequumlecircncias satildeo no miacutenimo devastadoras

Com a crescente evoluccedilatildeo que vem acontecendo no mundo atual as

naccedilotildees procuram alternativas para se adaptarem diante da modernizaccedilatildeo dos meios de

comunicaccedilatildeo produccedilatildeo e da abertura do mercado buscando acompanhar a

competitividade crescente entre as atividades do mercado

Mesmo a Ruacutessia que jaacute foi uma grande potecircncia mundial sentiu o

impacto devastador que uma abertura econocircmica eacute capaz de causar A expectativa de

vida do russo passou de 65 anos no socialismo para 58 com o capitalismo e a

tendecircncia eacute o alargamento dessa diferenccedila O aumento da marginalidade e a

proliferaccedilatildeo das drogas tambeacutem acompanharam essa abertura De acordo com

estimativas do proacuteprio governo 1 em cada 6 jovens russos seratildeo viciados ateacute o ano

2000 No geral as condiccedilotildees de vida excetuando o surgimento de uma pequena classe

burguesa que ascendeu juntamente com o capitalismo soacute se deterioraram para a

maioria dos trabalhadores russos Se antes eles natildeo podiam comprar um big-mac

(sanduiacuteche mundialmente difundido por uma cadeia de lanchonetes americana) por

falta de opccedilatildeo agora natildeo podem compraacute-lo por falta de dinheiro (fonte 48 Hours -

GNT)

A busca ansiosa para conseguir melhores preccedilos e maior qualidade na

elaboraccedilatildeo do produto tem resultado num retrocesso nas relaccedilotildees entre capital e

trabalho ao se ignorar princiacutepios e normas vigentes referentes agraves relaccedilotildees trabalhistas

No intuito de reduzir encargos sociais e enxugar a estrutura empresarial

as empresas iniciaram demissotildees e firmaram novos contratos com prestadoras de

serviccedilos para executarem as mesmas atividades antes elaboradas com viacutenculo laboral

pelos funcionaacuterios demitidos (fenocircmeno denominado de terceirizaccedilatildeo) Os empregados

terceirizados apesar de possuiacuterem todas as caracteriacutesticas necessaacuterias a uma relaccedilatildeo

direta de emprego com a empresa beneficiada satildeo remunerados pela empresa locadora

de serviccedilos que paga salaacuterios mais baixos

A intervenccedilatildeo cada vez menor do Estado nas relaccedilotildees de trabalho

multiplicou as relaccedilotildees atiacutepicas acarretando consequumlecircncias desastrosas agrave classe dos

trabalhadores por fraudar direitos e garantias fundamentais

Com toda essa desregulamentaccedilatildeo trabalhista sem a devida postura

critica () as garantias sociais conquistadas pelos trabalhadores tecircm

ficado somente nas linhas dos diplomas legais () Isto tem trazido

seacuterios problemas de ordem social e juriacutedica como o alto iacutendice de

demissatildeo desemprego subempregos matildeo-de-obra barata

fomentaccedilatildeo dos contratos atiacutepicos flexibilizaccedilatildeo das normas

trabalhistas fraude aos direitos e garantias sociais instabilidade nas

relaccedilotildees empregatiacutecias formaccedilatildeo de uma classe totalmente

destituiacuteda de sindicato que possa reivindicar seus direitos e

representaacute-los aleacutem do proacuteprio enfraquecimento dos movimentos

sindicaisrdquo (Revista Juriacutedica ln Verbis UFRNCCSA v2 n 3 Natal

Ed Nordeste 1996 p 174 181)

A exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra de mulheres e crianccedilas tambeacutem foi

intensificada no Brasil principalmente a partir do governo do Presidente Fernando

Collor de Mello (1990 a 1992) diretamente relacionado com o processo de

terceirizaccedilatildeo O trabalho infantil proibido por lei e por isso clandestino retira grande

parte das crianccedilas das escolas e de pouco ou quase nada valem as campanhas ou

fiscalizaccedilotildees frequumlentes contra ele jaacute que a necessidade eacute um contra-aliado de peso num

paiacutes onde 32 milhotildees de pessoas vivem abaixo do niacutevel de pobreza (Brasil O Livro dos

500 anos p 112 Satildeo Paulo 1996) Ainda de acordo com o socioacutelogo Joseacute de Moura

Martins 40 mil dos 85 mil casos de trabalho escravo no paiacutes nos uacuteltimos 20 anos

envolviam meninos e meninas (Cadernos do Terceiro Mundo Rio de Janeiro v21 n

188 p 1619 ago 1995)

Para conseguir preccedilos melhores e qualidade mais alta em sua guerra

internacional contra os concorrentes empresas tambeacutem tecircm aumentado muito os seus

iacutendices de automaccedilatildeo A maior velocidade no processo de fabricaccedilatildeo garante menores

custos e consequumlentemente a possibilidade de colocar o produto no mercado com

preccedilos mais reduzidos liquidando ainda mais postos de trabalho

Por incriacutevel que pareccedila uma legislaccedilatildeo que protege e encarece o

trabalho tem levado ao aumento de desemprego nos paiacuteses que adotam essas garantias

jaacute que satildeo provavelmente excluiacutedos de muitos projetos de investimento Ficou tatildeo

dispendioso contratar um trabalhador europeu com a sua pilha de benefiacutecios que as

grandes corporaccedilotildees europeacuteias estatildeo transportando seus novos negoacutecios para fora do

continente (30 mundo) e natildeo haacute nada que os governos europeus possam fazer

Hoje para empresas que operam em escala mundial a origem da

tecnologia da mateacuteria prima e do trabalho natildeo tem a menor importacircncia desde que seu

custo seja baixo e sua qualidade alta Assim obtecircm natildeo soacute maiores lucros mas melhores

condiccedilotildees para enfrentar as crises trabalhistas sobretudo nos paises do terceiro mundo

onde os governos locais se encarregam de reprimir os sindicatos as organizaccedilotildees

populares e suas manifestaccedilotildees A vantagem econocircmica dos paises industrializados tem

aumentado tambeacutem graccedilas a reduccedilatildeo da dependecircncia de mateacuterias primas de fonte uacutenica

gerada pelo maior dinamismo das relaccedilotildees comerciais

Com isso o aumento vertiginoso do desemprego pode gerar nos

proacuteximos anos uma crise social de proporccedilotildees nunca vistas Com a economia sendo

cada vez mais internacionalizada os conflitos tambeacutem se generalizam Soacute para se ter

uma ideacuteia a Alemanha estaacute com a taxa de desemprego mais alta desde a II Guerra

Mundial (Antenor Nascimento Neto 1996) O desemprego tambeacutem atingiu 23 da

populaccedilatildeo economicamente ativa na Espanha e atinge agora os niacuteveis mais elevados

desde a grande depressatildeo dos anos 30 de acordo com o especialista americano Jeremy

Rifkim no seu livro O Fim do Emprego O mercado de trabalho deixa espaccedilos cada vez

maiores para o crescimento da economia informal que vem se transformando na forma

moderna de ajuste do mercado (moderna porque se produz em um contexto de

modernizaccedilatildeo capitalista)

Outra consequumlecircncia desastrosa da investida neoliberal e do consequumlente

processo de globalizaccedilatildeo estaacute no desaparecimento das fronteiras nacionais Os governos

natildeo conseguem mais deter os movimentos do capital internacional Essa hegemonia do

capital financeiro internacional toma-se uma faca de dois gumes na medida em que

vem mascarar as reservas cambiais nacionais criando uma falsa ilusatildeo de que satildeo

soacutelidas quando na verdade o que se tem de fato eacute tecircm aumentado muito os seus iacutendices

de automaccedilatildeo A maior velocidade no processo de fabricaccedilatildeo garante menores custos e

consequumlentemente a possibilidade de colocar o produto no mercado com preccedilos mais

reduzidos liquidando ainda mais postos de trabalho

Por incriacutevel que pareccedila uma legislaccedilatildeo que protege e encarece o

trabalho tem levado ao aumento de desemprego nos paiacuteses que adotam essas garantias

jaacute que satildeo provavelmente excluiacutedos de muitos projetos de investimento Ficou tatildeo

dispendioso contratar um trabalhador europeu com a sua pilha de benefiacutecios que as

grandes corporaccedilotildees europeacuteias estatildeo transportando seus novos negoacutecios para fora do

continente (30 mundo) e natildeo haacute nada que os governos europeus possam fazer

Hoje para empresas que operam em escala mundial a origem da

tecnologia da mateacuteria prima e do trabalho natildeo tem a menor importacircncia desde que seu

custo seja baixo e sua qualidade alta Assim obtecircm natildeo soacute maiores lucros mas melhores

condiccedilotildees para enfrentar as crises trabalhistas sobretudo nos paises do terceiro mundo

onde os governos locais se encarregam de reprimir os sindicatos as organizaccedilotildees

populares e suas manifestaccedilotildees A vantagem econocircmica dos paises industrializados tem

aumentado tambeacutem graccedilas a reduccedilatildeo da dependecircncia de mateacuterias primas de fonte uacutenica

gerada pelo maior dinamismo das relaccedilotildees comerciais

Com isso o aumento vertiginoso do desemprego pode gerar nos

proacuteximos anos uma crise social de proporccedilotildees nunca vistas Com a economia sendo

cada vez mais internacionalizada os conflitos tambeacutem se generalizam Soacute para se ter

uma ideacuteia a Alemanha estaacute com a taxa de desemprego mais alta desde a II Guerra

Mundial (Antenor Nascimento Neto 1996) O desemprego tambeacutem atingiu 23 da

populaccedilatildeo economicamente ativa na Espanha e atinge agora os niacuteveis mais elevados

desde a grande depressatildeo dos anos 30 de acordo com o especialista americano Jeremy

Rifkim no seu livro O Fim do Emprego O mercado de trabalho deixa espaccedilos cada vez

maiores para o crescimento da economia informal que vem se transformando na forma

moderna de ajuste do mercado (moderna porque se produz em um contexto de

modernizaccedilatildeo capitalista)

Outra consequumlecircncia desastrosa da investida neoliberal e do consequumlente

processo de globalizaccedilatildeo estaacute no desaparecimento das fronteiras nacionais Os

governos natildeo conseguem mais deter os movimentos do capital internacional Essa

hegemonia do capital financeiro internacional toma-se uma faca de dois gumes na

medida em que vem mascarar as reservas cambiais nacionais criando uma falsa ilusatildeo

de que satildeo soacutelidas quando na verdade o que se tem de fato eacute dinheiro especulativo As

poliacuteticas neoliberais tecircm se apresentado como as mais capacitadas para atrair esse

capital flutuante de modo a financiar um novo ciclo de desenvolvimento O dinheiro

volaacutetil gira pelos vaacuterios mercados financeiros mundiais como o das bolsas de valores

do Cacircmbio ou dos juros Essa situaccedilatildeo tem levado ao reforccedilo de atividades

especulativas em detrimento de atividades produtivas acentuando o caraacuteter negativo

do sistema capitalista Como se natildeo bastasse apesar do capital volaacutetil impulsionar

negoacutecios ele soacute estaciona em paiacuteses estaacuteveis Assim transforma-se em um perigo para

os paiacuteses de economia fraca jaacute que o controle da inflaccedilatildeo natildeo significa necessariamente

a existecircncia de uma economia forte O proacuteprio desenvolvimento natildeo se reduz a

simples crescimento econocircmico Para ser autecircntico deve ser integral (Paulo VI In

Populorom Progressio n14 Editora Borges)

O exemplo mais marcante da perda do controle do movimento do

capital externo foi o Meacutexico que no final de 94 quebrou quando o dinheiro volaacutetil que

laacute estava fugiu

Eacute inegaacutevel tambeacutem Que a retraccedilatildeo das estruturas do capitalismo de

Estado tem gerado privatizaccedilotildees Que vecircm desmontando instrumentos fundamentais de

soberania dos paiacuteses em desenvolvimento reforccedilando e intensificando ainda mais a

domina catildeo imperialista sobre esses paiacuteses Que jaacute eram dependentes Estes satildeo

literalmente chantageados tornando-se refeacutens da necessidade de criar condiccedilotildees

vantajosas para a atraccedilatildeo do capital itinerante dos mercados globalizados

Aleacutem de vaacuterias outras consequumlecircncias terriacuteveis que ainda natildeo foram

enumeradas uma das piores eacute o agravamento das desigualdades sociais e a polarizaccedilatildeo

entre ricos e pobres Enquanto alguns paiacuteses andam mais depressa regiotildees inteiras

ficam para traacutes acentuando ainda mais o processo de exclusatildeo fragmentaccedilatildeo e

segmentaccedilatildeo social A iniquumlidade social decorrente da maacute distribuiccedilatildeo de rendas soacute tem

agravado este quadro concentrando a fortuna no bolso de uns poucos e deixando

bilhotildees de pessoas na miseacuteria

A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo a populaccedilatildeo dos paiacuteses desenvolvidos diminuiu de

262 em 1980 para 242 em 1990 Enquanto isso concentrou maior parcela da

riqueza mundial pois em 1980 detinha 773 do PNB (Produto Nacional Bruto)

mundial e passou a ter 831 em 1990 Em 1962 20 da populaccedilatildeo mundial mais rica

concentrava 30 vezes mais renda do que 20 da populaccedilatildeo mais pobre Jaacute em

199420 dos ricos concentravam 60 vezes mais do que os mesmos 20 da populaccedilatildeo

mais pobre (Cadernos do Terceiro Mundo n 188 p 4 ago 1996) Ainda de acordo

com um estudo recente realizado pela ONU (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) cerca de

um bilhatildeo de seres humanos vivem em miseacuteria absoluta mais de um bilhatildeo passa fome

e quase a mesma quantidade eacute analfabeta O proacuteprio BID em dezembro de 1990

admitiu que os governos impulsionaram grandes mudanccedilas econocircmicas mas uma vez

mais as estruturas sociais permaneceram inalteradas e os programas de ajuste tenderam

a agravar as desigualdades (Cadernos do Terceiro Mundo n 188 p 26 ago 1995)

Vecirc-se assim que a estrutura econocircmica atual eacute incapaz de dar condiccedilotildees de vida para

toda a populaccedilatildeo

Em contrapartida muitos paises vecircm se conscientizando desta

realidade opressora levando a gerar problemas nos processos de estabilizaccedilatildeo nas

economias emergentes As vitoacuterias eleitorais dos ex-comunistas em paises do Leste

europeu e na Ruacutessia a greve contra a reforma previdenciaacuteria na Franccedila a intensificaccedilatildeo

dos movimentos internacionais sindicais - como a FSM (Federaccedilatildeo Sindical Mundial)

CMT (Confederaccedilatildeo Mundial do Trabalho) e CISL Confederaccedilatildeo Internacional de

Sindicatos Livres) a greve geral de 36 horas que parou a Argentina no uacuteltimo dia 26 de

setembro contra a recessatildeo e a perda da legislaccedilatildeo trabalhista e mesmo a criaccedilatildeo do

Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon) no Brasil representam uma

seacuterie de sinais pontuais de que as sociedades comeccedilam a reagir politicamente contra o

neoliberalismo e o desmonte social patrocinado por ele (Fontes Jornal Nacional 26 set

Rede Globo e Cadernos do Terceiro Mundo n 188 ago 1995)

4 - CONTEXTO NACIONAL

A inserccedilatildeo do Brasil nesta conjuntura econocircmica mundial tambeacutem

ocorreu a partir da implantaccedilatildeo das poliacuteticas neoliberais sugeridas por Instituiccedilotildees

Financeiras Internacionais Nota-se dessa forma que o pais natildeo foge agrave regra do contexto

mundial

Foi mais precisamente com a posse do governo Collor em 1990 que a

ofensiva neoliberal efetivamente tomou corpo Apoacutes o impeachment ela passou por um

periacuteodo de estagnaccedilatildeo mas foi retomada a todo vapor com a eleiccedilatildeo de Fernando

Henrique Cardoso em 1994

Eacute essencial observar de que maneira a economia brasileira vai se

incluindo nesse contexto internacional bem como analisar os objetivos da ideologia

neoliberal propagada por FHC

Jaacute em seu discurso de posse o Presidente afirmou que o grande desafio

da presente situaccedilatildeo brasileira eacute precisamente este a inserccedilatildeo do Brasil no sistema

produtivo internacional para servir os interesses nacionais e populares (Folha de Satildeo

Paulo 100794) Soacute resta saber a quais interesses nacionais e populares ele se refere

se satildeo os do Brasil ou das grandes potecircncias que querem se aproveitar da situaccedilatildeo De

qualquer forma ele continua sua explicaccedilatildeo sustentando ser necessaacuterio um Estado

reformado capaz de abrir-se eficazmente agraves pressotildees e aos interesses da populaccedilatildeo

especialmente da maioria de pobres que vive uma cidadania incompleta

Ai criam-se novas promessas privatizar reformar o Estado a

Previdecircncia Social como condiccedilotildees para que os mais pobres possam viver uma

cidadania completa Enquanto isso a massa dos brasileiros recebe aposentadorias e

pensotildees irrisoacuterias depois de trabalhar 30 ou 35 anos ao mesmo tempo em que os

parlamentares privilegiados tecircm esses benefiacutecios com agraves vezes apenas oito anos de

mandato

Para colocar em praacutetica seus objetivos a classe dominante vem

utilizando a miacutedia de uma forma indiscriminada destruindo o que a populaccedilatildeo deveria

possuir de melhor seu senso critico e sua dignidade Na ideologia difundida por esta

classe privilegiada interesses particulares manifestam-se como se fossem de interesse

geral impedindo os grupos subalternos de visualizarem sua real situaccedilatildeo e de

exprimirem suas proacuteprias aspiraccedilotildees Fala-se do neoliberalismo e da globalizaccedilatildeo quase

como se fossem acontecimentos naturais como se natildeo tivessem sido decididos por

mentes poderosas De fato um dos maiores ecircxitos do liberalismo contemporacircneo

neoliberalismo consiste em haver ganho adeptos entre suas viacutetimas

A TV (meio de comunicaccedilatildeo e tambeacutem de alienaccedilatildeo que utiliza a

transmissatildeo e recepccedilatildeo de imagens visuais) eacute inundada com o slogan de Privatizaccedilatildeo

Democraacutetica - Apoacuteie essa Ideacuteia tentando convencer a populaccedilatildeo do Brasil de que a

soluccedilatildeo das dificuldades seraacute resolvida atraveacutes de reformas e privatizaccedilotildees o que natildeo eacute

verdade Nada mais satildeo do que uma forma de esconder os problemas estruturais do

Estado

Em seu programa de governo batizado de Matildeos agrave Obra Brasil FHC

prometeu acelerar as privatizaccedilotildees para abater a diacutevida puacuteblica aumentar investimentos

e ajudar na reforma do Estado Com isso pretende-se modificar a Constituiccedilatildeo alterar

leis e mudar haacutebitos para evitar o retorno da inflaccedilatildeo descontrolada e estimular o

crescimento da economia (ou pelo menos essa eacute a justificativa) Dessa forma qualquer

semelhanccedila com as reformas neoliberais - receitadas pelos banqueiros internacionais - e

a atual revisatildeo constitucional brasileira natildeo eacute mera coincidecircncia

O governo atual vem propondo ao Congresso reformas de profunda

mudanccedila na estrutura social e poliacutetica do paiacutes as quais vatildeo repercutir na vida de

aproximadamente 157827834 brasileiros (estimativas oficiais da Fundaccedilatildeo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE - para 96) Assim devido ao seu alcance as

reformas de emenda agrave Constituiccedilatildeo promulgada em 05 de outubro de 1988 deveriam

ser submetidas a um plebiscito precedido de um amplo debate pelos meios de

comunicaccedilatildeo para que o povo decidisse pelo voto se deveriam ou natildeo serem postas

em vigor Contudo o Governo nem chegou a cogitar essa possibilidade em uma niacutetida

atitude autoritaacuteria apesar da oposiccedilatildeo por meio de protestos e reivindicaccedilotildees populares

Conveacutem esclarecer que o Direito como fenocircmeno social natildeo pode ficar

indiferente agraves transformaccedilotildees que ocorrem dentro da sociedade Tambeacutem eacute salutar o

controle da inflaccedilatildeo e o crescimento da economia Eacute oacutebvia a necessidade de reformas jaacute

que o estatismo brasileiro produziu burocratismo corporativismo rendas monopoacutelicas

privadas a partir de decisotildees puacuteblicas ineficiecircncia e estrangulamento da democracia

Hodiernamente tambeacutem eacute verdade que natildeo se justifica mais a presenccedila do Estado em

vaacuterios setores da economia onde o dinheiro puacuteblico eacute gasto em obras e empresas

estatais natildeo prioritaacuterias mal dimensionadas ou desnecessaacuterias transformando-se num

cabide de empregos numa fonte de votos para os poliacuteticos e de poder para os

burocratas O Senado eacute um bom exemplo dessa falta de desprendimento de parentes e

correligionaacuterios poliacuteticos onde no ano de 1989 apenas 4 dos funcionaacuterios eram

concursados aleacutem do fato de que seis em cada dez eram parentes de senadores e ex-

senadores (Casas de Escacircndalos Jornal do Brasil Rio de Janeiro p10 22 fev 1989)

Isto para natildeo se falar da tendecircncia a favorecer as zonas urbanas em detrimento das aacutereas

rurais da falta de capacitaccedilatildeo governamental da crescente corrupccedilatildeo e das estruturas

verticais A maacute administraccedilatildeo puacuteblica soacute vem agravar este quadro com o socorro de

bilhotildees de reais agrave bancos e empresas falidas gastos desnecessaacuterios com sedes luxuosas

compra e aluguel de imoacuteveis decoraccedilatildeo de gabinetes etc subsiacutedios indevidos a setores

da economia ou a grupos privilegiados de funcionaacuterios aleacutem de mordomias (despesas

particulares) pagas com dinheiro dos cofres puacuteblicos A primeira impressatildeo eacute a de que

em mateacuteria de moralidade puacuteblica tudo estaacute por fazer O que se pode esperar de um

paiacutes onde o sistema eacute duro cruel e intransigente

Todavia o Estado natildeo pode sucumbir como principal agente da

instituiccedilatildeo e da garantia da ordem normativa e juriacutedica da sociedade Ele deve reforccedilar

sob novas formas e alternativas as suas funccedilotildees baacutesicas de promotor do bem-estar

social e da sociedade de equiliacutebrio com poliacuteticas positivas de garantia dos trabalhadores

e dos direitos humanos O Direito como harmonizador das relaccedilotildees sociais

intersubjetivas tambeacutem deve procurar se ajustar agraves mudanccedilas e agraves novas realidades

sem deixar de ter como aspiraccedilatildeo uma sociedade melhor e mais justa Tanto o Estado

como o Direito satildeo ferramentas desta para que seja constituiacuteda de indiviacuteduos felizes

Entretanto para salvar o capitalismo o neoliberalismo parece estar

disposto a sacrificar os direitos sociais conquistados a duras penas pela populaccedilatildeo De

uma garantia de liberdade e proteccedilatildeo a lei parece estar se transformando em uma

camisa de forccedila para o indiviacuteduo Aleacutem de legiacutetima a lei precisa ser justa De fato

nem tudo o Que eacute legal eacute justo

Compete principalmente a noacutes - cientistas professores advogados

procuradores magistrados estudantes assim como tantos outros profissionais do

Direito - impedirmos que o Estado e a proacutepria instacircncia juriacutedica tomem-se instrumentos

ao serviccedilo do desenvolvimento do crescimento e da expansatildeo em lugar de estarem ao

serviccedilo da ordem e da seguranccedila Natildeo constituiacutemos meros expectadores de uma

realidade juriacutedica exterior Ao contraacuterio participamos ativamente do processo de

construccedilatildeo da ordem juriacutedica atraveacutes de esforccedilos incessantes na investigaccedilatildeo na

interpretaccedilatildeo e na aplicaccedilatildeo do direito nos casos concretos (enquadramento de um fato

na previsatildeo de determinada norma) O operador juriacutedico nunca deve se esquecer de sua

responsabilidade para com a sociedade a qual deposita sua confianccedila naquele como

mantenedor primordial do Estado Democraacutetico de Direito ao qual todos noacutes

pertencemos

Estamos diante de uma contradiccedilatildeo Convivemos com uma moeda dita

mais valorizada que o doacutelar mas o salaacuterio natildeo daacute para atender as necessidades de

subsistecircncia da maioria da populaccedilatildeo brasileira A Constituiccedilatildeo Brasileira determina

em seu artigo 7deg inciso IV que o salaacuterio miacutenimo para o trabalhador deve ser capaz de

atender a suas necessidades vitais baacutesicas e agraves de sua famiacutelia com moradia

alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede fazer vestuaacuterio higiene transporte e previdecircncia

socialrdquo dentre outros enumerados No entanto de acordo com a medida provisoacuteria nordm

1463-3 de 260796 o salaacuterio miacutenimo atual corresponde a exatamente R$ 11200 Em

outras palavras seu valor diaacuterio corresponde a R$ 373 ou se vocecirc preferir a R$ 015 a

hora

O Brasil e principalmente o povo vecircm sendo sacrificados para manter

sua economia estaacutevel Enquanto o paiacutes eacute a deacutecima economia mundial (seu PIB eacute o

deacutecimo entre os maiores do planeta) passa para a 63ordf posiccedilatildeo quando se trata de

qualidade de vida de seus habitantes De acordo com Gilberto Paim professor de

Economia da Universidade Estaacutecio de Saacute a renda per capita dos brasileiros embora

bem maior que haacute 25 anos ainda eacute relativamente baixa US$ 320000 por ano Soacute para

se ter uma ideacuteia os 20 maiores latifundiaacuterios do Brasil detecircm 17 milhotildees de hectares o

que corresponde a aproximadamente 45 das terras Soacute aqui no Rio Grande do Norte

por volta de 100 mil famiacutelias de trabalhadores rurais ainda natildeo tecircm terra para cultivar

enfrentando uma situaccedilatildeo de penuacuteria e retaliaccedilotildees por parte da Poliacutecia Militar (O

FOacuteRUM n 2 dez 1995) Infelizmente o campo continua a produzir sangue e a terra a

gerar massacres

Enquanto isso FHC insiste em afirmar que ldquo o grande desafio do

Brasil neste final de seacuteculo justiccedila social Este seraacute o objetivo do meu governo

(seraacute)

Com esse discurso demagoacutegico o presidente continua a impor sua

poliacutetica neoliberal - ao tentar acabar com os monopoacutelios ao fazer concessotildees de

serviccedilos puacuteblicos a agilizar as privatizaccedilotildees e reformas etc - procurando atender a

interesses externos em nome da famosa ldquojusticcedila social As ldquoportas do paiacutes jaacute estatildeo

abertas aos banqueiros de qualquer parte do mundo desde agosto de 1995 podendo

comprar bancos privados participar dos que jaacute existem e abrir filiais ou agecircncias no

Brasil Essa abertura do sistema financeiro soacute aconteceu porque o governo viu nela uma

grande possibilidade de se livrar de problemas com bancos falidos o que vinha

arranhando muito a sua imagem Com essa medida o governo procurou ser ldquosimpaacutetico

e ao mesmo tempo se livrar de problemas (Revista Veja p 99 30 ago 1995)

Outra Consequumlecircncia desse modelo privatizador entrevista eacute o

esfacelamento de Induacutestrias Nacionais e Estatais Que vatildeo sucumbindo aos poucos

passando para o controle da iniciativa privada internacional abrindo novas fontes de

acumulaccedilatildeo para os grandes grupos monopolistas privados Com esse objetivo o

ministro das financcedilas do Reino Unido Kenneth Clarke veio ao Brasil no final do ano

passado a fim de prospectar possibilidades de negoacutecios para empresas britacircnicas na

Ameacuterica do Sul em especial no que diz respeito agrave privatizaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos

Essa ldquoprivatizaccedilatildeo do Estado soacute vem aumentando a submissatildeo do povo brasileiro cada

vez mais aos interesses da classe social Que se encontra no topo Lamentavelmente

uma legislaccedilatildeo antipatrioacutetica tambeacutem tem permitido que grupos econocircmicos

estrangeiros dominem em proveito proacuteprio grande parte das riquezas naturais do Brasil

Para se ter uma noccedilatildeo desta desnacionalizaccedilatildeo das reservas minerais brasileiras basta

verificar as concessotildees de lavras (licenccedilas para mineraccedilatildeo) jaacute concedidas Ao contraacuterio

da tendecircncia atual deveriacuteamos procurar dar cada vez mais prestiacutegio forccedila e autoridade

para as empresas genuinamente brasileiras que realmente lutam pelo Brasil e natildeo pelo

enriquecimento da fortuna dos estrangeiros

Devemos considerar que a situaccedilatildeo econocircmica eacute delicada que a pobreza

continua a se alastrar e que o ideal de melhoria social estaacute cada vez mais longe afinal

de contas ldquomiseacuteria e democracia natildeo coexistem( Herbert de Souza o Betinho)

Essas soacute satildeo algumas consequumlecircncias negativas Infelizmente ainda

existem outras que vecircm se somar a essas e aumentar este quadro caoacutetico que se

intensifica no Brasil

O povo brasileiro precisa urgentemente se conscientizar dessa realidade

camuflada que continua atendendo a interesses variados que soacute visam a exploraccedilatildeo do

paiacutes Natildeo podemos continuar aceitando o absurdo como coisa normal

Seraacute que ldquoPara tomar consciecircncia da necessidade de mudanccedilas eacute

tambeacutem necessaacuterio ser sacudido pelos fatos pelo encontro com a injusticcedila pelos pobres

em desespero (Pierre Imberdis e Xavier Perrim) Jaacute eacute hora de assumir nosso destino

por nossa conta procurando desvendar o jogo de interesses que se esconde por traacutes dos

discursos ideoloacutegicos propagados pelos detentores do poder econocircmico-poliacutetico

Eacute preciso uma tomada de atitude que leve a pensar quem eacute que estaacute se

beneficiando mais com a reforma do Estado antes que esse processo devastador

privatize o paiacutes por completo a ponto de natildeo sobrar nada genuinamente brasileiro a natildeo

ser o nome BRASIL

5 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS E SOLUCcedilOtildeES

De todo o exposto pode-se concluir que a ofensiva neoliberal tem

direcionado o Brasil a um processo de ldquoilusatildeo onde o povo eacute levado a acreditar que a

soluccedilatildeo para as iniquumlidades estaacute nas reformas Eacute imprescindiacutevel entretanto perquirir as

reais importacircncias dessas reformas e ter cautela para que destas modificaccedilotildees natildeo

decorram prejuiacutezos irreparaacuteveis para os cidadatildeos acabando com o pouco que resta do

paiacutes

A estabilizaccedilatildeo da moeda e o controle da inflaccedilatildeo tecircm sido mais

importantes do que poliacuteticas de criaccedilatildeo de empregos melhorias na sauacutede educaccedilatildeo

habitaccedilatildeo etc O neoliberalismo tem trazido a primeiro plano a palavra eficiecircncia e

relegado a plano inferior a palavra equidade Natildeo devemos e natildeo podemos nos enganar

Nos paiacuteses subdesenvolvidos como o Brasil os problemas de desenvolvimento natildeo satildeo

somente econocircmicos satildeo ainda e sobretudo humanos Eacute necessaacuterio que os governos se

empenhem a fundo para que ao desenvolvimento econocircmico corresponda o progresso

social

Tudo natildeo passa de uma nova ideologia Que visa recriar velhas formas de

acumulaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de capital utilizadas no seacuteculo XVIII e que hoje satildeo

denominadas de neoliberalismo Este transformou-se em maacutescara por detraacutes da qual os

interesses econocircmicos dominantes tiram proveito do poder poliacutetico fazendo com que os

paiacuteses mais desenvolvidos aumentem seu domiacutenio permitindo seu fortalecimento no

cenaacuterio mundial

Vale salientar que o Brasil natildeo deve se fechar completamente num

middotostracismo econocircmico-financeiro a par do resto do mundo o que fatalmente o levaria

a um entrave e a um retrocesso no desenvolvimento tecnoloacutegico agravando-se o atraso

econocircmico aumentando as dificuldades nos planos de emprego e de competitividade no

mercado internacional Nesse sentido Luiacutes Roberto Martins presidente da EDS

consultoria de Satildeo Paulo diz que middota induacutestria envelhece fica incapaz de produzir coisas

melhores e baratas a inflaccedilatildeo sobe e a capacidade de criar empregos cai (Antenor

Nascimento Neto A Roda Global Veia Rio de Janeiro 3 ab 96)

Contudo essa abertura de mercado deve se dar de forma gradativa Antes

o governo deve procurar fortalecer o mercado interno acabar com a cartelizaccedilatildeo e com

o monopoacutelio de vaacuterios setores da economia (evitando uma concorrecircncia imperfeita

onde o ofertante tem capacidade para influir ou controlar o preccedilo) etc e soacute entatildeo o paiacutes

estaraacute apto a se inserir no contexto mundial com as mesmas chances Eacute preciso uma

globalizaccedilatildeo (natildeo me refiro agravequela da TV) sem exclusatildeo Em seu artigo 219 a proacutepria

Carta Magna preza que o mercado interno bull seraacute incentivado de modo a viabilizar o

desenvolvimento cultural e s6cioecon6mico o bem estar da populaccedilatildeo e a autonomia

tecnol6gica do Pais Contudo o concreto eacute muitas vezes o inverso daquilo que as

ideacuteias dominantes manifestam

Vocecirc jaacute parou para pensar se no uacuteltimo dia 7 de setembro comemoramos

147 anos de independecircncia ou por outro lado foram mais 147 anos de subordinaccedilatildeo

domiacutenio exploraccedilatildeo interferecircncia sujeiccedilatildeo e manipulaccedilatildeo

Cabe agrave todos noacutes e principalmente a populaccedilatildeo mais esclarecida o

dever de defender os interesses nacionais e sociais que vecircm sendo usurpados como

tambeacutem conscientizar o resto da populaccedilatildeo Devemos reagir contra o simples

desmantelamento do Estado propondo reformas modemizadoras que aumentem a

eficiecircncia e que resgatem sua funccedilatildeo de promotor da justiccedila social Quero nossa naccedilatildeo

soberana independente autocircnoma livre de qualquer laccedilo ou compromisso opressor

senhora de suas proacuteprias accedilotildees um Brasil ldquobelo forte impaacutevido colasso (Joaquim

Osoacuterio Duque Estrada)

Para isso o Estado natildeo deve retirar-se totalmente da economia

procurando utilizar poliacuteticas econocircmicas eficazes para que a classe mais rica possa

estender os benefiacutecios da sauacutede da educaccedilatildeo e da previdecircncia puacuteblica aos excluiacutedos

sem que o proacuteprio Estado se tome um peso demasiado para a sociedade possibilitando

assim o acesso do povo agrave cidadania

Partindo desse pressuposto justifica-se a intervenccedilatildeo do Estado de uma

forma complementar assumindo funccedilotildees corretivas (para o controle de distorccedilotildees e

desequiliacutebrios do mercado) supletivas (para ocupar espaccedilos natildeo preenchidos pela

iniciativa empresarial privada por omissatildeo ou incapacidade) e coordenativas (para

balizar a accedilatildeo econocircmica da sociedade) Tambeacutem eacute importante a coexistecircncia da

propriedade privada e estatal dos meios de produccedilatildeo procurando conciliar o interesse

puacuteblico com o interesse privado Contudo a iniciativa empresarial deve ser mantida sob

vigilacircncia do Estado que tem por escopo preservar o bem comum Assim a adoccedilatildeo de

uma espeacutecie de intervencionismo moderado eacute salutar um meio termo entre a liberdade

econocircmica absoluta e o total controle do Estado sobre a economia sendo sempre este

fiscalizado pela naccedilatildeo

Naccedilatildeo esta que tem obrigaccedilatildeo de contribuir natildeo apenas com denuacutencias

Ser cidadatildeo natildeo eacute acomodaccedilatildeo Eacute participaccedilatildeo A cidadania tem que ser permanente a

noacutes cabe fiscalizar agir pressionar cobrar - a cada momento e sempre

O desejo do povo deve ser conjugado ao enorme potencial econocircmico do

paiacutes soacute assim os maiores problemas poderatildeo ser ultrapassados Eacute um desafio a longo

prazo afinal de contas satildeo quase 500 anos de exploraccedilatildeo mas que eacute possiacutevel se unirmos

nossas forccedilas middotPor que esperar se podemos comeccedilar tudo de novo Agora mesmo A

humanidade eacute desumana Mas ainda temos chance O sol nasce para todos Soacute natildeo sabe

quem natildeo quer (Dado Villla-Lobos Renato Russo Marcelo Bonfaacute)

Temos que ter propostas poliacuteticas proacuteprias para grandes temas nacionais

no campo social como por exemplo a educaccedilatildeo e a reforma agraacuteria que estatildeo tatildeo em

evidecircncia hoje em dia

Quando natildeo fornecemos ao individuo a condiccedilatildeo de construir a si mesmo

(constructor sur) natildeo podemos esperar que se construa sadiamente Em contrapartida

um povo educado toma-se mais esclarecido e informado da sua real situaccedilatildeo fazendo

com que deixe sua apatia de lado e se organize para exigir seus direitos Quanto mais

desenvolve sua educaccedilatildeo quanto mais assimila e analisa conhecimentos e experiecircncias

mais reflete o indiviacuteduo sobre o processo em que estaacute imerso tomando-se mais

politizado (questionador) e mais reflexivo (autoquestionador)

O governo contudo natildeo tem interesse em proporcionar uma educaccedilatildeo de

qualidade O Brasil tem hoje a terceira maior taxa de evasatildeo escolar do mundo atraacutes

somente do Haiti e GuineacuteBissau causada em grande parte pela necessidade dos

menores reforccedilarem o orccedilamento familiar (satildeo cerca de sete milhotildees e meio de crianccedilas

e adolescentes entre 10 e 17 anos) O nuacutemero de analfabetos ultrapassa atualmente os

17 milhotildees ou seja mais de 16 da populaccedilatildeo acima de 14 anos Estima-se que no

ano 2000 esse nuacutemero poderaacute chegar aos 23 milhotildees representando uma populaccedilatildeo

que supotildee-se seraacute em tomo dos 180 milhotildees (Brasil o livro dos 500 anos p 112 Satildeo

Paulo 1996) Assim uma grande parcela natildeo tem acesso agrave educaccedilatildeo constituindo

apenas matildeo-de-obra barata massa de manobra poliacutetica e da miacutedia Esta triste realidade

natildeo eacute novidade apesar da educaccedilatildeo receber na Constituiccedilatildeo atual um tratamento bem

mais detalhado que nas anteriores

Dentre os princiacutepios que tratam do tema podem-se destacar a

gratuidade do ensino puacuteblico a valorizaccedilatildeo dos profissionais do ensino e a garantia do

padratildeo de qualidade (art 206 incisos IV V e VII respectivamente) Contudo por que

seraacute que o ensino privado se prolifera os professores da rede puacuteblica satildeo mal

remunerados e os alunos reclamam das condiccedilotildees educacionais

Vecirc-se o caso das Universidades por exemplo a Universidade Privada

estaacute sendo comprada por parte da sociedade que natildeo consegue vaga ou teme a

competiccedilatildeo para o ingresso na Universidade Puacuteblica como a soluccedilatildeo para o ensino

superior quando sabe-se que 80 de todos os estudantes universitaacuterios brasileiros

entram na rede privada poreacutem 60 de todos os formados saem eacute da rede puacuteblica Das

873 entidades existentes no ensino de 3deg grau apenas 25 satildeo puacuteblicas (opcitp) O

mais grave ao se pretender tirar do Estado a responsabilidade peAacutea Universidade

Puacuteblica eacute que aleacutem da maioria natildeo poder pagar a escola privada o fato da

Universidade natildeo precisar se submeter a um mercado perifeacuterico ajuda a garantir a

independecircncia do proacuteprio paiacutes constituindo uma frente fundamental ao

desenvolvimento

A reforma agraacuteria tambeacutem vem responder ao interesse paacutetrio do Brasil e

de toda a sociedade uma vez que sua efetivaccedilatildeo representa avanccedilo econocircmico e social

Soacute a pequena propriedade familiar atende a 75 do consumo nacional Todavia natildeo

basta dar terras Da mesma forma eacute preciso um apoio governamental dando condiccedilatildeo

para sua concretizaccedilatildeo O paiacutes deve fortalecer suas administraccedilotildees estimular as

empresas de base e os pequenos agricultores para garantir um desenvolvimento de baixo

para cima e aprofundar as instituiccedilotildees democraacuteticas

Essas soacute foram algumas condiccedilotildees enumeradas para se reverter esse

quadro de abandono em que se encontra a maioria da populaccedilatildeo que eacute quem sofre as

piores consequumlecircncias desse descaso Infelizmente satildeo comuns entre noacutes as leis que

ficam apenas no papel enquanto o mundo real segue outras normas

Soacute a partir da exigecircncia de seus direitos eacute que o povo estaraacute apto a

readquirir sua cidadania jaacute que como disse Renato de Oliveira candidato a presidecircncia

da ANDES (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituiccedilotildees de Ensino Superior)

direitos natildeo defendidos satildeo direitos perdidos

Destarte justifica-se a mensagem deixada pela Declaraccedilatildeo Final da IX

Conferecircncia Continental Americana de Juristas realizada em Porto Alegre no ano de

19910 neoliberalismo busca destruir os fundamentos do trabalho A crise provocada

pelas classes dominantes natildeo pode servir de argumento para chantagem internacional

com a consequumlente agudiccedilatildeo das desigualdades sociais e a perda pelos trabalhadores de

suas conquistas atraveacutes da preterida f1exibilizaccedilatildeo das normas laborais

Apesar das previsotildees pessimistas ainda natildeo eacute tarde demais Natildeo existe

um mundo pronto e acabado no qual o homem seja uma criatura passiva Existe o

mundo que o homem faz em que ele estaacute e transforma Mesmo aquele que nada faz

para mudar estaacute fazendo o mundo um mundo irremediaacutevel

Soacute resta esperar que noacutes brasileiros reflitamos a respeito da ofensiva

neoliberal em que estamos nos inserindo pesando bem os proacutes e os contras a fim de

evitar que o pais seja levado a um caminho de consequumlecircncias nefastas Se queremos

amenizar as injusticcedilas melhorar os serviccedilos puacuteblicos dar melhores perspectivas ao

Brasil objetivando um desenvolvimento auto sustentado jaacute eacute hora de acordar esse

Gigante pela proacutepria natureza () Deitado eternamente em berccedilo esplecircndido (trechos

do Hino Nacional Brasileiro) procurando analisar a gravidade dos problemas sociais e

das verdadeiras causas de cada um unindo nossas forccedilas como resultado de uma

vontade nacional agindo principalmente e antes de tudo como cidadatildeos conscientes

Aiacute quem sabe um dia o preacircmbulo da Constituiccedilatildeo Federal se tome

realidade quando todos noacutes viveremos em ldquo um Estado Democraacutetico destinado a

assegurar o exerciacutecio dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-

estar o desenvolvimento a Igualdade e a justiccedila como valores supremos de uma

sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BARRE Raymond Manual de economia poliacutetica Rio de Janeiro Fundo

de cultura 1957v 1

CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO v 21 n188 Rio de Janeiro

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Natal 20 ago de 1995

CARDOSO Otomar Lopes A diplomacia do subdesenvolvimento

Natal UFRN1979

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Janeiro Bloch 1988

DUARTE Gleuso Damasceno ANDRADE Durval Atildengelo Novo

Brasil agora 3 ed Belo Horizonte Lecirc 1992

FERNANDES Luiacutes Os fundamentos da ofensiva neoliberal

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Satildeo Paulo 2 jan 1996

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NASCIMENTO NETO Antenor A roda global Veia Rio de Janeiro 3 ab 1996

NEVES Marcelo Encontro Regional dos Estudantes de Direito - ERED

13 Campina Grande 1996 (palestra proferida - professor da UFPE)

O FOacuteRUM Oacutergatildeo Informativo do Foacuterum dos Servidores Puacuteblicos v1

n 2 dez 1995

PATUacute Gustavo DIAS Otaacutevio Folha de Satildeo Paulo 30 dez 1995

REVISTA DO MERCOSUL Rio de Janeiro Ed Terceiro Mundo n31 ago de 1995

REVISTA JURIgraveDICA IN VERBIS v2 n3 Natal Ed Nordeste 1996

REVISTA VEJA 11 de janeiro de 1995

________ Terreno livre - paiacutes se abre aos bancos estrangeiros 30 de

agosto de 1995

RODRIGUES Leocircncio Martins O furacatildeo neoliberal Folha de Satildeo

Paulo Satildeo Paulo 4 set 1995

RODRIGUES NETO Joatildeo TEIXEIRA Roosenez de C Neoliberalismo

para o terceiro mundo O Poti Natal 23 jul 1995

_________ Desindexaccedilatildeo as duas faces do plano real O Poti Natal 23

jul 1995

_________ Plano real por quem os sinos dobram Gazeta do Oeste 4

set 1994

_________ A conjuntura econocircmica e o mercado de trabalho Diaacuterio de

Natal 7 jun 1996

VICENTINO Claacuteudio SCALZARETTO Reinaldo Nova ordem

internacional

AUTORIDADE COATORA EM MANDADO DE SEGURANCcedilA -

ANAacuteLISE COM BASE EM CASO CONCRETO

Luana Pedrosa de Figueiredo Cruz

Acadecircmica do 8ordm periacuteodo do Curso de Direito UFRN

Monitora da disciplina de Direito Civil VI - Direito de Famiacutelia

CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES

Com o advento da Medida Provisoacuteria ndeg 141596 e suas reediccedilotildees que

dentre outras determinaccedilotildees instituiu contribuiccedilatildeo previdenciaacuteria para os servidores

inativos da Uniatildeo Federal eacute grande o nuacutemero de Mandados de Seguranccedila impetrados

pelos aposentados alegando a ilegalidade dos descontos nos seus proventos

Grande valia possui a anaacutelise do meacuterito da questatildeo poreacutem nos ateremos

ao aspecto que tange agrave parte passiva da Accedilatildeo

Anteriormente agrave anaacutelise que se seguiraacute satildeo necessaacuterios alguns conceitos

e breves consideraccedilotildees

MANDADO DE SEGURANCcedilA

Garantia Constitucional que eacute usando as palavras do Mestre Marcelo

Navarro Ribeiro Dantas ldquoo mandado de seguranccedila eacute remeacutedio constitucional emanado

do direito puacuteblico e destinado a proteger direitos liacutequidos e certos violados pela

autoridade puacuteblica desde que estes natildeo sejam amparados por habeas corpus ou habeas

data

Pode ser accedilatildeo de cogniccedilatildeo constitutiva declaratoacuteria ou condenatoacuteria

Por direito liacutequido e certo entende-se o incontestaacutevel com fato certo e

legalmente fundamentado Segundo Castro Nunes ldquose a norma de direito positivo

incidindo sobre fatos incontroversos criasse um direito teriacuteamos caracterizado entatildeo o

direito liacutequido e certo Jurisprudecircncia (desde o Supremo) e doutrina predominantes

hoje em dia entendem como direito liacutequido e certo para fins de seguranccedila aquele que

pode ser objeto de prova preacute-constituiacuteda porque o rito especialiacutessimo do mandado de

seguranccedila natildeo admite dilaccedilatildeo probatoacuteria

Assim a suposta lesatildeo ou ameaccedila do direito deve ser pertinentemente

provada quando da propositura da accedilatildeo de seguranccedila

AUTORIDADE COATORA

Questatildeo ainda bastante controversa eacute a de quem deve ocupar o poacutelo

passivo na relaccedilatildeo processual instaurada no Mandado de Seguranccedila

Primeiramente eacute necessaacuterio que se faccedila a distinccedilatildeo entre autoridade

puacuteblica e agente puacuteblico Este pratica atos meramente executoacuterios natildeo tem poder de

decisatildeo pois apenas cumpre ordem superior Aquele possui poder decisoacuterio na praacutetica

dos atos administrativos

Observe-se o dispositivo da lei nordm 153351 art 1ordm sect1ordm ldquoConsideram-

se autoridades para os efeitos desta lei os administradores ou representantes das

entidades autaacuterquicas e das pessoas naturais ou juriacutedicas com funccedilotildees delegadas do

Poder Puacuteblico somente no que entende com essas funccedilotildees

Deve-se considerar que os atos praticados por pessoas ou instituiccedilotildees

particulares cuja atividade seja apenas autorizada pelo Poder Puacuteblico natildeo satildeo passiacuteveis

de Mandado de Seguranccedila pois natildeo estatildeo desempenhando atividade delegada eacute o

entendimento extraiacutedo da Suacutemula 510 do STF

Tomando como exemplo a educaccedilatildeo um direito puacuteblico subjetivo para

que uma instituiccedilatildeo particular de ensino seja passiacutevel de Mandado de Seguranccedila eacute

preciso que o seu responsaacutevel pratique ato ilegal ou abusivo no tocante

especificamente agrave violaccedilatildeo do direito citado como por exemplo recusar-se

inexplicadamente a aceitar aluno o que natildeo seria cabiacutevel se fosse ato meramente de

administraccedilatildeo interna

Assim sendo autoridade coatora eacute quem praticou accedilatildeo ou omissatildeo

ferindo o direito liquido e certo do impetrante devendo excluir-se o que apenas

recomenda e estabelece normas para a execuccedilatildeo ou abstenccedilatildeo

Apesar de divergentes as linhas de pensamento tome-se como

predominante o entender de Hely Lopes Meirelles segundo o qual a impetraccedilatildeo deve

ser sempre dirigida contra a autoridade que tenha poderes e meios para praticar o

ato ordenado pelo Judiciaacuterio discordando assim das consideraccedilotildees de Pontes de

Miranda nas quais o coator eacute o executor da ordem salvo em praacutetica de ato por

obediecircncia a ordem direta

A autoridade coatora entatildeo eacute aquela que possui competecircncia e

instrumento juriacutedico que a habilite a desfazer o ato desde que lhe determine o

Judiciaacuterio

Portanto se o executor da ordem natildeo possui esses meios afastado estaacute

do poacutelo passivo a natildeo ser que aleacutem de ordenador seja ele tambeacutem o executor

CASO CONCRETO

Passando agora para a problemaacutetica atual tomemos o exemplo citado no

iniacutecio deste trabalho

Recentemente foi impetrado writ contra ato de autoridade do Secretaacuterio

de Recursos Humanos do Tribunal Regional Eleitoral no Rio Grande do Norte

alegando a ilegalidade do ato

O caso merece anaacutelise Observe-se a seguinte ementa

PROCESSO CIVIL MANDADO DE SEGURANCcedilA I AUTORIDADE

COATORA Autoridade Coatora no mandado de seguranccedila eacute aquela que

tem a responsabilidade funcional de defender o ato impugnado Nos

mandados de seguranccedila preventivos que visam a inibir lanccedilamentos de

oficio a propoacutesito de tributos por homologaccedilatildeo essa autoridade eacute o

chefe do Oacutergatildeo em que estaacute lotado o agente fazendaacuterio que pratica os

atos de fiscalizaccedilatildeo 2 ERRO NA INDICACcedilAtildeO DA AUTORIDADE

COATORA EXTINCcedilAtildeO DO PROCESSO SEMJULGAMENTO DE

MEacuteRITO Se a impetraccedilatildeo for mal endereccedilada vale dizer se apontar

COl1l0 autoridade coatora quem natildeo tem a responsabilidade funcional

de defender o ato impugnado o processo deve ser extinto sem

julgamento de meacuterito Recurso ordinaacuterio improvido Recurso em

Mandado de Seguranccedila nordm 4897-6 _ SP Rei Min Ari Pargendler DJU

091095 Seccedilatildeo I p33536)

Trazendo o raciociacutenio para o caso sob anaacutelise atente-se tambeacutem para o

art 96 da Constituiccedilatildeo Federal que diz o seguinte

Compete privativamente

J - aos tribunais

a) eleger seus oacutergatildeos diretivos e elaborar seus regimentos internos

com observacircncia das normas de processo e das garantias

processuais das partes dispondo sobre a competecircncia e o

funcionamento dos respectivos oacutergatildeos jurisdicionais e

administrativos

b) organizar suas secretarias e serviccedilos auxiliares e os dos juiacutezos

que Ihes forem vinculados velando pelo exerciacutecio da atividade

correicional respectivardquo

Portanto eacute cristalino que os TREs satildeo dotados de autonomia

administrativa

In casu os descontos foram determinados pelo Presidente do oacutergatildeo

que eacute o ordenador de despesas segundo as informaccedilotildees processuais fornecidas nos

autos

Assim sendo natildeo pode o secretaacuterio de recursos humanos do tribunal ser

responsabilizado por cumprir ordem a que estaacute hierarquicamente submetido pois

mesmo que assim o desejasse natildeo seria competente por ser mero executor material O

Presidente do TRE sendo o ordenador de despesas assume a responsabilidade e

deveria estar no poacutelo passivo nesta demanda judicial

Este caso eacute deveras especiacutefico pois a questatildeo relacionada aos tribunais

diverge de outras situaccedilotildees onde seria possiacutevel responsabilizar o chefe do setor de

recursos humanos haja vista a possibilidade de delegaccedilatildeo de responsabilidade dentro

da estrutura administrativa do oacutergatildeo

Haacute tambeacutem a situaccedilatildeo dos quadros de pessoal das autarquias e

fundaccedilotildees puacuteblicas do Poder Executivo da Uniatildeo e administraccedilatildeo direta gerenciada

por um oacutergatildeo ligado ao Ministeacuterio da Administraccedilatildeo Federal e Reforma do Estado -

MARE (Lei 908295 art 36 Medida Provisoacuteria 134296 art 14 aliacutenea f Decreto

1412 de 070395 e Portaria 978 de 270396 do MARE Aqui observa-se a retirada

da competecircncia para o MARE e a respectiva autoridade coatora natildeo para o executor

material da ordem

Para fins de competecircncia antes de dirigir-se ao caso em tela eacute mister

esclarecer que a fixaccedilatildeo do juiacutezo competente independe da natureza do ato Deve ser

levado em conta a sede e categoria funcional da autoridade Acrescente-se que o fato de

o Mandado ser impetrado por exemplo perante as Justiccedilas Trabalhista ou Eleitoral natildeo

modifica a sua denominaccedilatildeo posto que eacute regido pelas mesmas normas e a diferente

competecircncia natildeo modifica a essecircncia do instituto

Deve entatildeo neste caso objeto de nossa anaacutelise o writ ser impetrado

perante o proacuteprio TRE contra seu Presidente em face da autonomia administrativa

pois competente eacute a sede funcional a qual pertence a autoridade coatora

Finalizando a soluccedilatildeo neste Mandado eacute a extinccedilatildeo do processo sem

julgamento de meacuterito posto que a autoridade foi erroneamente apontada

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

COGAN JOSEacute DAMIAtildeO PINHEIRO MACHADO - Mandado de

Seguranccedila na Justiccedila Criminal e Ministeacuterio Puacuteblico - Saraiva 2 a ediccedilatildeo - Satildeo Paulo

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Mandado de Seguranccedila - Editora do Rio Grande do Norte - CERN NatalRN1984

FERRAZ SEacuteRGIO - Mandado de Seguranccedila ( individual e coletivo)

Aspectos Polecircmicos - Malheiros 2a ediccedilatildeo - Satildeo Paulo

MEIRELLES HEL Y LOPES - MANDADO DE SEGURANCcedilA -

Accedilatildeo Popular Accedilatildeo Civil Puacuteblica Mandado de Injunccedilatildeo Habeas Datardquo - Editora RT

13aediccedilatildeo Satildeo Paulo 1992

VELLOSO CARLOS MAacuteRIO DA SILVA - Conceito de Direito

Liacutequido e Certo - em Curso de Mandado de Seguranccedila

Pareceres em Mandado de Seguranccedila

PINHEIRO FILHO FRANCISCO XAVIER - Procurador Regional da

Repuacuteblica no Rio Grande do Norte Processo nordm 960006286-2 setembro de 1996

TEIXEIRA ANTOcircNIO EDIacuteLIO MAGALHAtildeES - Procurador da

Repuacuteblica no Rio Grande do Norte Processo nordm 960006645 - O outubro de 1996

Eacute A JUSTICcedilA A REAL META DO DIREITO

Roberto Di Sena Junior

Acadecircmico do 2ordm periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES

Antes de respondermos agrave pergunta aparentemente simples acima

proposta devemos abordar temas que nos forneccedilam o embasamento teoacuterico necessaacuterio agrave

correta soluccedilatildeo dessa questatildeo Primeiramente devemos saber o que o Direito eacute para

em seguida podermos especular sobre qual eacute sua finalidade Essa eacute uma tarefa

extremamente complexa visto que muitas satildeo as definiccedilotildees e acepccedilotildees da palavra

DIREITO natildeo obstante a isso tentaremos ultrapassar esse toacutepico sem muitas

controveacutersias se eacute que isso eacute possiacutevel (Definitio est initium omni disputatiom)

O CONCEITO DE DIREITO

Mesmo salientando que uma uacutenica definiccedilatildeo eacute incapaz de revelar todas

as diversas facetas da palavra DIREITO Paulo Nader tenta defini-Io como sendo o

conjunto de normas de conduta social imposto coercitivamente pelo Estado para a

realizaccedilatildeo da seguranccedila segundo criteacuterios de justiccedilardquo Este conceito do meu ponto de

vista eacute deveras peculiar haja vista explicitar a finalidade do Direito e o meio (o uacutenico

salienta-se) atraveacutes do qual este pode ser concretizado Outro conceito que merece ser

destacado no presente artigo eacute Dante Alighieri no qual ele diz ldquojus est realis al

personalis hominis ad hominem proportio qual servata societatim servate corrupta

corrumptirdquo1 Em ambos os conceitos nota-se a relaccedilatildeo direta entre Direito e o

estabelecimento da ordem e a manutenccedilatildeo da paz social Contrapondo as colocaccedilotildees

anteriores poderia ser invocada a definiccedilatildeo do famoso jurista Celso para o qual o

Direito eacute a arte do bom e do justo Essa definiccedilatildeo entretanto soa-me por demais

abstrata e para isso haacute uma explicaccedilatildeo os romanos assim como os gregos natildeo

diferenciavam Direito Moral Religiatildeo e Regras de Trato Social diferentemente do

que acontece contemporaneamente Este posicionamento por muitos de caraacuteter

positivista explico entretanto que natildeo o eacute pois os adeptos desta corrente limitam o

conceito de Direito agravequilo que estaacute conforme a lei (jus = lex) ou seja ao que eacute liacutecito

relaccedilatildeo esta cujos enunciados acima natildeo se propotildeem a fazer

Transpondo a fase da definiccedilatildeo de Direito que certamente muitos

discordaratildeo do que foi anteriormente exposto passemos para o segundo poreacutem mais

controvertido item

A ABSTRACcedilAtildeO DO CONCEITO DE JUSTICcedilA

Muito se fala sobre a justiccedila e de sua importacircncia para o Direito poreacutem

quando se trata de defini-Ia quase sempre se recorre a enunciados abstratos e de certa

forma inaplicaacuteveis agrave concretude da realidade cotidiana

A concepccedilatildeo claacutessica geralmente invocada pelos juristas atuais foi

formulada por Ulpiano na Roma antiga Para ele a justitia est constans et perpetua

voluntas jus suum unique tribuendi2 Sabe-se entretanto que esta eacute uma visiacutevel

expressatildeo da separaccedilatildeo social das classes entre dominantes e espoliados Assim explica

o jurista Joatildeo Mangabeira porque se a justiccedila consiste em dar a cada um o que eacute seu

decirc-se ao pobre a pobreza ao miseraacutevel a miseacuteria ao desgraccedilado a desgraccedila que isto eacute

o que eacute deles ()rdquo Se este conceito natildeo serve para definir a justiccedila seria entatildeo o de

Aristoacuteteles o ideal A saber a justiccedila eacute a observacircncia do meio termo enquanto a

injusticcedila se relaciona com os extremos Como poderiacuteamos pocircr em praacutetica tal

concepccedilatildeo Muitos condenam a pena de morte qual seria entatildeo o meio termo para a

soluccedilatildeo deste conflito O que seria justo nesse caso

Isto posto vemos a justiccedila por ser uma ideacuteia abstrata (inatingiacutevel) natildeo

pode ser o fim de uma ciecircncia concreta como o Direito que regulamenta a vida de todos

os indiviacuteduos de uma sociedade A justiccedila tal qual sua real influecircncia que exerce sobre

o Direito poderia ser entatildeo de forma mais plausiacutevel e concreta definida como sendo o

respeito pelas expectativas compreendidas na vida em sociedade na qual cada ser

humano tenha a possibilidade de desfrutar de existecircncia social e econocircmica completa e

igual Devemos entretanto atentar para o fato de que como disse Rousseau agrave falta de

sanccedilatildeo natural satildeo vatildes as leis de justiccedila entre os homens Cabe aos juristas entatildeo

aplicar LEGIacuteTIMAS3 atraveacutes de meios justos para se atingir a meta do Direito o fim

para o qual este foi criado a seguranccedila e a manutenccedilatildeo da paz social sem as quais os

1 ldquoOu seja Direito eacute a proporccedilatildeo real e pessoal de homem para homem que conservada

conserva a sociedade e que destruiacuteda a destroacuteirdquo 2 Isto eacute justiccedila eacute a constante e firme vontade de dar a cada um o que eacute seu

3 A legitimidade das leis eacute um assunto de importacircncia salutar que no entanto natildeo nos interessa

diretamente

seres humanos natildeo poderiam satisfazer seu appetitus societatis Explicando que a

manutenccedilatildeo da ordem e da paz natildeo implicam necesssariamente na manutenccedilatildeo do

status quo o qual sendo injusto deve certamente ser alvo implacaacutevel do Direito a

fim de sua superaccedilatildeo

A SEGURANCcedilA JURIacuteDICA

A seguranccedila com a conotaccedilatildeo acima exposta natildeo pode ser

compreendida meramente como a existecircncia de uma ordem juriacutedica isto eacute o

conhecimento do que eacute liacutecito e iliacutecito Estaacute em seu mais amplo sentido haja vista o

niacutevel social alcanccedilado pelo homem natildeo eacute soacute um fato eacute tambeacutem sobretudo um valor

A preservaccedilatildeo da paz social deve ser a meta do Direito posto que foi

com essa finalidade que ele foi criado natildeo podemos eacute claro chegar ao extremo de

compartilhar da opiniatildeo de Goethe que disse prefiro a injusticcedila agrave desordem A

seguranccedila plena eacute necessaacuteria mas ela soacute se sustenta se erguida sobre os firmes

alicerces da justiccedila

Concordamos portanto com o jurista cubano Camus quando disse que

entre justiccedila e seguranccedila existe uma muacutetua compenetraccedilatildeo sendo de absoluta

necessidade a coexistecircncia de ambos para o desenvolvimento ordenado de uma

sociedade civilizada

O homem natildeo eacute auto-suficiente nem no plano material nem no

espiritual Ele eacute um animal extremamente inseguro e dependente sendo a seguranccedila e

a estabilidade uma aspiraccedilatildeo comum a

todos indistintamente

Eacute este portanto o grande dilema do Direito a conciliaccedilatildeo entre justiccedila

e seguranccedila plena natildeo se podendo conceber esta sem aquela

CONCLUSAtildeO

Chegamos entatildeo agrave conclusatildeo de que o Direito tendo em vista sua

determinaccedilatildeo histoacuterico-social tem por escopo a manutenccedilatildeo da paz e da ordem sociais

sendo a justiccedila o UacuteNICO MEIO atraveacutes do qual este objetivo pode ser alcanccedilado de

forma plena e duradoura O Direito surgiu naturalmente como uma necessidade para

que os homens pudessem viver em sociedade sendo sua funccedilatildeo limitar a conduta de

indiviacuteduos que eventualmente possam colocar em risco a paciacutefica coexistecircncia coletiva

O Direito assim como o Estado surge como garantia juriacutedica social e poliacutetica contra o

medo que os sujeitos sociais tecircm dos outros sujeitos sociais os quais atraveacutes de contrato

firmado mutuamente entre si abdicam de certos direitos individuais em prol da

satisfaccedilatildeo de sua natural necessidade de viver em sociedade A inexistecircncia do Direito

nas sociedades modernas teria por consequumlecircncia a regressatildeo do homem a seu mais baixo

niacutevel de civilidade no qual eles viveriam num estado como o descrito por Hobbes de

bellum omnium contra omnes visto que soacute consegue realizar seu destino moral

quando inserido numa sociedade Isto posto vemos que apesar de bela a ideacuteia de ter a

justiccedila como finalidade do Direito eacute meramente ideoloacutegica Eacute claro que estando o

Direito inserido no campo das ciecircncias sociais onde nenhum conhecimento pode ser

tido como absoluto as opiniotildees contidas neste artigo satildeo perfeitamente passiacuteveis de

contestaccedilatildeo natildeo se tomando apesar disso invaacutelidas

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ARISTOacuteTELES Eacutetica a Nicocircmacos (Trad KURY Maacuterio da Gama) 2

ed Brasiacutelia Eunb

BEVILAacuteQUA Cloacutevis Obra filosoacutefica II - Filosofia social e juriacutedica Satildeo

Paulo Edusp 1975

GUSMAtildeO Paulo Dourado de Introduccedilatildeo ao Estudo do Direito 18 ed

Rio de Janeiro Forense 1995

LYRA FILHO Roberto O Que eacute Direito 5 ed Satildeo Paulo Brasiliense

1985 MENEZES Djacir Filosofia do Direito Rio de Janeiro Rio 1975

NADER Paulo Introduccedilatildeo ao Estudo do Direito Rio de Janeiro

Forense 1985

PLATAtildeO A Repuacuteblica (Trad PEREIRA Maria Helena da Rocha) 3

ed Satildeo Paulo FCG

POUND Roscoe Justiccedila conforme a lei Satildeo Paulo Ibrasa 1965

REALE Miguel Noccedilotildees preliminares de Direito 5 ed Satildeo Paulo

Saraiva 1978

ROUSSEAU Jean-Jacques O contrato social e outros escritos 4 ed Satildeo

Paulo Cultrix

COMENTAacuteRIOS Agrave LEI QUE REGULAMENTA A PRODUCcedilAtildeO

DE PROVAS MEDIANTE INTERCEPTACcedilAtildeO DE COMUNICACcedilOtildeES

ROSSANA DE AR4UacuteJO ROCHA

Acadecircmica do 6deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

INTRODUCcedilAtildeO

Depois de quase oito anos de vigecircncia da mais recente Constituiccedilatildeo

Federal brasileira foi publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 25 de julho do corrente

a Lei na 9296 de 24 de julho de 1996 que regulamenta o inciso XII parte final do

artigo 50 dessa Carta Magna

O inciso do qual a lei se refere tem aqui a sua redaccedilatildeo

Ar 5deg

XIl- eacute inviolaacutevel o sigilo da correspondecircncia e das comunicaccedilotildees

telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no

uacuteltimo caso por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei

estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo

processual pena1

A regulamentaccedilatildeo desse inciso define as hipoacuteteses e formas em que

poderaacute ser violado o sigilo de comunicaccedilotildees telefocircnicas que por sinal a lei incluiu

outros tipos que natildeo estatildeo previstos no inciso para o colhimento de informaccedilotildees ligadas

ao fato delituoso que poderatildeo servir como provas que atendam os objetivos de uma

investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penal

Esta lei possui certa relevacircncia pois antes de ter entrado em vigor

muitos dos magistrados se sentiam desconfortaacuteveis ou se viam impossibilitados em

autorizar tal produccedilatildeo de provas o que dificultava intensamente o trabalho daqueles que

defendem toda uma sociedade contra atos criminosos de certos indiviacuteduos apesar da

existecircncia de doutrina e jurisprudecircncia favoraacuteveis

1 Constituiccedilatildeo Federativa da Repuacuteblica do Brasil de 05 de outubro de 1988

Prestando maior atenccedilatildeo no que jaacute foi dito eacute valioso notar que os nossos

atuais legisladores se preocuparam em incluir e proteger os novos tipos de

comunicaccedilotildees provenientes de avanccedilos tecnoloacutegicos que chegam constantemente ao

nosso paiacutes quando incluiacuteram a ldquo interceptaccedilatildeo do fluxo de comunicaccedilotildees em sistema

de informaacutetica e telemaacutetica (art 1deg paraacutegrafo uacutenico da Lei 929696) ao lado das

comunicaccedilotildees telefocircnicas Vejamos o artigo mencionado

Art 1ordm A interceptaccedilatildeo de comunicaccedilotildees telefocircnicas de qualquer

natureza para prova em investigaccedilatildeo criminal e em instruccedilatildeo

processual penal observaraacute o disposto nesta Lei e dependeraacute de

ordem do juiz competente da accedilatildeo principal sob segredo de justiccedila

Paraacutegrafo uacutenico o disposto nesta Lei aplica-se agrave interceptaccedilatildeo de

fluxo de comunicaccedilotildees em sistemas de informaacutetica e telemaacutetica

Ocorreu desse modo uma evoluccedilatildeo no pensamento dos

legisladores pela precisatildeo de suprir as necessidades decorrentes dos novos tempos

Portanto conclui-se a partir dessa evoluccedilatildeo que os legisladores constitucionais natildeo

contavam com o raacutepido avanccedilo tecnoloacutegico especificamente o da Informaacutetica e da

Telemaacutetica cujo grande expoente atual eacute a Internet a nova coqueluche mundial em

termos de comunicaccedilatildeo que chegou em nosso paiacutes no ano de 1992 abrangendo apenas

o meio acadecircmico e que somente enveredou-se no acircmbito comercial a partir do ano de

1995 Sem falar em outras formas de comunicaccedilatildeo via sistemas de computador

Vale lembrar que no inciso XII do art 5deg da nossa Lei Maior somente

as comunicaccedilotildees telefocircnicas poderiam ser passiacuteveis de interceptaccedilotildees para a

produccedilatildeo de provas mediante autorizaccedilatildeo judicial Exceccedilatildeo identificada na parte em

que o legislador escreveu ldquo salvo em uacuteltimo caso

Poreacutem muitos podem afirmar que a Lei 929696 eacute inconstitucional

por natildeo estarem previstas a Informaacutetica e Telemaacutetica no inciso XII do art 5deg da

Constituiccedilatildeo Federal Mas se pensarmos bem a informaacutetica e a Telemaacutetica podem

ser consideradas como ramificaccedilotildees das comunicaccedilotildees telefocircnicas por poderem

utilizar a via telefocircnica para efetuar os seus transportes de informaccedilotildees

A Internet e o fax por exemplo necessitam do canal telefocircnico para

poderem executar suas funccedilotildees de comunicaccedilatildeo

Desse modo estariacuteamos regredindo ao limitarmos a nossa compreensatildeo

em relaccedilatildeo ao que estaacute precisamente escrito no inciso constitucional entendendo que soacute

as comunicaccedilotildees telefocircnicas tem o ldquostatus de exceccedilatildeo

Outrossim natildeo se deve entender como uma agressatildeo agrave nossa Lei Maior o

fato de terem sido incluiacutedas novas espeacutecies de comunicaccedilatildeo mas sim como uma

complementaccedilatildeo necessaacuteria para natildeo fincarmos os peacutes de vez na idade da pedra em

relaccedilatildeo ao resto do mundo

Omissotildees agrave parte a discussatildeo sobre a exclusatildeo das outras formas de

comunicaccedilatildeo previstas no inciso constitucional em relaccedilatildeo a possibilidade de sofrerem

quebra justificaacutevel de sigilo merece maiores reflexotildees em separado devido a existecircncia

de complexidade peculiar Portanto natildeo seratildeo aqui abordadas

Feitos os devidos esclarecimentos deparamo-nos com a discussatildeo maior

que eacute o conflito de princiacutepios e consequumlentemente de direitos presentes em nossa

sociedade

ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES

A discutida lei e o inciso que a fundamentou mereceriam maiores

elogios caso natildeo existisse o conflito entre dois direitos primordiais presentes em nossa

sociedade que satildeo o direito agrave intimidade e o interesse social

Qual desses direitos julgamos o mais importante

Tarefa difiacutecil somente facilitada quando se pode analisar cada caso

especiacutefico Procedimento natildeo tatildeo utilizado por noacutes

Deve-se repetir que eacute louvaacutevel em termos o que estaacute escrito tanto no

dispositivo constitucional como na lei ordinaacuteria cujas essecircncias visam a proteger a

individualidade de cada cidadatildeo Afinal todos noacutes temos direito a usufruirmos de nossa

proacutepria intimidade Precisamos dela

Mas temos o direito de valermos-nos desta como um esconderijo ao

prejudicarmos pessoas inocentes Ai estaacute caracterizado o impasse pois se defende e

com razatildeo o direito de cada indiviacuteduo proteger a sua intimidade em oposiccedilatildeo agrave vontade

de muitos de terem ciecircncia de atos e fatos que natildeo lhes competem Todavia em

contrapartida faz-se imprescindiacutevel a notoriedade em relaccedilatildeo a atos e fatos nocivos agrave

sociedade como tambeacutem de quem os provocou para que sejam eficazmente anulados os

prejuiacutezos decorrentes de tais condutas

Nesse uacuteltimo caso falamos especificamente de todos que usam de meios

criminosos para obterem vantagens agraves custas de um sem nuacutemero de inocentes e que

acabam tendo os seus atos e suas identidades acobertadas pela lei

Esses natildeo podem usufruir do direito agrave intimidade da mesma maneira que

as pessoas de bem usufruem Deve-se sacrificar desse modo a privacidade do

criminoso a fim de que esse seja responsabilizado pelos seus atos

Surge entatildeo uma nova pergunta seria melhor proteger mil pessoas ou

uma soacute

Muitos poderiam argumentar que a Lei ndeg 929696 foi elaborada com

esse fim ou seja proteger os inocentes e chegar ao reconhecimento dos delinquumlentes

tendo como exemplo os arts 20 caput e incisos e 3deg caput e incisos aqui

apresentados

Art 2deg Natildeo seraacute admitida a interceptaccedilatildeo de comunicaccedilotildees

telefocircnicas quando ocorrer das hipoacuteteses

I - natildeo houver indiacutecios razoaacuteveis da autoria ou participaccedilatildeo em

infraccedilatildeo penal

Il- a prova puder ser feita por outros meios disponiacuteveis

III - o fato investigado constituir infraccedilatildeo penal punida no

maacuteximo com pena de detenccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Em qualquer hipoacutetese deve ser descrita com

clareza a situaccedilatildeo objeto da investigaccedilatildeo inclusive com a

indicaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos investigados salvo

impossibilidade manifesta devidamente justificada

Art 3deg A interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas poderaacute

ser determinada pelo juiz de oficio ou a requerimento

I- da autoridade policial criminal na investigaccedilatildeo

II- do representante do Ministeacuterio Puacuteblico na investigaccedilatildeo

criminal e na instruccedilatildeo processual penal

Haacute de se concordar que somente nas hipoacuteteses definidas em lei devam

existir as possibilidades de efetuar tais interceptaccedilotildees pois eacute inadmissiacutevel que qualquer

indiscutiacutevel inocente que poderia ser muito bem um vitima em potencial sofra tal

invasatildeo ou melhor dizendo violecircncia Haacute ainda a concordacircncia em relaccedilatildeo agraves pessoas

competentes que poderatildeo efetuar esse tipo de operaccedilatildeo Aleacutem do mais natildeo podemos

ficar do lado de grampeadores hackers crackers e qualquer outro tipo de invasor

de privacidade

Merece ressalva poreacutem o que estaacute disposto no inc 111 do art 2deg da

mencionada lei que proiacutebe as interceptaccedilotildees se a infraccedilatildeo penal que estiver sendo

investigada for punida no maacuteximo com a pena de detenccedilatildeo Este inciso deve ser

revisto pois muitas dessas infraccedilotildees penais satildeo altamente lesivas como por exemplo a

caluacutenia (art 138) a difamaccedilatildeo (art 139) a injuacuteria (art 140) a sonegaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo

de correspondecircncia (art 151 sect1deg inc I) a violaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo telegraacutefica

radiotelegraacutefica ou telefocircnica (art 151 sect inc li 111 e IV) a fabricaccedilatildeo fornecimento

aquisiccedilatildeo posse ou transporte de explosivos ou gaacutes toacutexico ou asfixiante (art 253) entre

outras

Mas aonde estaacute a verdadeira critica especifica sobre a Lei 929696

Bem muitos concordam que os maiores perigos satildeo aqueles que natildeo conhecemos ou

compreendemos

Segundo a lei soacute poderatildeo ser feitas interceptaccedilotildees nos casos em que

crimes jaacute tenham sido cometidos mas em muitos a tentativa de interceptar informaccedilotildees

importantes para o enriquecimento de investigaccedilotildees criminais e investigaccedilotildees

processuais penais natildeo mais possuem ecircxito por cuidados vaacuterios que os autores dos

crimes poderatildeo tomar para natildeo terem seus atos revelados ou serem eles proacuteprios

descobertos Perde-se desse modo a eficaacutecia de vaacuterias dessas tentativas pelo simples

fato de natildeo existirem viacutenculos que possam ser usados como provas

A nova lei eacute definitivamente limitadora natildeo no que se refere agraves

condiccedilotildees dos arts 2ordm e incs e 3dege incs mas por faltar a ela o caraacuteter preventivo e de

proteccedilatildeo ao princiacutepio da verdade real

DO CARAacuteTER PREVENTIVO

Natildeo eacute o objetivo apresentar aqui alguma foacutermula infaliacutevel de se evitar

que futuros crimes sejam desarticulados Foacutermulas que satildeo apresentadas como infaliacuteveis

merecem desconfianccedila Mas devemos abrir os horizontes para refletirmos se o que foi

determinado no passado estaacute surtindo efeitos positivos no presente Antes de mais nada

devemos observar o que estaacute disposto na nossa Constituiccedilatildeo para ver se ajustes

merecem ser feitos no tocante aos princiacutepios conflitantes Vejamos alguns exemplos de

procedimentos existentes de alguns governos no que se refere a interceptaccedilatildeo das

telecomunicaccedilotildees nos seus respectivos paiacuteses

O governo norte-americano atraveacutes da NSA (National Security Agency)

implantou um sistema de seguranccedila de comunicaccedilatildeo a partir de um programa de

computador para identificar conversaccedilotildees na Internet que se referissem ao Terrorismo

guerras traacutefico de drogas entre outros com o intuito de que planos criminosos contra a

Seguranccedila Nacional fossem descobertos e desarticulados2

Jaacute alguns usuaacuterios da rede das redes cansados de sofrerem constantes

invasotildees de Privacidade sentiram a necessidade de utilizar recursos da criptografia -

teacutecnica usada para transformar quaisquer tipos de informaccedilatildeo sejam eles um simples

texto imagens ou sons digitalizados em siacutembolos ininteligiacuteveis para pessoas que natildeo

tecircm autorizaccedilatildeo para visualizaacute-Ias - como forma de garantir o sigilo de suas mensagens

enviadas pelos canais inseguros e monitorados da Internet

Trata-se de ferramenta de proteccedilatildeo indubitavelrnente

eficaz em todo o mundo Tanto eacute que vai de encontro aos interesses de paiacuteses como a

Franccedila Iraque Paquistatildeo e Ruacutessia que proiacutebem o uso de qualquer tipo de Criptografia

pelos seus habitantes dentro dos seus limites territoriais como tambeacutem em relaccedilatildeo a

qualquer comunicaccedilatildeo entre esses e o mundo exterior3

Entendem aqueles paiacuteses que a criptografia eacute um empecilho ao

monitoramento de mensagens que poderiam conter Informaccedilotildees consideradas

perigosas isso talvez devido aos fortes esquemas dessa tecnologia que tomaram

impossiacutevel a decriptaccedilatildeo de tais mensagens e por conseguinte sua leitura e

monitoraccedilatildeo

Pelos motivos expostos o governo dos Estados Unidos da Ameacuterica

proiacutebe a exportaccedilatildeo de programas que contenham fortes esquemas de criptografia

Podemos observar portanto exemplos reais dos conflitos entre os

direitos individuais e os interesses comuns de uma naccedilatildeo

Embora o cidadatildeo individualmente sinta-se no direito de proteger a

privacidade de suas informaccedilotildees utilizando meacutetodos como a criptografia eacute dever dos

governos em geral combater atos criminosos em que sejam usados recursos das

telecomunicaccedilotildees como meio de articulaccedilatildeo ou que usem esses mesmos recursos como

instrumento dessas accedilotildees criminosas

Portanto se meacutetodos criptograacuteficos forem utilizados tambeacutem para

favorecerem accedilotildees criminosas como a distribuiccedilatildeo de material de pornografia infantil

via Internet nunca o governo teraacute condiccedilotildees plenas de descobrir as peculiaridades de tal

accedilatildeo e se terceiros no caso menores estatildeo sendo explorados por pessoas que lucram

com essa atividade iliacutecita

O uacuteltimo grande incidente envolvendo o exemplo supracitado ocorreu

recentemente na Internet envolvendo usuaacuterios espalhados por vaacuterios paiacuteses que

2 SCHNEIER Bruce E-Mail Security Wiley 1995

3 Informaccedilatildeo adquirida via Internet Listas de discussatildeo

receberam em suas caixas de correio eletrocircnico mensagens que ofereciam a aquisiccedilatildeo

desse tipo de material insinuando nas primeiras linhas que tais pessoas eram

consideradas apreciadoras de tal espeacutecie de pornografia afirmaccedilatildeo essa totalmente

inveriacutedica Portanto tais mensagens provocaram indignaccedilatildeo em grande parte desses

destinataacuterios que decidiram telefonar para o Departamento de Poliacutecia de Nova York O

FBI foi contactado e as investigaccedilotildees feitas por esse oacutergatildeo descobriram o endereccedilo

eletrocircnico supostamente usado para enviar essas mensagens Mas isso natildeo significa que

o esse caso jaacute estaacute concluiacutedo As investigaccedilotildees continuam graccedilas agrave poliacutetica de proteccedilatildeo

ao bem comum4

Os exemplos satildeo especiacuteficos para a Informaacutetica e Telemaacutetica mas essas

aacutereas natildeo detecircm unicamente os meacutetodos de seguranccedila preventiva As comunicaccedilotildees

telefocircnicas tambeacutem podem dispor de proteccedilatildeo Aleacutem disso haacute a necessidade desses

paiacuteses de usar tais artifiacutecios para proteger seus povos e territoacuterios

O nosso paiacutes natildeo eacute obrigado a seguir fielmente esse tipo de

procedimento e sim adequaacute-lo a fim de preservar a seguranccedila de seu territoacuterio e do

povo brasileiro Mas o que importa em toda essa discussatildeo sobre a violaccedilatildeo ou natildeo das

comunicaccedilotildees eacute a urgecircncia em viabilizar operaccedilotildees preventivas a fim de desvendar

planos criminosos e proteger a intimidade de pessoas inocentes como mais um

instrumento contra a criminalidade que em relaccedilatildeo a nossa sociedade revela-se atraveacutes

de crimes como o sequumlestro o traacutefico de entorpecentes entre muitos outros

Seria maravilhoso se todas as vezes em que houvesse a necessidade de se

fazer as mencionadas interceptaccedilotildees jaacute existisse uma autorizaccedilatildeo judicial para validaacute-

las Mas o caraacuteter temporal por muitas vezes influi no desenrolar dos fatos e na eficaacutecia

da accedilatildeo esclarecedora

DA PROTECcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DA VERDADE REAL

No que pertine ao princiacutepio da verdade real antes mesmo de esclarececirc-

lo faz-se mister ter uma ideacuteia do que seja o problema da admissibilidade da prova

iliacutecita

Por prova numa geneacuterica definiccedilatildeo entende-se que eacute o resultado da

produccedilatildeo de um estado de clareza de certeza na consciecircncia do juiz para que seja

indiscutiacutevel o entendimento a conclusatildeo da veracidade de um fato ocorrido e de quem o

cometeu

As provas iliacutecitas satildeo uma espeacutecie do gecircnero que a doutrina chama de

provas inadmissiacuteveis cujo grupo tambeacutem faz parte as provas ilegiacutetimas

As provas ilegiacutetimas contrariam as normas de natureza processual jaacute as

provas iliacutecitas contrariam as normas de natureza material

Com maior clareza diferencia Nuvolone quando afirma que em relaccedilatildeo

as provas ilegiacutetimas a proibiccedilatildeo tem natureza exclusivamente processual quando for

colocada em funccedilatildeo de interesses atinentes agrave loacutegica e agrave finalidade do processo tem

pelo contraacuterio as provas iliacutecitas natureza substancial quando embora sendo

mediatamente tambeacutem os interesses processuais eacute colocada essencialmente em funccedilatildeo

dos direitos que o ordenamento reconhece aos indiviacuteduos independentemente do

4 Informaccedilatildeo adquirida via Internet THE TOUR BUS - Lista de discussatildeo

processordquo5

Devemo-nos ater com maior atenccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave prova iliacutecita pois eacute

essa a espeacutecie usada para classificar no caso em questatildeo as interceptaccedilotildees de

comunicaccedilotildees telefocircnicas de informaacutetica e de telemaacutetica propositadas para servirem de

meio que ajude ao magistrado obter a conclusatildeo pela veracidade do fato a ser julgado

como tambeacutem do seu suposto autor mas que natildeo possuem autorizaccedilatildeo de juiz

competente na forma da lei

As provas iliacutecitas no tocante agraves interceptaccedilotildees satildeo assim definidas

quando da ausecircncia de autorizaccedilatildeo judicial havendo portanto a caracterizaccedilatildeo de

atentado aos direitos e liberdades fundamentais do indiviacuteduo e por consequumlecircncia a sua

intimidade

Apesar de cumpridos os requisitos necessaacuterios para que se possa fazer a

interceptaccedilatildeo a intenccedilatildeo de produccedilatildeo da prova e consequentemente a sua

admissibilidade pelo magistrado esbarra na ilicitude caso Inexista preacutevia autorizaccedilatildeo

judicial

Entatildeo podemos nos perguntar pela ausecircncia da aplicaccedilatildeo dos princiacutepios

da liberdade de admissatildeo da prova e o da verdade real quando a autorizaccedilatildeo judicial

natildeo existir ou natildeo tiver sido requerida a tempo

Discorrendo sobre esse uacuteltimo afirma Mirabete que com o princiacutepio da

verdade real se procura estabelecer que o jus puniendi somente seja exercido contra

aquele que praticou a infraccedilatildeo penal e nos exatos limites de sua culpa numa

investigaccedilatildeo que natildeo encontra limites na forma ou na iniciativa das partes Com ele se

exclui os limites artificiais da verdade formal eventualmente criado por atos ou

omissotildees das partes presunccedilotildees ficccedilotildees transaccedilotildees etc tatildeo comuns no processo

civilrdquo6

Vemos entatildeo que o princiacutepio da verdade real traduz a essecircncia do

processo penal de buscar a pureza da verdade de um fato especiacutefico e de quem o criou

Nobre pretensatildeo da Justiccedila que se enfraquece toda vez que se depara

com certas barreiras princiacutepio-normativo encontradas na Constituiccedilatildeo Federal bem

como nas leis ordinaacuterias

Apesar disso tudo despontam notaacuteveis reflexotildees em defesa do proacuteprio

principio da verdade real pelo bem da coletividade contra a impunidade dos

criminosos podendo muitas delas serem encontradas no que defende a teoria da

proporcionalidade em relaccedilatildeo as provas iliacutecitas

A teoria mencionada visa colocar na balanccedila os direitos individuais e os

interesses sociais com o fim de proteger o bem juriacutedico que possuir maior releveacute1ncia

em cada situaccedilatildeo concreta

Ao tomar partido interpreta-se que essa teoria permite a viabilidade de

proteccedilatildeo dos interesses sociais frente aos individuais quando o uacuteltimo servir de

imunidade a um transgressor da lei contra a coletividade

Como assim A teoria da proporcionalidade reconhece quando uma

prova eacute caracterizada como iliacutecita mas admite a sua produccedilatildeo quando o interesse social

for considerado de maior validade

5 Nuvolone apud GRINOVER Ada Pelegrini Liberdades Puacuteblicas e Processo Penal as interceptaccedilotildees telefocircnicas 2 ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1982 p 97

6 MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo Penal 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1994 p 45

Reflitamos sobre as palavras de Paulo Luacutecio Nogueira quando diz que a

teoria da proporcionalidade eacute perfeitamente defensaacutevel pois tendo em vista o interesse

social ou puacuteblico deve este prevalecer sobre o privado que de modo algum merece ser

resguardado pela tutela legal quando o particular fez mau uso do seu direitordquo7

Apesar de dedicada defesa a esse tipo de prova eacute importante esclarecer

que as produccedilotildees de provas mediante interceptaccedilotildees das comunicaccedilotildees previstas na Lei

ndeg 929696 natildeo satildeo consideradas aqui como as uacutenicas para que se chegue a conclusatildeo

da verdade Sendo necessaacuterias deveratildeo compor o grupo de provas em juiacutezo que

ajudaratildeo na conclusatildeo do juiz quando este vier a sentenciar ou na dos jurados quando o

crime pertencer a competecircncia do Tribunal do Juacuteri

No caso de serem consideradas iliacutecitas caberaacute ao juiz competente a

partir de sua experiecircncia e entendimento admiti-las ou natildeo ao contraacuterio de se prender

ao que estaacute limitado em lei Pois o que importa realmente eacute o prevalecimento de

verdade sem vicias da verdade real

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo eacute o pensamento banalizar os direitos individuais e muito menos

prejudicar a integridade de sua proteccedilatildeo em prol dos interesses sociais

O objetivo almejado eacute natildeo deixar que a acircnsia pela verdade real seja

destruiacuteda deixando oacuterfatildeos os que sonham cada vez mais chegar perto de uma justiccedila

que natildeo deixe rastros duvidosos

Portanto devemos visar ao maacuteximo uma aproximaccedilatildeo do ainda utoacutepico

equiliacutebrio entre esses dois interesses em conflito o individual e o coletivo Ai sim os

direitos Individuais deixaratildeo de ser exageradamente valorizados quando servirem de

proteccedilatildeo aos que fizerem mau uso de seus direitos como os interesses sociais deixaratildeo

de ser tatildeo esquecidos e mal compreendidos

A conclusatildeo oacutebvia do pensamento aqui exposto eacute de que os interesses da

sociedade devem ser priorizados quando esta for lesionada em detrimento de

pretensotildees criminosas de alguns indiviacuteduos Natildeo poderia ser diferente

Mas antes de criticar a lei ordinaacuteria deve-se compreender em que

ambiente esta foi criada Entatildeo faz-se necessaacuteria uma reavaliaccedilatildeo da importacircncia dada a

cada princiacutepio normativo nas situaccedilotildees em que dispensam maior influecircncia

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 05 de outubro de

1988 Lei ndeg 9296 de 24 de julho de 1996 Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 25 de julho de

1996

GRINOVER Ada Pelegrini Liberdades Puacuteblicas e Processo Penal as

interceptaccedilotildees telefocircnicas 2

7 NOGUEIRA Paulo Luacutecio Curso Completo de Processo Penal 1600 Slio Paulo Saraiva

1994 169

ed Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1982

MIRABETE Juacutelio Fabrini Processo Penal 3 ed Satildeo Paulo Atlas

1994

NOGUEIRA Paulo Luacutecio Curso Completo de Processo Penal 16 ed

Satildeo Paulo Saraiva 1994

SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo Satildeo

Paulo Malheiros 1994

SHNEIER Bruce E-Mail Securitv Wiley 1995

QUEM ASSUME A TITULARIDADE DE UMA PREFEITURA

CASO O PREFEITO ELEITO VENHA A FALECER ANTES DA

DIPLOMACcedilAtildeO

Sivanildo de A Dantas

Bacharelando do Curso de Direito da UFRN

O tema sobre a questatildeo de se saber quem teria a titularidade para assumir

a vaga de uma prefeitura caso o candidato eleito para prefeito venha a falecer antes da

diplomaccedilatildeo tem sido fonte inesgotaacutevel de polecircmicas a ponto de se colocarem em

posiccedilotildees antagocircnicas nomes de real valor no cenaacuterio nacional

Restaria menos polecircmica se o candidato jaacute tivesse sido diplomado e

polecircmica natildeo haveria caso jaacute tivesse sido empossado

Este estudo examinando a questatildeo relacionada ao tiacutetulo supra referido

deve ser considerado como uma hipoacutetese geneacuterica e abstrata

Eacute bem verdade que a discussatildeo reside no fato de inexistir norma

especiacutefica que cuide do caso objetivamente Haacute uma omissatildeo legal Daiacute serem

aplicaacuteveis na espeacutecie os princiacutepios gerais do direito

Na falta de norma expressa para solucionar um caso concreto o juiz

deve se valer dos meacutetodos interpretativos da norma juriacutedica

As leis quando satildeo criadas natildeo prevecircem todas as hipoacuteteses que poderatildeo

surgir na realidade social ateacute porque o mundo real eacute muito rico em nuances faacuteticas

Cabe ao juiz entretanto suprir essas lacunas atraveacutes dos recursos que lhe oferecem o

Direito sem o que estaria impossibilitado de prestar a tutela jurisdicional agrave qual estaacute

obrigado jaacute que natildeo pode deixar de julgar um caso a pretexto de inexistir lei

Prevendo essas situaccedilotildees o legislador paacutetrio inseriu na Lei de Introduccedilatildeo

ao Coacutedigo Civil o art 4deg que apresenta as diretrizes para o preenchimento de lacunas de

direito

Art 4deg Quando a lei for omissa o juiz decidiraacute de acordo com a

analogia os costumes e os princiacutepios gerais do direito

Chama-se auto-integraccedilatildeo o processo de preenchimento de lacunas que eacute

feito com recursos e elementos do proacuteprio sistema juriacutedico por princiacutepios nele contidos

Quando se busca recurso no Direito Natural a integraccedilatildeo denomina-se

doutrinariamente de heterointegraccedilatildeo

A princiacutepio cabe alertar que o estudo de qualquer tema juriacutedico deve

partir da percuciente anaacutelise da estrutura loacutegica da norma juriacutedica e da relaccedilatildeo entre

hipoacutetese real e hipoacutetese normativa Soacute apoacutes eacute que podemos transpor as conclusotildees

abstratas para as inferecircncias do tema suscitado

O tema ora analisado eacute fundamentalmente de competecircncia

constitucional eleitoral e de teoria geral do direito

Diz a Constituiccedilatildeo Federal no seu art 10 paraacutegrafo uacutenico

Art 1deg omissis 1 omissis

11 omissis

111 omissis

IV omissis

1 omissis

paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por

meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta

Constituiccedilatildeo

No plano constitucional vecirc-se pois que o poder eacute exclusividade do

povo (e natildeo de um indiviacuteduo) sendo portanto um poder indisponiacutevel A ningueacutem

nem mesmo agrave maior autoridade ou oacutergatildeo do Paiacutes eacute dada a faculdade de lhes tirar

esse direito

A proacutepria conceituaccedilatildeo claacutessica de democracia como governo do

povo pelo povo pressupotildee a liberdade Poliacutetica dos homens no sentido de

reconhecer-Ihes essa Possibilidade de Autodeterminaccedilatildeo ao escolher seus

governantes

O art 14 da Constituiccedilatildeo Federal soacute vem a corroborar com o

entendimento acima esposado ver bis

ldquoArt 14 A soberania popular seraacute exercida pelo sufraacutegio

universal

O que se extrai desse versiacuteculo eacute que o povo eacute soberano nas suas

decisotildees e o primado da soberania popular subordina a atuaccedilatildeo do Estado agrave vontade da

sociedade A vontade do povo eacute sempre certa e se dirige sempre ao bem comum Ainda

eacute atraveacutes do sufraacutegio que o povo outorga legitimidade aos governantes

Corolaacuterio dessa posiccedilatildeo eacute o axioma de que o poder emana do povo e em

seu nome deveraacute ser exercido

O Direito criaccedilatildeo do homem foi concebido para ser interpretado natildeo

como um conjunto de normas e princiacutepios isolados mas sim dentro de um sistema

Na falta de norma especiacutefica o aplicador do Direito deveraacute buscar dentro

das regras de hermenecircutica aquela que melhor se adequa ao fato

Agora traccediladas essas consideraccedilotildees vejo-me obrigado a voltar agrave questatildeo

inicial deste articulado quem assumiria a titularidade de uma prefeitura caso o

candidato eleito para prefeito viesse a falecer antes da diplomaccedilatildeo Caberia aqui a esta

altura mais uma indagaccedilatildeo quem teria legitimidade para exercecirc-la

Nessa linha de entendimento a questatildeo da titularidade passa

necessariamente pela questatildeo da legitimidade haja vista que no Estado Democraacutetico de

Direito ser titular do poder eacute ter legitimidade para exercecirc-lo Portanto este eacute requisito

daquele De outro acircngulo a titularidade soacute eacute legitima quando eacute aceita por aqueles que a

legitimaram Ou quando aquele que a deteacutem a recebeu por justo tiacutetulo

Lembra bem Joseacute Afonso da Silva1 citando os ensinamentos de Norberto

Bobbio que o poder legiacutetimo eacute um poder cujo tiacutetulo eacute justo um poder legal eacute um

poder cujo exerciacutecio eacute justo se legiacutetimo

Por esse pensar a legitimidade leva agrave titularidade a titularidade agrave posse

a posse agrave justiccedila

A efetividade de um poder como prova de sua legitimidade surge

atraveacutes de um princiacutepio de Direito Natural todo poder emana de Deus Se Deus eacute o

povo vox populi vox Dei Portanto no nosso caso particular essa noccedilatildeo tradicional

assentada na vontade de Deus sai do abstrato para o concreto atraveacutes de processo de

escolha em eleiccedilatildeo

Eacute o que acontece em nosso Paiacutes a cada quatro anos quando os muniacutecipes

vatildeo agraves umas escolher aleacutem dos seus representantes na Cacircmara o prefeito e o vice-

prefeito

O procedimento de escolha atraveacutes do sufraacutegio universal pressupotildee um

tipo de lei baacutesica o Coacutedigo Eleitoral Eacute atraveacutes dele que se disciplina a eleiccedilatildeo para

prefeito e vice-prefeito No entanto lei especifica poderaacute ser criada em relaccedilatildeo a cada

eleiccedilatildeo

Carece de consideraccedilatildeo o fato de antes de iniciado o processo eleitoral

os candidatos a candidatos atraveacutes de seus filiados passam por uma eleiccedilatildeordquo dentro

do proacuteprio partido Satildeo as convenccedilotildees Recebem ali a aquiescecircncia dos seus

Correligionaacuterios para disputar o pleito

Para as eleiccedilotildees de 031 096 o Congresso Nacional criou em

290995 a Lei ndeg 9100 determinando no seu art 86 que o Tribunal Superior Eleitoral

expediraacute todas as instruccedilotildees que julgar necessaacuterias agrave sua execuccedilatildeo

Com a Resoluccedilatildeo ndeg 19509 de 180496 o Tribunal Superior Eleitoral

expediu instruccedilotildees para o registro de candidaturas Em seu art 10 sect 2deg esse ato

normativo assim dispotildee

sect 2deg O registro de candidato a Prefeito e Vice-Prefeito far-se-aacute

sempre em chapa uacutenica e indivisiacutevel (Coacutedigo Eleitoral art 91)

Vecirc-se pois que os candidatos a prefeito e a vice-prefeito ao se

registrarem perante a Justiccedila Eleitoral fazem-no de forma vinculada a uma chapa una

e indivisiacutevel Importando assim a eleiccedilatildeo do prefeito com a do vice-prefeito com ele

registrado Observe-se bem que o nome do vice-prefeito natildeo precisa nem mesmo

1 Da Silva Joseacute Afonso Curso de Direito Constitucional Positivo 8middot Ed Rev

sao Paulo Malheiros 1992 p371

constar na chapa ele (o nome) estaacute impliacutecito

Neste palmilhar temos que no dia 03 de outubro transato

aconteceram as eleiccedilotildees em todos os municiacutepios do Brasil onde foram sufragados

nas urnas atraveacutes do voto popular os prefeitos e os vice-prefeitos na conformidade

do que dispotildee o sect 10 do art 20 da lei especiacutefica dessas eleiccedilotildees

Art 2deg Seraacute considerado eleito Prefeito o candidato que

obtiver a maioria de votos natildeo computados os em branco e os

nulos

sect 1ordm A eleiccedilatildeo do Prefeito importaraacute a do Vice-Prefeito com

ele registradordquo

Claro estaacute ateacute aqui que a eleiccedilatildeo do prefeito gera a do vice-prefeito com

ele registrado de forma que eles tambeacutem estatildeo visceralmente entrelaccedilados quanto aos

direitos deveres e obrigaccedilotildees

Acontece que para o nosso estudo realizadas as eleiccedilotildees e proclamados

os resultados vindo um prefeito eleito a falecer geraria duacutevidas sobre quem teria

legitimidade para lhe suceder apenas pelo simples fato de inexistir norma legal

especiacutefica disciplinando a mateacuteria

Realmente apoacutes uma profunda pesquisa na legislaccedilatildeo eleitoral paacutetria

constata-se a inexistecircncia de norma especiacutefica disciplinando a mateacuteria

Nesse particular nova figura de interpretaccedilatildeo da norma juriacutedica deve ser

evocada Trata-se da analogia Pesquisando nos dicionaacuterios paacutetrios do mais erudito ao

mais simples vamos encontrar em resumo a seguinte definiccedilatildeo daquele vocaacutebulo eacute a

teacutecnica juriacutedica atraveacutes da qual se suprem as omissotildees da lei aplicando a uma

determinada relaccedilatildeo juriacutedica as normas de direito objetivo disciplinadoras de casos

semelhantes Ou ainda pontos semelhantes entre coisas diferentes

Como diz Sydney Sanches2

Analogia consiste em aplicar a uma hipoacutetese nifo prevista

especialmente em lei disposiccedilatildeo relativa a caso semelhante

Pressupotildee semelhanccedila de relaccedilotildees Mas o recurso agrave analogia exige a

concordacircncia dos seguintes requisitos a) eacute indispensaacutevel que o fato

considerado ou a relaccedilatildeo juriacutedica contratual natildeo tenha sido tratado

ou tratada especificamente pelo legislador b) este todavia regulou

situaccedilatildeo que apresenta certo ponto comum de contrato certa

coincidecircncia ou semelhanccedila com a natildeo regulada c) a regra adotada

pelo legislador para a situaccedilatildeo regulada levou em conta sobretudo

aquele mesmo ponto comum de coincidecircncia ou semelhanccedila com a

situaccedilatildeo natildeo regulada (em suma a ratio iuris deve ser a mesma para

ambas as situaccedilotildees)

2 Sanches Sydney Os contratos atiacutepicos no campo do Direito Privado Satildeo Paulo DCI coluna

Legislaccedilatildeo e Tribunais 06 e 07-04-88

Prosseguindo na anaacutelise da mateacuteria temos em simetria com o caso ora

ensaiado o seguinte dispositivo constitucional

Art 79 Substituiraacute o Presidente no caso de impedimento e

suceder-Ihe_aacute no de vaga o Vice-Presidenterdquo

E o paraacutegrafo uacutenico do art 78 da citada Carta verbis

Paraacutegrafo uacutenico Se decorridos dez dias da data fixada para a

posse o Presidente ou o Vice-Presidente salvo motivo de forccedila

maior natildeo tiver assumido o cargo este seraacute declarado vago

Temos pois por linha simeacutetrica que na vacacircncia do cargo de prefeito

o preenchimento da vaga se daraacute com a posse do seu Sucessor poliacutetico o vice-prefeito

Natildeo eacute outra a conclusatildeo a que se chega com esses dispositivos da Carta

Magna subsidiariam ente aplicaacuteveis

Em face desses fundamentos constitucionais que bem caracterizam a

sucessatildeo do prefeito pelo vice-prefeito necessaacuterio eacute analisar e aplicar com a

prudecircncia que o caso exige o seguinte Acoacuterdatildeo do TSE de nuacutemero 9080 de

280688 que sob a relatoria do Ministro Roberto F Rosas pontifica verbis

1 Prefeito lnelegibilidade Cassaccedilatildeo do diploma por abuso

do poder econocircmico Fatos ocorridos entre o registro e a

diplomaccedilatildeo

2 O Vice-Prefeito eacute eleito simultaneamente com o Prefeito

Natildeo haacute votaccedilatildeo em separado nem registros diversos

Contaminaccedilatildeo da chapa Vicias que se estendem ao Vice-

Prefeito Aplicaccedilatildeo do art 21 da LC nO 5 O Vice-Prefeito

natildeo assume com a cassaccedilatildeo do diploma do Prefeito

3 O falecimento do Prefeito natildeo determina a extinccedilatildeo do

processo A relaccedilatildeo juriacutedica processual permanece pois haacute

interesse juriacutedico em relaccedilatildeo ao Vice-Prefeito A demanda

eleitoral natildeo se esgota no interesse do Prefeito

Nesse caso vecirc-se que o vice-prefeito ficou maculado natildeo em

relaccedilatildeo a si proacuteprio mas como instituiccedilatildeo uma vez que

O abuso do Poder econocircmico Contribuiu para a sua vitoacuteria Eacute soacute

No mais se assim natildeo fosse a maacutecula recairia somente na pessoa do prefeito e o

vice-prefeito assumiria

Dentro desse contexto por linhas transversas lemos o seguinte acoacuterdatildeo

do TSE

I - Do fato juriacutedico Maioria de votos alcanccedilada por algum

candidato em eleiccedilotildees majoritaacuterias irradia-se imediata e

simultacircnea ou sucessivamente ao momento em que um soacute voto

caido na urna faz definitiva essa maioria efeitos juriacutedicos

inclusive direito subjetivo a atos de apuraccedilatildeo de votos de

resoluccedilatildeo de impugnaccedilotildees de expediccedilatildeo de boletins eleitorais e

de diplomaccedilatildeo

II - Dessas consideraccedilotildees tem-se que eleito o Vice-Prefeito eacute titular

de direitos subjetivos que se natildeo podem extinguir pelo fato da morte

do Prefeito com quem fora eleito

1I1 - Diz-se vago o cargo puacuteblico que natildeo tem titular ou que de

qualquer sorte natildeo estaacute ocupado Para que o Vice-Prefeito assuma o

cargo de Prefeito basta que esteja vago natildeo ocupado

independentemente da posse do Prefeito eleito com o Vice-Prefeito

assumente

IV - Recurso provido (Acoacuterdatildeo ndeg 6289 de 120477 Relator

Ministro Firmino Ferreira Paz)

Por tudo isso alegar a esta altura que o vice-prefeito natildeo foi eleito para

substituir o prefeito nas suas ausecircncias ou lhe suceder no caso de vaga eacute ignorar o

oacutebvio

Legalismo - Haacute ainda aqueles que sob a batuta do legalismo perguntam

e onde estaacute disciplinado isso na lei Para aqueles que buscam na lei respostas a todas as

indagaccedilotildees natildeo vatildeo encontrar Mas para aqueles que entendem ser a lei uma pequena

fraccedilatildeo do direito certamente encontraratildeo

Os princiacutepios contidos no ordenamento normativo poderatildeo sempre ser

invocados para aplicaccedilatildeo direta aos casos concretos mormente na ausecircncia de norma

especiacutefica

Neste particular Geraldo Ataliba3 invocando os ensinamentos do Mestre

Argentino Agustiacuten Gordillo doutrina que

Principio eacute norma (regra de conduta) eacute tambeacutem muito mais que isso

Os princiacutepios satildeo linhas mestras os grandes nortes as diretrizes

magnas do sistema juriacutedico Apontam os rumos a serem seguidos por

toda a sociedade e obrigatoriamente perseguidos pelos oacutergatildeos do

governo (poderes constituiacutedos)

Eles expressam a substacircncia uacuteltima do querer popular seus objetivos e

3 Geralda Ataliba Repuacuteblica e Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo RT 1985

p 6-7

desiacutegnios as linhas mestras da legislaccedilatildeo da administraccedilatildeo e da

jurisdiccedilatildeo Por estas natildeo podem ser contrariados tecircm que ser

prestigiados ateacute as uacuteltimas consequumlecircncias

Em seguida cita Joseacute Afonso da Silva

O principio aponta a direccedilatildeo o sentido em que devem ser entendidas

as normas que nele se apoacuteiam e ressalta natildeo poder o inteacuterprete extrair

conclusatildeo que contrarie um princiacutepio lhe comprometa as Exigecircncias

ou lhe negue as naturais consequumlecircncias

Ensinam os juristas que o Princiacutepio de uma estrada eacute o seu ponto de

partida

Por tudo isso inexistindo lei que discipline o referido tema haacute de se

recorrer aos Princiacutepios do direito agrave Jurisprudecircncia etc

Segundo colocado - Para aqueles que defendem a tese do segundo

colocado ser o substituto natural de prefeito eleito mas falecido antes da diplomaccedilatildeo

Discordamos Pois faacutecil eacute reconhecer que natildeo se pode transformar em vitoacuteria uma

derrota O segundo colocado foi reprovado Natildeo passou no vestibular das umas O

eleitor atraveacutes do voto o desaprovou No entender dos eleitores ele natildeo estaacute preparado

para dirigir os rumos de sua comunidade O povo natildeo quis o segundo colocado e sim o

primeiro e quem o substitui e ou Sucede Politicamente Portanto em havendo rejeiccedilatildeo

ao segundo colocado natildeo haacute mais por que insistir nessa tese

Por fim que decepccedilatildeo natildeo teriam os muniacutecipes ao assistir agrave posse de

quem foi derrotado nas urnas

Por outra o segundo colocado natildeo tem nem mesmo uma expectativa

de direito uma vez que estaacute desclassificado

A duacutevida para os defensores dessa corrente talvez resida na errocircnea

interpretaccedilatildeo do sect 4deg do art 77 da Constituiccedilatildeo Federal verbis

Art 77 A eleiccedilatildeo do Presidente e do Vice-Presidente da Repuacuteblica

realizar-se-aacute simultaneamente noventa dias antes do teacutermino do

mandato presidencial vigente

sect 4deg Se antes de realizado o segundo turno ocorrer morte

desistecircncia ou impedimento legal de candidato convocar-se-aacute

dentre os remanescentes o de maior votaccedilatildeo

Como eacute faacutecil de se observar o dispositivo supra mencionado diz respeito

agravequeles municiacutepios onde haja segundo turno no caso destas eleiccedilotildees apenas nos

municiacutepios com mais de duzentos mil eleitores

O Coacutedigo Eleitoral eacute claro quando se refere agrave substituiccedilatildeo de candidato

por motivo de falecimento

Art 101 ornissis

sect 2deg Nas eleiccedilotildees majoritaacuterias se o candidato vier a falecer ou

renunciar dentro do periacuteodo de 60 (sessenta) dias mencionados no

paraacutegrafo anterior o partido poderaacute substituiacute-Ia se o registro do

novo candidato estiver deferido ateacute 30 (trinta) dias antes do pleito

seratildeo confeccionadas novas ceacutedulas caso contraacuterio seratildeo utilizadas

as jaacute impressas computando-se para o novo candidato os votos

dados ao anteriormente registrado

Observe-se bem que o legislador se preocupou com essa hipoacutetese pois

geraria duacutevidas se natildeo fosse normatizada face a inexistecircncia de substituto Quanto a

depois da eleiccedilatildeo duacutevida natildeo haacute pois se o fato vier a acontecer nessa fase o substituto

ou sucessor natural assume pois jaacute existe

A Lei ndeg 910095 por seu turno soacute vem a reforccedilar esse entendimento

Art 14 Amiddot facultado ao partido ou coligaccedilatildeo substituir candidato que

venha a ser considerado inelegiacutevel que renunciar ou falecer apoacutes o

termo final do prazo do registro ou ainda que tiver seu registro

indeferido ou cancelado (Grifos nosso)

Veja-se que em nenhum momento a lei Eleitoral preocupou-se em

disciplinar essa situaccedilatildeo apoacutes as eleiccedilotildees Ateacute porque essa hipoacutetese jaacute estaacute prevista na

Constituiccedilatildeo Federal sendo desnecessaacuterio e redundante repeti-la

As hipoacuteteses em que o segundo colocado venha a ocupar a primeira

colocaccedilatildeo se datildeo nos casos de recurso pendente de indeferimento de registro de

candidatura que venha a ser julgado e provido apoacutes a diplomaccedilatildeo recurso contra a

diplomaccedilatildeo e ainda atraveacutes de accedilatildeo de impugnaccedilatildeo de mandato eletivo esta uacuteltima

nova figura de impugnaccedilatildeo insculpida na Constituiccedilatildeo Federal (art 14 sect sect 10 e 11)

Fora dessas hipoacuteteses natildeo vislumbramos motivo suficiente para reverter a posiccedilatildeo do

segundo colocado para o de primeiro transformando uma derrota em vitoacuteria

contrariando frontalmente o princiacutepio da vontade soberana dos muniacutecipes

A ideacuteia que queremos firmar aqui eacute que natildeo se pode dar a algueacutem o

poder de tornar elegiacutevel quem foi derrotado nas urnas pelo povo Admitir-se que pode

seria a admissatildeo de que o suacutedito desfizesse a decisatildeo do soberano inadmissiacutevel a todas

as luzes

O povo deseja a justiccedila oficial justa conceito mais faacutecil de enunciar do

que definir a partir da certeza de que satildeo muitos os que conhecem o pouco dos modos

de realizar o justo no caso concreto

Vice eacute eleito para ser Vice - Com a devida vecircnia para os que esta causa

advogam entendo ser falsa essa afirmaccedilatildeo parecendo-me ser fruto de um saudosismo

que soacute a histoacuteria explica a uacuteltima eleiccedilatildeo que tivemos com votaccedilatildeo separada para

cargos do executivo e seu respectivo vice foi no inicio da deacutecada de 1960 Apoacutes passou

a ser casada numa mesma chapa como temos hoje Essa mudanccedila se deu em

decorrecircncia da crise institucional criada pelos militares pois natildeo aceitavam que Joatildeo

Goulart middot0 Jango Vice-Presidente de Jacircnio Quadros assumisse a presidecircncia da

Repuacuteblica quando da renuacutencia deste

O saudoso Hely lopes Meirelles4 na sua claacutessica obra Direito Municipal

Brasileiro doutrina O Vice-Prefeito eacute o substituto nos afastamentos e o sucessor no

caso de vaga do Prefeito Eleito permanece como titular de um mandato executivo e na

expectativa do exerciacutecio do cargo de Prefeitordquo (1)

A questatildeo agora se situa no campo da ldquoexpectativa do exerciacutecio do

cargo que natildeo haacute que se confundir com ldquoexpectativa de direito

Para a primeira expressatildeo o direito adquirido jaacute se consumou resta

apenas exercitaacute-lo o que se daraacute no nosso caso com a efetividade de um pressuposto a

condicionante faacutetica da vacacircncia do cargo de prefeito

Para a segunda temos que sem o abono de certeza e liquidez existe

expectativa de direito pois inexiste prazo certo e compulsoacuterio Expectativa de direito eacute

pois algo que antecede a aquisiccedilatildeo de um direito

Uma coisa eacute a expectativa do direito outra distinta eacute a aquisiccedilatildeo do

direito diversa eacute o uso ou exerciacutecio desse direito

Quanto ao direito adquirido princiacutepio de direito natural cuidou de

disciplinar o legislador paacutetrio os pilares que deve modelar a sua aplicaccedilatildeo na lei de

Introduccedilatildeo ao Coacutedigo Civil (Decreto-Lei nordm 4657 de 040942 com a redaccedilatildeo dada

pela lei nordm 3238 de 1deg0857) art 6deg sect 2deg

Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular ou

algueacutem por ele possa exercer como aqueles cujo comeccedilo de

exerciacutecio tenha termo erefixo ou condiccedilatildeo preestabelecida

inalteraacutevel a arbiacutetrio de outrem n (Grifos nosso)

Tem-se assim direito adquirido como aquele que entrou no patrimocircnio

de um titular dele natildeo mais podendo ser retirado

Por tudo que foi dito temos que o vice-prefeito eacute o sucessor do prefeito

em caso de vaga e o substituto natural nos casos de impedimentos ou licenccedilas

Eleiccedilatildeo - A eleiccedilatildeo do Vice-Prefeito estaacute prevista na Constituiccedilatildeo

Federal e ela se daacute com a do Prefeito de forma vinculada (CF art 29 incisos I 11 e 111)

Proclamaccedilatildeo - A proclamaccedilatildeo eacute a publicaccedilatildeo do resultado final feita apoacutes

a contagem dos votos

Dentro desse contexto cabem as observaccedilotildees de Tito Costa5 segundo o

qual a proclamaccedilatildeo eacute um ato que Complementa todo o processo eleitoral mas natildeo

comporta qualquer tipo de recurso Eventuais reclamaccedilotildees contra esse ato soacute Poderatildeo

ser apresentados sob a forma do recurso adequado ao ensejo da diplomaccedilatildeo Veja-se

que natildeo haacute um consenso entre os doutrinadores quanto agraves etapas do processo eleitoral

chegando Tito Costa a afirmar que a proclamaccedilatildeo eacute um ato que complementa todo o

processo eleitoral

Diplomaccedilatildeo - eacute o atestado oficial (afirmaccedilatildeo) de que o candidato

obteve votos suficientes para o cargo a que se candidatou

A diplomaccedilatildeo natildeo eacute uma verdadeira decisatildeo judicial assemelhando-se

4 Meirelles Hely Lopes Direito Municipal Brasileiro 6 ed Satildeo Paulo Malheiros 1993 (2

tiragem) p 529 5 Costa Tito Recursos em Mateacuteria Eleitoral 6 ed rev ampl e atual S30 Paulo Editora

Revista dos Tribunais 1996 p 122

mais a um ato administrativo nada obstante traga em si consequumlecircncias juriacutedicas e

poliacuteticas

Diz o Coacutedigo Eleitoral no seu art 215

Art 215 Os candidatos eleitos assim como os suplentes

receberatildeo diploma assinado pelo Presidente do Tribunal Superior

Eleitoral do Tribunal Regional ou da Junta Eleitoral conforme o

caso

Paraacutegrafo uacutenico Do diploma deveraacute constar o nome do candidato a

indicaccedilatildeo da legenda sob a qual concorreu o cargo para o qual foi

eleito ou a sua classificaccedilatildeo como suplente e facultativamente outros

dados a criteacuterio do Juiz ou do Tribunal

Prevendo hipoacuteteses em que Poderaacute haver impugnaccedilatildeo agrave candidatura reza

o art 216

Ar 216 Enquanto o Tribunal Superior natildeo decidir o recurso

interposto contra a expediccedilatildeo do diploma poderaacute o diplomado

exercer o mandato em toda a sua plenitude

Pela dicccedilatildeo dos artigos supra mencionados colhe-se que mesmo tendo

sido interposto recurso contra a expediccedilatildeo de diploma o candidato eleito deve ser

diplomado Eacute que esse tipo de recurso natildeo tem efeito suspensivo exercendo o

candidato apoacutes a posse o mandato em toda a sua plenitude ateacute o tracircnsito em julgado

da decisatildeo final se essa lhe for desfavoraacutevel

Quanto a recurso contra a diplomaccedilatildeo (pois Jlatildeo cabe recurso contra a

proclamaccedilatildeo) o Coacutedigo Eleitoral atraveacutes do art 262 trata de especificar as hipoacuteteses

de cabimento

Art 262 O recurso contra expediccedilatildeo de diploma caberaacute somente

nos seguintes casos

I - inelegibilidade ou incompatibilidade de candidato

II - errocircnea interpretaccedilatildeo da lei quanto agrave aplicaccedilatildeo do sistema de

representaccedilatildeo proporcional

III - erro de direito ou de fato na apuraccedilatildeo final quanto agrave

determinaccedilatildeo do quociente eleitoral ou partidaacuterio contagem de

votos e classificaccedilatildeo de candidato ou a sua contemplaccedilatildeo sob

determinada legenda

IV - concessatildeo ou denegaccedilatildeo do diploma em manifesta contradiccedilatildeo

com a prova dos autos na hipoacutetese do art 222

Outra indagaccedilatildeo que merece reparo e que eacute o ponto nodal do nosso

estudo eacute a alegaccedilatildeo de que o processo eleitoral se conclui com a diplomaccedilatildeo No caso

em questatildeo acontecendo superveniente morte de prefeito eleito antes dessa fase como

deveraacute se proceder

Para aqueles que defendem a formalidade da diplomaccedilatildeo como um ato

necessaacuterio ou essencial agrave aquisiccedilatildeo do direito de tomar posse que defendam essa

posiccedilatildeo Nada obsta

Poreacutem hatildeo de convir tambeacutem que o vice-prefeito sobrevivendo agrave

diplomaccedilatildeo haveraacute de ser diplomado e numa sequumlecircncia loacutegica na conformidade da lei

no dia 1deg de janeiro do ano seguinte agrave eleiccedilatildeo sucederaacute na posse o prefeito face agrave

vacacircncia do cargo deixado pela morte deste uacuteltimo

Conforme o Coacutedigo Eleitoral as fases que antecedem a diplomaccedilatildeo satildeo

seguindo uma ordem loacutegica e cronoloacutegica votaccedilatildeo apuraccedilatildeo e proclamaccedilatildeo

Duacutevidas natildeo haacute que para o nosso estudo as trecircs primeiras fases se

consumaram antes do oacutebito de prefeito eleito

As maiores duacutevidas e indagaccedilotildees residem nesta fase da diplomaccedilatildeo pois

afirmam que natildeo tendo sido diplomado o prefeito pois falecera antes da diplomaccedilatildeo a

sua ausecircncia implicaria a prejudicialidade da diplomaccedilatildeo e posse do vice-prefeito

A princiacutepio cabe por pertinente discutir com maior detenccedila a natureza

juriacutedica da diplomaccedilatildeo abstraindo-nos no entanto de tecer comentaacuterios acerca das

outras fases

A diplomaccedilatildeo Ocorre apoacutes as fases que lhe antecedem quais sejam

votaccedilatildeo apuraccedilatildeo e proclamaccedilatildeo Haacute um lapso temporal entre estas e aquela suficiente

para que as duacutevidas sejam dissipadas e as impugnaccedilotildees porventura existentes

resolvidas de forma que todo o processo se harmonize e se conforme

Tem por objetivo a diplomaccedilatildeo apoacutes resolvidas todas as pendengas

declarar os nomes dos eleitos no pleito conforme os resultados apurados e

proclamados

Joel Joseacute Cacircndido6 ensina

o que se atesta com a diplomaccedilatildeo eacute a existecircncia de uma eleiccedilatildeo

vaacutelida e seus resultados jaacute divulgados habilitando-se os eleitos

com o diploma a exercerem seus respectivos cargos a

diplomaccedilatildeo consagra a publicaccedilatildeo dos resultados que eacute seu

pressuposto fundamental

Por seu turno Faacutevila Ribeiro7 tecendo comentaacuterios sobre a

6 Cacircndido Joel Joseacute Direito Eleitoral Brasileiro 4ordf ed rev e atual Bauru

SP EDIPRO 1994 p 207 et seq

7 Ribeiro Faacutevila Direito Eleitoral 4ordf ed rev e ampl RioRJ Forense 1996 p

477

proclamaccedilatildeo e diplomaccedilatildeo dos eleitos afirma No momento da proclamaccedilatildeo deve

ser anunciada a data para a entrega do diploma dos eleitos que eacute o tiacutetulo expedido

pela Justiccedila Eleitoral para definir a Legitimidade dos representantes populares

Pelo exposto concluiacutemos que o ato da diplomaccedilatildeo tem natureza

meramente declaratoacuteria Pois jaacute existe uma situaccedilatildeo preacute-constituiacuteda que satildeo as fases

que a precedem natildeo havendo por que se falar em natureza constitutiva

Formalidade - O prefeito e o vice-prefeito satildeo eleitos nas urnas e natildeo

com o recebimento do diploma natildeo sendo necessaacuterio nem mesmo ir recebecirc-lo por

ocasiatildeo da diplomaccedilatildeo Isso eacute uma formalidade e diante do sufraacutegio universal popular

eacute ateacute irrelevante

O processo eleitoral conforme a maioria dos doutrinadores inicia-se

com a votaccedilatildeo e conclui-se com a diplomaccedilatildeo E tendo por base que a votaccedilatildeo eacute o

ponto culminante desse processo (sufraacutegiosoberania) natildeo seria forccedilar o entendimento

afirmar que as demais fases que a seguem satildeo acessoacuterias instrumentais natildeo tendo esses

procedimentos formais o condatildeo de obstaculizar uma decisatildeo soberana

Nunca eacute demais trazer agrave tona os ensinamentos processuais proferidos

pelo eminente Juiz Federal Magnus Augusto Delgado (membro do TRERN) nos autos

do processo ndeg 13094 proferido na sessatildeo do dia 160496 que mesmo se tratando de

mateacuterias distintas neste particular se afeiccediloa ao nosso caso pois a temaacutetica universal eacute a

mesma

O processo eacute um meio de realizaccedilatildeo do direito jamais um fim em si

mesmo O apego exacerbado agraves formas e filigranas delas

decorrentes pode levar na maioria dos casos ao proacuteprio

aniquilamento do direito material e este eacute o alvo nuclear merecedor

da primazia da atenccedilatildeo a ser dispensada pelo oacutergatildeo encarregado de

prestar a jurisdiccedilatildeo

Assim sendo essa possiacutevel mas bem discutiacutevel discrepacircncia formal natildeo

eacute suficiente para se impedir que o vice-prefeito seja diplomado tome posse e assuma a

vaga que lhe eacute de direito

Concluindo - Em tom final lembramos que natildeo se pode todavia alegar

o desconhecimento da importacircncia do vice pois haacute mais de uma deacutecada vivemos a

sua cultura chegando-se ateacute a afirmar em tom de prosa que vivemos em um paiacutes de

vices numa evidente referecircncia a alguns dos nossos Presidentes da Repuacuteblica (Joseacute

Sarney e Itamar Franco)

Por uacuteltimo as estatiacutesticas natildeo oficiais demonstram que hoje os vice-

prefeitos tecircm alta probabilidade de se tornarem titulares uma vez que os prefeitos

quando dos seus uacuteltimos anos de mandatos renunciam aos seus cargos para

concorrerem a cargos no legislativo assumindo a titularidade da prefeitura nessa

ocasiatildeo o vice-prefeito Hoje essas hipoacuteteses satildeo perfeitamente previsiacuteveis pelos

eleitores pois tornou-se uma praacutetica corriqueira entre os poliacuteticos Portanto natildeo haacute que

se votar apenas no titular esquecendo-se do vice muito pelo contraacuterio deve-se ter a

responsabilidade de votar no titular tendo em vista tambeacutem o vice pois este o

substituiraacute e suceder-lhe-aacute sempre que para isto for convocado

Assim natildeo sendo natildeo haacute motivo para a existecircncia do cargo de vice

Extinga-se

Por tudo isso a tese que mais correta se apresenta ara noacutes eacute a de que o

vice-prefeito assuma a titularidade do cargo de prefeito face a morte do seu titular antes

mesmo de sua diplomaccedilatildeo Pois poder foi legitimado pelo povo A contraacuterio sensu natildeo

seraacute democraacutetico pois natildeo decorreu da vontade do povo (art 10 da CF)

Eis em resumo o que tinha para expor sobre o tema Alcanccedilados meus

objetivos estaratildeo ao saber que mesmo de forma superficial abordei os seus principais

pontos rasgando os caminhos da exegese arrolando minhas opiniotildees

ABRE TEUS OLHOS THEacuteMIS

VANESSA ALESSANDRA PEREIRA

Acadecircmica do 7deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

Sumaacuterio I Introduccedilatildeo lI A Balanccedila Equiliacutebrio III A Espada e a

Forccedila IV A Venda e a Imparcialidade V Conclusatildeo VI Bibliografia

ldquoDireito natildeo destinado a converter-se em momento de vida eacute mera

aparecircncia de direitordquo1

I - INTRODUCcedilAtildeO

A evoluccedilatildeo dos modos de pensar da sociedade humana dos

comportamentos sociais dos tipos de crimes e penalidades a eles impostos da

complexidade e banalizaccedilatildeo da violecircncia urbana entre outros fatores tecircm levado de

uma forma geral a novas formas e estender o direito e por assim dizer de questionaacute-lo

Sob o tiacutetulo acima apresentado ouso contrapor-me agrave tradiccedilatildeo juriacutedica de

reverenciar a deusa Theacutemis juntamente com todo o simbolismo a ela arraigado A

balanccedila a espada e a venda representantes maiores dessa tradiccedilatildeo intocaacutevel da

atividade juriacutedica satildeo explicados e aceitos haacute seacuteculos como sendo o equiliacutebrio a forccedila e

a imparcialidade do direito Minha ousadia consiste justamente em questionar a sua

praticidade nos dias atuais desmascarando definiccedilotildees e pensamentos preestabelecidos

que na praacutetica natildeo passam de quimeras principalmente em nosso meio social marcado

pelas constantes ondas de violecircncia e desrespeito aos mais valorados direitos de um

povo

11 - A BALANCcedilA E O EQUILIacuteBRIO

Comecemos pela balanccedila posicionada em uma das matildeos da deusa da

Justiccedila e que representa o equiliacutebrio estabelecido entre as partes envolvidas nos

conflitos De um lado temos as classes menos favorecidas e de outro uma elite egoiacutesta

e economicamente superior Nesse diapasatildeo infelizmente natildeo haacute espaccedilo para o

almejado equiliacutebrio juriacutedico O que vemos diariamente eacute o acuacutemulo incalculaacutevel de leis

elaboradas com o uacutenico e exclusivo escopo de privilegiar uma minoria quando a grande

parcela da populaccedilatildeo sofre com a ausecircncia de normas que a beneficiem

Para que haja esse equiliacutebrio eacute preciso pocircr em praacutetica o princiacutepio da

igualdade juriacutedica perante a lei tatildeo bem sedimentado no artigo 5deg da Constituiccedilatildeo

Federal e ao mesmo tempo tatildeo criticado pelos mais diversos setores da sociedade

principalmente quando analisado sob a oacutetica da vida social A professora e advogada

Vera Luacutecia C Vassouras retrata bem essa questatildeo ao afirmar que ldquoA igualdade

juriacutedica no Brasil eacute pura forma seu conteuacutedo se engendra como veiacuteculo

ideoloacutegico de mascaramento das desigualdades veiacuteculo de injusticcedilas sociais e

1 REALE Miguel liccedilotildees Preliminares de Direito 22 ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 p 256

mecanismo de reproduccedilatildeo do sistema capitalista de dominaccedilatildeo2 Vai mais aleacutem

ao estabelecer a ideacuteia de que essa igualdade eacute um mito ldquo uma grande mentira

ideoloacutegica que tomou a consciecircncia daqueles que natildeo admitem o progresso e a

verdadeira cultura (multidisciplinar) para as massas3

Ainda com relaccedilatildeo a essa questatildeo cumpre-nos destacar o pensamento

do professor JOAtildeO BAPTISTA HERKENHOFF corroborando a certeza da

inexistecircncia de uma igualdade juriacutedica em nosso paiacutes Para ele Natildeo seratildeo

condutoras do artesanato democraacutetico as velhas e caducas categorias do Direito

com todos os seus mitos e falsidades a comeccedilar pelo da igualdade de todos

perante a lei igualdade impossiacutevel dentro de uma estrutura social fundada na

desigualdade e na iniquumlidade4

III - A ESPADA E A FORCcedilA

Jaacute dizia RUDOLF VON IHERING que A espada sem a balanccedila eacute a

forccedila brutal a balanccedila sem a espada eacute a impotecircncia do direito5 Usa-se o

simbolismo da espada como arma para a defesa do direito Mas aproveito e pergunto

que direito eacute esse que estaacute sendo defendido O direito de que classe social estaacute se

buscando De quais interesses estaraacute o legislador a defender Respostas existem mas

infelizmente a populaccedilatildeo chegou a um estaacutegio tal de letargia e descrenccedila nas

instituiccedilotildees sociais que claramente passou a conviver com a violecircncia e o descaso do

poder puacuteblico sem mais questionar os porquecircs nem buscar soluccedilotildees para os problemas

que a afligem

Hodiernamente o que vemos natildeo eacute a espada da Justiccedila e sim as

armas dos bandidos que matam e destroem o sonho de uma sociedade justa e

comprometida com os ideais de justiccedila e paz social Destarte a violecircncia que antes

era vista apenas pela televisatildeo ou lida atraveacutes dos jornais desceu dos morros saiu das

favelas e chegou ateacute noacutes de forma assustadora e alarmante Isto porque a sociedade

que prega o sucesso e ascensatildeo dos individuos eacute a mesma que Ihes nega

oportunidades levando essas pessoas a buscarem seu espaccedilo de forma ilegal e

violenta Passamos assim a ser prisioneiros dentro de um universo criado para

imperar a ordem mas que discrimina seus membros alijando-Ihes da condiccedilatildeo de

cidadatildeos

IV - A VENDA E A IMPARCIALIDADE

Dentre as curiosidades surgidas acerca dos siacutembolos que representam a

2 in o Mito da Igualdade Juriacutedica no Brasil Notas Criticas sobre a Igualdade

Formal Satildeo Paulo Edicon 1994 p 123

3 Opcit p15

4 in Para onde vai o Direito Reflexotildees sobre o papel do Direito e do

jurista Porto Alegre Livraria do Advogado 1996 p 78

5 in A Luta pelo Direito 16 ed Rio de Janeiro Forense 1996 p01

Justiccedila outra que impressiona aos estudiosos do Direito eacute a imagem daquela figura

poderosa e destemida da deusa Theacutemis tendo os olhos cobertos por uma venda Com o

tempo percebemos que esse modelo de imparcialidade a noacutes imposto natildeo passa de

ilusatildeo fruto que eacute de um pensamento caduco e cego agrave realidade social e juriacutedica em

que vivemos

Carnelutti por sua vez afirmava que ldquoA justiccedila humana natildeo pode ser

senatildeo uma justiccedila parcial a sua humanidade natildeo pode senatildeo resolver-se na sua

parcialidade Tudo aquilo que se pode fazer eacute buscar diminuir esta parcialidade6

Nesse diapasatildeo fica uma criacutetica ao judiciaacuterio oacutergatildeo criado para estabelecer a lei e o

direito mas que inuacutemeras vezes erra originando a descrenccedila e a desconfianccedila por parte

daqueles que o provocam

Hoje podemos afirmar que a Justiccedila brasileira eacute eminentemente elitista

parcial e conservadora com honrosas exceccedilotildees mas que se perdem no emaranhado da

desordem juriacutedica Diante do exposto fica a certeza da perniciosa parcialidade do

judiciaacuterio e da imperiosa necessidade de bradarmos contra a mesma Ricos ou pobres

pretos ou brancos eis o objetivo do direito eis o sonho de toda uma sociedade

Nesse contexto urge pois destacar o desabafo do jaacute mencionado

professor JOAtildeO BAPTISTA HERKENHOFF que clama

Abaixo a hipoacutecrita neutralidade de advogados procuradores juizes

desembargadores ministros Essa neutralidade sempre protegeu escolhas

de conservaccedilatildeo das estruturas e de manutenccedilatildeo do status quo Sejamos

verdadeiros Faccedilamos opccedilotildees puacuteblicas e honestas Decidamos por qual

mundo lutaremos que interesses consideramos legiacutetimos e merecedores

da tutela de nossas valoraccedilotildees7

V - CONCLUSAtildeO

Ao depois do exposto resta-me deixar um testemunho como acadecircmica

de direito e mais ainda como parte integrante de uma sociedade marcada pelas

mazelas de um poder cujo pensamento eacute sedimentado na maioria das vezes em

conceitos retroacutegrados e por demais individualistas

Embora em assim me posicionando tenho consciecircncia de que as

responsabilidades precisam ser divididas De um lado o judiciaacuterio agindo na tutela dos

interesses individuais e coletivos Do outro a sociedade interessada precipuamente

na construccedilatildeo de um paiacutes que honre as suas instituiccedilotildees Esse eacute o pensamento do

eminente Juiz Federal e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

WAL TER NUNES DA SILVA JUacuteNIOR quando diz Natildeo se reclame amanhatilde

dos que fazem a justiccedila concentrando as desconfianccedilas na lei e pior ainda no

Judiciaacuterio A justiccedila natildeo nasce nem termina no Judiciaacuterio A justiccedila eacute uma

comunhatildeo de accedilotildees sociais levadas a cabo natildeo soacute pelo Estado como tambeacutem

por cada um de noacutes dentro dos nossos deveres e responsabilidades como

6 in As Miseacuterias do processo Penal Itaacutelia Conan 1995 p 34

7 Op cit p 75

profissionais e sobretudo como cidadatildeos8

Diante disso permitam-me fazer um apelo a todos aqueles que ora

compartilham comigo a anguacutestia de um direito injusto o inconformismo diante da

impunidade o medo da violecircncia Eacute chegada a hora de nos unirmos abrindo os olhos

para os problemas acima levantados dividindo as culpas e buscando a verdadeira

justiccedila Para isso ouso gritar Abre teus olhos Theacutemis

VI - REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

CARNELUTTI Francesco As Miseacuterias do Processo Penal Traduccedilatildeo de

Joseacute Antonio Cardinalli Satildeo Paulo Conan 1995

HERKENHOFF Joatildeo Baptista Para onde vai o Direito reflexotildees sobre

o papel do Direito e do jurista Porto Alegre Livraria do Advogado 1996

IHERING Rudolf Von A Luta pelo Direito Traduccedilatildeo de Joatildeo

Vasconcelos 16 ed Rio de Janeiro Forense 1996

REALE Miguel Liccedilotildees Preliminares de Direito 22 ed Satildeo Paulo

Saraiva 1995

VASSOURAS Vera Luacutecia C O mito da igualdade juriacutedica no Brasil

notas criacuteticas sobre igualdade formal Satildeo Paulo Edicon 1995

8 in o Direito Penal e a Criminalidade Trabalho apresentado na I Jornada de Direito Penal e Processo

Penal promovida pelo DAAC - Diretoacuterio Acadecircmico Amara Cavalcanti do Curso de Direito da UFRN

CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRACcedilAtildeO

PUacuteBLICA

VICENTE ELIacuteSIO DE O NETO

Bacharel em Direito pela UFRN

I - Introduccedilatildeo 2 - O Controle Jurisdicional 21 Definiccedilatildeo e

Generalidades 22 O Controle Jurisdicional e a Constituiccedilatildeo de 1988 23

Privileacutegios da Administraccedilatildeo Puacuteblica 3 - Meios de Controle 31 Generalidades 32

Habeas Cor pus 33 Habeas Data 34 Mandado de Injunccedilatildeo 35 lvandado de

Seguranccedila Individual 36 Mandado de Seguranccedila Coletivo 37 Accedilatildeo Popular 38

Accedilatildeo Civil Puacuteblica 4 - Limites ou Restriccedilotildees ao Controle Judiciaacuterio 41

Generalidades 42 Quanto agrave A1ateacuteria 43 Quanto agrave Amplitude do Ato de Controle

44 Quanto agrave Oportunidade do Pronunciamento 45 Quanto agrave Extensatildeo do

Pronunciamento 5 - Conclusatildeo 6 ndash Bibliografia

1 - INTRODUCcedilAtildeO

O tema deste estudo eacute o Controle Jurisdicional da Administraccedilatildeo

Puacuteblica Seu objeto as limitaccedilotildees ou restriccedilotildees a que estaacute submetido Mais

precisamente eacute investigar em que sentido podemos falar em restriccedilotildees ao controle

jurisdicional e de que decorrem

Buscando atingir o fim pretendido dividimos o trabalho em quatro

parte aleacutem desta introduccedilatildeo

Na primeira expendemos uma definiccedilatildeo do controle seu alcance fins e

fundamentos indicamos seu fortalecimento com o advento da Carta Magna de 1988 e

ainda elencamos os privileacutegios que caracterizam a atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo em Juiacutezo

Em seguida tratamos dos remeacutedios constitucionais de que podem fazer

uso os administradores em defesa de seus direitos individuais e interesses coletivos e

difusos ameaccedilados ou violados pelos comportamentos ilegiacutetimos da Administraccedilatildeo

Ao cuidarmos das restriccedilotildees ao controle efetuamos uma siacutentese das

opiniotildees a respeito a que tivemos acesso Feito isso passamos a expor a concepccedilatildeo que

nos pareceu mais correta e fundamentada e por conseguinte a que aderimos no estaacutegio

em que se encontram os nossos estudos

Por fim apresentamos nossas conclusotildees

2 - O CONTROLE JURISDICIONAL

21 DEFINICcedilAtildeO E GENERALIDADES

Define-se o controle jurisdicional como sendo aquele que eacute exercido

exclusivamente pelo Poder Judiciaacuterio em virtude de provocaccedilatildeo dos interessados por

intermeacutedio de instrumentos especiacuteficos ou inespeciacuteficos assegurados aos administrados

na Constituiccedilatildeo e na legislaccedilatildeo infra-constitucional para apreciaccedilatildeo in concreto dos

comportamentos da Administraccedilatildeo Puacuteblica quer para invalidar suas condutas ilegais

constrangecirc-la ao desempenho das atividades a que estaacute obrigada ou ainda condenaacute-la a

indenizar os lesados reparando os danos a que deu causa1

Seu exerciacutecio eacute da competecircncia exclusiva do Poder Judiciaacuterio por ser o

ordenamento juriacutedico nacional daqueles que se filiam ao sistema da jurisdiccedilatildeo una

(artigo 5D inciso XXXV da Constituiccedilatildeo Federal de 1988) A necessidade de

provocaccedilatildeo para que opere justifica-se como eacute sabido pelo imperativo da

imparcialidade do judiciaacuterio Quanto aos instrumentos ou meios dedicamos toda uma

parte de nosso estudo (ponto 3)

Conquanto a maior parte dos doutrinadores pesquisados refiram-se ao

controle dos atos administrativos preferimos adotar o vocaacutebulo comportamentos de

que faz uso Celso Antocircnio Bandeira de Mello2 a fim de incluir os atos da

Administraccedilatildeo particularmente os materiais sobre os quais indiscutivelmente eacute

exercido o controle jurisdicional

Eacute bem verdade no entanto que o Controle Judicial da Administraccedilatildeo

encarado como teacutecnica de contenccedilatildeo e equiliacutebrio das funccedilotildees estatais destina-se

precipuamente agrave apreciaccedilatildeo dos atos administrativos

Fixe-se tambeacutem que o controle incide sobre os oacutergatildeos do Poder

Executivo assim como atinge os atos praticados pelos oacutergatildeos dos demais Poderes

quando praticados no desempenho de funccedilatildeo tipicamente administrativa3

O relevante serviccedilo que cumpre para a garantia do Estado de Direito

chega ao ponto de se afirmar ser o controle jurisdicional aliado ao princiacutepio da

legalidade um dos seus fundamentos4 Lembrando-se os ensinamentos do inesqueciacutevel

Seabra Fagundes administrar eacute aplicar a lei de oficio Assim sendo a instituiccedilatildeo de

uma teacutecnica posta agrave disposiccedilatildeo de um outro Poder para aferir a conformidade da atuaccedilatildeo

da Administraccedilatildeo com as disposiccedilotildees normativas inquestionavelmente eacute o fundamento

de um Estado em que impera o primado da lei

Do que se acaba de expor eacute que resulta a costumeira afirmaccedilatildeo segundo

a qual o controle judicial visa anular os atos ilegais da Administraccedilatildeo Natildeo haacute negar a

correccedilatildeo e coerecircncia da assertiva Acreditamos todavia para que se natildeo incorra em

equiacutevoco que a melhor doutrina eacute aquela em que se afirma expressamente ser uma das

finalidades do controle assegurar uma atuaccedilatildeo administrativa em consonacircncia com o

conjunto dos princiacutepios que lhe satildeo impostos pela ordem normativa informadores do

regime juriacutedico-administrativo como os da legalidade impessoalidade moralidade

1 Definiccedilatildeo formulada a partir principalmente das liccedilotildees de Celso Antocircnio Bandeira de Mello (ldquoCurso de

Direito Administrativordquo Satildeo Paulo Malheiros Editores pp 605 e 606

2 Op Cit p 117

3 Hely Lopes Meirelles Op Cit P 605 Maria Sylvia Zanella di Pietro ldquoDireito Administrativordquo Satildeo

Paulo Atlas Editora p 478 4 Maria Sylvia Zanella di Pietro op Cit p 492

publicidade motivaccedilatildeo razoabilidade proporcionalidade da responsabilidade do

Estado por Atos Administrativos e quaisquer outros que derivem da supremacia do

interesse puacuteblico sobre o privado e da indisponibilidade pela Administraccedilatildeo por

interesses puacuteblicos5

Ponderam os estudiosos que em regra os atos administrativos em geral

estatildeo sujeitos agrave apreciaccedilatildeo pelo Judiciaacuterio Feito isto cuidam os mesmos de chamar a

atenccedilatildeo para as peculiaridades da apreciaccedilatildeo judicial dos atos discricionaacuterios

restringe-se agrave competecircncia eacute exclusivamente da legalidade natildeo pode invadir o

meacuterito administrativoPoreacutem efetuados aquelas ressalvas normalmente discorrem de

modo a concluir uns mais outros menos que as restriccedilotildees inicialmente elencadas natildeo

estreitam tanto a apreciaccedilatildeo dos atos discricionaacuterios pelo Judiciaacuterio

Natildeo nos interessa aqui tratar longa mente do tema Para os fins deste

trabalho importa somente que se registre a extensatildeo do controle judicial quando o ato

impugnado eacute efetivamente discricionaacuterio A soluccedilatildeo do problema assim acreditamos

soacute se encontra na anaacutelise realizada por Celso Antocircnio Bandeira de Mello6 Eacute que o

mestre inverte a questatildeo busca traccedilar os limites e a correta concepccedilatildeo da

discricionariedade para posteriormente determinar a extensatildeo Sintetiza o autor que o

Judiciaacuterio em face de ato discricionaacuterio poderaacute investigar os motivos do ato ou seja

os pressupostos de fato que embasaram a atuaccedilatildeo administrativa a fim de verificar

se realmente subsistem e satildeo idocircneos para determinar a atuaccedilatildeo administrativa

examinaraacute a finalidade contida na norma de competecircncia a fim de invalidaacute-los caso

praticados com desvio de poder e por fim deve o juiz averiguar a causa do ato ou seja

a relaccedilatildeo de adequaccedilatildeo entre os pressupostos e o seu objeto sem a qual o ato

discricionaacuterio eacute nulo

22 O CONTROLE JURISDICIONAL E A CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988

O advento da Constituiccedilatildeo de 1988 eacute de significativa importacircncia para o

Controle Jurisdicional da Administraccedilatildeo Puacuteblica em funccedilatildeo de seu fortalecimento e

ampliaccedilatildeo por obra do legislador constituinte

No texto constitucional em vigor foram expressos novos remeacutedios como

o mandado de seguranccedila coletivo e o habeas data a accedilatildeo popular foi ampliada e a accedilatildeo

civil puacuteblica obteacutem status constitucional

6

7 Luacutecia Valle Figueiredo Curso de Direito Administrativo sao Paulo

Malheiros Editores p 243

3 Hely Lopes Meirelles Op cit p 605 Maria Sylvia Zanella Di Pietro

Direito Administrativo Paulo Atlas Edi1ora p 478

4 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op ci1 p 492

5 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op ci1 p 478 Hely Lopes Meirelles

op ci1 p 606

5 Maria Sylvia Zanella di Pietro op Cit p 478 Hely Lopes Meirelles op cit p 606

6 Op cit Cap XV pp 450 a 471

Inovou o texto Magno em relaccedilatildeo agrave mateacuteria ao estabelecer que a ameaca

de lesatildeo eacute bastante para que seja prestada a tutela jurisdicional (artigo 5deg inciso

XXXV) Consequumlecircncia necessaacuteria que daiacute resulta para o controle jurisdicional eacute sua

agilizaccedilatildeo7 o que nos leva a concluir que jaacute natildeo se mais pode indicar como proacuteprio dele

ocorrer a posteriori como ateacute entatildeo era encarado

No entanto entendemos que a mais importante novidade relaciona-se

com a garantia dos direitos coletivos e difusos por representar fundo golpe nas

doutrinas individualistas e liberais que tanta influecircncia ainda exercem em nossa ordem

juriacutedica

23 PRIVILEacuteGIOS DA ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA

Em juiacutezo a Administraccedilatildeo Puacuteblica goza determinados privileacutegios que

lhe satildeo reconhecidos em decorrecircncia da supremacia do interesse puacuteblico sobre o

individual Dentre eles destacam- se

a) Juiacutezo Privativo

No acircmbito federal eacute a Justiccedila Federal de 1ordf e 2

ordf instacircncia (Juizes

Federais e Tribunais Regionais Federais) em que satildeo julgadas as accedilotildees em que

participem a Uniatildeo suas autarquias e empresas puacuteblicas Entretanto as sociedades de

economia mista e fundaccedilotildees de direito privado atuam na Justiccedila Comum Ademais as

accedilotildees relativas agrave falecircncia e acidentes de trabalho bem como as da competecircncia da

Justiccedila Eleitoral e do Trabalho estatildeo excluiacutedas da apreciaccedilatildeo da Justiccedila Federal

Por sua vez os Estados e os Municiacutepios tambeacutem dispotildeem deste

privileacutegio nos termos de suas Leis de Organizaccedilatildeo Judiciaacuteria que estabelecem as

Varas da Fazenda Puacuteblica

b) Prazos

A Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios assim como

suas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico quando partes em accedilatildeo judicial dispotildeem

de prazo em quaacutedruplo para contestar e em dobro para recorrer (artigo 188 do Coacutedigo

de Processo Civil)

c) Duplo Grau de Jurisdiccedilatildeo

Sujeitam-se ao duplo grau necessaacuterio de jurisdiccedilatildeo as sentenccedilas

proferidas contra a Uniatildeo os Estados e os Municiacutepios bem como a que julga

improcedente a execuccedilatildeo de diacutevida ativa da Fazenda Puacuteblica que soacute produziratildeo efeitos

caso confirmadas pelo Tribunal (artigo 475 incisos 11 e 111 do Coacutedigo de Processo

Civil) Este benefiacutecio natildeo se aplica agraves autarquias fundaccedilotildees empresas puacuteblicas e

sociedades de economia mista

d) Processo Especial de Execuccedilatildeo

Privileacutegio de status constitucional eacute o que estabelece o artigo 100 da Lei

Maior Trata-se do pagamento atraveacutes de precatoacuterio requisitoacuterio das obrigaccedilotildees

pecuniaacuterias da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal dos Municiacutepios e suas

respectivas autarquias e fundaccedilotildees de direito puacuteblico decorrentes de sentenccedila judicial

e) Pagamento das Despesas Judiciais

As despesas dos atos processuais efetuadas a requerimento da Fazenda

7 Luacutecia Valle Figueiredo Curso de Direito Administrativo Satildeo Paulo Malheiros Editores p 243

Puacuteblica seratildeo pagas ao final pelo vencido (artigo 27 do Coacutedigo de Processo Civil)

Haacute tambeacutem a dispensa do preparo quando os recursos forem interpostos

pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios e respectivas autarquias (artigo 511 paraacutegrafo uacutenico

do Coacutedigo de Processo Civil)

3 - MEIOS DE CONTROLE

31 GENERALIDADES

Apoacutes ressalvarem em uniacutessono que os administrados podem se valer

contra os atos administrativos ilegais de todas as accedilotildees e procedimentos (ordinaacuterio

sumaacuterio ou especial) cuidam os administrativistas dos denominados meios de

controlerdquo8 ou garantias dos administradosrdquo

9

Eacute princiacutepio fundamental da Ordem Juriacutedica paacutetria a apreciaccedilatildeo pelo

Judiciaacuterio de toda e qualquer lesatildeo ou ameaccedila a direito seja ele individual coletivo ou

difuso nos termos do artigo 5deg inciso XXXV da Carta Magna do qual se infere ter o

constituinte de 88 optado pelo sistema da jurisdiccedilatildeo una Portanto sofrendo o

administrado violaccedilatildeo ou ameaccedila de violaccedilatildeo de seus direitos individuais em virtude de

comportamento postura ou ato da administraccedilatildeo ou ainda percebendo o cidadatildeo que

da atividade administrativa resultou ou iraacute resultar malferido direito coletivo ou difuso

a ambos eacute facultado provocar o controle corretivo do Judiciaacuterio posto que a tutela

jurisdicional haacute de ser requerida (artigo 20 do Coacutedigo de Processo Civil) a fim de que

cesse a ameaccedila ou lesatildeo resultante do ato ilegal

Percebendo as particularidades das relaccedilotildees travadas entre a

Administraccedilatildeo e os administrados da importacircncia do vulto dos interesses puacuteblicos e

particulares em jogo bem como das dificuldades enfrentadas para que sejam

equacionados pacificamente tratou o constituinte de estabelecer institutos destinados

especificamente a garantir os direitos dos particulares em face dos atos abusivos do

administrador por meio do pronunciamento do Poder Judiciaacuterio Costuma a doutrina

denominaacute-los remeacutedios constitucionais porque tecircm por escopo assegurar os direitos

fundamentais Em verdade satildeo ao mesmo tempo direitos e garantias em sentido

instrumental satildeo direitos como o direito de accedilatildeo em sentido material satildeo garantias pois

estabelecidos no texto constitucional para a proteccedilatildeo dos direitos nele previstos10

Dentre os meios de controle da Administraccedilatildeo pelo Judiciaacuterio

destacam-se o Habeas corpus o Habeas Data o Mandado de Injunccedilatildeo o Mandado

de Seguranccedila Individual o Mandado de Seguranccedila Coletivo a Accedilatildeo popular e a

Accedilatildeo Civil Puacuteblica Como veremos a seguir os quatro primeiros cumprem papel de

garantias de direitos individuais enquanto os trecircs uacuteltimos prestam grande

contribuiccedilatildeo na preservaccedilatildeo dos direitos coletivos e difusos

32 HABEAS CORPUS

8 Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 498

9 Hely Lopes Meirelles op cit p 614 Diogo de Figueiredo Moreira

Neto ldquoCurso de Direito Administrativordquo 8ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense p 535

10

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 499

Instituto que antecede historicamente o Eu 1 Direito surgiu o

Habeas Corpus precisamente na Inglaterra em 1215 prescrito na Magna Carta

imposta ao Rei Joatildeo Sem Terra pela qual a nobreza rebelde impocircs restriccedilotildees ao

poder real

No direito brasileiro o Habeas Corpus remonta ao periacuteodo imperial

previsto no Coacutedigo de Processo Criminal de 1832 em seu artigo 340 verbiacutes

Todo cidadatildeo que entender que ele ou otrl1 sofre prisatildeo ilegal ou

constrangimento ilegal em sua liberdade tem direito de pedir uma

ordem de bdquohabeas corpus em seu favor

Hodiernamente trata-se de garantia constitucional que tem por fim

assegurar o direito de locomoccedilatildeo de ir e vir ameaccedilada ou atingida por violecircncia ou

coaccedilatildeo decorrente de ato ilegal ou abusivo

Remeacutedio assegurado a qualquer indiviacuteduo (artigo 50 inciso LXVIII) sua

impetraccedilatildeo eacute gratuita (artigo 5deg inciso UXil1i Constituiccedilatildeo Federal) e dispensa

procurador judicial bem como qualquer formalidade impeditiva de seu exerciacutecio

Meio pelo qual o Judiciaacuterio exerce controle corretivo dos atos

administrativos ilegiacutetimos praticados por autoridade no exerciacutecio do Poder de Poliacutecia de

Seguranccedila natildeo eacute o habeas cor pus infelizmente via processual haacutebil para se alcanccedilar a

tutela jurisdicional necessaacuteria agrave proteccedilatildeo dos militares que sofrem prisatildeo disciplinar

resultante de ato administrativo punitivo disciplinar militar ilegal por forccedila do que

dispotildee o paraacutegrafo 2deg do artigo 142 da Constituiccedilatildeo Federal

33 HABEAS DATA

Lembrando o passado (praacutetica das autoridades responsaacuteveis pela

repressatildeo poliacutetica durante o regime militar que armazenavam em arquivos sigilosos

informaccedilotildees acerca da vida pessoal e poliacutetica dos opositores da ditadura) e prevendo o

futuro (proliferaccedilatildeo dos bancos de dados informatizados) inovou o constituinte de 66

ao dar origem ao habeas data remeacutedio constitucional que tem por fim assegurar o

conhecimento eou a retificaccedilatildeo de informaccedilotildees relativas agrave pessoa do impetrante

constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caraacuteter

puacuteblico (artigo 5deg inciso LXXII aliacuteneas a e b)

Garantia de que se poderaacute valer gratuitamente (artigo 5deg inciso

LXXVII) entende a doutrina11

que a accedilatildeo de Habeas Data tem por fim tutelar a

intimidade a vida privada a honra e a imagem dos indiviacuteduos contra o uso e

conservaccedilatildeo em registros de dados falhos obtidos por meios fraudulentos ou ilegais

bem como a introduccedilatildeo em tais registros de dados sensiacuteveis relativos agrave origem racial

opiniatildeo poliacutetica religiosa e filosoacutefica orientaccedilatildeo sexual etc

11

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 500-1

34 MANDADO DE INJUNCcedilAtildeO

Podemos definir o Mandado de Injunccedilatildeo como a medida constitucional

de que se vale o indiviacuteduo para buscar a tutela jurisdicional apta a viabilizar o exerciacutecio

dos direitos e liberdades constitucionais ou das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade

agrave soberania e agrave cidadania inexequumliacutevel por falta de norma regulamentadora (artigo 5ordm

inciso LXXI da Constituiccedilatildeo Federal)

A utilizaccedilatildeo da garantia tem por pressuposto a inexistecircncia de norma

regulamentadora (lei ou regulamento) e a inviabilizaccedilatildeo do exerciacutecio dos direitos e

liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade agrave soberania e agrave

cidadania12

Sua finalidade eacute a obtenccedilatildeo de um pronunciamento judicial que

reconhecendo a ausecircncia de norma regulamentadora estipule as condiccedilotildees para que o

impetrante exercite o direito de liberdade ou prerrogativa

35 MANDADO DE SEGURANCcedilA INDIVIDUAL

Mandado de Seguranccedila eacute o remeacutedio constitucional que se destina a

assegurar direito liacutequido e certo natildeo amparado por haacutebeas corpus ou habeas data

contra ato ilegal ou praticado com abuso de poder por autoridade puacuteblica ou agente de

pessoa juriacutedica no exerciacutecio) atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico (artigo 5deg inciso LXIX)

Regulamentado pela Lei nordm 1533 de 31 01 dezembro de 1951 o

Mandado de Seguranccedila individual tem por objeto a correccedilatildeo de ato ilegal (omissivo ou

comissivo) atentatoacuterio a direito liacutequido e certo do impetrante

A expressatildeo direito liacutequido e certo eacute por todos criticada Eacute que na

verdade ela natildeo se refere ao direito objetivo norma que o Judiciaacuterio decide ser

aplicaacutevel ao caso concreto Refere-se ao direito subjetivo do impetrante que deve ser

aferido pelo exame dos fatos alegados e devidamente provados atraveacutes dos documentos

que acompanham a inicial salvo na hipoacutetese do paraacutegrafo uacutenico do artigo 6ordm da Lei ndeg

15335113

O ato que se pretende invalidar por intermeacutedio do mandamus deve ter

sido praticado com o viacutecio da i1egalidade ou abuso de poder consoante se expressou o

legislador constitucional Tal enunciado somente se justifica pela tradiccedilatildeo posto que

nos tempos hodiernos eacute paciacutefica a compreensatildeo doutrinaacuteria segundo a qual a

ilegalidade eacute gecircnero de que o abuso de poder eacute apenas uma de suas espeacutecies

A autoridade que pratica ato passiacutevel de constriccedilatildeo denominada

autoridade coatora eacute aquela investida pela ordem juriacutedica na competecircncia ilegalmente

12

Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 557 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op Cit p 507

13 Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 552

utilizada14

Natildeo se confunde com o sujeito passivo do Mandado de Seguranccedila (Uniatildeo

Estados Municiacutepios ou quaisquer pessoas juriacutedicas de direito puacuteblico ou privado que

desempenhem atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico)

Eacute paciacutefico o entendimento de que o writ eacute instrumento preventivo e

repressivo Na primeira hipoacutetese a seguranccedila eacute concedida para coibir ameaccedila

comprovado o justo receio na segunda a seguranccedila eacute concedida a fim de que se

alcance a correccedilatildeo da lesatildeo provada por fatos incontroversos

Por fim registre-se a possibilidade de ser concedida medida liminar a

requerimento do impetrante que deveraacute ser concedida pelo Juiz (entendem alguns que

eacute faculdade discricionaacuteria com o que natildeo concordamos) ao despachar a inicial

determinando a suspensatildeo do ato impugnado quando for relevante o fundamento da

impugnaccedilatildeo e dele puder resultar a ineficaacutecia da medida caso seja deferida (artigo 7deg

inciso II da Lei 153351)

36 MANDADO DE SEGURANCcedilA COLETIVO

Inserido no texto constitucional em vigor o Mandado de Seguranccedila

Coletivo eacute a garantia de que dispotildeem os partidos poliacuteticos com representaccedilatildeo no

Congresso Nacional os sindicatos entidades de classe e associaccedilotildees legalmente

constituiacutedas e em funcionamento haacute pelo menos um ano estas uacuteltimas em defesa dos

interesses de seus membros ou associados (artigo 5deg inciso LXX)

Os pressupostos do writ coletivo satildeo os mesmos do individual15

ato

ilegal de autoridade do qual decorra lesatildeo ou ameaccedila a direito liacutequido e certo

Natildeo obstante as duacutevidas doutrinaacuterias e as vacilaccedilotildees da jurisprudecircncia

estamos com os que pregam ser a nova espeacutecie de mandado de seguranccedila instrumento

estabelecido para ampliar o elenco dos meios de controle corretivo dos atos i1egiacutetimos

praticados pela Administraccedilatildeo contra os interesses coletivos e difusos particularmente

quando manejado por partido poliacutetico bem como dos direitos subjetivos individuais e

coletivos reclamados pelas entidades sindicais e associaccedilotildees na defesa de seus

componentes e associados

No que diz respeito ao procedimento entende-se que deva ser observado

o estabelecido na Lei 15335116

37 ACcedilAtildeO POPULAR

Accedilatildeo popular eacute o meio constitucional conferido ao cidadatildeo na condiccedilatildeo

de substituto processual de todo o povo17

para invalidar ato lesivo ao patrimocircnio

puacuteblico ou de entidade de que o Estado participe agrave moralidade administrativa ao meio

14

Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 255 15

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit 521 16

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit 524 17

Diogo de Figueiredo Moreira Neto op cit p 554

ambiente e ao patrimocircnio histoacuterico e cultural (artigo 5deg inciso LXXIII)

Com seu procedimento estabelecido na Lei 471765 a accedilatildeo popular tem

por objeto a invalidaccedilatildeo do ato lesivo e a condenaccedilatildeo dos responsaacuteveis e beneficiaacuterios

ao pagamento de perdas e danos (artigo 11 da L A P )

A legitimidade para agir deferida exclusivamente ao cidadatildeo brasileiro

nato ou naturalizado no gozo dos direitos poliacuteticos eacute criticada pela doutrina mais

luacutecida 18

que defende sua extensatildeo agraves entidades de classe

O patrimocircnio que se busca proteger por meio da accedilatildeo popular engloba o

das pessoas juriacutedicas poliacuteticas suas autarquias empresas puacuteblicas e sociedades de

economia mista das sociedades muacutetuas de seguro nas quais a Uniatildeo representa os

segurados ausentes de serviccedilos sociais autocircnomos de instituiccedilotildees ou fundaccedilotildees para

cuja criaccedilatildeo ou custeio o tesouro puacuteblico haja concorrido ou concorra de empresas

incorporadas ao patrimocircnio puacuteblico de pessoas juriacutedicas subvencionadas pelos cofres

puacuteblicos bem como os bens e direitos de valor econocircmico artiacutestico esteacutetico histoacuterico

ou turiacutestico (artigo 1deg e paraacutegrafo 1deg da LAP)

Por fim em face do interesse puacuteblico que visa a accedilatildeo popular

resguardar poderaacute ser requerida a suspensatildeo Liminar do ato impugnado caso estejam

presentes no caso concreto as circunstacircncias previstas para a concessatildeo da medida

liminar em mandado de seguranccedila (artigo 5deg paraacutegrafo 4ordm)19

38 ACcedilAtildeO CIVIL PUacuteBLICA

Accedilatildeo Civil Puacuteblica eacute o instrumento processual manejaacutevel para proteger o

meio ambiente o consumidor os bens e direitos de valor artiacutestico esteacutetico histoacuterico

turiacutestico e paisagiacutestico a ordem econocircmica bem como a qualquer outro interesse

coletivo ou difuso

Regulada pela Lei 737785 e prevista no texto constitucional (artigo

129 inciso 111) pode ser utilizada como excelente instrumento de controle da

Administraccedilatildeo pelo Judiciaacuterio nos casos em que os interesses difusos sejam ameaccedilados

ou violados por atos ilegiacutetimos das autoridades administrativas

Tendo por objetivo a condenaccedilatildeo pecuniaacuteria ou o cumprimento de

obrigaccedilatildeo de fazer ou natildeo fazer a accedilatildeo civil puacuteblica poderaacute ser cautelar buscando evitar

o dano iminente ou principal quando teraacute por escopo responsabilizar os que deram

causa ao dano

A propositura da accedilatildeo pode ser levada a efeito pelo Ministeacuterio Puacuteblico

pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios suas autarquias empresas puacuteblicas fundaccedilotildees

sociedade de economia mista bem como por associaccedilatildeo constituiacuteda haacute pelo menos um

ano e que tenha entre os seus fins institucionais a defesa dos interesses coletivos e

difusos (artigo 5deg e incisos I e 11)

4 - LIMITES OU RESTRICcedilOtildeES AO CONTROLE JUDICIAacuteRIO

18 Luacutecia Valle Figueiredo op cit p 281

19 Theotocircnio Negrao Coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo

Processual em Vigor Nota ao artigo 5deg 3a da LAP p 706

41 GENERALIDADES

A doutrina pesquisada dedica-se ao tema de trecircs formas distintas a

saber

a) a primeira abordagem afirmava no preteacuterito que os atos poliacuteticos os

legislativos e os interna corporis eram insuscetiacuteveis de apreciaccedilatildeo judicialrdquo20

Posteriormente evoluiu ao ponto de admitir que tais atos estavam sujeitos a controle

especialrdquo A justificativa que apresentam os que assim entendem eacute que tais atos

possuem um alto teor de discricionariedade seriam discricionaacuterios por excelecircncia do

que concluiacuteam ser muito restrita a apreciaccedilatildeo judicial dos mesmos

b) em situaccedilatildeo intermediaacuteria haacute quem nomine limites ao discorrer

sobre os atos poliacuteticos normativos e os interna corporis admitindo o controle

jurisdicional com fundamento no artigo 5deg inciso XXXV da Lei Maior21

c) por fim aborda-se a questatildeo de forma mais cuidadosa e profunda agrave

luz do texto constitucional referindo-se a restriccedilotildees ao controle judiciaacuterio justificadas

pelo princiacutepio do equiliacutebrio dos Poderes e da consequumlente distribuiccedilatildeo de competecircncia

levada a efeito pelo Estatuto Fundamental22

Eacute seguindo os caminhos abertos pela uacuteltima abordagem que passamos a

examinar o tema

42 QUANTO A MATEacuteRIA

O legislador constituinte tendo por escopo assegurar o necessaacuterio

equiliacutebrio entre os Poderes estabeleceu expressamente algumas hipoacuteteses em que a

competecircncia decisoacuteria eacute outorgada ao Senado Federal ao Congresso Nacional ao

Tribunal de Contas da Uniatildeo e aos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municiacutepios

Satildeo elas

a) Ao Senado Federal compete privativamente

O processo e julgamento do Presidente e do Vice-Presidente da

Repuacuteblica nos crimes de responsabilidade assim como dos Ministros de Estado nos

crimes da mesma natureza conexos com aqueles (artigo 52 inciso I)

O processo e julgamento dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e

do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do Advogado-Geral da Uniatildeo nos crimes de

responsabilidade (artigo 52 inciso II)

b) Eacute da competecircncia exclusiva do Congresso Nacional

O julgamento anual das Contas do Presidente da Repuacuteblica (artigo 49

inciso IX)

c) compete ao Tribunal de Contas da Uniatildeo aos Tribunais de Contas dos

20 Hely Lopes Meirelles op cit p 609

21

Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 493 22

Diogo de Figueiredo op cit pp 189 a 192

Estados e dos Municiacutepios nas suas respectivas esferas

O julgamento das contas dos administradores e demais responsaacuteveis

por dinheiro bens e valores puacuteblicos da Administraccedilatildeo direta e indireta incluiacutedas as

fundaccedilotildees e sociedades instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico e as contas daqueles

que derem causa a perda extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuiacutezo ao

eraacuterio puacuteblico (artigo 71 inciso li combinado com o artigo 75)

Em tais hipoacuteteses natildeo dispotildee o Judiciaacuterio de competecircncia para decidir

outorgada pela Constituiccedilatildeo ao Poder Legislativo ao Senado Federal ou aos oacutergatildeos

auxiliares do Legislativo No entanto natildeo satildeo tais mateacuterias insuscetiacuteveis de apreciaccedilatildeo

judicial O que o texto constitucional vedou ao Judiciaacuterio foi a competecircncia de decidi-

Ias Isto porque quem sofrer violaccedilatildeo de seus direitos causada pela decisatildeo proferida

nestes julgamentos poderaacute reclamar a tutela jurisdicional nos termos do artigo 5deg inciso

XXXV

Finalizando alerte-se que estas mateacuterias satildeo as uacutenicas para as quais a

Constituiccedilatildeo natildeo outorgou competecircncia decisoacuteria ao Judiciaacuterio

42 QUANTO Agrave AMPLITUDE DO ATO DE CONTROLE

Trata-se aqui de duas hipoacuteteses que restringem a amplitude da

apreciaccedilatildeo Natildeo se confundem com as hipoacuteteses de restriccedilotildees quanto agrave mateacuteria porque

nelas o Judiciaacuterio natildeo dispunha de competecircncia decisoacuteria outorgada a outro Poder

A primeira restriccedilatildeo refere-se ao remeacutedio constitucional do habeas

corpus cuja utilizaccedilatildeo natildeo cabe contra as puniccedilotildees disciplinares militares (artigo 142

paraacutegrafo 2deg) Ressalte-se que a restriccedilatildeo atinge o habeas corpus natildeo a competecircncia do

Judiciaacuterio na mateacuteria

A segunda restriccedilatildeo constitucional agrave amplitude do ato de controle

resulta do princiacutepio da separaccedilatildeo dos Poderes (artigos 2deg e 60 paraacutegrafo 4deg inciso 111)

Impede o princiacutepio constitucional que o ato de controle substitua a decisatildeo do

Legislativo e do Executivo viciada pela decisatildeo normativa ou administrativa que o

Judiciaacuterio entenda apropriada Nestes casos em que o Legislativo e o Executivo

praticam atos com fundamento na competecircncia constitucional que Ihes eacute proacutepria

eivados de ilegalidade a decisatildeo do Judiciaacuterio natildeo pode ir aleacutem do pronunciamento da

ilegalidade sob pena de malferir o princiacutepio da Separaccedilatildeo dos Poderes

44 QUANTO Agrave OPORTUNIDADE DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave oportunidade do pronunciamento

judicial apesar de natildeo se encontrar expressa no texto constitucional impotildee-se em razatildeo

de ordem loacutegica e tem por fundamento a separaccedilatildeo dos Poderes

Tal restriccedilatildeo ocorre nas hipoacuteteses em que o ato impugnado natildeo se

encontra perfeito Nestas situaccedilotildees natildeo poderaacute o Judiciaacuterio por uma razatildeo loacutegica

invalidar por exemplo um ato administrativo concreto se ele ainda natildeo se encontra

perfeito nem decidir que a autoridade administrativa deve se abster de praticaacute-lo

Entretanto em face da garantia constitucional da tutela preventiva poderaacute o Judiciaacuterio

impedir que o ato ao se tomar perfeito produza efeitos lesivos Outra natildeo pode ser a

soluccedilatildeo porque em casos desta espeacutecie a decisatildeo judicial que impedisse qualquer dos

outros Poderes de praticar os atos que lhe competem afrontaria a Constituiccedilatildeo

45 QUANTO Agrave EXTENSAtildeO DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave extensatildeo do pronunciamento eacute por todos

lembrada23

quando discorrem a respeito dos atos normativos em regra o

pronunciamento jurisdicional soacute produz efeitos entre as partes que integravam a relaccedilatildeo

juriacutedica processual decidida

Daiacute resultou que as leis e atos normativos natildeo se sujeitam agrave invalidaccedilatildeo

pelos meios de controle jurisdicional postos agrave disposiccedilatildeo dos administrados pois tais

atos legislativos e administrativos satildeo geneacutericos e abstratos e por isso natildeo atingem

direitos individuais Reconhecendo o Judiciaacuterio em um caso concreto em exame a

ilegalidade do ato normativo impugnado a decisatildeo proferida natildeo o invalida apenas

inadmite sua aplicaccedilatildeo Haacute poreacutem duas exceccedilotildees em que a lei em tese pode ser

invalidada

a) as leis de efeitos concretos24

Em verdade se estabelecem efeitos

concretos satildeo leis apenas formalmente pois materialmente satildeo atos administrativos

44 QUANTO Agrave OPORTUNIDADE DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave oportunidade do pronunciamento

judicial apesar de natildeo se encontrar expressa no texto constitucional impotildee-se em razatildeo

de ordem loacutegica e tem por fundamento a separaccedilatildeo dos Poderes

Tal restriccedilatildeo ocorre nas hipoacuteteses em que o ato impugnado natildeo se

encontra perfeito Nestas situaccedilotildees natildeo poderaacute o Judiciaacuterio por uma razatildeo loacutegica

invalidar por exemplo um ato administrativo concreto se ele ainda natildeo se encontra

perfeito nem decidir que a autoridade administrativa deve se abster de praticaacute-lo

Entretanto em face da garantia constitucional da tutela preventiva poderaacute o Judiciaacuterio

impedir que o ato ao se tomar perfeito produza efeitos lesivos Outra natildeo pode ser a

soluccedilatildeo porque em casos desta espeacutecie a decisatildeo judicial que impedisse qualquer dos

outros Poderes de praticar os atos que lhe competem afrontaria a Constituiccedilatildeo

45 QUANTO Agrave EXTENSAtildeO DO PRONUNCIAMENTO

A restriccedilatildeo quanto agrave extensatildeo do pronunciamento eacute por todos

23

Diogo de Figueiredo op cit p 191 Maria Sylvia Zanella Di Pietro op cit p 493 Hely Lopes

Meirelles op cit p 610

lembrada24

quando discorrem a respeito dos atos normativos em regra o

pronunciamento jurisdicional soacute produz efeitos entre as partes que integravam a relaccedilatildeo

juriacutedica processual decidida

Daiacute resultou que as leis e atos normativos natildeo se sujeitam agrave invalidaccedilatildeo

pelos meios de controle jurisdicional postos agrave disposiccedilatildeo dos administrados pois tais

atos legislativos e administrativos satildeo geneacutericos e abstratos e por isso natildeo atingem

direitos individuais Reconhecendo o Judiciaacuterio em um caso concreto em exame a

ilegalidade do ato normativo impugnado a decisatildeo proferida natildeo o invalida apenas

inadmite sua aplicaccedilatildeo Haacute poreacutem duas exceccedilotildees em que a lei em tese pode ser

invalidada

a) as leis de efeitos concretos24 Em verdade se estabelecem efeitos

concretos satildeo leis apenas formalmente pois materialmente satildeo atos administrativos

b) as leis e atos normativos federais e estaduais que contrariem a

Constituiccedilatildeo Federal submetidos ao Supremo Tribunal Federal por via de Accedilatildeo Direta

de Inconstitucionalidade (artigo 102 inciso I aliacutenea a) Em se tratando de leis ou

atos normativos estaduais ou municipais contraacuterios agrave Constituiccedilatildeo Estadual compete

ao Tribunal de Justiccedila apreciar a representaccedilatildeo de inconstitucionalidade (artigo 125

paraacutegrafo 2deg)

5 - CONCLUSAtildeO

De todo o exposto extraiacutemos as conclusotildees que seguem

a) o controle jurisdicional da Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute exercido

exclusivamente pelo Judiciaacuterio mediante provocaccedilatildeo dos que buscam proteger seus

direitos individuais coletivos e difusos violados ou ameaccedilados por comportamentos

lesivos do Poder Puacuteblico

b) constitui o controle jurisdicional ao lado do princiacutepio da legalidade

um dos fundamentos do Estado de Direito

c) por intermeacutedio deste controle busca-se assegurar uma atuaccedilatildeo

administrativa em conformidade com os princiacutepios informadores do regime juriacutedico-

administrativo

d) a Constituiccedilatildeo de 66 veio indiscutivelmente fortalececirc-lo na medida

em que instituiu novos meios especiacuteficos de controle e por via destes ampliou a

proteccedilatildeo dos administrados ao tomar possiacutevel a defesa dos interesses coletivos e

difusos

e) ressalva-se contudo que em Juiacutezo goza a Administraccedilatildeo Puacuteblica de

privileacutegios que tecircm por fundamento a supremacia do interesse puacuteblico sobre o

particular

f) o Estatuto Fundamental prevecirc expressamente um conjunto de

garantias destinadas especificamente agrave proteccedilatildeo dos administrados contra os

comportamentos ilegiacutetimos da Administraccedilatildeo

g) nos dias atuais natildeo encontram amparo as opiniotildees doutrinaacuterias que

preguem a existecircncia no Estado Democraacutetico de Direito de atos insuscetiacuteveis de

24 Hely Lopes Meirelles op cit p 611 Diogo de Figueiredo op cit p

191

apreciaccedilatildeo judicial

h) as investigaccedilotildees a respeito das restriccedilotildees ou limitaccedilotildees ao controle

judicial natildeo podem partir da anaacutelise de certos atos que se pretendam dotados de alto

teor de discricionariedade i) tampouco eacute suficiente que se justifique a apreciaccedilatildeo judicial dos atos poliacuteticos normativos e interna corporis com base no artigo 5deg inciso XXXV da Lei Maior

i) tampouco eacute suficiente que se justifique a apreciaccedilatildeo judicial dos atos

poliacuteticos normativos e interna corporis com base no artigo 5D inciso XXXV da Lei

Maior

j) a investigaccedilatildeo a respeito das restriccedilotildees ao Controle Jurisdicional deve

ser levada a efeito agrave luz do texto constitucional

I) constituindo o Controle Jurisdicional um dos fundamentos do Estado

de Direito em princiacutepio soacute devem ser admitidas restriccedilotildees fundadas no princiacutepio da

Separaccedilatildeo e Equiliacutebrio dos Poderes cuja inobservacircncia inviabiliza o proacuteprio Estado de

Direito

m) em regra as restriccedilotildees ao controle quanto agrave mateacuteria quanto agrave

amplitude do pronunciamento quanto agrave oportunidade e quanto agrave extensatildeo do

pronunciamento encontram-se expressos na Constituiccedilatildeo ou nela se fundamentam

6 - BIBLIOGRAFIA

DI PIETRO Maria Sylvia Zanella Direito Administrativo 5- ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Atlas 1995

FERRAZ Seacutergio Controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica na Constituiccedilatildeo

de 1966 RTDP 4239

FIGUEIREDO Luacutecia valle Curso de Direito Administrativo 2-

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros Editores

MEIRELLES Hely Lopes Direito Administrativo Brasileiro 19-

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros Editores 1994

MELLO Celso Antocircnio Bandeira de Curso de Direito Administrativo

Sediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros Editores 1994

MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Curso de Direito

Administrativo 88 ediccedilatildeo Rio de Janeiro Forense 1989

NEGRAtildeO Theotocircnio (org) coacutedigo de Processo Civil e Legislaccedilatildeo

Processual em vigor 26- ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

OLIVEIRA Juarez de (org) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil 113 ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 1995

DIREITO A EDUCACcedilAtildeO E INICIATIVA PRIVADA

Vladimir Azevedo de Mello

Acadecircmico do 3deg Periacuteodo do Curso de Direito da UFRN

A circunstacircncia de o direito natildeo caber por sorte aos povos sem

dificuldades antes de terem eles para o obter de se agitar e de lutar combater e

derramar o proacuteprio sangue esta circunstacircncia precisamente cria entre eles e o seu

direito esse laccedilo intimo que o risco da vida cria no parto entre a matildee e o novo

filho

Rudolf Von hering

INTRODUCcedilAtildeO

O trato da questatildeo educacional para as naccedilotildees seja nas que aspiram ao

status de primeiro mundo sejam nas que pretendem manter tal condiccedilatildeo eacute motivo de

preocupaccedilatildeo permanente da sociedade e dos governos O assunto em funccedilatildeo dos

desdobramentos que se projetam invariavelmente sobre todo o corpo social requer

cuidado e ocupa lugar de destaque nas poliacuteticas de desenvolvimento e de metas

econocircmicas Envolve a sociedade como um todo e volta-se aos interesses desta

No momento atual a questatildeo da presenccedila da escola privada no sistema

educacional brasileiro ante a grave crise pela qual passa o ensino puacuteblico e sobretudo

em face do problema dos valores alcanccedilados pelas mensalidades escolares coloca em

discussatildeo a posiccedilatildeo a ser adotada pelo Poder Puacuteblico em relaccedilatildeo ao direito de acesso agrave

escola

Seacuteria afronta aos ditames constitucionais eacute a adoccedilatildeo por empresaacuterios do

setor educacional de mecanismos que objetivam a limitaccedilatildeo do acesso e permanecircncia

dos educandos na escola privada nos moldes dos sistemas de proteccedilatildeo ao creacutedito

No tentame de evidenciar tais circunstacircncias discorreremos acerca dos

princiacutepios e direitos a serem observados no trato da questatildeo mormente o princiacutepio da

universalidade e os direitos sociais bem como sobre pertinecircncia da intervenccedilatildeo estatal

direta em relaccedilatildeo agrave limitaccedilatildeo dos valores a serem alcanccedilados pelas mensalidades

escolares

EDUCACcedilAtildeO - ABORDAGEM HISTOacuteRICA

A evoluccedilatildeo humana pronuncia-se em duas ordens distintas que lhe satildeo

poreacutem igualmente caracterizadoras a ordem natural e a ordem social

Em relaccedilatildeo agrave ordem natural as regras que determinam as suas

manifestaccedilotildees satildeo fixadas sem que aja sobre elas a vontade humana Satildeo elaboradas

tratando ao largo a ingerecircncia do homem

A ordem social por outro lado dista da ordem natural justamente por ser

conduzida segundo os desiacutegnios da voliccedilatildeo humana Eacute a accedilatildeo humana o fator

determinante da evoluccedilatildeo na ordem social

Acerca deste dualismo pronunciou-se J Elias Dubard de Moura Rocha

Por conta desta distinccedilatildeo substancial eacute que se pode distinguir a

Ordem Natural da Ordem Social Nesta o homem cria e modifica

renova e inova transforma e perpetua (grifo nosso) tudo conforme a

vontade humana em meio a fatores permanentes e circunstacircncias

variantes que condicionam mais ou menos a conduta Naquela o

homem sujeita-se agrave ordem acomodando-se a ela e se limita a uma

atitude meramente descritiva Ora as ahelhas organizam-se em

colmeacuteia a milhotildees e milhotildees de anos sem que tenha havido mudanccedila

e se houve foi por fatores externos e natildeo pela vontade de tais

insetos Nas sociedades humanas natildeo eacute necessaacuterio sequer

exemplificar as transformaccedilotildees havidas no curso de sua histoacuteria

Dera-se por impulsos volitivos dos elementos componentes isto eacute os

indiviacuteduos que as formavam Diferem-se pois Ordem natural e

Ordem social pela possibilidade real de os elementos componentes

modificarem a Ordem por impulso da vontade (221)

A evoluccedilatildeo na ordem social faz eclodir a necessidade de que a cada

geraccedilatildeo seja legada a carga de conquistas e aprendizados das geraccedilotildees anteriores

incluindo os elementos culturais caracterizantes do povo aleacutem dos avanccedilos teacutecnicos e

de produccedilatildeo Contudo a transmissatildeo dos conhecimentos construiacutedos natildeo se fez e natildeo

se faz meramente por meio de instituiccedilotildees de ensino tais como conhecidas

atualmente embora sejam elas hoje os instrumentos mais eficazes de educaccedilatildeo

O homem nos vaacuterios matizes da vida em sociedade acaba por educar

seu semelhante ainda que de maneira involuntaacuteria fazendo com que valores morais

eacuteticos ciacutevicos religiosos culturais e poliacuteticos aleacutem de outros sejam transmitidos e

perpetuados

Ao longo do processo histoacuterico no entanto as caracteriacutesticas dos

processos educacionais foram sendo alteradas havendo a presenccedila estatal desde os

primoacuterdios Em Esparta sob a lideranccedila de Licurgo a educaccedilatildeo do varatildeo era

atribuiccedilatildeo familiar ateacute os sete anos de idade quando era este entatildeo entregue ao

Estado que se encarregava de complementar o processo

Eacute de valia o magisteacuterio de Orlando Soares

De acordo com cada etapa histoacuterica dos diferentes povos e

civilizaccedilotildees bem como em virtude da influecircnciacutea de muacuteltiplos fatores

- culturais e sociais - podemos considerar que o caraacuteter da

educaccedilatildeo primitiva na eacutepoca tribal era natural espontacircneo o das

civilizaccedilotildees claacutessicas assumiu a forma essencialmente poliacutetica o

medieval teve a feiccedilatildeo religiosa o do seacuteculo XVII foi realista como

reflexo das preocupaccedilotildees com os meacutetodos cientiacuteficos pela busca do

conhecimento cada vez mais acurado com base na experiecircncia o do

seacuteculo XVIII foi racionalista inspirado no principio segundo o qual

nada existe que natildeo tenha razatildeo de ser isto eacute que natildeo seja

inteligiacutevel irrecusaacutevel a priori evidenciando-se com as

demonstraccedilotildees o do seacuteculo XLJ marcado pela intervenccedilatildeo do

Estado nas diretrizes educacionais na formaccedilatildeo da consciecircncia

nacional com a instituiccedilatildeo da escola primaacuteria universal gratuita e

obrigatoacuteria o do seacuteculo XV conquanto difiacutecil a sua distinccedilatildeo

sobretudo devido agrave existecircncia de dois Poacutelos poliacuteticos marcantes- isto

eacute os sistemas capitalista e socialista - revela anseios democraacuteticos

generalizados de afirmaccedilatildeo da soberania popular (4661)

Infere-se portanto que houve ao longo dos tempos o gradativo

abandono da ideacuteia da escola restrita ao seleto grupo dos mais abastados e agrave pequena

casta de soberanos sendo sedimentada principalmente durante os seacuteculos dezenove e

vinte a concepccedilatildeo da escola democraacutetica e acessiacutevel a todo o corpo de cidadatildeos ou

seja de caraacuteter universal

A escola de caraacuteter universal e gratuito recebe abrigo atualmente de

quase todos os sistemas juriacutedicos sobretudo daqueles em que a populaccedilatildeo experimenta

niacuteveis de vida superiores aos dos paiacuteses com elevados iacutendices de analfabetismo e evasatildeo

escolar

No Brasil da sanha jesuiacuteta direcionada agrave catequizaccedilatildeo dos nativos que

se valia de meacutetodos pedagoacutegicos rudimentares ateacute a instalaccedilatildeo dos primeiros cursos de

niacutevel superior em Olinda e Satildeo Paulo em 1827 a educaccedilatildeo foi tratada agrave miacutengua de

qualquer recurso puacuteblico sendo registrada ateacute mesmo no ano de 1800 uma

advertecircncia da coroa portuguesa mediante aviso real agrave Cacircmara Municipal de

Tamanduaacute em Minas Gerais por ter esta instituiacutedo uma escola primaacuteria

Apoacutes o malfadado golpe de 1964 o sistema educacional gerenciado

basicamente pelo Estado foi sucedido por um outro de natureza eminentemente

privada A nova sistemaacutetica perverteu a noccedilatildeo de que a educaccedilatildeo de qualidade eacute direito

de todos fazendo crer que a condiccedilatildeo sine qua non para o acesso ao bom ensino eacute a

condiccedilatildeo financeira e numa atitude de crime de lesa-paacutetria alijou parcela significativa

da populaccedilatildeo - por meio do arruinamento da boa escola puacuteblica - daquilo que eacute a

redenccedilatildeo de qualquer povo a educaccedilatildeo de qualidade

Atualmente embora receba tratamento constitucional e

seja regido pelo princiacutepio da universalidade o problema inerente ao direito agrave educaccedilatildeo

apresenta um quadro funesto sobretudo ante a ineacutercia governamental e que vem se

agravando pela sobre posiccedilatildeo qualitativa da escola privada em relaccedilatildeo agrave escola puacuteblica

o que impele a populaccedilatildeo ao abandono desta e agrave submissatildeo ao caraacuteter essencialmente

mercantilista daquela

EDUCACcedilAtildeO - ABORDAGEM JURIgraveDICA

O surgimento do Estado de Direito sucessor do Estado Absolutista traz

consigo a imposiccedilatildeo de que as accedilotildees estatais natildeo mais sejam orientadas pelos enlevos

do poder total Caracteriza-se basicamente pela sujeiccedilatildeo do agir do Estado assim como

dos cidadatildeos agrave baliza da lei e igualmente pela possibilidade de proteccedilatildeo destes

quando emanar daquele ato que exorbite os paracircmetros legalmente estabelecidos

O Estado de Direito em sua configuraccedilatildeo liberal marcada pela limitaccedilatildeo

da accedilatildeo estatal e pela abstraccedilatildeo generalidade e caraacuteter meramente sancionador da

ordem legal e em sua forma social assinalada pelo caraacuteter empreendedor do ente

estatal e com a lei voltada para a garantia das accedilotildees deste voltava-se agrave implementaccedilatildeo

de uma determinada ordem a ser estabelecida

Todavia o contorno Democraacutetico assumido pelo Estado de Direito

conduz agrave busca de objetivo diverso Deve tal instituiccedilatildeo tencionar a modificaccedilatildeo das

relaccedilotildees sociais objetivando a superaccedilatildeo das desigualdades e o estabelecimento de uma

sociedade mais justa e de uma accedilatildeo governamental voltada aos interesses da

coletividade

Com referecircncia ao tema Joseacute Luis Bolsan de Morais leciona

Quando assume o feitio democraacutetico o Estado de Direito tem como

objetivo a igualdade e assim natildeo lhe basta a imitaccedilatildeo ou a

promoccedilatildeo da atuaccedilatildeo estatal mas referenda a pretensatildeo agrave

transformaccedilatildeo do status quo A lei aparece como instrumento de

transformaccedilatildeo da sociedade natildeo estando mais atrelada

inelutavelmente agrave sanccedilatildeo ou promoccedilatildeo O fim a que pretende eacute a

constante reestruturaccedilatildeo das proacuteprias relaccedilotildees sociais (183)

O Estado brasileiro destinado a assegurar o exerciacutecio dos direitos

sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-estar o desenvolvimento a

igualdade e a justiccedila como valores de uma sociedade fraterna pluralista e sem

preconceitos fundada na harmonia social segundo as linhas preambulares da

Constituiccedilatildeo vigente cuja opccedilatildeo pela feiccedilatildeo democraacutetica vem insculpida jaacute no art 1ordm da

Carta Poliacutetica de 1988 deveraacute marcar as suas accedilotildees portanto pela geraccedilatildeo de esforccedilos

para que sejam atingidos e mantidos os objetivos supracitados especialmente os

delimitados e nascidos sob a rubrica de direitos e garantias individuais a exemplo dos

constantes do Tiacutetulo 11 de nossa Lei Maior

E eacute nesse contexto que se apresenta o direito agrave educaccedilatildeo adscrito na

Carta Magna em seu artigo 6ordm combinado com o artigo 205 O ditame constitucional

segundo Joseacute Afonso da Silvaeleva a educaccedilatildeo ao niacutevel dos direitos fundamentais do

homem (3302) e traz como consequumlecircncia o fato de que

se afirma que a educaccedilatildeo eacute um direito de todos com o que esse

direito eacute informado pelo princiacutepio da universalidade Realccedila-lhe o

valor juriacutedico por um lado a claacuteusula - a educaccedilatildeo eacute dever do

Estado e da famiacutelia - constante do mesmo artigo que completa a

situaccedilatildeo juriacutedica subjetiva ao explicitar o titular do dever da

obrigaccedilatildeo contraposto agravequele direito Vale dizer todos tecircm direito agrave

educaccedilatildeo e o Estado tem o dever de prestaacute-Ia assim como a famiacutelia

(3302)

Sobre os desdobros da garantia do direito agrave educaccedilatildeo pronuncia-se ainda

o insigne constitucionalista

A norma assim explicitada - A educaccedilatildeo direito de todos e dever do

Estado e da famiacutelia (arts 205 e 227) - significa em primeiro

lugar que o Estado tem que aparelhar-se para fornecer a todos os

serviccedilos educacionais isto eacute oferecer ensino de acordo com os

princiacutepios estatuiacutedos na Constituiccedilatildeo (art 206) que ele tem que

ampliar cada vez mais as possibilidades de que todos venham a

exercer igualmente esse direito e em segundo lugar que todas as

normas da Constituiccedilatildeo sobre educaccedilatildeo e ensino hatildeo que ser

interpretadas em funccedilatildeo daquela declaraccedilatildeo e no sentido de sua

plena e efetiva realizaccedilatildeo A constituiccedilatildeo mesma jaacute considerou que o

acesso ao ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito eacute direito

puacuteblico subjetivo equivale reconhecer que eacute direito plenamente

eficaz e de aplicabilidade imediata isto eacute direito exigiacutevel

judicialmente se natildeo for prestado espontaneamente (3302)

Segue ensinando o ilustre jurista

As normas tecircm ainda o significado juriacutedico de elevar a educaccedilatildeo agrave

categoria de serviccedilo puacuteblico essencial que ao poder puacuteblico impende

possibilitar a todos daiacute a preferecircncia constitucional pelo ensino

puacuteblico pelo que a iniciativa privada embora livre eacute no entanto

meramente secundaacuteria e condicionada (arts 209 e 23) (3302-

3)

O ensinamento do mestre constitucionalista serve de lastro para a

abordagem que seraacute sugerida para o tema sendo necessaacuterio entretanto tangenciar o

insculpido no art 209 da Lei Maior Reza

art 209 O ensino eacute livre agrave iniciativa privada atendidas as

seguintes condiccedilotildees

I - cumprimento das normas gerais da educaccedilatildeo nacional

II - autorizaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de qualidade pelo Poder Puacuteblico

O sistema educacional paacutetrio seguindo o espiacuterito democraacutetico e

pluralista avultado na Lex Mater abre ensanchas para a coexistecircncia do sistema puacuteblico

e gratuito e do sistema privado com fins lucrativos aleacutem dos sistemas de escolas

comunitaacuterias filantroacutepicas ou confessionais

Contudo os sistemas puacuteblico privado e os demais de outra natureza

encontram-se envoltos pelos mesmos princiacutepios constitucionais natildeo constituindo

sistemas estanques e regidos exclusivamente por regras proacuteprias A regra constitucional

remete todos os sistemas a seus princiacutepios fazendo respeitar evidentemente as

peculiaridades de cada um aleacutem de alguns valores da livre iniciativa

Ao Poder Puacuteblico impende a gestatildeo do sistema puacuteblico sendo de sua

atribuiccedilatildeo a garantia dos requisitos de acesso para todos e qualidade de ensino capaz de

assegurar instruccedilatildeo eficaz agrave populaccedilatildeo Ressalte-se que nesse mister o Estado peca por

inconstitucionalidade passiva permanentemente Eacute o non facere como posicionamento

do Poder Puacuteblico nacional

A participaccedilatildeo da iniciativa privada estaacute delimitada pelos termos do art

209 da Carta Magna Estaacute vinculada agrave autorizaccedilatildeo emanada do Poder Puacuteblico e depende

da obediecircncia agraves normas gerais de educaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de qualidade

Tais normas satildeo as referidas no inciso I do artigo 209 da Constituiccedilatildeo

Federal e surgem jaacute no proacuteprio texto constitucional sob a condiccedilatildeo de Direito Social

tal como disposto nos arts 6deg e 205 aleacutem das diretrizes traccediladas no artigo 206 e seus

incisos que devem permear por obrigatoacuterios toda a legislaccedilatildeo infraconstitucional

Os princiacutepios constitucionais devem nortear portanto natildeo soacute as

diretrizes das poliacuteticas puacuteblicas para a educaccedilatildeo mas tambeacutem a gerecircncia do segmento

privado

Esta circunstacircncia descaracteriza ateacute mesmo ao contraacuterio do que

sustentam os proprietaacuterios de escolas a natureza meramente empresarial dos

estabelecimentos de ensino privados afastando-os das imposiccedilotildees tipicamente

mercadoloacutegicas especialmente no que diz respeito agrave suspensatildeo do fornecimento dos

serviccedilos ao consumidor

Como consequumlecircncia natildeo deve ser acolhida pelo ordenamento juriacutedico

nacional a pretensatildeo do emprego de mecanismos que objetivam controlar o acesso agrave

escola privada por meio de consulta a serviccedilos de proteccedilatildeo ao creacutedito por natildeo se tratar

indubitavelmente de uma operaccedilatildeo creditiacutecia e sim do exerciacutecio de direito consagrado

pela Constituiccedilatildeo Cidadatilde

A reduccedilatildeo do problema ao acircmbito das relaccedilotildees creditiacutecias e da prestaccedilatildeo

convencional de serviccedilos eacute em si um procedimento iniacutequo pois a opccedilatildeo pela escola

privada eacute motivada muitas vezes pela ineacutepcia governamental no que diz respeito agrave

qualidade do ensino puacuteblico e esta deve ser a perspectiva a ser avaliada para a

resoluccedilatildeo dos embates juriacutedicos relacionados ao tema

Na maior parte dos casos natildeo surge em um poacutelo da demanda um devedor

contumaz Apresenta-se isto sim o cidadatildeo dominado de um lado pelo reveacutes

econocircmico e pela exorbitacircncia da maioria das mensalidades escolares e de outro pelo

solapamento da escola puacuteblica

Portanto para que o problema seja equacionado de forma que se

encontre uma soluccedilatildeo que atenda ao problema da existecircncia e viabilidade econocircmica

dos estabelecimentos privados bem como da compatibilizaccedilatildeo dos valores das

mensalidades eacute salutar a intervenccedilatildeo estatal sobretudo na esfera legislativa

Legislar a respeito caso fosse a escola privada um ente meramente

mercantil - hipoacutetese que pode ser tornada despicienda uma vez que nem sequer lhe

compete estabelecer o conteuacutedo miacutenimo a ser ministrado restando-lhe apenas a

possibilidade de um plus curricular - natildeo se constituiria afronta aos princiacutepios da livre

iniciativa e concorrecircncia O entendimento do Supremo Tribunal Federal ademais

parece apontar tambeacutem nestamiddot direccedilatildeo Eacute o que fica constatado em ementa da lavra do

Ministro Moreira Alves

Ementa - Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade da Lei conciliar o

fundamento da livre iniciativa e o princiacutepio da livre concorrecircncia

com os da defesa do consumidor e da reduccedilatildeo das desigualdades

sociais em conformidade com os ditames da justiccedila social pode o

Estado por via legislativa regular a poliacutetica de preccedilos de bens e

serviccedilos abusivo que eacute o poder econocircmico que visa o aumento

arbitraacuterio de lucros

- Natildeo eacute pois inconstitucional a Lei 8039 de 30 de maio de 1990

pelo fato de dispor sobre criteacuterios de reajuste das mensalidades

escolares ( bullbull r (Supremo Tribunal Federal Processo ADlQO

31993 Relator Ministro Moreira Alves Diaacuterio da Justiccedila de

300493)

Nada obstante o entendimento da Excelsa Corte jaacute tornar evidente a

possibilidade de que se legisle sobre a mateacuteria a indicaccedilatildeo de que este proceder deveria

assumir caraacuteter de obrigatoriedade todas as vezes em que se constatar abusividade na

estipulaccedilatildeo das mensalidades parece natildeo encontrar obstaacuteculos em nossa ordem

constitucional sobretudo porque a questatildeo da participaccedilatildeo da iniciativa privada assim

como citado algures estaacute vinculada agrave autorizaccedilatildeo emanada do Poder Puacuteblico e depende

da obediecircncia agraves normas gerais de educaccedilatildeo e verificaccedilatildeo de qualidade

Nesse diapasatildeo insere-se a abordagem jaacute feita alhures de que cabe ao

Estado fomentar o acesso de todos ao ensino O Estado estaacute obrigado portanto a s6

conceder o exerciacutecio das atividades educacionais privadas agravequeles que possam oferececirc-

las de maneira que natildeo se tomem como agora o satildeo oacutebice ao exerciacutecio desse direito

sacrossanto

O Estado brasileiro incidiraacute em equiacutevoco se der tratamento que permita

apenas a garantia do lucro dos estabelecimentos de ensino privado e que imprima ao

cidadatildeo tratamento de refeacutem do poder econocircmico O empresaacuterio que natildeo conseguir

prestar seus serviccedilos agrave populaccedilatildeo de maneira acessiacutevel natildeo merece por contrariar as

determinaccedilotildees da Carta Poliacutetica de 1988 ter mantida a concessatildeo de exploraccedilatildeo do

serviccedilo Eacute defesa ao Estado em face do determinado na Constituiccedilatildeo sobre o tema e em

funccedilatildeo do alegado de elastecer a toleracircncia sobre a problemaacutetica das mensalidades

escolares

O quadro atual eacute grave O problema da inadimplecircncia nas escolas

particulares assumiu caraacuteter de urgecircncia para os empresaacuterios do ensino cuja maioria eacute

simulacro de educador A inadimplecircncia natildeo eacute um problema apenas de natureza privada

e natildeo habita exclusivamente a seara do Direito Civil pois se relaciona com o interesse

que toda a sociedade tem ou pelo menos deveria ter pela questatildeo educacional

Inadimplecircncia e direito agrave educaccedilatildeo natildeo estabelecem relaccedilatildeo direta e imediata de causa e

consequumlecircncia

Quando segmento significativo da sociedade manifesta-se

enfaticamente sobre o transtorno em que se tem transformado manter um filho na

escola que lhe eacute imposto como obrigatoacuterio natildeo soacute no texto constitucional mas

tambeacutem na legislaccedilatildeo penal e civil conjuntamente com o Estado este estaacute obrigado ou

a garantir o mesmo padratildeo de qualidade das escolas privadas nas escolas puacuteblicas e

em suficiente nuacutemero de vagas ou a ampliar a renda das famiacutelias de maneira que estas

possam suportar o ocircnus das mensalidades ou ainda a suprimir a concessatildeo de

exerciacutecio da atividade dada a impossibilidade de uma eficaz prestaccedilatildeo do serviccedilo uma

vez que educar crianccedilas e jovens eacute interesse de todos e natildeo deve sucumbir agrave

incompetecircncia empresarial daqueles que desafinados com os mais modernos preceitos

econocircmicos natildeo conseguem reduzir seus custos ou estatildeo viciados em lucros

exorbitantes

Por oportuno parece razoaacutevel uma anaacutelise o direito ao lucro deriva da

determinaccedilatildeo volitiva do sujeito que se dispotildee a pagar determinado preccedilo por produto

ou serviccedilo A manifestaccedilatildeo volitiva por motivar estipulaccedilatildeo negocial livre natildeo pode

portanto vir maculada por exemplo por ato de coaccedilatildeo A inadimplecircncia nesta

situaccedilatildeo levaraacute prontamente agraves consequumlecircncias previstas na legislaccedilatildeo

Situaccedilatildeo diversa poreacutem ocorre em relaccedilatildeo ao ensino Ao matricular em

instituiccedilatildeo de ensino seja ela puacuteblica ou privada menor sob sua responsabilidade os

pais ou responsaacuteveis natildeo estatildeo praticando um ato livre de coaccedilatildeo Mesmo que natildeo

saibam haacute naquela accedilatildeo resposta a imposiccedilatildeo legal que traz em seu conteuacutedo um

elemento sancionador caracterizador da coaccedilatildeo

Basta uma avaliaccedilatildeo perfunctoacuteria para que se evidencie a disparidade

das duas situaccedilotildees e para que entatildeo acolha-se a ideacuteia de que natildeo podem por

conseguinte projetar as mesmas consequumlecircncias

Ora raciocinar contrariamente seria admitir a possibilidade de que as

pessoas estatildeo obrigadas por lei a garantir a lucratividade alheia a todo custo o que natildeo

eacute veraz pois que as pessoas soacute devem ser compelidas a esta ou aquela accedilatildeo quando

disto depender a manutenccedilatildeo do equiliacutebrio social natildeo se enquadrando a garantia de

lucro para os mercenaacuterios do saber na questatildeo em tela

Todavia surge uma indagaccedilatildeo por que optar pelo ensino privado de alto

custo quando haacute a possibilidade de ingresso em estabelecimentos oficiais graciosos por

determinaccedilatildeo da proacutepria Lei Maior

A refutaccedilatildeo surge mediante exame sobre o que objetivam os povos

quando decidem dedicar especial atenccedilatildeo agrave questatildeo do ensino A formaccedilatildeo das futuras

geraccedilotildees natildeo eacute apenas transmissatildeo automaacutetica de informaccedilotildees e dogmas de caraacuteter

cientifico moral ou cultural Eacute um processo elaborado por intermeacutedio do qual os fatores

de identidade cultural e nacional assim como o conhecimento cientiacutefico necessaacuterio ao

desenvolvimento tecnoloacutegico satildeo transmitidos agraves novas geraccedilotildees de forma a viabilizar

o desenvolvimento do paiacutes e a melhoria das condiccedilotildees sociais Supotildeem aquisiccedilatildeo de

uma consciecircncia criacutetica que possa auxiliar na resoluccedilatildeo das questotildees nacionais

O Estado brasileiro afastou-se tanto deste objetivo quanto da qualidade

do ensino ministrado em seus estabelecimentos enquanto a famiacutelia por seu turno

cumpre a sua obrigaccedilatildeo constitucional ao buscar sempre a educaccedilatildeo eficaz O governo

compele para a esfera privada - que ao menos aparentemente garante melhor qualidade

de ensino - aqueles que a custo de sacrifiacutecio podem arcar com o custeio do ensino

privado Por isso o cidadatildeo opta quase que forccedilosamente por pagar o ensino em

funccedilatildeo da incuacuteria governamental sobre o tema

A presenccedila da iniciativa privada na educaccedilatildeo pressupotildee lucro Mas visa

tambeacutem a garantir um sistema educacional plural em sintonia com o espiacuterito

democraacutetico exaustivamente ressaltado na Carta da Repuacuteblica Entretanto a questatildeo do

retomo econocircmico para aqueles que se ocupam da atividade educacional investindo em

instalaccedilotildees equipamentos e matildeo-de-obra especializada tambeacutem deve ser alvo de

anaacutelise eacutetica e juriacutedica por parte de toda a sociedade

O lucro eacute igualmente um dos mecanismos de manutenccedilatildeo do sistema

educacional multifaacuterio e tambeacutem deve receber proteccedilatildeo da ordem legal que deve

objetivar ateacute mesmo a puniccedilatildeo do mau pagador que se constitui elemento igualmente

danoso ao sistema de ensino

Todavia os mecanismos a serem adotados devem garantir proteccedilatildeo ao

direito agrave educaccedilatildeo no miacutenimo enquanto vigente o contrato celebrado com o

estabelecimento de ensino sem que seja vedado igualmente o direito agrave matriacutecula nas

instituiccedilotildees privadas em funccedilatildeo de consulta a sistemas de proteccedilatildeo ao creacutedito devendo

responder em caso de inadimplecircncia o patrimocircnio dos contratantes Em siacutentese parece

vaacutelida a adoccedilatildeo de quaisquer medidas de cobranccedila exceto aquelas que resultem na

suspensatildeo ou denegaccedilatildeo do exerciacutecio do direito

Ante o exposto e diante do atual quadro alguns segmentos da iniciativa

privada natildeo vecircm atendendo aos preceitos estabelecidos na Constituiccedilatildeo Federal fato

este que deveria conduzir tanto o Estado como a sociedade a analisar o problema sob

vaacuterios enfoques

Natildeo pode o Governo acuado por empresaacuterios do setor tratar a questatildeo

como essencialmente de natureza econocircmica mas sim fazer vergar os estorvos aos

princiacutepios da universalidade e da igualdade que regem a mateacuteria

A sociedade por sua vez deve buscar por meio dos canais democraacuteticos

de participaccedilatildeo poliacutetica a adoccedilatildeo dos instrumentos necessaacuterios ao pleno atendimento do

disposto nos sectsect 10 e 2

0 do art 208 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica superando a iacutendole

mercantilista do governo porquanto o embriatildeo do problema eacute sem reacutestia de duacutevida a

feiccedilatildeo estatal que relega os interesses sociais em proveito de uma elite pouco atenta aos

clamores da coletividade

CONCLUSAtildeO

A educaccedilatildeo de qualidade eacute questatildeo relevante Mereceu as becircnccedilatildeos da

Constituiccedilatildeo de 1988 e a participaccedilatildeo da iniciativa privada deve cumprir as normas

gerais da educaccedilatildeo nacional que nascem na proacutepria Carta Poliacutetica e que garantem a

igualdade de condiccedilotildees para o acesso e permanecircncia na escola natildeo podendo o

ordenamento juriacutedico propor soluccedilotildees que se distanciem dessas premissas

Permitir a instauraccedilatildeo de controle de acesso mediante consulta a

serviccedilos de proteccedilatildeo ao creacutedito e de outras puniccedilotildees aos alunos que bloqueiem o

exerciacutecio do direito agrave educaccedilatildeo fere de morte natildeo soacute a Constituiccedilatildeo mas tambeacutem toda a

naccedilatildeo que se vecirc cada vez mais comprimida na vala comum dos povos analfabetos

Portanto as pelejas surgidas da negaccedilatildeo ou dos estorvos ao exerciacutecio do direito agrave

educaccedilatildeo natildeo devem merecer o mesmo tratamento dado agraves questotildees voltadas agrave

resoluccedilatildeo de problemas de cunho individual As questotildees juriacutedicas derivadas dos

embaraccedilos agraves garantias sociais embora possam trazer em seus arcabouccedilos entes

individualizados devem ser dirimidas considerando-se os interesses difusos envolvidos

As consequumlecircncias dos embaraccedilos ou da denegaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo

seja ela puacuteblica seja privada a uma parcela significativa da populaccedilatildeo seratildeo amargadas

por todo o corpo social e eacute em funccedilatildeo deste corpo que deve se posicionar o

ordenamento juriacutedico paacutetrio desprezando tanto quanto possiacutevel a imposiccedilatildeo de

interesses empresa rias que ambicionam lucratividade a todo custo

Todo o quadro trazido agrave baila poderia ateacute mesmo sugerir a natildeo

permanecircncia da iniciativa privada no setor mas tal procedimento poderia resultar em

malefiacutecio para a sociedade Contudo permitir que seja associado o direito agrave educaccedilatildeo de

qualidade agrave capacidade de pagamento de uma escola particular tambeacutem eacute grave erro e

apenas contribui para que se vaacute erigindo uma sociedade calcada na aceitaccedilatildeo da

desigualdade e da indiferenccedila para com os semelhantes

Educar um paiacutes estaacute longe de ser um filatildeo de natureza essencialmente

lucrativa e mercantil que mereccedila apenas abordagem mercadoloacutegica como quer sugerir

o furor neoliberal Eacute tarefa para os abnegados Eacute altruiacutesmo social e merece a proteccedilatildeo

integral do Direito

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

MORAIS Joseacute Luis Bolzan de Do Direito Social aos Interesses

Transindividuais - O Estado e o Direito na Ordem Contemporacircnea Livraria do

Advogado Porto Alegre 1996

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SILVA Joseacute Afonso da Curso de Direito Constitucional Positivo 108

ediccedilatildeo Malheiros Satildeo Paulo 1995

SOARES Orlando Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa

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