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Manuelzão e Prefeitura apresentam propostas para os córregos da capital Páginas 8 e 9 Águas de BH Página 5 Novo destino para o lixo do município gera polêmica Páginas 11 Conheça um novo modelo para desenvolvimento social Página 4 Rio completa 500 anos e ganha projeto de revitalização Foto: Adão Souza Impasse em Nova Lima Commodities Ambientais Velho Chico

Revista Manuelzao 17

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Page 1: Revista Manuelzao 17

Manuelzão e Prefeitura apresentam propostas para os córregos da capital

Páginas 8 e 9

Águas de BH

Página 5

Novo destino para o lixo domunicípio gera polêmica

Páginas 11

Conheça um novo modelo paradesenvolvimento social

Página 4

Rio completa 500 anos e ganhaprojeto de revitalização

Foto

: Adã

o So

uza

Impasse em Nova Lima Commodities Ambientais Velho Chico

Page 2: Revista Manuelzao 17

ParceriasUFMG - Unicentro Newton Paiva - Copasa - Prefeitura de Belo Horizonte -Emater - Municipios da Bacia - Secretaria do Estado da Educação -Secretaria de Recursos Hídricos - Ministério do Meio Ambiente - Cemig.

Sede:Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas GeraisCaixa Postal 340 - Av. Alfredo Balena, 190 - 10° andar - sala10.012 - Santa Efigênia - CEP 30130-100 - Belo Horizonte - MinasGerais - BrasilTelefones: (31) 3248-9817 - 3248-9819 - Fax: (31) 3248-9818 E-mail: [email protected]: www.manuelzao.ufmg.br

CoordenadoresApolo Heringer Lisboa, Antônio Leite Alves, Marcus ViniciusPolignano, Antônio Thomáz da Mata Machado, Tarcísio Márcio de Magalhães Pinheiro (Professores da UFMG).

Coordenador Geral Professor Apolo Heringer Lisboa

Grupo TécnicoMaria Aparecida Santos e Santos - Carlos Rebêlo - Meire Vieira

Redação e EdiçãoElton Antunes (MTb 4415 DRT/MG), Marina Torres, Frederico Vieza, Tiago Miranda, Sílvia Araújo, Adriana Ferreira

Projeto Gráfico e DiagramaçãoProcópio de Castro

Marca do Projeto ManuelzãoCarla Coscareli / Apolo Heringer Lisboa

AdministraçãoNeiliane Marques - Ludmila Lana

FotosArquivo do Projeto Manuelzão, Copasa, Prefeiturade Belo Horizonte, Prefeitura de Nova Lima.

ImpressãoLastro

Tiragem50.000 exemplares

Envie sua contribuição para o Jornal Manuelzão.

É permitida a reprodução de mátérias e artigos, desde quecitados a fonte e o autor.

Os artigos assinados não exprimem, necessáriamente, aopinião dos editores do jornal e do Projeto Manuelzão.

RIO DAS

VELHAScaudalosoe sem tréguasdesce léguas e léguas

sem ourosem bateiasem lavadeira na areia.

se escondeu atrás da serra

trem achou.

Outro dia na Paciência,barco do século passadopôs carão para fora

prefeito pensou que fosse navio do ouro

assombrou a população

o Borba nem ligou.

Lá no toco,num perau profundo,urubu carancudoespera passar o morto.

O morto-vivo não pára de passar,só urubu carrancudo não vê.

Olegário Alfredo - 1980 - Sabará Sou poeta, escritor, contador de história,cordelista, mestre de capoeira e irmão danatureza.

CC aa rr tt aa ss

Oatentado ao World Trade Center nos Estados Unidos daAmérica do Norte, no qual morreram mais de 5.000 pes-soas, provocou um sentimento globalizado de pesar, e ao

mesmo tempo um sentimento de fragilidade e de impotência de todoo sistema criado pelo homem.

Mais do que em qualquer outro momento da história dahumanidade, nos sentimos participantes dos acontecimentos. Hojea realidade é transmitida em tempo real para todo planeta.Assistimos pela TV ao vivo e a cores à colisão de aviõescontra o prédio, diretamente de Nova York, como se jáconstasse da programação normal da emissora, que jádispunha no local de uma equipe de transmissão.

Não resta a menor dúvida de que a humanidade, hoje,está definitivamente globalizada. O que atinge umaparte do planeta nos afeta diretamente, fazparte do nosso cotidiano, dos nossosnoticiários, e da nossa reflexãosobre o mundo e o seu futuro.Por isso mesmo devemosparar para refletir. A globa-lização não pode sersomente da economia,nem ser unidirecionada,criando uma ordem eco-nômica mundial extre-mamente injusta e per-versa para todos.

É preciso avançar naconcepção da globaliza-ção. É preciso globalizar adiscussão sobre a miséria e afome que afeta a milhões depessoas no planeta, sobre asdoenças preveníveis ou tratáveisque matam milhões de pessoas por faltade acesso aos cuidados primários de saúde,às condições básicas de moradia e saneamento,ou pela incapacidade em adquirir medicamentos patenteadosextremamente caros. Morrem milhares de pessoas diariamente, silen-ciosamente, mas tão dolorosamente quanto as que morreram no WorldTrade Center.

Temos que globalizar e avançar na discussão do futuro do plane-ta, que já apresenta sérios e graves sinais de exaustão tanto do pontode vista ecológico quanto do ponto de vista social. O futuro do plane-ta está definitivamente ameaçado.

Temos que entender que a Terra é a nossa única e grande casa, queabriga a todos. É fundamental compreender que assim

como existe a biodiversidade, existe a diversidadehumana, dos pensamentos e valores sociais e culturais,

que têm que ser preservados e respeitados. Se enten-dermos que somos moradores de único e grandeplaneta, passaremos a respeitar e dividir de uma

forma mais justa e harmônica a sua riqueza.E só existe um caminho para que possamos

cons-truir um novo paradigma sólido para nossomundo que é o de solidariedade humana, através

de um projeto de desenvolvimento susten-tável que preserve o meio ambiente, a

qualidade de vida , a cidadania e adignidade do ser humano.

Tudo isso demonstra oquanto foi acertada a con-cepção do Projeto Manuel-zão ao definir a bacia hidro-gráfica como um eixo terri-torial para a sua atuação, poisa bacia transmite claramenteesta visão de solidariedade,de que fazemos parte de umúnico e complexo ecossis-

tema, e de que o que afeta umponto deste ecossistema pode

afetar a todos.Portanto, o Projeto Manuelzão

está contribuindo para a construçãodeste novo paradigma de concepção do

mundo. Precisamos pensar de uma forma holís-tica, integradora, solidária, e entender que o nosso

futuro será melhor se conseguirmos um processo cada vezmaior de inclusão social, respeitando a diversidade humana e a bio-diversidade terrestre.

Esperamos não ter que lamentar quanto ao futuro da humanidade.

E d i t o r i a l

Distribuição gratuita

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O p i n i ã oManuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

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Da Serra do Curral , consideradapelo Poeta Carlos Drummond deAndrade como Triste Horizonte,

tomamos a estrada para Lagoa Santa. São só40 Km e, se seguirmos em frente, chegamosà Serra do Cipó, outro santuário ecológicocom suas riquezas naturais.

O que nos leva à Lagoa Santa? Tudo. Seuclima mais ameno, sua natureza exuberante eespecialmente a Lagoa, por suas águas con-sideradas até o começo do século como san-tas pelas suas propriedades curativas. Junte-se a isso a história do Dr. Lund, que durante40 anos morou no município, fazendo umtrabalho de arqueologia e paleontologia,reconhecido internacionalmente.

A Lagoa vem sofrendo um processo deassoreamento semelhante ao da Pampulha,que pode ser controlado. Mas o nosso maiorproblema é a expansão das atividades mi-nerárias da SOEICOM, que em 1972 seinstalou em Lagoa Santa sem nenhumaanálise prévia do seu impacto ambiental, eparticularmente da própria vocação daregião.

Hoje, 30 anos depois, pretende a mine-radora ampliar suas atividades, tendo

adquirido ao lado da primeira, nova área paraexpansão de suas jazidas. No mínimocurioso, é tê-lo feito antes de ter conseguidoa licença prévia para poder iniciar suas ativi-dades.

Como resultado, já herdamos a primeiracratera e a perda definitiva de uma gruta – aLapa Vermelha – que fez parte do conjuntode grutas descobertas pelo Dr. Lund, comregistros que vão das pinturas rupestres aoHomem de Lagoa Santa.

A Lapa Vermelha não tem nenhuma pers-pectiva de recuperação, pela própria estrutu-ra geológica existente. Este passivo acumu-lou-se de tal maneira, que a atividade da mi-neradora foi suspensa por sentença judicial,proposta pela Promotoria Pública, posterior-mente refeita por liminar, cujo processo seencontra em andamento e deverá ser julgadoem dezembro.

Recentemente, em seminário promovidopelo Projeto Manuelzão em Ouro Preto, apósa palestra da autora desta ação, a promotoraJoseli Campos, e na sua ausência, um geólo-go presente, Senhor Bertachini, a criticouconsiderando a sua atitude precipitada, esten-dendo sua crítica ao professor Pratini de

Moraes. Questionei-o imediatamente e, parasurpresa geral, ele não conhece Lagoa Santae a mineradora.

Esclareça-se que esta ação foi lastreadaem relatório da FEAM , e em laudo pericialde outros profissionais, entre eles, o próprioprofessor Pratini. É lamentável, face ao pas-sado dessas mineradoras (cito a SOEICOM ea MBR), que se façam críticas, a meu ver,sem conhecimento de causa a pessoas pre-ocupadas com nossas comunidades e com avocação turística e habitacional da região.

Evidencia-se também, a cada dia, afalência dos órgãos fiscalizadores, no nívelfederal, estadual e municipal. A falta de umapolítica minerária e ambiental faz com que, oque deveria ser feito pelo governo fosseassumido pelas ONGs e pela PromotoriaPública. No caso da SOEICOM, foinecessária a interferência da Comissão deMeio Ambiente da Assembléia Legislativa deMinas Gerais, que conseguiu sustar a licençapretendida, exigindo-se novos estudos, paraaferir o que poderá acontecer com o lençolfreático da região, prejudicando a própriaLagoa Santa.

Afinal, o que querem o Projeto

Manuelzão e as ONGs? É a participaçãoexigida pela sociedade, o que não vem ocor-rendo. Vimos acompanhando historicamentea devastação das nossas reservas naturais,comprometendo os nossos aqüíferos, já quehoje se fala em evitar a morte de rios,incluindo o próprio rio São Francisco.

Minas não é mineração. É Minas,Minérios e Mineiros. Precisamos reafirmar onosso domínio sobre as nossas riquezas mi-nerais. Evidentemente não somos contra asatividades minerárias. Temos que exigir,claramente, uma política, traçada com a par-ticipação efetiva da sociedade e dentro de umcontrole rígido dos órgãos ambientais.

Na antigüidade clássica, Platão concebiaque as águas dos rios e surgências eramprovenientes de uma rede de condutos inter-conectados, que terminava em uma grandecaverna subterrânea, o Tártaro. Aristóteles,por sua vez, acreditava que a água subter-rânea era proveniente da condensação poresfriamento do ar e dessa forma os rios maiscaudalosos nasciam nas montanhas maisaltas. Devido à importância destes filósofos,o ciclo hidrológico somente foi conhecidodurante o renascimento, no século XVII.

Lamentavelmente ainda existe um con-ceito mágico ou místico sobre as águas sub-terrâneas, no qual os lençóis e rios subterrâ-neos habitam o imaginário do homemcomum. Outro dia, ouvi na CBN, um gover-

nador afirmando que “a vazão do rio SãoFrancisco está baixa porque este ano nãochoveu na Serra da Canastra”, como se oresto da bacia não existisse. O pior ainda équando a autoridade maior fica surpresa pelaexistência do fenômeno cíclico da seca.

Estas coisas acontecem por nossa culpa,quando deixamos pessoas que ostentam títu-los de doutor omitirem na mídia os preceitosbásicos da hidrogeologia, deseducando apopulação, sabe-se lá porque. ManuelRamón Llamas no clássico HidrologíaSubterrânea (Ediciones Omega, 1976, pág.252) comenta a frase de Roger Bacon (1214-1292) “Sine experientia nihil sufficientersciri potest” (sem experimentos nada podeser conhecido de modo suficiente) daseguinte forma: “... merecia todavía hoy serrepetida con frecuencia a todos los que sededican a la investigación hidrogeológica.”

Por essas e outras, torna-se pertinentecomentar o ocorrido em Lagoa Santa, quan-do foi fechada uma mina de calcário com

base em um parecer da promotoria pública,de que a mina secaria a lagoa principal dacidade. A meu ver, tal parecer não era provi-do de fundamentos técnicos, pois em umasemana a mina foi reaberta.

“... o geólogo e consultor da Prefeitura deLagoa Santa João Alberto Pratini de Moraesexplicou que, ao aprofundar a mineração, olençol freático, se atingido, poderá prejudicaros recursos hídricos, inclusive a LagoaCentral, porque não há dados suficientes...”(Informativo do Projeto Manuelzão, n°15,06/01, pág 5). O Serviço Geológico doBrasil, a CPRM, tem na região o ProjetoVida, um belíssimo trabalho de hidrogeolo-gia cárstica, entre muitos outros.

No Simpósio da International MineWater Association, este ano em BeloHorizonte, esteve presente o Dr. OnofrioSammarco, que trabalha na Itália adaptandominas exauridas para produção e armazena-mento de água potáve1.

Visitei diversas minas na Europa, nas

quais as águas do desaguamento sãoaproveitadas pela sociedade. Tenhopredileção pela Mina de Ferro de Alquife,próxima a Granada, na Espanha, região com300 mm/ano de precipitação. A mina fechouporque não consegue concorrer com ominério do Brasil e Austrália, mas os poçosde rebaixamento continuam operando,abastecendo uma cidade, três vilas e diversosirrigantes. Por que nos não podemos fazerigual? Por que não se propõe o aproveita-mento da água? Será que somos um país ricoe sem miséria? Ou porque as nossas elitescontinuam cruéis como sempre, igual aotempo das senzalas.

O misticismo, a água e a mineração

*Antônio Carlos Bertachini é geólogo, sócioda empresa MDGEO Serviços de

Hidrogeologia Ltda., especializada em hidro-geologia aplicada à mineração

(www.mdgeo.com.br).

*Antônio Carlos Bertachini

*Eng.º Gil César Moreira de Abreu.Coord. Lagoa Santa - Projeto Manuelzão.

Ex. Secretário de Minas e Energia.

Minas, minérios e mineiros*Gil César Moreira de Abreu

(1) Recebi recentemente uma série de artigos do Prof.

Onófrio que coloco a disposição dos interessados.

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Manuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

Quatro de outubro de 1501, dia de SãoFrancisco. Américo Vespúcio navega sobre afoz do rio da Unidade Nacional; suas águas,cheias de força, enchem o Oceano Atlântico esão batizadas pelo descobridor.

Quatro de outubro de 2001, a história inver-sa: o Atlântico avança sobre o rio São Francisco,inunda com a maré vilarejos de sua foz e trazpara dentro do continente águas salgadas.Depois de 500 anos, o rio agoniza porque estáfraco, assoreado, as águas lentas. Ao perder a“queda-de-braço” com o mar, o rio prova nãosuportar mais tanto desmatamento, poluição eesgoto, e pede socorro.

Projeto de RevitalizaçãoO governo federal acordou e viu que o São

Francisco, como está, não pode ficar. Tambémpudera: segundo o ONS (Operador Nacional doSistema Elétrico), o reservatório de Sobradinho,que acumula as águas do Chico e é o maior na

geração de energia hidrelétrica do Nordeste,operava, no fim de outubro, com 6,29% de suacapacidade. Isso é quase o mínimo permitido. Acausa do baixo nível das águas não está só naseca, mas também na degradação.

Por essas e outras, o governo federal institu-iu, neste segundo semestre, o Projeto deConservação e Revitalização da BaciaHidrográfica do Rio São Francisco. A esperançaé de se atingir águas mais limpas e maior quali-dade de vida em 20 anos para o “Velho Chico”.Desenvolvendo ações junto aos poderes estadu-ais e municipais da bacia, distribuindo recursosque incentivem a fiscalização e efetivação deações de caráter preservacionista, o projeto játem Comitê Gestor. Esse possui representantesdos governos de todos os seis estados banhadospelo rio (BA, PE, MG, SE, GO, AL) e DistritoFederal. Ele fica responsável por definir e dis-tribuir as verbas.

Em 11 de outubro, o presidente FernandoHenrique assinou os seis primeiros convêniosdo Projeto de Conservação e Revitalização daBacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Os

convênios devem destinar este ano R$ 84 mi-lhões às obras de esgotamento sanitário,abastecimento de água, reflorestamento, recu-peração de áreas degradadas, despoluição, den-tre outras. Há previsão de dois projetos paracada estado. O Orçamento da União de 2002 jáprevê investimentos.

Tarefa dos MineirosMinas Gerais é o estado que detém a maior

parcela dos recursos, cerca de 30% da verbatotal, distribuídos entre ações do governo e deOrganizações não-Governamentais (ONGs),como é o caso do Projeto Manuelzão. SegundoLuciana Felício, Superintendente de ApoioTécnico da Secretaria Estadual do MeioAmbiente e representante mineira no ComitêGestor, há destinação de recursos para zonea-mentos das Áreas de Proteção Ambiental Sul eda Cachoeira das Andorinhas, ambas na baciado Velhas, e revela: “a prioridade é contemplarprojetos executivos, ou seja, aqueles que ten-ham propostas práticas na conservação e revi-talização do rio, e que já estejam licenciados. O

que descobrimos é que temos muito poucos e amaioria desses em Minas Gerais” .

Luciana lembra que o papel de Minas natomada de decisão do governo pela revitaliza-ção foi crucial. Até o primeiro semestre desteano, o governo federal insistia no Projeto deTransposição das águas do São Francisco para osemi-árido nordestino. Apresentado em 2000,esse projeto carece de uma série de estudos,como, por exemplo, os de impactos ambientais.Como transpor águas assoreadas e degradadas?Essa era a pergunta dos mineiros. “A pressão dasociedade civil pela revitalização foi muitoimportante na concretização das ações do go-verno que hoje se vê; é preciso esclarecer o ci-dadão de que ele é a ‘peça-chave’ nessa tarefa”.

Lista dos Beneficiados·Ibama: R$ 18.426.826,00 - para fiscalização, preservação e combate a ações ofensivas ao meio ambiente, na áreada bacia;·Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf): R$ 12.173.000,00 -conservação dossolos, recomposição da ictiofauna (fauna dos peixes), reflorestamento e recomposição das matas ciliares e elabo-ração de estudos para regularização de sub-bacias;·Ministério Público de MG: R$ 1.428.000,00 - pela estruturação de Coordenadorias de Meio Ambiente em sub-bacias, instalando equipamentos, capacitando pessoal e investindo em educação ambiental;·Município de Pirapora (MG): R$ 2.365.057,00 - para implantação de esgotamento sanitário no município;·Projeto Manuelzão (UFMG): R$ 325.000,00 - no incentivo às ações no âmbito da sub-bacia do Velhas;·Agência Nacional das Águas (ANA): R$ 6.800.000,00 - pela ampliação dos limites da ANA para recuperação denascentes e mananciais, além de R$ 2.500.000,00 para conservação dos solos e revitalização da bacia.

Manuelzão cuida do Chico Agraciado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais com a Medalha de 500 anos do Rio São Francisco,

o Projeto Manuelzão foi, em quatro de outubro, a São Roque de Minas, onde nasce o São Francisco, para recebero prêmio que também contemplou pessoas físicas e jurídicas que contribuem pela causa do "Velho Chico". É oreconhecimento público de que nosso Projeto tem atuado firme na luta pela volta dos peixes ao Velhas, maior aflu-ente do São Francisco.

Os recursos do convênio firmado com o Ministério do Meio Ambiente serão aplicados em contratação depessoal e equipamentos, inclusive para geo-processamento, o que consiste em mapear e detalhar territórios deacordo com informações e fotografias. Especial atenção será dada às atividades do Projeto na bacia do Velhas, queprecisam ser bem conhecidas. "O Projeto Manuelzão vai avançar; investiremos em capacitação de pessoas parafortalecimento dos comitês e subprojetos. É necessário um corpo técnico que cumpra a demanda das ações quedesejamos executar", afirma Apolo Lisboa, coordenador do Manuelzão. Além disso, a compra de um novo carro deve

facilitar as inúmeras viagens que o Projeto faz pela bacia.

500 anos, de quê?Depois da degradação, novos projetos são a esperança do “Velho Chico”

Frederico ViezaEstudante do Unicentro Newton Paiva

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M e i o A m b i e n t e

Proteger, preservar e revitalizar o meioambiente. Este é o objetivo do Pronascentes, umprograma desenvolvido pelo Unicentro NewtonPaiva em parceria com a Empresa deAssistência Técnica e Extensão Rural do Estadode Minas Gerais (EMATER-MG) em Pimenta.

O Pronascentes será implantado na regiãode Furnas, no município de Pimenta. Aprincipalpreocupação são as nascentes da região queestão sendo ameaçadas. Para tentar aumentar aquantidade e qualidade da água serão colocadasplantas nativas nas margens dos córregos, nasencostas e em volta das nascentes. Será criadotambém um viveiro com mais de 1500 mudas

de árvores. Essas mudasserão plantadas peloGrupo de EscoteirosMirins de Pimenta ealunos de várias escolas dacidade.

Um técnico da Ematerestá acompanhando o pro-jeto de perto, dando todaassistência e orientaçãonecessárias. As atividadeslocais também não foramesquecidas. A agropecuária, o turismo, a edu-cação e exploração energética vão ser concili-adas ao trabalho desenvolvido pelo Pro-

nascentes.O programa ainda

contará com a ajuda docurso de Geografia eMeio Ambiente doUnicentro Newton Pai-va. Os alunos, com aorientação de profes-sores e coordenadores,realizarão pesquisas,cadastrando nascentese córregos. Junto com

escolas e a comunidade local vão promover aparticipação de todos nas atividades do projeto:palestras, gincanas, distribuição de materiais

didáticos e mutirões.Os alunos dos outros cursos da instituição

também vão poder ajudar nos eventos promovi-dos. O objetivo é desenvolver um trabalho in-terdisciplinar, envolvendo todo o corpoacadêmico.

O Pronascentes é um projeto piloto que,com a ajuda da Prefeitura Municipal dePimenta,Câmara Municipal, Rotary Club,EMATER, SAAE e o Grupo de EscoteirosMirins de Pimenta, pretende servir de exemplopara as outras regiões e alertar os órgãos gover-namentais para a importância da preservação,não só da Bacia de Furnas, mas de tantas outrasque precisam de ajuda.

Adriana FerreiraEstudante do Unicentro Newton Paiva

Nascentes de Furnas protegidas pelo Unicentro Newton Paiva

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Indo de Nova Lima para Raposos, apoucos mais de dois quilômetros docentro da cidade, os viajantes se

deparam com uma nova montanha na Serrado Curral. Diferentemente daquelas queestão sumindo pelas ações mineradoras, estaoutra só cresceu nos últimos anos. Poucomais de 30 anos de lixo, de um municípiocom 64 mil habitantes, jogados entre arodovia MG 030 e o rio das Velhas. Oenorme amontoado de dejetos recebe tam-bém lixo de Raposos e Rio Acima.

Agora a prefeitura de Nova Lima se viuobrigada a mudar esta realidade, devido a umtermo de ajustamento de conduta feito pelapromotoria de defesa do cidadão. O termo foiassinado em 14 de fevereiro deste ano, devi-do aos males causados pelo lixão do Galo aoVelhas e à saúde dos habitantes da região,que diariamente respiram gases vindos dasqueimadas no local. A promotoria impôs àsecretaria de meio ambiente de Nova Limavários prazos para que medidas, fossemcumpridas. Dentre essas medidas está adesativação do atual lixão e a construção deum aterro sanitário.

Segundo Tárcio de Souza Tibo, secretáriodo meio ambiente de Nova Lima, estão sendotomadas medidas emergenciais para o

fechamento do lixão. Caminhões jogam terrapor sobre a montanha de lixo, que será depoisrevegetada com esteiras, um tipo de gramaque se fixa mais rápido ao solo. Ao mesmotempo, os catadores de papel que ficam aindana área estão sendo "orientados" a saírem dolocal. O projeto seguinte, ainda segundoTárcio, seria a acomodação dos maciços derejeitos, nivelando o lixo. Mas isto está pre-visto só para o ano que vem. Enquanto isso,o chorume, líquido altamente poluente, con-tinua escorrendo, com as primeiras chuvas deverão, para dentro do Velhas. "A maneiracomo o administrativo público está guiando olixão pede um paliativo. Não resolveu umproblema e criou outro", diz Renê MendesVilela, conselheiro do Conselho Estadual dePolítica Ambiental (Copam).

AterroO outro problema é a criação do aterro

sanitário. São necessárias para a construçãode qualquer obra com risco de impacto ambi-ental três licenças da Fundação Estadual doMeio Ambiente (FEAM). A primeira é alicença prévia, que autoriza a implantação daobra no local e da maneira proposta pelaprefeitura. Depois dela, até o funcionamentodo aterro, seguem-se outras duas licenças: ade instalação e a de operação. O projeto doaterro inclui a criação de estações de trata-mento de chorume, para que o líquido possa

se tornar inofensivo aomeio ambiente. As obras jáestão adiantadas. Estásendo feita agora a imper-meabilização do solo. "Sãoos últimos passos para ofuncionamento do aterro",diz Tárcio. "Todo o projetoestá sendo licenciado pelaFEAM", afirma. Porém, deacordo com Ludmila AlvesRodrigues, gerente da sub-divisão de saneamento daFEAM, a licença préviapara a construção do aterro em Nova Limaainda está em análise. Nenhuma das trêslicenças foi expedida. Para Marcelo Barbosada Silva, membro do MEL (MovimentoEcológico Livre), "é preciso fazer as coisasdentro das leis ambientais vigentes".

Perícia"Informamos que na área licenciada não

existe A.P.P. (Área de Preservação Per-manente), ou seja, não existem nascentes (amenos de 50 metros), cursos d'água, matasem topo de montanha e áreas de decliveacentuado conforme preceitua o CódigoFlorestal". Assim está escrito em uma cartada Secretaria Municipal de Meio Ambiente,autorizando o início das obras do aterro sani-tário. Esta carta está incluída no laudo feito

pela perito Adriane Andrade de Castro, dosetor de crimes contra o meio ambiente, doInstituto de Criminalística.

Nos dias 11 e 15 de junho deste ano, foifeita uma perícia no local das obras do ater-ro. Nela, constatou-se que a área destinadaà construção abriga algumas nascentes eque parte delas foram aterradas durante oinício das obras. Segundo o laudo, a área éimprópria para este tipo de construção."Todo esse imbróglio jurídico na verdade éum indicador que as coisas vão muito mal,porque quando as coisas são bem resolvi-das, não tem imbróglio assim não", dizRenê Vilela. Resta saber quais as medidasserão tomadas pela prefeitura para que aquestão do lixo não gere mais agressões aomeio ambiente.

Rio Acima enfrenta seus problemas ambientais

Tiago MirandaEstudante de Comunicação da UFMG

O lixão está sendo desativado e os catadores retirados

Destino belorizontinos nos fins de sem-ana, Rio Acima é famosa pelas belascachoeiras. Mas também está ficando famosapelo descaso com que muitos turistas e si-tiantes tratam a natureza. São poucas asquedas d'água que ainda estão limpas. Acidade, com cerca de dez mil habitantes, temvários córregos importantes para abastecer aEstação de Captação de Água da Copasa emBela Fama, distrito de Nova Lima.

Os principais problemas ambientais dacidade, além do turismo predatório, são olixo e o esgoto. "Falta consciência das pes-soas que sujam a água por bobeira, soltamlixo em qualquer lugar", conta Adenízia daRocha, moradora local. Atualmente, o lixovai para o lixão do Galo em Nova Lima. AsMinerações Brasileiras Reunidas (MBR)cederam para a prefeitura um galpão em queo material reciclável possa ser separado. Láele será prensado e medido para que seja ven-dido para usinas de reciclagem. A propostado município é destinar para o aterro san-itário, que está sendo construído em NovaLima, apenas o lixo orgânico, que não pode

ser reciclado. Assim, ao invés de três cami-nhões de lixo por dia, a prefeitura só man-daria um para o aterro.

Outra questão que preocupa em Rio

Acima é o esgoto. "A realidade é que omunicípio lança o esgoto 'in natura' no cór-rego do Mingu", diz Carlos Antônio Pereira,secretário de meio ambiente de Rio Acima.Existe um projeto para a instalação de umaEstação de Tratamento de Esgoto (ETE),elaborado gratuitamente há dois anos peloProjeto Manuelzão através do engenheiroCarlos Rebêlo. À época, o custo da estaçãoseria de 98 mil reais. A Copasa prometeufornecer os tubos de PVC para os esgotosmas, até o momento, faltou decisão políticapara viabilizar a parceria no município.Agora, será feito como experiência o trata-mento do esgoto que atualmente cai no cór-rego do Braúna, no bairro Vila Duarte, maisafastado do centro de Rio Acima. A partir dosresultados obtidos nessa etapa, a prefeiturabuscará mais recursos para uma rede de esgo-to em todo município.

Canto das ÁguasDistante dois quilômetros do centro da

cidade, o condomínio fechado Canto dasÁguas mostra preocupação com o meio

ambiente. Em julho do ano passado, foi insta-lado um sistema de coleta seletiva, idealiza-do por Danielle Delavia Thomasi, géografa eatual assistente administrativa do con-domínio. A implementação da coleta tevedificuldades no começo, pois "a gestão ante-rior achava que seria um trabalho a mais paraos moradores e eles não aceitariam separar olixo", fala Danielle. Com uma campanha demobilização e várias palestras, os moradorescomeçaram a entender a necessidade da cole-ta. Foi criado um bosque no condomínio comárvores e arbustos nativos. Cada uma dasplantas foi um presente de um morador paraalguma pessoa em especial. A coleta do es-goto do condomínio Canto das Águas é feitapor fossas em cada uma das residências. Ocondomínio também possui uma Estação deTratamento de Água (ETA) para suprir suasnecessidades e uma área de compostagempara folhas secas e podas. O material reci-clável produzido no Canto das Águas, que iapara uma companhia de Itabirito, poderá serdepositado agora no galpão em Rio Acima ebeneficiar o município.

Falta de conscientização suja a beleza de Rio Acima

Nova Lima, meio ambiente e lixo

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M e i o A m b i e n t eManuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

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Moradores de Nova União se mobilizam para salvar cachoeira local

Tendo a Serra do Cabral como moldura, acidade de Joaquim Felício, a 310 Km de BeloHorizonte, desfruta de beleza natural ímpar.Cachoeiras, grutas, veredas são algumas dasriquezas do município, localizado no baixoVelhas. E para preservar o patrimônioecológico e promover o desenvolvimento,várias ações estão sendo desenvolvidas juntoà comunidade local.

SaúdeOs profissionais da área de assistência à

saúde trabalham, desde janeiro, de acordocom os princípios do Programa de Saúde daFamília- PSF. Em abril, o PSF foi oficial-mente implantado no município. A equipe,que conta com uma médica, um enfermeiro,um auxiliar de enfermagem e 15 agentescomunitários de saúde, atende toda a zonaurbana e rural de Joaquim Felício. Dos 3.854habitantes, 3.795 já estão cadastrados noPSF. De acordo com a médica RenataBernardes, através de visitas domiciliares, apopulação recebe orientações sobre questõessanitárias, para evitar doenças. Os agentesestão mobilizando a comunidade pelalimpeza de córregos e a preservação de suasmargens.

Em junho, através de convênio entre omunicípio e a UFMG, teve início o programade Internato em Saúde Coletiva em JoaquimFelício. Dois estudantes de medicina e doisde enfermagem reforçam o trabalho pelasaúde da comunidade.

CidadaniaMembros da comunidade e profissionais

da assistência à saúde estão divulgando nasescolas o Projeto Manuelzão, que foi home-nageado pelos estudantes com faixas duranteo desfile de Sete de Setembro. No dia 13 denovembro, foi criado o comitê local em se-minário que reuniu a comunidade.

A prefeitura, em parceria com as duasescolas públicas da cidade, lançou o projetoCidade Limpa, com o objetivo de mobilizar apopulação sobre a importância da preser-vação do meio ambiente. Foram instaladas250 lixeiras e adquiridas carroças, usadas nacoleta do lixo, que agora é feita de formaseletiva. Parte do material coletado éaproveitado pelo Projeto Curumim, que éconveniado com o governo do estado, eatende 120 crianças com reforço escolar evárias atividades esportivas e artísticas, den-tre elas, artesanato com material reciclável.Está sendo construído um sistema de triageme compostagem que funcionará em parceriacom Buenópolis, de acordo com projeto do

engenheiro Carlos Rebêlo, consultor doProjeto Manuelzão.

Meio AmbienteA Empresa de Assistência Técnica e

Extensão Rural do Estado de Minas Gerais–Emater/MG também colabora para o desen-volvimento sustentável de Joaquim Felício.O extensionista Flávio Tadeu Camargos hátrês anos desenvolve ações, buscando oaumento de produção agropecuária e adiminuição de impactos ambientais causadospor essas atividades. Através do programa“Dia de Campo”, os produtores da região játiveram oportunidade de aprender técnicassobre cultura do milho, conservação do solo

e custo de produção.Para que as belas paisagens de Joaquim

Felício possam gerar recursos para o municí-pio, de forma sustentável, a prefeitura estáinvestindo no desenvolvimento do eco-turismo. O prefeito Helmar Oliveira pre-side atualmente o Circuito da Serra doCabral e Cachoeiras, formado por oitocidades com o objetivo de promover oturismo ecológico na região. Será criadoo Balcão Sebrae para dar suporte aoscomerciantes de Joaquim Felício, queterá um mapeamento detalhado de seuspontos turísticos.

Com tantas iniciativas a qualidade devida dos felicianos só tem a ganhar.

Exemplo de desenvolvimento ecológicos

“Tem uma cachoeira que ohomem tirou as árvores. Eratão bonita e agora ficou feia”,

diz Vanessa dos Santos , 11 anos, estudanteda zona rural de Nova União. Vanessa falada Cachoeira Alta, do distrito de Altamira deCima, destruída para dar lugar a uma plan-tação de café.

Nova União, município de pouco mais de5 mil habitantes, fica próxima ao início daSerra do Cipó. Cachoeira Alta, uma das belaspaisagens do lugar, só existe hoje nos relatose fotos dos moradores ou de quem visitou olocal há mais de dois anos.

Em março de 2000, a propriedade ondeela ficava foi comprada por um empresáriode Belo Horizonte. Otaviano Timóteo, poucotempo depois de adquirir o terreno, cortouparte das árvores da área em torno dacachoeira e plantou café no lugar. Eleinstalou ainda um sistema de irrigação que

acabou com a queda d’água. Otaviano dizque comprou o terreno apenas para o seulazer pessoal. Ele explica as plantações comouma forma de dar emprego a moradores daregião e nega que tenha desmatado.

O empresário diz que começou a retirarágua de cima da cachoeira assim que pre-cisou de irrigação. Ele afirma, no entanto,que a explicação para o desaparecimento daqueda d’água é a seca prolongada deste ano.“Quando voltar a chover, a água vai cairnovamente” garante.

Otaviano acredita que a aquisição da pro-priedade lhe dá o direito de utilizá-la comoquiser. “Se eu contribui para tirar umacachoeira, eu estou tirando dentro da minhapropriedade, não tenho que dar satisfaçãopara ninguém” declara ele.

Segundo a lei nº 9433 da PolíticaNacional de Recursos Hídricos de 1997, aágua é um bem público de domínio da Uniãoou do estado dependendo da extensão domanancial. Quem possui um terreno em que

passa um curso d’água ou mesmo com umanascente não tem o direito de utilizar esserecurso como quiser. Existem limites e auto-rizações necessárias para a correta utilizaçãoda água. No caso de uma Área de ProteçãoAmbiental (APA) o controle para se con-seguir no Instituto Mineiro de Gestão dasÁguas a outorga, direito de utilização daágua, é ainda mais rígido.

Em outubro de 2000, foi organizada umapasseata pela Cachoeira Alta. Padre Alberto,pároco de Nova União, conseguiu reunir 400pessoas em uma caminhada de aproximada-mente 12 quilômetros até o local. Depois deuma semana, os manifestantes voltaram àcachoeira para uma missa campal pelo fimda degradação.

Após o protesto, o Padre, junto com oCodema, Conselho Municipal de MeioAmbiente, entraram com um processo nofórum de Caeté, cidade vizinha. A denúnciade irrigação e desmatamento em Área deProteção Ambiental (APA) foi entregue ao

juiz. Na sentença, que saiu em setembrodeste ano, Otaviano foi obrigado a contratarum engenheiro para fazer um plano de reflo-restamento. “Vou ter de reflorestar a área quefoi desmatada há 30 anos” reclama. Oempresário alega ainda que existem fotos noprocesso que não são de seu terreno.

A demora de um ano entre os protestos ea punição do acusado desanimou os mora-dores. Muitas pessoas em todo município deNova União comentavam o caso com a ex-pressão “vai acabar em pizza”. Eles temiamque a demora livrasse o empresário de inves-tigação e levasse o caso ao esquecimento.

No Brasil as lutas ambientais ainda sãodifíceis e lentas. No caso da Cachoeira Alta,o proprietário já está pagando para recuperara área devastada. As soluções para o estragono local só estão sendo tomadas agora, porcausa da mobilização dos moradores. Se apopulação não tivesse agido, nada seria feitoe nos anos seguintes todos iriam apenas as-sistir ao fim de uma bela paisagem natural.

Vai acabar em reflorestamentoSílvia Araújo

Estudante de Comunicação da UFMG

Marina TorresEstudante de Comunicação da UFMG

Cachoeira doBoqueirão: recanto de lazerem plena áreaurbana.

Nova União

Joaquim Felício

6 Manuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

N o s s a T e r r a

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N o s s a T e r r aManuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

“Acor roxa na bandeira deRaposos representa a viuvez domunicípio”, afirma Eustáquio

Profeta, ex-presidente do Conselho deDesenvolvimento Ambiental (Codema) deRaposos, a 35 km de Belo Horizonte, no altorio das Velhas. A mine-ração Morro Velhoexplora a região há mais de 150 anos, e asmortes de seus mineiros deixaram viúvas nacidade. Hoje o município também sofre de“orfandade”, pois suas atividades deextração mineral estão reduzidas, o quecausa um rombo na economia. Sem miner-adora, sem dinheiro. Essa é a ló-gica infelizde muitos municípios mineiros. E o Codema,um dos defensores contra abusos minerários,está suspenso há mais de dez meses. OSecretário Municipal do Meio AmbienteDésio Cafiero, informa que ele voltará aatuar após sua reestruturação, para maiorparticipação popular.

Acertando o passoRaposos ainda tem muita coisa a resolver

e não pode ficar órfã. A primeira delas é aestória do parque aquático do ribeirão daPrata. A mineração Morro Velho acertou como município em 1999 compensação ambien-tal para extrair na lavra de Santa Cruz. Issofaz parte do procedimento legal de qualquermineradora que, para explorar, precisareverter benefícios à região. Na ocasião,segundo Eustáquio, a aprovação da lavra foidada pelo Conselho de Política Ambiental(Copam) sem o conhecimento da comunida-de. “Nós fomos lá e paramos as máquinas daMorro Velho, mas a Florestal veio e nosmostrou os papéis”, narra o morador ao selembrar das dificuldades enfrentadas pelo Co-dema na administração municipal anterior.

No acordo firmado pela FundaçãoEstadual do Meio Ambiente (Feam), a MorroVelho doa um hotel de sua propriedade àprefeitura que deve transformar-se em postode saúde, e área para instalação do balneário,dentre outros. Segundo a assessoria decomunicação da mineradora, o parque esbar-ra hoje num problema: realocação das cincofamílias que vivem no terreno, comodatáriasda mineradora. Cabe à Morro Velho executaros projetos de engenharia e arquitetônico e,segundo a empresa, é tarefa da prefeituraretirar os moradores do local e oferecernovas residências. O prefeito Alair Rochanega, ao justificar que há um mês assistentessociais da prefeitura e da empresa avaliarama situação das famílias e confirmaram ser

incompatível a retirada dos comodatários dolocal. “Vamos agendar uma reunião com aMorro Velho, pois nossas finanças sãopequenas”, promete Alair.

Para Eustáquio, o parque pode ser cons-truído aproveitando-se seus moradores,como na Serra do Cipó. Eles poderiam serempregados pelas atividades turísticas dobalneário. “Isso era para estar resolvido emagosto”, ressalta.

Esgoto e Lixo“A prefeitura ainda está articulando com

a Copasa a retirada do esgoto que hoje cai“in natura” no ribeirão da Prata. O municípiotem convênio com a empresa há dois anos,mas não há projetos efetivos”, confessa avice-prefeita, Nancy Souto. Enquanto isso, acontaminação por doenças à beira dos córre-gos se prolifera, bem como a ocupação de-sordenada. Há áreas em que os moradoresconstruíram lajes sobre o córrego, paraaumentar os quintais e garagens. O Velhas,que corta a cidade, também recebe efluentesclandestinos.

O escritório regional da Copasa disse queo Plano Diretor da empresa prevê instalaçãode cinco ETEs na região metropolitana deBelo Horizonte, a qual inclui Raposos. Mas,ao que parece, o processo ainda vai demorar.

A travessia do lixo de Raposos ao lixão doGalo, em Nova Lima, é outra preocupação.Como o transporte é feito em carrocerias aber-tas, o lixo cai ao longo da estrada, causandorisco de acidentes e ao meio ambiente.Guilbert Prado, morador há 31 anos, diz que amaioria da população não se inteira das pro-blemáticas trazidas pelo lixão às margens doVelhas e questiona: “é nosso descuido oudesinteresse? A cada dia que passa Rapososestá mais difícil de se viver”, declara.

Nova RapososO Projeto Manuelzão não está alheio à

situação da cidade e quer ajudar. Por saber daimportância de sua história e sua gente, oPrograma Nova Raposos, encabeçado peloManuelzão, vem, desde abril deste ano, tra-balhando pela volta do peixe ao Velhas.

Dentre as metas do Nova Raposos estão:implantação do Programa de Saúde da Fa-mília, melhoria da coleta de lixo urbano,adoção do ribeirão da Prata, desenvolveralternativas práticas para reciclagem e com-postagem do lixo. Com certeza, a atuação doProjeto deve confirmar o pensamento domorador Eustáquio, que emigrou da cidade deSão Paulo para Raposos, após aposentar-se.“Lá é lugar de trabalhar. Aqui, em Raposos, élugar para se viver!”

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“Se o meu ribeirão continuar assim, ele vai ficar pior que o ribeirão Arrudas.”Essa foi a constatação a que chegou Luiz Gonzaga Rocha, ambientalista ecoordenador do comitê Manuelzão de Vespasiano sobre o ribeirão da Mata.

No dia 18 de setembro, junto com profissionais da Polícia Florestal, ele fez um sobrevôoseguindo o curso baixo do Ribeirão. Desde Riberião das Neves, passando por PedroLeopoldo, Confins, São José da Lapa, Lagoa Santa, Vespasiano, até desaguar no Velhas,já em Santa Luzia, foram encontradas várias agressões ao meio ambiente.

Desde o primeiro sobrevôo, realizado em 1997, o quadro de problemas ao longo doRibeirão não se alterou muito. “Pude observar, de 500 em 500 metros uma draga deareeiros, um desbarrancamento. Você observa uma falta de postura, de ética desse pessoalque quer somente tirar dinheiro do Ribeirão”, diz Luiz Gonzaga. Assistir ao vídeo pro-duzido durante a viagem choca pelas imagens de degradação que são mostradas. Os esgo-tos sendo despejados direto no Ribeirão, as margens sem árvores, provocando assorea-mento, os estragos causados pelas dragas das indústrias cimenteiras. Luiz Gonzaga esteveem um encontro de Codemas de Minas Gerais e conheceu o trabalho feito por empresasque exploram a bauxita em Poços de Caldas e Araxá. “Eles tiram a bauxita, matéria-primado alumínio, depredam a área, mas automaticamente plantam mudas”, salienta.

Para poder cuidar desse quadro, considerado pelos policiais florestais que participaramdo sobrevôo como de completa depredação, algumas atitudes estão sendo formadas. EmSão José da Lapa, no início de outubro, houve a reunião do comitê do ribeirão da Mata,que banha 11 municípios do médio rio das Velhas. Representantes de todos os municípiosestavam na reunião. A prefeitura de São josé da Lapa firmou um convênio com a Copasa,Companhia de Saneamento e Abastecimento de Minas Gerais, para a implantação de umarede de esgoto na cidade.

Walter Vilela, membro do Comitê de Gestão de Bacias Hidrográficas do rio dasVelhas, falou da importância da gestão de bacias para o melhor uso dos recursos hídricos.Sendo o comitê paritário, dentro dele é possível a participação de todos os segmentos dasociedade. Walter salientou que todos os instrumentos legais do Estado estão sendousados pelo comitê da bacia do Velhas. Segundo ele, “hoje o comitê se tornou umareferência”.

Inácio Werneck, coordenador do comitê Manuelzão de Lagoa Santa, falou dos traba-lhos realizados no município durante a semana do meio ambiente, como a limpeza dalagoa. “Ao invés de estarmos planejando a limpeza para o próximo ano, é melhor nãosujar”, disse Inácio. Ele sugeriu que fosse feito um fórum das cidades cimenteiras doRibeirão da Mata. O lixo de Ribeirão das Neves vai receber novo tratamento, com a cons-trução de um aterro controlado, que, segundo a prefeitura, em cinco meses se tornará umaterro sanitário. Santa Luzia está implementando também um aterro sanitário para tratardo lixo produzido no município.

O diagnóstico para o Ribeirão já foi traçado. “O remédio para estes municípios é aconstrução imediata de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). O plantio de mata ci-liar”, diz Luiz Gonzaga. Seguindo as prescrições e mantendo as infecções de degradaçãoambiental longe do ribeirão da Mata, os peixes poderão voltar a nadar por suas águas.

Ribeirão da Mata: ainda faltam medicamentosTiago Miranda

Estudante de Comunicação da UFMGFrederico Vieza

Estudante de Comunicação da UFMG

Ossada em Matozinhos: um dos reflexos do descaso com o Ribeirão

Acorda, Raposos!

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Você sabia que ao percorrer a avenida Antônio Carlos, CristianoMachado, ou Carlos Luz você atravessa um divisor de águasem BH? Pode-se dizer que na altura do Hospital Belo

Horizonte, do bairro Caiçara e da avenida José Cândido da Silveira, osmananciais da capital se separam em duas bacias: a do Arrudas e aPampulha/Onça. A cidade tem, no total, 207 córregos e ribeirões, masdesconhecemos a grande maioria.

Um dos objetivos do convênio entre o Projeto Manuelzão e aPrefeitura de Belo Horizonte é difundir o conceito de bacia hidrográficae trabalhar o planejamento urbano, incorporando as questões ambientais."Temos referências de ruas, bairros, e não de bacias", afirma Thomáz daMata Machado, coordenador do convênio. Muitas vezes, não sabemosque um córrego passa embaixo da rua em que moramos.

Foram canalizados 180 km de extensão de corpos d'água em BH, de-vido a uma concepção antiga de saneamento urbano. Hoje, a prefeituraadotou uma nova perspectiva e não pretende realizar novas canalizaçõese sim proporcionar a revitalização dos córregos. Felizmente, ainda exis-tem 500 km de mananciais sem canalizações.

A metodologia de trabalho do Projeto Manuelzão de adotar a águacomo eixo de mobilização social, criando comitês locais, realizandoseminários, discussões e propondo alternativas deve incentivar a práticado saneamento ambiental. Nessa prática, as ações da Copasa são cruci-ais. A despoluição dos córregos depende da construção de interceptorese do tratamento de esgoto. Para garantir a vida dos mananciais de BH, aCopasa vem realizando obras em vários pontos da cidade.

A percepção do estado da água como indicador das condições de vidada população é fundamental para a adoção de políticas sociais queenvolvam meio ambiente, cidadania e saúde. Nesse sentido, estão sendodesenvolvidos trabalhos em diversas sub-bacias da capital.

Manuelzão em BeloHorizonte

O comitê do córrego Cercadinho luta pelaconstrução de interceptores. Os esgotos dosbairros Buritis, Hawai e Estoril poluem o cór-rego, pois não há tubulações ligadas à rede paracoletar os rejeitos. As nascentes estão relativa-mente preservadas. Encontram-se no parqueAggeo Pio Sobrinho e em uma reserva daCopasa. A água do Cercadinho é captada para oabastecimento da região sul de Belo Horizonte.O comitê Manuelzão também está trabalhandopara convencer a comunidade a não jogar lixono córrego, que deve ser revitalizado.

O córrego Olhos d’Água, na regionalPampulha, é o menos poluído de BH. No dia 20de outubro, foi criado um comitê local, envol-vendo membros das comunidades do Céu Azul,Trevo e Enseada das Garças, bairros onde o cór-rego não foi canalizado. Está sendo propostapelo Projeto a criação de um parque ecológicona região. Os próximos passos serão uma cam-panha educativa sobre lixo e a criação de umsubcomitê jovem, visando a preservação do cór-rego.

Na Vila da Paz, regional Noroeste, a comu-nidade se reúne semanalmente para discutir arealidade local e levantar propostas para o PlanoGlobal Específico, que será elaborado pelaprefeitura em parceria com os moradores. Foifeita uma canalização no córrego Coqueiral,respeitando suas curvas. Agora o Manuelzãopropõe a construção de um parque linear e aretirada do concreto que reveste o córrego. Foidesenvolvido um eco-desenho, para possibilitara visualização de como ficaria a área do parque,e o projeto está encontrando receptividade juntoà população.

Córrego Olhos d'Água

Córrego Coqueiral

Córrego Cercadinho

Marina TorresEstudante de Comunicação da UFMG

8 Manuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

R e p o r t a g e m E s p e c i a l

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O córrego Tamboril, na regional Norte,também tem o apoio de um comitê. Cerca de 50pessoas estão debatendo os problemas locais elevantando propostas de ação. Um afluente doTamboril, o córrego da rua 13, teve sua cana-lização aprovada pelo orçamento participativo.O Manuelzão apresentou uma contraproposta,através de um eco-desenho de um parque linear,e agora a comunidade está discutindo sobre apossibilidade de revitalizar o córrego.

Na região do Barreiro estão as nascentes doArrudas. A preservação da área é fundamentalpara a vida do principal ribeirão da capital. Otrabalho do convênio acontece com três córre-gos: Jatobá, Bonsucesso e Barreiro. As obrasde interceptores estão em andamento na região,para que todo esgoto seja levado para tratamen-to. Este é o ponto de partida para que tenhamosum Arrudas limpo.

No comitê do córrego Acaba Mundo, naregional Centro-Sul, as ações pela limpeza davila estão a todo vapor. Mutirões foram organi-zados pela SLU- Superintendência de LimpezaUrbana, comunidade e agentes do Centro deSaúde Nossa Senhora de Fátima. Durante 20dias, foram retirados do córrego 12 caminhõesde lixo, com capacidade de cinco mil quiloscada. Foram desenvolvidas campanhas de con-scientização junto à comunidade e a coleta delixo foi ampliada.

No campus Pampulha da UFMG, o córregoEngenho Nogueira, afluente do ribeirão daOnça, e o Mergulhão, que deságua na Lagoa daPampulha, são poluídos pelo esgoto da universi-dade. A UFMG, através de seu atual reitor, secomprometeu a realizar as obras necessáriaspara solucionar esse problema. Também os can-didatos das duas chapas que concorrem aopróximo mandato da reitoria afirmam que a uni-versidade deverá ser um exemplo de cuidadocom o meio ambiente. É importante que taisações se concretizem o mais rápido possívelpara assegurar a qualidade das águas da baciaPampulha/Onça.

Curso d'água integrante do DRENURBS Curso d'água revestido não Integrante Bacia do ArrudasBacia Pampulha/Ribeirão da OnçaFonte: Plano Diretor de Drenagem-DRENURBS

Córrego Tamboril

Córrego Engenho Nogueira

Córrego Mergulhão

Córrego Acaba Mundo

Córrego Jatobá

Córrego Bonsucesso

Córrego Barreiro

Ribeirão Pampulha

Isidoro

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R e p o r t a g e m E s p e c i a l

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C i d a d a n i aManuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

“Dezessete de outubro de2001. Nesta data foraminauguradas as obras que

permitem iniciar o tratamento de esgotos nabacia do ribeirão Arrudas, integrando oesforço de recuperação do rio das Velhas e deproteção do rio São Francisco”. A mensagemé da placa inaugural da primeira Estação deTratamento de Esgoto de Belo horizonte, aETE-Arrudas.

Mas a unidade não começa trabalhando atodo vapor. A ETE fica em Marzagânia, nomunicípio de Sabará, e necessita ainda daconclusão da segunda etapa prevista para ofinal de 2002. Por enquanto somente 60%dos resíduos sólidos e 40% dos orgânicos doesgoto doméstico e industrial de BeloHorizonte e Contagem serão tratados. Depoisque a segunda etapa da ETE-Arrudas estiverem funcionamento, mais de 95% do esgotodo principal ribeirão de Belo Horizonteestará livre de poluentes.

O custo do tratamento do esgoto domés-

tico não deverá, segundo aCopasa, ser repassado ao con-sumidor. Somente no caso deindústrias que poluem acimade um limite é que deve havera cobrança pelo tratamento.(ver Box 1)

Na solenidade de aberturaestiveram presentes o gover-nador de Minas, ItamarFranco, o presidente daCopasa, Marcelo Cerqueira, ocoordenador geral do Projeto

Manuelzão, Apolo Heringer e outras autori-dades do estado.

Não é o bastante Outros córregos na capital também pre-

cisam ser despoluídos. Muitos afluentes doArrudas recebem esgoto diretamente sobreseu leito. É preciso consertar as falhas darede de interceptores (ver box 2) para que oesgoto corra por canais até a estação de trata-

mento. A Ete somente tratará o esgoto quechega por esses interceptores.

Só que os córregos que não estão ligadosao Arrudas não podem ser beneficiados porsua ETE. O principal exemplo é o do ribeirãodo Onça, outro grande receptor de esgoto dacapital.

Está pronto o projeto para a instalação deuma ETE no ribeirão da Onça, que faz parteda sub-bacia da Pampulha. Ela será construí-da no bairro Ribeiro de Abreu, na regionalNorte, e terá a metade do tamanho da ETE-Arrudas. A abertura de licitação está previstapara dezembro deste ano. O sistema de trata-mento será por lodos ativados, o mesmo uti-lizado no Arrudas. Este processo se resume auma remoção da matéria orgânica, pormicroorganismos, que se solidifica e é sepa-rada do líquido. A parte sólida, que é o lodo,passa então por vários processos dediminuição do teor de umidade e o restantefinal é depositado em um aterro localizado naprópria ETE. A parte líquida volta para o

ribeirão. No caso do Arrudas, ela segue,então, rumo ao rio das Velhas.

Já no primeiro período do curso deMedicina da UFMG, os alunos têm achance de experimentar o valor de

sua função social na comunidade. Por meiode diagnósticos dos problemas sanitários dealgumas regiões de Belo Horizonte, a disci-plina "Ciências Sociais Aplicadas à Saúde"promove a integração dos calouros com asociedade e seus problemas ambientais.

O projeto existe há dois anos e é coorde-nado pela professora do departamento deMedicina Preventiva e Social Rosa Nehmy."É uma parceria com o Projeto Manuelzão,onde visitamos as comunidades assistidaspor ele", explica a professora. Os alunos vão

até os locais, registram as imagens do ambi-ente que compromete a saúde da população,fazem um diagnóstico e entregam umrelatório com cópia para a população do localvisitado. Em 2001, eles fizeram esse trabalhono bairro Alto Vera Cruz e na Vila Belém,região da Pompéia, zona leste de BH.

Problemas como poluição do córrego daBaleia, que recebe esgoto da populaçãoribeirinha, lixo doméstico e hospitalar, foramapurados e registrados pelos alunos deMedicina no relatório entregue aosmoradores da Vila Belém. Esses procedi-mentos implicam no aparecimento dedoenças e proliferação de ratos e baratas,comprometendo a saúde das pessoas que ali

moram e a preservação do meio ambiente.Muitas vezes são feitos também teatros, fes-tas e palestras com temas educativos na pre-venção dos problemas em questão.

"Tanto os alunos como a comunidade sesentem mobilizados", diz a professora Rosa.Alguns dos futuros médicos despertam parainteresses da medicina social e a populaçãoficará em alerta quanto aos problemas de suaregião e práticas preventivas.

"Vi que a minha função social dentro daMedicina é bem maior do que imaginava",conta a aluna da professora Rosa, Ana LuizaMoura, que participou do diagnóstico feitona Vila Belém. É o Manuelzão presente naformação da consciência ambiental da capital

mineira.Não são só os alunos da Medicina que

vão até as comunidades de BH em busca deexperiências. Os jovens dessas comunidadestambém têm a oportunidade de aprendercoisas novas nas visitas feitas à UFMG peloprojeto "Conhecendo a Universidade". Esseprojeto, que funciona desde o começo de2001, também faz parte da disciplina"Ciências Sociais Aplicadas à Saúde". Asúltimas visitas foram à escola de Belas Artese ao Museu de Morfologia do ICB. Elas têmo objetivo de aproximar a sociedade do dia-a-dia da UFMG e acabar com a imagem,muitas vezes presente nessas comunidades,de uma instituição fechada.

Calouros da medicina apostam no trabalho social

1- Paga o quanto polui

O Ribeirão Arrudas também recebe esgoto industrial.Para tentar resolver este problema, uma taxa serácobrada de acordo com a carga de esgoto e o tipo depoluente que existe nos detritos de cada empresa.Será feito um contrato com as indústrias. As fábricas quepoluem dentro de valores com característica similar aoesgoto doméstico estarão isentas do pagamento detaxa. As mais poluentes deverão tratar seu esgoto oupagar para a Copasa o encargo deste serviço.

As taxas serão específicas conforme o volume e omaterial eliminado e estarão estipuladas no contrato.Essas empresas possuem também a opção de fazerum pré-tratamento, dentro de suas dependências, para

diminuir o valor da taxa a pagar ou enquadrá-lo na clas-sificação de esgoto doméstico. Segundo a Feam(Fundação Estadual do Meio Ambiente), as empresasque produzem dejetos tóxicos ou com excesso de mate-riais sólidos devem obrigatóriamente fazer um pré-trata-mento de seu esgoto antes de lançá-lo na rede de inter-ceptores.

Aproximadamente 85 donos de indústrias, de todoporte, já assinaram o contrato. Os empresários serãoavisados que o tratamento está sendo realizado e depoisde 90 dias começará a cobrança da taxa que foi deter-minada.

José Maria Filho, engenheiro da divisão de tratamen-to de efluentes, explica que “os parâmetros utilizadospela Copasa são flexíveis para conseguir fazer com queos empresários se responsabilizem pelo que poluem”.

2-Por onde anda o esgotoInterceptores são canalizações, geral-

mente a margem dos rios, por onde corre o esgoto.Antes mesmo da construção da ETE-Arrudas jáexistia uma rede de interceptores que recolhia oesgoto da região metropolitana mas, jogava devolta no ribeirão. A utilidade, no caso, era levar oesgoto para ser despejado fora do trecho urbanodo ribeirão para apenas evitar o mal cheiro no cen-tro de Belo Horizonte.

Existem 40 quilômetros de interceptoresde Contagem a Sabará, onde fica a ETE-Arrudas.Grande parte deles passa por baixo das ruas para-lelas ao ribeirão. Falhas em vários trechos per-mitem que o esgoto caia no córrego Arrudas. JoséMaria Filho, engenheiro da divisão de tratamentode efluentes da Copasa, diz que os reparos nosinterceptores do Arrudas já estão sendo feitos masé necessário consertar também os dos afluentes.“Para despoluir, é preciso evitar também que oesgoto caia nos córregos que deságuam noArrudas” explica José Maria.

A Copasa tem um programa chamado de“Caça-Esgoto”, que pretende conectar os intercep-tores dos afluentes ao interceptor maior, doArrudas, além de consertar os falhas existentes emtoda a rede.

Alguns dos reparos exigirão complicadas obrasde engenharia. José Maria Filho diz que em deter-minados casos será preciso mexer em infra-estru-turas urbanas. “Estas obras podem interferir notráfego ou nas redes de energia, por exemplo”,explica ele.

Outra tarefa do “Caça Esgotos” será evi-tar que os interceptores recebam águas pluviais.Feitos de concreto armado, os interceptores nãosão projetados para transportar água da chuva.Eles conduzem o esgoto que corre lentamente den-tro dele, mas não agüentam o volume e a pressãodas águas da chuva. Este é um dos principaismotivos de estragos na rede.

Inaugurada a primeira fase da Estação de Tratamento de Esgoto do Arrudas

Milene Migliano e Sílvia Araújo Estudantes de omunicação da UFMG

Emanuela São Pedro.Estudante de Comunicação da UFMG

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C i d a d a n i aManuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

"Aágua fechou em alta hoje. Asárvores tiveram queda de0,5%".Você já imaginou

ouvir essas frases nos telejornais? É como serecursos ambientais, que a natureza nos ofe-rece gratuitamente, também fossem com-modities (mercadorias), como o ouro e opetróleo.

Hoje em dia, quando compramos umagarrafa de água mineral, quem lucra é aempresa concessionária que embala e comer-cializa o produto. No modelo de commodi-ties ambientais, a comunidade que vive nasproximidades de uma nascente cuidaria dapresevação do manancial e seria beneficiada

pela comercialização da água.A autora desse modelo é a economista

brasileira, filha de palestinos, Amyra ElKhalili. Ela conta como surgiu a idéia."Começou em 1990, a partir do meu trabalhono mercado de ouro, de metais, justamenteporque eu me cansei de ver cliente ganhandodinheiro de um lado, e gente morrendo dooutro. Eu pensava: puxa vida, o ouro sobequando os outros morrem. O petróleo sobequando tem uma guerra no Oriente Médio.Então, o sujeito ganha dinheiro na hora queas pessoas estão morrendo. Eu falei: puxa, agente podia pensar numa commodity quefosse positiva, ou seja, que o preço delasubisse ao fazer o bem, não fazer o mal, eque ela pudesse promover a paz".

A partir de então, Amyra abraçou a idéia

como um desafio, e ficou trabalhando paraelaborar uma nova engenharia financeira. "Acommodity ambiental tem valor agregadoquando ajuda mais pessoas, dá mais saúde. Opreço dela sobe porque ela faz o bem e não ocaos. O modelo mostra que preservar o meioambiente com projetos sociais é promover ocrescimento econômico sustentável, ao con-trário do que todo mundo fala", afirma aeconomista com satisfação.

Etapas

Confira a entrevista com Amyra ElKhalili realizada em Ouro Pretodurante o V Fórum do Alto Rio

das Velhas, organizado pelo ProjetoManuelzão, prefeituras municipais, ONGs e

empresas.Jornal Manuelzão - Como

é agora o trabalho para con-cretizar a idéia das commodi-ties?

Amyra - O modelo pres-supõe uma mudança de com-portamento, de atitude, de pers-pectiva e até de auto-estima. Ocontemplado da commodityambiental é o excluído e eleprecisa, em primeiro lugar, ter odesejo, ação e a auto-estima,senão ele nunca vai saber que édono de uma riqueza. Então, oprimeiro passo do nosso trabal-ho, para construir as commodi-ties ambientais, para desen-volvê-las, é despertar a auto-estima daquele indivíduo emostrar que ele tem esperanças,que ele tem que se organizarenquanto sociedade civil. Porexemplo, um palmiteiro isoladonão vai fazer nada, mas ele temque se organizar com uma asso-ciação de palmiteiros. Se elenão agarrar a mão do outro, elenão sobrevive.

A segunda etapa é debatercom a comunidade, identificarquais são os problemas sociaisda região e verificar as poten-cialidades ambientais. Então,deve-se discutir com a comu-nidade quais seriam seus ativos,suas commodities, porque é a

comunidade quem tem que decidir o que ésua commodity ambiental. E a comunidadetem que trabalhar em equilíbrio. Explorar ominério e criar problema para o peixe nãopode. Tudo tem que ser feito de forma equi-librada, porque a vida é equilibrada e o ecos-sistema é equilibrado.

Jornal Manuelzão - Como estão asatividades hoje?

Amyra - Estamos, neste momento, fun-dando os fóruns municipais e estaduais dedebate, para depois, juntando todos, fazer ofórum nacional. E no fórum nacional, serãodiscutidos certificação, classificação, audito-ria, monitoramento de projetos, artigos, quaissão as commodities, como e o que queremosvender, como nós vamos produzir. A partirdesse debate, serão criadas a normatização ea regulamentação de como se vai explorarcomercialmente essas commodities. E a par-tir da regulamentação e dos critérios de rotu-lagem de produtos, serão construídos os con-tratos financeiros, com as cláusulas contratu-ais que sejam boas para o fraco e para o forte,equilibradas.

Neste ínterim de debates, estamos pegan-do as experiências que já existem de bonsprojetos ambientais e sociais, e mostrandopara o mundo que existem iniciativas, e colo-cando para que a imprensa divulgue, porquea imprensa só mostra desgraça, mas nãomostra os resultados dos bons projetos. Porexemplo, apresentando o Projeto Manuelzãopara que a imprensa veja que existe um pro-jeto bom e para que essa experiência sejaexportada para todo o país, para que o proje-to seja encampado em outros estados em ou-tras regiões. O que estamos fazendo é umatroca de experiências e uma provocação mer-cadológica, e mostrando para os agentesfinanceiros que o Brasil pode ter uma econo-mia socialmente digna e politicamente par-ticipativa e integrada.

Jornal Manuelzão - Como está adifusão dessas idéias no país?

Amyra - Todo o projeto das commoditiesambientais passa por fases. Em algumasregiões, as fases já avançaram. Em outrasregiões, que nunca tiveram contato, as pes-soas estão começando a conhecer. Nós esta-mos que nem mineiro, comendo pela borda,na moita. As pessoas pensam que está tudoparado e nós estamos atuando. Quando ogoverno perceber, nós já fomos e já voltamoscom o fubá, com o bolo pronto.

O desenho das com-modities ambientais é de ummodelo humanitário. Seu obje-tivo é atender às questões soci-ais. Neste modelo, os excluídosserão beneficiados pela explo-ração sustentável dos recursosnaturais, que serão commodi-ties.

O mercado financeiroestá no ápice da pirâmide,mantido pela indústria, comér-cio, agricultura e os traba-lhadores. É o mercado o maiorbeneficiado por este modelo eele coordena toda a vidaeconômica de nossa sociedade.

Economista defende novo arranjo entre meio ambiente, desenvolvimento e justiça social

Commodities Ambientais

IndústriaComércioAgricultura

Mercado financeiro

Meio ambiente

Excluídos

Mercado financeiro

Commodity, esta palavra usada por economistas do mundo inteiro, abrange todos os benspadronizados para compra e venda. Os preços das commodities são determinados pelo livre merca-do, por isso ouvimos com freqüência sobre a "alta do petróleo" ou “a queda do ouro".

O modelo econômico atual, em que convivemos com as commodities tradicionais, pode serilustrado pela seguinte pirâmide:

Conceitos

A idéia das commodities ambientais altera totalmente a pirâmide.

Marina TorresEstudante de Comunicação da UFMG

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Manuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

Pneu, lixo, fedor, mosca, sem árvores,um esgoto a céu aberto. Ar puro, água fres-ca, pássaros, tudo com verde ao redor. Oprimeiro é o córrego que a maioria das cri-anças da grande Belo Horizonte convive. Osegundo é o que está sendo descoberto pelaTrilha das Águas do Projeto Manuelzão.

O projeto Trilhas das Águas traz as cri-anças para conhecerem córregos que forampreservados da degradação. A trilha é feitadentro do Parque das Mangabeiras, em BeloHorizonte. Conhecendo como os córregosdevem ser, as crianças se conscientizam decomo a sujeira está estragando o ribeirãoperto de sua casa. O objetivo do passeio éalertar sobre a importância da preservaçãodo meio ambiente para garantir a qualidadede vida. Todas as visitas são monitoradas echeias de eventos para divertir e educar osalunos.

Qualquer escola pode agendar um pas-seio pela trilha, basta ligar para o ProjetoManuelzão, telefone: 3248-9819, e receberorientações sobre como organizar a visita.

Aproximadamente quatro mil pes-soas, de 28 escolas de Curvelo emunicípios da 10ª Superin-

tendência Regional de Educação (SRE), par-ticiparam do Dia da Cultura Ambiental, em26 de setembro. Ao longo do dia foram apre-

sentados números artísticos sobre a pro-blemática ambiental. Também a Cia. deTeatro Roda Viva participou do evento.Os principais objetivos, de desenvolverum trabalho integrado com as escolas,de fazer um trabalho paralelo ao da sala

de aula, e envolver a arte da região coma questão do meio ambiente, foram con-cretizados. Aliar cultura e educaçãoambiental parece ter sido uma fórmulade sucesso conseguida pela populaçãode Curvelo.

Depois de três dias de des-canso e contato com anatureza, na Serra do Cipó,

foi realizada, no dia 17 de ou-tubro, apremiação do concurso Premiando aEducação, parceria do ProjetoManuelzão e da Secretaria de Estadoda Educação.

Para Marcus Vinicius Polignano,coordenador do subprojeto Manuelzãovai à Escola, "trazer as pessoas para aSerra do Cipó é lembrar-lhes como erao rio das Velhas". Assim é mais fácil atomada de consciência da necessidadede transformação dos córregos.

Os prêmios foram entregues porMurílio Hingel, secretário deEducação do estado. Em seu discurso,Murílio salientou a importância deprojetos que valorizem o trabalho doprofessor. Segundo ele, "a escola talvezperca seu caráter de ensinar, mas não perderáseu caráter de agregador social." Murilioressaltou que a parceria entre a Secretaria deEducação e o Projeto Manuelzão deve con-tinuar. A divisão dos municípios em superin-tendências foi um facilitador para o trabalhodo subprojeto.

A informalidade marcou a premiação,

com professores e diretores de cada escolacomentando sobre suas experiências e sobrea necessidade da troca de idéias. "Nos pró-ximos seminários que o Projeto venha a fazerespera-se que as escolas apresentem o resul-tado de suas atividades", diz Polignano.

A premiação foi ainda mais come-morada pela Escola Municipal JoséLourenço Laudate, do distrito de

Penedi, em Caeté. No dia do resultado, aescola tinha acabado de ser assaltada."Todo mundo ficou muito triste porquea escola é em zona rural e é muitopobre. Esse prêmio foi um alento, foium carinho especial dado aos profes-sores e alunos", explica Maria daConceição Assunção Fernandes, direto-ra e supervisora da escola.

Premiação na Serra do Cipó

Municípios da Bacia Secretaria de Recursos Hídricos-MMASecretaria da Educação

Parcerias:

Curvelo tem dia de cultura ambiental

Águas limpas,mentes limpas

Tiago MirandaEstudante de Comunicação da UFMG

Secretária de Educação entrega prêmios aos melhores projetos

CONVÊNIO SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO/MG

Manezinho

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M a n u e l z ã o V a i à E s c o l a

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Manuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

Apartir deste jornal vocês vãoentrar no Mundo doManuelzão... Para começar a

conhecer este mundo, vamos conhecer anossa casa: o Planeta Terra. Você sabiaque de todo esse universo de meu Deus, agente só conhece vida inteligente cá naTerra? Parece que tudo foi ajeitado no

meio destas estrelas para combinarfatores e formar o ambiente certo paraque a vida como a nossa nascesse só aqui.

Você sabia também que a única espé-cie que pode modificar o meio ambienteda Terra é a nossa? Por isso, nós temos deter muito cuidado para não querer ficarmudando tudo sem pensar nas plantas e

nos animais. O ser humano está pensandosó em ganhar dinheiro e está destruindoo que a natureza levou seis bilhões deanos para fazer em menos de 100 anos,como é o caso do rio das Velhas. Vamosconhecer melhor nossa casa, nosso plan-eta, para saber do o que devemos cuidarmelhor.

Saúde começa desde cedo...O tempo, em média, que as crianças pas-

sam em frente a apare-lhos eletrônicos passade seis horas diárias.Que tal trocar umpouco disso por umapiscina, até que o rioesteja limpo; um pas-seio de bicicleta oualgum outro esportecom seus amigos? Você aproveita o verão efica em dia com a saúde!

Reutilizar os copos de vidro vendidoscom requeijão para o dia-a-dia.

Recolher todo o lixo e sobras que vocêlevou para o seu passeio junto à natureza.

Transformar uma vasilha de margarinausada em um vaso de plantas.

Usar menor quantidade de sacos plásticospara guardar as compras do supermercado.

Salvar árvores e ajudar a limpar o plane-ta.

Jogar garrafas pet fora do lugar devido eencher os nossos rios e córregos com ummar de plástico.

Arrancar mudas de plantas da natureza.Cortar as arvores das nascentes e matas

ciliares.Provocar incêndios na natureza.

Complete a palavra-cruzada para entender melhor a Terra.

01- Sistema em que a Terra se encontra, junto com outros oito planetas;02- Mamífero primata, na escala da vida foi o último a aparecer na Terra;03- O planeta se chama Terra, mas ela cobre ¾ de sua superfície;04- Rio que é chamado da Unidade Nacional, que fez 500 anos dia

4 de outubro;05- Ribeirão que banha a cidade de Belo Horizonte, e hoje é um esgoto

a céu aberto;06- Afluente do Rio das Velhas, passa pelas cidades de Santa Luzia,

Pedro Leopoldo, Vespasiano, entre outras;07- Responsável pela transformação do gás carbônico em oxigênio;08- Desequilíbrio ambiental que está fazendo a Terra se aquecer.

Cruzada MANUELíSTICA

Grande e tranqüilo, nasce o rio.

Pequeno e caudaloso,o rio corre sem alvoroço.

Suas águas cristalinas,Vem o sol iluminar

Com rande percurso,em suas curvas sai a bailar.

Nas margens as águas bateme os peixes pulam de alegria.

Na descida as águas correm com jeitonas curvas com alegria corre sobre seu leito.

Tiago Morais Rodrigo de Almeida

Alunos da 5ª Série -E da Escola EstadualJoão Felipe da Rocha - Nova Lima - Mg.

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M a n u e l z ã o V a i à E s c o l a

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Projeto Manuelzão e Programa deSaúde da Família- PSF se unem,

visando contribuir com a qualidade de vidada população. Em seminário realizado no dia21 de setembro, mais de 200 pessoas reuni-ram-se na PUC Minas com o intuito dedebater idéias e elaborar propostas paraincorporar os princípios de saúde, meioambiente e cidadania à prática do PSF. Foiuma iniciativa conjunta do Projeto Ma-nuelzão e o Pólo de Saúde da Família daUFMG.

O objetivo geral do evento “ Saúde daFamília e Manuelzão- Integrando ações nabacia do Rio das Velhas” foi contribuir para

o processo de adequação das diretrizes doSUS às reais necessidades da população.

No período da manhã, aconteceram con-ferências e mesas redondas sobre novas con-cepções de atenção à saúde. À tarde, os par-ticipantes se dividiram em grupos paradebater e elaborar propostas de ação, queforam apresentadas em plenário e avaliadas.As equipes ressaltaram a importância de pro-mover educação ambiental e diagnósticos,através de agentes comunitários de saúde,realizar projetos de tratamento de esgoto edestinação adequada do lixo.

Jacira Cancio, representante daOrganização Pan-Americana de Saúde -

OPAS/OMS no Brasil,comentou a importân-cia do evento. “Essaaproximação doProjeto Manuelzãocom o Programa deSaúde da Família éfundamental. O PSF chega no nível dodomicílio e requer uma atenção voltada parao meio ambiente e não só para a saúde doindivíduo. Essa união é uma idéia que devegerar muitos frutos, não só para o Projeto,mas que poderá ser apropriada por outrasáreas, por outras bacias, por outros estados eaté mesmo em nível nacional.”

Você sabia?“Saúde da Família representa uma concepção

de saúde centrada na promoção da qualidade devida. Um dos seus principais objetivos é gerar práti-cas de saúde que possibilitem a integração dasações individuais e coletivas, práticas essas cujodesenvolvimento exige profissionais com visãosistêmica e integral do indivíduo, da família e dacomunidade.” (Cadernos de Atenção Básica -Ministério da Saúde)

EcolatinaO Projeto Manuelzão participou da 4ª Conferência Latino-Americana sobre Meio

Ambiente, a Ecolatina, realizada em BH de 15 a 18 de outubro. Temáticas como saneamentobásico, reciclagem, direito ambiental, gestão das águas, dentre outras, foram discutidas emfóruns, seminários e cursos. O Projeto, além de expor seu modelo de saúde, ambiente e cidada-nia num dos estandes da Feira Internacional de Tecnologia, Produtos e Serviços Ambientais,contribuiu com o seminário de educação ambiental, ao apresentar exemplos de mobilizaçãosocial dos comitês na bacia do rio das Velhas. O coordenador do Manuelzão, Apolo Heringerlembrou em sua palestra, que “é preciso saber escutar a voz dos peixes, pois o destino delesanuncia o nosso”. Quando o peixe retorna às águas é sinal de que o meio ambiente se recupera,a mentalidade do homem passa a respeitá-lo e percebe que as formas de vida são interdepen-dentes. Para Roger Almeida, estudante do 2º período de Geografia da UFMG, e participante doseminário, muito das discussões do evento já não eram novidade. “A geografia não é conhe-cimento enciclopédico, mas também a prática do meio ambiente”, ressalta. Novo mesmo, foiele conhecer de perto a proposta do Manuelzão, pois até então sabia “de ouvir falar” na uni-versidade. “Vou me integrar nessa!”

Centenas de pessoas freqüentaram a Feira e muitas lamentaram o preço dos ingressos paraos cursos e seminários. Segundo o organizador da Ecolatina Ronaldo Gusmão, o evento temcusto elevado e não se consegue pagar somente com patrocínios. Entretanto, esperamos quesejam encontradas alternativas para o próximo ano.

Manuelzão LegalFundado em 21 de agosto, o Núcleo de Estudos de Direito Ambiental da UFMG (Neda)

tem agora um grupo de trabalho junto ao Projeto Manuelzão. Iniciativa dos alunos daFaculdade de Direito e do Niepe (Núcleo Institucional de Ensino, Pesquisa e Extensão), oNeda se originou da necessidade que os próprios graduandos viam na grade curricular docurso. “Hoje não há uma doutrina de direito ambiental consolidada; a disciplina de direitoambiental é prevista, mas não oferecida”, revela Luciano Alvarenga, (9º período) representantelegal do Neda. O objetivo central do Núcleo é empreender ações que possam preservar o meioambiente, sejam científicas ou judiciais. O Neda é uma associação civil, que também propõeações públicas. Na primeira fase, o grupo de trabalho escolheu o município de Itabirito, no altorio das Velhas, próximo de BH, para iniciar seu diagnóstico jurídico-ambiental. Itabirito é hojeexemplo de ameaças ambientais de diversas vertentes: minerária, florestal, da qualidade do are das águas. A partir desses estudos, que contam com a contribuição da prefeitura e comitêManuelzão local de Itabirito, o Neda prosseguirá dentro do subprojeto Manuelzão Legal. Valelembrar que o Núcleo está aberto à participação de todos. Os interessados podem ligar para aredação do Jornal.

Engenheiros, ambientalistas, imprensa ecomunidade. Todos se reuniram no Semi-nário de Engenharia Ambiental promovidopelo Projeto Manuelzão em parceria com oCREA/MG (Conselho Regional de Enge-nharia, Arquitetura e Agronomia) e aSociedade Mineira de Engenheiros Agrô-nomos (SMEA). O evento foi realizado nodia 26 de outubro na sede do CREA/MG.

O coordenador do Projeto Manuelzão,Apolo Heringer abriu o seminário falandosobre a importância da mobilização pararecuperar as bacias hidrográficas.

“Quando chamamos a população parajuntos recuperarmos as bacias, estamos recu-perando o país e numa nova política para oBrasil.” O encontro foi marcado pela palestra“Paisagismo e Engenharia Ambiental” mi-

nistrada pelo diretor de recursos hídricos doestado da Baviera, na Alemanha, WalterBinder. Ele abriu a discussão com a seguintepergunta: “Os rios tem futuro?” E aí mostrouo que está sendo feito na Alemanha pararesolver problemas de canalização e recupe-ração de córregos, rios e nascentes. Disseque o que vemos no Brasil também se vê naAlemanha. A recuperação não se resume ape-nas ao uso de materiais como o concreto esim aproveitando-se os recursos naturaisexistentes.

O técnico Wilfried Teuber do ProjetoPlanagua falou sobre prevenção deenchentes. Para quem se interessa pelatemática do seminário e deseja obter maioresinformações, o Manuelzão tem alguns exem-plares de revistas técnicas.Jequitibá em ação

O ribeirão Jequitibá, afluente do Velhas, agora conta com um comitê Manuelzão. No dia16 de outubro, o Projeto realizou seminário, reunindo membros das comunidades e dopoder público de Sete Lagoas, Funilândia, Prudente de Moraes, Capim Branco e Jequitibá.Ao final do evento, representantes dos cinco municípios formaram o comitê local paralutar pela vida do ribeirão, que está sendo destruído pelos esgotos domésticos, efluentesindustriais, desmatamentos e canalizações urbanas ao longo de seu curso.

Raul Belém - O Projeto Manuelzão lamenta o falecimento do Exmo. Sr. RaulBelém, ex-Secretário de Estado da Agricultura, ocorrido no último dia 13 de outubro.A atuação de Raul Belém foi fundamental para a concretização do convênio entre aEmater-MG e o Manuelzão, que vem dando muitos frutos. Prestamos nossas condolên-cias aos familiares e todos que sofrem com esta grande perda.

Saúde Coletiva e PSF

Engenharia Ambiental

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A c o n t e c eManuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

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"Cada um tem uma personali-dade diferente. Reagem deformas distintas a um mesmo

acontecimento". Esta declaração não é denenhum psicólogo explicando o comporta-mento humano. Na verdade, é a geólogaMaria Giovana Parizzi se referindo ao seu"paciente" principal: o solo.

Professora do Instituto de Geociências daUFMG, Giovana trabalha em uma área co-nhecida como "Geologia da Engenharia" eparticipa do subprojeto "Manuelzão faz ciên-cia". Ela já finalizou uma série de pesquisassobre os impactos da forma como o homemutiliza o solo.

Giovana explica que a terra não é umamassa uniforme com aspectos e propriedadesidênticas. Cada solo tem suas característicaspróprias e é adequado para determinadasfunções. O estudo dos solos analisa asreações que um tipo pode ter a um usoespecífico. Essa análise é importante paraescolher o melhor tipo de terreno para cadaatividade.

Não é a toa que existe uma ciência com-plexa dedicada ao estudo da terra. Uma açãomal planejada pode causar traumas de difícilrecuperação em um solo e riscos à vida daspessoas. Se uma cidade precisa construir umaterro sanitário, por exemplo, é necessárioantes escolher criteriosamente um solo quenão seja permeável e que não ofereça riscode contaminação aos mananciais.

Da mesma forma,. na construção de umedifício, o solo deve ser analisado para saberse ele é denso o suficiente para esta função.Se um prédio alto for construído sobre umterreno cheio de grutas e vãos internospoderá desabar devido a uma acomodação deterra, fenômeno natural para este tipo desolo.

Sobre esses "traumas" do uso inadequadoGiovana e sua equipe realizaram pesquisasno segundo semestre de 2000. Eles pesqui-saram em duas localidades os impactos dasdiferentes formas de uso do solo. Um doslugares escolhido foi a região do Barreiro,em BH. A outra análise foi realizada nosmunicípios de Matozinhos, Pedro Leopoldoe Capim Branco, da bacia do Ribeirão daMata.

Nascentes ameaçadas O Barreiro é uma regional de Belo

Horizonte. O lugar abriga muitas nascentes e

afluentes do Arrudas, principal rioda capital. Nos últimos cinco anos,as crescentes ocupações ribeirinhastêm comprometido a qualidade e avazão dos cursos d'água da região.O local é um exemplo de como a máutilização do solo pode ameaçar oscursos d'água.

Os terrenos que ficam noentorno de rios, córregos e nas-centes precisam de cuidados especi-ais. Um dos principais erros que secomete com esse tipo de solo é des-matá-lo. Depois que é retirada avegetação ribeirinha, o terreno ficafrágil a todo tipo de interferência.Com as chuvas começa o processode lixiviação, em que o solo é "lava-do" e os seus resíduos vão para den-tro do curso d'água. O rio ounascente vai acumulando esses resí-duos e assoreando, isto é, dimi-nuindo sua profundidade e vazão.Nessa seqüência, o rio vai ficandocada vez mais raso até acabar.

O dematamento, gerando erosão eassoreamento, e a inexistência de saneamen-to básico foram as causas principais dadegradação ambiental no Barreiro. Apesquisa apontou a proliferação dos assenta-mentos urbanos como a origem dos proble-mas ambientais da área. O objetivo do tra-balho foi diagnosticar ameaças à qualidadedas águas em função dessas ocupações de-sordenadas. A conclusão traz sugestões paraa revitalização das nascentes e transferênciadas populações ribeirinhas para moradiasadequadas.

A equipe de Giovana Parizzi realizouainda um cadastro das nascentes na cabeceirado ribeirão Arrudas, muitas desconhecidasaté então. "O cadastro das nascentes e o diag-nóstico ambiental são fundamentais para aelaboração de planos estratégicos que visemo crescimento urbano associado ao desen-volvimento sustentável", explica Giovana.

Lixo e esgoto sem controle No caso de Capim Branco, Matozinhos e

Pedro Leopoldo, do alto e médio ribeirão daMata, o intenso processo de urbanização e aausência de controle das atividades industri-ais e de mineração provocaram evidentepoluição e assoreamento dos recursos hídri-cos.

A proximidade com a capital e aabundância de minerais fez da região um

pólo da indústria cimenteira e de materiais deconstrução. O desenvolvimento econômico eindustrial não planejadoda bacia do ribeirãoda Mata provocou impactos negativos naregião A maioria dos riscos avaliadosenvolve a ina-dequada deposição de resíduossólidos, o lançamento de esgotos diretamentenos cursos d'água e o desmatamento. A águasó é considerada de boa qualidade da mon-tante até Capim Branco.

A pesquisa analisou ainda a poluição daságuas subterrâneas. Nesse caso, a principalcausa de comprometimento da qualidade daágua é a existência dos lixões. O estudo con-siderou o lixão pertencente às cidades deMatozinhos e Capim Branco como extrema-mente vulnerável à contaminação. No localocorrem freqüentes deslizamentos de resí-duos sólidos e escoamento do chorume emdireção a terrenos formados por rochas dealto poder de dissolução. Por ser sensível àcontaminação, nesse solo não poderia tersido colocado um lixão. Agora, se não foremtomados rigorosos cuidados, isso podeprovocar a poluição de canais subterrâneosque armazenam e transportam água.

O lixão de Pedro Leopoldo tambémcompromete as águas subterrâneas por tersido construído sem o controle exigido pelascaracterísticas do solo da região. Isto repre-senta um perigo imediato para a populaçãoque vive nas várias residências próximas e

utilizam água de cisternas. A forma como édepositado o lixo oferece ainda alto risco decontaminação ao ribeirão das Neves.

A única ETE (Estação de Tratamento deEsgoto) da região foi considerada insufi-ciente para controlar a poluição dos resíduosdomésticos, industriais e de mineração querecebe. Após avaliar as principais causas dedegradação da bacia, o estudo apontou dire-trizes para o melhor aproveitamento do solono local. Os pesquisadores concluiram o tra-balho recomendando às autoridades investi-mentos na elaboração de projetos voltadospara a correta deposição do lixo e o rígidomonitoramento das atividades urbanas.

Giovana conta que todos os trabalhosforam entregues às prefeituras e aos órgãosambientais interessados. No Barreiro, asinformações do trabalho estão sendo uti-lizadas pelo convênio entre o ProjetoManuelzão e a Prefeitura de Belo Horizonte.O comitê do ribeirão da Mata irá repassar orelatório da pesquisa sobre sua região àsescolas para ser utilizado em trabalhos sobreeducação ambiental.

As pesquisas sobre uso e ocupação dosolo são necessárias para se indicar os me-lhores locais para a realização de cada ativi-dade urbana. A construção de uma estrada,um aterro sanitário ou um conjunto habita-cional deve ser precedida de um estudo queindique o solo mais adequado. GiovanaParizzi reclama que, na maioria das vezes, asprefeituras ignoram essas pesquisas e depoisacabam fazendo obras caras e mal plane-jadas. Construir qualquer coisa sem respeitara "personalidade" do solo que está sendousado é, na verdade, uma burrice, ou melhor,uma loucura.

Psicologia da terraGeóloga estuda impactos de uso e ocupação de diferentes tipos de solo

Sílvia AraújoEstudante de Comunicação da UFMG

Assentamentos ilegais degradam o solo e ameaçam nascentes na regional Barreiro

Equipe de trabalhoCarta de Uso e Ocupação do Solo aplicadoao Diagnóstico Ambiental da Bacia doRibeirão da Mata - Municípios de CapimBranco, Matozinhos e Pedro Leopoldo, MGMaria Giovana Parizzi - Prof. Deptº de Geologia-IGC/UFMGAlexandre Uhlein - Prof. Deptº de Geologia-IGC/UFMGCésar Luís Kattah - Geólogo graduado pela UFMG Avaliação Geoambiental do Alto daCabeceira do Rio Arrudas, Belo Horizonte,MGMaria Giovana Parizzi - Prof. Deptº de Geologia-IGC/UFMGPaulo Roberto Antunes Aranha - Prof. Deptº deGeologia- IGC/UFMGMaria Inês Bonarccorsi de Campos - Geóloga grad-uada pela UFMG

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C o n s C i ê n c i aManuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001

Page 16: Revista Manuelzao 17

“Nasci no Salobro, zona rural de Buenópolis, quando a cidade nem esse nometinha. Naquele tempo o Manuelzão morava lá, era vizinho do meu avô, e agente passava na casa dele para tomar um café e ouvir seus causos e brin-

cadeiras”, conta Maria Beatriz, ao se lembrar dos tempos de infância. Ela tem 49 anos, quatrofilhos, quase 200 afilhados e muita história para contar. Maria Beatriz, professora há 30 anos,hoje está aposentada, e sua vida se confunde com a da cidade, Buenópolis, a 300 Km de BH,no baixo rio das Velhas. Há um ano ela abraçou a causa do Projeto Manuelzão, mobi-lizou a comunidade e anda dando um belo exemplo de cidadania na coor-denação do comitê local.

Formando-se em magistério na própria cidade, sua primeiraturma foi de alunos marginalizados, que já tinham fama deirem sujos para aula, não fazerem seus deveres e aban-donarem a escola. “A diretora me disse que se quisesseemprego, era só naquela turma mesmo. Eu fui decasa em casa chamando os meninos, convencendo-os através da didática do afeto. Se eles gostassemde mim, eles teriam prazer em ir à escola”, re-vela. Resultado: aprovação de mais de 60% nofim do ano. A partir daí, toda turma tida como“problema” virava solução nas mãos da pro-fessora.

Mas a carência da criançada não seresolvia só na escola, era preciso ir além. Adesnutrição e as doenças começavam no am-biente doméstico; era necessário educar para avida. Maria Beatriz não hesitou: fundou o grupode mães na cidade, os de teatro e dança, a primeiraassociação de moradores e promoveu palestras ecursos sobre alimentação alternativa, corte e costura,dentre inúmeros outros. Na Empresa de AssistênciaTécnica e Extensão Rural de Minas Gerais, Emater, a pro-fessora buscou o apoio técnico necessário e profissionais quepudessem contribuir no esclarecimento de questões ligadas aohomem do campo, como por exemplo, o fortalecimento da agriculturafamiliar. Ela confessa que não deixa o pessoal da Emater em paz. “Há mais de dezanos eles nos ajudam muito, é uma parceria de sucesso”.

Sem perceber, com anos de luta pelo ensino, Maria Beatriz já era educadora para saúde,vice-diretora da escola e também candidata a vereadora nas eleições de 1982. Foi eleita comvotação recorde, apoiada pelos pais de seus alunos, e trabalhou durante seis anos de mandato,chegando mesmo a presidir a câmara municipal.

“Se eu já trabalhava, foi então que passei a trabalhar dobrado. Via as necessidades da po-pulação e tinha um ideal político de mudança; mas vi também muitos que se esquecem do que

prometeram quando estão no poder”, desabafa Maria Beatriz ao relembrar das ameaças demorte que sua família recebeu por seus embates políticos travados em favor da comunidade naépoca.

Depois desses anos...

Era inevitável: uma cidadã consciente e preocupada com a saúde de Buenópolisnão poderia ficar de fora do Projeto Manuelzão. Depois de mais de quarenta

anos, Maria Beatriz assumindo a coordenação do comitê local, tra-balha pelo ideal que aquele vaqueiro expansivo e brincalhão,

que gostava de contar estórias, vizinho de seu avô, ajudou aconstruir. “Acho que é nosso direito participar, dar

opiniões, propor para escolher o melhor. Desde setem-bro de 2000, quando comecei a trabalhar com o

Manuelzão, buscar parcerias com as escolas, comu-nidade, prefeitura, Copasa e Emater é o que temsido feito” relata. Hoje, por exemplo, o atendi-mento médico de Buenópolis é feito peloPrograma de Saúde da Família, PSF, iniciadoem 1999, e pelo Posto de Saúde, além dosestagiários do Internato Rural da UFMG.

Mas como saúde não é só clínica, ocomitê, sob sua coordenação, já organizou omutirão da limpeza antes das chuvas – isso sem

falar nas passeatas, na alfabetização para terceiraidade, nas propostas inovadoras de usina de reci-

clagem, oficinas de material aproveitável para acomunidade, arborização de ruas e praças, adoção de

nascentes... tantas ações que Maria Beatriz não secansa de enumerar. Para ela todos têm que se sentir

responsáveis pelo que fazem, por seus sonhos. Ao final da entrevista concedida ao Jornal Manuelzão, um

grupo de mulheres bordadeiras já aguardava Maria Beatriz na portade sua casa. Mulheres de muitas gerações, avós, mães e netas. Algumas, ex-

alunas da professora. Todas unidas num ideal de trabalho e reinserção social. “Ela émais que o uma professora para a gente, é como uma mãe”, segreda Viviane, 18, que foi suaaluna e hoje ensina às mais novas o trabalho.

A nossa professora-saúde, encerrando a conversa, deixa sua lição em tom reflexivo:“Sonhos pequenos cansam, sonhos grandes motivam. Sonhos pequenos não criam vontade delevantar mais cedo da cama para fazer um sacrifício. Sonhos grandes dão energia para que apessoa nem vá dormir. Sonhos pequenos não contagiam ninguém, mas os grandes mobilizamo Universo.”

Maria Beatriz: Sonhos grandes mobilizam o universo

Frederico ViezaEstudante de Comunicação da UFMG

Reencontsro16

P e r f i lManuelzão Belo Horizonte, Novembro / 2001