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MARANHÃO Projeto Laboratorial do 6º Semestre de Jornalismo da Unisa 2º Semestre de 2012 2013 Cem anos de amizade entre Vinicius e Braga Shows internacionais O País do samba na rota do mundo Remake de novelas Vale a pena produzir de novo? Cultura independente A vontade de poucos leva cinema e teatro gratuito para muitos VIII Edição

Revista Maranhão - 2012

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Revista elaborada pelos alunos do 6° semestre (1°sem 2013) do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da UNISA nas aulas de Jornal Laboratório sob orientação da profa. Elizabeth Fantauzzi (design de página/editoração)

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MARANHÃOProjeto Laboratorial do 6º

Semestre de Jornalismo da Unisa2º Semestre de 2012

2013Cem anos de amizade entre Vinicius e Braga

Shows internacionais

O País do samba na rota do mundo

Remake de novelas

Vale a pena produzir de novo?

Cultura independente

A vontade de poucos leva cinema e teatro gratuito para muitos

VIII Edição

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EDITORIAL

4 Maranhão / Edição nº. VIII Maranhão / Edição nº. VIII 5

EXPEDIENTE

O Brasil é um País rico em belezas naturais, diversidade, potencial criativo e também escritores. Machado de Assis, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Graciliano Ramos são alguns dos autores que deixaram, em suas obras, o registro de que a literatura brasileira está entre as melhores do mundo. Nesta edição, elegemos dois escritores que fizeram história com sua escrita de qualidade e que, certamente, estão na lista de muitos dos leitores. A escolha, no entanto, não foi arbitrária. Em 2013, Rubem Braga e Vinicius de Moraes serão homenageados em comemoração ao cen-

tenário de nascimento de ambos. Decidimos antecipar um pouco a festa e prestar uma singela reverência. Nossa intenção é apresentar a você as coincidências que circundam a vida destes es-critores. Além de mostrar a relação de amizade cultivada entre os dois. Mas a festa não será somente literária. Para quem gosta de música, temos uma matéria especial

mostrando que o Brasil também é um país rico em festivais musicais. Eventos internacionais re-nomados, como o Lollapalooza, estão desembarcando nas nossas terras para montar o palco por aqui. As festividades continuam na reportagem especial sobre o Carnaval de Recife e Olinda. Frevo,

bonecos gigantes desfilando nas ruas, o Homem da Meia Noite, o Galo da Madrugada. Nomes que fazem parte do imaginário brasileiro e que mostram que essa festa tão brasileira vai muito além dos desfiles das Escolas de Samba que passam na TV.E falando nela, a telinha também está aqui. A televisão, tantas vezes criticada por sua programa-

ção e busca incansável por audiência, está nas páginas da Maranhão na matéria sobre remakes de novelas. Produções televisivas que fizeram sucesso em determinada época estão sendo regra-vadas e adaptadas atualmente. Por quê? Fomos atrás de respostas. Não só para esta questão, mas para tantas outras que ainda hoje cercam as discussões sobre

cultura. Por exemplo, por que iniciativas como o Grupo Clariô de Teatro e o Cinema Nômade têm tanta dificuldade em continuar tocando seus projetos de inclusão nas comunidades de São Paulo? Duas matérias buscam entender o que separa o público carente de políticas culturais das produ-ções de qualidade feitas no Brasil. Nosso objetivo principal é transmitir a sensação que sentimos ao produzir nossas matérias: que,

muito embora o Brasil seja o país da miscigenação, enfrenta ainda o velho dilema da desigual-dade. Nem todos conhecem a maestria dos textos de Rubem Braga e Vinicius de Moraes, poucos podem pagar os ingressos do Lollapalooza, o Nordeste ainda sofre com visões preconceituosas que restringem o acesso a patrimônios como o Carnaval de Olinda e Recife...Falta muito para que bens culturais sejam acessíveis a todos. Nós, da Revista Maranhão, que-

remos que você, leitor, perceba a diversidade que existe no nosso País e, mais importante, que participe dela.Boa leitura!

Vitor BrancoEditor-chefe

Camila Reimberg Diagramadora

Bismarck RodriguesDiagramador

Viviane BrancoEditora executiva

Cíntia FerreiraEditora de texto

Jéssica VianaEditora de texto

Bárbara FrancoEditora de imagem

Natália NovaisEditora de imagem

Leonardo CasagrandiRevisor

Estéphane RanniRevisora

Edminon TeixeiraRevisor

Ana LiraRevisora

Prof. MárcioRodrigo

Profª. ElizabethFantauzzi

A Edição VIII da Revista Maranhão é um projeto laboratorial do sexto semeste do

curso de jornalismo da Universidade de Santo Amaro, Unisa, sob orientação dos professores Márcio Rodrigo e Elizabeth Fantauzzi.

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índice

6 Maranhão / Edição nº. VIII Maranhão / Edição nº. VIII 7

22

lITERATURA

O Sábia e o Poetinha que transcenderam os limites das palavras

O ano de 2013 marca o centenário de nascimento de Rubem Braga e Vinicius de Moraes. Amigos de uma vida inteira, os escritores foram também ótimos jornalistas

08 Fetiches que falam com os pés

Sapatos são capazes de mexer com o que existe de mais íntimo

em uma mulher

12 Carnaval de Permabucno

17 O vão do protesto!

Manifestações na Avenida Paulista são

exemplos da luta por ideais de justiça, liberdade e igualdade

no Brasil

26A batuta que atravessou a Avenida João Dias

Crescimento no número de shows e grandes

festivais internacionais faz do País uma opção

de mercado para artistas estrangeiros

30 Próxima parada: Brasil!

Música erudita conquista espaço e

ganha público na zona sul da capital paulista

34Cotidiano em forma de espetáculo

38 O lado B do cinema

42 Recordar é viver

46 A sustentabilidade da fotografia 54 Apresentação

O avanço da tecnologia repercute no modo como a sociedade consome filmes

Qual a melhor mandeira de preservar arquivos na era digital?

52 Coloque humor na sua linha do tempo

Com sátiras e politização, as páginas do Facebook caíram no

gosto popular

56 Profissões invisíveis

Todos os trabalhos são essenciais e merecem um olhar especial e o

respeito devido

59 Universo rodriguiano

Grupo Gattu homenageia Nelson

Rodrigues no ano de seu centenário

Animiação e criatividade marcam as festas de Recife e

Olinda, que começam 47 dias antes da

Páscoa

Grupo Clariô de Teatro retrata o dia a dia das comunidades

periféricas e populariza as artes

cênicas em São Paulo

Telenovelas ganham novas versões para

resgatar histórias que marcaram época

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Maranhão / Edição nº. VIII 9

comportamento

8 Maranhão / Edição nº. VIII

Fetiches que falam pelos

P É SPor Viviane Branco

Sapatos são capazes de mexer com o que existe de mais íntimo em uma mulher

Um objeto que se usa para tocar o piso nada imacu-

lado das ruas, e por várias ve-zes é colocado em contato com o suor, tem o poder de encantar as mulheres. Os sapatos femini-

nos têm virtudes mágicas, o qual faz qualquer mulher se sentir maravilhosa, sensual, chique e poderosa, muitas dizem que ele pode levar a uma excitação mui-to próxima da felicidade, aquela que dura um instante.

O salto alto surgiu na corte francesa do século 17, e foi o rei Luís XIV quem “encomendou” o primeiro par de sapatos Luis XV. A história conta que o monarca tinha 1,60m de altura e queria aumentar sua estatura para im-por seu poder. O salto foi am-plamente utilizado no reinado de Luis XV, que não só levou a fama como também seu nome. As principais características são: altura do salto variável entre 3 e 8 centímetros, segurança e con-forto, formato semelhante a um carretel, e tempos mais tarde co-meçou a ser usado pelas mulhe-res da corte.

No século 19, o sapato de salto alto foi introduzido nos Estados Unidos importado diretamente dos bordéis de Paris. O sucesso na capital francesa era enorme, pois a maioria dos clientes pre-feria contratar os serviços de prostitutas que usavam salto.

Em 1900, ainda sob o precon-ceito do século anterior, eram consideradas indecentes as mu-lheres que mostrassem suas ex-tremidades desnudas. A história mudou após a Primeira Guerra Mundial. Com o desenvolvimen-to da economia, os calçados de tiras entraram em cena: pontu-dos e com saltos altos, modelo Luís XV. Havia uma verdadeira exuberância de modelos. Em 1914, o designer italiano Sal-vatore Ferragamo já exportava sapatos femininos feitos à mão

para os Estados Unidos, onde ficou conhecido como o estilis-ta dos calçados das estrelas do cinema. A fixação pelos mode-los de luxo foi durante muito tempo um privilegio apenas das mulheres bilionárias, socialites e atrizes. Mais tarde, com a nova política comercial das marcas pop de linha, ele se tornou um comportamento de massa.

O sapato de qualidade conti-nua sendo considerado uma for-ma de investimento inteligente, porque quando assinado por um estilista, ou grife famosa, vira um dos símbolos de status mais ambicionados e ao qual é mais difícil renunciar. Quem não pode comprar uma peça recém--lançada da coleção atual recor-re às liquidações, pontas de esto-ques e feiras. Na cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, conhecida como a Capital Na-cional do Calçado, foi criada a “Feira da Loucura por Sapatos”. Evento que ocorre nas principais capitais do Brasil e caiu no gosto das consumidoras, que descobri-ram por meio dos sapatos uma maneira de mostrar seu estilo e personalidade. Segundo a As-sociação Brasileira de Calçados, 56% da produção no Brasil são de sapatos femininos e a expec-tativa de faturamento dos pro-dutos nacionais é R$ 35 bilhões.

No mundo da moda, os sapa-tos sempre estiveram em um pa-tamar de acessórios essenciais e, ao passar dos anos, quando cada vez mais as saias encurtavam, a preocupação com pés bonitos aumentava, tornando os sapatos objetos de desejo indispensáveis no universo feminino.

Nos anos 80, mulheres execu-

Reprodução / Internet

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Maranhão / Edição nº. VIII 1110 Maranhão / Edição nº. VIII

tivas passaram a adotar o salto stiletto. Sinônimo de “sex appe-al”, esse modelo foi criado pelo designer francês Roger Vivier, conhecido pelos saltos de forma bizarra e por ter calçado os pés da rainha Elizabeth II no dia de

seu casamento.

Diferentes cores e modelos: um desejo que se não controlado pode se transformar em compulsão

Rep

rodu

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Este acessório simboliza gla-mour e extravagância, além de um modo de expressar a femini-lidade, que era pouca explorada pelas mulheres.

Assim como os estilistas de moda, os de calçados

femininos passaram a ser estrelas do

mundo fashion, como Mano-

lo Blahnik, d e s i g n e r espanhol,

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dor do modelo Mary Jane Cam-pari, sapato de verniz preto, bico fino, com uma presilha so-bre o peito do pé e salto agulha. O bico fino da a quem usa a ilu-são de ter mais poder, portanto nada mais são que símbolos de uma tribo de mulheres particu-larmente inteligente, destinadas a posição de poder. Não por aca-so, quem notou primeiramente o talento de Manolo foi Diana Vreeland, editora-chefe da Vo-gue América, que o aconselhou a se lançar no mercado como designer de calçados.

Christian Louboutin, ou-tro nome da moda

dos calçados, é o designer francês favorito das cele-

Sapato Luís

XV, usado pela realeza

europeia

Rep

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Brilho, verniz, pêlo, couro ou qualquer outro material: no mundo dos sapatos, quanto mais melhor

bridades. Seus sapatos são reco-nhecidos em qualquer parte do mundo por terem sempre a sola vermelha, marca inconfundível de suas obras de arte. Loubou-tin criou modelos para Chistian Dior, Chanel e Yves Saint Lau-rent. No Brasil, o Simple Pump, scarpin com salto de 10 centí-metros, é o modelo mais vendi-do da marca e custa a partir de R$ 2 mil. Na Europa, ele custa 390 euros. Apesar do preço dez vezes maior que o de um sapato comum, é uma peça muito com-prada no mercado brasileiro.

Para as mulheres, os sapatos representam uma forma de linguagem corporal, que começa a transparecer logo que aprendem a andar usando os sapatos de suas mães.

A autônoma Érica Fernanda Rodrigues tem mais de 50 pares. Ela é apaixonada por sapatos e não economiza na hora de re-

novar a coleção. “Gasto de R$ 2 mil a R$ 3 mil com sapatos por ano”, declara.

O fascínio está no momento mágico da compra, a conquista, o prazer de tê-los no armário, é uma leve sensação de loucura que depois, assim como a pai-xão, acaba, até sentir novamen-te o amor à primeira vista por

meio da vitrine iluminada.Nem sempre convém pensar

no sapato como um item pura-mente utilitário. Fonte de sedu-ção, símbolo do amor, objeto de fetiche, nada mais compreensí-vel que também ocupe um privi-legiado lugar no mundo da arte.

Reprodução / Internet

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Além da sola vermelha, as criações de Louboutin são conhecidas pela ousadiano design

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Maranhão / Edição nº. VIII 1312 Maranhão / Edição nº. VIII

Carnaval de Pernambuco

Por Estéphane Ranni

Antônio C

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As festas de carnaval re-alizadas nas cidades de

Recife e Olinda reúnem as mais diferentes culturas, costumes e etnias. Como essas comemo-rações são realizadas nas ruas, não existem sambódromos nas cidades e não se faz necessária à compra de ingressos ou abadás (espécie de blusa ou bata larga, usada pelos foliões de blocos carnavalescos para se reconhe-cerem como grupo). As duas principais festas pernambuca-nas têm apenas duas regras: A primeira é ter animação e criati-vidade, a segunda é começar 47 dias antes da Páscoa.

Com o passar do tempo às tra-dições tiveram costumes modi-ficados, ou melhor, atualizados. Desde a caracterização das pes-soas, até a utilização dos con-fetes e serpentinas, eles ainda são valorizados, mas ao longo do tempo as pessoas mudam e automaticamente o modo de aproveitar a festa também. A foliã Talita Alves, que mora em Olinda, mas faz questão de co-

memorar o carnaval nas duas cidades, acredita nessa situação. “Geralmente eu me divido entre Olinda e Recife. Olinda é mais de dia. Uma festa mais aberta com os ritmos do frevo, samba entre outro, no sobe e desce das ladeiras da cidade. Já em Reci-fe, tem uma maior mistura de ritmos durante a noite, inclusi-ve o famoso Galo da Madruga-da. As diferenças que noto são em relação à falta de educação por parte de muitos foliões. Não só dos que moram nas cidades, mas também os turistas.”

O historiador e gestor do Centro de Formação, Pesquisa e Memória Cultural - Casa do Carnaval, Mário Ribeiro, afirma que “as tradições devem ser entendidas como invenções dos grupos sociais para atender as suas necessidades. Consideremos que estas necessidades mudam em diálogo permanente com o tempo. Partindo desse pressuposto, constatamos que as tradições são arbitradas e não arbitrárias. Dito isto e trazendo

52 toques

Jovens dançando o frevo, ritmo musical considerado patrimônio imaterial e cultural de Permanbuco

para o carnaval, percebemos que a festa mudou, e muito, desde as primeiras formas de brincadeiras nos tempos de Colônia. Mudou e não evoluiu”.

Considerada uma das melho-res festas de carnaval do mun-do, o carnaval em Pernambuco arrasta pessoas de todos os lu-gares do País e do mundo. Con-forme dados da Prefeitura do Recife, só neste ano a cidade recebeu 710 mil turistas, 20 mil a mais do que o ano passado, enquanto Olinda recebeu apro-ximadamente 2,1 milhão de fo-liões durante os quatro dias de festa, segundo a Secretaria de Turismo, Desenvolvimento Eco-nômico e Tecnologia da cidade. Um carnaval multicultural, não só pela diversidade de espetácu-los, mas pela diferenciação dos ritmos tocados. Alceu Valença, Lenine, Maestro Spok, entre tantos outros, fazem balançar os foliões ao ritmo das marchinhas carnavalescas. No qual o frevo, o coco, maracatu, caboclinho, samba, ciranda, manguebeat e

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Maranhão / Edição nº. VIII 1514 Maranhão / Edição nº. VIII

música eletrônica também tem o seu espaço na festa.

Em 2007, foi comemorado o centenário da publicação da pa-lavra “frevo” como ritmo musi-cal no Jornal Pequeno (antigo jornal do Recife que está fora de circulação), pois a expressão já existia em meados do século 19, conforme afirmação do ges-tor Mário Ribeiro: “O frevo é Patrimônio Imaterial do Brasil e não somente do Recife. Estamos pleiteando junto à UNESCO, o título de Patrimônio da Huma-nidade. A resposta sairá numa conferência na França.”.

Caracterizado como carnaval de participação, pois em todos os anos as pessoas do mundo todo vão às ruas para participar desta festividade democrática, em Pernambuco são os próprios foliões que organizam a festa, criam os blocos e grupos de to-cadores. Uma das tradições da festividade de Olinda são os desfiles dos bonecos gingantes

Com panos e máscaras, foliões viram Papangus nas ruas de Olinda

pelas ladeiras. Neles a são ho-menageados personagens da mídia como Silvio Santos, Pelé, Marcelo D2, Jô Soares, Galvão Bueno e a presidente Dilma Rousseff, mas também figuras pernambucanas, Alceu Valença, Lampião, Maria Bonita, Gilberto

Galo da Madrugada: maior bloco carnavalesco do mundo, segundo o Guinness World Records

Freyre, Chico Science, Luiz Gon-zaga e Reginaldo Rossi. O mais antigo de todos é o Homem da Meia Noite, que surgiu no ano de 1932. “Os bonecos são a cara do Carnaval, o homem da meia noite, e outras várias persona-lidades, influenciam demais o

Rep

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Carnaval de Olinda”, comenta Elton Carlos, morador orgulho-so por sua cidade.

Já para Talita Alves os bonecos influenciam na comemoração, “é uma tradição do Carnaval de Olinda e virou uma marca regis-trada. Existe uma forma de ho-menagear figuras públicas não só apenas do Carnaval, mas de personalidades nacionalmente conhecidas. Os bonecos gigantes servem para animar um bloco e dão cara ao Carnaval olinden-se.” Esse também é um exemplo de como está festa mistifica as culturas, sem deixar ninguém de fora. Entre várias premiações o Homem da Meia Noite rece-beu, em 2006, o título de Patri-mônio Vivo de Pernambuco. Os bonecos gigantes de Olinda são referência no Carnaval, e Recife é marcada por ter o maior bloco carnavalesco do mundo O Galo da Madrugada, atribuído pelo Guinness Book, livro dos recor-des mundiais, em 1994.

E que tal pegar o vestido da irmã e a maquiagem da mãe? Não, não estou falando das me-ninas que querem virar adultas, são os rapazes que entram nesta onda. No bloco nomeado de as Virgens de Verdade, os homens saem caracterizados como mu-lheres desfilando pelas ruas do bairro Novo em Olinda, com ir-reverência e animação. O blo-co, que existe há 57 anos, sai um dia antes da data oficial do carnaval, e para incentivar a participação são oferecidos con-cursos da virgem mais dengosa, a mais sapeca, a mais velha e a virgem mais charmosa. “As fan-tasias e adereços também mu-dam com o tempo. Um jovem de hoje não quer vestir a fanta-

Homem da Meia Noite titulado como Patrimônio Vivo de Pernambuco

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Maranhão / Edição nº. VIII 1716 Maranhão / Edição nº. VIII

sia nos moldes que o pai se fantasiava quando tinha a sua idade. Hoje as fantasias pedem mais brilho, menos tecido. É as-sim com vários blocos.”, aponta o historiador e gestor da Casa do Carnaval, Mário Ribeiro, quan-do perguntado sobre a diferen-ça nas formas de caracterização durante os anos.

Para que o folião não perca nenhum minuto da festa, foi criado o Expresso Folia, os fo-liões deixam os carros estacio-

Os bonecos gigantes de Olinda são a principal atração do carnaval da cidade para divertir turistas

Reprodução / Internet

nados nos shoppings da cidade e pagar uma taxa de R$ 3 para irem e voltarem dos blocos. Também pensando no desloca-mento das orquestras, foi criado um transporte adaptado para a locomoção dos músicos. No pro-jeto Caras do Recife, na Rua do Bom Jesus, uma equipe faz uma caricatura da pessoa e a renda arrecadada é direcionada ao Instituto de Assistência Social e Cidadania (IASC). Na folia é fácil encontrar pessoas que vão

coletar latinhas de cerveja e re-frigerantes para vender. Pensan-do nisso a Prefeitura elaborou o Espaço da Cidadania, no qual essas pessoas podem deixar seus filhos e gera emprego para os educadores e assistentes sociais.

Devido ao divertimento pú-blico junto com a consciência social, o carnaval realizado no estado do Pernambuco é um dos mais procurados.

Foram 12 anos entre projeto e execução para

concluir a sede atual do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Localizada na Avenida Paulista e projetada pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi, a instalação foi estruturada de forma que ficasse suspensa por quatros colunas, criando um vão livre

Manifestações na Avenida Paulista são exemplos da luta por ideais de justiça, liberdade e

igualdade no Brasil

O VÃO DO PROTESTO

de 74 metros que conservou a vista da Avenida Paulista para o Centro da cidade.

Desde a inauguração no novo local, em 1968, o museu tornou--se um dos ícones históricos e turísticos da cidade com alcance internacional. Possui um acer-vo com cerca de 8.000 peças que é tombado pelo Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1969. Todo ano participa do circuito internacio-nal das artes, recebendo exposi-ções de vários lugares do mun-do e emprestando peças para amostras no exterior.

O Masp, porém, tornou se conhecido não somente pelas obras de arte, mas, por ter o

Por Natália Novais

Márcio R

odrigo

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Maranhão / Edição nº. VIII 1918 Maranhão / Edição nº. VIII

vão livre como palco de mobi-lizações populares. Localizado em um dos principais centros financeiros e cultural do País, o local é considerado o principal espaço para a repercussão das vozes da população, que o usam para realizar protestos que tem como objetivo sensibilizar auto-ridades, ou membros da própria sociedade, a respeito dos mais diversos assuntos.

Os protestos em São Paulo ganharam referência e força duas décadas atrás, quando mais de 10 mil pessoas se reuniram com os rostos pintados, gritando “Aí, aí, aí, aí, aí se empurrar o Collor

cai”. Faixas, cartazes, palavras de ordem e pessoas com uma mesma meta, à de tirar do poder o então presidente Fernando Collor de Melo. Na época Collor foi denunciado pelo próprio irmão, Pedro Collor de Melo, revelando que o tesoureiro da campanha presidencial, Paulo César Farias – o PC Farias –, movimentava contas milionárias em paraísos fiscais. Após a denúncia, Pedro Collor revelou em uma entrevista exclusiva à revista Veja, em abril de 1992, que PC Farias não passava de um testa-de-ferro e todo dinheiro desviado pertencia ao

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então presidente Collor.Durante meses os caras-pin-

tadas foram até o vão livre do Masp, para se organizarem e sa-írem em passeata. Em outubro desse mesmo ano, com a pressão da população, o impeachment chegou ao Congresso Nacional. Um sentimento de dever cum-prido tomou conta dos sorrisos de todos que haviam ocupado o principal espaço da maior me-trópole do País.

Em todos esses anos, outras manifestações ocorreram na Avenida Paulista e se tornaram destaques em jornais e revistas, como o Dia do Basta. “Lutamos

Manifestantes aglomerados em frente ao Masp para protestar contra a corrupção no Brasil

por pontos específicos já discuti-dos pela sociedade, como o fim do voto secreto do Congresso e principalmente contra a cor-rupção, que é necessário aca-bar em nosso país”, diz Laura Furquim Xavier, uma das líderes do movimento.

Em movimentações como es-sas é possível perceber que as organizações nas ruas foram aliadas a uma conscientização resultante de projetos, propos-tas ou decisões sociais e fazem parte do direito à cidadania.

Segundo o professor doutor em ciências sócias, Expedito Leandro da Silva, “Essas mani-

festações da população são cul-turais, pois expressam reivindi-cação dos cidadãos injustiçados e que não estão de acordo com o que está sendo proposto pelo governo ou por qualquer outro órgão da sociedade”.

Com a modernização da tec-nologia no século XXI, as redes sociais – Facebook, Twitter, You-Tube, entre outras – são ferra-mentas indispensáveis para os internautas se mobilizarem e articularem esses movimentos, que ganham ampla divulgação.

Em 21 de abril deste ano, o protesto “Marcha Contra a Cor-rupção” reuniu uma grande con-centração de pessoas embaixo do prédio do Masp. A organiza-ção foi feita pelas redes sociais e reuniu cerca de 2.000 pessoas de quatro movimentos: Dia do Basta, Nova Política, Mudança Já e Quero o Fim da Corrupção.

Os manifestantes usavam na-rizes de palhaço, máscaras, so-avam apitos e alguns pintaram o rosto, lembrando os caras--pintadas. Todos pediam pelo julgamento do escândalo do mensalão, investimento maior do dinheiro público em saúde e educação e que a política se tor-ne sinônimo de ética.

Os manifestantes acreditam que conseguiram mudanças no País grandes movimentos pre-senciais, como em 1992. “Acre-ditamos nas marchas, porque só assim podemos conseguir mudanças, indo às ruas e pres-sionando o governo” diz Alex Santos, estudante do curso de história e participante de mani-festações contra a corrupção.

Os objetivos em prol do cole-tivo têm um peso fundamental em uma democracia. Em alguns casos, essas movimentações são vistas como mudança no com-portamento e acabam sendo interrompidas por agressões da polícia ou violência por parte dos próprios manifestantes. Mas ainda que haja uma chamada “rebeldia civil” de algumas pes-soas, os líderes dessas manifes-tações dedicam suas vidas em ajudar a sociedade a refletir e agir com passeata sociocultural.

Assim como os esforços dos caras-pintadas puderam atingir a sociedade passada, o dese-jo dos jovens líderes desses protestos é continuar transfor-mando e abalando à contem-porânea em relação aos pro-blemas sociais.

Grupo de jovens se reune em passeata para reinvidicar seus direitos

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Maranhão / Edição nº. VIII 21

literatura

20 Maranhão / Edição nº. VIII

O Sabiá e o Poetinha que transcenderam os limites

das palavras

O ano de 2013 marca o centenário de nascimento de Rubem Braga e Vinicius de Moraes. Amigos de uma vida inteira, os

escritores foram também ótimos jornalistas

Divulgação

Divulgação

Por Cíntia Ferreira

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Setecentos quilômetros se-paravam os dois. Rubem

veio primeiro, no dia 12 de ja-neiro de 1913. Vinicius preferiu esperar até 10 de outubro do mesmo ano. Ambos nasceram no domingo: dia bom para quem vem ao mundo ser poeta. O pri-meiro ainda não era Braga, o segundo tampouco era Moraes. Nesta época, o que aproximava os dois era o fato de que nem um, nem outro, sabia articular palavra. Enquanto Rubem dava seus primeiros passos lá para as bandas de Cachoeiro do Itape-mirim, no Espírito Santo, Vini-cius se movimentava pelos lados da Gávea, no Rio de Janeiro.

Cem anos se passaram desde então. Tanto Rubem quanto Vi-nicius entraram para a história como dois grandes nomes da li-teratura. Em 2013, diversas ho-menagens estão previstas para

comemorar o centenário de nas-cimento de ambos, algumas das quais já começaram. Em maio de 2012, na cidade de Cachoei-ro do Itapemirim, foi realizada a IV Bienal Rubem Braga. Para o ano que vem, a Escola de Samba Unidos de Jucutuquara apresen-tará o samba-enredo “A Cente-nária Noite do Sabiá da Crônica: entre Pássaros, Palavras, Chiqui-tas e Bananas”.

Vinicius de Moraes também terá seu nome estampado em um samba-enredo do Carnaval 2013. A Escola de Samba Uni-dos da Ilha fará homenagem ao poeta. Outra celebração pro-gramada - promovida pela Geo Eventos - contará com shows co-memorativos, exposições, espe-táculos e a reedição do musical “Arca de Noé”. O evento será re-alizado em três estados: Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia.

As comemorações mostram o peso que os dois nomes tiveram na literatura. Mas não só. Tan-to o “Sabiá da Crônica” – como ficou conhecido Rubem Braga – quanto Vinicius de Moraes deram suas contribuições tam-bém no jornalismo. Braga foi repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Porto Alegre e Recife. Além disso, foi correspondente de guerra do Diário Carioca, na Itália, do Jornal O Globo, em Pa-ris, e do Correio da Manhã. Fun-dou o jornal A Folha do Povo, as revistas Problema e Diretrizes e a Editora Sabiá.

A jornalista Ana Karla Dubie-la, autora do livro “Um Coração Postiço – a formação da crônica de Rubem Braga” diz acreditar que a crônica de Rubem Braga teve importante papel no jorna-

Vinicius de Moraes, de óculos, e

Rubem Braga eram frequentadores do

Café Vermelhinho, no Rio de Janeiro

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Maranhão / Edição nº. VIII 2322 Maranhão / Edição nº. VIII

lismo brasileiro. “Rubem Braga foi um grande jornalista que usou magistralmente a crôni-ca para transmitir seu posicio-namento político, crítico, mas, principalmente, criou a receita ideal entre a realidade e ficção, poesia e prosa, jornalismo e li-teratura”. Dubiela lembra que a contribuição do escritor ao jornalismo foi muito além da crônica. “Ele ficou conhecido no meio jornalístico como um profissional combativo, de es-querda, defensor das causas sociais”, diz a jornalista.

Também estudioso de Rubem Braga, autor de uma monografia sobre o escritor e idealizador da revista virtual Rubem, o jorna-lista Henrique Frendich faz coro à importância do escritor para o jornalismo. Segundo ele, as crô-nicas de Braga trouxeram mais poesia aos jornais nos quais es-crevia. “Até hoje o jornalismo tem dificuldade de assimilar a crônica como um dos seus gêne-ros. Pensando numa contribui-ção especificamente para o jor-nalismo, talvez tenha sido com uma visão mais humanizada e

poética da notícia, num tempo em que a objetividade começava a dar o tom”, afirma.

Apesar de ter sido o único es-critor nacional a se tornar cé-lebre exclusivamente por meio da crônica, o próprio Braga não via o gênero como um produto literário, tampouco jornalístico. “Respondo que a crônica não é literatura, e sim subproduto da literatura, e que a crônica está fora do propósito do jornal. A crônica é subliteratura que o cronista usa para desabafar pe-rante os leitores”, escreveu

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A morte de Vinicius inspirou Rubem Braga

a escrever o poema “Recado de Primavera”

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Maranhão / Edição nº. VIII 2524 Maranhão / Edição nº. VIII

Rubem Braga na Revista Nacio-nal, em 1989.

Conhecido como poetinha, Vinicius de Moraes não quei-ra ser comparado a poetas que acreditavam serem superiores a outras pessoas. Apesar da fama que adquiriu com poesias e composições musicais, ele foi também crítico de cinema e trabalhou nos jornais Última Hora, A Manhã, O Jornal, en-tre outros. Começou no cinema em 1936, quando foi nomeado representante do Ministério da Educação para o Departamen-to de Censura Cinematográfica. Mais tarde, em 1941, exerceu a função de crítico de cinema no Suplemento Literário do jornal A Manhã. Lançou a revista Film, em 1947, e viajou para a Euro-pa para estudar a organização dos grandes festivais de cinema.

Em 1959, teve sua peça “Orfeu da Conceição” adaptada para o cinema. O filme “Orfeu Negro” conquistou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de melhor fil-me estrangeiro.

A aproximação entre os dois escritores não foi somente no ramo jornalístico e literário. Ambos eram amigos e frequen-tadores da roda literária do Café Vermelhinho, no Rio de Janeiro. Por ocasião da morte de Vinicius, Rubem Braga escreveu a crônica “Recado da Primavera”, na qual lamentava a partida do amigo: “Escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma notícia grave: A Primavera chegou. Você partiu antes. É a primeira Primavera, de 1913 para cá, sem a sua par-ticipação. Seu nome virou placa de rua; e nessa rua, que tem seu nome na placa, vi ontem três ga-

rotas de Ipanema que usavam minissaias. Parece que a moda voltou nesta Primavera — acho que você aprovaria”.

Tanto Vinicius quanto Braga tinham no lirismo uma ferra-menta essencial de construção de seus textos, como lembra o jornalista Henrique Frendich: “Creio que a aproximação entre os dois deve ser justamente pela veia lírica, que era apenas uma das facetas do Braga, mas que provavelmente era a principal no Vinicius. Ao que me parece, ambos eram bastante interessa-dos em contemplar e entender o sexo feminino. E, de certa for-ma, isso acabava sendo refletido em seus textos”.

A mulher como tema literá-rio – algo tão presente na obra de Vinicius – fez-se presente também nas crônicas de Rubem Braga. “Numa primeira leitura, o que mais chama a atenção é a sua melancolia e sua intensa relação com a natureza e com a alma feminina. Essa é a destaca-da veia poética e lírica do cro-nista, que produziu algumas das páginas mais bonitas da nossa literatura e do nosso jornalismo. Existe ainda uma deliciosa auto ironia, herdada provavelmente do Machado de Assis, que faz a gente ler boa parte das crôni-cas com um sorriso de canto de boca”, analisa Frendich.

De 1913 para cá muita coisa se passou. Rubem Braga, escritor e jornalista, virou também nome de flor e de lei municipal de incentivo as artes. Já Vinicius, compositor – juntamente com Tom Jobim – de “Garota de Ipanema”, “Insensatez”, entre outras, ganhou placa de rua e entrou para a história como co-criador da Bossa Nova.

O irmão de Rubem Braga, Newton Braga (à direita), também se destacou como escritor e jornalista

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“Arca de Noé” foi um livro de seus poe-mas infantis, publicado em 1970. Feito em homenagem aos filhos, a obra de Vinicius virou disco, em 1980 e contou com a par-ticipação de vários intérpretes, todos es-colhidos por ele. Apesar de ser um sonho do poeta desde a década de 70, o álbum “Arca de Noé” foi lançado apenas dez anos depois, quando Toquinho, Fernando Faro e Rogério Duprat finalizaram a produção

do material. Além de livro e disco, “Arca de Noé” tornou-se um programa de televi-são: “Sexta Super, Vinicius para Criança”, exibido na TV Globo, em 1980. Poemas como “O Pato” (“lá vem o pato, pata aqui, pata acolá...”); “O Relógio” (“passa tem-po, tic tac, passa hora, chega logo...”) e “A Casa” (“era uma casa muito engraçada não tinha teto, não tinha nada...”) faziam parte desta obra.

Autor de poesias célebres como “Soneto da Fidelidade” e “Soneto da Separação”, tornou-se conhecido também como um casamenteiro de primeira: disse sim nove vezes.

Vinicius faleceu, no dia

19 de julho de 1980, em consequência de um edema pulmonar. Rubem Braga esperou mais e só se despediu da vida dez anos depois, no dia 19 de dezembro de 1990, em consequência de uma parada

cardiorrespiratória, provocada por um tumor na laringe que preferiu não tratar. Ambos faleceram no Rio de Janeiro. A derradeira coincidência na vida dos dois amigos.

Rubem Braga e Vinicius de Moraes, sentados, acompanhados de alguns colegas escritores e jornalistas

Divulgação

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Maranhão / Edição nº. VIII 27

MÚSICA

26 Maranhão / Edição nº. VIII

Ditar os ritmos e remexer emoções por trás da batuta é tarefa de Silvia Luisa-

da. Com movimentos únicos, a maestrina leva o conhecimento do gênero erudito à crianças, jovens e adultos da periferia da zona sul da cidade de São Paulo.

Há nove anos, durante um projeto músi-cal denominado Ateliê, realizado por Luisada na Casa de Cultura de Santo Amaro, surgiu a ideia de organizar uma orquestra. No início,

as pessoas não acreditavam que o projeto pu-desse dar certo, afinal, instrumentos eruditos custam caro e o preconceito em relação a esse estilo musical ainda atinge parcela da popu-lação da periferia. Entretanto, ela apostou na ideia e começou as seletivas para escolher os músicos. Apareceram candidatos das cinco regiões da cidade. Alguns já possuiam expe-riências em outras orquestras, outros tinham apenas o desejo de aprender a tocar um ins-

A batuta que atravessou a Avenida João Dias

Por Jéssica Viana

Jéss

ica

Vian

a

Composições eruditas conquistam espaço e ganham público na zona sul da capital paulista

trumento. O resultado foi a cria-ção da Associação Filarmônica Santo Amaro (AFSA). O espaço para os ensaios, realizados na Casa de Cultura de Santo Ama-ro, foi cedido pela Prefeitura de São Paulo.

Preenchidas todas as vagas, os

primeiros membros que ingres-sarem na orquestra mal sabiam tocar um instrumente e ler uma partitura. O processo foi árduo e levou certo tempo para se fir-mar. Cauã Sanfer, por exemplo, aos 13 anos, procurou a regente com um violoncelo debaixo dos braços. Seu pai tinha vendido o único Fusca da família e com-prou o instrumento para o filho. O menino não sabia tocar nada

e também nunca tinha visto uma partitura. Mesmo diante das di-ficuldades a persistência tomou conta da professora e do aluno.

“O brilho nos olhos daquele garoto e a vontade que ele me mostrava de querer tocar algu-ma coisa, me impossibilitavam

de lhe dizer não. Então entre-guei algumas partituras para que ele estudasse e pedi para voltar outro dia”, diz Silvia.

Aos poucos, o garoto foi es-tudando e criando uma relação com a música erudita. Hoje, Cauã já passou por outras or-questras, como a do Pão de Açú-car, além da Filarmônica de Santo Amaro.

“Existem poucas orquestras

em São Paulo que dão a opor-tunidade de pessoas amadoras terem a prática orquestral, que é muito importante na vida do músico”, comenta a maestrina.

Os integrantes da filarmôni-ca, fundada por Luisada, são pessoas simples que não tive-ram a oportunidade de estudar música desde os cinco ou seis anos de idade, como a maioria dos músicos fazem. Não levam consigo lembranças de já terem escutado, em algum momen-to da vida, Mozart ou Bethoven, porém carregam sonhos e pers-pectivas de futuro dentro do ce-nário musical.

Sem nenhum patrocínio, a orquestra se mantém com a aju-da dos comerciantes da região, em especial de uma amiga par-ticular da regente, Maria Lapa-ge, que se propôs a contribuir mensalmente com um valor em dinheiro. As contribuições são utilizadas para pagaer o transporte dos músicos até en-saios que ocorrem semanalmen-te. Lapage prefere não se expor e não quer seu nome ligado à causas sociais.

A cada apresentação, uma evolução. Sorrisos estampados nos rostos e conquista de públi-co cativo fazem com que pessoas simples se sintam realizadas pe-rante a sociedade. Diante das dificuldades enfrentadas no dia a dia, os músicos se mostram capazes de atingir metas, sem-pre além do esperado, mesmo tendo que trabalhar para sobre-viver e quase não tendo tempo para praticar.

A inserção dos jovens tam-bém faz com que galguem projetos para o futuro. Que-

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Maranhão / Edição nº. VIII 2928 Maranhão / Edição nº. VIII

rem se profissionalizar, estudar em outros países e se tornar, quem sabe, artistas internacio-nalmente reconhecidos.

As obras eruditas são cobertas por histórias de grande melan-colia, nervosas e, muitas vezes, de uma placidez muito grande. Por trás de uma partitura há sempre uma carga artística mui-to grande, um compositor, um período, uma época na qual a peça foi composta. Os músicos necessitam conhecer e compre-ender toda a formação para con-seguirem passar ao público as emoções desejadas.

“Quando cheguei aqui na or-questra não sabia nada de mú-sica, participei do coral e depois aprendi a tocar flauta, desde en-tão, pesquiso sobre o erudito e hoje me considero uma flautista. Minha família sente muito orgu-lho de mim, já sou avó e quero que meus netos também possam conhecer o erudito”, diz a in-tegrante da AFSA, Elza Gon-çalves Santos.

Com entradas perfeitas e tim-bres harmônicos, os pulsos da maestrina regem um repertório que vai do erudito barroco ao forró de Luiz Gonzaga. A propa-ganda é feita pelo boca a boca e cartazes espalhados pelo distrito

Jéss

ica

Vian

a

Coral formado por baixos, tenores, contraltos e sopranos enriquece as músicas tocadas pela orquestra

de Santo Amaro. Esta publicida-de já conseguiu encher o teatro do Sesc Santo Amaro e do teatro Paulo Autran, com aproximada-mente 400 convidados.

O desafio de adotar um pú-

blico cativo em plena zona sul de São Paulo, onde as músicas consideradas populares ganham mais espaço, ainda é grande. Porém a orquestra vêm conse-guindo quebrar este paradigma.

Instrumentista revela o melhor de suas melodias em casa nota

Jéssica Viana

Quando se fala em ritmo erudi-to, ritmo erudito, muitos asso-ciam a teatros com ingressos de valores altos e público da classe A e B. Entretanto, este cenário vem se modificando nos últimos anos. Por meio de projetos so-ciais e incentivos do governo à cultura, agora, é possível apre-ciar uma boa música a céu aber-to. No Parque do Ibirapuera, ocorrem apresentações de mú-sicos eruditos, gratuitamente. Outro exemplo acessível à po-pulação de baixa renda é o pro-jeto Favela Erudita, desenvol-vido pelo Instituto Bacarelli na comunidade de Heliópolis. Os músicos de lá, já se apresenta-ram para um grande público no Teatro Municipal de São Paulo e em vários outros eventos cultu-rais da cidade.

O fato das pessoas não gos-tarem, ou não se interessarem, por música erudita não está re-lacionado a classe social, mas sim, no hábito de aprender a ou-vir este estilo de música, sentir o aguçado dos instrumentos tocar a mente e o corpo, a mistura de vozes e sons que vão se entrela-çando na alma. Claro que para isto, o indivíduo precisa se doar e, mais do que tudo, é necessá-rio alguém que já saiba e tenha passado por todo este processo para apresentar está “novidade” para quem é leigo no assunto.

O diferencial da Orquestra Filarmônica de Santo Amaro talvez seja exatamente está mis-tura de ritmos e histórias que re-fletem no repertório. As canções executas pelos músicos e inter-pretadas pelo coral encantam desde crianças até os ouvidores mais experientes.

Jéssica Viana

A experiência faz com que o violoncelista não precise de partitura para acompanhar os colegas

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Maranhão / Edição nº. VIII 3130 Maranhão / Edição nº. VIII

Próxima parada:

B R A S I L !

Crescimento no número de shows e grandes festivais internacionais faz do País uma opção de mercado para artistas estrangeiros

Por Bárbara Franco

O Brasil entrou de vez na rota das turnês interna-

cionais, seja com festivais ou shows próprios. No último ano, foram mais de 500 shows de ar-tistas estrangeiros, percorrendo todos os estilos de músicas.

Um mercado que movimen-tou mais de R$ 600 milhões em bilheterias, com mais de dois milhões de ingressos vendidos,

segundo estimativa das cinco maiores produtoras de shows do País. O show do U2, em abril de 2011, teve o maior público da história, com cerca de 240 mil expectadores.

Para o presidente da XYZ Life, Bazinho Ferraz, o mercado de entretenimento e shows no Bra-sil vem crescendo acelerada-mente porque há mais confiança

na economia. Segundo dados da empresa, o País alcançou apro-ximadamente US$39 bilhões, em 2011, com shows, musicais e teatro. Esse número deve subir para aproximadamente US$64 bilhões até 2016.

Um dos fatores que ajudaram a alavancar o número de shows pelo mundo foi o aumento e a facilidade de realizar downloads

Divulgação / U

2

Palco em formato de aranha da turnê 360º, da banda U2, que passou por aqui em 2011

Bazinho Ferraz é empresário e idealizador da empresa XYZ Life

de músicas pela internet. Como os CDs já não rendem como an-tes, a alternativa para os músi-cos foi explorar o mercado de apresentações.

Para a produtora musical Lu Herreira, o aumento desses eventos por aqui se deve, prin-cipalmente, à crise financeira mundial e a melhora da renda dos brasileiros. “Essa crescente de shows tem três pontos: é bom porque faz a economia girar, au-menta a visibilidade do Brasil no exterior e traz a oportunidade para pessoas que não podem ir ao exterior assistir produções es-trangeiras”, diz. Para Herreira, no entanto, existem pontos ne-gativos: a preferência por apre-sentações com bandas inter-nacionais barateia o custo dos shows nacionais. “Em relação à mão de obra especializada, os gringos vêm com uma estrutura própria na maioria dos shows, sendo que temos profissionais capacitados. O que ainda me faz

crer que eles não acreditam cem por cento na competência dos brasileiros”, analisa.

Grandes festivais ganharam suas edições brasileiras ou vol-taram a ter edições na sua terra natal, como o Lollapalooza e o Rock in Rio, respectivamente.

Em 2011, depois de 10 anos percorrendo cidades europeias como Madrid e Lisboa, um dos maiores festivais do mundo vol-tou ao Brasil, o Rock in Rio. Sua primeira edição foi realizada

no Rio de Janeiro, em 1985. Ao longo de mais de 20 anos, atra-ções de peso do cenário mundial como Queen, AC/DC, Guns N’ Roses e Red Hot Chili Peppers já tocaram no festival idealizado por Roberto Medina.

O Rock In Rio já tem data marcada para acontecer nova-mente no Brasil. O evento será realizado nos dias 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setem-bro de 2013. Algumas atra-ções já foram confirmadas,

Divulgação / G

rupo AB

CD

ivulgação / Rock in R

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Vista panorâmica do público no

Palco Mundo no Rock in Rio de

2011

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Maranhão / Edição nº. VIII 3332 Maranhão / Edição nº. VIII

como Metallica, Iron Maiden, Bruce Springsteen e Sepultura. Em 2014, o festival ocorrerá pela primeira vez em Buenos Aires, Argentina.

O Lollapalooza, em 2012, fez sua primeira edição em terras brasileiras. Foram 135 mil ex-pectadores. Criado em 1991, pelo vocalista da banda Jane’s Addiction, Perry Farrell, o even-to acontecia em Chicago, Esta-dos Unidos. Em 2010, o festi-val saiu da América do Norte ganhando a América do Sul com a primeira edição em Santiago,

Chile. Bandas como The Strokes, Arctic Monkeys, Foster The Peo-ple, Foo Fighters e Green Day marcaram presença.

Em 2013, o Lollapalooza volta a São Paulo, para mais uma edição no Jockey Club. Os dias do evento já estão con-firmados: 29 30 e 31 de março. Mais de cinquenta atrações já estão confirmadas, entre elas Pearl Jam, The Black Keys, The Killers e Franz Ferdinand.

Vocalista do Foo Fighters durante o show no Lollapalooza Brasil 2012

Paul McCartney: Em 2010, 2011 e 2012, o ex-Beatles fez oito apresentações no País. Sir Paul passou por Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis e Recife. Segundo a produtora Plan Music, ele deve fazer mais três shows no Brasil em 2013, passando por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

B.B. King: O rei do Blues voltou ao Brasil em 2012 para sua nova turnê. Com dois shows em São Paulo, um no Rio de Janeiro e um em Curitiba. As últimas apresentações do cantor no País foram em 2004 e 2010.

Billy Paul: Aos 78 anos, um dos maiores nomes da Soul Music veio para o Brasil em 2010, no primeiro semestre de 2011, e voltou, em 2012, para shows em Salvador, Rio de Janei-

ro e em São Paulo.Gloria Gaynor: Dona de sucessos como “I Will

Survive" e "I Am What I Am” a cantora veio para o Brasil, em 2004, 2006, e esteve por aqui, em junho de 2012, para shows em São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória. Em outubro, voltou para um show beneficente, em São Paulo.

Liza Minnelli: A atriz e cantora veio ao Brasil, em 2007, 2009 e 2012. Fez shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Tony Bennett: Passou pelo País, em outubro de 2009, fazendo apresentações em Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Brasília. A última visita ao Brasil havia sido no início dos anos 90. No final de 2012, fez shows em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Divulgação / M

idiorama

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Maranhão / Edição nº. VIII 35

TEATRO

34 Maranhão / Edição nº. VIII

Cotidiano em forma de

ESPETÁCULO

Grupo Clariô de Teatro retrata o dia a dia das

comunidades periféricas e populariza as artes cênicas em São Paulo

Por Edimon Teixeira

A apresentação gratuita começa em meia hora, mas o aviso “Chegar com antece-

dência para retirar o ingresso” fixado no por-tão de entrada é acatado fielmente. São oito horas da noite, a plateia com 120 espectadores se aglomera na altura do número 96 da Rua Santa Luzia, em Taboão da Serra. Espectado-res disputam cada centímetro para poderem

assistir a peça “Urubu Come Carniça e Voa”, em sua penúltima semana de exibição.

“Tinha que ver isso aqui há uns cinco anos”, comenta Isilda de Sousa, “fã número um do grupo”, enquanto tenta se acomodar no espaço apertado entre uma adolescente e um idoso. O teatro improvisado comporta hoje aproxima-damente cem pessoas, público bem superior

Edim

on T

eixe

ira

aos 25 espectadores que se es-premiam entre atores e produ-ção nos primeiros anos de apre-sentação do grupo.

O ano é 2001. Artistas se jun-tam em Taboão da Serra com o objetivo de criar um grupo tea-tral que pudesse refletir sobre a arte na periferia. Quatro anos se

passaram e foi fundado o Gru-po Clariô de Teatro, um coletivo de arte resistente que busca por meio da prática da troca, en-contro e permanente discussão, entender e fomentar a arte nas bordas da metrópole. Na oca-sião, e nos cinco anos seguintes,

o espaço que ocupavam consis-tia em duas pequenas casas alu-gadas, na qual podiam ser facil-mente convertidas em cenário.

O grupo montou em 2008 a peça “Hospital da Gente”, sáti-ra sobre as constantes inunda-ções que acontecem na rua onde está localizado o teatro. Como o púbico ficava em um espaço descoberto, a peça precisava ser cancelada sempre que cho-via. Por mais de uma vez foram perdidos os figurinos e cenários, recuperados posteriormente pelo esforço dos atores e ajuda da comunidade. A retratação da realidade vivida pela população local na peça, além de chamar a atenção dos governantes locais para a necessidade de assistên-cia, também levou o talento dos colaboradores para além das margens do município.

“Hospital da Gente” foi in-dicado em cinco categorias do Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro (CPC), do qual conquis-tou três troféus no ano de 2009. Uma instituição de renome vol-tada para a divulgação cultural se rendeu, ainda que por um curto espaço de tempo, ao ta-lento dos artistas periféricos: o espetáculo passou pela cida-de do Rio de Janeiro onde teve uma rápida temporada na Caixa Cultural. A fama do grupo au-mentava na mesma proporção que seu público, mas apesar das conquistas, os incentivos fi-nanceiros não aconteceram.

Hoje, no mesmo local das pequenas casas, há um Galpão Cultural, fruto de esforço, tei-mosia, talento e muito trabalho. “A gente tem o objetivo de pro-duzir arte e é desta forma vamos

brigar e colocar nossa voz, nos-so protesto, junto com a comu-nidade, com os grupos da peri-feria”, diz Mário Pazini, diretor teatral com mais de 30 anos de experiência em trabalhos volta-dos à periferia de São Paulo. A má divisão dos investimentos advindos das leis de incentivo a cultura explica, em parte, o apartheid cultural, que a exem-plo do Clariô, deixa de lado pro-jetos pequenos, mas relevantes, que difundem cultura para toda uma comunidade.

Em 2001, quando os artistas estruturavam o que se tornaria um dos principais expoentes do movimento periférico de inte-gração cultural na região me-tropolitana de São Paulo, dados do Ministério da Cultura (Minc) apontam que dos mais de R$ 1,6 bilhões investidos por leis de in-centivo à cultura, desde a sua existência até o período citado, 85% fora aplicado na região su-deste, quando as 10 empresas que mais utilizaram a lei tive-ram 60% do valor destinado à renúncia fiscal.

A partir da Lei Federal de Incentivo à Cultura (lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991), conhecida por Lei Rouanet, o mercado cultural brasileiro vive um forte processo de mudança. A parceria entre empresas e sociedade, incentivada pelo poder público, por sua vez, ainda está por se firmar. Ao contrário do que se almeja, a efetivação do patrocínio cultural via leis de incentivo permanece restrita a fundações e institutos ligados a grandes empresas e a nomes consagrados da cultura brasileira.

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Resistência reconhecida

Com a montagem, o grupo arrebatou esse ano o prêmio de melhor elenco no Prêmio Coo-perativa Paulista de Teatro de 2011, em evento realizado no Teatro Coletivo, centro da capi-tal paulista. Desta vez, a compa-nhia contou com apoio do go-verno do Estado de São Paulo, por meio do Programa de Ação Cultural (Lei nº 12.268, de 20 de fevereiro de 2006), conhecida como ProAC. A premiação ren-deu espaço para apresentações no Espaço das Artes, no Sesc Santo Amaro. Com a mesma peça, o elenco representou o Estado de São Paulo na VII Mostra Latino-Americana de Te-

atro de Grupo, realizada na ci-dade de São Paulo.

Mário Pazini, além de diretor, é responsável pela cenografia ao lado de Alexandre Souza, um dos atores/criadores da peça. Will Damas, por sua vez, desdobra-se entre a assessoria dramatúrgica e a iluminação, enquanto Marti-nha Soares e Naruna Costa, atri-zes e criadoras, são responsáveis pelos figurinos e adereços. Na-runa também acumula a função de compositora da trilha musi-cal. Fazem parte desta emprei-tada ainda Diego Avelino, Nalo-ana Lima, Washington Gabriel, que assim como os demais, acu-mulam funções na produção

para que a peça seja encenada.Neste contexto, ainda resta

como instrumento capaz de ba-lancear a má distribuição dos re-cursos públicos, o Fundo Nacio-nal de Cultura (FNC), mantido principalmente por verbas das loterias federais. Criado para fo-mentar projetos regionais e sem fins lucrativos, a partir da apli-cação direta de recursos pelo Minc. O FNC, a exemplo das leis de incentivo, tem sua própria razão de existir questionada. Torna-se cada vez mais urgente a revisão das políticas públicas de incentivo cultural no País.

Mesmo em uma estrutura precária, plateia disputa cada centímetro para assistir a encenação

Edim

on T

eixe

ira

Atores acumulam funções para

criação da peça: diretor é cenógrafo;

atriz é figurista

Edimon Teixeira

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Maranhão / Edição nº. VIII 39

AUDIOVISUAL

38 Maranhão / Edição nº. VIII

O lado do cinema

O avanço da tecnologia repercute no modo

como a sociedade consome filmesPor Camila Reimberg

Tecnologia é a associação de técnica com ciência. De acordo com a semioticista da

PUC-SP, Lúcia Santaella, os meios de comuni-cação partem da cultura oral, passando pela cultura escrita, impressa, de massa, de mídia para, enfim, atingir a digital – sem que nenhu-ma destas eliminasse sua antecessora.

Com o cinema, a convergência de tais está-gios de culturas não é diferente. De acordo com

o escritor e professor de História do Cinema da Escola de Belas Artes da Universidade Fede-ral de Minas Gerais, Luiz Nazário, a aplicação massiva de um conjunto de novas tecnologias substitui, hoje, o que era elétrico, analógico e mecânico pelo eletrônico, digital e sensorial.

Segundo Nazário, “o cinema incorpora toda nova tecnologia que lhe seja aplicável e a evolução técnica o modifica por dentro,

Nichollas M

uniz

até que essa mudança atinja a maneira como se produz e se consome o cinema”.

Para o professor, uma nova técnica exige mudanças profun-das em toda a sociedade, pois “acaba produzindo uma reação em cadeia, modificando modos de criação e consumo, substi-tuindo linguagens e hábitos, ge-rando novas empresas, equipa-mentos e profissões”.

A cultura digital ampliou as modificações do cinema, por-que, de acordo com Nazário, “hoje, com a internet, o DVD, o BlueRay, o celular e outras tan-tas plataformas de reprodução, podemos perder todos os fil-mes que estão em cartaz, pois temos a certeza de que podere-mos vê-los a qualquer hora.”

Ele comenta que o digital re-presenta, nesse sentido, “o fim

Sala nômadePor outro lado, usar a Séti-

ma Arte como instrumento de ensino é o propósito do filósofo Luiz Fuganti ao realizar o Cine-ma Nômade. O projeto consiste em levar sequencias de filmes agregados a aulas-debates para comunidades, escolas e centros culturais da cidade de São Pau-lo, sempre com uma programa-ção específica e direcionada para cada grupo etário, de crianças a idosos. O objetivo é proporcio-nar dispositivos para reabrir um campo crítico e criativo de per-cepção e uso das sensações que pode ter sido oculto devido aos

problemas ímapres existentes na vida de cada um.

Os filmes são exibidos em telas maiores que as de televi-sões, mas que continuam pe-quenas se comparadas às salas de muitos cinemas. O ponto de partida do projeto foi o Centro Cultural e Educacional de Heli-ópolis, localizado na zona sul, se estendendo, posteriormente, a outros pontos da cidade. O CEU Caminho do Mar, no Jabaquara, e o Centro Cultural da Juventu-de Ruth Carvalho, na Vila Nova Cachoeirinha, são alguns deles.

No início do quarto dia do evento em Heliópolis, realizado em 20 de setembro, o questionamento se iniciou antes mesmo do filme começar: “O que é sagaz?”, perguntou uma das crianças ao se deparar com o desconhecido.

Mar

iana

Mon

teir

o

da magia da Sétima Arte, expe-rimentando o gozo estético da visão única do filme nas grandes telas dos palácios do cinema”.

Crianças permanecem atentas durante a exibição do filme

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Maranhão / Edição nº. VIII 4140 Maranhão / Edição nº. VIII

Luiz Fuganti tentou provocar no público deste dia, crianças de 8 e 9 anos, questionamentos relacionados ao filme proposto: “Kiriku e a Feiticeira” de Michel Ocelot. Deste modo, ele dialo-gou antes da sessão começar, di-zendo que tanto o mal quanto o bem tem uma razão de ser e pede para que as crianças observem a razão da malda-de da feiticeira.

Fuganti explica que os ob-jetivos esperados com a exi-bição é tornar o jovem grupo de crianças mais inteligente e sa-gaz – daí a pergunta inicial. E agrega aos ali presentes o sig-nificado da palavra descoberta: “aquele que percebe rapidamen-te as coisas e com profundi-dade”, explica.

O filme “Kiriku e a Feiticeira” conta a história de uma antiga lenda africana

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Itinerante

O ponto de partida do movi-mento foram oito apresentações a públicos distintos, no Centro Cultural de Heliópolis. Segundo o “cientista”, como Luiz Fuganti foi chamado por uma das crian-

ças durante o debate do filme, a ideia inicial era ter uma continuidade de 8 eventos ao mesmo público.

Mas, para a equipe, a ex-periência se tornou um ponto de partida para poderem contem-plar mais pessoas. “A continui-dade é importante, porque se cultiva uma prática, um modo de pensar, de sentir. O que é extremamente importante para que se gere consistência”, comenta Fuganti.

O filósofo acredita que, mes-mo não tendo alcançado essa continuidade no início do movi-mento, já sente o resultado es-perado, “porque o que toca uma pessoa permanece”.

Informa, ainda, que o movi-mento estabelece uma continui-

O filme conta a história de um bebê que começa a falar dentro da barriga de sua mãe. Ao con-trário de todos em sua tribo, não se contenta com “as falsas res-postas”, como observa Fuganti, tornando-se um sujeito ativo em sua aldeia. E é justamente esse o propósito do movimento: cola-borar para que as pessoas saiam do estado passivo e se tornem ativas em sua sociedade, pois “o Kiriku dá a ideia de ativo”.

Construção da resistênciaFuganti aponta que a forma

de poder na sociedade con-temporânea se refinou: não é mais o Estado que manda nas pessoas e controla suas ações; nem é mais o disciplinar, que diz o que se deve fazer.

Segundo ele, hoje, há outro

poder mais sutil, que convive com os outros dois e visa admi-nistrar nossos quereres. “O po-der sutil produz o meio e você se efetua do jeito que quiser naquele meio, (...) agindo e re-agindo dentro daquela bolha... você está sendo controlado e acha que é livre”.

Assim, o movimento Cinema Nômade busca construir uma resistência contra esse terceiro poder, “A pessoa vai problemati-zando e percebendo que os va-lores são móveis e criados, não

existe valor em si, eles não são elementos engessados”.

Com isso, a jovem Geovana, presente na exibição do filme “Kiriku e a Feiticeira” e no debate com Fuganti, comparti-lhou sua visão: “A gente sempre acredita que tem certeza no que se acha”.

A fim de tornar as crianças sujeitos ativos na sociedade, Fu-ganti explica a necessidade de saber como as coisas são e não em como se “acha” que são.

dade no tempo e não no espaço, explicando o conceito de “nô-made” do projeto e distinguin-do-o de um trabalho itinerante.

Mariana M

onteiro

Fuganti acompanha

a exibição de filme no projeto

Cinema Nômade

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Maranhão / Edição nº. VIII 4342 Maranhão / Edição nº. VIII

Recordar é viver

Telenovelas ganham novas versões para resgatar histórias que marcaram época e apresentar ao público jovem sucessos do passado que ficaram

registrados na memória coletiva do PaísPor Leonardo Casagrandi

Na história da teledrama-turgia brasileira surgem,

de tempos em tempos, novelas que marcam uma época. Obras que permanecem guardadas na lembrança dos telespectadores e deixam saudades com gostinho de “quero mais”. O sucesso des-sas tramas faz com que ganhem remakes anos depois, uma ver-são da história atualizada para a época em que será lançada, apostando no retorno dos fãs do passado e na curiosidade do pú-blico jovem que deseja descobrir porque a novela atraiu a atenção

de tantas pessoas no passado. No grupo dos telespectado-

res de novelas brasileiras está Guilherme da Rocha. Ele, que assistiu a primeira versão da no-vela Gabriela, da TV Globo, em 1975, avalia que o remake exi-bido pela mesma emissora em 2012 destacou núcleos e perso-nagens secundários do livro que deu origem à trama, enquanto a primeira versão foi mais fiel a ele. “A 1ª focou mais na Gabriela e a 2ª diluiu a história, acrescen-tando personagens e tramas que não existiam, como a do coro-

nel Manoel das Onças com a prostitua Zarolha”, comenta.

O estudante Michel Carmo conta que adorou a versão da novela Ti Ti Ti, da TV Globo, que foi ao ar em 2010. “Foi um baita remake no qual a Maria Adelaide Amaral conciliou duas novelas - Ti Ti Ti e Plumas e Paetês – de forma impecável”. Michel leu as sinopses das no-velas e assistiu a vídeos da obra de Cassiano Gabus Mendes, que foi ao ar em 1985, pela inter-net. Para ele a união das duas tramas formou um enredo rico

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Juliana Paes no remake de

Gabriela (2012): homenagem ao

centenário do escritor Jorge

Amado

e que gerou um bom desfecho para os personagens. “O casa-mento das duas (novelas) se deu bem pelo fato de ambas abordarem o mundo da moda”.

Outra releitura que o aluno afirma ter gostado foi O Astro, transmitida pela mesma emisso-ra no ano de 2012. “O autor ar-ticulou a novela de acordo com o público. Se tivesse seguido a mesma linha da original, o protagonista, Herculano Quin-tanilha, teria fugido no co-meço da novela ao perder os poderes e talvez o público de hoje não gostasse”.

Sônia Braga, a eterna Gabriela, em cena da versão original da telenovela exibida em 1975

Para alguns fãs, essas novas produções são positivas e aju-dam a reciclar as obras. Segun-do a professora Elenice Ramos, o público dos remakes quer confe-rir a criatividade dos novos tem-pos na elaboração de um enredo já apresentado. “Eu vejo como a releitura de um quadro”, com-para a professora. “Conserva-se a essência e adicionam-se novi-dades com muita criatividade”.

A espectadora e professora Roseli Almeida Cruz conta que não gosta de ver as histórias originais; no entanto, ainda é a preferência de alguns, como a

colega de profissão Cintia Fer-nandes Machado. “As novelas, uma vez feitas, principalmente se tratando de grandes suces-sos, não deveriam ser alteradas. Num possível ‘Vale a Pena Ver de Novo’, os remakes deveriam con-tinuar fiéis às versões originais”, diz. Para ela, o público assiste às regravações para rever uma his-tória que marcou sua vida.

Mas existem vários fatores que influenciam na decisão de realizar uma regravação. Ci-tando como exemplo Gabriela, o professor doutor em ciências sociais, Expedito Leandro Silva,

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Maranhão / Edição nº. VIII 4544 Maranhão / Edição nº. VIII

explica que a nova versão foi criada porque, além do sucesso, ela faz parte das homenagens ao centenário – celebrado em 2012 – de Jorge Amado, escri-tor baiano, autor do livro que deu origem à novela. O profes-sor acredita que esta obra é a síntese da trajetória intelectual do romancista. A trama mar-cou o imaginário das mulheres com um apelo feminista pode-roso. “Toda mulher gostaria de ser uma Gabriela no seu íntimo. Elas têm esse desejo inconscien-te por causa do ar de liberdade, de ousadia que ela tem. As mu-lheres de Ilhéus (cidade onde vive a personagem) sentem in-veja da liberdade dela. Queriam ser como ela, mas não podiam por causa da moral da época”, salienta.

Para Carlos da Silva Pinto, mestre em dramaturgia audio-visual, é tudo uma questão de refazer um produto cultural de sucesso adaptando-o ao tempo

atual. Esse recurso também é utilizado quando existe uma di-ficuldade para desenvolver um material original.

Carlos Pereira Gonçalves, doutor em ciências sociais e es-

Otávio e Charlô de “Guerra dos Sexos” em cenas de 2012 e 1983

pecialista em cinema brasileiro contemporânea, entende que as emissoras produzem remakes ao perceberem que a trama tem uma boa história e pode ser um bom produto. “É uma forma de celebrar a memória do público”.

Na avaliação de quem acom-panha a teledramaturgia, exis-tem vários motivos para uma obra ganhar nova versão: pode ser falta de ideias, tentativa de repetir ou até superar o sucesso da original, resgatar a memória coletiva do público ou atualizá--la com recursos disponíveis hoje. No entanto, os espectado-res gostam de rever as histórias que os emocionaram, que fize-ram sonhar e permearam suas vidas, fazendo com que seus personagens, seus romances e suas aventuras ficassem até os dias de hoje em suas memórias. Talvez esta seja a resposta para os altos índices de audiência ge-rados pelos remakes.“Carrossel”: sucesso infantil volta à grade do SBT após 22 anos

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O momento vivido pelas emis-soras atualmente exige cada vez mais investimentos para agradar os telespectadores. Os progra-mas desenvolvidos estão cada vez mais elaborados, porém o conteúdo veiculado se fixa cada vez mais em assuntos “sensacio-nalistas”, que apelam para sen-sações de comoção e revolta. O objetivo é claro: envolver e me-xer com os sentimentos dos te-lespectadores com a finalidade de conseguir o mais importante para a televisão: a audiência.

Há 14 anos, época em que a internet ainda não era nem de longe o que é hoje, a televisão tinha uma audiência estável, principalmente no horário nobre da programação. Os programas apresentados preocupavam--se em manter alguns padrões de qualidade com a restrição a certas imagens de violência ou erotismo. A evolução da inter-net e dos aparelhos portáteis de comunicação revolucionaram a maneira como as pessoas acom-panham conteúdos audiovisu-ais. As emissoras de televisão perceberam que havia um novo concorrente à espreita. O dilema estava instalado: o que é me-lhor? Manter a audiência a todo custo ou investir em conteúdo de qualidade, mesmo que isso signifique perder uma parcela de telespectadores?

O caminho escolhido por mui-tas emissoras foi insistir em uma

programação sensacionalista por medo de perder a audiência. Cenas de violências, regadas à dramatização - como a nego-ciação de um seqüestro ao vivo - entraram na grade de certos canais como “interesse público”. Além disso, os investimentos em realitys shows e em quadros que expõem as pessoas a situações humilhantes, fizeram da televi-são uma espécie de exemplar da má qualidade e da degradação da mídia. Por último, o cresci-mento das propagandas trans-mitidas durante determinado programa – os populares “mer-chandisings” – tumultuaram os canais de televisão: já não sa-bemos diferenciar muito bem o que é informação e o que é pu-blicidade. Ao que parece a TV virou uma espécie de “ponto de venda”. Que pena!

Com o potencial midiático que este veículo de comunica-ção tem, seria um ganho para o telespectador ter acesso a bens culturais de qualidade. No en-tanto, a televisão optou por atrair a audiência pelo “estôma-go”, apelando para conteúdos vazios e constrangedores. Mas é importante ressaltar que a culpa não é somente do produtor, mas do receptor também. Esse tipo de programação só existe por que há público para ela. É ne-cessário que façamos uma refle-xão a respeito do papel dos te-lespectadores. Afinal de contas, há muito tempo eles deixaram de ser passivos no processo de comunicação. Atualmente, a au-diência é muito mais interativa. Resta fazer dessa interação uma forma de transformar a TV em mídia de qualidade.

Pulverização da audiência: a que ponto a televisão chega para

assegurar o públicoPor Ana Lira

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Por trás das câmeras de um estúdio de televisão; onde a

ilusão é criada

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Maranhão / Edição nº. VIII 47

TECNOLOGIA

46 Maranhão / Edição nº. VIII

Qual a melhor maneira de preservar fotos na era digital?

A sustentabilidade da imagem

Desde sua criação, a fotografia sempre mexeu com a emoção das pessoas. O in-

teresse do homem pela arte de fotografar e ser fotografado se tornou cada vez mais presente no dia a dia. A fotografia não é apenas uma forma de retratar a realidade, ela ajuda a pre-servar momentos ímpares da vida de cada um.

A popularização dessa arte começou no fi-nal do século XIX, com o lançamento da Po-cket Kodak, primeira câmera portátil (media 10 centímetros de altura) produzida em gran-de escala (cerca de 100 mil unidades vendidas

no ano de lançamento). A partir desse momen-to, a câmera começou a fazer parte do cotidia-no da sociedade, proporcionando a qualquer pessoa a possibilidade de tirar fotos de ma-neira rápida, sem a necessidade de um fotó-grafo profissional. Esse modelo de fotografar utilizava equipamentos que funcionavam de forma analógica, ou seja, as imagens eram ar-mazenadas fisicamente em filmes fotográficos, que se consolidou no fabricado com triacetato de celulose, necessitando passar por um pro-cedimento químico para que a imagem fosse

Por Vitor Branco

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Momento da história conservado de forma a possibilitar uma pequena materialização da lembrança

Milhares de pastas guardam o acervo analógico do jornal O Estado de S. Paulo

copiada do filme para o papel fotográfico, processo conhecido como “revelação”.

Atualmente, esse modelo de produção fotográfica é pouco utilizado, pois foi substituído pelas fotos em formato digital. Nesse novo modo de trabalho, a câmera fotográfica capta, por meio de células fotossensíveis (chamadas CCD, Charged Cou-pled Device), a luz da cena fo-tografada. Esta informação, captada analogicamente, é di-

gitalizada (pelo shift register”) e armazenada de maneira virtual num meio magnético, os cartões de memória das câmeras. Pos-teriormente, você só poderá ver as imagens obtidas por meio de equipamentos eletrônicos, como um computador, ou imprimin-do-as diretamente (tendo uma impressora adequada). Devido a esse conceito de captura e ar-mazenamento de imagens, que não está presente apenas em simples câmeras, mas também

em celulares, tabletes, com-putadores, entre outros equipa-mentos, uma questão começou a se tornar preocupante: “Onde posso guardar minhas imagens com segurança, já que não tem mais os “negativos” caso elas estraguem?”.

Na época das câmeras analó-gicas, as fotografias eram arma-zenadas de diversas formas, sen-do muito comum realiza-lo em estantes, separando as fotos por pastas. Caso alguma fosse dani-

Vitor Branco

Vitor Branco

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Maranhão / Edição nº. VIII 4948 Maranhão / Edição nº. VIII

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ficada, existia o negativo e a foto poderia ser revelada novamente. Atualmente, com a evolução tec-nológica, os equipamentos mais simples são capazes de capturar mais de 300 imagens em alta qualidade, antes um rolo de filme fotográfico capturava em média 36 imagens, sendo que as fotos digitais podem ser envia-das para outro equipamento, li-berando espaço para realização

de mais capturas, sem a neces-sidade da compra de qualquer item complementar. Porém, caso alguma imagem seja perdida, não existe um recurso para recupera-la, como acontecia na época analógica.

A preocupação com a forma de armazenamento das imagens digitais se torna mais importan-te quando pensada em âmbito corporativo, pois o fluxo de ima-

gens é muito intenso, podendo chegar à produção de milhares de imagens em um único dia. Um exemplo que retrata essa situação é o acervo fotográfico do Grupo Estado, do jornal o Es-tado de S. Paulo e site estadão.com.br. No acervo ainda são pre-servados os filmes fotográficos revelados (também conhecidos como negativos) e cópias conta-tos (uma forma de se visualizar melhor o filme fotográfico para escolher as melhores fotos para ampliação e revelação), mas a forma de trabalho atual é toda feita com imagens digitais.

Segundo o coordenador do acervo fotográfico do Grupo Es-tado, Edmundo Leite, as fotos na versão digital ajudaram a acelerar o processo de trabalho diário, pois não precisam ser re-veladas e podem ser inseridas direto no molde do jornal que será impresso, assim que coloca-das no sistema. Mas o local ideal para realizar o armazenamento das fotografias “é a grande ques-tão do momento”, pois existem

O armazenamento correto é crucial para a preservação do negativo

Vito

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Dezenas de prateleiras guardam as histórias que foram contadas diariamente nas páginas do periódico

Reprodução / Internet

diversas formas de guardar o conteúdo digital, todos com seus prós e contras. O primeiro passo quando se pensa nessa questão é encontrar uma solução que seja “eficaz com um custo aces-sível”. Atualmente, o sistema que melhor atende as necessida-des da empresa é o DVD de du-pla camada de leitura, ou DVD Dual Layer, pois une segurança, acesso rápido às informações e um custo baixo, em comparação a outros tipos de armazenamen-to, como o hard disk (HD). “Essa não é a solução ideal, mas é a que melhor se adéqua à rotina intensa de trabalho que temos aqui”, conta Leite.

O sistema considerado por muitos o mais seguro para o ar-mazenamento de conteúdo di-gital, mas pouco utilizado como mídia de uso diário por traba-lhar de forma lenta e ter um custo elevado, é a fita magnéti-ca. Por exemplo: para encontrar uma imagem armazenada em um DVD e restaurá-la a demo-ra é de cerca de três minutos,

se fosse utilizada uma fita mag-nética no mesmo procedimento a demora poderia ser de horas. Mas em compensação, a garan-tia de preservação do conteúdo faz com que esse método esteja presente na realização de cópias de segurança de arquivos de grandes empresas e acervos fo-tográficos, como o Instituto Mo-reira Sales. Segundo o assisten-te de coordenação do acervo do instituto, Cídio Martins, por se tratar de um acervo histórico, “o mais importante é a preservação da obra” e não o quão rápido será recuperado do arquivo digi-tal, dessa forma os backups são feitos em fita magnética. Porém, no instituto o formato digital só é utilizado para guardar cópias das obras físicas, pois ainda não foram adquiridas obras comple-tas em formato digital.

Com relação à utilização de sistemas de armazenamento online (na nuvem), recurso que está crescendo a cada dia e con-quistando novos utilizadores, tanto o Grupo Estado, como o Instituto Moreira Sales, prefe-rem utilizá-lo apenas como uma alternativa para expor parte do

acervo para visualização pú-blica. As imagens são liberadas com qualidade baixa, servindo apenas para visualização em equipamento digital. Caso al-guém precise utilizar alguma imagem em alta qualidade, eles realizam a liberação após uma solicitação. Dessa forma, eles dificultam a utilização inade-quada das fotos, protegendo o direito autoral delas.

Esse sistema não é utilizado na rotina de trabalho de cada lo-cal, pois além dos riscos de per-da de informações, as empre-sas ficariam reféns da internet. Se o acesso fosse interrompido por algum motivo, não teria como acessar as fotos e o traba-lho pararia, o que é impensado em um grupo de mídia como o Grupo Estado. Para usuários domésticos a utilização do ar-mazenamento online pode ser uma boa saída, pois poderá ter acesso a todas as fotos em qual-quer local que tenha acesso à internet e não precisará ter um computador em casa para guar-dar as imagens. Porém, além de não contar com um espaço de armazenamento grande, exis-

Rolo de filme fotográfico da Fujifilm com capacidade para 36 poses

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50 Maranhão / Edição nº. VIII

tem os mesmo problemas de conexão e segurança sofridos nas grandes empresas.

Levando em conta todos es-ses aspectos, ainda não existe solução perfeita para o armaze-namento e preservação das fotos digitais. O melhor dos recursos

até o momento é o armazena-mento em equipamentos locais, como CDs, DVDs e HDs, por ser-em os mais seguros e de melhor valor financeiro. Mas para que esse acervo seja mantido por muito tempo é necessário estar atento e atualizar, sempre que

necessário, as ferramentas uti-lizadas no armazenamento das imagens, pois é a única forma de minimizar os riscos de per-der um momento único, que foi registrado pela lente da câmera fotográfica.

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O armazenamento se intensificará na nuvem, seja por meio de sites, arquivos ou redes sociais

Repórter seleciona material que melhor

ilustrará a matériaVito

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Maranhão / Edição nº. VIII 5352 Maranhão / Edição nº. VIII

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Com sátiras e politização, as páginas do Facebook caíram no gosto popular

É impossível imaginar a rede social sem elas. Alguns en-

tram para olhar, outros para in-teragir. Mas há quem só queira saber qual a piada do momento.

Estamos falando das páginas virais, comunidades que fazem humor com assuntos específicos e que estão por todos os cantos do Facebook. São criadas para disseminar diversos tipos de conteúdo, como política, atuali-dades e direitos do consumidor. Em geral, elas têm uma carac-terística em comum: o humor, item essencial para estar na ti-meline de milhares de usuá-rios diariamente.

O assessor comercial, Danilo Lorenzetti, acredita que, em ge-ral, essas páginas servem para brincar com os colegas, pois li-dam com situações da rotina diária do público-alvo. Mas ele

alerta, “quem usa fan pages com perfil de besteirol preci-sa tomar cuidado, afinal pode perder até um amigo”.

Perfis que ironizam com as profissões são sucesso entre os usuários. Aline Ribeiro trabalha com Marketing e acompanha a página Publicidade e Propagan-da da Depressão, que conta com 72 mil “curtidores”. Usuária as-sídua da rede social, ela tenta acompanhar todas as atualiza-ções da página. “Às vezes eles publicam à noite e eu perco” ex-plica Aline. Mas nem só de hu-mor vivem as páginas virais.

Criado no início de janeiro, o Canal do Otário tem mais de 80 mil “curtidores” e, apesar do que o nome pode sugerir, o perfil se-gue a linha de defesa do consu-midor, revelando as artimanhas usadas pelas empresas, como a

propaganda enganosa.O administrador da página,

que se identificou apenas como Otário A. Anonymous, afirma que o nome do perfil é uma críti-ca às empresas que enganam os consumidores e à sociedade que aceita ser iludida. Anonymous garante que seu esforço é re-compensado pelas centenas de e-mails que recebe diariamente com agradecimentos. “Um me-nino disse que seu pai compro-metia boa parte da renda fami-liar com jogos de loteria e, após assistir a um vídeo divulgado por mim, parou de jogar”, conta.

Os usuários, em sua maioria, interagem com os conteúdos das Fan pages quando aparecem em suas páginas pessoais. Mas, no caso do Canal do Otário, os se-guidores realizam acessos recor-rentes para conferir se existem

novidades. “Ela tem um conte-údo mais crítico. Vejo a página porque pode ter saído um vídeo que eu não tenha visto” comen-ta Lorenzetti.

Estar presente em várias redes sociais na internet é uma discus-são ainda sem resposta entre os administradores de páginas do Facebook. Enquanto o modera-dor do Canal do Otário prefere diversificar usando o YouTube e o Twitter, Rafael Ayoub, criador da página Talvez Eu Curta, vê uma perspectiva diferente para sua obra. Ayoub não encontra motivos para sair da rede criada por Mark Zuckerberg. “Ela ul-trapassa a linha de apenas uma

rede social. A tendência no Fa-cebook é: o que já existe vai me-lhorar, e o que ainda não existe, vai ser criado”.

A forma errada de usar as re-des sociais e a falta de conhe-cimento sobre elas são as prin-cipais críticas da professora de Tecnologia em Comunicação, Elizabeth Fantauzzi. “As pessoas não fazem ideia do alcance que essas páginas têm e por isso não conseguem mensurar as conse-quências das postagens.”

Já o Doutor em Ciências So-ciais pela PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica), Expedi-to Leandro, não vê as postagens feitas pelas páginas virais como

benéficas. “São covardes, deve-riam assumir em seus perfis pes-soais as opiniões e brincadeiras que fazem, afinal, muitas são de mau gosto,” afima.

Seja como for, essas páginas garantem o bom humor de muitos usuários, como informam e estabelecem discussões no Facebook. Não há como imaginar que esse modelo de humor vá acabar em pouco tempo, afinal as fan pages evoluíram das “Comunidades” do Orkut e assim seguirão amadurecendo não importando o nome que recebam.

A brincadeira de Ayoub com o quadro de Monalisa gerou diversas interações na página do Facebook

O criador e administrador da fan page Canal do Otário, Otário A. Anonymous, explica que foi vítima de propaganda engano-sa e, a partir de então, decidiu iniciar uma luta contra essa prá-tica.

Maranhão: Como você teve a ideia de criar essa página? Otário: Em Janeiro de 2012,

comprei um pacote de biscoitos em uma mercearia. Como nun-ca havia consumido aquele bis-coito, comprei pela aparência

apresentada na embalagem. Já longe da loja, quando tive fome, resolvi abrir a embalagem e me deparei com uma cena bizarra. O biscoito da embalagem, não tinha nada a ver com o biscoi-to real. Já era tarde demais para regressar à mercearia e devolver o produto. Então, prometi para mim mesmo que começaria uma batalha contra propagandas en-ganosas.M: De onde partem suas ideias

de postagens?O: Ultimamente, tenho recebi-

do muitas sugestões de fãs. Mas, eu procuro informações em sites

de reclamação ou órgãos regu-ladores como Reclame Aqui, Procon, Proteste, Idec, Anatel, Bacen e nos sites das próprias empresas. E sempre vou checar tudo para ver se de fato há en-ganação.M: Qual seu objetivo com a pá-

gina? Até onde você espera che-gar?O: O objetivo é acabar com a

propaganda enganosa e tornar o País um lugar um pouco melhor para se viver. Infelizmente, este objetivo ainda está longe de ser cumprido, mas continuarei ca-minhando ;-).

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FOTORREPORTAGEM

54 Maranhão / Edição nº. VIII

Profissões invisíveis

Universo rodriguiano

No cotidiano, muitas vezes, realidades ex-istentes passam despercebidas ao olhar.

Preocupações diárias fazem com que cada vez mais seja privilegiado o individualismo ao co-letivo, fazendo com que as pessoas percam a oportunidade de crescer como sociedade.

Nas páginas a seguir, será apresentado um projeto especial de fotorreportagens criado por alunos do 5º semestre de Jornalismo da Uni-sa que ilustram dois singelos momentos desse cotidiano despercebido, seja ele real ou peça cênica.

Jefferson Castro

Tatiane Gom

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Maranhão / Edição nº. VIII 5756 Maranhão / Edição nº. VIII

Profissões invisíveis

Por Jefferson Castro

Todos os trabalhos são essenciais e merecem um olhar especial e o devido respeito

Vendedoras de sorvete descansam após um dia inteiro percorrendo as ruas para refrescar os pedestres

Expandir a visão, valorizar a importância de cada

um dos trabalhos. Perceber e respeitar até os serviços tidos como os mais simples é o objetivo desta sequência de fotografias. Dar créditos às pessoas que, na correria das grandes cidades, são esquecidas este é o intuito de PROFISSÕES INVISÍVEIS.

Quantas vezes você parou e reparou nas diversas pessoas que fazem parte do seu dia a dia? Você já prestou atenção nos vários profissionais que cercam a sua rotina? Quem é mesmo

que recolhe o seu lixo? Quem fica responsável por entregar aquela encomenda que você tanto espera? Ou quem é o dono daquela voz que você escuta todos os dias ao ligar o rádio?

PROFISSÕES INVISÍVEIS foi pensada e produzida com a intenção de retratar alguns dos mais variados profissionais que contribuem e facilitam as nossas tarefas diárias ou mesmo daquelas pessoas que são essenciais para a sociedade. Ainda foram retratadas aquelas atividades que logo são

lembradas quando surge algum problema ou aquelas que não utilizamos todos os dias, mas que são indispensáveis para determinados momentos.

As imagens que foram selecionadas são apenas algumas das profissões que rodeiam a vida de todos, desde o café da manhã até a hora de relaxar no sofá e assistir a novela antes de dormir. Mostrar a importância desses profissionais para o bom funcionamento da vida em sociedade é a preocupação desse trabalho.

Carteiro relaxa e aprecia a vista depois de uma jornada de trabalho percorrendo ruas e entregando correspondências aos seus destinos

O esforço da cozinheira no preparo da comida

Pintores fazem renovações por meio das cores

Atendente soluciona problemas pelo telefone

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Maranhão / Edição nº. VIII 5958 Maranhão / Edição nº. VIII

Funcionário trabalha despreocupado em shopping de Santo

Amaro

Garis descansam após a difícil e diária tarefa de tentar manter as ruas limpas

Propaganda não se faz sozinha

Ajustes para o próximo serviço

Roupas feitas de forma artesanal

Universorodriguiano

Por Tatiane Gomes

Grupo Gattu homenageia autor em seu

CENTENÁRIO

Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues completaria

100 anos no dia 23 de Agosto de 2012. Por conta disso, foram realizadas diversas homenagens por todo o País para que todos pudessem lembrar mais uma vez do “Anjo Pornográfico”. O jornalista nasceu em Pernambuco e se mudou ainda pequeno para o Rio de Janeiro. Ele escrevia crônicas esportivas e possuía verdadeira adoração pelo Fluminense.

Nelson também era autor de teatro e ficou conhecido pelas polêmicas que espalhava quando escrevia. Ele sempre colocava em evidência as hipocrisias da sociedade e revelava o que as pessoas negavam fazer quando estavam sozinhas. Foi consagrado por diversas obras, entre elas, “Álbum de Família”, “Dorotéia” e “Boca de Ouro”. Em São Paulo, o Grupo Gattu de Teatro decidiu homenageá-lo com a montagem de “A Serpente”, última peça teatral escrita por Nelson Rodrigues, em 1978.

Fundado em 2001, pela atriz e diretora Eloísa Vits, o grupo possui hoje sua própria casa de espetáculos onde ensaia e atua. Essa é a quarta vez que a trupe monta Nelson Rodrigues. O elenco diz se identificar com o universo do autor. “A Serpente” é uma peça de ato único que conta a história de um triângulo amoroso que vai do ódio ao amor e do medo da solidão ao abandono em segundos. Venha e olhe, as cortinas foram abertas.

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Maranhão / Edição nº. VIII 6160 Maranhão / Edição nº. VIII

Personagens na Roda da vida: duas

irmãs, dois casais e um mesmo destino

Guida e Ligia, um abraço que sela o amor entre as irmãs

Guida, que se casou com

Paulo, pôde desfrutar de

um amor verdadeiro,

intenso

O arrependimento consome Guida, que acredita ter perdido o amor do marido

Mentiras ditas por um homem para confortar um coração desesperado são a causa de uma tragédia

Ligia recebe a proposta de passar uma noite com o marido da irmã

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