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Revista Nossa Terra, publicada pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará
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n°1
| a
no 0
1| J
ulh
o |
2009
Projeto São José | Cadastro Agropecuário | Crédito Fundiário | Regularização Fundiária |
Plano Safra | Agricultura Orgânica | Programa de Peixamento |
Programa de Cisternas | Programa Territórios da Cidadania
Governo do Estado do Ceará |Secretaria do Desenvolvimento Agrário
CEARÁ
Agricultura FamiliarO desenvolvimento passa por aqui
Ensaio
Cid Ferreira Gomes
Antônio Rodrigues Amorim
Wilson Vasconcelos Brandão
José Maria Pimenta
Edílson de Castro
Francisco Bessa
Governador do Estado do Ceará
Camilo Sobreira de Santana
Reginaldo Moreira
Celso Oliveira
Cláudia Albuquerque, Natercia Rocha, Mikaela Feitosa
Celso Oliveira, Davi Pinheiro, Fábio Lima
Ponto2design
LocalFoto
- Cláudia Albuquerque, Natercia Rocha (registro n.39996-SP)
Secretário do Desenvolvimento Agrário
Secretário Adjunto da SDA
Secretário Executivo da SDA
Presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce)
Presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Estado (Adagri)
Superintendente do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace)
Presidente da Central Abastecimento do Ceará (Ceasa)
Marcelo Pinheiro
Presidente do Instituto Agropolos do Ceará
Coordenação Editorial -
Textos –
Fotografia –
Projeto Gráfico –
Arte final, digitalização e tratamento de imagens –
Jornalistas Responsáveis
Contatos: Assessoria de Comunicação e Marketing da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado do Ceará.
(85) 3101.7631 / 3101.8058. www.sda.ce.gov.br , [email protected]
Tiragem 5 mil exemplares / Impressão – Expressão Gráfica
Julho de 2009
Apresentamos o primeiro número da revista “Nossa Terra - Ceará”, canal de
comunicação para mostrar a força da Agricultura Familiar em nosso Estado. A
ideia é compartilhar as experiências reais do desenvolvimento no campo,
melhorias e desafios do modo de vida do nosso sertanejo, bravo povo há tanto
tempo castigado pelo descaso e pelo esquecimento.
Com a criação da Secretaria do Desenvolvimento Agrário, em 2007, o Governo do
Estado do Ceará demonstrou especial interesse em valorizar esse importante
segmento da população. Agora, trabalhadores e trabalhadoras rurais dispõem de
um espaço institucional inteiramente dedicado aos seus interesses.
Inspirados pela coragem e determinação com que a gente do campo enfrenta
adversidades, trabalhamos com uma visão renovada do desenvolvimento rural,
com participação social e a busca da universalização dos direitos fundamentais,
considerando sempre a abordagem territorial e o caráter intersetorial do
desenvolvimento.
Nesta primeira edição, mostramos exemplos de pessoas e comunidades de
agricultores que vêm enfrentando desafios, que conquistaram o direito à terra e ao
trabalho digno e que hoje dispõem de renda que lhes garante melhores condições
de vida e, mais que isso, cidadania.
Secretaria do Desenvolvimento Agrário
CEARÁ
Projeto São José
Regularização Fundiária
Crédito Fundiário
Defesa Agropecuária
Banco do Nordeste
Agricultura Orgânica
A vida melhora na terra do caju - 06
Cor e sabor das frutas da serra - 09
Pingo d´Água: o verde que brota do Sertão - 11
No embalo das redes do Sítio Mocotó - 13
Um marco na história do Ceará - 16
Acesso à terra para 2.317 famílias no Ceará - 18
Jovens abraçam vida no campo - 20
Construindo sonhos - 22
A modernidade da tradição - 25
Pela 1ª vez Ceará sedia Circuito Pecuário Nordeste - 26
Agroamigo faz quatro anos de atuação - 30
Saúde na mesa do Interior à Capital - 32
Sumário
Programa de Peixamento
Programa Leite Fome Zero
Plano Safra
Agricultura Familiar
Territórios da Cidadania
Programa de Cisternas
Se cai na rede é peixe - 36
Plano Safra 2009: Mais recursos para Agricultura Familiar - 42
Feceaf: mais de 100 mil pessoas em quatro dias de evento - 45
Territórios para o desenvolvimento - 49
Cisternas garantem acesso à água e facilitam
convívio com o semiárido - 57
O leite que transforma vidas - 38
A vida melhora
na terra do cajuAssociação Comunitária de Barreiras
Somente acompanhando de perto o trabalho que envolve a preparação das
deliciosas e tradicionais castanhas de caju produzidas no município de Barreira,
no interior do Ceará, para saber o porquê de sua boa fama e forma.
Projeto São José
Unidade de beneficiamento de castanha, da Associação Comunitária de Barreira, no interior do Ceará, atendida pelo Projeto São José.
06 Nossa Terra - Ceará
embora pra outro município, meus
amigos tirando documentos para ir
embora para São Paulo, Manaus,
Brasília. Um dia, deu uma vontade de
implantar uma pequena fábrica de
processamento de castanha de caju”.
Resumindo a história, hoje, o agricultor
Peixoto, que foi buscar no Governo do
Ceará, através da Secretaria do
Desenvolvimento Agrário, recursos do
Projeto São José para concretizar seus
planos, virou prefeito da cidade. E,
pelas redondezas, famílias que
aprenderam a valorizar o que têm em
abundância no quintal de suas casas, já
somam, entre si, mais de 50 minifábri-
cas de beneficiamento de castanhas,
que produzem cerca de 10 tonela-
das/dia e geram mais de mil empregos
diretos.
“Nosso processamento de castanha,
hoje, em Barreira, fica em torno de
quatro mil toneladas/ano e o produtor
passou a ganhar e a ter emprego na
Tudo lá é feito com capricho. Até o
maquinário, bem zelado pelos
funcionários da sede da Associação
Comunitária de Barreira, não substituiu
a conferência manual de tamanho, cor e
possíveis defeitos que garantem a
qualidade da castanha. Outra etapa
interessante do beneficiamento é o
método de corte da castanha para
retirada da amêndoa. Duplas de
profissionais realizam uma espécie de
balé sincronizado, em equipamentos
rústicos e ágeis, alternando pés e mãos.
Mas o que chama atenção mesmo na
pequena e pacata cidade de Barreira,
distante cerca de 90km de Fortaleza, é
a história de luta de um agricultor de
coragem chamado, Antonio Peixoto
Saldanha, que, ainda jovem, no final da
década de 80, acreditou que podia
mudar o rumo da história de seu povo e
lutou para conquistar sonhos. “Eu
ficava olhando aquele tanto de
produção de castanha, tudo indo
Quando a dupla tem prática, um corta a castanha e outro retira a amêndoa. Com agilidade
impressionante, eles chegam a descascar até 80 quilos por dia.
própria comunidade. Temos, agora, a
cultura do processamento da castanha.
Jovens, de 18, 20 anos, terminam os
estudos e vão direto trabalhar nas
fábricas, não tem mais vergonha de ser
cortador de castanha. Atualmente,
temos pessoas que estão voltando do
sul para trabalhar nas minifábricas”,
comemora o ex-presidente da
Associação.
Ti tu lar da Coordenador ia de
Programas e Projetos Especiais, da
SDA, Josias Farias Neto, comemora o
sucesso de Barreiras e, juntamente com
sua equipe, já trabalha a renovação do
Projeto São José III.
“A proposta inicial concentra-se em
agricultores familiares e busca sinergias
com Políticas Públicas congêneres nas
três esferas de Governo”, comenta o
coordenador do projeto, explicando
que “dentro deste contexto, quatro
vertentes estão sendo postas: universali-
zação no abastecimento de água,
Nossa Terra - 07Ceará
Pro
jeto
São J
osé
intensificação de políticas de apoio a
núcleos ou arranjos produtivos emergen-
tes - na perspectiva de economia solidária,
focalização no conjunto da agricultura
familiar, nas etnias quilombolas e
indígenas, geração, gênero e meio
ambiente, como uma questão transversal.
Saindodesubprojetospontuais, focandoa
otimização dos mesmos com o fortaleci-
mentodascadeiasprodutivas,atuandoem
gargaloseatraindoparceiros”.
Josias Neto comenta que, em 2008,
foram liberados recursos referentes a
404 subprojetos, com aplicação de R$
32,3 milhões. “Empenhamos R$ 10,3
milhões para ações de abastecimento
de água e saneamento, em comunida-
des com subprojetos apresentados ao
São José, concentrados nos 40
municípios de menor Índice de
Desenvolvimento Social (IDS)”.
Já o São José Produtivo vem avançando
na questão da geração de emprego e
renda. “Com muita responsabilidade,
estamos desenvolvendo o financiamento
de subprojetos produtivos, dando
preferência, principalmente, a comuni-
dades mais organizadas, que trabalham
com redes de Associações, com acesso
ao mercado, mesmo diante das circuns-
tâncias adversas. São comunidades que,
“Recentemente, com o Projeto São José,
conseguimos reformar a Associação.
Antigamente, aqui era cheio de ‘quartim’, só
cubículo. Conseguindo economizar aqui e ali,
ainda conseguimos fazer outro galpão. As
estufas, a máquina de embalagem, o despelicu-
lador, muita coisa daqui foi conquistada com
parceria. Quando começamos, há mais de 20
anos, Barreira tinha quase nada. Hoje, a criação
dessa entidade vem gerando muitas outras.
Temos cerca de 50 unidades caseiras de famílias,
minifábricas que trabalham sua própria
castanha, e 90% deles aprenderam manusear
máquinas no PA Rural. Esse lugar aqui é de
ensino. Muita gente vem aprender, inclusive de
outros estados, e nós ensinamos, porque quando
melhora pra um, fica bom pra todos.”
Vanair Peixoto Saldanha
Presidente em exercício da
Associação Comunitária de Barreira
Antonio Peixoto Saldanha
Prefeito de Barreira e
ex-presidente da Associação Comunitária
pela própria organização, têm articulação
com várias instituições governamentais e
nãogovernamentais”.
Enquanto isso, o São José Agrário
encerrou o ano de 2008 com 121
subprojetos atendidos, dos 180 previstos,
somando, até o momento, recursos de,
aproximadamente, R$ 9 milhões. A
previsão para este ano é atender os
demais. “São projetos destinados a
assentamentos estaduais e federais, por
isso nós mapeamos as áreas socialmente
mais organizadas”, pontua Josias Neto,
acrescentando que houve também um
mapeamento das comunidades
quilombolas e indígenas, nos 40
municípios de menor IDS, para
identificar prioridades a serem atendidas
peloSão José Inclusão Social.
SERVIÇO
Mais informações com Vanair
Peixoto Saldanha, atual Presidente
da Associação Comunitária de
Barreira, pelo telefone (85)
3331.1735; ou com Ivani Gabriel,
Relações Públicas, no (85) 3331.1216
ou 3331.1171. Sede do PA Rural,
Avenida Francisco Torres da Gama,
s/n, centro, Barreira (CE).
toneladas/dia
de produção
10
08 Nossa Terra - Ceará
“Com apoio de Sebrae, do Projeto São José, na
SDA, e de outros parceiros, trabalhamos o
melhoramento de pequenas fábricas e de nossa
estrutura. Agora, temos mais espaço, caldeira,
equipamentos importantes e, com isso,
passamos a ter presença mais forte no mercado
consumidor do Ceará. Tivemos tempos bons com
exportação, mas, hoje, com essa crise, tem sido
mais viável ampliar vendas para São Paulo,
Minas Gerais, Bahia e outros. Barreira é
conhecida como ‘Terra do caju’, lugar onde a
amêndoa é de ótima qualidade. Nosso produto
tem sido bem aceito dentro e fora do Brasil”.
Cor e sabor
das frutas da serraDistrito de Umarizeiras
O vermelho vivo e o sabor da polpa de acerola, produzida na Associação
Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais da Região de Umarizeiras, distrito
de Maranguape, Região Metropolitana de Fortaleza, vem chamando atenção de
grandes redes de supermercados da Capital. De acerola e de frutas tropicais como,
abacaxi, cajá, goiaba, caju, graviola, manga, seriguela e outras variedades, cultivadas
na Serra, e processadas por gente da comunidade.
O presidente da Associação, Francisco Eliziário Maia Cordeiro, disse que, cerca de
40 produtores, que vivem da agricultura familiar, estão envolvidos no sucesso dessa
organização. “Tivemos bom êxito em 2008 e, esse ano, o Projeto continua. Agora
precisamos de uma câmera fria e uma envasadeira automática, que faz até mil
embalagens/hora. Temos condições de fazer até 2.400 quilos de polpa/dia, mas
nosso espaço pra congelar é só de 500 quilos. Tem os períodos de escassez, é
importante ter onde armazenar”.
Eliziário revelou o segredinho rubro da polpa de acerola de Umarizeiras. “Para ter
uma qualidade vermelhinha, ela tem que estar bem madura. Tão madura que só
pode ser colhida perto da fábrica, para ser processada no mesmo instante. Como
tudo, tem que ter o ponto”.
Serviço
Mais informações pelo número (85)
8888.9668, com Eliziário
Na Sede da Associação Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais da Região de Umarizeiras, na serra de Maranguape, com apoio
do Projeto São José, toda produção de frutas está sendo transformada em polpa.
Nossa Terra - 09Ceará
“Por longos anos trabalhei só moendo cana-de-açúcar, farinha de
mandioca, todo tipo de cultura eu topei. E, quando chegou o Projeto
Pingo D´Água, lhe digo que não foi fácil mudar, mente é coisa difícil.
Mas mudei de uma maneira, que plantar milho e feijão nunca mais. Era
muito sacrifício. Agora é diferente, toda tempo a gente tá colhendo
alguma coisa”.Seu Paulo Tavares
Produtor da Várzea Grande, em Quixeramobim
Pro
jeto
São J
osé
Ceará - Nossa Terra 11
Pingo d’Água: o verde
que brota do SertãoQuixeramobim
Antigamente, os homens da terra se
dedicavam à agricultura de sequeiro:
milho, feijão, mandioca, arroz, depois
colocavam joelho no chão, olhos no
céu, e pediam a Deus água para fazer
brotar aquele pouco. Se o inverno fosse
bom, muito bem, racionando com
sacrifício, quase dava para esperar a
safra no ano seguinte. Mas, se as chuvas
não caíssem, a situação era cruel.
Hoje, a realidade é outra. Desde
quando o poder público local, uniu-se à
universidades cearenses e francesas,
com o objetivo de aplicar experiências
bem-sucedidas em ex-colônias
francesas da África, o assunto é
desenvolvimento.
Deusimar Cândido de Oliveira,
presidente da Associação dos
Produtores do Vale do São Bento,
conta, com alegria, o envolvimento,
cada vez mais enraizado, dos cerca de
50 produtores da região. “Plantamos
tomate, pimentão, maracujá, melão,
batata-doce, pimenta-de-cheiro,
A história do Projeto Pingo D’Água se passa lá no Vale do Riacho Forquilha, em
Quixeramobim, onde a realidade de quase duas mil pessoas foi transformada da
seca para fartura.
“Temos o melhor acompanhamento técnico e
queremos seguir somente com adubação
orgânica, biofertilizante, cultivo protegido
através de telado. Conseguimos reduzir 70% da
adubação química e o objetivo é conseguir tirar
totalmente o uso de adubos químicos. Nossa
produção é de alta qualidade”.
Deusimar Cândido de Oliveira
Presidente da Associação dos Produtores do
Vale do São Bento
repolho, cheiro-verde e outros, é um
grande modelo de agricultura familiar.
Nosso grupo sempre teve preocupação
em Fortalecer parcerias, como nós, eles
acreditam nesse projeto”, ressalta
Deusimar.
O agricultor elogia, também, a força e
união dos produtores que, a cada dia,
veem florescer melhor suas hortas.
“Aqui tem gente de muita qualidade,
pessoas comprometidas com o
trabalho. Isso é determinante para que
qualquer projeto dê certo”, diz
Deusimar.
“Esse projeto é muito interessante e a
Secretaria do Desenvolvimento Agrário vem
incrementando os trabalhos com incentivos no
sistema de irrigação, cultivo protegido, além da
assistência técnica da Ematerce”
José Maria Pimenta
Presidente da Ematerce
Seu Francisco e seu Raimundo,
ambos Alves de Andrade, são
dois, de 12 irmãos nascidos no
lugarejo chamado Vale do Meio,
nos arredores do Vale do São
Bento, em Quixeramobim. Eles
relembraram dificuldades do
passado e comemoraram
transformações das gerações
atuais. “Na época de pai, num
tinha luz, água era só quando
chovia e o sequeiro só dava de
ano em ano. Agora não, de
quatro em quatro mês, se
conseguir plantar, tem o que
colher”.
O cheirinho de tempero e terra
molhada fica espalhado pelo ar. E é só
olhar para os mais de 30 canteiros de
coentro, cebolinha e alface, cultivados
com esmero, por Socorro, Salete e
Leudiana, para compreender a
espetacular transformação que vem
acontecendo no Vale Forquilha, nos
arredores de Quixeramobim. “Eu era
professora, e adorava. Mas nunca mais
deixo isso aqui, é uma alegria esse
“Antes minha mulher
só conseguia produzir coentro.
Ela saía daqui toda terça,
comprava na Várzea do Meio
R$ 2,00 de coentro, e fazia 30
mói de cheiro-verde. Levava
para feira e ganhava R$ 1,00.
Hoje, fazendo mil mói por dia,
dá R$ 100. Por semana, dá R$
600, onde é que tem um ganho
desse por aqui?”
Elano Nogueira da Silva
Agricultor
trabalho. Tem feito a família trabalhar
junto”, diz Socorro.
O marido, Elano Nogueira, que dá
assistência à plantação de hortaliças,
também deixa brotar a satisfação com
o empreendimento comandado pela
força feminina. A filha já está na
faculdade, mas é ela que, da cidade,
garante apoio aos pais que cuidam da
produção no campo. “Minha menina
cuida dos produtos expostos, toda
semana, na Feira de Agricultura
Familiar, em Quixeramobim. Ela
recebe o cheiro-verde, faz entregas,
recebe pagamentos, faz novos pedidos
e liga para a mãe”, diz Elano.
E faz gosto mesmo. Hoje, no pequeno
terreno, cerca de 900 mói (molhos) de
coentro e cebolinha seguem para a
cidade com destino certo. E, se a
produção fosse maior, a venda também
estava assegurada.
Raimundo Alves de Andrade e Francisco Eudo Alves de Andrade - agricultores
Maria do Socorro Fernandes de Oliveira, Antonio Elano Nogueira da Silva,
Salete Tavares de Sousa, Leudiana Fernandes Andrade - Vale do Forquilha – São Bento II - Quixeramobim.
Pro
jeto
São J
osé
Os agricultores do Projeto Pingo D´Água, em Quixeramobim,
produziram 660 mil quilos de tomate em 2008.
12 Nossa Terra - Ceará
Seria suficientemente grandioso tendo somente esses dois argumentos, mas tem
mais. Entre os irmãos que rápido ficavam adolescentes, três das meninas evoluíam
diferente, e mostravam necessidades e talentos bem especiais. Francisca Miguel
Sobrinha, a pequena Cileide, relembra que foi observando, de longe, a habilidade
com agulha e linha da nova madrasta, que conseguiu aprender muitos pontos de
crochê e ensinar às amigas, “embaixo dum pé de mangueira, com lua”, o que, mais
tarde, evoluiriam para compor as bonitas varandas das redes de solasol. “Era
brincando, acho que tenho habilidade pra ensinar. Conseguia pegar o ritmo da
agulha olhando, sempre soube todo tipo de crochê, e repassava pras criança da
comunidade”, diz Cileide.
Essa história poderia contar a vida de sertanejas guerreiras, que vêm
transformando a realidade da Comunidade do Sítio Mocotó, lá no município
de Várzea Alegre, com disposição para trabalhar belíssimas redes
artesanais. Ou narrar saga de mais uma família do Sertão do Ceará que, com
10 crianças pequenas para criar, a mãe morre precocemente, de parto, ainda
na década de 70, época onde energia em sítio nem se cogitava.
No embalo das redes
do Sítio Mocotó - Várzea Alegre
Na sede da Associação Comunitária do Sítio Mocotó, moradores se reúnem para confeccionar as redes que conquistaram fama internacional
Nossa Terra - Ceará 13
Hoje, ao lado da mangueira onde
alinhavavam o futuro, está construída a
sede da Associação Comunitária do
Sítio Mocotó. No salão grande, 10
máquinas industriais, que podem
ajudar a produzir até 170 redes/mês,
trabalho que envolve até mil pessoas,
de quatro comunidades próximas.
Francisca Reinaldo de Oliveira, a
Ceilda, além de talentosa, mostra que
continua aguerrida por melhoras para
a comunidade. “O Projeto São José pra
nós aqui foi tudo, é maravilhoso, nossa
vida é outra, temos ajuda de boas
instituições. Mas queremos reivindicar
agora comercialização. Temos,
estoque de 170 redes, sem mercado
certo. Essas redes tão gerando
emprego na Carrapateira, Lagoa Seca,
e nos bairros Riachinho e Varjota, em
MAIS INFORMAÇÕES:
Quem quiser comprar redes da
Associação Comunitária do
Sítio Mocotó, tratar pelo telefone
(88) 3541.1776, distante
12 quilômetros, ou pelo celular,
(88) 9259.8498, que nem sempre
funciona. Aliás, conseguir telefone
fixo é outra reivindicação antiga
dos moradores, que o Governo já
está providenciando.
Várzea Alegre, Região do Cariri, com
qualidade padronizada aqui na
Associação. Mas precisamos ter venda
certa”, alerta Ceilda.
A mais falante das três pequenas-
grandes artesãs, sem dúvida, é Maria
Miguel de Oliveira, a Rosinha, que já
viajou o Brasil inteiro, “e até para o
exterior” mostrando o artesanato de
qualidade produzido no Sítio Mocotó.
Um retrato do bom humor espalhado
entre as 43 famílias do lugar. “A gente
t e m q u e a c o m p a n h a r o
desenvolvimento, a globalização,
porque, senão, depois, fica que nem os
Estados Unidos, tudo aperreado com a
crise em cima. Tem que ser esperto.
Digo, com alegria, que foi com muito
esforço, e o apoio do Governo do
Estado, através da Secretaria do
Desenvolvimento Agrário, do Sebrae e
Banco do Nordeste, que foi erguida e
transformada nossas vidas”. Rosinha
termina a frase chamando para o
banquete com galinha à cabidela,
preparado no antigo casarão onde tudo
começou.
“A gente tem que acompanhar o
desenvolvimento, a globalização, porque, senão,
depois, fica que nem os Estados Unidos, tudo
aperreado com a crise em cima.”Maria Miguel de Oliveira, a Rosinha,
Pro
jeto
São J
osé
Cileide Rosinha Ceilda
14 Nossa Terra - Ceará
EnsaioEnsaio
Regularização Fundiária
Um marco
na história agrária
Por ocasião do lançamento do Plano Safra em Fortaleza, o governador Cid
Gomes enfatizou a importância do convênio que foi firmado entre o Governo
Federal e o Governo do Estado, através do Incra e Idace, para a regularização
fundiária em 121 municípios cearenses.
16 Nossa Terra - Ceará
O acordo é um marco na história
agrária do Ceará, visto que 70% dos
imóveis rurais do Estado não estão
regularizados. “Essa ação conta com
um investimento de R$ 48 milhões e
atingirá mais de 190 mil pequenas
propriedades, beneficiando cerca de
200 mil famílias”, disse o governador
Cid Ferreira Gomes.
A ass inatura do convênio de
Regularização Fundiária está possibili-
tando o levantamento, identificação,
georreferenciamento e caracterização
da malha fundiária nas diversas regiões
do Ceará, para a implantação do
cadastro de imóveis rurais e a conse-
quente regularização fundiária.
Com isso, é possível conceder títulos de
propriedade rural para os produtores
que não os possuem, legalizando a
situação dos imóveis. Com a posse dos
títulos das terras, os agricultores têm
acesso a recursos financeiros e à
assistência técnica, “Um reflexo
bastante positivo na qualidade de vida e
na renda familiar do meio rural”,
destaca o secretário Camilo Santana.
Emídio Alves, produtor de milho do
município de Pentecoste, recebeu
simbolicamente das mãos do secretário
Camilo Santana o título de regulariza-
ção. A propriedade faz parte da
primeira leva de 190 mil terrenos que
estão sendo regularizados. Na opinião
do agricultor, o grande ganho obtido a
partir do título de posse de terra é a
oportunidade de se inscrever em
programas de financiamento ofertados
pelo Governo.
Com isso, os pequenos agricultores têm
acesso aos agentes públicos de financia-
mento da produção agrícola, podendo
ampliar e variar sua produção, também
melhorando a qualidade e aumentando a
produtividade dos produtos cultivados.
Pequenos agricultores e agricultoras de
municípios da região do Cariri, como de
Jati, Brejo Santo, Barro, Penaforte,
Porteiras, além de Quixeramobim,
Lavras da Mangabeira e Crateús, já
tiveram acesso a agentes públicos de
financiamento de produção, como o
Banco do Nordeste e Banco do Brasil,
alémdeassistência técnicaespecializada.
Para Francisco Bessa, Superintendente
do Instituto do Desenvolvimento
Agrário do Ceará (Idace), “a regulari-
zação fundiária, através do cadastro
georreferenciado, tendo como
produto final o título de propriedade,
se constitui num dos maiores
programas de inclusão social, pelos
benefícios que traz aos agricultores e
agricultoras familiares, no que tange
ao acesso às políticas públicas e
resgate da cidadania”.
Nossa Terra - Ceará 17
Municípios atendidos pelo Programa de Regularização Fundiária
“A Regularização Fundiária
promove a inclusão social e o
resgate da cidadania”
Francisco Bessa
Superintendente do Idace
Crédito Fundiário
Acesso à terra para
2.317 famílias no Ceará
O Programa Nacional de Crédito Fundiário beneficia famílias de pequenos
produtores rurais que não têm acesso a terra, facilitando aquisição de
propriedades comunitárias. É um programa que vem ganhando destaque,
principalmente, pelas transformações efetivas no aumento da qualidade de vida
das famílias beneficiadas.
18 Nossa Terra - Ceará
Financiamento com prazo de pagamen-
to de 14 a 17 anos, carência de dois anos
e juros de 2% a 5% ao ano. É o que a
linha de Combate à Pobreza Rural do
Programa Nacional de Crédito
Fundiário (PNCF) representa para as
famílias de pequenos produtores rurais,
que com isso desenvolvem condições
de adquirir a própria terra. Pagando
em dia, o trabalhador ainda tem um
bônus de 40% sobre o valor das parcelas
e, quando a terra é adquirida, ficam
garantidos recursos para investimentos
básicos de estruturação da propriedade.
Em 2008, foram beneficiadas no Ceará
372 famílias, em área de mais de 9 mil
hectares. Em 2009, a meta é atender
cerca de 700 famílias, nos 181 municípi-
os do Ceará, com exceção do Eusébio,
Maracanaú e Fortaleza, que pratica-
mente não possuem área rural. Até o
primeiro semestre deste ano, o total de
famílias beneficiadas no Estado atingiu
2.317 famílias, em área adquirida de
quase 70 mil hectares.
“Mas esse não é um trabalho fácil.
Como em toda grande família, há
diversidade de opiniões, conflitos,
estamos aprendendo juntos a melhorar
sempre”, comenta a engenheira-
agrônoma Maria Leuda Cândido,
supervisora do Núcleo de Apoio à
Gestão, responsável pela operacionali-
zação do Crédito Fundiário no Ceará.
“O programa permite ao trabalhador
acessar a terra através do financiamento
do Governo Federal, pelo Programa
Nacional de Crédito Fundiário na linha
de Combate à Pobreza Rural. É um
projeto alternativo e complementar ao
Plano Nacional de Reforma Agrária”,
completa Leuda.
Apesar das dificuldades, a técnica está
animada: “O trabalhador escolhe a terra,
os companheiros e o programa que quer,
não há interferência externa. Isso é
importantíssimo, tanto pela transparên-
cia quanto pela liberdade. Muitos deles
viram pais e avós arrendando terras de
patrões para poderem trabalhar. Com
esse programa, caso um proprietário
resolva vender um pedaço do chão, os
que já estão dentro conseguem comprar
a terra. Daí em diante, a história muda e,
quem era empregado vira dono do
próprionegócio.”
Quem também enfatiza a importância do
programa é Adhemar Lopes de Almeida,
SecretáriodeReordenamentoAgrário,do
Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA). “O Programa Nacional de
Crédito Fundiário tem permitido às
famíliasdeagricultoresruraisse fixaremna
terra. Isto revela que o objetivo de
combater a pobreza no campo está sendo
alcançado, possibilitando às famílias
beneficiadas acesso a outras políticas
públicas de incentivo à produção,
moradia, infraestrutura, educação e
saúde”,afirmou.
O melhor de tudo é que os benefícios
estão ao alcance de todos. “Basta o
trabalhador querer. Inicialmente ele
decide a propriedade, depois a empresa
parceira, Sindicato dos Trabalhadores,
assistência técnica e outros. Nos
municípios, há ONGs credenciadas e os
escritórios da Ematerce para mobilizar e
capacitar esse trabalhador a formular a
proposta e encaminhar para o Núcleo de
Apoio à Gestão. Quando há dificuldades
lá, o trabalhador vem e nós orientamos,
fazemos a articulação com todos os
atores”, encerraLeudaCândido.
Serviço:
Mais informações pelo
www.creditofundiario.org.br ou
(85) 3101.8051 ou (85) 3101.8052
70 mil hectares
de terras adquiridas
Nossa Terra - Ceará 19
“O Programa Nacional de
Crédito Fundiário possibilita
às famílias beneficiadas
acesso a outras políticas
públicas”
Adhemar Lopes de Almeida
Secretário de Reordenamento
Agrário do MDA
“Meus amigos brincam dizendo que
saí da roça, mas a roça não saiu de
mim. Estudei na cidade, me formei e
voltei para cá. Aquele sonho
americano, a ilusão da cidade grande,
acabou. Todos esses jovens aqui são a
prova disso”.
A empolgação do tecnólogo, Antonio
Carlos dos Santos Ferreira, aagente
rural da Ematerce, que dá assistência
ao Assentamento Estrela, em
Barbalha, na região do Cariri, é a
imagem verdadeira do que vem
acontecendo pelo interior do Ceará.
Cada vez mais, condições favoráveis,
valorização e ações sincronizadas do
Governo do Estado, têm incentivado a
permanência de jovens, de todas as
cidades, no campo. No assentamento
Estrela, cinco estagiários em fase de
conclusão do Curso Técnico em
Fruticultura, em Barbalha, praticam,
com agricultores experientes, o que
Jovens abraçam
vida no campoBarbalha
O Assentamento Estrela tem
plantado 10 ha de Goiaba, 7 ha de
banana e 8 ha de caju de sequeiro.
São 10 famílias, morando em
sistema de Agrovilas, com casas
próximas umas das outras
facilitando o compartilhamento de
energia, telefone e outros. A
comunidade dispõe de 3 poços
profundos para fazer irrigação e
abastecer casas.
aprenderam nos bancos da escola.
“Essa é a primeira turma e tem sido
uma experiência fantástica, todos estão
de parabéns. Na minha época, não tive
essa oportunidade, 90% do curso foi
teoria. Quem quisesse prática, tinha
que ir para outras regiões do Estado.
Agora eles só têm que estudar e voltar
para ajudar suas comunidades a
crescer”, diz Antonio Carlos.
E energia para trabalhar não falta.
Quem diz é seu Cícero Raimundo de
Melo, 60 anos, Presidente da
Associação dos Produtores de Fruta do
Distrito Estrela. O agricultor conta,
com alegria, a expansão e melhoria da
vida das 10 famílias beneficiadas com o
crédito fundiário.
“Sou nascido e criado aqui na Estrela,
junto com meus companheiro, na
batalha. Conseguimo terra, água,
implantamo as cultura, principalmente,
da goiaba, antes, plantava um pedacim
de roça aqui, outro acolá, só sequeiro.
Agora, com o apoio desses governante,
tem onde nóis trabaiá, e eu quero é que
evolua mais daqui pra frente”, diz seu
Ciço. E comemora. “Agora, inda tem
esse pessoal jovem, estudando, partindo
pra agricultura. É futuro bom pra eles e
pra nóis também”.
CRÉDITO FUNDIÁRIO
20 Nossa Terra - Ceará
Agricultores experientes e jovens estudantes unidos pela valorização do trabalho no campo
Cré
dit
o F
und
iári
o
Construindo sonhosRegião Norte: Fazenda Atalho, em Groaíras e Forquilha
O lugar está ficando bonito, mas as dezenas de coqueiros destruídos por
queimadas ainda contrastam com a energia de crescimento e evolução que vem
se alinhando entre as 10 famílias que irão morar na Fazenda Atalho, município
de Groaíras, região norte do Ceará que, no final do ano passado, foi adquirida
pelo Programa Nacional do Crédito Fundiário.
Cré
dit
o F
und
iári
o
Trabalhadores da Fazenda Atalho, em Groaíras, construindo casas adquiridas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário e Governo do Estado.
22 Nossa Terra - Ceará
Aos poucos , o sonho desses
agricultores, que já foram peões, e hoje
são donos da terra onde moram, vai se
tornando realidade, quase fazendo
lembrar a antiga história da Terra
Promet ida . O lugar tem, em
abundância, o bem mais precioso: água.
Nada menos que três rios: Groaíras,
Jacurutu e o perene Acaraú, cruzam a
propriedade de 82 hectares. Além
disso, os assentados que irão morar nas
casas que estão sendo construídas e
reformadas com benefícios do
financiamento, e contrapartida do
Governo do Estado, através da
Secretaria do Desenvolvimento Agrário
(SDA), também já adquiriram
e q u i p a m e n t o s d e i r r i g a ç ã o ,
implementos agrícolas, material de
construção, tudo guardadinho,
somente esperando hora de serem
usados. Tem, também, um trator
'aradando' os três hectares de terra onde
serão plantadas banana pacovan, e os
dois hectares de capineira para o gado,
que virá com o próximo financiamento.
“Fizemo uma reunião e tudim se
engajaro no serviço. Todo mundo tá
disposto a produzir dentro da terra.
Depois que terminar a implantação
desse projeto, vem o Pronaf A, para
adquirir gado, ovelha. É o começo de
um ciclo grande que a gente pretende
fazer aqui dentro”, diz, José Carneiro
do Nascimento, presidente da
A s s o c i a ç ã o C o m u n i t á r i a d o s
Assentados da Fazenda Atalho.
Isso não é tudo. A movimentação
positiva em torno da permanência do
homem no campo, também tem atraído
jovens cada dia mais interessados em
incrementar esse setor. Dárcio Silveira
O Programa Nacional de Crédito Fundiário, do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), implantado em parceria com Governos
Estaduais e entidades ligadas à agricultura familiar, tem como meta
viabilizar o acesso dos agricultores familiares à terra em áreas que não
podem ser desapropriadas para Reforma Agrária. Além de financiar a
compra de imóveis rurais, o Programa investe em infraestrutura básica e
produtiva.
Nossa Terra - Ceará 23
Dona Maria, seu Raimundo, Sebastiana, Larissa, Wesley, Werles, Verlênio,
Gleiciane, Ivo e Maria do Livramento, fazem parte das famílias assentadas, no final
do ano passado, na Fazenda Rocha, em Forquilha, zona Norte do Ceará. Eles, que
já passaram pela fase da construção da habitação, com recursos reembolsáveis do
Subprojeto de Aquisição de Terra (SAT) e da SDA, agora mostram, com satisfação,
curral, aprisco, cercas, estábulo, viabilizados com recursos não-reembolsáveis dos
Subprojetos de Investimentos Comunitários, os SICs.
Cré
dit
o F
und
iári
o
Graciano, é tecnólogo em irrigação e,
atualmente, presta serviço à Ematerce,
como Agente de Assistência Técnica
de Extensão Rural (Ater), no
assentamento da Fazenda Atalho. “O
sistema de irrigação escolhido para cá é
um dos mais caros e viáveis para terra.
Ele raciona a água diretamente para a
cultura, sem nenhum extravio. Os
assentados já pediram orientação na
questão do cultivo de frutas. Quando a
gente conseguir produzir aqui, e
abastecer a cidade, ficará valorizado o
trabalho do agricultor, e incrementada
a circulação da renda local”, destacou o
“Tem a questão do associativismo,
cooperativismo, onde as famílias
se unem para fazer trabalhos
coletivos para pagarem os imóveis.Maria Goretti de Freitas Ribeiro
Assessora do Crédito Fundiário da Região Norte
Ematerce-Sobral
Agente.
A assessora do Crédito Fundiário da
Região Norte, da Ematerce de Sobral,
Maria Goretti de Freitas Ribeiro,
explicou que, esse projeto, tem como
meta facilitar o acesso de agricultores
familiares à terra, em áreas que não
podem ser desapropriadas para
Reforma Agrária. “Elaboramos 51
Subprojetos de Invest imentos
Comunitários, que beneficiaram 91
famílias, em 10 assentamentos. Esse
programa vem se desenvolvendo bem
aqui na região Norte. Todos estamos
bem satisfeitos”, destacou Goretti.
“Os assentados já pediram
orientação na questão do cultivo
de frutas. Hoje, tudo que Groaíras
c o n s o m e , v e m d e o u t ro s
municípios. Quando a gente
conseguir produzir aqui, e
abastecer a cidade, f icará
valorizado o trabalho do agricultor,
além de incrementar a circulação
da renda local.”Dácio Silveira Graciano
Agente de Assistência Técnica de Extensão Rural
(ATER)
91 famílias beneficiadas
24 Nossa Terra - Ceará
Lá no Assentamento da Comunidade
Malhada, a 13km de Crato, região do
Cariri, os membros da Associação
Comuni tá r i a Padre Freder i co
trabalham direitinho. Cedo, moradores
se espraiam para limpar os seis hectares
de goiaba irrigada, cuidar das
bananeiras, do maracujá consorciado
com amendoim, da mandioca de
sequeiro, da criação de ovinos, caprinos
e gado leiteiro, das hortaliças, além,
claro, do cultivo de milho e feijão,
vendidos, ainda verdes, na famosa feira
quinzenal de Ponta da Serra.
É lá também onde está instalada a
miniusina de pasteurização de leite, de
propriedade de 22 membros, da
Associação dos Pequenos Produtores
de Leite do Sítio Malhada; e a Casa do
Mel, onde são feitos trabalhos ligados à
apicultura, processando e distribuindo
rendimentos de forma compartilhada.
De acordo com Maria Elcileide
Nogueira Mendonça, Extensionista
Social da Ematerce do Crato, vêm
acontecendo mudanças significativas
A modernidade da tradiçãoPonta da Serra - Crato
no padrão de vida das famílias da
Malhada. “A comunidade tinha um
terreno que explorava em regime de
comodato. Quando venceu, passou-se a
discutir a aquisição da terra, através do
Crédito Fundiário. Elaboramos projeto
que contemplasse as atividades
diversificadas que os trabalhadores
rurais já vinham desempenhando de
forma rudimentar. Taí, deu certo”,
disse Elcileide Mendonça.
Tão certo, que, recentemente, até a
antiga Casa de Farinha, depois de mais
ce cem anos de funcionamento,
recebeu recursos do Projeto São José,
passou por reparos, ganhou uma versão
mais moderna, mantendo a estrutura
original, e conseguiu facilitar os
trabalhos nas farinhadas. “Durante o
ano, a comunidade produz, além da
tapioca tradicional, bei ju com
amendoim, gergelim, carne de sol ou
queijo coalho, e vendem em exposições
e feiras distritais. Eles fazem, em média,
quatro farinhadas/ano, para garantir
beiju e tapioca para consumidores
cadastrados”, disse a gerente em
exercício.
Para José Acácio de Moraes Lima,
engenheiro-agrônomo da Ematerce,
outros dois fatores fundamentais na
evolução na Comunidade Malhada são
a permanência dos jovens no campo e a
facilidade de escoamento da produção.
“Aqui eles trabalham com toda família
envolvida e isso é muito interessante,
porque tem jovem que não quer se
engajar nesse tipo de atividade. Aqui,
pais, filhos, moças e rapazes fazem
parte desde o preparo da terra até as
vendas. Eles também têm o Rio Carás,
perenizado pelo açude Tomaz
Osterne, do Crato, têm energia e estão
localizados próximo a um grande
centro consumidor, que é a Região do
Cariri. Veja que, juntos, somente Crato,
Juazeiro e Barbalha, somam cerca de
500 mil habitantes. Tudo que se produz
aqui, é fácil escoar, tanto faz ser inverno
ou verão”, comemora Acácio Lima.
Nossa Terra - Ceará 25
Defesa Agropecuária
Pela 1ª vez Ceará sedia
Circuito Pecuário Nordeste
26 Nossa Terra - Ceará
“Esse encontro em Fortaleza foi uma surpresa extraordinária. Ver um grupo de pessoas
tão comprometidas, dos diversos setores: público, privado, produtores, indústria, toda
uma conjugação de vontades que, realmente, não tem como fracassar. Essa meta
estabelecida para 2010 acho fantástica, porque não podemos mais conviver com esse
problema. Quem sabe seremos o primeiro continente livre de febre aftosa. O que mais
me chamou atenção foi que aqui não existe competição entre organizações, setores, ou
estado. Todos estão visando o esforço conjunto”.
“A primeira coisa que tem que fazer é Cadastro. Sem cadastro pronto, não adianta fazer
mais nada, porque não vai servir. Isso é lição de casa, tem que fazer cadastro, e
cadastro bem feito. A segunda coisa é a manutenção do cadastro. Não adianta fazer
cadastro, se não tiver programa de atualização das informações de trânsito, nascimento,
etc. Tem que ser simultâneo, cadastro e manutenção. A terceira raiz principal de tudo
isso é a Legislação. Se não tiver apoio da Legislação não adianta fazer cadastro, nem
manutenção de cadastro. Funciona como três pilares que ajudam, e muito, a tocar o
trem. Tem que concentrar nisso.
Outra coisa é criar um Fundo e colocar as Guias de Trânsito Animal (GTA) para funcionar.
Em Goiás, desde o início de abril, 100% dos escritórios estão informatizados. Acho absurdo
que, em pleno século 21, estejamos discutindo febre aftosa. Fico envergonhado quando
vou lá fora, em reuniões internacionais, e tenho que justificar aftosa no Brasil. Tem outra
coisa. Lei de Defesa Sanitária só funciona se doer no bolso do produtor.
Apesar de tudo, acho que o Nordeste avançou, há entusiasmo, está no ponto de evoluir.
Com isso, não ganha somente o Nordeste, mas o Brasil todo. Estamos sem acesso a
60% do mercado mundial de carne, porque o Brasil não é um país livre de aftosa. Ver
isso aqui faz acreditar que, em breve, o Nordeste todo estará livre da doença com
vacinação”.
Albino Belotto
Diretor do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa –PANAFTOSA-OPAS/OMS
Antenor Nogueira
Presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA
“Essa reunião está sendo grandiosa, tem tudo para alavancar o comprometimento com a
vontade de melhorar. Obter reconhecimento de status sanitário é uma conquista, tem
que ser buscada. Todos os Estados devem fazer esforços para que se assista o maior
número de propriedades, se lancem dados de forma correta, porque não adianta por um
número qualquer. Temos que intensificar ações pró-ativas durante campanhas e pós-
campanhas. Hoje, podemos até estar na direção certa, mas temos, também, que
avançar na velocidade adequada”.
Inácio Kroetz
Secretário Nacional de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
Nossa Terra - Ceará 27
O Circuito Pecuário Nordeste (CPNE), evento que reúne Estados do Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí,
além, esse ano, da participação especial de representantes de Bahia, Sergipe e Tocantins, foi sediado, em março, pela primeira
vez, no Ceará. O sucesso do encontro fortaleceu a certeza de que, no Brasil inteiro, todas as esferas de poder estão unidas para
certificar o Nordeste como “Zona Livre de Febre Aftosa”.
Durante o encontro, as principais lideranças e autoridades locais, regionais e nacionais, ligadas ao setor, expuseram
experiências em registros antológicos e narrações históricas de líderes que fazem a história contemporânea na luta pela
erradicação da febre aftosa no nosso continente.
Saiba Mais
28 Nossa Terra - Ceará
FONTE: Relatório do Programa Ceará Livre de Febre Aftosa (Celfa) | Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri)
1 - A Febre Aftosa é uma enfermidade viral
de evolução aguda que não tem cura,
ocasionada por vírus contagioso,
pertencente à família Picornaviridae,
gênero Aphtovírus. O vírus pode ser
contraído por bovinos, bubalinos, ovinos,
caprinos e suínos, provocando perda de
peso, diminuição na produção de carne e
leite, comprometimento da função
reprodutiva, levando à morte;
2 - A carne e o leite de animais
contaminados não devem ser usados nem
comercializados. O FMDV é altamente
contagioso e infecta todos os animais de
casco fendido, d i s seminando-se ,
rapidamente, em populações susceptíveis
através de vários meios de transmissão. O
vírus pode ser encontrado em altas
concentrações em fluidos das vesículas,
saliva, fezes, urina, sêmen e leite,
encontrando-se presente no sangue e em
todos os tecidos do animal no pico da
infecção;
3 - Os principais sintomas da doença são:
febre alta, afta na língua, falta de apetite,
baba em excesso, lesões nos cascos, feridas
na boca e nas narinas e dificuldade de
locomoção. Além dos prejuízos diretos,
existem os indiretos: suscetibilidade a
outras doenças (mastites, miocardites, etc.),
desvalorização dos animais e seus
produtos, proibição da movimentação dos
animais, interdição de propriedades, perda
de tempo e dinheiro no tratamento de
lesões secundárias.
“O produtor vai melhorar
a qualidade do rebanho,
com animais vacinados,
acompanhados, e no final,
todos terão alimentos mais
seguros, saudáveis de boa
qualidade. Com o
georreferenciamento é
possível localizar qualquer
unidade produtiva dentro
do mapa do Ceará, com
acompanhamento
posterior às vacinações,
saber que produtores
vacinaram seus rebanhos e
muito mais.”
Edilson de Castro
Presidente da Agência de Defesa Agropecuária
do Estado do Ceará (Adagri)
“O Governo vem fazendo
esforços com vacinação,
concurso público,
cumprindo todas as
diretrizes que o Ministério
da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) está
exigindo. Queremos o
Ceará fora do nível de
risco desconhecido, e esse
esforço conjunto dos
Estados é fundamental
para que o Nordeste do
Brasil crie a barreira
sanitária necessária contra
aftosa”
Francisco Pinheiro
Vice-governador do CearáCamilo Santana
Titular da Secretaria do Desenvolvimento
Agrário do Ceará (SDA)
“É um desejo forte de
todos no Nordeste,
avançarmos na questão da
defesa animal. No Ceará,
há muita disposição,
temos aprendido muito.
Não queremos perder
mais tempo, essa é uma
questão de segurança, de
saúde pública, importante
para o Brasil. Por isso, as
parcerias e a união de
todos são fundamentais. A
cobrança é grande e não
vamos medir esforços para
evoluir.
MAIS INFORMAÇÕES
Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), na Avenida
Bezerra de Menezes, 1820, bairro São Gerardo, Fortaleza (CE), CEP 60.325-002,
ou pelos números (85) 3101.2500 e Fax (85) 3101.2499. E-mail:
Cad
astr
o A
gro
pecuári
o
AGRONEGÓCIO E AGRICULTURA FAMILIARO DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
PATATIVADO ASSARÉ
100ANOS
Promoção
12 a 19 de julho de 2009Parque de Exposição
Pedro Felício CavalcantiCrato - Ceará - Brasil
30 Nossa Terra - Ceará
O Banco do Nordeste do Brasil
(BNB), comemora quatro anos de
atuação do Agroamigo, com mais de
530 mil operações de crédito realiza-
das e R$ 650 milhões investidos na
economia da região. Criado pelo BNB
em 2005, com o objetivo de atender
comunidades rurais do Nordeste e
norte de Minas Gerais e Espírito Santo,
o Programa passou a financiar a
produção de agricultores de pequeno
porte enquadráveis no grupo B do
Pronaf.
O presidente do BNB, Roberto Smith
destacou a importância da iniciativa,
ressaltando os resultados alcançados
pela metodologia de atendimento
utilizada pelo Programa. “Nos
sentimos muito recompensados com
os números do Agroamigo. Um
programa com taxa de inadimplência
situada entre 2% e 4% no contexto do
Pronaf B, onde esse percentual pode
Agroamigo faz
quatro anos de atuaçãoCriado em 2005, o Programa de Microcrédito
Rural do BNB já aplicou mais de R$ 650 milhões
chegar a 40%”, afirmou.
Smith atribui os bons resultados à
metodologia de atendimento aos
pequenos agricultores, proporcionada
pela equipe de assessores de crédito
rural do Programa. “O Agroamigo
consegue operar de uma maneira muito
próxima dos nossos clientes, não só na
questão da orientação para o financia-
mento, mas também na concessão de
crédito, que é muito mais desburocrati-
zada. Esse ponto é extremamente
importante para o sucesso das opera-
ções realizadas”, afirmou.
O superintendente da Área de
Agricultura Familiar, Microfinanças
Rurais e Crédito Fundiário, Luís Sérgio
Farias Machado, enfatizou o reconheci-
mento que a metodologia de atendi-
mento do Agroamigo vem conquistan-
do em níveis nacional e internacional.
“O Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA) já anunciou que irá
adotar o Agroamigo como política de
financiamento para todos os agriculto-
res enquadráveis no Pronaf B. Além
disso, recebemos visitas dos governos
de Angola e Cabo Verde, que se
mostraram bastante interessados na
iniciativa”, afirmou Luís Sérgio, que
lembrou ainda o convênio estabeleci-
do com o MDA por meio do qual
foram fornecidas 375 motocicletas
para os assessores, estando previstas a
liberação de mais 250 unidades para
este ano.
Ele ressaltou também o acordo de
cooperação técnica firmado entre o
BNB, o Banco da Amazônia (Basa) e o
Instituto Nordeste Cidadania (Inec)
para a operacionalização do microcré-
dito rural nas comunidades a serem
atendidas. Por meio da parceria, o
Banco repassará a metodologia do
Agroamigo, capacitará assessores de
crédito e instituições envolvidas no
Nossa Terra - Ceará 31
processo e acompanhará a execução do
projeto-piloto, a ser desenvolvido na
área de atuação do Basa.
EXPECTATIVAS
Visando à expansão do Programa, a Área
de Agricultura Familiar prevê, para 2009,
a ampliação do volume financiado em
mais R$ 620 milhões, contemplando
mais de 500 mil operações. Segundo
Luís Sérgio Farias, o objetivo é projetar
o Agroamigo como o maior programa
de microcrédito rural da América do
Sul. “Com isto, chegaremos a marca
expressiva de 962 mil produtores rurais
atendidos, com R$ 1,2 bilhão de
recursos investidos desde o inicío do
Programa”.
Entre as metas estabelecidas, está ainda a
ampliação da área de atuação do
Agroamigo para todos os municípios que
disponham de agricultores enquadráveis
dentro do Pronaf B, ou seja, produtores
rurais de renda bruta anual familiar de até
R$ 4 mil. “Nas localidades que contarem
com o atendimento do Programa, não
atenderemos mais pelo método
tradicional do Pronaf B, o que significa
dizer que disporemos de 1985 municípi-
os para trabalhar exclusivamente a
metodologiadoAgroamigo”, informou.
ASSESSORES
Para garantir o cumprimento das metas,
o superintendente informou algumas
melhorias que estão sendo implemen-
tadas na operacionalização do
Programa como, por exemplo, o
incremento no total de assessores de
crédito, que passarão de 572 para 800.
De acordo com Luis Sérgio, a medida
faz parte da estratégia de criação da
unidade de microfinanças, por meio da
qual o Banco do Nordeste se propõe a
trabalhar o Agroamigo e o Crediamigo
com carteiras diferenciadas e indepen-
dentes em cada agência.
“Ressalte o trabalho realizado pelos
gestores do BNB e pela equipe do Inec,
que fornece estrutura de apoio a todo o
Programa. A razão de sucesso do
Agroamigo reside principalmente na
ação direta de todos, que levam o
crédito à comunidade de forma
orientada e acompanhada”, destacou.
Na opinião do presidente do Instituto
Nacional de Educação e Cultura (Inec),
Cloves Polte, os assessores são peça
fundamental para o crescimento do
Programa, graças ao conhecimento que
detêm da comunidade, de seus clientes
e da cultura local.
Luis Sérgio Farias Machado
Sup. da Área de Agricultura Familiar,
Microfinanças Rurais e Crédito Fundiário
Ag
ricult
ura
Org
ânic
a
Saúde na mesa
do Interior à CapitalAssociação dos Produtores Orgânicos da Ibiapaba (APOI) - São Benedito
Tomate cereja, alface americana, repolho roxo, alho poró, macaxeira, pimentão,
berinjela, beterraba, cenoura, além de outras hortaliças, frutas e grãos,
produzidos de maneira limpa, correta, sadia, livres de agrotóxicos.
São assim os produtos cultivados no
alto da Serra da Ibiapaba, no municí-
pio de São Benedito, região Norte do
Ceará, distante cerca de 250 quilôme-
tros de Fortaleza. Lá, a vanguarda de
agricultores da Associação dos
Produtores Orgânicos da Ibiapaba
(Apoi), movimenta 13 produtores, de
outras três cidades, Ibiapina, Ubajara e
Carnaubal – unidos pelo objetivo de
repensar novos modelos agrícolas, que
valorizem o homem do campo,
respeitem o meio ambiente e evolua
em tecnologias sustentáveis. E a
iniciativa tem se mostrado bem
sucedida.
Tanto que João Costa Gomes, técnico
em agropecuária, um dos produtores
da Apoi, conta, com alegria, as recentes
conquistas que evidenciam a importân-
cia dessa luta.
“O tabu da serra era tomate e repolho.
Quando iniciamos, muita gente
apostou que não daria certo. Mas taí, os
dois são os que produzimos com
melhor regularidade e sem usar
nenhum tipo de agrotóxico”, destaca
João Gomes.
Cícero, Luiz Carlos,
Cleide, Vanderléia,
Ismael, Valéria,
Eliane, Ariane,
Denísio e João, na
Sede da Associação
dos Produtores
Orgânicos da
Ibiapaba (APOI).
Eles organizam
grande parte dos
produtos orgânicos
consumidos em
Fortaleza (CE).
A Associação dos Produtores
Orgânicos da Ibiapaba (Apoi) vende
tudo que produz para duas grandes
redes de supermercados do Ceará e
Piauí, e trabalha, também, com
entregas de cestas na região para
famílias cadastradas. João Costa
Gomes encerra de vez com o mito de
que agricultura sem agrotóxicos é
sinônimo de má qualidade. “Nossos
produtos são bonitos por dentro e por
fora. Hoje, só se fala em segurança
alimentar, e isso só tem consumindo
produto orgânico”, afirma.
32 Nossa Terra - Ceará
O engenheiro-agrônomo, Hermínio
José Moreira Lima, do Núcleo de
Apoio a Agricultura Orgânica, da
Secretaria do Desenvolvimento
Agrário, avalia as dificuldades dos que
apostam nos orgânicos. “Muitos
agricultores querem entrar nesse
sistema, mas ainda se deparam com
descaminhos na assistência técnica ou
em como colocar o produto no
mercado. Em relação ao consumidor,
muitas pessoas procuram, mas os
mercados convencionais ainda estão
fechados, principalmente as grandes
SERVIÇO
Mais informações na Sede da
Associação dos Produtores
Orgânicos da Ibiapaba (Apoi),
pelo telefone (88) 3626.2498.
Falar com João ou Diana.
“Social, econômico e ambiental,
esse tripé precisa ficar
equilibrado. Aqui a gente não
queima nada, respeitamos os
mananciais, a saúde do produtor é
assegurada, porque o que
queremos é um trabalho viável,
com sustentabilidade, que não
seja só marketing. Só assim o
produtor sempre terá renda e não
dependerá somente da chuva”.
João Costa Gomes
São Benedito, Chapada da Ibiapaba
Território Rural da SDA
Técnico em Agropecuária e Produtor da
Associação dos Produtores Orgânicos da
Ibiapaba (Apoi)
Nossa Terra - Ceará 33
redes, que até vendem, mas colocam
preços elevados, que afastam o
consumidor. Temos produção o ano
todo, mas, para colocar no mercado,
muitas vezes há restrição de quantida-
de”, diz Hermínio Moreira.
“E num vai me perguntar por que
produto orgânico é caro?” Se adianta,
bem humorado, seu João. “Pois lhe
digo que não é caro. O problema é que
ainda não tem loja especializada em
produtos orgânicos, para ser vendido a
granel. Daí tem que ir assim, em
bandejas, e isso agrega valor. Mas tanto
produtor, quanto consumidor tem
consciência que estão preservando
mananciais, lençol freático e economi-
zando com remédio”, diz o técnico.
Hermínio Moreira lembra que o
grande desafio é fazer com que a
população em geral consuma esses
produtos, e não somente as classes A e
B. “É importante que esses produtos
entrem na merenda escolar. Só assim
as crianças terão contato desde cedo
com a questão de produtos mais
limpos. Temos estimulado a venda
local, dentro da comunidade, para que
o excedente seja vendido para outras
redes de comercialização, chamado
“mercado solidário”.
Para encerrar, o técnico João Costa
Gomes dá uma dica preciosa. “Produ-
ção orgânica é equilíbrio de solo. É
igualzinho na família, se tem desequilí-
brio em casa, dá doença, depressão. Se
está bem equilibrada, principalmente na
questão nutricional, o resultado é
positivo, fica tudosadio”.
A sustentabilidade das terras de seu Antônio Simeão e dona Gracinha, localizadas no Sítio Baixa do
Cedro, em Carnaubal, região da Serra da Ibiapaba, é de tirar o chapéu. Agricultor experiente e forte,
o patriarca de 11 filhos, cultiva quase tudo que necessita para viver. Como todo bom sertanejo, a sala
de visita é a cozinha, primeiro vão da casa, com fogão à lenha aceso, esquentando a água do café
plantado lá mesmo e moído na hora. Na prateleira, feijão, arroz, frutas, ovos... E, lá fora, além das
galinhas caipiras presas, aguardando comprador que vem da cidade, pilhas e pilhas de composto
orgânico, feito do bagaço da cana-de-açúcar, palha, cinza e esterco animal, permutado ou vendido a
outros membros da Associação dos Produtores Orgânicos da Ibiapaba (APOI), para ser utilizado em
adubação. Aliás, outra pérola de seu Simeão é a cachaça de alambique produzida de forma artesanal.
Com a matéria-prima cultivada sem aditivos químicos, o processo inicia com a moagem da cana, que
vai para dornas de fermentação, onde é colocado sobre o alambique e, depois de aquecido, destilado.
“A parte de fermentação, inclusive, sem nenhum químico, tudo natural”, enfatiza Zé Maria, um dos
filhos do casal.
34 Nossa Terra - Ceará
Antonio Simeão e Dona Gracinha, do Sítio Baixa do Cedro, em Carnaubal
Ensaio
00 nossa terra36 Ceará - Nossa Terra
Programa de Peixamento
Se cai na rede é peixe
“Esse programa é muito importante para o Ceará e vem sendo muito bem
recebido pela população. As pessoas comemoram quando veem nosso
caminhão carregado de alevinos”, celebra Max Dantas, coordenador do
Desenvolvimento da Pesca, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA),
se referindo ao Programa de Peixamento de açudes, lançado em 2008, pelo
Governo do Estado do Ceará, com excepcionais resultados e números grandes
para mostrar.
Só ano passado, foram beneficiadas
31.475 famílias de 124 municípios,
com a distribuição de 6.200.000
alevinos em 1.259 açudes. Essa
distribuição foi gratuita e teve como
meta o repovoamento de reservatórios
públicos, comunitários e de áreas de
assentamentos, todos devidamente
cadastrados. O primeiro município a
receber os alevinos foi Guaiúba, onde
o programa foi lançado, em janeiro de
2008, Na ocasião, foram depositados
10 mil alevinos no açude de Itacima.
Conduzida pela Coordenadoria do
Desenvolvimento da Pesca da SDA, a
primeira etapa do programa começou
em fevereiro e terminou em abril de
2008, atingindo 212 açudes e 4.137
famílias, num total de 33 municípios.
Em julho, teve início a segunda etapa,
que se estendeu até dezembro, com a
distribuição de alevinos do Governo
do Estado e do Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas
(Dnocs). “Foi um ano muito
auspicioso para nós. Todos os
objetivos foram atingidos e quebramos
o recorde de distribuição de alevinos.
Agora é continuar trabalhando”, diz
Max Dantas.
O Programa de Peixamento vem
repondo os estoques pesqueiros de
reservatórios públicos, aumentando a
p r o d u ç ã o d e p e s c a d o e
proporcionando mais oportunidades
de trabalho e renda para as
comunidades cearenses situadas nas
regiões ribeirinhas, além de ser uma
fonte de segurança alimentar para as
famílias.
Esse ano o programa foi lançado em
Icó e as metas continuam grandes: 5
milhões de alevinos serão distribuídos
em 1.072 reservatórios, beneficiando
26.800 famílias de baixa renda. “A
gente espera aumentar a produção em
mil toneladas de pescado”, calcula
Max, acrescentando que os açudes
foram cadastrados pela Empresa de
Assistência Técnica e Extensão do
Ceará (Ematerce) e pela Companhia
de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh).
Ano passado a SDA investiu mais de
R$ 300 mil no projeto que, de fato, está
ampliando a oferta de alimentos, além
de possibilitar o aproveitamento do
potencial produtivo das águas
represadas. As comunidades rurais de
baixo poder aquisitivo, localizadas nas
proximidades dos reservatórios
cada s t r ados , s ão a s g r andes
beneficiadas.
O peixamento contempla todos os
municípios cearenses que atendam as
recomendações técnicas para a
execução da atividade. As espécies
utilizadas são as que já estão presentes
nos reservatórios do Estado, adaptados
às nossas condições ambientais, como
é o caso da Tilápia do Nilo, Carpa
C o m u m , C u r i m a t ã C o m u m ,
Tambaqui e Pescado do Piauí.
As localidades beneficiadas foram
definidas primeiramente a partir de
locais com menor Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). A
Ematece, as secretarias de agricultura
municipais e as entidades parceiras
ajudam na distribuição dos alevinos.
Todas as famílias beneficiadas
recebem instruções de procedimentos
técnicos, como o tipo de rede a ser
utilizada e o tamanho ideal para o peixe
ser pescado, de forma a evitar a pesca
predatória. Após cinco meses da
implantação, já dá para avaliar o
impacto e as mudanças ocorridas, pois
este é o tempo necessário para o
crescimento dos alevinos.
Nossa Terra - Ceará 37
Programa Leite Fome Zero
O leite que transforma vidas
O Programa Leite Fome Zero, parceria do Governo do Estado do Ceará com
o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) distribui,
diariamente, 54 mil litros de leite para crianças de até seis anos e gestantes
em situação de insegurança alimentar, em 146 municípios cearenses,
beneficiando cerca de 60 mil famílias.
38 Nossa Terra - Ceará
Além de contribuir para o combate à
fome nos municípios cearenses com
menores índices de desenvolvimento,
o Programa Leite Fome Zero fortalece
a agricultura familiar do Estado do
Ceará, pois garante a compra do leite
de cerca de 1.800 produtores.
“O programa é principalmente voltado
para o produtor. Claro que ele
beneficia crianças, idosos e gestantes.
Isso é muito importante, mas a nossa
meta maior é o homem do campo, o
pequeno produtor pronafiano de até
30 litros de leite por dia”, enfatiza
Augusto Júnior, coordenador de
P e c u á r i a , d a S e c r e t a r i a d e
Desenvolvimento Agrário do Estado
(SDA).
A distribuição do leite garante o
escoamento do produto, movimentan-
do a economia local. Para melhorar a
qualidade do rebanho e aumentar a
produção, a SDA orienta sobre a
alimentação do gado. “Estamos
distribuindo sorgo forrageiro e
leguminosas para o rebanho. Também
estamos entrando com a palma
forrageira, um alimento resistente ao
semiárido e de alto valor energético”,
explica o engenheiro.
Além da alimentação, cuidados
sanitários. “Garantimos vacinação
contra febre aftosa, e estamos contro-
lando a tuberculose e a brucelose no
rebanho”. Kits de inseminação e boas
práticas de ordenha são difundidos
entre os produtores e, até agora, o
programa injetou, no Ceará, recursos
da ordem de R$ 45 milhões, sendo
que, 20% deste valor é contrapartida
do Governo do Estado.
TANQUES DE RESFRIAMENTO
Como todo leite precisa ser resfriado
antes de passar pelo processo de
industrialização, os produtores estão
também recebendo tanques de
resfriamento. “A meta é distribuir 140
tanques, cada um deles beneficiando
de 20 a 30 produtores. Já instalamos
63 tanques”, contabiliza o coordena-
dor de Pecuária da SDA.
USINAS DE
BENEFICIAMENTO
No início do programa, todo o
trabalho era feito em parceria com as
usinas de beneficiamento de leite. A
produção era repassada para essas
usinas, que realizavam a
pasteurização do leite de vaca tipo C.
Depois desse processo, o leite era
distribuído para a comunidade.
Agora esse processo está mudando.
No Assentamento da Comunidade
Malhada, a 13 km do Crato, já foi
inaugurada a miniusina de
pasteurização do leite, que começa a
dar mais autonomia aos 22 membros
da Associação dos Pequenos
Produtores de Leite do Sítio
Malhada.
Com a miniusina, o produtor passa a
ser o industrial do leite, não mais
dependendo das grandes usinas de
pasteurização. Isso agrega valor ao
produto gerando mais renda.
O próximo município beneficiado será
Mauriti.
Nossa Terra - Ceará 39
Ensaio
Pla
no S
afr
a
Plano Safra 2009:Mais recursos para a Agricultura Familiar.
O pacote governamental reforça programas estratégicos, como a distribuição
de sementes e mudas, assistência técnica e crédito rural para o pequeno
produtor cearense.
Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, o Governador do Ceará, Cid Gomes e
Secretário do Desenvolvimento Agrário, Camilo Santana.
42 Nossa Terra - Ceará
O lançamento do Plano Safra 2009,
ocorrido no início deste ano, foi
marcado pelo otimismo de boa
colheita demonstrado nos discursos
afinados entre o ministro do
Desenvolvimento Agrário, Guilherme
Cassel , o governador do Estado do
Ceará, Cid Ferreira Gomes, e o
secretário do Desenvolvimento
Agrário, Camilo Santana.
A ampliação dos investimentos
federais e estaduais no Plano Safra visa
impulsionar o processo competitivo da
produção agrícola cearense. Um dos
destaques do pacote de ações é a
política de correção de solos que está
sendo implantada pela Secretaria do
Desenvolvimento Agrário (SDA).
“Queremos disseminar novas
tecnologias que respeitem o meio
ambiente e que tragam bons resultados
para a nossa agricultura”, explica
Camilo Santana.
PARA O CEARÁ PRODUZIR MAIS
Distribuição de sementes de alta
qualidade, assistência técnica gratuita,
crédito para a compra de terra e
equipamentos, garantia de comerciali-
zação e outras iniciativas estratégicas
para o homem do campo: são as
fronteiras de atuação do Plano Safra
2009, um guarda-chuva institucional
que agrega ações, programas e projetos
de apoio ao pequeno produtor.
“A agricultura não espera por ninguém
e sua principal característica é a
oportunidade. É preciso preparar o
solo na hora certa, distribuir as
"O aumento dos recursos no Plano
Safra da Agricultura Familiar é
proporcional à importância que o
setor vem tendo no processo de
desenvolvimento do Ceará. Os
governos federal e estadual têm
trabalhado juntos na construção de
políticas públicas com geração de
mais trabalho, mais renda e mais
alimentos para todos os cearenses",
avalia o ministro Guilherme Cassel.
Os maiores produtores de alimentos
no Brasil são os agricultores
familiares e assentados de Reforma
Agrária. Daí a importância que eles
assumem na preservação do meio
ambiente. O secretário Camilo
Santana observa: “É importante que
o agricultor se preocupe com o
cuidado com a terra. O programa
estimula a correção do solo com uso
de calcário, além de práticas de
conservação como captação “in
sito”. A prefeitura de General
Práticas Corretas
Sampaio, por exemplo, ganhou o
prêmio “Selo Verde” por ter
incentivado essa prática.
A parceria com o Banco do Nordeste
(BNB) tem sido importante para
impulsionar programas como o
P r o g r a m a N a c i o n a l d e
Fortalecimento da Agricultura
Familiar (Pronaf) que, este ano, está
expandindo o financiamento e
simplificando as normas para
obtenção de crédito rural. Roberto
Smith, presidente do Banco do
Nordeste, comenta: “O Pronaf é uma
iniciativa que tem no BNB um grande
parceiro. É um programa com
desdobramentos e avanços a cada
ano”. Dentre as perspectivas para
2009 destaca-se a implantação de
metodologias de crédito, permitindo
que o Pronaf, dentro do BNB, tenha
tratamento preferencial em termos
de tecnologia da informação e mais
agilidade no atendimento.
Nossa Terra - Ceará 43
sementes antes das chuvas, obter
crédito no momento ideal e comercia-
lizar no período propício. O Plano
Safra envolve todas essas questões e é
inédito no Ceará, porque acompanha
o processo de produção do início ao
fim, ou seja, do preparo do solo à
comercialização do produto” declara
José Maria Pimenta, presidente da
Ematerce.
Concordando com Pimenta, Francisco
Sombra, da Delegacia Regional do
Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), acrescenta que o
Plano Safra funciona como um reforço
à política do Governo Federal,
beneficiando 4,1 milhões de estabele-
cimentos da agricultura familiar,
responsáveis pela produção de 70%
dos alimentos que chegam à mesa dos
brasileiros.
“O MDA trabalha fundamentalmente
com quatro eixos: combate à pobreza,
segurança alimentar e nutricional,
sistema de produção ecológico e
geração de renda. O Plano Safra vem
ao encontro desses itens e traz
novidades, como o aumento do
volume de recursos para assistência
técnica”.
Este ano o montante de recursos para o
Ceará ultrapassa os R$ 780 milhões de
reais, beneficiando mais de 300 mil
famílias de agricultores familiares,
espalhadas em todo o Estado. A
parceria entre Governo do Ceará e
Governo Federal é mais uma vez
fundamental para o bom andamento
da iniciativa, que assegura verbas para o
Programa de Distr ibuição de
Sementes e Mudas, Biodiesel do
Ceará, Garantia Safra e Crédito Rural
Mais Alimentos, dentre outras frentes.
O Plano Safra contempla ainda
projetos de piscicultura. Os produtores
de peixes e algas do Litoral Oeste e
Zona Norte do Estado, por exemplo,
receberam recursos para a construção
de barracas de produção e processa-
mento de algas marinhas, bóias
diferenciadas para zoneamento da área
de mar, barragens de alvenaria e
cisternas, dentre outros equipamentos.
MAIS MÁQUINAS E MAIS
ALIMENTOS
Para modernizar a infraestrutura
produtiva das unidades familiares, o
Governo Federal criou, também, o
Programa Mais Alimentos que, entre
julho de 2008 e maio deste ano, já havia
financiado 11 mil tratores. Para ter
ideia do sucesso do programa, em
2002, os tratores de até 78 cavalos
(como os financiados pelo Mais
Alimentos) representavam 37% do
total produzido no Brasil. Hoje,
chegam a 75%. Tem mais: de todos os
tratores produzidos no país de janeiro
a maio de 2009, 61% foram comerciali-
zados por meio do Mais Alimentos.
Ou seja, a cada cinco tratores, três são
vendidos com apoio dessa linha de
crédito. Trata-se, pois, de uma
oportuna parceria entre governo,
indústria e movimentos sociais.
Pla
no S
afr
a
Para o Programa de Distribuição
de Sementes e Mudas, o Plano
Safra reservou mais de R$ 22
milhões, viabilizando a
distribuição de 5 milhões de
quilos de sementes. “O Estado
está aumentando o número de
beneficiados e ampliando o valor
dos investimentos. As sementes
foram na hora certa, chegando
antes das chuvas, para que o
agricultor plante na hora certa”,
pontua o secretário Camilo
Santana. O programa cearense é
referência em todo o Brasil.
Sementes Para Todos
Assistência TécnicaOs recursos para Assistência
Técnica e Extensão Rural (Ater)
foram elevados de R$ 168
milhões para R$ 397 milhões em
todo o País. No Ceará, o Governo
Federal liberou para a Empresa
de Assistência Técnica e Extensão
do Ceará (Ematerce), R$ 15,5
milhões para o fortalecimento da
extensão rural local.
44 Nossa Terra - Ceará
Em 2009, o Plano Safra destinou R$ 550 milhões para o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura (Pronaf). Este montante é 50% maior que o da
safra anterior (2007/2008), quando foram disponibilizados R$ 350 milhões ao
Estado. Os atuais recursos do Pronaf contemplarão 167 mil pequenos
produtores.
A principal novidade nesta safra é o Crédito Mais Alimentos, que financia a
modernização da infraestrutura produtiva da propriedade familiar. A linha de
crédito atende projetos associados à produção de olerícolas, frutas, arroz, feijão,
milho, mandioca, trigo, leite e ovinocaprinocultura. O limite de financiamento
é de R$ 100 mil por agricultor familiar, com prazo de pagamento de até 10 anos,
carência de até três anos e juros de 2% ao ano.
Além de simplificar as normas para obtenção de crédito rural do Pronaf, o
Plano Safra reduziu as taxas de juros. Para os financiamentos de custeio, elas
agora variam entre 1,5% e 5,5% ao ano, contra 3% e 5,5% na safra 2007/08. Nas
operações de investimento, as taxas foram reduzidas para 1% a 5% ao ano (antes
variavam de 2% a 5% ao ano).
Garantia SafraO programa Garantia Safra
funciona como seguro de
produção para o agricultor, em
caso de perda comprovada de
mais da metade da colheita,
devido à estiagem ou ao excesso
de chuvas. Na safra 2008/2009,
um total de 260.970 agricultores
familiares cearenses aderiram ao
programa. O Ceará é o Estado
com o maior número de
municípios (165) que têm
aderido, por isso o Ministério do
Desenvolvimento Agrário
disponibilizou 300 mil cotas para
os produtores locais.
Normas Simplificadas No Pronaf
Veículos novos, computadores, motos,
tratores e implementos agrícolas, como
sulcadores de tração motora, pulverizadores
de tração animal e trilhadeiras de mamona
foram entregues durante o lançamento do
Plano Safra 2009
Nossa Terra - Ceará 45
A Capital se rendeu aos encantos
do interior. A II Feira Cearense de
Agricultura Familiar (Feceaf), que
aconteceu de 2 a 5 de julho de
2009, trouxe para Capital cerca de
mil agricultores e artesãos, de 500
empreendimentos de todas as
regiões do Ceará, representando
mais de 100 municípios ligados à
agricultura familiar no Interior.
Cerca de 100 mil visitantes passa-
ram pelo Parque de Exposições
Governador César Cals, nos quatro
dias do evento e saíram de lá com as
mãos repletas de mercadorias
tradicionais, como as tapiocas e
beijus feitos na casa de farinha, e
exóticas, como o suco e sorvete de
macaúba trazidos do Cariri.
Quem esteve no Parque de
Exposições viu, também, uma
bodega iluminada à lamparina,
com sanfoneiro, triângulo e
zabumba tocando na porta e
representação do Horto do Padre
Cícero, com banquinha vendendo
produtos religiosos, além de bela
pintura em grafite reproduzindo as
casas da subida da ladeira.
No dia da abertura da Feceaf,
aconteceu o 1º Encontro Estadual
de Prefeitos para Promoção do
Desevolv imento Terr i tor ia l
Sustentável do Ceará, que contou
com a presença do Secretário do
Desenvolvimento Territorial, do
Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), Humberto
Oliveira, do Secretário Nacional da
Agricultura Familiar do MDA,
Adoniran Sanches Peraci e outras
autoridades.
De acordo com o Secretário do
Desenvolvimento Agrário, Camilo
Santana, é preciso criar um
ambiente para interlocução entre
gestores públicos e sociedade. “É
muito importante ter trazido para a
Feira o debate em torno do
Programa Território da Cidadania.
Tivemos aqui os principais atores
que envolvem esse processo,
prefeitos e agricultores familiares,
que formam a base da economia
dos territórios rurais. São muitas
ações e todo esforço em comum
está sendo feito para melhorar a
vida do homem do campo”,
ressaltou Santana.
Durante a II Feira Cearense da
Agricultura Familiar, os visitantes
puderam aproveitar, ainda, o
pesque-e-pague em miniaçude
povoados com tilápias que eram
tratadas na hora, o abate de galinha
caipira, a casa do queijo, o beneficia-
mento de castanha e outros.
Feceaf:Mais de 100 mil pessoas em quatro dias de evento
A Feira Cearense de Agricultura Familiar reuniu cerca de mil agricultores eartesãos, de 500 empreendimentos de todas as regiões do Ceará
Agricultura Familiar
Ensaio
Territórios da Cidadania
Territórios para o
desenvolvimento
Cidadania, melhoria de renda e qualidade de vida para a população, com foco
nos habitantes do meio rural. Lançado pelo Governo Federal, o Programa
Territórios da Cidadania combina diferentes ações para reduzir as
desigualdades e promove uma maior integração da União, Estados e
Municípios, na busca por soluções conjuntas para o desenvolvimento do país.
O programa quebra a lógica setorial de governos, prioriza o ambiente rural e
combate a concentração de renda nos grandes pólos, firmando acordos de
cooperação técnica para a execução de ações solidárias em todo o Brasil.
Saúde, saneamento, acesso à água, educação, cultura, infraestrutura, apoio à
gestão territorial e ações fundiárias são suas áreas de abrangência.
No Ceará, o Programa Territórios da Cidadania foi lançado oficialmente em
fevereiro de 2008, somando recursos de R$ 1.686.706.372. Seis territórios já
estão constituídos: Cariri, Inhamuns/Crateús, Sertão Central, Sertão de
Canindé, Sobral e Vale do Curu/Aracatiaçu. “Esses territórios já estão com os
colegiados estruturados, após oficinas que aconteceram em maio”, explica
Bartolomeu Cavalcante, coordenador do Desenvolvimento Territorial e
Combate à Pobreza Rural da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA).
A escolha das regiões obedeceu critérios como menor Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e baixo dinamismo econômico. “Com a
implantação do programa, o Ceará ganha uma poderosa arma de combate à
desigualdade nas três esferas de poder. São ministérios, secretarias estaduais e
os vários representantes dos municípios, todos decidindo em conjunto,
buscando novos investimentos e aproveitando melhor os recursos disponíveis.
As ações têm o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e
seguem a mesma metodologia que está sendo implantada nos territórios de
todo o Brasil. Com isso, o Ceará avança na estratégia de gestão social e aposta no
desenvolvimento sustentável”, acredita Bartolomeu Cavalcante.
Programa Territórios da Cidadania reúne
ações de desenvolvimento regional e de
garantias de direitos sociais, combinando
políticas públicas para promover o
crescimento sustentável.
Territórios da
Cidadania no Ceará
NÚMEROS PARA AVANÇAR
Sessenta territórios rurais em todo
o Brasil foram contemplados em
2008 pelo Programa Territórios da
Cidadania. A meta é duplicar este
número em 2009, com ações de 22
ministérios, que aportam recursos
de R$ 23,5 bilhões, sob a coordena-
ção da Casa Civil da Presidência da
República. O Nordeste recebe o
maior volume de recursos entre as
regiões, sendo que, no Ceará, a fatia
mais gorda de investimentos vai
para o desenvolvimento social.
Diferente de outros projetos, o
Territórios da Cidadania não se
limita a enfrentar problemas
específicos com ações dirigidas. Ele
combina diferentes ações para
reduzir as desigualdades sociais e
promover um desenvolvimento
harmonioso e sus ten táve l .
Humberto Oliveira, secretário do
Desenvolvimento Territorial do
Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), afirma que
“apesar de recente, o programa
vem tendo uma atuação muito
positiva”. Ele explica que, em 2009,
a participação dos colegiados e a
metodologia do trabalho em grupo
renderam bons frutos. “Quero
destacar o envolvimento dos
Comitês de Articulação Estaduais,
inclusive o do Ceará, que é um dos
melhores em termos de funciona-
mento regular e discussões
temáticas. Nesses casos, a adesão
do Governo do Estado faz toda a
diferença”, conclui o secretário.
C O M I T Ê E S T A D U A L :
DECIDINDO EM CONJUNTO
No Ceará, o Comitê Estadual de
A r t i c u l a ç ã o d o P r o g r a m a
Territórios da Cidadania foi
formalizado em abril de 2008, com
a missão de definir as ações e os
investimentos em benefício das
políticas públicas para o interior do
Estado. O acordo foi assinado pelo
governador Cid Gomes e pelo
Secretário de Desenvolvimento
Territorial do MDA, Humberto
Oliveira.
O Comitê de Articulação do
programa é formado por represen-
tantes da União, do Estado e dos
municípios, cuja tarefa inicial foi
mapear as iniciativas e vocações de
cada território, para que fosse
possível definir os investimentos
prioritários das regiões.
Cabe aos Comitês Estaduais
articular as políticas públicas a
serem implementadas e fiscalizar a
execução das ações do Territórios
da Cidadania em todo o Brasil. A
linha norteadora das ações do
Comitê segue um regime de
colaboração mútua na organização
das diversas políticas públicas que
estão sendo implementadas.
Terr
itóri
os d
a C
idad
ania
50 Nossa Terra - Ceará
“O envolvimento dos Comitês de Articulação Estaduais,
inclusive o do Ceará, que é um dos melhores em termos de
funcionamento regular e discussões temáticas, está
diretamente relacionado à adesão do Governo do Estado”
Secretário de Desenvolvimento Territorial do MDA,
Humberto Oliveira
No assentamento Lagoa do Mato,
distrito de Cipó dos Anjos, a 50 km da
sede de Quixadá, os agricultores
descobriram uma doce alternativa de
renda: o mel de abelha.
As colmeias ficam no campo e, na
época da colheita, os apicultores
levam o que colheram para a Casa
do Me l , onde t r aba lham na
produção e embalagem do produ-
to. Inaugurada em 2008, a Casa do
Mel de Lagoa do Mato foi equipada
c o m r e c u r s o s d o P r o g r a m a
Territórios da Cidadania.
José Carlos, técnico da Secretaria
d e A g r i c u l t u r a d e Q u i x a d á ,
explica: “Todos os apicultores
t r aba lham com a agr i cu l tu ra
f ami l i a r . Cada um tem uma
d e t e r m i n a d a q u a n t i d a d e d e
colmeias, e cada produtor traz o
seu mel para beneficiar aqui. A
Casa do Mel é para atender toda
região de Cipó dos Anjos”. Uma
das metas atuais é implementar a
embalagem do mel em sachê.
O trabalho local é aproveitado ao
m á x i m o . A A s s o c i a ç ã o d o s
Apicultores de Quixadá fez um projeto
para vender o produto para a merenda
escolar. “O mel deles, por enquanto,
está indo por um preço melhor”,
comemora José Carlos, lembrando
que o projeto teve o apoio do Governo
Nossa Terra - Ceará 51
Casa do Mel é fonte de rendaQuixadá
Produtores do Assentamento Lagoa do Mato, em Quixadá, na Casa do Mel
do Estado do Ceará, da Prefeitura de
Quixadá e da Fundação Banco do
Brasil, além do Programa Territórios
da Cidadania.
A produção de mel de abelha em
Quixadá já é uma alternativa para quem
mora na zona rural do município. Em
2007, os agricultores foram beneficia-
dos com kits de apicultura. No ano
seguinte os investimentos foram
maiores, com a entrega de duas Casa do
Mel. Além de Cipó dos Anjos, foi
beneficiado o distrito de Riacho Verde.
Inicialmente toda a produção está
sendo destinada para escolas públicas
municipais, o que contribui com uma
merenda escolar mais saudável.
Terr
itóri
os d
a C
idad
ania
52 Nossa Terra - Ceará
POUSADA RURAL EM SÃO
JOÃO DOS QUEIROZ
No assentamento Boa Vista, distrito
de São João dos Queiroz, a 20 km de
Quixadá, região do Sertão Central,
outro projeto importante conta com
recursos do Territórios da Cidadania.
Em maio de 2008 foi assinada a ordem
de serviço para a reforma da casa-sede
do assentamento. O local dará espaço
a um novo hotel-fazenda, na estrada
que liga à BR 116. Além das belezas da
paisagem, os turistas e hóspedes
desfrutarão de um amplo espaço para
esportes, passeios a cavalo, trilhas,
canoagem e pescaria.
A própria comunidade vai gerenciar o
empreendimento. Os jovens serão
capacitados para recepcionar os
hóspedes, como guias turísticos. As
famílias vão produzir alimentos típicos
da região, como galinha caipira, queijo
fresco, pamonha e leite. Com o apoio
do Sebrae, já aconteceram vários
treinamentos. O município entra com
10%, como é obrigatório no Programa
Territórios da Cidadania. O Governo
do Estado quer que a administração
local fique a cargo das famílias.
Todos os que trabalham nas obras
(eletricistas, bombeiros-hidráulicos,
pedreiros, serventes e carpinteiros) são
da própria comunidade. “Já existia
uma mão de obra qualificada aqui, e ao
ser utilizada, ela agrega valor ao projeto
e traz emprego para as famílias,
melhorando a renda de todos”,
comenta o técnico José Carlos. As
famílias do assentamento Boa Vista
vivem da agricultura familiar, e
trabalham principalmente com a
pecuária e a bovinocultura de leite.
Agora começam também a se ocupar
da caprinocultura, com apoio do
Projeto Dom Helder Câmara e o
recebimento de 200 cabras de leite. A
Embrapa está trabalhando com o
parque de alimentação, melhoramento
genético e organização das famílias.
São 28 famílias, com renda média de
um salário mínimo. Todos serão
envolvidos direta e indiretamente no
funcionamento da pousada, cada um
com o que puder oferecer. “O que vai
melhorar para o morador é o seguinte:
se ele tem uma charrete ou uma
carroça, vai poder alugar para o turista.
Se o turista quiser andar em um
animal, o morador aluga o animal.
Também tem o leite, a galinha para
vender, o ovo, tem a horta que está
sendo implantada, tem o coco. Então,
o que a gente espera é que, pelo menos,
70% do que for utilizado aqui, saia de
dentro do assentamento”.
Marcelo Sousa Pinheiro é diretor-
presidente do Instituto Agropolos do
Ceará, Organização Social de
destaque no cenário político-
administrativo, nacional e internacio-
nal, principalmente, nas áreas de
Fruticultura Irrigada e Floricultura
do Ceará. Em conversa com a equipe
da Revista, o administrador de
empresas , pós -graduado em
Controladoria e Cooperativismo,
falou dos novos desafios de execução
assumidos para 2009, frente ao
Programa de Desenvolvimento
Sustentável de Territórios Rurais,
abordando novos planos para o
P r o g r a m a d o B i o d i e s e l ,
Desenvolvimento Rural, Agricultura
Familiar, Pequenos Produtores e
outros.
Marcelo Pinheiro explica que, quando
o Instituto Agropolos foi criado, em
2002, sua missão era incentivar algumas
atividades produtivas do Ceará,
principalmente fruticultura irrigada e
floricultura, em que nos tornamos
referência nacional e internacional.
Mas, com o passar do tempo, o
Instituto foi agregando serviços,
fazendo contratos de gestão com outras
secretarias do Estado e, a partir de
2007, com o advento da Secretaria de
Desenvolvimento Agrário (SDA),
passou a incorporar novas temáticas.
“Nesse governo, a Secretaria do
Desenvolvimento Agrário tem olhado
m u i t o p a r a a q u e s t ã o d o
Desenvolvimento Rural, priorizando a
agricultura familiar, com foco no
desenvolvimento sustentável”, pontua
o diretor-presidente do Instituto
Agropolos, acrescentando que, a
partir desse ano, “passamos a
enxergar o Estado dividido em 13
territórios rurais, sete acompanha-
dos pelo MDA e seis pela SDA,
todos com atuação do Instituto.
Somos executores das duas
organizações”.
Instituto Agropolos
Ceará - nossa terra 00
Mais informações:
Instituto Agropolos do Ceará,
Rua Barão de Aratanha, 1450,
José Bonifácio, Cep. 60.050-
071, em Fortaleza (CE).
Fone: (85) 3101.1670,
Fax (85) 3101.1679,
www.institutoagropolos.org.br,
Ceará - nossa terra 00Nossa Terra - Ceará 55
GENTE DA TERRA
Francisco Dalci Gomes Paz e sua
mulher, Helena da Silva Lopes, têm
seis filhos. Eles moram no assentamen-
to Boa vista há nove anos, com água
encanada e energia elétrica, que chegou
através do Projeto São José. Como eles,
todas as 28 famílias do local participam
da associação dos moradores do
assentamento Boa Vista. Eles plantam,
principalmente, milho, feijão e girassol.
Para Francisco, o trabalho na pousada
rural começou, já que ele labuta como
pedreiro na reforma da sede. “Esse
projeto aí é o nosso sonho se realizan-
do. Ele vai gerar renda e emprego para
os jovens que estão terminando os
estudos. Com isso, a gente vai poder
receber os turistas. Temos também um
projeto de horticultura orgânica. Quem
não se empregar na pousada, vai
produzir na horta, vai fornecer a
galinha caipira, o queijo, o doce”,
aposta.
Ao seu lado, a mulher, Helena, recorda
que os tempos já foram duros para eles.
“Quando a gente chegou aqui, não
tinha nada. Agora nós já temos nosso
gadozinho, já diferenciou muito.
Antes, para comprar um litro de leite,
era ruim. Hoje, graças a Deus, a gente
tem que sobra pra fazer o queijo. Eu
tiro 20 litros de leite, antes mal dava
para comprar um”.
Ela explica como a mudança foi
possível: “Antigamente a gente não
sabia o que era trabalhar em parceria
com outras instituições. Hoje, a gente
tem a Secretaria da Agricultura, tem o
apoio dos técnicos do Governo, tem o
Programa Dom Helder...” O assenta-
mento já ganhou uma escola. Helena
sonha: “Vamos levar o queijo que nós
produzimos para lá. Temos planos de
construir uma casinha para fazer o
queijo. A gente já usa a cozinha, mas
queremos um quartinho só pra isso”,
completa Francisco Gomes.
Programa de Cisternas
Cisternas garantem acesso
à água e facilitam convívio
com o Semiárido
Longas caminhadas até o açude mais próximo, doenças provocadas pelo consumo
de água salobra, precárias condições de higiene, extensos períodos na dependência
de carros-pipa. Problemas como esses já não fazem parte da vida do agricultor José
Pinto de Souza, que comemora a construção de uma cisterna no terreno em que
vive, na localidade de Divertido, a 40 quilômetros de Russas: “Água agora é dentro
de casa! É só colocar o balde e trazer!” Morador antigo do local, seu José, de 67
anos, está entre os beneficiados do Programa Cisternas.
A iniciativa integra uma das frentes de convívio com o semiárido e beneficia
famílias de baixa renda que não possuem fonte de água ou meios para armazená-la.
Com a tecnologia simples e eficiente das cisternas de placa, está sendo possível
melhorar a capacidade hídrica, através da captação da água da chuva. Seu José
considera que o projeto chegou em boa hora em Divertido. “Antes não dá nem pra
contar como era a vida aqui. A dificuldade era a maior do mundo. Eu carregava
água lá do assentamento, e antes disso eu pegava no rio. Andava uns 13 km com
jumento. Era muito difícil.”
Construídas em regime de mutirão, com treinamento dirigido e utilização da mão
de obra local, as cisternas garantem água de boa qualidade e em quantidade
suficiente para o período da estiagem, que dura de seis a oito meses por ano. As
famílias aprendem não só a construir o reservatório, mas também a fazer a sua
Programa
desenvolvido pelo
Governo Federal em
parceria com o
Governo do Estado
do Ceará leva
cisternas para
localidades de todo
o interior. É mais
saúde, conforto e
dignidade para a
população rural de
baixa renda.
Pro
gra
ma d
e C
iste
rnas
58 Nossa Terra - Ceará
manutenção e a tratar da água. “Eu
ajudei a construir. Cavei os buracos,
botei os trabalhadores para ajudar o
pessoal que veio de fora. Depois
chegou a professora e eu participei das
aulas sobre os cuidados com a água.
Foram três dias. A comunidade estava
toda junta, todo mundo apoiava,
porque nós precisávamos mesmo”,
recorda José Pinto de Souza.
Construídas com areia e cimento, cada
cisterna tem capacidade para 17 mil
litros. Até setembro de 2009, o
Governo do Estado e o Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS) pretendem construir
13.450 cisternas no Ceará, em 61
municípios cearenses, que já estão em
andamento. As chuvas desse período
vêm atrapalhando um pouco, mas os
trabalhos continuam. Nossa meta é
construir mais de 100 mil cisternas”,
afirma Mércia Cristina Mangueira
Sales, da célula de planejamento e
coordenação da Coordenadoria de
Programas Especiais, da Secretaria do
Desenvolvimento Agrário (SDA).
U N I Ã O D E E S F O R Ç O S ,
M U L T I P L I C A Ç Ã O D E
BENEFÍCIOS
Em Russas foram construídas 262
1milhão de habitantesbeneficiados com a instalação de 221mil cisternas no Semiárido
cisternas através do programa mantido
pelos governos Estadual e Federal,
além de 500 cisternas pelo Programa
Um Milhão de Cisternas (P1MC),
lançado em julho de 2003 pela
Articulação no Semiárido Brasileiro
(ASA), em parceria com o Governo
Federal. Este programa já beneficiou
cerca de 1 milhão de habitantes, com a
instalação de 221 mil cisternas no
semiárido.
Ambas as iniciativas vão além da
simples construção de obras de
captação de água da chuva, pois
incluem ações pedagógicas e de
gerenciamento do sistema pelos
beneficiados. O secretário da
Agricultura de Russas, José Cândido
da Silva de Freitas, informa que no
município uma parte dos recursos
chegou ao final de 2006 e a outra parte
em 2007. O município ajuda com o
material necessário e faz todo o
acompanhamento, desde a fase de
mobilização da comunidade até o
período final da construção.
“A diarreia e verminose, causada pelo
consumo da água sem tratamento, são
problemas que desapareceram das
comunidades benef ic iadas . A
população tem agora uma água mais
pura e limpa, o que evita as doenças”,
diz o secretário, lembrando que dentro
desse processo existe uma demanda
ainda maior. “Nós temos comunidades
que estão fazendo levantamento, no
intuito de serem beneficiadas. Existem
famílias que pensavam em ir embora,
mas que hoje não querem mais sair
daqui. Água é vida. E hoje as pessoas
têm uma fonte de vida no quintal de
suas casas. Com isso a gente estimula a
permanência, evitando o êxodo rural
por conta da falta de energia e água.
Hoje, sentimos o prazer dos que
ficam.”
Na avaliação do Presidente da
Federação dos Trabalhadores e
Trabalhadoras na Agricultura do
Estado do Ceará (Fetraece), Moisés
Braz, o Programa Cisterna é um marco
na história do sertão cearense. “Nossa
meta é que, até 2012 todas as casas do
semiárido cearense tenham uma
cisterna.”
E D U C A R P A R A N Ã O
DESPERDIÇAR
Mais do que construir reservatórios, o
objetivo é educar e envolver as famílias
no processo. São elas que executam os
serviços gerais de escavação, aquisição
e fornecimento da areia e da água.
Pedreiros locais são capacitados pelos
Nossa Terra - Ceará 59
A cisterna é uma tecnologia popular para a captação de água da chuva e
representa uma solução de acesso a recursos hídricos para a população
rural do semiárido brasileiro. Uma cisterna de 16 mil litros permite que
uma família de cinco pessoas tenha água para beber, cozinhar e escovar os
dentes durante o período de estiagem, que dura de seis a oito meses.
Mais eficiente que o tipo anteriormente utilizado, a cisterna de placa é um
reservatório cilíndrico, coberto e semienterrado, que é construído perto da
residência da família, a fim de captar a água da chuva por meio de calhas
instaladas no telhado.
Os benefícios são muitos, a começar pela queda vertical dos casos de
verminose. A cisterna diminui a dependência aos caminhões-pipa e
promove a educação em questões de saúde, higiene, ecologia e cidadania.
Também ajuda na geração de renda, já que torna o grupo beneficiado
autossustentado, e favorece a fixação do homem na terra.
O Que é Cisterna de Placa
técnicos do programa, com remunera-
ção assegurada.
Depois de construída a cisterna, a
família aprende a zelar pelo patrimô-
nio.
“Para nós essa questão é importantíssi-
ma. Não se trata apenas de construir,
mas de saber usar. A cisterna é um
equipamento fundamenta l na
convivência com o semiárido, e o
diálogo com as famílias faz parte dos
benefícios do programa, que vem
provando que é possível haver uma
parceria bem sucedida entre a
sociedade civil e o poder público”,
considera Cristina Nascimento, da
Articulação no Semiárido Brasileiro.
Na residência de José Pinto de Souza a
cisterna e o telhado da casa são lavados
uma vez por ano, e a tampa do
reservatório é sempre fechada para
evitar a entrada de poeira, folhas e
pequenos animais. Seu José chama a
atenção da mulher, Expedita, quando
ela deixa a porta aberta. “Eu reclamo
na mesmo hora, que é pra água ser
limpa né? Eu tenho muito cuidado”,
garante ele, que chamou um filho que
mora em Russas para ajudá-lo na
limpeza da cisterna.
Ele recorda: “Ah, se você soubesse o
que nós fizemos na primeira chuva!
Esse meu filho veio me ajudar, porque
eu não podia mais subir no telhado pra
limpar. Nós varremos tudo, limpamos
todinho. No verão, o telhado fica
pegando poeira, aparando folhas
dessas árvores, cai tudo em cima dele.
Quando bate a chuva, se não tiver
“Depois que
saiu a cisterna
está uma beleza!”Edimilson Guedes SimõesP
rog
ram
a d
e C
iste
rnas
cuidado, a sujeira se mistura com a
água e fica tudo uma imundície”.
UM NOVO FUTURO
Quando seu José Pinto de Souza
nasceu, em 1941, Russas já era um
centro importante do Vale do
Jaguaribe. “Eu nasci e me criei aqui.
Tenho 13 filhos e 18 netos. Eu criei
minha família com o poder de meus
braços trabalhando. E sempre fui
muito feliz, mesmo com toda dificulda-
de”. Os filhos constituíram suas
próprias famílias e, hoje, seu José mora
com a mulher, Expedita, e a cunhada,
Maria Maura. Eles plantam milho e
feijão, e têm uma pequena criação de
boi, porco, ovelha, cavalo e jumento.
“Aqui a gente vive do que cria”.
Uma das filhas de seu José e dona
Expedita, Eleneide Maria de Souza,
vive na sede do município. Ela lembra
dos tempos difíceis em Divertido: “Eu
mesma sofri muito carregando água de
carroça. Passava o dia na roça limpan-
do mato com enxada, apanhando
feijão, fazendo de tudo. Quando dava
três horas da tarde, eu pegava uma
60 Nossa Terra - Ceará
O semiárido brasileiro é oficialmente definido pelo Ministério da
Integração Nacional e abrange o norte dos Estados de Minas Gerais e
Espírito Santo; o sertão da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, e sudeste do Maranhão.
Estima-se que vivam aproximadamente 8 milhões de pessoas na área rural
dessa região, o que a torna o semiárido mais populoso do mundo.
Sobre o Semiárido
carroça, botava num boi, enchia de
tambor e ia pegar água lá no assenta-
mento Santa Fé. O gado eu rebocava
paraoaçudemaispertoque tivesse”.
Eleneide porém, faz questão de
ressaltar: “Eu adoro esse lugar, só não
moro mais aqui por causa do meu
emprego, mas a vida aqui, em vista do
que era antes, está uma maravilha!”.
Dona Expedita Jacinta de Souza, a mãe,
finaliza: “Às vezes, de noite, conversan-
do na calçada, a gente fica pensando no
tanto que já sofreu por aqui. Agora,
depois de velhos, temos tudo nas mãos.
Eu digo é graças a Deus, porque não
podemos fazer o que fazíamos antes.
Agoraestamosaproveitando”.
COM MAIS CONFORTO
Não muito longe de dona Expedita e
sua família, vivem Edimilson Guedes
Simões e Maria Fernandes de
Amorim. O casal tem dois filhos
pequenos. Para a família, o ano de
2008 inaugurou uma fase de mais
conforto e saúde em casa, pois eles
também estão entre os beneficiados do
Programa Cisternas. “O projeto
chegou aqui em outubro de 2007. Veio
uma equipe do governo e nós ajuda-
mos na mão de obra. Antes eu andava
muito para pegar água no açude.
Depois que saiu a cisterna está uma
beleza! A água só não sangrou porque a
casa é pequena, mas está quase cheia”,
pontua Edimilson.
Maria, sua mulher, também elogia a
iniciativa: “Para mim foi muito bom!
Antes era complicado, agora faço tudo
aqui: cuido da casa, estou perto dos
meninos, tudo melhorou”. Foi ela
quem participou do treinamento para
aprender a cuidar da água. “Até hoje eu
tenho guardado o catálogo que a
professora distribuiu. Aqui de casa, fui eu
quefizocurso.Foramtrêsdiasdeaula”.
A vida prossegue mansa em Divertido,
mas agora, a exemplo de muitas outras
localidades do semiárido, existe água
de boa qualidade ao alcance da mão.
Nossa Terra - Ceará 61