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1 Papo de Cinema PAPO DE CINEMA Junho 2012 | Edição 1 | Ano 1 O amor “indizível”, enfim verbalizado. A carta como elemento de expressão do sentimento no cinema – Semiótica – Pág. XX. Os conflitos do amor e da amizade nas comédias românticas. Por Ruleandson do Carmo. – Pág. XX. Elenco de estrelas em núcleos independentes de um mesmo filme. A lógica (ou a falta dela) nos filmes em rede. Network movies – Paralelo – Pág. XX. Transmidialidade em pauta: adaptação cinematográfica do clássico da literatura inglesa Orgulho e Preconceito – Pág. XX. Julgando o filme pela capa. O filme 500 dias com ela numa análise minuciosa da capa – Veja bem – Pág.XX

Revista Papo de Cinema V.5

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O amor “indizível”, enfim verbalizado. A carta como elemento de expressão do sentimento no cinema – Semiótica – Pág. XX.

Os conflitos do amor e da amizade nas comédias românticas. Por Ruleandson do Carmo. – Pág. XX.

Elenco de estrelas em núcleos independentes de um mesmo filme. A lógica (ou a falta dela) nos filmes em rede. Network movies – Paralelo – Pág. XX.

Transmidialidade em pauta: adaptação cinematográfica do clássico da literatura inglesa Orgulho e Preconceito – Pág. XX.

Julgando o filme pela capa. O filme 500 dias com ela numa análise minuciosa da capa – Veja bem – Pág.XX

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ÍNDICE

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DIREÇÃO

VEJA-BEM “ASPAS”

PARALELO

IMPRESSÃOTRILHA SONORA

LEMBRA DESTA CENA?

SEMIÓTICA

Editorial

ExpedienteCENTRO UNIVERSITÁRIO DE

BELO HORIZONTE

REITORProf. Rivadávia C. D. de Alvarenga Neto

INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E DESIGNProf. Rodrigo Neiva

COORDENAÇÃO DO CURSO DE JORNALISMOFernanda Bastos

ORIENTAÇÃOProfª Tacyana Arce

DISCIPLINATrabalho Interdisciplinar de Graduação V

EQUIPEAndré Zuliani

Jonathan MaxuellLeilane StaufferNatanael Vieira

PAPO DE CINEMARua Diamantina, 567Lagoinha – BH/MG

CEP: 31110-320

Caro leitor,Papo de Cinema é fruto do Trabalho Interdisciplinar de Graduação, disciplina do 3º período do Curso de Jornalismo. Apresentado por Natanael Vieira e Roberta Zocrato, à época, o produto era um programa radiofônico. Sob slogan “Sua seção pipoca no rádio”, o piloto levou aos ouvintes uma análise da comédia de Woody Allen, A Era do Rádio (Radio Days, 1987).No formato de dossiê, o radiodocumentário buscou referências em todas as disciplinas daquele período e de semestres anteriores. Traduzimos os resultados dos estudos, o momento de experimentação, de erros e acertos em um projeto perene. Objeto de constante aprimoramento.

Todo o processo de construção do programa piloto inspirou a criação do que agora levamos a você: a Revista Digital Papo de Cinema. Como garimpeiros, demos início a uma nova jornada de pesquisa, apuração, redação e descobertas – afinal, migramos da radiodifusão para a mídia on line. Essa plataforma e o contexto do Jornalismo Especializado colocaram a nossa frente um grande desafio: com um produto analítico, adequar-nos à internet, meio de relações fugazes e imediatismo.

Para isso, mesclamos seções de reportagens mais aprofundadas a espaços que proporcionam descanso visual a você, com combinação de cores, ilustrações, backgrounds, fontes... O resultado você confere nesta edição. A nossa primeira edição.E que tal falar de amor no número de estreia? Nada mais inspirador, não é mesmo!? Conversamos com cinéfilos, estudantes, pesquisadores, professores e especialistas da área e compartilhamos com você o fruto dessa empreitada.Entre no clima e no papo com o saboroso poema de Mário Quintana.

Amor é síntesePor favor, não me analise

Não fique procurando cada ponto fraco meu.Se ninguém resiste a uma análise profunda,

Quanto mais eu...

Ciumento, exigente, inseguro, carenteTodo cheio de marcas que a vida deixou

Vejo em cada grito de exigênciaUm pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é sínteseÉ uma integração de dadosNão há que tirar nem pôrNão me corte em fatias

Ninguém consegue abraçar um pedaçoMe envolva todo em seus braços

E eu serei o perfeito amor.Aaaaah... o amor!

Boa leitura!Da redação

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Local de conhecer o perfil, produção, características e curiosidades sobre um diretor que retrate, de alguma forma, o tema da edição.Conhecido pelo estilo peculiar e original, o diretor escolhido pela equipe sempre dá um jeito de retratar o amor de maneira irônica. O sucesso de suas receitas, nada previsíveis, está na vasta lista de obras que assina como diretor e roteirista. Adivinhou? Descubra agora.

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Você vai conhecer o homem de seus sonhos. Tudo pode dar certo. Todos dizem eu te amo. Quem pensou que essas frases são títulos de livros de autoajuda, enganou-se. O que temos acima são nomes de comédias românticas do diretor Woody Allen. O americano Allan Stewart Königsberg nasceu em Nova Iorque em 1935 e é escritor, músico, roteirista, ator e cineasta. O interesse por cinema surgiu quando o pequeno Allen, então com dois anos de idade, foi assistir ao filme Branca de Neve e os sete anões (Snow White and the Seven Dwarfs, 1937). A única memória que Woody tem do filme é de ter corrido até a frente da sala e tocado no écran com as mãos. O episódio foi lembrando 40 anos depois, em seu filme Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977).Por ser o roteirista dos filmes que dirige, Woody Allen, na maioria das vezes, cria um personagem mau humorado, mas cômico, e é repre-sentado por ele mesmo. O tipo, uma espécie de alterego, é presença garantida em quase todos os seus filmes. Foi assim desde Annie Hall, em 1977, até Scoop – O grande furo (Scoop, 2006), último filme em que atuou.Nesta edição, acreditamos que não há melhor diretor que retratou, retrata e retratará, nas telonas, o amor. Os filmes de Woody Allen de-stacam os relacionamentos e conflitos, reflexões sobre o comporta-mento humano, diálogos interessantes e bem humorados que debo-cham das situações corriqueiras. Sempre de forma bem humorada no jeito Woody Allen de escrever os roteiros e dirigir as cenas.As marcas e peculiaridades do nosso diretor não param por aí. Quase uma mania, Allen, de alguma forma, procura ambientar os filmes em sua terra natal. Exemplos que não nos deixam mentir são longas Noivo neurótico, Noiva nervosa, Manhattan, Contos de Nova York, Tiros na Broadway, Todos Dizem eu Te amo, Melinda e Melinda, Tudo Pode dar Certo. A neura de se filmar em Nova Iorque é deixada de lado, por ex-emplo, em 2004, quando o diretor viaja até Londres, para filmar Ponto Final – Match Point (Match Point, 2005). O sucesso do filme pela crítica e pelo público foi responsável pela conquista de mais fãs. Entre o pú-blico de Portugal, foi a obra mais vista de Woody Allen, até então.Devido ao sucesso em terras europeias, o diretor iniciou uma nova fase na carreira e passou a filmar em diferentes países. Da estreia de Match Point, em 2005, até hoje, Woody dirigiu sete filmes, sendo quatro deles filmado em diferentes países europeus: Scoop – O Grande Furo (em Londres), Vicky Cristina Barcelona, Meia-Noite em Paris e seu mais re-cente trabalho, Para Roma, com Amor. Importante ressaltar que os out-ros três filmes deste período, além de terem sido filmados nos Estados Unidos, também tiveram cenas gravadas em outros países. São eles: O Sonho de Cassandra (Londres e França), Tudo Pode Dar Certo (França) e Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos (Espanha).O mais novo trabalho do diretor, Para Roma, Com Amor (The Rome with Love), estreia no Brasil, no dia 29 de Junho de 2012. Após seis anos de sua última interpretação como o mágico/ilusionista/charlatão Sid Waterman em Scoop – O grande furo, Woody Allen retorna às telo-nas interpretando o personagem Jerry. O filme ainda não chegou às terras tupiniquins. Mas, você tem dúvidas de que Woody Allen interp-retará um velho rabugento, mau humorado, mas engraçado? Nós não.

Curiosidade:Fato inusitado sobre o diretor é que ele nunca comparece na cerimônia do Os-car. Sempre é indicado por seu trabalho como diretor/roteirista, porém, mesmo quando seu filme Annie Hall, ganhou 4 oscars na cerimônia de 1978 – no qual ganhou duas estatuetas por melhor direção e melhor roteiro – Woody Al-len não estava presente. Coube ao co-apresentador King Vidor parabenizá-lo e aceitar o prêmio em seu nome. Em 2002, Allen surpreendeu a todos do Kodak Theatre ao comparecer ao palco da cerimônia de surpresa. O motivo para tamanha extravagância da parte do dire-tor se deve ao convite para apresentar tributo às vítimas dos atentados de 11 de Setembro. Não só o fez como também divertiu a plateia com humor, ao contar que sentiu medo quando a academia o ligou. Acreditava que ela reivindicava os Oscars que ele havia ganhado.

Na tabela abaixo, você confere todos os filmes dirigidos por Woody Allen ao longo dos seus 47 anos de carreira.

2013-Untitled Woody Allen Project (Pré-produção)2012-Para Roma, com Amor (Estréia 29 de Junho)

1989-Crimes e Pecados1989-Contos de Nova York

2005-Ponto Final - Match Point2004-Melinda e Melinda

1983-Zelig1982- Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão

1997-Desconstruindo Harry1996-Todos Dizem Eu Te Amo

1972-Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo e Tinha Medo de Perguntar 1971-Bananas

1966-O que Há, Tigresa?

2009-Tudo Pode Dar Certo2008-Vicky Cristina Barcelona

1987-A Era do Rádio1986-Hannah e Suas Irmãs

2001-O Escorpião de Jade2000-Trapaceiros

1978-Interiores

1977-Noivo Neurótico, Noiva Nervosa

1993-Um Misterioso Assassinato em Manhattan1992-Maridos e Esposas

2011-Meia-Noite em Paris2010-Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

1988-A Outra1987-Setembro

2003-Igual a Tudo na Vida2002-Dirigindo no Escuro

1980-Memórias1979-Manhattan

1995-Poderosa Afrodite1994-Tiros na Broadway

1969-Um Assaltante Bem Trapalhão

2007-O Sonho de Cassandra2006-Scoop - O Grande Furo

1985-A Rosa Púrpura do Cairo

1984-Broadway Danny Rose

1999-Poucas e Boas1998-Celebridades

1975-A Última Noite de Bóris Grushenko

1973-O Dorminhoco

1991-Neblina e Sombras

1990-Simplesmente Alice

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O objetivo desta seção é avaliar se o que foi representado na capa corresponde ao que é mostrado no filme. O cartaz e o título de um filme formam, juntos, o cartão de visitas da obra. Aqui você verá o que eles pretendem transmitir aos espectadores e o que os elementos usados significam. Nesta edição, a análise será da comédia romântica 500 dias com ela (500 days of Summer), dirigida por Marc Webb.

Veja bem.

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JULGANDO O FILME PELA CAPA

O cartaz e o título de um filme formam, juntos, o cartão de visitas da obra. Aqui você verá o que eles pretendem transmitir aos espectadores, sempre com a finalidade de atraí-los para assistir à produção. O objetivo desta seção é avaliar se o que foi representado nas peças publicitárias corresponde ao que é mostrado no filme. Nesta edição, a análise será da comédia romântica 500 dias com ela (500 days of Summer, 2009), dirigida por Marc Webb.“De tanto olhar o que está visível, o invisível vai, finalmente, aparecer”. A frase do cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard leva à reflexão sobre alguns elementos fundamentais que um filme seja bem-sucedido. Produção eficaz, atores competentes, equipe alinhada. Fatores importantes, mas não únicos. A publicidade cinematográfica e o título são a fonte de informação mais primária sobre a obra.

Um dos recursos dessa publicidade cinematográfica são os cartazes, cujo objetivo é capturar o público, despertando interesses. Partindo desse pressuposto, o cartaz da comédia romântica 500 dias com ela, com roteiro de Scott Neustadter e Michael W. Heber

e direção de Marc Webb, é muito bem-sucedida.

O cartaz original trabalha com um mosaico de 470 fotos da personagem Summer (Zooey Deschanel) em diferentes ângulos, expressões e planos (primeiro, primeiríssimo, detalhe, médio), que procura representar todos os dias em que Tom (Joseph Gordon-Levitt) esteve com ela. O mosaico apresenta algumas fotos na coloração amarela que dá forma a um sol, sobreposto pelo título 500 days of Summer, referindo-se ao verão, estação vigente quando Summer e Tom se conhecem. O número quinhentos na forma numérica e entre parênteses refere-se ao tempo em que eles estiveram juntos.Na parte superior do cartaz – portanto, em destaque –, temos o nome dos protagonistas, Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel. Na parte inferior, Tom – que é arquiteto, mas atua como escritor de cartões – aparece assentado em um gramado, concentrado em um bloco no qual faz seus desenhos. Ao fundo dele, aparecem traços simples que esboçam um horizonte de prédios, traços que fazem divisão entre a imagem de Tom e o mosaico que preenche todo

o restante da peça publicitária. De algum modo, a disposição das imagens de Tom e do mosaico pode levar à conclusão que os desenhos do protagonista estão relacionados com sua amada, Summer.É importante ressaltar também as cores no cartaz. As fotos de Summer são trabalhadas em uma série de cores com tonalidades claras, destacando-se o amarelo. Destaque que tem a ver com o gênero comédia romântica, conforme o livro Clés et codes du cinéma, de Yveline Baticle. Na obra, a doutora em Psicolinguística e professora honorária da Universidade de Paris afirma que há uma tendência em associar a cor amarela a filmes de comédia. Em contrapartida, Tom aparece trajando roupas, meias e tênis escuros, o que se refere ao momento de perda pelo qual está passando. Ainda segundo os estudos de Baticle, que pesquisou vários cartazes de cinema, os tons escuros transmitem a sensação de horror, perda e luto.Não há a menor dúvida de que o filme é uma legítima comédia romântica. Gênero que possui uma consagrada fórmula: o casal protagonista passa por uma série de contratempos, mas termina junto, apaixonado e feliz. A princípio, 500 dias com ela também parece

ser assim. Mas uma frase no cartaz muda tudo. É a tag-line, frase de efeito que indica, parcialmente, alguns dos acontecimentos que se desenrolarão na película, reforçando a trama. Na parte inferior do cartaz, bem próxima à imagem de Tom assentado, inscreve-se a frase This is not a love history. This is a history about love (Essa não é uma história de amor. É uma história sobre o amor). A tag-line tem papel fundamental, porque instiga o espectador a querer entrar no enredo da história, já com uma pré-compreensão de que verá algo diferente do convencional. E esse toque, por mais sutil que seja, conduz muitas pessoas às salas de cinema.

Do verão ao outonoO título de um filme é o elemento que produz nossa primeira impressão sobre ele. Para Godard, é a pátria de um filme. É o título que norteia, direciona o enredo, e revela ao espectador quais expectativas ele pode ter. É uma espécie de cartão postal da obra. O cineasta e romancista canadense Jacques Godbout, sintetizou o poder do título em uma frase: “Digam-me um título e lhes darei uma obra”, parafraseando um antigo ditado popular.No caso do filme dirigido por Marc Webb, o título não poderia ser menos importante. Pelo contrário. É preciso pontuar, antes de qualquer análise, que os títulos original e brasileiro são diferentes. Os nomes dos filmes são traduzidos de maneiras diferentes em cada versão, adequando-se às características peculiares de cada país.

Em 500 dias com ela, a alteração foi sutil: o Summer do original foi substituído pelo ela, na versão brasileira.Summer é uma mulher pragmática, de iniciativa, que vive o momento de acordo com sua vontade. Uma bon vivant, que pensa como grande parte dos homens. Isso gera até uma chacota durante o filme, quando McKenzie, amigo de Tom, pergunta se a protagonista é homem, após ela ter dito que é livre, independente e não namora porque não quer.A sutileza do título está na palavra summer (verão, em português). O verão é a estação mais quente do ano, que sucede a primavera e antecede o outono. Esse detalhe só se desvenda no epílogo do filme, momento - no final da película - que revela o destino dos personagens mais importantes. É no desfecho que Tom, depois da desilusão com Summer, decide recomeçar a vida, e em uma entrevista de emprego conhece uma mulher chamada Autumm. E o que é autumm? Outono, em português. As semelhanças não são meras coincidências. A escolha dos nomes das duas dá sentido à narrativa. O período do verão - de Summer - se encerra, enquanto o outono – tempo de Autumm – começa.De certa forma, essa é uma das grandes mensagens do filme: o amor é cíclico, como as estações do ano. Apesar do sofrimento com as desilusões amorosas, que são inerentes à condição humana, sempre haverá a possibilidade de encerrar um período de sofrimento e começar uma nova história de amor.

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Responsável por explorar a composição de dois filmes análogos, a seção Paralelo traça semelhanças, particularidades e características de obras que se aproximam; seja pelo assunto, tratamento, recursos cinematográficos utilizados ou mesmo pelo gênero.Nesta edição, conheça a estrutura narrativa de Idas e Vindas do Amor (Valentine’s Day, 2010) e Simplesmente Amor (Love Actually, 2003). As comédias românticas, dirigidas por Garry Marshall e Richard Curtis, respectivamente, constroem-se a partir do modelo network movies, conhecido no Brasil como filme em rede. Confira.

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Numa rede só: análise das narrativas de Love Actually e Valentine’s DayFruto de Hollywood, Idas e Vindas do Amor (Valentine’s Day, 2010) está na lista das obras dirigidas por Garry Marshall. O diretor norte-americano comandou também o clássico Uma Linda Mulher (Prety Woman, 1990), cuja estrutura narrativa é bem distinta de Idas e Vindas do Amor, mas ambos têm, em seu elenco, a presença de uma das divas do cinema: Julia Roberts. Por falar em estrutura narrativa e elenco famoso, Marshall parece ter gostado da linha de produção de seu filme de 2010. Ele é responsável também pela direção do longa-metragem Noite de Ano Novo (New Year’s Eve, 2011). Nas obras citadas de 2010 e 2011, Marshall dá espaço a pequenas tramas que acontecem simultaneamente e que, em alguns momentos do filme, acabam se esbarrando. Ao mesmo tempo, Idas e Vindas do Amor e Noite de Ano Novo se organizam a partir núcleos e histórias independentes.

Seguindo o mesmo estilo narrativo, Simplesmente Amor (2003) é obra britânica dirigida por Richard Curtis. O histórico profissional do neozelandês é marcado mais por roteiros e traz nomes como O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones’s Diary, 2001), Um Lugar Chamado Notting Hill (Notting Hill, 1999) e Quatro Casamentos e Um Funeral (Four Weddings and a Funeral, 1994) entre as principais obras em que trabalhou como roteirista. Em sua obra de 2003, o estilo proposto pelo diretor foi bem diferente das propostas dos filmes anteriores, como roteirista. Além de não deixar passar batido o rol de astros admiráveis do cinema – seja pela carreira ou pela beleza –, Curtis estrutura, em Simplesmente Amor, as várias histórias, distribuídas entre seus 19 personagens, em um contexto bem definido. As tramas do longa metragem de 2h15min são trabalhadas a partir do típico espírito natalino do mês de dezembro e, o que as une não poderia deixar de ser, claro, o amor. Estruturado de maneira bem semelhante a esta, Garry Marshall concentra as histórias de Idas e Vindas do Amor em plena expectativa de Valentine’s Day.As duas obras apresentam em comum também a construção narrativa. O modelo seguido por Idas e Vindas do Amor e Simplesmente Amor é o network movies, conforme classificação do estudioso em cinema contemporâneo David Bordwell. A expressão, no Brasil, é conhecida como filme em rede. Segundo as análises de Bordwell, inclusive, a classificação de linhas narrativas não deve ser trabalhada como conceito fixo e imutável, e sim com a ideia de narração entendida como processo, que ocupa espaço na

Catiatur, nissitiat. Igentia tiaersp errore nost fuga. Ximili-taqui dolent estrupta nulparum coribus quiasse quiasi dolorep tasperibus, quos reperiti aut exceptae.

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mente do interlocutor, e este desenvolve atividade fundamental no processo de descodificação da mensagem.

Ao considerar tais reflexões, a doutora em Ciências da Comunicação e professora de cinema da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Lúcia Andrade, explica que filmes com tais estruturas são considerados uma espécie de subgênero com narrativas paralelas, que se relacionam ou se entrelaçam em algum momento, construindo sua identidade. Segundo ela, “essa construção narrativa permite uma gama de personagens tipológicos, em situações diversas acerca de um mesmo tema, passíveis de identificação com o espectador”.

Nesta linha, a presença de estrelas do cinema também é considerada marca dos filmes em rede. A pesquisadora Ana Lúcia justifica que é comum que esses

tipos de produção sejam interpretados por atores conhecidos do grande público, “uma vez que existem protagonistas dos diversos ‘episódios’ articulados dentro do todo narrativo”. Enredo, diretor e a divisão em pequenos e fundamentais papéis dentro da história são também critérios para a escolha dos personagens. Entretanto, a presença de estrelas do cinema é revelada por outro importante fator: a bilheteria. “Os produtores veem oportunidade de aglomerar um elenco atraente, aproveitando do carisma deles como chamariz de bilheteria, como um leque de estrelas de várias gerações que possam agradar aos vários tipos de espectadores”, acredita Ana Lúcia Andrade. Não é à toa que o star system, desde as primeiras décadas do século XX, passando pelo auge nas décadas de 40 e 50 até chegar à atualidade, é instrumento de promoção dentro de Hollywood, renovando o elenco a cada geração, a fim de conquistar o público.

Avaliação – Idas e Vindas do Amor e Simplesmente Amor aproximam-se, principalmente, pelo estilo narrativo comum em ambos e pelas características trazidas por este. Semelhanças, entretanto, não fazem, necessariamente, com que os níveis de qualidade sejam iguais. A opinião da jornalista, cinéfila e pós-graduanda em Produção e Crítica Cultural, Joana Nascimento, acerca das duas obras aponta para isso. “Acho que Simplesmente Amor consegue fazer todas as amarras necessárias para que cada uma das histórias expostas na trama fosse bem apreendida. Isso indica para uma narrativa que tem incipiência conjunta. As histórias acontecem paralelamente. Uma não acaba para que a outra comece, porém, há como discerni-las, traçando aspectos que as aproximem”. No que diz respeito ao resultado da obra dirigida por Garry Marshall, a cinéfila avalia que Idas e Vindas do Amor não

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corresponde ao caráter inusitado e interessante, típico dos network movies. “O filme não responde aos critérios de novidade, edificação, estruturação. É apenas mais uma obra hollywoodiana, com atores bem vistos nos holofotes, em que nem a fama e talento deles conseguem elevar o filme a um bom patamar de apreciação. Os diálogos não são bem construídos e as histórias clichês”.

É inegável que o desafio de todo filme é contar boas histórias; narrativas que sejam capazes de atrair e chamar atenção das pessoas. Paralelo a este desafio, está o risco comum aos filmes que se articulam a partir de muitas tramas paralelas: confundir o interlocutor, não cumprindo sua proposta principal. É o que expõe a professora Ana Lúcia Andrade. “No caso desse subgênero [filme em rede], assim como numa novela, são várias histórias entrecruzadas – o que demandaria maior elaboração do roteiro, no sentido de dar coerência e coesão às várias tramas paralelas. Além disso, por haver muitos personagens, corre-se o risco dos papéis serem mal construídos ou pouco desenvolvidos. Isso se dá principalmente pelas tipificações quase esquemáticas, ou mesmo caricaturais,

de determinadas vertentes, devendo ser representativos e envolventes”.

Narrativas paralelas com outras perspectivasEm meio ao contexto narrativo, de classificação e estrutura dos filmes, faz-se evidente como as comédias românticas costumam ser mais populares do que dramas contundentes. Isso não significa, entretanto, que as obras não sejam eficazes e não cumpram o que “prometem”. O que existem são objetivos distintos, conforme esclarece a fala da professora de cinema da Escola de Belas Artes da UFMG, Ana Lúcia Andrade. “Simplesmente Amor destina-se ao grande público e, por isso, atenta-se para um discurso mais acessível. Os melhores filmes acabam sendo os que, com esse propósito, não se nivelam por baixo. Eles procuram promover links na narrativa, que estabeleçam e conectem os universos retratados”.

Nesta perspectiva, exemplos de filmes que buscam alcançar um trabalho envolvente e satisfatório voltam-se para a necessidade de tratar algum tema sob vários ângulos e diversos olhares. Para isso, eles também utilizam os diversos

personagens, situações e modalidades dramáticas que ajudam a compor o todo. A professora Ana Lúcia Andrade identifica esse tipo de construção em Short Cuts – Cenas da Vida (Short Cuts, 1993), O Jogador (The Player, 1992), Amores Brutos (Amores perros, 2000) e Babel (Babel, 2006). “Robert Altman era um competente articulador de narrativas paralelas. Os ótimos e bem articulados O jogador e Short Cuts comprovam isso. Sempre com elenco recheado de nomes proeminentes de suas épocas, encarnando personagens dos mais idiossincrásicos, são verdadeiros filmes-painéis, com um espírito satírico em relação ao universo que abordam: o da indústria cinematográfica, o da cidade de Los Angeles e o da moda, respectivamente”, defende Ana Lúcia. As obras Amores Brutos e Babel, de Alejandro González Iñárritu, também se constituem por meio de complexas narrativas paralelas. “Eles tecem relações contundentes entre situações opostas que se aproximam em determinado ponto e contam com personagem representativos. O cineasta defende as histórias quase como teses humanistas”, finaliza Ana Lúcia Andrade.

Catiatur, nissitiat. Igentia tiaersp errore nost fuga. Ximilitaqui dolent estrupta nulparum cori Aspas

O espaço é reservado a contribuições trazidas por especialistas da área. Com assunto livre, mas consoante à proposta da edição e à linha editorial da publicação, o convidado traz, em um artigo, novidades, observações e experiências do cinema.Desta vez, Ruleandson do Carmo, jornalista, mestre em Ciência da Informação e responsável pelo blog “Eu só queria um café”, fala aos leitores da Papo de Cinema sobre o amor e a amizade presentes nas comédias românticas. Abre aspas...

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Sobre como o amor é sempre papo de cinema,

risada, lágrima e super-poderPor Ruleandson do Carmo

Um dos filmes mais aguardados deste ano é Batman The Dark Knight Rises (2012), obra que terá a tarefa de superar seu antecessor, em bilheteria e em sucesso de crítica. É que Batman The Dark Knight (2008) figura na lista dos filmes mais vistos, nos cinemas, de toda a história. Sim, é um filme de super-herói. Mas um dos motes principais da trama de 2008 é o conflito sentimental entre o protagonista Bruce Wayne (Christian Bale), o Batman, e sua melhor amiga Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal). Ele a ama e quer namorá-la. Ela o ama, mas quer ser amiga dele (quem nunca?).

Se o referido filme do homem-morcego deixasse um pouco de lado as explosões, o ar sombrio e arrancasse algumas risadas do público, focando-se mais na história de amor do “casal” (com as aspas ou sem aspas? Olha o conflito!), poderia até se tornar uma comédia romântica. E o mesmo pode-se dizer da trilogia do Homem-Aranha e

seu romance com a melhor amiga, Mary Jane, e do Superman, com o romance entre Clark Kent e a amiga Lois Lane.

Mas nem é preciso mudar os filmes de heróis de gênero. É o que diz Edgar Morin: o amor é a obsessão cultural do homem moderno e o motivo principal para a felicidade (MORIN, 2009). Além dos filmes dramáticos, de ação, de super-heróis, animações e todos os outros – por que não? – que sempre trazem alguma história de amor, as comédias românticas dedicam-se integralmente a debater os diversos problemas das histórias de amor.

Resultados de estudos realizados em 2007 (Cruz, 2007) revelam que o conflito mais comum no gênero é o “do amor X a amizade”, em que os personagens principais não sabem se gostam um do outro para namorar ou se são apenas amigos.

Entre as comédias românticas que representam tal conflito, destaca-se Harry & Sally - feitos um para o outro (1989), O casamento do meu melhor amigo (1997), A razão do meu afeto (1998), Amor à segunda vista (2002), e Apenas amigos (2005), por figurarem entre as principais bilheterias do gênero.

O estudo aprofundado destes filmes revela alguns elementos comuns na estruturação narrativa das comédias românticas, dentre eles: paixões; mito de Eros e Psique; amor sintético; amizade; comédia, happy end; e recurso da tela-dividida.

Assim, as paixões – raiva, felicidade, ódio, amor e todos outros sentimentos que, segundo Aristóteles (2000), mudam o modo de o indivíduo julgar o outro – são extremamente importantes para os casais principais dos longas expressarem seus sentimentos em relação ao amado, algo fundamental em filmes românticos. A paixão amor é o que motiva as demais paixões nos personagens, pois, se o amor é a forma, as outras paixões são o conteúdo.

A representação do conto de Eros e Psique – o mito do Cupido apaixonado pela mortal mais bela – também é relevante para o desenvolvimento das comédias românticas, pois elas, assim como mito, evidenciam que a ideia do sofrimento amoroso, como etapa obrigatória para a felicidade ao lado do verdadeiro amor, não é original ou particular das comédias românticas, mas pode ser vista como reprodução

da estrutura do mito, como comprova a semelhança da história desses filmes com as cinco fases de Eros e Psique: introdução – quando o casal se conhece; núpcias de morte – encontro amoroso; tentação e paixão – conflito que leva o casal a se separar; provação – tentativa de reunião do casal; e final feliz.

O gênero comédia romântica é assim denominado por tratar-se de comédias que representam e reproduzem os preceitos do amor romântico e sua ideologia de encontrar alguém por quem se sinta amor da carne (sexual) e da alma (sentimental), simultaneamente. No entanto, é justamente ao apresentar a oposição entre esses dois amores, por meio do conflito entre amor e amizade, que os filmes estudados distanciam-se do amor sintético, definido por Morin (2009) como a união dos dois tipos de amor, o amor típico do cinema.

No referente à amizade, as comédias românticas que representam o conflito amor X amizade costumam apresentá-la como elemento que justifica e moraliza o amor, pois a apontam, na tendência da cultura de massas, como caminho para o namoro ideal, baseado no companheirismo e não na atração sexual. Assim, contrariando a regra contemporânea, as comédias românticas estudadas valorizam mais a amizade do que o amor, algo que, excetuando curtos períodos da história humana, não é comum desde a Grécia Antiga.

Se o amor romântico é responsável pela segunda parte do nome do gênero comédia romântica, os elementos cômicos respondem pela primeira, ao tornar tais filmes comédias e não apenas dramas ou melodramas românticos. No entanto, há vários níveis de comédia, desde o equilíbrio entre comédia e

romance, à prevalência da comédia, e ainda os que são melodramas românticos, com pequenos toques cômicos. Entretanto, a função da comédia é promover a descontração e tornar as histórias mais leves, atendendo ao preceito de diversão da cultura de massas.

Por sua vez, o melodrama, nas comédias românticas, costuma exercer grande influência, sendo que características apontadas como da comédia romântica, como o personagem cômico fora do eixo do casal principal, e os excessos, seja na comédia ou no romance, são, na verdade, elementos melodramáticos, aproveitados por tais filmes. Assim, as comédias românticas não são histórias dramáticas com humor, mas sim histórias melodramáticas de amor com elementos cômicos.

Acerca do happy end do drama romântico e da cultura de massas – o final feliz que sempre acontece –, podemos dizer que eles comprovam que, nas comédias românticas, nem sempre há a obrigação do final feliz, tradicional na indústria cinematográfica hollywoodiana. O importante é tudo o que o casal principal vivencia e não o final. Essa lógica faz com que a primazia seja de o casal principal ter vivenciado momentos muito felizes ao longo do filme e não necessariamente terminem juntos.

Sobre o recurso da tela-dividida – cada um do casal principal vivenciando situações similares em metade da tela, mostrando como são “almas gêmeas” –, podemos afirmar que ele é modernizado pelas comédias românticas atuais e convertido em um paralelismo romântico, que exerce a mesma função: sugerir a compatibilidade do casal principal em

um jogo de proximidade e distância. Agora as cenas são intercaladas e não necessariamente as similaridades serão mostradas na mesma tela.Com isso, podemos concluir que, em geral, as comédias românticas representam a linha tênue entre amor e amizade, como uma linha ainda mais tênue entre namoro e amizade, a amizade como amor sem sexo e como um sentimento que deve prevalecer em qualquer relacionamento. Seja como for, ter amizade ou não, tratando-se de amor, talvez, seja como Nina, personagem de Jennifer Aniston na comédia romântica A razão do meu afeto (1998), diz: “A questão não é ter tudo. É escolher alguém e fazer dar certo”.

E, voltando aos super-heróis, certamente, caso se baseie na história em quadrinhos, Batman The Dark Knight Rises (2012) chegará às telonas com Batman e a Mulher-Gato em um conflito ainda mais difícil, passando do somos amigos ou amantes para o somos inimigos ou amantes? Esta dúvida você não deseja nem para um inimigo. Ops!...* Jornalista, mestre em Ciência da Informação, especialista em Criação e Produção para Mídia Eletrônica, professor do curso de Jornalismo da UFOP, cronista responsável pelo blog www.eusoqueriaumcafe.com.

Referências

ARISTÓTELES. Retórica das paixões. São Paulo: Martins Fontes,

2000.

CRUZ, Ruleandson do Carmo. Comédia romântica: a

representação da linha tênue entre amor e amizade nos

filmes do gênero. 2007. 128 f. (Monografia, Cinema) – Centro

Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), Belo Horizonte,

2007. Disponível em: < http://www.convergencia.jor.br/

bancomonos/2007/ruleandson.pdf>. Acesso em: 7 maio

2012.

MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX Volume 1:

Neurose. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.

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Lembradesta cena?

Esta seção trará para você cenas memoráveis. Como o tema desta edição é o amor, nada melhor que relembrar belos filmes, em belos momentos.

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Expressão universal do amor...

Homem-aranha (2002)Tobey Maguire e Kirsten Dunst

Peter Parker e Mary Jane.

Meia noite em Paris (2010)Owen Wilson e Rachel McAdams

Gil e Inez

Diário de uma paixão (2004)Ryan Gosling e Rachel McAdams

Noah e Allie

Shrek (2001)Shrek e Fiona

E o vento levou (1939)Clark Gable e Vivien Leigh

Rhett Butler e Scarlett O’Hara

Branca de Neve e os sete anões (1937)Branca de Neve e o Príncipe

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Ghost - Do outro lado da vida (1990)Partrick Swayze e Demi Moore

Sam e Molly

Cablanca (1942)Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.

Rick e Ilsa

A dama e o vagabundo (1955)Vagabundo e Lady

Meu primeiro amor (1991)Macaulay Culkin e Anna Chlumsky

Thomas e Vada

Ninotchka (1939)Melvyn Douglas e Greta Garbo

Leon e Ninotchka

Dirty dancing - Ritmo quente (1987)Partrick Swayze e Jennifer GreyJohnny Castle e Frances ‘Baby

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Como um dos carros-chefe da revista, a seção contempla análises de obras cinematográficas, considerando estudos desenvolvidos pela semiologia. A iniciativa partiu da percepção de que essa área de estudo é bastante explorada, para construir observações analíticas sobre qualquer assunto.Aqui, você acompanha exemplos de bons enredos desenvolvidos a partir de um objeto especial: a carta. As histórias de Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (84 Charing Cross Road, 1986) e Uma Carta de Amor (Message in a Bottle, 1999) trazem a simbologia do elemento que proporciona contato pessoal. Além desta reportagem, a seção traz o clássico da literatura inglesa Orgulho e preconceito (Pride and Prejude, 1813) e suas adaptações, para pensar a transmidialidade presente no cinema.

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SubtítuloDolestrum quae vel etum eum est laut ent optatur soloribus aliquos consenimet ut atecae reperum im re volendipid quame parum que latemo te ipsam ilignimos vere, quam fuga. Ut doluptatque sequis nim faceate nim dolupta il inus que comnis sequidunti rat inis ut aut adis re cusam, conseria con nis sectat alibus am simus, ulluptur?Lorero vendi nempores mi, omnim aut adipsum quibero qui dolup-tatur, ommodi is voluptat.Occate verios aut et earupta everunt eum saes eum nam quid ex-plamet fugit ut facernatem vel illiquam quam landa quae pre eos qui blaccab oribus eatia sae. Rat.Dae volorupis modit optatque nonsequae lam, omnimus apereptur? Qui beatustis dolent est, se sam veles as accatusam aut harciet auda core est im lis minis et erit, quam dolupta enimus sum des etus enda denis iume por atio quodit aut dolorrumque dolorem pelent aut invelis et hillignisit voluptium ipsum, quamusa nditis as earchit quamet esequam sequas dolute atur, venet quia con repelliquam et quisciis dolorpore enimi, ut dollanit, qui officab oreperibus ra quunt poribus dit, simolorpos mi, od minveles saniet fugiaec abore-rum re volor molorero elibus am faccat lacearum es eos alit inctur? Quia dita suntiurio odis explaborerum volestiant est, tem quibus ut lande volupta tetur, sitiiscidit quiae. Ellandion perferovita venis as sequae cuscia debiti beatur asimusc iatecae explaboria verum vellautem quibus, est, serchil inimolo riossequis vero odicid mos accume voloribus et que pernatiis ipsunda soluptatiis ab ipsunt essi volo blaut etur?Agnam voloren isintur? Aximinum lam quatqui omniae vendae non-em res rem quae sapitatur, sit volupta tectes volor sum que et quod qui cum aut voluptatquat prore cuscimu sandionse pelisi ipid es et es dollam, volorehenis ello bearchi llabore, iur si oditae custem il-luptatem atur andebit empeliquis abore odi aut fuga. Quia earibus de nienimo tem aut licidusciis non consed essimolorest etur aut eicipsu ndaero blat odi consece rumendisquia sit alit fugias dolupidem faccusame voloratibea simusam, sam quis eum ipsum fuga. Xeria disto et fugit apicill aborest et faceatas mintore pedi-catur abore, qui utem fugitae volorep eriberu nturempe videligendam nonsequ amusapis ad magnatq uamust, que et quassimenis dolore ne-tum iunt aut aliquiamendi sim eseque peribus que volor aut omnis

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Dolestrum quae vel etum eum est laut ent optatur soloribus aliquos consenimet ut atecae reperum im re volendipid quame parum que latemo te ipsam ilignimos vere, quam fuga. Ut doluptatque sequis nim faceate nim dolupta il inus que comnis sequidunti rat inis ut aut adis re cusam, conseria con nis sectat alibus am simus, ulluptur?Lorero vendi nempores mi, omnim aut adipsum quibero qui dolup-tatur, ommodi is voluptat.Occate verios aut et earupta everunt eum saes eum nam quid ex-plamet fugit ut facernatem vel illiquam quam landa quae pre eos qui blaccab oribus eatia sae. Rat.Dae volorupis modit optatque nonsequae lam, omnimus aperep-tur? Qui beatustis dolent est, se sam veles as accatusam aut harciet auda core est im lis minis et erit, quam dolupta enimus sum des etus enda denis iume por atio quodit aut dolorrumque dolorem pelent aut invelis et hillignisit voluptium ipsum, quamusa nditis as earchit quamet esequam sequas dolute atur, venet quia con repel-liquam et quisciis dolorpore enimi, ut dollanit, qui officab oreperi-bus ra quunt poribus dit, simolorpos mi, od minveles saniet fugiaec aborerum re volor molorero elibus am faccat lacearum es eos alit inctur? Quia dita suntiurio odis explaborerum volestiant est, tem quibus ut lande volupta tetur, sitiiscidit quiae. Ellandion perferovita venis as sequae cuscia debiti beatur asimusc iatecae explaboria verum vellautem quibus, est, serchil inimolo riossequis vero odicid mos accume voloribus et que pernatiis ipsunda soluptatiis ab ipsunt essi volo blaut etur?Agnam voloren isintur? Aximinum lam quatqui omniae vendae nonem res rem quae sapitatur, sit volupta tectes volor sum que et quod qui cum aut voluptatquat prore cuscimu sandionse pelisi ipid es et es dollam, volorehenis ello bearchi llabore, iur si oditae custem illuptatem atur andebit empeliquis abore odi aut fuga. Quia earibus de nienimo tem aut licidusciis non consed essimolorest etur aut eicipsu ndaero blat odi consece rumendisquia sit alit fugias dolupidem faccusame voloratibea simusam, sam quis eum ipsum fuga. Xeria disto et fugit apicill aborest et faceatas mintore pedica-tur abore, qui utem fugitae volorep eriberu nturempe videligendam nonsequ amusapis ad magnatq uamust, que et quassimenis dolore netum iunt aut aliquiamendi sim eseque peribus que volor aut om-nis estiur, aperro tentiumqui occatia aut accus.Ant. Et eos sanda comniminti unt quatem quas reptaspe excesse cestiundae dollandae voloreptat.Sam el inverorum quatquidus, acese velentia veligen dellique even-tiunto tem ulpa quiam, que occuptatem id magnisquam volupta auta velibus daecum fuga. Magnate as dolorer iberitiorum eius inc-tas inverfe rferit ut doluptiae. Nem quatur? Ro quidistiati voluptat voluptatur aut latio della aut utatias essit, omniment.

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Entrevista com Letícia Malloy

Transmidialidade em Pride and Prejudice

Clássico da literatura inglesa e referência mundial, o livro Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito) é o romance da escritora britânica Jane Austen, publicado pela primeira vez em 1813. Datada como antiga, mas considerada por críticos como um dos grandes exem-plos de trabalhos literários atemporais, a obra de Jane Austen retrata a vida da aristocracia inglesa do século XIX e reserva espaço especial às relações humanas deste período. Casamento, interesses econômicos e as atribuições do homem e da mulher na sociedade são algumas das temáticas problematizadas pela escritora, apresentadas de maneira irônica e sutil. A famosa frase “É verdade universalmente admitida que um homem solteiro, possuidor de boa fortuna, esteja à procura de uma esposa” (JANE AUSTEN, 1997b, p. 19) instiga bem o estudo feito pela autora.

O que tudo isso tem a ver com a proposta de uma re-vista digital sobre cinema? A resposta está na trans-midialidade. A lógica deste último elemento consiste, basicamente, em transportar conteúdos para diferentes mídias e adequá-los a partir das especificidades de cada plataforma – linguagem, espaço, recursos. O livro Pride and Prejudice é conhecido pelas várias adaptações que recebeu; no teatro, na televisão, na própria literatura e, claro, no cinema. Em 2005, Joe Wright dirigiu a obra homônima e trouxe às telas como protagonistas Keira Knightley e Matthew Macfadyen, interpretando o casal Elizabeth Bennet e Mr. Darcy.

Para falar sobre o livro e as impressões da adaptação da obra inglesa, Papo de Cinema trouxe a mestranda em Teoria da Literatura da UFMG e admiradora do trabalho de Jane Austen, Letícia Malloy. A convite da edição, Letícia aceitou assistir ao filme e conhecer as atuações dos personagens criados pela autora britânica e adap-tados para a obra cinematográfica. Confira:

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Papo de Cinema: Quais fatores pre-sentes na obra da autora foram re-sponsáveis para atrair as adaptações?Letícia Malloy: A obra de Jane Austen como um todo – não apenas Orgulho e Preconceito – é visitada e revisitada, porque trata das compreensões sociais, das relações do homem, dos costumes de um período da Inglaterra. A autora se mostra uma grande observadora do comportamento humano e dos sen-timentos e abre espaço para a identi-ficação. Ela brinca com convicções e a lógica de uma sociedade, em que as percepções devem ser estritamente ob-servadas. Orgulho e Preconceito, espe-cialmente, mostra a questão de que por mais sensatos que sejamos, podemos errar em relação ao julgamento que fazemos do outro. Através dos dilemas da protagonista espirituosa que ques-tiona padrões e hierarquias do início do século XIX, a mulher de hoje se recon-hece em determinadas situações, claro que com limites e exceções. Além disso, a partir dos diálogos que essa heroína suscita, é possível estabelecer pertinên-cia para nós hoje. Os personagens são mais complexos e existe uma série de camadas a serem descobertas. Esses as-pectos atraem adaptações.

P: Quais elementos da narrativa da autora estão presentes no livro e no filme? L: Além da ironia, a iniciativa de falar so-bre o cotidiano de pessoas anônimas. Hoje, isso é comum, mas é interessante pensar que uma jovem, no início do sé-culo XIX, quando não havia tanto espaço para a escrita feminina, começou a es-crever sobre pessoas que não faziam parte da aristocracia britânica. Daniel Defoe, escritor do Robson Crusoé, por exemplo, é considerado o primeiro ro-mance inglês, na segunda metade do sé-culo XVIII. Até ele, se formos pensar no contexto inglês, os textos diziam respei-to aos nobres, àqueles que eram autores de grandes feitos, jamais a uma classe burguesa, relacionado a uma família de comerciantes. A autora participa de um momento em que este foco muda e es-

ses pontos são vistos no livro e no filme também.

P: Poderíamos dizer, então, que Jane Austen marca um novo momento na literatura clássica inglesa?L: Exatamente. A artista participa de um período, em que o foco de criação literária se desmistifica. O gênero ro-mance carregou a herança de a heroína vir justamente de uma classe econômi-co-social considerada inferior. É exata-mente o caso da personagem Elizabeth Bennet.

P: A primeira opção de título para o livro seria “First Impressions”. Você sabe o porquê dessa primeira opção? Acredita que a troca por “Pride and Prejudice” foi bem feita?

L: É um título interessante, embora en-tregue bastante o enredo e não suscita curiosidade. Peguemos dois exemplos de personagens, presentes tanto no livro quanto no filme. O antagonista Mr. Wickham – interpretado por Rupert Friend, na adaptação de 2005 – inicial-mente, é considerado uma pessoa ex-tremamente cordial. Ele agradou toda família de Elizabeth Bennet, para que depois fosse descoberto como farsante. Ao contrário dele, Mr. Darcy, apresenta-se arrogante e de trato difícil, e, gradual-

mente, revela-se uma pessoa de caráter e realmente ideal para Elizabeth Bennet. A partir desses exemplos, acredito que First Impressions é um título que não desafiaria tanto o leitor. Pride and Preju-dice pede que o leitor analise os perso-nagens e verifique onde estão o orgulho e o preconceito. É interessante perce-ber também que, tanto no livro, quanto no filme, existem vários níveis e várias manifestações dos dois sentimentos que permeiam a obra, não apenas nos papéis de Mr. Darcy e Elizabeth. Mr Col-lins, por exemplo – a primeira pessoa que pede Elizabeth em casamento –, mostra um tipo de orgulho muito asso-ciado à vaidade.

P: Falamos sobre as impressões da autora sobre a sociedade da época retratada, os temas que envolvem a moral, cultura, educação e costumes. Na adaptação cinematográfica de 2005, você acredita que a narrativa foi bem feita?L: Procurei levantar algumas reflexões que Walter Benjamin faz sobre tradução e levar em consideração a questão da transmidialidade, para falar sobre isso. Imagino que é preciso pensar que tanto a tradução quanto a adaptação são ativi-dades criativas; e por isso, elas, inevi-tavelmente, cometem a traição daquela obra original. Apesar disso, o filme tem seu mérito, porque o espectador daquela obra pode gostar bastante do que viu sem ter tido contato com o livro de Jane Austen. A recepção de Orgulho e Pre-conceito, no cinema, foi bastante posi-tiva, inclusive. Isso já é um mérito muito grande. Têm filmes por aí que parecem que são feitos apenas para o leitor. Um aspecto muito positivo em relação à ép-oca é que o filme não cometeu nenhum tipo de anacronismo. Não inventaram situações para simplesmente atender o espectador da nossa época e a história não ficar “desinteressante”. A opção de não colocar, por exemplo, um baita de um beijo entre Mr. Darcy e Elizabeth foi respeitada. O que a gente vê muito no cinema e que não aconteceu em Pride and Prejudice é que, para se ter um

grande retorno financeiro, coloca-se um acontecimento que não caberia naquela época retratada. A roteirista Deborah Moggach respeitou isso.

P: A partir das adaptações da obra da autora, quais as principais diferenças que você enxerga entre as histórias contadas em livros e no cinema?L: Obviamente, o roteiro adaptado, imaginando a linguagem do cinema e o tempo que você tem para contar uma história, vai exigir supressões. Isso é perfeitamente compreensível. Alguns roteiros são de extrema competência, ao ponto de agradar os leitores mais apaix-onados. Para o leitor, talvez, o que cause certo pesar seja a supressão de perso-nagens que são mais periféricos ou que aparecem somente em algum momento da trama, mas são importantes para o significado e o tom da história. Outro aspecto que é perdido no filme, mas compreensível por ser uma linguagem diferente, é o ritmo como as coisas acontecem no romance. Jane Austen tra-balha com a dinâmica daquela sociedade acontecendo; como demorava para se fazer uma visita, o espaço de tempo entre o encontro de duas pessoas que se amavam, por causa de protocolos e medo de mal entendidos. Isso não é um demérito ao filme, mas não deixa de ser uma característica perdida.

P: O que para você, como observadora do livro e do filme, foi considerado dis-crepante?L: Dois aspectos mostraram-se incoer-entes ao leitor e ao espectador. Um em relação à personagem Jane e outro ao Mr. Darcy. A caracterização da Jane Bennet indica que trata-se de uma moça que sonha com o casamento, extrema-mente discreta e que sabe se comportar socialmente. No momento da trama em que sua mãe, Mrs. Bennet, faz com que ela vá para Londres, com o objetivo de promover o casamento da filha com Mr. Bingley, e ela obedece, há uma traição da caracterização já construída da Jane no romance e no filme.O segundo aspecto é sobre o processo

de transformação do Mr. Darcy, que não apareceu no filme. A personalidade dele foi mostrada de maneira muito chapada, em blocos. Ao contrário do que o filme faz com a Elizabeth Bennet, que aparece com etapas visíveis de transformação, com Mr. Darcy parece que, ao final, a heroína se surpreende com a personali-dade dele. Isso foi crucial, porque essa parte da história retrata muito a questão da desconstrução do orgulho e do pre-conceito.

P: Foi possível identificar alguma semelhança narrativa entre o romance inglês e o filme?L: As falas, embora sintetizadas, foram bastante similares, se não as mesmas. O cuidado que eles tiveram também com o retrato da paisagem, daquela Inglater-ra do Sul ali. A fotografia foi muito bem explorada. Eles fizeram uma pesquisa bastante cuidadosa para escolher quais poderiam ser as casas de cada família e procuraram resgatar as descrições que Jane Austen faz dos ambientes. O que me deixou curiosa, em relação ao filme de 2005 e à adaptação da BBC de 1995, é que o material da BBC mostra os am-bientes com uma suntuosidade muito maior. É interessante que a caracteriza-ção da Jane desse filme também foge da proposta trazida pela série exibida na tv britânica. No filme, a personagem é bem despenteada e rústica. Embora ela seja uma pessoa simples, eu acredito que ela não tinha, necessariamente, esses aspectos. Ao mesmo tempo, a Jane do filme pode ter sido construída para atender determinadas expectativas de uma heroína que está bastante livre daquelas convenções.

P: A partir da questão da transmidiali-dade, que avaliação você faz do filme? L: Considerando a construção de outra história que, apesar de ser baseada em um romance, ela é compreendida de maneira independente, o filme cumpriu seu papel e teve êxito. Prova disso é a recepção que ele teve bastante positiva da crítica. Foi uma história bem contada. É visível a preocupação que a equipe

teve em retratar a instituição casamento, a figura da mãe inquieta com o futuro conjugal das filhas, as relações de sub-serviência presentes naquela sociedade. Se eu não tivesse lido a obra, não me interessasse tanto pela Jane Austen, eu gostaria do filme mesmo assim.

P: A leitura promove a questão sen-sorial, de incentivo à imaginação. Se pensarmos com os olhos da leitura, a história contada com o auxílio da ima-gem (como é o caso do cinema) de-marcada a imaginação. Você acredita que há ganhos na exploração da ima-gem na construção de sentido para a narrativa?L: A narrativa construída por Jane Austen tem uma força de recursos imagéticos muito grande, embora ela não crie de-scrições enfadonhas. O propósito dessa obra, assim como qualquer outra obra literária, é permitir que você tenha uma possibilidade grande de interpretações, de construções, de imagens. Isso é nat-ural da obra literária. Paralelo a isso, está na natureza de uma obra que se constrói pela imagem – o cinema – mostrar uma daquelas possibilidades de interpreta-ção. Aqui, a competência do roteirista em mostrar uma interpretação que seja interessante suficiente quanto a leitura que se faz do texto é fundamental.

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Trilha Sonora

Você pode não acreditar, mas houve um tempo em que a música não era bem vista nos filmes. Quando O cantor de jazz (The Jazz Singer, 1927) entrou em cartaz, como o primeiro filme falado e com canto sincronizado, houve uma divisão entre os produtores cinematográficos.Entenda como isso se desenvolveu até nossos dias. Aproveite para relembrar alguns filmes que marcaram época conquistando os cinéfilos pelos ouvidos.

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O SOM DO AMORVocê pode não acreditar, mas houve um tempo em que a música não era bem vista nos filmes. Quando O cantor de jazz (The Jazz Singer, 1927) entrou em cartaz, como o primeiro filme falado e com canto sincronizado, houve uma divisão entre os produtores cinematográficos. Muitos acreditavam que era um retrocesso na lin-guagem, já que – pensavam – o som poderia diminuir a importância da construção poética da imagem. Charles Chaplin, por exemplo, só aderiu a era do som agregado à imagem com Tempos modernos (Modern Times, 1936), quando cantou. Depois, com O grande ditador (The Great Dictator, 1940), quando fez um emocionante e clássico discurso. O fato é que, na atualidade, não há como conceber um filme sem associá-lo a uma forte trilha sonora, capaz de elevar o espectador à profundidade da narrativa cinematográfica em questão.Desse tempo para cá, a presença do som e da música nos filmes foi adquirindo um espaço cada vez maior, deixando de ser apenas um complemento na narrativa e tomando lugar de destaque nas produções. O cantor, compositor e produtor da rádio Gurani FM, Bob Tostes, é da vertente dos que entendem que som e imagem devem estar integrados. Ele destaca que a música não pode se sobrepor à história, mas não pode ter seu papel menosprezado. “A música precisa reforçar o que está sendo visto na tela”, constata. O compositor explica que os recursos sonoros podem acrescentar informações, como no caso do clássico filme Tubarão (Jaws, 1975), de Steven Spielberg, quando “a cada inserção do tema de John Williams [autor da trilha sonora da obra], sabe-mos que o tubarão está próximo, mesmo que não apareça na tela.” Além disso, o som pode ser o condutor da narrativa, “como nos westerns de Sergio Leone. Neles, a música do compositor Ennio Morricone, grandiosa, rica e melancólica, cria um tom épico e contrastante com a violência apresentada”. Uma trilha sonora bem selecionada, seja com músicas feitas para o filme ou escolhidas pelos produtores, pode ajudar muito uma obra. A ligação da cena com a canção forma uma excelente experiência para o espectador, que terá a dimensão completa do que o diretor quis transmitir.É certo que em todos os gêneros a trilha tem papel fundamental, já que consegue produzir sensações em quem assiste. No entanto, para cada um desses gêneros, a trilha tem diferentes níveis de importância e produção. Em um filme de suspense, por exemplo, os silêncios e os ruídos, aparentemente simples, fazem toda a diferen-ça. No entanto, não há uma regra. Com um toque a mais de genialidade, o cineasta Alfred Hitchock e o compositor Bernard Herrmann entraram para a história do cin-ema com a trilha sonora do suspense Psicose (Psycho, 1960). Quem viu não se esquece da clássica cena do chuveiro. A cada facada desferida contra Marion, in-terpretada por Janet Leigh, há uma sincronização direta com a música de Hermman.

O amor em cançõesMas se há uma temática em que a trilha tem valor basilar, é nos filmes de amor, quer sejam romances ou comédias românticas. Obras com essa temática têm o potencial de trabalhar com as emoções do espectador, por razões óbvias. Quem é que ao se lembrar de um amor não se lembra também de uma música que marcou o período de um relacionamento? Pois bem, com os filmes a lógica é a mesma. Não é raro perceber que casais da ficcção inspiram os romances da vida real, com histórias de grandes encontros, paisagens sensa-cionais e músicas inesquecíveis, que os transportam para o ambiente do filme. É só falar de Uma linda mulher (Pretty Woman, 1990), que logo vem à mente a música “Oh, Pretty Woman”. Outro ex-emplo: é impossível se referir a Titanic (idem, 1997) sem mencionar a canção “My Heart Will Go On”. Mas ainda aqui, Bob Tostes faz um alerta: “deve haver um equilíbrio entre a imagem e a músi-ca, ou corre-se o risco de um excesso prejudicial ao filme”.Esse equilíbrio citado por Tostes é per-feitamente encontrado nas obras do cineasta norte-americano Woody Allen. Em Meia noite em Paris (Midnight in Par-is, 2011), a trilha sonora faz o especta-dor se ambientar na Paris de 1920 e da atualidade, mesmo que esteja a milhares de quilômetros de distância. Clássicos franceses e americanos dão ritmo à nar-rativa de Allen. Estão no filme desde o

norte-americano Cole Porter, com can-ções famosas como “Let’s do it”, “You do something to me” e “You’ve Got That Thing” à Joshepine Baker, cantando, com sua charmosa voz francesa, a tam-bém clássica “La conga Blicoti”.Em Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, 2010), a trilha é bem mais modesta que no filme de cenário pa-risiense, mas igualmente planejada. Am-bientado em Londres, no princípio e no final do filme percebe-se a execução da música “When You Wish Upon a Star”. Essa canção foi vencedora do Oscar de Melhor Canção Original em 1941. Ela foi tema do desenho Pinnochio (Pinocchio, 1940) e ainda hoje embala as produções das produções da Walt Disney. Nesse caso, a trilha sonora leva a uma reflexão que transcende à complementação da narrativa. A canção fala sobre acreditar nos sonhos e, em certa medida, o longa retrata isso. Em uma análise ainda mais abrangente, considerando a associa-ção imediata da música com a Disney, o objetivo de Allen poderia ser criticar a “indústria das ilusões”. Apesar da in-certa resposta, o fato é que essa trilha dá singularidade ao filme e colabora consideravelmente para a compreensão da narrativa.A aventura de Woddy Allen com trilhas sonoras de sucesso começou em 1996, com Todos dizem eu te amo (Everyone Says I Love You, 1966). Foi o primeiro musical dirigido pelo cineasta e, cer-tamente, não muito convencional, a

começar pelo fato de que os atores não eram cantores profissionais. Eram, no máxi-mo, amadores. E quando eram. Allen, que nunca escondeu seu fascínio pela música americana, escolheu clássicos das décadas de 1920 a 1940. Aliás, ele sempre es-teve diretamente envolvido na composição das trilhas sonoras de seus filmes. “Just you, just me”, de Jesse Greer e Raymond Klages foi uma das canções escolhidas a dedo pelo cineasta - que também é músico - para Todos dizem eu te amo. Bob Tostes acredita que o fato de Allen ser músico pode ser o seu grande dife-rencial na montagem das trilhas de seus longas. O gosto e o conhecimento do cineasta sobre música “transparece na cuidadosa escolha que ele faz das canções que compõem a trilha sonora de seus filmes, e no efeito que elas produzem, mesmo que a música não tenha sido composta originalmente para o filme - como sempre acontece”, destaca Tostes.

Na era do rádioAnos antes da sua primeira inserção no mundo dos musicais, Woddy Allen já havia feito um longa cuja trilha sonora merece todos os destaques. O filme A era do rádio (Radio Days, 1987), de 1987, retrata a época de ouro do rádio, na década de 1940. Em uma obra desse porte, o diretor não poderia descuidar na seleção das músicas. E não o fez. Durante o filme, 44 músicas dão ritmo à narrativa. O coordenador musical, Joe Malin, teve seu trabalho facilitado, porque Allen, como de costume, es-colheu pessoalmente cada uma das músicas. A Malin coube organizar o repertório conforme cada cena. Dentre as mais de quatro dezenas de canções estão “In the mood” e “American Patrol”, do músico de jazz Glenn Miller, “All or Nothing at All”, de Frank Sinatra e até “Tico tico no fubá”, da brasileira Carmen Miranda.

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Veja bem. Veja bem.

Este é um espaço dedicado especialmente ao leitor da Papo de Cinema. Aqui, você pode contar o que gostou de um filme e o porquê. Se não gostou, conte também. É um ambiente de troca de experiências.Nesta edição você confere o que os estudantes de jornalismo, Guilherme Rezende e Luiza Reiff, acharam dos filmes que assistiram. Ele, As Pontes de Madison (1995), ela, Do começo ao fim (2009).

IMPRESSÃO

Letícia Malloy:Perseverança e resistência“As pontes de Madison”

Ruleandson do Carmo:Esperança

“A razão do meu afeto”

Joana Nascimento:Genuína

“Patch Adams O amor é contagioso”Jonathan Maxuell

Vida“Um homem de sorte”

Leilane Stauffer:Renúncia

“O fabuloso destino de Amelie Poulain”

Luísa:“É pobre um amor que se pode medir”

(Shakespeare)“Casablanca”

Guilherme Rezende:O encontro de duas partes inteiras

Maurício Guilherme Silva Jr.Poesia

“De-lovely”

Natanael VieiraPermita-se

“Cinema Paradiso”André Zuliani

Ceder“Tudo pode dar certo”

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O cinema argentino tem uma capacidade incrível de surpreender. Os filmes possuem uma elegância ao tratar de temas delicados. O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos, Argentina-Espanha, 2009) é dirigido por Juan José Campanella, que tem no currículo o ótimo filme Clube da Lua e ainda assina o roteiro de Click, sucesso estrelado por Adam Sandler em 2006. Confesso que quando me preparei para assistir ao filme, imaginei que seria mais uma dramática narrativa que se passa na ditadura argentina. Fiquei surpreso. Como quem gosta de ouvir histórias, deparei-me com uma ótima história

contada com a dose certa da delicadeza argentina e com o suspense que prende a atenção.O ator Ricardo Darín interpreta Benjamín Espósito, um funcionário público aposentado que decide escrever um livro sobre o crime que marcou sua carreira no Tribunal Penal de Buenos Aires. Em 1974, uma mulher foi brutalmente estuprada e assassinada, e Benjamín foi escolhido para investigar o caso. Para encadear bem a história, o ex-funcionário público refaz os passos da investigação do homicídio. Em uma boa amarração no enredo, ele tem ao seu lado o parceiro Pablo Sandoval e a chefe

sedutora Irene Menêndez Hastings, interpretada de forma corajosa e doce pela coadjuvante Soledad Villamil. Não há pressa em definir o rumo da história, muito menos em destacar os personagens importantes para a trama – característica do diretor Campanella, que controla muito bem a velocidade de seus filmes. Como o retorno ao passado de Benjamín prende a atenção, não nasce em nós a inquietação de ver a trama resolvida. Saboreamos cada diálogo como quem se deleita com o chocolate que resta no fundo de uma panela de fondue. O grande mote do enredo é deixar claro

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Eratumque peribusci net hil magnitaquae evento eatiur, aute re poriorro od ex-placea volupta sunt.

que, resolvendo o caso do assassinato, Benjamín também tenta resolver algumas questões de sua vida particular. Deixando explícito o lado humano das profissões, dos relacionamentos, da história. Talvez a grande sacada do diretor seja fazer um filme, classificado como policial, sem nenhuma pirotecnia hollywoodiana. O ser humano, demasiado humano, como diria a filósofa Hannah Arendt é o foco... suas preocupações, desejos e a pequena dimensão em um mundo proporcionalmente grande. O filme passa a ideia de que não há a possibilidade de se desligar totalmente do passado. A história avança e recua sem perder o ritmo. E o que mais me encantou foi a naturalidade com que a ditadura argentina foi tratada, já que o filme se passa no cenário sangrento de caça às bruxas – leia-se: aos comunistas –, durante o governo de Isabel Perón.Com um orçamento considerado baixo – cerca de dois milhões de euros – a produção feita em parceria entre Argentina e Espanha bateu recordes na Argentina e ainda foi indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O roteiro é baseado no livro La pregunta de sus ojos, de Eduardo Sacheri. Ainda não li a obra, e não o farei por um bom tempo. Preciso ainda rever o filme para absorver certas passagens; entender algumas referências da cultura argentina. Só depois vou ler com calma a obra que inspirou esse belíssimo drama. O filme é a prova definitiva de que o cinema argentinho amadureceu e está na prateleira de cima das boas produções do cinema.

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