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Revista Reformador de Fevereiro de 2005

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Justiça – Juvanir Borges de Souza 5 Insucesso e êxito – Joanna de Ângelis 8 A busca – Manoel da Silva Castro 9 Não sabiam – Richard Simonetti 10 Em louvor da esperança – Maria Dolores 11 A missão de Kardec – Espírito Verdade 14

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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã o

Ano 123 / Fevereiro, 2005 / No 2.111

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749

Propriedade e orientação da

Federação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

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tor – Altivo Ferreira; Redatores – Affonso Borges

Gallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,

Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira São

Thiago; Secretária – Sônia Regina Ferreira Zaghetto;

Gerente – Amaury Alves da Silva; REFORMADOR:

Registro de Publicação no 121.P.209/73 (DCDP

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Capa: J. VICTTOR

Tema da Capa: FÉ E RAZÃO. A fé cega leva ao fa-natismo e ao fundamentalismo; iluminada pelarazão, torna-se inabalável e tolerante.

EDITORIAL 4

Fé e Razão

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 12

Kardec e Napoleão – Irmão X

ENTREVISTA: JASON DE CAMARGO 15A honra de trabalhar pelo Espiritismo

ESFLORANDO O EVANGELHO 21Recapitulações – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 28O euro unificou a Europa? – Hélio Ribeiro Loureiro

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 32Teoria dos Sonhos – Allan Kardec

SEARA ESPÍRITA 42

Justiça – Juvanir Borges de Souza 5Insucesso e êxito – Joanna de Ângelis 8A busca – Manoel da Silva Castro 9Não sabiam – Richard Simonetti 10Em louvor da esperança – Maria Dolores 11A missão de Kardec – Espírito Verdade 14

Os Espíritos e os fluidos – Severino Barbosa 17Práticas exteriores – Suely Caldas Schubert 18Fases da vida – Washington Borges de Souza 20Fé raciocinada – José Passini 22Página de fé – Auta de Souza 24Diversidade Religiosa e Direitos Humanos 25Aos meus bons companheiros – Ubaldo Ramalhete 26O trabalhador e Jesus – Guilherme March 27Retorno à Pátria Espiritual – Aureliano Alves Netto – 29

Vilma de Macedo SouzaCarnaval – uma falsa alegria – Adésio Alves Machado 30Campo Experimental de Brasília – Encerramento dos 31

Cursos de 2004Repensando Kardec – Da Lei de Conservação – 34

Inaldo Lacerda LimaA força da oração – Jorge Leite de Oliveira 38A visão do homem acerca da erraticidade – 40

Ismael Ramos das Neves

Coração e Cérebro – Meimei 41

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Durante muitos séculos o homem entendeu que a Fé, como atividade religiosa, não estava vin-

culda a nenhuma postura racional, sendo fruto da aceitação pura e simples decorrente de uma

posição dogmática, imposta, sem necessidade de ser sustentada pelos princípios da razão.

Por outro lado, à medida que as atividades científicas foram-se desenvolvendo, sempre vincula-

das ao uso da lógica, cultivou-se a idéia de que a Ciência era incompatível com a Religião, uma vez

que esta se apoiava em uma fé cega, não obrigatoriamente amparada na lógica dos fatos.

Diante do fenômeno mediúnico das mesas girantes – que estabeleceu o relacionamento dos ho-

mens com os Espíritos –, e habituado, como educador, ao exercício da razão, Allan Kardec observou

que estava diante de um fato. E partindo do princípio de que todos os fatos têm suas leis, era neces-

sário estudar esse fato para compreender as leis que o regulam.

Nas pesquisas que desenvolveu, Kardec constatou que, efetivamente, a mediunidade tem suas

leis, como qualquer outro fenômeno, observando, também, que todas as leis da Natureza promanam

do Criador. Se, de um lado, a Religião revela ao homem as Leis que emanam de Deus, estimulando

a sua prática, por outro, a Ciência, pelo seu trabalho voltado à busca do conhecimento, descobre

essas mesmas Leis e, ainda, as utiliza em benefício dos homens e da própria Natureza.

Com isto, Allan Kardec, codificando a Doutrina Espírita revelada pelos Espíritos Superiores e

submetendo todos os seus ensinos a uma análise assentada no uso da lógica, edificou a ponte que li-

ga a Fé à Razão, unindo, conseqüentemente, a Ciência à Religião. Demonstrando que as duas se com-

pletam, constatou, também, que essa união, à luz da Verdade, proporciona ao homem segurança no

trato de questões que o afetam mais diretamente: utilizando a Razão, iluminada pela Fé, melhor

compreende as Leis que emanam de Deus, e, utilizando a Fé, assentada na Razão, aplica de forma

mais adequada essas mesmas Leis.

EditorialFé e Razão

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Asuprema Justiça, eterna, infa-lível, incidindo sobre todos osseres, por pequenos ou gran-

diosos que sejam, paira sobre todoo Universo, sobre toda a criação deDeus.

A Lei de Justiça, ao lado da Leide Amor, em um mundo atrasado,como o nosso, são de difícil enten-dimento para nós, seus habitantes,porque ainda não possuímos umavisão ampla da vida, para além doque se encontra sob o domínio denossos sentidos físicos, de nossa me-mória restrita a esta existência e denossa inteligência limitada.

Todas as concepções filosóficase religiosas tradicionais, todas as teo-rias e opiniões políticas e sociais quea Humanidade tem conhecido epraticado, através dos milênios, de-monstram o desconhecimento par-cial ou total da Lei de Justiça estabe-lecida pelo Criador do Universo.

É natural que isso ocorra emum mundo de expiações e provas,caracterizado pelo atraso moral damaioria de seus habitantes, domi-nados pelo egoísmo e pelo orgu-lho, no plano moral, e pela igno-rância, no que concerne ao trans-cendente.

As instituições humanas, polí-ticas ou sociais, refletem a naturezado próprio homem. Por isso, a Jus-tiça pura, soberana, é apenas um

ideal, que ainda está longe de ser al-cançado.

Por enquanto, a luta dos habi-tantes deste orbe há que visar a re-educação de sua população, corrigin-do e melhorando suas instituições,aperfeiçoando continuamente a le-gislação humana, atenuando as de-sigualdades, suprimindo a misériamoral e material, tal como vem len-tamente acontecendo, reafirmandoque a Lei do Progresso é um fato.

A História registra o progressoimenso na organização social, taiscomo a supressão da escravidão ra-cial; a modificação das sujeições dosvencidos aos vencedores, nas guer-ras de conquista, desaparecendo adizimação das populações vencidas,ou sua escravização; o controle dediversas doenças antes incuráveis,com a evolução da Medicina; a se-gunda revolução industrial, iniciadano século XIX, e que prossegue naatualidade, em nova fase, com o rá-dio, a televisão e o computador; oextraordinário progresso das ciên-cias; a conquista progressiva da li-berdade de pensamento, de expres-são, de reunião; as limitações dastiranias e das perseguições religiosas.

A simples enumeração das con-quistas humanas demonstra a reali-dade da Lei do Progresso.

Acima da poeira dos séculos,dos interesses menores e das pai-xões, o pensamento humano jamaisdeixará de receber a influência ben-fazeja da Causa Primária de todas ascoisas, presente em todo o Univer-so com suas leis justas e equânimes.

Embora lentamente, o homemvai percebendo a evolução da vidapor toda parte, em todos os mun-dos, e a Terra não poderia ser ex-ceção. Por isso, a Lei do Progresso éum fato no nosso mundo, lei que secumpre em consonância com os câ-nones de uma Justiça superior, in-defectível.

O conjunto das Leis Moraisque a Doutrina Espírita revelou,desdobramento da síntese ensinadapor Jesus – Amar – a Deus, ao pró-ximo e a nós mesmos, mostra-nosuma Unidade Essencial a que cha-mamos Deus, mas que não pode-mos definir na linguagem humana.Definir é limitar, e não podemos li-mitar o que é infinito.

Daí a sabedoria dos EspíritosReveladores, ao responderem a Al-lan Kardec à primeira questão de OLivro dos Espíritos:

“Que é Deus?”“Deus é a inteligência supre-

ma, causa primária de todas ascoisas.”

Podemos perceber na resposta,não uma definição, mas uma cons-tatação, ou seja, a verdade de umfato, uma comprovação, uma veri-ficação inteligível, sentida, mesmosem definição limitativa.

Assim, Deus, na concepção es-pírita, não se confunde com o Uni-verso criado por Ele; nem é o Deusdo panteísmo, ou o Deus antropo-morfo, concebido por diversas reli-giões, mas é o Ser absoluto, eterno,justo, que assiste a toda sua criaçãocom Amor e Justiça. >

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Justiça Juvanir Borges de Souza

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A Inteligência Suprema é umapresença permanente, que se revelaao pensamento e aos sentimentos dasSuas criaturas que já chegaram a de-terminado nível de entendimento.

Aqueles que sentem a presençade Deus sabem que Ele está em to-da parte, e não somente nos tem-plos construídos pelos homens. Es-tá dentro de nós, na Natureza, navida que estua e se expande pelosbilhões de mundos e galáxias doUniverso infinito.

Ele é o “Pai Nosso”, no ensinosimples e justo de Jesus.

É a Vontade que dirige os Uni-versos, sob leis sábias e justas, pon-do à mostra a harmonia reinanteem todo o Cosmo, sem prejuízo daliberdade concedida aos Espíritospor Ele criados, para as mais dife-rentes conjeturas.

Essa liberdade, que sentimosno imo de nosso ser, presente nosEspíritos de diferentes estágios, de-monstra a Justiça imanente queprovém de Nosso Pai, deixando acada um a libertação dos erros e oencontro com a sabedoria.

O caminho do conhecimentoe do aperfeiçoamento dos senti-mentos é percorrido por etapas, degrau em grau, em vidas sucessivasnos mundos materiais e em linhaconvergente nas esferas espirituais.Cada um desses graus aproximamais a criatura de seu Criador. Omérito pelo próprio aperfeiçoamen-to é mais uma demonstração segu-ra da Justiça Divina, tal como ensi-nou o Cristo: “A cada um segundosuas obras.”

O Deus de nossos corações,quando despertamos com a Luz emnossas consciências, é uma mensa-gem que se traduz em Amor, Justi-ça, Beleza, Perfeição.

...

Sob os ensinos do Cristo e doConsolador, não se pode conceberDeus sem o infinito das perfeições.

Todo o poder, todo o amor, to-da a justiça, toda a bondade sãoseus atributos, resumidos no Bemabsoluto.

Sendo soberanamente justo ebom, não pode agir com parcialida-de, caprichosamente, a favor oucontra uma individualidade, umgrupo, uma nação, ou toda a Hu-manidade. Isto é intuitivo, lógico,fácil de deduzir.

Como entender-se, então, tan-tas contradições com esses princí-pios racionais e justos, encontradasem antigas escrituras e livros sagra-dos de diversos povos, inclusive noVelho Testamento?

Só se pode justificar tais con-tradições com o estágio evolutivodesses povos, por ocasião da formu-lação de seus livros sagrados, o quejustifica as retificações feitas poste-riormente.

Foi o que ocorreu com a Men-sagem e a exemplificação de Jesus,o Cristo, com relação ao Velho Tes-tamento, demonstrando que oDeus de Amor e de Justiça não po-de ser, ao mesmo tempo, o Deusdos exércitos, responsável por tan-tas iniqüidades, nem o Deus exclu-

sivo de um povo, em detrimentodo restante da Humanidade.

De outro lado, como justificar--se a existência de tantas vicissitu-des, tantas diferenças individuaisentre os homens que vivem na Ter-ra? Deve haver uma causa para taisrealidades e justa deve ser essa cau-sa, pois Deus é sempre justo.

Foram os ensinos de Jesus, suaexemplificação, e o Consolador porEle prometido e enviado – o Espi-ritismo – que deram à Humanida-de a compreensão dessa causa, mos-trando a justiça e a bondade in-finitas do Criador.

As reencarnações sucessivas eos estágios diferentes em que se en-contram os Espíritos explicam, deforma satisfatória, as vicissitudes, ossofrimentos e a multiplicidade desituações individuais dos habitantesda Terra, dentro do princípio daresponsabilidade de cada um porseus atos.

Os males, as vicissitudes, as di-ficuldades, as doenças, a miséria, osobstáculos de toda ordem têm suascausas no caráter e no procedimen-to individual do Espírito na vidapresente, ou têm sua origem emsuas vidas passadas.

Pelas leis divinas, sempre justas,todo erro, excessos de todo gênero,imprevidência, ambição desmedida,ingratidão, orgulho, egoísmo e tudoque não se ajuste ao bem são de res-ponsabilidade de quem os pratiquee devem ser retificados devidamente.

Portanto, o homem é o causa-dor de seus próprios infortúnios esofrimentos e somente por ignorân-cia acusa a Providência, a má sortee a infelicidade.

A lei humana pune determina-das faltas, mas está longe de atingira todas elas.

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O homem é causador

de seus próprios

infortúnios e

sofrimentos

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A lei divina, infalível em seumecanismo, tem por objetivo oprogresso das criaturas e por issodetermina a retificação de quais-quer desvios, erros e suas conse-qüências.

Pela Revelação Espírita pode-mos perceber a conjugação perfeitadas Leis Divinas ou Naturais.

A Lei de Justiça funciona emconsonância com a Lei do Progressoe com o princípio da reencarnação.

Sem o conhecimento dessasleis torna-se difícil perceber que aJustiça Divina é infalível e jamais seinterrompe no Universo. Em suainfinita bondade, Deus faculta a to-dos os Espíritos reparar seus erros,sejam eles rebeldes, ignorantes, en-durecidos ou desejosos de corrigir omal praticado.

É pelo atendimento da Lei deJustiça e das vidas sucessivas quepodemos compreender a mons-truosidade da concepção de céu einferno, tal como no-los apresen-tam os teólogos de determinadas re-ligiões, há milhares de anos.

Como compreender-se o Amore a Justiça de Deus, se Ele conde-nasse ao sofrimento do inferno eter-no seus filhos faltosos, quando atéos pais humanos são capazes de per-doar-lhes suas culpas e erros?

As leis de Justiça e de Amor,que sintetizam todas as demais leismorais, estão na Natureza, e por is-so os Espíritos Reveladores as deno-minam Leis Divinas ou Naturais.

Estão presentes em todo o Uni-verso e, portanto, regem a vida dohomem na Terra, seu presente, pas-sado e futuro.

Quando as instituições sociaisda Terra refletirem a justiça e oamor da lei divina, este orbe estaráregenerado juntamente com seus

habitantes, não mais havendo pre-dominância do egoísmo, do orgu-lho e da ignorância, como na atua-lidade.

Será a idade em que não maishaverá guerras, extremos de miséria,distinções de raças e castas. As leishumanas e as relações entre os po-vos, assim como as religiões, tradu-zirão a fraternidade legítima quepromana de um Deus único, dejustiça, de amor e de sabedoria.

Esse ideal não é simples espe-culação, desde que se atente no mo-vimento progressivo como uma rea-lidade de fácil constatação, ao secomparar duas épocas da históriahumana neste mundo. O homemprocura ser feliz e a Lei do Progres-so funciona em seu benefício.

O Espiritismo oferece as basesseguras para o progresso intelectuale moral do homem.

Na sua abrangência, a Doutri-na do Consolador oferece aos habi-tantes deste mundo a oportunidadepara o crescimento espiritual, comos conhecimentos classificados decientíficos e filosóficos, compreen-dendo tudo o que é verdadeiro nosdomínios da matéria e do espírito.

Mas o verdadeiro progressoabrange o conhecimento, e tambémo campo dos sentimentos, resumi-dos por Jesus no amor.

Na Terra, Jesus é o exemplo aser seguido. Como Governador es-piritual da Humanidade seu devo-tamento abrange todas as civiliza-ções, através dos milênios, ensi-nando o amor e a justiça e deixan-do aos próprios homens a busca dosconhecimentos científicos.

Sua bondade e paciência paracom todos os homens comprovamque seu Envagelho é o caminhocerto para a evolução moral de ca-

da um. A Boa Nova, agora repetidano Consolador, sem desrespeitar olivre-arbítrio de cada aprendiz, es-pera o livre convencimento indivi-dual, sem imposições, para que ca-da qual tenha o mérito de seu pro-gresso espiritual.

Comprovando suas lições, oMestre viveu servindo e ensinando,e morreu na cruz pedindo ao Paiperdão para seus algozes, porque“não sabem o que fazem”.

Eis alguns de seus ensinos, re-gistrados pelos Evangelistas (Ca-minho, Verdade e Vida, cap. 169,Ed. FEB, p. 353-354):

“Se alguém quiser vir apósmim, renuncie a si mesmo, tome asua cruz e siga-me.

Amai vossos inimigos.Orai pelos que vos perseguem e

caluniam.Bendizei os que vos maldizem.Emprestai sem nada esperar-

des.Não julgueis para não serdes

julgados.Entre vós, o maior seja servo

de todos.Buscai a porta estreita.Eis que vos envio como ovelhas

ao meio dos lobos.No mundo, tereis tribulações.”

...

Nos quadros das lutas terrenasé que cada um de nós se aperfeiçoa,moral e intelectualmente.

O desenvolvimento dos senti-mentos do amor e da justiça, no imode nosso ser, cabe a nós mesmos.

A nós, espíritas convictos, nãocabem mais as dúvidas e as atitudescontemplativas, mas a confiança e afirmeza no avanço para o grandeporvir.

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Oprocesso evolutivo é um em-preendimento desafiador, ca-racterizado por experiências

sucessivas que se armazenam no ser,oferecendo-lhe os valores que con-tribuem para a continuidade da rea-lização.

Cada etapa vencida enseja umnovo patamar a ser conquistado,em atividade relevante, ascensional.

Liberando-se do primarismo oEspírito direciona-se para a sabedo-ria mediante os investimentos doesforço, da temperança e do sacrifí-cio, porquanto a sua é a meta quese aureola de plenitude.

Normalmente esse labor acon-tece através de diferentes mecanis-mos educativos que facultam aaprendizagem, a fim de que seja al-cançado o êxito, nem sempre de fá-cil acesso.

Acredita-se, com certa dose deingenuidade, que o sucesso é um al-vo muito simples de ser conquista-do, e que os triunfadores, por issomesmo, transitaram por caminhosatapetados de êxitos e forrados defacilidades confortáveis.

Quem observe a outrem quealcançou o topo no empreendimen-to encetado, não poderá fazer idéiados empecilhos que foram enfren-tados, nem dos insucessos que ocor-reram.

Em cada um deles, porém, res-

sumou uma experiência iluminati-va para o próximo enfrentamento,estimulando ao seguinte passo desegurança.

Em face desse estímulo, às di-ficuldades enfrentadas sucedem-seos resultados edificantes, muitas ve-zes recheados de insucessos.

Insucesso, portanto, é lição va-liosa que contribui de maneira in-contestável para o futuro êxito.

Einstein, por exemplo, referia--se que quase sempre noventa e no-ve por cento dos seus raciocínioseram equivocados, mas o centésimosempre apresentava a solução parao problema em pauta.

Por isso, não desanimava, ja-mais considerando insucessos aque-les esforços envidados que não fo-ram exitosos. O que merecia per-severança era o desejo de alcançar oresultado feliz, não sendo contabi-lizados os investimentos aplicados.

É importante, desse modo,nunca descoroçoar na atividade em-preendida, por mais penosa que seapresente.

Não desistir de encontrar amais segura maneira para lograr osresultados felizes constitui o deverde todo aquele que se empenha pe-lo melhor.

Conceituou-se sucesso comosendo a conquista do objetivo aqualquer preço, mesmo que se em-penhando os valores morais, que fi-carão ultrajados.

Esse aparente êxito, no entan-to, é portador de sabor amargo, dei-xando travo de fel na consciência.

Momentaneamente permanecemem plano secundário, enquanto sefrui a glória que proporciona prazer,até que a sucessão dos dias engen-dre o tédio, a indiferença, a perdado sentido existencial da vida.

Ninguém alcança o êxito, semque antes não vivencie diversos in-sucessos, que ensinam como não sedeve operar, quando na busca de re-sultados opimos.

...

A existência humana enrique-ce-se cada vez mais, na razão diretaem que o indivíduo adiciona co-nhecimentos e experiência, emo-ções e ações que o impulsionam pa-ra a frente.

Há, desse modo, uma signifi-cativa diferença entre o insucesso eo fracasso.

O primeiro representa um re-sultado negativo, o não êxito, en-quanto que o outro proporcionaum efeito desastroso.

O fracasso expressa falência derecursos, perda dos investimentos,produzindo desespero, em face doprejuízo irrecuperável.

A pessoa falida perde a credibi-lidade e tem o nome associado àdesonestidade, à conduta irregular.Por conseqüência, considera a opor-tunidade perdida, tombando nafrustração, quando não derreia naaflição desmedida.

O insucesso, no entanto, quan-do bem absorvido, proporciona onecessário ânimo para novos tenta-

Insucesso e êxito

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mes, agora com a carga da expe-riência malsucedida, que evita repe-tir o processo empregado anterior-mente.

O homem e a mulher em-preendedores sempre consideram osriscos que se apresentam nas ativi-dades a que se entregam como ine-vitáveis. Por isso, examinam-nos,procurando mecanismos de supera-ção e recursos de diminuição emnúmero de ocorrências, a fim deque não impeçam o êxito.

Dessa forma, quando ocorremos percalços, antecipadamente aguar-dados, dispõem de bons estímulospara dar prosseguimento ao com-promisso.

Uma batalha perdida não re-presenta o fracasso de uma tropa, oque somente ocorre quando se tra-ta daquela que decide a guerra.

No que diz respeito à existên-cia humana, cabe sejam avaliadas asaquisições do conhecimento e dosvalores morais, a fim de que se esta-beleçam metas que se devem alcan-çar, mesmo após tropeços e quedas.

O falso conceito de que muitosindivíduos são beneficiados porcausa das facilidades de que desfru-tam aflige aqueles que se defrontamcom obstáculos, sentindo-se des-prestigiados.

Sem dúvida, ocorrem conquis-tas menos penosas, no entanto,quando não se fazem assinalar poresforços que desenvolvem a capaci-dade de discernimento para bemconduzir, os desastres posterioreschegam irrefragáveis.

Quando não se aprendeu a rea-lizar, não se tem capacidade paraadministração nem preservação doque foi conquistado.

A sabedoria ensina que o insu-cesso e a dificuldade tornam-se mes-

tres que orientam para o logro doêxito.

Ninguém é especial, irretocá-vel, que viva aquinhoado com inin-terruptos sucessos até o momentoem que chega ao ápice da carreira.

Isso acontece apenas nos con-tos de fadas e nas fábulas ancestrais.

Tudo exige esforço, empenho,luta.

A busca do sucesso é resultadode uma bem empreendida realiza-ção, que também se faz assinalarpor alguns prejuízos durante a suaexecução.

...

Jesus, que veio à Terra investi-do da tarefa de construir nos cora-ções o reino de Deus, empenhou-secom total abnegação, sem que, noentanto, haja logrado de imediatoo resultado que almejava.

Sabia, porém, que deveria co-locar primeiro os pilotis da gloriosaconstrução, e que o tempo, me-diante os processos evolutivos atra-vés da História, se encarregaria dematerializar a tarefa.

Quem O visse acoimado pelosódios e perseguições gratuitos, der-reado na cruz, pensaria que Ele nãohouvera alcançado o sucesso da Suamissão. No entanto, foi através des-se aparente fracasso que Ele logrouo êxito total, implantando a es-perança e a alegria defluentes doamor nas almas pelos tempos dofuturo.

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Dival-do P. Franco, na sessão mediúnica da noi-te de 8 de setembro de 2004, no CentroEspírita Caminho da Redenção, em Sal-vador, Bahia.)

A buscaManoel da Silva Castro

Buscava a Deus, na luz que resplendia,Na força do esplendor da madrugada,Ele era a luz da límpida alvorada,E o resplendor do sol que aparecia.

Deus, era a paz cantante da harmonia,O amor de toda alma abençoada,A claridade azul anunciada,Em todo o despontar de cada dia.

Deus, é o Supremo Amor. A natureza.O encanto. A abstração que há na beleza,O cosmo imenso. A vastidão do mar.

Deus, é a Suprema Altura. A atmosfera.A força na expressão de cada fera.A Luz do ser enfim que sabe amar.

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10Reformador/Fevereiro 2005

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No balanço dos quatro pri-meiros anos do Terceiro Mi-lênio, há um destaque lamen-

tável para o ato terrorista cometidopor fanáticos suicidas, em NovaIorque, sacrificando milhares depessoas, no fatídico onze de setem-bro.

O mais impressionante é a pre-tensão de seus mentores em situá--los como mártires, que se imola-ram em nome de Deus para com-bater, segundo eles, o “grande satã”,os americanos.

Chocante a crueldade de umato dessa natureza, sem levar emconsideração que os milhares demortos compunham um universode várias nacionalidades, de todosos continentes.

Foi um atentado abominável,cometido não contra uma naciona-lidade, mas contra a Humanidade.

...

Líderes espertos e mal-inten-cionados convencem seus ingênuosseguidores de que se morrerem as-sim, matando-se e levando muitagente junto, estarão habilitados aoparaíso.

E há irresistível benefício extra:Terão, a servi-los, cada um de-

les, setenta e duas virgens.Um harém no Além!

A incrível luxúria consentida eaté estimulada!

É estarrecedor o que faz o fana-tismo religioso inspirado na igno-rância.

Falta a esses fundamentalistasum mínimo de bom senso, consi-derando que:

Americanos e todos aqueles aquem devotam ódio são filhosde Deus também. Estranhaforma de servir a um pai, ani-quilando os próprios irmãos.

Os suicidas, particularmenteaqueles que morrem para ma-tar, habilitam-se a um estágiodepurador em regiões umbrali-nas, onde amargarão, por largotempo, os paroxismos da cons-ciência atormentada.

Reencarnando, enfrentarão do-lorosas limitações físicas ementais, a refletirem os desa-justes perispirituais provocadospelo suicídio.

Atos dessa natureza, longe defavorecerem o entendimento ea solução dos problemas queenvolvem os países, apenas osacirram, gerando reações emcadeia que fazem incontáveisvítimas.

Pobres infelizes, submetidospela própria agressividade a séculosde sofrimentos para consertar os es-

tragos feitos em sua biografia espi-ritual.

Guardassem a mínima noçãosobre a vida além-túmulo e teriam,segundo a expressão simbólica deJesus, cortado as próprias mãos, an-tes de usá-las para cometer o bárba-ro crime.

...

Essa tendência de satanizar osprofitentes de outras religiões ouculturas, com a disposição decombatê-los até a morte, demons-tra para onde nos leva o fanatis-mo.

É assunto antigo.A História está repleta de exem-

plos dessa natureza:

Os judeus do Velho Testamen-to passavam a fio de espada,em terra inimiga, tudo o quetivesse fôlego.

Os romanos sacrificavam cris-tãos nos espetáculos dantescosdo Circo.

Os cristãos dizimavam popu-lações árabes, nas Cruzadas,guerras de conquista realiza-das em nome daquele que nãotinha onde reclinar a cabeça(Mateus, 8:20).

Os católicos, assassinando pro-testantes, na noite de São Bar-tolomeu.

Não sabiamRichard Simonetti

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Protestantes e católicos, envol-vidos em intermináveis lutas,na Irlanda do Norte.

Judeus e árabes, a se digladia-rem em sangrentas disputaspor um pedaço de terra.

E continua o morticínio, empleno século XXI, nos albores doTerceiro Milênio, decantado comoo início de uma civilização cristia-nizada, onde todas as guerras se-riam eliminadas e todas as diver-gências seriam superadas.

...

Capítulo especial envolve o Es-piritismo, satanizado por correntesreligiosas que apontam os espíritascomo cultores do demo.

Não fosse a índole fraterna dobrasileiro, infenso aos conflitos ar-mados entre religiosos, e certamen-te teríamos aqui lamentáveis espe-táculos de agressão aos profitentesespíritas.

Temos, ainda, a nosso favor, otrabalho no campo da solidarieda-de, que conquista a simpatia da po-pulação e mantém intocado o pres-tígio das instituições espíritas que,embora constituindo minoria nocontexto religioso, superam as ma-joritárias pela extensão e eficiênciados serviços prestados à coletivi-dade.

É esse exemplo maravilhoso,tão bem definido por Kardec, namáxima Trabalho, Solidariedade,Tolerância, que um dia acabarácom todas as guerras, ensinando,com Jesus, que as bem-aventu-ranças celestiais estão reservadas nãoaos que mais matarem, mas aos quemais servirem.

Em louvor da esperançaEscuta, coração:Quando a mágoa te aflijaE a incompreensão te zurza implacável e rija,Jamais te dês aos gritos da exaustão!...Revolta é furacão a sacudirO campo, o ninho, a escola, o templo, a casa,E tudo danifica ou tudo arrasaQuando vem a surgir...

Quando o pranto amarfanhe os olhos teus,Não mostres tuas lágrimas benditas;Aprende a recolher no campo em que transitasOs ensinos de Deus!...Tudo na Terra é santa aspiração...Serenamente a planta aguarda o fruto amigoE o próprio fruto anseia estar contigoPara a vitória humilde de ser pão.

Nasce a fonte cantando, a borbulhar...De início é um fio pobre de água mansa,Mas, porque espera, serve e não descansa,Desce ao bojo do rio e acha a glória do mar!...

O charco espera a mão do lavradorE, um dia, plasma em lama, lodo e estrume,Um jarro gigantesco de perfumeA enfeitar-se de flor!...

Nota que a porcelana aprimoradaFoi barro que aceitou a disciplina...A pérola mais finaVeio na dor da ostra torturada!...O violino que atende e se consomePor dar à melodia apoio e desempenhoNão passava de um lenhoNa floresta sem nome!...

Detém-te, coração, pensando nisso:No mundo o que há de belo, grande e santoÉ persistência e esforço, canto a canto,Da esperança em serviço!...Empenha-te a servir, aprender, construir, tolerar,Em tudo é sempre o Amor Puro e PerfeitoPorque nunca se cansa de esperar!...

Maria Dolores

Fonte: XAVIER, Francisco C. Poetas Redivivos. Diversos Espíritos. 3. ed. Rio deJaneiro: FEB, 1994, cap. 49, p. 77-78.

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Logo após o 18 Brumário (9 denovembro de 1799), quandoNapoleão se fizera o Primeiro-

-Cônsul da República Francesa,reuniu-se, na noite de 31 de dezem-bro de 1799, no coração da latini-dade, nas Esferas Superiores, gran-de assembléia de Espíritos sábios ebenevolentes, para marcarem a en-trada significativa do novo século.

Antigas personalidades da Ro-ma imperial, pontífices e guerreirosdas Gálias, figuras notáveis da Es-panha, ali se congregavam à esperado expressivo acontecimento.

Legiões dos Césares, com osseus estandartes, falanges de bata-lhadores do mundo gaulês e gruposde pioneiros da evolução hispânica,associados a múltiplos representan-tes das Américas, guardavam linhassimbólicas de posição de destaque.

Mas não somente os latinos sefaziam representados no grandeconclave. Gregos ilustres, lembran-do as confabulações da Acrópolegloriosa, israelitas famosos, recor-dando o Templo de Jerusalém,deputações eslavas e germânicas,grandes vultos da Inglaterra, sábioschineses, filósofos hindus, teólogosbudistas, sacrificadores das divinda-des olímpicas, renomados sacerdo-tes da Igreja Romana e continuado-

res de Maomet ali se mostravam,como em vasta convocação de for-ças da ciência e da cultura da Hu-manidade.

No concerto das brilhantes de-legações que aí formavam, com to-da a sua fulguração representativa,surgiam Espíritos de velhos batalha-dores do progresso que voltariam àliça carnal ou que a seguiriam, deperto, para o combate à ignorânciae à miséria, na laboriosa preparaçãoda nova era da fraternidade e da luz.

No deslumbrante espetáculoda Espiritualidade Superior, com arefulgência de suas almas, achavam--se Sócrates, Platão, Aristóteles,Apolônio de Tiana, Orígenes, Hi-pócrates, Agostinho, Fénelon, Gior-dano Bruno, Tomás de Aquino, S.Luís de França, Vicente de Paulo,Joana d’Arc, Teresa d’Ávila, Catari-na de Siena, Bossuet, Spinoza, Eras-mo, Milton, Cristóvão Colombo,Gutenberg, Galileu, Pascal, Swe-denborg e Dante Alighieri, paramencionar apenas alguns heróis epaladinos da renovação terrestre; e,em plano menos brilhante, encon-travam-se, no recinto maravilhoso,trabalhadores de ordem inferior, in-cluindo muitos dos ilustres guilho-tinados da Revolução, quais LuísXVI, Maria Antonieta, Robespier-re, Danton, Madame Roland, An-dré Chénier, Bailly, Camille Des-moulins, e grandes vultos comoVoltaire e Rousseau.

Depois da palavra rápida de al-

guns orientadores eminentes, invi-síveis clarins soaram na direção doplano carnal e, em breves instantes,do seio da noite, que velava o cor-po ciclópico do mundo europeu,emergiu, sob a custódia de esclare-cidos mensageiros, reduzido corte-jo de sombras, que pareciam estra-nhas e vacilantes, confrontadas comas feéricas irradiações do palácio fes-tivo.

Era um grupo de almas, aindaencarnadas, que, constrangidas pe-la Organização Celeste, remonta-vam à vida espiritual, para a reafir-mação de compromissos.

À frente, vinha Napoleão, quecentralizou o interesse de todos oscircunstantes. Era bem o grandecorso, com os seus trajes habituais ecom o seu chapéu característico.

Recebido por diversas figurasda Roma antiga, que se apressavamem oferecer-lhe apoio e auxílio, ovencedor de Rivoli ocupou radiosapoltrona que, de antemão, lhe forapreparada.

Entre aqueles que o seguiam,na singular excursão, encontravam--se respeitáveis autoridades reencar-nadas no Planeta, como Beethoven,Ampère, Fulton, Faraday, Goethe,John Dálton, Pestalozzi, Pio VII,além de muitos outros campeões daprosperidade e da independênciado mundo.

Acanhados no veículo espiri-tual que os prendia à carne terres-tre, quase todos os recém-vindos

Kardec e Napoleão

PRESENÇA DE CHICO XAVIER

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banhavam-se em lágrimas de alegriae emoção.

O Primeiro-Cônsul da França,porém, trazia os olhos enxutos, nãoobstante a extrema palidez que lhecobria a face. Recebendo olouvor de várias legiões,limitava-se a respon-der com acenos dis-cretos, quando osclarins ressoaram,de modo diverso,como se se puses-sem a voar paraos cimos, no ru-mo do imenso in-finito...

Imediatamenteuma estrada de luz, àmaneira de ponte levadi-ça, projetou-se do Céu, ligando--se ao castelo prodigioso, dandopassagem a inúmeras estrelas res-plendentes.

Em alcançando o solo delica-do, contudo, esses astros se trans-formavam em seres humanos, nim-bados de claridade celestial.

Dentre todos, no entanto, umdeles avultava em superioridade ebeleza. Tiara rutilante brilhava-lhena cabeça, como que a aureolar-lhede bênçãos o olhar magnânimo,cheio de atração e doçura. Na des-tra, guardava um cetro dourado, arecamar-se de sublimes cintilações...

Musicistas invisíveis, atravésdos zéfiros que passavam apressa-dos, prorromperam num cântico dehosanas, sem palavras articuladas.

A multidão mostrou profundareverência, ajoelhando-se muitosdos sábios e guerreiros, artistas epensadores, enquanto todos os pen-dões dos vexilários arriavam, silen-ciosos, em sinal de respeito.

Foi então que o grande corso

se pôs em lágrimas e, levantando-se,avançou com dificuldade, na dire-ção do mensageiro que trazia o bá-culo de ouro, postando-se, genufle-xo, diante dele.

O celeste emissário,sorrindo com natura-

lidade, ergueu-o, depronto, e procuravaabraçá-lo, quandoo Céu pareceuabrir-se diante detodos, e uma vozenérgica e doce,forte como a ven-tania e veludosa co-

mo a ignorada me-lodia da fonte, excla-

mou para Napoleão,que parecia eletrizado de

pavor e júbilo, ao mesmo tem-po:

– Irmão e amigo ouve a Verda-de, que te fala em meu espírito! Eis--te à frente do apóstolo da fé, que,sob a égide do Cristo, descerrará pa-ra a Terra atormentada um novociclo de conhecimento...

César ontem, e hojeorientador, rende oculto de tua venera-ção, ante o pontífi-ce da luz! Renova,perante o Evange-lho, o compromis-so de auxiliar-lhe aobra renascente! ...

Aqui se congre-gam conosco lidado-res de todas as épocas.Patriotas de Roma e dasGálias, generais e soldadosque te acompanharam nos conflitosda Farsália, de Tapso e de Munda, re-manescentes das batalhas de Gergó-via e de Alésia aqui te surpreendemcom simpatia e expectação... Antiga-

mente, no trono absoluto, preten-dias-te descendente dos deuses paradominar a Terra e aniquilar os inimi-gos... Agora, porém, o Supremo Se-nhor concedeu-te por berço umailha perdida no mar, para que te nãoesqueças da pequenez humana edeterminou voltasses ao coração dopovo que outrora humilhaste e escar-neceste, a fim de que lhe garantas amissão gigantesca, junto da Huma-nidade, no século que vamos iniciar.

Colocado pela Sabedoria Ce-leste na condição de timoneiro daordem, no mar de sangue da Revo-lução, não olvides o mandato parao qual foste escolhido.

Não acredites que as vitóriasdas quais foste investido para oConsulado devam ser atribuídasexclusivamente ao teu gênio mi-litar e político. A Vontade do Se-nhor expressa-se nas circunstânciasda vida. Unge-te de coragem paragovernar sem ambição e reger semódio.

Recorre à oração e à humil-dade para que te não arro-

jes aos precipícios da ti-rania e da violência!...

Indicado paraconsolidar a paz e asegurança, neces-sárias ao êxito doabnegado apóstoloque descortinará aera nova, serás vi-

sitado pelas mons-truosas tentações do

poder.Não te fascines pela

vaidade que buscará coroar--te a fronte... Lembra-te de que o

sofrimento do povo francês, perse-guido pelos flagelos da guerra civil,é o preço da liberdade humana quedeves defender, até o sacrifício.

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Não te macules com a escravi-dão dos povos fracos e oprimidos enem enlameies os teus compromis-sos com o exclusivismo e com avingança!...

Recorda que, obedecendo a in-junções do pretérito, renasceste pa-ra garantir o ministério espiritualdo discípulo de Jesus que regressa àexperiência terrestre, e vale-te daoportunidade para santificar os ex-celsos princípios da bondade e doperdão, do serviço e da fraternida-de do Cordeiro de Deus, que nosouve em seu glorificado sólio de sa-bedoria e de amor!

Se honrares as tuas promessas,terminarás a missão com o reconhe-cimento da posteridade e escalaráshorizontes mais altos da vida, mas,se as tuas responsabilidades foremmenosprezadas, sombrias afliçõesamontoar-se-ão sobre as tuas horas,que passarão a ser gemidos escurosem extenso deserto...

Dentro do novo século, come-çaremos a preparação do terceiromilênio do Cristianismo na Terra.

Novas concepções de liberdadesurgirão para os homens, a Ciênciaerguer-se-á a indefiníveis culminân-cias, as nações cultas abandonarãopara sempre o cativeiro e o tráficode criaturas livres e a religião desa-tará os grilhões do pensamento que,até hoje, encarceram as melhores as-pirações da alma no inferno semperdão!...

Confiamos, pois, ao teu espíri-to valoroso a governança políticados novos eventos e que o Senhorte abençoe!...

Cânticos de alegria e esperançaanunciaram nos céus a chegada doséculo XIX e, enquanto o Espíri-to da Verdade, seguido por váriascoortes resplandecentes, voltava pa-

ra o Alto, a inolvidável assembléiase dissolvia...

O apóstolo que seria AllanKardec, sustentando Napoleão nosbraços, conchegou-o de encontroao peito e acompanhou-o, bondo-samente, até religá-lo ao corpo decarne, no próprio leito.

Em 3 de outubro de 1804, omensageiro da renovação renascianum abençoado lar de Lião, mas oPrimeiro-Cônsul da República Fran-cesa, assim que se viu desembaraça-do da influência benéfica e proteto-ra do Espírito Allan Kardec e deseus cooperadores, que retomavam,pouco a pouco, a integração com acarne, confiantes e otimistas, en-galanou-se com a púrpura do man-do e, embriagado de poder, pro-clamou-se Imperador, em 18 demaio de 1804, ordenando a Pio VIIviesse coroá-lo em Paris.

Napoleão, contudo, conver-tendo celestes concessões em aven-turas sanguinolentas, foi apressada-mente situado, por determinaçãodo Alto, na solidão curativa deSanta Helena, onde esperou a mor-te, enquanto Allan Kardec, apa-gando a própria grandeza, na hu-mildade de um mestre-escola, mui-ta vez atormentado e desiludido,como simples homem do povo,deu integral cumprimento à divinamissão que trazia à Terra, inaugu-rando a era espírita-cristã, que, gra-dativamente, será considerada emtodos os quadrantes do orbe comoa sublime renascença da luz para omundo inteiro.

Irmão X

Fonte: XAVIER, Francisco C. Cartas eCrônicas. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB,2002, cap. 28, p. 121-127.

A missão de Kardec

“Amissão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos.Previno-te de que é rude a tua, porquanto se trata de abalare transformar o mundo inteiro. Não suponhas que te baste

publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tran-qüilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa. Suscitarás contra tiódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver--te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mes-ma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruçõesserão desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob opeso da fadiga; numa palavra: terás de sustentar uma luta quase con-tínua, com sacrifício de teu repouso, da tua tranqüilidade, da tua saú-de e até da tua vida, pois, sem isso, viverias muito mais tempo. Orabem! não poucos recuam quando, em vez de uma estrada florida, sóvêem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para tais missões,não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para agradar aDeus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que ele abate os orgu-lhosos, os presunçosos e os ambiciosos. ” (...)

Espírito Verdade

Fonte: KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004,p. 282-283.

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P. – Como iniciou suas ativi-dades no Movimento Espírita?

Jason – Nascido no seio deuma família espírita eu obtive faci-lidades na minha caminhada rumoao Movimento Espírita de nossoEstado. Próximo dos trinta anos deidade já assumia a presidência daSociedade Espírita Caminho da Luz,de Porto Alegre, iniciando, assim,os primeiros contatos com a unifi-cação em nossa cidade. A generosi-dade do tempo foi me colocan-do em outras funções nos demaisórgãos de unificação da Federa-ção Espírita do Rio Grande do Sul(FERGS). Contudo, foi somenteem 1986 que tivemos condiçõespara participar mais ativamente daDiretoria Executiva da nossa Fede-rativa Estadual, chegando à sua vi-ce-presidência em 1988 e à presi-dência em 1992.

Transitamos, portanto, pela di-retoria de Centro Espírita, pelaUnião Distrital, pelo ConselhoDeliberativo Estadual da Federa-ção, por Departamentos e pelavice-presidência e presidência daFERGS por mais de uma vez. Foi,portanto, uma jornada de muitosanos no Movimento Espírita denosso Estado. Hoje, já caminhandopara o tempo que me resta da atualexistência, posso afirmar aos leito-res que valeu a pena.

P. – E que fato o estimulou aotrabalho de unificação?

Jason – No meu caso, o traba-lho de unificação não foi uma jane-la que se abriu precocemente. Nãoocorrendo, assim, um fato determi-nante que me conduzisse para essaárea de trabalho espírita. Podemosdizer que tudo aconteceu natural-mente e por etapas. Eu acho atéque isso foi muito bom porque oamadurecimento foi acontecendoprogressivamente, permitindo quea janela da consciência espírita fos-se aberta com a velocidade deseja-da, isto é, sem atropelos.

Para aqueles que estão inician-do esse processo na área do Mo-vimento Espírita, eu posso lhes co-locar que é uma imensa honra aden-trar por esse caminho e trabalhar res-ponsavelmente pela solidificaçãocada vez maior do Espiritismo em

nossa sociedade. As trocas de expe-riências são enormes, aprende-semuito.

P. – Quais são as principais li-nhas de atuação da FERGS?

Jason – As principais linhas deatuação de cada área, e que absor-vem a nossa atenção periodicamen-te, podem ser divididas da seguintemaneira: a) área administrativa: am-pliação de nosso campo editorial;qualificação operacional de nossaestrutura administrativa; obtençãode recursos financeiros; b) área dou-trinária: aprimoramento do ESDEnos Centros Espíritas; aprimora-mento das demais atividades nosCentros Espíritas; c) área da uni-ficação: estabelecimento cada vezmelhor dos canais de comunicaçãocom as instituições espíritas; reali-zação dos diversos cursos de capaci-tação administrativa para dirigentesespíritas, emanados da FEB.

O nosso modelo de gestãofacilita, sobremaneira, a obtençãomais rápida de resultados. Temostrês reuniões por ano com as lide-ranças das Uniões e dos ConselhosRegionais, e a Diretoria Executivadesloca-se para todas as treze regiõese lá realiza uma reunião de trabalhocom os dirigentes espíritas daquelaslocalidades.

P. – No momento qual é a prio-ridade da FERGS?

ENTREVISTA: JASON DE CAMARGO

A honra de trabalhar pelo EspiritismoJason de Camargo considera que o Movimento Espírita está robusto e em franco progresso e que

é honroso trabalhar responsavelmente pela solidificação cada vez maior do Espiritismoem nossa sociedade

Jason de Camargo

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Jason – Naquele tempo o Co-dificador já se preocupava em man-ter a Unidade de Princípios e aUnidade de Ação. A FERGS estájustamente tentando estabelecer, ca-da vez mais, a unidade do nossoMovimento Espírita Estadual. Paraisso, já realizamos uma série de reu-niões para analisar o trabalho de-senvolvido desde o Centro Espíritaaté os Departamentos da DiretoriaExecutiva, passando pelos órgãosintermediários como as Uniões eConselhos Regionais Espíritas.

No momento, estamos justa-mente com essa prioridade: catalo-gar todos esses elementos a fim deestabelecer um planejamento maisabrangente para todo o MovimentoEspírita Estadual, discutindo desdeo modelo de gestão dos Centros Es-píritas, das Uniões e dos ConselhosRegionais e tentando atualizar a for-ma de atuação dos diversos departa-mentos de nossa Diretoria Executi-va.

P. – Qual a motivação que olevou a iniciar a proposta de edu-cação dos sentimentos?

Jason – A bem da verdade, aidéia original da proposta sobre aeducação dos sentimentos surgiupor ocasião de uma prece que eurealizava na sede da FERGS em1995. Pela consistência de como elase apresentava, percebi o auxílio es-piritual e aproveitei para sugerir ànossa Diretoria a realização de umtrabalho voltado a essa temática.

Não obstante, é bom destacarque o próprio Allan Kardec levan-tou, por várias vezes, a necessidadede aperfeiçoarmos os sentimentos.Ponderou, ainda, que o crescimentoda educação racional foi obtido gra-ças ao investimento realizado nessaárea e que obteríamos resultados se-

melhantes se fizéssemos o mesmocom a educação moral. Dessa forma,só iremos atingir uma melhor com-pletude espiritual quando educar-mos convenientemente os sentimen-tos que jazem, em estado potencial,nas profundezas do espírito.

Significa dizer que a DoutrinaEspírita veio para auxiliar no desen-volvimento integral e harmônicodo ser humano, obtido pela conju-gação razão–sentimentos.

P. – O livro de sua autoria tempenetrado em áreas leigas?

Jason – Após a realização demuitos seminários, conferências ecursos a respeito desse assunto é quesurgiu o livro Educação dos Senti-mentos, em 2001. Graças à parceriaentre a Editora Francisco Spinelli daFERGS e a editora não espírita AGEpossibilitou-se a chegada desse livroa centenas de livrarias de nosso país.Conseguimos, dessa maneira, atin-gir o meio espírita por intermédiode nossa Editora, e o meio leigoatravés da AGE.

Vale ainda dizer que o livroEducação dos Sentimentos já se en-contra em sua 6ª edição e que játransita pela Argentina com umaversão em espanhol, obtida com oselo da Cuatro Vientos Editorias deBuenos Aires.

P. – Como analisa o desenvolvi-mento do Movimento Espírita noPaís?

Jason – O Movimento Espíri-ta no País está se organizando. Uni-cidade de projetos, de idéias, dequestões doutrinárias e operacionaisvai sendo solidificada a olhos vistos.É evidente que a alternância de li-deranças e a complexidade da estru-tura administrativa do MovimentoEspírita dificultam um pouco o tra-balho de unificação no território

nacional. Nas demais organizaçõesreligiosas existe um poder centrali-zador maior e um menor númerode estruturas intermediárias, o queencurta o caminho entre o centrode decisões e as pontas (igrejas). Emnossa estrutura o sistema é do tipodescentralizado e o processo admi-nistrativo é mais longo. Logo, onosso trabalho é de resultados maislentos, mesmo porque o conheci-mento do conteúdo espírita é maisamplo e de grande profundidade, eisso demanda maior tempo de ab-sorção.

Não obstante, com o aumentoatual da velocidade na comunicaçãode todas as partes do sistema, ob-serva-se um andamento melhor doMovimento Espírita como um to-do. Acho que a mudança da sededa FEB para Brasília facilitou o mo-delo atual de gestão do ConselhoFederativo Nacional e um novo ci-clo abriu-se para o movimento deunificação. A participação maiordas Federativas nas decisões nacio-nais possibilitou um entrelaçamen-to mais consistente no campo dasidéias e o Movimento se fortaleceucomo um todo. Atualmente pode-mos dizer que o nosso Movimentoestá robusto e em franco progresso.É lógico que muito ainda temosque andar, mas a maturidade dosespíritas irá encontrando os melho-res caminhos. Aproximando-me dotempo que resta da minha existên-cia eu posso dizer a todos que foiuma imensa honra participar doMovimento Espírita brasileiro.Aprendi muito nas trocas de expe-riências que ele me possibilitou e seeu pudesse dizer alguma coisa paraos que estão chegando, diria quedignifiquem a Doutrina Espíritacom as suas atitudes.

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ADoutrina Espírita veio demo-lir as barreiras que separam oshomens dos Espíritos, para

que eles possam entender-se melhor.É através desse entendimento,

pelo intercâmbio mediúnico, queos habitantes do outro mundo trans-mitem as suas orientações, apontan-do os rumos que devemos tomar.Esta realidade nos traz bastanteconforto e segurança, pois, assim,nos sentimos bem firmes em nossatrajetória evolutiva, certos de queseres invisíveis, obedecendo às de-terminações de um Poder Maior,cuidam zelosamente de nós a cadapasso da vida terrena.

Contudo, não obstante esta-rem bem cientes e crentes dessasverdades, muitas pessoas há que porfalta de um estudo mais profundosobre o mundo que as aguarda de-pois da morte julgam que a vidaespiritual é um eterno vazio, conse-qüentemente sem luz, sem cores,sem atividades e sem destino. Atémesmo um vácuo absoluto.

É ledo engano!A Filosofia Espírita ensina – e

nós não temos a menor dúvida –,que a vida eterna, como costumei-ramente se diz, é um mundo tãoreal quanto o material em que vive-mos, com formas, luz própria, co-res, atividades mais diversificadas,agrupamentos, pequenas e grandescomunidades, colônias diversas, etudo isso com os seus núcleos ad-ministrativos, em tudo por tudo se-melhantes às organizações terrestres.

Os habitantes do mundo invisí-vel, que são os homens despidos dasvestes físicas, continuam com as suasaparências. Eles vivem em uma di-mensão que não é de matéria bruta,densa, mas fluídica, em estado maisrarefeito ou grosseiro, que compõe aatmosfera onde habitam, de acordocom o grau de evolução de cada um.

Na Revista Espírita de 1868,página 166 (EDICEL), Allan Kar-dec elucida o tema: “Os fluidos es-pirituais, que constituem um dosestados do fluido cósmico univer-sal, são, a bem dizer, a atmosferados seres espirituais.”

O Espírito André Luiz, atravésda mediunidade de Chico Xavier,ao descrever, em suas magníficasobras, as organizações da vida posmortem, confirma o que Kardec dizacima.

Dessa forma, as elucidações doCodificador do Espiritismo, relati-vas ao tema em foco, são amplas eprofundas.

Ele afirma que os fluidos queformam o ambiente espiritual são,para os Espíritos, o que os materiaisrepresentam para os homens, aquina crosta da Terra, para o levanta-mento das suas construções. Acres-centa que, com o poder da vontadee a força do pensamento, eles cons-troem no mundo espiritual as mes-mas coisas que os homens edificamno plano material e que, utilizando--se dos mesmos recursos, desfazemas coisas com a facilidade com queas constroem.

De acordo com os esclareci-mentos de Allan Kardec – e que oscéticos estão muito distantes decompreender –, o poder, o domí-nio, o controle que os Espíritos têmsobre os fluidos, a facilidade comque combinam os elementos fluídi-cos são tão fantásticos que bastamentalizarem uma paisagem, umquadro artístico, um projeto ouquaisquer outras coisas, para quetomem as aparências desejadas. Pe-lo pensamento, como diz o Codifi-cador, os Espíritos aglomeram flui-dos e dão-lhes tal ou qual direção,bem como provocam combinaçõese dispersões, e criam fluidicamenteos objetos dos seus hábitos ter-restres.

A temática está bem dissecadaem O Livro dos Médiuns, cap. VIII– “Do Laboratório do Mundo In-visível”, em A Gênese, cap. XIV,bem como na citada Revista Espí-rita (p. 167): “Os fluidos são [nodizer de Kardec], o grande atelierou o laboratório da vida espiritual.”

A questão em estudo, por seruma realidade própria do mundoespiritual, infelizmente continua re-jeitada pela preconceituosa Ciênciados homens. Mas, no futuro e porforça da lei do progresso, com cer-teza os sábios se interessarão e seaprofundarão nos estudos das leisque regem os fluidos, os quais tam-bém representam aperfeiçoados es-tados da matéria cósmica universal,conforme ensinamento de AllanKardec no citado livro A Gênese.

Os Espíritos e os fluidosSeverino Barbosa

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Émuito difícil a uma pessoa quefoi acostumada a uma religiãocom rituais despojar-se de to-

das essas práticas ao ingressar nashostes espíritas. Também muitos,que desde o berço foram encami-nhados para a Doutrina Espírita,mas que trazem de outras vidas umpassado religioso ligado a ritos, dog-mas e manifestações devocionaisexteriores, têm dificuldade de vi-venciar a simplicidade e o despoja-mento que os ensinos espíritas apre-sentam, pelo atavismo muito pre-sente.

A maioria das pessoas aindasente a necessidade de cultuar ima-gens, símbolos, mitos, atitudes, en-fim, com as quais julgam evidenciare fortalecer a fé. Soma-se a isso ocondicionamento imposto pela so-ciedade, já que a maioria faz assim,age desse modo, diz que esse é omelhor processo, numa tradição ar-raigada que se transmite de geraçãoa geração.

Vindo para o Espiritismo, taispessoas carregam consigo todos es-ses hábitos, que se transformaram, àcusta de constante repetição, numasegunda natureza. Agem automati-camente e torna-se-lhes dificílima aincorporação de novos hábitos to-talmente opostos. É preciso tempo,esclarecimento e força de vontade.

Muitas destas práticas devocio-nais ostensivas são mais facilmentesuprimidas. Outras, entretanto, maissubjetivas, permanecem firmes, en-quistadas na alma do crente, vindoa aflorar nos exatos momentos emque surge o estímulo através de si-tuações propícias.

Assim, não é raro encontrarmosaqueles que, nas Casas Espíritas,ainda estão apegados às imagens;outros consideram imprescindívelaos médiuns o uso das roupas bran-cas; os que recomendam tambémos banhos de sal grosso ou de péta-las de rosas brancas como prepara-ção para os trabalhos mediúnicosetc.

Ultimamente, outras novida-des surgiram: os cristais, a cromote-rapia, as pirâmides, os incensos etc.

Muitos não se libertaram doculto aos mortos, que se manifestaatravés da visitação periódica ao ce-mitério, onde pensam encontrarjunto ao túmulo aqueles que parti-ram, com ênfase especial para o “diade finados”.

Em relação à morte, o desape-go dessas práticas é bastante cus-toso. Uma semana após o funeralde um ente querido, os parentescrêem ser imprescindível uma pre-ce em plena reunião pública doCentro Espírita, isto quando nãosolicitam um culto especial em ho-menagem ao falecido. Muitos com-panheiros ficam até ressentidos coma instituição espírita que não adotatais práticas, julgando ser indiferen-

ça, ingratidão ou pouco apreço an-te a dor que estão sentindo.

O mesmo ocorre nas datas fes-tivas. Quando nasce uma criançanão conseguem entender por quenão se faz uma prece no Centro embenefício do Espírito que acaba dereencarnar. Se há um casamento al-vitram a possibilidade de uma reu-nião na Casa Espírita para que sefirme o enlace espiritual. Julgamque os Mentores da Casa devem virabençoar a criança que nasce, o ca-sal que se une, o Espírito que se foi.Concessões vão sendo feitas paramelhor atender a essas necessidadese agradar ao público.

Respeitamos profundamenteos sentimentos que ainda estão en-raizados na alma do povo. Mas, emDoutrina Espírita não se pode con-temporizar ou haver omissão comvistas às práticas exteriores. Atravésdos seus ensinamentos entendemosque todas essas demonstrações reli-giosas são absolutamente desneces-sárias.

Manoel Philomeno de Miran-da, em seu livro Nos Bastidores daObsessão, psicografia de DivaldoFranco, trata exatamente desse as-sunto, no capítulo 16 (Ed. FEB),registrando as explicações de JoséPetitinga, o insigne espírita baiano,quando interrogado por um jovemespírita nas vésperas de seu casa-mento, sobre se no Espiritismo nãodeveria haver uma cerimônia qual-quer para comemorar os grandesacontecimentos da vida. É oportu-

Práticas exterioresSuely Caldas Schubert

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na a sua resposta, da qual transcre-vemos alguns trechos:

“ – O Espiritismo é a Doutri-na de Jesus, em espírito e verdade,sem fórmulas nem ritos, sem apa-rências nem representantes, semministros. É a religião do amor e daverdade, na qual cada um é respon-sável pelos próprios atos, respon-dendo por eles, conforme o conhe-cimento que tenha da Imortalida-de, dos deveres. ‘É a Religião da Fi-losofia, a Filosofia da Ciência e aCiência da Religião’, conforme pre-dicou Vianna de Carvalho em nos-sa Casa, com justas razões. Não sefirma em enunciados estranhos àBoa Nova e tudo quanto os Espíri-tos informaram ao MissionárioAllan Kardec se encontra funda-mentado nos Evangelhos. ......................................................

– E não poderíamos [pergun-tou o noivo, interessado em ouvir aopinião de Petitinga sobre o assun-to] formular uma oração de ação degraças em momentos que tais?

– Sim, orar, podemos fazê-lo,porém, na intimidade dos corações,no silêncio do quarto. Uma oraçãopública requer sempre alguém maisbem adestrado, de verbo fácil e ins-pirado. Assim, iremos transferindopara outrem o que nos cabe fazer. Ecomo orar é banhar-se de luz e pe-netrar-se de paz, pela decorrente co-munhão com o Alto, devemos fa-zê-lo, nós mesmos, cada um, emparticular. Que os compromissadoso façam, está muito bem; que osnubentes o realizem, na intimidadeda alcova, é de necessidade; que osaniversariantes o produzam, no al-tar da alma, é muito justo. Mas evi-temos hoje que a nossa emoção e anossa festividade sejam transforma-das amanhã num culto exterior, que

tenhamos começado... Cada um denós, aqui presente, deve estar emoração silenciosa de bons pensa-mentos, em atitude de prece pelasobriedade dos atos, mediante o res-peito moral e fraternal que nos de-vemos todos uns aos outros... O Es-piritismo é a religião que religa,permitam-nos a redundância, acriatura ao Criador, interiormente...Que tenhamos mais atitudes doque palavras !...”

O Espiritismo leva o ser hu-mano a uma profunda vivência in-terior, o que para grande númerode pessoas é difícil alcançar. Preci-sam ainda de sinais exteriores, depráticas evidentes, de demonstra-ções ostensivas. Entretanto, quan-do começamos a apreender a Dou-trina e a introjetá-la em nosso ín-timo, vamos aos poucos nos despo-jando de todas as exterioridades.Quando a nossa fé se solidifica, porracional e lógica, temos a certeza doamparo Divino, da presença dosAmigos Espirituais, da realidade davida futura, dos ensejos redentoresque a reencarnação propicia, certe-

zas estas que nos plenificam de es-peranças ante o porvir que se iniciano minuto que vem.

Lembremo-nos sempre que nãohá necessidade de quaisquer cerimô-nias para que os Benfeitores Espiri-tuais nos amparem, ajudem, socor-ram e amem. É preciso apenas onosso pensamento em prece e o nos-so coração sintonizado com o Bem.

E diante dos grandes aconteci-mentos de nossa existência, aprenda-mos que é no recesso do lar, na inti-midade do nosso coração e juntoaos entes que amamos, no altar no-bre dos nossos sentimentos mais ele-vados, que devemos cultuar a Deus.

Se dúvidas ainda existirem, re-cordemos Allan Kardec, o missio-nário da Terceira Revelação, quenão necessitou de símbolos, ceri-mônias e rituais para receber de Je-sus, através dos Espíritos Superio-res, o Consolador que Ele prome-tera à Humanidade. Na austerida-de e sobriedade de seu gabinete detrabalho ele se fez apóstolo da Ver-dade, tendo como únicos paramen-tos a pena e o papel.

CORRESPONDÊNCIA ELETRÔNICA

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ESTES ENDEREÇOS PASSAM A VIGORARA PARTIR DE 1o DE JANEIRO DE 2005

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Aexistência da alma ou Espíri-to, um dos elementos da trin-dade universal, apresenta-se

de dois modos: encarnado no cor-po físico ou emancipado nos espa-ços do Infinito.

Submete-se, em ambas as hi-póteses, a etapas relacionadas como grau de sua evolução. Como serlivre, habita o lugar correspondenteao seu progresso. Quando no corpofísico, a vida do Espírito se subordi-na às fases que caracterizam a infân-cia, a adolescência, a vida adulta e aidade avançada.

As etapas da nossa vida terrenatêm feições nítidas. Cada pessoatem suas características inconfundí-veis da idade, variando pouco aaparência física, embora sem limi-tes certos entre os vários períodos.

O que parece merecer observa-ção e citação é a atividade apropria-da a cada idade, cada qual com seuscaracteres mais ou menos marcan-tes e claros.

Renascemos com finalidadesprevistas pela Divina Providência,para cumprimento das disposiçõesdas Leis Divinas e podemos alcan-çar nosso destino, em consonânciacom os desígnios de Deus, o PaiEterno, Criador de tudo que existe.

A infância é o período em queretomamos o contato com o mun-do material, reencontramos afeiçõese desafetos, muitas vezes dentro domesmo lar. Despertamos na intimi-dade da família trazendo débitos econquistas de vidas anteriores para

retomar o curso da longa via de res-gates e vitórias.

Quase não percebemos a pas-sagem para a adolescência. Acalen-tados, às vezes, com carinho, ingres-samos na nova fase para descobriros segredos do mundo, inteiramen-te esquecidos das estradas já percor-ridas, e supomos desvendar misté-rios já outrora desfeitos por nósmesmos. O esquecimento do passa-do é o meio pelo qual a Sabedoria,a Justiça e o Amor Divinos nos dãoensejo de encontrar o caminho cer-to, de retificar enganos por nossopróprio esforço, independentemen-te do conhecimento das ações antespraticadas, a fim de que possamosrecolher o mérito correspondenteou responder pelos erros cometidos.

Da adolescência vislumbramoso início da fase de adulto, nesseponto já com a reencarnação total-mente consolidada e a alma plena-mente apta para as ações que digni-ficam e enobrecem a vida. É pre-cisamente nesse período que deve-mos ter completa consciência dosverdadeiros valores que enriquecema alma imortal. Mas ocorre com fre-qüência que é justamente nessa oca-sião que a influência da matéria cos-tuma exercer nefasto domínio sobreo comportamento das pessoas. Ilu-didas pelos prazeres que os bens ma-teriais proporcionam, esquecem-sede Deus, dos valores morais impe-recíveis. Muitas falências do Espíri-to encarnado são decretadas exata-mente quando o corpo físico, ondetransitoriamente habita, está mais

habilitado para a prática do bem, doamor a Deus e ao próximo.

A transição da idade adulta pa-ra a avançada traz desassossegospara algumas pessoas. É comumencontrá-las inquietas, amedronta-das, tristes, desiludidas etc., com aaproximação do que se considera oúltimo período da existência. Tudoisso é conseqüência da incerteza davida futura.

A Doutrina dos Espíritos nostraz a certeza da existência de Deuse da alma. Ensina a eternidade davida do Espírito e mostra exuberan-temente a sua continuação depoisdo túmulo. As luzes e as consola-ções que essa Doutrina oferece so-correm a todos em todos os mo-mentos, antes e depois do berço eda sepultura. Quanto mais nosaproximarmos dela mais benefíciospodemos recolher.

Sabemos que a morte do corpofísico pode ocorrer em qualquerocasião, desde antes do seu nasci-mento até a idade provecta. O ins-tante em que se dará o desenlace so-mente Deus o sabe.

A Doutrina Espírita ilumina avida eterna do Espírito e esclarecesobre a morte do corpo somático.Faculta-nos os meios e modos denos pouparmos aos receios excessi-vos da morte pelo estudo e com-preensão desse fenômeno inexorá-vel, pelo conhecimento de seuspostulados. Resguarda-nos de mui-tas angústias, tristezas e desânimosatravés do esclarecimento e da con-solação que esparge exuberante-mente. Além de nos privar de mui-tos sofrimentos, o Consoladorassenta na alma e no coração dascriaturas a certeza e a esperança, in-dicando a senda da evolução para ofuturo ditoso.

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Fases da vidaWashington Borges de Souza

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Recapitulações“Porque amavam mais a glória doshomens do que a glória de Deus.”

– (João, 12:43.)

Os séculos parecem reviver com seus resplendores e decadências.

Fornece o mundo a impressão dum campo onde as cenas se repetem constante-

mente.

Tudo instável.

A força e o direito caminham com alternativas de domínio. Multidões esclareci-

das regressam a novas alucinações. O espírito humano, a seu turno, considerado insu-

ladamente, demonstra recapitular as más experiências, após alcançar o bom conheci-

mento.

Como esclarecer a anomalia? A situação é estranhável porque, no fundo, todo ho-

mem tem sede de paz e fome de estabilidade. Importa reconhecer, porém, que, no cur-

so dos milênios, as criaturas humanas, em múltiplas existências, têm amado mais a gló-

ria terrena que a glória de Deus.

Inúmeros homens se presumem redimidos com a meditação criteriosa do crepús-

culo, mas... e o dia que já se foi? Na justiça misericordiosa de suas decisões, Jesus con-

cede ao trabalhador hesitante uma oportunidade nova. O dia volta. Refunde-se a exis-

tência. Todavia, que aproveita ao operário valer-se tão-somente dos bens eternos, no

crepúsculo cheio de sombras?

Alguém lhe perguntará: que fizeste da manhã clara, do Sol ardente, dos instru-

mentos que te dei? Apenas a essa altura reconhece a necessidade de gloriar-se no To-

do-Poderoso. E homens e povos continuarão desfazendo a obra falsa para recomeçar

o esforço outra vez.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida. 23. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003,

cap. 33, p. 81-82.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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“A fé inabalável só o é a que po-de encarar frente a frente a ra-zão, em todas as épocas da Hu-manidade.” 1

Em torno da fé existem inúme-ras afirmativas negando-lhe ocaráter racional. Segundo al-

guns teólogos, raciocina-se sobre acrença, mas não sobre a fé. A fé, se-gundo eles, é uma virtude, um domque transcende a própria razão.

Por colocarem-na como virtu-de ou dom transcendental, perten-cente exclusivamente à área do sen-timento, é que muitas pessoas con-fundem emoção com fé. Por isso, écomum pessoas dizerem ter sentidouma fé imensa, capaz de levá-las agrandes realizações, no momentoem que ouviam o relato de passa-gens do Evangelho, ou de ações le-vadas a efeito por benfeitores daHumanidade, ou até mesmo emdecorrência da simples leitura deuma página edificante. A emoção,a vibração espiritual que os atos no-bres suscitam nas almas já portado-ras de alguma sensibilidade não po-de ser confundida com fé. O estadoemocional é transitório, enquantoa fé é permanente. A emoção, seanalisada e orientada pela inteligên-cia, pode ser auxiliar valiosa para le-var a criatura a modificar-se paramelhor. Entretanto, se não for es-clarecida pela razão pode conduzirao fanatismo, à chamada fé cega,que é a negação da própria fé.

O mundo está cheio de exem-plos tristes dos frutos do fanatismoreligioso. Em nome da fé, quantasperseguições, quantas mortes e atéguerras? Ainda nos dias atuais, prin-cipalmente na semana santa, exis-tem pessoas que vertem seu própriosangue, ferindo seus corpos, ou seentregam a privações terríveis nointuito de mostrar sua fé em Deus.Se raciocinassem, veriam que Deus,como Pai amoroso, bom e miseri-cordioso, nunca poderia ser home-nageado com o derramamento dosangue dos Seus filhos. Essa con-cepção de um deus sanguinário,combateu-a o profeta Elias, oito sé-culos antes de Jesus, quando en-frentou os sacerdotes adoradores dodeus Baal. (I Reis, 18: 22-46.)

Aprende-se no Espiritismo que,na sua caminhada evolutiva, o Es-pírito vai conhecendo as leis deDeus, vai percebendo-lhes a perfei-ção e, quanto mais as conhece, maisse identifica com elas, mais confiana justiça e no amor do Criador,mais se conscientiza da Sua perfei-ção, mais tem fé. Essa a fé que nas-ce do entendimento. Inabalável, in-destrutível.

Emmanuel ensina: “Ter fé éguardar no coração a luminosa cer-teza em Deus, certeza que ultrapas-sou o âmbito da crença religiosa, fa-zendo o coração repousar numaenergia constante de realização di-vina da personalidade.

Conseguir a fé é alcançar apossibilidade de não mais dizer: ‘eu

creio’, mas afirmar: ‘eu sei’, com to-dos os valores da razão, tocados pe-la luz do sentimento (...).”2

A fé que o Espiritismo preco-niza não é uma fé contemplativa,capaz de levar uma pessoa à imobi-lidade, em situações de êxtase, emque fica aguardando providênciasde Deus em seu favor. Ao contrário,é uma fé dinâmica, edificada vaga-rosa e conscientemente pelo Espíri-to, à medida que evolui, conformeensina Emmanuel:

“A árvore da fé viva não cresceno coração, miraculosamente. ......................................................

A conquista da crença edifican-te não é serviço de menor esforço.

A maioria das pessoas admiteque a fé constitua milagrosa auréo-la doada a alguns espíritos privile-giados pelo favor divino.”3

A fé espírita não é aquela quese fixa em objetos materiais comocruzes, escapulários, bentinhos, ta-lismãs, amuletos, medalhas etc. Oespírita tem fé em Deus, em Jesus,nos bons Espíritos, entidades dota-das de sentimento e de inteligência,seres capazes de movimentar recur-sos em seu favor. Essa fé é muito di-ferente da crença infantil num pre-tenso poder mágico de objetosmateriais, que não poderiam jamaismovimentar, com inteligência esentimento, recursos em benefíciode alguém.

Entretanto, é lícito se indaguesobre a origem da fé raciocinada.Teria ela nascido com o Espiritis-

Fé raciocinadaJosé Passini

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mo? Não, a fé raciocinada nos vemde Jesus, dos ensinamentos do seuEvangelho. O Mestre mudou com-pletamente o próprio conceito dereligião, introduzindo no campo atéentão puramente emocional da fé ocomponente razão, entendimento.Ninguém, até Jesus, fez tantos ape-los ao raciocínio no âmbito reli-gioso. Kardec, conhecedor profun-do da atuação de Jesus, conhecia-o,não como um místico, mas comoum educador de almas que, ao tem-po em que tocava o sentimentodaqueles que o ouviam, sabia tam-bém levá-los ao entendimento daslições. Por isso, tem a Doutrina Es-pírita essa característica de racio-nalidade. E não podia ser de outraforma, uma vez que ao Espiritismocoube o papel de reviver o Cristia-nismo na sua pureza, simplicidadee pujança originais.

Jesus nunca explorou a emoçãode ninguém. Sua fala, mansa e hu-milde, precisa e firme, era dirigidaao sentimento e à inteligência. Suaslições foram sempre pautadas nodiálogo, através do qual propunhao exame racional daquilo que ensi-nava.

Censurado por haver curadouma mulher paralítica num sábado,bem poderia deixar que a própriacura falasse por ele, mas não perdeua oportunidade de, através de umapergunta, fazer pensar aqueles queo ouviam: “(...) no sábado não des-prende da manjedoura cada um devós o seu boi, ou o jumento, e nãoo leva a beber? E não convinha sol-tar desta prisão, no dia de sábado,esta filha de Abraão, a qual há de-zoito anos Satanás a tinha presa?”(Lucas, 13:15-16.)

De outra feita, ele próprio per-guntou aos doutores da lei, antes de

curar um homem: “É lícito curarno sábado?” (Lucas, 14:3.) Comonão respondessem, Jesus curou ohidrópico e o despediu. Depois, elevolta a inquiri-los, a fim de cons-cientizá-los de que acima da letramorta há uma interpretação racio-nal, inteligente: “Qual será de vós oque, caindo-lhe num poço, em diade sábado, o jumento ou o boi, onão tire logo?” (Lucas, 14:5.)

“E, orando, não useis de vãsrepetições (...).” (Mateus, 6:7.) Quero Mestre dizer que devemos orarcom plena consciência daquilo quefalamos, que a nossa oração não se-ja uma repetição emocional de umafórmula decorada, como se fosse al-go recitado ou declamado. Ao con-trário, que seja uma mensagemconscientemente elaborada, comum conteúdo de comunicação diri-gida ao Alto.

Jesus, ao conversar com a sa-maritana, à beira do poço de Jacó,demonstra que não necessitava deinquirir alguém para informar-se dealgo. Ali deixa claro para ela que lheconhecia o passado. (João, 4:17.)Entretanto, freqüentemente faziaperguntas para suscitar dúvida noseu interlocutor, a fim de fazê-lopensar, raciocinar e não receber pas-sivamente um ensinamento: “Qualé mais fácil? dizer: Os teus pecadoste são perdoados; ou dizer: Levan-ta-te, e anda?” (Lucas, 5:23.)

Ao invés de fazer um discursoeloqüente e emocionado sobre aProvidência Divina, o Mestre bus-ca, através de perguntas, levar seusouvintes a pensarem, a raciocina-rem sobre Deus. Depois de lhes terfalado sobre os lírios do campo, di-zendo que Deus os veste, e compa-ra sua vestimenta ao luxo do reiSalomão: “Pois, se Deus assim ves-

te a erva do campo, que hoje existee amanhã é lançada no forno, nãovos vestirá muito mais a vós, ho-mens de pouca fé?” (Mateus, 6:30.)

“E qual dentre vós é o homemque, pedindo-lhe pão o seu filho,lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhepeixe, lhe dará uma serpente? Sevós, pois, sendo maus, sabeis darboas coisas aos vossos filhos, quan-to mais vosso Pai, que está nos céus,dará bens aos que lhos pedirem?”(Mateus, 7:9-11.) Também por es-sa passagem pode-se ver que Jesusnão buscava levar ninguém a umaadoração emotiva, a uma fé cega.Ele poderia ter dito, por exemplo,que se deve ter fé em Deus, Criadorde tudo o que existe, que é bom,amoroso, misericordioso, providen-te etc. Mas não, só isso não bastava.Se ficasse só nessas afirmações, teriasuscitado uma fé passiva. Ele queriafazer as criaturas entenderem, atra-vés de uma comparação, que o To-do-Poderoso deveria ser, necessaria-mente, melhor que um pai terrenoe, portanto, capaz de dar maioresbens aos Seus filhos.

O trecho do Novo Testamentoque mais evidencia o ambiente pe-dagógico, de diálogo, de liberdadede análise, na busca de esclareci-mentos, que Jesus propiciava atodos que lhe ouviam as lições é,certamente, o assim chamado “ATransfiguração”. Registra Mateus,no capítulo 17, que Jesus subiu aum alto monte, acompanhado dePedro, Tiago e João. O Mestre oroue se transfigurou, cobrindo-se deluz, ao tempo em que apareceram –seguramente materializados, poisque os três discípulos os viram –Moisés e Elias, que conversaramcom Ele. Passado o momento subli-me, ao regressarem, o Mestre orde-

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na aos discípulos que não contemnada do que acontecera até que Eleressuscitasse. É de se imaginar-se ocontentamento e a emoção que de-vem ter sentido aqueles discípulosao contemplarem Jesus coberto deluz, Moisés, o pai dos profetas, e ogrande profeta Elias. Entretanto,eles não se detiveram em atitude decontemplação mística, de deslum-bramento. Pelo contrário, o racio-cínio funcionou imediatamente, nabusca de resposta para algo quelhes pareceu estranho: “E os seusdiscípulos o interrogaram, dizendo:Por que dizem então os escribas queé mister que Elias venha primeiro?”(Mateus, 17:10.) Por que a pergun-ta? Ora, havia sido predito pelosprofetas – e os escribas sempre o re-petiam – que o Mestre seria prece-dido por Elias, que voltaria parapreparar-Lhe o caminho. Os discí-pulos, vendo Elias desencarnado,deduziram que algo estava errado:ou as profecias não espelhavam averdade, ou aquele que se apresen-tara e conversara com Jesus não eraElias, ou Jesus não era o Messias! Je-sus, com a tranqüilidade daquelesque detêm a verdade, respondendo,disse-lhes: “Mas digo-vos que Eliasjá veio, e não o conheceram, masfizeram-lhe tudo o que quiseram.Assim farão eles também padecer oFilho do homem.” (Mateus, 17:12.)E, em seguida, conclui o Evangelis-ta: “Então entenderam os discípu-los que lhes falara de João Batista.”(Mateus, 17:13.) Tudo estava certo.A profecia já se havia cumprido.

Diante do que se acabou dever, conclui-se que Jesus foi um pe-dagogo e não um místico. Sabiaatrair seus ouvintes com as docesconsolações da fé, mas não alimen-tava atitudes de deslumbramento

contemplativo, em face dos apelosao raciocínio com que mesclavasuas sublimes lições. Encaminhava--os ao entendimento lógico, racio-nal dos fatos! Jesus, como Mestreadmirável que foi, soube criar umclima de diálogo aberto. Foi essa li-berdade que levou os discípulos abuscarem imediatamente esclareci-mento sobre a aparição de Elias,embora a pergunta formulada poreles contivesse embutido um gravequestionamento, qual seja o da pró-pria condição de Messias do seuMestre. Jesus não se sente agastadoe, com a segurança daqueles que es-tão com a Verdade, os esclarece. As-sim, vê-se claramente que Jesus nãoimpunha suas idéias, não violenta-va consciências, nem exigia fé cega,

sem exame. Não. Sua mensagemsempre foi dirigida ao intelecto e aosentimento, bases legítimas da fé ra-ciocinada, que o Espiritismo veioreviver.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Es-

piritismo, cap. XIX, item 7.

2XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador,

pelo Espírito Emmanuel. 23. ed. Rio de Ja-

neiro: FEB, 2001, perg. 354, p. 200.

3______.Vinha de Luz, pelo Espírito Em-

manuel. 21. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004,

cap. 40, p. 91-92.

4A Bíblia Sagrada. Tradução em português por

João Ferreira de Almeida.

Página de féAlma cansada e triste, alma sincera,Se a dor por noite em lágrimas te alcança,Acende em prece o lume da esperança,Onde o grilhão da mágoa te encarcera!

Ante a sombra que assalta, esfera a esfera,Se surge a ofensa por sinistra lança,Na tormenta do mal que investe e avança,Perdoa, silencia, ajuda, espera!...

Esquecida na cela da amargura,Não te revoltes contra a senda escura.Ergue-te e serve, embora torturada...

Luta, chora, padece, mas confia,Das trevas nasce a bênção de outro diaNas promessas de nova madrugada!...

Auta de Souza

Fonte: XAVIER, Francisco C. Auta de Souza. 9. ed. Araras (SP): IDE, 2001, p. 62.

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No dia 9 de dezembro de 2004, foi lançada, emBrasília, pela Secretaria Especial dos Direitos Huma-nos, do Ministério da Justiça, a cartilha DiversidadeReligiosa e Direitos Humanos, em solenidade de queparticipou a Federação Espírita Brasileira, repre-sentada pelo Vice-Presidente José Carlos da Silva Sil-veira. Transcrevemos a sua apresentação, assinadapelo Ministro Nilmário Miranda, cujo texto de-monstra a importância dessa iniciativa do GovernoFederal:

O Estado Brasileiro é laico. Issosignifica que ele não deve ter, e nãotem religião. Diz o artigo 5o, incisoVI, da Constituição: “É inviolável aliberdade de consciência e de crença,sendo assegurado o livre exercício doscultos religiosos e garantida, na formada lei, a proteção aos locais de culto eas suas liturgias.” A liberdade religio-sa é um dos direitos fundamentais dahumanidade, como afirma a Declara-ção Universal dos Direitos Humanos,da qual somos signatários.

A pluralidade, construída por vá-rias raças, culturas, religiões, permiteque todos sejam iguais, cada um comsuas diferenças. É o que faz do Brasil,Brasil. Certamente, deveríamos, pela diversidade denossa origem, pela convivência entre os diferentes, ser-vir de exemplo para o mundo. No Brasil de hoje, aintolerância religiosa não produz guerras, nemmatanças.

Entretanto, muitas vezes, o preconceito existe e semanifesta pela humilhação imposta àquele que é “di-ferente”. Outras vezes o preconceito se manifesta pelaviolência. No momento em que alguém é humilhado,discriminado, agredido devido à cor ou à sua crença,ele tem seus direitos constitucionais, seus direitos hu-manos violados; este alguém é vítima de um crime –e o Código Penal Brasileiro prevê punição para oscriminosos.

Invadir terreiro de umbanda e candomblé, que,

além de locais sagrados de culto, são também guar-diães da memória de povos arrancados da África e es-cravizados no Brasil, desrespeitar a espiritualidadedos povos indígenas, ou tentar impor a eles a visão deque sua religião é falsa; agredir os ciganos devido àsua etnia ou crença, mesmo motivo que os levou aoquase extermínio na Europa, durante a SegundaGuerra Mundial: tudo isto é intolerância, é discrimi-nação contra religiões. É o contrário do que pretende

o Programa Nacional dos DireitosHumanos.

A presente cartilha, DiversidadeReligiosa e Direitos Humanos, é o re-sultado de quase um ano e meio deum trabalho que contou com a parti-cipação de várias religiões, e que nãose esgota aqui (outras colaborações po-dem ser conferidas no site www.presi-dencia.gov.br/ sedh). Esta cartilha é acontinuidade das muitas ações de ho-mens e mulheres de boa vontade e di-ferentes crenças, que, com suas pala-vras e seus atos, pretendem construirum país, um mundo melhor. Um paíse um mundo em que ninguém sofraou pratique injustiça contra seu seme-lhante. Um mundo e um país de todos.

Ministro Nilmário Miranda(Secretaria Especial dos Direitos Humanos)

A FEB participou das pesquisas para a elaboraçãodessa cartilha, tendo sido representada pelo Vice-Pre-sidente José Carlos da Silva Silveira e Diretoras Mar-ta Antunes de Oliveira Moura e Edna Maria Fabro. Afundamentação doutrinária apresentada, extraída dasobras básicas da Doutrina Espírita, será incluída no si-te acima referido, como também a das diversas deno-minações religiosas.

Assinalamos a inclusão, no documento em refe-rência, do seguinte ensino, extraído da questão 838 deO Livro dos Espíritos: Toda crença é respeitável, quan-do sincera e conducente à prática do bem.

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Diversidade Religiosa e Direitos Humanos

Capa da cartilha

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Avante, amigos e irmãos queri-dos, pois o tempo urge.........Cada dia que vivais em prol

do labor alcandorado do Espiritis-mo, acumulais bênçãos sobre bên-çãos capazes de vos propiciar as ale-luias de tempos novos para o mun-do, tanto quanto de ventura e pazaos próprios corações.

Nos labores que realizais nomundo, bons companheiros, fincaisno solo dos corações humanos ospilares do Reino dos Céus. Socorreios que são vossos dependentes mo-rais e acendereis as luzes da com-preensão e da maturidade, que per-mitirão clarificar a Terra inteira,pouco a pouco, dando conta dosdeveres que vos trouxeram ao chãoplanetário.

Avançai, amigos, destemerosose imponentes, sem ceder às pressõesde quaisquer sombras que, coalha-das sobre o campo psíquico do Pla-neta pela permissão dos caracteresinvigilantes e malévolos, tanto deencarnados quanto de desencarna-dos, insistem em perturbar, inspi-rando temores às mentes dos traba-lhadores ainda frágeis.

Recordai, então, de Jesus, oCristo, quando nos advertiu paraque não temêssemos aqueles quenada podem fazer contra a alma,imortal, ainda que logrem matar ocorpo biológico. Não vos permi-

tais, ó companheiros, a ancilosedos vossos braços e pernas, a indi-ferença dos vossos corações, nema cegueira dos vossos olhos, peran-te as imensas carências humanasdos seres que o Cristo situou emvossos caminhos, a fim de queaprendais a servir, desinteressada-mente, forjando os caracteres nosnéctares da fraternidade e da luci-dez, que estruturam o corpo dacaridade.

O tempo presente, compa-nheiros, representa excelente ensan-cha que a Divindade vos concedepara que possais desenvolver os va-lores mais exuberantes da alma, im-primindo valor aos dias, dando sen-tido às horas, galvanizados peloideal da Doutrina Libertadora, queAllan Kardec teve a glória de mate-rializar na Terra.

Não vos permitais o cansaçoíntimo, diante dos que sejam de di-fícil entendimento ou dos que se ar-rogam todo o saber, todo o bomsenso, encharcados de presunção.Tende paciência para com eles, semconsentir, porém, que sua influên-cia resseque as linfas de entusiasmode vossas almas.

Tende cuidado à frente dosdeveres que vos caibam, e, se osaceitastes deliberadamente, trataide manter ânimo firme e boa von-tade para que tudo seja realizadopor vós sem reclamações ou lamú-rias, com grandeza d’alma e felici-dade.

Nos serviços de Jesus Cristo,

não vos sintais obrigados a atuar.Não cabe constrangimento a quemdeseja atender os propósitos da vi-da. A espontaneidade para traba-lhar costuma libertar-nos dos car-reiros de dor, de duros testemu-nhos, que podemos superar naação do amor com que ajamos.Compreendei que o labor na Searado Cristo, companheiros, deveriaser disputado por nós, perseguindoa honra de formar entre os estafe-tas do Grande Reino de Deus nosolo do mundo.

Valorizai os conteúdos do imor-tal Espiritismo, pondo-vos, dia adia, na esfera venturosa dos seus en-sinos, o que significa implementara sua vivência.

Na oportunidade presente,acompanhado por nossos caros Je-rônymo Ribeiro, Pedro da RochaCosta e Nero Abranches, bem co-mo de tantos outros servidores daSeara Espírita Capixaba, desejoabraçar, com fundo apreço e augú-rios de progressos efetivos, os velhose novos irmãos e amigos da Federa-ção Espírita Brasileira, e afirmo-vosque prossigo, humildemente embo-ra, oferecendo minha empobrecidae despretensiosa cooperação aosseus trabalhos, ansioso por apren-der e crescer, como sempre, postoque das dimensões do Infinito éque melhor compreendemos o bri-lho e a grandíloqua expressão doConsolador que, quando no mun-do, nem sempre conseguimos pene-trar devidamente.

Aos meus bons companheiros

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Eis o tempo que urge. Não vospermitais deter os passos, agora quejá vos sensibilizais, tanto quantonós outros do além, pela presençasolar do Cristo, que o Espiritismofiltra para o nosso necessário en-tendimento.

Eis a hora, amigos. Trabalhaicom afinco e sede felizes.

Abraça-vos o permanente ser-vidor,

Ubaldo Ramalhete

(Mensagem psicografada pelo médiumRaul Teixeira durante a palestra de Di-valdo Franco no Teatro Pedro Calmon doQuartel General do Exército, em Brasília,no dia 21/11/2004.)

Em verdade, esses são dias deconfusões na alma do mundo,causando dificuldades na ação

do bem.Jesus, contudo, já houvera as-

severado que, na Terra, a alma hu-mana só encontraria aflições.

Há sombras que se avolumamno cerne dos seres, promovendo asanha da violência e do crime emtoda parte.

Mas, Jesus afirmara que tantoo homem bom quanto o mau reti-ravam os fundamentos das suasobras dos próprios corações.

Esses são tempos nos quaisidentificamos a devastadora ativida-de do materialismo e a impertinên-cia de interesses egoísticos que es-palham a miséria da guerra.

Entretanto, Jesus estabeleceuque seriam bem-aventurados ospacificadores.

Um agigantado número de in-divíduos, doentes e necessitados devariados matizes, num mundo debilhões de almas, ainda sofre a tor-tura da desconsideração e do aban-dono.

Porém, é bom recordar a açãode Jesus, considerando que Ele afir-

mou não ter vindo para os sãos esim para os enfermos.

Vê-se a hipocrisia que se am-plia nos arraiais planetários, levan-do ao engano, à ilusão, numerosascriaturas, que se entregam inermesà falácia de tantos que, de fala fácil,convincente e de corações ensom-brados, esmeram-se por triunfar noimediatismo do mundo.

Jesus, no entanto, advertiu pa-ra que tivéssemos cuidado com osfalsos profetas, disseminados aqui eali.

Localizam-se atitudes antifra-ternais, expressas por meio de intri-gas, de agressões de vários tipos, deignomínias que estabelecem com-

prometimentos infelizes, provocan-do muito sofrimento e muita frus-tração desalentadores.

Mas, Jesus explicou que se Olevaram à praça do escárnio e aomadeiro infamante, Ele que era oramo verde, o que é que devem es-perar as varas secas que nós repre-sentamos?

Às vezes, o desalento ronda atrajetória dos servos do bem, em ra-zão de tantas e exaustivas pelejascom que se defrontam, como secarregassem o peso do mundo so-bre os ombros cansados.

Porém, vale não olvidar a reco-mendação de Jesus: Tende bom âni-mo!

...

Sejam, então, quais forem osproblemas que se apresentem nospassos do teu caminho terreno, ca-ro amigo, quaisquer que sejam osdesafios que se insurjam na tua ro-ta evolutiva, seja em teu próprio ín-timo, no relacionamento familiarou nas lidas da seara em que traba-lhas a tua fé, terás em Jesus Cristoo ancoradouro seguro para o cora-ção, a orientação e o conforto mo-ral de que necessites. Nele encon-trarás sempre as respostas às tuasinquietações, a fim de que não tealarmes, não te atormentes, mas pa-ra que possas seguir caminho afora,superando as deficiências em tornode ti, cumprindo a parte que te ca-be cumprir na cooperação com aObra de Deus, sob a claridade doConsolador.

Guilherme March

(Mensagem psicografada pelo médiumRaul Teixeira, durante a Reunião Ordi-nária do Conselho Federativo Nacionalda FEB, em 20/11/2004, Brasília-DF.)

O trabalhador e Jesus

Dr. Guilherme Taylor March

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Quando viajavam à Europa,um sério problema tinham osturistas a enfrentar: o câmbio.

Países relativamente próximos, commoedas diferentes, com valores di-ferentes... Eis que surge o euro, amoeda da União Européia implan-tada com boa aceitação pela maio-ria dos países-membros e muitareserva por outros. Já se conta comum Parlamento Europeu, com umaConstituição Européia, e a moedaera o passo mais ousado que faltavana unificação de parte do continen-te europeu. A Suíça ficou de fora doeuro, preferindo continuar com oseu franco, assim como a Inglater-ra, com a sua libra esterlina.

Quando de nossa ida à Europapara participar do 4o Congresso Es-pírita Mundial, em Paris, estivemosna Holanda, na Espanha e em Por-tugal, e temos algumas considera-ções importantes a trazer à tona,para a nossa reflexão sobre o proces-so de unificação que praticamenteenvolve todo o mundo.

Quando de nossa estada naHolanda, ficamos na casa de ami-gos na região da Frislândia, onde sefala um dialeto que os habitanteslocais gostam de dizer que é língua,chamada fris. Ela não é entendidapelos holandeses, mas existem jor-nais diários nesta língua, que é en-sinada na escola daquela região.

Em Paris, passamos por diver-sas experiências em que a barreiralingüística se fez presente, como,por exemplo, quando íamos aosrestaurantes. Paris é a cidade maisvisitada do mundo e os garçons, nomínimo, deveriam falar outra lín-gua para atender bem aos clien-tes do mundo inteiro. Pois não éisso que acontece. Bem perto daCatedral de Notre-Dame existemvários restaurantes onde milhares deturistas fazem suas refeições. Pois lápraticamente só se fala e só se en-tende o francês. Foi o que viven-ciamos.

Chegando na Espanha, fomos,a convite, conhecer a região da Ga-lícia, que faz fronteira com Portu-gal. Mais uma vez a barreira lingüís-tica fez-se presente, dando-nos acerteza de que a unificação da Eu-ropa demorará muito, neste senti-do. Na Galícia fala-se o galego, queé ensinado nas escolas, existindo vá-rios jornais, revistas, estação de TVe várias de rádio, onde o galego éfalado. Por ser uma região autôno-ma da Espanha, a lei local determi-na o estudo e a divulgação não sóda língua, como da cultura galega.

No Dia Nacional da Espanha,12 de outubro, como é feriado, fo-mos visitar Portugal, que fica apouco mais de treze quilômetros deonde estávamos. Lá, em Valença doMinho, conversamos com um co-merciante português que já estevevárias vezes no Brasil, e ele nos in-

formou que a economia daquela ci-dade depende, em grande parte,dos espanhóis, no caso, dos galegos.Enquanto conversávamos, percebe-mos a dificuldade reinante no aten-dimento comercial, pois por diver-sas vezes as palavras não eram en-tendidas pelos portugueses que, cer-tamente, estudam o castelhano, lín-gua adotada oficialmente em toda aEspanha.

...

São, sem dúvida alguma, sinaisde que, sendo o problema lingüísti-co algo bem concreto, palpável, aHumanidade um dia terá, em no-me do Progresso, a sua verdadeiralíngua internacional que, aliás, jáexiste e certamente contribuirá nãosomente para que se atinja a unifi-cação de uma região, de um conti-nente, mas a aproximação de todosos povos do mundo na formação deuma verdadeira família planetária.

Lembramo-nos, então, da des-crição, feita pelo Espírito CamiloCastelo Branco na obra Memóriasde um Suicida*, da aula inauguralde um curso de Esperanto oferecidoaos matriculados no Setor Universi-tário da colônia espiritual em queestagiavam, quando seus mestres en-fatizavam os grandes prejuízos aoprogresso causados pela multiplici-

A FEB E O ESPERANTO

O euro unificou a Europa?Hélio Ribeiro Loureiro

*Psicografada por Yvonne A. Pereira, sob opseudônimo de Camilo Cândido Botelho. Ed.FEB.

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dade dos idiomas nas sociedadesterrenas. Transcrevemos aqui, comoreforço de argumentação, um suges-tivo trecho em que se evidencia agrande esperança depositada no Es-peranto pelas Esferas Espirituais quedirigem os destinos humanos:

“(...) Minúcias, ramificações,conseqüências surpreendentes atémesmo dentro do lar doméstico, em-peços desanimadores, no alonga-mento das relações e até do amor,entre as nações, os povos e os indiví-duos, tudo foi magistralmente exa-minado desde as primeiras civiliza-ções contempladas no planeta até aoséculo XX, que eu próprio não al-cançara no plano material. E, de-pois, a simplificação dos mesmos ca-sos, a remoção das mesmas dificul-dades, a aurora de um progressofranco, também alicerçado na cla-reza de um idioma que será patri-mônio universal, da mesma formaque a Fraternidade e o Amor, unin-do idéias, mentes, corações e esforçospara um único movimento geral,uma gloriosa conquista: – a difusãoda cultura em geral, a aproxima-ção dos povos para o triunfo da uni-dade de vistas, a felicidade dascriaturas! (Cap. “Últimos traços”,p. 667-668 da 2. ed. especial, FEB.)

Foi Lázaro Luís Zamenhofquem nos deixou este legado, comoverdadeiro patrimônio da Humani-dade: uma língua que traz consigouma motivação fraternal, visandoaproximar os homens, uma línguaefetivamente de unificação – o Es-peranto. Que um dia a Humanidadeponha em prática a nobre aspiraçãodaquele missionário da Fraternidade:“Para cada povo, a sua língua. Paratodos os povos, o Esperanto.”

O jornalista e es-critor espírita Aurelia-no Alves Netto desen-carnou no dia 7 deoutubro de 2004, nacidade de Caruaru,Pernambuco. Autor de22 livros e de centenasde artigos inspirados,fruto de rigorosa pes-quisa, Netto destacou--se na imprensa espíri-ta do século XX.

Dono de excelente memória,seus textos primam pela exatidãode conceitos doutrinários e pela lin-guagem refinada e clara, sem pre-ciosismos. Defendeu o estudo dasobras de Allan Kardec, a fraternida-de no trato entre os espíritas e dis-correu com igual desenvoltura so-bre temas científicos, filosóficos emorais. Com amigos como CelsoMartins, Maria Thereza Oliveirae Cristóvam Marques Pessoa pu-blicou diversos livros, em parce-rias harmoniosas. Entre suas obrasdestacam-se Caminho de Luz, Ex-

traordinários Fenôme-nos Espíritas, Luz naPenumbra, Extraordi-nárias Curas Espiri-tuais, O Espiritismo Ex-plica, Colar de Pérolas,Janela Aberta para oMundo, A Visão Espí-rita dos Fatos e PelosCaminhos da Vida. Es-creveu para Reforma-dor e dezenas de jornais

e revistas, espíritas e não espíritas.Nascido no dia 14 de setem-

bro de 1914, em Condeúba (BA),Aureliano Alves Netto aposentou--se como auditor fiscal do Ministé-rio da Fazenda. Era casado comCândida Souza e pai de Maria He-lena, Maria Isabel e Marco Aurélio(desencarnado).

Desencarnou em decorrênciade insuficiência respiratória, noHospital Santa Efigênia, em Carua-ru, após longa enfermidade. Sua bi-blioteca de mais de dois mil livrosfoi doada para o Lar Espírita Chi-co Xavier, em Candeias (PE).

RETORNO À PÁTRIA ESPIRITUAL

Aureliano Alves Netto

Desencarnou na madrugadado dia 5 de novembro de 2004, noHospital da Ordem Terceira daPenitência, Tijuca-RJ, a confreiraVilma de Macedo Souza.

Além das múltiplas tarefas naseara espírita, presidiu por doze anosa União Espírita “Fernandes Fi-

gueira e Bezerra de Menezes”. É au-tora do Álbum de Música “Evange-lização em Notas Musicais”, comCD em 6 volumes, editado pelaFEB.

À caríssima companheira dire-cionamos o nosso pensamento comos votos de muito Progresso e Paz.

Vilma de Macedo Souza

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Entre o Espiritismo e o carnavalnão existem barreiras intrans-poníveis, mas, sim, a possibili-

dade abençoada de a criatura exer-citar uma de suas prioridades exis-tenciais, isto é, saber escolher o quemais lhe convém, o que realmentepriorizar como verdadeira diversão.

Podemos, neste ensejo, buscara palavra de Paulo de Tarso, quan-do ele afirmou de forma a não dei-xar dúvidas sobre a questão aquienfocada: “Tudo me é lícito, masnem tudo me convém” (I Cor.,10: 23).

As “alegrias” experimentadasnos dias de carnaval costumam dei-xar resíduos morais nocivos na al-ma, tornando-os traumáticos, per-manentes, marcantes. A históriadesta festividade mostra as sobrasda amargura, da tristeza, dos abor-recimentos, dos desajustes familia-res, dos desequilíbrios financeiros,das violências de todos os tipos, doscasos e mais casos das gestações in-desejáveis, entre outras cruéis e do-lorosas situações deixadas como ras-tros dessa mascarada, mentirosaalegria. O tempo de as famílias ino-centemente sentarem-se nas calçadaspara ver os blocos passarem ficouna saudade. Em substituição, surgiunão só a necessidade cada vez maiorde uma comercialização insaciá-

vel, com lucros exorbitantes, comotambém o extravasamento sempreaudacioso do instinto sexual, dasensualidade, tema este largamentetrabalhado com fins comerciais,tanto interna quanto externamen-te.

Vale ressaltar, na oportunidade,que o homem é o mesmo, carre-gando dentro de si o desejo do pra-zer genesíaco como objetivo a seralcançado na vida.

O carnaval de hoje destrói asaúde física e moral, desnatura apureza dos sentimentos nobres eimpede maior expansão e expressãoda caridade.

Nenhum Espírito que já des-frute do verdadeiro equilíbrio desentimentos e emoções e logica-mente do bom senso, condições es-tas que presidem o destino das cria-turas, pode escolher, como alegria,a loucura do carnaval que adorme-ce o ser, em detrimento daquelasoutras formas de alegria, as quais le-vam as pessoas ao deleite de umbem-estar espiritual, e que podemser assim enumeradas: a leitura deuma página doutrinária espírita; aconvivência e conversação com pes-soas que aspiram a absorção dos va-lores espirituais, o passeio no cam-po ou na praia, enfim, tudo quetenha como cenário de fundo a Na-tureza, que expressa o canto celesteda Vida em sua real dimensão – aespiritual.

Dentro da atualidade tecnoló-gica, quando novos conhecimentos

felicitam a mentalidade humana,falta a compreensão precisa do queseja alegria, felicidade, bem-estarmoral/espiritual. É exatamente oEspiritismo que procura descerraras belezas da vida do espírito e osobjetivos sagrados da reencarnação,direcionando o homem para suarealidade de Espírito reencarnado,aprendendo a não reincidir nosmesmos erros do passado.

Nos dias atuais, mais ainda nosdos festejos carnavalescos, o que sepresencia é a licenciosidade cam-peando assustadoramente; são mo-mentos danosos que afetam o mo-ral, fazendo com que o ser humanoesqueça as inapreciáveis oportuni-dades de progresso espiritual.

O que mais nos intranqüiliza econstrange é saber que há, nessesmomentos de indisciplina senti-mental – os dias de carnaval –, to-da uma influenciação das forças dastrevas espirituais nos corações daspessoas desassisadas, levando-as ater que reparar, através de váriasreencarnações, alguns instantes deprazer ilusório.

Enquanto tais pessoas se entre-gam a esses “prazeres” provocadoresde desgastes físicos e morais, super-lotando os salões ricamente decora-dos, os miseráveis da vida, de estô-magos vazios e corações sedentos deamor, multiplicam-se nas ruas e es-tendem suas mãos súplices à cari-dade.

São cegos, enfermos, criançasabandonadas, mães aflitas e sofre-

Carnaval – uma falsa alegriaAdésio Alves Machado

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doras que desfilam ao lado dosmascarados da pseudo-alegria.

Cada ano mais e mais contri-buições abarrotam os cofres dosque lograram materializar essas fes-tas.

Que nos preocupemos com osproblemas nobres da vida, porquesó assim poderemos transformar osupérfluo gasto nesses fugidios fol-

guedos na migalha abençoada capazde suprir as reais necessidades dosmais carentes.

Enquanto houver um mendi-go abandonado junto aos exuberan-tes gastos com o carnaval, somentese poderá registrar que continua-mos passando a nós mesmos umeloqüente atestado da nossa misériamoral.

Terminamos estas singelas con-siderações sobre a falsa alegria queo carnaval propicia, lembrando,Humberto de Campos em NovasMensagens (Ed. FEB), quando afir-mou: “Os três dias de Momo sãointegralmente destinados ao levan-tamento das máscaras com que to-do sujeito sai à rua nos demais diasdo ano (...).”

Realizou-se na sededa Federação EspíritaBrasileira, em Brasília,no dia 11 de dezembro,a solenidade de encerra-mento dos cursos man-tidos pelo seu CampoExperimental, dirigidapela Vice-Presidente Ce-cília Rocha, Superviso-ra do Campo Experi-mental de Brasília, coma participação do Presidente Nestor João Masotti edos Vice-Presidentes Altivo Ferreira e José Carlosda Silva Silveira.

Foram avaliados, pelos respectivos coordenado-res, os seguintes cursos: Estudo Avançado do Espi-

ritismo, por Marta Antunes de Oliveira Moura; Es-tudo da Mediunidade, por Edna Maria Fabro; Evan-gelização da Infância e Juventude, por Rute VieiraRibeiro; Cursos do Departamento de Assistência So-cial, por Maria de Lourdes Pereira de Oliveira; e Es-

tudo Sistematizado da Doutrina Espírita, porElzio Antônio Cornélio, representando TosseiYamashita.

Em seguida, houve a cerimônia de conclu-são de dois cursos: a Turma concluinte do Es-tudo da Mediunidade (Programa II) e a Turmaconcluinte do ESDE (Programa VI).

A solenidade foi encerrada com uma pri-morosa programação artística, da qual partici-param a concertista Mariléia Conde Van Age-len, ao piano, e Paulo César Vieira Xavier, aoviolino; e o Coral da FEB, sob a direção domaestro Ricardo de Sousa Castro.

Campo Experimental de BrasíliaEncerramento dos Cursos de 2004

Composição da Mesa: Dirigentes da FEB e coordenadores dos Cursos

Auditório: Cursistas e convidados

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Érealmente estranho que um fe-nômeno tão vulgar quanto odos sonhos tenha sido objeto

de tanta indiferença da parte daciência, e que ainda se esteja a per-guntar a causa dessas visões. Dizerque são produtos da imaginaçãonão é resolver a questão; é uma des-sas palavras com o auxílio da qualquerem explicar o que não com-preendem e que nada explicam. Emtodo o caso, a imaginação é umproduto do entendimento. Ora, co-mo não se pode admitir entendi-mento nem imaginação na matériabruta, é preciso que se creia que aalma nisto entra em alguma coisa.Se os sonhos ainda são um mistériopara a ciência, é que ela se obstinouem fechar os olhos para a causa es-piritual.

Procura-se a alma nos refolhosdo cérebro, enquanto ela se ergue acada instante à nossa frente, livre eindependente, numa imensidão defenômenos inexplicáveis tão-só pe-las leis da matéria, notadamentenos sonhos, no sonambulismo na-tural e artificial e na dupla vista adistância; não nos fenômenos raros,excepcionais, sutis, que exigem pa-cientes pesquisas do sábio e do filó-sofo, mas nos mais vulgares; lá estáela, parecendo dizer: Olhai e me ve-reis; estou aos vossos olhos e não

me vedes; vistes-me muitas e mui-tas vezes; vedes-me todos os dias;até as crianças me vêem; o sábio eo ignorante, o homem de gênio e oidiota me vêem, e não me reco-nheceis.

Mas há pessoas que parecemter medo de olhá-la de frente, e deadquirir a prova de sua existência.Quanto aos que a procuram deboa-fé, até hoje lhes faltou a únicachave com a qual a teriam reco-nhecido. Esta chave o Espiritismoacaba de dar pela lei que rege as re-lações entre o mundo corporal e omundo espiritual. Auxiliado por es-ta lei e pelas observações sobre quese apóia, ele dá dos sonhos a maislógica explicação jamais fornecida;demonstra que o sonho, o sonam-bulismo, o êxtase, a dupla vista, opressentimento, a intuição do futu-ro, a penetração do pensamentonão passam de variantes e de grausde um mesmo princípio: a emanci-pação da alma, mais ou menos des-prendida da matéria.

Em relação aos sonhos, dá eleconta precisa de todas as variedadesque apresentam? Não, ainda não;possuímos o princípio, e já é mui-to; os que podemos explicar por--nos-ão no caminho dos outros;sem dúvida ainda nos faltam al-guns conhecimentos, que adquiri-remos mais tarde. Não há umaúnica ciência que, de um salto, te-nha desenvolvido todas as suasconseqüências e aplicações; elas nãopoderão completar-se senão por

observações sucessivas. Ora, nasci-do ontem, o Espiritismo está comoa química nas mãos dos Lavoisier edos Berthollet, seus primeiros cria-dores; estes descobriram as leis fun-damentais. As primeiras balizas fin-cadas puseram na via de novas des-cobertas.

Entre os sonhos uns há quetêm um caráter de tal modo positi-vo que, racionalmente, não pode-riam ser atribuídos apenas a um jo-go da imaginação; tais são aquelesnos quais se adquire, ao despertar, aprova da realidade do que se viu, eem que absolutamente não se pen-sava. Os mais difíceis de explicarsão os que nos apresentam imagensincoerentes, fantásticas, sem reali-dade aparente. Um estudo maisaprofundado do singular fenômenodas criações fluídicas sem dúvidanos porá no caminho.

Esperando, eis uma teoria queparece avançar um passo naquestão. Não a damos como abso-luta, mas como fundada na lógica epodendo ser objeto de estudo. Elanos foi dada por um dos nossosmelhores médiuns, em estado desonambulismo muito lúcido, porocasião do fato seguinte:

Instado pela mãe de uma jo-vem a lhe dar notícias da filha, queestava em Lyon, ele a viu deitada eadormecida, e descreveu com exati-dão o apartamento em que se acha-va. Essa jovem, de dezesseis anos,era médium escrevente; a mãe per-guntou se ela tinha aptidão para

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

Teoria dos Sonhos

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tornar-se médium vidente. Esperai,disse o sonâmbulo, é preciso que eusiga o rasto de seu Espírito, queneste momento não está no corpo.Ela está aqui, na villa Ségur, na sa-la onde estamos, atraída pelo vossopensamento; ela vos vê e vos escu-ta. Para ela é um sonho, do qualnão se recordará ao despertar.

Pode-se, acrescenta ele, dividiros sonhos em três categorias, carac-terizadas pelo grau da lembrançaque resta no estado de desprendi-mento no qual se acha o Espírito.São:

1o – Os sonhos provocados pe-la ação da matéria e dos sentidos so-bre o Espírito, isto é, aqueles emque o organismo representa um pa-pel preponderante pela união maisíntima entre o corpo e o Espírito.Deles nos lembramos claramente e,por pouco desenvolvida que seja amemória, conservamos uma im-pressão durável.

2o – Os sonhos que podem serchamados mistos. Participam aomesmo tempo da matéria e do Es-pírito. O desprendimento é maiscompleto. Deles nos lembramos aoacordar, para os esquecer quase queinstantaneamente, a menos que al-guma particularidade venha desper-tar a sua lembrança.

3o – Os sonhos etéreos ou pu-ramente espirituais. São produzidosapenas pelo Espírito, que está des-prendido da matéria, tanto quantoo pode estar durante a vida do cor-po. Deles não nos recordamos; ou,se restasse uma vaga lembrança doque sonhamos, nenhuma circuns-tância poderia trazer à memória osincidentes do sono.

O sonho atual dessa jovempertence à terceira categoria. Elanão se lembrará dele. Foi conduzi-

da aqui por um Espírito muito co-nhecido do mundo espírita lionês e,mesmo, do mundo espírita europeu(o sonâmbulo-médium descreve oEspírito Cárita). Ele a trouxe como objetivo de que ela conserve, senão uma lembrança precisa, umpressentimento do bem que se po-de haurir de uma crença firme, pu-ra e santa, e do bem que se pode fa-zer aos outros, fazendo-o a si mesmo.

Ela diz à mãe que, caso se lem-brasse tão bem em seu estadonormal quanto se lembra agorade suas encarnações precedentes,não demoraria muito tempo noestado estacionário em que está,pois vê claramente e pode avançarsem hesitação, ao passo que no es-tado ordinário temos uma vendasobre os olhos. Ela diz aos assisten-tes: “Obrigado por vos terdes ocu-pado de mim.” Depois beija suamãe. Como é feliz! acrescenta omédium, terminando, como é felizcom este sonho, do qual não selembrará, mas que, nem por isso,deixará de lhe causar uma impres-são salutar! São esses sonhos incons-cientes que proporcionam essas sen-sações indefiníveis de contentamen-to e felicidade, de que não nos da-mos conta, e que são um antegozodaquilo de que desfrutam os Espí-ritos felizes.

Deduz-se daí que o Espíritoencarnado pode sofrer transforma-ções que modificam suas aptidões.Um fato que talvez não tenha sidosuficientemente observado vem emapoio da teoria acima. Sabe-se queo esquecimento ao acordar é umdos caracteres do sonambulismo.Ora, do primeiro grau de lucidez oEspírito passa, por vezes, a um graumais elevado, que é diferente do êx-tase, e no qual adquire novas idéias

e percepções mais sutis. Saindo des-te segundo grau para entrar no pri-meiro, não se lembrará do que dis-se, nem do que viu; depois, pas-sando deste grau para o estado devigília, há um novo esquecimento.Uma coisa a notar é que há lem-brança do grau superior ao grau in-ferior, enquanto há esquecimentodo grau inferior para o superior.

É, pois, bem evidente que en-tre os dois estados sonambúlicos deque acabamos de falar, passa-se al-go análogo ao que ocorre entre o es-tado de vigília e o primeiro grau delucidez; que o que se passa influi so-bre as faculdades e as aptidões doEspírito. Dir-se-ia que do estado devigília ao primeiro grau o Espírito édespojado de um véu; que do pri-meiro ao segundo grau é despojadode um segundo véu. Não mais exis-tindo esses véus nos graus superio-res, o Espírito vê o que está abaixoe se lembra; descendo a escala, osvéus se refazem sucessivamente elhe ocultam o que está acima, fa-zendo que deles perca a lembrança.Às vezes a vontade do magnetizadorpode dissipar esse véu fluídico e res-tituir a lembrança.

Como se vê, há uma grandeanalogia entre esses dois estados so-nambúlicos e as diversas categoriasde sonhos descritos acima. Parece--nos mais que provável que, numcaso e noutro, o Espírito se achenuma situação idêntica. A cada de-grau que sobe, eleva-se acima deuma camada de névoa; sua visão esuas percepções são mais claras.

Allan Kardec

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –julho de 1865, p. 281-285, tradução deEvandro Noleto Bezerra – Ed. FEB.

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Instinto de conservação. Indaga,inicialmente, o nosso esmeradoCodificador se é lei da Natureza

o instinto de conservação. E os Es-píritos colaboradores do Cristo res-pondem com a firmeza que lhes épeculiar: “Sem dúvida.” E esclare-cem que todos os seres vivos o pos-suem, não importando o grau desua inteligência, sendo nuns decondição mecânica, enquanto nou-tros (aqueles mais adiantados), deforma já raciocinada.

Mas, na questão seguinte (703),procurando aprofundar conheci-mentos, ele busca, através dos Espí-ritos, esclarecer bem o fim para queoutorgou o Criador e Pai a todos osseres vivos o instinto de conser-vação. E a resposta veio, como se talindagação já por eles fosse esperada:“Porque todos têm que concorrerpara cumprimento dos desígnios daProvidência.” E elucidam que estánisso a razão pela qual o Criador atodos concedeu a necessidade de vi-ver, necessidade esta indispensávelao aperfeiçoamento de todos, mes-mo daqueles que o desenvolvemsem o perceberem.

Meios de conservação. Nasquestões seguintes (704 a 710),Allan Kardec, em face dessa neces-sidade de viver e aperfeiçoar-se, es-pecificamente em relação ao ho-mem, indaga se Deus lhe facultou,em todos os tempos, os meios de oconseguir. Os Espíritos, sempre so-lícitos no sentido da melhor clarezapossível, fazem-lhe ver que se o ho-mem não encontra tais meios, éque não os procura, pois não forapossível que a Divindade, criandopara o homem a necessidade de vi-ver, não lhe garantisse os meios deo conseguir e aplicá-los, conscien-temente. Daí o ter dado à Terra to-das as condições de produzir o ne-cessário aos seus habitantes, umavez que só o necessário é útil. E sa-biamente acrescentam: “(...) O su-pérfluo nunca o é.”

Mas, nosso mestre Kardec, sa-bendo quanto o homem é ardilosoem suas conjecturas, indaga ainda:“Por que nem sempre a terra pro-duz bastante para fornecer ao ho-mem o necessário?” A resposta sealonga não para o nobre e percu-ciente educador, mas para muitosde nós outros: “É que, ingrato, ohomem a despreza!” E explicam demodo profundamente racional quea terra é excelente mãe. O homem,

muitas vezes acusa a própria Natu-reza daquilo que é resultado apenasda imperícia e imprevidência dele.E dizem, ainda, que a terra produ-ziria sempre o necessário se com onecessário o homem se satisfizesse,acusando-o de empregar no supér-fluo o que poderia ser bem aplica-do no necessário. Chegam mesmoa dar exemplo do árabe, no deserto,que encontra, lá, sempre de que vi-ver, pelo fato de não criar para sinecessidades factícias. E concluemque imprevidente não é a Natureza,mas o homem que não tem sabidoregrar o seu viver.

O Codificador continua, ain-da, em busca de outros esclareci-mentos, nas questões 706 e 707,perguntando se por bens da Terradevem ser entendidos unicamenteos produtos do solo. Confirmam osEspíritos Superiores que “o solo é afonte primacial donde dimanamtodos os outros recursos”; os quais,em definitivo, decorrem sempre desimples transformações dos produ-tos do solo. E esclarecem mais: “Porbens da Terra se deve, pois, enten-der tudo de que o homem pode go-zar neste mundo.”

No entanto, lembra o Codifi-cador que “é freqüente a certos in-divíduos faltarem os meios de sub-

Repensando Kardec

Da Lei de Conservação(Questões 702 a 727 de O Livro dos Espíritos)

Inaldo Lacerda Lima

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sistência, ainda quando os cerca aabundância.” E pergunta: “A que sedeve atribuir isso?” Ao que respon-dem os Mensageiros: “Ao egoísmodos homens, que nem sempre fazemo que lhes cumpre.” E concluem afir-mando que devemos todos a nósmesmos tais dificuldades, citando aspalavras de Jesus:“Buscai e acha-reis.”

Allan Kardec, em face da res-posta deles, estende-se num longocomentário que deve ser lido portodos nós com muita atenção eacendrado interesse de ordem mo-ral, que vale para não esquecermosnunca o porquê de nossa perma-nência no mundo, sem que deixe-mos de levar em consideração ospróprios relatos das narrativas daHistória!...

Vemos, assim, quão poucoevoluiu o homem no que tange àmoral. Pois há ainda em nosso pla-neta quem desconsidere o próprioCristianismo!

Ainda bem que o número depessoas boas e em condição de vi-vência fraternal já nos parece duasvezes maior do que o número dosmaus e perversos. Verifica-se ainda,conforme nosso Kardec, em seu co-mentário, a grande contribuição daCiência em favor do bem-estar so-cial e da própria saúde, em todas asáreas de sua atuação.

Nas questões 708 e 709, pro-cura o Codificador conduzir o estu-dioso do Espiritismo a uma melhorcompreensão de suas privações co-mo conseqüência da força mes-ma das coisas. E busca saber, doMundo Maior, se terão cometidocrime aqueles que em situações crí-ticas foram levados a sacrificar seussemelhantes para matar a fome, e setal crime não seria atenuado pela

imperiosa necessidade de viver, co-mo resultante natural do instintode conservação.

Todavia, os Espíritos Superio-res, entendendo a intenção do Mis-sionário, respondem que mesmodiante de uma prova cruel (mas nun-ca injusta!) compete ao homem re-fletir com paciência, porquanto deantemão já sabia que a tal situaçãoseria possivelmente exposto. Seumérito, portanto, consiste em sub-meter-se à vontade de Deus. Eacrescentam, como que em respos-ta à questão 709, anteriormenteformulada, que haverá sempre maismérito em sofrer todas as provaçõesda vida com coragem e abnegaçãodo que, em desespero, praticar ho-micídio e crimes de lesa-natureza,pelo que será duplamente punido.

Para concluir o assunto –Meios de Conservação –, indagaainda se nos mundos de organiza-ção mais apurada têm os seres vivosnecessidade de alimentação. Os Es-píritos respondem afirmativamen-te, porém, elucidando que, nessesmundos, o alimento está relaciona-do com a natureza deles, o qual nãoseria suficientemente satisfatório aosnossos estômagos grosseiros, domesmo modo que os seus não te-

riam condição de digerir o nosso! Gozo dos bens terrenos. Eis

que, na questão 711, ao procurarsaber o mestre Kardec se o uso dosbens da Terra é um direito de todosos homens, observemos a logicida-de da resposta: “Esse direito é conse-qüente da necessidade de viver. Deusnão imporia um dever sem dar aohomem o meio de cumpri-lo.”

Mas o Codificador vai mais afundo em sua indagação, levandonaturalmente em conta a pertiná-cia do homem: “Com que fim pôsDeus atrativos no gozo dos bensmateriais?” Os Espíritos respon-dem:“Para instigar o homem aocumprimento da sua missão e paraexperimentá-lo por meio da ten-tação.” O Codificador insiste, apro-veitando o termo: “Qual o objetivodessa tentação?” Ao que responde-ram: “Desenvolver-lhe a razão, quedeve preservá-lo dos excessos.”

Num comentário rápido, oMissionário da Terceira Revelaçãofaz-nos ver que, se o ser humano sófosse instigado a usar os bens terre-nos pela utilidade que têm, sua in-diferença poderia ter comprometi-do a harmonia do Universo. Assim,Deus imprimiu a tal uso o atrativodo prazer, e quis também, atravésdesse atrativo, experimentá-lo pelatentação que, mesmo o arrastandopara o abuso, dá-lhe ocasião deconter-se pelo uso da razão.

Na questão 713, indagou se aNatureza traçou limites a esses go-zos. E os Espíritos responderam quesim, objetivando a compreensão dolimite do necessário. Mas lembramque pelos excessos chegou o ho-mem à saciedade, punindo-se a simesmo. E, como que procurandodespertar no estudioso a voz daconsciência, indaga ainda “Que se

O uso dos bens da

Terra é um direito de

todos os homens,

como conseqüência

da sua necessidade

de viver

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deve pensar do homem que procu-ra nos excessos de todo gênero o re-quinte dos gozos?” Os prepostos doAlto exclamam: “– Pobre criatura!mais digna é de lástima que de in-veja, pois mais perto está da mor-te!” Pergunta ainda Allan Kardec:“– Perto da morte física, ou damorte moral?” E eles respondem:“De ambas.”

Em seu comentário, elucida--nos o Codificador que o homem,que procura nos excessos o requin-te do gozo, coloca-se abaixo do bru-to, pois que este sabe deter-se,quando satisfeita a sua necessidade,enquanto o homem abdica da razãoque Deus lhe deu por guia, sofren-do, em conseqüência, toda a sortede enfermidades e a própria mortefísica como resultado de seus abu-sos, enfim, punição por transgredira lei de Deus, nosso Criador e Pai.

Necessário e supérfluo. Envol-vendo as questões 715 a 717, pro-voca Allan Kardec esclarecimentosquanto ao limite do necessário. E osEspíritos alertam: “Aquele que éponderado o conhece por intuição.”Mas adiantam que “muitos só o co-nhecem por experiência e à suaprópria custa.” Isto é, pela dor!

Em seguida, Kardec, ao darprofundidade ao assunto, lembraque em face da organização conce-dida por Deus, bem traçou a Natu-reza o limite de nossas necessidades.“Sem dúvida – respondem – mas ohomem é insaciável.” E esclarecemque mesmo tendo a própria Natu-reza traçado o limite de suas neces-sidades, pelos vícios a que se entre-garam, conseguiram alterar sua pró-pria constituição, criando para simesmos necessidades irreais.

O grande educador, penetran-

do no pensamento dos Espíritosamigos, faz-lhes a última indagaçãosobre o assunto, nesses termos(questão 717): “Que se há de pen-sar dos que açambarcam os bens daTerra para se proporcionarem o su-pérfluo, em prejuízo daqueles aquem falta o necessário?” Eles res-pondem de modo claro e incisivo:“Olvidam a lei de Deus e terão queresponder pelas privações que hou-verem causado aos outros.”

Do comentário que se segue,podemos depreender que os Espíri-tos Reveladores não pretendem,com as suas sábias elucidações, queo homem civilizado deva viver àmaneira dos selvagens. Não! Masmostram que se à luz da razão pro-curasse a medida correta das coisas,desenvolveria com a própria civili-zação o senso de suas condiçõesmorais mais elevadas, ajustando-se– todos – a uma existência fraternale digna. Na verdade, os que vivemà custa da privação dos outros ex-ploram os benefícios da Civilização,tal como aqueles que “da religião sótêm a máscara”.

Privações voluntárias. Morti-ficações: Constituem a parte finaldeste estudo acerca da Lei de Con-servação. De modo que, na questão718, indaga o Codificador da Dou-

trina prometida por Jesus, prepa-rando a mente dos leitores estudio-sos para uma compreensão plenado assunto: “A lei de conservaçãoobriga o homem a prover às neces-sidades do corpo?” E a resposta épositiva:“Sim, porque, sem força esaúde, impossível é o trabalho.”

Dessa forma, em face das inda-gações seguintes – 719 a 727 – to-mamos conhecimento de tudoquanto Allan Kardec desdobra, porexemplo, no capítulo XVII de OEvangelho segundo o Espiritismo,que trata da Perfeição! Senão, veja-mos a resposta dos Espíritos à ques-tão 719: “É natural o desejo dobem-estar. Deus só proíbe o abuso,por ser contrário à conservação. Elenão condena a procura do bem-es-tar, desde que não seja conseguidoà custa de outrem e não venha adiminuir-vos nem as forças físicas,nem as forças morais.”

Quanto ao mérito das priva-ções voluntárias (questão 720), es-clarecem-nos: “Fazei o bem aos vos-sos semelhantes e mais mérito tereis.”Há privações voluntárias meritórias,sim: a privação dos gozos inúteistem o poder de desprender o ho-mem da matéria, elevando-lhe a al-ma, pois “meritório é resistir à ten-tação que arrasta ao excesso ou aogozo das coisas inúteis”. É que, as-sim agindo, desenvolve a criatura oespírito de caridade.

Quanto às mortificações ascé-ticas a que sempre se dedicaram osque com elas desejavam ascender aDeus, os Espíritos Superiores man-dam que busquemos saber a quemelas aproveitam. Pois se somenteservem aos que as praticam, nãopassam de puro e lastimável egoís-mo. Todavia, se alguém se mortifi-ca em favor do próximo necessita-

Deus não condena a

procura do bem-estar,

desde que não seja

conseguido à custa

de outrem

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do e carente, tem-se aí exemplo daverdadeira caridade.

Em se tratando da abstençãode certos alimentos, prescrita a di-versos povos, respondem os Espíri-tos: “Permitido é ao homem ali-mentar-se de tudo o que não lheprejudique a saúde.” Referem-se,em sua resposta, a legisladores que,com um fim útil, entendiam deproibir o uso de certos alimentos,até apresentando tais proibições co-mo emanadas de Deus. Talvez te-nha isso inspirado Kardec, na ques-tão 723, a indagar se a alimentaçãoanimal, pelo homem, é contrária àlei da Natureza. Ao que respondemos Espíritos Reveladores em termosque temos o dever de registrar aquiipsis verbis: “Dada a vossa consti-tuição física, a carne alimenta acarne, do contrário o homem pere-ce. A lei de conservação lhe prescre-ve, como um dever, que mantenhasuas forças e sua saúde, para cum-prir a lei do trabalho. Ele, pois, temque se alimentar conforme o recla-me a sua organização.”

Antes, porém, de prosseguir,temos o dever de acrescentar algu-ma coisa em face de alguns Espíri-tos, em nossos dias, sugerirem evi-tarmos o uso da carne, e nissoencontrarmos algum apoio na pró-pria ciência médica. Dentre esses,citamos apenas Irmão X, pseudô-nimo de Humberto de Campos,no livro intitulado Cartas e Crôni-cas, pela mediunidade de Francis-co Cândido Xavier, numa mensa-gem que tem o título de “Treinopara a Morte”. Esse Espírito nãoproíbe de modo abrupto o uso daalimentação carnal, mas sugere queprocuremos aos poucos evitá-la,nos seguintes termos: “Comece arenovação de seus costumes pelo

prato de cada dia. Diminua gra-dativamente a volúpia de comer acarne dos animais.” Chamamos,aqui, a atenção para o termo volú-pia!...

Na questão 724, porém, inda-ga Allan Kardec: “Será meritórioabster-se o homem da alimentaçãoanimal, ou de outra qualquer, porexpiação?” Eles respondem: “Sim,se praticar essa privação em benefí-cio dos outros.” E esclarecem queaos olhos de Deus, só há mortifica-ção “havendo privação séria e útil.”Por isso, qualificam de hipócritas osque apenas aparentemente se pri-vam de alguma coisa.

A seguir nosso ínclito Kardecformula a questão 725 a respeito doque pensar das mutilações operadasno corpo do homem ou dos ani-mais. Ao que os Espíritos do Mun-do Maior, respondem com outrapergunta “A que propósito, seme-lhante questão?” Sem que o Codi-ficador respondesse, eles mesmosesclarecem, de modo fraternal: “In-quiri sempre vós mesmos se é útilaquilo de que porventura se trate.”E acrescentam que não pode agra-dar a Deus o que seja inútil, por-quanto o que for nocivo sempre se-rá desagradável.

Em resposta à questão seguin-te (726), e que de certo modo se

relaciona com a anterior, nossosorientadores da Espiritualidade as-sinalam: “Os sofrimentos naturaissão os únicos que elevam, porquevêm de Deus. Os sofrimentos vo-luntários de nada servem, quandonão concorrem para o bem de ou-trem.” Doar, por exemplo, algumacoisa do corpo, a quem está prestesa uma desencarnação dolorosa,sim!, nisso deverá haver grande mé-rito.

Em resposta à última questãodo capítulo em estudo (727), os Es-píritos Superiores dizem-nos, comoesclarecimentos finais: “Contra osperigos e os sofrimentos é que o ins-tinto de conservação foi dado a to-dos os seres. Fustigai o vosso espíri-to e não o vosso corpo, mortificai ovosso orgulho, sufocai o vosso egoís-mo, que se assemelha a uma ser-pente a vos roer o coração, e fareismuito mais pelo vosso adiantamen-to do que infligindo-vos rigores quejá não são deste século.” E lembre-mo-nos, aqui, que este pensamentodos nossos irmãos maiores do Espa-ço foi expresso no meado do séculoXIX, e estamos, hoje, no início doséculo XXI. Possivelmente, esta lem-brança acrescenta alguma coisa amais em nossa responsabilidade deEspíritos sempre em marcha evolu-tiva.

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Seja o que for que peçais na pre-ce, crede que o obtereis e conce-dido vos será o que pedirdes.(Marcos, cap. XI, v. 24. In: OEvangelho segundo o Espiritis-mo, cap. XXVII, it. 5.)

Ojornal Correio Braziliense, em24 de outubro de 2004, pu-blicou uma página inteira do

caderno BRASIL sobre o poder daoração. Segundo o jornalista Ullis-ses Campbell, da equipe desse pe-riódico, o professor de ImunologiaCarlos Eduardo Tosta, da Faculda-de de Medicina (FMD) da Univer-sidade de Brasília (UnB), fez umapesquisa com o objetivo de consta-tar se as orações feitas a distânciaem benefício de alguém poderiam,cientificamente, ter sua eficácia com-provada.

O trabalho envolveu 52 alunosestudantes de Medicina da própriaUnB e vários grupos de pessoas dediversas religiões que fazem oraçõesem benefício alheio. Os alunos fo-ram divididos em dois grupos de26 pares, cada par composto depessoas com a mesma idade, quenão se conheciam.

Antes de receberem as orações,os alunos passaram por uma avalia-ção clínica e psicológica e, em se-guida, fizeram teste sangüíneo paraverificar sua defesa orgânica. Final-mente, a foto 3x4 de cada aluno foientregue pelo pesquisador aos gru-pos de intercessores para que oras-sem diariamente por esses estudan-

tes, de quem ficaram sabendo ape-nas o primeiro nome. Mas apenasum aluno de cada par teve a foto eo nome conhecido pelos rezadores;o outro não recebeu qualquer prece.

Após três anos, foi feita a com-paração entre os exames clínicos detodos os estudantes e verificou-seque o grupo de alunos que não re-ceberam orações não teve qualqueralteração em suas células de defesa,enquanto o grupo beneficiado pe-las preces ficou com o sistema imu-nológico mais resistente.

A conclusão do pesquisador,que se considera “transreligioso”1,foi a de que “as preces têm efeitopositivo na saúde”.

Segundo o autor do artigo, ou-tros estudos feitos no exterior já ha-viam comprovado, e publicado emrevistas científicas, os efeitos bené-ficos da prece sobre a saúde das pes-soas enfermas. Afirma ainda que:

O maior estudo envolvendo re-ligiosidade foi feito em 1988,na Califórnia, com quase 400pacientes internados na unida-de de tratamento intensivo(UTI) cardiológica de um hos-pital público. Metade dessespacientes receberam preces; aoutra parte, não. Cada pacien-te tinha entre três e sete inter-cessores e seus médicos não

ficaram sabendo. Dez mesesdepois, ficou comprovado queos pacientes que receberamorações passaram a necessitarcada vez menos de ajuda deaparelhos para respirar. Até osedemas nos pulmões diminuí-ram.Na avaliação do Dr. Tosta, ci-

tada pelo jornalista, “o médicoaprende na universidade que nóssomos um corpo que eventualmen-te adoece e que precisa de trata-mento. Acontece que temos umadimensão mental que vai além dis-so. Temos ansiedade, depressão epsicose (...). Além disso, temos a di-mensão espiritual, que está sujeita adoenças causadas por sentimentoscomo inveja, raiva, ciúme e rancor.A Medicina ainda dá pouca impor-tância a isso”.

Entretanto, podemos constatarque é grande o número de médicos,psicólogos, psiquiatras e outros pro-fissionais da saúde que comparecemaos Centros Espíritas e aos templosreligiosos para não somente mani-festar sua fé no poder divino, co-mo também estudar os efeitos daoração no auxílio ao tratamento mé-dico. Nessa reportagem, a Sra. He-lena Dias Mousinho, que partici-pa de um grupo de mulheres queoram em favor de pacientes inter-nados na UTI do Hospital de Basedo Distrito Federal, afirma que “ocentro que freqüento, na L2 norte,é cheio de médicos”. O mesmo po-demos dizer com relação ao que vi-mos constatando, ao longo de qua-

A força da oraçãoJorge Leite de Oliveira

1Na definição dada pelo Dr. Tosta e citada pe-lo jornalista, “transreligiosa” é a pessoa queaceita o que os “grandes mestres religiosos en-sinam sem rótulos que definam se uma religiãoé melhor do que a outra”.

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se duas décadas como monitor doEstudo Sistematizado da DoutrinaEspírita (ESDE), na Federação Es-pírita Brasileira. Entre os seus par-ticipantes, bom número deles é demédicos e outros profissionais dasaúde.

Ao concluir seu artigo, o jorna-lista Campbell informa que o Dr.Tosta sugere a inclusão no currícu-lo de Medicina da “disciplina espi-ritualidade”, na qual os estudantesaprendam sobre o poder da oração.E termina com a seguinte frase doImunologista: “Todas as religiõestêm prece. Até os budistas, que nãoacreditam em Deus, têm suas pre-ces.”

Aí está uma interessante e opor-tuna proposta. Mas de nossa parte,temos a convicção de que, indepen-dentemente desses estudos, a práti-ca cotidiana da oração é uma verda-deira fonte de revigoramento denossas energias mentais e de nossasforças, para aceitarmos a vontade deDeus.

Afirma Kardec que, da máximacitada abaixo do título deste artigo,não é lógico deduzir que basta pe-dir para obter, mas não é justo jul-gar que Deus não atende a todaoração a Ele feita. A prece proferi-da com todo tipo de propósito, emparticular o da aquisição de bensmateriais, realmente só será atendi-da quando tivermos merecimentopara obter o que pedimos. Entre-tanto, lembra o Codificador daDoutrina Espírita que a coragem, apaciência e a resignação serão sem-pre concedidas por Deus a quemlhas pedir com confiança, assim co-mo os meios de libertar-se por simesmo das dificuldades, propor-cionando-lhe, nesse caso, o méritoda ação.

A oração pode beneficiar àque-le que ora ou àquele por quem seora. Pode ser feita para pedir, louvarou agradecer a Deus um benefício,pois nada ocorre sem a vontadedEle, ainda que oremos recorrendoa Espíritos intermediários.

Nesse capítulo XXVII, item 10,de O Evangelho segundo o Espiri-tismo, explica ainda Allan Kardec aforma de transmissão do pensa-mento através do fluido universal,no qual se inserem todos os seres,encarnados e desencarnados, sendotal fluido veículo do pensamento ese estendendo ao infinito.

Dirigido, pois, o pensamentopara um ser qualquer, na Terraou no espaço, de encarnadopara desencarnado, ou vice-ver-sa, uma corrente fluídica se es-tabelece entre um e outro,transmitindo de um ao outro opensamento, como o ar trans-mite o som.A energia da corrente guardaproporção com a do pensa-mento e da vontade. É assimque os Espíritos ouvem a preceque lhes é dirigida, qualquerque seja o lugar onde se encon-trem; é assim que os Espíritosse comunicam entre si, que nostransmitem suas inspirações,que relações se estabelecem adistância entre encarnados.(Kardec, op. cit.)O Codificador conclui então

que, se tal explicação torna com-preensíveis os efeitos da prece, o“juiz supremo em todas as coisas” éDeus, sob cuja vontade e poder sesubordinam os efeitos da oração.

As preces feitas com sentimen-to puro em benefício próprio ou deoutrem serão sempre ouvidas, inde-pendentemente da religião de quem

as faça. É muito importante orar-mos de forma clara, concisa e sim-ples, pois muito mais que as fórmu-las preconcebidas e o grande nú-mero de palavras, as vibrações denossa alma, a humildade e a sub-missão à vontade dessa InteligênciaSuprema que rege todas as coisas –DEUS – é que proporcionarão ànossa oração o poder de cura e desuperação de nossas provas.

Potencializadas pelo Amor,nossas energias em benefício dopróximo modificarão para melhoros fluidos deletérios de suas enfer-midades, proporcionando-lhes atémesmo a cura de suas doenças físi-cas. No entanto, nunca é demaislembrar o alerta de Jesus: “Vai e nãopeques mais.” Se o convalescentenão se ajudar renovando sua mentecom pensamentos elevados, evitan-do atitudes de impaciência, raiva eoutras manifestações do desequilí-brio mental, fatalmente recairá noestado patológico anterior ou mes-mo em outros mais graves.

Pela oração, entramos em co-munhão direta com as potênciasdivinas e, consoante as palavras deJesus, removeremos as montanhasde nossas limitações, de nossas fra-quezas e enfermidades. Por ela, en-fim, receberemos e transmitiremosao nosso próximo as vibrações ele-vadas do Amor Divino. Assim, se-remos capazes de, nos transforman-do, contribuir na transformação doMundo, pois já se disse que orar ésemelhante a arar. E sendo o aradoa metáfora do trabalho, quando tra-balhamos emitindo as nossas ener-gias mentais em benefício alheio,pela oração, associados aos emissá-rios divinos, exercitamos o Amor,essa força maravilhosa sem a qualnada se consegue de bom.

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Éainda muito deficiente o co-nhecimento das criaturas hu-manas acerca da vida nos do-

mínios da erraticidade, e, para quepossamos fazer uma abordagemmais ampla sobre o assunto, come-cemos recordando o que nos diz Al-lan Kardec, em O Livro dos Mé-diuns, no capítulo VIII, quando oCodificador nos fala dos Espíritoserrantes, ou seja, daqueles seres ex-tracorpóreos que desencarnaram naTerra e aguardam uma nova encar-nação. A erraticidade é constituída,dessa forma, pela presença dos bi-lhões de Espíritos desencarnadosque habitam as regiões vinculadasao orbe terreno, estejam eles noscírculos sombrios da perturbação edo remorso ou fulgurem nas maisiluminadas colônias espirituais.

Não queremos, de modo ne-nhum, menosprezar o esforço demilhares de estudiosos que investi-gam os domínios da vida extrafísi-ca, nem podemos esquecer o ma-nancial dos conhecimentos que osGênios Tutelares da Humanidade,através de centenas de mensageirosda luz, transmitiram, em todas asépocas, ao pensamento humano,

sendo nosso dever destacar que aprópria Doutrina Espírita, reveladapelos Espíritos Superiores e codifi-cada por Allan Kardec, tem víncu-los com o conhecimento oculto dasgrandes Escolas do Oriente e guar-da identificação com a mensagemde Jesus, o Cristo de Deus.

Importa considerar, porém,que os homens, em sua grandemaioria, não se têm interessado pe-lo conhecimento espiritual, prefe-rindo conceber a vida extrafísicacomo sendo um reino de fantasiase criando uma mentalidade supers-ticiosa, com um falso misticismo,como se Deus tivesse preferênciaspor algum dos seus filhos ou comose a estrutura das igrejas humanaspudesse suprir as omissões em quevivem milhões de religiosos. Quan-do o fenômeno da morte física, ine-xoravelmente, lhes desafia a visãofantasiosa, eles se debatem ante odesespero, sem compreenderem quesão almas eternas e que o túmulo éapenas uma transição para uma vi-da mais dinâmica, onde cada Espí-rito vai encontrar-se com a realida-de de si mesmo.

O conhecimento da vida extra-física encontra-se, em sentido ocul-to, na própria Bíblia e em todos osoutros livros que se constituem ro-teiro dos grandes grupos religiososda Terra. Muitas vezes, o simbolis-mo escondeu a essência de grandes

verdades, porque o raciocínio dacriatura humana não tinha condi-ções de suportar o fulgor da LuzDivina. Por essa razão é que, duran-te muitos séculos, a vida religiosa serestringiu a grupos fechados, comoa Escola dos Essênios e de outrosagrupamentos de instrutores da Sa-bedoria Antiga.

Quando ocorreu o cumpri-mento das profecias de Isaías e de-mais profetas, Jesus, o Messias Pro-metido, chega à Terra, e um Emis-sário sublime proclama: “Eis quevos trago Boa Nova de grande ale-gria, que será para todo povo.”

A Era do Evangelho desdo-brou a todos os seres humanos aoportunidade de perceberem que,além da Terra, a vida se desdobrainfinitamente e que Deus é NossoPai.

Hoje, no século XXI da EraCristã, a Ciência Espírita, com otestemunho de centenas de pesqui-sadores, autentica os fenômenos dacomunicação dos Espíritos e nosdesdobra uma visão mais ampla darealidade em que eles vivem.

A fenomenologia mediúnica,que precedeu à revelação da Dou-trina dos Espíritos, aparece, histori-camente, como fase preparatóriapara que a Codificação de AllanKardec lançasse as bases de uma Fi-losofia Transcendental, que deu aohomem uma visão mais iluminada

A visão do homem acerca da erraticidade

Ismael Ramos das Neves

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acerca da idéia de Deus e, explican-do a imortalidade da alma e a co-municação dos Espíritos, fez luz naanálise dos complexos questiona-mentos relacionados com a origeme o destino do homem, bem comosobre a razão de ser de suas doresante a Augusta Justiça de Nosso Pai,graças ao conhecimento da benditaLei da Reencarnação.

Os fenômenos mediúnicosprosseguem, dando cumprimento àprofecia de Joel, citada em Atos dosApóstolos (2:17-18), e, através daprópria mediunidade, decorridasvárias décadas da publicação de OLivro dos Espíritos, de Allan Kardec,eis que através do médium Francis-co Cândido Xavier, o mundo con-temporâneo começa a perceber, demodo mais claro, a erraticidade,consoante as descrições encontradasno livro Nosso Lar, ditadas pelo Es-pírito André Luiz, descrições essasque se desdobram em numerososoutros livros, de autoria do citadoEspírito comunicante e através domesmo medianeiro, que foi ChicoXavier.

A vida dos Espíritos errantestem-se constituído tema de cente-nas de livros psicografados ou deautores encarnados, ampliando abibliografia espiritista e alargandoos horizontes dos investigadores domundo extracorpóreo, através datranscomunicação, que se eviden-cia, no mundo contemporâneo, co-mo sendo a presença dos Espíritosdiretamente nos aparelhos de co-municação, como o rádio, o telefo-ne, o computador e todos os de-mais mecanismos suscetíveis deregistrar as suas mensagens.

Ante o desdobramento e o di-namismo que esta nova fase da pes-quisa mediúnica proporciona aos

investigadores do mundo psíquico,lembramos que sempre ocorreramna Terra os fenômenos de escrita di-reta e de voz direta. A propósito, re-gistramos um fenômeno ocorridono Festim de Baltazar, consoanteestá narrado no Velho Testamento,quando a mão do Espírito comuni-cante escreveu diretamente sobre aparede, sem a necessidade da par-

ticipação do homem físico; e, naapoteose gloriosa da Natividade deJesus, segundo o texto bíblico, osEspíritos Celestes enunciaram, pe-la voz direta, na quietude das cerca-nias de Belém de Judá, ante a Man-jedoura singela, o enunciado su-blime: “Glória a Deus, nas alturas;Boa Vontade para com os Homens,na Terra.”

Coração e Cérebro

Imaginemos um castelo de prodigiosa beleza, no cimo da montanha,talhado em ouro maciço, ostentando torres de cristal, ameias incrus-

tadas de pérolas e pátios pavimentados de brilhantes, entre ogivas re-fulgentes, mas sem água que lhe garanta a habitabilidade e a alegria.

Ao clarão diurno, faísca de cintilações e, à noite, assemelha-se asantuário sublime vestido de prateada luz.

Entretanto, na aridez em que se encrava, reduz-se a solitário reti-ro, no qual somente as aranhas e as serpes da sombra se amontoam, re-beldes e envenenadas.

Eis, porém, que surge um dia em que de fonte oculta aflora no pa-lácio um fio dágua humilde. E onde havia abandono aparece o pousoagasalhante, cercado de jardins, substituindo a secura que se enfeitavade pó.

Escorpiões e víboras fogem apressados, ante os hinos do trabalhoe as vozes das crianças.

Temos nesses símbolos o cérebro supermentalizado e o coração re-generador.

O raciocínio erguido às culminâncias da cultura, mas sem a com-preensão e sem a bondade que fluem do entendimento fraterno, podeser um espetáculo de grandeza, mas estará distante do progresso e po-voado pelos monstros das indagações esterilizantes ou inúteis.

Enriqueçamo-lo, porém, com o manancial do sentimento puro ea inteligência converter-se-á, para nós e para os outros, num templo desublimação e paz, consolo e esperança.

Cultivemos o cérebro sem olvidar o coração.Sentir, para saber com amor; e saber, para sentir com sabedoria,

porque o amor e a sabedoria são as asas dos anjos que já comungam aglória de Deus.

Meimei

Fonte: XAVIER, Francisco C. Instruções Psicofônicas. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB,1995, cap. 30, p. 143-144.

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Bahia: FEEB comemora 89 anosA Federação Espírita do Estado da Bahia comemorouàs 10 horas de 25 de dezembro – Dia de Natal – seus89 anos de atividade, com palestra do médium e ora-dor espírita baiano Divaldo Pereira Franco. Na oca-sião, fez o lançamento oficial do XII Congresso Espí-rita da Bahia, que se realizará no Centro de Con-venções, em Salvador, no período de 27 a 30 de outu-bro de 2005. A FEEB foi fundada em 25 de dezembrode 1915 com o nome de União Espírita da Bahia.

No dia 19 de dezembro, no Campo Grande, a co-munidade espírita baiana participou do MovimentoVocê e a Paz, liderado por Divaldo Franco, que, napreparação desse grande evento, percorreu, durante omês de dezembro, os bairros populares de Salvador,promovendo pequens concentrações.

Mato Grosso: Congresso EspíritaRealiza-se em Cuiabá, de 21 a 24 de abril próximo, o3o Congresso Espírita do Estado de Mato Grosso, como tema Espiritismo – Elo entre Ciência e Religião, queserá desenvolvido pelos expositores Divaldo PereiraFranco, José Raul Teixeira, Alberto Ribeiro de Almei-da, Cosme Bastos Massi e Suely Caldas Schubert. Pro-move o evento a Federação Espírita do Estado de Ma-to Grosso.

Inglaterra: Sinal Verde em Inglês O Grupo Espírita de Brighton (SGB) lançou em no-vembro de 2004 – ano do Bicentenário de nascimen-to de Allan Kardec –, vertido para o inglês com o no-me Green Light, o livro Sinal Verde, do EspíritoAndré Luiz, psicografado pelo médium FranciscoCândido Xavier. Informações com o Diretor do SGB,Publio Lentulus, pelo e-mail: [email protected]

FEB: Programa na TV – Terceira Revelação A Federação Espírita Brasileira, através do Sistema Es-pírita de Comunicação (SEC), promove o programade televisão Terceira Revelação, que alia conteúdo dou-trinário e qualidade técnica, com toque jornalísticobem acentuado. Apresentado pela jornalista CláudiaBrasil, com direção do cineasta Ronaldo Duque, a

produção é de Daniel Amador. Cada edição tem umtema central, fundamentado nos princípios da Dou-trina Espírita, e, no encerramento, apresenta o quadro“Evangelho no Ar”: comentários com base em OEvangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.Terceira Revelação vai ao ar aos sábados, das 8h às8h30, pela Rede CNT (TV a cabo NET). O boletimBrasil Espírita, deste mês, traz notícia complementarsobre o programa.

Bélgica: Divulgação do EspiritismoA União Espírita Belga programou as seguintes con-ferências espíritas no início de 2005: Em 4 de feverei-ro, conferência na sua sede sobre o 4o Congresso Es-pírita Mundial e o Conselho Espírita Internacional;em Luxemburgo, conferência no sábado, dia 22 dejaneiro, sobre o tema As provas científicas da sobre-vivência da alma; em Seneffe, na sexta-feira, dia 25de fevereiro, com o mesmo tema acima.

Paraná: FEP inaugura VideotecaCom o objetivo de complementar as disponibilidadesao público, junto à Biblioteca e à Biblioteca Infantilda sua Sede Histórica, a Federação Espírita do Paranáinaugurou, em 27 de novembro de 2004, a Videote-ca, que oferece seus serviços de segunda a sexta-feira,das 8h30 às 18h, e, aos sábados, das 8h às 12h. Es-tarão disponíveis, mediante agendamento prévio, fi-tas de vídeo, DVDs, VCDs e CDDs, sendo perrmitidaa utilização de apenas um destes itens por vez.

Bolívia: Congresso EspíritaA Federação Espírita Boliviana (FEBOL) promoveráem La Paz, no período de 25 a 27 de março próximo,o 4o Congresso Espírita Boliviano. A programaçãoprevê duas conferências de Divaldo Pereira Franco,com os temas Suicídio, aborto e eutanásia e O Es-piritismo para o Terceiro Milênio, além da sua parti-cipação em três painéis. O programa pode ser en-contrado no boletim Camino de Luz ou na pági-na www.spiritist.org/bolivia/index/html, ambos daFEBOL, cujo endereço é: Calle 382 entre Seoane eBuenos Aires – Casilla de Correo 6746 – Santa Cruzde la Sierra – Bolívia; telefax: (591) 3337-6060.

SEARA ESPÍRITA

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