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1 As Dificuldades e os Princípios do Mercado de Trabalho PRODUZIDO POR ALICE SANTANA, EDGAR MENDES E LAURA ROCHA. (CONTROLE AMBIENTAL III) Claus Offe e Nadya Guimarães apresentam teses a respeito da distribuição do mercado de trabalho. A principal ideia proposta por Offe é a de que, no mundo capitalista, o mercado de trabalho é solucionado na medida que a força de trabalho, a mercadoria e seu vendedor, no caso o trabalhador, são indissociáveis, evidenciando a ação dos grandes empreendedores que exercem a força coercitiva no emprego, explorando de seus funcionários a sua força de trabalho. Porém esse aspecto não é exercido de forma estratégica, mas sim de forma segregada, assim, não se pode afirmar que a força de trabalho trata-se, efetivamente, de uma mercadoria. Outro ângulo da ética do mercado de trabalho abordado por Offe, é a divisão desigual dos lucros das empresas, na qual há um favorecimento da segregação por hierarquias de cargos. Essa marginalização do mercado de trabalho também é apresentada por Nadya Guimarães. Segundo a socióloga, a desigualdade é determinada por fatores sociais, de gênero étnicos, e nacionais. A disputa por uma vaga de emprego é caracterizada pela autora como uma arena na qual os trabalhadores trocam a sua capacidade de trabalho por salário, status e outras recompensas. (NADYA GUIMARÃES, 2009,154). Nesse sentido, Nadya Guimarães elabora uma série de proposições que determinam o ingresso no mercado de trabalho, como por exemplo, o bom currículo, o desempenho em uma entrevista de emprego e entre outros. Ademais, ela aponta a ideia de que as relações sociais interferem efetivamente nas relações de trabalho. Dentro da competitividade e da instabilidade na qual o desemprego se aplica, os grupos, ou teias, formadas por “contatos” caracterizam um fator determinante na conquista de uma vaga de emprego. Assim sendo, o mercado opta por empregar indivíduos conhecidos ou aqueles que são indicados por pessoas próximas, excluindo os outros que ainda não possuem referências profissionais, tornando mais difícil seu ingresso no mercado de trabalho. São esses e outros aspectos que sustentam o mercado de trabalho exclusivo. Tais fatores também apoiam o fato de que nem todos os indivíduos possuem a mesma oportunidade de acesso à informação, ou seja, nem todos obtêm um benefício oriundo de suas relações sociais, considerando as condições impróprias na geração de informação de determinadas relações e também a posição de tal sujeito nessa interação social. Nesse sentido, a “meritocracia” é algo infudado. Outro aspecto que elucida tal discrepância quanto ao deslocamento do indivíduo da situação de desempregado para contratado é a dificuldade de adquirir cargos altos, na perspectiva de que vários fatores são demandados pelas grandes firmas para que se alcance tais oportunidades. Assim, o compromisso, proatividade, envolvimento, interesse em aperfeiçoar-se(NADYA

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1

As Dificuldades e os Princípios do Mercado de

Trabalho

PRODUZIDO POR ALICE SANTANA,

EDGAR MENDES E LAURA ROCHA.

(CONTROLE AMBIENTAL III)

Claus Offe e Nadya

Guimarães apresentam teses a

respeito da distribuição do

mercado de trabalho. A principal

ideia proposta por Offe é a de

que, no mundo capitalista, o

mercado de trabalho é

solucionado na medida que a

força de trabalho, a mercadoria e

seu vendedor, no caso o

trabalhador, são indissociáveis,

evidenciando a ação dos grandes

empreendedores que exercem a

força coercitiva no emprego,

explorando de seus funcionários a

sua força de trabalho. Porém esse

aspecto não é exercido de forma

estratégica, mas sim de forma

segregada, assim, não se pode

afirmar que a força de trabalho

trata-se, efetivamente, de uma

mercadoria.

Outro ângulo da ética do

mercado de trabalho abordado

por Offe, é a divisão desigual dos

lucros das empresas, na qual há

um favorecimento da segregação

por hierarquias de cargos. Essa

marginalização do mercado de

trabalho também é apresentada

por Nadya Guimarães. Segundo a

socióloga, a desigualdade é

determinada por fatores sociais,

de gênero étnicos, e nacionais. A

disputa por uma vaga de emprego

é caracterizada pela autora como

“uma arena na qual os

trabalhadores trocam a sua

capacidade de trabalho por

salário, status e outras

recompensas”. (NADYA

GUIMARÃES, 2009,154).

Nesse sentido, Nadya

Guimarães elabora uma série de

proposições que determinam o

ingresso no mercado de trabalho,

como por exemplo, o bom

currículo, o desempenho em uma

entrevista de emprego e entre

outros. Ademais, ela aponta a

ideia de que as relações sociais

interferem efetivamente nas

relações de trabalho. Dentro da

competitividade e da instabilidade

na qual o desemprego se aplica,

os grupos, ou teias, formadas por

“contatos” caracterizam um fator

determinante na conquista de uma

vaga de emprego. Assim sendo, o

mercado opta por empregar

indivíduos conhecidos ou aqueles

que são indicados por pessoas

próximas, excluindo os outros

que ainda não possuem

referências profissionais,

tornando mais difícil seu ingresso

no mercado de trabalho. São

esses e outros aspectos que

sustentam o mercado de trabalho

exclusivo. Tais fatores também

apoiam o fato de que nem todos

os indivíduos possuem a mesma

oportunidade de acesso à

informação, ou seja, nem todos

obtêm um benefício oriundo de

suas relações sociais,

considerando as condições

impróprias na geração de

informação de determinadas

relações e também a posição de

tal sujeito nessa interação social.

Nesse sentido, a “meritocracia” é

algo infudado.

Outro aspecto que

elucida tal discrepância quanto ao

deslocamento do indivíduo da

situação de desempregado para

contratado é a dificuldade de

adquirir cargos altos, na

perspectiva de que vários fatores

são demandados pelas grandes

firmas para que se alcance tais

oportunidades. Assim, o

“compromisso, proatividade,

envolvimento, interesse em

aperfeiçoar-se” (NADYA

2

GUIMARÃES, 2009,168),

tornam-se aspectos essenciais

para que os candidatos consigam

avançar profissionalmente. A

conquista de tais atributos

dependem, muitas vezes, do

poder aquisitivo dos

concorrentes. Assim, os

candidados à vaga privilegiados

economicamente, se despontam

em relação aos menos

favorecidos, que acabam entrando

no mercado de trabalho em

empresas de menor exigência e,

consequentemente, de menor

retribuição salarial para o

trabalhador. No mercado de

trabalho atual, existem empresas

de iniciativa privada que se

encarregam em aprimorar as

habilidades de um indívíduo,

permitindo sua inserção em um

status profissional significativo.

Esse é um exemplo de atributo

que somente aqueles que se

encontram em condições

econômicas favoráveis podem

adquirir. Todavia, na grande

maioria, as massas à procura de

emprego não possuem tal poder

aquisitivo e, portanto, a procura

pro emprego destes acaba sendo

por gravidade, dado o efeito

inercial do grande e do recorrente

desemprego.

O benefício econômico e

o acesso à informação são alguns

dos aspectos capazes de

selecionar e excluir muitos dos

trabalhadores. Também estão

inclusos nessa lista outros

aspectos como o gênero, a cor, a

idade e até mesmo a opção sexual

do trabalhador.

É notável a diferença de

tratamento do mercado de

trabalho para com os

homossexuais e para com as

mulheres, isto é, os homens

heterossexuais são mais

valorizados profissionalmente, o

que tem forte influência na

retribuição salarial. A idade é o

aspecto que tem influencia na

carreira profissional tanto do

homem quanto da mulher, mas,

no entanto, a mulher trabalhadora

de idade avançada está em uma

área de risco maior do que o

homem. Porém a terceira idade

não limita a área de risco

profissional da mulher. Mesmo

quando jovem, a mulher também

está sujeita a ter mais dificuldade

no mercado de trabalho do que o

homem.

Baseado nesses aspectos,

foi elaborada uma entrevista para

comprovar que esses aspectos e

limitações do mercado de

trabalho de fato ocorrem no

mundo contamporâneo. A

entrevistada, Emiliane de Souza

Mendes, 21, ainda não é graduada

e atualmente faz Bacharelado em

Engenharia Civil no Instituto

Federal de Minas Gerais.

Ela relatou a dificuldade

de fazer a transição entre o ensino

médio e a graduação e as

dificuldades encontradas para

conseguir um emprego no qual a

mesma pudesse desempenhar

suas qualidades e ter

oportunidade de crescimento

profissional, sem o diploma de

ensino superior. “Acredito que o

mundo do trabalho não é

favorável para com aqueles que

não possui boas indicações. Mas,

aí se cria uma grande

dificuldade, pois ninguém te dá

oportunidade porque você é

inexperiente. E, se ninguém te dá

oportunidades, você não possui

oportunidade de adquirir

experiência, e assim, incrementar

o seu currículo. Logo, aqueles

que possuem indicações já saem

na frente”, declarou a estudante

que pretende ingressar na área de

Engenharia, após desisitir da área

de Direito.

1) Qual foi o seu primeiro

emprego?

“Minha primeira experiência de

trabalho foi como vendedora.

Estranhei, pois consegui a vaga

de forma rápida, mesmo sem ter

experiências profissionais. Nesse

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trabalho, inicialmente, eu tinha

que vender lápides de cemitério

por telefone para uma empresa

de planos. Esse trabalho foi

bastante estressante e frustante,

visto que as pessoas acham que

você está, de certa forma,

antecipando a morte delas e não

entendem que é só o seu trabalho.

Porém, era mais fácil do que o

cargo que assumi uma semana

após entrar na empresa, que

segundo a minha chefe, era

perfeito para a forma simpática

na qual eu lidava com os clientes

e pela beleza, que de certa forma

atrairia os clientes. A minha

função era permanecer em

grandes hospitais de BH

esperando que alguns pacientes

internados chegassem a falecer.

Logo depois, eu deveria

sensibilizar e apoiar a família,

que estaria desestruturada, e

assim vender o pacote “fúnebre”

completo, com enterro, velório,

caixão e etc. O que eu pude

perceber é que muitas famílias

assinavam os contratos no

momento de fraqueza e desespero

e não analisavam direito outras

opções. Isso me incomodou

muito. Então, em 1 mês e meio de

trabalho, eu desisti e pedi

demissão. E até hoje reflito sobre

o quão ruim é esse tipo de

trabalho, que obtêm lucro e se

alimenta através do sofrimento

dos outros.”

2) Antes de ingressar no seu

primeiro emprego você já sabia

do que se tratava? O que a

levou assumir essa vaga e

permanecer no emprego por

esse período de tempo?

“Eu sabia que se tratava de

vender produtos, mas eu não

sabia exatamente como

funcionava, até porque acho que

devido a “monstruosidade” da

função, eles tentam até manter

certo sigilo para não

desestruturar esse sistema.

Acredito que os fatores

econômicos foram os que mais

me coagiram a aceitar essa vaga

e a exercê-la por um tempo. Pois,

existe uma certa pressão, não

exatamente dos familiares, mas

de todos em geral, em começar a

se tornar independente e pagar as

suas contas, ocorrendo assim a

transição de jovem para adulto.

Além do mais, assumi certas

dívidas nessa época, devido

aquele sentimento de

“independência” que te ilude e te

faz querer ter e comprar suas

próprias coisas, então precisava

continuar trabalhando e arcar

com tais compromissos.”

3) Você acha que o aspecto de

você ser mulher e não graduada

interferiu na busca por

emprego? A partir da sua

experiência, qual a importância

de um curso superior para

você?

“Com certeza isso influenciou

muito na minha minha procura

por emprego e na minha opção

por esse cargo na empresa. Era

muito difícil de conseguir um bom

emprego, isto é, um que fosse

menos “mecânico” e que exigisse

mais do meu intelecto. Parece

que o mercado subestima a

capacidade das pessoas, ainda

mais das mulheres, que não

possuem um diploma.. É muito

importante para a sua imagem e

para o seu currículo ter um

diploma de nível superior, é um

aspecto que pesa muito na

questão do pagamento. Isso ficou

muito claro pra mim no meu

segundo emprego”.

4) Como a transição do

seu primeiro emprego para o

segundo?

“Eu estava desempregada na

época e minha tia m e disse que

havia uma vaga no banco em que

ela trabalhava. Fui indicada,

basicamente, pela minha tia e a

minha prima. A minha tia era

minha chefe nesse emprego e ela

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foi bastante importante para que

eu conseguisse a vaga. Mas por

sermos muito próximas, as

relações pessoais começaram a

se confundir com as profissionais,

o que fez com que a gente

brigasse por diversas vezes.

Fomos repreendidas pelos

supervisores e em uma dessas

repreensões, acabei sendo

demitida.”

5) Você acha que uma

pessoa do mesmo nível

profissional que o seu

conseguiria esse emprego se não

fosse por indicação de alguém

próximo?

“Eu acho que poderia conseguir,

mas seria mais difícil. Quando

você tem um parente, amigou ou

conhecido que precisa de

emprego e você tem o poder de

empregá-lo, com certeza você dá

preferência para ele. Mas isso

pode ser complicado porque as

relações profissionais podem se

confundir com as relações

pessoais, o que foi o meu caso”.

Emiliane de Souza Mendes,21, estudante de Engenharia Civil.

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