36

Revista spese numero 2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

NOTA EDITORIAL Neste segundo número da revista de Saúde Escolar são publicados alguns dos trabalhos apresentados sob a for- ma de poster no 1o Congresso de Saúde Escolar, realizado em Abril de 2009, no Forúm de Ermesinde. Adicional- mente, temos dois artigos elaborados por dois sócios da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Esco- lar (SPESE). Só foi possível a concretização desta revista através do esforço e dedicação deste grupo dinâmico e muito motivado que constitui a SPESE. A SPESE integra profissionais de várias áreas nomeada- mente nutricionistas, médicos de Saúde Pública, fisiolo- gistas do desporto, psicólogos e enfermeiros com prática em Saúde Escolar.

Citation preview

Page 1: Revista spese numero 2
Page 2: Revista spese numero 2

NOTA EDITORIAL

Neste segundo número da revista de Saúde Escolar são publicados alguns dos trabalhos apresentados sob a for-ma de poster no 1º Congresso de Saúde Escolar, realizado em Abril de 2009, no Forúm de Ermesinde. Adicional-mente, temos dois artigos elaborados por dois sócios da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Esco-lar (SPESE). Só foi possível a concretização desta revista através do esforço e dedicação deste grupo dinâmico e muito motivado que constitui a SPESE.

A SPESE integra profissionais de várias áreas nomeada-mente nutricionistas, médicos de Saúde Pública, fisiolo-gistas do desporto, psicólogos e enfermeiros com prática em Saúde Escolar.

O corpo editorial da revista tem como objectivos a divul-gação de todos os bons trabalhos que se realizam na área da Saúde Escolar.

Aceitem pois o desafio de enviarem os vossos trabal-hos para o 1º Congresso da SPESE que depois de revis-tos serão eles também publicados num próximo número desta revista.

Ana Paula Alves

Page 3: Revista spese numero 2

A epidemia da obesidade é uma consequência per-feitamente compreensível das escolhas modernas marcadas por um decréscimo acentuado nas ne-cessidades de dispêndio de energia. Neste sentido, surge uma necessidade natural de contrariar esta tendência à imobilidade - promover o movimento.

É já do senso comum que os comportamentos sedentá rios estão associados ao desenvolvimento da obesidade. A adolescência parece ser um período particularmente vulnerável para a escolha deste tipo de actividades laborais, de lazer ou de socialização. A American Academy of Pediatrics (1) publicou recomendações no sentido de serem reduzidas as horas de actividade de baixo dispên-dio energético como ver televisão (com programas de qualidade) para um máximo de 2 horas em média por dia.

A obesidade é frequentemente discutida em relação aos modelos dietéticos aos baixos níveis de actividade física ou à constituição genética, mas o envolvimento é igual-mente determinante (2). Evitá-la exige que o indivíduo reconheça o poder das influências ambientais externas e crie um microambiente protector que inclua uma alimen-tação saudável e muita actividade física. É, por isso, fun-damental estabelecer um compromisso com o exercício físico que se manifeste num continuum entre os valores in-trínsecos, como o prazer, o conhecimento, a auto-imagem corporal, e os valores extrínsecos, como as questões de comprometimento e enquadramento social e económico.Mas será possível para as crianças e jovens das últimas gerações manterem esse compromisso com o exercício físico?As escolas portuguesas destacam-se positivamente a nível internacional por terem professores especializa-dos, por proporcionarem aos seus alunos actividades físicas curriculares de participação obrigatória (educação física) e extra-curriculares de participação voluntária (desporto escolar). Este cenário deveria ser suficiente para que os jovens pudessem atingir, no dia-a-dia, um

Interver no Ambiente Obesogénico

nível apropriado de actividade física, mas, na realidade, isso não acontece. Vários estudos mostram que grande parte dos jovens portugueses não atinge os valores inter-nacionais recomendados de 60 minutos por dia de activi-dades físicas de intensidade moderadas e vigorosas para obter benefícios para a saúde e, para reforçar este problema, a prevalência de obesidade continua a aumentar.

Por esse motivo, nas últimas décadas, tem vindo a crescer o interesse pelo “mercado” dos projectos de in-tervenção com base na escola e na comunidade. Sabe-mos que é difícil edificar e manter comportamentos saudáveis a longo prazo. As investigações mais recentes têm apresentado resultados pouco animadores para quem tem como objectivo único a perda de peso, pois o verdadeiro problema reside realmente, na modifi-cação de comportamentos (3). No entanto, são clara-mente reconhecidos os efeitos benéficos para a saúde na redução do peso, como a diminuição da hipertensão, do colesterol (LDL), dos triglicerídeos, e da glicose (4).

Luísa AiresCoordenadora do Projecto ACORDA-Escolas

No que respeita às intervenções cujo objectivo específico é o aumento da actividade física, os resultados têm sido promissores. Programas que promovam experiências de sucesso e de prazer podem contribuir mais eficazmente para a prática regular da actividade física. Valorizar e ga-rantir sensações positivas e enriquecedoras durante e após a prática do exercício assumem-se como aspectos decisivos na alteração de comportamentos saudáveis (5).

A escola tem todas as condições necessárias para a in-tervenção, pois é onde as crianças passam a maior parte do tempo. De forma dialéctica, as crianças tam-bém podem ser uma influência na família levando da escola para casa saberes, transmitindo e impulsionando o prazer pela actividade física e pelas escolhas alimen-tares saudáveis. Como local de intervenção em horário pós-curricular, pode ser o meio ideal para ultrapassar factores condicionantes como a falta de transportes ou problemas de segurança, que tanto preocupam os pais.

Page 4: Revista spese numero 2

Referências:

1.AAP. American Academy of Pediatrics: Children,adolescents, and television. Pediatrics. 2001 Feb;107(2):423- -6.

2.Rennie KL, Johnson L, Jebb SA. Behavioural deter-minants of obesity. Best practice & research. 2005 Sep;19(3):343- -58.

3. Kamath CC, Vickers KS, Ehrlich A, McGovern L, Johnson J, Singhal V, Paulo R, Hettinger A, Erwin PJ, Montori VM. Behavioral interventions to prevent childhood obesity. A systematic review and meta- -analyses of randomized trials. The Journal of clinical endocrinology and metabo-lism. 2008 Sep 9.

4. Harris KC, Kuramoto LK, Schulzer M, Retallack JE. Effect of school- -based physical activity interventions on body mass index in children: a meta- -analysis. CMAJ. 2009 Mar31;180(7):719- -26.

5. Lubans DR, Foster C, Biddle SJ. A review of mediators of behavior in interventions to promote physical activ-ity among children and adolescents. Prev Med. 2008 Nov;47(5):463- -70.

6. Shaya FT, Flores D, Gbarayor CM, Wang J. School- -based obesity interventions: a literature review. J Sch Health. 2008 Apr;78(4):189- -96.

7. Brown T, Summerbell C. Systematic review of school- -based interventions that focus on changing dietary intake and physi-cal activity levels to prevent childhood obesity: an update to the obesity guidance produced by the National Institute for Health and Clinical Excellence. Obes Rev. 2008 Jul 30.

A qualidade do envolvimento familiar também é determi-nante através do controlo da quantidade de brinquedos do lar ou através das actividades estruturadas pelos adul-tos. Pais e familiares podem proporcionar mais oportuni-dades às crianças de serem activas e reduzir a exposição às actividades sedentárias. Intervenções mais eficazes exigem portanto uma abordagem em múltiplos níveis, combinando a escola, com a família ou comunidade, edu-cação e envolvimento, a curto prazo (6) ou a longo prazo (7).

Em síntese, não há um único factor isolado que esteja consistentemente ligado à obesidade, mas sim um con-junto de factores interligados ao nível sociocultural (família, estatuto sócio-económico, género), intra e inter-pessoal (saúde psicológica dos pais, e bem estar em geral) e do envolvimento (segurança, acesso ao desporto e a alimentos saudáveis). É importante destacar o papel dos programas de intervenção direccionados para as crianças com excesso de peso e obesidade com o objectivo de au-mentar os níveis de actividade física em especial de in-tensidades moderadas e vigorosas, mas simultaneamente de reeducar e capacitar os jovens de fazerem escolhas autónomas de praticas saudáveis nas notinas pessoais.

Estão a decorrer no país inúmeras intervenções, mas ainda não existe um conhecimento altaneiro sobre o número e eficácia dos programas. No entanto, destaco três dinâmi-cas de interesse: O programa de Combate à Obesidade Infantil na Região do Algarve, que foi distinguido com o 1º Prémio na categoria Prevenção da Obesidade dos Prémios Hospital do Futuro 2008/2009, o programa Pessoa, imple-mentado no concelho de Oeiras e o Projecto ACORDA a decorrer há já 8 anos no Centro de Investigação em Activi-dade Física, Saúde e Lazer (Faculdade de Desporto - UP).Como coordenadora do Projecto ACORDA-Escolas, em desenvolvimento há 3 anos na Escola Secundária de Valon-go, sinto concretamente as dificuldades de manter e fazer crescer um programa específico para crianças e adoles-centes obesos. Quebrar inércia, manter a frequência e es-tabelecer o compromisso não são tarefas fáceis. Mas, ver a adesão aumentar, perceber que os participantes sentem-se envolvidos num grupo, vivenciam o sucesso e mantêm a participação no ano seguinte, faz aumentar a minha con-vicção de que com pequenos passos, construímos a causa.

É muito importante haver um trabalho interdisciplinar entre médicos, jovens, família e escola. Porque a par de um problema clínico, a obesidade deverá ser reconhecida como uma questão pedagógica de converter os conhecimentos sobre a saúde numa prática de vida.

Page 5: Revista spese numero 2

Implicações dos determinantes das escolhas alimentares na intervenção em contexto escolar: Uma breve revisão e reflexão.

Marina Prista Guerra / Sandra Torres / Filipa VieiraFaculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto

O tema da alimentação é actualmente um tema bastante discutido na comunidade em geral e também na comuni-dade científica. Os extremos, patentes em doenças como a anorexia nervosa e a obesidade, dão origem a reflexões várias que convergem numa mesma questão de base: “porque comemos o que comemos”? Este é o ponto de partida de dois artigos nacionais recentemente publica-dos (Silva, Pais-Ribeiro, & Cardoso, 2008; Viana, Santos, & Guimarães, 2008) e que visam sistematizar as variáveis que influem na selecção alimentar, nomeadamente das crianças e jovens. No presente artigo propomos rever sucintamente as principais conclusões de ambos os artigos e tirar breves pistas para a intervenção em meio escolar.

Um importante ponto de partida para esta reflexão é o facto das preferências alimentares na infância se cingirem simplesmente a um critério – gostar ou não – contrariamente ao que se observa nas fases etárias sequentes, nas quais uma panóplia de variáveis determinam, de forma integrada, o que se escolhe comer. Procuraremos sistematizar estas mesmas variáveis organizando-as por categorias. A primeira é comummente explanada por Silva et al. (2008) e Viana et al. (2008) e diz respeito às influências desenvolvimentais. Neste tópico a noção básica implícita é a de que os hábitos alimentares ad-quiridos na infância persistem ao longo da vida. É na in-fância que as preferências por certos alimentos são em larga escala desenvolvidas, através da exposição repeti-da aos mesmos. Neste contexto, a influência parental assume-se como um factor preponderante, não apenas pela diversidade de alimentos que poderá proporcionar à criança, mas também pelo modelo de alimentação que poderá representar para a mesma. Hoje sabe-se que as atitudes parentais em relação aos alimentos (e.g. os ali-mentos que compram para ter em casa e os seus próp-rios hábitos alimentares) poderão influenciar as escolhas dos próprios filhos através de um processo de aprendi-

zagem social. Como refere Silva et al. (2008, p. 195): “O acto de comer é um acontecimento social, sendo que outras pessoas que se encontram a comer à nossa volta podem servir de modelos (Cutting et al., 1999)”.

Neste cenário existem ainda outros intervenientes a considerar para além das figuras parentais; referimo-nos aos pares. Já na idade pré-escolar, a criança desen-volve preferências por determinados alimentos através da observação de outras crianças. Este dado é particu-larmente relevante quando pretendemos fazer a ponte para o contexto escolar, na medida em que realça a im-portância de considerarmos a influência exercida pelos pares, ao invés de considerarmos isoladamente cada criança ou jovem como alvo de intervenção. Da mes-ma forma que a influência dos pares pode exercer um efeito adverso (se for no sentido de uma alimentação pouco saudável), a mesma poderá ser potenciadora de uma boa alimentação. Tal implica, certamente, uma in-tervenção de largo espectro, ao nível comunitário, com implicações na mudança de mentalidade dos jovens.A mudança de mentalidades centra-se noutro fenómeno social a que vulgarmente chamamos “prestígio”. Comer determinados alimentos poderá ser indicador de prestí-gio, consoante o preço dos mesmos ou o contexto a que eles são associados. Viana et al. (2008) exemplificam esta influência contextual com base nos resultados do estudo de Chapman e MacLean (1993): os vegetais cozidos, sala-das e outros alimentos considerados saudáveis são as-sociados pelos jovens às refeições com os pais e a “ficar em casa”; em contrapartida, a “junk food” e a comida considerada menos saudável é associada pelos mesmos a refeições com amigos e ao “estar à vontade”. Desta for-ma, a comida pode ser usada como indicador de prestí-gio, como forma de adquirir independência em relação aos pais ou como meio de integração no grupo de pares.

Page 6: Revista spese numero 2

É de salientar que a representação elaborada sobre cada alimento é também fortemente influenciada pela pub-licidade. Crenças sobre o estatuto que o seu consumo proporciona, bem como as suas qualidades nutricionais são veiculadas nos anúncios e condicionam a motivação para determinadas escolhas. A extensa bibliografia revista por Viana et al. (2008) é unânime em concluir que as cri-anças e os jovens parecem ser particularmente sensíveis aos anúncios sobre alimentos calóricos e ricos em açúcar.

No espectro dos factores motivacionais é ainda de con-siderar, obviamente, os aspectos relacionados com os sentidos (e.g. o sabor e o aroma dos alimentos) mas também outras questões mais práticas como o preço (e.g. ser barato) e a conveniência (ser fácil de preparar).

Abordados os aspectos desenvolvimentais, sociais e motivacionais resta-nos enfatizar os, não menos im-portantes, factores psicológicos que regulam as escol-has alimentares. Um dos aspectos refutados em alguns estudos como estando na base de uma dieta pobre é a falta de conhecimento sobre a composição dos alimen-tos. Na realidade, reconhece-se a pertinência desta di-mensão mas, paralelamente, também se considera que a mesma é insuficiente para explicar isoladamente a presença de uma alimentação pouco saudável. As impli-cações para a prática que daqui advêm resumem-se ao facto da intervenção a este nível dever contemplar uma vertente informativa sobre as qualidades dos alimentos, mas não se centrar única e exclusivamente neste aspecto.

Incluir uma vertente informativa ao nível da educação alimentar justifica-se pelo facto das informações veicula-das sobre os alimentos exercerem influência ao nível das crenças formadas em relação ao comportamento alimen-tar. As crenças, por sua vez, orientam as decisões. Silva et al. (2008) salientam no seu artigo de revisão alguns dos principais modelos cognitivos (Modelo de Crenças da Saúde; Modelo da Motivação Protectora; Modelo da Acção Planeada) que ajudam a compreender a forma como as crenças podem influenciar as decisões, concluindo que os diferentes modelos focam, em comum, a importância de algumas dimensões cognitivas na implementação de um determinado comportamento, entre elas, a percepção do risco (vulnerabilidade), percepção da gravidade do prob-lema, avaliação de custos e benefícios de determinado comportamento, auto-eficácia e a percepção de controlo do comportamento. Todavia, uma das principais críticas apontadas é o facto de “estes modelos pressuporem que o comportamento é consequência de pensamentos ra-cionais, ignorando, consequentemente, o papel dos afec-tos, apesar de emoções como o medo (do aumento de peso, de doenças), prazer e culpa (por exemplo, por ter comido em excesso) poderem contribuir para a selecção de alimentos” (Ogden, 2003 cit in Silva et al., 2008, p.199).

É de salientar, pois, que nos últimos anos a relação entre a alimentação e as emoções tem sido alvo que crescente

interesse ao nível da investigação. Com consistência têm emergido posições teóricas que conceptualizam as per-turbações do comportamento alimentar como uma per-turbação ao nível da auto-regulação, com especial pre-domínio dos défices da regulação dos afectos. Também na obesidade a dificuldade em lidar com os afectos tem sido realçada. As descrições clínicas dão suporte a esta perspectiva, relatando que indivíduos com problemas alimentares vivenciam as suas emoções de uma forma confusa e manifestam dificuldade em distingui-las e de-screvê-las. O comportamento alimentar poderá surgir, então, como um mecanismo regulador de estados emo-cionais intensos e negativos (Clinton, 2006; McManus & Waller, 1995; Meyer, Waller, & Waters, 1998; Milligan & Waller, 2000; Overton, Selway, Stongman, & Hou-ston, 2005; Torres, 2005). Frequentemente, o consumo de determinados alimentos, sobretudo os alimentos doces e ricos em gordura, são utilizados como “auto-medicação” para atenuar a vivência de emoções nega-tivas. Contudo, esta relação entre alimentos e emoções deverá ser encarada num sentido bidireccional, pois se as emoções determinam o que comemos, também os alimentos podem determinar o nosso estado emocional.

Os estudos com estudantes revistos por Silva et al. (2008) apontam conclusões que reforçam a relação es-treita entre estas variáveis. Em específico, analisando os períodos de maior stress associados aos exames es-colares, os estudantes tendem a alterar o seu padrão alimentar, demonstrando uma tendência para comer de forma mais emocional e aumentando a ingestão de alimentos “tipo-snack”. Perante níveis de stress ex-tremamente elevados, a redução da quantidade de ali-mentos ingerida é também uma característica patente.No âmbito das variáveis psicológicas é ainda de realçar o papel que a insatisfação com a imagem corporal pode ter na motivação para seleccionar os alimentos a ingerir. Esta dimensão parece constituir um determinante de peso no comportamento alimentar adoptado pelos jovens. Os es-tudos nacionais evidenciam esta relação com dados bem expressivos. O desejo dum peso inferior é uma característi-ca marcante nas amostras de estudantes analisadas, mes-mo perante pesos normais ou baixos; a distorção da ima-gem corporal ascende a prevalências na ordem dos 10%, e a insatisfação com a imagem corporal está bem patente na frequente operacionalização de estratégias para con-trolo de peso (Baptista, Sampaio, Carmo, Reis, & Galvão-Teles, 1996; Gonçalves, 1998; Queirós, 2001). A principal conclusão a retirar para a prática é a pertinência de trabal-har a relação com o próprio corpo na intervenção com os jovens. Tal poderá contribuir para a adopção de uma ali-mentação equilibrada e, consequentemente, para a pre-venção de perturbações do comportamento alimentar.

Page 7: Revista spese numero 2

Reflexões finais

No presente artigo visámos sistematizar, de forma sumária, os principais determinantes das escolhas ali-mentares, tomando como base a revisão de dois artigos nacionais recentemente publicados. Estes artigos (Silva et al., 2008; Viana et al., 2008) dão um excelente contrib-uto na compilação dos dados mais recentes ao nível da investigação e, como tal, constituem um excelente ponto de partida para o leitor que pretenda aprofundar o tema.

Procurámos retirar das principais conclusões científicas as implicações para a intervenção em contexto escolar no que concerne à educação para a saúde e, em especí-fico, ao comportamento alimentar. Das variáveis revistas fica claro que a família tem um papel preponderante no desenvolvimento e alteração dos hábitos alimentares, sendo pertinente que se veicule a informação de que o consumo de refeições em família é um meio potencial para fomentar uma alimentação saudável. Obviamente, que tal pressupõe que a família seja um modelo positivo. É neste ponto que a intervenção comunitária, a um nível mais global, é bem-vinda.

Não obstante a importância da família, a escola também parece ter um contributo a dar neste domínio, rentabi-lizando de forma positiva a influência social, alterando crenças erradas sobre a alimentação, trabalhando as atitudes, promovendo a mudança de conceitos no que concerne aos alimentos “prestigiantes”, e rentabilizando o reforço social perante as mudanças positivas. Estes pontos podem ser abordados nas aulas, em diferentes disciplinas, com técnicas activas que promovam a reflexão. Uma Intervenção mais formal, com recurso a profissionais externos no domínio da educação para a saúde, poderá ser igualmente uma estratégia comple-mentar. Não será também de descurar as medidas práti-cas, que impliquem o acesso mais restrito a alimentos não saudáveis, e o acesso generalizado e fácil a alimen-tos de melhor qualidade nutricional.

Por último, gostaríamos de deixar um breve apontamen-to, em jeito de paradoxo. Consideramos que trabalhar o tema da alimentação junto dos jovens requer a pon-deração suficiente para evitar uma focalização exces-siva neste tema. Debater exaustivamente este assunto comporta riscos, podendo contribuir para a formação de um padrão de imagem corporal e alimentação inflexíveis, e fomentando consequentemente a obsessão com o corpo; dimensões estas que actualmente já manifestam níveis preocupantes no nosso país.Referências Bibliográfica

Referências Bibliográficas:

Baptista, F., Sampaio, D., Carmo, I., Reis, D., & Galvão-Teles, A. (1996). The prevalence of disturbances of eating behaviour in a Portuguese female university population. European Eating Disorder Review, 4, 260-270.

Chapman, G. & MacLean, H. (1993). “Junk food” and “healthy food”: Meanings of food in adolescent women’s culture. Jour-nal of Nutrition Education, 25, 108-113.

Clinton, D. (2006). Affect regulation, object relations and the central symptoms of eating disorders. European Eating Disor-ders Review, 14, 203-211.

Gonçalves, S. (1998). Perturbações do Comportamento Ali-mentar: Estudo da prevalência junto de uma população univer-sitária feminina. Tese de mestrado não publicada, Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho.

McManus, F., & Waller, G. (1995). A functional analysis of binge-eating. Clinical Psychology Review, 8, 845-863.

Meyer, C., Waller, G., & Waters, A. (1998). Emotional states and bulimic psychopathology. In H. W. Hoek, J. L. Treasure, & M. A. Katzman (Eds.), Neurobiology in the treatment of eating disorders (pp.271-289). Chicester, UK: Wiley.Milligan, R. J., & Waller, G. (2000). Anger and bulimic psycho-pathology among nonclinical women. International Journal of Eating Disorders, 28, 446-450.

Overton, A., Selway, S., Strongman, K., & Houston M. (2005). Eating disorders – The regulation of positive as well as negative emotion experience. Journal of Clinical Psychology in Medical Settings, 12, 39-56.

Queirós, L. P. (2001). Autoimagem quanto à aparência física da população feminina em idade escolar: Abordagem na óptica da capacitação para autogerir a saúde e seus factores. Tese de mestrado não publicada, Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade de Lisboa.

Silva, I., Pais-Ribeiro, J. L., & Cardoso, H. (2008). Porque comemos o que comemos? Determinantes psicossociais da selecção alimentar. Psicologia: Saúde & Doenças, 9, 189-208.

Torres, S. (2005). O corpo e o silêncio das emoções: Estudo da alexitimia na anorexia nervosa. Tese de doutoramento não publicada, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto.

Viana, V., Santos, P. L., & Guimarães, M. J. (2008). Compor-tamento e hábitos alimentares em crianças e jovens: Uma revisão da literatura. Psicologia: Saúde & Doenças, 9, 209-231.

Page 8: Revista spese numero 2

Resumo

Alguns estudos têm evidenciado uma associação positiva entre o visionamento televisivo e a obesidade infantil, devi-do à substituição da prática de actividade física por com-portamentos sedentários. No entanto, a obesidade infantil está relacionada com múltiplos factores de carácter indi-vidual, familiar e ambiental, e a interacção e complexidade dos comportamentos infantis ainda está por esclarecer.

Objectivos

Este estudo tem como objectivo descrever alguns há-bitos e comportamentos que caracterizam os estilos de vida de crianças em idade escolar, relativamente à prática de actividade física, comportamentos sed-entários e a sua associação com a obesidade infantil.

Métodos

Trata-se de um estudo do tipo transversal. A população em estudo compreendeu todas as crianças do 1º ciclo do ensino básico, da Fundação Bissaya Barreto, tendo sido avaliadas através de parâmetros antropométricos de peso e altura. Os critérios utilizados para a classificação do estado nutricional consideraram o IMC em relação aos Percentis 85 e 95 das tabelas do CDC e a informação sobre os comportamentos das crianças foi obtida através de questionários. Resultados: Foram avaliadas 123 cri-anças (59,3% do sexo masculino e 40,7% do sexo femi-nino) com idades entre os 6 e os 11 anos. A prevalência de pré-obesidade (P85 ≤ IMC ≤ P95) foi de 20,3% e de obesidade (IMC ≥ P95) foi de 13%. As crianças com ex-

Associação entre a prática de actividade física, comportamentos sedentários e obesidade em crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico.

cesso de peso despendiam, tendencialmente, mais tempo em actividades sedentárias, como ver televisão, jogar vídeo-jogos, utilizar a internet e fazer os trabalhos de casa ou ler. Em contrapartida, a prática de actividade física revelou-se insuficiente (< 60 minutos diários, 2 dias por semana), principalmente nas crianças mais velhas.

Conclusão Com a elaboração deste estudo conclui-se que os compor-tamentos sedentários estão associados a obesidade infan-til. É necessária mais intervenção no sentido de reduzir o tempo gasto em comportamentos sedentários integrando cada vez mais a prática regular de actividade física, como factor fundamental no desenvolvimento das crianças.

Andreia CarlosNutricionista – CEIDSS/Universidade Atlântica

Ana RitoInvestigadora – Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge

Introdução De acordo com o Centers for Disease Control and Pre-vention (CDC), desde 1980 que a proporção de crianças com excesso de peso, entre os 6 e os 11 anos de idade, cresceu quatro vezes mais em algumas regiões da União Europeia (25 países).(3, 4) Segundo o International Obes-ity Task Force (IOTF), os números de crianças obesas têm aumentado rapidamente, a prevalência aumenta aproximadamente 0,5% cada ano.(6) Em Portugal, as cri-anças com idades compreendidas entre os 7 e os 9 anos, apresentam níveis de excesso de peso e obesidade su-periores a 30%.(5) Segundo Must e Strauss (1999 cit in Chapman, Nicholas e Supramaniam, 2006), as crianças obesas têm entre 25 e 50% de probabilidade de pro-gressão para adultos obesos, aumentando a probabi-

Page 9: Revista spese numero 2

Método

Trata-se de um estudo do tipo transversal, realizado en-tre Outubro de 2007 e Junho de 2008, em Coimbra.

Participantes

A população em estudo compreendeu 123 crianças do 1º ciclo do ensino básico, da Fundação Bissaya Barreto (59,3% do sexo masculino e 40,7% do sexo feminino) com idades entre os 6 e os 11 anos e dos respectivos pais obtiveram-se 76 questionários (taxa de resposta de 62%). Foram consideradas 8 turmas do 1º ao 4º ano de escolari-dade do Colégio Bissaya Barreto (Fundação Bissaya Bar-reto – Coimbra).

Material

Os questionários aplicados às crianças e Encarregados de Educação/Pais foram elaborados com base num ques-tionário de Rito (2007) e um questionário da Harvard Medical School (2003). Os comportamentos sedentários foram avaliados através de questões sobre ver televisão, jogar vídeo-jogos, ver filmes/DVDs, utilização da internet e tempo dispendido a fazer trabalhos de casa.

Procedimento

Todas as crianças entregaram, por escrito, um consenti-mento informado dos pais/Encarregados de Educação para a realização das avaliações antropométricas. Para obter o IMC, procederam-se às medidas de peso e altura (medições feitas com base na metodologia de Rito, 2004). A altura foi medida com as crianças descalças, num es-tadiómetro (modelo SECA® 206), com uma precisão de 0.1 cm, e o peso foi medido com roupa interior, sem calçado, numa balança electrónica portátil (modelo SECA® 840) com uma precisão de 0.1 kg. Os critérios utilizados para a classificação do Estado Nutricional (EN) consideraram o IMC em relação aos Percentis 85 e 95 das tabelas do CDC (2000) sendo valores superiores aqueles percentis, pré-obesidade e obesidade, respectivamente. Para efei-tos de análise foram consideradas três classes de Estado Nutricional (EN): “normoponderal”, “pré-obesidade” e “obesidade”.

Análise Estatística

Foi utilizada estatística descritiva na análise dos dados deste estudo, com recurso a medidas de tendência central (médias), utilização de crosstabs para separar variáveis por sexo, coeficiente de correlação de Pearson para var-iáveis métricas, estatística do tipo não paramétrico (teste qui-quadrado) e alfa de cronbach para avaliar a possibili-dade de aglutinar variáveis e utilizá-las para posteriores associações.

lidade para 78%, para os adolescentes obesos. O risco significativo de a obesidade infantil continuar na idade adulta, torna a acção preventiva numa prioridade.(7) Alguns estudos têm evidenciado uma associação positi-va entre o visionamento televisivo e a obesidade infan-til, devido à substituição da prática de actividade física por comportamentos sedentários. No estudo National Health Examination Survey (NHES), com 13000 crianças, verificou-se que existiam associações significativas en-tre a quantidade de tempo de visionamento televisivo e a prevalência de obesidade.(4) Os autores concluíram que 29% dos casos de obesidade podem ser prevenidos diminuindo o visionamento televisivo para 1 hora de televisão por semana.(4) Segundo um estudo da Media Monitor, cada criança portuguesa entre os 4 e os 14 anos, vê cerca de três horas de televisão por dia.(8) A televisão, os vídeos e os computadores têm contribuído de forma decisiva para a inactividade infantil.(15) Segundo Dietz e Gortmaker (1985), por cada hora diária de visionamen-to televisivo, a prevalência de obesidade aumentava de 1 a 3% e num estudo de Bernard et al. (1995), consta-tou-se que as crianças obesas despendiam significativa-mente mais tempo a ver televisão (14,2 horas/semana) do que crianças não obesas (11,6 horas/semana).(15)

Estudos antropológicos indicam que hoje, somos mais sedentários do que em qualquer momento da evolução da história.(9) Hoje em dia, as crianças gastam menos 600 kcal/dia do que os nossos ancestrais há 50 anos atrás.(9) As características do ambiente obesogénico que en-volve as crianças são hipotéticos determinantes dos seus hábitos alimentares e prática de actividade física.(10) Apesar de a maioria das crianças passar o seu dia fora de casa, o ambiente familiar é um dos principais ambi-entes, onde existem regras familiares, preferências e opiniões que determinam a disponibilidade alimentar e as oportunidades para a prática de actividade física.(10)

A obesidade infantil está relacionada com múltiplos fac-tores de carácter individual, familiar e ambiental, e a in-teracção e complexidade dos comportamentos infantis ainda está por esclarecer. Existindo assim, uma necessi-dade de desenvolvimento de investigação com enfoque na família, identificando os aspectos físicos e sociais do ambiente em casa, que possam ter impacto na prática ha-bitual de actividade física e na alimentação das crianças.(11) Neste sentido, o presente estudo pretende descrever alguns hábitos e comportamentos que caracterizam os estilos de vida de crianças em idade escolar, relativa-mente à prática de actividade física, comportamentos sedentários e a sua associação com a obesidade infantil.

Page 10: Revista spese numero 2

Resultados

Avaliação do Estado Nutricional: Ao avaliar o estado nu-tricional (EN) das crianças observámos que a prevalência de pré-obesidade (P85 ≤ IMC ≥ P95) foi de 20,3% e de obesidade (IMC ≥ P95) foi de 13%, sendo a prevalência de pré-obesidade maior nas raparigas (26% nas raparigas e 16,4% nos rapazes) e de obesidade ligeiramente superior nos rapazes (13,7% nos rapazes e 12% nas raparigas). Ver-ificámos também, uma tendência crescente com a idade, em que as crianças mais velhas (10 anos de idade) apre-sentaram uma maior prevalência de excesso de peso rela-tivamente às crianças mais novas (6 anos de idade). No geral, a prevalência conjunta de excesso de peso e obesi-dade foi de 33,3%.

Actividade Física

Em 123 crianças, apenas 3 não se deslocavam de carro para a escola. A maioria das crianças (95,1%) praticava Ed-ucação Física na escola, duas vezes por semana, durante 1 hora, excepto as do 4º ano que praticavam apenas 1 vez por semana. Constatámos que 43,9% das crianças gostava de ter aula de Educação Física 5 ou mais vezes por semana e, no geral, associavam-na a uma parte divertida dos seus dias. Quando questionadas sobre o motivo pelo qual gos-tavam de praticar Educação Física, as crianças responder-am com maior frequência: “Porque é divertido” (26,8%), “Porque faz bem ao corpo” (5,7%), “Porque é giro” (4,9%), “Porque gosto de me mexer” (4,9%), “Porque serve para ficarmos com mais músculos” (4,1%), “Porque me faz sentir bem” (3,3%), “Porque é muito bom e faz bem”

Figura 1 - Prática de Actividade Física, Brincadeiras fora de casa e o Estado Nutricional das crianças.

Comportamentos Sedentários

24,4% dos pais reportou que as crianças viam menos de 1 hora de televisão por dia, durante a semana, e 26% afir-mou que a criança via cerca de 2 horas por dia, ao fim-de-semana. No geral, as crianças viam cerca de 9 horas de televisão por semana, já que 70,7% afirmou ver televisão todos os dias. As crianças viam televisão, mais frequen-temente, durante a semana, quando chegavam a casa (85,4%) e depois do jantar (73,2%) ao fim-de-semana.

(2,4%), “Porque gosto de brincar” (2,4%). 82,1% revelou ter um desporto preferido, sendo que 22,8% considerou o Futebol e 11,4% a Natação como o seu desporto de eleição. 22,8% das crianças afirmaram praticar o seu desporto preferido duas vezes por semana, sendo a Natação (18,7%) o desporto mais praticado, 2 dias por semana (22%), durante 1 hora (12,2%). 49,6% não prati-cava desporto fora da escola, no entanto, para além das aulas de Educação Física, 88,6% das crianças referiu fazer caminhadas em dois dias da semana, 79,6% afir-

mou andar de bicicleta 2 dias por semana e 67,4% afirmou utilizar 1 dia da semana para jogar futebol. Verificámos que as classes do EN não eram independ-entes da prática de futebol (p=0,031) e de algumas brincadeiras fora de casa, indicando que as crianças normoponderais praticavam com maior frequência futebol e 4 tipos de brincadeiras fora de casa, compara-tivamente às crianças nas outras classes do EN (Fig. 1).

Verificou-se que o género está associado ao tipo de ac-tividade física praticada, em que os rapazes jogavam mais vezes por semana futebol (x²(1)=28.305, p<0,01) anda-vam mais de skate (x²(1)=18.425, p<0,01), praticavam mais karaté ou wrestling (x ²(1)=14.284, p<0,01) e joga-vam mais vídeo-jogos (x²(1)=5.824, p<0,01) do que as raparigas, no entanto as raparigas dançavam mais vezes (x²(1)=15.905,p<0,01) do que os rapazes. Havia, também, mais rapazes a brincarem fora de casa (x²=7.157,p<0,01) do que raparigas e só os ra-pazes referiram jogar basquetebol (fora da escola) (x²(1)=5.472, p<0,01), assim como “brincar com o cão” (x²(1)=7.164, p<0,01). No entanto, mais raparigas do que rapazes referiram saltar à corda (x²(1)=12.220, p<0,01).

Mais de metade das crianças (52,8%) afirmaram que a televisão costuma estar ligada durante as refeições, no en-tanto a maioria (60,2%) não tinha televisão no seu quarto. Em média, as crianças viam 13 horas de televisão e filmes/vídeos, por semana (2h por dia, durante a semana, e 3h por dia ao fim-de-semana) e os programas de televisão que mais referiram ver foram os desenhos animados do canal Panda (36,6%), a telenovela “Morangos com açúcar (22,8%) e os Desenhos animados da RTP2 (19,5%). 39,8% afirmou que fazia os trabalhos de casa/estudo todos os dias, 31,7% dos pais referiu que a criança utiliza cerca de

Page 11: Revista spese numero 2

1 hora por dia, durante a semana, para fazer os trabal-hos de casa/estudo e 26% dos pais referiu que a criança utiliza 2 horas por dia, ao fim-de-semana. A maioria das crianças afirmou não utilizar a internet e 19,5% afirma-ram utilizar a internet 1 dia por semana, 20,3% dos pais referiu que a criança utiliza a internet menos de 1 hora por dia, durante a semana e 21,1% menos de 1 hora por dia ao fim-de-semana. 31,7% das crianças referiram jogar vídeo-jogos 2 dias por semana, 26,8% dos pais reporta-ram que as crianças jogam menos de 1 hora por dia, du-rante a semana e 19,5% menos de 1 hora por dia, ao fim-de-semana. No geral, os comportamentos sedentários (ver televisão e filmes/vídeos, jogar vídeo-jogos, utilizar a internet e fazer os trabalhos de casa/estudo) das crianças equivaliam, em média, a 29 horas semanais, isto é, 5h por dia, durante a semana, e 7h por dia ao fim-de-semana.

A maioria das crianças (87%) referiu fazer algum tipo de “snack” enquanto via televisão e o que mais referiram comer foi “bolos e bolachas” (53,7%).

Encontraram-se diferenças significativas entre rapazes e raparigas, constatando-se que mais rapazes (39%) viam televisão antes do jantar (x ²(1)=3.744, p<0,05), ao fim-de-semana, do que raparigas (21,2%). Jogar vídeo-jogos também foi significativamente mais frequente nos ra-pazes (55,7%) (x ²(1)=5.824, p<0,01) do que nas raparigas (34,7%). No entanto, mais raparigas (5,5%) do que rapaz-es (1,4%) referiram fazer os trabalhos de casa/estudo (x ²(5)=16.252, p<0,01), durante cerca de 4 horas por dia, ao fim-de-semana.

Figura 2 – Associação entre a presença de televisão no quarto e o Estado Nutricional das crianças (p<0,05)

O visionamento televisivo foi mais frequente na classe correspondente a “obesidade” (x ²(6)=21.036, p<0,01), do que nas outras classes. A maioria das crianças com obesi-dade (81,2%) referiram jogar vídeo-jogos durante a sem-ana, assim como houve mais crianças com pré-obesidade que jogavam vídeo-jogos (x²(2)=10.337, p<0,01) do que as que não jogavam. Em contrapartida, havia mais crianças normoponderais que não jogavam vídeo-jogos (52,4%) do que as que jogavam.

A maioria das crianças com obesidade (87,5%) afirma-ram jogar video-jogos quando chegam a casa, assim como a maioria das crianças com pré-obesidade (60%) (x ² 2(2)=11.585, p<0,01), contrariamente às crianças nor-moponderais, em que uma maior percentagem (54,9%) afirmou não jogar quando chega a casa. (Fig. 3) A tendên-cia é a de que, as crianças que utilizavam a internet du-rante mais tempo tinham excesso de peso (x ² 2(6)=21.284, p<0,01) (segundo a análise das respostas dos pais). (Fig. 4)

Verificou-se também, que as classes do EN não eram in-dependentes de alguns comportamentos sedentários nomeadamente, 73% das crianças obesas afirmou ter televisão no quarto (x ²(2)=9.658, p<0,01), constatando-se que existiam mais crianças normoponderais e com pré-obesidade, sem televisão no quarto, ou seja, em 16 crianças com obesidade, 11 afirmaram ter televisão no quarto, o que equivale à maior parte (68,7%) da amostra de crianças obesas. (Fig. 2)

Figura 3 – Associação entre jogar video-jogos quando chegam a casa o Estado Nutri-cional das crianças (p<0,05)

Page 12: Revista spese numero 2

Discussão

A prevalência de excesso de peso e obesidade das cri-anças em estudo (33,1%) foi semelhante às prevalências encontradas a nível nacional, em várias regiões do conti-nente, salvaguardando os diferentes critérios metodológ-icos.(12) A prevalência de excesso de peso foi crescente com a idade e a prevalência de pré-obesidade foi superior nas raparigas (26%) comparativamente com os rapazes (16,4%). Contudo, é de salientar que a prevalência de obesidade registada nos rapazes foi ligeiramente superior à documentada na literatura (13%).(12) Estudos anteri-ores identificaram o excesso de peso e obesidade dos pais como um dos maiores determinantes de excesso de peso infantil.(20) No entanto, os dados deste estudo não per-mitiram estabelecer uma associação significativa entre o IMC dos pais e a classificação do EN dos respectivos filhos.

A prática de actividade física revelou-se insuficiente, ou seja, inferior a 60 minutos diários de actividade de in-tensidade moderada, em cinco ou mais dias por semana, principalmente nas crianças mais velhas, o que está de acordo com a literatura, que afirma, inclusivamente, que este decréscimo torna-se mais aparente nas raparigas.(3) E as actividades mais praticadas foram, maioritariamente, em dois dias da semana, durante 1 hora. Apesar de as cri-anças gostarem de praticar Educação Física e de a terem associado uma parte divertida dos seus dias, 50% das cri-anças não praticavam desporto fora da escola. Verificou-se, também, que a prática de algumas actividades de-sportivas continua associada a uma maior percentagem de crianças normoponderais a praticá-las do que crianças com excesso de peso. É o sedentarismo que a vida mod-erna caracteriza que representa o verdadeiro extremo.(2) O ênfase que é atribuído à competição e desempen-ho desportivo, exclui mais as crianças que são menos fisicamente dotadas e diminui a importância da prática regular de actividade física relativamente à saúde.(2)

Os hábitos sedentários também foram mais frequentes nas crianças com excesso de peso, incluindo jogar vídeo-jogos, tempo de utilização da internet e o tempo dispend-ido a fazer os trabalhos de casa ou a ler. Nos países da Un-ião Europeia, mais rapazes do que raparigas reportaram utilizar o computador durante três ou mais horas, durante a semana (21% rapazes e 7% raparigas) e durante os fins-

Figura 4 – Distribuição do tempo de utilização da internet durante a semana e ao fim-de-semana, de acordo com o Estado Nutricional das crianças (p<0,05)

de-semana (35% rapazes e 15% raparigas).(3) O mesmo foi verificado neste estudo, em que mais rapazes reportaram jogar vídeo-jogos e com maior frequência do que as ra-parigas. Os resultados dos National Health and Nutrition Examination Surveys apresentam uma associação positiva entre o visionamento televisivo e a obesidade infantil (8 aos 16 anos).(4) Um estudo baseado no CDC’s 1999 Youth Risk Behaviour Survey, com mais de 12000 estudantes, também verificou que ver mais de 2 horas de televisão por dia estava associado a obesidade infantil.(4) Também neste estudo se verificou que as crianças viam em média 2 horas de televisão e vídeos por dia, durante a semana e 3 horas diárias, ao fim-de-semana, e a maior frequência de vision-amento televisivo e de utilização da internet revelou-se associada a obesidade infantil. Um estudo de Janssen et al (2004) suporta estes resultados indicando que existe uma maior frequência de visionamento televisivo nas crianças com obesidade comparativamente às crianças normopon-derais.(3) Assim como um estudo de Hastings (2003) que indica que o visionamento televisivo foi um preditor significativo de obesidade e pré-obesidade infantil.(14) Num estudo de Adachi-Mejia et al. (2007) verificou-se que ter televisão no quarto pode ser um factor de risco para a obesidade infantil.(13) Na medida em que se constatou que ter televisão no quarto era mais frequente em crianças com obesidade do que em crianças normoponderais.

Carter (2006) revela no seu estudo, que o comporta-mento sedentário associado ao visionamento televisivo parece não ser eficaz na explicação dos crescentes níveis de obesidade infantil, e que nenhuma associação entre o visionamento televisivo e a obesidade infantil deve estar relacionada com a ingestão energética.(14) Neste estudo verificou-se que enquanto viam televisão, o que as cri-anças mais referiram comer foram “bolos e bolachas”, o que está de acordo com a revisão de Halford et al (2008), que verificou que as crianças com excesso de peso pas-savam mais horas a ver televisão, e tendencialmente, os alimentos mais consumidos em frente à televisão eram ali-mentos hipercalóricos.(1) No entanto, não existem dados suficientes no presente estudo que indiquem que a sua in-gestão energética aumenta enquanto estão a ver televisão.

Page 13: Revista spese numero 2

Uma diminuição no tempo gasto em actividades sedentári-as (como ver televisão) é uma estratégia importante para aumentar a prática de actividade física e o gasto energéti-co em crianças e na população jovem.(16) Reduzindo o tem-po que as crianças e adolescentes passam a ver televisão, poderá prevenir o ganho de peso excessivo, mas pode não conduzir a um aumento na prática de actividade física.(17)

A substituição do tempo de visionamento televisivo por actividades mais interactivas, que promovam um desen-volvimento cerebral mais apropriado, tais como, falar, brincar, cantar e ler em conjunto, são exemplos de formas mais úteis e menos sedentárias, para reduzir o tempo dispendido em outras actividades sedentárias.(2,18) A per-cepção dos pais relativamente à segurança da vizinhança ou espaços livres perto do local onde a criança vive, pode determinar se os pais permitem que a criança brinque ao ar livre, o que pode resultar numa menor prática de ac-tividade física, aumento do visionamento televisivo e con-sequente maior prevalência de obesidade.(19) No entanto, a questão que se coloca é se o visionamento televisivo é um determinante ou um sintoma da obesidade infantil.(14)

Limitações do estudo

Segundo Carter (2006), no geral, os estudos correlacion-am-se na sua natureza e falham na evidência de causas.(14) A causalidade encontrada com as associações deste estudo, é sugerida mas não comprovada pelos resultados, que são observacionais e não experimentais. A determi-nação do IMC dos Pais foi feita a partir de dados sobre o peso e a altura auto-reportados, o que pode enviesar as respostas. A percentagem de resposta dos Pais das re-spectivas crianças foi baixa (61%), o que dificulta a deter-minação de associações significativas entre a informação dos pais e a das crianças. A informação sobre hábitos sed-entários também foi auto-reportada, não fornecendo re-sultados completos quanto ao tempo dispendido em cada actividade. Um estudo de Matheson et al, 2004, utilizou diários alimentares às 24 horas, recolhendo também da-dos sobre actividades em que as crianças participavam ou praticavam, e registo de refeições ou snacks consumidos, o que poderia ter sido mais vantajoso em termos de av-aliação de hábitos sedentários e prática de actividade físi-ca, assim como a utilização de instrumentos de medição da aptidão física no decorrer de actividades na escola.

Conclusão

Com a elaboração deste estudo conclui-se que a prática de actividade física estruturada é insuficiente, apesar de se ter constatado que as crianças gostavam de praticar Educação Física e preferiam aumentar a sua prática para 5 dias por semana. Os comportamentos sedentários como ver televisão e jogar video-jogos, estão associa-dos a excesso de peso (pré-obesidade e obesidade) e ter televisão no quarto foi mais frequente em crianças com obesidade do que em crianças normoponderais, o que reforça a sua associação com a obesidade infantil.

No presente estudo também foi possível verificar-se que o que as crianças reportaram consumir enquanto viam televisão foram maioritariamente alimentos hi-percalóricos, no entanto, não existem dados suficientes que indiquem que a sua ingestão energética aumenta enquanto estão a ver televisão, sugerindo-se que seja feita mais investigação sobre as associações entre os hábitos alimentares e o comportamento das crianças.

Assim sendo, é necessária mais intervenção, no sentido de reduzir o tempo gasto a ver televisão, já que este está relacionado significativamente com o ganho de peso in-fantil.(1) Um maior enfoque deverá incidir sobre o pa-pel da família, incentivando comportamentos mais sau-dáveis. Neste sentido, o papel das escolas também deve ser reforçado, enfatizando a prática regular de actividade física que necessita de ser cada vez mais integrada, como factor fundamental no desenvolvimento das crianças.(2)

Referências bibliográficas:

1. Halford et al. (2004). Effect of weight status on advert recognition. Appetite, 42: 221-225.

2. Vandewater E.A., Bickham D.S., Lee J.H. (2006). Time Well Spent? Television Use to Children’s Free-Time Activi-ties. Pediatrics. 117: e181-e191.

3. Haug E., Samdal O., Morgan A., Ravens-Sieberer U. e Currie C. (2006). Overweight in school-aged children in 35 countries: associations with eating habits, physical activ-ity, socioeconomic status and perceived health. Adressing the socioeconomic determinants of healthy eating habits and physical activity levels among adolescents”. In: Ad-dressing the socioeconomic determinants of healthy eat-ing habits and physical activity levels among adolescents, WHO/HBSC Forum. 2006. pp.14-22.

4. The Henry J Kaiser Family Foundation. (2004). The Role of Media in Childhood Obesity. pp. 1-12.

5. Ministério da Saúde - Portuguese Presidency of the Council of the European Union (2007). Physical activity, inactivity, overweight and obesity. Health in Portugal, pp. 34-35.

6. Lobstein T. e Dibb S. (2005). Evidence of a possible link between obesogenic food advertising and child over-weight. Obesity Reviews. 6:203-208.

7. Chapman K, Nicholas P e Supramaniam R. (2006). How much food advertising is there on Australian television?. Health Promotion International. 21(3):171-180.

8. Revista PROTESTE (Fevereiro, 2005). Crianças – Publici-dade pouco saudável. n.º 255.

9. Ashton D. (2004). Food advertising and childhood obes-

Page 14: Revista spese numero 2

ity. Journal of The Royal Society of Medicine. 97(2):51-52.

10. Spurrier N. J., Magarey A. A., Golley R., Curnow F. e Sawyer M. G. (2008). Relationships between the home environment and physical activity and dietary patterns of preschool children: a cross-sectional study. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity. 5(31).

11. Dollman J., Ridley K., Magarey A., Martin M., Hemphill E. (2007). Dietary intake, physical activity and TV viewing as mediators of the association of socioeconomic status with body composition: a cross-sectional analysis of Aus-tralian youth. International Journal of Obesity. 31:45-52.

12. Moreira, P. (2007). Overweight and obesity in Portu-guese children and adolescents. J Public Health. 15:155-161.

13. Adachi-Mejia A.M., Longacre M.R., Gibson J.J., Beach M.I., Titus-Ernstoff L.T., Dalton M.A. (2007). Children with a TV in their bedroom at higher risk for being overweight. International Journal of Obesity. 31:644-651.

14. Brand JE. (2007). Television Advertising to Children – A review of contemporary research on the influence of television advertising directed to children. Australian Communications and Media Authority. pp. 3-49.

15. Rito A. (2004). Estado Nutricional de crianças e oferta alimentar do pré-escolar do Município de Coimbra, Portugal, 2001. Tese de Doutoramento. Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pú-blica.

16. Kopelman P. (2007). Health risks associated with overweight and obesity. Obesity Reviews. 8(1):13-17.

17. Gardner J. (2007). Limiting TV Viewing Time May Not Result in Increased Physical Activity. Obesity and Meta-bolic Syndrome, pp.29.

18. Jordan A.B., Hersey J.C., McDivitt J.A. e Heitzler C.D. (2006). Reducing Children’s Television-Viewing Time: A qualitative Study of Parents and Their Children. Pediat-rics. 118(5):e1303-0732.

19. Burdette H.L. e Whitaker R.C. (2005) A National Study of Neighborhood Safety, Outdoor Play, Television Viewing and Obesity in Preschool Children. Pediatrics. 116:657-662.

20. Danielzik S., Czerwinski-Mast M., Langnäse K., Dilba B e Müller MJ. (2004). Parental overweight, socioeconomic status and high birth weight are the major determinants of overweight and obesity in 5-7 y-old children: baseline data of the Kiel Obesity Prevention Study (KOPS). Interna-tional Journal of Obesity. 28:1494-1502.

Page 15: Revista spese numero 2

Impacto de palestras versus programas de educação alimentar.

Os programas de prevenção da doença e promoção da saúde têm sido desenvolvidos, um pouco por todo o mundo, com o objectivo de aumentar o bem-estar físico, psicológico e social das populações. Em Portugal, à semel-hança de outros países, foi realizado um estudo sobre os principais problemas de saúde na infância e adolescên-cia (Ministério da Saúde, 1997), de modo a desenvolver programas baseados nas necessidades reais da população alvo.(1) Os resultados deste estudo, a par do aumento da prevalência da obesidade em idade pediátrica e da comorbi-lidade associada, que tem sido largamente documentado, apontam para a importância dos programas de promoção de hábitos alimentares saudáveis e definem algumas linhas orientadoras para a sua execução nas escolas.(2)

A promoção da saúde em escolas realizada através de palestras de educação para a saúde pode definir-se como uma actividade planeada, com a intenção espe-cífica de aumentar o conhecimento ou as competên-cias para melhorar a própria saúde, ao passo que os

Ao nível da promoção da saúde, a realização de palestras nas escolas, pelos técnicos de saúde, tem provado não ter a eficácia desejada. Neste estudo, avaliaram-se 247 ado-lescentes a frequentarem o 6º ano de escolaridade, de duas Escolas EB.2,3 na cidade de Vila Nova de Gaia, no ano lectivo 2007/08, com vista a comparar o impacto de um programa efectivo de promoção de hábitos alimentares saudáveis com o impacto de uma palestra de educação ali-mentar. Os resultados sugerem que as palestras isoladas de educação alimentar têm menor impacto nos conhecimen-tos dos alunos do que os programas efectivos de promoção da saúde e que estes podem dar um contributo impor-tante para a melhoria dos hábitos alimentares dos alunos.

programas de promoção da saúde em meio escolar visam modificar atitudes e comportamentos relaciona-dos com a saúde, interligando diferentes factores de risco, criando ambientes de apoio à saúde, envolven-do a comunidade de uma maneira geral e potenciali-zando a mudança através da partilha de experiências.

Assim, ao nível da promoção da saúde, a realização de palestras nas escolas, pelos técnicos de saúde, tem prova-do não ter a eficácia desejada.(3-7) Os modelos actuais da psicologia da saúde defendem a intervenção no ciclo con-hecimentos/ atitudes/ comportamentos, pois está docu-mentado que os conhecimentos não se traduzem neces-sariamente em mudanças de hábitos. A mera “passagem de conhecimentos” e as “palestras isoladas” em escolas podem ser contraproducentes no sentido em que consid-eram apenas os factores de risco, perdendo a noção de complexidade e, assim, arriscando reduzir o ser humano (alunos) a algo sem acção própria, não lhe reconhecendo a capacidade de produção de um sentido que lhe é inerente.8

Recuando no tempo, é de realçar a crescente complexi-dade epistemológica dos programas de prevenção da doença e promoção da saúde. Negreiros (1991) dá conta que, sob o nome de paradigma da instrução didáctica, ocorreu uma evolução das práticas preventivas que, ini-cialmente, se limitavam a passar informação, partindo do pressuposto implícito que, ao fornecer informação cor-recta sobre determinado tema, a população, agora “es-clarecida”, iria adoptar comportamentos adequados.(8)

Criticando os pressupostos das estratégias da instrução didáctica, a partir de uma avaliação dos resultados em-píricos dessas estratégias, McGuire (1969) encabeça um momento de viragem tentando estudar a importância

Teresa RodriguesNutricionistaCentro de Saúde Soares dos Reis e Oliveira do

Douro, ACES Grande Porto VIII – Gaia

Page 16: Revista spese numero 2

de outras variáveis no impacto da informação recebida. Não pondo em causa as estratégias tradicionais, es-tas são relativizadas: são úteis em determinados con-textos, se enquadradas num programa com continui-dade e que tenha em conta factores extra-individuais. Influenciado pela teoria da comunicação, McGuire analisa as variáveis relacionadas com a informação: a natureza dessa informação, o modo de transmis-são e as variáveis relacionadas com o comunicador.8Assim, actualmente, na construção de um programa de saúde escolar, deve evitar-se qualquer fundamentalismo e, após um levantamento cuidado das necessidades e características da população alvo, escolher as teorias mais adequadas aos objectivos propostos.(8) Neste contexto, com o presente trabalho, pretende-se estudar o impac-to de palestras e de programas de promoção da saúde pela alimentação, contribuindo para uma melhor com-preensão da efectividade de cada uma destas estratégias. As teorizações de McGuire sobre as variáveis influen-ciadoras do impacto da informação acontecem na déca-da de 60 e é ainda nessa mesma década e na seguinte que surgem os principais teorizadores dos Modelos Hu-manistas. Estes modelos defendem que a génese de mudanças comportamentais ou atitudinais deriva de variáveis afectivas e recusam reconhecer o efeito do au-mento de conhecimentos sobre as mudanças de hábitos, reduzindo assim a prevenção a um tipo de variáveis.(10) Nos finais dos anos 70, surgem os Modelos Neobehav-ioristas, que começam a reflectir sobre a importância de factores sócio-ambientais na génese e manutenção de certos comportamentos, não se limitando portanto aos factores de natureza estritamente individual.(8)

Sucessivamente, durante a década de 80 e princípios de 90, sobrepondo-se às abordagens neobehavioristas, formam-se modelos teóricos abrangentes que fornecem

O Modelo Estrutural (Cowen, 1986) é um modelo teórico que en-quadra os saberes de diversas origens (psicológicos, sociais, ecológicos e comunitários), ca-bendo ao construtor do programa a combinação desses vectores em função de cada realidade e população.12

O Modelo Eco-Desenvolvimental (Felner et al, 1991) tem em conta quer as caracterís-ticas dos indivíduos, quer as condições chave das suas redes sociais, à luz de uma perspectiva multicausal que implica uma at-enta análise ecológica da comu-nidade e dos seus vários settings, como a escola, a família e os grupos de pares.13

O Modelo Configural (Bloom, 1996) apresenta uma série de etapas a resolver na construção de um pro-grama de prevenção: definição do problema; construção de expli-cações conceptuais alternativas; tomada de decisão; implemen-tação e avaliação do programa. Um vector deste modelo sublinha os factores positivos (e.g. aumen-tar forças individuais, suportes sociais e recursos ambientais) e o outro vector faz menção às forças negativas (e.g. diminuir limi-tações individuais, stress social e pressões ambientais). 14

Uma vez revistos os principais modelos de intervenção na prevenção da doença e promoção da saúde, torna-se importante fazer a transposição dos conceitos abor-dados para a área da educação alimentar em saúde escolar, procurando analisar alguns paralelismos. Nesse sentido, levou-se a cabo um estudo envolv-endo adolescentes escolarizados, com o objectivo de avaliar conhecimentos sobre alimentação e veri-ficar o impacto de palestras e de programas edu-cação alimentar nesses conhecimentos, no sentido de comparar o impacto de um programa efectivo de promoção de hábitos alimentares saudáveis com o impacto de uma palestra de educação alimentar.

suporte para a combinação das intervenções individuais com as eco-comunitárias. Assim, os Modelos Integra-tivos defendem que a prevenção não pode alhear-se das instâncias socializadoras no comportamento e atitudes dos indivíduos e que as instituições, como a escola, têm importantes funções no desenvolvimento pessoal sendo, pois, áreas indispensáveis para se maximizar os resultados dos programas.8 Estes Modelos Integrativos têm-se man-tido até à actualidade e, longe de contestar em absoluto as estratégias mais classicamente utilizadas em progra-mas de promoção da saúde, operam a relativização das diferentes variáveis e do modo como estas condicionam a aquisição de determinadas competências. A passagem para os Modelos Integrativos dá-se precisamente com a constatação da crise de eficácia das intervenções preven-tivas, que a vertente avaliativa desvelou. De acordo com as áreas a ter em conta quando se leva a cabo um progra-ma de prevenção da saúde, apresentam-se os três prin-cipais modelos integrativos que se têm mantido até à ac-tualidade: estrutural; eco-desenvolvimental e configural.

Page 17: Revista spese numero 2

Participantes

247 adolescentes, de ambos os sexos, 58% sexo feminino e 42% sexo masculino, com uma idade média de 12,4 +- 1,1 anos, a frequentarem o 6º ano de escolaridade, de duas Escolas EB.2,3 na cidade de Vila Nova de Gaia.

Material

Questionário de administração directa, para avaliação de conhecimentos sobre alimentação, contendo 10 questões so-bre a “Nova Roda dos Alimentos”, baseado nos programas de promoção da saúde pela alimentação em meio escolar que têm vindo a ser realizados pelo Centro de Saúde de Soares dos Reis e Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia (Tabela I).

Procedimentos

Durante o ano lectivo 2007/2008, os adolescentes da amos-tra foram divididos em dois grupos, um em cada uma das es-colas envolvidas – grupo de controlo e grupo experimental.O grupo de controlo, constituído por 126 alunos, par-ticipou numa palestra “isolada” de educação alimen-tar, levada a cabo numa escola em que mais nada foi feito no que concerne ao tema da alimentação e saúde. O grupo experimental, constituído por 121 alunos, partic-ipou num programa estruturado de educação alimentar, ba-seado num modelo de ensino orientado para a mudança con-ceptual, que consistiu na implementação de 9 intervenções teórico-práticas ao longo do ano lectivo, sobre vários temas ligados à alimentação, abordados em dinâmicas de grupo. Ao mesmo tempo, procederam-se a algumas alterações ao nível da oferta alimentar da escola frequentada pelo grupo

experimental, de acordo com o Referencial para uma Oferta Alimentar Saudável16 e envolveu-se o maior número pos-sível de actores em todas as dinâmicas encetadas: órgãos de gestão da escola, professores, auxiliares de acção educa-tiva, pais e, naturalmente, profissionais de saúde e alunos. A avaliação realizou-se através da aplicação do questionário para avaliação de conhecimentos sobre alimentação, em dois momentos distintos: antes e após a intervenção, nos grupos ex-perimental e de controlo.

Resultados

Os resultados revelam que os alunos da amostra, antes do ensino, tinham conhecimentos satisfatórios em algu-mas áreas da alimentação e deficitários noutras áreas. Como pode verificar-se, através da análise da Tabela I, os resulta-dos obtidos parecem ser franca mente mais positivos, no que concerne à melhoria dos conhecimentos sobre alimentação e à promoção de intenções favoráveis a uma alimentação saudável, no grupo experimental do que no de controlo, e as principais diferenças entre os dois grupos destacam-se nas questões 1 e 9.Assim, no grupo de controlo, observou-se um valor médio de 46% para respostas correctas no questionário aplicado antes da palestra, e de 66% após a palestra. No grupo experimen-tal, observou-se um valor médio de 45% para respostas cor-rectas no início do programa, e de 86% no final do programa. É ainda de salientar que a percentagem de respostas correc-tas no final da intervenção foi superior no grupo experimental, mesmo no caso das questões que, antes da implementação do programa, obtiveram uma percentagem inferior de respostas certas em relação ao grupo de controlo (questões 1, 4, 6, 7, 8, 9).

QuestõesPercentagem de respostas certas

Palestra Programa

Antes Depois Início Fim

1. A maior fatia da Roda dos Alimentos é a dos

cereais e seus derivados?28,8 49,3 24,7 76,2

2. Para ter uma alimentação saudável, devo ingerir 3 refeições por dia? 37,6 67,2 40,1 89,8

3. De vez em quando, posso substituir a carne ou peixe pelo ovo? 24,3 51,0 25,9 68,7

4.A água deve ser a bebida que utilizo mais vezes? 77,0 89,3 74,2 96,6

5. A Roda dos Alimentos mostra que é correcto substituir a água por sumo natural de fruta? 56,2 75,6 59,0 91,3

6. Se comer 3 a 4 peças de fruta por dia, já não preciso de comer sopa? 39,3 67,2 35,1 90,2

7. Ao lanche, é mais saudável comer pão com fiam-bre do que pão com queijo? 58,1 72,1 56,5 92,1

8. Desde que seja à sobremesa, não faz mal à saúde se comer guloseimas todos os dias? 70,6 81,0 68,3 94,6

9. As ervilhas e a cenoura pertencem ao mesmo grupo da Roda dos Alimentos? 28,2 48,4 24,6 81,2

10. Uma vez que o grupo das gorduras é o mais pequeno da Roda, o melhor é nunca ingerir estes alimentos?

44,3 67,8 46,7 78,5

Tabela I – Resultados dos questionários pré e pós intervenção

Metodologia

Page 18: Revista spese numero 2

Procedimentos

Durante o ano lectivo 2007/2008, os adolescentes da amostra foram divididos em dois grupos, um em cada uma das escolas envolvidas – grupo de controlo e grupo experimental. O grupo de controlo, constituído por 126 alunos, participou numa palestra “isolada” de educação alimentar, levada a cabo numa escola em que mais nada foi feito no que concerne ao tema da alimentação e saúde. O grupo experimental, constituído por 121 alunos, participou num programa estruturado de educação ali-mentar, baseado num modelo de ensino orientado para a mudança conceptual, que consistiu na implementação de 9 intervenções teórico-práticas ao longo do ano lec-tivo, sobre vários temas ligados à alimentação, abordados em dinâmicas de grupo. Ao mesmo tempo, procederam-se a algumas alterações ao nível da oferta alimentar da escola frequentada pelo grupo experimental, de acordo com o Referencial para uma Oferta Alimentar Saudável16 e envolveu-se o maior número possível de actores em to-das as dinâmicas encetadas: órgãos de gestão da escola, professores, auxiliares de acção educativa, pais e, natu-ralmente, profissionais de saúde e alunos. A avaliação realizou-se através da aplicação do questionário para avaliação de conhecimentos sobre alimentação, em dois momentos distintos: antes e após a intervenção, nos gru-pos experimental e de controlo.

Discussão

Os programas de saúde escolar oferecem muitas oportu-nidades para o desenvolvimento de estratégias de pro-moção da saúde pela alimentação e as escolas podem mesmo tornar-se numa das armas mais eficazes na luta contra a obesidade infantil.15 Não obstante, os resulta-dos deste estudo sugerem que as palestras isoladas de educação alimentar têm menor impacto nos conheci-mentos dos alunos do que os programas de promoção da saúde e permitem supor que estes podem dar um contributo mais importante para a melhoria dos hábitos alimentares dos alunos. É também de salientar que, no grupo de controlo, os questionários foram aplicados com um intervalo de 60 minutos, enquanto no grupo experi-mental houve um hiato de cerca de 9 meses entre a apli-cação dos questionários inicial e final. Este facto poderá traduzir uma maior consolidação das noções apreendidas ao longo do ano lectivo por parte do grupo experimen-tal, a despeito da simples memorização de conhecimen-tos, que estaria facilitada no caso do grupo de controlo.

Assim, a par das estratégias direccionadas para a aquisição de conhecimentos e de competências, urge intervir na oferta alimentar das escolas (cantina, bar, máquinas de venda automática de alimentos), bem com nas práticas de incentivo à actividade física em meio escolar, envolv-endo activamente nestes processos os órgãos de gestão da escola, professores, alunos, profissionais de saúde, pais e educadores, e a comunidade em geral. De igual

Bibliografia:

1.McIntyre T., Silva N., Soares V. (1997). Hábitos de Saúde e comportamentos de risco na adolescência: Implicações na prevenção. Psicologia: Teoria, investigação e prática, 2 (2), 219-232.

2.Cunha S., Rodrigues T. (2009). Prevalência de Excesso de Peso em Crianças Escolarizadas. [Cd do VIII Congresso de Nutrição e Alimentação da Associação Portuguesa dos Nutricionistas (P010)]

3.Glenny A. M., O’Meara S., Melville A., et al. (1997). The treatment and prevention of obesity: a systematic review of the literature. Int J Obesity, 21, 715 – 37.

forma, não pode ser descurado o papel fundamental dos pais para o sucesso deste tipo de intervenção, pois são eles quem prestam o primeiro ambiente social no qual as crianças se movem, promovendo atitudes e comporta-mentos em matéria de alimentação e de actividade física, conduzindo assim os seus filhos a determinados estilos de vida, ao mesmo tempo que constituem modelos de comportamento. Finalmente, o sucesso dos programas de educação alimentar estão dependentes, em grande medida, da revisão de políticas alimentares, nomeada-mente as que concernem ao comércio peri-escolar e à legislação que regulamenta a publicidade e marketing de produtos alimentares destinados ao público jovem.

Os resultados deste estudo apresentam algumas limi-tações, nomeadamente as inerentes à escolha (de con-veniência) e ao tamanho (reduzido) da amostra, bem como as decorrentes da impossibilidade de comparar os resultados obtidos 6 meses depois das intervenções, por dificuldades em aplicar o questionário numa das escolas, tal como previsto no desenho do estudo.

Assim, será pertinente contornar estas limitações em es-tudos futuros, bem como criar condições que permitam uma avaliação de tipo longitudinal. De igual forma, a utilização de instrumentos adequados para avaliar as in-tenções comportamentais dos alunos e/ou as mudanças comportamentais, permitirá obter resultados não só ao nível dos conhecimentos, mas também das atitudes, das intenções comportamentais e dos comportamentos.

Urge, pois, repensar estratégias por vezes ainda utilizadas e capacitar os mais jovens para optimizar as suas escol-has alimentares através de programas de saúde escolar efectivos, que produzam mudanças reais ao nível dos comportamentos. Para tal, é essencial dotar crianças e adolescentes de ferramentas que as permitam “dizer de si”, bem como mostrar interesse pelo sentido dos seus actos e compreender o modo como se relacionam com os outros e com o ambiente em que se inserem.(8) Só en-tão se poderão produzir as mudanças tão desejadas em saúde escolar, ao nível dos estilos de vida salutogénicos.

Page 19: Revista spese numero 2

4.Jepson R. (2000). The Effectiveness of Interventions to Change Health-Related Behaviours: A Review of Reviews. Scotland: MRC Social and Public Health Sciences Unit, University of Glasgow.

5.Thomas H., Ciliska D., Micucci S., et al. (2004). Effec-tiveness of Physical Activity Enhancement and Obesity Prevention Programs in Children and Youth. Canada: Effective Public Health Practice Project (EPHPP).

6.Thomas, H. (2006). Obesity prevention programs for children and youth: why are their results so modest? Canada: Effective Public Health Practice Project (EPHPP).

7.Sallis J.F., McKenzie T.L., Conway T.L., et al. (2003). En-vironmental interventions for eating and physical activ-ity: a randomized controlled trial in middle schools. Am J Prev Med, 24, 209 – 17.

8.Tinoco R. (2004). Os actores e os contextos de con-sumo: anotações em torno da prevenção do abuso de drogas. Psicologia e Educação, III, 1, 93-106

9.Negreiros, J. N. (1991). Prevenção do Abuso de Álcool e Drogas nos Jovens. Lisboa: Instituto Nacional de Investi-gação Científica.

10.McGuire, W. (1969). The nature of attitudes and attitude change. In G. Lindzey & E. Aronson (Eds.) The handbook of social psychology. Reading Mass: Addison Wesley.

11.Negreiros, J. N. (1995). Avaliação de programas de prevenção do abuso de drogas. Psicologia, X, 3, 143-154.

12.Cowen, E. L. (1986). Primary Prevention in Menthal Health. In M. Kessler and S. E. Goldston (Eds.), A Decade of Progress in Primary Prevention . Hanover: University Press of New England, pp. 3-23.

13.Felner, R. D.; Silverman & Adix, R. (1991). Prevention of substance abuse and related disorders in childhood and adolescence: a developmentally based and compre-hensive ecological approach. Fam. Community Health, 14 (3), 12-22.

14.Bloom, M. (1996). Primary Prevention Practices. Thou-sand Oaks: Sage Publications.

15.Story M., Kaphingst K.M., French S. (2006). The Role of Schools in Obesity Prevention. The Future of Children, 16 (1), 109 – 31.

16.Portugal, Ministério da Educação e Ministério da Saúde. Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (2006). Educação Alimentar em Meio Escolar - Referencial para uma Oferta Alimentar Saudável.

Page 20: Revista spese numero 2

Introdução

De acordo com o International Obesity TaskForce o ex-cesso de peso é a doença infantil mais comum na Europa. Portugal, com uma taxa que ronda os 32%, torna-se um dos países europeus onde o problema é mais acentuado, ocupando o 6º lugar (1). No nosso país, apenas 12% das raparigas e 30% dos rapazes com 11 anos diz praticar pelo menos 1 hora por dia de actividade física moderada a vigorosa (2). Para prevenir a doença e preservar a saúde é necessário a adopção de estilos de vida saudáveis, que estão intimamente relacionados com a alimentação e que podem ser adquiridos também na escola.(3)

Objectivos

Avaliar a eficácia de uma intervenção breve ao nível da al-imentação saudável e da prática de actividade física, com alunos do 6º ano de escolaridade de uma escola.

Método

Foi realizada uma sessão para cada uma das 14 turmas do 6º ano da EB2,3 de Pedrouços. Foram aplicados dois ques-tionários iguais, antes e no final da sessão de educação alimentar para avaliar os conhecimentos. Os dados obti-dos através dos questionários foram submetidos a uma análise descritiva.

“Alimenta-te com medida e agita a tua vida!” - A importância da prática.

Resultados

Na totalidade os resultados mostram evolução de conhec-imentos da Fase 1 (antes da sessão) para a Fase 2 (após sessão), sobretudo devido a uma evolução dos conheci-mentos ao nível da Alimentação. Embora os conhecimen-tos dos alunos, relativamente à alimentação, tenham sido elevados no questionário inicial (79%), verificou-se que na prática (quando tinham que escolher no jogo os ali-mentos saudáveis) demonstravam algumas dificuldades.

Discussão

Esta actividade sugere que, apesar de grande percenta-gem dos alunos ter conhecimentos teóricos sobre alimen-tação e actividade física, quando colocados em prática, revelam algumas dificuldades em fazer escolhas sau-dáveis. A mudança de atitudes e comportamentos parece requerer uma intervenção mais longa e abrangente em termos de domínios de acção que dê uma especial ênfase à realização de actividades práticas no contexto real, ul-trapassando assim a simples aquisição de conhecimentos.

Luísa Barros Licenciada em Ciências da Nutriçãopela Fcnaup

Gisela MoraisAssistente Principal de Nutrição do ACES Grande Porto IV - Maia

Sílvia PinhãoAssistente convidada a 50% da FCNAUP e Nutricionista do Hospital da Prelada, Dr. Domingos Braga da Cruz

Page 21: Revista spese numero 2

Introdução

A Obesidade em Idade Pediátrica (OIP) é um problema multifactorial e o seu desenvolvimento deve-se a múlti-plas interacções entre genes e ambiente. Apesar do efeito que os factores genéticos podem ter, as taxas ascendentes de prevalência nas populações geneticamente estáveis sugerem que os factores ambientais e, talvez, perinatais estão por detrás da epidemia da obesidade infantil (4).

Deste modo, pode-se afirmar que o recente rápido au-mento da OIP está atribuído ao moderno ambiente obesogénico. Alterações no padrão alimentar, incluindo o consumo de alimentos nutricionalmente pobres e densa-mente energéticos, ingestão de bebidas doces, porções maiores e elevada frequência da realização de refeições fora de casa estão associados a padrões alimentares po-bres e a pesos mais elevados (5).

O primeiro mecanismo para a OIP é o balanço da ener-gia ingerida e da energia dispendida. É recomendado que as crianças pratiquem pelo menos 60 minutos de activi-dade física moderada a vigorosa por dia. No nosso país, apenas 12% das raparigas e 30% dos rapazes com 11 anos diz praticar pelo menos 1 hora por dia de actividade física moderada a vigorosa (2).

As escolas reconhecem o seu papel na luta contra a OIP e uma pletora de iniciativas tem vindo a surgir (6).Segundo o relatório apresentado pela OMS em 2006 so-bre a síntese de diferentes Projectos desenvolvidos em Escolas Promotoras de Saúde e respectiva efectividade, é ao nível da Educação Alimentar e da Actividade Física que parece haver resultados mais positivos. (7, 8)

A prevenção da doença e a preservação da saúde depen-dem da adopção de estilos de vida saudáveis, tais con-hecimentos e hábitos têm um lugar e um domínio que são a escola e a alimentação (3).

Deste modo a dinamização de actividades promotoras de estilos de vida saudáveis nas escolas, como a sessão reali-zada, são de elevada pertinência quer pela promoção da saúde ou pela prevenção da doença.

Esta actividade teve portanto como objectivo geral avaliar a eficácia de uma intervenção breve ao nível da alimen-tação saudável e da prática de actividade física, com alu-nos do 6º ano de escolaridade de uma escola.

Método

Participantes

259 alunos do 6º ano da escola EB2,3 de Pedrouços.

Material

Cartazes explicativos, modelos de alimentos, questionário de avaliação de conhecimentos inicial e final, questionário de avaliação da sessão e folheto com resumo da sessão.

Procedimento

Foi realizada uma sessão para cada uma das 14 turmas do 6º ano da EB2,3 de Pedrouços, que tinha por objectivos: compreender como podem ser constituídas as merendas saudáveis e reconhecer a importância da actividade física para um estilo de vida saudável.

A sessão iniciou-se com discussão interactiva, sobre a temática alimentação saudável (alimentos a consumir nas merendas da manhã e da tarde) e actividade física, utilizando como recursos dois cartazes explicativos.Após a exposição teórica, realizou-se um jogo ped-agógico para cimentar os conhecimentos adquiridos.

Foi distribuído a todos os alunos um folheto com resumo dos pontos-chave abordados na sessão, para que tanto os alu-nos como a sua família se sensibilizassem para estes temas.

Foram realizados dois questionários iguais, antes (FASE 1) e no final (FASE 2) da sessão para avaliar os conheci-mentos. Na FASE 1 os alunos responderam de acordo com os conhecimentos previamente adquiridos e na FASE 2 esperava-se que os alunos respondessem de acordo com o que aprenderam durante a sessão. O ques-tionário apresentava dois grupos de questões, um sobre alimentação saudável e outro sobre actividade física.

Os dados obtidos através dos questionários foram sub-metidos a uma análise descritiva.

Page 22: Revista spese numero 2

Resultados

Foi feita uma análise comparativa de conhecimentos en-tre a FASE 1 e a FASE 2, por grupos de questões, e na sua totalidade.

Gráfico 1: Eficácia da Sessão de Educação Alimentar

“Alimenta-te com Medida e Agita a tua Vida”

Os conhecimentos sobre Actividade Física mantiveram-se, do início para o final da sessão. No grupo de questões sobre Alimentação observou-se uma evolução de conhec-imentos positiva, do início para o final da sessão. Assim, na totalidade os resultados mostram evolução de conhec-imentos da FASE 1 para a FASE 2, sobretudo devido a uma evolução dos conhecimentos ao nível da Alimentação.

Embora os conhecimentos dos alunos, relativamente à al-imentação, tenham sido elevados no questionário inicial (79%), verificou-se que na prática (quando tinham que escolher no jogo os alimentos saudáveis) demonstravam algumas dificuldades.

Discussão

Esta actividade sugere que, apesar de grande percenta-gem dos alunos ter conhecimentos teóricos sobre alimen-tação e actividade física, quando colocados em prática, revelam algumas dificuldades em fazer escolhas sau-dáveis. O que vem assim reforçar a tendência actual para se considerar que as sessões breves têm uma eficácia lim-itada e, sobretudo, de forma meramente informativa. A mudança de atitudes e comportamentos parece requerer uma intervenção mais longa e abrangente em termos de domínios de acção, que dê uma especial ênfase à reali-zação de actividades práticas no contexto real, ultrapas-sando assim a simples aquisição de conhecimentos.

Este trabalho revela algumas limitações que é necessário atender, sobretudo ao nível da análise estatística que foi meramente descritiva e por se ter realizado apenas uma sessão. Assim, em futuras intervenções recomenda-se uma acção planeada no tempo com uma análise estatís-tica mais detalhada.

Referências Bibliográficas

1.IOTF – EU Platform on Diet, Physical Activity and Health: IOTF/EASO briefing paper. Brussels: International Obesity TaskForce; 2005.

2.University of Edinburgh, Child and Adolescent Health Research Unit (CAHRU). Inequalities in Young People's Health. Health Behaniour in School-Aged Children Inter-national Report from the 2005/2006 Survey [Internet]. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2008. [citado em: 2009 Fev]. Disponível em: http://www.euro.who.int/Document/E91416.pdf.

3.Baptista MI. Educação Alimentar em Meio Escolar Ref-erencial para uma Oferta Alimentar Saudável. Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular; 2006.

4.Padez C, Fernandes T, Mourão I, Moreira P, Rosado V. Prevalence of overweight and obesity in 7-9-years olg portuguese children: trends in body mass index from 1970-2002. American Journal of Human Biology. 2004; 16:670-8.

5.Kaur H, Hyder ML, Poston WS. Childhood overweight: an expanding problem. Treatments in Endocrinology. 2003; 2(6):375-88.

6.Procter KL, Rodolf MC, Feltbower RG, Levine R, Connor A, Robinson M, et al. Measuring the school impact on child obesity. Soc Sci Med. 2008; 67:341-49.

7.Dixey R, Heindl I, Loureiro I, Pérez-Rodrigo C. Healthy eating for young people in Europe: A school-based nutri-tion education guide [Internet]. Copenhagen: European Network of Health Promoting Schools International Plan-ning Commitee; 1999. [citado em: 2009 Fev]. Disponível em: http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/cd41/dixey.pdf.

8.Stewart-Brown S. What is the evidence on school health promotion in improving health or preventing disease and, specifically, what is the effectiveness of the health promoting schools approach? [Internet]. Copen-hagen: WHO Regional Office for Europe; 2006. Disponível em: http://www.euro.who.int/document/e88185.pdf.

Page 23: Revista spese numero 2

“Saber comer...para bem viver!” - Projecto de saúde escolar.

Resumo

-

-mam esta tendência.

“Saber Comer…Para Bem Viver!” – a desenvolver no quadriénio 2007/2011, numa parceria entre o Centro de Saúde de Vagos e a Escola EB2,3 de Vagos. No âmbito do

da prevalência da pré-obesidade e obesidade a 571 alu-nos, com idades compreendidas entre os 9 e 16 anos, de ambos os sexos.

Para tal, procedeu-se à avaliação das variáveis antro-pométricas (peso e altura), que foram analisadas com base nas tabelas de Índice de Massa Corporal em per-

Os resultados do estudo revelaram valores semelhantes àqueles que têm sido demonstrados por diversos trabal-hos publicados, ou seja a prevalência de excesso de peso

estudo acompanham esta tendência ao revelarem que 29% dos alunos apresentam excesso de peso, sendo que 14% sofrem de obesidade.

O projecto focaliza-se essencialmente em medidas pre-

planeadas em função dos diversos grupos-alvo (Alunos, Educadores e Comunidade Escolar).

Introdução

A obesidade é hoje um grave problema de Saúde Pública, tendo por isso, sido considerada pela Organização Mundial de Saúde como a epidemia do século XXI. Em Portugal, um estudo sobre prevalência da obesidade, revela que a nível Nacional, 31,5% das crianças entre os 9 e os 16 anos são obesas ou apresentam excesso de peso (Carvalho, 2001).

Em crianças, a obesidade é preocupante devido ao ris-co aumentado da sua persistência na idade adulta, as-sim como pelo risco de doenças com ela relacionadas.

projecto “Saber Comer…Para Bem Viver!” – a desen-volver no quadriénio 2007/2011, numa parceria entre o Centro de Saúde de Vagos e a Escola EB2,3 de Vagos.

A orientação na selecção do projecto teve por base diversos documentos orientadores, dos quais se destaca o Programa Nacional de Saúde e o Progra-ma Nacional de Saúde Escolar, do qual seleccioná-

-do uma área prioritária a Alimentação Saudável.

obesidade nos alunos da Escola EB2,3 de Vagos; Promo

Enfermeira Graduada no Centro de Saúde de Vagos Especialista em Saude Comunitária

Anabela PereiraEnfermeira Graduada no Centro de Saúde de Vagos

Page 24: Revista spese numero 2

Metodologia de Intervenção

Estudo diagnóstico da prevalência da pré-obesidade e obesidade. A amostra do estudo da prevalência da pré-obesidade e obesidade é constituída por 571 alunos com idades compreendidas entre os 9 e 16 anos, de ambos os sexos.

Foram avaliadas as variáveis antropométricas (peso e altura), que foram analisadas com base nas tabelas de Índice de Massa Corporal em percentis, para idade e sexo(2).

Estratégias de intervenção

Parcerias - Para a operacionalização do projecto é impre-scindível a articulação entre o Centro de Saúde, Comuni-dade Escolar, Educadores e Cuidados Diferenciados (Hos-pital Infante Dom Pedro).

Actividades para a prevenção da obesidade - As diversas intervenções, decorreram tendo por base estratégias/ac-tividades planeadas em função dos diversos grupos-alvo:

Sessões de Educação Alimentar

• Pais/Educadores • Alunos/Professores • Funcionários de Bar e Cozinha

Produção de Materiais Educativos para/com os Jovens

• Folhetos informativos • Cartazes sobre alimentação saudável • Construção de Roda dos Alimentos Real (por grupos interpares)

Promoção do Exercício Físico para os Jovens

• Torneios de futsal e basquetebol • Danças (body combat) • Saltar à corda • Alteração do tipo alimentos vendidos no bar e máquina • Encerramento do bar das 12.00 às 14.30 horas • Reformulação das ementas no refeitório (mais equilibradas) • Reformulação dos equipamentos da cozinha

(2) Propostas pela CDC Growth Charts (2000) da National Health and Nutrition Examination Survey dos Estados Unidos da América.

Resultados do estudo

Os resultados do estudo revelaram valores semelhantes àqueles que têm sido demonstrados por diversos trabal-hos publicados, ou seja a prevalência de excesso de peso e obesidade é preocupante.

Os resultados obtidos neste estudo acompanham esta tendência ao revelarem que 29% dos alunos apresentam excesso, sendo que 14% sofrem de obesidade.

Verificou-se que a maior percentagem de alunos, apre-sentam idades situadas no grupo etário dos 10-13 anos, conforme se pode observar no gráfico que se segue.

Distribuição da amostra de acordo com a variável IMC e a idade dos

alunos.

O estudo revela que:

• Com 9 anos há um total de 39% crianças com excesso de peso e obesidade;• Com 10 anos há um total de 35% de crianças com excesso de peso e obesidade;• Com 11 anos há um total de 30% de crianças com excesso de peso e obesidade; • Com 12 anos há um total de 30% de crianças com excesso de peso e obesidade; • Com 13 anos há um total de 25%de crianças com excesso de peso e obesidade;• Com 14 anos há um total de 14% de crianças com excesso de peso e obesidade;• Com 15 anos há um total de 32 % de crianças com excesso de peso e obesidade;• Com 16 anos há um total de 40 % de crianças com excesso de peso.

É de salientar que nas crianças dos 9 e 10 anos, a per-centagem de excesso de peso e obesidade, ultrapassa os 31,5%, valor obtido no estudo de Carvalho (2001), o que é inquietante.

Page 25: Revista spese numero 2

Nota Conclusiva

Este estudo permitiu não só identificar a prevalência da pré-obesidade e obesidade dos alunos da Escola EB2,3 de Vagos, como também traçar estratégias de inter-venção para diminuir a incidência deste problema.

Com a implementação deste projecto, pretende-se que as crianças/jovens adoptem comportamentos saudáveis, visto estes serem importantes medidas de promoção da saúde e prevenção da doença, com repercussões positi-vas, a médio e a longo prazo.

Aos profissionais de saúde cabe ajudar a identificar crianças/jovens com excesso de peso. O diagnóstico é apenas o primeiro passo e o mais fácil.

A nossa intervenção assenta essencialmente em três pi-lares fundamentais, a alimentação saudável, o exercício físico e terapias comportamentais individualizadas (através de apoio e acompanhamento no Centro de Saúde/Hospital D. Pedro).

Bibliografia

1. Carvalho, David – Obesidade deve ser prevenida na infância. “Medicina & Saúde” Nº47 Setembro de 2001.

2. Carmo, Isabel do – Prevalência da obesidade em Portugal. “Mundo Médico”. Nº11. Junho/Agosto de 2000.

3. Direcção Geral de Saúde. Programa Nacional de Combate à Obesidade. Divisão de Doenças Genéticas, Crónicas e Geriátri-cas. Lisboa: 2005.

4. Padez, Cristina. Prevalência da obesidade na infância. Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra, 2001.

Page 26: Revista spese numero 2

Resumo

A Organização Mundial de Saúde refere a obesidade como a epidemia global do século XXI, por apresentar uma prevalência igual ou superior à da desnutrição e das doenças infecciosas. Relativamente à obesidade infantil, Portugal é um dos países europeus com maior prevalên-cia. Este estudo tem como objectivo avaliar a prevalência de pré-obesidade e obesidade nas crianças matriculadas no ensino pré-escolar público e particular do Concelho de Ílhavo, para a partir desse diagnóstico desenhar uma intervenção com estratégias adequadas a este grupo etário e às crianças mais jovens. De Março a Abril de 2008, foram avaliados o peso e a altura de 240 crianças, com 4 e 5 anos de idade; calculou-se o índice de mas-sa corporal e classificou-se de acordo com as curvas de percentil constantes na Circular Normativa nº05/DSMIA de 21/02/06 da Direcção Geral de Saúde. A prevalência de excesso de peso foi de 31,67%, apresentando 11,67% obesidade. A pré-obesidade foi mais acentuada no sexo feminino e nas crianças nascidas em 2003; a obesidade foi mais acentuada nas crianças a frequentar o ensino pré-escolar público. Comparativamente a Rito (2001), o Concelho de Ílhavo, apresenta uma percentagem superior de excesso de peso e obesidade nas crianças na mesma faixa etária. Perante esta realidade torna-se prioritária e urgente uma intervenção que terá que passar pelos pais, pela escola, pela autarquia e pelos serviços de saúde.

Estudo sobre obesidade infantil no concelho de Ílhavo.

Fernanda Loureiro Médica de Saúde Pública

Fernanda Duarte GabrielEnfermeira

Regina RamosNutricionista

Eduardo Almeida Técnico de Saúde Ambiental

Introdução

“Gordura é formosura”. Esta asserção, muito comum no passado, e imortalizada por pintores, escultores e escri-tores, é hoje completamente obsoleta. Do ponto de vista da saúde individual está mais que provado que o aumento de peso traz consigo consequências graves na saúde físi-ca, mas também na saúde mental e de relação. Do ponto de vista estético o conceito é hoje diabolizado de tal for-ma que, para se atingir uma silhueta magra, se envereda por verdadeiras atrocidades alimentares (dietas dese-quilibradas, restritivas, monótonas, etc.) que, também elas, podem desencadear patologias de difícil tratamento.

A Organização Mundial de Saúde reconhece a obesidade como um grave problema de Saúde Pública, referindo-a como a epidemia global do século XXI, por apresentar uma prevalência igual ou superior à da desnutrição e das doenças infecciosas. Relativamente à obesidade infantil, Portugal é um dos países europeus com maior prevalên-cia: cerca de 32% com excesso de peso, entre os 7 e os 9 anos, sendo 11% considerados obesos (1,2); além disso, 24% das crianças em idade pré-escolar apresentam exces-so de peso e 7% são obesas (3), sendo um dos 5 países eu-ropeus com maior prevalência de obesidade infantil (4).A obesidade pode prevenir-se e é uma epidemia re-versível. Partindo deste pressuposto e atendendo aos aspectos multifactoriais do problema, também as es-tratégias terão que ser multissectoriais, (envolvendo pais, educadores, órgãos de gestão da educação, pro-fessores, autarquia, instituições de solidariedade social, serviços de saúde e, obviamente as crianças objectos e sujeitos da intervenção) para que se reduza a percenta-gem de crianças com excesso de peso, através de acom-panhamento técnico adequado e se inverta a tendên-cia do aumento e da precocidade do excesso de peso.

Page 27: Revista spese numero 2

Metodologia

Só conhecendo a realidade do nosso Concelho, podere-mos desenhar uma intervenção com estratégias adequa-das, assim o objectivo deste estudo é avaliar a prevalência de pré-obesidade e de obesidade, em crianças nascidas em 2002 e 2003, a frequentar o ensino pré-escolar pú-blico e particular do Concelho de Ílhavo.

Trata-se de um estudo quantitativo, de carácter descritivo e transversal, que decorreu entre Março e Abril de 2008. A população em estudo compreendeu as crianças nasci-das em 2002 e 2003, a frequentar o ensino pré-escolar, em estabelecimentos públicos e particulares. A amostra foi constituída por 240 crianças (33,7% da população em estudo), nascidas em 2002 e 2003, a frequentar o ensino pré-escolar em estabelecimentos públicos e particulares. As crianças foram avaliadas através de parâmetros an-tropométricos (peso e altura). O peso foi avaliado com a criança descalça e com roupa interior, numa balança elec-trónica portátil (modelo Seca® erecta 844) com uma pre-cisão de 0,1 kg. A altura foi medida com as crianças des-calças, num estadiómetro de chão (modelo Seca® 214) com uma precisão de 0,1 cm, Foi determinado o índice de massa corporal (IMC) e classificado de acordo com as cur-vas de percentil constantes na Circular Normativa nº05/DSMIA de 21/02/06 da Direcção Geral de Saúde, que con-sideram pré obesidade quando P85≤IMC<95 e obesidade quando IMC≥95 (5).

Análise estatística

Os dados foram tratados utilizando a estatística descri-tiva. Consideramos uma limitação deste estudo, a im-possibilidade de recurso a um programa informático de estatística, para uma interpretação mais adequada dos resultados.

Resultados

A amostra foi constituída por 240 crianças, das quais 56,7% nasceram em 2002, 51,3% eram do sexo mascu-lino, e 52,1% frequentava o ensino pré-escolar público.

Relativamente à variável em estudo, verificámos que 31,67% das crianças apresentam excesso de peso, sendo que 20% classificam-se como pré-obesos e 11,67% como obesos (gráfico 1).

Gráfico 1

Verificou-se que prevalência de pré-obesidade é maior nas raparigas (21,55%) e que a obesidade também é ligeiramente superior neste género (12,07%) (gráfico 2).

Gráfico 2

No que respeita ao ano de nascimento, verificámos que a pré-obesidade é mais acentuada nas crianças nascidas em 2003 (26,67%) e a obesidade nas crianças nascidas em 2002 (15,57%) (gráfico 3).

Gráfico 3

Quanto ao tipo de instituição de ensino, as crianças a frequentar o ensino pré-escolar público apresentam uma percentagem superior de obesidade (12,8%) (gráfico 4).

Gráfico 4

Discussão/ Conclusão

A prevalência de excesso de peso (31,67%) e de obesi-dade (11,67%), nas crianças em estudo foi superior à referida por Rito (3).

A prevalência de obesidade aumentou com a idade e é su-perior nas raparigas, assim como o excesso de peso tam-bém é maior no género feminino, o que está de acordo com a literatura (6).

Distribuição das Crianças Avaliadas por Classes de IMC (n=240)

3,33%

65,00%

20,00%

11,67%

Baixo Peso

Peso Normal

Pré-Obesidade

Obesidade

Page 28: Revista spese numero 2

O Concelho de Ílhavo apresenta uma percentagem superi-or de obesidade nas crianças na mesma faixa etária, com-parando com os valores nacionais. Perante esta realidade, torna-se prioritário e urgente desenvolver um programa de intervenção o mais cedo possível, pois é nas crianças, entre os 2 e os 5 anos de idade, que os hábitos relativos à alimentação e actividade física parecem começar a esta-belecer-se (7).

Por outro lado, a infância é referida como um período chave para intervenções que promovam a saúde, pois acredita-se que as mudanças comportamentais focadas na dieta e actividade física, com início no período escolar básico, persistam até à adolescência, resultando, a longo prazo, em estilos de vida mais saudáveis (8).

A intervenção terá que passar pelos pais, pela escola, pela autarquia e pelos serviços de saúde, dando continu-idade ao Programa de Combate à Obesidade Infantil do Concelho de Ílhavo com início no ano lectivo 2005/2006.

Bibliografia

1. Programa Nacional de Combate à Obesidade, Direcção Geral de Saúde, Divisão de Doenças Genéticas, Crónicas e Geriátricas, Lisboa, 2005.

2. Padez, C. et al. Prevalence of Overweight and Obesity in 7-9 Year-Old Portuguese Children: Trends in Body Mass Índex from 1970-2002. Am J Hum Biol, 2004; 16: 670-678.

3. Rito, A. Estado Nutricional de Crianças e Oferta Alimentar do Pré-escolar do Município de Coimbra, Portugal, 2001, Tese de Candidatura ao Título de Doutor em Saúde Pública, 2004.

4. IOTF (International Obesity Task Force): Overweight and Obesity in the European Union. Disponível em http://www.iotf.org (acedido em 23 de Junho de 2009).

5. Direcção Geral da Saúde, Circular Normativa nº05/DSMIA de 21/02/06. Lisboa 2006.

6. Moreira, P. Overweight and Obesity in Portuguese Children and Adolescents. J Public Health, 2007; 15: 155-161.

7. O’Connor TM, Yang S-J, Nicklas TA. Beverage Intake among Preschool Children and its Effects on Weight Status. Pediatrics, 2006; 118: e1010-e1018.

8. Pérez-Rodrigo C, Aranceta J. School-based Nutrition Educa-tion: Lessons Learned and New Perspectives. Public Health Nutrition, 2001; 4(1A): 131-138.

Page 29: Revista spese numero 2

Resumo

A alimentação é fundamental para a promoção da saúde. Actualmente verifica-se o aumento do consumo de açú-cares extrínsecos aos alimentos e um menor consumo de fruta. Estas modificações poderão acarretar graves conse-quências para a saúde.

As escolhas alimentares individuais são influenciadas por variáveis de natureza social, económica, cultural e contex-tual que se relacionam e influenciam de uma forma com-plexa.

A educação alimentar, sobretudo se partir do conheci-mento dos padrões de consumo e levada a cabo nos gru-pos etários mais jovens, é essencial para opções alimen-tares sãs.

Centrado neste pressuposto, foi realizado o presente tra-balho que teve como principais objectivos:

- Descrever qualitativamente o tipo de dieta adoptado por crianças do 1º ciclo do Ensino Básico no que concerne às refeições pequeno-almoço, lanche da manhã e lanche da tarde;

- Sensibilizar estas crianças para as vantagens associadas a escolhas alimentares mais saudáveis.

A caracterização alimentar teve por base uma amostra de 26 alunos do 3º e 4º anos de escolaridade do concelho de Gondomar. Foi pedida a colaboração dos alunos e dos pais para o preenchimento de uma tabela de registo do consumo de alimentos, durante 3 dias. Avaliou-se a reali-zação das referidas refeições, a inclusão de alimentos com açúcar extrínseco e de fruta.

Caracterização das escolhas alimentares e sensibilização para opções mais saudáveis no 1º ciclo do ensino básico.

Mafalda Nunes / Tânia FerreiraEscola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto

Constatou-se que o consumo de fruta era nulo ao peque-no-almoço e baixo aos lanches. Por outro lado, a ingestão de alimentos contendo açúcar extrínseco estava presente em todas as refeições analisadas, atingindo valores signi-ficativos, sobretudo nos lanches.

Com base no comportamento alimentar verificado, foi efectuada uma acção de educação alimentar mais dir-igida, ampliando as possibilidades de fomentar hábitos alimentares mais saudáveis e, deste modo, potenciar a saúde dos indivíduos e a sua qualidade de vida futura.

Introdução

Os hábitos alimentares influenciam de uma forma deter-minante o crescimento, o desenvolvimento e a saúde dos indivíduos. Embora não haja dúvidas sobre este facto, verifica-se que a estrutura da alimentação, de uma forma geral, se tem vindo a degradar.

Estas modificações podem traduzir-se em graves conse-quências para a saúde. De facto, nas sociedades ociden-tais, muitas das doenças crónicas responsáveis por doença e mortalidade prematura (obesidade, cancro, doenças cardiovasculares, entre outras) estão directamente rela-cionadas com os hábitos alimentares.

Uma dieta que outrora era dominada por cereais (pouco ou parcialmente processados) e vegetais alterou-se para uma alimentação onde predominam os alimentos proces-sados e se verifica um considerável aumento do consumo de alimentos de origem animal, de gorduras saturadas e de açúcares extrínsecos aos alimetos (Popkin, 2003). Por outro lado, observa-se uma acentuada redução no con-sumo de cereais integrais e hortofrutícolas (Popkin, 2006).

Page 30: Revista spese numero 2

O açúcar extrínseco é aquele que não se encontra natu-ralmente presente no alimento, sendo adicionado du-rante o processo de fabrico ou de preparação culinária.

Segundo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2003), o consumo total diário de açúcar extrínseco deve ser inferior a 10% do total de calorias consumidas diariamente. Assim sendo, numa dieta de 2000 quilocalorias diárias, a quantidade total de açú-car não deverá ultrapassar 50 gramas, o que significa, aproximadamente, 10 colheres de chá.

O consumo excessivo de açúcar favorece o aparecimen-to de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e cáries dentárias.

Os alimentos ricos em açúcar refinado contribuem com “calorias vazias” uma vez que frequentemente contêm poucos nutrientes mas têm um elevado conteúdo de energia. Portanto, um consumo frequente de alimentos ricos em açúcar adicionado mas baixo em nutrientes pode baixar o valor nutricional da dieta total. Num estudo realizado por Overby et al. (2004) verificou-se que um elevado consumo de açúcar extrínseco, em cri-anças, tinha uma correlação negativa com o consumo de micronutrientes e hortofrutícolas.

Os produtos hortofrutícolas representam uma parte fundamental da alimentação saudável que deve ser praticada diariamente. De um modo geral podemos diz-er que estes alimentos são fornecedores insubstituíveis de minerais (potássio, zinco, cálcio, magnésio, cobre, etc.), de algumas vitaminas (especialmente de vitamina C), de diversos compostos protectores (ex.: flavenóides) e de diferentes tipos de fibras alimentares. Pela sua riqueza em micronutrientes reguladores essenciais à manutenção do bom estado de saúde, estes alimentos denominam-se, de um modo geral, por protectores; e como fornecem uma grande variedade de nutrientes, especialmente micronutrientes, designam-se também por alimentos com elevado valor nutricional (OMS, 2006).

O consumo insuficiente de frutas e vegetais aumenta o risco de doenças crónicas não transmissíveis, como as cardiovasculares e alguns tipos de cancro, e está entre os 10 factores de risco que mais causam mortes e doenças em todo o mundo. De facto, estima-se que o baixo consumo de hortofrutícolas seja responsável por cerca de 19% dos cancros gastrointestinais, 31% da doença cardiovascular isquémica e por 11% dos en-fartes do miocárdio, e que potencialmente mais de 2,7 milhões de vidas podiam ser salvas todos os anos se cada pessoa consumisse porções adequadas de frutas e hortícolas (WHO, 2002).

A Organização Mundial da Saúde recomenda um consumo diário de produtos hortofrutícolas superior a 400 g (WHO, 2003).

Pelo que foi exposto, conclui-se que a prevenção da doença e a preservação da saúde dependerão sempre, numa larga medida, de escolhas alimentares saudáveis. A educação alimentar torna-se portanto essencial ao capacitar para opções alimentares mais saudáveis.

A idade escolar é uma etapa chave para a aquisição de con-hecimentos e desenvolvimento de competências que pos-sibilitarão às crianças por em prática aquilo que aprendem, fazendo. Desta forma, os primeiros anos são um período muito importante para o estabelecimento de hábitos ali-mentares que promovam a saúde do indivíduo.

No entanto, sendo as escolhas alimentares dos indivíduos influenciadas por variáveis de natureza social, económica, cultural e contextual, que se relacionam e influenciam de uma forma complexa, as intervenções de educação alimen-tar deverão partir do conhecimento dos padrões de con-sumo da população em causa para poderem ser mais direc-cionadas e, consequentemente, mais eficazes.

Assim, a presente pesquisa teve como objectivos

- Descrever qualitativamente o tipo de dieta adoptado por crianças do 1º ciclo do Ensino Básico no que concerne às refeições pequeno-almoço, lanche da manhã e lanche da tarde;

- Sensibilizar estas crianças para as vantagens associadas a escolhas alimentares mais saudáveis;

- Desenvolver atitudes críticas face aos produtos alimen-tares;

- Promover junto dos alunos hábitos alimentares mais sau-dáveis incluindo fruta ao pequeno-almoço e lanches e di-minuindo o consumo de alimentos com açúcar extrínseco.

Page 31: Revista spese numero 2

Metodologia

A intervenção efectuada envolveu três turmas, num total de 57 crianças (58% meninos e 42% meninas) que frequentavam o 3º e 4º anos de escolaridade de escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico pertencentes ao concelho de Gondomar.

Para caracterizar o consumo alimentar das crianças foi pedida a colaboração dos alunos e dos pais para o preenchimento de uma tabela de registo do consumo de alimentos. Acederam a participar nesta acção 26 alunos.

Foi entregue a cada criança um impresso contendo orientações para o seu preenchimento no sentido de que o aluno deveria anotar tudo o que comesse e bebesse durante 3 dias (6ª feira, Sábado e Domingo) assim como os horários de cada refeição.

A análise destes registos aqui apresentada foi feita ao nível das refeições pequeno-almoço e lanches da manhã e da tarde no sentido de averiguar:

- Se estas refeições eram realizadas;

- A inclusão de alimentos com açúcar extrínseco (foram considerados as bolachas, os bolos, o leite com choco-late e os cereais de chocolate) ;

- O consumo de fruta nestas refeições.

Estas foram as refeições escolhidas porque se consid-erou que seriam aquelas em que os alunos teriam uma escolha mais activa nos alimentos consumidos. Tendo por base os resultados obtidos nos registos, foi efectuada uma acção centrada nos alunos, enfatizando os conhecimentos que já tinham sobre alimentação saudável e fornecendo ferramentas que lhes permi-tissem fazer as escolhas alimentares adequadas para os seus lanches e pequeno-almoço. Foi apresentada, como guia para uma alimentação saudável, a nova roda dos alimentos (Figura 1) e explicada a necessidade de uma alimentação completa (ingerindo diariamente alimentos de todos os grupos e bebendo água), equilibrada (res-peitando a proporção com que os diferentes grupos de alimentos se apresentam na roda) e variada (comendo diferentes alimentos dentro de cada grupo). Foi dada uma particular relevância à necessidade de aumentar o consumo de fruta e diminuir o de alimentos com açúcar extrínseco. Procurou-se estimular o consumo de alimen-tação saudável ao invés de formular proibições.

Figura 1 – Apresentação efectuada aos alunos.

Também foi referida a importância do pequeno-almoço e das merendas ou lanches pois o consumo de alimentos entre as refeições principais ajuda a controlar o apetite (evitando que se coma demasiado nestas refeições) e contribuem para o correcto funcionamento do organis-mo. Deu-se particular relevo à composição do pequeno-almoço que idealmente deveria incluir alimentos dos seguintes grupos: lacticínios, cereais e derivados e fruta. Seguiu-se uma intervenção de carácter prático que incluiu exercícios de leitura do rótulo de alimentos e cálculo do consumo diário de açúcar e a simulação de um supermercado em que as crianças eram convidadas a seleccionar os alimentos que consideravam mais ad-equados, sob o ponto de vista da sua saúde, seguindo-se uma discussão sobres as escolhas efectuadas (Figura 2).

Figura 2- Alimentos promotores da análise crítica pelas crianças.

Page 32: Revista spese numero 2

Resultados e Discussão

Os resultados obtidos relativamente à realização das refeições pequeno-almoço e lanches são apresenta-dos na Figura 3.

Figura 3- Refeições realizadas pelos alunos.

Verificou-se que quase a totalidade das crianças re-alizava a primeira refeição do dia, havendo um ligeiro decréscimo ao Domingo (com 85% das crianças a tomaram o pequeno-almoço).

Estudos efectuados com crianças portuguesas de 11 anos, em dias de escola e em que era feita a análise por sexo verificaram que 84,9% das meninas e 91,4% dos meninos tomavam o pequeno-almoço (WHO, 2004). Também é referido que há um decréscimo com o aumento da idade e que os rapazes apresen-tam valores superiores aos das raparigas.

Observou-se que o lanche da manhã era realizado pela totalidade das crianças durante o período escolar; no entanto, durante o fim-de-semana, a percentagem de crianças que o realiza atinge valores relativamente baixos (42% ao Sábado e Domingo).

O lanche da tarde é uma refeição praticada pela maioria das crianças tanto no período escolar (92%), como durante o fim-de-semana (89% e 77% ao Sábado e Domingo, respectivamente).

O decréscimo na percentagem de crianças que realiza do lanche da manhã no fim-de-semana poderá dever-se ao facto de as crianças acordarem mais tarde e não haver um intervalo de tempo entre o pequeno-almoço e o almoço que o justifique.

Na Figura 2 é reapresentada o consumo de fruta nas re-feições analisadas.

Figura 4 - Consumo de fruta pelos alunos.

Constata-se que o consumo de fruta ao pequeno-almoço é nulo, podendo por isso esta refeição ser considerada incom-pleta (Alves e Boog, 2007). Ao lanche a inclusão de fruta apresenta valores baixos que nunca vão para além de 20% das crianças que realizam os lanches.

Em Portugal verifica-se um baixo consumo de fruta, encon-trando-se valores na ordem dos 58,3% das raparigas e 51,5% dos rapazes (com 11 anos) a ingerirem fruta diariamente (WHO, 2004). Este estudo também refere que a proporção de jovens que come fruta diariamente diminui com a idade, sendo o decréscimo superior no caso dos rapazes.

Lorson et al. (2009) também concluíram, nos Estados Unidos da América, que uma grande proporção de crianças e ado-lescentes apresentava um consumo total de fruta inferior ao recomendado e que este diminuía com a idade.

Vários estudos indicam que o consumo de fruta e hortícolas por parte dos pais influencia o consumo, por parte das cri-anças, destes alimentos (Cooke et al., 2004 e Wardle et al., 2005). Para além de factores genéticos e da disponibilidade dos alimentos, o facto de os pais funcionarem como um modelo para os filhos é uma das possíveis explicações para esta associação (Fisher et al., 2002)

Page 33: Revista spese numero 2

O consumo de alimentos contendo açúcar extrínseco é apresentado na Figura 5.

Figura 5 – Consumo de açúcar extrínseco.

O consumo de alimentos contendo açúcar extrínseco está presente em todas as refeições analisadas, atingindo valores significativos, sobretudo ao nível dos lanches do fim-de-semana.

A alta correlação entre a preferência por doces por parte das crianças e dos seus pais vem sendo observada, o que sugere que a preferência por doces é, em parte, um hábito aprendido (Tomita,1999).

A comparação dos resultados obtidos por este estudo, no que concerne à caracterização das escolhas alimenta-res, com outros estudos deve ser realizada com cautela pois instrumentos diversos para a recolha de informação podem levar a resultados que não são susceptíveis de uma comparação directa.

Embora não se tenha feito uma avaliação formal da acção de educação alimentar efectuada, verificou-se que as crianças na faixa etária estudada são muito recepti-vas e através da discussão efectuada sobre as escolhas efectuadas no “supermercado da escola” percebeu-se que assimilaram os benefícios que teriam na sua saúde se incluíssem a fruta no pequeno almoço e lanches e se diminuíssem o consumo de alimentos com açúcar extrínseco.

Conclusões

Como conclusões da caracterização dos hábitos alimen-tares estudados constatou-se um consumo de fruta nulo ao pequeno-almoço e baixo aos lanches.

A ingestão de alimentos contendo açúcar extrínseco es-tava presente em todas as refeições analisadas, atingin-do valores significativos, sobretudo nos lanches.

A acção de educação alimentar efectuada, sendo mais dirigida e baseada nos padrões de consumo da popu-lação estudada, teve ampliadas as possibilidades de fomentar hábitos alimentares mais saudáveis e, deste

modo, potenciar a saúde dos indivíduos e a sua quali-dade de vida futura.

Gostaríamos de realçar a necessidade de desenvolver nas escolas programas de promoção da saúde ao nível dos hábitos alimentares de uma forma consistente e contínua, a importância de trabalhar com equipas multidisciplinares e de envolver os pais para aumentar o impacto das acções.

Para trabalhos futuros sugere-se a caracterização dos hábitos alimentares, em todos os dias da semana, numa amostra com uma maior dimensão e fazer uma avaliação do impacto da acção de sensibilização algum tempo após a sua realização.

Referências

Alves, H. J. e Boog, M. C. F. (2007). Comportamento alimentar em moradia estudantil: um espaço para pro-moção da saúde. Revista Saúde Pública, 41, 197-204.

Cooke, L. J., Wardle, J., Gibson, E.L., Sapochnik, M., Shei-ham, A. e Lawson, M. (2004). Demographic, familial and trait predictors of fruit and vegetable consumption by pre-school children. Public Health Nutrition, 7, 295–302.

Fisher, J.O., Mitchell, D.C, Smiciklas-Wright, H. e Birch, L. L. (2002). Parental influences on young girls’ fruit and vegetable, micronutrient, and fat intakes. Journal of the American Dietetic Association, 102, 58–64.

Lorson, B. A., Melgar-Quinonez, H. R. e Taylor, C. A. (2009). Correlates of fruit and vegetable intakes in US children. Journal of the American Dietetic Association, 109, 474-478.

Organização Mundial da Saúde. (2006). Documento in-formativo para o Workshop de Lisboa sobre a Promoção de Hortofrutícolas nos Países de Expressão Portuguesa. FAO, Ministério da Saúde de Portugal/Direcção Geral da Saúde, Instituto de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Ministério da Saúde do Brasil

Overby, N. C., Lillegaard, I. T., Johansson, L. e Andersen, L. F. (2004). High intake of added sugar among Norwe-gian children and adolescents. Public Health Nutrition 7, 285–293.

Padez, C., Fernades, T., Mourão, I., Moreira, P., e Rosado, V. (2004). Prevalence of overweight and obesity in 7-9 year-old Portuguese children: Trends in body mass index from 1970-2002. American Journal of Human Biology, 16, 670-678.

Page 34: Revista spese numero 2

Popkin, B. M. (2006). Technology, transport, globalization and the nutrition transition food policy. Food Policy, 31, 554-569.

Tomita, N. E., Nadanovsky, P., Vieira, A. L. F. e Lopes, E. S. (1999). Preferências por alimentos doces e cárie dentária em pré-escolares. Revista Saúde Pública, 33, 542-546.

Wardle, J., Carnell, S. e Cooke, L. (2005). Parental control over feeding and children’s fruit and vegetable intake: how are they related? Journal of the American Dietetic Association, 105, 227–232.

World Health Organization. (2002). The world report 2002: reducing risks, promoting healthy life. Geneva: World Health Organization.

World Health Organization. (2003). Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases: report of a joint WHO/FAO expert consultation (WHO Technical Repor Series nº 916) Geneva.

World Health Organization. (2004). “Young people’s health in context” - Health behavior in school-aged children (HBSC) study: International Report from the 2001/2002 Survey., Regional Office for Europe.

Page 35: Revista spese numero 2

Na Sessão de Abertura marcaram presença, uma pro-fessora representante do Agrupamento; Angelina Ram-alho, em representação do presidente da Câmara de Valongo, Fernando Melo; Neusa Pinto, representante das professoras do Projecto e a própria Ana Paula Alves, visivelmente emocionada neste momento nostálgico.

A grande mentora do Projecto, Ana Paula Alves, ao longo destes quatro anos mostrou inteira dedicação e envolvimento, em prol da correcção dos maus hábi-tos alimentares e promoção da actividade física, sensi-bilizando não só as crianças envolvidas e respectivas famílias, como também toda a comunidade escolar.

O trabalho desenvolvido com o Projecto “Nem Bucha nem Estica”, apresenta um indiscutível sucesso, podendo ser comprovado através da análise estatís-tica relativa à evolução da massa gorda dos alunos.

A proposta do Centro de Saúde foi feita a todos os agrupamentos, embora só restassem o Agrupamen-to Vertical da Escola de S. Lourenço (Costa, Carvalhal, Saibreiras e Montes da Costa) e a Escola da Gandra.

Cada uma destas escolas, destacam-se as professoras Dulce Martins (Costa), Manuela Dinis (Gandra), Neusa Pin-to (Saibreiras), Etelvina Serdoura (Carvalhal) e Isabel Bes-sa (Montes da Costa) que constituíram o grande alicerce

do Projecto. Ao longo de quatro anos de trabalho intenso, foram abordados diversos temas pertinentes, criando condições para a aquisição de informação por parte dos alunos e também possibilitar uma outra forma de olhar para a alimentação e consequente mudança de atitudes.

O grande objectivo proposto seria diminuir a tendên-cia verificada no crescimento de doenças associadas a uma deficiente nutrição, melhorar o estado de saúde global e incentivar a actividade física. Concretamente, realizaram-se vários eventos temáticos, nomeadamente um piquenique, uma manhã desportiva, uma exposição de trabalhos na Vila Beatriz, a actividade “Mexe-te, Fica em Forma!” e finalmente o Congresso Infantil. Apos-tando sempre na prevenção, as sugestões foram sendo encaminhadas para o ensino pré-escolar, para os pais, e para as entidades políticas locais, regionais e nacionais.

A professora Maria José, representante do Conselho Exec-utivo do Agrupamento de Escolas de S. Lourenço referiu, por exemplo, como melhorou o carácter dos lanches que os alunos trazem para a escola, e Angelina Ramalho, em nome da Câmara manifestou o orgulho desta em assumir-se como entidade parceira do Programa, tendo ainda manifestado grande apreço pelo trabalho da equipa de Saúde Escolar.No exterior do auditório do Fórum Cultural de Ermesinde estavam expostos os trabalhos dos alunos sobre os te-mas abordados, tais como os benefícios do consumo de

Congresso Infantil Alimentação Saudável/ Actividade Física

No dia 29 de Maio, realizou-se no Fórum Cul-tural de Ermesinde, o Congresso Infantil – Ali-mentação Saudável/Actividade Física, evento que marca o final de quatro anos de actividade do Projecto intitulado “Nem Bucha Nem Estica”.

Este foi desenvolvido pela nutricionista Ana Paula Alves, do Centro de Saúde de Ermesinde e con-tou com a fundamental colaboração da equipa de Saúde Escolar, professoras do Agrupamento Verti-cal de S. Lourenço e também a Escola da Gandra.

Page 36: Revista spese numero 2

sopa, frutas, leite, cereais e, pelo contrário, e também a necessidade de reduzir o consumo de sal e de açúcar.

Quanto ao Congresso propriamente dito, as comuni-cações foram apresentadas apenas pelas crianças, sozin-has ou em grupo, devidamente identificadas. O primeiro painel abordou o tema da Alimentação Saudável, com as comunicações “Alimentação Saudável” e “Que Bela Sopa” (Escola EB1 da Costa), “Lanches Saudáveis”, (Escola EB1 do Carvalhal e Escola EB1 da Gandra), e “Dias Especiais” (Escola EB1 do Carvalhal). O tema da Nova Roda dos Ali-mentos foi abordado com uma comunicação do mesmo nome, da Escola EB1 das Saibreiras, “Porções no Prato” e “Frutas e Hortícolas” (ambas da Escola EB1 do Carval-hal) e “Lacticínios” (Escola EB1 da Costa). Finalmente o terceiro painel foi dedicado às Determinantes nos Estilos de Vida, e contou com as comunicações “Faça Exercí-cio pela sua Saúde” (Escola EB1 das Saibreiras), “As Cri-anças e as Actividades Sedentárias” (Escola EB1 Carval-hal) e, finalmente “Efeito da Publicidade na Alimentação das Crianças” (Escola EB1 da Gandra). Os três painéis tiveram a moderação, respectivamente, das nutricioni-stas também envolvidas no Projecto “Nem Bucha nem Estica”, Liliana Carola, Ceomara Pina e Manuela Barros.

O Congresso Infantil terminou com a representação da peça de teatro “Alice de Pernas P’ro Ar”, pelas crianças da Escola EB1 do Xisto, sem dúvida uma bela forma de terminar um espectáculo marcado pela cor e alegria con-tagiante de todas as crianças presentes.