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Revista Trabalho Médico - Maio 2013

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Publicação da Federação Nacional dos Médicos. Número 16. Edição Maio 2013.

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PresidenteGeraldo Ferreira FilhoVice-presidenteOtto Fernando BaptistaSecretário-geralJoão Batista de Medeiros1o SecretárioJosé Tarcísio da Fonseca DiasSecretário de FinançasCid Célio Jayme CarvalhaesSecretário de Assuntos JurídicosVânio Cardoso LisboaSecretário de ComunicaçãoRodrigo Almeida de SouzaSecretário de Formação e Relações SindicaisJosé Erivalder Guimarães de OliveiraSecretário de Formação Profissional e Residência MédicaJorge Luiz Eltz SouzaSecretário de Relações TrabalhistasEduardo SantanaSecretário de Benefícios e PrevidênciaJoão Fonseca GouveiaSecretário de Saúde SuplementarMárcio Costa BicharaSecretário de Direitos Humanos, Discriminação e GêneroJosé Roberto Cardoso MurissetSecretário de Educação PermanenteDeoclides Cardoso Oliveira Junior

DIRETORES ADJUNTOSDiretor de FinançasMario Antonio FerrariDiretor de Assuntos JurídicosMarcelo Miguel Alvarez QuintoDiretor de ComunicaçãoWaldir Araújo CardosoDiretora de Formaç ão e Relações SindicaisLúcia Maria de Souza Aguiar dos SantosDiretor de Formação Profissional e Residência Médica Antônio José F. P. dos SantosDiretora de Relações TrabalhistasJanice PainkowDiretor de Benefícios e PrevidênciaFernando Antônio Nascimento e NascimentoDiretor de Saúde SuplementarÁlvaro Norberto Valentin da SilvaDiretora de Direitos Humanos, Discriminação e GêneroMaria Rita Sabo de Assis BrasilDiretor de Educação PermanenteAri WajsfeldPresidentes de Federações RegionaisCentro Oeste/Tocantins – Iron Antônio de Bastos Nordeste – José dos Santos MenezesNorte – José Ribamar CostaSão Paulo – Casemiro dos Reis JuniorSudeste – Clóvis Abrahim CavalcantiSul – Darley Rugeri Wollmann Júnior

CONSELHO FISCALT1 – Elza Luiz de QueirozT2 – Anete Maria Barroso de Vasconcelos T3 – Rosilene Alves de Oliveira SuplentesS1 – Adolfo Silva ParaísoS2 – Ellen Machado RodriguesS3 – Cesar Augusto Ferraresi

Representantes junto às entidades sindicais de grau superior Titular – Jacó LampertSuplente – Tarcisio Campos Saraiva de Andrade

A REVISTA TRABALHO MÉDICO é uma publicação da Secretaria de Comunicação da Federação Nacional dos MédicosEndereço: SHS, Quadra 6, Bloco A, Sala 211, Brasília, DFCEP: 70316-102Telefone: (61) 3042-3700 e fax (61) 3042-3701 www.fenam.org.br – [email protected]

Diretor responsávelRodrigo Almeida de SouzaJornalista responsávelTaciana GieselProdução, edição e paginaçãoTaciana GieselReportagens, redação e revisãoTaciana Giesel – reg. prof. no 8134/DF Fernanda Lisboa – reg. prof. no 8904/DF Diagramação e arte-finalMoisés DiasImpressãoQualidade Gráfica e EditoraTiragem: 50.000 exemplares

EXPEDIENTE

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Editorial

Uma homenagem da Federação Na-cional dos Médicos (FENAM) a um ícone do movimento estudan-

til na época da ditatura é o tema de uma das matérias da 15ª edição da Revista Trabalho Médico, que ainda destaca uma mobilização realizada no Dia do Trabalho, 1º de maio. Na ocasião, médicos e profissionais da saúde aproveitaram para alertar sobre as dificulda-des enfrentadas e chamar a atenção dos ges-tores sobre a necessidade de mudanças.

Em entrevista, o presidente da FENAM, Geraldo Ferreira, ressaltou que a luta contra a precarização do trabalho médico e contra a violação dos direitos humanos nos setores de urgência e emergência dos hospitais brasileiros tem movido a instituição. Ele chamou a aten-ção para os desafios da gestão, como afrontar a atitude do Governo que quer importar mé-dicos formados no exterior, sem a revalidação de diplomas.

A luta dos médicos conveniados a planos de saúde também é destaque desta edição. Bem como o engajamento de entidades médi-cas e civis no Movimento Saúde Mais 10, que busca mobilizar o Congresso Nacional sobre a necessidade de destinar mais recursos para a saúde pública brasileira.

Veja também como foi a visita dos dirigentes da FENAM à Corte Interamericana de Direitos Humanos para denunciar o caos enfrentados pelos pacientes e profissionais que trabalham no setor público.

Na coluna de gastronomia, assinada pelo médico Jacó Lampert, as delícias do festival “Comida di Buteco”, evento que aconteceu si-multaneamente em dezesseis capitais do país. E na matéria de turismo, conheça a diversida-de nordestina localizada na capital carioca.

Boa leitura!

Brasil tem má distribuição de médicos, revela pesquisa.(Pág. 15)

Entidades médicas retornam ao Conselho Nacional de Saúde. (Pág. 26)

Médicos protestam contra abusos dos planos de saúde.(Pág. 28)

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EntrevistaFernanda L

isboa

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“Enfrentaremos tempos difíceis, mas estamos

preparados.”

Para Geraldo Ferreira são grandes os desafios a serem enfrentados pela

Federação Nacional dos Médi-cos nos próximos meses. Com o Governo prestes a convocar médicos formados no exterior, sem observar os critérios do Exa-me de Revalidação de Diplomas emitidos no exterior, o presidente da FENAM sabe que o combate será grande. Mesmo assim, está otimista e focado em duas ou-tras grandes lutas do movimento médico: contra a precarização do trabalho e na busca de garantir mais dignidade aos pacientes e profissionais que prestam assis-tência nas urgências e emergên-cias do país.

Em entrevista à REVISTA TRABALHO MÉDICO ele fa-lou sobre as conquistas, dificulda-des enfrentadas nesse quase um ano de gestão, sonhos e metas para os próximos meses.

Desde a posse, em 1º de ju-lho até agora já foram quase 10 meses de gestão na Federação Nacional dos Médicos. Como você avalia esse período de trabalho? A avaliação é positiva.

Nós estamos dando sequencia a uma série de ações que estão sen-do desenvolvidas ao longo dos anos que dizem respeito ao for-talecimento da FENAM, dos sin-dicatos de base e pela garantia da união dos médicos em suas lutas. As principais bandeiras da nossa gestão ficaram bem definidas nes-te período. Uma das nossas gran-des preocupações é lutar contra a precarização do trabalho médico. Nós entendemos que o médico, em quase todos os setores, seja no público ou privado, tem sofri-do uma degradação nas relações

trabalhistas com seus emprega-dores. Os planos de saúde resis-tem regulamentar essa relação, por outro lado, o setor público

tem também suas falhas tentando introduzir mecanismos de gestão baseados em organizações sociais que findam quarterizar os servi-ços contratando médicos como pessoas jurídicas, quando na ver-dade há relação de trabalho.

Temos necessidades de con-curso público, de uma carreira e um piso salarial adequado. Nesta questão da precarização do tra-balho médico o que tem que ser levado em conta é a carga horária excessiva de trabalho que esses profissionais são obrigados a dar para garantir uma vida digna.

Outro olhar que nos preocu-pa, diz respeito a violação dos direitos humanos, quando a po-pulação tem o direito à vida e à

“Tanto na saúde públi-ca, quanto na privada, as-

sistimos diariamente a uma série de violações aos direitos humanos.

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Entrevista

saúde negado pelo Estado, pelo agente público e também pelos planos de saúde quando esses negam os direitos contratuais, e dificultam o acesso aos médicos. Tanto na saúde pública, quanto na privada, assistimos diariamen-te a uma série de violações aos di-reitos humanos. Essas bandeiras ficaram muito claras neste perío-do de gestão.

É claro que também demos continuidade a outras lutas, como a regulamentação da medicina, o financiamento do SUS e a luta dos médicos federais. Ao longo deste ano, procuramos visitar sin-dicatos e as redes de atendimento à população de diferentes estados.

Muitas vezes a rede pública é pre-cária. Esse retrato tem nos dado a compreensão de que a nossa luta em defesa de uma saúde gratuita, pública e universal é fundamental para o povo brasileiro.

Quais foram os principais desafios enfrentados até ago-ra? As grandes dificuldades são as políticas de governo que vêm de encontro ao pensamento dos médicos, do formato de como deve ser prestada a assistência à população e de como deve ser conduzida a saúde pública. Nós temos uma série de bandeiras de luta que contradizem com as po-líticas do governo. Por exemplo, o processo de terceirização da saúde pública, e em relação a in-vasão da profissão médica. A ne-cessidade da regulamentação da medicina é crucial para que pos-samos dar um atendimento de qualidade e garantir que a saúde da população não será entregue em mãos inadequadas.

Outro desafio é mostrar ao Governo que temos o número de médicos suficientes no Bra-sil. Audiências com Ministério da Saúde e com a própria presidenta Dilma Rousseff demonstraram que o governo pensa diferente. Sabemos que a partir de junho vão começar a importar médicos do exterior e isso é muito grave, porque se não for feito de forma correta, com o Revalida, pode lançar a saúde brasileira nas mãos

de quem não está habilitado a cuidar dela. Dificilmente esses médicos ficarão em regiões ca-rentes, como pretende o Estado. Certamente, irão para pontos em que eles terão mais chances de desenvolvimento, com melhores salários e estrutura.

Outra dificuldade é o proble-ma grave de financiamento. O governo procura várias alternati-vas e ainda não entendeu que se nós não tivermos um financia-mento mais adequado e estável nós continuaremos a ter hospitais sucateados, pacientes nos corre-dores e falta de leitos de UTIs. As grandes dificuldades são de políti-cas implementadas que não con-dizem com o diagnóstico, com o modelo de saúde que nós temos.

E as principais conquis-tas? Estamos tentando despertar no médico que sem mobilização não sairemos deste estado em que estamos. Nós temos prega-do isso e convocado a socieda-de para esta luta. A Saúde não é um patrimônio dos médicos, dos profissionais da saúde ou dos po-líticos, e sim do povo. Do ponto de vista estrutural, temos procu-rado construir uma unidade de pensamento e de prática entre todos os sindicatos médicos. As visitas em todas as capitais visam interagir com o sindicato, mostrar qual a visão da FENAM e fazer com que essas entidades se inte-ressem em participar das mesmas

“A necessidade da regulamen-tação da medi-cina é crucial para que pos-samos dar um atendimento

de qualidade e garantir que a saúde da po-pulação não será entregue em mãos ina-

dequadas”

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lutas. Uma conquista nesta gestão é o retorno do Sindicato dos Mé-dicos do Rio de Janeiro que por muito tempo esteve afastado das deliberações da FENAM. Outra vitória é a construção da sede própria da FENAM, em Brasília, e que já foi aprovada na última reunião do deliberativo.

Em um passo inédito, a Fe-deração Nacional dos Médicos recorreu a Corte Interamerica-na de Direitos Humanos para denunciar a situação da saú-de brasileira. Quais foram os impactos e resultados destas denúncias? É uma campanha vitoriosa, um formato de enxer-gar de que não se trata apenas de um problema gerencial ou de um atendimento inadequado na área de saúde. Estamos tentando criar a visão de que o paciente, cidadão brasileiro, que procura assistência e não encontra, depara-se com um direito violado e isso deve ter repercussão internacional, in-clusive com penalidades para o país que não está cumprindo suas obrigações. Esse olhar amarra ainda mais a obrigação do Brasil com tratados internacionais.

Tomamos esta atitude porque nos últimos dez anos temos bati-do na mesma tecla, sem resultados aparentes. Todas as solicitações feitas pelas entidades médicas, Ministério Público e outras orga-nizações sociais em busca de me-lhorias reais no setor se resolvem

apenas momentaneamente pelo Governo, após alguma decisão ju-dicial ou escândalos na mídia. São pacientes nos corredores com a privacidade violada, deitados em macas, muitas vezes sem lençóis, fazendo suas necessidades fisio-lógicas expostos aos olhares dos passantes, pacientes em UTIS improvisadas, sem o atendimento devido. Pedimos a contratação de profissionais, garantia de escalas completas, ampliação do número de leitos e nas vagas de UTIS de forma que possa haver melhorias reais, melhorias da infraestrutura, mas a violação a esses direitos é repetitiva e não parece que terá alguma solução a não ser que o Brasil realmente seja condenado por isso, ou sofra uma pressão internacional muito grande que faça com que o governo priorize estas questões e entregue à po-pulação os direitos previstos nes-tes tratados internacionais.

Por isso, desenvolvemos um projeto com denúncias e come-

çamos a espalhar esta bandeira pelo país. Começamos a visitar os hospitais de urgência e emer-gência e, junto com os sindicatos preparamos dossiês, relatórios, depoimentos, mas acima de tudo, fundamentamos juridicamente ações que vêm sendo propostas na justiça comum sem efeitos concretos. Estamos na fase final deste processo para apresentar esses relatórios a Comissão Inte-ramericana de Direitos Humanos, que fica sediada em Washington (EUA). Como resultado, a princí-pio, tivemos audiências convoca-das no Congresso Nacional que abriu uma Comissão de Inquérito para verificar a violação aos direi-tos humanos e uma audiência na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República que marcou um compromisso da FE-NAM ser convocada para as dis-cussões sobre o tema.

Muitas das lutas do movi-mento médico dependem da

Fernanda Lisboa

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Entrevista

aprovação de projetos de leis que estão em tramitação na Câmara ou Senado. Como tem sido a atuação da FENAM no Congresso Nacional? Nós te-mos uma atuação no Congresso Nacional crescente. A FENAM tem se tornado referência e as co-missões parlamentares têm, siste-maticamente, convocado a FE-NAM para ser ouvida, junto com as outras entidades, nas questões relativas ao trabalho médico.

Ao longo do ano, participa-mos de audiências para discutir a questão dos médicos federais, im-portação de médicos, escolas mé-dicas, exame de ordem e finan-ciamento da saúde. Além disso, a FENAM participa da Comissão de Assuntos Políticos (CAP), formada pelas três entidades médicas nacionais e que faz um acompanhamento permanente de todos os Projetos de Lei em tramitação no Congresso. Essa comissão analisa as proposições, emite pareceres depois de con-sultar autoridades especializadas e marca audiência com os autores e relatores das propostas para es-clarecer sobre a validade ou não daquelas propostas.

Quais serão os próximos passos da sua gestão? Temos um projeto decisivo que é a construção da sede da FENAM, em Brasília. Esse será um passo muito importante porque é um sonho acalentado a vários anos

pelos médicos brasileiros, pelos sindicatos e pela FENAM. Esta-mos dando encaminhamentos a isso através da solicitação da doa-ção de um terreno da Associação Médica de Brasília e que também deseja que ali se torne um cen-tro de entidades da categoria. Com todos os trâmites da doação concluídos, iniciaremos a segun-da fase do processo para a cap-tação de recursos para construir essa sede. Queremos envolver os médicos nessa conquista. Ini-cialmente, o pensamento é com-

prometer o profissional com esta construção. Faremos um grande trabalho de esclarecimento de que ali será a casa deles, do sin-dicalismo médico brasileiro. Com as contribuições, esperamos ter o quantitativo de recursos necessá-rio para essa construção.

Além disso, vamos intensi-ficar a luta pelos direitos huma-nos. Isso significa visitar mais os hospitais, as maternidades, as urgências e emergências, os seto-res de pediatria e tantos outros. A saúde não pode ser prestada no

Fernanda Lisboa

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formato que vem sendo feito, de qualquer forma e nós vamos levar esta luta até o fim.

Também vamos bater de fren-te contra a precarização do traba-lho. Exigir que médicos tenham suas carteiras assinadas e suas relações trabalhistas contratuais reconhecidas, mesmo no setor privado junto aos planos de saú-de. Vamos ter que garantir condi-ções de trabalho adequadas, não é tolerável que um médico seja jogado em unidades sem a menor condição de prestar assistência aos seus pacientes. Isso faz com que eles corram riscos enormes, inclusive no que diz respeito à sua própria segurança.

Há uma inquietação muito grande em relação a importação dos médicos também. Vamos ter que agir com muita força contra esta decisão do Governo. Um de-creto quer facilitar a entrada dos profissionais no país e nós sabe-mos que muitas faculdades bra-sileiras fiscalizadas não prestam a assistência e o ensino adequados, imaginem instituições no exte-rior, que não conhecemos. Para nós, é preciso aplicar o Revalida. Essa atitude do Governo é in-compatível com o que desejamos para a saúde do povo brasileiro. Vai ser uma luta muito dura, um embate muito forte, mas esta-mos preparados.

Queremos ainda colocar em votação este ano o projeto de ini-ciativa popular que destina 10%

da receita corrente bruta para a Saúde. Sem financiamento não te-remos melhorias. O piso e a car-reira médica são outros desafios. Precisamos intensificar esta luta junto ao Congresso Nacional. Es-tamos ainda, na fase final da apro-vação do Projeto de Lei que regu-lamenta a medicina e certamente será um marco muito importante para os médicos e a população já que assim teremos bem definidos quais fronteiras não devem ser ocupadas por outros profissio-nais, os atos privativos do médico ficarão mais claros.

Enfrentaremos com afinco também a EBSERH - Empresa Brasileira de Serviços Hospitala-res. A FENAM já entrou, junto com outras entidades, com uma Ação Direta de Inconstitucio-nalidade questionando a legali-dade desta empresa. Temos que lutar para que não haja uma de-turpação da missão e da função dos hospitais universitários.

Outra questão pontual que também vai nos ocupar bastan-te é a luta pela recuperação da Gratificação de Desempenho dos médicos federais que ficaram com o benefício congelado desde a edição da MP 568/2012 e com isso tiveram uma perda significa-tiva nos seus contracheques.

Na sua opinião, o que os médicos brasileiros mais as-piram profissionalmente? E como estão as lutas da FE-

NAM neste sentido? A aspira-ção do médico brasileiro, a gente nota, é por uma carreira estável. Sentimos que o médico tem tra-balhado muito e ganhado pouco. Tem se desdobrado em empre-gos variados, um corre-corre que

compromete a saúde do profis-sional. É preciso sensibilizar o governo para que possamos ter um PCCV semelhante ao do ju-diciário, com um piso salarial decente. Além disso, o profissio-nal tem outras necessidades para

“Sabemos que a partir de junho, vão começar a importar médi-cos do exterior e isso é muito

grave, porque se não for feito de forma correta, pode lançar a

saúde brasilei-ra nas mãos de quem não está habilitado a cuidar dela.”

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Entrevista

exercer sua profissão. O médico precisa de estrutura e instalações adequadas, precisa de uma rede hospitalar estruturada para que ele preste serviço de maneira que a população saia satisfeita. Nós temos então como expectativa para todos os médicos, PCCV, piso adequado e condições de trabalho para que a população possa receber o atendimento que merece. E a FENAM é incansá-vel para o alcance dessas metas.

Na sua avaliação, o atual Governo está em sintonia com as lutas do movimento médi-co? Eu diria que está totalmente sem sintonia. Há muitos ruídos nesta relação. O Governo tem diagnósticos que confrontam com a visão das entidades médi-cas. Eu diria que só há sintonia no sentido de que a saúde públi-ca precisa melhorar, no sentido de que as unidades precisam ser estruturadas e que esta rede de urgência e emergência não está funcionando adequadamente e

que precisa ser ampliada. Mas a maioria das decisões adotadas se chocam com o pensamento do movimento médico.

Em relação ao Piso FE-NAM, calculado hoje em R$ 10.412 para 20 horas/sema-nais. Alguns estados estão aos poucos se aproximando desta conquista. Isso sem dúvida é um avanço. Que sugestão de trabalho o senhor daria para que outros estados também garantam um piso digno aos médicos? Primeiro a abertura de negociações com prefeituras. Esse é o primeiro passo, pois é preciso que exista um convencimento do governo local. O segundo passo, depois desta conscientização e negociação é o parcelamento para que se chegue ao valor almejado em prazos que possam ser ab-sorvidos. Nós temos visto em alguns estados que o prazo é de dois a quatro anos, onde há uma progressão para que se atinja es-ses valores. De qualquer forma,

temos cinco estados que já se aproximaram muito deste valor, provando que é possível e que a luta é compensatória.

Que mensagem o senhor gostaria de deixar aos médi-cos de todo o Brasil por meio da Revista Trabalho Médico? Primeiro uma mensagem de es-perança. Estamos vivendo um momento de muitas dificuldades, inegavelmente na maioria dos es-tados e municípios os salários es-tão muito baixos e as condições estão terríveis. Todos nós temos consciência disso, mas isso não significa que estamos imobiliza-dos. Nós, da Federação Nacional dos Médicos, estamos visitando os estados, estimulando os sin-dicatos locais a lutarem conos-co com muito vigor para coibir esta situação. Sabemos que os tempos são difíceis, mas nunca a categoria esteve tão mobilizada para pressionar a quem de direito para dar respostas a esta situação. O médico brasileiro precisa con-fiar nas suas entidades e acima de tudo seguir as diretrizes, as su-gestões e se engajar nas lutas. Na hora que convocarmos os médi-cos é necessários que eles este-jam presentes nas ruas para que tenhamos retorno. Cada con-quista deverá ser fruto de muitas lutas e de determinação. Tudo que nós almejamos, poderemos alcançar, mas precisaremos lutar com afinco e juntos.

“A violação a esses direitos é repetitiva e não parece que terá alguma solução a não ser que o Brasil realmente seja condenado por isso”

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Na luta por mais financiamento para a Saúde Pública

No dia 2 de maio, as ruas de Brasília foram tomadas por pessoas engajadas no movimento.

Movimento nacional ganha força e sociedade se engaja para dar entrada em projeto de iniciativa popular

Márcio A

rruda/CFM

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Saúde Pública

A calamidade dos hospi-tais e postos de saúde distribuídos pelo Brasil

já não é mais novidade para a im-prensa brasileira e para a popu-lação. Cenas de pacientes espa-lhados pelo chão, dias de espera para atendimento, falta de insu-mos e medicamentos, sem con-tar com a estrutura dos hospitais caindo aos pedaços. O cenário é definido por muitos como de guerra. Não restam dúvidas de que falta investimento no setor.

Para pressionar o Congresso Nacional sobre a necessidade de destinar (pelo menos) 10% dos recursos brutos da União para a Saúde, nasceu o Movimento Na-cional em Defesa da Saúde Pú-blica, o Saúde +10. O objetivo é colher 1,5 milhão de assinatu-

ras, o necessário para apresentar um projeto de iniciativa popular, para garantir um financiamento adequado para o Sistema Único de Saúde (SUS).

A Federação Nacional dos Médicos (FENAM) é uma das entidades que está engajada no projeto, junto com outras en-tidades médicas e civis. E re-centemente participou de uma caminhada realizada em Brasí-lia em prol do movimento. O secretário de direitos humanos, discriminação e gênero da en-tidade, José Roberto Murisset, participou do evento e destacou que há esperanças de alcançar o objetivo ainda este ano.

“A sociedade está cada vez mais engajada. Temos a expec-tativa de que até julho as assina-

turas sejam alcançadas e possa-mos ingressar com este projeto de lei. Assim, nossa esperança se renova para que ainda este ano o projeto seja votado em regi-me de urgência e já faça parte do orçamento do ano que vem. Isso significa dobrar o orçamen-to federal, que atualmente é de 4,5%,” destacou Murisset.

Atualmente, 1,2 milhão de assinaturas já foram colhidas. Para participar do movimento, procure o sindicato médico da sua região e preencha o formu-lário disponível.

Acompanhe o movimento pelo site: http://www.saudemaisdez.org.br/

FENAM recorre à Corte Interamericana de Direitos Humanos

Diante do cenário calamitoso em que se encontra a saúde públi-ca brasileira, a Federação Nacional dos Médicos (FENAM) iniciou este ano uma luta mais enfática contra a violação dos Direitos Humanos no setor. A entidade entende que o caos nas urgências e emergências dos hospitais aflige tanto os pacien-tes como os profissionais de saúde, comprometendo o trabalho médi-

co e, consequentemente, o atendi-mento. Devido ao esgotamento de tentativas de reversão do quadro com denúncias na justiça nacional, a FENAM recorreu à Corte Inte-ramericana de Direitos Humanos (CorteIDH). O intuito foi gerar um movimento em novos âmbitos, que realmente surta efeito no país e pre-ze pela dignidade humana.

“Estamos cansados de procurar

os Ministérios e o Governo Brasi-leiro e nada ser feito. Recorremos à Corte, pois estamos em busca de iniciativas que enfatizem e solu-cionem finalmente esse problema, expandindo internacionalmente”, destacou o secretário de direitos humanos, discriminação e gênero da FENAM, José Roberto Cardo-so Murisset.

Em alguns estados, como por

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exemplo, no Rio Grande do Norte e no Espírito Santo, existem ações na justiça há mais de dez anos que exigem a retirada das pessoas nos corredores dos hospitais. “In-felizmente, é comum ficarem cen-tenas de pacientes tumultuados, fazendo até mesmo suas necessida-des sem privacidade. Desta forma, exigimos que todos tenham acesso a leitos e espaço adequados”, expla-nou o presidente da FENAM, Ge-raldo Ferreira.

Para embasar as denúncias, o se-tor jurídico da entidade está produ-zindo um dossiê, que reúne diver-sos relatos das precárias situações dos hospitais brasileiros.

Os trabalhos junto à Corte ini-ciaram em janeiro, onde os diretores das entidades se encontraram com o juiz Roberto Figueiredo Caldas, para se informarem sobre as peculiarida-des do processo. Para ele, a saúde brasileira está sendo deixada em

segundo plano e os direitos sociais podem e devem ser judicializados.

Com os documentos necessários em mãos, a diretoria da FENAM foi a São José, na Costa Rica, para apresentar à Corte a situação preli-minar em que se encontra a saúde pública brasileira. O próximo passo é protocolar toda a documentação na Comissão de Direitos Humanos (CIDH), em Washington, a qual vai procurar um acordo com o estado brasileiro. Caso não haja consenso, a questão vai a julgamento na Corte.

A CorteIDH visa à aplicação e interpretação da Convenção Ame-ricana sobre Direitos Humanos. Caso reconheça que efetivamente ocorreu a violação à Convenção, determinará a adoção de medidas que se façam necessárias à restau-ração do direito então violado, po-dendo condenar o Estado, inclu-sive, ao pagamento de uma justa compensação à vítima.

IncentivosOs trabalhos se iniciaram com a formação da Comissão Mista de Direitos Humanos, formada pelas entidades médicas nacionais (FE-NAM, CFM e AMB) e coordena-da pela Federação. Para continuar promovendo a causa, a FENAM ainda pretende realizar e incentivar ações de capacitação com o intui-to de aprofundar o debate sobre a questão no âmbito da saúde brasi-leira. Cursos, palestras, seminários e estudos são esperados em todas as regiões do país. Ao mesmo tempo, as visitas aos sindicatos e hospitais locais continuarão. Os esforços são também para aprovar a lei de res-ponsabilidade sanitária que permite punir administradores quando for constatada a ausência de atendi-mento básico ou quando a verba carimbada for destinada para outro fim. Entre as penas em análise es-tão multas, perda do cargo público e

Em Brasília, diretores da FENAM se informaram sobre o processo com o juiz Roberto Fiqueiredo Caldas da CorteIDH.

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Trabalho médico - 14

Internacional

FENAM repudia anúncio de importação de 6 mil médicos

cubanos pelo governo brasileiro

A Federação Nacional dos Médicos (FE-NAM) repudia a atitu-

de do governo brasileiro de tra-zer 6 mil médicos cubanos para trabalhar no interior do país. O anúncio foi feito recentemente pelo ministro das Relações Ex-teriores, Antonio Patriota, com a justificativa de que o Brasil so-fre de déficit de profissionais de medicina. Já o presidente da FE-NAM, Geraldo Ferreira, esclare-ce que a defasagem no número de profissionais para atender nas periferias das grandes cidades se deve à falta de subsídios e con-vênios que valorize o trabalho.

“A maioria das prefeituras não tem condições de pagar os médicos. O governo precisa es-timular a criação do piso salarial e plano de carreira, com repasses para os municípios carentes. Só dessa forma teremos contrata-

ção nacional adequada”.O ministro Patriota explicou

sobre a organização para receber os médicos estrangeiros depois de um encontro com o chance-ler de Cuba, Bruno Rodriguez. A articulação para a contrata-ção é conduzida pelos governos dos dois países, com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a ação começou a ser negociada em janeiro de 2012, quando a presidenta Dil-ma Rousseff visitou Havana. Ainda há dúvidas, de como es-ses profissionais serão avaliados para poderem exercer a medi-cina da forma que é exigida no Brasil.

O presidente da Federação argumenta que seguir esse cami-nho não assegura o atendimento de qualidade para a população e dentro dos moldes do país. Para ele, o Exame Nacional de Reva-

lidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras (REVALIDA) é a única maneira de avaliar corretamente o ensino da medicina fora do Brasil.

“Comprovadamente, os mé-dicos formados no exterior não correspondem às necessidades do mercado brasileiro, a for-mação é duvidosa, precária e deficiente. Prova disso foi o re-sultado do último Revalida que admitiu apenas 14% dos inscri-tos”, concluiu.

A diretoria da FENAM con-vocará reunião com todos os presidentes de sindicatos e fede-rações para decidirem como será a luta contra a importação de médicos A Federação também vem acompanhando a revolta dos médicos brasileiros nas re-des sociais e está averiguando a possibilidade de uma greve geral.

suspensão de direitos políticos.Os diretores da Federação tam-

bém se encontraram com a minis-tra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e decidiram criar um grupo de trabalho para formalizar e enca-

minhar as acusações ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Hu-mana (CDDPH). Rosário analisou os documentos como reais e afirmou que irá trabalhar intensamente com a FENAM e sindicatos para resolver a

problemática da saúde pública.A Comissão Mista de Direitos

Humanos é formada pelas entidades médicas nacionais (FENAM, CFM e AMB) e coordenada pela FENAM.

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Trabalho médico - 15

Brasil tem má distribuição de médicos, revela pesquisa

Superpopulação médica está concentrada em grandes centros. Desafio é criar atrativos, como a Carreira de Estado, para levar médicos ao interior.

Já somos quase 400 mil médi-cos ativos no país. Com este nú-mero, o Brasil atinge o equivalen-te a dois profissionais por grupo de 1.000 habitantes. Enquanto o crescimento populacional está cada vez menos acelerado, o nú-mero de pessoas que se formam em medicina cresce em velocida-de máxima. Mais vagas nos cur-sos e abertura de novas escolas contribuem para as estatísticas: entre outubro de 2011 a outubro de 2012, foram 16.227 novos re-gistros no Conselho Federal de Medicina (CFM).

Estas são algumas das conclu-sões do estudo Demografia Mé-dica 2013, realizado pelo CFM em parceria com o Conselho Re-gional de Medicina de São Paulo (Cremesp), que analisou o perfil da população médica brasileira e apontou soluções para melhorar a assistência à saúde da população. A grande questão apontada é: se sobram médicos no país, porque ainda existem regiões com ausên-cia desses profissionais?

De acordo com a pesquisa, o que existe no Brasil é um cenário

de desigualdades na distribuição dos médicos, que se concentram nos grandes centros. A ausência de políticas públicas que não es-timulam o profissional a ir para o interior, muito menos o fixa ou o vincula a estas regiões, bem como a falta da implantação de uma carreira médica e um Plano de Carreira, Cargos e Vencimentos contribuem para este panorama.

O secretário de formação profissional e residência médi-

ca da Federação Nacional dos Médicos (FENAM), Jorge Eltz, concorda com as soluções apre-sentadas pelo estudo, dá ênfase, no entanto, a criação de uma Carreira de Estado, a exemplo do que foi feito com as carreiras de magistratura, essencial para fixar os profissionais nas áreas de difícil provimento. “Essa foi a forma de levar juízes para o interior, na medicina não vai ser diferente. Se o profissional não

Demografia Médica

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TRABALHO MÉDICO - 16

Demografi a Médica

tiver nenhum atrativo, ele vai continuar se concentrando nas capitais, onde há uma qualidade de vida melhor, com remunera-ção justa e condições adequadas de trabalho.”

Outro defensor da carrei-ra médica é o deputado fede-ral Eleuses Paiva (DEM/SP). “Uma carreira com salários de-centes, segurança e infraestru-tura de trabalho nos locais mais remotos do país. Só dessa forma teremos como fixar médicos no interior,” ressaltou.

Medidas frustradasOutro fato demonstrado pelo estudo é que as atuais medidas tomadas pelo governo para su-prir a ausência de profissionais nas regiões mais carentes estão fadadas ao fracasso. Uma delas é a abertura de novas faculda-des médicas nas regiões onde ainda existe um vazio assisten-cial, como no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Mas ficou com-provado que, o médico que se forma nesses locais tende a mi-grar para as capitais e grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

“As pessoas que cursam a faculdade nestes locais não fi-cam, nem mesmo os estrangei-ros. Eles acabam vindo também para áreas mais desenvolvidas. O que vai acontecer, é que va-mos aumentar mais o número de médicos, mas a distribuição vai

continuar sendo a mesma. Com um contingente muito grande no Sudeste e faltando profissionais nos locais que mais necessitam,” acrescentou o dirigente da FE-NAM, Jorge Eltz.

Outra alternativa adotada pelo Governo é facilitar a entrada de médicos formados no exterior, flexibilizando o exame de reva-lidação de diplomas, com o ar-gumento que esses profissionais assumirão os vazios assistenciais. Entretanto, a pesquisa demonstra que ao se deparar com as condi-ções precárias desses locais, os médicos que se formam em ou-tros países também migram para regiões mais estruturadas, com melhores condições de trabalho.

Os dados do CFM revelam que a cidade de São Paulo é a que concentra o maior número de médicos formados no exterior. Do total de 6.980 profissionais com estas características e que possuem CRM, 16,30% têm en-dereço de domicílio ou de traba-

lho na Capital. Outros 836 estão no interior paulista. Juntamente com Rio de Janeiro e Minas Ge-rais, no Estado de São Paulo, se concentram 42,22% dos egressos de outros países.

O estudo, já foi apresenta-do ao secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), Mozart Sales, que o classificou como “fun-damental” para entender o atual cenário da força de traba-lho disponível.

A medicina no interiorO secretário da FENAM, Jorge Eltz, relatou ainda a realidade enfrentada pelo médico que se dispõe a ir para o interior. A si-tuação, segundo ele, quase sem-pre é precária. “Ele recebe um estetoscópio, conta com alguns exames laboratoriais e não mais do que isso. Ele vai ter que fa-zer uma medicina sem muitos recursos tecnológicos.”

Para o dirigente, é necessário

1910

Evolução do número de médicos - Brasil, 2013

400.000

350.000

300.000

250.000

200.000

150.000

100.000

50.000

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Número de médicos

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s1930 1910 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

Fonte : CFM; Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2013.

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Trabalho médico - 17

Mais médicos, para quê?

“A despeito de que não há médicos em todos os municípios do país, há quem afirme que está faltando profissionais no Brasil, o que é uma inverdade. O que existe é uma concentração nas regiões Sul e Sudeste.” A afirma-ção é do senador Paulo Davim (PV/RN), que defende a criação de uma carreira médica para fixar médicos nas regiões mais desas-sistidas. Em entrevista, o parla-mentar ainda falou sobre a quali-dade do ensino médico no país e sobre a importância da avaliação

da formação realizada no exte-rior, como garantia de uma assis-tência de qualidade à população.

Autor do PLS 138/2012 que transforma o Exame de Nacio-nal de Revalidação de Diplo-mas Médicos (Revalida) em lei, o senador criticou a atitude do Governo em facilitar o ingres-so de médicos formados fora do país para tentar suprir a falta de profissionais nas regiões mais carentes. “Não podemos trazer médicos a toque de caixa, sem observar a qualidade destes pro-fissionais. Não é pelo fato de se tratar de uma população pobre e carente, sem muitas opções, que vamos colocar lá qualquer um, sem observar a qualida-de na sua formação.”

O curso de medicina ainda é um dos mais disputados do país. Ao que o senhor atribui

a isso? A medicina é uma profis-são que traz consigo uma aura de filantropia, de altruísmo e tam-bém um certo charme. Ser mé-dico, apesar de todos os desgas-tes, de todos os dissabores, ainda exerce certa sedução perante a sociedade. Além disso, as pesso-as que têm vocação altruística e vocação para lidar com pessoas, ou para desenvolver atividades cientificas, se identificam mui-to com a profissão.

Como você avalia o ensi-no médico do país? No geral é um ensino de qualidade, ape-sar de que ainda existem facul-dades que estão bem abaixo da expectativa de todos nós, que precisam de um aprimoramento técnico-cientifico, mas no geral eu analiso e avalio as faculdades sendo de boa qualidade.

oferecer condições mínimas de trabalho ao médico para garantir segurança ao paciente e ao pro-fissional. “Hoje a medicina está cada vez mais sofisticada e preci-samos levar esses recursos aonde ainda eles não existem. É claro que isso não acontece do dia para a noite, mas precisamos oferecer o mínimo de segurança para o médico. Não podemos largar o profissional lá só com o estetos-

cópio e achar que ele vai conse-guir fazer todos os diagnósticos e todos os tratamentos.”

ProvabO Programa de Valorização dos Profissionais na Atenção Bási-ca – Provab também foi critica-do pelo dirigente da FENAM. Para ele, a iniciativa do governo é um “remendo”. Ao oferecer bonificações nos programas de

residência, o médico recém-for-mado tem sido levado ao inte-rior para atuar por um ou dois anos. O problema, segundo Eltz, é colocar um médico sem expe-riência para tratar da população. “Ele é recém-formado, sem mui-tos conhecimentos. Quanto me-nos recursos para tratar alguém, mais experiência eu tenho que ter. O PROVAB desqualifica a medicina da família.”

OpiniãoA

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Trabalho médico - 18

Opinião

Com a grande concorrên-cia no curso de medicina, muitos optam por estudar fora do país e posteriormen-te querem exercer a profissão no Brasil. Qual a sua opinião sobre isso? Acho que todo cida-dão tem direito a fazer seu cur-so em qualquer país agora, para exercer aqui, evidentemente de-verá passar por um processo de revalidação de conhecimento. O Brasil precisa fazer uma avalia-ção prospectiva do que foi que aquele jovem aprendeu na facul-dade do país em que ele morou e cursou medicina. Acho que, se esse profissional cursou me-dicina fora do Brasil e quer tra-balhar aqui, nada mais justo que ele se submeta ao exame de re-validação. É o que acontece nos Estados Unidos, Chile, Canadá, Inglaterra e entre outros países.

Mas o governo quer faci-litar o ingresso desses pro-fissionais, deixar o Revalida menos rígido... Sou totalmente contra isso. A despeito de que não há médicos em todas os mu-nicípios do país, há quem afirme que está faltando profissionais no Brasil, o que é uma inverda-de. Não faltam médicos, o que existe é uma concentração des-ses profissionais na região Sul e Sudeste. Cerca de 70% dos mé-dicos do país estão nessas regi-ões. Se o Brasil tiver uma políti-ca de interiorização de médicos,

nós vamos ter sim profissionais em todas as regiões. A despeito de não ter esta politica, faltam médicos no interior e o governo quer trazer gente de fora e para isso pretende flexibilizar o exa-me de revalidação. Nosso posi-cionamento é contra, no sentido de que não podemos trazer mé-dicos de qualquer jeito e forma, sem se preocupar com a qualida-de de formação desse profissio-nal que vai atuar no Brasil e que vai atender o nosso povo. Não é bem assim, estaríamos colo-cando em risco a sociedade. Se um indivíduo está com uma do-ença ele tem um problema, mas se esse indivíduo é atendido por um profissional mal formado, ele tem dois problemas. Então é isso que temos que observar, não podemos trazer médicos a toque de caixa sem observar a qualida-de destes profissionais. Essa é a nossa preocupação. O que eu não quero para minha família, não quero para a família de nin-guém. Não é pelo fato de se tra-tar de uma população pobre, ca-rente é que vamos colocar lá um profissional sem observar antes a qualidade na sua formação. Por isso criei o Projeto de Lei para transformar o Revalida em lei.

As entidades médicas acre-ditam que a criação de um Plano de Carreira de Estado resolveria o problema da falta de médicos nas regiões mais

carentes. O que o parlamento, em especial o Senado, tem fei-to para ajudar nesta conquista? Há projetos no Congresso trami-tando para a instituição da car-reira médica e nós defendemos isso. Entendemos que no Brasil, nós só vamos resolver de uma vez por todas, esta carência de profis-sionais nas regiões mais distantes se a gente implantar uma Carreira de Estado. Nesse país, tudo que é prioritário eles criam e implan-tam uma carreira. Foi assim com a magistratura, com a carreira fazendária, promotorias, dele-gados... Tudo isso tem carreira, mas a Saúde não tem. Portanto, se conclui que o setor ainda não é prioridade para o Governo. Nós somos a favor da carreira de es-tado para o médico. Duvido que, com uma ascensão prospectiva, o profissional não se habilite a ir para as regiões mais carentes. O médico precisa de uma seguran-ça jurídica. Ele não quer ir para o interior e receber em um mês e em outro não. Como o médico vai para lá sem ter a certeza de que vai receber seu salário? Além disso, o profissional quer ter con-dições mínimas para desenvolver seu trabalho. Essa história de dar um estetoscópio, uma caneta e um papel e achar que está tudo re-solvido, isso não existe, é folclore, ele precisa de estrutura. Não é só com a presença do médico que o problema será resolvido.

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Trabalho médico - 19

Manifestantes mostraram a preocupação com o estado em que se encontra a

saúde pública brasileira.

FENAM transforma 1º de maio em data histórica para o movimento médico

A Federação Nacional dos Médicos (FE-NAM) mobilizou pro-

fissionais da saúde e entidades representativas de trabalhadores para transformar o 1º de maio em uma data significativa para o movimento médico. Além de celebrar o Dia do Trabalhador, a mobilização teve o objetivo de avaliar o contexto atual no qual todos estão inseridos e plane-jar o futuro, deixando claro sua preocupação com o estado em que se encontra a saúde pública brasileira. A programação se ini-ciou com uma passeata intitulada “Meu trabalho tem valor!” pelas ruas de Natal (RN), reunindo cerca de 150 pessoas. À noite, houve uma solenidade com ma-nifestação das autoridades con-vidadas. Dirigentes sindicais de todo o Brasil estiveram presen-tes somando força à luta pela de-fesa dos interesses da categoria, como salário justo e condições adequadas de exercer a medicina.

“O 1º de maio é uma data uni-versal de valorização do traba-lho, lotada de significado. É hora do médico se sentir digno, repre-sentado e motivado a fazer uma reflexão sobre o seu modelo de trabalhar e também é importante

conscientizar a população”, des-tacou o presidente da Federação e também do Sindicato dos Mé-dicos do Rio Grande do Norte, Geraldo Ferreira.

Marcha Partindo de uma concentração às 9h em frente à Associação Médica do Rio Grande do Nor-te (AMRN), a marcha seguiu ca-minho passando pelo Hospital Walfredo Gurgel (HWG) e ter-minando no Parque das Dunas, às 13h. Durante o percurso, to-dos os representantes do movi-mento, comprometidos com a situação da saúde, discursaram e deixaram seu recado à população e ao Governo.

“Estamos vestindo a camisa da FENAM literalmente e aten-dendo ao seu chamado. A situa-ção do médico nunca foi tão pre-cária quanto agora. A calamidade do HWG é um reflexo no Brasil como um todo e a população enfrenta dificuldade em ter uma assistência de qualidade”, afir-mou o segundo vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Aloísio Tibiriçá.

Apoiando a programação, o presidente da Confederação Na-cional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), Murilo Celso Pinheiro, enfatizou sua satisfação em inte-grar a ação encapada pela Federa-ção. “Essa luta também é nossa,

Dia do TrabalhoFernanda L

isboa

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Trabalho médico - 20

De olho no congresso

porque saúde pública é importan-te para todos os profissionais”.

Também estiveram presentes o presidente da Associação Médi-ca Brasileira, Florentino Cardoso, a presidente da Associação Na-cional dos Médicos Residentes, Beatriz da Costa, o senador Paulo Davim (PV-RN), representantes do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed-RN), do Conselho Regional de Medici-na do Rio Grande do Norte (CR-M-RN), da Associação Médica do Rio Grande do Norte (AMRN) e da Central dos Trabalhadores e

Trabalhadoras do Brasil (CTB).

SolenidadeÀ noite, foi organizada uma

solenidade para continuar a co-memoração da data. Autoridades tiveram oportunidade de discur-sar mais uma vez no dia que exalta a classe trabalhadora. Na ocasião, foi realizada uma homenagem a um nome da luta pela democra-cia brasileira, José Ferreira Lopes. Mais conhecido como Dr. Zequi-nha, liderou o movimento estu-dantil na época da ditadura e até hoje defende as questões sociais.

Ainda no evento, o presidente eleito da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdên-cia Social (ANMP), Jarbas Simas, foi empossado.

Para finalizar, o presidente da FENAM lembrou a impor-tância da inclusão da sociedade no movimento. “Estamos uni-dos em busca de dignidade no atendimento à população. Nós temos orgulho do que fazemos e por prestar nosso serviço para a população. Demos o nosso re-cado e esperamos que a situação na saúde melhore”

Assessor parlamentar das entidades médicas destaca projetos de lei que merecem atenção

Projetos de Lei de interes-se da categoria médica são regularmente anali-

sados por um grupo formado por membros da Federação Na-cional dos Médicos (FENAM), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB). Chamado de Comissão de Assuntos Políti-cos (CAP), tem por objetivo acompanhar as proposições re-lacionadas à assistência à saú-de e à medicina.

Cinco projetos foram desta-cados pelo assessor parlamentar das entidades médicas, Napoleão Puente Salles. “Através da atua-

ção da CAP, os médicos brasilei-ros estão tendo a possibilidade de seguir as propostas que tra-mitam no Congresso Nacional a partir da defesa de suas lutas”.

Carreira de Estado para MédicoA primeira proposta dispõe so-bre a criação da carreira de médi-

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Trabalho médico - 21

co de Estado, uma das principais bandeiras do movimento. Trata-se da PEC nº 34 de 2011, de au-toria do senador Vital do Rêgo (PMDB/PB) e outros senado-res. O texto encontra-se na Co-missão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCCJ) aguardando emissão de relatório do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB/RR). A CAP já esteve com Cavalcanti e garantiu que o parlamentar vai apresentar parecer favorável.

Critérios no Rol de ProcedimentosO segundo destaque é o PLC 39/2007, o qual estabelece cri-térios para a edição do Rol de Procedimentos e Serviços Mé-dicos (RPSM) e dá outras provi-dências. De autoria do deputado Inocêncio Oliveira (PR/PE), a

matéria está sob relatoria do se-nador Roberto Requião (PMDB-PR) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). A CAP já entrou em contato com o par-lamentar e está aguardando um encontro para fazer sua defesa baseada na Classificação Brasi-leira Hierarquizada de Procedi-mentos Médicos (CBHPM). A matéria estava parada há cinco anos e agora, as entidades mé-dicas têm perspectivas que ela caminhe para a aprovação. Mais duas comissões e o PLC vai para a sanção presidencial.

Exercício social da medicinaOutra proposição de destaque, institui o exercício social da pro-fissão para garantir emprego e exigir prestação de serviço dos

graduados em medicina que ob-tiveram seus diplomas em cursos custeados com recursos públi-cos, em instituições públicas ou privadas. É o PLS 168/2012, de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT/DF). O texto está na Comissão de Educação aguardando realização de audi-ência pública, requerida pelos senadores Paulo Paim (PT-RS) e Ataídes Oliveira (PSDB-TO). Contrária ao projeto, o requeri-mento teve intervenção da CAP. “Esse tipo de projeto, se apro-vado, não vai resolver a falta de médicos em todos os rincões pobres do Brasil, é uma falsa ilu-são. Não é com essa ação que vai haver a interiorização do médico e sim com uma carreira de esta-do”, explica Salles.

Piso FENAM é referencial nas discussões e reivindicações da categoria médica

O valor atualizado para o Piso FENAM 2013 é de R$ 10.412,00. O número é resul-tante da atualização monetária pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulado no ano de 2012 em 6,10%. O re-ferencial foi apoiado nas delibe-rações do XI Encontro Nacional das Entidades Médicas Nacio-

nais (ENEM). Atualmente tra-mitam no Congresso Nacional projetos de lei que fixam o piso salarial dos médicos, como o PL 3734/2008, de autoria do depu-tado Mauro Nazif (PSB/RO) o PL 2750/2011, do deputado André Moura (PSC/SE) e o PLS 140/2009, do senador Gilvam Borges. Enquanto não se apro-va um montante na legislação, a entidade calcula anualmente o

valor para nortear as discussões e reivindicações da categoria mé-dica em todas as regiões do país.

Segundo o atual presidente

Piso Salarial

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Trabalho médico - 22

Homenagem

FENAM homenageia a luta de Dr. Zequinha pela democracia

da FENAM, Geraldo Ferreira, o valor do piso é compatível com as responsabilidades do profis-sional, a complexidade de seu trabalho, o tempo de formação e a necessidade de aperfeiçoamen-to contínuo. Atrelada à questão referencial laboral também ca-minha a implantação de carreira médica. Piauí, Tocantins e Es-pírito Santo são exemplos de es-tados que avançaram rápido nas negociações salariais.

O piso nacional FENAM, surgiu da revisão da Lei 3.999,

de 15 de dezembro de 1961, que estipulava que o salário dos mé-dicos deveria corresponder ao valor de três salários mínimos. Na época, o salário satisfazia as necessidades da população, dife-rente do que ocorre atualmente.

De acordo com a Constitui-ção Federal, o salário mínimo nacionalmente unificado deve ser capaz de atender às neces-sidades vitais básicas do traba-lhador e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,

transporte e previdência social e deve ser reajustado periodica-mente, de modo a preservar o poder aquisitivo.

Em 1991, durante a gestão de Eurípedes Carvalho Balsanufo como presidente da FENAM, percebeu-se em conjunto com sindicatos médicos do Brasil a defasagem do salário mínimo para atender as demandas da sociedade e do profissional mé-dico. Nascia ali, uma diretoria engajada na luta pela atualiza-ção desses valores.

Desta vez, a comenda Char-les Damian, uma homenagem da Federação Nacional dos Mé-dicos (FENAM) a nomes repre-sentativos, é dedicada a um ícone da luta pela democracia brasi-leira. José Ferreira Lopes, mais conhecido como Dr. Zequinha, é reconhecido por liderar o mo-vimento estudantil na época da ditadura. A condecoração foi entregue a ele pelo presidente da Federação Nacional do Médicos (FENAM), Geraldo Ferreira, na solenidade de 1º de maio, cele-brada em Natal (RN), em festi-vidade ao Dia do Trabalho. Na ocasião, o dirigente explicou que Dr. Zequinha se identifica com a visão da entidade, preocupa- A homenagem da FENAM dedicada a um ícone da luta pela democracia brasileira.

Fernando Farias

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Trabalho médico - 23

da com a valorização dos direi-tos humanos.

“Pessoa como o Lopes, que possui uma história digna de re-conhecimento e ainda continua comprometido com batalhas em torno das questões sociais, onde está incluída a saúde, merecem o nosso prestígio. É exemplo que precisa receber em vida uma ho-menagem para dizer que valeu a pena!” Ferreira completou ainda que o contexto se refere à de-fesa do médico com condições de trabalho adequadas em prol de prestar um atendimento dig-no à comunidade.

Imortalizado na foto que ren-deu o Prêmio Esso de Fotojor-nalismo de 1968 a Edson Jansen, Lopes continua sua caminha-da de militante ativo nos dias de hoje. No clique premiado, o protagonista enfrentava corajo-samente a cavalaria do exérci-to com um estilingue.

Em entrevista à Revista Tra-balho Médico, ele contou um pouco de sua história.

O que você faz hoje em dia?Eu já me aposentei como mé-dico, mas continuo militando no movimento sindical. Parti-cipo da diretoria do Sindicato dos Médicos no Estado do Pa-raná e também da FENAM Re-gional Sul Brasileira. Continuo participando ativamente da vida política local e estadual aqui no Paraná. Sou vice-presidente es-

tadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Como e porque se deu o contato com o movimento es-tudantil e o fez seguir o cami-nho de militante ativo?Desde o ensino médio, quando fui diretor do Grêmio Estudan-til do Colégio e quando do in-gresso no curso de medicina da Universidade Federal do Paraná, em 1965. Participei ativamente da defesa de uma universida-de pública e gratuita ameaçada pelo acordo MEC – USAID, pela melhoria da qualidade do ensino superior e por melhores condições estruturais e físicas para as universidades.

Em plena ditadura militar, manifestava inquietude pela falta de liberdade, democracia, pelas

injustiças sociais e principalmen-te pela ingerência do governo americano na vida política, eco-nômica e social do nosso país.

Conte um pouco do período em que ficou preso na ditadu-ra militar. O que você passou? Na minha atuação política, fui preso por três vezes. A primei-ra vez foi em 1967, pelo DOPS quando experimentei a tortura. A segunda vez foi pela PM, fi-cando detido em um quartel. A terceira prisão se deu quando eu era clandestino, morava e traba-lhava como operário metalúrgi-co, em Contagem (MG). Foi o mais brutal processo de tortura que experimentei. Descrevo com o objetivo de que possa a socie-dade e o povo brasileiro tomar consciência do que representa

Dr. Zequinha foi imortalizado na foto que rendeu o Prêmio Esso de Fotojornalis-

mo à Edson Jansen, em 1968.

Edson Jansen

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Trabalho médico - 24

Homenagem

esse fato: espancamento, cho-ques elétricos em todas as par-tes do corpo (pés, mãos, órgãos genitais, etc.), o chamado pau de arara, simulação de fuzila-mento, afogamento e cabine de som (cabine onde se permanece nu alternando ruídos e silêncio). Foram meses de tortura que se iniciou no DOPS de Belo Ho-rizonte, depois no Rio de Ja-neiro no Barão de Mesquita e novamente no DOPS de Belo Horizonte. A cada sessão de tortura mais minha resistência moral crescia. Emagreci muito, fiquei sem acesso à higiene pes-soal por três meses, jogado em porões imundos.

Fiquei preso por um ano e quatro meses. Quando em li-berdade, fui a julgamento e fui absolvido. Meu depoimento foi uma manifestação da justa luta política que travava contra uma ditadura cruel e sangrenta, e principalmente por que não havia provas que pudessem me condenar. Preservei todos que lutavam comigo, pois era a for-ma única, naquele momento, de enfrentar e derrotar a ditadura.

Sobre a famosa “foto do estilingue”, você sabia que estava sendo fotografado? A foto o tornou mais visado pela polícia? A foto do estilin-gue foi captada pelo fotógrafo Edson Jansen em pleno cam-po de batalha no Campus da

UFPR. No calor do momento, não sabia que estava sendo foto-grafado. A foto é uma das várias sequenciais tiradas pelo saudo-so Jansen, a quem presto minha homenagem e admiração, pelo ser humano que era. Sem dúvi-da, após a foto fui permanente-mente vigiado e perseguido.

Onde você estava na redemo-cratização do País? Como foi a experiência de ver essa re-volução? Na redemocratização eu estava militando clandesti-namente no interior da Bahia, então integrando o Partido Co-munista do Brasil (PCdoB). Tra-balhei inicialmente como mas-cate e depois fui proprietário de uma pequena olaria. Quando da anistia, estava morando no Recife, (PE).

A experiência de ver essa

“revolução” foi a sensação de participar como era possível nas condições da clandestinidade e a sensação de alegria de ver o fim do regime militar. Com a rede-mocratização pude voltar à vida política em liberdade, e continu-ar a lutar pela democracia, pelo desenvolvimento político, eco-nômico e social do Brasil e do nosso povo. Conquistei na justi-ça e no Ministério da Educação o direito de terminar o curso de medicina interrompido injusta-mente pelo regime militar. Va-leu a pena, mesmo ao custo de dificuldades e brutalidades.

Como você descreveria a FE-NAM? Qual a relação que você vê na sua história com a da entidade? A FENAM é fundamental por congregar os sindicatos médicos e os mé-

Atualmente, Dr. Zequinha é diretor do Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar)

SIME

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Trabalho médico - 25

dicos de todo o país. Existe o CFM e os CRMs, a AMB e as associações médicas que são im-portantes, mas só os sindicatos podem defender profissional-mente os médicos pra valer, por que esse é o seu papel. Também considero fundamental que os sindicatos tenham relações com outros sindicatos e entidades de classe de outras profissões, e de estudantes, de mulheres, etc., pois isso possibilita a inserção real da categoria na sociedade. Minha relação com a história da FENAM é muito forte, pois é entidade de classe da minha profissão. Na época da ditadura militar eu ainda não era médico formado, mas já acompanhava a militância dos médicos. Por isso é fundamental homenagear militantes como o Charles Da-mian, o Roberto Chabo, o José Caires, e em nome deles tantos outros que se dedicaram e se dedicam a essa luta.

Como se sente com a home-nagem prestada pela FE-NAM?É uma grande honra, mesmo por que a homenagem é por uma origem de luta anterior a formação em medicina. Não é uma luta corporativa, é uma luta pela democracia, é uma luta pelo Brasil. Uma homenagem como essa não é pessoal, para mim. É uma homenagem a todos que lutaram e lutam por liberdade,

muitos dos quais não viveram para ver o fim daquela ditadura.

Fale sobre suas lutas atuais. O que ainda precisa ser fei-to? Continuo no Sindicato e na vida política. Sempre haverá muito a ser feito. O fortaleci-mento do SUS é imprescindível para que todo o povo brasileiro possa viver com dignidade. Os médicos precisam de condições de trabalho dignas para cumprir seu papel, que não é pequeno, no desenvolvimento do país. Uma carreira de estado que leve médicos para todos os cantos do país não é uma simples rei-vindicação, é uma necessidade. O Brasil precisa avançar nos direitos humanos para ser sobe-rano de verdade. Também pre-cisamos urgentemente de uma reforma nos meios de comu-nicação. O Brasil da televisão é muito diferente da realidade e a grande mídia não atende às necessidades do povo. Pre-cisamos avançar na integração com nossos vizinhos aqui da América Latina. Enfim, há mui-to por fazer. Vale a pena a sua caminha-da? Qual a sua mensagem? Como disse muito bem nos-so poeta maior, Carlos Drum-mond de Andrade: “O presente é tão grande, não nos afaste-mos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”

Breve histórico

Paulista, nascido em 1942, Ze-quinha foi importante liderança no movimento estudantil. No ano de 1965, cursou medicina na Universidade Federal do Pa-raná (RFPR). Vice-presidente da União Paranaense dos Estudan-tes liderou as manifestações de 1968, que incluíram a tomada da Reitoria da UFPR, iniciativa en-tão inédita no Brasil.

Militante da Ação Popular (AP) a partir de 1967, atuou na organização clandestina em São Paulo dois anos depois e no mo-vimento operário de Belo Hori-zonte, em 1970 e 1971, quando foi preso e torturado. Filiado ao PCdoB em 1972, morou e traba-lhou na Bahia a serviço do par-tido, integrando um sistema de apoio à guerrilha do Araguaia. Em 1976, após o assalto dos militares à reunião do Comitê Central do PCdoB, em São Pau-lo, que ficou conhecido como a Chacina da Lapa, Zequinha per-deu contato com o partido.

De volta a Curitiba, em 1980, retomou o curso de medicina, formando-se em 1984. De lá para cá vem participando in-tensamente da vida política do Estado, ocupando várias po-sições na direção estadual do PCdoB paranaense, inclusive a presidência, entre 1992 e 1995. Atualmente preside o partido em Curitiba.

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Trabalho médico - 26

CNS

Os médicos brasileiros voltaram a ter repre-sentação no Conselho

Nacional de Saúde (CNS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde e que tem como principal objeti-vo deliberar, fiscalizar, acompa-nhar e monitorar as políticas pú-blicas de saúde. Após três anos sem participação no Fórum, os representantes da Federação Na-cional dos Médicos (FENAM), do Conselho Federal de Medicina (CFM), e Associação Médica Bra-sileira (AMB) tomaram posse no dia 13 de dezembro. O secretário de comunicação da FENAM e conselheiro federal, Waldir Araú-jo Cardoso, foi eleito para a vaga titular dedicada à categoria médi-ca. Representante da FENAM, o sindicalista Cristiano da Matta Machado assume a primeira su-plência e o médico Lairson Vilar Rabelo, representa a AMB como segundo suplente. A ideia é que, durante o mandato, os três indica-dos das entidades revezem entre si a titularidade e suplência.

“Temos agora uma tarefa ár-dua em conjunto com as entida-

des médicas, pois após uma ges-tão fora, conseguimos de volta a nossa representação no Conse-lho. O alinhamento das entidades será primordial para fortalecer o movimento médico,” destacou o representante da FENAM, Cris-tiano da Matta Machado.

Para Waldir Cardoso, o es-paço é fundamental para que as entidades possam expressar opi-niões e contribuir na proposição de soluções para os desafios que se impõem à assistência no país. “A representação das entidades médicas qualificará ainda mais os debates sobre as políticas públi-cas de saúde,” salientou.

Entre os temas da área médica debatidos no CNS estão a fixação de médicos no interior, planos de carreira na área da saúde, revali-dação de diplomas estrangeiros e abertura de novas escolas médicas.

Presidência femininaA presidência do Conselho Na-cional de Saúde está sob os cui-dados de uma mulher. Maria do Socorro de Souza, representan-te da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricul-tura (Contag), foi eleita com 31 votos para estar a frente da maior instância do controle so-cial na área da Saúde.

Entidades médicas retornam ao Conselho Nacional de Saúde

As eleições para triênio 2012-2015 garantiram a volta da FENAM, CFM e AMB no maior colegiado deliberativo do SUS

O médico e sindicalista Cristiano da Matta foi o escolhido para representar a

FENAM junto ao CNS.

Rafael B

icalho / CN

S

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Trabalho médico - 27

“Sou mulher, negra, mãe, avó trabalhadora rural e usuá-ria do Sistema Único de Saúde. Estamos vivendo um intenso e histórico momento no CNS de possibilidade realizar outra de-mocracia dentro do espaço for-mal que é o Conselho. Sinto-me autorizada para fazer dessa esfera um espaço autônomo e participa-tivo e criar outros pontos de di-álogo para enfrentar os desafios do SUS. São 25 anos trabalhando e militando em defesa dos exclu-ídos de causa”, afirmou.

CNSO CNS é vinculado ao Minis-tério da Saúde e composto por 48 representantes de entidades e movimentos representativos de usuários, entidades representa-tivas de trabalhadores da saúde, governo e prestadores de ser-viços de saúde. Dentre as suas competências figura a aprovação e acompanhamento da execu-ção do orçamento da saúde. É o pleno do CNS que aprova a cada quatro anos o Plano Nacio-nal de Saúde.

FENAM e Ministério do Trabalho trabalharão juntos para melhores condições de trabalho

A FENAM e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estudam realizar um Fórum Na-cional para debater as questões do trabalho médico. A ideia é que uma Comissão de Negocia-ção Permanente seja criada para discutir e buscar soluções para a precarização, relações trabalhis-tas, saúde e segurança no am-biente laboral, bem como me-lhores condições de trabalho. A

decisão foi tomada em reunião entre o presidente da FENAM, Geraldo Ferreira e o secretário executivo-adjunto do MTE, Fa-biano Kempfer.

“Os médicos enfrentam uma promiscuidade com a qualida-de do trabalho médico na rede pública, e por este motivo, a re-alização do fórum será de suma importância. Na ocasião, vamos discutir os mais graves aspec-

tos que envolvem o trabalho médico que vai desde a relação trabalhista até aqueles profissio-nais que são vítimas de uma jor-nada totalmente irregular”, des-tacou Ferreira.

O evento ainda não tem data definida, mas promete aproxi-mar a Federação e o Ministério por uma qualidade no ambiente de trabalho dos profissionais.

Realização de Fórum e instalação de Comissão de Negociação Permanente vão buscar soluções para saúde e segurança dos profissionais

o conselheiro federal, Waldir Cardo-

so, assume a vaga titular.

Rafael B

icalho / CN

S

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Trabalho médico - 28

Mobilização

Médicos protestam contra abusos dos planos de saúde

Pelo terceiro ano conse-cutivo, o mês de abril marcou mais um protes-

to dos médicos brasileiros con-tra os abusos praticados pelas operadoras de seguros de saúde. O Dia Nacional de Alerta aos Planos foi realizado no dia 25 de abril, e ficou caracterizado por movimentos regionais que realizaram atos públicos, mani-festações de rua, caminhadas e a suspensão no atendimento de consultas e procedimentos ele-tivos por até 24 horas em dez estados: Alagoas, Bahia, Dis-trito Federal, Goiás, Minas Ge-

rais, Piauí, Rio Grande do Sul, Rondônia, Sergipe e São Paulo. Nos outros estados, os médicos expressaram sua insatisfação por meio da imprensa e no contato com os pacientes.

O principal objetivo foi aler-tar a população e os gestores so-bre os problemas no setor. En-tre as principais reivindicações da categoria está a inclusão de cláusulas de reajustes periódicos nos contratos de serviço, o fim da interferência dos planos de saúde nos procedimentos médi-cos – que prejudica os pacien-tes - e a valorização do trabalho

médico, que em alguns estados chega a ganhar apenas R$ 40 por consulta.

A categoria também cobrou respostas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sobre as propostas apresentadas pelos médicos em abril do ano passado, que tratam das cláusu-las obrigatórias a serem inseridas nos contratos entre médicos e planos de saúde. O movimento também apoia o Projeto de Lei 6.964/10, que trata da contra-tualização e da periodicidade de reajuste dos honorários.

“Nos últimos dez anos, os re-

Osm

ar Bustos

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Trabalho médico - 29

ajustes dos honorários médicos foram irrisórios, enquanto os planos aumentaram suas men-salidades bem acima da inflação. Alertamos a sociedade que tal si-tuação é hoje insustentável, com riscos de sérios prejuízos à saúde e à vida daqueles que decidiram adquirir um plano de saúde, na busca de uma assistência médica de qualidade”, diz manifesto di-vulgado pelas entidades.

A estratégia foi aprovada em reunião da Comissão Nacional de Saúde Suplementar, que re-úne representantes da Associa-ção Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Federação Nacional dos Médicos (FENAM).

Avanços e desafios:Desde o início das manifesta-ções, em 2010, houve avanços no setor. Em 2012, por exem-plo, a Agência Nacional de Saú-de Suplementar (ANS) incluiu em sua Agenda Regulatória para 2013-2014 o “relacionamento entre operadoras e prestadores”. Em janeiro deste ano, três gru-pos de trabalho foram criados na ANS para debater a contra-tualização, o reajuste anual dos honorários e a hierarquização dos procedimentos.

Os desafios enfrentados, no entanto, também são grandes. Em janeiro deste ano, o Conse-lho Administrativo de Direito Econômico (CADE) divulgou

nove pareceres recomendando que as entidades médicas sejam julgadas e condenadas pelo tri-bunal administrativo do órgão pela prática de crime econômi-co, por causa das manifestações contra os planos de saúde.

A decisão pela condenação foi instituída após a recusa das entidades médicas a assinarem um Termo de Ajuste de Condu-ta onde o CADE proibia parali-sações por tempo indeterminado e o descredenciamento em massa dos médicos aos planos de saúde.

Para o secretário de saúde suplementar da Federação Na-cional dos Médicos (FENAM), Márcio Bichara, o termo pro-posto era inaceitável e incompa-tível com o movimento sindical. “Não temos como proibir que um grupo de médicos, ou deter-

minada especialidade decida se descredenciar dos planos de saú-de, é um direito que eles têm.” Em relação aos processos, as en-tidades agora aguardam os pare-ceres dos relatores para tomarem as decisões jurídicas cabíveis.

Usuários insatisfeitosPesquisa recente demonstra: não são só os profissionais que estão insatisfeitos com as condutas adotadas pelas opera-doras de planos de saúde. Se-gundo dados da BBC Brasil e da ANS, os planos são líderes de reclamações entre os usuá-rios. Em 2002, foram registra-das 16.415 reclamações, já em 2012 o número quintuplicou atingindo quase 76 mil regis-tros de insatisfação, um cresci-mento de 362%.

Em São Paulo, cerca de 10 mil balões pretos foram soltos em sinal de luto.

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Trabalho médico - 30

Mobilização

Segundo o Instituto Brasi-leiro de Defesa ao Consumidor (Idec), a insatisfação dos usu-ários de planos de saúde é re-sultante de mensalidades caras e barreiras na hora de utilizar os benefícios oferecidos como a demora na marcação de mar-cação de consultas, exclusão de coberturas de exames e inter-nações e o descredenciamento de prestadores de serviço.

Reclamações contra planos de saúde

20022003200420052006200720082009201020112012

16.41520.39630.54320.36616.3597.018

15.89523.98430.86554.17875.916

Fonte: BBC Brasil/ANS

O Projeto de Lei que torna obrigatória a existência de contra-tos escritos entre as operadoras e seus prestadores de serviço está pronto para votação na Comis-são de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados. O relator do projeto, deputado Fábio Trad (PMDB/MS) já apresentou parecer favorá-vel à proposição. Em entrevista à Revista Trabalho Médico, o parla-mentar, que é formado em Direi-to, falou da importância jurídica do documento nessa relação de

trabalho. Apontou ainda, a neces-sidade da presença maciça de mé-dicos no Congresso Nacional no dia da votação do projeto.

O senhor apresentou pare-cer favorável ao PL 6940/10, que torna obrigatória a exis-tência de contratos escritos entre as operadoras e seus prestadores de serviços. Que embasamento utilizou no rela-tório apresentado? Esta relação precisa ser disciplinada normati-vamente através de mecanismos legais que garantam, explicita-mente, direitos e deveres às par-tes. O Brasil possui hoje apro-ximadamente 385 mil médicos registrados no Conselho Federal de Medicina, sendo que meta-de deles estão em atividade na Saúde Suplementar. Mais de 47 milhões de brasileiros são assis-tidos por operadoras de saúde e

possuem seus planos reajustados anualmente. Não se concebe que uma relação desta amplitude con-tinue à margem de regulamenta-ção, afinal os efeitos desta ausên-cia de normas atingem a todos, inclusive os usuários. Convém lembrar que a Lei nº 9.961/2000 atribuiu à ANS a responsabilida-de de controlar os aumentos de mensalidade dos planos de saúde e este controle varia de acordo com o tipo de contrato de pres-tação de serviços (pessoa física ou jurídica); fixando em 7,93% o índice máximo de reajuste aos beneficiários. Este é um dos em-basamentos para que o reajuste anual também seja repassado aos médicos credenciados.

Na sua opinião, a ausên-cia de contrato entre médicos e prestadoras deixa o médico fragilizado? Sim, pois na au-

Obrigatoriedade de Contratos

Agê

ncia

Câm

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Trabalho médico - 31

Ano Valor médio pago por uma consulta médica (R$)

2012*20112010200920082007200620052004*2003*

-46,1242,5440,2640,3

36,9133,3731,3830,0028,00

Fonte: ANS. Os dados de valor médio da consulta em 2003 e 2004 são das entidades médicas. *O valor para 2012 deverá ser publicado na próxima edição do Caderno de Informação da Saúde Suplementar da ANS.

A Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos em vigor (2012) referência o valor de R$ 67,82 para as consultas médicas.

sência de garantias normativas, o sistema de correlação de forças favorece os que têm poder eco-nômico. Por isso, indago: a quem interessa desprover os médicos credenciados de previsão norma-tiva a regular suas condições de trabalho? Ora, o médico sempre foi um profissional liberal res-peitado em toda sociedade pela dedicação à vida e trabalho incan-sável. A mudança de cenário e o estabelecimento de grandes gru-pos de Medicina e Seguradora de Saúde fragilizaram sim a relação médico-paciente. Há agora um intermediador entre eles. Se esse intermediador, ou seja, a opera-dora de saúde, fornece subsídios para um bom trabalho do profis-sional, com remuneração digna, há um fortalecimento no elo. Se, por outro lado, a relação for uni-lateral, como o aumento apenas para a operadora, o médico fica claramente fragilizado.

Qual a importância deste documento no ordenamento jurídico para garantir os direi-tos dos profissionais? Além do reequilíbrio de forças na relação, a proposição tem uma função pedagógica de valor incomen-surável, pois revelará a todos a realidade embrutecida que estão sujeitos milhares de profissionais médicos, que há mais de dez anos, em muitos dos convênios, não recebem o reajuste adequado ao seu trabalho. A Associação Mé-

dica Brasileira parametrizou os honorários médicos na CBHPM (Classificação Brasileira Hierar-quizada de Procedimentos Mé-dicos) e sequer o mínimo desta tabela vem sendo respeitado pelas operadoras. Entendemos que essa discussão estimulará novos en-frentamentos, mas que fortalecerá a todos no final. O beneficiário será o grande vencedor, pois con-tará com uma rede credenciada trabalhando em sinergismo para o melhor atendimento.

Qual perspectiva quan-to à votação desse projeto na CCJC? Acredito que haverá pedi-do de vista e enfrentamentos com muitos debates no colegiado. Por isso, faço um apelo aos médicos: mobilizem-se com toda a energia possível e acompanhem a tramita-ção do projeto para cientificarem-se da data da votação. No dia da

votação, é fundamental a presença maciça dos segmentos interessa-dos na aprovação do projeto para a mobilização exitosa que poderá culminar na vitória da aprovação. Recomendo, igualmente, entra-rem em contato com os deputa-dos componentes da CCJC para obterem seus apoios ao projeto. Enfim, mobilização total.

Se aprovado na CCJC, qual o trâmite deste projeto até que se torne efetivamente uma lei? Trata-se de uma proposição sujei-ta à apreciação conclusiva pelas comissões, de maneira que pres-cindirá do plenário da Câmara para votação final, por isso reno-vo o apelo para que a mobilização se concentre na CCJC a fim de ul-timarmos a longa tramitação des-te projeto que clama por aprova-ção, antes da análise da presidenta Dilma Roussef.

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Trabalho médico - 32

Sede FENAM

Médico, Brasília será a sua casa!

O sonho de ter uma sede própria da Federação Nacional dos Médicos (FENAM) na ca-pital do Brasil começa a se tor-nar realidade. Gestões iniciais já foram tomadas neste pri-meiro semestre de 2013 a fim de se construir um prédio no terreno da Associação Médica de Brasília (AMBr). O objeti-vo é reunir as entidades e po-der receber todos os médicos, mostrando a força da categoria na cidade em que se encontram o Congresso Nacional e o Palá-cio do Planalto.

“O intuito é estarmos juntos para facilitar os encaminhamen-

tos e as lutas que a FENAM tem desenvolvido e desenvolverá cada vez mais, com maior inten-sidade”, destacou o presidente da Federação, Geraldo Ferreira.

Ainda segundo ele, a ação engloba o desejo de um maior espaço físico, onde possa con-centrar todas as atividades da entidade e ampliar sua assistên-cia aos sindicatos, tornando-se o coração do movimento sindi-cal brasileiro.

Com a aprovação do plano pelas diretorias da FENAM e AMBr, o terreno será concedi-do. Uma proposta oficial será feita para seguir com os enca-

minhamentos. O financiamento para a construção da estrutura se dará de três formas: utiliza-ção do patrimônio da Federação existente no Rio de Janeiro, os sindicatos se associarão ao pro-jeto, tornando-se também do-nos do prédio e serão lançados boletos aos médicos numa cam-panha de contribuição.

“Os médicos receberão o chamamento da Federação para se comprometerem com a mo-radia da instituição sindical do país. Vamos juntos construir a casa que vai defender nossas condições de trabalho e remu-neração”, enfatizou Ferreira.

Federação Nacional dos Médicos se prepara para ter sede própria na capital federal

Fernanda Lisboa

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Trabalho médico - 33

FENAM lançará novo Portal

A evolução acelerada da internet, e na mesma proporção o compor-

tamento do internauta, obri-gam os ambientes institucionais acompanharem esse desenvolvi-mento no mundo virtual. É com essa visão que a Federação Na-cional dos Médicos (FENAM) também investe no setor para estar conectada da melhor ma-neira com cada médico espalha-do pelo território. Na próxima reunião da executiva, prevista para o mês de julho, será lança-do o novo portal da FENAM. As principais novidades estão relacionadas ao design, pensado para facilitar o acesso e a navega-ção, principalmente através dos

dispositivos móveis.Os conteúdos serão orga-

nizados e hierarquizados pelas principais bandeiras de luta da entidade, guiando o usuário até a informação desejada de for-ma precisa. Também foi am-pliada e otimizada a integração com as principais redes sociais trabalhadas com intuito de se alcançar maior engajamento e interação com fãs e seguidores. Outra novidade é a criação de uma Rede de Blogs da FENAM, um espaço para publicação de textos, fotos e vídeos específicos para cada secretaria da institui-ção, como por exemplo, Jurídica e Direitos Humanos.

“É preciso se adaptar sob

as perspectivas de usabilidade, navegabilidade, acessibilidade e portabilidade. Procuramos com o novo portal adequá-lo aos tempos atuais da web, propor-cionando uma inovadora expe-riência para nossos usuários”, explicou o especialista em redes sociais e idealizador do projeto, Walder de Miranda Júnior.

Em 2008, foi lançado o portal atual na busca de dar visibilida-de a conteúdos exclusivos sobre o movimento médico e às lutas da entidade em prol da saúde e atendimento digno à população. Segundo dados, eram feitas cer-ca de 15.000 visitas ao endereço e hoje em dia, o número subiu para 300.000/mês.

Confira as principais lutas e conquistas dos sindicatos

médicos brasileirosSantos e Região: reelei-ção do sindicato O clínico geral e médico do tra-balho, Álvaro Norberto, ficará por mais um triênio (2013-2016) na presidência do Sindicato dos Médicos de Santos, São Vicente, Cubatão, Guarujá e Praia Gran-de (Sindimed). Ele também é o

diretor de saúde suplementar da Federação Nacional dos Médi-cos (FENAM). O ginecologis-ta, Octacílio Sant´Anna Júnior e o urologista Marcelo Quinto, continuam como vice-presiden-te e primeiro-secretário, respec-tivamente. “O fato da eleição ter ocorrido com chapa única é

reconhecimento do nosso traba-lho, o qual procuramos exercer com afinco a função precípua do Sindimed, que é defender o médico na remuneração e con-dições de trabalho”, destacou Norberto. O sindicato já iniciou uma série de reuniões com os se-cretários de saúde para cobrar as

Comunicação

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Trabalho médico - 34

Ronda Sindical

promessas da campanha e está acompanhando as lutas do movimento em âmbito nacional.

PR: estado incluído no movimento Saúde+10

Criado há um ano, o Movimento Saúde+10 tem como objetivo coletar 1,5 milhão de assinaturas, a partir do esforço de sindicatos, conselhos pro-fissionais, parlamentares e diversas entidades que se preocupam com o financiamento da saúde. O Paraná vestiu a camisa e realizou mobilizações, uma delas em Curitiba, para conscientizar a po-pulação de sua participação. Em assembleia le-gislativa local, deputados estaduais entregaram simbolicamente um pacote com mais de nove mil assinaturas aos coordenadores estaduais do Mo-vimento. “Para fazer saúde pública de qualidade é preciso, entre outras coisas, de recursos finan-ceiros. A estimativa é que para atender todos os requisitos básicos do SUS serão necessários mais R$ 30 bilhões por ano. Caso este projeto atinja sua meta, teremos mais R$ 40 bilhões anualmen-te”, explicou o médico e deputado estadual Gil-berto Martin (PMDB).

DF: médicos de Brasília lutam por teto individualizadoDecisão em ação coletiva no Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a aplicação do teto salarial individualizada a cada um dos vínculos empregatícios com o Governo do Distrito Fede-

ral dos filiados ao Sindicato dos Médicos do Dis-trito Federal (SindMédico-DF). A determinação, dada pela ministra Eliana Calmon, reforça a mu-dança na percepção da questão e deve beneficiar médicos em todos os rincões do país. “Já havia decisões individuais, esta, por ser uma represen-tação de cerca de seis mil médicos, pode abrir um precedente importante”, explica o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho. A atuação do sindicato pelo respeito à previsão constitucio-nal do duplo vínculo no serviço público, com a devida remuneração para cada um deles, também se expande no Congresso Nacional. A entidade busca angariar o apoio dos deputados para que se coloque em votação e seja aprovada a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 05/2011.

CE: médicos da emergência do HGF recebem salário atrasado de janeiro Com o objetivo de verificar a situação do Hospi-tal Geral de Fortaleza (HGF) e cobrar o salário atrasado dos médicos da emergência, referen-te ao mês de janeiro, o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, José Maria Pontes e os dirigentes do SIMEC, Tarcísio Dias e José Car-los Albuquerque, foram à unidade. A comissão negociou com o diretor do HGF, Zózimo Luis Medeiros, o pagamento em atraso. Por telefone, também entraram em contato com o secretário de Saúde do Estado, Arruda Bastos, para falar da situação lamentável. Com a iniciativa do sindica-to, o salário foi depositado.

Sim

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ES: Carreira de Estado no Espírito SantoO Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (Si-mes) trabalhou em conjunto com o governo lo-cal para decretar o fim dos penduricalhos nos vencimentos dos médicos com a implementação da Lei Complementar 639/2012, a qual dispõe sobre modalidade de remuneração por subsídio para os servidores da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e institui a política de gestão de pes-soas no estado. O Simes articulou reuniões com a categoria, onde foram apresentados os impactos da nova forma de remuneração nos vencimentos dos profissionais e outras definições da lei, como a progressão na carreira de estado. “As reuniões possibilitaram mais transparência ao processo de migração de uma modalidade de remuneração para outra. O Simes vai continuar lutando por melhores remunerações, de forma a contemplar 100% da categoria, ressaltou o presidente do Si-mes e vice da FENAM, Otto Baptista.

SC: tabela SUS defasada coloca hospitais catarinenses em criseOs primeiros meses de 2013 foram marcados pelo clamor de hospitais catarinenses por cau-sa da defasagem da tabela SUS. Poucos recursos para administrar a saúde continuam sendo rotina nas unidades que conseguem manter as portas abertas. Blumenau, Balneário Camboriú, Itajaí, Tijucas e Fraiburgo são exemplos onde se assiste à calamidade do setor. “A situação é caótica. O reajuste da tabela e o repasse de recursos dentro do que preconiza a lei nos apresentaria um qua-dro bem diferente”, afirma o presidente do SI-MESC, Cyro Soncini. Uma consulta pública do Ministério da Saúde pretende considerar como hospitais apenas as instituições que tiverem mais de 50 leitos e estejam em uma área de abrangên-cia populacional superior a 50 mil pessoas. Caso esta medida seja adotada, 114 unidades filantró-picas podem ficar sem nenhum centavo. Sonci-ni ressalta a importância do Movimento Saúde + 10, “a pressão popular pode ajudar a salvar a saúde brasileira”.

RN: fim da greveNo Rio Grande do Norte, os médicos encer-

ram um movimento grevista, após dez meses de paralisação, com avanços para a categoria. A negociação entre a classe médica e governo concedeu um reajuste de 12%, incorporação de gratificação e a formação de uma comissão para discutir diversas demandas dos profissionais. A criação da carreira médica, piso FENAM, con-trole de frêquência, concurso público e con-dições mínimas de trabalho estão incluídos na pauta. A greve, uma das mais longas já travadas, foi marcante, pois não reivindicava apenas re-ajuste, mas também a valorização dos direitos humanos. “Defendemos nossas bandeiras histó-ricas e ainda lutamos pelo fim de internamento em corredores, exigimos leitos de internamento

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Trabalho médico - 36

Ronda Sindical

e de UTI, combatemos a terceirização e sua irmã siamesa, a corrupção. Impedimos fechamento de unidades, bloqueamos desativação de servi-ços e lutamos por dignidade no atendimento à população”, explicou o presidente do Sinmed, Geraldo Ferreira. O movimento grevista somou força para denunciar o Governo do Estado pelo descaso e desrespeito aos direitos humanos dos pacientes e dos profissionais de saúde.

PA: abraço simbólico à Santa Casa mostrou força contra privatização Centenas de pessoas participaram, em Belém, do ato público que promoveu um “abraço simbóli-co” à Santa Casa de Misericórdia do Pará. A ação foi a forma que a sociedade paraense encontrou de dizer não a qualquer forma de privatização da Santa Casa pelo governo do Estado. Lideranças sindicais, servidores públicos, vereadores e de-putados atenderam ao chamado das entidades que organizaram a manifestação em um Fórum de Entidades contra a Privatização da Saúde no Pará. “Quem tem que dizer como a Santa Casa vai funcionar é a população. Vamos à luta. A San-ta Casa é nossa e não do governo do Estado”, enfatizou o diretor administrativo do Sindmepa, João Gouveia. Será realizada uma coleta de assi-naturas contra a privatização da unidade.

MG: Classificação Brasileira e Hie-rarquizada de Procedimentos Mé-dicos na pauta A capital mineira sediou o IV Fórum Nacional sobre CBHPM, promovido pela Comissão Estadual de Honorários Médicos de Minas Gerais - formada por representantes do Sindicato dos Médicos (Sinmed-MG), Associação Médica (AMMG), Conselho Regional de Medicina (CRM-MG) e Federação Nacional das Cooperativas Médicas (Fencom) e com o apoio da Associação

Médica Brasileira (AMB), Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e Conselho Federal de Medicina (CFM). Mais de 120 participantes de todo o país, entre eles médicos, representantes das entidades médicas e de operadoras de saúde participaram de vários fóruns de discussões abordando temas como o cenário atual da saúde suplementar, os aspectos jurídicos, a judicialização e a implantação da tabela no SUS. O seminário aconteceu no momento em que a Classificação está prestes a completar dez anos desde sua primeira edição, que foi em agosto de 2003. O debate trouxe à tona as principais conquistas, mas também os entraves da CBHPM que ainda encontra obstáculos principalmente junto às operadoras de planos de saúde e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômico (CADE).

AL: greve no estado acaba, mas in-satisfação continuaDepois de quase cinco meses em greve, os mé-dicos de Alagoas decidiram retornar aos tra-balhos. Os profissionais aceitaram a proposta apresentada pelo secretário de Saúde, Jorge Villas Boas, após o Ministério da Saúde (MS) intervir na negociação a pedido do senador Fernando Collor (PTB). O presidente do Sin-dicato dos Médicos (Sinmed), Wellington Gal-vão, comemorou a decisão, mas ponderou que a categoria pode retomar a paralisação a qual-quer momento. “Não foi unanimidade, pois muitos médicos ainda estão insatisfeitos com as consequências da falta de negociação. Va-mos fazer assembleias permanentes e formar uma comissão para negociar diretamente com o secretário de Saúde”, explicou ele. A luta é por reajuste salarial, implantação do Plano de Cargos, Carreira e Subsídios (PCCS), realiza-ção de concurso público e melhores condições de trabalho nas unidades de saúde.

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Trabalho médico - 37

Festival conquista brasileiros com especialidades de botecos

No mês de abril, um tema dominou a cabe-ça e a boca de milha-

res de apreciadores da boa comi-dinha de botecos. Em dezesseis cidades brasileiras, incluindo vá-rias capitais, começou simultane-amente a “Comida Di Buteco”.

Seu criador, o meu amigo, chef e professor de gastronomia Edu-ardo Maia, teve a ideia no ano de 2000, em Belo Horizonte (MG). Hoje, sua invenção se transfor-mou nesse grande festival.

Demorei um pouco para en-tender o que era um “buteco” na concepção de Eduardo, mas acabei entendendo. Tem de ter petiscos de boteco, aqueles que pegamos com palitinho, ser “cui-dado” pelos donos e não pode ter filial. Estes são os princípios

básicos para selecionar um “bu-teco”, que poderá participar do festival e que são indicados por fregueses e amigos.

Todos votam na cerveja mais gelada, higiene, atendimento, aparência e sabor dos pratos con-correntes. Ao final tem a “Saidei-ra”, grande festa que reúne todos os “butecos” num único espaço com cerca de 5.000 pessoas para acompanharem vários shows musicais e a premiação dos bares mais votados.

Este ano, os ingredientes obrigatórios como “comidinha de raiz”, para todos os partici-pantes no Brasil, foram a man-dioca/aipim/macaxeira e/ou linguiça. Já vi vários pratos, todos muito criativos. Tomo a liberda-de de mostrar um, dos amigos

SP: plano de carreira decepciona médicos do estadoCom o pagamento dos salários referentes ao mês de fevereiro, os médicos do estado começa-ram a constatar o verdadeiro en-godo que é o plano de carreira do governo Geraldo Alckmin. Muitos deles se queixam, inclu-sive, de redução salarial e cri-

ticam o fato de a Secretaria de Estado da Saúde ter anunciado que poderiam ter salário de até 14 mil reais, mas que na práti-ca está havendo diminuição de valores. Além disso, questionam o fato de a grande maioria dos médicos ter sido classificada na categoria I, independentemente do tempo de profissão. “O Si-mesp apresentou uma série de

propostas de emendas ao PLC 39/2012. A bancada governista, que tem maioria na Casa, impe-diu qualquer alteração no texto original enviado pelo governa-dor”, enfatizou o presidente do sindicato, Cid Carvalhaes, em relação à falta de clareza da matéria. O departamento jurí-dico da entidade está à disposi-ção da categoria.

Coluna Dr. Jacó Lampert

Afonso e Nair, do Köbes, e ci-tando-os quero que todos meus amigos “butequeiros” sintam-se parabenizados. Com estes ingre-dientes criaram o Frente e Ver-so: queijoca cervejeiro, rolinhos de lingüiça artesanal, feita pela própria Nair, com queijo e mo-lho da wowa (avó em alemão). Destaque para o bolinho com a massa de mandioca e queijo re-cheado com malte da produção do chopp artesanal que é servido na casa.

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Trabalho médico - 38

Coluna Dr. Jacó Lampert

Parabéns a seu criador!!! Para curtir mais do assunto e ver todas as cidades participantes com seus bares e comidinhas acesse www.comidadibuteco.com.br.

Abraços,Jacó Lampert

DICAS DE LIVROS

Memórias Gastronômicas de Alexandre Dumas. Como diz o tradutor e apresentador Andre Telles “...Dumas dá total vazão a seu espírito de curiosidade e bom humor, desfiando histórias que vão desde a Macieira do Paraíso até a inauguração do primeiro restaurante em Pa-ris, depois de passar pelo Olimpo grego, Xeres, Alexandre, Calígula, Apício e Lúculo, a Idade Média, a introdução dos talheres e a conver-sação à mesa nos cabarés”.

A Invenção do Restaurante de Rebecca L. Spang. Instigante livro de pesquisa e história que discorre sobre a origem dos restaurantes como os conhecemos hoje. Restaurante era um caldo encorpado, restaurador de carne para dar energia aos enfermos. Restaurante e medicina se fundiam.

Resistindo Sempre, de Elson Volante. Por fim um terceiro livro que nada tem a ver com gastronomia e sim com a vida de todos nós que um dia lutamos contra a tirania da ditadura militar e que luta-mos até hoje por uma sociedade mais justa e fraterna. Nosso amigo e companheiro do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais lançou recentemente sua maravilhosa biografia. Resistindo Sempre, “é um capítulo da história do Brasil que não se vê na escola.

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Trabalho médico - 39

Feira de São Cristóvão: a diversidade nordestina na capital carioca

O Rio de Janeiro continua lindo. Cidade brasileira mais conhecida no exterior, com a maior rota de turismo internacional no Brasil, a cidade maravilhosa, também foi o berço da Federação Nacional dos Médicos. E assim como a FENAM, que reúne diretores e represen-tantes de todos os estados brasileiros, a cidade carioca tem pontos turísticos regionalizados. Aproveitando a gestão nordestina da FENAM – o atual presidente é de Natal (RN) - vamos abordar nesta edição de turismo da Revista Trabalho Médico, a Feira de São Cristovão – que sintetiza o Nordeste e oferece ao visitante tudo que a região dispõe, exibindo, nas suas quase 700 barracas, sua riqueza tradicional e proporcionando, ainda, a animação característica da terrinha: forró, xote, baião, xaxado, repente, embolada, martelo, arrasta-pé, maracatu e ou-tros sons bem típicos.

As atividades na feira são intensas, funciona de terça a domingo e é uma opção diferente para aqueles que já conhecem os pontos turísticos tradicionais do Rio. Nela, existem sete núcleos culturais, que expressam a diversidade das artes nordestinas. Ideal para quem quer conhecer ou dançar o forró, apreciar as artes dos repentistas e a literatura dos cordéis. O local também oferece ainda comida típica, artesanato e folclore.

A tradição da Feira de São Cristóvão, chamada pelos cariocas de Feira dos Nordestinos, é antiga. Iniciou-se na década de 40, quando retirantes chegavam em caminhões para trabalhar na área da construção civil. O encontro com parentes e conterrâneos sempre resultava em festa, regada com muita música e comida típica, dando origem à feira que permaneceu ao redor do Campo de São Cristóvão por quase 60 anos. Em 2003, uma reforma transformou o local no Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, atraindo cerca de 300 mil pessoas por mês.

Serviço: Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições NordestinasDe terça à quinta: das 10h às 18h (entrada franca) *Exceto feriadosFinais de semana: das 10h de sexta às 21h de domingo. Entrada: R$ 3,00

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Page 40: Revista Trabalho Médico - Maio 2013