712
Revista Trimestral de Jurisprudência volume 218 outubro a dezembro de 2011

Revista Trimestral de Jurisprudência - Página Principal ... · presentatividade do terceiro. Nesse sentido anota Cléver Vasconcelos: “O amicus curiae (...), conquanto considerado

Embed Size (px)

Citation preview

  • Revista Trimestral de Jurisprudncia

    volume 218outubro a dezembro de 2011

  • Disponvel tambm em:

    Secretaria do TribunalAlcides Diniz da Silva

    Secretaria de DocumentaoJaneth Aparecida Dias de Melo

    Coordenadoria de Divulgao de JurisprudnciaAndreia Fernandes de Siqueira

    Equipe tcnica: Cntia Machado Gonalves Soares, Damaris de Melo Andrade (estagiria), Gil Wadson Moura Jnior, Juliana Aparecida de Souza Figueiredo, Priscila Heringer Cerqueira Pooter e Valquirio Cubo Junior.

    Diagramao: Dbora Harumi Shimoda Carvalho

    Reviso: Flvia Teixeira da Silva, Janana Lima Arruda e Rochelle Quito

    Capa: Ncleo de Programao Visual

    (Supremo Tribunal Fe deral Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

    Revista Trimestral de Jurisprudncia / Supremo Tribunal Federal. V. 1,n. 1(abr./jun. 1957) . Braslia : STF, 1957 .

    v. ;22 x 16 cm.Trimestral.Ttulo varia: RTJ.Repositrio Oficial de Jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal.Nome do editor varia: Imprensa Nacional / Supremo Tribunal Federal,

    1957 a 2001; Editora Braslia Jurdica, 2002 a 2006; Supremo TribunalFederal, 2007 .

    Disponvel tambm em formato eletrnico a partir de abr. 1957:http://www.stf.jus.br/portal/indiceRtj/pesquisarIndiceRtj.asp.

    ISSN00350540.

    1. Tribunal supremo, jurisprudncia, Brasil. 2. Tribunal supremo,peridico, Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF).Coordenadoria de Divulgao de Jurisprudncia. II. Ttulo: RTJ.

    CDD340.6

    Solicita sepermuta. Pdese canje. On demande lchange. Si richiede loscambio. We ask forexchange. Wir bitten umAustausch.

    Seo de Distribuio de Edies Maria Cristina Hilrio da SilvaSupremo Tribunal FederalAnexo IIA, Cobertura, Sala C624 Praa dos Trs Poderes 70175900 Braslia DF [email protected] Fone: (061)32174780

  • Su pRE mo TRIBuNAL FEDERAL

    Mi nis tro Antonio CEZAR PELUSO (2562003), PresidenteMi nis tro Carlos Augusto AyRES de Freitas BRITTO (2562003), Vice PresidenteMi nis tro Jos CELSO DE MELLO Filho (1781989)Mi nis tro MARCO AURLIO Mendes de Farias Mello (1361990)Mi nis tro GILMAR Ferreira MENDES (2062002)Mi nis tro JOAQUIM Benedito BARBOSA Gomes (2562003)Mi nis tro Enrique RICARDO LEWANDOWSKI (1632006)Mi nis tra CRMEN LCIA Antunes Rocha (2162006)Ministro Jos Antonio DIAS TOFFOLI (23102009)Ministro LUIZ FUX (332011)

    COMPOSIO DAS TURMAS

    PRIMEIRA TURMA

    Ministra CRMEN LCIA Antunes Rocha, PresidenteMinistro MARCO AURLIO Mendes de Farias MelloMinistro Jos Antonio DIAS TOFFOLIMinistro LUIZ FUX

    SEGUNDA TURMA

    Ministro Carlos Augusto AyRES de Freitas BRITTO, PresidenteMinistro Jos CELSO DE MELLO Filho Ministro GILMAR Ferreira MENDES Ministro JOAQUIM Benedito BARBOSA GomesMinistro Enrique RICARDO LEWANDOWSKI

    PROCURADORGERAL DA REPBLICA

    Doutor ROBERTO MONTEIRO GURGEL SANTOS

  • COMPOSIO DAS COMISSES

    COMISSO DE REGIMENTO

    Mi nis tro MARCO AURLIOMi nis tro GILMAR MENDESMi nis tro JOAQUIM BARBOSAMi nis tro DIAS TOFFOLI Suplente

    COMISSO DE JURISPRUDNCIA

    Mi nis tro AyRES BRITTOMi nis tra CRMEN LCIAMi nis tro DIAS TOFFOLI

    COMISSO DE DOCUMENTAO

    Mi nis tro CELSO DE MELLOMi nis tro DIAS TOFFOLIMinistro LUIZ FUX

    COMISSO DE COORDENAO

    Mi nis tro GILMAR MENDESMi nis tro RICARDO LEWANDOWSKIMinistro LUIZ FUX

  • SumRIo

    Pg.

    ACRDOS .................................................................................................................... 9

    DECISES MONOCRTICAS ............................................................................. 593

    NDICE ALFABTICO ........................................................................................... 625

    NDICE NUMRICO .............................................................................................. 707

  • ACRDOS

  • TERCEIRo AGRAVo REGImENTAL NA ARGuIo DE DESCumpRImENTo

    DE pRECEITo FuNDAmENTAL 134 CE

    Relator: O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski

    Agravante: Partido dos Trabalhadores PT Agravados: Prefeito Municipal de Fortaleza e Cmara Municipal de Fortaleza

    Constitucional. Agravo regimental. Arguio de descumprimento de preceito fundamental. Vinculao do reajuste da remunerao de servidores pblicos ao salrio mnimo. Coisa julgada. Normas que perderam sua vigncia. princpio da subsidiariedade. Agravo improvido.

    I o presente caso objetiva a desconstituio de decises judiciais, dentre as quais muitas j transitadas em julgado, que aplicaram ndice de reajuste coletivo de trabalho definido pelos Decretos municipais 7.153/1985, 7.182/1985, 7.183/1985, 7.251/1985, 7.144/1985, 7.809/1988 e 7.853/1988, bem como pela Lei municipal 6.090/1986, todos do municpio de Fortaleza/CE. Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade no tem como funo desconstituir coisa julgada.

    II A arguio de descumprimento de preceito fundamental regida pelo princpio da subsidiariedade a significar que a admissibilidade desta ao constitucional pressupe a inexistncia de qualquer outro meio juridicamente apto a sanar, com efetividade real, o estado de lesividade do ato impugnado.

    III A ao tem como objeto normas que no se encontram mais em vigncia. A ofensa Constituio Federal, consubstanciada na vinculao da remunerao ao salrio mnimo, no persiste nas normas que esto atualmente em vigncia.

  • R.T.J. 21812

    IV precedentes.

    V A admisso da presente ao afrontaria o princpio da segurana jurdica.

    VI Agravo regimental improvido.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sesso plenria, sob a Presidncia do Ministro Cezar Peluso (Vice Presidente), na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrficas, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, negar provimento ao recurso de agravo. Votou o Presidente. Ausentes, licenciado, o Ministro Menezes Direito e, neste julgamento, o Ministro Gilmar Mendes (Presidente).

    Braslia, 3 de junho de 2009 Ricardo Lewandowski, Relator.

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Trata se de agravo regimental interposto contra deciso em que neguei seguimento arguio de descumprimento de preceito fundamental proposta pelo Partido dos Trabalhadores (PT), com o objetivo de reparar eventuais leses a preceitos fundamentais consubstanciadas

    em decises judiciais das Justias do Trabalho e Comum Estadual do Estado do Cear, pelo fato de atriburem equivocada exegese ao princpio da isonomia (art. 5, caput, da Carta Magna), bem como pretenderem emprestar efeitos indevidos e inconstitucionais a dispositivos normativos (...) eivados de flagrante inconstitucionalidade ou no recepcionados pela Carta Poltica em vigor, a saber: os Decretos 7.153/1985, 7.182/1985, 7.183/1985, 7.251/1985, 7.144/1985, 7.809/1988 e 7.853/1988 e a Lei Municipal n 6.090/86, todos do Municpio de Fortaleza/CE (...)(Fl. 2.)

    Foram solicitadas prvias informaes nos termos do art. 5, 2, da Lei 9.882/1999 (fl. 201).

    Aps, o Municpio de Fortaleza e o Sindicato dos Servidores Pblicos do Municpio de Fortaleza (SINDIFORT) requereram o ingresso na presente ao de descumprimento de preceito fundamental na qualidade de amicus curiae. Adveio, tambm, pedido de interveno de terceiros dos servidores pblicos do Municpio de Fortaleza.

    s fls. 14271429, indeferi os pedidos de amicus curiae, bem como o pedido de interveno de terceiros, sob os seguintes fundamentos:

    A admisso de terceiros, rgos ou entidades, nos termos da lei, na condio de amicus curiae, configura circunstncia de fundamental importncia, porm de carter excepcional, e que pressupe, para tornar se efetiva, a demons

  • R.T.J. 218 13

    trao do atendimento de requisitos, dentre os quais, a relevncia da matria e a representatividade do terceiro. Nesse sentido anota Clver Vasconcelos:

    O amicus curiae (...), conquanto considerado fenmeno de uma interveno atpica, porque o amigo da corte no pretende que a ao seja julgada a favor de ou contra uma das partes, mas sim colabora para uma deciso justa do Poder Judicirio, por meio de uma participao meramente informativa.

    O STF j apreciou a questo da natureza jurdica do amicus curiae, afirmando, em voto do relator, Min. Celso de Mello, na ADIn n 748 AgR/RS, em 18 de novembro de 1994, que no se trata de uma interveno de terceiros, e sim de um fato de admisso informal de um colaborador da corte.

    Colaborador da corte e no das partes, e, se a interveno de terceiros no processo, em todas as suas hipteses, de manifesta vontade de algum que no faz parte originalmente do feito para que ele seja julgado a favor de um ou de outro, o amicus curiae, por seu turno, somente procura uma deciso justa para o caso, remetendo informaes relevantes ao julgador.Assim, o deferimento dos pedidos ora formulados importaria em abrir espao

    para a discusso de situaes de carter individual, incabvel em sede de controle abstrato, alm de configurar condio que refoge figura do amicus curiae.

    Contra essa deciso, foram interpostos agravos regimentais.

    A Advocacia Geral da Unio manifestou se pela procedncia do pedido, in verbis:

    Administrativo. Servidor pblico. Normas municipais que vinculam ao salrio mnimo a remunerao do funcionalismo pblico municipal. Preliminar: conhecimento parcial da ADPF. Mrito: violao ao art. 7, IV, da Constituio Federal. Ofensa autonomia municipal e s prerrogativas institucionais do Chefe do Poder Executivo. Manifestao pelo conhecimento parcial da ADPF para que, nessa parte, seja deferida a medida cautelar postulada e julgado procedente o pedido inicial.(Fl. 1431.)

    A Procuradoria Geral da Repblica manifestou se pela procedncia do pedido em parecer que recebeu a seguinte ementa:

    Arguio de descumprimento de preceito fundamental. Vinculao de vencimentos do funcionalismo pblico do Municpio de Fortaleza a ndice de reajuste do salrio mnimo. Legislao municipal e decretos que lhe do execuo. Precedncia Constituio de 1988. Objeto apto a ser investigado em ADPF. Autonomia municipal como preceito fundamental. Relao que, por representar ajustes automticos, revelia da administrao do Municpio, reduz sua interferncia na poltica salarial de seu pessoal. Precedentes da Corte (ADPF 33 e ADPF 47). Parecer pelo conhecimento parcial (um dos decretos no trata integralmente da matria objeto da arguio) e pela procedncia dos pedidos, com declarao de no recepo dos atos normativos contrrios ao modelo inaugurado em 1988.(Fl. 1445.)

    Ademais, outros interessados pugnaram pela admisso na presente ao de descumprimento de preceito fundamental na qualidade de amicus curiae.

  • R.T.J. 21814

    Aps, neguei seguimento arguio de descumprimento de preceito fundamental em deciso assim fundamentada:

    Assim, no merece prosperar a presente ADPF, porque: (i) no cabe a este instituto desconstituir coisa julgada; (ii) esta ao de controle abstrato de constitucionalidade regida pelo princpio da subsidiariedade a significar que a admissibilidade desta ao constitucional pressupe a inexistncia de qualquer outro meio juridicamente apto a sanar, com efetividade real, o estado de lesividade do ato impugnado; (iii) tem como objeto normas que no se encontram mais em vigncia, o que a torna, portanto, prejudicada; e, por fim, (iv) sua admisso afrontaria o princpio da segurana jurdica.

    Isso posto, nego seguimento presente Ao de Descumprimento de Preceito Fundamental ADPF (arts. 4, caput, da Lei 9.882/1999 e 21, IX, do RISTF). Prejudicados, pois, os pedidos de amicus curiae, bem como os recursos interpostos em face da deciso que os inadmitiu.

    Em seguida, foi interposto o presente agravo regimental pelo Partido dos Trabalhadores (PT), no qual pleiteia a reforma dessa deciso.

    Sustenta, primeiramente, que

    Subsidiariedade (...) no se identifica com esgotamento de meios jurdicoprocessuais existentes; parece bvio que o legislador que referir se inexistncia de meios que possam ser utilizados de modo eficaz e geral pelo autor da ao. (Fl. 1743.)

    Argumenta, ainda, que

    os diplomas normativos municipais que constituem objeto da presente ADPF so todos anteriores promulgao da Constituio Federal de 1988, razo pela qual sua revogao derivou, a rigor, no do advento de legislao municipal posterior, mas, sim, da prpria ausncia de recepo daqueles diplomas pela nova ordem constitucional.(Fl. 1748.)

    Por fim, aduz que a arguio de descumprimento de preceito fundamental sob exame no possuiria identidade com a ADPF 83/ES, Rel. Min. Carlos Britto, pois

    a ADPF 83/ES se insurgiu contra legislao municipal que simplesmente endossou um acordo coletivo (ato negocial, portanto), o qual beneficiaria indistintamente todas as categorias de servidores estatutrios do Municpio de Vitria.

    (...)O presente caso, ao contrrio, no versa acerca de ato negocial uno, mas, sim,

    de atos normativos que incidem em relao a cada ato ou fato considerado per se (Fls. 17511752.)

    o relatrio.

    VOTO

    O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Senhor Presidente.

  • R.T.J. 218 15

    Bem reexaminada a questo, verifica se que a deciso no merece reforma, visto que o recorrente no aduz novos argumentos capazes de afastar as razes expendidas na deciso ora atacada, que deve ser mantida por seus prprios fundamentos.

    O presente caso objetiva a desconstituio de decises judiciais, dentre as quais muitas j transitadas em julgado, que aplicaram ndice de reajuste coletivo de trabalho definido pelos Decretos Municipais 7.153/1985, 7.182/1985, 7.183/1985, 7.251/1985, 7.144/1985, 7.809/1988 e 7.853/1988, bem como pela Lei Municipal 6.090/1986, todos do Municpio de Fortaleza/CE.

    Desse modo, verifico que a Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no cabvel.

    Primeiramente, ressalto que este instituto de controle concentrado de constitucionalidade no tem como funo desconstituir coisa julgada, o que o inviabiliza quanto parte do pedido do arguente, qual seja, de

    reconhecer e declarar, com eficcia erga omnes e efeito vinculante, inclusive quanto coisa julgada j formada, que os servidores e respectivos dependentes do quadro de pessoal das Administraes Direta e Indireta do Municpio de Fortaleza constante nos Decretos Municipais ns 7.153/1985, 7.182/1985, 7.183/1985, 7.251/1985, 7.144/1985, 7.809/1988 e 7.853/1988 e pela Lei Municipal 6.090/1986, diretamente ou por via reflexa, por evidente ausncia de recepo dos mesmos pela Carta Magna de 1988, luz dos preceitos fundamentais invocados nesta ao. (Fl. 27 Grifos nossos.)

    O instituto da coisa julgada j foi bastante estudado pela doutrina, como se observa da lio de Cndido Rangel Dinamarco:

    A Constituio brasileira estabelece que a lei no prejudicar a coisa julgada (art. 5, inc. XXXVI) e o Cdigo de Processo Civil fornece elemento seguro para o entendimento do alcance desse dispositivo, ao impedir novos julgamentos sobre a demanda j definitivamente julgada. No se limita a garantir a inviolabilidade da coisa julgada mediante a exigncia de que outros possveis julgamentos fossem conformes com aquele j estabilizado por ela: ele vai alm disso, ao proibir todo e qualquer julgamento sobre a mesma demanda, quer conformes, quer divergentes.1

    Nesse sentido, desconstituir coisa julgada para examinar a questo em comento acarretaria em grave prejuzo ao princpio da segurana jurdica. Sobre esse princpio, cito aqui a lio do Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, J. J. Gomes Canotilho:

    O homem necessita de segurana para conduzir, planificar e conformar autnoma e responsavelmente a sua vida. Por isso, desde cedo se consideram os princpios da segurana jurdica e da proteco da confiana como elementos constitutivos do Estado de direito.

    (...)

    1 DINAMARCO, Cndido Rangel. Instituies de direito processual civil. 2. ed. So Paulo: Malheiros, 2002. p. 137. V. III.

  • R.T.J. 21816

    A segurana e a proteco da confiana exigem, no fundo: (1) fiabilidade, clareza, racionalidade e transparncia dos actos do poder; (2) de forma que em relao a eles o cidado veja garantida a segurana nas suas disposies pessoais e nos efeitos jurdicos dos seus prprios actos. Deduz se j que os postulados da segurana jurdica e da proteco da confiana so exigveis perante qualquer acto de qualquer poder legislativo, executivo e judicial (...). As refraces mais importantes do princpio da segurana jurdica so as seguintes: (1) relativamente a actos normativos proibio de normas retroactivas restritivas de direitos ou interesses juridicamente protegidos; (2) relativamente a actos jurisdicionais inalterabilidade do caso julgado; (3) em relao a actos da administrao tendencial estabilidade dos casos decididos atravs de actos administrativos constitutivos de direitos.2

    J no que tange s demandas cujo trnsito em julgado ainda no ocorreu, nas quais os servidores da Administrao Direta do Municpio pleiteiam a equiparao dos vencimentos por meio de isonomia, existem outros meios processuais para contest las.

    Desse modo, tambm quanto s demandas que no transitaram em julgado, incabvel a presente ADPF, uma vez que esse instituto circunscrito aos limites da subsidiariedade, conforme definido pelo art. 4, 1, da Lei 9.882/1999, in verbis:

    Art. 4 A petio inicial ser indeferida liminarmente, pelo relator, quando no for o caso de arguio de descumprimento de preceito fundamental, faltar algum dos requisitos prescritos nesta Lei ou inepta.

    1 No ser admitida arguio de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.

    Nesse aspecto, cito trecho da ADPF 12/DF, Rel. Min. Ilmar Galvo:

    A arguio de preceito fundamental, prevista no artigo 102, 1, da Carta da Repblica, e regulada pela Lei 9.882/1999, ao de natureza constitucional cuja admisso vinculada inexistncia de qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade do ato de poder atacado, conforme dico expressa do art. 4, 1, da mencionada Lei 9.882/1999.

    Tambm na ADPF 128/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, assentou se que

    o conhecimento da ao encontraria bice no princpio da subsidiariedade. que a Lei 9.882/1999 prescreve, no art. 4, 1, que se no admitir arguio de descumprimento de preceito fundamental, quando houver outro meio eficaz de sanar a lesividade. Ora, fora de dvida que o ordenamento jurdico prev, para a hiptese, outros remdios processuais ordinrios que, postos disposio da arguente, so aptos e eficazes para lhe satisfazer de todo a pretenso substantiva que transparece a esta demanda.

    Ressalto, ainda, que situao bastante semelhante foi recentemente analisada pelo Plenrio deste Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF

    2 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituio. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2003. p. 257.

  • R.T.J. 218 17

    83/ES, Rel. Min. Ayres Britto. Naquele caso, o Tribunal, por unanimidade, no conheceu da arguio.

    Naquela oportunidade, cuidava se de ADPF em face de lei municipal que estabeleceu o IPC, previsto na Lei federal 7.730/1989, como ndice de reajuste de vencimentos de servidores pblicos (Lei 3.624/89 do Municpio de Vitria/ES).

    No presente caso, a ADPF foi proposta contra os efeitos diretos e reflexos de normas municipais que teriam vinculado os vencimentos de parte do funcionalismo pblico do Municpio de Fortaleza/CE a ndice de reajuste do salrio mnimo. Em ambas as aes, o principal preceito fundamental tido como violado a autonomia municipal. Tambm, nos dois feitos, h decises judiciais com trnsito em julgado, bem como processos em curso, suscetveis de impugnao por outras vias.

    Transcrevo, em oportuno, trecho das assertivas do Ministro Cezar Peluso na ADPF 83/ES, Rel. Min. Carlos Ayres Britto:

    Se (...) j foi reconhecido como vlido e legal por fora de coisa julgada, em relao a algum dos contraentes, no vejo como, em ao de descumprimento de preceito fundamental, cindir esse ato negocial para, agora, consider lo eventualmente invlido em relao a outros contraentes (...).

    Tambm o Ministro Menezes Direito votou pela inadmissibilidade daquela arguio, in verbis:

    esta ao est sendo utilizada como se fosse embargos execuo. Estamos substituindo este ltimo por uma ao de natureza constitucional. Por que isso verdade? Primeiro, porque a lei municipal foi votada, por iniciativa do prefeito municipal; houve o curso de diversas aes ordinrias, as quais prosseguiram; houve uma iniciativa de uma outra ao ordinria, esta que ainda est em curso, e no momento em que se viu o municpio compelido execuo de diversas aes que transitaram em julgado, vem essa arguio de descumprimento de preceito fundamental, como se fossem embargos execuo, para obstaculizar o cumprimento de deciso judicial relativamente a uma lei de iniciativa do prprio prefeito municipal, votada pela cmara dos vereadores.

    Ainda na mesma ADPF 83/ES, o Ministro Marco Aurlio assentou que

    No caso, temos (...) uma verdadeira ao direta de inconstitucionalidade contra lei municipal que implicou simplesmente o endosso de um acordo coletivo. Mais do que isso: a ADPF veio a ser formalizada quando j no existente, porquanto no ocorrera a precluso, qualquer outro remdio jurdico.

    (...). Ante o previsto no acordo coletivo, endossado pela lei municipal, tivemos o ajuizamento de aes, e a municipalidade se defendeu nessas aes. Ocorreu o trnsito em julgado das decises proferidas nessas aes. No binio, foi ajuizada a ao rescisria; esta veio a ser apreciada. Transitou em julgado o que decidido na ao de impugnao autnoma que rescisria. E a h a lembrana como se a arguio de descumprimento de preceito fundamental fosse polivalente (...).

    Creio que a situao jurdica exemplar quanto ao no cabimento da ADPF. No podemos conferir a esse instrumental to nobre e bem revela que ele no

  • R.T.J. 21818

    bre o nmero deste processo contornos que coloquem em plano secundrio a segurana jurdica; contornos de verdadeira rescisria.

    Ademais, bem examinados os autos, verifico que os Decretos municipais de Fortaleza 7.153/1985 (IJF), 7.182/1985 (FSSM), 7.183/1985 (FUNEFOR), 7.251/1985 (SPADM), 7.144/1985 (SPADM), 7.809/1988 (SUMOV) e 7.853/1988 (SUMOV), bem como a Lei municipal 6.090/1986 (Grupo de Magistrio do Municpio de Fortaleza), no se encontram mais em vigncia, uma vez que foram revogados pela Lei 7.141, de 29 de maio de 1992 (Plano Municipal de Cargos e Carreiras PMCC), pela Lei 7.759, de 24 de julho de 1995 (Plano de Cargos e Carreiras de Sade PCCS) e pela Lei 8.089, de 10 de novembro de 1997 (Instituto Municipal de Pesquisas, Administrao e Recursos Humanos IMPARH).

    Ressalto, ainda, que, diferentemente do que alega o recorrente, em nada altera o entendimento firmado na ADPF 129/DF, sob minha relatoria, uma vez que a ofensa Constituio Federal, consubstanciada na vinculao da remunerao ao salrio mnimo, no persiste nas normas que esto atualmente em vigncia.

    Desse modo, assente que as sistemticas remuneratrias estabelecidas pelas normas impugnadas no possuem mais vigncia. Ocorreu, portanto, cessao superveniente de seus efeitos, razo pela qual no podem mais ser objeto do controle abstrato de inconstitucionalidade. Nesse sentido a jurisprudncia deste Supremo Tribunal Federal:

    Arguio de descumprimento de preceito fundamental. Medida Provisria 2.0191 que dispe sobre o salrio mnimo a vigorar a partir de 3 de abril de 2000.

    Com a edio de normas posteriores alterando o valor do salrio mnimo, julga se prejudicada a arguio ante a perda de seu objeto. (ADPF 4MC/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 2292006.)

    Transcrevo, ainda, trecho de deciso monocrtica proferida pelo Ministro Menezes Direito na ADPF 49/PI, que elucida a questo:

    (...) fazendo parte a arguio de descumprimento de preceito fundamental do sistema concentrado de constitucionalidade, a deciso final declarar, ou no, a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo (art. 11 da Lei 9.882/1999). Neste caso, incide a mesma orientao aplicada em relao ao direta de inconstitucionalidade, no sentido de restar prejudicada a demanda quando no mais estiver em vigor a lei ou ato normativo do poder pblico ora impugnado.

    No mesmo sentido a ADPF 141/RJ, de minha relatoria, e a ADPF 74/DF, Rel. Min. Celso de Mello.

    Assim, no merece prosperar a presente ADPF, porquanto: (i) no cabe a este instituto desconstituir coisa julgada; (ii) esta ao de controle abstrato de constitucionalidade regida pelo princpio da subsidiariedade a significar que a admissibilidade desta ao constitucional pressupe a inexistncia de qualquer outro meio juridicamente apto a sanar, com efetividade real, o estado de lesividade do ato impugnado; (iii) tem como objeto normas que no se encontram mais

  • R.T.J. 218 19

    em vigncia, o que a torna, portanto, prejudicada; e, por fim, (iv) sua admisso afrontaria o princpio da segurana jurdica.

    Isso posto, nego provimento ao presente agravo regimental e mantenho a deciso agravada por seus prprios fundamentos. Prejudicados os demais agravos regimentais.

    o meu voto.

    VOTO

    O Sr. Ministro Marco Aurlio: Presidente, apenas uma ressalva quanto circunstncia de no se encontrar mais em vigor a lei que teria sido acionada pelo chefe do Poder Executivo.

    No estamos a julgar ao direta de inconstitucionalidade. Estamos a perquirir se est configurado ou no o desrespeito a preceito fundamental. Para tanto, basta existir, no cenrio jurdico, ato do Poder Pblico que implique esse descumprimento.

    Em sntese, apenas ressalvo o entendimento quanto ao que lanado pelo ilustre relator, como bice arguio de descumprimento de preceito fundamental, que seria o fato de haver envolvimento de diploma legal que j exauriu efeitos.

    Mas acompanho Sua Excelncia desprovendo o agravo, porque a ao se faz voltada contra coisa julgada, em verdadeira substituio ao que seria a rescisria.

    EXTRATO DA ATA

    ADPF 134AgRterceiro Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Agravante: Partido dos Trabalhadores PT (Advogados: Alberto Moreira Rodrigues e outro). Agravados: Prefeito Municipal de Fortaleza e Cmara Municipal de Fortaleza.

    Deciso: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, negou provimento ao recurso de agravo. Votou o Presidente. Ausentes, licenciado, o Ministro Menezes Direito e, neste julgamento, o Ministro Gilmar Mendes (Presidente). Presidiu o julgamento o Ministro Cezar Peluso (Vice Presidente).

    Presidncia do Ministro Gilmar Mendes. Presentes sesso os Ministros Celso de Mello, Marco Aurlio, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski e Crmen Lcia. ViceProcurador Geral da Repblica, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.

    Braslia, 3 de junho de 2009 Luiz Tomimatsu, Secretrio.

  • R.T.J. 21820

    AGRAVo REGImENTAL NA SuSpENSo DE TuTELA ANTECIpADA451 pE

    Relator: Ministro Presidente

    Agravante: Estado de Pernambuco Agravado: Municpio de Trindade

    1. Tributo. Imposto sobre a Circulao de mercadorias e Servios(ICmS). programa de incentivo fiscal estadual. Con cesso de crdito presumido sobre a parte pertencente aos municpios. Burla sistemtica constitucional de repasse das cotas municipais. Inadmissibilidade. Suspenso de tutela antecipada rejeitada. Agravo regimental improvido. precedente. A concesso, pelos Estados, de crdito presumido sobre ICmS no pode alcanar a cota constitucional de 25% que pertence aos municpios.

    2. Suspenso de tutela antecipada. Agravo regimental. Ausncia de impugnao de todos os fundamentos da deciso agravada. Aplicao da Smula 283. Agravo improvido. No colhe recurso que no ataca todos os fundamentos autnomos da deciso recorrida.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Su premo Tribunal Federal, em sesso plenria, sob a Presidncia do Ministro Cezar Peluso, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrficas, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, em negar provimento ao recurso de agravo. Ausentes, justificadamente, o Ministro Joaquim Barbosa; em viagem oficial Federao da Rssia, o Ministro Ricardo Lewandowski e, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Ellen Gracie.

    Braslia, 18 de maio de 2011 Cezar Peluso, Presidente e Relator.

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Cezar Peluso (Presidente): Trata se de agravo regimental contra deciso do teor seguinte:

    1. Trata se de pedido de suspenso de tutela antecipada, formulado pelo Estado de Pernambuco, contra deciso proferida pelo Tribunal de Justia de Pernambuco, assim ementado:

    Tributrio e constitucional. Participao dos Municpios no produto de arrecadao do ICMS. Prodepe. Reteno pelo Estado de parte da parcela pertencente aos Municpios. Impossibilidade. Recurso improvido. 1.Os Municpios no podem perder as parcelas que lhe cabem, por imperativo da repartio constitucional das receitas tributrias, em decorrncia de benefcios incentivos e isenes fiscais concedidos pelos Estados membros. 2.A CF garante aos Municpios o repasse de 25% da arrecadao do ICMS, no tendo,

  • R.T.J. 218 21

    portanto, o Estado disponibilidade sobre o total do citado imposto apurado, mas somente dos 75% que lhe pertencem, de modo que a promoo de incentivos fiscais como o Prodepe deve ocorrer apenas no que se refere a tal parte do Estado. 3.O Pleno do STF j decidiu que o repasse da parcela do ICMS devida aos Municpios deve ser integral, no podendo sofrer dedues provenientes de quaisquer planos de incentivo fiscal do Estado, sob pena de violar o sistema constitucional de repartio de receitas, razo que no se considera vulnerado o art.158 da CF. 4.Recurso de agravo improvido por maioria.(Fl. 25.)Na origem, o Municpio de Trindade ajuizou ao ordinria (fls. 6293), com

    pedido de antecipao de tutela, em face do Estado de Pernambuco, sob fundamento de que estaria sendo prejudicado no repasse da quota parte do ICMS a que tem direito. Sustenta que, por meio da Lei estadual n. 11.288/1995, fora criado o Programa de Desenvolvimento de Pernambuco (PRODEPE), para concesso de financiamentos s empresas interessadas.

    Na ao, o Municpio alegou que, inicialmente, haveria disposio expressa da norma instituidora do programa, no sentido de que os benefcios concedidos somente poderiam incidir sobre o ICMS pertencente ao Estado, vale dizer, sobre 75% do total arrecadado. Alegou, ainda, que o programa sofreu diversas alteraes e, entre elas, a supresso do dispositivo que preservava os 25% pertencentes aos municpios. Consta da petio inicial:

    Ainda da leitura dos artigos supratranscritos, destaque se que o Estado chegou ao absurdo de conceder incentivo no percentual de 95% do ICMS devido. Todavia, pelo sistema de repartio de receitas tributrias, o Estado s possui titularidade de 75% do ICMS, os demais 25% pertencem aos Municpios, assim sendo, o Estado jamais poderia conceder tal benefcio de 95% do ICMS.

    Desta forma, o Estado de Pernambuco dividiu a responsabilidade pelo financiamento do Prodepe com os municpios, ou seja, o Poder Executivo socializou com os Municpios o custo para implantao do Prodepe.

    Com as alteraes, a empresa beneficiada, ao invs de recolher o ICMS aos cofres pblicos para depois receber o incentivo, passou a se creditar do valor correspondente ao incentivo, por meio de crdito presumido. Ouseja, a empresa, ao apurar o montante de ICMS devido, exclui de tal valor o percentual correspondente ao incentivo e recolhe apenas o saldo do ICMS. (Fls. 6970.)O Juzo da 8 Vara de Fazenda Pblica da Comarca de Recife rejeitou a anteci

    pao de tutela, mas o Tribunal de Justia de Pernambuco, em agravo regimental no agravo de instrumento, concedeu a tutela. Consta do acrdo que se pretende suspender:

    O agravante [Estado de Pernambuco] reconheceu que, na sistemtica anterior, a empresa recolhia 100% do ICMS devido, sendo separados os 25%, que, por fora da CF, pertencem aos Municpios, os quais, inclusive, recebiam at uma rubrica prpria, justamente para diferenciar dos 75% pertencentes ao Estado, e era com esses 75%, que era distinguida dos 25% dos municpios, que o Estado incentivava as empresas privadas.

    J na sistemtica atual, o ora agravante reconhece, por mera liberalidade sua, um crdito presumido para determinada empresa, crdito este que, na maioria das vezes, de 75% do ICMS devido, em outras palavras, a empresa no recolhe 100% do ICMS devido, recolhe apenas (quando o crdito

  • R.T.J. 21822

    presumido de 75%) 25% do ICMS devido, sobre esses 25% do ICMS recolhido que o Estado aplica o percentual de 25% pertencente aos Municpios por mera vontade sua que resolve conceder ou no incentivo a cada empresa.(Fls. 2728.)No pedido de suspenso que ora se analisa, o Estado de Pernambuco sustenta

    haver grave leso economia pblica, pois O valor da renncia, conforme informao da Secretaria da Fazenda ora em anexo, estimado em torno de oitocentos e noventa milhes anuais. (fl. 21). Alega, ainda, haver risco de efeito multiplicador, pois a deciso do Tribunal de Justia encorajaria (...) os outros 184 Municpios do Estado a pleitearem benefcio similar (...) (fl. 21).

    No mrito, alega que o precedente do Supremo Tribunal Federal utilizado como fundamento pelo acrdo do Tribunal pernambucano (RE 572.762, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Plenrio, DJE de 592008) no se aplicaria ao caso. Sustenta que, na hiptese do precedente, a Fazenda de Santa Catarina efetivamente arrecadaria o ICMS devido, repassaria parte ao programa de incentivo estadual, e calcularia, com base no que restou da operao, os 25% para transferncia aos Municpios. Noprograma de Pernambuco, haveria concesso de crdito presumido antes do recolhimento dos valores devidos a ttulo de ICMS. Asempresas, ento, compensariam o valor apurado com o crdito presumido, recolhendo aos cofres pblicos apenas o saldo desta operao. Sobre o montante efetivamente recolhido que o Estado calcularia os 25% pertencentes aos municpios. Consta do pedido de suspenso:

    A discusso existente em relao ao Prodesc, programa de incentivos de Santa Catarina, em torno da distino que aquele Estado faz para efeito da repartio constitucional do ICMS, entre arrecadao (conceito contbil) e produto da arrecadao (conceito financeiro).

    Em Pernambuco, essa discusso inexiste, porque o Prodepe utiliza o sistema de crdito presumido e repassa 25% de tudo o que arrecadado a ttulo de ICMS e acrscimos aos municpios. (Fl. 16.)Por fim, o Estado requer urgncia na concesso da medida,

    (...) diante da iminncia de dano irreparvel ou de difcil reparao para a coletividade pernambucana, porquanto a deciso determina o pagamento ao Municpio de Trindade, sob pena de multa diria, de valores no arrecadados pelo Estado, o que obrigar o Governo Estadual a remanejar receitas no seu oramento, prejudicando servios e obras j previstos.(Fl. 23.)2. No caso de suspenso.De acordo com o regime legal de contracautela (Leis 8.437/1992, 9.494/1997,

    12.016/2009, e art.297 do RISTF), compete a esta Presidncia suspender execuo de decises concessivas de segurana, de liminar ou de tutela antecipada, proferidas em nica ou ltima instncia, pelos tribunais locais ou federais, para evitar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblicas.

    A cognio do pedido exige, contudo, demonstrao da natureza constitucional da controvrsia (cf. Rcl 497AgR/RS, Rel. Min. Carlos Velloso, Plenrio, DJ de 642001; SS 2.187AgR/SC, Rel. Min. maurcio Corra, DJ de 21102003; e SS2.465/SC, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ de 20102004).

    Est preenchido o requisito, pois em jogo, aqui, suposta violao ao art.158, IV, da Constituio da Repblica, em razo da sistemtica adotada pelo Estado de Pernambuco para clculo da parcela do ICMS pertencente aos Municpios, em decorrncia do Prodepe.

  • R.T.J. 218 23

    A Corte tem entendido, com base nas diretrizes normativas que disciplinam as medidas de contracautela, no ser vedado ao Presidente do Supremo Tribunal Federal proferir um juzo mnimo de delibao a respeito das questes jurdicas presentes na ao principal, caracterizado pela probabilidade de a deciso contra a qual se pede a suspenso ser contrria s normas existentes na ordem jurdica. Nesse sentido: SS 846AgR, Rel. Min. Seplveda pertence, de 2951996; e SS1.272AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, de 1852001).

    Na espcie, em juzo sumrio pertinente ao incidente de suspenso, verifico que razo no assiste ao Estado. que, embora este alegue haver distino entre os programas de Pernambuco e Santa Catarina, verifica se que, em ambos, h burla sistemtica constitucional de repartio tributria. No caso catarinense, os valores devidos a ttulo de ICMS eram efetivamente recolhidos, repassados em parte ao programa de desenvolvimento e, sobre o saldo, eram calculados os 25% pertencentes aos Municpios. Alterava se, assim, a base de clculo.

    No caso pernambucano, a Fazenda evita que os recursos cheguem aos cofres pblicos, por meio de concesso de crdito presumido. Aofinal do perodo de apurao, as empresas beneficiadas calculam o ICMS devido, compensam os valores a pagar com o referido crdito presumido e recolhem Fazenda apenas o saldo. Vale dizer, a parcela constitucional de 25% pertencente aos Municpios calculada com base no que sobrar da operao. Mas no se pode ignorar o fato de que os valores no recolhidos pelas empresas so efetivamente devidos. Ouseja, houve o fato gerador.

    Tambm chama a ateno o que consta do acrdo que se pretende suspender, no sentido de que o Estado de Pernambuco, sem controvrsia, reconheceu haver, na sistemtica anterior do Prodepe, separao dos 25% pertencentes aos Municpios, com a concesso de benefcios apenas sobre os 75% de titularidade estadual:

    O agravante [Estado de Pernambuco] reconheceu que, na sistemtica anterior, a empresa recolhia 100% do ICMS devido, sendo separados os 25%, que, por fora da CF, pertencem aos Municpios, os quais, inclusive, recebiam at uma rubrica prpria, justamente para diferenciar dos 75% pertencentes ao Estado, e era com esses 75%, que era distinguida dos 25% dos Municpios, que o Estado incentivava as empresas privadas. (Fl. 27.)Ademais, no se pode ignorar a jurisprudncia desta Corte, no sentido de que

    benefcios tributrios, concedidos unilateralmente pelos Estados membros, afrontam o princpio federativo (ADI2.377mC, Rel. Min. Seplveda pertence, Plenrio, DJ de 7112003; e ADI1.179, Rel. Min. Carlos Velloso, Plenrio, DJ de 19122002).

    3. Ante o exposto, nego seguimento ao pedido (art.21, 1, do RISTF).(Fls. 128132.)

    O agravante insiste haver distino entre os programas de incentivo institudos pelos Estados de Pernambuco e Santa Catarina. Assim, as razes do RE572.762 (Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Plenrio, DJE de 592008) no seriam aplicveis ao caso.

    Sustenta, ainda, no ter sido observada a jurisprudncia do Tribunal, consistente na deciso proferida monocraticamente pelo Ministro Gilmar mendes, na Presidncia desta Corte, ao julgar procedente o pedido de suspenso formulado pela Unio na STA350 (DJE de 6112009).

    o relatrio.

  • R.T.J. 21824

    VOTO

    O Sr. Ministro Cezar Peluso (Presidente): 1. Inconsistente o recurso.

    que as razes deste no foram capazes de convelir os fundamentos da deciso agravada. OEstado de Pernambuco reitera, em sntese, as razes da petio inicial, sem trazer argumentos consistentes.

    Rejeitei o pedido de suspenso, porque a sistemtica adotada pelo agravante no programa estadual de desenvolvimento incorre no mesmo vcio que fez esta Corte negar provimento ao RE572.762. Vale dizer, em ambos h burla sistemtica constitucional de repasse dos 25% pertencentes aos Municpios, pouco importando o mecanismo tcnico utilizado para tanto.

    Ademais, como consta da deciso agravada, o Estado de Pernambuco reconheceu, na instncia a quo, que, antes das alteraes legislativas das normas relativas ao programa de incentivo, eram separados 25% do ICMS devido aos Municpios, (...) e era com esses 75%, que era distinguida dos 25% dos Municpios, que o Estado incentivava as empresas privadas. (fl. 27) A alterao legislativa provocou, portanto, verdadeiro perigo de dano inverso aos Municpios, que ficaram privados de uma das principais fontes de receitas.

    Quanto existncia de suposto precedente idntico (STA350, Rel. Min. Gilmar mendes, DJE de 6112009), verifico que os casos so distintos, pois, na oportunidade, foi o Relator mesmo quem consignou que na referida STA350 no se demonstrou a concesso de benefcios, incentivos ou dedues, o que ocorre claramente no caso em anlise. Consta do voto do Ministro Gilmar mendes:

    No presente pedido de suspenso, entretanto, discute se questo distinta, relacionada ao Imposto de Renda e ao Imposto sobre Produtos Industrializados e no se demonstra, de plano, a concesso de benefcios, de incentivos ou de dedues que impliquem arrecadao postergada de tributo. Assim, o entendimento firmado no RE572.762, em princpio, no coincide em termos fticos e jurdicos com o presente caso. (Grifo nosso.)

    Por fim, h na deciso agravada fundamento no impugnado pelo recurso, que consiste na jurisprudncia desta Corte no sentido de implicar afronta ao princpio federativo a concesso unilateral de benefcios tributrios pelos Estados membros (ADI2.377mC, Rel. Min. Seplveda pertence, Plenrio, DJ de 7112003; e ADI 1.179, Rel. Min. Carlos Velloso, Plenrio, DJ de 19122002), o que bastaria, de forma autnoma e suficiente, para manuteno da deciso agravada.

    2. Ante o exposto, nego provimento ao agravo.

    EXTRATO DA ATA

    STA 451AgR/PE Relator: Ministro Presidente. Agravante: Estado de Pernambuco (Procurador: Procurador Geral do Estado de Pernambuco).

  • R.T.J. 218 25

    Agravado: Municpio de Trindade (Advogados: Jonas Gomes de Moura Neto e outro).

    Deciso: O Tribunal, por votao unnime e nos termos do voto do Relator, Ministro Cezar Peluso (Presidente), negou provimento ao recurso de agravo. Ausentes, justificadamente, o Ministro Joaquim Barbosa; em viagem oficial Federao da Rssia, o Ministro Ricardo Lewandowski e, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Ellen Gracie.

    Presidncia do Ministro Cezar Peluso. Presentes sesso os Ministros Celso de Mello, Marco Aurlio, Ellen Gracie, Gilmar Mendes, Ayres Britto, Crmen Lcia, Dias Toffoli e Luiz Fux. Procurador Geral da Repblica, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.

    Braslia, 18 de maio de 2011 Luiz Tomimatsu, Secretrio.

  • R.T.J. 21826

    EXTRADIo1.143 REpBLICA DA CoREIA

    Relator: O Sr. Ministro Joaquim Barbosa

    Requerente: Governo da Repblica da Coreia Extraditando: Jin Ha Seo ou Seo Jin Ha

    Extradio. Governo da Repblica da Coreia. Existncia de tratado bilateral. Condies de admissibilidade. observncia. presena da dupla tipicidade. Inocorrncia de extino da punibilidade pela prescrio da pretenso punitiva. preenchimento dos requisitos formais. Negativa de autoria. Incidncia dos arts.89 e 90 c/c art.67 da Lei 6.815/1980. Aplicao da Smula 421.

    o pedido de extradio foi formalizado nos autos, com mandado de priso que indica precisamente o local, a data, a natureza e as circunstncias dos fatos delituosos atribudos ao extraditando, transcrevendo os dispositivos legais da ordem jurdica coreana pertinentes ao caso. observados os requisitos do art.77 da Lei 6.815/1980.

    Infere se, dos documentos apresentados junto s Notas Verbais, que os crimes imputados ao extraditando atendem o requisito da dupla tipicidade e correspondem, no Brasil, aos crimes de estelionato e defraudao de penhor.

    A extino da punibilidade pela prescrio da pretenso punitiva no ocorreu nem luz da legislao coreana, nem da brasileira.

    preenchidos todos os requisitos exigidos pelo art.80 e pargrafos da Lei 6.815/1980 e pelo Tratado de Extradio firmado entre o Brasil e a Repblica da Coreia.

    No cabe, em processo de extradio, o exame do mrito da pretenso penal deduzida em juzo no pas solicitante, razo por que alegaes concernentes matria de defesa prpria da ao penal, tal como a negativa de autoria, no elidem o deferimento do pedido. precedentes.

    Existncia de filha brasileira no obstculo extradio, conforme pacfico entendimento da Corte. Smula 421.

    o tempo de priso do extraditando no Brasil, por fora do presente pedido, deve ser contabilizado para efeito de detrao, na eventualidade de condenao na Coreia.

    A extradio s ser executada aps a concluso do processo a que o extraditando eventualmente responde no Brasil, ou aps o cumprimento da pena aplicada, podendo, no entanto, o presidente da Repblica dispor em contrrio, nos termos do art.67 da Lei 6.815/1980.

  • R.T.J. 218 27

    pedido de extradio parcialmente deferido com as restries indicadas.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sesso plenria, sob a Presidncia do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrficas, por maioria de votos, em deferir parcialmente o pedido de extradio, vencido o Ministro Marco Aurlio, que a deferia em menor extenso.

    Braslia, 1 de julho de 2009 Joaquim Barbosa, Relator.

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Trata se de pedido de extradio, formulado pelo Governo da Repblica da Coreia, por via diplomtica, com base no Tratado de Extradio celebrado com o Brasil, em que se requer a entrega do nacional coreano Jin Ha Seo ou Seo Jin Ha, conforme Nota Verbal KBR/G/88/08, encaminhada para esta Corte atravs do Aviso 1349MJ, lavrado pelo Ministro de Estado de Justia.

    Consta dos autos que foi decretada a priso do extraditando pelo Juzo da Comarca de Bucheon, da Corte de Justia de Incheon, em 2852008, em decorrncia da suposta prtica dos crimes de fraude, falsificao de ttulos, uso indevido de ttulos falsificados, furto, apropriao indbita e violao legislao trabalhista (fls. 102105).

    Importa consignar que, de acordo com a legislao coreana, no caso de fuga do criminoso, o promotor pblico ou o juiz, antes de iniciar o processo criminal, emite ordem de priso ou inclui o criminoso na lista de procurados. Assim, o processo criminal somente iniciado aps a captura do criminoso (fl. 79).

    Segundo consta do mandado de priso, as condutas delitivas do extraditando consistiram em, in verbis:

    1. Apropriao indbita.Em 3 de julho de 1999, o acusado obteve um emprstimo de 380.000.000

    Wons da vtima, Jeil Bank Co., Ltd., oferecendo como garantia 20 mquinas instaladas em sua empresa, Woojoo Ceramic Co., Ltd., entretanto, mesmo estando as mquinas confiscadas como hipoteca do emprstimo, o acusado as vendeu, em data indeterminada, a compradores indeterminados, acarretando vtima um prejuzo equivalente ao valor acima.

    2. Fraude.O acusado, mesmo no tendo inteno e nem capacidade financeira para pa

    gar os valores das notas promissrias e dos cheques emprestados, dirigiu se, em 10 de novembro de 1999, a Ryu Chan Hyung, administrador da Yuhan Eletronics, situada na loja 67118, 1dong, Busan jingu, Busan, e o persuadiu com a seguinte mentira: se voc me emprestar notas promissrias e cheques, depositarei o dinheiro na conta de

  • R.T.J. 21828

    dbito das notas e dos cheques dentro do prazo sem falta. Assim, no prprio dia, pegou emprestada uma nota promissria (nmero: 07039546, prazo de pagamento: 28 de maro de 2000) no nome de Kim Yong Soo, Presidente da Yuhan Eletronics, no valor de 18.150.000 Wons. Desde ento at o dia 28 de fevereiro de 2000, o acusado repetiu o mesmo golpe 11 vezes, como descrito na lista de evidncias dos crimes folha anexa 1, adquirindo ilegalmente 228.836.325 Wons atravs de 11 notas promissrias, 11.373.300 Wons atravs de 6 cheques e 2 cheques em branco, somando um total de 340.209.625 Wons.

    3. Fraude, Furto. FraudeO acusado, mesmo no tendo inteno nem capacidade financeira para pa

    gar a nota promissria, mentiu vtima Park Yong Pil, em local indeterminado, ao emitir, em 10 de janeiro de 2000, nota promissria como pagamento dos moldes fabricados pela empresa da vtima, dizendo que pagaria a nota promissria dentro do prazo, a vtima, acreditando nas palavras do acusado, forneceu lhe moldes imediatamente. Desde a primeira transao at o dia 21 de abril do mesmo ano, o acusado recebeu, por mais trs vezes, o fornecimento de moldes atravs do mesmo mtodo, somando o valor total de 43.900.000 Wons.

    FurtoEm 21 de abril de 2000, o acusado entrou na empresa da vtima, Park

    Yong Pil, enquanto no havia ningum, e furtou 8 moldes que somam o valor de 25.000.000 Wons.

    4. Crime de falsificao de ttulos e outros, crimes de uso indevido de ttulos falsificados.

    Crime de falsificao de ttulos e outrosEm data e local indeterminados, o acusado Seo Jin Ha, Presidente da Woojoo

    Ceramics Co., Ltd.,falsificou o endosso (campo 1 no verso da nota) da nota promissria emitida em seu nome, com o valor de 19.800.000 Wons, com prazo de pagamento at 28 de junho de 2000, a ser paga na Agncia Namgajoa Dong, Jeil Bank, atravs do carimbo falsificado de Kwon Dae Sun e de sua empresa Daekwang Eletronics, e, de acordo com os itens 1~5 do anexo 1 da lista de evidncias dos crimes, o acusado falsificou 5 vezes o endosso de Kwon Dae Sun, e, de acordo com o exposto nos itens 6~7 da lista de evidncias dos crimes, falsificou, no verso (campo 1) da nota promissria em questo, o endosso de Son Tae Han.

    Crime de uso indevido de ttulos falsificadosO acusado emitiu, em data e local indeterminados, notas promissrias com

    endossos falsificados, exceto as mencionadas na folha anexa 2 lista de evidncias dos crimes, a pessoas indeterminadas, como se fossem notas promissrias verdadeiras.

    5. Falsificao de ttulos e outros Falsificao de ttulosO acusado, com a inteno de utilizar em data e local indeterminados, pre

    encheu o campo 1 de endosso no verso da nota promissria emitida no nome de Jang Seok Soon, Presidente da Jeon Won Seok Jae Co., Ltd., no valor de 30.000.000 Wons (prazo de pagamento: 22 de julho de 2000, a ser paga na Agncia Seokyodong, Kukmin Bank) e da nota promissria emitida no nome de Jang Seok Soon, Presidente de Jeonwon City Development Co., Ltd., no valor de 33.000.000 Wons (prazo de pagamento: 17 de agosto de 2000, a ser pago no Industrial Bank o Korea), com o carimbo falsificado contendo as seguintes informaes: nome da empresa:

  • R.T.J. 218 29

    Hanyang Shower Door; Cadastro Nacional de Pessoa Jurdica No: 214 0148823; Presidente: Jung Byung Woong; endereo: 304, Boeun Bldg., 2164, Nonhyundong, Kangnam gu, Seoul; atividade: fabricao e vendas por atacado de materiais de construo e para banheiro; alm de um carimbo redondo com o nome do Presidente da Hanyang Shower.

    utilizao de ttulos falsificadosO acusado apresentou, em data indeterminada, as duas notas promissrias

    acima a um funcionrio da Agncia Namgajoa Dong do Jeil Bank, cujo nome no se sabe, que no estava ciente do caso, e obteve desconto das notas como se fossem notas promissrias preenchidas legalmente.

    FraudeO acusado, mesmo sem inteno nem capacidade financeira para pagar as

    notas promissrias dentro do prazo, enganou o funcionrio do banco acima, em data e local mencionados no pargrafo acima, apresentando tais notas promissrias da maneira mencionada acima, como se fosse pagar normalmente os seus valores no prazo estipulado, recebendo do funcionrio do banco, de forma fraudulenta, um total de 63.000.000 Wons.(Fls. 103105.)

    3.7 Violao das Leis Trabalhistas (Caso n. 68212 de 2000, da promotoria pblica do Distrito de Suwon)

    3.7.1.1 Em17 de junho de 2000, Jeon Chang Jae, Kim Hye J, Hong Sook Eui e mais 6 pessoas entraram com petio (pedido de indulto) junto ao Escritrio de Assuntos Trabalhistas do Distrito de Suwon, alegando no terem recebido salrios e indenizaes de aposentadoria. Osrequerentes relataram o que segue abaixo:

    Seo Jin Ha, o requerido, o Presidente da Woojoo Ceramics Co., Ltd., e os requerentes foram seus funcionrios.

    Os requerentes declaram que no recebem os salrios e indenizaes de aposentadoria referentes ao perodo em que trabalharam para a Woojoo Ceramics Co., Ltd.(Fls. 6465.)

    A priso preventiva para extradio do nacional coreano foi decretada no dia 892008 (fl. 110) e efetivada em 1092008 (fl. 131v.), estando o extraditando recolhido no Presdio de Ita, no Estado de So Paulo.

    Interrogado (fls. 167170), o extraditando afirmou que no sabe os motivos pelos quais responde a tantas acusaes do Ministrio Pblico da Coreia e que os fatos supostamente ocorridos aps o final de 1999 no podem ser imputados a ele, pois j teria se mudado para o Brasil.

    Declarou ainda que nunca foi preso nem processado na Coreia, mas foi preso em flagrante no Brasil por dirigir um carro roubado (fl. 169).

    A defesa (fls. 172174) alega, em sntese, nulidade do processo de extradio, que no estaria em conformidade com a Lei 6.815/1980 (Estatuto do Estrangeiro) e com o Tratado de Extradio celebrado entre a Repblica Federativa do Brasil e a Repblica da Coreia. Alega tambm a consumao da prescrio e nega a autoria dos crimes imputados ao extraditando, alm de sustentar que o nacional coreano possui uma filha brasileira menor de idade, conforme cpia da certido de nascimento acostada fl. 178.

  • R.T.J. 21830

    O Ministrio Pblico Federal, no parecer de fls. 188194, manifestou se pelo deferimento parcial do pedido de extradio, que dever fundamentar se apenas nas imputaes relacionadas aos crimes de falsificao de ttulos, uso indevido de ttulos falsificados e fraude.

    o relatrio.

    VOTO

    O Sr. Ministro Joaquim Barbosa (Relator): Senhor Presidente, o pedido funda se em Tratado de Extradio existente entre o Governo da Repblica da Coreia e o Brasil, nos termos do art.76 da Lei 6.815/1980, e rene as condies de admissibilidade exigidas por este diploma legal.

    O Estado requerente possui competncia jurisdicional para processar e julgar os crimes imputados ao extraditando, pois os crimes ocorreram no territrio coreano e o extraditando nacional do Estado requerente. Atendido, pois, o que dispem os arts.77, I, e 78, I, ambos do Estatuto do Estrangeiro.

    Consta dos autos a formalizao, pela via diplomtica, do pedido de extradio, acompanhada de mandado de priso (fls. 102105), decretada no dia 2852008 pelo Juzo da Comarca de Bucheon, da Corte de Justia de Incheon, em decorrncia da suposta prtica dos crimes de fraude, falsificao de ttulos, uso indevido de ttulos falsificados, furto, apropriao indbita e violao legislao trabalhista, contendo ainda indicaes suficientes sobre a identidade do extraditando (fls. 5354), local, natureza e circunstncias dos fatos delituosos (fls. 5474 e 103105).

    O pedido fez se acompanhar tambm dos dispositivos legais do direito coreano referentes aos crimes, s penas e aos prazos prescricionais (fls. 7580), tudo devidamente vertido para o portugus, permitindo a esta Corte a correta compreenso quanto legalidade da pretenso.

    O Ministrio das Relaes Exteriores remeteu o pedido de extradio ao Ministrio da Justia (fl. 3), que requereu a priso do extraditando (fl. 2).

    Assim, entendo estarem devidamente supridos os requisitos estabelecidos pelos arts.80, 81 e 82 da Lei 6.815/1980.

    H que se mencionar, ainda, que o encaminhamento do pedido de extradio foi efetuado por via diplomtica, fato este que confere autenticidade aos documentos apresentados, conforme dispe o art.80, 1, do Estatuto do Estrangeiro.

    O pedido formulado pelo Governo da Coreia abrange, em sntese, os delitos de fraude, falsificao de ttulos, furto, apropriao indbita e violao legislao trabalhista.

    Da leitura da descrio das condutas ilcitas imputadas ao extraditando (fls. 5474 e 103105), verifico que os delitos no possuem conotao poltica ou militar, afastando se, portanto, a vedao extradio prevista no art.3 do tratado bilateral de extradio e no art.77, VII, da Lei 6.815/1980.

  • R.T.J. 218 31

    Superada a anlise dos pressupostos de extraditabilidade, passo a analisar a matria de defesa apresentada pelo extraditando.

    No merece acolhimento a alegao de nulidade do processo de extradio, pois, conforme analisado nesse voto, o feito encontra se regular e foi desenvolvido em conformidade com os preceitos da Lei 6.815/1980 e do Tratado Bilateral de Extradio.

    Tambm no merece acolhimento a alegao de que o extraditando no o autor dos delitos a ele imputados. Hindcios de autoria e de materialidade suficientemente relatados no mandado de priso (fls. 102105), que alude a provas testemunhais e documentais do suposto envolvimento do extraditando nos fatos que lhe so imputados (fls. 5474).

    Ademais, a constatao inequvoca da autoria dos delitos matria estranha a este feito, pois se refere questo jurdico penal que deve ser enfrentada pela jurisdio estrangeira.

    pacfico o entendimento do Supremo Tribunal Federal no sentido de que no cabe, em processo de extradio, o exame do mrito da pretenso penal deduzida em juzo no pas solicitante. Nesse sentido, confira se o seguinte precedente:

    Ementa: Extradio instrutria. Acusao de crime de homicdio em ocasio de roubo. Alegaes de defesa no sentido de que o extraditando quis praticar delito menos grave. Existncia de filhos nascidos no Brasil.

    No dado ao Supremo Tribunal Federal entrar no mrito da questo para, valorando as provas atinentes ao elemento subjetivo do tipo, concluir pela real inteno do agente quando da prtica do crime. Tal conduta, absolutamente incompatvel com o juzo de cognoscibilidade estrita que rege as aes extradicionais (1 do art.85 da Lei 6.815/1980), atenta contra a prpria soberania do Estado requerente, pois permite que um pas reavalie fatos ocorridos no estrangeiro, em ordem a reformar a prpria acusao ali apresentada. Precedentes (Ext 853, 866, 897, 936 e 947).

    A circunstncia de o extraditando possuir filho brasileiro no impede a entrega extradicional, nos termos de enunciado sumular desta Suprema Corte (Smula 421/STF). Enunciado, este, cuja compatibilidade com a Constituio Federal de 1988 foi reafirmada pelo Plenrio do Supremo Tribunal Federal (Ext 839, Rel. Min. Celso de Mello).

    Pedido deferido.(Ext 972, Rel. Min. Carlos Britto, DJde 11112005.)

    Igualmente, adianto que as alegaes de ocorrncia de prescrio no merecem prosperar, conforme as razes fticas e jurdicas que demonstrarei detalhadamente ao analisar o requisito da dupla possibilidade de punio.

    No tocante ao argumento de que o extraditando no poderia ser extraditado em decorrncia do fato de possuir uma filha brasileira (conforme cpia da certido de nascimento, fl. 178) vale ressaltar que tal circunstncia no elide o deferimento do pedido, conforme entendimento sumulado por esta Corte, o qual destaco:

  • R.T.J. 21832

    Smula 421. No impede a extradio a circunstncia de ser o extraditando casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

    Ultrapassada a anlise das teses defensivas, passo verificao dos delitos imputados ao extraditando, principalmente sob a tica do princpio da dupla tipicidade.

    No tocante aos delitos de falsificao de ttulos, uso indevido de ttulos falsificados e fraude, entendo que estes correspondem ao crime de estelionato, previsto no art.171, caput, do Cdigo Penal Brasileiro.

    Extrai se da descrio das condutas tpicas praticadas pelo extraditando (fls. 5458 e 103105), conforme narrei de forma sinttica no relatrio, que o seu objetivo nico era a obteno de vantagem indevida em prejuzo alheio. Dessa forma, consoante reiterado entendimento desta Corte, quando os crimes de falso e de utilizao de documento falso constituem meramente um meio, um artifcio para a obteno da vantagem indevida, se exaurindo no estelionato, por este absorvido.

    Em relao fraude, induvidoso que esta um elemento essencial do estelionato, no podendo ser compreendida, no caso, como um tipo penal autnomo.

    Assim, entendo que as imputaes de falsificao de ttulos, uso indevido de ttulos falsificados e fraude encontram correspondncia no ordenamento jurdico ptrio com o delito de estelionato (art.171, caput, Cp).

    J em relao imputao do delito de apropriao indbita, consubstanciada no fato de o extraditando ter alienado 20 mquinas de sua propriedade, instaladas em sua empresa (Woojoo Ceramic Co., Ltd.), no obstante as mesmas serem objeto de hipoteca, entendo que tal fato no corresponde ao crime de apropriao indbita previsto no art.168 do Cdigo Penal Brasileiro.

    A conduta tpica prevista no nosso ordenamento jurdico apropriarse o agente de coisa alheia, dispondo dela como se proprietrio fosse. Considerando que o oferecimento de bens em garantia no confere ao credor a propriedade dos mesmos, no h que se falar em disposio de coisa alheia, haja vista que os bens eram de propriedade do extraditando.

    Tambm no h que se falar em correspondncia com o delito de alienao ou onerao fraudulenta de coisa prpria, previsto no art. 171, 2, II, do Cdigo Penal. Nesse sentido, destaco o seguinte trecho do parecer do Ministrio Pblico Federal:

    De maneira similar, considerando que a polcia sul coreana sequer conseguiu identificar os compradores das mquinas hipotecadas (fl. 63), no se configura o delito de alienao ou onerao fraudulenta de coisa prpria, no qual elementar do crime o fato de o sujeito ativo silenciar a respeito da garantia real como meio de ludibriar os demais, auferindo vantagem indevida (art.171, 2, III, CPB).(Fl. 193.)

    No entanto, entendo que a dita hipoteca na verdade se refere, no nosso ordenamento jurdico, ao instituto do penhor industrial, previsto nos arts.1.447

  • R.T.J. 218 33

    a 1.450 do Cdigo Civil. Emtal forma especial de penhor, as mquinas, aparelhos, materiais e instrumentos instalados e em funcionamento nas indstrias, quando empenhados, continuam em poder do devedor, conforme preconiza o pargrafo nico do art.1.431 do Cdigo Civil.

    Diante desse entendimento, possvel concluir que a imputao feita, nesse ponto, encontra equivalente no tipo penal denominado defraudao de penhor, previsto no art.171, 2, III, do Cdigo Penal brasileiro. Tal delito um tipo especial de estelionato e consiste na defraudao, mediante alienao no consentida pelo credor, da garantia pignoratcia, quando tem a posse do objeto empenhado.

    Dessa forma, entendo que a imputao de apropriao indbita encontra, no ordenamento jurdico ptrio, figura tpica equivalente ao delito de defraudao de penhor (art.171, 2, III, Cp).

    Quanto imputao do delito de furto (fl. 104), os fatos foram assim narrados:

    Em 21 de abril de 2000, o acusado entrou na empresa da vtima, Park Yong Pil, enquanto no havia ningum, e furtou 8 moldes que somam o valor de 25.000.000 Wons.

    Dessa forma, no restam dvidas de que tais fatos encontram tipificao penal no nosso ordenamento no art.155 do Cdigo penal.

    J em relao ao delito de violao das leis trabalhistas, caracterizado pelo fato de os funcionrios da empresa WooJoo Ceramics (de propriedade do extraditando) no terem recebido salrios e indenizaes de aposentadoria referentes ao perodo em que trabalharam na aludida empresa (fls. 6465), no verifico a presena do requisito da dupla tipicidade, fato este que configura a hiptese de vedao de extradio prevista no art.77, II, da Lei 6.815/1980.

    Nesse sentido, ressaltou o Ministrio Pblico Federal que a mera conduta de no pagar salrios de empregados no encontra correspondente no Cdigo Penal brasileiro, estando a responsabilidade adstrita seara trabalhista (fl. 193).

    Portanto, indefiro, desde j, o pedido de extradio quanto ao pedido referente ao crime de violao de leis trabalhistas.

    Feitas estas consideraes, entendo estar satisfeito o requisito da dupla tipicidade apenas em relao s imputaes dos seguintes crimes: a) fraude, falsificao de ttulos e uso de ttulos falsificados, equivalentes ao crime de estelionato (art.171, caput, do Cp); b) apropriao indbita, correspondente ao crime de defraudao de penhor (art.171, 2, III, Cp); e c) furto, equivalente ao crime de igual denominao (previsto no art.155 do Cdigo penal).

    Prosseguindo, passo anlise da eventual ocorrncia de prescrio da pretenso punitiva dos crimes imputados.

    Nos termos da legislao penal sul coreana, a pena mxima prevista para os delitos de falsificao de ttulos, uso indevido de ttulos falsificados e fraude de dez anos de deteno (fl. 75). Para o delito de furto, a pena mxima de seis anos de deteno (fl. 75), e para a apropriao indbita de cinco anos (fl. 76).

  • R.T.J. 21834

    Extrai se ainda da legislao coreana que o prazo prescricional de cinco para os delitos cujas penas mximas forem superiores a cinco anos e no excederam a dez anos de deteno (fl. 77).

    Importante ressaltar que o prprio Estado requerente informou que o processo criminal naquele pas somente instaurado aps a captura do criminoso, donde se conclui que no houve oferecimento de denncia e, portanto, no houve interrupo da contagem do prazo prescricional por este motivo.

    No entanto, o prazo prescricional interrompido durante todo o perodo em que o acusado estiver foragido, conforme determina o art.253 do Cdigo de Processo Criminal Sul Coreano (fl. 78). Dessa forma, consoante a legislao do Estado requerente, os delitos imputados no esto prescritos.

    J em conformidade com a legislao penal brasileira, os delitos equivalentes aos imputados possuem penas mximas de cinco anos (estelionato art.171, caput, e defraudao de penhor art. 171, 2, inciso III), e de quatro anos (furto art.155, CP). Consequentemente, os prazos prescricionais so de doze e oito anos, respectivamente.

    Assim, considerando que o suposto delito de furto ocorreu em abril do ano 2000, concluo que a prescrio se consumou no ms de abril de 2008, fato este que impede a extradio com base nessa imputao, conforme determina o art.77, inciso VI, do Estatuto do Estrangeiro, e art.3, alnead, do Tratado de Extradio.

    Indefiro, portanto, o pedido de extradio, quanto ao pedido referente ao crime de furto.

    Quanto aos delitos de estelionato e defraudao de penhor, cujas prescries ocorrem em doze anos, concluo que as mesmas somente sero consumadas aps o ano de 2011, uma vez que os delitos foram praticados a partir do ano de 1999 (fls. 103105).

    Assim, o requisito da dupla possibilidade de punio somente se verifica nas imputaes de falsificao de ttulos, uso indevido de ttulos falsificados, fraude e apropriao indbita, correspondentes no ordenamento ptrio aos crimes de estelionato e defraudao de penhor.

    Por fim, tendo em vista as informaes no sentido de que o extraditando foi preso no Brasil por dirigir um carro roubado (fls. 5354 e 169) e, respeitando o disposto no Estatuto do Estrangeiro em seu art.89, a extradio s ser executada aps a concluso do eventual processo proposto contra o extraditando ou o cumprimento da pena ali aplicada, cabendo ao Excelentssimo Senhor Presidente da Repblica disposio em contrrio, com base no art. 67 da Lei 6.815/1980 (convenincia ao interesse nacional).

    Do exposto, defiro parcialmente o pedido de extradio de Seo Jin Ha ou Jin Ha Seo, relativamente s imputaes dos delitos de falsificao de ttulos, utilizao indevida de ttulos falsificados, fraude e apro

  • R.T.J. 218 35

    priao indbita, equivalentes aos crimes de estelionato e defraudao de penhor (art.171, caput, e 2, inciso III, do Cdigo penal brasileiro).

    Ressalvo que dever ser efetuada a detrao do tempo de priso ao qual o extraditando foi submetido no Brasil por fora deste pedido de extradio.

    Saliento, ainda, que por fora do art. 89 do Estatuto do Estrangeiro, a extradio somente ser executada aps a concluso do eventual processo a que responde o extraditando no Brasil, ou o cumprimento da pena eventualmente aplicada, com a ressalva do disposto no art.67 da Lei 6.815/1980.

    como voto.

    VOTO

    O Sr. Ministro Marco Aurlio: Presidente, na quase totalidade, o voto do Relator coincide com a manifestao do Ministrio Pblico. Quanto a essa coincidncia, subscrevo o. No entanto, peo vnia a Sua Excelncia para divergir relativamente confuso, a meu ver imprpria, de institutos.

    Devemos distinguir a fraude ao penhor da fraude hipoteca. OCdigo Civil d tratamento diverso aos institutos. Notocante hipoteca a espcie no envolve penhor, o art.1.475 preceitua ser at mesmo nula a clusula que probe ao proprietrio alienar imvel hipotecado. possvel a alienao deste, com as consequncias no de natureza penal, mas civil, previstas na legislao brasileira.

    Ora, o inciso III do 2 do art.171 do Cdigo Penal, ao revelar tipo ato de quem defrauda, mediante alienao no consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratcia, quando tem a posse do objeto empenhado, somente pode ser interpretado de forma estrita e, mesmo assim, sob o ngulo da interpretao sistemtica, considerando se a possibilidade de o proprietrio, que continua proprietrio do bem, embora hipotecado, ter autorizao cvel quanto venda.

    Por isso, creio que assiste maior razo manifestao da SubprocuradoraGeral da Repblica e houve a aprovao do Procurador Geral da Repblica Doutora Cludia Sampaio Marques, ao consignar que, no caso, no existe a dupla incriminao.

    Em sntese, no dado confundir institutos diversos: o do penhor e, no tocante a este, sim, h a incidncia do incisoIII do 2 do art.171 (estelionato) com o da hipoteca, quando, repito, a ordem jurdica ptria veda at mesmo a insero, no ajuste, de clusula proibitiva da alienao, cominando a nulidade, colando a pecha de nulidade clusula.

    Presidente, excluo a possibilidade de o extraditando vir a sofrer, na Coreia, a persecuo criminal pelo crime que, segundo a legislao coreana, seria de fraude hipoteca, por no haver similar na legislao brasileira. Seo extraditando fosse brasileiro e tivesse de sofrer persecuo criminal, isso no ocorreria em virtude do que a legislao da Coreia aponta como fraude hipoteca.

    como voto.

  • R.T.J. 21836

    EXTRATO DA ATA

    Ext 1.143/Repblica da Coreia Relator: Ministro Joaquim Barbosa. Requerente: Governo da Repblica da Coreia. Extraditando: Jin Ha Seo ou Seo Jin Ha (Advogado: Jos Marques da Silva).

    Deciso: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, deferiu parcialmente o pedido de extradio, vencido o Ministro Marco Aurlio, que a deferia em menor extenso. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello, Ellen Gracie, Eros Grau e, licenciado, o Ministro Menezes Direito. Presidiu o julgamento o Ministro Gilmar Mendes.

    Presidncia do Ministro Gilmar Mendes. Presentes sesso os Ministros Marco Aurlio, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski e Crmen Lcia. Procuradora Geral da Repblica Interina, Dra. Dborah Macedo Duprat de Britto Pereira.

    Braslia, 1 de julho de 2009 Luiz Tomimatsu, Secretrio.

  • R.T.J. 218 37

    EmBARGoS DE DECLARAo No INQuRITo 1.645 Sp

    Relator: O Sr. Ministro Luiz Fux

    Embargante: Celso Ubirajara Russomanno Embargado: Ministrio Pblico Federal

    penal. Embargos de declarao. Deciso que recebeu denncia contra deputado pela prtica do crime de uso de declarao falsa de domiclio eleitoral (art. 350, CE). Ausncia de omisso.

    1. o acrdo embargado apreciou a matria objeto dos declaratrios mediante debates que foram incorporados expressamente ao voto do Relator.

    2. In casu, foi reconhecida pelo plenrio a natureza de documento pblico do requerimento de alistamento eleitoral, com o consequente afastamento da alegada prescrio da pretenso punitiva, da a impossibilidade de rediscusso da matria.

    3. A competncia do Supremo cessa ante o exaurimento do mandato de parlamentar federal do investigado, mas o julgamento dos embargos declaratrios contra o acrdo do Tribunal pleno mediante o qual recebida a denncia compete a esta Corte.

    4. Embargos de declarao rejeitados.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sesso plenria, sob a Presidncia do Ministro Cezar Peluso, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrficas, por maioria e nos termos do voto do Relator, em rejeitar os embargos de declarao.

    Braslia, 19 de maio de 2011 Luiz Fux, Relator.

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata se de embargos de declarao opostos contra acrdo proferido pelo Tribunal Pleno do Supremo que recebeu denncia oferecida contra o ento Deputado Federal Celso Ubirajara Russomano, por suposto crime eleitoral de falsa declarao de domiclio eleitoral (CE, art. 350), ementado nos seguintes termos (fl. 381):

    Inqurito. Conduta que configura, em tese, crime de falsa declarao de domiclio eleitoral (CE, art. 350).

    Declarao falsa firmada pelo proprietrio do imvel visando comprovar que o indiciado, candidato ao cargo de prefeito municipal, tinha domiclio eleitoral na cidade de Santo Andr/SP. Conduta configuradora, em tese, do delito tipificado no art. 350 do Cdigo Eleitoral.

    Denncia recebida.

  • R.T.J. 21838

    O embargante sustenta (fls. 384/392) que houve omisso no acrdo recorrido porque no se discutiu e nem foi votada a questo de ordem levada pelo Ministro Relator sobre a prescrio do crime que lhe foi imputado. Pede o reconhecimento da prescrio da pretenso punitiva do Estado, pois o documento apresentado para a prtica do suposto crime de natureza privada e, por isso, sendo a pena mxima de trs anos, j se teriam passado mais de oito anos entre a data do fato e o recebimento da denncia o que acarretaria a extino da punibilidade.

    O embargante trouxe aos autos parecer da lavra do eminente Professor Luis Regis Prado (fls. 394/410) no sentido de que o documento de declarao de domiclio eleitoral tem natureza privada.

    Em resposta aos embargos, o Ministrio Pblico Federal aduz que, como decidido no acrdo recorrido, o formulrio de requerimento de alistamento eleitoral (ERA) documento pblico, nos termos do art. 43 do CE e que, em razo disso, o prazo prescricional aplicado espcie o de doze anos, luz do art. 109, III, do Cdigo Penal, o que afasta a alegao de prescrio da pretenso punitiva.

    o relatrio.

    VOTO

    Penal. Embargos de declarao. Deciso que recebeu denncia contra deputado pela prtica do crime de uso de declarao falsa de domiclio eleitoral (art. 350, CE). Ausncia de omisso.

    1. O acrdo embargado apreciou a matria objeto dos declaratrios mediante debates que foram incorporados expressamente ao voto do Relator.

    2. In casu, foi reconhecida pelo Plenrio a natureza de documento pblico do requerimento de alistamento eleitoral, com o consequente afastamento da alegada prescrio da pretenso punitiva, da a impossibilidade de rediscusso da matria.

    3. A competncia do Supremo cessa ante o exaurimento do mandato de parlamentar federal do investigado, mas o julgamento dos embargos declaratrios contra o acrdo do Tribunal Pleno mediante o qual recebida a denncia compete a esta Corte.

    4. Embargos de declarao rejeitados.

    O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): De incio, deve ser dito que o embargante, poca dos fatos, deputado federal, no foi reeleito. Assim, a presente ao penal considerando que a denncia foi recebida em 562008 (fl. 381) deve ser remetida para o Juzo de origem, nos termos dos precedentes do Supremo.

    Ementa: 1. Agravo regimental em inqurito. 2. Recurso interposto contra deciso monocrtica que, em face da perda do mandato de deputado federal, reconheceu a incompetncia superveniente do STF para processar e julgar o investigado nos termos do art. 102 da CF, determinando a baixa dos autos ao Juzo da

  • R.T.J. 218 39

    2 Vara Federal de Mato Grosso. 3. O agravante sustenta que os atos investigados neste inqurito teriam ocorrido no Distrito Federal, o que atrairia a competncia para esta Seo Judiciria. 4. Com a perda do mandato eletivo pelo investigado, querelado ou denunciado, cessa a competncia penal originria do STF para apreciar e julgar autoridades dotadas de prerrogativa de foro ou de funo. Precedentes do STF. 5. Considerada a perda do mandato do deputado federal investigado, nos termos do art. 76, inciso III, do CPP, o juzo competente para apreciar a matria , em princpio, o da 2 Vara da Seo Judiciria de Mato Grosso, sem prejuzo de entendimento diverso daquele juzo, a quem caber decidir a respeito, com sujeio aos recursos cabveis. 6. Agravo regimental desprovido.(Inq 2.415AgR/MT, Min. Gilmar Mendes Tribunal Pleno.)

    Por outro lado, os embargos de declarao prorrogam a competncia da Corte porque estende o julgamento at o clareamento dos eventuais pontos obscuros, omissos ou contraditrios do acrdo recorrido.

    Todavia, no caso que ora se examina, no h qualquer defeito no acrdo a permitir o cabimento do presente recurso de embargos de declarao.

    Com efeito, o embargante alega que a questo de ordem suscitada pelo Ministro Relator, qual seja: saber se o documento apresentado para comprovao do domiclio eleitoral de natureza pblica ou privada, no foi apreciada quando do recebimento da denncia.

    Ocorre que, nas discusses que fundamentaram o voto do Relator que retificou o seu voto anterior no sentido da rejeio da denncia , foi expressamente trazida a questo da natureza do documento apresentado pelo embargante quando da sua declarao de domiclio eleitoral.

    No aditamento ao voto, o Ministro Relator assim colocou a questo:

    Houve uma declarao feita pelo denunciado e o que se discute se h, a, um documento pblico falsidade de documento pblico , o que conduziria a uma aplicao de pena de cinco anos e a prescrio, ento, dar se ia num prazo maior, ou, se caso contrrio, h de se entender que aqui o crime menor e, portanto, a prescrio teria ocorrido.(Fl. 372.)

    Logo, diante da colocao do Ministro Relator, o Tribunal Pleno discutiu justamente a questo ora objeto de embargos, conforme se extrai das seguintes passagens:

    o Sr. ministro menezes Direito: O que est na denncia do Ministrio Pblico que o prprio indiciado requereu e indicou a residncia falsa. o que consta do parecer da Procuradoria. No foi um terceiro. Quem apresentou a declarao falsa e preencheu foi o prprio indiciado. Da que no cabe.

    o Sr. ministro Cezar peluso (presidente): E mais, se eventualmente o locador tivesse faltado com a verdade, ele cometeria o crime de falso em documento particular, mas sem excluir a configurao, pelo menos em tese, do crime do candidato.

    (...)

  • R.T.J. 21840

    o Sr. ministro Cezar peluso (presidente): Ministro, s um esclarecimento. No havia um requerimento de transferncia? Ele no subscreveu esse documento?

    o Sr. ministro Eros Grau (Relator): Ele subscreveu.o Sr. ministro Cezar peluso (presidente): Nesse documento consta que ele

    morava em Santo Andr?o Sr. ministro marco Aurlio: Ele indicou que morava em Santo Andr e

    juntou o contrato de locao.o Sr. ministro Eros Grau (Relator): Como qualificado e juntou a declara

    o que no dele.o Sr. ministro Carlos Brito: At porque o domiclio eleitoral na circunscri

    o condio de elegibilidade; est na Constituio.o Sr. ministro marco Aurlio: Ministro, admito que o Ministrio Pblico,

    at mesmo, no consiga comprovar o falso, mas estamos numa fase embrionria, a do recebimento da denncia. Os fatos narrados na pea primeira da ao penal configuram crime com esse indcio, que foi o indeferimento da transferncia do ttulo pela Justia Eleitoral. Indcio, por enquanto.(Fls. 373/378.)

    Ora, pelo que se percebe, o Pleno, acolhendo in totum os argumentos do Ministrio Pblico, rejeitou a preliminar de prescrio suscitada pela defesa e recebeu a denncia contra o embargante por cometimento, em tese, do crime previsto no art. 350 do CE, uma vez que nos termos da fundamentao da Corte foi por ele apresentada declarao falsa de residncia para fins de se candidatar a Prefeito do Municpio de Santo Andr/SP.

    Nesta linha, o embargante tenta, pela via imprpria, rediscutir tema que j foi objeto de anlise quando da apreciao da matria defensiva no momento do recebimento da denncia pelo Tribunal Pleno. O Supremo j se manifestou no sentido da impossibilidade de se rediscutir, nos embargos de declarao, matria que foi objeto de apreciao no julgamento:

    Embargos de declarao. Rediscusso dos fundamentos do acrdo. Inadmissibilidade. Recurso de carter protelatrio. Cumprimento da deciso do STF independentemente de publicao do acrdo. Embargos rejeitados. 1. Os embargos de declarao so cabveis para devolver ao rgo jurisdicional a oportunidade de pronunciar se no sentido de aclarar julgamento obscuro, completar deciso omissa ou dirimir contradio presente no julgado. 2. Consoante j decidiu essa Suprema Corte, no se admite, na via estreita dos declaratrios, a rediscusso de pretenso j repelida (HC 86.656ED/PE, Rel. Min. Carlos Britto, DJ de 1332009). 3. Considero que a utilizao indevida das espcies recursais, consubstanciada na interposio de inmeros recursos contrrios jurisprudncia como mero expediente protelatrio, desvirtua o prprio postulado constitucional da ampla defesa. Nesse sentido: AO 1.046ED/RR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Plenrio, unnime, DJE de 2222008. 4. Parece me claro que, no presente feito, o ora embargante tenta, a todo custo, protelar a baixa dos autos, o que representar o incio do dever de cumprimento da pena que lhe foi imposta. 5. A interposio de embargos de declarao com finalidade meramente protelatria autoriza o imediato cumprimento da deciso emanada pelo Supremo Tribunal Federal, indepen

  • R.T.J. 218 41

    dentemente da publicao do acrdo (RMS 23.841 AgREDED/DF, Rel. Min. Eros Grau, DJ de 1622007). 6. Embargos rejeitados.(AI 776.875AgREDEDED/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma.)

    No h, pois, defeito na deciso embargada a permitir o provimento destes embargos.

    Ante o exposto, rejeito os embargos de declarao, determinando a baixa imediata dos autos ao Juiz competente.

    VOTO

    O Sr. Ministro Dias Toffoli: Senhor Presidente, eu tenho voto divergente, com a devida vnia do eminente Relator.

    O denunciado, com o objetivo de candidatar se ao cargo de prefeito municipal de Santo Andr, requereu, em 2491999, perante o juiz eleitoral da 262 Zona de Santo Andr, a transferncia do seu ttulo eleitoral para aquela municipalidade.

    Para dar cumprimento ao disposto no art. 55, III, da Lei 4.737/1965, o Cdigo Eleitoral, o acusado, em 1461999, alugou, para fins residenciais e pelo perodo de trinta meses, um apartamento localizado na rua tal. Porm, o denunciado no chegou a residir no referido imvel, como concluiu o juiz eleitoral ao julgar procedente a impugnao da transferncia do ttulo eleitoral.

    Assim agindo, o denunciado inseriu declarao falsa no requerimento de transferncia do domiclio eleitoral que dirigiu Justia Eleitoral, afrontando o art. 350 da Lei 4.737/1965 (Cdigo Eleitoral).

    No caso, o documento, a meu ver, tem carter nitidamente particular, pois a Lei 6.996/1982 diz que, ao pedido de transferncia de domiclio eleitoral, basta uma declarao de prprio punho firmada pelo interessado.

    O que diz o dispositivo, inciso III do art. 8 da referida Lei:

    Art. 8 A transferncia do eleitor s ser admitida se satisfeitas as seguintes exigncias: (...)

    III residncia mnima de 3 (trs) meses no novo domiclio, declarada, sob as penas da lei, pelo prprio eleitor.

    Alis, a prpria jurisprudncia do Tribunal Superior Eleitoral reconhece o carter particular do documento:

    Crime eleitoral. CE, art. 350, c/c arts. 71, caput, 29, caput, e 62, I, do Cdigo Penal. Declarao falsa para fins eleitorais. Com o advento da Lei 6.996, de 761982, exige se, para instruir pedido de transferncia de domiclio eleitoral apenas declarao de prprio punho firmada pelo interessado, sob as penas do art. 350 do CE. Tal documento, ainda que firmado perante a autoridade policial, com base em declaraes testemunhais, no se descaracteriza como particular, no estando sujeito, assim, a qualquer verificao. Recurso especial conhecido e desprovido.(RESP 8.117, Rel. Min. Sydney Sanches.)

  • R.T.J. 21842

    E exatamente o caso dos autos. A meu ver, o fato disso estar em um formulrio da Justia Eleitoral no transmuda esse documento de particular para pblico. Ele no produzido por servidor pblico, uma declarao do interessado. Considerando a natureza particular da declarao em questo, a prescrio regularse pela pena mxima in abstrato prescrita para o tipo. Qual seja? Trs anos.

    Sobre a prescrio, o Relator agitou a questo preliminarmente em seu voto. No h dvida sobre isso, realmente foi debatido.

    Ainda dos debates, possvel aferir que o indiciado teria juntado uma declarao preenchida por ele prprio. Assim, ao que tudo indica o parecer da Procuradoria Geral da Repblica pela rejeio dos embargos , afirmar que o documento pblico no condiz com a realidade ftica dos autos.

    Entendo que os embargos merecem ser acolhidos para ser analisada a prescrio. Considerando a natureza particular do documento em questo, a prescrio regular se pela pena mxima abstratamente cominada para o crime de falsidade ideolgica de um documento eleitoral particular, que de trs anos.

    A meu ver, operou se a prescrio retroativa da pretenso punitiva estatal entre a data do fato e a do recebimento da denncia.

    Assim votei no voto vista do Inq 1.990, Relatora a Ministra Crmen Lcia. J votei desta mesma maneira em relao a documento relativo prestao de contas eleitorais de uma dada campanha ao governo do Estado, salvo engano: Inq 1.990, de Rondnia.

    Estaria prescrito, a meu ver, porque, entre a data do fato (2441999) e a data do recebimento da denncia (julgada em 562008 e publicada em 592008), em conformidade com a regra do art. 109, inciso IV, do Cdigo Penal, verifico j haver decorrido lapso temporal superior a oito anos, pelo que o caso de reconhecimento, nos termos do inciso IV do art. 107 do Cdigo Penal, da ocorrncia da extino da punibilidade de Celso Ubirajara Russomano pela imputao que lhe foi feita nestes autos, em vista da consumao da prescrio.

    como voto, Senhor Presidente.

    Acolho os embargos para aplicar a extino da punibilidade em razo da prescrio.

    DEBATE

    O Sr. Ministro Marco Aurlio: Presidente, agora s h uma dificuldade maior: que os embargos vieram considerada a omisso, e o Plenrio enfrentou essa matria, quando do julgamento anterior, e a afastou, afastou essa causa de defesa.

    O Sr. Ministro Cezar Peluso (Presidente): Eu vou ouvir o eminente Relator.

    O Sr. Ministro Dias Toffoli: Mas eu acolho os embargos, com efeitos infringentes, para decretar a extino da punibilidade.

  • R.T.J. 218 43

    O Sr. Ministro Marco Aurlio: , mas no h omisso, porque ocorreu o julgamento. No podemos reabrir o julgamento do tema.

    O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Senhor Presidente, eu no tinha a honra, na poca, de integrar a Corte, mas o Pleno recebeu a denncia.

    No meu modo de ver, enfrentou essas questes, e, agora, paradoxalmente, o embargante perdeu a prerrogativa de foro. Ento, isso implicaria o acolhimento de uma deciso de embargos de declarao para esclarecer uma deciso do Pleno e remeter para o juiz apreciar eventualmente essa prescrio, dando se uma nova tipificao ao delito.

    O que me pareceu tambm um pouco irritual foi pretender se, em embargos de declarao, corrigir um erro in judicando, qual seja, se, eventualmente, a Suprema Corte caracterizou diferentemente o fato tpico, efetivamente no por meio de embargos de declarao que se consegue reparar uma eventual concluso incorreta da Corte.

    Ento, sob esse ngulo formal, no caberiam os embargos de declarao. Mas, mesmo assim, admiti para analisar e verifiquei que realmente o Pleno enfrentou todas as questes, tanto que o Ministro Toffoli est aqui reafirmando que, j na oportunidade, votara diferente.

    VOTO

    O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhor Presidente, vou pedir vnia ao Ministro Toffoli. Tendo em conta exatamente que a matria foi examinada por esta Corte, ns temos que rejeitar os embargos, sob pena de reapreciar matria j discutida.

    VOTO

    O Sr. Ministro Ayres Britto: Senhor Presidente, eu tambm.

    O efeito infringente pretendido pelo embargante pressupe a omisso da discusso do tema, e ns j discutimos o tema e j deliberamos sobre ele. Portanto, acho que no est presente esse pressuposto da embargabilidade: a omisso do acrdo embargado.

    VOTO

    O Sr. Ministro Marco Aurlio: Presidente, no temos embargos infringentes, mas embargos declaratrios com o pleito de emprstimo de eficcia modificativa. Os institutos so diversos.

    Os embargos declaratrios no viabilizam, a no ser que haja omisso, contradio ou obscuridade, a reabertura da discusso quanto ao tema versado nas razes apresentadas.

  • R.T.J. 21844

    Houve a questo de ordem, o Tribunal assentou que o documento seria pblico, e no privado, e, com isso, afastou a prescrio. A matria foi apreciada.

    Peo vnia ao Ministro Dias Toffoli para desprover o recurso.

    EXTRATO DA ATA

    Inq 1.645ED/SP Relator: Ministro Luiz Fux. Embargante: Celso Ubirajara Russomanno (Advogados: Marcelo Leal de Lima e outros). Embargado: Ministrio Pblico Federal.

    Deciso: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, rejeitou os embargos de declarao, contra o vo