536
Revista Trimestral de Jurisprudência volume 205 – número 3 julho a setembro de 2008 páginas 1001 a 1536

Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

  • Upload
    lytuyen

  • View
    222

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Revista Trimestral de Jurisprudência

volume 205 – número 3julho a setembro de 2008

páginas 1001 a 1536

Page 2: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Diretoria-GeralAlcides Diniz da Silva

Secretaria de DocumentaçãoJaneth Aparecida Dias de Melo

Coordenadoria de Divulgação de JurisprudênciaNayse Hillesheim

Seção de Preparo de PublicaçõesLeide Maria Soares Corrêa Cesar

Seção de Padronização e RevisãoRochelle Quito

Seção de Distribuição de EdiçõesLeila Corrêa Rodrigues

Diagramação: Jorge Luis Villar Peres

Capa: Núcleo de Programação Visual

(Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Revista trimestral de jurisprudência / Supremo Tribunal Federal, Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência. – Ano 1, n. 1 (abr./jun. 1957)- . – Brasília: Imprensa Nacional, 1957-.

v. 205-3; 22 cm.

Três números a cada trimestre.

Editores: Editora Brasília Jurídica, 2002-2006; Supremo Tribunal Federal, 2007- .

ISSN 0035-0540

1. Direito - Jurisprudência - Brasil. I. Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF).

CDD 340.6

Solicita-se permuta. Pídese canje. On demande l’échange. Si richiede lo scambio. We ask for exchange. Wir bitten um Austausch.

STF/CDJU Anexo II, Cobertura Praça dos Três Poderes 70175-900 – Brasília-DF [email protected] Fone: (0xx61) 3217-4766

Page 3: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Ministro GILMAR Ferreira MENDES (20-6-2002), PresidenteMinistro Antonio CEZAR PELUSO (25-6-2003), Vice-PresidenteMinistro José CELSO DE MELLO Filho (17-8-1989)Ministro MARCO AURÉLIO Mendes de Farias Mello (13-6-1990)Ministra ELLEN GRACIE Northfleet (14-12-2000)Ministro CARLOS Augusto Ayres de Freitas BRITTO (25-6-2003)Ministro JOAQUIM Benedito BARBOSA Gomes (25-6-2003)Ministro EROS Roberto GRAU (30-6-2004)Ministro Enrique RICARDO LEWANDOWSKI (16-3-2006)Ministra CÁRMEN LÚCIA Antunes Rocha (21-6-2006)Ministro Carlos Alberto MENEZES DIREITO (5-9-2007)

COMPOSIÇÃO DAS TURMAS

PRIMEIRA TURMA

Ministro MARCO AURÉLIO Mendes de Farias Mello, PresidenteMinistro CARLOS Augusto Ayres de Freitas BRITTOMinistro Enrique RICARDO LEWANDOWSKIMinistra CÁRMEN LÚCIA Antunes RochaMinistro Carlos Alberto MENEZES DIREITO

SEGUNDA TURMA

Ministro José CELSO DE MELLO Filho, PresidenteMinistra ELLEN GRACIE NorthfleetMinistro Antonio CEZAR PELUSO Ministro JOAQUIM Benedito BARBOSA GomesMinistro EROS Roberto GRAU

PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

Doutor ANTONIO FERNANDO BARROS E SILVA DE SOUZA

Page 4: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou
Page 5: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

COMPOSIÇÃO DAS COMISSÕES

COMISSÃO DE REGIMENTO

Ministro MARCO AURÉLIOMinistra CÁRMEN LÚCIAMinistro CEZAR PELUSOMinistro MENEZES DIREITO – Suplente

COMISSÃO DE JURISPRUDÊNCIA

Ministra ELLEN GRACIEMinistro JOAQUIM BARBOSAMinistro RICARDO LEWANDOWSKI

COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO

Ministro CEZAR PELUSOMinistro CARLOS BRITTOMinistro EROS GRAU

COMISSÃO DE COORDENAÇÃO

Ministro CELSO DE MELLOMinistro EROS GRAUMinistro MENEZES DIREITO

Page 6: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou
Page 7: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

SUMÁRIO

Pág.

ACÓRDÃOS .................................................................................................. 1009ÍNDICE ALFABÉTICO .............................................................................. 1451ÍNDICE NUMÉRICO .................................................................................. 1531

Page 8: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou
Page 9: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ACÓRDÃOS

Page 10: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou
Page 11: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO 5 — RJ

Relator: O Sr. Ministro Marco AurélioRelator para o acórdão: O Sr. Ministro Menezes DireitoExcipiente: José Eduardo Carreira Alvim — Excepto: Roberto Monteiro

Gurgel Santos

Exceção de suspeição. Processual penal. Participação da Subprocuradora-Geral da República no interrogatório de acusados no inquérito objeto do habeas corpus. Cônjuge do Subprocurador-Geral da República oficiante na impetração que se volta contra aquele. Suspeição não caracterizada.

1. Há precedente desta Suprema Corte, no qual, explicita-mente, indica-se que não há impedimento na atuação sucessiva de cônjuges promotores de justiça, no curso do mesmo processo (HC 77.959/PB, Primeira Turma, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ de 21-5-99).

2. No caso presente, tem-se, nos autos, que a Subprocuradora-Geral da República fez apenas o acompanhamento das oitivas, sem ter adotado nenhuma intervenção no sentido de interferir ou tomado parte efetiva na investigação.

3. Exceção rejeitada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra

Page 12: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051012

Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, rejeitar a exceção de impedimento.

Brasília, 3 de abril de 2008 — Menezes Direito, Relator para o acórdão.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Eis as informações prestadas pelo Gabinete, que adoto como relatório:

Luiz Guilherme Vieira e Márcio Gesteira Palma argüiram exceção de suspeição do Vice-Procurador-Geral da República Roberto Monteiro Gurgel dos Santos, subscritor do parecer formalizado neste processo. Vossa Excelência admitiu a exceção e determinou o sobrestamento do HC 91.207/RJ. Houve tras-lado de cópia da referida decisão para formação do processo incidente (fls. 2 a 4). Transcrevo, para documentação, o inteiro teor do ato:

Suspeição – Ministério Público.1. Eis as informações prestadas pelo Gabinete:

O Plenário do Supremo, por maioria, indeferiu a liminar reque-rida. A ementa do acórdão está assim redigida (fl. 491):

Habeas corpus. Medida cautelar. Processual penal. Pedido de liminar para garantir à defesa do Paciente o acesso à trans-crição integral das escutas telefônicas realizadas no inquérito. Alegação de ofensa ao princípio do devido processo legal (art. 5º, inciso LV, da Constituição da República): Inocorrência: liminar indeferida.

1. É desnecessária a juntada do conteúdo integral das degra-vações das escutas telefônicas realizadas nos autos do inquérito no qual são investigados os ora Pacientes, pois bastam que se tenham degravados os excertos necessários ao embasamento da denúncia oferecida, não configurando, essa restrição, ofensa ao princípio do de-vido processo legal (art. 5º, inciso LV, da Constituição da República).

2. Liminar indeferida.A Procuradoria-Geral da República, no parecer de fls. 496 a

504, destaca da impetração o pedido formulado em favor do Paciente, no sentido de lhe ser assegurado o acesso à integralidade das provas colhidas na fase inquisitorial, sobrestado o andamento processual até que viessem aos autos do inquérito os laudos das transcrições, consoante previsto na Lei 9.296/96, e dos objetos e documentos apre-endidos, garantindo-se, desse modo, o exercício da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal. Afirma, no entanto, inexistir violação aos mencionados princípios constitucionais. Esclarece que, conforme informação prestada pela autoridade apontada como coa-tora, ao paciente assegurou-se o conhecimento de todas as provas e imputações contra ele lançadas, fornecendo-se-lhe cópia magnética e integral das gravações telefônicas e escutas ambientais realizadas du-rante a investigação. Ressalta que, entregue o material, determinou-se a reabertura de prazo para os acusados apresentarem a peça da defesa preliminar. Assegura haverem sido acostadas ao processo as transcrições que serviram de base à denúncia.

Page 13: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1013

Relativamente ao material que não se encontrava disponível para a defesa – o laudo de análise dos documentos e objetos apreendi-dos –, a Procuradoria-Geral da República observa que a esse também não teve acesso a acusação, tanto assim que tal prova técnica não foi mencionada na peça acusatória. Afirma não prosperar a alegada violação ao princípio do devido processo legal, não apresentando a denúncia ilegalidade. Ressalta o intuito dos impetrantes de sobrestar o inquérito e, por via oblíqua, a ação penal a ser instaurada. Salienta que o caráter procrastinatório estaria também realçado pelo pedido de acesso ao referido laudo do material apreendido quando da prisão temporária do paciente que, porquanto não concluído, não foi consi-derado no momento em que oferecida a denúncia.

Quanto à pretensão de obter-se a transcrição integral dos diálo-gos gravados mediante interceptação telefônica e escutas ambientais, anota não haver na Constituição ou na Lei 9.296/96 qualquer co-mando exigindo a providência, sob pena de nulidade, admitindo a lei a interceptação sem degravação – Lei 9.296/96, art. 1º. Assevera que, no caso, seria impossível a transcrição da comunicação interceptada. Menciona jurisprudência do Supremo – HC 83.515, relator ministro Nelson Jobim, com acórdão publicado no DJ de 4 de março de 2005.

O Ministério Público frisa ser desproporcional o pedido de transcrição integral das conversas interceptadas, porque poderia resultar, sem necessidade, em prejuízo ao direito à intimidade de ter-ceiros não envolvidos no processo. Acentua que o direito do Paciente à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal será exer-cido com a transcrição dos diálogos relacionados ao inquérito – reve-ladores de condutas delituosas narradas na denúncia –, resguardadas a inviolabilidade das comunicações não conexas com tais fatos e a intimidade de estranhos à investigação. Opina pelo indeferimento da ordem.

Por meio da petição protocolada sob o número 178.450, de 31 de outubro de 2007, os impetrantes argüiram exceção de impedimento do Vice-Procurador-Geral da República Roberto Monteiro Gurgel dos Santos, subscritor do parecer formalizado neste processo. À fl. 526, V. Exa. determinou a oitiva do argüido, que refutou a alegação (fls. 538 a 540), destacando os seguintes pontos: a) a Subprocuradora-Geral da República Cláudia Sampaio Marques simplesmente assistiu ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou requerimentos, opinado sobre qualquer questão ou intervindo de maneira alguma na produção da prova; b) a mera presença em oitivas conduzidas pela autoridade policial não materializa atuação do órgão do Ministério Público apta a atrair o impedimento alegado; c) a aplicação do art. 258 do Código de Processo Penal pressupõe efetiva atividade do argüido, o que não se verifica nos casos de simples atos de ordenação proces-sual ou de produção de prova, como ocorre em relação a integrante da magistratura, conforme precedente do Supremo – HC 68.182/DF, da relatoria de V. Exa.

Page 14: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051014

2. Ao Ministério Público estão estendidas as causas de impedimento e exceção próprias aos magistrados – art. 258 do Código de Processo Penal. Em relação a estes últimos, o inciso I do art. 252 prevê a impossibilidade do exercício de jurisdição em processo no qual “tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito”. No caso, é estreme de dúvidas que a Subprocuradora-Geral da República Cláudia Sampaio Marques atuou quando do curso de certo inquérito, vindo o cônjuge, o Vice-Procurador-Geral da República, Roberto Monteiro Gurgel dos Santos, a oficiar neste processo.

3. Admito a seqüência da exceção porquanto não existe quadro a revelá-la manifestamente improcedente.

4. Formem autos apartados mediante o traslado das peças de fls. 496 a 544.

5. Incontroversos os fatos, colham o parecer do Procurador-Geral da República.

6. O habeas corpus ficará sobrestado tendo em conta o envolvimento, na espécie, do parecer do Ministério Público Federal.

7. Publiquem.Instado a manifestar-se (fl. 45), o Excepto refutou a argüição. Afirma

que a Subprocuradora-Geral da República Cláudia Sampaio Marques esteve presente na audiência de interrogatório do Paciente, em 14 de abril de 2007, na Superintendência Regional da Polícia Federal no Distrito Federal, porque desig-nada pelo Procurador-Geral da República para acompanhar os diversos depoi-mentos prestados na ocasião, com a finalidade de assegurar aos investigados – o Paciente, os Magistrados e os membros do Ministério Público, que se encontra-vam presos – as prerrogativas do cargo. Ressalta que a Subprocuradora-Geral da República, mulher do Excepto, apenas presenciou a produção da prova, conduta incapaz de materializar a atuação do Ministério Público e, conseqüentemente, o impedimento alegado. Evoca o art. 258, c/c o art. 252, ambos do Código de Processo Penal. Com apoio na jurisprudência da Corte – HC 68.182-DF, relatado por V. Exa., com acórdão publicado no DJ de 20 de abril de 1992 –, refuta a ale-gação de impedimento e requer seja submetida ao crivo do Colegiado a exceção (fls. 47 a 49).

A Procuradoria-Geral da República, no parecer de fls. 54 a 57, pronuncia-se pela rejeição da argüição de impedimento. Ressalta, com esteio nos acórdãos pro-feridos no HC 77.959, Rel. Min. Octavio Gallotti, publicado no DJ de 21 de maio de 1999; no HC 67.828, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, veiculado no DJ de 4 de abril de 1990; e no HC 67.997/DF, Rel. Min. Celso de Mello, publicado no DJ de 21 de setembro de 1990, não existir impedimento “na atuação sucessiva de cônju-ges, como Promotores de Justiça, no curso do mesmo processo”, sendo certo que a emissão de parecer pelo Vice-Procurador-Geral da República, porque opinativo, não acarreta prejuízo à defesa.

É o relatório. O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Senhora Presidente, verifica-se

uma celeuma maior tendo em conta a atuação do Vice-Procurador-Geral da República como fiscal da lei.

Page 15: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1015

VOTO

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Os institutos do impedimento e da suspeição têm como objeto tornar estreme de dúvidas a atuação eqüidistante quer se trate do Ministério Público, quer de integrante da magistratura. Em síntese, sob o ângulo do parentesco consangüíneo ou afim, busca-se evitar que seqüência de atos possa implicar, por vezes numa leitura apressada, o compro-metimento de certa atuação.

Conforme reconhecido, a Subprocuradora-Geral da República Dra. Cláudia Sampaio Marques foi designada pelo Procurador-Geral da República para acompanhar os diversos depoimentos prestados na Polícia Federal, re-lativos ao inquérito que deu margem à impetração do HC 91.207-9/RJ. Neste último veio a emitir parecer o respectivo cônjuge, hoje ocupando o cargo de Vice-Procurador-Geral da República. Deu-se, então, dupla atuação de inte-grante do Ministério Público que mantém parentesco afim decorrente de matri-mônio. Pouco importa que a atuação da Subprocuradora no inquérito não tenha resultado na prática de atos. O que cabe levar em conta é que foi designada para acompanhar os depoimentos, e isso ficou devidamente documentado.

Muito embora convicto da inexistência de nexo de causalidade conside-rada a dupla atuação, entendo que o aspecto a preponderar não é o subjetivo, mas o objetivo, presente a regra do art. 258 do Código de Processo Penal, a reve-lar que “os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhes for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes”. Conforme consignei ao dar seqüência à exceção, a regra alusiva à magistratura extensível ao Ministério Público impede a atuação em processo no qual haja funcionado, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito, o cônjuge ou parente consan-güíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau. Nem se diga que o Vice-Procurador-Geral da República simplesmente veio a ofertar peça opina-tiva. Essa o é e, de início, presume-se que seja considerada no julgamento do pedido formulado no processo.

Concluo pela existência, na espécie, de óbice à atuação do Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, no HC 91.207-9/RJ.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhora Presidente, peço vênia ao Minis-tro Marco Aurélio para dele divergir.

Entendo que, no caso, primeiro, há um precedente deste Supremo Tribunal Federal tomado na Primeira Turma, de que foi Relator o Ministro Octavio

Page 16: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051016

Gallotti, em que explicitamente se indica não haver impedimento na atuação sucessiva de promotores de justiça no curso do mesmo processo.

Ademais, nesse caso específico, pelo que pude deduzir do voto do emi-nente Ministro Marco Aurélio e também do material que nos foi distribuído, a Dra. Cláudia Sampaio Marques fez apenas o acompanhamento, sem ter adotado nenhuma intervenção no sentido de indeferir ou ter tomado parte efetiva na investigação.

Ora, considerando o precedente e as circunstâncias de fato do caso, en-tendo não existir esse impedimento, daí por que peço vênia a S. Exa. para rejei-tar a exceção.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhora Presidente, também peço vênia ao eminente Ministro Marco Aurélio para acompanhar a divergência iniciada pelo Ministro Menezes Direito.

Como foi alegado, agora, pelo Sr. Subprocurador-Geral, não teria havido comportamento algum que redundasse na prática de ato que pudesse ser consi-derado “decisório” – utilizou-se, aqui, essa palavra –, no sentido de deferir ou não, pelo que não vejo como teria havido impedimento.

Recuso a exceção, portanto.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhora Presidente, também peço vênia para acompanhar a divergência, especialmente em face do que dispõe o art. 563 do Código de Processo Penal, que estabelece:

Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar pre-juízo para a acusação ou para a defesa.

Sobretudo, porque tenho em conta que a Subprocuradora apenas presen-ciou os atos do inquérito, não se podendo presumir, de logo, qualquer prejuízo para a defesa.

Acompanho a divergência.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhora Presidente, faço algumas obser-vações sobre esse tema que reputo da máxima importância. Deixo de lado os argumentos que, por si só, seriam suficientes, já agitados pelos votos que me antecederam, com a devida vênia do eminente Relator, em primeiro lugar, porque realmente não houve nenhum gravame, nenhuma lesão aos Excipientes por

Page 17: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1017

força de uma atuação que se limitou à mera presença física da Excepta; em se-gundo lugar, pelos precedentes da Corte arrolados pela Procuradoria-Geral no memorial oferecido.

Acentuo que o art. 258 não se aplicaria textualmente neste caso, porque a parte não é a pessoa física do órgão, mas a instituição; isto é, a mudança das pessoas no órgão não altera a qualidade da parte, que é a do Ministério Público. Portanto, só se poderia falar que teria havido atuação de quem é parte, se hou-vesse outro Ministério Público atuando. O que se deu aqui, pura e simplesmente, foi uma alteração de pessoas que compõem órgãos representantes do mesmo Ministério Público e, por conseguinte, da mesma parte. Mas, supondo-se, por analogia e por aplicação, prevista no próprio art. 258, das hipóteses dos arts. 252 e 254 do Código de Processo Penal, teríamos que relembrar a racionalidade das hipóteses de impedimento e de suspeição.

O que têm em vista os Códigos, não apenas o de Processo Penal, mas qualquer um deles, inclusive o Código de Processo Civil, que também é textual, quando discrimina as causas que levam ao impedimento e à suspeição? É um princípio amplo, ligado à idéia de corrupção e que se chama “vedação de confu-são de papéis”. Isso significa que quem atua no processo como juiz não pode ter como parte algum parente, porque, num processo em que o juiz tem por parte um parente, já não é apenas juiz, mas também é parte, pois, de certo modo, partilha dos mesmos interesses e, portanto, assumiria duplo papel. Por isso, a proibição. E é assim em todas as demais hipóteses.

Ora, quando há uma atuação sucessiva ou alternada de pessoas que repre-sentam órgãos da mesma parte, dentro do processo, não há nenhuma confusão de papéis. Antes, há apenas o exercício do mesmo papel por duas pessoas. Razão por que, pedindo máxima vênia ao eminente Relator, rejeito a exceção.

EXTRATO DA ATA

ES 5/RJ — Relator: Ministro Marco Aurélio. Relator para o acórdão: Ministro Menezes Direito. Excipiente: José Eduardo Carreira Alvim (Advoga- dos: Marcio Gesteira Palma e outros). Excepto: Roberto Monteiro Gurgel Santos.

Decisão: O Tribunal, por maioria, vencido o Ministro Marco Aurélio (Relator), rejeitou a exceção de impedimento. Lavrará o acórdão o Ministro Menezes Direito. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Ausente, justifica-damente, o Ministro Joaquim Barbosa. Falou pelo Ministério Público Federal o Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Ricardo

Page 18: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051018

Lewandowski, Eros Grau, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 3 de abril de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 19: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1019

AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 541 — DF(ACO 541-AgR na RTJ 196/371)

Relator: O Sr. Ministro Gilmar MendesAutores: Estado da Bahia e Estado de São Paulo — Réus: Distrito Federal

e Martins Comércio e Distribuição S.A. — Litisconsortes ativos: Estado do Paraná e Estado do Rio Grande do Sul

Ação cível originária. 2. Estados de São Paulo e Bahia. Termo de Acordo de Regime Especial 1/98, celebrado entre o Distrito Federal e empresa particular. 3. Possibilidade de des-constituição dos efeitos de acordo ou convênio administrativo após o término da vigência. Inocorrência de prejudicialidade. 4. Ação prejudicada, apenas, no período entre 1º-7-99 e 31-7-99, por celebração do Tare 44/99, dispondo sobre o mesmo objeto. 5. Vício formal. Acordo firmado em desobediência à forma es-tabelecida na Lei Complementar 24/75. Fixação de alíquota de ICMS diversa da fixada na Resolução 22 do Senado Federal. 6. Passagem ficta de mercadorias. Inocorrência de fato gera-dor. Prejuízo na incidência do ICMS aos Estados requerentes. Violação do pacto federativo e princípios tributários. 7. Ação cível originária julgada procedente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, em conformidade com a ata do julgamento e as notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, julgar procedente a ação, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 19 de abril de 2006 — Gilmar Mendes, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de ação cível originária ajuizada pelo Estado da Bahia e pelo Estado de São Paulo em face do Distrito Federal e da empresa Martins Comércio e Distribuição S.A. Na espécie, postula-se anula-ção do Termo de Acordo de Regime Especial (TARE) 1/98/DF, celebrado entre o Distrito Federal e a referida pessoa jurídica de direito privado.

Os Autores pretendem a declaração de nulidade dos efeitos do men- cionado termo de acordo para que seja restabelecida a ordem tributária instituída. O objetivo, portanto, é permitir a exigibilidade e o recolhimento do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), nas operações interestaduais, a

Page 20: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051020

ser calculado conforme as alíquotas fixadas pela Resolução do Senado Federal 22/89.

As contestações foram apresentas pelo Distrito Federal e pela Martins Comércio Distribuição S.A. (fls. 344-355 e 245-327, respectivamente), e os Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul foram admitidos como litisconsortes ativos (fl. 356).

A Procuradoria-Geral da República manifestou-se pela procedência da ação, opinando pela nulidade do Tare 1/98/DF (fls. 686-694).

A presente ação originária cível foi então julgada prejudicada pelo meu an-tecessor, o Ministro Néri da Silveira, tendo em vista a expiração da vigência do Tare 1/98/DF, que dispunha em sua cláusula nona que o referido acordo perderia sua validade em 31 de agosto de 1999.

O Estado de São Paulo interpôs agravo regimental (fls. 724-726). Em 27-10-05, o Plenário do Supremo Tribunal Federal deu provimento ao recurso, tão-somente para o fim de que a ação originária cível retomasse o seguimento regular, para posterior apreciação do mérito.

Estando o feito devidamente instruído, pode-se dizer que o mérito da questão envolve a anulação do Tare 1/98/DF firmado entre o Governo do Distrito Federal e a empresa Martins Comércio e Distribuição S.A., tendo em vista os efeitos causados durante a vigência do mencionado termo de acordo, que fixou as alíquotas inferiores em relação às fixadas pela Resolução do Senado Federal 22.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): O parecer da Procuradoria-Geral da República, da lavra do então Procurador-Geral da República Dr. Geraldo Brindeiro, opina pela procedência da ação, sob a seguinte fundamentação:

A Constituição Federal, em seu art. 155, § 2º, incisos IV e XII, alínea “g”, determinou que as alíquotas aplicáveis às operações e prestações interestaduais e de exportação serão estabelecidas através de Resolução do Senado Federal, e que cabe à lei complementar, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, regular a forma como serão concedidos e revogados os incentivos, benefícios fis-cais e as isenções.

16. Com efeito, a Lei Complementar nº 24, de 07 de janeiro de 1975 e a Resolução nº 22, de 19 de maio de 1989, disciplinam a matéria. No art. 1º, da Resolução do Senado Federal, fixou-se a alíquota do ICMS nas operações inte-restaduais em 12% (doze por cento), com exceção das operações e prestações nas Regiões Sul e Sudeste, destinadas às Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e ao Estado do Espírito Santo, para as quais foram fixadas as alíquotas, a partir de 1990, em 7% (sete) por cento.

Page 21: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1021

17. Observa-se, pois, que o regime especial concedido à ré permite que ela, através de seu estabelecimento paulista adquira a mercadoria de seus fornecedo-res, registre a remessa da mesma para seu estabelecimento localizado no Distrito Federal e, logo após, determine sua entrega física diretamente ao seu estabeleci-mento situado em Uberlândia, Estado de Minas Gerais, sob a alíquota privilegiada de 7%.

18. Dessa forma, o estabelecimento situado no Distrito Federal simples-mente “escritura” a transferência da mercadoria para o Estado de Minas Gerais, revelando, portanto, ilegalidade do procedimento, e que se destina unicamente a permitir a aplicação, para cálculo do imposto, de alíquota diversa da fixada pela Resolução do Senado Federal, nas operações interestaduais.

19. Resulta da citada operação que a empresa beneficiária, pois, reduz a carga do imposto de circulação de mercadoria em percentuais diferenciados, como demonstram os requerentes em sua inicial (fls. 8).

“O Estado de origem suporta um prejuízo proporcional à diferença da alíquota interestadual normal e a privilegiada: no caso de São Paulo, por exemplo, a remessa direta para Minas Gerais é taxada à alíquota de 12%, sendo a alíquota especial para o Distrito Federal de 7% resultando num prejuízo real de 5% quer pela não aplicação da alíquota correta para a operação com destino à Minas Gerais (de 12%/7%), quer pelo creditamento da alíquota privilegiada (18%-7% = creditamento de 11%/18%-12% = cre-ditamento de 6%).

O Distrito Federal recolhe 1% do valor da operação, quando realizada a ‘escrituração interestadual’ (diferença entre os 12% destacados na nota fiscal e o crédito presumido de 11%, sem haver correspondência do fato realizado em seu território à hipótese de incidência do respectivo tributo”.20. Procedem, pois, as alegações dos Estados requerentes quanto à exigên-

cia de convênio, a ser celebrado entre os Estados da Federação, para a concessão de isenções, benefícios e incentivos, em tema de ICMS.

21. O Supremo Tribunal Federal, repetidamente, tem se manifestado contra a concessão de benefícios e isenções concedidos por certos Estados em prejuízo de outros membros da Federação, quando não autorizados por convênios interes-taduais, como demonstra a decisão proferida na ADIN nº 1.247, relator o eminente Ministro Celso de Mello (RTJ – 168/755):

“ICMS e repulsa constitucional à guerra tributária entre os Estados-membros: O legislador constituinte republicano, com o propósito de impe-dir a <guerra tributária> entre os Estados-membros, enunciou postulados e prescreveu diretrizes gerais de caráter subordinante destinados a compor o estatuto constitucional do ICMS. Os principais fundamentos consagrados pela Constituição da República em tema de ICMS, (a) realçam o perfil na-cional de que se reveste esse tributo, (b) legitimam a instituição, pelo poder central, de regramento normativo unitário destinado a disciplinar, de modo uniforme, essa espécie tributária, notadamente em face de seu caráter não cumulativo, (c) justificam a edição de lei complementar nacional vocacio-nada a regular o modo e a forma como os Estados-membros e o Distrito Federal, sempre após deliberação conjunta, poderão, por ato próprio, conce-der ou revogar isenções, incentivos e benefícios fiscais.

Convênios e concessão de isenção. Incentivo e benefício fiscal em tema de ICMS: A celebração dos convênios interestaduais constitui pres-

Page 22: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051022

suposto essencial à válida concessão, pelos Estados-membros ou Distrito Federal, de isenções, incentivos ou benefícios fiscais em tema de ICMS.

Esses convênios – enquanto instrumentos de exteriorização formal do prévio consenso institucional entre as unidades federadas investidas de competência tributária em matéria de ICMS – destinam-se a compor os conflitos de interesses que necessariamente resultariam, uma vez ausente essa deliberação governamental, da concessão, pelos Estados-membros ou Distrito Federal, de isenções, incentivos e benefícios fiscais pertinentes ao imposto em questão.

O pacto federativo, sustentando-se na harmonia que deve presidir às relações institucionais entre as comunidades políticas que compõem o Estado Federal, legitima as restrições de ordem constitucional que afetam o exercício, pelos Estados-membros e Distrito Federal, de sua competência normativa em tema de exoneração tributária pertinente ao ICMS.”22. Logo, a celebração de convênio entre os Estados da Federação é consi-

derada pressuposto essencial para tornar válida concessão de isenções, benefícios e incentivos fiscais, em tema de ICMS. Na mesma ação direta já citada, seu relator destaca o magistério de Roque Antonio Carrazza, e transcreve passagem do seu Curso de Direito Constitucional Tributário (TRJ 168/768):

“Portanto, para que as isenções de ICMS surjam validamente, é preciso que os Estados e o Distrito Federal celebrem entre si convênios, que, ao depois, para se transformarem em direito interno de cada uma destas pessoas políti-cas, deverão ser por elas ratificadas.”(...)Observamos, ainda, que é preciso que todos os Estados e o Distrito Federal

ratifiquem o convênio para que a isenção em tela nasça. Reforçando a idéia, se uma única destas entidades tributantes deixar de fazê-lo, o benefício não surgirá. De fato, um dos traços característicos do ICMS é sua cobrança uniforme, em todo território nacional. Exemplificando, não se pode cobrar este imposto de uma ma-neira no Estado “A” e, de outra, no Estado “B” ou no Distrito Federal. Isto instala-ria, entre as entidades contribuintes, uma verdadeira guerra tributária, fenômeno que, em relação ao ICMS, a Lei Suprema vedou expressamente, nos incs. V, VI, VII e VIII, do § 2º, de seu art. 155 (Curso de Direito Constitucional Tributário, 5ª ed., p. 349, 1993, Malheiros).(Fls. 691/694.)

Como se depreende do acertado parecer, tem-se que as partes requeri-das não observaram o modo de celebração do convênio estabelecido na Lei Complementar 24/75, uma vez que não foi observado o devido consentimento dos demais Estados da Federação quanto ao seu objeto.

Por aplicação dos princípios da legalidade estrita (CF, art. 37, caput) a forma para celebração de acordos deve ser, portanto, a estabelecida na própria Lei Complementar 24/75. Nesse particular, vale mencionar o RE 195.227, Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJ de 27-9-96, cujo trecho da ementa é o seguinte:

(...) a administração pública, em toda a sua atividade, está sujeita aos man-damentos da lei, deles não se podendo afastar, sob pena de invalidade do ato e responsabilidade de seu autor. Qualquer ação estatal sem o correspondente am-paro legal, ou que exceda ao âmbito demarcado pela lei, é injurídica e expõe-se

Page 23: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1023

à anulação, pois, a eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento da lei: na administração pública não há liberdade nem vontade pes-soal, e só é permitido fazer o que a lei autoriza.Aduzo ainda que o tema não é novo, esta Corte já decidiu na ADI 2.021-

MC/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa, Plenário, DJ de 4-8-99, que as alíquotas de ICMS não podem ser alteradas pelos entes federados senão por deliberação conjunta. O referido precedente possui a seguinte redação:

Medida liminar em ação direta de inconstitucionalidade. Impugnação da Lei paulista 10.327, de 15-6-99, que reduziu a alíquota interna do ICMS de veí-culos automotores de 12 para 9,5% pelo prazo de 90 dias, a partir de 27-5-99. Reedição da Lei 10.231, de 12-3-99, que havia reduzido a alíquota de 12 para 9%, por 75 dias. Limite para a redução da alíquota nas operações internas.

1. As alíquotas mínimas internas do ICMS, fixadas pelos Estados e pelo Distrito Federal, não podem ser inferiores às previstas para as operações inte-restaduais, salvo deliberação de todos eles em sentido contrário (CF, art. 155, § 2º, VI).

2. A alíquota do ICMS para operações interestaduais deve ser fixada por re-solução do Senado Federal (CF, art. 155, § 2º, IV). A Resolução 22, de 19-5-89, do Senado Federal fixou a alíquota de 12% para as operações interestaduais sujeitas ao ICMS (art. 1º, caput); ressalvou, entretanto, a aplicação da alíquota de 7% para as operações nas Regiões Sul e Sudeste, destinadas às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e ao Estado do Espírito Santo (art. 1º, parágrafo único).

3. Existindo duas alíquotas para operações interestaduais deve prevalecer, para efeito de limite mínimo nas operações internas, a mais geral (12%), e não a especial (7%), tendo em vista os seus fins e a inexistência de deliberação em sen-tido contrário.

4. Presença da relevância da argüição de inconstitucionalidade e da conve-niência da suspensão cautelar da lei impugnada.

5. Medida cautelar deferida, com efeito ex-nunc, para suspender a eficácia da lei impugnada, até final julgamento da ação.

Preconizo que a concessão do chamado “regime especial” feita pelo Distrito Federal em benefício de Martins Comércio e Distribuição S.A. insti-tucionalizaria a circulação apenas escritural de mercadoria com a finalidade de permitir exigência de imposto sobre hipótese que não se consagra como fato gerador típico. Permitir-se-ia ainda, a compensação do imposto calculado sobre alíquota de 11% (onze por cento), enquanto na operação anterior a alíquota apli-cada foi de 7% (sete por cento), reduzindo a capacidade tributária atribuída aos Estados-membros.

Assim, por conseguinte, ressalta o Estado do Paraná, por meio de sua Procuradora, às fls. 330/331:

O resultado dessa operação totalmente inconstitucional é lesivo tanto ao Estado de origem da mercadoria, por resultar em crédito escritural a maior, quanto àquele competente para a legítima tributação, pois a arrecadação do Distrito Federal se dá sem a ocorrência do fato gerador.

Page 24: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051024

Com efeito, verifica-se no caso a inocorrência do fato gerador do ICMS, ou seja, a circulação física das mercadorias pelo território do Distrito Federal, a ensejar o recolhimento do tributo. A permissão de realização de transferên-cia ficta, com mero registro documental, admitindo expressamente a entrega da mercadoria sem o trânsito local e destinada a outro Estado da Federação afeta o próprio regime de incidência do ICMS, que exige a efetiva circulação da mercadoria.

Dessa forma, o Tare 1/98, além de prever hipótese ficta de incidência do ICMS, previu receita indevida ao Distrito Federal, através do recolhimento do tri-buto sem correspondente fato impositivo real, prejudicando a incidência dos impostos aos Estados remetentes e destinatários do imposto.

Ainda sobre o assunto, vale ressaltar que na própria exposição de motivos do termo de acordo em comento, há a previsão da transferência fictícia de mer-cadorias, como se pode conferir do seguinte trecho:

1.1 – As operações com mercadorias, que tenham como destinatário estabe-lecimento da Martins situado no Distrito Federal, tendo destacado no documento fiscal a alíquota de 7% (sete por cento) de ICMS (devido ao Estado de situação do remetente) têm o seguinte tratamento assim resumido:

1.1.1 – Estão dispensadas do trânsito físico pelo território do Distrito Federal, bastando o registro da entrada e a emissão de documento fiscal de transferência ao estabelecimento-matriz situado em Uberlândia/Minas Gerais.

1.1.2 – Muito embora as operações somente tenham gerado no Estado de origem ICMS resultante da aplicação da alíquota de 7% (Sete por cento), ocasionarão, conforme consta do Regime, um abatimento aritmético de 11% (Onze por cento) no imposto devido – este de 12% (Doze por cento) – pela saída subseqüente e “simbólica” a título de transferência. Corresponde, na prática, a um lançamento a crédito de 11% (Onze por cento) de imposto no estabelecimento do Distrito federal e a subseqüente saída a título de trans-ferência para a matriz (Uberlândia/MG) onerada a 12% (Doze por cento). Equivale, pois, a um crédito de 4% (Quatro por cento) outorgado pelo Governo do Distrito Federal a um único contribuinte.

1.1.3 – Como conseqüência prática, é acordada a alíquota residual de 1% (um por cento) que passa a ser devida ao Distrito Federal pelo trânsito “simbólico” das mercadorias, sendo estipulado no Termo de Acordo de Regime Especial em foco um valor mínimo de recolhimento efetivo a título de ICMS de R$12.000.000,00 (doze milhões de reais) durante o período de doze meses de vigência do Termo. (Fl. 532.)

Em face do exposto, tendo em vista a revogação do Tare 1/98 pela cláu-sula 11ª do Tare 44/99, julgo a ação prejudicada quanto ao período contido entre 1º-7-99 e 31-7-99. Quanto ao período compreendido entre 1º-8-98 e 30-6-99, julgo procedente a ação cível originária para que sejam desconstituídos os efeitos do Tare 1/98, celebrado entre o Governo do Distrito Federal e Martins Comércio e Distribuição S.A.

Page 25: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1025

No mérito, portanto, o caso envolve análise de termo de acordo que, ine-quivocamente, viola o pacto federativo.

Trata-se, em verdade, de fixação unilateral de alíquotas de ICMS em favor do Distrito Federal e em substancial prejuízo aos demais entes da federação.

Condeno os Réus, por fim, ao pagamento de custas e despesas processuais e honorários advocatícios, os quais ficam arbitrados em 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, devidamente corrigido.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: O pedido é procedente. O Tare 1/98/DF, sob a roupagem de instituir, como o próprio nome de-

signa, um regime especial de arrecadação e recolhimento do imposto, concedeu benefício fiscal sem previsão nem amparo em convênio.

Os regimes especiais justificam-se como exceções ao regime normal de apuração com vistas a simplificar e racionalizar a arrecadação, e contornam re-gular deveres instrumentais ou técnicas de apuração e recolhimento do tributo. Não se confundem com benefício fiscal.

No caso o Tare 1/98/DF é facultativo às operações praticadas em triangu-lação, ou seja, o estabelecimento do Distrito Federal (1) adquire a mercadoria de outro Estado da Federação (2) pela alíquota de 7% (vendas destinadas ao DF), transfere, na contabilidade, tais mercadorias para a matriz em Uberlândia/MG (3), e pede que o vendedor (2) as entregue diretamente em Uberlândia/MG (3).

Em um regime “normal” ou ordinário, o estabelecimento do Distrito Federal (1) deveria recolher a diferença entre seu débito calculado em 12% so-bre o valor da operação (por se tratar de transferência) e o crédito de 7% relativo ao ICMS incidente na aquisição.

Supondo-se que o preço fosse o mesmo, o Distrito Federal ficaria com 5% do valor da operação nesse regime.

Pelo Tare 1/98/DF, o Distrito Federal fica com 1%, porque concedeu cré-dito presumido de 11% do valor da operação “a título de montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores” (cláusula primeira – fl. 5), a ser deduzido do débito de 12% da operação realizada pelo estabelecimento no DF.

O Distrito Federal, por outro lado, condiciona o regime “à realização pela acordante, de um recolhimento efetivo mínimo, a título de ICMS, no valor de R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais) durante o período de 12 (doze) meses de vigência do termo” (cláusula sétima – fl. 6).

A renúncia da arrecadação de ICMS realizada pelo Distrito Federal por intermédio do termo ora impugnado é flagrante.

Tal renúncia caracteriza-se como benefício fiscal, na modalidade de cré-dito presumido e, por expressa disposição constitucional (art. 155, § 2º, XII, g)

Page 26: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051026

e legal (Lei Complementar 24/75), somente pode concedida após previsão em convênio celebrado entre os Estados no âmbito do Confaz, conforme previsão do art. 1º da Lei Complementar 24/75:

Art. 1º As isenções do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados e ratificados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta lei.

Parágrafo único. O disposto neste artigo também se aplica:I – à redução de base de cálculo;(...)III – à concessão de créditos presumidos; IV – a quaisquer outros incentivos ou favores fiscais ou financeiro-fiscais,

concedidos com base no Imposto sobre Circulação de Mercadorias, dos quais re-sulta redução ou eliminação, direta ou indireta, do respectivo ônus;

Além da inconstitucionalidade do conteúdo e da forma de concessão do benefício (crédito presumido), o termo de acordo em discussão transpira indí-cios de uma simulação tendente a reduzir o montante do tributo que seria devido na operação dissimulada.

O termo de acordo foi usado com objetivo diverso do a que se propõe (benefício fiscal pessoal e específico em detrimento de regime especial de arre-cadação), com a clara finalidade de atrair para o Distrito Federal uma filial da Co-ré, apenas para efeitos formais de trânsito de notas, concedendo-lhe um be-nefício de ordem de 4% do valor da operação em contrapartida.

Além dos dispositivos mencionados, o termo de acordo ofende, principal-mente, a estrutura federativa, gerando indevido desequilíbrio na relação entre os Estados, razão pela qual a ação deve ser julgada procedente.

Nesses termos, dou provimento ao agravo, conheço da ação e no mérito dou-lhe integral provimento para declarar a nulidade do Tare 1/98/DF.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhora Presidente, também acom-panho os eminentes Ministros Relator e Revisor, pois entendo que o termo de acordo, além de ofender claramente o art. 155, § 2º, incisos IV e XII, g, da Constituição Federal, dá abrigo ou enseja a realização de um negócio simulado em clara ofensa aos princípios da moralidade e da impessoalidade previstos na Carta Magna.

VOTO

O Sr. Ministro Eros Grau: Senhora Presidente, de fato trata-se de regime especial que dá causa a um benefício, mas não resiste à exigência da celebração de convênio.

Page 27: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1027

A possibilidade da passagem ficta não é teoricamente incompatível com o regime do ICMS. Eu não acompanharia quanto à idéia de uma simulação frau-dulenta, mas sim de ofensa ao preceito constitucional.

Acompanho o voto do Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhora Presidente, entendo que o re-gime viola o art. 155, § 2º, XII, g, da Constituição e os arts. 1º, III e IV, e 8º, I, da Lei Complementar 24/75, pois os benefícios fiscais previstos não encontram amparo em convênio.

Acompanho o voto do Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhora Presidente, o termo de acordo, com este nome eufemístico de “regime simplificado”, caracterizou, em verdade, um crédito presumido à revelia da Constituição que, no particular, exigiria a cele-bração de um termo de convênio entre os Estados e o Distrito Federal.

Acompanho o voto do eminente Relator para considerar procedente o agravo.

EXTRATO DA ATA

ACO 541/DF — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Autores: Estado da Bahia (Advogados: PGE/BA – Raimundo Luiz de Andrade e outra) e Estado de São Paulo (Advogados: PGE/SP – Márcio Sotelo Felippe e outros). Réus: Distrito Federal (Advogados: PGDF – Murilo de Azevedo Nobre Júnior e outro e PGDF – Márcio Wanderley de Azevedo) e Martins Comércio e Distribuição S.A. (Advogados: Sacha Calmon Navarro Coelho e outros). Litisconsortes ativos: Estado do Paraná (Advogada: PGE/PR – Márcia Dieguez Leuzinger) e Estado do Rio Grande do Sul (Advogada: PGE/RS – Karina da Silva Brun).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente a ação, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Falaram, pelo Autor, Estado de São Paulo, o Dr. Clayton Eduardo Prado, Procurador-Chefe do Estado, e, pela Ré, Martins Comércio e Distribuição S.A., o Dr. Eduardo Maneira. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen Gracie, Vice-Presidente no exercício da Presidência.

Presidência da Ministra Ellen Gracie, Vice-Presidente no exercício da Presidência. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros

Page 28: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051028

Grau e Ricardo Lewandowski. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 19 de abril de 2006 — Luiz Tomimatsu, Secretário.s.

Page 29: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1029

QUESTÃO DE ORDEM NO MANDADO DE INJUNÇÃO 712 — PA

Relator: O Sr. Ministro Eros GrauImpetrante: Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do

Pará – SINJEP — Impetrado: Congresso Nacional

Mandado de injunção. Art. 5º, LXXI, da CB/88. Questão de ordem. Ação de índole constitucional. Pedido de desistência tardio. Julgamento iniciado. Não-cabimento. Continuidade do processamento do feito.

1. É incabível o pedido de desistência formulado após o início do julgamento por esta Corte, quando a maioria dos Ministros já havia se manifestado favoravelmente à concessão da medida.

2. O mandado de injunção coletivo, bem como a ação direta de inconstitucionalidade, não pode ser utilizado como meio de pressão sobre o Poder Judiciário ou qualquer entidade.

3. Sindicato que, na relação processual, é legitimado extraor-dinário para figurar na causa; sindicato que postula em nome próprio, na defesa de direito alheio. Os substitutos processuais não detêm a titularidade dessas ações. O princípio da indisponi-bilidade é inerente às ações constitucionais.

4. Pedido de desistência rejeitado. Prosseguimento do man-dado de injunção.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de voto, resolver a questão de ordem no sentido de não admitir a desistência formulada, nos termos do encaminhamento do Relator.

Brasília, 15 de outubro de 2007 — Eros Grau, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eros Grau: Suscito questão de ordem neste mandado de injunção. Em 8 de maio de 2007, após o início do julgamento do feito, o Impetrante, Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará, protocolou petição em que requer desistência da impetração.

O Sr. Ministro Eros Grau: Há alguns aspectos que me parece devam ser considerados na análise desta postulação de desistência.

Page 30: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051030

2. O primeiro diz com o empenho e a ocupação do Poder Judiciário. Sintetizando-os, são os seguintes os dados cronológicos: i) o mandado de in-junção foi distribuído em setembro de 2004; ii) as informações do Congresso Nacional foram juntadas aos autos e, após, o parecer do Ministério Público Federal; iii) em fevereiro de 2005 foi solicitada data para julgamento; iv) proferi voto em junho de 2006, no sentindo da procedência do pedido, no que fui acom-panhado pelo Ministro Gilmar Mendes, ocasião em que pediu vista dos autos o Ministro Ricardo Lewandowski; v) o julgamento foi retomado em 12 de abril de 2007; votaram também pelo conhecimento e procedência do pedido a Ministra Cármen Lúcia e os Ministros Carlos Britto, Cezar Peluso, Celso de Mello e Sepúlveda Pertence; o Ministro Ricardo Lewandowski, pela procedência par-cial, seguindo-se pedido de vista do Ministro Joaquim Barbosa.

3. As questões que se compõem no cerne deste mandado de injunção fo-ram discutidas – amplamente discutidas – em três sessões do Pleno. O pedido de desistência foi protocolado após oito dos onze Ministros desta Corte terem votado pelo seu conhecimento e procedência, total ou parcial. O pedido de de-sistência ocorreu – eu diria sem ruptura da realidade material – após o julga-mento desta ação, quando a decisão já havia sido tomada pela maioria daqueles que compõem esta Corte. É certo que, rigorosamente, os votos poderiam vir a ser modificados em momento posterior. Mas é, todavia, indiscutível ser tardio o pedido de desistência, formulado – repito – quando a maioria dos Ministros deste Tribunal já havia se manifestado favoravelmente à concessão da medida.

4. A mim parece que a esta altura, após o voto de oito dos Ministros desta Corte a respeito do mérito – e ainda após a apreciação de questão de ordem re-lativa à possibilidade de deferimento de tutela antecipada –, a mim parece ser injustificável, a esta altura, a desistência deste mandado de injunção. Este, o primeiro aspecto a ponderar.

5. Ademais, o mandado de injunção coletivo, assim como a ação direta de inconstitucionalidade, não pode ser utilizado como instrumento político pelos legitimados a sua propositura e impetração. Não é por outra razão que a desis-tência da ação direta de inconstitucionalidade é inviável – não há, nela, inte-resses particulares em debate; o que nela está em questão é o interesse público. A jurisprudência do Tribunal é firme no sentido de não admitir desistência nas ações diretas. Isso porque o princípio da indisponibilidade é inerente ao controle de constitucionalidade concentrado (ADI 2.230-MC, Rel. Min. Celso de Mello; DJ de 4-11-05; ADI 1.801, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de 21-10-99). Entendo que essas ações não podem ser utilizadas com escopo político, como meio de pressão sobre o Poder Judiciário ou sobre qualquer entidade. Os substitutos pro-cessuais não detêm a titularidade dessas ações; já não podem delas dispor após terem sido elas propostas.

6. O pedido de desistência não merece acolhida no caso dos autos, vez que o mandado de injunção visa à maior efetividade do direito de greve, ainda não exercido em razão da omissão legislativa. Aqui a Constituição não confere

Page 31: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1031

proteção simplesmente a interesses do Impetrante. A omissão do Poder Legis- lativo federal impossibilita a fruição de direitos conferidos pelo Poder Consti-tuinte originário. Por isso mesmo o resultado deste julgamento não afeta o patri-mônio jurídico do sindicato, porém a esfera patrimonial de servidores públicos do Poder Judiciário do Estado do Pará. Uma vez concedida a medida, o direito de greve será exercido não pelo Impetrante ora desistente, mas pelos servidores públicos de que se trata, titulares do direito já reconhecido e afirmado por oito dos Ministros desta Corte.

7. Outro aspecto há de ser ainda considerado, atinente à legitimidade da desistência pleiteada pelo Sindicado dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará. O Impetrante representa os interesses dos servidores públicos do Poder Judiciário daquela unidade federativa. Sindicato que, na relação pro-cessual, é legitimado extraordinário para figurar na causa; sindicato que postula em nome próprio, porém na defesa de direito alheio.

8. A representação sindical consiste na defesa e proteção de interesses dos membros de determinada classe de trabalhadores. A doutrina diverge quanto à necessidade do controle judicial da adequação do representante nas ações cole-tivas. Parece-me, todavia, inadmissível que uma entidade, pelo fato de receber autorização legal para a defesa de interesse de determinado grupo, possa agir de modo ilimitado, contando com liberdade para propor quaisquer demandas e, posteriormente, conduzir o processo, cujo interesse é coletivo, apenas até o ponto que entenda relevante.

9. O Sindicado afirma, na petição de desistência, que os servidores do Tribunal de Justiça do Estado do Pará iniciaram a paralisação em junho de 2004 e “[d]urante a greve, os servidores decidiram ingressar com o Mandado de In-junção perante esse Pretório Excelso, objetivando a regulamentação do inciso VII do art. 37 da CF”. Diz ainda que “[...] a proposta de regulamentação que o Governo Federal defende hoje, a qual pretende ver aprovada, não corresponde aos anseios e interesses dos trabalhadores, pois longe de regulamentar o direito de greve, objetiva, na prática, extinguir esse direito, com o que somos contrá-rios”. Vale dizer: o sindicato atua por capricho, sem motivação racional. Como não lhe apetece a proposta de regulamentação que o Governo Federal defende hoje – e isso não está relacionado de forma alguma ao que vier a ser fixado por esta Corte na prestação jurisdicional – desiste do pedido que ocupa este Tribunal de modo reiterado.

10. O Impetrante ora desistente não aponta qualquer prejuízo, aos legíti-mos interessados – os servidores do Poder Judiciário do Estado do Pará – que pudesse advir da continuidade do julgamento deste mandado de injunção. Sendo assim, indefiro o pedido de desistência formulado pelo Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará.

Voto pelo prosseguimento do mandado de injunção.

Page 32: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051032

EXPLICAÇÃO

O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Senhora Presidente, é uma questão tão simples, que talvez eu possa resumir.

Trago a seguinte questão de ordem: começamos a julgar o mandado de injunção em junho de 2006, houve um pedido de vista e retomamos o julga-mento em 12 de abril de 2007. Havia oito votos já pronunciados; depois, houve o pedido de vista do Ministro Joaquim Barbosa; em seguida, houve um pedido de desistência.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): O Ministro Joaquim Barbosa já manifestou seu voto?

O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Não.A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Mas o Ministro Joaquim

Barbosa nem está presente, acho que não podemos julgar.O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Sim, mas o Relator do caso sou eu.A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Mas o processo está com vista

para o Ministro Joaquim Barbosa.O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): O caso já está decidido, inclusive.O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Na verdade, perdoem-me, mas não

envolve a presença do Ministro Joaquim Barbosa.O Sr. Ministro Cezar Peluso: É que, se deferirmos, por hipótese, a desis-

tência, o voto do Ministro ficará prejudicado.O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Então aguardamos?O Sr. Ministro Cezar Peluso: Não, por isso acho que temos de julgar.A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Como V. Exa. encaminha a

solução?O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): Encaminho no sentido de não admi-

tir a desistência porque, neste caso, é como se o julgamento tivesse começado, continuando agora e, de repente, entrasse a parte e pretendesse desistir porque o resultado é um, e não outro.

VOTOO Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhora Presidente, concordo inteiramente,

mas eu queria ir um pouco mais longe. Não estou apenas julgando este caso concreto, estou afirmando o princípio de que isso é juridicamente impossível, porque, iniciado o julgamento, embora factualmente um ato dividido, seccio-nado pelo número de pessoas que se devam manifestar e compor o juízo do Colegiado, do ponto de vista jurídico é um ato contínuo, que já não se inter-rompe uma vez iniciado o julgamento. A analogia é feita com a sentença profe-

Page 33: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1033

rida por juiz de primeiro grau em audiência. Não é possível ao autor da causa, no meio da sentença ditada pelo magistrado, desistir do processo.

No caso, é ato que se exauriu, já não cabe manifestação das partes, é ato do Tribunal. Já começou o julgamento, e não pode ser interrompido. Ele é ape-nas factualmente interrompido, mas, do ponto de vista jurídico, é um ato único e contínuo. Não há possibilidade teórica de desistência. É como se fosse lícito interromper a pronúncia de outra decisão para requerer desistência. Acho que esta em nenhuma hipótese pode admitir-se e, muito mais no caso concreto, pelas razões que já foram avançadas contra tentativa de fraudar a solução do Tribunal.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhora Presidente, lembrava-me de um caso – MS 24.584-1/DF –, também versando a espécie, em que ocorrera pedido de desistência já com o julgamento iniciado. De forma monocrática, apontei o óbice ao acolhimento da desistência e trouxe ao Plenário o agravo regimental.

Na ocasião, ressaltei:

Uma vez iniciado o julgamento, descabe acolher pedido da parte desistindo do que pleiteado no mandado de segurança. A manifestação não possui o efeito de interromper a seqüência da apreciação. A assim não se considerar, ter-se-á esta última norteada pela percepção da parte quanto ao desfecho da causa, valendo notar a peculiaridade do caso.

Depois de julgado o mandado de segurança e indeferida a ordem, o acesso à via ordinária pressupõe deliberação do Colegiado em tal sentido. Ora, a desis-tência pode visar, ante prognóstico, levando em conta os votos já proferidos, a garantir o ingresso de ação ordinária em Juízo.

Votei desprovendo o agravo. Acompanharam-me os Ministros Carlos Ayres Britto e Cármen Lúcia. Ficamos vencidos.

Continuo a pensar que não pode a parte, segundo o rumo do julgamento, simplesmente manifestar desistência deste ou daquele pleito, sob pena de, evi-dentemente, um pedido de vista surgir com conseqüências até mesmo estraté-gicas para a parte. E ela, depois de haver acionado o Judiciário, vir a manipular esse mesmo Judiciário, quem sabe, rescindindo os votos proferidos.

Reitero o que consignei na oportunidade, lamentando que, naquela assen-tada, não tenha sido tão convincente como o foi agora o Ministro Eros Grau.

EXTRATO DA ATAMI 712-QO/PA — Relator: Ministro Eros Grau. Impetrante: Sindicato dos

Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará – SINJEP (Advogados: Eduar- do Suzuki Sizo e outros). Impetrado: Congresso Nacional (Advogados: Antonio Marcos Mousinho Sousa e outro).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, nos termos do encaminhamento do Relator, resolveu questão de ordem no sentido de não admitir a desistên-

Page 34: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051034

cia formulada. Ausentes, justificadamente, os Ministros Joaquim Barbosa e Menezes Direito. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen Gracie.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Celso do Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Eros Grau e Cármen Lúcia. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 15 de outubro de 2007 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 35: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1035

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA EXTRADIÇÃO 906 — REPÚBLICA DA CORÉIA

Relator: O Sr. Ministro Marco AurélioEmbargante: Chong Jin Jeon — Embargado: República da Coréia

Embargos declaratórios – Objetivo. Visando ao aperfeiçoa-mento da prestação jurisdicional, os embargos declaratórios, recurso da competência do autor da decisão embargada, hão de merecer exame aberto, sendo julgados a partir de compreensão maior.

Embargos de declaração – Esclarecimentos. Possível e razoá-vel visão ambígua de pronunciamento judicial viabiliza o provi-mento dos embargos declaratórios.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade, em dar provimento aos embargos, sem eficácia modificativa, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 18 de outubro de 2007 — Marco Aurélio, Relator.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Senhora Presidente, submeto ao colegiado, antes de proceder ao relato dos embargos declaratórios e proferir voto, a petição do Extraditando.

O Gabinete assim a resumiu:

Chong Jin Jeon, Extraditando-Embargante, requer seja adiado o julgamento dos declaratórios previsto para hoje – 18 de outubro de 2007 –, uma vez que pre-tende juntar ao processo documentos oriundos da República da Coréia e pareceres formalizados por professores brasileiros.

Consigno a existência de pedido de preferência, formulado pelo Governo requerente.

O processo foi apresentado em mesa para exame dos embargos pelo Plenário do Supremo.

É esse o requerimento que trago à bancada. Pronuncio-me em sentido con-trário ao adiamento. Faço-o tendo em conta que os embargos interpostos são do próprio extraditando – e já poderia ele ter juntado os documentos ao processo.

Houve o julgamento do pedido de extradição. Foi deferido. O Extraditando, então, atacou o acórdão prolatado pelo colegiado mediante os declaratórios.

Page 36: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051036

Há uma sobrecarga de processos muito grande, mas, se os colegas concor-darem com o pedido, estarei pronto a decidir.

O pedido de extradição já foi julgado pelo Plenário, e o processo estava aparelhado para apreciação. Não se aponta que documentos seriam. Existe tam-bém a problemática dos pareceres, peças opinativas. Creio que não viria à balha, no caso, alteração a ponto de modificar o julgamento já verificado.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Marco Aurélio: O Plenário deferiu parcialmente o pedido de extradição formulado pelo Governo da Coréia do Sul, ante fundamentos as-sim sintetizados (fl. 1261):

Extradição – Dupla tipicidade – Prescrição. Impõe-se a apreciação do pe-dido de extradição consideradas as legislações dos países requerente e requerido.

Extradição – Pena imposta – Critério unitário – Prescrição – Viabilidade do exame. O sistema revelador do conglobamento da pena – junção das penas de crimes diversos sem especificação – não prejudica o exame da extradição quando, segundo a legislação brasileira e tomada a pena mínima prevista para os tipos, não incide a prescrição.

A República da Coréia requereu, logo após a publicação do acórdão, a expedição de alvará de entrega do Extraditando, pleito que foi indeferido me-diante o pronunciamento de fl. 1268, em virtude da protocolação de embargos declaratórios.

No citado recurso, de fls. 1270 a 1303, o Extraditando, além de apontar omissão no julgado, alude à existência de novos enfoques da matéria que esta-riam a ensejar a concessão de efeito modificativo aos embargos. Em primeiro lugar, discorre sobre o transcurso do prazo prescricional, segundo a lei brasi-leira, a impedir o deferimento do pedido de extradição. Transcrevendo trecho da inicial, ressalta que há referência à prática do ato fraudulento no início de 1993 e afirma (fl. 1278):

Constata-se a plena imprecisão de datas por parte do Estado Requerente, já que o primeiro fato tido como ilícito narrado e vinculado à fraude é datado de 1993 e os demais – no qual há um lapso de diversos meses – o que pressupõe período menor de 1 (um) ano (senão haveria referência a anos) – ter-se-ia como transcorrido mais de 4 (quatro) anos o que seria suficiente à declaração da pres-crição pretendida.

Insiste na ausência de registro da data do ato ilícito e sustenta que, em 1996, já havia ocorrido, dando-se a consumação em data pretérita, quando ven-cidos os pagamentos prometidos. Reporta-se a partes da inicial em que se men-cionam fatos acontecidos em 1994 e 1995.

Com relação à prescrição da pretensão executória, alega que não se conta da última decisão proferida no processo em curso no país requerente, mas da

Page 37: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1037

primeira, conforme prevê o art. 117 do Código Penal, formalizada em 9 de de-zembro de 1999. Evoca precedentes. Salienta que, mesmo que se queira consi-derar o dia do julgamento do recurso da acusação, o prazo prescricional só seria contado daí se a nova decisão tivesse implicado a alteração da “reprimenda, a ponto de modificar e aumentar o cálculo do lapso necessário à extinção” (fl. 1281). Esclarece que a pena foi majorada em 28 de maio de 2002 e que a in-terposição de recurso à Suprema Corte não acarretou a interrupção do prazo prescricional.

O Embargante discorre sobre irrefutável “intenção política, por parte do Estado Requerente, na extradição requerida, pelo próprio jogo de interesses das empresas automobilísticas envolvidas no negócio” (fl. 1285).

Afirma que a promulgação do tratado de cooperação entre o Brasil e a República da Coréia é posterior aos fatos – 7 de março de 2002 –, não podendo retroagir para prejudicar o Extraditando. Assevera, ainda, a competência da Justiça brasileira para o julgamento da ação, já que os fatos teriam ocorrido no Brasil – o estelionato haveria sido praticado aqui, uma vez que “a empresa em discussão estava localizada no território brasileiro; os investimentos seriam no terri-tório brasileiro; o aumento de capital seria feito na empresa com sede no Brasil; a fábrica fora instalada no Brasil; as negociações e ajustes foram feitos no territó-rio brasileiro e não é porque a suposta vítima está localizada no País Requerente que a competência rationi loci pode ser transferida” (fl. 1293).

Alega mais que o país requerente não cumprirá a cláusula estabelecida no acórdão, relativa à execução da pena, porquanto, em outros casos, “o Estado não aceitou a redução de tipos penais não previstos no Estado em que requisi-tado o preso e muito menos a compensação pelo prazo de prisão cautelar para extradição no estrangeiro” (fl. 1297). Indaga que garantias terá de que a refe-rida cláusula será observada. Aponta que, após a entrega, não haverá recurso para socorrê-lo. Requer seja colocado em liberdade e arquivado o pedido de extradição.

Esclarece que, na verdade, ficou preso na Coréia por 550 dias – e não 366. Entende necessária, então, a retificação do período de desconto a ser procedido, tendo em vista o restante da pena.

Por último, sustenta que, no Brasil, há inquéritos e ações penais em anda-mento contra si, por fatos conexos à fraude que ensejou o pleito de extradição, motivo pelo qual deverá permanecer em território nacional até o fim dos jul-gamentos e trânsito em julgado dos acórdãos que serão proferidos. Acosta aos embargos os documentos de fls. 1305 a 3036.

À fl. 3038, instei a parte embargada a se manifestar quanto ao pedido de modificação da decisão, tendo decorrido o prazo sem a vinda da peça ao pro-cesso, conforme certificado à fl. 3043.

É o relatório.

Page 38: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051038

VOTO

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Na interposição destes embargos, foram observados os pressupostos de recorribilidade. A peça, subscrita por pro-fissionais da advocacia regularmente constituídos (fl. 1220), restou protocolada no qüinqüídio. A notícia do acórdão foi veiculada no Diário de 1º de junho de 2007, sexta-feira (fl. 1262), ocorrendo a manifestação do inconformismo em 8 imediato, sexta-feira (fl. 1270). Conheço.

Relativamente ao fato de o tratado ser posterior ao cometimento do crime, matéria estranha à defesa inicialmente apresentada, observem que se tem dis-ciplina estritamente instrumental. Em síntese, veio a corroborar a prática da reciprocidade, não implicando fixação de responsabilidade penal. Então, muito embora não compondo a defesa, por se cuidar de tema a ser apreciado de ofício, provejo os declaratórios para assentar não só a irrelevância do fator temporal alusivo aos atos imputados ao paciente e a data do tratado, como também para consignar que, não fosse assim, prevaleceria o critério da reciprocidade. No ponto, provejo os declaratórios, sem eficácia modificativa, para prestar esses esclarecimentos.

Sob o ângulo da prescrição, o acórdão proferido não contém omissão, dú-vida ou contradição. É explícito a respeito das premissas constantes do processo e da legislação de regência da matéria. Confiram com o item respectivo:

Da prescrição.A legislação da Coréia adota o critério unitário quanto à apenação. Proces-

sado o agente por crimes diversos, há o conglobamento das penas. Este dado, de início e observada a prescrição da pretensão punitiva e não da executória no que esta leva em conta a unificação das penas constantes de título único, inviabiliza o exame da prescrição segundo as normas brasileiras, quando indispensável é que se considere crime a crime, pena a pena, tal como estabelecido no título judicial. Ter-se-ia óbice à extradição ante o disposto no inciso VI do art. 77 da Lei 6.815/80 e, também, no Tratado de Extradição subscrito pelo país de origem e o Brasil. Mas, tomando-se a pena mínima para o tipo do art. 171 do Código Penal brasileiro – de um ano – e a circunstância de o extraditando estar condenado a dez anos, presente, é certo, outro crime que não ensejaria a extradição, conclui-se que não ocorreu quer a prescrição da pretensão punitiva, quer da executória. O fato que desaguou na condenação que importa para o exame do pedido, ou seja, a fraude, aconteceu em 1996 (fls. 308 e 309). Em 20 de novembro de 1998, a empresa ajuizou a ação penal (fl. 306). Em 24 do mesmo mês, o Ministério Público procedeu ao adita-mento, havendo a acusação formal em 30 de dezembro seguinte (fl. 321). Em 9 de dezembro de 1999, veio à balha sentença condenatória impondo ao extraditando a pena de sete anos de prisão (fl. 328 a 403). Essa pena foi majorada em 28 de maio de 2002 (fl. 321). A última decisão prolatada no processo data de 2 de setembro de 2003 (fls. 307 e 322).

Pois bem, levando-se em conta a pena mínima prevista para o tipo, de um ano, a prescrição ocorre, segundo o disposto no inciso V do art. 109 do Código Penal brasileiro, em quatro anos. Sob o ângulo da prescrição da pretensão puni-tiva, não se passaram quatro anos entre o fato e a interrupção da prescrição pelo

Page 39: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1039

recebimento da ação penal. Nem se desprezando o fator interruptivo se chegaria a esse decurso de tempo, pois o fato data de 1996 e a sentença condenatória, de 1999. Afasta-se, então, a prescrição da pretensão punitiva pela pena concretizada.

Resta o exame da prescrição da pretensão executória, considerado até mesmo o período, também, de quatro anos. A última decisão proferida no pro-cesso em curso no país requerente é de 2 de setembro de 2003 (fls. 307 e 322). Então, completar-se-iam os quatro anos em setembro de 2007. Vale frisar, por oportuno, que não cabe observar o art. 113 do Código Penal. O Extraditando realmente ficou sob a custódia do Estado requerente por 366 (trezentos e sessenta e seis) dias (fls. 328 e 329), estando preso no Brasil desde 13 de julho de 2006 (fl. 569, Prisão Preventiva para Extradição). Satisfeita a fiança, veio a quebrá-la (fls. 328 e 329). Ocorre que tal período diz respeito à prisão preventiva, não se tratando de evasão de condenado ou de revogação de livramento condicional. Em última análise, o art. 113 do Código Penal versa situações passíveis de surgirem quando já precluso o título condenatório. O tempo da preventiva não é alcançado pelo pre-ceito, valendo notar, de qualquer forma, que, subtraída do total da apenação – 10 anos – a pena máxima prevista para o tipo estranho ao Direito brasileiro – art. 357, inciso 2, do Código coreano – ou seja, o total de 2 anos, sobejam 8 anos. Afastado o ano já cumprido, chega-se ao resíduo de 7 anos.

A rigor, o Extraditando pretende o rejulgamento da matéria. O termo ini-cial da prescrição executória é contado a partir da data em que transitado em julgado o título judicial.

No tocante ao período em que o Extraditando esteve preso na Coréia, pro-vejo os declaratórios apenas para explicitar que deverá ser levado em conta pelo Governo requerente o real período da custódia, já que a referência a 366 dias não infirma a necessária consideração do período realmente verificado. Não há qual-quer vício quanto à observância das condições pelo Governo requerente, não se podendo presumir o excepcional, ou seja, que, assumindo a obrigação de atentar para os parâmetros do pronunciamento deste Tribunal, não venha a fazê-lo.

Com relação à permanência no Brasil enquanto em curso inquéritos e ações penais existentes, provejo os declaratórios para assentar que a entrega fica a cargo do chefe do Poder Executivo.

EXTRATO DA ATA

Ext 906-ED/República da Coréia — Relator: Ministro Marco Aurélio. Embargante: Chong Jin Jeon (Advogados: Daniel Leon Bialski e outros). Embargado: República da Coréia (Advogado: Renato Borges Rezende).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, deu provimento aos embargos, sem eficácia modificativa. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen Gracie.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Celso do Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Cármen Lúcia e Menezes

Page 40: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051040

Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 18 de outubro de 2007 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 41: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1041

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 980 — DF(ADI 980-MC na RTJ 156-777)

Relator: O Sr. Ministro Menezes DireitoRequerente: Procurador-Geral da República — Requerida: Câmara

Legislativa do Distrito Federal

Ação direta de inconstitucionalidade. Arts. 46, § 1º, e 53, pa-rágrafo único, da Lei Orgânica do Distrito Federal. Exigência de concurso público. Art. 37, II, da Constituição Federal. Ausência de prejudicialidade. Iniciativa do Poder Executivo. Precedentes da Corte.

1. A inteira modificação do art. 39 da Constituição Federal não autoriza o exame do tema constitucional sob sua regência.

2. Não há alteração substancial do art. 37, II, da Constituição Federal quando mantida em toda linha a exigência de concurso público como modalidade de acesso ao serviço público.

3. É inconstitucional a lei que autoriza o sistema de opção ou de aproveitamento de servidores federais, estaduais e muni-cipais sem que seja cumprida a exigência de concurso público.

4. A Lei Orgânica tem força e autoridade equivalentes a um verdadeiro estatuto constitucional, podendo ser equiparada às Constituições promulgadas pelos Estados-membros, como as-sentado no julgamento que deferiu a medida cautelar nesta ação direta.

5. Tratando-se de criação de funções, cargos e empregos públicos ou de regime jurídico de servidores públicos impõe-se a iniciativa exclusiva do chefe do Poder Executivo nos termos do art. 61, 1º, II, da Constituição Federal, o que, evidentemente, não se dá com a Lei Orgânica.

6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, julgar procedente a ação direta de inconstitucionali-dade, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 6 de março de 2008 — Menezes Direito, Relator.

Page 42: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051042

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Esta a petição inicial (fl. 2):

O Procurador-Geral da República, com fundamento no art. 103, VI, da Constituição Federal, vem ajuizar, perante esse Colendo Supremo Tribunal Federal, ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de suspensão limi-nar, do art. 46 do Ato das Disposições Transitórias da Lei Orgânica do Distrito Federal, que permite, mediante opção, aos empregados do complexo administra-tivo do Distrito Federal (administração indireta), regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, integrarem o regime jurídico único da administração direta e do art. 53, do mesmo ADT, que admite, também por opção, o aproveitamento na Fundação Educacional do Distrito Federal de professores de outras unidades da Federação.

É este o teor dos dispositivos impugnados:“Art. 46. Os empregados do complexo administrativo do Distrito

Federal, que passaram à condição de funcionários públicos por força da Lei nº 4.242, de 17 de julho de 1963, arts. 40 e 43, e optaram pelo regime cele-tista nos termos da Lei nº 6.162, de 6 de dezembro de 1974, poderão integrar o regime jurídico único da administração direta, mediante opção, a partir da promulgação desta Lei Orgânica, preservados os direitos adquiridos no emprego permanente que ocuparem à data da opção.

§ 1º O disposto no caput artigo aplica-se também aos aposentados.”“Art. 53. Os professores originários da União, Estados e Municípios

que se encontram à disposição do Distrito Federal poderão optar, após anu-ência da unidade cedente, por ser aproveitados na Fundação Educacional do Distrito Federal.

Parágrafo único. Poderão exercer o direito de opção os professores que:

I – sejam concursados em suas unidades de origem;II – tenham estado à disposição do Distrito Federal até 31 de dezem-

bro de 1991.”Adota o autor, como fundamento jurídico do pedido, as razões constantes

da representação anexa, que lhe foi dirigida pela Procuradora-Geral da Justiça do Ministério Público do Distrito Federal, onde se aponta incompatibilidade dos arts. 46 e 53 do Ato das Disposições Transitórias da Lei Orgânica do Distrito Federal com os arts. 37, II, e 39 da Constituição Federal.

Requer o Autor medida cautelar de suspensão da eficácia dos dispositivos impugnados até a decisão final na presente ação direta de inconstitucionalidade, em face da relevância dos fundamentos jurídicos do pedido e do periculum in mora, por criar em situações jurídicas, cuja desconstituição acarretará transtornos à Administração e aos destinatários das normas impugnadas.

Da representação da Procuradora-Geral de Justiça do Distrito Federal, Marluce Aparecida Lima, colhe-se (fls. 6/8):

A opção prevista no art. 46 do ADT da LODF, que beneficia os empregados do complexo administrativo do Distrito Federal (administração indireta), regidos pela CLT, que poderão integrar o regime jurídico único da administração direta,

Page 43: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1043

constitui expediente odioso a ludibriar a exigência constitucional do concurso público (art. 37, II, CF).

3. Conforme bem sintetiza José Afonso da Silva, in Curso de Direito Constitucional Positivo, Ed. RT, 6ª ed., p. 579:

“isso quer dizer que o regime jurídico único, que o regime geral em cada esfera governamental (federal, estadual, distrital e municipal), é o es-tatutário. E o estatuto, portanto, o institui mediante preceitos que consubs-tanciem a unidade administrativa (...)

Os empregos públicos, para cujo provimento também se impõe prévio concurso público de provas ou de provas e títulos (art. 37, II), são adequados à organização dos servidores das entidades de Administração indireta (so-ciedades de economia mista e empresas públicas) contratados no regime da legislação trabalhista (art. 173, § 1º).

Essa interpretação baseia-se na sistemática constitucional, mas de-corre especialmente do texto do art. 39, que predestina o regime jurídico único (regime estatutário, regedor de cargos) às três administrações: direta, autárquica e fundacional, enlaçando-as naquele e nos planos de carreira, com o que o regime de emprego público ficou destinado às entidades de Administração indireta.” Assim, flagrante a inconstitucionalidade do artigo 46 do ADT da LODF, por

afronta aos arts. 37, II, e 39 da Carta Magna, impõe-se interposição de ação direta de inconstitucionalidade, para preservação da ordem jurídica.

4. Igualmente eivado de inconstitucionalidade o art. 53 do ADT daquele mesmo diploma legal, verbis:

“Art. 53. Os professores originários da União, Estados e Municípios que se encontram à disposição do Distrito Federal poderão optar, após anuên-cia da unidade cedente, por ser aproveitados na Fundação Educacional do Distrito Federal.

Parágrafo único. Poderão exercer o direito de opção os professores que:

I – sejam concursados em suas unidades de origem;II – tenham estado à disposição do Distrito Federal até 31 de dezem-

bro de 1991.” Idêntica disposição legal já fora objeto de ação direta de inconstituciona-

lidade, julgada procedente pelo STF, na ADIn nº 402-6/DF, tendo por objeto os arts. 1º e 2º da Lei 96/90 e os arts. 1º a 5º da Lei 105/90, ambas do Distrito Federal.

5. O dispositivo legal acima, quando admite o aproveitamento, mediante opção, na Fundação Educacional do DF, de professores de outras unidades da Federação, contraria flagrantemente o art. 37, II, da Constituição Federal, que exige concurso público não só para a primeira investidura em cargo público, mas também para formas de provimento que importem em trasladação do concursado para cargo de natureza diversa ou de outra carreira.

Em 3-2-94, o Plenário, por unanimidade, deferiu a suspensão cautelar dos dispositivos questionados (fls. 33/45).

Prestou informações o Senhor Presidente da Câmara Legislativa do Dis-trito Federal, Deputado Benício Tavares (fls. 21/31).

Page 44: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051044

Contesta-se nelas a argüição de inconstitucionalidade, assim resumida ao final a argumentação desenvolvida (fls. 30/31):

Reiteramos o entendimento de que não há conflito hierárquico do art. 46 e seu § 1º e do art. 53 do ADT da LODF com o art. 37, II, da CF, por não cuidarem de investidura ou reinvestidura em cargos ou empregos públicos. Tampouco sub-siste conflito entre aqueles e o art. 39, CF. O primeiro artigo impugnado consigna sobre a extensão, aos empregados do complexo administrativo do Distrito Federal (incluindo os aposentados), do regime jurídico adotado na administração direta. O art. 53 das Disposições Transitórias trata do instituto da cessão, legal e praticado reiteradamente no serviço público, o que afasta, destarte, qualquer inconstitucionalidade.

Reporta-se às informações, em defesa dos textos inquinados de inconsti-tucionais, o em. Advogado-Geral da União (fl. 49).

Finalmente, o parecer da Procuradoria-Geral, da lavra ilustre da Dra. Anadyr Rodrigues, é pela procedência da ação direta (fls. 57/65).

Reporta-se para tanto ao voto condutor do em. Ministro Celso de Mello, Relator do acórdão concessivo da cautelar, que aduz: “por si só basta, na sus-tentação do que há de ser decidido, no julgamento do meritum causae, eis que condensa o atual pensamento dessa Suprema Corte sobre a matéria, que assim se expressa:

O inciso II do art. 37 da Constituição Federal também não permite o “apro-veitamento”, uma vez que, nesse caso, há igualmente o ingresso em outra carreira sem o concurso exigido pelo mencionado dispositivo.(ADI 231/RJ, Rel. Min. Moreira Alves, in DJ de 13-11-92, p. 20848.)

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): O art. 46 da Lei Orgânica do Distrito Federal, em substância, aplica aos empregados de toda a administração direta do complexo administrativo local, submetidos à legislação trabalhista, a conversão ao regime único previsto no primitivo art. 39 da Constituição de 1988, preservando-lhes, de sobra, “os direitos adquiridos no emprego perma-nente que ocuparem à data de opção”.

A constitucionalidade do dispositivo pendia, assim, da inteligência da prescrição originária do referido art. 39 CF, já no tocante ao seu âmbito pessoal, já no tocante ao seu alcance intertemporal.

Sucede que, com a EC 20/98 – “reforma administrativa” –, nada restou da substância normativa do art. 39 da Constituição, que passou a reger matéria de todo estranha à sua temática original.

Constitui ponto dogmático do sistema de controle abstrato de constitucio-nalidade de normas a sua destinação específica à afirmação da autoridade da

Page 45: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1045

Constituição ou, em caso de alteração do seu texto primitivo, do conteúdo da Lei Fundamental vigente ao tempo da decisão da ação direta.

Para não chegar à solução radical – que uma lógica pura quiçá impusesse, dada a abstração da causa petendi da ação direta de inconstitucionalidade – de reputar prejudicadas todas as argüições pendentes, se intercorre qualquer emenda ao texto da Constituição vigente ao tempo delas; a jurisprudência do Tribunal, porém, tem restringido o prejuízo àquelas hipóteses em que o padrão constitucional alterado seja de manifesta pertinência à matéria da norma legal impugnada (v.g., ADI 1.907-QO, 18-2-99, Gallotti; ADI 512, Marco Aurélio (vencido), 3-3-99; ADI 1.137, Galvão, 25-3-99; ADI 60, Néri, 17-6-99; ADI 1.993, Gallotti, 23-6-99).

É o caso.Extinta pela EC 20/98 a própria prescrição constitucional do regime único,

ficou prejudicada a argüição cuja procedência, ou não, pendia necessária e ine-vitavelmente da prévia determinação dos âmbitos pessoal e material da norma revogada.

Igualmente a aferição de validade do art. 53 da Lei Orgânica do DF, ao tempo de ajuizamento da presente ação direta, passava necessariamente pela ri-gidez do art. 37, II, da Constituição, em sua versão originária, que não conhecia outra ressalva à exigência de concurso público, para o provimento de cargo ou emprego público, que não a de tratar-se de “nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração”.

Também aqui a EC 20/98 impôs alteração de relevo ao paradigma inevitá-vel da constitucionalidade questionada.

A rigidez do primitivo art. 37, II, da Constituição, viu-se flexibilidade na nova dicção do preceito:

Art. 37. (...)II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação pré-

via de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei (...)

Saber se essa banda de flexibilização deixada pela norma superveniente à discrição de direito infraconstitucional possibilita ou não o aproveitamento, em outra Unidade da Federação, do servidor investido em cargo ou emprego público de outra é indagação que, conforme a jurisprudência recordada, já ultra-passa o âmbito de cognição da ação direta proposta sob padrão constitucional substancialmente diverso.

Por isso – sem adiantar juízo algum sobre a validade das normas impugna-das à luz do ordenamento constitucional vigente ao tempo de sua edição – julgo prejudicada ação direta, cessando os efeitos da medida cautelar: é o meu voto.

Page 46: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051046

VOTO

O Sr. Ministro Moreira Alves: Ministro Sepúlveda Pertence, é uma ação que diz respeito, apenas, aos tipos de provas e títulos em virtude da complexi-dade e natureza do cargo? Isso acabou com o concurso? Pode vir uma lei ordiná-ria e dizer que a investidura se fará sem concurso? Acho que não, porque não é preciso interpretar entrando numa análise mais profunda da Constituição, pois a única ressalva é o cargo em comissão. Mas o concurso continua existindo. Pode haver uma flexibilização do concurso, mas ele continua, senão vamos conside-rar que todas essas leis que admitem esse aproveitamento, apesar de tudo que já dissemos com base no art. 37 ficam insusceptíveis de exame em ação direta.

Veja V. Exa., se aqui se diz que é concurso público de acordo com a natu-reza e complexidade do cargo isso não quer dizer que, de acordo com a natureza e complexidade, não haja necessidade de concurso público, tanto assim que se acrescenta: “ressalvadas as nomeações para cargo em comissão”. Quer dizer, o concurso público pode ser mais complexo ou não, mas a exigência dele perma-nece. A flexibilidade que vejo é com relação à complexidade ou não do concurso.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Não desminto a interpreta-ção que V. Exa. dá ao novo texto constitucional: apenas me parece que ele não é inequívoco, até porque o aproveitamento, no caso, estaria sujeito à aprovação, a ter o funcionário ingressado no cargo primitivo por concurso público.

O Sr. Ministro Moreira Alves: Nessa lei estava isso?O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Estava.O Sr. Ministro Moreira Alves: Então, já havíamos admitido.O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Não. Até porque são leis de

outras unidades da Federação.O Sr. Ministro Moreira Alves: O art. 37, II, da Constituição não dizia

que devia ser naquela unidade. Trata-se da mesma coisa. Não se mudou nada a respeito. A mudança que houve aqui não diz respeito ao problema de saber se o concurso é da mesma unidade ou não. O art. 37, II, não dizia isso. Agora, isso decorre da Constituição. Assim, não houve modificação nenhuma, senão teria que ser explícita. Aqui é na forma da lei; caso contrário ela poderia afas-tar a exigência de concurso público. Diz-se aqui: “de acordo com natureza e complexidade do cargo”. Portanto, um concurso, de menor complexidade no Amapá poderia valer no Rio Grande do Sul. Se fosse de grande complexidade, não poderia?

O Sr. Ministro Octavio Gallotti: A justificação principal é que era de pro-vas e títulos, agora ficou “ou”, podendo haver concurso só de títulos ou só de provas.

O Sr. Ministro Moreira Alves: Quer dizer que esse problema diz respeito a provas apenas ou provas e títulos, conforme a complexidade da natureza do cargo. Não houve modificação com relação ao problema de um concurso numa

Page 47: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1047

unidade da Federação poder valer em outra. Existe uma forma prevista em lei com relação à complexidade e natureza, para saber se são provas só ou provas e títulos. Caso contrário não haveria sentido.

Portanto, dá-se uma alternativa, que está restringida: “de acordo com a na-tureza e a complexidade do cargo e do emprego na forma prevista em lei”. Quer dizer que a lei é que pode, de acordo com essa ressalva, determinar que é só de provas ou de provas e títulos.

O Sr. Ministro Nelson Jobim: A redação anterior do art. 37 já era “provas ou provas e títulos”. Ou seja, esse acréscimo restringiu a alternativa. A lei tem que definir quais são as hipóteses.

O Sr. Ministro Moreira Alves: Em face da complexidade e da natureza.Na realidade não há uma modificação para esse efeito, que é do aproveita-

mento de um concurso de uma unidade federativa para outra.O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Nos próximos casos, Senhor

Presidente, se a maioria estiver de acordo, ainda nesse juízo de delibação, proce-derei à análise do novo texto constitucional. Mas os precedentes não me parece autorizarem a tanto. Inovações mínimas levaram ao prejuízo de casos anterio-res. Permaneço com meu voto, nas duas partes dele. Quanto à primeira, que manda aplicar o regime único, não sei se há objeção.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Não existe mais a imposição pelo texto constitucional. O art. 39 foi modificado.

O Sr. Ministro Nelson Jobim: A segunda parte trata da opção.O Sr. Ministro Moreira Alves: Esse problema é delicado. Aqui, também,

não se ataca esse texto em face do regime único, mas a opção por ser funcioná-rio público, independentemente de concurso.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Estávamos validando essa opção aplicando o processo do regime único.

O Sr. Ministro Moreira Alves: O celetista estável, sem concurso, não.O Sr. Ministro Nelson Jobim: A efetivação no cargo, pois a estabilidade

vem da Constituição.O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Há mudança de regime.

Transformaram-se os contratos de trabalho em regime estatutário independen-temente de concurso.

O Sr. Ministro Moreira Alves: É preciso que consideremos se isso foi ata-cado em face do dispositivo do regime único.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Sim. E também o do concurso.O Sr. Ministro Moreira Alves: Também, porque principalmente do

concurso.O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Mas, quando aplicável a sub-

missão ao regime único, o concurso seria dispensável.

Page 48: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051048

O Sr. Ministro Moreira Alves: Com relação ao regime único, não há que se discutir, mas, sim, com relação ao concurso.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): A conversão, o âmbito com que chamei de conseqüências intertemporais da incidência da norma do regime único, poderia dispensar o concurso. Isso é de nossa jurisprudência sedimen-tada, data venia (veja-se, por exemplo, a ADI 982-MC, do Piauí).

O Sr. Ministro Moreira Alves: Data venia, em geral não. Isso só se admitiu com relação aos defensores públicos.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Vejo que não entendia nada do que foi a doutrina do Tribunal na aplicação do primitivo art. 39: para mim, ele implica que o “celetista” passou a funcionário público, independentemente de concurso.

O Sr. Ministro Moreira Alves: Tanto assim que o Presidente da República declarou que havia 50 mil celetistas que não prestaram concurso, dizendo, por-tanto, ser inconstitucional.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Porque não eram estáveis; todos os outros se transformaram em funcionários.

O Sr. Ministro Moreira Alves: Primeiro, não é dito que são estáveis pelo art. 19 do ADCT. Diz o art. 46 em causa:

Art. 46. Os empregados do complexo administrativo do Distrito Federal, que passaram à condição de funcionários públicos por força da Lei nº 4242, de 17 de julho de 1963, art. 40 e 43, e optaram pelo regime celetista nos termos da Lei nº 6.162, de 6 de dezembro de 1974, poderão integrar o regime jurídico único da administração direta, mediante opção, a partir da promulgação da Lei Orgânica, preservados os direitos adquiridos no emprego permanente que ocuparem à data da opção.

§ 1º O disposto no caput artigo aplica-se também aos aposentados.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Excelência, veja as datas referidas neste dispositivo para ver se se tratava de pessoas não alcançadas pelo art. 19. Uma coisa é o art. 19, outra é o beneficiário do art. 19, ou por qualquer outro acórdão estável por ter-se convertido em servidor público em razão do re-gime único. Já o declaramos aqui uma dezena de vezes.

O Sr. Ministro Moreira Alves: O que estamos discutindo aqui é que, em primeiro lugar, isso não foi atacado apenas pelo regime único; se fosse, não haveria dúvida alguma de que estava ultrapassado, pois não há regime único imposto pela Constituição. Mas foi atacado por falta do concurso público, que, mesmo com relação ao art. 19 do ADCT, também é aplicado, porque o parágrafo desse dispositivo diz que há necessidade de concurso para efeito de efetivação.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Para efetivação, mas não para conversão do celetista anterior em servidor público em função do regime único.

Page 49: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1049

O Sr. Ministro Moreira Alves: Na realidade, o que houve é que eles se tornaram funcionários públicos, e mais, com direitos adquiridos a todas as van-tagens que tinham como celetistas. Assim se tornaram independentemente de qualquer espécie de concurso. Aqui não se fala em concurso algum. Até porque em 1974 não havia necessidade de concurso para provimento que não fosse inicial.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Entre 1974 e 1988 correram catorze anos.

O Sr. Ministro Moreira Alves: Por isso eram estabilizados apenas.O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence (Relator): Então se converteram em

funcionários públicos.O Sr. Ministro Moreira Alves: Aqui não há conversão, senão não haveria

como atacar pelo art. 37, II. Não haveria sentido isso. Por que se falar em con-curso? Para quê?

Eles se transformaram em servidores, mas continuaram celetistas estabi-lizados, com a necessidade daquele concurso para efeito de efetivação. Aí sim, fazendo o concurso, seriam efetivados para o efeito de terem um cargo público.

Aqui passaram a ter um cargo público, tanto assim que se diz: preservados os direitos adquiridos no emprego permanente que ocuparam. Quer dizer, dei-xaram de ter esse emprego permanente.

EXTRATO DA ATA

ADI 980/DF — Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Requerente: Procurador-Geral da República. Requerida: Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Decisão: Após o voto do Ministro Sepúlveda Pertence (Relator), julgando prejudicada a ação direta, S. Exa. indicou adiamento para o exame de ques-tões postas no debate. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Plenário, 3-2-00.

Decisão: Retirado de pauta. Ausente, licenciado, o Ministro Eros Grau. Presidência da Ministra Ellen Gracie.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 12 de setembro de 2007 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Esta a petição inicial (fl. 2):

Page 50: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051050

O Procurador-Geral da República, com fundamento no art. 103, VI, da Constituição Federal, vem ajuizar, perante esse Colendo Supremo Tribunal Federal, ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de suspensão limi-nar, do art. 46 do Ato das Disposições Transitórias da Lei Orgânica do Distrito Federal que permite, mediante opção, aos empregados do complexo administra-tivo do Distrito Federal (Administração indireta), regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, integrarem o regime jurídico único da Administração Direta e do art. 53, do mesmo ADT que admite, também por opção, o aproveitamento na Fundação Educacional do Distrito Federal de professores de outras unidades da Federação.

É este o teor dos dispositivos impugnados:“Art. 46. Os empregados do complexo administrativo do Distrito

Federal, que passaram à condição de funcionários públicos por força da Lei 4.242, de 17 de julho de 1963, arts. 40 e 43, e optaram pelo regime ce-letista nos termos da Lei 6.162, de 6 de dezembro de 1974, poderão integrar o regime jurídico único da administração direta, mediante opção, a partir da promulgação desta Lei Orgânica, preservados os direitos adquiridos no emprego permanente que ocuparem à data da opção.

§ 1º O disposto no caput artigo aplica-se também aos aposentados.”“Art. 53. Os professores originários da União, Estados e Municípios

que se encontram à disposição do Distrito Federal poderão optar, após anuên-cia da unidade cedente, por ser aproveitados na Fundação Educacional do Distrito Federal.

Parágrafo único. Poderão exercer o direito de opção os professores que:

I – sejam concursados em suas unidades de origem;II – tenham estado à disposição do Distrito Federal até 31 de dezem-

bro de 1991.”Adota o Autor, como fundamento jurídico do pedido, as razões constantes

da representação anexa, que lhe foi dirigida pela Procuradora-Geral da Justiça do Ministério Público do Distrito Federal, onde se aponta incompatibilidade dos arts. 46 e 53 do Ato das Disposições Transitórias da Lei Orgânica do Distrito Federal com os artigos 37, II, e 39 da Constituição Federal.

Requer o Autor medida cautelar de suspensão da eficácia dos dispositivos impugnados até a decisão final na presente ação direta de inconstitucionalidade, em face da relevância dos fundamentos jurídicos do pedido e do periculum in mora, por criar em situações jurídicas, cuja desconstituição acarretará transtornos à Administração e aos destinatários das normas impugnadas.

Da representação da Procuradora-Geral de Justiça do Distrito Federal, Dra. Marluce Aparecida Lima, colhe-se (fls. 6 a 8):

(...)A opção prevista no art. 46 do ADT da LODF, que beneficia os empregados

do complexo administrativo do Distrito Federal (administração indireta), regidos pela CLT, que poderão integrar o regime jurídico único da administração direta, constitui expediente odioso a ludibriar a exigência constitucional do concurso público (art. 37, II, CF).

Page 51: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1051

3. Conforme bem sintetiza José Afonso da Silva, in Curso de Direito Constitucional Positivo, Ed. RT, 6ª ed., p. 579:

“isso quer dizer que o regime jurídico único, que o regime geral em cada esfera governamental (federal, estadual, distrital e municipal), é o es-tatutário. E o estatuto, portanto, o institui mediante preceitos que consubs-tanciem a unidade administrativa (...)

Os empregos públicos, para cujo provimento também se impõe prévio concurso público de provas ou de provas e títulos (art. 37, II), são adequados à organização dos servidores das entidades de Administração indireta (so-ciedades de economia mista e empresas públicas) contratados no regime da legislação trabalhista (art. 173, § 1º).

Essa interpretação baseia-se na sistemática constitucional, mas de-corre especialmente do texto do art. 39, que predestina o regime jurídico único (regime estatutário, regedor de cargos) às três administrações: direta, autárquica e fundacional, enlaçando-as naquele e nos planos de carreira, com o que o regime de emprego público ficou destinado às entidades de Administração indireta.”Assim, flagrante a inconstitucionalidade do artigo 46 do ADT da LODF, por

afronta aos arts. 37, II, e 39 da Carta Magna, impõe-se interposição de ação direta de inconstitucionalidade, para preservação da ordem jurídica.

4. Igualmente eivado de inconstitucionalidade o art. 53 do ADT daquele mesmo diploma legal, verbis:

“Art. 53. Os professores originários da União, Estados e Municípios que se encontram à disposição do Distrito Federal poderão optar, após anuên-cia da unidade cedente, por ser aproveitados na Fundação Educacional do Distrito Federal.

Parágrafo único. Poderão exercer o direito de opção os professores que:

I – sejam concursados em suas unidades de origem;II – tenham estado à disposição do Distrito Federal até 31 de dezem-

bro de 1991.”Idêntica disposição legal já fora objeto de ação direta de inconstituciona-

lidade, julgada procedente pelo STF, na ADIn nº 402-6/DF, tendo por objeto os arts. 1º e 2º da Lei 96/90 e os arts. 1º a 5º da Lei 105/90, ambas do Distrito Federal.

5. O dispositivo legal acima, quando admite o aproveitamento, mediante opção, na Fundação Educacional do DF, de professores de outras unidades da Federação, contraria flagrantemente o art. 37, II da Constituição Federal, que exige concurso público não só para a primeira investidura em cargo público, mas também para formas de provimento que importem em trasladação do concursado para cargo de natureza diversa ou de outra carreira.

Em 3-2-94, o Plenário, por unanimidade, deferiu a suspensão cautelar dos dispositivos questionados (fls. 33 a 45).

Prestou informações o Senhor Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Deputado Benício Tavares (fls. 21 a 31), contestando a argüição de inconstitucionalidade, assim resumida ao final da argumentação desenvolvida:

Reiteramos o entendimento de que não há conflito hierárquico do art. 46 e seu § 1º e do art. 53 do ADT da LODF com o art. 37, II, da CF, por não cuidarem

Page 52: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051052

de investidura ou reinvestidura em cargos ou empregos públicos. Tampouco subsiste conflito entre aqueles e o art. 39, CF. O primeiro artigo impugnado con-signa sobre a extensão, aos empregados do complexo administrativo do Distrito Federal (incluindo os aposentados), do regime jurídico adotado na administração direta. O art. 53 das Disposições Transitórias trata do instituto da cessão, legal e praticado reiteradamente no serviço público, o que afasta, destarte, qualquer inconstitucionalidade.(Fls. 30/31.)

Reporta-se às informações, em defesa dos textos inquinados de inconsti-tucionais, o eminente Advogado-Geral da União (fl. 49).

Finalmente, o parecer da Procuradoria-Geral, da lavra da ilustre Dra. Anadyr Rodrigues, é pela procedência da ação direta (fls. 57 a 65), aludindo para tanto ao voto condutor do eminente Ministro Celso de Mello, Relator do acórdão concessivo da cautelar, que aduz que, “por si só basta, na sustentação do que há de ser decidido, no julgamento do meritum causae, eis que condensa o atual pensamento dessa Suprema Corte sobre a matéria, que assim se expressa:

O inciso II do artigo 37 da Constituição Federal também não permite o “aproveitamento”, uma vez que, nesse caso, há igualmente o ingresso em outra carreira sem o concurso exigido pelo mencionado dispositivo.(ADI 231/RJ, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 13-11-92.)

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): O Procurador-Geral da República ingressou com ação direta de inconstitucionalidade com pedido de suspensão liminar do art. 46 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Lei Orgânica do Distrito Federal “que permite, mediante opção, aos empregados do complexo administrativo do Distrito Federal (administração indireta), regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, integrarem o regime jurídico único da Administração Direta e do artigo 53 do mesmo ADT que admite, também por opção, o aproveitamento na Fundação Educacional do Distrito Federal de pro-fessores de outras unidades da Federação” (fl. 2). Aponta-se incompatibilidade com os arts. 37, II, e 39 da Constituição Federal.

As informações da Câmara Legislativa estão nos autos defendendo os dis-positivos impugnados.

Esta Corte, com o voto do eminente Ministro Celso de Melo, Relator ori-ginário, concedeu a medida cautelar em votação unânime (fls. 44/45).

O Advogado-Geral da União está nos autos pedindo a improcedência da ação “em respeito ao entendimento proferido por essa Excelsa Corte, em decisão unânime, na ADIN nº 72-1/600-ES (...)” (fl. 54).

Page 53: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1053

O Procurador-Geral da República opinou pela procedência da ação, invo-cando a ADI 231/RJ, Relator o Ministro Moreira Alves.

Em sessão de 12 de setembro de 2000, o eminente Ministro Sepúlveda Pertence, então Relator, votou por considerar prejudicada a ação. Segundo S. Exa., “o art. 46 da Lei Orgânica do Distrito Federal, em substância, aplica aos empregados de toda a administração direta do complexo administrativo local, submetidos à legislação trabalhista, a conversão ao regime único previsto no primitivo art. 39 da Constituição de 1988, preservando-lhes, de sobra, ‘os direi-tos adquiridos no emprego permanente que ocuparem à data de opção’”. Com isso, entendeu o Ministro Pertence, a “constitucionalidade do dispositivo pen-dia, assim, da inteligência da prescrição originária do referido art. 39 CF, já no toante ao seu âmbito pessoal, já no tocante ao seu alcance intertemporal”. Mas com a Emenda Constitucional 19, de 1998, “nada restou da substância norma-tiva do art. 39 da Constituição, que passou a reger matéria de todo estranha à sua temática original”. É que, no caso, salientou o Ministro Pertence, tendo sido extinta pela Emenda Constitucional 19 “a própria prescrição constitucional do ‘regime único’, ficou prejudicada a argüição cuja procedência ou não pendia necessária e inevitavelmente da prévia determinação dos âmbitos pessoal e ma-terial da norma revogada”. E no mesmo diapasão, entendeu S. Exa., está o art. 53 da Lei Orgânica do Distrito Federal, que “passava necessariamente pela rigi-dez do art. 37, II, da Constituição, em sua versão originária, que não conhecia outra ressalva à exigência de concurso público, para o provimento de cargo ou emprego público, que não a de tratar-se de ‘nomeações para cargo em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração’”. Advertiu, então, que a EC 20, de 1998 “impôs alteração de relevo ao paradigma inevitável da constitucionali-dade questionada”. Concluiu, então, o Ministro Pertence:

Saber se essa banda de flexibilização deixada pela norma superveniente à discrição de direito infraconstitucional possibilita ou não o aproveitamento, em outra unidade da Federação, do servidor investido em cargo ou emprego público de outra é indagação que, conforme a jurisprudência recordada, já ultrapassa o âmbito de cognição da ação direta proposta sob padrão constitucional substan-cialmente diverso.

Na sessão de 3 de fevereiro de 2000, decidiu-se pelo adiamento do feito considerando a controvérsia instalada relativamente à nova redação do art. 37, II, da Constituição Federal, e também no que diz com a redação do art. 39, que, na sua nova forma, “passou a reger matéria de todo estranha à sua temática original”.

Começo por examinar o tema relativo ao art. 39 da Constituição Federal no tocante ao art. 46 da Lei Orgânica.

Durante os debates, o Ministro Moreira Alves indicou que não houve ata-que ao dispositivo apenas sob o aspecto do regime jurídico único, mas, também, pelo ângulo da falta de concurso público, “que, mesmo no art. 19, também é

Page 54: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051054

aplicado, porque o parágrafo do art. 19 do ADCT diz que há necessidade de um concurso para efeito de efetivação”.

No que se refere ao ataque constitucional com base no art. 39 na sua primi-tiva redação, tenho por prejudicada a ação direta. É que o art. 39 da Constituição Federal, que determinava a instituição do regime jurídico único e de planos de carreira para os servidores da administração direta, das autarquias e das fun-dações públicas, foi substancialmente modificado. Nesse caso, já não mais se cuidava na nova redação da conversão ao regime jurídico único, extinto pela EC 20, de 1998. Com isso, ficou afastada a questão da constitucionalidade do art. 46 da Lei Orgânica, impugnado na inicial considerando a violação apontada no que se refere à redação original do referido art. 39.

Por outro lado, a inicial, apoiada na representação que lhe serviu de su-porte, pretende que o art. 46 impugnado teria também violado a disciplina do art. 37, II, da Constituição Federal. Diz-se que a “opção prevista no art. 46 do ADT da LODF, que beneficia empregados do complexo administrativo do Distrito Federal (administração indireta), regidos pela CLT, que poderão in-tegrar o regime jurídico único da administração direta constitui expediente odioso a ludibriar a exigência constitucional do concurso público (art. 37, II CF)” (fls. 6/7). Há, portanto, concreta indicação de que o art. 46 do Ato das Disposições Transitórias da Lei Orgânica do Distrito Federal teria igualmente violado o art. 37, II, da Constituição Federal, na sua primitiva redação. Tudo está assim envolvendo a questão relativa ao concurso público. Logo, pertinente o exame do tema em conjunto com o art. 53 do Ato das Disposições Transitórias da Lei Orgânica do Distrito Federal.

A redação original do art. 37, II, tinha a redação que segue:

Art. 37.(...)II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação pré-

via em concurso público de provas ou de provas e títulos, ressalvadas as nomea-ções para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.

A nova redação tem o seguinte teor:

Art. 37.(...)II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação

prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressal-vadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.

Verifica-se que a alteração introduzida está nas orações “de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei”. Segundo o voto do Ministro Pertence, essa flexibilização afasta a pos-

Page 55: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1055

sibilidade de cognição da ação direta “proposta sob padrão constitucional subs-tancialmente diverso”.

A objeção levantada pelo Ministro Moreira Alves durante os debates está centrada no fato de que a flexibilidade não afasta a substância do dispositivo constitucional no que concerne à necessidade de concurso público, isto é, “o concurso público pode ser severo ou não, mas o princípio não mudou. Apenas estabeleceu-se que, ao invés de possuir uma disciplina única de concurso pú-blico, poderá haver provas mais puxadas ou não, tanto que há a ressalva ‘ressal-vadas as nomeações para o cargo’, quer dizer, essas não precisam de provas e títulos. A flexibilidade que vejo é com relação à severidade ou não do concurso”.

Partilho desse entendimento manifestado pelo eminente Ministro Moreira Alves. Na minha compreensão, o art. 37, II, não sofreu alteração substancial capaz de inviabilizar a ação direta. É que houve apenas a indicação de que o concurso público deveria considerar a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista na lei. Mas não se afastou a exigência do concurso de provas e títulos como forma de acesso ao serviço público. Assim, pertinente é o exame da impugnação dos dois dispositivos impugnados diante da regra ju-rídica do art. 37, II, da Constituição Federal.

E a conclusão a que chego é de que existe, sim, a inconstitucionalidade proclamada na inicial.

Quanto ao art. 46, o que se tem concretamente é a possibilidade de in-gresso no serviço público sem que seja por meio de concurso, a tanto equivale a opção assegurada “aos empregados do complexo administrativo do Distrito Federal, que passaram à condição de funcionários públicos por força da Lei nº 4.242, de 17 de julho de 1963, arts. 40 e 43, e optaram pelo regime celetista nos termos da Lei nº 6.162, de 6 de setembro de 1974”, os quais poderão integrar o regime jurídico único da administração direta, “preservados os direitos adqui-ridos no emprego permanente que ocuparem à data da opção”.

A questão do regime jurídico único não afasta a necessidade de haver previamente o concurso. Não se poderia autorizar a opção, em nenhuma cir-cunstância, se o optante não tivesse se submetido ao regime do art. 37, II, da Constituição Federal. Isso quer dizer que somente poderia optar aquele que já tivesse passado pela etapa do concurso público, sob pena de legitimar-se o in-gresso no regime jurídico único de pessoas que tivessem ingressado no serviço público sem submeter-se ao concurso. Isso, de resto, era expediente que se usava para cobrir legalmente as admissões indiretas de funcionários públicos nomea-dos sem a concorrência constitucional exigida para o acesso.

No que diz com o art. 53 da Lei Orgânica, tenho que está bem evidente a inconstitucionalidade, porquanto delineia o dispositivo a possibilidade de aproveitamento de professores originários de outras unidades da Federação e da União que se encontravam à disposição do Distrito Federal, com a anuência da unidade cedente, no quadro de funcionários do Distrito Federal. Note-se que o parágrafo único estabeleceu que poderiam exercer a opção os professores

Page 56: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051056

concursados em suas unidades de origem e que estivessem à disposição do Distrito Federal.

O que se tem nesse dispositivo é o conflito com a regra constitucional que exige o concurso público já não apenas para a primeira investidura, mas tam-bém para forma de provimento derivada, de aproveitamento. A jurisprudência da Suprema Corte tem muitos precedentes nessa direção, a demonstrar o rigor com que sempre entendeu a necessidade de preservar-se a regra constitucional do concurso público.

Na ADI 231/RJ, Relator o Ministro Moreira Alves, ficou bem assentado que o “critério de mérito aferível por concurso público de provas ou de provas e títulos é, no atual sistema constitucional, ressalvados os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração, indispensável para cargo ou emprego público, isolado ou em carreira”. E, ainda, expressamente, explicitou que “banidas das formas de investidura admitidas pela Constituição a ascensão e a transferência, que são formas de ingresso em carreira diversa daquela para a qual o servidor público ingressou por concurso, e que não são, por isso mesmo, ínsitas ao sistema de provimento em carreira, ao contrário do que sucede com a promoção, sem a qual obviamente não haverá carreira, mas, sim, uma sucessão ascendente de cargos isolados” (DJ de 13-11-92).

Mais recentemente, este Plenário decidiu na ADI 3.190/GO, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, declarar a inconstitucionalidade de resolução do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Goiás que dispunha sobre o aprovei-tamento de servidores requisitados. No caso, decidiu-se que “se, até no âmbito da mesma entidade federativa, assim se considera vedada pela Constituição o aproveitamento do servidor em carreira diversa, com mais razão se há de reputar inadmissível o aproveitamento de servidor estadual ou municipal nos quadros da Justiça Eleitoral, que integra o Poder Judiciário da União” (DJ de 24-11-06).

E ainda mais especificamente na ADI 402/DF, Relator o Ministro Moreira Alves, esta Suprema Corte decidiu que os “arts. 1º e 5º da Lei 105/90 do Distrito Federal são inconstitucionais por admitirem, sem concurso público, o aprovei-tamento de servidores federais, estaduais e municipais nos órgãos da adminis-tração direta, nas autarquias ou nas fundações do Distrito Federal para os quais foram requisitados. A exigência de concurso público se refere à investidura em cargo ou emprego público de carreira de cada pessoa jurídica de direito público, não autorizando o provimento inicial de cargo ou emprego de entidade política diversa” (DJ de 20-4-01).

Bem assinalou o eminente Ministro Celso de Mello, Relator quando do jul-gamento da medida cautelar, deferida, que, “no que concerne à norma que per-mite o aproveitamento de professores originários de outras entidades políticas no quadro do Distrito Federal, vislumbra-se, igualmente, a desconsideração do postulado do concurso público, que não admite quaisquer derrogações, além da-quelas constitucionalmente previstas” (fls. 38/39). Ademais, avançou o Ministro Celso de Mello, há a questão do “possível vício de inconstitucionalidade formal

Page 57: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1057

das normas em questão, que se acham incorporadas ao texto da Lei Orgânica do Distrito Federal” (fl. 39). E assim é pelo simples fato de que a “matéria veiculada nas normas em questão, por consubstanciar tema pertinente ao regime jurídico dos servidores públicos, deveria emanar de ato legislativo elaborado em pro-cesso de que pudesse co-participar o Governador do Distrito Federal” (fl. 40), nos termos do art. 61, § 1º, II, da Constituição Federal, o que evidentemente não se dá em relação à Lei Orgânica, que “equivale, em força, autoridade e eficácia jurídicas, a um verdadeiro estatuto constitucional, essencialmente equiparável às Constituições promulgadas pelos Estados-membros” (fl. 40), invocando lição de Manoel Gonçalves Ferreira Filho.

Destarte, tenho que, de fato, as normas impugnadas na presente ação di-reta são inconstitucionais, qualquer que seja o ângulo em que analisadas.

Por fim, anoto que, no caso, não há espaço para aplicar a modulação dos efeitos prevista no art. 27 da Lei 9.868, de 1999.

Em conclusão, julgo procedente a ação para declarar a inconstitucionali-dade do art. 46 e seu § 1º e do art. 53 e seu parágrafo único, ambos do Ato das Disposições Transitórias da Lei Orgânica do Distrito Federal.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Senhora Presidente, estou pensando em pedir vista, supondo que entraram regularmente.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Lerei, então, pois talvez fique explicitado, dado que a matéria tem vários precedentes. Digo o seguinte: a ques-tão do Regime Jurídico Único não afasta a necessidade de haver previamente o concurso. Não se poderia autorizar a opção, em nenhuma circunstância, se o optante não tivesse se submetido ao regime do art. 37, II, da Constituição Federal. Isso quer dizer que somente poderia optar aquele que já tivesse passado pela etapa do concurso público, sob pena de legitimar-se o ingresso, no Regime Jurídico Único, de pessoas que tivessem ingressado no serviço público sem submeter-se ao concurso. Isso, de resto, era expediente que se usava para cobrir legalmente as admissões indiretas de funcionários públicos nomeados sem a concorrência constitucional exigida para o acesso.

No que diz com o art. 53 da Lei Orgânica, tenho que está bem evidente a inconstitucionalidade, porquanto delineia o dispositivo a possibilidade de aproveitamento de professores originários de outras unidades da Federação e da União que se encontravam à disposição do Distrito Federal, com a anuência da unidade cedente, no quadro de funcionários do Governo distrital. Note-se que o parágrafo único estabeleceu que poderiam exercer a opção professores concursados em suas unidades de origem e que tenham estado à disposição do Distrito Federal. O que se tem nesse dispositivo é o conflito com a regra cons-titucional que exige o concurso público, já não apenas para a primeira investi-dura, mas também para a forma de provimento derivado de aproveitamento. A

Page 58: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051058

jurisprudência da Suprema Corte tem muitos precedentes nessa direção, a de-monstrar o rigor com que sempre entendeu a necessidade de preservar essa regra constitucional do concurso público.

Na ADI 231, Relator Ministro Moreira Alves, ficou bem assentado que o critério de mérito aferível por concurso público de provas ou de provas e títulos é, no atual sistema constitucional, ressalvados os cargos em comissão declara-dos em lei de livre nomeação e exoneração, indispensável para o cargo ou em-prego público isolado ou em carreira. E ainda expressamente explicitou: estão, pois, banidas as formas de investidura admitidas pela Constituição, a ascensão e a transferência, que são formas de ingresso em carreira diversa daquela para a qual o servidor público ingressou por concurso, e que não são, por isso mesmo, ínsitas ao sistema de provimento em carreira, ao contrário do que sucede com a promoção, sem a qual, obviamente, não haverá carreira, mas, sim, uma sucessão ascendente de cargos isolados.

Também na ADI 3.190, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, decla-rou esta Corte a inconstitucionalidade de resolução do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Goiás que dispunha sobre o aproveitamento de servidores requisitados.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Senhora Presidente, o art. 46 estabelece o seguinte:

Art. 46. Os empregados do complexo administrativo do Distrito Federal, que passaram à condição de funcionários públicos por força da Lei nº 4.242, de 17 de julho de 1963, arts. 40 e 43, e optaram pelo regime celetista nos termos da Lei nº 6.162, de 6 de dezembro de 1974, poderão integrar o regime jurídico único da administração direta, mediante opção, a partir da promulgação desta Lei Orgânica, preservados os direitos adquiridos no emprego permanente que ocupa-ram à data da opção.

Estamos falando, portanto, de uma norma da Lei Orgânica do Distrito Federal.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Ministro Gilmar Mendes, se V. Exa. me permitir, só quero lembrar que, no julgamento da cautelar, que foi deferida, o Ministro Celso de Mello, talvez S. Exa. possa resgatar, fez um pronunciamento demonstrando que a jurisprudência do Tribunal é exatamente nessa direção, nesse sentido.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Houve o deferimento da cautelar?O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Sim, houve. O Ministro Celso

de Mello disse o seguinte:

(...) no que concerne à norma que permite o aproveitamento de professores originários de outras entidades políticas no quadro do Distrito Federal, vislumbra-se igualmente a desconsideração do postulado do concurso público, que não ad-mite quaisquer derrogações além daquelas constitucionalmente previstas.

Page 59: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1059

E disse mais:

(...) há a questão do “possível vício de inconstitucionalidade formal das nor-mas em questão, que se acham incorporadas ao texto da Lei Orgânica do Distrito Federal”. E assim é, pelo simples fato de que a “matéria veiculada nas normas em questão, por consubstanciar tema pertinente ao regime jurídico dos servidores públicos, deveria emanar de ato legislativo elaborado em processo de que pudesse co-participar o Governador do Distrito Federal”, nos termos do art. 61, § 1º, II, da Constituição Federal, o que evidente não se dá em relação à Lei Orgânica, que “equivale, em força, autoridade e eficácias jurídicas, a um verdadeiro estatuto constitucional, essencialmente equiparável às Constituições promulgadas pelos Estados-membros”, invocando lição de Manoel Gonçalves Ferreira Filho.

Então, essa questão foi examinada sob esses duplos aspectos. O que va-mos admitir? Se admitirmos que é possível reconhecermos essa transposição, independentemente do concurso, a meu ver, estaremos praticando uma fraude indireta ao sistema constitucional, que exige concurso público para qualquer forma de provimento.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: A questão, parece-me, precisa ser esclare-cida do ponto de vista jurídico. Por exemplo, no modelo da União, o que se criou, pós 1970? Aquela dicotomia entre os servidores públicos e os funcionários pú-blicos, ambos admitidos por concurso público. Determinadas categorias eram admitidas por concurso público para os empregos públicos.

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Não, eram empregados públicos e servi-dores públicos.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Os empregados públicos, os servidores e os demais eram funcionários públicos. O que fez a Lei 8.112 – ficando no plano da União, em um dos dispositivos finais? Seguindo a opção do regime único, ela absorveu todos no regime estatutário. Não parece que isso represente qualquer violação ao princípio do concurso público. Por quê? Mudou-se o regime jurí-dico, mas a regra do concurso foi observada.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Não houve concurso. Tanto que estamos declarando a inconstitucionalidade – por isso a medida cautelar foi deferida – do art. 46, § 1º, e do 53, parágrafo único, da lei, porque, exatamente nessa hipótese, ficou evidenciado que se pode fazer o aproveitamento indepen-dentemente do concurso público. Nesse caso do Regime Jurídico Único, tam-bém nos Estados se admitia a dicotomia, mas essa dicotomia tinha, embaixo, a realização do concurso público. O que aconteceu aqui no Distrito Federal foi que se admitiu, pelo menos é o que se depreende do que foi examinado, uma incorporação aos quadros do serviço público, independentemente da prestação de concurso público. Isso não seria possível, pois consistiria uma fraude, até mesmo direta, à exigência constitucional do concurso público.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Claro.

Page 60: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051060

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Quando se admitiu a adoção do Regime Jurídico Único, naquela dicotomia funcionários públicos propriamente ditos e servidores públicos em tese, admitiu-se que isso pudesse ser feito subli-nhando-se que não o poderia sem a existência do concurso público. E, aqui, es-tamos dizendo que, nesses casos nos quais não há o concurso público, não pode, por isso a inconstitucionalidade. Daí essa observação que o Ministro Celso de Mello fez durante o julgamento da medida cautelar. S. Exa., cuidadoso como é, não apenas no sentido material da inconstitucionalidade, pela violação da exi-gência do concurso público, como também porque se tratava dessa matéria, não poderia ser feito sem a iniciativa ou pelo menos a co-participação do governador do Estado; daí a dupla inconstitucionalidade.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Sim, por ser norma constitucional.O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Se V. Exa. me permitir, Ministro

Gilmar Mendes, gostaria de complementar.Nessa oportunidade foi que o Ministro Celso de Mello fez um amplo es-

tudo sobre a natureza jurídica das leis orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, que, àquela época, se aplicava ao Distrito Federal.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Senhora Presidente, manifesto-me acom-panhando o voto do eminente Ministro Relator, sobretudo diante da cautelar já deferida. Estivéssemos nós a discutir, distanciados no tempo, essas questões que versam sobre servidores admitidos até 1991, eu já ficaria em grande dificuldade.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Ministro Gilmar Mendes, ape-nas para tranqüilizá-lo. Eu inclusive tive a cautela, pois sabemos que as ementas têm mais circulação do que o voto, de, na ementa, destacar explicitamente este aspecto: não se admite sem a existência de concurso público.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Sim, pois teremos, depois, de enfrentar essa questão delicada do Regime Único, que, também, se reproduz nos vários Estados. Mas já houve a cautelar pelo Tribunal, em 1994, de modo que o tema da segurança jurídica está totalmente superado.

Acompanho o voto do Ministro Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhora Presidente, também acompanho o voto do eminente Relator, com essa ênfase para o fato de que já houve cautelar desde 1994. Então, o princípio da segurança jurídica aqui não se põe, além do vício de iniciativa, também consignado pelo eminente Relator.

EXTRATO DA ATA

ADI 980/DF — Relator: Ministro Menezes Direito. Requerente: Procura- dor-Geral da República. Requerida: Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Page 61: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1061

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente a ação direta, nos termos do voto do Relator. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Ausente, justificadamente, o Ministro Joaquim Barbosa.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.

Brasília, 6 de março de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 62: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051062

QUESTÃO DE ORDEM NA EXTRADIÇÃO 1.068 — REPÚBLICA ARGENTINA

Relator: O Sr. Ministro Ricardo LewandowskiRequerente: Governo da Argentina — Extraditado: Nestor Daniel Moroño

Taboada ou Nestor Daniel Moroño

Questão de ordem. Extradição. Falta de intimação dos ad-vogados devidamente constituídos para a sessão de julgamento em Plenário. Demonstração de prejuízo para a defesa. Nulidade declarada.

I – A falta de intimação dos advogados constituídos para a sessão de julgamento da extradição é causa de nulidade, quando implica prejuízo à defesa. Precedentes. Súmula 523 desta Corte.

II – Petição recebida como questão de ordem, para sujeitar o pedido de nulidade à sessão plenária.

III – Nulidade declarada, a partir da data de publicação da pauta de julgamento, omissa em relação à nova defensoria do Extraditando.

IV – Questão resolvida, com determinação de novo julga-mento, com a devida celeridade.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade, apreciando questão de ordem suscitada pelo Relator, reconhecer a nulidade do julgamento para que outro seja proferido. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello, Joaquim Barbosa e Eros Grau.

Brasília, 8 de maio de 2008 — Ricardo Lewandowski, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Trata-se de petitio simplex, de fls. 346-349, que entendi por considerar questão de ordem.

Trata-se de extradição requerida pelo Governo da Argentina, que foi jul-gada neste Plenário, em 12 de março do ano de 2008, com a seguinte ata (fl. 344):

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, deferir o pedido de extradição. Ausente, licen-ciado, o Ministro Joaquim Barbosa.

Page 63: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1063

Certidão de fl. 345 dá conta de que “o acórdão de fl. 344 foi publicado no Diário da Justiça Eletrônico de 18 de abril de 2008”.

Às fls. 346-349, no entanto, a defesa do Extraditando, em petição firmada pela advogada Auceli Rosa de Oliveira, requer a nulidade daquele julgamento, com esta argumentação:

(...) consoante se depreende do documento anexo, a pauta de julgamento do Plenário fora divulgada no DJE nº 41/2008 em 06/03/2008 e publicada no dia 07/03/2008, em nome do Dr. Jorge Caetano Júnior, o qual, todavia, não mais re-presenta os interesses do extraditando desde 20/09/2007, diante da revogação ex-pressa aos poderes outrora conferidos (fl. 245).

Ora, evidente que, diante da revogação expressa dos poderes conferidos aos antigos causídicos (fl. 245) e da constituição de novos patronos (fl. 244), em nome destes deveria ter sido publicada a pauta da sessão plenária, sob pena de evidente nulidade.

Diante de tal ponderação, determinei à Secretaria que certificasse se a ale-gação era procedente (fl. 352), a que a Seção de Processos Diversos do Plenário, à fl. 353, respondeu:

Por um lapso, deixou-se de alterar a autuação destes autos para excluir o procurador com poderes revogados e incluir os novos procuradores constituídos. Assim sendo, as publicações posteriores permaneceram em nome daquele procura-dor desconstituído, como se verifica às fls. 250-251, 278, 290-291 e acórdão de fls. 334-344.

À fl. 355, optei por receber a petição como embargos de declaração.Entendo mais adequado, neste momento, considerá-la questão de ordem.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Diante do que consta dos autos, entendo que assiste razão à defensoria do Extraditando.

Com efeito, considerada a falha no tocante à anotação do nome dos novos patronos do Extraditando, alguns atos processuais foram levados a efeito veicu-lando-se, nas publicações, o nome dos antigos advogados que atuavam no feito, fato que enseja a nulidade destes.

Não houve, todavia, qualquer alegação de prejuízo quanto aos atos ante-riormente praticados, sem a comunicação dos novos patronos do Extraditando, até porque estes lançaram manifestação nos autos sem nada alegar em tal sen-tido (fls. 280-289), voltando o seu inconformismo apenas contra a realização da sessão de julgamento da extradição sem a devida intimação.

Os atos não impugnados pela defesa, na verdade, eram de caráter mera-mente instrutório, ao passo que a sessão de julgamento, de fato, apresenta um

Page 64: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051064

inegável cunho decisório. Aplica-se, pois, à espécie, o art. 563 do Código de Processo Penal, bem assim a Súmula 523 desta Corte.1

O prejuízo para a defesa, representado pela falta de intimação para a sessão de julgamento, que decidiu pela extradição, por evidente, independe de prova, até porque, caso o requeressem, os patronos poderiam oferecer susten-tação oral.

Isso posto, pelo meu voto, resolvo a questão de ordem reconhecendo a nulidade do processo a partir do julgamento da extradição, ocorrida em 6 de março de 2008, e demais atos subseqüentes (fls. 333 e seguintes), de acordo com o art. 573 e respectivos parágrafos do CPP,2 determinando, ainda, que se-jam feitas as devidas anotações nos autos quanto à substituição dos patronos do Extraditando, que deverão ser regularmente intimados do julgamento da extra-dição, para o qual, desde logo, peço pauta.

Mantenho a segregação cautelar do Extraditando, que constitui condição de procedibilidade da extradição, mesmo porque, sem qualquer vínculo com o País, poderá subtrair-se ao procedimento contra ele instaurado.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Presidente, houvesse no processo indícios da ciência do acórdão do Tribunal em data que pudesse revelar a preclusão da matéria, não teria a menor dúvida em entender prevalecente o que decidido.

Mas estamos diante de situação concreta na qual o Supremo foi informado do afastamento do causídico que vinha defendendo o Extraditando. Houve o credenciamento de um novo causídico, uma advogada. A pauta e também a pu-blicação do acórdão saíram com o nome do profissional anterior, que já não mais acompanhava o caso.

Diante dessas peculiaridades e porque, também, tem-se em jogo o direito de ir e vir, tem-se em jogo algo que viabilizará a persecução criminal no país de origem, acompanho o Relator.

EXTRATO DA ATA

Ext 1.068-QO/República Argentina — Relator: Ministro Ricardo Lewan-dowski. Requerente: Governo da Argentina. Extraditado: Nestor Daniel Moroño Taboada ou Nestor Daniel Moroño (Advogados: Thomás Rieth Marcello e outro e Auceli Rosa de Oliveira).

1 “Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.”

“Súmula 523 STF: No processo penal a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.”2 “Art. 573. Os atos cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos anteriores, serão renovados ou retificados.

§ 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente depen-dam ou sejam conseqüência.

§ 2º O juiz que pronunciou a nulidade declarará os atos a que ela se estende.”

Page 65: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1065

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, apreciando questão de ordem sus-citada pelo Relator, reconheceu a nulidade do julgamento para que outro seja proferido. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Presidiu o julgamento o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes à sessão os Ministros Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 8 de maio de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 66: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051066

EXTRADIÇÃO 1.073 — REPÚBLICA DO PERU

Relator: O Sr. Ministro Celso de MelloRequerente: Governo do Peru — Extraditando: Cledy Vasquez Ramirez

Extradição passiva de caráter instrutório – Tratado de extradição entre o Brasil e o Peru (Decreto 5.853/06) – Suposta prática dos delitos de “Falsificação de documentos”, “Peculato” e “Enriquecimento ilícito” – Observância, na espécie, quanto aos crimes de “Falsificação de documentos” e de “Peculato”, dos critérios da dupla tipicidade e da dupla punibilidade – Delito de “Enriquecimento ilícito” que não atende, segundo a legislação penal brasileira, ao requisito da dupla tipicidade – Extradição deferida, em parte.

Extradição – Dupla tipicidade e dupla punibilidade.– O postulado da dupla tipicidade – por constituir requisito

essencial ao atendimento do pedido de extradição – impõe que o ilícito penal atribuído ao extraditando seja juridicamente quali-ficado como crime tanto no Brasil quanto no Estado requerente. Delito imputado à súdita estrangeira – “Enriquecimento ilícito” – que não encontra, na espécie em exame, correspondência típica na legislação penal brasileira. Observância, no que concerne aos crimes de “Enriquecimento ilícito” e de “Peculato” do postulado da dupla tipicidade.

O que realmente importa, na aferição do postulado da dupla tipicidade, é a presença dos elementos estruturantes do tipo penal (essentialia delicti), tais como definidos nos preceitos primários de incriminação constantes da legislação brasileira e vigentes no ordenamento positivo do Estado requerente, inde-pendentemente da designação formal por eles atribuída aos fatos delituosos.

– Não se concederá a extradição, quando se achar extinta, em decorrência de qualquer causa legal, a punibilidade do extra-ditando, notadamente se se verificar a consumação da prescrição penal, seja nos termos da lei brasileira, seja segundo o ordena-mento positivo do Estado requerente. A satisfação da exigência concernente à dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extradicional. Observância, na espécie, do postulado da dupla punibilidade.

Existência de família brasileira, notadamente de filho com nacionalidade brasileira originária – Situação que não impede a extradição – Compatibilidade da Súmula 421/STF com a vigente Constituição da República.

Page 67: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1067

– A existência de relações familiares, a comprovação de vínculo conjugal ou a convivência more uxorio do extraditando com pessoa de nacionalidade brasileira constituem fatos destitu-ídos de relevância jurídica para efeitos extradicionais, não im-pedindo, em conseqüência, a efetivação da extradição do súdito estrangeiro. Precedentes.

– Não impede a extradição o fato de o súdito estrangeiro ser casado ou viver em união estável com pessoa de nacionalidade brasileira, ainda que com esta possua filho brasileiro.

– A Súmula 421/STF revela-se compatível com a vigente Constituição da República, pois, em tema de cooperação interna-cional na repressão a atos de criminalidade comum, a existência de vínculos conjugais e/ou familiares com pessoas de nacionali-dade brasileira não se qualifica como causa obstativa da extradi-ção. Precedentes.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, deferir, parcialmente, o pedido de extradição, nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie e o Ministro Eros Grau.

Brasília, 30 de abril de 2008 — Celso de Mello, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Celso de Mello: O Ministério Público Federal, em pare-cer da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da República Dra. CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES, aprovado pelo eminente Chefe dessa Instituição, Dr. ANTONIO FERNANDO BARROS E SILVA DE SOUZA, assim resumiu e apreciou o presente pedido extradicional, de caráter instrutório, dirigido pelo Governo da República do Peru, com fundamento em tratado de extradição, ao Governo brasileiro (fls. 1.331/1.334):

EXTRADIÇÃO FORMULADA PELO GOVERNO DO PERU. SUPOSTO COMETIMENTO DOS CRIMES DE PECULATO, ENRIQUECIMENTO ILÍCITO E CONTRA A FÉ PÚBLICA. OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS DA DUPLA TIPICIDADE E DA DUPLA PUNIBILIDADE EM RELAÇÃO AOS DELITOS DE PECULATO E CONTRA A FÉ PÚBLICA. PARECER PELA CONCESSÃO PARCIAL DO PEDIDO DE EXTRADIÇÃO.

1. Cuida-se de pedido de extradição formulado pelo Governo do Peru, com base no artigo IX do Tratado de Extradição celebrado entre o Brasil e o Peru, por meio da Nota Verbal nº 7/2007, de 8 de janeiro de 2007, da nacional peruana

Page 68: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051068

CLEDY VÁSQUEZ RAMÍREZ, pela suposta prática dos crimes de peculato, enriquecimento ilícito e falsidade contra a fé pública, cometidos entre os anos de 2002 e 2003, previstos nos artigos 387, 401 e 427 do Código penal peruano (fls. 1.038/1.116).

2. A prisão preventiva para fins de extradição foi concedida em 14 de março de 2007 (fls. 1.236/1.237) e efetivada em 16 de maio (fls. 1.266).

3. Constam dos autos o interrogatório da extraditanda (fls. 1.300/1.302), bem como sua defesa técnica (fls. 1.312/1.313).

4. A defesa entendeu estar presente o requisito da dupla tipicidade quanto aos delitos de peculato e falsificação de documentos; contudo, em face da ausên-cia desse mesmo requisito em relação ao delito de enriquecimento ilícito, reque-reu que o pedido de extradição fosse considerado prejudicado.

5. De fato, verifica-se, na espécie, o atendimento aos critérios da dupla tipicidade e da dupla punibilidade somente no tocante aos delitos de peculato e de falsificação de documentos, como bem ressaltou o próprio Estado requerente às fls. 1.062.

6. Isso porque, em relação ao delito de enriquecimento ilícito, previsto no art. 401 do Código Penal peruano, este se encontra presente somente na Lei nº 8429/92, configurando-se, para o direito brasileiro, assim, mero ato de improbi-dade administrativa.

7. Impossibilita-se, portanto, a análise do pedido de extradição quanto ao delito de enriquecimento ilícito, pois a Lei nº 6.815/80, em seu art. 77, II, expres-samente proíbe a extradição quando o fato que motivar o pedido não for conside-rado crime no Brasil ou no Estado requerente.

8. Pois bem, nos termos do Expediente nº 2003-0432 (Caderno de Extradição), imputa-se a seguinte conduta à extraditanda, “verbis”:

“É-lhe imputado à reclamada, que com finalidade de cobrar a quan-tia de mil e oitocentos nuevos soles, junto com a sua co-processada Mimna Marichi Marín, e na sua condição de Testemunha Atuária da Vara de Paz Letrada de San Juan, fez uma Procuração por Ata outorgado por John Abel Cáceres Villanueva em favor de sua co-processada (...), sem intervenção nem conhecimento do advogado patrocinador de quem imitou a assinatura e aproveitando sua condição de secretária de confiança da Vara de Paz Letrada de San Juan, surpreendeu o magistrado para que assine a citada procuração como se fosse um pré-munido de todas as garantias do caso.

Assim também, foi determinado que as processadas cobrassem diver-sas quantias de dinheiro no Banco de La Nación, por meio de certidões de Depósitos Judiciários nos processos de alimentos e obrigações de dar soma de dinheiro, que a reclamada tinha sob sua custódia; cobranças que ela fa-zia aproveitando sua condição de Testemunha Atuária nos processos a seu cuidado e os pertencentes a outros Secretários Judiciários, para o qual, a citada processada se conluiou com sua co-processada Marichi Martín. Assim também, sabe-se que a soma de dinheiro aproveitada ilegalmente em benefício das referidas, ultrapassariam os noventa mil nuevos soles”. (Fls. 1.048/1.049.)9. Observa-se que o pedido formal de extradição foi devidamente reali-

zado pelo Estado requerente, atendendo-se ao disposto no art. IX, do Tratado bilateral, e tendo sido instruído com cópia de todo o procedimento criminal (fls. 1.038/1.116) e os demais documentos exigidos pelos arts. I e IX do Tratado de

Page 69: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1069

Extradição celebrado entre os Estados brasileiro e peruano, havendo indicações seguras sobre o local, data, natureza e circunstâncias dos fatos delituosos.

10. Constam também dos autos cópias dos textos legais pertinentes (fls. 1.068/1.093), de modo a permitir ao Supremo Tribunal Federal o exame seguro da legalidade do pedido.

11. As condutas de falsificação de documentos e de peculato imputa-das à extraditanda, especificadas pela legislação penal alienígena, têm cor-respondência no Brasil aos crimes tipificados nos artigos 297 e 312 do CPB, respectivamente.

12. Quanto aos delitos de falsificação de documentos e de peculato, não há que se falar em ocorrência da prescrição. É que consta contra a extraditanda ordem de prisão pela prática desses delitos, havidos entre os anos de 2002 e 2003. Consoante a legislação peruana, a prescrição ocorrerá em tempo igual ao máximo da pena fixada pela lei para o delito, se a pena for privativa de liberdade (fls. 1.071/1.072).

13. Desse modo, as penas máximas atribuídas, pela legislação estrangeira, aos crimes de falsificação de documentos e de peculato são de 10 e 8 anos, respec-tivamente (fls. 1.085 e 1.090/1.091). Extrai-se, logo, que somente haverá o trans-curso do prazo prescricional, para o Estado requerente, nos anos de 2013 e 2011.

14. Nos termos da lei brasileira, também não há que se falar em prescrição. De acordo com o artigo 109, II e III, do CPB, a prescrição dar-se-á em doze e em dezesseis anos para os delitos de falsificação de documentos e de peculato, “i. e.”, em 2015 e 2019.

15. Por último, ainda que não tenha sido objeto de crítica pela defesa, é conveniente ressaltar que há inúmeros precedentes dessa Corte no sentido de que o casamento com nacional brasileiro ou a existência de filhos menores brasileiros não afasta o deferimento da extradição, estando tal entendimento de acordo com o disposto na Constituição Federal de 1988, pois, em tema de cooperação inter-nacional na repressão a atos de criminalidade comum, a existência de vínculos conjugais e/ou familiares com pessoas de nacionalidade brasileira não se quali-fica como causa obstativa da extradição.

16. Por todo o exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pela concessão parcial do pedido de extradição somente em relação aos delitos de peculato e falsificação de documentos.(Grifei.)

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): O Governo da República do Peru pretende a entrega extradicional de CLEDY VÁSQUEZ RAMÍREZ, súdita peruana, contra quem existe, naquele País, acusação penal pela su-posta prática dos crimes de “Falsificação de documentos”, “Peculato” e “Enriquecimento ilícito”.

A presente extradição reveste-se de caráter instrutório (YUSSEF SAID CAHALI, “Estatuto do Estrangeiro”, p. 363, 1983, Saraiva; GILDA RUSSOMANO, “A Extradição no Direito Internacional e no Direito

Page 70: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051070

Brasileiro”, p. 22, 2ª ed., 1973, Konfino; MIRTÔ FRAGA, “O Novo Estatuto do Estrangeiro Comentado”, p. 318, 1985, Forense), eis que a ora Extraditanda ainda não sofreu condenação definitiva pela suposta prática das infrações pe-nais de “Falsificação de documentos”, “Peculato” ou “Enriquecimento ilícito”.

Entendo, primeiramente, que esta extradição reveste-se de plena legitimi-dade e encontra fundamento jurídico em Tratado de Extradição celebrado entre o Brasil e o Peru, em vigor no sistema de direito positivo interno, desde 2006 (Decreto 5.853/06).

A Extraditanda – que está presa e recolhida à disposição deste Tribunal, na Unidade Prisional de Tabatinga, Estado do Amazonas (fl. 1272) – foi interro-gada por magistrado federal daquela Seção Judiciária.

O ato de interrogatório judicial, assistido por intérprete do idioma espa-nhol (fl. 1299), foi realizado na presença de Advogado regularmente constitu-ído pela ora Extraditanda (fls. 1.299/1.302).

A ora Extraditanda, por intermédio de Advogado constituído, produziu defesa técnica, em que impugnou o pedido extradicional ora em julgamento (fls. 1312/1313).

A pretensão extradicional deduzida pelo Governo do Peru satisfaz, a meu ver, em parte, a exigência concernente ao postulado da dupla tipicidade.

Com efeito, o exame dos autos evidencia que inexiste qualquer obstá-culo legal ao deferimento deste pedido de extradição relativamente à suposta prática dos crimes de “Falsificação de documentos” e de “Peculato”, pois, em relação a essas espécies delituosas, acha-se atendido o princípio da dupla tipicidade.

É que os crimes de “Falsificação de documentos” e de “Peculato” atri-buídos à ora Extraditanda acham-se definidos como fatos delituosos tanto na legislação penal do Estado requerente (Código Penal, art. 387 – Peculato e art. 427 – Falsificação de documentos), quanto no ordenamento positivo vigente no Brasil (CP, art. 297 – Falsificação de documento público e art. 312 – Peculato), o que se mostra suficiente para satisfazer o postulado da dupla incriminação, na linha do que tem sido reiteradamente proclamado pela jurisprudência desta Suprema Corte (RTJ 162/452 – RTJ 176/73-74):

EXTRADIÇÃO – DUPLA TIPICIDADE E DUPLA PUNIBILIDADE.– A possível diversidade formal concernente ao “nomen juris” das enti-

dades delituosas não atua como causa obstativa da extradição, desde que o fato imputado constitua crime sob a dupla perspectiva dos ordenamentos jurídicos vigentes no Brasil e no Estado estrangeiro que requer a efetivação da medida extradicional.

O postulado da dupla tipicidade – por constituir requisito essencial ao atendimento do pedido de extradição – impõe que o ilícito penal atribuído ao extra-ditando seja juridicamente qualificado como crime tanto no Brasil quanto no Estado requerente, sendo irrelevante, para esse específico efeito, a eventual variação terminológica registrada nas leis penais em confronto.

Page 71: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1071

O que realmente importa, na aferição do postulado da dupla tipicidade, é a presença dos elementos estruturantes do tipo penal (“essentialia delicti”), tais como definidos nos preceitos primários de incriminação constantes da legisla-ção brasileira e vigentes no ordenamento positivo do Estado requerente, inde-pendentemente da designação formal por eles atribuída aos fatos delituosos.”(Ext 977/República Portuguesa, Rel. Min. CELSO DE MELLO.)

Extradição: delitos de “burla qualificada” (Código Penal alemão, art. 263, alíneas 1 e 3) e “desvio” (Código Penal alemão, art. 246, alíneas 1 e 2), à base da imputação de fatos que, no direito brasileiro, encontram adequação no crime de estelionato (Código Penal art. 171, caput): dúplice incriminação dos fatos: de-mais pressupostos legais atendidos: deferimento.(Ext 1.004/República Federal da Alemanha, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – Grifei.)

Como bem ressaltado pela douta Procuradoria-Geral da República, jus-tifica-se, quanto a tais delitos (e unicamente quanto a eles), o acolhimento da postulação extradicional (fl. 1333):

11. As condutas de falsificação de documentos e de peculato imputadas à extraditanda, especificadas pela legislação penal alienígena, têm corres-pondência no Brasil aos crimes tipificados nos artigos 297 e 312 do CPB, respectivamente.(Grifei.)

De outro lado, cumpre registrar, por necessário, que não se justifica o deferimento deste pedido de extradição, no que concerne ao “Enriquecimento ilícito”, considerado, sob tal perspectiva, o correto pronunciamento do Ministério Público Federal (fl. 1332):

4. A defesa entendeu estar presente o requisito da dupla tipicidade quanto aos delitos de peculato e falsificação de documentos; contudo, em face da ausên-cia desse mesmo requisito em relação ao delito de enriquecimento ilícito, reque-reu que o pedido de extradição fosse considerado prejudicado.

5. De fato, verifica-se, na espécie, o atendimento aos critérios da dupla tipicidade e da dupla punibilidade somente no tocante aos delitos de peculato e de falsificação de documentos, como bem ressaltou o próprio Estado requerente às fls. 1.062.

6. Isso porque, em relação ao delito de enriquecimento ilícito, previsto no art. 401 do Código Penal peruano, este se encontra presente somente na Lei nº 8429/92, configurando-se, para o direito brasileiro, assim, mero ato de improbi-dade administrativa.

7. Impossibilita-se, portanto, a análise do pedido de extradição quanto ao delito de enriquecimento ilícito, pois a Lei nº 6.815/80, em seu art. 77, II, expres-samente proíbe a extradição quando o fato que motivar o pedido não for conside-rado crime no Brasil ou no Estado requerente.(Grifei.)

Page 72: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051072

O exame da presente causa revela, de outro lado, que a pretensão extra-dicional ora deduzida pela República do Peru também satisfaz, quanto aos cri-mes de “Falsificação de documentos” e de “Peculato”, a exigência concernente ao postulado da dupla punibilidade.

Com efeito, cabe esclarecer, no que concerne à prescrição penal perti-nente aos crimes imputados à ora Extraditanda, que estes teriam sido pratica-dos no período compreendido entre os anos de “dois mil e dois e parte do ano de dois mil e três” (fl. 311 – grifei), a significar que ainda não se verificou, quanto a eles, a prescrição penal, quer segundo a lei peruana, quer conforme o direito brasileiro.

Vale referir, no ponto, o pronunciamento que a douta Procuradoria-Geral da República produziu, nos presentes autos, a esse respeito (fls. 1333/1334):

12. Quanto aos delitos de falsificação de documentos e de peculato, não há que se falar em ocorrência da prescrição. É que consta contra a Extraditanda ordem de prisão pela prática desses delitos, havidos entre os anos de 2002 e 2003. Consoante a legislação peruana, a prescrição ocorrerá em tempo igual ao máximo da pena fixada pela lei para o delito, se a pena for privativa de liberdade (fls. 1.071/1.072).

13. Desse modo, as penas máximas atribuídas, pela legislação estrangeira, aos crimes de falsificação de documentos e de peculato são de 10 e 8 anos, respec-tivamente (fls. 1.085 e 1.090/1.091). Extrai-se, logo, que somente haverá o trans-curso do prazo prescricional, para o Estado requerente, nos anos de 2013 e 2011.

14. Nos termos da lei brasileira, também não há que se falar em prescrição. De acordo com o artigo 109, II e III, do CPB, a prescrição dar-se-á em doze e em dezesseis anos para os delitos de falsificação de documentos e de peculato, “i. e.”, em 2015 e 2019.(Grifei.)

Com efeito, os fatos imputados à ora Extraditanda, segundo se depreende do mandado de prisão produzido nos presentes autos (fls. 309/314), teriam ocor-rido entre os anos de 2002 e parte do ano de 2003.

Desse modo, o cotejo das datas juridicamente relevantes, demonstra que, entre o período da suposta prática dos delitos imputados à ora Extraditanda e a data deste julgamento, não se verificou a prescrição da pretensão punitiva, segundo a legislação brasileira (essa causa extintiva da punibilidade somente ocorrerá em 2015, com relação ao crime de falsificação de documento público, CP, art. 297, c/c o art. 109, III, e em 2019, com relação ao ilícito de peculato, CP, art. 312, c/c o art. 109, II).

No que concerne à prescrição segundo a legislação peruana, verifica-se que esta também não ocorreu, conforme destaca, em sua douta manifestação, a Procuradoria-Geral da República.

Possível, desse modo, relativamente aos delitos de “Falsificação de do-cumentos” e de “Peculato”, a extradição (de natureza instrutória) ora preten-

Page 73: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1073

dida pelo Governo do Peru, eis que inteiramente observada, no caso, quanto aos ilícitos penais em questão, a exigência da dupla punibilidade.

Nem se diga, finalmente, que não se acha subsistente a Súmula 421 desta Suprema Corte.

Com efeito, a circunstância de a ora Extraditanda possuir filhos brasilei-ros (fl. 1313) não impede, só por si, o deferimento do pedido de extradição, consoante tem sido enfatizado pelo magistério jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, cuja orientação, no tema, veio a ser reiterada já sob a égide da vigente Constituição da República:

INOCORRÊNCIA DE FATOS IMPEDITIVOS – SATISFAÇÃO DAS CON-DIÇÕES NECESSÁRIAS AO ATENDIMENTO DO PLEITO EXTRADICIONAL – EXISTÊNCIA DE FAMÍLIA BRASILEIRA (UNIÃO ESTÁVEL), NOTADA-MENTE DE FILHO COM NACIONALIDADE BRASILEIRA ORIGINÁRIA – SITUAÇÃO QUE NÃO IMPEDE A EXTRADIÇÃO – COMPATIBILIDADE DA SÚMULA 421/STF COM A VIGENTE CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – PEDIDO DE EXTRADIÇÃO DEFERIDO.

– Não impede a extradição o fato de o súdito estrangeiro ser casado ou vi-ver em união estável com pessoa de nacionalidade brasileira, ainda que com esta possua filho brasileiro.

– A Súmula 421/STF revela-se compatível com a vigente Constituição da República, pois, em tema de cooperação internacional na repressão a atos de criminalidade comum, a existência de vínculos conjugais e/ou familiares com pessoas de nacionalidade brasileira não se qualifica como causa obstativa da extradição. Precedentes.(RTJ 191/17-18, Rel. Min. CELSO DE MELLO.)

A circunstância de o súdito estrangeiro possuir cônjuge brasileiro, ou ter filhos impúberes nascidos no Brasil, ou exercer, em território nacional, atividade lícita e honesta não constitui impedimento jurídico ao deferimento da extradição passiva.(RTJ 177/1250-1251, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno.)

EXTRADIÇÃO – CONDIÇÕES – FILHOS BRASILEIROS. ATIVIDADE ECONÔMICA. RESIDÊNCIA CERTA – EFEITOS. Observadas as condições previstas na Lei 6.815, de 19 de agosto de 1980, bem como a inexistência de óbice legal à extradição, impõe-se-lhe o deferimento. Isto ocorre quando pesa contra o extraditando condenação judicial com resíduo de pena a ser cumprido consi-derado o tráfico de entorpecente, não se podendo cogitar da prescrição. O fato de encontrar-se em atividade econômica no Brasil, possuindo endereço certo e sendo pai de filhos brasileiros natos, não obstaculiza o deferimento do pedido.(RTJ 165/472, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – Grifei.)

A orientação em causa – que se apóia na formulação consubstanciada na Súmula 421/STF – tem prevalecido, sem maiores disceptações, na juris-prudência desta Suprema Corte (RTJ 148/110-111, Rel. Min. CELSO DE MELLO – RTJ 172/751-753, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Ext 803/República

Page 74: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051074

Argentina, Rel. Min. NELSON JOBIM – Ext 822/República Italiana, Rel. Min. NELSON JOBIM – Ext 833/República Portuguesa, Rel. Min. CELSO DE MELLO):

Não impede a extradição a circunstância de o súdito estrangeiro ser ca-sado com brasileira, ou ser pai de filho brasileiro, ou, ainda, desenvolver ativi-dade empresarial lícita no Brasil. Súmula 421/STF. (...).(RTJ 155/34-35, Rel. Min. CELSO DE MELLO.)

(...) COMPATIBILIDADE DO ENUNCIADO CONSTANTE DA SÚMULA 421/STF COM O TEXTO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

– A existência de filhos brasileiros e/ou a comprovação de vínculo conju-gal ou de convivência more uxorio do extraditando com pessoa de nacionalidade brasileira constituem fatos destituídos de relevância jurídica para efeitos extra-dicionais, não impedindo, em conseqüência, a efetivação da extradição do súdito estrangeiro. A superveniência da nova ordem constitucional não afetou a vali-dade da formulação contida na Súmula 421/STF, que subsiste íntegra sob a égide da vigente Constituição republicana. Precedentes.(RTJ 183/42-43, Rel. Min. CELSO DE MELLO.)

A razão subjacente ao entendimento jurisprudencial e à formulação sumular em causa restou claramente evidenciada em preciso voto proferido pelo eminente Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, quando do julgamento da Ext 510/República Portuguesa (RTJ 139/470, 472-473), ocasião em que esta Corte, vigente a Constituição republicana de 1988, assim examinou a matéria:

A proibição relativa à expulsão do estrangeiro, que tenha filho brasileiro dependente, pode estender-se, por analogia, à deportação (...).

Mas, em ambos os casos, tanto na expulsão quanto na deportação, cuida-se de medidas de polícia, dependentes de um juízo discricionário de inconveniên-cia da estada do estrangeiro no território nacional, juízo de conveniência ao qual se pode sobrepor razoavelmente o interesse do filho brasileiro.

Na extradição, ao contrário, sempre se reputou irrelevante a circunstân-cia, porque se trata de medida de cooperação internacional à repressão de um comportamento criminoso. Aí, no campo da repressão penal, a paternidade do estrangeiro de filho brasileiro não impede a sua extradição, assim, como, no foro interno, ter filho menor e dependente não impede a condenação do brasileiro, embora também importe a sua segregação da família, com evidente prejuízo à assistência devida ao menor.

Não se trata de uma criação arbitrária da Súmula 421. Creio mesmo (...) que essa regra de irrelevância das relações familiares no foro, no tocante à extradição, se possa considerar uma regra uniforme no Direito Extradicional Comparado.(Grifei.)

Cumpre registrar, por oportuno, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, em julgamentos ocorridos em 20-06-07 (Ext 1.077/República Federal da Alemanha, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, e Ext 990/Reino da Espanha, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA), reafirmou a plena compatibilidade da Súmula

Page 75: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1075

421 com o texto da vigente Constituição da República, enfatizando, uma vez mais, em decisão plenária proferida em 27-03-08 (Ext 1.074/República Federal da Alemanha, Rel. Min. CELSO DE MELLO), que a existência de fi-lho, de cônjuge ou de companheiro de nacionalidade brasileira não se qualifica como fator obstativo do deferimento do pleito extradicional.

Sendo assim, tendo em consideração as razões expostas, acolhendo, ainda, o parecer da douta Procuradoria-Geral da República, e observadas as exigências impostas pelo Estatuto do Estrangeiro (art. 91) e pelo tratado de ex-tradição Brasil-Peru (arts 9º e 12), defiro, em parte, o pedido de extradição deduzido pelo Governo do Peru, dele excluindo, no entanto, a imputação pela suposta prática de “Enriquecimento Ilícito” definido no art. 401 do Código Penal peruano, por inobservância, quanto a ele, da exigência da dupla tipicidade.

É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

Ext 1.073/República do Peru — Relator: Ministro Celso de Mello. Reque-rente: Governo do Peru. Extraditanda: Cledy Vasquez Ramirez (Advogado: João Carlos Pinto de Araújo).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, deferiu parcialmente o pedido de extradição. Ausentes, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie e o Ministro Eros Grau. Presidiu o julgamento o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 30 de abril de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 76: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051076

QUESTÃO DE ORDEM NA EXTRADIÇÃO 1.098 — REPÚBLICA ITALIANA

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoRequerente: Governo da Itália — Extraditando: Maurizio Cosentini ou

Maurizio Casentino ou Maurizio Cosentino ou Maurizio Casentini

Extradição. Pedido deferido. Desistência da execução. Admissibilidade. Revogação do decreto de prisão. Trânsito em julgado do deferimento. Irrelevância. Extinção do processo executório e libertação do Extraditando. Questão de ordem re-solvida nesse sentido. Precedente. Ainda que haja transitado em julgado acórdão que deferiu pedido de extradição, pode o Estado requerente desistir-lhe da execução, pondo fim ao pro-cesso executório.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, em resolver a questão de ordem no sentido de homologar a desistência da execução da extradição, e declarar extinto este processo, com a imediata expedição de alvará de soltura em favor de Maurizio Consentini. Ausente, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie.

Brasília, 24 de abril de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de pedido de extradição do na-cional italiano Maurizio Consentini, formalizado pelo Governo da Itália, com fundamento em tratado firmado em 17-10-89 e promulgado pelo Decreto 863, de 9-7-93.

O Plenário desta Corte, na sessão do último dia 17-3, deferiu, por unani-midade, o pedido:

Extradição. Passiva. Tratado entre Brasil e República Italiana. Concor-dância do Extraditando. Necessidade de controle da legalidade do pedido pelo STF. Pedido regular deferido. Concordância do Extraditando com o defe-rimento não dispensa o controle, que pesa ao Supremo, da legalidade do pedido de extradição.

Sucedeu que, em 17-4 p.p., veio aos autos o Aviso 528-MJ, devidamente instruído com os documentos de fls. 145-148, e de cujo conteúdo tiro: “Em adita-mento ao Aviso nº 1.220, de 25 de julho de 2007, encaminho a Vossa Excelência

Page 77: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1077

a inclusa cópia da Nota Verbal recebida da Embaixada da Itália, por via diplo-mática, pela qual informa não ter mais o Governo do seu país interesse na extra-dição do nacional italiano Maurizio Consentini.” (Fl. 144.)

Diante da expressa manifestação de desinteresse, pelo Governo reque-rente, na extradição em epígrafe, posto já deferido o pedido, submeto tal inci-dente a apreciação desta Corte.

É o breve relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Embora já deferido o pedido, trago à apreciação do Plenário questão suscitada nos autos desta extradição, por meio da nota verbal de fl. 146, do seguinte teor:

A Embaixada da Itália apresenta os seus melhores cumprimentos ao Minis-tério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e tem a honra referir-se à prisão preventiva para extradição do cidadão italiano Maurizio Consentini, nascido em Roma (Itália) aos 27 de setembro de 1959.

O citado cidadão italiano foi detido no Brasil para fins de extradição em 16 de julho de 2007, a pedido das Autoridades de Justiça italianas (Ext 1098), e teve a extradição concedida pelo Supremo Tribunal Federal em 17 de março de 2008.

Entretanto, o Ministério da Justiça italiana, com uma comunicação enviada a esta Embaixada em 21 de março de 2008 (em anexo) determinou o imediato re-colhimento do pedido de extradição.

Solicita-se, portanto, que sejam tomadas todas as providências cabíveis informando o Supremo Tribunal Federal da desistência do Governo da Itália na extradição acima.

A Embaixada da Itália, permanecendo no aguardo de ser informada sobre o êxito e sobre as providências tomadas em decorrência do presente pedido, vale-se do ensejo para renovar ao ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil os protestos da sua mais elevada estima e consideração.(Fl. 146.)

Segundo o documento de fls. 147-148, que instrui a nota verbal de fl. 146: “La Procura della Repubblica di Roma ha comunicato che tale provvedimento restrittivo è stato ora revocato.” Ou seja, com a revogação do mandado de prisão expedido contra Maurizio Consentini, por autoridade competente, no Estado requerente, já não subsiste a hipótese que autorizou a concessão da ex-tradição, nos termos do inciso II do art. 78 da Lei 6.815/80.

É firme a jurisprudência da Corte, no sentido de ser “lícito, ao Estado es-trangeiro, desistir da execução da ordem extradicional, independentemente da existência, ou não, do trânsito em julgado da decisão plenária proferida pelo Supremo Tribunal Federal” (Ext 804-QO, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 27-9-02).

Tiro do voto de S. Exa.:

Page 78: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051078

A desistência da ação de extradição passiva tem sido admitida pela jurispru-dência do Supremo Tribunal Federal, que, por mais de uma vez – seja mediante de-cisão colegiada (Ext 416/EUA, Rel. Min. Oscar Corrêa, DJ de 14-9-84 – Ext 460/Itália, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 4-11-88 – RTJ 127/379, Rel. Min. Moreira Alves), seja, ainda, mediante decisão singular, proferida pelo próprio Relator da causa (Ext 464/Alemanha, Rel. Min. Djaci Falcão – Ext 502/Portugal, Rel. Min. Celso de Mello – Ext 676/Itália, Rel. Min. Celso de Mello, v.g.) –, reconheceu viável, em sede extradicional, a incidência dessa causa particular de extinção do processo, sem julgamento do mérito.

Nem se diga que o deferimento do pedido extradicional – já ocorrido na es-pécie – qualificar-se-ia como obstáculo formal à homologação da desistência ora manifestada pelo Estado requerente.

É que – consoante já proclamou o Plenário do Supremo Tribunal Federal, quando da apreciação de questão de ordem suscitada na Ext 691, Rel. Min. Marco Aurélio –, revela-se lícito, a esta Corte, homologar o pedido de desistência da exe-cução concernente ao ato decisório que deferiu o pedido extradicional, indepen-dentemente da ocorrência, ou não, do seu trânsito em julgado.

2. Assim, proponho, com apoio na nota verbal de fl. 146, resolver a questão de ordem, no sentido de homologar a desistência da execução da extradição, e declarar extinto este processo, com a imediata expedição de alvará de soltura em favor de Maurizio Consentini.

EXTRATO DA ATA

Ext 1.098-QO/República Italiana — Relator: Ministro Cezar Peluso. Reque- rente: Governo da Itália. Extraditando: Maurizio Cosentini ou Maurizio Casentino ou Maurizio Cosentino ou Maurizio Casentini (Advogado: Defensoria Pública da União).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, resolveu a questão de ordem no sentido de homologar a desistência da execução da extradição, e declarar extinto este processo, com a imediata expedição de alvará de soltura em favor de Maurizio Consentini. Ausente, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie. Presidiu o julgamento o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 24 de abril de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 79: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1079

EXTRADIÇÃO 1.118 — REPÚBLICA ITALIANA

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoRequerente: Governo da Itália — Extraditando: Salvatore Borrelli

Extradição. Prisão preventiva. Inadmissibilidade. Pedido fundado em causa por cujos fatos o Extraditando já foi definiti-vamente condenado no Brasil. Indeferimento do pedido de pri-são. Extinção do processo, com julgamento de mérito. Aplicação do art. 77, V, da Lei 6.815/80 – Estatuto do Estrangeiro, e do art. III, nº 1, letra a, do Tratado de Extradição entre Brasil e Itália. Precedente. Já havendo condenação definitiva do extraditando pelo mesmo fato, não se defere pedido de prisão preventiva para fim de extradição, mas se lhe extingue o processo, com julga-mento de mérito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Cezar Peluso, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade, e nos termos do voto do Relator, em indeferir o pedido de extradição, ficando prejudicado o de prisão preventiva. Ausentes, justifi-cadamente, os Ministros Gilmar Mendes (Presidente) e Joaquim Barbosa e a Ministra Cármen Lúcia.

Brasília, 5 de junho de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de pedido de extradição do na-cional italiano Salvatore Borrelli, formalizado pelo Governo da Itália, com fundamento em tratado firmado em 17-10-89 e promulgado pelo Decreto 863, de 9-7-93.

O pleito baseia-se em ordem de prisão expedida, em 8-6-07, pelo Juiz de Investigações Preliminares junto ao Tribunal de Roma, sob fundamento da prática dos crimes de “tráfico de seres humanos, exploração de prostituição e lavagem de dinheiro” (nota verbal – fl. 4).

Vieram aos autos cópias dos preceitos penais italianos aplicáveis ao caso (fls. 39-41), bem como dos documentos exigidos pelo Estatuto do Estrangeiro1,

1 “Art. 80. A extradição será requerida por via diplomática ou, na falta de agente diplomático do Estado que a requerer, diretamente de Governo a Governo, devendo ser o pedido instruído com cópia autêntica ou a certidão da sentença condenatória, da de pronúncia ou da que decretar a prisão preventiva, proferida por juiz ou autoridade competente. Esse documento ou qualquer outro que se juntar ao pedido conterá indicações precisas sobre o local, data, natureza e circunstâncias do fato

Page 80: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051080

com indicações sobre o local, a data, a natureza e as circunstâncias do fato deli-tuoso imputado ao Extraditando.

Diante da aparente identidade dos fatos delituosos ora imputados ao Extraditando, com o objeto da Ação Penal 2005.84.00009374-9, que tramitou perante a 2ª Vara Federal de Natal/RN, e tendo-se em vista o disposto na letra a do n. 1 do art. III do Tratado de Extradição Brasil–Itália, firmado em Roma, em 17-10-89, determinei vista dos autos ao Procurador-Geral da República (fl. 46), que se manifestou pela extinção do feito, sem julgamento do mérito (fls. 276-279).

É o breve relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Trata-se de extradição, com pedido de prisão preventiva, formulada pelo Governo da Itália, com base no Tratado de Extradição firmado com a República Federativa do Brasil em 17-10-89, e promulgado pelo Decreto 863, de 9-7-93.

Funda-se o pleito em “ordem de custódia cautelar n. 52311/RGNR – 26746/06 RGG.I.P emitida em 8 de junho de 2007 pelo Juiz de investigações preliminares junto ao Tribunal de Roma pelos crimes de tráfico de seres huma-nos, exploração de prostitutas e lavagem de dinheiro” (fl. 4).

Segundo consta do documento de fl. 7, expedido pela Procuradoria da República junto ao Tribunal de Roma, “o presente procedimento foi instaurado após indicação oriunda da Embaixada de Itália no Brasil acerca da detenção de 15 pessoas acusadas de associação criminosa finalizada ao tráfico de seres hu-manos, exploração da prostituição e lavagem de dinheiro” (fl. 7).

Diante da aparente identidade entre os fatos delituosos ora imputados ao Extraditando e os que são objeto da Ação Penal 2005.84.00009374-9, que trami-tou perante a 2ª Vara Federal de Natal/RN, e tendo em vista o disposto na letra a do n. 1 do art. III do Tratado de Extradição Brasil–Itália, firmado em Roma, em 17-10-89, determinei vista dos autos ao Procurador-Geral da República, que se manifestou às fls. 276-279:

(...)5. Após a leitura da cópia da sentença condenatória às fls. 48/274, verifica-

se que os fatos ora imputados ao extraditando Salvatore Borrelli são os mesmos pelos quais foi condenado, pela Justiça Federal em primeira instância, à pena de 56 (cinqüenta e seis) anos, 9 (nove) meses e 21 (vinte e um) dias de reclusão (fls. 232/239).

6. O art. 77, V da Lei nº 6.815/80 é claro ao dispor que não será concedida extradição quando o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pe-dido. No mesmo sentido, o art. III, nº 1, a do Tratado específico.

criminoso, identidade do extraditando, e, ainda, cópia dos textos legais sobre o crime, a pena e sua prescrição.”

Page 81: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1081

7. O fundamento de tais regras reside na necessidade da segurança jurídica, como uma limitação ao poder punitivo estatal, considerando o caráter repressivo do Direito Penal, assim como na idéia de que a cada indivíduo será aplicada a san-ção correspondente e suficiente para os seus atos (princípio da proporcionalidade). Procura-se evitar, portanto, a chamada concorrência horizontal transnacional.

8. Igualmente, a Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, este ratificado por ambos os Estados, prevêem o princípio do ne bis in idem em seus textos.

9. Em relação ao disposto nos arts. 67 e 89 da Lei nº 6.815/80, não há que se falar em aplicação destes ao caso em tela. Isso porque o extraditando foi con-denado pelos mesmos fatos e crimes que ensejaram o pedido de prisão preventiva para extradição e não por fatos diversos.

10. No tocante ao tema, o Supremo Tribunal Federal já decidiu:“(...)A existência de persecução penal instaurada contra o ora extradi-

tando, por determinação das autoridades brasileiras competentes, mo-tivada pela prática dos mesmos fatos delituosos subjacentes ao pedido extradicional (...), obsta, nos termos do art. 77, V, do Estatuto do Estrangeiro, o acolhimento da postulação deduzida pelo Estado requerente, sob pena de, em assim não sendo, transgredir-se o princípio que consagra o ‘non bis in idem’. Não se pode perder de perspectiva, neste ponto, que o súdito estrangeiro, que já está sendo submetido, por iniciativa das autoridades brasileiras, a atos de persecução penal por suposta prática dos mesmos de-litos em que se funda o pedido extradicional, não pode ser extraditado pelo Governo do Brasil (RTJ 155/387, Rel. Min. Francisco Rezek), por se tratar de hipótese de extradição vedada pelo ordenamento positivo nacional (Lei nº 6.815180, art. 77, V) (...).

O Estado brasileiro, pois, sofre substancial limitação em seu poder de extraditar (...). A ‘ratio’ subjacente ao preceito normativo constante do Estatuto do Estrangeiro acha-se bem realçada pelo magistério da dou-trina (...), que assinala: ‘A proibição do inciso V visa a evitar o bis in idem, ou seja, visa a evitar que o indivíduo seja punido duas vezes pelo mesmo crime.’. Esse entendimento – que se reflete na obra de autorizados doutrina-dores (...) – funda-se, ainda, na circunstância de que, sendo a extradição um instituto de cooperação internacional na repressão à criminalidade comum, nada pode autorizar a entrega da pessoa reclamada a outro Estado, se já foi ela absolvida (e/ou condenada, como na espécie) pelas autoridades ju-diciárias brasileiras.

Ninguém pode expor-se, em tema de liberdade individual, à situação de duplo risco. Essa é a razão pela qual a existência de situação configura-dora de ‘double jeopardy’ atua como insuperável obstáculo ao atendimento do pedido extradicional.

(...)”2

(Grifos do original.)11. Ante o exposto, o Ministério Público Federal manifesta-se pela extinção

do feito sem julgamento do mérito, tendo em vista a inviabilidade do pedido de extradição.(Fl. 278.)

2 Ext 890, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 28-10-04.

Page 82: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051082

2. Assiste razão à Procuradoria-Geral da República.É que se ajusta, de todo, ao caso a hipótese impeditiva prevista no inciso

V do art. 77 do Estatuto do Estrangeiro, segundo a qual não se concederá a extradição “quando o extraditando estiver a responder processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido”. Igual coisa dispõe a letra a, n. 1, do art. III do Tratado de Extradição Brasil–Itália.

Conforme se cansa de decidir o Plenário desta Corte:

Obstáculo ao deferimento do pedido extradicional, quando fundado nos mesmos fatos delituosos objeto de persecução penal instaurada pelo es-tado brasileiro. – A extradição não será concedida, se, pelo mesmo fato em que se fundar o pedido extradicional, o súdito estrangeiro estiver sendo submetido a procedimento penal no Brasil, ou, então, já houver sido condenado ou absolvido pelas autoridades judiciárias brasileiras. – Ninguém pode expor-se, em tema de li-berdade individual, à situação de duplo risco. Essa é a razão pela qual a existência de situação configuradora de “double jeopardy” atua como insuperável obstáculo ao atendimento do pedido extradicional. Trata-se de garantia que tem por objetivo conferir efetividade ao postulado que veda o “bis in idem”. Precedentes.(Ext 890, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 28-10-04.)

Ora, não há dúvida alguma de que são rigorosamente idênticos os fatos deli-tuosos atribuídos ao Extraditando, nos autos da Ação Penal 2005.84.00.010012-2, quais sejam: “(...) uma organização criminosa, na forma do art. 1º da Lei nº 9.034, de 03 de maio de 1995, com a finalidade de cometer crimes, especial-mente o tráfico internacional e interno de pessoas, delitos contra o Sistema Financeiro Nacional, crimes de lavagem de dinheiro e casa de prostituição, tendo ainda alguns membros da organização criminosa cometido os delitos de falsidade ideológica, porte ilegal de arma e estelionato” (fl. 49), e os que funda-mentam este pedido de extradição (delitos de tráfico de seres humanos, explora-ção de prostituição e lavagem de dinheiro) (fl. 4).

E a razão é porque, como já relatei, este pedido de extradição teve origem nos fatos delituosos imputados ao ora Extraditando nos autos da Ação Penal 2005.84.00009374-9, julgada procedente, para condená-lo às penas de “56 anos, 09 meses e 21 dias de reclusão, a ser cumprida inicialmente em regime fechado, sem prejuízo da cominação da pena de multa nos moldes acima estipulados, é dizer, no valor de 250.650,00 (duzentos e cinqüenta mil e seiscentos e cinqüenta reais), quantia esta sujeita à correção monetária, devendo ser liquidada por cál-culo da Contadoria do Juízo” (fl. 239).

3. Assim, com apoio no parecer da Procuradoria-Geral da República, e com fundamento no inciso V do art. 77 da Lei 6.815/80 e na letra a do n. 1 do art. III do Tratado de Extradição Brasil–Itália, indefiro o pedido de extradição, ficando prejudicado o de prisão preventiva.

Page 83: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1083

EXTRATO DA ATA

Ext 1.118/República Italiana — Relator: Ministro Cezar Peluso. Requerente: Governo da Itália. Extraditado: Salvatore Borrelli (Advogados: Daiane Karina Feltrin Sempionato e outros).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, e nos termos do voto do Relator, indeferiu o pedido de extradição, ficando prejudicado o de prisão preventiva. Ausentes, justificadamente, os Ministros Gilmar Mendes (Presidente), Joaquim Barbosa e Cármen Lúcia. Presidiu o julgamento o Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente).

Presidência do Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente). Presentes à ses-são os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Eros Grau e Menezes Direito. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.

Brasília, 5 de junho de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 84: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051084

QUESTÃO DE ORDEM NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO CAUTELAR 1.193 — RJ

Relator: O Sr. Ministro Gilmar MendesRequerente: Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) — Requerida: Marí-

tima Petróleo e Engenharia Ltda.

Ação cautelar. 2. Efeito suspensivo a recurso extraordiná-rio admitido no Superior Tribunal de Justiça. 3. Plausibilidade jurídica do pedido. Licitações realizadas pela Petrobras com base no Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado (Decreto 2.745/98 e Lei 9.478/97). 4. Perigo de dano irreparável. A suspensão das licitações pode inviabilizar a própria atividade da Petrobras e comprometer o processo de exploração e distri-buição de petróleo em todo o País, com reflexos imediatos para a indústria, o comércio e, enfim, para toda a população. 5. Medida cautelar deferida para conceder efeito suspensivo ao recurso extraordinário.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, resolvendo questão de ordem, deferir o provimento cautelar, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 9 de maio de 2006 — Gilmar Mendes, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: A Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) requer a concessão de medida cautelar para atribuir efeito suspensivo a recurso extraordinário, interposto contra acórdão proferido pela Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça nos autos da Medida Cautelar 6.725, que resta-beleceu a eficácia da tutela antecipada concedida pelo Juízo da 15ª Vara Cível da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, a qual, por sua vez, sus-pendeu licitações promovidas pela requerente com base no Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado, aprovado pelo Decreto 2.745/98.

Constam dos autos os seguintes fatos processuais.A Requerida, Marítima Petróleo e Engenharia Ltda., ajuizou ação com o

objetivo de suspender licitações, pela modalidade de convite, realizadas pela Petrobras com base na Lei 9.478/97 e no Decreto 2.745/98, com o fundamento de que tais diplomas legais, por afastarem a aplicação da Lei 8.666/93, seriam inconstitucionais. A tutela antecipada foi concedida pelo Juízo da 15a Vara

Page 85: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1085

Cível da Comarca da Capital do Rio de Janeiro, suspendendo todas as licitações promovidas pela Petrobras com base no Decreto 2.745/98 e, conseqüentemente, determinando a aplicação da Lei 8.666/93 aos processos licitatórios realizados pela Requerente.

Em sede de agravo de instrumento, a referida decisão antecipatória foi cassada pela 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Contra esta decisão, a Marítima Petróleo e Engenharia S.A. interpôs recurso especial, na forma retida. Por meio da Medida Cautelar 6.725, ajuizada perante o Superior Tribunal de Justiça, a Marítima S.A. requereu a concessão de efeito suspensivo e o afastamento da retenção do recurso especial, o que foi acolhido pela Primeira Turma daquela Corte de Justiça, sem que houvesse manifestação do Tribunal de origem sobre a admissibilidade do referido recurso.

Posteriormente, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negou seguimento ao recurso especial. Todavia, em atenção ao requerimento da Marítima S.A., o Ministro José Delgado, Relator, entendeu que o fato de o Tribunal a quo haver proferido juízo negativo de admissibilidade do recurso especial, por si só, não teria o condão de reformar a decisão proferida na Medida Cautelar 6.725, que concedeu efeito suspensivo àquele recurso, decisão esta que foi confirmada pela Primeira Turma do STJ, em sede de agravo regimental, ocasião na qual se firmou o entendimento segundo o qual “a decisão cautelar que empresta efeito suspensivo a recurso especial perdura até o trânsito em julgado perante o Superior Tribunal de Justiça do referido inconformismo”. O recurso especial acabou sendo admitido por força de agravo de instrumento, encontrando-se em tramitação no STJ.

Nesse ínterim, sobreveio a sentença de primeiro grau, a qual, julgando procedente a ação ajuizada pela Marítima S.A., confirmou a decisão de anteci-pação da tutela. Essa sentença foi atacada pela Petrobras por meio de recurso de apelação, recebido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro com os efeitos devolutivo e suspensivo.

No Superior Tribunal de Justiça, a Petrobras interpôs embargos de decla-ração contra o acórdão proferido na Medida Cautelar 6.725, ao qual foi negado provimento.

A Petrobras então interpôs recurso extraordinário, que foi admitido pelo STJ e atualmente aguarda distribuição neste Supremo Tribunal Federal.

A Petrobras ajuíza a presente ação para conferir efeito suspensivo a esse recurso extraordinário.

Alega que a Lei 9.478/97 e o Decreto 2.745/98 possuem lastro na Emenda Constitucional 9/95, que flexibilizou o monopólio do petróleo, instituindo um regime de livre concorrência para a exploração desse produto. Assim, estando submetida à livre competição com as demais empresas privadas concessionárias da atividade, a Petrobras realiza licitação sob a forma simplificada, com base na Lei 9.478/97 e no Decreto 2.745/98, o que lhe possibilita maior agilidade nesse processo e maiores condições de competir em um mercado aberto e de livre

Page 86: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051086

concorrência. Por isso, os procedimentos licitatórios realizados pela Petrobras não podem ser submetidos aos ditames da Lei 8.666/93, sob pena de violação ao princípio constitucional da livre concorrência. Faz referência à decisão liminar, por mim proferida, no MS 25.888/DF.

Sustenta, ainda, que o Superior Tribunal de Justiça não poderia conceder a medida cautelar antes que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro tivesse ad-mitido o processamento do recurso especial. Cita as Súmulas 634 e 635 deste Supremo Tribunal Federal e, assim, alega violação aos princípios constitucio-nais do devido processo legal e do juiz natural.

Quanto ao periculum in mora, afirma que a decisão do Superior Tribunal de Justiça na Medida Cautelar 6.725, que restaurou os efeitos da tutela anteci-pada concedida em primeiro grau, está a impedir a realização, pela Petrobras, de licitações na forma simplificada, causando-lhe incalculáveis prejuízos finan-ceiros. Segundo a requerente, a suspensão das licitações “prejudicará os seus cronogramas, causará atrasos às obras e, por conseqüência, ao início da fase de produção, afigurando-se evidente o impacto que causa não só à Companhia, mas a todo o processo de auto-suficiência de produção de petróleo no país, com ine-vitáveis reflexos para a população e para a nossa balança comercial, decorrente da necessidade da importação de produtos” (fl. 14).

Dessa forma, a Petrobras S.A. requer a concessão de medida cautelar para conferir efeito suspensivo ao recurso extraordinário interposto contra o acórdão na Medida Cautelar 6.725, proferido pela Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, permitindo-se, com isso, a aplicação do Regulamento de Procedimento Licitatório Simplificado, aprovado pelo Decreto 2.745/98 com base na Lei 9.478/97.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Estão presentes os requisitos necessários para a concessão da medida cautelar.

Verifico, às fls. 54-56 dos autos, que o recurso extraordinário foi admitido no Superior Tribunal de Justiça e aguarda distribuição neste Supremo Tribunal Federal.

Quanto à plausibilidade jurídica do pedido, trago à colação a decisão limi-nar por mim proferida nos autos do MS 25.888/DF:

É o relatório. Passo a decidir.Existe plausibilidade jurídica no pedido. A EC 9/95, apesar de ter mantido o

monopólio estatal da atividade econômica relacionada ao petróleo e ao gás natu-ral e outros hidrocarbonetos fluidos, acabou com o monopólio do exercício dessa atividade.

Em outros termos, a EC 9/95, ao alterar o texto constitucional de 1988, continuou a abrigar o monopólio da atividade do petróleo, porém, flexibilizou

Page 87: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1087

a sua execução, permitindo que empresas privadas participem dessa atividade econômica, mediante a celebração, com a União, de contratos administrativos de concessão de exploração de bem público. Segundo o disposto no art. 177, § 1º, da Constituição, na redação da EC 9/95: "§ 1º A União poderá contratar com empre-sas estatais ou privadas a realização das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo, observadas as condições estabelecidas em lei”.

Dessa forma, embora submetidas ao regime de monopólio da União, as atividades de pesquisa, lavra, refinação, importação, exportação, transporte ma-rítimo e transporte por meio de conduto (incisos I a IV do art. 177), podem ser exercidas por empresas estatais ou privadas num âmbito de livre concorrência.

A hipótese prevista no art. 177, § 1º, da CRFB/88, que relativizou o mono-pólio do petróleo, remete à lei a disciplina dessa forma especial de contratação.

A Lei 9.478/97, portanto, disciplina a matéria. Em seu art. 67, deixa explícito que “os contratos celebrados pela Petrobras, para aquisição de bens e serviços, se-rão precedidos de procedimento licitatório simplificado, a ser definido em decreto do Presidente da República”. A matéria está regulamentada pelo Decreto 2.745, de 1998, o qual aprova o regulamento licitatório simplificado da Petrobras.

A submissão legal da Petrobras a um regime diferenciado de licitação pa-rece estar justificado pelo fato de que, com a relativização do monopólio do pe-tróleo trazida pela EC 9/95, a empresa passou a exercer a atividade econômica de exploração do petróleo em regime de livre competição com as empresas privadas concessionárias da atividade, as quais, frise-se, não estão submetidas às regras rígidas de licitação e contratação da Lei 8.666/93. Lembre-se, nesse sentido, que a livre concorrência pressupõe a igualdade de condições entre os concorrentes.

Assim, a declaração de inconstitucionalidade, pelo Tribunal de Contas da União, do art. 67 da Lei 9.478/97, e do Decreto 2.745/98, obrigando a Petrobras, conseqüentemente, a cumprir as exigências da Lei 8.666/93, parece estar em con-fronto com normas constitucionais, mormente as que traduzem o princípio da le-galidade, as que delimitam as competências do TCU (art. 71), assim como aquelas que conformam o regime de exploração da atividade econômica do petróleo (art. 177).

(...)A urgência da pretensão cautelar também parece clara, diante das conse-

qüências de ordem econômica e política que serão suportadas pela Impetrante caso tenha que cumprir imediatamente a decisão atacada.

Tais fatores estão a indicar a necessidade da suspensão cautelar da decisão proferida pelo TCU, até o julgamento final deste mandado de segurança.

Ante o exposto, defiro o pedido de medida liminar, para suspender os efeitos da decisão proferida pelo Tribunal de Contas da União (Acórdão 39/06) no pro-cesso TC 008.210/2004-7 (Relatório de Auditoria).

Existe perigo de dano irreparável. Apesar da superveniência da sentença de primeiro grau que confirmou a tutela antecipada – contra a qual já foi in-terposto recurso de apelação, recebido nos efeitos devolutivo e suspensivo –, o Superior Tribunal de Justiça, com base na decisão proferida na Medida Cautelar 6.725/RJ, tem considerado que, enquanto não decidido, de forma terminativa, o recurso especial, a Petrobras está obrigada a realizar licitação com funda-mento na Lei 8.666/93. Eis o teor da decisão proferida pelo Ministro Relator da Reclamação 2.123/RJ (fls. 213-216):

Page 88: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051088

Este Superior Tribunal de Justiça, conforme decisão proferida na Medida Cautelar nº 6.725/RJ, deferiu efeito suspensivo ao recurso especial interposto para decidir se é possível à Petrobras, mediante convite, proceder licitações para con-tratação de serviços complexos e de elevado valor.

Enquanto não decidido, de forma terminativa, o mencionado recurso es-pecial, está obrigada a Petrobras, em respeito à decisão desta Corte, a efetuar licitação para os serviços identificados nos autos, cumprindo exigências da Lei nº 8.666/93.

Portanto, o periculum in mora é evidente, tendo em vista as conseqüên-cias de ordem econômica e política que serão suportadas pela Requerente caso tenha que esperar o julgamento definitivo do recurso extraordinário. Como bem afirmou a Requerente, a suspensão das licitações realizadas com base no Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado (Decreto 2.745/98 e Lei 9.478/97) pode inviabilizar sua própria atividade e comprometer o processo de exploração e distribuição de petróleo em todo o País, com reflexos imediatos para a indústria, o comércio e, enfim, para toda a população.

Dessa forma, voto pelo deferimento da medida cautelar, para conceder efeito suspensivo ao recurso extraordinário interposto pela Requerente contra o acórdão proferido pela Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça nos autos da Medida Cautelar 6.725/RJ.

VOTO

O Sr. Ministro Eros Grau: Senhor Presidente, estou de pleno acordo.Apenas observaria que, quanto mais não fossem as razões de ordem cons-

titucional, o art. 119 da Lei 8.666 preceitua:

Art. 119. As sociedades de economia mista, empresas e fundações públicas e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União e pelas enti-dades referidas no artigo anterior editarão regulamentos próprios devidamente publicados, ficando sujeitas às disposições desta Lei.

Parágrafo único. Os regulamentos a que se refere este artigo, no âmbito da Administração Pública, após aprovados pela autoridade de nível superior a que estiverem vinculados os respectivos órgãos, sociedades e entidades, deverão ser publicados na imprensa oficial.

No caso, há um decreto aprovando esse regulamento. De modo que a mim não resta absolutamente a menor dúvida.

Acompanho, com a mais absoluta tranqüilidade, como ocorre sempre, o voto do eminente Relator.

EXTRATO DA ATA

AC 1.193-MC-QO/RJ — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Requerente: Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) (Advogados: Fernando Neves da Silva

Page 89: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1089

e outros). Requerida: Marítima Petróleo e Engenharia Ltda. (Advogados: Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira e outros).

Decisão: A Turma, por votação unânime, resolvendo questão de ordem, deferiu o provimento cautelar, nos termos do voto do Relator.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocuradora-Geral da República, Dra. Sandra Verônica Cureau.

Brasília, 9 de maio de 2006 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 90: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051090

RECLAMAÇÃO 1.421 — AM

Relator: O Sr. Ministro Gilmar MendesReclamante: Estado do Amazonas — Assistentes: Município de Guajará e

outros — Reclamado: Presidente da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — Interessados: Estado do Acre e Estado de Rondônia

Reclamação. 2. Garantia da autoridade da decisão profe-rida por esta Corte nos autos da ACO 415-2. 3. Ato do presidente da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que estabeleceu limites territoriais interestaduais, en-tre o Estado do Acre e o Estado do Amazonas. 4. Alegação de diversidade entre os marcos estabelecidos no acórdão proferido por esta Corte nos autos da ACO 415-2 e aqueles determinados pelo IBGE. 5. Vinculação da decisão proferida na ACO 415-2 aos resultados apurados pelo trabalho técnico elaborado pelo IBGE, junto à comissão tripartite formada para o fim de re-solver os limites territoriais entre os Estados do Amazonas, do Acre e de Rondônia 6. Não-configuração de descumprimento de decisão do Supremo Tribunal Federal. 7. Reclamação julgada improcedente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, julgar improcedente a reclamação, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 3 de abril de 2008 — Gilmar Mendes, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de reclamação, com pedido de liminar, proposta pelo Estado do Amazonas, contra ato do presidente da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estabe-leceu limites territoriais interestaduais, entre o Estado do Acre e o Estado do Amazonas, alegadamente diversos daqueles que ficaram estabelecidos no acór-dão proferido por esta Corte Suprema nos autos da ACO 415-2.

O Reclamante afirma que o IBGE, em interpretação equivocada do deci-sum da Suprema Corte, estabeleceu marcos interestaduais inadequados, “cau-sando, com isso, instabilidade jurídica e social, ameaçando a ordem pública, expondo a perigo de grave lesão os municípios da antes aludida cidade fron-teiriça de Guajará, do Estado do Amazonas” (fl. 4). Registra que a autoridade

Page 91: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1091

reclamada definiu como coordenadas para implantação do traçado divisório os seguintes:

Ponto nº 91.004 – Cruzeiro do Sul:Latitude sul ...................................................................................... 07º33’05,886”Longitude oeste de Greenwich ...................................................... 72º35’03,100”Ponto nº 91.005 – Feijó:Latitude sul ....................................................................................... 07º50’41,193”Longitude oeste de Greenwich ...................................................... 70º03’15,902”

(Fl. 4.)

Por fim, sustenta: “Consoante se vê, do cotejo desses pontos com aqueles constantes da petição inicial da ACO 415-2 acima transcritos, trata-se de coor-denadas geodésicas que refletem a pretensão inicial do Estado do Acre sobre o território amazonense” (fl. 4).

O pedido de garantia do cumprimento da decisão desta Suprema Corte proferida na ACO 415-2 é “para o efeito de determinar que a Autoridade in-digitada dê cumprimento à decisão dessa Corte definindo, em substituição às coordenadas que denominou e definiu como pontos 91.004 – Cruzeiro do Sul e 91.005 – Feijó, dois marcos divisórios nas localidades de Estirão do Eliezer e Remanso, conforme o voto condutor do acórdão, o qual, ao adotar o parecer ministerial, chancelou a aplicação da “proposta do representante do Estado do Amazonas situando a linde – a linha poligonal – próxima da solução adotada pelo IBGE a partir de 1942” (fl. 9).

Solicitadas informações assim se manifestou o presidente do IBGE:

Todo o material encaminhado pelo IBGE procura seguir fielmente a decisão do Plenário do STF, na forma explicitada pelo voto condutor, não tendo o IBGE eleito, por vontade própria, qualquer das coordenadas apresentadas.

Referidas coordenadas foram introduzidas em decorrência dos trabalhos resultantes do Convênio celebrado entre os Estados do Acre, do Amazonas e de Rondônia, formando uma comissão tripartite com representantes dos Estados, com participação técnica, ainda, desta Fundação Pública.

Em decorrência das atividades desenvolvidas, o IBGE obteve, para estudos, coordenadas informadas no Ofício nº 541/PR, de 25.11.99, para os marcos im-plantados de Cruzeiro do Sul (91.004) e Feijó (91.005), que, no entanto, não foram aceitos, em momento algum, pelo Estado do Amazonas.

Não obstante a inconformidade amazonense, referidos marcos foram aqueles estabelecidos nos estudos técnicos desenvolvidos, tendo sido adotados impositivamente pelo § 5º do art. 12 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT – de 1988.

Esta última conclusão é extraída a partir do item 5 do voto de Vossa Excelência, que orienta o entendimento desta Fundação no sentido de serem ado-tados os marcos de Cruzeiro do Sul e Feijó, mesmo diante da falta de convergência nas opiniões entre os representantes dos Estados envolvidos, respeitando-se, por outro lado, a diretriz posta pelo ADCT.

(...)

Page 92: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051092

Demonstra-se, assim, as determinações das quais o IBGE se valeu para ado-tar as atuais coordenadas para os pontos 91.004 (Cruzeiro do Sul) e 91.005 (Feijó), questionadas pelo Estado do Amazonas, estando garantida a autoridade da deci-são do Pretório Excelso, não podendo ser acolhida a Reclamação proposta por não se adequar aos requisitos do art. 102, inciso I, alínea “l” da Constituição de 1988, combinado com os artigos 13 a 18 da Lei nº 8.038/90 e artigos 156 a 162 do RISTF.(Fls. 114-118.)

O pedido de liminar foi indeferido pelo Relator originário, Ministro Néri da Silveira, nos seguintes termos:

(...)Diante das informações de fls. 114/118, indefiro a liminar pleiteada. Em si-

tuação como a dos autos, não cabe, desde logo, suspender o ato impugnado.Cumprirá, ao ensejo do julgamento final do mérito da reclamação, apreciar,

então, os fundamentos do pedido do Estado do Amazonas.Cite-se o Estado do Acre para, querendo, contestar, no prazo de 30 dias.

(Fl. 120.)

O Ministério Público Federal manifestou-se, em 16-2-01, pela improce-dência da reclamação, afirmando que:

(...)Por certo, confrontando os limites territoriais acima transcritos com os

efetivamente indicados pelo IBGE, em razão do cumprimento da decisão judi-cial proferida nos autos da Ação Cível Originária nº 415-2, verifica-se que foram adotadas as mesmas orientações cartográficas e geodésicas aludidas à época da comissão tripartite.

Assim, embora o Estado do Amazonas tenha demonstrado seu desconten-tamento e indignação com os limites territoriais traçados pelo IBGE em apoio técnico à comissão tripartite, originada a partir de convênio entre os Estados do Amazonas, Acre e Rondônia, não se vislumbra irregularidade que possa implicar no descumprimento da decisão judicial proferida nos autos da mencionada Ação Cível Originária.(Fl. 164.)

Novamente instado a manifestar-se (fl. 394), em virtude do deferimento do pedido (petição avulsa 126.375) de ingresso no feito dos Municípios amazonen-ses de Guajará, Ipixuna e Boca do Acre na qualidade de assistentes do Estado do Amazonas (fls. 185A e 186A), o Ministério Público, a vista de fatos novos apresentados, opinou, em 6-4-04, pela procedência parcial da reclamação, sus-tentando que:

(...)31. Assim, a execução foi pautada pelos limites indicados ainda na fase

de conhecimento, os quais foram repetidos pelo acórdão reclamado a fls. 86, em menção ao trabalho do Dr. Mauro Pereira de Mello. Nota-se perfeita congruência entre a dicção do IBGE em esclarecimento ao Eminente Ministro Celso de Mello, quando provocado a aclarar as conclusões dos trabalhos técnicos então exami-nados na ACO 415; os termos do acórdão reclamado, que se remete aos mesmos

Page 93: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1093

critérios, deixando entendido que não há que se debater sobre limites além dos que foram desenhados pelo IBGE; e, finalmente, os trabalhos de execução do julgado postos em curso pela Fundação.

32. Com todas as vênias devidas aos argumentos deduzidos pelo recla-mante, o acórdão proferido na ACO 415 não admite a interpretação que lhe é em-prestada pela peça de fls. 2-9, assim como na bem lançada petição de fls. 188-210, em proveito dos municípios de Guarajá, Ipixuna e Boca do Acre. As reflexões são competentes e críveis, mas, com a redação do art. 12, § 5º, do ADCT, na dicção que lhe deu o acórdão ora reclamado, são pensamentos que estão ultrapassados. As divergências marcadas nos trabalhos da comissão não mais representam ar-gumentos que possam ser considerados. Com a normatização dos trabalhos do IBGE, por obra da Constituição Federal de 1988, os embates deixaram de ser rele-vantes, até por uma questão de pacificação social.

33. Tal é a conclusão do acórdão proferido na sessão plenária de 4 de dezem-bro de 1996, a qual não pode mais ser contestada, menos ainda ser revolvida na presente sede processual. As reflexões versadas pelo reclamante, e pelos municí-pios interessados, em parte adotadas pelo parecer do MPF elaborado na ACO 415, não foram encampadas pela decisão, em que pese a transcrição na parte final do acórdão possa dar essa impressão. Mas ela é breve, além de parcial, e a leitura do voto em sua integralidade dá a clara idéia de que os limites definidos pelo IBGE foram os eleitos pelo Supremo Tribunal Federal como os adotados também pelo art. 12, § 5º, do ADCT, ainda que originariamente tenham servido de mera indicação para uma definição futura, que então foi tomada pelo Texto Constitucional de forma absoluta.

34. O documento de fls. 10, em síntese, atende aos ditames do acórdão tido por afrontado, o que resulta na improcedência da presente reclamação.

35. Mesma implicação não pode ser retirada dos documentos de fls. 178-181. Neles o Governo do Estado do Acre retoma, indevidamente, as pretensões dedu-zidas na ação originária, nos limites então imaginados. Contudo, eles destoam por completo das determinações do julgado reclamado. O elastecimento admitido pelo Estado do Acre, sob o argumento de se estar definindo quais as extensões das comunidades pertencentes a cada unidade da Federação, não é tratado no acórdão, e, portanto, extravasa seus limites de maneira acintosa, visto que simplesmente adota, como verdadeiros, os limites defendidos na petição inicial da ACO 415. A ofen- sa à autoridade do julgado do Supremo Tribunal Federal, nessa hipótese, é evidente.

36. Na verdade, tal conduta ensejaria uma outra via procedimental, pois é um fato superveniente, e que não guarda estreita relação com a temática desen-volvida nos autos, a qual se circunscreve a ato de execução do julgado original editado pelo IBGE – fls. 10. Contudo, por medida de economia processual, e con-siderando que o Estado do Acre foi extensamente ouvido nos autos – fls. 324-358, admitindo-se, portanto, o contraditório, é de ser decretada, mesmo que de maneira preventiva, a impropriedade das razões versadas no documento de fls. 178-181, evitando-se o prolongamento dos embates na região.

37. Ante o exposto, pelas razões aduzidas, o Ministério Público Federal opina pela parcial procedência da reclamação.(Fls. 398-411.)

Por fim, a Procuradoria-Geral do Estado do Acre, manifestando-se nos autos, prestou novos esclarecimentos, afirmando que:

Page 94: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051094

Portanto, a divisa entre os Estados do Acre e do Amazonas está apontada na referida Nota Técnica da Diretoria de Geociências do IBGE, páginas 10 e 11, item 4.2 – Divisa Acre – Amazonas, onde se verifica que as seguintes coordenadas geográficas e respectivos pontos apontados pela Fundação IBGE:

Cruzeiro do Sul (91.004)Latitude Sul ........................................................................... 07º33’05,914”Longitude Oeste de Greenwich .......................................... 72º35’03,294”(não aceito pelo Estado do Amazonas)Feijó (91.005)Latitude Sul ........................................................................... 07º50’41,220”Longitude Oeste de Greenwich .......................................... 70º03’16,075”(não aceito pelo Estado do Amazonas)Sena Madureira (91.007)Latitude Sul .......................................................................... 09º02’56,569”Longitude Oeste de Greenwich .......................................... 68º38’48,021”(aceito pelos Estados do Acre/Amazonas)Caquetá (91.008)Latitude Sul ........................................................................... 09º33’37,918”Longitude Oeste de Greenwich .......................................... 67º30’58,936”(aceito pelos Estados do Acre/Amazonas)BR – 317Latitude Sul .......................................................................... 09º35’31,226”Longitude Oeste de Greenwich ........................................... 67º19’31,104”(aceito pelos Estados do Acre/Amazonas)

Dessa forma, restou claro o erro material constante na informação prestada pelo Instituto de Terras do Acre – ITERACRE, em razão de equívoco na coleta de dados, visto que se consideram os marcos geográficos constantes na petição ini-cial e não na decisão proferida na ACO 415-2/STF, como mesmo admitiu aquela Autarquia Estadual.

Derivados desses esclarecimentos, podemos afirmar que:a) O Estado do Acre ou o Iteracre nunca quiseram, momento algum, dedu-

zir pretensão já discutida na Ação Cível Originária, violando comandos judiciais já transitados em julgado, mormente aos exarados na ACO 415-2/STF;

b) os citados entes acreanos, têm como preceito institucional a submissão a todos os comandos constitucionais e legais;

c) deve ser desconsiderado do teor do OF. 102/ITERACRE/2003, de 01.07.2003, no que tange à descrição dos marcos geográficos apontados;

d) que não houve dolo na descrição dos pontos geográficos constantes no citado ofício.(Fls. 422-423.)

É esse o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): O Estado do Amazonas alega, na presente reclamação, o descumprimento da decisão proferida por esta Corte na ACO 415-2/DF, em face do Ofício 541/PR do Presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujo teor é o seguinte:

Page 95: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1095

Referência: Ação Civil Originária nº 415Autor: Estado do AcreRéus: Estado do AmazonasEstado de RondôniaSenhor Presidente,Atendendo ao Ofício nº 1.681/P, de 09 de novembro de 1999, em que

Vossa Excelência solicita pronunciamento sobre o alegado na Petição de fls. 1900/1901, do Processo em referência, após ouvir a Diretoria de Geociências desta Fundação, informamos que as coordenadas determinadas de 1986 e que constam do Venerando Acórdão proferido em 04/12/96, na Ação Civil Originária nº 415-2/DF, são as seguintes:

(...) – Ponto nº 91.004 – Cruzeiro do Sul:latitude sul .............................................................. 07º33’05,886”longitude oeste de Greenwich ............................. 72º35’03,100”(...) – Ponto nº 91.005 – Feijó:latitude sul................................................................07º50’41,193”longitude oeste de Greenwich...............................70º03’15,902”(...) – Ponto nº 91.006 – BR – 317 Km 90:latitude sul .............................................................. 09º35’31,191”longitude oeste de Greenwich ............................. 67º19’30,950”(...) – Ponto nº 91.007 – Sena Madureira:latitude sul .............................................................. 09º02’56,535”longitude oeste de Greenwich ............................. 68º38’47,861”(...) – Ponto nº 91.008 – Caquetá:latitude sul .............................................................. 09º33’37,883”longitude oeste de Greenwich ............................. 67º30’58,785”

(Fl. 10.)

Sustenta o Reclamante que o IBGE, sob o pretexto de dar cumprimento à decisão do Supremo Tribunal Federal na ACO 415-2/DF, elegeu coordenadas para a implementação dos marcos interestaduais em desconformidade com o re-ferido julgado, pois muito embora tenha restado consignado no acórdão do STF que não se estava a chancelar a pretensão do Acre, as coordenadas constantes do ato reclamado refletem exatamente a pretensão inicial do Estado do Acre sobre o território amazonense.

Por fim, postula-se, na presente reclamação, que seja considerada, para fins de demarcação dos limites territoriais entre os Estados do Amazonas e do Acre, linha poligonal divisória em trajeto semelhante ao adotado pelo IBGE a partir de 1942. Eis a argumentação constante da petição inicial, nesse sentido:

Dispondo que, de conformidade com o art. 12, parágrafo 5º, do ADCT, da CR/88, o IBGE deve realizar a demarcação dos lindes territoriais Amazonas/Acre, com base nos estudos e levantamentos realizados à época da Comissão Tripartite, o STF ponderou que esses estudos devem levar em consideração as ponderações feitas na parte conclusiva do voto condutor do venerando Acórdão, que declaram injustificáveis e inatendíveis aquelas pretensões do Estado do Acre sobre o terri-tório amazonense.

Page 96: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051096

Da correta interpretação do voto condutor resulta que o STF afastou de-finitivamente a pretensão do Estado do Acre de anexar faixa considerável do território amazonense, situando o traçado da linha poligonal divisória em trajeto semelhante ao adotado pela Fundação IBGE a partir de 1942, passando pelas loca-lidades de Estirão do Eliezer e Remanso, em vez daquelas coordenadas propostas pelo Acre inicialmente.(Fl. 6.)

Diante disso, para que se resolva a contenda posta no feito, revela-se ne-cessário delimitar, com precisão, o que restou consignado no acórdão da ACO 415-2/DF. Já na ementa deste julgado ficou claro que a decisão vinculou-se aos resultados apurados pelo trabalho técnico elaborado pelo IBGE, junto à Comissão Tripartite formada para o fim de resolver os limites territoriais entre os Estados do Amazonas, do Acre e de Rondônia:

(...) 4. Natureza e extensão do art. 12, § 5º, do Ato das Disposições Transitórias da Constituição de 1988. Anteriormente à Constituição de 1988, me-diante convênio celebrado entre os Estados do Acre, do Amazonas e de Rondônia e a Fundação IBGE, não só se criara uma comissão tripartite com representantes dos Estados aludidos, colimando solver seus problemas de limites, mas, também, a Fundação IBGE, no âmbito das atribuições que lhe conferiu o Decreto-lei nº 161, de 13.2.1967, se comprometeu a realizar – como efetivamente realizou – os traba-lhos de levantamentos cartográficos e geodésicos atinentes aos limites territoriais, entre si, das mencionadas unidades da Federação. Demonstração dos procedi-mentos seguidos e dos resultados apurados, com debates na comissão tripartite. Conclusões do IBGE sobre os limites territoriais do Acre e do Amazonas, do Acre e de Rondônia e do Amazonas e de Rondônia, ainda em 1987. “Nota Técnica da Diretoria de Geociências do IBGE, de 25 de novembro de 1987. Configuram-se, no caso concreto, assim, os pressupostos à incidência do parágrafo 5º do art. 12, do ADCT de 1988, segundo o qual ficam reconhecidos e homologados os atuais limites do Estado do Acre com os Estados do Amazonas e de Rondônia, conforme levantamentos cartográficos e geodésicos realizados pela comissão tripartite in-tegrada por representantes dos Estados e dos serviços técnicos-especializados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (...)

O voto condutor da ACO 415-2/DF concluiu que os limites entre os Estados do Amazonas e do Acre deveriam ser aqueles indicados nos trabalhos técnicos do IBGE, consignando de forma expressa, entretanto, por meio de transcrição da nota técnica assinada pelo diretor de Geociências do IBGE (à época), Dr. Mauro Pereira de Mello, sob o título “A Questão de Limites entre os Estados do Acre, do Amazonas e de Rondônia (Aspectos Históricos e Formação do Território)”, que não houve consenso quanto aos pontos 91.004 (Cruzeiro do Sul) e 91.005 (Feijó), que ora estão sendo debatidos nesta reclamação. Veja-se trecho da decisão parâmetro, neste particular:

(...)Empregando-se os processos de rastreamento de satélites, chegou-se às

coordenadas:(...) – Ponto nº 91.004 – Cruzeiro do Sul:

Page 97: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1097

latitude sul ...................................................................................... 07º33’05,886”longitude oeste de Greenwich ..................................................... 72º35’03,100”(...) – Ponto nº 91.005 – Feijó:latitude sul ...................................................................................... 07º50’41,193”longitude oeste de Greenwich ..................................................... 70º03’15,902”(...) – Ponto nº 91.006 – BR – 317 Km 90:latitude sul ...................................................................................... 09º35’31,191”longitude oeste de Greenwich ..................................................... 67º19’30,950”(...) – Ponto nº 91.007 – Sena Madureira:latitude sul ...................................................................................... 09º02’56,535”longitude oeste de Greenwich ..................................................... 68º38’47,861”(...) – Ponto nº 91.008 – Caquetá:latitude sul .................................................................................... 09º33’37,883”longitude oeste de Greenwich ................................................... 67º30’58,785”O marco correspondente ao ponto nº 91.004 – Cruzeiro do Sul, localizado

em vila Guarujá, foi destruído pela população local, como demonstração de pro-testo à idéia de se fazer a linde por lá passar. O marco estava a cerca de 45 Km ao norte do centro urbano de Cruzeiro do Sul. Em reuniões posteriores a essa ocorrência, manifestou-se o representante do Estado do Amazonas, na Comissão Tripartite, Flávio Cordeiro Antony, contrário à adoção do marco nº 91.004 como divisa, colocando que “não aceita o posicionamento da divisa entre seu Estado e o do Acre no rio Envira, foz do rio Jurupari, posição que já havia manifestado em reunião anterior (...)”; acrescentou que tinha instruções no sentido de “posicionar a divisa no local Remanso e Estirão do Eliezer, próximos às cidades de Cruzeiro do Sul e de Feijó.”

Assim, foi recusado também, como marco de divisa, o ponto nº 91.005 – Feijó, próximo à vila Jurupari, ao norte de Feijó.

A proposta do representante do Estado do Amazonas situa a linde – a linha poligonal – próxima da solução adotada pelo IBGE a partir de 1942. (...)

Apesar de ter registrado a divergência entre os membros da Comissão Tripartite em relação aos referidos pontos, a decisão desta Corte na ACO 415-2/DF deixa claro que sua opção é pela adoção dos marcos indicados pela nota téc-nica do IBGE. Veja-se:

Não altera a conclusão quanto à incidência do art. 12, § 5º, do ADCT da Constituição de 1988, a circunstância de a Comissão Tripartite não haver adotado soluções definitivas e consensuais em torno dos limites dos três Estados litigantes, diante dos estudos técnicos do IBGE. Se tal houvesse sucedido, antes da conclusão dos trabalhos constituintes, decerto, a regra em alusão não teria sentido, porque, por via do acordo, os Estados teriam encontrado solução aos litígios concernentes aos limites territoriais. É bem de ver, em tal sentido, que os trabalhos técnicos do IBGE a esse respeito tiveram sua conclusão, inclusive com o relatório final e a nota técnica que consubstancia os resultados e conclusões dos serviços técnico-especializados, ainda no final do ano de 1987.

(...)Não cabe, em conseqüência, discutir, aqui, a definição dos limites terri-

toriais dos Estados em apreço, fora do contexto resultante da aplicação da regra do § 5º do art. 12 do ADCT da Constituição, o que conduz à verificação última do que se contém nos levantamentos cartográficos e geodésicos apontados nos

Page 98: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051098

relatórios e notas dos serviços técnicos-especializados do IBGE, acima examina-dos, precisando-lhes a compreensão e tornando, desse modo, viável a sua defini-tiva execução.

E a decisão desta Corte foi bastante incisiva ao anotar que a caracterização dos limites, nos termos do que explicitado na nota técnica do IBGE, ocorreu a partir das leis e decretos que os definiram. Restou expresso:

No que concerne, assim, aos limites do Acre e do Amazonas, resultou claro dos levantamentos a necessidade de emprestar à linha geodésica de limite – Madeira-Javari – “quando locada no terreno”, traçado que garanta a jurisdição acreana sobre cidades tradicionalmente sob sua jurisdição como Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Feijó, Sena Madureira e Manuel Urbano.

(...)Para a definição da linha poligonal a ser implantada, o IBGE assentou mar-

cos descritos às fls. 1099, na nota técnica, com as respectivas coordenadas geo-désicas, levando as denominações Cruzeiro do Sul (91.004), Feijó (91.005), Sena Madureira (91.007), Caquetá (91.008) e BR-317 (91.006). Como está na referida nota técnica (fls. 1099), “os procedimentos adotados objetivam a substituição da linha geodésica Beni-Javari, por uma poligonal cujos vértices seriam os pontos acima anunciados, balizada pelos marcos internacionais na cabeceira do Javari e mar- gem direita (lado brasileiro) do ponto frontal de confluência dos rios Beni e Mamoré”.

(...)Do exposto, julgo procedente, em parte, a ação para determinar a execução,

pelo IBGE, dos traçados de limites entre os Estados do Acre, do Amazonas e de Rondônia, na conformidade das conclusões supra, com base no art. 12, § 5º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da Constituição de 1988, e à vista dos levantamentos cartográficos e geodésicos realizados pelo IBGE, acima examinados.

Assim, a análise dos fundamentos e da conclusão da decisão parâmetro desta Corte – proferida na ACO 415-2/DF, em comparação ao ato reclamado, demonstra que não houve por parte do referido ato qualquer afronta ao que fora decidido pelo STF, no que tange aos limites territoriais dos Estados do Acre e do Amazonas.

Conforme anotado no parecer do Ministério Público, os dados informados pelo IBGE no ato reclamado e aqueles que foram referenciados na decisão pro-ferida por esta Corte na ACO 415-2/DF, no que diz respeito aos pontos 91.004 (Cruzeiro do Sul) e 91.005 (Feijó) são exatamente os mesmos, sendo eles:

(...) – Ponto nº 91.004 – Cruzeiro do Sul:latitude sul ............................................................................... 07º33’05,886”longitude oeste de Greenwich .............................................. 72º35’03,100”(...) – Ponto nº 91.005 – Feijó:latitude sul ................................................................................ 07º50’41,193”longitude oeste de Greenwich .............................................. 70º03’15,902”

Por fim, registre-se que o motivo pelo qual o Ministério Público Federal, no parecer de fls. 398-411, opinou pela procedência parcial da reclamação, qual

Page 99: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1099

seja, o fato de o Estado do Acre ter indicado coordenadas pleiteadas na ACO 415, e não aquelas que resultaram do parecer técnico do IBGE quando da con-clusão dos trabalhos junto à Comissão Tripartite, não mais subsiste, pois foi prontamente reconhecido pela Procuradoria-Geral do Estado do Acre (fls. 414-424) o erro material do Ofício 102/Iteracre/2003, de 1º-7-03, no que diz respeito aos marcos geográficos apontados.

No referido Ofício 102/Iteracre/2003, de 1º-7-03, o Instituto de Terras do Acre, por meio de seu Diretor-Presidente (José Henrique Corinto de Moura), informou ao Prefeito do Município de Guajará/AM que:

(...) ficou definido que as comunidades do Ato Pentencostes, Ramal Carobas, Badejos I, II e III e Sacado da Alemanha, encontram-se localizadas no Estado do Acre, de acordo com as especificações do acórdão do Supremo Tribunal Federal, através do qual, a Linha Cunha Gomes que divide os Estados do Acre e Amazonas, passou a ter as seguintes coordenadas:

a) Marco internacional cravado na cabeceira do rio Jarina, situado na coor-denada geográfica de 07º47’40.781” de longitude oeste (WGr);

b) Marco cravado junto à foz do igarapé Guajará no rio Juruá, situado na coordenada geográfica de 07º33’05.914” de latitude sul e de 72º35’03.294” de lon-gitude oeste (WGr);

c) Marco cravado na vila Jurupari, à margem do rio Envira, no ponto situa-do na coordenada geográfica de 07º50’41.220” de latitude sul e de 70º03’16.075” de longitude oeste (WGr);

d) Marco cravado junto à foz do rio Caeté no rio Iaco, no ponto situado na coordenada geográfica de 09º02’56.569” de latitude sul e de 68º38’48.021” de lon-gitude oeste (WGr);

e) Marco cravado junto a foz do igarapé Paquetá no rio Acre, no ponto de coordenada geográfica de 09º33’37.918” de latitude sul e de 67º30’58.936” de lon-gitude oeste (WGr);

f) Marco cravado junto a foz do igarapé Riozinho no rio Iquiri ou Ituxi, no ponto de coordenada geográfica de 09º47’47.310” de longitude oeste (WGr);

g) Marco cravado na nascente do igarapé “dos Ferreiras” ou “Simãozinho”, afluente da margem esquerda do rio Madeira, no ponto situado na coordenada geográfica de 09º28’19.864” de latitude sul e de 65º29’30.294” de longitude oeste (WGr);

h) Marco cravado junto à barra do igarapé “dos Ferreiras” ou “Simãozinho”, na margem esquerda do rio Madeira, no ponto de coordenada geográfica de 09º36’36.101” de latitude sul e de 65º24’03.129” de longitude oeste (WGr);

i) Marco internacional nº 401, cravado junto à barra do rio Abunã no rio Madeira, margem esquerda de ambos, no ponto correspondente à coordenada geo-gráfica de 09º26’46.900” de longitude oeste (WGr).(Fls. 426-427.)

Assim, conforme já salientado, o erro foi constatado, reconhecido e cor-rigido prontamente pela Procuradoria-Geral do Estado do Acre, que assim se manifestou:

Portanto, a divisa entre os Estados do Acre e do Amazonas está apontada na referida Nota Técnica da Diretoria de Geociências do IBGE, páginas 10 e 11,

Page 100: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051100

item 4.2 – Divisa Acre–Amazonas, onde se verifica que as seguintes coordenadas geográficas e respectivos pontos apontados pela Fundação IBGE:

Cruzeiro do Sul (91.004)Latitude Sul ........................................................................... 07º33’05,914”Longitude Oeste de Greenwich .......................................... 72º35’03,294”(não aceito pelo Estado do Amazonas)Feijó (91.005)Latitude Sul ........................................................................... 07º50’41,220”Longitude Oeste de Greenwich .......................................... 70º03’16,075”(não aceito pelo Estado do Amazonas)Sena Madureira (91.007)Latitude Sul .......................................................................... 09º02’56,569”Longitude Oeste de Greenwich .......................................... 68º38’48,021”(aceito pelos Estados do Acre/Amazonas)Caquetá (91.008)Latitude Sul ........................................................................... 09º33’37,918”Longitude Oeste de Greenwich .......................................... 67º30’58,936”(aceito pelos Estados do Acre/Amazonas)BR – 317Latitude Sul .......................................................................... 09º35’31,226”Longitude Oeste de Greenwich ........................................... 67º19’31,104”(aceito pelos Estados do Acre/Amazonas)

Dessa forma, restou claro o erro material constante na informação prestada pelo Instituto de Terras do Acre – ITERACRE, em razão de equívoco na coleta de dados, visto que se considerou os marcos geográficos constantes na petição ini-cial e não na decisão proferida na ACO 415-2/STF, como mesmo admitiu aquela Autarquia Estadual.

Derivados desses esclarecimentos, podemos afirmar que:a) O Estado do Acre ou o Iteracre nunca quiseram, momento algum, dedu-

zir pretensão já discutida na Ação Cível Originária, violando comandos judiciais já transitados em julgado, mormente aos exarados na ACO 415-2/STF;

b) os citados entes acreanos, têm como preceito institucional a submissão a todos os comandos constitucionais e legais;

c) deve ser desconsiderado do teor do OF. 102/ITERACRE/2003, de 01.07.2003, no que tange à descrição dos marcos geográficos apontados;

d) que não houve dolo na descrição dos pontos geográficos constantes no citado ofício.(Fls. 422-423.)

Assim sendo, verifica-se, em primeiro lugar, que o ato impugnado na presente reclamação não sofreu (nem poderia sofrer) qualquer alteração em virtude do ofício acima referido; e, em segundo lugar, que os termos do ofício do Iteracre foram expressamente declarados sem efeito pela Procuradoria-Geral do Es-tado do Acre, no que diz respeito à descrição dos marcos geográficos equivoca-damente apontados.

Diante do exposto, julgo improcedente o pedido da presente reclamação, por não vislumbrar a ofensa indicada.

É como voto.

Page 101: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1101

VOTO(Esclarecimento)

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Eu só gostaria de fazer uma con-sideração ao Tribunal. Esse é um daqueles casos trabalhosos, porque, talvez, seja um dos últimos casos de definição de fronteira entre os Estados. Como nós estamos a fazer a execução já longe, no tempo, há sempre repercussões, porque a eventual perda de área de municípios de um Estado será incorporada a outro Estado. Há problemas culturais que são suscitados.

Recebi a visita de uma série de prefeitos de vários Municípios. É um tema realmente muito sensível para a área envolvida. Nós não podemos discutir isso em sede de reclamação. Os limites da reclamação são aqueles da decisão pa-radigma. A meu ver, não há o que fazer. O próprio Supremo Tribunal Federal, quando fixou a orientação, na ACO 415, louvou-se nos trabalhos já realizados pelo IBGE.

De modo que, com todos os constrangimentos – todos os prefeitos apon-tam os inconvenientes dessa decisão – não estamos aqui a rejulgar o caso nem era dado ao Supremo Tribunal Federal fazê-lo fora dos paradigmas estabeleci-dos pelo próprio art. 12, § 5º, do ADCT.

Portanto, eu gostaria de fazer esses esclarecimentos, confessando-me in-comodado com os eventuais constrangimentos que a execução dessa decisão possa eventualmente causar, nessa divisa, com eventual separação de famílias, cemitérios, aspectos culturais, todos de extrema relevância no plano cultural, mas que não têm relevo para os fins aqui suscitados na reclamação.

É isso que eu gostaria de ponderar.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhora Presidente, a questão, como disse o Ministro Gilmar Mendes, é extremamente interessante. E essas questões re-lativas à fronteira entre um Estado e outro sempre geram muitas controvérsias, particularmente aquelas de natureza cultural, mais do que qualquer outra coisa.

A questão fundamental, pelo menos na minha compreensão, é que esta-mos em sede de reclamação, e a ação cível originária deu, na sua conclusão, a disciplina do § 5º do art. 12. Se ela deu a disciplina do § 5º do art. 12 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e essas disposições foram cumpridas pela comissão tripartite e pelos técnicos do IBGE, e foi reconhecido, conforme salientou o Ministro Gilmar Mendes, o equívoco do ofício que teria sido en-viado e que teria provocado uma nova linha demarcatória, não há como identifi-car ato algum que possa violar a disciplina que foi posta na ação cível originária. Se viesse de outro modo, talvez se poderia examinar com mais cuidado se a linha demarcatória estaria, ou não, obedecendo ao disposto no § 5º do art. 12. O mais interessante de tudo isso é que o constituinte limitou-se a manter o Estado atual. Quando? Em 5 de outubro de 1988, porque estabeleceu expressamente

Page 102: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051102

que se reconheceriam os limites daquela data estabelecidos. Daí por que se torna extremamente difícil, em sede de reclamação, fazer-se uma reapreciação completa da matéria.

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhora Presidente, acompanho o voto do eminente Ministro Relator.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhora Presidente, entendo que talvez haja “incompatibilidade” entre o conteúdo pretendido, o que se deseja discutir e a via processualmente eleita, que seria a da reclamação, a qual é limitada consti-tucionalmente. Portanto, como bem disse o Relator, apesar do constrangimento que se impõe em razão das conseqüências, não se permite que se ande de outra forma.

Não tendo havido descumprimento da ação paradigmática, então, também acompanho o voto do Ministro Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhora Presidente, também acom-panho o eminente Relator, que, pelo seu voto, demonstrou que a linha demarca-tória cumpriu fielmente aquilo exposto no acórdão paradigmático.

EXTRATO DA ATA

Rcl 1.421/AM — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Reclamante: Estado do Amazonas (Advogada: PGE/AM – Indra Mara Bessa). Assistentes: Município de Guajará e outros (Advogado: Henrique Neves da Silva). Reclamado: Presidente da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Interessados: Estado do Acre (Advogada: Marcia Regina de Sousa Pereira) e Estado de Rondônia.

Decisão: O Tribunal determinou a retirada do processo da pauta do Plenário em face da aposentadoria do Relator. Decisão unânime. Ausentes, justificadamente, o Ministro Nelson Jobim, e, neste julgamento, o Ministro Maurício Corrêa. Presidência do Ministro Marco Aurélio. Plenário, 8-5-02.

Decisão: Retirado de pauta por indicação do Relator. Plenário, 6-8-03.Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator,

julgou improcedente a reclamação. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Ausente, justificadamente, o Ministro Joaquim Barbosa. Falou pelo Reclamante o Dr. Ricardo Antonio Rezende, Procurador do Estado.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Ricardo

Page 103: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1103

Lewandowski, Eros Grau, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 3 de abril de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 104: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051104

AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO RESCISÓRIA 1.853 — PE

Relator: O Sr. Ministro Ricardo LewandowskiAgravante: Luiz Ernani Torres da Costa e Silva — Agravada: Microlite S.A.

Agravo regimental em ação rescisória. Incompetência do STF para processar e julgar a ação rescisória. Inaplicabilidade da Súmula 505 do STF. Ausência de impugnação dos demais fundamentos da decisão agravada. Agravo regimental não conhecido.

I – A competência originária desta Corte para processar e julgar ações rescisórias cinge-se às ações que impugnam julga-dos proferidos por órgãos do Supremo Tribunal Federal.

II – Inaplicável à espécie a Súmula 505, anotando-se que a ação rescisória não possui natureza de recurso.

III – As razões do agravo regimental não infirmam o funda-mento da decisão agravada, o que atrai a incidência da Súmula 287 do STF.

IV – Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente), na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, negar provimento ao recurso de agravo e determinar a remessa dos autos ao Tribunal Regional do Trabalho do Estado de Pernambuco. Ausentes, justificadamente, os Ministros Gilmar Mendes (Presidente), Celso de Mello, Ellen Gracie e Menezes Direito.

Brasília, 25 de junho de 2008 — Ricardo Lewandowski, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Trata-se de agravo regimental in-terposto contra decisão proferida pelo então Relator, Ministro Carlos Velloso, que negou seguimento à ação rescisória ante a incompetência desta Corte para processar e julgar o feito.

Eis a decisão recorrida:

Vistos. Trata-se de ação rescisória ajuizada por Luiz Ernani Torres da Costa e Silva em desfavor de Microlite S.A. visando a desconstituir acórdãos proferidos pelo Plenário do Tribunal Regional do Trabalho da Sexta Região (AR 138/99 – fls.

Page 105: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1105

12 e 74-76) e pela Subseção II Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho (ROAR 746.593/2001.7 – fls. 12 e 96-99).

Autos conclusos em 12-11-04.Decido.Não cabe ao Supremo Tribunal Federal julgar ação rescisória de acórdão

proferido por Tribunal Regional do Trabalho nem pelo Tribunal Superior do Trabalho. Ao Supremo Tribunal compete, sim, julgar ação rescisória de seus jul-gados (CF, art. 102, I, j). Nesse sentido é a jurisprudência do STF. Menciono, inter plures, as AR 1.331/SP, Min. Moreira Alves, DJ de 25-6-99; AR 1.479-AgR/BA, Min. Sydney Sanches, DJ de 4-8-00; AR 1.656/PB, Min. Celso de Mello, DJ de 11-9-01; AR 1.776/SP, Min. Ellen Gracie, DJ de 6-3-03; AR 1.823/MG e AR 1.835/PE, por mim relatadas, DJ de 23-3-04 e 17-6-04, respectivamente.

Do exposto, nego seguimento ao pedido e determino o seu arquivamento (RISTF, art. 21, § 1º).(Fl. 118.)

Irresignado, o Agravante interpôs o presente agravo (fls. 120-124), susten-tando, em síntese, que não foi observada a Súmula 505 desta Corte, sendo certo que compete ao STF conhecer de recurso contra decisão da Justiça do Trabalho que contrarie a Constituição Federal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Bem reexaminados os au-tos, verifico que a decisão agravada não merece reforma, devendo ser mantida por seus próprios fundamentos.

Com efeito, segundo se verifica às fls. 12, 74-76 e 95-99, os acórdãos res-cindendos não foram proferidos por nenhum órgão desta Corte, mas, sim, pelo Tribunal Regional do Trabalho da Sexta Região e pelo Tribunal Superior do Trabalho.

Dessa forma, ainda que se cogite de ofensa à Constituição Federal pelos acórdãos rescindendos, esta Corte não é competente para processar e julgar ori-ginariamente ações rescisórias contra decisões proferidas por outros órgãos do Poder Judiciário.

Ressalte-se a inaplicabilidade da Súmula 505 do STF ao presente caso, visto que ela dispõe o seguinte:

(...) salvo quando contrariarem a Constituição, não cabe recurso para o Supremo Tribunal Federal, de quaisquer decisões da Justiça do Trabalho, inclusive dos presidentes de seus Tribunais.(Grifo nosso.)

Evidente a impropriedade da aplicação da súmula ao presente caso.

Page 106: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051106

Ademais, a Agravante não atacou, como lhe competia, todos os funda-mentos da decisão agravada, limitando-se a alegar que a referida súmula não foi observada.

Ora, como se sabe, incumbe ao agravante o dever de impugnar, de forma específica, cada um dos fundamentos da decisão atacada, sob pena de não-conhecimento do recurso.

Inescusável, portanto, a deficiência na elaboração da peça recursal, o que faz incidir, no caso, a Súmula 287 do Supremo Tribunal Federal.

Isso posto, nego provimento ao agravo regimental e determino a remessa dos autos para o TRT da Sexta Região.

EXTRATO DA ATA

AR 1.853-AgR/PE — Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Agravante: Luiz Ernani Torres da Costa e Silva (Advogado: Augusto Cesar Ribeiro). Agravada: Microlite S.A.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, negou provimento ao recurso de agravo e determinou a remessa dos autos ao Tribunal Regional do Trabalho do Estado de Pernambuco. Ausentes, justifi-cadamente, os Ministros Gilmar Mendes (Presidente), Celso de Mello, Ellen Gracie e Menezes Direito. Presidiu o julgamento o Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente).

Presidência do Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente). Presentes à ses-são os Ministros Marco Aurélio, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 25 de junho de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 107: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1107

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.832 — PR

Relator: O Sr. Ministro Ricardo LewandowskiRequerente: Confederação Nacional da Indústria – CNI — Requeridos:

Governador do Estado do Paraná e Assembléia Legislativa do Estado do Paraná

Direito constitucional e administrativo. Ação direta de incons-titucionalidade contra Lei paranaense 13.519, de 8 de abril de 2002, que estabelece obrigatoriedade de informação, conforme especifica, nos rótulos de embalagens de café comercializado no Paraná. Alegação de ofensa aos arts. 22, I e VIII; 170, caput, IV, e parágrafo único; e 174 da Constituição Federal. Proteção ao consumidor. Ofensa indireta. Ação julgada parcialmente procedente.

I – Não há usurpação de competência da União para legis-lar sobre direito comercial e comércio interestadual porque o ato normativo impugnado buscou, tão-somente, assegurar a prote-ção ao consumidor.

II – Precedente deste Tribunal (ADI 1.980, Rel. Min. Sydney Sanches) no sentido de que não invade esfera de competência da União, para legislar sobre normas gerais, lei paranaense que as-segura ao consumidor o direito de obter informações sobre pro-dutos combustíveis.

III – Afronta ao texto constitucional indireta na medida em que se mostra indispensável o exame de conteúdo de outras normas infraconstitucionais, no caso, o Código do Consumidor.

IV – Inocorre delegação de poder de fiscalização a particu-lares quando se verifica que a norma impugnada estabelece que os selos de qualidade serão emitidos por entidades vinculadas à administração pública estadual.

V – Ação julgada parcialmente procedente apenas no ponto em que a lei impugnada estende os seus efeitos a outras unidades da Federação.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrá-ficas, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgar parcialmente pro-cedente ação direta para declarar a inconstitucionalidade da expressão “no Brasil”, contida no art. 2º da Lei 13.519, de 8 de abril de 2002, do Estado do Paraná, vencidos, em parte, o Ministro Joaquim Barbosa, que também declarava

Page 108: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051108

a inconstitucionalidade do § 1º do art. 1º da referida lei, e o Ministro Marco Aurélio, que a julgava totalmente improcedente. Votou o Presidente, Ministro Gilmar Mendes. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau.

Brasília, 7 de maio de 2008 — Ricardo Lewandowski, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Trata-se de ação direta, com pedido de medida liminar, ajuizada pela Confederação Nacional da Indústria, com fundamento nos arts. 102, I, a, e 103, IX, da Constituição Federal, objetivando a declaração de inconstitucionalidade da Lei 13.519, de 8 de abril de 2002, do Estado do Paraná, que “estabelece obrigatoriedade de informação, conforme especifica, nos rótulos de embalagens de café comercializado no Paraná” (fls. 16-17).

A norma impugnada possui o seguinte teor:

Art. 1º Fica estabelecida a obrigatoriedade de informação, nos rótulos das embalagens de café comercializado no Paraná, da porcentagem de cada espécie vegetal de que se compõe o produto.

§ 1º O produto comercializado no Paraná com o nome de café, independen-temente de sua apresentação, somente poderá ser produzido a partir de grãos de espécies vegetais do gênero Coffea.

§ 2º Nos casos em que se utilizarem grãos de plantas híbridas de diferentes espécies do gênero Coffea, especificar-se-á no rótulo do produto a participação percentual do híbrido.

Art. 2º As disposições desta lei aplicam-se ao café torrado em grão, ao café torrado moído, ao café solúvel e a todas as demais formas em que o café, destinado ao consumo humano, puro ou em mistura com outros produtos alimentícios, seja comercializado no Brasil.

Art. 3º Para os efeitos desta lei, adotam-se as seguintes definições:I – Café Torrado em Grão: é o endosperma beneficiado do fruto maduro

de uma ou mais espécies do gênero Coffea, submetido a tratamento térmico ade-quado, até atingir o ponto de torra escolhido;

II – Café Torrado Moído: é o Café Torrado em Grão submetido a adequado processo de moagem;

III – Café Solúvel: é o produto resultante da desidratação do extrato aquoso obtido exclusivamente do café torrado, através de métodos físicos, utilizando água como único agente extrator;

IV – Para os efeitos desta lei, entende-se por espécies Coffea arabica e Coffea canephora;

a) a espécie canephora será referida no rótulo de acordo com as variedades conhecidas como “Robusta” ou “Conillon”.

b) a espécie arabica será referida no rótulo com este próprio nome. Art. 4º O regulamento desta lei estabelecerá, entre outros aspectos, os re-

quisitos relativos a características sensoriais, físicas, químicas e microbiológicas, acondicionamento e higiene, os teores máximos de impurezas ou contaminantes admitidos, os planos de amostragem e os métodos de análise a serem observados.

Page 109: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1109

Art. 5º Constará das embalagens de todo o café comercializado no Paraná um selo da qualidade emitido pela produção, através da Associação Paranaense de Cafeicultores – APAC, com a fiscalização da Emater – Paraná e aprovação téc-nica, através de laudo laboratorial a ser fornecido pelo Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR.

Art. 6º Esta Lei entrará em vigor 90 dias após a data de sua publicação, re-vogadas as disposições em contrário.

Sustenta a Autora, em síntese, que houve violação ao art. 22, I e VIII, da Constituição, dado que a norma impugnada, ao legislar sobre direito comercial e comércio interestadual, teria usurpado competência privativa da União.

Alega, ainda, afronta ao art. 170, caput, IV, e parágrafo único, da Carta Magna, porque a norma em questão, ao estabelecer a obrigatoriedade de infor-mação das quantidades de cada espécie vegetal que integra os “blends” das mar-cas de café comercializadas no Estado do Paraná e ao exigir que seja gravado, nas embalagens dos produtos, um selo de qualidade outorgado pela Associação Paranaense de Cafeicultores, impede o livre e pleno exercício da atividade econômica.

Afirma, também, que foi vulnerado o art. 174 da Constituição, uma vez que o poder de polícia para fixar e fiscalizar as características mínimas de qualidade das distintas marcas de café comercializadas no Estado do Paraná só pode ser exercido por órgãos da administração pública, sendo tal atribuição indelegável ao particular. Nesse contexto, ressalta que, “ao deferir à Associação Paranaense de Cafeicultores o poder de fiscalizar quais produtos estão aptos ao consumo humano, a lei em exame estaria delegando poder de polícia a pessoa jurídica de direito privado” (fl. 13).

Ao final, requer seja, liminarmente, suspensa a vigência da Lei 13.519, de 8 de abril de 2002, do Estado do Paraná, até o julgamento definitivo da presente ação.

Solicitadas informações (fl. 44), na forma do caput do art. 10 da Lei 9.868/99, o Governador do Estado do Paraná sustentou, às fls. 58-66, em síntese, a ilegitimidade da Confederação Nacional da Indústria para a propositura da presente ação, uma vez que “não se qualificam como entidades de classe aquelas que, congregando pessoas jurídicas, apresentam-se como associações de asso-ciações, eis que pessoas jurídicas, ainda que coletivamente representativas de categorias profissionais ou econômicas, não formam classe alguma”.

Defendeu a constitucionalidade da norma impugnada, pois ela não preten-deu regular o comércio interestadual, mas, sim, garantir aos consumidores, nos termos da legislação consumerista, o direito à informação adequada e clara do produto, com especificação correta de quantidade, característica, composição e qualidade.

Alegou, ainda, a inexistência de violação aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência, porquanto a lei impugnada apenas dispõe sobre a obri-gatoriedade de informação sobre a qualidade do produto ofertado no mercado,

Page 110: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051110

bem como a inocorrência de delegação do poder de polícia, mormente porque a lei em tela atribui à Associação Paranaense de Cafeicultores, tão-somente, a tarefa de emitir um selo de qualidade ao produto.

Por sua vez, a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, em suas in-formações (fls. 70-77), sustentou, preliminarmente, a ilegitimidade ativa ad causam da autora e a ausência de especificação do pedido, requisito essencial ao conhecimento da presente ação. No mérito, aduziu, em síntese, a constituciona-lidade da norma impugnada, uma vez que ela pretende, tão-somente, estipular regras claras com vistas à proteção do consumidor.

À fl. 79, dando aplicação ao art. 12 da Lei 9.868/99, o então Relator Minis-tro Carlos Velloso determinou fosse dada vista, sucessivamente, ao Advogado-Geral da União e ao Procurador-Geral da República.

O Advogado-Geral da União manifestou-se pela improcedência do pe-dido de declaração de inconstitucionalidade. Primeiro, porque as alegações de ofensa aos arts. 22, I e VIII, 170, caput, IV, e parágrafo único, da Constituição constituem meras ofensas reflexas ao texto constitucional. Depois, porque, rela-tivamente à alegação de ofensa ao art. 174 da Carta Magna, “a emissão do selo de qualidade não significa, por si só, exercício do poder de polícia. Trata-se de ato material que precede o exercício do poder de polícia, o que é admitido pela lei” (fl. 90).

O Procurador-Geral da República opinou pela improcedência da presente ação direta de inconstitucionalidade (fls. 93-98).

É o relatório, do qual serão expedidas cópias aos Exmos. Srs. Ministros.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Preliminarmente, regis-tro que a autora, Confederação Nacional de Indústria (CNI), é entidade sindi-cal de grau superior, perfazendo os requisitos do art. 103, IX, da Constituição. Ademais, os dispositivos impugnados estariam afetando os interesses gerais da indústria. Logo, entendo que se encontra presente o requisito da pertinência temática.

Quanto à alegada violação aos incisos I e VIII do art. 22 da Constituição, constato que a norma impugnada não usurpou competência da União para legis-lar sobre direito comercial e comércio interestadual. Isso porque o ato normativo impugnado tão-somente visou à proteção ao consumidor, informando-o sobre as características de produtos comercializados no Estado do Paraná.

Cumpre lembrar, ademais, que o art. 24, V, da Constituição atribui com-petência concorrente à União, aos Estados e ao Distrito Federal para legislar sobre a produção e o consumo. Nesse sentido, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, em 4-8-99, no julgamento da ADI 1.980, Rel. Min. Sydney Sanches, por unanimidade, entendeu que não invade a esfera de competência da União, para

Page 111: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1111

editar normas gerais, lei paranaense que assegura ao consumidor o direito de obter informações sobre produto.

Eis a ementa do referido acórdão:

Direito constitucional e administrativo. Ação direta de inconstitucionali-dade da Lei 12.420, de 13-1-99, do Estado do Paraná, que assegura ao consumidor o direito de obter informações sobre natureza, procedência e qualidade dos pro-dutos combustíveis comercializados nos postos revendedores situados naquela Unidade da Federação. Alegação de ofensa aos arts. 22, I, IV e XII; 177, § 1º e § 2º, I e III; 238; e 170, IV, da Constituição Federal. Medida cautelar.

1. A plausibilidade jurídica da ação direta de inconstitucionalidade ficou consideravelmente abalada, sobretudo diante das informações do Exmo. Sr. Governador do Estado do Paraná.

2. Com efeito, a Constituição Federal, no art. 24, incisos V e VIII, atribui competência concorrente à União, aos Estados e ao Distrito Federal para legislar sobre produção e consumo e responsabilidade por dano ao consumidor. O § 1º desse artigo esclarece que, no âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. E o § 2º, que a competência da União para as normas gerais não exclui a suplementar dos Estados.

3. No caso, a um primeiro exame, o Estado do Paraná, na lei impugnada, parece haver exercido essa competência suplementar, sem invadir a esfera de com-petência da União, para normas gerais. Aliás, o próprio Código do Consumidor, instituído pela Lei federal 8.078, de 1990, no art. 55, a estabeleceu.

4. E, como ficou dito, o diploma acoimado de inconstitucional não aparenta haver exorbitado dos limites da competência legislativa estadual (suplementar), nem ter invadido a esfera de competência concorrente da União, seja a que ficou expressa no Código do Consumidor, seja na legislação correlata, inclusive aquela concernente à proteção do consumidor no específico comércio de combustíveis.

5. É claro que um exame mais aprofundado, por ocasião do julgamento de mérito da ação, poderá detectar alguns excessos da lei em questão, em face dos limites constitucionais que se lhe impõem, mas, por ora, não são eles vislumbra-dos, neste âmbito de cognição sumária, superficial, para efeito de concessão de medida cautelar.

6. Ausente o requisito da plausibilidade jurídica, nem é preciso verificar se o do periculum in mora está preenchido. Ademais, se tivesse de ser examinado, é bem provável que houvesse de militar no sentido da preservação temporária da eficácia das normas em foco.

7. Medida cautelar indeferida.

Quanto à alegação de violação aos princípios constitucionais da livre ini-ciativa e da livre concorrência estampados no art. 170, IV, e parágrafo único da Constituição, melhor sorte não colhe a autora. É que a lei impugnada tem apenas o escopo de informar o consumidor quanto aos dados de produto por ele adqui-rido. Não se olvide, de resto, que o inciso V do citado art. 170 da Constituição estabelece, como princípio da ordem econômica, precisamente a defesa do consumidor.

Não é demais também recordar que o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 6º, III, assegura, como direito básico de todo consumidor, “a

Page 112: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051112

informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com espe-cificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como os riscos que apresentem”.

Feitas essas considerações, assento que, ainda que houvesse afronta ao texto constitucional, ela seria indireta. Inviável, portanto, o exame de suposta inconstitucionalidade de lei em comento por esta Corte. Nesse sentido, cito tre-cho de decisão proferida na ADI 1.286, Rel. Min. Ilmar Galvão:

O Supremo Tribunal Federal tem orientação assentada no sentido da impos-sibilidade de controle abstrato da constitucionalidade de lei, quando, para o des-linde da questão, se mostra indispensável o exame do conteúdo de outras normas jurídicas infraconstitucionais ou de matéria de fato.(No mesmo sentido: ADI 2.122, Rel. Min. Ilmar Galvão.)

Por fim, também não procede a alegação de ofensa ao art. 174 da Constituição, por eventual delegação do poder de fiscalização a particulares, porquanto o art. 5º da Lei 13.519/02 estabelece que os selos de qualidade serão emitidos por meio da “Associação Paranaense de Cafeicultores – APAC, com a fiscalização da EMATER – Paraná e aprovação técnica, através de laudo labora-torial a ser fornecido pelo Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR”, em outras palavras, entidades vinculadas à administração pública do Estado do Paraná.

Apenas num aspecto esta ação direta merece prosperar, qual seja, no ponto em que a lei atacada estende o seu alcance para outras unidades da Federação.

Nesse sentido, cumpre escoimar do art. 2º, in fine, a expressão “seja co-mercializada no Brasil”.

Isso posto, pelo meu voto, julgo procedente em parte a presente ação di-reta, nos termos supra.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhor Presidente, tirantes os especialis-tas em café, que eu não sou, examinando texto da Lei estadual 13.519, verifica-se o confronto que se faz com o art. 5º, XXXII, e também com o art. 24, V, da Constituição Federal.

Na realidade, tenho a sensação de que este Tribunal já examinou esta matéria no que concerne à complementaridade da lei estadual com relação à lei federal, basicamente em matéria de Direitos do Consumidor.

O que estamos examinando agora é exatamente o alcance da disciplina constitucional do art. 24, V, que autoriza os Estados a complementar a legislação federal sobre determinada matéria. E, no caso, trata-se de defesa do consumidor.

Tenho manifestado, sempre, com muita insistência, que temos de fazer até mesmo uma grande revisão do princípio federativo brasileiro, que ao longo do tempo esta Suprema Corte, no tocante a constituições anteriores, estreitou, a meu ver, demasiadamente. E, agora, diante da Constituição dos 80, tenho como

Page 113: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1113

necessário fazer uma revisão para ampliar a natureza federativa do Estado brasileiro.

O Sr. Ministro Celso de Mello: Ou seja, proceder-se à revisão, em sede jurisdicional, da própria teoria do federalismo em nosso País, em ordem a expandir, nos estritos termos de nossa experiência institucional, a autonomia político-jurídica das coletividades locais (Estados-membros, Distrito Federal e Municípios).

O Sr. Ministro Menezes Direito: Exatamente isso. É o que estou susten-tando já há algum tempo, mesmo porque, e posto que a nossa federação tenha sido um expediente de técnica constitucional, diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos da América, ou mesmo na Confederação Helvética, no caso brasileiro, é necessário, a esta altura, interpretando a Constituição de 88, dar um pouco mais de amplitude à própria natureza da federação, considerando a própria realidade brasileira. E esta lei é bem um exemplo dessa circunstância a que me refiro. O que é que faz o Estado do Paraná? Limita-se a estabelecer a informação necessária ao consumidor, até mesmo naquela parte que o eminente Ministro Joaquim Barbosa destacou, ou seja, quanto ao gênero Coffea.

Na realidade, o que se está propondo, nesse dispositivo legal, é que tudo aquilo que for comercializado sob o gênero café, seja o gênero café, ou seja, seja realmente café.

Portanto, aí não haveria nenhuma inconstitucionalidade, nem ao mesmo tempo estar-se-ia diante de uma especificação técnica com relação a outro gê-nero que não seja o gênero café.

Logo, não existe nenhum detalhamento, nenhuma especificação, nenhuma marca própria para dizer que o gênero Coffea não é o gênero Coffea, que só pode ser o gênero Coffea.

De fato, o que está fazendo a lei do Estado do Paraná neste dispositivo, bem destacado pelo eminente Ministro Joaquim Barbosa, é especificar que as informações que são necessárias o sejam com relação a este gênero.

Por outro lado, é verificar, com muita claridade, que o legislador estadual procurou, tão-somente, estabelecer os critérios de informação. E nós sabemos, no Brasil, a quantas anda a questão da informação ao consumidor no tocante aos gêneros que são embalados. Muitas vezes, nós estamos cansados de examinar essa matéria, até pessoalmente, salvo quem não faz supermercado, é claro, que existe uma dificuldade muito grande porque, muitas vezes, o que se contém no rótulo não está contido no produto, e isso tem gerado alguns complicadores bas-tante severos. E nós, a todo instante, vemos divulgação desse tipo de operação que está sempre em curso.

É claro, como disse o Ministro Lewandowski, que esse acréscimo de co-mercializados no Brasil nada mais é do que a explicitude de comercialização no País inteiro, e, aí, comporta realmente que se possa retirar para dar claridade,

Page 114: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051114

mesmo porque, logo ao início, no caput, está bem claro que a lei se aplica à co-mercialização no Paraná. O caput do artigo já diz isso.

Portanto, a indicação de comercializados no Brasil não teria o alcance que se poderia dar com relação a essa futura interpretação da lei. Seguindo os velhos alemães que cuidavam desse assunto, principalmente Theodor Maunz, a lei muitas vezes ganha uma dimensão diferente daquela que seu autor ofereceu.

Na realidade, aqui, esta explicitação “comercializados no Brasil” tem uma vinculação direta com o caput, porque a comercialização é no próprio Estado do Paraná.

Mas a bem da clareza, e esta Suprema Corte tem de ter cuidado com essa matéria, também estou de acordo com relação à supressão destas duas palavras finais “no Brasil”, parando no “comercializado”.

Com essas razões, louvando o belíssimo voto pronunciado pelo eminente Ministro Lewandowski, que, com sua largueza de espírito e sua inteligência, soube incorporar o sentimento médio da Corte com relação a essa parte da lei, eu também acompanho S. Exa. e julgo procedente, em parte, a ação para retirar do art. 2º as palavras “no Brasil”.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhor Presidente, também acompanho o brilhante voto do eminente Ministro Ricardo Lewandowski.

Não entendi, conforme foi alegado na petição inicial e agora enfatizado na tribuna, que se tratasse de direito comercial, mas de informação ao consumidor. Foi também enfatizado na tribuna que as empresas deveriam ter o direito ao si-gilo quanto àquilo que se contém no café.

Pergunto-me: que direito ao sigilo é esse? Eu, cidadã que tomo muito café, tenho o direito também de saber o que estou consumindo e em que condições, até porque, às vezes, quem faz café – lembrou o Ministro Menezes Direito – sabe muito bem que, ao coá-lo, sente-se um cheiro nítido de milho e de outros aromas na casa, o que denota nem sempre estar tudo devidamente descrito.

E acredito que a tendência seja a informação. O direito à informação referida no art. 5º deve ser respeitado efetivamente nos termos da federação brasileira.

Entendo que se trata efetivamente do direito de informação do consumidor e está devidamente garantido no espaço federativo de cada uma das entidades.

Razão pela qual, ressalvando o que já posto pelo acolhimento parcial quanto à expressão “no Brasil”, não vislumbro qualquer mácula na legislação.

Acompanho integralmente o voto do Relator.

Page 115: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1115

VOTO

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhor Presidente, acompanho o emi-nente Relator no ponto em que ele se limita a retirar a expressão “no Brasil” contida no art. 2º.

No entanto, peço vênia para divergir. Declaro a inconstitucionalidade do art. 1º, § 1º, da Lei 13.519/02 porque, ao meu sentir, restringe a circulação de bens.

A cláusula é extremamente restritiva. Leio o dispositivo:

Art. 1º (...)§ 1º O produto comercializado no Paraná com o nome de café, independen-

temente de sua apresentação, somente poderá ser produzido a partir de grãos de espécies vegetais do gênero Coffea.

Ou seja, somente o café que atenda a essa especificação poderá ser co-mercializado no Paraná. É uma cláusula restritiva. Entendo que ela fere o prin-cípio federativo, ao criar obstáculos a produtos oriundos de outras unidades federativas.

Declaro a inconstitucionalidade deste dispositivo, § 1º do art. 1º.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhor Presidente, peço vênia ao Ministro Joaquim Barbosa – assim como ressalvo o belo desempenho do advogado que ocupou a tribuna –, mas vou acompanhar o brilhante voto do Ministro Ricardo Lewandowski.

Entendo que a lei, no seu conjunto, em cada um de seus dispositivos, tem por foco a precisa informação do consumidor: orientar o consumidor, cientifi-car o consumidor daquilo que está sendo objeto de virtual consumo, com uma virtude, com uma vantagem adicional. Essa lei também protege a saúde, tem mérito suficiente para incorporar a defesa da saúde, que é também matéria de competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal. Como se lê do art. 24, XII, “proteção e defesa da saúde”.

A doutrina vem se firmando, mais e mais, no entendimento de que toda legislação estadual de reforço à legislação federal, sobre proteção e defesa da saúde, goza de uma apriorística cláusula de validade, sob o limite apenas da ra-zoabilidade e da proporcionalidade.

Vale dizer, tudo que, no âmbito de legislação estadual, venha em re-forço desses dois bens jurídicos, proteção e defesa da saúde, é de ser, em linha de princípio, recebido como constitucional sob dois limites: razoabilidade e proporcionalidade.

No caso, penso que a lei não extrapolou esses dois limites e defende, a um só tempo, tanto o consumidor, no plano da informação, quanto a saúde. Essa

Page 116: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051116

saúde, além de ser matéria de competência legislativa concorrente, também faz parte das competências materiais comuns e, agora, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos próprios Municípios, conforme o art. 23, inciso II.

Com esses fundamentos, Senhor Presidente, também dou pela impro-cedência da ação direta de inconstitucionalidade, com a ressalva já feita pelo eminente Relator, significando, portanto, uma inconstitucionalidade apenas em parte.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, também peço vênia ao Ministro Joaquim Barbosa, para acompanhar integralmente o voto do eminente Relator.

Na verdade, trata-se de matéria de produção e de consumo, em que há competência concorrente do Estado e do Município e do Estado e da União. O Estado, no caso, nada mais fez do que aplicar a um produto específico as nor-mas que estão nos arts. 6º, inciso III, 28, 31 e 37, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, todos os quais impõem aos produtores e aos comerciantes que in-diquem, no recipiente ou no rótulo, as características, qualidades e composição dos produtos vendidos, por razões óbvias, que não precisam ser repetidas.

Em relação ao § 1º e ao § 2º, também concordo, com o devido respeito, com o eminente Relator, porque, sob a presunção de que o que define a espécie, o que dá a identidade do café e do gênero Coffea nas suas espécies, Coffea ara-bica e Coffea canephora, que é objeto, aliás, de referência no art. 3º, inciso IV, o alcance é exatamente obrigar os produtores e os comerciantes a atribuir o nome de café àquilo que pertence a dada espécie, não a outro gênero. Em suma, fica proibido dizer que é café o que não é café. Então, estou de pleno acordo. Penso que aqui não há restrição à comercialização interestadual, nem à produção, mas simplesmente a imposição da mesma obrigação de identificação do que seja café.

A única coisa que me despertaria alguma dúvida é o disposto no art. 5º, em que vejo, não inconstitucionalidade, mas excesso de zelo, porque o selo po-deria ser bem substituído por marca coletiva ou por certificação registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, mas o excesso de zelo da lei não a torna inconstitucional, razão por que acompanho integralmente o voto do emi-nente Relator.

EXPLICAÇÃO

O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhor Ministro Cezar Peluso, atentando para a redação do art. 5º, exigência de emissão de selo de qualidade, afixação de selo de qualidade no produto, cheguei à conclusão de que a lei também protege a saúde, exatamente por efeito desse art. 5º a que V. Exa. se referiu.

Page 117: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1117

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Mas estou de acordo. Não penso ser incons-titucional, não.

O Sr. Ministro Carlos Britto: O certificado de qualidade é um plus, porque vai além da defesa do consumidor para alcançar a defesa da saúde.

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie: Senhor Presidente, serei breve até porque já estamos na hora do coffee break.

Para acompanhar o voto do eminente Relator, também considerando até, quem sabe, um excesso de zelo essa exclusão da expressão “no Brasil”, no final do art. 2º, não vejo que tenha havido usurpação de competência da União para legislar sobre direito comercial. Apenas o que se assegura no uso da competên-cia concorrente do Estado para legislar sobre produção e consumo é a adequada informação ao adquirente sobre aquele produto que ele irá consumir.

Portanto, sem inconstitucionalidade qualquer, acompanho o Relator.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, a esta altura, nutro inveja, considerada a segurança dos paranaenses na aquisição e também na to-mada de café.

Parto, no caso, de uma premissa básica segundo a qual somente é dado declarar a inconstitucionalidade de lei quando houver, realmente, um conflito frontal com a Constituição Federal.

Tenho presente o § 1º do art. 1º da lei a revelar:

§ 1º O produto comercializado no Paraná com o nome de café, independen-temente de sua apresentação, somente poderá ser produzido a partir de grãos de espécies vegetais do gênero Coffea.

Há ênfase maior ao conteúdo, rechaçando-se, portanto, a propaganda de mero rótulo, a propaganda dita enganosa.

Quanto à parte final do art. 2º, peço vênia para não excluí-la e o faço por-que interpreto a lei de forma sistemática, levando em conta o que se contém no art. 1º. Ela foi editada para viger no Estado do Paraná, considerada a atuação da Casa Legislativa, a Assembléia. E retirar a expressão implica a atividade até mesmo legislativa positiva do Supremo. Explico melhor: o dispositivo apanhará, também, o café importado e já embalado.

Ora, se o art. 1º limita a aplicação da lei ao Estado do Paraná, não posso interpretar essa parte final do art. 2º a ponto de imaginá-la obrigatória para as demais unidades da Federação.

Por último, tem-se o art. 5º. Não vejo autorização para fiscalizar a pessoa jurídica de direito privado, se é que a entidade mencionada no art. 5º é pessoa ju-

Page 118: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051118

rídica de direito privado, muito embora haja referência à Associação Paranaense de Cafeicultores (APAC) – e o emprego do vocábulo “fiscalização”.

O que encerra o dispositivo, a meu ver, é apenas a emissão de um selo pela Emater a revelar que o café, tal como produzido e embalado, atende aos ditames legais.

Julgo inteiramente improcedente o pedido formulado na inicial, enten-dendo que atuou o Estado do Paraná considerada a autorização normativa con-corrente prevista no art. 24, incisos V e VIII, da Constituição Federal, dispondo sobre produção e consumo e também sobre a proteção do consumidor.

VOTO

O Sr. Ministro Celso de Mello: Entendo, Senhor Presidente, na linha do voto que proferi no julgamento da ADI 2.591/DF, que a proteção ao consu-midor e a defesa da integridade de seus direitos representam compromissos inderrogáveis que o Estado brasileiro conscientemente assumiu no plano de nosso ordenamento constitucional.

O relevo indiscutível desse compromisso estatal – considerada a irrecu-sável importância jurídica, econômica, política e social de que se revestem os direitos do consumidor – tanto mais se acentua, quando se tem presente que a Assembléia Nacional Constituinte, em caráter absolutamente inovador, elevou a defesa do consumidor à posição eminente de direito fundamental (CF, art. 5º, XXXII), atribuindo-lhe, ainda, a condição de princípio estruturador e confor-mador da própria ordem econômica (CF, art. 170, V).

É por essa razão que o eminente Professor JOSÉ AFONSO DA SILVA (“Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 261/262, item n. 27, 20. ed., 2002, Malheiros), ao analisar a obrigação, constitucionalmente imposta ao Estado, de prover, na forma da lei, a proteção do consumidor, põe em destaque a inserção dessa cláusula de tutela “entre os direitos fundamentais, com o que se erigem os consumidores à categoria de titulares de direitos constitucionais fundamentais”, conjugando-se, a isso, a previsão constante “do art. 170, V, que eleva a defesa do consumidor à condição de princípio da ordem econômica”, com o relevante propósito “de legitimar todas as medidas de intervenção esta-tal necessárias a assegurar a proteção prevista”.

Na realidade, a proteção estatal ao consumidor – quer seja esta qualifi-cada como um direito fundamental positivado no próprio texto da Constituição da República, quer seja compreendida como diretriz conformadora da formu-lação e execução de políticas públicas, bem assim do exercício das atividades econômicas em geral – assume, em última análise, na perspectiva do sistema jurídico consagrado em nossa Carta Política, a condição de meio instrumental destinado, enquanto expressão de um “princípio constitucional impositivo” (EROS ROBERTO GRAU, “A Ordem Econômica na Constituição de 1988”, p. 272, item n. 115, 6. ed., 2001, Malheiros), a neutralizar o abuso do poder

Page 119: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1119

econômico praticado em detrimento das pessoas e de seu direito ao desenvolvi-mento e a uma existência digna e justa.

Com o claro objetivo de dar concreção e significado a tais proclamações constitucionais, a Carta Política fez instaurar um estado de comunhão solidá-ria entre as diversas esferas políticas que compõem a estrutura institucional da Federação brasileira, congregando-as em torno de finalidade comum, impreg-nada do mais elevado sentido social.

Vale referir, bem por isso, a primazia que a Carta Política conferiu tanto à defesa do consumidor quanto à preservação da integridade das prerrogativas jurídicas, que, em seu favor, foram reconhecidas pelo ordenamento positivo, podendo-se afirmar, a partir de tal asserção, que os direitos do consumidor, embora desvestidos de caráter absoluto, qualificam-se, no entanto, como va-lores essenciais e condicionantes de qualquer processo decisório que vise a compor situações de antagonismo resultantes das relações de consumo que se processam, no âmbito da vida social, de modo tão estruturalmente desigual, marcadas, muitas vezes, pela nota de indisfarçável conflituosidade, a opor fornecedores e produtores, de um lado, a consumidores, de outro.

Com esse propósito, Senhor Presidente, e para não degradar o compro-misso de defesa do consumidor à condição inaceitável de uma promessa irres-ponsavelmente vã, ou de uma proclamação constitucional meramente retórica, ou, ainda, de um discurso politicamente inconseqüente, a Lei Fundamental, visando a promover o bem de todos, veio a instituir verdadeiro condomínio le-gislativo, partilhando, entre a União, os Estados-membros e o Distrito Federal (CF, art. 24, VIII), sem falar nos Municípios, a competência para legislar, em caráter concorrente, sobre medidas e políticas públicas destinadas a via-bilizar a proteção – que se quer efetiva, plena e real –, a ser conferida ao consumidor.

Daí justificar-se, plenamente, o reconhecimento de que a proteção ao consumidor – que traduz prerrogativa fundamental do cidadão – qualifica-se como valor constitucional inerente à própria conceptualização do Estado Democrático e Social de Direito, razão pela qual incumbe, a toda a coletivi-dade – e ao Poder Judiciário, em particular – extrair, dos direitos assegurados ao consumidor, a sua máxima eficácia.

Cumpre reiterar, bem por isso, a afirmação de que a função tutelar resultante da cláusula constitucional de proteção aos direitos do consumidor projeta-se, também, na esfera relativa à ordem econômica e financeira, na me-dida em que essa diretriz básica apresenta-se como um insuprimível princípio conformador da atividade econômica (CF, art. 170, V).

Impende destacar, por oportuno, que todas as atividades econômicas estão sujeitas à ação fiscalizadora do poder público. O ordenamento cons-titucional outorgou, ao Estado, o poder de intervir no domínio econômico, assistindo-lhe, nesse especial contexto das funções estatais, competência para proceder como agente normativo e regulador da atividade negocial (art. 174).

Page 120: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051120

A liberdade de atuação e de prática negocial, contudo, não se reveste de caráter absoluto, pois o seu exercício sofre, necessariamente, os condiciona-mentos normativos impostos pela Lei Fundamental da República.

Desse modo, cabe enfatizar que a esfera de proteção constitucional-mente garantida aos direitos do consumidor desempenha clara função inibitó-ria, apta a desqualificar o exercício eventualmente abusivo, prejudicial e nocivo decorrente de práticas negociais ilícitas ou irregulares.

Dentro dessa perspectiva, a edição do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) – considerados os valores básicos concernentes à proteção da vida, da saúde e da segurança, e relativos à liberdade de escolha, à igualdade nas contratações, ao direito à informação e à proteção contra publicidade enga-nosa, dentre outros – representou a materialização e a efetivação dos compro-missos assumidos, em tema de relações de consumo, pelo Estado brasileiro.

Entendo, por isso mesmo, que a Lei paranaense 13.519, de 8-4-02, que estabelece a obrigatoriedade de informação nos rótulos de embalagens de café comercializado no Estado do Paraná, não revela nem padece da eiva de inconstitucionalidade sustentada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), autora da presente ação direta.

Ao contrário, e sob tal aspecto, esse diploma legislativo estadual reveste-se de plena validade constitucional, especialmente se se considerarem os princípios que regem, condicionam e informam a própria formulação e exe-cução da política nacional das relações de consumo, cujo precípuo objetivo – reconhecida a situação de vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo – consiste em viabilizar o atendimento das necessidades dos con-sumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria de sua qualidade de vida, bem assim a trans-parência e harmonia das relações de consumo.

Nesse contexto, a atuação normativa do Poder Público, como aquela con-substanciada na legislação estadual ora questionada, vocacionada a coibir, com fundamento na prevalência do interesse social, situações e práticas abu-sivas que possam comprometer a eficácia do postulado constitucional de prote-ção e amparo ao consumidor (que representa importante vetor interpretativo na ponderação e superação das relações de antagonismo que se registram no mercado de consumo), justifica-se ante a necessidade – que se impõe ao Estado – de impedir que as empresas e os agentes econômicos em geral, qualquer que seja o domínio em que exerçam as suas atividades, afetem e agravem a situação de vulnerabilidade a que se acham expostos os consumidores.

Os agentes econômicos não têm, nos princípios da liberdade de iniciativa e da livre concorrência, instrumentos de proteção incondicional. Esses postula-dos constitucionais – que não ostentam valor absoluto – não criam, em torno dos organismos empresariais, qualquer círculo de imunidade que os exonere dos gravíssimos encargos cuja imposição, fundada na supremacia do bem co-mum e do interesse social, deriva do texto da própria Carta da República.

Page 121: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1121

Tenho para mim, Senhor Presidente, assentadas as premissas que ve-nho de referir, que o douto voto proferido pelo eminente Ministro Relator bem situou o exame da controvérsia, analisando-a sob essa perspectiva mais ampla, mais relevante, mais generosa, mais socialmente significativa, que é a da proteção ao consumidor e aos seus direitos. E quando se fala em proteção aos direitos do consumidor, enfatiza-se, dentre outras prerrogativas básicas, a preservação da integridade do seu direito à saúde e do seu direito à informação clara, segura, precisa a respeito dos produtos que lhe são oferecidos.

Louvo a iniciativa do Estado do Paraná pela edição da Lei 13.519/02, pois, ao assim agir, cumpriu, de maneira conseqüente, o dever de proteção ao consumidor, que traduz obrigação que se impõe não apenas à União Federal, mas a todas as comunidades jurídicas que compõem a estrutura institucional do Estado federal brasileiro.

Estava propenso a acompanhar, integralmente, o doutíssimo voto profe-rido pelo eminente Ministro Relator, no ponto em que S. Exa. suprime, da parte final do “caput” do art. 2º, a expressão “no Brasil”. Mas a mim me parece, depois da observação feita pelo eminente Ministro MARCO AURÉLIO, que o objetivo desse preceito legal mereceria, presente a “mens legis”, uma exegese que tornasse mais efetiva e abrangente a tutela aos direitos do consumidor, estendendo-a a todas as empresas, particularmente àquelas que produzem o café para comercialização no País e que o embalam no Estado do Paraná.

É certo, no entanto, que essa reflexão poderia levar em consideração qualquer produto “com o nome de café”, independentemente de sua origem.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: É um produto importado?O Sr. Ministro Celso de Mello: Essa indagação leva-me a reafirmar o en-

tendimento – considerada a finalidade constitucional da proteção ao consumi-dor, notadamente o reconhecimento de que lhe assiste o direito à informação plena sobre os produtos que lhe são oferecidos – de que a norma legal em ques-tão há de ser interpretada de modo abrangente.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Se eu entendi bem, os estrangeiros podem nos enganar.

O Sr. Ministro Celso de Mello: O Estado do Paraná busca, na realidade, vincular, de modo especial, as empresas que atuam no âmbito do território es-tadual, neste comercializando o produto em questão.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): Basta que sejam comerciali-zados no Paraná.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Exatamente.O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): Mesmo que, eventualmente,

fosse o café importado.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Exatamente, isso vale também para o café

importado.

Page 122: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051122

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): Para o café importado eventu-almente comercializado no Paraná. Pelo menos é isso, e assim também entendeu o eminente Relator.

O Sr. Ministro Carlos Britto: Ou seja, o importador tem de prestar as in-formações em rótulo apropriado.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Exatamente, caso contrário poderemos ser enganados pelos estrangeiros. Por que essa discriminação contra os brasileiros?

O Sr. Ministro Carlos Britto: Até porque se tirarmos “no Brasil”, do ponto de vista gramatical, fica incompreensível.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Isso tem mão-dupla, Ministro. Isso vale tanto para os produtores que exportam, como para os produtos importados comercia-lizados no Paraná.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): É preciso deixar claro que a norma só poderia ter aplicação no âmbito territorial do Paraná.

O Sr. Ministro Celso de Mello: Certo.O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): É comum em se tratando

de vinhos, por exemplo, outros produtos, haver um rótulo que é afixado acima do rótulo original.

O Sr. Ministro Celso de Mello: Manter-se-á, então, a expressão “no Brasil”, ou deverá ser ela suprimida, em face das razões expostas?

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Eu não me oporia. Originalmente, eu dava pela improcedência total. Atendia a uma ponderação dos Colegas e me pareceu razoável e de caráter pedagógico, mas não me opo-nho, também, a que se julgue totalmente improcedente.

Claro que a regência de todo o dispositivo legal impugnado há de se fazer tendo em conta o art. 1º.

Assim, eu evoluo no sentido do meu voto original. A Sra. Ministra Ellen Gracie: Eu mesma já havia dito também que me pa-

recia excesso de zelo.O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): Creio que os demais Colegas

não se opõem.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Data venia, eu me oponho, sim. Penso que

isso aqui é válido, inclusive, para efeito de proteção aos estrangeiros quando se trata de café produzido no Paraná. Portanto, mantenho, data venia, a restrição. Aliás, até porque a supressão da expressão não altera nada.

O Sr. Ministro Menezes Direito: É um excesso de zelo e não tem nenhuma repercussão, porque vai ficar explicitado no voto que se trata de comercializa-ção no Paraná. Então, a retirada da expressão não causará nenhum transtorno, porque existe a explicitação de que, quando for comercializado no Paraná, é necessário que constem aquelas informações, seja o café produzido no Brasil,

Page 123: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1123

seja o café importado. Portanto, a retirada não vai criar nenhuma complicação. É um excesso de zelo prudente, porque sinaliza que a legislação estadual não pode fazer nenhuma referência à comercialização nacional. Então, é preferível deixarmos com essa exclusão, mantido como está o caput do art. 1º que estabe-lece a limitação geográfica da comercialização.

Isso tudo para evitar, Ministro Carlos Ayres, que se crie, depois, um complicador no tocante à declaração de inconstitucionalidade que precisa de oito votos. Então, nessa confluência, é prudente deixar essa exclusão, porque já está explicitado que se trata da comercialização no Paraná, e, evidentemente, os mesmos produtos importados terão necessidade de, se comercializados no Paraná, obedecer à regulamentação. E isso vai ficar explicitado no voto e até mesmo na ementa.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Tem um caráter pedagó-gico, mais didático.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): E evitar que o legislador de caráter regional passe a ter pretensões universais.

O Sr. Ministro Menezes Direito: Ministro Presidente, haverá aquela histó-ria que nós conhecíamos antigamente, com todo o respeito, mas é apenas uma ilustração: Rádio Jornal do Comércio de Recife, Pernambuco, falando para o mundo. Então é prudente deixarmos explicitado.

O Sr. Ministro Celso de Mello: Concordo com as ponderações aqui feitas. O que me parece importante é preservar-se o diploma legislativo paranaense.

É o meu voto.

VOTO(Retificação)

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Originalmente, eu dava pela improcedência total. Atendia a uma ponderação dos Colegas que me pare-ceu razoável e de caráter pedagógico. Não me oponho, também, a que se julgue totalmente improcedente.

Claro que a regência de todo o dispositivo legal impugnado há de ser feito tendo em conta o art. 1º.

Assim, eu evoluo no sentido do meu voto original.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): Senhores Ministros, também acompanho o eminente Relator.

Destaco o esforço que a Corte vem desenvolvendo, já há algum tempo – reflexão hoje colocada especialmente pelo Ministro Carlos Alberto Direito –, quanto à necessidade de que nós façamos uma revisão dessa interpretação do

Page 124: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051124

modelo federativo. O Ministro Sepúlveda Pertence já destacou isso várias vezes e também os Ministros Marco Aurélio, Carlos Britto, Celso de Mello e Cármen Lúcia. Muitos destacam esse aspecto do nosso modelo federativo a partir da-quilo que o nosso saudoso amigo Machado Horta chamava de “condomínio legislativo”, que mereceu um destaque tão grande no texto constitucional: a necessidade de que se compatibilizem os impulsos e esforços nos planos federal e estadual.

E aqui está um caso claro em que, a partir da perspectiva do consumidor, é possível deixar ao Estado a possibilidade de fazer aquilo que os americanos chamam de “laboratório legislativo”, a própria experiência institucional no seu âmbito.

Destacando esse aspecto, também acompanho o Relator.

EXTRATO DA ATA

ADI 2.832/PR — Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Requerente: Confederação Nacional da Indústria – CNI (Advogados: Sylvia Lorena Teixeira de Souza e outros). Requeridos: Governador do Estado do Paraná e Assembléia Legislativa do Estado do Paraná.

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou parcialmente procedente a ação direta para declarar a inconstitucionalidade da expressão “no Brasil”, contida no art. 2º da Lei 13.519, de 8 de abril de 2002, do Estado do Paraná, vencidos, em parte, o Ministro Joaquim Barbosa, que também declarava a inconstitucionalidade do § 1º do art. 1º da referida lei, e o Ministro Marco Aurélio, que a julgava totalmente improcedente. Votou o Presidente, Ministro Gilmar Mendes. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau. Falou pela Requerente o Dr. Cássio Augusto Muniz Borges.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 7 de maio de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 125: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1125

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.862 — SP

Relatora: A Sra. Ministra Cármen LúciaRequerente: Partido da República – PR — Requeridos: Conselho Superior

da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo — Interessada: Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais – FENEME

Ação direta de inconstitucionalidade. Atos normativos estaduais que atribuem à Polícia Militar a possibilidade de ela-borar termos circunstanciados. Provimento 758/01, consolidado pelo Provimento 806/03 do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, e Resolução SSP 403/01, prorrogada pelas Resoluções SSP 517/02, 177/03, 196/03, 264/03 e 292/03 da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Atos normativos secundários. Ação não conhecida.

1. Os atos normativos impugnados são secundários e pres-tam-se a interpretar a norma contida no art. 69 da Lei 9.099/95: inconstitucionalidade indireta.

2. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal pacífica quanto à impossibilidade de se conhecer de ação direta de incons-titucionalidade contra ato normativo secundário. Precedentes.

3. Ação direta de inconstitucionalidade não conhecida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, em não conhecer da ação direta, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 26 de março de 2008 — Cármen Lúcia, Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: 1. Ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, ajuizada pelo Partido Liberal, em 26-3-03, obje-tivando a declaração de inconstitucionalidade do Provimento 758/01 foi consoli-dado pelo Provimento 806/03, ambos do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, e da Resolução SSP 403/01, prorrogada pelas Resoluções SSP 517/02, 177/03, 196/03, 264/03 e 292/03, todas da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

Page 126: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051126

Os atos normativos impugnados em sua validade constitucional são os seguintes:

Provimento n. 758, de 23.8.2001Art. 1º Para os fins previstos no art. 69, da Lei 9.099/95, entende-se por

autoridade policial, apta a tomar conhecimento da ocorrência, lavrando o termo circunstanciado, encaminhando-o, imediatamente, ao Poder Judiciário, o agente do Poder Público investido legalmente para intervir na vida da pessoa natural, atuando no policiamento ostensivo ou investigatório.

Art. 2º O Juiz de Direito, responsável pelas atividades do Juizado, é au-torizado a tomar conhecimento dos termos circunstanciados elaborados pelos policiais militares, desde que assinados concomitantemente por oficial da Polícia Militar.

Art. 3º Havendo necessidade da realização de exame pericial urgente, o po-licial militar deverá encaminhar o autor do fato ou a vítima ao órgão competente da Polícia Técnico-Científica, que o providenciará, remetendo o resultado ao dis-tribuidor do foro local da infração.

Art. 4º O encaminhamento dos termos circunstanciados respeitará a dis-ciplina elaborada pelo Juízo responsável pelas atividades do Juizado Especial Criminal da área onde ocorreu a infração penal.

Art. 5º Este provimento entrará em vigor na data da sua publicação.(Grifos nossos.)

Resolução SSP n. 403, de 26.10.2001Art. 1º Ficam fixadas as seguintes áreas para implantação de experiências-

piloto nos termos desta Resolução: I – Capital – 7ª Delegacia Seccional de Polícia de Itaquera/CPA/M-4. II – Região Metropolitana da Capital – Delegacia Seccional de Guarulhos/31º

BPM/M e 15º MPM/M.III – Interior – Delegacia de Polícia Seccional de São José do Rio Preto –

CPI-5-17º BPM/M.Art. 2º Nas áreas fixadas no artigo anterior, o Termo Circunstanciado de

que trata o artigo 69 da Lei 9.099/95 será elaborado pelo policial civil ou militar que primeiro tomar conhecimento da ocorrência.

§ 1º Os Termos Circunstanciados elaborados pela Polícia Militar deverão ser também assinados por Oficial da Corporação.

§ 2º Cópia dos Termos Circunstanciados elaborados pela Polícia Militar deverá ser encaminhada à Delegacia de Polícia da circunscrição territorial em que se deu a infração penal para o fim do disposto no artigo 6º e para que se mantenha unidade de registros estatísticos.

§ 3º O encaminhamento de que trata o parágrafo anterior será feito por via eletrônica sempre que possível.

Art. 3º O termo circunstanciado elaborado pela Polícia Militar será reme-tido ao Juizado Especial Criminal da área onde ocorreu a infração penal imediata-mente ou nos termos acordados com a respectiva autoridade judiciária.

Art. 4º As requisições dos exames periciais necessários relativos aos ca-sos atendidos pela Polícia Militar serão feitas através dos Centros de Operações da Polícia Militar diretamente às equipes de perícia criminalística e/ou perícia

Page 127: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1127

médico-legal do local da infração que os remeterá ao Juizado Especial Criminal competente.

Parágrafo único. Para a execução do disposto neste artigo, a Polícia Técnico-Científica providenciará, com o apoio da Polícia Militar, os meios necessários.

Art. 5º Os objetos apreendidos nos casos atendidos pela Polícia Militar serão apresentados diretamente ao Juizado Especial Criminal ou, na impossibilidade, à Delegacia de Polícia da circunscrição territorial afeta ao local da ocorrência.

Parágrafo único. Se a apreensão se der fora de horário de expediente, os ob-jetos poderão ficar temporariamente depositados na OPM respectiva até o reinício dos trabalhos.

Art. 6º Todas as diligências determinadas pelo Juizado Especial Criminal serão executadas pela Polícia Civil independentemente de quem haja elaborado o termo circunstanciado.

Art. 7º O policial militar, ao atender ocorrência de autoria desconhecida, lavrará o termo circunstanciado e o encaminhará, juntamente com os objetos apreendidos, se houver, à Delegacia de Polícia para a execução dos atos de polícia judiciária necessários aos esclarecimentos da infração.

Art. 8º O Comandante Geral da Polícia Militar baixará os atos necessários à implantação do disposto nesta Resolução criando modelo padrão para a lavratura dos Termos Circunstanciados e Termos de Comparecimento no prazo máximo de quinze dias a contar da publicação desta.

Parágrafo único. Os termos poderão ser preenchidos a mão no próprio local de ocorrência.

Art. 9º As experiências-piloto de que trata esta Resolução terão início no dia 1º-12-2001 e vigorarão pelo período de 180 dias.

§ 1º Os Delegados Seccionais e Comandantes de CPA/BPM das áreas referi-das no artigo 1º encaminharão à Coordenadoria de Análise e Planejamento – CAP/SSP, através do Comando Geral da Polícia Militar e Delegacia Geral de Polícia, relatórios mensais conjuntos com dados estatísticos e considerações pertinentes à execução do serviço.

§ 2º A Coordenadoria de Análise e Planejamento–CAP/SSP encaminhará ao Titular da Pasta, até o dia 15-06-2001, relatório final de avaliação.

Art. 10. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, mantidos os termos da Resolução SSP-353, de 27-11-95, para as áreas não referidas no artigo 1º.(Grifos nossos.)

2. O Autor afirma que, ao facultar aos magistrados dos Juizados Especiais Criminais conhecer dos termos circunstanciados lavrados por policiais milita-res do Estado de São Paulo, desde que assinados concomitantemente por oficial da Polícia Militar, os atos normativos impugnados teriam: a) usurpado compe-tência legislativa da União para legislar sobre direito processual; b) ofendido o princípio da legalidade; c) atribuído à Polícia Militar competência da Polícia Civil; e d) vulnerado o princípio da separação dos Poderes (fl. 9).

Assevera que o art. 69 da Lei 9.099/95 prescindiria de regulamentação e que, ao criar novo procedimento processual e atribuir competência, antes ine-xistente, à Polícia Militar, o Provimento 758/01 implicaria, a um só tempo, usur-pação da competência privativa da União para legislar sobre direito processual

Page 128: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051128

(art. 22, inciso I, da Constituição da República) e desrespeito ao princípio da legalidade (art. 5º, inciso II, da Constituição da República), pois o Provimento 758/01 teria natureza infralegal (fls. 10-14).

Acrescenta que o Provimento 758/01 contrariaria a repartição de compe-tências estabelecida no art. 144, § 4º, § 5º e § 6º, da Constituição da República.

Alega, ainda, que o Poder Judiciário não poderia editar norma com o fim de cometer atribuições à Polícia Militar, que se subordina ao chefe do Poder Executivo estadual, sob pena de vulnerar o princípio da separação de Poderes (art. 2º da Constituição da República). Junta aos autos parecer da lavra do Professor Celso Ribeiro Bastos (fls. 45-84).

Requer o deferimento de medida cautelar para “suspen[der], na ínte-gra, o Provimento n. 758/2001 (...), do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e, por arrastamento conseqüen-cial, a Resolução n. 403/2001, prorrogada pela Resolução SSP n. 517/2002 do Secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo” (fl. 27).

3. Em 9-4-03, a Ministra Ellen Gracie, então Relatora desta ação, adotou o rito do art. 12 da Lei 9.868/99 (fl. 192).

4. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo prestou informações (fls. 202-212), afirmando que os atos regulamentares impugnados não poderiam ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade e que não haveria qualquer inconstitucionalidade nas normas questionadas.

5. A Advocacia-Geral da União manifestou-se pela improcedência da ação, ao fundamento de que: a) o Provimento 758/01 e a Resolução 403/01 con-substanciariam atos secundários de natureza meramente interpretativa, insusce-tíveis de controle pela via da ação direta de inconstitucionalidade (fls. 229-230); b) a Resolução 403/01 teria natureza concreta, o que impediria o conhecimento da ação (fls. 230-231); e c) ao interpretar a expressão “autoridade policial” (art. 69 da Lei 9.099/95), a jurisprudência e a doutrina teriam reconhecido a possibili-dade de lavratura de termos circunstanciados por oficiais da Polícia Militar (fls. 232-233).

6. A Procuradoria-Geral da União opinou pelo conhecimento da ação ape-nas em relação ao art. 3º do Provimento 758/01 e, nessa parte, pela declaração de inconstitucionalidade do dispositivo impugnado, em razão de que não caberia ao Poder Judiciário determinar, sem respaldo legal, os deveres da Polícia Militar (fls. 235-246).

7. Em 24-7-03, o Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo prestou informações, sustentando o descabimento da presente ação, pois os atos impug-nados não afrontariam diretamente a ordem constitucional (fls. 250-258).

8. Em 13-8-03, 15-8-03 e 9-9-03, o Autor aditou a petição inicial, infor-mando que o Provimento 758/01 foi consolidado pelo Provimento 806/03, am-bos do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, e que a Resolução SSP 403/01 foi prorrogada pelas Resoluções SSP 517/02,

Page 129: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1129

177/03, 196/03, 264/03 e 292/03, todas da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (fls. 260/266/270-276).

9. Em 4-12-07, admiti a intervenção da Federação Nacional das Entidades de Oficiais Militares Estaduais (FENEME) na qualidade de amicus curiae.

É o relatório, do qual deverão ser encaminhadas cópias aos eminentes Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 9º da Lei 9.868/99 c/c art. 87, inciso I, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia (Relatora): 1. A presente ação direta de inconstitucionalidade foi ajuizada pelo Partido Liberal, agora Partido da República. Nela se questiona a validade constitucional do Provimento 758/01 consolidado pelo Provimento 806/03, ambos do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e da Resolução 403/03, prorrogada pelas Resoluções 517/02, 177/03, 196/03, 264/03 e 292/03, todas da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, ao argumento de afronta ao disposto nos arts. 2º; 5º, inciso II; 22, inciso I; 144, § 4º, § 5º e § 6º; da Constituição da República.

2. A discussão sobre a possibilidade de policiais militares lavrarem termos circunstanciados a serem encaminhados à autoridade judiciária, nos termos da Lei 9.099/95, não é nova no Supremo Tribunal Federal.

No julgamento da ADI 2.618/PR, caso análogo ao vertente, o Ministro Carlos Velloso decidiu:

Decisão: Vistos. O Partido Social Liberal (PSL) (...) propõe ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de suspensão cautelar, do Provimento 34, de 28 de dezembro de 2000, da Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. A norma acoimada de inconstitucional tem o seguinte teor:

“Provimento 34, de 28.12.2000. Capítulo 18, Juizado Especial Criminal. Seção, 2, Inquérito Policial e Termo Circunstanciado: 18.2.1 ‘A autoridade policial, civil ou militar, que tomar conhecimento da ocorrên-cia, lavrará termo circunstanciado, comunicando-se com a secretaria do juizado especial para agendamento da audiência preliminar, com intima-ção imediata dos envolvidos’.” (Grifamos). O eminente Advogado-Geral da União, Dr. Gilmar Ferreira Mendes, às fls.

225/230, requer o não-conhecimento da ação direta de inconstitucionalidade, ou, alternativamente, a sua improcedência. O Procurador-Geral da República, Prof. Geraldo Brindeiro, opinou pelo não-conhecimento da presente ação direta de in-constitucionalidade, e, se conhecida, pela sua improcedência (fls. 232/235). Autos conclusos em 18-4-02. Decido. Destaco do parecer do ilustre Procurador-Geral da República, Professor Geraldo Brindeiro: “(...) 8. Afirma o autor que o Provimento nº 34/2000, de 28 de dezembro de 2000, da Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, não tem natureza regulamentar, e, se regulamento fosse, seria da competência do Poder Executivo. 9. Observa-se, sim, que o referido ato impugnado, apenas visou interpretar a legislação infraconstitucional. Logo,

Page 130: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051130

não tendo invocado no ordenamento jurídico, conseqüentemente, não existe afronta ao princípio da legalidade (art. 5º, II, CF). 10. Ademais, já existindo a lei, a questão só pode ser dirimida no campo da legalidade e não da inconstitu-cionalidade. 11. Poder-se-ia, sim, alegar que a expressão ‘ou militar’ contida no item 18.2.1., do Capítulo 18, do Provimento nº 34/2000, teria extravasado o que fora estabelecido na lei. Nesse caso, possível extravasamento revelado resolve-se no campo da legalidade. Descabe, na hipótese, portanto, discuti-lo em demanda direta de inconstitucionalidade. Nesse sentido, a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal na ADI nº 1.968-PE, relator o eminente Ministro Moreira Alves (‘DJ’ de 04.5.01, p. 02, transcrição parcial) (...) 12. É de se concluir, pois, que a presente ação direta de inconstitucionalidade não pode ser conhecida. No con-cernente ao mérito, também, não assiste razão ao Partido requerente, porquanto inexiste afronta ao art. 22, inciso I, da Constituição Federal, visto que o texto impugnado não dispõe sobre direito processual ao atribuir à autoridade policial militar competência para lavrar termo circunstanciado a ser comunicado ao juizado especial. Não se vislumbra, ainda, nem mesmo afronta ao disposto nos incisos IV e V, e §§ 4º e 5º do art. 144 da Constituição Federal, em razão de não estar configurada ofensa à repartição constitucional de competências entre as polícias civil e militar, além de tratar, especificamente, de segurança nacional. 13. Ressalte-se, outrossim, que a Lei 9.839, de 27 de setembro de 1999, ao acres- centar o artigo 90-A à Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, dispôs em seu art. 2º: ‘As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.’ Ante o exposto, opino no sentido do não conhecimento da presente ação direta de in-constitucionalidade, e prejudicado, portanto, o pedido de medida liminar. Se co-nhecida a ação, o parecer é no sentido da sua improcedência. (...)”. (fls. 234/235) Está correto o parecer. O ato normativo impugnado não é um ato normativo primário, mas secundário, interpretativo de lei ordinária, a Lei 9.099, de 1995. A questão, pois, não é de inconstitucionalidade. Se o ato regulamentar vai além do conteúdo da lei, pratica ilegalidade. Destaco da decisão que proferi na ADI 1.875/DF: “(...) A duas, porque o objeto da ação é ato regulamentar, assim ato normativo secundário, que regulamenta disposições da Lei 5.010/66. A questão assim posta, portanto, não seria de inconstitucionalidade: se o ato regulamentar vai além do conteúdo da lei, pratica ilegalidade. No despacho que proferi negando seguimento à ADI 1.547/SP, aforada pela Adepol e que teve por objeto disposi-tivos do Ato 098/96 do Ministério Público do Estado de São Paulo, asseverei: “(...) O ato normativo impugnado nada mais é do que ato regulamentar, assim ato normativo secundário, que regulamenta disposições legais, normas constantes da Lei Complementar estadual 734, de 26-11-93, da Lei federal 8.625, de 12-2-93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) e da Lei Complementar federal 75, de 20-5-93 (Lei Orgânica do Ministério Público da União). A questão assim posta, não é de inconstitucionalidade. Se o ato regulamentar vai além do conteúdo da lei, pratica ilegalidade. No voto que proferi na ADI 589/DF, lembrei trabalho doutrinário que escrevi sobre o tema: ‘Do Poder Regulamentar’, RDP 65/39, em que registrei que, em certos casos, o regulamento pode ser acoimado de incons-titucional: no caso, por exemplo, de não existir lei que o preceda, ou no caso de o chefe do Poder Executivo pretender regulamentar lei não regulamentável. Todavia, existindo lei, extrapolando o regulamento do conteúdo desta, o caso é de ilegalidade. Decidiu, então, o Supremo Tribunal Federal, na citada ADI 589/DF, por mim relatada: ‘Constitucional. Administrativo. Decreto regulamentar.

Page 131: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1131

Controle de constitucionalidade concentrado. I – Se o ato regulamentar vai além do conteúdo da lei, pratica ilegalidade. Neste caso, não há falar em inconstitucio-nalidade. Somente na hipótese de não existir lei que preceda o ato regulamentar, é que poderia este ser acoimado de inconstitucional, assim sujeito ao controle de constitucionalidade. II – Ato normativo de natureza regulamentar que ultra-passa o conteúdo da lei não está sujeito à Jurisdição constitucional concentrada. Precedentes do STF: ADI 311/DF e ADI 536/DF. III – Ação direta de inconstitu-cionalidade não conhecida.’ (RTJ 137/1100). Na ADI 1.347/DF, Relator o eminente Ministro Celso de Mello, o Supremo Tribunal Federal decidiu que ‘o eventual extravasamento, pelo ato regulamentar, dos limites a que se acha materialmente vinculado poderá configurar insubordinação administrativa aos comandos da lei. Mesmo que desse vício jurídico resulte, num desdobramento ulterior, uma potencial violação da Carta Magna, ainda assim estar-se-á em face de uma si-tuação de inconstitucionalidade meramente reflexa ou oblíqua, cuja apreciação não se revela possível em sede jurisdicional concentrada.’ (DJ de 1º-12-95). Nas ADI 708/DF, Relator o Sr. Ministro Moreira Alves (RTJ 142/718) e ADI 392/DF, Relator o Sr. Ministro Marco Aurélio (RTJ 137/75), outro não foi o entendimento da Corte. (...) No voto que proferi no RE 189.550/SP, de cujo acórdão me tornei Relator, rememorei a jurisprudência da Casa no sentido acima exposto, portando referido acórdão a seguinte ementa: ‘Ementa: Constitucional. Comercial. Seguro marítimo. Regulamento. Regulamento que vai além do conteúdo da lei: Questão de ilegalidade e não de inconstitucionalidade. Decreto-lei 73, de 21-11-63. Decretos 60.459/67 e 61.589/67. I – Se o regulamento vai além do conteúdo da lei, ou se afasta dos limites que esta lhe traça, comete ilegalidade e não inconstitucio-nalidade, pelo que não se sujeita, quer no controle concentrado, quer no controle difuso, à jurisdição constitucional. Precedentes do STF: ADI 536/DF, ADI 589/DF e ADI 311/DF, Velloso, RTJ 137/580, 137/1100 e 133/69; ADI 708/DF, Moreira Alves, RTJ 142/718; ADI 392/DF, Marco Aurélio, RTJ 137/75; ADI 1.347/DF, Celso de Mello, DJ de 1º-12-95. II – Recurso extraordinário não conhecido.’ Do exposto, nego seguimento à ação.” (...). Assim posta a questão, nego seguimento à ação.(DJ de 14-5-02.)

O Procurador-Geral da República manifestou-se, enfatizando:

Esta resolução (403/01), que teve sua vigência fixada em 180 dias, teve seu prazo prorrogado, anteriormente, pela Resolução SSP 229, de 29 de junho de 2002. Resolução não impugnada na presente ação. De sua vez, a Resolução SSP 517, de 25 de novembro de 2002 (DOE de 27.11.02), impugnada na presente ação junta-mente com a Resolução 403/2001, prorrogou o prazo de vigência da Resolução nº 229/02 (...) Assinale-se, pois, que a Resolução SSP 517, de 2002, prorrogou a experiência piloto por mais 06 meses, a contar de 26 de novembro de 2002, tendo esgotado, portanto, referido prazo em 25 de maio de 2003. Norma, portanto, que teve sua eficácia exaurida. De fato, trata a Resolução SSP nº 403, de 2001, de experiência-piloto de implantação do Termo Circunstanciado a ser elaborado pela polícia civil ou militar do Estado de São Paulo, ou seja, aquele que primeiro tomar conhecimento da ocorrência (Res. 403/01, art. 2º). Dessa forma, pois, todos os dispositivos da Resolução SSP nº 403, de 2001, tratam de atribuições da polícia civil ou militar, como agente do Poder Público investido legalmente, ou seja, para a elaboração do Termo Circunstanciado de que trata o art. 69 da Lei nº 9.099, de

Page 132: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051132

1995, segundo o qual, “a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrên-cia lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames peri-ciais necessários.” (...) Tendo, pois, a Resolução SSP nº 403, de 2001, entrado em vigor aos 27 de outubro de 2001 (DOE, São Paulo, fls. 43), e embora resoluções posteriores tenham prorrogado sua vigência, observa-se que, em 25 de maio de 2003, referida norma teve exaurida sua eficácia. Dessa forma, prejudicada está a presente ação direta de inconstitucionalidade. (...) 2. Ademais, ainda que não se tratasse de norma de vigência temporária, a Resolução nº 403, de 2001, ao dispor, unicamente, sobre determinadas áreas administrativas, ou seja, as constantes do art. 1º, e incisos I, II e III, resulta em ato de efeitos concretos, e necessita, outros-sim, de prévio cotejo com norma infraconstitucional (art. 69 da Lei nº 9.099/95), o que inviabiliza a propositura de ação direta de inconstitucionalidade. Hipótese, pois, de não conhecimento de ação direta pela inidoneidade objetiva dessa espécie para fins de controle normativo abstrato (ADI 842-DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 14.05.93) (...) O Provimento atacado representa singela interpretação do art. 69, da Lei n.º 9.099/95. Do que se extrai dos seus termos, percebe-se que apenas au-toriza aos magistrados vinculados ao Tribunal de Justiça estadual a emprestar uma interpretação ampla do texto do citado art. 69, da Lei dos Juizados Especiais. Trata-se, como se lê, de tentativa de uniformização dos procedimentos judiciais criminais promovidos sob as regras da Lei n.º 9.099/95, deliberação essa que se circunscreve aos membros do Poder Judiciário. Não se está alterando, de maneira alguma, a competência dos policiais militares, os quais não estão obrigados, ao menos pelo Provimento atacado, a emitir os mencionados termos circunstancia-dos. Veicula-se no texto impugnado comando que se dirige apenas aos membros do Poder Judiciário, sem teor normativo, diga-se, pois não agrega comando, adotando como seu objetivo o singelo interesse de interpretar o art. 69, da Lei n.º 9.099/95. A interpretação, se inconstitucional for, é produto desse último texto, sendo essa a regra que, possivelmente, incorpora a violação constitucional. Sob essa perspectiva, a afronta ao Texto Maior seria meramente reflexa, tendo real nascedouro na Lei dos Juizados Especiais. (...) Ademais, como veiculado ante-riormente, o Provimento impugnado não possui natureza normativa suficiente a ensejar controle de sua constitucionalidade. Não inova. Interpreta norma federal sobre o tema, não agregando qualquer comando ou disposição. Não cria obriga-ções, apenas autorizando aos magistrados paulistas, por conseqüência da exegese que faz do art. 69, da Lei n.º 9.099/95, a se portarem sob certos moldes. Ao inverso do raciocínio empreendido pelo requerente, não houve alteração na competência da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que não se vê, em hipótese alguma, compelida pelo diploma em foco a editar termos circunstanciados das ocorrências que venha a atender. A ausência de normatividade resulta na impropriedade da via processual, por impossibilidade jurídica de se verificar a constitucionalidade da disposição. (...) No mérito, quanto a este provimento, assiste razão ao requerente apenas em parte. Como argumentado, as disposições veiculadas não obrigam à Polícia Militar. Sob esse quadro, não se pode afirmar que houve afronta à compe-tência constitucional ditada no art. 144, em seus §§ 4º, 5º e 6º. Na mesma linha, a sugestão de ofensa ao art. 5º, II, da Carta Federal, é imprópria, pois, como dito, a disposição não cria obrigação de espécie alguma – nem mesmo aos magistrados estaduais, menos ainda aos membros da corporação da Polícia Militar. A alegada afronta ao art. 22, I, da Constituição Federal, da mesma maneira não se sustenta.

Page 133: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1133

O Provimento n.º 758/01 não inova, não legisla. Apenas se presta ao papel de in-terpretar a norma veiculada no art. 69, da Lei n.º 9.099/95, que, segundo compre-enderam os membros do Conselho Superior da Magistratura paulista, abarca tal exegese. Ademais, a ação penal somente se inicia, segundo os termos do art. 75, 76 e 77, da Lei n.º 9.099/95, com a representação do ofendido ou o oferecimento da denúncia pelo membro do Ministério Público, em caso de crime de ação penal pública incondicionada. A produção do termo circunstanciado e sua remessa ao Juizado Especial Criminal se dão em momento anterior ao processo em si, em fase preliminar, com o que é questionável, ainda que se admita o cabimento da ação e a hipótese de que o Provimento inova o mundo jurídico, que se tenha afrontado a competência privativa da União, no que toca às normas de direito processual.

Acompanhando os termos bem delineados pelo Ministro Carlos Velloso no precedente acima apontado, tem-se que os atos normativos ora impugnados são atos secundários que se prestam a interpretar a norma contida no art. 69 da Lei 9.099/95. Não se há, pois, cogitar de inconstitucionalidade direta. Os atos regulamentares, cujo conteúdo ultrapasse o que na lei regulamentada se contém, podem estar eivados de ilegalidade.

Na assentada de 11-3-94, no julgamento da ADI 996-MC/DF, Relator o eminente Ministro Celso de Mello, o Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu:

Ementa: Ação direta de inconstitucionalidade – Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) – Decreto federal 861/93 – Conflito de legalidade – Limites do poder regulamentar – Ação direta não conhecida. – Se a interpretação administrativa da lei, que vier a consubstanciar-se em decreto executivo, divergir do sentido e do conteúdo da norma legal que o ato secundário pretendeu regula-mentar, quer porque tenha este se projetado ultra legem, quer porque tenha per-manecido citra legem, quer, ainda, porque tenha investido contra legem, a questão caracterizara, sempre, típica crise de legalidade, e não de inconstitucionalidade, a inviabilizar, em conseqüência, a utilização do mecanismo processual da fisca-lização normativa abstrata. – O eventual extravasamento, pelo ato regulamentar, dos limites a que materialmente deve estar adstrito poderá configurar insubordi-nação executiva aos comandos da lei. Mesmo que, a partir desse vício jurídico, se possa vislumbrar, num desdobramento ulterior, uma potencial violação da Carta Magna, ainda assim estar-se-á em face de uma situação de inconstitucionalidade reflexa ou oblíqua, cuja apreciação não se revela possível em sede jurisdicional concentrada.(DJ de 6-5-94.)

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica quanto à impos-sibilidade de se conhecer de ações diretas de inconstitucionalidade que atacam atos normativos secundários, sendo exemplo disso: ADI 2.398-AgR/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, DJ de 31-8-07; ADI 2.792-AgR/MG, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ de 12-3-04; ADI 2.489-AgR/MA, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ de 10-10-03; ADI 1.670/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, DJ de 8-11-02; ADI 2.413/MG, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ de 16-8-02; ADI 561/MG, Rel. Min. Celso de

Page 134: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051134

Mello, Tribunal Pleno, DJ de 23-3-01; ADI 1.258/PR, Rel. Min. Néri da Silveira, Tribunal Pleno, DJ de 20-6-97; ADI 589/DF, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ de 18-10-91; e ADI 365-AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJ de 15-3-91.

3. Pelo exposto, não conheço da presente ação direta de inconsti-tucionalidade.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhor Presidente, os precedentes são exaustivos nesse sentido.

Também não conheço.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhor Presidente, também acom-panho a Ministra Relatora. São atos meramente regulamentares sem conteúdo normativo autônomo que não podem ser atacados pela via da ação direta da inconstitucionalidade.

VOTO

O Sr. Ministro Eros Grau: Senhor Presidente, da mesma forma, seguindo a linha de nossa sólida jurisprudência.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhor Presidente, ambas as categorias de atos, ou seja, tanto o ato do Tribunal quanto o do Secretário de Segurança Pública, são referidos à lei, não diretamente à Constituição Federal.

Eu, e pelos demais fundamentos aqui aportados pela Relatora, também não conheço da ação.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, também acompanho o voto da Relatora, não sem antes, mas rapidamente, responder a um argumento que consta do parecer do então Procurador-Geral da República, que entendia que pelo menos o art. 3º podia ser objeto de conhecimento de mérito, porque aparentaria estar inovando na ordem jurídica. A meu ver, nem esse artigo. Porque, de fato, é fora de dúvida que o ator regulamentar, aí, nada introduz de novo na ordem jurídica, mas se destina explicitamente a regulamentar a ativi-dade da autoridade policial, tal como previsto no art. 69 da Lei 9.099. De modo

Page 135: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1135

que, se há aí algum conflito dentro do ordenamento jurídico, é uma crise de legalidade, que se resolve fora da via da ação direta de inconstitucionalidade.

Em relação ao art. 3º, também é fato que o provimento se destinou, so-bretudo, a regulamentar a cláusula final do art. 69, caput, onde se lê “provi-denciando-se as requisições dos exames periciais necessários”, o que permite a intelecção de que essa cláusula tanto poderia dirigir-se ao juízo, como à autori-dade policial referida no caput. Dessa forma, o provimento tenderia a interpre-tar também, no art. 3º, o mesmo caput.

Ademais e a despeito de tudo, ainda que, para argumentar, se pudesse ul-trapassar o plano de estrita legalidade, não veria inconstitucionalidade alguma, uma vez que, na verdade, não se trata de ato de polícia judiciária, mas de ato típico da chamada polícia ostensiva e de preservação da ordem pública – de que trata o § 5º do art. 144 –, atos típicos do exercício da competência própria da Polícia Militar, e que está em lavrar boletim de ocorrência e, em caso de fla-grante, encaminhar o autor e as vítimas à autoridade, seja policial, quando seja o caso, seja judiciária, quando a lei o prevê.

O Sr. Ministro Carlos Britto: Se V. Exa. me permite, esse termo circuns-tanciado apenas documenta uma ocorrência.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Todo policial militar tem de fazer esse bole-tim de ocorrência.

O Sr. Ministro Carlos Britto: Exato. Noticia o que ocorreu.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Esse provimento não cria competência al-

guma da polícia militar, senão que explicita o que a Polícia Militar faz costumei-ramente e tem de fazê-lo dentro da sua atribuição.

O Sr. Ministro Carlos Britto: E essa documentação pura e simples não significa nenhum ato de investigação, porque, na investigação, primeiro se in-vestiga e, depois, documenta-se o que foi investigado.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Não investiga nada.O Sr. Ministro Carlos Britto: Aqui não. Aqui se documenta, para que ou-

trem investigue. É uma operação exatamente contrária; é uma lógica contrária.O Sr. Ministro Cezar Peluso: A investigação é feita nessa fase preliminar.O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: É um mero relato verbal reduzido

a termo.O Sr. Ministro Carlos Britto: Perfeita a descrição de V. Exa.O Sr. Ministro Cezar Peluso: É a documentação do flagrante.É como voto.

EXTRATO DA ATA

ADI 2.862/SP — Relatora: Ministra Cármen Lúcia. Requerente: Partido da República – PR (Advogado: Wladimir Sérgio Reale). Requeridos: Conselho

Page 136: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051136

Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Interessada: Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais – FENEME (Advogado: José do Espírito Santo).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da Relatora, não conheceu da ação direta. Votou o Presidente. Ausentes, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie (Presidente) e os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa (licenciado). Falaram, pelo Requerente, o Dr. Wladimir Sérgio Reale, pelo Requerido, Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, o Dr. Marcos Ribeiro de Barros, Procurador do Estado e, pela amicus curiae, o Dr. José do Espírito Santo. Presidiu o julgamento o Ministro Gilmar Mendes (Vice-Presidente).

Presidência do Ministro Gilmar Mendes (Vice-Presidente). Presentes à sessão os Ministros Marco Aurélio, Carlos Britto, Cezar Peluso, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 26 de março de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 137: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1137

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.875 — DF

Relator: O Sr. Ministro Ricardo LewandowskiRequerente: Governador do Distrito Federal — Requerida: Câmara

Legislativa do Distrito Federal

Lei distrital. Notificação mensal à Secretaria de Saúde. Casos de câncer de pele. Obrigação imposta a médicos públicos e particulares. Admissibilidade. Saúde pública. Matéria inse-rida no âmbito de competência comum e concorrente do Distrito Federal. Art. 23, I, e art. 24, XII, da CF. Responsabilidade civil dos profissionais da saúde. Matéria de competência exclusiva da União. Art. 22, I. Procedência parcial da ação.

I – Dispositivo de lei distrital que obriga os médicos públi-cos e particulares do Distrito Federal a notificarem a Secretaria de Saúde sobre os casos de câncer de pele não é inconstitucional.

II – Matéria inserida no âmbito da competência da União, dos Estados e do Distrito Federal, nos termos do art. 23, I, da Constituição Federal.

III – Exigência que encontra abrigo também no art. 24, XII, da Carta Magna, que atribui competência concorrente aos referidos entes federativos para legislar sobre a defesa da saúde.

IV – Dispositivo da lei distrital que imputa responsabili-dade civil ao médico por falta de notificação caracteriza ofensa ao art. 22, I, da CF, que consigna ser competência exclusiva da União legislar acerca dessa matéria.

V – Ação direta parcialmente procedente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente), na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade, julgar parcialmente procedente a ação di-reta para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 3.139, de 14 de março de 2003, do Distrito Federal, nos termos do voto do Relator. Votou o Presidente. Ausente, justificadamente, o Ministro Gilmar Mendes (Presidente).

Brasília, 4 de junho de 2008 — Ricardo Lewandowski, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Trata-se de ação direta, com pe-dido de medida liminar, ajuizada pelo Governador do Distrito Federal, com

Page 138: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051138

fundamento no art. 103, V, da Constituição Federal, objetivando a declaração de inconstitucionalidade da Lei distrital 3.139, de 14 de março de 2003, que dispõe sobre a obrigatoriedade de notificação dos casos de câncer de pele e dá outras providências.

Os dispositivos impugnados possuem o seguinte teor (fl. 7):

Art. 1º Fica instituída a obrigatoriedade de notificação mensal aos órgãos competentes da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, dos casos confirmados de câncer de pele, atendidos nos hospitais e clínicas, públicos e privados, estabeleci-dos no Distrito Federal.

Parágrafo único. A obrigatoriedade de que trata o caput alcança os médi-cos que trabalham como profissionais liberais e atuam apenas em consultórios particulares.

Art. 2º A omissão médica no cumprimento da presente Lei acarretará res-ponsabilidade civil do profissional e da respectiva entidade de saúde, sem prejuízo de eventuais sanções administrativas e penais previstas na legislação.

Art. 3º O Poder Executivo regulamentará a presente Lei, no prazo de ses-senta dias da sua publicação.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.

Sustenta o autor, em síntese, que houve ofensa ao art. 22, I e XVI, da Constituição Federal, dado que a lei distrital impugnada, ao dispor sobre condi-ções para exercício de profissão e sobre direito civil, acabou tratando de maté-rias de competência privativa da União.

Solicitadas as informações de praxe, na forma do art. 12 da Lei 9.868/99, à fl. 10, asseverou o Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, às fls. 14-19, em síntese, que o diploma normativo atacado está em consonância com os arts. 23, II, e 24, XII, da Constituição, os quais estabelecem que é da com-petência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios cuidar da saúde e assistência pública. Diz, ainda, que a Lei Orgânica, no art. 58, V, confere à Câmara Legislativa a atribuição de legislar sobre todas as matérias de competência do Distrito Federal, especialmente sobre educação, saúde, pre-vidência, habitação, cultura, ensino, desporto e segurança pública.

O Advogado-Geral da União, às fls. 21-25, manifestou-se pela improce-dência da ação.

O então Procurador-Geral da República, às fls. 27-29, opinou pela proce-dência parcial do pedido para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da lei questionada.

É o relatório, do qual serão expedidas cópias aos Exmos. Srs. Ministros.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Analisando a questão posta na presente ação direta de inconstitucionalidade, observo que não pro-cede a alegação de que o art. 1º da Lei 3.139/03, ao instituir a obrigatoriedade

Page 139: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1139

de notificação aos órgãos de saúde do Distrito Federal, por parte dos médicos, ofende a competência privativa da União para legislar sobre condições para o exercício de profissão.

Com efeito, o referido dispositivo apenas obriga os médicos, públicos e particulares, que atuam no Distrito Federal, a adotarem medida de interesse epidemiológico, cujo escopo é o de contribuir para a elaboração de estatísticas sobre a incidência do câncer de pele que permitam o estabelecimento de polí-ticas de combate à doença, constituindo matéria que não refoge ao âmbito de competência da Câmara Distrital, qual seja, a de legislar sobre saúde pública.

Nessa linha de intelecção, a Procuradoria-Geral da República anotou, à fl. 28, que a lei impugnada “cuida, em sua linha mestra, de proteção e defesa da saúde, uma vez que, com a coleta de dados relativos à incidência de câncer de pele, o Governo do Distrito Federal pode depurar a política de redução de casos dessa enfermidade”.

Não há, de fato, qualquer inconstitucionalidade a ser sanada nesse aspecto, visto que o art. 23, I, da Constituição Federal dispõe ser da competência comum da União, dos Estados e do Distrito Federal a proteção da saúde e a assistência pública. Ademais, o art. 24, XII, da Carta Magna atribui competência concor-rente aos referidos entes federativos para legislar sobre a defesa da saúde.

A propósito, cumpre trazer à colação o RE 286.789, do qual foi Relatora a Ministra Ellen Gracie, julgado em 8-3-05, o qual assenta o seguinte:

Recurso extraordinário. Competência estadual e da União. Proteção à saúde e ao meio ambiente. Lei estadual de cadastro de agrotóxicos, biocidas e produtos saneantes domissanitários. Lei 7.747/2/RS. Rp 1.135.

1. A matéria do presente recurso já foi objeto de análise por esta Corte no julgamento da Rp 1.135, quando, sob a égide da Carta pretérita, se examinou se a Lei 7.747-82/RS invadiu competência da União. Nesse julgamento, o Plenário definiu o conceito de normas gerais a cargo da União e aparou as normas desta lei que superavam os limites da alçada estadual.

2. As conclusões ali assentadas permanecem válidas em face da Carta atual, porque as regras remanescentes não usurparam a competência federal. A Constituição em vigor, longe de revogar a lei ora impugnada, reforçou a participa-ção dos Estados na fiscalização do uso de produtos lesivos à saúde.

3. A lei em comento foi editada no exercício da competência supletiva con-ferida no parágrafo único do art. 8º da CF/69 para os Estados legislarem sobre a proteção à saúde. Atribuição que permanece dividida entre Estados, Distrito Federal e a União (art. 24, XII, da CF/88).

4. Os produtos em tela, além de potencialmente prejudiciais à saúde hu-mana, podem causar lesão ao meio ambiente. O Estado do Rio Grande do Sul, portanto, ao fiscalizar a sua comercialização, também desempenha competência outorgada nos art. 23, VI, e 24, VI, da Constituição atual.

5. Recurso extraordinário conhecido e improvido.

Constato, de resto, como já foi ventilado acima, que o art. 58, V, da Lei Orgânica do Distrito Federal confere ao Legislativo local competência para dis-por sobre matéria de saúde pública.

Page 140: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051140

Não obstante, porém, as boas intenções do legislador distrital, forçoso é convir que o art. 2º do diploma impugnado, ao consignar que “a omissão mé-dica no cumprimento da presente Lei acarretará responsabilidade civil do pro-fissional e da respectiva entidade de saúde”, acabou por invadir a competência privativa da União para legislar sobre o direito civil, nos termos do art. 22, I, da Constituição.

Nesse passo, cumpre ressaltar que a responsabilidade civil do médico constitui tema especialíssimo no âmbito da doutrina e da jurisprudência, va-lendo trazer à colação a advertência de Miguel Kfouri Neto no sentido de que “a responsabilidade do profissional da medicina – tirante poucas exceções – não poderá jamais se divorciar do conceito tradicional de culpa, no intuito de se qua-lificar a conduta do médico como lesiva e apta a gerar obrigação de indenizar”.1

Sobre essa questão, a Procuradoria-Geral da República, à fl. 29, bem ob-servou que “o artigo 2º da Lei Distrital açoitada, ao estabelecer expressamente hipótese de responsabilidade civil, legislou às escâncaras sobre direito civil, devendo a inconstitucionalidade no ponto ser reconhecida por esse Supremo Tribunal Federal”.

Isso posto, julgo procedente, em parte, a presente ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei distrital 3.139, de 14 de março de 2003.

EXTRATO DA ATA

ADI 2.875/DF — Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Requerente: Governador do Distrito Federal (Advogados: PGDF – Luiz Lucas da Conceição e outros). Requerida: Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 3.139, de 14 de março de 2003, do Distrito Federal, nos termos do voto do Relator. Votou o Presidente. Ausente, justificadamente, o Ministro Gilmar Mendes (Presidente). Presidiu o julgamento o Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente).

Presidência do Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente). Presentes à ses-são os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 4 de junho de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

1 KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 36.

Page 141: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1141

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.896 — SE

Relatora: A Sra. Ministra Cármen LúciaRequerente: Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB — Requerida:

Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe

Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 32, inciso IV, da Lei sergipana 4.122/99, que confere a delegado de polícia a prer-rogativa de ajustar com o juiz ou a autoridade competente a data, a hora e o local em que será ouvido como testemunha ou ofendido em processos e inquéritos. Processo penal. Competência priva-tiva da União. Ação julgada procedente.

1. É competência privativa da União legislar sobre direito processual (art. 22, inciso I, da Constituição da República).

2. A persecução criminal, da qual fazem parte o inquérito policial e a ação penal, rege-se pelo direito processual penal. Apesar de caracterizar o inquérito policial uma fase preparató-ria e até dispensável da ação penal, por estar diretamente ligado à instrução processual que haverá de se seguir, é dotado de natu-reza processual, a ser cuidada, privativamente, por esse ramo do direito de competência da União.

3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente), na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, rejeitar a preliminar de ilegitimidade ativa, vencido o Ministro Marco Aurélio. No mérito, o Tribunal, por unanimi-dade, julgou procedente a ação direta, nos termos do voto da Relatora. Votou o Vice-Presidente. Falou pela Requerente o Dr. Alberto Pavie Ribeiro.

Brasília, 4 de junho de 2008 — Cármen Lúcia, Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: 1. Ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, ajuizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), em 17-5-07, na qual impugna a validade constitucional do art. 32, inciso IV, da Lei sergipana 4.122, de 17-9-99, que dispõe:

Art. 32. Além das garantias asseguradas nas Constituições Federal e Estadual, bem como daquelas previstas no Estatuto do Policial Civil e no Estatuto

Page 142: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051142

dos Funcionários Públicos Civis do Estado de Sergipe, o Delegado de Polícia de Carreira deve gozar as seguintes prerrogativas:

(...)IV – ser ouvido, como testemunha ou ofendido, em qualquer processo ou

inquérito, em dia, hora e local previamente ajustados com o Juiz ou autoridade competente.(Grifos nossos.)

2. A Autora afirma que, ao criar nova prerrogativa funcional para os delegados estaduais, o dispositivo questionado teria, a um só tempo, usur-pado a competência privativa da União, estabelecida no art. 22, inciso I, da Constituição brasileira, e alterado o rol de autoridades que teriam direito a essa prerrogativa, prevista no art. 221 do Código de Processo Penal.

Sustenta, em síntese, que, “se a União, no exercício legítimo de sua compe-tência constitucional, não incluiu os delegados entre as autoridades que teriam prerrogativas especiais para a oitiva em processo judicial, é certo que não pode-ria a legislação estadual fazê-lo” (fl. 5).

Conclui alegando que “‘as normas que regul[am] os atos destinados a reali-zar a causa finalis da jurisdição’ devem ser consideradas como norma de direito processual, de competência exclusiva do legislador ordinário federal” (fl. 6, gri-fos no original).

Pede a declaração de inconstitucionalidade do inciso IV do art. 32 da Lei sergipana 4.122/99.

3. Em 18-5-07, adotei o rito do art. 12 da Lei 9.868/99.4. A Assembléia Legislativa de Sergipe prestou informações em 12-6-07

(fls. 35-36), observando que teria efetivamente estabelecido a prerrogativa ora impugnada, fazendo juntar aos autos cópias da legislação estadual pertinente ao tema.

5. A Advocacia-Geral da União manifestou-se pela procedência da ação, afirmando que a norma impugnada cuida de matéria de direito processual e, por essa razão, teria sido afrontada a competência legislativa privativa da União (fls. 79-88).

6. A Procuradoria-Geral da União também opinou pela declaração de in-constitucionalidade, arrimando-se naquele mesmo fundamento de competência afirmado pela Advocacia-Geral da União (fls. 90-93).

É o relatório, do qual deverão ser encaminhadas cópias aos eminentes Ministros do Supremo Tribunal Federal (art. 9º da Lei 9.868/99 c/c o art. 87, in-ciso I, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia (Relatora): 1. A presente ação tem como objeto o inciso IV do art. 32 da Lei sergipana 4.122/99, que prevê, entre as

Page 143: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1143

prerrogativas dos delegados de polícia de carreira, “IV – ser ouvido, como tes-temunha ou ofendido, em qualquer processo ou inquérito, em dia, hora e local previamente ajustados com o Juiz ou autoridade competente”.Da legitimidade ativa ad causam

2. A pacífica jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) tem legitimi-dade ativa para o aforamento da presente ação direta de inconstitucionalidade.

Na assentada de 14-12-95, no julgamento da ADI 1.303-MC/SC, Relator o Ministro Maurício Corrêa, o Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu:

Ementa: (...) preliminar: Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB); legitimidade ativa; pertinência temática. Despacho cautelar, proferido no iní-cio das férias forenses, ad referendum do Plenário (art. 21, IV e V, do RISTF). 1. Preliminar: esta Corte já sedimentou, em sede de controle normativo abs-trato, o entendimento da pertinência temática relativamente à legitimidade da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), admitindo que sua atividade associativa nacional busca realizar o propósito de aperfeiçoar e defender o fun-cionamento do Poder Judiciário, não se limitando a matérias de interesse corpo-rativo (ADI 1.127-8) (...).(DJ 1º-9-00, grifei.)

Na mesma linha:

Ementa: ação direta de inconstitucionalidade. Lei Complementar esta-dual 106/03. Associação dos Magistrados Brasileiros. Legitimidade ativa ad causam. Prerrogativas da Magistratura. Extensão aos membros do parquet. (...) 1. Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Pertinência temática. Legitimidade ativa. Preenchidos os requisitos para o conhecimento da ação, uma vez que os textos impugnados promovem equiparação de vencimentos e prer-rogativas entre o Ministério Público e a Magistratura e, por outro lado, sendo o parquet órgão essencial à atuação do Poder Judiciário, a defesa de seu regular fun-cionamento está inserida nas atribuições funcionais da Requerente (...).(ADI 2.831-MC/RJ, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ de 28-5-04.)

Mérito3. Cumpre analisar, na presente ação, se a norma contida no inciso IV

do art. 32 da Lei sergipana 4.122/99, instituidora de prerrogativa em favor dos delegados do Estado de Sergipe, que lhes permite “ser[em] ouvido[s], como testemunha ou ofendido, em qualquer processo ou inquérito, em dia, hora e local previamente ajustados com o Juiz ou autoridade competente”, seria formalmente inconstitucional, em razão do que dispõe o art. 22, inciso I, da Constituição da República.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,

aeronáutico, espacial e do trabalho.(Grifei.)

Page 144: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051144

4. A questão posta na presente ação – relativa à possibilidade, ou não, de instituição de prerrogativas para delegados de polícia pelos Estados federados – não é nova no Supremo Federal. Em casos nos quais foram estendidas prerro-gativas especificadas para determinadas autoridades aos delegados de polícia, sem respaldo na Constituição da República e tampouco na legislação federal, este Tribunal tem declarado a inconstitucionalidade das normas impugnadas.

São exemplos disso, entre outros, os seguintes julgados:

Ementa: ação direta de inconstitucionalidade. Alínea e do inciso VIII do art. 46 da Constituição do Estado de Goiás, na redação que lhe foi dada pela Emenda Constitucional 29, de 31 de outubro de 2001. Ação julgada parcialmente procedente para reconhecer a inconstitucionalidade da expressão “e os Delegados de Polícia”, contida no dispositivo normativo impugnado.(ADI 2.587/GO, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ de 6-11-06.)

E:

Ementa: Lei Complementar 20/92. Organização e estruturação da Polícia Judiciária Civil estadual. Autonomia funcional e financeira. Orçamento anual. (...) Prerrogativa de foro. Extensão aos delegados. Inadmissibilidade. Direito processual. Competência privativa da União. Servidor público. Aposentadoria. Afronta ao modelo federal.

(...) 4. Prerrogativa de foro. Delegados de polícia. Esta Corte consagrou tese no sentido da impossibilidade de estender-se a prerrogativa de foro, ainda que por previsão da Carta Estadual, em face da ausência de previsão simétrica no modelo federal. 5. Direito Processual. Competência privativa. Matéria de direito proces-sual sobre a qual somente a União pode legislar (art. 22, I, CF). (...) Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, em parte.(ADI 882/MT, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de 23-4-04.)

5. A inconstitucionalidade da prerrogativa criada pela lei impugnada foi bem delineada pelo Procurador-Geral da República, nos termos seguintes:

Veja-se que a investigação instrumentalizada no inquérito policial tem por escopo assegurar a formação de um lastro probatório mínimo idôneo desti-nado a fundamentar a ação penal pública ou privada, cuja propositura caberá ao Ministério Público ou ao ofendido, tendo-se por evidente, portanto, tratar-se de tema afeto ao Direito Processual Penal, o que impõe a observância da competência privativa da União para dispor sobre a matéria.

11. Assim, presta-se o inquérito a garantir uma correta aplicação da Lei Penal, impedindo o recebimento de ações penais temerárias, resguardando, ade-mais, os direitos fundamentais da pessoa humana que não será submetida, senão quando estritamente necessário, aos entraves provocados por uma ação penal, o que inclui o procedimento no âmbito de alcance das normas processuais penais, conclusão que encontra lastro no fato de ser o tema “inquérito policial” expressa-mente tratado no Título II do Código de Processo Penal.

12. Dessa feita, ao estabelecer nova prerrogativa em benefício dos de-legados de polícia de carreira, nos inquéritos e processos em que tais agentes figurem como testemunhas ou ofendidos, incide o dispositivo impugnado em

Page 145: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1145

contrariedade ao texto constitucional, uma vez que não tem o legislador estadual competência para dispor sobre matéria afeta ao Direito Processual Penal, nos moldes impostos pelo artigo 22, inciso I, da Constituição Federal (...)

13. Por fim, cumpre consignar que a União, no exercício da competência que lhe fora constitucionalmente atribuída, reconheceu a natureza processual da prerrogativa sob análise, dispondo sobre seu regramento no retrocitado artigo 221 do Código de Processo Penal, cuja norma foi contrariada pelo dispositivo impugnado, o que corrobora a necessidade de acolhimento do presente pedido de declaração de inconstitucionalidade.(Fls. 92-93, grifei.)

Desse sentido não destoou a manifestação do Advogado-Geral da União, que asseverou:

Sem exigir profunda reflexão, é possível afirmar que a temática tratada pelo ato impugnado relaciona-se com a alteração do trâmite ordinário, em favor dos delegados de polícia de carreira, dos inquéritos e processos em que figurem como ofendidos ou testemunhas. Esses dois institutos jurídicos – o inquérito e o processo –, embora individualmente delineados, possuem intrínseca relação. Numa ótica simplificada, pode-se afirmar que o inquérito é elemento de instrução do processo, o qual, por sua vez, pode, inclusive, depender da convicção formada naquele para sua existência. (...) Com efeito, além de se relacionarem com mú-tua dependência na dinâmica jurisdicional, esses institutos podem ser reunidos sob uma mesma perspectiva temática, precisamente sob a ótica que congrega os institutos dedicados à forma com que se desenvolve a aplicação ou a realização coercitiva do Direito pelo Estado: ou seja, a do direito processual. (...) Ocorre que a regência do processo, elemento central do objeto de tutela do direito processual, sobretudo quando se constata que a finalidade maior do processo é a aplicação eficiente do Direito, não pode ignorar os institutos que com ele se relacionam ou o preparam, como o inquérito. (...) Destarte, o conjunto de atos que tanto ocorrem no processo quanto o preparam é apontado pela doutrina penalista como conteúdo do direito processual. (...) Com efeito, apesar das manifestações explícitas sobre a questão reservarem-se aos doutrinadores penalistas, as fases investigatória e preparatória do processo, materializadas comumente no inquérito civil ou penal, devem ser tomadas como parte do direito processual, sobretudo porque seu funda-mento existencial, assim como para os atos no processo, é a realização coercitiva do Direito pelo Estado.(Fls. 81-85, grifos no original.)

6. Ensina, entre outros, José Frederico Marques ser o direito processual penal “o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do direito penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares” (Elementos de direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, v. 1, p. 20).

A persecução criminal, da qual fazem parte o inquérito policial e a ação penal, rege-se pelo direito processual penal. Assim, apesar de caracterizar o in-quérito policial, nas palavras daquele mesmo autor, “uma instrução provisória e fase preparatória da ação penal” (p. 163), podendo até mesmo ser dispensado, é certo que, por estar diretamente ligado à instrução processual que haverá de

Page 146: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051146

se seguir, dota-se ele de natureza processual, a ser cuidada, privativamente, por este ramo do direito de competência da União.

7. Ao cuidar da competência privativa da União, Raul Machado Horta as-severa que:

a competência legislativa incorpora os preceitos declaratórios e autorizati-vos da competência geral na legislação federal, através da lei e da norma jurídica, sob o comando privativo da União Federal, por intermédio dos órgãos de ma-nifestação da vontade legislativa. Daí a correspondência entre as atribuições de competência geral e as da competência de legislação, sem a qual a competência geral permaneceria um corpo inerme, sem ação e sem vontade. A correspondência entre as duas competências às vezes se exterioriza na coincidência vocabular das expressões, como se dá na repetição de atribuições (...), com idênticas palavras ou com expressões equivalentes, e quando a correspondência não se exteriorizar de forma ostensiva irá ela alojar-se no inciso mais genérico da competência legisla-tiva federal, abrigando-se no amplo conteúdo do direito material e do direito pro-cessual (art. 22, I), que poderá absorver na legislação codificada ou não codificada as atribuições da Federação, situadas na competência geral do Estado soberano.(HORTA, Raul Machado. Direito Constitucional. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 351.)

8. Na espécie em foco, além de inexistir qualquer tipo de delegação por parte da União ao Estado de Sergipe a autorizá-lo a legislar sobre prerrogativas de delegados de polícia, a competência legislativa da União foi plenamente exer-cida. E o Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3.689/41), em seu art. 221, trata de forma contrária a matéria:

Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e de-putados federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os de-putados às Assembléias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz. (Redação dada pela Lei 3.653, de 4-11-59.)

Não consta nesse rol, que é taxativo, qualquer menção aos delegados, pelo que, se fosse o caso de se estender a possibilidade de eles serem “ouvido[s], como testemunha ou ofendido, em qualquer processo ou inquérito, em dia, hora e local previamente ajustados com o Juiz ou autoridade competente”, a iniciativa legislativa e a aprovação haveriam de ser implementadas pela União, tal como se deu em relação aos magistrados e aos membros do Ministério Público (art. 33, inciso I, da Lei Complementar 35/79 – Loman e art. 40, inciso I, da Lei 8.625/93 – Lei Orgânica do Ministério Público).

9. Pelo exposto, voto no sentido de julgar procedente a presente ação direta de inconstitucionalidade para declarar inconstitucional o art. 32, in-ciso IV, da Lei sergipana 4.122/99.

Page 147: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1147

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Presidente, suscito uma preliminar, e devo lançá-la para me manter fiel ao que venho sustentando quanto à legitimação das associações para o ajuizamento das ações diretas de inconstitucionalidade.

O tema tratado na lei atacada não possui ligação maior com a representa-ção da Associação dos Magistrados Brasileiros. Impugna a associação diploma do Estado do Sergipe que versa prerrogativa – e direi, em passo seguinte, ver-dadeiro privilégio – relativamente aos delegados de polícia. Mas não se faz em jogo interesse do segmento representado pela Associação, porque não posso vislumbrar interesse desse segmento quanto à disciplina normativa que não diz respeito a direitos dele próprio. Estou afirmando que, no caso, os magistra-dos representados pela Associação requerente não têm interesse em impugnar norma de procedimento atinente à oitiva, em processos de delegados de polícia de carreira.

Por isso, para estar em paz com o que venho sustentando, suscito a preli-minar de inadmissibilidade da ação direta de inconstitucionalidade, por falta de pertinência temática. A espécie seria diversa se, em vez da Associação, tivésse-mos um partido político, tivéssemos mesmo o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, cuja atuação faz-se em prol da sociedade em geral.

Peço vênia para suscitar a preliminar.

ESCLARECIMENTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia (Relatora): Senhor Presidente, agradeço ao Ministro Marco Aurélio porque, como fiz um resumo brevíssimo da matéria, no meu voto cuidei especificamente da legitimidade da AMB neste caso e superei a preliminar – deveria talvez até ter apresentado separadamente para apreciação dos meus pares –, sobre a pertinência temática, a legitimidade da AMB – que citei, inclusive, com a jurisprudência – e a pertinência temática que considerei existir na espécie, porque o texto do inciso IV do art. 32 da Lei 4.122 se refere a:

IV – ser ouvido, como testemunha ou ofendido, em qualquer processo ou inquérito, em dia, hora e local previamente ajustados com o Juiz ou autoridade competente.

A circunstância de ter, portanto, o juiz de se adaptar ao que for ajustado, e esse ajuste faz com que a Associação dos Magistrados Brasileiros tenha, exata-mente, o cuidado do tema entre as suas finalidades.

Foi por essa razão que eu superei essa preliminar e, mais uma vez, agra-deço ao Ministro Marco Aurélio por tê-la suscitado aqui para que eu pudesse, então, dar ênfase ao que está posto com todos os temas.

No meu voto, Senhor Presidente, acatei a legitimidade ativa em tópico es-pecífico, exatamente pela circunstância de haver a referência expressa “com o Juiz ou autoridade competente”, como está no inciso IV.

Page 148: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051148

VOTO(Sobre preliminar)

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhor Presidente, peço vênia ao Ministro Marco Aurélio, mas acompanho, na preliminar e no mérito, o voto da Ministra Cármen Lúcia.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Presidente, quanto à inconstitucionalidade, desejo ressaltar que, em termos de tratamento diferenciado, somente o admito, no âmbito dos Estados da Federação, quando haja simetria com a Carta da República. E não me consta que os delegados de carreira da Polícia Federal te-nham prerrogativa semelhante assegurada constitucionalmente.

Acompanho a Relatora no voto proferido, vendo a disposição como a encerrar colocação contrária aos ares republicanos, aos ares democráticos, ao tratamento igualitário dos cidadãos e servidores em geral e, portanto, um ver-dadeiro privilégio.

EXTRATO DA ATA

ADI 3.896/SE — Relatora: Ministra Cármen Lúcia. Requerente: Asso-ciação dos Magistrados Brasileiros – AMB (Advogados: Alberto Pavie Ribeiro e outros). Requerida: Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe.

Decisão: O Tribunal, por maioria, rejeitou a preliminar de ilegitimidade ativa, vencido o Ministro Marco Aurélio. No mérito, o Tribunal, por unanimi-dade, julgou procedente a ação direta, nos termos do voto do Relator. Votou o Presidente. Falou pela Requerente o Dr. Alberto Pavie Ribeiro. Ausente, justi-ficadamente, o Ministro Gilmar Mendes (Presidente). Presidiu o julgamento o Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente).

Presidência do Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente). Presentes à ses-são os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 4 de junho de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 149: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1149

CONFLITO DE COMPETÊNCIA 7.456 — RS

Relator: O Sr. Ministro Menezes DireitoSuscitante: Tribunal Superior do Trabalho — Suscitado: Superior Tribunal

de Justiça — Interessados: Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – ANDES Sindicato Nacional; Sindicato dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul – SINPRO/RS; Fundação Universidade de Caxias do Sul e Sindicato dos Professores de Caxias do Sul

Conflito negativo de competência. Superior Tribunal de Justiça. Tribunal Superior do Trabalho. Contribuição sindical. Emenda Constitucional 45/04.

1. A discussão relativa à legitimidade do sindicato para receber a contribuição sindical representa matéria funcional à atuação sindical, enquadrando-se, diante da nova redação dada pela EC 45/04 ao art. 114, III, da Constituição Federal, na com-petência da Justiça do Trabalho. Tratando-se de competência absoluta, em razão da matéria, produz efeitos imediatos, a par-tir da publicação da referida emenda, atingindo os processos em curso, incidindo o teor do art. 87 do Código de Processo Civil.

2. Aplica-se, portanto, o posicionamento adotado no CC 7.204-1/MG, Pleno, Rel. Min. Carlos Britto, DJ de 9-12-05, que definiu a existência de sentença de mérito na Justiça comum es-tadual, proferida antes da vigência da EC 45/04, como o fator determinante para fixar a competência da Justiça comum, daí a razão pela qual se mantém a competência do Superior Tribunal de Justiça.

3. Conflito conhecido para declarar competente o Superior Tribunal de Justiça.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, conhecer do conflito e, por maioria, firmar a compe-tência do Superior Tribunal de Justiça.

Brasília, 7 de abril de 2008 — Menezes Direito, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Conflito negativo de competência estabe-lecido entre o Tribunal Superior do Trabalho, suscitante, e o Superior Tribunal de Justiça, suscitado, havendo dissenso quanto ao processamento e julgamento

Page 150: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051150

de recurso especial, recebido como recurso de revista no Juízo suscitante, inter-posto nos autos da ação de consignação em pagamento ajuizada pela Fundação Universidade de Caxias do Sul contra o Sindicato dos Professores de Caxias do Sul, o Sindicato dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (SINPRO/RS) e o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES Sindicato Nacional).

Ingressou a autora com a ação na Justiça comum estadual, sob a alegação de haver dúvida acerca de qual dos sindicatos apontados estaria legitimado a receber as contribuições sindicais.

O Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Caxias do Sul/RS, em 25-4-02, julgou parcialmente procedente o pedido (fls. 581 a 585).

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desproveu o recurso de ape-lação, estando assim ementado o acórdão de fls. 669 a 689:

Direito público não especificado. Consignação em pagamento por dúvida. Contribuição sindical devida pela Fundação Universidade de Caxias do Sul.

Disputa entre três sindicatos. Sinpro-RS, Sinpro-Caxias e Andes. O princípio da liberdade sindical encontra o obstáculo apenas no princípio

da unicidade dentro da base territorial (art. 8º, II da CF/88). Admite-se a faculdade de os professores da Universidade de Caxias do Sul

optarem pelo Sindicato local, mais representativo da categoria do que o nacional. Os docentes de outros campi da Universidade, situados fora do Município, inte-gram-se ao Sindicato Estadual.

Apelação desprovida.(Fl. 676.)

Interposto recurso especial (fls. 695 a 715) e recurso extraordinário (fls. 718 a 739). Contra-arrazoados os recursos (fls. 743 a 750, 894 a 898, 900 a 904, 905 a 912, 1.027 a 1.031 e 1.033 a 1.037), não foram admitidos (fls. 1.048 a 1.052).

Os autos subiram ao Superior Tribunal de Justiça por força de decisão proferida em agravo de instrumento (fl. 501 – apenso 2), sendo negado segui-mento ao recurso especial, por decisão monocrática do Ministro Castro Meira, nos termos do art. 557 do Código de Processo Civil (fls. 1.087 a 1.090). Contra essa decisão foi interposto agravo regimental, tendo a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça reconhecido a competência do Tribunal Superior do Trabalho (fls. 1110 a 1119), para onde determinou a remessa dos autos, jul-gando prejudicado o agravo regimental. O acórdão restou assim ementado:

Direito sindical. Recurso especial. Ação de consignação em pagamento. Contribuição sindical. Disputa entre sindicatos. EC nº 45/04. Art. 114, III, da CF/88. Superior Tribunal de Justiça. Incompetência. Chamamento do feito à Ordem.

1. Após a Emenda Constitucional nº 45/04, a Justiça do Trabalho passou a deter competência para processar e julgar não só as ações sobre representação sin-dical (externa – relativa à legitimidade sindical, e interna – relacionada à escolha

Page 151: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1151

dos dirigentes sindicais), como também os feitos intersindicais e os processos que envolvam sindicatos e empregadores ou sindicatos e trabalhadores.

2. As ações de consignação em pagamento de contribuição sindical pro-posta pelo empregador contra os diversos sindicatos representativos de uma mesma categoria profissional ou econômica, após a Emenda, devem ser processa-das e julgadas pela Justiça Laboral.

3. A regra de competência prevista no art. 114, III, da CF/88 produz efeitos imediatos, a partir da publicação da EC nº 45/04, atingindo os processos em curso, ressalvado o que já fora decidido sob a regra de competência anterior. Em conse-qüência, impõe-se a remessa dos autos ao Juízo do Trabalho na respectiva juris-dição, devendo ser anulada decisão proferida por órgão judiciário que se tornou incompetente após a publicação da Emenda Constitucional n. 45/04.

4. Diante da incompetência deste Superior Tribunal de Justiça para proces-sar e julgar o recurso após a publicação da EC n.º 45/04, deve-se chamar o feito à ordem para tornar sem efeito a decisão de fls. 1087/1090 e determinar a remessa dos autos ao TST.

5. Agravo regimental prejudicado.(Fl. 1118.)

No Tribunal Superior do Trabalho, o feito foi autuado como recurso de re-vista, sendo suscitado o presente conflito de competência (fls. 1141/1142).

Parecer do Ministério Público Federal pelo reconhecimento da competên-cia da Justiça comum em razão da existência de sentença de mérito proferida em data anterior à promulgação da EC 45/04 (fls. 1149 a 1153).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Conflito negativo de competên-cia estabelecido entre o Superior Tribunal de Justiça e o Tribunal Superior do Trabalho havendo dúvida acerca de qual a Justiça competente para processar e julgar ação consignatória de verbas correspondentes à contribuição sindical. A ação foi proposta pelo empregador contra três sindicatos de professores, para que fosse definido qual deles estaria legitimado a receber as contribuições.

Para a hipótese de cobrança de contribuição assistencial decorrente de convenção coletiva, a jurisprudência desta Corte e do Superior Tribunal de Justiça, até mesmo antes da EC 45/04, já definia a competência da Justiça do Trabalho para o processamento e julgamento. Anote-se:

Conflito de competência. Ação de cumprimento. Contribuição prevista em convenção coletiva. Contribuição sindical prevista em lei. Impossibilidade de cumulação dos pedidos.

1. No tocante à contribuição assistencial decorrente de convenção coletiva, a jurisprudência desta Corte está pacificada no sentido de ser competente a Justiça do Trabalho. Com relação à contribuição sindical prevista em lei, o entendimento jurisprudencial desta Corte considera competente a Justiça Comum do Estado. Precedentes.

Page 152: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051152

2. Havendo cumulação de pedidos envolvendo matérias de diferentes com-petências, aplica-se o disposto na Súmula nº 170/STJ, devendo a ação prosseguir perante o Juízo onde primeiro foi intentada a ação, nos limites de sua competên-cia, “sem prejuízo do ajuizamento de nova causa, com o pedido remanescente, no juízo próprio”.

3. Conflito conhecido para declarar competente o Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região para o julgamento do pedido relativo à contribuição assis-tencial decorrente de convenção coletiva.(CC 31.049, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Segunda Seção, DJ de 23-4-01.)

Competência. Litígio entre sindicato de trabalhadores e empregador que tem origem no cumprimento de convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho. – Pela jurisprudência desta Corte (assim se decidiu no RE 130.555), não havendo lei que atribua competência à Justiça Trabalhista para julgar relações jurídicas como a em causa, e competente para julgá-la a Justiça comum. Sucede, porém, que, depois da interposição do presente recurso extraordinário, foi editada a Lei 8.984, de 7-2-95, que afastou a premissa de que partiu o entendimento deste Tribunal ao julgar o RE 130.555, porquanto o art. 1º da referida lei dispõe que “compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios que tenham origem no cumprimento de convenções coletivas de trabalho e acordos coletivos de traba-lho, mesmo quando ocorram entre sindicatos ou entre sindicato de trabalhadores e empregador”. E, em se tratando de recurso extraordinário interposto contra acór-dão que julgou conflito de competência, não tem sentido que se deixe de aplicar a lei superveniente à interposição desse recurso, para dar-se como competente Juízo que o era antes da citada Lei, mas que deixou de sê-lo com o advento dela. Recurso extraordinário não conhecido.(RE 131.096/DF, Primeira Turma, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 29-9-95.)

O caso presente, porém, trata de contribuição sindical prevista em lei, fi-xada a competência, anteriormente à vigência da EC 45/04, da Justiça comum estadual. Confira-se:

Recurso extraordinário, a, contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal que decidiu pela competência da Justiça do Trabalho para o exame de ação de consignação em pagamento entre empregador e sindicados que se julgam cre-dores das contribuições sindicais.

O STF já pacificou o tema no sentido de que compete à Justiça comum o exame da matéria, como se denota nos precedentes CJ 5.934, Antonio Neder, Pleno, DJ de 23-10-74; RE 86.145, Thompson Flores, Primeira Turma, DJ de 14-9-79; RE 140.344, Moreira Alves, Primeira Turma, DJ de 6-11-92; RE 135.441, Marco Aurélio, Segunda Turma, DJ de 24-11-00; e RE 131.019, Marco Aurélio, Segunda Turma, DJ de 6-12-91, este último com a seguinte ementa:

“Conflito de competência – Contribuição sindical – Demanda con-signatória entre empregador e sindicatos. A definição da competência da Justiça do Trabalho não prescinde de previsão legal. O fato de não haver o envolvimento de empregados na relação processual afasta a regra contida na primeira parte do art. 114 da Constituição Federal, tornando próprio

Page 153: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1153

observar-se a condição imposta na parte final do preceito – ‘(...) e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que têm origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclu-sive coletivas’. A competência é, no caso, da Justiça comum, como já o era à luz da Constituição Federal anterior – Precedente do Supremo Tribunal Federal: CJ 5.934-SP, Rel. Min. Antônio Neder, acórdão do Tribunal Pleno, publicado no DJ de 23 de outubro de 1974.”Assim, estando a decisão recorrida em desacordo com os precedentes dou

provimento ao recurso extraordinário (art. 557, § 1-A, Código de Processo Civil) para declarar competente a Justiça comum.(RE 185.940/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 4-5-04.)

O Superior Tribunal de Justiça considerou-se incompetente e remeteu os autos ao Tribunal Superior do Trabalho, com a fundamentação a seguir:

A regra de competência deve ser interpretada como funcional à atuação sindical. Assim, além de todas as ações que dizem respeito à legitimidade sindical (e que já estão previstas na competência relativa à representação sin-dical), também aquelas em que se disputa a quem é devida as contribuições sindicais, assistenciais ou confederativas passam a ser competência da Justiça do Trabalho

(...)A questão dos autos enquadra-se na regra de competência prevista no art.

114, inciso III, da Constituição da República, com redação conferida pela EC nº 45/04. A ação, além de abranger discussões sobre representação sindical, abarca a relação entre empregador e sindicatos e a disputa intersindical pelas contribui-ções consignadas em juízo.

(...)O caso dos autos enquadra-se em uma dessas exceções. A competência tra-

balhista estrutura-se em razão da matéria, sendo, portanto, de natureza absoluta, o que afasta a possibilidade de prorrogação. O simples fato de estar disciplinada em regra de estatura constitucional confere-lhe imutabilidade para excepcionar o disposto no art. 87 do CPC.

Dessarte, a regra de competência prevista no art. 114, III, da CF/88 produz efeitos imediatos, a partir da publicação da EC nº 45/04, atingindo os processos em curso, ressalvado o que já fora decidido sob a regra de competência anterior. Em conseqüência, impõe-se a remessa dos autos ao Juízo do Trabalho na respec-tiva jurisdição.(Fls. 1132/1133.)

O Tribunal Superior do Trabalho também se considerou incompetente e resolveu suscitar o presente conflito, entendendo que:

Tendo sido proferida decisão de mérito em data anterior à promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004, a competência para o processamento e julga-mento das ações se consolida no âmbito da Justiça Comum.

Essa é a regra de transição adotada pelo Supremo Tribunal Federal, ao jul-gar o Conflito de Competência nº 7.204-1 – Minas Gerais, decisão publicada no DJU de 09/12/05, e pela 5ª Turma desta Corte, ao apreciar o RR-166.888/2006-998-02-00.2, cujo acórdão foi publicado no DJU de 05/05/06.(Fls. 1141/1142.)

Page 154: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051154

Mesmo posicionamento do Tribunal Superior do Trabalho adotou o Ministério Público Federal em seu parecer de fls. 1149 a 1153.

O art. 114, III, da Constituição Federal, com a vigência da EC 45/04, ficou com a seguinte redação:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:III – as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos

e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

Entendo que a discussão relativa a quem é devida a contribuição sindi-cal representa matéria funcional à atuação sindical, enquadrando-se, diante da nova redação dada pela emenda constitucional, na competência da Justiça do Trabalho, o que, a princípio, parece não ter sido sequer questionado pelo Juízo do Trabalho, o qual afirmou sua incompetência, tão-somente, com base no fato de já ter sido proferida sentença de mérito na Justiça comum estadual.

No mesmo sentido, já decidiu esta Corte, em voto do Ministro Marco Aurélio, CC 7.221/RS, DJ de 25-8-06, que, ao fixar a competência da Justiça Laboral, reconheceu que “o que discrepa da regra de hermenêutica e da aplicação do direito segundo a qual, onde o legislador não distinguiu, não cabe ao intér-prete distinguir –, dá-se que a Emenda Constitucional 45/04 emprestou enverga-dura maior à competência em exame. O art. 114, inciso III, da Lei Fundamental passou a dispor, de forma explícita, que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ‘as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores’. A referência a ações sobre representação há de ser tomada em sentido largo, envolvendo todo e qualquer desdobramento que ocorra a partir da vinculação sindical”.

Todavia, entendo que se aplica ao caso em tela o que foi decidido no CC 7.204-1/MG, Pleno, Rel. Min. Carlos Britto, DJ de 9-12-05, que definiu a exis-tência de sentença de mérito na Justiça comum estadual, proferida antes da vigência da EC 45/04, como o fator determinante para fixar a competência da Justiça comum, como bem alinhavado o parecer do eminente Procurador-Geral da República.

Conheço do conflito e declaro competente o Superior Tribunal de Justiça.O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhora Presidente, muito embora o Ple-

nário esteja funcionando com um número de integrantes próximo ao de Turma, reafirmo o que veiculei quando apreciado o caso que gerou o precedente.

Estamos diante de tema alusivo à competência, tendo em vista o fundo, a própria matéria. A incompetência, portanto, é absoluta, encontrando-se regida pela Constituição Federal.

Em termos de Direito, resisto muito ao pragmatismo, ao enfoque, conside-radas as conseqüências práticas. Em se tratando de incidência de norma consti-tucional, há a imediatidade, a qual deve ser observada.

Page 155: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1155

Por isso, reafirmo o que tive a oportunidade de sustentar, quando apre-ciado um caso alusivo à indenização por danos materiais e morais.

O Sr. Ministro Carlos Britto: Indenização por danos materiais e morais resultantes de uma relação de emprego.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Exato.Reafirmando o entendimento, peço vênia ao Ministro Carlos Alberto

Menezes Direito para concluir pela competência da Justiça do Trabalho.

EXTRATO DA ATA

CC 7.456/RS — Relator: Ministro Menezes Direito. Suscitante: Tribunal Superior do Trabalho. Suscitado: Superior Tribunal de Justiça. Interessados: Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – ANDES Sindicato Nacional (Advogados: Francis Campos Bordas e outros), Sindicato dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul – SINPRO/RS (Advogados: Luciane Lourdes Webber Toss e outros), Fundação Universidade de Caxias do Sul (Advogados: Milton José Munhoz Camargo e outros) e Sindicato dos Professores de Caxias do Sul (Advogado: Erci Marcos Sabedot e outros).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu do conflito e, por maio-ria, firmou a competência do Superior Tribunal de Justiça, vencido o Ministro Marco Aurélio, que firmava a competência da Justiça do Trabalho. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski. Presidiu o julgamento a Ministra Ellen Gracie.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Marco Aurélio, Carlos Britto, Eros Grau, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.

Brasília, 7 de abril de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 156: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051156

AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE SEGURANÇA 24.584 — DF

Relator: O Sr. Ministro Marco AurélioRelator para o acórdão: O Sr. Ministro Ricardo LewandowskiAgravantes: Cláudio Renato do Canto Farág e outro — Agravado: Tribunal

de Contas da União

Agravo regimental no mandado de segurança. Desistência. Possibilidade a qualquer tempo. Desnecessidade de anuência do impetrado. Precedentes. Agravo provido.

I – A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal conso-lidou-se no sentido de que o impetrante pode desistir do writ a qualquer momento antes do término do julgamento.

II – Precedentes: AI 377.361-AgR-ED/DF, Rel. Min. Ellen Gracie; RE 349.603-AgR/SC, Rel. Min. Carlos Britto; RE 394.940/MG, Rel. Min. Celso de Mello.

III – Agravo regimental provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maio- ria, vencidos os Ministros Marco Aurélio (Relator), Cármen Lúcia e Carlos Britto, dar provimento ao agravo regimental. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau.

Brasília, 9 de agosto de 2007 — Ricardo Lewandowski, Relator para o acórdão.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Marco Aurélio: À fl. 291, proferi a seguinte decisão:

Mandado de segurança – Julgamento iniciado – Votos proferidos – Desis-tência – Impropriedade.

1. Os Impetrantes Cláudio Renato do Canto Farág e Antônio Glaucius de Morais peticionam desistindo do mandado de segurança. Ocorre que o julgamento já começou. Prolatei voto indeferindo a ordem, no que fui acompanhado pelos Ministros Joaquim Barbosa, Carlos Britto, Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso. Divergiram os Ministros Gilmar Mendes e Eros Grau, havendo o primeiro solici-tado nova vista do processo.

Iniciado o julgamento, descabe cogitar, presentes votos nesse ou naquele sentido, da desistência do pedido.

Page 157: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1157

2. Indefiro o pleito.3. Publiquem.

Daí o agravo de fl. 293 a 297, no qual os Impetrantes afirmam que, não tendo ainda sido concluída a apreciação, não há óbice à homologação do pedido de desistência. Ressaltam a ausência de intenção de prejudicar ou tumultuar o julgamento, mas de “acabar com a espera e já ter uma decisão do Tribunal de Contas da União, eliminando qualquer dúvida sobre a inexistência de responsa-bilidade dos ora agravantes” (fl. 294). Salientam que o mandado de segurança é ação de índole constitucional, em que não ocorre litígio entre direitos contrapos-tos. Argumentam que a autoridade coatora, então, não é parte, em sentido téc-nico, mostrando-se viável a desistência a qualquer tempo, independentemente de ela consentir. Evocam precedentes desta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Na interposição deste agravo, foram observados os requisitos de recorribilidade. A peça, subscrita por profis-sional da advocacia regularmente constituído (fls. 22 e 24), restou protocolada no qüinqüídio. Conheço.

Uma vez iniciado o julgamento, descabe acolher pedido da parte desis-tindo do que pleiteado no mandado de segurança. A manifestação não possui o efeito de interromper a seqüência da apreciação. A assim não se considerar, ter-se-á esta última norteada pela percepção da parte quanto ao desfecho da causa, valendo notar a peculiaridade do caso.

Depois de julgado o mandado de segurança e indeferida a ordem, o acesso à via ordinária pressupõe deliberação do Colegiado em tal sentido. Ora, a desis-tência pode visar, ante prognóstico, levando em conta os votos já proferidos, a garantir o ingresso de ação ordinária em Juízo.

Desprovejo o agravo.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: A parte está a dizer que não tem mais inte-resse processual porque o TCU já teria resolvido a questão favoravelmente a ela.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Quanto ao interesse, ela real-mente parte do pressuposto de que não mais o tem – quem sabe –, considerados os cinco votos contrários. Relativamente, ao Tribunal de Contas da União, os dois requerentes buscam ver a matéria elucidada pelo Órgão, como se já hou-vesse um obstáculo.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Pelo que depreendi da leitura.O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Voltarei a essa parte.Transcrevi:

Page 158: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051158

acabar com a espera e já ter uma decisão do Tribunal de Contas da União, eliminando [essa decisão que imaginam] qualquer dúvida sobre a inexistência de responsabilidade dos ora Agravantes.

O ponto básico é único: acabar com a espera. O que eles pretendem é que o Tribunal de Contas da União avance.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Eles não estão dizendo que já existe uma decisão do TCU.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Não, não estão.O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Mas penso que, dada a jurisprudência

da Casa, há possibilidade de desistência do mandado de segurança a qualquer tempo.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Também consignei que articulam com a jurisprudência, só que, em que pese à ilustrada maioria formada, guardo reservas quanto à concepção.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Julgamento de mérito.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Mas é admissível em tese.O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Inclusive, nós poderíamos voltar

atrás nos nossos votos, teoricamente.O Sr. Ministro Cezar Peluso: O julgamento não acabou.O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Então, é essa a questão.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhora Presidente, neste caso, acom-panho o Ministro Relator. Também penso que isso pode levar à frustração da jurisdição.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhora Presidente, data venia, dou provimento, porque entendo que é um direito da parte desistir a qualquer momento antes do término do julgamento.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhora Presidente, o caso é de desistência do processo antes do julgamento de mérito.

Acompanho a divergência.

Page 159: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1159

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Também, peço vênia ao Minis-tro Relator, Marco Aurélio, e aos Colegas que o acompanharam para dar provi-mento ao agravo regimental.

EXTRATO DA ATA

MS 24.584-AgR/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Relator para o acórdão: Ministro Ricardo Lewandowski. Agravantes: Cláudio Renato do Canto Farág e outro (Advogado: Marlon Tomazette). Agravado: Tribunal de Contas da União.

Decisão: O Tribunal, por maioria, vencidos os Ministros Marco Aurélio (Relator), Cármen Lúcia e Carlos Britto, que deram provimento ao agravo regi-mental. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Lavrará o acórdão o Ministro Ricardo Lewandoski. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.

Brasília, 9 de agosto de 2007 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 160: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051160

MANDADO DE SEGURANÇA 25.787 — DF

Relator: O Sr. Ministro Gilmar MendesImpetrante: Transbrasil S.A. Linhas Aéreas — Impetrado: Presidente da

República

Mandado de segurança. 2. Decisão do Presidente da República que, em processo administrativo, indeferiu recurso hierárquico e, por conseqüência, manteve decisão que decla-rou a caducidade da concessão outorgada à Transbrasil S.A. Linhas Aéreas para a prestação de serviço de transporte aé-reo. 3. Alegada violação aos princípios da ampla defesa e do contraditório, assim como a dispositivos da Lei 9.784/99, pois a Impetrante não teria sido comunicada da instauração do pro-cesso administrativo ou de qualquer ato nele praticado, não lhe tendo sido concedida oportunidade de proferir defesa de forma adequada. 4. Os documentos juntados aos autos pela própria Impetrante, porém, demonstram cabalmente que lhe foram as-seguradas todas as garantias da ampla defesa e do contraditório, como os direitos de informação sobre os atos produzidos no pro-cesso, de manifestação sobre seu conteúdo e de ter seus argumen-tos devidamente considerados pela autoridade administrativa. 5. Mandado de segurança indeferido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, denegar a ordem, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 8 de novembro de 2006 — Gilmar Mendes, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: A Transbrasil S.A. Linhas Aéreas impetra mandado de segurança, com pedido de medida liminar, contra decisão do Exmo. Senhor Presidente da República que, nos autos do Processo Administrativo 00010.000013/2004-05, indeferiu recurso hierárquico e, por conseqüência, manteve a decisão que declarou a caducidade da concessão outorgada à empresa impetrante para a prestação de serviço de transporte aéreo.

Após tecer considerações sobre os 50 anos de história da empresa impe-trante – desde a sua constituição, no ano de 1955, passando por sua ascensão, nas décadas de setenta e oitenta, e hegemonia no mercado nacional quanto à prestação de serviços de transporte aéreo, até a crise que se instaurou, devido a

Page 161: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1161

diversos fatores de ordem gerencial, política e econômica, a partir do fim da dé-cada de noventa –, a petição inicial relata que o Departamento de Aviação Civil (DAC) editou a Portaria DAC 1.445/DGAC, de 17 de outubro de 2002, com o seguinte teor (fl. 85):

O Diretor-Geral do Departamento de Aviação Civil, no uso de suas atribui-ções legais, com fundamento no art. 38, § 1º, da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, resolve:

Instaurar Processo Administrativo com a finalidade de apurar o descum-primento da Cláusula XIII do Contrato de Concessão firmado em 14 de julho de 1988 entre este Departamento e Transbrasil S.A. Linhas Aéreas, bem como asse-gurar à referida Empresa o direito de ampla defesa previsto no art. 5º, inc. LV, da Constituição da República, e no art. 292 do Código Brasileiro de Aeronáutica, no-meando para integrar a Comissão respectiva o Cel.-Av. Álvaro Ibaldo Bittencourt, como Presidente, e os Advogados Oslon do Rego Barros e Rubens Rogério Kominski, como vogais.

Fica estabelecido o prazo de 30 (trinta) dias para a conclusão do presente Processo Administrativo.

A Impetrante alega que não recebeu qualquer comunicação a respeito dessa portaria, que instaurou processo administrativo a fim de apurar o descum-primento de cláusula do contrato de concessão firmado entre a empresa e o DAC para prestação do serviço de transporte aéreo. Tal portaria não teria sido publi-cada pela Imprensa Oficial, apesar de formalmente solicitado pela Assessoria Jurídica do DAC.

Aduz que, após a instalação e início dos trabalhos (fl. 97), a comissão de processo administrativo solicitou, por meio de ofícios, informações a empresas públicas, sociedades de economia mista e outros órgãos públicos (fls. 99-107), assim como convocou diversas testemunhas para prestarem depoimento, tudo sem qualquer comunicação ou intimação anterior da empresa impetrante.

Afirma que, também na “Ata de Prosseguimento dos Trabalhos” (fl. 179), não consta qualquer determinação para que fosse dada ciência à Impetrante dos atos já praticados no processo e dos que ainda seriam realizados. Foram juntados diversos documentos aos autos do processo administrativo (fl. 180), Relatório de Visita Técnica, fls. 206-208; Balanço Patrimonial, fls. 209-226; Demonstrações Financeiras, fls. 227-252; entre outros, dos quais a Impetrante não foi intimada para se manifestar.

Após a realização de outros atos procedimentais, segundo a Impetrante, à sua revelia, foi emitido o relatório final (f ls. 1521-1536) com a seguinte conclusão:

No curso do presente processo administrativo, configurou-se, sem sombra de dúvida, o inadimplemento contratual por parte da concessionária Transbrasil S/A Linhas Aéreas, contrato esse firmado entre a referida empresa e o Departamento de Aviação Civil, em 14 de julho de 1988.

Page 162: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051162

A empresa deixou de operar em 3 de dezembro de 2001 em conseqüên-cia de sérios problemas financeiros e até o presente momento permanece nessa situação, não cumprindo, assim, com suas obrigações de concessionária de ser-viço de transporte aéreo como preconiza o contrato de concessão firmado com o Departamento de Aviação Civil.

Adiciona-se a isso a situação societária da empresa que continua confusa, necessitando de uma solução, bem como a necessidade de aporte de capital para reiniciar suas operações, o que ainda não conseguiu comprovar existir.

Complementando, devido à sua paralisação, a empresa teve seu Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo suspenso, o que, por si só, já justificaria a caducidade do contrato de concessão.

Os documentos acostados aos autos demonstram que a empresa não pos-sui capacidade econômico-financeira, técnica-operacional, jurídica e fiscal para manter-se como concessionária do serviço público de transporte aéreo regular. (...)

A concessão de serviços públicos implica o cumprimento, por parte da con-cessionária, de todos os princípios norteadores da própria concessão, dentre eles o da prestação do serviço adequado, o que no caso em tela, não há dúvida, o serviço simplesmente deixou de existir, quebrando, assim, os pressupostos de regulari-dade, continuidade, eficiência e segurança, previstos na Lei nº 8.987/95.

Configurado o inadimplemento, face à inexecução total do contrato de con-cessão, resta ao poder concedente declarar a caducidade da concessão.

Com base no referido relatório final, foi proferida a seguinte decisão (fl. 1537):

O Diretor-Geral do Departamento de Aviação Civil, no uso de suas atribui-ções, analisando os autos do Inquérito Administrativo instaurado pela Portaria DAC nº 1445/DGAC, de 17 de outubro de 2002, a fim de apurar o descumprimento da Cláusula XIII do Contrato de Concessão, firmado em 14 de julho de 1988 entre o Departamento de Aviação Civil e a Transbrasil S.A. Linhas Aéreas, resolve:

Com base no art. 1º, § 3º do Código Brasileiro de Aeronáutica, combinado com o art. 16, II da Portaria 536/CG5 de 18 de agosto de 1999 e no art. 35, III, da Lei 8.987/95, propor ao Exmo. Sr. Comandante da Aeronáutica a declaração de caducidade do Contrato de Concessão da Empresa Transbrasil S.A. Linhas Aéreas firmado entre a respectiva empresa e o Departamento de Aviação Civil em 14 de julho de 1988, face à sua inexecução total, bem como pela falta de capacidade eco-nômico-financeira, técnica-operacional, jurídica e fiscal da concessionária para a exploração do serviço público de transporte aéreo regular.

Dessa decisão, foi interposto recurso administrativo pela Impetrante, no qual alegava a nulidade absoluta de todo o processo, tendo em vista a violação aos princípios da ampla defesa e do contraditório, da razoabilidade, da isonomia e da motivação dos atos administrativos (fls. 2117-2154).

O recurso administrativo teve provimento negado pelo Ministro de Estado da Defesa (fl. 2296), com base no Parecer 96/Conjur-2004 (fls. 2266-2274).

A Impetrante então interpôs recurso hierárquico para o Exmo. Senhor Presidente da República (fls. 2305-2336), o qual negou-lhe provimento (fl. 2345).

Contra essa decisão, a Transbrasil impetra o presente mandado de segu- rança.

Page 163: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1163

Sustenta, em síntese, que foram violados os princípios da ampla defesa e do contraditório, assim como dispositivos da Lei 9.784/99, pois a Impetrante não teria sido comunicada da instauração do processo administrativo ou de qualquer ato nele praticado, não lhe tendo sido concedida oportunidade de proferir defesa de forma adequada. Alega, ainda, a ofensa aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, bem como ao princípio da igualdade, pois outras empresas do setor que estavam em situação idêntica não tiveram suas concessões decla-radas caducas, como ocorreu com a Impetrante, mas, ao contrário, tiveram tais concessões prorrogadas por ato do Exmo. Senhor Presidente da República.

Assim, requer a concessão da segurança para declarar a nulidade da de-cisão atacada e de todo o Processo Administrativo 00010.000013/2004-05, no qual foi declarada a caducidade do contrato de concessão firmado entre a Transbrasil e o DAC para prestação de serviços de transportes aéreos.

Os autos foram distribuídos à Presidência do Tribunal em 11 de janeiro de 2006, ocasião em que o Ministro Nelson Jobim deferiu a liminar, com o seguinte teor:

Transbrasil S.A. Linhas Aéreas impetra mandado de segurança, com pe-dido de liminar, contra ato do Presidente da República que, em recurso admi-nistrativo, determinou a retomada “(...) das áreas aeroportuárias da titularidade da União (...) que haviam sido concedidas à Impetrante pela Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – INFRAERO (...)” (Processo Administrativo 00010.000013/2004-5, DJ de 30-12-05, fls. 3/4).

O ato coator atacado declarou a caducidade da concessão outorgada à Impetrante para a prestação de serviços de transportes aéreos.

Afirma a Impetrante que não foi comunicada quanto ao processo adminis-trativo instaurado, em ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa.

Alega, ainda, os efeitos reflexos da referida decisão, eis que o ato atacado:“(...)está motivando a prolação de decisões judiciais a fim de destituí-la

das áreas aeroportuárias que foram construídas e edificadas às suas expen-sas ao longo dos seus 50 (cinqüenta) anos de (...) serviços prestados ao País (...)”(Fl. 55.)Diz que o relatório final foi elaborado sem que a Impetrante dele tivesse co-

nhecimento; interpôs recurso administrativo, para fins de declarar a nulidade de todo o processo administrativo, também denegado.

Interpôs também recurso administrativo hierárquico para o Presidente da República, para que fossem reconhecidas a ilegalidade e a inconstitucionalidade de todo o processo.

Os argumentos foram rejeitados e, em 30-12-05, foi publicada a decisão atacada.

Requer liminar para que seja suspensa a eficácia do ato impugnado,“(...) restabelecendo-se, de plano e até final julgamento do presente

mandamus a condição de concessionária de transporte aéreo da Impetrante.(...)”

(Fl. 58.)

Page 164: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051164

Pede, ainda, com fundamento no art. 6º, parágrafo único, da Lei 1.533/51:“(...)(...) seja o Comando da Aeronáutica, o Exmo. Sr. Ministro de Estado

da Defesa e o Exmo. Sr. Presidente da República notificados para enca-minhar a estes autos, no prazo de 10 (dez) dias, cópia do instrumento de concessão para a prestação de serviço de transporte aéreo outorgada às empresas Viação São Paulo S/A – VASP e Viação Rio Grandense S/A – VARIG, bem como cópia integral de eventual processo administrativo obje-tivando a declaração da caducidade de tais contratos de concessão.

(...)”(Fl. 58.)Decido.Tanto nos processos administrativos quanto nos processos judiciais neces-

sária se faz a garantia dos princípios do contraditório e da ampla defesa, nos ter-mos do art. 5º, LV e LIV, da CF, bem como da Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito da administração pública federal.

Verifico presentes os requisitos do art. 7º, II, da Lei 1.533/51 eis que os efei-tos da não-concessão da liminar parecem-me, em um primeiro momento, mais desastrosos que a sua concessão.

Defiro a liminar para fins de suspender a eficácia do ato impugnado, res-tabelecendo-se a Impetrante na condição de concessionária de transporte aéreo.O Presidente da República prestou informações às fls. 3048-3075, em que

afirma o seguinte:a) o mandado de segurança, por não comportar exame fático-probatório, é ação inidônea para anular uma decisão do Departamento de Aviação Civil e conceder novamente à Transbrasil o status de concessionária de serviços de transporte aéreo, o que dependeria de análise prévia de diversos requi-sitos técnicos, especialmente relacionados à segurança de vôo e à manu-tenção de aeronaves;b) a petição inicial, ao descrever o histórico da Transbrasil na prestação de serviços de transporte aéreo, culminando com os fatos que explicitam a crise por que passa a empresa, os débitos bilionários por ela suportados, sua situação falimentar etc., deixa claro que a empresa atualmente não tem a menor condição de ser concessionária desse serviço;c) a Impetrante deixou de operar sua rede de linhas aéreas em 3 de dezem-bro de 2001 e apenas em outubro de 2002 é que o DAC instaurou processo administrativo para apurar o descumprimento do contrato de concessão. Nesse interregno, foram realizadas várias tentativas para tentar reerguer a empresa, as quais restaram infrutíferas. Isso só comprova que não houve qualquer tratamento antiisonômico entre empresas do setor por parte do DAC;d) a Impetrante não menciona na petição inicial que a Portaria 1445/DGAC foi publicada nos Boletins Interno e Externo Ostensivo do DAC, de 24 de outubro de 2002, e que o próprio DAC a encaminhou para publicação no Diário Oficial da União. A Imprensa Nacional não o fez baseando-se na

Page 165: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1165

letra h do inciso II do art. 14 do Anexo I da Portaria IN 190, de 16-10-01, que prescreve que tal ato não é publicável do DOU. Portanto, teria sido dada a publicidade necessária ao ato de instauração do processo adminis-trativo. O fato foi tão notório que na época recebeu ampla divulgação na imprensa nacional;e) alguns dias depois da instauração do processo administrativo, a Impetrante constituiu advogados nos autos, o que demonstra o seu pleno conhecimento do que estava ocorrendo;f) não havia necessidade de informar a Impetrante sobre o envio de cada ofício aos órgãos públicos encarregados de prestar informações no pro-cesso. Ademais, não houve colheita de testemunhos antes do ingresso da Impetrante no feito; g) mesmo que se pudesse falar em nulidade, seria preciso levar em conta que não houve qualquer prejuízo à Impetrante, aplicando-se, ao caso, o princípio pas de nullité sans grief, que tem o condão de afastar a nulidade. Cita precedentes desta Corte.Os autos foram a mim distribuídos em 2 de fevereiro de 2006 (fl. 3446).O Procurador-Geral da República proferiu parecer pela denegação da or-

dem (fls. 3497-3499), resumido na seguinte ementa:

Mandado de segurança contra decisão que manteve a declaração de cadu-cidade da concessão outorgada à Transbrasil S/A Linhas Aéreas, para a presta-ção de serviços de transportes aéreos.

– A Impetrante foi citada por meio apto a atingir o seu conhecimento.– Comparecimento espontâneo da Impetrante. Princípio da instrumentali-

dade de formas, em razão do qual “não há nulidade sem prejuízo” (pas de nullité sans grief ).

– Impossibilidade de se utilizar, como escusa do cumprimento de obriga-ções contratuais, o inadimplemento de deveres análogos por outras companhias aéreas.

– Parecer pela denegação da segurança.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): O presente mandado de segu-rança, apesar de sua importância e ampla repercussão no setor nacional de avia-ção civil, não contempla maiores controvérsias de índole jurídica, encontrando solução por meio da análise pormenorizada do vasto conteúdo documental jun-tado aos autos.

A questão debatida cinge-se em saber se a Impetrante teve violados seus direitos à ampla defesa e ao contraditório no processo administrativo instaurado com o objetivo de apurar a ocorrência das causas legais para a declaração de

Page 166: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051166

caducidade do contrato de concessão para prestação do serviço de transporte aéreo. A resposta está nos documentos juntados pela própria Impetrante.

Tenha-se em conta, portanto, que o exame sumário dos autos realizado pelo Ministro Nelson Jobim, quando da apreciação, inaudita altera pars, do pedido de medida cautelar, não possibilitou o pleno conhecimento dos fatos en-volvidos no processo administrativo, e por isso culminou em julgamento limi-nar amparado apenas no relato presente na peça inicial, o qual não condiz com a verdade processual revelada pelo conteúdo documental constante nos autos deste writ.

Se o direito líquido e certo amparado por mandado de segurança nada mais é do que aquele cuja existência e delimitação são claras e passíveis de de-monstração documental, como consagrado na doutrina e na jurisprudência, é fácil aferir, no presente caso, a sua cabal inexistência.

Isso porque os documentos que acompanham o pedido inicial formulado pela Impetrante demonstram, de forma indubitável, justamente a ausência de violação aos princípios da ampla defesa e do contraditório.

Em outras ocasiões, tenho afirmado neste Tribunal que a garantia funda-mental do contraditório e da ampla defesa, com os meios e recursos a ela ine-rentes, contempla, no seu âmbito de proteção, não apenas os processos judiciais, mas também os administrativos.

Há muito vem a doutrina constitucional enfatizando que o direito de defesa não se resume a um simples direito de manifestação no processo. Efetivamente, o que o constituinte pretende assegurar – como bem anota Pontes de Miranda – é uma pretensão à tutela jurídica (Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda 1, 1969. T. V, p. 234).

Observe-se que não se cuida aqui, sequer, de uma inovação doutriná-ria ou jurisprudencial. Já o clássico João Barbalho, nos seus Comentários à Constituição de 1891, asseverava, com precisão, que:

Com a plena defesa são incompatíveis, e, portanto, inteiramente, inadmissí-veis, os processos secretos, inquisitoriais, as devassas, a queixa ou o depoimento de inimigo capital, o julgamento de crimes inafiançáveis na ausência do acusado ou tendo-se dado a produção das testemunhas de acusação sem ao acusado se per-mitir reinquiri-las, a incomunicabilidade depois da denúncia, o juramento do réu, o interrogatório dele sob coação de qualquer natureza, por perguntas sugestivas ou capciosas.(Constituição Federal Brasileira – Comentários, Rio de Janeiro, 1902, p. 323.)

Não é outra a avaliação do tema no direito constitucional comparado. Apreciando o chamado Anspruch auf rechtliches Gehör (pretensão à tutela jurídica) no direito alemão, assinala o Bundesverfassungsgericht que essa pretensão envolve não só o direito de manifestação e o direito de informa-ção sobre o objeto do processo, mas também o direito do indivíduo de ver os

Page 167: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1167

seus argumentos contemplados pelo órgão incumbido de julgar (cf. decisão da Corte Constitucional alemã – BVerfGE 70, 288-293; sobre o assunto, ver, tam-bém, PIEROTH, Bodo; SCHLINK, Bernhard. Grundrechte – Staatsrecht II. Heidelberg, 1988, p. 281; BATTIS, Ulrich; GUSY, Christoph. Einführung in das Staatsrecht. 3. ed. Heidelberg, 1991, p. 363-364).

Daí afirmar-se, correntemente, que a pretensão à tutela jurídica, que cor-responde exatamente à garantia consagrada no art. 5º, LV, da Constituição, con-tém os seguintes direitos:

1) direito de informação (Recht auf Information), que obriga o ór-gão julgador a informar à parte contrária dos atos praticados no processo e sobre os elementos dele constantes;

2) direito de manifestação (Recht auf Äusserung), que assegura ao defendente a possibilidade de manifestar-se oralmente ou por escrito sobre os elementos fáticos e jurídicos constantes do processo;

3) direito de ver seus argumentos considerados (Recht auf Berück-sichtigung), que exige do julgador capacidade, apreensão e isenção de ânimo (Aufnahmefähigkeit und Aufnahmebereitschaft) para contem-plar as razões apresentadas (Cf. PIEROTH; SCHLINK. Grundrechte – Staatsrecht II. Heidelberg, 1988, p. 281; BATTIS; GUSY. Einführung in das Staatsrecht. Heidelberg, 1991, p. 363-364; Ver, também, DÜRIG/ASSMANN. In: MAUNZ-DÜRIG. Grundgesetz-Kommentar. Art. 103, v. IV, n. 85-99).Sobre o direito de ver os seus argumentos contemplados pelo órgão jul-

gador (Recht auf Berücksichtigung), que corresponde, obviamente, ao dever do juiz ou da administração de a eles conferir atenção (Beachtenspflicht), pode-se afirmar que ele envolve não só o dever de tomar conhecimento (Kenntnisnahmepflicht), como também o de considerar, séria e detidamente, as razões apresentadas (Erwägungspflicht) (Cf. DÜRIG/ASSMANN. In: MAUNZ-DÜRIGi. Grundgesetz-Kommentar. Art. 103, v. IV, n. 97).

É da obrigação de considerar as razões apresentadas que deriva o de-ver de fundamentar as decisões (Decisão da Corte Constitucional – BVerfGE 11, 218 (218); Cf. DÜRIG/ASSMANN. In: MAUNZ-DÜRIG. Grundgesetz-Kommentar. Art. 103, v. IV, n. 97).

Dessa perspectiva não se afastou a Lei 9.784, de 29-1-99, que regula o processo administrativo no âmbito da administração pública federal. O art. 2º desse diploma legal determina, expressamente, que a administração pública obedecerá aos princípios da ampla defesa e do contraditório. O parágrafo único desse dispositivo estabelece que nos processos administrativos serão observa-dos, dentre outros, os critérios de “observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados” (inciso VIII) e de “garantia dos direitos à comunicação” (inciso X).

Page 168: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051168

A verificação, no caso concreto, da não-observância das garantias da ampla defesa e do contraditório, em toda sua amplitude, depende da análise de todas as circunstâncias envolvidas na produção das formalidades processuais e a decisão final delas resultante.

Como bem esclarece García de Enterría, “este mismo concepto de indefen-sión es un concepto relativo, cuya valoración exige colocarse en una perspec-tiva dinámica o funcional, es decir, en una perspectiva que permita contemplar el procedimiento en su conjunto y el acto final como resultado de la integra-ción de trámites y actuaciones de distinta clase y procedencia, en los que el particular va teniendo oportunidades sucesivas de defenderse y de poner de relieve ante la Administración sus puntos de vista” (GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo; FERNÁNDEZ, Tomás-Ramón. Curso de Derecho Administrativo I. 12. ed. Madrid: Civitas, 2004, p. 650).

No presente caso, o exame nesses termos não foi capaz de revelar qual-quer afronta ao contraditório e à ampla defesa, assim como às garantias deles decorrentes.

Quanto à alegação da Impetrante de falta de publicação ou de qualquer outra forma de comunicação do ato de instauração do processo administrativo, basta verificar o seguinte.

Como se pode aferir à fl. 304 dos autos, a chefe da Assessoria Jurídica do Departamento de Aviação Civil, por meio de ofício encaminhado à coordenadora de Editoração e Divulgação da Imprensa Nacional – demonstrando preocupação em relação ao cumprimento dos princípios da ampla defesa e do contraditório, assim como da Lei 9.784/99 –, solicitou a publicação da Portaria 1.445/DGAC no Diário Oficial da União. Eis o teor do referido ofício, presente à fl. 304 dos autos:

Senhora Coordenadora,Encaminho a V. Sa. cópia da Portaria nº 1445/DGAC, de 17 de outubro de

2002, solicitando a sua publicação no Diário Oficial da União, para que produza os seus regulares efeitos ou, se não for possível, que sejam esclarecidos e fundamen-tados os motivos da eventual impossibilidade da citada publicação.

Lembro que, além dos princípios norteadores da administração pública expressos no art. 37, “caput”, da Constituição Federal, a presente publicação faz-se necessária considerando o disposto no inciso V, do art. 2º da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal.

Assim, solicito com a urgência possível, a manifestação desse Órgão oficial para fins de orientar as ações da Comissão do respectivo Processo Administrativo.(Ênfases acrescidas.)

Em resposta a esse ofício, a coordenadora de Editoração e Divulgação da Imprensa Nacional assim se pronunciou (fl. 301):

Senhora Chefe,Em referência à mensagem S/N 303/ASS JUR/2002, datada de 11/11/2002,

informamos a Vossa Senhoria que a Portaria DAC nº 1.445/DGAC, de 17 de

Page 169: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1169

outubro de 2002, não é publicável no DOU, de acordo com a letra h do inciso II do art. 14 do Anexo I da Portaria IN nº 190, de 16/10/2001 (publicada no DOU de 17/10/2001, Seção I).(Ênfases acrescidas.)

De fato, como consta nas informações prestadas pelo Presidente da República, “não havia, e não há, em norma vigente, a obrigatoriedade de ser o diário oficial o único meio hábil de veicular o início de um procedimento dessa natureza” (fl. 3064).

De qualquer forma, a Portaria 1445/DGAC foi publicada nos boletins interno e externo ostensivo do DAC, de 24 de outubro de 2002, de acompa-nhamento obrigatório pelas empresas concessionárias do serviço de transporte aéreo, como afirma o Ministério da Defesa (fl. 3080).

Não bastasse isso, ressalte-se também que a Impetrante, logo após a ins-tauração dos trabalhos da comissão, ingressou nos autos do processo adminis-trativo, por meio de advogado, solicitando cópias do referido processo, como comprovam a petição e o substabelecimento que constam às fls. 319-320. O simples fato do imediato ingresso da Impetrante nos autos do processo adminis-trativo, por meio de seus advogados devidamente constituídos, afasta qualquer hipótese de nulidade quanto ao procedimento de intimação. A Lei 9.784/99, em seu art. 26, § 5º, diz que “as intimações serão nulas quando feitas sem observân-cia das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidade”.

Essa é, portanto, mais uma prova de que não poderia a Impetrante, por meio deste writ, alegar desconhecimento da instauração do processo adminis-trativo e das diligências nele realizadas.

Da mesma forma, não procedem os argumentos de ofensa aos direitos de informação e de manifestação.

Os documentos presentes nos autos atestam que a Impetrante teve conhe-cimento de todos os atos praticados no processo administrativo e sobre eles pro-duziu manifestação. Para comprovar essa afirmação, basta mencionar os ofícios encaminhados pela Transbrasil à comissão de processo administrativo indi-cando pessoas para prestar esclarecimentos (fls. 816-817), solicitando reagen-damento de reuniões para apresentação de planos de negócios da empresa (fls. 873/877), informando a realização de assembléia geral extraordinária visando à reestruturação societária da companhia (fl. 894), esclarecendo o cumprimento de providências solicitadas pela comissão (fl. 898), apresentando documentação sobre as condições econômico-financeiras da companhia (fl. 900), solicitando vista dos autos para cópia (fl. 1125). Frise-se que alguns desses ofícios são subs-critos pelos mesmos patronos da Impetrante que subscrevem a peça inicial deste writ.

Aliás, é importante destacar, também, que, antes da instauração do pro-cesso administrativo em causa, os mesmos advogados já estavam constituí-dos pelo Espólio de Omar Fontana, acionista majoritário da Transbrasil, para

Page 170: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051170

representá-lo perante o Departamento de Aviação Civil no processo de regu-larização societária da empresa (recomposição dos cargos de sua Diretoria, Conselho Superior de Administração e Conselho Fiscal) (fls. 1406, 1435).

Em ofício datado de 22 de agosto de 2002, o Diretor-Geral do DAC já ha-via alertado à Impetrante que o descumprimento da cláusula XIII do contrato de concessão poderia ensejar a instauração de processo administrativo, tendo por objeto a declaração de caducidade dessa concessão (fl. 1370).

Em outro ofício, de 1º de outubro de 2002, o DAC informa à Impetrante que estaria tomando as medidas administrativas para tanto (fls. 1463/1464).

Ressalte-se, ainda, que, como consta do relatório produzido pela Comissão de Processo Administrativo (fls. 765-772), no dia 18 de dezembro de 2002, ou seja, no início do processo administrativo, foram inquiridos a Sra. Denilda Pereira Fontana, na qualidade de representante legal do Espólio de Omar Fontana, e o Sr. Antonio Celso Cipriani, na qualidade de Presidente do Conselho Superior de Administração da Impetrante (fl. 771).

Diante de todos esses fatos, fartamente comprovados pelos documentos juntados aos autos pela própria Impetrante, não há como dar credibilidade às alegações de desconhecimento da instauração do processo administrativo e dos atos nele praticados.

Está plenamente demonstrado que à Impetrante foram assegurados os direitos de informação sobre os atos produzidos no processo, de manifestação sobre seu conteúdo e de ter seus argumentos devidamente considerados pela autoridade administrativa.

Sobre a improcedência dos argumentos da Impetrante, o parecer do Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, assim dispõe:

Não assiste razão à impetrante.Verifica-se, pelas argumentações empreendidas por ambas as partes, que,

embora inexistente publicação no Diário Oficial da União, repise-se, por mani-festa rejeição da imprensa oficial, a impetrante foi citada por meio apto a atingir o seu conhecimento, isto é, pelos boletins do Departamento de Aviação Civil – DAC, que, como afirmou a autoridade impetrada, são de observância obrigatória a todas as companhias aéreas.

Posto que assim não fosse, a nulidade teria, claramente, sido saneada pelo comparecimento espontâneo da impetrante, por meio da habilitação de procura-dores nos autos do procedimento administrativo. Aplica-se no caso o princípio da instrumentalidade de formas, em razão do qual ‘não há nulidade sem prejuízo’ (pas de nullité sans grief ).

Não convence a tese de que a impetrante se reportara a outro processo ad-ministrativo, quando da habilitação dos causídicos (fls. 3483-3484), mormente por que sequer foi apontado qual procedimento seria este ou o porquê da realização de tal ato.

Outrossim, a impetrante não pode se utilizar, como escusa do cumprimento de suas obrigações contratuais, do suposto inadimplemento de deveres análogos

Page 171: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1171

por outras companhias aéreas. Resta evidente que as situações fáticas que carac-terizam as diversas empresas desse segmento são distintas, reclamando formas distintas de resolução das pendências. Revelam-se improcedentes, portanto, as alegações referentes a lesões aos princípios da igualdade, da razoabilidade e da proporcionalidade.

Ante o exposto, o parecer é pela denegação da segurança.

A Transbrasil S.A. Linhas Aéreas interrompeu de forma unilateral suas operações em 3 de dezembro de 2001. O fato é notório e foi amplamente di-vulgado pela imprensa. Segundo consta dos documentos juntados ao processo, após esse fato, o Departamento de Aviação Civil, em vez de declarar a caduci-dade da concessão do serviço, permitiu que a Transbrasil realizasse todas as tentativas possíveis para sua reestruturação societária, econômico-financeira e técnico-administrativa, com vistas ao devido retorno de suas atividades.

Apenas quando decorridos mais de dez meses da interrupção dos serviços é que o DAC resolveu instaurar processo para apurar o descumprimento do con-trato de concessão pela Transbrasil.

Frise-se que, de acordo com a Portaria 536/CG5, de 18 de agosto de 1999, que aprova as instruções que regulamentam os pedidos de concessão para ex-ploração dos serviços aéreos públicos, o DAC já poderia ter declarado a caduci-dade do contrato no momento em que completados 6 (seis) meses de interrupção dos serviços. Diz o art. 12 da referida portaria:

Art. 12. A concessão caducará de pleno direito, independentemente de interpelação:

I – se os serviços não forem iniciados no prazo de 6 (seis) meses a contar da data da assinatura do contrato de concessão;

II – se os serviços ficarem interrompidos por mais de 6 (seis) meses, salvo por motivo de força maior, plenamente comprovado;

III – se expirar o prazo de concessão;IV – a pedido da concessionária.

O Código Brasileiro de Aeronáutica, por sua vez, estabelece que:

Art. 289. Na infração aos preceitos deste Código ou da legislação com-plementar, a autoridade aeronáutica poderá tomar as seguintes providências administrativas:

I – multa;II – suspensão de certificados, licenças, concessões ou autorizações;III – cassação de certificados, licenças, concessões ou autorizações;IV – detenção, interdição ou apreensão de aeronave, ou do material

transportado;V – intervenção nas empresas concessionárias ou autorizadas.

A Lei 8.987/95, que dispõe sobre o regime de concessão de serviços públi-cos, prevê a declaração de caducidade por interrupção do serviço, da seguinte forma:

Page 172: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051172

Art. 38. A inexecução total ou parcial do contrato acarretará, a critério do poder concedente, a declaração de caducidade da concessão ou a aplicação das sanções contratuais, respeitadas as disposições deste artigo, do art. 27, e as nor-mas convencionadas entre as partes.

§ 1º A caducidade da concessão poderá ser declarada pelo poder concedente quando:

I – o serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ou deficiente, tendo por base as normas, critérios, indicadores e parâmetros definidores da qua-lidade do serviço;

II – a concessionária descumprir cláusulas contratuais ou disposições legais ou regulamentares concernentes à concessão;

III – a concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tanto, ressalva-das as hipóteses decorrentes de caso fortuito ou força maior;

IV – a concessionária perder as condições econômicas, técnicas ou opera-cionais para manter a adequada prestação do serviço concedido;

V – a concessionária não cumprir as penalidades impostas por infrações, nos devidos prazos;

VI – a concessionária não atender a intimação do poder concedente no sen-tido de regularizar a prestação do serviço; e

VII – a concessionária for condenada em sentença transitada em julgado por sonegação de tributos, inclusive contribuições sociais.

§ 2º A declaração da caducidade da concessão deverá ser precedida da veri-ficação da inadimplência da concessionária em processo administrativo, assegu-rado o direito de ampla defesa.

§ 3º Não será instaurado processo administrativo de inadimplência antes de comunicados à concessionária, detalhadamente, os descumprimentos contratuais referidos no § 1º deste artigo, dando-lhe um prazo para corrigir as falhas e trans-gressões apontadas e para o enquadramento, nos termos contratuais.

§ 4º Instaurado o processo administrativo e comprovada a inadimplência, a caducidade será declarada por decreto do poder concedente, independentemente de indenização prévia, calculada no decurso do processo.

§ 5º A indenização de que trata o parágrafo anterior, será devida na forma do art. 36 desta Lei e do contrato, descontado o valor das multas contratuais e dos danos causados pela concessionária.

§ 6º Declarada a caducidade, não resultará para o poder concedente qual-quer espécie de responsabilidade em relação aos encargos, ônus, obrigações ou compromissos com terceiros ou com empregados da concessionária.

A continuidade do serviço é princípio que rege o regime de concessão de serviços públicos, como estabelece o art. 6º da Lei 8.987/95:

Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço ade-quado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.

§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, conti-nuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.

§ 2º A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipa-mento e das instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.

Page 173: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1173

§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:

I – motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,II – por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

Segundo informa o Ministério da Defesa, a declaração de caducidade ocorreu somente em 11 de outubro de 2003, ou seja, quase dois anos após a in-terrupção unilateral do serviço por parte da Transbrasil.

A Impetrante sempre esteve ciente de que a paralisação dos serviços acar-retaria a declaração de caducidade da concessão, por força das normas legais acima mencionadas.

Decorridos mais de dez meses desde a concessão da liminar pelo Ministro Nelson Jobim, restabelecendo a Impetrante na condição de concessionária do serviço de transporte aéreo, não se tem notícia sequer da possibilidade do re-torno de suas atividades.

Portanto, é preciso ponderar se a eventual restauração do processo admi-nistrativo, com a conseqüente repetição de todos os atos supostamente eivados de nulidade, como alega a Impetrante, teria o condão de produzir uma decisão de conteúdo material diverso do que foi adotado.

As circunstâncias envolvidas neste processo atestam que a eventual con-cessão da ordem, nos termos em que requerida, produziria apenas uma inútil repetição de atos que culminariam, em qualquer hipótese, na mesma decisão, qual seja, a destituição da Impetrante do status de concessionária do serviço de transporte aéreo.

Nesses termos, voto pela denegação da ordem, ficando cassada a medida liminar anteriormente deferida.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhora Presidente, causou-me muita apre-ensão este mandado de segurança pela gravidade e pelo que o Ministro Relator acaba de justificar. É que a Lei 8.987 estabelece, nos casos de caducidade:

Art. 38. (...)§ 3º Não será instaurado processo administrativo de inadimplência antes de

comunicados à concessionária, detalhadamente, os descumprimentos contratuais referidos no § 1º deste artigo, dando-lhe um prazo para corrigir as falhas e trans-gressões apontadas e para o enquadramento, nos termos contratuais.

Considerando isso, quando li a petição inicial, independentemente do com-parecimento, observei um vício grave, mas que, depois – como mostrou agora e os próprios argumentos e fundamentos trazidos, inclusive, pela Advocacia-Geral da União deixam claro –, fez-se incidir na espécie: primeiro, a compro-vação de que houve esse comunicado prévio – o Ministro Relator acaba de dar as datas; segundo, passou a incidir, realmente, aqui, a legislação específica do

Page 174: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051174

Processo Administrativo 9.784, segundo a qual, quando comparece espontanea-mente, a parte não pode alegar a não-possibilidade de ampla defesa.

Razão pela qual acompanho o voto do Ministro Relator e denego a segu- rança.

VOTO

O Sr. Ministro Eros Grau: Senhora Presidente, tenho algumas dúvidas em relação à seguinte circunstância: aprendi com Von Ihering que a forma é irmã gêmea da liberdade. Temos, neste Tribunal, privilegiado a forma, algumas vezes com redobrado vigor.

Neste caso, especificamente, o requisito formal aparentemente não foi cumprido. Estava com alguma dificuldade para localizar o texto, não sei se é o inciso V ou X do art. 2º da Lei 9.784. Mas não importa, exige o cumprimento de um requisito formal. Durante todo esse tempo, procurei localizar um acórdão do Tribunal do qual, se bem me lembro, o Relator é o Ministro Marco Aurélio. S.Exa. poderia me auxiliar neste momento. Acórdão no qual se examina exa-tamente esta questão: a imprescindibilidade de atendimento a determinados requisitos formais. No caso isso me parece que não foi atendido. Ministro Gilmar Mendes: indagaria se houve, efetivamente, uma dificuldade. A própria autoridade administrativa teria reclamado ou solicitado à Imprensa Oficial que houvesse a publicação. Isso é verdade?

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): É verdade.O Sr. Ministro Eros Grau: Ou seja, diria que, rigorosamente, o requisito

formal não foi cumprido.O Sr. Ministro Marco Aurélio: Teria havido a recusa do Diário em publicar

a portaria. O que se fez então? Em vez de se adotar o mesmo procedimento apli-cado em relação a outros órgãos, com expedição de ofícios, objetivando coligir elementos, publicou-se, em verdadeira ciência – que eu diria ficta –, no boletim do DAC a instauração do processo. A questão é a seguinte: essa publicação, por si só, mostra-se suficiente a entender-se a concessionária como devidamente cientificada da existência do processo administrativo? O Tribunal, realmente, tem precedente da minha lavra no RE 158.543-9/RS, quando resumi o entendi-mento prevalecente desta forma:

Ato administrativo – Repercussões – Presunção de legitimidade – Situação constituída – [que é o caso, situação constituída mediante uma relação que não é uma relação precária, é uma concessão, não uma simples permissão] – Interesses contrapostos – Anulação – Contraditório. Tratando-se da anulação de ato admi-nistrativo cuja formalização haja repercutido no campo de interesses individuais, [quer dizer, interesse de terceiros] a anulação não prescinde da observância do contraditório, ou seja, da instauração de processo administrativo que enseje a au-dição daqueles que terão modificada situação já alcançada. Presunção de legitimi-dade do ato administrativo praticado, que não pode ser afastada unilateralmente, porque é comum à Administração e ao particular.

Page 175: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1175

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Tenho a impressão, Ministro Marco Aurélio, de que concordaria e subscreveria essas razões, até porque tenho vastíssimos votos e precedentes nessa matéria também. Agora, no caso espe-cífico, não há como negar que a empresa atuou durante todo o tempo pedindo informações.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: A rigor, esta celeuma em termos do Diário Oficial é inútil, porque publicação em diário oficial não é forma de cita-ção também.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Excelência, ouvi uma referência à atuação de profissional da advocacia por um espólio, espólio de um sócio majoritário, não da empresa em si.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): A própria empresa.A Sra. Ministra Cármen Lúcia: O mesmo advogado passou a atuar pela

empresa.O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Os mesmos advogados que são,

agora, Impetrantes são também advogados no processo.O Sr. Ministro Marco Aurélio: Houve a tramitação do processo, a prática

de diligências.O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): A apresentação de pedidos de

reagendamento de reunião, apresentação de propostas de reestruturação da empresa, tudo que se imagina num procedimento administrativo tão complexo como este, porque poderia envolver até o resgate.

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Não tenho dúvida de que este ato ini-cial, chame-se ou não de citação, é nulo.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Ministro, por que, de início, não se cien-tificou a empresa? Por que, de início, partiu-se para a tentativa de cientificação ficta mediante publicação no Diário – recusada – e, depois, publicação em um simples boletim do DAC?

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Ministro Marco Aurélio, se não tiver havido – e este é o ponto que estamos a esclarecer com o Relator –, depois, intervenções que tornem irrelevante esse defeito, creio que estaríamos unani-memente de acordo em que esta citação ou notificação – como se queira chamar – do início do processo, fosse feita pelo Diário Oficial, fosse feita pelo boletim do DAC, é nula.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Sem dúvida. Porque admitimos a intimação ficta quando já há conhecimento do processo em curso. É algo diverso.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): No meu voto destaquei:

Para comprovar essa afirmação, basta mencionar os ofícios encaminhados pela Transbrasil à comissão de processo administrativo indicando pessoas para prestar esclarecimentos (fls. 816-817), solicitando reagendamento de reuniões para apre- sentação de planos de negócios da empresa (fls. 873/877), informando a realização

Page 176: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051176

de assembléia geral extraordinária visando à reestruturação societária da com-panhia (fl. 894), esclarecendo o cumprimento de providências solicitadas pela comissão (fl. 898), apresentando documentação sobre as condições econômico-financeiras da companhia (fl. 900), solicitando vista dos autos para cópia (fl. 1125).

Na verdade, tudo que se poderia fazer num processo.A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Mais ainda, Ministro. Foi enfatizado aqui

que o § 5º do art. 26 da Lei 97.084, que trata exatamente da comunicação dos atos, afirma expressamente:

§ 5º As intimações serão nulas quando feitas sem observância das pres-crições legais, mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidade.

Essa é a lei do processo administrativo.O Sr. Ministro Marco Aurélio: Em que estágio teria ocorrido esse

comparecimento?O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Isso eu gostaria também de ouvir do

Relator: é certo que, antes disso, só se havia deliberado expedir uma série de ofícios pedindo informações?

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Sim. Na verdade, são informa-ções que integram a parte instrutória deste processo: dívida na Infraero, dívida junto à Petrobras. Aqui, há manifestações da Shell do Brasil.

O Sr. Ministro Celso de Mello: Há uma passagem que me parece impor-tante, constante das informações prestadas pelo Senhor Presidente da República e cujo teor desautoriza o fundamento de nulidade formal em causa. Refiro-me ao fato – acentuado pelo Senhor Presidente da República – de que, não tivesse a empresa ora Impetrante tomado ciência da instauração do processo adminis-trativo em referência, não teria ela constituído procuradores para atuar no feito. O fato é que a Transbrasil compareceu aos autos, fazendo-o logo no início do procedimento administrativo em questão. Tal fato, por si só, permite – como re-ferido pela eminente Ministra CÁRMEN LÚCIA – a invocação e aplicação, ao caso, do que dispõe o § 5º do art. 26 da Lei 9.784/99, segundo o qual “As inti-mações serão nulas quando feitas sem observância das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado supre sua falta ou irregularidade” (grifei).

Tenho para mim que a empresa ora Impetrante invoca razões destituídas de qualquer fundamento, pois não só teve conhecimento inequívoco do men-cionado processo administrativo, como, também, nele interveio, desde o início, de maneira ativa, como o registram as informações veiculadas pela Presidência da República:

A companhia aérea participou ativamente do feito desde seu início, va-lendo-se, inclusive, de todos os recursos e defesa possíveis.

Page 177: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1177

Vê-se, portanto, que a empresa em questão participou, desde o estágio ini-cial, do processo administrativo em causa. Não me parece haja qualquer dúvida sobre o estágio processual em que se deu a sua intervenção.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Resta saber o estágio.O Sr. Ministro Cezar Peluso: V. Exa. me permite? A minha dúvida – li-

gada também às dúvidas suscitadas pelos Ministros Marco Aurélio e Eros Grau – vem do fato de que V. Exa., agora, afirma que as diligências determinadas antes da intervenção efetiva da ora Impetrante no processo foram para obter informações.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Isso foi dito no voto.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Sim. Informações sobre o quê? A meu ver, o

problema grave é que a portaria não descreve nenhum fato.O Sr. Ministro Marco Aurélio: Refere-se a uma cláusula que contempla

várias situações.O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Os fatos eram notórios, Ministro Cezar

Peluso, o Brasil inteiro os conhecia.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Ministro, se todo mundo pudesse ser con-

denado por fato notório sem denúncia apta, estaríamos perdidos. Ser notório e público o fato não é suficiente para condenar ninguém, nem para retirar do pa-trimônio de ninguém algum direito subjetivo.

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Não se trata de condenar ainda.A Sra. Ministra Cármen Lúcia: A referência na portaria, Ministro Cezar

Peluso, é a uma cláusula que estaria sendo descumprida, parece-me que a cláu-sula XIII.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: É como se fora denúncia que fizesse referên-cia a artigo do Código Penal que teria sido descumprido, sem descrever o fato que o teria violado.

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Absolutamente não.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Esta cláusula pode ser descumprida por di-

versos fatos. Qual o fato ou os fatos?O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Neste caso é a interrupção do

próprio serviço.O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Claro! Esse é o fato notório.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Ministro, este é o problema: V. Exa. acabou

de referir agora – por isso me chamou a atenção – que a autoridade administra-tiva expediu vários ofícios para esclarecer outros fatos. Que fatos?

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Na verdade, como vimos, a empresa pode até voltar a funcionar, esse é um processo administrativo com-plexo que pode permitir que a empresa volte a funcionar. Daí ter-se discutido reestruturação societária, ter-se discutido esses outros fatos. Então, nesse

Page 178: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051178

procedimento administrativo complexo, buscava-se esse tipo de esclarecimento. Agora, evidentemente o fato que determinou a portaria foi a cessação da pres-tação do serviço.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Uma vez que V. Exa. teve acesso aos au-tos, poderia esclarecer se isso estava claro, se a intervenção espontânea da ora Impetrante nos autos lhe permitia tomar ciência adequada dos fatos que confi-gurariam o descumprimento da cláusula XIII do contrato de concessão?

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Creio que a interrupção dos serviços jamais foi negada pela Impetrante.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): A portaria tinha esse objeto e todas as propostas – inclusive, fiz aqui um resumo das várias intervenções.

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: A cronologia mostra isso, ela interveio menos de vinte dias depois.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Veja o seguinte:

Para comprovar essa afirmação, basta mencionar os ofícios encaminhados pela Transbrasil à Comissão de Processo Administrativo indicando pessoas para prestar esclarecimentos (fls. 816-817), solicitando reagendamento de reuniões para apresentação de planos de negócios da empresa (fls. 873/877) [visando o quê? Resgatar a atividade normal da empresa], informando a realização de assembléia geral extraordinária visando à reestruturação societária da companhia (fl. 894), esclarecendo o cumprimento de providências solicitadas pela comissão (fl. 898), apresentando documentação sobre as condições econômico-financeiras da com-panhia (fl. 900), solicitando vista dos autos para cópia (fl. 1125).

Tudo que levaria, na verdade, a obstar a declaração de caducidade que se ameaçava.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Só queria ser esclarecido se foi uma inter-venção eficaz, porque se pode intervir nos autos sem saber do que se trata. Esse é o problema.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Não consigo imaginar, dentro do processo administrativo, afora essa questão formal, que já destaquei, nem me parece que caiba à imprensa oficial fazer esse tipo de ressalva, mas o dado é que se deu.

O Sr. Álvaro Augusto Ribeiro Costa (Advogado-Geral da União): Ministro Relator, pediria um esclarecimento de fato sobre, exatamente, esse ponto. Apenas para esclarecer que, ao contrário do que pode ter sido pensado, não se tentou fazer a publicação pelo Diário Oficial e, depois, fez-se por outra. Não, fez-se o que era o normal fazer, no boletim interno e no ostensivo, e, a título de complemento, é que foi encaminhado o pedido de publicação no Diário Oficial.

O Sr. Ministro Carlos Britto: Nesse contexto da citação do boletim in-terno e externo, que não por acaso é adjetivado de ostensivo, porque é o modo regular pelo qual o DAC se comunica com as empresas concessionárias de

Page 179: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1179

serviço público da área, é exatamente por isso que me remeto para o art. 175 da Constituição, que explicitamente prevê o caráter especial desses contratos, ou seja, a especialidade alcança também um modo de comunicação heterodoxo. Esses boletins são acompanhados diuturnamente, regularmente, pelas empresas concessionárias, porque eles são legalmente o modo próprio usual de comunica-ção entre o poder concedente e a empresa concessionária.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Mas não para ciência de processo adminis-trativo, Excelência. O processo administrativo requer mais, não se contenta com intimação ficta.

O Sr. Ministro Carlos Britto: Sim, é processo administrativo.O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Por isso, a meu ver, com todas as vê-

nias, esta discussão sobre a validade e regularidade, ou não, dessa cientificação inicial é ociosa. O que quero saber, com absoluta certeza, é o seguinte: ouvi do eminente Relator, lendo peças ou resumindo o que se contém nos autos, que, antes de vir aos autos qualquer das informações solicitadas na primeira reunião da comissão, a empresa ingressou nos autos.

O Sr. Ministro Carlos Britto: Eficazmente.O Sr. Cristiano Zanin Martins (Advogado): Eu só gostaria de esclarecer

uma questão de fato.A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): O eminente Advogado solicita

esclarecimento de fato.O Sr. Cristiano Zanin Martins (Advogado): Esse pedido de vista a que se

refere, feito quinze dias depois, foi feito por um advogado instruído com o subs-tabelecimento de uma ação referente ao espólio de Omar Fontana. Qual a legiti-midade da intervenção dessa pessoa? Então, há um pedido de vista feito por um advogado que não é o subscritor da inicial.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: No máximo, estaria credenciado pelo espólio.

O Sr. Cristiano Zanin Martins (Advogado): Substabelecimento do espólio de Omar Fontana e não da empresa Transbrasil. Esse é um fato. Segundo fato: as intervenções que foram feitas posteriormente, solicitando diligências, não fo-ram atendidas, não foram ouvidas as pessoas solicitadas. Terceiro fato: quando a AGU se refere a intervenções, a peças com referências feitas pelos atuais ad-vogados, isso foi em grau de recurso administrativo, quando já havia sido ultra-passada toda a fase de instrução.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Agradeço a V. Sa.O Sr. Ministro Cezar Peluso: V. Exa. poderia esclarecer?O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Posso voltar aos autos.O Sr. Ministro Carlos Britto: Pelas informações de V. Exa., os autos não

contam dessa participação dos representantes da Transbrasil.

Page 180: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051180

O Sr. Ministro Marco Aurélio: O processo administrativo veio ao do man-dado de segurança?

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Acho que são doze ou treze volumes.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Nós, geralmente, defrontamo-nos com pro-cessos com volumes em quantidade superior a doze, treze.

O Sr. Ministro Carlos Britto: E depois estamos em mandado de segurança a discutir o fato material probatório.

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Ministro Gilmar Mendes, as alegações feitas da tribuna são parte dos fundamentos do mandado de segurança?

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Só quanto à questão da defesa.O Sr. Ministro Cezar Peluso: O advogado, agora, alega que quem interveio

nos autos não foi a empresa, mas o espólio.O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Desculpe-me, Ministro Cezar

Peluso, isso já raia à chicana. A rigor, um processo desta índole, com advogados que o acompanharam durante todo o tempo e, claro, com a delicadeza de praxe.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Mas advogados credenciados pelo espólio de um sócio falecido, muito embora, talvez, até majoritário.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Muitas vezes aqui, agora se diz que essas pessoas não tinham procuração. Várias vezes, aqui, entrando em nome da Transbrasil desde o começo. Vejam, por exemplo, a Pet 816. Agora es-sas pessoas não tinham procuração, ou não estavam habilitadas, ou receberam procuração indevida. Vamos fazer essa investigação em mandado de segurança? Daqui a pouco estaremos discutindo um incidente de falsidade.

O Sr. Ministro Carlos Britto: Aí o requerente é a Transbrasil e não o espó-lio, esse que V. Exa. está lendo.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: É relevante saber quem interveio: se foi o Impetrante, ou terceiros.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Transbrasil, estou lendo aqui, Pet 816, Transbrasil requerendo. Sempre a pessoa jurídica requerendo. Agora, se amanhã vai se discutir sua própria legitimidade.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Mediante peça subscrita por advogado, não dela – Transbrasil –, mas do espólio?

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): A pedido do espólio, mas a pe-dido da própria Transbrasil.

O Sr. Ministro Carlos Britto: A requerente é a Transbrasil.O Sr. Ministro Marco Aurélio: Advogado credenciado pela Transbrasil?O Sr. Ministro Carlos Britto: Claro, só pode ser.

Page 181: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1181

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Não só em nome da Transbrasil, o mesmo advogado assinando, também, em nome de sócios majoritários, por exemplo.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: É só intervenção espontânea que interessa. Depois, o advogado alega que foram intervenções posteriores; a intervenção es-pontânea é que teria sanado a falta da ciência inicial. Isso é importante.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Há pedido de esclarecimento.O Sr. Álvaro Augusto Ribeiro Costa (Advogado-Geral da União): Para

esclarecer, a propósito, que, quando houve a deliberação sobre a oitiva das tes-temunhas, foi uma daquelas deliberações que ocorreram nesse período, as pes-soas eram Denilda Pereira Fontana, como controladora – porque, a esta altura, Omar Fontana já falecera – e Antônio Celso Cipriani. Na verdade, naquele mo-mento, o controlador era o espólio, ou pelo menos parte do controle era dele e de Antônio Celso Cipriani. Portanto, não há dúvida alguma quanto a essa simbiose de representação.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): E o advogado José Domingos Santos Neto atuava tanto em nome da Transbrasil quanto em nome de Antônio Celso Cipriani e Denilda Pereira Fontana. Muito difícil a esta altura.

O Sr. Ministro Carlos Britto: Confundiam-se o espólio e a empresa, houve um momento em que se interpenetraram.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Devolvo a palavra ao Sr. Ministro Eros Grau para o seu voto.

O Sr. Ministro Eros Grau: Retomo a observação que fazia, a propósito da forma.

Ao contrário do que disse o Ministro Sepúlveda Pertence, que não é re-levante essa discussão, a mim parece extremamente relevante. Jamais serei acusado, imagino, nesta Corte, de ser um formalista. Tanto quanto possível procuro, nas minhas decisões, substituir a justiça formal pela justiça material. Mas num caso como este, em que há dúvida (...) E aqui não se trata de discutir a matéria de fato do mandado de segurança; ao contrário, o que se discutiria seria a matéria de fato não para dar o mandado de segurança, mas, sim, para negá-lo. Ficou claro – eu iria perguntar ao eminente Relator, se tivesse tido chance, mas o debate foi tão intenso –, que não houve alegações finais, aquelas de que trata o art. 44 da lei? Nessas circunstâncias, vou ouvir o Von Ihering e conceder a segurança.

VOTO

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhora Presidente, rejeito alegação de nulidade do processo administrativo instaurado contra a Impetrante, porque a suposta irregularidade da notificação foi satisfatoriamente suprida, primeiro, pela publicação do ato no boletim do DAC, de circulação obrigatória entre todas

Page 182: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051182

as companhias aéreas; em segundo lugar, porque o ato de notificação cumpriu o seu objetivo, já que menos de vinte dias após a abertura do processo administra-tivo a Impetrante compareceu aos autos por meio de advogados, regularmente constituídos, e externou suas razões, pediu diligências.

Os atos ordinatórios – ou seja, emissão de ofícios aos órgãos públicos, se-leção de pessoas a serem ouvidas, mas que não o foram antes do conhecimento da Impetrante – praticados antes da sua intervenção em nada lhe foram prejudi-ciais. Em suma, não houve prejuízo que mereça reparação, “pas de nullité sans grief”.

Por outro lado, a alegação de que outras companhias aéreas em situação similar à da Impetrante teriam obtido tratamento mais benevolente também não aproveita a Impetrante, primeiro, porque o tratamento generoso para a companhia não conduz, necessariamente, à ilegalidade das decisões tomadas, tendo em vista a situação fática específica à Impetrante; segundo, não há como examinar-se em mandado de segurança a veracidade desse suposto tratamento antiisonômico.

Ante essas considerações, denego a segurança.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhora Presidente, também denego a se-gurança, convencido que estou dos fundamentos sólidos do voto do eminente Relator. E assim o faço com a devida vênia do eminente Ministro Eros Grau, que discorda.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhora Presidente, eu não gostaria de votar sem confirmar essas duas informações constantes da manifestação da União, uma com referência ao documento de fl. 234, e outra, ao documento de fl. 1338.

No primeiro, constaria o seguinte:

Transbrasil S/A Linhas Aéreas, representada por seu procurador Dr. José Domingos Santos Neto, OAB/RJ 104843, com endereço na Av. Franklin Roosevelt nº 194 sala 907, Castelo – Rio de Janeiro/RJ, CEP: 20021-120, vêm solicitar à V. Sª o fornecimento de cópias do referido processo, baseado no princípio da publici-dade e da ampla defesa.(Sic)

No segundo documento, de fl. 1338:

Transbrasil S/A Linhas Aéreas, devidamente qualificada nos autos do pro-cesso administrativo, instaurado pela Portaria constante da referência, vem res-peitosamente por seu advogado que a esta subscreve, solicitar vistas a todos os volumes constantes dos autos, para posterior o fornecimento de cópias.(Sic)

Page 183: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1183

Apenas para confirmação: se essas duas peças – uma de fl. 234 e outra de fl. 1338 do processo administrativo – realmente foram petições subscritas ou, pelo menos, formalizadas em nome da Transbrasil S.A., tal como consta das informações da União, dou-me por satisfeito para votar.

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Leio para V. Exa. a fl. 319 dos autos, que é a fl. 234 do processo administrativo.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Só o cabeçalho.O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator):

Solicitação de cópia de inquéritoRio de Janeiro, 13 de dezembro de 2002.

Vimos que o inquérito foi instaurado em 17 de outubro de 2002. Portanto, logo no início do processo.

Transbrasil S/A Linhas Aéreas, representada por seu procurador Dr. José Domingos Santos Neto, OAB/RJ 104843, com endereço na Av. Franklin Roosevelt nº 194 sala 907, Castelo – Rio de Janeiro/RJ, CEP: 20021-120, vêm solicitar à V. Sª o fornecimento de cópias do referido processo, baseado no princípio da publici-dade e da ampla defesa.

Certos de vossa atenção, subscrevemos atenciosamente. Transbrasil S/A Linhas AéreasJosé Domingos Santos Neto.

(Sic)

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhora Presidente, estou satisfeito.Acompanho o Relator.O Sr. Ministro Marco Aurélio: Presidente, a portaria, que é o marco inicial

de um processo administrativo, deve conter fato, o qual, para mim, há de ser específico.

No caso, o que tivemos? Uma portaria que aludiu de passagem a certa cláusula do contrato firmado. E houve referência, também, ao descumprimento dessa cláusula, que é abrangente e contempla inúmeras situações jurídicas que podem levar à caducidade da concessão.

Vejo a portaria para instauração de um processo específico como algo semelhante à denúncia. O interessado defende-se dos fatos constantes dessa portaria. Ele não tem de acusar o golpe e simplesmente partir da presunção de que estaria havendo a imputação desta prática ou daqueloutra, à margem do contrato firmado.

Já aqui, a meu ver, o processo peca, no seu início, no tocante à forma que, para mim, é essencial à valia do ato, ou seja, relativamente à Portaria do Diretor-Geral do Departamento de Aviação Civil.

Mas há mais. Na espécie, como ressaltado pelo Relator, a instauração do processo ocorreu em outubro. Com isso, houve a prática de atos, como a remessa

Page 184: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051184

de ofícios à Secretaria de Direito Econômico, à Procuradoria da República do Rio de Janeiro, à Petrobras, à Infraero, ao Tribunal Regional do Trabalho, à Caixa Econômica Federal e à Receita Federal. No tocante ao principal inte-ressado, entretanto, o que se verificou? A ciência da interessada quanto à ins-tauração do processo? A resposta é desenganadamente negativa. Pretendeu-se publicar a notícia no Diário, para se ter a ciência ficta desse processo. Houve re-sistência do Diário Oficial – certa ou errada, não cabe aqui perquirir, tampouco sancionar. Então, publicou-se a existência do processo, partindo-se para algo impróprio, a ciência ficta – não a ciência específica, a ciência com pessoalidade –, via o boletim do Departamento de Aviação Civil.

Há notícia de uma petição em que não só terceiros, como também a pró-pria interessada, a Transbrasil, teriam solicitado cópias desse processo. Não sei se essa petição – e, pelo visto, não foi – está subscrita por advogado devidamente credenciado, já que não confundo o espólio de determinado sócio com a pessoa jurídica – Transbrasil.

Mas em que estágio houve essa petição? Quando já começado o processo administrativo que deveria ter sido iniciado, é certo, pela Portaria, seguindo-se a ela a ciência inequívoca da Transbrasil. E essa ciência inequívoca não aconteceu.

Ocorreu a prática de outros atos. Indago: a Transbrasil como tal, sem a despersonalização considerados os sócios, foi cientificada quanto a esses atos instrutórios, para acompanhá-los no processo administrativo? Pelo que percebi, não.

Para mim, as informações – pouco me importa que partam do dirigente maior do País – têm peso, uma concreção relativa. As informações não se so-brepõem aos dados coligidos no processo jurisdicional, os elementos coligidos e que estariam a respaldar as causas de pedir constantes da impetração.

Presidente, penso que, quanto a um processo com o objetivo de declarar caduca a concessão, bastaria a ambigüidade, o que salta aos olhos, quanto à falta de ciência específica no estágio próprio, que é o estágio embrionário, daquela que seria a maior interessada no desfecho. Essa ciência inequívoca não ocorreu. Deveria ter sido a Transbrasil cientificada, estreme de dúvidas, quanto à exis-tência do processo, diria mesmo com pessoalidade, e deveria, também, ter sido cientificada dos atos subseqüentes que visaram a colher provas para chegar-se à conclusão sobre a transgressão da cláusula contratual. O devido processo legal deveria ter sido observado por aquele que tem a obrigação de adotar postura exemplar, que é o Estado. Não o foi, a meu ver.

Por isso, peço vênia ao Relator e aos colegas que o acompanharam para conceder a ordem.

VOTO

O Sr. Ministro Celso de Mello: O presente mandado de segurança deve ser denegado, eis que a ora Impetrante teve ciência inequívoca do procedimento

Page 185: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1185

administrativo instaurado por ato do Senhor Diretor-Geral do Departamento de Aviação Civil (Portaria DAC 1.445), tanto que requereu a extração de cópias das peças concernentes a esse mesmo procedimento administrativo, destinado a apurar – para efeito de declaração de caducidade do contrato de concessão – o descumprimento da cláusula XIII de referido contrato de direito administrativo.

Inocorre, no caso ora em exame, qualquer situação de ofensa – atual ou potencial – à garantia constitucional do “due process of law” invocada pela parte impetrante, a quem não assiste o direito público subjetivo por ela postulado na presente sede mandamental.

Na realidade, Senhora Presidente, e ao contrário do que sustenta a Impetrante, foi-lhe assegurada a possibilidade de demonstrar a sua idoneidade financeira e de comprovar a sua capacidade técnica. Em uma palavra: ensejou-se-lhe a possibilidade de exercer, em plenitude, todas as faculdades e prerroga-tivas que compõem o estatuto constitucional da defesa.

A Administração Pública agiu, no caso, em relação à Transbrasil S.A. Linhas Aéreas, com absoluto respeito aos direitos e garantias titularizados pela empresa ora impetrante, procedendo, quanto a ela, em estrita consonância com os parâmetros constitucionais que regem, em tema de direito de defesa, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

Sendo assim, por não assistir qualquer direito líquido e certo em favor da ora Impetrante, peço vênia para acompanhar o douto voto do eminente Relator, denegando, em conseqüência, o mandado de segurança impetrado pela empresa em questão.

É o meu voto.

VOTO

O Sr. Ministro Sepúlveda Pertence: Senhora Presidente, a essencialidade das formas, tão enaltecida hoje, não elide a sua essencial instrumentalidade. E, por isso, seja em processo administrativo, seja em processo civil, seja até em processo penal, o comparecimento da parte elide qualquer discussão sobre a validade e a regularidade do ato de cientificação do processo.

Na verdade, o eminente Relator e, agora, os dados resenhados pelo emi-nente Ministro Celso de Mello, a meu ver, demonstraram à saciedade que houve intervenção da parte. E se houve, não obstante, omissão sua em requerer a eventual repetição de ato instrutório acaso realizado antes, não pode isso depois servir para a alegação de nulidade do processo administrativo. Pelo menos na área do mandado de segurança, não vejo demonstração inequívoca de qualquer cerceamento da defesa.

Por isso acompanho o eminente Relator, com as vênias devidas, para inde-ferir o mandado de segurança.

Page 186: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051186

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente): Também acompanho o emi-nente Relator.

EXTRATO DA ATA

MS 25.787/DF — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Impetrante: Transbrasil S.A. Linhas Aéreas (Advogados: Cristiano Zanin Martins e outros). Impetrado: Presidente da República (Advogado: Advogado-Geral da União).

Decisão: O Tribunal, por maioria, denegou a ordem, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Eros Grau e Marco Aurélio. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Falaram, pela Requerente, o Dr. Cristiano Zanin Martins e, pelo Impetrado, o Ministro Álvaro Augusto Ribeiro Costa, Advogado-Geral da União.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Sepúlveda Pertence, Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 8 de novembro de 2006 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 187: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1187

MANDADO DE SEGURANÇA 26.700 — RO

Relator: O Sr. Ministro Ricardo LewandowskiImpetrantes: Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia e Estado de

Rondônia — Impetrado: Conselho Nacional de Justiça (Procedimentos de Controle Administrativo 371, 382 e 397)

Mandado de segurança. Conselho Nacional de Justiça. Anulação do XVIII Concurso para Ingresso na Magistratura do Estado de Rondônia. Ofensa aos princípios da moralidade e da impessoalidade. Inocorrência. Concessão da segurança.

I – O exame dos documentos que instruem os Procedimentos de Controle Administrativo 371, 382 e 397 não autoriza a conclu-são de que teria ocorrido afronta aos princípios da moralidade e da impessoalidade na realização do XVIII Concurso para Ingresso na Carreira Inicial da Magistratura do Estado de Rondônia.

II – Não é possível presumir a existência de má-fé ou a ocorrência de irregularidades pelo simples fato de que duas das candidatas aprovadas terem sido assessoras de desembargadores integrantes da banca examinadora.

III – Segurança concedida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por maioria de votos, conceder a segurança, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Marco Aurélio e Joaquim Barbosa.

Brasília, 21 de maio de 2008 — Ricardo Lewandowski, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia e pelo Estado de Rondônia, contra decisões proferidas pelo Conselho Nacional de Justiça nos PCA 371, 382 e 397, todos da relatoria do Conselheiro Paulo Lôbo.

Alegam os Impetrantes, em suma, que, em 9 de maio de 2007, o CNJ de-cidiu anular o XVIII Concurso para Ingresso no Cargo Inicial de Juiz de Direito da Carreira da Magistratura do Estado de Rondônia, por considerar que a sua terceira fase foi realizada em desrespeito aos princípios da impessoalidade e da

Page 188: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051188

moralidade administrativa, em virtude da aprovação de duas candidatas que exerciam o cargo de assessoras de desembargadores, os quais integraram a co-missão organizadora do certame.

Sustentam, no entanto, que a aprovação das duas candidatas não tem o condão de invalidar o concurso, por estarem as decisões do Conselho embasa-das em meras suspeitas e presunções de favorecimento, as quais não lograram qualquer comprovação.

Aduzem, ainda, que o CNJ, em casos semelhantes, como nos autos dos PCA 267 e 50, consagrou entendimento de que a mera suposição de fraude não é suficiente para afastar a aparência de boa-fé do certame, sobretudo tendo em conta o princípio da segurança jurídica.

No primeiro caso, a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Tocantins, pretendia a anulação do IV Concurso Público para Provimento no Cargo de Juiz de Direito daquele Estado, sob o argumento, comprovado por meio de certidões, de que alguns dos candidatos aprovados teriam relação direta com membros do Tribunal local.

O Conselho decidiu no mesmo sentido, nos autos do PCA 50, cuja ementa transcrevo abaixo:

Conselho Nacional de Justiça. Competência constitucional para supervisão administrativa na realização de concursos públicos pelos Tribunais de Justiça – Inexistência, na hipótese concreta, de irregularidades praticadas por membros da Comissão de Concurso – Impossibilidade de afastamento de membros da Comissão de Concurso por meras suposições não baseadas em fatos, provas ou meros indícios – Pedido improcedente.

Afirmam, na seqüência, que, cerca de cinqüenta (50) candidatos perten-centes ao quadro funcional do TJRO participaram do concurso, e que, entre esses, havia assessores, escrivães, filhos de juízes e de desembargadores, tendo sido alguns deles reprovados na 3ª fase do certame.

Sustentam, ainda, que “a decisão adotada pelo CNJ fere direito líquido e certo do impetrante na medida em que o impede de dar posse aos candidatos aprovados, e declara nulidade de concurso público acolhendo hipótese de vício não previsto em lei, fundando-se apenas em meras suposições” (fl. 9).

Dizem, também, que a OAB, conforme vem expresso no próprio relatório da decisão impugnada, asseverou que as irregularidades apontadas eram incon-sistentes, e que o concurso se desenrolou em conformidade com os preceitos constitucionais.

Consignam, mais, que “os atos administrativos gozam de presunção de legalidade e legitimidade sucumbindo apenas diante da prova cabal de sua ile-galidade ou ilegitimidade” (fl. 13 – grifo no original).

Alegam, também, que se registrou, na espécie, afronta ao princípio da proporcionalidade, uma vez que a anulação de todo concurso gerou prejuízo a

Page 189: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1189

outros dezoito aprovados, que nenhuma relação tem com os fatos, nem com os pressupostos da decisão do CNJ.

Requerem, ao final, a concessão da ordem em definitivo para que se reco-nheça a ilegalidade da decisão do Conselho que anulou o XVIII Concurso para Ingresso na Carreira da Magistratura.

Em 18-6-07, deferi em parte o pedido liminar para

suspender os efeitos da decisão proferida pelo Conselho Nacional de Justiça, nos autos dos Procedimentos de Controle Administrativo 371, 382 e 397, devendo, entretanto, a nomeação e posse dos candidatos aprovados no XVIII Concurso para Ingresso no Cargo Inicial de Juiz de Direito da Carreira da Magistratura do Estado de Rondônia aguardar o julgamento do mérito do presente mandado de segurança. (Fls. 271-274.)

O Conselho Nacional de Justiça prestou suas informações (fls. 284-296), oportunidade em que reafirmou os termos da decisão proferida nos respectivos procedimentos de controle administrativo.

A Procuradoria-Geral da República, em parecer de fls. 298-309, manifes-tou-se pela concessão da segurança, nos termos da seguinte ementa:

Mandado de segurança. Ato do Conselho Nacional de Justiça. Anulação do XVIII Concurso para Ingresso na Magistratura do Estado de Rondônia. Ofensa aos princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade não eviden-ciada. Deferimento da ordem.

– O exame dos documentos que compõem os procedimentos de controle administrativo nºs 371, 382 e 397, cujas cópias foram apensadas aos autos do MS nº 26.708, que impugna o mesmo ato, não autoriza a conclusão de que houve por parte da Comissão do Concurso qualquer tipo de favorecimento individual de candidatos bem assim de que foi afetada a igualdade de condições entre os participantes, com afronta aos princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade.

– Parecer pela concessão da segurança.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Bem examinados os au-tos, verifico que os procedimentos de controle administrativo em causa foram instaurados mediante requerimento de três candidatos reprovados na terceira fase do certame, sob alegação de que houve favorecimento de duas candidatas aprovadas, as quais eram assessoras de desembargadores integrantes da banca examinadora do concurso.

Da análise dos documentos acostados nos autos do MS 26.708, que com-põem os PCA 371, 382 e 397, observo, porém, que deles não constam quaisquer indícios de irregularidades que permitam concluir ter havido favorecimento de algum candidato, por parte da comissão do concurso.

Page 190: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051190

O XVIII Concurso para Ingresso no Cargo Inicial de Juiz de Direito da Carreira da Magistratura do Estado de Rondônia foi regido pelo Edital 001/2006-PR, bem como pela Resolução 009/2006-PR, com a previsão de três fases para o processo seletivo: a primeira consistente em uma prova objetiva; a segunda, em provas subjetivas; e a terceira e última fase, na realização de entre-vista e prova oral.

Ressalto que o art. 14 do referido edital estabelece que somente após a cor-reção das provas da segunda fase é que haveria a identificação dos candidatos (MS 26.708, apenso 1, fls. 17-34).

Ora, durante a realização das entrevistas e dos exames orais, todos os desembargadores que tinham relação com algum candidato ausentaram-se do recinto, conforme comprovam os documentos de fls. 101-104 e 139-142 (MS 26.708, apenso 1).

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça de Rondônia, ao prestar informações nos autos do PCA 397, esclareceu o quanto segue:

O Des. Cássio Sbarzi Guedes não avaliou sua assessora Kelma Vilela de Oliveira. Na 1ª fase do concurso (prova objetiva), a correção deu-se por programa de computador. Na 2ª fase (prova subjetiva), assim como na 1ª fase do concurso, não existe possibilidade de se identificar o candidato, uma vez que, na prova a ser corrigida, lançam-se números aleatórios, como sói acontecer em concursos pú-blicos, e não nomes. Na 3ª e última fase (entrevistas e prova oral), o Des. Cássio Sbarzi Guedes não participou de inquirições da candidata Kelma Vilela Oliveira, e tampouco participou do exame do recurso interposto pela referida candidata. Cabe salientar que ela recorreu da sentença criminal, não das questões, e a ela-boração da sentença ficou sob a responsabilidade do Des. Valter de Oliveira e as questões a cargo do Des. Cássio Sbarzi Guedes. Foi reconhecido em favor desta candidata, assim como de outros 10 (dez), a ocorrência de erro material, passando, pois, da nota 2,0 (dois), na sentença criminal, para 3,0 (três), com o que alcançou a média geral 5,10 (cinco, dez décimos). Na prova oral (3ª fase), esta candidata foi inquirida pelo Des. Valter de Oliveira, que formulou as questões e, após as respos-tas dadas, atribuiu a devida nota (docs. 2, 3 e 4).

A candidata Cláudia Mara da Silva Faleiros é de fato assessora do membro da Comissão do Concurso Des. Paulo Kiyoshi Mori. No entanto, este Desembargador somente veio a compor a comissão com a saída do Des. Péricles Moreira Chagas que assumiu a Presidência do TJ/RO em face do afastamento do Des. Sebastião Teixeira Chaves. Assim, podemos afirmar que esta candidata em momento al-gum teve suas provas examinadas pelo Des. Paulo Kiyoshi Mori, porque, quando de sua entrada na comissão, as provas das 1ª e 2ª fases estavam corrigidas. Na 3ª etapa (entrevista e prova oral), o Des. Paulo Kiyoshi Mori não entrevistou e tampouco inquiriu a candidata Cláudia Mara da Silva Faleiros. Na prova oral sob sua responsabilidade (Direito Civil), foi substituído pelo Dr. Romilton Marinho Vieira, que, após efetivar as perguntas à reportada candidata, atribuiu-lhe a devida nota. Não se questiona que a candidata é pessoa de inteira confiança do Des. Paulo Kiyoshi Mori, porém, como já afirmado, ele não participou da sua entrevista ou inquirição, e como esta prova era aberta ao público, os assistentes comprovaram o alegado (doc. 5).

Page 191: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1191

Em momento algum a comissão demonstrou parcialidade, sendo esta ale-gação também infundada. A representante esqueceu-se de dizer que outros servi-dores do TJ/RO também não lograram aprovação nesta 3ª fase, entre estes: Diana da Cruz e Elaine Neves de Oliveira, além do filho do Des. Roosevelt Queiroz Costa, ex-Corregedor do TJ/RO (biênio 2004/2005), todos reprovados nesta 3ª fase. Esqueceu a representante de mencionar que as candidatas Kelma Vilela e Cláudia Mara já participaram de três outros certames. Não houve parcialidade (docs. 6 e 7).1

Na mesma linha, o Presidente da OAB/RO esclareceu que,

em todos os momentos e por todo o tempo em que se desenvolveram as ati-vidades pertinentes ao Concurso, a Banca Examinadora demonstrou respeito para com os candidatos e especial cuidado com relação à lisura de todos os seus atos, não havendo, portanto, nenhuma irregularidade na realização do certame, cujo transcurso se deu na mais absoluta normalidade.(MS 26.708, apenso 3, fl. 487.)

A Procuradoria-Geral da República, ademais, no parecer exarado nos au-tos do MS 26.708, observou que

o perfil dos candidatos aprovados, no que concerne aos Estados de origem, é bem variado: examinadas as petições iniciais deste mandado de segurança e dos demais – MS nºs 26703, 26705, 26714 – impetrados por dezessete dos vinte can-didatos aprovados no referido concurso público, verifica-se que sete deles são do Estado de Rondônia, dos quais cinco têm algum vínculo com o judiciário daquele Estado – três na condição de assessores de desembargadores e um de juiz de di-reito (fls. 405, apenso 2 e fls. 136/137 do MS 26.700), enquanto os demais candida-tos são de outros sete estados da federação e não residem em Rondônia.

É de registrar-se, igualmente, que outros servidores, inclusive assessores do Tribunal de Justiça de Rondônia, no total de cinqüenta, e mesmo um filho de Desembargador, membro suplente da comissão examinadora, foram reprovados no concurso (fls. 282, apenso 2; fls. 136/137 do MS 26.700 e certidão de fls. 36 do MS 26.703).(MS 26.708, fls. 114-115.)

E concluiu, por derradeiro, o seguinte:

O cenário, portanto, não parece daqueles em que múltiplas irregularidades são tão manifestas que concluir pelo favorecimento de candidatos e pela indevida exclusão de outros constitui verdadeiro imperativo lógico, prescindindo de de-monstrações mais elaboradas.

O certo é que, nos procedimentos de controle administrativo que tramitam no Conselho Nacional de Justiça não se provou ou mesmo se apontou qualquer in-dício consistente do favorecimento alegado, sequer em relação às candidatas que eram assessoras de desembargadores.(MS 26.708, fl. 115.)

1 PCA 397, fls. 441-443.

Page 192: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051192

Parecem-me indevidas, pois, as razões utilizadas pelo Conselho Nacional de Justiça para determinar a anulação de todo o concurso público, não obstante tenha do julgamento dos PCA em questão, consignado que

a simples participação dos Desembargadores na comissão de um concurso no qual suas assessoras eram candidatas apresenta-se como uma afronta ao prin-cípio da impessoalidade e sua exigência de imparcialidade.(MS 26.708, apenso 10, fl. 782.)

Não me parece, contudo, adequado presumir a má-fé ou a existência de irregularidades no caso sob exame, especialmente consideradas as inúmeras outras circunstâncias, acima relatadas e constantes destes autos, que desautori-zam tal conclusão.

Acrescento que a lisura do certame foi certificada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia e pela Seção local da Ordem dos Advogados do Brasil, que acompanhou o concurso, instituições honradas e que merecem toda a credibilidade.

Não se deve olvidar, por derradeiro, que a Constituição de 1988 assegura participação de todos em concursos públicos, direito subjetivo assegurado aos cidadãos, em geral, desde que atendidos os requisitos legais, não importando eventual parentesco com integrantes do órgão ou entidade que realiza o certame.

Isso posto, concedo a segurança para desconstituir, definitivamente, o ato do CNJ que anulou o XVIII Concurso para o Cargo de Juiz de Direito Substituto do Estado de Rondônia, assegurando-se ao Tribunal de Justiça o direito de pro-ceder, segundo os seus próprios critérios de oportunidade e conveniência, às nomeações dos candidatos aprovados para o cargo em questão.

É como voto.

ESCLARECIMENTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Senhor Presidente, saúdo, inicialmente, os eminentes advogados que fizeram a sustentação da tribuna e cumprimento também o eminente Procurador-Geral da República. Esclareço a V. Exa. e aos eminentes pares que o voto e a conclusão são idênticos para todos os mandados de segurança.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhor Presidente, também estou defe-rindo a ordem nos termos do voto do Ministro Relator.

O que me chama a atenção, no voto do Relator e no parecer do eminente Procurador-Geral da República, é que a leitura do voto proferido no Conselho Nacional de Justiça deixa muito claro que houve uma anulação por mera pre-sunção. Não há nenhum fato concreto, como disse o eminente Procurador-Geral

Page 193: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1193

da República, que possa identificar um indício consistente do favorecimento que foi alegado. E isso, a meu sentir, é forte o bastante para conduzir à concessão da ordem.

Por outro lado, ainda que não se esteja discutindo esse tema neste man-dado de segurança, tenho tido muita preocupação quando constato que os membros do Conselho Nacional de Justiça têm decidido, por medida liminar, diversas matérias. Tenho entendido sempre que o Conselho Nacional de Justiça, relevante que é no papel que desempenha a partir da disciplina constitucional, não tem função jurisdicional, e, não tendo função jurisdicional, não me parece que ele possa utilizar instrumentos que são próprios da função jurisdicional tal e qual é a utilização da medida liminar, ainda mais quando se trate de medida liminar com essa gravidade de intervenção na realização de concurso público.

De todos os modos, sob esse aspecto, fica apenas o registro, porquanto o de que aqui se trata é verificar, como fez o eminente Relator e também o eminente Procurador-Geral da República, se há ou não força bastante para justificar a anu-lação do concurso. E, ao meu sentir, não há essa força. Daí por que, tal e qual o Relator, também concedo a segurança.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhor Presidente, também acompanho o brilhante voto do eminente Ministro Relator, registrando apenas que aqui se inverteu, ou parece ter-se invertido, o que o direito administrativo, observado no Brasil, estabelece sobre a presunção de legitimidade dos atos administrativos, a qual somente pode ser rompida a partir de fatos comprovados, quer em procedi-mento administrativo, quer em processo judicial, o que não me parece ter acon-tecido, tal como tão bem demonstrou o eminente Ministro Relator e esclareceu o nobre Procurador-Geral da República.

Razão pela qual acompanho integralmente os termos do voto do Ministro Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhor Presidente, acompanho o Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhor Presidente, também louvo o voto do eminente Relator, muito bem feito, muito preciso, abrangente. E, com ele, tam-bém entendo que a decisão adversada pelos mandados de segurança foi tomada como que de costas para a realidade dos autos, ignorando – ao que parece – que o concurso em causa teve três fases. E, nas duas primeiras fases, é impossível identificar o candidato, na última, sim, porque se trata de argüição, basica-mente, mas, dessa argüição, não participou nenhum desembargador vinculado

Page 194: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051194

funcionalmente a esse ou àquele candidato assessor. Então, cai por terra, logi-camente, até toda a suspeição de parcialidade ou de ferimento do princípio da isenção.

De outra parte, já num plano teórico, nada impede que um desembarga-dor faça parte de comissão de concurso. Quando se compulsa, quando se lê a Constituição, a Loman e a própria Lei 8.112, que traça o regime jurídico dos servidores públicos em geral, investidos nos seus cargos em caráter efetivo, nada sinaliza essa proibição de um desembargador vir a participar de banca de concurso.

E a Ministra Cármen Lúcia também aduziu esse fundamento de que os atos da administração pública se presumem válidos quanto a sua jurisdicidade e verazes quanto a sua faticidade. E essa presunção decola da própria Constituição a partir do art. 19, inciso II, que proíbe aos Estados, à União, ao Distrito Federal e aos Municípios recusar fé aos documentos públicos. A partir daí, estabelece-se toda uma presunção de verdade e de licitude dos atos do poder público.

Em resumo, Excelência, concedo a segurança.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, também vou acompa-nhar o voto do eminente Ministro Relator, mas não me furto de fazer algumas observações.

Em primeiro lugar, os dois fundamentos da decisão impugnada são, em princípio, susceptíveis de certa admiração. O primeiro deles está em que “a simples participação dos Desembargadores na comissão de concurso no qual suas assessoras eram candidatas apresenta-se como uma afronta ao princípio da impessoalidade”. Em seguida:

A presença desses Desembargadores na comissão do concurso e, principal-mente, na argüição dos candidatos na 3ª fase, é, no mínimo, um fator de constran-gimento para os demais examinadores, para não mencionar as possibilidades de favorecimento que surgem direta ou indiretamente.

Se ambos esses fundamentos fossem, em tese, suficientes para o reconhe-cimento de alguma irregularidade, a conclusão lógica deveria ser de que só o ato de aprovação das duas ou três candidatas, que foram objeto de suspeita de fa-vorecimento, poderia ser anulado. Não há nenhuma lógica na decisão de anular o concurso todo, porque aí a presunção seria de que o concurso todo teria sido resultado de um favorecimento de caráter genérico, como se todos os candidatos tivessem sido aprovados por favorecimento.

Em segundo lugar, o caso seria típico, não de impedimento, segundo as categorias jurídicas próprias, mas de suspeição, especificamente daquela pre-vista no art. 135, V, do Código de Processo Civil, que diz respeito à existência possível ou teórica de interesse na solução do caso.

Page 195: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1195

Ora, toda suspeição deve ser – o Código é textual nesse sentido – fun-dada. No caso, não há fundamento algum para essa suspeição. Primeiro, porque a OAB esteve representada no Conselho pelo Relator, que negou, tex-tual e frontalmente, a existência de qualquer irregularidade, como consta da decisão. Segundo, o Tribunal de Justiça também a negou e esclareceu que o Desembargador Paulo Mori só entrou na Comissão na terceira fase, em substi-tuição ao Desembargador Chaves, que foi elevado à Presidência do Tribunal, e, portanto, nem era membro originário da Comissão. Terceiro, a primeira e a se-gunda fase do concurso não permitem, teoricamente – a decisão sequer avançou em sentido contrário –, nenhuma identificação de candidato. Logo, eventual sus-peita só poderia recair sobre a terceira fase, que é a fase oral. Ora, essa fase oral é sempre pública e acompanhada pela audiência. Isto é, se tivesse havido algum favorecimento nessa terceira fase, seria favorecimento público, discriminação mediante perguntas, etc. Nada disso se excogitou. Ademais, dessa terceira fase, nenhum dos desembargadores objeto da impugnação participou. Além do mais, há indício, como já ressaltou o eminente Procurador-Geral, de plena imparciali-dade. Por quê? Porque outros assessores e até o filho de um desembargador não foram aprovados.

Por fim, não há nenhuma prova, crítico-lógica ou histórico-representativa, que pudesse servir de fundamento para a suspeita.

Mas quero ir mais longe, pois aqui me parece que um operador do direito não podia deixar escapar. O impedimento e a suspeição são vícios gravíssimos, mas têm regime jurídico próprio. A suspeição é susceptível de preclusão, seja de preclusão lógica, seja de preclusão temporal; isto é, não oposta exceção de suspeição no prazo previsto na lei, considera-se dissipada a suspeita de parcia-lidade. Se o interessado na argüição ou o excipiente haja praticado, no curso do procedimento, algum ato incompatível com a argüição, a suspeição se con-sidera preclusa do ponto de vista lógico. Por quê? Porque ninguém que saiba ou suspeite da parcialidade do agente pode concordar com sua participação no processo e praticar atos no procedimento, sem que argúa, na primeira oportu-nidade, a suspeição. Ora, aqui não há dúvida de que os interessados nos proce-dimentos administrativos não podiam desconhecer as circunstâncias de que as candidatas eram assessoras dos desembargadores. Se participaram de todas as fa- ses até o término do concurso, sem ter impugnado a participação dos desem-bargadores, é porque concordaram com essa participação. Portanto, não haveria possibilidade alguma, do ponto de vista jurídico, de argüir a suspeição.

Mas, ainda que se afastasse essa hipótese, teríamos mais uma objeção: ainda que se tratasse de impedimento, exaurido o procedimento ou o processo, estaria sanada a irregularidade. Só se argüiu eventual irregularidade depois da proclamação do resultado, quando os interessados perceberam que não tinham sido aprovados.

Há outro dado, Senhor Presidente, ao qual o Tribunal também não pode fe-char os olhos: a possibilidade de influência existe, mas não precisa ser exercida com a participação do desembargador na comissão de concurso. A possibilidade

Page 196: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051196

existe pelo simples fato de ser desembargador que tem contato com os outros desembargadores e até com representantes da Ordem ou do Ministério Público fora da comissão. Isto é, o simples fato de ser desembargador não significa nada, pois a seriedade é presumida e está acima de certas circunstâncias das quais nem sempre se pode escapar.

Razões pelas quais, Senhor Presidente, acompanho integralmente o voto do eminente Relator.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Presidente, há coisas que não precisam estar escritas. Notamos, mesmo, que essa máxima está contrariada pela própria Constituição Federal no que revela, no art. 37, ser princípio básico da adminis-tração pública a moralidade.

Por que começo o voto com essa colocação? Por uma razão muito simples, que diz respeito à ordem natural das coisas. É possível haver, em uma comissão de concurso, pessoa ligada a candidato, quer por laço sanguíneo ou afim, quer por laço profissional? Pergunto mais: tivessem as duas candidatas uma ação jul-gada, em primeira instância, com recurso interposto para o Tribunal de Justiça, os desembargadores com os quais trabalhavam e continuaram trabalhando, penso, durante o concurso poderiam examinar a apelação? O que ocorre, pela vivência diária, quando um servidor – imagino até um servidor de meu gabinete – inscreve-se em certo concurso: participa o titular, o assessorado da comissão de concurso? É possível essa participação? O critério, no caso, não se mostra subjetivo, mas objetivo. A resposta, para mim, é desenganadamente negativa. A partir do momento em que houve a inscrição – certamente essa inscrição deve ter sido, antes, anunciada pelo menos no âmbito dos gabinetes – de duas assesso-ras, os desembargadores assessorados não podiam participar do concurso e, se o fizeram – como é estreme de dúvidas que o fizeram –, esse concurso ficou conta-minado, originariamente, pela participação. Pouco importa que as fases iniciais, a primeira e a segunda, ocorram considerado o sigilo, a ausência de identifica-ção dos candidatos, das provas dos candidatos. Não se resolve a questão por aí.

Sou daqueles que sustentam – e sempre sustentarei – que, se se requer o sigilo quanto às duas primeiras fases, a prova da terceira fase, a oral, em que há o tête-à-tête, somente pode ser classificatória. Mas já houve uma época em que não só a oral se mostrava passível de levar à reprovação, como também a deno-minada prova de títulos. Refiro-me à regência pretérita, creio – e fiquei vencido neste Plenário –, do concurso para o Ministério Público Federal. Ainda bem que ocorreu uma evolução, afastando-se a possibilidade de alguém, aprovado na primeira, na segunda e na terceira fase – a oral –, após exigir-se para o próprio concurso o credenciamento único de bacharel, chegar a ser reprovado por não ter outros títulos, canudos debaixo do braço.

Não posso, Presidente, segundo a minha ciência e consciência, placitar um concurso – e não estou aqui a perquirir se houve ou não favorecimento, consi-dero apenas o critério objetivo – em que participaram da banca dois examinado-res que mantinham íntima relação profissional – no bom sentido, já que a relação

Page 197: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1197

do assessor com o assessorado é íntima pela confiança depositada – com asses-soras concorrendo aos cargos. Dir-se-á e ouvi – perdoe-me o Ministro Cezar Peluso – que conclusão sobre o vício levaria à reprovação, ao afastamento, então, das candidatas que mantinham – e penso que mantêm até hoje – ligação com os examinadores.

Não poderia concluir dessa forma porque introduziria, no cenário, um estigma não só quanto aos desembargadores que participaram da comissão de concurso, como também quanto às próprias candidatas.

O que há, para mim, sob a minha óptica, com a devida vênia – e as Impetrantes presentes, com os votos favoráveis proferidos, já devem estar muito tranqüilas –, é um vício que contaminou esse concurso desde o nascimento. É um vício decorrente da circunstância – reafirmo –, a gerar a contaminação, de se ter a participação dos desembargadores desavisados no concurso verificado. Não podiam esses desembargadores, até mesmo diante do ofício judicante, da experiência decorrente do ofício judicante, permitirem-se participar dessa co-missão. É conseqüência natural, porque o concurso público repousa no mérito – e há de estar estreme de dúvidas o mérito –, a invalidação do próprio certame, não cabendo pinçar conseqüências individualizadas. Não me impressiona o fato de os três candidatos que chegaram ao Conselho Nacional de Justiça não terem se insurgido, inicialmente, diante do quadro. Em primeiro lugar, porque não es-tariam compelidos a saber da participação de candidatas assessoras de integran-tes da banca examinadora. Em segundo lugar, porque a balança da vida tem dois pratos. E somos compelidos, passo a passo, a optar. Caso optassem, desde o iní-cio do concurso, por uma impugnação, considerados os integrantes do Tribunal que participaram do concurso, levantando suspeita quanto a esses integrantes, certamente poderiam vir a constatar conseqüências, considerada a marcha para a ocupação de um cargo de juiz no próprio Tribunal.

A decisão do Conselho Nacional de Justiça – e todos sabem da minha, pelo menos inicial, não sei se a esta altura, e a evolução do homem é constante, pouca simpatia pelo Órgão – foi unânime. Não houve voto discrepante, porque os integrantes, os Conselheiros, estiveram diante – como disse no início da mi-nha fala – de um critério objetivo, da constatação inafastável da integração, na comissão examinadora, de desembargadores que tinham pessoas a eles ligadas, assessoras, participando do próprio concurso.

Presidente, peço vênia, talvez mesmo para valorizar o julgamento, porque sempre digo que se pudesse sopesar duas decisões, uma tomada a única voz, e outra por maioria de votos, concluiria no sentido de dar um peso maior – não por ser adepto de Nelson Rodrigues – à decisão por maioria de votos.

Subscrevo, ocupando esta cadeira, o que assentado pelo Conselho Nacional de Justiça e receio que conclusão diversa do Supremo acabe por tornar regra o que para mim até aqui era exceção, e exceção condenável, ou seja, a participação de examinadores, em concurso, mesmo considerada existência de candidatos a eles ligados.

Indefiro a ordem.

Page 198: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051198

VOTO(Retificação)

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhor Presidente, diante da brilhante intervenção do Ministro Marco Aurélio – eu já havia votado acompanhando o Relator –, peço vênia para reajustar o meu voto.

Entendo que há dados objetivos que apontam no sentido da violação dos princípios constitucionais inscritos no art. 37.

Eu me baseio apenas nesses dados objetivos, embora tendo uma compre-ensão larga a respeito dos argumentos trazidos pelo eminente Relator, quando demonstrou que não há dados objetivos, claros, quanto à eventual fraude no con-curso, os quais me levam a concluir pela violação dos princípios da moralidade e da impessoalidade e que estão cristalizados na participação desses membros do colegiado que tinham assessores como candidatos ao concurso. Penso ser de-ver indeclinável desses magistrados se abster de participar na elaboração desse concurso.

Portanto, reajusto para acompanhar a divergência aberta pelo Ministro Marco Aurélio.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, só uma pergunta: os emi-nentes Ministros que estão votando estão anulando todo o concurso ou estão anulando só a aprovação dos suspeitos?

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Indeferindo a segurança só.O Sr. Ministro Cezar Peluso: A segurança impetrada pelos demais que

foram aprovados.O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Presidente): Inclusive pessoas que vieram

de outros Estados e que nada tinham a ver.O Sr. Ministro Marco Aurélio: Mas é uma conseqüência, Presidente, que

se apresenta natural para quem procede à inscrição em um concurso. É sabedor, de início, que vício quanto a esse concurso poderá contaminar o resultado. É uma conseqüência lógica.

Não estou, aqui, crucificando – e se pudesse crucificar, crucificaria outros – este ou aquele candidato. Não é isso. Atrevi-me, inclusive, a qualificar a postura adotada por julgadores de segunda instância como desavisada, para dizer o mí-nimo – e lanço com desassombro essa advertência.

Agora – repito –, receio muito que o que até aqui se mostrava exceção – e diria exceção excepcionalíssima – venha a se tornar regra, principalmente nesse nosso Brasil continental, consideradas as unidades da Federação.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, fiz minha ponderação, porque, na verdade, do meu ponto de vista, com o devido respeito, os atos su-postamente viciados seriam os de aprovação das candidatas, das duas, não de todo o concurso.

Page 199: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1199

O Sr. Ministro Marco Aurélio: V. Exa. está formando numa maioria muito cômoda, Ministro!

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Não de todo o concurso.O Sr. Ministro Marco Aurélio: Não queira espicaçar a nossa inteligência.V. Exa. está muito confortável, tem o Colegiado ao seu lado. Imaginei,

inclusive, que ficaria isolado.Não sei por que V. Exa. está lançando idéias, tentando desqualificar uma

divergência.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Estou do lado da minha consciência, Ministro.

Se o Colegiado está do meu lado ou não, não me interessa em nada. Não tem a mínima importância se me acompanha ou não. Preciso estar confortável apenas com a minha consciência. É isso.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Não é isso que V. Exa. deixa transparecer, quando, após o voto – ouvi em silêncio –, logo após uma divergência, V. Exa. pede a palavra para tentar desqualificar o voto de um colega seu.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Não, fazendo uma ponderação. O Sr. Ministro Marco Aurélio: Perdoe-me. Que ponderação? A pondera-

ção é insuficiente ao meu convencimento.O Sr. Ministro Cezar Peluso: Isso é outra coisa. Se V. Exa. aceita, ou não,

a ponderação, é outro problema.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Britto: V. Exa. permite: o Ministro Cezar Peluso bem lembrou que a Ordem dos Advogados do Brasil participou do certame e por expresso desígnio constitucional.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: A Ordem também erra, Excelência!O Sr. Ministro Carlos Britto: Vou concluir o raciocínio. E se pronunciou

pela lisura de todo o procedimento.É preciso entender a razão de ser de a Constituição exigir a participação

da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases do concurso público de provas ou de provas e títulos no âmbito da magistratura. É que ela, OAB, opera como órgão de controle externo da própria magistratura. É por isso que ela está ali, no concurso, obrigatoriamente.

O eminente Relator deixou claro que a Ordem dos Advogados do Brasil se pronunciou expressamente, atestando a validade do certame.

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Há mais uma: os impugnantes jamais puse-ram dúvida à lisura da primeira e da segunda fase, tanto que requereram apenas a anulação da terceira fase.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Ministro Celso de Mello, não estamos diante de direito disponível.

Page 200: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051200

O Sr. Ministro Celso de Mello: É por tal razão que não se pode invalidar, sem mais, como o fez o Conselho Nacional de Justiça, fundado em juízo me-ramente conjectural, todo o procedimento seletivo realizado, de maneira cor-reta, pelo Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia.

Entendo, por isso mesmo, que se impõe, nos termos do voto do eminente Relator, a concessão do mandado de segurança.

É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

MS 26.700/RO — Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Impetrantes: Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia e Estado de Rondônia (Advogado: Procurador-Geral do Estado de Rondônia). Impetrado: Conselho Nacional de Justiça (Procedimentos de Controle Administrativo 371, 382 e 397).

Decisão: O Tribunal, por maioria, concedeu a segurança, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Marco Aurélio e Joaquim Barbosa. Falou pelo Ministério Público Federal o Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza. Presidiu o julgamento o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza.

Brasília, 21 de maio de 2008 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 201: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1201

HABEAS CORPUS 82.862 — SP

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoPacientes: Walter Luiz Monteiro Cardoso, Marcos Luiz Barreto Montandon

Júnior e Douglas Munro — Impetrantes: Arnaldo Malheiros Filho e outros — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Prova. Criminal. Documentos. Papéis confidenciais per-tencentes a empresa. Cópias obtidas, sem autorização nem conhecimento desta, por ex-empregado. Juntada em autos de inquérito policial. Providência deferida em mandado de se-gurança impetrado por representante do Ministério Público. Inadmissibilidade. Prova ilícita. Ofensa ao art. 5º, LVI, da CF e aos arts. 152, parágrafo único, 153 e 154 do CP. Desentranhamento determinado. Habeas corpus concedido para esse fim. Não se ad-mite, sob nenhum pretexto ou fundamento, a juntada, em autos de inquérito policial ou de ação penal, de cópias ou originais de documentos confidenciais de empresa, obtidos, sem autorização nem conhecimento desta, por ex-empregado, ainda que autori-zada aquela por sentença em mandado de segurança impetrado por representante do Ministério Público.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, em deferir o pedido de habeas corpus, nos ter-mos do voto do Relator. Falou, pelos Pacientes, o Dr. Arnaldo Malheiros Filho. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Joaquim Barbosa e Eros Grau.

Brasília, 19 de fevereiro de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de Walter Luiz Monteiro Cardoso, Marcos Luiz Barreto Montadon Júnior e Douglas Munro, contra decisão que, proferida pelo Superior Tribunal de Justiça, não conheceu do HC 24.204, dirigido contra liminar da Desembargadora Relatora do MS 2002.03.00.01569-4, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Alegam os Impetrantes que o constrangimento ilegal imposto aos Pacientes “decorre de decisão sem fundamento que, mesmo sem negar o caráter ilícito de provas já desentranhadas dos autos de inquérito policial, determinou sua rein-clusão ao feito por via oblíqua e à margem do devido processo legal” (fl. 3).

Page 202: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051202

Em reclamação trabalhista ajuizada por Anthony Peter McVeigh, ex-presidente da empresa Richard Ellis S/C Ltda., demitido por justa causa, o reclamante, para reforço de argumentação em recurso, requereu abertura de inquérito policial para apuração de supostos crimes de falsidade material e ideológica e uso de documentos, cometidos, em tese, no âmbito da reclamada, e instruiu o requerimento com documentos sigilosos da empresa, os quais lhe foram repassados por Mário Roberto de Castilho, ex-controller da reclamada.

Tais documentos, segundo a empresa, teriam sido obtidos ilicitamente, com violação dos arts. 152, parágrafo único, 153 e 154 do CP. A título exem-plificativo, entre os documentos encontrar-se-iam memorando confidencial, ata de reunião da diretoria da empresa, cópia de fax encaminhado pela advogada desta, minuta de parecer e defesa, balanços, etc.

Por isso, a empresa Richard Ellis S/C Ltda. requereu, também ela, instau-ração de inquérito policial, e solicitou ao juízo desentranhamento da documen-tação sigilosa que instruía o primeiro inquérito policial, porque lograda de forma ilícita, mediante ofensa ao disposto no art. 5º, inciso LVI, da Constituição da República.

Os autos do primeiro inquérito, que tramitavam na Justiça estadual, foram encaminhados à Justiça Federal, porque os ilícitos se teriam dado na contesta-ção à reclamação trabalhista. Redistribuídos os autos, o Juízo criminal federal determinou o desentranhamento daquelas provas documentais, declarando-lhes a ilicitude.

O Ministério Público Federal, ciente dos termos da decisão de desentra-nhamento, também reconheceu a ilicitude das provas, mas requereu fosse requi-sitada à 58ª Junta de Conciliação e Julgamento cópia integral dos autos da ação trabalhista que Anthony Peter MacVeigh movia contra Richard Ellis S/C Ltda.

Diante disso, a defesa dos ora Pacientes também peticionou, alertando o Juízo de que o reclamante havia juntado aos autos, no recurso, cópia integral do inquérito, em que constavam os documentos sigilosos. Requereu, assim, que o Juízo comunicasse à Justiça do Trabalho o desentranhamento e deixasse con-signado, no ofício, que solicitava cópia integral do processo trabalhista, salvo quanto à cópia do inquérito policial lá anexada.

O Juízo deferiu o requerimento.O Ministério Público, todavia, postulou, em mandado de segurança pe-

rante o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, fosse remetida cópia integral dos autos da ação trabalhista, inclusive com os documentos desentranhados por ilicitude, sob alegação de indevido cerceamento a atividade institucional do Ministério Público. E obteve liminar, para que a “autoridade impetrada solicite, junto ao r. Juízo do Trabalho, cópia integral da Reclamação Trabalhista”.

Contra a concessão dessa liminar, os diretores da reclamada impetraram habeas corpus ao Superior Tribunal de Justiça, sustentando que a reinserção da-

Page 203: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1203

quela prova, por via oblíqua, trazia novamente para o bojo do inquérito policial a documentação sigilosa, que constituía prova ilícita.

O habeas corpus não foi conhecido pelo Ministro Relator (fls. 79-82), em decisão mantida em agravo regimental (fls. 551-553).

Daí a presente impetração, onde se renovam os fundamentos do pedido de writ não conhecido. Requerem os Impetrantes seja excluída, em definitivo, do traslado das peças da ação trabalhista já juntado aos autos, a cópia integral do inquérito policial, ou a extinção do processo do mandado de segurança.

A Procuradoria-Geral da República opinou pelo não-conhecimento da im-petração e, caso conhecida, pela denegação da ordem (fls. 572-573).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Colho, do sítio eletrônico do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que, no longo curso deste processo, o MS 2002.03.00.015689-4 foi julgado, com concessão da segurança e confirma-ção da liminar.

Determinou-se, pois, aí, a juntada, aos autos do inquérito policial, da cópia integral dos autos da reclamação trabalhista que incluem cópia integral doutro inquérito policial, em cujos autos se encontram as provas ilícitas que, antes de-sentranhadas, são agora reconduzidas, por essa via indireta, ao mesmo procedi-mento inquisitório.

Há, nisso, contrangimento ilegal manifesto, que autoriza a cognição oficial do pedido, desta feita contra o teor do julgamento superveniente que absorveu a eficácia da liminar impugnada neste habeas corpus.

2. A meu juízo, escusa adentrar a questão do uso desvirtuado do mandado de segurança, dirigido contra ato jurisdicional que tutelou incontroverso direito subjetivo dos acusados, ordenando desentranhamento de provas ilícitas e, ao depois, restringindo as cópias dos autos da reclamação trabalhista por juntar aos autos do inquérito policial, para ver logo a impropriedade, gravosa ao status libertatis dos ora Pacientes, da decisão que concedeu a segurança ao represen-tante do Ministério Público.

É que não há, nem pode haver – porque inconcebível como categoria jurí-dica –, direito líquido e certo, da parte acusadora, de fazer juntar, aos autos de qualquer procedimento de persecução criminal, mediante sentença mandamen-tal de segurança, prova originalmente obtida de forma ilícita, qualquer que seja a razão ou o pretexto que se invoque para o lograr.

Se é certo que têm, as partes, poder jurídico, caracterizado como ônus, de requerer e produzir todas as provas que reputem necessárias ou convenientes à apuração da verdade, não menos o é que o objeto último sobre o qual recai esse poder encontra limite intransponível no seu eventual caráter ilícito, que

Page 204: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051204

a Constituição da República não tolera, subtraindo-lhe toda eficácia retórica e conseqüente uso processual (art. 5º, inciso LVI). Prova ilícita, obtida de forma ilícita, escusaria dizê-lo, não é prova; é não-prova.

A ostensiva ilicitude da prova, consistente em documentos presuntiva-mente sigilosos da pessoa jurídica, de que, sem autorização dela, se lhe apo-derou ex-alto funcionário, sob acusação de criminoso abuso de confiança, para favorecer a ex-companheiro de empresa, autor de reclamatória trabalhista con-tra esta, reconheceu-a o juízo do inquérito, com conhecimento pleno do repre-sentante do Ministério Público, o qual não lhes alegou nem deu nenhuma prova da existência da necessária autorização da titular para uso por parte de terceiro:

Mário Roberto Castilho Filho, que exerceu o cargo de confiança de con-troller da empresa Richard Ellis S/C Ltda. durante o período de maio de 1988 a junho de 2001, em depoimento prestado perante a autoridade policial, confirmou haver entregado ao requerente todos os documentos que estão sendo utilizados para provar os fatos em tela, “os quais lhe pertenciam, em razão de sua função na empresa” (fls. 413/415)

Assim, é de se notar que as provas que serviram para embasar o processo investigatório foram todas elas fornecidas por Mário Roberto Castilho, ex-funcio-nário da sociedade Richard Ellis S/C Ltda., na qual exerceu por mais de treze anos o cargo de confiança de controller.

Nesse passo, conquanto alegue o douto representante no Ministério Público Federal que Mário Roberto Castilho “teve acesso direto e lícito a todos os do-cumentos que forneceu ao Senhor Anthony Mcveigh” e afirme o próprio Mário Roberto Castilho, que os referidos documentos “lhe pertenciam, em razão de sua função na empresa”, impossível não reconhecer a ilicitude das provas apresen-tadas, diante do indiscutível fato de que os documentos são de propriedade da empresa Richard Ellis S/C Ltda., e que, se foram trazidos aos autos por pes-soa diversa da proprietária e sem sua autorização, é porque foram indevida e fraudulentamente desviados.

Das informações constantes nos autos, inclusive do depoimento prestado por Mário Roberto Castilho perante a autoridade policial (fls. 413/415), vislumbra-se que as provas documentais derivam de atos incontestavelmente ilícitos, uma vez que perfeitamente se subsumem às condutas delitivas tipificadas nos artigos 152, 153 e 154, do Código Penal, eivando tais provas de irreparável ilicitude.(Fls. 437-438 e 530-531– Grifos nossos.)

Ora, permitir, para efeito de consideração jurídica a título de fonte ou su-porte de opinio delicti e de convicção judicial, a juntada, em inquérito, de cópia integral dos autos de reclamação trabalhista onde estão cópias de documentos de presumida origem ilícita que instruíram o pedido doutro inquérito, é auto-rizar a produção, por viés, de prova em princípio ilícita, da qual para nada, em termos jurídicos, antes de lhe provar a licitude, pode valer-se o Impetrante, que, aliás, dela não precisa para estimar ou investigar a prática dos supostos crimes.

3. Ante o exposto, concedo a ordem, para determinar a exclusão, dos autos do Inquérito Policial 2001.61.81.006249-0, em trâmite perante a 4ª Vara Federal Criminal da 1ª Subseção Judiciária de São Paulo, das cópias dos

Page 205: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1205

documentos que já haviam sido desentranhados dos autos e que foram indevi-damente juntadas ao inquérito policial em razão da vinda, aos autos, de cópia integral da Reclamação Trabalhista de que são partes Anthony Peter McVeigh e Rei Limited ou Richard Ellis S/C Ltda.

VOTO

O Sr. Ministro Celso de Mello (Presidente): Também acompanho o voto do eminente Relator, por entender, considerada a ilicitude da prova, que esta, por inadmissível, não poderia ter sido validamente produzida nos autos do inquérito policial em questão.

Tenho presentes, na fundamentação de meu voto, não só as razões invoca-das pelo eminente Relator, como, também, aquelas que deram suporte a decisão que proferi em julgamento monocrático consubstanciado em ementa a seguir reproduzida:

PROVA ILÍCITA. MATERIAL FOTOGRÁFICO QUE COMPROVARIA A PRÁTICA DELITUOSA (LEI 8.069/90, ART. 241). FOTOS QUE FORAM FURTADAS DO CONSULTÓRIO PROFISSIONAL DO RÉU E QUE, ENTREGUES À POLÍCIA PELO AUTOR DO FURTO, FORAM UTILIZADAS CONTRA O ACUSADO, PARA INCRIMINÁ-LO. INADMISSIBILIDADE (CF, ART. 5º, LVI).

– A cláusula constitucional do due process of law encontra, no dogma da inadmissibilidade processual das provas ilícitas, uma de suas mais expressivas projeções concretizadoras, pois o réu tem o direito de não ser denunciado, de não ser processado e de não ser condenado com apoio em elementos probatórios obtidos ou produzidos de forma incompatível com os limites ético-jurídicos que restringem a atuação do Estado em sede de persecução penal.

– A prova ilícita – por qualificar-se como elemento inidôneo de informa-ção – é repelida pelo ordenamento constitucional, apresentando-se destituída de qualquer grau de eficácia jurídica.

– Qualifica-se como prova ilícita o material fotográfico, que, embora ale-gadamente comprobatório de prática delituosa, foi furtado do interior de um cofre existente em consultório odontológico pertencente ao réu, vindo a ser utilizado pelo Ministério Público, contra o acusado, em sede de persecução penal, depois que o próprio autor do furto entregou à Polícia as fotos incriminadoras que havia subtraído.

No contexto do regime constitucional brasileiro, no qual prevalece a inad-missibilidade processual das provas ilícitas, impõe-se repelir, por juridicamente ineficazes, quaisquer elementos de informação, sempre que a obtenção e/ou a produção dos dados probatórios resultarem de transgressão, pelo poder público, do ordenamento positivo, notadamente naquelas situações em que a ofensa atin-gir garantias e prerrogativas asseguradas pela Carta Política (RTJ 163/682 – RTJ 163/709), mesmo que se cuide de hipótese configuradora de ilicitude por derivação (RTJ 155/508), ou, ainda que não se revele imputável aos agentes estatais o gesto de desrespeito ao sistema normativo, vier ele a ser concretizado por ato de mero particular. Doutrina. (...).(RE 251.445/GO, Rel. Min. CELSO DE MELLO, “in” Informativo/STF 197.)

Page 206: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051206

Sendo assim, e com estas considerações, acompanho o voto do Relator.É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

HC 82.862/SP — Relator: Ministro Cezar Peluso. Pacientes: Walter Luiz Monteiro Cardoso, Marcos Luiz Barreto Montandon Júnior e Douglas Munro. Impetrantes: Arnaldo Malheiros Filho e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Falou, pelos Pacientes, o Dr. Arnaldo Malheiros Filho. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Joaquim Barbosa e Eros Grau.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes e Cezar Peluso. Ausentes, justificadamente, os Ministros Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.

Brasília, 19 de fevereiro de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 207: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1207

HABEAS CORPUS 85.541 — GO

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoPaciente: Vera Carla Nelson Cruz Silveira — Impetrante: José Eduardo

Rangel de Alckmin — Coator: Relator do Inquérito 431 do Superior Tribunal de Justiça

Inquérito policial. Indiciamento. Ato penalmente relevante. Lesividade téorica. Indeferimento. Inexistência de fatos capazes de justificar o registro. Constrangimento ilegal caracterizado. Liminar confirmada. Concessão parcial de habeas corpus para esse fim. Precedentes. Não havendo elementos que o justifiquem, constitui constrangimento ilegal o ato de indiciamento em inqué-rito policial.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Cezar Peluso, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, em conceder parcialmente a ordem. Falou, pela Paciente, o Dr. José Eduardo Rangel de Alckmin e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Wagner Gonçalves. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes.

Brasília, 22 de abril de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de Vera Carla Nelson Cruz Silveira, contra ato do Ministro Relator da Ação Penal 431, em trâmite no Superior Tribunal de Justiça.

Alega o Impetrante que o indiciamento da Paciente nos autos da ação penal se teria baseado em interceptações telefônicas determinadas por juízo incompetente.

Requisitei informações ao Superior Tribunal de Justiça (fl. 182), que as prestou (fls. 202, 203 e 219).

Deferi o pedido liminar às fls. 222-225, para que a Paciente não constasse como indiciada nos autos da Ação Penal 431, até que, eventualmente, sobre-viesse indiciamento formal.

Às fls. 66-82, juntaram-se aos autos as informações prestadas pelo Minis-tro Relator da Ação Penal 397.

Requer o Impetrante concessão da ordem para que “seja trancada a refe-rida investigação penal, uma vez que decorre exclusivamente de provas obtidas

Page 208: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051208

ilicitamente”, ou, alternativamente, requer “o reconhecimento da ilicitude da prova, com o conseqüente desentranhamento dos autos de todas as gravações de conversas interceptadas a partir do aparelho (...) utilizado por Igor da Silveira” (fl. 29).

O Ministério Público Federal é pela concessão parcial da ordem (fls. 244-249).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Cuida-se de writ impetrado con-tra ato do Ministro Relator da Ação Penal 431, que não apreciou o pedido de exclusão da Paciente da condição de indiciada nos autos do inquérito.

Deferi o pedido liminar sob os seguintes fundamentos:

(...)2. É caso de liminar.As informações de fl. 219 dão conta de que a Paciente não foi formalmente

indiciada.À fl. 220, o Ministro Francisco Falcão afirma que aguarda manifestação

do Ministro Fernando Gonçalves acerca de possível prevenção, para decidir a respeito do pedido de exclusão, ao nome da Paciente, da qualidade de indiciada.

Nesse ponto, assiste razão à Impetrante.Sylvia Helena F. Steiner observa que:

“o indiciamento formal tem conseqüências que vão muito além do eventual abalo moral que pudessem vir a sofrer os investigados, eis que estes terão o registro do indiciamento nos Institutos de Identificação, tor-nando assim público o ato de investigação. Sempre com a devida vênia, não nos parece que a inserção de ocorrências nas folhas de antecedentes comu-mente solicitadas para a prática dos mais diversos atos da vida civil seja fato irrelevante. E o chamado abalo moral diz, à evidência, com o ferimento à dignidade daquele que, a partir do indiciamento, está sujeito à publicidade do ato.”Que da qualidade de indiciada podem advir prejuízos à Paciente, isso colhe-

se ao que vem considerando esta Corte mesma:“Paciente condenado pela prática de crime de estelionato. Pena-

base fixada acima do mínimo legal. Cumprimento do regime semi-aberto. Incensurável a dosimetria da pena, tendo em vista tratar-se de Paciente com antecedentes desabonadores, consistentes em indiciamento em outro inqué-rito policial instaurado para apuração de crime da mesma natureza (contra o patrimônio). Assentada, no Supremo Tribunal Federal, orientação segundo a qual a inexistência de estabelecimento adequado, por não configurar ne-nhuma das hipóteses taxativamente previstas no art. 117 da LEP, não jus-tifica a concessão de prisão-albergue domiciliar (RTJ 142/164 – Ministro Celso de Mello). Habeas corpus indeferido.”(HC 72.463, Rel. Min. Ilmar Galvão – Grifei.)

Page 209: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1209

“Nem todo envolvido em inquérito policial é indiciado”, ensina Marta Saad, “visto que esta é a pessoa sobre quem se reuniram ‘indícios, que são meios de prova’: ‘indício é todo rastro, vestígio, sinal e, em geral, todo fato conhecido devidamente provado, suscetível de conduzir ao conhecimento de um fato desco-nhecido, a ele relacionado, por meio de um raciocínio indutivo-dedutivo’.”

Sendo o “ato pelo qual o suspeito passa à categoria jurídica de indiciado, deve ocorrer tão logo se reúnam os indícios, ou outros elementos de convicção, que incriminem o suspeito como praticante de ato ilícito e típico”, “o indiciamento deve ser visto como um marco, a partir do qual uma série de deveres e direitos pode, e deve, ser exercida. Tal como explica Fábio Konder Comparato, ao tratar das comissões parlamentares de inquérito, o indiciamento exerce função de garan-tia das liberdades individuais, uma vez que, por meio dele, o antigo suspeito toma conhecimento oficial do teor do inquérito, além do que as medidas assecuratórias, tais como o seqüestro de bens adquiridos como produto da infração, exigem, para sua decretação, prévio indiciamento: em suma, o Poder Judiciário e, com maioria de razão, a autoridade policial não podem exercer nenhuma coerção, para efeito de investigação ou prova, antes do formal indiciamento ou da aceitação de denúncia ou queixa crime contra pessoa determinada. Um constrangimento dessa natureza representaria, claramente, violência ou abuso de poder, contra o qual o paciente teria habeas corpus”.

Daí atribuir-se ao indiciamento importância fundamental como condição para o exercício do direito de defesa na fase investigatória:

À vista do que já foi dito, tem-se no indiciamento o momento proce-dimental ideal a partir do qual se deve, necessariamente, garantir a opor-tunidade ou ensejo ao exercício do direito de defesa, dado que o juízo que encerra é o de ser o sujeito o provável autor do delito. O indiciado tem inte-resse em demonstrar que não deve ser denunciado em juízo.Em artigo de leitura obrigatória, o saudoso Sérgio Marcos de Moraes

Pitombo assevera:“Mais que pressupõe, o indiciamento necessita, em conseqüência, de

suporte fático positivo da culpa penal, lato sensu. Contém uma proposição, no sentido de guardar função declarativa de autoria provável. Suscetível, é certo, de avaliar-se, depois, como verdadeira, ou logicamente falsa. Consiste, pois, em rascunho de eventual acusação; do mesmo modo que as denúncias e queixas também se manifestam quais esboços da sentença penal”.Nesse mesmo sentido, veja-se a decisão do Ministro Celso de Mello, no

Inq 2.041:“O indiciamento de alguém, por suposta prática delituosa, somente

se justificará, se e quando houver indícios mínimos, que, apoiados em base empírica idônea, possibilitem atribuir-se, ao mero suspeito, a autoria do fato criminoso. Se é inquestionável que o ato de indiciamento não pressupõe a necessária existência de um juízo de certeza quanto à autoria do fato deli-tuoso, não é menos exato que esse ato formal, de competência exclusiva da autoridade policial, há de resultar, para legitimar-se, de um mínimo proba-tório que torne possível reconhecer que determinada pessoa teria praticado o ilícito penal. O indiciamento não pode, nem deve, constituir um ato de arbítrio do Estado, especialmente se se considerarem as graves implicações morais e jurídicas que derivam da formal adoção, no âmbito da investigação

Page 210: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051210

penal, dessa medida de Polícia Judiciária, qualquer que seja a condição so-cial ou funcional do suspeito. Doutrina. Jurisprudência”.(DJU de 6-10-03, Informativo 323.)3. Isso posto, defiro a liminar, determinando que a Paciente não conste

como indiciada nos autos do Inquérito 431 do Superior Tribunal de Justiça, até que sobrevenha, eventualmente, seu formal indiciamento.(Fls. 222-225.)

Manifestou-se com acerto, quanto ao pedido de exclusão da Paciente como indiciada nos autos da Ação Penal 431, a Procuradoria-Geral da República, nestes termos:

(...)A ordem comporta parcial deferimento.A paciente, juíza federal aposentada e advogada, está sendo investigada

perante o Col. Superior Tribunal de Justiça nos autos do Inquérito nº 431, forma-dos a partir de cópias de interceptações de conversas telefônicas autorizadas pelo Juízo Federal da 5ª Vara da Seção Judiciária de Goiás, que visa apurar o envolvi-mento de membros do Poder Judiciário na venda de decisões judiciais a traficantes internacionais.

De fato, conforme informação da autoridade coatora, a paciente não foi for-malmente indiciada nos autos do inquérito acima citado, inexistindo razões para que seu nome figure na qualidade de indiciada.

(...)(Fl. 246.)

Quanto aos demais pedidos, foi pelo indeferimento:

(...) No tocante ao pleito de trancamento de inquérito policial, segundo a ju-risprudência dominante da Corte Superior de Justiça, o seu acolhimento em sede de habeas corpus, somente se viabiliza quando se constatar de pronto, sem um exame detalhado da prova, a atipicidade da conduta, bem como a existência de alguma causa extintiva da punibilidade, ou a inexistência de indícios de autoria.

No caso dos autos, não há elementos que permitam aferir de plano a atipi-cidade da conduta. Ao contrário, os elementos informativos demonstram a exis-tência de fato supostamente criminoso que encontra subsunção típica no Código Penal, consistente no envolvimento da paciente e diversas autoridades no esquema de venda de pronunciamentos jurisdicionais favoráveis a integrantes da organiza-ção criminosa chefiada pelo narcotraficante Leonardo Dias Mendonça.

Não se tratando de hipótese de atipicidade da conduta, perceptível primo ictu oculi, o juízo sobre ausência de justa causa exige revolvimento e valoração fática, incomportável na via estreita do habeas corpus.

Outrossim, em referência à imprestabilidade da prova produzida com a quebra de sigilo telefônico, determinada por juiz que, posteriormente, se declarou incompetente para o feito, sem razão, de igual modo, o impetrante.

Como é cediço, a eventual declinação de competência realizada em um mo-mento processual não tem o condão de por si só invalidar a prova colhida.

A questão, aliás, alinha-se ao decidido, mutatis mutandis, por esse Egrégio Pretório em caso similar, consoante se verifica da ementa a seguir transcrita:

Page 211: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1211

“I – Prisão preventiva: alegação de incompetência do juiz: superação.(...)II – Quadrilha: denúncia idônea(...)III – Denúncia: inépcia.(...)IV – Interceptação telefônica: exigência de autorização do ‘Juiz

Competente da Ação Principal’ (L. 9296/96, art. 1º): inteligência.1. Se se cuida de obter a autorização para a interceptação telefônica

no curso de processo penal, não suscita dúvidas a regra de competência do art. 1º da L. 9296/96: só ao juiz da ação penal condenatória – e que dirige toda a instrução –, caberá deferir a medida cautelar incidente.

2. Quando, no entanto, a interceptação telefônica constituir medida cautelar preventiva, ainda no curso das investigações criminais, a mesma norma de competência há de ser entendida e aplicada com temperamentos, para não resultar em absurdos patentes: aí, o ponto de partida à determina-ção da competência para a ordem judicial de interceptação – não podendo ser o fato imputado, que só a denúncia, eventual e futura, precisará –, haverá de ser o fato suspeitado, objeto dos procedimentos investigatórios em curso.

3. Não induz à ilicitude da prova resultante da interceptação telefô-nica que a autorização provenha de Juiz Federal – aparentemente compe-tente, à vista do objeto das investigações policiais em curso, ao tempo da decisão – que, posteriormente, se haja declarado incompetente, à vista do andamento delas.”(HC 81260/ES, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, DJU

19.04.2002, pp – 000 48.)Ademais, a quebra do sigilo telefônico foi realizada no aparelho pertencente

a Igor Santos Silveira que não detinha foro privativo em razão da função por ele exercida. Assim, o fato de, em determinado momento da investigação, os autos terem sido remetidos ao Supremo Tribunal Federal, em razão da prerrogativa de foro de pessoas nela envolvidas, não retira a competência da autoridade judiciária de primeiro grau do Estado de Goiás para a autorização da medida em questão, não havendo que se falar em ilicitude da prova determinada e colhida na fase pré processual.

Ante o exposto, opinamos pelo deferimento do mandamus apenas para excluir, por ora, o nome da paciente como indiciada no inquérito policial nº 431.(Fls. 246-249.)

2. Assim, concedo, parcialmente, a ordem, para determinar a exclusão da Paciente da condição de indiciada nos autos da Ação Penal 431. Expeçam-se as comunicações necessárias.

DEBATE

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhor Presidente, sou Relator de um mandado de segurança em que é impetrante o ex-Desembargador Eustáquio Silveira, ou seja, esposo da Juíza Vera Carla e pai do Igor. Estou aqui a refletir se não haveria a prevenção.

Page 212: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051212

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Presidente e Relator): Mas é dessa Ação Penal 431 também?

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Não, mas “Dos Fatos”.O Sr. Ministro Cezar Peluso (Presidente e Relator): Esse aqui é específico

do inquérito chamado de Ação Penal 431.O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Sim, mas desse caso resultou a aposenta-

doria do Juiz Eustáquio. É contra esse ato de aposentadoria que ele...O Sr. Ministro Cezar Peluso (Presidente e Relator): Não, nesse inquérito

não aconteceu nada; estão tentando apurar alguma coisa, mas até agora esse inquérito não foi concluído.

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Essa aposentadoria foi dentro do pro-cedimento administrativo do Tribunal que o aposentou, compulsoriamente, em razão desses mesmos fatos.

Vou pedir vista em mesa dos autos para esclarecer.

VOTO

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhor Presidente, a prevenção foi de-terminada em função de outro processo que V. Exa. já decidiu e já transitou em julgado.

Concedo em parte a ordem simplesmente para excluir o indiciamento, na forma do parecer.

EXTRATO DA ATA

HC 85.541/GO — Relator: Ministro Cezar Peluso. Paciente: Vera Carla Nelson Cruz Silveira. Impetrante: José Eduardo Rangel de Alckmin. Coator: Relator do Inquérito 431 do Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: Concedida parcialmente a ordem. Votação unânime. Falou, pela Paciente, o Dr. José Eduardo Rangel de Alckmin e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Wagner Gonçalves. Ausentes, justificadamente, neste julga-mento, os Ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes. Presidiu este julgamento o Ministro Cezar Peluso.

Presidência do Ministro Cezar Peluso. Presentes à sessão os Ministros Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves.

Brasília, 22 de abril de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 213: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1213

HABEAS CORPUS 87.724 — PI

Relator: O Sr. Ministro Gilmar MendesPaciente: Augusto Falcão Lopes — Impetrante: Antônio Ribeiro Soares

Filho — Coator: Relator da Ação Penal 331 do Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. 1. Paciente que, na condição de desem-bargador do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí (TJPI), foi denunciado pela suposta prática dos delitos de: a) corrupção passiva (CP, art. 317, § 1º) e b) tráfico de influência (CP, art. 332, parágrafo único). 2. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao receber a denúncia, determinou o afasta-mento do Paciente do cargo de magistrado, nos termos do art. 29 da Lei Complementar 35/79 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN). 3. Alegação de excesso de prazo no que con-cerne ao afastamento cautelar do Paciente em razão de alegada mora excessiva para o encerramento da instrução criminal. 4. Precedente citado (HC 90.617/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, maioria, julgado em 30-10-07, acórdão pen-dente de publicação) que firmou a tese segundo a qual, em prin-cípio, é possível admitir a impetração de habeas corpus para tutelar constrangimento ilegal decorrente de hipóteses nas quais o afastamento do cargo perdure por tempo excessivo desde que não-atribuível à atuação da defesa. 5. Paciente afastado do cargo de desembargador do TJPI desde o recebimento da denúncia – 15-12-04 (por mais de 3 anos ao momento da sessão de julga-mento pela Segunda Turma em 18-12-07) –, sem que a instrução criminal tenha sido concluída. 6. Dos documentos acostados aos autos, verifica-se, inicialmente, a complexidade da causa (diver-sos delitos praticados por 16 acusados). 7. Também há indícios de que a defesa teria contribuído para o excesso de prazo por meio da interposição de embargos protelatórios e de inúmeros agra-vos regimentais. 8. Excesso de prazo não configurado por não haver demora injustificada. Precedentes do STF: HC 81.905/PE, Rel. Min. Ellen Gracie, Primeira Turma, maioria, DJ de 16-5-03; HC 82.138/SC, Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, unânime, DJ de 14-11-02; e HC 71.610/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Pleno, unânime, DJ de 30-3-01. 9. Não-aplicação do precedente firmado no HC 90.617/PE, pois, na espécie, além da configuração da complexidade da causa, há indícios de que houve contribuição da defesa para o lapso temporal alegadamente ex-cessivo. 10. Ordem indeferida.

Page 214: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051214

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supre- mo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, conhecer do pedido de habeas corpus e, por unanimidade, indeferi-lo, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 18 de dezembro de 2007 — Gilmar Mendes, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de habeas corpus, com pedido de medida liminar, impetrado por Antônio Ribeiro Soares Filho, em favor de Augusto Falcão Lopes, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí (TJPI), afastado do cargo desde 15 de dezembro de 2004.

Nestes autos, a defesa questiona acórdão proferido pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que, na Ação Penal 331, até então sob rela-toria do Ministro José Arnaldo da Fonseca, recebeu denúncia ofertada contra o ora Paciente e, por unanimidade de votos, determinou o afastamento cautelar do Paciente, nos termos do art. 29 da Lei Complementar 35/79 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN). Eis o teor da ementa do acórdão impugnado (DJ de 15-8-05), verbis:

Ação penal. Desembargadores. Juiz de Direito. Promotor Público. Corrupção passiva e tráfico de influência. Corrupção ativa. Afastamento do exercício das funções.

1. Os elementos colhidos no Inquérito e narrados na denúncia demonstram a existência de fortes indícios das condutas delituosas, irrogando aos acusados os crimes descritos nos arts. 317, § 1º e 332, parágrafo único, do Código Penal.

2. “A gravidade do fato justifica o afastamento do exercício das funções do seu cargo, sem prejuízo da remuneração e vantagens, até o julgamento definitivo.” (Precedentes: APN 244/DF, Inq. 323/PE, Inq. 300/SP, Inq. 231/SP, APN 306/DF.)

3. Denúncia recebida com o afastamento dos denunciados das funções respectivas.(Ação Penal 331, Corte Especial do STJ, Rel. inicial Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ de 15-8-05, fl. 34.)

O Paciente foi denunciado por suposta prática dos crimes definidos nos arts. 317, § 1º (corrupção passiva), e 332, parágrafo único (tráfico de influência), do Código Penal (fl. 3).

A defesa alega haver excesso de prazo na instrução criminal, em face do Paciente estar “afastado do cargo há mais de um ano e a instrução criminal ainda não se iniciou” e aduz que “nada justifica afastamento de cargo superior a 120 (cento e vinte) dias para concluir culpabilidade a servidor público” (fl. 6).

O Impetrante afirma que “o tratamento dado ao paciente está desigual com o tratamento dado aos demais acusados de crime hediondo, (...) pois se o acusado

Page 215: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1215

de crime hediondo é presumidamente inocente, o que dirá o paciente, acusa- do de crime que admite fiança” (fl. 9).

Por fim, o Impetrante requer seja concedida medida liminar para determi-nar, verbis:

a) o retorno imediato do paciente ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, (...) ante a demora injustificada da ação penal, que já dura sete anos e mais de um ano de afastamento do cargo, sem sequer ter sido interrogado; b) (...) que seja concedida a ordem de habeas corpus, para cassar o afastamento do paciente do cargo; e c) (...) que seja desmembrado o processo, fi-xando prazo de 40 (quarenta) dias para a oitiva das testemunhas de acusação (...).(Fls. 10/11.)

O pedido de concessão de liminar foi indeferido pelo então Presidente do STF, Ministro Nelson Jobim, em 11 de janeiro de 2006 (DJ de 1º-2-06) (fls. 118/119).

O parecer do Ministério Público Federal (fls. 136-138), da lavra do Subpro-curador-Geral da República Edson Oliveira de Almeida, é pelo não-conheci-mento do writ.

Em 16 de agosto de 2005 (DJ de 23-9-05), esta Segunda Turma julgou pe-dido de HC 85.726/PI impetrado pelo mesmo Paciente contra o mesmo Relator da Ação Penal 331 do Superior Tribunal de Justiça. Naquela oportunidade, o Impetrante alegou inépcia da denúncia, ausência de justa causa para a ação pe-nal, ofensa ao princípio da isonomia e cerceamento de defesa.

A Turma, por votação unânime, indeferiu o referido writ, sob o funda-mento de que eventuais omissões da denúncia não implicariam necessariamente sua inépcia, em vista da possibilidade de serem supridas a qualquer tempo, antes da sentença final. Ademais, este Colegiado invocou o entendimento jurispru-dencial consolidado no âmbito do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que, em linhas gerais, não se tranca ação penal quando a conduta descrita na denún-cia configurar crime em tese.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Em síntese, discute-se nestes autos a ocorrência, ou não, de excesso de prazo no que concerne à instrução processual da Ação Penal 331, de competência originária do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para fins de reconhecimento de constrangimento ilegal no que concerne ao afastamento cautelar do Paciente, nos termos do art. 29 da Lei Complementar 35/79 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN).

Na oportunidade do recebimento da denúncia em face do ora Paciente, em 15 de dezembro de 2004, assim se pronunciou o então Relator, Ministro José Arnaldo da Fonseca, acerca do referido afastamento, verbis:

Page 216: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051216

E pelo teor da vestibular acusatória, os fatos delituosos imputados às pes-soas acima, concorrendo o concurso e a continuidade delitiva, dimanam de três situações, a saber:

I) crimes praticados para garantir a impunidade de Joaquim Matias Barbosa Melo (11º acusado);

II) crimes praticados para o fim de permitir o afastamento ou a per-manência de chefe do executivo do Município de Jerumenha, PI, em benefí-cio de Aderson Evelyn Soares Filho (16º acusado); e

III) crimes praticados para acobertar infrações cometidas por Amadeu Campos de Carvalho Filho (12º acusado), Francisco Bernadone da Costa Vale (13º acusado), Antônio dos Santos (14º acusado) e Ruberval Isidoro de Oliveira (15º acusado).(...)Na primeira das situações, são co-autores das condutas de corrupção pas-

siva e tráfico de influência Augusto Falcão Lopes [ora paciente], José Soares de Albuquerque, João Mendes Benigno Filho, Tiago de Melo Falcão e Samuel Mendes de Moraes, respectivamente, 1º, 2º, 4º, 5º e 10º denunciados, enquanto que autor da corrupção ativa, o 11º denunciado.

(...)Na segunda quadratura dos supostos fatos delituosos, a peça acusatória

relata que os acusados Augusto Falcão [ora paciente] e Soares de Albuquerque não pararam por aí, já que atuaram em outros casos submetidos à apreciação do Judiciário Local. Para essas condutas sempre designavam parentes próximos (...).

Recebida a denúncia, avalio o pedido de afastamento da função pública dos Desembargadores Augusto Falcão [ora paciente] e José Soares de Albuquerque e do Juiz Samuel Mendes de Morais, nos seguintes termos.

Nem se diga que os fatos são gravíssimos não só em relação àqueles que so-frem perseguições de toda ordem, mas também à imagem do Judiciário Nacional. As condutas foram praticadas tendo por suporte o ofício público.

Por isso, inconcebível que desembargadores, autoridades máximas do Judiciário local e, por conseguinte, o Juiz de Direito denunciado possam estar envolvidos em manipulações de julgamentos e em intromissões indevidas na atuação dos órgãos de persecução penal, ainda que em sede de suspeitas. Nestas circunstâncias, mantida a permanência no cargo, a sociedade lança pesadas des-confianças sobre toda a Justiça, o que não pode ser admitido em hipótese alguma.

(...)Diante disso, voto, também, nos termos do art. 29 da Loman (LC 35/79),

pelo afastamento dos desembargadores, do juiz da função e do promotor público sem prejuízo dos vencimentos e das vantagens, até a decisão final (...).(Ação Penal 331/PI, voto do até então Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Corte Especial, DJ, fls. 34-51.)

Nesse particular, em parecer da lavra do Subprocurador-Geral da República Edson Oliveira de Almeida, o parquet manifestou-se nos seguintes termos:

3. A ordem não merece ser conhecida. Não há qualquer coação ilegal a ense-jar o cabimento de habeas corpus. A simples pretensão de voltar a exercer o cargo do qual foi afastado em nada se relaciona à liberdade de locomoção do paciente. Nessa linha:

Page 217: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1217

“Ação penal. Magistrado. Denúncia recebida. Afastamento do cargo. Loman (art. 29). 1. O afastamento do cargo, decretado por unanimidade pelo Órgão Especial do Superior Tribunal de Justiça, quando do recebi-mento da denúncia, por não afetar e nem acarretar restrição ou privação da liberdade de locomoção, não pode ser questionado na via do habeas corpus. Precedentes. 2. Agravo regimental improvido.(HC AgR 84.326/PE – Rel. Min. Ellen Gracie – Pub. 01.10.2004, pág. 00235).4. Por outro lado, não há falar em ofensa ao princípio da razoabilidade na

duração do processo (inciso LXXVIII do art. 5º, CF/88, EC nº 45). O prazo para o término da instrução criminal deve ser cotejado levando-se em consideração a complexidade do feito e do grande número de réus, sob pena de se inviabilizar o processamento da persecutio criminis em casos complexos como o de que ora se trata. Ademais, eventual retardamento, para ser reconhecido, deve ser atribu-ído à inércia do Poder Judiciário o que não se dá no caso dos autos. Conforme consta, o acórdão que recebeu a denúncia foi publicado em 15.08.2005 (fl. 88) e cinco dos réus opuseram embargos de declaração. O julgamento destes se deu em 19.10.2005, sendo, entretanto opostos novos embargos pelo réu Joaquim Matias Barbosa. Em 14.12.2005 o Ministro Relator abriu vista ao Ministério Público Federal para impugnação dos embargos, retornando ao Superior Tribunal de Justiça em 02.01.2006.

5. Isso posto, opino pelo não conhecimento do writ.(Parecer do MPF, Subprocurador-Geral da República Edson Oliveira de Almeida, fls. 136-138.)

O tema da possibilidade, ou não, de reconhecimento de constrangimento ilegal em razão de excesso de prazo por afastamento cautelar de magistrado nos termos do art. 29 da Loman foi recentemente submetido a esta Colenda Turma no julgamento do HC 90.617/PE, de minha relatoria. Em sessão de julgamento de 30 de outubro de 2007 (acórdão pendente de publicação), asseverei, verbis:

Conforme tenho sustentado desde o julgamento do HC 89.525/GO (DJ de 9-3-07), quanto à alegação de excesso de prazo (...), o STF tem deferido a ordem de habeas corpus somente em hipóteses excepcionais, nas quais a mora processual:

a) seja decorrência exclusiva de diligências suscitadas pela atuação da acu-sação (cf.: HC 85.400/PE, Rel. Min. Eros Grau, Primeira Turma, unânime, DJ de 11-3-05; e HC 89.196/BA, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, maioria, DJ de 16-2-07);

b) resulte da inércia do próprio aparato judicial em atendimento ao princípio da razoável duração do processo, nos termos do art. 5º, LXXVIII (cf.: HC 85.237/DF, Pleno, unânime, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 29-4-05; HC 85.068/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, unânime, DJ de 3-6-05; HC 87.910/SP, Rel. Min. Eros Grau, decisão monocrática, DJ de 25-4-06; HC 87.164/RJ, de mi-nha relatoria, Segunda Turma, unânime, DJ de 29-9-06; HC 86.850/PA, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, unânime, DJ de 6-11-06; e HC 86.346/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, unânime, DJ de 2-2-07); e, por fim,

c) seja incompatível com o princípio da razoabilidade (cf.: HC 84.931/CE, Rel. Min. Cezar Peluso, Primeira Turma, unânime, DJ de 16-12-05), ou quando o excesso de prazo seja gritante (cf.: HC 81.149/RJ, Rel. Min. Ilmar Galvão,

Page 218: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051218

Primeira Turma, unânime, DJ de 5-4-02; RHC 83.177/PI, Rel. Min. Nelson Jobim, Segunda Turma, unânime, DJ de 19-3-04; HC 84.095/GO, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, unânime, DJ de 16-12-05; e HC 87.913/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, unânime, DJ de 23-3-07).

Com referência à alegação de excesso de prazo na instrução criminal, no caso concreto (isto é, no HC 90.617/PE), a denúncia foi recebida em 19 de março de 2003 (ou seja, há mais de 4 anos e 6 meses).

Na espécie, nessa mesma oportunidade do recebimento da denúncia, a Corte Especial do STJ deliberou pelo afastamento cautelar do ora Paciente com relação ao exercício do cargo de desembargador do TJPE, nos termos do art. 29 da Loman (LC 35/79).

Na petição 27.333/07 (fls. 418-420), o Ministro Cesar Asfor Rocha, então Relator da Ação Penal 259/PE do STJ, ao prestar informações noticiou que:

“O Ministério Público Federal denunciou o acusado Etério Ramos Galvão Filho pelos crimes de aborto, tentado e consumado, seqüestro e cár-cere privado, subtração de incapaz, falsidade ideológica, uso de documento falso, falso testemunho, corrupção de testemunha, denunciação caluniosa e falsidade de atestado médico (arts. 125, 125 c/c 14, 148, § 1º, III, § 2º, 249, § 1º, 299, parágrafo único, 304, 342, § 1º, 343, 339 e 302 do Código Penal), em concurso com outras sete pessoas.

(...)Antes de proceder ao interrogatório dos acusados, e por concluir

ser de fundamental importância ao deslinde destes autos um indicativo da existência de provável parto, determinei, em observância aos artigos 156 e 181 do Código de Processo Penal, fosse a vítima novamente periciada, dessa feita, por peritos designados por este Juízo, nas dependências deste Tribunal. As partes designaram profissionais da área de medicina para acompanhar o exame, formularam quesitos e requereram diligências.

Em razão de reiterados óbices da vítima em comparecer à avaliação médica, antes mesmo que fosse concluída a perícia procedi, em 10 de março de 2005, ao interrogatório dos acusados Mário Gil Rodrigues Neto, Túlio José de Souza Linhares, e Eliah Ebsan Meneses Duarte. O acusado Etério Ramos Galvão Filho foi ouvido em 11 de abril de 2005. Após, os acusa-dos apresentaram alegações preliminares, com rol de testemunhas e novas diligências.

O exame pericial na vítima foi concluído em 27 de abril de 2005, e seu depoimento colhido no dia 28 do mesmo mês.

Os demais acusados foram ouvidos mediante Carta de Ordem ex-pedida ao eg. Tribunal Regional Federal da 5ª Região, acostada aos autos em 04 de novembro de 2005. Dos interrogatórios realizados naquele Juízo, somente o acusado Samuel Alves dos Santos Neto apresentou defesa prévia. A fim de evitar eventual alegação de nulidade, determinei fossem os autos encaminhados à Defensoria Pública da União, que ofertou as defesas faltan-tes em 03 de março de 2006.

Após manifestação do Parquet Federal nos autos, em 20 de abril de 2006, deleguei a instrução criminal a um eminente Desembargador Federal do eg. Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que, consoante a Carta de Ordem nº 04/2006, deu início à coleta dos depoimentos testemunhais.

Page 219: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1219

O acusado Etério Ramos Galvão Filho requereu a reconsideração da medida de afastamento, que restou indeferida pelo eg. Colegiado desta Corte (STJ) em 16 de fevereiro de 2006. Em 24 de agosto de 2006, o acu-sado formulou novo pedido de cancelamento, indeferido em 05 de setembro do mesmo ano.

Ao todo são 48 (quarenta e oito) testemunhas, estando os autos em fase de oitiva das testemunhas de defesa.

Nada obstante o trancamento da ação penal quanto aos delitos de falsidade ideológica, falsidade de atestado médico, uso de documento falso, denunciação caluniosa, e falso testemunho ou falsa perícia, consoante deci-são desse egrégio Supremo Tribunal Federal (HC. 86.000/PE), permanecem contra o acusado Etério Ramos Galvão Filho acusações da prática dos cri-mes de aborto, seqüestro e cárcere privado, e subtração de incapaz, razão pela qual, esta Corte manteve a orientação adotada quando do recebimento da peça acusatória.”(Fls. 418-420.)Das informações prestadas, observa-se, à primeira vista, que não é possível

atribuir exclusivamente à defesa a mora processual verificável perante o STJ.Ao revés, é possível identificar que há indícios de que a suposta vítima

(Maria Soraia Elias Pereira) teria contribuído para a mora processual.Ou seja, exsurge dos autos que, por “reiterados óbices da vítima em compa-

recer à avaliação médica” (fl. 419), a realização da perícia levou cerca de 10 (dez) meses, vindo a ser concluída somente em 27 de abril de 2005. Ou seja, a produção da prova pericial concluiu-se em mais de 2 (dois) anos e 1 (um) mês da instauração da ação penal, com a conseqüente determinação de afastamento do cargo do ora Paciente.

Ademais, segundo registros constantes da página oficial do STJ (www.stj.gov.br), verifica-se, ainda, que, em 25 de janeiro de 2006, a defesa requereu ao STJ medida cautelar, com pedido de liminar, pretendendo o cancelamento da medida de afastamento das funções de magistrado imposta ao Paciente quando do rece-bimento da denúncia.

Em 3 de fevereiro de 2006, o Ministro Cesar Asfor Rocha, então Relator, negou seguimento à medida cautelar requerida (MC 11.109/PE) asseverando que o requerente buscava a satisfação do próprio direito subjetivo postulado na ação principal (Ação Penal 259/PE).

O tema do alegado excesso de prazo foi submetido, ainda, em sede de ques-tão de ordem suscitada na AP 259/PE, à Corte Especial do STJ em sessão de 15 de fevereiro de 2006. Por maioria de votos, o pleito da defesa foi indeferido. O acórdão da apreciação da questão de ordem somente foi publicado em 23 de abril de 2007.

Nesse ponto, é pertinente transcrever o inteiro teor da ementa do acórdão proferido, por maioria, pela Corte Especial do STJ no julgamento da AP 259-QO/PE:

“Questão de ordem em ação penal originária. Afastamento do cargo imposto no recebimento da denúncia. Cancelamento da medida. Desmembramento do processo. Normas de competência. Continência.

Embora sendo entendimento do relator, em linha de princípio, pela possibilidade de se desmembrar um processo somente com relação ao acusado detentor da prerrogativa de função por foro especial, in casu,

Page 220: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051220

contudo, razões de segurança, coerência e economia tornam inviável a me-dida, mormente quando, como na hipótese, a questão já foi enfrentada pelo Colegiado, que se firmou pela unidade do processo.Pedidos indeferidos”(AP 259-QO/PE, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Corte Especial do STJ, maioria, DJ de 23-4-07.)A alegação de excesso de prazo para a instrução criminal foi novamente

submetida à análise do Eminente Relator da AP 259/PE, Ministro César Asfor Rocha, em setembro de 2006. Em decisão monocrática de 5 de setembro de 2006 (DJ de 18-9-06), o referido relator explicitou que, verbis:

“O acusado Etério Ramos Galvão peticiona, às fls. 5721/5728, reque-rendo seja cancelada a medida de afastamento do cargo que lhe foi imposta quando do recebimento da denúncia.

Alega contar com 68 anos de idade e que, se mantido o ritmo com que vem se desenvolvendo o presente feito, não será temporário aquilo que o im-pede de exercer a profissão, que dá azo à sua vida. Se não reintegrado à sua função, nunca mais voltará a judicar, pois dentro em breve será aposentado compulsoriamente (fl. 5724).

Sustenta que a conduta procrastinatória da vítima, o elevado número de testemunhas e o trâmite processual por meio de cartas de ordem retar-dam o bom andamento processual, caracterizando constrangimento que deve ser sanado via do cancelamento da medida.

Ampara seu pedido no art. 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, que assegura a todos razoável duração do processo, e colaciona julgados do Supremo Tribunal Federal, traçando uma comparação ao insti-tuto da prisão.

Em que pese a zelosa argumentação deduzida pela defesa, o fato é que o pedido já foi apreciado e deliberado pela Eg. Corte Especial do STJ, em 15.02.2006, que entendeu pela manutenção da medida. E da análise dos autos, não se observa a superveniência de quaisquer fatos que justifiquem nova submissão da questão ao c. Órgão especial deste Tribunal. O processo desenvolve-se regularmente, estando os autos em fase de inquirição de tes-temunhas. Com efeito, como anotado quando do exame do tema pela Eg. Corte Especial, o fato de terem sido noticiados nestes autos episódios envol-vendo a vítima e pessoas estranhas a este processo não tem o condão de sub-trair as acusações que recaem sobre o peticionário e que, segundo entendeu o C. Colegiado, justificam a mantença da medida de afastamento do cargo.”(AP 259/PE, Rel. Min. César Asfor Rocha, decisão monocrática, DJ de 18-9-06.)Conforme asseverei na oportunidade da apreciação e julgamento da questão

de ordem apreciada por esta Colenda Segunda Turma em sessão de 19-6-07:“Para a análise do alegado excesso de prazo, inicialmente, surgiria

a questão preliminar quanto ao cabimento do presente writ. Assim, um ar-gumento usual em inúmeros julgados deste Supremo Tribunal Federal é o de que este pedido de habeas corpus não poderia ter seguimento porque o acórdão impugnado não afetaria diretamente a liberdade de locomoção do paciente.

A prevalecer esse entendimento, reiterado em diversos casos pela ju-risprudência desta Corte, revelar-se-ia incabível o manejo do habeas corpus na situação dos autos. Nesse sentido, arrolo os seguintes precedentes: HC

Page 221: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1221

84.816/PI, Rel. Min. Carlos Velloso (Segunda Turma, unânime; DJ de 6-5-05); HC 84.420/PI, Rel. Min. Carlos Velloso (Segunda Turma, unânime; DJ de 27-8-04); HC 84.326-AgR/PE, Rel. Min. Ellen Gracie (Segunda Turma, unânime; DJ de 1º-10-04); HC 83.263/DF, Rel. Min. Nelson Jobim (Segunda Turma, unânime; DJ de 16-4-04); HC 77.784/MT, Rel. Min. Ilmar Galvão (Primeira Turma, unânime; DJ 18-12-98)”.(Voto proferido pelo Min. Gilmar Mendes no HC 90.617-QO/PE, julgado em 19-6-07, Segunda Turma, maioria, DJ de 6-9-07.)Naquela assentada (19-6-07), asseverei ainda, verbis:

“Em que pese a extensão e a amplitude que essa interpretação tem assumido em nossa jurisprudência, não me impressiona o argumento de que habeas corpus é o meio adequado para proteger tão-somente o direito de ir e vir do cidadão em face de violência, coação ilegal ou abuso de poder.”(Voto proferido pelo Min. Gilmar Mendes no HC 90.617-QO/PE, julgado em 19-6-07, Segunda Turma, maioria, DJ de 6-9-07.)A esse respeito, devo frisar que, no caso concreto (ou seja, no HC 90.617/

PE), a decisão do STJ determinou o afastamento do Paciente do cargo de desem-bargador do TJPE e tal situação perdura por mais de 4 (quatro) anos e 6 (seis) me-ses, sem que a instrução criminal tenha sido devidamente concluída.

Isto é, os Impetrantes insurgem-se não exatamente contra o simples fato do afastamento do Paciente do cargo que ocupava na magistratura, mas sim em face de uma situação de lesão ou ameaça a direito que persiste por prazo excessivo e que, exatamente por essa razão, não pode ser excluído da proteção judicial efetiva (CF, art. 5º, XXXV).

Ainda, reiterando manifestação anterior, creio como pertinente a transcri-ção dos seguintes argumentos no voto que proferi em 19-6-07:

“Nestes termos, considerada essa configuração fática excepcional, entendo ser o caso de se estabelecer um distinguishing com relação à re-ferida jurisprudência tradicional deste Tribunal quanto à matéria do cabi-mento do habeas corpus. Entendo que o writ é cabível porque, na espécie, discute-se efetivamente aquilo que a dogmática constitucional e penal alemã – a exemplo da ilustre obra Freiheitliches Strafrecht (Direito Penal Libertário), de Winfried Hassemer – tem denominado Justizgrundrechte.

Essa expressão tem sido utilizada para se referir a um elenco de nor-mas constantes da Constituição que tem por escopo proteger o indivíduo no contexto do processo judicial. Não tenho dúvidas que o termo seja im-perfeito, uma vez que, amiúde, esses direitos transcendem a esfera propria-mente judicial.

Assim, à falta de outra denominação genérica, também nós optamos por adotar designação assemelhada – direitos fundamentais de caráter judi-cial e garantias constitucionais do processo –, embora conscientes de que se cuida de denominações que pecam por imprecisão. De toda forma, indepen-dentemente dessa questão terminológica, um elemento decisivo é o de que, no caso concreto ora em apreço, invoca-se garantia processual de natureza judicial e administrativa, que tem repercussão direta quanto ao devido pro-cesso legal penal e à dignidade pessoal e profissional do Paciente.

Desse modo, o tema da razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII), por expressa disposição constitucional, envolve não somente a invocação de pretensão à ‘direito subjetivo’ de célere tramitação dos

Page 222: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051222

processos judiciais e administrativos, mas também, o reconhecimento ju-dicial de ‘meios que garantam a celeridade de sua tramitação’. Em outras palavras, a interpretação desse dispositivo também está relacionada à efe-tivação de legítimas garantias constitucionais como mecanismos de defesa e proteção em face de atrocidades e desrespeitos aos postulados do Estado democrático de Direito (CF, art. 1º).

Nesse particular, entendo que, preliminarmente, o habeas corpus é garantia cabível e apta para levar ao conhecimento deste Tribunal a aprecia-ção do tema do excesso de prazo para a instrução criminal.

É dizer, embora a decisão impugnada não repercuta diretamente no direito de ir e vir do paciente (liberdade de locomoção stricto sensu), observa-se situação de constrangimento ilegal decorrente de mora na pres-tação jurisdicional no âmbito processual penal.”(Voto proferido pelo Min. Gilmar Mendes no HC 90.617-QO/PE, Segunda Turma, maioria, DJ de 6-9-07.)No caso concreto, tal constrangimento corresponde à persistência do afasta-

mento cautelar desde o recebimento da denúncia pelo STJ.A viabilidade deste writ se dá, portanto, em razão de que o afastamento cau-

telar do Paciente tem perdurado por lapso temporal excessivo.Este habeas corpus (referia-me ao HC 90.617/PE) foi impetrado em 7 de

fevereiro de 2007. O julgamento da questão de ordem ocorreu em 19-6-07, cujo acórdão foi publicado em 6-9-07. Hoje, completam-se 8 meses e 23 dias desde a impetração.

Friso que, no feito penal em andamento perante a Corte a quo, a suposta vítima (Maria Soraia Elias Pereira) vem tumultuando a regular instrução do feito (Ação Penal 259/PE), seja por ter obstado a realização de perícia por um pe-ríodo de cerca de 10 (dez) meses após a instauração da ação penal, seja por meio da apresentação de sucessivos pedidos de substituição de testemunhas, os quais apesar de indeferidos pelo STJ, têm contribuído para que, até o presente momento (informações disponíveis na página oficial do STJ – www.stj.gov.br), a instrução ainda não se tenha encerrado.

Em conformidade com a orientação jurisprudencial acima mencionada, constato a configuração de excessiva mora da instrução criminal e verifico patente situação de ilegalidade apta a ensejar a concessão da ordem.

Ademais, entendo que, em princípio, a excessiva mora processual verifi-cável de plano, nestes autos, configura-se como aquilo que, em matéria de ile-gítima persistência dos efeitos da custódia cautelar, ambas as Turmas deste STF têm denominado como “excesso de prazo gritante”. Nesse sentido, arrolo alguns processos nos quais foi adotado o parâmetro de moras processuais superiores a 2 (dois) anos para o deferimento da ordem, a saber: HC 87.913/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, unânime, DJ de 5-9-06; HC 84.095/GO, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, unânime, DJ de 2-8-05; HC 83.177/PI, Rel. Min. Nelson Jobim, Segunda Turma, unânime, DJ de 19-3-04; HC 81.149/RJ, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, unânime, DJ de 5-4-02.

Nesses termos, diante de excepcional situação de excesso de prazo para a conclusão da instrução criminal verificável neste caso concreto, defiro a ordem tão-somente para suspender os efeitos da decisão da Corte Especial do STJ que impôs o afastamento do cargo nos termos do art. 29 da LC 35/79, e determino,

Page 223: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1223

por conseqüência, o retorno do ora Paciente à função de magistrado perante o Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco (TJPE).(Voto proferido pelo Min. Gilmar Mendes no HC 90.617/PE, Segunda Turma, maioria, sessão de julgamento de 30-10-07.)

O precedente acima invocado (HC 90.617/PE) firmou, portanto, a tese de que, em princípio, é possível admitir a impetração de habeas corpus para hipó-teses nas quais o afastamento do cargo perdure por tempo excessivo desde que não-atribuível à atuação da defesa.

Tal hipótese, contudo, não implica o efetivo reconhecimento da ocorrência de excesso de prazo.

Por esse motivo, para fins de aferição da aplicabilidade, ou não, do pre-cedente firmado no HC 90.617/PE, é necessário verificar se, na espécie, houve, ou não, contribuição da defesa para o lapso temporal alegadamente excessivo.

No caso concreto, o acórdão do STJ recebeu a denúncia em 15 de dezem-bro de 2004.

Nessa mesma oportunidade do recebimento da denúncia, a Corte Especial do STJ deliberou pelo afastamento cautelar do ora Paciente com relação ao exer-cício do cargo de desembargador do TJPI, nos termos do art. 29 da Loman (LC 35/79).

O afastamento do Paciente de suas funções públicas ocorreu, portanto, a partir de 15 de dezembro de 2004 (ou seja, há mais de 3 anos, os quais, por sua vez, completaram-se no sábado passado, 15 de dezembro de 2007).

Na petição 11.963/07 (fls. 145/146), o Ministro Aldir Passarinho Júnior, atual Relator perante o STJ da Ação Penal 331/PI, prestou as seguintes infor- mações:

Em atenção ao Ofício nº 7755/R, tenho a informar a V. Exa. que o Desembar-gador Augusto Falcão Lopes, réu na Ação Penal nº 331/PI, foi afastado de suas fun-ções, conforme decisão da Corte Especial, quando do recebimento da denúncia.

Outrossim, ressalto que a defesa do réu Joaquim Matias Barbosa Melo, repetidamente, utilizou-se de quatro embargos de declaração, considerados pela Corte como meramente protelatórios, contra a decisão colegiada que recebeu a denúncia, além da interposição de agravos regimentais das decisões monocráticas deste Relator.

Ante tal reiteração, no julgamento dos últimos embargos de declaração opostos, foi proposto pelo Relator acolhido pela Corte Especial o imediato segui-mento regular da Ação Penal, independente da publicação de acórdão e da even-tual oposição de novos aclaratórios.

Dessa feita, o processo teve seu prosseguimento, sendo que foi delegada a realização do interrogatório dos réus ao MM. Juiz Derivaldo de Figueiredo Bezerra Filho, titular da Quarta Vara de Execução Fiscal, da Seção Judiciária do Estado do Piauí.

Page 224: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051224

No que concerne à previsão de julgamento da Ação Penal, não há como precisar uma data, vez que são 14 (quatorze) réus e complexos os fatos ainda sob investigação.

Por fim, encaminho fotocópias da inicial acusatória, da decisão que recebeu a denúncia e determinou o afastamento do paciente, das decisões que julgaram os embargos declaratórios e do despacho que denegou a realização dos interrogató-rios dos réus.(Fls. 145/146.)

Quanto ao excesso de prazo para o encerramento da instrução processual, no caso em análise, constata-se a complexidade da ação penal, em que se apu-ram diversos delitos supostamente cometidos por dezesseis denunciados (fl. 12). Nota-se, portanto, a existência de indícios que apontam para a razoabilidade na dilação do prazo de instrução processual, sem que seja configurado constran-gimento ilegal.

Diante dos documentos acostados aos autos, verifica-se, em primeiro lu-gar, a complexidade da causa.

Ademais, das informações transcritas, há notícia da interposição de recur-sos cujo caráter protelatório foi, por quatro vezes, declarado pelo STJ em sede de embargos de declaração. Ademais, a interposição de inúmeros recursos de agravo regimental pela defesa dos acusados também deve ser considerada como um elemento que contribui para que o deslinde dessa complexa controvérsia seja ainda mais postergado.

Nesse contexto, eventual retardamento da instrução não deve, no presente caso, ser atribuído unicamente à inércia do Superior Tribunal de Justiça.

Não se configura, portanto, excesso de prazo uma vez que não há demora injustificada. Neste sentido, vale indicar os seguintes precedentes da Corte: HC 81.905/PE, Rel. Min. Ellen Gracie, Primeira Turma, maioria, DJ de 16-5-03; HC 82.138/SC, Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, unânime, DJ de 14-11-02; e HC 71.610/DF, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Pleno, unânime, DJ de 30-3-01.

Nesses termos, meu voto é pelo indeferimento da ordem de habeas corpus.

Contudo, faço a ressalva de que, considerando-se a necessidade de razoá-vel duração do processo no âmbito judicial e os efeitos prejudiciais que podem ser causados ao Paciente na esfera penal, determino que esta decisão seja comu-nicada à Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, com a maior brevidade possível, para os fins de conferir regular seguimento à apreciação e julgamento da Ação Penal 331, nos termos do art. 5º, LXXVIII, da CF.

Senhor Presidente, com essa ressalva, é como voto.

Page 225: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1225

VOTO

O Sr. Ministro Joaquim Barbosa: Senhor Presidente, acompanho o emi-nente Relator quanto ao mérito, mas eu não ultrapassaria a barreira do conheci-mento neste caso.

Entendo que o afastamento do cargo como conseqüência do recebimento da denúncia não configura ameaça à liberdade de locomoção.

Acolheria a preliminar suscitada pelo Ministério Público, para não conhe-cer, mas, no mérito, acompanho o Relator.

EXTRATO DA ATA

HC 87.724/PI — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Paciente: Augusto Falcão Lopes. Impetrante: Antônio Ribeiro Soares Filho. Coator: Relator da Ação Penal 331 do Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação majoritária, vencido o Ministro Joaquim Barbosa, conheceu do pedido de habeas corpus. Prosseguindo no julgamento, a Turma, por votação unânime, indeferiu-o, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Eros Grau.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau. Subprocuradora-Geral da República, Dra. Sandra Verônica Cureau.

Brasília, 18 de dezembro de 2007 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 226: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051226

HABEAS CORPUS 88.052 — DF

Relator: O Sr. Ministro Celso de MelloPaciente: Adenilson Dias Oliveira — Impetrante: Defensoria Pública da

União — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Crime hediondo ou delito a este equiparado – Imposição de regime integralmente fechado – Inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90 – Progressão de regime – Admissibilidade – Exigência, contudo, de prévio controle dos demais requisitos, objetivos e subjetivos, a ser exercido pelo juízo da execução (LEP, art. 66, III, b), excluída, desse modo, em regra, na linha da jurisprudência desta Corte (RTJ 119/668 – RTJ 125/578 – RTJ 158/866 – RT 721/550), a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal, examinando pressupostos de índole subjetiva na via su-maríssima do habeas corpus, determinar o ingresso imediato do sentenciado em regime penal menos gravoso – Reconhecimento, ainda, da possibilidade de o juiz da execução ordenar, mediante decisão fundamentada, a realização de exame criminológico – Importância do mencionado exame na aferição da personalidade e do grau de periculosidade do sentenciado (RT 613/278) – Edição da Lei 10.792/03, que deu nova redação ao art. 112 da LEP – Diploma legislativo que, embora omitindo qualquer referência ao exame criminológico, não lhe veda a realização, sempre que julgada necessária pelo magistrado competente – Conseqüente legitimidade jurídica da adoção, pelo Poder Judiciário, do exa-me criminológico (RT 832/676 – RT 836/535 – RT 837/568) – Precedentes – Habeas corpus deferido, em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em deferir, em parte, o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausente, jus-tificadamente, neste julgamento, o Ministro Joaquim Barbosa.

Brasília, 4 de abril de 2006 — Celso de Mello, Presidente e Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Celso de Mello: Trata-se de postulação que objetiva asse-gurar, ao sentenciado, o ingresso em regime penal menos gravoso, tendo em vista a declaração incidental de inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90, que impôs, ao condenado por crime hediondo ou por delito a este equiparado, o cumprimento da pena em regime integralmente fechado.

Page 227: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1227

Como referido, a pretensão deduzida nesta sede processual apóia-se em precedente desta Corte firmado no julgamento plenário do HC 82.959/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, no qual se explicitou, a propósito da regra inscrita no § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90, que a decisão do Supremo Tribunal Federal “envolve, unicamente, o afastamento do óbice representado pela norma ora declarada inconstitucional, sem prejuízo da apreciação, caso a caso, pelo ma-gistrado competente, dos demais requisitos pertinentes ao reconhecimento da possibilidade de progressão” (grifei).

A douta Procuradoria-Geral da República, ao opinar nestes autos, mani-festou-se pelo acolhimento do pleito deduzido em favor do sentenciado (fl. 37).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): Sustenta-se, na presente sede processual, que o sentenciado – embora condenado pela prática de crime he-diondo ou de delito a este equiparado – tem direito subjetivo à imediata pro-gressão de regime prisional, cujo reconhecimento, no entanto, lhe foi negado pelo E. Superior Tribunal de Justiça, considerada a cláusula vedatória inscrita no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90.

O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o HC 82.959/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, declarou, “incidenter tantum”, a inconstitucionali-dade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072, de 25-7-90, afastando, em conseqüência, para efeito de progressão de regime, o obstáculo representado pela norma legal em referência.

Impende assinalar, no entanto, que esta Suprema Corte, nesse mesmo julgamento plenário, advertiu que a proclamação de inconstitucionalidade em causa – embora afastando a restrição fundada no § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90 – não afetará nem impedirá o exercício, pelo magistrado de pri-meira instância, da competência que lhe é inerente em sede de execução penal (LEP, art. 66, III, “b”), a significar, portanto, que caberá, ao próprio Juízo da Execução, avaliar, criteriosamente, caso a caso, o preenchimento dos demais requisitos necessários ao ingresso, ou não, do sentenciado em regime penal menos gravoso.

Na realidade, o Supremo Tribunal Federal, ao assim proceder, e tendo presente o que dispõe o art. 66, III, “b”, da Lei de Execução Penal (LEP), nada mais fez senão respeitar a competência do magistrado de primeiro grau para examinar os requisitos autorizadores da progressão, eis que não assiste, a esta Suprema Corte, mediante atuação “per saltum” – o que representaria inad-missível substituição do Juízo da Execução –, o poder de antecipar provimento jurisdicional que consubstancie, desde logo, a outorga, ao sentenciado, do bene-fício legal em referência.

Page 228: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051228

Tal observação põe em relevo orientação jurisprudencial que esta Su-prema Corte firmou em torno da inadequação do processo de “habeas corpus”, quando utilizado com o objetivo de provocar, na via sumaríssima do remédio constitucional, o exame dos critérios de índole subjetiva concernentes à de-terminação do regime prisional inicial ou pertinentes à progressão para regime penal mais favorável (RTJ 119/668 – RTJ 125/578 – RTJ 158/866 – RT 721/550, v.g.).

Não constitui demasia assinalar, neste ponto, não obstante o advento da Lei 10.792/03, que alterou o art. 112 da LEP – para dele excluir a referência ao exame criminológico –, que nada impede que os magistrados determinem a realização de mencionado exame, quando o entenderem necessário, consi-deradas as eventuais peculiaridades do caso, desde que o façam, contudo, em decisão adequadamente motivada, tal como tem sido expressamente reco-nhecido pelo E. Superior Tribunal de Justiça (HC 38.719/SP, Rel. Min. HÉLIO QUAGLIA BARBOSA – HC 39.364/PR, Rel. Min. LAURITA VAZ – HC 40.278/PR, Rel. Min. FELIX FISCHER – HC 42.513/PR, Rel. Min. LAURITA VAZ) e, também, dentre outros, pelo E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (RT 832/676 – RT 837/568):

(...). II – A nova redação do art. 112 da LEP, conferida pela Lei 10.792/03, deixou de exigir a realização dos exames periciais, anteriormente imprescindí-veis, não importando, no entanto, em qualquer vedação à sua utilização, sempre que o juiz julgar necessária.

III – Não há qualquer ilegalidade nas decisões que requisitaram a produ-ção dos laudos técnicos para a comprovação dos requisitos subjetivos necessá-rios à concessão da progressão de regime prisional ao apenado. (...).(HC 37.440/RS, Rel. Min. GILSON DIPP – Grifei.)

A Lei 10.792/2003 (que deu nova redação ao art. 112 da Lei de Execução Penal) não revogou o Código Penal; destarte, nos casos de pedido de benefício em que seja mister aferir mérito, poderá o juiz determinar a realização de exame criminológico no sentenciado, se autor de crime doloso cometido mediante vio-lência ou grave ameaça, pela presunção de periculosidade (art. 83, par. ún., do CP).(RT 836/535, Rel. Des. CARLOS BIASOTTI – Grifei.)

A razão desse entendimento apóia-se na circunstância de que, embora não mais indispensável, o exame criminológico – cuja realização está sujeita à avaliação discricionária do magistrado competente – reveste-se de utilidade inquestionável, pois propicia, “ao juiz, com base em parecer técnico, uma de-cisão mais consciente a respeito do benefício a ser concedido ao condenado” (RT 613/278).

As considerações ora referidas – tornadas indispensáveis em conse-qüência do julgamento plenário do HC 82.959/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – evidenciam a impossibilidade de se garantir o ingresso imediato do ora sen-tenciado em regime penal mais favorável.

Page 229: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1229

Impende registrar, por oportuno, que o entendimento exposto neste voto encontra apoio em julgamentos emanados desta colenda Segunda Turma (HC 85.677/SP, Rel. Min. GILMAR MENDES – HC 87.036/RS, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – HC 87.283/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 88.396/MT, Rel. Min. EROS GRAU – RHC 86.951/RJ, Rel. Min. ELLEN GRACIE – RHC 88.145/GO, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), nos quais se reconheceu que, em tema de progressão de regime nos crimes hediondos (ou nos delitos a estes equiparados), cabe, ao magistrado de primeira instância, proceder à análise dos demais requisitos, inclusive daqueles de ordem subje-tiva, para decidir, então, sobre a possibilidade, ou não, de o condenado vir a ser beneficiado com a progressão para regime mais brando de cumprimento de pena, sendo lícito, ainda, ao juiz competente, se o julgar necessário, ordenar a realização do exame criminológico.

Sendo assim, e em face das razões expostas, defiro, parcialmente, o pedido de “habeas corpus”, para, afastando, unicamente, o obstáculo repre-sentado pelo § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90, determinar, ao Juízo da Execução, que proceda à avaliação dos demais requisitos – objetivos e subjetivos – neces-sários ao ingresso do sentenciado em regime penal menos gravoso, podendo, inclusive, ordenar, se o entender indispensável, o exame criminológico do ora paciente, desde que o faça em decisão fundamentada.

É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

HC 88.052/DF — Relator: Ministro Celso de Mello. Paciente: Adenilson Dias Oliveira. Impetrante: Defensoria Pública da União. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu, em parte, o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Joaquim Barbosa.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes e Eros Grau. Ausente, justificadamente, o Ministro Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves.

Brasília, 4 de abril de 2006 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 230: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051230

HABEAS CORPUS 88.083 — SP

Relatora: A Sra. Ministra Ellen GraciePaciente: Osvaldo Silva ou Osvaldo da Silva ou Oswaldo da Silva —

Impetrantes: Carlos Augusto da Silveira Nunes e outros — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Direito processual penal. Habeas corpus. Negativa de se-guimento de agravo de instrumento em matéria penal ao STJ. Temas distintos do writ. Estatuto do Idoso. Redução do prazo prescricional. Inadmissibilidade.

1. Habeas corpus impetrado contra decisão monocrática do Relator do Superior Tribunal de Justiça que não conheceu do agravo de instrumento. O pedido do writ é o da concessão da prisão domiciliar ou o estabelecimento do regime semi-aberto de cumprimento da pena corporal.

2. Não-conhecimento deste writ, eis que os pedidos formula-dos – prisão domiciliar, regime semi-aberto ou reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva – não coincidem com a pre-tensão recursal deduzida via agravo de instrumento (tampouco com o recurso especial inadmitido).

3. O STF tem orientação pacífica no sentido de que a im-petração de habeas corpus contra decisão do Superior Tribunal de Justiça em recurso de devolução restrita deve se ater às ques-tões ali mencionadas (HC 85.858-ED/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ de 26-8-05; HC 83.440/MG, Rel. Min. Nelson Jobim, Segunda Turma, DJ de 28-5-04).

4. Os pedidos formulados na petição inicial deste writ guar-dam nítida pertinência com a fase de execução da sentença condenatória, tendo ocorrido o trânsito em julgado do acórdão da Corte estadual. Compete ao juízo da execução penal verifi-car da viabilidade de deferimento (ou não) do requerimento de prisão domiciliar, da passagem do regime fechado para o semi-aberto em razão de doença e da idade do paciente, entre outras possibilidades.

5. A circunstância do critério cronológico adotado pelo Estatuto do Idoso ser de 60 (sessenta) anos de idade não alterou a regra excepcional da redução dos prazos de prescrição da pre-tensão punitiva quando se tratar de pessoa maior de 70 (setenta) anos de idade na data da sentença condenatória.

6. No que tange à possibilidade de progressão do regime prisional com base no cumprimento de 1/6 da pena privativa de liberdade estabelecida na sentença, não houve pronunciamento

Page 231: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1231

do Superior Tribunal de Justiça (tampouco da Corte estadual), falecendo competência originária do Supremo Tribunal Federal para conhecer e julgar habeas corpus relativamente à questão não ventilada perante as Cortes superiores.

7. Habeas corpus não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, não conhecer do pedido de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 3 de junho de 2008 — Ellen Gracie, Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Ellen Gracie: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado contra decisão monocrática do relator do Superior Tribunal de Justiça, Ministro Hamilton Carvalhido, que não conheceu do AI 698.851/SP. O pedido é o da concessão da prisão domiciliar ou o estabelecimento do regime semi-aberto de cumprimento da pena corporal, caso não seja hipótese de reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva.

Argumenta o Impetrante que o Paciente foi submetido ao Tribunal do Júri, tendo sido condenado pela prática de homicídio qualificado. Após a negativa de provimento da apelação pela Corte estadual, houve interposição de recurso es-pecial que não foi admitido, ensejando a interposição de agravo de instrumento.

Esclarece que, por ocasião do trânsito em julgado, o Paciente tinha mais de 60 (sessenta) anos de idade. Informa que houve sua prisão em 30-1-06, sendo que desde agosto de 2005 apresenta seqüelas de acidente vascular cerebral. Disserta sobre a proteção jurídica ao idoso no direito brasileiro para concluir no sentido da impossibilidade da manutenção de seu encarceramento.

Requer, assim, seja concedida a ordem para o fim de o Paciente cumprir a pena em prisão domiciliar ou em regime semi-aberto, caso não seja reconhecida a prescrição que deve ser contada pela metade.

2. Por força da decisão de fls. 193/196, foi indeferido o requerimento de liminar.

3. Parecer do Ministério Público Federal no sentido do não-conhecimento do habeas corpus (fls. 199/203).

4. Novas manifestações do Impetrante, requerendo pronto julgamento do writ, inclusive para admissão da progressão de regime (fls. 211/212 e 232/233).

É o relatório.

Page 232: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051232

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. Verifico que a impetração deste habeas corpus em favor do Paciente se fundamentou na sua condição de idoso (Lei 10.741/03), além de portador de seqüelas de doença sofrida (acidente vas-cular cerebral), motivos que autorizariam supostamente a concessão de prisão domiciliar ou, ao menos, regime semi-aberto no cumprimento da pena corporal.

2. Sucede que, após ter sido condenado pelo Tribunal do Júri à pena de 12 (doze) anos de reclusão em razão da prática do crime previsto no art. 121, § 2º, IV, do Código Penal, e haver sido negado provimento ao recurso de apelação interposto, não foi admitido o recurso especial sob o seguinte fundamento (fls. 142/144):

Não estão presentes os requisitos de admissibilidade necessários ao conhe-cimento do recurso interposto.

Inicialmente, cumpre registrar que a matéria ventilada não restou preques-tionada, como se exigia no caso. Vale dizer, o prequestionamento implica em de-bate a respeito da norma em testilha, isto é, torna-se imperioso que a matéria reste “suficientemente discutida a ponto de se constituir tese sobre ela”.

(...)Como se vê, para a comprovação da divergência, visando à admissão do

recurso especial com base na alínea c do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, exige-se a transcrição dos trechos dos acórdãos que configurem o dissí-dio. Vale frisar, “devem ser transcritos os trechos dos acórdãos recorrido e para-digma onde estaria localizada a divergência jurisprudencial. (...)

Deixou o recorrente de cumprir os requisitos necessários à demonstração apta do alegado dissenso, o que basta para a não admissão do recurso interposto, pois o dissídio jurisprudencial só se encontra demonstrado se satisfizer as condi-ções exigidas pelo RISTJ.

Por fim, analisando-se as razões apresentadas, verifica-se, em relação ao recurso interposto, o interesse do recorrente quanto ao reexame da prova, o que é inadmissível na esfera extraordinária.

3. Houve interposição de agravo de instrumento contra tal decisão que inadmitiu o recurso especial, tendo o Ministro Hamilton Carvalhido não conhe-cido do agravo, destacando-se o seguinte trecho da decisão (fls. 174/175):

A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça registra já o entendimento no sentido de que não reúne condições de admissibilidade o agravo de instru-mento interposto contra decisão que nega seguimento a recurso especial, quando a insurgência está fundada na alínea c do permissivo constitucional e o agravante deixa de juntar ao instrumento cópias dos precedentes invocados como para-digma, por tratar-se de peça essencial à compreensão da controvérsia, nos termos do artigo 255, parágrafo 1º, alíneas a e b, do RISTJ (...)

Ao que se tem dos autos, não se faz presente o traslado dos acórdãos para-digmas, cabendo esclarecer que dentre os repositórios autorizados e credenciados por esta a Corte para a caracterização do dissídio não se encontra o Diário de Justiça da União.

(...)

Page 233: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1233

De qualquer forma, ainda que admitido o agravo, melhor sorte não assistiria ao recorrente.

Eis que, reconhecida no acórdão impugnado a inexistência de decisão con-trária aos autos, a alegação em sentido contrário, a motivar insurgência especial, requisita exame do acervo fático-probatório, vedado na instância excepcional, pela letra do enunciado 7 da Súmula desta Corte Federal Superior (...)

4. A hipótese é de não-conhecimento deste writ, eis que os pedidos formu-lados – prisão domiciliar, regime semi-aberto ou reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva – não coincidem com a pretensão recursal deduzida via agravo de instrumento (tampouco com o recurso especial inadmitido).

Esta Corte tem orientação pacífica no sentido de que a impetração de ha-beas corpus contra decisão do Superior Tribunal de Justiça em recurso de devo-lução restrita deve se ater às questões ali mencionadas, não sendo possível que o Supremo Tribunal Federal tenha competência a respeito de questões que não foram levadas ao conhecimento do STJ. Neste sentido: HC 85.858-ED/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ de 26-8-05; HC 83.440/MG, Rel. Min. Nelson Jobim, Segunda Turma, DJ de 28-5-04.

5. Nota-se, claramente, que os pedidos formulados na petição inicial deste writ guardam nítida pertinência com a fase de execução da sentença condenató-ria, tendo ocorrido o trânsito em julgado do acórdão da Corte estadual. Assim, compete ao juízo da execução penal verificar da viabilidade de deferimento (ou não) do requerimento de prisão domiciliar, da passagem do regime fechado para o semi-aberto em razão de doença e da idade do paciente, entre outras possibilidades.

6. A alegação de prescrição – além de bastante superficial e sem funda-mentação – não tem como prosperar, mesmo em se admitindo o conhecimento de ofício da questão, eis que não decorreu o lapso prescricional entre a data do fato delituoso e o recebimento da denúncia, entre este e a sentença de pronúncia, além dos outros períodos temporais.

A regra contida no art. 115 do Código Penal, ao prever a contagem dos pra-zos prescricionais pela metade quando o agente era, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos, com efeito, não foi alterada com a vigência da Lei 10.741/03. A circunstância do critério cronológico adotado pelo Estatuto do Idoso ser de 60 (sessenta) anos de idade, a meu juízo, não alterou a regra excepcional da redução dos prazos de prescrição da pretensão punitiva quando se tratar de pessoa maior de 70 (setenta) anos de idade na data da sentença condenatória.

7. Finalmente, quanto à alegação de possibilidade de progressão do regime prisional com base no cumprimento de 1/6 da pena privativa de liberdade esta-belecida na sentença, da mesma forma não houve pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça (tampouco da Corte estadual) a esse respeito, falecendo competência originária do Supremo Tribunal Federal para conhecer e julgar ha-beas corpus relativamente à questão não ventilada perante as Cortes superiores.

Page 234: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051234

8. Ante o exposto, não conheço do presente habeas corpus, seja em rela-ção aos pedidos formulados na inicial, seja no referente ao pedido deduzido por petições apresentadas no curso do writ.

É como voto.

EXTRATO DA ATA

HC 88.083/SP — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Paciente: Osvaldo Silva ou Osvaldo da Silva ou Oswaldo da Silva. Impetrantes: Carlos Augusto da Silveira Nunes e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, não conheceu do pedido de ha-beas corpus, nos termos do voto da Relatora. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Eros Grau.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso, Ellen Gracie, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 3 de junho de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 235: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1235

HABEAS CORPUS 88.473 — SP

Relator: O Sr. Ministro Marco AurélioPaciente: R. F. de A. — Impetrantes: Egmar Guedes da Silva e outros —

Coator: Relator do HC 56.004 do Superior Tribunal de Justiça

Estatuto da Criança e do Adolescente – Interpretação. O Estatuto da Criança e do Adolescente há de ser interpretado dando-se ênfase ao objetivo visado, ou seja, a proteção e a in-tegração do menor no convívio familiar e comunitário, preser-vando-se-lhe, tanto quanto possível, a liberdade.

Estatuto da Criança e do Adolescente – Segregação. O ato de segregação, projetando-se no tempo medida de internação do menor, surge excepcional, somente se fazendo alicerçado uma vez atendidos os requisitos do art. 121 da Lei 8.069/90, não cabendo a indeterminação de prazo.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal deferir o pedido de habeas cor-pus, nos termos do voto do Relator e, por unanimidade, na conformidade da ata do julgamento e das respectivas notas taquigráficas.

Brasília, 3 de junho de 2008 — Marco Aurélio, Presidente e Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Marco Aurélio: A Assessoria assim resumiu os parâmetros deste habeas corpus:

Consta dos autos que ao Paciente foi imposta medida socioeducativa de in-ternação por prazo indeterminado, pela prática de infração equiparada ao delito previsto no art. 12 da Lei 6.368/76. Contra a decisão foi impetrado habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Não acolhido o pleito de li-minar, idêntica medida foi formalizada no Superior Tribunal de Justiça, alegando-se que a sentença afrontara o art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente, tendo em vista que o ato infracional não foi cometido com violência ou grave amea- ça contra a pessoa e que o menor é primário. O Ministro Hélio Quaglia Barbosa indeferiu liminarmente o pedido, ressaltando a incompetência daquela Corte para conhecer de habeas impetrado contra negativa de medida acauteladora (fl. 37).

Esta impetração fez-se voltada a infirmar essa decisão. Requereu-se o im-plemento de liminar para anular o ato mediante o qual determinada a internação do Paciente, porque carente de fundamentação, e, no mérito, a concessão da ordem para anular a sentença, por ausência de laudo químico-toxicológico definitivo, fato que, segundo alegado, constitui inobservância ao devido processo legal e violação do princípio da ampla defesa (fl. 35).

Page 236: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051236

Vossa Excelência, evidenciando a impossibilidade de se empolgar linear-mente o Verbete 691 da Súmula do Supremo, deferiu a medida acauteladora, para que o Paciente fosse de imediato colocado em liberdade, devendo ser entregue, mediante termo de responsabilidade, aos pais, permanecendo na vigilância destes até o julgamento pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo do habeas em curso (fls. 107 a 109).

A Corte estadual prestou as informações solicitadas, acompanhadas dos documentos de fls. 141 a 145. Ressaltou que a Câmara Especial concedeu a ordem requerida em favor do menor, para o fim de impor ao Paciente medida socioedu-cativa de semiliberdade, com escolarização e profissionalização obrigatórias, sem prazo determinado, nos termos do art. 120 e parágrafos do Estatuto da Criança e do Adolescente.

A Procuradoria-Geral da República, à fl. 147, preconizou o prejuízo do processo. Instado, o Impetrante dissentiu da manifestação do Ministério Público, porquanto ainda pendente a apreciação do pedido relativo à anulação da sentença ante a ausência de laudo químico-toxicológico (fls. 152 a 155).

O novo parecer da Procuradoria-Geral da República é pela prejudicialidade da impetração, por não ser possível transmudar em cumulativos os pleitos suces-sivos formulados na inicial.

O RHC 20.529 – interposto contra a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo relativa ao HC 131.275.0/5 – foi redistribuído à Ministra Jane Silva, com parecer do Ministério Público Federal. Pesquisa realizada no sítio do Superior Tribunal de Justiça em 2 de junho de 2008 revelou a pendência de apreciação do pedido de preferência no julgamento.

Lancei visto no processo em 26 de maio de 2008, liberando-o para ser julgado na Turma a partir de 3 de junho seguinte, isso objetivando a ciência dos Impetrantes.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): De início, afasto o prejuízo do habeas. Conforme ressaltado pelos Impetrantes, persiste o interesse no julga-mento porquanto o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo não implementou o afastamento linear da internação. Substituiu-a pelo regime de semiliberdade versado no art. 120 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

No mais, há de se observar a dinâmica própria ao Direito. É de 7 de abril de 2006 a decisão por meio da qual deferi a liminar para que o menor fosse en-tregue aos pais, mediante termo de responsabilidade, permanecendo na vigilân-cia destes até o julgamento do habeas pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o que ocorreu em 17 de julho de 2006. Em outras palavras, a eficácia da medida acauteladora ficou limitada a essa última data.

Apesar da substituição do internamento pela semiliberdade, penso que, na espécie, a melhor providência seria proporcionar o convívio do menor com os próprios pais. De nada adianta desenvolver atividades externas e ter de

Page 237: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1237

recolher-se a casa que se diz de reeducação. Afasto a semiliberdade consignada no acórdão do Tribunal de Justiça. Valho-me do que registrei ao deferir a limi-nar (fls. 107 a 109):

2. Observem que os Impetrantes batem na derradeira porta da cidadania, buscando, no Supremo, afastar ato que consideram discrepante da ordem jurí-dica, do Estatuto da Criança e do Adolescente, da própria Constituição Federal, que revela, no art. 227, ser “dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. A única óptica capaz de, com alguma boa vontade, deixar o Verbete 691 da Súmula do Supremo a salvo da glosa própria aos atos inconstitu-cionais é a da flexibilização na observância do enunciado, de modo a reafirmar-se a envergadura maior do habeas corpus como garantia constitucional, cuja adequa-ção pressupõe apenas ato ilegal a alcançar a liberdade de ir e vir e a existência de órgão situado em patamar viabilizador do exame. Ora, em face de pronunciamento de Juízo, tem-se, considerada a impetração, em patamares distintos e sucessivos, o Tribunal de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça e a derradeira trincheira do cidadão, o Supremo. O habeas é cabível quer se trate de ato individual ou coletivo, precário ou não, bastando, é de repetir, que se façam presentes a ilegalidade e a existência de órgão capaz, constitucionalmente, de apreciá-lo. Tarda realmente a revisão do Verbete 691 da Súmula:

“Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas cor-pus impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.”Mostra-se necessária tal revisão até mesmo para que o enunciado não acabe

por se tornar revelador de aspectos defensivos, dada a inimaginável carga de pro-cessos, levando a que, em quase aposição automática de carimbo, sejam colocadas na vala comum situações distintas, fechando-se os olhos à premência de correção de rumos. O dever maior daqueles que exercem o ofício judicante diz respeito ao cumprimento irrestrito da Lei Fundamental do País.

Eis um caso emblemático a evidenciar, a mais não poder, a impossibilidade de se empolgar linearmente o Verbete 691, projetando-se no tempo algo que, ao primeiro exame, surge discrepante da norma de regência. É certo haver o Paciente se envolvido, segundo auto de prisão em flagrante, no incontrolável, a esta altura, tráfico de entorpecentes – chegando mesmo a alcançar menores –, porém, é pri-mário e convive com a família, constando da avaliação psicológica da Unidade de Internação Provisória Turiassu (UIPE) 9 que (fls. 91 e 92):

“(...)Identificado nesta Fundação, constatamos não haver passagem ante-

rior pela Fundação sendo, portanto, Primário em atos infracionais. Levando-se em conta tratar-se de pessoa em desenvolvimento, vimos

discorrer sobre o adolescente em questão. Em atendimentos, temos percebido a base comportamental do jovem

pautada na introspecção, com certa relutância em estabelecer contato com o ambiente. Parece ser indivíduo com desejo de proteção e certa carência afetiva, retraído, tem como conseqüência a timidez diante do intercâmbio

Page 238: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051238

pessoal. Nega o ato infracional alegando estar comendo pizza na casa da amiga, não tendo conhecimento da existência da “droga” na varanda.

A genitora é tomada como figura dominante com relação a afetivi-dade. Como autoridade, apresenta-se o genitor exercendo controle mais rígido sobre seu comportamento, fiscalizando com maior energia.

Existe uma dependência ao meio familiar sob a forma de fixação ma-terna, acarretando a imaturidade de sua capacidade conceitual e a ingênua liberalidade na apresentação da realidade. Sua compulsividade é controlá-vel pois aceita ajuda exterior.

Sobre as atividades acadêmicas afirma estar com atraso devido ao não comparecimento às aulas, o que ocasionou a repetência da 6ª Série, atualmente freqüenta a 7ª série.

Declara em entrevistas, não fazer uso de substâncias lícitas ou ilícitas.No convívio familiar, ele percebe o relacionamento como saudável e

harmonioso. A genitora o considera como pessoa dócil de bons costumes, com afetividade demonstrada.

Nesta UIP – 9 – Rio Turiassú temos trabalhado a conscientização da necessidade de escolher melhor as pessoas que lhe servem de companhia.

Em atendimento técnico, tem-se mostrado educado e obediente às normas e procedimentos, atendendo às expectativas quanto ao seu comportamento.

É o que tínhamos a informar.”Ora, conforme ficou ressaltado quando do julgamento do HC 85.598-9/SP,

por mim relatado, perante a Primeira Turma, em 25 de outubro de 2005, a inter-nação é medida excepcional, a ser usada somente em situação concreta que, à luz do art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente, autorize-a. Eis a ementa do citado acórdão:

“Estatuto da Criança e do Adolescente – Interpretação. O Estatuto da Criança e do Adolescente há de ser interpretado dando-se ênfase ao objetivo visado, ou seja, a proteção e integração do menor no convívio familiar e co-munitário, preservando-se-lhe, tanto quanto possível, a liberdade.

Estatuto da Criança e do Adolescente – Segregação. O ato de segrega-ção, projetando-se no tempo medida de internação do menor, surge excep-cional, somente se fazendo alicerçado uma vez atendidos os requisitos do art. 121 da Lei 8.069/90, não cabendo a indeterminação de prazo.”No caso, o ato infracional não foi cometido mediante grave ameaça ou

violência a pessoa, não se fez presente reiteração no cometimento de infrações graves, nem o descumprimento injustificável de medida anteriormente imposta. Urge a providência judicial para afastar a ilegalidade perpetrada, surgindo, neste primeiro exame, a necessidade de se ter o abrandamento do Verbete 691 referido.

Caso venha a prevalecer essa óptica, determino seja dado conhecimento ao Superior Tribunal de Justiça para efeito de se declarar o prejuízo do RHC 20.529, interposto contra a decisão do Tribunal de Justiça.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Eu vou acompanhar o voto do eminente Ministro Marco Aurélio, considerando que já não há mais o óbice da Súmula 691, como S. Exa. expôs com toda a claridade, e, por outro lado, não me parece

Page 239: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1239

haver, no caso, um pedido alternativo, porque, quando o pedido alcança um me-nor e outro de maior âmbito, evidentemente que esse pedido há de ser tomado como sucessivo. Se o segundo é de maior alcance, não há óbice de enfrentá-lo, que é exatamente o que se está fazendo aqui.

Por outro lado, a circunstância de não estar esgotada a instância do STJ também não preocupa, no cenário dos autos, pelo fato de que a nossa jurispru-dência tem admitido expressamente que já estando em curso habeas corpus no Supremo Tribunal Federal, nada obsta que se lhe dê julgamento de acordo com o pedido.

Com essas razões, considerando as demais circunstâncias de fato que S. Exa. pôs com relação à proteção constitucional que deve revestir matéria rela-tiva à criança e adolescente, eu também acompanho S. Exa., confirmo a liminar que foi deferida para ampliá-la no sentido de manter o convívio familiar.

Concedo a ordem, portanto, nesses termos.

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhor Presidente, também acompanho V. Exa., a par das circunstâncias processuais já realçadas no voto do eminente Ministro Menezes Direito, assim como explicitado por V. Exa., especialmente porque a dimensão neste caso, tal como se propõe a um Tribunal Constitucional como o nosso, parte para que os direitos constitucionais sejam garantidos e que as normas processuais sejam interpretadas, sejam aplicadas segundo eles, e não o inverso. Foi exatamente o que V. Exa. fez a partir da liminar, portanto, nessa dimensão, inclusive, dos direitos fundamentais.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Fiquei muito seguro diante do parecer da Unidade de Internação Provisória, que apontou não ter ele passagem pela Fundação, ser pessoa carente do convívio familiar, com uma fixação materna como norte, tratar-se de menino que realmente precisa do con-vívio familiar e que tem certa imaturidade na capacidade conceitual. Então, o parecer se mostrou favorável.

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: E é isso, Ministro, hoje fazemos bem a distinção entre “crianças de rua” e “crianças na rua”. No caso, V. Exa. examinou bem que ele podia estar na rua, mas tinha uma família que poderia, acolhendo, fazer com que ele se mantivesse dentro desse quadro constitucional que privile-gia a convivência familiar do art. 227, conforme V. Exa. acentuou.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): E, aqui, há ainda ou-tro aspecto. Quase sempre o adulto que está no tráfico acaba cooptando o garoto para levar o tóxico, porque não fica sujeito à lei penal comum.

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: É o avião, essa é a palavra que eles usam. Isso é terrível.

Acompanho integralmente V. Exa., enfatizando que essa tônica tem sido a vertente do Supremo Tribunal, quer dizer, a Constituição determina a aplicação das outras normas, e não o inverso, que foi exatamente o que fez V. Exa.

Page 240: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051240

EXTRATO DA ATA

HC 88.473/SP — Relator: Ministro Marco Aurélio. Paciente: R. F. de A. Impetrantes: Egmar Guedes da Silva e outros. Coator: Relator do HC 56.004 do Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma deferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Unânime.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Compa-receu o Ministro Eros Grau a fim de julgar processos a ele vinculados, ocu-pando a cadeira do Ministro Ricardo Lewandowski. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.

Brasília, 3 de junho de 2008 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 241: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1241

HABEAS CORPUS 88.995 — AC

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoPaciente: Pedro Pascoal Duarte Pinheiro Neto — Impetrantes: Rafael

Freitas Oliveira e outros — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Ação penal. Processo. Excesso de prazo. Não-caracterização. Demora oriunda da interposição de recursos do réu contra a sen-tença de pronúncia. Retardamento não imputável à deficiência da máquina judiciária. Habeas corpus denegado. Precedentes. Não caracteriza constrangimento ilegal o excesso de prazo que decorra do direito do réu de, retardando a realização do Júri, insistir no reexame da pronúncia mediante recursos em sentido estrito e extraordinário.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, indeferir a ordem. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa.

Brasília, 12 de fevereiro de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de Pedro Pascoal Duarte Pinheiro Neto, contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça, que negou provimento ao RHC 17.753.

A defesa havia impetrado habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do Estado do Acre, buscando a revogação da prisão preventiva do ora Paciente, sob alegação de excesso de prazo (fl. 3).

Denegada a ordem, foi impetrado, perante o Superior Tribunal de Justiça, recurso ordinário. Alegou-se ausência de motivos legais que justificassem a custó-dia preventiva e excesso de prazo na prisão, decretada em 21-9-99 e mantida, agora, em razão de decisão de pronúncia. A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, todavia, negou provimento ao recurso, em acórdão assim ementado:

Recurso em habeas corpus. Direito Processual Penal. Interposição de su-cessivos recursos contra o decreto de pronúncia. Custódia cautelar. Excesso de prazo. Constrangimento. Incaracterização.

1. O tempo legal do processo submete-se ao princípio da razoabilidade, in-compatível com o seu exame à luz de só consideração aritmética, sobretudo, por acolhida, no sistema de direito positivo, a força maior, como fato produtor da sus-pensão do curso dos prazos processuais.

Page 242: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051242

2. Resultando a demora do encerramento do judicium accusationis da in-terposição de recursos contra a pronúncia, não há falar em constrangimento ilegal, mormente diante de invencível volume de feitos que assoberbam os Tribunais Superiores.

3. Recurso improvido.(Fl. 82.)

2. Alegam os Impetrantes que o Paciente está preso processualmente há sete anos (fl. 4), pronunciado nos autos dos Processos-Crime 001.99.010284-0 e 001.99.010318-9, ambos da Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco/AC.

Aduzem, ainda, que, “caso [o paciente] estivesse condenado definitiva-mente a uma pena de dezoito anos de reclusão, teria obtido a progressão de re-gime após seis anos, e estaria em estabelecimento prisional que lhe permitiria trabalhar durante o dia e recolher-se à prisão somente à noite, regime bem me-nos rigoroso que o que se encontra submetido atualmente” (fl. 6).

Requereram, liminarmente, fosse expedido alvará de soltura ao Paciente, para que aguardasse em liberdade o julgamento definitivo. No mérito, pleiteiam que a liminar, caso concedida, se torne definitiva (fl. 7).

Indeferi o pedido de liminar (fls. 133-134).A Procuradoria-Geral da República opinou pela denegação da ordem (fls.

136-139).É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Não assiste razão aos Impetrantes.O parecer da Procuradoria-Geral da República bem sintetiza a situação do

Paciente (fls. 136-139):

2. Em 5 de julho de 2000, o paciente foi pronunciado (processo 001.99. 010284-0 – fls. 43/57), juntamente com outros co-réus, como incurso nas penas do artigo 121, § 2º, incisos I (motivo torpe), III (meio cruel) e IV (recurso que difi-cultou a defesa da vítima), sob a acusação de junto com demais réus terem assas-sinado Agilson Firmino dos Santos.

3. Em 11 de julho do mesmo ano, o paciente também foi pronunciado (pro-cesso 001.99.010318 – fls. 58/63), como incurso nas penas do artigo 121, § 2º, in-cisos I (motivo torpe) e IV (recurso que dificultou a defesa da vítima), do Código Penal, sob a acusação de haver assassinado Wilder de Oliveira Firmino.

4. Alega a defesa excesso de prazo na prisão do paciente. Sustenta que a pri-são preventiva do paciente foi decretada em 21 de setembro de 1999, preservada até agora em decorrência do decreto de pronúncia. Aduz que “o acusado encontra-se recolhido a (sic) quase sete anos sem que tenha sido, sequer, submetido ao julga-mento do seu juiz natural – o Tribunal do Júri.” (fls. 4). Requer, assim, a imediata soltura do paciente.

Page 243: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1243

5. É certo que essa e. Suprema Corte tem reiteradas decisões no sentido de que quando há um longo período entre a pronúncia e a previsão para se submeter o acusado a julgamento perante o Tribunal do Júri, não sendo, claro, o atraso atri-buído à defesa, resta caracterizado o constrangimento ilegal por excesso de prazo.

6. Todavia, não é esta a hipótese dos autos, porque a demora do encerra-mento do judicium accusationis deve-se tão somente a interposição de recursos exclusivos da defesa. (...)

9. Somos, pois, pela denegação da ordem.(Fls. 137-139.)

2. Embora, ainda depois da sentença de pronúncia, seja possível configu-rar-se, em tese, excesso de prazo, não é o que sucede aqui.

O caso revela que foi a defesa que provocou, mediante uso de recursos que retardaram a realização do Júri, a demora no julgamento.

Das decisões nos recursos em sentido estrito contra as pronúncias, foram interpostos também recursos extraordinários, aqui registrados sob os números 429.805 e 383.429, exclusivos da defesa, que pugnava, em ambos, pela nulidade do processo.

Neguei seguimento a ambos, porque inconsistentes.Assim, a demora no julgamento da causa decorre do exercício do direito

de defesa, sem que se possa encontrar qualquer resíduo de culpa na atuação do organismo judiciário. E, sem esta, creio não se possa excogitar excesso de prazo, ou demora irrazoável, porque doutro modo essa causa de insubsistência da pri-são cautelar ficaria ao arbítrio da defesa.

Ademais, os processos das ações penais, julgados os recursos extraordiná-rios, já retomaram o curso regular, perante o Juízo de origem.

3. Ante o exposto, denego a ordem.

EXTRATO DA ATA

HC 88.995/AC — Relator: Ministro Cezar Peluso. Paciente: Pedro Pascoal Duarte Pinheiro Neto. Impetrantes: Rafael Freitas Oliveira e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: Indeferida a ordem. Decisão unânime. Ausentes, justificada-mente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Presidiu este julgamento o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso e Eros Grau. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.

Brasília, 12 de fevereiro de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 244: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051244

HABEAS CORPUS 89.097 — MS

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoPaciente: Gilmar Felismino de Souza — Impetrante: Wilton Edgar Sá e

Silva Acosta — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. Inadmissibilidade. Execução. Crime conti-nuado. Unificação de penas. Art. 71 do Código Penal. Exame da existência dos requisitos de tempo, lugar e maneira de execução, bem como da unidade de desígnios. Impossibilidade na via es-treita do remédio constitucional. Matéria de prova. Pedido dene-gado. Precedentes. Habeas corpus não é a ação ou via adequada para cognição da existência dos requisitos subjetivos e objetivos da unificação de penas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, indeferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Joaquim Barbosa e Eros Grau.

Brasília, 18 de março de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado, em favor de Gilmar Felismino de Souza, contra decisão do Superior Tribunal de Justiça, que lhe denegou idêntico pedido nos autos do HC 52.088, assim ementada:

Criminal. HC. Execução. Roubo qualificado. Continuidade delitiva. Unifi-cação de penas. Impossibilidade. Necessidade de preenchimento dos requi-sitos objetivos e subjetivos. Matéria probatória. Impropriedade da via eleita. Habitualidade criminosa. Incompatibilidade com o crime continuado. Ordem denegada.

I – Hipótese em que o paciente praticou dois crimes de roubo com um inter-valo de dez dias entre eles e requereu a unificação das penas, por entender presente os requisitos objetivos para aplicação da continuidade delitiva.

II – Para a caracterização da continuidade delitiva é imprescindível o preen-chimento dos requisitos objetivos (mesmas condições de tempo, espaço e modus operandi) e subjetivo (unidade de desígnios). Precedentes.

III – A prática de reiterados crimes da mesma espécie, em datas próxi-mas, não significa que os delitos subseqüentes serão tidos como continuação do primeiro, para os fins do art. 71 do Código Penal, configurando a habitualidade

Page 245: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1245

criminosa, que agrava o tratamento penal dado ao infrator, mostrando-se incom-patível com a continuidade delitiva. Precedente.

IV – Não se encontram presentes os requisitos objetivos para aplicação da continuidade delitiva quando os delitos são praticados em cidades distintas e com modus operandi totalmente diverso, por ausência de qualquer similitude sobre os locais ou modo como foram praticados os crimes.

V – Ordem denegada.

Requer o Impetrante seja deferida a ordem para garantir ao Paciente a unificação de penas a que está condenado (cartas de guia 001.04.000207-2 e 001.04.074.116-9), em razão do reconhecimento da continuidade delitiva.

Requisitei informações ao Juízo da Vara de Execuções Criminais da Comarca de Campo Grande/MS (fls. 18 e 28), que as prestou (fls. 25-26 e 36-198) e informou que o pedido de unificação foi indeferido em razão de não estarem presentes os requisitos previstos no art. 71 do Código Penal (fls. 124-129).

Indeferi o pedido de liminar (fls. 213-214).A Procuradoria-Geral da República ofereceu parecer e opinou pela dene-

gação da ordem (fls. 216-220), nos seguintes termos:

7. Aduz a impetração, em resumo, que, havendo duas ou mais condenações distintas relativas a crimes praticados de forma continuada, impõe-se a unificação das penas na fase de execução, aplicando-se a regra do art. 71 do Código Penal. Ocorre, contudo, que a própria maneira como foram praticados os crimes, in casu, afata a tese de continuidade delitiva.

8. Para melhor compreensão do caso, cumpre destacar a descrição dos cri-mes perpetrados pelo paciente e outros comparsas, efetuada pelo magistrado da 1a Vara de Execução Penal de Mato Grosso ao indeferir o pleito, verbis (fls. 126/217):

“(...) Primeiramente, vale ressaltar que no mérito delito o sentenciado juntamente com o comparsa Sandro Souza da Silva, mediante acordo de vontades, abordaram dois funcionários de um supermercado da cidade de Aquiauana que se digiriam a um banco a fim de efetuarem depósitos do produto das vendas do citado estabelecimento comercial e mediante uso de arma de fogo os obrigaram a entregar um malote contendo R$ 25.000,00 entre cheques, dinheiro e ticket alimentação.

Na segunda prática delituosa o sentenciado com os comparsas Jo-velino Gomes, Márcio Daniel Fernandes de Oliveira, Marcelo Ribeiro e outro indivíduo que não foi identificado, adentraram ao Posto de Combus-tível Acaron, nesta capital, e, mediante grave ameaça e violência fazendo uso de armas de fogo, renderam o proprietário e demais funcionários do posto e executaram o roubo, consistente na subtração de grande quantia em dinheiro e de um cofre contendo talões de cheque. (...)

Segundo, e finalmente, vale salientar que segunda prática delituosa não demonstra ser um desdobramento da primeira prática, e sim, ser prática reiterada do crime de roubo, prejudicando a concretização do elemento da unidade de desígnios. (...) Ademais, para reconhecimento da continuidade delitiva é necessário a existência de conexão espacial, modal e temporal en-tre os delitos praticados, requisitos os quais entendo não estarem totalmente presentes no caso examinado. (...)” grifou-se.

Page 246: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051246

9. Diante desses elementos, é impossível verificar a continuidade delitiva entre os crimes praticados. O Superior Tribunal de Justiça consignou, aliás, que os delitos ocorrem em lugares distintos: um em Aquidauana/MS e o outro em Campo Grande/MS, “deixando clara a ausência de qualquer similitude sobre os locais ou modo como foram praticados os crime” (fl. 13). Deve ser considerado, também, que os ilícitos ocorreram em dias diferentes, como reconhece o impetrante na inicial.

10. Com efeito, a decisão do STJ não merece reforma, pois ajusta-se à Jurisprudência dessa E. Corte, que assim se manifesta sobre a continuidade delitiva:

“Habeas corpus. Crime continuado. Caracterização.1. A continuidade delitiva (CP, art. 71) não pode prescindir dos requi-

sitos objetivos (mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução) e subjetivo (unidade de desígnios).

2. Impossibilidade de reexame, na via do habeas corpus, dos ele-mentos de prova que o acórdão impugnado levou em consideração para não admitir a continuidade. Precedentes.

3. RHC improvido.”(RHC 85.575, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 02/09/2005, pág. 47.)11. Como bem destacou o Ministério Público Estadual, à fl. 122, está claro

que a hipótese é de verdadeira habitualidade criminosa, que não tem relação com a continuidade delitiva, como explica Hugo de Nigro Mazzili, citado pelo Parquet também à fl. 22:

“Não há confundir reiteração criminosa com crime continuado. O crime continuado é ficção jurídica destinada a unificar crimes de mesma espécie cometidos em condições semelhantes, de modo que ‘devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro’ (art. 71 do CP). Já a reiteração criminosa é a atitude de quem faz do crime seu modo de vi-ver, comete novas e indepentemente ações, em circunstâncias diversas de tempo, lugar e modo de execução. Essa reiteração não se beneficia com os fins penais que inspiraram as regras da continuidade delitiva.”(apud Hugo Nigro Mazzili in “Questões Criminais Controvertidas” – São Paulo: Saraiva, 1999, p. 800.)12. Ex positis, o parecer é pela denegação da ordem.

(Fls. 218-220.)

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Não assiste razão ao Impetrante.Não vislumbro ilegalidade na decisão que negou o pedido de unificação

das penas. Ademais, esta Corte tem decidido que o habeas corpus não é o instru-

mento adequado para verificação da existência dos pressupostos de tempo, lugar e maneira de execução, com vistas à unificação das penas (nesse sentido, cf. HC 69.899, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 6-5-94; HC 71.019, Rel. Min. Paulo Brossard, DJ de 19-11-94).

2. Ante o exposto, denego a ordem.

Page 247: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1247

EXTRATO DA ATA

HC 89.097/MS — Relator: Ministro Cezar Peluso. Paciente: Gilmar Felismino de Souza. Impetrantes: Wilton Edgar Sá e Silva Acosta. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, indeferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, neste julga-mento, os Ministros Joaquim Barbosa e Eros Grau.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes e Cezar Peluso. Ausentes, justificadamente, os Ministros Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Adalberto Nóbrega.

Brasília, 18 de março de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 248: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051248

HABEAS CORPUS 89.143 — PR

Relatora: A Sra. Ministra Ellen GraciePaciente: Éder Fabicheo — Impetrante: João Afonso Gaspary Silveira —

Coator: Superior Tribunal de Justiça

Direito processual penal. Prisão preventiva. Organização criminosa. Garantia da ordem pública. Aplicação da lei penal. Intensa e efetiva participação. Art. 7º, Lei 9.034/95. Inconstitu-cionalidade inexistente.

1. Decisão fundamentada, com transcrição de diálogos tele-fônicos interceptados com base em decisão que autorizou o mo-nitoramento das comunicações telefônicas.

2. Operação denominada “Hidra”, em 2005, que visou apurar possíveis práticas delituosas relacionadas à constituição e existência de organização criminosa que permitia o ingresso de mercadorias de procedência estrangeira proibidas (contra-bando) ou sem o devido recolhimento dos impostos (descami-nho), utilizando-se de esquema de transporte rodoviário intenso, por meio de caminhões de transportadoras e de pessoas físicas, com falsificação de documentos públicos e particulares, corrup-ção de policiais e fiscais alfandegários.

3. Fundamentação idônea à manutenção da prisão proces-sual do Paciente. Atentou-se para o art. 93, IX, da Constituição da República. As decisões proferidas pelo Juiz federal – que de-cretaram as prisões temporárias e, posteriormente, as prisões preventivas – observaram estritamente o disposto no art. 1º da Lei 9.034/95 e no art. 312 do CPP.

4. A garantia da ordem pública é representada pelo impe-rativo de se impedir a reiteração das práticas criminosas, como se verifica no caso sob julgamento. A garantia da ordem pública se revela, ainda, na necessidade de se assegurar a credibilidade das instituições públicas quanto à visibilidade e transparência de políticas públicas de persecução criminal.

5. Necessidade de garantir a aplicação da lei penal e a con-veniência da instrução criminal se revelaram pressupostos pre-sentes no decreto de prisão preventiva do Paciente.

6. Constitucionalidade do art. 7º da Lei 9.034/95 (não será concedida liberdade provisória, com ou sem fiança, aos agentes que tenham tido intensa e efetiva participação na organização criminosa), pois em coerência com o art. 312 do CPP.

Page 249: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1249

7. Art. 7º da Lei 9.034/95 apenas especifica uma das possi-bilidades normativas de concretização da noção da garantia da ordem pública como pressuposto para a prisão preventiva.

8. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 10 de junho de 2008 — Ellen Gracie, Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Ellen Gracie: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado contra acórdão da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça que, no julgamento de recurso ordinário em habeas corpus anteriormente aforado perante aquela Corte, denegou o recurso, em acórdão assim ementado (fl. 44):

Recurso ordinário em habeas corpus. Processual Penal. Prisão preventiva. Garantia da ordem pública. Inexistência de constrangimento ilegal. Decisão fun-damentada. Acórdão guerreado fundado em fatos concretos. Ordem denegada.

1. Prova da existência do crime e indícios suficientes da autoria.2. Descrição do modus operandi do paciente e demais co-réus; indicação

de participação em organização criminosa especializada “em atividades ilícitas essencialmente concentradas na aquisição, venda e transporte de mercadorias contrabandeadas/descaminhadas, sendo certo que para garantir o sucesso de suas empreitadas valia-se de esquemas de corrupção de servidores públicos, falsifica-ções de documentos públicos e particulares, utilização de telefones clonados, e outros conexos à atividade criminosa”.

3. Garantia da ordem pública por se tratar de quadrilha que iniciou suas ati-vidades desde 1999 e conta com a participação de agentes públicos, em especial policiais.

4. Estando fundamentada a decisão que decretou a prisão preventiva do pa-ciente, com a indicação de elementos objetivos, que justificam sua imposição, na garantia da ordem pública, não há falar em constrangimento ilegal, que justifique a revogação da medida processual. Precedentes do STJ.

5. Recurso conhecido como habeas corpus originário, que é denegado.

Argumenta o Impetrante que o Paciente se encontra preso cautelarmente desde 4-5-05, por decreto exarado nos autos da ação penal a que responde por suposta infração aos arts. 288, 171 c/c os arts. 71, 273, § 1º, e 333 c/c art. 71, na forma do art. 69, todos do Código Penal. Cuida-se de conseqüências da denomi-nada “Operação Hidra”, deflagrada pela Polícia Federal em maio de 2005.

Page 250: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051250

Observa, no entanto, que a fundamentação, em relação ao Paciente, se deu de modo genérico, com indicação apenas de que ele integraria a organização criminosa. Ocorre que, ao revés, não há prova de possível intensa e efetiva par-ticipação na denominada organização criminosa (fl. 8), razão pela qual não é aplicável o disposto no art. 7º da Lei 9.034/95.

Sustenta, ainda, a inconstitucionalidade do art. 7º, acima referido, por infringência ao art. 5º, XLIII e LXVI, da Constituição da República. Registra que nenhuma das empresas referidas na decisão foi utilizada para prática de qualquer ilícito penal.

Aduz que não há indícios de materialidade e autoria delitiva no que tange ao Paciente, tratando-se de pessoa primária e de bons antecedentes. Não estão presentes os pressupostos que autorizariam o decreto de prisão preventiva em relação ao Paciente.

Requer a concessão da ordem para que o Paciente possa responder solto aos termos da ação penal, cassando-se a decisão que decretou sua prisão.

2. Houve indeferimento do pedido de medida liminar (fls. 396/402).3. Manifestação da Procuradoria-Geral da República no sentido da dene-

gação da ordem (fls. 415/421).É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. No julgamento do habeas cor-pus pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, ficou assentado o seguinte (fls. 48/53):

Consoante consta da denúncia ofertada pelo parquet nos autos da ação penal originária, constatou-se, durante o curso das investigações realizadas pela autoridade policial, a existência de associação criminosa com atuação “em ativi-dades ilícitas essencialmente concentradas na aquisição, venda e transporte de mercadorias contrabandeadas/descaminhadas, sendo certo que para garantir o sucesso de suas empreitadas valia-se de esquemas de corrupção de servidores pú-blicos, falsificações de documentos públicos e particulares, utilização de telefones clonados, e outros conexos à atividade criminosa”.

Segundo apurou-se, a organização , “denominada A Firma, tratava-se de uma estrutura compacta de crime organizado, cujo comando central estava dire-cionado à Família Balan”, tendo seus demais integrantes esferas de atuação prévia e estrategicamente definidas pelo esquema, “sendo alguns responsáveis pela ne-gociação com os fornecedores das mercadorias no Paraguai; outros responsáveis pelo embarque das mercadorias no Paraguai e transporte até as cidades de inte-resse da organização; outros responsáveis pela segurança do transporte da carga; outros responsáveis pela colocação e camuflagem dos produtos alienígenas nos caminhões da Orcrim; outros responsáveis pelo trânsito da carga até o adquirente das mercadorias contrabandeadas/descaminhadas, fazendo a função de ‘batedo-res’; e outros responsáveis pela captação de recursos junto à Orcrim e repasse de

Page 251: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1251

numerários a funcionários públicos corruptos, os quais, mediante recebimento de propinas, auxiliavam e participavam da organização criminosa, garantindo que os veículos da ‘Firma’ trafegassem e transportassem mercadorias contrabandeadas/descaminhadas pelas rodovias, passando impunes pelos postos de fiscalização, sem qualquer vistoria”.

Ademais, segundo consta do libelo, “Eder Fabicheo e Edenilson Fabicheo eram os responsáveis pela logística do transporte ilegal de cargas descaminhadas, e/ou contrabandeadas, em especial cigarros e pneus importados fraudulentamente do Paraguai, operação facilitada pela constituição das empresas Transportes Carolina, Estofados Carolina e Estofados Fabiana, administradas pelos mesmos. Os diálogos interceptados mediante autorização judicial, demonstram o envol-vimento dos denunciados Eder e Edenilson Fabicheo na organização criminosa investigada, inclusive suas estreitas relações com o fato que resultou na prisão de Aroldo Martins Guerreiro, (...), ocorrido aos 20/07/2004, quando foi apreendida a carreta de placas (...) por transportar em um fundo falso 230 caixas de cigarros contrabandeadas do Paraguai, (...). Restou o paciente, assim, denunciado como incurso nos delitos capitulados nos artigos 288, 171, 333 e 334, todos do Código Penal.

Desse modo, as investigações desenvolvidas, conforme demonstrado, dão conta de que Eder Fabicheo integra uma sofisticada organização criminosa, de aprimorado modo de atuação (que conta, inclusive, com o auxílio de servidores públicos, de forma a dificultar a fiscalização por parte dos órgãos públicos compe-tentes), envolvida com a prática de delitos contra o patrimônio, bem como contra a paz e a administração públicas.

A propósito, acerca da presença de indícios suficientes da participação do paciente na organização criminosa, desveladores, por conseguinte, de sua autoria nos delitos em averiguação, veja-se o teor das seguintes conversas telefônicas in-terceptadas por determinação judicial:

“(...)Quanto aos pressupostos para a impingência da medida em apreço,

restam igualmente presentes, conforme demonstrar-se-á em seguida.Como é cediço, os integrantes de quadrilhas de tal monta possuem

diversos artifícios e subterfúgios que facilitam suas atividades delituosas, obstando o conhecimento de suas movimentações por parte dos órgãos repressores. O acautelamento apresenta-se, então, imprescindível à salva-guarda da ordem pública, pois, em liberdade, tudo leva a concluir que os agentes continuarão na prática delituosa.”

(...)Com efeito, como relata o ofício n. 56/2005 carreado às fls. 427/437 do writ,

remetido à Corte pelo juízo impetrado, sequer o desencadeamento de diversas operações policiais, anteriormente à que se denominou de Hidra, com o escopo de investigar as atividades desenvolvidas pela quadrilha comandada pela “Família Balan” (quais sejam: operação “Delta”, em 1999; operação “Nicotina”, em 2002; e operações “Alcatrão” e “Cibernética”, em 2003) foi capaz de obstar o andar criminoso do esquema, não obstante tenham sido apreendidos, em decorrência de tais atividades policiais repressoras, diversos carregamentos da organização criminosa.

2. Na alentada decisão do Juiz federal da Vara Criminal de Maringá (fls. 107/162), a atuação do Paciente foi destacada, ao lado de Edenilson Fabicheo,

Page 252: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051252

como de responsabilidade pela logística do transporte ilegal das cargas fruto de descaminho ou contrabando, oriundas do Paraguai, tendo constituído as sociedades empresárias Transportes Carolina, Estofados Carolina e Estofados Fabirama.

O magistrado transcreveu diálogos telefônicos interceptados com base em decisão que autorizou o monitoramento das comunicações telefônicas (fls. 125/127), salientando ainda a circunstância da manutenção de sua prisão ser importante “por conveniência da instrução criminal e para que seja assegurada a aplicação da lei penal”, além de consignar que “sua liberdade permitiria que um dos tentáculos da organização criminosa viesse a ser restaurado” (fl. 127).

3. No caso concreto, acrescenta-se a circunstância de haver indicação de possível existência de complexa e estruturada organização criminosa integrada pelo Paciente – ainda que negada pelo Impetrante – a revelar a presença da ne-cessidade da prisão preventiva como garantia da ordem pública.

A denúncia foi oferecida a partir de investigações realizadas pelo Departamento da Polícia Federal na operação denominada “Hidra”, em 2005, que visou apurar possíveis práticas delituosas relacionadas à constituição e existência de organização criminosa que permitia o ingresso de mercadorias de procedência estrangeira proibidas (contrabando) ou sem o devido recolhimento dos impostos (descaminho), utilizando-se de esquema de transporte rodoviário intenso, por meio de caminhões de transportadoras e de pessoas físicas, com falsificação de documentos públicos e particulares, corrupção de policiais e fis-cais alfandegários.

4. Registro, assim, que houve fundamentação idônea à manutenção da prisão processual do Paciente. Atentou-se, portanto, para o disposto no art. 93, IX, da Constituição da República. As decisões proferidas pelo Juiz federal – que decretaram as prisões temporárias e, posteriormente, as prisões preventivas – observaram estritamente o disposto no art. 1º da Lei 9.034/95 e no art. 312 do CPP, eis que há elementos indicativos no sentido de que as atividades crimino-sas eram realizadas de modo reiterado, organizado e com alta poder ofensivo à ordem pública.

A garantia da ordem pública é representada pelo imperativo de se impedir a reiteração das práticas criminosas, como se verifica no caso sob julgamento. Da mesma forma, a garantia da ordem pública se revela na necessidade de se assegurar a credibilidade das instituições públicas quanto à visibilidade e trans-parência de políticas públicas de persecução criminal (HC 82.149/SC, de minha relatoria, Primeira Turma, DJ de 13-12-02; HC 84.680/PA, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira Turma, DJ de 15-4-05, entre outros).

Da mesma forma, a necessidade de garantir a aplicação da lei penal e a conveniência da instrução criminal se revelaram pressupostos presentes no decreto de prisão preventiva do Paciente, eis que várias condutas narradas na denúncia foram perpetradas de modo reiterado, além do vínculo existente de vários integrantes da organização com o Paraguai, país para onde o Paciente

Page 253: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1253

poderia seguramente se evadir para não se submeter a eventual condenação à pena corporal.

5. Esta Corte já teve oportunidade de apreciar a questão relacionada à prisão preventiva de pessoa inserida em organização criminosa de caráter trans-nacional, e a presença do pressuposto da necessidade da prisão para assegurar a aplicação da lei penal.

Cuida-se do julgamento do HC 69.818, relatado pelo Ministro Sepúlveda Pertence, com a seguinte ementa (Primeira Turma, DJ de 27-11-92, grifos nossos):

I – Prova obtida por meios ilícitos: invocação do art. 5º, LVI, da Constituição: improcedência: precedentes inaplicáveis. 1. A espécie – gravação de conversa pessoal entre indiciados presos e autoridades policiais, que os primeiros des-conheceriam – não se poderia opor o princípio do sigilo das comunicações tele-fônicas – base dos precedentes recordados – mas, em tese, o direito ao silêncio (CF, art. 5º, LXIII), corolário do princípio “nemo tenetur se detegere”, o qual entretanto, não aproveita a terceiros, objeto da delação de co-réus; acresce que, no caso, à luz da prova, a sentença concluiu que os indiciados estavam cientes da gravação e afastou a hipótese de coação psicológica. II – Prisão para apelar de réu condenado por tráfico de entorpecentes: Lei 6.368/76, art. 35, e Lei 8.072/90, art. 2º, § 2º, interpretação conforme a constituição: exigência de necessidade cautelar satisfeita na espécie. A prisão para apelar só se legitima quando se evi-dencia a sua necessidade cautelar, não cabendo inferi-la exclusivamente da gra-vidade em abstrato do delito imputado; é possível, contudo, extrair do contexto do fato concreto – que revela a existência de complexa organização criminosa de dimensões internacionais – base empírica para a afirmação do risco de fuga dos condenados, fundamento idôneo para a cautela da prisão provisória imposta.

6. A regra do art. 7º da Lei 9.034/95, consoante a qual não será concedida liberdade provisória, com ou sem fiança, aos agentes que tenham tido intensa e efetiva participação na organização criminosa, com efeito, revela-se coerente com o disposto no art. 312 do CPP.

Assim, não vislumbro mácula de inconstitucionalidade no dispositivo re-ferido que, inserido no ordenamento jurídico brasileiro, apenas especifica uma das possibilidades normativas de concretização da noção da garantia da ordem pública como pressuposto para a prisão preventiva. Daí a insuscetibilidade de se conceder a liberdade provisória aos agentes que tenham apresentado intensa e efetiva participação na organização criminosa.

Nas palavras do Dr. Wagner Gonçalves, “tal vedação à liberdade provisó-ria é específica para o crime organizando, constituindo verdadeiro instrumento político-jurídico de que dispõe o Estado para desarticular a organização crimi-nosa, privando, ad cautelam, a liberdade daqueles que nela ‘tenham tido intensa e efetiva participação’, como ocorre no caso em questão” (fl. 420).

7. A argumentação relacionada à ausência de materialidade e indícios de autoria para fins de autorizar o decreto da custódia cautelar, à evidência, encon-

Page 254: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051254

tra obstáculo de viabilizar a valoração de material probante no âmbito do habeas corpus.

E, ainda que tal atividade de valoração dos elementos de prova pudesse ser feita no âmbito deste writ, observo que houve indicação de elementos co-lhidos durante a investigação policial – inclusive com base em monitoramento telefônico – a permitir a aferição da existência da materialidade dos crimes e de indícios suficientes de autoria ou participação em relação à pessoa do Paciente.

8. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.

EXTRATO DA ATA

HC 89.143/PR — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Paciente: Éder Fabicheo. Impetrante: João Afonso Gaspary Silveira (Advogados: Emerson Guerra Carvalho e outros). Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, indeferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora. Ausente, justificadamente, neste julga-mento, o Ministro Joaquim Barbosa.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Ellen Gracie, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 10 de junho de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 255: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1255

HABEAS CORPUS 90.023 — SP

Relator: O Sr. Ministro Menezes DireitoPaciente: Maria Pia Esmeralda Matarazzo — Impetrantes: Luiz Fernando

Sá e Souza Pacheco e outros — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. Trancamento da ação penal. Crime contra o meio ambiente. Perigo de dano grave ou irreversível. Tipicidade da conduta. Exame de corpo de delito. Documentos técnicos elaborados pelas autoridades de fiscalização. Inépcia formal da denúncia.

1. O dano grave ou irreversível que se pretende evitar com a norma prevista no art. 54, § 3º, da Lei 9.605/98 não fica preju-dicado pela degradação ambiental prévia. O risco tutelado pode estar relacionado ao agravamento das conseqüências de um dano ao meio ambiente já ocorrido e que se protrai no tempo.

2. O crime capitulado no tipo penal em referência não é daquele que deixa vestígios. Impossível, por isso, pretender o trancamento da ação penal ao argumento de que não teria sido realizado exame de corpo de delito.

3. No caso, há registro de diversos documentos técnicos elaborados pela autoridade incumbida da fiscalização ambiental assinalando, de forma expressa, o perigo de dano grave ou irre-versível ao meio ambiente.

4. Não se reputa inepta a denúncia que preenche os requi-sitos formais do art. 41 do Código de Processo Penal e indica minuciosamente as condutas criminosas em tese praticadas pela Paciente, permitindo, assim, o exercício do direito de ampla defesa.

5. Habeas corpus em que se denega a ordem.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir o pedido de habeas corpus.

Brasília, 6 de novembro de 2007 — Menezes Direito, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pelo advogado Luiz Fernando Sá e Souza Pacheco e pela estagiária

Page 256: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051256

Marina Chaves Alves, em favor de Maria Pia Esmeralda Matarazzo, buscando o trancamento da ação penal instaurada em desfavor da Paciente pela prática, em tese, de crime ambiental e, subsidiariamente, a anulação do processo, desde o início.

Apontam como autoridade coatora a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem no HC 58.604/SP, impetrado perante aquele Tribunal com objetivo idêntico ao perseguido nesta oportunidade.

Alegam que:

(...)As atividades da empresa foram encerradas no longínquo ano de 1986,

quando qualquer forma de poluição não era tipificada como crime.Bem por isso, em virtude de a empresa, embora sem qualquer atividade,

ainda existir até hoje, eventual delito praticado só pode mesmo ser posterior a 1998 (entrada em vigor da Lei nº. 9.605/98) e decorrente de imaginada omissão.

Em respeito ao princípio da anterioridade da lei penal, restou ao Parquet afirmar que estaria a paciente incursa no art. 54, § 3º da Lei nº. 9.605/98, que dispõe:

“Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que re-sultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.§ 1º Se o crime é culposo: Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.§ 2º Se o crime:I – tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação

humana; II – causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que

momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;

III – causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água a uma comunidade;

IV – dificultar ou impedir o uso público das praias;V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos,

ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:

Pena – reclusão, de um a cinco anos§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior

quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.”(Grifamos.)Como se vê, há quatro formas distintas de crime previstas no art. 54: (i) a

modalidade básica (caput), (ii) a culposa (§ 1º), (iii) a qualificada (§ 2º) e (iv) a omissiva (§ 3º).

Para que se aperfeiçoe o tipo penal fundamental (i), faz-se necessário que a poluição causada seja em tal nível que resulte ou possa resultar em danos efeti-vos aos objetos materiais pela lei elencados. Trata-se, portanto, de crime material

Page 257: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1257

(se resultar) ou de perigo concreto (se puder resultar). A pena é de um a quatro anos de reclusão.

O legislador optou por qualificar (ii) as condutas que, somadas à subsunção do tipo básico, efetivamente, causem danos, aos objetos materiais elencados nos incisos (I, II, III, IV) ou que sejam especialmente reprováveis em razão do meio de execução (inciso V). Para estes casos, considerados mais graves (mas nem tanto, como se verá) pelo legislador do que o tipo fundamental, cominou-se a pena de um a cinco anos de reclusão.

A conduta omissiva (iv), imaginadamente ocorrida no caso em tela, é pu-nida com a mesma sanção da qualificada. Não se exige, no entanto, a ocorrência de qualquer resultado material decorrente da omissão, mas tão somente de risco efetivo de dano.

É de se perguntar, então: por que, neste caso – no qual não se faz necessária a ocorrência de dano (o tipo exaure-se com a simples possibilidade, com o “co-locar em perigo” o objeto material do delito) –, a pena é maior do que aquela pre-vista no tipo fundamental, que abarca condutas que “resultem em danos à saúde humana” ou que “provoquem a mortandade de animais” ou na do tipo derivado, que inclui ações ainda mais reprováveis?

A resposta é simples, e se encontra no próprio texto legal: enquanto nas con-dutas comissivas básica e derivada os danos exigidos são “pequenos ou razoáveis” (na medida adotada pelo legislador), a possibilidade de dano reprovada pelo § 3º é de um “dano ambiental grave ou irreversível”.

Assim, foi em razão da gravidade do resultado que se visa evitar – muito maior e mais reprovável do que o tratado nos demais tipos do artigo 54 – que se decidiu equiparar à pena do delito qualificado aquela prevista para o tipo do § 3º.

Infelizmente, não foi esse o raciocínio adotado pela ilustre autoridade ora coatora, que justificou a tipicidade da conduta com a absurda afirmação que “o simples fato de não terem sido adotados procedimentos de cautela tendentes a evitar o possível dano configura, em princípio, o crime, sendo despicienda a verifi-cação do resultado decorrente da omissão, no caso o efetivo dano ambiental grave ou irreversível” (fls. 10 do acórdão recorrido).

Pensar dessa forma, qual seja, a de que o dano grave ou irreversível equi-para-se àqueles previstos no § 2º ou no caput do artigo 54 da Lei Ambiental, além de ferir de morte o princípio da legalidade (por equiparar tipos penais distintos ao arrepio de seus textos) é, data máxima vênia, ignorar o princípio da propor-cionalidade (dando mesmo tratamento para delitos que, por suas características, visam evitar resultados claramente diversos em termos de danosidade, caso esta venha a ocorrer).

(...)Seguindo esta linha, se o dano que se visa evitar não for o previsto no

§ 3º (por exemplo, sendo apenas dano ambiental, sem o plus de gravidade exi-gido pelo tipo) a omissão é atípica. Igualmente, se o dano grave ou irreparável já tiver ocorrido antes do início das solicitações da Cetesb e da suposta inércia da Indústria, não há crime (porque anterior ao advento da Lei Ambiental).

(...)Ora, como conciliar afirmativas de que há “risco de dano ao meio ambi-

ente” (fls. 03 e 04) com a de que “os danos ambientais já produzidos são graves e irreversíveis” (fls. 04)? Ou os danos já ocorreram, ou ainda estão por ocorrer!

A contradição – que por si só, já estaria a recomendar a anulação do pro-cesso para que uma nova denúncia, desta vez precisa e bem definida, fosse

Page 258: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051258

oferecida – é o menor dos problemas: qualquer das hipóteses na exordial narradas, seja a de que há risco de dano ao meio ambiente, seja a de que os danos ambientais graves e irreversíveis já ocorreram, são atípicas!

A primeira, por ausência dos elementos objetivos “grave” ou “irreversível” contidos no § 3º do art. 54 e a segunda, porque se o dano grave e irreversível já existia antes das solicitações da Cetesb (antes, inclusive, do advento da Lei Ambiental), não se poderia exigir da Indústria Química qualquer “medida de pre-caução”, como também não haveria “risco de dano ambiental”, outros elementos objetivos do tipo.

(...)Admitida a eventual tipicidade, em tese, da conduta descrita na inicial, en-

contra o seguimento da ação penal iniciada contra a paciente outro intransponível óbice.

Com efeito, para o delito do qual a paciente é acusada – crime de perigo concreto que é – “faz-se imprescindível o exame pericial”, conforme preconiza Luiz Regis Prado (Crimes Contra o Meio Ambiente – São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 152).

Ocorre, entretanto, que uma simples passada de olhos pelo caderno inves-tigatório – que, em sua quase totalidade, é composto apenas por cópias de docu-mentos da Indústria ou de peças dos procedimentos extrapenais movidos em face desta – revela nunca ter sido realizado estudo pericial do terreno suposta-mente poluído.

(...)Ora, não bastasse o fato de que os documentos mencionados na inicial não

são exames periciais, eles, conforme se pode ver pela leitura da própria denúncia, são absolutamente atécnicos, possuem conclusões diametralmente opostas e, de qualquer forma, não atestam qualquer resultado ambiental que, agregado à omis-são imputada à paciente, preencha a moldura de algum tipo penal.

(...)Em outras palavras, nenhum dos estudos chegou à necessária conclusão de

que a “área estudada encontra-se em risco de sofrer dano ambiental de natureza grave ou irreversível”.

(...)Os estudos, em segundo lugar, foram realizados há quase dez anos. À ex-

ceção daquele elaborado em novembro de 1998, aliás, todos são anteriores à Lei Ambiental. Este importante fator deve ser o causador da absoluta discrepância entre os objetivos neles buscados (demonstração das conseqüências causadas pela poluição na população vizinha) e os protegidos por referido diploma (no caso do § 3º, o único que poderia ser imputado à paciente, o meio ambiente).

Além disso, ainda em razão do fator tempo, importante ressaltar que du-rante todo este período de quase dez anos o terreno pode ter se desintoxicado, conforme atesta a própria Cetesb com relação a alguns poluentes.

(...)(...) resta claro não haver elemento algum – seja pericial ou não – que afirme

a existência de risco de dano grave ou irreversível ao meio ambiente decorrente da imaginada omissão da paciente.

(...)As conseqüências da suposta omissão da paciente deveria estar, em res-

peito ao artigo 41 do CPP – instrumento ordinário de garantia do devido pro-

Page 259: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1259

cesso legal (art. 5º, LIV, CF) –, porque elementares dos tipos penais ambientais, devidamente discriminadas na exordial.

(...)De fato, quais são as atuais “condições naturais do solo e das águas subterrâ-

neas”? A água contém concentração de 1 Kg por litro? De quê? Isto é irreversível? O solo encontra-se completamente misturado com inúmeros produtos químicos? Quais? Isto é irreversível? Ou é apenas grave? Há apenas 1 metro quadrado de terra recoberta por mercúrio? Isto é grave? Dois metros? E isto, é irreversível???

É imprescindível à paciente o conhecimento de todas essas circunstâncias a fim de que possa formular a sua defesa em Juízo.

(...)(...) o enorme terreno no qual existiam as antigas dependências da Indústria,

que possui área total de 76.081 metros quadrado, teve significativa parte desapro-priada pela Prefeitura de São Caetano do Sul (Decreto de Utilidade Pública nº 7.395, de 09.10.95, cf. fls. 296/297).

Dessa forma, a denúncia deveria descrever minuciosamente em que parcela do imóvel existente na rua Mariano Pamplona a omissão é penal-mente relevante!(Fls. 8 a 40.)

O pedido de liminar foi indeferido à fl. 52.Dispensadas as informações pelo Ministro Sepúlveda Pertence (fl. 52),

manifestou-se o Subprocurador-Geral da República Dr. Edson Oliveira de Almeida pelo indeferimento da ordem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): A Paciente, Maria Pia Esmeralda Matarazzo, juntamente com a empresa que administrava, Indústria Química Matarazzo Ltda., foi denunciada pela prática, em tese, do crime ambiental pre-visto no art. 54, § 3º, c/c o art. 3º, parágrafo único, da Lei 9.605/98, que dispõe:

Art. 54.(...) § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar

de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.

Narra a peça acusatória que:

A Promotoria do Meio Ambiente de São Caetano do Sul ajuizou no ano de 1995 ação civil pública contra a empresa Indústrias Químicas Matarazzo Ltda. (antiga Indústrias Químicas Matarazzo S.A) porque em razão das atividades in-dustriais desenvolvidas por esta, entre os anos de 1932 e 1986, no imóvel de sua propriedade situado à rua Mariano Pamplona, n.º 220, bairro Fundação, nesta cidade, dentre elas, a produção de ácido sulfúrico, soda cáustica, compostos de cloro, carbureto de cálcio e acetileno e BHC (hexaclorobenzeno), houve conta-minação da área por resíduos tóxicos armazenados irregularmente naquele local.

Page 260: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051260

No ano de 1986, após a unidade de produção de BHC ter sido desativada por exigência do órgão ambiental, a empresa recebeu auto de infração e advertência por armazenar cerca de 1800 toneladas não comercializadas daquele produto, que foi removido depois de algum tempo para local não conhecido. No entanto, o gal-pão que armazenava o BHC foi demolido e o entulho contaminado permaneceu no terreno, representando risco de dano ao meio ambiente, tanto pela possibilidade de contaminação do lençol freático, como pela emissão de vapores.

Por esse motivo, a Cetesb continuou a cobrar da empresa solução definitiva para o problema da contaminação através de sucessivas autuações e imposições de multas, mas não obteve êxito. A Promotoria do Meio Ambiente também não conseguiu obter composição amigável com a empresa para resolver a pendência ambiental e ajuizou a citada demanda.

A ação foi julgada procedente em primeira instância, em 17/05/96, por sen-tença proferida pelo Juízo da 5.ª Vara Cível de São Caetano do Sul (Processo n.º 235/95), sendo a decisão conformada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por acórdão que transitou em julgado aos 15/02/2000 (fls. 3/13).

Desde então a empresa vem sendo compelida judicialmente a cumprir a obrigação de fazer imposta naqueles autos, mas mesmo com a incidência de multa diária, até a presente data vem se mantendo inerte

(...)Desse modo, desde a entrada em vigor da Lei n.º 9.605/98 (Lei dos Crimes

Ambientais), em fevereiro de 1998, até a presente data, agindo de forma omissa, as denunciadas vem deixando de adotar as medidas de precaução exigidas pelas au-toridades competentes – Poder Judiciário e Cetesb – apesar do comprovado risco de dano ambiental grave ou irreversível.(Fls. 285 a 289 – Apenso 2.)

Recebida a denúncia e determinado o interrogatório da Paciente (fl. 553 – apenso 3), impetrou-se o HC 893.243-3/8-00 ao Tribunal de Justiça de São Paulo (fls. 50 a 91 – apenso 1), que foi denegado (fls. 1128 a 1141– apenso 5). Contra essa decisão sobreveio o HC 58.604/SP, impetrado perante o Superior Tribunal de Justiça, também sem êxito (fls. 1454 a 1467).

A presente irresignação tampouco merece prosperar.No que diz respeito à tipicidade dos atos praticados, a argumentação de-

senvolvida no writ é no sentido de que o dano ambiental que poderia decorrer da conduta da Paciente já se teria produzido, não havendo, assim, possibilidade de aplicação do art. 54, § 3º, da Lei 9.605/98, destinado a “evitar” resultados danosos ao meio ambiente.

Os autos revelam, porém, que o resultado que se pretende resguardar, apto a caracterizar o risco tutelado pela regra jurídica, não é propriamente a contaminação do terreno por produtos químicos poluentes. Essa contaminação, eventualmente, já pode ter ocorrido. O que as medidas de precaução impostas pelas autoridades competentes queriam impedir era que tal poluição trouxesse ainda maiores conseqüências para o meio ambiente e para as pessoas em geral.

A partir da própria denúncia é possível verificar, com efeito, que, apesar de a área já estar degradada desde data anterior à vigência da Lei 9.605/98,

Page 261: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1261

persiste o risco de dano ambiental grave ou irreversível consistente no possível agravamento dos efeitos da poluição. Confira-se:

(...)Do risco de dano ambiental grave ou irreversível.Além das inúmeras autuações sofridas pela empresa pelo depósito irregular

de material tóxico no terreno, inspeção realizada pela CETSB em janeiro de 1996 já constatara que “o solo, as edificações demolidas ou parcialmente demolidas dentro da área das Indústrias Químicas Matarazzo S.A. permanecem contami-nados por resíduos de BHC, representando risco de dano ao meio ambiente, tanto pela eventual contaminação do aqüífero freático como pela emissão de vapores de organoclorados (BHC e seus compostos) por encontrarem-se expostos a céu aberto sem qualquer tipo de proteção e confinamento”.

A situação não se alterou desde então.O relatório de avaliação de risco à saúde da população em decorrência da

exposição aos contaminantes provenientes da área, elaborado pela Cetesb em novembro de 1998, concluiu que “a área encontra-se contaminada, estando esta contaminação presente em níveis elevados no solo e, em menor dimensão, na atmosfera”, bem como que “o incremento na incidência de câncer em virtude da exposição dos contaminantes existentes na área” é “muito superior ao limite aceitável”.

O parecer elaborado pelo Assistente Técnico do Centro de Apoio das Promotorias do Meio Ambiente, em 02/10/03, consignou que “a deposição de pro-dutos químicos e/ou resíduos, inadequada ou em desacordo com exigências legais, durante o período de sua atividade no local, vem causando poluição significativa em níveis que possam causar danos ao meio ambiente físico, biótico e antrópico.” O mesmo relatório considerou que a situação só tende a se agravar, principalmente por três motivos: falta de adoção de medidas remediadoras e mitigadoras sufi-cientes e adequadas, apesar de assim ter sido exigido pela autoridade competente; difusão espacial dos poluentes dispostos e presentes na área da empresa (em es-pecial BHC e mercúrio) com risco elevado de contaminação de água subterrânea, dificultando, cada vez mais, as medidas de remediação e mitigação necessárias; uso público de área contígua (Espaço Matarazzo) e possivelmente também con-taminada (embora asfaltada) com evidente risco de contaminação dos usuários.

Aos 11/11/04, a Cetesb encaminhou respostas aos quesitos formulados pelo Ministério Público reafirmando que a investigação realizada no local para levan-tamento da contaminação por hexaclorociclohexano (HCH) e mercúrio indicou que há risco inaceitável à saúde para aqueles que ingressam na área. Salientou ainda que o estudo não foi completo pois os demais contaminantes existentes no solo podem representar outras formas de perigo ambiental.(Fls. 286/287 – Apenso 2.)

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, de outra parte, bem assina-lou que:

(...) os efeitos da ação degradadora do ambiente estendem-se no tempo e agravam-se, conservando a potencialidade ofensiva a pessoas, flora e fauna; ao responsável pela ação danosa incumbe o dever de remover-lhe as conseqüências, pondo cobro à potencial lesividade a esses bens tutelados legalmente. E o enorme aumento do risco de causação da câncer às pessoas por certo constitui dano de alta

Page 262: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051262

gravidade; da mesma forma a forte probabilidade de afetação do lençol freático, aponta para o dano irreversível.(Fls. 1134 a 1135 – Apenso 5.)

Os Impetrantes também sustentam que o § 3º do art. 54, apesar de dispen-sar a produção de um resultado material, traz previsão de pena mais grave que a prevista no caput e no § 1º do mesmo artigo, e tão grave quanto às formas qua-lificadas do § 2º. Isso apenas se justifica, segundo sustentam, se o bem jurídico tutelado no § 3º for mais importante que o bem jurídico tutelado pelas demais normas do mesmo artigo. Em outras palavras, se a exposição ao risco de que trata o § 3º for, em si própria, mais grave que o dano ambiental efetivamente verificado nas demais hipóteses legais. E isso apenas ocorreria se o dano que pretende evitar no § 3º fosse maior que o dano de que cuidam o caput e os § 1º e § 2º. Tal circunstância teria sido indicada pelo legislador ao adjetivar o risco de dano que menciona no § 3º como sendo “grave” ou “irreversível”.

Quanto a esse aspecto, verifico que, não obstante a pena cominada no dispositivo legal em apreço guarde relação com o descumprimento de medidas protetivas impostas pelas autoridades ambientais, o legislador, de fato, exigiu, para a sua aplicação, a ocorrência de um risco de “dano ambiental grave ou irreversível”.

Mas esse risco, repita-se, está, no caso, pelo menos em tese, caracterizado. Como já ressaltado nas passagens antes transcritas, a conduta praticada revela-ria não apenas que o risco de dano ambiental ainda persiste, mas, ainda, que esse risco diz respeito a um dano “grave” ou “irreversível”. Não encontra sustenta-ção, portanto, a tese de atipicidade da conduta formulada pelos Impetrantes.

Nas razões do writ, sustenta-se, igualmente, que a ação penal não poderia prosseguir porque o crime de que é acusada a Paciente é de perigo concreto, fazendo-se imprescindível, nessa medida, a realização de exame pericial no terreno supostamente poluído. Acrescenta-se também que os documentos men-cionados na denúncia não constituem laudos de perícia técnica e, além de re-velarem conclusões contraditórias, não indicam, categoricamente, que a “área estudada encontra-se em risco de sofrer dano ambiental de natureza grave ou irreversível” (fl. 30).

Crime de perigo, em oposição ao de dano, é aquele que se consuma, tão-somente, com a possibilidade de lesão ao bem jurídico tutelado. Exemplo sempre lembrado pela doutrina é o de perigo de contágio venéreo (art. 130 do Código Penal). Divide-se em crimes de perigo concreto e de perigo abstrato. A respeito dessa distinção preleciona Damásio de Jesus:

Perigo presumido (ou abstrato) é o considerado pela lei em face de deter-minado comportamento positivo ou negativo. É a lei que presume juris et de jure. Não precisa ser provado. Resulta da própria ação ou omissão. (...).

Perigo concreto é o que precisa ser provado.(JESUS, Damásio de. Direito Penal: Parte Geral. 15. ed. Vol. 1. Saraiva, 1991. p. 167.)

Page 263: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1263

O crime cuja prática é imputada à Paciente, conforme já salientado, con-siste em “deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, me-didas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível”.

Não vejo necessidade, nesse momento, de classificar a conduta descrita em alguma das categorias mencionadas. É que a prova ou a ausência de prova do perigo criado pela omissão da Paciente e, principalmente, a conseqüência jurí-dica advinda dessa circunstância, constitui questão de direito que apenas deve ser apreciada após a instrução do processo.

Paralelamente é de se reconhecer que o tipo penal em referência, por sua própria natureza, não é daquele que deixa vestígios. Bem destacou o Superior Tribunal de Justiça que “o núcleo do dispositivo é justamente a conduta de dei-xar de adotar as medidas de prevenção determinadas pela autoridade compe-tente” (fl. 1461– Apenso 5).

Cuida-se, assim, de um tipo omissivo próprio que dispensa a realização de dano para a sua consumação. Não se pode exigir, por conseguinte, como condi-ção para a ação penal, um exame de corpo de delito cujo objeto, sem prejuízo da ocorrência do ilícito, pode nem chegar a existir.

No mesmo sentido a lição de Delmanto:

Evidente a necessidade de perícia para todo e qualquer crime deste art. 54, à exceção do § 3º (CPP, art. 158).(DELMANTO, Roberto; DELMANTO Júnior, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Leis Penais Especiais Comentadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 507.)

De qualquer modo, cumpre esclarecer que a denúncia está lastreada, pelo menos segundo se depreende da análise sumária possível em sede de habeas corpus, em documentos técnicos elaborados pelos órgãos incumbidos da fiscali-zação ambiental que informam a condição do terreno e o risco de dano ambien-tal ainda existente.

São mencionados, por exemplo, um “relatório de avaliação de risco” elaborado pela Cetesb em novembro de 1998, um “parecer” elaborado pelo assistente técnico do Centro de Apoio das Promotorias do Meio Ambiente, em 2003, e um “encaminhamento de respostas” apresentado pela Cetesb que teria sido redigido em 2004. Além disso, os próprios autos de infração através dos quais as autoridades responsáveis pela fiscalização ambiental teriam exortado a Paciente a adotar medidas preventivas são documentos eminentemente técnicos e que, desenganadamente, fazem presumir a existência de um perigo de dano ambiental efetivo.

Os Impetrantes afirmam, finalmente, que a ação penal deve ser trancada porque inaugurada por denúncia formalmente inepta, que não teria indicado, com precisão, elementos e circunstâncias concretos indispensáveis à formulação de uma defesa substancial. Aduzem que cumpria ao Ministério Público decli-nar, por exemplo, quais as condições naturais do solo e das águas subterrâneas

Page 264: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051264

e, bem assim, descrever se a poluição geradora de risco de dano narrado ocorre na parte do terreno que permanece sob o controle das rés ou na parte que foi desapropriada ao Município.

Ao contrário do que sustentado, a exordial acusatória indica minucio-samente as condutas criminosas que imputa à Paciente, não apresentando nenhuma omissão capaz de obstar o exercício do direito de ampla defesa da de-nunciada. Tal conclusão se extrai do simples exame do documento em referên-cia, merecendo destaque, além dos trechos já reproduzidos, os seguintes:

(...)Da não adoção das medidas de precauçãoA sentença proferida na Ação Civil Pública (Processo n.º 235/95 – 5.ª Vara

Cível de São Caetano do Sul) e confirmada em segunda instância impôs à empresa a obrigação de proceder à destruição dos produtos tóxicos armazenados na área, no prazo de trinta dias, segundo os critérios técnicos indicados pela Cetesb, sob cominação de multa diária.

A ação encontra-se até a presente data em fase de execução da multa, uma vez que a empresa não cumpriu a obrigação a que foi condenada.

Além disso, o órgão ambiental continuou a exigir da empresa a tomada de medidas para prevenir dano ambiental grave. Em 08/10/01, a Cetesb autuou a empresa (AI n.º 16000278) por “ter disposto no solo, de maneira inadequada, resíduos industriais contaminados com BHC (Hexaclociclohexano) e mercúrio, ocasionando danos ao meio ambiente”, impondo-lhe multa administrativa e deter-minação de “quantificar e apresentar solução de tratamento para todo o material contaminado” com BHC e Mercúrio (material de escavação, edificações, equipa-mentos industriais e material de demolição), inclusive o solo na área da indústria química situada em São Caetano do Sul” e “apresentar projeto para a recuperação ambiental de toda área contaminada da indústria, com o respectivo cronograma de execução”.

Apesar da nova autuação, a Informação Técnica n.º CTi-N/024/2003, da Cetesb, de 26/11/03, informou que “a empresa não apresentou qualquer do- cumento em atendimento às exigências formuladas na multa de 08/10/2001”, res-saltando que, “por meio de vistorias realizadas no local, constatou-se que não há alterações e/ou intervenções na área até o momento”’. Por fim, informou que “a Cetesb esgotou todas as ações administrativas que poderiam ser adotadas contra a empresa”.

Os autos de inspeção datados de 22/02/02, 10/06/02 e 07/08/02 constataram que nenhuma providência fora adotada pela empresa. Segundo os relatórios de inspeção, as condições do imóvel continuavam as mesmas, havendo necessidade de isolamento da área contaminada para evitar entrada de pessoas, já que a cerca construída apresentava vários pontos vulneráveis. A sinalização feita através de placas também se apresentava insuficiente para alertar a população sobre o estado de contaminação da área.

A empresa denunciada reuniu-se com a Cetesb no dia 20/08/02 para tratar do assunto, mas apesar de incontestável situação de grave risco ambiental, não apresentou nenhum projeto para recuperação da área. Finalmente, através da in-formação Técnica datada de 27/09/04, a Cetesb mais uma vez confirmou que nada foi feito para descontaminar e recuperar a área e que as condições de isolamento

Page 265: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1265

do terreno permanecem insatisfatórias, deixando os responsáveis de atender às exigências do Poder Judiciário e do órgão ambiental.

(...)Da responsabilidade penal da pessoa jurídicaA empresa “Indústrias Químicas Matarazzo Ltda.”, desenvolveu durante

décadas no local atividade industrial lucrativa, consistente na produção de diver-sos produtos químicos, dentre eles o mercúrio e o BHC, que foram armazenados de forma inadequada na área, resultando no quadro de poluição ambiental acima apontado.

O não cumprimento das medidas de precaução exigidas pelo órgão ambien-tal e pelo Poder Judiciário decorreu de decisões de seus representantes legais, em seu interesse e benefício, uma vez que os custos das providências iniciadas – in-cineração do material contaminado ou sua remoção para aterro adequado – são elevados.

Da responsabilidade da Diretora PresidenteA denunciada Maria Pia Esmeralda Matarazzo ocupa desde 1991 o cargo

de Diretora Presidentes da empresa “Indústrias Químicas Matarazzo Ltda.”, atual denominação das “Indústrias Químicas Matarazzo S.A.”, conforme cópia da fi-cha cadastral registrada junto à Jucesp. Ela também preside a “S.A. Indústrias Reunidas F. Matarazzo”, sócia majoritária da empresa ora denunciada.

Ocupando o cargo de Diretora Presidente em ambas as empresas, a denun-ciada Maria Pia detém poderes para representar isoladamente a sociedade incum-bindo-lhe a superintendência e direção de todos os negócios sociais e também as funções de administração, segundo se verifica da cópia do instrumento arquivada na Jucesp.

Na condição de representante, superintendendo e administradora da pri-meira denunciada, ela detém poderes para determinar o cumprimento das medi-das de precaução exigidas pelas autoridades competentes, mas vem se mantendo inerte quanto às medidas preventivas necessárias a fim de evitar resultados dano-sos ao meio ambiente em larga escala.

Assim, por omissão, vem concorrendo diretamente para que a primeira denunciada continue a poluir a área contaminada, deixando de adotar as medidas exigidas pelas autoridades competentes e concorrendo para a manutenção da situa-ção de risco ambiental grave e irreversível acima descrita.(Fls. 287 a 290 – Apenso 2.)

Parece-me, portanto, que a denúncia preenche todos os requisitos formais estatuídos no art. 41 do Código de Processo Penal, sem incidir, por outro lado, nas hipóteses do art. 43 do mesmo diploma, que determinariam a sua rejeição.

Ante o exposto, ausente qualquer motivo capaz de ensejar o trancamento da ação penal ou a anulação dos atos processuais praticados, denego a ordem.

EXTRATO DA ATA

HC 90.023/SP — Relator: Ministro Menezes Direito. Paciente: Maria Pia Esmeralda Matarazzo. Impetrantes: Luiz Fernando Sá e Souza Pacheco e ou-tros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Page 266: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051266

Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus. Unânime. Ausen-tes, justificadamente, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Ricardo Lewandowski e Menezes Direito. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner de Castro Mathias Neto.

Brasília, 6 de novembro de 2007 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 267: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1267

HABEAS CORPUS 90.172 — SP

Relator: O Sr. Ministro Gilmar MendesPaciente: Marivaldo Adalberto Abuquerque ou Marivaldo Adalberto

Albuquerque — Impetrante: Benedito Donizeth Rezende Chaves — Coator: Relator do HC 68.584 do Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. 1. No caso concreto, foi ajuizada Ação de Execução sob o número 612/2000 perante a 3ª Vara Cível de Santa Bárbara D’Oeste/SP em face do Paciente. A credora re-quereu a entrega total dos bens sob pena de prisão. 2. A defesa alega a existência de constrangimento ilegal em face da iminên-cia de expedição de mandado de prisão em desfavor do Paciente. Ademais, a inicial sustenta a ilegitimidade constitucional da prisão civil por dívida. 3. Reiterados alguns dos argumentos expendidos em meu voto, proferido em sessão do Plenário de 22-11-06, no RE 466.343/SP: a legitimidade da prisão civil do depositário infiel, ressalvada a hipótese excepcional do devedor de alimentos, está em plena discussão no Plenário deste Supremo Tribunal Federal. No julgamento do RE 466.343/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, que se iniciou na sessão de 22-11-06, esta Corte, por maioria que já conta com sete votos, acenou para a possibili-dade do reconhecimento da inconstitucionalidade da prisão civil do alienante fiduciário e do depositário infiel. 4. Superação da Súmula 691/STF em face da configuração de patente constrangi-mento ilegal, com deferimento do pedido de medida liminar, em ordem a assegurar ao Paciente o direito de permanecer em liber-dade até a apreciação do mérito do HC 68.584/SP pelo Superior Tribunal de Justiça. 5. Considerada a plausibilidade da orienta-ção que está a se firmar perante o Plenário deste STF – a qual já conta com 7 votos – ordem deferida para que sejam mantidos os efeitos da medida liminar.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, deferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 5 de junho de 2007 — Gilmar Mendes, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de habeas corpus preventivo, com pedido de medida liminar, impetrado por Benedito Donizeth Rezende

Page 268: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051268

Chaves, em favor de Marivaldo Adalberto Albuquerque, em que se impugna de-cisão monocrática proferida pelo Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, do Superior Tribunal de Justiça, no HC 68.584/SP (DJ de 24-10-06). Eis o teor do ato decisório ora impugnado:

Habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pelo advogado Benedito Donizeth Rezende Chaves em favor de Marivaldo Adalberto Albuquerque, bus-cando o impetrante impedir a prisão do paciente como depositário infiel nos autos da Ação de Execução nº 612/2000, proposta por Dinaço Indústria e Comércio de Ferro e Aço Ltda. contra Grupoaço Comércio de Serviços Ltda. e contra Aparecido Benedito Moreira de Souza, em trâmite junto à Terceira Vara Judicial da Comarca de Santa Bárbara D’oeste/SP.

Aponta como autoridade coatora a Vigésima Quarta Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que denegou o HC nº 7070263-5 em acórdão assim ementado:

“Habeas corpus – Execução – Bem fungível – Prisão civil – Possibilidade ante as peculiaridades do caso – Conquanto tenha o enten-dimento de que é descabida a prisão civil, quando decretada sem que seja oferecida oportunidade de substituição do bem fungível ou equivalente em dinheiro, a hipótese dos autos não permite a adoção de referido posiciona-mento, já que o paciente foi nomeado depositário em 24/08/2000, conservou adequadamente os bens até julho de 2002, quando se concretizou a perícia com a juntada de fotografias. Somente após o leilão e arrematação dos bens é que se perdeu o destino dos mesmos. Assim, se em 2004 quando foi im-pedido o cumprimento da remoção porque os bens não foram localizados, ensejando o pleito do paciente para substituí-los por imóvel que afirmou ser de sua propriedade, porém sem prova ou o parcelamento do valor equiva-lente em quinze pagamentos mensais, não aceito pelo exeqüente, há de ser denegada a ordem de habeas corpus diante do rompimento da relação de fidelidade que deve existir entre o órgão judicante e o depositário. Ordem denegada.(Fl. 238.)Alega o impetrante que:

“Em razão de execução forçada movida pela empresa Dinaço Indústria e Comércio de Ferro e Aço Ltda., o paciente aceitou o encargo de depositário de 87.500 (oitenta e sete mil e quinhentos) quilos de aço galvanizado; proposto embargos foram estes julgados improcedentes, ha-vendo recurso, ainda pendente de julgamento; a credora extraiu carta de sentença, levando os bens à praça, sendo estes por ela arrematados; expe-dido mandado de remoção dos bens – a penhora ocorreu em agosto de 2000 – informou o paciente, por tratar-se de bens fungíveis, parte de seu estoque rotativo, já não mais os possuía, propondo o pagamento do débito em 10 (parcelas) ou a substituição das bobinas por imóvel de sua propriedade; a credora não concordou, requerendo a entrega total dos bens sob pena de prisão; o paciente foi citado por edital, estando na iminência de ser expe-dido contra ele mandado de prisão; em razão do constrangimento interpôs Habeas Corpus junto ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, sendo a ordem denegada, após parecer favorável da Procuradoria de Justiça” (fl. 3).

Page 269: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1269

Invoca o impetrante, ainda, o Pacto de São José da Costa Rica e sustenta que a penhora teve origem em contrato particular de composição e dação em pa-gamento (título executivo) e que descabe a prisão por se cuidar de bens fungíveis.

Decido.A tese do impetrante não encontra amparo na jurisprudência firme desta

Corte, no sentido de ser irrelevante, em depósito judicial, a fungibilidade do bem respectivo.

(...)Na linha dos precedentes acima, portanto, a prisão civil em hipóteses como

a presente, em princípio, não é ilegal.Ante o exposto, indefiro a liminar.

(HC 68.584/SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, decisão mono-crática, DJ de 24-10-06 – fls. 90-94.)

Em desfavor do Paciente, foi ajuizada Ação de Execução sob o número 612/2000 perante a 3ª Vara Cível de Santa Bárbara D’Oeste/SP. O Paciente aceitou o encargo de depositário de 87.500 (oitenta e sete mil e quinhentos) qui-logramas de aço galvanizado. A credora levou os bens à praça, sendo por ela arrematados em 21 de novembro de 2002 (fl. 28).

A credora requereu a entrega total dos bens sob pena de prisão.Em 15 de junho de 2005, a Juíza de Direito Eliane da Camara Leite Fer-

reira, nos autos 612/2000 – execução provisória, assim se manifestou:

Intime-se o depositário Marivaldo, no prazo de 24 horas, com urgência, para que entregue o bem sob sua guarda ou o seu equivalente em dinheiro, sob pena de prisão, facultando os benefícios do art. 172 do CPC.(Fl. 43.)

Diante da iminência de expedição de mandado de prisão em face do ora Paciente, a defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP).

Em 24 de agosto de 2006, a 24ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) denegou a ordem nos termos do voto do Relator, Walter Fonseca (fls. 67-73), eis o teor da decisão:

Embora se adote o posicionamento de que é descabida a prisão do deposi-tário de bem fungível, in casu, a análise dos autos demonstra que nenhum reparo merece a decisão da MM. Juíza da 3a Vara Cível da Comarca de Santa Bárbara D’Oeste.

O paciente, na condição de representante legal da empresa co-executada Grupoaço Comércio de Serviços Ltda., assumiu o encargo de depositário de 87.500 quilos de aço galvanizado, acondicionados em bobinas revestimento “B”, material novo (fls. 38). Referidos bens foram mantidos em perfeito estado de guarda e conservação até julho de 2002, quando foi produzida prova pericial com a juntada aos autos de fotografia pelo Expert. Efetivado o leilão e lavrado o auto de arrematação em 21/11/2002 (fls. 102/103), não mais se teve notícias dos bens de-positados. Em 29/01/2004, houve deferimento de remoção dos bens (fls. 122), sem êxito, porque o sr. Oficial de Justiça não localizou as bobinas de aço (fls. 135). Em

Page 270: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051270

razão disso, a MM. Juíza de 1º grau, em 21/10/2004, determinou a intimação do depositário para apresentação dos bens ou seu equivalente em dinheiro, sob pena de prisão (fls. 137/138), ensejando o pedido do paciente, formulado em 17/11/2004, no sentido da substituição dos bens, ante a fundamentação de que “os mesmos, além de perecíveis, trata-se de bens fungíveis, do ativo rotativo da empresa execu-tado, não possuindo neste momento em seu estoque o montante exigido. De outro lado não tinha como manter o depósito dos bens, pois com o passar do tempo per-dem sua utilidade, pelo desgaste natural, principalmente a ferrugem”. (fls. 140). Este pedido não contou com a anuência do exeqüente, o qual, em 26/04/2005, pug-nou pelo pagamento do equivalente em dinheiro ou a prisão do depositário infiel, manifestação acolhida pela MM. Juíza em 15/06/2005 (fls. 176).

Desde logo, percebe-se que a cronologia depõe contra a alegação de que os bens depositados se degeneraram, pois por quase dois anos permaneceram intan-gíveis à ação da natureza e não foi apresentada a razão que teria determinado a deterioração após o lapso apontado.

Além disso, depende de comprovação o alicerce apresentado pelo impe-trante do habeas corpus, inadmissível na via de cognição sumária, a teor do decidido pelo C. Superior Tribunal de Justiça: “A via do writ não permite o apro-fundado exame do material cognitivo. Writ denegado” (HC n. 20.908-RO, DJ 01/07/2004, rel. Min. Félix Fischer).

Com a não localização dos bens pelo Sr. Oficial de Justiça, determinou-se a sua apresentação, abrindo ao paciente, dada a natureza fungível, a oportunidade de substituir os 87.500 quilos de aço galvanizado por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Todavia, ao invés de providenciar a troca, propôs em juízo a substituição por imóvel, sem provar a propriedade, ou o pagamento em dinheiro do valor penhorado em quinze parcelas iguais, condicionada à concor-dância da exeqüente.

Desse modo, vê-se que o paciente já teve a ocasião para a substituição do bem ou o pagamento do equivalente em dinheiro, restando prejudicada a anotação da C. Procuradoria Geral de Justiça de que “A prisão é injustificada e indevida. Há possibilidade de apresentação do bem, a despeito de parte do estoque rotativo da empresa (...) O Juízo deveria ter determinado a substituição do bem penhorado e/ou reforço de penhora, com eventual necessidade de remoção do bem móvel. Não deveria simplesmente decretar a prisão do depositário que deu sinais de sua res-ponsabilidade” (fls. 272).

Ademais, não seria razoável exigir-se do exeqüente a substituição da ga-rantia por imóvel do qual não se tem comprovação de propriedade ou tampouco o parcelamento em quinze vezes de débito de execução iniciada em 2000.

(...)Dessa forma, caracterizado o rompimento da relação de fidelidade que

deve existir entre o órgão judicante e o depositário, denega-se a ordem de habeas corpus.(Fls. 69-73.)

Posteriormente, a defesa impetrou habeas corpus junto ao Superior Tribunal de Justiça. O Ministro Carlos Alberto Menezes Direito indeferiu a me-dida liminar em 19 de outubro de 2006 (DJ de 24-10-06).

Page 271: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1271

No caso em análise, o Impetrante alega existência de suposto constran-gimento ilegal “tendo em vista que a qualquer momento poderá ser expedido contra o paciente mandado de prisão” (fl. 17).

Em decisão de 19 de dezembro de 2006 (DJ de 1º-2-07 – fls. 98-104), de-feri o pedido de medida liminar, em ordem a assegurar, ao Paciente, o direito de permanecer em liberdade até a apreciação do mérito do HC 68.584/SP pelo Superior Tribunal de Justiça.

Na petição 76.491/07 (fls. 199-217), o Ministro Castro Filho, Presidente da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, asseverou:

em complementação ao ofício nº 261/2007 – CD3T, de 23.03.2007, informo a Vossa Excelência que o HC nº 68.584/SP foi julgado na sessão de 17.04.2007, sendo proferida a seguinte decisão: “A Turma, por unanimidade, denegou a or-dem, nos termos do voto do senhor Ministro Relator.”(Fl. 199.)

A inicial requer, por fim:

o deferimento liminar da ordem, determinando seja expedido em seu favor contra-mandado de prisão. Ao final seja a ordem concedida mantendo-se a limi-nar, com medida de inteira justiça.(Fl. 17.)

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do Subprocurador-Geral da República Dr. Edson Oliveira de Almeida, manifestou-se pela con-firmação da liminar para que, sem prejuízo do julgamento do mérito do HC 68.584/SP pelo STJ, seus efeitos perdurem até decisão final do Plenário do Supremo Tribunal Federal no RE 466.343/SP, de relatoria do Ministro Cezar Peluso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Em parecer de fls. 192-196, o Ministério Público Federal, pelo Subprocurador-Geral da República Dr. Edson Oliveira de Almeida, manifestou-se nos seguintes termos:

1. Eis a decisão que deferiu a liminar (fls. 98/104):“Decisão:(...)Preliminarmente, a jurisprudência desta Corte é no sentido da inad-

missibilidade da impetração de habeas corpus, nas causas de sua com-petência originária, contra decisão denegatória de liminar em ação de mesma natureza articulada perante tribunal superior, antes do julgamento definitivo do writ. Nesse particular, cito os seguintes julgados: HC (QO) nº 76.347/MS, Rel. Min. Moreira Alves, 1ª Turma, unânime, DJ de 08.05.1998; HC nº 79.238/RS, Rel. Min. Moreira Alves, 1ª Turma, unânime, DJ de

Page 272: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051272

06.08.1999; HC nº 79.776/RS, Rel. Min. Moreira Alves, 1ª Turma, unânime, DJ de 03.03.2000; HC nº 79.775/AP, Rel. Min. Maurício Corrêa, 2ª Turma, maioria, DJ de 17.03.2000; e HC nº 79.748/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª Turma, maioria, DJ de 23.06.2000.Esse entendimento está representado na Súmula nº 691/STF, verbis: “Não

compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar”.

É bem verdade que o rigor na aplicação da Súmula nº 691/STF tem sido abrandado por julgados desta Corte em hipóteses excepcionais em que: a) seja premente a necessidade de concessão do provimento cautelar para evitar flagrante constrangimento ilegal; ou b) a negativa de decisão concessiva de medida limi-nar pelo tribunal superior apontado como coator importe a caracterização ou a manutenção de situação que seja manifestamente contrária à jurisprudência do STF. Para maiores detalhes, enumero as decisões colegiadas: HC nº 84.014/MG, 1ª Turma, unânime, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 25.06.2004; HC nº 85.185/SP, Pleno, por maioria, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ de 1º.09.2006; e HC nº 88.229/SE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, maioria, julgado em 10.10.2006; e as seguintes decisões monocráticas: HC nº 85.826/SP (MC), de minha relato-ria, DJ de 03.05.2005; e HC nº 86.213/ES (MC), Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 1º.08.2005.

Para fins de apreciação do pedido de medida liminar, porém, é necessário, no caso em exame, avaliar se há ou não patente constrangimento ilegal apto a superar a aplicação da Súmula nº 691/STF e a ensejar o cabimento deste habeas corpus.

Preliminarmente, invoco precedente deste STF, apontado pelo impetrante, no qual o Min. Joaquim Barbosa deferiu pedido de liminar para suspender a or-dem da prisão civil, até o final do julgamento do referido writ (HC nº 88.173/SC, Rel. Min. Joaquim Barbosa, decisão liminar, DJ de 15-03-06). No caso invocado como precedente, porém, constou como razão de decidir do Em. Min. Relator, a afirmação de que:

‘O impetrante trouxe a cópia integral dos autos das três execuções fis-cais, no bojo das quais o paciente foi nomeado depositário dos bens penho-rados e decretada a sua prisão civil em razão da infidelidade. Da análise de tais documentos, bem como dos argumentos articulados na inicial, vislum-bro, pelo menos neste primeiro exame superficial, a presença dos requisitos essenciais ao deferimento da liminar.’ (HC no 88.173/SC, Rel. Min. Joaquim Barbosa, decisão liminar, DJ de 15.03.2006).A legitimidade da prisão civil do depositário infiel, ressalvada a hipótese

excepcional do devedor de alimentos, está em plena discussão no Plenário deste Supremo Tribunal Federal. No julgamento do RE no 466.343/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, que se iniciou na sessão de 22.11.2006, esta Corte, por maioria que já conta com sete votos, acenou para a possibilidade do reconhecimento da inconstitucio-nalidade da prisão civil do alienante fiduciário e do depositário infiel.

O julgamento desse recurso foi suspenso em razão de pedido de vista formulado pelo Eminente Min. Celso de Mello. Conforme registra o recente Informativo no 450/STF, verbis:

‘O Tribunal iniciou julgamento de recurso extraordinário no qual se discute a constitucionalidade da prisão civil nos casos de alienação

Page 273: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1273

fiduciária em garantia (DL 911/69: “Art. 4º Se o bem alienado fiduciaria-mente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor, o credor poderá requerer a conversão do pedido de busca e apreensão, nos mesmos autos, em ação de depósito, na forma prevista no Capítulo II, do Título I, do Livro IV, do Código de Processo Civil.”). O Min. Cezar Peluso, relator, negou provimento ao recurso, por entender que o art. 4º do DL 911/69 não pode ser aplicado em todo o seu alcance, por inconstitucionalidade mani-festa. Afirmou, inicialmente, que entre os contratos de depósito e de alie-nação fiduciária em garantia não há afinidade, conexão teórica entre dois modelos jurídicos, que permita sua equiparação. Asseverou, também, não ser cabível interpretação extensiva à norma do art. 153, § 17, da EC 1/69 — que exclui da vedação da prisão civil por dívida os casos de depositário infiel e do responsável por inadimplemento de obrigação alimentar — nem analogia, sob pena de se aniquilar o direito de liberdade que se ordena prote-ger sob o comando excepcional. Ressaltou que, à lei, só é possível equiparar pessoas ao depositário com o fim de lhes autorizar a prisão civil como meio de compeli-las ao adimplemento de obrigação, quando não se deforme nem deturpe, na situação equiparada, o arquétipo do depósito convencional, em que o sujeito contrai obrigação de custodiar e devolver’.Considerada a plausibilidade da tese do impetrante no caso concreto ora

em apreço, creio ser o caso de deferir a medida liminar. Concedo aplicabilidade à jurisprudência firmada por este Supremo Tribunal Federal no sentido de que a concessão de medida cautelar, em sede de habeas corpus, somente é possível em hipóteses excepcionais nas quais seja patente o constrangimento ilegal alegado.

Ressalvado melhor juízo quando da apreciação de mérito, constato a exis-tência dos requisitos autorizadores da concessão da liminar pleiteada ( fumus boni juris e periculum in mora).

Ante os fundamentos expostos, defiro o pedido de medida liminar, em ordem a assegurar, ao paciente, o direito de permanecer em liberdade até a apre-ciação do mérito do HC nº 68.584/SP pelo Superior Tribunal de Justiça. Caso o paciente já se encontre preso em decorrência de eventual decisão proferida na ori-gem (Autos no 612/00), deverá ser posto, imediatamente, em liberdade, nos termos e na extensão acima especificados.

Expeça-se salvo-conduto, em favor do ora paciente, nos termos e para os fins a que se refere o art. 660, § 4º do CPP, de cujo teor deverá constar a parte dis-positiva mencionada no parágrafo anterior”.

2. Opino por que seja confirmada a liminar acima transcrita para que, sem prejuízo do julgamento do mérito do HC 68.584-SP pelo Superior Tribunal de Justiça, seus efeitos perdurem até decisão final do Plenário do Supremo Tribunal Federal no RE 466.343-SP.(Fl. 196.)

A propósito da manifestação do Parquet, creio ser pertinente reiterar al-guns dos argumentos que expendi em meu voto, proferido em sessão do Plenário de 22-11-06, no RE 466.343/SP, de relatoria do Ministro Cezar Peluso, verbis:

Entendo que, desde a ratificação, pelo Brasil, sem qualquer reserva, do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base legal para prisão civil do depositário infiel, pois o

Page 274: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051274

caráter especial desses diplomas internacionais sobre direitos humanos lhes re-serva lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil, dessa forma, torna ina-plicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificação. Assim ocorreu com o art. 1.287 do Código Civil de 1916 e com o Decreto-Lei 911/69, assim como em relação ao art. 652 do Novo Código Civil (Lei 10.406/02).

A prisão civil do devedor-fiduciante no âmbito do contrato de alienação fi-duciária em garantia viola o princípio da proporcionalidade, visto que:

a) o ordenamento jurídico prevê outros meios processuais-execu-tórios postos à disposição do credor-fiduciário para a garantia do crédito, de forma que a prisão civil, como medida extrema de coerção do devedor inadimplente, não passa no exame da proporcionalidade como proibição de excesso (Übermassverbot), em sua tríplice configuração: adequação (Geeingnetheit), necessidade (Erforderlichkeit) e proporcionalidade em sentido estrito; e

b) o Decreto-Lei 911/69, ao instituir uma ficção jurídica, equiparando o devedor-fiduciante ao depositário, para todos os efeitos previstos nas leis civis e penais, criou uma figura atípica de depósito, transbordando os li-mites do conteúdo semântico da expressão “depositário infiel” insculpida no art. 5º, inciso LXVII, da Constituição e, dessa forma, desfigurando o instituto do depósito em sua conformação constitucional, o que perfaz a violação ao princípio da reserva legal proporcional (Vorbehalt des verhält-nismässigen Gesetzes).Lembro, mais uma vez, que o Decreto-Lei 911/69 foi editado sob a égide do

regime ditatorial instituído pelo Ato Institucional 5, de 1968. Assinam o decreto as três autoridades militares que estavam no comando do país na época. Certamente – e nesse ponto não tenho qualquer dúvida –, tal ato normativo não passaria sob o crivo do Congresso Nacional no contexto atual do Estado constitucional, em que são assegurados direitos e garantias fundamentais a todos os cidadãos.

Deixo acentuado, também, que a evolução jurisprudencial sempre foi uma marca de qualquer jurisdição de perfil constitucional. A afirmação da mutação constitucional não implica o reconhecimento, por parte da Corte, de erro ou equí-voco interpretativo do texto constitucional em julgados pretéritos. Ela reconhece e reafirma, ao contrário, a necessidade da contínua e paulatina adaptação dos sen-tidos possíveis da letra da Constituição aos câmbios observados numa sociedade que, como a atual, está marcada pela complexidade e pelo pluralismo.

A prisão civil do depositário infiel não mais se compatibiliza com os valo-res supremos assegurados pelo Estado Constitucional, que não está mais voltado apenas para si mesmo, mas compartilha com as demais entidades soberanas, em contextos internacionais e supranacionais, o dever de efetiva proteção dos direitos humanos.(Voto por mim proferido em 22-11-06 no RE 466.343/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, Pleno.)

No Informativo/STF 450, verifica-se que:

O Tribunal iniciou julgamento de recurso extraordinário no qual se discute a constitucionalidade da prisão civil nos casos de alienação fiduciária em garantia

Page 275: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1275

(DL 911/69: “Art. 4º Se o bem alienado fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor, o credor poderá requerer a conversão do pedido de busca e apreensão, nos mesmos autos, em ação de depósito, na forma prevista no Capítulo II, do Título I, do Livro IV, do Código de Processo Civil.”). O Min. Cezar Peluso, relator, negou provimento ao recurso, por entender que o art. 4º do DL 911/69 não pode ser aplicado em todo o seu alcance, por inconstitucio-nalidade manifesta. Afirmou, inicialmente, que entre os contratos de depósito e de alienação fiduciária em garantia não há afinidade, conexão teórica entre dois modelos jurídicos, que permita sua equiparação. Asseverou, também, não ser ca-bível interpretação extensiva à norma do art. 153, § 17, da EC 1/69 – que exclui da vedação da prisão civil por dívida os casos de depositário infiel e do responsável por inadimplemento de obrigação alimentar – nem analogia, sob pena de se ani-quilar o direito de liberdade que se ordena proteger sob o comando excepcional. Ressaltou que, à lei, só é possível equiparar pessoas ao depositário com o fim de lhes autorizar a prisão civil como meio de compeli-las ao adimplemento de obriga-ção, quando não se deforme nem deturpe, na situação equiparada, o arquétipo do depósito convencional, em que o sujeito contrai obrigação de custodiar e devolver. RE 466.343/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, 22-11-06.(Informativo/STF 450.)

Considerada a plausibilidade da orientação que está a se firmar perante o Plenário desta Corte – a qual já conta com 7 votos – defiro a ordem para que se-jam mantidos os efeitos da medida liminar de fls. 98-104 (DJ de 1º-2-07).

É como voto.

EXPLICAÇÃO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Senhor Presidente, no caso, trata-se de bens fungíveis, o que, no campo convencional, não é tratado como contrato de depó-sito, mas como contrato de empréstimo.

EXTRATO DA ATA

HC 90.172/SP — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Paciente: Marivaldo Adalberto Abuquerque ou Marivaldo Adalberto Albuquerque. Impetrante: Benedito Donizeth Rezende Chaves. Coator: Relator do HC 68.584 do Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu o pedido de habeas cor-pus, nos termos do voto do Relator.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 5 de junho de 2007 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 276: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051276

HABEAS CORPUS 90.174 — GO

Relator: O Sr. Ministro Carlos BrittoRelator para o acórdão: O Sr. Ministro Menezes DireitoPaciente: Edson Pereira Bueno — Impetrante: Luís Alexandre Rassi —

Coator: Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. Competência de Justiça estadual. Repasse de verbas. Lei 8.666/93.

1. É de competência da Justiça estadual processar e julgar agente público estadual acusado de prática de delito de que trata o art. 89 da Lei 8.666/93, não sendo suficiente para atrair a com-petência da Justiça Federal a existência de repasse de verbas em decorrência de convênio da União com Estado-membro.

2. Habeas corpus deferido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, deferir o pedido de habeas corpus para proclamar a com-petência da Justiça comum, nos termos do voto do Ministro Menezes Direito.

Brasília, 4 de dezembro de 2007 — Menezes Direito, Relator para o acórdão.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto: Trata-se de habeas corpus, aparelhado com pedido de medida liminar, impetrado contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça. Acórdão que entendeu como da competência da Justiça Federal o jul-gamento de agente público estadual, acusado da prática do delito de que trata o art. 89 da Lei 8.666/93, quando posto em causa convênio entre a União e Estado-membro. Mais: a Corte Superior de Justiça perfilhou o entendimento de que o objeto do convênio – construção de complexo penitenciário – é de interesse da União. Pelo que não há como se afastar a competência da Justiça Federal para o exame da causa1.

1 Esta a ementa do julgado: “Recurso ordinário em habeas corpus. Artigo 89 da Lei nº 8.666/93. Dispensa de licitação fora dos casos previstos em lei. Verbas sujeitas à fiscalização pelo Tribunal de Contas da União. Competência da Justiça Federal. Súmula 208, STJ.

1. É da competência da Justiça Federal o julgamento de servidor ou agente público estadual acusado da prática do delito previsto no artigo 89 da Lei 8.666/93, por dispensa indevida de lici-tação, para construção de complexo prisional, mediante emprego de verba oriunda de convênio

Page 277: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1277

2. Pois bem, o Impetrante sustenta a incompetência da Justiça Federal para conhecer do feito contra o Paciente. Isso por inexistir (é o que se alega) “inte-resse direto” da União na causa. Mais exatamente, o Impetrante afasta a com-petência da Justiça Federal, sob a alegação de que, na hipótese de prejuízo, este é de ser suportado pelo Estado de Goiás, conforme a 11ª Cláusula do Convênio, verbis:

O convenente compromete-se a restituir o valor transferido pela conce-dente, atualizado monetariamente, acrescido de juros legais, na forma da legisla-ção aplicável aos débitos com a Fazenda Nacional, a partir da data do recebimento, nos seguintes casos:

a) inexecução do objeto;b) falta de apresentação da prestação de contas no prazo e na forma exigidos;c) utilização dos recursos em finalidade diversa da estabelecida no presente

Convênio;d) irregularidade de que resulte prejuízo para o erário público

(Fl. 4 da inicial da impetração.)

3. Prossigo neste relato para informar que Edson Pereira Bueno, Paciente, foi denunciado pela suposta prática do delito do art. 89 da Lei 8.666/932. Isso porque, na companhia de outras cinco pessoas (entre elas o próprio Impetrante), dispensou a realização de licitação fora dos casos previstos em lei. Eis o que diz a inicial acusatória:

Em abril de 1993, o Estado de Goiás, por intermédio da hoje extinta EMOP – Empresa Estadual de Obras Públicas contratou, através de processo licitatório, a Scares Leone S/A – Construtora e Pavimentadora, Contrato n. 402/92 (fl. 706, volu- me V), no valor de Cr$ 47.051.408.021,88 (convertido para R$ 10.761.400,27, após o advento do Plano Real), para a construção da Casa de Prisão Provisória, até então impropriamente denominada de Presídio Regional de Goiânia – Primeira Etapa.

Entretanto, as obras de construção da Casa de Prisão Provisória só se ini-ciaram após a liberação dos recursos federais provenientes do Convênio n. 15/96, firmado entre a União e o Estado de Goiás, dos quais 90% foram repassados pela União.

Ocorre que, antes mesmo do início das obras, a Soares Leone S/A – Construtora e Pavimentadora “transferiu” o contrato 402/92 para Fuad Rassi Enge-nharia Indústria e Comércio Ltda., mediante contrato impropriamente denominado

entre a União e o Estado, cuja fiscalização compete ao TCU, pela presença do interesse da União na realização do objeto do convênio (Constituição da República, art. 109, IV).

2. Negado provimento ao recurso.”2 “Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de ob-servar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:

Pena – detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para

a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.”

Page 278: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051278

de “sub-empreitada”, que de fato se consistiu em verdadeira sub-rogação, já que à Fuad Rassi foi outorgada a construção integral da obra.

Além dos reajustes a título de periodicidade, o contrato n. 402/92 sofreu (...) alterações, para acréscimo de serviços.

(...)Pelo aditivo 01/98, acresceram-se ao Contrato 402/92, que originalmente

previu apenas a construção da Casa de Prisão Provisória (única obra licitada), duas outras obras totalmente distintas e estranhas ao objeto da licitação, que em comum têm apenas o fato de serem vizinhas, quais sejam, o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico de Goiânia e do Presídio Regional de Goiânia, o que representou um acréscimo ao objeto do contrato da ordem de 229,15% sem qualquer licitação.

(...)(Denúncia, fls. 251-253 do apenso 1.)

4. Pois bem, a denúncia foi recebida e devidamente processada pelo Juízo da 11ª Vara da Justiça Federal de Goiás. Sendo que, no momento da impetração, o feito aguardava a apresentação das alegações finais defensivas.

5. Sucede que, durante o curso da instrução criminal, a defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal Regional Federal. Habeas corpus que foi denegado, ao fundamento de que “sendo atribuição do Tribunal de Contas da União, órgão federal, a fiscalização das verbas destinadas a Estados, mediante convênio, existe o interesse da União na causa, sendo competente para tanto a Justiça Federal, nos termos do artigo 109, I, da CF (...)” (fl. 287 do apenso 2);

6. Inconformado, o Impetrante ajuizou recurso ordinário em habeas cor-pus, no Superior Tribunal de Justiça. Recurso que foi desprovido, também sob o fundamento de que a prestação de contas perante o TCU revela interesse da União na realização do objeto do convênio. Interesse a atrair a competência da Justiça Federal para o exame da denúncia.

7. É contra essa decisão colegiada que se insurge o Impetrante. Sendo que indeferi a liminar, por entender ausentes os respectivos pressupostos. Na seqüência, abri vista dos autos à Procuradoria-Geral da República, órgão que opinou pelo indeferimento da ordem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Ayres Britto (Relator): Conforme relatado, a questão a ser deslindada por esta nossa Turma é a da definição da competência da Justiça Federal para processar agente estatal que, no uso de verba federal proveniente de convênio com a União, deixa de realizar a devida licitação. Verba, acresça-se, com destinação específica e sob a fiscalização do TCU.

9. Pois bem, de saída, consigno que esta Suprema Corte firmou o seguinte entendimento acerca da matéria:

Page 279: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1279

Habeas corpus. Competência para julgamento de prefeito municipal por crimes praticados contra a União.

1. Os Tribunais de Justiça são competentes para processar e julgar prefeitos municipais por crimes comuns (Constituição, art. 29, X), assim entendidos tam-bém aqueles relativos à malversação de verbas recebidas da União sem condição. Precedente.

2. Os Tribunais Regionais Federais são competentes para processar e julgar prefeitos municipais por infrações praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União (Constituição, art. 109, IV), assim entendidas também aquelas relativas à malversação de verbas recebidas da União sob condição e sujeitas a prestação de contas e ao controle do Tribunal de Contas da União. Precedentes.

3. Habeas corpus conhecido e deferido para anular as decisões do Superior Tribunal de Justiça que julgaram o Conflito de Competência e, em conseqüência, os atos decisórios praticados pelo Tribunal de Justiça e determinar a remessa dos autos ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região para que, fixada a sua competên-cia, proceda como entender de direito.(HC 78.728, Rel. Min. Maurício Corrêa – sem grifos no original.)

Habeas corpus. Denúncias por utilização indevida de recursos prove-nientes de convênio firmado entre Município e a União (art. 1º, inciso II, do DL 201/67). Alegação de incompetência da Justiça Federal e de bis in idem, uma vez que o mesmo fato objeto da ação penal já teria sido apreciado pela Justiça esta-dual. Hipótese em que a execução do convênio foi submetida à fiscalização do Ministério da Ação Social e do Tribunal de Contas da União, circunstância suficiente para demonstrar o interesse da União no bom e regular emprego dos recursos objeto do repasse e, conseqüentemente, o acerto da aplicação, ao caso, da norma constitucional de competência sob enfoque (art. 109, IV, da CF). Inexistência de comprovação de que a alegação de bis in idem tenha sido suscitada perante o Superior Tribunal de Justiça, que sobre ela não se manifestou. Habeas corpus conhecido em parte e nessa parte indeferido.(HC 81.994, Rel. Min. Ilmar Galvão – Sem grifos no original.)

10. Com efeito, esta nossa Corte perfilha o entendimento de que a defini-ção da competência (se da Justiça estadual, se da Justiça Federal) em tema de ações penais fundadas na má administração de valores oriundos da União está, centralmente, a depender da finalidade da transferência do numerário. Pelo que, se o repasse de valores é vinculado a uma finalidade específica (edificação de uma escola ou construção de um presídio, por exemplo), a competência para apreciar eventual delito de malversação de verbas é mesmo da Justiça Federal. Isso em face do interesse da União em verificar se o dinheiro por ela transferido alcançou a devida destinação.

11. Por outra volta, se a verba é transferida pela União Federal aos demais entes da Federação à mingua de condicionamento, então o interesse da União se exaure com o próprio ato de repasse. Pelo que a eventual má administração de tais recursos é de ser apreciada pela Justiça estadual, pois o Município/Estado encontrava-se livre para deles dispor como bem lhe aprouvesse.

Page 280: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051280

12. Como anotei na oportunidade do indeferimento da medida liminar, o presente caso parece enquadrar-se na primeira hipótese, aqui levantada. É que o processo penal contra o Paciente se refere à administração de numerário que foi recebido pelo Estado de Goiás, mediante convênio com o Ministério da Justiça. Convênio voltado, focadamente, para a construção de presídio naquela Unidade da Federação. Tudo a sinalizar que se cuidava de repasse vinculado, a atrair, nos termos da jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, a competência da Justiça Federal.

13. Não é só: a aplicação das verbas em comento foi analisada pela Corte Federal de Contas. É dizer: o TCU exerceu o controle e a fiscalização do Convê-nio em causa.

14. Sobremais, tenho que a competência da Justiça Federal para o exame da causa ressai também do objeto do contrato. Isso porque a transferência de verbas para a construção de presídios estava inserida, na época dos fatos, no amplo contexto da Política Penitenciária Nacional. Política, essa, gerida pelo Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e que estava assentada, entre outras coisas, na realização de convênios “com as Unidades Federativas me-diante convênios, na implantação de estabelecimentos e serviços penais” (inciso IV do art. 72 da Lei 7.210/84).

15. Esse o quadro, não encontro no acórdão do Superior Tribunal de Justiça ilegalidade ou abuso de poder a ser reparado na via processualmente contida do habeas corpus. Motivo pelo qual indefiro a ordem.

16. É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhor Presidente, peço vênia ao emi-nente Ministro Carlos Britto para divergir.

Estou entendendo que, concretamente, a existência de controle pelo Tribunal de Contas da União e de um convênio vinculando a execução de uma determinada obra a um determinado repasse não são suficientes para atrair a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, IV, da Constituição Federal, porque, na realidade, esse repasse apenas faz ingressar, no patrimônio estadual, os recursos correspondentes, e, por isso, eventual delito, na cobertura da Lei de Licitações e do Código Penal, leva à competência da Justiça estadual, pois não se pode identificar, no fato do repasse, um interesse direto da União a justificar a competência da Justiça Federal.

Por essas razões, estou na conclusão, portanto, deferindo a ordem de ha-beas corpus para determinar a competência da Justiça estadual.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhor Presidente, peço vênia, até pelos argumentos que já expus em Plenário, para acompanhar a divergência.

Page 281: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1281

Entendo também que, se crime houve, foi em detrimento do patrimônio do Estado, porque a verba foi repassada para a construção de um bem estadual, qual seja a casa de custódia de Goiânia.

Portanto, concedo a ordem.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): O Ministro Cezar Peluso res-saltou, hoje, que a competência penal da Justiça Federal é estrita. É o que se contém na Constituição Federal. E, aqui, não se tem um delito praticado contra bens, serviço ou interesse – vislumbro o vocábulo na via direta e não indireta – da União. Deu-se o repasse dos recursos para a administração, para junção a valores do Estado e ter-se a construção da casa do custodiado, da casa do alber-gado, não sei se haveria essa especificidade.

Dir-se-á que, ao ser descumprida a Lei 8.666/93, a Lei das licitações, ter-se-ia praticado ato contrário aos interesses da União. Penso que não. Ter-se-ia praticado ato contrário aos interesses do próprio Estado, favorecendo este ou aquele cidadão, esta ou aquela pessoa jurídica. E a transgressão, ressaltou o Ministro Menezes Direito, à Lei 8.666/93 – a não ser que haja o envolvimento, repito, de bem, serviço ou interesse direto da União – resolve-se na jurisdição penal comum, e não na jurisdição penal federal, que, sabidamente, vem sendo exercida a partir de uma sobrecarga inimaginável, principalmente na primeira instância.

Peço vênia ao Relator para, coerente com o voto que proferi no caso da droga apreendida em solo, e não na aeronave, assentar que a competência é da Justiça comum.

EXTRATO DA ATA

HC 90.174/GO — Relator: Ministro Carlos Britto. Relator para o acórdão: Ministro Menezes Direito. Paciente: Edson Pereira Bueno. Impetrante: Luís Alexandre Rassi. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: Por maioria de votos, a Turma deferiu o pedido de habeas cor-pus para proclamar a competência da Justiça comum, nos termos do voto do Ministro Menezes Direito, Relator para o acórdão; vencido o Ministro Carlos Britto, Relator. Não participou, justificadamente, deste julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Falaram: pelo Paciente, o Dr. Luís Alexandre Rassi e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas, Subprocurador-Geral da República.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Compareceu o Ministro Cezar Peluso, a fim de julgar processos a ele vincula-dos, ocupando a cadeira da Ministra Cármen Lúcia. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.

Brasília, 4 de dezembro de 2007 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 282: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051282

HABEAS CORPUS 90.274 — SP

Relator: O Sr. Ministro Menezes DireitoPaciente: André Monteiro — Impetrante: Leopoldo Stefanno Leone

Louveira — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. Direito penal e processual penal. Sentença penal condenatória. Prisão somente após o trânsito em julgado. Recurso especial provido. Determinação de reajustamento da pena. Trânsito em julgado. Possibilidade de expedição de man-dado de prisão. Decisão que apenas reajusta o quantum sanciona-tório não tem natureza de sentença. Ordem denegada.

1. A decisão do Juiz de 1º grau que, cumprindo ordem ema-nada do Superior Tribunal de Justiça no recurso especial, rea-justa a pena imposta ao paciente não tem natureza de sentença, porque apenas corrigiu o quantum da reprimenda em face da continuidade delitiva.

2. A não-interposição de recurso contra o acórdão do Supe-rior Tribunal de Justiça fez com que a decisão condenatória tran-sitasse em julgado, sendo, portanto, legítima a ordem de prisão do Juízo de 1º grau.

3. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir o pedido de habeas corpus.

Brasília, 4 de dezembro de 2007 — Menezes Direito, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Habeas corpus, com pedido de limi-nar, impetrado pelo advogado Leopoldo Stefanno Leone Louveira em favor de André Monteiro, buscando a concessão da ordem para que o Paciente possa aguardar em liberdade o trânsito em julgado da condenação.

Aponta como órgão coator a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem no HC 53.143/SP, Relator o Ministro Gilson Dipp.

Tem-se no relatório do Superior Tribunal de Justiça o seguinte resumo dos fatos:

Page 283: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1283

André Monteiro foi condenado à pena de 8 anos de reclusão, em regime in-tegralmente fechado, pela suposta prática do delito de atentado violento ao pudor em continuidade delitiva.

O Magistrado, na ocasião, autorizou o apelo em liberdade, nos termos do art. 594 do Código de Processo Penal.

Em sede de apelação, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo manteve a condenação, fazendo ressalva quanto ao regime de cumprimento de pena. Nessa decisão, foi determinada a expedição de mandado de prisão em seu desfavor.

Em face disso, foi impetrado habeas corpus perante esta Corte, tendo sido concedida a ordem para que o paciente aguardasse o julgamento em liberdade até o trânsito em julgado da decisão condenatória, face a sentença de 1º grau não atacada no ponto.

Paralelamente a isso, a defesa interpôs recurso especial, no qual se buscava discutir a questão do aumento da reprimenda em razão da continuidade delitiva.

Ao recurso especial foi dado provimento, determinando-se a remessa dos autos ao Juízo de primeiro grau para reajustamento da pena imposta ao réu.

O Magistrado singular procedeu à readequação, determinando a expedição de mandado de prisão em desfavor do réu.

Peticionando aos autos, a defesa pugnou pela reconsideração do decisum no tocante à prisão do réu.

O pedido foi indeferido, sob o entendimento de que a nova decisão não pos-sui caráter de sentença.

Contra essa decisão, foi impetrado habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que denegou a ordem.

Daí o presente habeas corpus, no qual se sustenta a natureza jurídica de sentença da decisão atacada, na qual foi determinada a expedição de mandado de prisão contra o réu sem condenação transitada em julgado.

Pugna pela concessão da ordem para que o paciente possa aguardar em li-berdade o trânsito em julgado da condenação.(Fls. 220/221.)

A Quinta Turma daquele Superior Tribunal, à unanimidade, denegou a ordem.

No presente habeas corpus, o Impetrante alega que:

(...)8. Com efeito, para se verificar o descabimento da expedição do mandado

de prisão em desfavor do paciente, basta responder a esta simples indagação: qual a natureza jurídica da r. decisão ora atacada que readequou a pena a ele imposta? Dúvida não há que tal decisum possui nítido caráter de sentença, a ela se inte-grando, uma vez que a questão da fixação da reprimenda faz parte de uma decisão terminativa de mérito no processo penal.

9. Ora, se assim não fosse, o col. Superior Tribunal de Justiça teria ele mesmo alterado a r. sentença anterior, fixando o aumento de pena pela continui-dade delitiva que entendesse pertinente, solução que, no caso concreto, não se verificou, já que foi determinada, de forma expressa, a remessa dos autos ao d. Juízo originário para que este procedesse à readequação da pena (cf. v. acórdão – doc. 6)

Page 284: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051284

9.1. Ademais, convém destacar que a 5ª Turma agiu de maneira correta, pois, se a pena tivesse sido readequada pelo mesmo órgão daquele Sodalício, fica claro que estaríamos diante de odiosa supressão de instância. Tanto isso é ver-dade que se devolveu o processo para o Juízo de 1º grau fixar a pena, e não para o Tribunal de Justiça.

10. Some-se a isso o fato de que, ao remeter os autos ao d. Juízo de primeiro grau para que nova decisão fosse prolatada no tocante ao quantum do aumento de pena, não se pode negar uma evidente carga de discricionariedade concedida àquele Juízo, já que este deveria proferir outra decisão segundo seus próprios cri-térios, levando-se em consideração apenas a vedação da Superior Instância quanto ao aumento de pena aplicado num primeiro momento (1/3 – um terço – pela conti-nuidade delitiva). Aliás, reduzida a pena para patamar inferior a oito anos o regime inicial fechado poderia ser o semi-aberto.

11. Apenas a título de analogia, é importante destacar o entendimento ju-risprudencial de que, em casos, por exemplo, de ausência de fixação de regime, as Cortes pátrias estão decidindo pela necessidade de que o próprio Juízo de origem analise novamente o feito para determinar qual o regime mais condizente com a hipótese.

(...)12.1. No entanto, sem qualquer fundamentação, o d. Juízo monocrático, de

forma mecânica e contrária às garantias fundamentais do indivíduo, mesmo sem haver trânsito em julgado para a defesa, determinou a expedição de mandado de prisão em desfavor do Paciente.

(...)15. Nem se diga, conforme se afirmou na decisão que manteve o decreto de

prisão (doc. 10), e referendou a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, que “(...) não se trata de nova sentença, mas apenas de decisão proferida nos exatos termos do v. acórdão prolatado pelo Superior Tribunal de Justiça”, ou ainda que “(...) há certidão informando que o trânsito em julgado do v. acórdão (...) ocorreu no dia 15 de março de 2005”, como se essa certidão fosse prova da operação do trânsito em julgado para a defesa.

15.1. Isto porque, com a devida vênia, o mero fato de a defesa não ter in-terposto recurso algum em face do v. acórdão proferido no Recurso Especial não pode ter o condão de ensejar o trânsito da condenação, pelo singelo motivo de que aquele acórdão não modificou a pena, não ostentando, assim, de forma alguma caráter de sentença. Ora, é inegável concluir que a questão do quantum da pena ainda está sub judice, não havendo que se falar no exaurimento da discussão sobre esse particular. Tanto isso é verdade que a defesa interpôs Recurso de Apelação com o intuito de trazer àquela col. Corte o debate do desacerto daquela decisão.(Fls. 11 a 14 – grifos no original.)

Finalmente, requer, “em caráter liminar, tão-somente a sustação dos efei-tos do mandado de prisão expedido contra o paciente até o julgamento do writ, e, no mérito, seja revogado o decreto prisional até o trânsito em julgado da de-cisão condenatória” (fl. 17 – grifos no original).

O pedido de liminar foi indeferido (fls. 185/186).

Page 285: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1285

O ilustre Subprocurador-Geral da República Dr. Cláudio Lemos Fonteles opinou pela denegação da ordem (fls. 211 a 216).

As informações foram prestadas às folhas 219 a 230.É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Volta-se o Impetrante contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça proferido no HC 53.143/SP, Relator o Ministro Gilson Dipp, que negou ao Paciente o direito de aguardar em liberdade o trânsito em julgado da condenação. É a ementa desse julgado:

Penal. HC. Atentado violento ao pudor. Condenação. Liberdade até o trân-sito em julgado da sentença. Concessão. Readequação da pena determinada em sede de recurso especial. Sentença condenatória transitada em julgado. Decisão que corrige a pena e determina a prisão do Réu. Conferir natureza jurídica de sentença. Impossibilidade. Mandado de prisão. Expedição. Possibilidade. Ordem denegada.

I – Hipótese em que o paciente foi condenado por atentado violento ao pu-dor, oportunidade em que o Magistrado garantiu-lhe a liberdade até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

II – Determinação, já em sede recurso especial, de fixação de menor fração de aumento de pena em face da continuidade delitiva, com remessa dos autos ao Magistrado de primeiro grau, para a readequação da pena.

III – Decisão que readequa pena que não tem natureza jurídica de sentença, na medida em que, cumprindo determinação de instância superior (na qual a questão meritória foi analisada e decidida), realiza simples correção matemática da pena.

IV – Decisão que readaptou a pena e determinou a expedição do mandado de prisão que merece seu devido cumprimento, tendo em vista o trânsito em jul-gado da sentença de primeiro grau.

V – Ordem denegada.(Fl. 229.)

A ordem ora pleiteada, como lá, não deve ser concedida.Ao contrário do que sustentado pelo Impetrante, não emergem dos autos

elementos suficientes à conclusão de que há constrangimento ilegal na expedi-ção do mandado de prisão contra o Paciente.

Conforme afirmado no acórdão questionado, a decisão que reajustou a pena imposta, por força da decisão proferida no recurso especial pelo Superior Tribunal de Justiça, interposto pela defesa, não tem natureza de sentença, pois apenas corrigiu o quantum da reprimenda fixado em face da continuidade deli-tiva. Não há razão lógica, e muito menos jurídica, para considerar essa decisão uma nova sentença condenatória.

Page 286: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051286

Deve ser lembrado que a apelação interposta pela defesa do Paciente contra a sentença condenatória devolveu ao Tribunal de Justiça, e às instâncias superiores, a matéria nela suscitada, havendo preclusão quanto ao que não foi argüido naquele momento. A dizer, a correção efetuada na sentença é mero cumprimento do que foi decidido, nos limites do que foi devolvido, não havendo nenhuma discricionariedade do Juízo de 1º grau nesse ponto. Não é plausível, como pretende o Impetrante, acreditar que poderia o Juiz ter agido com discri-cionariedade e aplicado o aumento da pena, por exemplo, em 1/6, quando lhe fora determinado que o fizesse em 1/5. Aliás, o Impetrante informa ter inter-posto nova apelação contra essa decisão, quando, na verdade, seria até discutível o seu cabimento. De toda sorte, essa análise é reservada ao Juízo competente, mesmo porque, o Impetrante sequer juntou aos autos as razões do recurso.

Este é o teor da decisão em apreço:

Conforme determinação do V. Acórdão, procedo à readequação da pena, para que passe a constar a pena de um só dos crimes sendo de 6 (seis) anos, au-mentada de 1/5 (um quinto), fixando definitivamente em 7 anos, 2 meses e 12 dias.

Expeça-se mandado de prisão, após lance-se o nome do réu no “rol de culpados”.

Façam-se as comunicações necessárias.(Fl. 106 – grifos no original.)

Ressalte-se, ainda, que a defesa do Paciente não se insurgiu contra o acór-dão do Superior Tribunal de Justiça, proferido no recurso especial, fazendo com que a sentença condenatória transitasse em julgado em 15-3-05 (certidão de fl. 89). Qualquer insatisfação com o que foi decidido deveria ter sido manifestada pelos meios cabíveis e no momento adequado.

Esse também é o entendimento manifestado pelo ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. Cláudio Lemos Fonteles, em seu parecer:

(...)4. Ao julgar o recurso especial promovido pelo ora paciente, o mesmo Min.

Gilson Dipp impôs a correção, objetivamente matemática, a ser operada pelo MM. Juízo de 1º grau, no quantum sancionatório, não lhe abrindo possibilidade de concluir diversamente, senão readequar a pena, na fração que a instância superior determinou.

(...)5. Por isso, recebendo os autos da superior instância, ante o trânsito em

julgado da decisão assumida no recurso especial, a MM. Juíza a quo nada sentenciou, efetivamente, porque o quantum sancionatório definira-o o Superior Tribunal de Justiça (...)

(...)6. Eis por que, e no negar o pleito liberatório ora questionado pelo paciente,

fez registrar o Min. Gilson Dipp, verbis:“O surgimento da controvérsia ventilada nos presentes autos decorre

do fato de que este Relator, sempre que acolhe irresignação formulada

Page 287: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1287

contra dosimetria de pena, determina a baixa dos autos ao Juízo de 1º grau ou ao Tribunal a quo, dependendo da esfera em que foi aplicada a repri-menda, para readequação ou reformulação da dosimetria, mesmo em se tratando de questões meramente formais e objetivas, como é o caso dos presentes autos, a fim de uniformizar as suas decisões.

Tal procedimento contraria a praxe de outros Relatores, como se vislumbra nos seguintes julgados: REsp 832638⁄DF, Relator(a) Ministra Laurita Vaz, DJ 06.11.2006; HC 63036⁄PA, Relator(a) Ministro Felix Fischer, DJ 06.11.2006; HC 60831⁄SP, Relator(a) Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJ 23.10.2006; HC 22584⁄RJ, Relator(a) Ministro Hamilton Carvalhido, DJ 06.02.2006.

Se a readequação da pena imposta ao paciente, decorrente da deter-minação de que o aumento verificado em face da continuidade delitiva deve ficar no patamar de 1⁄5, tivesse sido, desde logo, procedida no recurso espe-cial interposto em favor do paciente, o que, contudo, não é habitual às deci-sões desta Relatoria, não teria surgido oportunidade à presente discussão.

No entanto, tendo sido determinada tão-somente a readequação da sanção no tocante ao patamar referente à continuidade delitiva, não se pode conferir natureza jurídica de sentença a uma decisão que, cumprindo deter-minação de instância superior (na qual a questão meritória foi analisada e decidida), realiza simples correção matemática da pena”(fls. 222/3).

(Fls. 213 a 216 – grifos no original.)

Assim, há de ser considerada legítima a ordem do Juízo de 1º grau, que, ao reajustar a pena imposta ao Paciente, nos moldes em que decidido pelo acórdão do Superior Tribunal de Justiça, determinou a expedição do mandado de prisão contra ele, em razão do trânsito em julgado da sentença condenatória.

Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Senhor Presidente, fiz questão de ler a base da impetração. O eminente advogado, certamente, com a sua in-teligência completará qualquer deficiência do relatório, para assinalar que real-mente o aspecto que está envolvendo este habeas corpus não é o simples fato de se decidir quanto à prisão antes do trânsito em julgado, mas o de saber se, nas circunstâncias dos autos, houve, ou não, o trânsito em julgado, uma vez que o Superior Tribunal de Justiça remeteu não ao Tribunal de Justiça, mas ao Juiz de 1º grau a refixação – ele chama de readequação – do quantum da pena. Ou seja, numa palavra, o que está em jogo, pelo menos na minha avaliação – e o eminente advogado poderá detalhar da tribuna –, é saber se essa circunstância específica exaure a fase recursal, porque significaria apenas uma determinação ao Juiz de 1º grau – determinação, portanto, tollitur quaestio – para que a pena fosse readequada.

Por essa razão, pedi a V. Exa. o privilégio de me permitir fazer o relatório, mas, se a Turma entender de modo diverso, certamente cancelaremos o pregão e o eminente advogado aguardará a decisão.

Page 288: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051288

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): É uma prerrogativa de V. Exa. E prerrogativa não é apenas direito, é também dever.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Senhor Presidente, em primeiro lugar, assinalo o quanto de brilho teve a sustentação oral.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Honra os mestres que teve.O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Eu ia fazer esse comentário.

Lamentavelmente, deles fui aluno apenas à distância. Gostaria de ter sido fisicamente.

Desejo repor a questão como constou do relatório. Na realidade, não esta-mos julgando o trânsito em julgado e a expedição do mandado de prisão. O que estamos julgando é saber, concretamente, se a decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça configurou ou não o trânsito em julgado.

Antes de manifestar a minha posição, assinalo ao eminente advogado que na sua impetração não consta, no pedido final, aquele relativo à liberação da apelação. À fl. 17 dos autos, o advogado faz uma relação no que concerne a este writ, ou seja, à sustação dos efeitos do mandado de prisão e, ao mesmo tempo, à revogação do decreto prisional até o trânsito em julgado. Mas não. V. Exa. me perdoe. Não há aqui o pedido concernente à liberação da apelação. Esta não foi recebida, como V. Exa. acabou de acentuar. E, se não foi recebida, cabe recurso próprio para que ela seja recebida.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Ela não teria sido recebida ante a preclusão maior?

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Lá. É esse entendimento.O Sr. Alberto Zacharias Toron (Advogado): Sobre matéria de fato, V. Exa.

me permite?O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Mesmo que não fosse matéria

de fato, eu o ouviria com o maior prazer.O Sr. Alberto Zacharias Toron (Advogado): É matéria de fato. Sou muito

rigoroso e consciencioso em respeito à Corte e em respeito, sobretudo, a V. Exa. que tenho na mais alta consideração.

Há uma ementa do pedido – o habeas corpus não foi redigido por mim, é do meu colega de escritório – em que diz: “Interposição do recurso de apelação contra nova sentença. Ausência de trânsito em julgado para defesa”.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): V. Exa. me permite, lerei a pe-tição de V. Exa. Lerei a petição; estou me referindo à impetração. Lerei o que está escrito.

A impetração termina no seguinte parágrafo:

Em face de todo aduzido, requer-se, em caráter liminar, tão-somente a sus-tação dos efeitos do mandado de prisão expedido contra o Paciente até o julga-

Page 289: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1289

mento do writ, e, no mérito, seja revogado o decreto prisional até o trânsito em julgado da decisão condenatória, como medida da mais humana Justiça!

O que estou dizendo é que neste pedido que eu li, já tinha lido em casa por duas ou três vezes, tanto que o sei de cor, não consta aquele relativo aos efeitos do recebimento da apelação. Se isso é uma decorrência do conceito da Corte no que diz ao reconhecimento do trânsito em julgado, é outra coisa. Mas não é o que está no pedido. A única coisa que, a meu sentir como Juiz, importa é co-nhecer o que consta dos autos. E isso até hoje, depois de 20 anos de judicatura, jamais deixei de conhecer. Conheço bem. Leio os autos. Portanto, o que estou afirmando a V. Exa. é que o que está no pedido é o que acabei de ler. Estou di-zendo a V. Exa. que é isso. Se a decisão tiver como conseqüência o entendimento da Corte em outra direção, que é o que V. Exa. pretende, isso não vem ao caso, neste momento.

O Sr. Advogado Albert Zacharias Toron (Advogado): Só para deixar claro: eu jamais disse que V. Exa. não leu os autos.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Já ouvi V. Exa., com o maior prazer. Agora, ouça-me, por favor.

Como estou dizendo, neste instante o que se vai examinar é exatamente esse aspecto que é extremamente interessante. É saber se a decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça e aquela outra proferida pelo Juiz têm ou não o alcance do trânsito em julgado.

A decisão do Superior Tribunal de Justiça foi tomada no Recurso Especial 658.357, em que a Corte superior decidiu nos seguintes termos:

Com relação ao aumento verificado, esta Corte já teve a oportunidade de se manifestar, firmando o entendimento de que, como o aumento varia de acordo com o número de delitos, na ocorrência de 2 crimes, o aumento deve ser de 1/6, no caso de 3 crimes, aumenta-se em 1/5, para 4 crimes, 1/4, e assim sucessivamente.

Nestas condições, o aumento de pena verificado em face da continuidade delitiva deve ficar no patamar de 1/5.

Remetam-se os autos à instância inferior, para a readequação da pena.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Essa decisão foi no recurso especial?

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Sim, no REsp 658.357, julgado pelo Superior Tribunal de Justiça. Ou seja, em uma palavra: o que o Superior Tribunal de Justiça fez foi determinar a readequação da pena, não em um quarto, nem em um sexto, mas em um quinto. E determinou o retorno dos autos ao Juiz para que ele pudesse fazer essa readequação. E o Juiz o que fez? Ao re-ceber os autos, determinou o que se segue:

Conforme determinação do v. acórdão, procedo à readequação da pena, para que passe a constar a pena de um só dos crimes, sendo de 6 (seis) anos, au-mentado em 1/5 (um quinto), fixando definitivamente em 7 anos, 2 meses e 12

Page 290: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051290

dias. Expeça-se mandado de prisão, após lance-se o nome do réu no “Rol dos Culpados”. Façam-se as comunicações necessárias.

Essa é a situação de fato.O que importa saber é se esse cenário, de fato, leva ou não ao reconheci-

mento de que houve o trânsito em julgado.No entendimento do Superior Tribunal de Justiça, houve o trânsito em

julgado. Por que houve o trânsito em julgado? Porque houve a fixação da re-adequação da pena no próprio acórdão. Então, o Juiz não teria a liberdade de fazer uma outra readequação a não ser aquela constante do próprio acórdão. E mais: quanto ao mérito em si mesmo da condenação, nem sequer houve recurso. Esgotou-se lá no Superior Tribunal de Justiça.

Esse é o cenário de fato e cabe a esta Suprema Corte, evidentemente, dar a interpretação que melhor lhe pareça, considerando os aspectos que estão nos autos.

A meu sentir, Senhor Presidente, houve o trânsito em julgado. Não te-nho a menor sombra de dúvida de sublinhar os termos do parecer do eminente Procurador-Geral da República, Dr. Cláudio Fonteles. E houve o trânsito em jul-gado pelas seguintes circunstâncias: o Superior Tribunal de Justiça não determi-nou que o Juiz readequasse a pena in abstracto; ele determinou a readequação da pena; ele fixou a readequação da pena. Ele nem sequer fixou os parâmetros; ele fixou a readequação. E disse que a pena está readequada em um quinto, e que volte ao Juiz para que assim proceda. Ou seja, ele não deu ao Juiz nenhuma mar-gem de discricionariedade para decidir em sentido contrário. Não se diga que isso está na fundamentação do acórdão. Ao contrário, está na parte dispositiva do acórdão em si mesmo, porque a parte dispositiva do acórdão, que é a última parte, diz respeito exatamente à readequação da pena. Aí o Superior Tribunal de Justiça determinou o quantum dessa readequação. E o Juiz, no seu despacho, apenas limitou-se a cumprir essa readequação nos termos postos pelo Superior Tribunal de Justiça. Tanto que assim disse: “Dessa maneira, faço a readequação nos termos de um quinto”. Ele não disse um sexto, nem poderia dizer um oitavo, nem um sétimo, nem um quarto. Ele disse um quinto.

Então, na minha concepção, pelo menos, com a devida vênia do eminente advogado, que dá outra interpretação, não há falar em ausência de trânsito em julgado. Aqui, na minha perspectiva, na minha avaliação, na minha compreen-são, dúvidas não tenho de que houve o trânsito em julgado.

Por essas razões, denego a ordem.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhor Presidente, louvo o empenho do nobre advogado, Dr. Toron, e também do Ministério Público, mas acompanho integralmente o voto do eminente Ministro Menezes Direito.

Page 291: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1291

De tudo o quanto aqui foi exposto, inclusive com as adversações do nobre advogado quanto ao que entendeu a Juíza, a partir do decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, realmente não houve uma possibilidade de que ela viesse a refazer a sua decisão. Ela tão apenas reescreve o que foi determinado pelo Superior Tribunal de Justiça, o que não significa novo julgamento.

Razão pela qual, exaurida a instância no Superior Tribunal, também eu, acompanhando o voto brilhante, como sempre, do eminente Ministro Menezes Direito, denego a ordem.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhor Presidente, também peço vênia ao eminente advogado. Lendo aqui um trecho do voto do eminente Ministro Gilson Dipp, do STJ, vejo que a decisão daquela Corte superior foi peremptória no sentido de fixar a pena em um quinto.

Portanto, data venia, entendo que houve o trânsito em julgado.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Britto: Senhor Presidente, também louvo, de saída, o desempenho sempre vibrante e brilhante do nobre advogado, Dr. Toron, a quem sempre que posso rendo as minhas homenagens, pelo seu comportamento sem-pre ético e tecnicamente brilhante e escorreito.

Acompanho o eminente Relator, que nos brindou com um voto primoroso. Entendo, na linha do pensamento de S. Exa., que a Juíza de primeiro grau não proferiu nenhum rejulgamento. Ela agiu mais como autômata do que como au-tônoma. Tanto que disse, verbis, no seu despacho: “Conforme determinação do v. acórdão, procedo à readequação da pena”. Ou seja, ela refixou a pena meca-nicamente, de modo como que autômato, sem nenhum espaço para um juízo de valor, para uma opinião pessoal. Daí por que me remeto para a decisão do espe-cial no Superior Tribunal de Justiça para assentar que essa decisão efetivamente transitou em julgado.

Por isso, denego a ordem de habeas corpus.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: O recurso especial foi interposto pela defesa para afastar o concurso material e ter-se a continuidade delitiva reco-nhecida. Esse recurso foi provido e, ao sê-lo, o Superior Tribunal de Justiça no acórdão formalizado, na parte dispositiva do pronunciamento, fixou, perempto-riamente, a majoração, ante a continuidade delitiva. Ele não abriu margem a um julgamento.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Posso ler novamente.O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Sim, daí ter pedido a paciência

de V. Exa.

Page 292: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051292

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Lerei a parte que interessa:

Com relação ao aumento verificado (...) – houve um aumento lá na readequa-ção da pena, e houve a impugnação do especial.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): O trecho do acórdão resultante do especial? Já teria havido a observância do art. 71 do Código?

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Porque aqui já é o acórdão do Superior Tribunal de Justiça que determinou a readequação da pena, só isso.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Antes a majoração tinha sido feita em que base? Já havia sido reconhecida a continuidade delitiva?

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Só houve o provimento no to-cante à readequação da pena. Ele foi peremptório. Se V. Exa. me permitir, faço nova leitura.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Pois não, por gentileza.O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Diz o seguinte:

Com relação ao aumento verificado (...) [a única parte que foi alcançada pela decisão do Superior Tribunal de Justiça, como disse o eminente Ministro Carlos Britto ], (...) esta Corte já teve oportunidade de se manifestar, firmando o entendimento de que, como o aumento varia de acordo com o número de delitos, na ocorrência de dois crimes, o aumento deve ser de 1/6, no caso de três crimes, aumenta-se em 1/5, para 4 crimes, 1/4, e assim, sucessivamente.

Nestas condições, o aumento da pena verificado em face da continuidade delitiva deve ficar no patamar de 1/5.

Remetam-se os autos à instância inferior, para a readequação da pena.Ante o exposto, dou provimento ao recurso, nos termos da fundamentação

acima.É como voto.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): A rigor, o Superior Tribunal de Justiça simplesmente deixou de efetuar o cálculo. Determinou que o Juízo o fi-zesse, como poderia ter determinado ao próprio Juízo das execuções criminais.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Podia ter mandado in abstracto a readequação da pena.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Sim, então a situação seria outra.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Agora, se V. Exa. me permitir, como o eminente advogado solicitou, se V. Exa. autorizar.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Sim, estamos sempre prontos a ouvir os senhores advogados, compreendendo a angústia na defesa dos inte-resses do constituinte.

O Sr. Dr. Alberto Zacharias Toron (Advogado): Não estou tão angustiado, porque estou em mãos seguras e muito competentes. Mas não é o ponto.

Page 293: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1293

A sentença de primeiro grau, V. Exa. me corrija se eu estiver errado...O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Essa última expressão foi um

coup de grâce.O Sr. Dr. Alberto Zacarias Toron (Advogado): Não, não.O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Coup de grâce é um elogio,

Doutor.O Sr. Dr. Alberto Zacarias Toron (Advogado): Tudo bem. Mas a história é

a seguinte: a Juíza de primeiro grau exacerbou a pena por conta do reconheci-mento da continuidade delitiva em um terço e o fez por conta da culpabilidade. Isso foi levado ao Tribunal de Justiça que manteve a respeitável sentença de primeiro grau, e foi levado, pela via do recurso especial ao egrégio Superior Tribunal de Justiça sob o argumento de que a culpabilidade não pode ser levada em conta quando se trata da fixação da pena em razão da continuidade delitiva, já que isso se faz em outro momento, na fase do art. 59 etc.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Na fixação da pena-base.O Sr. Dr. Alberto Zacarias Toron (Advogado): Exatamente. Na fixação da

pena, tendo em vista a continuidade, leva-se em conta, como bem advertiu o eminente Ministro Direito, o número de delitos praticados. Era essa a discussão que se estabeleceu.

Já não fazendo mais uso da palavra, rendo homenagens novamente ao eminente Ministro Direito e dizer, claramente, que nunca, nem me passou pela cabeça, que V. Exa. não tivesse lido. Ao contrário, sei da fama de V. Exa. Aliás, havia uma colega sentada ao meu lado que disse das altas qualidades de V. Exa. como Juiz que eu também as endosso. Semana retrasada, participei de um jul-gamento no qual V. Exa. se manifestou. De modo que estou absolutamente tran-qüilo. Não é o meu ponto de vista, e eu queria dizer que a minha interpretação sobre a impetração era outra. Apenas isso. Não havia nenhuma ofensa a V. Exa.

Obrigado!O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Fica devidamente esclarecido

o desencontro.Ante esses parâmetros, ante a circunstância de o Superior Tribunal de

Justiça haver, peremptoriamente, fixado o acréscimo, o processo baixou à ori-gem apenas para cálculo, como também poderia ter ido ao Juízo das execuções criminais para esse cálculo.

É inconcebível imaginar a possibilidade de o Tribunal de Justiça reexa-minar, no julgamento da apelação, o que decidido, desconhecendo o pronuncia-mento do Superior.

Com a homenagem, ou seja, reafirmando que o ilustre advogado, Dr. Alberto Zacarias Toron, honra os mestres que teve, acompanho S. Exa., o Relator, no voto proferido e indefiro a ordem.

Page 294: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051294

EXTRATO DA ATA

HC 90.274/SP — Relator: Ministro Menezes Direito. Paciente: André Monteiro. Impetrante: Leopoldo Stefanno Leone Louveira. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus. Unânime. Falaram: pelo Paciente, o Dr. Alberto Zacharias Toron e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas, Subprocurador-Geral da República.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Compareceu o Ministro Cezar Peluso, a fim de julgar processos a ele vincula-dos, ocupando a cadeira da Ministra Cármen Lúcia. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.

Brasília, 4 de dezembro de 2007 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 295: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1295

HABEAS CORPUS 90.795 — PE

Relator: O Sr. Ministro Marco AurélioPacientes: Marcos José Bezerra Menezes e Rômulo Pina Dantas —

Impetrantes: Ademar Rigueira Neto e outros — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Ação penal – Justa causa. O trancamento da ação penal por falta de justa causa pressupõe que as práticas descritas na denúncia não consubstanciem crime.

Denúncia – Inépcia. Descabe cogitar de inépcia da denún-cia quando narrados fatos a viabilizar o exercício do direito de defesa.

Crime tributário – Processo administrativo – Dispensa. Uma vez versada situação concreta em que, mediante o exer-cício do poder de polícia, deu-se a apreensão de mercadoria acompanhada de notas fiscais e guias falsas, possível é a propo-situra da ação penal, independentemente da responsabilidade administrativo-fiscal.

Crime – Responsabilidade. No julgamento de habeas cor-pus, não se pode assentar a improcedência da imputação, ha-vendo de se aguardar a instrução do processo-crime e a prolação da sentença.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Primeira Turma, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade, indeferir o pedido de habeas corpus. Não participou, justificadamente, deste julgamento o Ministro Carlos Ayres Britto.

Brasília, 4 de dezembro de 2007 — Marco Aurélio, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Eis as informações prestadas pelo Gabinete:

Na decisão que implicou o indeferimento do pedido de concessão de limi-nar, a espécie ficou assim resumida (fls. 977 e 978):

(...)1. Quatro são as causas de pedir desta impetração: ausência de justa

causa para a ação penal, inépcia da denúncia, prova obtida por meios ilí-citos e narração genérica dos fatos, na denúncia ofertada, pelo Ministério Público. Longas são as razões expendidas, consubstanciando a peça pri-meira deste habeas 28 folhas.

Page 296: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051296

Sob o ângulo da ausência de justa causa e da inépcia da inicial (fl. 7), asseveram os Impetrantes não haver, na espécie, a prova da materiali-dade, porquanto o crime contra a ordem tributária não se apresenta como de simples conduta, mas de resultado. Afirmam silente a denúncia quanto ao lançamento definitivo do tributo, contentando-se o Ministério Público com descrição em auto de apreensão. Então, dizem que, mesmo que já tenha ocorrido o lançamento, o defeito persiste porque a data da denúncia é ante-rior a ele. No caso, alegam não se contar com dado a revelar o esgotamento dos recursos próprios na via administrativa, presente crédito tributário. Nos autos da ação penal, não existiria prova da materialidade do crime – supres-são ou redução do tributo.

Em passo seguinte, os Impetrantes refutam a óptica de se mostrar ne-cessário, para acolher o pleito de concessão de ordem, reexaminar a matéria fática. Acreditam não vingar, também, o que assentado quanto ao crime tentado. Argumentam que, consoante dispõe o inciso II do art. 14 do Código Penal, faz-se indispensável o início da prática criminosa, não se dando a consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Aludem ainda os subscritores da inicial à insubsistência do que con-signado, quanto à formação de quadrilha, pelo relator no Superior Tribunal de Justiça. Sustentam que, na peça apresentada pelo Ministério Público, não há dados a evidenciar os elementos de tal crime, chegando-se como que à responsabilidade objetiva.

No tocante à prova obtida por meios ilícitos, apontam que a denúncia acabou por resultar de apreensão e prisão de motoristas de veículos trans-portadores de combustível sem a indispensável ordem judicial. Por último, versam sobre o caráter geral da denúncia. Mencionando o que lançado pelo Ministério Público estadual quando da emissão de parecer no habeas impetrado junto ao Tribunal de Justiça, considerada a inexistência de in-dícios suficientes da participação dos acusados e ora beneficiários deste habeas, Marcos José Bezerra Menezes e Rômulo Pina Dantas, asseveram a presunção da responsabilidade penal, presente representação de empresa. Esta seria mera proprietária dos veículos contratados para distribuição do combustível. Citam o art. 158 da Lei 6.404/76, a estabelecer que “o adminis-trador não é responsável por atos ilícitos de outros administradores, salvo se com eles for conivente, se negligenciar em descobri-los ou se, deles tendo conhecimento, deixar de agir para impedir a sua prática”.

Alfim, requerem os Impetrantes a concessão de medida acauteladora para suspender a realização de qualquer ato processual na ação penal em curso contra os Pacientes, vindo-se a proclamar a ausência de justa causa para a iniciativa do Ministério Público ante a falta de descrição, na denún-cia, de elemento normativo dos tipos penais evocados ou condição objetiva de punibilidade e a circunstância de a denúncia ter sido arrimada em prova obtida por meios ilícitos e formulada sem a individualização das condutas dos Pacientes.

Acompanharam a inicial os documentos de fls. 30 a 964 e o apenso que retrata o habeas impetrado no Superior Tribunal de Justiça.

(...)

Page 297: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1297

A Procuradoria-Geral da República, no parecer de fls. 982 a 1003, opina pelo indeferimento da ordem. Os fundamentos da manifestação do Ministério Público Federal estão sintetizados na seguinte ementa (fl. 982):

“Constitucional. Processual penal. Habeas corpus. Crimes contra a ordem tributária. Art. 1º, I, II, III e IV da Lei nº 8.137/90. Formação de quadrilha. Alegações de (1) ausência de justa causa para a ação penal; (2) inépcia da denúncia; (3) obtenção de provas por meios ilícitos e (4) descrição genérica dos fatos na denúncia. Trancamento da ação penal. Impossibilidade. Prova da materialidade dos delitos. Supressão ou redução de tributo (ICMS). Exaurimento da via administrativa. Desnecessidade. Autonomia das instâncias. Atuação do Ministério Público não condicionada à ação ou inação da Fazenda Pública. CF, art. 129, I. Natureza declaratória do lançamento. Obrigação tributária. Existência de ilícito independente-mente de qualquer decisão da autoridade administrativa competente para a constituição do crédito tributário. Subsistência dos autos de infração. Aprofundado exame da prova, com incursões em aspectos que demandam a sua valoração. Inviabilidade. Denúncia. Proposta de acusação. Análise valorativa da prova. Instrução criminal. Delito de formação de quadrilha. Observância do quanto disposto no art. 41 do CPP. Provas supostamente obtidas por meios ilícitos. Inquérito. Peça meramente informativa. Acesso dos agentes do fisco à documentação do contribuinte necessária à verifi-cação do lançamento e recolhimento do tributo. Revolvimento de matéria fática. Inadmissibilidade. Descrição individualizada e minuciosa da con-duta de cada um dos acusados. Exigência abrandada nos crimes societários. Narrativa, enfim, que revela adequação típica e faculta o exercício da ampla defesa. Constrangimento ilegal. Inocorrência. Parecer pelo indeferimento do writ.”Consulta realizada no sítio do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco

na internet revela que a Ação Penal 451.2000.000012-8, na qual figuram como Réus Marcos José Bezerra Menezes e Rômulo Pina Dantas, está pendente de jul-gamento, aguardando a resposta da carta precatória expedida para audiência de testemunha.

Em 3 de novembro de 2007, lancei visto no processo, liberando-o para ser julgado na Turma, a partir de 6 seguinte, isso objetivando a ciência dos Impetrantes.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Ao indeferir a medida acautela-dora, consignei (fls. 978 a 980):

(...)2. O acórdão proferido pela Corte Superior de Justiça restou assim resumido

(fl. 172):“Processual penal. Habeas corpus. Crime contra a ordem tributária.

Independência entre as instâncias administrativa e penal. Trancamento da ação penal. Materialidade do delito aparentemente comprovada. Delito

Page 298: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051298

elencado no art. 1º da Lei 8.137/90. Punível na forma tentada. Pacientes denunciados, também, por formação de quadrilha. Provas obtidas por meios ilícitos. Inviabilidade de aferição por meio do writ. Denúncia gené-rica. Crime societário. Descrição pormenorizada da conduta dos agentes. Desnecessidade.

I – Não constitui condição de procedibilidade da ação penal, por infração de sonegação fiscal, a apuração do débito tributário na instância administrativa, haja vista a independência entre as instâncias civil, admi-nistrativa e criminal.

II – O trancamento de ação por falta de justa causa somente é viável desde que se comprove, inequivocamente, hipóteses, v.g., como a atipi-cidade da conduta, a incidência de causa de extinção da punibilidade ou ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito.

III – Se as informações colhidas no processo dão conta, prima facie, da existência de aparente supressão ou redução de tributo, relativamente à materialidade da conduta delituosa, verificar qualquer alegação em sentido contrário demandaria, no caso, dada a complexidade fático-probatória, o exame aprofundado da prova, inviável em sede de habeas corpus. E, ainda que se considerasse a inexistência de supressão do tributo, “as realizações das condutas elencadas nos incisos do art. 1º da Lei 8.137/90, atribuídas aos pacientes na denúncia, implica início de execução, punível na forma tentada, art. 14, II, do Código Penal, matéria a ser joeirada pelo juiz na sen-tença final, o qual não fica adstrito à capitulação da preambular acusatória.”

IV – Impraticável, ainda, o trancamento da ação penal, haja vista que os pacientes, bem como os outros seis acusados, estão denunciados, também, por formação de quadrilha, delito tipificado no art. 288 do Código Penal, infração permanente, que se consuma no momento da associação, independentemente da prática de qualquer outro crime.

V – Também escapa aos estreitos limites da via eleita, que não ad-mite dilação probatória nem o aprofundado exame de questões fáticas, o exame acerca da ilicitude das provas que basearam o oferecimento da inicial acusatória.

VI – Em se tratando de crime societário, não há nulidade na denúncia que deixa de individualizar as condutas dos acusados, sendo prescindível a descrição pormenorizada da participação de cada um (Precedentes).

Writ denegado.Vê-se que, nesta fase preliminar, não é possível concluir pela relevância da

articulação dos Impetrantes.A denúncia, de fls. 60 a 70, tem como introdução a notícia dos seguintes

fatos:No dia 25 de junho de 1996, na PE-60, neste Município, foi reali-

zada uma fiscalização conjunta entre a Secretaria de Fazenda do Estado, Delegacia de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária, Polícia Militar e Procuradoria do Estado de Pernambuco, visando a verificação da ocorrência de simulação de venda de combustíveis, com circulação fictícia da mercadoria entre Estados da Federação. Tais sus-peitas foram levantadas a partir de uma representação criminal apresentada pelo Auto Posto Novo Horizonte contra a empresa TRR Transdiesel Ltda., em razão desta ter emitido notas fiscais frias contra a primeira empresa, si-mulando uma operação de venda de combustível.”

Page 299: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1299

Então, afirmou-se que, montadas barreiras, houve a fiscalização de veículos mediante a qual se constatou que os condutores utilizavam notas fiscais e guias de acompanhamento de combustível e lubrificantes forjadas, delas constando decla-rações de destino falsas. Aludiu-se a conluio dos administradores das empresas TRR Transdiesel Ltda. e Alcana – Indústria e Comércio Ltda. para suprimir-se o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços referente aos combustíveis transportados. Ter-se-ia o envolvimento dos Pacientes na prática de atos.

A denúncia apresenta narração suficiente a entender-se viabilizado o exer-cício do direito de defesa, notando-se a imputação não só do cometimento dos delitos previstos no art. 1º, incisos I, II, III e IV, da Lei 8.137/90 como também do crime de quadrilha – art. 288 do Código Penal. A suspensão do curso de ação pe-nal pressupõe dados que, à primeira vista, revelem a impropriedade da iniciativa do Ministério Público de acusar cidadãos. Isso não ocorre na espécie.

Essa visão primeira persiste, não havendo campo para concluir por cons-trangimento ilegal. A denúncia de fls. 60 a 69 revela parâmetros que afastam a necessidade de exaurimento de processo administrativo. Consoante registrado, ante denúncia de certa empresa – Autoposto Novo Horizonte – sobre a emissão de notas frias relativas à venda de combustível, foi montada barreira, ocorrendo a apreensão não só de veículos, como também da documentação simulada.

A imputação se fez de forma satisfatória, aludindo-se à participação de ad-ministradores da empresa. Não cabe, no caso de fiscalização procedida a partir de denúncias, argüir a necessidade de ordem judicial. Tudo se faz em face do poder de polícia. A denúncia contém a narração dos fatos a viabilizar o exercício do direito de defesa, sendo impróprio cogitar de prova obtida por meios ilícitos. A responsabilidade de cada qual dos administradores das empresas denuncia-dos há de ser objeto de apuração no decorrer do próprio processo. O habeas não é meio a lograr-se o julgamento da ação penal. Indefiro a ordem.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhor Presidente, ouvi com muita aten-ção a defesa formulada pelo eminente advogado – realmente com todo brilho.

A questão posta, no que concerne ao procedimento administrativo para a constituição do crédito tributário, pelo que pude deduzir, significa o eixo da sustentação feita nesta impetração, e parece-me superada pela jurisprudên-cia. Porque, tal como posto no parecer da Procuradoria-Geral da República, aguardar-se o exaurimento da instância administrativa, impedindo a ação do Ministério Público para a apuração do crime tributário, significaria, pelo menos na minha compreensão, dar um bill de indenidade, condicionando o procedi-mento criminal diante do procedimento administrativo a ser instaurado pelo Ministério Público.

E V. Exa., com o brilho habitual, desbastou não só esta questão, como aquela outra que me pareceu também relevante para a defesa no que se refere à inépcia da denúncia pela ausência de fato caracterizador a permitir o exercício do direito de defesa.

Page 300: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051300

Nesta Corte, já temos observado que o crime societário, envolvendo esse tipo de procedimento que diz com a falsificação de notas fiscais e com a circula-ção indevida de mercadorias, dispensa, na denúncia, o detalhamento exauriente de todos os fatos que foram susceptíveis de provocar a iniciativa do Ministério Público, sendo o bastante a denúncia conter, explicitamente, elementos suficien-tes para que a defesa possa ser exercida.

E V. Exa., já na decisão que indeferiu a medida liminar, deixou muito claro esse aspecto que, na minha compreensão, tem relevo para o resultado que a Suprema Corte pode alcançar, como V. Exa. bem pôs.

Por último, assinalo, ainda, que, no que respeita ao crime de quadrilha, en-volvendo, no caso, sociedade por cotas de responsabilidade limitada, com carac-terística própria, não se pode dissociar a natureza da sociedade dos elementos de prova para a configuração definitiva do crime de quadrilha, como de resto bem elucidou o eminente Subprocurador-Geral da República.

São essas as razões pelas quais, Senhor Presidente, louvando a sustentação feita da tribuna, acompanho às completas o claro voto com que V. Exa. brindou esta Suprema Corte.

Indefiro a ordem.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhor Presidente, também acompanho integralmente o voto de V. Exa., como muito bem-posto no voto e com as ache-gas do eminente Ministro Menezes Direito.

Nos dois pontos centrais, a existência do exaurimento do que eles chamam de via administrativa – o que o Doutor Ademar muito brilhantemente defendeu da tribuna, mas não o suficiente para mudar os fatos que estão postos na des-crição feita por V. Exa. quanto à denúncia apresentada –, não há que se falar, aqui, na necessidade de se ter constituído crédito tributário até porque não era baseada, neste fato, a denúncia apresentada.

Não houve, realmente, a superação da jurisprudência afirmada no sentido da desnecessidade do que foi posto como se fosse uma condição. E, com os dados apresentados, realmente, na denúncia, não são suficientes os outros para que se exercesse o direito de defesa que é o que se põe, que é o que se dá como impedimento para se ter uma denúncia a qual possa determinar o trancamento da ação penal; quando os fatos não estão postos de maneira suficiente, aqui, se garanta a cada um o seu direito constitucional à defesa.

Como V. Exa. bem pôs no voto apresentado, não existe isso, tanto que o nobre advogado pôde exercer tão brilhantemente a defesa só do que se vê da tri-buna e dos fatos apresentados.

Não vislumbro, realmente, nenhum vício que pudesse contaminar, razão pela qual acompanho integralmente o voto de V. Exa.

Page 301: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1301

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Tenho votado quanto à necessidade de esgotar-se o meio administrativo, de formalizar-se o processo-administrativo fiscal, mas, no caso, existe situação peculiar: houve a apreensão de notas fiscais frias. Não se trata de insuficiência de recolhimento de tributo, quando essa insuficiência deve estar demonstrada no campo administrativo.

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: E a Subprocuradora Doutora Cláudia até comprova que não é com base no crédito ou na obrigação. O que se tem, aqui, é a apreensão, num momento de fiscalização, de notas a demonstrar para onde ia essa mercadoria.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Exato.O Sr. Ademar Rigueira Neto (Advogado): Senhor Presidente, V. Exa. me

permite um esclarecimento de fato? Parece-me que há um equívoco na denúncia. A denúncia é crime contra ordem tributária, não há imputação de falsificação.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): V. Exa. está refutando o que se contém no voto do Relator. Aguardemos os embargos declaratórios.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhor Presidente, acompanho in-tegralmente o voto bastante esclarecedor de V. Exa. Também me filio à tese de que, em se tratando de crimes contra a ordem tributária, especialmente sonega-ção fiscal, há de se aguardar, realmente, o término do processo administrativo. Data venia, acompanho essa posição, que me parece ainda majoritária nesta Corte.

No entanto, os fatos imputados aos réus, nesse processo, são diversos. Há uma série de ilícitos imputados na inicial, na exordial acusatória; são fatos dos quais eles se defenderão, certamente, no momento processual adequado.

Entendo, portanto, que a denúncia não é genérica. Vejo, na esteira do as-sentado pelo eminente Subprocurador-Geral da República, que não se trata de meros sócios de uma sociedade por quotas de responsabilidade limitada, mas são também administradores. Assim, em princípio, terão de se defender das im-putações que lhes são feitas.

No mais, no que tange ao crime de quadrilha, também, oportunamente, na fase processual apropriada, se fará a defesa.

Acompanho integralmente o voto de V. Exa.

EXPLICAÇÃO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhor Presidente, apenas para esclare-cer: da leitura do meu voto, será possível constatar, especificamente, que, con-forme eu disse, essa questão estava superada no voto de V. Exa. Mesmo porque há um precedente da Suprema Corte, HC 81.611, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, em que se acolheu, como posição majoritária quanto a esse aspecto,

Page 302: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051302

o entendimento assinalado por V. Exa., embora haja na Corte pronunciamentos divergentes.

Neste caso, efetivamente, se tolhêssemos a ação do Ministério Público, diante das circunstâncias postas nos autos, condicionaríamos a iniciativa do procedimento administrativo ao Código Penal. Em uma palavra: não haveria mais flagrante possível quando se constatasse negligência relativamente ao dis-positivo legal permitido.

Portanto, neste habeas corpus, não me pronuncio, efetivamente, sob o pêndulo jurisprudencial, no concernente a esse aspecto. Apenas fiz questão de ressaltar que V. Exa., no seu voto – e usei a palavra –, superou essa questão.

Nesse sentido é o meu voto.

EXTRATO DA ATA

HC 90.795/PE — Relator: Ministro Marco Aurélio. Pacientes: Marcos José Bezerra Menezes e Rômulo Pina Dantas. Impetrantes: Ademar Rigueira Neto e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus. Unânime. Não participou, justificadamente, deste julgamento o Ministro Carlos Britto. Falaram pelos Pacientes, o Dr. Ademar Rigueira e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas, Subprocurador-Geral da República.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Compa-receu o Ministro Cezar Peluso, a fim de julgar processos a ele vinculados, ocu-pando a cadeira da Ministra Cármen Lúcia. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.

Brasília, 4 de dezembro de 2007 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 303: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1303

HABEAS CORPUS 91.024 — RS

Relatora: A Sra. Ministra Ellen GraciePaciente: Antônio Geraldo de Oliveira — Impetrante: Ministério Público

do Estado do Rio Grande do Norte — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Direito processual penal. Habeas corpus. Postulado do juiz natural. Especialização de competência (ratione materiae). Resolução de Tribunal de Justiça. Legitimidade do Ministério Público.

1. Alegação de possível violação do princípio do juiz natu-ral em razão da resolução baixada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte.

2. Reconhece-se ao Ministério Público a faculdade de impe-trar habeas corpus e mandado de segurança, além de requerer a correição parcial (Lei 8.625/93, art. 32, I).

3. A legitimidade do Ministério Público para impetrar habeas corpus tem fundamento na incumbência da defesa da ordem jurídica e dos interesses individuais indisponíveis (HC 84.056, Rel. Min. Eros Grau, Primeira Turma, DJ de 4-2-05), e o Ministério Público tem legitimidade para impetrar habeas corpus quando envolvido o princípio do juiz natural (HC 84.103, Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, DJ de 6-8-04).

4. O mérito envolve a interpretação da norma constitu-cional que atribui aos tribunais de justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, em consonância com os limites orçamen-tários, a alteração da organização e divisão judiciárias (CF, arts. 96, II, d, e 169).

5. O Poder Judiciário tem competência para dispor sobre especialização de varas, porque é matéria que se insere no âm-bito da organização judiciária dos tribunais. O tema referente à organização judiciária não se encontra restrito ao campo de incidência exclusiva da lei, eis que depende da integração dos cri-térios preestabelecidos na Constituição, nas leis e nos regimentos internos dos tribunais.

6. A leitura interpretativa do disposto no art. 96, I, a e d, II, d, da Constituição Federal admite que haja alteração da com-petência dos órgãos do Poder Judiciário por deliberação do tri-bunal de justiça, desde que não haja impacto orçamentário, eis que houve simples alteração promovida administrativamente, constitucionalmente admitida, visando a uma melhor prestação da tutela jurisdicional, de natureza especializada.

7. Habeas corpus denegado.

Page 304: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051304

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, denegar a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 5 de agosto de 2008 — Ellen Gracie, Relatora e Presidente.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Ellen Gracie: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado contra ato do Superior Tribunal de Justiça que, no julgamento do recurso em habeas corpus, não conheceu do recurso em acórdão assim ementado (fl. 123 do apenso):

Processual penal. Recurso ordinário em habeas corpus. Interposição contra os interesses do Réu. Impossibilidade.

I – A legitimação para impetrar habeas corpus somente pode ser exer-cida de acordo com a destinação própria daquele instrumento processual, qual seja, a de tutelar a liberdade de locomoção ilicitamente coarctada ou ameaçada (Precedentes do STF).

II – Assim sendo, somente se admite a impetração de habeas corpus em favor do réu, nunca para satisfazer os interesses, ainda que legítimos, da acusação.

III – In casu, a acusação pretende afastar a competência da 11ª Vara Criminal da Comarca de Natal para apreciar e julgar o processo a que responde o paciente, o que não se coaduna com a finalidade do remédio heróico.

Recurso não conhecido.

Argumenta o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte que, com base na Resolução 19/05 do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, a distribuição de ações penais envolvendo a prática de crimes sexuais contra crianças, adolescentes e idosos, bem como os definidos na Lei 8.009/90 e na Lei 10.741/03, passou a ser feita ao Juízo de direito da 11ª Vara Criminal da Comarca de Natal/RN.

Esclarece que tal ato normativo (resolução) modificou a competência da 11ª Vara Criminal da Comarca de Natal, que é fixada pela Lei Complementar estadual 165/99 (Lei de Organização e Divisão Judiciárias do Estado do Rio Grande do Norte).

Narra que impetrou writ para garantir o direito do Paciente ser processado e julgado pelo juiz natural, sendo que a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça não conheceu do habeas corpus, sob o fundamento de o writ acarretar prejuízo para a defesa do Paciente, daí a ilegitimidade ativa ad causam do Ministério Público. Tal orientação foi mantida pelo Superior Tribunal de Justiça.

Aduz que a Lei de Organização e Divisão Judiciárias do Estado do Rio Grande do Norte não prevê que as competências das varas judiciais sejam fixa-das por resolução do tribunal, e sim por previsão direta na Lei de Organização

Page 305: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1305

e Divisão Judiciárias. Assim, a referida resolução é nula de pleno direito, sendo inconstitucional e ilegal a competência da 11ª Vara Criminal da Comarca de Natal/RN com base naquela norma.

Requer a concessão da ordem para, afastando-se a ilegitimidade ativa do Ministério Público, reconhecer a incompetência do Juízo da 11ª Vara Criminal da Comarca de Natal/RN, determinando-se o encaminhamento do feito para ser distribuído a uma das varas criminais do Distrito Judiciário da Zona Norte da Comarca de Natal, e determinar ao STJ que prossiga no julgamento do recurso ordinário em habeas corpus.

2. Manifestação da Procuradoria-Geral da República no sentido da con-cessão da ordem (fls. 15/22).

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. A questão de direito, objeto deste writ, diz respeito à possível violação do princípio do juiz natural em ra-zão da resolução baixada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte.

Transcrevo o teor da Resolução 19/05/RJ que interessa ao presente julga-mento (fl. 32, dos autos em apenso):

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, no uso de suas atribuições,Considerando o disposto no art. 96, I, “a”, da Constituição Federal, que lhe

outorga competência para dispor sobre o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos;

Considerando o princípio constitucional da prioridade absoluta e a doutrina da proteção integral, que asseguram à criança, ao adolescente e ao idoso uma tu-tela jurisdicional célere;

Considerando a necessidade de concentrar as causas conexas, em razão da matéria, no âmbito de uma Vara adequada para processar e julgar crimes que en-volvam a vítima tutelada pela prioridade constitucional e absoluta;

Considerando a inexistência de Vara especializada para o processo e julga-mento dos crimes contra a criança, o adolescente e o idoso,

Resolve:Art. 1º Atribuir competência ao Juiz de Direito da Décima Primeira Vara

Criminal da Comarca de Natal, para, sem prejuízo de suas atribuições definidas nas alíneas “a”, “b” e “c”, inciso XVII, do art. 32 da Lei Complementar nº 165, de 28 de abril de 1999, privativamente:

– Processar e julgar os crimes sexuais praticados ou tentados contra crian-ças, adolescentes e idosos, bem como, os definidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990 – ECA) e o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003).

Art. 2º Os processos em curso, referentes a matéria de que trata esta Resolução, continuarão com os respectivos juízos competentes até o seu julga-mento final.

Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Page 306: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051306

2. Em razão da manutenção do teor da referida resolução, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte impetrou habeas corpus perante a Corte local, sendo que o Tribunal de Justiça não conheceu da impetração. Destaco trechos do voto do relator do writ no âmbito da Corte estadual (fls. 82/85, do apenso):

Ao suscitar a presente preliminar, a Douta Procuradora de Justiça aduz que a legitimidade do Ministério Público para impetrar habeas corpus restringe-se à finalidade prevista no art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, isto é, tutelar a liberdade de locomoção do cidadão.

Assiste razão à argüição em foco.Conforme entendimento firmado na doutrina e na jurisprudência, o

Ministério Público carece de legitimidade para impetrar habeas corpus com o escopo de satisfazer interesse da acusação, sob pena de desvirtuar a destinação constitucional do remédio heróico que visa proteger o direito de liberdade de lo-comoção ilegalmente violado ou ameaçado.

Desse modo, não deve ser conhecido habeas corpus impetrado pelo Ministério Público, que tenha por finalidade salvaguardar interesses da acusação, ainda que tais interesses sejam legítimos.

Nesse sentido, é a lição de Alexandre de Moraes (...)Na esteira desse entendimento, já decidiu esta Câmara Criminal, em voto da

lavra da eminente Desembargadora Judite Nunes, proferido nos autos do Habeas Corpus nº 2006.001484-9.

(...)Como se pode inferir dos autos, o presente habeas corpus foi impetrado

com a finalidade exclusiva de evitar prejuízo à prestação jurisdicional e ao jus puniendi estatal. Portanto, não se discute que o fim colimado pelo writ é satisfazer interesse da acusação.

Ante o exposto, acolho a preliminar para não conhecer do habeas corpus.

3. No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, tal orientação foi mantida em voto da lavra do Ministro Felix Fischer: “a legitimação para se impetrar habeas corpus somente pode ser exercida de acordo com a destinação própria daquele instrumento processual, qual seja, a de tutelar a liberdade de locomoção ilicitamente coarctada ou ameaçada. Vale dizer: somente pode haver impetração de habeas corpus em favor do réu, nunca para satisfazer os interesses, ainda que legítimos, da acusação” (fl. 119, do apenso).

4. Além de outras atribuições, também se reconhece ao Ministério Público a faculdade de impetrar habeas corpus e mandado de segurança, além de reque-rer a correição parcial (Lei 8.625/93, art. 32, I). Ocorre que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, secundado pelo Superior Tribunal de Justiça, conside-rou a ilegitimidade ativa do representante do parquet em razão de possível pre-tensão relacionada ao atendimento de interesses da acusação, e não do Paciente.

Observo que a impetração tem como causa de pedir possível violação ao princípio do juiz natural, buscando impedir que o Paciente seja processado por juízo absolutamente incompetente, a gerar nulidade absoluta do processo. Como já foi ressaltado por esta Corte, a legitimidade do Ministério Público para

Page 307: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1307

impetrar habeas corpus tem fundamento na incumbência da defesa da ordem jurídica e dos interesses individuais indisponíveis (HC 84.056, Rel. Min. Eros Grau, Primeira Turma, DJ de 4-2-05), e o Ministério Público tem legitimidade para impetrar habeas corpus quando envolvido o princípio do juiz natural (HC 84.103, Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, DJ de 6-8-04).

Desse modo, não considero correto o entendimento da Corte local, poste-riormente encampado pelo STJ, no sentido da ilegitimidade ativa ad causam do Ministério Público para a impetração.

5. No que tange ao mérito da impetração deste writ, a questão envolve a interpretação da norma constitucional que atribui aos tribunais de justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, em consonância com os limites orçamentários, a alteração da organização e divisão judiciárias (CF, arts. 96, II, d, e 169).

A esse respeito, oportuna se faz a transcrição das informações prestadas pela comissão de desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, constituída para analisar acerca da viabilidade da especialização de juí-zos (fls. 38/43):

(...)Não trata, por oportuno esclarecer, de se revogar dispositivo de lei por

Resolução, o que caberia até ridículo, desmerecendo a consideração final do pare-cerista salientar tal aspecto, bem como ressaltar a inexistência de previsão cons-titucional, saliências que não se coadunam com o nível do trabalho em comento.

Nem mesmo, ao final, improcede se dizer que “só funciona nos casos em que a competência ratione materiae já vem sendo fixada por resolução com esteio em previsão legal”, já que a matéria é reservada à lei, em sentido formal, ou não. Se não, ter-se-á por inócua, em face de demasia, veicular competência de vara por lei, já que se transfere ao Poder Legislativo competência estranha às suas atribui-ções, como delimitado na Carta Magna.

(...)Assim, faz-se imprescindível discernir a respeito destes dois aspectos: i) há

clara previsão de estabelecimento de competência para os órgãos jurisdicionais dos tribunais, entendendo-se – até por ausência de limitação em outro dispositivo – que também o há em relação aos órgãos jurisdicionais do poder judiciário, como um todo; ii) a necessidade de lei volta-se apenas quando houver previsão de des-pesa, cabendo ao poder legislativo tal controle, inicialmente, e ao executivo, já que também participará do processo, sancionando ou não a novel legislação.

Daí a Constituição da República estabelecer a diferença entre dotar ou modificar competências dos órgãos próprios e criar varas ou modificar a organi-zação e divisão judiciárias, fatos últimos para os quais é necessária a lei formal e material.

Seria incidir em erro primário o entendimento do aplicador do direito ao aceitar que a Constituição da República outorgou ao Poder Judiciário atribui-ção própria para dispor sobre a competência do Tribunal Pleno, órgão especial, Câmaras, Turmas, etc., e não pudesse fazê-lo quanto aos Juízos! Ora, onde o legis-lador não excetuou, não cabe ao intérprete fazê-lo!

Não guarda lógica jurídica que a competência dos juízos e varas tivesse que ser estabelecida por lei, enquanto os órgãos jurisdicionais dos tribunais, que

Page 308: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051308

inclusive disciplinam competência absoluta – como é o caso, p. ex., da câmara es-pecializada – ser instituída por Resolução, já que a norma constitucional revela a necessidade de se respeitar a repartição dos poderes do Estado

(...)O que se nos depreende é que historicamente tais competências eram trata-

das sempre através de lei, embora o assunto tenha sido relativizado com as dele-gações de competência insertas nas leis federais antes citadas, o que representa a mesma coisa, vez que se é reserva estrita de lei formal, com o pronunciamento do legislativo sobre assunto interna corporis, não pode ser veiculada por lei em face de delegação, eis que a competência é procedida através de norma constitucional, e portanto atenta ao princípio da vedação de delegação.

6. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, em recente julgamento ocorrido em 15-05-08, no HC 88.660/CE, Rel. Min. Carmen Lúcia, afirmou que o Poder Judiciário tem competência para dispor sobre especialização de varas, porque é matéria que se insere no âmbito da organização judiciária dos tribunais. O tema referente à organização judiciária não se encontra restrito ao campo de incidên-cia exclusiva da lei, eis que depende da integração dos critérios preestabelecidos na Constituição, nas leis e nos regimentos internos dos tribunais.

Na ocasião, ficou assentado que a mera especialização de vara federal para julgamento de crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro, por meio de resolução, não ofende o princípio do juiz natural e não transgride o pos-tulado da reserva de lei (Informativo 506, Brasília, 21 de maio de 2008, p. 1-2).

Assim, está em consonância com o entendimento deste Tribunal o teor da Resolução 19/05-TJRN.

7. São irretocáveis as expressões do Ministro Hélio Quaglia Barbosa na decisão proferida nos autos do HC 41.643/CE:

(...) embora correta a afirmação de que a Constituição Federal garante ao cidadão o direito de ser julgado perante juiz competente ante factum, equivocada, contudo, é a conclusão de que se estaria, in casu, diante de ofensa a esta regra.

Da mesma forma, são invocáveis os argumentos constantes do texto do voto que S. Exa., Ministro Hélio Quaglia Barbosa, proferiu no HC 31.294/PR:

No plano do tempo, também não subsistem os argumentos trazidos pelo impetrante, uma vez que este parece confundir os conceitos de “foro competente” e “juízo competente”. E, como afirma Tourinho Filho, “a competência ratione materiae não constitui critério de fixação de foro, mas sim de juízo” (in Processo Penal. Volume 2. 20ª edição. São Paulo: Saraiva, 1998, página 119).

Alega o impetrante que a especialização implementada causou ofensa ao princípio do juiz natural, uma vez que os fatos teriam ocorrido anteriormente a tal especialização. Não é correta a conclusão pois, como já se adiantou, a consumação do ilícito se faz inerente à fixação da competência do foro, não a do juízo.

O que aqui se discute é a possibilidade de modificações posteriores na de-terminação do juízo competente. Afirmo que as alterações se mostram possíveis desde que: a uma, tenham os juízes a mesma competência ratione loci; a duas, atenda-se ao comando do que dispõe o artigo 74, caput, do Código de Processo

Page 309: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1309

Penal, isto é, que a competência pela natureza da infração seja regulada pelas leis de organização judiciária; a três, não tenha sido ofertada denúncia ou queixa, momento em que se fixa a competência do juízo, inalterável ante a aplicação analógica do artigo 87 do Código de Processo Civil (princípio da perpetuatio ju-risdictionis). Destaque-se ainda a legalidade da incidência imediata das normas processuais – e se trata aqui da questão da competência do juízo processante –, dada sua natureza nitidamente instrumental.

Pois bem. Ao se concluir pela legalidade do ato de especialização da 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba, que também prorrogou sua competência para todo o território do Estado do Paraná (Resolução nº 20, de 26 de maio de 2003, art. 2º, § 1º), vêem-se satisfeitas as duas primeiras condições: juízos com competências territoriais concorrentes e fixação da competência ratione materiae derivada das leis de organização judiciária em vigor.

Por outra volta, verifica-se que a denúncia foi recebida na 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba em 08 de agosto de 2003 (fls. 129/134 do apenso); a Resolução nº 20 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região foi publicada e passou a viger em 29 de maio de 2003. Conseqüentemente, não há falar em alteração da competência do juízo, pois esta somente se fixou com o recebimento da denúncia, fato ocorrente em momento posterior à especialização promovida. Aliás, não é outra a conclusão que se toma da lição de José Frederico Marques, quando afirma que “a compe-tência em razão da matéria se determina, de início, pela qualificação que do fato delituoso é feita na denúncia ou queixa” (in Da Competência em Matéria Penal. Edição revista e atualizada por José Renato Nalini e Ricardo Dip. Campinas: Millennium, 2000, página 237).

Indo adiante, se preciso for, calha à argumentação a doutrina de Guilherme de Souza Nucci, que se contrapõe claramente ao deduzido pelo impetrante:

“a perpetuatio jurisdictionis não se aplica, quando houver alteração da matéria.

(...)Caso a lei posterior de organização judiciária crie, na Comarca ‘X’,

uma Vara privativa, cuidando somente da matéria objeto do feito, deve-se proceder à imediata remessa do processo para a Vara criada. Tal se dá por-que a competência territorial é prorrogável e relativa, o que não ocorre com a competência em razão da matéria”(in Código de Processo Penal Comentado. 3ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, página 198.)Conseqüentemente, não há falar em infração às normas constitucionais

traçadas no artigo 5º, incisos XXXVI (“não haverá juízo ou tribunal de exceção”) e LIII (“ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade com-petente”), conforme alegado. Não se trata, como já evidenciado, da criação dos famigerados tribunais ou juízos ad hoc, própria dos regimes totalitários e liberti-cidas, mas, sim, de simples alteração promovida administrativamente, legalmente permitida, visando a uma melhor prestação da tutela jurisdicional, de natureza especializada, como cristalinamente imprescindível.

No plano da competência, de igual forma, têm-se por inacolhíveis os argu-mentos trazidos pelo impetrante.

Fala em prevenção do juízo de Foz do Iguaçu, pois esse, “no momento em que a denúncia foi oferecida perante a 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba o douto Juízo Federal de Foz do Iguaçu já se encontrava prevento”, e ainda: “um

Page 310: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051310

breve exame dos autos revela que este último juízo, de Foz do Iguaçu, antes de oferecida a denúncia já havia proferido pelo menos um ato decisório na fase das investigações: a quebra do sigilo telefônico do paciente e dos demais investigados” (fls. 23/24).

Uma simples leitura do artigo 83 do Código de Processo Penal é suficiente para espancar quaisquer dúvidas, se ainda existentes. Faço sua transcrição naquilo que interessa: “verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concor-rendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa (...)”. A redação é por demais cristalina. Ora, precede ao diagnóstico de prevenção a existência de juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, o que não se perfaz na espécie sub examine.

Já se disse que a especialização da 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba lhe conferiu competência ratione materiae para processar e julgar crimes praticados contra o sistema financeiro nacional, e de “lavagem” ou ocultação de bens, direi-tos e valores. Assim fazendo, afastou de qualquer outra vara federal, no Estado do Paraná, a possibilidade de persecução penal dessas condutas, fato esse, aliás, determinante do oferecimento da denúncia perante o juízo de Curitiba e não de Foz do Iguaçu.

Assim, pois, não há falar em juízes igualmente competentes e, portanto, não há tampouco falar em prevenção do juízo de Foz de Iguaçu, pois somente a 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba detém a competência ratione materiae para o feito.

Vê-se que a tese de ofensa ao juiz natural, apresentada no presente writ, não tem como prosperar. Uma análise mais acurada das questões levantadas pelo impetrante revelou a insuficiência de sua argumentação e, portanto, a inexistência de infração ao referido princípio.

8. A regra prevista no art. 73 da Constituição do Estado do Rio Grande do Norte fundamentalmente reproduz o disposto no art. 96, II, d, da Constituição da República, ao prever que lei complementar, de iniciativa do Tribunal de Justiça, dispõe sobre a organização e divisão judiciárias do Estado.

A leitura interpretativa do disposto no art. 96, I, a e d, II, d, da Constituição Federal admite que haja alteração da competência dos órgãos do Poder Judiciário por deliberação do tribunal de justiça, desde que não haja impacto orçamentário, eis que houve simples alteração promovida administrativamente, constitucio-nalmente admitida, visando a uma melhor prestação da tutela jurisdicional, de natureza especializada.

9. A questão ora em julgamento não se confunde com o precedente relativo ao HC 81.393/PR, de minha relatoria (Primeira Turma, DJ de 4-4-03), eis que no writ anterior havia expressa previsão legal que obrigava a edição de lei para fixar a jurisdição da Vara de Execuções Penais e Corregedoria dos Presídios re-lativamente a determinadas Comarcas do Estado do Paraná.

Neste caso, não havia tal antecedente legislativo, mas tão-somente a previ-são contida na Constituição do Estado do Rio Grande do Norte que, como visto, não impediu a edição da resolução.

10. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.É como voto.

Page 311: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1311

EXTRATO DA ATA

HC 91.024/RN — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Paciente: Antônio Geraldo de Oliveira. Impetrante: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por unanimidade, denegou a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Presidiu este julgamento a Ministra Ellen Gracie.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.

Brasília, 5 de agosto de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 312: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051312

HABEAS CORPUS 91.650 — RJ

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoPaciente: Robson de Azevedo Buccos — Impetrantes: Carlo Huberth C. C.

e Luchione — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Ação penal. Crime de quadrilha ou bando. Art. 288 do Código Penal. Não-configuração. Fato atípico. Absolvição de um dos 4 (quatro) supostos membros, posto que noutro processo. Atipicidade conseqüente reconhecida. Condenação excluída. Habeas corpus concedido para esse fim, com extensão da ordem aos dois co-réus também condenados. Existência de coisa julgada material em relação à sentença condenatória. Irrelevância. Caso de nulidade absoluta recognoscível em habeas corpus, ainda que transitada em julgado a sentença. Inteligência do art. 5º, inciso LXVIII, da CF e dos arts. 647 e 648 do CPP. Precedentes. A coisa julgada material que recobre sentença condenatória por delito de quadrilha ou bando não obsta, por si só, a que se reconheça, em habeas corpus, a atipicidade da conduta e conseqüente nuli-dade da condenação, se um dos quatros supostos membros foi definitivamente absolvido noutro processo.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, deferir o pedido de habeas corpus, e, de ofício, estender a ordem aos co-sentenciados, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Joaquim Barbosa.

Brasília, 1º de abril de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de Robson de Azevedo Buccos contra ato da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça que, posto tenha conhecido parcialmente o Habeas Corpus 64.538, lhe denegou, nessa parte, a ordem.

O Paciente foi processado perante o IV Tribunal do Júri da Comarca da Capital/RJ, como incurso nas penas dos incisos I e IV do § 2º do art. 121, c/c o art. 288, todos do Código Penal. O Conselho de Sentença negou o quesito referente à autoria do crime de homicídio qualificado, mas afirmou que o ora Paciente “estava associado a mais de três pessoas para o fim de cometer crimes” (fl. 21).

Page 313: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1313

Condenado à pena de 5 anos de reclusão, em regime semi-aberto, a defesa apelou da sentença. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro deu par-cial provimento ao recurso, reduzindo a pena para 4 anos de reclusão. Manteve, porém, o regime inicial semi-aberto para cumprimento.

Irresignada, a defesa impetrou pedido de writ no Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem nos seguintes termos:

Penal, processual penal e execução penal. Habeas corpus. Art. 288, pará-grafo único, do Código Penal. Livramento condicional. Tese não apreciada pelo E. Tribunal a quo. Supressão de instância. Execução da pena antes do trânsito em julgado da condenação. Recurso especial. Efeito devolutivo. Dosimetria da pena. Fundamentação. Circunstâncias judiciais desfavoráveis. Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Regime inicial aberto. Impossibilidade.

I – Não havendo manifestação do Juízo da Execução, nem do e. Tribunal a quo, a respeito da possibilidade de livramento condicional, é vedado a esta Corte examinar tal alegação, sob pena de indevida supressão de instância. (Precedentes).

II – Contra a decisão condenatória confirmada, à unanimidade, em segundo grau de jurisdição, cabem, tão-somente, em princípio, recursos de natureza ex-traordinária – apelos especial e extraordinário – sem efeito suspensivo (art. 27, § 2º da Lei nº 8.038/90), razão pela qual se afigura legítima a execução da pena privativa de liberdade antes do trânsito em julgado da respectiva condenação. (Precedentes do Pretório Excelso e do STJ/Súmula nº 267-STJ).

III – Para efeito de apreciação em sede de writ, a decisão condenatória re-prochada está suficientemente fundamentada, uma vez que, não obstante tenha es-tabelecido a pena-base acima do mínimo legal, o fez com a devida fundamentação.

IV – Sendo desfavoráveis as circunstâncias judiciais (art. 59 do Código Penal) na fixação da pena-base do crime de quadrilha armada, é apropriado o regime prisional semi-aberto para o início do cumprimento da reprimenda. (Precedentes).

V – Para que o réu seja beneficiado com a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, é indispensável o preenchimento dos requisitos objetivos e subjetivos constantes do art. 44 do Código Penal, o que não ocorreu no caso. (Precedentes).

Writ parcialmente conhecido e, nessa parte, denegado. Liminar revogada.(Fls. 4-5.)

Aduz, agora, o Impetrante, estar caracterizado constrangimento ilegal, razão pela qual requer a anulação do acórdão, para que outro seja lavrado “com justa aplicação da pena no mínimo legal, regime inicial de cumprimento de pena aberto, bem como com a substituição da pena restritiva de liberdade pela pena restritiva de direitos” (fl. 17).

Indeferi o pedido liminar às fls. 159-161.A Procuradoria-Geral da República, no parecer de fls. 163-168, opinou

pelo “conhecimento parcial do writ, e, nessa parte, pela denegação do mesmo [sic]”.

Page 314: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051314

Com o trânsito em julgado da decisão que absolveu o co-réu Sebastião Figueiredo Pereira, o Impetrante manifestou-se às fls. 171-173, com o argu-mento relevante de que, “se todos os quatro co-réus foram denunciados pelo art. 288, parágrafo único, do Código Penal (mínimo legal de pessoas para que seja configurada a formação de quadrilha), por, supostamente, associarem-se para a prática de crimes e um deles foi absolvido, não mais subsiste o tipo objetivo do delito, qual seja, o concurso de pelo menos quatro pessoas associadas para o mesmo fim de delinqüir”.

Determinei, então, nova vista à Procuradoria-Geral da República, que se manifestou pela concessão da ordem (fls. 181-184).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Conforme relatado, o Paciente e outras três pessoas foram processados perante o IV Tribunal do Júri da Comarca da Capital/RJ, como incursos nas penas dos incisos I e IV do § 2º do art. 121, c/c o art. 288, todos do Código Penal. O Conselho de Sentença negou o quesito referente à autoria do crime de homicídio qualificado, mas entendeu que Robson de Azevedo Buccos “estava associado a mais de três pessoas para o fim de co-meter crimes” (fl. 21).

Condenado, então, à pena de 5 anos de reclusão, em regime semi-aberto, a defesa apelou, e o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em parcial provimento ao recurso, reduziu a pena para 4 anos de reclusão.

Alega, agora, o Impetrante, que, com a superveniente absolvição do co-réu Sebastião Jerônimo Figueiredo Pereira, já não poderia subsistir condenação pelo tipo objetivo do delito de quadrilha ou bando, que exige “o concurso de pelo menos quatro pessoas associadas para o mesmo fim de delinqüir” (fl. 172).

2. Assiste razão ao Impetrante.É que o tipo descrito no art. 288 do Código Penal1 visa a garantir a paz

pública, “aí tomada em sentido subjetivo, isto é, como sentimento coletivo de paz que a ordem jurídica assegura”, como lembra Nelson Hungria2. E, para que exista o delito, completa o renomado autor, “é suficiente o mero fato de se asso-ciarem mais de três pessoas (no mínimo, quatro) para o fim de cometer crimes, sem necessidade, sequer, do começo da atuação do mais ou menos extenso plano criminoso que os associados se hajam proposto”3.

Daí os elementos do crime de quadrilha ou bando:

1 “Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes:Pena – reclusão, de um a três anos.”

2 Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Revista Forense, 1958. p. 163. 3 Idem, p. 177.

Page 315: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1315

(a) concurso necessário de pelo menos quatro (4) pessoas (RT 582/348 – RT 565/406), (b) finalidade específica dos agentes voltada ao cometimento de delitos (RTJ 102/614 – RT 600/383) e (c) exigência de estabilidade e de permanência da associação criminosa (RT 580/328 – RT 588/323 – RT 615/272).(HC 72.992, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 14-11-96.)

Relevo, ainda, o HC 81.260 (Plenário, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 19-4-02), de cuja ementa consta:

1. O crime de quadrilha se consuma, em relação aos fundadores, no mo-mento em que aperfeiçoada a convergência de vontades entre mais de três pessoas, e, quanto àqueles que venham posteriormente a integrar-se ao bando já formado, no (sic) adesão de cada qual; crime formal, nem depende, a formação consumada de quadrilha, da realização ulterior de qualquer delito compreendido no âmbito de suas projetadas atividades criminosas, nem, conseqüentemente, a imputação do crime coletiva a cada um dos partícipes da organização reclama que se lhe possa atribuir participação concreta na comissão de algum dos crimes-fim da associação.(Grifos nossos. Confiram-se, ainda: HC 72.945, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 29-9-95; HC 74.175, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 20-10-00; HC 88.978, da minha relatoria, DJ de 21-9-07.)

Ora, o quadro atual da causa é o seguinte:

O apelado Marcos Cardoso da Silva foi absolvido quanto ao homicídio e, condenado por formação de quadrilha qualificada, as penas de 3 (três) anos e 6 (seis) meses de reclusão, em regime aberto (fls. 999/1000).

O apelante Cid dos Santos Marques Filho foi condenado pelo homicídio qualificado e formação de quadrilha, as penas de 20 (vinte) anos de reclusão, ante o concurso real de crimes (fls. 1048-1051).

O apelante/apelado Robson de Azevedo Buccos foi absolvido pelo homicí-dio e, condenado pela formação de quadrilha, as penas de 5 (cinco) anos de reclu-são, em regime semi-aberto (fls. 1187/1188).(Fl. 152.)

Mas o quarto co-denunciado pelo delito de quadrilha ou bando, Sebastião Jerônimo Figueiredo Pereira, “foi absolvido da imputação que lhe foi feita com fulcro no art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal” (fl. 172. Confira-se cópia da sentença absolutória à fl. 174).

Não há, portanto, um dos elementos indispensáveis à caracterização teó-rica do delito de quadrilha ou bando, qual seja, o concurso necessário de, pelo menos, quatro pessoas.

3. Posto transitada em julgado a sentença condenatória, a desconstituição da coisa julgada por via do writ é amplamente admitida diante do largo alcance que lhe conferem a Constituição da República (art. 5º, LXVIII) e o próprio Código de Processo Penal (arts. 647 e 648), como remédio extremo contra toda forma de insulto à liberdade física. O habeas corpus “corrige”, portanto, “a coa-ção ilegal ainda que decorrente de sentença penal transitada em julgado. (...) a

Page 316: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051316

nulidade, a extinção da punibilidade, a falta de justa causa são examinadas no habeas corpus, ainda que se tenha de desfazer a coisa julgada. Prevalece, in casu, a proteção ao direito individual da liberdade sobre a imutabilidade da res judicata, que é, na hipótese, relativa.”4

É a jurisprudência da Corte:

A coisa julgada estabelecida no processo condenatório não é empecilho, por si só, à concessão de habeas corpus por órgão jurisdicional de gradação superior, de modo a desconstituir a decisão coberta pela preclusão máxima.(STF, Primeira Tuma, RHC 82.045, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 25-10-02.)

O habeas corpus constitui meio hábil para a argüição de nulidade do pro-cesso, ainda que a sentença respectiva tenha transitado em julgado.(RHC 64.076, Rel. Min. Djaci Falcão, DJ de 5-9-86.)5

Habeas corpus. Constitui meio hábil para a argüição de nulidade do pro-cesso penal, mesmo havendo sentença transitada em julgado.(RHC 61.715, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 6-4-84. No mesmo sen-tido: HC 72.945, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 29-9-95.)6

4. Assim, não se opondo a coisa julgada ao reconhecimento de nulidade, que é absoluta, concedo a ordem, para excluir a condenação imposta ao ora Paciente, Robson de Azevedo Buccos, pelo delito previsto no art. 288 do Código Penal.

Preenchidos, ademais, os requisitos do art. 580 do Código de Processo Penal, estendo, de ofício, os efeitos da ordem, pelo mesmo crime, aos conde-nados Marcos Cardoso da Silva e Cid dos Santos Marques Filho.

EXTRATO DA ATA

HC 91.650/RJ — Relator: Ministro Cezar Peluso. Paciente: Robson de Azevedo Buccos. Impetrantes: Carlo Huberth C. C. e Luchione. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu o pedido de habeas corpus, e, de ofício, estendeu a ordem aos co-sentenciados, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Joaquim Barbosa.

4 GRECO FILHO, Vicente. Tutela constitucional das liberdades. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 150-151.5 Ver ainda FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui (Coord.). Código de Processo Penal e sua interpretação jurisprudencial. 1. ed., 2. tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, v. 1. p. 393.6 Idem. Cf., ainda, arestos do STJ, TJSP e Tacrim, relacionados pelos autores na mesma obra, p. 394.

Page 317: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1317

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves.

Brasília, 1º de abril de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 318: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051318

HABEAS CORPUS 91.651 — MG

Relator: O Sr. Ministro Ricardo LewandowskiPaciente: Lauro Sérgio Leal — Impetrante: Cantinila Bezerra de Carva-

lho — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Processual penal. Recurso especial. Magistrado. Denúncia. Acolhimento parcial. Provimento. Acolhimento total da de-núncia. Ampla defesa. Contraditório. Devido processo legal. Contradição no acórdão. Julgamento ultra petita. Ocorrência. Error in judicando. Nulidade. Configuração. Ordem concedida.

I – É encargo do Ministério Público a oposição de embargos declaratórios quando a decisão que dá provimento ao recurso especial criminal por ele interposto possa ensejar nulidade que aproveite à defesa.

II – A discrepância entre a fundamentação e o dispositivo configura hipótese de error in judicando, que encerra hipótese de nulidade insanável.

III – Ordem concedida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por decisão unânime, deferir, em parte, o pedido de habeas corpus para que os autos do processo penal voltem ao Tribunal de Justiça, considerado o estágio em que se encontrava na Corte.

Brasília, 3 de junho de 2008 — Ricardo Lewandowski, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado por Cantinila Bezerra de Carvalho em favor de Lauro Sérgio Leal, contra decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial 832.853/MG.

Eis a ementa do julgado (fl. 17):

Criminal. RESP. Peculato-apropriação. Empréstimo de arma de fogo. Aplicação do princípio da consunção. Impossibilidade. Condutas autônomas. Condenação em concurso material. Recurso provido.

I – O princípio da consunção pressupõe a existência de um nexo de depen-dência das condutas ilícitas, para que se verifique a possibilidade de absorção da-quela menos grave pela mais danosa.

Page 319: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1319

II – Evidenciado, na hipótese, que os crimes se afiguram absolutamente autônomos, inexistindo qualquer relação de subordinação entre as condutas, resta inviabilizada a aplicação do princípio da consunção, devendo o réu responder por todas as condutas, em concurso material.

III – Recurso provido, nos termos do voto do Relator.

Narra a Impetrante, em síntese, que o Paciente, magistrado do Estado de Minas Gerais, foi denunciado pela prática, em tese, dos delitos tipificados nos arts. 312, caput, e 297, § 1º, do Código Penal; e no art. 10, § 2º, c/c o § 4º, da Lei 9.437/97 (peculato, falsificação de documento público e porte de arma de uso restrito, respectivamente).

Diz, mais, que, acolhida em parte a denúncia pelo Tribunal de Justiça, o Ministério Público recorreu ao Superior Tribunal de Justiça pleiteando o acolhi-mento integral da peça acusatória.

Afirma, ainda, que o Superior Tribunal de Justiça, dando provimento ao recurso, além de ter afastado o princípio da consunção, determinou que a Corte a quo fixasse a pena aplicável, ao assim assentar (fls. 4/5 da inicial):

Nestas condições, deve ser reconhecido o concurso material entre os deli-tos descritos no art. 312 do CP e no art. 10 da Lei 9.437/97, remetendo os autos ao Tribunal a quo para a fixação da pena.

Sustenta, em suma, a existência de patente ilegalidade perpetrada contra o paciente, na medida em que o recurso especial pretendia apenas atacar o recebi-mento parcial da denúncia (fl. 5).

Alega, mais, que a decisão do STJ implica a existência de condenação sem ação, em ofensa ao devido processo legal, além de configurar julgamento ultra petita (fls. 5-8). Segundo a Impetrante, “se o processo caminhar, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais prestará obediência à instância superior e não julgará o mérito, apenas fixará a pena” (fl. 9).

Requer, ao final, o deferimento de medida liminar para sustar os efeitos da decisão atacada, bem como a concessão definitiva da ordem para anulá-la (fls. 8-9).

Em 14-6-07, deferi a medida liminar apenas para obstar a eventual impo-sição de pena (fls. 47-48).

Vieram aos autos as informações prestadas pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais em 6-7-07 – reiteradas em 23-11-07 – (fls. 61-79 e 103-124), e as do Superior Tribunal de Justiça em 30-10-07 (fls. 92-95).

O Ministério Público Federal, em parecer de lavra do Subprocurador-Geral da República Wagner Gonçalves, opinou pela concessão parcial da ordem, apenas “para reconhecer que os autos retornem ao tribunal de origem para que a ação penal tenha seu curso normal, mantendo-se, no mais, o acórdão hostili-zado, que recebeu a denúncia na totalidade, ao acatar recurso do MP” (fl. 100).

É o relatório.

Page 320: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051320

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Bem examinados os au-tos, entendo que assiste razão à Impetrante.

Com efeito, como bem acentuou o parquet, a contradição existente no acórdão do recurso especial poderia ser solucionada com a oposição de em-bargos declaratórios, uma vez que a decisão se refere ao pedido deduzido pelo recorrente no sentido do acolhimento integral da denúncia.

Registro, no entanto, que a interposição dos embargos caberia ao próprio Ministério Público local, seja porque subscrevera o recurso especial, seja porque constituía seu dever, como fiscal da lei, velar para que não subsistam quaisquer nulidades nos feitos que contam com sua intervenção.

Não competia, pois, à defesa desincumbir-se de tal ônus processual.Transcrevo, abaixo, a decisão atacada (grifos nossos):

Trata-se de recurso especial interposto pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, com fulcro na alínea a do permissivo constitucional, em face de acórdão proferido pela Corte Superior do Tribunal de Justiça do Estado, que recebeu, em parte, a denúncia oferecida contra Lauro Sérgio Leal, nos ter-mos da seguinte ementa:

“Processo-crime de Competência Originária. Juiz de Direito. Apro-priação de arma de fogo apreendida em processo criminal. Denúncia capitulando a conduta no art. 312 do CP. Fato não desmentido, mas com justificativas tendentes a excluir o crime. Falsificação de documento. Necessidade de aguardar a instrução. Denúncia que atende os requisitos do art. 41 do CPP. Absorção do crime do art. 10, §§ 2º e 4º, da Lei 9.437/97 pelo do art. 312 do CP. Recebimento parcial da denúncia.” (Fl. 185.)Lauro Sérgio Leal, Juiz de Direito da Comarca de Ervália/MG, foi denun-

ciado como incurso no art. 312, caput, do Código Penal, no art. 10, § 2º, c/c o § 4º, da Lei 9.437/97 e no art. 297, § 1º, do Código Penal, na forma do art. 69, da mesma norma.

Narra a denúncia que o recorrido teria se apropriado de bem móvel público (rifle calibre 38) de que tinha posse em razão do cargo, em proveito próprio, le-vando-o para sua propriedade rural e emprestando ao seu empregado.

O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais recebeu, em parte, a de-núncia com relação às imputações dos delitos dos arts. 312 e 297, § 1º, do Código Penal, excluindo a imputação do art. 10, §§ 2º e 4º da Lei 9.437/97, ao entendi-mento de que este último estaria absorvido pelo delito de peculato.

Contra essa decisão, o Ministério Público opôs embargos de declaração, apontando omissões e obscuridades no acórdão, relativos à ausência de funda-mentação para rejeição de parte da denúncia.

Os embargos foram rejeitados.No presente recurso especial, aponta negativa de vigência ao art. 10, §§ 2º

e 4º da Lei 9.437/97 e ao art. 69 do Código Penal, sustentando que os arts. 312 do Código Penal e 10 da Lei 9.437/97 atingem objetos jurídicos distintos, a adminis-tração pública e a incolumidade pública, respectivamente, daí ser forçoso o reco-nhecimento dos dois delitos em concurso material.

Page 321: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1321

Foram apresentadas contra-razões (fls. 264/267).Admitido o recurso (fls. 269/270), a Subprocuradoria-Geral da República

opinou pelo seu provimento.É o relatório.(...)VotoTrata-se de recurso especial interposto pelo Ministério Público do Estado

de Minas Gerais, com fulcro na alínea a do permissivo constitucional, em face de acórdão proferido pela Corte Superior do Tribunal de Justiça do Estado, que rece-beu, em parte, a denúncia oferecida contra Lauro Sérgio Leal.

Em razões, aponta o Ministério Público negativa de vigência ao art. 10, §§ 2º e 4º da Lei 9.437/97 e ao art. 69 do Código Penal, sustentando que os arts. 312 do Código Penal e 10 da Lei 9.437/97 atingem objetos jurídicos distintos, a adminis-tração pública e a incolumidade pública, respectivamente, daí ser forçoso o reco-nhecimento dos dois crimes em concurso material.

O recurso é tempestivo. Os autos deram entrada na Procuradoria-Geral de Justiça em 30/11/05 (fl. 248 v.), e a petição de interposição do recurso especial foi protocolada na mesma data (fl. 250).

A matéria foi devidamente prequestionada, conforme se extrai do seguinte trecho do acórdão recorrido:

“Penso não se justificar o recebimento da denúncia quanto ao crime do art. 10, §§ 2º e 4º, da Lei n.º 9.437/97, não pelos motivos apresentados pela defesa, mas, sim, porque, em tese, está absorvido pelo crime do art. 312 do CP. É que, se for considerado comprovado o desvio na forma descrita no art. 312 do CP, a posse teria sido decorrente de tal desvio, a integrar o delito, mas, se for havida como lícita a posse da arma pelo Juiz enquanto titular da Comarca, o crime não teria existido.” (Fl. 190.)Satisfeitos os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso especial,

merecendo prosperar a irresignação.De acordo com o princípio da consunção, existindo mais de um ilícito penal,

em que um deles – menos grave – represente apenas o meio para a consecução do delito mais nocivo, o agente será responsabilizado apenas por este último. Assim, é necessária a existência de um nexo de dependência das condutas para que se possa verificar a possibilidade de absorção daquela menos grave pela mais danosa.

Entretanto, o que se infere, na hipótese, é que os crimes se afiguram ab-solutamente autônomos, inexistindo relação de subordinação entre as condutas, pois o empréstimo da arma não pode ser considerado como peculato-desvio e nem como exaurimento da conduta de apropriação, na medida em que atinge outro bem jurídico.

Nesse sentido, reproduzo as considerações da Subprocuradoria-Geral da República, que adoto como razões de decidir:

“O cerne da questão consiste em saber se a conduta praticada pelo acusado (emprestar arma de fogo) deve estar ou não absorvida pelo crime de peculato.

O peculato é crime definido no art. 312, do CP que assim prescreve:‘Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, va-

lor ou qualquer outro bem imóvel público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.’

Page 322: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051322

A doutrina, analisando o núcleo do referido artigo, identifica a exis-tência de duas condutas típicas previstas: o peculato-apropriação (1ª parte) e o peculato-desvio (2ª parte). A respeito do tema, Guilherme Souza Nucci, in Código Penal Comentado, 5ª edição, à fl. 976, elucida que apropriar-se significa tomar como propriedade sua ou apossar-se, e desviar corresponde a alterar o destino ou desencaminhar.

Compulsando os autos, verifica-se que de fato, o elemento do tipo que se refere à conduta do peculato-apropriação, conforme descrita na denún-cia, foi, em tese, praticada pelo acusado, confira-se:

De acordo com as provas colacionadas na fase investigatória, o acusado requisitou verbalmente do Delegado de Polícia Paulo César Corrêa Armond o rifle marca Rossi, séria BO 63497, calibre 38, mo-delo Winchester, de acabamento oxidado, apreendida nos autos do in-quérito policial n. 15/2001, da Delegacia de Polícia de Araponga, em que figurava como indiciado Francisco de Assis Mendes.

Feito o encaminhamento da arma de fogo pela Autoridade Policial, ato formalizado pelo ofício n. 426/DPCE/2001 (f ls. 21, apenso 02), o acusado dela se apropriou, levando-a para sua proprie-dade rural localizada no Município de Eugenópolis, com o objetivo de usá-la para matar cães hidrófobos.Entretanto, o peculato-desvio não foi praticado pelo acusado, pois,

como bem asseverou o representante do Parquet, desviar, desencaminhar não é o mesmo que emprestar. Na hipótese, estamos diante do peculato-apropriação em concurso material com o delito previsto no art. 10 da Lei n. 9.437/97, não havendo que se falar em absorção, como entendeu o Tribunal a quo.

(...)In casu, estamos diante de delitos autônomos, pois o empréstimo da

arma de fogo não se constitui fase normal de preparação ou execução da conduta típica constante do art. 312, do CP a impor a absorção. Ademais, os referidos crimes tutelam bens jurídicos diferentes, no primeiro, viola-se a incolumidade pública, e, no segundo, a administração pública, em seu as-pecto patrimonial e moral.” (Fls. 277/278.)Nestas condições, deve ser reconhecido o concurso material entre os delitos

descritos no art. 312 do CP e no art. 10 da Lei 9.437/97, remetendo os autos ao Tribunal a quo para fixação da pena.

Diante do exposto, dou provimento ao recurso, nos termos da fundamenta-ção acima.

É como voto.

Como se vê, registra-se uma discrepância entre a fundamentação e o dis-positivo do decisum, que encerra nulidade insanável, caracterizando o error in judicando, e não simples error in procedendo, em que se poderia cogitar de ausência de prejuízo em face do retorno dos autos da ação penal ao Tribunal de Justiça.

Isso posto, concedo a ordem para anular a decisão proferida no recurso especial e determinar que outra seja proferida pelo Superior Tribunal de Justiça, desta vez atentando para os limites da pretensão deduzida.

Page 323: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1323

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Agora, de qualquer forma, o Superior Tribunal de Justiça reformou o acórdão do Tribunal de Justiça sob o ângulo da absorção, dos demais crimes, pelo peculato.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Sim, até aí é válido.O Sr. Ministro Menezes Direito: Era isso que eu ia ponderar. Veja bem,

tenho a impressão de que não houve, sequer, com a devida vênia, um error in judicando do Superior Tribunal de Justiça. Na verdade, houve uma contradição. O que o Superior Tribunal de Justiça disse? Ele acolheu o parecer do Ministério Público para que a denúncia fosse recebida na sua totalidade. Por isso é que o Ministério Público sugeriu o deferimento da ordem, em parte, para que voltasse o processo ao Tribunal de origem e o andamento fosse normal, porque não houve a fixação de pena.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Ministro Ricardo Lewandowski, há inconformismo no habeas quanto ao tema de direito, que é o alusivo à absor-ção, ou não, pelo peculato?

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Aí não.O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Ele aceita ser processado, tam-

bém, pelo porte?O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Aceita. Ele reclama que

não foi respeitado o devido processo legal.O Sr. Ministro Menezes Direito: Ele reclama, exclusivamente, do erro de

ter feito a interpretação de que houve a condenação, porque a conclusão foi re-meter para a fixação da pena.

Evidentemente, isso seria resolvido até com embargos de declaração.O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Mas eu digo isso.O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Não seria o caso, Ministro,

então, de avançarmos um pouco mais para conceder a ordem no sentido de que se dê seqüência à ação penal?

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Por questão de economia processual?

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Para não retornar ao Superior Tribunal de Justiça.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Eu pensei nisso.O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Realmente, houve um equí-

voco, quer dizer, o processo-crime não estava aparelhado para ser sentenciado e se impor pena. A volta é para a instrução.

O Sr. Ministro Menezes Direito: Só para seguir o processo normalmente.O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Eu identifiquei essa

questão levantada pelo eminente Ministro Menezes Direito, dizendo – há uma contradição, basicamente – que essa contradição poderia ter sido resolvida

Page 324: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051324

mediante a interposição de embargos de declaração. Mas os embargos de decla-ração não caberiam à defesa, mas sim ao parquet local.

O Sr. Ministro Menezes Direito: É só para evitar, Ministro, V. Exa. me desculpe interrompê-lo, que, a meu sentir, pela leitura do que está disposto, pelo claro voto que V. Exa. acaba de proferir, como sempre, não houve um erro in judicando, houve uma contradição.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): É, mas o Superior Tribunal de Justiça, realmente, de forma equivocada, deu de barato a culpa do acusado.

O Sr. Ministro Menezes Direito: Não, é porque ele concluiu, veja bem, é uma contradição, e, em vez de determinar que prosseguisse, como V. Exa. disse, ele deu pela fixação da pena. Então, concede-se o habeas aqui para que os autos retornem e sigam normalmente.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Retorne para a instrução cabível.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Eu me curvo ao entendi-mento do Colegiado.

Interessante, porque a Impetrante, em nome do Paciente, alega que a de-cisão do STJ implica a existência de condenação sem ação e ofensa ao devido processo legal, além de configurar julgamento ultra petita.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Agora, não há insurgimento quanto à questão da absorção.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Não, não há.Ainda, data venia, insisto que, tecnicamente, seria mais correto anular o

julgamento, mas por uma razão de economia processual.O Sr. Ministro Menezes Direito: Economia processual, é mais prático.O Sr. Ministro Marco Aurélio: V. Exa. concorda, Ministro Ricardo

Lewandowski?O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Concordo, embora eu en-

tenda que, tecnicamente, data venia, a minha decisão está correta.O Sr. Ministro Menezes Direito: Perfeito, mas é muito mais prático.O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Está bem, farei isso.Então, concedemos em parte para que retornem os autos.O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Para que o retorno se dê vi-

sando à instrução do processo.O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Certo.

EXTRATO DA ATA

HC 91.651/MG — Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Paciente: Lauro Sérgio Leal. Impetrante: Cantinila Bezerra de Carvalho (Advogados: Eber Carvalho de Melo e outros). Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Page 325: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1325

Decisão: A Turma deferiu, em parte, o pedido de habeas corpus para que os autos do processo penal voltem ao Tribunal de Justiça, considerado o estágio em que se encontrava na Corte. Unânime.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Compa-receu o Ministro Eros Grau a fim de julgar processos a ele vinculados, ocupan-do a cadeira do Ministro Ricardo Lewandowski. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.

Brasília, 3 de junho de 2008 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 326: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051326

HABEAS CORPUS 92.012 — SP

Relatora: A Sra. Ministra Ellen GraciePaciente: Genivaldo da Lima Fonseca ou Genivaldo Lima Fonseca —

Impetrante: Defensoria Pública da União — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Direito processual penal. Execução penal. Conversão da pena restritiva de direito em privativa de liberdade. Critérios e métodos de interpretação. Devido processo legal e ampla defesa. Art. 181, § 1º, a, LEP. Habeas corpus. Concessão.

1. O art. 181, § 1º, a, da LEP não exige que haja intimação por edital do condenado que participou de todo o processo, tra-tando-se de hipótese diversa do réu revel.

2. Há tratamento diferenciado com base em elemento de dicrí-men razoável no que tange às duas hipóteses previstas de conver-são da pena restritiva de direito em pena privativa de liberdade.

3. Habeas corpus denegado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 10 de junho de 2008 — Ellen Gracie, Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Ellen Gracie: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça que denegou habeas corpus anteriormente aforado perante aquela Corte. O acórdão ficou assim ementado (fl. 35):

Execução penal. Habeas corpus substitutivo de recurso ordinário. Con-versão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade. Condenado em lugar incerto e não sabido.

Nos termos do disposto no art. 181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal, se o condenado estiver em lugar incerto e não sabido deve a pena restritiva de di-reitos ser convertida em privativa de liberdade (Precedentes).

Habeas corpus denegado.

Argumenta o Impetrante que o paciente foi condenado à pena de 2 (dois) anos de reclusão, em regime aberto, sendo substituída a pena corporal por

Page 327: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1327

restritiva de direito consistente na prestação de serviços à comunidade (CP, art. 44).

Narra que, tendo sido expedido mandado de intimação pessoal, o Paciente não foi encontrado, estando em local incerto e não sabido. A defesa do Paciente pug-nou pela citação editalícia para, somente após seu aperfeiçoamento, fosse recon-vertida a pena restritiva de direito em privativa de liberdade.

Aduz que não é possível adotar apenas a interpretação literal a respeito do art. 181, § 1º, a, da LEP, devendo ser observado o devido processo legal e a ampla defesa.

Requer a concessão da ordem para o fim de se expedir salvo conduto em favor do Paciente, cassando-se o acórdão do STJ para que o Paciente possa ser intimado por edital.

2. Houve indeferimento do pedido de liminar (fl. 26).3. Informações prestadas pelo Superior Tribunal de Justiça (fl. 34) com

cópia do julgado no HC 67.479/SP.4. Manifestação da Procuradoria-Geral da República no sentido da dene-

gação da ordem (fls. 44/48).É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. No julgamento do habeas corpus pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, ficou assentado o seguinte (fls. 37/38):

(...)Busca o impetrante, em suma, a intimação por edital do paciente para que

tome conhecimento da decisão proferida pelo Juízo da Execução que converteu a pena restritiva de direito em privativa de liberdade, possibilitando-o a justificativa da sua ausência.

A irresignação não merece acolhida.(...)De uma interpretação literal do dispositivo legal acima transcrito, percebe-

se que a norma legal prevê duas hipóteses alternativas para a conversão da pena restritiva de direitos pela privativa de liberdade.

A primeira parte corresponde ao sentenciado que esteve presente durante toda a instrução criminal e, ao final, quando intimado pelo Juízo da Execução para dar início ao cumprimento da pena substitutiva não foi encontrado no endereço indicado, considerando-o, assim, em lugar incerto e não sabido. O que na hipótese dos autos, é o caso em apreço.

Na segunda parte, trata-se do réu que manteve revel no curso do processo de conhecimento e que para o início do cumprimento da pena reclusiva deverá ser intimado por edital. (...)

Page 328: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051328

Assim, não há que se falar em constrangimento ilegal uma vez que cabe ao sentenciado, que esteve presente durante todo o processo de conhecimento infor-mar, ao Juízo da Execução a mudança de endereço.

Encontrando-se o sentenciado em lugar incerto e não sabido nos termos do disposto no art. 181, § 1º, da LEP, será convertida a pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade.

2. O Impetrante sustenta, em resumo, que não deve prevalecer o critério gramatical na interpretação do disposto no art. 181, § 1º, a, da Lei de Execução Penal, in verbis:

Art. 181. A pena restritiva de direitos será convertida em privativa de liber-dade nas hipóteses e na forma do art. 45 e seus incisos do Código Penal.

§ 1º A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o condenado:

a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender à intimação por edital;

(...)

Como foi salientado no parecer da Procuradoria-Geral da República, “a aplicação excludente da primeira ou da segunda parte da norma funda-se na ocorrência ou não de revelia no processo, circunstância que, se por um lado, privilegia o exercício da ampla defesa pelo réu revel por meio do chamamento editalício, por outro, exige daquele ciente de sua condenação boa-fé processual no tocante ao iminente cumprimento da pena, seja ela privativa de liberdade ou restritiva de direitos” (fl. 47).

3. Considero a presença de elemento de discrímen razoável no tratamento diferenciado referido no art. 181, § 1º, da LEP, eis que o réu que participou de to-dos os atos processuais e, ciente da condenação, muda seu domicílio sem prévia comunicação ao juízo competente, viola o princípio da boa-fé objetiva que deve reger todas as relações jurídicas, inclusive entre o agente e o Estado.

Na doutrina de Júlio Fabbrini Mirabete, a primeira parte da alínea a do § 1º do art. 181 da LEP se refere àquele que, pessoalmente citado e intimado para todos os atos processuais, desaparece na fase da execução da sentença, deixando de comunicar ao juízo acerca de seu atual paradeiro, daí a certidão de se encon-trar em lugar incerto e não sabido. Já a segunda parte do referido dispositivo se aplica ao condenado revel durante o processo, marcando-se dia e horário para o início do cumprimento da pena restritiva de direito, daí sua intimação editalícia (Execução penal. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 715).

4. Registro, assim, que a regra contida no § 1º, a, do art. 181 da LEP não viola o devido processo legal e a ampla defesa, eis que o acusado que acompa-nhou todo o processo de conhecimento tem plena ciência de possíveis conse-qüências que lhe sejam prejudiciais caso deixe de cumprir a pena restritiva de direito que lhe foi imposta.

5. Reputo, pois, que não há constrangimento ilegal na solução dada pelo Superior Tribunal de Justiça, motivo pelo qual deve ser denegada a ordem.

Page 329: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1329

6. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.É como voto.

EXTRATO DA ATA

HC 92.012/SP — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Paciente: Genivaldo da Lima Fonseca ou Genivaldo Lima Fonseca. Impetrante: Defensoria Pública da União. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, indeferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora. Ausente, justificadamente, neste julga-mento, o Ministro Joaquim Barbosa.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Ellen Gracie, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 10 de junho de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 330: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051330

SEGUNDO JULGAMENTO NO HABEAS CORPUS 92.170 — RJ

Relator: O Sr. Ministro Marco AurélioRelator para o acórdão: O Sr. Ministro Ricardo LewandowskiPaciente: Jaime Garcia Dias — Coatora: Relatora do Habeas Corpus

88.254 do Superior Tribunal de Justiça

Processual. Habeas corpus. Desistência após o julga-mento pelo colegiado. Inadequação do pedido. Fungibilidade. Desistência de recursos. Pedido homologado.

I – Não é possível a desistência do habeas corpus após o seu julgamento pelo Colegiado.

II – Conhecimento como desistência de recursos.III – Pedido homologado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por decisão unânime, homologar a desistência quanto à interposição de outros recursos cabíveis à decisão proferida. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia.

Brasília, 27 de maio de 2008 — Ricardo Lewandowski, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Trata-se de pedido de desistência do habeas corpus impetrado por Castellar Modesto Guimarães Filho, Castellar Modesto Guimarães Neto, José Antero Monteiro Filho e Carolina Goulart Mo-desto Guimarães em favor de Jaime Garcia Dias, não obstante a decisão mono-crática que proferi em 29-4-08 (fls. 615-617) consignasse, expressamente, não estar inviabilizada nova impetração.

O pedido foi deduzido em 30-4-08. Após, portanto, o julgamento pela Primeira Turma, que ocorreu em 25-3-08, mas antes da publicação do acórdão (9-5-08; fl. 631).

É o relatório.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhor Presidente, se V. Exa. me permitir, há um caso aqui simplíssimo: um habeas corpus, de relatoria de V. Exa., em que V. Exa. ficou vencido. Não o conhecemos com base na 691, e o Impetrante desiste do habeas corpus. E V. Exa. teve a gentileza de reenviá-lo para mim, como Relator para o acórdão. Tendo em conta o fato de ter sido um

Page 331: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1331

julgamento colegiado, no sentido do não-conhecimento, achei melhor também submetê-lo à desistência.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Mas já há decisão. E, então, simplesmente não se pode, ante a conclusão do Colegiado, partir para o não-conhecimento, abrindo-se, quem sabe, a porta a uma outra apreciação. A decisão não prejudica.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Será que não caberiam embargos de declaração? Não sei. Foi isso que pensei ao trazê-lo.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Vamos tomar como desistência de outros recursos. Fica bem assim?

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Fica bem. Então homologamos neste sentido.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente e Relator): Homologa-se a desis-tência quanto aos recursos, e não à impetração em si.

EXTRATO DA ATA

HC 92.170-segundo julgamento/RJ — Relator: Ministro Marco Aurélio. Relator para o acórdão: Ministro Ricardo Lewandowski. Paciente: Jaime Garcia Dias (Advogados: Castellar Modesto Guimarães Filho e outros). Coatora: Relatora do Habeas Corpus 88.254 do Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma homologou a desistência quanto à interposição de outros recursos cabíveis à decisão proferida. Unânime. Ausentes, justificada-mente, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Ricardo Lewandowski e Menezes Direito. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia. Subprocuradora-Geral da República, Dra. Cláudia Sampaio Marques.

Brasília, 27 de maio de 2008 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 332: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051332

HABEAS CORPUS 92.235 — PE

Relator: O Sr. Ministro Menezes DireitoPaciente: Vital Cavalcanti Novaes — Impetrante: Rodrigo Cavalcanti

Novaes. Coator: Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. Constitucional. Processual penal. Crime de peculato (art. 312 do CP). Condenação mantida no Superior Tribunal de Justiça. Embargos declaratórios em recurso espe-cial. Participação de Ministros impedidos no julgamento dos embargos. Decisão unânime. A exclusão dos votos dos Ministros impedidos não modifica o resultado do julgamento. Inutilidade de pronunciamento da nulidade absoluta. Aplicação do art. 563 do CPP. Precedente. Habeas corpus denegado e liminar cassada.

1. O pronunciamento da nulidade absoluta não terá ne-nhum efeito prático no mundo jurídico, devendo imperar, na es-pécie, o disposto no art. 563 do CPP, segundo o qual “nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa”.

2. Não há nenhuma utilidade na anulação de julgamento que teve como resultado votação unânime pela rejeição dos em-bargos, pois a subtração dos votos dos Ministros impedidos não teria o condão de modificar o resultado antes verificado.

3. Habeas corpus denegado e liminar cassada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por maioria de votos, indeferir o pedido de habeas corpus.

Brasília, 6 de novembro de 2007 — Menezes Direito, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado por Rodrigo Cavalcanti Novaes em benefício de Vital Cavalcanti Novaes, buscando a anulação do julgamento “proferido nos autos dos embargos declaratórios com efeitos infringentes, apresentados em razão do julgamento do recurso especial n. 819168-PE, em função da participação dos ministros Napoleão Nunes Maia Filho e Laurita Vaz em seu julgamento, mesmo impe-didos na forma da lei” (fl. 9 – grifos no original).

Page 333: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1333

Aponta como órgão coator a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que rejeitou os embargos declaratórios opostos pelo Paciente contra acórdão que conheceu parcialmente do recurso especial interposto pelo Ministério Público Federal, e, nessa parte, deu-lhe provimento (fls. 22 a 68).

Sustenta o Impetrante que:

(...)4.1. A participação do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho no Superior

Tribunal de Justiça, em esse feito, não é legalmente possível, em razão de haver funcionado no julgamento do processo em 1º grau, enquanto Desembargador Federal no Tribunal Regional Federal da 5ª Região.

(...)4.3. No caso da Ministra Laurita Vaz, pode-se perceber que no próprio

cabeçalho da certidão de julgamento dos embargos declaratórios, consta a infor-mação de seu impedimento, não havendo participado, inclusive, do julgamento do recurso especial. Resta claro, portanto, que os dois votos lançados são nulos, o que acarreta na nulidade do julgamento.

4.4. Não se pode, no caso em tela, falar-se em convalidação do julgamento em razão do argumento falho de que o julgamento foi unânime, e que a mudança dos dois votos não acarretariam na alteração do julgado. É preciso que se observe que o julgamento dos embargos declaratórios, em razão do seu caráter modifica-tivo, se dado por simples maioria, oportunizaria o manejo de recursos previstos pela legislação então negados pelo fator da unanimidade.(Fls. 4/5.)

No mais, traz fundamentos de mérito da ação principal, desnecessários ao deslinde da questão posta no presente habeas corpus.

O pedido de liminar foi deferido pelo Ministro Sepúlveda Pertence à fl. 186.

Informações da autoridade apontada como coatora à fl. 196 e documentos juntados às fls. 197 a 659.

O Ilustre Subprocurador-Geral da República Dr. Mario José Gisi opinou pela denegação da ordem (fls. 661 a 665).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Volta-se o Impetrante contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que, em 12-6-07, rejeitou os embargos declaratórios opostos pelo Paciente no Recurso Especial 819.168/PE, Relator o Ministro Gilson Dipp, interposto pelo Ministério Público Federal e pelos acusados.

Consta nos autos ter sido o Paciente condenado, na época Deputado Estadual no Estado de Pernambuco, juntamente com mais doze acusados, à pena de cinco anos de reclusão e dez dias-multa, pelo crime de peculato (art.

Page 334: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051334

312, c/c arts. 29, 30 e 71 do CP), perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (Ação Penal 3/PE – fls. 307/308 e 322). Contra essa decisão, foram opos-tos embargos de declaração pelo Paciente, negado provimento, à unanimidade, por esse Tribunal Regional (fl. 156).

Foi interposto recurso especial pelo Ministério Público Federal e pelos condenados. O recurso do parquet federal foi parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. O recurso do Paciente, por sua vez, não foi conhecido (fls. 22 a 26). O Paciente interpôs, então, embargos declaratórios contra esse acórdão, re-jeitados, à unanimidade, pelos membros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (fls. 10/11), cuja ementa deu-se nos seguintes termos:

Criminal. EDCL no RESP. Alegações de omissão do acórdão impugnado. Inocorrência. Vícios não demonstrados. Embargos rejeitados.

I – Persistem as razões do acórdão embargado, o qual decidiu a questão sub judice levando em conta os fundamentos entendidos como suficientes ao embasa-mento da decisão, mantendo-se a decisão que não conheceu do recurso especial interposto pelo embargante, em razão da incidência da Súmula nº 284⁄STF, se o recorrente deixa de delimitar a controvérsia, não apontando os dispositivos infra-constitucionais eventualmente ofendidos.

II – Razões do presente recurso que, em verdade, não se ocupam em eviden-ciar a ocorrência de vícios no acórdão embargado e, sim, visam a atacar os funda-mentos do julgado com o intuito de lograr a reforma do decisum.

III – Embargos rejeitados.(Fls. 10/11.)

Essa é a decisão contra a qual se insurge o Impetrante nesta ação.A impetração apóia-se, basicamente, no fundamento de que seria nulo o

julgamento dos embargos declaratórios, porque dele teriam participado dois Ministros legalmente impedidos.

Verifico que, de fato, o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho e a Ministra Laurita Vaz participaram da sessão de julgamento dos Embargos Declaratórios no Recurso Especial 819.168/PE, realizada no dia 12 de junho de 2007 (fl. 11).

Segundo alega o Impetrante, o impedimento do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho se deu em razão de ter ele participado do julgamento da ação penal, enquanto Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. É o que se confirma à fl. 156.

No que concerne ao impedimento da Ministra Laurita Vaz, verifico que, realmente, havia a indicação de seu impedimento na certidão de julgamento (fl. 20), não observada por aquela Turma.

Todavia, o caso é daqueles em que o pronunciamento da referida nulidade não terá nenhum efeito prático no mundo das coisas. Aplica-se na espécie o art. 563 do Código de Processo Penal, segundo o qual “nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa”.

O § 4º do art. 2º do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça dispõe que as Turmas serão compostas por cinco Ministros cada uma. Mais

Page 335: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1335

adiante, o art. 179 estabelece que as Turmas tenham funcionamento com a pre-sença de, pelo menos, três Ministros.

Ao contrário do que pensa o Impetrante, regimentalmente, não haveria a necessidade de convocação de Ministros de outra Turma para completar a com-posição da Quinta Turma, de modo que o julgamento ocorreria com a presença dos três Ministros remanescentes.

Isso significa não haver nenhuma utilidade na anulação de julgamento que teve como resultado votação unânime pela rejeição dos embargos. A dizer, ainda que se subtraíssem os votos dos Ministros impedidos, permaneceriam vá-lidos os votos dos demais, de modo que o resultado seria o mesmo.

Perfilhado esse entendimento, por exemplo, no seguinte julgado desta Corte:

Por manifesta falta de prejuízo, não se justifica a alegação de nulidade de-corrente do impedimento de magistrado que participou de quorum composto por quatorze outros Ministros do Superior Tribunal Militar, não havendo sido ele rela-tor nem revisor, sem influência no resultado do julgamento.(HC 80.281/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ de 29-9-00.)

Nesse julgamento, o Ministro Octavio Gallotti ressaltou que:

Não há, pois, no caso, prejuízo a justificar a pretendida alegação de nuli-dade, como é princípio corrente de direito judiciário (cfr. RE 48.305, RTJ 19/378), expressamente consagrado, aliás, no próprio Código de Processo Penal Militar:

“Art. 499. Nenhum ato será declarado nulo se da nulidade não resultar um prejuízo para a acusação ou para a defesa.”

“Art. 502. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.”Nem se pode presumir um prejuízo que, à toda evidência, não ocorreu.

No mesmo sentido, manifestou-se o Ministério Público Federal, pelo pare-cer do Subprocurador-Geral da República Dr. Mario José Gisi:

(...)Há que se observar uma questão que acaba por tornar inócuo o pleito for-

mulado no writ. É que os embargos de declaração aos quais faz menção o impe-trante foram julgados à unanimidade, além de terem pretendido tão somente a rediscussão do mérito do recurso especial, que não havia sido conhecido por não ter apontado os dispositivos da legislação federal que o acórdão do TRF da Quinta Região teria violado.

Reconhecer a nulidade decorrente do impedimento dos ministros implicaria em mero procedimento protelatório, uma vez que, tendo sido a decisão julgada à unanimidade, este não seria conhecido novamente, o que inviabilizaria qualquer modificação da condenação em favor do réu.

Desta feita, reconhecer a nulidade do acórdão atacado restaria inócuo. Por isso, entendemos que o caso mereça a aplicação do disposto no art. 563 do Código de Processo Penal, uma vez que só há sentido em declarar nulidade nas situações

Page 336: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051336

em que dela puder resultar prejuízo para uma das partes, nos termos do cânone “ne pas de nullité sans grief”.

Assim, tendo por base sobretudo o princípio da economia processual, acre-ditamos que não deva ser decretada a nulidade no caso em análise. Nesse sentido já decidiu a Corte Suprema, que inclusive possui entendimento sumulado que se coaduna com a tese aqui sustentada:

“Apelação penal – Devolutividade. A teor do artigo 599 do Código de Processo Penal, a sentença pode ser impugnada total ou parcialmente. Limitado o recurso do Ministério Público ao regime inicial de cumprimento da pena, ao órgão revisor não é dado majorá-la, pois, caso contrário, incidirá em vício de procedimento. Vício de procedimento – conseqüência – econo-mia e celeridade processuais. Enquanto o vício de julgamento e conducente a reforma do que decidido, o de procedimento gera a nulidade. Este enfoque é afastável toda vez que o aproveitamento do ato praticado mostre-se possível, porquanto o princípio da economia processual dita a maior eficácia na atuação da lei com um mínimo de atividade no campo do processo. Versando o habeas corpus sobre a exacerbação de pena, não pleiteada pelo Ministério Público, no que limitou o recurso ao regime de cumprimento, cabe a preservação daquela fixada anteriormente.”(Grifei.) (HC 69.376/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 25-9-92.)

Assim, não enxergo constrangimento ilegal apto a ensejar a concessão da ordem pleiteada, nos termos em que estabelecidos pela Constituição Federal.

Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus e casso a liminar antes deferida.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): O que me causa alguma per-plexidade é que o colegiado é um conjunto, um somatório de forças distintas. Podemos ter discussões com a participação dos impedidos?

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): O acórdão que eles estão im-pugnando é dos embargos de declaração, Ministro Marco Aurélio.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Por princípio, creio que, real-mente, muito embora se tenha escore – afastados esses votos que levariam à con-clusão do julgamento –, há, a meu ver, a composição que vicia o pronunciamento judicial ante o impedimento dos integrantes do órgão. Quer dizer, continuare-mos a constatar no processo uma decisão prolatada por um colegiado com certa composição que não poderia ser aquela realmente notada. Compreenderam qual é a preocupação?

O Supremo Tribunal Federal – recordo-me muito de palavras do Ministro Néri da Silveira – é uma Corte comprometida com princípios, e o que fazemos, como procedemos, deve ser observado pelos demais Tribunais.

O Sr. Ministro Menezes Direito (Relator): Estou invocando um precedente da própria Corte, do Ministro Octavio Gallotti. E estou aplicando o art. 563 do CPP, que diz o seguinte:

Page 337: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1337

Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar pre-juízo para a acusação ou para a defesa.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Assento que – pelo que nor-malmente ocorre, que é a participação no colegiado de todos os integrantes e a possibilidade, portanto, de sustentação de ponto de vista – o prejuízo é latente no que desprovido o recurso, os declaratórios.

Por isso, vou pedir vênia a V. Exa. para entender que o pronunciamento se mostrou viciado e conceder a ordem para vir à balha outro julgamento sem a participação desses integrantes do Superior Tribunal de Justiça, que realmente estão impedidos – como V. Exa., com fidelidade intelectual, apontou.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhor Presidente, peço vênia para acompanhar o eminente Relator. Primeiro, porque se trata de embargos de declaração.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Mas são os declaratórios, por vezes, um recurso da maior importância.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Mas, aí, nós poderíamos verificar se, de fato, e certamente o Relator deve ter verificado isso, estão presentes os requisitos autorizadores.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Mas não rejulgo, não estou aqui a me pronunciar quanto ao fundo, Excelência. Apenas para não surgir como pre-ciosidade de minha parte. Não estou a perquirir a procedência, improcedência dos declaratórios, a existência de omissão, contradição ou obscuridade. Parto de pressuposto que está calcado em elementos objetivos. Participaram do jul-gamento na Turma cinco integrantes e, desses cinco – a premissa é de que atu-aram efetivamente –, dois não podiam ter participado. O julgamento é válido? A resposta para mim é desenganadamente negativa. Agora, pouco importa que tenham julgado embargos declaratórios, que não houvesse o vício, isso é matéria de fundo, não estando ligada à forma.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Assinalo, então, em segundo lugar, data venia, que o escore de três é mais do que suficiente para rejeitar os embar-gos e também entendo que, se não estiver cabalmente demonstrado o prejuízo, não é de se reconhecer a nulidade.

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): Foram desprovidos os embar-gos, Excelência.

EXTRATO DA ATA

HC 92.235/PE — Relator: Ministro Menezes Direito. Paciente: Vital Cavalcanti Novaes. Impetrante: Rodrigo Cavalcanti Novaes. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: Por maioria de votos, a Turma indeferiu o pedido de habeas cor-pus; vencido o Ministro Marco Aurélio, Presidente. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia.

Page 338: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051338

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Ricardo Lewandowski e Menezes Direito. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner de Castro Mathias Neto.

Brasília, 6 de novembro de 2007 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 339: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1339

HABEAS CORPUS 92.304 — SP

Relatora: A Sra. Ministra Ellen GraciePaciente: Adriano Moysés Cristiano — Impetrantes: Luiz Carlos Bento e

outros — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Direito penal e processual penal. Habeas corpus. Crime de competência do Tribunal do Júri. Recusa reiterada e injustifi-cada de atendimento médico à pessoa gravemente enferma. Dolo eventual. Tribunal do Júri. Reapreciação de material probatório. Denegação.

1. O presente habeas corpus reproduz, substancialmente, as teses argüidas perante o Superior Tribunal de Justiça rela-cionadas à alegação de inépcia da denúncia e do aditamento e da ausência de justa causa para a deflagração da ação penal envol-vendo o Paciente.

2. Para configuração do dolo eventual não é necessário o consentimento explícito do agente, nem sua consciência reflexiva em relação às circunstâncias do evento. Faz-se imprescindível que o dolo eventual se extraia das circunstâncias do evento, e não da mente do autor, visto que não se exige uma declaração expressa do agente. Na realidade, o dolo eventual não pode-ria ser descartado ou julgado inadmissível na fase do iudicium accusationis.

3. A tese da inépcia da denúncia e do aditamento, à evidên-cia, não se sustenta, uma vez que foram preenchidos os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, inclusive em razão da observância dos atos previstos no art. 384, parágrafo único, do CPP, por força do aditamento à denúncia.

4. No primeiro momento (o do oferecimento da denúncia), ao Paciente foi imputada a conduta de ter agido negligentemente e de modo imperito, ao não empregar os meios necessários para ministrar tratamento na pequena vítima, sendo que no curso da instrução, sobrevieram novos elementos de prova que aponta-ram para a ocorrência de possível dolo eventual na conduta do Paciente. Assim, no segundo momento (o do aditamento à denún-cia), descreveu-se a conduta de o Paciente haver se recusado, por duas vezes, em dias consecutivos, a atender à vítima que já apre-sentava sérios problemas de saúde, limitando-se a dizer para a avó da vítima que a levasse de volta para casa, e somente retor-nasse quando o médico pediatra tivesse retornado de viagem.

5. Em tese, o único médico plantonista, procurado mais de uma vez durante o exercício de sua atividade profissional na

Page 340: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051340

unidade de saúde, cientificado da gravidade da doença apresen-tada pelo paciente que lhe é apresentado (com risco de vida), ao se recusar a atendê-lo, determinando o retorno para casa, sem ao menos ministrar qualquer atendimento ou tratamento, pode haver deixado de impedir a ocorrência da morte da vítima, sendo tal conduta omissiva penalmente relevante devido à sua condição de garante.

6. Somente é possível o trancamento da ação penal quando for evidente o constrangimento ilegal sofrido pelo Paciente, não havendo qualquer dúvida acerca da atipicidade material ou for-mal da conduta, ou a respeito da ausência de justa causa para deflagração da ação penal. Não é a hipótese, competindo ao juiz natural que é o Tribunal do Júri a avaliação da existência de elementos suficientes para o reconhecimento da prática delitiva pelo paciente na modalidade de homicídio sob a modalidade do dolo eventual.

7. Habeas corpus denegado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, denegar a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 5 de agosto de 2008 — Ellen Gracie, Presidente e Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Ellen Gracie: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça que denegou a ordem de habeas corpus anteriormente impetrado. O acórdão ficou assim ementado (fl. 118):

Penal e processual penal. Habeas corpus. Art. 121, caput, do CP. Dolo even-tual. Denúncia. Inépcia. Inocorrência. Trancamento da ação penal. Falta de justa causa. Inocorrência.

I – A denúncia, a princípio, não se afigura inepta quando, atendendo o dis-posto no art. 41 do CPP, descreve, em tese, fato típico, com as suas respectivas circunstâncias, a qualificação do acusado, a classificação do ilícito penal e o rol das testemunhas (Precedentes).

II – O trancamento da ação por falta de justa causa, na via estreita do writ, somente é possível se houver comprovação, de plano, da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito, o que não ocorre na espécie (Precedentes).

Page 341: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1341

III – Na hipótese, a verificação acerca da caracterização do dolo eventual na conduta do paciente exigiria o minucioso exame do material fático-probatório, o que é vedado na via eleita (Precedentes).

Ordem denegada.

Argumentam os Impetrantes que o Paciente foi denunciado como incurso nas sanções do art. 121, § 3º, do CP, porquanto, na condição de médico planto-nista do Pronto-Socorro Municipal de Miguelópolis/SP, por negligência, deixou de prestar atendimento médico necessário à vítima Jéferson Souza dos Santos, de apenas 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de idade, que faleceu de broncopneu-monia e derrame pleural.

Narram que, após regular processamento do feito, o Ministério Público aditou à denúncia para dar nova classificação à conduta do Paciente, alterando a imputação de homicídio culposo para homicídio doloso, eis que ele teria su-postamente agido com dolo eventual. O aditamento foi recebido, tendo sido ob-servado o disposto no art. 384, parágrafo único, do CPP, sendo que o Paciente foi pronunciado nos termos do aditamento à denúncia. A sentença de pronúncia foi anulada em razão da falta de apreciação da alegação de inépcia da denúncia.

Aduzem que sobreveio nova sentença de pronúncia do Paciente, sendo mantida pelo Tribunal de Justiça. Esclarecem que houve impetração de habeas corpus no STJ que, no entanto, denegou a ordem. Alegam: a) inépcia da denún-cia por falta de correta narração dos fatos delituosos e de suas circunstâncias (incluindo o nexo de causalidade e o dolo eventual); b) inépcia da denúncia por falta de justa causa, eis que ausentes os indícios de autoria; c) não houve correta valoração dos fatos narrados à luz do dolo eventual, na sentença de pronúncia e no acórdão que a manteve.

No caso, não houve a descrição de todos os elementos contidos no tipo pe-nal, especialmente no que se refere ao nexo causal no crime comissivo por omis-são. O Ministério Público narrou tão-somente a conduta omissiva, e o resultado morte, não mencionando qualquer dever de agir do Paciente.

Da mesma forma, argumentam que não houve descrição pormenorizada do dolo eventual, tendo o órgão do MP se limitado a reproduzir as expressões contidas na lei. Não houve afirmação de que o Paciente tinha conhecimento de que o não-atendimento da vítima poderia ensejar sua morte.

Finalmente, não há justa causa para a deflagração da ação penal pelo crime de homicídio doloso, porquanto não há qualquer indício de autoria em relação à pessoa do Paciente. Informam que houve equívoco da avó da vítima em apon-tar a pessoa do Paciente como o médico que teria se recusado a atender o neto. Alegam que o Paciente sequer se encontrava no Município de Miguelópolis.

O Tribunal do Júri é absolutamente incompetente para julgar o Paciente, não tendo o aditamento à denúncia apontado qualquer circunstância hábil a ca-racterizar a indiferença do Paciente ao resultado morte da vítima.

Page 342: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051342

Requerem a concessão da ordem para o fim de se decretar a nulidade do processo desde o início por inépcia da denúncia e do aditamento, determinando o trancamento da ação penal por ausência de justa causa, reconhecendo a in-competência do Tribunal do Júri.

2. Decisão que indeferiu o pedido de liminar (fls. 130/135).3. Informações prestadas pela juíza de direito da Comarca de Miguelópolis

(fls. 140/142).4. Manifestação da Procuradoria-Geral da República no sentido da dene-

gação do habeas corpus (fls. 258/264).É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. O presente habeas corpus reproduz, substancialmente, as teses argüidas perante o Superior Tribunal de Justiça relacionadas à alegação de inépcia da denúncia e do aditamento e da ausência de justa causa para a deflagração da ação penal envolvendo o Paciente.

De modo a viabilizar o julgamento do writ, considero pertinente a trans-crição de trecho contido na denúncia e no aditamento apresentado em momento posterior (fls. 145/147 e 167/168):

Consta do incluso inquérito policial que no dia 27 de junho de 1.996, por volta das 15:00 horas, no Pronto-Socorro Municipal de Miguelópolis, localizado na Av. Fernando Jorge Moreira, n. 210, nesta cidade, Adriano Moyses Cristino, qualificado a fls. 19 e Jarbas Afonso Borges, qualificado a fls. 30, por negligência e imperícia, deram causa à morte de Jéferson Souza dos Santos, consoante demons-tram o laudo de fls. 05 e a certidão de óbito de fls. 12.

Segundo se apurou, a vítima, que contava cerca de 1 ano e 4 meses de vida, apresentava problemas nas vias aéreas superiores e, por isso, foi atendida, no dia dos fatos e no período da manhã, pelo denunciado Jarbas, médico nesta ci-dade, que receitou o medicamento “Sulfametazol-Trimetropina”, mandando, em seguida, o paciente, que fora levado por sua avó, de volta para casa, alertando, antes, que à tarde iria viajar e que, portanto, não poderia dar nenhum atendimento posterior.

Ocorre que, por volta das 15:00 horas, daquele mesmo dia, a vítima come-çou a apresentar caroços pelo corpo, fato que fez a avó, novamente, levá-lo ao Pronto-Socorro, sendo, desta feita, atendida pelo médico Adriano. Este informou a avó que tal alteração, provavelmente, fora causada pelo medicamento ministrado por Jarbas e, assim, deveria a criança ser por ele atendida, cerca de 04 dias depois, quando o mesmo voltasse de viagem.

No dia seguinte, em uma 6ª feira, a avó, ante a piora do estado do neto, tornou ao Pronto-Socorro sendo, novamente, orientada que aguardasse a volta de Jarbas. No sábado e no domingo, o menor apresentou certa melhora, piorando, en-tretanto, na 2ª feira, sendo que a avó, após providenciar uma consulta com Jarbas e ao retornar para casa, percebeu que o mesmo falecera.

Page 343: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1343

A culpa do acusado Jarbas é manifesta, porquanto, tivesse determinado a imediata internação da vítima, esta, seguramente, teria sobrevivido. Assim, os legistas subscritores do laudo de fls. 37, confirmam que “a conduta terapêutica se-ria a instituição de Antibioticoterapia, observação rigorosa dos sinais vitais e de-pendendo do grau de Insuficiência respiratória e do volume do Derrame Pleural a drenagem cirúrgica do Derrame Pleural” (sic). Tal conduta, certamente, teria evi-tado a morte, pois, segundo os mesmos peritos, “com a moderna terapêutica hoje disponível, a instituição de uma terapêutica correta e uma vigilância clínica rigo-rosa, a probabilidade de sucesso em um processo infeccioso, no caso Pneumonia é grande”. Ao invés disso, de forma negligente e imperita, preferiu o denunciado ministrar um simples medicamento, dispensando, em seguida, o paciente.

O denunciado Adriano, por seu turno, também foi negligente, posto que, ao atender a criança, ao invés de examiná-la e determinar a imediata internação – que seria o procedimento adequado – preferiu, singelamente, mandá-la de volta para casa, a fim de que aguardasse a volta de Jarbas, este sim, segundo seu entendi-mento, responsável pelo paciente.

Realmente, os fatos objeto desses autos merecem nova definição jurídica, em razão das provas existentes nos autos que indicam ter o réu Adriano agido com dolo eventual, ou seja, com sua conduta ele assumiu, conscientemente, o risco de produzir o resultado. Ou seja, ao se recusar a atender a vítima durante o seu plan-tão no Pronto-Socorro, o agente assumiu o risco de que com isso a criança viesse a falecer.

Em razão disso, com fundamento no artigo 569 do Código de Processo Penal, venho, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, aditar à denúncia, para constar contra o denunciado Adriano a acusação de que:

Adriano Moysés Cristino matou Jéferson Souza dos Santos, conforme atesta o laudo de exame necroscópico de fls. 05, uma vez que no dia 27 de junho de 1996, por volta das 15:00 horas e, no dia 28 de junho de 1996, em horário não precisado, no Pronto-Socorro desta Cidade e Comarca, se recusou a atender a ví-tima que se encontrava com sérios problemas de saúde, limitando-se a dizer para a avó da criança que ela deveria aguardar o retorno do pediatra da cidade que estava viajando.

O dolo do acusado Adriano é evidente, e se apresenta na modalidade de dolo eventual, pois ao se recusar a atender uma criança em grave estado de saúde, que necessitava de socorro imediato, por estar com bronco-pneumonia com derrame pleural, assumiu o risco de com isso causar a sua morte.

2. O voto do Relator do recurso especial, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, também merece parcial transcrição (fls. 123/125):

Da leitura dos trechos transcritos, constata-se que a peça acusatória preen-che os requisitos do art. 41 do CPP e, por conseqüência, não gera qualquer prejuízo ao exercício do direito de defesa do paciente. Esta descreve o fato criminoso, com as suas respectivas circunstâncias, o modus operandi, a qualificação dos acusa-dos, a classificação do ilícito penal e o rol de testemunhas, não se vislumbrando, dentro dos estreitos limites do mandamus, qualquer prejuízo à defesa. Em tal con-texto, pois, não há que se falar em inépcia da peça acusatória.

(...)De outro laudo, o trancamento da ação penal por falta de justa causa, na

via estreita do writ, somente é possível se houver comprovação, de plano, da

Page 344: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051344

atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito, o que não ocorre na espécie.

Uma vez pronunciado o paciente, caberá ao Tribunal do Júri deliberar pela procedência ou não do pedido de condenação formulado pelo Ministério Público.

Por fim, há que se registrar que na hipótese, a verificação acerca da carac-terização do dolo eventual na conduta do paciente exigiria o minucioso exame do material fático-probatório, o que é vedado na via eleita.

3. Na sentença de pronúncia, a alegação de inépcia da denúncia e do aditamento foi enfrentada, tendo o juiz de direito consignado o seguinte (fls. 209/215):

Improcedem as alegações do réu Adriano quanto à inépcia da inicial e de seu aditamento.

As peças atacadas preenchem os requisitos legais e, principalmente, per-mitiram ao réu a ampla defesa, o perfeito entendimento da acusação que lhe é imposta.

De fato, o i. membro do Ministério Público imputou ao réu, inicialmente, a conduta culposa consistente na omissão do réu ao recusar atendimento a uma criança, doente, que lhe foi apresentada quando estava realizando “Plantão” no Pronto-Socorro Municipal; diz a denúncia: “O denunciado Adriano, por seu turno, também foi negligente (...)”, pois deixou de examinar a criança e simplesmente a mandou de volta para casa para que aguardasse a volta do médico que a teria aten-dido inicialmente, “segundo seu entendimento, responsável pelo paciente”.

Como se percebe, a inicial é precisa e clara, narra fato típico e permite ao réu a ampla defesa. Aliás, tanto é assim, que o réu, durante o feito, bateu-se pela absolvição afirmando que não negou atendimento à criança morta.

Do mesmo modo, o aditamento de fls. 145/146 também não é inepto, uma vez que preencheu os requisitos legais, descreveu a conduta imputada ao réu, bem como, deixou clara a imputação quanto ao elemento subjetivo, isto é, que o réu Adriano, ao negar atendimento à criança doente que lhe teria sido apresentada duas vezes, em dois dias seguidos, quando atendia como único médico de “plan-tão”, muito doente, agiu com dolo eventual: “O dolo do acusado Adriano é evi-dente, e se apresenta na modalidade de dolo eventual, pois ao se recusar a atender uma criança em grave estado de saúde, que necessitava de socorro imediato (...), assumiu o risco de com isso causar a sua morte”.

Assim, o aditamento preencheu os requisitos legais. Anoto, ainda, que as alegações do réu quanto à inépcia se confundem com o mérito da causa, ou seja, se há elementos ou não de convicção para a condenação do réu, se há prova ou não do nexo causal entre sua conduta omissiva e a morte da criança e, como “mérito” aquelas alegações deverão ser analisadas, oportunamente.

Na decisão de pronúncia o juiz togado não pode apreciar o mérito, devendo verificar apenas se restou provada a materialidade do delito e se estão presentes os indícios de Autoria.

A materialidade veio comprovada pela prova oral colhida e pelos laudos de folhas 05, 37/38 e certidão de óbito de fls. 12.

Quanto à autoria, na decisão de pronúncia, encontrando no processo qual-quer indício que torne ao menos possível ter sido o acusado autor dos fatos, deve o juiz remeter o julgamento aos Juízes Naturais, quais sejam, os Senhores Jurados.

Page 345: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1345

Há indícios que apontam para o réu como o autor dos fatos, bem como, para o dolo eventual em sua conduta, razão suficiente para a pronúncia, competindo ao Conselho de Sentença decidir se houve conduta (omissiva) ou não pelo Sr. Médico.

Da mesma forma, o nexo causal também se mostra suficientemente indicado nos autos, devendo o Conselho de Sentença decidir se houve ou não nexo causal, especialmente se, em tese, considerando a existência de conduta omissiva pelo réu, esta teria concorrido para a morte da criança.

O réu, na fase policial, afirmou “não se recorda de ter sido procurado para atendê-lo no Pronto-Socorro, pois apenas tentou socorrê-lo no dia em que fale-ceu”, fls. 19.

Em juízo, às fls. 14, apresentou versão negando que tivesse atendido a criança nos dias anteriores ao óbito, fls. 14.

A avó da criança morta, por sua vez, ouvida às fls. 09, durante a realização do reconhecimento e acareação, fls. 35 e 36, e ouvida às fls. 101 e 102, afirmou que, antes do óbito da criança e depois do primeiro atendimento realizado pelo médico Jarbas, teria levado a criança ao Pronto-Socorro, pois seu estado de saúde estava piorando, em dois dias seguidos, ocasiões em que o réu Adriano teria se recusado a atender a criança. Afirmou, ainda, que naquelas ocasiões teria sido recebida no Pronto-Socorro pela Srª. Viviane, a qual não teria realizado ficha de atendimento porque não teria médico pediatra no Pronto-Socorro e, ainda, que o réu Adriano recusou atendimento à criança, limitando-se a dizer que deveria aguardar a volta do médico Jarbas, pediatra que a teria atendido dias antes e voltaria dias após.

Ocorre que a criança veio a falecer em razão de problemas respiratórios, “broncopneumonia, Derrame Pleural”, que, segundo a inicial e aditamento, se-riam em decorrência do agravamento do quadro apresentado pela criança quando atendida pelo médico Jarbas.

(...)Às fls. 140, depoimento do médico legista Luiz Alves, com informes téc-

nicos quanto à necessidade de internação da criança e a forma de evolução da doença que a levou à morte.

De fato, como já exposto, para a pronúncia basta a possibilidade plausível da autoria, do nexo causal e do elemento subjetivo, qual seja, o dolo eventual.

Assim, o Conselho de Sentença deverá apreciar se houve a omissão do réu e se a omissão deixou de impedir ou concorreu de algum modo para a morte da criança, tal como imputado na inicial e no aditamento.

O Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou a sentença de pronúncia, negando provimento ao recurso em sentido estrito do Paciente, destacando, a respeito, que “os adminículos probantes constituem dados indiciários suficien-tes no sentido de ser o recorrente o autor dos fatos descritos na incoativa e no respectivo aditamento, justificando perfeitamente a possibilidade de ser a auto-ria reconhecida pelo Conselho de Sentença” (fl. 247). E, acerca do dolo eventual, a Corte estadual registrou que há elementos indiciários de ter o paciente agido com animus necandi consistentes na circunstância de, na qualidade de médico plantonista, haver recusado atendimento e dispensado em duas oportunidades a criança enferma, “com isso assumindo, possivelmente, o risco do resultado morte”.

Page 346: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051346

4. No direito penal contemporâneo, o dolo representa a consciência e a vontade de realizar os elementos objetivos do tipo de injusto doloso, não exi-gindo a consciência da ilicitude. Trata-se de “uma parte subjetiva do tipo de in-justo que implica um desvalor da ação de natureza mais grave” (PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. 5. ed., 2005, p. 374, vol. 1).

O dolo compreende os seguintes elementos: a) elemento cognitivo (ou in-telectual), ou seja, a consciência atual da realização dos elementos objetivos do tipo; b) elemento volitivo, a saber, a vontade incondicionada de realização dos elementos objetivos do tipo.

Além do dolo direto – aquele em que o agente quer o resultado como fim de sua ação e o considera unido a esta última –, há a espécie de dolo conhecida como dolo eventual, ou seja, aquele em que o agente considera seriamente a pos-sibilidade da realização do tipo objetivo e se conforma com ela. O dolo eventual compreende a hipótese em que o sujeito não quer diretamente a realização do tipo penal, mas a aceita como possível ou provável (assume o risco da produção do resultado, na redação do art. 18, I, in fine, do CP).

Das várias teorias que buscam justificar o dolo eventual, sobressai a teoria do consentimento (ou da assunção), consoante a qual o dolo exige que o agente consinta em causar o resultado, além de considerá-lo como possível.

5. O tipo de injusto culposo, por sua vez, apresenta estrutura diversa do tipo de injusto doloso. Na culpa ocorre violação ao dever objetivo de cuidado, o que poderá ser censurado pela lei penal. Assim, devido à inobservância do cui-dado devido para o tipo de conduta realizada, produz-se um resultado material externo ou um perigo concreto para o bem jurídico, não desejados pelo agente.

A culpa apresenta estrutura complexa no direito penal, abrangendo a inob-servância do cuidado objetivamente devido e a previsibilidade do resultado.

Há duas espécies de culpa: a) culpa inconsciente, ou seja, aquela decor-rente da circunstância de o agente não haver previsto o resultado que lhe era possível prever; b) culpa consciente, a saber, aquela em que o autor prevê o resultado como possível, mas espera que ele não ocorra. Na culpa consciente, o agente efetivamente prevê o resultado possível, mas não aceita o risco de sua produção, eis que confia que o evento não sobrevenha.

6. A questão central diz respeito à distinção entre dolo eventual e culpa consciente que, como se sabe, apresentam aspecto comum: a previsão do resul-tado ilícito.

No dolo eventual, o agente presta anuência, concorda com o advento do resultado, preferindo arriscar-se a produzi-lo a renunciar à ação. Ao contrário, na culpa consciente, o agente afasta ou repele, embora inconsideradamente, a hipótese de superveniência do evento e empreende a ação na esperança de que esta não venha ocorrer (prevê o resultado como possível, mas não o aceita, nem o consente).(PRADO, Luiz Régis, op. cit., p. 383.)

Page 347: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1347

7. No caso concreto, a narração contida no aditamento à denúncia dá conta de que o Paciente, na condição de único médico de plantão no Pronto-Socorro Municipal, fora procurado em duas ocasiões distintas (dois dias seguidos) pela avó da criança gravemente enferma, ocasiões em que o Paciente se recusou a prestar atendimento e disse para que a criança somente retornasse ao Pronto-Socorro quando o médico pediatra tivesse voltado de viagem. O juiz de direito e a Corte local consideraram, à luz dos elementos de prova produzidos, que há elementos indiciários acerca da autoria, do nexo de causalidade e do dolo even-tual, sendo que a matéria somente será definitivamente resolvida pelo Conselho de Sentença.

Como se sabe, para configuração do dolo eventual, não é necessário o consentimento explícito do agente, nem sua consciência reflexiva em relação às circunstâncias do evento. Faz-se imprescindível que o dolo eventual se extraia das circunstâncias do evento, e não da mente do autor, uma vez que não se exige uma declaração expressa do agente.

Na realidade, o dolo eventual não poderia ser descartado ou julgado inad-missível na fase do iudicium accusationis.

8. A tese da inépcia da denúncia e do aditamento, à evidência, não se sus-tenta, pois foram preenchidos os requisitos do art. 41 do CPP, inclusive em razão da observância dos atos previstos no art. 384, parágrafo único, do CPP, por força do aditamento à denúncia.

No primeiro momento (o do oferecimento da denúncia), ao Paciente foi imputada a conduta de ter agido negligentemente e de modo imperito, ao não empregar os meios necessários para ministrar tratamento na pequena vítima, sendo que no curso da instrução, sobrevieram novos elementos de prova que apontaram para a ocorrência de possível dolo eventual na conduta do Paciente. Assim, no segundo momento (o do aditamento à denúncia), descreveu-se a con-duta de o Paciente haver se recusado, por duas vezes, em dias consecutivos, a atender à vítima, que já apresentava sérios problemas de saúde, limitando-se a dizer para a avó da vítima que a levasse de volta para casa, e somente retornasse quando o médico pediatra tivesse retornado de viagem.

Em tese, o único médico plantonista, procurado mais de uma vez durante o exercício de sua atividade profissional na unidade de saúde, cientificado da gravidade da doença apresentada pelo paciente que lhe fora apresentado (com risco de vida), ao se recusar a atendê-lo, determinando o retorno para casa, sem ao menos ministrar qualquer atendimento ou tratamento, pode haver deixado de impedir a ocorrência da morte da vítima, sendo tal conduta omissiva penal-mente relevante devido à sua condição de garante. E, como acima dito, não se revela possível o descarte da verificação do dolo eventual no comportamento omissivo adotado, daí o juízo positivo de admissibilidade na primeira fase do procedimento referente ao Tribunal do Júri.

9. Como afirmou o Subprocurador-Geral da República Dr. Wagner Gonçalves, “nesse contexto, impossível vislumbrar o apontado constrangimento

Page 348: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051348

ilegal, pois o Ministério Público teve o cuidado de narrar, com riqueza de deta-lhes, o grave evento delituoso imputado ao paciente, de modo a não haver preju-ízo algum para sua defesa” (fl. 264).

A pretensão de reavaliação do conjunto probatório produzido no curso da instrução criminal se revela inadmissível na via estreita do habeas corpus.

Somente é possível o trancamento da ação penal quando for evidente o constrangimento ilegal sofrido pelo Paciente, não havendo qualquer dúvida acerca da atipicidade material ou formal da conduta, ou a respeito da ausência de justa causa para deflagração da ação penal. Não é a hipótese, competindo ao juiz natural, que é o Tribunal do Júri, a avaliação da existência de elementos su-ficientes para o reconhecimento da prática delitiva pelo Paciente na modalidade de homicídio sob a modalidade do dolo eventual.

10. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.

EXTRATO DA ATA

HC 92.304/SP — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Paciente: Adriano Moysés Cristiano. Impetrantes: Luiz Carlos Bento e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por unanimidade, denegou a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Eros Grau. Presidiu este julgamento a Ministra Ellen Gracie.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.

Brasília, 5 de agosto de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 349: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1349

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS 92.332 — SP

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoAgravantes: Augusto Camargo Neto e Joni Matos Icheglu — Agravado:

Colégio Recursal do Juizado Especial Criminal da Comarca de Mogi das Cruzes

Competência originária. Criminal. Habeas corpus. Impe-tração contra decisão de colégio recursal de juizado especial cri-minal. Incompetência do STF. Feito da competência do Tribunal de Justiça local. Habeas corpus não conhecido. Agravo impro-vido. Precedente do Plenário. Para julgamento de pedido de habeas corpus contra decisão de turma ou colégio recursal de juizado especial, a competência é do Tribunal de Justiça local, não do Supremo Tribunal Federal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taqui-gráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao agravo regimental. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Celso de Mello.

Brasília, 6 de novembro de 2007 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Trata-se de agravo regimental interposto contra decisão do teor seguinte:

1. Trata-se de habeas corpus impetrado contra decisão proferida pelo Colégio Recursal do Juizado Especial Criminal da Comarca de Mogi das Cruzes/SP.

2. Incognoscível o pedido de writ.A competência para julgar habeas corpus depende da qualidade do paciente

ou da autoridade coatora (art. 102, I, i, da CR). De um lado, o Paciente não goza de prerrogativa de foro; de outro, incom-

petente é esta Corte para processar e julgar, originariamente, pedido de habeas corpus em que figure como autoridade coatora Turma Recursal de Juizados Especiais Criminais, cujos atos de hipotético constrangimento ilegal, comissivos ou omissivos, estão sujeitos ao primeiro controle do Tribunal de Justiça estadual, conforme decidido pelo Plenário desta Corte no julgamento do HC 86.834/SP. Consta da ementa:

Competência – Habeas corpus – Definição. A competência para o julgamento do habeas corpus é definida pelos envolvidos – Paciente e Impetrante.

Competência – Habeas corpus – Ato de turma recursal. Estando os integrantes das turmas recursais dos juizados especiais submetidos,

Page 350: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051350

nos crimes comuns e nos de responsabilidade, à jurisdição do Tribunal de Justiça ou do Tribunal Regional Federal, incumbe a cada qual, conforme o caso, julgar os habeas impetrados contra ato que tenham praticado.

Competência – Habeas corpus – Liminar. Uma vez ocorrida a decli-nação da competência, cumpre preservar o quadro decisório decorrente do deferimento de medida acauteladora, ficando a manutenção, ou não, a crité-rio do órgão competente.(HC 86.834, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 9-3-07.)3. Isto posto, não conheço deste habeas corpus, nos termos do art. 21, § 1º,

do RISTF, e determino a remessa dos autos ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.(Fls. 15-16.)

Insiste o Impetrante no processamento do pedido de writ aduzindo, para tanto, as seguintes alegações:

(...)Ora, se não cabe qualquer recurso contra as decisões proferidas pelos

Colégios Recursais, senão o recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal, nos parece claro que, contra elas, deve caber também o habeas corpus para o Pretório Excelso, consoante se extrai da interpretação do artigo 102 da Constituição Federal.

(...)A prevalecer entendimento diverso, no sentido de admitir-se a competência

dos Tribunais Estaduais para analisar os recursos interpostos contra os julgamen-tos emanados das Turmas Recursais do JECRIM, com recurso para o Superior Tribunal de Justiça e, ao final, para o Supremo Tribunal Federal, estará compro-metida a tão almejada celeridade processual das causas confiadas aos juizados especiais.

(...)Ressalte-se que, no presente caso, o Egrégio TJSP declinou de sua compe-

tência, para (sic) conhecer e julgar o writ originário impetrado pelos agravantes.Assim, inexiste qualquer óbice para que esta Suprema Corte conheça do

mandamus impetrado pelos agravantes. (...)(Fls. 30-32.)

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Improcedente o recurso.A decisão agravada invocou e resumiu os fundamentos do entendimento

invariável da Corte, cujo teor subsiste invulnerável aos argumentos do recurso, os quais nada acrescentaram à compreensão e ao desate da quaestio iuris.

É que esta Corte já decidiu, superando entendimento anterior, no julga-mento do HC 86.834, que a competência para julgar habeas corpus no qual figure, como autoridade coatora, Turma Recursal dos Juizados Especiais Criminais, é do Tribunal de Justiça local. Consta da ementa:

Page 351: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1351

Competência – Habeas corpus – Definição. A competência para o julga-mento do habeas corpus é definida pelos envolvidos – paciente e impetrante.

Competência – Habeas corpus – Ato de Turma Recursal. Estando os inte-grantes das Turmas Recursais dos Juizados Especiais submetidos, nos crimes co-muns e nos de responsabilidade, à jurisdição do Tribunal de Justiça ou do Tribunal Regional Federal, incumbe a cada qual, conforme o caso, julgar os habeas impe-trados contra ato que tenham praticado.

Competência – Habeas corpus – Liminar. Uma vez ocorrida a declinação da competência, cumpre preservar o quadro decisório decorrente do deferi-mento de medida acauteladora, ficando a manutenção, ou não, a critério do órgão competente.(HC 86.834, Plenário, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 9-3-07.)

O Agravante baseia suas razões em orientação já modificada, citando ju-risprudência já ultrapassada (v. fls. 32-34).

2. Isto posto, nego provimento ao agravo e mantenho a decisão de fls. 15-16 pelos seus próprios fundamentos.

EXTRATO DA ATA

HC 92.332-AgR/SP — Relator: Ministro Cezar Peluso. Agravantes: Augusto Camargo Neto e Joni Matos Icheglu (Advogados: José Raimundo Araújo Diniz e outros). Agravado: Colégio Recursal do Juizado Especial Criminal da Comarca de Mogi das Cruzes.

Decisão: Negado provimento ao agravo regimental. Decisão unânime. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Celso de Mello. Presidiu este julgamento o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 6 de novembro de 2007 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 352: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051352

HABEAS CORPUS 92.340 — SC

Relator: O Sr. Ministro Ricardo LewandowskiPaciente: Jonas Paulino Gonzaga — Impetrantes: Acácio Marcel Marçal

Sardá e outros — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. Penal. Processual penal. Extorsão. Pres-crição. Acórdão que traz nova condenação. Marco interruptivo. Ocorrência. Ordem denegada.

I – Acórdão que altera o título da condenação, com modifi-cação substancial da pena, constitui novo julgamento, revestin-do-se da condição de marco interruptivo da prescrição.

II – Inocorrência, entre os marcos legais, dos lapsos exigi-dos pelo Código Penal para o reconhecimento da extinção da puni- bilidade.

III – Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por decisão unânime, indeferir o pedido de habeas corpus.

Brasília, 18 de março de 2008 — Ricardo Lewandowski, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Trata-se de habeas corpus, com pe-dido de liminar, impetrado por Acácio Marcel Sardá e Hélio de Melo Mosimann em favor de Jonas Paulino Gonzaga, contra decisão do Superior Tribunal de Justiça.

Os Impetrantes narram, em síntese, que o Paciente foi denunciado como incurso nas penas do art. 158, § 1º, c/c o art. 71, ambos do Código Penal (extor-são, na forma continuada, cometido em concurso de agentes ou com emprego de arma).

Afirmam que, finda a instrução, o Paciente foi condenado à pena de dez dias-multa por infração ao art. 4º, a, da Lei 4.898/65 (abuso de autoridade, in casu, ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual sem as for-malidades legais ou com abuso de poder).

Prosseguem, assentando que “inconformados, acusação e defesa apela-ram, sendo provido apenas o apelo ministerial, para condenar o paciente à pena de seis anos de reclusão, em regime semi-aberto, ao pagamento de quinze dias-

Page 353: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1353

multa, e à perda da função pública, pela suposta prática do crime previsto no art. 158, § 1º, do Código Penal” (fl. 3).

Relatam, mais, que, contra o tal acórdão, foram manejados os recursos especial e extraordinário, mas que apenas o primeiro foi conhecido, e parcial-mente provido, para o fim de anular o aresto no tocante à causa especial de au-mento de pena.

Novo acórdão foi prolatado, de maneira a reduzir a pena para cinco anos e quatro meses de reclusão e treze dias-multa (fl. 57 do apenso).

Em seguida, outro recurso especial foi interposto, sem sucesso, porém; fato que levou à interposição de um agravo de instrumento a que se negou seguimento.

Foram, então, opostos embargos de declaração, os quais se viram rejeita-dos. Melhor sorte não coube ao recurso extraordinário, igualmente interposto, a despeito da interposição de agravo de instrumento, agravo regimental (fls. 230/235 do apenso) e dois embargos de declaração (fls. 329/331 do apenso).

A ilegalidade aventada pelos Impetrantes estaria no não-reconhecimento, quando da prolação do segundo acórdão pelo Tribunal de Justiça local, da pres-crição da pretensão punitiva, ensejada pelas sucessivas decisões do Superior Tribunal de Justiça.

Com esse fundamento, requerem a concessão de liminar para obstar a execução das penas e, no mérito, a declaração de extinção da punibilidade do Paciente.

Indeferi o pedido de liminar às fls. 30 a 31.A autoridade apontada como coatora prestou informações às fls. 37 a 44.O Ministério Público Federal, por meio de parecer da lavra do

Subprocurador-Geral da República Wagner Gonçalves, às fls. 46 a 50, opinou pela denegação da ordem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Os Impetrantes entendem que a pena imposta ao Paciente estaria coberta pelo manto da prescrição.

Como se viu, em primeira instância, o Paciente foi condenado à pena de dez dias-multa pela prática do delito de abuso de autoridade (art. 4º, a, com as penas cominadas no art. 6º, § 3º e § 4º, do diploma legal pertinente), conforme sentença proferida em 19-11-90. O recebimento da denúncia deu-se em 23-11-89.

Contra a sentença condenatória, interpôs-se recurso de apelação, cujo acórdão foi publicado em 4-5-00, ocasião em que o Tribunal de Justiça deu nova roupagem jurídica aos fatos, que assumiram os contornos típicos do de-lito de extorsão. Alterou-se, assim, a pena para seis anos de reclusão e quinze

Page 354: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051354

dias-multa, decretando-se, ainda, como efeito da condenação, a perda do cargo público que o Paciente ocupava.

Em 6-8-02, novo acórdão foi prolatado por força de decisão em recurso es-pecial, que afastou a causa especial de aumento de pena aplicada pelo Tribunal de Justiça. A pena foi, então, reajustada para cinco anos e quatro meses de re-clusão e treze dias-multa.

No que é juridicamente relevante, dois são os lapsos temporais a serem considerados: um, entre a data do recebimento da denúncia e a da sentença condenatória (23-11-89 a 19-11-90); e outro, entre esta última e o acórdão que reformou em definitivo a condenação (19-11-90 a 6-8-02).

Isso porque, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, o acórdão que altera substancialmente a decisão monocrática representa novo jul-gamento e assume, assim, caráter de marco interruptivo da prescrição.

Nesse sentido, trago à colação decisão da Primeira Turma no HC 82.956/SP, Rel. Min. Marco Aurélio:

Habeas corpus – Adequação – Atos comissivos e omissivos. O habeas corpus é meio hábil a afastar-se constrangimento ilegal relativo ao cerceamento da liberdade de ir e vir, quer se tenha a configuração de ato comissivo ou omis-sivo. Prescrição – Interrupção – Denúncia – Sentença e acórdão. Tem-se novo fenômeno da interrupção quando o crivo revisional haja inserido no contexto condenação diversa. Isso ocorre na hipótese em que a sentença é reformada para transmudar-se o crime de uso de tóxico em tráfico.

Com relação aos lapsos temporais em questão, constato que o primeiro aproxima-se de um ano, subtraídos apenas quatro dias, ao passo que o segundo alcança onze anos, oito meses e dezoito dias.

Ora, a pena máxima em abstrato para o delito de extorsão simples é de dez anos. Opera-se, portanto, a prescrição antes de transitar em julgado a sentença em 16 (dezesseis) anos, a teor do art. 109, II, do Código Penal. Tal lapso tempo-ral, como se vê, não se materializou.

Cumpre sublinhar, ademais, que a pena in concreto para o delito em tela foi de cinco anos e quatro meses de reclusão, cujo prazo prescricional, depois de transitar em julgado sentença final condenatória é de 12 (doze) anos, como prevê o art. 109, III, do Código Penal. Mais uma vez, não se observa a ocorrência do aludido lapso.

Assim, não se tendo operado a prescrição, inexiste ilegalidade a ser afas-tada, razão pela qual voto no sentido da denegação da ordem.

ADIAMENTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Senhor Presidente, os Impetrantes protocolaram ontem, dia 4-3, às 12h54, “pleito fundado em alega-ção de direito superveniente à impetração”. Eu acabo de receber este pedido,

Page 355: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1355

este requerimento, neste momento, poucos minutos antes. Está sobre a minha bancada, ainda sem apreciação e sem despacho. Evidentemente a tramitação interna levou a que ele só chegasse neste momento.

Então, para melhor apreciar, vou indicar adiamento.O Sr. Ministro Menezes Direito: Ministro Ricardo Lewandowski, tenho

a impressão de que esse novo memorial, esse aditamento contém exatamente a invocação com relação à alteração do art. 117 do Código Penal. Qual é o argu-mento do advogado que está no memorial? É que, no art. 117 anterior, não havia a inclusão de acórdão, era só a sentença; e, no art. 117 novo, houve a inclusão do acórdão. Então, a meu ver, essa é a única alegação que não seria nem de direito superveniente, porque seria exatamente a questão relativa à aplicação do art. 117 na sua origem, de acordo com a interpretação dos tribunais. Se porventura os tribunais, anteriormente a essa lei, faziam a interpretação includente, a solução dispensa a análise do direito superveniente, porque muitas vezes a legislação vem para agasalhar o que a jurisprudência já encaminhou.

E aqui há uma outra peculiaridade que o eminente advogado não falou da tribuna, e V. Exa., se eu estiver equivocado, corrija-me. É que não houve anu-lação integral do acórdão pelo Superior Tribunal de Justiça; ao contrário, o STJ anulou parcialmente o acórdão para mudar a classificação do tipo penal.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Sem dúvida.O Sr. Ministro Menezes Direito: Se isso é verdade, é preciso saber se não

há precedentes nossos que agasalhem exatamente essa hipótese. E tenho a sen-sação de que os há.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Relator): Mas, Ministro, como o Paciente está solto, conforme já informado, não há prejuízo e existem outros argumentos aqui que eu peço licença para examinar com mais verticalidade.

EXTRATO DA ATA

HC 92.340/SC — Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Paciente: Jonas Paulino Gonzaga. Impetrantes: Acácio Marcel Marçal Sardá e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: Após o relatório e a sustentação da tribuna, e tendo em conta o fato novo articulado, direito superveniente, o Ministro Ricardo Lewandowski, Relator, indicou adiamento. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia. Falou o Dr. Marlon Bertol pelo Paciente.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Ricardo Lewandowski e Menezes Direito. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia. Subprocuradora-Geral da República, Dra. Cláudia Sampaio Marques.

Brasília, 4 de março de 2008 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 356: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051356

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Presidente): O que embaralha um pouco o raciocínio é o fato de, a meu ver, evocar-se preceito que veio à balha para endu-recer, no campo da persecução criminal, em benefício da defesa. E vou até mais adiante que S. Exa. o Relator.

Quando tínhamos apenas como fator da interrupção a sentença – utili-zada essa expressão no inciso IV do art. 117 –, já entendíamos, àquela época, que o vocábulo era sinônimo de decisão, como também em várias passagens do Código de Processo Civil, em que não se distingue sentença de acórdão, acór-dão como pronunciamento de tribunal, muito embora agora também seja termo a revelar pronunciamento de Turma Recursal de Juizado Especial, quebrado o sistema do Código de Processo Civil.

A meu ver – e peço licença para ir adiante –, a Lei 11.596/07 não apenas consagrou a nossa jurisprudência, mas inseriu, no inciso IV, mais um fator de interrupção, pouco importando sentença condenatória anterior. Basta que o acórdão, confirmando essa sentença, também – e por isso mesmo –, mostre-se condenatório. Passa a existir outro fator de interrupção. Houve uma opção polí-tico-legislativa ante a delinqüência maior constatada na quadra vivida, ou seja, tem-se nova interrupção, uma vez confirmada a sentença condenatória.

É esse o sentido que dou ao aditamento verificado, ao inciso IV, pela Lei 11.596/07, sob pena de concluirmos que se choveu no molhado ao inserir-se a disjuntiva “ou” e a expressão “a acórdãos condenatórios”, porque a jurisprudên-cia já era pacífica no sentido de entender que, absolutória a sentença, mas con-denatório o acórdão, havia a interrupção.

Acompanho o Relator, indeferindo a ordem.

EXTRATO DA ATA

HC 92.340/SC — Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Paciente: Jonas Paulino Gonzaga. Impetrantes: Acácio Marcel Marçal Sardá e outro (Advogados: Marlon Charles Bertol e outros). Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus. Unânime.Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros

Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo de Tarso Braz Lucas.

Brasília, 18 de março de 2008 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 357: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1357

HABEAS CORPUS 92.495 — PE

Relatora: A Sra. Ministra Ellen GraciePaciente: Wilka Antônio Rufino — Impetrantes: João Vieira Neto e outros —

Coator: Superior Tribunal de Justiça

Direito processual penal. Liberdade provisória. Inadmis-sibilidade. Crime de tráfico de droga. Habeas corpus. Denegação.

1. Trata-se de habeas corpus impetrado contra julgamento colegiado da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que denegou habeas corpus anteriormente aforado perante aquela Corte, objetivando a soltura da Paciente.

2. O STF tem adotado orientação segundo a qual há proibi-ção legal para a concessão da liberdade provisória em favor dos sujeitos ativos do crime de tráfico ilícito de drogas (art. 44 da Lei 11.343/06), o que é fundamento para o indeferimento do re-querimento de liberdade provisória (norma especial em relação àquela contida no art. 310, parágrafo único, do CPP).

3. Nem a redação conferida ao art. 2º, II, da Lei 8.072/90, pela Lei 11.464/07, prepondera sobre o disposto no art. 44 da Lei 11.343/06, eis que esta se refere explicitamente à proibição da concessão de liberdade provisória em se tratando de crime de tráfico ilícito de substância entorpecente.

4. Há, ainda, indicação da existência de organização crimi-nosa integrada pela Paciente, a revelar a presença da necessidade da prisão preventiva como garantia da ordem pública.

5. Houve fundamentação idônea à manutenção da prisão processual da Paciente.

6. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, denegar a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 27 de maio de 2008 — Ellen Gracie, Presidente e Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Ellen Gracie: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado contra julgamento colegiado da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,

Page 358: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051358

que denegou habeas corpus anteriormente aforado perante aquela Corte, objeti-vando a soltura da Paciente.

Argumenta o Impetrante que a Paciente se encontra presa desde 29 de novembro de 2006, por suposta infringência dos arts. 33 e 35, ambos da Lei 11.343/06. Informa que a Paciente tem direito à liberdade provisória, eis que preenche os requisitos objetivos e subjetivos para tanto, tendo a autoridade impetrada apenas fundamentado o indeferimento com base no art. 44 da Lei 11.343/06.

Observa que não há necessidade da prisão por razão de ordem pública, eis que a Paciente não tem vida voltada para prática criminosa (princípio da ino-cência). Outrossim, não se encontram presentes os requisitos da conveniência da instrução criminal, da garantia da ordem econômica ou da necessidade da apli-cação da lei penal. Aduz que o pedido formulado é o de concessão da liberdade provisória mediante obrigação de comparecimento a todos os atos do processo (e não de liberdade provisória mediante fiança).

Assim, requer a concessão da ordem para determinar a soltura da Paciente.2. Houve indeferimento do pedido de liminar (fls. 26/34).3. A juíza de direito da 2ª Vara Criminal da Comarca do Paulista, Estado

de Pernambuco, prestou informações (fls. 101/107), apresentando cópias de pe-ças dos autos.

4. Parecer da Procuradoria-Geral da República no sentido da denegação da ordem (fls. 94/96).

5. Nova manifestação dos Impetrantes, alegando excesso de prazo na pri-são processual da Paciente (fls. 161/167).

Nova manifestação do Ministério Público Federal (fl. 170).É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. No julgamento do habeas corpus pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, ficou assentado o seguinte (fls. 17/19):

A questão no presente caso versa sobre a necessidade, ou não, de fundamen-tação, ex vi parágrafo único, do art. 310, do CPP (prisão em flagrante), na hipótese de negativa de liberdade provisória quando se tratar de autor de crime de tráfico ilícito de entorpecentes.

Revendo a posição até agora adotada nesta Corte nos últimos tempos, é de ser seguida a ensinança exposta em reiterados acórdãos da Augusta Corte que, em síntese, dizem que a proibição para concessão, exteriorizada em texto legal é, por si só, fundamento suficiente. Não é necessário que se motive concretamente a negativa. A regra geral insculpida no parágrafo único, do art. 310, do CPP, resta aí afastada pelo contido na norma específica do art. 40 da Lei nº 11.343/06.

Page 359: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1359

Aliás, a própria exigência introduzida no parágrafo único, do art. 310, do CPP (regra geral), é de difícil realização na prática, no dia a dia, sendo quase uma exigência legal inexeqüível. Despiciendo lembrar que a situação aventada no refe-rido parágrafo único dificilmente, ou quase nunca, possibilita que o juiz no início da persecutio criminis, tendo em mãos somente o auto de prisão em flagrante, possa negar liberdade provisória com dados concretos (uma vez que predomina o entendimento de que a gravidade em abstrato e, em algumas vezes, até mesmo a gravidade em concreto, permita, como tal, a segregação cautelar).

(...)Sob outro prisma, a Augusta Corte tem concluído pela negativa da liber-

dade provisória calcando a diretriz de tal entendimento, também, no art. 5º, inciso XLIII, da Carta Magna. É que proibida constitucionalmente a concessão de fiança para crimes hediondos e assemelhados (tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e terrorismo), inexiste razão para que se possa questionar a liberdade provisória cuja proibição está expressa no art. 40 da Lei nº 11.343/06. (...)

2. De acordo com as informações prestadas pelo Juiz de Direito, a narração dos fatos, tal como contida na denúncia, revela que a paciente Wilka mantinha “várias pedras de crack, dentro de sacos plásticos, já devidamente etiquetados, com descrição de peso” na sua residência, além de integrar associação voltada ao tráfico, integrada ainda por outros co-réus. É válida a transcrição de trecho das informações (fls. 104/105):

Os vários pedidos de liberdade provisória que foram igualmente anexados aos autos foram indeferidos fundamentadamente, como não poderia deixar de ser, na presença – pelos elementos colhidos até o momento das decisões, os quais se mantêm – das hipóteses para a segregação cautelar, porquanto comprovada a exis-tência do delito, através do laudo de constatação à época e, agora, pelo laudo defi-nitivo, e indícios de autoria, diante dos depoimentos colhidos na fase inquisitorial ( fumus commissi delicti), e agora em juízo, dando detalhes das circunstâncias da prisão dos denunciados, dentre eles a ora paciente. Entendi também presente o periculum libertatis, necessária a segregação cautelar para a garantia da ordem pública, pelo já exposto acima, uma vez que as investigações policiais apontavam para esquema de tráfico de drogas inclusive transpassando as fronteiras deste mu-nicípio, tudo isto demonstrando, assim, a periculosidade dos denunciados, dentre eles a paciente, pelo que até aqui consta, o que, a toda evidência, desestabiliza a ordem pública.

3. Esta Corte tem adotado orientação segundo a qual há proibição legal para a concessão da liberdade provisória em favor dos sujeitos ativos do crime de tráfico ilícito de drogas (art. 44 da Lei 11.343/06), o que, por si só, é funda-mento para o indeferimento do requerimento de liberdade provisória. Cuida-se de norma especial em relação àquela contida no art. 310, parágrafo único, do CPP, em consonância com o disposto no art. 5º, XLIII, da Constituição da República.

Nem a redação conferida ao art. 2º, II, da Lei 8.072/90, pela Lei 11.464/07, prepondera sobre o disposto no art. 44 da Lei 11.343/06, eis que esta se refere explicitamente à proibição da concessão de liberdade provisória em se tratando

Page 360: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051360

de crime de tráfico ilícito de substância entorpecente (HC 92.723/GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ de 11-10-07; HC 92.243/GO, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 20-8-07; HC 91.550/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 31-5-07, entre outros).

De acordo com o art. 5º, XLIII, da Constituição da República, são inafian-çáveis os crimes hediondos e equiparados, sendo que o art. 2º, inciso II, da Lei 8.072/90 apenas atendeu ao comando constitucional, ao declarar inafiançáveis os crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e aqueles definidos como crimes hediondos.

Em recente julgamento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, considerou-se que “a Lei 11.464/07 não poderia alcançar o delito de tráfico de drogas, cuja disciplina já constava de lei especial (Lei 11.343/06, art. 44, caput), aplicável ao caso vertente” (HC 93.229/SP, Rel. Min. Carmem Lúcia, DJ de 25-4-08).

4. No caso concreto, acrescenta-se a circunstância de haver indicação da existência de organização criminosa integrada pela Paciente, a revelar a pre-sença da necessidade da prisão preventiva como garantia da ordem pública.

Registro, assim, que houve fundamentação idônea à manutenção da prisão processual da Paciente, não tendo o magistrado se limitado a afirmar que a pri-são seria mantida apenas em razão do tipo de crime perpetrado pela Paciente. Não houve, portanto, violação aos arts. 93, IX, da Constituição da República.

5. Não há que se cogitar de violação ao princípio da não-culpabilidade em razão de decisão que mantém a prisão preventiva da Paciente.

6. Por fim, descabe conhecer da argumentação apresentada na petição dos Impetrantes acerca de eventual excesso de prazo, eis que tal questão não foi levada ao conhecimento do Superior Tribunal de Justiça, o que configuraria supressão de instância.

Ademais, há elementos nos autos que evidenciam a complexidade do processo, com pluralidade de réus (além da Paciente), defensores e testemu-nhas, além da notícia de vários incidentes processuais que foram levantados por alguns defensores, inclusive com apresentação de alegações preliminares a destempo com requerimento de diversas diligências (como ficou esclarecido nas informações da autoridade judicial).

7. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.

EXTRATO DA ATA

HC 92.495/PE — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Paciente: Wilka Antônio Rufino. Impetrantes: João Vieira Neto e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Page 361: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1361

Decisão: A Turma, por unanimidade, denegou a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Celso de Mello. Presidiu este julgamento, a Ministra Ellen Gracie.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves.

Brasília, 27 de maio de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 362: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051362

HABEAS CORPUS 92.680 — SP

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoPaciente: Douglas Kennedy Lisboa Jorge — Impetrantes: Leônidas

Ribeiro Scholz e outros — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Ação penal. Processo. Defesa. Alegações finais. Não-apre-sentação pelo patrono constituído. Intimação prévia regular. Nomeação de defensor dativo ou público para suprir a falta. Medida não providenciada pelo Juízo. Julgamento subseqüente da causa. Condenação do Réu. Inadmissibilidade. Cerceamento de defesa caracterizado. Violação do devido processo legal. Nulidade processual absoluta. Pronúncia. Habeas corpus conce-dido, em parte, para esse fim. Precedentes. Interpretação do art. 5º, LIV e LV, da CF, e dos arts. 261, 499, 500 e 564 do CPP. Padece de nulidade absoluta o processo penal em que, devidamente intimado, o advogado constituído do réu deixa de apresentar alegações finais, sem que o juízo, antes de proferir sentença con-denatória, lhe haja designado defensor dativo ou público para suprir a falta.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, deferir, em parte, o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Joaquim Barbosa.

Brasília, 11 de março de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de Douglas Kennedy Lisboa Jorge, contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça que, unanimemente, lhe dene-gou o HC 25.998.

O Paciente foi condenado, pela prática dos crimes descritos nos arts. 12, caput e § 1º e § 2º, inciso II; 13 e 14, da Lei 6.368/76, à pena de 15 (quinze) anos e 9 (nove) meses de reclusão, por cumprir em regime integralmente fechado, e ao pagamento de 261 (duzentos e sessenta e um) dias-multa.

Alegando ter sido prolatada sentença sem alegações finais da defesa, im-petrou-se pedido de habeas corpus para o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, para pronúncia de nulidade da sentença condenatória.

Page 363: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1363

O Tribunal denegou a ordem (fls. 89-91).A defesa impetrou novo writ, dessa vez no Superior Tribunal de Justiça,

com idêntico pedido.O Superior Tribunal de Justiça denegou a ordem, em acórdão aqui repu-

tado configurador de constrangimento ilegal. Consta da ementa:

Processo penal. Habeas corpus. Nulidade. Alegações finais. Não apresen-tação. Regular intimação do defensor constituído. Arts. 564, III, “e”, e 565, todos do CPP.

I – A não-apresentação das alegações finais, a teor dos arts. 564, III, “e”, e 565 do CPP, não se constitui em nulidade na hipótese em que o defensor constitu-ído, regularmente intimado, de forma deliberada, resolve não realizar o referido ato processual.

II – Se o réu, intimado para o fim de nomear novo defensor face a não-apre-sentação de alegações finais, mantém-se sob o patrocínio do causídico originário, não há cogitar, nos termos do art. 565 do CPP, em nulidade decorrente da não in-dicação de defensor dativo.

Writ denegado.(Fl. 92.)

Aduz o Impetrante que a ausência de alegações finais acarretaria nulidade absoluta ao processo, razão pela qual requer, fundado no princípio da economia processual, seja determinada, liminarmente, a suspensão do processamento da apelação.

No mérito, requer seja concedida a ordem,

para que, reconhecida a grave nulidade apontada e timbrada, com efeito, pelo signo da inconstitucionalidade, seja anulada a sentença condenatória sem alegações finais em prol do ora paciente e revogado, na medida em que declarada-mente dela “proveniente”, o mandado de prisão expedido, bem como, na seqüên-cia, aberta vista dos autos à defesa nos termos e para os fins do artigo 500 do CPP.(Fl. 24.)

Estando os autos devidamente instruídos, dispensei as informações.O Ministério Público Federal manifestou-se pelo indeferimento do pedido

(fls. 110-113).É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Posição outrora dominante nesta Corte não reconhecia nulidade processual, quando a defesa, regularmente in-timada, deixava de oferecer alegações finais (HC 77.184, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 11-11-98; HC 75.357, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ de 6-2-98; HC 74.398, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 6-10-00; HC 72.723, Rel. Min.

Page 364: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051364

Moreira Alves, DJ de 12-4-96; HC 47.712, Rel. Min. Adaucto Cardoso, DJ de 7-8-70).

Permito-me, no entanto, discordar de tal postura, frente ao art. 5º, inciso LV, da Constituição da República, verbis:

aos ligantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Uma decorrência linear da garantia constitucional da ampla defesa é o caráter necessário da defesa técnica. O art. 261 do Código de Processo Penal estatui, ao propósito, que “nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor”. Não se trata de mera exigência formal: a defesa deve ser exercida de fato, com observância de todos os ônus que, guar-dando pertinência com a estratégia escolhida, lhe dispõe a lei, razão pela qual o juiz pode, senão que deve, declarar indefeso o réu, caso a defesa técnica não corresponda “ao mínimo aguardado para uma efetiva ampla defesa”1.

Sobre o cunho imprescindível da defesa técnica, lembra Frederico Marques:

Pode o processo seguir os seus trâmites procedimentais sem a presença do réu: impossível será, no entanto, a sua movimentação sem que funcione e atue, em todos os atos e fases de seu desenvolvimento e transcurso, um defensor técnico do acusado.2

E vai além:

O defensor vela pelos interesses do representado, mesmo contra a vontade deste. O direito de defesa é indisponível, pelo que, se o réu não o exerce, descum-prindo ônus processuais que lhe são impostos em função da tutela de sua liber-dade, cabe ao defensor fazê-lo dentro dos limites na lei demarcados.3

Esta Corte declara, reiteradamente, que, dada a proeminência do valor jurídico da liberdade, o ordenamento não reconhece ao acusado o poder de re-nunciar ao direito constitucional de defesa, e declara-o ainda em decisões que consideram admissível a não-apresentação de alegações finais. Nesse sentido, afirma voto do eminente Ministro Moreira Alves, Relator do caso:

A defesa é direito indisponível, tanto assim que, para os atos que lhe são essenciais, se o defensor do réu – seja ele constituído ou dativo – não os praticar, impõe-se a designação de defensor ad hoc para essa prática.(HC 69.431, DJ de 3-9-93.)

1 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 3. ed. São Paulo: RT. p. 508.2 FREDERICO MARQUES, José. Elementos de direito processual penal, v. II. Campinas: Bookseller. p. 71.3 Idem, p. 74.

Page 365: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1365

2. Induvidosas a essencialidade e indisponibilidade da defesa técnica no processo penal, resta analisar o papel das alegações finais no contexto do pro-cesso condenatório.

Para Grinover, Gomes Filho e Fernandes, toda a instrução criminal atinge a finalidade com o oferecimento das alegações pelos participantes do contraditório4. Para os autores, é esse o momento em que todas as atividades desenvolvidas pela acusação e pela defesa durante o processo convergem para a decisão judicial. Diríamos que nesse ato é que se concentram e resumem, como remate de todas as suas atividades úteis em primeiro grau, as conclusões que re-presentam a posição substantiva de cada parte perante a acusação, considerada agora à luz das provas, enquanto último ato que lhes pesa a título de ônus e co-laboração na formação da sentença, como exigência da estrutura contraditória do justo processo da lei (due process of law).

Não é coisa diversa o que, com as inevitáveis conseqüências de sua inob-servância, notou o Ministro Leitão de Abreu, no julgamento do HC 56.373:

As razões finais, ao contrário daquelas que se produzem após o interro-gatório, constituem peça essencial à defesa. É nelas que as partes – o Ministério Público de um lado, no exercício da pretensão punitiva, do outro o advogado, no exercício da defesa – analisam e discutem as provas produzidas e oferecem os seus argumentos ao julgador. Dada a importância das razões finais, só podem elas ser subscritas por advogado, razão que tem levado esta Corte a pronunciar a nulidade de processos, quando as razões vêm subscritas por quem não seja advogado devi-damente habilitado.(HC 56.373, Rel. Min. Leitão de Abreu, RTJ 90/808.)

Ora, em sendo a defesa técnica essencial e indisponível e, no âmbito de atuação, fundamentais as alegações finais para seu concreto exercício – a ponto de esta Corte entender devam ser formuladas exclusivamente por advogado –, não consigo chegar a outra conclusão que não a da inviabilidade de julgamento, legal e justo, sem a devida e apta apresentação desta relevantíssima peça pro-cessual. Não se compadece com a garantia da plenitude da defesa que alegações finais sejam subscritas pelo próprio réu sem habilitação, ou que o não sejam por ninguém!

Guilherme de Souza Nucci sustenta que a falta de alegações finais é causa de nulidade, uma vez que, “em homenagem à ampla defesa, é preciso o pronunciamento da defesa técnica sobre a prova produzida, algo que o réu não pode fazer”5. Não diverge Antonio Scarance Fernandes:

Não se deve prescindir da defesa nos momentos culminantes do processo, como sucede nas alegações finais e nas razões de recurso ou quando se produza prova relevante.

4 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarance. Nulidades no processo penal. 9. ed. São Paulo: RT. p. 227.5 Ob. cit., p. 778.

Page 366: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051366

Assim, se de alguma forma o defensor de confiança do réu não realizar al-gum desses atos relevantíssimos, incumbe ao juiz nomear substituto, ainda que provisoriamente ou só para o ato, tendo inteira aplicação o art. 265, parágrafo único.6

3. No caso, o advogado constituído, deixou, aparentemente de forma pro-positada, por duas vezes, de apresentar as alegações finais. Tal circunstância não justifica que o Réu suporte as conseqüências danosas da inépcia do defensor.

Não se trata, com a devida vênia ao eminente Subprocurador-Geral da República, de “eliminar qualquer ônus a recair sobre a defesa, e consagrar a tese de que a defesa, por ser ampla, não pode suportar qualquer ônus, ainda que desidiosa, e livre e reiteradamente prestigiada pelo próprio réu” (fl. 113 – grifos no original).

É que a ordem jurídica não concede ao réu estratégia processual alterna-tiva que implique renúncia ao direito de defesa, que há de ser plena, sobretudo em relação aos poderes de eficácia mais decisiva que lhe compõem os ônus pro-cessuais, como sucede ao ato pontual de que se trata. Verificada a negligência – ou a má-fé – do advogado, cumpria ao Juiz da causa nomear defensor dativo para o ato, ou, até, declarar indefeso o Réu, nomeando-lhe defensor público para supri-la. Toda essa inércia e inação, no caso, acarreta a nulidade da sentença.

Quanto à objeção de falta de previsão expressa da hipótese no rol do art. 564 do Código de Processo Penal, de todo acompanho e subscrevo o raciocínio do eminente Ministro Sepúlveda Pertence, que, em voto vencido, afirmou:

Não me impressiona que a nulidade cogitada não encontre previsão explí-cita no rol do art. 564 do Código de Processo Penal (...) basta-me o art. 261 do Código de Processo Penal – a prescrever que nenhum acusado, ainda que ausente, ou foragido, será processado e julgado sem defensor –, corolário iniludível da ga-rantia constitucional de ampla defesa, que não pode ser reduzida a requisitos for-mais, que a esvaziam de todo o seu conteúdo. De qualquer sorte, entre o Código e a Constituição, impõe-se ficar com esta, conformando-lhe, tanto quanto possível, a inteligência da lei ordinária.(Voto vencido no HC 69.431, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 3-9-93.)

É, aliás, o que, em outros casos, já proclamava esta Corte:

Habeas corpus. 2. Crime de roubo qualificado. 3. Inversão da apresentação das alegações finais. 4. Alegação de cerceamento de defesa pela não-apresentação das razões de alegações finais, após a reabertura do prazo. 5. Aplicação do princí-pio da proteção judicial efetiva. 6. Violação do direito de defesa e do princípio da dignidade humana. 7. Ordem deferida.(HC 87.111, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 23-6-06.)

Habeas corpus. Nulidade. Cerceamento de defesa, porque o advogado constituído não apresentou alegações finais, apesar de intimado, nem o acusado fora notificado da omissão e não fora nomeado defensor dativo. Nulidade do

6 Processo penal constitucional. 2. ed. São Paulo: RT. p. 261.

Page 367: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1367

processo a partir das alegações finais. Ordem deferida. 1. As alegações finais do réu são peça essencial do processo-crime, e o juiz não deve sentenciar antes de suprir a omissão do defensor. 2. A omissão de apresentação das alegações finais, ainda que intimado o defensor constituído, configura ofensa ao direito de am-pla defesa e ao princípio do contraditório, evidenciando-se prejuízo para o Réu. Habeas corpus deferido.(HC 73.227, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de 25-10-96.)

Alegações finais não apresentadas. Advogado constituído. Peça essencial. Ampla defesa e contraditório: ofensa. As alegações finais do Réu são peça essen-cial do processo-crime. Sua falta compromete a ampla defesa e o contraditório, e desautoriza o magistrado de sentenciar antes de suprir a omissão do defensor, ainda que constituído. Precedentes do STF. Habeas corpus deferido para anular o processo desde a fase das alegações finais.(HC 72.629, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 22-9-95.)

Defesa – Ausência – Prejuízo. A ausência de defesa implica a nulidade do processo penal, exsurgindo do ato contrário aos interesses do acusado o prejuízo indispensável a que se conclua pela nulidade.(HC 72.317, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 9-6-95.)

Defesa – Processo penal – Negligência do representante. Inerte o defen-sor do acusado, deixando de praticar atos para os quais foi intimado, impõe-se a designação, pelo Juízo, de assistente judiciário, a fim de que se viabilize a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes – art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal. A inobservância do disposto no art. 261 do Código de Processo Penal – “Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor” – acarreta nulidade – art. 564, III, c, do Código referido.(HC 68.182, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 10-4-92.)

1. Penal. Instrução criminal. Advogado constituído que, abandonando a defesa, deixa de requerer diligência e de oferecer razões finais (Código de Processo Penal, arts. 499 e 500). 2. Sendo peça essencial a defesa (Constituição da República, art. 153, § 15), não pode o juiz sentenciar no feito sem antes providen-ciar que se supra a omissão do advogado constituído. Precedentes. 3. Concedido o habeas corpus para anular o processo a partir da fase do art. 499 do Código de Processo Penal.(HC 60.899, Rel. Min. Alfredo Buzaid, DJ de 1º-7-83.)

Em suma, estou em que, à luz da Constituição da República (art. 5º, LIV e LV), não é lícito condicionar a estima da efetividade que, como garantia insu-primível, predica ao exercício do direito de defesa, aos efeitos práticos da falta de apresentação de defesa técnica.7

4. Com relação ao pedido de revogação do decreto de prisão, não assiste razão ao Impetrante.

Vê-se dos autos que o acusado está foragido do estabelecimento prisional onde se encontrava por força de prisão preventiva. Não há aqui, no entanto, sub-sídios suficientes para a análise de eventual desacerto da decretação da medida

7 HC 89.111, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 23-6-06.

Page 368: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051368

no juízo de primeiro grau, nem tampouco para saber se foi, ou não, contestada pela defesa nas instâncias superiores. Dessa forma, inviável o pedido.

5. Isso posto, defiro parcialmente a ordem, para declarar nula a sentença condenatória e todos os atos processuais posteriores, reabrindo-se o prazo para apresentação de alegações finais da defesa, após intimação regular, com nomea-ção de defensor dativo, se necessária para o ato, em caso de nova omissão ou ato inepto.

EXTRATO DA ATA

HC 92.680/SP — Relator: Ministro Cezar Peluso. Paciente: Douglas Kennedy Lisboa Jorge. Impetrantes: Leônidas Ribeiro Scholz e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, deferiu, em parte, o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Joaquim Barbosa.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso e Eros Grau. Ausente, justificadamente, o Ministro Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.

Brasília, 11 de março de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 369: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1369

HABEAS CORPUS 92.848 — PR

Relatora: A Sra. Ministra Ellen GraciePacientes: Feliciano Gimenez Cáceres e Cicero dos Passos — Impetrante:

João Alves da Cruz — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Direito processual penal. Prisão preventiva. Pressupostos e condições. Art. 312 do CPP. Razoável duração do processo. Denegação.

1. Quantidade e complexidade de fatos graves com quase vinte e cinco réus.

2. Indicação de possível existência de organização crimi-nosa integrada pelos Pacientes, a revelar a presença da necessi-dade da prisão preventiva como garantia da ordem pública.

3. Denúncia embasada nas investigações realizadas pelo Departamento de Polícia Civil acerca da prática de vários crimes perpetrados por quadrilhas armadas, nas rodovias do Paraná, relacionados a roubos de cargas e caminhões oriundos das re-giões norte e centro-oeste, cujo destino era o Paraguai. Houve seqüestro de motoristas de tais veículos.

4. Fundamentação idônea à manutenção da prisão proces-sual dos Pacientes.

5. Garantia da ordem pública representada pelo imperativo de se impedir a reiteração das práticas criminosas e na necessi-dade de se assegurar a credibilidade das instituições públicas quanto à visibilidade e à transparência de políticas públicas de persecução criminal.

6. A Necessidade de garantir a aplicação da lei penal e a conveniência da instrução criminal também são pressupostos presentes no decreto de prisão preventiva dos Pacientes, eis que várias condutas narradas na denúncia foram perpetradas de modo reiterado – inclusive seqüestrando motoristas de vários caminhões interceptados pela organização criminosa –, além do que o destino das cargas era o Paraguai, país para onde os Pacientes poderiam seguramente se evadir para não se submete-rem a eventual condenação à pena corporal.

7. Inaplicabilidade do art. 580 do CPP, eis que para que ocorra a extensão de decisão de revogação do decreto de prisão preventiva, faz-se necessária a presença dos mesmos aspectos de ordem objetiva e de ordem subjetiva referentes à pessoa benefi-ciada com a revogação da prisão cautelar.

Page 370: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051370

8. Razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII) e sua harmonização com outros princípios e valores constitucio-nalmente adotados no direito brasileiro.

9. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, indeferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 10 de junho de 2008 — Ellen Gracie, Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Ellen Gracie: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado con-tra acórdão da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, assim ementado (fl. 44):

Habeas corpus. Quadrilha, roubo e seqüestro. Prisão preventiva. Alegação de excesso de prazo. Demora justificada. Falta de fundamentação. Inocorrência. Proteção da ordem pública. Conveniência da instrução criminal e garantia de aplicação da Lei Penal. Representação policial e promoção ministerial. Recurso desprovido.

1. Tratando-se de caso evidentemente complexo e envolvendo o processo uma pluralidade de réus e a necessidade de expedição de precatória para diversas localidades, torna-se razoável a demora no término da instrução, não se aceitando a existência de constrangimento por excesso com a mera soma aritmética dos pra-zos processuais.

2. Justifica-se a prisão preventiva para proteção da ordem pública, conveni-ência da instrução criminal e garantia de aplicação da lei penal quando, tratando-se de imputação de quadrilha armada voltada ao roubo de caminhões e cargas, houver concretos indícios de organização poderosa e bem estruturada, de sorte a causar sérios prejuízos à sociedade e às pessoas.

3. Sendo a sede da quadrilha o Paraguai, o resguardo da instrução, bem as-sim a preocupação em torno da aplicação da lei penal, mostram-se de boa ponde-ração, a ponto de justificar o enclausuramento dos supostos envolvidos, sobretudo quando se trata dos seus possíveis chefes e mentores.

4. Para o fim de permitir a extensão dos efeitos de outra decisão, há ne-cessidade de que a situação dos requerentes se mostre assemelhada à das co-rés postas em liberdade, sendo, no caso, tal enquadramento inviável porque as bene-ficiadas apenas são tidas por partícipes acessórios, sem atuação na sede dos fatos, enquanto que aos pretendentes é imputada a chefia e o comando das operações.

5. Ordem denegada.

Argumenta o Impetrante que os Pacientes se encontram presos desde 30-7-06, por decretos de prisão temporária (inicialmente) e prisão preventiva,

Page 371: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1371

proferidos nos autos da ação penal a que respondem pelos crimes de roubo qua-lificado, quadrilha e seqüestro.

Narra que houve indeferimento de pedido de revogação da prisão pre-ventiva, razão pela qual foi impetrado habeas corpus perante a Corte estadual, secundado por novo writ, desta feita no âmbito do Superior Tribunal de Justiça.

Alega excesso de prazo na prisão, causando constrangimento ilegal aos Pacientes, sendo que ainda não houve produção da prova oral requerida na de-núncia. Observa que há violação ao princípio da razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII). Aduz, ainda, que o Juiz de Direito revogou a prisão pre-ventiva de co-réus, o que deve ser estendido aos Pacientes (CPP, art. 580).

Requer a concessão da ordem para cassação do decreto de prisão, seja por excesso de prazo no encerramento da instrução, seja por não subsistirem os re-quisitos do art. 312 do CPP.

2. Houve indeferimento do pedido de liminar (fls. 168/181).3. Informações prestadas pelo Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comar-

ca de Paranavaí/PR (fls. 199/201).4. Parecer da Procuradoria-Geral da República no sentido da denegação

da ordem (fls. 192/196).5. Nova manifestação do Impetrante (fls. 208/209).É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. No julgamento do habeas corpus pela Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, ficou assentado o se-guinte (fls. 44/45):

O primeiro ponto em destaque da discussão diz respeito à alegação de excesso de prazo. Segundo defende o impetrante, os Pacientes já se encontram presos por mais de cento e noventa e três dias sem que tivessem sido ao menos interrogados pelo Juízo local, isto é, estão submetidos à custódia além do tempo permitido para o término da instrução criminal.

Sem razão o impetrante.Muito embora o direito à razoável duração do processo tenha sido elevado

à natureza de preceito constitucional e faça parte do patrimônio libertário do acu-sado, a questão deve ser posta em meio à visão do contexto da ação penal.

No caso vertente, os Pacientes são acusados de praticarem vários delitos, juntamente com outros 21 (vinte e um) envolvidos, sendo que grande parte cumpre prisão preventiva em localidades diversas.

Com isso, observa-se que o trâmite processual tem exigido do juízo com-petente enorme esforço de impulso oficial, de realização de atos de comunicação com outras comarcas, de envio de precatórias, de cumprimento das fases do pro-cedimento, bem assim de resposta aos requerimentos dos vários réus, sobretudo quanto à revogação da prisão preventiva.

Page 372: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051372

Inobstante, reconheça-se que o caso em si, como bem ressaltou a decisão hostilizada, envolve uma aura de complexidade, já que trata da “prática dos delitos de formação de quadrilha, roubo de cargas, seqüestro e cárcere privado e posse irregular de arma de fogo, em concurso material, de pessoas e com causa especial de aumento de pena, posto que com base em interceptações telefônicas autori-zadas judicialmente, restou caracterizada a participação dos pacientes em uma organização criminosa com várias outras quadrilhas (pelo menos outras três), que atuavam neste e em outros Estados (Mato Grosso) e ainda no Paraguai, cometendo diversos crimes de roubo de caminhões e carretas, com manutenção de motoristas em cárcere privado, sob mira de armas, perfazendo um total de 57 (cinqüenta e sete) delitos” (fl. 1122/1123).

É por esse motivo que não se pode esquecer que a visão do cúmulo prazal não se submete apenas à análise de parâmetros aritméticos, mas depende das com-plexas circunstâncias do evento penal, justificadoras, muitas vezes, de eventual demora no julgamento do fato, como o que vislumbramos no presente caso.

Portanto, razoável se mostra, nestes casos, a dilação do término da instru-ção criminal, pela natureza da persecutio criminis in juditio, para a perquirição da verdade real e exercício tanto da ampla defesa quanto do contraditório. Ademais, informação obtida junto à Comarca de origem dá conta de que o interrogatório dos pacientes já ocorreu, as defesas prévias já foram ofertadas e o processo aguarda a intimação e oitiva de testemunhas via precatória.

(...)

2. De acordo com as informações prestadas pelo Juiz de Direito, a narra-ção dos fatos, tal como contida na denúncia, revela 57 (cinqüenta e sete) crimes e 23 (vinte e três) réus, tendo sido declinada a competência pelo Juiz de Direito da Comarca de Catanduvas em favor do Juiz de Direito da Comarca de Paranavaí (fl. 200).

3. No caso concreto, acrescenta-se a circunstância de haver indicação da existência de organização criminosa integrada pelos Pacientes, a revelar a pre-sença da necessidade da prisão preventiva como garantia da ordem pública.

A denúncia foi oferecida a partir de investigações realizadas pelo Depar-tamento de Polícia Civil do Estado do Paraná acerca da prática de vários crimes perpetrados por quadrilhas armadas, nas rodovias daquele Estado-membro, relacionados a roubos de cargas e caminhões oriundos das regiões Norte e Centro-Oeste, cujo destino era o Paraguai. Verificou-se a ocorrência de seqües-tro de motoristas de tais veículos. A relatora do HC 76.339/PR, Ministra Maria Thereza de Assis Moura bem sintetizou as atividades de investigação e os resul-tados obtidos (fls. 47/48):

À medida que as notícias sobre os crimes chegavam a conhecimento das au-toridades policiais, os dados eram coletados separadamente, de modo a identificar os supostos envolvidos nas organizações ou quadrilhas, conduzidas cada uma por chefes próprios.

Dessa maneira, o trabalho de campo da polícia judiciária, auxiliado por interceptações telefônicas e detido registro fotográfico, indicou a existência de suposto esquema delituoso, que foi mapeado em quatro grupos (vide representa-ção das prisões temporárias e das buscas e apreensões constantes às fls. 126/144):

Page 373: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1373

a) Quadrilha do “Mano” (Claudiomir José da Silveira): com aproxi-madamente 16 (dezesseis) integrantes;

b) Quadrilha do “Preto” (Leandro Rodrigues): composta por aproxi-madamente 15 (quinze) integrantes;

c) Quadrilha do “Batmam” (Cícero dos Santos): tendo cerca de 8 (oito) integrantes;

d) Quadrilha do “Cido” (Aparecido Fernandes da Costa): com (2) dois integrantes;

e) Quadrilha do “Veinho” (Ademar Alembrandt): composta por 4 (quatro) componentes.Quanto à atuação das organizações, apontadas como células de uma mesma

empresa, segundo expõe o mesmo núcleo de investigação, o chefe da quadrilha “a”, Claudiomir José da Silveira – vulgo “Mano” –, coordenava a receptação das cargas e dos caminhões roubados pelas demais quadrilhas, a partir de base mon-tada no Paraguai, sendo que os seus séqüitos, conhecidos por goleiros, dirigiam ou serviam de batedores dos automóveis roubados pelas outras quadrilhas, como visto, do Batmam, do Cido e do Veinho.

4. Registro, assim, que houve fundamentação idônea à manutenção da prisão processual dos Pacientes. Não houve, portanto, violação aos arts. 93, IX, da Constituição da República. As decisões proferidas pelo Juiz de Direito – que decretaram as prisões temporárias e, posteriormente, as prisões preventivas – observaram estritamente o disposto no art. 312 do CPP, eis que há elementos indicativos no sentido de que as atividades criminosas eram realizadas de modo reiterado, organizado e com alto poder ofensivo à ordem pública.

A garantia da ordem pública é representada pelo imperativo de se impedir a reiteração das práticas criminosas, como se verifica no caso sob julgamento, com cinqüenta e sete condutas delituosas envolvendo a organização criminosa. Da mesma forma, a garantia da ordem pública se revela na necessidade de se assegurar a credibilidade das instituições públicas quanto à visibilidade e trans-parência de políticas públicas de persecução criminal (HC 82.149/SC, de minha relatoria, Primeira Turma, DJ de 13-12-02; HC 84.680/PA, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira Turma, DJ de 15-4-05, entre outros).

Da mesma forma, a necessidade de garantir a aplicação da lei penal e a conveniência da instrução criminal se revelaram pressupostos presentes no decreto de prisão preventiva dos Pacientes, eis que várias condutas narradas na denúncia foram perpetradas de modo reiterado – inclusive seqüestrando moto-ristas de vários caminhões interceptados pela organização criminosa –, além do que o destino das cargas era o Paraguai, país para onde os Pacientes poderiam seguramente se evadir para não se submeterem a eventual condenação à pena corporal.

5. Por fim, descabe acolher a tese de malferimento do art. 580 do CPP, eis que para que ocorra a extensão de decisão de revogação do decreto de prisão preventiva, faz-se necessária a presença dos mesmos aspectos de ordem objetiva e de ordem subjetiva referentes à pessoa beneficiada com a revogação da prisão cautelar.

Page 374: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051374

Restou claro que as pessoas beneficiadas com a revogação da prisão preventiva não tinham status de maior hierarquia na organização criminosa – diversamente do que ocorre com os Pacientes. A situação dos Pacientes é de envolvimento direto, com chefia hierárquica, na organização criminosa, en-quanto que os beneficiados tinham participação meramente acessória. Assim, observou-se estritamente o disposto no art. 580 do CPP.

6. Há elementos nos autos que evidenciam a complexidade do processo, com pluralidade de réus (além dos Pacientes), defensores e testemunhas, sendo que o parâmetro da razoabilidade autoriza e legitima a manutenção da prisão dos Pacientes.

A razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII), logicamente, deve ser harmonizada com outros princípios e valores constitucionalmente adotados no direito brasileiro, não podendo ser considerada de maneira isolada e descon-textualizada do caso relacionado à lide penal que se instaurou a partir da prática dos ilícitos.

Como já decidiu esta Corte, o excesso de prazo não se configura quando se verificar a complexidade do feito e a duração razoável da prisão preventiva até o momento (HC 90.889/PE, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJ de 30-11-07).

7. Ante o exposto, denego a ordem de habeas corpus.

VOTO

O Sr. Ministro Celso de Mello (Presidente): Entendo, na linha de diver-sas decisões proferidas nesta Suprema Corte, que não cabe invocar, como fundamento da decretação de prisão cautelar, a necessidade de preservação da credibilidade das instituições (RTJ 180/262-264, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 72.368/DF, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE).

Desse modo, e embora acompanhe a eminente Relatora, excluo, no en-tanto, de meu voto, a fundamentação ora referida, eis que os outros fatos bas-tam para justificar o ato ora impugnado.

É o meu voto.

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): Coloco-me também de acordo com a ressalva feita pelo Ministro Celso de Mello.

EXTRATO DA ATA

HC 92.848/PR — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Pacientes: Feliciano Gimenez Cáceres e Cicero dos Passos. Impetrante: João Alves da Cruz. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Page 375: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1375

Decisão: A Turma, por votação unânime, indeferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão a Ministra Ellen Gracie e os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 10 de junho de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 376: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051376

RECURSO EM HABEAS CORPUS 92.872 — MG

Relatora: A Sra. Ministra Cármen LúciaRecorrente: Walmir Souza Amaral ou Walmir de Souza Amaral ou

Walmir Souza do Amaral — Recorrido: Ministério Público Federal

Recurso ordinário em habeas corpus. Processual penal. Pena: execução provisória. Progressão de regime antes do trân-sito em julgado da condenação: possibilidade. Precedentes. Resolução 19, de 29 de agosto de 2006, do Conselho Nacional de Justiça. Recurso conhecido e provido.

1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal não exige o trânsito em julgado da condenação para que seja possível a pro-gressão de regime. Precedentes.

2. O art. 1º da Resolução 19 do Conselho Nacional de Justiça estabelece que a guia de recolhimento provisório seja expedida após a prolação da sentença ou do acórdão condenatório, ainda sujeito a recurso sem efeito suspensivo, devendo ser prontamente remetida ao Juízo da Execução Criminal.

3. Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a Presidência do Ministro Carlos Britto, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade, em conhecer do recurso ordinário em habeas corpus e lhe dar provimento, nos termos do voto da Relatora. Ausente, justificadamente, o Ministro Marco Aurélio, Presidente.

Brasília, 27 de novembro de 2007 — Cármen Lúcia, Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: 1. Recurso ordinário em habeas corpus interposto por Walmir Souza Amaral, representado pelo advogado Ivo Marcio Gonçalves Campos, contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que, em 19 de abril de 2007, não conheceu do HC 72.555, Relator Ministro Gilson Dipp.

2. Tem-se, nos autos, que o Paciente, ora Recorrente, foi condenado à pena de quatorze anos, dez meses e dez dias de reclusão, pelo crime de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal), a serem cumpridos no regime integralmente fechado, e à pena de um ano e quatro meses de detenção

Page 377: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1377

em regime aberto – além do pagamento de trinta dias-multa –, pela prática do delito previsto no art. 10 da Lei 9.437/97 (fl. 33).

3. Contra essa condenação foi interposto recurso de apelação, no qual o Recorrente alegou “a nulidade do seu julgamento, tendo em vista que o delito de porte ilegal de armas deveria ter sido absorvido pelo homicídio, além de que tal delito não deveria ter sido julgado pelo Tribunal do Júri, por não ser conexo com o crime doloso contra a vida”. Alegou, ainda, que “a quesitação relativa a tal delito foi falha”. No mérito, pleiteou “o decote da qualificadora de surpresa reconhecida pelo Corpo de Jurados, com a conseqüente redução de sua repri-menda” (fl. 33).

Em 11 de abril de 2006, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais deu parcial provimento à apelação, para alterar o regime de cumprimento da pena imposta ao Paciente para o inicialmente fechado, nos termos seguintes:

Homicídio qualificado – Porte ilegal de arma de fogo (...) – Regime integralmente fechado. (...) É imprópria a imposição de regime integralmente fechado, ante o sistema progressivo dos regimes de cumprimento de pena, constantes do Código Penal e da Lei de Execução Penal, recepcionados pela Constituição da República.(Fl. 32.)

Opostos embargos de declaração pelo Ministério Público, foram eles rejei-tados por decisão de 4 de julho de 2007 (fls. 45-50).

Sobreveio, então, interposição, também pelo Ministério Público, de recur-sos especial e extraordinário, que não foram admitidos (fls. 52-57).

4. Contra a decisão que não admitiu os recursos, foram interpostos agra-vos de instrumento (www.tj.mg.gov.br).

5. No sítio do Superior Tribunal, consta o trânsito em julgado, em 26 de outubro de 2007, da decisão que não conheceu do agravo interposto contra a decisão que não admitiu o recurso especial.

Segundo informa o sítio do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, o agravo de instrumento da decisão que não admitiu o recurso extraordinário ainda não foi encaminhado a este Supremo Tribunal, pois ficou sobrestado até a decisão do agravo de instrumento encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça.

6. Em 12 de dezembro de 2006, o Recorrente impetrou habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça – com pedido de liminar –, alegando que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais teria alterado o regime inicial de cumprimento da pena para o inicialmente fechado mediante acórdão que “fora prolatado em abril de 2006, e até a presente data nada (...) [teria sido] providenciado em favor da execução provisória do paciente, que já (...) [teria preenchido] todos os requisitos para a progressão” (fls. 75-79).

O pedido de mérito foi para que “fosse feita a progressão de regime pri-sional pelo próprio Superior Tribunal de Justiça, ou [que fosse] expedida

Page 378: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051378

a competente Carta de Ordem, mandando ser expedida a guia de recolhi-mento provisório, sendo formados os autos de execução provisória, nos ter-mos da Resolução [n. 19, de 29 de agosto de 2006], do Conselho Nacional de Justiça (...), por terem os recursos interpostos efeito meramente devolutivo, nos termos da Lei n. 8.038/90, não podendo obstar a execução provisória do acórdão prolatado nos autos de n. 1.0056.03.058959-4/001” (fl. 6 – grifos no original).

O habeas corpus foi autuado no Superior Tribunal de Justiça sob o nú-mero 72.555 e distribuído ao eminente Ministro Gilson Dipp, que, no dia 13 de dezembro de 2006, deferiu a liminar “para determinar a instauração dos pro-cedimentos necessários ao início da execução provisória da pena imposta ao paciente” (fl. 21).

No dia 19 de abril de 2007, contudo, ao julgar o mérito da impetração, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça não conheceu do habeas corpus, cassando-se a liminar anteriormente deferida, verbis:

Criminal. HC. Execução. Pleito de concessão de progressão de regime pri-sional. Cumprimento do lapso temporal. Matéria não analisada pelo Tribunal a quo. Incompetência desta corte. Supressão de instância. Ordem não conhecida. Liminar cassada.

I. Hipótese na qual se requer a concessão de progressão de regime prisional ao paciente, sob o fundamento de já ter cumprido o lapso temporal exigido para a concessão da benesse.

II. Evidenciada a inexistência de qualquer decisão prolatada pelo Juízo das Execuções Criminais, tampouco pelo Tribunal a quo a respeito do mérito da ques-tão ora levantada, sobressai a incompetência desta Corte para o exame da matéria, sob pena de indevida supressão de instância.

III. Ordem não conhecida, cassando a liminar anteriormente deferida.(Fl. 90.)

7. Daí o presente recurso ordinário, no qual se reitera a questão subsidiária suscitada na impetração no Superior Tribunal de Justiça.

Requer a concessão de liminar para suspender “a decisão que cassou a li-minar, anteriormente concedida nos autos do HC 72.555 (...), julgado pelo STJ” ou, “não sendo este o entendimento (...) requer, liminarmente, que se digne a determinar a execução provisória do Recorrente”, e, no mérito, “o provimento do presente Recurso” (fl. 109).

8. Em contra-razões, o Ministério Público Federal opina pelo não-provi-mento do recurso (fls. 118-119).

9. Em 7 de novembro de 2007, deferi a liminar, para que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais determinasse, com urgência, a expedição da Guia de Recolhimento Provisório, ressaltando que essa Guia deveria ser remetida ime-diatamente ao Juízo da Execução Criminal competente, a fim de que este de-cida, como entender de direito, se o Recorrente preenche os requisitos objetivos e subjetivos para a progressão de regime (fls. 128-136).

Page 379: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1379

10. Em 23 de novembro de 2007, os autos vieram-me conclusos com o parecer da Procuradoria-Geral da República, que opinou pelo provimento do recurso, confirmando-se a liminar deferida, verbis:

Habeas corpus. Execução provisória. Pendência de recursos sem efeito suspensivo. Progressão de regime. Resolução n. 19, de 29/08/06, do Conselho Nacional de Justiça. Provimento.

1. A Resolução n. 19 do Conselho Nacional de Justiça estabelece que a guia de recolhimento provisório deve ser expedida logo após a sentença ou acórdão condenatórios, ainda sujeitos a recurso sem efeito suspensivo, para ser pronta-mente remetida ao juízo da execução penal.

2. O recorrente foi condenado em primeira instância, sendo a decisão man-tida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que proveu recurso de apelação somente para permitir a progressão de regime. O feito ainda não transitou em julgado, mas as instâncias ordinárias já foram esgotadas, devendo ser iniciada a execução provisória para que, se for o caso, seja deferido o benefício de progres-são de regime.

3. Parecer pelo provimento do recurso, para que seja confirmada a liminar deferida às fls. 128/136.(Fls. 143-147 – grifos no original.)

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia (Relatora): 1. O Superior Tribunal de Justiça limitou-se a analisar o pedido principal da impetração ajuizada pelo ora Recorrente, conforme se extrai do voto-condutor do julgado, da lavra do emi-nente Ministro Gilson Dipp, verbis:

(...)Na presente impetração, pretende-se a progressão de regime prisional.Aduz-se, para tanto, que o paciente cumpriu o requisito temporal necessário

à concessão da benesse.A irresignação não merece prosperar.Não se encontra evidenciada a existência de qualquer decisão prolatada pelo

Juízo das Execuções Criminais, tampouco pelo Tribunal a quo a respeito do mé-rito da questão ora levantada.

Desse modo, deixo de proceder à análise da irresignação, sob pena de inde-vida supressão de instância.

(...)(Fl. 88.)

Ocorre que o Recorrente não se limitou a requerer ao Superior Tribunal de Justiça a progressão de regime.

Ele formulou um pedido subsidiário – único que aqui se reitera e que che-gou a ser deferido na liminar apreciada pelo eminente Ministro Gilson Dipp (fl. 21) – de que fossem tomadas as medidas administrativas necessárias para a

Page 380: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051380

execução provisória da pena, na forma estabelecida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

2. O Impetrante chegou a alegar, ainda, que essa questão subsidiária teria sido submetida à Vice-Presidência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em preliminar das contra-razões aos recursos especial e extraordinário interpostos pelo Ministério Público (fl. 4).

No presente habeas corpus, ademais, asseverou que, ainda que assim não fosse, ao afastar o óbice à progressão e fixar o regime inicial fechado, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais deveria ter expedido, de ofício, a “respectiva Carta de Ordem para formação dos autos suplementares de execução penal”, pois o Recorrente estaria preso, em regime fechado, “desde 11 de agosto de 2003”, o que possibilitaria, em tese, a progressão de regime.

Invoca, nesse sentido, a Resolução 19, de 29 de agosto de 2006, do Conselho Nacional de Justiça, também mencionada na impetração ao Superior Tribunal de Justiça (fls. 105-106).

3. Nesse contexto, o Superior Tribunal de Justiça deveria, ao menos, ter analisado o pedido subsidiário da impetração a ele dirigida.

Ao assim não proceder, nada impede, antes recomenda, que este Supremo Tribunal agora o faça.

É que, conforme ressaltou o eminente Ministro Sepúlveda Pertence no julgamento plenário do HC 85.237, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 29-4-05, “omitir-se sobre um fundamento posto é, em si mesmo, uma coação, e o tribu-nal superior, considerando evidenciado o constrangimento ilegal, pode fazê-lo cessar de imediato e não, devolver o tema ao tribunal omisso”.

Conheço, pois, da impetração.4. No mérito, estou convencida de que a ordem deve ser deferida.É firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de não se exi-

gir o trânsito em julgado da condenação para que seja possível a progressão de regime.

Nesse sentido, entre outros, o HC 90.893, de minha relatoria, DJ de 17-8-07; o HC 76.524, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 29-8-03; o HC 71.907, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 7-3-97; e o HC 87.801, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 26-5-06; este assim sintetizado:

Ementa: I – Prisão processual: direito à progressão do regime de cumpri-mento de pena privativa de liberdade ou a livramento condicional (LEP, art. 112, caput e § 2º).

A jurisprudência do STF já não reclama o trânsito em julgado da conde-nação nem para a concessão do indulto, nem para a progressão de regime de execução, nem para o livramento condicional (HC 76.524, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 29-8-83).

No caso, o Paciente – submetido à prisão processual, que perdura por mais de 2/3 da pena fixada na condenação, dada a demora do julgamento de recursos

Page 381: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1381

de apelação – tem direito a progressão de regime de execução ou a concessão de livramento condicional, exigindo-se, contudo, o preenchimento de requisitos sub-jetivos para o deferimento dos benefícios.

II – Habeas corpus: deferimento, em parte, para que o Juízo das Execuções ou o Juízo de origem analise, como entender de direito, as condições para eventual progressão de regime ou concessão de livramento condicional.

5. De outro lado, ao afastar o óbice à progressão, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais deveria ter tomado, de ofício, todas as providências necessárias para que a execução fosse processada, permitindo ao Recorrente a formulação dos benefícios eventualmente cabíveis.

Admitida a execução provisória – cuja validade não se questiona no pre-sente habeas corpus –, não se pode impedir, por questões administrativas, que o Recorrente obtenha eventuais benefícios que, se se cuidasse de execução de-finitiva, ele teria direito.

Assinale-se, ademais, que a Lei de Execução Penal aplica-se “igualmente ao preso provisório (...), quando recolhido em estabelecimento sujeito à juris-dição ordinária”, sendo este o caso dos autos (Lei 7.210/84, art. 2º, parágrafo único).

6. Nesse sentido a decisão monocrática do eminente Ministro Sepúlveda Pertence na Rcl 4.456-MC, DJ de 16-8-06.

Na sessão de 2 de maio de 2006, ao julgar o HC 87.801, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 26-5-06, depois de firmar o entendimento no sentido de que a “ausência de trânsito em julgado da condenação não impede a progressão de regime de execução ou a concessão de livramento condicional”, esta Primeira Turma deferiu a ordem para determinar que fosse analisado, como se entendesse de direito, eventual preenchimento dos requisitos subjetivos para o deferimento de algum daqueles benefícios.

Posteriormente, foi ajuizada neste Supremo Tribunal a Rcl 4.456, alegando descumprimento dessa decisão.

Solicitadas as informações, informou a autoridade reclamada, Desembar-gadora do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que a sentença condenatória não havia transitado em julgado para a acusação, razão pela qual não poderia ser expedida a guia de recolhimento provisório.

Em 9 de agosto de 2006, ao analisar a liminar requerida nos autos da Rcl 4.456, entendera o eminente Ministro Sepúlveda Pertence que “a invocação da ausência de trânsito em julgado da condenação para a não-expedição da Guia de Recolhimento Provisório implica[va] o descumprimento da decisão proferida no HC 87.801”.

S. Exa. deferiu então a liminar, a fim de que a autoridade reclamada deter-minasse “a imediata expedição da guia de recolhimento provisório, independen-temente de eventual trânsito em julgado da condenação imposta ao Reclamante e, em seguida, [tomasse] as providências necessárias para que, com urgência,

Page 382: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051382

(...) [fosse] analisada, como se entender de direito, a presença dos requisitos sub-jetivos para a concessão de progressão de regime ou livramento condicional”.

7. Corrobora ainda a tese do Recorrente a Resolução 19, de 27 de novem-bro de 2006, do Conselho Nacional de Justiça, que parece ter equacionado a questão com precisão, verbis:

A Presidente do Conselho Nacional de Justiça, no uso de suas atribuições conferidas pela Constituição Federal, especialmente o que dispõe o inciso I do § 4º de seu artigo 103-B, e tendo em vista o decidido na sessão do dia 15 de agosto de 2006;

Considerando a necessidade de possibilitar ao preso provisório, a partir da condenação, o exercício do direito de petição sobre direitos pertinentes à execução penal, sem prejuízo do direito de recorrer;

Considerando que para a instauração do processo de execução penal provi-sória deve ser expedida guia de recolhimento provisório;

Considerando a necessidade de disciplinar o sistema de expedição de guia de recolhimento provisório;

Considerando o que dispõe o art. 2º da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984;Considerando, ainda, a proposta apresentada pela Comissão formada para

estudos sobre a criação de base de dados nacional sobre a população carcerária; Resolve:Art. 1º A guia de recolhimento provisório será expedida quando da pro-

lação da sentença ou acórdão condenatórios, ainda sujeitos a recurso sem efeito suspensivo, devendo ser prontamente remetida ao Juízo da Execução Criminal.

§ 1º Deverá ser anotada na guia de recolhimento expedida nestas condições a expressão “provisório”, em seqüência da expressão guia de recolhimento.

§ 2º A expedição da guia de recolhimento provisório será certificada nos autos do processo criminal.

§ 3º Estando o processo em grau de recurso, e não tendo sido expedida a guia de recolhimento provisório, às Secretarias desses órgãos caberá expedi-la e remetê-la ao juízo competente.

Art. 2º Sobrevindo decisão absolutória, o respectivo órgão prolator comu-nicará imediatamente o fato ao juízo competente para a execução, para anotação do cancelamento da guia de recolhimento.

Art. 3º Sobrevindo condenação transitada em julgado, o juízo de co-nhecimento encaminhará as peças complementares ao juízo competente para a execução, que se incumbirá das providências cabíveis, também informando as alterações verificadas à autoridade administrativa.

Art. 4º Cada Corregedoria de Justiça adaptará suas Normas de Serviço às disposições desta resolução, no prazo de 180 dias.

Art. 5º Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revoga-das as disposições em contrário.

Ministra Ellen Gracie – Presidente do Conselho Nacional de Justiça.(Grifos no original.)

8. Pelo exposto, encaminho a votação no sentido de deferir a ordem, para que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, se ainda não o fez, pro-videncie a expedição da Guia de Recolhimento Provisório e a remeta ime-diatamente ao Juízo da Execução Criminal competente, a fim de que este

Page 383: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1383

decida, como entender de direito, se o Recorrente preenche os requisitos objetivos e subjetivos para a progressão de regime.

Comunique-se, com urgência, ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, remetendo-se, com o ofício, a cópia do acórdão da apelação, dos embargos de declaração a eles opostos (Apelação Criminal 1.0056.03.058959-4/001 – fls. 32-43 e 45-50), da decisão de fls. 128-136 e do presente julgado.

É o meu voto.

VOTO

O Sr. Ministro Menezes Direito: Senhor Presidente, acompanho o voto da eminente Relatora, mas quero fazer um registro.

Considero muito estranha esta resolução do Conselho Nacional de Justiça. Qual a competência do Conselho Nacional de Justiça de baixar uma resolução que trata de matéria nitidamente processual? Não podemos sequer fazer, com todo o respeito, invocação dessa resolução. Isso é uma invasão de atribuição jurisdicional.

Eu comecei dizendo que estou de pleno acordo com o voto da Ministra Cármen Lúcia, sem dúvida. Agora, quero registrar, penso que todos nós deve-mos fazer isso, porque é uma invasão de competência em matéria tipicamente processual. É tão tipicamente processual que a Ministra Cármen Lúcia, com o brilho de sempre, está provendo o recurso diante da nossa farta jurisprudência nesse sentido, considerando que esse ato está vinculado à própria progressão do regime prisional.

Então, aonde vai essa resolução do Conselho Nacional de Justiça, diante de matéria que não é da alçada do próprio Conselho, que está confinado à matéria administrativa, e não à matéria jurisdicional?

Quero fazer esse registro porque me parece que, pelo menos na nossa Turma, devemos deixar isso muito claro.

Estou votando na mesma linha da Ministra Cármen Lúcia, mostrando, como S. Exa. demonstrou, que a nossa jurisprudência não admite a negativa de expedição da guia de recolhimento para o juiz da execução, considerando a exe-cução provisória, para o fim de que o juiz examine a possibilidade de estarem preenchidos os critérios para a progressão do regime prisional.

Por essa razão fiz apenas o registro. Não me impressiona a composição do Conselho Nacional de Justiça, porque, evidentemente, isso teria de ser comba-tido por via de mecanismo próprio.

Parece-me uma demasia do Conselho Nacional de Justiça fazer uma reso-lução sobre matéria que está completamente fora da alçada administrativa, da própria competência constitucional do Conselho, como, aliás, muitas e muitas vezes têm ocorrido. Esta Corte, em diversas ocasiões, tem dito que o Conselho

Page 384: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051384

deve se conter no limite de sua competência. O Pleno já decidiu, em outra cir-cunstância, na mesma direção.

ESCLARECIMENTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia (Relatora): Senhor Presidente, cito a Reso-lução 19, porque se expressa sobre essa matéria.

A resolução foi expedida pelo Conselho Nacional de Justiça, cuja Presidente é também a do Supremo Tribunal. Penso que, até que sobrevenha a declaração de inconstitucionalidade, a presunção de validade das normas tem de ser res-peitada, inclusive pelas Turmas, por causa da composição do próprio Conselho.

Razão pela qual a mantenho em meu voto como um dos fundamentos, tal como posto no recurso e no Superior Tribunal, e de novo invocado pelo Ministério Público.

A Turma não pode quebrar a validade e a eficácia de uma norma expedida pelo Conselho Nacional de Justiça a não ser pela sua declaração de inconstitu-cionalidade. Se eu tivesse que fazer isso, teria de levar ao Plenário, por se tratar de reserva desse órgão.

Por isso faço a referência, porque, quando veio a declaração, por exemplo, eu mesma fui Relatora, no Plenário, em uma ação direta de inconstitucionalidade.

Esclareço que registro o porquê de manter a Resolução 19 como um dos fundamentos.

EXTRATO DA ATA

RHC 92.872/MG — Relatora: Ministra Cármen Lúcia. Recorrente: Walmir Souza Amaral ou Walmir de Souza Amaral ou Walmir Souza do Amaral (Advogado: Ivo Marcio Gonçalves Campos). Recorrido: Ministério Público Federal.

Decisão: A Turma conheceu do recurso ordinário em habeas corpus e lhe deu provimento, nos termos do voto da Relatora. Unânime. Presidiu o julga-mento o Ministro Carlos Britto. Ausente, justificadamente, o Ministro Marco Aurélio, Presidente.

Presidência do Ministro Carlos Britto. Presentes à sessão os Ministros Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Ausente, justifi-cadamente, o Ministro Marco Aurélio, Presidente. Subprocurador-Geral da República, Dr. Rodrigo Janot.

Brasília, 27 de novembro de 2007 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 385: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1385

HABEAS CORPUS 92.926 — RS

Relatora: A Sra. Ministra Ellen GraciePaciente: Clóvis Cardoso Noronha — Impetrante: Defensoria Pública da

União — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. Dosimetria da pena. Furto qualificado. Integração da norma. Majorante do crime de roubo com con-curso de agentes. Inadmissibilidade. Circunstância atenuante. Pena aquém do mínimo legal. Impossibilidade. Jurisprudência consolidada.

1. As questões controvertidas neste writ – acerca da alegada inconstitucionalidade da majorante do § 4º do art. 155 do CP (quando cotejada com a causa de aumento de pena do § 2º do art. 157 do CP) e da possibilidade, ou não, da fixação da pena abaixo do mínimo legal devido à presença de circunstância atenuante – já foram objeto de vários pronunciamentos desta Corte.

2. No que tange à primeira questão, não existe lacuna a respeito do quantum de aumento da pena no crime de furto qua-lificado (art. 155, § 4º, do CP), o que inviabiliza o emprego da analogia.

3. Os tipos penais referentes aos crimes de furto e roubo recebem tratamento diferenciado, iniciando-se pelos limites mí-nimo e máximo relativos às penas-base. Por opção legal (critério de política legislativa), considerou-se necessário estabelecer dife-rentes fatores de aumento das penas.

4. A jurisprudência desta Corte é tranqüila no que tange à aplicação da forma qualificada do furto em que há concurso de agentes mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988 (HC 73.236-SP, Rel. Min. Sidney Sanches, Primeira Turma, DJ de 17-5-96).

5. Quanto à segunda questão, na exegese do art. 65 do CP, “descabe falar dos efeitos da atenuante se a sanção penal foi fi-xada no mínimo legal previsto para o tipo (HC 75.726, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 6-12-98).

6. De acordo com a interpretação sistemática e teleológica decorrente do Código Penal e das leis especiais, somente na ter-ceira fase da dosimetria da pena é possível alcançar pena final aquém do mínimo cominado para o tipo simples ou além do má-ximo previsto.

7. Há diferença quanto ao tratamento normativo entre as circunstâncias atenuantes/agravantes e as causas de diminui-ção/aumento da pena no que se refere à possibilidade de estabele-

Page 386: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051386

cimento da pena abaixo do mínimo legal – ou mesmo acima do máximo legal.

8. O fato de o art. 65 do CP utilizar o advérbio sempre, em matéria de aplicação das circunstâncias ali previstas, para redu-ção da pena-base em patamar inferior ao mínimo legal, deve ser interpretado para as hipóteses em que a pena-base tenha sido fixada em quantum superior ao mínimo cominado no tipo penal.

9. É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da impossibilidade de redução da pena aquém do mí-nimo legal quando houver a presença de alguma circunstância atenuante.

10. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, denegar a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora.

Brasília, 27 de maio de 2008 — Ellen Gracie, Relatora e Presidente.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Ellen Gracie: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que deu pro-vimento ao recurso especial “para restabelecer, em sua integralidade, a sentença condenatória”. O fundamento central do julgamento consistiu na impossibili-dade de aplicação da majorante do roubo qualificado com concurso de agentes para o crime de furto qualificado e a proibição da fixação da pena abaixo do mínimo legal em razão da incidência de circunstâncias atenuantes (Súmula 231 do STJ).

Informa o Impetrante que o Paciente foi denunciado nas sanções do art. 155, § 4º, IV, do CP, sendo condenado pelo Juiz de Direito. Em acórdão de 14-3-07, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu provimento à apelação para re-dimensionar a pena corporal, aplicando o § 2º do art. 157 do CP (por ser mais benéfico do que o § 4º do art. 155 do CP) e admitiu a fixação da pena abaixo do mínimo legal devido à presença de circunstâncias atenuantes, substituindo a pena corporal por pena restritiva de direito.

Sustenta que, diversamente da conclusão do STJ na apreciação do recurso especial, a qualificadora do crime de furto prevista no § 4º do art. 155 do CP é inconstitucional (por flagrante incongruência), devendo ser adotado o percen-tual de 1/3 previsto no art. 157, § 2º, do CP. Além disso, é equivocada a proi-bição de aplicação das atenuantes para reduzir a pena abaixo do mínimo legal,

Page 387: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1387

pois contraria o princípio da individualização da pena, requerendo a concessão da ordem para, ao reformar a decisão monocrática impugnada, restabelecer o julgado do TJRS.

2. Houve indeferimento do requerimento de liminar (fls. 79/82).3. Parecer do Ministério Público Federal no sentido da denegação da or-

dem (fls. 85/88). É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Relatora): 1. As questões controvertidas neste writ – acerca da alegada inconstitucionalidade da majorante do § 4º do art. 155 do CP (quando cotejada com a causa de aumento de pena do § 2º do art. 157 do CP) e da possibilidade, ou não, da fixação da pena abaixo do mínimo legal devido à presença de circunstância atenuante – já foram objeto de vários pronunciamentos desta Corte, conforme inclusive foi apontado na decisão que indeferiu o requerimento de liminar.

2. No que tange à primeira questão, registro que não existe lacuna a res-peito do quantum de aumento da pena no crime de furto qualificado (art. 155, § 4º, do CP), o que inviabiliza o emprego da analogia, diversamente do que de-fende o Impetrante.

Há norma penal que estabelece, expressamente, o quantum de aumento possível da pena em razão da prática do crime de furto com alguma qualifica-dora, devendo ser observado estritamente o princípio da legalidade.

3. O recurso ao processo de integração da norma, via analogia, pressupõe lacuna ou omissão normativa (art. 4º, LICC), o que não verifico na questão ora em análise.

Não há como acolher a tese de violação aos princípios da proporciona-lidade e da isonomia quanto à aplicação do art. 155, § 4º, do CP. Os tipos pe-nais referentes aos crimes de furto e roubo recebem tratamento diferenciado, iniciando-se pelos limites mínimo e máximo relativos às penas-base. Por opção legal (critério de política legislativa), considerou-se necessário estabelecer dife-rentes fatores de aumento das penas.

4. A jurisprudência desta Corte é pacífica no que tange à aplicação da forma qualificada do furto em que há concurso de agentes mesmo após a pro-mulgação da Constituição Federal de 1988 (HC 73.236-SP, Rel. Min. Sydney Sanches, Primeira Turma, DJ de 17-5-96).

Nesse sentido foi o julgamento do recurso especial (fls. 66/67):

É bem de ver que o emprego da analogia in casu, pelo e. Tribunal a quo ol-vidou acerca do disposto no art. 4º da LICC (que seria até despiciendo porquanto regra fulcral em sede de teoria geral do direito). Não se pode, juridicamente, por

Page 388: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051388

analogia, substituir uma qualificadora por uma majorante, por entender que o sis-tema deva ser diferente.

Dentro do sistema europeu-continental ou romano-germânico, não encontra respaldo jurídico a transformação do legalmente previsto unicamente com base em considerações de lege ferenda. Muito menos, com recurso à analogia como se esta pudesse revogar expresso texto legal.

5. Em relação à segunda questão, melhor sorte não assiste ao Impetrante. Na exegese do art. 65 do CP, “descabe falar dos efeitos da atenuante se a sanção penal foi fixada no mínimo legal previsto para o tipo” (HC 75.726, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 6-12-98).

Mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal, através de suas Turmas, confirmou tal orientação conforme se observa dos seguintes julgados: HC 87.263, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ de 4-8-06; HC 93.821/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJ de 11-4-08; HC 92.742/RS, Rel. Min. Menezes Direito, Primeira Turma, DJ de 11-4-08; HC 93.511/RS, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJ de 25-4-08.

6. O Relator do recurso especial, Ministro Felix Fischer, considerou que “o critério é claro, a sua seqüência evidente e os limites, nas duas primeiras operações, decorrem não só dos textos, mas até por uma questão de elementar lógica”, invocando o entendimento consolidado no Enunciado 231 do Superior Tribunal de Justiça: “a incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal” (fl. 40).

7. Registro que o art. 68 do CP prevê a fixação da pena em três fases dis-tintas: a) a fixação da pena-base com base nas circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do CP; b) a consideração das circunstâncias atenuantes e agravantes (arts. 61 e 65 do CP); e c) a aplicação das causas de diminuição e de aumento.

De acordo com a interpretação sistemática e teleológica decorrente do Código Penal e das leis especiais, somente na terceira fase da dosimetria da pena é possível alcançar pena final aquém do mínimo cominado para o tipo simples ou além do máximo previsto.

O art. 59, II, do CP, expressamente, se refere à expressão “dos limites pre-vistos”, enquanto o art. 67 do CP também utiliza a noção “do limite indicado”. Precisas as palavras do relator do recurso especial a esse respeito (fl. 70):

A quaestio não pode merecer solução diversa daquela tradicionalmente adotada. Primeiro, qual seria a razão de ser do disposto nos arts. 59, 67 e 68 do CP, mormente se o estatuto repressivo indica, ainda, um mínimo e um máximo de pena privativa de liberdade para cada delito? Segundo, admitindo-se, ad argu-mentandum, a redução almejada no recurso especial, qual seria o limite? A pena “zero”? Vale lembrar que não foi adotada, entre nós, a discutível concepção uni-lateral na relação culpabilidade/pena (...). Terceiro, a alegação de manifesta injus-tiça, ou de absurdo jurídico, na hipótese de um concurso de agentes em que dois réus, com circunstâncias judiciais favoráveis, são condenados à mesma pena, ape-sar de um deles ainda ter, a seu favor, mais de uma atenuante, também, data vênia,

Page 389: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1389

não é argumento decisivo. A aplicação da pena não pode ser produto de “competi-ção” entre réus ou delinqüentes. Caso contrário, na participação de somenos (art. 29, § 1º, do CP), aí sim, absurdamente, teríamos, constantemente que aplicar a minorante, “premiando” o co-réu que tivesse menor participação (...). Por último, a expressão “sempre atenuam” não pode ser levada a extremos, substituindo-se a interpretação teleológica por uma meramente literal. Sempre atenuam, desde que a pena base não esteja no mínimo, diga-se, até aí, reprovação mínima do tipo. Se assim não fosse, teríamos que aceitar, também, a hipótese de que as agravantes (“que sempre agravam a pena”) pudessem levar a pena acima do limite máximo (o outro lado da ampla indeterminação).

8. Assim, há diferença quanto ao tratamento normativo entre as circuns-tâncias atenuantes/agravantes e as causas de diminuição/aumento da pena no que se refere à possibilidade de estabelecimento da pena abaixo do mínimo legal – ou mesmo acima do máximo legal.

O fato de o art. 65 do Código Penal utilizar o advérbio sempre, em maté-ria de aplicação das circunstâncias ali previstas, para redução da pena-base em patamar inferior ao mínimo legal, deve ser interpretado para as hipóteses em que a pena-base tenha sido fixada em quantum superior ao mínimo cominado no tipo penal.

9. É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da impossibilidade de redução da pena aquém do mínimo legal quando houver a presença de alguma circunstância atenuante.

10. Ante o exposto, denego o presente habeas corpus.É como voto.

EXTRATO DA ATA

HC 92.926/RS — Relatora: Ministra Ellen Gracie. Paciente: Clóvis Cardoso Noronha. Impetrante: Defensoria Pública da União. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por unanimidade, denegou a ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Celso de Mello. Presidiu este julgamento a Ministra Ellen Gracie.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves.

Brasília, 27 de maio de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 390: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051390

HABEAS CORPUS 93.207 — MG

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoPaciente: Paul Lir Alexander — Impetrante: Sérgio Alves de Meireles

Moutinho — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Ação penal. Tráfico internacional de substância entorpe-cente. Competência internacional concorrente. Réu já condenado e punido nos Estados Unidos da América. Dúvida sobre a iden-tidade dos fatos. Previsão de modalidades incriminadas como delitos distintos. Art. 36, n. 2, letra a, da Convenção Única de Nova Iorque (Decreto 54.216/64). Coisa julgada. Impossibilidade de sua aferição no âmbito de habeas corpus, que constitui repeti-ção de pedido idêntico. Alegação, ademais, de outra matéria não suscitada nas instâncias anteriores. Habeas corpus não conhe-cido. Havendo dúvida sobre a identidade dos fatos, não pode ser aferida, em habeas corpus, a ocorrência de coisa julgada inerente a condenação anterior noutro país, sobretudo quando se trate de repetição de pedido, sem inovação alguma.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, não conhecer do pedido de habeas corpus, nos ter-mos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra Ellen Gracie.

Brasília, 29 de abril de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado, em favor de Paul Lir Alexander, contra ato do Superior Tribunal de Justiça que ne-gou seguimento ao HC 69.640/MG.

O Paciente foi denunciado em 13 de julho de 1996, com outros, pela prá-tica, em 1991, dos delitos previstos nos arts. 12 e 14, c/c o art. 18 da Lei 6.368/76, e arts. 297 e 299 do Código Penal. Na ocasião, o Juízo decretou a prisão preven-tiva do Paciente.

O processo a que respondia o Paciente foi, em relação a ele, desmembrado, tomando, então, o número 2000.38.00.035955-8, a fim de que fosse expedida carta rogatória aos Estados Unidos da América, visando à sua citação.

É que, em dezembro de 1992, o Paciente fora denunciado, com os mes-mos co-réus, na Flórida, pela prática dos delitos previstos nos arts. 843 e 952

Page 391: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1391

do Código Penal daquele país, por associação delitiva para importar e distribuir cocaína.

Lá, foi condenado, em outubro de 1993, primeiramente à pena de 262 (du-zentos e sessenta e dois) meses de reclusão e ao pagamento de multa, e depois, em 7 de fevereiro de 1996, à pena reduzida para 168 (cento e sessenta e oito) meses de reclusão, mantida a multa.

O Paciente cumpriu pena e, já sob liberdade condicional, retornou ao Brasil, onde foi preso em cumprimento à decisão proferida pelo Juízo da 9ª Vara Criminal da Justiça Federal de Minas Gerais.

Com a denúncia recebida desde 6 de agosto de 1996, o magistrado, diante da retomada do curso do processo em razão da prisão do Paciente, aplicou ao procedimento o rito previsto no art. 38, § 1º, da Lei 10.409/02, e determinou a apresentação de defesa prévia.

Nesta, o Paciente requereu reconhecimento de litispendência, sob argu-mento de que já havia sido processado e julgado pelo mesmo fato nos Estados Unidos, tendo lá cumprido pena. Quanto aos delitos previstos nos arts. 297 e 299 do Código Penal, pleiteou fosse admitida unicamente a imputação de uso de documento falso, que, previsto no art. 304 do Código Penal, estaria absorvido pelo delito de tráfico de entorpecentes.

O Juízo, ao analisar a exceção oposta pelo Paciente, julgou-a improce-dente, em outubro de 2005, bem como lhe manteve a prisão preventiva. Mas não substituiu a decisão de recebimento da denúncia, nem a ratificou, o que leva a crer que reputou válido o recebimento datado de agosto de 1996.

Foi contra a decisão que deu início ao processo-crime a que responde aqui no Brasil que o Paciente impetrou habeas corpus perante o Tribunal Regional Federal da 1a Região (HC 97.01.00060189-8), o qual lhe denegou a ordem.

Ingressou, então, com writ (HC 7.592), perante o Superior Tribunal de Justiça, que o indeferiu, nos seguintes termos:

Processual penal. Habeas corpus – Substitutivo de recurso ordinário. Trancamento de ação penal. Prisão ad cautelam. Feito sentenciado.

I – A via do writ não permite o minucioso cotejo do material cognitivo.II – Tendo sido proferida a decisão condenatória, alterado está o título da

prisão que passa ser, agora, ad poena.Writ indeferido.

(Fonte: sítio eletrônico do Superior Tribunal de Justiça.)

Contra tal decisão, impetrou pedido de writ perante esta Corte, julgado pela Primeira Turma em 11-4-06. Consta da ementa do HC 85.368 (Rel. Min. Cezar Peluso, DJ de 9-6-06):

Ação penal. Tráfico internacional de substância entorpecente. Competência internacional concorrente. Réu já condenado e punido nos Estados Unidos da América. Dúvida sobre a identidade dos fatos. Previsão de modalidades

Page 392: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051392

incriminadas como delitos distintos. Art. 36, n. 2, letra a, da Convenção Única de Nova Iorque (Decreto 54.216/64). Coisa julgada. Impossibilidade de sua aferição no âmbito de habeas corpus. Habeas corpus indeferido. Havendo dúvida sobre a identidade dos fatos, não pode ser aferida, em habeas corpus, a ocorrência de coisa julgada inerente a condenação anterior noutro país.

Em 12 de maio de 2006, foi o Paciente condenado pelo Juízo da 9ª Vara Criminal Federal de Belo Horizonte/MG, nos autos da Ação Penal 2000.38.00.035955-8, “à pena de 42 anos de reclusão em regime integralmente fechado, sendo 27 anos e 6 meses por infração ao delito capitulado no art. 12 c/c 18, I, da Lei 6368/76 e artigo 62, I, do Código Penal Brasileiro, 12 anos e 6 meses por infração ao delito capitulado no artigo 14 c/c 18, I, da lei 6368/76 e artigo 62, I, do Código Penal Brasileiro e 2 anos por infração ao delito capitulado no artigo 304 do Código Penal Brasileiro” (fl. 4).

A defesa interpôs recurso de apelação junto ao TRF da 1ª Região (Apelação Criminal 2000.38.00.035955-8), que ainda pende de julgamento. Impetrou, ainda, pedido de writ ao Superior Tribunal de Justiça, que dele não conheceu, nestes termos:

(...)Assim, insta concluir que a presente impetração é mera reiteração de pe-

dido. Ademais, a superveniência de sentença condenatória não traduz fato novo apto a autorizar nova impetração, porquanto tal ato processual em nada altera o quadro fático anterior.

De outro lado, a matéria veiculada na presente impetração nem ao menos foi analisada em Segundo Grau o que, por si só, traduz indevida supressão de instância.

Ante o exposto, não conheço o writ.(Fl. 994 do apenso 4.)

Contra tal decisão volta-se o presente pedido.Requer, agora, o Impetrante seja concedida ordem de habeas corpus, para

determinar o trancamento da ação penal por (i) inépcia da denúncia formal e material, (ii) ocorrência de bis in idem, (iii) não incidência da Convenção Única de Nova York sobre Entorpecentes, de 1961, no caso. Pleiteia, ainda, seja decla-rada extinta a punibilidade do delito previsto no art. 304 do CP, por consumação da prescrição (fls. 167-168).

A Procuradoria-Geral da República é pelo não-conhecimento da ordem.É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Incognoscível o pedido de writ.2. Consta do voto do Ministro Felix Fischer, Relator do writ impetrado

em favor do ora Paciente no Superior Tribunal de Justiça, que, por não suprimir instância, essa Corte ficou impossibilitada de analisar as alegações de inépcia

Page 393: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1393

da denúncia e de eventual consumação da prescrição do delito previsto no art. 304 do CP:

(...)Assim, insta concluir que a presente impetração é mera reiteração de pedi-

do. Ademais, a superveniência de sentença condenatória não traduz fato novo apto a autorizar nova impetração, porquanto tal ato processual em nada altera o quadro fático anterior.

De outro lado, a matéria veiculada na presente impetração nem ao menos foi analisada em Segundo Grau o que, por si só, traduz indevida supressão de instância.

Ante o exposto, não conheço o writ.(Fl. 994 do apenso 4. Grifos nossos.)

Tais argüições não tinham sido submetidas à cognição do Tribunal Regional Federal, motivo por que não foram conhecidas por aquela Corte Superior. E não podem sê-lo aqui, sob pena, agora, de dupla supressão de instância.

Nesse sentido, o Subprocurador-Geral da República Edson Oliveira de Almeida manifestou-se pelo não-conhecimento da ordem:

Primeiramente, deve-se salientar que a alegada inépcia da denúncia não foi examinada pelo Tribunal a quo e nem mesmo pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Logo, analisar o presente ponto traduz dupla supressão de instância, não comportando o writ conhecimento nessa parte.

(...)Por fim, o pleiteado reconhecimento da prescrição em relação ao delito de

documento falso (art. 304 do Código penal) também não merece conhecimento, porquanto o Tribunal Regional Federal da 1ª Região ainda não examinou tal ma-téria – a apelação encontra-se pendente de julgamento – ocorrendo, assim, dupla supressão de instância, o que não é admitido pela remansosa jurisprudência dessa egrégia Corte.(Fls. 466-471.)

É coisa de todos sabida que, diante da letra do art. 61 do Código de Processo Penal, o juiz deve, em qualquer fase do processo, se reconhecer extinta a punibilidade, declará-lo de ofício.

Não obstante a longa narrativa dos fatos, não há, aqui, elementos sufi-cientes, sobretudo à luz dos documentos que instruem o pedido, para pronúncia de eventual prescrição da pretensão punitiva do delito descrito no art. 304 do Código Penal (uso de documento falso).

Trata-se de processo complexo, que, com denúncia oferecida contra 20 (vinte) acusados, foi posteriormente desmembrado em relação ao ora Paciente, o qual cumprira pena, na Flórida, pela prática dos crimes previstos nos arts. 843 e 952 do Código Penal americano, por associação delitiva para importar e distribuir cocaína.

O tema da prescrição demandaria análise cautelosa e aprofundada dos fa-tos, mormente no que tange à incidência, ou não, de possíveis causas impeditivas

Page 394: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051394

do curso do prazo prescricional (inciso II do art. 166 do Código Penal1), coisa de todo incompatível com a estreita via cognitiva do habeas corpus.

3. Melhor sorte não socorre ao Impetrante, no que tange a possível vio-lação da regra ne bis in idem, sob argumento de que o ora Paciente já foi con-denado, nos Estados Unidos da América, pelos mesmos fatos atribuídos na Ação Penal 2000.38.00.035955-8 (i) e, tampouco, (ii) quanto à não-incidência, no caso, do art. 36, 2, a, I, do Decreto 54.216/64, que promulgou a Convenção Única de Nova York sobre Entorpecentes.

É que tais questões já foram apreciadas pela Primeira Turma desta Corte, no habeas corpus anterior, como se vê à ementa do acórdão:

Ação penal. Tráfico internacional de substância entorpecente. Competência internacional concorrente. Réu já condenado e punido nos Estados Unidos da América. Dúvida sobre a identidade dos fatos. Previsão de modalidades incrimi-nadas como delitos distintos. Art. 36, n. 2, letra a, da Convenção Única de Nova Iorque (Decreto 54.216/64). Coisa julgada. Impossibilidade de sua aferição no âm-bito de habeas corpus. Habeas corpus indeferido. Havendo dúvida sobre a iden-tidade dos fatos, não pode ser aferida, em habeas corpus, a ocorrência de coisa julgada inerente a condenação anterior noutro país.(HC 85.368, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ de 9-6-06.)

Tiro do meu voto condutor:

(...)2. Alega o Impetrante que o acusado já foi condenado, nos Estados

Unidos da América, pelos mesmos fatos que lhe são atribuídos na Ação Penal 2000.38.00.035955-8, em trâmite na 9ª Vara Criminal da Justiça Federal de Minas Gerais, donde ser ela desprovida de justa causa, por violação à regra do ne bis in idem.

O Paciente encontra-se denunciado pela prática dos delitos previstos nos arts. 12 e 14, c/c o art. 18 da Lei 6.368/76, e arts. 297 e 299 do Código Penal, por fatos ocorridos em data não especificada, mas em fins de 1991.

Foi também condenado, no Distrito do Sul da Flórida, por ter, de novembro de 1991 a meados de dezembro de 1992, praticado os delitos de “conspiração para a importação de cocaína”, “conspiração para distribuir cocaína” e “importação de cocaína”.

Por isso, argumenta o Impetrante, faltaria à ação penal que lhe é movida no Brasil o requisito de originalidade, diante da litispendência (rectius, coisa jul-gada), pois o processo movido no exterior já findou, tendo o Paciente cumprido a respectiva reprimenda.

A coisa julgada tem, como se sabe, limites objetivos e subjetivos:“Para que se possa invocar a coisa julgada, é preciso que a mesma

coisa (eadem res) seja novamente pedida pelo mesmo autor contra o mesmo réu (eadem personae) e sob o mesmo fundamento (eadem causa petendi)”2.

1 “Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:II – enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.”

2 TORNAGHI, Hélio. Compêndio de processo penal. Rio de Janeiro: José Konfino, 1967. Tomo I, p. 117.

Page 395: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1395

“El principio non bis in idem tiene dos ámbitos de aplicación: el material y el procesal. En el ámbito material implica que está prohibido sancionar dos veces por el mismo hecho a la misma persona. En el ámbito procesal supone que no puede someterse a un segundo juicio a una per-sona por los mismos hechos, incluso el principio actúa impidiendo la doble persecución”3.Mas o juízo sobre tais limites não pode ser feito nesta, senão perante

todo o material probatório da causa, para saber se esta é, ou não, destituída de originalidade.

Além disso, dispõe o art. 36, 2, a, I, do Decreto 54.216/64, que promulgou a Convenção Única de Nova Iorque sobre Entorpecentes, que “cada delito enu-merado no parágrafo 1, se for cometido em diferentes países será considerado um delito distinto”, razão pela qual esta Corte tem julgado procedentes extradições em que o Estado requerente processa o extraditando pela prática de uma das mo-dalidades previstas no tipo de conduta variável:

“I – Extradição: tráfico internacional de substância entorpecente: concorrência dos pressupostos positivos e negativos da extradição: deferi-mento, condicionada a entrega do Extraditando ao disposto no art. 89 c/c o art. 67 da Lei 6.815/80. II. Extradição: tráfico internacional de entorpe-centes: competência internacional concorrente. À vista da Convenção Única de Nova Iorque, de 1961 (Art. 36, II, a, I), e para efeitos extra-dicionais, cada uma das modalidades incriminadas, no tipo misto alternativo de tráfico de entorpecentes, deve considerar-se um delito distinto: donde, a competência da Dinamarca para julgar o crime de importação para o seu território de droga remetida do Brasil, sem pre-juízo da jurisdição brasileira sobre a exportação ou tentativa de expor-tação da mesma mercadoria. Precedentes.”(Ext 962, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 28-11-05. Grifei.)

“I – Extradição: competência internacional concorrente. A com-petência, em tese, da Justiça brasileira para conhecer do fato criminoso – que já não se tem reputado impeditiva da extradição, quando não haja procedimento penal em curso no Brasil –, com mais razão não é óbice ao seu deferimento em hipóteses de posse e tráfico ilícitos de entorpe-centes, nas quais – por força da Convenção de Nova York – considera-se crime autônomo a realização de cada uma das modalidades do tipo de incriminação múltipla, quando ocorridas em países diversos: preceden-tes. II – Extradição: limites da defesa: impertinência da indagação sobre a concorrência dos pressupostos da prisão preventiva decretada no Estado requerente. III – Extradição: não a impede a condenação do extraditando no Brasil por fato diverso, regendo-se a execução pelos arts. 89, 66 e 67 do Estatuto dos Estrangeiros.”(Ext 729, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 4-12-98. Grifei.)

“Extradição. Competência. Crime de tentativa de tráfico internacio-nal de entorpecentes do Brasil para a Itália, interceptado na Suíça. Crime de associação para o tráfico de entorpecentes. Concurso material. É com-petente a Justiça da Itália para julgar o crime de tentativa de tráfico in-ternacional porque era o lugar onde a ação deveria produzir o resultado

3 BARJA DE QUIROGA, Jacobo López. Tratado de derecho procesal penal. Navarra: Arazandi, 2004. p. 206.

Page 396: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051396

(art. 6º, parte final, do Código Penal brasileiro), mesmo que o crime já tenha sido punido na Suíça, eis que os momentos distintos de um fato único são considerados crimes distintos (art. 36, II, a, i, da Convenção Única de Nova Iorque, de 1961, promulgada pelo Decreto 54.216/64, e art. 79 da Lei 6.815/80). É competente a Justiça da Itália para julgar o crime de associação para o tráfico de entorpecentes. Não é necessário que o Estado requerente encaminhe o conjunto probatório para viabilizar o defe-rimento do pedido de extradição, bastando serem aplicáveis ao extraditando as suas leis penais e estar a prisão autorizada por autoridade competente, art. 78, I e II, da Lei 6.815/80. De resto, o Extraditando confessou o crime. Os tipos penais de tráfico e de associação para o tráfico (arts. 12 e 14 da Lei dos Tóxicos) são autônomos, têm diferentes pressupostos e podem ser punidos em concurso material. Precedentes da Corte. Pedido de extradição deferido.”(Ext 544, Rel. Min. Paulo Brossard, DJ de 4-9-92. Grifei.)Assim, não se pode, no estreito âmbito de cognição desta via, afirmar que o

objeto de ambos os processos seja idêntico.3. Diante do exposto, denego a ordem.

4. Posto isso, não conheço deste habeas corpus, nos termos do art. 38 da Lei 8.038, de 28-5-90, e do art. 21, § 1º, do RISTF.

EXTRATO DA ATA

HC 93.207/MG — Relator: Ministro Cezar Peluso. Paciente: Paul Lir Alexander. Impetrante: Sérgio Alves de Meireles Moutinho. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, não conheceu do pedido de ha-beas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra Ellen Gracie.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausente, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 29 de abril de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 397: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1397

HABEAS CORPUS 93.391 — RJ

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoPaciente: Fernando de Miranda Iggnácio — Impetrante: João Costa

Ribeiro Filho — Coator: Superior Tribunal de Justiça

1. Prisão preventiva. Cumprimento. Definição do local. Transferência determinada para estabelecimento mais curial. Competência do juízo da causa. Aplicação de Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Audiência prévia do Ministério Público e da defesa. Desnecessidade. Ilegalidade não caracterizada. Inteligência da Res. 557 do Conselho da Justiça Federal e do art. 86, § 3º, da LEP. É da competência do juízo da causa penal defi-nir o estabelecimento penitenciário mais curial ao cumprimento de prisão preventiva.

2. Prisão especial. Advogado. Prisão preventiva. Cumpri-mento. Estabelecimento com cela individual, higiene regular e condições de impedir contato com presos comuns. Suficiência. Falta, ademais, de contestação do Paciente. Interpretação do art. 7º, V, da Lei 8.906/94 – Estatuto da Advocacia –, à luz do prin-cípio da igualdade. Constrangimento ilegal não caracterizado. Habeas corpus denegado. Precedentes. Atende à prerrogativa profissional do advogado ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, em cela individual, dotada de condições regulares de higiene, com instalações sanitárias satisfatórias, sem possibilidade de contato com presos comuns.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, em indeferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Falou, pelo Paciente, o Dr. João Costa Ribeiro Filho e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Wagner Gonçalves. Ausente, justifica-damente, neste julgamento, o Ministro Gilmar Mendes.

Brasília, 15 de abril de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: 1. Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de Fernando de Miranda Iggnácio, contra decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça que, no julgamento do HC 92.714, lhe denegou a ordem.

Page 398: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051398

O Paciente foi denunciado pela prática dos delitos de contrabando, for-mação de quadrilha e homicídios qualificados. O Juízo da 4ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro recebeu a denúncia somente em relação às duas primeiras acusações, declinando da competência para julgar as de homicídio.

A prisão preventiva do Paciente foi decretada em 14 de dezembro de 2006. Inicialmente, permaneceu na carceragem da Polinter-Neves, na cidade de São Gonçalo/RJ, sendo transferido para o Presídio Bangu I, momento em que lhe foi imposto o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

Após a verificação, pela Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB, de deficiências estruturais nos estabelecimentos destinados ao cumprimento do RDD em Bangu I (fl. 35), a defesa solicitou a transferência do Paciente para outro estabelecimento, pelo que o Juízo de primeiro grau a de-terminou para a Penitenciária Federal de Campo Grande/MS (fls. 33-34).

O Paciente esteve em RDD na Penitenciária Federal de Campo Grande/MS de 24-5-07 a 15-8-07. Após esse período, a prisão cautelar foi mantida naquele estabelecimento, onde permanece até hoje.

A defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal Regional Federal, que o denegou em decisão assim ementada:

Processo penal. Transferência de preso provisório. Conveniência.1. Nos termos do art. 86, caput e § 3º da Lei de Execução Penal, a transferên-

cia de estabelecimento prisional está sujeita à apreciação, pelo Juízo competente, da conveniência do deslocamento do detento, no interesse da segurança da socie-dade, não constituindo direito absoluto do réu a permanência em determinada unidade.

2. Não se vislumbra, pois, a existência de constrangimento ilegal simples-mente em decorrência da transferência de presídio, se tal medida, além de não vio-lar o direito do paciente ao recolhimento em estabelecimento prisional compatível com a sua situação de preso provisório, tem como finalidade alocá-lo em unidade com melhores instalações de higiene e segurança.

3. Os fundamentos do STJ, no caso da Operação Furacão, não se aplicam a este caso concreto, eis que os motivos da autoridade coatora – decisão que deu ensejo ao habeas corpus apreciado pelo STJ naquele caso –, foram devidamente distintos os motivos apontados pelo Juiz Federal, neste caso, para justificar a or-dem de transferência dos presos para o presídio federal.

4. É justificável, no caso do paciente, a desproporcionalidade na exaspera-ção das condições de cumprimento da segregação provisória, uma vez que o preso é de reconhecida alta periculosidade, demonstrada por sua prisão em decorrência de homicídio e pela continuidade da ocorrência de graves delitos cometidos pelo grupo criminoso do qual faz parte na qualidade de chefe.

5. Ordem denegada.(Fl. 252.)

Impetrou-se, então, habeas corpus perante o Superior Tribunal de Justiça, que decidiu pela denegação da ordem, nos seguintes termos:

Page 399: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1399

Penal e Processual Penal. Lei de Execução Penal, art. 86, § 3º. Natureza não absoluta do direito da pessoa processada ou condenada ser custodiada em presí-dio no local de sua residência. Preponderância do interesse social. Denegação da ordem de habeas corpus.

1. É sempre preferível que a pessoa processada ou condenada seja custo-diada em presídio no local em que reside, inclusive para facilitar o exercício do seu direito à assistência familiar, mas, se a sua permanência em presídio local se evidencia impraticável ou inconveniente, em razão da periculosidade do agente ou de outras circunstâncias que implicam na sua submissão ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), previsto na Lei 10.792/03, é mister pôr em ressalto a pre-ponderância ao interesse social da segurança e da própria eficácia da segregação individual.

2. A precariedade das condições do presídio em que se achava recolhido o paciente (Bangu I, no Rio de Janeiro), atestada por confiável e seguro relatório da OAB/RJ, não justifica a não-submissão do paciente ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) que lhe foi aplicado, de sorte que o seu deslocamento para o Presídio Federal de Campo Grande/MT, acha-se plenamente amparado no art. 86, § 3º, da Lei de Execução Penal. Precedente desta Corte: HC 32.886/SP, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJU 28.06.04, p. 371.

3. Ordem denegada, de acordo com o parecer do MPF.(Fl. 250.)

Alega a defesa que o Paciente tem sido freqüentemente conduzido ao Rio de Janeiro para atos de instrução criminal, “sem causar qualquer transtorno à unidade prisional. Esses dados provam, de forma inequívoca, que o Paciente pode permanecer preso no Rio” (fl. 8). Aduz a desnecessidade da transferência, que causa grande ônus ao poder público.

Afirma que a transferência para a penitenciária federal se deveu à imposi-ção do RDD, situação que não se mantém. Inexistindo periculosidade ou risco para a ordem ou incolumidade pública, não se lhe justificaria manutenção em Campo Grande (fl. 10), e cuja transferência foi determinada ex officio pelo Juízo de primeiro grau, sem oitiva da defesa e do Ministério Público (fl. 12).

Alega, ainda, que, no estabelecimento federal, o Paciente sofreu violação da integridade física e moral por agente penitenciário que o expôs “a uma sessão de fotos, exigindo que o Paciente permanecesse completamente nu, de frente e de costas” (fl. 8).

E entende que, por ser bacharel em direito, o Paciente tem direito a prisão especial (fl. 26).

Pedi informações ao Juízo da 4ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro/RJ, que as prestou (fls. 102-107).

A liminar foi denegada pela Ministra Presidente, durante o recesso forense (fls. 111-116).

O Ministério Público Federal opinou pela denegação da ordem (f ls. 127-131).

Page 400: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051400

A defesa ingressou com diversas petições (fls. 133-214, 219-244 e 247-262), postulando, em resumo, reconhecimento liminar de excesso de prazo da prisão cautelar ou transferência do Paciente para estabelecimento prisional no Rio de Janeiro, diverso do Presídio de Bangu I. Requer que, “caso não haja prisão espe-cial na cidade do Rio de Janeiro, o paciente deverá permanecer preso em Sala do Estado-Maior, ou, em face da inexistência desta, em prisão domiciliar” (fl. 249).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. O pedido de writ objetiva a trans-ferência do Paciente para estabelecimento prisional no Rio de Janeiro/RJ.

Em resumo, aduz a inicial: (i) que a transferência para a penitenciária federal de Campo Grande/MS não se deveu às ações do Paciente, mas às péssi-mas condições da penitenciária de Bangu I e da inexistência de estabelecimento apropriado para Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) no Rio de Janeiro. Além disso, a decisão de transferência seria ilegal, pois não houve manifestação prévia do Ministério Público e da defesa; (ii) que a revogação, em 15-8-07, do RDD imposto ao Paciente fez cessar o motivo de sua transferência; (iii) que o Paciente, como advogado, tem direito à prisão especial em sala de Estado-Maior ou, na inexistência desta, à concessão de prisão domiciliar.

Não assiste razão aos Impetrantes.Está correta a decisão do Superior Tribunal de Justiça, quando afirma que

“o cumprimento de pena de prisão em Unidade da Federação diverso daquele em que ocorreu a infração, ou mesmo a condenação está previsto no art. 86 da Lei de Execução Penal, cujo § 3º preconiza que a definição do estabelecimento prisional adequado para abrigar o preso provisório ou o condenado cabe ao Juiz competente, vale dizer, ao Juiz da instrução (quando em curso o processo) ou ao Juiz da condenação (se já proferida a sentença condenatória)” (fl. 255).

A transferência do Paciente para Campo Grande se deveu à imposição do RDD, mas isso não significa que o Juízo de primeiro grau não possa definir tal estabelecimento como o mais adequado para a prisão preventiva. A Lei de Execução Penal (LEP) é clara ao conferir essa atribuição ao juízo, desde que mantido o regime imposto.

Se a transferência do Paciente deveu-se às terríveis condições da peni-tenciária de Bangu I, é certo que a decisão de encaminhá-lo a estabelecimento prisional federal decorreu da prévia imposição do RDD. Ao que consta, o Rio de Janeiro não possuía, à época, instalações penitenciárias compatíveis com o cumprimento do regime diferenciado. Daí a necessidade da transferência para estabelecimento próprio.

Não havendo ilegalidade na transferência para outra unidade da federação, cabe estimar a decisão que a determinou. Quanto a isso, vejamos as informações prestadas pelo Juízo de primeiro grau:

Page 401: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1401

O paciente foi transferido para o presídio federal de Campo Grande/MS, visto que a Comissão de Defesa de Direitos Humanos da OAB/RJ constatou a impropriedade física do presídio em que o mesmo se encontrava, assim como a própria defesa, pelo que não restou a este Juízo outra alternativa que não a de de-terminar sua transferência. Agora deseja a defesa o retorno do paciente para o Rio de Janeiro, providência já reiteradamente negada por Tribunais Superiores.

(...)Em adendo à impossibilidade de, nesta via estreita, apreciar todo um mar de

provas que versam não somente sobre a imputação que recai sobre o paciente, mas também sobre fatos ocorridos após a sua prisão, tendo que se considerar o fato de que longos trechos da interceptação telefônica levada a efeito denotam o gozo pelo paciente de inúmeras regalias inadmissíveis no falido e decrépito sistema carcerá-rio do Estado do Rio de Janeiro, tais como contratação de prostitutas, realização de churrascos, livre acesso a telefones e computadores (...)(Fls. 120-121.)

Há, portanto, elementos concretos que indicam necessidade de reforço da cautela, aptos a justificar a manutenção do Paciente no estabelecimento federal.

Sobre a falta de prévia intimação da defesa e do Ministério Público, veri-fico que à construção dos estabelecimentos penais federais se seguiu a edição, pelo Conselho de Justiça Federal (CJF), da Resolução 502, substituída pela Resolução 557. Na ausência de outro instrumento legal, tais resoluções têm governado os procedimentos de inclusão e transferência de presos no Sistema Penitenciário Federal.

Mas já ressaltei que a LEP, no § 3º do art. 86, confere ao juiz competente a atribuição de definir o estabelecimento mais curial para a custódia, sem pre-visão de audiência prévia do Ministério Público ou da defesa. É evidente que, como todas as decisões judiciais, a transferência em si está sujeita a controle, donde não decorre nulidade da decisão que não obedeça aos termos estritos da resolução do CJF.

Dessa forma, acompanho o entendimento do Juízo da 4ª Vara Federal Criminal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro/RJ, no sentido de que a resolu-ção editada pelo CJF é incapaz de se sobrepor à norma processual:

Quanto à determinação de oitiva prévia da defesa para deferimento da trans-ferência para presídio federal, reconheça-se que uma mera resolução seja lá de que órgão for é e sempre será um mero ato administrativo, sem força de lei, o que, portanto, a torna inábil para veicular legitimamente norma processual de cunho obrigatório, mormente se atentarmos para a necessária prevalência da tutela juris-dicional cautelar, ainda que postergando-se para momento futuro a manifestação das partes.(Fl. 121.)

Finalmente, os Impetrantes sustentam o direito do Paciente a prisão es-pecial, ou sala de Estado-Maior, ou, ainda, na sua falta, a concessão de prisão domiciliar.

Page 402: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051402

Esta Corte decidiu pela constitucionalidade da prisão especial para advo-gados (ADI 1.127, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ de 26-5-06). Na esteira desse entendimento, o Pleno definiu, na Rcl 4.713, o conceito de sala de Estado-Maior. Na ocasião, o eminente Ministro Relator fez a seguinte ressalva:

Cumpre notar, ademais, que a prerrogativa conferida aos advogados, à toda evidência, não tem o condão de alterar a natureza da ação preventiva ou repressiva do Estado. Em outras palavras, o preceito legal que confere a esses profissionais o direito à prisão especial, antes do trânsito em julgado da condenação, não desna-tura o caráter da medida, que representa uma restrição à liberdade de locomoção, ainda que em condições diferenciadas dos demais presos.(Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ de 7-3-08.)

No julgamento, manifestei-me a respeito da necessidade de interpretar a norma prevista no art. 7º, V, do Estatuto da Advocacia, à luz do princípio cons-titucional da isonomia:

Entende-se bem o espírito da norma: evitar que um advogado que patrocina a causa seja posto em contato com presos comuns. Mas essa é uma situação em que se encontram os policiais, os promotores e, a fortiori, os juízes, nenhum dos quais goza desses privilégios (...). Ela é constitucional, mas devemos dar-lhe um sentido que a compatibilize com o princípio da isonomia e da igualdade.

Ora, no caso, tem-se por respeitado o direito do Paciente de estar sepa-rado dos demais presos e em condições regulares de higiene, com instalações sanitárias satisfatórias (HC 81.632, Rel. p/ ac. Min. Maurício Corrêa. Voto-vista, Min. Nelson Jobim, DJ de 21-3-03). A esse respeito, vale notar que os Impetrantes, em momento algum, reputaram indignas as instalações da peniten-ciária federal de Campo Grande/MS.

Mas vou além. Tenho que a prerrogativa conferida aos advogados não al-tera a essência da prisão cautelar e, portanto, não pode impedir a aplicação de mecanismos de reforço da cautelaridade da prisão preventiva, desde que motiva-dos e fundados em razões concretas. Caso fosse outra a interpretação da norma, tanto o RDD quanto a transferência para penitenciárias federais, admissíveis em determinadas hipóteses, seriam inaplicáveis a qualquer acusado bacharel, ainda que as circunstâncias do fato as justificassem.

No caso, o Juízo de primeiro grau entendeu que as circunstâncias exigem a permanência do Paciente na penitenciária federal. Esta, por sua vez, possui ce-las individuais e condições de impedir contato do Paciente com presos comuns.

Assim, como bem observou a decisão atacada, não é razoável interpretar a prerrogativa conferida à classe dos advogados como passível de inviabilizar a própria custódia.

Por fim, das informações constantes dos autos, parece-me que a sessão de fotos narrada na inicial (fl. 8) indica desvio de conduta do agente penitenciário, e não prática corriqueira. E o fato foi levado ao conhecimento da administração federal, que há de aplicar as medidas disciplinares cabíveis.

2. Diante do exposto, denego a ordem.

Page 403: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1403

EXTRATO DA ATA

HC 93.391/RJ — Relator: Ministro Cezar Peluso. Paciente: Fernando de Miranda Iggnácio. Impetrante: João Costa Ribeiro Filho. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: A Turma, por votação unânime, indeferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Falou, pelo Paciente, o Dr. João Costa Ribeiro Filho e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Wagner Gonçalves. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausente, justificadamente, o Ministro Gilmar Mendes. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves.

Brasília, 15 de abril de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 404: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051404

HABEAS CORPUS 93.916 — PA

Relatora: A Sra. Ministra Cármen LúciaPaciente: David Miranda de Almeida — Impetrantes: Roberto Lauria e

outros — Coator: Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. Constitucional. Impossiblidade de extrair qualquer conclusão desfavorável ao suspeito ou acusado de pra-ticar crime que não se submete a exame de dosagem alcoólica. Direito de não produzir prova contra si mesmo: nemo tenetur se detegere. Indicação de outros elementos juridicamente válidos, no sentido de que o Paciente estaria embriagado: possibilidade. Lesões corporais e homicídio culposo no trânsito. Descrição de fatos que, em tese, configuram crime. Inviabilidade do tranca-mento da ação penal.

1. Não se pode presumir a embriaguez de quem não se submete a exame de dosagem alcoólica: a Constituição da República im-pede que se extraia qualquer conclusão desfavorável àquele que, suspeito ou acusado de praticar alguma infração penal, exerce o direito de não produzir prova contra si mesmo: precedentes.

2. Descrevendo a denúncia que o acusado estava “na condu-ção de veículo automotor, dirigindo em alta velocidade” e “veio a colidir na traseira do veículo” das vítimas, sendo que quatro pessoas ficaram feridas e outra “faleceu em decorrência do aci-dente automobilístico”, e havendo, ainda, a indicação da data, do horário e do local dos fatos, há, indubitavelmente, a descrição de fatos que configuram, em tese, crimes.

3. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a Presidência do Ministro Marco Aurélio, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade, indeferir o pedido de habeas corpus, nos termos do voto da Relatora. Ausente, justificadamente, o Ministro Carlos Britto.

Brasília, 10 de junho de 2008 — Cármen Lúcia, Relatora.

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: 1. Habeas corpus impetrado pelos advo-gados Roberto Lauria e Bruna Koury, em favor de David Miranda de Almeida,

Page 405: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1405

contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça que, em 13 de setembro de 2007, denegou o Habeas Corpus 76.566 (fls. 9-14).

2. O eminente Relator da impetração no Superior Tribunal de Justiça, Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, expôs o caso e decidiu nestes termos:

3. Inicialmente, os Impetrantes alegam que:

(...) se pode, com a simples leitura da exordial, constatar que não há conduta típica a ser atribuída ao paciente, bem como, dizer que o fato do postulante não ter se submetido ao exame de dosagem alcoólica afigura-se como fator para indi-car uma conduta delitiva, é, no mínimo, apartada do consignado na Constituição Federal, que há muito já desobrigou qualquer cidadão de ser submetido a qualquer ato ou perícia contra sua vontade (...)(Fl. 3.)

Acrescentam que a denúncia não descreveu os elementos constitutivos de crime, não tendo sido apontados os elementos caracterizadores da culpa e do nexo causal entre a conduta do Paciente e o resultado morte.

E complementam:

Não pode (...) um Magistrado interpretar que pelo fato de alguém ter mor-rido por acidade de automóvel, caracteriza-se crime de trânsito. O resultado morte necessita, para tipificar corretamente este delito, estar subordinado a uma conduta imprudente sobejamente demonstrada (...)(Fl. 5.)

Mencionam, por fim, o julgamento do HC 61.826, Rel. Min. Rafael Mayer, DJ de 5-10-84, no qual se acentuou que “inexiste justa causa para a condenação por homicídio culposo se não se estabelece um nexo causal entre a conduta e o evento lesivo, sendo inadmissível, no direito penal, a culpa pre-sumida ou a responsabilidade objetiva”.

4. Pedem a concessão da ordem, para que seja determinado o “tranca-mento da ação penal” (fl. 8 – grifos no original).

5. A Procuradoria-Geral da República opinou pela denegação da ordem (fls. 35-40).

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia (Relatora): 1. Conforme acentuou a Pro-curadoria-Geral da República em seu parecer, “somente hipóteses excepcio-nalíssimas autorizam o trancamento da ação penal em sede de habeas corpus” (HC 86.786, Rel. Min. Carlos Britto, DJ de 23-3-07), ou seja, quando verifi-cadas, por exemplo, a manifesta atipicidade da conduta ou a ausência de ele-

Page 406: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051406

mentos mínimos de autoria ou prova da materialidade (HC 88.191, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJ de 27-10-06).

2. Não é este, entretanto, o caso dos autos, conforme se extrai da leitura integral da denúncia, verbis:

(...) no dia 06.08.2004, por volta das 22:30hs, o denunciado, David Miranda de Almeida, na condução do veículo GM/Astra (...), trafegando pela Av. Almirante Barroso, sentido São Brás, antes da confluência da Av. Tavares Bastos, veio a co-lidir na traseira do veículo Fiat/Palio (...), que estava sendo conduzido pela Sra. Maria Regina Gama Gomes, ficando lesionados a condutora e os seus passagei-ros, Silvana Carla Martins Figueiredo; Allan Kardec Moura do Nascimento; e Vanilde Trindade da Silva, além de ter provado a morte de Vinícius do Nascimento Figueiredo, que também estava no veículo abalroado. As vítimas foram todas socorridas por populares que acionaram a emergência 192, que encaminhou ao HPSM de Belém, onde foram inicialmente atendidas.

Constam nos autos a cópia da Certidão de Óbito e o Exame Necroscópico que ratificam que a vítima Marcus Vinicius do Nascimento Figueiredo faleceu em decorrência do acidente automobilístico provocado pelo denunciado.

O fato foi notificado ao Delegado de Polícia da 5ª Seccional (...) pelo de-nunciado, causador do gravíssimo acidente. Na oportunidade, negou quanto a gravidade dos acidentados e portou-se de forma suspeita ao se recusar ser encami-nhado para Exame de Dosagem Alcoólica, conforme consta às fls. 07 dos autos, argumentando estar atordoado em face do baque que sofreu na cabeça. Há de se ressaltar que o denunciado, admitiu que havia ingerido bebida alcoólica antes do fato, como consta às fls. 32 dos autos.

A recusa em fazer o Exame de Dosagem Alcoólica não exime o denunciado da acusação de embriaguez, pelo contrário, tal recusa, juntamente com o que afirma-ram as testemunhas geram a prova do estado de embriaguez por presunção, podendo ser propriamente aqui mencionado, o conhecido ditado popular que diz “quem não deve, não teme”, sendo assim, não haveria qualquer razão para o denunciado se ne-gar a fazer o referido exame a não ser que, de fato, estivesse com a concentração de álcool em seu sangue, acima do permitido pela Lei 9.503/97, em seu art. 276.

Consta nos autos, mais precisamente às fls. 47 e 49, declarações dos nacio-nais Guiomar Gama Gomes e Moisés Souza da Silva, constando reclamações de estarem sendo coagidos pelo denunciado ou por pessoas ligadas a ele, presumivel-mente para influenciarem negativamente no presente procedimento.

Conforme o exposto acima, estando devidamente evidenciado nos autos a conduta típica do denunciado, vez que na condução de veículo automotor, dirigindo em alta velocidade e presumidamente sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, posto que recusou-se a fazer o respectivo Exame, provocou aci-dente de trânsito, causando a morte de uma vítima e lesões graves a outras quatro, sendo assim, o denunciado está incurso nas sanções dos Arts. 302, 303 e 306 da Lei n. 9.503 de 23 de setembro de 1997 – Código de Trânsito Brasileiro (...).(Fls. 16-17 – Grifos nossos.)

3. A denúncia, portanto, narra que o Paciente estava “na condução de veí-culo automotor, dirigindo em alta velocidade” (fl. 17) e “veio a colidir na traseira

Page 407: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1407

do veículo” (fl. 16) das vítimas, sendo que quatro pessoas ficaram feridas e outra “faleceu em decorrência do acidente automobilístico provocado pelo” Paciente (fl. 16).

Esses fatos, indubitavelmente, configuram crimes.Ademais, houve indicação do dia, da hora e do local em que os fatos teriam

ocorrido, atendendo-se, assim, ao que dispõem o art. 41 do Código de Processo Penal.

4. É certo que, ao contrário do que afirmado na denúncia, não se pode pre-sumir que o Paciente estaria alcoolizado pela recusa em se submeter ao exame de dosagem alcoólica: a Constituição da República impede que se extraia qual-quer conclusão desfavorável àquele que, suspeito ou acusado de praticar alguma infração penal, exerce o direito de não produzir prova contra si mesmo.

Nesse sentido, entre outros, os HC 68.929, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 28-8-921; HC 73.035, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 13-11-962; HC 83.960, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 14-6-053; HC 75.257, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 17-6-974; HC 72.815, Rel. Min. Moreira Alves DJ de 6-10-955; HC 77.135,

1 “(...) Qualquer indivíduo que figure como objeto de procedimentos investigatórios policiais ou que ostente, em juízo penal, a condição jurídica de imputado, tem, dentre as várias prerrogativas que lhe são constitucionalmente asseguradas, o direito de permanecer calado. 'Nemo tenetur se de-tegere'. Ninguém pode ser constrangido a confessar a prática de um ilícito penal. O direito de per-manecer em silêncio insere-se no alcance concreto da cláusula constitucional do devido processo legal. E nesse direito ao silêncio inclui-se até mesmo por implicitude, a prerrogativa processual de o acusado negar, ainda que falsamente, perante a autoridade policial ou judiciária, a prática da infração penal.”2 Acentuou-se, no referido julgamento, que “não configura o crime de falso testemunho, quando a pessoa, depondo como testemunha, ainda que compromissada, deixa de revelar fatos que possam incriminá-la”.3 O julgado foi assim sintetizado: “(...) Assente a jurisprudência do Tribunal em que o comporta-mento do réu durante o processo, na tentativa de defender-se, não se presta a agravar-lhe a pena (cf. HC 72.815, 5-9-95, Moreira Alves, DJ de 6-10-95): é garantia que decorre da Constituição Federal, ao consagrar o princípio nemo tenetur se detegere (CF/88, art. 5º, LXIII).”4 “Ementa: – Habeas corpus. Falsidade ideológica. – No caso, a hipótese não diz respeito, pro-priamente, à falsidade quanto à identidade do réu, mas, sim, ao fato de o então indiciado ter faltado com a verdade quando negou, em inquérito policial em que figurava como indiciado, que tivesse assinado termo de declarações anteriores que, assim, não seriam suas. Ora, tendo o indiciado o direito de permanecer calado e até mesmo o de mentir para não auto-incriminar-se com as decla-rações prestadas, não tinha ele o dever de dizer a verdade, não se enquadrando, pois, sua conduta no tipo previsto no art. 299 do Código Penal. Habeas corpus deferido, para anular a ação penal por falta de justa causa.”5 “Ementa: – Habeas corpus. – O comportamento do réu durante o processo na tentativa de defender-se não pode ser levado em consideração para o efeito de aumento da pena, sendo certo, também, que o réu não está obrigado a dizer a verdade (art. 5º, LXIII, da Constituição) e que as testemunhas, se mentirosas, devem elas, sem reflexo na fixação da pena do réu em favor de quem depuseram, ser punidas, se for o caso, pelo crime de falso testemunho. Habeas corpus deferido em parte, estendida a concessão, ex officio, ao Co-réu.”

Page 408: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051408

Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 6-11-986; HC 75.616, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 14-11-077; e RE 199.570, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 20-3-988.

5. Na espécie vertente, contudo, a conclusão de que o Paciente estaria em-briagado não se amparou, exclusivamente, no fato de ele ter se recusado a fazer o exame de dosagem alcoólica.

A própria denúncia indica que o Paciente teria admitido que “havia inge-rido bebida alcoólica antes do fato” e que existiriam testemunhas nesse sentido, elementos em tese válidos, qualquer um deles, para amparar a denúncia.

6. Assinale-se, por fim, que não se questiona, no presente habeas corpus, a suficiência, em concreto, daqueles elementos, o que, aliás, não seria possível analisar, seja porque a instrução do pedido não permitiria, seja porque, de qual-quer sorte, a questão ultrapassaria os estreitos limites do procedimento sumário e documental do habeas corpus.

7. Pelo exposto, encaminho a votação no sentido de se denegar a ordem.É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

HC 93.916/PA — Relatora: Ministra Cármen Lúcia. Paciente: David Miranda de Almeida. Impetrantes: Roberto Lauria e outros. Coator: Superior Tribunal de Justiça.

6 “Ementa: Habeas corpus. Crime de desobediência. Recusa a fornecer padrões gráficos do próprio punho, para exames periciais, visando a instruir procedimento investigatório do crime de falsificação de documento. Nemo tenetur se detegere. Diante do princípio nemo tenetur se dete-gere, que informa o nosso direito de punir, é fora de dúvida que o dispositivo do inciso IV do art. 174 do Código de Processo Penal há de ser interpretado no sentido de não poder ser o indiciado compelido a fornecer padrões gráficos do próprio punho, para os exames periciais, cabendo apenas ser intimado para fazê-lo a seu alvedrio. É que a comparação gráfica configura ato de caráter essen-cialmente probatório, não se podendo, em face do privilégio de que desfruta o indiciado contra a auto-incriminação, obrigar o suposto autor do delito a fornecer prova capaz de levar à caracteriza-ção de sua culpa. Assim, pode a autoridade não só fazer requisição a arquivos ou estabelecimentos públicos, onde se encontrem documentos da pessoa a qual é atribuída a letra, ou proceder a exame no próprio lugar onde se encontrar o documento em questão, ou ainda, é certo, proceder à colheita de material, para o que intimará a pessoa, a quem se atribui ou pode ser atribuído o escrito, a es-crever o que lhe for ditado, não lhe cabendo, entretanto, ordenar que o faça, sob pena de desobe-diência, como deixa transparecer, a um apressado exame, o CPP, no inciso IV do art. 174. Habeas corpus concedido.”7 “Ementa: Habeas corpus. Paciente condenado pelos crimes dos arts. 329, caput, e 129, ca-put, do Código Penal. Prerrogativa constitucional que confere ao acusado o direito ao silêncio. O Acusado tem o direito de permanecer em silêncio ao ser interrogado, em virtude do princípio constitucional – nemo tenetur se detegere (art. 5º, LXIII), não traduzindo esse privilégio auto-incriminação. No caso dos autos, não há qualquer prejuízo que nulifique o processo, tendo em vista que o silêncio do acusado não constituiu a base da condenação, que se arrimou em outras provas colhidas no processo. Habeas corpus indeferido.”8 “Interrogatório – Acusado – Silêncio. A parte final do art. 186 do Código de Processo Penal, no sentido de o silêncio do acusado poder se mostrar contrário aos respectivos interesses, não foi recepcionada pela Carta de 1988, que, mediante o preceito do inciso LVIII do art. 5º, dispõe sobre o direito de os acusados, em geral, permanecerem calados (...).”

Page 409: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1409

Decisão: A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus. Unânime. Ausente, justificadamente, o Ministro Carlos Britto.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Ausente, justifica-damente, o Ministro Carlos Britto. Subprocurador-Geral da República, Dr. Rodrigo Janot.

Brasília, 10 de junho de 2008 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 410: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051410

HABEAS CORPUS 94.273 — SC

Relator: O Sr. Ministro Eros GrauPaciente: Rosana Aparecida Cordeiro — Impetrante: Thiago Turazzi

Luciano — Coator: Relator do Habeas Corpus 78.164 do Superior Tribunal de Justiça

Habeas corpus. Processual penal. Inobservância do rito da Lei 10.409/02. Anulação, ab initio, da ação penal. Manutenção da custódia preventiva. Situação mais gravosa à Paciente, que já se encontrava no regime semi-aberto. Excesso de prazo. Constrangimento ilegal.

1. A anulação da ação penal, por inobservância do rito da Lei 10.409/2002, não implica revogação automática da prisão preventiva. Todavia, no caso, quando da anulação, a Paciente estava cumprindo pena no regime semi-aberto. Anulado o pro-cesso desde o recebimento da denúncia, a manutenção da prisão cautelar configura situação mais gravosa, caracterizando mani-festo constrangimento ilegal.

2. Com a anulação da ação e a renovação dos atos processu-ais, é possível verificar, desde logo, duração excessiva da prisão cautelar.

Ordem concedida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Cezar Peluso, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, deferir a ordem no HC 94.273, estendendo-se para o HC 94.275, que ficou prejudicado.

Brasília, 22 de abril de 2008 — Eros Grau, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eros Grau: A Paciente e outra foram denunciadas em 10 de julho de 2007 pelos crimes dos arts. 12 e 14 da Lei 6.368/78, tendo sido presas preventivamente no dia 13 seguinte.

2. O Impetrante alega que a denúncia foi recebida e as Pacientes foram citadas e interrogadas sem observância do rito processual determinado no art. 38 da Lei 10.409/02.

3. O Ministro Paulo Gallotti, do Superior Tribunal de Justiça, deferiu, par-cialmente, habeas corpus para anular, desde o início, ação penal.

Page 411: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1411

4. Manteve, no entanto, as prisões cautelares da Paciente e da Co-ré. Este o constrangimento ilegal que se visa sanar nesta impetração.

5. O Impetrante alega que a Paciente cumpriu quase dois anos de reclusão e progrediu do regime fechado para o semi-aberto.

6. Sustenta que, tendo sido as prisões cautelares decretadas na decisão que recebeu a denúncia, anulada esta, aquelas não podem subsistir.

7. Argumenta ainda com o excesso de prazo, porquanto a Paciente já cum-priu, sem sentença definitiva, quase dois anos da pena de sete, situação que se agravará se permanecerem no cárcere aguardando o novo trâmite processual.

8. O Impetrante requer seja a ordem concedida a fim de que a Paciente possa responder ao processo em liberdade.

9. O parecer da Procuradoria-Geral da República é no sentido do deferi-mento do habeas corpus.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): O pequeno trecho do parecer do Subprocurador-Geral da República Edson Oliveira de Almeida, transcrito abaixo, elucida e soluciona a questão:

Entendo que assiste razão ao impetrante.Certo que a anulação do processo não gera a revogação da custódia cautelar.

Porém no caso sob exame, verifica-se que a anulação decorreu do pleito da defesa, no momento em que a paciente já estava cumprindo sua pena no regime semi-aberto, portanto, em situação mais favorável. Com a anulação do processo desde o recebimento da denúncia e o conseqüente desaparecimento da condenação, a res-tauração da prisão cautelar da paciente, com retorno a uma situação mais gravosa, mostra-se incongruente.

Demais, diante da nulidade do processo, por inobservância do rito do art. 38 da Lei 10.409/2002, é possível verificar, desde logo, o excesso de prazo na duração da prisão cautelar.

Tudo está a indicar, portanto, que a segregação cautelar não mais se justifica.Isso posto, opino pela concessão da presente ordem, para expedição de al-

vará de soltura.

2. Cabe o registro de que a Paciente, ao usufruir das saídas temporárias, submeteu-se, voluntariamente, ao “Sistema de Monitoramento por Satélite”, usando tornozeleiras de identificação.

3. O Impetrante ajuizou, além deste writ, o HC 94.275, apresentando os mesmos fundamentos em favor da co-ré Rosangela Francisco de Almeida ou Rosângela Francisca de Almeida, co-ré cuja situação processual é idêntica a da ora Paciente.

Page 412: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051412

Defiro a ordem, a fim de que a Paciente responda à ação penal em liber-dade, estendendo-a à co-ré Rosângela, e julgo prejudicado o HC 94.275, por perda do objeto.

EXTRATO DA ATA

HC 94.273/SC — Relator: Ministro Eros Grau. Paciente: Rosana Aparecida Cordeiro. Impetrante: Thiago Turazzi Luciano. Coator: Relator do Habeas Corpus 78.164 do Superior Tribunal de Justiça.

Decisão: Deferida a ordem no HC 94.273, estendendo-se para o HC 94.275, que ficou prejudicado. Decisão unânime. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes. Presidiu este julga-mento o Ministro Cezar Peluso.

Presidência do Ministro Cezar Peluso. Presentes à sessão os Ministros Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves.

Brasília, 22 de abril de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 413: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1413

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 472.489 — RS

Relator: O Sr. Ministro Celso de MelloAgravante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS — Agravado:

Ministério Público Federal

Direitos individuais homogêneos – Segurados da Previ-dência Social – Certidão parcial de tempo de serviço – Recusa da autarquia previdenciária – Direito de petição e direito de obtenção de certidão em repartições públicas – Prerrogativas jurídicas de índole eminentemente constitucional – Existência de relevante interesse social – Ação civil pública – Legitimação ativa do Ministério Público – A função institucional do Ministério Público como “defensor do povo” (CF, art. 129, II) – Doutrina – Precedentes – Recurso de agravo improvido.

– O direito à certidão traduz prerrogativa jurídica, de ex-tração constitucional, destinada a viabilizar, em favor do indiví-duo ou de uma determinada coletividade (como a dos segurados do sistema de previdência social), a defesa (individual ou cole-tiva) de direitos ou o esclarecimento de situações.

– A injusta recusa estatal em fornecer certidões, não obs-tante presentes os pressupostos legitimadores dessa pretensão, autorizará a utilização de instrumentos processuais adequados, como o mandado de segurança ou a própria ação civil pública.

– O Ministério Público tem legitimidade ativa para a de-fesa, em juízo, dos direitos e interesses individuais homogêneos, quando impregnados de relevante natureza social, como sucede com o direito de petição e o direito de obtenção de certidão em repartições públicas. Doutrina. Precedentes.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, na conformidade da ata do jul-gamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, a Ministra Ellen Gracie.

Brasília, 29 de abril de 2008 — Celso de Mello, Presidente e Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Celso de Mello: Trata-se de recurso de agravo, tempes-tivamente interposto, contra decisão que conheceu e negou provimento ao recurso extraordinário deduzido na presente causa (fls. 570/578).

Page 414: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051414

Inconformada com esse ato decisório, a parte ora agravante interpõe o presente recurso, postulando o conhecimento e o provimento do apelo ex-tremo que deduziu (fls. 585/601).

Por não me convencer das razões expostas, submeto, à apreciação desta Colenda Turma, o presente recurso de agravo.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Celso de Mello (Relator): Não assiste razão à parte recor-rente, eis que a decisão agravada ajusta-se, com integral fidelidade, à diretriz jurisprudencial que o Supremo Tribunal Federal firmou na matéria ora em exame.

Com efeito, e tal como ressaltado na decisão ora agravada, o recurso extraordinário deduzido pela parte recorrente foi interposto contra decisão, que, proferida pelo E. Tribunal Regional Federal/4ªRegião, acha-se consubs-tanciada em acórdão assim ementado (fls. 428/429):

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. DIREITO À CER-TIDÃO PARCIAL DE TEMPO DE SERVIÇO. ART. 130, II, “A”, DO DECRETO Nº 3.048/99. NULIDADE. COISA JULGADA. EFEITOS.

1. O Ministério Público Federal tem legitimidade para ajuizar ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos, desde que esteja configu-rado interesse social relevante.

2. Precedentes do STJ.3. A Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXIV, “b”, garante ao segu-

rado a obtenção de certidões perante as repartições públicas, com a finalidade precípua de defesa de seus direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal. Não é lícito ao INSS a restrição ao cidadão de obtenção de certidão parcial de tempo de serviço, baseada em norma regulamentar que importa óbice ao exercício de um direito constitucionalmente assegurado. Ademais, não existe no ordenamento pátrio lei em sentido estrito que impeça o segurado de obter mencionada certidão.

Com precisão, o jurista Celso de Mello (José Celso Mello Filho. Constituição Federal Anotada. 2ª edição. Saraiva. p. 488) aponta os pressupostos necessários para a utilização do direito de certidão: legítimo interesse (existência de direito individual ou da coletividade a ser defendido); ausência de sigilo e “res habilis” (atos administrativos e atos judiciais são objetos certificáveis).

Cumpre ressaltar que a Lei 8.213/91 não estabelece restrição em nenhum dispositivo quanto à exigência de que as certidões expedidas pelo setor compe-tente do INSS devam abranger o período integral de filiação à previdência social, por isso, não cabe a regulamento impor esta restrição. Não assiste à autarquia federal tal esfera de poder discricionário.

Portanto, não há no ordenamento jurídico pátrio, lei que impeça o segu-rado de obter certidão parcial do tempo de serviço que tem averbado em seu favor, constituindo-se o art. 130 do Decreto 3.048/99 em verdadeiro óbice ao

Page 415: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1415

exercício de um direito constitucionalmente garantido, que extrapola os limites que lhe são próprios, configurando abuso do poder regulamentar.

4. A inovação insculpida no art.16 da Lei nº 7.347/85, fruto da edição da Lei nº 9.494/97, em nada alterou a disciplina dos efeitos da coisa julgada nas ações coletivas, em razão do disposto nos arts. 103 do CDC e 21 da Lei nº 7.347/85.

5. Improvimento da apelação e da remessa oficial.(AC 2000.71.00.010059-0, Rel. Des. CARLOS EDUARDO THOMPSON FLORES LENZ – Grifei.)

A parte ora recorrente, ao deduzir o recurso extraordinário em questão, sustentou que o acórdão impugnado teria transgredido os preceitos inscritos nos arts. 127 e 129, inciso III, da Constituição da República.

O Ministério Público Federal, em manifestação da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da República, Dra. SANDRA CUREAU, ao opinar pelo improvimento do apelo extremo, formulou parecer assim ementado (fls. 548/555):

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINIS-TÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE ATIVA. DIREITOS INDIVIDUAIS DISPO-NÍVEIS. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AOS ARTS. 127 E 129, INCISO III, DA CF. I – LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA REFERENTE A DIREITOS INDIVIDUAIS DISPO-NÍVEIS, SEMPRE QUE HOUVER INTERESSE SOCIAL RELEVANTE. II – INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA E SISTEMÁTICA DA CF, EM RELAÇÃO À TUTELA DOS DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS. III – PARECER PELO DES-PROVIMENTO DO RECURSO.(Grifei.)

O exame da presente causa convence-me da inteira correção dos fun-damentos, que, invocados pelo Ministério Público Federal, informam e dão consistência ao seu douto parecer.

Torna-se necessário reconhecer que o direito à certidão traduz prerro-gativa jurídica, de extração constitucional, destinada a viabilizar, em favor do indivíduo ou de uma determinada coletividade (como a dos segurados do sistema de previdência social), a defesa (individual ou coletiva) de direitos ou o esclarecimento de situações, de tal modo que a injusta recusa estatal em for-necer certidões, não obstante presentes os pressupostos legitimadores dessa pretensão, autorizará a utilização de instrumentos processuais adequados, como o mandado de segurança (RT 222/447 – RT 294/454 – RF 230/83, v.g.) ou a própria ação civil pública, esta, nos casos em que se configurar a existência de direitos ou interesses de caráter transindividual, como os direitos difusos, os direitos coletivos e os direitos individuais homogêneos.

Isso significa, portanto, presente o contexto em exame, que, tratando-se de interesses ou direitos individuais homogêneos, “assim entendidos os decor-rentes de origem comum” (CDC, art. 81, parágrafo único, n. III), justifica-se o reconhecimento da legitimidade ativa “ad causam” do Ministério Público

Page 416: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051416

para o ajuizamento da ação civil pública, pois, segundo entendimento desta própria Corte Suprema, os direitos ou interesses individuais homogêneos qualificam-se como “subespécie de direitos coletivos” (RTJ 178/377-378, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, Pleno), o que viabiliza a utilização – in-teiramente adequada ao caso – desse importante instrumento de proteção jurisdicional de situações jurídicas impregnadas, como sucede na espécie, de metaindividualidade.

Vale referir, por extremamente pertinente, expressiva decisão emanada do E. Superior Tribunal de Justiça, em cujo pronunciamento se registra a orientação que atribui, ao “parquet”, qualidade para fazer instaurar processo coletivo destinado a possibilitar a tutela judicial de direitos ou de interesses individuais homogêneos:

O art. 21 da Lei nº 7.345, de 1985 (inserido pelo art. 117 da Lei nº 8.078/90), estendeu, de forma expressa, o alcance da ação civil pública à defesa dos inte-resses e ‘direitos individuais homogêneos’, legitimando o MP, extraordinaria-mente e como substituto processual, para exercitá-la (art. 81, parágrafo único, III, da L. nº 8.078/90).(RF 331/230, Rel. Min. DEMÓCRITO REINALDO – Grifei.)

Cabe destacar, neste ponto, por oportuno, na linha do que se vem acentu-ando, a correta advertência que a douta Procuradoria-Geral da República fez, em seu pronunciamento, no caso ora em exame (fls. 551/553):

Não assiste razão ao recorrente quando pretende, em síntese, demonstrar que a decisão atacada ofendeu o contido no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, que cuida da legitimidade ativa do Ministério Público para propor ação civil pública, mesmo sendo o caso de matéria relativa a direitos individuais ho-mogêneos e disponíveis.

Inicialmente, vale frisar ser incorreta a afirmação genérica de que o “Parquet” não pode defender interesses individuais homogêneos. Tal afirmação é demasiadamente superficial. Se a defesa de tais interesses envolver relevante abrangência social, como a hipótese dos presentes autos, que trata do direito dos segurados da previdência social obterem certidão relativa ao seu tempo de ser-viço, deverá a ação civil pública correspondente ser intentada pela instituição. Ou seja, se, no caso concreto, a defesa coletiva de interesses transindividuais assumir importante papel social, não se poderá negar ao Ministério Público a defesa desses direitos.

(...)Destarte, válido ainda destacar que a Constituição Federal de 1988, em

seu art. 129, inciso III, traz apenas as expressões “interesses difusos e coleti-vos”, pois foi em 1990, ano da edição do Código de Defesa do Consumidor, que a expressão “interesses individuais homogêneos” foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro. Dessa forma, quando a Carta Magna diz “interesses difu-sos e coletivos”, na realidade, está a referir-se aos interesses transindividuais “lato sensu”, nos quais também estão abrangidos os “interesses individuais homogêneos”.

(...)

Page 417: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1417

Depreende-se da análise dos autos, sem dúvida alguma, que a “quaestio iuris” é eminentemente social, na medida em que a Carta Magna garante ao segurado a obtenção de certidões perante as repartições públicas, seja para a defesa de seus direitos, seja para esclarecimentos de situações de interesse pes-soal. Assim sendo, não pode o INSS impor restrição ao cidadão para obtenção das mencionadas certidões de tempo de serviço, não havendo que se questionar, portanto, a legitimidade do “Parquet” para atuar no feito.(Grifei.)

Esse entendimento – que reconhece legitimidade ativa ao Ministério Público para a defesa, em juízo, dos direitos e interesses individuais homogê-neos, quando impregnados de relevante natureza social – reflete-se na juris-prudência firmada por esta Suprema Corte (RTJ 185/302, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 491.195-AgR/SC, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – RE 213.015/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – RE 255.207/MA, Rel. Min. CEZAR PELUSO – RE 394.180-AgR/CE, Rel. Min. ELLEN GRACIE – RE 424.048-AgR/SC, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – RE 441.318/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RE 470.135-AgR-ED/MT, Rel. Min. CEZAR PELUSO):

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROMOVER AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM DEFESA DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E HOMOGÊNEOS. (...).

1. A Constituição Federal confere relevo ao Ministério Público como insti-tuição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e indivi-duais indisponíveis (CF, art. 127).

(...)4. Direitos ou interesses homogêneos são os que têm a mesma origem co-

mum (art. 81, III, da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990), constituindo-se em subespécie de direitos coletivos.

4.1. Quer se afirmem interesses coletivos ou particularmente interesses homogêneos, “stricto sensu”, ambos estão cingidos a uma mesma base jurídica, sendo coletivos, explicitamente dizendo, porque são relativos a grupos, catego-rias ou classes de pessoas, que, conquanto digam respeito às pessoas isolada-mente, não se classificam como direitos individuais para o fim de ser vedada a sua defesa em ação civil pública, porque sua concepção finalística destina-se à proteção desses grupos, categorias ou classe de pessoas.

(...)Recurso extraordinário conhecido e provido, para, afastada a alegada

ilegitimidade do Ministério Público, com vistas à defesa dos interesses de uma coletividade, determinar a remessa dos autos ao Tribunal de origem, para pros-seguir no julgamento da ação.(RTJ 178/377-378, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA – Grifei.)

Tenho para mim que se revela inquestionável a qualidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública objetivando, em sede de processo coletivo – hipótese em que estará presente “o interesse social, que legitima

Page 418: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051418

a intervenção e a ação em juízo do Ministério Público (CF 127 ‘caput’ e CF 129 IX)” (NELSON NERY JUNIOR, “O Ministério Público e as Ações Coletivas”, “in” “Ação Civil Pública”, p. 366, coord. por Édis Milaré, 1995, RT – grifei) –, a defesa de direitos individuais homogêneos, porque revestidos de inegável relevância social, como sucede com o direito de petição e o de obten-ção de certidão em repartições públicas (CF, art. 5º, XXXIV), que traduzem prerrogativas jurídicas de índole eminentemente constitucional, ainda mais se analisadas na perspectiva dos direitos fundamentais à previdência social (CF, art. 6º) e à assistência social (CF, art. 203).

Na realidade, o que o Ministério Público postulou nesta sede processual nada mais foi senão o reconhecimento – e conseqüente efetivação – do direito dos segurados da Previdência Social à obtenção da certidão parcial de tempo de serviço.

Nesse contexto, põe-se em destaque uma das mais significativas funções institucionais do Ministério Público, consistente no reconhecimento de que lhe assiste a posição eminente de verdadeiro “defensor do povo” (HUGO NIGRO MAZZILLI, “Regime Jurídico do Ministério Público”, p. 224/227, item n. 24, “b”, 3ª ed., 1996, Saraiva, v.g.), incumbido de impor, aos poderes públicos, o respeito efetivo aos direitos que a Constituição da República assegura aos ci-dadãos em geral (CF, art. 129, II), podendo, para tanto, promover as medidas necessárias ao adimplemento de tais garantias, o que lhe permite a utilização das ações coletivas, como a ação civil pública, que representa poderoso instru-mento processual concretizador das prerrogativas fundamentais atribuídas, a qualquer pessoa, pela Carta Política, “(...) sendo irrelevante o fato de tais direi-tos, individualmente considerados, serem disponíveis, pois o que lhes confere relevância é a repercussão social de sua violação, ainda mais quando têm por titulares pessoas às quais a Constituição cuidou de dar especial proteção” (fl. 534 – Grifei).

Não foi por outra razão que o E. Superior Tribunal de Justiça, ao ana-lisar controvérsia semelhante à versada nos presentes autos, proferiu decisão consubstanciada em acórdão assim ementado:

– O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação civil pú-blica em defesa de direitos individuais homogêneos, desde que esteja configurado interesse social relevante.(RF 340/251, Rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO – Grifei.)

Essa orientação, acolhida pelo v. acórdão ora recorrido, vem sendo ob-servada em sucessivas decisões emanadas do E. Superior Tribunal de Justiça (REsp 49.272/RS, Rel. Min. DEMÓCRITO REINALDO – REsp 105.215/DF, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA – REsp 108.577/PI, Rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO – REsp 141.491-EDv/SC, Rel. Min. WALDEMAR ZVEITER – REsp 177.965/PR, Rel. Min. RUY ROSADODE AGUIAR – REsp 183.569/AL, Rel. Min. LUIZ FUX – REsp

Page 419: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1419

229.226-AgR-AgR/RS, Rel. Min. CASTRO MEIRA – REsp 404.239/PR, Rel. Min. RUY ROSADO AGUIAR – REsp 586.307/MT, Rel. Min. LUIZ FUX – REsp 776.549/MG, Rel. Min. LUIZ FUX – REsp 817.710/RS, Rel. Min. LUIZ FUX), valendo destacar, a esse respeito, o seguinte julgamento que essa Alta Corte proferiu (fl. 540):

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBTENÇÃO DE CERTIDÕES DE TEMPO DE SERVIÇO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DIREITOS FUNDAMENTAIS. ART. 5º, XXXIV, DA C.F.

1. Pode ser reclamado, por meio de ação civil pública, o direito à obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal (inciso XXXIV do artigo 5º da Constituição Federal).

2. Em conseqüência, tem o Ministério Público legitimidade para propor ação civil pública para amparar interesses sociais difusos ou coletivos.

3. Recurso especial improvido.(REsp 554.960/RS, Rel. Min. CASTRO MEIRA – Grifei.)

A existência, na espécie, de interesse social relevante, amparável me-diante ação civil pública, ainda mais se põe em evidência, quando se tem presente – considerado o contexto em causa – que os direitos individuais homogêneos ora em exame revestem-se, por efeito de sua natureza mesma, de índole eminentemente constitucional, a legitimar, desse modo, a instauração, por iniciativa do Ministério Público, de processo coletivo destinado a viabilizar a tutela jurisdicional de tais direitos.

Daí a correta observação constante do douto voto proferido pelo emi-nente Ministro CASTRO MEIRA, Relator, quando do julgamento, pelo E. Superior Tribunal de Justiça, do já mencionado REsp 554.960/RS (fl. 537):

No caso em exame, o direito que se pretende garantir – obtenção de cer-tidões de tempo de serviço – é inerente ao princípio da publicidade e é um dever de probidade e moralidade que o constituinte impôs ao administrador, pois diz respeito à necessidade de transparência da atuação do Estado, a quem é imposta, por força do artigo 5º, inciso XXXIV, da Carta Magna, a prestação de informa-ções aos administrados sobre seus direitos.

Desta forma, partindo-se do entendimento de que o inciso XXXIV do art. 5º da Constituição Federal é um direito fundamental, assegurado pela Constituição, que pode ser reclamado por meio de ação civil pública.

No caso, a ação civil pública, em verdade, se constitui em uma das garan-tias instrumentais dos direitos assegurados pela Constituição Federal, tendo o Ministério Público legitimidade para propô-la.(Grifei.)

Essa mesma compreensão do tema é também perfilhada por autorizado magistério doutrinário (PEDRO LENZA, “Teoria Geral da Ação Civil Pública”, p. 215/218, item n. 3.7.3, 2ª ed., 2005, RT; JOÃO BATISTA DE ALMEIDA, “Aspectos Controvertidos da Ação Civil Pública”, p. 96/97, item n. 3.1.1, 2001, RT; NELSON NERY JUNIOR, “O Ministério Público e as Ações

Page 420: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051420

Coletivas”, “in” “Ação Civil Pública”, Coordenador Édis Milaré, p. 356/366, 1995, RT; ADA PELLEGRINI GRINOVER, “A Ação Civil Pública e a De-fesa de Interesses Individuais Homogêneos”, “in” Revista de Direito do Consumidor, vol. 5/206-229; LUIZ MANOEL GOMES JÚNIOR, “Curso de Direito Processual Civil Coletivo”, p. 37/48, item n. 2.3.1.1, 2005, Forense; HUMBERTO DALLA BERNARDINA DE PINHO, “A Natureza Jurídica do Di-reito Individual Homogêneo e sua Tutela pelo Ministério Público como Forma de Acesso à Justiça”, p. 73/77, item n. 1.3.3.1, 2002, Forense; EUGÊNIA AU-GUSTA GONZAGA FÁVERO, “Ação Civil Pública: A Legitimidade do Minis-tério Público para a Defesa de Interesses Individuais Homogêneos”, “in” “Ação Civil Pública (20 Anos da Lei nº 7.347/85)”, p. 258/263, itens ns. 6 e 7, 2006, Del Rey; PAULO GUSTAVO GUEDES FONTES, “Legitimidade do Minis-tério Público para a Defesa dos Interesses Individuais Homogêneos: Impor- tância em Face do Caráter Individualista do Controle Judicial da Adminis-tração do Brasil”, “in” “Ação Civil Pública (20 Anos da Lei nº 7.347/85)”, p. 265/277, 2006, Del Rey), cabendo referir, a propósito dessa matéria, a expres-siva lição de NELSON NERY JUNIOR e de ROSA MARIA DE ANDRADE NERY (“Código de Processo Civil Comentado”, p. 264, 9ª ed., 2006, RT):

No entanto, o feixe de direitos individuais, ainda que disponíveis, que te-nham origem comum, qualifica esses direitos como sendo individuais homogê-neos (CDC 81 par. ún. III), dando ensejo à possibilidade de sua defesa poder ser realizada coletivamente em juízo (CDC 81 “caput” par. ún. III). Essa “ação co-letiva” é deduzida no interesse público em obter-se sentença única, homogênea, com eficácia “erga omnes” da coisa julgada (CDC 103 III), evitando-se decisões conflitantes. Por essa razão está o MP legitimado a propor em juízo a ação cole-tiva para a defesa de direitos individuais homogêneos (...).

A obrigação de o MP ajuizar ACP na defesa de direitos individuais homo-gêneos está expressa, sem restrições, na LOMP 25 IV “a”. A LOMPU 6.º VII “d”, aplicável ao MP dos Estados (LOMP 80), legitima o MP para ajuizar ACP na defesa de “outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos”. A LOMPU 6.º XII determina ser atribuição do MP “propor ação coletiva para a defesa de interesses individuais homogêneos”, não deixando dúvidas sobre a legitimidade e a obrigatoriedade de o MP ajuizar “ACP coletiva” na defesa desses direitos “individuais homogêneos”.(Grifei.)

Os fundamentos que dão suporte à decisão ora impugnada, quer aqueles de caráter doutrinário, quer os de índole jurisprudencial, todos por mim pre-cedentemente referidos, levam-me a concluir, no exame desta causa, que o acórdão recorrido ajusta-se à diretriz jurisprudencial que esta Suprema Corte firmou na análise da controvérsia constitucional em questão.

Sendo assim, tendo em consideração as razões expostas, nego provi-mento ao presente recurso de agravo, mantendo, em conseqüência, por seus próprios fundamentos, a decisão ora agravada.

É o meu voto.

Page 421: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1421

EXTRATO DA ATA

RE 472.489-AgR/RS — Relator: Ministro Celso de Mello. Agravante: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS (Advogada: Isabella Silva Oliveira). Agravado: Ministério Público Federal.

Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julga-mento, a Ministra Ellen Gracie.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausente, justificadamente, a Ministra Ellen Gracie. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 29 de abril de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 422: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051422

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 504.873 — RJ

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoAgravante: Rodoviário Líder Ltda. — Agravada: União

Recurso. Agravo. Regimental. Inadmissibilidade. Decisão monocrática assinada por chancela eletrônica. Validade. Agravo regimental improvido. É válida a decisão monocrática subscrita por chancela eletrônica, nos termos da Resolução STF 293.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao agravo regimental. Ausentes, justi-ficadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa.

Brasília, 12 de fevereiro de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Trata-se de agravo regimental contra decisão do teor seguinte:

1. Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão proferido por Tribunal Regional Federal, acerca da constitucionalidade de dispositivos da Lei 9.718/98.

2. Consistente, em parte, o recurso.Uma das teses do acórdão recorrido está em aberta divergência com a orien-

tação da Corte, cujo Plenário, em data recente, consolidou, com nosso voto ven-cedor declarado, o entendimento de inconstitucionalidade apenas do § 1º do art. 3º da Lei 9.718/98, que ampliou o conceito de receita bruta, violando assim a noção de faturamento pressuposta na redação original do art. 195, I, b, da Constituição da República, e cujo significado é o estrito de receita bruta das vendas de merca-dorias e da prestação de serviços de qualquer natureza, ou seja, soma das receitas oriundas do exercício das atividades empresariais (cf. RE 346.084/PR, Rel. orig. Min. Ilmar Galvão; RE 357.950/RS, RE 358.273/RS e RE 390.840/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, todos julgados em 9-11-05. Ver Informativo STF 408, p. 1).

No mesmo julgamento, o Plenário afastou a argüição de inconstitucionali-dade da Lei 9.715/98, bem como do art. 8º da Lei 9.718/98, que prevê majoração da alíquota da Cofins de 2% para 3%. E estabeleceu, ainda, que, ante a exigência contida no art. 195, § 6º, da Constituição Federal, a Lei 9.718/98 entrou a produzir efeitos a partir de 1º de fevereiro de 1999.

No que toca à compensação facultada à pessoa jurídica pelo § 1º do art. 8º da Lei 9.718/98, esta Corte, no julgamento do RE 336.134 (Pleno, Rel. Min. Ilmar

Page 423: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1423

Galvão, DJ de 16-5-03), reputou-a constitucional, ao afastar alegada ofensa ao princípio da isonomia.

3. Diante do exposto, e com fundamento no art. 557, § 1º-A, do CPC, co-nheço do recurso e dou-lhe parcial provimento, para, concedendo, em parte, a or-dem, excluir, da base de incidência da Cofins, receita estranha ao faturamento da Recorrente, entendido esse nos termos já suso enunciados. Custas em proporção.(Fls. 259-260.)

Alega a Agravante não ser válida a decisão recorrida, em razão de não es-tar devidamente subscrita (assinada de próprio punho) pelo Relator.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Sem razão a Agravante.A Resolução STF 293, de 19-8-04, instituiu, no âmbito da Corte, a possi-

bilidade, a critério de cada Ministro, de subscrição de decisões monocráticas por chancela eletrônica, definida, nos termos do parágrafo único do art. 1º da citada resolução, como sendo “a reprodução exata da assinatura ou da rubrica de próprio punho, com descrição do nome do Ministro, resguardada por carac-terísticas técnicas, mediante o emprego de recursos próprios de informática”.

De modo que a decisão recorrida, não obstante assinada digitalmente, é plenamente válida.

2. Ante o exposto, nego provimento ao agravo.

EXTRATO DA ATA

RE 504.873-AgR/RJ — Relator: Ministro Cezar Peluso. Agravante: Rodoviário Líder Ltda. (Advogados: José Márcio Diniz Filho e outros). Agravada: União (Advogada: PFN – Rosane Blanco Ozorio Bomfiglio).

Decisão: Negado provimento ao agravo regimental. Decisão unânime. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Presidiu este julgamento o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso e Eros Grau. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.

Brasília, 12 de fevereiro de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 424: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051424

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 507.153 — MG

Relator: O Sr. Ministro Eros GrauAgravante: Universidade Federal de Uberlândia – UFU — Agravados:

Érika Wrobel e outros

Agravo regimental no recurso extraordinário. Servidor público. Anistia. Reintegração. Competência da Justiça comum. Art. 8º, § 5º, do ADCT. Ressarcimento de todos os salários e van-tagens devidos a partir da promulgação da Constituição de 1988. Precedentes.

1. A Justiça comum é competente para julgar a reintegra-ção de servidor público, mesmo que tenha sido regido pela Con-solidação das Leis do Trabalho (CLT), demitido antes do advento do Regime Jurídico Único.

2. Este Supremo Tribunal Federal reconheceu serem de-vidas aos servidores demitidos e posteriormente anistiados, nos termos do art. 8º, § 5º, do ADCT, o recebimento de todos os salários e vantagens pecuniárias a partir da promulgação da Constituição de 1988.

Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 3 de junho de 2008 — Eros Grau, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eros Grau: Neguei seguimento ao recurso extraordinário nos seguintes termos:

Decisão: Discute-se no presente recurso extraordinário o direito dos servi-dores anistiados e reintegrados ao serviço público federal – com respaldo no dis-posto no art. 8º, § 5º, do ADCT – ao ressarcimento de todos os salários e vantagens devidos a partir da promulgação da Constituição do Brasil.

2. O Tribunal a quo decidiu que os Recorridos fazem jus ao ressarcimento aludido, nos termos do disposto no art. 8º, § 1º, do ADCT.

3. No julgamento dos embargos declaratórios, afirmou-se que “[c]ompete à Justiça Federal julgar os feitos em que se discute pedido de reintegração em

Page 425: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1425

cargo público federal, ainda que tenha sido o servidor regido pelo regime celetista e tenha sido dispensado antes da instituição do Regime Jurídico Único” (fl. 182).

4. A Recorrente sustenta a competência da Justiça do Trabalho, vez que a concessão da anistia ocorreu em período anterior à superveniência do Regime Jurídico Único, quando os servidores ainda eram regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

5. Alega que apenas seriam devidas reparações pecuniárias a partir da data da efetiva readmissão no serviço público (art. 8º, caput e § 5º, do ADCT).

6. O Supremo fixou entendimento no sentido de que “abrangida a relação de trabalho pelo regime único, de índole estatutária, a competência para julgar a de-manda é da Justiça comum. Tratando-se de servidor federal, submetido ao regime único, Lei 8.112/90, a competência é da Justiça Federal”, ainda que anteriormente ele tenha sido regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (AI 176.228-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 11-10-96).

7. Este Tribunal decidiu que “[a] estrutura normativa da regra excepcional da Constituição Federal permite a reparação das vantagens pecuniárias a partir de 5 de outubro de 1988, afastando os efeitos financeiros retroativos à vigência da nova ordem constitucional” (RE 220.801, Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJ de 25-8-00).

Nego seguimento ao recurso com esteio no disposto no art. 21, § 1º, do RISTF.

2. A Agravante sustenta que “a lide se circunscreve à condenação ao pa-gamento de verbas oriundas do período celetista e também de verbas oriundas do período estatutário. Se esse é o quadro, emerge a incompetência da Justiça Federal para condenar a Universidade ao pagamento de parcelas supostamente devidas no período compreendido entre 5-10-88 e 10-12-90” (fl. 301).

3. Requer o provimento deste regimental.É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eros Grau (Relator): A decisão agravada deve ser mantida, eis que os argumentos apresentados não são suficientes para refutá-la.

2. O Supremo fixou entendimento no sentido de que “abrangida a relação de trabalho pelo regime único, de índole estatutária, a competência para julgar a demanda é da Justiça comum. Tratando-se de servidor federal, submetido ao regime único, Lei 8.112/90, a competência é da Justiça Federal”, ainda que an-teriormente ele tenha sido regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (AI 176.228-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 11-10-96).

3. Este Tribunal decidiu que “[a] estrutura normativa da regra excepcional da Constituição Federal permite a reparação das vantagens pecuniárias a partir de 5 de outubro de 1988, afastando os efeitos financeiros retroativos à vigên-cia da nova ordem constitucional” (RE 220.801, Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJ de 25-8-00).

Nego provimento ao agravo regimental.

Page 426: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051426

EXTRATO DA ATA

RE 507.153-AgR/MG — Relator: Ministro Eros Grau. Agravante: Univer-sidade Federal de Uberlândia – UFU (Advogada: Procuradoria-Geral Federal). Agravados: Érika Wrobel e outros (Advogados: Luiz Daniel Felipe e outros).

Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julga-mento, a Ministra Ellen Gracie.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão a Ministra Ellen Gracie e os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 3 de junho de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 427: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1427

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 515.366 — SP

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoAgravante: Volkswagen do Brasil Ltda. – Indústria de Veículos Automo-

tores — Agravado: André dos Santos

Recurso. Agravo. Regimental. Acidente de trabalho. Inde-nização. Competência. Decisão mantida. Agravo regimental não provido. É competente a Justiça do Trabalho para julgar ação de indenização decorrente de acidente do trabalho quando não há sentença de mérito, antes da promulgação da Emenda Constitucional 45/04.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Gilmar Mendes, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento ao agravo regimental. Ausentes, justi-ficadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa.

Brasília, 26 de fevereiro de 2008 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Trata-se de agravo regimental contra decisão do teor seguinte:

1. Trata-se de recurso extraordinário contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que reconheceu a competência da Justiça do Trabalho para ação de indenização por danos decorrentes de acidente de trabalho.

2. Inconsistente o recurso.Com efeito, em data recente o Plenário da Corte, com voto declarado nosso,

reviu sua jurisprudência para assentar que, quaisquer que sejam os danos, “As ações de indenização propostas por empregado contra empregador, fundadas em acidente do trabalho, são da competência da Justiça do Trabalho” (CC 7.204, Rel. Min. Carlos Britto, cf. Informativo 394/05).

Na mesma oportunidade, ficou ainda decidido que “as ações que tramitam perante a Justiça comum dos Estados, com sentença de mérito anterior à promul-gação da EC 45/04, lá continuam até o trânsito em julgado e correspondente exe-cução. Quanto àquelas cujo mérito ainda não foi apreciado, hão de ser remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em que se encontram, com total aproveitamento dos atos praticados até então”.

No caso, não existe sentença de mérito. Desse modo, o acórdão recorrido está de acordo com a jurisprudência desta Corte.

3. Do exposto, nego seguimento ao recurso (art. 21, § 1º, do RISTF; art. 38 da Lei 8.038, de 28-5-90; e art. 557 do CPC).(Fl. 464.)

Page 428: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051428

Alega o Agravante, em síntese, que: a) a sentença que decretou a extinção do processo sem julgamento de mérito acolheu transação extrajudicial realizada entre as partes e, deste modo, implicaria em decisão de mérito que, publicada antes da vigência da EC 45/04, deveria confirmar a competência jurisdicional da Justiça comum; b) indica decisão no RE 496.016/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, que deu provimento ao recurso, em caso idêntico.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Inconsistente o recurso.2. A decisão agravada invocou e resumiu os fundamentos do entendi-

mento invariável da Corte, cujo teor subsiste invulnerável aos argumentos do re-curso, os quais nada acrescentaram à compreensão e ao desate da quaestio iuris.

No tocante à sentença proferida pela Justiça estadual e publicada em 24-5-04, fls. 358-360, relata a própria Agravante ter sido extinto o processo, sem julgamento de mérito, por carência de ação, por falta de interesse de agir, nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil:

Art. 267. Extingue-se o processo, sem julgamento do mérito: VI – quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibi-

lidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;

Aponta, também, divergência entre decisão proferida por esta Corte no RE 496.016 (Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 14-9-06), cujo caso seria idên-tico ao presente, e que suposta transação extrajudicial entre as partes teria sido o motivo da extinção do feito, e, portanto, a sentença seria de mérito, na forma do disposto no art. 269, III, do CPC. Tal divergência não encontra, nos autos, elementos capazes de o confirmar.

No que tange ao critério utilizado para a aplicação da orientação firmada no julgamento do CC 7.204 (Rel. Min. Carlos Britto, DJ de 9-12-05) aos pro-cessos em trâmite, naquela assentada ficou estabelecido como marco temporal da competência da Justiça Trabalhista o advento da EC 45/04, bem como que a nova orientação alcança os processos em curso na Justiça estadual, desde que sem julgamento de mérito.

Não obstante, há decisões que, pautadas na jurisprudência predominante à época da promulgação da emenda (v.g. RE 349.160, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, RTJ 188/740), mantiveram sob a competência da Justiça estadual ações propostas antes do seu advento, independentemente da existência de sen-tença de mérito.

Mas, hoje, é unânime a adoção do critério de deslocamento da competên-cia estabelecido no CC 7.204, como se lê às seguintes ementas:

Recurso. Agravo. Regimental. Acidente de trabalho. Indenização. Compe-tência. Decisão mantida. Agravo regimental não provido. É competente a Justiça

Page 429: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1429

do Trabalho para julgar ação de indenização decorrente de acidente do trabalho quando não há sentença de mérito na lide.(AI 506.325-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, Primeira Turma, DJ de 16-6-06);

Constitucional. Ação de indenização por acidente de trabalho. Competência. Art. 114, VI, da CF/88, redação dada pela EC 45/04. Orientação firmada pelo STF no julgamento do CC 7.204/MG. Efeitos temporais.

I – O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o CC 7.204/MG, Rel. Min. Carlos Britto, decidiu que a competência para processar e julgar ação de in-denização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho é da Justiça do Trabalho. Precedentes.

II – A nova orientação alcança os processos em trâmite pela Justiça comum estadual, desde que pendentes de julgamento de mérito.

III – Agravo improvido.(RE 465.742-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJ de 27-10-06);

Competência. Justiça do Trabalho. Ação de indenização por danos resul-tantes de acidente do trabalho, proposta contra o empregador perante a Justiça estadual, que pendia de julgamento de mérito quando do advento da Emenda Constitucional 45/04.

1. Ao julgar o CC 7.204, 29-6-05, Britto, Informativo STF 394, o Supremo Tribunal, revendo o entendimento anterior, assentou a competência da Justiça do Trabalho para julgar as ações de indenização por danos, morais ou materiais, de-correntes de acidente de trabalho, ajuizadas após a EC 45/04.

2. A nova orientação alcança os processos em trâmite pela Justiça comum estadual, desde que pendentes de julgamento de mérito (v.g. AI 506.325-AgR, 23-5-06, Primeira Turma, Peluso; e RE 461.925-AgR, 4-4-06, Segunda Turma, Celso), o que ocorre na espécie.(RE 495.353-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ de 25-5-07. No mesmo sentido: RE 502.607-AgR, RE 501.927-AgR, RE 501.285-AgR, RE 491.889-AgR, RE 501.128-AgR e RE 505.485-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ de 25-5-07);

Constitucional. Competência. Art. 114, inciso VI, da Constituição da República. Ação de indenização por acidente de trabalho. Agravo regimental desprovido. O Supremo Tribunal Federal decidiu, no julgamento do CC 7.204, que a competência para julgar as ações de indenização por acidente de trabalho é da Justiça do Trabalho. Esse entendimento aplica-se aos processos em trâmite na Justiça comum nos quais ainda não tenha sido proferida sentença de mérito. Precedentes. Imposição de multa.(RE 516.170-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJ de 18-5-07. No mesmo sentido: RE 465.387-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJ de 7-12-06);

Agravo regimental em recurso extraordinário. Constitucional. Competência em razão da matéria. Ação de indenização por acidente de trabalho, proposta contra o (ex)empregador. Competência da Justiça especial. Ações em trâmite na

Page 430: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051430

Justiça comum dos Estados antes da EC 45/04. Prorrogação da competência, se já apreciado o mérito do pedido. Direito adquirido processual.

Compete à Justiça do Trabalho apreciar e julgar pedido de indenização por acidente de trabalho, deduzido contra o (ex-)empregador, nos termos da redação originária do art. 114 c/c o inciso I do art. 109 da Lei Maior.

As ações em trâmite na Justiça comum estadual e com sentença de mérito anterior à promulgação da EC 45/04 lá continuam até o trânsito em julgado e cor-respondente execução. Quanto àquelas cujo mérito ainda não foi apreciado, devem ser remetidas à Justiça laboral, no estado em que se encontram, com total apro-veitamento dos atos já praticados. “Consideram-se de interesse público as dispo-sições atinentes à competência em lides contenciosas; por este motivo, aplicam-se imediatamente; atingem as ações em curso. Excetuam-se os casos de haver pelo menos uma sentença concernente ao mérito; o veredictum firma o direito do Autor no sentido de prosseguir perante a Justiça que tomara, de início, conhecimento da causa” (Carlos Maximiliano).

Precedente plenário: CC 7.204. Outros precedentes: RE 461.925-AgR, RE 485.636-AgR, RE 486.966-AgR e RE 502.342-Ag. Agravo regimental desprovido.(RE 450.504-AgR, Rel. Min. Carlos Britto, Primeira Turma, DJ de 2-2-07);

Acidente do trabalho – Indenização por danos materiais e/ou morais – Ação ajuizada em face do empregador, com fundamento no direito comum – Superveniência da EC 45/04 – Competência da Justiça do Trabalho – Recurso improvido.

– Compete à Justiça do Trabalho, e não mais à Justiça dos Estados-membros e do Distrito Federal, o julgamento das ações de indenização por danos materiais e/ou morais resultantes de acidente do trabalho, desde que fundadas no direito comum e ajuizadas em face do empregador.

– Inocorrência, na espécie, da situação excepcional – prolação de sentença de mérito, pela Justiça estadual, em momento anterior ao marco temporal definido no julgamento plenário do CC 7.204/MG, Rel. Min. Carlos Britto (data da promul-gação da EC 45/04) – que, presente, justificaria o reconhecimento da competência do Poder Judiciário do Estado-membro para o processo e julgamento da causa acidentária. Conseqüente inaplicabilidade, ao caso, da ressalva feita no precedente referido.(RE 461.925-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJ de 8-9-06);

Agravo regimental no recurso extraordinário. Acidente do trabalho. Ação de indenização. Competência. Justiça do Trabalho. Redação conferida pela EC 45/04. Efeitos temporais.

1. A Justiça do Trabalho é competente para julgar ação de indenização de-corrente de acidente do trabalho. Precedentes.

2. A orientação alcança os processos em trâmite na Justiça comum, desde que pendentes de julgamento de mérito.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.(RE 491.690-AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJ de 2-2-07. No mesmo sentido: RE 507.861-AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJ de 18-5-07);

Page 431: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1431

Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Ação de indenização. Acidente de trabalho. Competência. Justiça trabalhista. Precedente. 3. Efeitos temporais. Ação proposta em data anterior à EC 45/04. Ausência de julgamento de mérito.

Determinação da competência de acordo com os marcos temporais fixados no julgamento do CC 7.204. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.(RE 477.710-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ de 8-9-06.)

3. Do exposto, nego provimento ao agravo.

EXTRATO DA ATA

RE 515.366-AgR/SP — Relator: Ministro Cezar Peluso. Agravante Volks-wagen do Brasil Ltda. – Indústria de Veículos Automotores (Advogados: Renato Tadeu Rondina Mandaliti, Carlos Felipe de Aguiar Nery e outros). Agravado: André dos Santos (Advogados: Paulo Afonso Nogueira Ramalho e outros).

Decisão: Negado provimento ao agravo regimental. Decisão unânime. Ausentes, justificadamente, neste julgamento, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Presidiu este julgamento o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Gilmar Mendes. Presentes à sessão os Ministros Cezar Peluso e Eros Grau. Ausentes, justificadamente, os Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos.

Brasília, 26 de fevereiro de 2008 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 432: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051432

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 549.481 — PE

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoAgravantes: Luiz Antônio Lino da Silva e outros — Agravado: Município

do Recife — Interessado: Vanildo Barbosa Bayer

Recurso. Agravo regimental. Interposição contra decisão que provê agravo de instrumento regular, para subida do ex-traordinário. Inexistência de preclusão e de prejuízo. Agravo não conhecido. Aplicação da Súmula 289. Da decisão que provê agravo de instrumento para subida e melhor exame do recurso extraordinário, não cabe agravo regimental, salvo quando se afirme incognoscível o agravo de instrumento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, não conhecer do recurso de agravo, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 23 de outubro de 2007 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Trata-se de agravo regimental contra decisão do teor seguinte:

Subam os autos do recurso extraordinário, devidamente processado, para melhor exame.(Fl. 340.)

Os Agravantes alegam que a decisão “não analisou ou abordou qualquer das legítimas preliminares suscitadas nas contra-razões apresentadas pelos Agravantes ao Apelo Extraordinário” (fl. 362).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Incognoscível o agravo.A decisão que provê agravo de instrumento para subida e melhor exame

do recurso extraordinário não envolve juízo de admissibilidade deste, de modo que não gera preclusão a respeito, nem gravame a nenhuma das partes. É o que já se inferia à Súmula 289: “o provimento do agravo, por uma das Turmas do

Page 433: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1433

Supremo Tribunal Federal, ainda que sem ressalva, não prejudica a questão do cabimento do recurso extraordinário”.

Questão diversa seria eventual argüição de vício capaz de impedir a cog-nição do agravo de instrumento, caso em que se legitimaria uso de agravo re-gimental. Mas não é disso que trata a espécie, pois o Agravante apenas insiste na tese da inadmissibilidade e improcedência do recurso extraordinário, não trazendo qualquer óbice quanto ao conhecimento do recurso que ora se julga; portanto, não há impedimento à subida dos autos do recurso extraordinário.

A hipótese é de falta absoluta de lesividade.2. Diante do exposto, não conheço do agravo.

EXTRATO DA ATA

AI 549.481-AgR/PE — Relator: Ministro Cezar Peluso. Agravantes: Luiz Antônio Lino da Silva e outros (Advogados: Frederico de Barros Guimarães e outros). Agravado: Município do Recife (Advogado: Ricardo Sampaio Ferreira da Silva). Interessado: Vanildo Barbosa Bayer (Advogados: Silvana Silveira Lapa de Carvalho e outros).

Decisão: A Turma, por votação unânime, não conheceu do recurso de agravo, nos termos do voto do Relator.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mário José Gisi.

Brasília, 23 de outubro de 2007 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 434: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051434

QUESTÃO DE ORDEM NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 559.882 — RS

Relator: O Sr. Ministro Gilmar MendesRecorrente: União — Recorridos: Confecções Três e Um Ltda. e outros

Questão de ordem. 2. Inconstitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 e do art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77 declarada pelo Plenário do TRF – 4ª Região. 3. Determinação de suspensão do envio ao STF dos recursos ex-traordinários e agravos de instrumento que versem sobre a cons-titucionalidade dos referidos dispositivos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária, sob a Presidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, decidir comunicar aos tribunais e turmas de juizados especiais respectivos a determinação de sobrestamento dos recursos extraor-dinários e agravos de instrumento que versem sobre a constitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 em face do art. 146, III, b, da Constituição Federal, e do art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77 em face do art. 18, § 1º, da Constituição de 1967, com redação dada pela Emenda 1/69 (art. 328, caput, do RISTF), como também no sentido de devolver aos respectivos tribunais de origem os recursos extraordinários e agravos de instrumento, ainda não distri-buídos nesta Suprema Corte, que versem sobre o tema (art. 328, parágrafo único, do RISTF), sem prejuízo da eventual devolução, se assim entenderem os rela-tores, daqueles feitos que já estão a eles distribuídos. Diante disto, deliberou o Tribunal que se comunique, com urgência, aos Presidentes do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e aos coordenadores das Turmas Recursais, bem como ao Presidente da Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, para que suspendam o envio ao Supremo Tribunal Federal dos recursos extraordinários e agravos de instru-mento que tratem da referida matéria, até que este Supremo Tribunal Federal aprecie a questão.

Brasília, 20 de setembro de 2007 — Gilmar Mendes, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trago à apreciação deste Plenário, em questão de ordem, Senhora Presidente, os RE 556.664-1/RS, RE 559.882-9/RS e RE 560.626-1/RS, interpostos em face de decisões proferidas pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região que negaram provimento às apelações da União, por entender que, diante da inconstitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei

Page 435: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1435

8.212/91, bem como do art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77, deveria ser reconhecida a prescrição da execução fiscal.

Registre-se que, apesar de os referidos recursos extraordinários discuti-rem a constitucionalidade de dispositivos normativos distintos, quais sejam, o art. 45 da Lei 8.212/91, que trata do prazo decadencial de 10 anos para a consti-tuição do crédito das contribuições previdenciárias (RE 559.882-9/RS); o art. 46 da Lei 8.212/91, que trata do prazo prescricional de 10 anos para a cobrança das contribuições previdenciárias (RE 556.664-1/RS) e o art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77, que cuida da suspensão da contagem do prazo prescricio-nal para as causas de pequeno valor (RE 560.626-1/RS), em todos eles a discus-são constitucional de fundo é a mesma, uma vez que tais dispositivos (arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 e art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77) foram declarados inconstitucionais pelo Plenário do Tribunal Regional Federal da 4ª Região pelo mesmo argumento: a obrigatoriedade de lei complementar para cui-dar de decadência e prescrição de contribuições previdenciárias, nos termos do art. 146, III, b, da Constituição Federal de 1988 e art. 18, §1º, da CF 67/69.

Ao final, postula-se provimento dos recursos extraordinários, a fim de que sejam declarados constitucionais os arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 e o art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77, determinando-se, conseqüentemente, sejam retomadas as respectivas execuções fiscais, em virtude da não-ocorrência de prescrição.

Para os fins a que se refere o art. 21, IV, do RISTF, submeto, em questão de ordem, à apreciação do Plenário desta Corte, a presente decisão (fundamentada no art. 328 do RISTF).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Os recursos extraordinários sob análise encontram-se submetidos ao regime inaugurado pela Lei 11.418/06 e Emenda Regimental 21/07 do STF, atendendo ao marco temporal que ficou estabelecido por ocasião do julgamento do STF-AI 664.567-QO/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 26-6-07 (qual seja, que o acórdão recorrido tenha sido publicado após 3-5-07, data de entrada em vigor da Emenda Regimental 21/07 ao RISTF).

A Lei 11.418/06 incluiu o art. 543-B no Código de Processo Civil, o qual es-tabeleceu as seguintes regras para o processamento dos recursos extraordinários:

Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral será processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o disposto neste artigo.

Page 436: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051436

§ 1º Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos repre-sentativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal Federal, sobres-tando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte.

§ 2º Negada a existência de repercussão geral, os recursos sobrestados considerar-se-ão automaticamente não admitidos.

§ 3º Julgado o mérito do recurso extraordinário, os recursos sobrestados se-rão apreciados pelos Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais, que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se.

§ 4º Mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo Tribunal Federal, nos termos do Regimento Interno, cassar ou reformar, liminarmente, o acórdão contrário à orientação firmada.

§ 5º O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal disporá sobre as atribuições dos Ministros, das Turmas e de outros órgãos, na análise da repercus-são geral.

A regulamentação do referido dispositivo ocorreu por meio da Emenda Regimental 21/07 do STF, a qual, especificamente em relação ao procedimento que deveria ser adotado em processos múltiplos, conferiu nova redação ao art. 328 do RISTF, passando a assim dispor:

Art. 328. Protocolado ou distribuído recurso cuja questão for suscetível de reproduzir-se em múltiplos feitos, a Presidência do Tribunal ou o(a) Relator(a), de ofício ou a requerimento da parte interessada, comunicará o fato aos tribunais ou turmas de juizado especial, a fim de que observem o disposto no art. 543-B do Código de Processo Civil, podendo perdir-lhes informações, que deverão ser pres-tadas em 5(cinco) dias, e sobrestar todas as demais causas com questão idêntica.

Parágrafo único. Quando se verificar subida ou distribuição de múltiplos recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a Presidência do Tribunal ou o(a) Relator(a) selecionará um ou mais representativos da questão e determinará a devolução dos demais aos tribunais ou turmas de juizado especial de origem, para aplicação dos parágrafos do art. 543-B do Código de Processo Civil.

Esse novo modelo legal traduz, sem dúvida, um avanço na concepção vetusta que caracteriza o recurso extraordinário entre nós. Esse instrumento deixa de ter caráter marcadamente subjetivo ou de defesa de interesse das partes, para assumir, de forma decisiva, a função de defesa da ordem consti-tucional objetiva. Trata-se de orientação que os modernos sistemas de Corte Constitucional vêm conferindo ao recurso de amparo e ao recurso constitu-cional (Verfassungsbeschwerde). Nesse sentido, destaca-se a observação de Häberle segundo a qual “a função da Constituição na proteção dos direitos in-dividuais (subjectivos) é apenas uma faceta do recurso de amparo”, dotado de uma “dupla função”, subjetiva e objetiva, “consistindo esta última em assegurar o Direito Constitucional objetivo” (Häberle, Peter. O recurso de amparo no sis-tema germânico, Sub Judice 20/21, 2001, p. 33 (49)).

Essa orientação há muito se mostra dominante também no direito ameri- cano.

Já no primeiro quartel do século passado, afirmava Triepel que os proces-sos de controle de normas deveriam ser concebidos como processos objetivos.

Page 437: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1437

Assim, sustentava ele, no conhecido Referat sobre “a natureza e desenvolvi-mento da jurisdição constitucional”, que, quanto mais políticas fossem as ques-tões submetidas à jurisdição constitucional, tanto mais adequada pareceria a adoção de um processo judicial totalmente diferenciado dos processos ordiná-rios. “Quanto menos se cogitar, nesse processo, de ação (...), de condenação, de cassação de atos estatais – dizia Triepel – mais facilmente poderão ser resolvi-das, sob a forma judicial, as questões políticas, que são, igualmente, questões ju-rídicas”. (Triepel, Heinrich, Wesen und Entwicklung der Staatsgerichtsbarkeit, VVDStRL, Vol. 5 (1929), p. 26). Triepel acrescentava, então, que “os america-nos haviam desenvolvido o mais objetivo dos processos que se poderia imaginar (Die Amerikaner haben für Verfassungsstreitigkeiten das objektivste Verfahren eingeführt, das sich denken lässt) (Triepel, op. cit., p. 26).

Portanto, há muito resta evidente que a Corte Suprema americana não se ocupa da correção de eventuais interpretações divergentes das Cortes ordiná-rias. Em verdade, com o Judiciary Act de 1925, a Corte passou a exercer um pleno domínio sobre as matérias que deve ou não apreciar (Cf., a propósito, Griffin. Stephen M., The Age of Marbury, Theories of Judicial Review vs. Theories of Constitutional Interpretation, 1962-2002, Paper apresentado na reunião anual da “American Political Science Association”, 2002, p. 34). Ou, nas palavras do Chief Justice Vinson, “para permanecer efetiva, a Suprema Corte deve continuar a decidir apenas os casos que contenham questões cuja resolu-ção haverá de ter importância imediata para além das situações particulares e das partes envolvidas” (“To remain effective, the Supreme Court must continue to decide only those cases which present questions whose resolutions will have immediate importance far beyond the particular facts and parties involved”) (Griffin, op. cit., p. 34).

De forma análoga, essa é a orientação que a Lei 10.259/01 buscou dar ao regime dos recursos extraordinários (porém de forma restrita, pois somente incidia naqueles recursos interpostos contra as decisões dos juizados especiais federais). Indubitavelmente, a Lei 11.418, de 19 de dezembro de 2006, busca imprimir idêntico modelo aos recursos extraordinários convencionais, que se reproduzam em múltiplos feitos.

Ora, a questão de ordem que submeto ao Plenário desta Corte não é, por-tanto, nova. A Lei 11.418/06 apenas estendeu o que era previsto de forma res-tritiva pela Lei 10.259/01. Assim sendo, muito embora a discussão encetada nestes autos seja inédita – por se tratar de recurso extraordinário com exigência de submissão à análise da preliminar de repercussão geral, tratando de questão ainda não decidida pela Corte –, dois precedentes podem ser mencionados para justificar o que ora se propõe: a AC 272-MC/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 25-2-04, em que o Supremo Tribunal Federal aplicou o instituto da suspensão de tramitação de processos nos tribunais de origem, nos termos da Lei 10.259/01, e o RE 519.394-2-MC, de minha relatoria, DJ de 8-3-07, em que deferi parcial-mente a liminar requerida pelo INSS para “determinar, ad referendum do Pleno, o sobrestamento, na origem, dos recursos extraordinários nos quais se discuta

Page 438: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051438

majoração de pensão por morte em face da aplicação da Lei 9.032/95, em relação a benefícios concedidos antes de sua edição.”

O respaldo da Lei 11.418/06, que incluiu o art. 543-B no Código de Processo Civil, bem como a minuciosa regulamentação implementada pela Emenda Regimental 21/07, que deu nova redação ao art. 328 do RISTF, são indicações seguras de que há mudanças importantes para o processamento do recurso extraordinário perante esta Corte, as quais devem ser imediatamente implementadas.

Não tenho dúvidas de que a questão discutida nestes autos – constitucio-nalidade da regulação de prazos decadencial e prescricional para cobrança das contribuições previdenciárias, bem como de suspensão de prazo prescricional em execuções fiscais de pequeno valor por lei ordinária – está entre aquelas suscetíveis de reproduzirem-se em múltiplos feitos (o que, inclusive, se pode in-ferir de dados que foram enviados pela Assessoria de Gestão Estratégica deste Tribunal no sentido de que, dos recursos extraordinários distribuídos até 31-8-07, aproximadamente um terço daqueles que já estão submetidos ao regime da Lei 11.418/06 são sobre o tema dos recursos ora sob análise), de forma que se apresenta indubitavelmente pertinente a invocação da disciplina do art. 328 do RISTF.

A referida regulamentação tem como objetivo principal frear a avalanche de processos que chega ao Supremo Tribunal, determinando que os tribunais de origem selecionem um ou mais recursos representativos da controvérsia e enca-minhem tais recursos – e somente eles – ao STF, sobrestando os demais. Não se pode perder isso de vista.

Negada a existência de repercussão geral, os recursos sobrestados consi-derar-se-ão automaticamente não admitidos. Por outro lado, declarada a existên-cia da repercussão geral e, assim, julgado o mérito do recurso extraordinário, os recursos sobrestados serão apreciados pelos tribunais de origem, que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se (art. 543-B, § 2º e § 3º, do CPC).

Assim sendo, proponho deliberação nesta questão de ordem no sentido de: a) comunicar aos tribunais e turmas de juizados especiais respectivos a de-

terminação de sobrestamento dos recursos extraordinários e agravos de instru-mento que versem sobre a constitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 em face do art. 146, III, b, da Constituição Federal, e do art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77 em face do art. 18, § 1º, da Constituição de 1967, com redação dada pela Emenda 1/69 (art. 328, caput, do RISTF); e

b) devolver aos respectivos tribunais de origem os recursos extraordiná-rios e agravos de instrumento, ainda não distribuídos nesta Suprema Corte, e que versem sobre a constitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 em face do art. 146, III, b, da Constituição Federal, e do art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77 em face do art. 18, § 1º, da Constituição de 1967, com redação dada pela Emenda 1/69, sem prejuízo da eventual devolução, se assim

Page 439: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1439

entenderem os relatores, daqueles feitos que já estão a eles distribuídos (art. 328, parágrafo único, do RISTF).

Diante do exposto, comunique-se, com urgência, aos Presidentes do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e aos coorde-nadores das Turmas Recursais, bem como ao Presidente da Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, para que suspendam o envio ao Supremo Tribunal Federal dos recursos extraordinários e agravos de instrumento que versem sobre a constitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 em face do art. 146, III, b, da Constituição Federal, e do art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77 em face do art. 18, § 1º, da Constituição de 1967, com redação dada pela Emenda 1/69, até que este Supremo Tribunal Federal aprecie a questão.

É como voto.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Presidente, apenas um esclarecimento que, creio, deva ser veiculado. Decidimos no sentido da relevância. No Gabinete, quando pegaram a proclamação, tiveram dúvidas se a questão de ordem teria ou não esse alcance.

Claro que percebi que sim desde o início, mas, para tornar estreme de dú-vidas, há de ficar explicitado o reconhecimento da relevância.

Gostaria também de lançar, para reflexão, que devemos aplicar a lei da repercussão, quanto à baixa dos processos, mesmo que os recursos tenham sido interpostos em data anterior à lei. Assim penso, porque o objetivo maior da rele-vância é evitar que o Supremo acabe repetindo decisões.

EXTRATO DA ATA

RE 559.882-QO/RS — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Recorrente: União (Advogada: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional). Recorridos: Confecções Três e Um Ltda. e outros.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, acolheu proposta do Relator para estender a este recurso extraordinário e ao RE 560.626-1/RS o que decidido na questão de ordem apresentada e deliberada na sessão plenária de 13-9-07, no RE 556.664-1/RS, pois, apesar de discutirem a constitucionalidade de outros dispositivos normativos, quais sejam, neste recurso, o art. 45 da Lei 8.212/91 (que trata de decadência da constituição do crédito das contribuições previden-ciárias) e, naquele, o art. 5º, parágrafo único, do Decreto-lei 1.569/77 (que cuida da suspensão da contagem do prazo prescricional para as causas de pequeno valor), neles a discussão constitucional de fundo apresenta-se idêntica à do RE 556.664-1/RS, uma vez que tais dispositivos (arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 e art. 5º, parágrafo único do Decreto-Lei 1.569/77) foram declarados inconstitucio-nais pelo Plenário do Tribunal Regional Federal de origem, todos pelo mesmo fundamento: obrigatoriedade de lei complementar para cuidar da decadência e prescrição de contribuições previdenciárias. Em razão disso, fica deliberado

Page 440: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051440

que o Tribunal, por unanimidade, decidiu comunicar aos tribunais e turmas de juizados especiais respectivos a determinação de sobrestamento dos recursos extraordinários e agravos de instrumento que versem sobre a constitucionali-dade dos arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91 em face do art. 146, III, b, da Constituição Federal, e do art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 1.569/77 em face do art. 18, § 1º, da Constituição de 1967, com redação dada pela Emenda 1/69 (art. 328, caput, do RISTF), como também no sentido de devolver aos respectivos tribunais de origem os recursos extraordinários e agravos de instrumento, ainda não distribuídos nesta Suprema Corte, que versem sobre o tema (art. 328, parágrafo único, do RISTF), sem prejuízo da eventual devolução, se assim en-tenderem os relatores, daqueles feitos que já estão a eles distribuídos. Diante disso, deliberou o Tribunal que se comunique, com urgência, aos Presidentes do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e aos coor-denadores das Turmas Recursais, bem como ao Presidente da Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, para que suspendam o envio ao Supremo Tribunal Federal dos recursos extraordinários e agravos de instrumento que tratem da referida matéria, até que este Supremo Tribunal Federal aprecie a questão. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Ausentes, justificadamente, os Ministros Carlos Britto, Joaquim Barbosa e Eros Grau.

Presidência da Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos.

Brasília, 20 de setembro de 2007 — Luiz Tomimatsu, Secretário.

Page 441: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1441

QUESTÃO DE ORDEM NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 573.623 — RJ

Relator: O Sr. Ministro Gilmar MendesAgravante: Ministério Público Federal — Agravado: Ronaldo Ganon

Questão de ordem em agravo de instrumento. 2. Agravo. Requisitos de admissibilidade preenchidos. Conversão em re-curso extraordinário. 3. Agravo de instrumento conhecido para convertê-lo em recurso extraordinário. 4. Quebra de sigilos ban-cário e fiscal. Habeas corpus. Idoneidade. Precedentes da Primeira Turma. 5. Negado provimento ao recurso extraordinário.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, resolvendo questão de ordem, conhecer do agravo de instrumento como recurso extraordinário e, a este, negar provimento, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 31 de outubro de 2006 — Gilmar Mendes, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes: Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que negou processamento a recurso extraordinário na qual restou con-signado que (fl. 484):

Contudo, pelo que se verifica, o dispositivo magno apontado como vio-lado não foi ventilado na decisão recorrida, incidindo o óbice intransponível das Súmulas 282 e 356 do STF, pela ausência de prequestionamento.

O Ministério Público Federal interpôs o agravo de instrumento no qual sustenta que a matéria constitucional, embora não ventilada de forma explícita, teria sido tratada no acórdão recorrido.

O acórdão recorrido restou assim ementado, no que interessa (fl. 439):

Processual penal. Habeas corpus. Suposta prática de crimes contra a ordem tributária. Determinação para quebra dos sigilos bancário e fiscal do Paciente. Direito à privacidade e à inviolabilidade – CF, art. 5º, X e XII –. Inconsistência dos indícios. Ausência de interesse público superior, a justificar a invasão de tais garantias constitucionais. Concessão parcial da ordem.

I – No que tange ao cabimento do habeas corpus para sustar medida cons-tritiva, consubstanciada na quebra dos sigilos bancário e fiscal, é de se adotar a linha exegética que vem sendo firmada no âmbito dos Tribunais, no sentido de

Page 442: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051442

que a impetração do writ se justifica pela possibilidade de ocorrência de posterior restrição ao direito de locomoção;

(...)

Contra essa decisão foi interposto recurso extraordinário fundado no art. 102, III, a, por ofensa ao art. 5º, LXVIII, da Carta Magna, no qual se alega (fls. 461-473):

Conforme relatado acima, o acórdão recorrido considerou a via processual do habeas corpus como a via adequada à espécie sob o fundamento de que a que-bra dos sigilos bancário e fiscal estaria ameaçando o direito de liberdade de loco-moção do paciente – “(...) a impetração do writ se justifica pela possibilidade de ocorrência de posterior restrição ao direito de locomoção” – contrariando a norma inscrita no inciso LXVIII do art. 5º da CF e mutatis mutandis, o entendi-mento dessa Suprema Corte, in verbis:

(...)Observa-se, portanto, que a decisão ora impugnada contraria expressa-

mente o inciso LXVIII do artigo 5º da Constituição Federal que prevê a possibili-dade de impetração de habeas corpus naquelas hipóteses de ameaça de violência ou coação na liberdade de locomoção de alguém por ilegalidade ou abuso de poder. Exige a norma constitucional que o ato ilegal e abusivo tenha repercussão imediata na liberdade de ir e vir do indivíduo.

(...)A impetração não visa, como se pode observar, a garantir o direito imediato

de liberdade de locomoção do paciente, mesmo porque, a medida concedida de quebra dos sigilos bancário e fiscal não contém atual possibilidade de causar vio-lência ou ameaça a direito de liberdade de locomoção. O direito à privacidade não se confunde com o direito à liberdade de locomoção, é aquele, não este, que esta-ria sendo violado, conforme, exaustivamente, enfatizam os impetrantes.

O Subprocurador-Geral da República Dr. Francisco Xavier Pinheiro Filho manifestou-se pelo provimento do agravo, pois “diante da gravidade do crime imputado ao ora agravado, entendo pertinente a subida do recurso extraordinário”.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilmar Mendes (Relator): Presentes os requisitos autori-zadores da conversão do agravo de instrumento em recurso extraordinário, por conter ele todos os elementos necessários ao julgamento do apelo, conheço e dou provimento ao agravo, convertendo-o em recurso extraordinário.

Em face da conversão deste agravo em recurso extraordinário passo à sua análise.

A questão em apreço encontra-se pacificada no âmbito da Primeira Turma desta Corte, que, em situações análogas, tem proferido o seguinte entendimento:

Page 443: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1443

Ementa: I. Habeas corpus: admissibilidade: decisão judicial que, no curso do inquérito policial, autoriza quebra de sigilo bancário.

Se se trata de processo penal ou mesmo de inquérito policial, a jurispru-dência do STF admite o habeas corpus, dado que de um ou outro possa advir condenação a pena privativa de liberdade, ainda que não iminente, cuja aplicação poderia vir a ser viciada pela ilegalidade contra o qual se volta a impetração da ordem.

Nessa linha, não é de recusar a idoneidade do habeas corpus, seja contra o indeferimento de prova de interesse do réu ou indiciado, seja, o deferimento de prova ilícita ou o deferimento inválido de prova lícita: nessa última hipótese, enquadra-se o pedido de habeas corpus contra a decisão – alegadamente não fun-damentada ou carente de justa causa – que autoriza a quebra do sigilo bancário do Paciente.

II – Habeas corpus: decisão equivocada do relator declaratória da incom-petência do Tribunal, não gerando preclusão no processo de habeas corpus, pode nele ser retificada de ofício.(HC 79.191, Rel. Sepúlveda Pertence, DJ de 8-10-99.)

Ementa: Habeas corpus. Inquérito policial. Quebra de sigilo bancário. Decisão que pode acarretar constrangimento ilegal à liberdade do paciente. Acórdão do STJ que, mantendo decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, não conheceu de habeas corpus por entendê-lo incabível na hipótese. Acórdão contrário à jurisprudência do STF, que admite o habeas corpus (HC 79.191, Rel. Min. Sepúlveda Pertence). Ordem deferida para cassar o acórdão do STJ e deter-minar ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina que julgue o writ lá impetrado.(HC 81.294, Rel. Ellen Gracie, DJ de 1º-2-02.)

Ementa: I. Habeas corpus: cabimento.1. Assente a jurisprudência do STF no sentido da idoneidade do habeas cor-

pus para impugnar autorização judicial de quebra de sigilos, se destinada a fazer prova em procedimento penal.

2. De outro lado, cabe o habeas corpus (HC 82.354, 10-8-04, Pertence, DJ de 24-9-04) – quando em jogo eventual constrangimento à liberdade física – con-tra decisão denegatória de mandado de segurança.

II – Quebra de sigilos bancário e fiscal, bem como requisição de regis-tros telefônicos: decisão de primeiro grau suficientemente fundamentada, a cuja motivação se integraram per relationem a representação da autoridade policial e a manifestação do Ministério Público.

III – Excesso de diligências: alegação improcedente: não cabe invocar pro-teção constitucional da privacidade em relação a registros públicos.(HC 84.869, Rel. Sepúlveda Pertence, DJ de 19-8-05.)

Verifica-se que o acórdão recorrido não divergiu dos precedentes citados, no sentido do cabimento de habeas corpus para impugnar decisão que auto-riza a quebra de sigilos fiscal e bancário em procedimento criminal, tendo em vista a possibilidade de estes resultarem em constrangimento à liberdade do investigado.

Assim, nego provimento ao recurso.

Page 444: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051444

EXTRATO DA ATA

AI 573.623-QO/RJ — Relator: Ministro Gilmar Mendes. Agravante: Ministério Público Federal. Agravado: Ronaldo Ganon (Advogados: Rogério Marcolini e outros).

Decisão: A Turma, por votação unânime, resolvendo questão de or-dem, conheceu do agravo de instrumento como recurso extraordinário, a que, também por unanimidade, negou provimento, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Eros Grau.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso e Joaquim Barbosa. Ausente, justificadamente, o Ministro Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Adalberto Nóbrega.

Brasília, 31 de outubro de 2006 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 445: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1445

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 598.715 — DF

Relator: O Sr. Ministro Marco AurélioAgravante: Distrito Federal — Agravado: Ana Carolina Lopes Leite

Borges

Concurso público – Altura mínima – Inexistência de lei. Longe fica de vulnerar a Constituição Federal pronunciamento no sentido da inexigibilidade de altura mínima para habilitação em concurso público quando esta for prevista estritamente no edital, e não em lei em sentido formal e material.

Agravo – Art. 557, § 2º, do Código de Processo Civil – Multa. Se o agravo é manifestamente infundado, impõe-se a aplicação da multa prevista no § 2º do art. 557 do Código de Processo Civil, arcando a parte com o ônus decorrente da litigância de má-fé.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, negar provimento ao agravo re-gimental no agravo de instrumento, o que fazem nos termos do voto do Relator, em sessão da Primeira Turma, na conformidade da ata do julgamento e das respectivas notas taquigráficas. Presentes os Ministros Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito.

Brasília, 1º de abril de 2008 — Marco Aurélio, Presidente e Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Por meio da decisão de fl. 71, neguei provi-mento ao agravo de instrumento, consignando:

Concurso público – Altura mínima – Inexistência de lei – Agravo desprovido.1. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios negou provi-

mento à apelação, ante fundamentos assim sintetizados (fl. 11):Administrativo. Constitucional. Mandado de segurança. Concurso

público. Polícia Militar do Distrito Federal. Edital. Previsão. Altura mí-nima. Violação ao princípio da legalidade. Segurança concedida.

1. A Constituição Federal estabelece que os requisitos para ocupar cargos e funções públicas devem estar previstos em lei.

2. No caso específico da Polícia Militar do Distrito Federal, o art. 11 da Lei 7.289/84 prevê apenas que, para ingresso na Corporação, deve o candidato atender ao requisito de capacidade física, não traçando qualquer condição quanto à altura máxima ou mínima, estando o edital do concurso em confronto com o princípio da legalidade.

3. Sentença mantida.

Page 446: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051446

2. A Corte de origem deixou explicitado que a exigência de altura mínima do candidato ao cargo de policial militar do Distrito Federal restou prevista tão-somente no edital de concurso e por isso a ilegalidade deste último. Consideradas as premissas do acórdão impugnado mediante o extraordinário, não se tem como concluir pela ofensa à Carta da República.

3. Conheço do pedido formulado neste agravo, mas a ele nego acolhida.4. Publiquem.

O Distrito Federal sustenta a violação dos arts. 5º, cabeça, e 37, incisos I e II, da Constituição Federal, porquanto viabilizado o ingresso, no serviço pú-blico, de candidato que não preenche os requisitos previstos em lei e versados no edital de abertura do concurso. Afirma a insubsistência dos fundamentos acolhidos pelo Tribunal, assentados na inexistência de lei a exigir a altura mí-nima de 1,60m para o exercício do cargo de policial militar do Distrito Federal. Alude ao art. 11 da Lei distrital 7.289/84, no qual está expressa a condição re-lativa à “capacidade física”, que compreende certos requisitos físicos inerentes à atividade policial militar. Aponta que a exigência de altura mínima atende ao princípio constitucional da razoabilidade. Menciona precedentes do Supremo – AI 381.990-8/DF, relatado pelo Ministro Néri da Silveira, decisão publicada no Diário da Justiça de 30 de abril de 2002, e RE 148.095-5/MS, por mim relatado, acórdão publicado no Diário da Justiça de 3 de abril de 1998 – e do Superior Tribunal de Justiça.

Instada a se manifestar, a Agravada apresentou a contraminuta de fls. 90 a 94, reafirmando os fundamentos dos atos impugnados.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Marco Aurélio (Relator): Na interposição deste agravo, observaram-se os pressupostos gerais de recorribilidade. A peça, subscrita por Procurador do Distrito Federal, foi protocolada no prazo legal. Conheço.

Preliminarmente, ressalto que os precedentes evocados pelo Agravante não amparam a pretensão, por cuidarem de hipótese em que havia lei formal estabelecendo os requisitos e as restrições concernentes ao ingresso na carreira policial.

No caso específico da Polícia Militar do Distrito Federal, o Tribunal de Justiça deixou expresso que a lei distrital, no art. 11, prevê apenas que, para o ingresso na Corporação, deve o candidato atender ao requisito de capacidade fí-sica, não impondo qualquer condição sob o ângulo da altura. Conseqüentemente, a restrição inscrita no edital do certame surgiu em confronto com o princípio da legalidade (fl. 11).

O entendimento está em consonância com a decisão do Plenário do Supremo formalizada quando do julgamento do MS 20.973-9/DF, Rel. Min. Paulo Brossard, acórdão publicado no Diário da Justiça de 24 de abril de 1992.

Page 447: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1447

Na ocasião, o Colegiado evidenciou que “a acessibilidade aos cargos públicos assegurada tanto pela atual Constituição Federal (art. 37, inciso I), como pela Carta anteriormente outorgada (art. 97), exige tão-somente o preenchimento dos requisitos estabelecidos em lei”. Inadmissíveis, portanto, apresentam-se as restrições e requisitos estabelecidos em editais, regulamentos, portarias, se não houver lei dispondo sobre a matéria. Vale frisar que, considerado o padrão femi-nino brasileiro, a altura prevista mostra-se até mesmo discrepante da realidade.

Ante o caráter protelatório deste agravo, imponho ao Agravante a multa de 5% sobre o valor da causa devidamente corrigido, a reverter em benefício da Agravada, fazendo-o com base no art. 557, § 2º, do Código de Processo Civil.

EXTRATO DA ATA

AI 598.715-AgR/DF — Relator: Ministro Marco Aurélio. Agravante: Distrito Federal (Advogado: PGDF – Alysson Sousa Mourão). Agravada: Ana Carolina Lopes Leite Borges (Advogados: Maria Elizabete Lopes Leite e outros).

Decisão: A Turma negou provimento ao agravo regimental no agravo de instrumento, nos termos do voto do Relator. Unânime.

Presidência do Ministro Marco Aurélio. Presentes à sessão os Ministros Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner de Castro Mathias Netto.

Brasília, 1º de abril de 2008 — Ricardo Dias Duarte, Coordenador.

Page 448: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 2051448

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 655.339 — RS

Relator: O Sr. Ministro Cezar PelusoEmbargante: Banco ABN Amro Real S.A. — Embargado: Ricardo Nunes

de Oliveira

1. Recurso. Embargos de declaração. Caráter infringente. Embargos recebidos como agravo. Assinatura do advogado. Falta. Recurso inexistente. Agravo regimental não provido. A falta de assinatura do advogado na petição de recurso de agravo regimental não é mera irregularidade sanável, mas defeito que acarreta sua inexistência.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata do julgamento e das notas taquigrá-ficas, preliminarmente, por unanimidade de votos, conhecer dos embargos de declaração como recurso de agravo, a que, também por unanimidade, negar provimento, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Ministro Joaquim Barbosa.

Brasília, 9 de outubro de 2007 — Cezar Peluso, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cezar Peluso: Trata-se de agravo interposto contra decisão do teor seguinte:

Decisão: 1. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que, na instância de origem, indeferiu processamento de recurso extraordinário.

2. Incognoscível o agravo.A petição de recurso extraordinário não se encontra assinada, tornando

inadmissível o recurso, que se tem por inexistente (cf. AI 395.472-AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes; AI 426.695-AgR/AM, Rel. Min. Carlos Britto; AI 294.726-AgR/SC, Rel. Min. Néri da Silveira; AI 353.214-AgR/DF, Rel. Min. Moreira Alves).

3. Ante o exposto, nego seguimento ao agravo (art. 21, § 1º, do RISTF; art. 38 da Lei 8.038, de 28-5-90; e art. 557 do CPC).(Fl. 349.)

Requer a parte agravante seja provido o agravo, sob alegação de que “a au-sência de assinatura em peça processual é sanável a qualquer momento” (fl. 362).

É o relatório.

Page 449: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

R.T.J. — 205 1449

VOTO

O Sr. Ministro Cezar Peluso (Relator): 1. Dado o manifesto caráter infrin-gente, recebo os embargos declaratórios como agravo regimental.

Inconsistente o agravo. O recurso é tido por inexistente quando falte assinatura do procurador do

recorrente. É aturada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, no sentido de

que a falta de assinatura do advogado na petição recursal não é mera irregula-ridade sanável, mas defeito que lhe acarreta a inexistência (AI 395.336-AgR, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 25-10-02; AI 339.634-AgR, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 14-12-01; AI 294.726-AgR, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 18-5-01; AI 418.546, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 3-12-03).

2. Isso posto, nego provimento ao agravo.

EXTRATO DA ATA

AI 655.339/RS — Relator: Ministro Cezar Peluso. Embargante: Banco ABN Amro Real S.A. (Advogados: Ana Paula Capitani e outros). Embargado: Ricardo Nunes de Oliveira (Advogada: Tatiane Deiques Côco).

Decisão: A Turma, preliminarmente, por votação unânime, conheceu dos embargos de declaração como recurso de agravo, a que, também por unanimi-dade, negou provimento, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificada-mente, neste julgamento, o Ministro Joaquim Barbosa.

Presidência do Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves.

Brasília, 9 de outubro de 2007 — Carlos Alberto Cantanhede, Coordenador.

Page 450: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou
Page 451: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO

Page 452: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou
Page 453: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

APn Absolvição de co-réu: efeitos. (...) Homicídio qualificado. AO 1.047

RTJ 205/576PrPn Absolvição superveniente de co-réu em processo diverso. (...) Ação

penal. HC 91.650 RTJ 205/1312PrPn Abuso de autoridade. (...) Ação penal. HC 92.912 RTJ 205/365PrPn Abuso de autoridade. (...) Competência criminal. HC 92.912 RTJ

205/365Ct Ação cível originária. Prejudicialidade. Termo de Acordo de Re-

gime Especial (TARE) 44/99: identidade de objeto. ACO 541 RTJ 205/1019

PrCv Ação civil pública. Ilegitimidade ativa. Associações civis e Seccio-nal da OAB/BA. União e Estado-membro: conflito federativo. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537

PrCv Ação civil pública. Legitimidade ativa. Ministério Público. Direitos individuais e homogêneos: defesa. Certidão parcial de tempo de ser-viço: obtenção. CF/88, arts. 5º, XXXIV; e 129, II. RE 472.489-AgR RTJ 205/1413

PrCv Ação civil pública. (...) Medida cautelar. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537

PrSTF Ação civil pública: suspensão da tramitação. (...) Reclamação. Rcl 4.990-MC-AgR RTJ 205/712

PrCv Ação consignatória. (...) Competência jurisdicional. CC 7.456 RTJ 205/1149

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Aditamento à inicial. Parecer do PGR: inclusão de norma do complexo normativo. Novas informa-ções: desnecessidade. ADI 3.660 RTJ 205/686

Page 454: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Açã-Açã — ÍNDICE ALFABÉTICO1454

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Cabimento. Ato de caráter normativo. Resolução administrativa. ADI 4.018-MC RTJ 205/134

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Cabimento. Emenda consti-tucional. ADI 2.395 RTJ 205/618

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Cabimento. Medida provisó-ria. Acesso ao TST: restrição. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Ct Ação direta de inconstitucionalidade. (...) Controle de constitucio-nalidade. ADI 3.756-ED RTJ 205/124

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Decisão. Efeitos a partir da EC 45/04. Segurança jurídica ou excepcional interesse social. Lei 9.868/99, art. 27. ADI 3.660 RTJ 205/686

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Descabimento. Ofensa indi-reta. CF/88, art. 170, IV e parágrafo único. ADI 2.832 RTJ 205/1107

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Efeito repristinatório: limite. Ato normativo posterior à CF/88. ADI 3.660 RTJ 205/686

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. (...) Embargos de declaração. ADI 3.615-ED RTJ 205/680 – ADI 3.756-ED RTJ 205/124

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Legitimidade ativa. Asso-ciação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Pertinência temática. Delegado de polícia: oitiva em dia, hora e local ajustados. ADI 3.896 RTJ 205/1141

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Legitimidade ativa. Confe-deração Nacional da Indústria (CNI). Pertinência temática. Comer-cialização de café. Rótulo de embalagem: obrigatoriedade. CF/88, art. 103, IX. ADI 2.832 RTJ 205/1107

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. (...) Medida cautelar. ADI 3.929-MC-QO RTJ 205/130

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Não-conhecimento. Ato de caráter regulamentar. Decreto estadual 6.042/04/GO. Instrução Nor-mativa estadual 01/04/GO-GSF/GPTJ. ADI 3.458 RTJ 205/665

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Não-conhecimento. Ato normativo: caráter secundário. Juízo de legalidade. ADI 2.862 RTJ 205/1125

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Prejudicialidade. Parâmetro constitucional: alteração. Emenda Constitucional 41/03. Lei federal: edição. CF/88, art. 37, XI: eficácia plena. ADI 2.648-MC RTJ 205/82

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Prejudicialidade. Revogação superveniente da norma impugnada. Corregedor da Justiça Federal: exercício. ADI 3.566 RTJ 205/105

Page 455: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Açã-Açã 1455

PrSTF Ação direta de inconstitucionalidade. Prejudicialidade inocorrente. Emenda constitucional superveniente. Alteração substancial da nor-ma fundamentadora: ausência. ADI 980 RTJ 205/1041

PrPn Ação penal. Anulação ab initio. Pena: cumprimento em regime semi-aberto. Prisão cautelar: revogação. Situação mais gravosa: im-possibilidade. HC 94.273 RTJ 205/1410

PrPn Ação penal. Débito tributário. Instâncias penal e administrativa: independência. HC 90.795 RTJ 205/1295

PrPn Ação penal. Prosseguimento. Policial militar. Lesão corporal leve e violação de domicílio. Justiça Militar: competência. Abuso de auto-ridade. Justiça comum: transação penal e extinção de punibilidade. Princípio do ne bis in idem: ofensa inocorrente. HC 92.912 RTJ 205/365

PrPn Ação penal. Quadrilha ou bando: não-configuração. Associação de mais de três pessoas: necessidade. Absolvição superveniente de co-réu em processo diverso. Trânsito em julgado da sentença conde-natória: irrelevância. Nulidade processual absoluta: reconhecimento. CP/40, art. 288. HC 91.650 RTJ 205/1312

PrPn Ação penal. Trancamento. Justa causa: ausência. Calúnia contra superior hierárquico. Atipicidade da conduta: ausência de dolo. CPM/69, art. 214, caput, c/c art. 218, II. HC 86.466 RTJ 205/244

PrPn Ação penal. Trancamento: descabimento. Falsidade ideológica. Questão não apreciada por Turma do STF. HC 86.424-extensão-segunda RTJ 205/761

PrPn Ação penal. Trancamento: descabimento. Justa causa. Crime em tese. Crime contra a ordem tributária. Lei 8.137/90, art. 1º. HC 90.795 RTJ 205/1295

PrPn Ação penal. Trancamento: descabimento. Tipicidade da conduta. Crime contra o meio ambiente. Perigo de dano grave ou irreversível. Lei 9.605/98, art. 54, § 3º. HC 90.023 RTJ 205/1255

PrPn Ação penal: anulação. (...) Prisão cautelar. HC 94.273 RTJ 205/1410PrPn Ação penal: processo e julgamento. (...) Competência criminal. HC

90.174 RTJ 205/1276PrPn Ação penal pública incondicionada. Legitimidade ativa. Ministério

Público Militar. Crime militar. Calúnia contra superior hierárquico. CPM/69, art. 121. CPPM/69, art. 29. HC 86.466 RTJ 205/244

PrCv Ação rescisória. Descabimento. Decisão da Justiça do Trabalho: impugnação. Súmula 505: inaplicabilidade. AR 1.853-AgR RTJ 205/1104

Page 456: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Ace-ADC — ÍNDICE ALFABÉTICO1456

PrSTF Acesso ao TST: restrição. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

PrTr Acidente de trabalho. (...) Competência jurisdicional. RE 515.366-AgR RTJ 205/1427

PrPn Acórdão. (...) Intimação criminal. HC 81.691 RTJ 205/753Int Acórdão: ciência inequívoca. (...) Extradição. HC 92.664-AgR RTJ

205/791Pn Acórdão: nova condenação. (...) Prescrição. HC 92.340 RTJ 205/1352PrPn Acórdão criminal. Nulidade. Recurso especial: interposição pelo

Ministério Público. Dispositivo e fundamentação: contradição. Er-ror in judicando. Julgamento ultra petita. HC 91.651 RTJ 205/1318

PrCv Acórdão embargado. (...) Embargos de declaração. RE 240.441-AgR-ED RTJ 205/415

PrCv Acórdão embargado: compatibilidade com a jurisprudência do STF. (...) Embargos de divergência. RE 213.583-EDv RTJ 205/803

PrCv Acórdãos: não-lavratura. (...) Decisão judicial. RE 540.995 RTJ 205/463

PrPn Acordo de cooperação: confecção e homologação. (...) Delação pre-miada. HC 90.688 RTJ 205/263

PrPn Acordo de delação premiada de um dos delatores. (...) Habeas cor-pus. HC 90.688 RTJ 205/263

PrCv Acordo ou transação. (...) Honorários advocatícios. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Pn Acumulação. (...) Medida socioeducativa. RE 248.018 RTJ 205/422Adm Acumulação vedada. (...) Vantagem. RE 185.312 RTJ 205/799Ct ADCT da Constituição do Estado do Ceará/89, art. 16: inconstitucio-

nalidade. (...) Tribunal de Contas municipal. ADI 3.315 RTJ 205/100Adm ADCT da Constituição Federal/88, art. 8º, § 5º. (...) Servidor público.

RE 507.153-AgR RTJ 205/1424Ct ADCT da Constituição Federal/88, art. 12, § 5º. (...) Estado-membro.

Rcl 1.421 RTJ 205/1090Ct ADCT da Constituição Federal/88, art. 14, § 1º. (...) Estado-membro.

ADI 1.903 RTJ 205/607Adm ADCT da Lei Orgânica do Distrito Federal, arts. 46, § 1º; e 53, pará-

grafo único: inconstitucionalidade. (...) Cargo público. ADI 980 RTJ 205/1041

Page 457: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Adi-Alc 1457

PrPn Aditamento: nova classificação do crime. (...) Denúncia. HC 92.304 RTJ 205/1339

PrSTF Aditamento à inicial. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686

Ct Administrador da conta: Tesouro estadual. (...) Processo legislativo. ADI 3.458 RTJ 205/665

PrPn Adulteração de sinal identificador de veículo automotor. (...) Habeas corpus. HC 86.424-extensão-segunda RTJ 205/761

PrPn Advogado. (...) Prisão especial. Rcl 4.713 RTJ 205/703 – Rcl 5.192 RTJ 205/719 – HC 91.150 RTJ 205/310 – HC 93.391 RTJ 205/1397

Adm Advogado constituído pela empresa: comparecimento aos autos. (...) Processo administrativo. MS 25.787 RTJ 205/1160

PrPn Afastamento pelo Tribunal de Justiça de São Paulo: ausência. (...) Habeas corpus. HC 88.473 RTJ 205/1235

Adm Agente de fiscalização da Agência Nacional de Telecomunicação (ANATEL). (...) Poder de polícia. Rcl 5.310 RTJ 205/155

Adm Agente de segurança penitenciária. (...) Vantagem. RE 185.312 RTJ 205/799

PrPn Agente público estadual. (...) Competência criminal. HC 90.174 RTJ 205/1276

PrSTF Agentes comunitários de saúde: possibilidade de demissão em mas-sa. (...) Reclamação. Rcl 4.990-MC-AgR RTJ 205/712

PrCv Agravo de instrumento. Conhecimento. Conversão em recurso ex-traordinário. AI 573.623-QO RTJ 205/1441

PrCv Agravo de instrumento: sobrestamento até o julgamento da ADI 2.362. (...) Medida cautelar. AC 2.011-MC RTJ 205/613

PrCv Agravo regimental. Caráter abusivo. Litigância de má-fé. CPC/73, art. 557, § 2º. CC 7.498-AgR RTJ 205/728

PrCv Agravo regimental. Caráter abusivo. Litigância de má-fé. Multa. CPC/73, art. 557, § 2º. AI 598.715-AgR RTJ 205/1445

PrCv Agravo regimental. Descabimento. Provimento de agravo de ins-trumento. Recurso extraordinário: processamento. Súmula 289. AI 549.481-AgR RTJ 205/1432

PrCv Agravo regimental. Razões. Decisão agravada: ausência de impug-nação dos fundamentos. Súmula 287. AR 1.853-AgR RTJ 205/1104

Ct Alcance da norma: extensão a outras unidades da Federação. (...) Estado-membro. ADI 2.832 RTJ 205/1107

Page 458: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Ale-Apo — ÍNDICE ALFABÉTICO1458

PrPn Alegações finais: não-apresentação. (...) Defesa criminal. HC 92.680 RTJ 205/1362

Trbt Alíquota: redução. (...) Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). ACO 541 RTJ 205/1019

PrSTF Alíquota zero. (...) Recurso extraordinário. RE 353.657 RTJ 205/807PrSTF Alteração substancial da norma fundamentadora: ausência. (...) Ação

direta de inconstitucionalidade. ADI 980 RTJ 205/1041Adm Altura mínima: fixação em edital. (...) Concurso público. AI

598.715-AgR RTJ 205/1445PrPn Alvará de soltura: confirmação de expedição. (...) Prisão preventiva.

HC 93.769 RTJ 205/406Adm Ambliopia: visão monocular. (...) Concurso público. RMS 26.071

RTJ 205/203PrSTF Amicus curiae. (...) Embargos de declaração. ADI 3.615-ED RTJ

205/680PrPn Ampla defesa: possibilidade. (...) Denúncia. HC 90.795 RTJ 205/1295El Análise da capacidade eleitoral: momento. (...) Processo eleitoral.

ADI 4.018-MC RTJ 205/134Pn Analogia: descabimento. (...) Pena. HC 92.926 RTJ 205/1385PrCv Anistia. (...) Mandado de segurança. RMS 26.614-AgR RTJ 205/219Adm Anistia. (...) Servidor público. RE 507.153-AgR RTJ 205/1424PrCv Anuência do impetrado: desnecessidade. (...) Mandado de seguran-

ça. MS 24.584-AgR RTJ 205/1156PrPn Anulação ab initio. (...) Ação penal. HC 94.273 RTJ 205/1410Adm Anulação pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). (...) Concurso

público. MS 26.700 RTJ 205/1187Ct Apelação criminal. (...) Competência originária. AO 1.047 RTJ

205/576PrPn Apelação criminal. Conhecimento. Razões tardias. Mera irregulari-

dade. AO 1.047 RTJ 205/576PrPn Apelação do MP: pendência. (...) Habeas corpus. HC 93.302 RTJ

205/388Pn Aplicação analógica da majorante do crime de roubo: impossibili-

dade. (...) Pena. HC 92.626 RTJ 205/785Adm Aposentadoria especial. Vereador. Convênio com o Instituto de Pre -

vidência do Estado de São Paulo (IPESP): autorização legal. Câmara

Page 459: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Apr-Ato 1459

Municipal: revogação posterior da lei e denúncia do convênio. Indenização: descabimento. Ato ilícito: ausência. RE 172.582 RTJ 205/795

PrPn Apreensão de mercadorias. (...) Prova criminal. HC 90.795 RTJ 205/1295

Adm Aproveitamento. (...) Cargo público. ADI 980 RTJ 205/1041PrPn Associação de mais de três pessoas: necessidade. (...) Ação penal.

HC 91.650 RTJ 205/1312PrSTF Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). (...) Ação direta de

inconstitucionalidade. ADI 3.896 RTJ 205/1141PrCv Associações civis e Seccional da OAB/BA. (...) Ação civil pública.

ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537Pn Atenuante: não-consideração. (...) Pena-base. HC 92.926 RTJ

205/1385Pn Atipicidade da conduta. (...) Crime contra a ordem tributária. HC

86.032 RTJ 205/231PrPn Atipicidade da conduta: ausência de dolo. (...) Ação penal. HC

86.466 RTJ 205/244PrCv Atividade da Petrobras: inviabilidade. (...) Medida cautelar. AC

1.193-MC-QO RTJ 205/1084Adm Ato administrativo. Nulidade. Câmara de Comércio Exterior (CA-

MEX). Relevância e urgência. Competência do presidente ad refe-rendum da Camex. Autorização prévia do colegiado: necessidade. Resolução 12/01-Regimento Interno da Camex, art. 7º, V. Decreto 3.756/01, art. 5º, § 2º. RMS 26.967 RTJ 205/748

PrCv Ato coator. (...) Mandado de segurança. MS 25.641 RTJ 205/732PrSTF Ato de caráter normativo. (...) Ação direta de inconstitucionalidade.

ADI 4.018-MC RTJ 205/134PrSTF Ato de caráter regulamentar. (...) Ação direta de inconstitucionali-

dade. ADI 3.458 RTJ 205/665Ct Ato do presidente da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). (...) Estado-membro. Rcl 1.421 RTJ 205/1090Adm Ato ilícito: ausência. (...) Aposentadoria especial. RE 172.582 RTJ

205/795PrSTF Ato normativo: caráter secundário. (...) Ação direta de inconstitucio-

nalidade. ADI 2.862 RTJ 205/1125PrSTF Ato normativo posterior à CF/88. (...) Ação direta de inconstitucio-

nalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686

Page 460: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Ato-Bus — ÍNDICE ALFABÉTICO1460

Ct Ato nulo e efeito repristinatório. (...) Controle concentrado de cons-titucionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686

Int Atos anteriores ao tratado. (...) Extradição. Ext 906-ED RTJ 205/1035

PrCv Atos comissivos e omissivos. (...) Mandado de segurança. MS 26.204-AgR-ED RTJ 205/209

PrPn Atos processuais: renovação. (...) Prisão cautelar. HC 94.273 RTJ 205/1410

Adm Atraso no pagamento. (...) Vencimentos. MS 25.641 RTJ 205/732PrPn Audiência prévia do Ministério Público e da defesa: desnecessidade.

(...) Prisão preventiva. HC 93.391 RTJ 205/1397Adm Autarquia estadual. (...) Remuneração. ADPF 47 RTJ 205/11PrSTF Autor ou requerido no processo de fiscalização abstrata: ausência.

(...) Embargos de declaração. ADI 3.756-ED RTJ 205/124PrPn Autoridades envolvidas: identificação. (...) Delação premiada. HC

90.688 RTJ 205/263PrPn Autorização. (...) Interceptação telefônica. HC 85.541 RTJ 205/1207Ct Autorização do Congresso Nacional: desnecessidade. (...) Processo

de licenciamento ambiental. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537Adm Autorização prévia do colegiado: necessidade. (...) Ato administra-

tivo. RMS 26.967 RTJ 205/748

BCt Banco Central. Sistema Sisbacen: acesso negado ao Tribunal de

Contas da União. Operação financeira. Quebra de sigilo bancário: impossibilidade. Previsão legal: ausência. Direito à intimidade: pro-teção. Penalidade imposta pelo TCU: afastamento. Lei Complemen-tar 105/01. CF/88, art. 5º, X. MS 22.801 RTJ 205/161

Trbt Base de cálculo, alíquota e fato gerador. (...) Salário-educação. RE 405.444-AgR RTJ 205/429

PrPn Bens, serviços ou interesse da União: ofensa inocorrente. (...) Com-petência criminal. ACO 1.058 RTJ 205/38

Adm Boa-fé do servidor. (...) Vencimentos. MS 25.641 RTJ 205/732PrPn Bons antecedentes e residência fixa. (...) Prisão preventiva. HC

93.134 RTJ 205/378Adm Busca e apreensão. (...) Poder de polícia. Rcl 5.310 RTJ 205/155

Page 461: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Cab-Car 1461

CPrSTF Cabimento. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 2.395

RTJ 205/618 – ADI 2.527-MC RTJ 205/44 – ADI 4.018-MC RTJ 205/134

PrSTF Cabimento. (...) Reclamação. Rcl 5.151 RTJ 205/143PrPn Cabimento: excepcionalidade. (...) Habeas corpus. HC 90.172 RTJ

205/1267 – HC 91.150 RTJ 205/310 – HC 92.335-MC RTJ 205/361 – HC 92.417 RTJ 205/776 – HC 93.134 RTJ 205/378 – HC 93.769 RTJ 205/406

PrPn Calúnia contra superior hierárquico. (...) Ação penal. HC 86.466 RTJ 205/244

PrPn Calúnia contra superior hierárquico. (...) Ação penal pública incon-dicionada. HC 86.466 RTJ 205/244

Adm Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). (...) Ato administrativo. RMS 26.967 RTJ 205/748

Adm Câmara Municipal: revogação posterior da lei e denúncia do convê-nio. (...) Aposentadoria especial. RE 172.582 RTJ 205/795

Adm Candidata aprovada: ex-assessora de desembargador integrante da banca examinadora. (...) Concurso público. MS 26.700 RTJ 205/1187

PrCv Caráter abusivo. (...) Agravo regimental. CC 7.498-AgR RTJ 205/728 – AI 598.715-AgR RTJ 205/1445

PrCv Caráter infringente. (...) Embargos de declaração. AI 655.339-ED RTJ 205/1448

PrCv Caráter mandamental e natureza personalíssima. (...) Mandado de segurança. MS 25.641 RTJ 205/732

Ct Cargo de direção: universo de magistrados elegíveis. (...) Tribunal Regional Federal (TRF). ADI 3.566 RTJ 205/105 – Rcl 5.158-MC RTJ 205/149

PrCv Cargo de ouvidor. (...) Mandado de segurança. MS 26.204-AgR-ED RTJ 205/209

Ct Cargo de procurador: conversão em procurador de justiça do Mi-nistério Público estadual. (...) Tribunal de Contas municipal. ADI 3.315 RTJ 205/100

Adm Cargo em comissão. (...) Servidor público. MS 24.580 RTJ 205/181Adm Cargo público. Aproveitamento. Empregado público da administra-

ção indireta. Concurso público: necessidade. CF/88, arts. 37, II; e 39: ofensa. ADCT da Lei Orgânica do Distrito Federal, arts. 46, § 1º; e 53, parágrafo único: inconstitucionalidade. ADI 980 RTJ 205/1041

Page 462: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Cas-CF/ — ÍNDICE ALFABÉTICO1462

PrSTF Caso concreto: excepcionalidade. (...) Medida cautelar. ADI 3.929-MC-QO RTJ 205/130

Ct Casos de câncer de pele. (...) Competência legislativa. ADI 2.875 RTJ 205/1137

Ct Casos de câncer de pele: ausência de notificação à Secretaria de Saú-de. (...) Competência legislativa. ADI 2.875 RTJ 205/1137

Ct CDC/90, art. 6º, III. (...) Competência legislativa concorrente. ADI 2.832 RTJ 205/1107

PrPn Cerceamento de defesa: inocorrência. (...) Prova pericial. HC 91.121 RTJ 205/284

PrCv Certidão de julgamento: insuficiência. (...) Decisão judicial. RE 540.995 RTJ 205/463

PrCv Certidão parcial de tempo de serviço: obtenção. (...) Ação civil públi-ca. RE 472.489-AgR RTJ 205/1413

Ct CF/88, arts. 2º e 61, § 1º: ofensa. (...) Processo legislativo. ADI 3.458 RTJ 205/665

Trbt CF/88, arts. 5º, caput, e 145, II. (...) Custas. ADI 3.660 RTJ 205/686Ct CF/88, art. 5º, X. (...) Banco Central. MS 22.801 RTJ 205/161PrGr CF/88, art. 5º, XII: inteligência. (...) Prova. Inq 2.424-QO RTJ

205/638 – Inq 2.424-QO-QO RTJ 205/656PrCv CF/88, arts. 5º, XXXIV; e 129, II. (...) Ação civil pública. RE

472.489-AgR RTJ 205/1413PrSTF CF/88, art. 5º, XXXV, XXXVI, XL, LIV e LV: ofensa inocorrente.

(...) Recurso extraordinário. RE 479.887 RTJ 205/434PrCv CF/88, art. 5º, XXXVI. (...) Honorários advocatícios. ADI 2.527-MC

RTJ 205/44PrPn CF/88, art. 5º, XL. (...) Liberdade provisória. HC 91.118 RTJ 205/765PrPn CF/88, art. 5º, XLIII. (...) Liberdade provisória. HC 93.302 RTJ

205/388PrPn CF/88, art. 5º, XLIII. (...) Prisão em flagrante. HC 92.495 RTJ

205/1357Int CF/88, art. 5º, XLVII, b. (...) Extradição. Ext 1.104 RTJ 205/601PrPn CF/88, art. 5º, LIV e LV. (...) Defesa criminal. HC 92.680 RTJ

205/1362PrPn CF/88, art. 5º, LVI. (...) Prova criminal. HC 82.862 RTJ 205/1201 –

HC 89.143 RTJ 205/1248

Page 463: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — CF/-CF/ 1463

PrPn CF/88, art. 5º, LXXVIII. (...) Habeas corpus. HC 87.724 RTJ 205/1213

PrPn CF/88, arts. 5º, LXXVIII; e 93, IX. (...) Prisão preventiva. HC 92.848 RTJ 205/1369

PrPn CF/88, art. 5º, LXXXVIII. (...) Instrução criminal. HC 91.118 RTJ 205/765

Adm CF/88, art. 7º, IV: ofensa. (...) Remuneração. ADPF 47 RTJ 205/11Adm CF/88, arts. 7º, IX; e 37, XIV. (...) Vantagem. RE 185.312 RTJ

205/799El CF/88, art. 14. (...) Processo eleitoral. ADI 4.018-MC RTJ 205/134Ct CF/88, art. 18, § 4º, redação da EC 15/96. (...) Município. ADI 2.395

RTJ 205/618Ct CF/88, art. 22, I: ofensa. (...) Competência legislativa. ADI 2.875

RTJ 205/1137 – ADI 3.896 RTJ 205/1141PrPn CF/88, arts. 22, XIV; e 109, IV e XI. (...) Competência criminal. HC

91.121 RTJ 205/284Ct CF/88, arts. 23, II; e 24, XII. (...) Competência legislativa. ADI 2.875

RTJ 205/1137Ct CF/88, art. 24, V. (...) Competência legislativa concorrente. ADI

2.832 RTJ 205/1107Ct CF/88, arts. 25, § 1º; e 30, V: ofensa. (...) Competência legislativa.

ADI 845 RTJ 205/29Ct CF/88, arts. 37, II; 73, § 2º, I; e 130: ofensa. (...) Tribunal de Contas

municipal. ADI 3.315 RTJ 205/100Adm CF/88, arts. 37, II; e 39: ofensa. (...) Cargo público. ADI 980 RTJ

205/1041PrSTF CF/88, art. 37, XI: eficácia plena. (...) Ação direta de inconstitucio-

nalidade. ADI 2.648-MC RTJ 205/82TrGr CF/88, art. 37, XIII: ofensa. (...) Empregado. ADI 191 RTJ 205/15Adm CF/88, arts. 37, XIII; 96, II, b; e 167, IV: ofensa. (...) Vencimentos.

RE 218.874 RTJ 205/411Ct CF/88, art. 61, § 1º, II. (...) Processo legislativo. ADI 980 RTJ

205/1041Ct CF/88, art. 62: ofensa inocorrente. (...) Medida provisória. ADI

2.527-MC RTJ 205/44Ct CF/88, art. 62, § 1º, I, b: inaplicabilidade. (...) Medida provisória.

ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Page 464: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

CF/-CF/ — ÍNDICE ALFABÉTICO1464

PrCv CF/88, art. 93, IX. (...) Decisão judicial. RE 540.995 RTJ 205/463PrPn CF/88, art. 93, IX. (...) Prisão preventiva. HC 89.143 RTJ 205/1248Ct CF/88, art. 96, I, a. (...) Tribunal Regional Federal (TRF). ADI

3.566 RTJ 205/105PrTr CF/88, arts. 96, I, a; e 246. (...) Competência jurisdicional. ADI

2.527-MC RTJ 205/44Ct CF/88, art. 96, I, a e d, e II, d. (...) Poder Judiciário. HC 91.024 RTJ

205/1303Trbt CF/88, art. 98, § 2º, redação da EC 45/04. (...) Custas. ADI 3.660 RTJ

205/686Ct CF/88, art. 102, I, f: inteligência. (...) Competência originária. ACO

1.058 RTJ 205/38Ct CF/88, art. 102, I, n. (...) Competência originária. AO 1.047 RTJ

205/576PrSTF CF/88, art. 103, IX. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI

2.832 RTJ 205/1107PrPn CF/88, art. 109, IV: inaplicabilidade. (...) Competência criminal. HC

90.174 RTJ 205/1276PrPn CF/88, art. 109, IV e VI: inaplicabilidade. (...) Competência crimi-

nal. ACO 1.058 RTJ 205/38PrTr CF/88, art. 111, redação da EC 24/99: matéria diversa. (...) Compe-

tência jurisdicional. ADI 2.527-MC RTJ 205/44PrTr CF/88, art. 114, VI. (...) Competência jurisdicional. RE 515.366-

AgR RTJ 205/1427Adm CF/88, art. 129, § 3º. (...) Concurso público. MS 26.682 RTJ 205/744Trbt CF/88, art. 153, § 3º, II. (...) Imposto sobre Produtos Industrializa-

dos (IPI). RE 353.657 RTJ 205/807Trbt CF/88, art. 155, § 2º, IV e XII, g: ofensa. (...) Imposto sobre Circula-

ção de Mercadorias e Serviços (ICMS). ACO 541 RTJ 205/1019Ct CF/88, art. 170, caput. (...) Competência legislativa. ADI 845 RTJ

205/29PrSTF CF/88, art. 170, IV e parágrafo único. (...) Ação direta de inconstitu-

cionalidade. ADI 2.832 RTJ 205/1107PrCv CF/88, arts. 170 e 225. (...) Tutela antecipada. STA 118-AgR RTJ

205/519Trbt CF/88, art. 212, § 5º. (...) Salário-educação. RE 405.444-AgR RTJ

205/429

Page 465: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — CF/-Com 1465

Ct CF/88, art. 235: ofensa inocorrente. (...) Tribunal de Contas estadu-al. ADI 1.903 RTJ 205/607

Ct CF/88, art. 235, III. (...) Estado-membro. ADI 1.903 RTJ 205/607PrSTF Chancela eletrônica: validade. (...) Recurso extraordinário. RE

504.873-AgR RTJ 205/1422Pn Circunstância agravante: desconsideração. (...) Pena-base. AO 1.047

RTJ 205/576PrPn Citação pessoal do acusado: ausência. (...) Citação por edital. HC

92.569 RTJ 205/779PrPn Citação por edital. Nulidade absoluta. Citação pessoal do acusado:

ausência. Mandado: erro. Prejuízo à defesa. Preclusão inocorrente. CPP/41, art. 573. HC 92.569 RTJ 205/779

Pn Citação por edital: descabimento. (...) Pena. HC 92.012 RTJ 205/1326Pn Co-autoria. (...) Homicídio qualificado. AO 1.047 RTJ 205/576Trbt Coeficiente: cálculo. (...) Fundo de Participação dos Municípios.

MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213PrPn Coisa julgada: impossibilidade de análise. (...) Habeas corpus. HC

93.207 RTJ 205/1390Adm Colação de grau: inexigibilidade. (...) Concurso público. MS 26.682

RTJ 205/744PrSTF Comercialização de café. (...) Ação direta de inconstitucionalidade.

ADI 2.832 RTJ 205/1107Ct Comercialização de café. (...) Estado-membro. ADI 2.832 RTJ

205/1107Ct Comercialização de café no Estado do Paraná. (...) Competência

legislativa concorrente. ADI 2.832 RTJ 205/1107Adm Comparação entre os dois olhos: impedimento. (...) Concurso públi-

co. RMS 26.071 RTJ 205/203PrPn Comparecimento: número superior à previsão legal. (...) Júri. AO

1.047 RTJ 205/576PrPn Competência criminal. Competência do STF: inocorrência. Habeas

corpus. Decisão do STJ em agravo de instrumento: devolução restri-ta. Pedido do writ: matéria diversa. Prisão domiciliar, regime semi-aberto e prescrição. Juízo da Execução: competência. HC 88.083 RTJ 205/1230

PrPn Competência criminal. Crime contra a ordem econômica. Instala-ção e armazenamento de GLP: falta de segurança. Bens, serviços ou interesse da União: ofensa inocorrente. Opinio delicti e eventual

Page 466: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Com-Com — ÍNDICE ALFABÉTICO1466

denúncia: atribuição do Ministério Público estadual. Lei 8.176/91, art. 1º, I. Lei 9.847/99, art. 17. CF/88, art. 109, IV e VI: inaplicabili-dade. ACO 1.058 RTJ 205/38

PrPn Competência criminal. Justiça comum. Abuso de autoridade. Justi-ça castrense: ausência de previsão legal. HC 92.912 RTJ 205/365

PrPn Competência criminal. Justiça comum. Ação penal: processo e jul-gamento. Agente público estadual. Dispensa ou inexigibilidade de li-citação. Convênio entre União e Estado-membro. Repasse de verba. Interesse da União: ausência. Lei 8.666/93, art. 89. CF/88, art. 109, IV: inaplicabilidade. HC 90.174 RTJ 205/1276

PrPn Competência criminal. Justiça Federal. Crime contra indígena. Mo-tivação: disputa de terra. CF/88, arts. 22, XIV; e 109, IV e XI. HC 91.121 RTJ 205/284

PrPn Competência do juiz da causa. (...) Prisão preventiva. HC 93.391 RTJ 205/1397

Adm Competência do presidente ad referendum da Camex. (...) Ato admi-nistrativo. RMS 26.967 RTJ 205/748

PrPn Competência do STF: inocorrência. (...) Competência criminal. HC 88.083 RTJ 205/1230

PrPn Competência do STF: inocorrência. (...) Habeas corpus. HC 92.332-AgR RTJ 205/1349

PrPn Competência do Tribunal de Justiça. (...) Habeas corpus. HC 92.332-AgR RTJ 205/1349

PrCv Competência jurisdicional. Justiça comum. Ação consignatória. Contribuição sindical. Decisão de mérito anterior à EC 45/04. CC 7.456 RTJ 205/1149

PrCv Competência jurisdicional. Justiça comum. Servidor público es-tadual. Reintegração. Regime jurídico único: posterioridade. RE 507.153-AgR RTJ 205/1424

PrTr Competência jurisdicional. Justiça do Trabalho. Indenização por dano moral ou patrimonial. Acidente de trabalho. Sentença de méri-to: ausência. CF/88, art. 114, VI. Emenda Constitucional 45/04. RE 515.366-AgR RTJ 205/1427

PrTr Competência jurisdicional. Justiça do Trabalho. Legislação infra-constitucional: definição da competência do TST. Recurso de revis-ta. Requisito de admissibilidade. Transcendência: reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica. CF/88, arts. 96, I, a; e 246. CF/88, art. 111, redação da EC 24/99: matéria diversa. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Page 467: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Com-Com 1467

Ct Competência legislativa. Comum e concorrente. Distrito Federal. Saúde pública. Casos de câncer de pele. Médicos público e parti-cular: obrigatoriedade de notificação mensal à Secretaria de Saúde. CF/88, arts. 23, II; e 24, XII. Lei distrital 3.139/03/DF, art. 1º. ADI 2.875 RTJ 205/1137

Ct Competência legislativa. Estado-membro. Transporte coletivo in-termunicipal. Estudante: “meia passagem”. Concessão ou permissão de serviço público: regramento. CF/88, art. 170, caput. Constituição do Estado do Amapá/91, art. 224. ADI 845 RTJ 205/29

Ct Competência legislativa. Município. Transporte coletivo municipal. Estudante: “meia passagem”. CF/88, arts. 25, § 1º; e 30, V: ofensa. Constituição do Estado do Amapá/91, art. 224, expressão: inconsti-tucionalidade. ADI 845 RTJ 205/29

Ct Competência legislativa. União Federal. Direito civil. Responsabi-lidade civil do médico. Casos de câncer de pele: ausência de notifi-cação à Secretaria de Saúde. CF/88, art. 22, I: ofensa. Lei distrital 3.139/03/DF, art. 2º: inconstitucionalidade. ADI 2.875 RTJ 205/1137

Ct Competência legislativa. União Federal. Direito processual. Dele-gado de polícia: oitiva em dia, hora e local ajustados. CF/88, art. 22, I: ofensa. Lei estadual 4.122/99/SE, art. 32, IV: inconstitucionalida-de. ADI 3.896 RTJ 205/1141

Ct Competência legislativa concorrente. Estado-membro. Produção e consumo. Comercialização de café no Estado do Paraná. Rótulo de embalagem. Informação ao consumidor: obrigatoriedade. Selo de qualidade. Fiscalização: entidade vinculada à administração pública. CDC/90, art. 6º, III. CF/88, art. 24, V. Lei estadual 13.519/02/PR. ADI 2.832 RTJ 205/1107

Ct Competência originária. Supremo Tribunal Federal (STF). Conflito negativo de atribuições. Ministério Público Federal e Ministério Público estadual. CF/88, art. 102, I, f: inteligência. ACO 1.058 RTJ 205/38

Ct Competência originária. Supremo Tribunal Federal (STF). Júri. Apelação criminal. Impedimento de mais da metade dos membros de tribunal de origem. CF/88, art. 102, I, n. AO 1.047 RTJ 205/576

Int Competência penal do Estado requerente. (...) Extradição. Ext 1.104 RTJ 205/601

PrCv Competência recursal: exercício. (...) Conflito de competência. CC 7.498-AgR RTJ 205/728

PrPn Complexidade da causa: pluralidade de réus e delitos. (...) Habeas corpus. HC 87.724 RTJ 205/1213

Page 468: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Com-Con — ÍNDICE ALFABÉTICO1468

PrPn Complexidade da causa: pluralidade de réus e delitos. (...) Prisão preventiva. HC 92.848 RTJ 205/1369

Ct Comum e concorrente. (...) Competência legislativa. ADI 2.875 RTJ 205/1137

Int Comutação em pena não superior a trinta anos: necessidade. (...) Ex-tradição. Ext 1.104 RTJ 205/601

PrPn Concessão. (...) Livramento condicional. HC 92.417 RTJ 205/776PrPn Concessão de ofício. (...) Habeas corpus. HC 86.424-extensão-

segunda RTJ 205/761 – HC 91.631 RTJ 205/341 – HC 94.307-QO RTJ 205/409

PrPn Concessão de ofício: impossibilidade. (...) Habeas corpus. HC 93.302 RTJ 205/388

PrSTF Concessão monocrática pela Presidência do STF. (...) Medida caute-lar. ADI 3.929-MC-QO RTJ 205/130

Ct Concessão ou permissão de serviço público: regramento. (...) Com-petência legislativa. ADI 845 RTJ 205/29

Pn Concurso de agentes. (...) Pena. HC 92.626 RTJ 205/785 – HC 92.926 RTJ 205/1385

Adm Concurso público. Magistratura estadual. Anulação pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Candidata aprovada: ex-assessora de desembargador integrante da banca examinadora. Presunção de má-fé ou irregularidade: impossibilidade. Princípio da moralidade e da impessoalidade: ofensa inocorrente. MS 26.700 RTJ 205/1187

Adm Concurso público. Ministério Público: ingresso. Inscrição definiti-va. Prática forense: comprovação. Data da conclusão do curso: con-tagem. Colação de grau: inexigibilidade. Expedição do certificado: demora imputada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB): dispensabili-dade. Curso de pós-graduação na área jurídica: cômputo do tempo. Resolução 4/06-CNMP, art. 1º, parágrafo único. CF/88, art. 129, § 3º. MS 26.682 RTJ 205/744

Adm Concurso público. Policial militar. Altura mínima: fixação em edital. Previsão legal: ausência. Princípio da legalidade: ofensa. AI 598.715-AgR RTJ 205/1445

Adm Concurso público. Vaga reservada a portador de deficiência. Amblio-pia: visão monocular. Comparação entre os dois olhos: impedimento. Fator de desigualdade factual. Medida de superioridade jurídica: compensação. Política de ação afirmativa. Princípio da isonomia. Lei 7.853/89. Decreto 3.298/99, art. 4º, III, redação do Decreto 5.296/04. RMS 26.071 RTJ 205/203

Page 469: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Con-Con 1469

Ct Concurso público: ausência. (...) Tribunal de Contas municipal. ADI 3.315 RTJ 205/100

Adm Concurso público: necessidade. (...) Cargo público. ADI 980 RTJ 205/1041

Pn Condenação: invalidação. (...) Crime militar. HC 92.961 RTJ 205/372PrPn Condenação anterior em outro país. (...) Habeas corpus. HC 93.207

RTJ 205/1390PrPn Condenação criminal. (...) Exceção de suspeição. AO 1.047 RTJ

205/576Int Condenação no Brasil. (...) Extradição. Ext 1.118 RTJ 205/1079PrPn Condição regular de higiene e cela individual. (...) Prisão especial.

HC 93.391 RTJ 205/1397PrSTF Confederação Nacional da Indústria (CNI). (...) Ação direta de in-

constitucionalidade. ADI 2.832 RTJ 205/1107PrCv Conflito de competência. Não-configuração. Recurso especial e

recurso extraordinário: julgamento sucessivo no STJ e no STF. Re-sultado: não-conhecimento por fundamento diverso. Competência recursal: exercício. CC 7.498-AgR RTJ 205/728

PrSTF Conflito entre União e Estado-membro. (...) Recurso extraordinário. RE 479.887 RTJ 205/434

Ct Conflito negativo de atribuições. (...) Competência originária. ACO 1.058 RTJ 205/38

PrCv Conhecimento. (...) Agravo de instrumento. AI 573.623-QO RTJ 205/1441

PrPn Conhecimento. (...) Apelação criminal. AO 1.047 RTJ 205/576PrPn Conhecimento. (...) Habeas corpus. HC 91.121 RTJ 205/284PrPn Conhecimento como recurso. (...) Habeas corpus. HC 92.170-segun-

do julgamento RTJ 205/1330Int Cônjuge e filho brasileiro. (...) Extradição. Ext 1.104 RTJ 205/601PrPn Cônjuges integrantes do Ministério Público: atuação sucessiva no

mesmo processo. (...) Suspeição. ES 5 RTJ 205/1011Ct Conselheiro: indicação. (...) Tribunal de Contas estadual. ADI 1.903

RTJ 205/607PrPn Conselho de sentença. (...) Júri. RHC 81.396 RTJ 205/223PrCv Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP): ilegitimidade

passiva. (...) Mandado de segurança. MS 26.204-AgR-ED RTJ 205/209

Page 470: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Con-Con — ÍNDICE ALFABÉTICO1470

Ct Constituição do Estado do Amapá/91, art. 224. (...) Competência legislativa. ADI 845 RTJ 205/29

Ct Constituição do Estado do Amapá/91, art. 224, expressão: inconsti-tucionalidade. (...) Competência legislativa. ADI 845 RTJ 205/29

TrGr Constituição do Estado do Rio Grande do Sul/89, art. 28: inconstitu-cionalidade. (...) Empregado. ADI 191 RTJ 205/15

PrPn Constrangimento ilegal. (...) Inquérito policial. HC 85.541 RTJ 205/1207

PrPn Constrangimento ilegal: caracterização. (...) Habeas corpus. HC 91.121 RTJ 205/284

PrPn Constrangimento ilegal inocorrente. (...) Habeas corpus. HC 87.724 RTJ 205/1213

PrPn Constrangimento ilegal inocorrente. (...) Instrução criminal. HC 91.118 RTJ 205/765

Pn Consumação. (...) Quadrilha ou bando. HC 86.032 RTJ 205/231PrPn Contrabando, descaminho, falsificação de documento e corrupção

ativa. (...) Prisão preventiva. HC 89.143 RTJ 205/1248PrCv Contradição. (...) Embargos de declaração. RE 240.441-AgR-ED

RTJ 205/415PrSTF Contratação temporária: regularidade. (...) Reclamação. Rcl

4.990-MC-AgR RTJ 205/712Adm Contrato de concessão para prestação de serviço: caducidade. (...)

Processo administrativo. MS 25.787 RTJ 205/1160PrSTF Contrato de risco para prospecção de petróleo: nulidade declarada no

STJ. (...) Recurso extraordinário. RE 479.887 RTJ 205/434PrCv Contribuição sindical. (...) Competência jurisdicional. CC 7.456 RTJ

205/1149PrPn Controle abstrato de constitucionalidade: impossibilidade. (...) Habeas

corpus. HC 81.489 RTJ 205/227Ct Controle concentrado de constitucionalidade. Declaração de

inconstitucionalidade. Ato nulo e efeito repristinatório. Eficácia derrogatória da lei anterior: ausência. Pedido inicial: delimitação do complexo normativo. Norma pré-constitucional: revogação. ADI 3.660 RTJ 205/686

Ct Controle de constitucionalidade. Ação direta de inconstituciona-lidade. Efeitos: modulação. Princípio da boa-fé. ADI 3.756-ED RTJ 205/124

Page 471: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Con-CP/ 1471

Ct Controle de constitucionalidade. Declaração de inconstitucionali-dade. Efeitos: modulação. ADI 3.458 RTJ 205/665

PrSTF Controle de constitucionalidade. (...) Reclamação. Rcl 5.310 RTJ 205/155

PrCv Controle de constitucionalidade: descabimento. (...) Suspensão de liminar. STA 118-AgR RTJ 205/519

Ct Controle jurisdicional. (...) Medida provisória. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

PrSTF Controvérsia idêntica. (...) Recurso extraordinário. RE 559.882-QO RTJ 205/1434

PrPn Conveniência da instrução criminal e garantia da ordem pública e da ordem econômica. (...) Prisão preventiva. HC 91.386 RTJ 205/322

Adm Convênio com o Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP): autorização legal. (...) Aposentadoria especial. RE 172.582 RTJ 205/795

PrPn Convênio entre União e Estado-membro. (...) Competência criminal. HC 90.174 RTJ 205/1276

Trbt Convênio interestadual: necessidade. (...) Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). ACO 541 RTJ 205/1019

PrCv Conversão em agravo regimental. (...) Embargos de declaração. AI 655.339-ED RTJ 205/1448

Pn Conversão em privativa de liberdade. (...) Pena. HC 92.012 RTJ 205/1326

PrCv Conversão em recurso extraordinário. (...) Agravo de instrumento. AI 573.623-QO RTJ 205/1441

Pn Convívio familiar e comunitário: integração. (...) Medida socioedu-cativa. HC 88.473 RTJ 205/1235

PrPn Cópia: obtenção por ex-empregado. (...) Prova criminal. HC 82.862 RTJ 205/1201

Pn Co-réu: simetria. (...) Pena-base. AO 1.047 RTJ 205/576Trbt Correção monetária. (...) Imposto sobre Circulação de Mercadorias

e Serviços (ICMS). RE 213.583-EDv RTJ 205/803PrSTF Corregedor da Justiça Federal: exercício. (...) Ação direta de incons-

titucionalidade. ADI 3.566 RTJ 205/105Ct Corregedor-geral: suspensão do exercício do cargo. (...) Tribunal

Regional Federal (TRF). Rcl 5.158-MC RTJ 205/149Pn CP/40, arts. 61, I; e 155, § 4º. (...) Pena. HC 92.626 RTJ 205/785

Page 472: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

CP/-CPP — ÍNDICE ALFABÉTICO1472

Pn CP/40, art. 109. (...) Prescrição. HC 92.340 RTJ 205/1352Pn CP/40, art. 109, V. (...) Pena. HC 92.224 RTJ 205/353PrPn CP/40, art. 109, VI, c/c art. 111, III. (...) Execução penal. HC 92.000

RTJ 205/350Pn CP/40, art. 114, I: inaplicabilidade. (...) Pena. HC 92.224 RTJ 205/353Pn CP/40, art. 115. (...) Extinção da punibilidade. HC 88.083 RTJ

205/1230PrPn CP/40, arts. 152, parágrafo único; 153; e 154. (...) Prova criminal. HC

82.862 RTJ 205/1201PrPn CP/40, art. 288. (...) Ação penal. HC 91.650 RTJ 205/1312PrSTF CPC/73, art. 543-A, § 2º. (...) Recurso extraordinário. RE 569.476-

AgR RTJ 205/468PrSTF CPC/73, art. 543-B, redação da Lei 11.418/06. (...) Recurso extraor-

dinário. RE 559.882-QO RTJ 205/1434PrCv CPC/73, art. 557, § 2º. (...) Agravo regimental. CC 7.498-AgR RTJ

205/728 – AI 598.715-AgR RTJ 205/1445PrPn CPM/69, art. 121. (...) Ação penal pública incondicionada. HC

86.466 RTJ 205/244PrPn CPM/69, art. 214, caput, c/c art. 218, II. (...) Ação penal. HC 86.466

RTJ 205/244PrPn CPP/41, art. 41. (...) Denúncia. HC 90.023 RTJ 205/1255 – HC 92.304

RTJ 205/1339 – HC 93.916 RTJ 205/1404PrPn CPP/41, art. 312. (...) Prisão preventiva. HC 89.143 RTJ 205/1248 –

HC 91.121 RTJ 205/284 – HC 92.335-MC RTJ 205/361PrPn CPP/41, art. 392: inaplicabilidade. (...) Intimação criminal. HC

81.691 RTJ 205/753PrPn CPP/41, art. 445: inteligência. (...) Júri. AO 1.047 RTJ 205/576PrPn CPP/41, art. 458, § 1º. (...) Júri. AO 1.047 RTJ 205/576PrPn CPP/41, art. 484, III. (...) Júri. RHC 81.396 RTJ 205/223PrPn CPP/41, art. 499. (...) Prova pericial. HC 91.121 RTJ 205/284PrGr CPP/41, art. 563. (...) Embargos de declaração. HC 92.235 RTJ

205/1332PrPn CPP/41, art. 563. (...) Processo criminal. HC 86.789 RTJ 205/252PrPn CPP/41, art. 573. (...) Citação por edital. HC 92.569 RTJ 205/779

Page 473: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — CPP-Cri 1473

PrPn CPP/41, art. 580: inteligência. (...) Habeas corpus. HC 86.424-exten-são-segunda RTJ 205/761

PrPn CPPM/69, art. 29. (...) Ação penal pública incondicionada. HC 86.466 RTJ 205/244

Trbt Creditamento: impossibilidade. (...) Imposto sobre Produtos Indus-trializados (IPI). RE 353.657 RTJ 205/807

Trbt Crédito escritural. (...) Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). RE 213.583-EDv RTJ 205/803

Pn Crédito tributário não constituído. (...) Crime contra a ordem tribu-tária. HC 86.032 RTJ 205/231

Ct Criação e instalação: distinção. (...) Estado-membro. ADI 1.903 RTJ 205/607

Ct Criação, fusão, incorporação e desmembramento. (...) Município. ADI 2.395 RTJ 205/618

PrPn Crime contra a ordem econômica. (...) Competência criminal. ACO 1.058 RTJ 205/38

PrPn Crime contra a ordem tributária. (...) Ação penal. HC 90.795 RTJ 205/1295

Pn Crime contra a ordem tributária. Atipicidade da conduta. Crédito tributário não constituído. Processo administrativo pendente. De-núncia do Ministério Público prematura. Prescrição: suspensão. Lei 8.137/90, art. 1º, II. HC 86.032 RTJ 205/231

PrPn Crime contra indígena. (...) Competência criminal. HC 91.121 RTJ 205/284

PrPn Crime contra o meio ambiente. (...) Ação penal. HC 90.023 RTJ 205/1255

PrPn Crime contra o sistema financeiro. (...) Prisão preventiva. HC 93.134 RTJ 205/378

PrPn Crime em tese. (...) Ação penal. HC 90.795 RTJ 205/1295Pn Crime formal. (...) Quadrilha ou bando. HC 86.032 RTJ 205/231PrPn Crime hediondo. (...) Habeas corpus. HC 91.631 RTJ 205/341Pn Crime hediondo. Não-configuração. Homicídio qualificado pratica-

do na vigência da lei anterior. Lei 8.072/90, art. 1º, redação da Lei 8.930/94: inaplicabilidade. AO 1.047 RTJ 205/576

Pn Crime hediondo. (...) Regime prisional. HC 88.052 RTJ 205/1226PrPn Crime militar. (...) Ação penal pública incondicionada. HC 86.466

RTJ 205/244

Page 474: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Cri-Dec — ÍNDICE ALFABÉTICO1474

Pn Crime militar. Posse e uso de substância entorpecente. Condena-ção: invalidação. Princípio da insignificância. Requisitos objetivos: atendimento. Princípio da especialidade da lei penal e da dignidade da pessoa humana: confronto. Paciente sem antecedentes criminais. Exclusão das fileiras do Exército: suficiência. Disciplina e hierarquia militar: preservação. Lei 11.343/06. HC 92.961 RTJ 205/372

PrPn Crime praticado na vigência da Lei 6.368/76. (...) Liberdade provisó-ria. HC 91.118 RTJ 205/765

PrPn Crime societário. (...) Denúncia. HC 90.795 RTJ 205/1295Pn Crime tributário: absorção inocorrente. (...) Quadrilha ou bando.

HC 86.032 RTJ 205/231Ct Cumprimento pelo Legislativo. (...) Decisão plenária. ADI 3.756-ED

RTJ 205/124Adm Curso de pós-graduação na área jurídica: cômputo do tempo. (...)

Concurso público. MS 26.682 RTJ 205/744Trbt Custas. Natureza jurídica: taxa. Destinação a entidade privada:

inadmissibilidade. CF/88, arts. 5º, caput, e 145, II. CF/88, art. 98, § 2º, redação da EC 45/04. Lei estadual 1.936/98/MS, anexo, Ta-bela “J”, redação original e redação da Lei estadual 3.002/05/MS: inconstitucionalidade. Lei estadual 1.135/91/MS, art. 53 e Tabela V: inconstitucionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686

DAdm Data da conclusão do curso: contagem. (...) Concurso público. MS

26.682 RTJ 205/744PrPn Débito tributário. (...) Ação penal. HC 90.795 RTJ 205/1295PrCv Decadência: inocorrência. (...) Mandado de segurança. MS 26.464

RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213Ct Decadência administrativa. (...) Tribunal de Contas da União

(TCU). MS 25.641 RTJ 205/732PrSTF Decisão. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 3.660 RTJ

205/686PrSTF Decisão. (...) Recurso extraordinário. RE 353.657 RTJ 205/807PrCv Decisão agravada: ausência de impugnação dos fundamentos. (...)

Agravo regimental. AR 1.853-AgR RTJ 205/1104PrPn Decisão contrária à prova dos autos: ausência. (...) Júri. AO 1.047

RTJ 205/576

Page 475: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Dec-Dec 1475

PrCv Decisão da Justiça do Trabalho: impugnação. (...) Ação rescisória. AR 1.853-AgR RTJ 205/1104

PrPn Decisão de juiz de primeiro grau em cumprimento de determinação do STJ. (...) Sentença condenatória. HC 90.274 RTJ 205/1282

PrCv Decisão de mérito anterior à EC 45/04. (...) Competência jurisdicio-nal. CC 7.456 RTJ 205/1149

PrPn Decisão de Turma do STF. (...) Habeas corpus. HC 94.307-QO RTJ 205/409

PrPn Decisão de Turma Recursal de Juizado Especial Criminal. (...) Habeas corpus. HC 92.332-AgR RTJ 205/1349

Adm Decisão do presidente da República. (...) Processo administrativo. MS 25.787 RTJ 205/1160

PrPn Decisão do STJ em agravo de instrumento: devolução restrita. (...) Competência criminal. HC 88.083 RTJ 205/1230

PrPn Decisão do STJ em recurso especial. (...) Sentença condenatória. HC 90.274 RTJ 205/1282

PrPn Decisão fundamentada. (...) Prova pericial. HC 91.121 RTJ 205/284PrCv Decisão judicial. Fundamentação: ausência. Acórdãos: não-lavratu-

ra. Certidão de julgamento: insuficiência. Questão jurídica comple-xa. CF/88, art. 93, IX. RE 540.995 RTJ 205/463

PrPn Decisão judicial: fundamentação. (...) Prisão preventiva. HC 92.848 RTJ 205/1369

PrSTF Decisão monocrática. (...) Recurso extraordinário. RE 504.873-AgR RTJ 205/1422

Ct Decisão na ACO 415: ausência de descumprimento. (...) Estado-membro. Rcl 1.421 RTJ 205/1090

PrPn Decisão na ADI 1.127: ausência de descumprimento. (...) Prisão es-pecial. Rcl 4.713 RTJ 205/703

Adm Decisão na ADI 1.668-MC: ausência de descumprimento. (...) Poder de polícia. Rcl 5.310 RTJ 205/155

Ct Decisão na ADI 3.566: aparente ofensa. (...) Tribunal Regional Fe-deral (TRF). Rcl 5.158-MC RTJ 205/149

PrPn Decisão no HC 90.707: ausência de descumprimento. (...) Prisão especial. Rcl 5.192 RTJ 205/719

PrCv Decisão Normativa 79/06-TCU, art. 2º. (...) Mandado de segurança. MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213

Page 476: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Dec-Def — ÍNDICE ALFABÉTICO1476

Ct Decisão plenária. Cumprimento pelo Legislativo. Publicação da ata de julgamento de mérito: necessidade. ADI 3.756-ED RTJ 205/124

Int Decisão transitada em julgado: irrelevância. (...) Extradição. Ext 1.098-QO RTJ 205/1076

PrGr Decisão unânime. (...) Embargos de declaração. HC 92.235 RTJ 205/1332

PrSTF Decisões conflitantes transitadas em julgado. (...) Reclamação. Rcl 5.151 RTJ 205/143

Ct Declaração de inconstitucionalidade. (...) Controle concentrado de constitucionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686

Ct Declaração de inconstitucionalidade. (...) Controle de constitucionali-dade. ADI 3.458 RTJ 205/665

PrSTF Declaração de inconstitucionalidade: inocorrência. (...) Recurso ex-traordinário. RE 353.657 RTJ 205/807

PrCv Decreto 2.745/98. (...) Medida cautelar. AC 1.193-MC-QO RTJ 205/1084

Adm Decreto 3.298/99, art. 4º, III, redação do Decreto 5.296/04. (...) Con-curso público. RMS 26.071 RTJ 205/203

Adm Decreto 3.756/01, art. 5º, § 2º. (...) Ato administrativo. RMS 26.967 RTJ 205/748

Int Decreto de prisão: revogação. (...) Extradição. Ext 1.098-QO RTJ 205/1076

Adm Decreto estadual 4.726/87/MG, art. 2º: não-recepção pela CF/88. (...) Remuneração. ADPF 47 RTJ 205/11

PrSTF Decreto estadual 6.042/04/GO. (...) Ação direta de inconstituciona-lidade. ADI 3.458 RTJ 205/665

Ct Decreto legislativo estadual 9/98/RR. (...) Tribunal de Contas esta-dual. ADI 1.903 RTJ 205/607

PrPn Defensor constituído. (...) Defesa criminal. HC 92.680 RTJ 205/1362PrPn Defensor dativo: nomeação. (...) Defesa criminal. HC 81.489 RTJ

205/227PrPn Defensor público. (...) Intimação criminal. HC 92.569 RTJ 205/779PrPn Defensoria Pública: ausência. (...) Defesa criminal. HC 81.489 RTJ

205/227PrPn Defesa criminal. Defensor constituído. Alegações finais: não-apre-

sentação. Intimação prévia regular. Nulidade absoluta. CF/88, art. 5º, LIV e LV. HC 92.680 RTJ 205/1362

Page 477: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Def-Des 1477

PrPn Defesa criminal. Nulidade inocorrente. Defesa técnica. Defensor dativo: nomeação. Defensoria Pública: ausência. Prejuízo não de-monstrado. HC 81.489 RTJ 205/227

PrPn Defesa prévia: irregularidade. (...) Processo criminal. HC 86.789 RTJ 205/252

PrPn Defesa técnica. (...) Defesa criminal. HC 81.489 RTJ 205/227PrPn Delação premiada. Quebra de sigilo: impossibilidade. Acordo de

cooperação: confecção e homologação. Dúvida sobre a imparcialida-de. Autoridades envolvidas: identificação. Lei 9.807/99, art. 13. HC 90.688 RTJ 205/263

PrSTF Delegado de polícia: oitiva em dia, hora e local ajustados. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 3.896 RTJ 205/1141

Ct Delegado de polícia: oitiva em dia, hora e local ajustados. (...) Com-petência legislativa. ADI 3.896 RTJ 205/1141

PrCv Delegado de polícia e procurador estadual. (...) Embargos de decla-ração. RE 240.441-AgR-ED RTJ 205/415

PrPn Delito de trânsito. (...) Denúncia. HC 93.916 RTJ 205/1404PrSTF Demonstração: ônus do recorrente. (...) Recurso extraordinário. RE

569.476-AgR RTJ 205/468PrPn Denúncia. Descrição suficiente do fato e indícios de autoria. Delito

de trânsito. Homicídio culposo e lesão corporal. Paciente embriaga-do: elementos indicativos. CPP/41, art. 41. HC 93.916 RTJ 205/1404

PrPn Denúncia. Inépcia inocorrente. Descrição suficiente do fato. Adita-mento: nova classificação do crime. CPP/41, art. 41. HC 92.304 RTJ 205/1339

PrPn Denúncia. Inépcia inocorrente. Descrição suficiente do fato. Crime societário. Individualização da conduta: desnecessidade. Ampla de-fesa: possibilidade. HC 90.795 RTJ 205/1295

PrPn Denúncia. Inépcia inocorrente. Descrição suficiente do fato. Direito de defesa: exercício. CPP/41, art. 41. HC 90.023 RTJ 205/1255

Pn Denúncia do Ministério Público prematura. (...) Crime contra a or-dem tributária. HC 86.032 RTJ 205/231

Cv Depositário infiel. (...) Prisão civil. HC 90.172 RTJ 205/1267Pn Derrogação da norma especial pela norma geral: inocorrência. (...)

Extinção da punibilidade. HC 88.083 RTJ 205/1230PrSTF Descabimento. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI

2.832 RTJ 205/1107PrCv Descabimento. (...) Ação rescisória. AR 1.853-AgR RTJ 205/1104

Page 478: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Des-Dir — ÍNDICE ALFABÉTICO1478

PrCv Descabimento. (...) Agravo regimental. AI 549.481-AgR RTJ 205/1432Int Descabimento. (...) Extradição. Ext 1.118 RTJ 205/1079PrPn Descabimento. (...) Habeas corpus. HC 81.489 RTJ 205/227 – HC

92.664-AgR RTJ 205/791PrPn Descabimento. (...) Liberdade provisória. HC 93.302 RTJ 205/388PrSTF Descabimento. (...) Reclamação. Rcl 4.990-MC-AgR RTJ 205/712 –

Rcl 5.310 RTJ 205/155PrPn Descrição suficiente do fato. (...) Denúncia. HC 90.023 RTJ

205/1255 – HC 90.795 RTJ 205/1295 – HC 92.304 RTJ 205/1339PrPn Descrição suficiente do fato e indícios de autoria. (...) Denúncia. HC

93.916 RTJ 205/1404PrPn Desembargador: afastamento cautelar do cargo. (...) Habeas corpus.

HC 87.724 RTJ 205/1213PrPn Desembargador e juiz: parcialidade não demonstrada. (...) Exceção

de suspeição. AO 1.047 RTJ 205/576PrCv Desistência. (...) Mandado de segurança. MS 24.584-AgR RTJ

205/1156PrPn Desistência: impossibilidade. (...) Habeas corpus. HC 92.170-segun-

do julgamento RTJ 205/1330Ct Desistência: impossibilidade. (...) Mandado de injunção. MI 712-

QO RTJ 205/1029Int Desistência da execução. (...) Extradição. Ext 1.098-QO RTJ

205/1076Trbt Destinação a entidade privada: inadmissibilidade. (...) Custas. ADI

3.660 RTJ 205/686PrGr Dever de sigilo. (...) Prova. Inq 2.424-QO-QO RTJ 205/656PrGr Dever de sigilo: transferência para outra autoridade. (...) Prova. Inq

2.424-QO RTJ 205/638Adm Devolução ao erário: desnecessidade. (...) Vencimentos. MS 25.641

RTJ 205/732Adm “Diferença individual”: impossibilidade de supressão. (...) Servidor

público. MS 24.580 RTJ 205/181Ct Direito à intimidade: proteção. (...) Banco Central. MS 22.801 RTJ

205/161Ct Direito civil. (...) Competência legislativa. ADI 2.875 RTJ 205/1137

Page 479: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Dir-Dúv 1479

PrPn Direito de defesa: exercício. (...) Denúncia. HC 90.023 RTJ 205/1255PrPn Direito de defesa: ofensa. (...) Intimação criminal. HC 92.569 RTJ

205/779PrPn Direito de não produzir prova contra si mesmo. (...) Prova criminal.

HC 93.916 RTJ 205/1404PrGr Direito individual e interesse público: ponderação. (...) Prova. Inq

2.424-QO RTJ 205/638PrCv Direito líquido e certo. (...) Mandado de segurança. MS 24.580 RTJ

205/181Ct Direito processual. (...) Competência legislativa. ADI 3.896 RTJ

205/1141PrCv Direitos individuais e homogêneos: defesa. (...) Ação civil pública.

RE 472.489-AgR RTJ 205/1413Pn Disciplina e hierarquia militar: preservação. (...) Crime militar. HC

92.961 RTJ 205/372PrPn Discricionariedade do magistrado na condução do processo. (...) Prova

criminal. HC 83.417 RTJ 205/756PrPn Dispensa ou inexigibilidade de licitação. (...) Competência criminal.

HC 90.174 RTJ 205/1276PrPn Dispositivo e fundamentação: contradição. (...) Acórdão criminal.

HC 91.651 RTJ 205/1318Ct Distrito Federal. (...) Competência legislativa. ADI 2.875 RTJ

205/1137Trbt Distrito Federal e empresa privada. (...) Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS). ACO 541 RTJ 205/1019PrPn Documento confidencial de pessoa jurídica. (...) Prova criminal. HC

82.862 RTJ 205/1201Int Dupla punibilidade. (...) Extradição. Ext 1.073 RTJ 205/1066Int Dupla tipicidade. (...) Extradição. Ext 1.073 RTJ 205/1066 – Ext

1.104 RTJ 205/601Int Dupla tipicidade: ausência. (...) Extradição. Ext 1.073 RTJ 205/1066Adm Dúvida quanto à interpretação da norma. (...) Vencimentos. MS

25.641 RTJ 205/732PrPn Dúvida sobre a imparcialidade. (...) Delação premiada. HC 90.688

RTJ 205/263

Page 480: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Edi-Emb — ÍNDICE ALFABÉTICO1480

ECt Edição anterior à EC 32/01. (...) Medida provisória. ADI 2.527-MC

RTJ 205/44Adm Efeito financeiro retroativo: impossibilidade. (...) Servidor público.

RE 507.153-AgR RTJ 205/1424PrSTF Efeito repristinatório: limite. (...) Ação direta de inconstitucionali-

dade. ADI 3.660 RTJ 205/686PrCv Efeito suspensivo a recurso extraordinário admitido. (...) Medida

cautelar. AC 1.193-MC-QO RTJ 205/1084PrCv Efeito suspensivo a recurso extraordinário inadmitido. (...) Medida

cautelar. AC 2.011-MC RTJ 205/613PrSTF Efeitos: impossibilidade de modulação. (...) Recurso extraordinário.

RE 353.657 RTJ 205/807Ct Efeitos: modulação. (...) Controle de constitucionalidade. ADI 3.458

RTJ 205/665 – ADI 3.756-ED RTJ 205/124PrSTF Efeitos a partir da EC 45/04. (...) Ação direta de inconstitucionalida-

de. ADI 3.660 RTJ 205/686Ct Eficácia derrogatória da lei anterior: ausência. (...) Controle concen-

trado de constitucionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686Ct Eleição. (...) Tribunal Regional Federal (TRF). ADI 3.566 RTJ

205/105 – Rcl 5.158-MC RTJ 205/149Ct Eleição: procedimento. (...) Tribunal Regional Federal (TRF). ADI

3.566 RTJ 205/105El Eleição municipal extemporânea: critérios. (...) Processo eleitoral.

ADI 4.018-MC RTJ 205/134PrPn Elementos: ausência. (...) Inquérito policial. HC 85.541 RTJ 205/1207PrSTF Embargos de declaração. Ação direta de inconstitucionalidade.

Ilegitimidade ativa. Governador do Distrito Federal. Autor ou reque-rido no processo de fiscalização abstrata: ausência. ADI 3.756-ED RTJ 205/124

PrSTF Embargos de declaração. Ação direta de inconstitucionalidade. Ile-gitimidade para recorrer. Amicus curiae. Lei 9.868/99, art. 7º, § 2º: interpretação. ADI 3.615-ED RTJ 205/680

PrSTF Embargos de declaração. Ação direta de inconstitucionalidade. Legitimidade ativa. Mesa da Câmara Legislativa. ADI 3.756-ED RTJ 205/124

PrCv Embargos de declaração. Caráter infringente. Conversão em agravo regimental. AI 655.339-ED RTJ 205/1448

Page 481: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Emb-Emp 1481

PrCv Embargos de declaração. Contradição. Acórdão embargado. Fun-damentação e dispositivo. Delegado de polícia e procurador esta-dual. Vencimentos: isonomia. Lei 9.696/92: termo inicial. RE 240.441-AgR-ED RTJ 205/415

PrGr Embargos de declaração. Julgamento no STJ. Impedimento de mi-nistro. Decisão unânime. Exclusão do voto: resultado inalterado. Pronunciamento de nulidade absoluta: inutilidade. Prejuízo à defesa: ausência. CPP/41, art. 563. HC 92.235 RTJ 205/1332

PrCv Embargos de declaração. Obscuridade: ausência. Erro material. Teor do acórdão embargado: manutenção. Honorários advocatícios. RE 240.441-AgR-ED RTJ 205/415

PrCv Embargos de declaração. Omissão, contradição e obscuridade: au-sência. MS 26.204-AgR-ED RTJ 205/209

PrCv Embargos de divergência. Inadmissibilidade. Acórdão embargado: compatibilidade com a jurisprudência do STF. Matéria constitucio-nal. Prequestionamento: ausência. Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF), art. 332. RE 213.583-EDv RTJ 205/803

PrPn Embriaguez presumida: descabimento. (...) Prova criminal. HC 93.916 RTJ 205/1404

PrSTF Emenda constitucional. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 2.395 RTJ 205/618

Ct Emenda Constitucional 32/01, art. 2º. (...) Medida provisória. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

PrSTF Emenda Constitucional 41/03. (...) Ação direta de inconstitucionali-dade. ADI 2.648-MC RTJ 205/82

PrTr Emenda Constitucional 45/04. (...) Competência jurisdicional. RE 515.366-AgR RTJ 205/1427

PrSTF Emenda constitucional superveniente. (...) Ação direta de inconsti-tucionalidade. ADI 980 RTJ 205/1041

TrGr Empregado. Fundação de natureza privada. Servidor de fundação pública. Equiparação: impossibilidade. Regime jurídico diverso. CF/88, art. 37, XIII: ofensa. Constituição do Estado do Rio Grande do Sul/89, art. 28: inconstitucionalidade. ADI 191 RTJ 205/15

Adm Empregado público da administração indireta. (...) Cargo público. ADI 980 RTJ 205/1041

PrPn Empresa: ausência de conhecimento de autorização. (...) Prova cri-minal. HC 82.862 RTJ 205/1201

Trbt Empresa: conceito. (...) Salário-educação. RE 405.444-AgR RTJ 205/429

Page 482: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Enr-Est — ÍNDICE ALFABÉTICO1482

Int Enriquecimento ilícito. (...) Extradição. Ext 1.073 RTJ 205/1066Int Entrega do extraditando. (...) Extradição. Ext 906-ED RTJ 205/1035Adm Equipamento radiofônico. (...) Poder de polícia. Rcl 5.310 RTJ

205/155TrGr Equiparação: impossibilidade. (...) Empregado. ADI 191 RTJ 205/15PrCv Erro material. (...) Embargos de declaração. RE 240.441-AgR-ED

RTJ 205/415PrPn Error in judicando. (...) Acórdão criminal. HC 91.651 RTJ 205/1318PrPn Escuta telefônica judicialmente autorizada. (...) Prova criminal. HC

89.143 RTJ 205/1248PrCv Esgotamento da instância recursal: desnecessidade. (...) Suspensão

de tutela antecipada. STA 118-AgR RTJ 205/519Ct Especialização de varas. (...) Poder Judiciário. HC 91.024 RTJ

205/1303PrPn Estabelecimento adequado. (...) Prisão especial. Rcl 4.713 RTJ

205/703 – Rcl 5.192 RTJ 205/719 – HC 93.391 RTJ 205/1397PrPn Estabelecimento inadequado. (...) Prisão especial. HC 91.150 RTJ

205/310PrPn Estado de Direito e Estado Policial: distinção. (...) Prisão preventiva.

HC 91.386 RTJ 205/322Ct Estado-membro. Comercialização de café. Rótulo de embalagem.

Informação ao consumidor: obrigatoriedade. Alcance da norma: extensão a outras unidades da Federação. Lei estadual 13.519/02/PR, art. 2º, expressão: inconstitucionalidade. ADI 2.832 RTJ 205/1107

Ct Estado-membro. (...) Competência legislativa. ADI 845 RTJ 205/29Ct Estado-membro. (...) Competência legislativa concorrente. ADI

2.832 RTJ 205/1107Ct Estado-membro. Criação e instalação: distinção. CF/88, art. 235,

III. ADCT da Constituição Federal/88, art. 14, § 1º. ADI 1.903 RTJ 205/607

Ct Estado-membro. Limites territoriais interestaduais: fixação. Julga-mento do STF: vinculação do trabalho técnico do IBGE junto à Co-missão Tripartite. Ato do presidente da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Decisão na ACO 415: ausência de descumprimento. ADCT da Constituição Federal/88, art. 12, § 5º. Rcl 1.421 RTJ 205/1090

Ct Estado-membro: criação com a promulgação da CF/88. (...) Tribunal de Contas estadual. ADI 1.903 RTJ 205/607

Page 483: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Est-Exc 1483

Pn Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), arts. 121 e 122. (...) Medida socioeducativa. HC 88.473 RTJ 205/1235

Pn Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), art. 127. (...) Medida socioeducativa. RE 248.018 RTJ 205/422

Pn Estatuto do Idoso. (...) Extinção da punibilidade. HC 88.083 RTJ 205/1230

PrPn Estrangeiro: entrega voluntária de passaporte. (...) Prisão preventi-va. HC 93.134 RTJ 205/378

Ct Estudante: “meia passagem”. (...) Competência legislativa. ADI 845 RTJ 205/29

Pn Exame criminológico: legitimidade. (...) Regime prisional. HC 88.052 RTJ 205/1226

PrPn Exame de dosagem alcoólica. (...) Prova criminal. HC 93.916 RTJ 205/1404

PrPn Exceção de suspeição. Condenação criminal. Desembargador e juiz: parcialidade não demonstrada. Nulidade inocorrente. AO 1.047 RTJ 205/576

Pn Excepcionalidade. (...) Medida socioeducativa. HC 88.473 RTJ 205/1235

PrPn Excesso culposo na legítima defesa: prejudicialidade. (...) Júri. RHC 81.396 RTJ 205/223

PrPn Excesso de prazo. (...) Habeas corpus. HC 93.302 RTJ 205/388PrPn Excesso de prazo. (...) Instrução criminal. HC 91.118 RTJ 205/765PrPn Excesso de prazo. (...) Prisão cautelar. HC 94.273 RTJ 205/1410PrPn Excesso de prazo. (...) Prisão preventiva. HC 88.995 RTJ 205/1241 –

HC 91.121 RTJ 205/284 – HC 93.769 RTJ 205/406PrPn Excesso de prazo: não-configuração. (...) Habeas corpus. HC 87.724

RTJ 205/1213PrPn Excesso de prazo: não-configuração. (...) Prisão em flagrante. HC

91.118 RTJ 205/765PrPn Excesso de prazo: não-configuração. (...) Prisão preventiva. HC

86.789 RTJ 205/252 – HC 92.848 RTJ 205/1369PrPn Excesso de prazo da instrução criminal. (...) Habeas corpus. HC

92.495 RTJ 205/1357PrPn Excludente de ilicitude: afastamento. (...) Júri. RHC 81.396 RTJ

205/223

Page 484: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Exc-Ext — ÍNDICE ALFABÉTICO1484

Pn Exclusão das fileiras do Exército: suficiência. (...) Crime militar. HC 92.961 RTJ 205/372

PrGr Exclusão do voto: resultado inalterado. (...) Embargos de declara-ção. HC 92.235 RTJ 205/1332

PrPn Execução penal. Falta grave. Fuga do preso: natureza permanente. Infração disciplinar. Prazo prescricional: ausência de norma especí-fica. Termo inicial: data da recaptura. CP/40, art. 109, VI, c/c art. 111, III. HC 92.000 RTJ 205/350

PrPn Execução penal. Falta grave. Regressão de regime. Oitiva do conde-nado: ausência. Lei de Execução Penal (LEP), art. 118, § 2º: inaplica-bilidade. RHC 92.282 RTJ 205/356

Pn Execução provisória. (...) Pena. HC 90.645 RTJ 205/260PrPn Expedição de carta rogatória: indeferimento. (...) Prova criminal.

HC 83.417 RTJ 205/756Adm Expedição do certificado: demora imputada à Universidade Federal

do Rio de Janeiro (UFRJ). (...) Concurso público. MS 26.682 RTJ 205/744

PrPn Extensão a co-réu. (...) Habeas corpus. HC 94.273 RTJ 205/1410PrPn Extensão a co-réus. (...) Habeas corpus. HC 86.424-extensão-segun-

da RTJ 205/761PrPn Extensão aos demais co-réus. (...) Habeas corpus. HC 86.424-exten-

são-segunda RTJ 205/761Pn Extinção da punibilidade. Prescrição da pretensão punitiva. Qua-

drilha ou bando. HC 86.032 RTJ 205/231Pn Extinção da punibilidade. Prescrição da pretensão punitiva. Réu

maior de setenta anos. Derrogação da norma especial pela norma geral: inocorrência. Estatuto do Idoso. CP/40, art. 115. HC 88.083 RTJ 205/1230

PrCv Extinção do processo. (...) Mandado de segurança. MS 25.641 RTJ 205/732

Int Extradição. Atos anteriores ao tratado. Irrelevância do fator tempo-ral. Ext 906-ED RTJ 205/1035

Int Extradição. Cônjuge e filho brasileiro. Lei 6.815/80, art. 75, II, a: inaplicabilidade. Súmula 421. Ext 1.104 RTJ 205/601

Int Extradição. Descabimento. Condenação no Brasil. Fato delituoso idêntico. Prisão preventiva: indeferimento. Processo: extinção. Tra-tado Brasil–Itália. Lei 6.815/80, art. 77, V. Ext 1.118 RTJ 205/1079

Page 485: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Ext-Fat 1485

Int Extradição. Desistência da execução. Decisão transitada em julga-do: irrelevância. Decreto de prisão: revogação. Processo executório: extinção. Ext 1.098-QO RTJ 205/1076

Int Extradição. Dupla tipicidade. Dupla punibilidade. Falsificação de documento público e peculato. Prescrição inocorrente. Tratado Bra-sil–Peru. Ext 1.073 RTJ 205/1066

Int Extradição. Dupla tipicidade: ausência. Enriquecimento ilícito. Ext 1.073 RTJ 205/1066

Int Extradição. Filho brasileiro. Súmula 421. Ext 1.073 RTJ 205/1066Int Extradição. Nulidade. Intimação do advogado de defesa: falta. Pre-

juízo à defesa. Súmula 523. Ext 1.068-QO RTJ 205/1062Int Extradição. Prescrição executória: termo inicial. Ext 906-ED RTJ

205/1035Int Extradição. Pressupostos formais: existência. Dupla tipicidade. Trá-

fico de entorpecente, associação para o tráfico e lavagem de dinhei-ro. Prescrição inocorrente. Tratado Brasil–Reino Unido. Ext 1.104 RTJ 205/601

Int Extradição. Prisão perpétua. Comutação em pena não superior a trinta anos: necessidade. Competência penal do Estado requerente. Princípio da territorialidade. CF/88, art. 5º, XLVII, b. Ext 1.104 RTJ 205/601

Int Extradição. Prisão preventiva. Acórdão: ciência inequívoca. HC 92.664-AgR RTJ 205/791

Int Extradição. Processo criminal no Brasil. Entrega do extraditando. Faculdade do presidente da República. Ext 906-ED RTJ 205/1035

FInt Faculdade do presidente da República. (...) Extradição. Ext 906-ED

RTJ 205/1035PrPn Falsidade ideológica. (...) Ação penal. HC 86.424-extensão-segunda

RTJ 205/761Int Falsificação de documento público e peculato. (...) Extradição. Ext

1.073 RTJ 205/1066PrPn Falta grave. (...) Execução penal. HC 92.000 RTJ 205/350 – RHC

92.282 RTJ 205/356PrPn Fato concreto: ausência. (...) Prisão preventiva. HC 90.936 RTJ

205/280 – HC 91.121 RTJ 205/284 – HC 91.386 RTJ 205/322 – HC 93.134 RTJ 205/378

Page 486: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Fat-Fun — ÍNDICE ALFABÉTICO1486

Int Fato delituoso idêntico. (...) Extradição. Ext 1.118 RTJ 205/1079Trbt Fato gerador: ausência. (...) Imposto sobre Circulação de Mercado-

rias e Serviços (ICMS). ACO 541 RTJ 205/1019PrCv Fato incontroverso. (...) Mandado de segurança. MS 24.580 RTJ

205/181PrPn Fato novo. (...) Habeas corpus. HC 92.664-AgR RTJ 205/791Adm Fator de desigualdade factual. (...) Concurso público. RMS 26.071

RTJ 205/203PrSTF Férias forenses do Tribunal. (...) Medida cautelar. ADI 3.929-MC-

QO RTJ 205/130Int Filho brasileiro. (...) Extradição. Ext 1.073 RTJ 205/1066Trbt Firma individual e pessoa jurídica. (...) Salário-educação. RE

405.444-AgR RTJ 205/429PrPn Fiscalização. (...) Prova criminal. HC 90.795 RTJ 205/1295Ct Fiscalização: atribuição do Executivo. (...) Processo de licenciamen-

to ambiental. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537Ct Fiscalização: entidade vinculada à administração pública. (...) Com-

petência legislativa concorrente. ADI 2.832 RTJ 205/1107Pn Fixação. (...) Pena. HC 92.626 RTJ 205/785 – HC 92.926 RTJ 205/1385Pn Fixação abaixo do mínimo legal: impossibilidade. (...) Pena-base.

HC 92.926 RTJ 205/1385Pn Fixação no mínimo legal. (...) Pena-base. AO 1.047 RTJ 205/576PrPn Fuga do paciente: possibilidade. (...) Prisão preventiva. HC 90.936

RTJ 205/280PrPn Fuga do preso: natureza permanente. (...) Execução penal. HC

92.000 RTJ 205/350TrGr Fundação de natureza privada. (...) Empregado. ADI 191 RTJ 205/15PrCv Fundamentação: ausência. (...) Decisão judicial. RE 540.995 RTJ

205/463PrSTF Fundamentação do acórdão: Lei da Ação Popular e lei de criação da

Petrobras. (...) Recurso extraordinário. RE 479.887 RTJ 205/434PrCv Fundamentação e dispositivo. (...) Embargos de declaração. RE

240.441-AgR-ED RTJ 205/415PrPn Fundamentação insuficiente. (...) Prisão preventiva. HC 90.936 RTJ

205/280 – HC 91.121 RTJ 205/284 – HC 91.386 RTJ 205/322 – HC 93.134 RTJ 205/378

Page 487: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Fun-Hab 1487

PrPn Fundamentação suficiente. (...) Prisão preventiva. HC 89.143 RTJ 205/1248 – HC 92.848 RTJ 205/1369

PrPn Fundamentação suficiente. (...) Prova criminal. HC 83.417 RTJ 205/756

PrSTF Fundamento do voto vencido: insuficiência. (...) Recurso extraordi-nário. AI 682.486-AgR RTJ 205/935

Trbt Fundo de Participação dos Municípios. Coeficiente: cálculo. Redu-tor financeiro. Ganho adicional: redistribuição. Lei Complementar 91/97, art. 2º, § 1º, IX, redação da Lei Complementar 106/01. MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213

Pn Furto qualificado. (...) Pena. HC 92.626 RTJ 205/785 – HC 92.926 RTJ 205/1385

GTrbt Ganho adicional: redistribuição. (...) Fundo de Participação dos

Municípios. MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213PrPn Garantia da ordem pública. (...) Prisão em flagrante. HC 92.495 RTJ

205/1357PrPn Garantia da ordem pública e aplicação da lei penal. (...) Prisão pre-

ventiva. HC 89.143 RTJ 205/1248 – HC 90.936 RTJ 205/280 – HC 91.121 RTJ 205/284 – HC 93.134 RTJ 205/378

PrPn Garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal. (...) Prisão preventiva. HC 92.848 RTJ 205/1369

PrSTF Governador do Distrito Federal. (...) Embargos de declaração. ADI 3.756-ED RTJ 205/124

Adm Gratificação de trabalho noturno. (...) Vantagem. RE 185.312 RTJ 205/799

Adm Gratificação judiciária e extraordinária: extinção. (...) Servidor pú-blico. MS 24.580 RTJ 205/181

PrCv Grave lesão à ordem pública. (...) Tutela antecipada. STA 118-AgR RTJ 205/519

HPrPn Habeas corpus. Cabimento: excepcionalidade. Medida liminar inde-

ferida por relator do STJ. Súmula 691: abrandamento. HC 90.172 RTJ 205/1267 – HC 91.150 RTJ 205/310 – HC 92.335-MC RTJ 205/361 – HC 92.417 RTJ 205/776 – HC 93.134 RTJ 205/378 – HC 93.769 RTJ 205/406

Page 488: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Hab-Hab — ÍNDICE ALFABÉTICO1488

PrPn Habeas corpus. (...) Competência criminal. HC 88.083 RTJ 205/1230PrPn Habeas corpus. Concessão de ofício. Crime hediondo. Juízo da

Execução. Progressão de regime prisional: apreciação do pedido. Norma aplicável: legislação vigente à época do fato. Lei 11.464/07: inaplicabilidade. Lei de Execução Penal (LEP), art. 112. HC 91.631 RTJ 205/341

PrPn Habeas corpus. Concessão de ofício. Decisão de Turma do STF. Situação excepcional. Prisão civil de depositário infiel. Matéria pendente de julgamento no Plenário do STF. HC 94.307-QO RTJ 205/409

PrPn Habeas corpus. Concessão de ofício. Extensão aos demais co-réus. Situação objetivamente idêntica. Adulteração de sinal identificador de veículo automotor. HC 86.424-extensão-segunda RTJ 205/761

PrPn Habeas corpus. Concessão de ofício: impossibilidade. Progressão de regime prisional: descabimento. Apelação do MP: pendência. Majoração da pena: possibilidade. HC 93.302 RTJ 205/388

PrPn Habeas corpus. Conhecimento. Questão não apreciada pelo STJ. Constrangimento ilegal: caracterização. Prequestionamento: desne-cessidade. HC 91.121 RTJ 205/284

PrPn Habeas corpus. Decisão de Turma Recursal de Juizado Especial Criminal. Competência do STF: inocorrência. Competência do Tri-bunal de Justiça. HC 92.332-AgR RTJ 205/1349

PrPn Habeas corpus. Descabimento. Controle abstrato de constitucionali-dade: impossibilidade. HC 81.489 RTJ 205/227

PrPn Habeas corpus. Descabimento. Omissão de relator de extradição: ausência. Fato novo. Súmula 692. HC 92.664-AgR RTJ 205/791

PrPn Habeas corpus. Extensão a co-réu. Situação objetivamente idêntica. HC 94.273 RTJ 205/1410

PrPn Habeas corpus. Extensão a co-réus. Situação objetivamente idênti-ca. Adulteração de sinal identificador de veículo automotor. Princí-pio da isonomia. CPP/41, art. 580: inteligência. HC 86.424-extensão-segunda RTJ 205/761

PrPn Habeas corpus. Indeferimento. Desembargador: afastamento cau-telar do cargo. Excesso de prazo: não-configuração. Julgamento: demora justificada. Complexidade da causa: pluralidade de réus e delitos. Responsabilidade da defesa: indícios. Constrangimento ilegal inocorrente. Loman/79, art. 29. CF/88, art. 5º, LXXVIII. HC 87.724 RTJ 205/1213

PrPn Habeas corpus. Instrução deficiente. Progressão de regime pri-sional. Pedido no STJ: ausência de comprovação. HC 91.631 RTJ 205/341

Page 489: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Hab-Hab 1489

PrPn Habeas corpus. Julgamento. Desistência: impossibilidade. Conheci-mento como recurso. Princípio da fungibilidade. HC 92.170-segundo julgamento RTJ 205/1330

PrPn Habeas corpus. Legitimidade ativa. Ministério Público. Princí-pio do juiz natural: defesa. Lei 8.625/93, art. 32, I. HC 91.024 RTJ 205/1303

PrPn Habeas corpus. Matéria de prova. Homicídio. Indícios de autoria, nexo de causalidade e dolo eventual. Recusa reiterada e injustificada de atendimento médico. HC 92.304 RTJ 205/1339

PrPn Habeas corpus. Matéria de prova. Queixa: adulteração da data do recebimento. HC 87.255 RTJ 205/257

PrPn Habeas corpus. Matéria de prova. Tráfico de entorpecente. Paciente: desconhecimento da substância. HC 86.789 RTJ 205/252

PrPn Habeas corpus. Matéria de prova. Tráfico internacional de entor-pecente. Condenação anterior em outro país. Identidade dos fatos: dúvida. Coisa julgada: impossibilidade de análise. HC 93.207 RTJ 205/1390

PrPn Habeas corpus. Matéria de prova. Unificação da pena: requisitos. HC 89.097 RTJ 205/1244

PrPn Habeas corpus. Matéria de prova. Vítima: não-índio e nacionalidade falsa. HC 91.121 RTJ 205/284

PrPn Habeas corpus. Prejudicialidade. Prisão em flagrante. Excesso de prazo. Sentença condenatória superveniente. HC 93.302 RTJ 205/388

PrPn Habeas corpus. Prejudicialidade inocorrente. Medida socioeduca-tiva. Internação de menor. Afastamento pelo Tribunal de Justiça de São Paulo: ausência. Semiliberdade: substituição. HC 88.473 RTJ 205/1235

PrPn Habeas corpus. Questão não apreciada pelo STJ. Supressão de ins-tância. Acordo de delação premiada de um dos delatores. HC 90.688 RTJ 205/263

PrPn Habeas corpus. Questão não apreciada pelo STJ. Supressão de instância. Excesso de prazo da instrução criminal. HC 92.495 RTJ 205/1357

PrPn Habeas corpus. Questão não apreciada pelo STJ. Supressão de ins-tância. Liberdade provisória. HC 91.118 RTJ 205/765

PrPn Habeas corpus. Questão não apreciada pelo STJ. Supressão de ins-tância. Progressão de regime prisional. HC 88.083 RTJ 205/1230

PrSTF Habeas corpus: possibilidade. (...) Recurso extraordinário. AI 573.623-QO RTJ 205/1441

Page 490: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Hab-Imp — ÍNDICE ALFABÉTICO1490

PrCv Habilitação de herdeiros: impossibilidade. (...) Mandado de segu-rança. MS 25.641 RTJ 205/732

PrPn Homicídio. (...) Habeas corpus. HC 92.304 RTJ 205/1339PrPn Homicídio culposo e lesão corporal. (...) Denúncia. HC 93.916 RTJ

205/1404Pn Homicídio qualificado. Co-autoria. Absolvição de co-réu: efeitos.

Princípio da individualização da pena. AO 1.047 RTJ 205/576Pn Homicídio qualificado praticado na vigência da lei anterior. (...) Cri-

me hediondo. AO 1.047 RTJ 205/576PrCv Honorários advocatícios. (...) Embargos de declaração. RE 240.441-

AgR-ED RTJ 205/415PrCv Honorários advocatícios. Sucumbência. Acordo ou transação. Pa-

gamento. CF/88, art. 5º, XXXVI. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

ICt Ibama: novas condicionantes para a validade da licença de instala-

ção. (...) Processo de licenciamento ambiental. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537

PrPn Identidade dos fatos: dúvida. (...) Habeas corpus. HC 93.207 RTJ 205/1390

PrCv Ilegitimidade ativa. (...) Ação civil pública. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537

PrSTF Ilegitimidade ativa. (...) Embargos de declaração. ADI 3.756-ED RTJ 205/124

PrSTF Ilegitimidade para recorrer. (...) Embargos de declaração. ADI 3.615-ED RTJ 205/680

PrCv Ilegitimidade passiva. (...) Mandado de segurança. MS 25.641 RTJ 205/732

Ct Impedimento de mais da metade dos membros de tribunal de origem. (...) Competência originária. AO 1.047 RTJ 205/576

PrGr Impedimento de ministro. (...) Embargos de declaração. HC 92.235 RTJ 205/1332

PrCv Importação de pneumáticos usados. (...) Tutela antecipada. STA 118-AgR RTJ 205/519

Trbt Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Cré-dito escritural. Correção monetária. Princípio da não-cumulativida-de e da isonomia. RE 213.583-EDv RTJ 205/803

Page 491: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Imp-Inq 1491

Trbt Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Incidência ficta. Fato gerador: ausência. Alíquota: redução. Distrito Federal e empresa privada. Regime especial. Convênio interesta-dual: necessidade. Termo de Acordo de Regime Especial (TARE) 1/98: revogação. Lei Complementar 24/75: descumprimento. CF/88, art. 155, § 2º, IV e XII, g: ofensa. ACO 541 RTJ 205/1019

Trbt Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Creditamento: impossibilidade. Insumo: alíquota zero. Princípio da não-cumulati-vidade. CF/88, art. 153, § 3º, II. RE 353.657 RTJ 205/807

PrSTF Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). (...) Recurso extraor-dinário. RE 353.657 RTJ 205/807

PrCv Inadmissibilidade. (...) Embargos de divergência. RE 213.583-EDv RTJ 205/803

Trbt Incidência ficta. (...) Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). ACO 541 RTJ 205/1019

PrSTF Incompetência absoluta do STJ: alegação. (...) Recurso extraordiná-rio. RE 479.887 RTJ 205/434

PrPn Incomunicabilidade dos jurados: alegação de quebra. (...) Júri. AO 1.047 RTJ 205/576

PrPn Indeferimento. (...) Habeas corpus. HC 87.724 RTJ 205/1213Adm Indenização: descabimento. (...) Aposentadoria especial. RE 172.582

RTJ 205/795PrTr Indenização por dano moral ou patrimonial. (...) Competência juris-

dicional. RE 515.366-AgR RTJ 205/1427PrPn Indiciamento. (...) Inquérito policial. HC 85.541 RTJ 205/1207PrPn Indícios de autoria, nexo de causalidade e dolo eventual. (...) Habeas

corpus. HC 92.304 RTJ 205/1339PrPn Individualização da conduta: desnecessidade. (...) Denúncia. HC

90.795 RTJ 205/1295PrPn Inépcia inocorrente. (...) Denúncia. HC 90.023 RTJ 205/1255 – HC

90.795 RTJ 205/1295 – HC 92.304 RTJ 205/1339Ct Informação ao consumidor: obrigatoriedade. (...) Competência le-

gislativa concorrente. ADI 2.832 RTJ 205/1107Ct Informação ao consumidor: obrigatoriedade. (...) Estado-membro.

ADI 2.832 RTJ 205/1107PrPn Infração disciplinar. (...) Execução penal. HC 92.000 RTJ 205/350PrPn Inquérito policial. Indiciamento. Elementos: ausência. Constrangi-

mento ilegal. HC 85.541 RTJ 205/1207

Page 492: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Inq-Int — ÍNDICE ALFABÉTICO1492

PrPn Inquirição de testemunha da defesa. (...) Prova criminal. HC 83.417 RTJ 205/756

Adm Inscrição definitiva. (...) Concurso público. MS 26.682 RTJ 205/744Adm Inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB): dispensabili-

dade. (...) Concurso público. MS 26.682 RTJ 205/744PrPn Instalação e armazenamento de GLP: falta de segurança. (...) Com-

petência criminal. ACO 1.058 RTJ 205/38PrPn Instalações condignas e sem grades. (...) Prisão especial. Rcl 4.713

RTJ 205/703PrPn Instalações e comodidades adequadas à higiene e à segurança. (...)

Prisão especial. Rcl 5.192 RTJ 205/719PrPn Instâncias penal e administrativa: independência. (...) Ação penal.

HC 90.795 RTJ 205/1295PrPn Instrução criminal. Excesso de prazo. Responsabilidade da defesa.

Princípio da razoável duração do processo. Constrangimento ilegal inocorrente. CF/88, art. 5º, LXXXVIII. HC 91.118 RTJ 205/765

PrPn Instrução criminal encerrada. (...) Prisão em flagrante. HC 91.118 RTJ 205/765

PrPn Instrução criminal encerrada. (...) Prisão preventiva. HC 92.335-MC RTJ 205/361

PrPn Instrução deficiente. (...) Habeas corpus. HC 91.631 RTJ 205/341PrSTF Instrução Normativa estadual 01/04/GO-GSF/GPTJ. (...) Ação direta

de inconstitucionalidade. ADI 3.458 RTJ 205/665Trbt Insumo: alíquota zero. (...) Imposto sobre Produtos Industrializados

(IPI). RE 353.657 RTJ 205/807PrPn Interceptação telefônica. Autorização. Juiz competente à época da

investigação. Lei 9.296/96, art. 1º. HC 85.541 RTJ 205/1207PrGr Interceptação telefônica e escuta ambiental: autorização judicial. (...)

Prova. Inq 2.424-QO RTJ 205/638 – Inq 2.424-QO-QO RTJ 205/656PrPn Interesse da União: ausência. (...) Competência criminal. HC 90.174

RTJ 205/1276PrPn Internação de menor. (...) Habeas corpus. HC 88.473 RTJ 205/1235Pn Internação por prazo indeterminado: descabimento. (...) Medida so-

cioeducativa. HC 88.473 RTJ 205/1235Pn Interrupção. (...) Prescrição. HC 92.340 RTJ 205/1352PrPn Intervenção efetiva na investigação: ausência. (...) Suspeição. ES 5

RTJ 205/1011

Page 493: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Int-Jul 1493

PrPn Intimação criminal. Acórdão. Intimação pessoal do réu: desnecessi-dade. Publicação no Diário Oficial. CPP/41, art. 392: inaplicabilida-de. HC 81.691 RTJ 205/753

PrPn Intimação criminal. Defensor público. Sessão de julgamento. Inti-mação pessoal: ausência. Direito de defesa: ofensa. HC 92.569 RTJ 205/779

Int Intimação do advogado de defesa: falta. (...) Extradição. Ext 1.068-QO RTJ 205/1062

PrPn Intimação pessoal: ausência. (...) Intimação criminal. HC 92.569 RTJ 205/779

PrPn Intimação pessoal do réu: desnecessidade. (...) Intimação criminal. HC 81.691 RTJ 205/753

PrPn Intimação prévia regular. (...) Defesa criminal. HC 92.680 RTJ 205/1362

PrPn Investigado em situação semelhante: liberdade provisória. (...) Pri-são preventiva. HC 93.134 RTJ 205/378

Int Irrelevância do fator temporal. (...) Extradição. Ext 906-ED RTJ 205/1035

Trbt Isenção: descabimento. (...) Salário-educação. RE 405.444-AgR RTJ 205/429

JPrPn Juiz competente à época da investigação. (...) Interceptação telefôni-

ca. HC 85.541 RTJ 205/1207PrPn Juízo da Execução. (...) Habeas corpus. HC 91.631 RTJ 205/341PrPn Juízo da Execução: competência. (...) Competência criminal. HC

88.083 RTJ 205/1230PrSTF Juízo de legalidade. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI

2.862 RTJ 205/1125PrSTF Julgado da Suprema Corte: cumprimento. (...) Reclamação. Rcl 5.151

RTJ 205/143PrPn Julgamento. (...) Habeas corpus. HC 92.170-segundo julgamento

RTJ 205/1330PrPn Julgamento. (...) Júri. AO 1.047 RTJ 205/576PrSTF Julgamento. Remessa ao Plenário: indeferimento. Pedido após iní-

cio do julgamento. AI 682.486-AgR RTJ 205/935

Page 494: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Jul-Jus — ÍNDICE ALFABÉTICO1494

PrPn Julgamento: demora justificada. (...) Habeas corpus. HC 87.724 RTJ 205/1213

PrPn Julgamento: excesso de prazo. (...) Livramento condicional. HC 92.417 RTJ 205/776

PrSTF Julgamento colegiado do Cade: empate. (...) Recurso extraordinário. AI 682.486-AgR RTJ 205/935

Ct Julgamento do STF: vinculação do trabalho técnico do IBGE junto à Comissão Tripartite. (...) Estado-membro. Rcl 1.421 RTJ 205/1090

Ct Julgamento iniciado. (...) Mandado de injunção. MI 712-QO RTJ 205/1029

PrGr Julgamento no STJ. (...) Embargos de declaração. HC 92.235 RTJ 205/1332

PrPn Julgamento ultra petita. (...) Acórdão criminal. HC 91.651 RTJ 205/1318

PrPn Juntada dos autos de inquérito policial: descabimento. (...) Prova criminal. HC 82.862 RTJ 205/1201

PrPn Jurado. (...) Júri. AO 1.047 RTJ 205/576Ct Júri. (...) Competência originária. AO 1.047 RTJ 205/576PrPn Júri. Julgamento. Decisão contrária à prova dos autos: ausência.

Princípio da soberania dos veredictos. AO 1.047 RTJ 205/576PrPn Júri. Jurado. Comparecimento: número superior à previsão legal.

Nulidade inocorrente. CPP/41, art. 445: inteligência. AO 1.047 RTJ 205/576

PrPn Júri. Nulidade inocorrente. Conselho de sentença. Excludente de ilicitude: afastamento. Legítima defesa: inocorrência. Excesso cul-poso na legítima defesa: prejudicialidade. CPP/41, art. 484, III. RHC 81.396 RTJ 205/223

PrPn Júri. Nulidade inocorrente. Incomunicabilidade dos jurados: alega-ção de quebra. Uso de celular mediante autorização judicial. Menção ao processo: ausência. Prejuízo não demonstrado. CPP/41, art. 458, § 1º. AO 1.047 RTJ 205/576

PrSTF Jurisprudência consolidada no STF: ausência. (...) Recurso extraor-dinário. RE 353.657 RTJ 205/807

Adm Juros de mora. (...) Vencimentos. MS 25.641 RTJ 205/732PrPn Justa causa. (...) Ação penal. HC 90.795 RTJ 205/1295PrPn Justa causa: ausência. (...) Ação penal. HC 86.466 RTJ 205/244

Page 495: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Jus-Lei 1495

PrPn Justiça castrense: ausência de previsão legal. (...) Competência cri-minal. HC 92.912 RTJ 205/365

PrPn Justiça comum. (...) Competência criminal. HC 90.174 RTJ 205/1276 – HC 92.912 RTJ 205/365

PrCv Justiça comum. (...) Competência jurisdicional. CC 7.456 RTJ 205/1149 – RE 507.153-AgR RTJ 205/1424

PrPn Justiça comum: transação penal e extinção de punibilidade. (...) Ação penal. HC 92.912 RTJ 205/365

PrTr Justiça do Trabalho. (...) Competência jurisdicional. ADI 2.527-MC RTJ 205/44 – RE 515.366-AgR RTJ 205/1427

PrPn Justiça Federal. (...) Competência criminal. HC 91.121 RTJ 205/284PrPn Justiça Militar: competência. (...) Ação penal. HC 92.912 RTJ

205/365

LPrTr Legislação infraconstitucional: definição da competência do TST.

(...) Competência jurisdicional. ADI 2.527-MC RTJ 205/44PrPn Legítima defesa: inocorrência. (...) Júri. RHC 81.396 RTJ 205/223PrCv Legitimidade ativa. (...) Ação civil pública. RE 472.489-AgR RTJ

205/1413PrSTF Legitimidade ativa. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI

2.832 RTJ 205/1107 – ADI 3.896 RTJ 205/1141PrPn Legitimidade ativa. (...) Ação penal pública incondicionada. HC

86.466 RTJ 205/244PrSTF Legitimidade ativa. (...) Embargos de declaração. ADI 3.756-ED

RTJ 205/124PrPn Legitimidade ativa. (...) Habeas corpus. HC 91.024 RTJ 205/1303Int Lei 6.815/80, art. 75, II, a: inaplicabilidade. (...) Extradição. Ext

1.104 RTJ 205/601Int Lei 6.815/80, art. 77, V. (...) Extradição. Ext 1.118 RTJ 205/1079Ct Lei 7.727/89, art. 4º, caput. (...) Tribunal Regional Federal (TRF).

ADI 3.566 RTJ 205/105Adm Lei 7.853/89. (...) Concurso público. RMS 26.071 RTJ 205/203Pn Lei 8.072/90, art. 1º, redação da Lei 8.930/94: inaplicabilidade. (...)

Crime hediondo. AO 1.047 RTJ 205/576

Page 496: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Lei-Lei — ÍNDICE ALFABÉTICO1496

PrPn Lei 8.072/90, art. 2º, II, redação da Lei 11.464/07. (...) Liberdade provisória. HC 91.118 RTJ 205/765

Pn Lei 8.072/90, art. 2º, § 1º: inconstitucionalidade declarada no HC 82.959. (...) Regime prisional. HC 88.052 RTJ 205/1226

PrPn Lei 8.137/90, art. 1º. (...) Ação penal. HC 90.795 RTJ 205/1295Pn Lei 8.137/90, art. 1º, II. (...) Crime contra a ordem tributária. HC

86.032 RTJ 205/231PrPn Lei 8.176/91, art. 1º, I. (...) Competência criminal. ACO 1.058 RTJ

205/38PrSTF Lei 8.212/91, arts. 45 e 46, e Decreto-Lei 1.569/77, art. 5º, parágrafo

único: inconstitucionalidade declarada pelo Plenário do TRF da 4ª Região. (...) Recurso extraordinário. RE 559.882-QO RTJ 205/1434

PrCv Lei 8.437/92, art. 4º: limites. (...) Suspensão de liminar. STA 118-AgR RTJ 205/519

Ct Lei 8.443/92. (...) Tribunal de Contas da União (TCU). MS 25.641 RTJ 205/732

PrPn Lei 8.625/93, art. 32, I. (...) Habeas corpus. HC 91.024 RTJ 205/1303PrPn Lei 8.666/93, art. 89. (...) Competência criminal. HC 90.174 RTJ

205/1276PrSTF Lei 8.884/94, art. 8º, II. (...) Recurso extraordinário. AI 682.486-

AgR RTJ 205/935PrPn Lei 8.906/94, art. 7º, V. (...) Prisão especial. Rcl 4.713 RTJ 205/703 –

Rcl 5.192 RTJ 205/719 – HC 91.150 RTJ 205/310 – HC 93.391 RTJ 205/1397

Adm Lei 9.030/95, art. 1º. (...) Servidor público. MS 24.580 RTJ 205/181PrPn Lei 9.034/95, arts. 1º e 7º. (...) Prisão preventiva. HC 89.143 RTJ

205/1248PrPn Lei 9.296/96, art. 1º. (...) Interceptação telefônica. HC 85.541 RTJ

205/1207PrGr Lei 9.296/96, art. 1º: inteligência. (...) Prova. Inq 2.424-QO RTJ

205/638 – Inq 2.424-QO-QO RTJ 205/656Trbt Lei 9.424/96, art. 15. (...) Salário-educação. RE 405.444-AgR RTJ

205/429PrCv Lei 9.478/97, art. 67. (...) Medida cautelar. AC 1.193-MC-QO RTJ

205/1084PrPn Lei 9.605/98, art. 54, § 3º. (...) Ação penal. HC 90.023 RTJ 205/1255

Page 497: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Lei-Lei 1497

PrCv Lei 9.696/92: termo inicial. (...) Embargos de declaração. RE 240.441-AgR-ED RTJ 205/415

Adm Lei 9.784/99, arts. 2º e 26, § 5º. (...) Processo administrativo. MS 25.787 RTJ 205/1160

PrPn Lei 9.807/99, art. 13. (...) Delação premiada. HC 90.688 RTJ 205/263PrPn Lei 9.847/99, art. 17. (...) Competência criminal. ACO 1.058 RTJ

205/38PrSTF Lei 9.868/99, art. 7º, § 2º: interpretação. (...) Embargos de declara-

ção. ADI 3.615-ED RTJ 205/680PrSTF Lei 9.868/99, art. 27. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI

3.660 RTJ 205/686PrPn Lei 10.409/02. (...) Prisão cautelar. HC 94.273 RTJ 205/1410PrPn Lei 10.409/02, art. 38. (...) Processo criminal. HC 86.789 RTJ

205/252Adm Lei 10.871/04, redação da Lei 11.292/06. (...) Poder de polícia. Rcl

5.310 RTJ 205/155Pn Lei 11.343/06. (...) Crime militar. HC 92.961 RTJ 205/372PrPn Lei 11.343/06, arts. 33, caput, e 44. (...) Liberdade provisória. HC

93.302 RTJ 205/388PrPn Lei 11.343/06, art. 44. (...) Prisão em flagrante. HC 92.495 RTJ

205/1357PrPn Lei 11.343/06, art. 44: inaplicabilidade. (...) Liberdade provisória.

HC 91.118 RTJ 205/765PrPn Lei 11.464/07: inaplicabilidade. (...) Habeas corpus. HC 91.631 RTJ

205/341Trbt Lei Complementar 24/75: descumprimento. (...) Imposto sobre Cir-

culação de Mercadorias e Serviços (ICMS). ACO 541 RTJ 205/1019Trbt Lei Complementar 91/97, art. 2º, § 1º, IX, redação da Lei Comple-

mentar 106/01. (...) Fundo de Participação dos Municípios. MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213

Ct Lei Complementar 105/01. (...) Banco Central. MS 22.801 RTJ 205/161

Adm Lei Complementar estadual 101/93/SC: inconstitucionalidade. (...) Vencimentos. RE 218.874 RTJ 205/411

Adm Lei Complementar estadual 506/87/SP: inaplicabilidade. (...) Vanta-gem. RE 185.312 RTJ 205/799

Page 498: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Lei-Lib — ÍNDICE ALFABÉTICO1498

Ct Lei complementar federal: fixação do período. (...) Município. ADI 2.395 RTJ 205/618

PrPn Lei de Execução Penal (LEP), art. 86, § 3º: inteligência. (...) Prisão preventiva. HC 93.391 RTJ 205/1397

PrPn Lei de Execução Penal (LEP), art. 112. (...) Habeas corpus. HC 91.631 RTJ 205/341

Pn Lei de Execução Penal (LEP), art. 112, redação da Lei 10.792/03. (...) Regime prisional. HC 88.052 RTJ 205/1226

PrPn Lei de Execução Penal (LEP), art. 118, § 2º: inaplicabilidade. (...) Execução penal. RHC 92.282 RTJ 205/356

Pn Lei de Execução Penal (LEP), art. 181, § 1º, a: interpretação. (...) Pena. HC 92.012 RTJ 205/1326

Ct Lei distrital 3.139/03/DF, art. 1º. (...) Competência legislativa. ADI 2.875 RTJ 205/1137

Ct Lei distrital 3.139/03/DF, art. 2º: inconstitucionalidade. (...) Compe-tência legislativa. ADI 2.875 RTJ 205/1137

PrCv Lei em tese. (...) Mandado de segurança. MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213

Trbt Lei estadual 1.135/91/MS, art. 53 e Tabela V: inconstitucionalidade. (...) Custas. ADI 3.660 RTJ 205/686

Trbt Lei estadual 1.936/98/MS, anexo, Tabela “J”, redação original e redação da Lei estadual 3.002/05/MS: inconstitucionalidade. (...) Custas. ADI 3.660 RTJ 205/686

Ct Lei estadual 4.122/99/SE, art. 32, IV: inconstitucionalidade. (...) Competência legislativa. ADI 3.896 RTJ 205/1141

Ct Lei estadual 13.519/02/PR. (...) Competência legislativa concorren-te. ADI 2.832 RTJ 205/1107

Ct Lei estadual 13.519/02/PR, art. 2º, expressão: inconstitucionalidade. (...) Estado-membro. ADI 2.832 RTJ 205/1107

Ct Lei estadual 15.010/04/GO: inconstitucionalidade. (...) Processo le-gislativo. ADI 3.458 RTJ 205/665

PrSTF Lei federal: edição. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 2.648-MC RTJ 205/82

PrPn Lesão corporal leve e violação de domicílio. (...) Ação penal. HC 92.912 RTJ 205/365

Pn Liberdade: preservação. (...) Medida socioeducativa. HC 88.473 RTJ 205/1235

Page 499: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Lib-Maj 1499

PrSTF Liberdade de locomoção: ameaça indireta. (...) Recurso extraordiná-rio. AI 573.623-QO RTJ 205/1441

PrPn Liberdade de locomoção: restrição. (...) Prisão especial. Rcl 4.713 RTJ 205/703

PrPn Liberdade provisória. Descabimento. Prisão em flagrante. Tráfico de entorpecente. Lei 11.343/06, arts. 33, caput, e 44. CF/88, art. 5º, XLIII. HC 93.302 RTJ 205/388

PrPn Liberdade provisória. (...) Habeas corpus. HC 91.118 RTJ 205/765PrPn Liberdade provisória. Possibilidade. Tráfico de entorpecente e asso-

ciação para o tráfico. Crime praticado na vigência da Lei 6.368/76. Princípio do tempus regit actum. Lei 8.072/90, art. 2º, II, redação da Lei 11.464/07. Lei 11.343/06, art. 44: inaplicabilidade. CF/88, art. 5º, XL. HC 91.118 RTJ 205/765

PrPn Liberdade provisória: descabimento. (...) Prisão em flagrante. HC 92.495 RTJ 205/1357

PrCv Licitação: suspensão. (...) Medida cautelar. AC 1.193-MC-QO RTJ 205/1084

Ct Limites territoriais interestaduais: fixação. (...) Estado-membro. Rcl 1.421 RTJ 205/1090

PrCv Litigância de má-fé. (...) Agravo regimental. CC 7.498-AgR RTJ 205/728 – AI 598.715-AgR RTJ 205/1445

PrPn Livramento condicional. Concessão. Recurso do Ministério Públi-co: pendência. Julgamento: excesso de prazo. Súmula 716: interpre-tação extensiva. HC 92.417 RTJ 205/776

PrPn Loman/79, art. 29. (...) Habeas corpus. HC 87.724 RTJ 205/1213Ct Loman/79, art. 102: recepção pela CF/88. (...) Tribunal Regional

Federal (TRF). ADI 3.566 RTJ 205/105

MPrGr Magistrado: apuração de infração disciplinar. (...) Prova. Inq 2.424-

QO RTJ 205/638Pn Magistrado competente: decisão fundamentada. (...) Regime prisio-

nal. HC 88.052 RTJ 205/1226Adm Magistratura estadual. (...) Concurso público. MS 26.700 RTJ

205/1187PrPn Majoração da pena: possibilidade. (...) Habeas corpus. HC 93.302

RTJ 205/388

Page 500: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Man-Mat — ÍNDICE ALFABÉTICO1500

PrPn Mandado: erro. (...) Citação por edital. HC 92.569 RTJ 205/779Ct Mandado de injunção. Julgamento iniciado. Desistência: impossibi-

lidade. Princípio da indisponibilidade das ações constitucionais. MI 712-QO RTJ 205/1029

PrPn Mandado de prisão: legitimidade. (...) Sentença condenatória. HC 90.274 RTJ 205/1282

PrCv Mandado de segurança. Decadência: inocorrência. Prazo: termo inicial. Decisão Normativa 79/06-TCU, art. 2º. MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213

PrCv Mandado de segurança. Desistência. Anuência do impetrado: des-necessidade. Pedido anterior ao julgamento. MS 24.584-AgR RTJ 205/1156

PrCv Mandado de segurança. Direito líquido e certo. Servidor público. Remuneração: decréscimo presumido. Prova: desnecessidade. Tri-bunal de Contas da União (TCU): reconhecimento da ilegalidade da parcela. Fato incontroverso. MS 24.580 RTJ 205/181

PrCv Mandado de segurança. Ilegitimidade passiva. Presidente do TRT da 1ª Região. Ato coator. Poder decisório: ausência. MS 25.641 RTJ 205/732

PrCv Mandado de segurança. Lei em tese. Súmula 266. MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213

PrCv Mandado de segurança. Matéria de prova. Anistia. Requerimento. Preterição: impossibilidade de comprovação. RMS 26.614-AgR RTJ 205/219

PrCv Mandado de segurança. Morte do impetrante. Habilitação de her-deiros: impossibilidade. Caráter mandamental e natureza personalís-sima. Extinção do processo. MS 25.641 RTJ 205/732

PrCv Mandado de segurança. Supremo Tribunal Federal (STF): incompe-tência. Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP): ilegitimi-dade passiva. Processo eleitoral. Cargo de ouvidor. Atos comissivos e omissivos. Ministério Público da Bahia: implementação. MS 26.204-AgR-ED RTJ 205/209

PrSTF Mandados de segurança com o mesmo objeto. (...) Reclamação. Rcl 5.151 RTJ 205/143

PrPn Manutenção. (...) Prisão em flagrante. HC 92.495 RTJ 205/1357PrCv Matéria constitucional. (...) Embargos de divergência. RE 213.583-

EDv RTJ 205/803PrSTF Matéria constitucional relevante. (...) Reclamação. Rcl 5.151 RTJ

205/143

Page 501: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Mat-Med 1501

PrSTF Matéria criminal. (...) Recurso extraordinário. AI 573.623-QO RTJ 205/1441

PrPn Matéria de prova. (...) Habeas corpus. HC 86.789 RTJ 205/252 – HC 87.255 RTJ 205/257 – HC 89.097 RTJ 205/1244 – HC 91.121 RTJ 205/284 – HC 92.304 RTJ 205/1339 – HC 93.207 RTJ 205/1390

PrCv Matéria de prova. (...) Mandado de segurança. RMS 26.614-AgR RTJ 205/219

PrSTF Matéria infraconstitucional. (...) Recurso extraordinário. RE 479.887 RTJ 205/434 – AI 682.486-AgR RTJ 205/935

PrPn Matéria pendente de julgamento no Plenário do STF. (...) Habeas corpus. HC 94.307-QO RTJ 205/409

Cv Matéria pendente de julgamento no Plenário do STF: RE 466.343. (...) Prisão civil. HC 90.172 RTJ 205/1267

Ct Matéria reservada à iniciativa do Executivo. (...) Processo legislati-vo. ADI 980 RTJ 205/1041

Ct Matéria reservada à iniciativa do Judiciário. (...) Processo legislati-vo. ADI 3.458 RTJ 205/665

Ct Matéria reservada a lei complementar federal. (...) Tribunal Regio-nal Federal (TRF). ADI 3.566 RTJ 205/105 – Rcl 5.158-MC RTJ 205/149

PrSTF Matéria sobrestada: irrelevância. (...) Recurso extraordinário. RE 569.476-AgR RTJ 205/468

Ct Médicos público e particular: obrigatoriedade de notificação mensal à Secretaria de Saúde. (...) Competência legislativa. ADI 2.875 RTJ 205/1137

PrSTF Medida cautelar. Ação direta de inconstitucionalidade. Férias fo-renses do Tribunal. Concessão monocrática pela Presidência do STF. Caso concreto: excepcionalidade. Referendo plenário: relatoria do mesmo órgão prolator da decisão. ADI 3.929-MC-QO RTJ 205/130

PrCv Medida cautelar. Efeito suspensivo a recurso extraordinário admi-tido. Licitação: suspensão. Procedimento simplificado. Atividade da Petrobras: inviabilidade. Processo de exploração e distribuição de petróleo: comprometimento. Lei 9.478/97, art. 67. Decreto 2.745/98. AC 1.193-MC-QO RTJ 205/1084

PrCv Medida cautelar. Efeito suspensivo a recurso extraordinário inad-mitido. Agravo de instrumento: sobrestamento até o julgamento da ADI 2.362. Tese sustentada: plausibilidade. Precatório: cancelamen-to. AC 2.011-MC RTJ 205/613

Page 502: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Med-Min — ÍNDICE ALFABÉTICO1502

PrCv Medida cautelar. Pressupostos inocorrentes. Ação civil pública. Projeto de integração do Rio São Francisco. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537

Adm Medida de superioridade jurídica: compensação. (...) Concurso pú-blico. RMS 26.071 RTJ 205/203

PrSTF Medida liminar: efeitos. (...) Reclamação. Rcl 4.990-MC-AgR RTJ 205/712

PrPn Medida liminar indeferida por relator do STJ. (...) Habeas corpus. HC 90.172 RTJ 205/1267 – HC 91.150 RTJ 205/310 – HC 92.335-MC RTJ 205/361 – HC 92.417 RTJ 205/776 – HC 93.134 RTJ 205/378 – HC 93.769 RTJ 205/406

PrSTF Medida provisória. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Ct Medida provisória. Edição anterior à EC 32/01. CF/88, art. 62, § 1º, I, b: inaplicabilidade. Emenda Constitucional 32/01, art. 2º. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Ct Medida provisória. Requisitos. Urgência e relevância. Controle jurisdicional. Recursos repetitivos no TST. Prestação jurisdicional célere e qualificada: necessidade. CF/88, art. 62: ofensa inocorrente. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Pn Medida socioeducativa. Acumulação. Remissão. Princípio do de-vido processo legal. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), art. 127. RE 248.018 RTJ 205/422

Pn Medida socioeducativa. Excepcionalidade. Internação por prazo indeterminado: descabimento. Menor. Convívio familiar e comuni-tário: integração. Liberdade: preservação. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), arts. 121 e 122. HC 88.473 RTJ 205/1235

PrPn Medida socioeducativa. (...) Habeas corpus. HC 88.473 RTJ 205/1235PrPn Menção ao processo: ausência. (...) Júri. AO 1.047 RTJ 205/576Pn Menor. (...) Medida socioeducativa. HC 88.473 RTJ 205/1235PrPn Mera irregularidade. (...) Apelação criminal. AO 1.047 RTJ 205/576PrSTF Mesa da Câmara Legislativa. (...) Embargos de declaração. ADI

3.756-ED RTJ 205/124PrCv Ministério Público. (...) Ação civil pública. RE 472.489-AgR RTJ

205/1413PrPn Ministério Público. (...) Habeas corpus. HC 91.024 RTJ 205/1303Adm Ministério Público: ingresso. (...) Concurso público. MS 26.682 RTJ

205/744

Page 503: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Min-Nor 1503

PrCv Ministério Público da Bahia: implementação. (...) Mandado de segu-rança. MS 26.204-AgR-ED RTJ 205/209

Ct Ministério Público Federal e Ministério Público estadual. (...) Com-petência originária. ACO 1.058 RTJ 205/38

PrPn Ministério Público Militar. (...) Ação penal pública incondicionada. HC 86.466 RTJ 205/244

PrCv Morte do impetrante. (...) Mandado de segurança. MS 25.641 RTJ 205/732

PrPn Motivação: disputa de terra. (...) Competência criminal. HC 91.121 RTJ 205/284

PrCv Multa. (...) Agravo regimental. AI 598.715-AgR RTJ 205/1445PrSTF Multiplicidade de recursos. (...) Recurso extraordinário. RE 559.882-

QO RTJ 205/1434Ct Município. (...) Competência legislativa. ADI 845 RTJ 205/29Ct Município. Criação, fusão, incorporação e desmembramento. Re-

quisitos: modificação. Lei complementar federal: fixação do período. Princípio federativo: ofensa inocorrente. CF/88, art. 18, § 4º, redação da EC 15/96. ADI 2.395 RTJ 205/618

NPrPn Não-caracterização. (...) Suspeição. ES 5 RTJ 205/1011PrCv Não-configuração. (...) Conflito de competência. CC 7.498-AgR RTJ

205/728Pn Não-configuração. (...) Crime hediondo. AO 1.047 RTJ 205/576PrSTF Não-conhecimento. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI

2.862 RTJ 205/1125 – ADI 3.458 RTJ 205/665PrPn Natureza de sentença: ausência. (...) Sentença condenatória. HC

90.274 RTJ 205/1282Trbt Natureza jurídica: taxa. (...) Custas. ADI 3.660 RTJ 205/686PrSTF Negativa de seguimento. (...) Recurso extraordinário. RE 569.476-

AgR RTJ 205/468PrCv Norma ambiental e de comércio exterior. (...) Suspensão de liminar.

STA 118-AgR RTJ 205/519PrPn Norma aplicável: legislação vigente à época do fato. (...) Habeas

corpus. HC 91.631 RTJ 205/341Ct Norma pré-constitucional: revogação. (...) Controle concentrado de

constitucionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686

Page 504: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Nov-Ord — ÍNDICE ALFABÉTICO1504

PrSTF Nova interpretação da Constituição Federal. (...) Recurso extraordi-nário. RE 353.657 RTJ 205/807

PrSTF Novas informações: desnecessidade. (...) Ação direta de inconstitu-cionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686

PrPn Nulidade. (...) Acórdão criminal. HC 91.651 RTJ 205/1318Adm Nulidade. (...) Ato administrativo. RMS 26.967 RTJ 205/748Int Nulidade. (...) Extradição. Ext 1.068-QO RTJ 205/1062PrPn Nulidade absoluta. (...) Citação por edital. HC 92.569 RTJ 205/779PrPn Nulidade absoluta. (...) Defesa criminal. HC 92.680 RTJ 205/1362PrPn Nulidade inocorrente. (...) Defesa criminal. HC 81.489 RTJ 205/227PrPn Nulidade inocorrente. (...) Exceção de suspeição. AO 1.047 RTJ

205/576PrPn Nulidade inocorrente. (...) Júri. AO 1.047 RTJ 205/576 – RHC 81.396

RTJ 205/223PrPn Nulidade inocorrente. (...) Processo criminal. HC 86.789 RTJ

205/252PrPn Nulidade processual absoluta: reconhecimento. (...) Ação penal. HC

91.650 RTJ 205/1312

OPrCv Obscuridade: ausência. (...) Embargos de declaração. RE 240.441-

AgR-ED RTJ 205/415PrSTF Ofensa indireta. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI

2.832 RTJ 205/1107PrPn Oitiva do condenado: ausência. (...) Execução penal. RHC 92.282

RTJ 205/356PrCv Omissão, contradição e obscuridade: ausência. (...) Embargos de

declaração. MS 26.204-AgR-ED RTJ 205/209PrPn Omissão de relator de extradição: ausência. (...) Habeas corpus. HC

92.664-AgR RTJ 205/791Ct Operação financeira. (...) Banco Central. MS 22.801 RTJ 205/161PrPn “Operação Hidra”. (...) Prisão preventiva. HC 89.143 RTJ 205/1248PrPn Opinio delicti e eventual denúncia: atribuição do Ministério Público

estadual. (...) Competência criminal. ACO 1.058 RTJ 205/38PrPn Ordem judicial: desnecessidade. (...) Prova criminal. HC 90.795 RTJ

205/1295

Page 505: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Org-Pen 1505

PrPn Organização criminosa: indicação de possível existência. (...) Prisão preventiva. HC 92.848 RTJ 205/1369

Pn Organização de atividade criminosa. (...) Pena-base. AO 1.047 RTJ 205/576

Ct Organização judiciária estadual. (...) Poder Judiciário. HC 91.024 RTJ 205/1303

PPrPn Paciente: afastamento do cargo de procurador-geral do Estado. (...)

Prisão preventiva. HC 91.386 RTJ 205/322PrPn Paciente: desconhecimento da substância. (...) Habeas corpus. HC

86.789 RTJ 205/252PrPn Paciente: recusa. (...) Prova criminal. HC 93.916 RTJ 205/1404PrPn Paciente embriagado: elementos indicativos. (...) Denúncia. HC

93.916 RTJ 205/1404Pn Paciente sem antecedentes criminais. (...) Crime militar. HC 92.961

RTJ 205/372PrCv Pagamento. (...) Honorários advocatícios. ADI 2.527-MC RTJ

205/44Ct Paralisação: impossibilidade. (...) Processo de licenciamento am-

biental. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537PrSTF Parâmetro constitucional: alteração. (...) Ação direta de inconstitu-

cionalidade. ADI 2.648-MC RTJ 205/82PrSTF Parecer do PGR: inclusão de norma do complexo normativo. (...)

Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686PrCv Pedido anterior ao julgamento. (...) Mandado de segurança. MS

24.584-AgR RTJ 205/1156PrSTF Pedido após início do julgamento. (...) Julgamento. AI 682.486-AgR

RTJ 205/935PrPn Pedido do writ: matéria diversa. (...) Competência criminal. HC

88.083 RTJ 205/1230Ct Pedido inicial: delimitação do complexo normativo. (...) Controle

concentrado de constitucionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686PrPn Pedido no STJ: ausência de comprovação. (...) Habeas corpus. HC

91.631 RTJ 205/341Pn Pena. Execução provisória. Recurso sem efeito suspensivo. Prin-

cípio da não-culpabilidade: ofensa inocorrente. HC 90.645 RTJ 205/260

Page 506: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Pen-PIS — ÍNDICE ALFABÉTICO1506

Pn Pena. Fixação. Furto qualificado. Concurso de agentes. Aplicação analógica da majorante do crime de roubo: impossibilidade. Sanção autônoma. Reincidência: previsão legal. CP/40, arts. 61, I; e 155, § 4º. HC 92.626 RTJ 205/785

Pn Pena. Fixação. Furto qualificado. Concurso de agentes. Quantum de aumento: previsão legal. Analogia: descabimento. HC 92.926 RTJ 205/1385

Pn Pena. Privativa de liberdade. Substituição por restritiva de direitos. Prescrição da pretensão punitiva: inocorrência. Prazo prescricional. CP/40, art. 109, V. CP/40, art. 114, I: inaplicabilidade. HC 92.224 RTJ 205/353

Pn Pena. Restritiva de direito. Conversão em privativa de liberdade. Citação por edital: descabimento. Réu revel: ausência. Princípio do devido processo legal: ofensa inocorrente. Lei de Execução Penal (LEP), art. 181, § 1º, a: interpretação. HC 92.012 RTJ 205/1326

Pn Pena: alteração substancial. (...) Prescrição. HC 92.340 RTJ 205/1352PrPn Pena: cumprimento em regime semi-aberto. (...) Ação penal. HC

94.273 RTJ 205/1410PrPn Pena: reajuste do Quantum. (...) Sentença condenatória. HC 90.274

RTJ 205/1282Pn Pena-base. Fixação abaixo do mínimo legal: impossibilidade. Ate-

nuante: não-consideração. HC 92.926 RTJ 205/1385Pn Pena-base. Fixação no mínimo legal. Organização de atividade

criminosa. Circunstância agravante: desconsideração. Recurso ex-clusivo da defesa. Co-réu: simetria. AO 1.047 RTJ 205/576

Ct Penalidade imposta pelo TCU: afastamento. (...) Banco Central. MS 22.801 RTJ 205/161

PrPn Perícia complementar: indeferimento. (...) Prova pericial. HC 91.121 RTJ 205/284

PrPn Perigo de dano grave ou irreversível. (...) Ação penal. HC 90.023 RTJ 205/1255

Pn Personalidade e grau de periculosidade do agente. (...) Regime pri-sional. HC 88.052 RTJ 205/1226

PrSTF Pertinência temática. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI 2.832 RTJ 205/1107 – ADI 3.896 RTJ 205/1141

PrSTF Petrobras e Paulipetro (Consórcio CESP-IPT). (...) Recurso extraor-dinário. RE 479.887 RTJ 205/434

PrSTF PIS e Cofins. (...) Reclamação. Rcl 5.151 RTJ 205/143

Page 507: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Pla-Pre 1507

Adm Plano de Cargos e Salários do Poder Judiciário: implantação. (...) Servidor público. MS 24.580 RTJ 205/181

Adm Poder de polícia. Agente de fiscalização da Agência Nacional de Telecomunicação (ANATEL). Busca e apreensão. Equipamento ra-diofônico. Rádio clandestina. Decisão na ADI 1.668-MC: ausência de descumprimento. Lei 10.871/04, redação da Lei 11.292/06. Rcl 5.310 RTJ 205/155

PrPn Poder de polícia. (...) Prova criminal. HC 90.795 RTJ 205/1295PrCv Poder decisório: ausência. (...) Mandado de segurança. MS 25.641

RTJ 205/732Ct Poder Judiciário. Organização judiciária estadual. Especialização

de varas. Resolução de Tribunal de Justiça. Princípio do juiz natural: ofensa inocorrente. CF/88, art. 96, I, a e d, e II, d. HC 91.024 RTJ 205/1303

PrPn Policial militar. (...) Ação penal. HC 92.912 RTJ 205/365Adm Policial militar. (...) Concurso público. AI 598.715-AgR RTJ 205/1445Adm Política de ação afirmativa. (...) Concurso público. RMS 26.071 RTJ

205/203Pn Posse e uso de substância entorpecente. (...) Crime militar. HC

92.961 RTJ 205/372PrPn Possibilidade. (...) Liberdade provisória. HC 91.118 RTJ 205/765Adm Prática forense: comprovação. (...) Concurso público. MS 26.682

RTJ 205/744PrCv Prazo: termo inicial. (...) Mandado de segurança. MS 26.464 RTJ

205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213Pn Prazo prescricional. (...) Pena. HC 92.224 RTJ 205/353PrPn Prazo prescricional: ausência de norma específica. (...) Execução

penal. HC 92.000 RTJ 205/350PrCv Precatório: cancelamento. (...) Medida cautelar. AC 2.011-MC RTJ

205/613PrPn Preclusão inocorrente. (...) Citação por edital. HC 92.569 RTJ

205/779El Prefeito e vice-prefeito. (...) Processo eleitoral. ADI 4.018-MC RTJ

205/134Ct Prejudicialidade. (...) Ação cível originária. ACO 541 RTJ 205/1019PrSTF Prejudicialidade. (...) Ação direta de inconstitucionalidade. ADI

2.648-MC RTJ 205/82 – ADI 3.566 RTJ 205/105

Page 508: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Pre-Pre — ÍNDICE ALFABÉTICO1508

PrPn Prejudicialidade. (...) Habeas corpus. HC 93.302 RTJ 205/388PrSTF Prejudicialidade inocorrente. (...) Ação direta de inconstitucionali-

dade. ADI 980 RTJ 205/1041PrPn Prejudicialidade inocorrente. (...) Habeas corpus. HC 88.473 RTJ

205/1235PrPn Prejuízo à defesa. (...) Citação por edital. HC 92.569 RTJ 205/779Int Prejuízo à defesa. (...) Extradição. Ext 1.068-QO RTJ 205/1062PrGr Prejuízo à defesa: ausência. (...) Embargos de declaração. HC

92.235 RTJ 205/1332PrPn Prejuízo não demonstrado. (...) Defesa criminal. HC 81.489 RTJ

205/227PrPn Prejuízo não demonstrado. (...) Júri. AO 1.047 RTJ 205/576PrPn Prejuízo não demonstrado. (...) Processo criminal. HC 86.789 RTJ

205/252PrCv Preliminar de não-conhecimento: reconhecimento. (...) Suspensão

de tutela antecipada. STA 118-AgR RTJ 205/519PrSTF Preliminar formal e fundamentada. (...) Recurso extraordinário. RE

569.476-AgR RTJ 205/468PrCv Prequestionamento: ausência. (...) Embargos de divergência. RE

213.583-EDv RTJ 205/803PrSTF Prequestionamento: ausência. (...) Recurso extraordinário. RE

479.887 RTJ 205/434 – AI 682.486-AgR RTJ 205/935PrPn Prequestionamento: desnecessidade. (...) Habeas corpus. HC 91.121

RTJ 205/284Pn Prescrição. Interrupção. Sentença condenatória: reforma. Acórdão:

nova condenação. Pena: alteração substancial. CP/40, art. 109. HC 92.340 RTJ 205/1352

Pn Prescrição: suspensão. (...) Crime contra a ordem tributária. HC 86.032 RTJ 205/231

Pn Prescrição da pretensão punitiva. (...) Extinção da punibilidade. HC 86.032 RTJ 205/231 – HC 88.083 RTJ 205/1230

Pn Prescrição da pretensão punitiva: inocorrência. (...) Pena. HC 92.224 RTJ 205/353

Int Prescrição executória: termo inicial. (...) Extradição. Ext 906-ED RTJ 205/1035

Int Prescrição inocorrente. (...) Extradição. Ext 1.073 RTJ 205/1066 – Ext 1.104 RTJ 205/601

Page 509: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Pre-Pri 1509

PrCv Preservação da saúde e do meio ambiente e livre exercício de ativi-dade econômica: ponderação. (...) Tutela antecipada. STA 118-AgR RTJ 205/519

PrSTF Presidência: voto de qualidade. (...) Recurso extraordinário. AI 682.486-AgR RTJ 205/935

PrSTF Presidência do STF: competência. (...) Recurso extraordinário. RE 569.476-AgR RTJ 205/468

PrCv Presidente do TRT da 1ª Região. (...) Mandado de segurança. MS 25.641 RTJ 205/732

Ct Presidente e vice-presidente. (...) Tribunal Regional Federal (TRF). ADI 3.566 RTJ 205/105

Int Pressupostos formais: existência. (...) Extradição. Ext 1.104 RTJ 205/601

PrCv Pressupostos inocorrentes. (...) Medida cautelar. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537

Ct Prestação jurisdicional célere e qualificada: necessidade. (...) Medida provisória. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Adm Presunção de má-fé ou irregularidade: impossibilidade. (...) Concur-so público. MS 26.700 RTJ 205/1187

PrCv Preterição: impossibilidade de comprovação. (...) Mandado de segu-rança. RMS 26.614-AgR RTJ 205/219

Ct Previsão legal: ausência. (...) Banco Central. MS 22.801 RTJ 205/161Adm Previsão legal: ausência. (...) Concurso público. AI 598.715-AgR

RTJ 205/1445Ct Previsão regimental: impossibilidade. (...) Tribunal Regional Federal

(TRF). Rcl 5.158-MC RTJ 205/149Ct Princípio da boa-fé. (...) Controle de constitucionalidade. ADI

3.756-ED RTJ 205/124PrPn Princípio da dignidade da pessoa humana. (...) Prisão preventiva.

HC 91.386 RTJ 205/322PrPn Princípio da dignidade da pessoa humana, do devido processo legal

e da razoável duração do processo. (...) Prisão preventiva. HC 91.121 RTJ 205/284

Pn Princípio da especialidade da lei penal e da dignidade da pessoa humana: confronto. (...) Crime militar. HC 92.961 RTJ 205/372

PrPn Princípio da fungibilidade. (...) Habeas corpus. HC 92.170-segundo julgamento RTJ 205/1330

Page 510: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Pri-Pri — ÍNDICE ALFABÉTICO1510

Ct Princípio da indisponibilidade das ações constitucionais. (...) Man-dado de injunção. MI 712-QO RTJ 205/1029

Pn Princípio da individualização da pena. (...) Homicídio qualificado. AO 1.047 RTJ 205/576

Pn Princípio da individualização da pena: nova inteligência em evolu-ção jurisprudencial. (...) Regime prisional. HC 88.052 RTJ 205/1226

Pn Princípio da insignificância. (...) Crime militar. HC 92.961 RTJ 205/372

Adm Princípio da irredutibilidade de vencimentos. (...) Servidor público. MS 24.580 RTJ 205/181

Adm Princípio da isonomia. (...) Concurso público. RMS 26.071 RTJ 205/203

PrPn Princípio da isonomia. (...) Habeas corpus. HC 86.424-extensão-segunda RTJ 205/761

Adm Princípio da legalidade: ofensa. (...) Concurso público. AI 598.715-AgR RTJ 205/1445

Adm Princípio da moralidade e da impessoalidade: ofensa inocorrente. (...) Concurso público. MS 26.700 RTJ 205/1187

Pn Princípio da não-culpabilidade: ofensa inocorrente. (...) Pena. HC 90.645 RTJ 205/260

PrPn Princípio da não-culpabilidade: ofensa inocorrente. (...) Prisão em flagrante. HC 92.495 RTJ 205/1357

Trbt Princípio da não-cumulatividade. (...) Imposto sobre Produtos In-dustrializados (IPI). RE 353.657 RTJ 205/807

Trbt Princípio da não-cumulatividade e da isonomia. (...) Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). RE 213.583-EDv RTJ 205/803

PrPn Princípio da razoável duração do processo. (...) Instrução criminal. HC 91.118 RTJ 205/765

PrPn Princípio da razoável duração do processo: ofensa inocorrente. (...) Prisão preventiva. HC 92.848 RTJ 205/1369

PrSTF Princípio da segurança jurídica. (...) Recurso extraordinário. RE 353.657 RTJ 205/807

PrPn Princípio da soberania dos veredictos. (...) Júri. AO 1.047 RTJ 205/576

Int Princípio da territorialidade. (...) Extradição. Ext 1.104 RTJ 205/601

Page 511: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Pri-Pri 1511

Adm Princípio do contraditório e da ampla defesa: ofensa inocorrente. (...) Processo administrativo. MS 25.787 RTJ 205/1160

PrPn Princípio do contraditório e da ampla defesa: ofensa inocorrente. (...) Prova criminal. HC 83.417 RTJ 205/756

Pn Princípio do devido processo legal. (...) Medida socioeducativa. RE 248.018 RTJ 205/422

Pn Princípio do devido processo legal: ofensa inocorrente. (...) Pena. HC 92.012 RTJ 205/1326

PrPn Princípio do juiz natural: defesa. (...) Habeas corpus. HC 91.024 RTJ 205/1303

Ct Princípio do juiz natural: ofensa inocorrente. (...) Poder Judiciário. HC 91.024 RTJ 205/1303

PrPn Princípio do livre convencimento do juiz. (...) Prova criminal. HC 83.417 RTJ 205/756

PrPn Princípio do ne bis in idem: ofensa inocorrente. (...) Ação penal. HC 92.912 RTJ 205/365

PrPn Princípio do tempus regit actum. (...) Liberdade provisória. HC 91.118 RTJ 205/765

Ct Princípio federativo: ofensa inocorrente. (...) Município. ADI 2.395 RTJ 205/618

PrPn Princípio nemo tenetur se detegere. (...) Prova criminal. HC 93.916 RTJ 205/1404

PrPn Prisão. Revogação: descabimento. Réu foragido. HC 92.680 RTJ 205/1362

PrPn Prisão cautelar. Excesso de prazo. Ação penal: anulação. Rito pro-cessual: inobservância. Atos processuais: renovação. Lei 10.409/02. HC 94.273 RTJ 205/1410

PrPn Prisão cautelar: revogação. (...) Ação penal. HC 94.273 RTJ 205/1410Cv Prisão civil. Depositário infiel. Matéria pendente de julgamento no

Plenário do STF: RE 466.343. HC 90.172 RTJ 205/1267PrPn Prisão civil de depositário infiel. (...) Habeas corpus. HC 94.307-QO

RTJ 205/409PrPn Prisão domiciliar: concessão. (...) Prisão especial. HC 91.150 RTJ

205/310PrPn Prisão domiciliar: descabimento. (...) Prisão especial. HC 93.391

RTJ 205/1397

Page 512: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Pri-Pri — ÍNDICE ALFABÉTICO1512

PrPn Prisão domiciliar, regime semi-aberto e prescrição. (...) Competên-cia criminal. HC 88.083 RTJ 205/1230

PrPn Prisão em flagrante. Excesso de prazo: não-configuração. Instrução criminal encerrada. HC 91.118 RTJ 205/765

PrPn Prisão em flagrante. (...) Habeas corpus. HC 93.302 RTJ 205/388PrPn Prisão em flagrante. (...) Liberdade provisória. HC 93.302 RTJ

205/388PrPn Prisão em flagrante. Manutenção. Garantia da ordem pública. Tráfi-

co de entorpecente e associação para o tráfico. Liberdade provisória: descabimento. Princípio da não-culpabilidade: ofensa inocorrente. Lei 11.343/06, art. 44. CF/88, art. 5º, XLIII. HC 92.495 RTJ 205/1357

PrPn Prisão especial. Advogado. Estabelecimento adequado. Condição regular de higiene e cela individual. Prisão domiciliar: descabimen-to. Lei 8.906/94, art. 7º, V. HC 93.391 RTJ 205/1397

PrPn Prisão especial. Advogado. Estabelecimento inadequado. Sala de Estado-Maior: ausência. Prisão domiciliar: concessão. Lei 8.906/94, art. 7º, V. HC 91.150 RTJ 205/310

PrPn Prisão especial. Advogado. Recolhimento em dependência da Polí-cia Militar. Estabelecimento adequado. Instalações e comodidades adequadas à higiene e à segurança. Sala de Estado-Maior: conceito. Decisão no HC 90.707: ausência de descumprimento. Lei 8.906/94, art. 7º, V. Rcl 5.192 RTJ 205/719

PrPn Prisão especial. Advogado. Trânsito em julgado da sentença con-denatória: inocorrência. Recolhimento em dependência da Polícia Militar. Estabelecimento adequado. Instalações condignas e sem grades. Sala de Estado-Maior: conceito. Liberdade de locomoção: restrição. Decisão na ADI 1.127: ausência de descumprimento. Lei 8.906/94, art. 7º, V. Rcl 4.713 RTJ 205/703

Int Prisão perpétua. (...) Extradição. Ext 1.104 RTJ 205/601PrPn Prisão preventiva. Excesso de prazo. Alvará de soltura: confirma-

ção de expedição. HC 93.769 RTJ 205/406PrPn Prisão preventiva. Excesso de prazo. Responsabilidade da defesa.

Pronúncia: interposição de recurso. Serviço judiciário: falha inexis-tente. HC 88.995 RTJ 205/1241

PrPn Prisão preventiva. Excesso de prazo. Responsabilidade da defesa: ausência. Princípio da dignidade da pessoa humana, do devido processo legal e da razoável duração do processo. HC 91.121 RTJ 205/284

PrPn Prisão preventiva. Excesso de prazo: não-configuração. Complexi-dade da causa: pluralidade de réus e delitos. Princípio da razoável

Page 513: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Pri-Pri 1513

duração do processo: ofensa inocorrente. Decisão judicial: fun-damentação. CF/88, arts. 5º, LXXVIII; e 93, IX. HC 92.848 RTJ 205/1369

PrPn Prisão preventiva. Excesso de prazo: não-configuração. Responsa-bilidade da defesa. HC 86.789 RTJ 205/252

Int Prisão preventiva. (...) Extradição. HC 92.664-AgR RTJ 205/791PrPn Prisão preventiva. Fundamentação insuficiente. Conveniência da

instrução criminal e garantia da ordem pública e da ordem econô-mica. Risco de continuidade delitiva em decorrência de liberação de recursos do PAC. Fato concreto: ausência. Paciente: afastamento do cargo de procurador-geral do Estado. Princípio da dignidade da pessoa humana. Estado de Direito e Estado Policial: distinção. HC 91.386 RTJ 205/322

PrPn Prisão preventiva. Fundamentação insuficiente. Garantia da ordem pública e aplicação da lei penal. Fato concreto: ausência. CPP/41, art. 312. HC 91.121 RTJ 205/284

PrPn Prisão preventiva. Fundamentação insuficiente. Garantia da ordem pública e aplicação da lei penal. Fato concreto: ausência. Crime contra o sistema financeiro. Estrangeiro: entrega voluntária de passa-porte. Bons antecedentes e residência fixa. Investigado em situação semelhante: liberdade provisória. HC 93.134 RTJ 205/378

PrPn Prisão preventiva. Fundamentação insuficiente. Garantia da ordem pública e aplicação da lei penal. Fuga do paciente: possibilidade. Fato concreto: ausência. HC 90.936 RTJ 205/280

PrPn Prisão preventiva. Fundamentação suficiente. Garantia da ordem pública e aplicação da lei penal. Contrabando, descaminho, falsi-ficação de documento e corrupção ativa. “Operação Hidra”. Lei 9.034/95, arts. 1º e 7º. CPP/41, art. 312. CF/88, art. 93, IX. HC 89.143 RTJ 205/1248

PrPn Prisão preventiva. Fundamentação suficiente. Garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal. Organização crimino-sa: indicação de possível existência. Roubo de carga e de caminhão e seqüestro de motorista. Reiteração criminosa. HC 92.848 RTJ 205/1369

PrPn Prisão preventiva. Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Trans-ferência para presídio federal em outra unidade da federação. Com-petência do juiz da causa. Audiência prévia do Ministério Público e da defesa: desnecessidade. Lei de Execução Penal (LEP), art. 86, § 3º: inteligência. HC 93.391 RTJ 205/1397

PrPn Prisão preventiva. Requisitos para decretação: insubsistência. Ins-trução criminal encerrada. CPP/41, art. 312. HC 92.335-MC RTJ 205/361

Page 514: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Pri-Pro — ÍNDICE ALFABÉTICO1514

Int Prisão preventiva: indeferimento. (...) Extradição. Ext 1.118 RTJ 205/1079

Pn Privativa de liberdade. (...) Pena. HC 92.224 RTJ 205/353PrPn Procedimento a partir de denúncias. (...) Prova criminal. HC 90.795

RTJ 205/1295PrCv Procedimento simplificado. (...) Medida cautelar. AC 1.193-MC-QO

RTJ 205/1084Int Processo: extinção. (...) Extradição. Ext 1.118 RTJ 205/1079Adm Processo administrativo. Decisão do presidente da República. Re-

curso hierárquico: indeferimento. Transporte aéreo. Contrato de con-cessão para prestação de serviço: caducidade. Advogado constituído pela empresa: comparecimento aos autos. Princípio do contraditório e da ampla defesa: ofensa inocorrente. Lei 9.784/99, arts. 2º e 26, § 5º. MS 25.787 RTJ 205/1160

PrGr Processo administrativo disciplinar: juízo sobre a necessidade de instauração. (...) Prova. Inq 2.424-QO RTJ 205/638 – Inq 2.424-QO-QO RTJ 205/656

Pn Processo administrativo pendente. (...) Crime contra a ordem tribu-tária. HC 86.032 RTJ 205/231

PrPn Processo criminal. Nulidade inocorrente. Tráfico de entorpecen-te. Defesa prévia: irregularidade. Prejuízo não demonstrado. Lei 10.409/02, art. 38. CPP/41, art. 563. HC 86.789 RTJ 205/252

Int Processo criminal no Brasil. (...) Extradição. Ext 906-ED RTJ 205/1035

PrCv Processo de exploração e distribuição de petróleo: comprometimen-to. (...) Medida cautelar. AC 1.193-MC-QO RTJ 205/1084

Ct Processo de licenciamento ambiental. Paralisação: impossibili-dade. Projeto de integração do Rio São Francisco. Programa de proteção do meio ambiente: existência. Ibama: novas condicionantes para a validade da licença de instalação. Fiscalização: atribuição do Executivo. Recursos hídricos de terra indígena: ausência de aprovei-tamento. Autorização do Congresso Nacional: desnecessidade. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537

El Processo eleitoral. Eleição municipal extemporânea: critérios. Prefeito e vice-prefeito. Análise da capacidade eleitoral: momento. CF/88, art. 14. Resolução 124/08-TRE/GO, arts. 4º, parágrafo único; e 13. ADI 4.018-MC RTJ 205/134

PrCv Processo eleitoral. (...) Mandado de segurança. MS 26.204-AgR-ED RTJ 205/209

Page 515: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Pro-Pro 1515

Int Processo executório: extinção. (...) Extradição. Ext 1.098-QO RTJ 205/1076

Ct Processo legislativo. Matéria reservada à iniciativa do Executivo. Regime jurídico de servidor público. CF/88, art. 61, § 1º, II. ADI 980 RTJ 205/1041

Ct Processo legislativo. Projeto de lei de iniciativa do Executivo. Ma-téria reservada à iniciativa do Judiciário. Sistema de conta única de depósito judicial e extrajudicial. Administrador da conta: Tesouro estadual. CF/88, arts. 2º e 61, § 1º: ofensa. Lei estadual 15.010/04/GO: inconstitucionalidade. ADI 3.458 RTJ 205/665

Ct Produção e consumo. (...) Competência legislativa concorrente. ADI 2.832 RTJ 205/1107

PrGr Produção e uso lícito: distinção normativa. (...) Prova. Inq 2.424-QO-QO RTJ 205/656

Ct Programa de proteção do meio ambiente: existência. (...) Processo de licenciamento ambiental. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537

Pn Progressão. (...) Regime prisional. RHC 92.872 RTJ 205/1376Pn Progressão: possibilidade. (...) Regime prisional. HC 88.052 RTJ

205/1226PrPn Progressão de regime prisional. (...) Habeas corpus. HC 88.083 RTJ

205/1230 – HC 91.631 RTJ 205/341PrPn Progressão de regime prisional: apreciação do pedido. (...) Habeas

corpus. HC 91.631 RTJ 205/341PrPn Progressão de regime prisional: descabimento. (...) Habeas corpus.

HC 93.302 RTJ 205/388PrCv Projeto de integração do Rio São Francisco. (...) Medida cautelar.

ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537Ct Projeto de integração do Rio São Francisco. (...) Processo de licen-

ciamento ambiental. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537Ct Projeto de lei de iniciativa do Executivo. (...) Processo legislativo.

ADI 3.458 RTJ 205/665PrPn Pronúncia: interposição de recurso. (...) Prisão preventiva. HC

88.995 RTJ 205/1241PrGr Pronunciamento de nulidade absoluta: inutilidade. (...) Embargos de

declaração. HC 92.235 RTJ 205/1332PrPn Prosseguimento. (...) Ação penal. HC 92.912 RTJ 205/365PrGr Prova. Processo administrativo disciplinar: juízo sobre a necessi-

dade de instauração. Magistrado: apuração de infração disciplinar.

Page 516: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Pro-Pro — ÍNDICE ALFABÉTICO1516

Prova emprestada de inquérito policial contra a mesma pessoa: admissibilidade. Interceptação telefônica e escuta ambiental: autori-zação judicial. Dever de sigilo: transferência para outra autoridade. Direito individual e interesse público: ponderação. Lei 9.296/96, art. 1º: inteligência. CF/88, art. 5º, XII: inteligência. Inq 2.424-QO RTJ 205/638

PrGr Prova. Processo administrativo disciplinar: juízo sobre a necessi-dade de instauração. Servidor público: infração disciplinar. Prova emprestada de inquérito policial contra pessoa diversa: admissi-bilidade. Interceptação telefônica e escuta ambiental: autorização judicial. Produção e uso lícito: distinção normativa. Dever de sigilo. Lei 9.296/96, art. 1º: inteligência. CF/88, art. 5º, XII: inteligência. Inq 2.424-QO-QO RTJ 205/656

PrCv Prova: desnecessidade. (...) Mandado de segurança. MS 24.580 RTJ 205/181

PrPn Prova criminal. Escuta telefônica judicialmente autorizada. Pro-va ilícita: não-configuração. CF/88, art. 5º, LVI. HC 89.143 RTJ 205/1248

PrPn Prova criminal. Exame de dosagem alcoólica. Paciente: recusa. Em-briaguez presumida: descabimento. Direito de não produzir prova contra si mesmo. Princípio nemo tenetur se detegere. HC 93.916 RTJ 205/1404

PrPn Prova criminal. Inquirição de testemunha da defesa. Expedição de carta rogatória: indeferimento. Fundamentação suficiente. Testemu-nha admitida na empresa em data posterior ao fato ocorrido. Discri-cionariedade do magistrado na condução do processo. Princípio do livre convencimento do juiz. Princípio do contraditório e da ampla defesa: ofensa inocorrente. HC 83.417 RTJ 205/756

PrPn Prova criminal. Prova ilícita: ausência. Fiscalização. Apreensão de mercadorias. Poder de polícia. Procedimento a partir de denúncias. Ordem judicial: desnecessidade. HC 90.795 RTJ 205/1295

PrPn Prova criminal. Prova ilícita: inadmissibilidade. Documento confi-dencial de pessoa jurídica. Cópia: obtenção por ex-empregado. Em-presa: ausência de conhecimento de autorização. Juntada dos autos de inquérito policial: descabimento. Sentença concessiva em mandado de segurança do Ministério Público: irrelevância. CP/40, arts. 152, parágrafo único; 153; e 154. CF/88, art. 5º, LVI. HC 82.862 RTJ 205/1201

PrGr Prova emprestada de inquérito policial contra a mesma pessoa: ad-missibilidade. (...) Prova. Inq 2.424-QO RTJ 205/638

PrGr Prova emprestada de inquérito policial contra pessoa diversa: admis-sibilidade. (...) Prova. Inq 2.424-QO-QO RTJ 205/656

Page 517: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Pro-Que 1517

PrPn Prova ilícita: ausência. (...) Prova criminal. HC 90.795 RTJ 205/1295PrPn Prova ilícita: inadmissibilidade. (...) Prova criminal. HC 82.862 RTJ

205/1201PrPn Prova ilícita: não-configuração. (...) Prova criminal. HC 89.143 RTJ

205/1248PrPn Prova pericial. Perícia complementar: indeferimento. Decisão fun-

damentada. Cerceamento de defesa: inocorrência. CPP/41, art. 499. HC 91.121 RTJ 205/284

PrCv Provimento de agravo de instrumento. (...) Agravo regimental. AI 549.481-AgR RTJ 205/1432

Ct Publicação da ata de julgamento de mérito: necessidade. (...) Decisão plenária. ADI 3.756-ED RTJ 205/124

PrPn Publicação no Diário Oficial. (...) Intimação criminal. HC 81.691 RTJ 205/753

QPn Quadrilha ou bando. Crime formal. Consumação. Crime tributário:

absorção inocorrente. Trancamento da ação penal: não-extensão. HC 86.032 RTJ 205/231

Pn Quadrilha ou bando. (...) Extinção da punibilidade. HC 86.032 RTJ 205/231

PrPn Quadrilha ou bando: não-configuração. (...) Ação penal. HC 91.650 RTJ 205/1312

Pn Quantum de aumento: previsão legal. (...) Pena. HC 92.926 RTJ 205/1385

PrPn Quebra de sigilo: impossibilidade. (...) Delação premiada. HC 90.688 RTJ 205/263

Ct Quebra de sigilo bancário: impossibilidade. (...) Banco Central. MS 22.801 RTJ 205/161

PrPn Queixa: adulteração da data do recebimento. (...) Habeas corpus. HC 87.255 RTJ 205/257

PrCv Questão jurídica complexa. (...) Decisão judicial. RE 540.995 RTJ 205/463

PrPn Questão não apreciada pelo STJ. (...) Habeas corpus. HC 88.083 RTJ 205/1230 – HC 90.688 RTJ 205/263 – HC 91.118 RTJ 205/765 – HC 91.121 RTJ 205/284 – HC 92.495 RTJ 205/1357

PrPn Questão não apreciada por Turma do STF. (...) Ação penal. HC 86.424-extensão-segunda RTJ 205/761

Page 518: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Rád-Rec — ÍNDICE ALFABÉTICO1518

RAdm Rádio clandestina. (...) Poder de polícia. Rcl 5.310 RTJ 205/155PrCv Razões. (...) Agravo regimental. AR 1.853-AgR RTJ 205/1104PrPn Razões tardias. (...) Apelação criminal. AO 1.047 RTJ 205/576Adm Reajuste automático. (...) Vencimentos. RE 218.874 RTJ 205/411Trbt Recepção de forma expressa pela CF/88. (...) Salário-educação. RE

405.444-AgR RTJ 205/429PrSTF Reclamação. Cabimento. PIS e Cofins. Matéria constitucional re-

levante. Mandados de segurança com o mesmo objeto. Decisões conflitantes transitadas em julgado. Trânsito em julgado posterior da decisão do STF: irrelevância. Julgado da Suprema Corte: cumpri-mento. Rcl 5.151 RTJ 205/143

PrSTF Reclamação. Descabimento. Contratação temporária: regularidade. Supremo Tribunal Federal (STF): incompetência. Rcl 4.990-MC-AgR RTJ 205/712

PrSTF Reclamação. Descabimento. Controle de constitucionalidade. Rcl 5.310 RTJ 205/155

PrSTF Reclamação. Medida liminar: efeitos. Ação civil pública: suspensão da tramitação. Agentes comunitários de saúde: possibilidade de de-missão em massa. Rcl 4.990-MC-AgR RTJ 205/712

PrPn Recolhimento em dependência da Polícia Militar. (...) Prisão espe-cial. Rcl 4.713 RTJ 205/703 – Rcl 5.192 RTJ 205/719

PrTr Recurso de revista. (...) Competência jurisdicional. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

PrPn Recurso do Ministério Público: pendência. (...) Livramento condi-cional. HC 92.417 RTJ 205/776

PrPn Recurso especial: interposição pelo Ministério Público. (...) Acórdão criminal. HC 91.651 RTJ 205/1318

PrCv Recurso especial e recurso extraordinário: julgamento sucessivo no STJ e no STF. (...) Conflito de competência. CC 7.498-AgR RTJ 205/728

Pn Recurso exclusivo da defesa. (...) Pena-base. AO 1.047 RTJ 205/576PrSTF Recurso extraordinário. Decisão. Efeitos: impossibilidade de mo-

dulação. Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Alíquota zero. Jurisprudência consolidada no STF: ausência. Declaração de inconstitucionalidade: inocorrência. Nova interpretação da Cons-tituição Federal. Princípio da segurança jurídica. RE 353.657 RTJ 205/807

Page 519: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Rec-Rec 1519

PrSTF Recurso extraordinário. Decisão monocrática. Subscrição: ausência. Chancela eletrônica: validade. Resolução 293/04-STF. RE 504.873-AgR RTJ 205/1422

PrSTF Recurso extraordinário. Matéria criminal. Sigilo fiscal e bancário: quebra. Liberdade de locomoção: ameaça indireta. Habeas corpus: possibilidade. AI 573.623-QO RTJ 205/1441

PrSTF Recurso extraordinário. Matéria infraconstitucional. Julgamento colegiado do Cade: empate. Presidência: voto de qualidade. Lei 8.884/94, art. 8º, II. AI 682.486-AgR RTJ 205/935

PrSTF Recurso extraordinário. Matéria infraconstitucional. Petrobras e Paulipetro (Consórcio CESP-IPT). Contrato de risco para prospec-ção de petróleo: nulidade declarada no STJ. Fundamentação do acór-dão: Lei da Ação Popular e lei de criação da Petrobras. CF/88, art. 5º, XXXV, XXXVI, XL, LIV e LV: ofensa inocorrente. RE 479.887 RTJ 205/434

PrSTF Recurso extraordinário. Negativa de seguimento. Presidência do STF: competência. Repercussão geral: ausência de preliminar. Matéria sobrestada: irrelevância. Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF), arts. 13, V, c; e 327, caput e § 1º. RE 569.476-AgR RTJ 205/468

PrSTF Recurso extraordinário. Prequestionamento: ausência. Conflito entre União e Estado-membro. Incompetência absoluta do STJ: ale-gação. RE 479.887 RTJ 205/434

PrSTF Recurso extraordinário. Prequestionamento: ausência. Fundamento do voto vencido: insuficiência. Súmulas 282 e 356. AI 682.486-AgR RTJ 205/935

PrSTF Recurso extraordinário. Repercussão geral. Preliminar formal e fun-damentada. Demonstração: ônus do recorrente. CPC/73, art. 543-A, § 2º. RE 569.476-AgR RTJ 205/468

PrSTF Recurso extraordinário. Repercussão geral: análise. Multiplicida-de de recursos. Controvérsia idêntica. Lei 8.212/91, arts. 45 e 46, e Decreto-Lei 1.569/77, art. 5º, parágrafo único: inconstitucionalidade declarada pelo Plenário do TRF da 4ª Região. CPC/73, art. 543-B, redação da Lei 11.418/06. Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF), art. 328, redação da Emenda Regimental 21/07. RE 559.882-QO RTJ 205/1434

PrCv Recurso extraordinário: processamento. (...) Agravo regimental. AI 549.481-AgR RTJ 205/1432

Adm Recurso hierárquico: indeferimento. (...) Processo administrativo. MS 25.787 RTJ 205/1160

Pn Recurso sem efeito suspensivo. (...) Pena. HC 90.645 RTJ 205/260

Page 520: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Rec-Reg — ÍNDICE ALFABÉTICO1520

Ct Recursos hídricos de terra indígena: ausência de aproveitamento. (...) Processo de licenciamento ambiental. ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537

Ct Recursos repetitivos no TST. (...) Medida provisória. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

PrPn Recusa reiterada e injustificada de atendimento médico. (...) Habeas corpus. HC 92.304 RTJ 205/1339

Trbt Redutor financeiro. (...) Fundo de Participação dos Municípios. MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213

PrSTF Referendo plenário: relatoria do mesmo órgão prolator da decisão. (...) Medida cautelar. ADI 3.929-MC-QO RTJ 205/130

PrPn Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). (...) Prisão preventiva. HC 93.391 RTJ 205/1397

Trbt Regime especial. (...) Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). ACO 541 RTJ 205/1019

Adm Regime Especial de Trabalho Policial (RETP). (...) Vantagem. RE 185.312 RTJ 205/799

Pn Regime integralmente fechado: declaração incidental de inconstitu-cionalidade. (...) Regime prisional. HC 88.052 RTJ 205/1226

Ct Regime jurídico de servidor público. (...) Processo legislativo. ADI 980 RTJ 205/1041

TrGr Regime jurídico diverso. (...) Empregado. ADI 191 RTJ 205/15PrCv Regime jurídico único: posterioridade. (...) Competência jurisdicio-

nal. RE 507.153-AgR RTJ 205/1424Pn Regime prisional. Crime hediondo. Regime integralmente fecha-

do: declaração incidental de inconstitucionalidade. Requisitos para progressão: análise pelo Juízo da Execução. Personalidade e grau de periculosidade do agente. Exame criminológico: legitimidade. Ma-gistrado competente: decisão fundamentada. Lei de Execução Penal (LEP), art. 112, redação da Lei 10.792/03. HC 88.052 RTJ 205/1226

Pn Regime prisional. Progressão. Trânsito em julgado da decisão condenatória: desnecessidade. Resolução 19/06-CNJ, art. 1º. RHC 92.872 RTJ 205/1376

Pn Regime prisional. Progressão: possibilidade. Crime hediondo. Prin-cípio da individualização da pena: nova inteligência em evolução jurisprudencial. Lei 8.072/90, art. 2º, § 1º: inconstitucionalidade declarada no HC 82.959. HC 88.052 RTJ 205/1226

Page 521: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Reg-Req 1521

PrSTF Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF), arts. 13, V, c; e 327, caput e § 1º. (...) Recurso extraordinário. RE 569.476-AgR RTJ 205/468

PrSTF Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF), art. 328, redação da Emenda Regimental 21/07. (...) Recurso extraordinário. RE 559.882-QO RTJ 205/1434

PrCv Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF), art. 332. (...) Embargos de divergência. RE 213.583-EDv RTJ 205/803

Ct Regimento Interno do TRF da 3ª Região, arts. 3º, caput; e 11, I, a: inconstitucionalidade. (...) Tribunal Regional Federal (TRF). ADI 3.566 RTJ 205/105

PrPn Regressão de regime. (...) Execução penal. RHC 92.282 RTJ 205/356Pn Reincidência: previsão legal. (...) Pena. HC 92.626 RTJ 205/785PrCv Reintegração. (...) Competência jurisdicional. RE 507.153-AgR RTJ

205/1424PrPn Reiteração criminosa. (...) Prisão preventiva. HC 92.848 RTJ

205/1369Adm Relevância e urgência. (...) Ato administrativo. RMS 26.967 RTJ

205/748PrSTF Remessa ao Plenário: indeferimento. (...) Julgamento. AI 682.486-

AgR RTJ 205/935Pn Remissão. (...) Medida socioeducativa. RE 248.018 RTJ 205/422Adm Remuneração. Servidor público. Autarquia estadual. Vinculação ao

salário mínimo. CF/88, art. 7º, IV: ofensa. Decreto estadual 4.726/87/MG, art. 2º: não-recepção pela CF/88. ADPF 47 RTJ 205/11

PrCv Remuneração: decréscimo presumido. (...) Mandado de segurança. MS 24.580 RTJ 205/181

PrPn Repasse de verba. (...) Competência criminal. HC 90.174 RTJ 205/1276

PrSTF Repercussão geral. (...) Recurso extraordinário. RE 569.476-AgR RTJ 205/468

PrSTF Repercussão geral: análise. (...) Recurso extraordinário. RE 559.882-QO RTJ 205/1434

PrSTF Repercussão geral: ausência de preliminar. (...) Recurso extraordi-nário. RE 569.476-AgR RTJ 205/468

PrCv Requerimento. (...) Mandado de segurança. RMS 26.614-AgR RTJ 205/219

Page 522: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Req-Res — ÍNDICE ALFABÉTICO1522

PrTr Requisito de admissibilidade. (...) Competência jurisdicional. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Ct Requisitos. (...) Medida provisória. ADI 2.527-MC RTJ 205/44Ct Requisitos: modificação. (...) Município. ADI 2.395 RTJ 205/618Pn Requisitos objetivos: atendimento. (...) Crime militar. HC 92.961

RTJ 205/372PrPn Requisitos para decretação: insubsistência. (...) Prisão preventiva.

HC 92.335-MC RTJ 205/361Pn Requisitos para progressão: análise pelo Juízo da Execução. (...) Re-

gime prisional. HC 88.052 RTJ 205/1226Adm Resolução 4/06-CNMP, art. 1º, parágrafo único. (...) Concurso públi-

co. MS 26.682 RTJ 205/744Adm Resolução 12/01-Regimento Interno da Camex, art. 7º, V. (...) Ato

administrativo. RMS 26.967 RTJ 205/748Pn Resolução 19/06-CNJ, art. 1º. (...) Regime prisional. RHC 92.872

RTJ 205/1376El Resolução 124/08-TRE/GO, arts. 4º, parágrafo único; e 13. (...) Pro-

cesso eleitoral. ADI 4.018-MC RTJ 205/134PrSTF Resolução 293/04-STF. (...) Recurso extraordinário. RE 504.873-

AgR RTJ 205/1422Adm Resolução 19.882/97-TSE. (...) Servidor público. MS 24.580 RTJ

205/181PrSTF Resolução administrativa. (...) Ação direta de inconstitucionalida-

de. ADI 4.018-MC RTJ 205/134Ct Resolução de Tribunal de Justiça. (...) Poder Judiciário. HC 91.024

RTJ 205/1303Ct Responsabilidade civil do médico. (...) Competência legislativa.

ADI 2.875 RTJ 205/1137PrPn Responsabilidade da defesa. (...) Instrução criminal. HC 91.118 RTJ

205/765PrPn Responsabilidade da defesa. (...) Prisão preventiva. HC 86.789 RTJ

205/252 – HC 88.995 RTJ 205/1241PrPn Responsabilidade da defesa: ausência. (...) Prisão preventiva. HC

91.121 RTJ 205/284PrPn Responsabilidade da defesa: indícios. (...) Habeas corpus. HC 87.724

RTJ 205/1213Pn Restritiva de direito. (...) Pena. HC 92.012 RTJ 205/1326

Page 523: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Res-San 1523

PrCv Resultado: não-conhecimento por fundamento diverso. (...) Conflito de competência. CC 7.498-AgR RTJ 205/728

PrPn Réu foragido. (...) Prisão. HC 92.680 RTJ 205/1362Pn Réu maior de setenta anos. (...) Extinção da punibilidade. HC 88.083

RTJ 205/1230Pn Réu revel: ausência. (...) Pena. HC 92.012 RTJ 205/1326PrPn Revogação: descabimento. (...) Prisão. HC 92.680 RTJ 205/1362PrSTF Revogação superveniente da norma impugnada. (...) Ação direta de

inconstitucionalidade. ADI 3.566 RTJ 205/105PrPn Risco de continuidade delitiva em decorrência de liberação de recur-

sos do PAC. (...) Prisão preventiva. HC 91.386 RTJ 205/322PrPn Rito processual: inobservância. (...) Prisão cautelar. HC 94.273 RTJ

205/1410Ct Rótulo de embalagem. (...) Competência legislativa concorrente.

ADI 2.832 RTJ 205/1107Ct Rótulo de embalagem. (...) Estado-membro. ADI 2.832 RTJ 205/1107PrSTF Rótulo de embalagem: obrigatoriedade. (...) Ação direta de inconsti-

tucionalidade. ADI 2.832 RTJ 205/1107PrPn Roubo de carga e de caminhão e seqüestro de motorista. (...) Prisão

preventiva. HC 92.848 RTJ 205/1369

SPrPn Sala de Estado-Maior: ausência. (...) Prisão especial. HC 91.150 RTJ

205/310PrPn Sala de Estado-Maior: conceito. (...) Prisão especial. Rcl 4.713 RTJ

205/703 – Rcl 5.192 RTJ 205/719Trbt Salário-educação. Isenção: descabimento. Sociedade civil sem fins

lucrativos. Lei 9.424/96, art. 15. CF/88, art. 212, § 5º. RE 405.444-AgR RTJ 205/429

Trbt Salário-educação. Recepção de forma expressa pela CF/88. Base de cálculo, alíquota e fato gerador. Súmula 732. RE 405.444-AgR RTJ 205/429

Trbt Salário-educação. Sujeito passivo. Empresa: conceito. Firma indivi-dual e pessoa jurídica. Lei 9.424/96, art. 15. CF/88, art. 212, § 5º. RE 405.444-AgR RTJ 205/429

Pn Sanção autônoma. (...) Pena. HC 92.626 RTJ 205/785

Page 524: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Saú-Ser — ÍNDICE ALFABÉTICO1524

Ct Saúde pública. (...) Competência legislativa. ADI 2.875 RTJ 205/1137PrSTF Segurança jurídica ou excepcional interesse social. (...) Ação direta

de inconstitucionalidade. ADI 3.660 RTJ 205/686Ct Selo de qualidade. (...) Competência legislativa concorrente. ADI

2.832 RTJ 205/1107PrPn Semiliberdade: substituição. (...) Habeas corpus. HC 88.473 RTJ

205/1235PrPn Sentença concessiva em mandado de segurança do Ministério Públi-

co: irrelevância. (...) Prova criminal. HC 82.862 RTJ 205/1201PrPn Sentença condenatória. Trânsito em julgado. Mandado de prisão:

legitimidade. Decisão do STJ em recurso especial. Pena: reajuste do Quantum. Decisão de juiz de primeiro grau em cumprimento de de-terminação do STJ. Natureza de sentença: ausência. HC 90.274 RTJ 205/1282

Pn Sentença condenatória: reforma. (...) Prescrição. HC 92.340 RTJ 205/1352

PrPn Sentença condenatória superveniente. (...) Habeas corpus. HC 93.302 RTJ 205/388

PrTr Sentença de mérito: ausência. (...) Competência jurisdicional. RE 515.366-AgR RTJ 205/1427

PrPn Serviço judiciário: falha inexistente. (...) Prisão preventiva. HC 88.995 RTJ 205/1241

TrGr Servidor de fundação pública. (...) Empregado. ADI 191 RTJ 205/15Adm Servidor público. Anistia. Vantagem pecuniária: restabelecimento.

Efeito financeiro retroativo: impossibilidade. ADCT da Constituição Federal/88, art. 8º, § 5º. RE 507.153-AgR RTJ 205/1424

Adm Servidor público. Cargo em comissão. Plano de Cargos e Salários do Poder Judiciário: implantação. Gratificação judiciária e extraordiná-ria: extinção. “Diferença individual”: impossibilidade de supressão. Vínculo com a administração pública: irrelevância. Princípio da irredutibilidade de vencimentos. Lei 9.030/95, art. 1º. Resolução 19.882/97-TSE. MS 24.580 RTJ 205/181

PrCv Servidor público. (...) Mandado de segurança. MS 24.580 RTJ 205/181

Adm Servidor público. (...) Remuneração. ADPF 47 RTJ 205/11Adm Servidor público. (...) Vencimentos. RE 218.874 RTJ 205/411PrGr Servidor público: infração disciplinar. (...) Prova. Inq 2.424-QO-QO

RTJ 205/656

Page 525: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Ser-Súm 1525

PrCv Servidor público estadual. (...) Competência jurisdicional. RE 507.153-AgR RTJ 205/1424

PrPn Sessão de julgamento. (...) Intimação criminal. HC 92.569 RTJ 205/779

PrSTF Sigilo fiscal e bancário: quebra. (...) Recurso extraordinário. AI 573.623-QO RTJ 205/1441

Ct Sistema de conta única de depósito judicial e extrajudicial. (...) Pro-cesso legislativo. ADI 3.458 RTJ 205/665

Ct Sistema Sisbacen: acesso negado ao Tribunal de Contas da União. (...) Banco Central. MS 22.801 RTJ 205/161

PrPn Situação excepcional. (...) Habeas corpus. HC 94.307-QO RTJ 205/409

PrPn Situação mais gravosa: impossibilidade. (...) Ação penal. HC 94.273 RTJ 205/1410

PrPn Situação objetivamente idêntica. (...) Habeas corpus. HC 86.424-ex-tensão-segunda RTJ 205/761 – HC 94.273 RTJ 205/1410

Trbt Sociedade civil sem fins lucrativos. (...) Salário-educação. RE 405.444-AgR RTJ 205/429

PrPn Subprocuradora-geral da República: acompanhamento da oitiva de testemunha. (...) Suspeição. ES 5 RTJ 205/1011

PrSTF Subscrição: ausência. (...) Recurso extraordinário. RE 504.873-AgR RTJ 205/1422

Pn Substituição por restritiva de direitos. (...) Pena. HC 92.224 RTJ 205/353

PrCv Sucumbência. (...) Honorários advocatícios. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Trbt Sujeito passivo. (...) Salário-educação. RE 405.444-AgR RTJ 205/429

PrCv Súmula 266. (...) Mandado de segurança. MS 26.464 RTJ 205/738 – MS 26.494 RTJ 205/213

PrSTF Súmulas 282 e 356. (...) Recurso extraordinário. AI 682.486-AgR RTJ 205/935

PrCv Súmula 287. (...) Agravo regimental. AR 1.853-AgR RTJ 205/1104PrCv Súmula 289. (...) Agravo regimental. AI 549.481-AgR RTJ 205/1432Int Súmula 421. (...) Extradição. Ext 1.073 RTJ 205/1066 – Ext 1.104 RTJ

205/601

Page 526: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Súm-Teo — ÍNDICE ALFABÉTICO1526

PrCv Súmula 505: inaplicabilidade. (...) Ação rescisória. AR 1.853-AgR RTJ 205/1104

Int Súmula 523. (...) Extradição. Ext 1.068-QO RTJ 205/1062

PrPn Súmula 691: abrandamento. (...) Habeas corpus. HC 90.172 RTJ 205/1267 – HC 91.150 RTJ 205/310 – HC 92.335-MC RTJ 205/361 – HC 92.417 RTJ 205/776 – HC 93.134 RTJ 205/378 – HC 93.769 RTJ 205/406

PrPn Súmula 692. (...) Habeas corpus. HC 92.664-AgR RTJ 205/791

PrPn Súmula 716: interpretação extensiva. (...) Livramento condicional. HC 92.417 RTJ 205/776

Trbt Súmula 732. (...) Salário-educação. RE 405.444-AgR RTJ 205/429

Ct Supremo Tribunal Federal (STF). (...) Competência originária. AO 1.047 RTJ 205/576 – ACO 1.058 RTJ 205/38

PrCv Supremo Tribunal Federal (STF): incompetência. (...) Mandado de segurança. MS 26.204-AgR-ED RTJ 205/209

PrSTF Supremo Tribunal Federal (STF): incompetência. (...) Reclamação. Rcl 4.990-MC-AgR RTJ 205/712

PrPn Supressão de instância. (...) Habeas corpus. HC 88.083 RTJ 205/1230 – HC 90.688 RTJ 205/263 – HC 91.118 RTJ 205/765 – HC 92.495 RTJ 205/1357

PrPn Suspeição. Não-caracterização. Cônjuges integrantes do Ministério Público: atuação sucessiva no mesmo processo. Subprocuradora-geral da República: acompanhamento da oitiva de testemunha. In-tervenção efetiva na investigação: ausência. ES 5 RTJ 205/1011

PrCv Suspensão de liminar. Norma ambiental e de comércio exterior. Controle de constitucionalidade: descabimento. Lei 8.437/92, art. 4º: limites. STA 118-AgR RTJ 205/519

PrCv Suspensão de liminar. (...) Tutela antecipada. STA 118-AgR RTJ 205/519

PrCv Suspensão de tutela antecipada. Esgotamento da instância recursal: desnecessidade. Preliminar de não-conhecimento: reconhecimento. STA 118-AgR RTJ 205/519

TPrCv Teor do acórdão embargado: manutenção. (...) Embargos de declara-

ção. RE 240.441-AgR-ED RTJ 205/415

Page 527: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Ter-Tra 1527

Trbt Termo de Acordo de Regime Especial (TARE) 1/98: revogação. (...) Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). ACO 541 RTJ 205/1019

Ct Termo de Acordo de Regime Especial (TARE) 44/99: identidade de objeto. (...) Ação cível originária. ACO 541 RTJ 205/1019

PrPn Termo inicial: data da recaptura. (...) Execução penal. HC 92.000 RTJ 205/350

PrCv Tese sustentada: plausibilidade. (...) Medida cautelar. AC 2.011-MC RTJ 205/613

PrPn Testemunha admitida na empresa em data posterior ao fato ocorrido. (...) Prova criminal. HC 83.417 RTJ 205/756

PrPn Tipicidade da conduta. (...) Ação penal. HC 90.023 RTJ 205/1255Ct Tomada de contas. (...) Tribunal de Contas da União (TCU). MS

25.641 RTJ 205/732PrPn Tráfico de entorpecente. (...) Habeas corpus. HC 86.789 RTJ 205/252PrPn Tráfico de entorpecente. (...) Liberdade provisória. HC 93.302 RTJ

205/388PrPn Tráfico de entorpecente. (...) Processo criminal. HC 86.789 RTJ

205/252Int Tráfico de entorpecente, associação para o tráfico e lavagem de di-

nheiro. (...) Extradição. Ext 1.104 RTJ 205/601PrPn Tráfico de entorpecente e associação para o tráfico. (...) Liberdade

provisória. HC 91.118 RTJ 205/765PrPn Tráfico de entorpecente e associação para o tráfico. (...) Prisão em

flagrante. HC 92.495 RTJ 205/1357PrPn Tráfico internacional de entorpecente. (...) Habeas corpus. HC

93.207 RTJ 205/1390PrPn Trancamento. (...) Ação penal. HC 86.466 RTJ 205/244PrPn Trancamento: descabimento. (...) Ação penal. HC 86.424-extensão-

segunda RTJ 205/761 – HC 90.023 RTJ 205/1255 – HC 90.795 RTJ 205/1295

Pn Trancamento da ação penal: não-extensão. (...) Quadrilha ou bando. HC 86.032 RTJ 205/231

PrTr Transcendência: reflexos gerais de natureza econômica, política, so-cial ou jurídica. (...) Competência jurisdicional. ADI 2.527-MC RTJ 205/44

Page 528: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Tra-Tri — ÍNDICE ALFABÉTICO1528

PrPn Transferência para presídio federal em outra unidade da federação. (...) Prisão preventiva. HC 93.391 RTJ 205/1397

PrPn Trânsito em julgado. (...) Sentença condenatória. HC 90.274 RTJ 205/1282

Pn Trânsito em julgado da decisão condenatória: desnecessidade. (...) Regime prisional. RHC 92.872 RTJ 205/1376

PrPn Trânsito em julgado da sentença condenatória: inocorrência. (...) Pri-são especial. Rcl 4.713 RTJ 205/703

PrPn Trânsito em julgado da sentença condenatória: irrelevância. (...) Ação penal. HC 91.650 RTJ 205/1312

PrSTF Trânsito em julgado posterior da decisão do STF: irrelevância. (...) Reclamação. Rcl 5.151 RTJ 205/143

Adm Transporte aéreo. (...) Processo administrativo. MS 25.787 RTJ 205/1160

Ct Transporte coletivo intermunicipal. (...) Competência legislativa. ADI 845 RTJ 205/29

Ct Transporte coletivo municipal. (...) Competência legislativa. ADI 845 RTJ 205/29

Int Tratado Brasil–Itália. (...) Extradição. Ext 1.118 RTJ 205/1079Int Tratado Brasil–Peru. (...) Extradição. Ext 1.073 RTJ 205/1066Int Tratado Brasil–Reino Unido. (...) Extradição. Ext 1.104 RTJ 205/601Ct Tribunal de Contas da União (TCU). Tomada de contas. Decadên-

cia administrativa. Lei 8.443/92. MS 25.641 RTJ 205/732PrCv Tribunal de Contas da União (TCU): reconhecimento da ilegalidade

da parcela. (...) Mandado de segurança. MS 24.580 RTJ 205/181Ct Tribunal de Contas estadual. Conselheiro: indicação. Estado-mem-

bro: criação com a promulgação da CF/88. CF/88, art. 235: ofensa inocorrente. Decreto legislativo estadual 9/98/RR. ADI 1.903 RTJ 205/607

Ct Tribunal de Contas municipal. Cargo de procurador: conversão em procurador de justiça do Ministério Público estadual. Concurso pú-blico: ausência. CF/88, arts. 37, II; 73, § 2º, I; e 130: ofensa. ADCT da Constituição do Estado do Ceará/89, art. 16: inconstitucionalidade. ADI 3.315 RTJ 205/100

Ct Tribunal Regional Federal (TRF). Eleição. Cargo de direção: universo de magistrados elegíveis. Matéria reservada a lei comple-mentar federal. Loman/79, art. 102: recepção pela CF/88. Regimento

Page 529: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE ALFABÉTICO — Tri-Van 1529

Interno do TRF da 3ª Região, arts. 3º, caput; e 11, I, a: inconstitucio-nalidade. ADI 3.566 RTJ 205/105

Ct Tribunal Regional Federal (TRF). Eleição. Cargo de direção: uni-verso de magistrados elegíveis. Matéria reservada a lei complemen-tar federal. Previsão regimental: impossibilidade. Corregedor-geral: suspensão do exercício do cargo. Decisão na ADI 3.566: aparente ofensa. Rcl 5.158-MC RTJ 205/149

Ct Tribunal Regional Federal (TRF). Presidente e vice-presidente. Eleição: procedimento. CF/88, art. 96, I, a. Lei 7.727/89, art. 4º, ca-put. ADI 3.566 RTJ 205/105

PrCv Tutela antecipada. Suspensão de liminar. Importação de pneumáti-cos usados. Grave lesão à ordem pública. Preservação da saúde e do meio ambiente e livre exercício de atividade econômica: ponderação. CF/88, arts. 170 e 225. STA 118-AgR RTJ 205/519

UPrCv União e Estado-membro: conflito federativo. (...) Ação civil pública.

ACO 876-MC-AgR RTJ 205/537Ct União Federal. (...) Competência legislativa. ADI 2.875 RTJ

205/1137 – ADI 3.896 RTJ 205/1141Adm Unidade pagadora: retenção e restituição do Imposto de Renda (IR).

(...) Vencimentos. MS 25.641 RTJ 205/732PrPn Unificação da pena: requisitos. (...) Habeas corpus. HC 89.097 RTJ

205/1244Ct Urgência e relevância. (...) Medida provisória. ADI 2.527-MC RTJ

205/44PrPn Uso de celular mediante autorização judicial. (...) Júri. AO 1.047 RTJ

205/576

VAdm Vaga reservada a portador de deficiência. (...) Concurso público.

RMS 26.071 RTJ 205/203Adm Vantagem. Agente de segurança penitenciária. Regime Especial de

Trabalho Policial (RETP). Gratificação de trabalho noturno. Acumu-lação vedada. Lei Complementar estadual 506/87/SP: inaplicabilida-de. CF/88, arts. 7º, IX; e 37, XIV. RE 185.312 RTJ 205/799

Adm Vantagem pecuniária: restabelecimento. (...) Servidor público. RE 507.153-AgR RTJ 205/1424

Page 530: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

Ven-Vít — ÍNDICE ALFABÉTICO1530

Adm Vencimentos. Atraso no pagamento. Juros de mora. Unidade paga-dora: retenção e restituição do Imposto de Renda (IR). Devolução ao erário: desnecessidade. Dúvida quanto à interpretação da norma. Boa-fé do servidor. MS 25.641 RTJ 205/732

Adm Vencimentos. Servidor público. Reajuste automático. Vinculação a arrecadação de ICMS e a índice de correção monetária. CF/88, arts. 37, XIII; 96, II, b; e 167, IV: ofensa. Lei Complementar estadual 101/93/SC: inconstitucionalidade. RE 218.874 RTJ 205/411

PrCv Vencimentos: isonomia. (...) Embargos de declaração. RE 240.441- AgR-ED RTJ 205/415

Adm Vereador. (...) Aposentadoria especial. RE 172.582 RTJ 205/795Adm Vinculação a arrecadação de ICMS e a índice de correção monetária.

(...) Vencimentos. RE 218.874 RTJ 205/411Adm Vinculação ao salário mínimo. (...) Remuneração. ADPF 47 RTJ

205/11Adm Vínculo com a administração pública: irrelevância. (...) Servidor

público. MS 24.580 RTJ 205/181PrPn Vítima: não-índio e nacionalidade falsa. (...) Habeas corpus. HC

91.121 RTJ 205/284

Page 531: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE NUMÉRICO

Page 532: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou
Page 533: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

5 (ES) Rel. p/ o ac.: Min. Menezes Direito ............. 205/101147 (ADPF) Rel.: Min. Eros Grau ........................................... 205/11

118 (STA-AgR) Rel.: Min. Ellen Gracie .................................... 205/519191 (ADI) Rel.: Min. Cármen Lúcia ................................... 205/15541 (ACO) Rel.: Min. Gilmar Mendes ............................. 205/1019712 (MI-QO) Rel.: Min. Eros Grau ...................................... 205/1029845 (ADI) Rel.: Min. Eros Grau .......................................... 205/29876 (ACO-MC-AgR) Rel.: Min. Menezes Direito ............................. 205/537906 (Ext-ED) Rel.: Min. Marco Aurélio .............................. 205/1035980 (ADI) Rel.: Min. Menezes Direito ........................... 205/1041

1.047 (AO) Rel.: Min. Joaquim Barbosa ............................ 205/5761.058 (ACO) Rel.: Min. Cezar Peluso ..................................... 205/381.068 (Ext-QO) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................ 205/10621.073 (Ext) Rel.: Min. Celso de Mello ............................. 205/10661.098 (Ext-QO) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................. 205/10761.104 (Ext) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................... 205/6011.118 (Ext) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................. 205/10791.193 (AC-MC-QO) Rel.: Min. Gilmar Mendes ............................ 205/10841.421 (Rcl) Rel.: Min. Gilmar Mendes ............................ 205/10901.853 (AR-AgR) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................ 205/11041.903 (ADI) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski .................. 205/6072.011 (AC-MC) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski .................. 205/6132.395 (ADI) Rel.: Min. Gilmar Mendes ............................... 205/6182.424 (Inq-QO) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................... 205/6382.424 (Inq-QO-QO) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................... 205/6562.527 (ADI-MC) Rel.: Min. Ellen Gracie ...................................... 205/442.648 (ADI-MC) Rel. p/ o ac.: Min. Ricardo Lewandowski ...... 205/822.832 (ADI) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................ 205/11072.862 (ADI) Rel.: Min. Cármen Lúcia ............................... 205/1125

Page 534: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE NUMÉRICO1534

2.875 (ADI) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski .................. 205/11373.315 (ADI) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................... 205/1003.458 (ADI) Rel.: Min. Eros Grau ......................................... 205/6653.566 (ADI) Rel. p/ o ac.: Min. Cezar Peluso ....................... 205/1053.615 (ADI-ED) Rel.: Min. Cármen Lúcia .................................. 205/6803.660 (ADI) Rel.: Min. Gilmar Mendes ................................ 205/6863.756 (ADI-ED) Rel.: Min. Carlos Britto .................................... 205/1243.896 (ADI) Rel.: Min. Cármen Lúcia ................................. 205/11413.929 (ADI-MC-QO) Rel.: Min. Ellen Gracie ..................................... 205/1304.018 (ADI-MC) Rel.: Min. Joaquim Barbosa ............................. 205/1344.713 (Rcl) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................... 205/7034.990 (Rcl-MC-AgR) Rel.: Min. Gilmar Mendes ................................ 205/7125.151 (Rcl) Rel.: Min. Menezes Direito .............................. 205/1435.158 (Rcl-MC) Rel.: Min. Cezar Peluso ..................................... 205/1495.192 (Rcl) Rel.: Min. Menezes Direito .............................. 205/7195.310 (Rcl) Rel.: Min. Cármen Lúcia .................................. 205/1557.456 (CC) Rel.: Min. Menezes Direito ............................ 205/11497.498 (CC-AgR) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................... 205/728

22.801 (MS) Rel.: Min. Menezes Direito ............................... 205/16124.580 (MS) Rel.: Min. Eros Grau .......................................... 205/18124.584 (MS-AgR) Rel. p/ o ac.: Min. Ricardo Lewandowski .... 205/115625.641 (MS) Rel.: Min. Eros Grau ......................................... 205/73225.787 (MS) Rel.: Min. Gilmar Mendes .............................. 205/116026.071 (RMS) Rel.: Min. Carlos Britto .................................... 205/20326.204 (MS-AgR-ED) Rel.: Min. Cármen Lúcia .................................. 205/20926.464 (MS) Rel.: Min. Cármen Lúcia .................................. 205/73826.494 (MS) Rel.: Min. Cármen Lúcia .................................. 205/21326.614 (RMS-AgR) Rel.: Min. Menezes Direito .............................. 205/21926.682 (MS) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................... 205/74426.700 (MS) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski .................. 205/118726.967 (RMS) Rel.: Min. Eros Grau ......................................... 205/74881.396 (RHC) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................... 205/22381.489 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................... 205/22781.691 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso ..................................... 205/75382.862 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................... 205/120183.417 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................... 205/75685.541 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................. 205/120786.032 (HC) Rel.: Min. Celso de Mello ................................. 205/23186.424 (HC-extensão- segunda) Rel.: Min. Gilmar Mendes ................................ 205/76186.466 (HC) Rel.: Min. Menezes Direito .............................. 205/24486.789 (HC) Rel.: Min. Gilmar Mendes ................................ 205/25287.255 (HC) Rel.: Min. Celso de Mello ................................. 205/25787.724 (HC) Rel.: Min. Gilmar Mendes .............................. 205/121388.052 (HC) Rel.: Min. Celso de Mello ............................... 205/122688.083 (HC) Rel.: Min. Ellen Gracie ................................... 205/1230

*

Page 535: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE NUMÉRICO 1535

88.473 (HC) Rel.: Min. Marco Aurélio ............................... 205/123588.995 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................... 205/124189.097 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................. 205/124489.143 (HC) Rel.: Min. Ellen Gracie ................................... 205/124890.023 (HC) Rel.: Min. Menezes Direito ............................ 205/125590.172 (HC) Rel.: Min. Gilmar Mendes .............................. 205/126790.174 (HC) Rel. p/ o ac.: Min. Menezes Direito .............. 205/127690.274 (HC) Rel.: Min. Menezes Direito ............................ 205/128290.645 (HC) Rel. p/ o ac.: Min. Menezes Direito ................ 205/26090.688 (HC) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................... 205/26390.795 (HC) Rel.: Min. Marco Aurélio ............................... 205/129590.936 (HC) Rel.: Min. Carlos Britto .................................... 205/28091.024 (HC) Rel.: Min. Ellen Gracie ................................... 205/130391.118 (HC) Rel.: Min. Menezes Direito .............................. 205/76591.121 (HC) Rel.: Min. Gilmar Mendes ............................... 205/28491.150 (HC) Rel.: Min. Menezes Direito .............................. 205/31091.386 (HC) Rel.: Min. Gilmar Mendes ............................... 205/32291.631 (HC) Rel.: Min. Cármen Lúcia ................................... 205/34191.650 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................... 205/131291.651 (HC) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski .................. 205/131892.000 (HC) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................... 205/35092.012 (HC) Rel.: Min. Ellen Gracie ................................... 205/132692.170 (HC-segundo julgamento) Rel. p/ o ac.: Min. Ricardo Lewandowski ... 205/133092.224 (HC) Rel.: Min. Carlos Britto ..................................... 205/35392.235 (HC) Rel.: Min. Menezes Direito ............................ 205/133292.282 (RHC) Rel.: Min. Celso de Mello ................................. 205/35692.304 (HC) Rel.: Min. Ellen Gracie ................................... 205/133992.332 (HC-AgR) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................. 205/134992.335 (HC-MC) Rel.: Min. Cezar Peluso ..................................... 205/36192.340 (HC) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................. 205/135292.417 (HC) Rel.: Min. Eros Grau ......................................... 205/77692.495 (HC) Rel.: Min. Ellen Gracie .................................... 205/135792.569 (HC) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................... 205/77992.626 (HC) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................... 205/78592.664 (HC-AgR) Rel.: Min. Cezar Peluso ..................................... 205/79192.680 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................. 205/136292.848 (HC) Rel.: Min. Ellen Gracie ................................... 205/136992.872 (RHC) Rel.: Min. Cármen Lúcia ................................ 205/137692.912 (HC) Rel.: Min. Cármen Lúcia .................................. 205/36592.926 (HC) Rel.: Min. Ellen Gracie ................................... 205/138592.961 (HC) Rel.: Min. Eros Grau ......................................... 205/37293.134 (HC) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................... 205/37893.207 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................. 205/139093.302 (HC) Rel.: Min. Cármen Lúcia .................................. 205/38893.391 (HC) Rel.: Min. Cezar Peluso .................................. 205/1397

Page 536: Revista Trimestral de Jurisprudência - stf.jus.br · ao inquérito, consoante atesta o Auto de Qualificação e Interrogatório (fls. 521 e 522), não tendo formulado perguntas ou

ÍNDICE NUMÉRICO1536

93.769 (HC) Rel.: Min. Joaquim Barbosa ......................... 205/40693.916 (HC) Rel.: Min. Cármen Lúcia ............................ 205/140494.273 (HC) Rel.: Min. Eros Grau .................................... 205/141094.307 (HC-QO) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................ 205/409

172.582 (RE) Rel.: Min. Menezes Direito .......................... 205/795185.312 (RE) Rel.: Min. Menezes Direito .......................... 205/799213.583 (RE-EDv) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................. 205/803218.874 (RE) Rel.: Min. Eros Grau ...................................... 205/411240.441 (RE-AgR-ED) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................. 205/415248.018 (RE) Rel.: Min. Joaquim Barbosa ......................... 205/422353.657 (RE) Rel.: Min. Marco Aurélio ............................. 205/807405.444 (RE-AgR) Rel.: Min. Cezar Peluso ................................. 205/429472.489 (RE-AgR) Rel.: Min. Celso de Mello ........................... 205/1413479.887 (RE) Rel.: Min. Carlos Britto ................................. 205/434504.873 (RE-AgR) Rel.: Min. Cezar Peluso ............................... 205/1422507.153 (RE-AgR) Rel.: Min. Eros Grau .................................... 205/1424515.366 (RE-AgR) Rel.: Min. Cezar Peluso ............................... 205/1427540.995 (RE) Rel.: Min. Menezes Direito .......................... 205/463549.481 (AI-AgR) Rel.: Min. Cezar Peluso ............................... 205/1432559.882 (RE-QO) Rel.: Min. Gilmar Mendes .......................... 205/1434569.476 (RE-AgR) Rel.: Min. Ellen Gracie ................................. 205/468573.623 (AI-QO) Rel.: Min. Gilmar Mendes .......................... 205/1441598.715 (AI-AgR) Rel.: Min. Marco Aurélio ............................ 205/1445655.339 (AI-ED) Rel.: Min. Cezar Peluso .............................. 205/1448682.486 (AI-AgR) Rel.: Min. Ricardo Lewandowski ................ 205/935

* Acórdão prolatado por Ministro diverso do Relator da causa.