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Revista VOX MUSEI arte e patrimnio
Volume 1, nmero 2, julho-dezembro
2013 Tema Patrimnio, Educao e Museus
ISSN 2182-9489, e-ISSN 2182-0002
Revista Internacional Comisso Cientfica
e Reviso por Pares (sistema double blind review)
Centro de Investigao e de Estudos em Belas-Artes
da Universidade de Lisboa, Portugal
Grupo de Pesquisa, CNPq Memria, Ensino
e Patrimnio Cultural, Universidade Federal
do Piau, Brasil
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CONSELHO EDITORIAL PARES ACADMICOS
NMERO 2
PARES ACADMICOS INTERNOS
urea da Paz Pinheiro, Brasil
Universidade Federal do Piau
Universidade de Lisboa
Alice Nogueira Alves, Portugal
Universidade de Lisboa
Edvania Assis, Brasil
Universidade Federal do Piau
rica Rodrigues Fontes, Brasil
Universidade Federal do Piau
Fernando Antnio Baptista Pereira, Portugal
Universidade de Lisboa
Joo Paulo Queiroz, Portugal
Universidade de Lisboa
Jorge dos Reis, Portugal
Universidade de Lisboa
Lus Jorge Gonalves, Portugal
Universidade de Lisboa
Marta Rovai, Brasil
Universidade Federal do Piau
Roseli Farias Melo de Barros, Brasil
Universidade Federal do Piau
PARES ACADMICOS EXTERNOS
ngela ncora da Luz, Brasil
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Cristiane de Andrade Buco, Portugal
Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro
Eloisa Capovila da Luz Ramos, Brasil
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Enrique Caetano Henriquez, Espanha
Universidade de Sevilha
Jos Antonio Aguiar, Espanha
Universidade de Sevilha
Manuel Calado, Portugal
Instituto Politcnico de Setbal
Maria de Ftima Pereira Alves, Portugal
Universidade Aberta
Marta Rosa Borin, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria
Mila Simes de Abreu, Portugal
Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro
Miridan Bugyja Britto Falci, Brasil
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Nuno Sacramento, Reino Unido
Scottish Sculpture Workshop
Olga Duarte Pia, Espanha
Universidade de Sevilha
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Editorial
urea da Paz Pinheiro
PG. 16-17
Artigos
CENTRO DE INTERPRETAO DO PAMPA:
a construo de um museu universitrio-comunitrio
PAMPAS UNDERSTANDING CENTER: the construction
of a community college museum.
Alexandre dos Santos Villas Bas
Helosa Helena Fernandes Gonalves da Costa
PG. 20-32
A CONSERVAO E RESTAURO
NA FACULDADE DE BELAS-ARTES
THE CONSERVATION AND RESTORATION
AT THE FACULTY OF FINE ARTS
Alice Nogueira Alves
Fernando Antnio Baptista Pereira
Fernando Rosa Dias
PG. 33-42
MUSEOS DE LA MEMORIA Y EDUCACIN
PARA LOS DERECHOS HUMANOS. Un estudio
de caso: MUME Uruguay
MEMORY MUSEUMS AND EDUCATION ABOUT THE
HUMAN RIGHTS. A case study: MUME Uruguay
Ana Mara Sosa Gonzlez
PG. 43-54
MUSEUS DO DISTRITO DE VISEU: a construo
de uma rede de proximidade territorial
MUSEUMS OF DISTRICT OF VISEU: framing
of a territorial proximity network.
Ana Rita Santos Almeida Martins Antunes
PG. 55-68
O MUSEU DE ARTE DO RIO MAR:
quando navegar preciso
RIO DE JANEIRO MUSEUM OF ART:
for when you need to browse
ngela ncora da Luz
PG. 69-77
UNIVERSIDADE, EDUCAO, MUSEUS
E AO PATRIMONIAL
UNIVERSITY, EDUCATION, MUSEUMS AND CREATING
PATRIMONIAL SITES.
urea da Paz Pinheiro
Eloisa Capovila da Luz Ramos
Marta Rosa Borin
PG. 78-91
UM MUSEU DE ARTE UNIVERSITRIO BRASILEIRO:
histrias de um projeto de arte em devir?
A BRAZILIAN UNIVERSITY ART MUSEUM: stories
of an art project in becoming?
Carolina Ruoso
PG. 92-103
O FOTOGRFICO COMO PATRIMNIO IMATERIAL
PHOTOGRAPHY AS IMMATERIAL HERITAGE
Maria Ceclia Silveira de Faria Gomes
PG. 104-112
PROJETO CULTURAL SARAU NOTURNO:
desenvolvendo a Educao Patrimonial
atravs da arte cemiterial
CULTURAL PROJECT SARAU NOTURNO: developing
the Heritage Education through cemeterial art
Clarisse Ismrio
PG. 113-127
NDICE
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ARTE E COMUNIDADES: Um Arquivo Potico
sobre o Envelhecimento
COMMUNITY ART: A Poetic Archive on Aging
Constana Saraiva
PG. 128-138
MUSEOLOGIA E INTEGRAO: reflexes sobre
as condies de possibilidade na Amrica Latina
MUSEOLOGY AND INTEGRATION: reflections about
the conditions of possibility in Latin America
Daniel Maurcio Viana de Souza
PG. 139-147
O PATRIMNIO CINEMATOGRFICO E O GOVERNO
DOS HOMENS: as polticas de subjetivao postas em
funcionamento nas relaes interculturais
da contemporaneidade
THE CINEMATIC HERITAGE AND THE GOVERNMENT
OF MEN: the politics of subjectivization put into
operation in intercultural relations of contemporary
Fbio Zanoni
PG. 148-167
NARRATIVAS MUSEAIS NA UNIVASF:
caminhos a/r/togrficos em construo
MUSEOLOGICAL NARRATIVES IN UNIVASF:
a/r/tographic ways under construction
Flvia Maria de Brito Pedrosa Vasconcelos
PG. 168-175
INTERAES DISCURSIVAS NO TRABALHO
DE MEDIAO EM ARTES VISUAIS
DISCURSIVE INTERACTIONS IN THE PROCESS
OF MEDIATION IN VISUAL ARTS
Gabriela Bon
PG. 176-186
DESENVOLVIMENTO DO PBLICO INTERNO.
Reflexes acerca da importncia de se investir nos
funcionrios de museus
DEVELOPMENT OF INTERNAL AUDIENCE. Reflections
about the importance of investing in museum employees
Gabriela Figurelli
PG. 187-199
MUSEUS E CRIATIVIDADE
MUSEUMS AND CREATIVITY
Ins Ferreira
PG. 200-214
A PAREDE DA RUA: modernidade do museu
ao contrrio
THE WALL STREET: modernity of the unlike museum
Isabel Nogueira
PG. 215-221
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
E APROPRIAO SOCIAL NO CONJUNTO
HISTRICO PRAA DA GRAA
ENVIRONMENTAL SUSTAINABILITY AND SOCIAL
APPROPRIATION IN PRAA DA GRAA
HISTORICAL SET
sis Meireles Rodrigues
PG. 222-234
MUSEUS LOCAIS: conservao
e produo da memria coletiva
LOCAL MUSEUMS: preservation and production of
collective memory
Joana Ganilho Marques
PG. 235-246
EDUCAO PATRIMONIAL E PRODUO AUDIOVISUAL
HERITAGE EDUCATION AND AUDIOVISUAL PRODUCTION
Joo Paulo Rodrigues Pires
PG. 247-254
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A MUSEOLOGIA BRASILEIRA: novo marco regulatrio
BRAZILIAN MUSEOLOGY: a new regulatory mark
Jos Ricardo Ori Fernandes
PG. 255-262
OS MUSEUS COMO ESPAOS DE SOCIABILIDADE:
as experincias educativas do museu de mrtola
MUSEUMS AS SPACES OF SOCIABILITY: the
educational experiences of mrtolas museum
Lgia Rafael
Maria de Ftima Palma
PG. 263-275
A EDUCAO DO RISCO:
uma proposta de insero scioeconmica
THE RISK EDUCATION:
a proposal for socioeconomic inclusion
Lus Gustavo de Nascimento
PG. 276-281
VISANDO INCLUSO SOCIAL:
criaes a partir do patrimnio
IN SEARCH OF SOCIAL INCLUSION:
creations from patrimony
Mrcia Isabel Teixeira de Vargas
Marilda Mena Barreto Silva Saucedo
PG. 282-294
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO MONTE:
histria, identidade e preservao
CHURCH OF OUR LADY OF MOUNT:
history, identity and preservation
Maria da Graa Andrade Dias
PG. 295-308
UM PROJETO DE NOVAS TECNOLOGIAS APLICADO
NA CASA-MUSEU DR. ANASTCIO GONALVES
NEW TECHNOLOGIES PROJECT APPLIED AT
CASA-MUSEU DR. ANASTCIO GONALVES
Mariana Mendes de Mesquita
PG. 309-322
LA ENSEANZA DEL PATRIMONIO EN LA
FORMACIN INCIAL DEL PROFESORADO. Desde
una perspectiva histrico-artstica a una didctica
del patrimonio cultural integrado.
HERITAGE TEACHING IN TEACHER TRAINING.
From an art-historical perspective to a didactic
of cultural integrated heritage.
Olga Duarte Pia
PG. 323-335
A RECONSTRUO HISTRICA DE OBJETOS
DE CINCIA E TECNOLOGIA
RECONSTRUCTION OF HISTORICAL OBJECTS
OF SCIENCE AND TECHNOLOGY
Paulo de Melo Noronha Filho
PG. 336-347
MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA
E LARGO DO DR. JOS DE FIGUEIREDO:
linha que une uma experincia de interveno concreta
MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA AND LARGO
DO DR. JOS DE FIGUEIREDO: Connecting line
specific intervention experience
Pedro Soares Neves
PG. 348-357
A MUSEALIZAO DO PATRIMNIO
CULTURAL DO BAR OCIDENTE
THE MUSEALIZATION OF BAR OCIDENTE
CULTURAL HERITAGE
Priscila Chagas Oliveira
PG. 358-367
ARTE, ARQUEOLOGIA E MUSEUS.
Correspondncias e Mediaes Contemporneas
ART, ARCHAEOLOGY AND MUSEUMS. Contemporary
Correspondences and Mediations
Sara Navarro
PG. 368-375
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O MATERIAL E O IMATERIAL NA COLEO
ETNOGRFICA DE COZINHA DO MUSEU
CARLOS MACHADO
THE GENESIS OF THE INDUSTRIAL AND
DECORATIVE ARTS MUSEUMS
Sofia Carolina Pacheco Botelho
PG. 376-388
A GNESE DOS MUSEUS DE ARTES
INDUSTRIAIS E DECORATIVAS
THE TANGIBLE AND THE INTANGIBLE AT THE
OF THE CARLOS MACHADO MUSEUM
Sofia Leal Rodrigues
PG. 389-402
ISTO NO UM BANDEIRANTE! O trabalho de
mediao na exposio imagens recriam a histria
THIS IS NOT A BANDEIRANTE! The educational work in
the exhibition images recreate the history
Valria Peixoto de Alencar
PG. 403-415
Resenha
TEMPO, MEMRIA E PATRIMNIO CULTURAL
urea da Paz Pinheiro
PG. 418-420
Crtica de Arte e Design
Senhores de seu ofcio
Cssia Moura
PG. 422-425
Entrevista
A MUSEOLOGIA CONTEMPORNEA
Fernando Antnio Baptista Pereira
PG. 428-443
Notas de Dissertaes e Teses
MUSEUS DO DISTRITO DE VISEU: a construo
de uma rede de proximidade territorial
Museums of District of Viseu: framing of a territorial
proximity network.
Ana Rita Santos Almeida Martins Antunes
ARTE E COMUNIDADES, UM ARQUIVO POTICO
SOBRE O ENVELHECIMENTO
Community Art, a Poetic Archive on Aging
Constana Saraiva
PG. 446-447
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Editorialurea da Paz Pinheiro
A Revista VOX MUSEI arte e patrimnio est vinculada ao Grupo de Pesquisa,CNPq, Universidade Federal do Piau Memria, Ensino e Patrimnio Cultural,e ao CIEBA, Centro de Investigao e de Estudos da Faculdade de Belas-Artes daUniversidade de Lisboa.
A seleo da temtica justifica-se pela percepo de que, atualmente, se re-conhece o papel fundamental que os museus exercem como instrumentos depesquisa, educao, salvaguarda e divulgao do patrimnio cultural e natural.Citem-se os desafios impostos aos Estados Membros da ONU s comunidadese s instituies governamentais e no-governamentais, as investigaes, refle-xes e intervenes nos territrios; emblemticos os inventrios do patrim-nio cultural imaterial, divulgao e estudos da diversidade de metodologias epropostas tericas, suportes textuais, orais e audiovisuais como forma de apro-ximar e compreender as normas orientadoras propostas pela Conveno daUnesco de 2003.
Portanto, indiscutvel as potencialidades dos patrimnios, dos museus, dasartes, do turismo, dos saberes e fazeres presentes nos territrios e nas comunida-des para estudo, investigao, sensibilizao e visibilidade da diversidade cultu-
ral brasileira e portuguesa.O ICOM International Council of Museums (l974) destaca que o museudeve construir formas diversas de relacionar-se com os pblicos, com as pessoasnas comunidades; tendo em linha de conta que o museu [] uma instituiopermanente, sem fins lucrativos, a servio da sociedade e de seu desenvolvimen-to, aberta ao pblico, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e exibe, parafins de estudos, educao e lazer, evidncia material das pessoas e de seumeio ambientes.
Neste nmero da Revista VOX MUSEI arte e patrimnio, os autores apontamvrios caminhos de investigao, estudo e interveno, com destaque para a fun-o social dos museus, as aes educativas, a diversidade cultural, a participaocomunitria, o acesso da sociedade s manifestaes culturais e ao patrimniomaterial e imaterial.
Nos textos, destacam-se os servios educativos dos museus. A ao educa-cional compreendida como de fundamental importncia para o desenvolvi-mento do processo museolgico; os acervos so apontados como referncias im-portantes para o desenvolvimento das aes educacionais nos museus, levando
em considerao a misso das instituies e os anseios dos atores sociais com osquais os projetos dos museus estejam a desenvolverem-se. So recorrentes nosartigos as teorias educativas e as correntes pedaggicas que refletem sobre asaes dos museus, as concepes de Patrimnios, Museus e Museologia no con-texto de aes educacionais, os mtodos e tcnicas, levando em considerao as
Pinheiro,
ureadaPaz(2013)Editorial.RevistaVoxMuse
i
arteepatrimnio.
ISSN2182-9
489.
Vol.1(2):pp.
16-17
.
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especificidades de cada museu e patrimnios, bem como o perfil e os anseios deseus usurios, pblicos, comunidades.
Destaca-se tambm a importncia da elaborao do Projeto Poltico-Peda-
ggico para orientar o planejamento, a execuo e a avaliao das aes educa-cionais oferecidas pelos museus e pela escola, aes relacionadas com as iden-tidades e memrias.
Nesse sentido, a Revista VOX MUSEI forja um espao de debates e reflexescom investigadores iberoamericanos, desafiando-os a elaborarem anlises sobreo papel do patrimnio, da educao e dos museus, nomeadamente neste sculo,marcado pela dinmica informativa e comunicacional, pela diversidade de cul-turas, perspectivas e olhares sobre o mundo.
Reafirma-se que o peridico publica trabalhos inditos que versem de formatransdisciplinar sobre arte, patrimnio e museus, estudos que valorizem a me-mria social, educao, identidades, organizaes e refelxes sobre acervos, pa-trimnio, museus, pblicos, sociedade, acessibilidade e sustentabilidade, almde outros objetos, temas, problemas e abordagens relacionados.
No que se refere poltica padro de seo de artigos, resenhas, crtica de artee design, ensaios, entrevistas, relatrios e notas de dissertaes e teses, a revistapossibilita submisses abertas e avaliadas pelos pares.
Patrimnio, Educao e Museus tornaram-se sinnimos de marcadores iden-
titrios, memria social, cidadania, sustentabilidade. A articulao, contudo, no propriamente nova; as interligaes entre esses campos de saber-fazer estiverama inspirar no passado e no presente significados culturais; rotineiramente incor-poraram objetos e lugares associados s memrias sociais e s narrativas; mesmocom a globalizao e mundializao, as culturas continuam firmando-se emsuas histrias, identidades e memrias. Arte, Patrimnio e Museus se articulamcom memrias, culturas, identidades, sustentabilidade, a cada dia, entrelaam-seos sentimentos de pertencimento cultural/social das pessoas; cada vez mais, a de-finio do que pode ser incorporado e excludo do patrimnio e da memria socialintegra as tticas polticas de cerceamento e afirmao de identidades culturais
Ao se disponibilizar tambm on line o contedo da revista pretende-se am-pliar uma rede de pesquisadores e pblico interessados nos debates que envol-vem as temticas centrais do peridico.
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CENTRO DE INTERPRETAO DO PAMPA:a construo de um museu universitrio-comunitrioPAMPAS UNDERSTANDING CENTER: the construction of a communitycollege museum.
Alexandre dos Santos Villas BasUniversidade Federal do Pampa, Programa de Ps-Graduao em Patrimnio Cultural
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Brasil
Helosa Helena Fernandes Gonalves da CostaUniversidade Federal da Bahia; colaboradora do Mestrado em Museologia
e Patrimnio da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
e do Mestrado em Patrimnio Cultural da UFSM
Resumo: O presente artigo o resultado de pesquisas para a dissertao de mestradoem Patrimnio Cultural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a qual temcomo temtica a implantao do projeto do Centro de Interpretao do Pampa (CIP),rgo complementar da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), na cidade deJaguaro, estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Palavras-chave: Patrimnio. Cultura. Educao.
Abstract:This paper is the result of the research for Masters Dissertation about Cul-tural Heritage of the Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), which has as atheme the implantation of the Pampas Understanding Center (CIP), complementaryorgan of the Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), in Jaguaro city, in RioGrande do Sul State, Brasil.
Keywords: Heritage. Culture. Education.
INTRODUO
Este artigo tem o objetivo de analisar a revitalizao de um patrimnio histri-co tombado pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico (IPHAN), trata-sedas runas de uma antiga enfermaria militar do Exrcito Brasileiro, datada de1883. Este prdio teve, ao longo de sua histria, diversos usos, desde instalaode sade, passando por escola, priso poltica e finalmente runas, aps um pe-rodo de depredao.
Esta proposta de revitalizao deveu-se iniciativa da prefeitura municipal
de Jaguaro em conjunto com o IPHAN, no sentido de implantar na regio dacampanha do estado do Rio Grande do Sul, um museu com a temtica local,inicialmente voltada a personagens histricos da Revoluo Farroupilha, tendosido mudado seu foco para algo mais abrangente e caracterstico, como o pampagacho. Existindo na cidade um Campus universitrio, com cursos de cinciashumanas, como Histria, Letras, Pedagogia e Turismo, a prefeitura e o IPHAN
VillasBas,AlexandredosSantos;Costa,HelosaH
elenaFernandesGonalvesda(2013)Cen
trodeInterpretaodoPampa:aconstruo
deum
museuuniversitrio-co
munitrio.
RevistaVoxMuseiarteepatrim
nio.ISSN2182-9489.Vol.1(2):pp.20-32
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delegaram a gesto da implantao do projeto e de seu posterior funcionamen-to, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), tomando o projeto, nestemomento, a denominao de Centro de Interpretao do Pampa, um rgo com-
plementar da universidade.Para fazer a anlise deste processo de implantao, utilizaremos uma abor-dagem interdisciplinar, principalmente com os conceitos tericos adquiridosem nossa pesquisa para dissertao de Mestrado em Patrimnio Cultural daUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM). Devido extenso da pesquisa,abordaremos uma verso sintetizada neste artigo, focalizando aspectos gerais,como o conhecimento histrico do patrimnio a ser revitalizado e o projeto ar-quitetnico, no que tange aos seus espaos principais e formas possveis de inte-rao entre o novo local revitalizado com a comunidade.
Em um primeiro momento, utilizaremos a anlise histrica para delinear osusos que teve o prdio da antiga enfermaria militar, procurando demonstrar sualigao e importncia para a cidade de Jaguaro, como local de memria dos diver-sos segmentos de pessoas que a utilizaram. Como haver uma ruptura com o pro-cesso de revitalizao do local, ser importante evocar suas antigas funes, paraque sejam preservadas como testemunho e ponto de inflexo do projeto do CIP.
Aps isso, passaremos a apresentar o projeto arquitetnico, principalmentena rea da expografia e na concepo da temtica, que ser o pampa gacho. Em
uma viso geral, pretendemos analisar as intenes do arquiteto com esta obrade revitalizao e sua pertinncia nas teorias museolgicas atuais, mas voltandonosso olhar para a realidade local e as prticas utilizadas pelos entes envolvi-dos na gesto de sua execuo, realidade esta que tende a apresentar divergnciacom o projetado.
Finalmente, procuraremos levantar possveis problemticas envolvidas em umprocesso de revitalizao de um patrimnio cultural, especialmente o dilogo exis-tente, ou no, com a comunidade envolvida e, em tese, detentora deste patrimnio.Tambm proporemos, atravs das ferramentas da educao patrimonial, possveissolues que visem minorar os impactos inevitveis em um projeto desse porte, no-tadamente quando envolve a memria e a identidade de uma comunidade.
A metodologia utilizada ser a reviso bibliogrfica de autores das diversasreas envolvidas, como a histria, arquitetura e educao patrimonial, alm derelatos orais, pesquisa em jornais e em arquivos que contenham fontes prim-rias, como projetos, plantas arquitetnicas e demais documentos. Tambm apesquisa de campo, j que o projeto est em fase de execuo, com visitas ao can-teiro de obras e visitas guiadas com a comunidade, verificando suas opinies so-
bre a transformao do local. Como historiador vinculado a UNIPAMPA, pode-mos ter uma viso privilegiada das transformaes ocorridas, desde a concepodo projeto at a histria do patrimnio cultural e sua relao com a comunidade,aplicando conjuntamente com a teoria da rea do patrimnio uma possvel abor-dagem que vise ao entendimento dos processos de patrimonializao, que vemsendo frequentemente utilizados no Brasil e cada vez com maior intensidade.
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Portanto, como concluso do presente artigo, pretendemos que o leitortenha uma viso geral do projeto de revitalizao de um patrimnio culturalespecfico, com suas particularidades e impactos na comunidade local; que as
particularidades possam servir de parmetro para uma anlise mais abrangenteda poltica de preservao de patrimnio no Brasil, a qual se insere em questesmais universais de patrimnio mundial, reconhecendo que estas ltimas temcada vez mais um papel disseminador ao nvel local. Ainda nossa inteno de-monstrar que este processo, por suas caractersticas, sui generis por envolver aimplantao de um museu que teve sua origem na comunidade mas ser admi-nistrado por uma universidade, envolvendo implicaes que fogem ao escopopuramente tcnico-terico. Pretendemos ao trmino, que as nossas propostassirvam para a construo de um modelo museal alicerado na participao ativada comunidade, democrtico e de desenvolvimento humano atravs da cultura.
1. O CONTEXTO HISTRICO DA ENFERMARIA
MILITAR E A CIDADE DE JAGUARO
A cidade de Jaguaro, localizada no extremo sul do Brasil, na fronteira com o Uru-guai, com cerca de 28.000 habitantes, fica distante de Porto Alegre, capital do estadodo Rio Grande do Sul, aproximadamente 380 km, tendo como divisa natural entre
os dois pases um rio, que tem a mesma denominao da referida cidade fronteiria.A histria desta cidade est interligada com as questes de fronteira entre os Imp-rios de Portugal e Espanha, no contexto maior de disputa pela regio do rio da Prata,grande via de escoamento comercial das colnias espanholas e que Portugal queriater uma participao no aproveitamento deste fluxo para suas colnias.
O longo processo de luta entre Espanha e Portugal pelo controle da bacia do Prata se deu
pelas vias diplomticas e militar, intercalando a conquista e a reconquista do chamado
Continente de So Pedro ou o Tape. O Rio Grande do Sul s se tornou realidade sob
a permanente vglia das armas. A simples sucesso administrativa o comprova: basta
ver que todos os seus governantes, de 1737 a 1822, isto , desde a fundao do primeiro
povoado portugus at a independncia do pas, foram militares (MARTINS, 2001:34).
O processo de ocupao do territrio de onde seria a cidade de Jaguaro ocor-reu atravs de uma expedio militar, no ano de 1802, com o intuito de instalaruma guarda de fronteira, denominada de Guarda do Cerrito, bem em frente ao
rio, controlando por sua vez, as possveis investidas espanholas. Este cartermilitar de formao inicial do territrio ir ser uma caracterstica marcante naformao do ncleo urbano, que inicialmente visava ao aprovisionamento dosmilitares, mas foi beneficiando-se da proximidade da fronteira para estabelecerfluxos comerciais, nem sempre pelas vias oficiais.
VillasBas,AlexandredosSantos;Costa,HelosaH
elenaFernandesGonalvesda(2013)Cen
trodeInterpretaodoPampa:aconstruo
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munitrio.
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Desde muito cedo, as comunidades dos dois lados da linha divisria tenderam a prtica
de uma economia solidria e complementar, que as barreiras fiscais jamais conseguiram
disciplinar. O famigerado contrabando, hostilizado pelos governos (nem sempre com
muita sinceridade e coerncia) e combatido pelas praas comerciais que ele prejudicava,sobreviveu a todas as perseguies (FRANCO, 2001:18).
Este duplo carter, militar e comercial, tornou a cidade de Jaguaro impor-tante local para a manuteno do territrio como tambm do escoamento co-mercial, o qual intensificou-se com o estabelecimento das charqueadas na cida-de Pelotas e algumas na prpria cidade. Naquele momento a navegao fluvialera de extema importncia para o Rio Grande do Sul, devido s dificuldades deacesso ao porto da cidade do Rio Grande, nico porto martimo do estado.
O sculo XIX foi o perodo de desenvolvimento da regio, fundamentado na produo
do gado, no comrcio (legal e ilegal), em atividades subsidirias que surgiram na regio,
como o cultivo trigo e o de uvas (efmero). A produo de charque na regio tambm
teve papel importante na economia local. Se em Jaguaro no se desenvolveu um nmero
grande desta indstria, seu gado abasteceu as charqueadas da regio, principalmente dos
muncipios de Pelotas e Bag. Este desenvolvimento ocorreu ao lado de crises constantes,
resultado das contradies entre os interesses da coroa portuguesa (depois Imprio doBrasil), dos criadores e dos charqueadores, principalmente em funo de preos, taxas e
impostos (MARTINS, 2001:55).
O fato que, ao final do sculo XIX, a cidade de Jaguaro possua um gran-de excedente de capital proveniente destas atividades, aliada a sua importnciamilitar, com grande efetivo estacionado na fronteira, comeou a demandar umaorganizao urbana mais complexa, com influncia europia. Imponentes casa-res foram construdos ao longo de largas avenidas ao estilo ecltico, demons-trando a pujana econmica e tambm o poderio da classe dominante.
fato que alguns latifundirios criadores de gado conseguiram privilgios bancados pelo
Estado atravs de influncias polticas, porm o que se observou ao analisar o processo his-
trico do Rio Grande do Sul, que a regio da fronteira sul, dependente fundamentalmen-
te da pecuria, no induziu a um crescimento que gerasse uma futura industrializao
nas suas cidades. Por sua vez, esta rede urbana pouco funcionou como apoio produo
rural, caracterizando-se sim como centro de apoio poltico e social (MARTINS, 2001:275).
Neste contexto, que ao final do sculo XIX, mais precisamente em 1881, ini-cia-se a construo de um hospital militar, mais tarde denominado de enferma-ria militar. Sua arquitetura de estilo neoclssico tinha propores de um grande
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ficou[...] antes era uma enfermaria[...] ate sessenta, sessenta e poucos, sessenta foi o ano
que a gente veio pra Jaguarao[...] a minha irm disse que em 62 ela foi visitar algum l
que era nosso amigo. Ele tava no quartel e que tava doente[...] ento ainda era enfermaria.
Ai depois terminou[...] no sei se foi o quartel que se mudou[...] no sei o que aconteceu[...]que acabou[...] que no tinha mais enfermaria l[...] como ficou assim sem uso. Ai as irms
resolveram fazer uma escola, um anexo da escola normal[...] tinham uma diretora, uma
equipe (Instituto de Memria e Patrimnio, 2011).
O funcionamento desta escola foi breve, e o prdio da enfermaria militar fi-cou novamente sem uso, at o ano de 1964, quando estourou um golpe de estadomilitar-civil. Durante o perodo inicial do golpe houveram muitas prises e aenfermaria militar foi utilizada como priso temporria para averiguaes desupostos subversivos ao novo regime ditatorial. Logo em seguida, o prdio foinovamente abandonado pelo exrcito, no tendo mais nenhuma funo, almde depsito de materiais. No incio da dcada de setenta, ocorreu a depredaodo prdio da antiga enfermaria militar pela comunidade, que efetuou uma des-truio tamanha que reduziu a imponente construo de estilo neoclssico emrunas, como se houvesse sido bombardeada.
Segundo testemunho do Sr. Cassiano Gomez dos Santos, que presenciou a de-
predao e era ex-militar, tendo servido no exrcito na cidade de Jaguaro, a su-posta culpa do fato seria de um descuido administrativo do exrcito para com oprdio. Uma mulher pediu pro comandante, as telhas do isolamento, que tinhacado[...] no pode levar, ela tava tirando[...] ai passou algum[...] no o comandan-te me deu mas vinham tal[...] parecia formiga[...] da avisaram[...] tinha gente decaminho pra levar as coisas[...] da tiveram que botar as coisas ai pra dentro[...]da comeou a destruio[...] da comeou os maloqueiros[...] naquele tempo eramos maloqueiros que tomavam conta daqui[...] os drogados[...] agora disseram quetinha um xadrez aqui[...] xadrez eu nunca vi[...] foi xadrez na poca da revoluoque pegaram os comunistas tudo e trouxeram pra c[...] (Instituto de Memriae Patrimnio, 2011). As runas da antiga enfermaria militar ficaram, a partir deento, como smbolo do que outrora havia existido, de forma melanclica. Suahistria anterior ficou guardada na memria da comunidade, principalmente da-queles que frequentaram, ou tiveram contato com o prdio. No alto da cidade, per-manecia os vestgios materiais de uma instituio que prestou servios relevantesa comunidade, mas agora utilizada como local visitao espordico de turistas,intrigados com quelas runas e de segmentos marginalizados da comunidade.
Na dcada de oitenta, um grupo de alunos do curso de arquitetura da Univer-sidade Federal de Pelotas, criaram um projeto denominado Jaguar, que tinha oobjetivo de realizar um inventrio arquitetnico da cidade, inclundo a evoca-o da histria das runas da antiga enfermaria militar e a inteno de revitaliz--las, atravs de um projeto arquitetnico.
Iniciaram aes de educao patrimonial com a comunidade, procurando
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demonstrar a importncia daquelas runas para a histria da cidade e sua poss-vel utilizao como espao de atividades culturais. Em 1990, conseguiram queo Instituto do Patrimnico Histrico e Artstico Estadual (IPHAE), realizasse o
tombamento das runas. Em conjunto com a prefeitura idealizaram a constru-o de um parque e de uma arena de espetculos, sendo somente feito o parque,de forma modesta, que rapidamente foi depredado, como mostra uma notciaexibida em um jornal local.
O imvel a que se refere o artigo 1 desta Portaria destina-se a execuo de projeto paisa-
gstico, compreendendo a recuperao do prdio da Antiga Enfermaria do 33 Batalho
de Infantaria Motorizada, do Ministrio do Exrcito, a construo de pequeno teatro de
vero; de ptio ou local de artesanato e exposio de objetos folclricos; de centro de in-
formaes tursticas; de reas de estar, bem como o tratamento de reas verdes, inclusive
com introduo de espcies ornamentais e nativas (A Folha, 1987:03).
No ano de 2009, a prefeitura municipal de Jaguaro, em com conjunto como IPHAN, iniciou tratativas para a construo de um museu com a temtica dafronteira. Como j havia o precedente do projeto Jaguar de revitalizao das ru-nas da enfermaria militar, resolveu-se utilizar aquele local como base para o
futuro museu. Foi contratado o escritrio Brasil Arquitetura para elaborao doprojeto arquitetnico e museolgico, tendo sido entregue em 2010, com a deno-minao de Centro de Interpretao do Pampa (CIP) o qual abordaremos, commais detalhes abaixo e suas possveis problemticas de implantao.
2. O PROJETO DO CIP E SEU PROCESSO DE IMPLANTAO
A opo pela mudana de nome de Museu do Pampa, para Centro de Interpretao,deveu-se a ampliao da temtica da expografia museolgica, tendo o bioma pam-pa como objeto de fundo para dentro dela, inserir as diversas abordagens possveis,desde a formao geolgica at o histrico de ocupao humana, a flora e a fauna.
Uma das aplicaes da museologia do territrio o centro de interpretao. Nascido na
Amrica do Norte, sobretudo nos parques naturais, esse mtodo de valorizao do patri-
mnio desenvolve-se por toda parte como meio de apresentao de um patrimnio de
proximidade: stio natural, arqueolgico, histrico, espao caracterstico de uma paisa-
gem, de um modo de vida, de uma aldeia ou bairro. No repousa unicamente em colees
ou mesmo em objetos tridimensionais, mas pode utilizar todos os meios modernos deexplicao, de ilustrao e de demonstrao (VARINE, 2012:188).
Esta mudana de orientao permitiu aos arquitetos ampliarem o escopodo projeto, prevendo utilizar as runas da antiga enfermaria militar como base
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para a exposio museogrfica, restaurando suas partes que ainda permitiameste tipo de interveno e acrescentando uma construo moderna, nas partesfaltantes do prdio, delimitando bem o novo do antigo. Alm da revitalizao
das runas, foi projetado um auditrio subterrneo escavado na pedra, um anfi-teatro localizado em uma antiga pedreira nas proximidades das runas e prdiospara exposies temporrias e apoio tcnico-administrativo.
Ciriane caracterizou de muito perceptiva a genealogia mista do museu como tipo na tra-
jetria do movimento moderno: Os museus, como as igrejas, criam uma expectativa no
pblico mais amplo. Espera-se que o projeto seja uma obra de arquitetura, e o arquiteto
tem permisso para expressar-se com mais liberdade (FRAMPTON, 2012:462).
A proposta, ento, tomou uma amplitude que a prefeitura da cidade de Ja-guaro, com parcos recursos econmicos, no teria como financiar e gerir esteprojeto. Neste momento foi cedida a gesto do futuro CIP Universidade Fede-ral do Pampa, a qual teria maiores condies tcnicas e financeiras de dar conti-nuidade a implantao do projeto.
[...] Tambm num segundo momento, firmou-se o convnio entre a UNIPAMPA e a Prefei-
tura Municipal de Jaguaro, que tem por objetivo dar continuidade ao desenvolvimentodo projeto do Centro de Interpretao do Pampa, sendo que ambos se responsabilizaram
de cooperar para a implantao e a gesto desse importante espao cultural que ser er-
guido nas runas da Enfermaria Militar ( A FOLHA, 2010:8).
A UNIPAMPA uma universidade criada dentro da poltica de expanso universi-tria, empreendida pelo Ministrio da Educao, de deslocar para fora dos grandes cen-tros o ensino universitrio. Foi implementada em 2006, tendo como abrangncia dezcidades da regio da fronteira oeste do Rio Grande do Sul, cada uma sendo sede de umcampus e Jaguaro, um destes campi. A implantao do CIP foi centrada na Reitoria,que tem sede na cidade de Bag, cerca de 260 Km de Jaguaro. Por se tratar da revitaliza-o de um patrimnio cultural de extrema importncia para a memria e identidade dacomunidade, seu processo de implantao requer alguns cuidados, sob pena de o novouso do patrimnio no dialogar com a comunidade, a qual tem outra memria do local.
O patrimnio est ligado ao tempo por sua evoluo e por seus ritmos. Ele tem um pas-
sado, um presente e um futuro. Se o desenvolvimento se efetua no presente, portanto apartir de um patrimnio constatado a um dado momento, ele no pode ignorar suas ori-
gens ele no pode igualmente se limitar a consumi-lo sem nada criar de novo. Quanto aos
ritmos, ou ao menos aos ritmos endgenos, eles so produto e resultado do patrimnio.
No se pode fazer nenhum desenvolvimento sem levar em conta os ritmos da vida local,
que fazem parte integrante da cultura viva da populao. (VARINE, 2012:20).
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Portanto, a implantao deste museu universitrio-comunitrio a melhorforma de defin-lo, no sentido de que no algo pronto, acabado, mas sim umcomplexo cultural que leve em conta a dinmica da sociedade local, para que a
mesma utilize este espao como promotor de desenvolvimento humano e de-mocratizador da cultura, em seu sentido mais amplo. Ou seja, a compreensode que um espao como este, deve ser construdo e utilizado em parceria com acomunidade, a mesma apropriando-se dos conceitos atravs de uma educaopatrimonial, que faa esta ponte entre o patrimnio e qualidade de vida.
Buscamos compreender, tambm, o conceito de cidade saudvel, cuja caracterstica en-
fatizar a sade de seus cidados dentro de uma tica ampliada de qualidade de vida, e isso
implica incluir o direito a cultura, ao conhecimento e ao uso dos bens culturais de uma
comunidade. Na maioria dos casos, os gestores e os dirigentes municipais no sabem exa-
tamente o que fazer com o elemento cultura nos seus municpios, pensam que algo su-
prfluo e correm para atender a rea da sade e da educao, que esto dentro dos conceitos
tradicionais, sem promover um olhar holstico e transdisciplinar sobre eles (COSTA, 2010).
Ao final do ano de 2011, foram iniciadas as obras de implantao do CIP,sendo inicialmente contempladas as obras de estabilizao das runas da antiga
enfermaria militar, construo do auditrio subterrneo e prdios de apoio. Area do futuro complexo foi cercada e a comunidade comeou a ver a paisagem,que por tantos anos perdurara, sendo transformada, causando um impacto naexpectativa com o que estaria acontecendo dentro daquele cercamento.
A gesto das obras ficou ao encargo da UNIPAMPA, mais voltada aos aspectosburocrticos e tcnicos de fiscalizao e aplicao dos recursos pblicos. Por seruma isntituio recente, possui um corpo tcnico reduzido e pouco experientecom obras de tamanho vulto que envolvem, alm do aspecto arquitetnico, aquesto de tratar-se de um prdio tombado pelo IPHAN e IPHAE. Estes rgos,mais a prefeitura municipal, ficaram com um papel de consultoria e fiscaliza-o, embora demandem universidade outras questes polticas que envolvemo CIP, a exemplo de uma maior participao na sua concepo museogrfica e deuso do complexo. A proposta do presente trabalho, em relao a essas questes, de uma maior participao da comunidade e dos gestores dentro dos princpiosda Educao Patrimonial, visando esclarecer a importncia do patrimnio cul-tural que so as runas da enfermaria militar, bem como dialogar a respeito daconcepo museolgica, apresentando o projeto de forma didtica e dialgica.
Trata-se de um processo permanente e sistemtico de trabalho educacional centrado no
Patrimnio Cultural como fonte primria de conhecimento e enriquecimento individual
e coletivo. Isto significa tomar os objetos e expresses do Patrimnio Cultural como pon-
to de partida para a atividade pedaggica, observando-os, questionando-os e explorando
todos os seus aspectos, que podem ser traduzidos em conceitos e conhecimentos. S aps
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esta explorao direta dos fenmenos culturais, tomados como pistas ou indcios
para a investigao, se recorrer ento s chamadas fontes secundrias, isto , os livros
e textos que podero ampliar esse conhecimento e os dados observados e investigados di-
retamente. A partir da experincia e do contato direto com as evidncias e manifestaesda cultura, em todos os seus mltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da
Educao Patrimonial busca levar as crianas e adultos a um processo ativo de conheci-
mento, apropriao e valorizao de sua herana cultural, capacitando-os para um me-
lhor usufruto destes bens, e propiciando a gerao e a produo de novos conhecimentos,
num processo contnuo de criao cultural (HORTA, 1999).
Neste caso do projeto do CIP, esta Educao Patrimonial deve envolver tam-bm os gestores, os quais precisam estar conectados com as demandas da comu-nidade, principalmente nos usos que o patrimnio revitalizado ter, para evitar--se a elitizao das funes do complexo cultural aos membros tradicionais quecirculam entre a academia e a chamada alta cultura. A chave para o sucessodesta integrao comunidade-academia-gestores locais se dar pela democrati-zao de informaes sobro o projeto e principalmente o vislumbre, pela comu-nidade, de utilizao deste espao como algo importante para suas vidas.
Dessa forma, o delicado trabalho de tecer as relaes entre os museus e a so-
ciedade que os acolhe e nas quais eles esto inseridos, fazendo com que essasinstituies tenham um papel preponderante de atores sociais, na verdade,a elaborao de uma tessitura, que a semelhana da costura de uma colcha deretalhos, cada parte inserida na trama tem uma funo que contribui para queoutra funo se complete. Isso significa que as colees dos museus, ao seremcompreendidas como objeto da vida cotidiana, mostram as faces e as almas dosseres humanos, seja as dos que construram aqueles determinados objetos, sejaas dos que deram usos diversos a eles, seja as dos pesquisadores que desvelam osmistrios e segredos de cada pea estudada (COSTA, 2011).
Algumas propostas concretas de Educao Patrimonial poderiam ser im-plementadas conjuntamente com o andamento da obra. Em primeiro lugar, autilizao de um stio na rede mundial de dados, com informaes do projeto,histrico e andamento das obras, disseminando nas redes sociais a instigaopor maiores informaes. Tambm visitas guiadas ao canteiro de obras, comoforma de demonstrar como est ocorrendo a revitalizao do patrimnio cultu-ral, realando aspectos histricos e arquitetnicos. A organizao de palestrase encontros para apresentao do projeto em locais pblicos como Cmara de
Vereadores, sales comunitrios de associaes de bairro.Estas aes permitiriam obter um retorno do que a comunidade pensa a respei-to do projeto; ao mesmo tempo em que o conhecimento fosse democratizado, asadeses e apropriaes pela comunidade do novo uso do patrimnio seriam faci-litadas. A Educao Patrimonial pode ser assim um instrumento de alfabetizaocultural que possibilita ao indivduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levan-
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do-o compreenso do universo sociocultural e da trajetria histrico-temporalem que est inserido. Este processo leva ao desenvolvimento da autoestima dosindivduos e comunidades, e valorizao de sua cultura, como prope Paulo Frei-
re em sua idia de empowerment, de reforo e capacitao para o exerccio da au-toafirmao (HORTA, 1999). Como o local escolhido para a implantao do CIP, asrunas da antiga enfermaria militar, j foi objeto de tentativas de revitalizao emoutro momento histrico, percebe-se que pode correr o risco de, no futuro quandoem funcionamento, no obter relaes saudveis por no ter sido feito pela comu-nidade, pelo menos na forma inclusiva que vemos defendendo. Por esta comple-xa interao entre diversos atores no processo de formao do projeto e sua im-plantao, que se configura como essencial este dilogo constante e qualificado.
O perigo tornar o local voltado a um turismo meramente econmico, ou de purafruio para alguns poucos. Este processo de enobrecimento de um patrimnio cultu-ral, neste caso se daria pelas escolhas dos gestores e falta de participao da comunidade.
A despeito dessas diferentes experincias e em meio inacabada discusso acerca das
caractersticas e do prprio conceito de gentrification, h um aspecto que parece con-
sensual entre os estudiosos do assunto: espaos enobrecidos resultam quase sempre de
alteraes substanciais de usos e usurios (seja mediante processos indutivos ou no),
e implicam invariavelmente demarcaes socioespaciais excludentes (LEITE, 2007:371).
A incluso no processo de implantao do projeto, a democratizao de in-formaes, atravs da participao conjunta da comunidade e gestores, ser pri-mordial para o xito do mesmo, no que tange a sua efetiva funo de promoodo desenvolvimento humano atravs da cultura, da memria e da identidade.
Foi muito interessante constatar que muito mais do que entrar nos museus para apren-
der alguma coisa, as pessoas desejavam sentir nos museus alguma forma de vida; que
pode ser a vida delas mesmas, a partir de lembranas despertadas pelos objetos e textos
expostos e ento estaremos diante do fenmeno da memria resgatada; ou reconhecer
nos museus outras formas de vidas j vividas, que parecidas ou no com as delas mesmas,
se relacionam umas com as outras pelo fato de que apresentam similitudes de seres hu-
manos no contexto diversificado das culturas, e nesse caso, o que se apresenta a mem-
ria social, e portanto, coletiva (COSTA, 2010).
A nossa proposta baseia-se no estabelecimento de um dilogo, que permi-ta a construo de um museu universitrio-comunitrio, voltado promooe sustentabilidade do desenvolvimento humano atravs da Educao Patrimo-nial aliada a interdisciplinaridade de conhecimentos para a apropriao, pelacomunidade, do espao revitalizado.
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CONSIDERAES FINAIS
No presente artigo, pretendemos apresentar os resultados parciais obtidos atra-
vs da pesquisa para a dissertao de Mestrado em Patrimnio Cultural da Uni-versidade Federal de Santa Maria (UFSM). A temtica da dissertao trata sobreo processo de implantao do Centro de Interpretao do Pampa(CIP), um mu-seu que ter como gestor a Universidade Federal do Pampa(UNIPAMPA).
Este processo de implantao vem da iniciativa do poder pblico munici-pal em parceria com o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional(IPHAN), na inteno de revitalizar um patrimnio cultural que so as runas deuma antiga Enfermaria Militar, as quais so objeto de memria e identidade dacidade de Jaguaro, onde esto localizadas, na fronteira com o Uruguai.
Apresentamos um panorama histrico da cidade de Jaguaro, da formaode seu ncleo urbano e tambm do prdio da Enfermaria Militar do ExrcitoBrasileiro, construda para servir ao atendimento dos militares da regio. Tam-bm nos referimos aos diversos usos que teve o prdio at a sua fase de runas, econsequentes tentativas de revitalizao, culminando no projeto do CIP.
Em nossa viso, atravs do estudo de autores voltados rea do patrimnioe da Educao Patrimonial, podemos chegar a algumas consideraes em rela-o ao processo de implantao do CIP, ora em curso. Em primeiro lugar, h
necessidade de democratizar o acesso aos conceitos do projeto, seus objetivos efinalidade. Sem essa premissa bsica, o processo poder correr o risco de tornar--se desconectado com a realidade social da comunidade.
Para isto, propomos aes voltadas para a educao patrimonial, tanto de ges-tores como da comunidade, com um dilogo na forma de apresentao do pro-jeto de forma didtica e de fcil compreenso e acesso a mais ampla camada dacomunidade, preferencialmente em locais pblicos, como Cmara de Vereadorese associaes de bairro, alm de visitas guiadas ao canteiro de obras, demonstran-do as diversas etapas de restauro de um prdio tombado, para que a comunidadevislumbre e se aproprie do futuro espao. Finalmente, gostaramos de dizer que anossa pretenso de lanar, com este estudo, as bases para uma viso mais partici-pativa no processo de implantao de museus com gesto estatal; que a partir des-te estudo de caso se solidifiquem cada vez mais, os preceitos de democratizao dacultura, como elemento indissocivel da qualidade de vida de uma comunidade.
Contactar os autores: [email protected] [email protected]
Artigo submetido a 30 de Abril e aprovado a 15 de Maio de 2013
REFERNCIAS
A FOLHA. Jaguaro, mar. 1987, pg. 03.
A FOLHA. Jaguaro, jan. 2010, pg. 08.
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A CONSERVAO E RESTAURO NA FACULDADE DE BELAS-ARTESTHE CONSERVATION AND RESTORATION AT THE FACULTY OF FINE ARTS
Alice Nogueira AlvesFaculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
Fernando Antnio Baptista PereiraFaculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
Fernando Rosa DiasFaculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
Resumo:A Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa tem vindo a imple-mentar uma formao na rea da Conservao e Restauro que abrange os trs ciclosde estudos do Ensino Superior. Neste texto so desenvolvidos os seus objectivos econtedos, dentro de uma base terica comum.
Palavras-chave: Ensino. Licenciatura. Mestrado. Doutoramento. Conservao e Restauro.
Abstract:The Faculty of Fine Arts of the University of Lisbon is implementing a Con-servation and Restoration education that covers the three cycles of higher educationstudies. In this text the authors develop its objectives and contents, within a common
theoretical base.
Keywords: Education. Degree. Master. PhD. Conservation and Restoration.
APRESENTAO E ANTECEDENTES
A misso da Faculdade de Belas-Artes a formao, a investigao e a disseminao do saber
nos domnios da arte, da cultura e da cincia que lhe so historicamente reconhecidos bem como
nos domnios emergentes da criao contempornea. A Faculdade de Belas-Artes tem por objecti-
vo contribuir, para o desenvolvimento do conhecimento cientfico nas reas que lhe so prprias,
para a qualificao dos recursos humanos necessrios ao desenvolvimento e para o conhecimento
avanado num contexto global, preservando e enriquecendo o patrimnio artstico, cultural e cien-
tfico de Portugal.(Estatutos, 2009)
Indo ao encontro dos objectivos presentes nos seus Estatutos, a Faculdade deBelas-Artes tem vindo a implementar o regresso da Conservao e Restauro ao
seu seio. Sublinhamos a palavra regresso, porque esta prtica comeou a desen-volver-se na Academia de Belas-Artes logo a partir de 1836.Inicialmente sob a orientao dos professores de Pintura Histrica, como
Antnio Manuel da Fonseca, a responsabilidade em restaurar a vasta colecode pintura que passou para a sua posse nesta altura, foi sendo atribuda a v-rias pessoas. Entre as diversas personalidades, devemos destacar Luciano Freire,
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tambm professor nesta casa, considerado o grande precursor do Restauro combases fundamentadas em critrios e princpios ticos das primeiras dcadas dosculo XX (Alves, 2011). A partir do seu trabalho formou-se uma nova gerao de
tcnicos que vieram a trabalhar para o Museu Nacional de Arte Antiga e, a partirde 1965, para o Instituto Jos de Figueiredo.Desde ento o prprio Restauro mudou. A Histria do sculo XX, rica em
acontecimentos e grandes tericos, encarregou-se de promover e desenvolver areflexo de conceitos e princpios ticos, bem como a parceria entre a Cincia ea Arte. Vimos a ligao entre estas duas grandes reas aprofundar-se com resul-tados importantes na interveno sobre o nosso Patrimnio, passando esta a serum acto conscientemente informado de todas as dimenses histricas, estticase materiais do objecto.
Actualmente, consensual que as componentes artstica e cientfica no podemser dissociadas na formao dos novos Conservadores Restauradores, sendo este as-peto valorizado neste regresso do Restauro a casa. Esta colaborao interdiscipli-nar obtida atravs do apoio de professores e instituies exteriores, entre as quaisdestacamos a Faculdade de Cincias e o Centro de Fsica Atmica da Universidadede Lisboa, com quem estabelecemos um intercmbio de conhecimentos e experin-cias muito enriquecedor para os nossos alunos e, tambm, para os professores.
Com o objectivo de facultar aos alunos uma abrangncia de graus completa,
a nossa oferta de formao inicia-se no 1. ciclo com a Licenciatura em Cinciasda Arte e do Patrimnio,com uma forte componente relacionada com a Conser-vao e Restauro, em funcionamento deste o ano lectivo de 2008/2009. Em 2012entrou em funcionamento o Mestrado em Cincias da Conservao, Restauro e Pro-duo de Arte Contemporneae a especializao noDoutoramento em Belas-Artes,de Museologia, Conservao e Restauro.
1. LICENCIATURA EM CINCIAS DA ARTE E DO PATRIMNIO
No ano lectivo de 2008/2009 abriu na Faculdade de Belas Artes a Licenciatura emCincias da Arte e do Patrimnio, considerando que as reas da Museologia e daConservao do Patrimnio se encontram includas na designao do grandegrupo das Cincias da Arte (Pereira, Dias, 2011: 215):
[] a reflexo terica e a prtica dirigida conservao e restauro da arte (e necessariamente da
prpria arte contempornea) faz confluir a conscincia da materialidade da arte (fundamentada
a investigao fsico-qumica dos prprios materiais), o vasto saber humanstico sobre ela acumu-
lado[]e as processualidades tcnicas do fazer, conhecimento indispensvel interveno sobrequalquer tipo de obra.(Pereira, Dias, 2011: 220)
A licenciatura tem um enquadramento ps-Bolonha, sendo constituda portrs anos, podendo os alunos no fim seguir o seu caminho por trs vertentes especficas
Alves,
AliceNogueira;BaptistaPe
reira,
FernandoAntnio;RosaDias,
Fernando(2013)AConservaoeRestauro
naFaculdadedeBelas-Ar
tes.
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489.
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de formao: a Crtica de Arte, a Museologia e Curadoria de Exposies e a Con-servao e Restauro de Obras de Arte. Em seguida iremos ocupar-nos exclusiva-mente desta ltima rea de formao.
A necessidade de se implementar um curso desta natureza na Universidadede Lisboa surgiu de uma anlise profunda oferta de formao existente no nos-so pas, onde se verificou a ligao cada vez maior da Conservao e Restauro sCincias exactas, comeando a descurar-se a da componente artstica e estti-ca dos objectos. Esta componente artstica, ligada ao processo de produo e aomodo como a obra foi sendo encarada pelas vrias sociedades que usufruramdela e da sua mensagem, so conhecimentos essenciais na formao do futuroConservador Restaurador. A sensibilidade esttica assim educada, tornando--se um elemento essencial para a realizao de uma interveno fundamentada,no s nas caractersticas fsicas e qumicas do objecto, mas em todas as suasdimenses histricas, estticas e culturais, valorizadas pelo prprio contexto dapea. Deste modo, considera-se este regresso assente num novo dilogo entreas competncias cientficas, as competncias humansticas e as competnciastecnolgico-artsticas, que, a bem dizer, s pode ter lugar no espao das Belas--Artes, com as Cincias da Arte. (Pereira, Dias, 2011: 222). Este saber-fazer fazparte da formao da nossa Faculdade, bem como todo o ensino da Histria daArte, da Esttica e da Teoria do Restauro essenciais para esse complemento.
Com este objectivo, o Plano de Estudos articula trs reas de capacitao ouaquisio de competncias:
Formao artstica com incidncia no Desenho, na Cultura Visual, na Geometria,na Anatomia e nas Tecnologias Artsticas.
Formao cientfico-tcnica com incidncia na Fsica e Qumica dos Mate-riais, nas Tcnicas Laboratoriais de Diagnstico e na Teoria e Prtica do Restauro.
Formao Humanstica com incidncia na Histria da Arte, na Esttica e na Teoriada Arte, mas tambm nos domnios da Crtica de Arte e da Museologia.
O Plano de Estudos prope tambm uma progresso e diversificao, ao lon-go dos trs anos, em qualquer uma das trs reas, assim como uma acentuadainterdependncia entre elas, culminando na formao de profissionais habilita-dos a intervir em distintos mas complementares domnios das chamadas Cin-cias da Arte e do Patrimnio.
Para garantir a qualidade de ensino nas trs reas, recorreu-se aos docentes doGrupo de Cincias da Arte, assim como de outros grupos disciplinares da Faculda-
de de Belas-Artes, como o Desenho, a Arte Multimdia e o Design. Deve tambmser salientada a colaborao de docentes dos Departamentos de Qumica e Fsica daFaculdade de Cincias e do Centro de Fsica Atmica, dando corpo recomendadacooperao entre as diferentes unidades orgnicas da Universidade de Lisboa.
Trata-se de um curso profundamente inovador no Panorama Nacional e In-ternacional, pela original e equilibrada articulao e interdependncia entre a
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formao artstica, a cientfico-tcnica e a humanstica, insistindo-se nessa in-terdependncia e complementaridade visando a formao de profissionais poli-valentes e altamente qualificados (Pereira, 2009).
2. MESTRADO EM CINCIAS DA CONSERVAO, RESTAURO
E PRODUO DE ARTE CONTEMPORNEA
Dando continuidade a um dos trs ramos previstos na Licenciatura das Cin-cias da Arte e do Patrimnio, o da Conservao e Restauro, paralelamente aos daMuseologia e da Curadoria, com Mestrados j institudos nesta Faculdade, foiapresentado um Mestrado em Cincias da Conservao, Restauro e Produo de ArteContemporneaem 2011.
A opo por este aspecto to especfico prende-se com a prpria natureza daFaculdade de Belas-Artes, bem como com as coleces albergadas nas suas insta-laes. De facto, nada mais natural do que aprofundar os conhecimentos na reada Arte Contempornea, no local onde se formam os seus produtores. Por outrolado, consideramos ser obrigatrio um direcionamento do curso exclusivamen-te virado para as problemticas deste tipo de arte, por vezes muito distintas daarte antiga.
Assim se compreende tambm a dupla polaridade pretendida. Por um lado,
a Conservao e Restauro, emergente nesta rea, por outro, a produo da ArteContempornea, onde o objectivo informar os nossos artistas da especificida-de de vrios materiais, suas capacidades, processos de alterao, entre outros as-pectos, tornando a produo contempornea um processo mais consciente (ouno) da prpria materialidade do objecto artstico. Este propsito alcanadoatravs das parcerias realizadas com a Faculdade de Cincias e com o Centro deFsica Atmica da Universidade de Lisboa, seguindo a prtica j instituda naLicenciatura descrita anteriormente.
Num ambiente cultural onde o Conservador Restaurador deixa de ser saquele que intervm numa pea, tentado suster o seu processo de degradaoe assegurando a sua capacidade como portadora de uma mensagem, acessvel atodos no presente e no futuro, passa agora tambm a ser o conselheiro, aquele aquem se pedem informaes sobre materiais, as suas capacidades, caractersti-cas, bem como as reaces aos ambientes exteriores e aspectos relacionados coma Conservao Preventiva.
Como a materialidade dos materiais se compreende melhor no processode produo, consideramos relevante abrir a possibilidade aos alunos de esco-
lherem uma disciplina optativa prtica por semestre, dentro de um conjuntodefinido previamente a partir dos planos curriculares de outros mestrados daFaculdade. Para alm da especificidade oferecida no nosso plano curricular, esteaspecto poder ser atractivo para alunos provenientes de outras instituies.
Para a organizao do programa deste mestrado foram seguidas as directivasdos documentos emanados pelas principais organizaes relacionadas com a
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Conservao e Restauro e o seu ensino, com documentao nesta matria, maisespecificamente o ICOM International Council of Museums, a ECCO Eu-ropean Confederation of Conservator-Restorers Organisations e a ENCoRE
network organisation of higher educational institutions in the field of conser-vation restoration, onde se determinam quais devem ser as bases de formaode um Conservador Restaurador, bem como o nvel acadmico necessrio para asua autonomia tcnica e profissional.
Na definio da profisso, presente no Cdigo de tica do ICOM, aprovadoem Copenhaga em 1984 (ICOM, 1984), encontramos especificadas no ponto 5.5.as seguintes reas de formao terica: Histria da Arte e da Civilizao, M-todos de pesquisa e documentao, Conhecimento das tecnologias e materiais,tica e teoria da Conservao, Histria e tecnologia da Conservao e Restauroe a Qumica, Biologia e Fsica dos processos de deteriorao e dos mtodos deDiagnstico e Conservao.
Mais recentemente, a ECCO, nas suas linhas de orientao sobre os requi-sitos bsicos para a formao do Conservador Restaurador, aprovadas em Bru-xelas em 2004 (ECCO, 2004), ampliou este conjunto de pontos para um lequemais abrangente, tendo em conta tambm a formao prtica, adaptado s no-vas realidades do conhecimento humano: Princpios ticos da Conservao eRestauro, Cincias (Qumica, Fsica, Biologia, Mineralogia, teoria da cor, etc.),
Humanidades (Histria, Paleografia, Histria da Arte, Arqueologia, Etnologia,Filosofia, etc.), Histria dos materiais e tcnicas, processos tecnolgicos e demanufactura, Identificao e estudo dos processos de deteriorao, Disposioe transporte de bens culturais, Teoria, mtodos e tcnicas da Conservao, Con-servao Preventiva e Restauro, Processos de reproduo de objectos, Mtodosde documentao, Mtodos de pesquisa cientfica, Histria da Conservao eRestauro, Questes legais (estatutos profissionais, leis do patrimnio cultural,seguros, negcios, legislao tributria, etc.), Gesto (coleces, pessoal, recur-sos), Segurana e sade (incluindo as questes ambientais) e Competncias decomunicao (incluindo a Tecnologia da informao) (ECCO, 2004)
Sendo as responsabilidades do Conservador Restaurador baseadas no pla-neamento, na realizao de exames de diagnstico, na elaborao de planos deConservao e propostas de tratamento, de planos de Conservao Preventiva,no desenvolvimento de tratamentos de Conservao e Restauro e na documen-tao de quaisquer observaes e intervenes realizadas, poder estabelecer-seum quadro geral de reas a ser desenvolvidas a nvel de um Mestrado, tendo emconta a prvia formao adquirida numa Licenciatura. Para alcanar este objec-
tivo, seguimos as seguintes definies:
Diagnostic examination consists of the identification, the determina-tion of the composition and the assessment of the condition of cultural heri-tage; the identification, nature and extent of alterations; the evaluation ofthe causes of deterioration and the determination of the type and extent of
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treatment needed. It includes the study of relevant existing information. Preventive Conservation consists of indirect action to retard deterio-
ration and prevent damage by creating conditions optimal for the pre-
servation of cultural heritage as far as is compatible with its social use.Preventive conservation also encompasses correct handling, transport,use, storage and display. It may also involve issues of the production offacsimiles for the purpose of preserving the original.
Conservation consists mainly of direct action carried out on cultu-ral heritage with the aim of stabilising condition and retarding fur-ther deterioration.
Restoration consists of direct action carried out on damaged or de-teriorated cultural heritage with the aim of facilitating its perception,appreciation and understanding, while respecting as far as possible itsaesthetic, historic and physical properties.
Documentation consists of the accurate pictorial and written recordof all procedures carried out, and the rationale behind them. A copy ofthe report must be submitted to the owner or custodian of the culturalheritage and must remain accessible. Any further requirements for thestorage, maintenance, display or access to the cultural property shouldbe specified in this document.(ECCO, 2002)
Este Mestrado composto por dois anos lectivos. No primeiro ano, de natu-reza mais terica so desenvolvidas oito unidades curriculares
Os Temas de Arte Contempornea I e IItm como objectivos o entendimentoe problematizao das afectaes da arte contempornea, desde as suas origenscom as vanguardas histricas, na dimenso fsica, conceptual e aurtica da obrade arte. Pretende-se tambm fornecer coordenadas histricas e conceituais dosparadigmas da histria da arte moderna e contempornea, cruzar entendimen-tos da histria da arte com a teoria e a museologia e abordar questes temticase tericas da arte contempornea no-ocidental e das prticas expositivas queestimulam a produo artstica e o dilogo intercultural.
Os objectivos das disciplinas de Conservao, Restauro e Produo de Arte Con-tempornea II e II, prendem-se com o conhecimento e compreenso das princi-pais problemticas da Conservao, Restauro e Produo de Arte Contempor-nea, do ponto vista terico e prtico. Para alcanar este entendimento, torna-senecessrio explorar as grandes diferenas entre a produo actual e a arte antiga,
bem como a tradio desta questo ao longo dos sculos que apenas agora come-ou a ser equacionada de um modo mais cientfico, permitindo a compreensodas questes tericas relacionadas com a questo. Os alunos devero tambmreceber as ferramentas necessrias para serem aptos a formular um plano deConservao Preventiva adaptado realidade dos diferentes materiais, realizardiagnsticos do estado de conservao e propostas de interveno de objetos de
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diferentes naturezas e ser sensibilizados para a importncia da escolha de mate-riais na permanncia e conservao futura dos objetos produzidos atualmente.
Nas reas das cincias naturais, existem duas disciplinas especficas. No La-
boratrio Avanado de Fsica para Conservao e Restauro so aprofundados osprincpios de funcionamento, vantagens e limitaes de vrios mtodos de exa-me e anlise entre os quais se destacam os seguintes: radiografia, refletografiade IV, fotografia da fluorescncia provocada pela luz UV, microscopia tica aespectroscopia de fluorescncia de raios X e de Raman. No Laboratrio Avana-do de Qumica para Conservao e Restauro, realizada uma introduo aos mto-dos espectroqumicos de ultra violeta-visvel e de infravermelho, RessonnciaMagntica Nuclear (RMN) e aos Mtodos cromatogrficos utilizados na anlisede obras, como a cromatografia em camada fina, a cromatografia lquida de altapreciso (HPLC) e a cromatografia gasosa (GC).
As duas disciplinas restantes so opcionais, podendo o aluno escolher entraa oferta formativa dada nos Mestrados da Faculdade, permitindo assim um in-tercmbio de saberes mais adaptado aos objectivos de cada um.
No segundo ano, dever ser realizado um trabalho para a obteno do graude Mestre. Dada a abrangncia do programa proposto, ficar ao critrio de cadaaluno escolher a rea da Conservao e Restauro em Arte Contempornea ou ada Produo de Arte Contempornea.
No primeiro caso, seguindo ainda as directivas referidas anteriormente, oaluno ter de realizar um estgio profissional com a durao de um ano lectivonuma instituio reconhecida, no fim do qual apresentar um relatrio desen-volvido que ser equiparvel Tese de Mestrado.
3. DOUTORAMENTO EM BELAS-ARTES ESPECIALIDADE
MUSEOLOGIA, CONSERVAO E RESTAURO
Ao ingressarem no Curso de Doutoramento em Belas-Artes, os alunos podemescolher a especialidade que desejam seguinte numa vasta oferta de vinte euma opes: Audiovisuais, Multimdia, Teoria da Imagem, Fotografia, Pintura,Escultura, Arte Pblica, Instalao, Anatomia Artstica, Geometria, Desenho,Design de Equipamento, Design de Comunicao, Cincias da Arte, EducaoArtstica, Cenografia, Cermica, Curadoria, Performance, Txteis e moda e, porfim, a de Museologia, Conservao e Restauro.
A primeira fase deste percurso tem um carcter mais geral, sendo designada porCurso de Formao Avanada, onde os nossos alunos so convidados a traar o seu per-
curso individual atravs da seleco de unidades curriculares que abarcam as reascientficas existentes na Faculdade de Belas-Artes: Pintura, Escultura, Design de Co-municao, Design de Equipamento, Arte Multimdia, Cincias da Arte e do Patri-mnio, e Desenho. Este tipo de procedimento permite a construo de um percursoindividual e variado, atravs da conjugao da rea especfica de escolha de cada um,com a sua complementaridade com outros saberes e tipologias de pesquisa.
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Dentro destas unidades encontramos os Seminrios de Belas Artes I e IIe osSeminrios de Especialidade I e II. No primeiro caso, os seus objectivos centram-sena apresentao de modelos, temas e linhas de investigao no ramo de Belas
Artes ou, mais especificamente, numa das sete reas cientficas existentes na Fa-culdade. Esta variedade permite orientar o aluno para um determinado campo,onde consiga estabelecer uma ligao aos seus objectivos, fomentando tambmcapacidades de abertura, anlise, seleo, rigor metodolgico e interpretao es-senciais para fundamentar as suas opes de pesquisa e o desenvolvimento dainvestigao e produo artstica e terica.
Os Seminrios de Especialidades I e IItm como objectivo principal promovera apresentao fundamental e concreta da experincia em curso em cada umadelas, do seu potencial de investigao e dos seus objectivos particulares. Devemdefinir linhas de trabalho mais concretas em termos de aplicao prtica, forne-cendo informaes sobre os tipos de metodologias de pesquisa existente na readas Belas-Artes. Neste contexto podem ser convidados oradores especialistas emdeterminados campos do conhecimento relacionados com o tema.
Logo a partir do segundo semestre do primeiro ano, comeam os Seminriosde Investigao Orientada, onde os alunos so incentivados a comearem a tra-balhar nas suas teses, que se desenvolvero nos anos subsequentes. Pretende-sereforar no doutorando as suas capacidades de organizao, inovao e viso cr-
tica, na delimitao da questo a tratar, estudos e pesquisas a desenvolver, e nametodologia a eleger segundo o modelo de dissertao mais adequado aos seuspropsitos e capacidades. Devem ainda ser fomentados hbitos de apresentao,argumentao e debate de ideias.
No segundo ano, encontramos os Seminrios de Orientao I e II, onde serdesenvolvido o projecto da tese, num trabalho individual entre o orientadore, caso existam, os co-orientadores, e o doutorando. Os seus objectivos princi-pais so contribuir para uma monitorizao faseada do desenvolvimento dainvestigao, tanto nas suas linhas estruturais como em aspectos particularesde natureza terica, metodolgica ou especificamente artstica, bem como re-forar capacidades de posicionamento crtico e adestramento de competnciasde argumentao.
Posteriormente dever ser desenvolvida a Tese, adaptada ao plano de cadadoutorando, tendo em conta os seus objectivos, experincia e metodologiaspropostas, com a finalidade de se apresentar um trabalho final, que reflicta umcontributo para um determinado ramo do saber, dentro das opes referidas ini-cialmente, com posterior discusso pblica e aprovao pelos membros de um
jri especialmente constitudo para o efeito.A integrao dos projectos de investigao em curso nos objectivos e inicia-tivas do nosso Centro de Investigao e de Estudos em Belas-Artes CIEBA,permite um desenvolvimento e divulgao destes trabalhos, com a possibilida-de de um apoio que se pode tornar muito proveitoso para o desenvolvimento dedeterminados projectos.
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Como aparece referido na informao disponvel no siteda Faculdade:
Com esta formao, deseja-se que os doutorandos fiquem aptos a desenvolver carreiras de inves-
tigao artstica e cientfica autnomas, a integrar e coordenar equipas de trabalho em domniospluridisciplinares nas vrias especialidades, bem como a responder eficazmente a projetos de ava-
liao ou consultoria nessas reas(www.fba.ul.pt).
Como principais linhas de investigao so definidas as seguintes trs:
I. A disponibilizao de contedos tericos por si lavrados que podero servir de matria-prima
conceptual e operativa ao exerccio de reflexo numa investigao em arte e design e na conserva-
o da arte e do patrimnio.
II. O emprstimo de metodologias j estabilizadas que, com devidos ajustamentos, podero servir
de modo de execuo ou ajudar no encontro com os modos operativos prprios a uma investigao
em arte (que aquela que urge definir e estabilizar), assim como nos domnios da conservao da
arte e do patrimnio.
III. A redefinio de processos e prticas investigativas das Cincias da Arte por razes do seu
enquadramento num espao de Belas Artes. (Pereira, Dias, 2011; 215-216)
A especialidade em Museologia, Conservao e Restauro, surge no segui-mento dos dois ciclos de formao referidos anteriormente, colocando-se na sualinha de orientao terica.
CONCLUSO
Nos trs ciclos apostamos numa formao diversificada, apoiada em vrias disci-plinas complementares, onde a da produo artstica tem um bvio destaque pornos encontrarmos num dos seus principais centros de aprendizagem em Portugal.
Pretendemos tambm valorizar a relao entre esta formao e a rea da Museolo-gia, como se evidencia na especialidade do 3. ciclo. Esta ligao tambm salientadaem todas as etapas de formao, tendo em conta que uma das finalidades principais deuma interveno de Conservao e Restauro tambm a fruio do objecto pelo p-blico receptor, o principal definidor do papel patrimonial e cultural do bem em causa.
A Faculdade de Belas-Artes defende o progresso e os desenvolvimentos cul-tural e cientfico a partir dos pilares definidores da sua memria como base de
afirmao identitria.
NOTA FINAL
Os autores deste texto querem agradecer a todos aqueles que tm participadoe contribudo para a organizao e concretizao destes trs ciclos de estudos.
http://www.fba.ul.pt/http://www.fba.ul.pt/8/13/2019 Revista Vox Musei
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Contactar os autores: [email protected] [email protected] [email protected]
Artigo submetido a 30 de Abril e aprovado a 15 de Maio de 2013
REFERNCIAS
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Belas Artes da Universidade de Lisboa, Lisboa, pp. 214-228. PEREIRA, Fernando Antnio Baptista (2009), Relatrio para Obteno da Nomeao Definitiva do Professor
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dan a conocer dicho pasado creando Museos de la Memoria e instalando Me-moriales, que recuerdan y materializan episodios claves de esos sucesos, contri-buyendo a la patrimonializacin de esa memoria, en el marco de determinadas
polticas pblicas que se orientan hacia la defensa del derecho de memoria, delos derechos humanos y de la democracia.La existencia de estos museos, memoriales, o centros de memoria, suponen
una reformulacin del concepto clsico de patrimonio, poniendo en accin unnuevo uso del concepto, en el que justamente una memoria en accin o memo-ria activa de las identidades polticas construyen y transforman constantemen-te los significados atribuidos histricamente, generando polmicas y visionesencontradas, siendo claro el conflicto existente a partir de evidencias y recuer-dos que no toda la sociedad est dispuesta o desea ver En el presente artculo sebusca reflexionar sobre los procesos de revisin que revisitan el pasado recienteen los pases del Cono Sur americano, tomando como ejemplo el Museo de laMemoria MUME de Uruguay. A pesar de las singularidades de cada caso,es posible reconocer elementos comunes en estas experiencias (tanto la que seha dado en Uruguay con el Centro Cultural Museo de la Memoria MUME
, en Brasil con el Memorial da Resistncia de So Paulo, en Argentina con elInstituto Espacio para la Memoria, Escuela de Mecnica de la Armada ESMAy en Chile con el Museo de la Memoria y los Derechos Humanos), en la que el
objetivo central es no slo la reivindicacin memorial sino la dimensin peda-ggica implcita en este tipo de propuestas que quiere colocar la defensa de losDerechos Humanos en un lugar destacado valindose de la enseanza que esasmemorias traumticas puede -y debe- dejar a las generaciones futuras. Estacuestin obliga a preguntarnos a qu patrimonio hacemos referencia cuandose trata de museos de la memoria? Cmo funciona la conjuncin patrimonio/
Fig. 0 - Exposiciones de Sala 1 instalacin de la dictadura. Fotografa
de Ana Mara Sosa, visita del 2 de diciembre de 2012.
Gonzlez,
AnaMaraSosa(20
13)Museosdelamemoriayeducacinparalosderechoshumanos.
Unestudio
decaso:MUMEU
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derechos humanos en este caso? El texto se construye a partir de los aportes te-ricos que se vienen realizando sobre la memoria desde las ciencias sociales, muyespecialmente desde la Antropologa y la Historia. Se trabaja metodolgicamen-
te con el anlisis del discurso musestico del MUME y con observacin de cam-po, que a lo largo del ao 2011 y 2012 se realiz en ms de veinte visitas al museocon observacin participante, entrevistas a autoridades, trabajadores, usuariosy miembros de la sociedad civil que han impulsado el proyecto de conformaciny mantenimiento del museo desde su inauguracin hasta hoy.
En la investigacin realizada se constata que este tipo de museos, de caracte-rsticas particulares, que opera con memorias dolorosas, introduce un parme-tro ideolgico en la propia definicin de museo, de ser comprendida cabalmenteesta especificidad, la institucin sera la expresin de un espacio de conflictos,generadora de pensamiento crtico, en el que diversos grupos sociales tengan laposibilidad de ejercer su voz poltica, representndose a s mismos a travs deun trabajo colectivo con la memoria, siendo sta la especificidad del marco dederecho que plantea el museo de la memoriacomo institucin.
1. MEMORIA EN MUSEOS Y MUSEOS DE LA MEMORIA
No es posible hablar de museos sin memoria, es la institucin guardiana de ella,
y como tal, toda seleccin, cualquiera fuere que realice en sus exposiciones, ope-ra siempre con los vestigios, rastros, fragmentos de una memoria que un grupoo comunidad desea colocar en el espacio museal. Por esta razn no es posiblepensar en museos en el que no est siempre implcita la memoria as como tam-poco es posible pensar en la Historia sin el componente memoria.
En un artculo sobre el lugar mtico de la memoria Cludia C. do Rosario(2002: 3), expona sobre la memoria segn el mito griego y su relacin con lasmusas, y, reflexionando sobre la comprensin contempornea de la misma ex-plicaba que la memoria no est solo en el pasado que trae o evoca la recorda-cin, sino que est en nuestros cuerpos, idioma, en lo que valoramos, en lo quetenemos y en lo que esperamos. As entonces, la memoria nos identifica comoindividuos y como colectividad.
Los museos entonces son tambin lugares de memoria (segn el trminoacuado por Pierre Nora en 1984), que refieren tanto a objetos como a espacios(sean estos naturales o artificiales), -al que podra agregarse la dimensin intan-gible (la testimonial)- que permiten la experiencia sensorial, la elaboracin abs-tracta para comprender el pasado o por lo menos conocer parte de l. A su vez, la
ecuacin conservacin-memoria-museo se ha vuelto tan importante que en lasltimas dcadas la tendencia a museificar el pasado ha sido tal que se multipli-c y ampli la nocin de lo museable, al mismo tiempo que se incorporaronactores antes relegados (ZAPATTA, SIMONETTA y MANSILLA; 2011: 87). Ahorabien, qu memoria guardan los museos contemporneos, qu memoria y cmoaparece narrada en la institucin es algo que un profesional de esta rea debe
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la lucha por la Libertad, la Democracia y la Justicia Social, entendindolos comoconceptos culturales, inacabados y en permanente construccin (Pgina webdel museo: http://museodelamemoria.org.uy/institucional.php?cod=14).
En un pas como Uruguay, donde la dictadura y terrorismo de Estado ha te-
nido repercusiones traumticas en la sociedad (que an hoy perduran), la pro-puesta musestica apunta a una mirada reflexiva y testimonial del perodo, quese entiende podra ser explorada an ms profundidad y creatividad propician-do mltiples espacios de comprensin, cuestionamiento y reflexin o alcancede estas memorias sensibles.
La Dictadura Cvico Militar, que al formar parte de la historia del Uruguaytambin nos identifica trayendo al presente una memoria fuerte, espesa y concontenidos emocionales de un pasado que an no ha sanado para todos, es toma-da en el guin musestico, como un proceso ms amplio que el perodo 1973-1985,integrando el trayecto previo (la dcada de 1960 y los primeros aos de los 70), enque an estando bajo un Estado de Derecho se iba hacia un autoritarismo cadavez ms pronunciado, con sus respectivos abusos y violaciones a los derechos.
Pero, un museo de la memoria de un pasado reciente, doloroso y que angenera enormes controversias, disputas y reivindicaciones, necesariamente de-ber promover ciertas acciones que permitan la visualizacin y circulacin dela informacin sobre el perodo, lo que conviene sea explicitado como forma decontribuir a la democratizacin de la informacin que a travs del repertorio de
sus obras y guin museolgico propone. Por ello la planificacin institucionaldeber ser eficaz y en consonancia con lo que se propone mostrar, para quienesy con qu propsitos. En las exposiciones del MUME no siempre se evidencianestas cuestiones. En la vastedad y diversidad de las manifestaciones humanas delperodo dictatorial que un museo de la memoria debe contemplar, resulta funda-mental romper con cualquier tipo de concepcin rgida o acotada a actores locales
Figuras 1 y 2 - Exposicin Sa