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A Revolução de 1930 Contada através da música da época 01 - Francisco Alves (1929) Autor: Freire Jr Intérprete: Francisco Alves Gênero: Marcha Gravadora: Odeon A marchinha é quase uma peça de campanha de Júlio Prestes, candidato oficial a presidente da República, mas nem por isso deixa de ser saborosíssima. Fez grande sucesso no carnaval de 1929, e foi cantada numa revista teatral de abril do mesmo ano. "Seu Toninho" é Antônio Carlos de Andrada, presidente de Minas Gerais (“terra do leite grosso”), que se recusava a aceitar a indicação de “Seu Julinho”, de São Paulo, rompendo com a política do café-com-leite - um mandato no Palácio do Catete para a elite paulista, outro para elite mineira -, que vigorou durante quase toda a República Velha. A referência ao Rio de Janeiro explica -se: o Rio era a capital do país, a sede do poder. “ヤ seu Toninho, Da terra do leite grosso, Bota cerca no caminho Que o paulista é um colosso. Puxa a garrucha, Finca o pé firme na estrada Se começa o puxa-puxa Faz o seu leite coalhada. Seu Julinho vem, seu Julinho vem, Se o mineiro lá de cima descuidar. Seu Julinho vem, seu Julinho vem, Vem mas, puxa, muita gente há de chorar. ヤ seu Julinho, Sua terra é do café. Fique lá sossegadinho, Creia em Deus e tenha fé. Pois o mineiro Não conhece a malandragem Lá no Rio de Janeiro. Ele não leva vantagem.

Revolução de 1930

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A Revolução de 1930Contada através da música da época

01 - Francisco Alves (1929)Autor: Freire JrIntérprete: Francisco AlvesGênero: MarchaGravadora: Odeon

A marchinha é quase uma peça de campanha de Júlio Prestes, candidato oficiala presidente da República, mas nem por isso deixa de ser saborosíssima. Fezgrande sucesso no carnaval de 1929, e foi cantada numa revista teatral de abrildo mesmo ano.

"Seu Toninho" é Antônio Carlos de Andrada, presidente de Minas Gerais (“terrado leite grosso”), que se recusava a aceitar a indicação de “Seu Julinho”, de SãoPaulo, rompendo com a política do café-com-leite - um mandato no Palácio doCatete para a elite paulista, outro para elite mineira -, que vigorou durantequase toda a República Velha. A referência ao Rio de Janeiro explica -se: o Rioera a capital do país, a sede do poder.

“Ô seu Toninho,Da terra do leite grosso,Bota cerca no caminhoQue o paulista é um colosso.

Puxa a garrucha,Finca o pé firme na estradaSe começa o puxa-puxaFaz o seu leite coalhada.

Seu Julinho vem, seu Julinho vem,Se o mineiro lá de cima descuidar.Seu Julinho vem, seu Julinho vem,Vem mas, puxa, muita gente há de chorar.

Ô seu Julinho,Sua terra é do café.Fique lá sossegadinho,Creia em Deus e tenha fé.Pois o mineiroNão conhece a malandragemLá no Rio de Janeiro.Ele não leva vantagem.

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Seu Julinho vem, seu Julinho vem,Se o mineiro lá de cima descuidar.Seu Julinho vem, seu Julinho vem,Vem mas, puxa, muita gente há de chorar.”

02 - Jayme Redondo - Mas que Trapaiada 1929

Esta bem-humorada música caipira, de 1929, diverte -se com a indicação deJúlio Prestes como candidato do Palácio do Catete à sucessão presidencial. Seu"Julita", com o apoio do Cavanhaque, um "veiote sacudido" (Washington Luís),venceria as eleições, mas não chegaria ao poder.

Bem que o autor da música advertia que a encrenca estava ficando "atrapaiada",mas ainda apostava na vitória do esquema oficial, aparentemente muito maispoderoso do que a articulação oposicionista. Mas a trapalhada era maior do quese pensava. Logo, os mineiros de "Totó"(Antonio Carlos de Andrada) pegariamem armas, junto com os gaúchos de Getúlio Var gas e os paraibanos de JoãoPessoa. Em poucos meses, a República Velha viria abaixo e Getúlio se tornaria onovo presidente.

Agradeço a Roberto de Azevedo, de São Paulo, por essa bem -humorada músicacaipira, de 1929, que se diverte com a indicação de Júl io Prestes como candidatodo Palácio do Catete à sucessão presidencial. Seu "Julita", com o apoio doCavanhaque, um "veiote sacudido" (Washington Luís), venceria as eleições, masnão chegaria ao poder.

"Lá na fazenda, uma cabocla bem bonita Andava louca pra casar com "seu"Julita. Mas o pai dela veio a mim se aconselhar Se ela devia nem sabia se casar.Eu sei que as moças quando pensam em casamento Fazem as coisas mesmo atésem cabimento. Aconselhei que ele devia consentir Porque a essa altura elapodia escapulir Por isso mesmo foi que eu disse que fizesse,Que fizesse essa tolice, que jurasse de deixar Ela querendo, bem dizendo, foifazendo Tapeando e namorando E acabou por se casar.

Bem bão, bem bão, bem bão,O "seu" Julita já não fica solteirão (bis)

Havia um moço lá no sitio JaguarãoQue tinha o gosto de se fazer de valentão.Ia correndo toda noite pra cidadeE machucava muita gente por maldade.Ele pra mim veio uma noite se aprumandoEu sou difícil, fui depressa me ajeitandoMandei-lhe os pés bem na caixa do presuntoPor um nadinha que o valente era defuntoEsse danado me deixou atrapaiado,Pelo júri fui julgado,

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Fiz seis meses de prisão.Mas desde esse dia que o valente impertinenteNunca mais bateu na genteNunca mais foi Lampião.

Bem bão, bem bão, bem bãoLá foi-se a caixa desse tal de valentão (bis)

Não é que a encrenca tá ficando "atrapaiada",Eu vejo as coisas mas não posso fazer nada.É que os mineiros estão com toda a pretensãoQue vão ganhar de qualquer jeito as "eleição".O cavanhaque que é um "veiote" sacudidoDeu três pinotes de cabrito aborrecidoTelegrafou pra tudo que é governadorE depois disso deu risada e sossegou.É que os mineiros arranjaram pouca genteFoi somente o Rio Grande, que tá contente com o Totó.O "Cavanhaque" tem Bahia, Pernambuco,Tem São Paulo, Mato Grosso, Curitiba e Maceió.

Bem bão, bem bão, bem bão.O "seu" Julinho vai ganhar as eleição" (bis)

03 - É sim, senhor - 1929

Autor: Eduardo SoutoIntérprete: Francisco AlvesGênero: SambaGravadora: Odeon

O samba de Eduardo Souto, gravado no início de 1929, lembra as credenciais deWashington Luís, presidente da República, mas quer mesmo é dar palpite nasua conturbada sucessão. Paulista, embora nascido em Macaé (RJ), ele haviacunhado o lema “governar é abrir estradas” e subido ao poder prometendosubstituir o mil-réis pelo cruzeiro – promessa, aliás, que não chegou a cumprir.

Seu candidato na sucessão presidencial que despontava no horizonte era JúlioPrestes, ou simplesmente Julin ho, também paulista – mas, nesse caso,quatrocentão. A música não esconde uma ponta de ironia em relação os dois.Tanto que polemiza com a música “Seu Julinho vem”, de Freire Jr.,respondendo: “Vem, vem, vem / Pra ganhar vintém / Vem, Seu Julinho,vem /Pra aproveitar também”. E, por isso ,logo levaria o trôco de Sinhô (ver “Eu ouçofalar”, a seguir).

“Ele é paulista?É sim, senhor.Falsificado?

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É sim, senhor.Cabra farrista?É sim, senhor.Matriculado?É sim, senhor.

Ele é estradeiro?É sim, senhor.Habilitado?É sim, senhor.Faz o cruzeiro?É sim, senhor.Povo dourado,É sim, senhor.

Vem, vem, vem,Pra ganhar vintémVem, seu Julinho, vemAproveitar também.(Bis)”

04 - Eu ouço falar (“Seu Julinho”) (1929)

Autor: J. B. da Silva “Sinhô”Intérprete: Francisco AlvesGênero: SambaGravadora: Odeon

Este samba de Sinhô foi cantado pela primeira vez num recital do ClubeAntropofágico realizado no Teatro Municipal de São Paulo, no dia 19 de maio de1929. Sinhô, que havia estado à tarde com Júlio Prestes, no Palácio dos CamposElíseos, sede do governo do estado, compôs a música de supetão e apresentou -aà noite, surpreendendo a todos.

A composição é quase uma peça de campanha. Compara Washington Luís aJesus e garante que seu Julinho é “um caboclo da fuzarca que só trabalha para obem”. A expressão “caboclo da fuzarca (farra, folia)” explica -se: semanas antes,numa festa dada por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral em homenagem aSinhô, seu Julinho, amigo do ca sal, tirara a cozinheira da casa para dançar umcateretê, ganhando a simpatia dos presentes.É interessante registrar que, depoisda vitória de Júlio Prestes nas urnas, o sambista apelou: mandou -lhe uma cartapedindo emprego. Seguem trechos da carta: “Illmo e Exmo sr. dr. Julio Prestes :José Barbosa da Silva, ''Sinhô'' o seu afilhado, cumprimenta -o e felicita-o pelamerecida victória alcançada, pois V.Excia. deve bem se recordar que vão fazer 12meses no dia 19 de maio do corrente ano, que seu afilhado ''Si nhô'' lançou acandidatura de V.Excia., em pleno palco do Teatro Municipal de São Paulo comuma ligeira e intuitiva música e versos, que ligeiramente a fiz gravar em disco epapel para correr com grande presteza o sul e o norte do seu Brasil (...). Assimsendo, o seu afilhado (como disse a Exma. sra. Olivia Penteado) aproveita esta

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para pedir a V.Excia, não esquecer o seu afilhado, em qualquer lugar indicadopor V.Excia. pois que tenho numerosa família e vivo somente de música e comgrandes dificuldades. O que penso que se V.Excia.quiser muito poderá fazer por seu afilhado que muito lhe estima, respeita evenera. J.B.Silva Sinhô (Rio - 23/04/30)

A terceira estrofe de “Eu ouço falar” é uma resposta ao samba “É sim, senhor”,de Eduardo Souto, que dizia qu e “Seu Julinho” vinha “para ganhar vintém” e“aproveitar também”, contestando, por sua vez, a marchinha “Seu Julinho vem”,de Freire Jr. Como se vê, a polêmica política estava acesa nos meios musicais.Sinhô morreu pouco depois, em 4 de agosto de 1930. Em 3 de outubro domesmo ano, viria a revolução. Julio Prestes foi exilado na Inglaterra.

“Eu ouço falarQue para nosso bemJesus já designouQue seu Julinho é quem vem.

Deve vir esse cabocloPara matar minha saudade,Para o rico ser lealNo coração da humanidade.Olé

Eu ouço...

Essa história que anda aíDizem que pra ganhar vintém,Ele não precisa dissoE de aproveitar também.Olé

Eu não quero que esse sambaVá contrariar alguém...O caboclo é da fuzarcaE só trabalha para o bem.Olé”

05 - Se eu fosse presidente (1929)

Autor: Fernando SampaioIntérprete: Jayme RedondoGênero: MaxixeGravadora: Colúmbia

De tal modo as eleições na República Velha eram um jogo de cartas marcadasque, em plena campanha, ninguém tinha dúvidas de que o vencedor da disputaseria o candidato oficial. Neste maxixe ingênuo, em que a política se mistura

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com as agruras do rapaz diante da resistência da família da moça em aceitá -locomo genro, Júlio Prestes já é apresentado como o novo p residente, embora aseleições só fossem ocorrer no ano seguinte.

“Meu bem, se eu fosse presidente,Certo, viverias contente.Dar-te-ia uma linha casinhaCom (...) serias rainha.

Mas eu não sou nada no mundo,Teu pai diz que eu sou vagabundo,Tua mãe me chamou de perdido,Porque eu quis ser o teu marido

Fosse eu presidente, nada acontecia.Teu pai certamente que consentiria.Tua mãe, estou crente, me achava bonzinho,Fosse eu presidente como seu Julinho.

Eu vou te falar com franquezaNão, não, gosto de trabalharSou moço e com toda certezaNão quero a saúde estragar

Meu bem, trabalhar mata a genteE eu não nasci pra sofrer.Meu bem, se eu fosse presidente,Seu pai havia de querer

Fosse eu presidente, nada acontecia.Teu pai certamente que consentiria.Tua mãe, estou crente, me achava bonzinho,Fosse eu presidente como seu Julinho”.

06 - Casa de caboclo (1929)

Autor: Hekel Tavares e Luís Peixoto (autores originais)Intérprete: Pinto Filho (autor da paródia)Gênero: Paródia

Em 1929, Hekel Tavares e Luís Peixoto lançaram "Casa de caboclo", estrondososucesso de público. Seus versos finais - "Numa casa de caboclo, um é pouco /Dois é bom / Três é demais" - viraram dito popular. O humorista Pinto Filhonão perdeu tempo. Lançou esta paródia, na qual fala sobre os rumos dasucessão presidencial. "Seu" Toninho (ou "Seu Tonico") é Antônio Carlos deAndrada, chefe político de Minas Gerais, que pretendia suceder WashingtonLuís no Catete.

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“Seu" Julinho é Júlio Prestes, presidente de São Paulo, que acabaria sendoindicado candidato da situação. Venceria as eleições viciadas da RepúblicaVelha, mas não tomaria posse, devido à vitória da Revolução de 30.

“Vancê conhece o palaceteDo Catete,O mais rico do país,É lá dentro, soberano,há três ano,Doutor Óxiton Luís.

Tem salão e tem salinha,Bonitinha,Um jardim cheio de flor.Nas recepução de galaPelas sala,Fica ansimDe engrossadô.

Farta somente um ano e meio,Eu bem o sei-o,Para o dono se mudar.Quer por ali fazer seu ninhoSeu Toninho,Que é de Minas maiorá.

Mas seu Julinho, que é paulista,Tem as vistaNessa mesma habitação.É amigo do barbado,Tá cotadoPra vencer nas eleição.

E o Tonico tem o queijoO seu desejo,Qué cumpri, dê no que déMas o tal de seu JulinhoDe mansinhoVai pagando pro café

Um deles dois tem que í simbora,Dando o fora,Pra que tudo acabe em pazPro mó de quê no Palacete do Catete,Um é bom,Dois é demais."

07 - É Sopa (1929)

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Autor: Eduardo SoutoGênero: Francisco AlvesGravadora: Odeon

A marchinha de Eduardo Souto recorre ao futebol para descrever as forças queiriam se defrontar na campanha de 1929/1930. De um lado, o combinado A, otime do continuísmo, tendo como capitã o “Seu” Julinho Júlio Prestes,presidente da província de São Paulo; do outro, o combinado B, da oposição,capitaneado por “Seu Tonico” (Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidenteda província de Minas Gerais).

O doutor Macaé, árbitro do jogo, era o p róprio presidente da República,Washington Luís (embora paulista, nascera em Macaé, no Estado do Rio).Antônio Carlos briga com o juiz e é posto para fora do jogo. Vai se aliar com osgaúchos, liderados por Getúlio Vargas, e os paraibanos, comandados por J oãoPessoa, numa chapa dissidente, contra a maioria dos estados, chefiados peloCatete.

Como os dois lados apregoavam que venceriam com facilidade, a marchinha fezdo “É sopa, é sopa, é sopa” seu estribilho. Não se descobriu quem é o “seuTomé” que aparece ao final da música _ aquele que foi para o gol e levou umabruta lavagem.

“Vai começar o grande jogo para a conquista da taça oferecida pelo CateteFutebol Clube(gritos)Combinado B: “captain” Seu Tonico(gritos)Combinado A: “captain” Seu Julinho(gritos)Juiz: doutor Macaé, muito digno presidente do Catete Futebol Clube

Seu Tonico sem razão.Ao juiz desatendeu,E foi tal sua afobação,Que a cabeça até perdeu.O juiz, que é da barbada,Seu Tonico pôs pra fora.E gritou pra rapaziada:Toca o bonde, tá na hora!

Pra vencer o combinado brasileiro.Diz Getulinho: “É sopa, é sopa, é sopa”.Paraibano com gaúcho e com mineiro.Diz o Julinho: “É sopa, é sopa, é sopa”.

Foi pro gol o seu Tomé,Bonde errado e sem coragem.A torcida não fez fé.Houve então bruta lavagem.

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Pra jogar bem futebolSó paulista e carioca.Chova muito ou faça sol,É no pau da tapioca.

Pra vencer o combinado brasileiroDiz Getulinho: “É sopa, é sopa, é sopa”.Paraibano com gaúcho e com mineiro,Diz o Julinho: “É sopa, é sopa, é so pa.

08 - Harmonia, harmonia (1929)

Autor: Hekel Tavares e Luiz PeixotoIntérprete: Jaime RedondoGênero: MarchaGravadora: Columbia

“Harmonia, harmonia” ironiza o comportamento dos políticos na campanha de1929/1930. Todos jogam duplo e escondem seus verdadeiros interesses.Algumas explicações: 1) O barbado da música é o presidente Washington Luís;2) Antônio Carlos (Ribeiro de Andrada)é o presidente de Minas Gerais; 3)Getulio (Vargas), gaúcho, é o candidato das oposições ao Palácio do Catete; 4)

A carta mencionada na marcha provavelmente é aquela em que Getúliocomprometeu-se a não disputar as eleições contra o candidato do Catete,promessa que quebraria logo a seguir; 5) Zé Bonifácio (de Andrada), é irmão deAntônio Carlos e também importante chefe político mineiro; 6) Júlio (Prestes),paulista, é o candidato de Washington Luís a presidente. 7) A Bahia ficoucasadinha com São Paulo porque deu o vice na chapa encabeçada por JúlioPrestes: Vital Soares. 8) Dezessete estados ficaram com Júlio Prestes e apenastrês - Rio Grande do Sul, Minas e Paraíba - apoiaram Getúlio.

“Quando eles viram que o barbado não dormia,Deu-se a melódia na minoria.Antônio Carlos, quando entrar já não podia,Para os mineiros então dizia:Harmonia, harmonia,Chamem o Getulio, que é uma ducha de água fria.Harmonia, harmonia,Chamem o Getúlio, que é uma ducha de água fria.

Enquanto isso seu Getúlio já escreviaTudo às avessas, virgens mariasEscrita em turco aquela carta parecia,Nas entrelinhas é que se lia.Harmonia, harmonia,

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Quero o Catete, mas fingi que não queria.Harmonia, harmonia,Quero o Catete, mas fingi que não queria.

Zé Bonifácio não perdeu ainda a maniaDe que é o barbado da confraria.Toca pro pau, mas o paulista que o espiaLá bem de cima, baixo assobia.Harmonia, harmonia,Quero São Paulo casadinho com a Bahia.Harmonia, harmonia,Quero São Paulo casadinho com a Bahia.

Eles pensavam que a pimenta não ardiaE que seu Júlio não se mexia.Mas vendo Júlio com um bruta maioriaGetúlio Vargas lhes repetia:Harmonia, harmonia,Dezessete contra três é covardia.Harmonia, harmonia,Dezessete contra três é covardia.”

09 - Comendo bola (1929)Autor: Jaime ReondoHekel Tavares e Luiz PeixotoIntérprete: Jaime ReondoGênero: MarchinhaGravadora: Columbia

A marchinha, lançada em dezembro de 1929, em plena campanha eleitoral,revela claramente toma o partido de Júlio Prestes, candidato a presidente daRepública apoiado por Washin gton Luís, contra Getúlio Vargas, sustentadopelos gaúchos, mineiros e paraibanos, que haviam formado a Aliança Liberal (oque explica a referência ao liberalismo na música).

“Gaúcho, meu irmãozinho,Meu irmãozinho mineiro,Seu Julinho é que vai ser,Porque esse tal de JulinhoÉ um caboclo brasileiro,Brasileiro como quê.Tudo mais é gauchada,Tudo mais não vale nada.Meu irmãozinho gaúcho.Tu amarra as cavalhadas,Vendo as coisas mal paradas,Não aguenta com o repuxo.

Getúlio,você está comendo bola.

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Não se mete com Seu Júlio,Não se mete com Seu Júlio,Que seu Júlio tem escola.(bis)

Atrás do liberalismo,Ninguém vá nesse cinismo.É potoca, é brincadeira.Eu conheço muito toloQue acabou levando bolo.E bateu na geladeira.Eles pensam, Seu Julinho,Que esse povo é um zé povinho,Que isso é pau de galinheiro;Que sem nota e sem carinhoO Brasil anda sozinhoPorque Deus é brasileiro.

Getúlio,você está comendo bola.Não se mete com Seu Júlio,Não se mete com Seu Júlio,Que seu Júlio tem escola.(bis)”

10 - É no toco da goiaba (1929)

Autor: Eduardo Souto e José JannyniIntérprete: Francisco Alves e Aracy CortesGênero: Samba

A maioria das músicas políticas lançadas na campa nha eleitoral de 1929/1930tomou o partido do candidato oficial, o paulista Júlio Prestes - ou maissimplesmente, "seu Julinho" –, contra o gaúcho Getúlio Vargas, da oposição. “Éno toco da goiaba” não foge à regra, mas percebe -se que, do ponto de vistapolítico, o oficialismo está na defensiva diante das críticas a seu candidato. O“Barbado” a que o samba se refere é o presidente Washington Luís, padrinho dacandidatura de “seu” Julinho.

“Quem fala de mim tem mágoa,Diz um dito popular.Por isso de “seu” JulinhoQuem quiser pode falar.

Diz também outro provérbioQuem desdenha quer comprar.Por isso de “seu” BarbadoQuem quiser pode falar, oi.

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Seja aqui ou em Pelotas,Paraíba ou Sorocaba,Com qualquer um desta dupla,É no toco da goiaba, oi. (bis)

Só se fala neste mundoDos homens que são de escol.Sujeito não comentadoJá não vale um caracol.

A tudo que andam dizendoNão dei ouvido e nem dou.Das más línguas deste mundo, oiNem Jesus Cristo escapou!

Seja aqui ou em Pelotas,Paraíba ou Sorocaba,Com qualquer um desta dupla,É no toco da goiaba, oi. (bis)”

1929

11 - Paulista e gaúcho (1929)

Autor: Mandi e SorocabinhaIntérprete: Mandi e SorocabinhaGênero: Moda de violaGravadora: Victor

Esta moda de viola provavelmente foi gravada em dezembro de 1929, poucosmeses antes das eleições de março de 1930, vencidas pelo paulista Júlio Prestese contestadas pela Revolução comandada pelo gaúcho Getulio Vargas.

Na música, cada um dos integ rantes da dupla caipira assume o ponto de vista deum estado e critica o outro. O gaúcho tece elogios a Antônio Carlos, presidentede Minas, a Getulio, do Rio Grande do Sul, e ao estado da Paraíba, os trêsredutos da Aliança Liberal. O paulista garante que Júlio Prestes será o novopresidente do Brasil e lembra que São Paulo é o estado mais rico do país, poisproduz o “ouro verde”, o café.

"Paulista e gaúcho” é a primeira de uma série de cinco modas de viola da dupla,que contam a história das eleições e d a revolução daquele ano. Ao acompanhá -las, pode-se perceber as mudanças nas posições políticas de Mandi eSorocabinha – e, de certa forma, de boa parte do povo paulista. No início doano, apoio total a Júlio Prestes; no final, vivas à volta de Isidoro Dias Lopes,chefe da revolução de 1924. (Ver “Tempo Ruim”, “Depois das eleições”,“Rebentô a Revolução” e “Isidoro já vortô”).

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“No Estado de São PauloO mundo inteiro é permitidoViva o povo paulistaTrabalhou sem ser esquecido

Laí, lá, laiTrabalhou sem ser esquecidoViva a pátria brasileiraViva o meu Brasil querido

Viva o Rio Grande do SulViva a terra, pátria minhaViva o Brasil inteiroViva o Estado de Minas

Lá, lá, laiaiViva o Estado de MinasViva o Antônio e o GetúlioParaíba pequenina

Seu gaúcho mal-criadoGaúcho, você é uma pesteVá você plantar por mim(?)Muito tempo não arrefece

La, lá, laiaiMuito tempo não arrefeceQuase ganha minha bocaEntão que vá pro Júlio Prestes

Seu gaúcho destemido(...) não se fazSou paulista que (...)Um cabresto que vai dar

Lai, lai, lai,laiUm cabresto que vai darEsse louco vai ganharDia primeiro de março

Júlio Prestes é (...)Júlio Prestes é competenteJúlio Prestes é caboclo forte,É nosso novo presidente

Laí, lá, laiÉ nosso novo presidente(...) pro Brasil inteiroSão Paulo que está na frente

São Paulo, estado rico

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Anda (...), não fica atrásQuem mandou na votaçãoQuero vê quem pode mais

Laí, lai, aiQuero vê quem pode maisÉ Paraíba e ouro verdeE (...) Minas Gerais

(......................)Gaúcho come carne de porcoPaulista colhe o caféE é o café que vale ouro

Laí, lá, laiE é o café que vale ouroDentro do Brasil inteiroSó cobre a metade do Tesouro

Ô paulista de uma figaTá dizendo burradaQuem colhe o café em São PauloÉ você, italianada

Lá, laaiaiÉ você, italianada(..................)Paulista não serve pra nada

Os italiano aqui trabáiaAqui é terra de dinheiroNão é terra de revoluçãoNem de povo desordeiro

Laí, lá, laiNem de povo desordeiro

Vou falarPra ........O mundo inteiro

Ouvindo tiro de CanhãoMetralhadora pipocando

Olai, aiMetralhadora pipocando...............Mês de março está chegando

Fazer bagunça...........Nome do mineiro

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Nome verdadeiro

Olai, iláQue dá nome verdadeiroPaulista é .............Não tem medo de guerreiro

Paulista não é de nada

Medo de assombraçãoOlai, ilai

12 - Eu sou é Úlio (1930)

Autor: J. Francisco de FreitasIntérprete: Silvio SalemaGênero: MarchaGravadora: Victor

Marchinha sem maiores pretensões que brinca com os dois candidatos apresidente a República nas eleições de 1930. Como não quer se envolver emconfusão – “não me meto no barulho” –, o compositor fica com o que os dois,Júlio e Getúlio, têm em comum: o final do primeiro nome (Úlio).

“Eu sou é Úlio(Eu sou é Úlio)Não me meto no barulho(Não me meto no barulho)Ó que gente boa(Ó que gente boa)O brinquedo é da coroa(O brinquedo é da coroa)(bis)

Mulherzinha camaradaDe ninguém ela tem medoChama toda a macacadaPara dentro do brinquedo(bis)

Eu sou é Úlio(Eu sou é Úlio)Não me meto no barulho(Não me meto no barulho)Ó que gente boa(Ó que gente boa)O brinquedo é da coroa(O brinquedo é da coroa)

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(bis)

Só se diz na vizinhançaQue o brinquedo é gozadoVai haver muita festançaDepois dele coroado”(bis)

13 - Depois das eleições (1930)

Autor: Mandi e SorocabinhaIntérprete: Mandi e SorocabinhaGênero: Moda de ViolaGravadora: Parlophon

Embora tenha sido lançada em novembro, essa moda de viola certamente foicomposta meses antes, pois dá conta do inconformismo da Aliança Liberal como resultado das eleições realizadas em março, mas ainda não faz referência àRevolução deflagrada em outubro. Mas está claro que o cheiro da revolta já estáno ar.

A dupla caipira paulista conta a história como era vista, então, por São Paulo:Júlio Prestes ganhara no voto, mas Getulio Vargas, candidato da AliançaLiberal, queria se impor na marra. Apesar disso, dois versos deixam claro que asituação política era incerta e que Mandi e Sorocabinha n ão apostavam todas asfichas num lado só: “Mas o que o povo quer é um governo bão / Que acabe coma crise e melhore a situação”. O Antônio Carlos citado na música, que teriagarantido um milhão de votos à oposição, era o presidente de Minas Gerais.

Ver também outras músicas da dupla sobre o período: “Paulista e gaúcho”,“Tempo ruim”, “Rebentô a revolução” e “Isidoro já vortô”.

“Dia 1o de março, dia de barulhão,Foi no Brasil inteiro, foi dia de eleiçãoPra escolher o presidente da FederaçãoCorreu tudo direito, sem atrapalhação

Tinha dois candidatos pro governo da UniãoCandidato do governo, candidato da oposiçãoMas os dois merecia, são dois bons cidadãoÉ a força do eleitorado que faz a contação

Os estado do Brasil fizeram combinaçãoDa Aliança Liberal fizeram um galardãoE o Antonio Carlos prometeu um milhãoHouve grande diferença, pois não foi na apuração

Julio Prestes ganhou à força da votaçãoQuerem impor o tal Getulio com a revolução

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Mas o que o povo quer é um governo bãoÉ que acabe com a crise e melhore situação

O que não achei bonito, parece uma traiçãoNão sei se eu falo certo ou se falo sem razãoPros chefes liberá, depressa deu a mãoPor conta do governo, como quem pede perdão

Julio Prestes de Albuquerque, homem de bom coraçãoLargou o Rio de Janeiro na primeira ocasiãoOferece(?) anistia sem nenhuma restriçãoCom tal de harmonia governe a Nação”

14 - Rubentô a revolução (1930)

Autor: Mandi e SorocabinhaIntérprete: Mandi e SorocabinhaGênero: Moda de violaGravadora: Victor

Nesta moda de viola, Mandi e Sorocabinha, que em “Depois das eleições”,gravada meses antes, ainda estavam com Júlio Prestes, já estão embarcados notrem da Revolução de 30 – “uma bonita combinação” contra “Washington Luís,brasileiro mais turrão”.

Falam sobre a batalha de Itararé, em que iriam se enfrentar as tropas revoltosas,vindas do Sul, e as forças legalistas, mas que terminou não ocorrendo, pois, coma deposição do presidente no Rio pelos ministros militares, veio a ordem para“cessar a mobilização”. E então, “gaúcho e paulista choraram de emoção/Acabou-se a inimizade, acabou-se a desunião”. Dias depois, abortando amanobra dos ministros militares, que ainda tentaram permanecer no poder,Getulio Vargas chegaria ao Rio, assumindo o comando do GovernoRevolucionário.

“No dia 3 de outubro rebentou a revoluçãoFoi uma coisa bem feita, uma bonita combinaçãoEm Minas e no Rio Grande e em outros pontos da NaçãoO exército se alevantou com as suas armas na mãoContra o Washington Luiz, brasileiro mais turrão.

Não houve quem não sentisse essa grande aspiraçãoPois a nossa família sofreu tanta afliçãoE, valei, os generais compreenderam a situaçãoPro governo federal mandaram uma intimaçãoNão saíssem com a renúncia, saía com a deposição

O exército revoltoso em Itararé fazia pressãoO exército legalista defendia a invasão

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Muito, muito contrariado cumpria essa obrigaçãoO exército legalista tinha muita muniçãoMas tinha pouca vontade de matar o próprio irmão

E que fuzilaria se travou lá n o VarjãoMetralhadora pipocava, ronco surdo de canhãoTudo isso misturado parecia um trovãoNo meio do tiroteio, gritos, xingos, reclamaçãoEu também sou brasileiro, falava com dor no chão.

Chegou um telegrama cessando a mobilizaçãoGaúcho e paulista choraram de comoçãoAcabou-se a inimizade, acabou-se a desuniãoFoi deposto o presidente, acabou -se a perseguiçãoE viva o Brasil novo, terra do meu coração”.

15 - Itararé (1930)

Autor: JararacaIntérprete: JararacaGênero: EmboladaGravadora: Columbia

“Itararé” talvez seja uma das músicas mais conhecidas sobre a Revolução de 30.A 10 de outubro, Getúlio partiu de trem do Rio Grande do Sul, em direção aoRio de Janeiro, à frente de suas tropas. Avançou sem encontrar resistênciasignificativa até a fronteira do Paraná com São Paulo, nas proximidades dacidade de Itararé, onde havia uma forte agrupação das forças legalistas.

O estado-maior revolucionário marcou para o dia 25 o ataque a Itararé, decisivopara abrir caminho para a toma da de São Paulo, mas no dia 24 Washington Luísfoi deposto e preso no Rio de Janeiro por um grupo de oficiais -generais, que seconstituíram em Junta Governativa Provisória e decretaram o cessar -fogo. Emhomenagem à batalha que ficou famosa mas não houve, o humorista AparícioTorelly mais tarde adotaria o pseudônimo de Barão de Itararé.

A música registra também o avanço das tropas revolucionárias no Norte do país,sob o comando de Juarez Távora. Um dos mais ativos integrantes do movimentotenentista, Juarez desempenhou papel de destaque na Coluna Prestes. Preso nosarredores de Teresina (PI), no início de 1926, fugiu da cadeia no ano seguinte,fugiu da prisão, passando a viver na clandestinidade. Em fevereiro de 1929,exilou-se na Argentina. Em fevereiro de 1930, retornou clandestinamente aoBrasil. Comandou a Revolução de 30 no Norte e no Nordeste.

“Quando vim de minha terraVim brigado com a muiéInvêis di vim a cavaloEu vim mesmo de a pé

Page 19: Revolução de 1930

Sou filho do Rio GrandeDa cidade de BagéVim numa marcha forçadaVim parar em Itararé

Itararé, ItararéTava tudo em pleno fogoChurrasco, mate, café

Espingarda, carabinaRevolver, laço e cuitéMetralhadora e facão(...............)(.............) e granada.Carro forte, ChevroletCavalaria e trincheiraTudo tinha em Itararé

Itararé, Itararé ...

Tudo ali se reuniaGeneral e coronéCabo, sargento e sordadoPai, criança e muiéA gente andava deitadoE corria mesmo em pé.Tinha cobra na picadaMas chegamos em Itararé

Itararé, Itararé...

General Juarez TávoraMontado num corcéDominando todo o NorteQue (.............) do Norte éDe Sergipe ao AmazonasOs chefes batendo péQuando ia pra BahiaNós ia pra Itararé

Itararé, Itararé...

Que batuta os nossos chefesTodos os dias estão em péQue nunca temeram a morteDizendo por São JoséVamos tomar o CatetePorque o povo requerAgora você me digaSe é assim mesmo ou não é”

Page 20: Revolução de 1930

16 - Olha o pingo (1930)

Autor: Hekel Tavares e Joracy CamargoIntérprete: Januário de OliveiraGênero: EmboladaGravadora: Columbia

O personagem da música é Getúlio Vargas. A embolada, gravada um mês antesdas eleições de março de 1930, brinca com o desespero que teria tomado contado candidato da Aliança Liberal quando foi se dando conta de que a derrota nasurnas era certa. Dos 20 estados brasileiros à época, apenas a Paraíba e MinasGerais, presidida por Antônio Carlos de Andrada, o “seu” Toninho Anacreonte,além do Rio Grande do Sul, ficaram a seu lado.

Antonio Carlos, que pretendia ser o sucessor de Washington Luís, o “compadreRoxingtão”, não aceitou passivamente o rompimento da política do “café comleite”, que dava direito a Minas Gerias a indicar o novo presidente depois de oPalácio do Catete ter sido ocupado por um paulista durante quatro anos. Emrepresália, lançou a candidatura de Getulio. Mas, sob a pressão de WashingtonLuís, os demais estados fecharam com “seu” Julinho Prestes, “caboclo valentão”.

A música lembra que Getulio, ao se candidatar a presidente, havia quebradocompromisso assumido anteriormente com Washington Luís de marchar comele na sucessão presidencial.Vale lembrar que Hekel Tavares era partidário dacandidatura de Julio Prestes. Chegou a assinar manifesto de apoio ao candidatogovernista.

Como os fatos posteriores se encarregariam de demon strar, Getulio não estavatão desesperado assim. Meses depois, o Rio Grande do Sul levantou -se emarmas, recebeu apoio em outros estados e a República Velha caiu. Roxingtão e ocaboclo valentão foram exilados.

“Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,Olha o pingo, pega o laço pra laçar (bis)

Foi inda ontemQue lá de Belo HorizonteSeu Toninho AnacreonteMe chamou pra governarTodo acanhadoRespondi: “Tá combinado,Que daqui mais um bocadoNo Catete vou morar”

Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,Olha o pingo, sinhá, pega o laço pra laçar (bis)

Servi à beça

Page 21: Revolução de 1930

Pra ser deputado avessa.Que eu já tinha uma promessaCom o compadre RoxingtãoEntão por issoDe quebrar um compromissoHouve bruto rebuliçoQue eu inté fiquei na mão

Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,Olha o pingo, pega o laço pra laçar

Eu tava atenteQue pra “serse” presidenteEra só ficar contenteE esperar as eleiçãoMas não é sopaÉ preciso boas rôpasViajar pulas ÓropasPra servir sua nação

Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sin há,Olha o pingo, pega o laço pra laçar

Mas seu ToninhoMe deixou aqui sózinhoVou lutar com seu JulinhoQue é caboclo valentão ?Dos otro estadosQue ficaram indignadosUm ficou do nosso ladoMas o resto num qué, não

Olha o pingo, sinhá, olha o ping o, sinhá,Olha o pingo, pega o laço pra laçar

Lá vai eu agoraSem dormir horas e horasSem saber se vô simboraOu se fico aqui à toaEle se escondeJá desarriô do bondeVai fugí num sei prá ondeCom um tá João Pessoa

Olha o pingo, sinhá, olha o pingo, sinhá,Olha o pingo, pega o laço pra laçar

Padre Virgílio (?)Tô ficando burrecidoE inté desiludidoCom tanta desilusão

Page 22: Revolução de 1930

Mas não é JúlioQue eu não quero ser GetulioEscapando desse embrulhoNunca mais vou no arrastão

Olha o pingo, sinhá, olha o pingo , sinhá,Olha o pingo, pega o laço pra laçar”

17 - Isidoro já vortô (1930)

Autor: Mandi e SorocabinhaIntérprete: Mandi e SorocabinhaGênero: Moda de violaGravadora: Victor

Com a vitória da Revolução de 30, o general Isidoro D ias Lopes, chefe daRevolução de 1924, em São Paulo, pôde retornar da Argentina, onde estiveraexilado desde 1925. Isidoro era uma figura lendária entre os paulistas e umaespécie de irmão mais velho dos “tenentes”, que lhe deram o título de “Marechalda Revolução”.

Diferentemente de Luiz Carlos Prestes, que se recusou a apoiar a Revolução de30, Isidoro somou-se ao movimento, chegando a ser cogitado para ser seu chefemilitar, cargo finalmente ocupado pelo general Góes Monteiro. Com a vitória domovimento, em outubro, assumiu o comando da 2a Região Militar, sediada emSão Paulo, mas logo se atritou com Vargas.

Em 1931, depois de criticar o interventor federal João Alberto e o comandanteda Força Pública, Miguel Costa, Isidoro foi substituído no comando d a 2ª RM,tendo recusado convite para ser interventor no Estado do Rio. Passou a pregar avolta do país ao regime constitucional, participando da RevoluçãoConstitucionalista de 1932, em São Paulo. Com a derrota do movimento, foideportado para Portugal, retornando ao Brasil em 1934, anistiado.Nesta moda de viola, Mandi e Sorocabinha já estão francamente ao lado dosrevolucionários de 30. O apoio à República Velha ficou para trás: afinal “todobezerro véio tem mesmo que desmamar”. Washington Luís é tachado de turrãoe Júlio Prestes chamado a ressarcir os cofres públicos pelas despesas da viagemque, como presidente eleito, fizera ao exterior. O general Tasso Fragoso, citadona composição, chefiou a Junta Provisória que prendeu Washington Luís, a 24de outubro, e negociou a entrega do poder a Vargas.

“Da grande Revolução eu também quero falarO nosso grande Brasil agora vai endireitarÉ o Getulio Vargas que agora vai governarO Getulio foi eleito pelo Partido LiberáTodo bezerro véio tem mesmo que desmamar

Page 23: Revolução de 1930

Com o novo governo esperamos ser felizNão é mais o Julinho e nem o senhor Washington LuísQue já fez o abandono do nosso rico paísFazendo e desfazendo o que dava no narizO que é (........) e foi tombado não pico nem a raiz.

24 de outubro foi um dia gloriosoNós tem que agradecer pro exército revoltosoE pros grandes generás como é Tasso FragosoO exército é valente, o exército é corajoso(........) tomou o Catete e prenderam o orgulhoso

Isidoro Dias Lopes prometeu, ai, de voltarFalou pro povo paulista que podia esperarQue ele voltava mesmo, e que custe o que custarAgora tá em São Paulo lá no quartel generáJá cumpriu sua palavra, pode agora descansar

O turrão do Washington Luís foi custoso de arriarPra deixar o governo que alguns não quer afinarMais cedo ou mais tarde, ele tinha que pagarOs gasto da eleição, ele tem que ajudáSe não tiver dinheiro, coitado, vai passar má

E o Julinho Prestes que ele há de confessarPela razão ou pela força ele queria governarAgora tem uma continha aqui para ele nos pagarÉ dinheiro que gastou quando ele foi passearÉ dinheiro do povo que custou muito ganhar”

18 - Taí, seu Getulio se foi (1930)

Autor: Juvenal de AbreuIntérprete: ParaguassuGênero: MarchaGravadora: Columbia

Marchinha que canta a chegada de Getúlio ao poder e lembra as vítimas darepressão política durante a República Velha. Na delegacia do bairro paulistanodo Cambuci, também conhecida como a Bastilha do Cambuci, ficavam os presospolíticos no antigo regime.

“Seu Getúlio foi, taíQuem foi que disse que não ia, nãoE por que é que não devia irQuem é Getulio é do coração

Seu Getúlio foi, taí

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Não há mais nada lá no CambuciViva o Brasil e a RevoluçãoViva o Getúlio do coração

Pode se acabarÁgua do rio do nosso sertãoSeu nome não se apagaráJamais do nosso coração”

19 - O meu viva quero dar (1930)

Autor: Cornélio Pires, Mariano e CaçulaIntérprete: Cornélio Pires, Mariano e CaçulaGênero: Moda de violaGravadora: Columbia

Outra homenagem à Revolução de 30, lançada no mesmo disco que “Se osrevortoso perdesse”. No caso, aos estados que lideraram a luta contra o antigoregime – Paraíba, Rio Grande do Sul e Minas Gerais – e aos combatentes daRevolução de 1924, em São Paulo. (Ver também Mo da da Revolução CD 1).

No canto desta violaCom toda satisfaçãoConfirma o merecimentoDe quem merece ovaçãoViva!

Primeiro, com toda força,Eu quero ir bem pra ribaUm viva, viva, revivaÀ gloriosa ParaibaViva!

Um viva bem forteReboou no céu azulE viva, viva, revivaO Rio Grande do SulViva!

E depois um viva bem grandeDo alto dessa colinaE viva, viva, revivaO grande estado de MinasViva!

Viva os que pegaram em armasPor essa nação inteira

Page 25: Revolução de 1930

Viva todos os estadosViva a nação brasileiraViva!

Mais um viva eu que quero dáPorque eu não sou nenhum ingratoE viva, viva, revivaOs herois de 24Viva!

Mais um viva eu quero darCom orgulho de brasileiroE viva, viva, revivaA memória dos que morreramViva!.

20 - Os 18 de Copacabana (1930)

Autor: Henrique Vogeler e Horácio CamposIntérprete: Gastão FormentiGênero: HinoGravadora: Brunswick

A música, posterior à Revolução de 30, presta homenagem aos “18 do Forte”,como ficaram conhecidos os jovens oficiais que se revoltaram em julho de 1922,no Forte Copacabana, defendendo reformas no sistema político e nasinstituições militares. A sublevação marcou o nascimento do movimentotenentista, que, nos anos seguintes, em vários episódios, como a Revolução de24 em São Paulo e a Colun a Prestes, enfrentaria de armas na mão a RepúblicaVelha.

Em outubro de 1921, o Correio da Manhã havia publicado uma série de cartasofensivas ao Exército, atribuídas ao candidato oficialista à Presidência daRepública, Artur Bernardes. Vitorioso Bernarde s, os jovens oficiais rebelaram -se, no dia 2 de julho, para impedir sua posse. Receberan o apoio do comandantedo Forte de Copacabana, Capitão Euclides Hermes da Fonseca, filho domarechal Hermes da Fonseca, e de outras guarnições do Distrito Federal, doEstado do Rio de Janeiro e de Mato Grosso.

Na manhã do dia 5, o 3º Regimento de Infantaria tomou posição perto do forte,que logo passou a receber fogo cerrado. Eram 301 revolucionários - oficiais ecivis voluntários - enfrentando as forças legalistas. A certa altura dosacontecimentos, Euclides Hermes e Siqueira Campos sugeriram que aqueles quenão quisessem combater abandonassem o forte: restaram 29 combatentes. Porestarem acuados, o Capitão Euclides Hermes saiu da fortaleza para negociar. Os28 que permaneceram, decidiram então "resistir até a morte", partindo emmarcha pela Avenida Atlântica rumo ao Leme. Durante os tiroteios, dez delesdispersaram-se eapenas 18 integravam, ao final, o pelotão suicida.

Page 26: Revolução de 1930

Após a morte de um cabo, ainda no asfalto, com uma bala nas costas, os demaissaltaram para a praia, onde ocorreram os últimos choques. Os únicossobreviventes foram Siqueira Campos e Eduardo Gomes, feridos.

“O Brasil, Sul a Norte, se ufanaDesse sangue de efeito exemplarOs 18 de CopacabanaDerramaram viris a lutar.

Este lance de nobre heroísmoDe pujança eloqüente e virilBem atesto o robusto civismoDesses nossos irmãos do Brasil

Epopéia cintilanteMas a dor se apodera de nósChora a Pátria a saudade incessanteDesse belo punhado de heróis

A Nação enlutada pranteiaEsses bravos com trágica dorPatriotas de sangue na veiaBrasileiros de excelso valor

Liberdade, na boca esse gritoA oprimida Nação lhes ouviuSeja sempre por todos benditoO ideal que na morte os uniu

Epopéia cintilanteMas a dor se apodera de nósChora a Pátria de saudade incessanteDesse belo punhado de heróis.”

21 - Se os revortoso perdesse (1930)

Autor: Cornélio Pires, Mariano e CaçulaIntérprete: Cornélio Pires, Mariano e CaçulaGênero: Moda de violaGravadora: Columbia

Não se sabe ao certo a data da gravação desta moda de viola, lançada junto com“O meu viva eu quero dá” (a seguir), mas ela foi composta “logo depois daRevolução” de 30, como esclarecem os intérpretes. Comemora a vitória domovimento revolucionário, ocorrida em 24 de outubro.

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Alguns esclarecimentos: 1) O Laudelino citado é o delegado de polícia Laudelinode Abreu, um dos responsáveis pela repressão em São Paulo às atividades dosconspiradores de 1930; 2) Isidoro “Salvador” é o gener al Isidoro Dias Lopes, umdos chefes da Revolução de 1924, em São Paulo; 3) Miguel Costa tambémparticipou do movimento de 1924, tornando -se depois um dos principais chefesda Coluna Prestes, originalmente chamada de Coluna Miguel Costa – CarlosPrestes; 4) O “vermeio” da gravata é uma associação com o lenço encarnadousado pelos “revortosos”; 5) Guasca e “reio”, corruptela de relho, são diferentestipos de chicote.

Não foi possível descobrir quem seria o tal Giuseppe Maria, chefe do conselho.Seria uma referência a Garibaldi e, por tabela, à Revolução Farroupilha e, portabela ainda, ao gaúcho Getulio Vargas? Não faz muito sentido.

“24 de outubroFoi um dia de alegriaLouvado seja o bom DeusAi deu certo o que nós queriaSe os revortoso perdesseO negócio ficava feioNós tinha que entrar na guascaNós tinha que entrar no reioSe os revortosse perdesseO negócio ficava feio

O tá Giuseppe MariaComo chefe do conselhoMontava fabricaçãoMas só de gravata vermeioE nos ia pra guaiabaNem pra sarvar tinha meio

O Laudelino marvadoConvoquei para rodeioRodeava os pobres inocentesTocando sem dó o reioMas os dois graças a DeusAia, agora já tão no freio

Mas Isidoro Salvador,Ai Miguel Costa adoradoMas .. vai estar na boa ,Agora temos livradoDo exército perdedorAi, e dos chefes tão marvados

24 de outubro ...

22 - Leão do Norte (1930)

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Autor: João PetrilloIntérprete: ParaguasuGênero: HinoGravadora: Colúmbia

Na leva de hinos e marchas em louvor aos chefes d a Revolução de 30, um dosmais homenageados é Juarez Távora. Herói da Coluna Prestes e do movimentotenentista, Juarez não só aderiu à sublevação comandada por Vargas, comochefiou-a no Nordeste. Daí o título de “Leão do Norte” ou “Vice -Rei do Norte”que recebe em diversas músicas da época.

“Foi o teu valor,Foi o teu amorVingou o nosso BrasilFoi teu peito forteDe homem do NorteAltivo e varonil

Esse leão sozinho,mostrando caminhoNos deu a liberdadeMarchando a frente,Que homem valenteCheio de mocidade

Juarez, JuarezO seu nome é uma glóriaO Brasil te proclamaO general da vitóriaO seu nome está gravadoPara nós até a morteCom orgulho te chamamosO bravo Leão do Norte

O Brasil unido,Aqui, ó destemidoAclama com emoçãoNo Norte distante,Hoje triunfanteNesta Revolução

Foi o seu valor,Foi o seu amorQue tomou o BrasilEis que surge agoraO clarão da aurora,Neste céu de anil

Juarez, Juarez

Page 29: Revolução de 1930

O seu nome é uma glóriaO Brasil te proclamaO general da vitóriaO seu nome está gravadoPara nós até a morteCom orgulho te chamamosO bravo Leão do Norte”

23 - Gê-Gê (1930)

Gênero: Marcha

A marchinha "Gê-Gê", apelido carinhoso usado pelos partidários de GetúlioVargas, canta com bom humor e talento as esperanças desatadas p ela Revoluçãode 30.Não foi possível descobrir os autores da marchinha, assim como quemcanta a música nesta gravação. Parabélum era uma pistola automática muitousada na época; Encantado é um bairro da Zona Norte do Rio; encarnado(vermelho) era a cor dos lenços dos revolucionários de 1930.

Diz ela:

"Só mesmo com revoluçãoGraças ao rádio e ao parabélum,Nós vamos ter transformaçãoNeste Brasil verde-amareloGe-e-Gê-/t-u-tu/l-i-o-lio/ Getúlio

Certa menina do Encantado,Cujo papai foi senadorAo ver o povo de encarnadoSem se pintar mudou de corGe-e-Gê-/t-u-tu/l-i-o-lio/ Getúlio”.

24 - Legião Revolucionária (1930)

Autor: José NiccoliniIntérprete: ParaguassuGênero: MarchaGravadora: Columbia

A marcha faz referência à Legião Revolucionária de São Paulo, fundada porMiguel Costa logo depois da Revolução de 30, com o objetivo de agrupar o setortenentista e popular no estado, e dar sustentação ao interventor João Alberto,que, desde o primeiro momento, sofreu forte oposição da elite paulista.

“Nós somos a legião

Page 30: Revolução de 1930

Que não teme em combaterEm morrendo obedecerEm morrer tentar vencer

Para a glória do BrasilNós iremos ajudarLiberdade vai brilharNeste lindo céu de anil

Pátria amada há de serUm eterno coraçãoOs seus filhos que aqui estãoPra lutar até morrer

Para a glória do BrasilNós iremos ajudarLiberdade vai brilharNeste lindo céu de anilPátria amada há de serUm eterno coraçãoOs seus filhos que aqui estãoPra lutar até morrer” (Bis)

25 - Legionários, alerta (1930?)

Intérprete: Cornélio Pires, José Eugênio e seu grupoGênero: MarchaGravadora: Columbia

A marcha convoca os integrantes da Legião Revolucionária de São Paulo,fundada logo depois da revolução de 30 , por Miguel Batista e outros líderestenentistas, a estarem vigilantes para impedir o retorno da oligarquia paulistaao poder.

Nossa grande legiãoÉ revolucionáriaMorrerá pela NaçãoContra o pau , sempre contrária

.............Não vou mais...... intervençãoNão vou mais

Nosso peitos, nossas vidasDamos à RevoluçãoNunca mais a nossa PátriaVoltará para a escravidão

Ai daquele que tentar

Page 31: Revolução de 1930

Refazer oligarquiaNossos pés hão de beijar.Ouvirá no mesmo dia

26 - Heróis brasileiros (1930)

Autor: Roberto Splendore e OrfeoIntérprete: UbirajaraGênero: HinoGravadora: Victor

A gravação deste hino é de novembro de 1930, mas a impressão que fica é queele foi composto entre julho e outubro de 1930. Se fosse posterior a outubro,certamente cantaria de alguma maneira a vitória da Revolução de 30. E comcerteza não é anterior a julho, porque os versos sobre o “massacre da vida nosjardins da morte, lá no Norte” referem -se ao assassinato de Epitácio Pessoa,ocorrido naquele mês.

O hino mostra que, apesar da derrota nas eleições, a Aliança Liberal continuouativíssima, não apenas articulando a deflagração do movimento armado, mastambém disputando a opinião pública da época com todos os instrumentos aseu alcance, inclusive músicas e ver sos.

“Quando lá no Norte(.....) a comitivaNos jardins da morte,Alguém massacra a vida

Não chega a apagarA sacra luz de um idealQue hoje tanto brilha(....................)no quintal

Getúlio, GetúlioHerói para varonilEstrela pungenteNo céu do Brasil

Getúlio, GetúlioE a calma febril(?)Tu vais aprender................do Brasil

E o nome, então,do herói sacrificadoNós em cada cantodo nosso Brasil amadoQue em nós confiaPara lutar, para vencer

Page 32: Revolução de 1930

E a pátria nos (.....)Para poder livre viver

Getúlio, GetúlioHerói varonilEstrela pungenteNo céu do Brasil

Getúlio, GetúlioE a calma febrilTu vais aprender................ do Brasil”

27 - Tempo Ruim (1930)

Autor: Mandi e SorocabinhaIntérprete: Mandi e SorocabinhaGênero: Moda de violaGravadora: Parlophon

A música, lançada em maio de 1930, provavelmente foi composta antes demarço, quando foram realizadas as eleições presidenciais vencidas por JulioPrestes e contestadas por Getulio Vargas e a Aliança Liberal, pois há na letramenção ao fato de Getulio dizer que venceria a disputa.

A moda de viola faz parte de uma série em que a dupla acompanha em temporeal a agitação política e as reviravoltas do período (ver “Paulista e gaúcho”,“Depois das eleições”, “Rebentô a revolução” e “Isidoro já vortô”). Como ostempos estavam confusos e os preços disparavam, a música tem um certo tomnostálgico.

Sente saudades até da monarquia.

“O nosso tempo tá ruimEm tudo eu não acho jeitoSempre mudar de governo,Sempre mudar de prefeitoÉ coisa que eu não compreendoE eu não posso achar direito, aaai

Foi depois da MonarquiaQue houve complicaçãoAgora com a RepúblicaTudo vai por votaçãoE a gente que não votaDiz que não é cidadão, aaai

Todas as coisas ficou caroBem depressa, num instante

Page 33: Revolução de 1930

Alembro e tenho sôdadeDaquele tempo distanteEu tinha quatro vintémMas valia que nem diamante, aaai

Eu pegava em dez mil reisE surtia a minha casaPagava tudo vendeiroE nada eu atrasavaQuando era fim da semanaMantimento sobejava, aaai

Hoje eu pego em vinte mil réisVou na vila, fico bestaEu gasto tudo os meus vinteA compra cabe na cestaNão sobra nem dez tostãoPra mim comprar uma chupeta, aaai

Pois olha minha mulherVim pensando pro caminhoPra comprar a mamadeiraNão sobrou nem um pouquinhoDê de mamar pro pequenoAgrade o nosso filhinho, aaai

Mulher passa a preguntarSe eu ouvi falar da eleiçãoE eu passo a contarTá feia a situaçãoO Vargas disse que ganhaEu não sei se ganha ou não, aaai

Pois olha minha mulherNa vila a coisa tá feiaSe falar mal do governoPõe a gente na cadeiaE depois da carceragemNão se tem pataca e meia, aaai”

28 - Hino 24 de outubro (1930)

Autor: H. Vogeler e Catulo da Paixão CearenseIntérprete: Gastão FormentiGênero: HinoGravadora: Brunswick

24 de outubro é a data da deposição do presidente Washington Luís pela juntamilitar que assumiu o poder no Rio de Janeiro, transferindo -o depois paraGetulio Vargas. É considerado o dia da vitória da Revolução de 30. Os

Page 34: Revolução de 1930

“florianos”, que rimam com “soberanos”, devem ser os herdeiros de FlorianoPeixoto, que consolidou a República, enfrentando encarniçada oposição da eliterural.

“Cantemos um hino à Glória,Pais e filhos de leões,Que os pampas estão cantandoAbraçados com os sertões.

Vinde a nós, bravos Getulios,Destemidos Florianos,Vós, Juarezes soberanos,Generais triunfadores.Mas trazeis na vossa frente,Conduzindo a cavalgada,A liberdade montadaNum corcel cheio de flores.

Derribado o despotismoExpulsai num grande exemploEsses vendilhões do temploDa República altaneiraAté que venham de joelhosPedir-nos perdão um diaRezando uma Ave MariaAos pés de nossa bandeira

Vinde a nós, bravos Getulios,Destemidos Florianos,Vós, Juarezes soberanos,Generais triunfadores.Mas trazeis na vossa frente,Conduzindo a cavalgada,A liberdade montadaNum corcel cheio de flores.

De arma em punho, brasileiros,Nesse ardoroso momento,Ergamos o pensamentoComo quem reza uma missa,Suplicando a Deus de joelhosQue o Brasil reerguenteSeja o berço florescenteDo amor, da paz e justiça.”

29 - Hino a Juarez (1933)Autor: João Valença e Oscar BrandãoIntérprete: UbirajaraGênero: HinoGravadora: Victor

Page 35: Revolução de 1930

Juarez Távora foi um dos principais nomes do movimento tenentista e um dosmais destacados chefes da coluna Miguel Costa -Prestes. Às vésperas daRevolução de 30, divergindo dos ataques lançados por Luiz Carlos Prestescontra a Aliança Liberal, somou -se ao movimento encabeçado por GetúlioVargas, convertendo-se no seu principal articulador no Nordeste.

Vitoriosa a Revolução, Juarez foi nomeado delegado militar junto aosinterventores do Norte e do Nordeste, o que lhe valeu o cognome de “vice -rei doNorte”. Mais tarde, em 1955, candidatou -se a presidente da República, sendoderrotado por Juscelino Kubitschek (ver também “Itararé”).

“Defensor desse povo de bravos,Que no susto trazia os grilhões (?),Juarez, como o bravo dos bravos,Fez dos filhos do Norte leões.Filho da Terra da Luz,Juarez, bravo guerreiro,Todo o povo brasileiroPara a vitória conduz.Todo o povo brasileiroPara a vitória conduz.

Paraíba, na guerra bandeiraRubronegra, agiitou “Juarez!”.Grita toda a nação brasileira:Liberdade, chegou tua vez!Filho da Terra da Luz,Juarez, bravo guerreiro,Todo o povo brasileiroPara a vitória conduz.Todo o povo brasileiroPara a vitória conduz.

Pernambuco, imortal sua glóriaÉ na guerra maior que na paz.Juarez inscreveu-se na históriaCom uma pátria de heróis imortais.Filho da Terra da Luz,Juarez, bravo guerreiro,Todo o povo brasileiroPara a vitória conduz.Todo o povo brasileiroPara a vitória conduz.”

30 - Revolução de Getulio Vargas (1930 - dezembro)

Autor: Zico Dias e FerrinhoIntérprete: Zico Dias e Ferrinho

Page 36: Revolução de 1930

Gênero: Moda de ViolaGravadora: Victor

É impressionante a rapidez da música caipira na resposta aos acontecimentosde 1930. Essa moda de viola foi lançada em dezembro, menos de dois mesesdepois da queda de Washington Luís, portanto.

Saúda a vitória da Aliança Liberal e a volta de Miguel Costa a São Paulo. Ogeneral, que havia participado da Revolução de 24 e, em seguida, liderado aColuna Miguel Costa - Carlos Prestes, era uma figura lendária em São Paulo.Retornando do exílio na Argentina, recuperou a cidadania brasileira, cassadapor Washington Luís, sendo nomeado comandante da Força Pública de SãoPaulo.

Nos anos seguintes, Costa seria um dos principais líderes dos revolucionários naluta contra as forças políticas tradicionais de São Paulo, conflit o quedesembocaria na Revolução de 32(ver “Legião Revolucionária”).

“Todo o povo do Brasil deve agora estar contenteO doutor Getulio Vargas é o nosso presidenteTudo isso foi muito triste, deu vontade de chorarMas logo eu vi anunciado nas coluna do jo rnáQue o senhor vinha no Rio, ai, pro Brasil embelezarAiê, ele cumpriu seu destino e(......) pro hospitá

O Brasil tava na reme e a boiada (?) embelezarDepois que o Getulio veio no Rio para governarTeve baile, teve missa para o mundo se alegrarAiê, ele deu sua palavra, nomeou o nosso generá.

O doutor Getulio Vargas é um homem de perfeiçãoPois ele ganhou no voto, mas ficou na escuridãoPara ter o prometido, foi preciso a RevoluçãoAiê, ele cumpriu o seu dever, ai com armas lá na mão

Quem fez essa modinha recorda a RevoluçãoPra contar pros brasileiro que sofreram judiaçãoA noticia que corria, eu ouvi o povo falar,Miguel Costa na Argentina não podia mais voltarAgora tá em São Paulo, no Brasil, vem adorarAiê, ele cumpriu seu dever, aiá, soa bem na turá”

31 - O Barbado foi-se (1930 - dezembro)

Autor: Lamartine Babo

Page 37: Revolução de 1930

Intérprete: AlmiranteGravadora: Parlophon

A revolução de 30 gerou muitos hinos, mas foram as marchinhas, como essa deLamartine Babo, as músicas mais cantada s pelo povo. Algumas explicações: 1) oBarbado é o presidente Washington Luís, deposto pelo movimentorevolucionário; 2) a referência ao dia 3 explica -se: foi no dia 3 de outubro que asforças da Aliança Liberal, comandadas por Getulio Vargas, levantaram -se emtodo o país; 3) João Pessoa, da Paraíba, vice na chapa de Getulio, morrera mesesantes, assassinado no Recife; 4) Minas e Rio Grande do Sul, junto com aParaíba, lideraram a revolta contra o poder central; 5) quando entraram no Rio,alguns gaúchos amarraram os cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco; a fotoacabou se convertendo num símbolo do fim da República Velha.

“De Sul a Norte,Todo viram a intrepidezDe um Brasil heróico e forteA raiar no dia 3.A Paraíba,Terra santa, terra boaFinalmente está vingada.Viva o grande João Pessoa!Doutor Barbado,Foi-se embora,Deu o fora.Não volta mais.Não volta mais.A mineiradaLá da terra da coalhadaFaz prender a carneiradaNos sertões da MantiqueiraO Rio Grande,Sem correr o menor risco,Amarrou por telegramaOs cavalos no obelisco.Doutor Barbado,Foi-se embora,Deu o fora.Não volta mais.Não volta mais.”

32 - Bico de lacre não vem mais (1930 - dezembro)

Autor: Osvaldo SantiagoIntérprete: AlvinhoGênero: MarchaGravadora: Odeon

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Júlio Prestes tinha o nariz avermelhado. Daí o apelido de “Bico -de-lacre”, quelhe foi posto por José Eduardo Macedo Soares, do Diário Carioca, fundado em1928. O jornal fez oposição a Washington Luís e apoiou a Aliança Liberal.Prestes venceu nas urnas, mas, com a vitória da Revolução de 30 e a deposiçãode Washington Luís (o “Barbado”, o “Cavanhaque”), quem acabou subindo aopoder foi o candidato derrotado, Getulio Vargas. O presidente acabou preso, noforte Copacabana.

“Quem disse um dia que ele vinha,Pra no Catete se assentar,Entregue a mão à palmatóriaE vai uns bolos apanhar.

Não vem mais seu Julinho,Porque o povo não quis,Bico de lacre coitadinho,Como tu fostes infeliz.

O cavanhaque deu o fora,Deixou seu Julinho na mão.E este assim desempregadoHá que tomar um bom pifão

Não vem mais seu Julinho,Porque o povo não quis,Bico de lacre coitadinho,Como tu fostes infeliz.

Quando o barbado ficou sujo,Num forte foi veranear.Copacabana é linda praia,Mas pra tomar banho de mar.

Não vem mais seu Julinho,Porque o povo não quis,Bico de lacre coitadinho,Como tu fostes infeliz”

33 - Seu Getúlio ou Gê-Gê (1931)

Autor: Lamartine BaboIntérprete: Almirante, com o Bando de Tangaras.Gênero: MarchinhaGravadora: Parlophon

A marchinha "Gê-Gê", apelido carinhoso usado pelos partidários de GetúlioVargas, canta com bom humor e talento as esperanças desatadas pela Revoluçãode 30. Parabélum é o nome de uma pistola automática muito usada na época;

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Encantado é um bairro da Zona Norte do Rio; encarnado (vermelho) era a cordos lenços dos revolucionários de 1930.

"Só mesmo com revoluçãoGraças ao rádio e ao parabélum,Nós vamos ter transformaçãoNeste Brasil verde-amareloGe-e-Gê-/t-u-tu/l-i-o-lio/ Getúlio

Certa menina do Encantado,Cujo papai foi senadorAo ver o povo de encarnadoSem se pintar mudou de corGe-e-Gê-/t-u-tu/l-i-o-lio/ Getúlio”.

34 - O Cavagnac (1931)

Autor: Juó BananéreIntérprete: Juó BananéreGênero: CômicaGravadora: Columbia

Juó de Bananére, João Bananeira em português, era o pseudônimo com o qual opaulista Alexandre Marcondes Machado assinava artigos, versos, quadros dehumor e composições escritos em linguagem macarrônica, em que misturavapropositalmente o português e o italiano. A idéia original de se escrever nodialeto macarrônico foi de Oswald de Andrade, mas Juó de Bananére superou -o,pois conhecia bem mais de perto a vida, as brincadeiras e a forma de fal ar dosimigrantes italianos dos bairros do Brás, Bexiga e Barra Funda.

Seus artigos tornaram-se leitura obrigatória dos paulistanos, tanto nos salões daalta sociedade como nos bairros operários. Bananére dizia -se “gandidato àGademia Baolista de Letras” e, sem papas na língua, criticava figurasimportantes da política e da literatura da época. Washington Luís era “UCavagnac”; Hermes da Fonseca, o “Hermese”, ou “Mareschialo” ou,simplesmente, o “Dudu”. Em 1915 publicou “La Divina Increnca”, paródia de “ADivina Comédia”, de Dante Alighieri.

A música “U cavagnac”, cantada pelo próprio Bananére, satiriza WashingtonLuiz e, provavelmente, é posterior à Revolução de 30, porque ele diz a Julinho(Prestes) que sua estrela se apagou, lembrando -se com saudade dos tempos emque era malho e não bigorna, ou seja, em que batia e não apanhava.

“Io nasci in Macaésô branco i sô divogatojá tive bicho di péi fui també vaciinatofui pueta i giurnalista

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disputato, senatoresecretario guvernistaprefecto i governatoreai qui sodate qui io tegnodu tempo que io era o maliodu tempo qui era ioqui amandava nu baralioistu tempo tô gustosoparece qui no ritornaôji no sô maise maliodi malio, virê bigorna

desdi o dia qui nascisempri tive um bruto (pelo)imbora curresse aíqui io fosse um simples cameloa migna istrela, Giulignofui vucê qui apagôtu entrô no mio camignologo o azaro mi pegôai qui sodate qui io tegnodu tempo que io era o maliodu tempo qui era ioqui amandava nu baralioistu tempo tô gustosoparece qui no ritornaôji no sô maise maliodi malio, virê bigorna”

35 - Verbo ser (1931)

Autor: Eduardo SoutoIntérprete: Francisco Alves e Norma BrunoGênero: MarchaGravadora: Odeon

Eduardo Souto faz uma brincadeira misturando a Revolução de 30 com umaaula de português, onde o verbo “ser” é conjugado no passado e no presentepara explicar as mudanças políticas. A professora Dona Osvaldinaprovavelmente faz referência indireta a Osvaldo Aranha, um dos chefes daRevolução de 30.

O aluno Julinho, que não veio à aula, não é outro senão Júlio Prestes, quevenceu nas urnas, mas não chegou a tomar posse. O Barbado é WashingtonLuiz, presidente deposto, agora um “raspado”. O pedido ao soldado para quenão seja mandado para o “estrangeiro” explic a-se: Barbado e Julinho foramexilados.

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“B-a, ba; b-e, be; b-i, bi; b-o, bo; b-u, bu.Dois mais dois, quatro; dois mais três, cinco; dois mais quatro, seis.- Silêncio. Estão todos presentes e, portanto, vamos começar a lição.- Fessora, o Julinho não veio.- Cale a boca, atrevido. Eu já não lhe disse que o Julinho não vem mais?- Desculpe, dona Osvaldina, eu tinha esquecido que a fessora mandara o Julinhode castigo lá pra casa do português.- Bem, bem, não fale mais nisso. Vamos agora ao ponto de ho je, a saber: verboser, conjugação moderna.

AntigamenteEu era, tu eras, ele eraO que?Barbado.

AtualmenteEu sou, tu és, ele éO que?Raspado.

Seu soldado não me prenda,Não me mande para o estrangeiroPois se eu formei batalhãoFoi só pra ganhar dinheiro. (Bis)

PrimeiramenteEu fui, tu foste, ele foiO que?Muita gente, tapeado.

FuturamenteSerei, serás, seráO que?Ai, ai, gozado.

Seu soldado não me prenda,Não me mande para o estrangeiroPois se eu formei batalhãoFoi só pra ganhar dinheiro.”

36 - Nega baiana (1931)

Autor: Ari Barroso e Olegário MarianoIntérprete: Elisa CoelhoGênero: CançãoGravadora: Parlophon

Canção da revista “Brasil Maior”, de Olegário Mariano, encenada em dezembrode 1930, no Teatro Recreio, originalmente interpretada por Aracy Cortes. Agravação de Elisa Coelho, acompanhada pelo Bando dos Tangarás, é do anoseguinte, pela Parlophon. Maliciosamente, a personagem mistura suas façanhas

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na luta e no amor. O lenço encarnado era o símbol o dos revolucionários de1930, que haviam acabado de tomar o poder.

“Sou nega, nega baianaRevolucionária das caatingas do sertãoSou bamba no bamboleio, oiTou arranchada entre os soldados do batalhão

De faca pernambucanaNão vejo homem na minha frente ,Não vejo, nãoPorém na hora dos meus pecadosNinguém resiste aos meus requebros e sedução

Não venham de covardia, oiQue eu só respeito lenço encarnado junto de mimDou tudo pela BahiaSó tenho medo do Nosso Senhor do Bonfim”.

37 - Três de outubro (1931)

Autor: Francisco PezziIntérprete: Francisco PezziGênero: MarchaGravadora: Odeon

Três de outubro é a data em que começou a Revolução de 30. A marcha fazmenção aos dois estados, Rio Grande do Sul e Paraíba, de onde haviam s aído oscandidatos da chapa da Aliança Liberal. Getúlio Vargas era gaúcho, João Pessoaparaibano. E presta homenagem a alguns dos grandes nomes do movimentovitorioso: Flores da Cunha e Osvaldo Aranha, gaúchos, Antônio Carlos deAndrada, mineiro, e Juarez Távora, o chefe da Revolução no Nordeste.

“Minas gloriosa, Rio Grande forteParaíba mártir desafiando a mortePovo valente, com teu ardorVai para a frente, batalhadorGetulio Vargas, Flores da CunhaOsvaldo Aranha, Antonio Carlos, Juarez TávoraGrandes cabeças do pensamentoBrasil repara um novo sol no firmamento”

38 - Cavanhaque (1931)

Autor: Ary BarrosoIntérprete: Leonel Faria

Page 43: Revolução de 1930

Gênero: MarchaGravadora: Columbia

Saborosa marchinha de Ary Barroso brincando com a mudança no vi sual daspessoas depois da Revolução de 30. O cavanhaque, que andara na moda nostempos de Washington Luís, sumiu de circulação. É interessante notar que osprincipais chefes da Revolução de 30 tinham a cara raspada, como GetulioVargas, Osvaldo Aranha, Juarez Távora, Miguel Costa, João Alberto.

“(gritos) Sai fora!!!_Então, seu Canabrava, o que é isso: o senhor correndo desta maneira pelomeioda rua?_Ah, rapaz, o pessoal quase deu cabo de mim._Pudera, não? O senhor antes da Revolução tinha o cavanhaqu e do tamanho deumbonde..._Pelo amor de Deus e de seus filhinhos, não me fale em cavanhaque, home. Ébotaro pé pra fora do estabelecimento é é isto ....(gritos) Fora! Fora!_Mas por que o senhor tirou o cavanhaque?_Eu não tirei-lo, tiraram-no._Como?_A mulata, rapaz, enfezou e foi isto que o senhor está vendo: fiquei com oqueixo pelado..._Então viva a folia! Quem tem cavanhaque é bode.

Antigamente todo mundo admiravaCavanhaque, cavanhaque...Dava imponência, era importante e enfeitavaCavanhaque, cavanhaque...Não pode, não podeQuem tem cavanhaque é bode (bis)Porém agora pouca gente lhe apreciaCavanhaque, cavanhaque...Rasparam o queixo, até parece epidemiaCavanhaque, cavanhaque...Não pode, não podeQuem tem cavanhaque é bode (bis)”

39 - Lalá (1931)

Autor: Nelson FerreiraIntérprete: Augusto CalheirosGênero: MarchaGravadora: Parlophon

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Outra composição de Nélson Ferreira registrando o impacto da Revolução de 30na capital pernambucana. Há dúvidas se Lalá era “l iberá” porque simpatizavacom a Aliança Liberal, que apoiara Getulio Vargas, ou porque simplesmente erauma mulher à frente de seu tempo em matéria de costumes e comportamento.Mas não há dúvida alguma de que o Juarez da última estrofe, que fazcompanhia à guerreira Joana D’Arc na luta do amor, é o tenente Juarez Távora,também chamado de vice-rei do Norte (e Nordeste).

“Você se lembra bem daquela beijocaQue eu lhe dei Lalá sem você querêAinda hoje eu sinto que foi por elaQue comecei a gostar de você

Lalá você diz que é liberáEntão vamos nós doisSe disgraçá no Carnavá

Desde esse dia que começou LáláA nossa história que jamais terá fimQuero enfrentar na vida só cum vocêPois você é tudo, tudo pra mim

Lalá você diz que é liberáEntão vamos nós doisSe disgraçá no Carnavá

Pra nós vencê Lalá na luta do amorÉ se fazer valente logo de vezAssim serás, meu bem, minha Joana d´ArcE eu serei sempre o seu Juarez”

40 - O teu cabelo não nega (1931)

Autor: Irmãos Valença e Lamartine BaboIntérprete: Castro BarbosaGênero: MarchaGravadora: Victor

A marchinha, uma das mais famosas de todos os tempo no, Brasil, faz referênciaà nomeação de tenentes como interventores na maioria dos estados logo depoisda Revolução de 30.

“O teu cabelo não nega, mulataQue és mulata na corMas como a cor não pega,Mulata, eu quero teu amor

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Tens um sabor bem do BrasilTens a alma cor do de anilMulata, mulatinha, meu amorFui nomeado seu tenente interventor

Quem te inventou, meu pancadãoTeve uma consagraçãoA lua te invejando fez caretaPorque, mulata, tu não és deste planeta

Quando meu bem vieste à terraPortugal declarou guerraA concorrência então foi colossalVasco da Gama contra o batalhão Naval”

41 - Ode à revolução (1931)

Autor: Julio Casado e Osvaldo SantiagoIntérprete: Álvaro de Miranda RibeiroGênero: MarchaGravadora: Odeon

Mais um hino em louvor aos chefes da Revolução de 30. Os Andradas são osirmãos Antônio Carlos e José Bonifácio, líderes mineiros. João Neves daFontoura, Osvaldo Aranha, João Batista Luzardo e Getulio Vargas eram osprincipais nomes do Rio Grande do Sul. Juarez Távora chefiou a Revolução noNorte e no Nordeste do país.

“Revivendo os heróis do passadoDe um torpor levantando a NaçãoEis que o povo oprimido e ultrajadoGritou brado de revolução

Guerreiros do Norte, do Leste, do SulEnchestes de estrelas um céu todo azulVencestes na luta, no prélio verazAbrindo com sangue a trilha de paz

Liberdade, Igualdade, JustiçaNo Brasil era um só idealMas o braço dos fortes na liçaTransformou-se num fato real

Os Andradas, João Neves, AranhaCom Getúlio, Luzardo, JuarezSe aliaram na grande campanhaAbatendo o tirano de vez.”

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42 - Non fui ista a inrevoluçó que io sugné (1931/1932)

Autor: Juó BananèreIntérprete: Juó BananèreGênero: CômicoGravadora: Columbia

Abre-se aqui uma exceção à regra de não incluir quadros cômicos nesta coleção,a menos que sejam musicados. Mas a gozação de Juó Bananère (ver “UCavagnac”) ao esvaziamento da Revolução de 30 é tão devastadora e saborosaque não poderia ficar de fora. Bananère, encarnado num barbeiro italiano,sonhava com uma revolução para valer, em que todos ocupariam cargospúblicos, comeriam e beberiam de graça e poderiam pegar uns trocados numamáquina de fazer dinheiro que funcionaria na Praça da Sé.

Em vez disso, o que se viu foi uma “inrevolució vagabonda”, que deixou tudocomo estava, não perseguiu os antigos poderosos e não mudou a polícia, quecontinuou a judiar do povo. Alguns esclarecimentos: 1) O Partido RepublicanoPaulista (PRP), que reunia a fina flor da oligarquia paulista, foi um dosprincipais sustentáculos da República Velha; 2)

A “ageladera” do Cambuci é a delegacia do bairro do mesmo nome, tambémconhecida como a “Bastilha do Cambuci”, para onde eram remetidos os presospolíticos durante a República Velha; 3) Waxinto Luigi e Giuligno Bréstimo são,respectivamente, Washingtons Luís e Julio Prestes.

Depois da letra, segue-se a tradução do dialeto macarrônico para o português.

Malata estava dormindo, quieto e sossegado. Vamos falar da revolução. Eupensava que, se ganhasse a revolução, a gente botava todos os chefes do PRP nageladeira do Cambuci e jogava água em cima deles. E dava uns tirinhos de ///na cabeça de cada um. A polícia, que judiava tanto da gente, não teria mais grilo,não teria mais molho, não teria chinelo automático (?). A gente pegava oFordinho, abria o escapamento, e ia fazer o ///. E ninguém mais mexia com agente, nem os ///, nem os invest igadores, Quando vinha a pequena bonita, agente botava os faróis em cima dela pra espiar melhor, e não tinha grilo nemninguém para se meter com a gente/

Em vez disso, é a mesma coisa: grilo, chinelo automático, geladeira, molho eoutros animais ferozes. Não foi esta a revolução com que eu sonhei. Eu sonheicom uma revolução em que a gente botasse o Washington Luís na vitrina com ocavanhaque de fora para cada um de nós arrancar um fiozinho, para ir fazercócegas no nariz do Julinho Prestes, que deixasse na outra vitrina o nariztambém de fora. Eu esperava que, ganha a revolução, todos nós iríamos serdeputado, senador, vereador, presidente, secretário, ministro, etc etc. Eu sonheicom uma revolução com um câmbio batuta: dólar a mil e quinhentos cada um; ea lira a um tostão a dúzia; uma máquina de fazer dinheiro girando na Praça daSé, para a gente ir buscar uns /// quando quisesse fazer uma fezinha no elefantecom um zero nove; banquetes populares com leitão assado, peru com farofa,

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tutu de feijão com lingüiça, e macarrão com tomate em caldo em todas praçaspara o Zé Povo comer até arrebentar, tudo de graça. Nas bombas de gasolina,em vez de gasolina, teria uns chopes duplos e um vinho /// para a gente bebervinte litros de cada vez por conta do governo.

Qual o quê! Nada disso. Ganhou a revolução e a gente continua barbeiro domesmo jeitinho, raspando as caras dos outros a duzentos a raspada sem toalha e//// e a trezentos com a toalha e o sabonete do ///. O Câmbio está no buraco,dinheiro a gente não vê mais uma nota nem de cinco. Comidas? Não tem.Leitão? Não tem.

Peru? Não tem, não tem nada. É sopa só, e mais nada. Chope, eu nem lembromais se é sólido ou líquido. Não foi esta a revolução com que eu sonhei. Querevolução mais vagabunda.

O sóle mioTan pronte atêTan pronte atênon sei porque ...

Malata estava dormindo proprio e sossegado, vamos a fala da revolució........io pensaba qui aganhá a revoluçóa genti abutava tutos chiefe dú PRPna ageladêra dú Cambuci i abuxava acqua inzima dellii dava um dirinho di ????? na gabêza di gada unoa bolizia qui ajudiaba tanto da gentinon tenia maisenon tenia maise grilonon tenia maise mó (?)no tenia maise ginelo tomático (?)a genti pigava o fordinho, abria o isgapamentoi iba fazê o ?????? i ningué am ixia com a gentinê o lugeramo (?) nê o inbestigadôcuando vigna a bequena bonitaa genti abutava us farole inzima dellabrá ispiá meliore i no tenia grilo nê ninguéprá si metê com a gentiinveize, é a messima côisagrilo, ginelo tomático, geladêra, môi otros animale ferozenon fui ista a revoluçó qui io sugnéio sugné con una revoluçó qui a gentiabutasse o Waxinto Luigi na vitrinaco´u cavagnac di fuorebrá gada uno de noise arrancá uno fiuzinhobrá í afazê cócega no narize do Giuligno Bréstimoi dixasse na ôtra vitrina o narize també di fuoreio esperate qui i aganhada a revoluçótuttos noise iba ser diputato, senador, vereador,

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prisidentimo, secretário, ministrimo, etchetra, etchetraio sugné con una inrevoluçó gú gambio batutadólar a mile i quinientó gada unoi a lira a un tustó a dúziauna máquina di afazê dinero girando nú Largo da Sébrá genti ir abuscá us aramu cuando quisesse fazê una fezinhanu alefanto con un zero nuoveBanquetos popularo cô leitó azadoPirú co´a farofa, tutú di feijó co´a ling uiciai macarone co´a pomarola in goffain tudas praça prú Zé Povo amangiare inté aribentátutto di ???????Nas bomba di gasiolina, inveise di gasiolinatenia un chopps duplo i un vigno griolinoprá genti abibê ventis litro cada veisepur conta dú governoCual u quênada dissu, aganó a inrevoluó i a genti continuabarbieri du messimo jeitigno, araspano as gara dus otroa duzentô a raspada sê toaglia i a ??????????i a trezentô co´a toaglia i o sabonete du ????????u gambio, tá no buraco ...dinêro, a genti nó vê maise una nota ... nê di tchincocomidas ... nô tê,leitô ... nô tê,pirú ... nô têno tê nada ...é sopa só i maise nadachope ... io nó si alembro maise si é sólido, si era líquidonon fui ista a inrevoluçó qui io sugnéqui inrevoluçó maise vagabonda !

43 - A canoa virou (1931)

Autor: Nelson FerreiraIntérprete: Augusto CalheiroGênero: MarchaGravadora: Parlophon

Quem não conhece o frevo “Evocações do Recife”? É quase um hino da capitalde Pernambuco, composto pelo genial Nélson Ferreira, que passou meio séculofazendo música da maior qualidade.

E fez muita música sobre política, como essa deliciosa marchinha saudando avitória da Revolução de 30 e a fuga das principais figuras da República Velha emPernambuco, a começar pelo governador Estácio Coimbra.

O Beiçola não era outro senão o temido chefe de milícia José Ramos de Freitas,que também havia dado no pé. Já o Melo citad o na composição era do bem.

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Tratava-se de Mário Mello, escritor e carnavalesco do Recife.

“A canoa virou, pois éSeu Estácio fugiu, pois éO beiçudo beiçola, pois éNunca mais ninguém viu, pois é

Da forma que a coisa virouÉ fato que jamais se viuQuem estava de cima foi d’água abaixoQuem estava embaixo subiu

A canoa virou, pois éSeu Estácio fugiu, pois éO beiçudo beiçola, pois éNunca mais ninguém viu, pois é

Havia muita gente gordaContente, que de tudo riaMas vem de repente a bruta viradaE lá foi-se a zombaria

A canoa virou, pois éSeu Estácio fugiu, pois éO beiçudo beiçola, pois éNunca mais ninguém viu, pois é

Quiseram até fazer museuEm ter licença do seu MárioVoaram em cima de um raro espelhoE quase vai-se o armário”

44 - Nega Maria (1932)

Autor: J. ThomazIntérprete: Elisa CoelhoGênero: SambaGravadora: Victor

O samba é de 1932, mas faz referência a um dos principais episódios domovimento tenentista, o levante de São Paulo em 1924. Comandada pelogeneral Isidoro Dias Lopes, que chegou a controlar a capital paulista por trêssemanas, a revolta foi sufocada pelas tropas legalistas, que bombardearamvários bairros da capital paulista.

Um dos oficiais mais destacad os na sublevação foi o tenente João Cabanas, que,depois prosseguiria a luta no interior do estado, à frente da chamada “Coluna daMorte”, infernizando a vida das tropas federais. Cabanas virou lenda no

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imaginário popular. Dizia-se que ele tinha o corpo fechado, saltava pelostelhados e fora salvo de um cerco por ninguém menos que São Jorge.

Resultado: teve a cabeça posta a prêmio por quinhentos contos e, meses maistarde, exilou-se no Uruguai. Assim, não tomou o mesmo rumo de muitosparticipantes da revolta de 24, que aderiram à Coluna Prestes e durante doisanos e meio enfrentaram o Exército no sertão do Brasil, sob o comando deMiguel Costa e Luiz Carlos Prestes.

Em tempo: Sapopemba, hoje Deodoro, e Encantado são dois subúrbios daCentral, no Rio de Janeiro.

“Nega Maria,Quando entra no samba,É bambaPorque samba de verdade.

Nega MariaFez barulho em Sapopemba,Fez barulho no Encantado,Fez barulho na cidade.

Nega Maria, quando entra no samba...

Nega MariaÉ uma nega revoltosa,Essa nega conta prosaEntre as negas suburbanas.

Nega MariaJá andou de sul a norte,Pois zombou até da morteNa coluna do Cabanas.”

45 - Governadô (1932)

Autor: João Dória CorreiaIntérprete: Turma do BonfimGênero: EmboladaGravadora: Victor

Outra composição que aborda a mudança do poder nos estados depois da vitóriada Revolução de 30, com a nomeação dos interventores, geralmente egressos domovimento tenentistas, em substituição aos antigos chefes das oligarquiaslocais.

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Nesta embolada, o tom é francamente laudatório. Os tenentes teriam postoordem na casa, do Amazonas ao Rio Grande do Sul: finanças em dia, fim dasintrigas políticas, trabalho sério. Parece bom demais para ser verdade ...

Dos três nomes citados na música, dois são interventores. Um deles, o “Mané”,do Ceará, é facilmente identificável. Trata -se de Manuel Fernandes Távora,parente de Juarez Távora, o vice-rei do Norte, nomeado por Getulio logo depoisda vitória da Revolução. O outro, o“dotô da Cunha”, provavelmente é Flores daCunha, do Rio Grande do Sul, um dos principais chefes da Revolução de 30. Nãofoi possível descobrir quem seria o capitão Rogério.

“Balanceiro” é sinônimo de encrenqueiro; “demoinha” é corruptela dedemoniazinha”; “farofa de bambá” é um prato baiano – farinha de mandiocacomsedimento do azeite de dendê.

Governadô, governadô, governadôNão há mais só um tenenteQue não seja interventôGovernadô, governadô, governadôDo Amazonas ao Rio GrandeA turma é toda do amor

Os meus tenentes disciplinado nos quartésNão se deixam embromar com zum -zum-zum nem be-re-réE a prova disso vi o Norte como estáÉ só saldo orçamentário pra nunca mais acabar

Governadô ...

Veja o dotô da Cunha que é tenente bom servíAté o capitão Rogério, tudo com eles é ´´ali´´Não há mardade, nem intriga, nem invejaÉ tudo trabáio sério prá grandeza do Brasí

Governadô ...

Fui revortoso por ser filho de gaúchoTer nascido na Bahia, por amor do meu amorA um cabocla que tinha sangue no olhoComia pirão sem moio com farofa de bambá

Governadô ...

Nas coxilhas lá do Norte, na terra do Cearáé só bicho balanceiro (?) inté seu Mané chegámóde a mandinga dos tenente interventôque despacháro com azeite os outro governadô

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Governadô ...

Lá prá meu Norte, na minha terra BahiaNunca vi tanto parpite como as carioca dáSão bonitinha, tão lindinha, diabinhaTé parece demoinha que nasceu só prá atentá

Governadô ...

46 - A canoa afundou (1932)

Autor: Nelson FerreiraIntérprete: AlvinhoGênero: MarchaGravadora: Parlophon

Nesta marchinha, o grande Nélson Ferreira retom a o tema da queda daRepública Velha e da vitória da Revolução de 30, que já havia cantado em “Acanoa virou”, lançada um ano antes. “Seu” Lima é o interventor LimaCavalcanti, nomeado por Getulio Vargas. Os “prestistas” são os adeptos de JúlioPrestes, candidato oficial contra Getulio em 1930 e exilado pelo movimentorevolucionário vitorioso.

O compositor pede ao interventor que tenha mão dura com a turma do antigoregime (“não solte a cambada”) e que não se engane com os adesistas de últimahora, que usam um botão encarnado, cor da revolução. De quebra, critica apromessa de implantação do cruzeiro, feita pelo ex -presidente Washington Luís,e nunca cumprida.

“Afunde essa canoa, seu LimaVosmicê está de cimaNão solte a cambada à toa (Bis)

Já faz um ano que a canoa virouJá faz um ano, já faz um ano!E a macacada ainda não voltouEla tem medo, ela tem medo!

Afunde essa canoa, seu LimaVosmicê está de cimaNão solte a cambada à toa

Atualmente não há mais prestistaTudo brigou, tudo mudou!E aquelezinho de botão vermelhoÉ adesista, é adesista!

Afunde essa canoa, seu Lima

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Vosmicê está de cimaNão solte a cambada à toa

Houve um dinheiro que nunca se viuFoi o cruzeiro, foi o cruzeiro!E hoje em dia o que mais se vêÉ boateiro, é boateiro!”

47 - Si eu fosse interventô (1933)

Autor: Manezinho AraújoIntérprete: Manezinho AraújoGênero: EmboladaGravadora: Odeon

Manezinho Araújo aprendeu a cantar emboladas com Minona Carneiro (ver“Bataião Navá”). Nesta composição satiriza os extraordinários poderes dosinterventores federais, nomeados por Vargas depois da Revolução para governaros estados.

O interventor podia tudo: fazer dois carnavais, colocar parentes em cargospúblicos, ladrilhar ruas, tratar a atmosfera da capital, namorar moças bonitasetc. Se Lamartine Babo, em “O teu cabelo não nega”, sonhava em ser interventorpara conquistar o coração da mulata, Manezinho queria o c argo por motivosbem mais terrenos. Porque aí “tudo ia consertá”.

Talvez o “secretário Josué” citado na música seja o violonista Josué de Barros,que teve grande importância na carreira de Manezinho. Junto com CarmenMiranda, Almirante e outros artistas, Josué ouviu o soldado Manoel Araújocantar emboladas a bordo de um navio que transportava tropas do Nordestemobilizadas para combater a Revolução Constitucionalista de 32.Impressionado com o talento de Manezinho, Josué convidou -o a tentar a sorteno Rio, hospedou-o em sua casa e introduziu -o no mundo do rádio e dasgravadoras.

Zé Velhinho será o violonista pernambucano José Gomes de Sá, que tinha esseapelido?

“Oi, se eu fosse interventôTudo ia consertáAi, se eu fosse interventôTudo ia consertáAi, seu fosse interventôTudo ia consertá

Catava todas as moça mais bonita do lugáEssas rua sem ladrio eu mandava ladriarAdispois eu inventava um aparelho especiáPra tratar a atmosfera ......... da capitá

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Endireitava essa bigorna, não deixo de conf essá

Oi, si eu fôsse interventô...

Arranhacé eu proibia desse povo edificáCom sobrado assim tão grande avião não pode andáDava liberdade ao povo de fazer dois carnaváMeus parentes, coitadinho, eu podia colocáGaranto dessa maneira, ninguém vinha me xi ngá

Oi, si eu fôsse interventô...

Cinema sincronizado ....... ia tocáInvenção lá dos estranja pra mó de lá tapiáSó com lingua atrapaiada, já não dá para ele faláOs “musgos” dessa orquestra podia até protestáMandava nessa bioca mó de tudo endireitá

Oi, si eu fôsse interventô ...

Sem-vergonha e enxirido eu mandava incineráNum deixava os individo ......mó de brigáDava duro em atrevido, todos ia derrotáVô dizê meu Secretário Josué especiáNomeava logo ele qui é danado pra filmá

Oi, si eu fosse interventô...

Eu também sou brasileiro, decidi me atuteláAté Rio de Janeiro, lá naquela capitáEu já fiz o mundo todo, de medo de se embasbacáPra deixar panela a lua vinha o sol pra dá com o máCom fama de vendeiro, garanto, posso jurá

Oi, si eu fosse interventô...

Vou fugir da companhia, mandava logo aparáNunca vi bonde tão caro que pobre nem pode andarVou cantar pro Zé Velhinho pra ter carro oficiáAvião, iria o cano(?) pro resto do pessoáUrubu, Nossa Senhora, ninguém pode duvidá

Oi, si eu fosse interventô ...”

48 - Manezinho Araújo; A minha prantaforma 1933

Autor: Manezinho AraújoIntérprete: Manezinho AraújoGênero: EmboladaGravadora: Odeon

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O cantador assume na embolada o que sempre foi a prática de muitos políticosno país: o nepotismo, a nomeação de parentes e afilhados para cargos pú blicos– fenômeno que perdura, com maior ou menor intensidade, até os dias atuais.“E quanto à fome/ Que com tudo mundo arrasa/ Pelo menos lá em casa/ Ela iase acabar”, conclui Manezinho Araújo.

“Ai, Nega MariaAi, Maria FulôOlha a minha plataformaQue algum diaEu chegar a ser governador(bis)

Pra secretárioEu nomeava meu compadreQue não gosta de maldadeA gente pode confiarNo meu governoEsse homem de nobrezaSó fazia umas defesasMas defesa é naturá

Ai, Nega Maria ...

Na prefeituraEu botava o meu papaiQue já tá véio demaisA módi di na coisa pegarE quanto à verbaEu garanto a voismicêQue no fim do quinto mêsEla ia aumentar

Ai, Nega Maria ...

O meu irmãoPru sê um moço de talentoPunha no SaninhamentoCumissão especiáE está dispostoNaturá pra batê closeE bancando tanta poseTudo ia sanear

Ai, Nega Maria ...

Lá no TesouroPor causa de uns estragoBotava meu primo gagoSomente pra tapiar

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Esse meu primoTinha “órdi” do Estado“Pru” dinheiro ser sacadoNo meu nome pessoá

Ai, Nega Maria ...

Meu afilhadoEra chefe de políciaE comandante da milíciaEra um filho de honrarO meu cunhadoIa ser o meu prefeitoPois o cabra tem um jeitoDanado pra governar

Ai, Nega maria ...

Eis minha plataformaToda cheia de grandezaQue acabava com a pobrezaE tudo ia endireitarE quanto à fomeQue com todo mundo arrasaPelo menos lá em casaEla ia se acabar.

49 - A morte de João Pessoa (1930)

Autor: Zico Dias e FerrinhoIntérprete: Zico Dias e FerrinhoGênero: Moda de violaGravadora: Victor

A moda presta homenagem a João Pessoa, governador da Paraíba e candidato avice na chapa da Aliança Liberal, encabeçada por Getulio Vargas, assassinadoem julho de 1930, no Recife, por um desafeto. Embora motivado por questõespessoais, o crime, devido ao clima de tensão no país, acabou exacerbando osânimos políticos e acrescentando novos ingredientes ao caldeirão da Revoluçãode 30. Seu assassino, João Dantas, e um amigo, acusado de participação nocrime, mataram-se na prisão, na capital pern ambucana, nos dias seguintes aotriunfo da Revolução, quando a cadeia foi cercada por uma multidão quepretendia linchá-los. A primeira notícia que correu é que de ambos teriam sidoesquartejados.

O interessante é que a dupla caipira mete no mesmo bala io outro herói da lutacontra a República Velha, o paulista Isidoro Dias Lopes, que chefiara arevolução de 1924, em São Paulo, depois exilado.

“Pra cantar essa modinha,(......) que é todo meu

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Já conta diversos causosQue hoje é contar de lei(?)

João Pessoa morreuMas deixou recordaçãoPorque dentro dos olhosNo ódio do batidãoMas o povo revoltado,Mas fizeram revoluçãoAi, minha, ai aaai

O mundo inteiro abalouNo dia que ele morreu(..........) esfumaçou,Nossa Senhora apareceuMas o Brasil revortou,Mas por perder um filho seu,Ai, minha, ai aaai

Debaixo, ai, está agora,Esse (.....) fica revortadoE viva esse grande gestoQue sirva de afamadoDa morte de João Pessoa,Mas nós já estamos vingado,Ai, minha, ai aaai

Mas quem matou João Pessoa,Quem cumpriu esse mandadoMas o povo revoltado,Que mataram esquartejadoQue na notícia (......),Mas que os jorná têm escontado,Ai, minha, ai aaai

Debaixo, ai, está fora,Do Norte é o primeiroE viva Isidoro Lopes,Que é um grande brasileiroPor querer a liberdade,Mas que é da terra dos (.......),Ai, minha, ai aaai”

50 - Hino a João Pessoa (1930)

Autor: Eduardo Souto e Osvaldo SantiagoIntérprete: Francisco AlvesGravadora: Odeon

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Governador da Paraíba, João Pessoa foi candidato a vice -presidente na chapaliderada por Getúlio Vargas, derrotada nas eleições de 1929/1930. Seuassassinato, em julho de 1930, no Recife, provo cou comoção nacional.Multidões enfurecidas saíram às ruas, acusando o governo federal pelo crime,que, entretanto, deveu-se a desavenças regionais e a motivos pessoais.

Apesar disso, João Pessoa virou o grande mártir da Revolução de 30, como ficaclaro no hino abaixo, cantada na abertura da revista teatral “O Barbado”,encenada no Rio apenas duas semanas depois da vitória da Revolução..

“Lá do Norte, um herói altaneiro,Que da pátria o amor conquistou,Foi um vivo farol que ligeiroAcendeu e depois se apagou.João Pessoa, João Pessoa,Bravo filho do sertão!Toda a pátria espera um diaA sua ressurreição.João Pessoa, João Pessoa,O seu corpo varonilVive ainda, vive aindaNo coração do Brasil.Como um cedro que tomba na mata,Sob o raio que em cheio o feriu,Assim ele ante a fúria insensataDe um feroz inimigo caiu.João Pessoa, João Pessoa,Bravo filho do sertão!Toda a pátria espera um diaA sua ressurreição.João Pessoa, João Pessoa,O seu corpo varonilVive ainda, vive aindaNo coração do Brasil.Paraíba, ó rincão pequenino,Como grande esse homem se fez!Hoje em ti cabe todo o destino,Todo o orgulho da nossa altivez.”