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LUIZ GALVAO, POETA DOS NOVOS BAIANOS, GERAÇÃO BASEADA, E UM ACERVO POÉTICO COM ILUSTRAÇÕES DE ARTISTAS DE RENOME NO CENÁRIO NACIONAL.
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Coordenação e Projeto gráficoJanete galvão
Capa e contracapaMaria João Amado
Ilustração da capaReprodução de desenho de Jair Gabriel
Foto da contracapaTarso Figueira
RevisãoJanete Galvão
CDProduçãoSilvio Palmeira a através da Casa da MúsicaDireção musicalLeonardo Caribé e Robertinho Barreto
Coordenação geral Janete Galvão
Estudios Spark/Unit/Cid Campos /
Mixxagem Leonardo Caribé/Cuinha/Ricardo Câmera
MasterizaçãoLeonardo Mendes / Bruno Vale
CapaCacau PalmeiraFotoTarso Figueira
Esse achado livros-disco vem atender aos apelos via Internet das comunidades e Blogs e dos represen-
tantes dos Anos 70 quando os encontro na rua. Agora lixados e limpos compondo a minha história mais
ao gosto do freguês e ao meu.
Quando os Novos Baianos deram a parada, dei o pontapé inicial a esse baba. No Rio de Janeiro que
é o lugar que eu mais gosto, lancei em 82 o livro Geração Baseada editado pela Codecri , que colou no
meio da juventude 70 e já começa a ser paquerado por outras gerações mais novas, mas em São Paulo,
para onde estou voltando por um tempo, a coisa foi tomando corpo, fiz shows, encontrei Janete, a minha
única mulher assim de viver junto, e já estamos há 23 anos , nasceu meu primeiro filho, de sangue, Ce-
céu, uma alegria nova para mim. Trouxe também Ovos Brasil com poemas que vão do tradicional (se é que
eu tenha conseguido) ao enigmático, passando pelo concreto e outras tentativas de trazer modernidade
na poesia movimentando-a com coração de poeta, mão de menino e consciência mais madura.
Em 89 morei três anos em minha terra Juazeiro onde dirigi o Centro Cultural João Gilberto, e foi uma
honra pela estrutura e pelo nome. Lá nasceram Lahiri e Káshi dois pimpolhos que agora já adolescem.
Em 92 monteia a peça São Francisco Help, na qual clamava pela boca dos atores em prol da revita-
lização do Velho Chico, que no momento outros se acoplam nessa missão sublime”. Na época Geraldo
Azevedo filho da vizinha Petrolina, compôs comigo a música título que permaneceu inédita por esse tempo
todo e só agora a estamos gravando no Cd Poeta Na Área Se Derrubar É Pênalti. Em P a l a v r a s
inauguro novas parcerias e canto junto com Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Targino Godim, Emanuelle
Araújo, Zé costa, Lucas Dourado, Ari Moraes e Roberto Patino.
Estou gostando de viver 2007, com saúde graças ao Mestre lá de cima que sussusrou em silêncio ao meu
ouvido e tirou-me das ondas furadas. “Setentinha” assim jogando bola, fazendo show de duas horas, cheio de
esperança e começando tudo de novo é um presente divino de aniversário de setenta vinte e dois de abril..
Galvão, parece um som que vem dos novos baianos e é um guru. Mas um guru liberal, social, e super tropi-cal. Já lhe disse, você como candidato político transcende qualquer partido político por-que é a voz libertária de todos os nossos desejos artísticos e humanísticos. Ultrapassa qualquer barreira, qualquer fronteira, qualquer partido, pois é do super partido da Poesia nacional-universal. Poeta, profeta moder-no, batalhador de moder-nidades e testemunha reli-gioso-social-poética de uma geração importante porque foi a ela entregue o significa-do de fazer um novo Brasil. Quando Galvão é eco-lógico é porque ele o é naturalmente como aquela piedade do poeta não matar passarinho nem flor. Depois ele também é um batuque, e um:sábiod E aqui em seu livro que é um livro que tem ação, paixão, e História e anti- História,
existe um tremendo di-vertimento, uma imensa capacidáde Tempo-Espa-ço de pura diversão pú-blica, riso, gargalhada, cachoeiras de riso eco-ando, bom humor zen-baiano sarcástico e puro. E os instantes de per-turbadora fabricação de milagres? O texto, as paisagens, enfim toda a pulsação desta obra são a revelação de um escritor total filoso-fante da grande nova cultura brasileira que aí vem.
J o r g e M a u t n e r 2de dezembro de 1981 (Rio, eu choro?)
Lançado em 1981
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A PRAÇA
A praça, que já foi do povo no poema do poeta e o palco dos políticos, tornou-se para o jovem 70 o ponto, quase a casa. Vejam os paposGAITEIRO: Ih, mina! Não me engana, tens qualquer coisa de índio. IANG SOL: Minha avó transou com um índio, meu cabelo tem a cor da selva. Não sabe? O cabelo do índio muda de cor com o sol, toma a cor da selva. Ele é silvícola e fora isso, eu sou Iang-sol.
Sabe quem chegou na praça? Baby. Uma calça Lee rasgada no joelho e um espelho de carro na testa. Diz ela que é pra você se ver dentro da cuca dela. Baby tem a mania de ser vidente sem bola de cristal. Astróloga de ouvido, chega a acreditar que faz milagres com seu terço azul turquesa de lemanjá e com sua magia calcada na fé e que ela chama de “da branca”. Nessa do Gaiteiro, ela chegou assim:
BABY: Gaiteiro, essa garota... Deixe eu ver o signo dela. Você é ... é de Aquários e como Gaiteiro é de câncer, é um barato. Olhe, vocês são um casal. Vocês vão ter um filho.Gaiteiro: Eu levo até fé na Baby, mas Canhoto me diz que desses milagres da Baby, Delfim também faz...
O Boca, ouvido de tuberculoso, vinha num papo com Tetché Trovão (papo de “punha”, é claro, ) Tetché no lance e gritou a uns 30 metros: “Também pudera, Delfim tem bancos, e Baby tem cadeiras”
Em outra parte da praça estão várias figuras: Juazeiro, Psiquiatra, Vidente, Canhoto e outros. Psiquiatra sempre gentil e calmo, mas sem soltar uma palavra. Um verdadeiro mudo por vocação ou por escolha, JUAZEIRO: Ontem eu tive um sonho.,. A gente estava num show e o Marinaldo chegou pra mim: “Você tá de carro? Vamos dar uma volta no quarteirão.” Eu falei: “Estou com um caminhão de um amigo meu.” Aí, saímos do teatro e eu entrei no caminhão pela porta do motorista e o Marinaldo entrou pela mesma porta. Eu perguntei: “Marinaldo, você sabe dirigir caminhão?” Ele: “Sei, sei.” Foi ele dar a partida e o caminhão derrubou uma grade de madeira e eu vi a roda dianteira do lado do Marinaldo já totalmente fora do chão, caindo num precipício alto como você nunca viu lá o fundo do mar, Aí eu pensei: como é que eu posso estar vendo a roda dianteira do lado do
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motorista se eu estou desse lado? Ah! Eu estou sonhando! que no sonho a visão da gente é mais profunda, mais raio X. E aí acordei. CANHOT0:Jung já falou isso. JUAZEIRO: Qual é a sua Canhoto? Jung já falou isso... Você chuta muito e Jung sabe tudo sobre sonho, mas essa é minha. Ele se passou nessa, fui eu quem sonhou, é o malandro aqui que está lançando tal descoberta.
Novamente Boca, a uns 30 metros, vindo no maior papo com Tetché Trovão, comprova o seu estudo de conversar com alguém e ao mesmo tempo ouvir outra pessoa. E de lá mesmo entra no diálogo, ou melhor, plurálogo:
BOCA: Esse negócio de chute eu manjo. Você é chutão mesmo Canhoto, nessa eu estou com Juazeiro. Se Jung pensou tudo sobre sonho, como é que cabe num livro?
AUGUSTO DE CAMPOS ausente: Não sei se o sonho acabou, não sei se o sono acabou, só sei se o som acabou mas acabou chorare.
É que “Distante-aéreo”, que no cartório e na pia batismal recebeu o nome de Zê Américo, passou falando na sua lin-guagem de dizer frases célebres dizendo outra coisa. BOCA: Pelo visto, Gaiteiro vai pegar a estrada.
GAITEIRO: Esse Boca adivinha. Vamos pra Bahia, passar por Porto Seguro e vamos ficar na Boca do Rio até o carna-val. Iang-sol é baiana e sem h (agá).
Distante-aéreo que não pára, vai passando mais uma vez e fala: “Triste Bahia ... É quando semelhante. Triste Bahia com esses turistas invadindo o paraíso. Também até Pelé não perde um carnaval”. Aí um cara que não era cabeludo e nem da praça, um amigo dos outros tempos de Canhoto, diz: “Pelé não tá com nada, O futebol é o ópio do povo”. JUAZEIRO: Seja pelo menos nacionalista. O futebol é a maconha do povo. BOCA: Olha, meu, não sei por que isso. Nos States, nego chama a área perigosa de “Pelé-área”. Tá na regra e tudo,
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CANHOTO: Boca, tu não lê jornal . . . Ouviste Pelé falar que o povo não sabe votar? BOCA: Que o povo não sabe votar não sabe mesmo não. Educar seria dizer a Pelé: “O povo não sabe votar, mas tem direito”.JUAZEIRO: Aí sim é democracia. BABY: III! O Boca é democrata.$$$$$$$ Distante Aéreo que no cartório e na pia batismal recebeu o nome de Zé Américo ao passar disse: “O comunismo não prestou, mas eu continuo comunista, sou mais os Novos Baianos”. E Canhoto respondeu: “O comunismo não prestou, mas os comunistas são os mais legais. Deixam você dormir na casa deles e outras mil”. VIDENTE: Não se assuste pessoa, que os Novos Baianos logo, logo vão ficar um pouco mais capitalistas, todo dia nascendo mais um bacuri, um novo “baianissimo”!CANHOTO: Os Novos Baianos são muito loucos. Você pode ser socialista, mas viver “socialisticanente” num país capitalista é dose.
“Distante Aéreo” passou falando na sua linguagem de dizer frases célebres dizendo outra coisa.
BOCA: Pelo visto, Gaiteiro vai pegar a estrada. GAITEIRO: Esse Boca adivinha. Vamos pra Bahia, passar por Porto Seguro e vamos ficar na Boca do Rio até o car-naval. Iang-sol é baiana e sem h (agá).Distante-aéreo que não pára, vai passando mais uma vez e fala: “Triste Bahia... é quando semelhante. Triste Bahia com esses turistas invadindo o paraíso. Também até Pelé não perde um carnaval”.
Aí um cara que não era cabeludo e nem da praça, um amigo dos outros tempos de Canhoto, diz: “Pelé não tá com nada, O futebol é o ópio do povo”.
JUAZEIRO: Seja pelo menos nacionalista. O futebol é a maconha do povo. BOCA: Olha, meu, não sei por que isso. Nos States, nego chama a área perigosa de Pelé-área. Ta na regra e tudo, CANHOTO: Boca, tu não lê jornal. . . Ouvis-te Pelé falar que o povo não sabe votar? BOCA: Que o povo não sabe votar não sabe mesmo não. Educar seria dizer a Pelé: “O povo não sabe votar, mas tem direito”.
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JUAZEIRO: Aí sim é democracia.BABY: Ih! O Boca é democrata.
Outra vez Distante Aéreo, o aéreo, passando: “O comunismo não prestou, mas eu continuo comunista, sou mais os Novos Baianos. E Canhoto respondeu: “O comunismo não prestou, mas os comunistas são os mais legais. Deixam você dormir na casa deles e outras mil” VIDENTE: Não se assuste, pessoa, que os Novos Baianos logo, logo vão ficar um pouco mais capitalistas, todo dia nascendo mais um bacuri, um novo “baianíssimo” CANHOTO: Os Novos Baianos são muito loucos. Você pode ser socialista, mas viver socialisticainente num país capitalista é dose. JUAZEIRO: Novos Baianos é um estado de espírito, um jeito, um tipo de brasileiro. Já vi os Novos Baianos pra lá de comunismo, chegando a “cosmocracia”. Um precisando mais e todos colaborando. BOCA: Sem regra, nada de regimento interno, mas todo mundo por dentro e o quente é ser bom.CANHOTO: Ah é? Então ta! Caetano me disse que tinha uma lei invisível, no ar.
Boca foi o responsável pelos apelidos de Canhoto, Vidente, Pedro, Juazeiro e um que vou deixar pra contar mais para o fim, o Psiquiatra. Canhoto foi assim: logo no primeiro dia dele na praça, ele chegou pregando: “Viva o operário, viva a classe traba-lhadora”.
Boca que não comia gaiva nem deixava passar nada questionou no ato: “Qualé Canhoto? Você nem é trabalha-dor”.
JUAZEIRO: Viva o operário sim, mas o que faz o pão no maior prazer e o que faz parafuso com gosto de quem faz pão, mas aquele que trabalha no que não quer só se for numa estratégia, dando um tempo. Do contrário que Deus lhe dê o céu como pensa o católico ou uma contra encarnação melhor como no pensamento hindu ou Deus sabe o que faz como diz o povo.CANHOTO: Operário mesmo só no ABC, exceção não vale. JUAZEIRO: Lá em Juá, minha terra, já teve. VIDENTE: Não sei se vocês viram, mas o Boca lançou mais um apelido, Canhoto. E como Canhoto é bem humorado até Canhoto riu.
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Já Gaiteiro chegou com seu “casaco de general”. Na primeira de Bob Dilan que ele meteu na sua gaita, Boca falou: “Boa, Gaiteiro, vou lhe lançar no Chacrinha” Vidente arrematou: Vai se dar bem em Nova lorque.Bastou isso pra pegar o apelido. Gaiteiro pra lá, Gaiteiro pra cá...Vidente a gente pode caracterizá-lo como um pessimista bem-humorado. É, Vidente, por acaso, foi mais uma cria-ção da cabeça de Boca. Foi assim: Estava todo mundo sentado na praça, “era festa”, nego contava vantagem de usar camisa de malandro brasileiro. Teve um cabeludo contando que pediu um baseado a um estranho na praça e o estra-nho apresentou a carteira dizendo “eu sou federal” e o cabeludo respondeu mostrando rapidamente a sua carteira de identidade “e eu também” e na seqüência saindo e misturando-se na multidão. E aí Vidente chegou dizendo: “Não dou três anos pra gente ver nego voltando que nem filho pródigo”.
UM NOVATO: Eu não vou, eu não vou nem fodendo. Eu sei o que quero.ZÉ AMÉRICO, o aéreo, sempre passando: Não se abale na natureza tudo se transforma. Então Boca de uma só vez registrou os três: ele é vidente. Vocês não acreditam? Vá ver Pelé taí ( *). Você, calouro, me lembra Pedro antes do galo cantar três vezes. E o aéreo não é bolinho de bacalhau.Nem eu escapei da boca de apelidos do Boca. Tem um drible que eu dou quando estou todo cercado ali perto do grande círculo e aí sapateio pro lado, faço que vou e quando o pessoal fica de bobeira, hipnotizado mesmo, eu passo andando pelos quatro e em seguida acelero na direção do gol. Boca não fez por menos, lá da lateral direita gritou: “Ai é Joãozinho Trepidação”.
Apesar de Juazeiro ser liga do Boca os dois pintavam sempre juntos na praça, ficavam nada mais de uns vinte minu-tos e desapareciam num JK placa vencida, dando a maior bandeira. No encontro seguinte dos dois num dia de Praça cheia Juazeiro não poupou o amigo e descascou assim: JUAZEIRO: Sabe com quem falei ontem? VIDENTE: Já sei João Gilberto. JUAZEIRO: Errou Vidente. Glauber Rocha . Glauber é muito louco. Tinha uns sete anos que eu não o via e pelo telefone ele: “Quem é?” - Eu: “Glauber, você se lembra?” - Ele: Ah, sim, lhe curto, de longe, mas lhe curto, você é de onde?”“ Com sotaque baiano carregado respondeu:
*) “Vá ver Pelé taí” - Frase usada pela geração para dizer: de onde menos se espera é donde sai. Ou, quem sabe não é o próprio. Ou ainda, não subestime quem sabe não estamos diante de um gênio.
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- “Sou de Juazeiro”, - “Então lhe felicito duas vezes! Você é dali, dali do São Francisco. Aquele rio. Ali está a cultura. Olha, se Antonio Conselheiro tivesse se instalado no São Francisco ao invés de Canudos, seria a revolução. Sacou, sacou?! Foi então que um amigo meu, aprendiz de intelectual se empolgou todo, na ausência do Glauber quis apresentar serviço: “Glauber é Glauber, mas não entende nada de estratégia. Eu estudei Canudos e estive lá. Conselheiro ali escolheu por ser o ponto mais estratégico. As emboscadas provam que os três exércitos, três pelotões, caíram aos pés do grande Conselheiro”.
JUAZEIRO: Só queria que o Glauber tivesse aqui, mas vou tentar receber as irradiações dos espíritos de Glauber e Castro Alves juntos que desconfio que possa ser o mesmo, e tomando as dores falou: “Em estratégia sou mais Lampião que durou muito mais”. Glauber falou de Conselheiro como guerreiro, idealista e determinado, e não como estrategista, porque o revolucionário de Canudos agia pela emoção e pela valentia, tanto é que iniciou a histórica guerra interna por ser monarquista e pela rigidez com o seu conceito de negócio fechado com ele, e furado pela a outra parte.
Tetché Trovão presente e curioso entrou na conversa: “ Conte o desfecho que o filme está bom”.
JUAZEIRO: ... Reagindo como um menino quando chamado de filho da puta, Conselheiro ficou retado com o Co-ronel Janjão que o ameaçou dando o ultimato para entrega da madeira para construção da igreja de Canudos que ele pagara adiantado para o coronel e não fora feita a entrega da mesma e o dia marcado já vencera, e caso não o fizesse em 15 dias a cidade de Juazeiro seria invadida.VIDENTE: O coronel seu conterrâneo era caloteiro e eu não faço contrato com você nem amarrado! TETCHÉ TROVÃO: Conselheiro só perdeu a guerra porque era beato, e beato é míope, quase cego e no escuro já viu né! JUAZEIRO: ... Lampião tinha, como quase todo mundo, virtudes e muitos defeitos, mas apresentava um lado de bandido, no entanto em se falando de política ele além de governar quatro Estados do norte, e pra seu governo, todas as guerras foram ganhas pela economia. Não há estratégia sem economia. O Glauber fala do rio, da vida e da morte, a última esperança dos brasileiros. E graças a Deus nasci ali. Juazeiro não era besta de ficar fora do Velho Chico.TETCHÉ TROVÃO: Juazeiro hoje está diferentão. Parece até que é intelectual feito nas coxas-.JUAZEIRO: É que estou falando de história, política e economia.BOCA: Também ele só falta dizer que Pelé e Yogananda nasceram em Juazeiro. Marta Rocha é de Salvador, viu !
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E se benzendo com a mão concluiu: “Eu te batizo como nome de Juazeiro. E foi aquele coro: Juazeiro! Juazeiro!”
E Juazeiro pra desbaratinar: Marilhona, onde é a festa hoje?
MARILHONA: Deixe eu inventar uma. Já sei, no sítio do Ovídio. O pai dele é general, a maior sujeira, mas viajaram pra Europa. Tá a maior limpeza, Juazeiro. Tou até com as chaves em cima.
E deu uma risada do tamanho dela, Marilhona.
A FLORESTA DA TIJUCA 71, ano lisérgico, a perplexidade da polícia ante a não-violência dos jovens que “só riam” e pareciam estar em outro mundo. 220, 440, sei lá quantos cabeludos e quantas “gatinhas” viajavam assim na Floresta da Tijuca. GAITEIRO: Moçada, passei por uma blitz! Se o Gaiteiro não fosse de samba, não sei não. Os homens chegaram de metranca e tudo, “mão pra cima”. E eu tava com duas trouxinhas, aí foi só levantar as mãos com uma em cada uma. Antes eu tive um aviso. Eu me lembrei da Baby, vi assim uns carros de umas cores diferentes, assim com cheiro “dos home”, eles chegaram de surpresa mas não foi muito. JUAZEIRO: E isso aí, quando você está bem sensível você sente as projeções, avisando a chegada. VIDENTE: Já sei, Gaiteiro, você hipnotizou os homens e saiu com as duas trouxinhas e os homens correram o sova-co, os ovos, os sapatos e “liberation”. BABY: Eu não entendo por que o sovaco e os ovos se tanto os sovacos e os ovos são dois. JUAZEIRO: Só pode ser porque o sovaco você usa um de cada vez e os ovos você usa os dois de uma vez. GAITEIRO: E aí eu peguei as duas trouxinhas e fiz um morrão e fui passando pelas pessoas na maior deixando o barrufo no ar.
(*) Esse trecho que se refere ao Glauber se deu ao vivo e foi escrito quando o cineasta do nosso tempo ainda estava conosco, não sendo alterado uma vírgula após o seu desaparecimento.
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Tetché Trovão, que havia chegado da Bahia, entrou na conversa: “Eu vou voltar amanhã Saltei na rodoviária e os homens ‘documentos’ e reviraram minha sacola, jogando meus panos de bunda no’ chão e Lourinho, que veio comigo, depois disso correu pra bilheteria e comprou passagem de volta no primeiro ônibus que saía cinco minutos depois”
CANHOTO: Ele não sabe que é na sujeira que tá a limpeza.TETCHÉ: Paulinho, chegue aqui que esse rapaz tá cu-fuso.CANHOTO: Horário ou o dito cujo?Todos riem da linguagem de Tetché, uma cultura lá do interior baiano chamada “punha” que foi assimilada por Ca-nhoto de prima.PEDRO: O que aconteceu comigo chega a ser filme de terror, vocês vão pirar.JUAZEIRO: Então não conte que o Mestre diz que a gente não deve nem pensar em coisa assim baixo astral porque “perigas” voltar. É semelhante você assistir esses filmes de televisão e sonhar ruim depoisBOCA: Acho bom mudar de assunto que já está pintando assistência na área, olhe o som e a cruz vermelha.
Nem bem o Boca acabou de falar e os homens pintaram de me- tranca na mão, mas ninguém correu. Eu não sei, talvez porque tivesse todo mundo viajando, parecia que os homens eram soldadinhos de chumbo e ninguém tava com medo, nem morte tava na jogada. Nego queria saber o que é que ele era mesmo. E Gaiteiro me disse: “Eu achava que eu não voltava mais e descobri que eu só era uma dorzinha no estômago e foi aí que eu voltei”.
Na primeira investida dos homens: “documentos”.
BOCA: Tá todo mundo numa boa, seu guarda. Olha só as estrelas... VIDENTE: 1h! seu guarda, é muita velocidade. Não dá pra pensar. É um aviãozinho vuuuuuu. - Os HOMENS: Até logo moçada, não demorem muito aí que a gente vai voltar. Eu não quero tá na de vocês na nossa “revolta”. BABY: Vão pela sombra. Acho que quando vocês chegarem lá na esquina a gente já tá lá, a não ser que vão pra Mar-te. JUAZEIRO Tudo bem, a gente amar-te em Vênus. BABY: Aí nos vemos!
Canhoto ia abrindo a boca, mas o Boca se antecipou falando: “Tchau” (bem alto e baixinho que só nos ouvimos)
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“Seus canas! Seus sacanas!”. Canhoto morreu de rir e se conteve. Se ele abre a boca os homens voltavam na certa. A maioria nem sacou que teve cana no pedaço. BABY: Boa rima!
Abrindo um parêntese. Quando eu conheci Canhoto, foi no bar Zepelin. Ele entrou, sentou à nossa mesa e disse: “Viva! Até que enfim chegou gente no pedaço...” E pediu bem alto pro garçom: “Eu quero um baseado.” Não tem maconha. Só bebida. Eu quero liberdade, viu!” E arregalou os olhos assim, que o garçom ficou com medo. Eu, Boca, Morais e Baby demos uma risada e ele dizia: “Olha a fé nos olhos deles”. Aí chegaram os leões de chácara e mais uns canas fardados. Canhoto não se abalou: “Não estou doido, estou muito triste”. E os canas falaram: “É, louco!”E saíram. De manhã o sol saindo e todo mundo acordando. A maioria nem dormiu e daí todo mundo se dispensou para se reencontrar logo mais no suco de Ipanema e aí os papos eram sobre rango. Eu não sei se foi Reto Sem Destino ou Sibonei que pediu um queijo com presunto e ofereceu uma parte pra Iang-sol que disse: “Deus me livre, com presunto!” CANHOTO: Por que é que você não come carne? IANG-SoL: Sabe que eu não sei... Foi na comunidade dos Baianos. A Marilhinha do Boca, foi tirando a carne e depois o peixe. Eles não sentiram e nem eu que sempre pintava lá na hora do rango. Só sei que eu me dei bem. BABY: Carne?! Tu tá “dordo”, Canhoto? Altas toxinas é liberado, mas eu não como.CANHOTO: Mesmo que você tivesse naquela selva, Baby? Naquele avião que caiu e nego teve que rangar quem ia se apagando e se não chegasse ninguém nego ia terminar se auto-rangando.BABY: Eu, nem morta. (toda desmunhecada, bichadíssima).CANHOTO: Por que é, Juazeiro, que você também não come? Não vai me dizer que também não sabe?JUAZEIRO: Talvez seja porque eu deva ser contra o derramamento de sangue.BOCA: Um cafezinho por obséquio. Café meu avô já era viciado. Tomo sabendo que é igual a álcool. Um é baixo astral e o outro, astral baixo e todos dois liberadíssimos que nem Souza Cruz.CANHOTO: Café se misturando com leite que é lombreático dá um equilíbrio. A relatividade.JUAZEIRO: Passei a respeitar um pouco o feijão depois que lá em BH uma velhinha pedinte se aproximou de mim
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para uma esmola e eu perguntei se ela queria rangar e ela disse que sim. Ai eu falei pro garçom: “Traz aí um feijão pra tia aqui”. - ELA: Feijão não. - Eu: Não, por quê?- ELA: Porque já nasce com as mãos assim pedindo perdão a Deus pelas mortes que vai fazer (E juntou as mãos ao peito simbolizando o perdão). ZÉ AMÉRICO, o aéreo: O mal nunca entrou pela boca do homem. BABY: O mal é só que dá dor de cabeça. A gente não tem tempo nem saco pra ficar ligado nessa de bem e de mal. GAITEIRO: Mocidade cansei do visual. Estamos pegando uma carona pra Bahia. IANG-SOL: O polegar já está no ponto. Vocês sabem que a não ser no astral, só viajo de carona.
CAPÍTULO IIIA ESTRADA Não demorou muito e lá vai um caminhão carguinha baixa na noite carona da dupla pela Rio-Bahia. O Gaiteiro sola Volkswagen Blue de Gil. Com a cabeça deitada em suas pernas, Jang-sol carinhosamente chamando pelo verdadeiro nome de Gaiteiro pede: “Toca aquela Lui, que tava tocando no rádio na hora em que a gente se conheceu e você depois tocou inteirinha pra mim”. GAITEIRO: Morais me mostrou no dia que eles fizeram. E sola Preta Pretinha... O sol foi saindo e o caminhão chegou a seu destino e estamos agora em uma cidade do Espírito Santo. Gaiteiro e Iang-sol se comunicaram logo com uma pá de hippies. Um chegou dizendo: “A estrada antiga tá sujeira, a polícia tá devolvendo o pessoal que é pra não entrar mais cabeludo em Salvador... Tem um delegado lá que..”
GAITEIRO: É papo, é grupo “podes crer”, se fosse depois do carnaval... Iang e Gaiteiro estavam mesmo de sorte. Um casal resolve dar carona para a dupla numa de conhecer o mundo hippie. Logo que eles entram, o do volante começa: “Vocês não tem medo de fome, de bandido?”
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GAITEIRO: Não, o único problema com a gente às vezes é os homens, a polícia.IANG-SOL: Bandido vai roubar ripe. O bandido chegando até a gente leva uma.GAITEIRO: Não só de pão vive o homem, se a gente agita alimenta e a gente tem fé e o rango pinta, quer dizer, aparece.O DO VOLANTE: E esse tal de baseado dá onda mesmo ou...?A MOÇA: Deve ser uma loucura, ave-maria!GAITEIRO: Eu só tenho um que tou guardando pra depois do rango, mas não venha falando assim não que um trou-xa vai pensar até que você é cana.O Do VOLANTE: Quem sabe se eu não sou cana (e sorriu)GAITEIRO: Se você fosse cana, eu sabia. Você é executivo.EXECUTIVO: Como sabe?GAITEIRO: Executivo viajando com a secretária.EXECUTIVO: Não, ela é minha esposa mesmo.GAITEIRO: Se fosse eu sabia.SECRETARIA: Pera aí, executivo vá lá, mas explica como é que você descobriu a secretária?GAITEIRO: Você tá pensando que a gente tá na estrada de bobeira? A gente estuda comportamentos humanos.EXECUTIVO: Na escola?GAITEIRO: Não, na estrada. EXECUTIVO: Parada para o almoço, vocês são nossos convidados, hoje podem poupar a fé.
Depois do almoço prossegue a viagem e Gaiteiro: “Agora sim vou apertar o último finório. Como o homem ai disse que a gente pode poupar a fé e já temos carona certa, vamos guardá-la Iang pra quando estivermos a periguetes”.
EXECUTIVO: Eu acho que se eu queimasse isso eu não ia sentir nada. SECRETARIA: Não, benzinho, você não ta louco!GAITEIRO: Não, não, você pode despirocar.IANG-SOL: É onda dele, não é assim também não. Ele não quer que você queime é porque tá russo, só tem unzi-nho.GAITEIRO: Bem, fechem os vidros que você vai pegar a sauna, só a maresia vai deixar você sereno, sereno no vo-lante.
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O carro quase vira de tanta risada.Já escurecendo, Gaiteiro pediu para parar num bote pra fazer xixi. Na volta, ele diz para o executivo: “Não leve a mal, mas tem um cabeludo no banheiro que tem uma coisinha massa, mas ele queria ir até Porto Seguro”. EXECUTIVO: Não, assim não. Fala com ele que eu dou 50 cruzeiros e você compra, mas eu só posso levar dois, é norma minha. GAITEIRO: Que norminha rapaz, pensa que eu não já falei? É só uma trouxinha de dez e eu ofereci vinte, mas cabe-ludo dá valor, não vende por dinheiro nenhum quando tá russo. IANG-SOL: E olhe que 50, um galo, é uma nota.EXECUTIVO: Faz o seguinte, está aqui 20 notas, dá pra ele pagar um rango e vão lá no mato com ele queimar unzinho que eu espero 5 minutos. GAITEIRO: É, vamos queimar essa bagana que não é todo dia que pinta milagre.
Logo que chegou a Porto Seguro, o Executivo falou: “Como é que é, vamos direto pra Salvador?”
GAITEIRO: Não, nós vamos ficando por aqui. EXECUTIVO: É que nós já começamos a sentir saudades de vocês, mas começo a sentir pena. GAITEIRO: Pena não, vocês programam tudo, Salvador, coisa e tal. Nós não, nós vamos ficar uns dias por aqui, vamos saber por que é que se descobriu o Brasil. IANG-SOL: No carnaval a gente tá lá atrás do trio elétrico dos Novos Baianos e Dodô e Osmar. EXECUTIVO: que vocês são revolucionários e eu fico pensando, chegando lá eu vou pro hotel, tomo banho de água quente e vocês.. GAITEIRO: Mas pra quê água quente se Salvador é o maior calor? EXECUTIVO: Pegar uma piscina...IAN G-SOL: Com um mar desses quem quer piscina. EXECUTIVO: E vocês só com esses sleeps, e se chover?GAITEIRO: Quando você era menino, você não gostava de tomar banho de chuva? EXECUTIVO: Vocês são demais, vocês são massa.GAITEIRO: O “executa” a muito louco, tá falando até massa.
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Logo que saltaram em Porto Seguro, adivinha quem Gaiteiro encontra? Tuareg! Tuareg é uma figura baiana das mais representativas da geração colorida. O encontro foi o maior barato, antes dos abraços: GAITEIRO: Não, não! Não é possível! (cobrindo o rosto assim com as mãos e tirando rapidamente) TUAREG: Gaiteiro! Que figura, você e sua mina são meus hóspedes. Aluguei uma casa aqui (e batendo as duas mãos no chão assim três vezes).GAITEIRO: E quem é esse carinha, Tuareg, baixinho assim que nem eu?TUAREG: É o meu amigo Alagoas. Vocês tem visto o Canhoto lá pelo Rio? GAITEIRO: Antes de ontem mesmo tivemos juntos. O Canhoto tá engraçadíssimo. TUAREG: Sabe, o irmão dele, tem aquele lance que nego fala que eles foram torturados . . . negócio de uma passe-ata. Eu nunca falei disso com eles, mas nota-se que eles não gostam muito de ver os homens. IANG-SOL: E quem gosta? TUAREG: Eu não tou nem aí. O delegado de tóxicos, eu disse a ele ... sabe aquele dia que eu treinei no Vitória e você falou que tinha baixado Pelé em mim? Gol de bicicleta, lançamento de curva. Naquele dia tomei um AC, uma estrelinha. Tuareg tava impossível.
GAITEIRO: E o irmão dele, me contou uma, mas não vou contar.TUAREG: Um tenente do trânsito prendeu o carro dele e aí passaram-se uns três meses, ele ia passando de táxi e havia uma blitz. Aí ele chegou tenente que comandava e disse: “Meu carro, cadê meu carro?” E o tenente, que carro, rapaz? Não é que ele deu uma mordida no rosto do tenente. No outro dia, a manchete: “O homem que mordeu o tenente” e estampada a foto dele por trás as grades com os dentes abertos como se fosse leão da metro. GAITEIRO: Mas como é que você veio parar aqui, Tuareg? TUAREG: Eu e o Alagoas entramos em cana lá em Piatã, A gente tomou uns Ac e saímos nus na praia.IANG-SOL: Como é que você descobriu o.Alagoas? TUAREG: Eu fui até Palmeira dos índios porque eu já tinha visto muito manga-rosa, mas eu queria ver o tal do cabeça de nego. Quando eu cheguei em Arapiraca, o Alagoas era limpador de carro lá. Eu disse: “Alagoas, tá a fim de conhecer Salvador, passar uns 15 dias? E ele: “Só se for nessa”.
“Roda a franga”, gritou alguém na roda. TUAREG: Lá em Piatã eu tomei três LSD e o Alagoas disse “Ah! se você toma, Alagoas não toma?”
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Tamanho nãoé documento e aí, como é que foi Alagoas? GAITEIRO: Três também já é anarquia. ALAGOAS: Eu pensei que não voltava mais. Lá no meio do mar surgiu uma caravela toda iluminada. Não era coisa desse mundo! Lá umas misses acenando com as mãos. E eu taco a nadar e a distância era a mesma, só que a praia eu quase não via, então me toquei e resolvi voltar. Na praia é que foi coisa. Eu metia a mão na areia e levantava assim e era tudo ouro e pedras preciosas. E eu gritava: Não tem Roberto Carlos, não tem Caetano Veloso, o homem mais rico do mundo sou eu. Do mar saiu uma sereia e começou a dançar na minha frente e eu aí tirei a roupa e parti. O pessoal da praia caiu de pau em mim e eu fui dar por mim lá no xadrez. É que a sereia era uma garotinha de treze anos. GAITEIRO: Tu é doido mesmo, hein, Tuareg.TUAREG: O Alagoas é pequenininho assim mas é de esperto. Conhece tudo que é raiz do mato.JANG-SOL: Eu sei, ele tem o santo forte. TUAREG: Ele segura numa boa, boto fé no Alagoas. ALAGOAS: Qualé. Deus tava lá, eu ando com ele. Não houve nada, só nós que levamos a pior e a dor dente, de antonte, cadê? Tamos aí pra outra, foi só uma viagem, eu sou o Alagoas.
capítulo IVO VERÃO E O CARNAVAL BAIANO
Juazeiro fala pra Canhoto: “A Bahia tá sujeira, o papo que rola é esse. Em cada canto que você vai, só vê ca-beludo dizendo tem até federal, não tem essa de filho de papai, tá entrando todo mundo”. Um sarará miolo entra na conversa e contradiz: - “Entra, mas sai, isso aqui é Salvador, capitania hereditária, até condenado à morte foge pro exterior...” Canhoto que havia chegado do Rio não faz meia hora dá o maior ponto para o pitaco do Sarará:- Claro, pra que pena de morte? Deus é brasileiro e Cristo se naturalizou verde e amarelo. Até o peru quando é condenado tem que tomar umas senão não tem quem coma a carne.
JUAZEIRO: Morte gera morte e quem morre assassinado raramente perdoa, só os crísticos, e aqui não chegou o Cristo ainda, só o, da boca pra fora, o cristianismo.
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E foi chegando Boca: “Salve, saravá oxóssi meu pai e Senhor do Bonfin que apesar de tudo seguram minha barra e desse povo”. E ai segue o diálogo: CANHOTO: Que sujeira?! Que onda é essa? Eu cheguei, os Novos Baianos já estão no pedaço. Tá limpeza e é na sujeira que tá a limpeza. VIDENTE: Aquilo que eu falei materializou-se verdade, tá uma paranóia, você só ouve; “Você não acha que aquele cara ali é cana? Tem rato aí, eu conheço rato a dois quilómetros”BABY: Ë, mas a gente se safa, estamos vivos. Quando não dá mesmo, a gente convive: os home pinta, a gente vira poste, vira moita. BOCA: E isso aí, Babyssima e Canhoto tá certo. A gente na área ou suja de vez ou fica limpeza.BABY: Na Bahia eu me sinto baiana. É como se eu também fosse dona da terra. Aqui a gente grita e alguém ouve.BOCA: Eu parei de correr dos homens por causa dum louco de rua. Os homens pintaram e quando nego ameaçou o pinote o louco falou: não faça isso, olhe a cor da sua língua e ninguém lhe vê. Enquanto eles se batem dê um rolê. Até hoje nunca falhou, é fogo botar a língua pra fora e ficar olhando, mas resolve. CANHOTO: Só tem que se os homens pegam alguém com a língua pra fora dando a maior bandeira, vai ficar en-graçado.
Nisso lá a uns 50 metros dois cachorrões fila se invocaram com o aglomerado e, em altos latidos, partiram na direção do grupo. Boca que já estava ensinando não ter medo dos homens argumentou já querendo se mandar: Caralho! até aqui. . - não reparem, mas tenho alergia a cachorro.
CANHOTO: Aqui pra nós, alergia também é sinônimo de medo.
Não fosse Juazeiro contê-lo segurando-o pelo braço, não sei onde ele iria parar.
JUAZEIRO: Calma, calma, pessoal, ninguém corra, é só fazer o que minha mãe me ensinou, assim é, mas não fi-quem tensos. E fechando os punhos saiu no maior balanço rumo aos cães que logo o alcançaram, mas para espanto da turma eles apenas o cheiraram e latiram já num tom de brincadeira e aí Juazeiro os trouxe para o meio do pessoal
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com todo mundo já com os punhos fechados e um sorriso amarelo. BOCA: Já sei, com os punhos assim você deixa os bichos pensando que não tá com medo, VIDENTE: Isso tem a ver com a tal de Adrenalina.JUAZEIRO: Ë, acho mais que seja isso, punhos fechados não passa medo. CANHOTO: Já viu né! Quando os homens pintarem é só fechar os punhos, melhor, muito melhor que botar a língua pra fora.
Palvras soaram no ar, mas não se identificou a boca de onde saíram: “1 X O pros homens”.
CANHOTO: 1 X 1. Empatei agora, estava na banheira, mas o juiz tava comendo a escrivã e passou batido.VIDENTE: E Juazeiro, alguém viu? BOCA: Foi passar uma semana na terrinha.CANHOTO: Ali ele tá em casa, só falta o prefeito ir batalhar uma coisa pra ele. Cada amigo faz unia presença e ele chega aqui apresentando cada massa! Quando Boca chegou ao Porto da Barra tava todo mundo lá: Juazeiro, Tuareg, Alagoas, Canhoto, Pedro, Vidente, Baby, Marilhona. Alicia, a americana, a rainha das pedrinhas, tinha passado e ia voltar e o “Mau” estava na área. Boca foi logo abraçando Juazeiro e dizendo: “Esse homem passa uma semana e parece até um ano, mas como ele foi pra Juazeiro, a sua natal, a gente...”
BABY: Assim não vale, Boca. O homem tá com o ouro, as flores do jardim da nossa casa, só berlotas. JUAZEIRO: Boca nem vai queimar, vai só guardar... BOCA: Pô, Juazeiro, você tem amigos naquela terra mesmo. Não é à toa que a cidade tem seu nome. CANHOTO: Você viu por lá o velho Saul Rosas, Juazeiro?JUAZEIRO: Você gosta de Saul? Então eu gosto de você duas vezes. CANHOTO: Conheço só de nome, mas é massa. Contaram-me que ele deixou de ser operário pra ser camponês. JUAZEIRO: Foi Saul quem me educou. Eu nunca li O Capital Ele era branco casado com uma preta. Carpinteiro, mas falava francês e tocava piano só porque as filhas burguesas sabiam.CANHOTO: Vá ver o casamento dele foi por política.
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BOCA: Saul Rosas. Com um nome assim de rosas, só casa por amor. JUAZEIRO: Ele ama até hoje. Tá juntinho com Adelaide, sua preta. Parece até Novos Baianos. PEDRO: Ë, Novos Baianos é assim. Ë mais fácil brasileiro dirigindo obedecer o trânsito que nem dinamarquês, a rua o maior silêncio sem nenhuma viv’alma, às três da madruga e ele esperando o sinal abrir, do que um Novo Baiano largar a mulher.BOCA: , malandro, nego sabe que foda é largar e morar defronte.JUAZEIRO: Canhoto e Boca juntos. Eles desbaratinaram, desbaratinaram, filosofia, política, música, futebol, mas desviam sempre pra mulher.BOCA: Qualé, Juá? Você anda quilómetros por uma cocota.JUAZEIRO: Não só de pão vive “a criança”. Mas tirando mulher, eu queria que vocês vissem a porta da sociedade dos operários juazeirenses. Aliás, o nome mesmo é sociedade dos artífices juazeirenses.CANHOTO: Um adendo. Antigamente, quem fazia a roupa pra você era o alfaiate, depois que vieram as fábricas. Tinha a arte de costura, de carpinteiro. O pedreiro era chamado mestre, depois é que o transformaram em mestre-de-obras. Quem trabalhava na arte, folgava na segunda-feira pra descansar, que domingo não era descanso, era dia de farra. VIDENTE: Vocês viram a linguagem do Canhoto? “Adendo” já é treinamento para a Câmara.JUAZEIRO: Vidente, não corte o fio. . . Olhe as igrejas se não são arte. Naquele tempo, s melhores carpinteiros da cidade, Saul, Cecílio Matos, Edgar Bandeira, fizeram a porta a capricho e disseram: “Nós é que fazemos todas as portas e não haverá uma igual”.BOCA: Juazeiro chegou com a corda toda. Agüente, ele não começou ainda a falar de João Duarte, Pedro China e do São Francisco, aquele rio...JUAZEIRO: Vocês também só falam em tóxico! Sujeira, os homens... Depois vem com o papo de vamos mudar de assunto que já tá pintando assistência. BABY: Mas droga não é liberada! Desde que eu vejo Drogaria tal, o Rei das Drogas, Farmácia e. Drogaria Santa Fulana. Eu acho tudo uma loucura.BOCA: Eu brinco assim com o Juá, mas a porta tá lá até hoje e pra felicidade nossa a juventude louca brasileira redescobre o artesanato.CANHOTO: Também estamos nessa de abertura, mas a abertura vem de baixo pra cima e não cai do céu como propaga a televisão. Cabe a nós mudar isso, vamos refazer de refazenda. Somos na maioria artesãos, e o seremos mesmo marginalizados. Assim manteremos viva a nossa cultura. No momento, no mundo ninguém tá sendo assim e se o formos, quem nos segura?
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(palmas)VIDENTE: Canhoto, Você vai ser deputado. Olha que você já tá discursando e tem tiete e tudo, mas saiba que tem uns e umas que só dão pra tiete.PEDRO: Eu quero é ver você fazer louco votar se nem a gente vota. CANHOTO: Vamos revotar. Novembro vem aí. Ainda bem que o voto é secreto!BOCA: Porque essa discriminação com as tiêtes? Eu também sou tiete de tudo que eu gosto. Elas são o melhor públi-co do show business. Não conversam no show, atentas, densas, dançam, vidradas no palco. JUAZEIRO: Outro dia, Luli, uma tiete, me contou que pegaram 13 caronas de São Paulo ao Rio pra ver o show de lançamento de um LP de Morais e quando elas chegaram na porta do teatro, Morais também ia chegando e no rádio de um “play-boy” tocava a música das tietes e a multidão gritou: “Olha as tietes do Morais!!!” E aí Morais virou-se e olhando pra elas falou pra todo mundo: “Olhe, o que une a gente é uma coisa muito mais forte do que isso de tiete”. E duas lágrimas rolaram dos olhos dele e ele rapidamente virou-se e entrou no teatro. CANHOTO: Ele é tiete das tietes. JUAZEIRO: Não sei se foi Priscila ou Cássia que me falou: “A primeira vez que Pepeu fez esse solo foi no Terezão, no lançamento. CANHOTO: Foi. Pips me disse: “Morais cantou pela primeira vez essa música no show tal, ele até pediu desculpas se errasse a letra”. VIDENTE: Juazeiro, bem que cabia uma dobradinha com Canhoto. Eu voto em vocês. Já pensou, “Pela desmargina-lização da geração, Juazeiro e Canhoto juntos?!” JUAZEIRO: Eu como sarará seria pela reabolição da escravatura. Entre o papel e a prática houve uma defasagem da Lei Áurea e nós lançaremos a Lei Gil.CANHOTO: Na cadeia quer aqui ou em Santa Catarina, setenta por cento á preto. E a Bahia é terra de preto, mas eu nunca vi crioulo governador. BOCA: Bem que Gil seria um bom governador pra Bahia ou Caetano. BABY: Não, Caetano seria mais pra governador do Rio.PEDRO: Qual é eu partido, Canhoto? CANHOTO: Partido de los locos; por una sociedad que sus suenos non se realize solamente dormindo.
Gaiteiro chegou com lang e fez a sua apresentação na gaita solando “Sugesta geral” e depois de mil abraços fala: A estrada, nada como a estrada, o sol, as estrelas, a certeza de estar andando... a estrada é uma flauta no ar, mas Salvador tá quente. Pra semana o Carnaval, tou aí atrás do trio elétrico com a baiana, como manda Caetano.
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CANHOTO: Cuidado, Gaiteiro. Trio elétrico não escola de samba. GAITEIRO: Não tem problema. Iang é capoeirista, é mestre, tem escola e tudo. BOCA: Gaiteiro, você lembra Leguelé. Teve uma confusão, tava Gil e Galvão levando um argumento com uns seis caras que estavam bravos com as minas de topless e com o futebol de mulher. Aí a coisa esquentou, os machões não queriam saber de argumento, já iam partir pra mão quando Leguelé deu um Aummmmmmm e disse: Deixe comigo! Fez mais umas três exibições e completou: isso é porque Maria, minha mulher, não tá aqui. Ah! Se Maria taqui... J uazeiro chega pra Marilhona que tá na maior cascata com Iang sobre cogumelos e Castañeda e pergunta: E a festa? Marilhona rindo responde: Até aqui? Juazeiro? Que baiano é você, estou de férias.
BOCA: Fique fria, Marilhona. Vamos todo mundo pro sítio de Tuareg. Aqui é Bahia, festa é o que não falta.MARILHONA: Juazeiro, convida a americana pra ir que ela tá cheia das pedrinhas. Você tá de carro? –JUAZEIRO: Tou. E Marilhona, ela adora dirigir.
Nisso chega o Man dizendo: Já fiz tudo para a americana me dar metade dessas pedras para eu despejá-las na Lagoa do Abaeté.
Boca discorda: Mas ninguém bebe a água da lagoa. E o Man (é Men mesmo de inglés): Pelos poros, quero ver todo mundo saindo muito doido dali pelos poros.
CANHOTO: Eu não digo é nada a essa gringa, ela é toda metida a esperta. Na Bahia tem uma política de roubar gringo, máquina fotográfica, dólar e umas pedras são iscas de primeira. Na Bahia esperta é água morna.
BOCA: Outro dia, uma gringa chegou com um lote de pedras e apareceu um malandro aí de Itapoã e fez uma transa alta, passou um checudo e quando ela parou no balcão do banco tava assinado “Américo Vespúcio”.
CANHOTO: Esse malandro deve ser de sua terra, Boca. BOCA: Canhoto, você é um barato. Às vezes eu estou sozinho e morro de rir de você naquela cana em São Paulo. CANHOTO: Boca, deixa de ser sacana...
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BOCA; Canhoto é uma cabeça, só que a gente não pode ir por ele. Távamos num bar e os homens chegaram arrega-çando. Aí Canhoto resolveu tomar as dores do mundo e mandou brasa. “Documentos? Eu também sou da casa, sou do governo, lá de Brasília, estou de férias, mas não estou gostando da ignorância e violência de vocês”, O cana chamou o cabo e o cabo disse pro tenente: O negócio aqui é alto tenente, o homem disse que é do governo. E o tenente: Mete uni cana por minha conta e quem mais tiver com ele. CANHOTO: Até hoje eu não entendo por que não se pode fazer xixi na cadeia. BOCA: Trancaram a gente na sala do escrivão que não tinha sanitário. Gritamos por alguém, esmurramos a porta, mas os canas faziam de propósito ou nos esqueceram. CANHOTO: Esse Boca é ingênuo! Nos esqueceram BOCA: E eu cai na bobeira de falar pro Canhoto que eu estava com a maior vontade de fazer xixi e Canhoto pron-tamente: Puxa, aquelas cervas! Eu já não estou agüentando. Vamos mijar naquele buraquinho do arquivo. Ë o único lugar, eu já olhei tudo. E eu: Não, Canhoto, fiz uma promessa pra Senhor do Bonfim, só mijo depois que sair daqui! E Canhoto: Tá certo! Se eu entro, tamos fodido. Canhoto é louco mesmo. TETCHÉ TROVÃO (com aquela voz estridente): Que não ta limpeza, pode escrever. Os homens não tão livrando a cara nem de corpo fechado. Outro dia uns caras tavam queimando lá no Jardim de Alá e os homens de surpresa deram o maior bacolejo e foram torcendo o braço do carinha e ele: “Pera aí, vocês pensam que tão tratando com bandidos, sabem com quem tão tratando?” E os homens perguntaram de vez: “Quem é você, malandro?” E ele: Vocês estão falando é com Galvão dos Novos Baianos. Aí um cana, assim chutando um negão que ainda queimava um baseado deitado na grama, perguntou: E você, negão, é quem dos Novos Baianos? E o negão respondeu na maior chinfra: “Que Novos Baianos, eu sou Gilberto Gil, tu não saca nada de música, hein?!”Moral da história: levaram os dois. Pegaram carona, ônibus, até saltarem na Boca. Só os dois andando: CANHOTO: Que rua é essa? JUAZEIRO: E uma na da Boca do Rio, não tá vendo os buracos, aqui os homens não ligam mesmo. CANHOTO: Olha lá o que está escrito no muro: I LOVE LIBERDADE ABAIXO A PICADURA Mancha. Nisso chegam Iang, Gaiteiro, Boca, Psiquiatra e ficam sacando o lance das pichações. JUAZEIRO: Vê são muro do outro lado. FUME E PLANTE QUE JOÃO GARANTE Mm.
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Mudou, mudou... CANHOTO: Mudou a pichação!!! Sabe que no meu tempo eu também no subconsciente queria era uma coisa assim, que eu já não gostava dos “abaixo-caretas”. É que os caras eram muito sérios e cortavam a minha. Diziam: “Canhoto é anarquista.”JUAZEIRO: Você sabe a estória do Mancha (M.) e da Mim? IANG: Lá na Praia dos Artistas você conta que é mais romântico, promete? Todo mundo sentado na areia, defronte à barraca do Aloísio. JUAZEIRO: O Mancha foi o pioneiro do grafite. Em Salvador, começou assim com uma linha: paz e amor, recadi-nhos: passo lá, a. -. Depois apareceu a Mim apaixonada por ele dando a maior bandeira no grafite; “Há uma Mancha em Mim”, “Seu sorriso é uma flor”. CANHOTO: Logo logo a baianada começou a pichar: “O Mancha é bicha e Hare Krishna”. JUAZEIRO: Agora tem uma ótima: “A Mim roubou o relógio do João”. PSIQUIATRA: Teve uma que foi demais. No tempo do Quadros do esquadrão da morte (na Bahia é assim, já teve esquadrão antes de ter bandido, mas quebrou a cara, dançou todo mundo. Salve a Bahia!). . apareceu pichado: “O Mancha apoia Quadros” M. E no outro dia a Mim escreveu embaixo: “Esse Mancha é falso”. Mim. BOCA: Vocês viram o milagre? Mudinho... mudinho não, Psiquiatra falou!!! IANG: É mesmo, foi a primeira vez que ele falou. GAITEIRO: Mais uma do Boca, Psiquiatra... Pegou, pegou PSIQUIATRA: É que esse assunto me interessa, no resto eu fico na minha. Essa geração não distingue mesmo psi-cólogo de psiquiatra. BOCA: Psiquiatra é mais popular. JUAZEIRO: Era um romance pra lá de platônico. Acho que nem Iang e Gaiteiro chegam perto. BOCA: Quer ver umas deles que são do rabo: “Abertura é um furo” M. “A lua é linda, ilumina a rua” Min. CANHOTO: Errou, errou, “Abertura é um furo” não é do Mancha é do Rô. BOCA: Tá limpo, pichador não tem direito autoral, é clandestino que nem viciado no jogo do bicho. Vá reclamar sua pule na polícia. CANHOTO: Eu me amarro é no Faustino, que é educativo e descolonizante. Eu lembro de umas três que são massa: “Faustino veste camisa volta ao mundo”. “Faustino fala esperanto”. “Faustino buzina no engarrafamento”. IANG: Eu gosto mais é do Tíão ‘Barão cochilou, Tiao pichou”. “No Natal dê uns spray de presente pro Tião”. GAITEIRO: Tem outra: “Sou ponta esquerda mascarado” Tião.
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CANHOTO: Essa também não é do Tião. IAMG: Canhoto parece até que é tiete de pichador. BOCA: Eu queria que Tetché Trovão tivesse aqui agora. Só pra eu dizer: boa é a de Rizério, não é Trovão? Rizério é um amigo meu que pichou: “Nem Roberto Santos, nem Antônio Carlos, queremos Roberto Carlos”. JUAZEIRO: Aí a Mim resolveu achar o Mancha e armou uma numa empresa de publicidade, dizendo que estudava comunicação e fazia um estudo sobre pichações baianas e queria uma entrevista com o Mancha e prometia guardar sigilo. IANG: A Mim é massa, um barato ela! GAITEIRO: Faria sucesso nos States BOCA: Gaiteiro tá insinuando que ela lavaria pratos numa boa nos “restauras” novaiorquinos e o rango tava em cima. JUAZEIR0: Os caras da publicidade armaram o encontro e a Mim: “Muito prazer,” Mim. Aí os dois se amarraram logo um no outro, passaram a dividir a casa, ficaram um tempo, e hoje, parece que foi a Mim que casou ou foi o Mancha, mas o amor continua nas paredes. CANHOTO: Não duvido a Globo aproveitar e lançar uma novela. IANG: Acende a luz aí, ótima sessão. Melhor que esses bang-bangs de televisão e sai correndo pro mar - - - GAITEIRO: Iang, já fui. Vou tirar o corpo, malandragem. IANG: Pera aí, tou no encalço. E pegaram unia carona rapidinho. O jovem casal salta no Jardim de Alá. GAITEIRO: Bom lugar pra acampar. IANG-S0L: Lui, vamos subir nesse coqueiro e vamos transar lá em cima? GAITEIRO: Que nada, é melhor fazer um coqueiro aqui mesmo. IANG-SOL: Que conversa de baiano é essa, Gaiteiro? Vamos lá. Eu nasci na roça, desde menina que eu subo em coqueiro. Eu lhe ensino você não sabe o que é deitar nas palitas, o vento batendo no pé. GAITEIRO: A areia é uma cama massa... IANG: Os galhos é uma cama como você nunca viu. Só eu e Juruninha que subíamos pra transar quando a gente era pivete. GAITEIRO: Onde já se viu um pivete na roça? Você mente mais que secretária de executivo no telefone, Juruninha... Juruna é coisa d’agora. IANG: Olhe ele com ciúme do Juruninha. Faz é tempo. Eu nem te conhecia. GAITEIRO: Assim mesmo lhe dou nove e meio pela criatividade e incorporação de novos valores.
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IANG: Não venha com essa, foi coincidência, eu nem sei se o pai dele chamava Juruna, mas que ele parecia com Pepeu e Mu aí parecia. GAITEIRO: Mas pra que subir no coqueiro? IANG: Pra nosso baby nascer no alto. GAITEIRO: No alto, fora do asfalto... É uma diferente. Vou tocar uma flauta de quebra lá em cima. Iang-sol desceu num pique só e ficou debaixo orientando a descida do Gaiteiro e caindo de rir com a barbeiragem do seu partner. Nisso um fusquinha verde sai do asfalto e parte na direção do coqueiro, freando em cima de Iang, com Gaiteiro ainda no meio da “estrada” e de dentro da caranga saindo Tuareg gritando no maior estardalhaço: “Qual é a sua, Gaiteiro? Tu não é tarzan nenhum pra sair daqui pros States de coqueiro em coqueiro com Iang de Chita”. GAITEIRO: Isso é coisa da Iang, você não saca? Ëla me pediu pra levar um som lá em cima. - IANG: Necas, fomos foi fazer um baby lá em cima, deixe de ser careta, Gaiteiro. TUAREG: Gaiteiro, Gaiteiro, se liga. Você tem que mostrar no States sua gaita, Iang é contrapeso nessa... IANG: Qualé Tuareg, que dispensa mais sem sal é essa? TUAREG: “Comade!” Vocês se amam, mas diz Vidente que o Gaiteiro vai fazer que nem nortista quando deixa a mulher e vai pra São Paulo, depois volta numa boa e leva a família inteira. Podes crer, Vidente não errou uma ainda. Vocês não levam fé nele porque ele é de casa. GAITEIRO: Tuareg, mude a estação aí e vamos pro Porto. TUAREG: Como foi que você conheceu Iang? GAITEIRO: Eu tava de cara. Tava uma seca daquelas e já era ou menos uma hora da madruga. Senti que ia pintar um amor. Não vacilei: parei no primeiro bar aberto, o Brisa do Mar, só tavam os garçons. Falei pra mim: é aqui mesmo. Sentei, pedi uma cerveja e voltei a me falar: “Antes de matar essa cerva vai aparecer uma gatinha diferente, você vai ver”. Não fechei a boca...apareceu Iang com um namorado e duas amigas. Iang me contou que aos 7 anos caiu num buraco cheio de lagartixas que saiam de lá passando por cima dos seus pés até que chegou alguém. E ela agora aos 17 resolveu fazer amizade com uma lagartixa lá no areal para perder o medo. Quase dia todo ela vai lá e leva uns papos com sua amiga que lhe responde sempre sim, batendo com a cabeça. IANG: Tadinha, nunca mais fui lá... GAITEIRO: E fomos pro areal onde de noite Iang costuma olhar as estrelas. Sentamos assim na areia e Iang debru-çou-se na minha perna com o ex-namorado deitado ao lado olhando o céu. No dia anterior, eu tinha visto Iang pela primeira vez. Ela pintou na casa de Tuareg e eu me amarrei, mas não demonstrei a pra ela. Depois ela me contou que o que também se amarrou mesmo foi eu não achar os sapatos, todo mundo ajudando, revirou-se tudo e eu resolvi sair descalço mesmo. Logo pegaram o asfalto:
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TUAREO: lang, você não pode tá assim subindo coqueiro que se não for cerveja, sua barriga... quem sabe não é um Gaiteirinho’ GAITEIRO: Não brinca...
Enquanto isso no Porto da Barra o mundo rola na mesma rotação. Lá está Caetano rodeado de jovens, muita gente bonita. Mais perto do mar Gil, as tietes todas ali. Regina Casé em pé conversando, matando nego de rir, igualzinho no palco. Perto das pedras Dedeco Gantois equiibradíssimo, dizendo que Plutão pertence ao passado, é século vivido. De repente, Baby chega com Tetché Trovão e se encaixam no pedaço onde estão Vidente, Marilhona, Pedro. Tetché Trovão com sua voz estridente, óculos gatinho espelhado, todo colorido “o criolo”, desarrumando a praia com a sua linguagem de “punha”: Pedro, quando você vai deitar, você dorme logo ou leva um pedaço acordado? Pedro, coitado, na sua ingenuidade de moço bem criado: Tetché (ele não fala nem Trovão pra não ferir a sensi-bi1ida de Tetché), tem dias que eu deito como uma pedra, mas tem outros que eu rolo prum lado e pro outro e levo um pedaço pra poder dormir. . . E Trovão: Vou tirar o time (e com a língua meio enrolada), tint’erro amanhã; Pedro. PEDRO: Até manhã Tetché... vai com Deus... A praia veio abaixo num sorriso só, mas só Caetano não deu importância pro lance. Tuareg freia o fusquinha na porta da casa da família dele e salta, deixando Gaiteiro e Iang no maior love dentro do carro, mas não demorou muito e já chegou: “Desculpem cortar mas tenho boas notícias, Gaiteiro, não vamos mais pro Porto, vamos para o aeroporto, a oportunidade é essa”. No Porto continua o maior barato e com toda aquela zoada a voz de Tetché Trovão soa no ar: “Baby, você quer um sanduíche de queijo ou carne-de-só com ovo”? BABY: Trovão, meu pau na sua mão, pegue aqui. PEDRO: Caiu, caiu feio Trovão, foi mesmo que apanhar de mulher. E até Caetano riu. BABY: Até você é machão, Pedro? Que papo é esse? Até Caetano, né...
Diretamente do aeroporto chegou Gato Félix dos Novos Baianos dizendo que Gaiteiro foi pros States. Tuareg ga-nhou uma passagem da familia e deu pra Gaiteiro. Coro geral: E Jang?!!! GATO: Iang foi pro interior vender pulseira, brincos. Ela se vira, aquilo não é boba, mas aqui pra nós, tá grávida, Gaiteiro não brinca, perpetuou a gaita, podes crer. BABY: E vai tocar outros instrumentos, a Iang é incrementada e tem balanço. Gaiteiro só entrou com a gaita e o homem.
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Gato narra para a turma: Estamos agora em pleno carnaval baiano. A Praça Castro Alves, sem caber mais nenhuma pessoa nas laterais e chegando mais, é aquele empurra, empurra que baiano e turista conhece, onde a multidão se acotovela dentro do ritmo, atrás do trio elétrico Dodô e Osmar. Um trio elétrico passa na direção da Praça da Sé. Ouve-se aquele costumeiro alerta no ar “Cuidado com o fogo do tacho do acarajé”. Alguém noticia: “Virgem! Bem ali ta havendo uma briga com o jogador do Bahia, Beijoca...”
TETCHÉ TROVÃO: Sai de baixo que o Beijoca leva tudo que é zagueiro no peito e na raça, quebra tudo e ainda balança a rede. Gooool do Bahia! De olhos fechados Vidente fala: “Ave Maria! Beijoca deu um cruzado de direita no pé do ouvido de um cara com a camisa do Vitória, que o cara foi a lona, ou melhor, ao asfalto. O Juiz está fazendo a contagem e ele se esquivou de dois e deu uma rasteira de efeito duplo que os dois caíram por cima do torcedor do vitória que já ia levantando.”BABY: Juiz não, árbitro, Juiz está no tribunal, ou em casa se preparando pra dar as sentenças.TUAREG: Baby sabe! O pai dela é advogado e dos bons. E você Vidente deve ter tomado uns dois LSD, e ta vendo coisa. Ácido faz ver até antecipado.
Na praça agora tudo é calma. Os Filhos de Gandhi estão pintando com Gilberto Gil, todos de branco. Tetche Trovão fala: “Bom vai ser o encontro de Dodô e Osmar com os Novos Baianos que estão no Campo Grande. Dizem que Caetano está em cima cantando “Chuva, suor e cerveja”.
Agora chegam os Apaches e Canhoto comenta: “Tem mais apaches que polícia, taí uma briga boa”. JUAZEIRO: Que é isso Canhoto? Hoje é carnaval e lá vem o Badauê de azul-branco e amarelo. CANHOTO: É uma escola de dança na rua, eles são finos netos de Gandhi. TETCHÉ TRIOVÃO: O Ilê era Black baiano. Era grupo fechado, crioulo puro. Esse ano estão dizendo que já entra-ram alguns sararás. Canhoto justificou: “É dando exemplo pra abertura”.
Boca, já de cima do trio elétrico, gritou no microfone: Canhoto, tem razão, cinco dias de carnaval, só porque quem inventou não tá tocando, mas já estamos aqui, vamos segurar. PEPEU: Tem que botar os dedos no gelo com sal e furar as bolhas com agulha e linha, mas eu era menino e fechava os olhos e dizia: eu ainda vou tocar no trio e aí eu via um trio igualzinho, comigo, igualzinho, era o Trio dos Novos Baianos. GALVÃO: No relógio de todo mundo, quatro horas da manha, aquela hora que todo mundo se toca que o som já
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parou e só um bater de latas e o clareando do sol que vai sair por trás dos montes que contornam o horizonte. Juju Bolinha histórica representação do hipie baiano fala no meio da rua: “Não dá pra ir pra Boca do Rio, enfrentar um buzú pela orla inteira, eu vou apagar aqui mesmo num canto da Praça”. E Agulhão, outra figura popular do Porto da Barra: “Qualé, dormir! É carnaval. Daqui a pouco, depois de pegar o pôr do sol e me proteger contra os exus que rolam no meio da alegria, eu vou dar umas caídas nas águas de Mãe Iemanjá, dar uma relaxada na praia e volto, que lá pras onze já tá quente de novo.” VIDENTE: Eu nem posso revelar isso porque também gosto da onda, principal da enxurrada de gatas doidinhas pra rolar na grama, na areia ou no asfalto mesmo, mas pra mim mesmo digo “Esse pessoal pensa que euforia é alegria”.
Terça-feira, último dia, hoje é tudo. Não houve ainda, mas vai haver, hoje os Novos Baianos encontram Dodô e Osmar.
TUAREG: O distinto está desinformado, não é hoje o encontro, nem derradeiro dia, foi decretado 5 dias de folia.
Chegou o índio Guanambi com a notícia mais louca: Canhoto largou tudo e foi ser Hare Krishna. Boca (ouvido de tuberculoso) de cima do trio transmitiu logo a noticia: “Vou passar a notícia pra frente porque se for boato não passa em branco, coisa de baiano mesmo, criatividade em todos os níveis”. E a hora é essa. Pessoal, vocês vão pirar de vez com essa, fiquem calmos, contagem progressiva: 1, 2,3, 4, 5,6, 7, 8, 9.. . Canhoto largou tudo e foi ser Hare-Krishna. Vamos tocar uma música de John Lennon pela loucura de Canhoto”.
BABY: Deixou os três filhos e a mulher? Tá brincando, ele tá dando um tempo de 180 dias. Eu tou...
Gaguejando Boca abre o verbo: “Caso ele tivesse aqui diria: foi a inflação, a situ... situação”.
JUAZEIRO: Não, Canhoto é sério e sabe entrar e sair de todas. No mínimo vai sair de lá sabendo sânscrito, mas quem tava bom de ir pro Hare Krishna era João Loureiro. MARILHINHA: Mas é mesmo, Indio? ÍNDIO: Ri ri ri hi ri ri ri (caiu na gargalhada de índio). Se vocés vissem a cabeça raspada, só uma trança. Ri-ri-ri –ri-ri-ri-ri.
Zè Américo, o distante, dessa vez pulando em cima do trio elétrico Dodô e Osmar fala no microfone: “Duas semanas
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depois do carnaval é que essa Bahia vai ficar boa”.
Até que afinal na praça os dois trios, Dodô e Osmar e Novos Baianos, para o maior espetáculo de música do país. Não é brincadeira, Osmar, Boca e Baby param o carnaval, fazem discurso, pedem calma, pregam a não violência. É um barato. Cada trio apresenta a sua novidade para o outro e depois tocam juntos. A multidão carnavalesca que aguardou esse momento saboreia com a alma, curtindo essa página do folclore baiano.
VIDENTE: Esse pessoal não sabe que nem tudo que é bom presta. E o pior é que eu sei que o que dar ressaca é furada e ainda me passo.
O SÍtIO DOS NOVOS BAL4NOS
Paulinho da Viola chegou já falando: De quem é o aniversário? Eu soube lá no Soube lá no Bob‘s de Ipanema e trouxe logo foi o time da Portela pra comemorar.
BOCA: Xará, eu acho que ou é de um colar da Baby ou do campo com inauguração das redes de nylon e um courinho massa.
JUAZEIRO: No cabaré dos Novos Baianos é assim, tem sempre uma aniversariando... IANG (já com a barriguinha avolumada): O que é cabaré?
JUAZEIRO: Mulherio, randevu, puteiro. É transa da geração passada, no tempo que a rapaziada tinha que alugar uma mulher no cabaré quando queria transar ou então ficar esperando ser paquerado no fim da noite. BOCA: É, malandro, as cocotinhas de família não davam mesmo. DADI: Verdade?! Quer dizer que nem amando, arriadona no carinha e nada... Aqui no Rio também?
Chegando da Bahia com mochila Tetché Trovão: “Oi, Bola, desde ontem qu’eu tou com você na minha cabeça, chegue mais, deixa eu lhe dar um acocho. BOCA: Ih! Tá russo, Trovão no pedaço, toda vez que ele vai ver o Vasco jogar fica dizendo “quem não faz leva”. Zebra certa, Tetché é o famoso pé frio. TROVÃO: Vocé só m’inh’ataca por trás. BOCA (falando com Da Viola, assim todo afobado, meio se enxugando na toalha): “Que horas são que eu tenho que ir nessa”?
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TETCHÉ TROVÃO: Três e meia. BOCA: E a hora que meu pau bambeia.
Uaaaafl! Foi um grito só, a turma tirando a pele de Tetché-Trovão. Boca como quem quer limpar a barra de Tetché, mas na real está apenas jogando a isca pra ver se o amigo fisga fala: “Trovão tá cansado de viagem, é preciso tirar o desconto do vento. Ele em forma não é de cair numa dessa assim fácil, fácil”.
TROVÃO: Vôte!
Caetano foi dos primeiros a chegar com mais umas vinte pessoas da sua turma e ficou quase o tempo todo em cima de uma caramboleira lembrando de uma outra de sua infância lá em Santo Amaro, na porta da sua casa.
MARILHONA: Como é que é Iang se deu bem no interior, transas mil. Até Moreira chegou com uma pulseira sua. É isso ai, você não viu nada, ainda tá na barriga o Gaiteirinho, haja pulseira! IANG: Qualé, malandra, não venha com esses papos pra cima de mim. Morais é sensível e a pulseira que eu fiz pra ele, foi de tiête mesmo. BAIXINHO: Vai ser meio-de-campo como o pai, mas pode também ser um pontinha. BOCA: A seleção precisa. BOLA: Eu sou o padrinho, eu e a Baby. Canhoto chegou com Gil, todo hare-hare, e Paulinho fez uma reverência toda especial ao monge assim entre brinca-deira e realidade. Canhoto foi logo botando lenha na fogueira: recebeu cartão de Natal do Gaiteiro, Iang? IANG: Você não sabe que ele não escreve que ele é mobral? BABY: Iang é tola, se fosse eu chegava de surpresa, eu queria era ver a cara do Gaiteiro. IANG: Olhe aqui a barriga, taii, vai ser a cara dele, ou a minha, não quero nada dele, eu sou Iang.
Gato Félix chegou trazendo o time do Botafogo: Ubirajara, Edmilson, Brito, Osmar e Rodrigues Neto (se não me en-gano), Pintinho (emprestado do Fluminense), Marinho que não quis jogar na lateral, Serginho — irmão de Humberto do Flamengo — Roberto Carlos (não é cantor), Nilson Dias e Mário Sérgio ou Galdino, não me lembro bem. Dadi, o único botafoguense do grupo com uma camisa que Jairzinho tinha lhe dado, disse logo que era banco e queria o segundo tempo, nem que fosse com quinze minutos. No dia anterior, Britão, o capitão da seleção de 70 chegou lá sem ninguém esperar e propôs o jogo que era férias dos
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jogadores. Eu argumentei que não era possível porque tava marcada a gravação do “Fantástico”. Britão enfatizou: “Mas é Botafogo e Novos Baianos, só tem essa e Fantástico tem outros, O argumento não deixou dúvidas e foi unâ-nime o som: “Novos Baianos X Botafogo”!
Voltando ao dia do jogo, o pessoal da TV Globo chiou com a nossa estratégia da súbita febre da Baby e fincou o pé que tava marcado e alertou que Novos Baianos nunca mais apareceria na Globo caso furasse o compromisso assumi-do. Aí abrimos o jogo pro Miéle: “O negócio é que o Botafogo...”. MIÉLE: Eu sou Botafogo, mas não dá, o pessoal não come, Novos Baianos nego sabe que tem alguma. Novos Baia-nos é muito cacique pra pouco índio. CANHOTO: Quem fala isso é Pedrinho do Som Nosso. MIÊLE: Eu não sei não, vai pesar pra vocês, eu também queria assistir o jogo, mas não posso.
Não sei quem do grupo falou: “Mas só pode ser à tarde, a gente chega lá e só grava no fim da noite. E Miéle: Tá bem, eu vou segurar essa, vocês jogam de tarde e gravam de noite, A sorte é que o jogo é com o Botafogo, meu time”. Outro dia estávamos reunidos inclusive estava presente o ilustre visitante Caetano Veloso, e esse assunto veio à tona, e falou-se que até hoje Miéle é considerado lá gente fina, só por isso, e Canhoto que não deixa passar nada em por-tuguês, inglês, espanhol, latim, sânscrito ou gíria fez logo a correção: “Gente fina é agulha que leva no fundo e não perde a linha”.Caetano perguntou: Quem foi que chegou aí? BOCA: É Marcelo Cerqueira e Jorge Moura, dois dos nossos advogados. Jorge veio jogar um tempo no meio de cam-po. Ele ainda joga uma bolinha. 1h! Po-po-po-po-po-po. São as motos, os motoqueiros, mais de 100, é a turma de Tércio Lins e Silva, outro advogado do grupo, falou Iang. CAETANO: Não estou entendendo mais nada. Quantos advogados vocês têm! Mas também é um grupo, né? BOCA: Ainda tá faltando seu Cidade, o pai da Baby. Lá no fundo começa um som, Pepeu, Jorginho, Dadi, Baxinho, Charles e Bola. Morais pega o microfone e tudo sain-do no serviço de alto-falantes instalado por Salomão nas goiabeiras e na cumeeira da casa, transmitindo para toda a Boca do Mato onde esta encravado o sítio, “O cantinho do vovô”. Paulinho Boca também leva uma. Pode se chamar de show. Chegaram Abel Silva e Cristiano, que vão ficar no banco, para qualquer eventualidade, o primeiro de centro-avante e segundo de ponta esquerda.
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Pára o som, sai o almoço e os Novos Baianos, que na época eram naturalistas, quase macrobióticos não comiam carne nem peixe, prepararam, no entanto, uma moqueca de vermelho e uma feijoada ao ponto para o pessoal do Bo-tafogo. BOCA: Claro que tínhamos que preparar um bom sono para “as feras” que ninguém vai encarar o Bota assim sem mais nem menos. Trovão escalou os Novos Baianos no serviço de alto-falante. Jogo Gilberto: “No gol a calma, a categoria, o swing e a raça de Gil, na lateral, o futebol alegre de Boca, toda a dança e vigor de Charles Negrita na zaga central, Gato Félix na quarta zaga e Jorginho Comes na lateral esquerda (Não sei por que todo baterista sabe jogar futebol). No meio de campo Nei Conceição, Afonsinho e “eu que treinei bem”. O ataque com Baxinho, Morais e Pepeu.
Chegou Marcelinho com o time de Ipanema que vai fazer a preliminar com o Guanabara, o dono do campo. A torci-da do Ipanema veio em peso, só cocotas, as berlotinhas mais lindas de Ipanema e Leblon e os surfistas. Marcelinho gritou: “Gaiteiro, faz falta, mas o time veio em massa”. BOCA: Vamos lá, Marcelo, que o jogo tem que começar em ponto, que o juiz é o Bola e de noite sem refletores e de óculos, já viu. E foi saindo a caravana com os Novos Baianos puxando, fazendo a maior batucada em cima da carroceria de um caminhão velho alugado para levar o time para o campo que fica a 1 km. Tudo festa. O estádio do Guanabara tá lotado como nunca esteve. As torcidas dos Novos Baianos e Ipanema se juntaram enquan-to do outro lado ficaram Botafogo e Guanabara. Baby leva Caetano até o centro do gramado para ele dar o pontapé inicial. É dada a saída e o Bota com mais futebol vai ao ataque, mas Charles Negrita corta e deixa com Nei que com o corpo evita dois e manda para Afonso que lança Joãozinho Trepidação(Galvão) entre os dois beques e ele balança o corpo indo ao encontro da bola, mas de repente, abrindo as pernas, deixa passar a bola, deixando Britão e Osmar na rua, indo pegá-la do outro lado com Britão gritando “que é isso?! que é isso?!!! Pega aí, pega aí”. Até hoje quando Butão me encontra grita logo “que é isso, que é isso?!” O Botafogo marcou o primeiro. Dois gols de Nilson Dias sendo que Morais diminui, cabeceando pro chão de for-ma indefensável, escorando um cruzamento da linha de fundo após Baxinho levar dois, fazendo o que os pontas da seleção não sabem mais fazer. “Não sei por que não convocam Baxinho”, reclamou Trovão no microfone, em cima do lance. Marinho marcou mais dois gols e depois driblou cinco dos baianos e o pessoal do Bota avançou em cima dele, ele passou por mais uns cinco e da entrada da área mandou um balaço raspando o travessão. Veio a reação dos Novos com Gato Félix salvando de debaixo da trave e Jorginho na recarga foi levando “os gringos” (que gringos? eu estou é doido!, se tocou Trovão, é emoção, é emoção!); o garoto toma guaraná em pó, lá vai ele, passou por quatro
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do Botafogo, chegou na linha de findo, vai cruzar, rolou pra trás, Trepidação passou que nem Tostão (levando dois) e Pepeu encheu o pé da altura do pênalti numa canhota linda balançando a rede. Baby, a camisa 12, não joga, mas faz gol até fora de campo. Ela toda concentrada não resiste se emociona e grita: “Vira o jogo, fulano tá solto”. A verdade é que ela saca do riscado,e justiça se faça, só manda dar a bola pra Pepeu quando ele está solto. Numa disputa de bola Morais se contundiu no joelho e entrou Felipão na lateral e Boca foi para o comando do ataque. O 3º dos baianos surgiu de uma tabela que veio desde a área dos baianos até a intermediária dos homens. Nei para Afonso, Afonso para Nei e daí Afonsinho tava com o diabo no corpo e saiu entortando, um toqui-nho por baixo da perna de um e na saída do goleiro tocou por cobertura batendo a redonda na trave e voltando para a marca do pênalti, onde Paulinho chegou como um raio botando no filó. O empate foi gol de Reinaldo, lançamento de Cerezo, veja se não foi?! Afonsinho de lá da frente da área lança e Trepidação se enfia veloz entre os beques e tocando antes do goleiro com a bola apenas beijando o fundo da rede e ele tendo que sair pela linha de fundo tal a velocidade e caindo nos braços da torcida. 4 X 4 no marcador. O Botafogo suou e fez mais dois e no primeiro ataque perigoso dos Baianos eles acabaram o jogo. Britão, sempre Britão pegando a bola debaixo do braço e saindo pro chuveiro: “Vocês tão muito fogosos, assim vocês empatam. Chega! Isso não é campeonato, estamos de férias”. Engraçado foi Juazeiro, o maior torcedor dos Novos Baianos, saindo do campo e dizendo “é porque faltou Geraldo Mãozinha, o Capitão Gancho, o melhor jogador dos baianos. Capitão Geraldo como a gente o chama, tem a mania de no momento certo parar a bola na frente do melhor do outro time e faz que vai dar um lançar com a esquerda e na maior rapidez com o pé direito que era falso apoio dá um chapéu no cara com a bola no chão. Inacreditável! Infalí-vel! E tudo ocorre quando o adversário tá levantando o pé pra cortar o lançamento simulado pelo Geraldo. Olhe que Geraldo é capitão Gancho porque só tem um braço. Chuta com as duas pernas, bate falta na gaveta, pênalti ele não faz carreira e só coloca sem defesa pro goleiro; dribla bem com as duas, tromba satisfatoriamente sem um braço e tem aquela arrancada do Pelé ameaçando chutar e só o fazendo na proximidade da área com uma bomba balançando a rede. Paulinho Boca passando gaguejou: “Capitão Gegê ensinou os Novos Baianos todos a jogar futebol e muitos jogadores profissionais ele orientou lá no campeonato de praia lá da Miguel Lemos. Estamos no ano universal do deficiente físico e Geraldo abandonado, ao léu mesmo. Meu Deus, como ele é forte. Que crioulo é Geraldo! Nos Estados Unidos, o cara fazer tudo isso com um só braço, no mínimo seria o símbolo da justa campanha.
Após o banho no “domingão” que é um cano que é só tirar a rolha de cortiça e vem uma ducha natural instalada no quintal a festa continua, aliás, a festa não parou, o banho também faz parte.
O sítio é movimentado o tempo todo. Uns vão, outros vêm e o ambiente sempre cheio. Eram seis horas, Iang se benzeu pra espanto da moçada, porque ela o fez com sinceridade e aí abriu a boca: “Tá
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bom, muito bom, eu agradeço a Deus por tudo, mas eu vou sair da área, vou com ele na barriga e minhas pulseiras na mão pelo interior do Brasil. Vocês não sabem, a vida é uma beleza, cada dia uma cor. Ele vai nascer eu não sei aonde, onde for”. Não tenha dúvida que se alguém contasse para o pessoal que chegou a noite, que teve outro tanto ou mais no período da tarde, e o jogo e tudo, ele não acreditaria. O que é justo e lógico. Um coisa que marcou bastante foi a chegada, às quatro da manhã, da dupla Elke Maravilha e David Zing anima-díssima quando os baianos já estavam forrando as camas pra dormir. Ai a festa começou de novo para nós e os dois convidados especiais.Paulinho boca um dia estava falando voltado para jornalista que iam nos visitar e depois publicavam matérias, mas essa não saiu, e ele revela aqui nesse momento do livro através da minha memória: “O sítio dos Novos Baianos teve uma existência tão marcante que já ouvimos foi coisa. Pessoas que nunca estiveram lá já nos perguntaram: “Os Novos Baianos devem ter muitas propriedades e dinheiro no banco. Só aquele sítio vale uma nota! Vocês ainda têm o sítio? Passaram pra frente, vocês não são mole. Respondemos: “Os Novos Baianos nunca tiveram sítio. Vocês nas suas imaginativas cabeças o construíram para nós terreno alheio”. - “Quer dizer que foi invasão?”- “Ter assim de terra, cerca, escritura não! Não, nunca tivemos, mas o sitio dos Novos Baianos foi um sítio de verda-de. Alugado com contrato e tudo e nos foi até oferecido para compra, mas nós não éramos de ficar parado num canto por muito tempo. Igual a juventude 70 podemos ser considerados “Para-Hipie”. Nosso lema era a viagem, mas ninguém teve um sitio como o dos Novos Baianos.
Palmas, palmas, muitas palmas pata o discurso de Paulinho Boca e muitas risadas. Todos foram dormir...
NO PIER
Bem em frente ao Sol de Ipanema, na Vieira Souto, fica o Pier, a praia do gosto da rapaziada. Aliás, o povo do Pier, porque o Pier mesmo era ali quase em frente a Farme de Amoedo. Boca foi chegando e depois dos abraços, senta ao lado do Gil que numa velocidade e numa popularidade fala: “Refazendo tudo, abacateiro te acataremos... realce, quanto mais purpurina melhor, muito melhor do que quem não tem cachorro... Temos que ficar a sós ... Temos que calar a voz... Dar as asas procurar... Temos que encontrar a paz ... Temos que perder a data, matutar, mãos vazias... O luar, nem estou falando da influência no corte de cabelo, nem
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nas plantas, nem nos encontros de amor, falo do luar, o luar... De moto ou de metrô o lugar.”
E o pessoal se levantou rapidinho pegando as roupas, sandálias e bolsas, procurando um ponto mais seguro, enquanto as ondas do mar ficaram mais azuis, tomaram a areia vindo beijar os pés do poeta. BOCA: Esta praia tá massa e pintando mais axé, olhe o Cae todo colorido.
CAETANO: Grande Boca! Só posso lhe dizer muito é muito pouco pro errante navegante. Gente, gente nasceu pra brilhar e não pra morrer de fome. Não me amarra dinheiro não, lua soberana, nobre porcelana sobre a seda azul, o melhor o tempo esconde, pena de pavão de Krisna, virgem Maria mãe de Deus será que esse olhos são meus?...
(palmas)
Eu: O Rio é assim Cae, briga em paz. Você vai passando e amando os lugares. Sampa até Denis Brien lá do céu man-dou um abraço. E toda filosofia do carioca no menino do Rio. O pessoal tá esperando a específica pra Bahia.
Boca chega até outra roda onde estão Bola, Dadi, Marilhona e fala: Tomando uma corzinha, hein, Bola?!
BOLA: Dando um sarto no Rio, Pier, Baixo-Leblon e Noites Cariocas no morro da Urca. Em dois dias eu tomo pé nessa civilização. MARILHONA: Se fosse por Bola ele desviava esse mar e ficava lá com aqueles prédios fazendo cada viagem no asfalto. BOLA: Lá tem quatro Baixo Leblon, não é Paulinho? BOCA: Essa briga, Rio X São Paulo sempre tem e termina a Bahia entrando de bolo.
Bem na beiradinha do mar, Baby, com pés assim dentro d’água Marilhona pergunta pra Baby: Só você, se você não tiver, ninguém tem notícia da Iang. BABY: Iang se meteu nessa de interior e sumiu que nem Leila Maneira. MARILHONA: Leila Maneira, minha filha, casou com um executivo. É altas madames, é que ela não pinta na área pra não sujar. PEPEU: Não é só a Iang-Sol que sumiu, nunca mais se viu Juazeiro, Vidente, Pedro, Tuareg. Do Canhoto ainda se ouve falar.
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E nisso, Boca avista Psiquiatra e corre cobrindo com as duas mãos o rosto de ‘Psi”. PSIQUIATRA:Já sei, o Boca. Abraços e os dois sentam bem perto do mar. Dedé na outra roda fala pra Litinha: Mas o que será que tanto conversam Boca e Psiquiatra? Que papo mais ani-mado. LITA: Eu sei o que é, Psi na praça é uma boa. Vamos lá. PSIQUIATRA: Tou sentindo alguém falando de mim, olhe a minha orelha como tá vermelha, quente-quente. Ainda bem que é essa do lado de cá... é amigo, é amigo, tá limpo. Se fosse a ou. tra... BOCA: Tu também leva fé nessas coisas? PSIQUIATRA: Nisso e na alta malandragem. Eles não me alcançam assim fácil. Só me hospedo em hotel 4 estrelas pra 5, só ando no traje, só pego Rádio Táxi. Psicologia, Boca. Psicologia não é psiquiatria, Boquinha... Caetano falando pra mim e pro Gil: Estamos em transição. Nâo sei quando, mas surgirá uma juventude somando tudo isso. GIL: A criatividade não faltou hora alguma na área da música. Salve os compositores... Eu: Graças a Deus de “Alegria Alegria” ao “Luar teve sempre uma presença. Taí “Preta Pretinha”, “Xodó”, “Mania de Você”, “Lança-Perfume”, “Sampa”, “Beleza Pura”, “Menino do Rio”, “Refazenda”, “Tietes”, “Sonho Meu”, “Pombo. Correio”, “Frevo Mulher” e mais a “Aquarela do Brasil” de João, Caetano e Gil. É, valeu! Valeu mas foi 65, 66, 67, 68. Já estamos em 81, outra década e quase nada de açâo, dois a zero pro consumo, mas ainda tem segundo tempo e a prorrogação. Alguém gritou: E Canhoto, quem tem notícias? Ainda é Hare Krishna? BOCA: Já deixou, tive com ele na Bahia. Canhoto é demais! Agora ele diz que resolveu assumir a de um intelectual fazendeiro, desde quando herdou uma fazenda do pai e saiu do Hare Krishna sabendo sânscrito. E Canhoto é um intelectual mesmo. Um intelectual de rua.
PSIQUIATRA; Eu saco, eu saco. No Brasil é assim, Vilia-Lobos era maestro e jogava sinuca na Lapa. A praia tá realmente tietável, até Chico, que só tinha vindo uma vez há muito tempo atrás, surgiu falando assim por baixo do bigode: “Isso aqui não é o morro da Gal?” E falando para um coroa amigo seu: “Você não gosta de mim mas sua filha gosta. Chame o ladrão, chame o ladrão, quanta repressão Eu passei aqui pra avisar que vai ter um torneio assim de última hora, lá no sitio.” Eu: Não sei, mas o Chico tem assim alguma coisa de Novos Baianos. Acho que é o socialismo do futebol. BABY: Chico Á ou Chico B? Eu: O Chico B.
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BOCA: O sítio dele não tem nem a casa dele. Ë só a casa do caseiro, um vestiário com banheiros e ducha um campi-nho gramado e um barzinho também do caseiro. Gato Féiix chegou com uma carta de Tuareg dos States e leu alto:”Gaiteiro tá tocando flauta e viola, parece que vai gravar um Lp. Fez um conjunto com uns mineiros”.
BOCA: Tomara que ele não entre nessa & música de Igreja Gaiteiro é moleque de rua, sem essa de coroinha que comia hóstia escondido. PSIQUIATRA: Ué, você não gosta nem de “Travessia” e “Circo Marambaia”? BOCA: Aí é Milton e Milton tem só a criação mineira. É carioca, tem morro. E mineiro era Ari Barroso que fazia música baiana. EU: Minas dá Reinaldos e Tostões que são mais que queijos e, sem desmerecer, Zico nunca foi o maior jogador do Brasil, nem Beijoca. Pra mim sempre foi Toninho Cerezo. A criatividade, o deslocamento, o porte, a calma, o Brasil, domínio do jogo. PSIQUIATRA: Minas faz cinema que lota as casas do ramo, você precisa ver as filas e “Preta Pretinha” tem qualquer coisa de mineiro. BOCA: Eu tou falando de música-balanço. Você quer me jogar contra as minas de “Minas Geral”? Música de igreja só o hino do Senhor do Bonfim. EU: E porque Juazeiro não taqui, mas o hino da padroeira lá de Juazeiro tem balanço. BOCA: Vocês tão tudo pastando, Gaiteiro se mandou mas foi por causa do velho dele. Já pensou um malandro que nem Gaiteiro com aquela cara, sabendo que a “rapeize” toda saca que seu pai é cana?! EU: Gaiteiro sempre foi ligado nos States. De onde veio a gaita? Bob Dilan. E aquele cabelo dos “doidinhos” dos faroestes americanos, mas idealista e sonhador ele é. B A BY: Tudo intelectual! Gaiteiro é amarrado mesmo é na Iang. Ele tá só é vencendo lá fora, se valorizando pra ela. E GATO: Olhe aqui, olhe aqui! “Gaiteiro não tá nem aí pro sufoco, sempre rindo e quando fica russo mesmo ele passa aqui e faz um rango pra isso que se tem amigos. Um abraço a todos Tuareg Goes” E todo mundo se mandou pro sítio do Chico lá no km 18.
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A FEIRA DA VILA MADALENA São Paulo Tava o maior ouriço, palhaço de pernas de pau, Magnólio e Jacaré andando no arame, cordel, muito cordel, grupos de teatro se apresentando na feira, artesanato às pampas, tudo isso acontecendo ao ar livre. Gente que você já viu na estrada, alguns você sabe o nome, a maioria você só conhece. MANÉ (com um bocado de quadros debaixo do braço): Eu tenho um projeto para uma história em quadrinhos, vou lhe mostrar A feira me toma muito tempo, mas tá um barato. Tem um pessoal que vem aí que vai apresentar uma peça que todo mundo pode tomar parte, você vai gostar. Mané anda muito ligeiro, estilo Gandhi, passada de Toninho Cerezo, já sumiu. Chegamos eu, Boca e Baby, e falei: Boca, você vai por ali e eu por aqui, Baby na dela e a gente se encontra em algum ponto, pra ver se a gente acha alguém da moçada. Eu cruzei logo com Lená, a viúva do poeta Paulinho Foguete, que vinha segurando a mão de seu guri para não perdê-lo. João adorou cordel. Olha quem eu encontro? Maluzinha de barriga, você agüenta?! MA LU: Ë isso meu filho, um dia também vai acabar esse reinado. Ninguém segura esse homem? Acho que é uma baiana que vai lhe domar bicho! Por sua vez Paullnho Boca encontrou Tomzé. “Diga, Tom, dando uma voltinha na feira. . TOMZÉ, os músicos da minha banda vão tocar hoje. Foi aqui que eu descobri a moçada. Mais na frente Boca: Mané?! Taí, vocês conhecem? Mané um desenhista 70. Cobra em índio e disco voador. MANÉ: Indio sabe que não veio em cegonha. Todo mundo sabe que índio veio em disco-voador. BOCA: Não repare não, o sotaque é porque Mané vai “in loco”. Já viveu na selva. A mesma coisa que Vavá, Dino Sani, esses jogadores todos que moraram na Itália e voltaram falando nem português nem italiano. Como é que é, Boca, já se bateu com alguém da rapaziada? BOCA: Raríssimas exceções, só pintou o pessoal da estrada, que você se lembra, mas... eu digo logo, sua cara é conhecida, mas é melhor assim. O pessoal mesmo nem fumaça. O pessoal é semelhante a uma quadrilha, de Drum-mond, São João, uma quadrilha. Chegou Maré, com um papo meio louco. Tinha um baiano lá na rodoviária procurando os Novos Baianos, querendo vir pra feira. BOCA: E você, deu o mapa? MARÉ: Trovão é o nome dele, eu tinha que almoçar com minha mina na casa do sogro. Cantei todas as dicas pra ele
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mas pelo tempo ele dançou, né. Dançou?! Dançou?! Dançou?! Dançou7! Foi aquele eco. MARÉ: Quer dizer, dançou nessa, se perdeu. BOCA: Quando acaba, nego fica clamando que o pessoal não quer ir pra escola. Minha filha Maria, meu filho Gil, Riroca, Zabelê, Ciça, Pedro Baby, Davi, André, Alef, Guria, Moreno, os meninos todos pra ir pra escola. Nego deixa a escola é porque a escola não ensina viver.Por sua vez Paullnho Boca encontrou Tom Z6. “Diga, Tom, dando uma voltinha na feira. . TOMZÉ, os músicos da minha banda vão tocar hoje. Foi aqui que eu descobri a moçada. Mais na frente Boca: Mané?! Taí, vocês conhecem? Mané um desenliista 70. Cobra em índio e disco.voador. MANÉ: liidio sabe que não veio em cegonha. Todo mundo sabe que índio veio em disco-voador. BOCA: Não repare não, o sotaque é porque Mané vai “in loco”. Já viveu na selva. A mesma coisa que Vavá, Dino Sani, esses jogadores todos que moraram na Itália e voltaram falando nem português nem italiano. Como é que é, Boca, já se bateu com alguém da rapaziada? BOCA: Raríssimas exceções, só pintou o pessoal da estrada, que você se lembra mas . . . eu digo logo, sua cara é conhecida mas É melhor assim. O pessoal mesmo nem fumaça. O pessoal é semelhante a uma quadrilha, de Drummond, Sã6 João, uma quadrilha. Chegou Maré, com um papo meio louco. Tinha um baiano lá na rodoviária procurando os Novos Baianos, querendo vir pra feira. BOCA: E você, deu o mapa? MARÉ: Trovão é o nome dele, eu tinha que almoçar com minha mina na casa do sogro. Cantei todas as dicas pra ele mas pelo tempo ele dançou, né.
“Dançou?! Dançou?! Dançou?! Dançou!”
Foi aquele eco. MARÉ: Quer dizer, dançou nessa, se perdeu. BOCA: Quando acaba, nego fica clamando que o pessoal não quer ir pra escola. Minha filha Maria, meu filho Gil, Riroca, Zabelê, Ciça, Pedro Baby, Davi, André, Alef, Guria, Moreno, os meninos todos pedem pra ir pra escola. Nego deixa a escola é porque a escola não ensina a viver. Pegaram até um caixão de gás e deram pro Boca subir, que acabou se empolgando deu sua pala: “Se eles ensinas-sem geografia. Que adianta saber onde fica o mar Ártico? Aí seria já pra pós-graduação, pra quem tem grana pra che-
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gar lá. No mais, nego via jornal, televisão e sentia que era longe. Assim como uma estrela, um planeta.
SERGINNHO FUJVARA: Boa, Boca! CLAUDINHO: Tou contigo e fecho. BOCA: Geografia local. Pra você ir do Brooklin pra Lapa, de Pinheiros pra Itaim Bibi de taxi, cortando caminho, por onde você vai? Tal economia de gasolina, ganho de tempo. Tinha que ter fotografia aérea das grandes cidades com mapas heliobeltrando tudo. Tem matéria mais interessante? Todo mundo sabendo andar nas grandes cidades. Trouxeram um microfone e deram ao Boca. BOCA: ... Tinha que ter slides, filmes super-oito com as carangas passando nas ruas mostrando os caminhos e os atalhos ... As boas, jornal de cinema. A geografia é uma solução e não temos uma solução, temos soluçÕes.
Palmas e gritos: Boca, Boca, Boca. -.
Aí falei no ouvido do Boca: Bravo, bravo! Mas volte à realidade, encontrou alguém do bando, nem mesmo notí-cias... Juazeiro, Canhoto, lang, Gaiteiro, Vidente, Psiquiatra, nada?
O repentista Boca: João amava Tereza que amava Raimundo que amava Maria que amavaJoaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos e Gaiteiro tambémmora lá num porão come um dia e três não mas feliz da vida tá gravando um LPno estúdio de Doum Romão.
BABY: Tereza foi para o convento
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e Iang tá atravessando pulseirae mil artesanatos pelo interior buscando o sustento delae de Lui Júnior
BOCA: Canhoto é candidato a deputadotá em altas campanhas pelo interior da Bahia, mas não houve eleição ainda
BABY: Raimundo morreu de desastree Vidente não sei se foipra Vênus ou Marte as últimas notícias dão que entrou no mato e nem rastro...
BOCA: Maria ficou pra titia Juazeiro casou foi morar na Bahia tá escrevendo um livro sobre futebol...
BABY: Joaquim suicidou-se,Psiquiatra ex-psicólogopassa um fuminho hoje é transeiroo rei do desbaratino.
BOCA: E Caveirinha igual a J. Pinto Fernandes
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que casou com Liii não sei por que ainda
no tinha entrado na história.
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ENSAIOJUVENTUDE COLORIDA E PERSEGUIDA
Tomemos por geração perseguida a experiovivência dos jovens que na década de 70, em pleno arrocho, saíram à rua, jogaram no ataque, deram calor, passando por cobaia, combustível para as transformações e adubo para a abertura. Das ações desse mini povo filtrou- se um pensamento registrado historicamente nos seus versos e em sua música, fundamental animação para que se mantivesse vivo o espírito criativo e atuante daquela gleba de jovens presente durante todo esse referido período conturbado da vida nacional. Poderíamos dizer que a geração muda de dois em dois anos, por nos ser perceptível a mudança material atra-vés das caras que se revezam, das tendências e da informação instintiva que desenvolve cada rosto jovem que pinta na universidade da rua. Preferimos, no entanto, considerar as mudanças que ocorrem em cada década. A mocidade 70 chegou querendo fazer a cabeça na rua, mas ousando afirmações suas baseado na fé, espe-rança e alegria, reações naturalmente imbatíveis em quem ainda não enfrentou o repressor cara a cara. Daí o sucesso desse pensamento jovial descolonizante materializado na praça. A juventude de 69 a 72 foi a rainha da rua. O dado novo que trazia lhe abria portas, milagreando a ralé. Aquele que assumiu em conjunto ser mais compreensivo com o drama humano, menos preconceituso, sendo em algumas ações revolucionário e em outras evolucionário foi superior mesmo no confronto com o aparato repressional, que após liquidar os últimos moicanos do terrorismo de esquerda no Brasil, veio com toda a fe-rocidade desenvolvida naquele clima de luta armada, mas ficou bobo sem saber como reprimir a desconhecida irreverência anárquica. O poder da força brutalizada viu-se impontente diante da liberdade que se processava nas ruas através de uma juventude aparentemente alienada mas que esbanjava coragem; consciência de li-berdade, mística e, encarnando a não-violência, tomava a rua, descrendo do poder físico. Os mais enfurecidos “canas” ficavam como que hipnotizados com o humorado “171” apresentado por aquela jeitosa gentinha. O jovem que já tinha dado um tempo na escola, resolveu dar um corte no trabalho, pelo menos nos moldes caretas como vinha sendo exercida aqui a ocupação diária do homem, sem levar em consideração a escolha, aptidões e outros direitos que dignificam o trabalho. Na cabeça do jovem 70, o trabalho tinha que ser feito com amor, vocação e outros bichos. Tudo isso acontecendo paralelo a uma super-execução do artigo 51 que proíbe a vadiagem. A juventude sentou na praça, mas não cruzou os braços nem virou balão apagado. Viajou mil, correu o
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Brasil, fez amizade, se despreconceituou bastante, venceu o racismo, se fez musical, tornando- se o principal público do show business e acompanhou toda a poesia que surgiu na música brasileira. E mesmo sentada na praia ainda era a atração, o star da rua. Só para ilustrar: em Salvador, as famílias deixavam de ir ao cinema, teatro, boate para dar voltinha de carro no Porto da Barra para ver os hippies darem uma bola sentados na balaustrada. Desenvolveram-se as aptidões manuais e criou-se um mercado artesanal de trabalho. Aboliu-se de cara o livro de ponto, horário, materialização do patrão e por aí o jovem escolheu sua vida. Sinto dizer que alguns piraram. Não havia um pensamento político dirigido, organizado, porque se tratava de uma experiência, uma prática e não um estudo, uma projeção. Havia um conhecimento intrínseco em cada doidão - assim eles se chamavam - só por estar ali no gramado. Desse conhecimento vinha pensamento que tinha uma linha, uma estética e que fluía na poesia dos seus mestres, seus compositores ou seus tradutores. Aqueles jovens já sabiam que maluco não era quem queimava um baseado, e sim quem acompanhava o papo, dava seqüência. Doido é quem era aberto antes da palavra abertura. Os “muito certos” como se intitulavam lembram uma tribo do século XX. Como não se assistia a televisão, as conversas eram sobre suas próprias experiências. Um fato cósmico, sem que houvesse nenhuma orientação política a moçada não comprava à prestação. Nesse ângulo de compras, acho que o brasileiro nunca teve tão atencioso quanto a rapaziada 70. O pessoal só comprava uma coisinha, rango. , sorvete, disco, fitas fonográ-ficas e a gasolina ainda era barata . A camisa era de malandro brasileiro, cigarro era chamado de podre e quem fumava dizia “passe aí esse cigarro de trouxa”. Até o álcool dançou nessa. Os bares não tiveram boa vida. Ah, sim! Comia-se muito sanduíche, suco, pastel de queijo e caldo de cana. Você via 200 jovens na Flo-resta da Tijuca ou no Porto da Barra, na Lagoa do Abaeté ou na pracinha do Morumbi em noite de lua ou céu estrelado. Não havia propaganda que fizesse um cabeludo comprar alguma coisa que ele não necessitava mesmo. Essas marcas altamente positivas bem como outras negativas, a saber, o radical descaso com qualquer infor-mação vinda do anteror ou mesmo a propensão para o desconcentrar-se, não explicam o apanhado que numa linguagem poética e neo denomino geração perseguida e colorida. Procuremos traduzir o ámago das reações dos que foram realmente vencedores, qua-se heróis e não nosprendamos a marcos, décadas ou ano 2.000. Busquemos a informação lá onde ela, e lá seria dizermos que a geração 70 começou em 68. Caetano Veloso, Gilberto Gil, também
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na boca de Gal, e toda aquela quebra tropical. Novos Baianos, Rita Lee, Jorge Mautner, Me-lodia e Asdrúbal Trouxe o Trombone e a Casé, saldos da alegre ousadia desse tempo. De 68 a 71-72 foi um vup! ... Só a fotografia pegou. Foi o tal do quem viu, viu e quem estava nem lembra direito como foi. Foi tudo tão rápido como se furta. Estávamos sob um astral pesadíssimo, um estado de estacionamento nacional, não só pelo poder realístico que a força policial abandonou, mas por toda uma consciência do fechamento do ar sem o qual o jovem não respira. Como o presente rola na área do futuro, coube à música, essa expressão sonora que já fez a criança brasi-leira dormir e os nossos corações sonharem, agora veio fazer a nossa cabeça. Os autodidatas, poetas-músicos como Caetano Veloso e Gilberto Gil, tiveram que derrubar as prateleiras que estavam representadas, por ironia da história, justamente pelo melhor da geração anterior, o estudante de esquerda. De um segundo para o outro, deu-se na música o reflexo daquele momento revolucionário de radicalização de posições, com o rompimento de relação? Entre as gerações 60 e 70 ainda em 1968. Ali, as torcidas emo-cionalmente viviam o calor da luta natural. De um lado, levantada a bandeira de Chico Buarque e Vandré e do outro, a do tropicalismo. Nos anos 60 foi a classe estudantil quem mais se desenvolveu, universalizando-se em política e sacando de economia e outros quinhentos. Foi a quente, a rua, a vida, a esperança. No entanto, sem o mínimo de li-berdade política, o melhor da esquerda estudantil, ao perder o direito à passeata, safou-se misturando-se ao que estava acontecendo, que era o ambiente musical, e com toda a sua honestidade defendeu radicalmente a posição de aplaudir a música engajada, considerando tudo além alienado e indo para os festivais de música brasileira vaiar o novo. Tudo porque aquele jovem brasileiro não sacava os caminhos dos anos seguintes por não saber ainda de um toque que veio com a geração 70: o de não ir de cabeça, de olhos fechados, porque o Brasil é surpreendente e ousado pra não querer ser subdesenvolvido, pelo contrário, julga-se o índio universal ao ponto de cantar o pão e o feijão mas sem esquecer o grau de cultura alcançado anteriormente pela música no período conhecido por bossa nova. Quando a coisa esquentou lá na Pelé área, só deu o poeta baiano recém-chegado de Santo Amaro gritan-do: “... Mas é essa juventude que quer tomar o poder? Se forem em estética como são em política estamos feitos. Vão sempre matar amanhã o velhote que morreu ontem. O júri é simpático, mas incompetente. Basta.” Foi assim que os jovens ganharam respeito. E valeu a lição porque o universitário estava careta, mas não era
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burro e sacou a marcada. Botou a bola no círculo central e deu a nova saída, passando a acompanhar a revo-lução que se processou na música popular brasileira. Foi um tempo sem políticos e a sensibilidade coletiva, a alma do Brasil, se jogou para o lado da música e os compositores e intérpretes ganharam a confiança desse povo místico e sem santos. Eu vinha de uma outra, mas quando tomávamos os primeiros sóis da coisa eu estava lá, não para escrever hoje, mas com a minha vida entregue àquela causa que todos buscávamos sabê-la. No convívio com a repressão e todos os terrorismos que se debatiam, a juventude, sem perder o humor bra-sileiro, ali no ato da na, no campo contraditório possível de liberdade, descobria o ilimitado poder de existir, alimentado na cósmica razão do desapego material e opondo-se a todos os princípios básicos do poder ensi-nado. Assim, caminhando no sentido contrário do medo e aturando o papel de anjos do apocalipse brasileiro, esses meninos só em existir tão sozinha no difícil momento revolucionário, colocavam toda uma cultura ofi-ciosa no banco de reservas, Só para não mentir, o que não dissesse que estava por dentro, logicamente estava por fora. Quando chamaram Pelé de Rei, o crioulo não se furtou e assim a moçada, sem ser super-homem, sem saber voar e com o seu corpo ainda sensível a dores, os ouvidos alérgicos a cachaças e o grau de paciência virgem às grades e paredes (antes apenas cenário de pesadelos), não hesitou, aceitou o carma. Segurou, e em meio à tempestade doou-nos: 1 — A não-violência de Gandhi 2 — As primeiras idéias de meditação 3 — Mudanças alimentares 4 — A volta do sentido da natureza 5 — A retomada do caminho artesanal e o exercício desse mercado 6 — O emprego da palavra malandro no sentido contrário de otário 7 — A ousadia de morrer se fosse preciso pela razão que sentia cumprir 8 — E, principalmente, pelo diálogo onde sempre se colocou diante do grande impasse da violência, acima de domador, dada a suavidade de suas explicações somadas ao conhecimento da rua, assimilado nunca tão rapidamente. Assim a nova geração alcançou a alma do Brasil. Um dia, o Mestre falava-me bem dos Estados Unidos: “Luizinho, lá tem um troço que parece Juazeiro. Eu estou falando de Nova Iorque, assim um amor pela cidade, uma filosofia, uma idéia de liberdade, seu Luiz! Olha, se botarem uma ditadura lá eles dizem: vou embora daqui, vou morar no Brasil, aqui não tem liber-dade. Tem outra, o menino lá realiza todo aquele sonho de menino. Ele quer uma chuva colorida, tem. Ó! O
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brinquedo que imaginação sonhar ali se realiza. E tem mais, se o cara marca uma, não acompanha o papo e vai se encabreirando, alguém diz: Não houve nada, volte à bossa. E tudo continua. Não é como aqui que ainda impera a egotripé. Aí eu intervir, tirando toda a maravilha desse lado bom: Aonde é que está a infelicidade deles? O Mestre; Eles têm uma paranóia coletiva. O filho de Sam ninguém sabia quem era, se era branco, se era preto, fraco, forte. O filho de Sam matava e de preferência mulheres. Quando ele foi preso, o pai dele apareceu na televisão, um senhor falando e só algumas lágrimas descendo-lhe do rosto. Oh, meu filho! Ele era bom, puro, nunca imaginei! Os colegas de trabalho disseram: Mas ele? Fulano era simpático, bom, calmo, só acredito porque estou vendo. Continuou o Mestre: Eu estava no hotel, era noite e senti uma tremenda vontade de ir lá embaixo. Fazer não lembro o que, mas passou pela minha cabeça: 1h! O filho de Sam! Ah, que filho de 5am! Eu sou brasi-leiro, não tem essa de paranóia americana. E desci. Lá, o elevador pára no 89 andar e entra um tremendo negão. Eu, brasileiro, nem tava aí, só ia descendo. Aí um estranho, todo emocionado como se tivesse salvo ou salvado alguém disse: “Prenderam o filho de Sam!” Parecia um brasileiro dando a mão dizendo assim: Toques aqui, toques aqui. E repetiu: “Prederam o filho de Sam!” Como se dissesse: Não é você não, não é você não, prenderam o filho de Sam. Por que geração perseguida? Deve estar coçando seu perguntar. Quem ficou e viveu a rua em toda sua intensidade, sabe que por pouco não adotamos a paranóia do “cana”. Bastava pintar um cara de camisinha jacaré, meio forte, cabelo feito no barbeiro e saía aquele aviso geral, boca, ou melhor, boca-ouvido, tudo no maior desbaratino, aquele cara é cana, tem rato no lance.. É como se a geração vivesse externamente fechada e internamente em abertura. Por ter sido revolucionária no sentido de Gandhi e ter se voltado para a arte, principalmente para a arte de ser, e cultivado a liberdade em pleno arrocho e por ter registrado o “por fora”, contraiu marcas que a marginaliza quanto ao respeito merecido. Mas não ofusca o saldo do assumido e agora, após a calmaria, a geração vai dar samba.
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ANTES
Antes, muito antes, durante a Segunda Guerra Mundial, quando perigo maior era o nazismo alemão, os russos e os americanos já eram velhos aliados no sentido de Brasil. É bastante conhecido que nós não podía-mos vender café aos russos mas os americanos nos compravam e os russos recebiam por tabela. Igual hoje, as estrelas do show business coladas nas paredes da cidade em posters, os stars, o Tio Sam com seu chapéu estrelado de um lado e do outro os russos com seus napoleônicos cavalos brancos. Eram aliados. Estávamos sob os únicos salpicos de guerra que nos atingiram. Após a guerra é que trocamos café por maté-ria plástica. Hoje, até parece que guerra é coisa de jornal. Estamos nesse ponto do Ocidente, protegidos pela nossa áurea-índole, pressionados apenas pelo petróleo, pelos chicletes e pelo dólar-inflação. Depois veio o futebol. Ademir, Zizinho e Danilo, os pré-Pelés. Após o futebol, foi a vez da retórica. Os polí-ticos tomaram as paredes. Juscelino, Jânio e Jango. O populismo antes do tropicalismo. Lembro-me na época um desconhecido baiano, morador em São Paulo, voltava a sua terra Bahia para a consagração como candidato a deputado. Seu retrato tinha o mesmo hipnotizante olhar que as fotografias de certos santos pendurados em quadros nas salas de visita das casas brasileiras e que nos fazem crer acompa-nhar o nosso olhar. Não deu outra. João Dória foi dos mais votados. Quase todas as nu1heres casadas disseram aos maridos que votaram nele. João Dória era dono de uma agência de publicidade. Falamos da juventude dos anos 60, a anterior, que se dividia em estudantil participante e lambretista trans-viada. Não sabiam os componentes dessas duas atitudes grupais que das suas divergências e do conviver a mesma década por todo o período físico-jovem deram vibrações para compor o ser da geração perseguida ou geração 70. De um lado daquela geração desenvolveu-se a defesa dos nossos direitos slogados na palavra povo. A polí-tica no seu sentido mais amplo entrando no cotidiano do brasileiro. Era o estudante de esquerda participante e sempre ligado, mas faltava-lhe naturalidade em relação à prática. Existiam dogmas, reuniões, burocracia, retórica, que o afastava do conhecimento univérsico alcançado na velocidade da improvisação da geração 70. A metafísica era sinônimo de alienação.
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Por outro lado, tudo sendo criado num clima de alegria, os descendentes de James Dean, filhos astrais da juventude lambretista transviada, ativavam doidamente. Improvisação era o que não faltava. A lambreta tem história no Brasil. No início dos anos 60, a lambreta entre os jovens alcançou o maior status, chegando a derrubar os carros do ano e sofisticadas importações do ramo. Hoje, passando por um senhor de 42 anos na sua lambreta, que pelo aspecto de conservação parece tê-la assim desde o seu tempo de playboy, não é que ia uma jovem na garupa com ar mais de namorada que de filha. A cena me faz crer que aquela liberdade individual buscada no ato aventuperigoso de viver filtrou-se no sonho de cooperacionismo, de comunidade e de amor num sentido mais amplo, expressado pela outra juventude, a dos anos 70, filha astral dos motoqueiros, neta dos lambretistas e dos estudantes semipolitizados. Cada um contribuiu com o seu calor e o seu swing para o corpo astral do jovem de hoje. Veja-se que os estudantes de uma forma materialista e cética, idealizavam dentro dos seus desejos revolucionários, mais em sintonia que em semelhança com o místico pensamento vivido posteriormente pela juventude perseguida dos anos 70. A diferença se encontra no fato de a anterior se pegar ao dado justiça, enquanto a outra, ao dado amor. Uma C . Uma mais moisaica, a outra crística; uma mais aristotélica,a outra platônica; uma mais fidélica, a outra gueváríca. Pelo gosto musical vê-se o grau de diferença entre os estudantes de esquerda, que só ouviam Geraldo Vandré e “Carcará”, enquanto os lambretistas transviados estavam com Roberto Carlos e Jorge Ben. Para a tão evidenciada revolução sexual tanto contribuiu a juventude estudantil participante quanto os alegres alienados piayboys. Nos congressos, nas células ou nas estradinhas... Nos congressos e nas células, as transas eram no sentido de deixar todo mundo relax e esse negócio de amor-paixão, amor-fidelidade não era proibido, mas o político era a liberação do tabu pra deixar o homem mais freudiano, preparado para o ideal revolucionário. Já o play-boy na sua forma simples de desfamiliarizar a coisa, pegava a filhinha do papai e arribava dois, três dias por aí. Diante do grande repressor visível localizados naqueles pais defensivistas, esses sofisticados pré-surfistas estavam mais pra Lampiões e Conselheiros, ao passo que o pessoal do agito e do livro, mais conscien-te, já localizava o repressor na cabeça de cada um e tentavam solucionar o problema coletivo. Fazia-se aquela geral tranqüilizante após as reuniões. Quase sem combinar nada, tudo naturalmente motivado pelos papos e pelo clima. Não era suruba, um de cada vez. Diga-se de passagem, o sexo curtido assim e mais o perigo e o heroísmo foram o tóxico para aqueles dois lados da geração dos anos 60, pai e mãe astral da geração perseguida e colorida dos anos 70. Seguem-se cinco itens que registram os ensinamentos trazidos pela geração 70:
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1. A não-violência — “Sei que você não quer matar ninguém, mas em caso de necessidade o Taurus não fa-lha”. Assim propagava em página inteira a revista Fatos & Fo tos, ao mesmo tempo em que o jovem abandonava o revólver sem que houvesse nenhuma politização nesse sentido. Caiu do céu ou a geração anterior semeou e regou, curtiu no mel, criou a jogada, preparou o lance astral e deixou a geração 70 de cara com o gol.
2. A palavra meditação — Lembro-lhes que na época da Bossa Nova foi gravada uma música do grande le-trista daquele movimento, Bid Maçal onde se dizia: “Eu ando trite/ A meditar/ Não posso mais/ Meu consolo é chorar...”
Taí o maior contra-senso. Sabe-se hoje, através dos conhecimentos orientais, que a juventude 70 foi buscar na índia, meditar não é pensar. E quem medita está além dos planos tristeza e chorar.
3. A volta do sentido da natureza — Quantas festas em pleno arrocho. Quantos sítios, quantos encontros no mato. E as comunidades de Jacarepaguá, de Mauá, de Embu, Arembépi, Porto Alegre, Arraial d’Ajuda e o sítio dos Novos Baianos. O jovem 70 foi um retomo à natureza sem sair do asfalto.
4. Mudanças alimentares — Os restaurantes naturais provavam que nos 70 criou-se esse mercado, bem como as casas específicas de sucos. O jovem 70 é o maior consumidor de soja desde 1974, enquanto o governo agora em 80 promove esse produto junto à família brasileira.
5. A palavra malandro — O grande Wilson Batista, o cantor do malandro, foi cantado pela juventude 70, considerando-se as noites que João Gilberto freqüentou a casa dos Novos Baianos, ou melhor, “a cobertura da Conde de Irajá”, ou graças à presença de Paulinho da Viola, esse elo de gerações. A música popular e o compositor só podiam vir pelo vadio. Veja se o cara trabalhador assinando ponto podia fazer toda essa criatividade da nossa música. Corria o perigo de a música sair de gravata, com a camisa para dentro do calção, sem samba ou bem comportada. Salve o malandro do compositor.
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PERSPECTIVAS
Até que estamos passando do país do futuro para o futuro do país. A juventude 80 saiu do prelo, está na praça. Que a democracia seja o prêmio para que essa geração desenvolva naturalmente o seu caminho sem que seja violentado o suave, o adolescente, o puro que os jovens retrazem para a humanidade. E aqui entre nós, e que nem mesmo a colorida geração 70, praticante do ideal não-violência, conseguiu guardar angelicais essas três doces virtudes. Poupemos essa geração recém-descida à terra-planeta da vida-rua-área de ação. Área perigosa mesmo como no futebol, O perigo é buscar o gol. Defender é evitar, é precaução, alerta, é geral, geral dos homens, O caminho do gol são as linhas tortas, pernas de Garrincha, o vislumbre. Depois do retoque o toque final, o balançar a rede pra não deixar dúvidas, Depois é a galera, é o carnaval, um minuto... A compensação da vida, que não pára... Temos que viver. A inflação no mundo material e o carma na vida astral nos colocam nesse apocalipse diário. No entanto, a evolução coletiva se dá a partir do jovem viver o futuro no presente, enquanto contribuem para a involução os que fazem do passado o seu presente. A geração 70 já pagou alto preço, então em nome dela, por ter sido com ela também 70 e por ter conservado o adolescente no espírito e no rosto, propomos boa recepção, melhores dias e noites, mais liberdade em campo. Graças a Deus, Coutinho já dançou e a tal filosofia do que é bom pra Europa é bom pra nós. Graças a Deus, mais Cerezo, menos Chicão, até menos Batista; mais Sócrates, Reinaldo, Zico, Luizinho e Waldir Péres. Já temos dois goleiros: Waldir e Paulo Sérgio. E mais Falcão e o córner nehinico de Éder e um negócio que eu não sei o que é do Júnior, talvez a desequilibrante malandragem do futebol de rua, o que é bem Brasil. Temos já uma espinha dorsal. Alcançaremos o mais Garrincha e, quem sabe, não já um mais Pelé-Gérson-Tostão, Carlos Alberto Torres, mais Nilton Santos, Zito e Didi, enfim, mais conversa, mais Feola. Que bom poder até dormir no banco, muito melhor que ficar nervoso na boca do túnel, substituindo errado e no final, um placar adverso. Mil vezes acordar com gol do Brasil. Feola amarrando um bode na maior e só com o corpo astral ligado, vendo os gols tudo antes. Feola, boa alma, protegido no aquelas tuia. Mãe Menininha, Mãe Celina, mestre Camafeu de Oxóssi, todo mundo é aí pai ou mãe de santo dele. Geraçãozinha intuitiva, saiba que esta-mos mais pra tiete que pra torcida, galera, arquibancada e geral mesmo. Torcida xinga, joga pedra. Eu amo a torcida, mas tiete ama, entra em campo, joga junto.
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Caetano Veloso, porta-estandarte da geração colorida, é que diz: “Eu e Gil tietamos algumas garotas e al-guns garotos que nos dão esperanças de uma humanidade melhor”. Pode ir, moçada, já estamos a 5 do primeiro tempo, vá sem medo, estamos aí, a barra não vai levitar assim tão fácil mas o que descobrimos sobre astral já lhe doamos de saída. A não-violência seja re-agir... Não existe nada mais evoluído. Pelas religiões que até aqui no ano de 82 pesquisei; Pelos tipos de pessoas, pelas opiniões, pelos pensamentos grupais e pelas individualidades liderantes podemos defmir quanto ao crístico e ao moi-saico, quanto ao velho e ao novo, quanto ao amante e o vingante. Quem foi contaminado pelo mundo e quem passou incólume; quem ficou apaixonado e quem sempre saiu pra outra, foi ao sol, acreditou na manhã. Mul-tidando ou ficando a sós, não foi à noite, fez a noite. Entenderam onde anda a meninada?! Quanto aos adversários, os donos da bola, os tão com tudo e não tão com nada, os moralistas, medistas, os realmente caretas, tirem as vendas dos olhos e sintam a juventude. Não lhes incutem o Ódio, não lhes provo-quem o medo. Permitam-lhe o andar, o pensar, o sorrir... Também riam, andem e pensem, senão ouvirão “Eu ia lhe chamar enquanto corria a barca”. Paralelamente, vai a geração 70 ocupando espaços, porque a vigília agora será mais concentrada sobre a menina geração 80. O jogo correrá mais solto para a 70 e todo o vivido de ideal, fé, intuição, jogo pra frente, bossa, balanço, a chave do fazer/perder a chave, o captar o atual no tempo. Todos esses instrumentos serão trunfo, gás, pulmão para transpor barreiras até então intransponíveis e os gols virão naturalmente. Antes de terminar esse trabalho, vejo uma onda publicitária amedrontando a população e o comércio de armas em altos movimentos e o carioca, principalmente, se armando, tudo semelhante ao que ocorreu nos princípios da década 70. E como já focalizei na primeira seção deste ensaio, não motivou, entretanto, a colo-rida geração para a violência. Os loucos, como são chamados, não usam armas. Estamos, sei, em plena era atentada. Atentam até contra vidas dos que professam a paz e o amor como o papa João Paulo II, inca. paz de puxar um canivete pra alguém. Como aprendi, com essa geração cheia de cor, a me educar através de tudo que acontece e numa fração de segundos, tempo e espaço não existem. Por minha cabeça passam o Einstein nos ensinando que podemos atrasar o avião quando estamos atrasados e o Gandhi dizendo que podemos ficar ou ir em outro que dá no mesmo. E pensei comigo: “Dançou, dançou o terror! Mas também tava demais, tava chegando até no Brasil. Aí descobri que só quem já matou, ou é capaz e acha certo matar é que está a favor da pena de morte. Quem não mata, perdoa e já está em outra, um passo a frente, quem olha pra trás ou atrai os homens ou vira estátua de sal. É assim que responderam os loucos que viveram na história chamada geração 70 e que registraram suas convicções mesmo acuados por todos os tipos de repressão, graças à fé que o brasileiro de verdade tem,
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seja cabeludo, muito louco ou Pelé. Veja só a resposta de Pelé: “Não se pode provar que o Papa tem mais fé em Deus que eu”. Antes de concluir, fui atender o telefone, era o Mestre. Que maravilha, o Mestre voltou, vamos aprender: “Luizinho, só aqui nesse país é que não se fez ainda uma homenagem a esse homem. Ele é o Brasil. A gente nem sabe o tanto que ele faz por todos nós ... Mas também nasceu aqui, mora ali na tal número tanto. Pelé, ele é um artista, o maior artista brasileiro, olha que era jornalista de tudo quanto é canto. Só de duzentos em duzentos anos é que nasce um homem assim, O que é que você tá pensando. A Inglaterra vem penando aí. A França com toda sua cultura não consegue. Eu já falei: “Deveria ter no aeroporto, na entrada do Brasil, escrito bem grande, no lugar de Cigarros Continental, “Aqui é o país de Pelé” e uma estátua enorme de um cara chutando uma bola. Assim o turista ia passando via Brasil e exclamava: “Ah! Voy sal-tá in aqui, país, personas, gente muin’teligente” Com a juventude mais em liberdade reencontraremos os caminhos do Brasil, o pais do carnaval, tropicalis-mo. Reencontraremos não só nossa terra, mas nossa terra mais nossa alma, nosso humor. Abram os caminhos para que a 80 possa ir à escola e à na. Neutralizem a ação dos tranca-nas. Vamos es-tudar juntos com a geração 80. Estudar geografia local, como sugere o personagem Boca no romance anexo. Não só geografia, mas também futebol e genética astral. Estudar o amor dos pais de Pelé, alguma coisa do namoro deles, o fundamental para a formação do puro, do simples e do real que formam o ser Pelé. Saber da liberdade nas ruas, do feijão nas mesas, das festas quando João Gilberto estava na barriga de uma santa lá em Juazeiro, Dona Patu, que amou seu Joviniano, um comerciante que nas horas vagas tocava clarineta. Pro-curar os jornais da época para saber as principais maanchetes no dia em que se conheceram Dona Cano e seu Seu Zezinho pais de Caetano Veloso; Seu Adamastor e Dona Lúcia, os Rochas pais de Galber. Estão aí ainda vivos, nesse ano de 82, Seu Sérgio Buarque de Holanda e Dona Maria Amélia; Dr. Gil e Dona Claudi para serem consultados. Vamos saber a história de Lima Duarte, Renato Aragão, Chico Anísio, Carlos Drummond de Andrade, Cacilda Becker, Paulo Gracindo, e mil outras criações brasileiras. Vamos a genética astral desses jovens que brilharam nessas décadas mais importantes para a visão e para a cabeça do brasileiro. E,uma estu-dada a tasl genéica, a multiplicaremos em futuras gerações, não via laboratório, mas através de pensamentos, sonhos e poesia. Não estudaremos só os que brilharam, mas também os que foram bons, íntegros, alegres, descolados e os nem aí. Estudaremos até o nosso New Wave. Já sabemos fazer uma estrela sem pensar, é só pegar o lápis ou e olhe a estrela aí:
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sGeracaoBaseada
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s
ACABOU CHORÁRE Moraes/Galvão
Introdução:A7+C4#n/G G7+ Bm/F# várias vezes A7 + C#mfG# G7 Bm/F# Acabou chorare, ficou tudo lindo A7 C#m/G G7+ BmfF#de manha cedinho A C#m/G# G7+ Bm/f# tudo cá-cá-cá na fe-fé-fé-fé A7+ C#m/G# G7+ Bm/F# no bubu-lili no bubu lilindo A7+ C# m/G#G7t no bu-bu-bolindo A7+ C#m/G# G7+ bububolindo A7+ C#m/G# G7+ no bububolindo Bm E A talvez pelo um buraqumho F#m7 Bm E A invadiu-me a casa, me acordou na cama Bm E A F#m BE A tomou meu coraçao e sentou na minha mão A7+ C#m/G# G7+ Bm/F# abelha abelhinha A7+ C#m/G# G7+ Bm/F# A7+ C#m/G# G7+ Bm/F# Acabou chorare, faz pra eu ver, faz zumzum pra mim A7+ C#m/G# G++ Bm/ F# abelha-abelhinho escondido faz bonito A7+ C#m/ G# G7 faz zumzjim e mel A7+ C#m/G# G7E faz zum zum e mel
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FAROL DA BARRA Caetano Veloso — Galvão
Introdução: A7+ C#m/G# G7+ Bm/F# A7-f C#m/G# G7+ Bm/F#/F7+ E7
2 2 A7+ B Bm E7 A1+ E7 Quando sol se põe, vem o farol iluminar as águas da Bahia 2A7+ Em7 D7+No farol da Barra o encontro é pouco, a conversa é curta Dm7 é tudo tão rápido como se furta C#m7 F#m7como o sol bate nas águasBm E como tudo que se passa. 2A7+ C#m7 Com tanto cabeludo, com tanto por-do-sol F#m7 EmA bem cabia uma profecia D7+ D7m7até o ano dois mil C#7 F#m7 o farol além do pôr-do-sol B Bm7E será o pôr do som A7+ Dm7 C#m7 F#m B E onde verás um realejo, onde verás um violão.
sGeracaoBaseada
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sPRETA PRETINHA Moraes/Galvão
Introdução: D7G D7 G Enquanto eu corria assim eu ia D7 G bis-[lhe chamar enquanto corria a barca D7 G Por minha cabeça no passava D7 G7 D7 Só somente só. Assim vou lhe chamar D7 Assim você vai serInterlúdio – c7 + cm G/B Gm/Bb D/A D G Preta Preta Pretinha Bis [ D G ] Preta Preta Pretinha Solo: D7G – Várias vezes Repete do início D7 Eu ia lhe chamar G várias vezes enquanto corria a barca D7 mais uma vez Abre a porta e a janela D7 G E vem ver o sol nascer D7 Eu sou um pássaro G que vivo avoando D G vivo avoando pra nunca mais parar D7 G ai, ai saudade no venha me matar bis- [ D7 G ai, ai saudade no venha me matar lhe chamar Bis-[ ]------------------------ várias vezes Lhe chamar
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Tempo e contra tempo
Tom Zé a GalvãoLendo seus versos ocorreram estas cismasTEMPO Os três principais alimentos do Nordeste são desidratados: o charque, a farinha e o ritmo. O ritmo faz a alma. Depois a gente veste como quadra-quadrinha-quadrão; como dese-nho pintado, ou drama representado. Fado. Essa “escrita de Deus” pinica os ouvidos já desde nascença, seja pelo canário-da-terra, seja pelo seu aluno Jackson, o do Pandeiro. E eles aprenderam diretamente com Píndaro ou da boca do próprio Gênesis. A “toada improvisada em dez pés” o sapo também sabe: -Tião! -Hein? -Foi? -Fui. -Compraste? -Comprei. -Pagaste? -Paguei. -Me diz quanto foi. -Foi quinhentorréis. Por cima o canário sincopa-copa-sim e no dia-a-dia o concentrado rítmico fica tão esper-moso que, quando se barrufa uma gota, ele incha gravidez.Caetano gotejou pingo nesse pó e (Nossa Senhora!) veja o “Trio Elétrico”.,.A Bahia foi comer esse alimento e inchou a pança do seu.Momo. Foi um pouquinho de pó concentrado de frevo pernambucano com uma pitada de pó da marchinha tradicional, essa pequena fórmula híbrida, e a face solar do atual carnaval da Bahia estava gerada. Tá lá, um carnaval que cada dia incha mais, forçando as paredes da rua Chile, parecendo que vai nascer! Essa massinha-ritmo que Cae misturou, fermentou um grande cesto de pão multiplicado, onde comeu por exemplo Moraes Mo-reira, essa frut’assadacoração, e outras nascentes, desin6ncias e conjugações. Outro dia vi uma lista das dez palavras mais bonitas que Borges escolheu. Fiquei pensardo em Ama-ralina, Irará, Itaparica-Itapoã e outros pequenos e concisos poemas batucados dos índios ali das nossas
.costas (Mares e passados.) Porque “é assim que sapo canta na lagoa” enquanto “bate macumba ieiê, bat-macum-
ba ieiá”, como grua Gil. Antigamente eu não dava muita importância a esse negócio de cultura. Achava, por exem-plo; que um governante do país podia prescindir dela.., talvez. Mas depois que acabou a fase do regime militar e entrou o Tancredo Neves que era uma pessoa culturalmente muito mais aparelhada pelos seus conhecimentos de História, enfim, na fugaz passagem e atu-ação dele, achei que a fisionomia do país se modificou tanto, que comecei a dar grande importância ao ritmó, esse concentrado cultural que resume segredos cosmogônicos. É por isso que o “canta na lagoa” me reporta àquela coisa primeira, ao caldo infusório, onde teria começado a cadeia genética na infância da Terra. E, desde ritmos lentos como o dia e a noite, até ritmos apressados como as gotas de chuva, vejo todos empenhados na pater-nidade da vida e depóis conservados dessa maneira desidratada, pelos Píndaros-Capinam, pelos Djalmas Correia-Torquato-Galvão, ou pelo violão-João. Então eu acho que no caso, por exemplo, de pessoas como eu, que não dá mais tempo de adquirir para si próprias um embasamento cultural para com ele poder desfrutar uma certa percepção do mundo e das coisas que estão em volta, etc., pra pessoas como eu, a única solução é o ritmo. CONTRATEMPO. A nível Brasil é agora alterar certos compassos. Rio Branco por Tiradentes. Temos que substituir o herói nacional Ti: radentes por um outro mais adequado para aquilo com que o naipe Brasil participa dessa orquestra planeta Terra. Conversei isso outro dia com Elifas Andreato e com Adilson Monteiro Alves (da democracia corintiana). Enfim, em vez de um herói-emoção-trágica proponho um herói-paciência-e-plano, como Rio Branco, que con-seguiu mais terras para o Brasil que um Uruguai inteiro, inventando um tal de uti possidetis e outros contratempos do direito internaciónal, tudo na base da amizade, do acordo, da transação e da cuca fria: De forma que nós, país-Brasil, na química do nosso ritmo- mental, precisamos alterar essa dosagem de emoção-paixão po± uma dosagem maior de emoção-cálculo, essa dosagem de Tiradentes por uma dosagem Rio Branco.
E esses símbolos são importantes, a gente desde criança decodifica, imita, repete esses signos, essas histórias. Os próprios povos repetem esses mandatos coletivos de vida e fado e eu não creio que seja bom pro Brasil repetir uma história-forca. Então, precisamos, em vez de um ritmo suicida, um ritmo-vida. Em vez de forca, fé.
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3 poemas do conterrâneo P e d ro Ray m u n d o R ê g o meu primeiro mestre em Poesia
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Vou sair andando com o meu sonhoe esquecê-lo numa mesa qualquer
Tenho muita pena dêleninguém vai cuidá-lo quanto eu
E êle pode sentir frio
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A o s d o i s a n o seu era essa gracinha de se botar no colo
2 Fotos
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Não era fazendeiro mas já usava uns panosuns lacinhose esse cavalinho de balanço branquinho silver da zorraOlhando a fotodá pra ressaltardois olhos negros
que hoje estão castanhoscomo eu furta corcomo estou na contra capamas Já não pego olhadocomo na anterior
que dava febre em rezadorA cidade me programavaum doutor membro do Rotary ou do Lyons ClubCoube ao meu velhome querer oficial da MarinhaMinha velha me queriafuncionário letra Z do B.B.Mas meu irmão
que se aposentou como gerenteme disse: “Você? Bancário nãoEle toca violão esse barco
P. S.
Os bandeirinhas tentaram parar nosso ataque Marcaram impedimentos inexistentes Erros clamorososOs juízes então meteram a mão Fecharam os olhos deixando de marcar pênaltis claríssimos anularam gois legítimos Mas a vitória longe de pertencer ao destino é uma ciência Ouço gritos da galera
reclamando a ausência
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Na barriga de mi madre
eu ouvia meus olhosE o alimento descia
via umbilicalestomacandointestinando
e de fé não ficavaapenas de fé cava
cavava e saía como preso que foge
e fedia ao Escafeder-se
enquanto eu dormia ou sonhavaacordado
As vezes bolia só para dar bandeira
do que seriado lado de fora
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Na barriga de mi madre
eu ouvia meus olhosE o alimento descia
via umbilicalestomacandointestinando
e de fé não ficavaapenas de fé cava
cavava e saía como preso que foge
e fedia ao Escafeder-se
enquanto eu dormia ou sonhavaacordado
As vezes bolia só para dar bandeira
do que seriado lado de fora
Agora quero estarbem distante
daquelas ondas prefiro ser livro na estante
vivo por mãos, cabeçase corações leitores
Esperando ver as noitestransformarem-se
dias de luar mas a maioria dos terrestres
ainda anda ocupada em enfiar bufa em cordão
ou seguir ao pé da letra o Alcorão Meu coração não é surdo
eu o mudo por conveniência mas fecho com ele um trato
Recuso-me a ouvir meus olhos eles criaram
o concreto & o abstrato
O C
ON
CR
ETO
& O
AB
STR
ATO
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MENINO DO MEU CORAÇÃO
Ao meu saudoso pai Alberto Galvão Ao parceiro de mais de cem gravadas Moraes Moreira
Meu coração é como se chovesse
guarda-chuvas É bobo
porém cava cimento como preso em fuga
E é como poucos corações não tem estudos e pouco entende
de direitos e razões Meu coração
só ama Meu coração
é como menino na lama
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O POEMA DA SEMENTE
Ao Prof. Jorge Mautner
Todo fruto Freud do amor
do sol com a terra Qualquer fruto por mais azedo nos faz doce
e encerra um ser futuro amadurecendo ao sol
caindo do galho jamais em cima do muro
Debaixo do céunenhum fruto
é tão colorido e atraente como o proibido
Ainda picho numa parede branca
“Plante o futuro urgente O fruto é a poema da semente”
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SÓ! TRÊS VEZES SÓ!
Respeitável público! Somos portadores da risada a tiracolo
Caixas de banco contando dólar
As dores da platéia suavizamos sem ouvi-las
E vilas, vilas e vilasQuem é, quem é?
Que por segundos no picadeiro muda o planeta de Terra para Alegria
Só palhaços Transformamos tristezas em páginas de poesia
Eu Só quero saber onde é que fica
o alpendre, a varanda Acho que só dormindo
é que eu pego essa fresca
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O BÚFALO BOM
A Alberto Byngton Neto
O que eu não curto não há argumentos
que me façam ficar “afins”
Além de tudo na real
não há fins só objetivos, anseios no máximo alcances
Para os sábios mais vale os meios.
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SANDÁLIA ESPERTA
Eram dois sapatos bem engraxados debaixo da cama
Uma sandália havaiana como quem não queria nada
jogou um verde mas colheu vermelho
Lançou o anzol pescou uma meia Deu uma respirada e teve um estalo
armando uma para o pé em passoque desviando-se
na tentativa de evitar deu uma topada
no batente da porta.
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SEM THE’ND
Entre em sonhoe não há fruto proibido
O sonho é a saídao transporte e o porto
Sonho é filme sem pé nem cabeça com enredo móvel
sem letreironem é mudo nem falado
sem The’nd nem fim
Mas acordadoé a solução
da lavoura e do pomar por ser rocha como o mármore
e real como o ar
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BILHETE ENIGMÁTICO
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POEMA CARTUM DOIS
Ela, jovem chegando da rua
com a solução do drama que a perturbava
“Encontrei uma clínica que faz o aborto
por duzentos dólares” E o pestinha Geraldão
por um aborto de sorte e malandragem
em lúcido humor solucionou melhor
“Pere aí! Aborto é prejú... Melhor vender o guri
para os gringos que dá lucro”
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BABY
Voar como borboletasMas a cores que as al turasSer brasa que nao queimou
Ter espinhos E ser uma f lor
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ao sol que desponta
por trás
desses dias nublados
Portanto
não jus/dias mais
com esse coração
que já está na boca
saindo do prelo Doravante não judas mais de mim
beijando-me no rosto Deixa de touca
me beijas na boca .
ME BEIJAS NA BOCA
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CARROSSEL BRASIL DOIS Ao parceiro Pepeu Comes
Minha terra. tem Palmeiras, Corinthians, Vasco, Flamengo, Bahía
onde além do sabiá cantará sofreu como também assum preto,
sapo, rã, uirapuru e a cotovia Não será à toa
não termos vulcões e terremotos apenas
ouvimos por João Câmara.O que temos é falta d’água no Nordeste
excesso às vezes no Sul e 20 anos de exceção Brasil um dia serás o país do futebol,
do carnaval, do bom samba
e do amor Numa coexistência pacifica
com o Rock’n Rol Serás o sonho
que todo menino sonhou
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O NORDESTINO E O SURFISTA CARIOCA
Ao parceiro Itamar Assunção
Eu descobri o carro movido a água
Quase grito Eureca, Eurico!
Aí saquei que a água ia ficar uma nota
e os açudes tudo CearáOs rios não desaguariam
mais no mar nem o mar mais vira sertão nem a caatinga virará mar
Senti firmeza! Mas, a maior suja! Banho nem de sol
Chame o anjo e devolva a descoberta
para o infinito Tô bolando agora
um carro movido a dejetos, detritos fezes
Três vezes estrume!
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Ovos Brasil
Brasil!Qualquer coisa de chãoDe gente e sensibilidade igual.Eu, você, o pariafotografe a coreso negativo é sempre o mesmomudam apenas as posições.Há sempre uma criançaNa rua de cimaComendo Mercedes, Monzas, CadilacsPara que outrasEmbaixo da pontesonhem de fome
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CARROSSEL BRASIL UM
sGeracaoBaseada
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s
TÔ ÍNDIO
Ao meu avô Zé Caboclo
Tô índio, tô índio
Índio brincar com o sol Tribo não ter transito índio ouvir passarinho
piu-piu-piu piruriu-piu-piu Não curtir apito
Índio não ser trouxa Índio trocar papagaio
por gravar palavra branco Índio avisar ser franco!
se vier de tiro ao alvo I go de flexa ao branco
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NORDESTINO E OS “HOME”
RODOVIÁRIA DO TIETÊ. QUANDO O PESSOAL DA “JUSTA” A DANDO UNI BACOLEJO, O NORDESTINO REAGIU.)
Nasci aqui nessa terra num sou estrangeiro não
Sou home trabaiadô que nunca matô
nem robô Robô? Robô-robô
Robô! Robô? Robô-robô Vai pra lá, lata.
Comigo num tem crise me acostumei
cum a seca do Nordeste comendo mandacaru
Inté mandei alimento e agasalho
pros flagelados do Sul
ovos Brasil
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Raoni é o apelido
de um mulato olhos verdes
lá do Estácio
Faz parte da tribo
que curte em frente
ao sol de Inanema
tanto Iang quanto In
toma coca-cola
usa jeans
Raoni cheio de blablablá
dança na areia
e ensina peixe a nadar
Raoni
Raoni
R A O N I
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Não foge da briga
Não foge da briga
mas só quer a paz
Não lê revistas nem jornais
só tem olhos
para as estrelas do mar
Da floresta da Tijuca
ao Estácio
Do Centro ao Lemblon
do morro da Urca
ao Arpoador
enquanto eu driblo
a civilização
Raoni reuni toda tribo
para a reação
Antropofágica
e pseudo psicológica.
Entre março e abril Paulinho D.A.
resolveu dar um “Time” na estudantil e foi se exilar
em Porto SeguroLá começou o Brasil
Paulinho Hippie Paulinho Odara
mas nunca deixou de usar suas lupas de Lennon
sua boina de Che Guevara Agora voltou
todo cheio de cor do sol de Salvador
Achou o metrô o maior barato
ovos Brasil
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Entre março e abril Paulinho D.A.
resolveu dar um “Time” na estudantil e foi se exilar
em Porto SeguroLá começou o Brasil
Paulinho Hippie Paulinho Odara
mas nunca deixou de usar suas lupas de Lennon
sua boina de Che Guevara Agora voltou
todo cheio de cor do sol de Salvador
Achou o metrô o maior barato
mas se grilou com tantos panks
videogame fanks
danceterias Aí protestou como antes
mas em vez de gritar fora ianques! fora ianques! Paulinho D.A. - resolveu
Com um sprayEntrar na Rua Augusta
E pichar“São Paulo!
Não fique assim tão newTão Nova YorkMe deixando
com saudades do Brasil
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Lá no interiorcalça curta
aprendi a convivercom artista e bandido numa boa
Aqui no aglomeradodo grande centrovisitei o cárcere
saí ileso sem salpicose no balanço
tive saldo.E não chequei ainda
Pra que saberse – ou + ou N ou P?
De repenteNo túnel do tempoConheci de perto
o bom ladrãoe o bom soldado
Bandido que se presapoupa de classe média pra baixo
e com algum sentimento lá no âmago
não quer pânico pra arraia miúdae não faz assalto relâmpago
O Ronald Biggspor exemplo
na práticaum só assalto.
O outro Ronald o Reagan antes do papel de presidente
viveu um eterno vilão Entre bandido e artista
pouca diferença muita semelhança
Todos os atores A primeira vista
todo artista me transmite vida, ânimo
Artista de televisão de rádio, artesão artista anônimo Após a emoção
é que separo o trigo do trago,
o joio da jóia e vou colocando de um lado
os joãos, chicos, gonzagas e gilbertos Os que freqüentam o Veloso
os de mil tons Os de valença mesmo
E do outro vou jogando os timorteos
ARTISTA &
BANDIDO
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viveu um eterno vilão Entre bandido e artista
pouca diferença muita semelhança
Todos os atores A primeira vista
todo artista me transmite vida, ânimo
Artista de televisão de rádio, artesão artista anônimo Após a emoção
é que separo o trigo do trago,
o joio da jóia e vou colocando de um lado
os joãos, chicos, gonzagas e gilbertos Os que freqüentam o Veloso
os de mil tons Os de valença mesmo
E do outro vou jogando os timorteos
Gil & Jeca Jeca Tatu estava entregue às baratas Tomou um bio-massa entrou numa onda
ficou um barato foi parar em São PauloE lá virou peão servente de obra guarda de banco porteiro de edifício lavou pratos em restaurantes palhaço de loja tigre da Esso Foi bicheiro e pra não passar fome passou fumo foi em cana
Aí Gil criou um jequinha lá de Lobato interior da Bahia jequinha do mar integral não radical acarajé, vatapá Jeca total orientalizado. Gil após praticar a abolição da escravatura proclamou uma República democrática e o colocou no senado
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Você é dali?
Dali de Salvador?
Sua cara é de quem
nasceu descendo e subindo o eleva-
dor
- Não meu preto
eu sou o Salvador Dali
Pinto e bordo pelo mundo
mas com a terra de Iemanjá
e Senhor do Bonfim
me identifico
em verso
rima e cor
Escorrego-rego
mas não caio
caetano
Toda tarde
gil-gilberto a liberdade
Em Itaparica
me esbaldo-ubaldo-baldo
glauberando calçadas rochas Anjo azul
eu Salvador
jogo amado
eu menininha
eu
eu malho o cravo
eu calibré
Viva a Bahia
MEUS SANTOS BAIANOS
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Amor assimnão tem fim
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Estava numa euforia elétrica da cor de Salvador
que até parece coisa de disco voador
Um multidão de bêbadostudo pulando
com os dedos pra cimagritando “ê,ê,ê...”
(Na época eu também)Agora vendo a foto
não acho graça alguma!Mas não há
quem não role de rirda cena hilária
em plena Castro Alves um padre de batina
caiu nos braços de uma mina
e gamou na conterrânea chamou de Gal e de Betânia
É caso de internação!
enquanto outro trasvestido com baton na bocabolsinha a tiracolo pircing no umbigo
top-less com seios siliconee curtíssima tanga
de mãos dada dom o bofeem plena luz do dia
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Aos Campos, Augusto e Haroldo
Sem roteiro ou argumento nossos átomos teceram o amor de uma concreta poesia paulista com este alegre grafite baiano Um germinar aparentemente platônico foi esquentando a cada flash Tudo que era segredo ficou nuzinho em pêlo quando em flerte nossos olhos defronteNeblina entre calçadas duas cidades entre um rio cabelos dos braços
em arrepioOs olhos sempre
se antecipam bandeirantes
janelas e porta-vozes
desobstruindopassando a esponja
limpando a área
deixando apenas
o mistério necessário
Dou aval, mas não prometo
amor tradicional
Hollywood tecnicolor
final feliz Dois pássaros
por mais etéreos voadores
quem sabeum dia não pousam?
Valeria acentuar
sem medo do futuro
desvendando todo o mistério
VALERIA DESVENDARNEM A MINHA SOMBRA
Estava num desses bares
estilo Texas
portas abanando
Eis que surge à minha frente nada menos que o Sombra
me confundindo com o Mancha
Com meia palavra o desarmei
Aqui no Brasil
esse nome é feminino
O personagem está no país errado
Pra passar por valente
trate de fantasiar-se
como soldado escocês
ou peça pelo reembolso
um espinafre Popeye
Minha amada
é chamada de a Sombra
Diz ela que me ama
e ser a mais fiel
ovos Brasil
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em arrepioOs olhos sempre
se antecipam bandeirantes
janelas e porta-vozes
desobstruindopassando a esponja
limpando a área
deixando apenas
o mistério necessário
Dou aval, mas não prometo
amor tradicional
Hollywood tecnicolor
final feliz Dois pássaros
por mais etéreos voadores
quem sabeum dia não pousam?
Valeria acentuar
sem medo do futuro
desvendando todo o mistério
NEM A MINHA SOMBRA
Estava num desses bares
estilo Texas
portas abanando
Eis que surge à minha frente nada menos que o Sombra
me confundindo com o Mancha
Com meia palavra o desarmei
Aqui no Brasil
esse nome é feminino
O personagem está no país errado
Pra passar por valente
trate de fantasiar-se
como soldado escocês
ou peça pelo reembolso
um espinafre Popeye
Minha amada
é chamada de a Sombra
Diz ela que me ama
e ser a mais fiel
mulher do mundo
Minha Sombra
me acompanha
até quando vou ao futebol
mas as más línguas
dizem que ela
é amante do sol
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onde o coração bate, rebatetanto célere como light
Aqui na reta alguém gritalá curva o trem apita
e eu por um fio uma linha
quero ser bandeira a tremular nem que seja norte arraia ou sul pipa
Que o espetáculo seja bonitoComo papel picado
jogado de apartamentocom desfecho de alma nua
e o coração da rua
ovos Brasil
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ovos Brasil
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COM RISOS E BEIJOS
Um gesto seumesmo que venha com sutil disfarce
não é capaz de iludir mais
qualquer pimpolho quanto mais a criança do meu olho
Foram horas de vôo no amor homem e mulher
você par e eu impar juntos como um e solto como dois onde não cabe
alguém meter colherporque por mais que balance o barco
termina em pizzaou no famoso
feijão com arroz Eu gosto é quando
se descontrola e rola-rola-rola-rola
igual música na vitrola Seu gesto na bandeja
não é capaz de iludir mais
quem quer que sejaTempo é bem mais que dinheiro
não o perca vá a onde quiser
mas ponha a vírgulaantes do mas
e com passos de sertanejovolte num pé e noutro
sem deixar rastrotoda sorriso e boca beijo
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Retorna amor
que o mundo não é retilíneo
e o pincel divino
acaba de pintar
um fim de tarde
cor cinza exclusivo
pra quem vive um grande amor
Meus pensamentos são sonhos
sinais que emito a você
para conter o seu gênio
e contornar o destino
que teima em separar-nos
brincando de desencontros
deixando tudo deserto
Melhor prestar atenção
as placas que estão na estrada
“Retorno a 500 metros”
Não vá no vento levou
Peço até por favor
Retorna, retorna amo
Retorna amor
ovos Brasil
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Éramos a felicidade
céu azul
luar
árvores
tudo horizontes flores
Só quis quebrar a rotina
para agradar
tua curiosidade feminina
Motivo são passos
para o laço armado
das ondas que levam
o barco ao mar revolto
nunca dantes navegado
Foram dias sem rima
zero à esquerda
mas o sol aquece
e o coração anima
enquanto as traças
traçam o romance
ovos Brasil
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Éramos a felicidade
céu azul
luar
árvores
tudo horizontes flores
Só quis quebrar a rotina
para agradar
tua curiosidade feminina
Motivo são passos
para o laço armado
das ondas que levam
o barco ao mar revolto
nunca dantes navegado
Foram dias sem rima
zero à esquerda
mas o sol aquece
e o coração anima
enquanto as traças
traçam o romance
e a muriçoca pica
o tempo vem com o sol
o romance pacifica
e eu te conto o desfecho da peça
onde sou ator e tu és atriz
mas aprendemos ao menos a
fazer alguém feliz
SÓ AMOR
LUBRIFICA
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Bom negócio é amar
Amar na sala
no quintal
no quarto
e no banheiro
Amar constate e eterno
quer prolongado ou ligeiro
Amar as cenas
e a sequência
a rotina e a moda
Amar Jupiter
Plutão e Marte
que nem sempre
moda é arte
Quero ao menos
em cada madrugada ver-te em Vênus
para de cá
mandar-te beijos
bem acima dos desejos
Amar é amar
seja anos ou segundos
em amor indígena
branco
negro
ou cigano
Amando se elucida enganos
Não são feios os marcianos
Porque se existem
invisíveis são
e o disco voador
nave dos extras
que pra mim
ainda entre aspas
e não passa de um nome lindo
porque se existissem
eu já os tinha visto
Se os olhos soubessem
se davam o direito
de gravar as virtudes
e olhar os defeitos
Amar-te em vênus
ovos Brasil
125
ATÉ ONDE VAI MEU LIRISMO
Onde quer que dois amem dividindo o mesmo teto
ronda rotinaA verdade é que
A prática nesse sentidoaté hoje é quase nada
para o lírico o amor requerMudando de ótica
Hoje é seu aniversário!Vou correr vitrines
e trarei embrulhadinho em papel florzinha cordãozinho dourado com lacinho de fita
meu presente para vocêTalvez um dia não seja tão pobre e lhe possa dar
uma estrelauma flor
ou uma poesia
126
MEU ARCO-ÍRIS
Íris Íris-arco
sol e chuva vela e barco
Quando as cores se reúnem nesse tom dá música reflete e soa
Pouco importa outros olhos ardam em chamas
impondo torpe versoArco és arco-íris
que me encanta os olhosquando namoras a chuva
roubando a cena vens da mesma fonte
que reflete a luz Arco-íris és
O mais belos entre os colíriosÉ que dás o cheiro aos lírios
e néon dos homensnão chega aos teus pés,
Vês como esperança
brilha e balança
Onde quer que estejas
és andarilho e estrada
pisando em preciosas safiras e rubis
mas andarás também
por lentejoula e areia prateada
Estarás sempre diante de um escolha
por seres nada mais que um livro
escrito folha por folha
sendo a tinta o ser diário
e a caneta a decisão
És lenha viva
humano calor
dedo da mão que move
ovos Brasil
127
a relação dentro do planeta
Sejas a poesia de cada dia
nos corações que chegues
não te tornes versos do sonho inverso
Brilhas e deixes brilhar
que digital vem
cada dia diferente
e a meninas dos olhos
sempre como folhas ao vento
nasceram para brilhar
e mais que a madrugada
pode amanhecer o pensamento
Vês que o mar ama praia
vai ao infinito e não a deixa
e o sol com sua cor
não precisa vir aqui
sua luz nos ilumina
faz brilhar todo suor
e o rosto do meu amor
Vês como esperança
brilha e balança
Onde quer que estejas
és andarilho e estrada
pisando em preciosas safiras e rubis
mas andarás também
por lentejoula e areia prateada
Estarás sempre diante de um escolha
por seres nada mais que um livro
escrito folha por folha
sendo a tinta o ser diário
e a caneta a decisão
És lenha viva
humano calor
dedo da mão que move
Livro de bolso
128
Quando me perguntam
“Você tem fogo?”
Eu não penso
em isqueiro ou fósforo
Daí minha cabeça
está sempre no alto do pescoço
meio desligada
para não ocupar a memória
com bla-bla-blá
e história que não me toque
Meu coração não está ainda ponto
de só plantar flores
e dar amor
mas mágoa nunca guardou
Agora!
Naquilo que me interessa
sou bom a beça
TODO POETA É dda
ovos Brasil
129
130
A caneta é rainha agora e futurano reino da assinaturaNo meu campo dou corda, dou espaçomas fico na espera de acabar a tintapra ouvir: “Procure um lápis aíEstou para texto ou contamas sempre sem pontaporque como é impossível Deus pecare não há um fogo mornocapaz de eu arriscar passar a mãonão há também um lápis cornopor não haver a “Dona lápis”para cruzar com ele constituindo adultérioTambém não confunda as bolasSou fino e delicado, mas não sou “veado”nem vou com a cara de gileteque só me corta, me corta e me deixa cotocoigual anãozinho da Branca de Neve.Never, never! Never, nerve!Bata na amadeira isola, isolaNão sei quem foi o ignoranteque inventou de botar borracha na minha cabeçaNão sou árabe pra usar de turbantenem beata pra andar de véuou careca pra usar chapéumas dou valor a quem inspirado no arco írisinventou lápis de cor
AMOR DE INTERIOR
No fundo
no fundo
amor é coisa
do interior
Cantar é antes
da garganta
quiçá a boca
O sangue
circula veias
metrolevando
passageiros leucócitos
escrevendo a
palavra vida
Uma cidade
pequena
conversa na
rua
Comer é verbo
em transe
bem antes do
estômago
E não foi à toa
ovos Brasil
131e tem o transmitir melhor
mas só para quem
Em qualquer idade tem
“sensi...bili...
e dade ”
pra ver ao ouvir ou lê
e ser olhos
boca
nariz
rosto
cidade grande
TV
Ah! Antes que passe a melancia
dados da fundação G.V.
apontam que o interior
materialmente falado
serviço de alto-falantes
não é mais aquele
faz hoje menos vida
e assiste muito mais
Poetas! Em silêncio peçam
“Palpita coração!
seja a minha mão
AMOR DE INTERIOR
No fundo
no fundo
amor é coisa
do interior
Cantar é antes
da garganta
quiçá a boca
O sangue
circula veias
metrolevando
passageiros leucócitos
escrevendo a
palavra vida
Uma cidade
pequena
conversa na
rua
Comer é verbo
em transe
bem antes do
estômago
E não foi à toa
132
Só tenho duas câmaras,
mas filmei todos os ângulos
Experenciando os dois lados do riscado
Dentro ou fora do papel
vivi apenas o poeta
não sendo portanto
um parâmetro
No entanto reafirmo
não crer que a coisa
seja feia dessa forma
sem ouro nem futuro
A Terra por mais areia
vejo-a prateada lua
ovos Brasil
133
Só tenho duas câmaras,
mas filmei todos os ângulos
Experenciando os dois lados do riscado
Dentro ou fora do papel
vivi apenas o poeta
não sendo portanto
um parâmetro
No entanto reafirmo
não crer que a coisa
seja feia dessa forma
sem ouro nem futuro
A Terra por mais areia
vejo-a prateada lua
Não a vi de fora
Mas ta na cara
que de longe é azul claro
Claro!
Aqui dentro
Examinando vejo
Até o ouro quando gira em gíria
no papel de vil metal
pela inflação mareia
O ar dar a idéia de infinito
e maior em águas o mar
Só o coração é estojo
que sem chaves guarda
o melhor que é amar
Há poesia na palavra bonito
e dado ao sol
brilha todo suol
o mar ao lado da praia
o rosto do meu amor
Esperança n ã o m o r r e nem por último, se transforma!
134
PROFESSORA COLORIDA
TV - TV é bom mas te ver
é muito mais Amar é bom
Mas não vou mentircomer é bem melhor!Pra felicidade nossa
estamos sempre a descobrire agora mesmo vejo
que nem tudo que é bom prestaO que dá ressacao que tem troco
e trás conseqüências desastrosas é melhor deletar
Rabo de foguete não é sorveteSofre é comum a todos
mas não é prosaNão duvido que alguémgoste mais dos espinhosmas o melhor da roseira
é a rosa
ovos Brasil
135
NaO CONTRARIE A LEI DA LEE
Se chegar chinês lhe acolho numa boa
mas se vier inglês na hora marcada pagando à vista assim nem tinto
nem “Rosé” com cara de bonzinho
eu desconfio logo de você E olha que eu não ando mais nas ondas
e nem sequer bebo nem vinho
s
136
Dinheiro não?
Dinheiro sim
mas cuidado
que o campo não é gramado
e as vezes a cifra
é maior que o cifrão
Preste bem atenção
Pra não cair em impedimento
e a melhor opção
é sem dúvidas a poupança
delete já do HD a ganância
mantendo o ganho e o gasto
sobre controle do coração
afinado com a razãoSó assim estará rindo
e o dinheiro bem vindo
Quando há dinheiro
Até a rima é rica
mas quando falta
a coisa feia pro goleiro fica Estou desconfiado que dinheiro no
Banco
ainda é melhor do que no bolso
Lá fora, às vezes, vale mais
que dinheiro na mão
um tal cartão.
Eu vi o “R$” beber um chá
lá em Rondônia
e pegou no seringal
um par de luvas
acertou um cruzado
no “queixão” do Dólar
que foi à lona.
E eu só sei
que quando o juiz
começou a fazer a contagem
eu acordei.
$ $$
ovos Brasil
137
O maluco depois de cheirar
uma fileira da maldita
interpretou as palavras do Mestre
“Se tens um olho mau lança-o fora”
E com uma leitura alucinada
furou os dois
Seria melhor até que tivesse ficado
em cima do muro
ou deitado numa duna
Agora anda com uma bengala
e um guia que só o leva ao óbvio escuro
Na sua ainda é uma
zeroINTERPRETAÇÃO
138
No fundo do túnel uma luz negra no tonel de lixo
o apartheidAi de ti mãos
destituídas de carinho sem tato ferindo a vida tateantes apenas feres
a pele do poeta Não tocas
o universo do poema Tem sangue de barata Tem!
Quem na cara de pau diz “Vamos cortar o bem pela raiz”
Sujas mãos brancas pintas com sangue quadros sem arte
Um falso laço
feito pelos
mais feios braços
da terra em face
vestindo ovelhas
com pele de lobo
taxando o bem de mal
Quando o poema traça os caminhos
morre de pé a poesia deitando à terra sementes vivas
Ao calor humano
olhos das nuvens
germinam sonhos e brotam outra vez
os verdes pés de benjamins
ovos Brasil
139
ESCADA EM LETRAS
Ser quente - Andar - pé quente - ilho -
e o café. - e andar ilha - Ser - para rimar -
pente - com filho - no mato - e filha -
e pra cabelo pentear - pra não comeres - mas não serdes - farelo e milho -
malmofadinha nem pentelho - para que possas -
olhar-te no espelho. -
Poemas flertes, - namores, cases. -
que economia é responsabilidade - e quebra cabeças dos governos -
que em nome do controle da natalidade - já nos coloca no vermelho -
e dois mil e trinta teremos - uma população de velhos. -
140
Chegar é além da estação! Nos espaços vazios
é que habita a criação O poeta tece em meio à teia
em êxtase Poemas-emas-emas - quando olha estrelas
que o poeta rem´à dor! - ou cismado pelas ruas labirintos Poemas-emas-emas -
cantas, voas - e posas pluma sobre nós -
que nada mais - que estante e traças -
palmas talco - graças palco -
ovos Brasil
141
Ser - tão seco -
semi-árido - plural de Euclides -
da Cunha e do Machado - sua, sua até dar Ramos -
sua, sua, até soar Suasuna - mas se irrigado fica igual -
a qualquer chão - chuva molhado -
Exporta frutas, cria caprino, gado, cavalinho poney, ovelha Dole - Dá $, Euro, Dólar, Money! -
142
Poemas sobre camas - Vais caminhas poesia - embaixo dos lençóis - como Pero Vaz Caminha
tocando seios dentro blusas - e consciente sem camisinha - encontrando a sua musa. - colocas a procriação em dia. -
Poema toalhas, fraldas - Crescei-vos e multiplicai-vos - olhas desfraldas. - está dentro do princípio ativo - Poema acenos estações, aeroportos. - da evolução espiritual
O POETA &
A POESIA A Dagmar Costa, meu limão de sangue
A rima sozinha
é incapaz de sulfar
sobre as ondas
duma poesia
Um bom verso circula
no espaço mínimo
trajando charme e conteúdo
Para ser poeta
é preciso cultuar as liberdades
Ser uno coordenando dualidades
cabeça no mundo da lua
os pés no chão da rua
Ninguém joga melhor
com as palavras
(letras e sons)
recebendo-as quadradas
e soltando-as redondas
O bom poeta
transforma quedas em vôos
e arma o time como um craque
ovos Brasil
143
O POETA &
A POESIA A Dagmar Costa, meu limão de sangue
A rima sozinha
é incapaz de sulfar
sobre as ondas
duma poesia
Um bom verso circula
no espaço mínimo
trajando charme e conteúdo
Para ser poeta
é preciso cultuar as liberdades
Ser uno coordenando dualidades
cabeça no mundo da lua
os pés no chão da rua
Ninguém joga melhor
com as palavras
(letras e sons)
recebendo-as quadradas
e soltando-as redondas
O bom poeta
transforma quedas em vôos
e arma o time como um craque
cabeça firme na defesa
e o coração no ataque
Óvulo sempre apto a nascer
o poeta encontra além do pão
a poesia viver
Ao poeta parece eterno
o período fastio poético
E reage pregando no deserto
falando às paredes
“Por que marcas tanto poesia
dando a volta ao mundo
em X dias?’”
Por seres meu único recado
e teres em tuas mãos
o livre-arbítrio
aguardo-te sorrindo
mesmo sabendo que foste longe.
Meu amor! Dês à volta por cima
e vens no rastro da poesia
que as pulgas morrem bêbadas de sangue
e os cachorros fazem xixi nos postes
144
Dao Lucros as Fabricas
Que as folha ao inves de cairP o u s e m e m á r v o r e sS u ave s c o m o c e r t a s ave sE t ragam d iv inos r ecadosA o d i g i t a r d o p o e t aRestabelencendo o bom dito“Crescei e multiplicai-vos”Para semelhante a poes iaQ u e n ã o t e mC o n t r o l e d e n a t a l i d a d eI g u a l a c o e l h i n h o sP r o l i f e r e m h u m a n i d a d e sE o p o e t a e m p a r a l e l oD i a g r a m e e m c o r e l D r aw
E p h o t o s h o p
com linha orfã viúva e o escambal
q u e b r e e m c u r v a s
f a ç a c i n e ma
d a n d o a p i t a d a s e s a l
deixando mais alegre o poema
Nem de venus júpiter ou platão
q u e r o m e u l i v r o l i v r e
n ã o m a i s n e m m e u
quero apenas que além de lido
s e j a v i v i d o
camisinhas
ovos Brasil
145
CHEGA DE FEIJÃO COM ARROZ
Acordamos verde e amarelo
combinando nos olhos
Enfim somos viáveis
mais vale um gol suado
criado na categoria
que outro feito de mão
ou de impedimento
com as vistas grossas do juiz
e com os braços de chumbo
dos bandeirinbas da anti-República
Abram bem os olhos
essa terra tem tudo para alimentar
essa tribo civilizada e colorida
Chega de feijão com arroz
e que a mentira se restrinja
ao 1º de abril
Nós do novo Brasil
chegamos de novo
com o 21 e o 22.
146
OVOS BRASIL
A João Gilberto
Samba é o que rola lá fora
e na fonte nem se bebe da água
Mais fácil encontrar uma agulha no palheiro
Engraçado!
Peguei minha gatinha
cantando Garota de Ipanema no banheiro
e fiquei tão feliz
como da vez que ouvi
em sonho
do aeroporto pra Quinta Avenida
Aquarela do Brasil no rádio do Tx
E o rei da Bossa
mandou no dito ritmo
Vamos virar o jogo
que um amigo meu deixou escrito
“O futuro está nos ovos”
E eu entero
Um balanço, uma bossa
E diz o aurélio
ovos Brasil
147
148
Luiz Galvão nasceu em Jua-zeiro, Bahia, às margens do São Francisco. Mesmo sendo poeta desde menino, teve em paralelo uma intensa vida esportiva. 1956
Cineasta Amador Fez dois curtas-metragens em 16mm a cores, exibidos em shows do Grupo Novos Baia-nos, tendo como atores Caetano Veloso, Gal Costa e os Novos Baianos. Escreveu em 1982 Geração Baseada (Ed.Codecri). Os cientistas da Nasa declararam que o universo é todo em ondas e que nós, os mais abertos, somos os melhores para solucionar problemas de alta física espacial por termos, ao contrário dos caretas, um cérebro emitivo-recptivo. Quer dizer; falamos e ouvimos, somos realmenre democratas. Careta não é quem não fuma um baseado. Careta é o repressivo,. reacionário, autoritário, totalitário que tenta castrar a evolução. Cabeludo não precisa nem ter cabelo. Pode até ser careca. Jovem não tem idade. Jovem é quem decidiu ser. A ousadia, o desapego, a politização natural, as convicções, a despreconcei-tualização assustam. Defendemos não apenas os anseios de modernidade sociais, mas o bem-estar social, através de mudanças fundamentais. Uma reformula ção do sistema tributário com um im osto progressivo para o comércio e com seus frutos voltados para uma melhor divisão de riquezas que no nosso país estão nas mãos de algumas multinacionais e 400 mil ricos, o que vem a ser uma insignificância, uma mixaria, usando a linguagem dos coiseiros dos anos 70 uma pontinha, uma beata, uma bagana em relação à população brasileira. Queremos que a lei do inquilinato seja um barato. Receitamos esporte amador, futebol pra homem e pra mulher. Mais campos e menos espigões, só o esporte é saudável e antitóxico.
Participação Política
Sobre o passado político de Galvão, falou o deputado estadual por Pernambuco Felix Cantalicio,
membro do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves:
“Estudei na Escola de Agronomia de Juazeiro. Era considerado pela esquerda como de direita porque
escrevia cartas para o presidente Juscelino Kubitschek e os assessores dele me respondiam. A es-
querda era liderada por Galvão,
que hoje é dos Novos Baianos.
Apesar de adversários, nos dáva-
mos muito bem, a ponto de ter
subido em palanque para apoiá-
lo na sua candidatura a vereador
em Juazeiro Bahia quando éra-
mos estudante”.
Mais recentemente, Galvão foi
candidato a deputado federal
pelo PMDB da Bahia com o slo-
gan: “Baseado ou não, vote em
Galvão”. Na campanha, Galvão
usou uma linguagem nova, de-
fendendo modernidades e justiça
social.
Mais recentemente, Galvão foi candidato a deputado federal pelo PMDB da Bahia com o siogan: “Baseado
ou não, vote em Galvão”. Na campanha, Galvão usou uma linguagem nova, defendendo modernidades e
justiça social.
Os dentistas da Nasa declararam que o universo é todo em ondas e que nós, os mais abertos, somos
os melhores pan solucionar problemas de alta física espacial por
termos, ao contrário dos caretas, um cérebro emitivo-recptivo.
Quer dizer; falamos e ouvimos, somos réalmente democratas.
Careta não é quem não fuma um baseado. Careta é o repressi-
vo,. reacionário, autoritário, totalitário que tenta castrar a evolu-
ção. Cabeludo não precisa nem ter cabelo.Pode até ser careca.
Jovem não tem idade. Jovem é quem decidiu ser. A ousadia, o
desapego, a politização natural, as convicções, a despreconcei-
tualização assustam.
Defendemos não apenas os anseios de modernidade sociais,
mas o bem-estar social, através de mudanças fundamentais.
Uma reformulação do sistema tributário com um imposto Que-remos que a lei do inquilinato seja um barato. Receitamos esporte amador, futebol pra homem e pra mulher. Mais campos e menos espigões, só o esporte é saudável e antitóxico. progressivo para o comércio e com seus frutos
voltados para uma melhor divisão de riquezas que no nosso país estão nas mãos de algumas multinacio-
nais e 400 mil ricos, o que vem a ser uma insignificância, uma mixaria, uma pontinha, uma beata, uma
bagana em relação à população brasileira.
O embrião desse show vem sendo aprimorando desde 87 quando foi apresentado na casa de espetácu-
los Bar Avenida em São Paulo, Quando Galvão foi acompanhado por uma banda de jazz e a cantora Suzana Bello. Na seqüência Galvão assumiu a direção do Centro de Cultural João Gilberto em Juazeiro, sua terra natal, e convidou Geraldo Azevedo para se apresentar. Na abertura do referido show, Galvão mostrou o seu tra-balho e como convidada esteve a cantora Ivete Sangallo que cantou músicas da dupla Moraes e Galvão. Foi o primeiro show da grande estrela da atual música baiana. Na continuidade do show que foi mudando de nome e em Salvador passou a ser “Galvão Com A Palavra” e em São Paulo as cantoras foram na seqüência: Cida Lobo, Mariela Santiago, Pitty e a atriz Sandra Léa, Emanuelle Araújo e Pa-trícia Costa. Pelo visto Galvão é pé quente para as cantoras.
Recentemente no dia 11 de março do corrente ano aconteceu na Concha Acús-
tica do Teatro Castro Alves, em Salvador, o show de abertura da excussão nacional
“Galvão 70 Anos de Poesia”. E participou como convidados o grupo Novos Baianos do qual
Galvão é um dos A sua música mais gravada é Dê um Role que está em discos de Gal Costa, Zizi Possi, Lulu Santos e Novos Baianos. Luis Melodia gravou O Mistéiro do Planeta, Daniela Mércuri gravou Farol da Barra. Quem mais o gravou foi Marisa Monte com as músicas: Dê Um Role, Besta É Tu, A Menina Dança, Eu sou o caso Deles e Três Letrinhas. Essa derradeira estava há 37 anos inédita.
Recentemente no dia 11 de fevereiro desse ano 2007,
aconteceu na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em
Salvador, o show de abertura da excussão nacional “Galvão
70 Anos de Poesia”. E participou como convidados o grupo
Novos Baianos do qual Galvão é Um Dos Fundadores.
Continuando a história.....Novos Galvão , sua prole le-
vando jeito, duas guitarras, um baterista e alguns ami-
gos, abrindo o show na Concha, em Salvador e rece-
bendo aplauso, Janeiro de 2007
Jair Gabriel
Capa Rafael Cerqueira
Miécio CafféSampa 1987
Jair GabrielBorboleta
capa Douglas Canjani
Araujo
Jair Gabriel
Foto Arquivo Particular
Foto arquivo Particular
Foto Tarso Figueira
Foto Tarso Figueira
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Foto Marcos Maciel
Foto Lúcia Corrêa
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Foto Bob Toledo
Foto Paulo Garcez
Foto Tarso Figueira
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Foto arquivo Particular
Coelho Assis
Capa Coelho Assis
Aninha Cardoso
Miécio Caffé
Aninha Cardoso
Janete Galvãol
Glauco
Pedro Raymundo Rêgo
Foto Tarso Figueira
Marcio Lima
Elifas Andrato
Mauritano
Aninha Cardoso
ovos Brasil
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