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Informações Autor: Daniel Defoe Tradutor: Hildegard Feist Editora: BestBolso Páginas: 364 Ano de Lançamento: 2009 Lucas Deschain em 17 de julho de 2015 Tweetar 0 1 Robinson Crusoé, de Daniel Defoe 0 Like Home Literatura Cinema Música Tudo Sobre Expediente Contato

Robinson Crusoé, De Daniel Defoe _ Posfácio

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Análise sobre livro de Defoe

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    Autor: Daniel DefoeTradutor: Hildegard FeistEditora: BestBolsoPginas: 364Ano de Lanamento: 2009

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    Dando sequncia ao especial Ms dos clssicos, debrucemo-nos hoje sobre uma obra que tida como uma das pioneiras do romance moderno: Robinson Cruso, do escritor inglsDaniel Defoe (1660-1731).

    O livro, publicado em 1719, encontra-se naquele conjunto de obras literrias cuja inovaofoi tamanha, e cujas solues formais se tornaram to difundidas, que sem circunstanci-la historicamente e literariamente ficaria difcil perceber qual foi a sua grande ruptura ouseu grande pioneirismo. No que tange a Robinson Cruso, surpreende como sua construose assemelha a formas narrativas que so absolutamente comuns at o presente, e essatalvez seja uma das evidncias mais expressivas de sua profunda influncia: a prpriaconcepo de narrativa literria com a qual estamos acostumados foi em grande partetalhada por Defoe. A relativa no surpresa que temos ao ler o clssico que RobinsonCruso uma das principais provas de que ele fez escola no desenvolvimento da literaturacontempornea.

    Mas, antes de nos estendermos em consideraes em torno de seu legado, falemos sobre atrama do livro, a histria propriamente dita que ele conta.

    Quem narra as aventuras e as desventuras do livro em questo o prprio protagonista,Robinson Cruso, filho de uma embrionria classe mdia inglesa (embora de mentalidadealgo rentier, to burguesa quanto aristocrtica), cuja condio, como ele nos conta, era umacondio intermediria, ou o que se poderia chamar de situao superior de uma vidainferior . Tal como se encaminhava seu futuro, Cruso estaria garantido, bastava queseguisse nos passos do pai e amealhasse algum cargo, ou, ainda, que administrasse comprudncia seus proventos. Em concretizando tal projeto, levaria uma vida tranquila eestvel, cujos possveis solavancos mais seriam a doce oscilao de marolas episdicas.

    Sobre essa existncia no mundo, essa situao material-existencial, Defoe incisivo, e fazCruso declarar que () havia muito [que seu pai] () descobrira, por experinciaprpria, [ser essa] () a melhor condio do mundo, a mais de acordo com a felicidadehumana, pois no nos expunha s misrias e s privaes, ao trabalho e ao sofrimento daclasse obreira da humanidade, e no nos constrangia com a altivez, o luxo, a ambio e ainveja da classe superior . Apesar dessa pequena prdica acerca das vicissitudes damediocridade, Cruso no parece se convencer, e segue algo atormentado por ter tudo todefinido de antemo. diante dessas condies que ele se lana a aventuras martimas,fugindo sem avisar seus familiares.

    Decorrem diversas e temerosas travessias antes daquela fatdica, cujas implicaesconstituem o motor de todo o restante da histria. Cruso navega pelos mares europeus emdiversas rotas, chega a se estabelecer no Brasil (onde se torna administrador de umaplantation aucareira) e se lana a uma viagem rumo costa africana para apresar escravos,tudo isso antes que uma providencial tempestade se abatesse sobre seu navio e o levasse apique na orla de uma ilha deserta, deixando todo o restante da tripulao morta. de fatoaqui que a histria de Robinson Cruso (ou pelo menos sua faceta mais clebre, a suaporo mais volumosa) se inicia.

    A partir dessa ocorrncia (que se encontra em ponto bastante avanado da obra), toda a

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    trama se redireciona. No se trata mais de acompanhar as aventuras de Cruso, mas, ao queparece, suas desventuras. J no se est falando mais de um livro que narra peripciaseconmicas e existenciais de um certo administrador ingls num mundo colonial, mas deuma histria sobre como esse mesmo sujeito ter de encontrar os meios para superar seuinfortnio, seja para sair da ilha seja para sobreviver a ela enquanto constri sua fuga. Meparece que nesse segundo momento que Robinson Cruso sequestra completamente aateno do leitor.

    H algo de sedutor nas ilhas. A recorrncia delas no pensamento dos homens causa essasuspeio, e a obra de Defoe talvez nos ajude a tentar entender por qu. Desde o momentoem que Cruso, pela primeira vez, resolve se focar mais em estabelecer as bases para umaestadia longa na ilha (ao invs de tentar escapar dela) at o desfecho do livro, somoslevados a acompanhar cada nfimo passo que ele d no (re)estabelecimento dos rudimentosmateriais de uma vida civilizada. O livro poderia ser uma narrativa crua sobre os limites dohomem, sobre sua fragilidade ou sobre sua barbarizao ou bestializao na luta pelasobrevivncia, mas no . Robinson Cruso uma narrativa em que o homem, o indivduo,se sobressai, apesar das adversidades que a natureza lhe impe e essa uma das razespelas quais ele to expressivo, em termos literrios e em termos histricos.

    O protagonista domestica a natureza, e seu relato o de uma sobrevivncia bastante bem-sucedida. Cruso no s consegue evitar a vulnerabilidade alimentar e climtica, mas chega,mesmo, a gozar de regalos tais como uma casa bastante slida, um cercado forte, queijo,carne, po, utenslios diversos (vrios de sua confeco), etc. Se quisssemos falar emforma de sntese, talvez pudssemos dizer que mais do que sobreviver, Robinson Crusoconseguiu praticamente viver.

    E a vida, mais do que a sobrevivncia, deve-se sua engenhosidade, sua abnegao emfavor do trabalho duro, da constncia, da racionalidade e do planejamento. Embora sejaverdade que ele foi em muito beneficiado por ter conseguido salvar diversas ferramentas,mantimentos e recursos do navio que naufragara, mesmo a obteno desses pode sercontabilizada como fruto de sua astcia e de seu engenho, pois o processo de retirada(como Cruso nos narra minuciosamente) esteve longe de simples. essa tnica queconsegue fazer o relato de um naufrgio ser uma narrativa amena e no cruenta, e asobrevivncia uma experincia de humanizao, ao invs de animalizao.

    O crtico literrio ingls Ian Watt estudou a obra de Daniel Defoe (juntamente com asobras de Henry Fielding e de Samuel Richardson) em seu livro A ascenso do romance,procurando rastrear tanto o significado esttico-literrio de suas narrativas quanto seussignificados sociais e histricos. Dentre outras concluses ele aponta como uma dasinovaes desse(s) pioneiro(s) do romance o preocupar-se com o realismo e com averossimilhana na apresentao das situaes ficcionais, sendo suas obras expresses deuma nova racionalidade que grassava o pensamento europeu. Os personagens, suasdecises, os cenrios, a trama, etc., passam a ser retratados dentro de uma tica individual efortemente emprica, alternativa ao ento imperioso apelo s narrativas bblicas ou picas,o que permite que eles tenham muito menos de abstrao e muito mais de realismo. Essapreocupao um dos grandes legados de Robinson Cruso, pois se difundiu enquantoespinha dorsal da construo de diversas obras literrias que a sucederam, desde o sculoXVIII at os nossos dias.

    Watt v Robinson Cruso (e outros personagens de Defoe) como encarnaes do homoeconomicus tpico da Economia Poltica, por sua racionalidade sistemtica voltada ao lucro(chegando s vezes a quase transformar Cruso num tipo ideal burgus, algo weberiano).Embora Watt talvez carregue um pouco nas tintas ao defender essa salincia ideolgica danarrativa de Defoe, no se pode negar que () em Cruso, a contabilidade supera outrospensamentos e emoes . A sobrevivncia na ilha deserta se torna possvel pela abnegaode Cruso em lanar-se aos trabalhos, sendo inclusive por isso que as descries sobre cadapormenor de suas empreitadas (em domesticar cabras, em tecer cestos, em lidar com aschuvas, em cultivar a terra, em construir um forno de barro, etc.) so to numerosas. Atransbordante e verborrgica narrativa de Defoe, que s vezes parece estar um tanto semdireo, d-se a esses prstimos ao longo de todo o seu corpo, entre outras razes pelanecessidade que Defoe enxergava em tomar esses fatos e situaes como recursos deverossimilhana o que s refora essa viso de mundo.

    O livro de Defoe, no bastasse ajudar a inaugurar, ao lado de outros escritores, o formato ea voz narrativa tpicas do romance moderno, acabou tambm por delinear caracteres dopensamento de um grupo social cuja existncia histrica se fez sentir intensamente nomundo moderno, tornando-se um documento humano na melhor acepo do termo. Portal, por esse conjunto de razes, faz-se digno de figurar no rol dos clssicos.

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    1. DEFOE, Daniel. Robinson Cruso. Traduo de Domingos Demasi. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009, p. 12.

    2. Ibid.,p. 12.

    3. WATT, Ian. A ascenso do romance Estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding. Traduo de Hildegard Feist.

    So Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 67.

    Lucas DeschainFrequentador de bibliotecas desde o tempo em que sua idadecabia nos dedos das mos e ontologicamente adepto dahistoriografia como modo de vida, Lucas_Deschain busca naliteratura no s o objeto de seu interesse cientfico comotambm a expresso, em suas mais desconcertantes e inusitadas

    facetas, dessa tortuosa, complexa e fascinante coisa a que chamam de naturezahumana. Acometido de um perfeccionismo que beira insanidade e de uma maniade transformar a realidade em problema historiogrfico, ele vai vivendo, lendo,aprendendo, escrevendo resenhas e tentando, por fim, ensinar algo inspirado naintensidade de um Kafka, na sensibilidade de um Hesse, no senso deresponsabilidade de um Steinbeck e na erudio narrativa de um Saramago. Sigano @Lucas_Deschain

    Lucas Deschain por a

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