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CLIO História – Textos e Docum Segundo a lenda, quando os gregos Tróia, Enéias – nascido da união do ses com a deusa Vênus – conseguiu de e foi se estabelecer na península desposou a filha do rei do Lácio. Oi depois, seu descendente Numitor s de Alba Longa, a capital do reino, m pelo irmão, Amúlio. Para que Numit herdeiros, assassinaram seus filhos sua filha Réia Sílvia uma vestal (sac deusa Vesta). Réia, porém, foi fecu Marte, deus da guerra, e deu à luz Rômulo e Remo. Amúlio mandou af Tibre, mas, miraculosamente, eles levados pela corrente até os pés do no, foram ali amamentados por um recolhidos pelo pastor Fáustolo, que Quando descobriram sua origem, o adolescentes, depuseram Amúlio e trono a Numitor, seu avô. Depois, c habitantes de Alba Longa, fundaram abril de 753 a. C., uma cidade exat local onde a loba os havia encontra tando o voo dos pássaros como um mulo concluiu que fora designado r cidade e traçou com um arado o su ria os limites do seu território. Rem cruzou a divisa e foi assassinado pe mulo tornou-se, desse modo, o prim Roma. Roma: das origens à Repú Segundo inúmeros estudiosos, a dação de Roma baseia-se em acont reais. No decorrer da Idade do Ferro (s a.C.) populações de economia agríc haviam se estabelecido na região d os latinos, sabinos, equos, volscos, Cada povo organizava-se em grand (gens), compostas, além dos núcleo propriamente ditos, de amigos e se am e trabalhavam na área de influê A autoridade absoluta era exercida família, ao mesmo tempo guia polít religioso. O traço de união entre as (agregados de famílias descendente mesmo ancestral) era o fato de fala língua, terem os mesmos usos e co tarem culto às mesmas divindades. em tempos, alguns povos do Lácio nos e lucérios – reuniam-se na cida Longa para render culto a Júpiter L dos deuses do Lácio. Nessas ocasiõ vam-se as alianças de comércio e d contra eventuais inimigos comuns. O RAPTO DAS SABINAS As tradições romanas contam que ocupado em conseguir esposas par organizou uma grande festa e conv nos e suas mulheres, que viviam na nhas. mentos s tornaram o pastor Anqui- u fugir da cida- a Itálica, onde ito gerações subiu ao trono mas foi deposto tor não tivesse s e fizeram de acerdotisa da undada por os gêmeos fogá-los no se salvaram e, o monte Palati- ma loba e depois e os educou. os gêmeos, já restituíram o com alguns m, em 21 de tamente no ado. Interpre- m vaticínio, Rô- rei da nova ulco que marca- mo, indignado, elo irmão. Rô- meiro rei de ública lenda da fun- tecimentos séculos IX-VIII cola e pastoril do Lácio: eram , lucanos... des famílias eos familiares ervos que vivi- ência da gens. pelo chefe da tico, militar e s várias gentes es de um arem a mesma ostumes e pres- . De tempos – latinos, sabi- ade de Alba Latiaris, o maior ões reafirma- defesa mútua e Rômulo, pre- ra os latinos, vidou os sabi- as colinas vizi- No meio da festa, os latin nas e expulsaram os sabino Tácio, rei dos sabinos, decl contra Roma. Despeitada, T encarregado da fortaleza, a atacantes; sua perfídia foi p invasores, que a esmagara Quando as tropas de Tácio atacar, as sabinas, sensíve rapto significava, conseguir alegando que não queriam dos latinos nem seus pais e o impasse, Rômulo persuad consigo o reino de Roma, d sabinas cidadania comum. posterior alternância de sab governo de Roma. Após um longo reinado, R céu por um remoinho. Pass Quirino, um dos deuses fav no. A CIDADE DO RIO Ignora-se se foi realment pomoerium (perímetro sag é que a lendária fundação d ao surgimento do Septimon de tribos latinas, sabinas e vam as sete colinas de Rom bém se o rapto das sabinas mas os sucessores de Rôm dade foram, alternadament latino. Segundo a tradição, Rôm tes de Roma uma constituiç subdividia as tribos dos Titi (latinos) e Luceres (lucérios uma, ao mesmo tempo em nado de cem membros. As objetivos militares: cada tr exército 1 000 soldados e 1 soldados e 10 cavaleiros pa Comprovou-se, de fato de ter sido Rômulo o autor timontium, consideravelme to de vista militar, obteve v sobre Veios e Fidenes, cida nhanças. Esse desafio, à Et rém, a ocupação. De 616 a dominaram a cidade e, con histórica, foram eles que a a de Rumon, “a cidade do r SETE LONGOS REINADOS De acordo com a tradição Roma foi o sabino Numa Po a unidade das tribos e asse de paz ao povo. Sob o rein tílio, Roma empreendeu um ta, o que é confirmado por historicamente comprova.d Longa, antigo centro do Lác destruída. A seu sucessor, o sabino da a realização de obras pú nos agarraram as sabi- os. Em represália, Tito larou guerra e avançou Tarpeia, filha do latino abriu as portas aos punida pelos próprios am sob seus escudos. se preparavam para eis à homenagem que o ram evitar o confronto, perder nem seus mari- e irmãos. Para resolver diu Tácio a partilhar dando às tribos latinas e Esse fato explicaria a binos e romanos no Rômulo foi erguido ao sou a ser adorado como voritos do povo roma- te Rômulo que traçou o grado) da cidade. O fato de Roma corresponde ntium, uma federação lucérias que habita- ma. Não se sabe tam- s é lenda ou verdade, mulo no governo da ci- te, um sabino e um mulo teria dado às gen- ção político-militar que ii (sabinos), Ramnes s) em dez cúrias cada m que instituía um Se- divisões atendiam a ribo devia fornecer ao 100 cavaleiros (100 ara cada cúria). independentemente da ideia –, que o Sep- ente fortalecido do pon- vitórias significativas ades etruscas das vizi- trúria custou-lhes, po- a 509 a.C. os etruscos nforme uma corrente batizaram, chamando- rio”. S o, o segundo rei de ompilio, que fortaleceu egurou quarenta anos nado do latino Tulo Hos- ma política expansionis- urna série de fatos dos. A cidade de Alba cio, foi conquistada e Anco Márcio, é atribuí- úblicas como o aquedu-

Roma: das origens à República - Colégio Nossa Senhora de Fátima · CLIO História – Textos e Documentos caso de perigo, podiam até nomear um ditador, governante com poderes

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Page 1: Roma: das origens à República - Colégio Nossa Senhora de Fátima · CLIO História – Textos e Documentos caso de perigo, podiam até nomear um ditador, governante com poderes

CLIO História – Textos e Documentos Segundo a lenda, quando os gregos tornaram Tróia, Enéias – nascido da união do pastor Anquses com a deusa Vênus – conseguiu fugir da cidde e foi se estabelecer na península Itálica, onde desposou a filha do rei do Lácio. Oito gerações depois, seu descendente Numitor subiu ao trono de Alba Longa, a capital do reino, mas foi deposto pelo irmão, Amúlio. Para que Numitor não tivesse herdeiros, assassinaram seus filhos e fizeram de sua filha Réia Sílvia uma vestal (sacerdotisa da deusa Vesta). Réia, porém, foi fecundada por Marte, deus da guerra, e deu à luz os gêmeos Rômulo e Remo. Amúlio mandou afogáTibre, mas, miraculosamente, eles se salvaram e, levados pela corrente até os pés do mono, foram ali amamentados por uma loba e depois recolhidos pelo pastor Fáustolo, que os educou. Quando descobriram sua origem, os gêmeos, já adolescentes, depuseram Amúlio e restituíram o trono a Numitor, seu avô. Depois, com alguns habitantes de Alba Longa, fundaram, em 21 de abril de 753 a. C., uma cidade exatamente no local onde a loba os havia encontrado. Interprtando o voo dos pássaros como um vaticínio, Rmulo concluiu que fora designado rei da nova cidade e traçou com um arado o sulco que ria os limites do seu território. Remo, indignado, cruzou a divisa e foi assassinado pelo irmão. Rmulo tornou-se, desse modo, o primeiro rei de Roma.

Roma: das origens à RepúblicaSegundo inúmeros estudiosos, a lenda da fu

dação de Roma baseia-se em acontecimentos reais. No decorrer da Idade do Ferro (séculos IX

a.C.) populações de economia agrícola e pastoril haviam se estabelecido na região do Lácio: eram os latinos, sabinos, equos, volscos, lucanos... Cada povo organizava-se em grandes família(gens), compostas, além dos núcleos familiares propriamente ditos, de amigos e servos que vivam e trabalhavam na área de influência da gens. A autoridade absoluta era exercida pelo chefe da família, ao mesmo tempo guia político, militar e religioso. O traço de união entre as várias gentes (agregados de famílias descendentes de um mesmo ancestral) era o fato de falarem a mesma língua, terem os mesmos usos e costumes e pretarem culto às mesmas divindades. De tempos em tempos, alguns povos do Lácio nos e lucérios – reuniam-se na cidade de Longa para render culto a Júpiter Latiaris, o maior dos deuses do Lácio. Nessas ocasiões reafirmvam-se as alianças de comércio e defesa mútua contra eventuais inimigos comuns.

O RAPTO DAS SABINAS As tradições romanas contam que Rômulo, pr

ocupado em conseguir esposas para os latinos, organizou uma grande festa e convidou os sabnos e suas mulheres, que viviam nas colinas viznhas.

Textos e Documentos

Segundo a lenda, quando os gregos tornaram nascido da união do pastor Anqui-

conseguiu fugir da cida-de e foi se estabelecer na península Itálica, onde desposou a filha do rei do Lácio. Oito gerações depois, seu descendente Numitor subiu ao trono de Alba Longa, a capital do reino, mas foi deposto pelo irmão, Amúlio. Para que Numitor não tivesse herdeiros, assassinaram seus filhos e fizeram de

ia Sílvia uma vestal (sacerdotisa da deusa Vesta). Réia, porém, foi fecundada por Marte, deus da guerra, e deu à luz os gêmeos Rômulo e Remo. Amúlio mandou afogá-los no Tibre, mas, miraculosamente, eles se salvaram e, levados pela corrente até os pés do monte Palati-no, foram ali amamentados por uma loba e depois recolhidos pelo pastor Fáustolo, que os educou. Quando descobriram sua origem, os gêmeos, já adolescentes, depuseram Amúlio e restituíram o trono a Numitor, seu avô. Depois, com alguns

Alba Longa, fundaram, em 21 de abril de 753 a. C., uma cidade exatamente no local onde a loba os havia encontrado. Interpre-

dos pássaros como um vaticínio, Rô-mulo concluiu que fora designado rei da nova cidade e traçou com um arado o sulco que marca-ria os limites do seu território. Remo, indignado, cruzou a divisa e foi assassinado pelo irmão. Rô-

se, desse modo, o primeiro rei de

República Segundo inúmeros estudiosos, a lenda da fun-

acontecimentos

No decorrer da Idade do Ferro (séculos IX-VIII a.C.) populações de economia agrícola e pastoril haviam se estabelecido na região do Lácio: eram os latinos, sabinos, equos, volscos, lucanos...

se em grandes famílias (gens), compostas, além dos núcleos familiares propriamente ditos, de amigos e servos que vivi-am e trabalhavam na área de influência da gens. A autoridade absoluta era exercida pelo chefe da família, ao mesmo tempo guia político, militar e

raço de união entre as várias gentes (agregados de famílias descendentes de um mesmo ancestral) era o fato de falarem a mesma língua, terem os mesmos usos e costumes e pres-tarem culto às mesmas divindades. De tempos em tempos, alguns povos do Lácio – latinos, sabi-

se na cidade de Alba Longa para render culto a Júpiter Latiaris, o maior dos deuses do Lácio. Nessas ocasiões reafirma-

se as alianças de comércio e defesa mútua

tradições romanas contam que Rômulo, pre-ocupado em conseguir esposas para os latinos, organizou uma grande festa e convidou os sabi-nos e suas mulheres, que viviam nas colinas vizi-

No meio da festa, os latinos agarraram as nas e expulsaram os sabinos. Em represália, Tito Tácio, rei dos sabinos, declarou guerra e avançou contra Roma. Despeitada, Tarpeia, filha do latino encarregado da fortaleza, abriu as portas aos atacantes; sua perfídia foi punida pelos próprios invasores, que a esmagaram sob seus Quando as tropas de Tácio se preparavam para atacar, as sabinas, sensíveis à homenagem que o rapto significava, conseguiram evitar o confronto, alegando que não queriam perder nem seus mardos latinos nem seus pais e irmãos. Para resolver o impasse, Rômulo persuadiu Tácio a partilhar consigo o reino de Roma, dando às tribos latinas e sabinas cidadania comum. Esse fato explicaria a posterior alternância de sabinos e romanos no governo de Roma. Após um longo reinado, Rômulo foi erguido ao

céu por um remoinho. Passou a ser adorado como Quirino, um dos deuses favoritos do povo romno.

A CIDADE DO RIO Ignora-se se foi realmente Rômulo que traçou o

pomoerium (perímetro sagrado) da cidade. O fato é que a lendária fundação de Roma corresponde ao surgimento do Septimontium, uma federação de tribos latinas, sabinas e lucérias que habitvam as sete colinas de Roma. Não se sabe tabém se o rapto das sabinas é lenda ou verdade, mas os sucessores de Rômulo no governo da cdade foram, alternadamente, um sabino e ulatino. Segundo a tradição, Rômulo teria dado às ge

tes de Roma uma constituição políticosubdividia as tribos dos Titii (sabinos), Ramnes (latinos) e Luceres (lucérios) em dez cúrias cada uma, ao mesmo tempo em quenado de cem membros. As divisões atendiam a objetivos militares: cada tribo devia fornecer ao exército 1 000 soldados e 100 cavaleiros (100 soldados e 10 cavaleiros para cada cúria).Comprovou-se, de fato –

de ter sido Rômulo o autor da timontium, consideravelmente fortalecido do poto de vista militar, obteve vitórias significativas sobre Veios e Fidenes, cidades etruscas das viznhanças. Esse desafio, à Etrúria custourém, a ocupação. De 616 a 509 a.C. os etruscos dominaram a cidade e, conforme uma corrente histórica, foram eles que a batizaram, chamandoa de Rumon, “a cidade do rio”.

SETE LONGOS REINADOSDe acordo com a tradição, o segundo rei de

Roma foi o sabino Numa Pompilio, que fortaleceu a unidade das tribos e assegurode paz ao povo. Sob o reinado do latino Tulo Hotílio, Roma empreendeu uma política expansionita, o que é confirmado por urna série de fatos historicamente comprova.dos. A cidade de Alba Longa, antigo centro do Láciodestruída. A seu sucessor, o sabino Anco Márcio, é atribu

da a realização de obras públicas como o aqued

No meio da festa, os latinos agarraram as sabi-os. Em represália, Tito

Tácio, rei dos sabinos, declarou guerra e avançou contra Roma. Despeitada, Tarpeia, filha do latino encarregado da fortaleza, abriu as portas aos atacantes; sua perfídia foi punida pelos próprios invasores, que a esmagaram sob seus escudos. Quando as tropas de Tácio se preparavam para atacar, as sabinas, sensíveis à homenagem que o rapto significava, conseguiram evitar o confronto, alegando que não queriam perder nem seus mari-dos latinos nem seus pais e irmãos. Para resolver

e, Rômulo persuadiu Tácio a partilhar consigo o reino de Roma, dando às tribos latinas e sabinas cidadania comum. Esse fato explicaria a posterior alternância de sabinos e romanos no

Após um longo reinado, Rômulo foi erguido ao remoinho. Passou a ser adorado como

Quirino, um dos deuses favoritos do povo roma-

se se foi realmente Rômulo que traçou o pomoerium (perímetro sagrado) da cidade. O fato é que a lendária fundação de Roma corresponde

do Septimontium, uma federação de tribos latinas, sabinas e lucérias que habita-vam as sete colinas de Roma. Não se sabe tam-bém se o rapto das sabinas é lenda ou verdade, mas os sucessores de Rômulo no governo da ci-dade foram, alternadamente, um sabino e um

Segundo a tradição, Rômulo teria dado às gen-tes de Roma uma constituição político-militar que subdividia as tribos dos Titii (sabinos), Ramnes (latinos) e Luceres (lucérios) em dez cúrias cada

ao mesmo tempo em que instituía um Se-mbros. As divisões atendiam a

vos militares: cada tribo devia fornecer ao to 1 000 soldados e 100 cavaleiros (100

soldados e 10 cavaleiros para cada cúria). – independentemente

de ter sido Rômulo o autor da ideia –, que o Sep-timontium, consideravelmente fortalecido do pon-to de vista militar, obteve vitórias significativas sobre Veios e Fidenes, cidades etruscas das vizi-nhanças. Esse desafio, à Etrúria custou-lhes, po-rém, a ocupação. De 616 a 509 a.C. os etruscos

cidade e, conforme uma corrente histórica, foram eles que a batizaram, chamando-a de Rumon, “a cidade do rio”.

SETE LONGOS REINADOS De acordo com a tradição, o segundo rei de

Roma foi o sabino Numa Pompilio, que fortaleceu a unidade das tribos e assegurou quarenta anos de paz ao povo. Sob o reinado do latino Tulo Hos-tílio, Roma empreendeu uma política expansionis-ta, o que é confirmado por urna série de fatos historicamente comprova.dos. A cidade de Alba

cio, foi conquistada e

A seu sucessor, o sabino Anco Márcio, é atribuí-da a realização de obras públicas como o aquedu-

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CLIO História – Textos e Documentos to Acqua Márcia e a fundação da colônia de Ostia, junto ao mar Tirreno, que abriu caminho para a expansão comercial de Roma.

A dominação etrusca Coube aos etruscos a tarefa de transformar um

modesto centro agropastoril numa cidadecercada de muralhas, com uma florescente ativdade manufatureira e intenso comércio.Segundo a lenda, o primeiro rei de Roma de

rigem etrusca foi Tarquínio Prisco, que opoder com o apoio dos lucérios, tribo até então sem alguns dos privilégios dos latinos e sabinos. Ao subir ao trono, Tarquínio recompensouo acesso ao Senado, que lhes era vedado. Aos abater-famílias de estirpe latina e sabina juntram-se esses conscripti (agregados), totalizando o número fixo de trezentos senadores. Tarquínio Prisco deu início à construção de importantes obras públicas, como a Cloaca Máxima, sistema de esgotos que desembocava no rio Tibre, e o Circo Máximo. Tarquínio foi sucedido por Sérvio Túlio, que ce

cou a área urbana de Roma com uma sólida colina de muros. Ressentindo-se da medida, os grandes proprietários de terras conspiraram para depôIsso o levou a aliar-se a elementos ricos, fora da classe patrícia (os aristocratas), e a reorganizar o exército e o corpo eleitoral para fortalecer a sua posição. Promoveu o censo dos habitantes e das propriedades, classificando os cidadãos em cinco classes. Para contrabalançar o poder dos aristo-cratas, criou também a classe dos equites (cavaleiros), homens que podiam equipar-se com armas e um cavalo (equus) e servir na cavalaria. Sérvio Túlio foi assassinado e

sucedido por Tarquínio, o Sober-bo, que, violento e despótico, provocou descontentamento em todas as classes. Em 510 a.C., diz a tradição, Tarquínio foi expulso de Roma, e proclamou-se a Repú-blica.

Limites da autoridade durante a monarquia Para governar, o rei apoiava-se

no Conselho de Anciãos (Senado) e na Assembleia Curiata. Os sena-dores, vitalícios, eram nomeados pelo rei. Este, porém, era escolhi-do por eles, sendo, em última instância, um delegado dos pater-famílias – e a escolha só tinha validade se confimada pela Assembleia Curiata, que reunia os ptrícios divididos em trinta cúrias. Sempre que o rei quisesse modificar a lei, conceder perdões ou declarar guerra, precisava do consentimento dles. Essa assembleia conferia o imperium (autordade para governar).

Textos e Documentos

to Acqua Márcia e a fundação da colônia de Ostia, junto ao mar Tirreno, que abriu caminho para a

os etruscos a tarefa de transformar um modesto centro agropastoril numa cidade-Estado cercada de muralhas, com uma florescente ativi-dade manufatureira e intenso comércio. Segundo a lenda, o primeiro rei de Roma de o-

rigem etrusca foi Tarquínio Prisco, que obteve o poder com o apoio dos lucérios, tribo até então sem alguns dos privilégios dos latinos e sabinos. Ao subir ao trono, Tarquínio recompensou-os com o acesso ao Senado, que lhes era vedado. Aos

famílias de estirpe latina e sabina junta-ses conscripti (agregados), totalizando

o número fixo de trezentos senadores. Tarquínio Prisco deu início à construção de importantes obras públicas, como a Cloaca Máxima, sistema de esgotos que desembocava no rio Tibre, e o

cedido por Sérvio Túlio, que cer-cou a área urbana de Roma com uma sólida colina

se da medida, os grandes proprietários de terras conspiraram para depô-lo.

se a elementos ricos, fora da atas), e a reorganizar o

exército e o corpo eleitoral para fortalecer a sua posição. Promoveu o censo dos habitantes e das

e a escolha só tinha validade se confir-Curiata, que reunia os pa-

trícios divididos em trinta cúrias. Sempre que o lei, conceder perdões ou

declarar guerra, precisava do consentimento de-conferia o imperium (autori-

A REPÚBLICA Não se sabe com certeza se a República foi, de

fato, estabelecida após um levante popular que levou à expulsão de Tarquínio, o Soberbo, ou se resultou de um lento processo evolutivo que retringiu progressivamente a autoridade monárquca em favor dos chefes das gentes. De qualquer forma, com a sua instauração, o poder passou às mãos dos patrícios, que substidois cônsules eleitos anualmente. Sua função abrangia o comando do exército e a supervisão das atividades judiciárias. Em latim, res publica significa “coisa de todos”,

mas a República romana pertencia a pouquíssmos cidadãos. Além de possterras e monopolizar a vida religiosa, a aristocrcia detinha o poder político; o Senado era a autridade permanente, encarregada de controlar os magistrados, ocupantes temporários de cargos executivos. Os patrícios dominavam também a Assembleia Curiata, que perdeu gradativamente suas prerrogativas para a AssembleiaMas esta era dominada também pelos patrícios e equites. Cada centúria equivalia a um voto; os mais ricos, podendo equipar 98 centúrias, dispnham de mais votos que todas as outras classes, cujo total perfazia 95 centúrias. Mesmo nas sembleias da plebe, a força dos patrícios exerciase através dos seus clientes, que votavam a seu

favor. No gráfico está representada a organização polítca que vigorou durante a ReCenturiata cabia eleger os cônsules, magistrados que governavam Roma. O Senado, porém, que chegou a ter 600 membros, confirmava a eleição. As decisões senatoriais abrangiam não só a polítca exterior como a administração interna. Em

Não se sabe com certeza se a República foi, de fato, estabelecida após um levante popular que

pulsão de Tarquínio, o Soberbo, ou se resultou de um lento processo evolutivo que res-tringiu progressivamente a autoridade monárqui-ca em favor dos chefes das gentes. De qualquer forma, com a sua instauração, o poder passou às mãos dos patrícios, que substituíram o rei por dois cônsules eleitos anualmente. Sua função abrangia o comando do exército e a supervisão

Em latim, res publica significa “coisa de todos”,

mas a República romana pertencia a pouquíssi-mos cidadãos. Além de possuir a totalidade das terras e monopolizar a vida religiosa, a aristocra-cia detinha o poder político; o Senado era a auto-ridade permanente, encarregada de controlar os magistrados, ocupantes temporários de cargos executivos. Os patrícios dominavam também a

Curiata, que perdeu gradativamente Assembleia Centuriata.

Mas esta era dominada também pelos patrícios e equites. Cada centúria equivalia a um voto; os mais ricos, podendo equipar 98 centúrias, dispu-

ue todas as outras classes, cujo total perfazia 95 centúrias. Mesmo nas as-

da plebe, a força dos patrícios exercia-se através dos seus clientes, que votavam a seu

está representada a organização políti-ca que vigorou durante a República. À Assembleia Centuriata cabia eleger os cônsules, magistrados que governavam Roma. O Senado, porém, que chegou a ter 600 membros, confirmava a eleição. As decisões senatoriais abrangiam não só a políti-ca exterior como a administração interna. Em

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CLIO História – Textos e Documentos caso de perigo, podiam até nomear um ditador, governante com poderes absolutos.

A Assembleia Curiata perdeu todos os seus pderes para a Assembleia Centuriata, ficando apnas com o privilégio do imperium. Junto com o Senado, a Assembleia Centuriata fazia a ção dos magistrados e fiscalizava o seu trabalho: os pretores, que ministravam a justiça; os censres, que se encarregavam, a cada cinco anos, do recenseamento da população; os questores, que administravam o tesouro público e recolhiam ipostos; os edis, que cuidavam do abastecimento, das construções, do policiamento e dos jogos públicos. A revolta da plebe, em 494 a.C., teve como consequência a criação da AssembleiaPlebeus (Concilium Plebis), que passou a eleger então os tribunos da plebe. Estes eram intocáveis e tinham o poder de veto sobre qualquer medida do governo. A Assembleia dos Plebeus transfomou-se nas Assembleias das Tribos (Comitia Trbuta), das quais participavam todos os cidadãos, sem distinção de classe ou poder econômico. No inicio, as Assembleias das Tribos elegiam só os tribunos e os edis da plebe. Depois passaram a eleger os questores e, a partir de 287 a. C., votvam também a maioria das leis.

PATRÍCIOS E PLEBEUS: UMA LONGA LUTA DE CLASSES A história da República romana foi dom

pela luta entre patrícios e plebeus e pela lenta ascensão destes últimos, que, cientes de sua iportância militar no processo de expansão de Roma, reivindicavam maiores privilégios e maior participação na vida pública. Os plebeus ricos – comerciantes, fabricantes de

armas e outros fornecedores do exército, que chegavam até a emprestar dinheiro ao Estado para financiar as guerras – ressentiamexclusão do Senado e da classe dos equites. Os pobres não suportavam a condição de inferioridde na qual eram mantidos e empobreciam ainda mais com as guerras frequentes. Os plebeus caponeses eram obrigados a abandonar seus capos; os artesãos urbanos deviam fechar oficinas e lojas. Sem poder sustentar as famílias, pediam dinheiro emprestado; quando não podiam pagar o débito, a lei facultava ao credor prender o devdor, vendê-la como escravo e até matáNa verdade, não existia uma lei escrita, clara e

válida para todos, mas como a justiça era minitrada pelos patrícios (principais credores) a sua interpretação sempre beneficiava esta classe. Já no início do século V a.C. começou a longa dispta entre patrícios – que defendiam seus direitos e privilégios – e plebeus, que lutavam para obter igualdade de direitos. Foi uma feroz luta de clases, durante a qual a plebe conseguiu importantes vitórias.

A ascensão da plebe 494 a.C. – Uma multidão de plebeus armados

retirou-se para o Monte Sagrado (Aventino) e decidiu não voltar ao trabalho ou combater no exército a menos que obtivesse algumas conce

Textos e Documentos

aso de perigo, podiam até nomear um ditador, governante com poderes absolutos.

Curiata perdeu todos os seus po-Centuriata, ficando ape-

nas com o privilégio do imperium. Junto com o Centuriata fazia a nomea-

ção dos magistrados e fiscalizava o seu trabalho: os pretores, que ministravam a justiça; os censo-res, que se encarregavam, a cada cinco anos, do recenseamento da população; os questores, que administravam o tesouro público e recolhiam im-

is, que cuidavam do abastecimento, das construções, do policiamento e dos jogos públicos. A revolta da plebe, em 494 a.C., teve

Assembleia dos Plebeus (Concilium Plebis), que passou a eleger

eram intocáveis e tinham o poder de veto sobre qualquer medida

dos Plebeus transfor-das Tribos (Comitia Tri-

buta), das quais participavam todos os cidadãos, sem distinção de classe ou poder econômico. No

das Tribos elegiam só os tribunos e os edis da plebe. Depois passaram a eleger os questores e, a partir de 287 a. C., vota-

PATRÍCIOS E PLEBEUS: UMA LONGA LUTA DE

A história da República romana foi dominada la luta entre patrícios e plebeus e pela lenta

ascensão destes últimos, que, cientes de sua im-portância militar no processo de expansão de Roma, reivindicavam maiores privilégios e maior

tes, fabricantes de armas e outros fornecedores do exército, que chegavam até a emprestar dinheiro ao Estado

ressentiam-se da sua exclusão do Senado e da classe dos equites. Os pobres não suportavam a condição de inferiorida-

a qual eram mantidos e empobreciam ainda . Os plebeus cam-

poneses eram obrigados a abandonar seus cam-pos; os artesãos urbanos deviam fechar oficinas e lojas. Sem poder sustentar as famílias, pediam

ão podiam pagar o débito, a lei facultava ao credor prender o deve-

la como escravo e até matá-la. Na verdade, não existia uma lei escrita, clara e

válida para todos, mas como a justiça era minis-trada pelos patrícios (principais credores) a sua terpretação sempre beneficiava esta classe. Já

no início do século V a.C. começou a longa dispu-que defendiam seus direitos e

e plebeus, que lutavam para obter igualdade de direitos. Foi uma feroz luta de clas-

a qual a plebe conseguiu importantes

Uma multidão de plebeus armados se para o Monte Sagrado (Aventino) e

decidiu não voltar ao trabalho ou combater no exército a menos que obtivesse algumas conces-

sões dos patrícios. Temendo um levante geral da plebe, o Senado concordou com a criação da sembleia dos Plebeus (Concilium Plebis), que elgeria os edis e os tribunos da plebe (dois no início e dez em meados do século V a.C.). O tribuno podia deter, com a palavratoda a ação do Estado que julgasse prejudicial à plebe. Sua pessoa era intocável e sua casa invilável. As portas estavam abertas dia e noite a qualquer cidadão que ali fosse pedir abrigo (direto de santuário ou de asilo).450 a.C. – Uma comissão de dez homens

decemviri –, liderados por Apio Cláudio, transfomou as velhas leis romanas, baseadas nos costmes, na Lei das Doze Tábuas. O código abrangia direito privado, penal, governamental e religioso e assegurou aos plebeus paridadepatrícios. 445 a.C. – Pela Lei Canuléia foi abolida a proib

ção de casamentos entre patrícios e plebeus.367 a.C. – Os tribunos Licínio e Sextio propus

ram que os juros já pagos fossem deduzidos do principal (quantia emprestada pelo credornenhum homem pudesse deter mais de 500 jugra (cerca de 120 hectares) de terra ou empregar em suas culturas mais escravos do que trabalhdores livres; que um dos cônsules fosse regulamente recrutado na plebe. Durante um ano o Senado resistiu, mas acabou por acatar essas propostas, que se transformaram nas Leis Licnias. Camilo, líder dos conservadores, celebrou a reconciliação das classes no Templo da Concórdia, no Fórum. 356 a.C. – Um plebeu tornou

ano. 351 a.C. – A plebe teve ac

censor. 326 a.C. – Foi abolida a lei que estabelecia o d

reito do credor de escravizar seu devedor. O jugamento tornou-se obrigatório nos casos de dívdas. 300 a.C. – O sacerdócio foi franqueado aos pl

beus. 287 a.C. – Pela Lei Hortênsia,

Assembleia dos Plebeus (que se transformou em 449 a.C. nas Assembleias das Tribos) tornaramobrigatórias para todos os cidadãos romanos. Esse episódio foi o último da longa disputa entre plebeus e patrícios, da qual os plebeus ricos fram os principais beneficiários. Como o acesso aos cargos públicos era muito caro, os plebeus afastavam-se deles automaticamente. S.P.Q.R.: o Senado e o Povo Romano Obtida a paridade, os plebeus ricos aliaram

aos patrícios, inclusive por meio de uniões moniais. Em consequência, surgiu uma nova aritocracia – a nobilitas (nobreza) am os plebeus ricos que tivessem ocupado altas magistraturas, condição que lhes permitia o aceso ao Senado. O acesso à terra – uma das mais importantes

reivindicações dos pobres –dos povos que ocupavam os territórios conquistdos pelas legiões romanas. Por essa razão, ricos e

patrícios. Temendo um levante geral da plebe, o Senado concordou com a criação da As-

dos Plebeus (Concilium Plebis), que ele-geria os edis e os tribunos da plebe (dois no início e dez em meados do século V a.C.). O tribuno podia deter, com a palavra veto (“eu proíbo”), toda a ação do Estado que julgasse prejudicial à plebe. Sua pessoa era intocável e sua casa invio-lável. As portas estavam abertas dia e noite a qualquer cidadão que ali fosse pedir abrigo (direi-to de santuário ou de asilo).

Uma comissão de dez homens – os , liderados por Apio Cláudio, transfor-

mou as velhas leis romanas, baseadas nos costu-mes, na Lei das Doze Tábuas. O código abrangia direito privado, penal, governamental e religioso e assegurou aos plebeus paridade jurídica com os

Pela Lei Canuléia foi abolida a proibi-ção de casamentos entre patrícios e plebeus.

Os tribunos Licínio e Sextio propuse-ram que os juros já pagos fossem deduzidos do principal (quantia emprestada pelo credor) ; que nenhum homem pudesse deter mais de 500 juge-ra (cerca de 120 hectares) de terra ou empregar em suas culturas mais escravos do que trabalha-dores livres; que um dos cônsules fosse regular-mente recrutado na plebe. Durante um ano o

acabou por acatar essas propostas, que se transformaram nas Leis Licí-nias. Camilo, líder dos conservadores, celebrou a reconciliação das classes no Templo da Concórdia,

Um plebeu tornou-se ditador por um

A plebe teve acesso ao cargo de

Foi abolida a lei que estabelecia o di-reito do credor de escravizar seu devedor. O jul-

se obrigatório nos casos de dívi-

O sacerdócio foi franqueado aos ple-

Pela Lei Hortênsia, as decisões da dos Plebeus (que se transformou em

das Tribos) tornaram-se obrigatórias para todos os cidadãos romanos. Esse episódio foi o último da longa disputa entre plebeus e patrícios, da qual os plebeus ricos fo-m os principais beneficiários. Como o acesso

aos cargos públicos era muito caro, os plebeus se deles automaticamente.

S.P.Q.R.: o Senado e o Povo Romano Obtida a paridade, os plebeus ricos aliaram-se

aos patrícios, inclusive por meio de uniões matri-, surgiu uma nova aris-

a nobilitas (nobreza) –, à qual pertenci-am os plebeus ricos que tivessem ocupado altas magistraturas, condição que lhes permitia o aces-

uma das mais importantes – foi satisfeito à custa

dos povos que ocupavam os territórios conquista-dos pelas legiões romanas. Por essa razão, ricos e

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CLIO História – Textos e Documentos pobres irmanavam-se na condição de soldados: o expansionismo beneficiava a todos. Como o Snado determinava a verba destinada às campnhas do exército, a partir do século III a.C., ele se tornou a instituição mais prestigiada da República.S.P.Q.R., a sigla oficial de Roma, queria dizer O

Senado e O Povo Romano, como se o poder emnasse da união do Senado e do conjunto de sembleias de cidadãos. Na realidade, porém, o poder continuava nas mãos de poucos.

ROMA EM GUERRA O legionário romano (miles), um dos grandes

protagonistas da história de Roma, era, de modo geral, um camponês habituado às longas camnhadas e às vicissitudes da vida rural. O equipmento que transportava às costas pesava de 35 a 40 kg. Em condições normais, andava 30 km por

dia, mas, quando necessário, fazia 40 km ou mais, em marcha acelerada. Ao chegar ao destno, trabalhava ainda quatro ou cin

armação do acampamento.

À esquerda, o equipmento do legionário rmano. Entre as armas defensivas contavamo elmo metálico com prtetor para nuca e gargata, muitas vezes ornado com penas ou crina de cavalo; o escudo de mdeira, revestidoe reforçado com ornmentação de metal; urna couraça, colocada sobre uma túnica de couro ou uma malha de ferro, e perneiras (armaduras para as pernas). Entre as armas ofensivas: os pila, dois dardos de madeira com uma das pontas de ferro; o gládio

dois gumes); a espada curta (50 cm em média) e o punhal. A bagagem de cada legionário comprendia: víveres e água; colher-gamela e panela para cozinhar seu alimento básico e peles de anmais para montar sua tenda; foice para cortar a vegetação; uma pá ou picareta para cavar o fosso e cercar o acampamento com uma proteção de terra.

A LONGA MARCHA A expansão romana começou efetiva

a República (509 a.C.) e estendeu-anos seguintes. A expulsão de Tarquínio Sexto, rei etrusco d

Roma, enfraqueceu a cidade e despertou contra ela a hostilidade de outros povos do Lácio. A vunerabilidade da República recém-formada e suas necessidades agrícolas foram as principais justifcativas para as campanhas contra os vizinhos: os latinos, submetidos a Roma desde o século VIII

Textos e Documentos

se na condição de soldados: o expansionismo beneficiava a todos. Como o Se-

a verba destinada às campa-nhas do exército, a partir do século III a.C., ele se tornou a instituição mais prestigiada da República. S.P.Q.R., a sigla oficial de Roma, queria dizer O

Senado e O Povo Romano, como se o poder ema-onjunto de as-

de cidadãos. Na realidade, porém, o poder continuava nas mãos de poucos.

O legionário romano (miles), um dos grandes protagonistas da história de Roma, era, de modo geral, um camponês habituado às longas cami-

às vicissitudes da vida rural. O equipa-mento que transportava às costas pesava de 35 a 40 kg. Em condições normais, andava 30 km por

dia, mas, quando necessário, fazia 40 km ou Ao chegar ao desti-

no, trabalhava ainda quatro ou cinco horas na armação do acampamento.

À esquerda, o equipa-mento do legionário ro-

no. Entre as armas defensivas contavam-se: o elmo metálico com pro-tetor para nuca e gargan-ta, muitas vezes ornado com penas ou crina de cavalo; o escudo de ma-deira, revestido de couro e reforçado com orna-mentação de metal; urna couraça, colocada sobre uma túnica de couro ou uma malha de ferro, e perneiras (armaduras para as pernas). Entre as armas ofensivas: os pila, dois dardos de madeira com uma das pontas de ferro; o gládio (espada de

dois gumes); a espada curta (50 cm em média) e o punhal. A bagagem de cada legionário compre-

gamela e panela para cozinhar seu alimento básico e peles de ani-mais para montar sua tenda; foice para cortar a

uma pá ou picareta para cavar o fosso e cercar o acampamento com uma proteção de

expansão romana começou efetivamente com -se pelos 350

A expulsão de Tarquínio Sexto, rei etrusco de Roma, enfraqueceu a cidade e despertou contra ela a hostilidade de outros povos do Lácio. A vul-

formada e suas necessidades agrícolas foram as principais justifi-cativas para as campanhas contra os vizinhos: os

etidos a Roma desde o século VIII

a.C. e desejosos de recuperar a independência; os volscos, ao sul, e os equos, a leste.Entre 499 e 496 a.C. Roma enfrentou os latinos.

A vitória sobre os volscos, em 488 a.C., e sobre os equos, em 457 a.C., fechou o ciclota do Lácio. Restava a Etrúria, antiga senhora de Roma. Esse ciclo de campanhas terminou em 396 a.C., com a conquista da cidade de Veios, último grande obstáculo à supremacia de Roma na Tocana.

A conquista da Itália No início do século IV a.C.

ram com um inimigo poderoso: os gauleses celtas da Gália que invadiram a península Itálica e, em 390 a.C., ocuparam Roma. Três anos dpois, os gauleses retirarammento de pesado resgate, fixandoPó. Entre a segunda metade do século IV a.C. e o

início do século III a.C., Roma passou a ser amaçada pelas poderosas tribos samnitas, que habtavam o centro-sul da Itália. A batalha final ocoreu em 295 a.C., perto de Sentino, nas Marcas. A vitória assegurou a Roma a posse da fértil planície da Campânia e das regiões da Úmbria, Abruzos e Marcas. A etapa seguinte foi a anexação do sul da Itália,

pontilhado, na época, por cidadesEm 282 a.C., os romanos entraram em guerra contra Tarento, a mais poderOs tarentinos pediram auxílio a Pirro, rei do Epiro (noroeste da Grécia), que venceu os romanos em Heradea (280 a.C.) e Asculum (279 a.C.), mas foi derrotado em Benevento (275 a.C.). Com a tmada de Tarento, Roma estendeu seus domínioa toda a península itálica, com exceção do vale do Pó.

Os caminhos da vitória A boa organização e armamentos eficientes g

rantiram as sucessivas vitórias das legiões. A manutenção dos territórios conquistados e a rapdez com que o exército se movia devesobretudo, à construção de estradas que ligavam as províncias a Roma. A expressão “todos os cminhos levam a Roma” era verdadeira; nasceu, provavelmente, quando os romanos descobriram que suas legiões, máquinas de guerra e tropas de reforço deslocavam-se com uma rapidez três vzes maior que a dos inimigos, por estradas pavmentadas, construídas pelos próprios soldados.Além dos objetivos militares, as antigas estr

das consulares (assim chamadas porque recebiam o nome do cônsul encarregado de coordentrabalhos da sua construção) foram as vias de difusão da civilização romana. Até hoje represetam a espinha dorsal do sistema viário italiano e, em menor escala, de outros países europeus, antigas colônias romanas. De 264 a 146 a.C., os romanos lutaram contra os cartagineses pelo cotrole do tráfego e do comércio no mar Mediterrneo. O longo conflito denominado Guerras Púnicas (púnica vem de poeni, designação latina para os fenícios) terminou com a vitória total de Roma,

a.C. e desejosos de recuperar a independência; os volscos, ao sul, e os equos, a leste. Entre 499 e 496 a.C. Roma enfrentou os latinos.

A vitória sobre os volscos, em 488 a.C., e sobre os equos, em 457 a.C., fechou o ciclo da conquis-ta do Lácio. Restava a Etrúria, antiga senhora de Roma. Esse ciclo de campanhas terminou em 396 a.C., com a conquista da cidade de Veios, último grande obstáculo à supremacia de Roma na Tos-

No início do século IV a.C., os romanos depara-ram com um inimigo poderoso: os gauleses – celtas da Gália que invadiram a península Itálica e, em 390 a.C., ocuparam Roma. Três anos de-pois, os gauleses retiraram-se mediante o paga-mento de pesado resgate, fixando-se no vale do

e a segunda metade do século IV a.C. e o início do século III a.C., Roma passou a ser ame-açada pelas poderosas tribos samnitas, que habi-

sul da Itália. A batalha final ocor-reu em 295 a.C., perto de Sentino, nas Marcas. A

oma a posse da fértil planície da Campânia e das regiões da Úmbria, Abruzos e

A etapa seguinte foi a anexação do sul da Itália, pontilhado, na época, por cidades-Estado gregas. Em 282 a.C., os romanos entraram em guerra contra Tarento, a mais poderosa cidade da região. Os tarentinos pediram auxílio a Pirro, rei do Epiro (noroeste da Grécia), que venceu os romanos em Heradea (280 a.C.) e Asculum (279 a.C.), mas foi derrotado em Benevento (275 a.C.). Com a to-mada de Tarento, Roma estendeu seus domínios a toda a península itálica, com exceção do vale do

A boa organização e armamentos eficientes ga-

rantiram as sucessivas vitórias das legiões. A manutenção dos territórios conquistados e a rapi-dez com que o exército se movia deveram-se, sobretudo, à construção de estradas que ligavam as províncias a Roma. A expressão “todos os ca-minhos levam a Roma” era verdadeira; nasceu, provavelmente, quando os romanos descobriram que suas legiões, máquinas de guerra e tropas de

se com uma rapidez três ve-zes maior que a dos inimigos, por estradas pavi-mentadas, construídas pelos próprios soldados. Além dos objetivos militares, as antigas estra-

das consulares (assim chamadas porque recebiam o nome do cônsul encarregado de coordenar os trabalhos da sua construção) foram as vias de difusão da civilização romana. Até hoje represen-tam a espinha dorsal do sistema viário italiano e, em menor escala, de outros países europeus, antigas colônias romanas. De 264 a 146 a.C., os

am contra os cartagineses pelo con-trole do tráfego e do comércio no mar Mediterrâ-neo. O longo conflito denominado Guerras Púnicas (púnica vem de poeni, designação latina para os fenícios) terminou com a vitória total de Roma,

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CLIO História – Textos e Documentos assegurando-lhe a hegemonia na região do Medterrâneo e facilitando a conquista da maior parte da Europa.

ROMA E CARTAGO: UM CONFRONTO DECISVO A tradição clássica atribui a Dido, filha de um rei

de Tiro, a fundação da colônia fenícia de Cartago, por volta do século IX a.C. Situada nada África, a colônia recebeu o nome de Karthadashi (cidade nova). Os gregos transformaram esse nome em Karchedon, e os romanos, em Catago. Enquanto Tiro, Sidon e outras importantes cid

des fenícias localizadas na costa do atual Líbano entravam em decadência, Cartago crescia em poder e esplendor, baseando sua prosperidade no comércio. No século VI a.C. quase toda a costa africana, da Cirenaica a Gibraltar, e a península Ibérica, rica em ouro, prata, ferro e cobre, estvam sob o domínio dos cartagineses. Estes tabém haviam se apoderado das ilhas Baleares, da Sardenha, da Córsega, de metade da costa oeste da Sicília e de Malta, ilha do Mediterrâneo central. Cartago impunha aos territórios conquistados o pagamento de grandes tributos anuais, obrios vencidos a se alistarem no seu exército e cotrolava-lhes rigorosamente o comércio exterior. Em troca, oferecia proteção militar, garantia a independência do governo local e a estabilidade econômica. O Comércio e a exploração desse ipério tornaram Cartago, no século III a.C., o mais rico e poderoso Estado mediterrâneo.As relações entre Roma e Cartago iniciaram

em 510 a.C., com um tratado pelo qual Roma reconhecia a Cartago o direito de comerciar e piratear em todo o Mediterrâneo ocidental, desdque não invadisse o mar Tirreno ou atacasse qualquer das cidades latinas aliadas aos romanos. Esse tratado foi renovado em 348 a.C., mas, no século seguinte, Roma, senhora da península Itálica, começou a ambicionar a Sicília, que era grande produtora de trigo e ponto estratégico para o controle do tráfego comercial e militar no mar Mediterrâneo.

A guerra no mar Na Primeira Guerra Púnica, Roma era uma p

tência terrestre desafiando Cartago, uma potência marítima. A guerra só poderia ser ganha se Catago fosse derrotada em seu próprio elemento.Nos combates navais da época, as embarc

ções, movidas com a maior velocidade possível por meio de remadores, eram lançadas contra os flancos dos navios adversários. Como a ponta da quilha era equipada com um esporão resultado era um buraco na lateral do navio inmigo, abaixo da linha-d’água, o que causava o seu afundamento. Os cartagineses pareciam ibatíveis no mar. Seus remadores eram mais rápdos e os marinheiros podiam frear embarcação, mudar a sua direção de modo a dfendê-la do esporão inimigo e efetuar outras mnobras.

Textos e Documentos

região do Medi-terrâneo e facilitando a conquista da maior parte

ROMA E CARTAGO: UM CONFRONTO DECISI-

A tradição clássica atribui a Dido, filha de um rei de Tiro, a fundação da colônia fenícia de Cartago, por volta do século IX a.C. Situada na costa norte da África, a colônia recebeu o nome de Kart-hadashi (cidade nova). Os gregos transformaram esse nome em Karchedon, e os romanos, em Car-

Enquanto Tiro, Sidon e outras importantes cida-des fenícias localizadas na costa do atual Líbano

am em decadência, Cartago crescia em poder e esplendor, baseando sua prosperidade no comércio. No século VI a.C. quase toda a costa africana, da Cirenaica a Gibraltar, e a península Ibérica, rica em ouro, prata, ferro e cobre, esta-

tagineses. Estes tam-bém haviam se apoderado das ilhas Baleares, da Sardenha, da Córsega, de metade da costa oeste da Sicília e de Malta, ilha do Mediterrâneo central. Cartago impunha aos territórios conquistados o pagamento de grandes tributos anuais, obrigava os vencidos a se alistarem no seu exército e con-

lhes rigorosamente o comércio exterior. Em troca, oferecia proteção militar, garantia a independência do governo local e a estabilidade econômica. O Comércio e a exploração desse im-

Cartago, no século III a.C., o mais rico e poderoso Estado mediterrâneo. As relações entre Roma e Cartago iniciaram-se

em 510 a.C., com um tratado pelo qual Roma reconhecia a Cartago o direito de comerciar e piratear em todo o Mediterrâneo ocidental, desde que não invadisse o mar Tirreno ou atacasse qualquer das cidades latinas aliadas aos romanos. Esse tratado foi renovado em 348 a.C., mas, no século seguinte, Roma, senhora da península Itálica, começou a ambicionar a Sicília, que era

trigo e ponto estratégico para o controle do tráfego comercial e militar no

Na Primeira Guerra Púnica, Roma era uma po-tência terrestre desafiando Cartago, uma potência marítima. A guerra só poderia ser ganha se Car-

sse derrotada em seu próprio elemento. Nos combates navais da época, as embarca-

ções, movidas com a maior velocidade possível por meio de remadores, eram lançadas contra os flancos dos navios adversários. Como a ponta da quilha era equipada com um esporão metálico, o resultado era um buraco na lateral do navio ini-

d’água, o que causava o seu afundamento. Os cartagineses pareciam im-batíveis no mar. Seus remadores eram mais rápi-dos e os marinheiros podiam frear bruscamente a

mudar a sua direção de modo a de-la do esporão inimigo e efetuar outras ma-

Em 241 a.C.:., Roma construiu, em sessenta dias, uma esquadra de duzentos Baseados no modelo cartaginês, mediam 40 m de comprimento e abrigavam uma tripulazentos homens armados. Tinham, porém, uma inovação: o “corvo”, espécie de ponte levadiça que caía sobre a nave inimiga, transformandonuma passarela. Os soldados podiam, assim, pasar ao navio adversário e fazer do combate naval um combate semelhante ao terrestre, no qual eram peritos. Criado pelo cônsul Caio Dílio, o “corvo” assegurou aos romanos a vitória em Mlazzo.

PRIMEIRA GUERRA PÚNICA(264-241 a. C.) 264 a.C. – Os romanos tomam, na Sicília, as c

dades gregas aliadas de Cartago. Hierão decusa alia-se a Roma e conquista a Sicília ocidental até Agrigento (261 a.C.). 260 a.C. – A frota romana derrota os cartagin

ses, chefiados por Aníbal, ao largo de Milazzo.256 a.C. – Os romanos desembarcam na África,

sob o comando de Atílio Régulo. Noderrotados pelas tropas cartaginesas chefiadas por Xantipo, mercenário espartano (255 a.C.).250 a.C. – Roma conquista Panormo (Palerma)

e renova aliança com Hierão.249 a.C. – Alternância de vitórias e derrotas p

ra ambos os 'lados. 241 a.C. – Roma derrota os cartagineses numa

batalha naval realizada junto às Egades, pequnas ilhas situadas a oeste da Sicília. A paz é assnada. Cartago renuncia à Sicília, que se torna então a primeira província romana.

Acontecimentos posteriores229-222 a.C. – Roma ocupa a Iliria (atual I

goslávia). Na Itália, derrota os gauleses em Clatidium (Casteggio, Pavia) e ocupa uma de suas capitais: Mediolanum (Milão). Os romanos fudam, ao norte da Itália, as colônias de Piacenza, Modena e Bolonha.

UM EXÉRCITO INVENCÍVELNa primeira fase da Segunda Guerra Púnica o

exército romano sofreu severas derrotas. A partir da batalha de Canas, porém, estabeleceramnovas regras de tática e disciplina que o tornaram quase invencível. Curiosamente, muitas das tátcas foram aprendidas dos próprios cartagineses e depois desenvolvidas, com sucesso, por oficiais romanos. Só em Esparta a disciplina militar foi tão rigor

sa quanto no exército romano. Este era, de início, um exército de camponeses am dos 17 aos 45 anos. Dos 45 aos 60 passavam à reserva, mas, frequentementepara guerrear ou formar um corpo de defesa da própria cidade. A importância do serviço militar era tanta que nenhum cidadão podia se candidtar a um cargo público sem ter sido soldrante pelo menos dez anos.

De legionário a colono

:., Roma construiu, em sessenta as, uma esquadra de duzentos quinquerremes.

Baseados no modelo cartaginês, mediam 40 m de comprimento e abrigavam uma tripulação de du-zentos homens armados. Tinham, porém, uma inovação: o “corvo”, espécie de ponte levadiça que caía sobre a nave inimiga, transformando-se numa passarela. Os soldados podiam, assim, pas-sar ao navio adversário e fazer do combate naval

lhante ao terrestre, no qual eram peritos. Criado pelo cônsul Caio Dílio, o “corvo” assegurou aos romanos a vitória em Me-

PRIMEIRA GUERRA PÚNICA

Os romanos tomam, na Sicília, as ci-dades gregas aliadas de Cartago. Hierão de Sira-

se a Roma e conquista a Sicília ocidental

A frota romana derrota os cartagine-ses, chefiados por Aníbal, ao largo de Milazzo.

Os romanos desembarcam na África, sob o comando de Atílio Régulo. No entanto, são derrotados pelas tropas cartaginesas chefiadas por Xantipo, mercenário espartano (255 a.C.).

Roma conquista Panormo (Palerma) e renova aliança com Hierão.

Alternância de vitórias e derrotas pa-

Roma derrota os cartagineses numa batalha naval realizada junto às Egades, peque-nas ilhas situadas a oeste da Sicília. A paz é assi-nada. Cartago renuncia à Sicília, que se torna então a primeira província romana.

Acontecimentos posteriores Roma ocupa a Iliria (atual Iu-

goslávia). Na Itália, derrota os gauleses em Clas-tidium (Casteggio, Pavia) e ocupa uma de suas capitais: Mediolanum (Milão). Os romanos fun-dam, ao norte da Itália, as colônias de Piacenza,

NCÍVEL Na primeira fase da Segunda Guerra Púnica o

exército romano sofreu severas derrotas. A partir da batalha de Canas, porém, estabeleceram-se novas regras de tática e disciplina que o tornaram quase invencível. Curiosamente, muitas das táti-

rendidas dos próprios cartagineses e depois desenvolvidas, com sucesso, por oficiais

Só em Esparta a disciplina militar foi tão rigoro-sa quanto no exército romano. Este era, de início, um exército de camponeses – cidadãos que servi-

anos. Dos 45 aos 60 passavam frequentemente, eram chamados

para guerrear ou formar um corpo de defesa da própria cidade. A importância do serviço militar era tanta que nenhum cidadão podia se candida-tar a um cargo público sem ter sido soldado du-rante pelo menos dez anos.

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CLIO História – Textos e Documentos Com a transformação da república agrícola do

Lácio em república mercantil e imperialista, comçou a desaparecer a figura do agricultorque depunha a espada e voltava a empunhar o arado em seus campos. As legiões acolheram milhares de camponeses empobrecidos, sem teras, que muitas vezes recebiam, como recompesa, uma gleba do.Estado (ager publicus) para cultivar nas regiões conquistadas. prestava dinheiro para construir uma casprar móveis, animais e instrumentos de trO miles transformava-se em colono, e mupaíses europeus “romanizados” devem a esses colonos a sua unidade cultural e civil, que foi um legado de Roma.

A legião romana Na época das Guerras Púnicas, a unidade co

batente básica – a legião – tinha 4 200 soldados. Esse número foi depois elevado para 5 000soldados (infantes), ao lado de um mínimo de novecentos cavaleiros. Para facilitar as manobras em campo, a legião

era subdividida em coortes (em geral, dez) e cada coorte, por sua vez, subdividia-se em mampulos. O manípulo era dividido em unidades mais ágeis: as centúrias (a princípio, cem homens e, depois, entre oitenta e 150). Os centuriões, oficiais que combatiam na e

trema direita da primeira fila, lideravam a centria. Eram também, em tempo de paz, os treinadres dos jovens romanos, que se adestravam no Campo de Marte, fora dos muros da cidade.Na extremidade aposta da primeira fila, outro

oficial, o tesserarius, transmitia ordens a seus homens ou, eventualmente, ao centurião da cetúria ao lado. O último lugar à esquerda da última fila era

cupado por outro oficial, que comunicava as odens provenientes das filas anteriores ou substitía os feridos. No centro do esquadrão, o aquilifer ou signi

(portador da, águia ou do estandarte da legião) e o arauto, com a tradicional trompa, coordenavam a ação das diversas centúrias, manípulos e cootes, por meio dos movimentos do estandarte ou dos sons da trompa. A ação das legiões era dirigida pelos tri

oficiais superiores, e, sobretudo, pelo cônsul, mgistrado eleito a quem cabia o comando supremo e a responsabilidade total da batalha.

SEGUNDA GUERRA PÚNICA Antecedentes 237-231 a.C. – Pelo tratado de paz de 241 a.C.,

os cartagineses ficam obrigados a pagar por dez anos um tributo anual da ordem de 3 200 taletos. Amílcar Barca conquista territórios na Espnha (237 a.C.), e as minas de Serra Morena pemitem o pagamento dos tributos devidos a Roma. Em 231 a.C. é assinado o Tratado de Ebro, pelo qual os romanos reconhecem o domínio cartagnês ao sul desse rio espanhol.

Textos e Documentos

Com a transformação da república agrícola do Lácio em república mercantil e imperialista, come-çou a desaparecer a figura do agricultor-soldado, que depunha a espada e voltava a empunhar o

As legiões acolheram milhares de camponeses empobrecidos, sem ter-ras, que muitas vezes recebiam, como recompen-sa, uma gleba do.Estado (ager publicus) para

O Estado em-prestava dinheiro para construir uma casa, com-prar móveis, animais e instrumentos de trabalho.

se em colono, e muitos países europeus “romanizados” devem a esses colonos a sua unidade cultural e civil, que foi um

a unidade com-tinha 4 200 soldados.

Esse número foi depois elevado para 5 000-6 000 soldados (infantes), ao lado de um mínimo de

Para facilitar as manobras em campo, a legião geral, dez) e cada se em mampulos.

O manípulo era dividido em unidades mais ágeis: as centúrias (a princípio, cem homens e, depois,

Os centuriões, oficiais que combatiam na ex-fila, lideravam a centú-

ria. Eram também, em tempo de paz, os treinado-res dos jovens romanos, que se adestravam no Campo de Marte, fora dos muros da cidade. Na extremidade aposta da primeira fila, outro

oficial, o tesserarius, transmitia ordens a seus s ou, eventualmente, ao centurião da cen-

O último lugar à esquerda da última fila era o-cupado por outro oficial, que comunicava as or-dens provenientes das filas anteriores ou substitu-

No centro do esquadrão, o aquilifer ou signifer (portador da, águia ou do estandarte da legião) e o arauto, com a tradicional trompa, coordenavam a ação das diversas centúrias, manípulos e coor-tes, por meio dos movimentos do estandarte ou

A ação das legiões era dirigida pelos tribunos, oficiais superiores, e, sobretudo, pelo cônsul, ma-gistrado eleito a quem cabia o comando supremo e a responsabilidade total da batalha.

Pelo tratado de paz de 241 a.C., dos a pagar por dez

anos um tributo anual da ordem de 3 200 talen-tos. Amílcar Barca conquista territórios na Espa-nha (237 a.C.), e as minas de Serra Morena per-mitem o pagamento dos tributos devidos a Roma. Em 231 a.C. é assinado o Tratado de Ebro, pelo

l os romanos reconhecem o domínio cartagi-

228-221 a.C. – Morte de Amílcar. Aníbal é o comandante supremo na Espanha.219 a.C. – Aníbal conquista Sagunto, colônia

grega do litoral sul da Espanha, aliada de Roma, o que equivale a uma declaração de guerra.

A Guerra (218-201 a.C.) 218 a.C. – A fim de surpreender os romanos,

que se preparavam para combater na África, Anbal entra na Itália, pelos Alpes, com 50 000 sodados, 9 000 cavaleiros e 37 elefantes. bia, os gauleses do vale do Pó algineses. 217 a.C. – Comandados por Caio Flnio, os romanos são derrotados pelos cartagses junto ao lago de Trasimeno. Sob o comade Cornélio Cipião, o Africano, retomam Sna Espanha. 216 a.C. – Esmagados pelos caneses em Canas, os romanos perdem 50 000 de seus 80 000 soldados, entre eles o cônsul Paulo Emilio. 215 a.C. – Morte de Hierão de Siracusa. Seu

sucessor alia-se a Cartago.212 a.C. – Tomada de Tarento por Aníbal Barca.

Na Sicília, a frota romana, comaAntônio Marcelo, toma Siracusa. Em Capua os romanos são derrotados por Aníbal.211 a.C. – Cipião conquista Cartagena. 208 a.C.

– Asdrúbal Barca é vencido em Bácula por Cipião.207 a.C. – Os romanos vencem os cartagineses

numa importante batalha perto do rio Metauro (norte da Itália), durante a qual morre Asdrúbal Barca. 204 a.C. – Cipião desembarca na África e rec

be apoio de Masinissa, rei da Numidia. Cartago chama Aníbal de volta à África para combater os romanos. 202 a.C. – Aníbal é derro

talha que põe fim à Segunda Guerra Púnica.

Acontecimentos posteriores200-188 a.C. – Combatendo antigos inimigos,

aliados de Cartago, as legiões romanas expandem seus domínios pela Itália do norte (190 a.C.), península Ibérica, Grécia e Em 196 a.C. Aníbal, eleito magistrado supremo de Cartago, propõe que o mandato dos juízes seja fixado em um ano, adota medidas para impedir as venalidades e liberta os cidadãos de taxas extras. Os oligarcas denunciam-no a Roma, sob ação de planejar o reinício das hostilidades. 195 a.C. Aníbal foge para Antioquia, depois para Creta e por fim para a Bitmia, onde se mata (183 a.C.). Em 188 a.C., ao derrotar Antíoco III da Síria, que governava também a Ásia Menor, Roma domina o Mediterrâneo oriental.

"DELENDA CARTHAGO” Apesar dos duros termos de paz impostos a

Cartago ao final da Segunda Guerra Púnica, diaramente, no Senado romano, Catão erguia sua voz; sempre terminava seus discursos com a epressão Delenda Carthago (“Cartago destruída”). Era necessária, a qualquer preço, uma Terceira Guerra Púnica.

Morte de Amílcar. Aníbal é o comandante supremo na Espanha.

Aníbal conquista Sagunto, colônia grega do litoral sul da Espanha, aliada de Roma, o

a uma declaração de guerra.

A fim de surpreender os romanos, que se preparavam para combater na África, Aní-bal entra na Itália, pelos Alpes, com 50 000 sol-dados, 9 000 cavaleiros e 37 elefantes. Em Tré-

vale do Pó aliam-se aos carta-Comandados por Caio Flami-

nio, os romanos são derrotados pelos cartagine-ses junto ao lago de Trasimeno. Sob o comando de Cornélio Cipião, o Africano, retomam Sagunto

Esmagados pelos cartagi-neses em Canas, os romanos perdem 50 000 de seus 80 000 soldados, entre eles o cônsul Paulo

Morte de Hierão de Siracusa. Seu se a Cartago. Tomada de Tarento por Aníbal Barca.

Na Sicília, a frota romana, comandada por Marco Antônio Marcelo, toma Siracusa. Em Capua os romanos são derrotados por Aníbal.

Cipião conquista Cartagena. 208 a.C. Asdrúbal Barca é vencido em Bácula por Cipião.

Os romanos vencem os cartagineses alha perto do rio Metauro

(norte da Itália), durante a qual morre Asdrúbal

Cipião desembarca na África e rece-be apoio de Masinissa, rei da Numidia. Cartago chama Aníbal de volta à África para combater os

Aníbal é derrotado em Zama, na ba-talha que põe fim à Segunda Guerra Púnica.

Acontecimentos posteriores Combatendo antigos inimigos,

aliados de Cartago, as legiões romanas expandem seus domínios pela Itália do norte (190 a.C.),

Macedônia (197 a.C.) Em 196 a.C. Aníbal, eleito magistrado supremo de Cartago, propõe que o mandato dos juízes seja fixado em um ano, adota medidas para impedir as venalidades e liberta os cidadãos de taxas extras.

no a Roma, sob a acusa-ção de planejar o reinício das hostilidades. Em

foge para Antioquia, depois para Creta e por fim para a Bitmia, onde se mata (183 a.C.). Em 188 a.C., ao derrotar Antíoco III da Síria, que governava também a Ásia Menor, Roma

Mediterrâneo oriental.

Apesar dos duros termos de paz impostos a

Cartago ao final da Segunda Guerra Púnica, diari-amente, no Senado romano, Catão erguia sua voz; sempre terminava seus discursos com a ex-pressão Delenda Carthago (“Cartago deve ser destruída”). Era necessária, a qualquer preço, uma Terceira Guerra Púnica.

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CLIO História – Textos e Documentos O pretexto surgiu em 149 a.C., e por três anos

Cartago suportou o sítio por terra e por mar. Mas, em 147 a.C., o Senado e as Assembleiasram cônsul Cornélio Cipião Emiliano ria à história como “o Africano Menor” no ano seguinte, logrou escalar as muralhas e penetrar na cidade, seguido por suas legiões.Embora enfraquecidos e dizimados pela fome,

os cartagineses lutaram palmo a palmo por seis dias. Hostilizado pelos guerrilheiros ocultos nas casas, Cipião ordenou que as residências fossem queimadas. Por fim, reduzida de 500 000 a 50 000, a população se rendeu. Os sobreviventes foram vendidos como escravos e o que restava, saqueado. Relutando em arrasá-la, Cipião pediu instruções

ao Senado. A resposta não se fez esperar: não apenas Cartago, mas também seus arredores deviam ser destruídos, e o solo arado e salgado para que nada mais pudesse ali vicejar; e maldito fosse o homem que tentasse construisítio. Durante dezessete dias Cartago esteve em chamas. Depois, desapareceu.

TERCEIRA GUERRA PÚNICA (149Antecedentes A paz, assinada em 201 a.C., impõe a Cartago

desarmamento naval e terrestre, pesadas indenzações, renúncia a todas as possessões e perda de política independente. Além disso, Roma incita alguns de seus aliados africanos a guerrilhas cotra Cartago e espera um pretexto para a completa destruição de sua rival. Este surge em 151 a.C., quando Masinissa, rei

da Numidia, aliada de Roma, pretende apoderarse das costas da atual Tripolitânia, pertencentes a Cartago. Os cartagineses declaram guerra à Nmidia (151-150 a. C.). 149 a.C. – O Senado romano alega que Cartago

violara o tratado de paz e declara-lhe guerra. Os cartagineses concordam em entregar todas as suas armas aos romanos, mas, quando estes odenam que eles se retirem da cidade, resolvem oferecer-lhes resistência. 146 a.C. – Cartago é destruída. Seu território

torna-se então a província romana da África. Transformada em província romana, a região foi

dividida em latifúndios e distribuída entre os rmanos como parte da ager publicus (domínios do Estado), ao mesmo tempo em que entravam na herança do outrora próspero comécio cartaginês. Apesar das maldições, ema.C., o Senado romano ordenou que se fundasse uma colônia no sítio de Cartago. A tentativa não deu resultado. Mais tarde, porém, Júlio César enviou para lá numerosos colonos romanos sem terra e, em 29 a.C., Augusto centralizou a admnistração romana da África naquele sítio. Nessa época;a, a colônia, conhecida como Julia Carthgo, prosperou a ponto de rivalizar com a cidade egípcia de Alexandria.

A RESISTÊNCIA LUSITANA

Textos e Documentos

O pretexto surgiu em 149 a.C., e por três anos Cartago suportou o sítio por terra e por mar. Mas,

Assembleias nomea-liano – que passa-

ria à história como “o Africano Menor” –, o qual, no ano seguinte, logrou escalar as muralhas e penetrar na cidade, seguido por suas legiões. Embora enfraquecidos e dizimados pela fome,

os cartagineses lutaram palmo a palmo por seis Hostilizado pelos guerrilheiros ocultos nas

casas, Cipião ordenou que as residências fossem queimadas. Por fim, reduzida de 500 000 a 50 000, a população se rendeu. Os sobreviventes foram vendidos como escravos e o que restava,

la, Cipião pediu instruções ao Senado. A resposta não se fez esperar: não apenas Cartago, mas também seus arredores deviam ser destruídos, e o solo arado e salgado para que nada mais pudesse ali vicejar; e maldito fosse o homem que tentasse construir naquele sítio. Durante dezessete dias Cartago esteve em

TERCEIRA GUERRA PÚNICA (149-146 a.C.)

A paz, assinada em 201 a.C., impõe a Cartago desarmamento naval e terrestre, pesadas indeni-

s possessões e perda de política independente. Além disso, Roma incita alguns de seus aliados africanos a guerrilhas con-tra Cartago e espera um pretexto para a completa

Este surge em 151 a.C., quando Masinissa, rei da de Roma, pretende apoderar-

se das costas da atual Tripolitânia, pertencentes a Cartago. Os cartagineses declaram guerra à Nu-

O Senado romano alega que Cartago lhe guerra. Os

s concordam em entregar todas as suas armas aos romanos, mas, quando estes or-denam que eles se retirem da cidade, resolvem

Cartago é destruída. Seu território se então a província romana da África.

em província romana, a região foi dividida em latifúndios e distribuída entre os ro-manos como parte da ager publicus (domínios do

os moradores travam na herança do outrora próspero comér-

cio cartaginês. Apesar das maldições, em 122 a.C., o Senado romano ordenou que se fundasse uma colônia no sítio de Cartago. A tentativa não deu resultado. Mais tarde, porém, Júlio César enviou para lá numerosos colonos romanos sem terra e, em 29 a.C., Augusto centralizou a admi-

a África naquele sítio. Nessa época;a, a colônia, conhecida como Julia Cartha-

rou a ponto de rivalizar com a cidade

Depois da expulsão dos cartagineses, os romnos tornaram-se senhores da península Esta foi dividida em duas províncias ulterior (sul) e citerior (norte) gar tributos em produtos agrícolas e minérios.As rebeliões contra os romanos tiveram início

em 199 a.C. Em 179 a.C. Tibério Semprônio Grco conseguiu pacificar a região. Mas, a partir de 154 a.C., os lusitanos, um povo que vivia a noreste da península (em território que atualmente esta dividido entre Portugal e Espanha), fizeram várias incursões contra cidades aliadas de Roma. Graças à habilidade do seu chefe, Viriato, que desenvolveu uma eficiente tática de guerrilha, resistiram ate 139 a. C., quando Viriato foi assasinado por três colaboradores subornados pelos romanos. A resistência lusitana, entretanto, encorajou os

celtiberos à rebelião contra Rdestruição de Numância (133 a. C.) marcou a pacificação da península.

OS DOMÍNIOS DE ROMAAs regiões submetidas a Roma recebiam trat

mento diferenciado conforme as circunstâncias. Algumas eram escolhidas em termos de aliança ou de Estados federados, devendo pagar um trbuto e manter uma guarnição romana “para prteção”, mas com a vantagem de poderem consevar suas leis e seu sistema de governo. Outras obtinham mais vantagens: seus habitantes podam tornar-se eives romani, ou seja, ganhavadireito à cidadania romana. Em outros casos, os territórios conquistados eram mantidos sob a administração direta de Roma, com governadores locais. Eram as províncias. As primeiras foram: a Sicília, a Sardenha-Córsega, a Espanha, a África cartaginesa e a Grécia.

O preço do “mare nostrum”As Guerras Púnicas foram o mais caro empr

endimento bélico da Antiguidade. Arruinaram centenas de cidades e mataram centenas de mlhares de pessoas: somente a Segunda Guerra Púnica vitimou 300 000 homens. Mas esse eventorepresentou também um divisor de águas na hitória romana. Os minérios ibéricos deram novo impulso à e

pansão imperialista. O saque às províncias, as indenizações pagas pelos cartagineses e, depois, pela Macedônia e Síria, os escravos que de toda parte afluíam a Roma, os metais preciosos das regiões conquistadas e outros golpes favoráveis transformaram os ricos de Roma em opulentos magnatas. As Guerras Púnicas mudaram a face do Medite

râneo, tornando-o um lago romano trum, como o chamavam os rodade mudou a fisionomia da sociedade romana. A possibilidade de importar toda sorte de produtos, a baixo custo, das províncias provocou a decdência da agricultura e indústria romanas. Em contrapartida, o comércio e os bancos florescram. Roma tornava dinheiro do mundo para, com ele, adquirir os produtos do mundo. Como resu

Depois da expulsão dos cartagineses, os roma-se senhores da península Ibérica.

Esta foi dividida em duas províncias – Espanha ulterior (sul) e citerior (norte) –, obrigadas a pa-gar tributos em produtos agrícolas e minérios. As rebeliões contra os romanos tiveram início

em 199 a.C. Em 179 a.C. Tibério Semprônio Gra-u pacificar a região. Mas, a partir de

154 a.C., os lusitanos, um povo que vivia a noro-este da península (em território que atualmente esta dividido entre Portugal e Espanha), fizeram várias incursões contra cidades aliadas de Roma.

seu chefe, Viriato, que desenvolveu uma eficiente tática de guerrilha, resistiram ate 139 a. C., quando Viriato foi assas-sinado por três colaboradores subornados pelos

A resistência lusitana, entretanto, encorajou os celtiberos à rebelião contra Roma (143 a.C.). A destruição de Numância (133 a. C.) marcou a

OS DOMÍNIOS DE ROMA As regiões submetidas a Roma recebiam trata-

mento diferenciado conforme as circunstâncias. Algumas eram escolhidas em termos de aliança

s federados, devendo pagar um tri-buto e manter uma guarnição romana “para pro-teção”, mas com a vantagem de poderem conser-var suas leis e seu sistema de governo. Outras obtinham mais vantagens: seus habitantes podi-

se eives romani, ou seja, ganhavam direito à cidadania romana. Em outros casos, os territórios conquistados eram mantidos sob a administração direta de Roma, com governadores locais. Eram as províncias. As primeiras foram: a

Córsega, a Espanha, a África

O preço do “mare nostrum” As Guerras Púnicas foram o mais caro empre-

endimento bélico da Antiguidade. Arruinaram centenas de cidades e mataram centenas de mi-lhares de pessoas: somente a Segunda Guerra Púnica vitimou 300 000 homens. Mas esse evento representou também um divisor de águas na his-

Os minérios ibéricos deram novo impulso à ex-pansão imperialista. O saque às províncias, as indenizações pagas pelos cartagineses e, depois, pela Macedônia e Síria, os escravos que de toda

luíam a Roma, os metais preciosos das regiões conquistadas e outros golpes favoráveis transformaram os ricos de Roma em opulentos

As Guerras Púnicas mudaram a face do Mediter-o um lago romano – o mare nos-

trum, como o chamavam os romanos; a prosperi-dade mudou a fisionomia da sociedade romana. A possibilidade de importar toda sorte de produtos, a baixo custo, das províncias provocou a deca-dência da agricultura e indústria romanas. Em contrapartida, o comércio e os bancos floresce-

Roma tornava dinheiro do mundo para, com ele, adquirir os produtos do mundo. Como resul-

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CLIO História – Textos e Documentos tado, o patriciado e a classe média da República romana trocaram sua austera simplicidade por um luxo ostensivo e ocioso.

Fim da República RomanaApós oitenta anos de guerras, lutas, sacrifícios e privações, os romanos se deram conta de que

tinham o mundo nas mãos. Entre os bens obtidos estava a cultura grega, difundida por uma região imensa que passara a pertencer a Roma: Sicília, sul da Itália, Ásia Menor e a própria xada no século II a.C. Os gregos revidaram a

conquista introduzindo em Roma sua filosofia, sua arte, seu teatro e até sua religião. Para os velhos isso era uma verdadeira afronta, pois essas cotribuições, aliadas ao luxo e à vida faustosa, solpavam o caráter simples e austero dos romanos. Mas, como disse Horácio, Graecia capta victorem cepit (“a Grécia conquistada conquistou por sua

vez o vencedor”). Antes das Guerras Púnicas a família romana era

um microcosmo, o centro gerador da religião, damoral, da economia e do próprio Estado. Cada aspecto da sua existência, material ou espiritual, estava em solene intimidade com o panteão dméstico: a casa era regida pela deusa Vesta, prsente no fogo da lareira, chama que simbolizava a vida e a continuidade da família; os deuses Lares guardavam os campos e as construções; os Pentes, ou deuses do interior da casa, garantiam a abundância; e a matrona romana era portadora de uma centelha da divindade de Juno, pois tinha dentro de si o genius da capacidade Eram dezenas de divindades laboriosas, presidido as atividades da família. Esta, por sua vez, compunha-se do pai e da

mãe, da casa, da terra e das propriedades dos filhos solteiros ou casados, dos netos, das noras, dos escravos e agregados. Era, portanto, uma assembleia de pessoas e coisas governadas pelo ascendente mais velho (patriarca). Dentro desse pequeno mundo, que continha em si as funções da família, igreja, escola, indústria e Estado, fojaram-se os vencedores dos cartagineses.Um romano como Catão, que nasceu por volta

de 230 a.C. e morreu em cerca de 150 a.C., pôde assistir à transformação dos hábitos de vida dos romanos. A mudança manifestava-setores: começava pelo cardápio e culminava com a adoção dos sofisticados deuses gregos, relegado a segundo plano o doméstico panteão romano.

Uma nova sociedade A afluência de enormes riquezas a Roma benef

ciou sobretudo os patrícios e a nobreza senatorial. As terras conquistadas que se transformavam em ager publicus (terras do Estado), na realidade ficavam quase sempre em suas mãos recompensa por serviços prestados na guerra, ou porque esses setores sociais eram os únicos com dinheiro para comprá-las quando o Estado as leiloava.

Textos e Documentos

tado, o patriciado e a classe média da República romana trocaram sua austera simplicidade por um

im da República Romana guerras, lutas, sacrifícios e

privações, os romanos se deram conta de que tinham o mundo nas mãos. Entre os bens obtidos estava a cultura grega, difundida por uma região imensa que passara a pertencer a Roma: Sicília, sul da Itália, Ásia Menor e a própria Grécia, ane-xada no século II a.C. Os gregos revidaram a

conquista introduzindo em Roma sua filosofia, sua arte, seu teatro e até sua religião. Para os velhos isso era uma verdadeira afronta, pois essas con-tribuições, aliadas ao luxo e à vida faustosa, sola-pavam o caráter simples e austero dos romanos. Mas, como disse Horácio, Graecia capta victorem cepit (“a Grécia conquistada conquistou por sua

Antes das Guerras Púnicas a família romana era um microcosmo, o centro gerador da religião, da moral, da economia e do próprio Estado. Cada aspecto da sua existência, material ou espiritual, estava em solene intimidade com o panteão do-méstico: a casa era regida pela deusa Vesta, pre-sente no fogo da lareira, chama que simbolizava a

dade da família; os deuses Lares guardavam os campos e as construções; os Pena-tes, ou deuses do interior da casa, garantiam a abundância; e a matrona romana era portadora de uma centelha da divindade de Juno, pois tinha dentro de si o genius da capacidade de gerar. Eram dezenas de divindades laboriosas, presidin-

se do pai e da mãe, da casa, da terra e das propriedades dos filhos solteiros ou casados, dos netos, das noras,

portanto, uma de pessoas e coisas governadas pelo

ascendente mais velho (patriarca). Dentro desse pequeno mundo, que continha em si as funções da família, igreja, escola, indústria e Estado, for-

se os vencedores dos cartagineses. como Catão, que nasceu por volta

de 230 a.C. e morreu em cerca de 150 a.C., pôde assistir à transformação dos hábitos de vida dos

-se em todos os setores: começava pelo cardápio e culminava com

s gregos, relegan-do a segundo plano o doméstico panteão romano.

A afluência de enormes riquezas a Roma benefi-ciou sobretudo os patrícios e a nobreza senatorial. As terras conquistadas que se transformavam em

ado), na realidade ficavam quase sempre em suas mãos – ou como recompensa por serviços prestados na guerra, ou porque esses setores sociais eram os únicos com

las quando o Estado as

Os camponeses pouco se beneficiaram com as vitórias, exceto aqueles que receberam uma gleba nas terras conquistadas. E os soldados, ao voltar a suas terras, tiveram uma surpresa desagradvel: Roma passara a consumir o trigo barato vido das províncias, e nas grandes propriedades o trabalho mobilizava a mão-tituída de prisioneiros. Sem condições de colocar sua colheita no mercado a preços competitivos e sem emprego, o camponês acabava por vender sua gleba (ou a entregava para saldar dívidas) e ia para Roma engrossar o contingentepados. Foi a essa massa desapropriada pelos frtos das vitórias romanas que se ofereceu panem et circenses (pão e circo).

Os ricos Para Catão, a cultura grega representava uma

total subversão da ordem familiar e, temente, da religião e do Estado. São de sua atoria algumas leis que limitavam as despesas em banquetes e vestuário. Mas de pouco adiantaram. Os bons cozinheiros continuaram a ser comprados a peso de ouro no mercado de escravos; as baixlas eram de ouro, as mulheres cobriamjoias e tecidos finos e os cosméticos tornaramuma necessidade. À medida que as maneiras dos patrícios e equites (cavaleiros) se refinavam, a moral se afrouxava. O divórcio tornoue a aura sagrada que envolvia a “família” se defez. Nem Catão nem ninguém poderia impedir a “nova moralidade” ditada pela opulência e pelo individualismo.

Os pobres Desde o início da República, muitos plebeus v

viam agregados às famílias patrícias como clietes: recebiam alimentos e roupas em troca de pequenos serviços e do compromisso de votar a favor de seus protetores nas do século II a.C., pode-se dizer que toda a massa de plebeus residentes em Roma constituiu uma espécie de clientela. Eram cidadãos, e portanto podiam votar nas Assembleiaseram eleitos os questores e edis da plebe e aprvada a maioria das leis. Essa prerrogativa tranformou os pobres em massa de manobra dos políticos e dos pretendentes a cargos políticos, empenhados em conquistar o apoio eleitoral em troca de trigo, festas e jogos.Roma criava, assim, um esquema demagógico

de controle social. O pão e o circo reduziam a população empobrecida à condição de parasita e afastavam os riscos de conflitos e revoltas.

A QUESTÃO AGRÁRIA Duas forças políticas digla

República: de um lado, os patrícios e a nobilitas (nobreza, classe que incluía os plebeus ricos que haviam ocupado altas magistraturas, o que lhes dava acesso ao Senado), integrados num partido aristocrático ou “senatorial”; de outro, oe os populares, que constituíam um partido dmocrático. Ao longo da luta entre as duas facções, porém, muitos patrícios tornaram o partido da

Os camponeses pouco se beneficiaram com as vitórias, exceto aqueles que receberam uma gleba nas terras conquistadas. E os soldados, ao voltar a suas terras, tiveram uma surpresa desagradá-vel: Roma passara a consumir o trigo barato vin-do das províncias, e nas grandes propriedades o

-de-obra escrava, cons-tituída de prisioneiros. Sem condições de colocar sua colheita no mercado a preços competitivos e sem emprego, o camponês acabava por vender sua gleba (ou a entregava para saldar dívidas) e ia para Roma engrossar o contingente de desocu-pados. Foi a essa massa desapropriada pelos fru-tos das vitórias romanas que se ofereceu panem

Para Catão, a cultura grega representava uma total subversão da ordem familiar e, consequen-

do Estado. São de sua au-toria algumas leis que limitavam as despesas em banquetes e vestuário. Mas de pouco adiantaram. Os bons cozinheiros continuaram a ser comprados a peso de ouro no mercado de escravos; as baixe-las eram de ouro, as mulheres cobriam-se de

e tecidos finos e os cosméticos tornaram-se uma necessidade. À medida que as maneiras dos patrícios e equites (cavaleiros) se refinavam, a moral se afrouxava. O divórcio tornou-se corrente e a aura sagrada que envolvia a “família” se des-

atão nem ninguém poderia impedir a “nova moralidade” ditada pela opulência e pelo

Desde o início da República, muitos plebeus vi-viam agregados às famílias patrícias como clien-tes: recebiam alimentos e roupas em troca de

serviços e do compromisso de votar a favor de seus protetores nas assembleias. A partir

se dizer que toda a massa de plebeus residentes em Roma constituiu uma espécie de clientela. Eram cidadãos, e portanto

Assembleias das Tribos, onde eram eleitos os questores e edis da plebe e apro-vada a maioria das leis. Essa prerrogativa trans-formou os pobres em massa de manobra dos políticos e dos pretendentes a cargos políticos, empenhados em conquistar o apoio eleitoral em

ca de trigo, festas e jogos. Roma criava, assim, um esquema demagógico

de controle social. O pão e o circo reduziam a população empobrecida à condição de parasita e afastavam os riscos de conflitos e revoltas.

Duas forças políticas digladiaram-se durante a República: de um lado, os patrícios e a nobilitas (nobreza, classe que incluía os plebeus ricos que haviam ocupado altas magistraturas, o que lhes dava acesso ao Senado), integrados num partido aristocrático ou “senatorial”; de outro, os equites e os populares, que constituíam um partido de-mocrático. Ao longo da luta entre as duas facções, porém, muitos patrícios tornaram o partido da

Page 9: Roma: das origens à República - Colégio Nossa Senhora de Fátima · CLIO História – Textos e Documentos caso de perigo, podiam até nomear um ditador, governante com poderes

CLIO História – Textos e Documentos plebe e vice-versa. Foi o que se deu com a família patrícia dos Graco.

Os irmãos Graco Tibério e Caio Graco pertenciam a uma das

mais prestigiadas famílias patrícias. Eram filhos de Semprônio Graco, comandante na Espanha, e de Cornélia, filha de Cipião, o Africano.Vendo o estado de abandono das terras da

trúria e a decadência do exército romano, Tibério achou necessário repovoar os campos para favrecer a formação de um campesinato forte. Na verdade, os agricultores – dado seu empobrecmento e consequente falta de condições para se armar à própria custa – tinham sido privados de se integrarem ao exército. Ao ser eleito tribuno da plebe, em 133 a.C., T

bério Graco propôs o revigoramento da lei que impunha a devolução ao Estado das terras públcas, então em poder da aristocracia, e sua distrbuição entre os cidadãos pobres. Com isso, prtendia resolver graves problemas interligados: excesso de escravos no campo, superpopulação e corrupção urbanas e decadência militar de Roma. A sugestão despertou forte reação do partido senatorial, representante dos interesses dos grandes proprietários. No final do ano, ao tense reeleger, Tibério foi trucidado por seus advesários junto com trejeitos adeptos. Em 123 a.C., seu irmão Caio Graco retomou e

se programa. Além de revigorar a lei agrária, propôs o fornecimento de roupas e armas aos cidadãos pobres à custa do Estado; a realização de obras públicas, que proporcionassem emprego a milhares de desocupados, e a lei do trigo, que autorizava o governo a distribuir o cereal pela metade do preço de mercado. Essa lei fez com que as massas pobres deixassem de ser clientes da aristocracia para se tornar defensoras dos Grco e de seus sucessores do partido popular, entre os quais Júlio César.

A reação oligárquica Entre as propostas de Caio Graco figurava, ai

da, a concessão da cidadania romana aos povos itálicos aliados (socii) de Roma, para que se benficiassem da distribuição de terras; e a participção dos equites na coleta de impostos nas provícias e, como jurados, nos julgamentos de crimes de apropriação indébita que envolvessem funcinários públicos (tarefa que competia ao Prejudicados em seus interesses políticos e ec

nômicos, os nobres passaram a considerar agrárias e judiciária uma afronta ao poder senatrial. Induzido por demagogos, o povo romano foi convencido de que sua participação em festas e jogos seria cada vez mais limitada se os socii obtivessem regalias reservadas aos cidadãos. As leis de cidadania foram rejeitadas pelo Senado e, em 121 a.C., as tropas chefiadas pelo cônsul Lcio Opímio tornaram de assalto o monte Aventino, onde os democráticos estavam entrincheirados. Caio Graco, para não se entregar, preferiu o sucídio. Três mil de seus seguidores foram executdos sem processo algum.

Textos e Documentos

versa. Foi o que se deu com a família

raco pertenciam a uma das mais prestigiadas famílias patrícias. Eram filhos de Semprônio Graco, comandante na Espanha, e de Cornélia, filha de Cipião, o Africano. Vendo o estado de abandono das terras da E-

trúria e a decadência do exército romano, Tibério chou necessário repovoar os campos para favo-recer a formação de um campesinato forte. Na

dado seu empobreci-falta de condições para se tinham sido privados de

Ao ser eleito tribuno da plebe, em 133 a.C., Ti-bério Graco propôs o revigoramento da lei que impunha a devolução ao Estado das terras públi-cas, então em poder da aristocracia, e sua distri-buição entre os cidadãos pobres. Com isso, pre-

problemas interligados: excesso de escravos no campo, superpopulação e corrupção urbanas e decadência militar de Roma. A sugestão despertou forte reação do partido senatorial, representante dos interesses dos grandes proprietários. No final do ano, ao tentar se reeleger, Tibério foi trucidado por seus adver-

Em 123 a.C., seu irmão Caio Graco retomou es-

se programa. Além de revigorar a lei agrária, propôs o fornecimento de roupas e armas aos

; a realização de obras públicas, que proporcionassem emprego a milhares de desocupados, e a lei do trigo, que autorizava o governo a distribuir o cereal pela metade do preço de mercado. Essa lei fez com que as massas pobres deixassem de ser clientes

istocracia para se tornar defensoras dos Gra-co e de seus sucessores do partido popular, entre

Entre as propostas de Caio Graco figurava, ain-da, a concessão da cidadania romana aos povos

e Roma, para que se bene-ficiassem da distribuição de terras; e a participa-ção dos equites na coleta de impostos nas provín-cias e, como jurados, nos julgamentos de crimes de apropriação indébita que envolvessem funcio-nários públicos (tarefa que competia ao Senado). Prejudicados em seus interesses políticos e eco-

nômicos, os nobres passaram a considerar as leis e judiciária uma afronta ao poder senato-

rial. Induzido por demagogos, o povo romano foi convencido de que sua participação em festas e

ria cada vez mais limitada se os socii obtivessem regalias reservadas aos cidadãos. As leis de cidadania foram rejeitadas pelo Senado e, em 121 a.C., as tropas chefiadas pelo cônsul Lú-cio Opímio tornaram de assalto o monte Aventino,

tavam entrincheirados. Caio Graco, para não se entregar, preferiu o sui-cídio. Três mil de seus seguidores foram executa-

Vitoriosos, os oligarcas anularam a reforma grária, mas não conseguiram evitar os frutos de algumas medidas dos Graco. Os equites e o povo tinham tomado consciência de sua força política.

A CRISE DA DEMOCRACIANo fim do século II a.C., havia só 2 000 pr

prietários para 400 000 cidadãos romanos. A pbreza fazia diminuir o número de soldados; não tardou que Roma fosse atacada. Em 113 a.C., os cimbros e os teutões invadiram a Itália com 300 000 homens. Quase simultaneamente irrompeu o conflito do reino da Numídia: Jugurta combateu e derrotou seus primos Aderbal e Hiempsal, com quem dividia o trono, e dominou o país intComo no episódio morreram também mercadores romanos, em 111 a.C. Roma declarouJugurta, porém, subornou os generais romanos, tirando partido da incompetência e da corrupção. Em 108 a.C. Caio Mário, filho de camponeses, que servira na Numídia sob as ordens de Quinto Metlo, candidatou-se ao consulado, oferecendopara derrotar Jugurta. Essa promessa foi cumprda em 106 a.C.; em 104 a.C. Mário foi reeleito cônsul; em 102 a.C. derrotou os teutões e em 101 a.C., os cimbros. Esse sucesso devinovo tipo de exército, resultado da reforma que Mário fizera no recrutamento militar, possibilitado o alistamento de cidadãos sem recursos. exército assim for-nado compunhate de proletários urbanos, que não lutavamseu país, mas pelo seu general.

O fantasma dos Graco Em 100 a.C. Mário foi eleito cônsul pela sexta

vez junto com Lúcio Saturnino, que, ao se declrar disposto a realizar o programa dos Graco, foi assassinado. Mas em 91 a.C. a “guerra social” (dos socii contra Roma) retomou um tema defedido pelos Graco: a concessão de cidadania aos povos itálicos. A guerra durou dois anos e termnou com os socii recebendo uma cidadania de segunda classe: divididos em dez tribos, só podam votar depois de as 35 tribos romanas terem votado.

A hora e vez dos generaisEm 88 a.C. começou a guerra contra Mitrídates,

rei do Ponto, que pretendia estender seus domnios às possessões romanas da Ásia Menor. O comando foi confiado ao aristocrata Lúcio Cornélio Sila; imediatamente, o tribuno Rufo fez votar uma lei atribuindo a Mário a chefia. Diante de tal oposição, Sila marchou sobre Roma; os optimates (patrícios e nobilitas) declararam Mário inimigo público, e ele se viu obrigado a fugir para escapar da morte. Sila fez aprovar algumas leis que reforçavam o

partido aristocrático, mas, após a sua partida para a Ásia, Mário, auxiliado por Lúcio Cornélio Cina, organizou suas tropas e promoveu em Roma vilenta perseguição aos optimates. Em 86 a.C., logo depois de ter assumido pela lado, Mário morreu. O poder ficou com Cina, cuja primeira medida foi admitir os socii em todas as

Vitoriosos, os oligarcas anularam a reforma a-grária, mas não conseguiram evitar os frutos de

Graco. Os equites e o povo tinham tomado consciência de sua força política.

A CRISE DA DEMOCRACIA No fim do século II a.C., havia só 2 000 pro-tários para 400 000 cidadãos romanos. A po-

breza fazia diminuir o número de soldados; não e atacada. Em 113 a.C., os

cimbros e os teutões invadiram a Itália com 300 000 homens. Quase simultaneamente irrompeu o conflito do reino da Numídia: Jugurta combateu e derrotou seus primos Aderbal e Hiempsal, com quem dividia o trono, e dominou o país inteiro. Como no episódio morreram também mercadores romanos, em 111 a.C. Roma declarou-lhe guerra. Jugurta, porém, subornou os generais romanos, tirando partido da incompetência e da corrupção. Em 108 a.C. Caio Mário, filho de camponeses, que

dia sob as ordens de Quinto Mete-se ao consulado, oferecendo-se

para derrotar Jugurta. Essa promessa foi cumpri-da em 106 a.C.; em 104 a.C. Mário foi reeleito cônsul; em 102 a.C. derrotou os teutões e em 101 a.C., os cimbros. Esse sucesso devia-se a um novo tipo de exército, resultado da reforma que Mário fizera no recrutamento militar, possibilitan-do o alistamento de cidadãos sem recursos. O

nado compunha-se basicamen-os, que não lutavam pelo

mas pelo seu general.

Em 100 a.C. Mário foi eleito cônsul pela sexta vez junto com Lúcio Saturnino, que, ao se decla-rar disposto a realizar o programa dos Graco, foi assassinado. Mas em 91 a.C. a “guerra social”

) retomou um tema defen-dido pelos Graco: a concessão de cidadania aos povos itálicos. A guerra durou dois anos e termi-nou com os socii recebendo uma cidadania de segunda classe: divididos em dez tribos, só podi-am votar depois de as 35 tribos romanas terem

A hora e vez dos generais Em 88 a.C. começou a guerra contra Mitrídates,

rei do Ponto, que pretendia estender seus domí-nios às possessões romanas da Ásia Menor. O comando foi confiado ao aristocrata Lúcio Cornélio Sila; imediatamente, o tribuno Públio Sulpicio Rufo fez votar uma lei atribuindo a Mário a chefia. Diante de tal oposição, Sila marchou sobre Roma; os optimates (patrícios e nobilitas) declararam Mário inimigo público, e ele se viu obrigado a fugir

r algumas leis que reforçavam o partido aristocrático, mas, após a sua partida para a Ásia, Mário, auxiliado por Lúcio Cornélio Cina, organizou suas tropas e promoveu em Roma vio-lenta perseguição aos optimates. Em 86 a.C., logo depois de ter assumido pela sétima vez o consu-lado, Mário morreu. O poder ficou com Cina, cuja primeira medida foi admitir os socii em todas as

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CLIO História – Textos e Documentos tribos eleitorais. Mas, em 84 a.C., quando tentava organizar um grande exército para impedir que Sila, o vencedor de Mitridates, regressassema, Cina foi assassinado. Sila, que encontrou na Itália o apoio militar de

dois grandes generais – Marco Licínio Crasso e Cneu Pompeu –, anulou todas as medidas populres e restabeleceu o poder da nobreza. Impondose como ditador de 82 a 79 a.C., restratribuições das assembleias populares e dos trbunos da plebe. Em 79 a.C., com a abdicação de Sila, o cônsul Marco Emílio Lépido procurou iplantar um programa de cunho popular. Opondose a isso, o Senado concedeu poderes extraordnários a Pompeu para frustrar os objetivos do novo cônsul. Em 77 a.C. Pompeu esmagava, na Espanha, as forças de Quinto Ser-tório, seguidor de Mário, que lutava pela restauração do regime democrático.

Pompeu e Crasso Entre 77 e 60 a.C. Pompeu e Crasso deram a

Roma a segurança da invencibilidade do seu exécito. Pompeu, conquistando territórios no Oriente: o Ponto, a Síria, a Cilícia, a Armênia, a Capadócia, a Galícia, a Cólquida e a Palestina; Crasso, esmgando, na Apúlia, em 71 a.C., a rebelião de 120 000 escravos liderados por Espártaco. De retorno a Roma, em 70 a.C., Crasso e Pompeu estabelceram uma súbita aliança com os populares e ganharam a eleição para o consulado. Isso signifcou a reintegração dos poderes das dos tribunos da plebe.

O primeiro triunvirato Em 62 a.C., quando Pompeu voltou a Roma,

após reorganizar política e administrativamente o Oriente, o Senado, temendo sua força, rejeitou seus acordos com os reis das nações submetidas e seu pedido de doação de terras aos soldados. Esse foi o pretexto para a formação, em 60 a.C., do primeiro triunvirato, o governo de três: Popeu, Crasso e Júlio César, apoiados pelos populres. Embora pertencesse a uma antiga família patr

cia, César – orador brilhante e veterano da luta política de Roma – integrava o partido democrátco. Na ocasião, o menos influente dos triúnviros, despontaria nos anos seguintes como um grande líder militar. Em 55 a.C. César recebeu poderes para governar por cinco anos a Gália Cisalpina e a Gália Narbonense. Conquistou todo o país, nsérie de campanhas narradas em seu livro De Bello Gallico. Após a morte de Crasso (53 a.C.), Pompeu conseguiu que o Senado o nomeasse princeps (o primeiro dos cidadãos) e ordenou a César que voltasse a Roma sem suas legiões. Convencido de que o conflito era inevitável, no início de 48 a.C. César marchou com suas tropas para Roma. Pompeu se refugiou na Grécia. César derrotou-o em Farsália, na Tessália (em agosto), obrigando-o a fugir para o Egito, onde foi assassnado. Assim, em 48 a.C., Júlio César tornúnico senhor de Roma, precipitando a crise da República.

Textos e Documentos

tribos eleitorais. Mas, em 84 a.C., quando tentava organizar um grande exército para impedir que Sila, o vencedor de Mitridates, regressasse a Ro-

Sila, que encontrou na Itália o apoio militar de Marco Licínio Crasso e

, anulou todas as medidas popula-res e restabeleceu o poder da nobreza. Impondo-se como ditador de 82 a 79 a.C., restringiu as

populares e dos tri-bunos da plebe. Em 79 a.C., com a abdicação de Sila, o cônsul Marco Emílio Lépido procurou im-plantar um programa de cunho popular. Opondo-se a isso, o Senado concedeu poderes extraordi-

para frustrar os objetivos do novo cônsul. Em 77 a.C. Pompeu esmagava, na

tório, seguidor de Mário, que lutava pela restauração do regime

Entre 77 e 60 a.C. Pompeu e Crasso deram a ança da invencibilidade do seu exér-

cito. Pompeu, conquistando territórios no Oriente: o Ponto, a Síria, a Cilícia, a Armênia, a Capadócia, a Galícia, a Cólquida e a Palestina; Crasso, esma-gando, na Apúlia, em 71 a.C., a rebelião de 120

os por Espártaco. De retorno a Roma, em 70 a.C., Crasso e Pompeu estabele-ceram uma súbita aliança com os populares e ganharam a eleição para o consulado. Isso signifi-cou a reintegração dos poderes das assembleias e

Em 62 a.C., quando Pompeu voltou a Roma, após reorganizar política e administrativamente o Oriente, o Senado, temendo sua força, rejeitou seus acordos com os reis das nações submetidas e seu pedido de doação de terras aos soldados.

o para a formação, em 60 a.C., do primeiro triunvirato, o governo de três: Pom-peu, Crasso e Júlio César, apoiados pelos popula-

Embora pertencesse a uma antiga família patrí-orador brilhante e veterano da luta

partido democráti-co. Na ocasião, o menos influente dos triúnviros,

nos anos seguintes como um grande líder militar. Em 55 a.C. César recebeu poderes para governar por cinco anos a Gália Cisalpina e a Gália Narbonense. Conquistou todo o país, numa série de campanhas narradas em seu livro De Bello Gallico. Após a morte de Crasso (53 a.C.), Pompeu conseguiu que o Senado o nomeasse princeps (o primeiro dos cidadãos) e ordenou a César que voltasse a Roma sem suas legiões.

o era inevitável, no início de 48 a.C. César marchou com suas tropas para Roma. Pompeu se refugiou na Grécia. César

o em Farsália, na Tessália (em agosto), o a fugir para o Egito, onde foi assassi-

nado. Assim, em 48 a.C., Júlio César tornou-se o único senhor de Roma, precipitando a crise da

O IMPÉRIO ROMANONa tarde de 14 de março, numa reunião realizada em sua casa, Júlio César afirmara que, a seu ver, a “melhor” morte era, sem dúvida, a “repentina”. Na manhã seguinte, Calpúrnimendou-lhe que não fosse ao Senado, pois tivera um sonho em que ele aparecia coberto de sangue. Mas Décimo Bruto, tido como um dos seus mais

íntimos amigos (e um dos conspiradores), insistiu no sentido de que ele comparecesse à sessão.A caminho do Senado, César encontrou um v

dente que certa ocasião lhe murmurara: “Cuidado com os idos de março”. Sorriuque março já havia chegado e, no entanto, nada lhe acontecera. “Chegou mas não passou”, replcou prontamente o vate. Césarteatro de Pompeu o sacrifício que precedia cada sessão do Senado, quando lhe entregaram um bilhete, informando-o de que era vítima de uma conspiração. Não teve tempo de lêainda nas mãos quando foi apunhalado por Bruto, Cássio e outros aristocratas.

A trágica morte de César nio, Apiano e Plutarco, historiadores antigos precipitou a crise que conduziu à instituição da autoridade imperial.

O ENSAIO CENTRALIZADOEm 44 a.C., quando o Senado declarou vitalícia

a ditadura de Júlio César, este não teve os seus poderes muito ampliados. Desde 46 a.C. possuía, de fato, o controle de Roma. Era imperator, ou seja, comandava as forças armadas em terra e no mar; havia sido investido do imperium domi, que lhe concedia o comando sobre todos os cidadãos e aliados; na qualidade de pontifex maximus, cotrolava a religião; como tribuno da plebe, possuía o direito de veto sobre qualquer lei ou decisão; como censor, nomeava e afastava senadores. Era, enfim, o magistrado supremo dporém, desagradara os aristocratas ao executar o projeto dos Graco: distribuíra terras aos seus veteranos e aos cidadãos pobres, proibindo que elas mudassem de mãos (por compra ou venda) durante vinte anos; ordenara que um terço dos trabalhadores de cada propriedade agrícola fosse composto por homens livres; diminuíra a massa de proletários em Roma, transferindo cerca de 80 000 pessoas para novas colônias; concedera ciddania romana aos povos itálicos; gastara 160 milhões de sestércios em obremprego a milhares de trabalhadores. Em quência, o número de pessoas que recebia trigo do Estado, a baixo preço, decrescera de 320 000 para 150 000 – e estes passaram a obtêramente de graça. Júlio César era o ídolo dos populares, mas ferira os interesses da nobreza senatorial e dos cavaleiros enriquecidos com a inescrupulosa cobrança de impostos, ao criar leis contra os juros extorsivos. Além disso, alimentara a oposição dos republicanos, ao organizar a admnistração do Estado de modo a mantêcontrole pessoal.

RIO ROMANO Na tarde de 14 de março, numa reunião realizada em sua casa, Júlio César afirmara que, a seu ver, a “melhor” morte era, sem dúvida, a “repentina”. Na manhã seguinte, Calpúrnia, sua mulher, reco-

lhe que não fosse ao Senado, pois tivera um sonho em que ele aparecia coberto de sangue. Mas Décimo Bruto, tido como um dos seus mais

íntimos amigos (e um dos conspiradores), insistiu no sentido de que ele comparecesse à sessão.

caminho do Senado, César encontrou um vi-dente que certa ocasião lhe murmurara: “Cuidado com os idos de março”. Sorriu-lhe e comentou que março já havia chegado e, no entanto, nada lhe acontecera. “Chegou mas não passou”, repli-cou prontamente o vate. César fazia diante do teatro de Pompeu o sacrifício que precedia cada sessão do Senado, quando lhe entregaram um

o de que era vítima de uma conspiração. Não teve tempo de lê-lo. Tinha-o ainda nas mãos quando foi apunhalado por Bruto,

e outros aristocratas. A trágica morte de César – narrada por Suetô-

nio, Apiano e Plutarco, historiadores antigos – precipitou a crise que conduziu à instituição da

O ENSAIO CENTRALIZADOR Em 44 a.C., quando o Senado declarou vitalícia

a ditadura de Júlio César, este não teve os seus poderes muito ampliados. Desde 46 a.C. possuía, de fato, o controle de Roma. Era imperator, ou seja, comandava as forças armadas em terra e no mar; havia sido investido do imperium domi, que

omando sobre todos os cidadãos e aliados; na qualidade de pontifex maximus, con-trolava a religião; como tribuno da plebe, possuía o direito de veto sobre qualquer lei ou decisão; como censor, nomeava e afastava senadores. Era, enfim, o magistrado supremo de Roma. César, porém, desagradara os aristocratas ao executar o projeto dos Graco: distribuíra terras aos seus veteranos e aos cidadãos pobres, proibindo que elas mudassem de mãos (por compra ou venda) durante vinte anos; ordenara que um terço dos

dores de cada propriedade agrícola fosse composto por homens livres; diminuíra a massa de proletários em Roma, transferindo cerca de 80 000 pessoas para novas colônias; concedera cida-dania romana aos povos itálicos; gastara 160 milhões de sestércios em obras públicas, dando emprego a milhares de trabalhadores. Em conse-

, o número de pessoas que recebia trigo do Estado, a baixo preço, decrescera de 320 000

e estes passaram a obtê-lo intei-ramente de graça. Júlio César era o ídolo dos

lares, mas ferira os interesses da nobreza senatorial e dos cavaleiros enriquecidos com a inescrupulosa cobrança de impostos, ao criar leis contra os juros extorsivos. Além disso, alimentara a oposição dos republicanos, ao organizar a admi-

do de modo a mantê-la sob seu

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CLIO História – Textos e Documentos Todas as disposições de Júlio César, em res

mo, levaram seus inimigos a se unir em uma conspiração liderada por Marco Júnio Bruto e Caio Cássio, que culminou com o seu assassinato, em 15 de março de 44 a.C. Os assassinos, todos petencentes à aristocracia, justificaramCésar de premeditar o retorno à monarquia (o que, provavelmente, era verdade).

O herdeiro Após a morte de César, seus partidários

rados pelo cônsul Marco Antônio e por Marco Elio Lépido, chefe dos cavaleiros – assumiram o controle de Roma. Mas, receando a guerra civil, entraram em acordo com a facção inimiga: Bruto e seus companheiros seriam anistiados desde que todas as decisões políticas de César fossem matidas. Para desembaraçar-se de Lépido

competia pelo legado político de César enviou-o à Espanha, com o pretexto de obter a adesão de Sexto Pompeu, comandante das tropas do exército naquela região. No dia 19 de março, porém, ao abrir o testamento de Céconstatou que o imperator escolhera como herdero seu sobrinho-neto Caio Júlio, um jovem de 18 anos. Além disso, deixara 300 sestércios a cada cidadão.

O segundo triunvirato Otávio encontrava-se na Ilíria quando soube da

morte de César. Voltou imediatamente a Roma, onde assumiu o nome de Caio Júlio César Otavino. Buscando a popularidade, vendeu seus bens para distribuir a soma prometida aos romanos e recrutou um exército pessoal entre os veteranos de seu tio. Apesar disso, Cícero, portaideais republicanos, acreditou que o jovem pudese ser moldado de maneira a atender aos intereses do Senado, tornando-se um instrumento na luta contra Antônio. E, em 43 a.C., Otaviano chgou mesmo a comandar as legiões do Senado contra Antônio, na Gália. Mas percebeu a armadlha. O Senado reforçara a posição dos assassinos de César, entregando a Bruto o governo da Macdônia e a Cássio o da Síria. Otaviano apoderoude Roma, fez-se nomear cônsul, reconcilioucom Antônio e formou, com ele e Lépitriunvirato.

A PARTILHA DO PODER Com o objetivo declarado de vingar Júlio César

– e, de fato, visando a obter fundos destinados à organização de tropas para a luta pelo poder Lépido, Antônio e Otaviano deram início ao mais sangrento reinado de terror da história romana. Entre as vítimas encontrava-se Cícero, que havia incentivado os adversários de Marco Antônio com os seus discursos no Senado, conhecidos como Filípicas. Em 42 a.C. Cássio e Bruto, vencidos na Grécia e na Macedônia, suicidaram-ros dividiram o império entre si: Lépido ficou com a África, Otaviano com o Ocidente e Antônio esclheu o Egito, a Grécia e o Oriente.

Textos e Documentos

Todas as disposições de Júlio César, em resu-mo, levaram seus inimigos a se unir em uma conspiração liderada por Marco Júnio Bruto e Caio Cássio, que culminou com o seu assassinato, em

s assassinos, todos per-tencentes à aristocracia, justificaram-se acusando César de premeditar o retorno à monarquia (o

Após a morte de César, seus partidários – lide-rados pelo cônsul Marco Antônio e por Marco Emí-

assumiram o controle de Roma. Mas, receando a guerra civil, entraram em acordo com a facção inimiga: Bruto e seus companheiros seriam anistiados desde que todas as decisões políticas de César fossem man-

se de Lépido – com quem competia pelo legado político de César –, Antônio

o à Espanha, com o pretexto de obter a adesão de Sexto Pompeu, comandante das tropas do exército naquela região. No dia 19 de março, porém, ao abrir o testamento de César, Antônio constatou que o imperator escolhera como herdei-

neto Caio Júlio, um jovem de 18 anos. Além disso, deixara 300 sestércios a cada

se na Ilíria quando soube da Voltou imediatamente a Roma,

onde assumiu o nome de Caio Júlio César Otavia-no. Buscando a popularidade, vendeu seus bens para distribuir a soma prometida aos romanos e recrutou um exército pessoal entre os veteranos de seu tio. Apesar disso, Cícero, porta-voz dos ideais republicanos, acreditou que o jovem pudes-se ser moldado de maneira a atender aos interes-

se um instrumento na luta contra Antônio. E, em 43 a.C., Otaviano che-gou mesmo a comandar as legiões do Senado

Gália. Mas percebeu a armadi-lha. O Senado reforçara a posição dos assassinos de César, entregando a Bruto o governo da Mace-dônia e a Cássio o da Síria. Otaviano apoderou-se

se nomear cônsul, reconciliou-se com Antônio e formou, com ele e Lépido, um novo

Com o objetivo declarado de vingar Júlio César e, de fato, visando a obter fundos destinados à

organização de tropas para a luta pelo poder –, Lépido, Antônio e Otaviano deram início ao mais

o de terror da história romana. se Cícero, que havia

incentivado os adversários de Marco Antônio com os seus discursos no Senado, conhecidos como Filípicas. Em 42 a.C. Cássio e Bruto, vencidos na

-se. Os triúnvi-ros dividiram o império entre si: Lépido ficou com a África, Otaviano com o Ocidente e Antônio esco-

Contudo, dificuldades aguardavam Otaviano em Roma. Sexto Pompeu, leal aos vencidos, bloqueva a importação de trigo, praticando atos de pirtaria no Mediterrâneo; a sociedade estava desoganizada pelo terror e pelas espoliações; e Lúcio Antônio e Fúlvia – o irmão e a esposa de Marco Antônio – tramavam contra o jovem triúnviro. A oposição evoluiu para o confli40 a.C., Otaviano sitiou as tropas de Lúcio Antnio e Fúlvia, obrigando-os a se render. Marco Antônio, que se mantivera alheio aos acontecmentos, surgiu ao largo de Brindisi com uma equadra para cercar as forças de Otaviano. Entrtanto, mais uma vez, interesses comuns levaram os dois triúnviros a se reconciliar. Selando a aliaça, Antônio casou-se com Otávia, irmã de Otavino. Mas todos sabiam que esse tipo de solução tinha caráter provisório.

Antônio e Cleópatra Na raiz dessas disputas estava a oposição entre

a Itália empobrecida e as riquezas enormes do Oriente – uma oposição que levaria, séculos mais tarde, à divisão do Império Romano.Para dominar o Oriente, Antônio aliou

ópatra, rainha do Egito, em 41 a.C. Mais tarde assumiu a união, enviando Otávia de volta a Rma. Otaviano foi mais hábil: aproximounobreza, desposando Lívia Drusila (38 a.C.), petencente a uma das mais ilustres famílias patrcias. Paralelamente, reduziu os impostos e restbeleceu o abastecimento de trigo, em 36 a.C., após ter derrotado Sexto Pompeu.Em 32 a.C. Antônio casou

confirmou-a herdeira do Egito e das províncias romanas do Oriente. Os cidadãos indignaramcom o fato de Antônio dispor de territórios de Roma como se fossem de sua propriedade partcular. Otaviano obteve um juramento de fidelidde de todas as classes sociais romanas e declarou guerra a Cleópatra.

OTAVIANO, IMPERADORO conflito foi decidido com a vitória de Otaviano

na batalha naval de Áctio, em 31 a.C. Clvoltou ao Egito com o que restava de sua esqudra; Antônio acompanhou-Otaviano lançou-se contra o Egito, onde Antônio, incapaz de organizar uma defesa efetiva, suicdou-se. Percebendo que jamais chegaria a um acordo com Otaviano, Cleópatra também se mtou. Em 29 a.C., Otaviano foi recebido triunfant

mente em Roma. Com Lépido afastado do poder desde 36 a.C. e Antônio morto, o herdeiro de César era o único senhor do Império. Mas, covencido de que só teria condições de consolidar sua posição se preservasse formalmente as insttuições republicanas, agiu de modo cauteloso. Restabeleceu o patrimônio das famílias patrícias arruinadas para que a República aristocrática voltasse a ser viável, mas permitiu que o Senado e as Assembleias o cumulassem de poderes. Otviano conservou a chefia suprema das forças amadas, “expurgou” o Senado em 28 a.C., red

Contudo, dificuldades aguardavam Otaviano em Roma. Sexto Pompeu, leal aos vencidos, bloquea-

o de trigo, praticando atos de pira-taria no Mediterrâneo; a sociedade estava desor-ganizada pelo terror e pelas espoliações; e Lúcio

o irmão e a esposa de Marco tramavam contra o jovem triúnviro. A

oposição evoluiu para o conflito aberto, mas, em 40 a.C., Otaviano sitiou as tropas de Lúcio Antô-

os a se render. Marco Antônio, que se mantivera alheio aos aconteci-mentos, surgiu ao largo de Brindisi com uma es-quadra para cercar as forças de Otaviano. Entre-

, mais uma vez, interesses comuns levaram os dois triúnviros a se reconciliar. Selando a alian-

se com Otávia, irmã de Otavia-no. Mas todos sabiam que esse tipo de solução

s estava a oposição entre a Itália empobrecida e as riquezas enormes do

uma oposição que levaria, séculos mais tarde, à divisão do Império Romano. Para dominar o Oriente, Antônio aliou-se a Cle-

ópatra, rainha do Egito, em 41 a.C. Mais tarde u a união, enviando Otávia de volta a Ro-

ma. Otaviano foi mais hábil: aproximou-se da alta nobreza, desposando Lívia Drusila (38 a.C.), per-tencente a uma das mais ilustres famílias patrí-cias. Paralelamente, reduziu os impostos e resta-

de trigo, em 36 a.C., após ter derrotado Sexto Pompeu. Em 32 a.C. Antônio casou-se com Cleópatra e

a herdeira do Egito e das províncias romanas do Oriente. Os cidadãos indignaram-se com o fato de Antônio dispor de territórios de

sem de sua propriedade parti-lar. Otaviano obteve um juramento de fidelida-

de de todas as classes sociais romanas e declarou

OTAVIANO, IMPERADOR O conflito foi decidido com a vitória de Otaviano

na batalha naval de Áctio, em 31 a.C. Cleópatra voltou ao Egito com o que restava de sua esqua-

a. No ano seguinte, se contra o Egito, onde Antônio,

incapaz de organizar uma defesa efetiva, suici-se. Percebendo que jamais chegaria a um

, Cleópatra também se ma-

Em 29 a.C., Otaviano foi recebido triunfante-mente em Roma. Com Lépido afastado do poder desde 36 a.C. e Antônio morto, o herdeiro de César era o único senhor do Império. Mas, con-vencido de que só teria condições de consolidar ua posição se preservasse formalmente as insti-tuições republicanas, agiu de modo cauteloso. Restabeleceu o patrimônio das famílias patrícias arruinadas para que a República aristocrática voltasse a ser viável, mas permitiu que o Senado

umulassem de poderes. Ota-viano conservou a chefia suprema das forças ar-madas, “expurgou” o Senado em 28 a.C., redu-

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CLIO História – Textos e Documentos zindo o número de seus membros para seiscetos, e foi nomeado princeps senatus (chefe do Senado). Desse título, assumido também por seus sucessores, derivou-se “principado”, designação do regime de governo que vigorou na primeira fase do Império (27 a.C. até fim do século II d.C.). No principado, embora teoricamente o gvernante reconhecesse ser apenas chefe do Snado, sua autoridade era a de um monarca: detnha o poder legislativo, executivo e judiciário; podia propor leis ou decretos às AssembleiasSenado, fazê-las executar e punir quem as violase. Esses poderes fundamentaram a autoridade imperial, num momento em que as famílias aritocráticas fugiam ao exercício dos onerosos cagos públicos. Em 27 a.C., numa sessão que, para muitos e

tudiosos, assinala o início da concentração imprial de poderes, Otaviano declarou sua intenção de devolver todas as prerrogativas extraordinárias que recebera. Os senadores rogarampermanecesse na chefia do Estado e deramtítulo de Augusto, isto é, “sagrado”, “divino”.

A PAZ ROMANA Em sua missão de organização do Império, A

gusto contou com o auxílio de figuras destacadas na vida romana, como Caio Clínio Mecenas e gripa, na área político-militar, e Virgílio, Horácio e Tito Lívio, no campo cultural. Dedicou especial atenção a Roma, organizando-a em bairros e construindo numerosos monumentos. Além disso, preocupou-se com a agricultura, impulsionaenriquecimento das províncias e distribuindo teras (sobretudo aos veteranos). Augusto apoiou a classe do pequeno campesinato e incentivou o comércio. No plano político, criou um conselho especial constituído por parentes, amigos e outros que lhe eram devotados (base do consilium pricipis). Com o tempo, as decisões desse conselho pr

vado ganharam a força dos senatus consulta, enquanto o Senado recebia a administração das finanças do Estado (aerarium) e o governo das províncias pacificadas. Mas os senadores mostrram-se incapazes de exercer até mesmo essas limitadas funções, atribuindo toda a responsabildade ao imperador. As assembleias e comícios foram se reunindo

com frequência cada vez menor e, em 18 a.C., o direito dos plebeus à ocupação de cargospraticamente se extinguiu, com a lei que abria os cargos apenas aos possuidores de mais de 400 000 sestércios. Até o século V d.C. os tribunos e cônsules co

tinuaram a ser eleitos, mas, como os principais poderes tinham passado para o “príncipe”,funções tornaram-se mais administrativas que executivas e, finalmente, degeneraram em meros títulos honoríficos. No plano externo, Augusto procurou ampliar as

fronteiras do Império anexando a Numídia, a Rcia, a Vindélica e a Panônia. Mas alguns desana Dalmácia e na Germânia, no curso dos quais milhares de soldados romanos morreram

Textos e Documentos

zindo o número de seus membros para seiscen-tos, e foi nomeado princeps senatus (chefe do Senado). Desse título, assumido também por seus

se “principado”, designação do regime de governo que vigorou na primeira fase do Império (27 a.C. até fim do século II d.C.). No principado, embora teoricamente o go-vernante reconhecesse ser apenas chefe do Se-

monarca: deti-nha o poder legislativo, executivo e judiciário;

Assembleias e ao las executar e punir quem as violas-

se. Esses poderes fundamentaram a autoridade imperial, num momento em que as famílias aris-

ticas fugiam ao exercício dos onerosos car-

Em 27 a.C., numa sessão que, para muitos es-tudiosos, assinala o início da concentração impe-rial de poderes, Otaviano declarou sua intenção de devolver todas as prerrogativas extraordinárias

ra. Os senadores rogaram-lhe que permanecesse na chefia do Estado e deram-lhe o título de Augusto, isto é, “sagrado”, “divino”.

Em sua missão de organização do Império, Au-gusto contou com o auxílio de figuras destacadas

aio Clínio Mecenas e A-militar, e Virgílio, Horácio e

Tito Lívio, no campo cultural. Dedicou especial a em bairros e

construindo numerosos monumentos. Além disso, se com a agricultura, impulsionando o

enriquecimento das províncias e distribuindo ter-ras (sobretudo aos veteranos). Augusto apoiou a classe do pequeno campesinato e incentivou o comércio. No plano político, criou um conselho especial constituído por parentes, amigos e outros

m devotados (base do consilium prin-

Com o tempo, as decisões desse conselho pri-vado ganharam a força dos senatus consulta, enquanto o Senado recebia a administração das finanças do Estado (aerarium) e o governo das

adores mostra-se incapazes de exercer até mesmo essas

limitadas funções, atribuindo toda a responsabili-

e comícios foram se reunindo cada vez menor e, em 18 a.C., o

direito dos plebeus à ocupação de cargos públicos praticamente se extinguiu, com a lei que abria os cargos apenas aos possuidores de mais de 400

Até o século V d.C. os tribunos e cônsules con-tinuaram a ser eleitos, mas, como os principais poderes tinham passado para o “príncipe”, suas

se mais administrativas que executivas e, finalmente, degeneraram em meros

No plano externo, Augusto procurou ampliar as fronteiras do Império anexando a Numídia, a Ré-cia, a Vindélica e a Panônia. Mas alguns desastres na Dalmácia e na Germânia, no curso dos quais milhares de soldados romanos morreram – entre

os quais Druso, seu enteado, e Públio Quintílio Varo, seu amigo –, levaram Augusto a decidirpela fortificação do Império e por uma política defensiva. Era a pax romana, estendida sobre todo o Ocidente. Em 9 de agosto de 14 d.C., após ter dirigido por

mais de quarenta anos o maior Estado da Antigudade, Otaviano morreu. Seu reinado passou para a História com o nome de “a idade de ouro”, nma alusão à paz e à prosperidade desfrutadas durante o seu governo. Não tendo filhos, Augusto escolheu como suce

sor seu enteado Tibério, filho de Lívia e de um patrício da ilustre família Cláudia. Considerado um dos mais brilhantes generais de sua geração, o futuro imperador foi adotado como filho por Agusto, que lhe conferiu as prerrogativas do imprium e da tribunicia potestas (poderes dos tribnos da plebe).

A sociedade na idade de ouroA pax romana trouxe benefícios a todos, sobr

tudo aos romanos. Cada cidadão tinha emdois ou três escravos (havia os que não tinham nenhum e outros que possuíam muitos).Um fluxo continuo de caravanas abastecia R

ma de mercadorias de primeira necessidade e supérfluas: madeira e minério, trigo e frutas, tcidos e joias, azeite e cavalos de corrida. Navios carregados ancoravam nos portos de Óstia, Náples, Bríndisi e Rímini, trazendo bens e escravos dos confins do Império. Alguns cidadãos tornram-se mais ricos que o próprio Augusto; a mairia da população deixou de trabalhar, pois, apconquista do Egito, a abundância de trigo era tamanha que permitia a sua distribuição de graça ou quase de graça. Muitos preenchiam o otium (ócio) estudando,

aprendendo línguas estrangeiras, arte e literatura. A maioria dos ricos, porém, entregavasais banquetes e a divertimentos cada vez mais grosseiros, em estúpidas exibições de luxo e rqueza. A plebe passava a maior parte do tempo assistindo a lutas violentas, às expensas do Estdo. Era a degeneração dos costumes romanos. Os resultados embora não imediatos, quando se rvelaram, foram catastróficos.

A crise do Império RomanoNos dias de hoje os limites de um país são def

nidos por um simples traçado no mapa ou por um discreto posto destinado à polícia de fronteira. No Império Romano, porém, as fronteiras, demarcdas por monumentos e construções, eram mais que concretas. A Muralha de Adriano, entre a Inglaterra e a Escócia, constitui um dos mais ntáveis desses marcos. E uma barreira defensiva de 118 km de extensão, que corta a Grãde costa a costa. A manifesta intenção de defesa contida nessas grandiosas obras era, sem dúvida, um indício de que os romanos ganhavam conscência de suas fraquezas e do gradativo declínio de seu império.

os quais Druso, seu enteado, e Públio Quintílio , levaram Augusto a decidir-se

pela fortificação do Império e por uma política a pax romana, estendida sobre

Em 9 de agosto de 14 d.C., após ter dirigido por mais de quarenta anos o maior Estado da Antigui-dade, Otaviano morreu. Seu reinado passou para a História com o nome de “a idade de ouro”, nu-

prosperidade desfrutadas

Não tendo filhos, Augusto escolheu como suces-sor seu enteado Tibério, filho de Lívia e de um patrício da ilustre família Cláudia. Considerado um dos mais brilhantes generais de sua geração, o

r foi adotado como filho por Au-gusto, que lhe conferiu as prerrogativas do impe-rium e da tribunicia potestas (poderes dos tribu-

A sociedade na idade de ouro A pax romana trouxe benefícios a todos, sobre-

tudo aos romanos. Cada cidadão tinha em média dois ou três escravos (havia os que não tinham nenhum e outros que possuíam muitos). Um fluxo continuo de caravanas abastecia Ro-

ma de mercadorias de primeira necessidade e supérfluas: madeira e minério, trigo e frutas, te-

los de corrida. Navios carregados ancoravam nos portos de Óstia, Nápo-les, Bríndisi e Rímini, trazendo bens e escravos dos confins do Império. Alguns cidadãos torna-

se mais ricos que o próprio Augusto; a maio-ria da população deixou de trabalhar, pois, após a conquista do Egito, a abundância de trigo era tamanha que permitia a sua distribuição de graça

Muitos preenchiam o otium (ócio) estudando, aprendendo línguas estrangeiras, arte e literatura. A maioria dos ricos, porém, entregava-se a colos-sais banquetes e a divertimentos cada vez mais grosseiros, em estúpidas exibições de luxo e ri-queza. A plebe passava a maior parte do tempo assistindo a lutas violentas, às expensas do Esta-do. Era a degeneração dos costumes romanos. Os

bora não imediatos, quando se re-velaram, foram catastróficos.

A crise do Império Romano Nos dias de hoje os limites de um país são defi-

nidos por um simples traçado no mapa ou por um discreto posto destinado à polícia de fronteira. No

, as fronteiras, demarca-das por monumentos e construções, eram mais que concretas. A Muralha de Adriano, entre a Inglaterra e a Escócia, constitui um dos mais no-táveis desses marcos. E uma barreira defensiva de 118 km de extensão, que corta a Grã-Bretanha de costa a costa. A manifesta intenção de defesa contida nessas grandiosas obras era, sem dúvida, um indício de que os romanos ganhavam consci-ência de suas fraquezas e do gradativo declínio de

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CLIO História – Textos e Documentos O “LIMITES” ENTRE OS BÁRBAROS E OS RMANOS Quase todas as fronteiras do Império Romano

eram assinaladas por um limite (limes), cuja pricipal função era defensiva. Tratavafortemente guarnecidas ao longo da fronteira, que dispunham de torres de vigia colocadas a distâcias regulares. Dessa maneira era possível contrlar qualquer tipo de movimentação.Em caso de invasão, os soldados romanos t

nham ordem de recuar até uma posição predterminada, onde encontrariam reforços. Dispondo de estradas pavimentadas e superprotegidas, as tropas romanas deslocavam-se a uma velocidade superior à dos invasores, obrigados a movimetar-se em terreno inóspito. A resistência era organizada na retaguarda, o

de se aquartelavam os manípulos (unidades de composição variável entre 100 e 160 homens) e as centúrias (grupos de 100 soldados). Quando a invasão era maciça, as tropas deveriam recuar mais ainda e concentrar-se junto às pequenas cidades de fronteira, onde estacionavam as legões. Por muitos séculos esse sistema permitiu uma defesa eficiente do império contrasões.

O jogo do poder Depois de vencer Marco Antônio e consolidar

sua autoridade sobre a decadente República, Caio Júlio César Otaviano – denominado Augusto tornou-se o chefe supremo de 50 000 soldados. O poder assentava-se sobre as legiões, e o haviam levado à vitória, poderiam derrubáqualquer momento. Para neutralizádesmobilizou cerca de 300 000 homens, dandolhes terras e compensações em dinheiro. Manteve na ativa apenas as legiões aquarteladas nas prvíncias mais distantes, onde podiam exercer fuções defensivas sem ameaçar o poder em Roma.Essa política iniciou um processo de “provinci

lização” do exército, que se acentuou nos séculos seguintes. As legiões começaram a ser formadas por soldados profissionais, comandados por um general também mercenário. A partir desses elementos, pode-

a queda do Império Romano não foi direta e eclusivamente provocada pela ascensão dos bárbros, que invadiram as fronteiras do império. Esse processo começou muito antes, com a crise intena do exército, que se estendeu a outros setores da sociedade.

OS SUCESSORES DE AUGUSTO Tibérioanos antes de morrer, Augusto adorou Tibério como filho e o nomeou seu herdeiro. Acatando sua vontade, em 14 d. C., o Senado legisucessão, atribuindo a Tibério as honras de imprator, princeps e o título de Augustus (que se tornou hereditário). Bom imperador no inicio, Tibério pouco a pouco transformou-impiedoso. Morreu no ano 37. Calígula – Em criança, Caio César Germânico

recebeu o apelido de “Calígula” (pequena bota) por sua mania de andar calçado com as caligae,

Textos e Documentos

O “LIMITES” ENTRE OS BÁRBAROS E OS RO-

todas as fronteiras do Império Romano eram assinaladas por um limite (limes), cuja prin-cipal função era defensiva. Tratava-se de estradas fortemente guarnecidas ao longo da fronteira, que dispunham de torres de vigia colocadas a distân-

maneira era possível contro-lar qualquer tipo de movimentação. Em caso de invasão, os soldados romanos ti-

nham ordem de recuar até uma posição prede-terminada, onde encontrariam reforços. Dispondo de estradas pavimentadas e superprotegidas, as

se a uma velocidade superior à dos invasores, obrigados a movimen-

A resistência era organizada na retaguarda, on-de se aquartelavam os manípulos (unidades de composição variável entre 100 e 160 homens) e

grupos de 100 soldados). Quando a invasão era maciça, as tropas deveriam recuar

se junto às pequenas cidades de fronteira, onde estacionavam as legi-ões. Por muitos séculos esse sistema permitiu uma defesa eficiente do império contra as agres-

Depois de vencer Marco Antônio e consolidar sua autoridade sobre a decadente República, Caio

denominado Augusto – se o chefe supremo de 50 000 soldados. O

se sobre as legiões, e estas, que o haviam levado à vitória, poderiam derrubá-la a qualquer momento. Para neutralizá-las, Augusto desmobilizou cerca de 300 000 homens, dando-lhes terras e compensações em dinheiro. Manteve na ativa apenas as legiões aquarteladas nas pro-

is distantes, onde podiam exercer fun-ções defensivas sem ameaçar o poder em Roma. Essa política iniciou um processo de “provincia-

lização” do exército, que se acentuou nos séculos seguintes. As legiões começaram a ser formadas

mandados por um

-se concluir que a queda do Império Romano não foi direta e ex-clusivamente provocada pela ascensão dos bárba-ros, que invadiram as fronteiras do império. Esse

ntes, com a crise inter-na do exército, que se estendeu a outros setores

Tibério – Dez anos antes de morrer, Augusto adorou Tibério como filho e o nomeou seu herdeiro. Acatando sua vontade, em 14 d. C., o Senado legitimou a sucessão, atribuindo a Tibério as honras de impe-

de Augustus (que se tornou hereditário). Bom imperador no inicio,

-se num tirano

Em criança, Caio César Germânico recebeu o apelido de “Calígula” (pequena bota) por sua mania de andar calçado com as caligae,

botas militares feitas com tiras de couro e pregos na sola. Como era herdeiro da imensa fortuna da dinastia Julio-Claudia (a mesina de César e Agusto), o Senado não pôde deixar de proclamáimperador. Considerado por todos um desequilibrado me

tal, Calígula não logrou marcar sua passagem pelo governo imperial coai qualquer realização. Mandou decapitar vários senadores, e alguntos dizem que, num gesto de profundo desprezo pelas instituições romanas, nomeou cônsul seu próprio cavalo. Foi assassinado pela guarda pretriana no ano 41. Cláudio – Os pretorianos imediatamente alç

ram ao poder o estudioso Cláudio, tio de CalígulaPretendiam dominar um imperador frágil e, dessa maneira, conservar a autoridade efetiva, mas para surpresa geral Cláudio revelounistrador competente. Governou com grande sbedoria, restituindo ao Senado parte do poder perdido. Expandiu o império, conquistando o atual Marrocos e submetendo definitivamente a Bretnha (Inglaterra). Morreu envenenado por Agripna, mãe de Nero, no ano 54.Nero – E o mais tristemente famoso dos imp

radores romanos, devido ao incêndio de Roma e ao massacre dos cristãos. Apesar dos seus demandos, assessorado pelo prefeito pretoriano Burro e pelo filósofo Sêneca, exerceu um governo equilibrado até 62. Afastados os conselheiros, concentrou autoritariamente todo o poder em sua própria pessoa. O caos se instalou a tal pontimpério que as legiões rebelaramdelas querendo impor seu “imperador”. Em 68 Nero foi declarado inimigo público pelo Senado e para não ser preso fez-se matar por um servo. Vespasiano – Durante o ano 69 estiveram precriamente no poder pelo menos três imperadores, cada um deles apoiado por suas legiões. A disputa foi vencida pelo general Tito Flávio Vespasiano, “candidato” das tropas do Oriente. Era o começo de uma nova dinastia, a Flaviana. Vespasiano reorganizou o império: fundou muitas patrocinou maior romanização da cultura nas prvíncias. Iniciou a construção do anfiteatro Flavino ou Coliseu. Morreu em 79.Tito – Filho de Vespasiano, famoso por suas

campanhas na Palestina (onde sufocou unia vilenta rebelião e se apoderou dorusalém), Tito governou com sabedoria e genersidade, obtendo grande aceitação popular. Morreu cor 81. Seu reinado durou apenas dois anos. Domiciano – Irmão de Tito, foi um imperador

enérgico e cruel. Consolidou as fronteiras na Brtanha e na Germânia. Travou uma longa disputa com o Senado, a fim de limitar seus poderes, e perseguiu violentamente os cristãos. Foi assassnado em 96, com a cumplicidade de Domícia, sua mulher. Tinha então 45 anos.

PROSPERIDADE E DECLÍNIOO século II da era cristã foi a idade áurea do

Império Romano. Áurea e contraditória: enquanto Roma estendia sua influência cultural e econômica até as mais distantes regiões, uma crise general

botas militares feitas com tiras de couro e pregos na sola. Como era herdeiro da imensa fortuna da

esina de César e Au-gusto), o Senado não pôde deixar de proclamá-lo

Considerado por todos um desequilibrado men-tal, Calígula não logrou marcar sua passagem pelo governo imperial coai qualquer realização. Mandou decapitar vários senadores, e alguns rela-tos dizem que, num gesto de profundo desprezo pelas instituições romanas, nomeou cônsul seu próprio cavalo. Foi assassinado pela guarda preto-

Os pretorianos imediatamente alça-ram ao poder o estudioso Cláudio, tio de Calígula. Pretendiam dominar um imperador frágil e, dessa maneira, conservar a autoridade efetiva, mas para surpresa geral Cláudio revelou-se um admi-nistrador competente. Governou com grande sa-bedoria, restituindo ao Senado parte do poder

io, conquistando o atual Marrocos e submetendo definitivamente a Breta-nha (Inglaterra). Morreu envenenado por Agripi-na, mãe de Nero, no ano 54.

E o mais tristemente famoso dos impe-radores romanos, devido ao incêndio de Roma e

s. Apesar dos seus des-mandos, assessorado pelo prefeito pretoriano Burro e pelo filósofo Sêneca, exerceu um governo equilibrado até 62. Afastados os conselheiros, concentrou autoritariamente todo o poder em sua própria pessoa. O caos se instalou a tal ponto no império que as legiões rebelaram-se, cada urna delas querendo impor seu “imperador”. Em 68 Nero foi declarado inimigo público pelo Senado e

se matar por um servo. Durante o ano 69 estiveram preca-

lo menos três imperadores, cada um deles apoiado por suas legiões. A disputa foi vencida pelo general Tito Flávio Vespasiano, “candidato” das tropas do Oriente. Era o começo de uma nova dinastia, a Flaviana. Vespasiano reorganizou o império: fundou muitas cidades e patrocinou maior romanização da cultura nas pro-víncias. Iniciou a construção do anfiteatro Flavia-no ou Coliseu. Morreu em 79.

Filho de Vespasiano, famoso por suas campanhas na Palestina (onde sufocou unia vio-lenta rebelião e se apoderou dos tesouros de Je-rusalém), Tito governou com sabedoria e genero-sidade, obtendo grande aceitação popular. Morreu cor 81. Seu reinado durou apenas dois anos.

Irmão de Tito, foi um imperador enérgico e cruel. Consolidou as fronteiras na Bre-

na Germânia. Travou uma longa disputa com o Senado, a fim de limitar seus poderes, e perseguiu violentamente os cristãos. Foi assassi-nado em 96, com a cumplicidade de Domícia, sua mulher. Tinha então 45 anos.

PROSPERIDADE E DECLÍNIO istã foi a idade áurea do

Império Romano. Áurea e contraditória: enquanto Roma estendia sua influência cultural e econômica até as mais distantes regiões, uma crise generali-

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CLIO História – Textos e Documentos zada tornava conta do núcleo original do império, a cidade de Roma e a península Itálica.

Crise moral Jesus Cristo nasceu durante o reinado de A

gusto e foi supliciado quando Tibério era imperdor. Em pouco tempo o cristianismo difundiupor todo o mundo romano. No mesmo período surgiram doutrinas filosóficas que falavam de coisas que um legionário das Guerras Púnicas teria considerado indignas de um “verdadeiro romano”: fraternidade, liberdade, piedade e justça. Do ponto de vista da história da civilização, e

ses novos estilos de pensamento representavam um passo adiante. Mas eles suscitavam dúvidas que abalavam os valores firmados pelas próprias estruturas da sociedade romana: “Seria justo obedecer a um imperador como se ele fosse um deus?” “Seria justo matar e morrer pelo poderio de Roma?” “Seria justo que Roma dominasse o mundo'?”

Corrupção dos costumes Enquanto alguns se convertiam secretamente

ao cristianismo ou seguiam alguma outra filosofia “humanitarista”, a maior parte da população provava o, martírio dos cristãos, considerados inimigos do Estado. Com frequênciamaior, o sacrifício dos cristãos era transformado em espetáculo público, nas arenas do majestoso Coliseu. Muitos tinham simplesmente abandonado a antiga religião, sem substituí-la por outra. Os indivíduos queriam enriquecer, gozar a vida, e ignoravam deliberadamente os problemas da cmunidade. A crise das instituições romanas tradcionais atingia agora os costumes.

Crise econômica Um dos grandes orgulhos da Roma Imperial era

a rapidez e eficiência de seus transportes. Navios de três cobertas transportavam de de mercadorias. A uma velocidade média de 5 nós (cerca de 9 km/h), com ventos favoráveis, ebarcações levando o máximo de carga percorriam 220 km por dia. Em quatro dias, ia-se de Óstia a Tarragona, na

Espanha; em dois dias chegava-se em Cargo;em três,em Marselha; em nove dias atingiaAlexandria, no Egito. De março a outubro, os mres eram cruzados por navios abarrotados de mercadorias destinadas a Roma e outras cidades italianas. Alimentada pela própria expansão imperial,

Roma tornava-se uma cidade exclusivamente consumidora. A mão-de-obra livre, necessária para arar a terra, para fazer funcionar a indústria e o comércio, era muito cara. E, devido aos logos decênios de paz e a derrota da pirataria, ram reduzidas as possibilidades de seescravos. O resultado é que os campos romanos retraíram-se: era mais conveniente deixar ao léu os latifúndios do que empregar dinheiro no pagmento dos trabalhadores da terra

Textos e Documentos

zada tornava conta do núcleo original do império, álica.

Jesus Cristo nasceu durante o reinado de Au-gusto e foi supliciado quando Tibério era impera-dor. Em pouco tempo o cristianismo difundiu-se por todo o mundo romano. No mesmo período surgiram doutrinas filosóficas que falavam de

um legionário das Guerras Púnicas teria considerado indignas de um “verdadeiro romano”: fraternidade, liberdade, piedade e justi-

Do ponto de vista da história da civilização, es-ses novos estilos de pensamento representavam

scitavam dúvidas que abalavam os valores firmados pelas próprias estruturas da sociedade romana: “Seria justo obedecer a um imperador como se ele fosse um deus?” “Seria justo matar e morrer pelo poderio de Roma?” “Seria justo que Roma dominasse o

Enquanto alguns se convertiam secretamente ao cristianismo ou seguiam alguma outra filosofia “humanitarista”, a maior parte da população a-provava o, martírio dos cristãos, considerados

frequência cada vez or, o sacrifício dos cristãos era transformado

em espetáculo público, nas arenas do majestoso Coliseu. Muitos tinham simplesmente abandonado

la por outra. Os indivíduos queriam enriquecer, gozar a vida, e

os problemas da co-munidade. A crise das instituições romanas tradi-

Um dos grandes orgulhos da Roma Imperial era a rapidez e eficiência de seus transportes. Navios

250 a 1 000 t de mercadorias. A uma velocidade média de 5 nós (cerca de 9 km/h), com ventos favoráveis, em-barcações levando o máximo de carga percorriam

se de Óstia a Tarragona, na se em Carta-

go;em três,em Marselha; em nove dias atingia-se Alexandria, no Egito. De março a outubro, os ma-res eram cruzados por navios abarrotados de mercadorias destinadas a Roma e outras cidades

Alimentada pela própria expansão imperial, e uma cidade exclusivamente

obra livre, necessária para arar a terra, para fazer funcionar a indústria e o comércio, era muito cara. E, devido aos lon-gos decênios de paz e a derrota da pirataria, e-ram reduzidas as possibilidades de se conseguir escravos. O resultado é que os campos romanos

se: era mais conveniente deixar ao léu os latifúndios do que empregar dinheiro no paga-

Quanto aos produtos industriais, as províncias que se encarregassem de produzie caravanas de carros que tratassem de fazêchegar a Roma. Essa situação não poderia durar eternamente. A crise econômica instalada na Itlia, centro nervoso do império, aos poucos iria se alastrando implacavelmente por todos domínios.

OS IMPERADORES DA IDADE ÁUREATrajano (98/117) – Seu predecessor, Nerva,

reinou por apenas dois anos, mas estabeleceu dois importantes princípios: colaboração com o Senado, para evitar que a nobreza romana se revoltasse contra o soberano,e designação do sucessor, adotado como filho pelo imperador.Foi assim que pela primeira vez um “provinci

no”, o espanhol Trajano, governador da Germânia Superior, subiu legitimamente ao trono dos Césres. Trajano governou com sabedoria. Conquisto

Dácia (Romênia), a Armênia, a Mesopotâmia e parte da Arábia. Com ele, o império atingiu sua máxima extensão em territórios ocupados. Morreu na Cilicia, sendo reconhecido como um dos mais notáveis imperadores. Adriano (117/138) – Também espanhol, ence

rou a fase de expansão e começou a de defesa: enfatizou a política de alianças e construiu murlhas nas fronteiras da Bretanha, Germânia, Dacia e Mauritânia. Amava as artes e a cultura. Favorceu a criação de monumentos por todo o imperio. Para seu túmulo, fez erguer sobre o Tibre o Mausoléu de Adriano. Antonino Pio (138/161)

recebeu do Senado a designação de “pio” provvelmente pela reverência que prestou à memória de Adriano. Deu prioridade à administração da Itália, da qual nunca se afastou durante seu longo reinado Até sua morte, viveu retirado em, sua casa de campo, perto de Roma, deixando ao Snado a responsabilidade pelos negócios do Estdo. Marco Aurélio (161/180)

filósofo, estudioso e escritor. Admirável por sextrema habilidade de governante, conduziu nergicamente duas guerras contra os inimigos de Roma que ameaçavam o império pelas margens orientais do Adriático. Só cometeu um erro de graves consequências: nomeou herdeiro seu filho Cômodo, que cedo se revelou incapaz e arbitrário.No governo de Cômodo

voltou a instaurar-se. As legiões se rebelaram, dilacerando o império, cada uma tentando impor seu próprio “candidato” ao poder supremo. Veceu a disputa um general vindo da África orientaSétimo Severo, que governou com férrea disciplna militar até 211, quando morreu numa campnha contra a Inglaterra. Caracala (211/217) – Filho e sucessor de S

timo Severo, Caracala estendeu em 212 o direito de cidadania a todos os cidadãos do império. Mandou construir em Roma as mais grandiosas termas de que se tem notícia: as Termas de Carcala, inauguradas em 216. No ano seguinte' foi

Quanto aos produtos industriais, as províncias produzi-los, e os navios

e caravanas de carros que tratassem de fazê-los chegar a Roma. Essa situação não poderia durar eternamente. A crise econômica instalada na Itá-lia, centro nervoso do império, aos poucos iria se alastrando implacavelmente por todos os seus

OS IMPERADORES DA IDADE ÁUREA Seu predecessor, Nerva,

reinou por apenas dois anos, mas estabeleceu dois importantes princípios: colaboração com o Senado, para evitar que a nobreza romana se

soberano,e designação do sucessor, adotado como filho pelo imperador. Foi assim que pela primeira vez um “provincia-

no”, o espanhol Trajano, governador da Germânia Superior, subiu legitimamente ao trono dos Césa-

Trajano governou com sabedoria. Conquistou a Dácia (Romênia), a Armênia, a Mesopotâmia e parte da Arábia. Com ele, o império atingiu sua máxima extensão em territórios ocupados. Morreu na Cilicia, sendo reconhecido como um dos mais

Também espanhol, encer-ou a fase de expansão e começou a de defesa: enfatizou a política de alianças e construiu mura-lhas nas fronteiras da Bretanha, Germânia, Dacia e Mauritânia. Amava as artes e a cultura. Favore-ceu a criação de monumentos por todo o impe-

fez erguer sobre o Tibre o

(138/161) – De origem gaulesa, recebeu do Senado a designação de “pio” prova-velmente pela reverência que prestou à memória de Adriano. Deu prioridade à administração da

afastou durante seu longo reinado Até sua morte, viveu retirado em, sua casa de campo, perto de Roma, deixando ao Se-nado a responsabilidade pelos negócios do Esta-

(161/180) – Foi um imperador-filósofo, estudioso e escritor. Admirável por sua extrema habilidade de governante, conduziu e-nergicamente duas guerras contra os inimigos de Roma que ameaçavam o império pelas margens orientais do Adriático. Só cometeu um erro de

: nomeou herdeiro seu filho lou incapaz e arbitrário. (180/192) a desordem

se. As legiões se rebelaram, dilacerando o império, cada uma tentando impor seu próprio “candidato” ao poder supremo. Ven-ceu a disputa um general vindo da África oriental, Sétimo Severo, que governou com férrea discipli-na militar até 211, quando morreu numa campa-

Filho e sucessor de Sé-timo Severo, Caracala estendeu em 212 o direito de cidadania a todos os cidadãos do império. Mandou construir em Roma as mais grandiosas termas de que se tem notícia: as Termas de Cara-cala, inauguradas em 216. No ano seguinte' foi

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CLIO História – Textos e Documentos assassinado. Com sua morte, o império passou a ser palco de violentas disputas pelo poder. Equanto isso acentuava-se a crise econômica. Chgava ao fim a idade áurea do Império Romano.

“MORITUR ET RIDET” Algumas décadas depois, referindo

no do império que fora a maravilha do mundo, um escritor latino plasmou a frase que se tornaria famosa: Moritur et ridet, ou seja, “morre e ri”.O luxo, as festas e os espetáculos nunca foram

tão ostensivos como durante esse período. Por outro lado, era evidente que uma época gloriosa da história do mundo estava se encerrando. Da idade do ouro caminhava-se para uma soturna idade do ferro e das espadas.

As décadas “negras” O século III, espectador da anarquia militar, foi

o século "negro”. Com algumas exceções, durante esse período o título de imperador foi usado por soldados incultos, apoiados por exércitos que de romanos tinham só o nome. Em geral, eram intgrados por bárbaros e mercenários, sediados nas regiões mais longínquas e pobres do império.O poder central era extremamente frágil. Os

imperadores mantinham-se no trono por tempo curto e caíam de modo violento: na suaeram vítima de conspiração e assassinato.O tradicional orgulho romano sofria sucessivas

humilhações. Desde o leilão da coroa imperial farsa encenada pelas legiões –, passando pelo evento do milésimo aniversário da fundação de Roma, ironicamente comemorado por um imperdor árabe, Felipe Árabe (filho de um xeque que conseguira manter-se no poder durante alguns meses), até a intolerável desonra acontecida com o imperador Valeriano, que, aprisionado durante uma batalha em 260, morreu como refém nas mãos dos inimigos de Roma.

Ameaças externas Enquanto o império enfraquecia, crescia a cor

gem dos povos não romanos acantonados nas fronteiras. Em numerosas ocasiões as legiões romanas viram-se na contingência de enfrentar invasores substancialmente mais fortes, ainda que menos organizados. Manter o equilíbrio dessa situação custou um alto preço. Territórios inteiros tiveram que ser doados. Inimigos de ontem tonavam-se aliados arrogantes. Ninguém ousava ainda sonhar que esses aliados

incultos seriam os futuros donos do império.A verdade é que Roma e a própria península

tálica deixavam de existir enquanto unidades prdutivas. A agricultura fora abandonada e as limtadas jazidas minerais italianas estavam exaurdas. As indústrias e lojas de artesãos fechavsuas portas, devido ao alto custo da mãoda concorrência estrangeira e da voracidade do fisco, que tornavam essas atividades pouco retáveis. Em resumo, o núcleo original do mundo romano desmoronava com rapidez.Era de se esperar que a Itália sentisse a crise

mais diretamente. Havia mais de um século que a

Textos e Documentos

assassinado. Com sua morte, o império passou a ser palco de violentas disputas pelo poder. En-

a crise econômica. Che-gava ao fim a idade áurea do Império Romano.

Algumas décadas depois, referindo-se ao desti-no do império que fora a maravilha do mundo, um escritor latino plasmou a frase que se tornaria

seja, “morre e ri”. O luxo, as festas e os espetáculos nunca foram

tão ostensivos como durante esse período. Por outro lado, era evidente que uma época gloriosa da história do mundo estava se encerrando. Da

se para uma soturna

O século III, espectador da anarquia militar, foi o século "negro”. Com algumas exceções, durante esse período o título de imperador foi usado por soldados incultos, apoiados por exércitos que de

tinham só o nome. Em geral, eram inte-grados por bárbaros e mercenários, sediados nas regiões mais longínquas e pobres do império. O poder central era extremamente frágil. Os

se no trono por tempo curto e caíam de modo violento: na sua maioria eram vítima de conspiração e assassinato. O tradicional orgulho romano sofria sucessivas

humilhações. Desde o leilão da coroa imperial – , passando pelo

evento do milésimo aniversário da fundação de comemorado por um impera-

dor árabe, Felipe Árabe (filho de um xeque que se no poder durante alguns

meses), até a intolerável desonra acontecida com o imperador Valeriano, que, aprisionado durante uma batalha em 260, morreu como refém nas

Enquanto o império enfraquecia, crescia a cora-gem dos povos não romanos acantonados nas fronteiras. Em numerosas ocasiões as legiões

se na contingência de enfrentar fortes, ainda

que menos organizados. Manter o equilíbrio dessa situação custou um alto preço. Territórios inteiros tiveram que ser doados. Inimigos de ontem tor-

Ninguém ousava ainda sonhar que esses aliados turos donos do império.

A verdade é que Roma e a própria península I-tálica deixavam de existir enquanto unidades pro-dutivas. A agricultura fora abandonada e as limi-tadas jazidas minerais italianas estavam exauri-das. As indústrias e lojas de artesãos fechavam suas portas, devido ao alto custo da mão-de-obra, da concorrência estrangeira e da voracidade do fisco, que tornavam essas atividades pouco ren-táveis. Em resumo, o núcleo original do mundo romano desmoronava com rapidez.

entisse a crise mais diretamente. Havia mais de um século que a

península vivia dos frutos –balho alheio. A tudo isso acrescentavacessidade cada vez maior de dinheiro que o imprador demandava para pagar as legiões que o apoiavam, assim como os funcionários que, bem ou mal, mantinham o sistema imperial em dade. Na verdade, a corrupção já era parte intgrante do sistema, e o orçamento tinha que asorver, além de salários e honorários, a parcela correspondente às propinas. A idesordem administrativa eram generalizadas. Os funcionários encarregados de cobrar os impostos, lá onde isso ainda era possível, desviavam abetamente uma considerável parcela para si prprios. Cada imperador aumentava os impostos na r

zão direta do aumento dos gastos públicos. Os antigos patrícios sentiram-se ultrajados quando também tiveram de pagar impostos regulares, antes obrigatórios apenas para os plebeus. Essa indignação pode ser avaliada a partir dos numersos escritos deixados por pessoas de origem nbre, em que se lastimam, declarando que era melhor viver como “pobre” entre os bárbaros do que como cidadão romano.

Abandonando as cidadesApesar dos altos impostos que recolhia, o Est

do não garantia nem mesmo os serviços essencais. A delinquência aumentara incontrolavelmente e não havia polícia. O comércio sofria os efeitos da falta de segurança das estradas e dos portos. Ninguém tinha capacidade para devolver a paz aos mares invadidos por novos piratas.O resultado foi que os potent

poderosos) mais perspicazes começaram a abadonar os centros urbanos, inseguros e carentes de serviços. Instalavam-se em suas casas de campo, fortificando-as com torres e altos muros. As populações locais passaram a pedirção, oferecendo seu próprio trabalho em troca do privilégio de abrigar-se naqueles núcleos. Tornvam-se servos do grande proprietário rural, logo denominado dominus (senhor, tratamento anterormente reservado apenas aos deuses ou ao iperador). A crise global do império, exigindo nvas estratégias de vida, criava as bases para a organização social da Idade Média.

Última tentativa para salvar o impérioEm 284, um soldado da Ilíria (atual Iugoslávia)

chamado Diocle tornou-se imperador, com o nme de Diocleciano. Através de profunda reforma administrativa, durante algum tempo ele consguiu restabelecer a dignidade do império. Dividiu as províncias em dois blocos, confiando cada um deles a um imperador que levava o título de Agusto. O próprio Diocleciano encarregOriente enquanto o Ocidente foi entregue a um general de confiança, Maximiano. Cada uma das metades foi subdividida em duas partes, adminitradas por um subalterno com o título de César. Era a “tetrarquia”, um governo de quatro. Criram-se quatro capitais: Milão, na Itália; Nicomdia, na Ásia Menor; Treves, na Alemanha; Sírmio,

– importados – do tra-balho alheio. A tudo isso acrescentava-se a ne-cessidade cada vez maior de dinheiro que o impe-rador demandava para pagar as legiões que o

m, assim como os funcionários que, bem ou mal, mantinham o sistema imperial em ativi-

. Na verdade, a corrupção já era parte inte-grante do sistema, e o orçamento tinha que ab-sorver, além de salários e honorários, a parcela correspondente às propinas. A indisciplina e a desordem administrativa eram generalizadas. Os funcionários encarregados de cobrar os impostos, lá onde isso ainda era possível, desviavam aber-tamente uma considerável parcela para si pró-

Cada imperador aumentava os impostos na ra-direta do aumento dos gastos públicos. Os

se ultrajados quando também tiveram de pagar impostos regulares, antes obrigatórios apenas para os plebeus. Essa indignação pode ser avaliada a partir dos numero-

pessoas de origem no-bre, em que se lastimam, declarando que era melhor viver como “pobre” entre os bárbaros do que como cidadão romano.

Abandonando as cidades Apesar dos altos impostos que recolhia, o Esta-

do não garantia nem mesmo os serviços essenci-aumentara incontrolavelmente

e não havia polícia. O comércio sofria os efeitos da falta de segurança das estradas e dos portos. Ninguém tinha capacidade para devolver a paz aos mares invadidos por novos piratas. O resultado foi que os potentiores (proprietários

poderosos) mais perspicazes começaram a aban-donar os centros urbanos, inseguros e carentes

se em suas casas de as com torres e altos muros.

As populações locais passaram a pedir-lhes prote-, oferecendo seu próprio trabalho em troca do

se naqueles núcleos. Torna-se servos do grande proprietário rural, logo

denominado dominus (senhor, tratamento anteri-ormente reservado apenas aos deuses ou ao im-

do império, exigindo no-vas estratégias de vida, criava as bases para a organização social da Idade Média.

Última tentativa para salvar o império Em 284, um soldado da Ilíria (atual Iugoslávia)

se imperador, com o no-. Através de profunda reforma

administrativa, durante algum tempo ele conse-guiu restabelecer a dignidade do império. Dividiu as províncias em dois blocos, confiando cada um deles a um imperador que levava o título de Au-gusto. O próprio Diocleciano encarregou-se do Oriente enquanto o Ocidente foi entregue a um general de confiança, Maximiano. Cada uma das metades foi subdividida em duas partes, adminis-tradas por um subalterno com o título de César. Era a “tetrarquia”, um governo de quatro. Cria-

capitais: Milão, na Itália; Nicomé-dia, na Ásia Menor; Treves, na Alemanha; Sírmio,

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CLIO História – Textos e Documentos na Iugoslávia. Todas essas cidades situavamperto de fronteiras, que eram cada vez mais meaçadas pelos bárbaros. No terreno econômico-social, Diocleciano impôs

preços e salários fixos e, para evitar o abandono do trabalho, criou um sistema em que as profisões deveriam ser transmitidas hereditariamente. O filho do camponês deveria ser camponês na mesma terra; o filho do artesão teria a profissão do pai. Desse modo, retardou por algumas décdas a agonia do império e criou os instrumentos para que se estabelecesse uma nova ordem socal, baseada no trabalho servil e nas corporações de ofício.

O Império Romno-Cristão

Duas letras gregas, o chi (X, = C) e o rho (P, = R), formum dos símbolos usados pelos

cristãos primitivos para represetar Jesus Cristo, pois indicavam as primeiras ltras do seu nome. Além disso, curiosamente, o chi lembra a forma de uma cruz.

símbolos gráficos, havia muitos outros, entre eles o peixe e o cordeiro.

Quando Jesus nasceu, os judeus da Palestina

gozavam de privilégios raramente concedidos às populações das províncias romanas. Estavam desobrigados de participar das cerimônias religisas oficiais, inclusive do culto aos imperadores, pois sua religião, além de monoteísta, proibia a adoração de imagens; apesar disso, tinham aceso aos cargos públicos e chegavam a receber a cidadania romana. Haviam conseguido um goveno local próprio, sujeito apenas a uma espécie de supervisão dos romanos. Tais regalias não representavam o reconhec

mento, por Roma, do poder de Jeová, ou das vitudes do monoteísmo, que distinguia os judeus dos demais povos da Antiguidade. Haviam sido outorgadas por Augusto como uma recompensa ao povo da Judéia, que o auxiliara, em 31 a.C., na luta contra seu rival Marco Antônio.No tempo de Cristo, o principal local de culto

dos hebreus era o santuário de Jerusalém, que deveria ser visitado pelo menos uma vez na vida, mesmo pelos judeus que não vivessem na Paletina. E havia milhares deles espalhados em quase todas as províncias romanas, sobretudo nas regões asiáticas que haviam pertencido sucessivmente aos babilônios, aos persas e a Alexandre da Macedônia. Eram os judeus da Diáspora, palvra grega que significa “dispersão”.Durante séculos os judeus alimentaram a esp

rança de que em breve viria um Messias para resgatá-los da dominação estrangeira, recondzindo-os às glórias da época de Davi e Salomão. Foi nessa atmosfera de intensa convicção religiosa que nasceu Jesus. Segundo os Evangelhos, até os 30 anos ele ganhou a vida como carpinteiro na cidade de Nazaré. Em seguida tornou

Textos e Documentos

na Iugoslávia. Todas essas cidades situavam-se perto de fronteiras, que eram cada vez mais a-

social, Diocleciano impôs salários fixos e, para evitar o abandono

do trabalho, criou um sistema em que as profis-sões deveriam ser transmitidas hereditariamente. O filho do camponês deveria ser camponês na mesma terra; o filho do artesão teria a profissão

ou por algumas déca-das a agonia do império e criou os instrumentos para que se estabelecesse uma nova ordem soci-al, baseada no trabalho servil e nas corporações

O Império Roma-

Duas letras gregas, o chi (X, = C) e o rho (P, = R), formavam um dos símbolos usados pelos

cristãos primitivos para represen-tar Jesus Cristo, pois indicavam as primeiras le-tras do seu nome. Além disso, curiosamente, o chi lembra a forma de uma cruz. Além desses

símbolos gráficos, havia muitos outros, entre eles o peixe e o cordeiro.

Quando Jesus nasceu, os judeus da Palestina gozavam de privilégios raramente concedidos às populações das províncias romanas. Estavam desobrigados de participar das cerimônias religio-sas oficiais, inclusive do culto aos imperadores, pois sua religião, além de monoteísta, proibia a adoração de imagens; apesar disso, tinham aces-so aos cargos públicos e chegavam a receber a cidadania romana. Haviam conseguido um gover-no local próprio, sujeito apenas a uma espécie de

Tais regalias não representavam o reconheci-mento, por Roma, do poder de Jeová, ou das vir-tudes do monoteísmo, que distinguia os judeus dos demais povos da Antiguidade. Haviam sido outorgadas por Augusto como uma recompensa

iara, em 31 a.C., na luta contra seu rival Marco Antônio. No tempo de Cristo, o principal local de culto

dos hebreus era o santuário de Jerusalém, que deveria ser visitado pelo menos uma vez na vida, mesmo pelos judeus que não vivessem na Pales-

a milhares deles espalhados em quase todas as províncias romanas, sobretudo nas regi-ões asiáticas que haviam pertencido sucessiva-mente aos babilônios, aos persas e a Alexandre da Macedônia. Eram os judeus da Diáspora, pala-

”. Durante séculos os judeus alimentaram a espe-

rança de que em breve viria um Messias para los da dominação estrangeira, recondu-

os às glórias da época de Davi e Salomão. Foi nessa atmosfera de intensa convicção religiosa

undo os Evangelhos, até os 30 anos ele ganhou a vida como carpinteiro na cidade de Nazaré. Em seguida tornou-se pregador

itinerante, vivendo em extrema pobreza. Reuniu em torno de si um grupo de discípulos, enquanto se difundia sua reputação de homem humilcaridoso. Jamais contradisse os preceitos do Velho Testamento, mas sua mensagem diferia da dos antigos profetas pela importância que dava ao amor no sentido de fraternidade e bondade. Isso, naturalmente, incluía o desapego aos bens matriais e a força para enfrentar as vicissitudes deste mundo. A recompensa viria com a vida eterna no reino dos céus, aberto a todos os justos, especalmente os pobres e desprezados. Muitos acolhram-no como o Messias, outros o viram como um perigoso agitador. Mas Jesus nãlibertação política “neste mundo” e seus ensinmentos eram uma crítica à ordem religiosa e socal dos judeus de seu tempo.

A “BOA NOVA” Entre os que se opunham a Jesus estavam os

sacerdotes, pertencentes ao grupamento político religioso dos saduceus, que o acusaram de blafêmia quando ele se proclamou Filho de Deus. De acordo com a lei hebraica, esse ato era punido com a morte, mas, como o tribunal judeu Sinédrio – não tinha competência para impor a pena capital, Jesus foi conduzido a Pôprocurador (governador) romano da província. Após uma apressada audiência, Pilatos acolheu a solicitação dos sacerdotes e expediu a sentença: morte por crucificação, a mais infame de toda as penas previstas pela lei romana.Segundo o Novo Testamento, Jesus ressuscitou

ao terceiro dia e teve vários encontros com os discípulos, dando a cada um deles a obrigação de pregar o Evangelho (do grego euangelion = boa nova). Os discípulos transformaramapostili, ou seja, em enviado.s, mensaanunciadores da doutrina de Jesus. Nascera mais uma das várias seitas judaicas: o novo credo, fundamentado na vinda do Messias, na ressurreção do corpo e na volta de Jesus Cristo, não ipedia que os apóstolos continuassem a obedecer à maior parte dos ritos hebraicos e a templo, em cujo átrio pregavam.Por algum tempo as autoridades de Jerusalém

toleraram a nova e pequenina seita. Mas, como em poucos anos o número de “nazarenos” amentou de 120 para 8 000, os sacerdotes alarmram-se, e os apóstolos começaram a ser detidos. Assim, na terceira década da era cristã, Estevão, chefe cristão dos gregos convertidos, foi condnado à morte por apedrejamento em Jerusalém.Mas a cisão definitiva entre judeus e cristãos só

se efetuou em 66, quando contra Roma, e os “nazarenos” de Jerusalém, alegando que o fim do mundo estava muito prximo para que se preocupassem com política, saíram da cidade e se estabeleceram às margens do rio Jordão.

A DIFUSÃO DO CRISTIANISMOQuando, no ano 70, Tito ordenou a destruição

do templo de Jerusalém, como punição à revolta dos judeus, os cristãos viram nesse fato a realiz

itinerante, vivendo em extrema pobreza. Reuniu em torno de si um grupo de discípulos, enquanto se difundia sua reputação de homem humilde e caridoso. Jamais contradisse os preceitos do Velho Testamento, mas sua mensagem diferia da dos antigos profetas pela importância que dava ao amor no sentido de fraternidade e bondade. Isso, naturalmente, incluía o desapego aos bens mate-

para enfrentar as vicissitudes deste mundo. A recompensa viria com a vida eterna no reino dos céus, aberto a todos os justos, especi-almente os pobres e desprezados. Muitos acolhe-

no como o Messias, outros o viram como um perigoso agitador. Mas Jesus não prometia uma libertação política “neste mundo” e seus ensina-mentos eram uma crítica à ordem religiosa e soci-al dos judeus de seu tempo.

Entre os que se opunham a Jesus estavam os sacerdotes, pertencentes ao grupamento político

saduceus, que o acusaram de blas-fêmia quando ele se proclamou Filho de Deus. De acordo com a lei hebraica, esse ato era punido com a morte, mas, como o tribunal judeu – o

não tinha competência para impor a pena capital, Jesus foi conduzido a Pôncio Pilatos, procurador (governador) romano da província. Após uma apressada audiência, Pilatos acolheu a solicitação dos sacerdotes e expediu a sentença: morte por crucificação, a mais infame de toda as penas previstas pela lei romana.

tamento, Jesus ressuscitou ao terceiro dia e teve vários encontros com os discípulos, dando a cada um deles a obrigação de pregar o Evangelho (do grego euangelion = boa nova). Os discípulos transformaram-se, então, em apostili, ou seja, em enviado.s, mensageiros e anunciadores da doutrina de Jesus. Nascera mais uma das várias seitas judaicas: o novo credo, fundamentado na vinda do Messias, na ressurrei-ção do corpo e na volta de Jesus Cristo, não im-pedia que os apóstolos continuassem a obedecer

dos ritos hebraicos e a frequentar o templo, em cujo átrio pregavam. Por algum tempo as autoridades de Jerusalém

toleraram a nova e pequenina seita. Mas, como em poucos anos o número de “nazarenos” au-

tou de 120 para 8 000, os sacerdotes alarma-os apóstolos começaram a ser detidos.

Assim, na terceira década da era cristã, Estevão, chefe cristão dos gregos convertidos, foi conde-nado à morte por apedrejamento em Jerusalém. Mas a cisão definitiva entre judeus e cristãos só

se efetuou em 66, quando os judeus se rebelaram contra Roma, e os “nazarenos” de Jerusalém, alegando que o fim do mundo estava muito pró-ximo para que se preocupassem com política, saíram da cidade e se estabeleceram às margens

A DIFUSÃO DO CRISTIANISMO no 70, Tito ordenou a destruição

do templo de Jerusalém, como punição à revolta dos judeus, os cristãos viram nesse fato a realiza-

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CLIO História – Textos e Documentos ção de uma profecia de Jesus. A partir de então o cristianismo não fez muitos adeptos entre os jdeus, pois ignorava seus esforços de libertação do jugo romano. Paralelamente, os apóstolos espalhavam a “boa

nova” entre os judeus da Diáspora, de Damasco a Roma. Filipe conseguiu adeptos em Samaria e Cesaréia; João criou uma forte comunidade cristã em Éfeso, e Pedro evangelizou numeda Síria e da Ásia Menor.

O grande missionário Um dos convertidos ao cristianismo estava de

tinado a tornar-se o maior de todos os missionrios cristãos. Era Paulo, um judeu possuidor de cidadania romana e que participou em Jerusalém da primeira perseguição aos cristãos por volta do ano 30. Cinco anos depois, quando seguia para Damasco, Paulo teve uma profunda experiência religiosa na qual acreditou ter tido uma visão de Cristo. Converteu-se imediatamente e transformou

num missionário infatigável. Percorreu a Grécia e a Ásia Menor, atraindo para o cristianismo tanto judeus quanto gentios; não se cansava de repetir que o cristianismo não era uma seita do judaímo. Seu apostolado resultou na adesão de deznas de milhares de gentios (não judeuformavam a maior parte da população do Império Romano.

O cristianismo primitivo Graças ao intenso trabalho de Pedro, Paulo e

outros apóstolos, o cristianismo estava firmemete estabelecido no final do século I. Os cristãos reuniam-se em recintos privados, organizados segundo o modelo judeu da sinagoga; a congrgação recebia o nome de eklesia (igreja). No dmingo, dia da ressurreição do Senhor, os cristãos reuniam-se para o rito semanal. Os sacerdotes liam as Escrituras, oravam e pregavam sermões doutrinais. No século II, essas cerimônias tornram a forma da missa, baseada em rituais judacos (orações, leituras de salmos, prédicas) e de outras religiões da época (a comunhão o pão e o vinho são concebidos como símbolos do corpo e do sangue de Cristo – inspiravarito sacrifical). O que existia de realmente novo era a exigência

de uma vida baseada nos preceitos cristãos. A fé, segundo Cristo, devia refletir-se nas boas obras; todos os bens eram partilhados em comum; lovavam-se o celibato e os laços de família. O crete deveria, em suma, fazer de sua vida um exeplo de piedade e virtude.

AS PERSEGUIÇÕES Sendo Roma a capital do Império Romano, era

natural que os discípulos de Cristo acorressem para evangelizá-la. Pedro chegou a Roma por volta do ano 40, e Paulo cerca de vinte ano.s dpois. Ambos morreram em 64, o primeiro crucifcado e o segundo decapitado, no tempo do imprador Nero.

Textos e Documentos

ção de uma profecia de Jesus. A partir de então o cristianismo não fez muitos adeptos entre os ju-

rços de libertação do

Paralelamente, os apóstolos espalhavam a “boa nova” entre os judeus da Diáspora, de Damasco a Roma. Filipe conseguiu adeptos em Samaria e Cesaréia; João criou uma forte comunidade cristã em Éfeso, e Pedro evangelizou numerosas cidades

Um dos convertidos ao cristianismo estava des-se o maior de todos os missioná-

rios cristãos. Era Paulo, um judeu possuidor de cidadania romana e que participou em Jerusalém

eira perseguição aos cristãos por volta do ano 30. Cinco anos depois, quando seguia para Damasco, Paulo teve uma profunda experiência religiosa na qual acreditou ter tido uma visão de

se imediatamente e transformou-se tigável. Percorreu a Grécia e

a Ásia Menor, atraindo para o cristianismo tanto judeus quanto gentios; não se cansava de repetir que o cristianismo não era uma seita do judaís-mo. Seu apostolado resultou na adesão de deze-nas de milhares de gentios (não judeus), que formavam a maior parte da população do Império

Graças ao intenso trabalho de Pedro, Paulo e outros apóstolos, o cristianismo estava firmemen-te estabelecido no final do século I. Os cristãos

rivados, organizados segundo o modelo judeu da sinagoga; a congre-gação recebia o nome de eklesia (igreja). No do-mingo, dia da ressurreição do Senhor, os cristãos

se para o rito semanal. Os sacerdotes liam as Escrituras, oravam e pregavam sermões utrinais. No século II, essas cerimônias torna-

ram a forma da missa, baseada em rituais judai-cos (orações, leituras de salmos, prédicas) e de outras religiões da época (a comunhão – na qual o pão e o vinho são concebidos como símbolos do

inspirava-se num

O que existia de realmente novo era a exigência de uma vida baseada nos preceitos cristãos. A fé,

se nas boas obras; todos os bens eram partilhados em comum; lou-

o e os laços de família. O cren-te deveria, em suma, fazer de sua vida um exem-

Sendo Roma a capital do Império Romano, era sto acorressem

Pedro chegou a Roma por volta do ano 40, e Paulo cerca de vinte ano.s de-pois. Ambos morreram em 64, o primeiro crucifi-cado e o segundo decapitado, no tempo do impe-

Antes de Nero, os cristãos tinham sido considrados, em Roma e nas províncias, como praticate.s de uma seita judaica, e, portanto, estavam isentos de frequentar as cerimônias religiosas oficiais. Logo, porém, tornoucristãos não deviam ser tratado.s como judeus: as relações entre os "nazarenos’' e as várias setas judaicas estavam longe deContudo, os cristãos continuaram a recusar a participação nas cerimônias oficiais, nas funções públicas e no exército, para não prestar jurameto em nome de desses pagãos.Nero inaugurou as perseguições fazendo exec

tar Pedro e Paulo e vários milhares de cristãos. Muitos foram destroçados por animais ferozes; outros, abatidos por gladiadores. As perseguições prosseguiram sob Domiciano (81/96), Trajano (98/117) e Marco Aurélio, o imperador dos filósfos (161/180). Cessaram na época de Cômod(180/192) e retornaram com Sétimo Severo (193/211). Seguiu-se um período de trégua, mas, no século III, Décio, Valeriano e Diocleciano fizram tentativas sucessivas para destruir os critãos em todo o império. Nessa época, Roma estva acossada pelos bárbaros que ameaçavam as suas fronteiras, depauperada economicamente: uma onda de sentimento religioso, patriotismo e medo tomou conta da população. Os cristãos, à margem do tumulto e hostis ao serviço militar, foram responsabilizados pelo colapso. Por fim, ogoverno imperial viu-se forçado a desistir das perseguições, pois elas pareciam só aumentar 0 número de fiéis. A última campanha em larga escala encerrou-se em 311.

As catacumbas Na época das perseguições, as catacumbas se

viam de local de refúgio aos crtivessem sido construídas com esse objetivo. Na realidade foram criadas por volta do ano 100, quando os cristãos de Roma, adotando as tradções sírias e etruscas, começaram a enterrar os mortos ad catacumbas (nas cavidades), possivemente mais por economia de espaço do que para ocultamento. Extensas galerias subterrâneas ram abertas em vários níveis e as paredes recebam até três corpos, dispostos horizontalmente.

O COLAPSO DE ROMA Apesar de os imperadores e a população rom

na fiel aos deuses tradicionais atribuírem aos critãos a debilitação de Roma, as dificuldades que assolavam o império decorriam de sua própria organização política, social, econômica e jurídica. Em 212, por exemplo, o imperador Caracala tinha concedido a cidadania a todos os que viviam nas várias províncias de Roma (cerca de 100 milhões de pessoas). A intenção não era humanitária; simplesmente visava obter maior arrecadação de taxas, conseguir recursos para os cofres imperais. A pesada tributação, de resto, levara gralmente à decadência do comércio e das manufturas e à transferência de significativas parcelas da população para as regiões não romanizadas, onde estavam a salvo dos coletores.

Antes de Nero, os cristãos tinham sido conside-rados, em Roma e nas províncias, como pratican-

eita judaica, e, portanto, estavam as cerimônias religiosas

oficiais. Logo, porém, tornou-se evidente que os cristãos não deviam ser tratado.s como judeus: as relações entre os "nazarenos’' e as várias sei-tas judaicas estavam longe de serem amigáveis. Contudo, os cristãos continuaram a recusar a participação nas cerimônias oficiais, nas funções públicas e no exército, para não prestar juramen-to em nome de desses pagãos. Nero inaugurou as perseguições fazendo execu-

rios milhares de cristãos. Muitos foram destroçados por animais ferozes; outros, abatidos por gladiadores. As perseguições prosseguiram sob Domiciano (81/96), Trajano (98/117) e Marco Aurélio, o imperador dos filóso-fos (161/180). Cessaram na época de Cômodo (180/192) e retornaram com Sétimo Severo

se um período de trégua, mas, no século III, Décio, Valeriano e Diocleciano fize-ram tentativas sucessivas para destruir os cris-tãos em todo o império. Nessa época, Roma esta-

aros que ameaçavam as suas fronteiras, depauperada economicamente: uma onda de sentimento religioso, patriotismo e medo tomou conta da população. Os cristãos, à margem do tumulto e hostis ao serviço militar, foram responsabilizados pelo colapso. Por fim, o

se forçado a desistir das perseguições, pois elas pareciam só aumentar 0 número de fiéis. A última campanha em larga

se em 311.

Na época das perseguições, as catacumbas ser-viam de local de refúgio aos cristãos, embora não tivessem sido construídas com esse objetivo. Na realidade foram criadas por volta do ano 100, quando os cristãos de Roma, adotando as tradi-ções sírias e etruscas, começaram a enterrar os mortos ad catacumbas (nas cavidades), possivel-

e mais por economia de espaço do que para ocultamento. Extensas galerias subterrâneas e-ram abertas em vários níveis e as paredes recebi-am até três corpos, dispostos horizontalmente.

Apesar de os imperadores e a população roma-deuses tradicionais atribuírem aos cris-

tãos a debilitação de Roma, as dificuldades que assolavam o império decorriam de sua própria organização política, social, econômica e jurídica. Em 212, por exemplo, o imperador Caracala tinha

todos os que viviam nas várias províncias de Roma (cerca de 100 milhões de pessoas). A intenção não era humanitária; simplesmente visava obter maior arrecadação de

para os cofres imperi-ais. A pesada tributação, de resto, levara gradu-almente à decadência do comércio e das manufa-turas e à transferência de significativas parcelas da população para as regiões não romanizadas, onde estavam a salvo dos coletores.

Page 18: Roma: das origens à República - Colégio Nossa Senhora de Fátima · CLIO História – Textos e Documentos caso de perigo, podiam até nomear um ditador, governante com poderes

CLIO História – Textos e Documentos E além disso havia os “bárbaros”, as tribos n

mades que pressionavam as fronteiras do imprio. Em 293, Diocleciano tentou sanar todos esses problemas por meio de uma profunda reforma administrativa. Para melhor defender os territrios romanos dividiu-os em duas partes, a oriental e a ocidental. Cada uma dessas partes foi subdvidida em duas outras, criando-se desse modo quatro unidades territoriais. Para evitar que após a sua morte o império fo

se destroçado pelas lutas entre os pretendentes, Diocleciano criou a tetrarquia (governo de qutro). Dois eram imperadores de fato (os auge residiam em Nicomédia, no Oriente, e em Milão, no Ocidente. Cada augusto era auxiliado por um césar, que deveria sucedê-la. Mas o sistema só funcionou enquanto Diocleciano esteve no poder.Para resolver a grave crise econômica, Dioclec

ano estatizou as manufaturas, o comércio e as corporações de artesãos. Essas medidas, porém, quase nada resolveram. Cada reforma ampliava os custos com a administração, e não havia rcursos para efetuá-las.

A VITÓRIA DO CRISTIANISMO Enquanto o império entrava em ver

queda, o número de cristãos multiplicavaano para ano; entre seus adeptos havia patrícios, altos oficiais e até mesmo membros da família imperial. Os cristãos, na verdade, constituíam uma sociedade à parte, que funcionava perfeitmente no interior da estrutura social romana em crise generalizada. O alto prestígio moral e a devoção dos fiéis

tribuíram uma dimensão de autoridade civil à hierarquia religiosa, sobretudo nas províncias onde seu poder era real e reconhecido. Os presbteroi (presbíteros), os padres, eram, na prática, a autoridade máxima nas paróquias ou bairros aministrativos em que eram divididas as cidades do império. Gradativamente, a autoridade do bispo (chefe religioso de uma cidade) tornourespeitada que a do prefeito romano; para a ppulação de uma província era mais importante a palavra do metropolita, ou arcebispo, que a do governador romano. E, pouco a pouco, o sínodo, ou assembleia de bispos, assumiu as funções das assembleias provinciais. Uma carta encíclica, ou seja, uma “circular” assinada pelo papa e difundda com rapidez por todo o império, tornavaférrea para milhões de cristãos.

A aliança com os cristãos Em 305 Diocleciano e Maximiano, o outro a

gusto, abdicaram; o criador da tetrarquia retirouse para seu palácio em Spalato, de onde acompnhou o fracasso de dois de seus projetos: destruir os cristãos e garantir uma sucessão pacífica. “O sangue dos mártires é semente”, escrevia Tertulano, teólogo cristão. Diocleciano e Maximiano foram sucedidos por

Galério e Constâncio Cloro, que nomearam os césares Severo e Maximiano Daia. Em 306 moreu Constâncio Cloro, e a tetrarquia passou a reunir Galério e Severo e os césares Maximiano e

Textos e Documentos

E além disso havia os “bárbaros”, as tribos nô-nteiras do impé-

rio. Em 293, Diocleciano tentou sanar todos esses problemas por meio de uma profunda reforma administrativa. Para melhor defender os territó-

os em duas partes, a oriental e a ocidental. Cada uma dessas partes foi subdi-

se desse modo

Para evitar que após a sua morte o império fos-se destroçado pelas lutas entre os pretendentes, Diocleciano criou a tetrarquia (governo de qua-tro). Dois eram imperadores de fato (os augustos) e residiam em Nicomédia, no Oriente, e em Milão, no Ocidente. Cada augusto era auxiliado por um

la. Mas o sistema só funcionou enquanto Diocleciano esteve no poder. Para resolver a grave crise econômica, Diocleci-

ou as manufaturas, o comércio e as corporações de artesãos. Essas medidas, porém, quase nada resolveram. Cada reforma ampliava os custos com a administração, e não havia re-

Enquanto o império entrava em vertiginosa

queda, o número de cristãos multiplicava-se de ano para ano; entre seus adeptos havia patrícios, altos oficiais e até mesmo membros da família imperial. Os cristãos, na verdade, constituíam uma sociedade à parte, que funcionava perfeita-

terior da estrutura social romana em

O alto prestígio moral e a devoção dos fiéis a-tribuíram uma dimensão de autoridade civil à hierarquia religiosa, sobretudo nas províncias onde seu poder era real e reconhecido. Os presbi-

teros), os padres, eram, na prática, a autoridade máxima nas paróquias ou bairros ad-ministrativos em que eram divididas as cidades do império. Gradativamente, a autoridade do bispo (chefe religioso de uma cidade) tornou-se mais

romano; para a po-pulação de uma província era mais importante a palavra do metropolita, ou arcebispo, que a do governador romano. E, pouco a pouco, o sínodo,

de bispos, assumiu as funções das provinciais. Uma carta encíclica, ou

seja, uma “circular” assinada pelo papa e difundi-da com rapidez por todo o império, tornava-se lei

Em 305 Diocleciano e Maximiano, o outro au-gusto, abdicaram; o criador da tetrarquia retirou-

para seu palácio em Spalato, de onde acompa-nhou o fracasso de dois de seus projetos: destruir os cristãos e garantir uma sucessão pacífica. “O sangue dos mártires é semente”, escrevia Tertuli-

Diocleciano e Maximiano foram sucedidos por Galério e Constâncio Cloro, que nomearam os césares Severo e Maximiano Daia. Em 306 mor-reu Constâncio Cloro, e a tetrarquia passou a reunir Galério e Severo e os césares Maximiano e

Constantino, filho de Constâncio Cloro. Aprovetando-se do descontentamenameaçados de transferência ou demissão e dos rumores de que Roma deveria se sujeitar aos impostos provinciais, Maxêncio (filho de Maximino) proclamou-se imperador.A disputa seria resolvida através de um co

plexo jogo de alianças, duranchegou a ser entregue a seis augustos. Foi nesse período confuso que, pela primeira vez, o cristinismo teve sua influência política. Apesar da saguinária perseguição de Diocleciano, os cristãos eram um poderoso elemento no jogo do podmuito hábil, Constantino soube utilizásentou-se como defensor do cristianismo, contra o qual Maxêncio ainda lutava, e na batalha de Ponte Milvia (312) venceu Maxêncio com o auxilio dos cristãos. No ano seguinte, juntamente com Licínio, o augusto do Oriente, lançou o Edito de Milão, pelo qual o cristianismo ganhava plena liberdade de culto. Leis subsequentesos sacerdotes do pagamento de impostos e deram à Igreja o direito de receber heranças.Até então Constantino tivera em Licínio u

ado. Mas, a pretexto de uma política de persegução de Licínio aos cristãos, Constantino obrigoua abdicar, exilou-o e, depois, ordenou a sua excução (324). Era o fim dos últimos resquícios da reforma de Diocleciano; a unidade administrativa era restabelecida. Roma, entretanto, não voltaria a ser a capital: em 330 o imperador ergueu a cidade de Constantinopla, no lugar de Bizâncio, centro grego da Ásia Menor, e ali se estabeleceu.Após a morte de Constantino o império foi n

vamente dividido. Seus sucessores favoreceram os cristãos e perseguiram o paganismo, à exceção de Juliano, conhecido na literatura cristã como Juliano, o Apóstata, que reinou de 361 a 363.

A UNIFICAÇÃO DA DOUTRINAOs ensinamentos de Jesus não tinham sido el

borados num sistema completo e estavam sujetos a diferentes interpretações. Cada missionário pregava a sua própria versão da doutrina "nazrena"; em consequência, cada congregação dterminava suas próprias crenças.Uma das controvérsias mais

sobre a natureza de Jesus. A posição tradicional que a Igreja aceitava era a de ser Cristo ao memo tempo Deus e homem. Mas os monofisistas negavam a Jesus os atributos do ser humano, e o arianismo, a mais forte das heresias. dizia que Cristo não era Deus nem homem, mas uintermediário entre as naturezas humana e divna. No século IV, as dissensões

eram tantas que ameaçavam a paz do império. Preocupado, Constantino convidou os dirigentes das igrejas a se reunirem em Nicéia (325), onde foi elaborada uma síntese da crença cristã Credo de Nicéa – pela qual se definiu a natureza da Santíssima Trindade e se fixou uma doutrina católica, ou Seja, uma doutrina cristã universal.

A Igreja de Roma

Constantino, filho de Constâncio Cloro. Aprovei-se do descontentamento dos pretorianos

ameaçados de transferência ou demissão e dos rumores de que Roma deveria se sujeitar aos impostos provinciais, Maxêncio (filho de Maximia-

se imperador. A disputa seria resolvida através de um com-

plexo jogo de alianças, durante o qual o império chegou a ser entregue a seis augustos. Foi nesse período confuso que, pela primeira vez, o cristia-nismo teve sua influência política. Apesar da san-guinária perseguição de Diocleciano, os cristãos eram um poderoso elemento no jogo do poder; muito hábil, Constantino soube utilizá-los. Apre-

se como defensor do cristianismo, contra o qual Maxêncio ainda lutava, e na batalha de Ponte Milvia (312) venceu Maxêncio com o auxilio dos cristãos. No ano seguinte, juntamente com

sto do Oriente, lançou o Edito de Milão, pelo qual o cristianismo ganhava plena

subsequentes isentaram os sacerdotes do pagamento de impostos e deram à Igreja o direito de receber heranças. Até então Constantino tivera em Licínio um ali-

ado. Mas, a pretexto de uma política de persegui-ção de Licínio aos cristãos, Constantino obrigou-o

o e, depois, ordenou a sua exe-cução (324). Era o fim dos últimos resquícios da reforma de Diocleciano; a unidade administrativa

stabelecida. Roma, entretanto, não voltaria a ser a capital: em 330 o imperador ergueu a cidade de Constantinopla, no lugar de Bizâncio, centro grego da Ásia Menor, e ali se estabeleceu. Após a morte de Constantino o império foi no-

cessores favoreceram os cristãos e perseguiram o paganismo, à exceção de Juliano, conhecido na literatura cristã como Juliano, o Apóstata, que reinou de 361 a 363.

A UNIFICAÇÃO DA DOUTRINA Os ensinamentos de Jesus não tinham sido ela-

mpleto e estavam sujei-tos a diferentes interpretações. Cada missionário pregava a sua própria versão da doutrina "naza-

, cada congregação de-terminava suas próprias crenças. Uma das controvérsias mais frequentes versava

de Jesus. A posição tradicional que a Igreja aceitava era a de ser Cristo ao mes-mo tempo Deus e homem. Mas os monofisistas negavam a Jesus os atributos do ser humano, e o arianismo, a mais forte das heresias. dizia que Cristo não era Deus nem homem, mas um ser intermediário entre as naturezas humana e divi-

dissensões entre os cristãos eram tantas que ameaçavam a paz do império. Preocupado, Constantino convidou os dirigentes das igrejas a se reunirem em Nicéia (325), onde

ma síntese da crença cristã – O pela qual se definiu a natureza

da Santíssima Trindade e se fixou uma doutrina católica, ou Seja, uma doutrina cristã universal.

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CLIO História – Textos e Documentos O chefe espiritual da Igreja desde o século I era

o papa – o bispo de Roma. Sua autoridade reposava no fato de que Jesus designara o apóstolo Pedro como chefe da nova Igreja, e Pedro, que se tornara o primeiro bispo de Roma, passara a dirção de toda a Igreja aos seus sucessores do bipado romano. Essa ascendência não foi aceita tranquilamente

nem mesmo nos primeiros tempos do cristianimo. Mas, enquanto as demais igrejas discutiam a natureza de Jesus, a Igreja de Roma dava priordade à sua organização e se fortalecia cada vez mais. No século III sua posição era io papa exercia autoridade efetiva sobre as comnidades cristãs do império.

A RELIGIÃO DO ESTADO No final do século IV o imperador do Oriente,

Teodósio, foi impedido de entrar na basílica por Ambrósio, bispo de Milão, a menos que se pentenciasse dos seus pecados. Teodósio mandara matar 6 000 pessoas em Tessalônica e, ao se curvar às determinações do bispo, admitia publcamente estar sujeito aos preceitos exigidos de todos os cristãos. O gesto de Ambrósio indicava que a Igreja tinha

o poder de disciplinar mesmo os mais elevados dirigentes seculares. Era a vitória ostensiva do cristianismo, que, em 380, era proclamado, pelo mesmo Teodósio, religião oficial do Estado.Nesse momento, muitas formas e costumes p

gãos já haviam sido incorporados pelatúnica usada pelos sacerdotes; o título de pontifex maximus (sumo pontífice) para o papa; a arquittura do edifício religioso – a basílica (sede do trbunal para os romanos); o uso do latim como língua oficial da Igreja, a partir do século IV. Aorganização da Igreja modelou-se pela do imprio, com uma diferença: a eclesiástica funcionava perfeitamente.

Queda do Império Romano do Ocdente

“Do Ocidente chega uma pavorosa notícia: Rma foi sitiada e pagou com ouro a salvação dos seus cidadãos. Mas, depois de eles serem privdos dos seus bens, foram novamente assediados e, junto com os bens, perderam a sua vida. Os romanos foram vencidos mais pela fome do que

pelas armas. Os poucos sobreviventes foram feitos prisione

ros. A fúria dos famintos era tal que eles se equartejavam uns aos outros. Que dor para mim

ver essa antiga potência dissolver-ria, absolutamente privada de qualquer abrigo,

comida ou veste.” A carta acima, datada de outubro de 410, foi

escrita por São Gerolamo, que na époctrava na Palestina, estudando as Sagradas Escrturas. O teólogo cristão difundia a notícia que convu

sionaria todo o mundo romano: no dia 24 de gosto daquele ano, Alarico, rei dos visigodos,

Textos e Documentos

O chefe espiritual da Igreja desde o século I era bispo de Roma. Sua autoridade repou-

sava no fato de que Jesus designara o apóstolo Pedro como chefe da nova Igreja, e Pedro, que se tornara o primeiro bispo de Roma, passara a dire-ção de toda a Igreja aos seus sucessores do bis-

tranquilamente, nem mesmo nos primeiros tempos do cristianis-mo. Mas, enquanto as demais igrejas discutiam a natureza de Jesus, a Igreja de Roma dava priori-dade à sua organização e se fortalecia cada vez mais. No século III sua posição era incontestável: o papa exercia autoridade efetiva sobre as comu-

No final do século IV o imperador do Oriente, Teodósio, foi impedido de entrar na basílica por Ambrósio, bispo de Milão, a menos que se peni-

asse dos seus pecados. Teodósio mandara matar 6 000 pessoas em Tessalônica e, ao se curvar às determinações do bispo, admitia publi-camente estar sujeito aos preceitos exigidos de

O gesto de Ambrósio indicava que a Igreja tinha disciplinar mesmo os mais elevados

dirigentes seculares. Era a vitória ostensiva do cristianismo, que, em 380, era proclamado, pelo mesmo Teodósio, religião oficial do Estado. Nesse momento, muitas formas e costumes pa-

gãos já haviam sido incorporados pela Igreja: a túnica usada pelos sacerdotes; o título de pontifex maximus (sumo pontífice) para o papa; a arquite-

a basílica (sede do tri-bunal para os romanos); o uso do latim como língua oficial da Igreja, a partir do século IV. A

se pela do impé-rio, com uma diferença: a eclesiástica funcionava

rio Romano do Oci-

Do Ocidente chega uma pavorosa notícia: Ro-ma foi sitiada e pagou com ouro a salvação dos

depois de eles serem priva-dos dos seus bens, foram novamente assediados e, junto com os bens, perderam a sua vida. Os romanos foram vencidos mais pela fome do que

Os poucos sobreviventes foram feitos prisionei-que eles se es-

quartejavam uns aos outros. Que dor para mim -se nessa misé-

ria, absolutamente privada de qualquer abrigo,

, datada de outubro de 410, foi escrita por São Gerolamo, que na época se encon-trava na Palestina, estudando as Sagradas Escri-

O teólogo cristão difundia a notícia que convul-sionaria todo o mundo romano: no dia 24 de a-gosto daquele ano, Alarico, rei dos visigodos,

entrara em Roma, inviolada havia oito séculos, e saqueara a cidade. O relato de Gerolamo, porém, exagerava os fatos, o que era natural: o acontcimento foi muito ampliado pelos fugitivos. O episódio teve grande repercussão, mais pelo sinificado moral do que pelas riais. Cristãos e pagãos se comoveram, pois todos consideravam Roma uma cidade sagrada, e a sua triste sorte acendeu um conflito entre os adeptos das duas religiões, que se acusavam reciprocmente de ter privado a capital da proteção divina que a acompanhara durante séculos. Naa queda de Roma não passou de um golpe decisvo numa agonia que durava no mínimo duzentos anos.

UMA AMEAÇA PERMANENTEO problema dos “bárbaros”, populações não

romanas que pressionavam as fronteiras do imprio, era tão antigo quanto o próprio imtrês séculos os conflitos haviam sido controlados ou pela ação militar dos legionários ou por acodos diplomáticos: os bárbaros podiam permanecer nas fronteiras de territórios imperiais desde que jurassem fidelidade a Roma. Muitos engajaramcomo mercenários nos exércitos romanos e aguns fizeram carreira militar.

Ação em cadeia Os hunos são descritos pelos historiadores do

século IV como a “semente de toda a calamidade e morticínio”. Na realidade, eram simplesmente um povo nômade, oriundo de China e a Sibéria, que ao longo de vários séculos percorreu as estepes da Ásia central.No século IV, impedidos em seu avanço para

leste pelos chineses, voltarampor volta de 370, penetraram na Europa pela Rússia. Os primeiros povos atacados foram os sármatas e os alanos (ambos originários da Ásia e instalados na Rússia europeiafoi incorporada, outra fugiu para oeste, provocado o deslocamento de povos eslavos e germâncos. Entre eles estavam os visigodram refúgio ao sul do Danúbio, na atual Bulgária, em território romano, com a autorização do imprador Valente. Ali, maltratados por funcionários do império, revoltaram-se, provocando a intevenção do próprio imperador, que acabou morendo em Adrianópolis (378), numa batalha cotra o povo que acolhera.

Federados do império O Sucessor de Valente, Teodósio I, conseguiu

neutralizar, em 382, a ação dos visigodos elevado-os à condição de foederati (federados), ou seja, aliados. O chefe Alarico chatingir uma posição de destaque no exército e na corte de Teodósio e, quando este morreu, os rmanos acreditaram que os visigodos constituíam um novo baluarte defensivo do império. Com a morte do imperador, porém, os bárbaros passram à ofensiva contra os romanos. Chegaram a ameaçar Constantinopla, obrigando o príncipe Rufino, regente do Império Oriental durante a

entrara em Roma, inviolada havia oito séculos, e saqueara a cidade. O relato de Gerolamo, porém, exagerava os fatos, o que era natural: o aconte-cimento foi muito ampliado pelos fugitivos. O episódio teve grande repercussão, mais pelo sig-ficado moral do que pelas consequências mate-

os se comoveram, pois todos consideravam Roma uma cidade sagrada, e a sua triste sorte acendeu um conflito entre os adeptos das duas religiões, que se acusavam reciproca-mente de ter privado a capital da proteção divina que a acompanhara durante séculos. Na verdade, a queda de Roma não passou de um golpe decisi-vo numa agonia que durava no mínimo duzentos

UMA AMEAÇA PERMANENTE O problema dos “bárbaros”, populações não

romanas que pressionavam as fronteiras do impé-rio, era tão antigo quanto o próprio império. Por três séculos os conflitos haviam sido controlados ou pela ação militar dos legionários ou por acor-dos diplomáticos: os bárbaros podiam permanecer nas fronteiras de territórios imperiais desde que jurassem fidelidade a Roma. Muitos engajaram-se omo mercenários nos exércitos romanos e al-guns fizeram carreira militar.

Os hunos são descritos pelos historiadores do século IV como a “semente de toda a calamidade e morticínio”. Na realidade, eram simplesmente um povo nômade, oriundo de uma região entre a China e a Sibéria, que ao longo de vários séculos percorreu as estepes da Ásia central. No século IV, impedidos em seu avanço para

leste pelos chineses, voltaram-se para oeste e, por volta de 370, penetraram na Europa pela

meiros povos atacados foram os sármatas e os alanos (ambos originários da Ásia e

europeia). Uma parte deles foi incorporada, outra fugiu para oeste, provocan-do o deslocamento de povos eslavos e germâni-cos. Entre eles estavam os visigodos, que obtive-ram refúgio ao sul do Danúbio, na atual Bulgária, em território romano, com a autorização do impe-rador Valente. Ali, maltratados por funcionários

se, provocando a inter-venção do próprio imperador, que acabou mor-

Adrianópolis (378), numa batalha con-

O Sucessor de Valente, Teodósio I, conseguiu neutralizar, em 382, a ação dos visigodos elevan-

os à condição de foederati (federados), ou seja, aliados. O chefe Alarico chegou mesmo a atingir uma posição de destaque no exército e na corte de Teodósio e, quando este morreu, os ro-manos acreditaram que os visigodos constituíam um novo baluarte defensivo do império. Com a morte do imperador, porém, os bárbaros passa-

va contra os romanos. Chegaram a ameaçar Constantinopla, obrigando o príncipe Rufino, regente do Império Oriental durante a

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CLIO História – Textos e Documentos minoridade de Arcádio, a fazer enormes concesões. Finalmente, Alarico concordou em transferir seu povo para a Dalmácia, que se tranbase de devastadoras incursões visigodas pela Grécia e Ásia Menor. Na época, a corte do Ocidente estava sediada

em Milão, sob a chefia do general Estilicão, filho de um chefe vândalo e tutor do jovem Honório, herdeiro do trono, e esperava-se quemomento Alarico invadisse a Itália. Isso, de fato, ocorreu em 401, mas Estilicão deteve o avanço visigodo, derrotando os bárbaros no Piemonte (402) e na região do Vêneto (403). No entanto, para evitar novas invasões, Estilicão foi obrigado a negociar com Alarico, dando-lhe valiosos prsentes para que seu povo permanecesse além da fronteira. Em 404, como medida de segurança, Honório transferiu a corte para Ravena.A ação defensiva de Estilicão prosseguiu contra

os vândalos e ostrogodos (godos do invadiram a região da Toscana em 406. Mas o zelo do general na defesa da Itália e suas relações às vezes ambíguas com Alarico alimentaram a suspeita de que ele estivesse cobiçando o trono. Em 408 Honório mandou assassináaproveitando-se da confusão interna do império, invadiu a Itália. Chegou às portas de Roma e drante dois anos negociou com Honório a salvação da cidade em troca de terras e tributos; o imprador mostrou-se inflexível. Então, em agosto de 410, os visigodos invadiram e saquearam Roma.

POR QUE ROMA CAIU A queda de Roma, do mesmo modo que sua a

censão, não teve uma causa, mas muitas. E tabém não foi um processo súbito, mas provocado por diversos e numerosos fatores ao longo de trezentos anos: o colapso da agricultura manufaturas; a perda do mercado das províncias; as importações que superavam as exportações e a consequente drenagem do ouro para o exterior; o crescente custo dos exércitos, da assistência militar, das obras públicas, da burocracia, cada vez maior, e da corte, à qual se agregavam mlhares de parasitas; a depreciação da moeda; as devastações da guerra, das revoluções e das grandes epidemias (a peste de 260/265 fez 5 000 mortes por dia durante muitas semanas); o declnio da população a partir de meadosos altos impostos, que desestimulavam as ativdades produtivas; a decadência das instituições políticas, que levou os cidadãos a se desinteressrem pela participação na vida pública; o desptismo, a violência e a corrupção dos homens que detinham o poder; a divisão do império e a multplicação das capitais, que rompeu a unidade aministrativa. Escreve o teólogo cristão Salviano, testemunha dos últimos anos do Império Romano do Ocidente: “Em todas as cidades, em todas as vilas existem tantos tiranos quantos cobradores de impostos. Os pobres estão reduzidos ao desepero; viúvas e órfãos são oprimidos. Até mesmo muitos romanos de nascimento ilustre e de boa educação preferem procurar refúgio junto aos inimigos para escapar da tirania do Estado. E

Textos e Documentos

minoridade de Arcádio, a fazer enormes conces-sões. Finalmente, Alarico concordou em transferir seu povo para a Dalmácia, que se transformou na base de devastadoras incursões visigodas pela

Na época, a corte do Ocidente estava sediada em Milão, sob a chefia do general Estilicão, filho de um chefe vândalo e tutor do jovem Honório,

se que a qualquer momento Alarico invadisse a Itália. Isso, de fato, ocorreu em 401, mas Estilicão deteve o avanço visigodo, derrotando os bárbaros no Piemonte (402) e na região do Vêneto (403). No entanto, para evitar novas invasões, Estilicão foi obrigado

lhe valiosos pre-sentes para que seu povo permanecesse além da fronteira. Em 404, como medida de segurança, Honório transferiu a corte para Ravena. A ação defensiva de Estilicão prosseguiu contra

os vândalos e ostrogodos (godos do leste), que invadiram a região da Toscana em 406. Mas o zelo do general na defesa da Itália e suas relações às vezes ambíguas com Alarico alimentaram a suspeita de que ele estivesse cobiçando o trono. Em 408 Honório mandou assassiná-lo. Alarico,

se da confusão interna do império, invadiu a Itália. Chegou às portas de Roma e du-rante dois anos negociou com Honório a salvação da cidade em troca de terras e tributos; o impe-

se inflexível. Então, em agosto de e saquearam Roma.

A queda de Roma, do mesmo modo que sua as-censão, não teve uma causa, mas muitas. E tam-bém não foi um processo súbito, mas provocado por diversos e numerosos fatores ao longo de trezentos anos: o colapso da agricultura e das manufaturas; a perda do mercado das províncias; as importações que superavam as exportações e

drenagem do ouro para o exterior; o crescente custo dos exércitos, da assistência militar, das obras públicas, da burocracia, cada

e da corte, à qual se agregavam mi-lhares de parasitas; a depreciação da moeda; as devastações da guerra, das revoluções e das grandes epidemias (a peste de 260/265 fez 5 000 mortes por dia durante muitas semanas); o declí-nio da população a partir de meados do século II; os altos impostos, que desestimulavam as ativi-dades produtivas; a decadência das instituições políticas, que levou os cidadãos a se desinteressa-rem pela participação na vida pública; o despo-tismo, a violência e a corrupção dos homens que

inham o poder; a divisão do império e a multi-plicação das capitais, que rompeu a unidade ad-ministrativa. Escreve o teólogo cristão Salviano, testemunha dos últimos anos do Império Romano do Ocidente: “Em todas as cidades, em todas as

iranos quantos cobradores de impostos. Os pobres estão reduzidos ao deses-pero; viúvas e órfãos são oprimidos. Até mesmo muitos romanos de nascimento ilustre e de boa educação preferem procurar refúgio junto aos inimigos para escapar da tirania do Estado. E é

junto aos bárbaros que encontram aquela justiça e humanidade que no passado caracterizaram a civilização romana. Eles são diferentes dos bárbros nos costumes, no idioma e podese incomodam com o mau cheiro dos farrapos dos seus hospedeiros. Entretanto, isso lhes é prefervel a tolerar a injustiça dos romanos; escolhem a realidade de serem livres sob uma aparência de escravidão, a serem escravos sob uma aparência de liberdade. No passado, o título de cidadão rmano era disputado, estimado; ado”. Nessas condições não era difícil prever a derr

cada final. Os problemas internos tantes que os externos – minaram o império. Os bárbaros só entraram em ação quando a fraqueza de Roma era tal que os próprios romanos se setiam mais livres entre os seus inimigos. Esse era um sintoma evidente do fracasso político, econmico e moral responsável pela ruína do império.

O CRISTIANISMO E A QUEDA DE ROMACertos historiadores atribuem ao cristianismo a

queda de Roma, afirmando que clarou guerra à cultura clássica e ao paganismo, sustentáculos do senso prático dos romanos; que o cristianismo desviou os homens das tarefas deste mundo preparando-os para o outro; que os teria levado ao misticismo; que os teria também desinteressado da vida pública; que os teria indzido a não participar dos serviços públicos, a evtarem o serviço militar; que a religião cristã prgava a paz e a não resistência, incompatíveis com a manutenção do império, o que acabou contribindo para o rompimento da sua unidade.Embora, sobretudo no último item, haja alguma

verdade, o fato é que o desenvolvimento do critianismo, para a maior parte dos historiadores, foi mais um efeito que uma causa da decadência romana. Os romanos cristianizaramEstado se tornou brutal, arbitrário e incompetete; e foi incapaz de protegêpeste, as invasões e a extrema penúria.

O último golpe dos hunosEm meados do século V, os hunos, liderados

por Átila, tinham conquistado um imenso terririo entre a atual Rússia e os limites da Europa ocidental, e lançariam os olhos para Constantinpla. Após destruir o exército imperial, contentram-se com 2 100 libras de ouro para não atacar a capital do Oriente. Mas voltaramdente. Com 500 000 homens fizeram uma razia pela Grécia, Baviera e Gália. As várias populações dessas regiões denominaram Átila o “flagelo de Deus”. Em 451, Écio, general romano criado entre os

visigodos, reuniu os bárbaros espalhados pela Gália (visigodos, francos e buo exército de Átila nos Campos Catalúnicos, perto da atual cidade de Troyes. No ano seguinte, porém, os hunos invadiram a

Itália, destruíram Aquiléia e saquearam uma parte do vale do Pó, na época debilitado pela peste. Milão e Pavia só não foram destruídas porque

junto aos bárbaros que encontram aquela justiça e humanidade que no passado caracterizaram a civilização romana. Eles são diferentes dos bárba-ros nos costumes, no idioma e pode-se dizer que se incomodam com o mau cheiro dos farrapos dos

. Entretanto, isso lhes é preferí-vel a tolerar a injustiça dos romanos; escolhem a realidade de serem livres sob uma aparência de escravidão, a serem escravos sob uma aparência de liberdade. No passado, o título de cidadão ro-mano era disputado, estimado; agora é despreza-

Nessas condições não era difícil prever a derro-cada final. Os problemas internos – mais impor-

minaram o império. Os bárbaros só entraram em ação quando a fraqueza de Roma era tal que os próprios romanos se sen-m mais livres entre os seus inimigos. Esse era

um sintoma evidente do fracasso político, econô-mico e moral responsável pela ruína do império.

O CRISTIANISMO E A QUEDA DE ROMA Certos historiadores atribuem ao cristianismo a

queda de Roma, afirmando que essa religião de-clarou guerra à cultura clássica e ao paganismo, sustentáculos do senso prático dos romanos; que o cristianismo desviou os homens das tarefas

os para o outro; que os teria levado ao misticismo; que os teria também

interessado da vida pública; que os teria indu-zido a não participar dos serviços públicos, a evi-tarem o serviço militar; que a religião cristã pre-gava a paz e a não resistência, incompatíveis com a manutenção do império, o que acabou contribu-

mpimento da sua unidade. Embora, sobretudo no último item, haja alguma

verdade, o fato é que o desenvolvimento do cris-tianismo, para a maior parte dos historiadores, foi mais um efeito que uma causa da decadência romana. Os romanos cristianizaram-se porque o Estado se tornou brutal, arbitrário e incompeten-te; e foi incapaz de protegê-los contra a fome, a peste, as invasões e a extrema penúria.

O último golpe dos hunos Em meados do século V, os hunos, liderados

por Átila, tinham conquistado um imenso territó-rio entre a atual Rússia e os limites da Europa ocidental, e lançariam os olhos para Constantino-pla. Após destruir o exército imperial, contenta-

se com 2 100 libras de ouro para não atacar a capital do Oriente. Mas voltaram-se para o Oci-

000 homens fizeram uma razia pela Grécia, Baviera e Gália. As várias populações dessas regiões denominaram Átila o “flagelo de

Em 451, Écio, general romano criado entre os visigodos, reuniu os bárbaros espalhados pela Gália (visigodos, francos e burgúndios) e derrotou o exército de Átila nos Campos Catalúnicos, perto

No ano seguinte, porém, os hunos invadiram a

Itália, destruíram Aquiléia e saquearam uma parte do vale do Pó, na época debilitado pela peste.

não foram destruídas porque

Page 21: Roma: das origens à República - Colégio Nossa Senhora de Fátima · CLIO História – Textos e Documentos caso de perigo, podiam até nomear um ditador, governante com poderes

CLIO História – Textos e Documentos permitiram aos invasores levar tudo o que quisesem, inclusive jovens que se transformariam em escravos. Mas o caminho para Roma estava abeto.

O fim oficial O “exército” romano que foi ao encontro de Át

la era formado apenas pelo papa Leão I, dois snadores armados e um grupo de jovens cantando hinos sacros. Ninguém sabe o que o papa e Átila conversaram, mas, após o encontro, o chefe bábaro ordenou que se levantasse acampamento e partiu para Ezelnburg (atual Belgrado). Atila reu em 453 e seu reino dissolveu-se. No ano sguinte, o imperador Valentiniano III assassinou Écio, o último defensor do Ocidente.Em 455, os vândalos, que já tinham tomado o

sul da Espanha e o norte da África, atacaram e saquearam Roma. A devastação foi tamanha que ainda hoje vandalismo é sinônimo de grave e injustificada destruição. Nos vinte anos seguintes, todas as tentativas para conter os bárbaros na Itália e defender as províncias foram inúteis. Em 475, Orestes, um militar romano da Panônia, clocou no trono o filho Rômulo, pejorativamente chamado augústulo (imperadorzinho).O menino, de 14 anos, foi o último imperador

do Ocidente. O pai morreu em Pavia, assassinado pelos mercenários bárbaros do seu exército. Odacro, líder dessa rebelião, depôs o aclamado imperador pelos seus homens. Não quis, porém, assumir; enviou as insígnias imperais a Zenão, imperador do Oriente, que recopensou o ato de obediência concedendotítulo de patricius e o governo da Itália. Era o fim oficial do Império do Ocidente.

Textos e Documentos

permitiram aos invasores levar tudo o que quises-sem, inclusive jovens que se transformariam em escravos. Mas o caminho para Roma estava aber-

O “exército” romano que foi ao encontro de Áti-pelo papa Leão I, dois se-

nadores armados e um grupo de jovens cantando hinos sacros. Ninguém sabe o que o papa e Átila conversaram, mas, após o encontro, o chefe bár-baro ordenou que se levantasse acampamento e partiu para Ezelnburg (atual Belgrado). Atila mor-

se. No ano se-guinte, o imperador Valentiniano III assassinou Écio, o último defensor do Ocidente. Em 455, os vândalos, que já tinham tomado o

sul da Espanha e o norte da África, atacaram e i tamanha que

ainda hoje vandalismo é sinônimo de grave e injustificada destruição. Nos vinte anos seguintes, todas as tentativas para conter os bárbaros na Itália e defender as províncias foram inúteis. Em 475, Orestes, um militar romano da Panônia, co-

ou no trono o filho Rômulo, pejorativamente chamado augústulo (imperadorzinho). O menino, de 14 anos, foi o último imperador

do Ocidente. O pai morreu em Pavia, assassinado pelos mercenários bárbaros do seu exército. Odo-acro, líder dessa rebelião, depôs o augústulo e foi aclamado imperador pelos seus homens. Não quis, porém, assumir; enviou as insígnias imperi-ais a Zenão, imperador do Oriente, que recom-pensou o ato de obediência concedendo-lhe o título de patricius e o governo da Itália. Era o fim