Roma locuta est; causa finita est

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/31/2019 Roma locuta est; causa finita est

    1/4

  • 7/31/2019 Roma locuta est; causa finita est

    2/4

    representou Heros e Lzaro, os principais opositores de Celstio, como homensextremamente malvados, a quem ele punia com a excomunho e deposio. Poucodepois disto Zsimo tambm recebeu a confisso de f que Pelgio j tinhaenviado, juntamente com uma carta, ao Papa Inocncio I. Zsimo ...imediatamente enviou uma segunda carta aos africanos, para dizer que tantoPelgio como Celstio, se tinham completamente justificado, e que ambos

    reconheceram a necessidade da graa. Heros e Lzaro, pelo contrrio, eramhomens malvados, e os africanos eram bastante culpados por se terem deixadoinfluenciar por tais caluniadores desprezveis." (1)

    A propsito da reaco dos Africanos primeira revogao de Zsimo...

    "Os africanos estavam demasiado certos da sua causa, para aceitar submeter-se aum to fraco juzo, que, alis, estava em manifesto conflito com o de Inocncio.Num conclio em Cartago, em 417 ou 418, eles protestaram, respeitosamente masdecididamente, contra a deciso de Zsimo, e lhe deram a entender que ele estavaa deixar-se ser grandemente enganado pelas indefinidas explicaes de Celstio.Num concilio geral Africano realizado em Cartago, em 418, os bispos, mais de 200

    em nmero, definiram a sua oposio aos erros pelagianos, em oito (ou nove)Cnones, que so inteiramente conformes viso agostiniana.... Estas coisasproduziram uma mudana nas opinies de Zsimo, e a meio do ano 418, ele emitiuuma carta encclica para todos os bispos do Oriente e do Ocidente, pronunciando oantema sobre Pelgio e Celstio e declarando a sua concordncia com asdecises do conclio de Cartago na doutrina da corrupo da natureza humana, dobaptismo e da graa. Quem se recusasse a subscrever a encclica, devia serdeposto, expulso da sua igreja, e privado dos seus bens" (2)

    A eclesiologia de Agostinho

    O exposto acima prova sem sombra de dvida que a viso eclesiolgica deAgostinho precisamente a que W.H.C. Frend diz que :

    A sua viso de governo da Igreja que as questes menos importantes devem serresolvidas por conclios provinciais, e os assuntos de maior dimenso em concliosgerais. (3)

    A concluso a que chegamos luz dos factos sobre a eclesiologia de Agostinhodemonstrada pela sua exegese e pela sua prtica que no seu entendimento, epara os bispos norte-africanos como um todo, a mais alta autoridade e corte deapelao no o bispo de Roma, mas um conclio plenrio e geral. Como vimoscom a controvrsia pelagiana, Agostinho e os bispos norte-africanos no viram odecreto do bispo de Roma ser o juzo final e vinculativo para a Igreja universal.Quando Zsimo, o bispo de Roma, revogou a deciso da Igreja norte-Africana e a

    do seu antecessor, o Papa Inocncio I, os norte-africanos opuseram-se a Zsimo erecusaram submeter-se aos seus decretos. Demasiado para Roma locuta est, causafinita est.

    Agostinho decisivamente no defensor de uma eclesiologia papal como a doVaticano I.

    Concluso

    Como mencionado acima o famoso dito atribudo a Santo Agostinho: Roma locutaest, causa finita est, uma completa inveno. Ele nunca disse isso. A nica parteda frase que ele disse causa finita est (o caso est encerrado). Os apologistas

    romanos, no entanto, continuam a deturpar este eminente padre da Igrejaatribuindo falsamente esta declarao a ele.

  • 7/31/2019 Roma locuta est; causa finita est

    3/4

    Em lado nenhum nos escritos de Agostinho ou na sua prtica se encontra a crenano bispo de Roma como critrio ltimo da ortodoxia, ou que o seu juzo era aautoridade final em qualquer controvrsia. A controvrsia com o papa Zsimo ePelgio prova isso sem qualquer sombra de dvida. Abbe Guettee aponta que na

    controvrsia pelagiana a sentena do bispo de Roma no era a autoridade final. Elefaz o seguinte resumo da controvrsia com Zsimo e a atitude de Agostinho e dosbispos norte-africanos:

    "Alm de tudo isso, outra prova de que mesmo em Roma, bem como em outraspartes da igreja, a sentena de Inocncio I no foi considerada como encerrando ocaso encontra-se no facto de, aps a sua sentena, o caso ter sido reexaminado na

    prpria Roma por Zsimo, o sucessor de Inocncio, por vrias igrejas num grandenmero de snodos, e finalmente pelo Conclio Ecumnico de feso, que julgou ocaso e confirmou a sentena dada em Roma e em todos os outros lugares ondehavia sido examinado.

    Quando dito como o Papa Inocncio I foi chamado para dar uma opinio no casode Pelgio, vemos claramente que os telogos romanistas aplicaram erradamente otexto.

    Os bispos Africanos condenaram os erros de Pelgio em dois conclios, sem pensarem Roma ou na sua doutrina. Os Pelagianos ento expuseram, para opor-se a eles,a alegada f de Roma, a qual diziam harmonizava-se com a sua. Em seguida, osbispos Africanos escreveram a Inocncio, a perguntar-lhe se a afirmao dos

    pelagianos era verdadeira. Eles foram levados a isso porque os pelagianos tinhamgrande influncia em Roma. Eles no escreveram ao Papa para lhe pedir umasentena que devesse gui-los, mas para que pudessem silenciar aqueles queafirmavam que a heresia era mantida em Roma. Inocncio condenou-a e, portanto,

    Agostinho diz: "Tu fingiste que Roma estava contigo; Roma te condena, tu tambmfoste condenado por todas as outras igrejas, por isso o caso est terminado". Emvez de pedir uma deciso de Roma, os bispos Africanos apontaram ao Papa o

    percurso que ele devia seguir nesta questo" (4)

    Se os Cartagineses tivessem subscrito o uso popular das palavras "Roma locutaest; causa finita est" eles teriam concordado com a condenao de Inocncio, aseguir com a revogao de Zsimo, e se por qualquer razo Zsimo revogasse istosem o desprezo Norte-Africano, concordariam com esta revogao. No foi isso oque aconteceu.

    ******************************************************************

    Notas

    [1] Apesar de tudo, ainda se pode encontrar defensores do papado queargumentam que, apesar de Agostinho no ter dito: "Roma locuta est," ele disse"Causa finita est" (a causa est terminada). Isso verdade.

    Eis a parte relevante do Sermo 131 no contexto:

    J dois conclios sobre esta causa escreveram S Apostlica. Donde tambmrescritos chegaram. A causa est terminada: que o erro possa um dia terminar!Portanto, ns admoestamos para que eles possam prestar ateno, ns ensinamos

    para que eles possam ser instrudos, oramos para que o seu caminho mude.

    Embora ele tenha dito "a causa est terminada", este slogan realmente no ajuda odefensor papal, por pelo menos as seguintes trs razes:

  • 7/31/2019 Roma locuta est; causa finita est

    4/4

    1) O apelo para a autoridade conciliar estabelecida no para a autoridade papalcomo tal. De modo que, "Roma falou, o caso est encerrado" no um resumomuito preciso. Um resumo mais exacto seria "dois conclios falaram - o caso estencerrado". Isto no significa que os rescritos no eram de Roma eles eram.

    2) A referncia aos rescritos uma referncia a uma resposta de Roma a respeito

    das decises dos conclios. O rescrito como tal, no tem a sua prpria infalibilidade,nem d infalibilidade aos decretos dos conclios, sejam eles considerados pelosmoldes romanos daquele tempo ou de hoje.

    3) Note-se que houve dois conclios, e no apenas um. Isto parte do ponto deAgostinho. O seu ponto que, em termos de processo judicial da igreja, continuareste debate ficar batendo em cavalo morto. Ele no est a dizer que dois conclios um nmero mgico, assim como no est a dizer que obter uma resposta deRoma magicamente torna as decises conciliares correctas.

    Bibliografia

    (1) Charles Joseph Hefele, A History of the Councils of the Church (Edinburgh:Clark, 1895), Volume II, pp. 456-457.

    (2) Philip Schaff, History of the Christian Church (Grand Rapids: Eerdmans, 1910),Volume Three, p. 798-799).

    (3) W.H.C. Frend, The Early Church (Philadelphia: Fortress, 1965), p. 222).

    (4) Abbe Guettee, The Papacy(Blanco: New Sarov, 1866) pp. 180-181).