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Agosto/ Setembro 2011

rtro magazine Agosto/Setembro 2011

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rtro magazine, is a fashion and Lifestyle magazine in portuguese, revista de moda e lifestyle portuguesa

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rtro

Agosto/Setembro

2011

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Índice

4 Focus on designers: Frida Giannini

40 Ler. Ver. Ouvir.

10 rituais de Verão

18 um “diamond” ainda em bruto: Ivânia Santos,

44 rtro ir...46 Wishlist

28 Sex Files

24 a ideologia do choque

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rtro.magazine

rtro.wordpress.com

[email protected]

Editora-chefeMargarida Cunha

RedactoresMargarida Cunha

Adriana CoutoCatarina Oliveira

Marlene RibeiroMónica Dias

FotografiaCatarina Oliveira

Luís Valadares

PaginaçãoManuel Costa

ModelosEmyly Khataryne

Joana MoreiraSofia Ferreira

editorialAgosto é o mês dos clichés. Setembro, o da renovação. O

sol resplandecente, os emigrantes, os incêndios; as colecções

de Outono/Inverno, os suplementos das revistas e a mudança

de guarda-roupa. É curioso como tudo se repete ano após ano

e, no entanto, não conseguimos imaginar um cenário diferente.

Nesta edição poderíamos propor uma série de actividades e

ocupações para os tempos livres mas... para quê? Férias são

férias. Para preencher o tempo temos todos os restantes dias

do ano. No entanto, não somos apologistas de vegetar. É por

isso que deixamos uma selecção de roteiros culturais na rubri-

ca IR – vá e descubra um FMI completamente diferente ou um

Chomsky cada vez mais interventivo.

E porque informação preventiva nunca é de mais, apre-

sentamos um artigo sobre Rituais de Verão – porque problemas

de saúde resultantes da sobre-exposição solar jamais deverão

tornar-se num cliché.

Nesta altura em que a roupa mais parece um fardo do que

um item de estilo – e em que os pastéis se sobrepõem às cores

fortes – propomos uma direcção completamente diferente

pela mão de Frida Giannini. Responsável por imbuir a casa

Gucci de uma aura sexual poderosa, dá o mote para o tema

deste mês: a sexualização nos media. Viveremos numa socie-

dade obcecada pelo sexo e pelas imagens chocantes?

Um tema de peso para contrastar com a leveza dos dias.

Margarida Cunha

Editora-Chefe

rtro

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O seu nome pode não significar nada, na

primeira vez que se ouve. No entanto, asso-

ciado à marca Gucci, tudo fará mais sentido.

Frida Giannini é o cérebro por detrás de uma

das casas de moda italianas mais sensuais.

Focus on

designersFrida Giannini

por Catarina Oliveira

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Nasceu em 1972 e desde cedo que moda

era a sua paixão. Estudou na Academia de

Moda de Roma e o seu talento levou-a a tra-

balhar na casa da marca Fendi. Pouco tempo

depois, foi promovida a designer de peças de

pele. Mais tarde transferiu-se para a Gucci.

Frida veio substituir Tom Ford, um nome

promissor e já muito acarinhado pelo públi-

co, por isso a sua tarefa não era fácil. Afas-

tou-se do estilo de Tom Ford e da própria

herança da marca. Ao início, a sua tenta-

tiva de criar novas tendências não foi bem

recebida pelo mercado, mas logo começou

a evoluir na marca e a dar-lhe sucesso. Foi

indicada como directora criativa em 2006.

Frida continua em força na Gucci. Podem-

os ver nas suas colecções como a cor é im-

portante. Parece que atribui à mulher cores

que lhe dão um certo poder sexual. Para a

colecção Primavera Verão 2011, Frida decid-

iu provocar, com uma palete de color block-

ing remetente a finais de anos 70. Franjas

no meio de tecidos sedosos, contraste com

pretos e decotes acentuados são os pontos

Focus on designers

Guc

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Prim

aver

a/V

erão

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Focus on designers

fortes desta colecção que não deixa nin-

guém indiferente. Principalmente quem a

usa, que se sentirá sem dúvida poderosa.

A colecção de Outono Inverno 2011/2012

mantém-se no mesmo tom, mas com al-

guma maturidade extra. Há uma sensação

de femme fatale que paira no ar à medida

que os modelos desfilam na passerelle. O

glamour surge agora envolto em casacos de

peles com cores vertiginosas ou em vestidos

quase transparentes que param o trânsito.

Ambas as colecções estão envoltas em

alguma sexualidade, que é no entanto mar-

cada pelo poder da mulher. Nunca se torna,

assim, vulgar. É totalmente eficaz e a men-

sagem passa da melhor maneira. É neste sen-

tido que vemos o objectivo de Frida Giannini

ao criar. Vai aos arquivos, pesquisa o passa-

do, mas está sempre com os olhos postos no

futuro. E a casa Gucci só ganha com isso. c

Guc

ci -

Out

ono/

Inve

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rituais de Verão

O Verão chegou e com ele a mes-

ma calamidade de sempre. Para os ho-

mens é simples, para as mulheres nem

tanto. O sexo masculino em pouco tem

que pensar quando, por exemplo, quer

ir à praia. Uns calções de banho, uns

chinelos, uma t-shirt qualquer e está

tudo pronto. Com as mulheres não é

bem assim. Há inúmeras decisões a

ponderar.

por Adriana Coutofotografia Luís Valadares

modelos Emyly Khataryne e

Joana Moreira

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Ir à praia nunca poderá ser sinal de

descuido na imagem, pelo contrário: há a

escolha do biquíni perfeito, do chapéu de

praia, das sandálias e dos vestidos a serem

levados para um óptimo dia passado ao ar

livre.

Os homens poderão não entender a

razão de tanto trabalho para aquilo que

para eles é apenas um dia a fazer-se nada

num grande areal, estendidos ao sol. Mas,

apesar disto, todas nós sabemos o quanto

eles gostam de admirar toda a beleza do

sexo feminino… principalmente na praia.

E depois há toda aquela rotina de nos

deitarmos ao sol apenas com um objec-

tivo: bronzear.

Se formos consultar dados históricos,

no século VIII, em Espanha, o ser-se bran-

co era sinónimo de beleza. Os espanhóis,

inicialmente de pele bem branca, começar-

am a ter filhos de pele mais morena devido

à miscigenação com os povos que iam en-

rituais de Verão

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contrando. Mas os aristocratas da época

andavam sempre de chapéu e sombrinha,

na tentativa de permanecer com a pele

o mais imaculada possível, para que os

raios solares não os atingissem. Exibiam

com orgulho o facto de o seu sangue ser

puro e não haver misturas de sangue com

aquele povo quase negro. Aliás, há quem

diga que a expressão “sangue azul” se deve

a isso. As jovens da aristocracia eram tão

brancas que se lhes notavam em demasia

as veias, visto que o sangue venoso tem

aspecto azulado se visto através da super-

fície da pele, ainda mais se esta for clara.

Daí que a nobreza tenha ficado conhecida

por essa expressão. O ser muito moreno

era quase sempre associado aos escravos

ou à restante população que trabalhava

longas horas ao sol.

Esses tempos já passaram, grande

parte dos preconceitos ganhos em relação

ao tom de pele já desapareceram e não po-

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dia haver nada melhor do que uma pele

bonita e bronzeada.

O Verão é associado a férias e alegria

mas também a um grande descuido por

parte da população relativamente aos

cuidados que se devem ter com a ex-

posição solar. Isto poderá ser sinónimo

de desidratação, insolação, queimaduras,

descamação, dor, pele vermelha, entre

outros.

Quando estamos muito tempo expos-

tos ao sol, o nosso corpo perde água e sais

minerais pelo que, nos dias de maior calor,

temos tendência a transpirar mais e a per-

der mais água. A sua reposição é funda-

mental, daí ser tão importante estarmos

constantemente a consumir água.

Uma desidratação grave poderá levar a

um dos problemas mais perigosos de uma

exposição elevada ao sol: a insolação. Con-

siste em pele avermelhada, suores, dor

de cabeça, vontade de vomitar e súbito

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cansaço. Permanecer pouco tempo ao sol

é fundamental para o evitar.

Bem conhecidas de toda a população

são as queimaduras solares. As dores são

terríveis mas mesmo assim poucos são

aqueles que se lembram de se precaver

contra estas nos primeiros dias de praia.

É aqui que entram os protectores solares,

tantas vezes postos de parte por se achar

que não permitem bronzear.

Uma boa protecção contra os raios so-

lares permite reverter o processo de envel-

hecimento que este provoca, evitando que

as zonas com maior tendência a avermel-

har (nariz, maçãs do rosto…) o façam. O

uso de protector solar acaba por ter mais

prós do que contras.

O cancro da pele ou melanoma poderá

ser o caso mais perigoso de lesões devido

à exposição ao sol. Usar perfume na praia,

loção da barba ou outros cosméticos que

contenham álcool tornam a pele mais sen-

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sível ao sol. Uma constante aplicação de

protector ao longo de todo o dia e evitar-

se exposição aos raios solares mais fortes

(que normalmente acontecem entre as

11h e as 16h30) poderá ser fundamental

para se evitar possíveis consternações.

Enfim, a verdade é que, se formos para

uma praia questionar as pessoas sobre o

que devem ou não fazer enquanto ali estão,

todas saberão responder correctamente

mas a verdade é que continua a haver uma

grande distância entre o que sabemos e o

que praticamos. Mas isto são coisas que

ficam na consciência de cada um.

Setembro chegará como sinal de que se

tem que regressar ao trabalho ou às aulas.

Haverá algo melhor do que chegar com

uma imagem de quem gozou bem as suas

férias? c

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um “diamond” ainda em brutopor Adriana Coutofotografia João Bettencourt Bacelar e João Mota

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Ivânia Santos, mais conhecida no

mundo da blogosfera e moda por Ivânia

Diamond, diz ser viciada em música, pas-

tilhas elásticas e tantas outras coisas que

«se continuasse a lista seria extensa.»

Adora fast food e todos os pratos de ba-

calhau, o que provavelmente chocará al-

guma das suas seguidoras mais atentas à

linha, não fosse o mundo da moda exigir

que assim seja.

Apesar de toda a paixão que nutre pela

moda, os acessórios sem os quais não con-

seguiria viver são os relógios e os brincos.

Nunca se cansou de ver o filme Pearl

Harbor mas não se decide quanto à eleição

do seu filme preferido. Mas não tem quais-

quer dúvidas quanto à escolha do Diário de

Anne Frank como o seu livro de mesa-de-

cabeceira.

O nascimento do seu filho, Gabriel, foi o

acontecimento que mais a marcou até hoje.

Se pudesse, embarcava já para Paris, o

seu destino desonho, onde teria como ob-

jectivo: «Ser feliz à minha maneira».

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Como começou esta paixão pelo mun-

do da moda?

Ivânia Diamond (ID): Sempre fui li-

gada à área das Artes e, com as primeiras

leituras de revistas de moda, com os meus

15 anos de idade, nasceu uma paixão que

perdura até hoje e que tenho toda a certeza

que fará sempre parte da minha vida.

Gostava de estar, de certo modo,

mais envolvida nele?

ID: O meu grande objectivo é estar mais

envolvida no mundo da Moda, de várias

formas, sem dúvida. E cada dia é uma nova

batalha.

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Como surgiu a ideia de criar o seu

actual blog totalmente relacionado

com moda?

ID: Surgiu após a leitura de uma revis-

ta que, por sinal, era a última edição em

Portugal, e o tema que me chamou mais à

atenção era sobre It Girls (bloggers), algo

que até àquele momento eu desconhecia

que existia. A blogosfera tornou-se vici-

ante e cheguei à conclusão que deveria ini-

ciar um blog também, e através dele divul-

gar o meu estilo e a minha visão de moda.

Como se sente por saber que o seu

estilo é tão apreciado pelas bloggers e

que é seguida por mais de um milhar

de pessoas?

ID: Eu ainda estou muito surpreen-

dida por nos últimos seis meses ter tido

mil novos seguidores. Como é óbvio, fico

muito feliz por ver que as minhas metas,

para além de serem alcançadas, são tam-

bém superadas. No entanto, tenho noção

que nem todos os meus seguidores são

amantes do meu estilo. Isso é um pouco

relativo, penso que apreciam mais a min-

ha determinação. Mas, para se saber ao

certo, teríamos de questionar os meus lei-

tores.

Li, algures, que gosta que consid-

erem que tem uma personalidade ex-

cêntrica. O que leva a isso?

ID: Recordo-me de já várias pessoas

terem dito que tenho uma personali-

dade excêntrica e penso que, na opinião

das mesmas, passa pelo facto de eu não

ter "medo" de ser sempre eu própria, de

usar o que gosto e me apetece sem dar im-

portância a opiniões de terceiros. E de ser

de certo modo rebelde e incansável na luta

pelos meus objectivos, não passando no

entanto por cima de ninguém. Tenho uma

personalidade especial e apenas quem

comigo convive o reconhece, mas acabo

por transmitir um pouco isso no blog. O

que tiver a dizer, digo, e acabo por ser o

género de pessoa que ou amam ou odeiam,

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um “diamond” ainda em bruto

confesso. E reconhecerem que sou excên-

trica a nível de personalidade... só poderia

gostar, mesmo sem explicação.

Como blogger de moda tem sem-

pre necessidade de seguir as tendên-

cias mas nem sempre os preços das

grandes marcas são acessíveis aos nos-

sos bolsos. Como contorna isto? Acha

necessário ter que se usar uma marca

para se seguir as últimas tendências?

ID: Por acaso não sou a típica segui-

dora de tendências e, exactamente por

isso, sou totalmente contra as pessoas

que usam determinadas marcas apenas

por acharem que assim estão "na moda".

Aborrece-me ver que andam todos vesti-

dos da mesma forma. Eu contorno bem os

preços, até porque sou adepta de pechin-

chas e achados.

Sente que a moda nacional está a

dar largos passos em direcção ao mer-

cado internacional? Acha que os cria-

dores portugueses têm capacidade e

qualidade suficiente para se fazerem

ver lá fora?

ID: No geral as pessoas têm tendência

a valorizar mais o que é de fora. Pessoal-

mente dou muito valor ao que é nacional.

E, depois da última edição do Portugal

Fashion, frisei que acredito mesmo no

nosso produto. Vi peças que acredito que

lá fora fariam o maior sucesso, mas infe-

lizmente o nosso país ainda não é muito

reconhecido nesta área a nível internac-

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ional, mas está a progredir e iremos alcan-

çar estatuto. Pelo menos eu torço por isso!

Há muita gente que considera a

moda uma futilidade. Qual a sua opin-

ião em relação a isto?

ID: Existem pessoas fúteis e não es-

tão ligadas ao mundo da Moda, é preciso

ter noção disso também. Eu vibro com a

Moda e com todas as suas vertentes, no

entanto, conheço os meus "limites", e com

isto quero dizer que reconheço que há coi-

sas bem mais interessantes do que passar

um dia inteiro num centro comercial, por

exemplo. Na minha opinião, a moda não é

uma futilidade, as pessoas é que a poderão

tornar assim. E, acredita, já vi muitas pes-

soas do género.

Gosta de tudo o que envolva arte. O

que a leva a gostar deste mundo?

ID: Gosto imenso deste mundo porque

admiro a capacidade criadora de um ar-

tista de expressar ou transmitir sensações

e/ou sentimentos, seja através da escrita,

pintura ou de outra coisa qualquer. Eu

diariamente faço algo ligado às artes, sem

isso a minha vida não teria piada. c

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a ideologia do choque por Monica Diasfotografia "Confessions of a Shopaholic"Walt Disney Studios Motion Pictures

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Tudo o que difere do vulgar choca e tudo o que choca

vende. Eis a poção mágica dos media, que torna o

pouco usual na atracção principal.

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a ideologia do choque

Como é que Lady GaGa continua, ape-

sar da sua presença já assídua, a fascinar

e a escandalizar em doses iguais? Como

é que os apelos dos pivots de TV para a

violência das imagens funcionam como

um estímulo extra para os espectadores?

Tanto quanto as ideologias políticas, a

ideologia do choque é feita à medida de

um público-alvo. De igual forma, ambas

pretendem não só captar atenções como

também fazer acreditar que todos somos

capazes de chegar aonde queremos e de

nos tornarmos no que desejamos. Para

isso, utilizam a mesma arma – os media.

Enquanto Ser Omnipresente na socie-

dade de hoje, os media podem ser consid-

erados o melhor amigo e o maior inimigo

destas ideologias, já que com eles vem

a expansão mas também a competitivi-

dade. É então importante que estas ideo-

logias estejam preparadas para enfrentar

desafios que, à partida, passam desperce-

bidos ao olhar comum.

No que toca à ideologia do choque,

para além de lançar tendências, esta deve

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também alimentá-las. É importante cap-

tar os olhares curiosos e passar a ocupar o

primeiro lugar na lista de preferências de

cada um. Por isso, a ideologia do choque

revela-se de duas formas: através de ima-

gens violentas susceptíveis de ferir sen-

sibilidades ou baseando-se em imagens

sensuais e invulgares que por vezes se as-

sociam à palavra-chave escândalo. Ambas

têm como objectivo captar a atenção das

massas e se a primeira tende a ser encara-

da como uma chamada de atenção, a úl-

tima assume como tema principal a sexu-

alidade.

Por mexer com a imaginação de cada

um, a sexualidade é um tema que fun-

ciona como um íman. Se, após verem ima-

gens que transpiram sensualidade, a frase

de eleição do público for “se eles podem,

eu também posso”, então o objectivo foi

alcançado.

Podemos então assumir que os jovens

são o público-alvo deste tipo de ideologia,

já que são os que mais sonham e que têm

sede de seguir as mais fortes tendências.

As figuras públicas: do choque in-

voluntário ao propositado

A ideologia do choque relacionada à

sexualidade nos media funciona segundo

dois sistemas: através de campanhas pub-

licitárias que incutam o desejo e a ambição

do ter ou ser, e através das figuras públicas.

Há uma forte ligação entre os fa-

mosos e esta ideologia. Os media estão

sempre prontos a apostar em imagens

invulgares ou que revelem situações em-

baraçosas, e as figuras públicas estão

sempre prontas em testar a sua capaci-

dade para captar atenções. Hoje em dia,

o choque que outrora parecia involun-

tário passou a ser propositado. As figuras

públicas, que até então temiam ser apan-

hadas em situações constrangedoras, hoje

pegam nessas situações para se posicion-

arem no topo da atenção mediática.

É com isto que a ideologia do choque se

sustenta e rege as suas leis, criando novas

modas, novas mentalidades e diferentes

estereótipos entre aqueles que consider-

am ser o seu público-alvo. c

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“Cause I may be bad/But I’m perfectly good at it/Sex in the air/I don’t care/I

love the smell of it/Sticks and stones/May break my bones/But chains and

whips/Excite me”. São estas as palavras proferidas por Rihanna no refrão

do single, “S&M”. O vídeo que acompanha a música é recheado de refer-

ências sadomasoquistas e de símbolos implicitamente sexuais, em que a

cantora assume protagonismo num constante discurso provocativo. Se há

cerca de 50 anos um vídeo destes seria impensável, hoje dificilmente choca

os críticos e mesmo o público. Vivemos numa cultura em que o sexo é a re-

feição principal da dieta servida pelos media, seja em livros, músicas, filmes,

programas de TV, revistas ou na Internet. Perante esta omnipresença, es-

taremos a tornar-nos numa cultura sexualmente obcecada?

sex Filespor Margarida Cunha

fotografia Catarina Oliveiramodelo Sofia Ferreira

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As manifestações sexuais nos media

sempre ocorreram. Contudo, investiga-

dores como Linda Papadopoulos identifi-

cam algumas diferenças nos dias de hoje.

Actualmente, o fluxo de imagens e men-

sagens é infinitamente superior, conduz-

indo por vezes a uma saturação; em con-

sequência, a proliferação dessas imagens

contribui para uma estereotipização dos

géneros; outra característica diz respeito

às crianças, que são sexualmente retrata-

das como adultas – o que contribui para

um esbatimento da fronteira entre a in-

fância e a idade adulta. No livro The Lolita

Effect: The Media Sexualization of Young

Girls and What We Can Do About It, a es-

tudiosa M. Gigi Durham aprofunda este

tema, referindo que o Efeito Lolita con-

siste na objectificação sexual de crianças

por parte dos media. Media estes que

divulgam igualmente uma panóplia de

produtos de consumo destinados a ir de

encontro à concepção de sexy que estes

construíram. Trata-se de uma visão muito

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restrita e unilateral daquilo que é consid-

erado sensual e manifesta-se nas mais

variadas formas, de letras de músicas a

filmes, passando por revistas. As conse-

quências são notórias e reúnem consenso

por parte dos especialistas: o constante

bombardeamento destes estereótipos ir-

realistas resultam em problemas sérios

nas crianças e adolescentes – nomeada-

mente, insatisfação com a imagem, distúr-

bios alimentares, depressões ou aumento

da violência sobre as mulheres. Embora

sejam relações difíceis de provar, estudos

– como o de Steven Martino, conduzido

em 2006 – comprovam que adolescentes

expostos a música sexualmente agres-

siva (independentemente do estilo) têm

relações sexuais mais cedo. Isto porque

– uma vez que os seus cérebros e person-

alidade se encontram em construção – os

adolescentes consideram que os estereóti-

pos veiculados são perfeitamente normais

– estereótipos como o homem predador e a

mulher sexualmente disponível e promís-

cua. Contudo, a investigadora Yvonne Ful-

bright salvaguarda que outros factores de-

vem ser tomados em conta na construção

da personalidade, tais como a pressão dos

colegas, a auto-estima e o ambiente em

casa.

O Efeito Lolita corrobora a teoria de

que os ícones sexuais – outrora mulheres

maduras, como Sophia Loren ou Monica

Bellucci – são cada vez mais jovens. A au-

tora especula que tal possa ter surgido

nos anos 90 – período economicamente

próspero para os EUA – em que os mar-

keteers terão descoberto o poder de com-

pra das crianças e adolescentes. Contudo,

Durham considera que os pais não podem

ser desresponsabilizados, uma vez que

muitas vezes as crianças vêem nos media

os seus educadores sexuais porque aque-

les não foram capazes de criar um diálogo

franco e aberto sobre sexo.

E porque o sexo chama a atenção, a

Publicidade há muito descobriu o seu po-

tencial comercial. Já desde o século XIX

que são visíveis anúncios sexualmente sug-

estivos. Não é, portanto, surpreendente

sex Files

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a campanha lançada por Tom Ford para

promover o seu perfume para homem –

em que o frasco é estrategicamente colo-

cado em zonas erógenas dos corpos femi-

nino e masculino. Nem o anúncio criado

por Yves Saint Laurent, em 2000, para

o perfume Opium – em que Sophie Dahl

aparece apenas de stilettos, numa pose de

puro êxtase.

Este fascínio é justificado pelo investi-

gador Richard F. Taflinger como sendo o

resultado da nossa biologia. Assim, após o

instinto básico de sobrevivência, o desejo

sexual é o apelo psicológico mais forte – o

que justifica que um estímulo sexual se so-

breponha a praticamente qualquer outro

a que sejamos expostos. Não surpreende,

portanto, que o sexo seja o tópico mais

pesquisado na Internet e que os lucros por

ele gerados superem os de empresas como

Apple, Microsoft, Google, Amazon, ebay e

Yahoo (consideradas no conjunto).

A omnipresença de manifestações sex-

uais é, então, evidente, mas a sua aparição

sex Files

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não pode, de todo, ser considerada for-

tuita. E será esta omnipresença suficiente

para considerarmos que vivemos numa

sociedade sexualizada? A estudiosa Feona

Attwood – autora do artigo Sexed Up: Theo-

rizing the Sexualization of Culture – consid-

era que o termo “sexualização da cultura”

é uma expressão ambígua com variadas

manifestações, mas que, em síntese, con-

fere ao sexo o estatuto de protagonista.

Características desta cultura, refere, são a

proliferação de textos sexuais, uma preo-

cupação com os valores e práticas sexuais,

a mudança para uma atitude mais permis-

siva, a emergência de novas formas de ex-

periência, etc. Acima de tudo, o sexo aban-

dona a exclusividade e discrição da esfera

privada e das tertúlias académicas para se

tornar alvo de debate e discussão pública.

Os especialistas reforçam também que,

numa sociedade de consumo como aquela

em que nos integramos, o sexo assume

contornos cada vez mais hedonistas e ter-

apêuticos: importa aproveitar o momento

e o seu carácter recreativo, independente-

mente dos laços emocionais e da sua fun-

ção reprodutiva. O erotismo e toda uma

iconografia sexual são agora um lugar-co-

mum, mais um produto a ser devorado e

deitado fora na nossa rota infinita rumo à

auto-satisfação. Em suma, o sexo tornou-

se o centro da vida, servindo numerosos

propósitos, alimentando escândalos e fas-

cínios – considere-se o caso Bill Clinton.

sex Files

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Um protagonismo de tal modo visível que

penetrou no domínio da estética, sendo

agora associado ao bom gosto e ao estilo –

uma associação a que não foi alheia a série

de televisão americana O Sexo e a Cidade.

Perante a aliança entre impulsos tão

fortes quanto os sexuais e os consumis-

tas, o ser humano parece não poder fazer

muito mais do que sucumbir. O choque

e a indignação são defesas que já pouco

protegem. Mas talvez não haja razão

para alarme. Como referiu o escritor Josh

Smith, a verdade é que o sexo sempre fez

parte da experiência comum e continuará

a fazer. Como tal, está aqui para ficar. Na

Publicidade... e em todo o lado. c

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ler. Ver. ouVir.por Marlene Ribeiro

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Livro

A Manipulação dos Média

Os Efeitos Extraordinários da Propaganda

Autor: Noam Chomsky

Editora: Inquérito

Ano: 2003

Chomsky ainda não escreveu um livro que não merecesse o carimbo “leitura

obrigatória”. Nesta obra, o linguista analisa o papel dos média na democra-

cia contemporânea, uma “democracia de espectadores”, com uma evocação

inevitável da história e da força da propaganda. Mostra como a comuni-

cação social age sob a influência de uma elite de poder, exibindo imagens

que não correspondem à realidade e alienam os cidadãos da mesma. Enu-

mera estratégias de controlo da opinião pública, do “rebanho tolo”, e de

diluição da massa crítica. Independentemente de se concordar ou não, é

imperativo ler de uma ponta a outra e pensar pelo caminho.

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DVD

Funny Games/ Brincadeiras Perigosas

Realização e Argumento: Michael Haneke

Com Susanne Lothar, Ulrich Muche e Arno Frisch

Ano: 1997

Género: Suspense / Drama

Em 1997, trouxe uma abordagem pouco comum da violência juvenil. Em

Funny Games, os adolescentes problemáticos não são os miúdos do bairro

social, mas os que vivem aborrecidos porque sempre tiveram tudo. Dois

jovens de boa aparência aparecem na casa de uma família que chegara à

sua casa de férias para lhe dar as boas vindas. A partir daí, começa um jogo

sádico.

Ler. Ver. Ouvir.

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Disco Smell The Magic

Editora: Sub Pop Records

Ano: 1991

O segundo álbum de L7, o primeiro na Sub Pop Records, é de um rock mui-

tas vezes próximo do metal, diferente do grunge das restantes bandas da

editora de Seattle. Foi lançado há precisamente 20 anos, no mesmo ano

em que as integrantes da banda criaram a fundação Rock For Choice para

defender os direitos das mulheres, organizando festivais e concertos. Smell

The Magic é ele próprio crítica, em formato longa duração.

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rtro ir...por Marlene Ribeiro

BRAGA

Exposições

O quê? A montanha encantada

– exposição colectiva de Baltazar

Torres, Álvaro Negro, Peter Halley,

Santiago Villanueva, entre outros.

Comissariado: David Barro

Quando? Até 22 Setembro

Onde? Galeria Mário sequeira

O quê? Fotografia Memórias

Passadas Recordações Presentes

Quando? Até 14 de Agosto

Onde? Museu D. Diogo de Sousa

mdds.imc-ip.pt

Música

O quê? FMI Festival de Música

Independente

com Birds are Indie, Noiserv,

Kathryn Calder, Drums of Death,

entre outros

Quando? De 16 a 18 de Setem-

bro

Onde? Sá de Miranda

www.facebook.com/fmibraga

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Teatro

O quê? Jardim, pela Companhia de Tea-

tro de Braga

Quando? De 8 a 23 Setembro, 21h30

Onde? Theatro Circo

www.theatrocirco.com

Outros

O quê? Apresentação do livro por me

lembrar de ti de Nuno Guimarães. Dec-

lamação por Ângelo Vaz e Hugo Vieira.

Quando? 5 Agosto, 21h30

Onde? Capítulos Soltos Livraria

cslivraria.blogspot.com

O quê? Festival Holi – música, feira e

gastronomia

Quando? 6 Agosto

Vila Braga

http://vilabraga.com

O quê? Noite do livro - apresentação de

livros de fotografia com preços e edições

especiais e debates

Quando? 17 de Setembro

Onde? Livraria Centésima Página

encontrosdaimagem.com

PORTO

Música

O quê? Frankie Chavez – Verão na Casa

Quando? 18 Agosto, 22h30

Onde? Casa da Música

veraonacasa2011.casadamusica.com

O quê? Couple Coffee

Quando? 15 Setembro, 22h30

Onde? Casa da Música

veraonacasa2011.casadamusica.com

O quê? Anna Calvi

Quando? 22 Setembro, 21h00

Onde? Hard Club

www.hard-club.com

Exposições

O quê? Zona de Combate, de Jack Teagle

Quando? 11 Setembro a 23 Outubro

Onde? Galeria Dama Aflita, Porto

www.damaaflita.com

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WishlistAqui ficam as sugestões da redacção da rtro para os meses de Agosto/Setembro!

Vestido verde às pintas (http://www.thecorner.com) Elegância clássica com um twist de diversão, este vestido verde adapta-se a qualquer ocasião. Passeio, noite, trabalho. Nunca passará despercebida, no bom sentido.

Fato de banho (http://www.thecorner.com)Mudar um pouco a rotina do bikini com este fato de banho é o ideal. Os tons misturam-se como que numa pintura, fazendo com que nunca mais queira usar bikini..

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Calções de ganga (http://www.modekungen.se) O verão é tão quente que não se aguenta de calças. Uns bons calções de ganga não só permitem mostrar as pernas, mas ficam bem com qualquer parte de cima.

Sapato de salto alto (Open Toes Miu Miu) Em couro e com um salto de impor respeito. Per-feitos.

Perfume Jimmy Choo (Sephora)Muito feminino, combina em partes iguais um aroma frutado com doces sensações florais. Perfeito para este Verão.

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