As avenidas de São Paulo – das “marginais” às “celebridades”

No dia 25 de janeiro de 2017, a cidade de São Paulo comemorou 463 anos de vida. Vida pulsante e vibrante, cheia de características peculiares que definem bem o que é a cidade até para quem nunca pisou em terras paulistanas. Uma destas peculiaridades que mais ouvimos falar – e ver diariamente, para quem mora – é o trânsito. Trânsito este que pode ter várias explicações. Algumas polêmicas, outras nem tanto. Mas uma causa que não dá para negar é: o crescimento demográfico da capital paulistana. Muita gente que quer chegar no trabalho, na escola, no médico, em qualquer lugar. Muita gente que frequenta as mesmas ruas e avenidas ao mesmo tempo.

Falando em avenidas...

1Avenida Paulista hoje - uma das mais famosas avenidas do Brasil

Elas são pisoteadas e servem de caminho para carros, motocicletas, caminhões e transeuntes todos os dias. Servem de cenário marcante para São Paulo, principalmente considerando a ausência de grandes paisagens campestres que ficaram no passado da cidade. Algumas tão largas que deixam os visitantes atordoados com tanto espaço em asfalto. Outras tão modernas que viram cartões-postais e se tornam lar para artistas de rua e empresários apressados. Outras estão ali só para encurtar o caminho – outras para deixarem o caminho mais longo e que exigem paciência até demais.

Vamos relembrar algumas destas principais avenidas: suas histórias e características. De tal forma, é possível notar que as peculiaridades vão além das físicas... as avenidas de São Paulo são especiais desde o momento que nasceram.

Para começar é impossível falar de São Paulo sem citar alguns nomes de avenidas que até para quem mora há milhares de quilômetros de distância da cidade paulistana já ouviu falar:

As ‘marginais’ mais conhecidas do Brasil

A primeira é famosa pela extensão e pelo rio que a acompanha: o Rio Tietê. É oficialmente denominada SP-15 ou até Rodovia Professor Simão Faiguenboim. Um conjunto de avenidas convergem fisicamente na Marginal Tietê que é considerada uma das mais importantes vias de tráfego da cidade e interliga as regiões oeste, norte e leste da cidade, da Lapa à Penha. Também serve de acesso às rodovias Castelo Branco, Anhanguera, Bandeirantes, Presidente Dutra, Fernão Dias, Ayrton Senna e ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

2Marginal Tietê hoje, com seus 24,5km

A história do Tietê se resume em: nos anos 20, o sanitarista Francisco Saturnino de Brito apresentou ao prefeito Pires do Rio um projeto de retificação do rio Tietê. O projeto de Saturnino de Brito deu início a construção de vias laterais ao rio e que, com o tempo, acabou culminando na criação da Marginal nos anos 50, consequência principalmente das vias muito tortuosas que levavam os condutores do centro para outros bairros da cidade.

3Marginal Tietê em 1974

Tais vias se transformaram na Marginal Tietê que, assim, como outras marginais tem esse nome por serem construídas à margem dos rios que as denominam (curiosidade óbvia, mas que vale sempre relembrar). Também faz parte do trecho da SP-15 a Marginal Pinheiros que liga a região de Interlagos à região do Complexo Viário Heróis de 1932, no acesso à Rodovia Castelo Branco. A Marginal Pinheiros também dá acesso às rodovias Imigrantes e Anchieta através da Avenida dos Bandeirantes.

As avenidas famosas

Já a avenida Paulista foi criada no final do século XIX, com intuito de atender a paulistanos que queriam expandir novas áreas residenciais que não fossem, necessariamente, próximas às áreas mais movimentadas e valorizadas daquela época, como a Praça da República, o bairro de Higienópolis e os Campos Elísios. Em 8 de dezembro de 1891, nasceu a avenida Paulista, criação do engenheiro Joaquim Eugênio de Lima e do Dr. Clementino de Souza e Castro (prefeito), criando mais um espaço de moradia e convivência para os paulistanos. Hoje, tal avenida hospeda grandes empresas, shoppings, residências, hotéis, mas sua verdadeira mágica acontece de forma horizontal, nas ruas: as pessoas que transitam e fazem da avenida Paulista um grande acontecimento cultural e empresarial de São Paulo.

4Avenida Paulista em 1902

A avenida Brasil e avenida São João também possuem histórias interessantes. A São João, por exemplo, se chamou Ladeira do Acú por muito tempo – uma trilha de terra que conectava os terrenos dos Ribeirões Anhangabaú e Yacuba (daí Acú, abreviação de Yacuba) à colina histórica de São Paulo. O nome de São João veio depois em homenagem a São João Batista, da igreja Católica, o qual, acredita-se, ser o “protetor das águas”. Como as águas que cruzavam a antiga “Ladeira do Acú” eram consideradas perigosas, nada melhor que o santo protetor das águas para “abençoar” o local, não? Além disso, o centro (onde se localiza a Av. São João) sempre foi conhecido pela agitada vida cultural. Os teatros mais famosos da época, como o Eldorado, o Politeama e o Casino Paulista se localizavam na Av. São João, além de sofisticadas lojas de acessórios como bengalas, sapatos e guarda-chuvas. Hoje, é um ponto de referência do centro e hospeda uma das portas de entrada da famosa Galeria do Rock.

5Avenida São João em 1954

Já avenida Brasil foi projetada para cortar a região da cidade conhecida como Jardins (pensada para ser um grande jardim e ser um lugar de mansões). Devido a sua característica inicial hospedou empresários bem-sucedidos e, até os anos 60 havia apenas uma igreja, a Nossa Senhora do Brasil. Com o tempo, veio a desvalorização e algumas inconsistências de mercado, porém, até hoje é considerada uma das principais avenidas da cidade de São Paulo, com início na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, e término na Avenida Rebouças, cortando regiões valorizadas da cidade, como os bairros de Pinheiros, Jardim América, Jardim Paulistano, Jardim Europa e Ibirapuera.

Outras duas importantes avenidas de São Paulo são denominadas com datas e podem deixar alguns turistas confusos num primeiro momento: a avenida 23 de Maio e a 9 de Julho. A primeira teve vários nomes antes de se consagrar 23 de Maio. Ligando os bairros da subprefeitura da Vila Mariana à região central da cidade, a avenida faz parte do Corredor Norte-Sul. Sua denominação começou como Avenida Itororó passou para Avenida Anhangabaú e hoje tem o nome de 23 de Maio em homenagem ao dia em que foram mortos os estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (conhecidos pelo acrônimo MMDC), em 23 de maio de 1932, evento que ficou conhecido no contexto da Revolução Constitucionalista de 1932.

E foi através da mesma revolução que deu a avenida 23 de Maio seu último nome, que surgiu também a denominação da avenida 9 de Julho – data que marcou início da Revolução Constitucionalista de 1932 (hoje, feriado estadual). A 9 de Julho faz parte da rede viária da cidade sugerido pelo Plano de Avenidas do prefeito Prestes Maia. Hoje, é fundamental no sistema viário principal da cidade por seu eixo radial de ligação entre o centro da cidade e a região Sudoeste, além das regiões da Avenida Paulista e a Marginal Pinheiros.

Também foi parte importante do Plano de Avenidas a famosa Avenida Rebouças, que liga a Avenida Paulista com a Marginal Pinheiros e a Paulista com o Centro, por meio da Rua da

Consolação. Foi aberta em 1916 com o nome de Rua Doutor Rebouças, homenageando André Rebouças, um engenheiro, inventor e abolicionista brasileiro. Anos depois, outra grande avenida nasceu: a avenida Brigadeiro Faria Lima. Com abertura em 1968 e com o objetivo de ligar, em cinco quilômetros, os bairros de Pinheiros e Brooklin, foi viabilizada com o alargamento do trecho da rua Iguatemi e o cruzamento com a Avenida Cidade Jardim, no Itaim Bibi, cruzando todo o bairro Jardim Paulistano. Seu nome veio do prefeito José Vicente Faria Lima, prefeito da cidade na época do início das obras.

As gigantes da Zona Leste

Na zona Leste, por sua vez, temos duas bem famosas: a Radial Leste e a Avenida Sapopemba. As obras da Radial Leste foram iniciadas em 1957. Naquela época, o grande fluxo de automóveis congestionavam as avenidas Rangel Pestana e Celso Garcia, além de linhas de bonde e ônibus na região. Desta forma, o nascimento da Radial Leste se tornou necessário para “desafogar” o intenso tráfego da região. Hoje, a Radial Leste cruza o eixo leste em direção à região central, servindo às subprefeituras da Mooca, Penha, Itaquera e Guaianases. Também serve no sentido centro-bairro, onde a Radial tem início na região do Parque Dom Pedro II e possui um fluxo ainda mais intenso no elevado do Glicério, que conecta a Radial Leste com a Ligação Leste-Oeste e a Avenida do Estado.

A avenida Sapopemba começa no acesso à avenida Salim Farah Maluf, no distrito da Água Rasa e termina no Largo de Santa Luzia, próximo ao centro do município de Ribeirão Pires, região leste da Grande São Paulo. Hoje, é considerada a maior avenida do Brasil e a terceira maior do mundo com seus 45 quilômetros de extensão, 1.786 postes e quarenta linhas de ônibus diferentes. Foi declarada avenida em 3 de junho de 1954, quando o então prefeito Jânio Quadros sancionou a Lei 4.484, alterando seu nome de “Estrada de Sapopemba” para “Avenida Sapopemba”.

6Avenida Sapopemba sentido Mauá

Finalmente, seja qual for a avenida que se passe ou a via que se trafegue, as avenidas de São Paulo são famosas e complexas assim como a história do seu povo. Arteriais convergem para ruas e ladeiras que podem nem ter tanta fama assim, mas possuem o charme que só quem conhece que pode admirar sem receios. Entre “celebridades” e “desconhecidos” todos possuem um papel importante: fazer São Paulo única e diversa como só ela.