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......... MÁRCIO EDUARDO PEDROSA MORAIS Organizador SABERES JURÍDICOS INTERDISCIPLINAR ES 1

Saberes Jurídicos Interdisciplinares Pré-Formatação

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MRCIO EDUARDO PEDROSA MORAISOrganizador SABERES JURDICOS INTERDISCIPLINARES

VirtualBooks Editora Copyright 2015, Organizadores e Autores.1 edio1 impresso(publicado em Maro de 2015)

Todos os direitos reservados, protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte desta edio pode ser utilizada ou reproduzida, em qualquer meio ou forma, nem apropriada e estocada sem a expressa autorizao do autor.

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

MORAIS, Mrcio Eduardo Pedrosa

SABERES JURDICOS INTERDISCIPLINARES. Mrcio Eduardo Pedrosa Morais. Par de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicao 2015.14x20 cm. 180p.

ISBN xxxx1. Direito. Brasil. Ttulo.

CDD- 340

_______________Livro editado pela

VIRTUALBOOKS EDITORA E LIVRARIA LTDA.

Rua Porcincula,118 - So Francisco

Par de Minas - MG - CEP 35661-177 -

Tel.: (37) 32316653 - e-mail: [email protected]

http://www.virtualbooks.com.brPREFCIO

A literatura deve ser realmente o lugar onde podem surgir novas ideias que repensem o mundo.

Salman Rushdie

Assim como a literatura deve ser realmente o lugar onde possam surgir ideias que repensem o mundo, o Direito tambm deve o ser em relao sociedade ps-moderna, carente de solidariedade e justia.

Tendo como base essa premissa, o presente trabalho foi pensado como meio de se unirem ideias diversas, tendo como foco a construo do conhecimento jurdico e sua concretizao. Ancorados em tal propsito, dos cinco trabalhos presentes na obra, trs tem como autores ex-alunos com os quais tive a oportunidade de conviver por algum tempo na Academia.

O primeiro trabalho, intitulado Noes propeduticas de Direito Ambiental, de autoria deste prefaciador, uma rpida introduo Cincia Ambiental, abordando conceitos, bases filosficas e principiolgicas desse saber, com o intuito de trazer discusso a conceituao das estruturas do Direito Ambiental.

Por sua vez, o segundo estudo, A aplicabilidade do instituto da transao penal na composio do dano nos crimes ambientais no Juizado Especial Criminal da Comarca de Par de Minas, de Rafaela Lcia Martins de Oliveira, resultado de seu Trabalho de Concluso de Curso na Faculdade de Par de Minas, por intermdio do qual os dados referentes s transaes penais do Juizado Especial Criminal da Comarca de Par de Minas, Estado de Minas Gerais foram levantados com o intuito de se visualizar a realidade da composio dos danos ambientais na referida Comarca.

Aps isso, o terceiro estudo, Consideraes sobre a constitucionalizao do direito privado luz do pensamento shakesperiano, de Caroline Moreira Rachid, tambm ex-aluna do Curso de Direito da Faculdade de Par de Minas, seguindo a linha de pesquisa do Direito e Literatura, tem como problemtica a possibilidade ou no de se estudar e compreender o Direito, no somente atravs da lei, doutrina e jurisprudncia, como tambm por intermdio da Literatura, utilizando-se na pesquisa a obra O Mercador de Veneza de William Shakespeare.

O trabalho seguinte, de Rafaela Cndida Tavares Costa, discente da Faculdade de Direito da Universidade de Itana, com o ttulo Questionamento da constitucionalidade do limite temporal da medida de segurana no Direito Penal brasileiro, tem como problemtica o limite temporal da medida de segurana, espcie de sano penal que motiva vrias divergncias doutrinrias e jurisprudenciais na Cincia Penal.

Por fim, coroando a obra, o Prof. Joo Alberto Boim Filho, da Universidade de Itana, colega de trabalho naquela Casa do Saber, traz baila um caso concreto por intermdio do estudo Uma anlise de caso concreto acerca da razovel durao do processo e cidadania, com o objetivo de discutir a dignidade humana e a realidade processual brasileira luz do princpio da razovel durao do processo.

Concluindo, este prefcio, que no pretende ter sido nem um resumo nem uma explicao dos trabalhos da obra, meramente um incentivo leitura atenta dos artigos nela contidos, objetivando, sempre, que a construo da Cincia Jurdica jamais seja esquecida, tanto das escrivaninhas dos professores, como tambm dos bancos das faculdades, pois, somente assim a construo de um Pas melhor poder ser efetivada.

Mrcio Eduardo Pedrosa MoraisMaro de 2015.

SUMRIONOES PROPEDUTICAS DE DIREITO AMBIENTAL

Mrcio Eduardo Pedrosa Morais / 00

A APLICABILIDADE DO INSTITUTO DA TRANSAO PENAL NA COMPOSIO DO DANO NOS CRIMES AMBIENTAIS NO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE PAR DE MINAS

Rafaela Lcia Martins de Oliveira / 00

CONSIDERAES SOBRE A CONSTITUCIONALIZAO DO DIREITO PRIVADO LUZ DO PENSAMENTO SHAKESPEARIANO

Caroline Moreira Rachid / 00

QUESTIONAMENTO DA CONSTITUCIONALIDADE DO LIMITE TEMPORAL DA MEDIDA DE SEGURANA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

Rafaela Cndida Tavares Costa / 00

UMA ANLISE DE CASO CONCRETO ACERCA DA RAZOVEL DURAO DO PROCESSO E CIDADANIA

Joo Alberto Boim Filho / 00

NOES PROPEDUTICAS DE DIREITO AMBIENTALMrcio Eduardo Pedrosa Morais

1 INTRODUOA sociedade atual vive momentos complicados em relao s questes ambientais: aquecimento da Terra, enchentes, tsunamis, aumento do desmatamento de florestas fundamentais ao equilbrio climtico, aquecimento global, queimadas, extino de espcies da fauna e da flora. Essa situao catica deve ser enfrentada sob vrios enfoques: o pedaggico, o administrativo, o judicirio, o legislativo, no sendo possvel visualizar soluo isolada que no interligue tais enfoques. O Direito, por si s, jamais seria capaz de fornecer elementos que pudessem diminuir tais mazelas, representando somente um desses mecanismos tendentes a minimizar os efeitos deletrios de prticas humanas que agridem o ambiente. Para isso, leis ambientais eficazes devem ser elaboradas pelo Poder Legislativo, como tambm o Poder Executivo deve atuar de modo a concretizar o primado do Estado Democrtico de Direito, modelo que congrega a proteo aos direitos fundamentais de fraternidade (terceira dimenso), sendo o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e saudvel um desses direitos de solidariedade.

Deste modo, o Direito contemporneo se preocupa (mesmo que no satisfatoriamente) com as questes relacionadas ao meio ambiente, situao que no existia at dcadas finais do sculo vinte, podendo-se falar, inclusive, nos dias atuais, em inflao legislativa de questes ambientais. Porm, em nvel nacional, a legislao possui, sob certos aspectos, carter simblico, representando tentativa de se mostrar poltica de combate degradao ambiental que na realidade no possui eficcia esperada.

Neste sentido, o Direito Ambiental, como cincia, ganha relevo e importncia nas dcadas finais desse sculo, objetivando proporcionar meios para, tanto diminuir as prticas degradadoras do meio ambiente, como para auxiliar na reparao ambiental. O marco inaugural do Direito Ambiental como cincia a Conveno de Estocolmo de 1972, da Organizao das Naes Unidas ONU, sendo importante destacar a evoluo dessa cincia: num primeiro momento o Direito Urbanstico se emancipa do Direito Administrativo, para, posteriormente, o Direito Ambiental se emancipar do Direito Urbanstico. Vinte anos depois, a ONU elaborar o evento Eco-92 na cidade do Rio de Janeiro, objetivando analisar as evolues e involues das questes relacionadas problemtica ambiental em nvel mundial.

Deste modo, depois de alcanar status de ramo autnomo do Direito, o Direito Ambiental pode ser conceituado como o ramo da Cincia Jurdica encarregado de disciplinar as atividades humanas efetiva ou potencialmente causadoras de impacto ao meio ambiente, com o intuito de defend-lo, melhor-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. (FARIAS et al, 2014). Dentro da clssica diviso do direito em pblico e privado, classificao advinda do direito romano, sem sombra de dvidas, o Direito Ambiental pertence ao ramo do direito pblico, tendo em vista o interesse pblico, estatal e individual, em sua normatizao e cuidado, sendo o meio ambiente categorizado como direito difuso, com oponibilidade erga omnes.

Em relao ao desenvolvimento da autonomia dessa cincia jurdica, Guilherme Jos Purvin de Figueiredo (2013) destaca que s aps a dcada de 1970 que a expresso Direito Ambiental passou a ser utilizada pela comunidade jurdica. (FIGUEIREDO, 2013, p. 31). Aps 1960 entra em crise a clssica diviso entre Direito Pblico e Direito Privado, com a constatao da existncia de novas modalidades de direitos, que a rigor no se enquadrariam em nenhuma das duas categorias. Deste modo:

Uma nova onda de direitos formava-se num cenrio histrico bastante peculiar: os direitos do consumidor constituram uma importante plataforma poltica de John Kennedy, ento presidente dos EUA; a construo de um sistema de direitos das pessoas com deficincia teve como pano de fundo as reivindicaes dos veteranos da Guerra do Vietn e de seus familiares; a campanha pela igualdade de gnero foi consequncia direta da emancipao sexual das mulheres; a emancipao dos afro-americanos estava diretamente relacionada com o grande nmero deles nas fileiras do exrcito estadunidense e com chocantes atentados racistas. (FIGUEIREDO, 2013, p. 32).

Em relao autonomia da disciplina, durante muito tempo parte da doutrina, principalmente a brasileira, resistiu em reconhec-la, entendendo tratar-se de sub-ramo do Direito Administrativo, conforme observado supra. A partir de 1981, com a promulgao da Lei n. 6.938, foram delineadas as diretrizes principiolgicas do Direito Ambiental, sendo o mesmo consagrado com a Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, que dedicou um captulo ao meio ambiente, alando-o condio de direito fundamental, sendo considerado captulo principiolgico por trazer em seu ncleo diversos princpios ambientais, dentre eles o princpio da solidariedade intergeracional (ao lado do princpio da dignidade da pessoa humana), princpio mais importante do Direito Ambiental, que prev ser dever de todos, Estado e pessoas, proteger o meio ambiente para as presentes, como tambm para as futuras geraes, coroando o princpio da solidariedade intergeracional.

Ainda em sua fase embrionria (dcadas de 80 e 90), a Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981, trar a definio legal de meio ambiente no ordenamento jurdico brasileiro, definido meio ambiente no inciso I de seu artigo 3 como o conjunto de condies, leis influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Toshio Mukai (2014) ressalta que como se v, a conceituao legal ampla, no limitando a relao do ambiente ao homem, mas, sim, a todas as formas de vida. (MUKAI, 2014, p. 3).

Em relao sua evoluo histrica, focando a relao homem/meio ambiente, o Direito Ambiental, percebem-se trs fases distintas: num primeiro momento a fase individualista, posteriormente a fase fragmentria e, por ltimo, a fase holstica. A fase individualista, tambm denominada por fase de explorao desregrada, inicia-se nos primrdios da colonizao portuguesa no Brasil e termina na dcada de 1950, sendo caracterizada como um perodo de inexistncia da preocupao com questes ambientais, possuindo feio privatstica as poucas normas que tratavam do assunto. um momento de considervel degradao ambiental, sendo, o meio ambiente, considerado fonte inesgotvel de riquezas para a sociedade.

A partir de 1950, mas especificamente na dcada de 1960 se inicia a fase fragmentria, com o desenvolvimento de legislao voltada ao controle das atividades exploratrias dos recursos naturais, como a questo da gua, fauna e flora. Neste momento so elaborados o anterior Cdigo Florestal (Lei n. 4.771 de 1965); o Cdigo de Caa (Lei n. 5.197 de 1967); o Cdigo de Pesca (Decreto-Lei n. 221 de 1967); o Cdigo Minerrio (Decreto-Lei n. 227 de 1967). De acordo com Talden Faris e outros (2014):

Essa legislao era marcada pela setorialidade, pois somente os recursos naturais com valor econmico recebiam proteo jurdica, visto que o meio ambiente ainda no era considerado um bem autnomo. Ainda possvel identificar na Administrao Pblica a existncia de lgicas setoriais de ao e de interesses que impedem a integrao das polticas pblicas na rea ambiental, de maneira que o paradigma econmico no foi completamente suplantado. (FARIAS et al, 2014, p. 21).

No havia, como visto, a compreenso do meio ambiente como bem autnomo, podendo o mesmo ser sobrepujado em relao a aspectos econmicos, os quais eram o objetivo maior da Administrao Pblica, principalmente num momento em que o Estado buscava o seu desenvolvimento econmico e material.

Por sua vez, a partir de 1981 se inicia a fase holstica, marcada pela compreenso do meio ambiente como um todo integrado, considerando-se a interdependncia de todas as partes. A Lei n. 6.938 de 1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, o marco histrico inicial da fase holstica, sendo a Constituio de 1988 sua consagrao. Em relao Poltica Nacional do Meio Ambiente, importante destacar ter sido elaborada com o intuito de se estabelecer um equilbrio entre a poltica desenvolvimentista vigente quela poca e a proteo do meio ambiente. Era o ecodesenvolvimento, pregado na Conferncia de Estocolmo de 1972. (RODRIGUES, 2013, p. 141).

Em relao aos pressupostos filosficos do Direito Ambiental, sobressaem-se a viso antropocntrica e a viso biocntrica. A viso antropocntrica, decorrente das tradies aristotlicas e judaico-crists, considera o ser humano como titular e destinatrio de todos os recursos naturais existentes, devendo a proteo ambiental ocorrer na medida necessria para a satisfao das necessidades e interesses humanos. A noo aristotlica de cidado a concepo de homem engajado na polis e na poltica, mesmo havendo um conceito de cidadania excludente.

O paradigma antropocntrico foi adotado pela Constituio de 1988 que estabeleceu no caput do artigo 225 o direito de todos ao meio ambiente equilibrado, tendo em vista ser o ordenamento jurdico constitudo por seres humanos com o intuito de disciplinar a vida em sociedade. Porm, no correto afirmar ser o meio ambiente criado para o homem, por si s; o homem deve compreender sua importncia para o meio ambiente, sendo humanidade e meio ambiente as duas faces de uma mesma moeda. Dentro desse conceito de dialeticidade, Frederico Augusto Di Trindade Amado (2011) observa que:

Conquanto se reconheam as controvrsias que envolvem o tema, entende-se que o novo ordenamento constitucional brasileiro adotou o antropocentrismo, mitigado por doses de biocentrismo e de ecocentrismo, o que acentua o dialeticismo constitucional. (AMADO, 2011, p. 6).

Por sua vez, para a viso biocntrica, fundamentada na Ecologia Profunda, cada recurso natural possui um valor intrnseco, devendo ser protegido em razo de sua funo ecolgica. Neste sentido, o biocentrismo sustenta a existncia de valor nos demais seres vivos, independentemente da existncia do homem.

A Constituio brasileira de 1988 se enquadra numa tendncia mundial desenvolvida aps a Conveno de 1972 de se inserir nos textos constitucionais elementos principiolgicos de Direito Ambiental, surgindo as chamadas Constituies verdes (Estado Democrtico Social de Direito Ambiental), a exemplo das Constituies de Portugal de 1976 e da Espanha de 1978. Neste sentido, interessante destacar ter o texto constitucional de 1988 mencionado a expresso meio ambiente dezoito vezes em seu corpo.

O direito ao ambiente equilibrado, fim do Direito Ambiental, se caracteriza como interesse coletivo lato sensu, especificamente como interesse difuso, assim entendido aquele de natureza indivisvel, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstncias de fato, conforme definio do pargrafo nico do artigo 81 do Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990).

Constitudo por elementos biticos (seres vivos) e abiticos (fatores fsicos ou qumicos que contribuem com a manifestao da vida), o meio ambiente no teve sua conceituao jurdica definida pela Constituio de 1988. Considerada expresso redundante, pases como Portugal e Itlia utilizam apenas a palavra ambiente, situao semelhante ocorrida na Frana, que utiliza o termo milieu, e na Alemanha, com o termo unwelt, e na Inglaterra, com environment. Apesar disso, a Constituio brasileira utiliza o termo meio ambiente, apesar de, como destacado, no ter definido seu significado.

A definio legal de meio ambiente foi dada pela Lei n. 6.938 de 1981, que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente e cria o Sistema Nacional do Meio Ambiente, nos seguintes termos: conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Desdobrando o conceito de meio ambiente, a doutrina e jurisprudncia elaboraram quatro tipos de meio ambiente: 1) meio ambiente natural; 2) meio ambiente artificial; 3) meio ambiente cultural e; 4) meio ambiente do trabalho, destacando, ainda, haver, doutrinariamente, o meio ambiente gentico, que, na verdade, se insere no meio ambiente natural.

Por meio ambiente natural entende-se o conjunto de recursos naturais encontrados na natureza, como a atmosfera, guas interiores, esturios, mar territorial, solo, subsolo, fauna, flora. O meio ambiente artificial o construdo ou alterado pelo ser humano, constitudo por edifcios urbanos, espaos pblicos fechados, equipamentos comunitrios. De acordo com Farias e outros (2014), o enfoque do direito ao meio ambiente artificial realmente as cidades, que inclusive o espao onde habita atualmente a maior parte da populao brasileira e mundial. (FARIAS et al, 2014, p. 31).

Por meio ambiente cultural entende-se o patrimnio histrico, artstico, paisagstico, ecolgico, cientfico e turstico, como obras de arte, documentos de importncia para a cultura, lugares, idiomas, danas, mitos, cultos religiosos e costumes, de modo geral. Pode-se, deste modo, enquadrar o meio ambiente cultural como meio ambiente artificial, criao humana, elemento de identidade humana de um povo.

O meio ambiente do trabalho, como extenso do conceito de meio ambiente artificial, constitui o conjunto de fatores que se relacionam s condies de trabalho, como mquinas, ferramentas, agentes qumicos, biolgicos, processos e a relao entre o trabalhador e o meio fsico e psicolgico, estando tutelado nos incisos XXII e XXIII do artigo 7 do texto da CRFB/88. Farias e outros (2014) destacam que:

O objetivo do legislador constituinte originrio ao cunhar a terminologia meio ambiente do trabalho no inciso VIII do art. 200 enfatizar que a proteo ambiental trabalhista no deve se restringir s relaes de carter unicamente empregatcio. O cerne desse conceito est baseado na promoo da salubridade e da incolumidade do trabalhador, independente da atividade, do lugar ou da pessoa que a exera, sendo por isso que os vendedores autnomos e os trabalhadores avulsos tambm devem ser protegidos. (FARIAS et al, 2014, p. 32).

Como destacado acima, o conceito de meio ambiente gentico est inserido na definio de meio ambiente natural, como possvel depreender da observao de Farias e outros (2014):

Parte da doutrina define o patrimnio gentico como novo elemento da classificao de meio ambiente. Por patrimnio gentico deve-se compreender as informaes de origem gentica oriundas dos seres vivos de todas as espcies, seja animal, vegetal, microbiano ou fngico, sendo importante destacar ser a integridade gentica um valor plasmado no inciso II do pargrafo primeiro do artigo 225 da CRFB/88. (FARIAS et al, 2014, p. 33).

Importante tambm ressaltar no dever a expresso Direito Ecolgico ser confundida com a expresso Direito Ambiental, pois aquela apenas abarca o meio ambiente natural, excluindo o cultural e o artificial. (AMADO, 2011, p. 11).

Com as consideraes anteriores, feita a abordagem conceitual do Direito Ambiental e do Meio Ambiente, passar-se- na prxima seo ao estudo dos princpios do Direito Ambiental.

2 os Princpios do Direito AMBIENTAL

De acordo com Paulo de Bessa Antunes (2004) os princpios do Direito Ambiental esto voltados para a finalidade bsica de proteger a vida, em qualquer forma que esta se apresente, e garantir um padro de existncia digno para os seres humanos desta e das futuras geraes. (ANTUNES, 2004, p. 31). Para Farias e outros (2014): Os princpios exercem uma funo especialmente importante frente s outras fontes do Direito porque, alm de incidir como regra de aplicao do Direito no caso prtico, eles tambm influenciam na produo das demais fontes do Direito. com base nos princpios jurdicos que so feitas as leis, a jurisprudncia, a doutrina e os tratados e convenes internacionais, j que eles traduzem os valores mais essenciais da Cincia Jurdica. (FARIAS et al, 2014, p. 37).

Deste modo, possvel que, num caso prtico, no exista nenhuma fonte do Direito a ser aplicada, com exceo dos princpios jurdicos, que podero ser aplicados em qualquer situao.

A doutrina destaca a importncia preponderante no Direito Ambiental em relao s outras disciplinas jurdicas embasando-se na inexistncia de consolidao da legislao ambiental, como tambm o fato da recente emancipao do Direito Ambiental como disciplina autnoma, o que faz com que considervel parte de sua aplicao ocorra por intermdio da integrao operacionalizada pelos princpios.

Antes de se destacar os princpios especficos do Direito Ambiental, importante frisar constituir a defesa do meio ambiente princpio geral da ordem econmica, conforme previsto no artigo 170 da Constituio de 1988. Deste modo, no se tolera o desenvolvimento econmica que no se harmonize com o respeito s normas ambientais, antes disso, com a prpria defesa do meio ambiente. Para Toshio Mukai (2014):

A defesa do meio ambiente [...] uma finalidade de interveno do Estado: atravs de sua realizao prtica assegura-se a prevalncia de princpios que lhe so nsitos, como a preservao da vida, a diversificao das espcies, a higidez ambiental, o equilbrio ecolgico. (MUKAI, 2014, p. 54-55).

Outra questo a se destacar em relao aos princpios do Direito Ambiental a falta de consenso doutrinrio e jurisprudencial em relao ao contedo, nmero e terminologia de tais princpios ambientais. Nesse sentido, Mukai (2014) destaca ressentir, o Direito Ambiental brasileiro, de estudos que visem sua sistematizao, sendo estruturado, principalmente, por via legislativa, havendo estudos doutrinrios setoriais ou de conjunto, porm sem uma preocupao com a perquirio dos seus princpios, ao contrrio do Direito Ambiental da doutrina europeia, que estrutura a referida disciplina sob trs princpios fundamentais: I) princpio da preveno; II) princpio do poluidor-pagador ou princpio da responsabilizao e III) princpio da participao.

Deste modo, considerando-se a instabilidade conceitual principiolgica da disciplina, abordar-se- na prxima seo os princpios com maior respaldo constitucional e universalidade na doutrina e jurisprudncia.

2.1 Princpio do direito humano fundamental

Princpio mais importante do Direito Ambiental, o qual tem por fundamento axiolgico a dignidade da pessoa humana, o Princpio do Direito Humano Fundamental est inserido no caput do artigo 225 da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 CRFB/88, que traz:

Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. (BRASIL, 2008).

Alm de estar inserido no respectivo artigo constitucional, o mesmo tambm foi proclamado na Declarao de Estocolmo de 1972, tendo sido reafirmado na Declarao do Rio, proferida na Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio 92, especificamente em seu Princpio 1, nestes termos: Princpio 1 Os seres humanos constituem o centro das preocupaes relacionadas com o desenvolvimento sustentvel. Tem direito a uma vida saudvel e produtiva em harmonia com o meio ambiente. (ONU, 2014).

A Declarao de 1972 abriu caminho para que as legislaes de muitos pases tutelassem a proteo dos ecossistemas, fato indito e incomum at ento. Sob sua influncia, o Brasil elaborou a Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que declarou pela primeira vez no ordenamento jurdico nacional a importncia do meio ambiente para a vida e para a qualidade de vida, delimitando os objetivos, os princpios, os conceitos e os instrumentos dessa proteo. (FARIAS et al, 2014). O meio ambiente saudvel e equilibrado, como direito humano fundamental, foi consagrado na Constituio de 1988, que o classificou como bem de uso comum do povo e essencial qualidade de vida, nos moldes da Declarao de 1972.

Imbricado ao princpio dos direitos humanos fundamentais, parte da doutrina, como Farias e outros (2014) tratam do princpio do acesso equitativo, destacando o direito de todo ser humano ter acesso aos recursos naturais e ao meio ambiente de forma geral, na medida de suas necessidades. Neste sentido o Princpio 5 da Declarao Universal sobre o Meio Ambiente que dispe que os recursos no renovveis do Globo devem ser explorados de tal modo que no haja riscos de serem exauridos e que as vantagens extradas de sua utilizao sejam partilhadas por toda a humanidade. (FARIAS et al, 2014, p. 40). Assim, considera-se o princpio do acesso equitativo como ramificao do princpio do direito humano fundamental.2.2 Princpio Democrtico

Tambm conhecido como princpio democrtico ou da gesto democrtica, assegura ao cidado o direito informao e a participao na elaborao das polticas pblicas ambientais, de modo que a ele deve ser assegurado os mecanismos judiciais, legislativos e administrativos que efetivam o princpio. (FARIAS et al, 2014, p. 46).

O princpio democrtico se assemelha ao denominado princpio da cooperao (do direito europeu), princpio que expressa a ideia de que para resoluo dos problemas ambientais deve ser dada nfase especial cooperao entre Estado e sociedade, por intermdio da participao de diversos grupos sociais, seja na formulao, seja na execuo de polticas ambientais.

O princpio democrtico sustenta-se no direito que todos os indivduos possuem de participar na elaborao, desenvolvimento de normas relacionadas ao meio ambiente, como tambm no fato de que o desenvolvimento do Direito Ambiental decorre de movimentos reivindicatrios dos cidados, materializando-se atravs dos direitos informao e participao. (ANTUNES, 2004). Exemplo disso a obrigatoriedade legal da realizao de audincia pblica no processo de licenciamento ambiental que demande a realizao de Estudo de Impacto Ambiental.

Neste sentido, tem-se como instrumentos de participao popular no Direito Ambiental as aes populares, a participao em audincias pblicas, como tambm por intermdio de iniciativas legislativas: plebiscito, referendo e iniciativa popular, os quais esto previstos no artigo 14 da CRFB/88. Como medida administrativa, Paulo de Bessa Antunes cita o direito de informao, o qual est previsto no inciso XXXIII do artigo 5 da CRFB/88, nos seguintes termos:

Art. 5 [...]

XXXIII - todos tm direito a receber dos rgos pblicos informaes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do Estado. (BRASIL, 2008).

Outra medida administrativa o direito de petio, possibilidade que o cidado tem de acionar o poder pblico para que este, no exerccio de sua autotutela, ponha fim a uma situao de ilegalidade ou de abuso de poder, (ANTUNES, 2004, p. 34), que est inserido no inciso XXXIV da CRFB/88, nos termos seguintes: Art. 5

[...]

XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder. (BRASIL, 2008).

J o Estudo de Impacto Ambiental EIA, exigncia constitucional, o qual deve ser submetido a audincia pblica, est previsto no pargrafo primeiro do inciso IV do artigo 225 da CRFB/88, nos seguintes termos:

Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv- lo para as presentes e futuras geraes.

1 - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pblico:

[...]

IV - exigir, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente, estudo prvio de impacto ambiental, a que se dar publicidade. (BRASIL, 2008).

Por sua vez, so medidas judiciais decorrentes do Princpio Democrtico a Ao Popular e a Ao Civil Pblica, aes judiciais com fulcro constitucional, estando a Ao Popular prevista no inciso LXXIII da CRFB/88, inciso que traz o enunciado:Art. 5 [...]

LXXIII qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e do nus da sucumbncia. (BRASIL, 2008).

O prprio dispositivo deixa claro o fato de a Ao Popular tratar dos interesses difusos e coletivos, entendendo-se por interesses difusos aqueles interesses que abrangem toda a sociedade, dentre eles o direito proteo ao meio ambiente. Assim, tendo por objetivo anular o ato lesivo ao patrimnio pblico, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e cultural, a Ao Popular destina-se concretizao do princpio democrtico, estando a mesma disciplinada pela Lei n. 4.717, de 29 de junho de 1965.

Visando proteo ambiental, o ordenamento jurdico brasileiro positivou a Ao Civil Pblica, prevista constitucionalmente, especificamente no artigo 129 da CRFB/88, quando, ao tratar das funes institucionais do Ministrio Pblico, trouxe que: Art. 129. So funes institucionais do Ministrio Pblico:

[...]

III - promover o inqurito civil e a ao civil pblica, para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. (BRASIL, 2008).Em nvel infraconstitucional, a Ao Civil Pblica est disciplinada pela Lei n. 7.347 de 24 de julho de 1985, que titulariza como legitimados sua propositura I) Ministrio Pblico; II) Defensoria Pblica; III) Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios; IV) autarquia, empresa pblica, fundao ou sociedade de economia mista; V) associao que, concomitantemente: a) esteja constituda h pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; e b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteo ao patrimnio pblico e social, ao meio ambiente, ao consumidor, ordem econmica, livre concorrncia, aos direitos de grupos raciais, tnicos ou religiosos ou ao patrimnio artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico. (BRASIL, 2015).

Deste modo, os institutos citados so medidas cabveis para a concretizao do Princpio Democrtico, aproximando o cidado das efetivas aes tendentes construo democrtica de um meio ambiente saudvel.2.3. Princpio da precauo (prudncia ou cautela) e o princpio da preveno

O artigo 170 da CRFB/88, inserido dentro captulo I (Dos Princpios Gerais da Atividade Econmica) do ttulo VII (Da Ordem Econmica e Financeira), traz em seu inciso VI a defesa do meio ambiente como princpio da ordem econmica, nos seguintes termos:

Art. 170. A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna, conforme os ditames da justia social, observados os seguintes princpios:

[...]

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e servios e de seus processos de elaborao e prestao; (BRASIL, 2008).

Assim, de acordo com Paulo de Bessa Antunes (2004), existe um dever jurdico-constitucional de levar em conta o meio ambiente quando se for implantar qualquer empreendimento econmico, (ANTUNES, 2004, p. 36), devendo-se, tambm, na incerteza cientfica, por motivo de prudncia, evitar danos que, na maioria das vezes, no podero ser recuperados.

O princpio da precauo est previsto no Princpio 15 da Declarao do Rio, podendo ser considerado:

Garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, no podem ser ainda identificados. Este princpio afirma que no caso de ausncia de certeza cientfica formal, a existncia do risco de um dano srio ou irreversvel requer a implementao de medidas que possam prever este dano. (THOM; GARCIA, 2009, p. 30).

Alguns autores consideram o princpio da precauo como sinnimo do princpio da preveno, enquanto outros preferem o termo preveno por consider-lo mais abrangente que precauo. Romeu Thom e Leonardo de Medeiros Garcia (2009) trazem uma diferenciao clara entre preveno e precauo: o princpio da preveno se apia na certeza cientfica do impacto ambiental de determinada atividade. Caso no haja certeza cientfica, o princpio a ser aplicado ser o da precauo. (THOM; GARCIA, 2009, p. 28). Assim, h no princpio da preveno o conhecimento do nexo causal entre o ato e o dano ambiental.

Em consonncia com o contedo do princpio da preveno, a Constituio Federal exige, no inciso IV do pargrafo primeiro do artigo 225, a elaborao do estudo de impacto ambiental EIA para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente.

Em nvel internacional, o princpio da preveno est previsto no Princpio 6 da Declarao Universal sobre o Meio Ambiente, nos seguintes termos:

Deve-se por fim descarga de substncias txicas ou de outros materiais e, ainda, liberao de calor em quantidades ou concentraes tais que o meio ambiente no tenha condies para neutraliz-las, a fim de no se causar danos graves ou irreparveis aos ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os pases contra a contaminao. (FARIAS et al, 2014, p. 46).

Por sua vez, em nvel legislativo nacional, a Lei n. 6.938 de 1981, dispe em seu artigo 2 ter a Poltica Nacional do Meio Ambiente por objetivos a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental [...], atendidos, dentre outros princpios, os seguintes: I ao governamental na manuteno do equilbrio ecolgico, considerando o meio ambiente como um patrimnio pblico a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

[...]

IV proteo dos ecossistemas, com a preservao de reas representativas;

[...]

IX proteo de reas ameaadas de degradao. (BRASIL, 2008).

Em breve sntese: o princpio da preveno aplica-se aos casos em que os impactos ambientais j so conhecidos, ao passo que o princpio da precauo aplica-se queles em que o conhecimento cientfico no pode oferecer respostas conclusivas sobre a inocuidade de determinados procedimentos.2.4 Princpio do poluidor-pagador

Tambm denominado princpio da responsabilizao, trata-se de princpio fundamental na poltica ambiental, compreendido como um instrumento econmico que exige do poluidor, uma vez identificado, suportar as despesas de preveno, reparao e represso dos danos ambientais, estando previsto no Princpio 16 da Declarao do Rio de 1992. Importante destacar, porm, que:

Este princpio no se limita a tolerar a poluio mediante um preo, nem se limita a compensar os danos causados, mas sim e principalmente, evitar o dano ambiental. Desta forma, o princpio do poluidor-pagador no se reduz finalidade de somente compensar o dano ao meio ambiente, deve tambm englobar os custos necessrios para a precauo e preveno dos danos, assim como sua adequada represso. (THOM; GARCIA, 2009, p. 37).

Deste modo, quem utiliza o recurso ambiental deve suportar seus custos, sem que essa cobrana resulte na imposio de taxas abusivas. Em nvel legislativo, o princpio encontra guarida no inciso VII do artigo 4 da Lei n. 6.938, de 1981, que traz em seu texto: imposio, ao poluidor e ao predador, da obrigao de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usurio, da contribuio pela utilizao de recursos ambientais com fins econmicos. (BRASIL, 2014, grifo nosso).

Juridicamente, o princpio determina a responsabilidade objetiva, o que se subentende da leitura do pargrafo primeiro do artigo 14 da mesma Lei n. 6.938, de 1981, que prev: sem obstar a aplicao das penalidades previstas neste artigo, o poluidor obrigado, independentemente da existncia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. (BRASIL, 2014).2.5 Princpio do desenvolvimento sustentvelComo destacado alhures, o artigo 170 da CRFB/88 sagrou o meio ambiente como um dos princpios da ordem econmica. No mesmo sentido, segunda Conferncia Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco-92, realizada no ano de 1992 no Rio de Janeiro, previu no seu Princpio n. 3 que o Direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de geraes presentes e futuras.

Neste sentido, o crescimento de um pas no pode ser interrompido sob o argumento de se proteger o meio ambiente, o que deve acontecer o desenvolvimento sustentvel, causando a menor ofensa possvel aos valores ambientais, fundando-se em pilares econmico, ambiental e social. Mukai (2014) destaca a impossibilidade prtica no Brasil do desenvolvimento sustentvel com a proteo ao meio ambiente como base da ordem econmica. Assim, diga-se sem rebuos: a busca do lucro, da ganncia e at mesmo do desenvolvimento econmico natural e legtimo tem sido obtida, no Brasil, custa da deteriorao e de prejuzos incalculveis ao meio ambiente. (MUKAI, 2014, p. 57).

3 CONCLUSOA questo ambiental um dos mais inquietantes desafios do sculo vinte e um, tendo a sociedade percebido sua importncia somente nas ltimas dcadas desse sculo, ou seja, tardiamente. O marco mundial de proteo ao meio ambiente a Conveno das Naes de Unidas de Estocolmo, realizada em 1972, quando pela primeira vez, representantes de pases da ONU se reuniram para discutir questes ambientais fundamentais para a humanidade, evento emancipador da cincia Direito Ambiental como ramo autnomo do Direito.

Em relao aos seus princpios, no consenso doutrinrio em sua listagem, podendo-se, porm, elencar como princpio basilar o princpio do direito humano fundamental, imbricado com o princpio da solidariedade intergeracional, localizado no caput do artigo 225 da Constituio de 1988. Em nvel internacional, a doutrina europeia estrutura os princpios nucleares da disciplina ambiental na trade I) princpio da preveno; II) princpio do poluidor-pagador ou princpio da responsabilizao e III) princpio da participao. Tais princpios tambm esto previstos no ordenamento jurdico brasileiro, sendo possvel tambm arrolar o I) princpio democrtico, II) princpio da precauo/preveno, e III) princpio do desenvolvimento sustentvel.

Vive-se atualmente a fase holstica do Direito Ambiental, possuindo o ordenamento jurdico brasileiro diversos diplomas legais objetivando a proteo ambiental, sem, contudo, conseguir conter as agresses sofridas pelo meio ambiente, situao que motiva a doutrina a entender como simblica a referida legislao brasileira, tecnicamente bem elaborada porm inefetiva, principalmente em decorrncia da carncia de estrutura estatal, que no consegue fiscalizar, punir e remediar os desrespeitos questo ambiental. Essa compreenso holstica do meio ambiente, iniciada no Brasil em 1981, com a Lei n. 6.938, deve ser efetivada para que toda a sociedade possa usufruir de um ambiente cada vez mais saudvel (para a presente e futuras geraes), consolidando a responsabilidade democrtica prevista no texto da Constituio Verde de 1988.REFERNCIAS BIBLIOGRFICASAMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito ambiental esquematizado. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; So Paulo, Mtodo, 2011.

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.

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BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Disponvel em . Acesso em 21 jun. 2014.BRASIL. Lei 7.347, de 24 de julho de 1985. Disponvel em . Acesso em 22 mar. 2015.

FARIAS, Talden; COUTINHO, Francisco Serphico da Nbrega; MELO, Gergia Karnia R. M. M. Direito ambiental. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2014.

FIGUEIREDO, Guilherme Jos Purvin. Curso de direito ambiental. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

MILAR, dis. Direito do ambiente: a gesto ambiental em foco: doutrina, jurisprudncia, glossrio. 7. ed. rev., atual. e reformulada. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. So Paulo: Saraiva, 2013.

THOM, Romeu; GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito ambiental. Salvador: Juspodivm, 2009.

A APLICABILIDADE DO INSTITUTO DA TRANSAO PENAL NA COMPOSIO DO DANO NOS CRIMES AMBIENTAIS NO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE PAR DE MINAS

Rafaela Lcia Martins de Oliveira

1 INTRODUOO termo meio ambiente j foi, e por vrias vezes ainda , objeto de inmeras discusses e crticas quanto ao seu sentido conceitual. Muitos estudiosos condenam o vocbulo por ach-lo um pleonasmo, j que as palavras que o compem so sinnimas, meio aquilo que envolve, ou seja, o ambiente. No haveria, assim, a necessidade de repeti-las num mesmo conceito. A polmica, porm, de irrelevante importncia, no sendo necessrio tecer maiores consideraes sobre ela, j que uma discusso muito mais voltada nomenclatura do que ao contedo em si.Ao analisar qualquer tema que envolva o meio ambiente se estar tambm analisando o homem em sua existncia em face natureza que o cerca. E aqui no se abarcam somente os elementos naturais, mas tambm, todos os demais, como os artificiais e culturais, j que todos estes esto envolvidos no desenvolvimento equilibrado de toda a sociedade humana, tendo como objetivo a preservao desta.

O ambiente, elevado categoria de bem jurdico essencial vida, sade e felicidade do homem, integra, em verdade, um conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais e o detalha como constitudo do meio ambiente natural (solo, gua, ar, flora, fauna), meio ambiente cultural (patrimnio artstico, histrico, paisagstico, arqueolgico, espeleolgico) e meio ambiente artificial (espao urbano construdo, conjunto de edificaes e equipamentos pblicos, como ruas, praas, parques e reas verdes).

A questo ambiental atualmente tem tido uma importncia supranacional. Diante das inmeras evolues e inovaes que decorrem do desenvolvimento tecnolgico e industrial, v-se a necessidade de todos os Estados se unirem para conversarem em uma s lngua a respeito de tal tema. Isso se mostra de interesse, dada a necessidade de um posicionamento global nico referente s atuaes que envolvam o meio ambiente.

No se pode negar que os bens ambientais so comuns a toda a humanidade, suas funes so relevantes a todos e, por isso, sua preservao e seu melhor uso devem ser efetuados em conjunto por todo o globo. Pode-se perceber que a questo ambiental, no entanto, direcionada no apenas proteo destes bens de uso comum, mas tambm visa recuperao daquilo que j sofreu os efeitos da degradao.

Com a percepo do mal advindo de inmeros fatores que simplesmente ignoravam a proteo ambiental, resultando na deteriorao da prpria qualidade de vida e na diminuio de recursos naturais, antes aparentemente inesgotveis, foi-se construindo um movimento de preservao ao meio ambiente. Percebeu-se que um bem de to extrema importncia no poderia ficar longe dos olhos do Direito, havendo a necessidade de uma efetiva tutela ambiental. Este tema, por sua vez, apresenta uma caracterstica dinmica, estando sempre em situao de transformao, pois, como bem se sabe, a natureza impossvel de ser encarada de uma forma estanque e limitada.

H tempos tem-se notcias de regras legais que visam preservao de alguns aspectos que se referem ao meio ambiente, mas devemos lembrar que este traz em si um aspecto globalizante, devendo ser tutelado como um todo. A importncia do tema e a relao de interdependncia entre o homem e a natureza fez com que as normas protetivas viessem a ser editadas cada vez em maior nmero e, hoje, compem o ramo autnomo do Direito Ambiental.

No trabalho monogrfico, utilizou-se a reviso de literatura e o levantamento de dados referente s Transaes Penais do Juizado Especial Criminal da Comarca de Par de Minas, Estado de Minas Gerais. Para elaborar a reviso de literatura foi adotada a metodologia de pesquisa bibliogrfica, atravs do levantamento e anlise do que j foi publicado sobre o tema e o problema de pesquisa escolhido.

O presente trabalho no Primeiro Captulo trata sobre o Meio Ambiente e os Crimes Ambientais, abordando o Direito Ambiental, o Impacto Ambiental e o Licenciamento Ambiental. No segundo captulo trata da Transao Penal e os Crimes Ambientais, conforme preconiza a Lei n. 9.099/95 e a Lei n. 9.605/98, como tambm trata da Reparao do Dano Ambiental. O terceiro e ltimo captulo aborda a Justia Penal Consensuada e os Crimes Ambientais, com enfoque no Juizado Especial Criminal e Promotoria de Justia da Comarca de Par de Minas.2 O MEIO AMBIENTE E OS CRIMES AMBIENTAIS

2.1 O Meio Ambiente

Nos ltimos tempos o tema meio ambiente tem sido bastante discutido, tornou-se alvo de atenes gerais, chegando-se a um consenso global de que se faz necessria a preservao do meio ambiente, assim como a utilizao de instrumentos que impeam a proliferao dos danos a ele provocados.

Os partidos polticos passaram a preocupar-se com seus efeitos e a incluir sua defesa como base de seus programas. Grupos ambientalistas passaram a defend-la, por vezes, com exagero cinematogrfico. Outros, em extremo oposto da mesma forma condenvel, passaram a consider-la como a razo de todos os problemas e a pregar reao total contra os seus defensores. Empresrios, conscientes da importncia do assunto, iniciaram debates a respeito e, inclusive, estudos para conciliar o desenvolvimento e o equilbrio ecolgico, procurando adequar sustentabilidade e realidade ftica.O conceito meio ambiente, empregado no Brasil, criticado pelos estudiosos, porque meio e ambiente, no sentido enfocado, quer dizer a mesma coisa, assim, logo, tal emprego importaria em redundncia. Na Itlia e em Portugal emprega-se, somente, a palavra ambiente. O termo francs equivalente milieu; o alemo unwelt; o ingls, environment. Na Espanha e pases da chamada Amrica espanhola emprega-se a expresso entorno. No Brasil, emprega-se a expresso meio ambiente, apesar das divergncias, por ser de uso consagrado no nosso pas.

O termo ambiente , por essncia, extremamente amplo, assim, antes de adentrar propriamente na anlise da expresso, importante que, pode abrigar inmeras realidades que se encontram na doutrina, para isso basta observar os conceitos dos autores que atuam na rea ambiental.

O conceito de meio ambiente novel, assim como a gesto do meio ambiente constitui uma atividade tambm recente. At alguns anos atrs, os recursos ambientais eram tratados de forma isolada no pas, razo pela qual os instrumentos e os mecanismos necessrios gesto do meio ambiente ainda no estavam desenvolvidos e aperfeioados em sua plenitude.

O meio ambiente unitrio, na medida em que regulamentado por inmeros princpios, diretrizes e objetivos que compem a Poltica Nacional do Meio Ambiente PNMA (Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981). Segundo Sirvinskas (2003):

O termo meio ambiente muito criticado pela doutrina, pois meio tudo aquilo que est no centro de alguma coisa. Ambiente indica o lugar ou a rea onde habitam seres vivos. Assim, na palavra ambiente est tambm inserido o conceito de meio. Cuida-se de um vcio de linguagem conhecido por pleonasmo, consistente na repetio de palavras ou de ideias com o mesmo sentido simplesmente para dar nfase. Resumindo, o meio ambiente o lugar onde habitam os seres vivos. (SIRVINKAS, 2003, p. 28).Freitas (2000) cita que:

O conceito meio ambiente j est consagrado na legislao, na doutrina, na jurisprudncia e na conscincia da populao, assim, entende-se por meio ambiente: o aglomerado de condies, leis, influncias, mudanas e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que possibilite, abriga e rege a vida em toda as suas formas (art. 3o, I, da Lei n. 6.938/81). Registre-se que o conceito legal de meio ambiente no adequado, j que no engloba de maneira ampla todos os bens jurdicos protegidos, sendo um conceito limitado ao meio ambiente natural. (FREITAS, 2000, p. 15).

Nos dias atuais, o conceito jurdico mais usual de meio ambiente pode distinguir duas perspectivas principais: uma estrita e outra ampla. Num ponto de vista limitado, o meio ambiente nada mais do que a expresso do patrimnio natural e o elo entre os seres vivos. J num ponto de vista amplo, que vai alm dos limites estreitos estabelecidos pela ecologia tradicional, o meio ambiente abrange toda a natureza original e artificial, igualmente como os bens culturais correlatos.

A designao legal no levou em considerao as controvrsias dos cientistas com relao ao alcance do conceito meio ambiente, mas, serviu ao propsito de se delimitar o conceito no campo jurdico.

Silva (1998) entende meio ambiente como sendo a interao do aglomerado de elementos naturais, artificiais e culturais que possibilitem a evoluo equilibrada da vida em todas as suas formas (SILVA, 1998, p. 2). Para completar esse conceito, acrescenta-se o meio ambiente do trabalho.

necessrio socorrer-se do magistrio de Rocha (1997), que assim aborda a expresso meio ambiente:Partindo-se desse conceito doutrinrio, pode-se dividir o meio ambiente em: meio ambiente natural unifica a atmosfera, as guas interiores, superficiais e subterrneas, os esturios, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna, a flora, o patrimnio gentico e a zona costeira (art. 225 da CF); meio ambiente cultural unifica os bens de natureza material e imaterial, os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico (arts. 215 e 216 da CF); meio ambiente artificial unifica os equipamentos urbanos, os edifcios comunitrios (arquivo, registro, biblioteca, pinacoteca, museu e instalao cientfica ou similar) (arts. 21, XX, 182 e s. e 225 da CF); e meio ambiente do trabalho unifica a proteo do homem em seu local de trabalho, com observncia s regras de segurana (arts. 200, VII e VIII, e 7o, XXII, ambos da CF). (ROCHA, 1997, p. 27).

Ferreira (1995) entende meio ambiente como:

A integrao do patrimnio nacional brasileiro (art. 215, caput, c/c o art. 225, caput, da CF), que se divide em: patrimnio natural e patrimnio cultural, j que nem todo o patrimnio artificial protegido por lei, ato administrativo ou deciso judicial. S o ser se possuir valor histrico, cultural, cientfico, turstico etc. (FERREIRA, 1995, p. 29).Transforma-se, desse modo, o meio ambiente artificial em patrimnio cultural e o meio ambiente do trabalho em patrimnio natural, bastando, portanto, essa diviso. Para este estudo, ser seguido a linha de pensamento de Sirvinskas (2003) e Silva (1998), dentre outros, adotando a classificao de meio ambiente: natural, cultural, artificial e do trabalho. Trata-se de uma classificao didtica e til para a compreenso dos seus conceitos, pois, com essa abordagem que se pode compreender o preceito constitucional e as normas de proteo ambiental que visam proteger a sadia qualidade de vida dos seres vivos.

As normas de proteo ao meio ambiente partem do conflito de interesses gerados nas relaes do homem com a natureza e do homem com os processos produtivos, refletindo-se em todas as demais aes sociais, estando a questo ambiental envolvida com o cerne da conflituosidade da sociedade moderna.

Para amparar essa questo, emergiu um ramo especfico do direito denominado Direito Ambiental. Uma grande parte dos doutrinadores consagrados como estudiosos sobre o tema, dizem que primeiramente deve-se partir dos princpios norteadores da cincia, pois s assim ser atingido o alvo que a preservao de todas as espcies existentes no planeta.

2.2 O Direito Ambiental

Para poder ser regulamentada a interveno do homem no meio ambiente acabou por surgir um novel ramo pelo qual se denomina Direito Ambiental. O Direito Ambiental uma especializao moderna do Direito que estuda as regras que tratam do relacionamento do homem com o espao que o envolve.

Para Fiorillo, Rodrigues e Nery (1996), o homem o destinatrio de toda e qualquer norma, assim, toda e qualquer vida que no seja humana poder ser tutelada pelo Direito Ambiental na medida em que sua existncia indique garantia da sadia qualidade de vida do homem.O Direito Ambiental considerado como sendo um complexo de princpios e normas regulamentadoras das atividades humanas, que de forma direta ou indiretamente afetam a sanidade do ambiente em sua dimenso global, objetivando a sustentabilidade para as atuais e futuras geraes.

Dentre vrias definies, Sirvinskas (2003) define assim: Direito Ambiental a cincia jurdica que estuda, avalia e indaga as questes e os problemas ambientais e seu relacionamento com o ser humano, tendo por intuito a proteo do meio ambiente e a melhoria das condies de vida no planeta. (SIRVINKAS, 2003, p. 27).

Vrias legislaes esparsas tratavam do assunto, como o Cdigo Florestal (Lei n. 4.771, de 15 de setembro de 1965) que regulamentou a proteo do meio ambiente, ou seja, das florestas; o Cdigo de Caa (Lei n. 5.197, de 3 de janeiro de 1967) pelo qual dispe sobre a proteo fauna dentre outras, contudo, devido dificuldade de aplicao dessas legislaes, foi estabelecida a Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, de 31 de Agosto de 1981) a qual facilitou a aplicao e tem por objetivo a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida e proteo da dignidade da vida humana.

Aps seguiu-se a Lei da Ao Popular (Lei n. 4.717 de 29 de junho de 1965) a qual fixa que qualquer cidado parte legtima para pleitear a anulao ou a declarao de nulidade de atos lesivos ao patrimnio pblico, ou seja, os bens e direitos de valor econmico, artsticos, estticos, histricos ou tursticos. Posteriormente, a Lei da Ao Civil Pblica (Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985) que tutela os valores ambientais, regendo a ao civil pblica de responsabilidade por danos gerados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico.

A tenso existente entre a natureza e sociedade acontece em termos de aberta contradio, em razo do fato de que a revoluo industrial e a concepo positivista do processo concebem o domnio e, inclusive, a destruio e a negao da natureza como os empreendimentos mais significativos do homem (OLIVEIRA, 2009).Apenas com o advento da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 a questo ambiental passou a merecer tratamentos preciosos e modernos, passando-se a reconhecer o ambiente como bem jurdico autnomo e portador de substantividade prpria, essencial qualidade e sade da vida, impondo-se desse modo, sua efetiva proteo pela legislao. (OLIVEIRA, 2009).A Constituio da Repblica Federativa do Brasil CRFB/1988, dedicou em seu ttulo VIII da Ordem Social, no captulo VI, art. 225, normas direcionais da problemtica ambiental, propiciando as diretrizes de preservao e proteo dos recursos naturais, onde se inclui nelas a fauna e flora, bem como, dentre outras medidas, regras de promoo da educao ambiental, designando meio ambiente como bem de uso comum do povo, assim, a Ao Popular e a Ao Civil Pblica foram agasalhadas pela Constituio Federal.

A Conferncia da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que fora realizada no Rio de Janeiro, a Rio-92, como ficou conhecida, sacramentou em termos mundiais a preocupao com a problemtica ambiental. Reforou os princpios e regras para o combate degradao ambiental, criando a Agenda 21, instrumento diretriz do desenvolvimento sustentvel.

Aps a Rio/92 surgiram-se novos encontros, novas resolues e portarias emitidas pelos rgos ambientais dando aparato as normas de proteo do meio ambiente, dentre as quais, pode-se citar o Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990), o qual estabelece em seu art. 81 os direitos difusos, ou seja, os transindividuais assim entendidos os decorrentes de origem comum, aqueles que transcendem o indivduo, transpondo o limite da esfera de direitos e obrigaes de cunho individual.

O Direito Ambiental vital para a garantia da qualidade de vida da sociedade, sendo ao mesmo tempo, uma garantia de manuteno das demais formas de vida, bem como dos recursos vegetais, hdricos e minerais do pas, sendo este um dever de todos os cidados, conforme prev a CRFB/1988 em seu art. 225 que a impe ao Poder Pblico e coletividade.

Ao consagrar a proteo ambiental, a CRFB/1988 inovou indo ao encontro do denominado desenvolvimento sustentvel, limitando as atividades econmicas ao equilbrio ambiental e ao bem estar social, como preconiza o caput do seu artigo 225. nesse contexto, que ganha corpo o Direito Ambiental, um dos ramos mais recentes das cincias jurdicas que, com um enfoque interdisciplinar, busca regular as atividades antrpicas que causem, de forma efetiva ou potencial, danos ao meio ambiente. Desta forma, ele atua estabelecendo as regras de apropriao dos recursos naturais para fins de mercado, fato que o torna impossvel de ser concebido sem considerar os seus aspectos econmicos. (MORAES, 2009).

O Direito Ambiental no pertence categoria de interesse pblico (Direito Pblico), nem de interesse privado (Direito Privado), cuida, sim, de interesse pertencente a cada um e, ao mesmo tempo, a todos, sendo interesses dispersos ou difusos situados entre o pblico e o privado.

Deve-se levar em considerao que o Direito Ambiental s foi elevado condio de cincia a partir do momento em que adquiriu autonomia, com o advento da Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente PNMA, que a mais importante lei ambiental, disposta na Lei Federal n. 6.038/81, recepcionada pelo atual ordenamento federal, tendo por principal objetivo, conforme artigo 4, a compatibilizao do desenvolvimento econmico-social com a preservao da qualidade do meio ambiente e do equilbrio ecolgico. (OLIVEIRA, 2009).

Essa lei trouxe em seu bojo os requisitos necessrios para tornar o Direito Ambiental uma cincia jurdica independente, com regime jurdico prprio, definies e conceitos sobre a matria.

O Direito Ambiental acolheu uma nova ordem de interesses que o Bem Ambiental, do qual esse bem envolve o meio ambiente. O bem ambiental aquele de uso comum do povo, podendo ser desfrutado por todo e qualquer indivduo dentro dos limites constitucionais, e, ainda, um bem vital qualidade de vida. Segundo Levai (1998):

Bem ambiental aquele designado constitucionalmente (art. 225, caput) como sendo de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida. Qual o bem de uso comum do povo? Bem ou recursos ambiental aquele definido no art. 3o, V, da Lei n. 6.938/81, ou seja, a atmosfera, as guas interiores, superficiais e subterrneas, os esturios, o mar territorial, o solo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. o meio ambiente ecologicamente equilibrado. (LEVAI, 1998, p. 50).Da somatria dos dois aspectos bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida que se estrutura o bem ambiental. Esse Bem Ambiental acolhido pelo Direito Ambiental, pelo qual envolve o meio ambiente que deve ser essencial sadia qualidade de vida. Vida, por seu turno, toda a espcie existente no ecossistema (art. 3o, I, da Lei n. 6.938/81), inclusive o homem. Para Fiorillo, Rodrigues e Nery (1997):Meio ambiente ecologicamente equilibrado aquele assegurado pelo respeito dignidade humana. Esse princpio est arrolado no art. 1o, III, da Constituio Federal de 1988. Para que o indivduo possa ter uma qualidade de vida digna necessrio que lhe seja afianado o direito ao trabalho, educao, sade, segurana, ao lazer, previdncia social, proteo maternidade e infncia, assistncia aos desamparados (art. 6o da Constituio Federal), inclusive ao meio ambiente. (FIORILLO, RODRIGUES, NERY, 1997, p. 81).Conforme afirma Antunes (2009), o Direito tem por funo favorecer o estabelecimento da dignidade da pessoa humana e a paz social, o Direito Ambiental, como ramo desta cincia, tutela o meio ambiente em prol de elevar a qualidade de vida e promover o bem comum, enfocando a intercesso entre sociedade, ecologia e economia em nome da sustentabilidade.

O bem ambiental, por essa razo, no pode ser classificado como bem pblico, nem como bem privado (art. 98 do Cdigo Civil de 2002), ficando numa faixa intermediria denominada bem difuso. Difuso o bem que pertence a cada um e, ao mesmo tempo, a todos. No h como identificar o seu titular e seu objeto insuscetvel de diviso.

2.3 O Impacto Ambiental

O conceito de impacto ambiental nos dado pela Resoluo n. 001/86, do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, nos seguintes termos: Art. 1. Para efeito desta Resoluo, considera-se impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, gerada por qualquer forma de matria ou energia derivante de atividade humana que, direta ou indiretamente afeta:I a sade, a segurana e o bem-estar da populao;

II as atividades sociais e econmicas;

III a biota;

IV as condies estticas e sanitrias do meio ambiente;

V a qualidade dos recursos naturais. (BRASIL, 2014).No Brasil, o primeiro passo em relao questo do impacto ambiental foi dado em 1969, atravs da Lei n. 6.803, que dispe sobre as diretrizes bsicas para o zoneamento industrial nas reas crticas de poluio. O art. 10, inc. V, 3 prev a avaliao de impacto, alm dos estudos, normalmente, exigveis para o estabelecimento de zoneamento urbano.

Instituda a Poltica Nacional do Meio Ambiente, atravs da Lei n. 6.938/81, a avaliao do impacto ambiental foi explicitamente mencionada no art. 9, inc. III. Posteriormente, atravs do Decreto n. 88.351/83, que regulamentou a Lei n. 6.938/81, atribuem-se no art. 18, 1, ao CONAMA poderes para fixar critrios bsicos para os estudos de impacto ambiental. De outra parte, a referida lei determinou a exigncia de licenciamento de rgo estadual para as atividades efetiva e, potencialmente, poluidoras, conforme art. 10.

Disto resultou meno explcita, no art. 18, de todo um captulo dedicado ao licenciamento. Inclusive fornecem, no art. 20, distino s vrias espcies. Fiel a tal mandamento regulamentar, baixou o CONAMA, a Resoluo n. 001/86. Esta, efetivamente, aborda a matria minuciosamente e em linguagem direta e objetiva. Com sua entrada em vigor que, na verdade, teve incio uma nova fase sobre a matria, inclusive com a obrigao de submeterem-se os rgos governamentais, tal qual os particulares, ao estudo do impacto ambiental.

Bem observou Medauar (1989) ao ponderar: Sem o estudo do impacto ambiental, expresso no Relatrio de Impacto Ambiental RIMA, no poder ser licenciada a atividade pretendida. Atividades efetivas ou modificadoras do meio ambiente, quer de iniciativa pblica, quer de iniciativa privada, dependem de licenciamento, o qual, por sua vez, condicionado apresentao pelo proponente, de Relatrio de Impacto Ambiental. (MEDAUAR, 1989, p. 591).Teve a Resoluo apontada outro mrito, qual seja, o de despertar interesse sobre o tema. Tal circunstncia foi bem notada por Moreira (1989) ao lembrar que: Aps o ano de 1986, proliferam-se estudos de impacto ambiental, assim, as revistas tcnicas no deixam de apresentar artigos sobre o assunto; cursos e seminrios multiplicam-se; as universidades se preocupam com a formao de quadros profissionais.

De fato, em janeiro de 1986, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, ao aprovar a Resoluo CONAMA n. 001/86, propiciou a aplicao da avaliao de impacto ambiental aos empreendimentos pblicos, alm dos privados, o que induziu todos os setores a se mobilizarem para a tarefa de implement-la. (MOREIRA, 1989, p. 54-56).A Resoluo n. 237/97 do CONAMA definiu competncias para o licenciamento, deixando para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBAMA, somente os empreendimentos e atividades de impacto nacional ou regional, embora, algumas vezes autorizadas venham atribuindo Resoluo o vcio de inconstitucionalidade, o correto que ela vem sendo empregada pelas autoridades ambientais.

O estudo de impacto ambiental EIA , sem dvida nenhuma, um dos principais instrumentos da ao administrativa destinados preservao e conservao do meio ambiente. Isso porque o EIA implica a obrigao de levar em considerao o meio ambiente antes da tomada de decises e antes da realizao de obras, atividades e empreendimentos que possam ter repercusses importantes sobre a qualidade ambiental.

De acordo com a disciplina constitucional da matria, constante do art. 225, 1, inciso IV, da CRFB/1988, o EIA um dos mecanismos indispensveis garantia da efetividade do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado direito humano fundamental de exigncia obrigatria antes da realizao de obras e atividades potencialmente causadoras de significativa degradao ambiental.

2.4 O Licenciamento Ambiental

O licenciamento ambiental um mtodo pelo qual o rgo ambiental competente possibilita a localizao, instalao, expanso e operao de negcios e atividades que utilizam recursos ambientais, que podem ser vistas como sendo concreta ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, de uma forma ou de outra, podem ocasionar algum tipo de degradao ambiental. De acordo com Meirelles (1989, p. 163-164):

A licena o ato administrativo vinculado e definitivo, pelo qual o Poder Pblico, analisa se o interessado supriu todas exigncias legais, faculta-lhe o desempenho de atividades ou a realizao de fatos materiais que antes eram vedados ao particular, como, por exemplo, o exerccio de uma profisso, a construo de um edifcio em terreno prprio. (MEIRELLES, 1989, p. 163-164).O licenciamento ambiental est intimamente relacionado avaliao prvia de impactos ambientais, desde que a obra ou atividade que se pretenda instalar venha a ser potencialmente geradora de relevante degradao ambiental.

O termo significativa no diz respeito s dimenses da obra, mas, sim potencialidade de degradao que existe em determinada atividade. A obra pode ser irrelevante do ponto de vista das dimenses do empreendimento, mas, relevante do ngulo da degradao ambiental. A posio da sociedade contempornea, constatando a dependncia do homem em relao ao seu ambiente, levou adoo de uma srie de normas protetoras do ambiente, mediante a restrio do uso de seus elementos pelo homem.

No Brasil, onde a exuberncia da natureza contrasta com os abusos cometidos contra a prpria ao longo da histria, deve existir uma real preocupao com a manuteno e melhoria da qualidade ambiental. O art. 10 da Lei n. 6.938/81 traa as normas gerais sobre o licenciamento ambiental no Brasil:

Art. 10. A construo, instalao, ampliao e funcionamento de estabelecimento e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradao ambiental, dependero de prvio licenciamento de rgo estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente Sisnama, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis Ibama, em carter supletivo, sem prejuzo de outras licenas exigveis.

1 Os pedidos de licenciamento, sua renovao e a respectiva concesso sero publicados no jornal oficial do Estado, bem como em um peridico regional ou local de grande circulao.

2 Nos casos e prazos previstos em resoluo do Conama, o licenciamento de que trata este artigo depender de homologao do Ibama.

3 O rgo estadual do meio ambiente e o Ibama, este em carter supletivo, podero, se necessrio e sem prejuzo daspenalidades pecunirias cabveis, determinar a reduo das atividades geradoras de poluio para manter as emisses gasosas, os efluentes lquidos e os resduos slidos dentro das condies e limites estipulados no licenciamento concedido.

4 Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis Ibama o licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de mbito nacional ou regional. (BRASIL, 2013).H uma interdependncia plena entre licenciamento e Estudo de Impacto Ambiental, sendo que a aprovao deste pressuposto indeclinvel para o licenciamento no mrito da deciso administrativa, constituindo-se na bssola a guiar o rumo norte da confiabilidade da soluo. J o art. 18 do Decreto n. 88.351/83 dispe que:

Art. 18. A construo, instalao, ampliao e funcionamento de estabelecimento de atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradao ambiental, dependero de prvio licenciamento do rgo estadual competente, integrante do SISNAMA, sem prejuzo de outras licenas legalmente exigveis. (BRASIL, 2013).Prossegue o Decreto em questo, fornecendo as espcies do aludido ato administrativo:

Art. 20. O Poder Pblico, no exerccio de sua competncia de controle, expedir as seguintes licenas:

I Licena Prvia (LP), na fase preliminar de planejamento da atividade, contendo os requisitos bsicos a serem atendidos nas fases de localizao, instalao e operao, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo;

II Licena de Instalao (LI) autorizando o incio da implantao, de acordo com as especificaes constantes do Projeto Executivo aprovado;

III Licena de Operao (LO) autorizando, aps as verificaes necessrias, o incio da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle de poluio, de acordo com o previsto nas Licenas Prvias e de Instalao.

O termo licena certamente no o mais apropriado, j que pressupe ato administrativo definitivo e pelo menos para a Licena Prvia e para a de Instalao, o ato precrio. Mais correto seria empregar a denominao autorizao, esta sim, de carter discricionrio e precrio, porm, optou o legislador pelo uso do termo licena e, por isso, s a ele faremos referncias, evitando compreenso equivocada do assunto.

No art. 9, inc. IV, da Lei n. 6.938/81, d-se como instrumento da Poltica Nacional do Meio Ambiente, alm do licenciamento, a reviso de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. Pode parecer estranho, em um primeiro momento, como poder a administrao voltar atrs aps ter concedido a Licena de Operao, mas, a nica concluso razovel a de que pode a administrao fixar prazo de validade para a licena e que, durante este perodo, acompanhar o desenvolvimento das atividades.

O art. 6, inc. IV, da Resoluo n. 001/86 do CONAMA prev, no Estudo de Impacto Ambiental - EIA, a elaborao do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parmetros a serem observados, inclusive as elencadas como condicionantes na licena e/ou autorizao ambiental. Pois bem, a inobservncia das regras de respeito ao meio ambiente implicar a revogao do licenciamento concedido.

Impe-se, outrossim, lembrar que o zoneamento ambiental tambm est previsto como instrumento da Poltica Nacional do Meio Ambiente, como se v do art. 9, inc. II, da Lei n. 6.938/81. Assim, desde que, por lei federal ou estadual, se estabelea que determinada rea de zoneamento ambiental, no ser possvel a concesso de licenciamento.

Aos Estados e Municpios cabe, ainda, fornecer licenciamento para obras ou atividades em tais condies. Bem por isso, utilizando-se de legislao prpria. O licenciamento ato administrativo da mxima relevncia e possui regramento prprio no mbito federal, nada impedindo que os Estados e Municpios faam exigncias outras, justificadas pela peculiaridade de seus interesses.

Cabe Unio legislar sobre normas gerais e aos Estados e Distritos suplementar esta legislao. Inexistindo norma geral sobre matria de competncia concorrente, os Estados exercero competncia legislativa plena. A supervenincia de norma federal geral suspende a eficcia da lei estadual no que lhe for contrrio. (JORDANS, 1997). Esta a redao do artigo 24 da CRFB/1988: Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I Florestas, caa, pesca, fauna, conservao da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteo do meio ambiente e controle da poluio;

II proteo ao patrimnio histrico, cultural, artstico, turstico e paisagstico;

III Responsabilidade pro dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico.

Pargrafo 1. No mbito da legislao concorrente, a competncia da Unio limitar-se- a estabelecer normas gerais.

Pargrafo 2. No mbito da Unio para legislar sobre normas gerais no exclui a competncia suplementar dos estados.

Pargrafo 3.Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercero a competncia legislativa pelna, para atender a suas peculiaridades .

Pargrafo 4. A supervenincia de lei federal sobre normas gerais suspende a eficcia da lei estadual, no que lhe for contrrio. (BRASIL, 2013).De acordo com Fiorillo, Rodrigues e Nery (1996), em meio ambiente, como nas outras matrias onde h competncia concorrente, Unio compete legislar sobre normas gerais, isto , s matrias e questes de predominante interesse geral, nacional, enquanto aos Estados tocar as matrias e assuntos de predominante interesse regional. Normas gerais so aquelas que se limitam fixao de diretirzes, dos princpios gerais que sero especificados pelos Estados para atender s suas peculiaridades regionais.

Os municpios no figuram no caput do art. 24 da CRFB/1988, da surgindo dvida sobre a possibilidade de legislarem em matria ambiental. Portanto, h unanimidade doutrinria sobre a possibilidade de os municpios legislarem sobre meio ambiente, especialmente suplementando a legislao federal e estadual, mas o alcance dessa possibilidade constitucional restrito ao interesse local. Para Freitas (1991):

A competncia municipal existe e pode ser exercida, porm no com o alcance atribudo Unio e aos Estados. Realmente, esta inteno no teve o constituinte, pois, expressamente, excluiu os Municpios do poder concorrente previsto no art. 24 da Lei Maior. (FREITAS, 1991, p. 38-39).Compete aos municpios legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar federal e estadual, no que couber. Esta a dico do art. 30, incisos I e II da CRFB/1988. (SICOLI, 1998).

3 TRANSAO PENAL E OS CRIMES AMBIENTAIS 3.1 O Meio Ambiente e Tutela Penal

Atualmente, a complexidade econmica do mundo necessita da apropriao dos bens naturais, porm, devido ao esgotamento dos recursos ambientais, a humanidade est passando por alteraes em seus paradigmas que requer, de modo crescente, o uso racional e equilibrado desses recursos.

No Brasil, a CRFB/1988 reserva em seu artigo 225 para tratar do tema ambiental, aplicando-se o direito de todos: [...] ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo [...]. Gomes (1999) diz que:

A partir da novel Constituio Federal, o meio ambiente obteve, no pas, o papel de direito fundamental do ser humano e real desdobramento da proteo do direito vida, isso porque a preservao das condies corretas vida depende, basicamente, da proteo dos valores ambientais. (GOMES, 1999, p. 172).Por meio da constitucionalizao da problemtica ambiental, iniciou-se um importante passo em prol do respeito e ao suprimento das necessidades ecolgicas de um pas com tamanha diversidade e quantidade de recursos naturais como o Brasil, assim, essa constitucionalizao da tutela ambiental acabou por trazer reflexos em diversas esferas jurdicas, como por exemplo, a esfera penal.

Silva (1998) entende meio ambiente como sendo a interao do aglomerado de elementos naturais, artificiais e culturais que possibilitem a evoluo equilibrada da vida em todas as suas formas (SILVA, 1998, p. 2). Para completar esse conceito, acrescenta-se o meio ambiente do trabalho. A proteo penal ao meio ambiente foi abarcada pela Constituio Federal em seu artigo 225, 3, o qual determina que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos causados. De acordo com Prado (2001):

Frente a essa cominao, pode-se inferir que a Constituio Federal de 1988 afastou, corretamente, qualquer possvel dvida com relao indispensabilidade de uma proteo penal do ambiente, entendendo a existncia e a importncia do ambiente para o homem. Reconheceu-se a sua autonomia como bem jurdico, devendo, para tanto, o ordenamento jurdico lanar mo, at mesmo, da pena, ainda que como ltima ratio, para garanti-lo. (PRADO, 2001, p. 59).H doutrinadores que entendem que o uso do Direito Penal, em face das lides ambientais, deve ocorrer somente como ltima alternativa do Direito, dentro do entendimento do princpio da interveno mnima e pode-se citar, dentro dessa linha, a compreenso de Viegas (2008) ao defender que:

O Direito Penal dever subsistir como meio de tutela ambiental estatal somente quando os demais meios no forem aptos para proteger a natureza e somente naquelas agresses consideradas socialmente intolerveis, de maneira que o direito de punir do Estado, na seara penal, seja desempenhado como exceo do sistema jurdico. (VIEGAS, 2008, p. 3).A incidncia penal estaria justificada somente quando o bem jurdico tutelado fosse exposto a um dano significativo para o contexto cultural fixado e frente ineficcia de alternativas jurdicas sancionadoras, porm, tem-se que levar em considerao que no h um critrio consolidado e objetivo para delimitar o que corretamente constitui o dano ambiental e suas dimenses. Milar (2004, p. 1014) entende que:

difcil a tarefa de determinar como deve acontecer a reparao por causa do dano causado e quais os critrios e metodologias a serem utilizados para tanto, j que o meio ambiente no cabe dentro de conceitos e frmulas matemticas, devendo o operador do Direito entender que o meio ambiente com todos os elementos que ele pode englobar holstico e sistmico. (MILAR, 2004, p. 1014).Realizadas as observaes necessrias com relao ao ambiente e sua funo na legislao vigente, este passou a uma nova condio, passando a ser elemento decisivo do desenvolvimento econmico, bem como concreta a construo e manuteno do direito fundamental vida. Esse reconhecimento da influncia e do potencial do ambiente para a efetivao dos demais direitos levou situao de que os atos que determinem degradao ambiental passem a ser tratados como crimes.

As inmeras nuances ambientais acabam por dificultar o uso e a interpretao da Lei n. 9.605/98, vez que os inmeros tipos penais dispostos em tal lei suportam enorme gama de interpretaes, fato que na mais das vezes atenta contra a prpria segurana jurdica dos indivduos. Prado (2008) ressalta que:

H doutrina que discorre sobre o conceito do meio ambiente a partir dos conceitos penais, comentando que o ambiente no um valor absoluto, uma realidade em si, mas, ligada, limitada ou referida de forma indireta ao ser humano, sendo assim, segundo tal doutrina, seria importante o estabelecimento de critrios especficos que permitissem individualiz-los, de maneira ntida e objetiva, sem que haja transgresso de quaisquer dos princpios penais fundamentais. (PRADO, 2008, p. 113).Frente a toda essa problemtica posta, importante questionar se essa variedade de nuances e de especificidades possui guarida tanto no processo penal quanto no procedimento de rito sumrio, como fortemente se depreende da correlao entre a Lei n. 9.605/98 e a Lei n. 9.099/95.

3.2 A Lei n. 9.605/98

O Direito Ambiental vital para a garantia da qualidade de vida da sociedade, sendo ao mesmo tempo, uma garantia de manuteno das demais formas de vida, bem como dos recursos florestais, hdricos e minerais do pas, sendo este um dever de todos os cidados, conforme prev a CRFB/1988 em seu art. 225 que a impe ao Poder Pblico e coletividade.

Aps percorrer os dispositivos constitucionais que tratam do meio ambiente e da tutela penal ambiental advinda da CRFB/1988, adentra-se no estudo dos preceitos da lei federal que dispe, principalmente, sobre as sanes penais derivadas de posturas e atividades lesivas ao meio ambiente.

A Lei Federal n. 9.605/98, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, surgiu com o condo de prevenir e reprimir posturas praticadas contra o meio ambiente, mas, a contribuio dessa Lei para o ordenamento jurdico controversa, sendo festejada, principalmente, pelos doutrinadores especializados na temtica ambiental, por outro lado, a lei em referncia indagada por uma gama de juristas, como Miguel Reale Jnior, que se coloca criticamente frente mesma.

No Brasil, a Lei Ambiental condiciona a concesso da transao penal composio do dano ambiental, porm, exceto nos casos em que haja a impossibilidade desta, sendo assim, tal reivindicao legal deve ser atendida para a concesso do benefcio. Nas palavras de Reale Jnior (2002):

Em sua aplicao, passados mais de uma dcada de sua edio, a lei acabou por mostrar suas deficincias: puniram-se atos irrelevantes e remanesceram impunes fatos gravemente lesivos ao meio ambiente. A incmoda sabedoria dos provrbios, neste caso, encontra embasamento: quem tudo quer nada tem. O legislador, entusiasmado e com boas intenes em prol do meio ambiente, pretendeu impor a represso penal a tudo e a todos, porm, contradies e inconsistncias surgem a cada passo. (REALE JNIOR, 2002, p. 23).De outra banda, aqueles que como Freitas (2001) consideram promissoras as medidas penalizantes na defesa ambiental comentam que A luta pela proteo natureza teria encontrado, no Direito Penal, um de seus mais importantes instrumentos, dentre outras razes, porque o estigma de um processo penal produz efeitos que as demais formas de represso no atingiriam. (FREITAS, 2001, p. 32). J Cruz (2003) diz que:

O fato que o legislador infraconstitucional ordenou, em um nico diploma legal, grande gama de condutas que possam causar dano ou colocar em perigo o meio ambiente, com isso, objetivou no s consolidar, mas, tambm sistematizar, dentro de uma lgica formal, os delitos ambientais e suas penas, preferindo as penas restritivas de direito e de prestao de servios, na inteno de fazer valer o princpio da reparao ambiental. (CRUZ, 2003, p. 63).Segundo Lecey (2007):

Uma boa compreenso sobre a Lei n. 9.605/98 aponta como relevantes caractersticas dessa norma a valorizao das penas alternativas pena privativa de liberdade e a preocupao com a reparao do dano ambiental, mas, para tanto, a norma lanaria mo dos meios trazidos pela Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei Federal n. 9.099/95) como a composio do dano, a transao penal e a suspenso condicional do processo. (LECEY, 2007, p. 92).Em que pese a reconhecida importncia da aplicao de medidas alternativas no mbito penal, este trabalho pretende refletir se a criminalizao das condutas lesivas ao meio ambiente , de fato, meio relevante e correto para alcanar-se a tutela ao meio ambiente. Em especial, no que diz respeito reparao do dano ambiental frente s ferramentas que j existem na esfera civil e, essencialmente, na seara administrativa.

3.3 A Reparao do Dano Ambiental

A posio da sociedade contempornea, constatando a dependncia do homem em relao ao seu ambiente, levou adoo de uma srie de normas protetoras do ambiente, mediante a restrio do uso indiscriminado de seus elementos pelo homem. No Brasil, onde a exuberncia da natureza contrasta com os abusos cometidos contra a prpria ao longo da histria, deve existir uma real preocupao com a manuteno e melhoria da qualidade ambiental.

Sob a perspectiva apresentada, importa adentrar, especificamente, nos ditames da Lei dos Crimes Ambientais no que diz respeito aos procedimentos adotados quanto s infraes de menor potencial ofensivo. Antes disso, porm, relevante percorrer alguns conceitos de ordem ambiental que so vitais a compreenso da problemtica posta com relao a relevncia (ou no) da penalizao das condutas, como meio efetivo de proteo ambiental.

Tem-se que a funo maior da legislao protetora ao meio ambiente evitar a ocorrncia do dano e, caso o mesmo acontea, concretizar a sua reparao. A recomposio do dano deve ser o intuito principal dos executores da poltica ambiental, at mesmo em nvel penal, embora que essa reparao seja mais onerosa para o seu causador e mais rdua para o Estado.

Milar (2004) diz que o valor econmico no tem o condo seja por aproximao ou fico de trocar a existncia do meio ambiente ecologicamente equilibrado e o exerccio desse direito fundamental. (MILAR, 2004, p. 671).A reparao e a recomposio tm por objetivo repor o patrimnio prejudicado mesma posio em que se encontrava anteriormente, fazendo cessar no s a atividade lesiva, como, tambm revertendo a degradao. Destarte, dentre a reparao pecuniria e a reparao in natura, esta se mostra como mais adequada, conforme entendimento majoritrio da doutrina.

A reparao meramente indenizatria, por sua vez, segundo Freitas (2005) ter cabimento, repita-se, somente, na impossibilidade de reconstituio ou recuperao do meio ambiente lesado. (FREITAS, 2005, p. 67).3.4 A Lei n. 9.099/95 e a Transao Penal nos Crimes AmbientaisA Lei n. 9.099/95 trouxe grandes inovaes para o Direito Processual Penal e, todas elas, constituem medidas despenalizadoras baseadas no consenso, ora dependendo da vontade do infrator e do acusador para que sejam aplicadas (transao penal e suspenso condicional do processo), ora da vontade da vtima (representao nos crimes de leso corporal culposa e leso leve) ou da vontade do autor do fato e da vtima (composio dos danos civis), como diz Nogueira (2003).

At ento, os Juizados Especiais Estaduais julgavam e processavam os crimes de menor potencial ofensivo, entendendo como as contravenes penais e os crimes com pena mxima no superior a 1 ano (art. 61 da Lei n. 9.099/95). A Lei de Crimes Ambientais traz esculpida, em seu artigo 27, a chance de ser propiciada, nos casos de crimes de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicao imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei n. 9.099/95.

Esta apenas poder ser formulada caso tenha existido a prvia composio do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade. O intuito do legislador foi de desenvolver um instrumento voltado reparao do dano ambiental. A Instituio de Juzos especializados em matria ambiental, cumulando atribuies cveis e criminais, representa relevante meio de implementao das normas ambientais, propiciando a especializao dos magistrados e maior celeridade na prestao jurisdicional.

Grinover e outros (2005) entendem que:

A obliquidade reparatria da justia criminal, que foi adotado de modo bastante claro na Lei n. 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais), pode ter encontrado seu apogeu na recente Lei Ambiental (Lei n. 9.605/98) que, com efeito, ao cuidar dos institutos da transao penal e da suspenso condicional do processo, conferiu relevncia mpar reparao do dano ambiental. (GRINOVER et al, 2005, p. 387).O anseio de composio dos danos ambientais da maneira como proposta na Lei n. 9.605/98 vista por inmeros estudiosos como uma importante contribuio preservao do meio ambiente. Nesse aspecto, o art. 27 da Lei n. 9.605/98, comina que nos crimes de menor potencial ofensivo a proposta prevista no art. 76 da Lei n. 9.099/95 apenas ser formulada se houver a prvia composio do dano ambiental, exceto, no caso de impossibilidade.

O fato que o dimensionamento do dano ambiental exerccio muito amplo, porm, mais amplo ainda estipular-se a maneira de sua composio, fatores esses que, por certo, no cabem no estreito e informal momento da audincia prvia do Juizado Especial Criminal, por isso, uma vez que a reparao ambiental deva ser considerada o fim mximo da tutela ambiental, quando j ocorrido o dano, h uma forte inclinao de parte da doutrina por considerar outros ramos do Direito, como o Administrativo, muito mais eficazes para a correta reparao ambiental. Para dis Milar (2004):A tutela penal uma via complementar ao poder punitivo do Estado, no que diz respeito temtica ambiental, j que o dano ambiental possui uma repercusso jurdica tripla, j que o poluidor, por um mesmo ato, pode ser responsabilizado, alternativa ou cumulativamente, na esfera penal, na administrativa e na civil. (MILAR, 2004, p. 971).Importa relacionar a atuao estatal na reparao do dano, pelas vias administrativa e cvel, nas quais tem-se uma grande gama de artifcios tanto tcnicos quanto procedimentais.

Entende-se que a partir dessa relao, perguntar se existe real necessidade e efetividade em lanar mo, o Estado, do Direito Penal como forma de represso ao dito degradador. Milar (2004) ressalta que:

Quando as demais esferas de responsabilizao forem suficientes para atingir de m