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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância Cultura Teológica Sacramentos Autor: Wilson Cardoso de Sá EAD – Educação a Distância Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação

Sacramentos Versao Final

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Estudos dos sacramentos da Igreja Católica

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  • Curso de Ps-Graduao Lato Sensu a Distncia

    Cultura Teolgica

    Sacramentos

    Autor: Wilson Cardoso de S

    EAD Educao a Distncia Parceria Universidade Catlica Dom Bosco e Portal Educao

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    SUMRIO

    UNIDADE 1 CRISTO: SACRAMENTO DO ENCONTRO COM O PAI ................ 04

    1.1 Cristo, Sacramento fundamental do Encontro com Deus .................................. 04

    1.2 A Igreja, Sacramento de Cristo ......................................................................... 07

    UNIDADE 2 FUNDAMENTAO BBLICA: ANTIGO E NOVO TESTAMENTO 13

    2.1 Fundamentao Bblica no Antigo Testamento em Relao ao Novo

    Testamento ............................................................................................................. 13

    2.2 O Texto por Excelncia da Fundamentao Bblica para os Sacramentos ....... 17

    UNIDADE 3 HISTRIA DA TEOLOGIA SACRAMENTAL .................................. 20

    3.1 Vida Sacramental e Liturgia na Igreja Antiga .................................................... 20

    3.2 Escolstica ........................................................................................................ 23

    3.3 O Conclio de Trento ......................................................................................... 25

    3.4 Redefinies no Sculo XX ............................................................................... 26

    UNIDADE 4 A PSCOA DE CRISTO COMO FONTE DA TEOLOGIA SACRAMENTAL ..................................................................................................... 28

    4.1 Mistrio Pascal .................................................................................................. 28

    UNIDADE 5 OS SACRAMENTOS DA IGREJA .................................................. 32

    5.1 Batismo ............................................................................................................. 33

    5.2 Confirmao ...................................................................................................... 36

    5.3 Eucaristia ........................................................................................................... 42

    5.4 Penitncia .......................................................................................................... 47

    5.5 Uno dos Enfermos ......................................................................................... 51

    5.6 Ordem ............................................................................................................... 54

    5.7 Matrimnio ......................................................................................................... 57

    REFERNCIAS ....................................................................................................... 62

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    INTRODUO Estamos prestes a iniciar um estudo de muita relevncia para a vida eclesial.

    Os sacramentos so o corao da liturgia, e neles somos mergulhados nos mistrios

    de Nosso Senhor.

    Nas prximas linhas seremos inseridos numa reflexo sistemtica que nos

    ampliar os horizontes de nossas concepes de f e de sacramentos. Para tanto,

    preciso que sejamos muito fiis aos estudos e nos dediquemos ao mximo nas

    leituras complementares. Grande parte, seno a maior parte, depender de seus

    aprofundamentos pessoal.

    Aqui encontraremos o fundamento original dos Sacramentos, isto , o prprio

    Cristo e a sua forma de prolongar pelos sculos sua ao redentora, a Igreja. A

    fundamentao bblica, por sua vez, exigir de voc um olhar amplo, que supere

    todo fundamentalismo e que permita enxergar a maravilhosa obra de salvao

    preparada por Deus para ns desde o Antigo Testamento.

    Que seu estudo seja proveitoso!

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    UNIDADE 1 CRISTO: SACRAMENTO DO ENCONTRO COM O PAI

    O objetivo desta unidade fazer com que o acadmico perceba a ligao

    intrnseca entre Jesus Cristo e os sacramentos, compreendendo que sua origem

    provm do prprio Divino fundador da Igreja.

    Como fundamento para esta unidade, seguiremos os passos de Rocchetta e

    Borbio.

    1.1 Cristo, Sacramento fundamental do Encontro com Deus

    Como no poderia deixar de ser, no por acaso que colocamos esta

    unidade como a abertura de nossos estudos sobre os sacramentos. Se Cristo, no

    o primeiro sacramento, a origem de todos os sete, v seria toda tentativa da Igreja

    em estabelecer estes sacramentos como um sinal visvel de uma realidade invisvel.

    Por isso, faz-se mister, perceber esta ntima ligao entre Jesus Cristo

    Igreja Sacramento. No so trs realidades antagnicas, mas antes, a Igreja e os

    sacramentos so sinais que tornam presente o prprio Cristo para ns. Assim sendo,

    no h disparidade de sentido, mas uma ligao to ntima, que conseguimos

    chegar ao prprio Cristo, por intermdio da sua Igreja e de seus sacramentos. Mas

    como podemos justificar isto?

    A Carta aos Hebreus pode nos ajudar no incio desta reflexo:

    Muitas vezes e de diversos modos falou Deus, outrora, aos pais pelos profetas; agora, nestes dias que so os ltimos, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os sculos. ele o resplendor de sua glria e a expresso do seu ser; sustenta o universo com o poder de sua palavra; e, depois de ter realizado a purificao dos pecados, sentou-se nas alturas direita da majestade, to superior aos anjos quanto o nome que herdou excede o deles (Hb 1,1-3).

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    Como podemos perceber ao ler esta passagem, anteriormente a Cristo, Deus

    falou de diversos modos com seu povo, porm, foi em Cristo Jesus que a plenitude

    da palavra realizada. Todo o processo da histria da salvao tem como pice a

    encarnao do Verbo; por meio de Jesus, o universo inteiro foi criado (cf. Jo 1,1-14).

    Em Cristo, o prprio mistrio de Deus manifestado de forma pessoal para a

    humanidade; o homem pode encontrar Deus de modo visvel. Ningum jamais viu a

    Deus: o Filho unignito, que est voltado para o seio do Pai, este o deu a conhecer.

    (Jo 1,18). Decorrente disto, podemos afirmar que: Cristo o sacramento

    fundamental do encontro com o Deus invisvel na humanidade visvel.

    (ROCCHETTA, 1991, p. 168). desta afirmao que brotam trs verdades, que nos

    daro a possibilidade de fundamentar Cristo, como o supremo e verdadeiro

    Sacramento. Veja as trs verdades a seguir:

    1.1.1 A Humanidade Assumida pelo Verbo Eterno de Deus o Sacramento prprio do Encontro com Deus

    Na encarnao, Cristo assume a natureza

    humana, para que a natureza humana possa

    experimentar a divina. Neste intercmbio sagrado vai

    realizando-se a experincia de salvao da humanidade,

    e com ela tambm encontramos uma realidade essencial

    para a doutrina dos sacramentos.

    Fonte: http://migre.me/gYZb9

    O povo que conviveu com Jesus no tinha, mesmo que quisesse, outra

    maneira de professar a sua f no Filho de Deus, a no ser encontrando na

    humanidade, na corporeidade e nas aes de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

    Encontrar-se com Jesus Cristo era encontrar-se com o prprio Deus. Esta a beleza

    da pedagogia divina, que vai preparando os seus, para descobrir no sinal da

    humanidade a divindade. Com certeza a experincia com a humanidade de Jesus

    demandava muita f por parte dos seus que acreditavam em sua divindade, pois o

    sinal visvel era a humanidade, que revelava um sinal invisvel, a divindade.

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    1.1.2 A Humanidade assumida pelo Verbo de Deus sinal e causa de salvao para toda a humanidade

    A encarnao do Verbo tem uma grande importncia para a salvao da

    humanidade. A afirmativa dos padres capadcios: O que no assumido no

    redimido, fundamental para a concepo soteriolgica, isto , para uma

    concepo de salvao.

    A knosis, o esvaziamento de Deus, sua descida, um processo significativo.

    Pois em Cristo podemos perceber dois movimentos, um descendente e o outro

    ascendente. O descendente este que denominamos de knosis, Deus em todo seu

    esplendor assume uma natureza que no a sua, a fim de resgatar a natureza

    humana decada; nisto, Deus se humaniza para que a humanidade possa divinizar-

    se. Logo, temos um processo de descida, de um Deus que vem ao encontro do

    homem.

    Porm, podemos perceber tambm um processo ascendente, pois, por sua

    encarnao que tem seu cume na paixo, morte e ressurreio, Jesus glorifica o Pai

    pelo cumprimento de sua vontade e introduz a humanidade no seio da Trindade (cf.

    Fl 2,6-11).

    Assim, em plena verdade, a humanidade de Cristo sinal e causa da nossa salvao. Sinal, porque por meio dela que ns podemos perceber algo da grandeza do amor misericordioso do Pai, que amou tanto o mundo que entregou o seu Filho nico, para que todo o que nele cr no perea, mas tenha a vida eterna (Jo 3,16), e algo da grandeza do amor do Filho, que livremente se oferece na cruz em resgate por todos. Causa, porque pela humanidade que o Verbo se uniu hipostaticamente, realizando o mistrio da nossa salvao: a natureza humana de Cristo no pura forma visvel, mas o sacramento da redeno humana. (ROCCHETTA, 1991, p. 170).

    1.1.3 A Humanidade Glorificada de Cristo o Sacramento-Fonte da Transmisso da Salvao ao homem no Tempo da Igreja

    O que Jesus Cristo ressuscitado adquiriu em sua humanidade foi conquistado

    de maneira perptua, isto , a humanidade que Nosso Senhor aceitou assumir em

    sua pessoa divina e que foi o modo de salvar toda a humanidade, no deixou de

    existir quando no tempo oportuno Jesus Cristo ascendeu aos cus, bem pelo

    contrrio:

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    A humanidade do Verbo no apenas foi o sacramentum salutis, o sinal e a causa de nossa salvao, mas o atualmente. Transfigurada pela vida do Esprito na alma e no corpo, essa humanidade glorificada constitui o sacramento-fonte da difuso do Esprito e da transmisso da graa na Igreja e no mundo. (ROCCHETTA, 1991, p. 170).

    De forma plena, Cristo o sacramento primordial e a origem do encontro com

    Deus de forma visvel. Todo este mistrio da sacramentalidade primordial de Jesus

    resumido em quatro momentos essenciais. Rocchetta apresenta estes momentos

    citando o Padre Schillebeeckx (cf. ROCCHETTA, 1991, p. 171).

    O primeiro momento, a iniciativa amorosa do Pai, mediante o Filho no Esprito

    Santo, esta obra trinitria de salvao essencial para a

    concepo sacramental de Cristo como sacramento-fonte.

    Em segundo lugar, podemos ressaltar a resposta humana

    de Jesus vontade do Pai. Em um terceiro momento,

    temos que levar em considerao a resposta divina

    humilhao e num quarto momento, a misso do Esprito

    Santo sobre a humanidade, levando frente a Igreja, que

    o prolongamento da ao de Jesus at a consumao

    dos tempos. Fonte: http://migre.me/gYZAV

    Portanto, Cristo o sacramento do encontro com o Pai e a Igreja o

    sacramento de Cristo. To fundamental isto, que vamos dedicar o prximo tpico

    desta unidade a estudar a importncia de perceber a Igreja como sacramento de

    salvao, assim, no temos os sete sacramentos soltos, criados pela inveno da

    Igreja, mas entenderemos que esto atrelados, intrnsecos a Cristo e Igreja.

    1.2 A Igreja, Sacramento de Cristo

    Como podemos perceber at agora, Cristo o nico sacramento original de

    Salvao. E o encontro com Deus est intimamente ligado ao encontro com Cristo.

    Levando em considerao estas duas afirmativas podemos nos perguntar: Como

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    poderemos encontrar Cristo depois de sua ressurreio e ascenso? O Senhor

    glorificado retirou-se de nossa viso?

    Sem dvida, necessrio um prolongamento terrestre do sacramento original glorificado, uma historizao adequada do dom escatolgico do Esprito. A escatologizao da histria est exigindo, ao mesmo tempo, a historizao da escatologia. Esta ser justamente a funo principal da Igreja. (BOROBIO, 1990, p. 300)

    Esta afirmao do Borobio pode nos parecer um pouco complexa para

    compreender, porm, o que ele quis afirmar para ns que a Igreja ser o

    prolongamento na histria, do bem celeste que Jesus Cristo. Por isso se diz, que a

    escatologizao da histria, isto , a plenificao da histria, a sua consumao

    exige antes uma historizao da escatologia, isto , experimentar aqui, j neste

    tempo de algum modo, o cu, o prprio Cristo. Esta experincia cristolgica na

    histria se d por intermdio da Igreja. Esta realidade sacramental da Igreja sempre

    foi reconhecida de uma forma ou de outra pela histria, vejamos alguns modos: (cf.

    BOROBIO, 1990, p. 301).

    - Escritura. Quando lemos em 1 Cor 3,16: Acaso no sabeis que sois templo de Deus e que o Esprito de Deus habita em vs?, encontramos nesta passagem a

    descrio do mistrio da Igreja, pois seus membros so o templo do Esprito Santo.

    E em Lucas 12,32 encontramos: No tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do

    agrado do vosso Pai dar a vs o Reino, logo Igreja, comunidade que se

    manifesta a presena do reino de Deus.

    A Sagrada Escritura tambm apresenta a Igreja com muitas imagens: como

    redil, lavoura, videira, edificao, templo, esposa. Estas imagens so muito queridas

    pelo Conclio Vaticano II, pois atravs delas a Lumen Gentium 4-7 apresenta o

    mistrio da Igreja. O que no podemos deixar de mencionar a forma como So

    Paulo apresenta a Igreja, Corpo de Cristo (1 Cor 12,1), esta concepo

    espetacular e necessria para um melhor entendimento do mistrio da Igreja.

    - Os Padres. Em comunho com as Sagradas Escrituras, os santos padres referem-se Igreja com expresses muito significativas. Cipriano fala da Igreja com

    a expresso sacramentum unitatis (Sacramento da Unidade); Ambrsio d Igreja

    o adjetivo: magnum salutare mysterium (grande sacramento de salvao). J Santo

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    Agostinho se refere Igreja com duas formas muito significativas e que so

    importantes para a concepo eclesiolgica e sacramental; o bispo de Hipona

    denomina a Igreja de admirable sacramentum (Admirvel Sacramento) e este

    admirvel sacramento nasce do lado de Cristo morto na cruz, moritur Christus uf fiat

    ecclesia ... mortuo Christo.

    - A Teologia. No perodo medieval, a concepo at agora apresentada pelos santos padres de certa forma esquecida. Na poca ps-tridentina com Thomasin, e

    posteriormente a ele, a expresso Igreja como sacramento volta a ser retomada. H.

    Klee denomina a Igreja de o sacramento dos sacramentos; J. E. Kuhn de o

    segundo grande mistrio; M. J. Schoeben afirma: o mistrio por excelncia da unio

    do natural com o sobrenatural; F. Hettinger chama a Igreja de sacramento

    universal.

    Os grandes telogos que antecedem o Conclio Vaticano II tambm sero

    grandes colaboradores no resgate da concepo da Igreja como o grande

    sacramento. O. Semmelroth e H. de Lubac so grandes defensores da realidade

    sacramental da Igreja, esses telogos destacam-se tambm no desenvolvimento das

    semelhanas e diferenas entre Cristo e a Igreja. K. Rahner apresenta a Igreja como

    a continuidade e principalidade sacramental de Cristo e dos sacramentos.

    Schillebeeckx fala da Igreja como um sacramento terrestre de Cristo celeste.

    - O Vaticano II. O conclio retoma toda esta reflexo teolgica e abraa de forma definitiva no seio da Doutrina a concepo mstica e sacramental da Igreja.

    Quando lemos os documentos do Conclio Vaticano II podemos perceber com muita

    clareza esta realidade mstica de sua eclesiologia:

    Mas a sociedade, provida de rgos hierrquicos, e o Corpo mstico de Cristo, a assembleia visvel e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja enriquecida de bens celestes, no devem ser consideradas duas coisas, mas formam uma s realidade complexa em que se funde o elemento humano e divino. por isso, mediante uma no-medocre analogia, comparada ao mistrio do Verbo encarnado. Pois como a natureza assumida indissoluvelmente unida a ele serve ao Verbo divino como rgo vivo de salvao, semelhante o organismo social da Igreja serve ao Esprito de Cristo que vivifica para o aumento do corpo. (LG 8).

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    Tendo por base tudo o que vimos sobre a Igreja, importante respondermos

    a uma pergunta: Como ento podemos dizer que a Igreja sacramento? Trs

    dimenses da Igreja nos ajudam a chegar nesta resposta:

    Primeiramente, dizemos que a Igreja sacramento pelo seu prprio ser. A essncia da sacramentalidade da Igreja consiste no seu prprio ser divino-humano,

    visvel-invisvel, salvfico-social. (BOROBIO, 1990, p. 303). Logo, a Igreja realiza de

    forma visvel a graa invisvel. Atua na histria prolongando a ao santificante de

    seu Divino Salvador. Borobio faz uma afirmao neste sentido muito pertinente.

    Pelo seu ser, a Igreja depende totalmente de Cristo e do Esprito, sendo por isso sacramento de Cristo no Esprito, ou no Esprito de Cristo. E ela o ao manifestar as duas realidades ou dons principais que nos vm de Cristo ou do Esprito: a salvao (=sacramento de salvao) e a unidade (=sacramento da unidade) (BOROBIO, 1990, p. 303).

    Se a Igreja sacramento pelo seu ser, em segundo lugar ela sacramento

    pela sua atuao. Como podemos entender isto? A Igreja em todas as suas aes,

    em seus gestos, palavras, deve manifestar a pessoa de Cristo, deve levar a

    humanidade at Deus. De forma tica, social, a Igreja tambm tem o dever de

    manifestar-se como sacramento, e aqui, quando falamos Igreja, no podemos

    entender somente a hierarquia, mas sim, todo o povo de Deus, cada cristo deve ser

    um instrumento de questionamento ao mundo, deve remeter as pessoas a Deus,

    quando isto no acontece deixamos a Igreja em situao deficitria.

    A Igreja chamada a ser um sinal transparente de uma realidade

    transcendente: o amor de Deus. (BOROBIO, 1990, p. 304). Por isso, no pode

    haver separao, dualismo entre o que ela , e o que ela faz. Sendo a Igreja um

    sacramento pelo seu ser, logo sua ao deve ser sacramental, se isto no

    acontecer, a Igreja combate contra ela mesma, nega sua prpria natureza.

    Mas a Igreja no sacramento somente pelo seu ser ou pela sua atuao,

    tambm sacramento pelos sinais privilegiados. Que sinais so estes? a palavra, os sacramentos, a caridade, que, de modo definitivo, no so seno as funes

    pelas quais o prprio Cristo realizou a sua obra salvadora e que se prolonga no

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    mistrio eclesial. (BOROBIO, 1990, p. 304). Podemos perceber assim, que a Igreja

    tambm cuidada por Deus, recebe dele sua inspirao, que garante por sinais

    privilegiados que a Igreja caminhe na direo certa, realizando aes sacramentais,

    que nos levam a Deus. A Igreja no est desamparada, est enriquecida da graa

    de Deus e detm todos os meios necessrios para nossa salvao.

    Finalizamos assim esta unidade, porm, no podemos esquecer que os

    sacramentos esto estreitamente ligados a Jesus Cristo e Igreja. Pois o Cristo

    que forma sua Igreja como sacramento, e d a ela as graas necessrias para levar

    at o fim a misso recebida. Os sacramentos so as ferramentas dadas por Jesus

    Igreja. Por isso, todo sacramento provm de Cristo, j os sacramentais, como:

    oraes, bnos, dedicaes, no so sacramentos so sacramentais, no

    originam diretamente de Cristo, mas sim da Igreja exclusivamente. Pois, a Igreja

    vendo a necessidade de melhor realizar sua obra sacramental, v nos sacramentais

    uma fora, uma ajuda na vivncia dos sacramentos.

    Sugesto de Leitura

    Penso ser extremamente necessria a leitura desta clssica obra de Teologia Sacramental para uma melhor compreenso da Origem dos Sacramentos em Jesus Cristo. BOROBIO, Dionisio. A Celebrao na Igreja: liturgia e sacramentologia fundamental. Vol. I. So Paulo: Loyola, 1990.

    A Obra de Dionisio Borobio que propomos no tem como objetivo o estudo particular de cada sacramento, e sim, uma viso geral dos sacramentos, da sua origem e finalidade, tornando-se assim uma obra clssica no campo teolgico-sacramental e indispensvel para ns neste estudo. Aconselho para leitura da terceira parte da Obra que vai da pgina 285 at 424.

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    Exerccio 1 1. Levando em considerao o que foi dito sobre Jesus Cristo como sacramento do encontro com o Pai, indique se os enunciados a seguir so verdadeiros ou falsos: I. Quando falamos de Jesus Cristo como sacramento do encontro com o Pai, estamos dizendo que Jesus cria os ritos sacramentais da Igreja para que seguindo os mesmos gestos que ele fez, possamos chegar a Deus. II. Deus falou de diversos modos com seu povo, porm, foi em Cristo Jesus que a plenitude da palavra realizada. III. impossvel falar de Jesus Cristo como sacramento, ele no em hiptese alguma sacramento, sim o autor dos sacramentos. 2. Levando em considerao a seguinte frase: Cristo o sacramento fundamental do encontro com o Deus invisvel na humanidade visvel, indique se os enunciados a seguir so verdadeiros ou falsos: I. Esta afirmativa no possui nenhum fundamento. II. Em partes esta afirmativa correta, pois, Cristo o sacramento fundamental do encontro com Deus, enquanto Verbo, mas no enquanto Carne. III. Graas a encarnao de Jesus os seres humanos podem encontrar-se com Deus a partir da humanidade e divindade de Jesus. 3. Marque a alternativa INCORRETA: O povo que conviveu com Jesus, no tinha, mesmo que quisesse, outra maneira de professar a sua f no Filho de Deus, a no ser encontrando na humanidade, na corporeidade e nas aes de Jesus Cristo, o Filho de Deus.. O que no assumido no redimido. Em Cristo podemos perceber dois movimentos, um descendente e o outro ascendente. Os sacramentos so institudos pela Igreja, a Igreja a origem sacramental. 4. Levando em considerao o assunto sobre a sacramentalidade da Igreja, indique se os enunciados a seguir so verdadeiros ou falsos: I. A Igreja em sua constituio hierrquica no permite ser um sacramento visvel de Cristo e sim somente uma forma de manter congregados os fiis. Cristo sim o Sacramento por excelncia. II. A escatologizao da histria est exigindo, ao mesmo tempo, a historizao da escatologia. Esta ser justamente a funo principal da Igreja. III. A essncia da sacramentalidade da Igreja consiste no seu prprio ser divino-humano, visvel-invisvel, salvfico-social.

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    UNIDADE 2 FUNDAMENTAO BBLICA: ANTIGO E NOVO TESTAMENTO

    O objetivo desta unidade introduzir o acadmico num conhecimento bblico

    a respeito dos sacramentos, fazendo com que o mesmo compreenda, no numa

    leitura literal e forando a fundamentao dos sacramentos, mas perceba o esprito

    das Sagradas Letras e, bebendo desta inteno, perceba a fundamentao.

    2.1 Fundamentao Bblica no Antigo Testamento em Relao ao Novo Testamento

    A fundamentao bblica dos sacramentos faz parte do processo salvfico, isto

    , da histria da salvao, que j iniciada na Antiga Aliana. Desta forma, Jesus

    Cristo cumprir, plenificar, o que desde o Antigo Testamento o Senhor Deus j

    preparou para o seu povo. Tendo por base tal concepo, podemos chegar aos

    fundamentos bblicos dos sacramentos no Antigo Testamento. Para trilharmos de

    forma sistemtica e organizada esta unidade, seguiremos este tpico parafraseando

    um grande liturgista, Carlos Roccheta. Em sua obra Os Sacramentos da F, o autor

    pode nos ajudar de forma muito substancial e clara no objetivo que traamos para

    esta unidade.

    A continuidade entre as grandes aes de Deus no Antigo e no Novo Testamento e os sacramentos da Igreja coloca-se, sobretudo, em trs nveis bblicos fundamentais: o nvel proftico (relao promessa-cumprimento), o nvel tipolgico (relao tipo-realidade) e o nvel histrico-salvfico (relao entre as intervenes divinas nos diversos planos da histria salutis). Vejamos, portanto, esses trs nveis, distintos entre si, mas ao mesmo tempo complementares. (ROCCHETTA, 1991, p. 147).

    2.1.1 Os Sacramentos, Relao Promessa-Cumprimento Quando falamos de Sacramentos, no podemos explic-los de forma racional

    positivista. Racionalmente a explicao dos sacramentos perderia sua concepo

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    divina e cairia num ritualismo antropocntrico ligado aos fatores socioculturais de

    uma poca e perpetuado pela Igreja ao longo dos sculos. Como esta hiptese

    destituda de qualquer fundamento e credibilidade, dizemos que a fundamentao

    bblica dos sacramentos torna o contedo da f plausvel razo humana e nos

    introduz num campo metafsico, isto , nos remete para alm da matria expressa,

    nos introduz num campo da espiritualidade.

    Justamente por isso, a fundamentao bblica, no para uma explicao

    racional dos sacramentos, mas serve para nos dar possibilidade de compreenso da

    possibilidade da vivncia dos mistrios. Assim sendo, os sacramentos no so obras

    tardias da Igreja, mas na verdade o cumprimento de tudo o que foi prometido por

    Deus, prefigurado por toda a histria bblica. A f nos sacramentos apoia-se ento

    na f nas grandes aes realizadas por Deus no Antigo e no Novo Testamento e

    que constituem, em seu conjunto, a histria da salvao. (ROCCHETTA, 1991, p.

    147).

    Para uma compreenso bblica dos sacramentos, fundamental a noo de

    profecia. Vejamos por qu:

    Os textos veterotestamentrios podem ser chamados de memorial por serem

    uma grande profecia. Como assim? Note que a profecia sempre recorda os grandes

    feitos do Senhor no passado, no intuito de remeter o povo para o que vir mais

    adiante. Se as obras portentosas de Deus j formam uma bno para o povo,

    imagina as obras que o Senhor realizar num futuro! Nova criao, novo paraso,

    novo juzo, nova convocao, novo xodo, nova aliana, nova morada, nova

    santificao, novo testemunho. (ROCCHETTA, 1991, p. 148).

    O Novo Testamento por sua vez o cumprimento dessa espera, e o incio, ou

    podemos dizer, inaugurao da fase ltima da histria. Cristo recapitula tudo, a

    realizao definitiva da promessa outrora feita. Desta forma, h uma continuidade e

    uma ruptura neste processo salvfico. Dizemos isto porque quando se fala de um

    cumprimento automaticamente somos remetidos promessa, logo retomada toda

    a promessa da Antiga Aliana, contudo, h uma superao tambm, j que com um

    novo xodo cancelado o antigo, com uma nova aliana cancelada a primeira.

    No entenda isto de forma pejorativa, no estamos aqui jogando fora o Antigo

    Testamento, bem pelo contrrio, ele que nos dar o sinal de que de fato a profecia

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    se cumpriu. Sem a promessa, como saberamos do cumprimento? Assim, sempre

    haver esta relao e superao.

    Os sacramentos pertencem a essa economia objetivamente prevista, desejada e realizada por Deus: so as obras divinas que desdobram no espao e no tempo tudo o que se cumpriu em Cristo. Enquanto tais, so as obras divinas que manifestam no concreto tudo o que os profetas haviam anunciado em figuras para os ltimos tempos. (ROCCHETTA, 1991, p. 149).

    2.1.2 Relao Tipo - Realidade Para iniciarmos este item, importante ter por base que os sacramentos so

    da mesma essncia, da mesma natureza dos grandes feitos que Deus realizou no

    Antigo e no Novo Testamento.

    Assim, no h disparidade, antagonismo, nem privilgios ou analogias entre

    os eventos da histria da salvao e os sacramentos. Dizemos isto porque sem esta

    realidade, os sacramentos perderiam sua real natureza, poderia facilmente ser

    interpretados como um mero rito. Mas tendo em vista o tipo e realidade, podemos

    afirmar que:

    prefigurados pelas figuras do Antigo Testamento e pelas realidades do Novo Testamento, os sacramentos, por seu turno, tambm prefiguram realidades da escatologia: o batismo antecipa o juzo e a eucaristia o banquete escatolgico j presente em forma de mistrio. (ROCCHETTA, 1991, p. 152).

    Nesse sentido, estamos querendo dizer que os sacramentos manifestam duas

    formas de tipologia. Uma que podemos chamar de anttipo e a outra que a

    realidade. Compreendemos isto, por exemplo, quando analisamos o sacramento do

    batismo, que s se torna inteligvel para ns quando colocado em relao ao Antigo

    Testamento, deste modo, falamos antes de tudo do batismo em relao criao do

    mundo, ao dilvio, com o xodo e com a aliana no Sinai; s assim chegamos

    realidade, isto , aos mistrios da vida de Cristo.

    E mesmo o batismo sendo uma realidade, torna-se mais uma vez tipo, pois,

    nos remete aos aspectos escatolgicos. Assim, o sacramento um elo que est em

    relao a toda a tipologia do Antigo Testamento, realizado na obra de salvao de

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    Cristo, que o sacramento atualiza, e sendo ao mesmo tempo uma abertura para o

    novo que h de vir, pois como acontece com o Reino de Deus que j e ainda no,

    tambm acontece com os sacramentos: as realidades prometidas vo sendo

    cumpridas j nos sacramentos, mas ainda no. Eis aqui a relao tipo realidade.

    2.1.3 Deus Intervm em Todos os Nveis da Histria

    Neste ponto de nosso estudo, queremos ressaltar a importncia de olharmos

    os sacramentos como obra de Deus e no como obra humana. Com os

    sacramentos, Deus intervm na histria humana, isto pode parecer uma alienao,

    como diria Marx, porm, a f nos mostra que este o caminho. No somos

    alienados, e nem fanticos, crer que Deus atua na histria ainda hoje por meio dos

    sacramentos essencial para a f crist.

    Deste modo, no temos um deus arquiteto como

    a maonaria prega, nem um deus distante e

    inacessvel, a realidade sacramental nos diz bem o

    contrrio, nos diz que, Deus age, se comunica e realiza

    aes em favor do povo ainda hoje, e estas aes so

    concretamente vividas pela f atravs dos sacramentos. Fonte: http://migre.me/gZ4qu

    Na fase do Antigo Testamento, as intervenes divinas preparavam,

    anunciavam, prefiguravam (tipologia) e de certa forma antecipavam o mistrio

    salvfico que posteriormente seria concretizado em Jesus Cristo. J na fase do Novo

    Testamento, esta interveno no mais pura prefigura e sim uma interveno que

    contm a salvao e que deve ser levada a todos os homens de forma individual.

    Nesse sentido, os sacramentos se nos apresentam plenos de toda a histria

    da salvao: A ao de Deus, que operava no Antigo Testamento e que encontrou

    o seu cumprimento em Cristo, torna-se minha nos sacramentos. Recebendo o

    sacramento, eu vivo hoje o meu particular momento na histria da salvao.

    (ROCCHETTA, 1991, p. 157).

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    2.2 O Texto por Excelncia da Fundamentao Bblica para os Sacramentos

    Chegando a Jesus e vendo-o j morto, no lhe quebraram as pernas, mas

    um soldado traspassou-lhe o lado com a lana e imediatamente saiu sangue e gua

    (Jo 19,33-34).

    A partir desta passagem do evangelho joanino, o perodo patrstico concebeu,

    desde os primrdios, o sangue e a gua como sendo smbolo do batismo e da

    eucaristia e nesses dois sacramentos a visibilidade da nova Eva, a Igreja, que nasce

    do lado aberto do novo Ado (BBLIA DE JERUSALM, rodap, Jo 19,34).

    Desta intimidade com Cristo, nascem os sacramentos, o admirvel mundo

    novo. Quando em Pentecostes a Igreja manifestada, ela j est embebida de

    Jesus Cristo, pois da prpria natureza de Cristo (sangue e gua) que nasce a

    Igreja, consecutivamente os sacramentos. Este o primeiro e grande sinal da

    instituio dos sacramentos.

    No somente o escrito joanino, mas tambm os sinticos expressam que

    Jesus o sinal de Deus no Novo Testamento.

    De suas palavras [de Jesus] e obras se pode deduzir o que Deus faz no homem. Por isso os sinticos descrevem com expressiva plasticidade determinados atos de Jesus: ele toca o leproso (Mc 1,41), no culto da sinagoga traz o homem deficiente fsico para o meio (Mc 3,3), leva o surdo-mudo parte, afastado da multido, coloca-lhe os dedos nos ouvidos, toca a lngua do homem com saliva (Mt 7,33), coloca a mo sobre as costas da mulher encurvada (Lc 13,13). Nesses sinais, porm, a proximidade de libertao, cura, perdo e congregao realizadas por Deus no apenas representada, nelas ela acontece. (SCHNEIDER, 2012, p. 176, Vol II).

    Outro aspecto bblico significativo para os sacramentos so os sinais

    joaninos. O Evangelho segundo Joo denomina os grandes feitos de Deus

    frequentemente de sinais e ainda vai mais uma vez alm do conceito de sinal das

    narrativas de milagres dos sinticos: o prprio Jesus o grande sinal de Deus

    (SCHNEIDER, 2012, p. 176, Vol II).

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    Vale a pena lembrar que neste tpico estamos refletindo a fundamentao

    bblica para os sacramentos de forma geral e posteriormente refletiremos a

    fundamentao bblica de cada um dos sete sacramentos em particular.

    Exerccio 2 1. Levando em considerao a fundamentao bblica dos sacramentos marque verdadeiro ou falso: I. S podemos falar de uma fundamentao bblica para os sacramentos a partir do Novo Testamento. II. Jesus Cristo cumprir, plenificar, o que desde o Antigo Testamento o Senhor Deus j preparou para o seu povo. Tendo por base tal concepo, podemos chegar aos fundamentos bblicos dos sacramentos no Antigo Testamento. III. No h fundamentao bblica para os sacramentos, h sim, uma interpretao posterior da Igreja para tal fundamentao. 2. Analise as afirmaes e marque verdadeiro ou falso: I. Somente de forma racionalista podemos conceber uma fundamentao bblica para os sacramentos, j que de outra forma estaramos num campo da especulao e no da fundamentao. II. Os sacramentos devem ser interpretados dentro de uma esfera metafsica, isto , para alm da matria do sacramento, ela pertence ao campo da espiritualidade e justamente por isso, no h o porqu de buscarmos uma fundamentao bblica para os sacramentos, basta-nos a f. III. Os sacramentos no so obras tardias da Igreja, mas na verdade o cumprimento de tudo o que foi prometido por Deus, prefigurado por toda a histria bblica. 3. Relacione as duas colunas:

    Profecia Recorda os grandes feitos do Senhor no passado, num intuito de remeter o povo para o que vir mais adiante.

    Sacramento Obras divinas que desdobram no espao e no tempo tudo o que se cumpriu em Cristo

    Tipologia Expresso utilizada para designar algo futuro. Ex. Arca de No, prefigura a Igreja Novo Testamento Cumprimento da promessa.

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    4. Marque a alternativa correta:

    Os sacramentos so obras humanas, na tentativa de expressar o anseio do homem

    em buscar Deus.

    A maonaria acredita em uma divindade como um arquiteto, que construiu o mundo

    e depois o abandonou sorte humana, os sacramentos por sua vez colaboram

    nesta perspectiva, pois faz o homem repensar a sua forma de agir no mundo.

    Na fase do Antigo Testamento, as intervenes divinas preparavam, anunciavam,

    prefiguravam (tipologia) e de certa forma antecipavam o mistrio salvfico que

    posteriormente seria concretizado em Jesus Cristo.

    A encarnao de Jesus em Belm a grande garantia da fundamentao bblica

    dos sacramentos, pois todos os sacramentos nascem justamente do nascimento de

    Cristo.

    Sugesto de leitura

    Aconselho a leitura da Obra de Carlos Rocchetta: Os Sacramentos da F. ROCCHETTA, Carlos. Os Sacramentos da F. So Paulo: Paulinas, 1991.

    A leitura desta obra ajudar o acadmico na percepo mais profunda dos sacramentos, superando o mero: matria, forma e ministro, no que isto no seja importante e essencial para os sacramentos, mas Rocchetta nos apresenta os sacramentos dentro da economia da salvao. Com a leitura desta obra ficaremos ainda mais apaixonados pelos sacramentos da Igreja. Para a melhor compreenso desta unidade sugiro a leitura do primeiro captulo da segunda parte: Das maravilhas da salvao aos sacramentos da f.

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    UNIDADE 3 HISTRIA DA TEOLOGIA SACRAMENTAL

    O objetivo desta unidade inserir o acadmico numa rpida perspectiva

    histrica dos sacramentos, fazendo com que o mesmo consiga perceber o sentido

    original e sua evoluo, compreendendo melhor a forma atual dos sacramentos da

    Igreja.

    Para nos ajudar nesta caminhada histrica, teremos como base de toda a

    unidade a obra de Bernard Sesboe Os Sinais da Salvao e o Manual de

    Dogmtica Vol II, de Theodor Schneider.

    3.1 Vida Sacramental e Liturgia na Igreja Antiga

    Para incio de conversa, importante ressaltarmos que a Igreja no inicia sua

    vivncia sacramental de forma clara e sistemtica, ela precisou vivenciar, refletir,

    debater, para conseguir ao longo da histria formando o conjunto sacramental e

    seus ritos.

    Desta forma, o perodo da Igreja Antiga um perodo em que as

    comunidades esto descobrindo aos poucos a graa da vida fraterna e das reunies

    celebrativas. Claro que muito se v ainda de judasmo no seio da comunidade

    primitiva, mas, paulatinamente, a comunidade vai percebendo sua separao do

    judasmo. O que podemos perceber que as prticas eclesiais da Igreja primitiva

    so abundantes: as assembleias litrgicas, a frao do po (Eucaristia), h tambm

    a prtica do batismo, a uno dos enfermos, a imposio das mos.

    H uma diversidade nas aes eclesiais na antiguidade e, justamente por

    isso, a Igreja primitiva no quis sistematiz-las to rpido. Dentro de sua prtica

    litrgica a Igreja neste perodo apresenta gua, po, leo, gestos, etc., e j possui

    conscincia da importncia do Batismo e da Eucaristia (frao do po), pois j

    reconhecem, nestes dois, o mandato direto do Ressuscitado.

    Desta forma, podemos dizer que: O primeiro trao da identidade do

    sacramento , portanto, o de ser um ato concreto, num conjunto de aes eclesiais

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    diversas e numa globalidade orientada para Deus segundo o modo de orao.

    (SESBOE, 2005, p. 34.)

    3.1.1 Histria dos Conceitos

    A primeira palavra que devemos levar em considerao quando falamos de

    sacramento a palavra mysterion, s posteriormente podemos falar de

    sacramentum. No sculo II h a unio de dois conceitos bsicos para a teologia

    sacramental do ocidente: mysterion e sacramentum. Para tanto, faz-se mister, uma

    rpida viso sobre o que cada termo significa.

    O termo mysterion um termo bblico. Nos textos veterotestamentrios ele j aparece em Daniel, Sabedoria, Eclesiastes, e significava a revelao dos desgnios

    secretos de Deus para o seu povo. Porm, este termo tambm possua uma

    influncia muito forte do paganismo, influenciado assim pela cultura helenista, e

    neste contexto, o sentido era uma maneira de purificao das paixes imediatas.

    O Novo Testamento apresenta o termo vrias vezes atravs de Paulo. Para o

    Apstolo, Cristo no somente o revelador dos mistrios divinos, mas ele mesmo

    o prprio mistrio (Cf. Cl 2,2; 4,3; Ef 3,4). importante que voc busque sua bblia e

    leia estes textos antes de continuarmos nossa reflexo.

    Falar de mistrio nos dois primeiros sculos de nossa era , portanto, atestar uma revelao ou um desvelamento daquilo que estava, at aqui, escondido em Deus e, por outro lado, afirmar que essa manifestao do desgnio secreto de Deus se realiza porque o fim dos tempos est prximo, tendo em vista o Reino que vem. (SESBOE, 2005, p. 38).

    Biblicamente falando, a palavra no tem um sentido ritual. Quem iniciar a

    empregar o termo mysterion num sentido ritual sero as religies de mistrios. O

    problema do uso no incio do cristianismo justamente era a confuso que poderia

    gerar a utilizao de um termo de religies que exerciam muita influncia nas

    pessoas, isto acarretaria certo sincretismo, ou at mesmo confuso doutrinal.

    No entanto, no sculo IV, poca em que as religies de mistrios j estavam

    enfraquecidas, o termo volta a ser usado de forma ampla e sem medo. Cirilo de

    Jerusalm e Ambrsio de Milo so grandes expoentes no uso do termo. Contudo o

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    termo, no designava somente as aes sacramentais, mas todo o conjunto das

    realidades crists (celebrao, palavra, catequese).

    A palavra sacramentum tem sua origem no radical latino sacr, que est sempre ligado ao sagrado, ao religioso, assim encontramos a expresso sacrare,

    que significa destinar algo ou algum ao sagrado, isto , de fato consagrar e, ao

    mesmo tempo, o meio consagrador. Outro aspecto importante do termo seu uso

    jurdico, o termo era usado para designar os juramentos feitos em mbito civil, mas

    sempre apresentava um carter religioso, pois o juramento era realizado colocando

    a pessoa ante o juzo da divindade.

    Mas quando o termo sacramento comeou a traduzir o que entendemos por

    mistrio? Os termos vo sendo usados juntamente no perodo antigo da Igreja. Ora

    usa-se um, ora outro. As tradues latinas da bblia na Itlia utilizam o termo

    mysterion, j as de origem africanas utilizam o termo sacramentum.

    Tertuliano em 220 j chama o Batismo de sacramentum e isto influenciar

    muito a utilizao do termo na Igreja Latina. Agostinho por exemplo usa os termos

    como sinnimos, e no v nenhum problema no uso dos dois termos, em sentido

    amplo, para o bispo de Hipona o sacramentum ou o mysterion apresentavam um

    sentido amplo: todo fato perceptvel pelos sentidos, cujo significado no se esgota

    em ser aquilo que aparenta ser imediatamente, mas que, alm disso, aponta para

    uma realidade espiritual (SCHNEIDER, 2012, p. 179).

    3.1.2 Padres Gregos

    Os padres gregos da Igreja colaboram no desenvolvimento da teologia

    sacramental a partir da compreenso de smbolo real. Bebendo de uma ideia

    platnica do mundo das ideias e do mundo das sombras, de forma muito pertinente

    e criativa, os padres gregos comeam a perceber a realidade sacramental como a

    imagem de uma realidade, que muito mais sublime e perfeita.

    Assim, no sinal sacramental j podemos contemplar uma realidade muito

    mais perfeita, assim, o mundo das ideias (Realidade Divina) estaria em sombras nos

    sinais sacramentais. J podemos assim, contemplar a realidade divina, mesmo que

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    no plena. Assim, os padres gregos falam de imagem original e imagem cpia, os

    sacramentos seriam as imagens cpias.

    Claro, que nesta concepo, a realidade sacramental ainda fraca em

    relao imagem original (divina). O termo mimesis (imitao) tambm supe uma

    forte colaborao na construo da ideia sacramental. Pois os ritos vo ganhando

    gestos que relembram a Cristo. Um exemplo o batismo, no batismo as pessoas

    despiam-se de toda a roupa, para lembrar o Cristo despido para a crucifixo, isto

    remeteria paixo, morte e tambm a ressurreio de Cristo.

    3.1.3 Santo Agostinho

    Agostinho, com certeza, representa uma grande influncia para a teologia dos

    sacramentos. Para ele a distino entre res e signum (coisa e sinal) de suma

    importncia. As coisas seriam o que existe sem a inteno

    de designar algo, j o sinal aponta para algo diferente.

    Nesta perspectiva os sacramentos so sinais sagrados,

    pois apontam para uma realidade diferente, uma realidade

    sagrada. Porm para Agostinho, a palavra tem suma

    importncia, ela que transforma a matria sacramental, e

    faz a gua ser muito mais do que simplesmente gua.

    Desta forma, o sacramento como que uma palavra

    visvel. (SCHNEIDER, 2012, p. 181).

    Fonte: http://migre.me/gZ9S9

    3.2 Escolstica

    No sei se voc j conseguiu perceber, mas at agora no possumos uma

    definio clara sobre sacramento e sobre o nmero exato de sacramentos. O amplo

    conceito de sacramento da Igreja antiga vigora at o sculo XII. Assim, at esse

    perodo, a definio clara e explcita de sacramento no encontrada na Igreja.

    Num perodo pr-escolstico no so poucos os que defendem um nmero variado

    de sacramentos.

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    Os bispos Fulberto de Chartres (1028) e Bruno de Wrzburg (1153) so

    enfticos em aceitar somente dois sacramentos: o Batismo e Eucaristia. So

    Bernardo de Claraval (1153), contemporneo de Bruno, admite a ideia de dez

    sacramentos, inclusive o lava-ps; o santo acreditava que era um sacramento. J o

    Cardeal Pedro Damio (1072) costumava dizer que o nmero de sacramentos era

    doze, incluindo a uno dos reis.

    o perodo escolstico que, com uma sistematizao mais profunda da

    teologia sacramental, vai impulsionando a Igreja a definir de maneira definitiva o

    nmero dos sacramentos. Por volta da metade do sculo XII j temos o nmero sete

    como definio final dos sacramentos da Igreja.

    Juntamente com a o nmero, o contedo doutrinal dos sacramentos tambm

    importante neste momento. justamente neste perodo escolstico, mais

    precisamente com Santo Toms de Aquino (1274) que aparece a expresso, ainda

    hoje utilizada pela Igreja: Ex opere operato (por fora do rito executado), com isto

    se entende que os sacramentos agem com a graa divina, independente da f do

    ministro ou do recebedor, isto , a fora do rito j realiza a graa esperada. Assim, o

    enfoque do sacramento no est numa viso antropocntrica, mas teocntrica, pois

    a centralidade do sacramento est no agir de Deus e no no agir do homem. Esta

    definio estar sujeita a muitas crticas, principalmente no perodo da reforma, mas

    a Igreja volta sempre a enfocar a razo do agir de Deus em supremacia ao

    humana. claro que o ex opere operato se mal entendido pode ser concebido como

    um ritualismo mgico, e isto, at hoje, pode levar muitos a interpretar de maneira

    equivocado.

    O perodo da escolstica no para a no desenvolvimento da teologia

    sacramental. neste perodo que se desenvolve de modo mais profundo a teologia

    do carter indelvel j apresentada por Agostinho. Esta teologia, vigente ainda hoje

    na doutrina sacramental, afirma que os sacramentos do batismo, crisma e ordem

    marcam de forma permanente o recebedor, inclusive quando este se fecha graa

    ou a perde novamente pelo pecado.

    Santo Toms tambm introduz a ideia de matria e forma dos sacramentos, o

    Doctor Angelicum busca o fundamento no pensamento aristotlico, que fala do

    hilemorfismo (hyle, morphe matria, forma). Visto que no hilemorfismo aristotlico

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    forma e matria no so partes separveis, e sim, constituintes de um todo que se

    condicionam mutuamente, esse par de conceitos se presta para caracterizar o ato

    sacramental simblico como um s evento. (SCHNEIDER, 2012, p. 185).

    Fundamentado nas ideias de Santo Toms de Aquino, o Conclio de Florena

    (1438-1445) elabora um decreto para os

    armnios e este decreto define de forma mais

    clara os sacramentos. Fecha o nmero de

    sacramentos da Nova Aliana, a saber:

    Batismo, Crisma, Eucaristia, Penitncia,

    Extrema-Uno, Ordem e Matrimnio. Faz a

    distino entre os sacramentos da Antiga e da

    Nova aliana, pois na primeira no se realiza a

    graa, somente indica a graa futura, realizada

    na nova aliana.

    Fonte: http://migre.me/gZatC

    J os sacramentos da Nova aliana contm e conferem a graa necessria a

    todos os que o recebem. Os sacramentos so realizados atravs de trs partes

    indispensveis, da matria, da forma e do ministro. Tambm o decreto afirma a

    realidade do carter indelvel do batismo, crisma e eucaristia e por isso mesmo no

    podem ser repetidos, j os outros quatro sacramentos no imprimem carter e

    admitem repetio. Este um pequeno resumo do Decreto do Conclio de Florena.

    (cf. DENZINGER, 2007, 1310-1313).

    3.3 O Conclio de Trento

    O Conclio de Trento, realizado de 1545 at 1563, vem a ser um conclio em

    defesa da f, sobretudo contra os reformadores. Neste conclio fechado de forma

    permanente o nmero de sacramentos. Sete o nmero dos sacramentos e

    qualquer um que disser diferente disto, seja antema (excomungado). O Conclio

    tambm rejeita toda a ideia de dizer que todos os sacramentos so iguais entre si,

    no havendo um grau de importncia entre eles, pois a Igreja v na Eucaristia o to

    sublime sacramento. Tambm a frmula escolstica que j estudamos do ex opere

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    operato reafirmada, de cunho contrrio aos reformistas, refutando a ideia do sola

    fidei. (cf. DENZINGER, 2007, 1601-1608).

    3.4 Redefinies no Sculo XX

    Uma redefinio muito radial comea acontecer no sculo XX. Antes da

    mudana na teologia, acontece uma mudana na prtica litrgica, estamos falando

    do movimento litrgico, o movimento litrgico redescobre, apoiado por uma nova

    conscincia de Igreja, o fundamental carter comunitrio e a essencial sinalidade do

    sacramento. (SCHNEIDER, 2012, p. 189).

    Otto Semmelroth (1979) cunha o ttulo de sua obra de Igreja como

    sacramento original. Neste sentido, ele afirma que a Igreja no s distribui os

    sacramentos, mas ela mesma o sacramento, deste perodo que o retorno

    Igreja como sacramento afirmado.

    A forma de ver os sacramentos do Conclio Vaticano II e ps conclio vamos

    ver ao estudar um por um os sacramentos na unidade 5.

    Sugesto de Leitura

    Proponho uma leitura atenta do livro sugerido, para um aprofundamento da histria dos sacramentos, suas definies e compreenses.

    SESBOE, Bernard. Os Sinais da Salvao. Petrpolis: Loyola, 2005. De forma muito sistemtica e profunda, a obra apresenta as etapas histricas

    da teologia e do desenvolvimento litrgico dos sacramentos, fazendo com que o acadmico consiga superar toda compreenso superficial, e mergulhe no verdadeiro sentido dos sacramentos que supera todo discurso biblicista.

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    Exerccio 3

    1. Levando em considerao a histria dos sacramentos, marque verdadeiro ou falso: I. O perodo da Igreja Antiga um perodo em que as comunidades esto descobrindo aos poucos a graa da vida fraterna e das reunies celebrativas. II. O primeiro Conclio da Igreja, denominado de Conclio de Jerusalm, definiu o nmero de sacramentos em dez. III. Os sacramentos passam a existir somente aps o perodo da escolstica, tendo como fundador e sistematizador da doutrina dos sacramentos, Santo Toms. 2. A respeito dos conceitos, que deram origem ao nome sacramento, marque verdadeiro ou falso: I. A primeira palavra que devemos levar em considerao quando falamos de sacramento a palavra mysterion. II. A palavra mysterion, biblicamente falando, no tem um sentido ritual. III. O termo sacramentum apresenta tambm um sentido jurdico. 3. Marque V para verdadeiro e F para falso: Quem iniciou o emprego do termo mysterion num sentido ritual foram as religies de mistrios. Santo Agostinho usa os termos mysterion e sacramentum como sinnimos. Desde a origem da Igreja, as aes rituais foram chamadas de liturgia e sacramento. O termo sacramento foi criado no Antigo Testamento e referia-se consagrao dos reis. 4. Relacione as colunas:

    Mysterion Na concepo helnica significava: purificao das paixes imediatas.

    Sacramentum Tem sua origem no radical latino sacr, que est sempre ligado ao sagrado, ao religioso. Santo Agostinho Distino entre res e signum (coisa-sinal).

    Santo Toms de Aquino Introduz a ideia de matria e forma aos sacramentos.

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    UNIDADE 4 A PSCOA DE CRISTO COMO FONTE DA TEOLOGIA SACRAMENTAL

    A presente unidade tem por objetivo levar o acadmico a perceber a

    centralidade do mistrio pascal de Cristo na vida e na celebrao da liturgia e dos

    sacramentos.

    Como ajuda pedaggica recorreremos ao Catecismo da Igreja Catlica e

    obra de Martimort: A Igreja em Orao vol I.

    4.1 Mistrio Pascal

    A expresso litrgica e sacramental da Igreja possui sua centralidade e seu

    enraizamento em Cristo Jesus de modo muito particular no mistrio de sua paixo,

    morte e ressurreio, isto , em sua pscoa. Veja o que nos diz So Paulo:

    Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como podem alguns dentre vs dizer que no h ressurreio dos mortos? Se no h ressurreio dos mortos, ento Cristo no ressuscitou. E se Cristo no ressuscitou, a nossa pregao sem fundamento, e sem fundamento tambm a vossa f. Se os mortos no ressuscitam, estaramos testemunhando contra Deus que ele ressuscitou Cristo enquanto, de fato, ele no o teria ressuscitado. Pois, se os mortos no ressuscitam, ento Cristo tambm no ressuscitou, a vossa f no tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados. Ento, tambm perecem os que morreram em Cristo. Se s para esta vida que pusemos a nossa esperana em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixo (1 Cor 15, 12-19).

    Estamos diante de um texto muito pertinente e

    rico de detalhes para nos ajudar na construo do saber

    proposto nesta unidade. A centralidade do texto a

    ressurreio de Jesus Cristo. Se Cristo no ressuscitou,

    v a nossa f. Fonte: http://migre.me/gZbkZ

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    O Cristo vivo e ressuscitado a fonte de toda a f da Igreja, inclusive e,

    sobretudo, dos sacramentos. O Cristo Vivo , ele mesmo, que atua e realiza a graa

    dos sacramentos. Mas voc pode perguntar: A Pscoa de Jesus somente a

    ressurreio? Logicamente no! O Mistrio pascal engloba sua paixo, morte e

    Ressurreio, que j so expressas desde seu nascimento. Desta forma, s

    podemos falar de ressurreio, se antes Cristo tiver morrido, logo, a centralidade do

    texto mesmo falando da ressurreio evoca, de maneira implcita, todo o contedo

    do mistrio pascal de Cristo.

    Outro aspecto muito importante, na leitura que nos ajuda a perceber a graa

    dos sacramentos, nos ensinado no final do texto: Se s para esta vida que

    pusemos a nossa esperana em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais

    dignos de compaixo. (1 Cor 15,19).

    O Apstolo dos gentios nos apresenta um sinal fundamental: no podemos

    viver somente desta realidade material, h algo alm do que podemos ver, alm

    desta vida terrena, se assim no fosse, seramos dignos de pena. E de fato

    seramos mesmo. O que isto tem a ver com os sacramentos? Os sacramentos por

    sua vez, nunca nos remetem para a materialidade da matria usada, mas nos levam

    para um estado de graa e para um efeito sobrenatural que no deste mundo,

    divino, logo os sacramentos nos remetem no ao mundo, mas para Deus. E mais

    uma vez, tudo isto s ter sentido no mistrio pascal de Cristo.

    To significativa a pscoa de Cristo para os sacramentos, que toda a vida

    litrgica da Igreja vive deste mistrio. nele que

    toda a promessa se cumpriu, e nele que podemos

    esperar o que Deus nos preparou.

    Esta celebrao pascal, no tem suas origens

    no Novo Testamento, a celebrao da Pscoa tem

    sua fonte, seu surgimento na constituio do Povo

    de Deus. no momento do xodo e da aliana

    selada no monte Sinai, que temos as origens de

    todo o mistrio pascal. Fonte: http://migre.me/gZbsA

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    Mesmo a pscoa sendo inicialmente uma festa primaveril, ligada aos

    pastores, aps Moiss, a Pscoa toma um outro significado. Deus realiza uma obra

    em favor do seu povo. Muito mais do que a passagem pelo mar vermelho, a Pscoa

    vem a ser a passagem para uma experincia profunda de um Deus que quer se

    comunicar com seu povo.

    Desta forma, h vrios elementos que caracterizam a Pscoa judaica.

    Podemos dizer que a experincia pascal judaica enfatiza, bem cedo, a relao entre

    a experincia de libertao do povo das mos dos egpcios, com a entrega da Lei a

    Moiss e a aliana selada com o Povo.

    Outra caracterstica muito marcante a ateno que os profetas davam para

    o Dia do Senhor. H uma ligao muito estreita entre a Pscoa e a obra da criao

    como incio do projeto de salvao que Deus tem para a humanidade. Convido voc

    a ler Is 42,5-6 e 44,24-26. Com esta viso de um Deus criador, que cumpre as

    promessas e conduz seu povo, vai surgindo no corao de Israel a esperana

    messinica.

    Ela se tornar mais precisa, em perspectiva soteriolgica, em consequncia de um relacionamento antiqussimo entre a Aliana do Horeb e aquela concluda com Abrao, mais precisamente com a imolao de Isaque (Aqeda) que podia ser evocada pela imolao do cordeiro pascal no nico Templo de Jerusalm cuja localizao se identifica com o Mori de Gn 22,2. Toda a tradio patrstica retomar e desenvolver esta temtica apoiando-se em aluses neotestamentrias (MARTIMORT, 1988, p. 228).

    Por este motivo, a Pscoa a fonte de todos os sacramentos. O Catecismo

    da Igreja Catlica afirma o que outrora nas unidades anteriores j afirmamos:

    Foi em sua Pscoa que Cristo abriu a todos os homens as fontes do Batismo. Com efeito, j tinha falado da paixo que iria sofrer em Jerusalm como de um batismo com o qual devia ser batizado. O sangue e a gua que escorrem do lado transpassado de Jesus crucificado so tipos do Batismo e da Eucaristia, sacramentos da vida nova: desde ento possvel nascer da gua e do Esprito para entrar no Reino de Deus (CAT 1225).

    Com sua origem na Pscoa de Cristo, podemos perceber, que os

    sacramentos so obras do amor de Deus. Fomos resgatados por um alto preo, o

    sangue do Cordeiro, e o mesmo continua vivo e ressuscitado em nosso meio, de

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    modo muito particular atravs dos sacramentos. Por isso dizemos: se Jesus no

    ressuscitou v seria a nossa f, e estaramos cultuando a morte e no a vida em

    cada celebrao dos sacramentos.

    Sugesto de Leitura

    Sugiro que voc leia a obra: A Igreja em Orao. MARTIMORT, A. G. Princpios da Liturgia: A Igreja em Orao. Vol I. Petrpolis: Vozes, 1988.

    O livro apresenta os princpios fundamentais da liturgia, e com isto, colabora com a concepo de sacramento e seus fundamentos. A centralidade desta sugesto est na parte que reflete o Mistrio Pascal na Liturgia. Vale a pena estudar esta obra.

    Exerccio 4

    1. Com base na centralidade da Pscoa como fonte da Teologia sacramental, marque verdadeiro ou falso: I. A expresso litrgica e sacramental da Igreja possui sua centralidade e seu enraizamento em Cristo Jesus de modo muito particular no mistrio da encarnao. II. A ressurreio de Cristo o fundamento de nossa f, logo, dos sacramentos. III. O Cristo Vivo , ele mesmo, que atua e realiza a graa dos sacramentos. 2. Falando sobre o mistrio pascal, marque verdadeiro ou falso: I. A origem da pscoa se d com a vitria gloriosa de Cristo sobre a morte. II. Foi em sua Pscoa que Cristo abriu a todos os homens as fontes do Batismo. III. Aqeda a expresso hebraica que se refere imolao dos sumos sacerdotes. 3. Marque a alternativa INCORRETA: Pscoa significa passagem. A paixo, morte e ressurreio so o centro e o fundamento dos sacramentos. Os sacramentos em nada tm a ver com o mistrio pascal. Originrios da Pscoa de Cristo, podemos perceber que os sacramentos so obras do amor de Deus.

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    UNIDADE 5 OS SACRAMENTOS DA IGREJA

    O objetivo desta unidade apresentar ao acadmico de forma particular cada

    um dos sete sacramentos, sua teologia, fundamentao, eficcia e ministro.

    Permitindo que o acadmico perceba as peculiaridades e generalidades de cada

    um.

    Se algum disser que os sacramentos da Nova Lei no foram todos

    institudos por nosso Senhor Jesus Cristo, ou so mais ou menos do que sete, a

    saber: Batismo, Confirmao, Eucaristia, Penitncia, Uno dos enfermos, Ordem e

    Matrimnio; ou tambm que algum destes sete no sacramento no sentido

    verdadeiro e prprio: seja antema. (DENZINGER, 2007, 1601).

    Com esta declarao do Conclio de Trento, temos fechado o nmero oficial

    dos sacramentos. Assim, so sete os sacramentos da Igreja. Mas por que sete?

    Haver algum sentido na definio do nmero sete? Como j bem difundido nos

    meios teolgicos e doutrinais, o nmero sete possui uma grande importncia, tanto

    no sentido bblico como doutrinal. O nmero sete ser a soma dos nmeros trs e

    quatro. Trs sempre tem sinal de perfeio, nmero divino (Trindade), quatro por sua

    vez o nmero dos elementos (terra, ar, vento, gua). Assim, o nmero sete ganha

    um sentido de totalidade entre a terra e o cu, a unio perfeita entre o criador e a

    criatura.

    Os sete sacramentos esto divididos em trs grandes grupos. Os chamados

    sacramentos da iniciao crist que so: batismo, confirmao e eucaristia. Outro grupo so os chamados sacramentos de cura: penitncia e uno dos enfermos. E, finalmente, os sacramentos de servio: ordem e matrimnio (CAT 1211).

    Acompanhemos uma reflexo mais detalhada de cada um dos sete

    sacramentos.

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    5.1 Batismo

    O sacramento do batismo o fundamento de toda a vida crist, a porta da

    vida no Esprito e a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. (CAT 1213)

    Neste sentido, o Magistrio da Igreja chama-nos a ateno

    para a importncia e eficcia do sacramento do batismo na

    vida dos membros da comunidade. Podemos afirmar com

    isso, que o batismo fundamental para e existncia da

    vida crist. A prpria histria do cristianismo o corrobora

    nos escritos do Novo Testamento, na tradio judaico-

    crist antiga, na patrstica e especialmente pelo enfoque

    dado a este sacramento nas grandes catequeses

    mistaggicas do sculo IV (cf. ROCCHETTA, 1991, p.

    233). Fonte: http://migre.me/gZcoy

    A palavra batismo vem do grego bapto-baptizo que significa imerso,

    banho. (cf. ROCCHETTA, 1991, p. 233). A partir desta imerso, que o mergulho

    no prprio Cristo, o fiel cristo morre para as coisas da carne e nasce para a vida

    no Esprito Santo. O batismo torna-se ento a porta de entrada para a Igreja e para

    a vivncia da comunidade. Mas como podemos fundamentar biblicamente o

    batismo? Ele faz parte do corpo doutrinal da Igreja? Vejamos.

    5.1.1 Fundamentao Bblica O Santo Batismo um dos sacramentos mais bem fundamentados

    biblicamente. J nos textos veterotestamentrios, percebemos a prefigurao deste

    sacramento. Os textos do Novo Testamento por sua vez so ricos de menes ao

    batismo.

    Ao contemplarmos a orao de bno da gua batismal tanto no ritual de

    batismo (cf. MISSAL ROMANO, 2003, p. 286), como na missa da viglia pascal,

    encontramos fundamentaes bblicas de grande importncia. J na origem do

    mundo, vosso esprito pairava sobre as guas. (Gn 1,2) Nas prprias guas do

    dilvio prefiguraste o nascimento da nova humanidade. (Gn 7-9.) Concedestes aos

    filhos de Abrao atravessar o mar Vermelho a p enxuto. (Ex 14) Vosso Filho, ao

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    ser batizado nas guas do Jordo, foi ungido pelo Esprito Santo. (Mt 3, 13-17)

    Pendente da cruz, do seu corao aberto pela lana fez correr sangue e gua. (Jo

    19, 34) Batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo. (Mt 28, 19-20)

    Outro texto que no contemplado pela orao litrgica, mas que de

    grande relevncia como fundamento do batismo a passagem de Jesus com

    Nicodemos. Quem no nascer da gua e do Esprito, no entrar no Reino (Jo 3,

    5-7). Estas so algumas das percopes da Sagrada Escritura que podem nos ajudar

    na fundamentao bblica deste sacramento.

    5.1.2 Fundamentao Doutrinal

    Em comunho com a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradio e o Magistrio

    tambm nos ajudam na compreenso e afirmao da verdade de f sobre o batismo.

    Nada mais claro para uma fundamentao doutrinal do que o Credo Niceno-

    constantinopolitano. No credo a Igreja professa: confesso um s batismo para a

    remisso dos pecados. Neste sentido aparece uma certa dogmatizao do

    sacramento (SESBOE, 2005, p. 47), que demonstra a importncia do batismo j

    na Igreja nos seus primeiros sculos. Mas por que o batismo mencionado no

    credo? O batismo mencionado no final do Credo, no terceiro artigo, quando a experincia crist se concentra na referncia ao Esprito Santo e Igreja [...] Ele (batismo) representa aqui a ordem sacramental em seu conjunto, pois sua porta de entrada. E lembra, se for necessrio, que a sacramentalidade crist no se reduz eucaristia. Para a sacramentria da Igreja primitiva, o batismo to fundamental quanto o sacramento eucarstico [...] (SESBOE, 2005, p. 47-48).

    Isto j nos seria muito suficiente para uma fundamentao doutrinal na base

    da f crist. Porm, o Magistrio e a Tradio foram ao longo dos sculos

    enriquecendo cada vez mais a teologia batismal. Com a Igreja, tambm

    confessamos que os batizados vestiram-se de Cristo. Pelo Esprito Santo o

    Batismo um banho que purifica, santifica e justifica. (CAT 1227).

    5.1.3 Eficcia

    Quando falamos da eficcia do sacramento, significativo ressaltar que a

    eficincia do sacramento no depende da f pessoal do ministrante ou do

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    recebedor, mas se fundamenta no agir de Deus, expressa na Escolstica com a

    frmula que diz que os sacramentos so eficientes ex opere operato (por fora do

    rito executado) e no apenas ex opere operantis (por fora daquele que executa o

    sacramento). (SCHNEIDER, 2012, p.183). Esta definio no s nos ajuda na

    compreenso da eficcia deste sacramento como de todos os outros.

    Pois bem, se por fora do rito executado acontece o agir de Deus, que agir

    este que Deus faz no batizado? O Catecismo da Igreja de modo sucinto e claro

    define a eficcia do sacramento do batismo:

    O fruto do Batismo ou graa batismal uma realidade rica que comporta: a remisso do pecado original e de todos os pecados pessoais; o nascimento para a vida nova, pelo qual o homem se torna filho adotivo do Pai, membro de Cristo, templo do Esprito Santo. Com isto mesmo, o batizado incorporado Igreja, corpo de Cristo, e se torna participante do sacerdcio de Cristo. O Batismo imprime na alma um sinal espiritual indelvel, o carter [...] (CAT 1279-1280)

    Muitas coisas do que foi supracitado so confirmadas pela prpria orao

    litrgica da gua batismal. Na invocao ao Esprito Santo a orao deixa claro o

    efeito do batismo, de gerar nova criatura, e a prece concluda com a insero do

    catecmeno nos mistrios da morte e ressurreio de Cristo (ROCCHETTA, 1991, p.

    261), para que aqueles que nela receberem o batismo sejam sepultados com Cristo

    na morte e com ele ressuscitem para a vida imortal (ROCCHETTA, 1991, p. 261).

    5.1.4 Ministro Pedro batiza? Cristo batiza! (ROCCHETTA, 1991, p. 263). A frase famosa

    de Santo Agostinho quer chamar a ateno para o Ministro por excelncia do

    Batismo e dos sacramentos em geral, isto , o prprio Cristo. Logicamente, o Senhor

    confiou Igreja o dever de realizar os sacramentos.

    Ento, quem so os ministros do sacramento? De acordo com o Cdigo de

    Direito Cannico, o Ministro ordinrio do batismo o Bispo, o presbtero e o

    dicono. (Cn 861). O Cdigo continua no pargrafo segundo do mesmo cnone:

    Na ausncia ou impedimento do ministro ordinrio, o catequista ou pessoa para isso

    designada pelo Ordinrio local pode licitamente batizar; em caso de necessidade,

    qualquer pessoa movida por reta inteno. (Cn 861).

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    5.1.5 Rito

    O rito essencial do batismo consiste em mergulhar na gua o candidato ou

    em derramar gua sobre a sua cabea, invocando a Santssima Trindade, isto , o

    Pai, e o Filho e o Esprito Santo. (CAT 1278).

    5.1.6 Sinais e Smbolos

    Os sinais e smbolos nos sacramentos expressam a ao de Deus, e ao

    mesmo tempo, como j falamos anteriormente, instruem, isto , trata-se de uma

    forma de catequizao. Os sinais e smbolos do sacramento do batismo so: sinal

    da cruz, o anncio da Palavra, a gua, a uno com o santo crisma, a veste branca

    e a vela.

    A gua o sinal sacramental do batismo, ou seja, a matria. A forma : eu

    te batizo (...) em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo. H outros sinais e

    smbolos: traar o sinal da cruz na fronte do que ser batizado, o sinal do Cristo; a

    renncia ao demnio pronunciando vrios exorcismos; o leo dos catecmenos para

    a uno pr-batismal; a profisso de f; a veste branca; a vela acesa; o feta, que

    quer dizer abre-te e que conclui o rito do

    exorcismo e significa a libertao da mudez

    e da surdez espiritual e por fim, o sal, o

    novo cristo dever dar sabor vida e s

    coisas de Deus e despertar a sede de Deus

    no mundo. (cf. SACRAMENTRIO, 2005, p.

    14-33). Fonte: http://migre.me/gZdu1

    5.2 Confirmao O Sacramento da Confirmao ou tambm chamado de sacramento da

    Crisma, um dos sacramentos mais discutidos e cheios de questionamentos ainda

    hoje no seio da reflexo teolgica. Por que dizemos isto? O Sacramento da

    Confirmao na sua origem na comunidade primitiva estava intimamente ligado ao

    Sacramento do Batismo. To grande esta ligao que a Igreja Oriental continua a

    celebrar os dois sacramentos na mesma cerimnia. Alguns at afirmam que o

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    sacramento da confirmao poderia no ser distinto do batismo. o que teria

    acontecido se os bispos ocidentais do sculo V no tivessem desejado manter sua

    participao pessoal na liturgia dos batismos para significar a unidade eclesial dos

    nefitos, ao passo que o Oriente preferiu confiar a uno final do batismo ao

    sacerdote. (SESBOE, 2005, p. 263).

    Vemos assim, que a prtica de separao do sacramento do Batismo e da

    Crisma acontece por este motivo litrgico. E justamente em decorrncia desta

    separao que a Igreja latina comea a denominar o sacramento da Crisma de

    confirmao, pois assim, manteria ligado o sacramento ao Batismo. (SESBOE,

    2005, p. 263). A prtica da Igreja do Oriente sublinha

    mais a unidade da iniciao crist. A da Igreja latina

    exprime mais nitidamente a comunho do novo cristo

    com seu Bispo, de sua Igreja, de sua catolicidade e de

    sua apostolicidade, e, com isto, o vnculo com as origens

    apostlicas da Igreja de Cristo. (CAT 1292). Fonte: http://migre.me/gZdvU

    O termo Crisma tem sua origem no termo grego chrisma que significa uno.

    Logo o nome est intimamente ligado ao leo que denominamos leo do Crisma.

    Como nos ensina o Catecismo da Igreja citando a Lumen Gentium: pelo sacramento

    da confirmao [os fiis] so vinculados mais perfeitamente Igreja, enriquecidos de

    fora especial do Esprito Santo. E assim mais estritamente obrigados f que,

    como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem difundir e defender tanto por

    palavras como por obras. (CAT 1285).

    A Crisma, deste modo, est fortemente enriquecida de carter pneumtico,

    isto , a ateno e a graa mais fortemente ligada ao Esprito Santo. Aqui reside

    uma problemtica ainda em discusses calorosas nos meios eclesiais e acadmicos,

    pois nos perguntamos: Ser que o Batismo no nos conferiu a fora plena do

    Esprito Santo? Alguns telogos veem nisto um prejuzo teolgico muito grande em

    relao teologia batismal, porm, a Igreja em sua sabedoria de Me e Mestra nos

    diz que: Como o batismo, a crisma tambm pertence categoria das grandes obras

    de Deus. Se o batismo se radica no mistrio da morte e ressurreio de Cristo, a

    crisma tem sua base no mistrio da efuso do Esprito Santo em Pentecostes, que

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    inaugurou o tempo da Igreja e a misso dos apstolos e dos crentes no mundo.

    (ROCCHETTA, 1991, p. 266).

    Vemos assim, no uma contradio ou complementao dos sacramentos do

    batismo e crisma, mas antes, temos evidenciado o carter de instruo dos

    sacramentos, claro que este carter no nico e to somente de instruo, mas de

    certa forma, torna a Crisma um sinal mais claro da pertena Igreja, pois o Tempo

    da Igreja o Tempo do Esprito Santo.

    A Crisma, deste modo, introduz de forma mais objetiva e concreta o fiel na

    vida cotidiana e pastoral da comunidade crist, aquilo que de fato o Batismo j nos

    garantiu com sua eficcia. Tambm no podemos negar que o rito batismal est

    repleto de sinais que posteriormente sero retomados na celebrao da Crisma,

    nisto no vemos uma ineficcia no Batismo, mas antes, vemos uma ligao profunda

    e necessria dos dois sacramentos.

    5.2.1 Fundamentao Bblica

    A fundamentao bblica deste sacramento, a priori, pode parecer um pouco

    escassa, porm, quando samos de um olhar puramente ritualista e mergulhamos no

    sentido espiritual da eficcia deste sacramento, veremos que abundante sua

    fundamentao nas Escrituras Sagradas.

    Como o nome Crisma est intimamente ligado sua etimologia, a Uno, o

    Ungido, frequentemente mencionado tanto nos escritos veterotestamentrios como

    nos neotestamentrios, este ltimo, com referncia quase que unnime a Jesus, o

    Cristo, isto o ungido.

    No Antigo Testamento temos vrias passagens que fazem meno uno e

    ao Esprito de Deus. J sabido que a Pessoa do Esprito Santo no foi revelada na

    primeira Aliana, porm, luz de Jesus ressuscitado conseguimos ver a ao da

    Terceira pessoa da Trindade nos textos veterotestamentrios. A uno, no

    simbolismo bblico e antigo, rica de significados: o leo sinal de abundncia (Dt

    11,14) e de alegria (Sl 23,5; 104,15), ele purifica e torna gil, sinal de cura, pois

    ameniza as contuses e as feridas (Is 1,6). (CAT 1293). O Esprito de Deus pairava

    sobre as guas (Gn 1,2). E sobre Sanso o Esprito do Senhor comeou a investir

    (Jz 13,25). Tambm o Esprito do Senhor veio sobre os emissrios de Saul (1Sm

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    19,20). Os profetas sempre falaram inspirados pelo Esprito Santo. Muitos anos

    antes da chegada do Messias, Isaas anuncia que sobre ele pousar o Esprito do

    Senhor (Is 11,1-2).

    No Novo Testamento no faltam passagens que nos remetem eficcia do

    Sacramento da Crisma. O Esprito Santo vir sobre ti... (Lc 1,35) Em relao

    gravidez de Maria do Esprito Santo, tambm encontramos meno em Mt 1,18-20.

    O Esprito e o batismo de Jesus no Jordo (Lc 3,21-22; At 10, 37-38); Jesus como

    doador do Esprito aos seus (Lc 24,49; At 1,5), a participao no Esprito de Cristo

    (Rm 8,9; Gl 5,18; ICor 6,19). O termo selo (sphraghis) e o verbo selar (sphraghizo)

    so expresses tpicas da teologia do Esprito de Paulo. O significado comum de

    confirmao de compromisso assumido com Deus (ROCCHETTA, 1991, p. 274),

    por isso a teologia paulina contribui em muito para a fundamentao bblica do

    sacramento da confirmao. (Rm 4,11; ICor 9,2; IICor 1, 21-22; Ef 1,13-14; Ef 4,30).

    5.2.2 Fundamentao Doutrinal

    Quando professamos nossa f com o credo niceno-constantinopolitano

    rezamos: Creio no Esprito Santo, Senhor que d a vida [...] isto implica de certa

    forma uma experincia plena de vida no Esprito Santo, esta a proposta para os

    crismados: fazer a experincia do Senhor da Vida. Este relacionar-se com o Esprito

    Santo e seus dons de suma importncia para a vida de f dos fiis. Contudo,

    muitos podem ver no Sacramento da Confirmao um mero carter pedaggico, ou

    at mesmo, embebido de influncia protestante, dizer que o Sacramento da Crisma

    no foi institudo por Cristo, neste sentido:

    A confirmao , portanto, um ato litrgico em cuja formao a Igreja teve um papel notvel. [...] Ela no um simples rito pedaggico. Intervm na iniciao crist a ttulo sacramental. certo que, fora dos textos que enumeram os sete sacramentos, a literatura dogmtica no diz formalmente que ela foi instituda por Cristo. Mas beneficia-se por assim dizer, da instituio crstica do batismo e, mais amplamente, dos traos de conjunto que valem para o setenrio. (SESBOE, 2005, p. 263).

    Em direo ao que foi exposto, a doutrina da Igreja nunca colocou o Batismo

    e a Confirmao de maneira discrepante, muito pelo contrrio, mesmo havendo a

    separao dos ritos, a comunho entre ambos os sacramentos continua viva no

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    corao da teologia e da eficcia sacramental dos mesmos. No por acaso que a

    Igreja afirma que:

    A Confirmao aperfeioa a graa batismal; o sacramento que d o Esprito Santo para enraizar-nos mais profundamente na filiao divina, incorporar-nos mais firmemente a Cristo, tornar mais slida a nossa vinculao com a Igreja, associar-nos mais sua misso e ajudar-nos a dar testemunho da f crist pela palavra, acompanhada das obras. (CAT 1316).

    5.2.3 Eficcia

    Como j falamos, eficcia e efeito ganham o mesmo sentido quando se trata

    dos sacramentos. Por isso perguntamos: O que muda na vida do fiel depois da

    realizao do Sacramento da Crisma? De maneira muito clara, sucinta e objetiva, o

    Catecismo da Igreja nos diz que:

    A confirmao produz crescimento e aprofundamento da graa batismal: enraza-nos mais profundamente na filiao divina [...]; une-nos mais solidamente a Cristo; aumenta em ns os dons do Esprito Santo; torna mais perfeita nossa vinculao com a Igreja; d-nos uma fora especial do Esprito Santo para difundir e defender a f pela palavra e pela ao, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessar com valentia o nome de Cristo e para nunca sentir vergonha em relao cruz. [...] Como o Batismo, a Confirmao dada uma s vez, pois imprime carter, [...] o carter aperfeioa o sacerdcio comum dos fiis, recebido no Batismo [...]. (CAT 1303-1305).

    5.2.4 Ministro

    O Cdigo de Direito Cannico nos diz que: O ministro ordinrio da

    confirmao o Bispo; administra validamente este sacramento tambm o

    presbtero que tem essa faculdade (Cn 882). Claro que o presbtero administra

    somente na impossibilidade do Bispo ou em caso de urgncia. Significativo tambm

    lembrar a expresso do Catecismo que diz: o ministro originrio da Confirmao o Bispo. Este termo nos d uma visibilidade e compreenso ainda maior da

    importncia e da ligao do Bispo com este sacramento (CAT 1312-1314).

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    5.2.5 Rito O rito essencial da Confirmao a uno com o santo crisma na fronte do

    batizado com a imposio da mo do ministro e as palavras: N, Recebe por este sinal o selo do Esprito Santo, o Dom de Deus. (CAT 1300).

    5.2.6 Sinais e Smbolos

    Na celebrao do Sacramento da Crisma temos dois sinais e smbolos muito

    significativos e centrais. O primeiro a imposio das mos.

    Um gesto de dispensao e transmisso de vida, fora, poder, se nos depara na Bblia, entre outras, como gesto da bno (Gn 48, 14s; Mc 10, 13-16), como gesto de cura (Mc 5,23; At 28,8) e como sinal de comissionamento (Nm 27, 15-23). nestes contedos que se deve pensar quando a imposio das mos se torna gesto do dom do Esprito: aceitao, incluso na esfera de vida de Deus, cura de culpa alienante, envio. (SCHNEIDER, 2012, p. 236).

    Outro smbolo muito importante e fundamental a uno com o leo.

    bastante difundido o conhecimento do leo na Antiguidade, o perfume depois do

    banho, a defesa nas lutas para tornar mais escorregadio e assim dificultar para o

    oponente. Na bblia vemos os relatos dos reis e sacerdotes receberem a sua misso

    atravs da uno com o leo (Ex 29,7; Lv 4,3; 1 Sm 16, 1-13). Outro simbolismo,

    que no se faz presente de

    modo visvel, mas na

    inteno e na teologia

    estritamente ligado uno

    o selo. Donde provm, a

    teologia do carter

    indelvel (SCHNEIDER,

    2012, p. 236). Fonte: http://migre.me/gZe8m

    No podemos deixar de mencionar tambm, com um cunho mais pastoral, a

    simbologia da figura da Pomba e os seus sete dons que so quase que unnimes

    em quase todas as nossas comunidades, especialmente aqui no Brasil. Camisetas,

    cartazes entre outras coisas trazem o Pomba e os sete dons.

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    5.3 Eucaristia

    Neste tpico nos debruaremos na reflexo sobre o Sacramento da

    Eucaristia, este que o centro da vida da Igreja, no por acaso que a Igreja

    proclama que vive da Eucaristia. J no subttulo da

    Exortao Apostlica Ps-Sinodal Sacramentum

    Caritatis, define a Eucaristia como fonte e pice da vida e

    da misso da Igreja. Com esta reflexo, encerramos o

    primeiro bloco dos sacramentos, os assim chamados

    sacramentos da iniciao crist. Fonte: http://migre.me/gZeaP

    Pois bem, o que significa a palavra Eucaristia? Eucaristia, porque ao de

    graas a Deus. As palavras eucharistein (Lc 22,19; I Cor 11,24) e eulogein (Mt

    26,26; Mc 14,22) lembram as bnos judaicas que proclamam sobretudo durante

    a refeio as obras de Deus: a criao, a redeno e a santificao. (CAT 1328).

    Assim a palavra eucaristia significa ao de graas, e provm, como nos lembra o

    Catecismo, do hebraico berakah.

    5.3.1 Fundamentao Bblica A eucaristia, embora soasse estranho aos ouvidos dos judeus na poca de

    Jesus, pertence ao contexto da histria da salvao. Claro, que no Antigo

    Testamento, no temos a carne de um homem entregue como comida, mas no

    prprio cordeiro, prefigura-se a Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

    Para nossa fundamentao bblica sobre a Eucaristia, faz-se mister perceber,

    como nos lembra Rocchetta, que: o Sacramento da Eucaristia no constitui uma

    maravilha de Deus isolada e sem qualquer referncia ao passado, ao contrrio,

    insere-se no ponto de convergncia de diversos temas bblicos, entre os quais,

    especialmente, a pscoa, a aliana, o sacrifcio, o banquete e a habitao, cinco

    temas estritamente ligados entre si e que, no seu conjunto, formam como que o

    contexto hermenutico do mistrio eucarstico (ROCCHETTA, 1991, p. 292).

    Com esta afirmao, chegamos ao fulcro da fundamentao bblica da

    Eucaristia e assim, a uma hermenutica segura dos textos. J nos livros do Antigo

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    Testamento encontramos os textos da Pscoa judaica. Originalmente, a pscoa era

    a festa da primavera, ligada s primeiras espigas de cevada e oferta dos pes

    zimos. Depois da libertao do Egito, tornou-se a recordao da passagem da

    escravido no Egito para a liberdade. (ROCCHETTA, 1991, p. 292) (Ex 12; Ex 14

    15). importante notarmos que os principais momentos do contexto bblico da

    pscoa a imolao do cordeiro (Gn 8,20; Ex 24,8), a caminhada no deserto e o

    ingresso na terra prometida.

    O tema da Aliana por sua vez, tambm tem grande relevncia na

    fundamentao da Eucaristia. As alianas no sangue das vtimas imoladas so

    prefiguras da Nova e eterna aliana no sangue de Jesus Cristo. Encontramos estes

    textos em Gn 15,9-18; Ex 24, 5-8. Nos textos neotestamentrios fica evidente a

    concretizao das prefiguras quando lemos nos evangelhos: Isto o meu sangue, o

    sangue da aliana, que derramado por muitos. (Mc 14,24; cf. Mt 26,27). O

    sangue da cruz o sangue da redeno escatolgica e, por isso, da nova e eterna

    aliana, realizada pelo Pai em Cristo Jesus (1 Pd 1,18-19; Hb 8, 6-13).

    (ROCCHETTA, 1991, p. 297).

    O Sacrifcio ganha tambm um grande enfoque. O sacrifcio de Abrao, a

    oblao sacrificial de Malaquias (Ml 1,10-11), que ter sua plena realizao no

    sacrifcio de Jesus: Todas as vezes que comeis desse po e bebeis desse clice,

    anunciais a morte do Senhor at que ele venha. (1 Cor 11,26). O Banquete outro

    sinal bblico da Eucaristia, quando lemos em Is 25,6 sobre o banquete para o

    Senhor, j conseguimos vislumbrar o banquete eucarstico de Cristo anunciado nos

    evangelhos como em Lc 14, 22-24; Mt 26, 26-29; Lc 22, 15-20.

    Finalizamos a fundamentao bblica com o tema da habitao, a shekinah.

    A minha habitao estar no meio deles; eu serei o seu Deus e eles sero o meu

    povo. (Ez 37, 27). A profecia acerca do Emanuel, o Deus conosco, que se realiza

    na vinda do Verbo eterno ao mundo (Is 7,14; Mt 1,22-23), perpetua-se de modo

    eminente na eucaristia da Igreja ( ROCCHETTA, 1991, p. 301).

    5.3.2 Fundamentao Doutrinal Como no poderia deixar de ser, a fundamentao doutrinal para este

    sacramento abundante e muito rica de sinais e teologia, porm, h elementos que

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    no podemos deixar de fora desta nossa reflexo. preciso antes de tudo localizar

    a Eucaristia entre os demais sacramentos. Assim, podemos dizer que a Eucaristia:

    tem um lugar particular entre os outros sacramentos, de um lado por causa de sua instituio imediata por Jesus, de outro tendo em vista o que ela comunica aos batizados. Sua instituio expressamente reportada a uma deciso de Cristo antes de sua morte, o que no o caso dos outros sacramentos. A eucaristia comunica a presena pessoal de Jesus, seu prprio ser, coisa que os outros sacramentos no realizam da mesma maneira nem no mesmo grau [...] o Vaticano II apresentou esse sacramento como fonte e pice da evangelizao (PO 5.2), da vida crist (LG 11.1), raiz e centro da comunidade dos fiis (PO 6.5) (SESBOE, 2005, p. 264).

    Sendo assim, a Eucaristia o Corpo e o Sangue, a alma e a divindade de

    Nosso Senhor Jesus Cristo, o sacramento da presena de Cristo no meio de ns.

    5.3.3 Eficcia

    Para iniciarmos o tema da eficcia da Eucaristia, preciso ressaltar que os

    efeitos mais evidenciados pelo Vaticano II a unio a Cristo e a unio entre os

    cristos.

    Pelo sacramento eucarstico, Cristo une a si os homens que nele creem e so batizados. o efeito desse sacramento, produzido na alma de quem o recebe dignamente, a unio do homem a Cristo. Unio santificadora (SC 10), fonte de renovao (LG 11.1), glorificao de Deus (SC 10), perdo dos pecados [veniais], o mistrio eucarstico faz dos discpulos de Cristo seres que o Esprito associa sua Pscoa e qualifica para a ao de graas, para a coragem do dom de si e para a espera escatolgica da ltima vinda do Senhor. A eucaristia, por outro lado, une os batizados entre si. o sacramento do amor (SC 47). (SESBOE, 2005, p. 269).

    Vale a pena recordar que, quando comungamos o Corpo e o Sangue de

    Nosso Senhor Jesus Cristo, estamos comungando o Cristo total, todo o ser de

    Cristo que oferecido na hstia consagrada. Cristo a cabea, ns os membros. A

    cabea e os membros formam o Cristo Total, isto quer dizer que Cristo e a Igreja

    formam o todo do Corpo de Cristo. No tem como comungar somente Cristo, sem

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    comungar nossos irmos. Neste sentido, estamos carentes de compreenso