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Sala de aula Educação Infantil I Creche e pré-escola Nas experiências, chance de aprender Entenda o que a Base Nacional Comum propõe para o trabalho com os pequenos e saiba opinar zadas nas últimas décadas. "Trata-se do resultado de uma longa discussão e expressa um pouco da luta que estamos constituindo para marcar a es- pecificidade do segmento", afirma Paulo Sergio Fochi, professor de Pedagogia da Pontifícia Uni- versidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC- -RS) e assessor da equipe que formulou a propos- ta para esse nível educacional. O novo texto se baseia nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI), de 2010, mas traz maior detalhamento, ~hegando a listar objetivos Texto BRUNO MAZZOCO • Design )ACQUELlNE HAMINE • Edição WELLlNGTON SOARES F inalmente o Brasil está discutindo a elabora- ção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A criação do documento estava prevista desde a Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996 (leia sobre a tramitação da base na reporta- gem da página 45). A redação preliminar foi dada por 116 especialistas e está, desde setembro, dis- ponível para consulta na intemet. Na Educação Infantil, a sugestão formulada representa uma consolidação de pesquisas reali- Interagir com crianças e adultos, ampliando conhecimento e respeito à natureza, à cultura, às singularidades e às diferenças entre as pessoas 32 DEZEM BRO 201S/JANEIRO 2016 novaescola.org.br Se divertir de muitas formas e com diferentes parceiros, construindo conhecimentos e desenvolvendo a imaginação e a criatividade

Sala de aula Educação Infantil I Creche e pré-escola Nas ...site.veracruz.edu.br/doc/ise/nas_experiencias_chance_aprender_2016.… · torial elaborado pelo Cenpec (abr.ai/tutorial--bncc)explicacomo

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Sala de aula

Educação Infantil I Creche e pré-escola

Nas experiências,chance de aprenderEntenda o que a Base Nacional Comum propõepara o trabalho com os pequenos e saiba opinar

zadas nas últimas décadas. "Trata-se do resultadode uma longa discussão e expressa um pouco daluta que estamos constituindo para marcar a es-pecificidade do segmento", afirma Paulo SergioFochi, professor de Pedagogia da Pontifícia Uni-versidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC--RS) e assessor da equipe que formulou a propos-ta para esse nível educacional. O novo texto sebaseia nas Diretrizes Curriculares Nacionais daEducação Infantil (DCNEI), de 2010, mas trazmaior detalhamento, ~hegando a listar objetivos

Texto BRUNO MAZZOCO • Design )ACQUELlNE HAMINE • Edição WELLlNGTON SOARES

Finalmente o Brasil está discutindo a elabora-ção da Base Nacional Comum Curricular

(BNCC). A criação do documento estava previstadesde a Constituição Federal de 1988 e da Lei deDiretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),de 1996 (leia sobre a tramitação da base na reporta-gem da página 45). A redação preliminar foi dadapor 116 especialistas e está, desde setembro, dis-ponível para consulta na intemet.

Na Educação Infantil, a sugestão formuladarepresenta uma consolidação de pesquisas reali-

Interagir com crianças e adultos, ampliandoconhecimento e respeito à natureza, à cultura,

às singularidades e às diferenças entre as pessoas

32 DEZEM BRO 201S/JANEIRO 2016 novaescola.org.br

Se divertir de muitas formas e com diferentesparceiros, construindo conhecimentos

e desenvolvendo a imaginação e a criatividade

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de aprendizagem. Segundo os autores, o principalpropósito do documento é superar a velha dico-tomia entre o caráter assistencial, mais voltadoaos cuidados, e a tendência à escolarização, queantecipa características de etapas posteriores,mais orientadas para a assimilação de conteúdos.

No centro do debate, a criançaPara a Educação Infantil, a BNCC apresenta dife-renças grandes em relação ao que está propostopara os ensinos Fundamental e Médio. Inspiradono documento curricular para o segmento atual-mente em vigor na Itália, o projeto não se divideem áreas nem nos vários anos em que se organizao segmento. Pensando as diferentes maneiras co-mo os pequenos aprendem, os autores dão ênfasea seis direitos de aprendizagem que devem sergarantidos em todas as instituições educativas:conviver, brincar, participar, explorar, comunicare conhecer-se (saiba mais sobre eles nas ilustraçõesao longo da reportagem). De acordo com o docu-mento, tal estrutura visa ev\idenciar a importânciade comportamentos próprios da infância paraque as crianças avancem.

Com base neles, desdobram-se os campos deexperiência, uma forma de organização interdis-

Ser protagonista no planejamento e narealização de atividades do cotidiano, na escolha

de brincadeiras, materiais e ambientes

ciplinar que tem como objetivo articular os "sa-beres e fazeres da criança com os conhecimentosjá sistematizados pela humanidade". Essas vivên-cias, somadas à intencionalidade do professor naproposição de situações significativas, podematuar na construção de saberes e fazer os meninose as meninas se apropriarem das práticas sociaise culturais dos meios em que estão inseridos. Den-tro dos campos estão os objetivos de aprendiza-gem que devem ser atingidos.

Para Anna Helena Altenfelder, superintenden-te do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), em SãoPaulo, a proposta atualmente em análise é bas-tante adequada para a faixa etária até 5 anos, con-templada nesse nível. "Essa forma de organizaçãoé interessante porque traduz a maneira como seconquista aprendizagens nesse segmento", comen-ta ela, que também faz parte do Movimento Na-cional pela Base Nacional Comum, grupo nãogovernamental de profissionais e pesquisadoresque foi criado para fomentar o debate em tomoda elaboração desse documento. "É importante oprofessor ter clareza em relação a esses direitos,porque eles representam as formas como os me-ninos e as meninas aprendem", complementa.

Experimentar movimentos, gestos, sons, palavras,histórias, objetos, elementos da natureza

e do ambiente urbano e do campo

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Sala de aula

Educação Infantil I Creche e pré-escola

Base não é currículoUm ponto controverso diz respeito ao grau dedetalhamento do texto final. Ele deve prescreveros conteúdos abordados e a forma como fazê-loou dar apenas indicações gerais para orientar otrabalho dos educadores? Qual o espaço para ossaberes e as manifestações culturais específicas decada região? A nova orientação irá alterar a auto-nomia do professor em sala?

Essas têm sido algumas das questões mais ou-vidas pelos responsáveis por formular a propostadurante o processo de avaliação, que, além daconsulta onIine, inclui rodadas de conversa emescolas, secretarias de Educação e universidades.Para Marisa Ferreira, professora da especializaçãoem Educação Infantil do Instituo Superior deEducação Vera Cruz (ISEVera Cruz), em São Pau-lo, a função da BNCC é garantir um núcleo co-mum de experiências a todas as crianças do país."O detalhamento maior deve ser feito nos currí-culos elaborados pelas redes", destaca ela. Da mes-ma forma, questões relacionadas às estratégias deensino utilizadas pelos professores e as avaliaçõesseguirão sendo de competência de docentes e ges-tores. "O educador continua tendo autonomiapara planejar e realizar suas atividades. Ele passa

Usar diferentes linguagens, expressar opiniões,sentimentos, desejos e pedidos de ajuda

e aprender a compreender o que lhe comunicam

apenas a ter mais clareza do que é necessário ga-rantir em seu trabalho", defende a especialista.

O processo de consulta está sendo realizado pormeio da página basenacionalcomum.mec.gov.br.Qualquer cidadão pode participar. Um vídeo tu-torial elaborado pelo Cenpec (abr.ai/tutorial--bncc) explica como é possível fazer contribuições.Todas as sugestões serão compiladas pela equipede especialistas que foram responsáveis pela ela-boração da versão preliminar. Depois, texto esugestões serão encaminhados ao Conselho Na-cional de Educação (CNE), que as analisará e da-rá a redação final do documento.

A aprovação é um dos primeiros passos paraque a proposta chegue a escolas e docentes. Ou-tras questões, como a incorporação aos currículosdas redes, o impacto sobre a formação de profes-sores, a articulação entre as etapas da EducaçãoBásica e medidas para verificar seus efeitos emclasse ainda precisam ser debatidas.

Por enquanto, é importante que você conheçaquais são as propostas para sua área, participe dediscussões promovidas em sua escola ou na redeem que trabalha e envie suas críticas e sugestões.Afinal, essa proposta irá pautar a sua atuação pro-fissional nos próximos anos. _

I

J

•Construir sua identidade pessoal e cultural,

formando uma imagem positiva de si mesmo e dosgrupos a que pertence nas diversas interações