17

Salam Aleikum, Brother!

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista do documentário sobre adolescentes muçulmanos.

Citation preview

Page 1: Salam Aleikum, Brother!
Page 2: Salam Aleikum, Brother!

O mundo ocidental assiste hoje a o que poderíamos cha-

mar de guerra à ditadura Islâmica, a queda de Hosni Muba-

rak, o poder escorrendo pelas mãos de Muammar Khadaffi,

diversos países islâmicos requerendo seus direitos tolhidos

por anos de restrições políticas.

Khadaffi, Mubarak, Palestina e Israel, Hezbollah e Fattah,

Talibãs, Xiitas e Sunitas, Jihad Islâmica; cada vez que estes

nomes aparecem nos noticiários brasileiros acabam causando

calafrios ao espectador. Mas é assim mesmo? Homens-

bomba, intolerância, cerceamento de direitos humanos, raiva

e vingança? Esta pergunta está sendo respondida por milha-

res de pessoas que se convertem ao Islã a cada ano, tanto no

Brasil como no exterior, transformando a religião na mais nu-

merosa de todo o globo.

Este antagonismo fomentou a criação deste projeto.

Por que tantos jovens se convertem ao Islã, com tanta pro-

paganda contrária na mídia ocidental? Como é a vida desses

jovens? O que muda em relação aos conceitos filosóficos e

comportamentais na vida desses adolescentes? Seria uma

maneira de espelhar-se na atribuída agressividade dos funda-

mentalistas islâmicos divulgada massivamente pelos meios de

comunicação ocidentais ou vontade de mudar este panora-

ma?

“Salam Aleikum, Brother” - Adolescentes Muçulmanos - se-

rá apresentado para tirar estas e mais dúvidas, apresentando

de maneira assertiva a verdadeira face do Islã.

Fo

to: R

od

rigo

Me

qu

ela

zzo

Page 3: Salam Aleikum, Brother!

Equipe >>> Christian Francis Braga Emanuelle Herrera Falchi Kelly Cristina Vieira Ferreira Marcos Paulo Silva Murilo Cendamore Haas Simone Alves do Nascimento Thalita Andrade de Souza Capa >>> Ilustração Banco de Dados Adobe Ilustrator. Contra-capa >>> Momento de oração na mesquita da Escola Islâmica

Brasileira. Agradecemos a todos que nos apoiaram e compartilharam conosco esse momento de aprendi-

zado sobre a religião que mais cresce no mundo.

الحمد هلل

03

Fo

to:

Ale

xan

dre

da

s N

eve

s

Page 4: Salam Aleikum, Brother!

Verônica Hannis ——————— pág. 05 a 07 Sheik Mohamad Amame ———— pág. 08 e 09 Cláudio Júlio Tognolli ————— pág. 10 José Arbex Júnior ——————— pág. 11 Pedro Briegger ———————— pág. 12 a 14 Fotos ————————————— pág. 15

Fo

to:

Rod

rig

o M

eq

uela

zzo

Aluna da Escola Islâmica Brasileira

Page 5: Salam Aleikum, Brother!

Verônica Hannis de Lima Muçulmana convertida na

adolescência

Salam Aleikum, Brother - Como foi seu primeiro contato com o Islã?

Verônica Hannis de Lima - O primeiro contato que eu tive com a religião islâmica foi

no meu lugar de trabalho. Ali eu conheci os primeiros muçulmanos, eu trabalhava com

muçulmanos. Até então eu nunca tinha visto uma mulher de véu ou coisa parecida. Nem

pela televisão. Não que eu me lembre e que tenha ficado uma imagem marcada. Em tão

o meu primeiro contato foi ali, e a partir dali começaram a surgir algumas dúvidas, justa-

mente pelo meu histórico religioso. Eu nasci num lar adventista, passei pela igreja pro-

testante e depois fui batizada e crismada na igreja católica. Quando você passa por vá-

rias experiências religiosas, você começa a questionar certas coisas. Até os 10 anos de

idade eu fui vegetariana, completamente vegetariana, aí, com o falecimento do meu pai,

e minha mãe trazendo uma outra proposta religiosa, a gente começou a aderir outras

coisas na nossa alimentação e na nossa vida, no nosso cotidiano. E também eu me

questionava em relação ao fato de ser vegetariana; depois me questionava ao fato de

comer carne, tudo assim, tudo foi uma problemática na minha adolescência, porque to-

das essas perguntas me vinham; o que era certo, o que não era certo. O adventista, as-

sim, dentro do templo adventista não tem imagens; Já o templo católico é cheio de ima-

gens. A igreja protestante já tem outra denominação, então, ter vivido estas três experi-

ências fez com que eu me questionasse muito. Eu acho que Deus me colocou de frente

à religião islâmica, não acho que a gente escolhe Deus, acho que Deus escolhe a gente,

não é? Uma vez que ele me mostrou três caminhos, e eu vivi estes três caminhos, eu fui

posta em um outro caminho, fui posta de frente a esse outro caminho.

Eu tive que olhar as quatro vertentes que eu tinha e ver o que era o mais certo, o que

eu acreditava ser o mais certo, e aonde eu conseguiria seguir com convicção, com dire-

ção, assim... com a certeza de que eu não estaria fazendo algum mal para lado algum.

Fo

to:

Rod

rig

o M

eq

uela

zzo

05

Page 6: Salam Aleikum, Brother!

SAB - A dúvida ou a certeza te levou até o Islã?

Verônica - Eu acho que a gente nasce com sede de Deus. A gente nasce com aqueles

questionamentos que são típicos do ser humano: Porque que eu nasci? Porque que eu

estou aqui? Qual é a finalidade dessa vida? Não é possível que isso aqui só seja isso. E

quando você também se vê de frente com a perda de entes queridos como eu que perdi o

meu pai, ainda muito jovem, essas questões parece que vêm ainda mais fortes. E o fato

de eu ter vivenciado várias religiões no decorrer da minha vida, também me fez questio-

nar com muito mais pertinência a questão do divino em mim, na minha vida, na vida dos

meus parentes. Isso sempre foi um conflito, dentro da minha casa, muito grande. Então,

eu acho que esse questionamento nunca parou de existir comigo, só se tornou mais evi-

dente com a vinda de uma outra proposta, que vinha com uma outra ideologia religiosa.

Aí a partir daí eu conheci a religião islâmica, que conheci por um Sheik que hoje já é fale-

cido, que era tio do meu marido; e eu nem conhecia meu marido, se conhecia era apenas

de vista; Ele começou a questionar coisas do dia a dia, como a roupa, a vestimenta, como

a unicidade de Deus, para quem você reza, quantas vezes você reza e como é a sua ora-

ção; e eu me questionava também... Eu peço para Deus? Eu peço para Jesus? Eu peço

para a Virgem Maria? Para o Espírito Santo? Porque a gente não tem uma resposta con-

creta sobre isso dentro da igreja. E eu disse: Eu rezo para Deus, para Jesus... eu rezo!

Quando eu estou aflita eu rezo, e rezo à noite normalmente porque é um hábito cristão

rezar antes de dormir, mas eu não sei pra quem eu rezo. Depende do momento, às vezes

eu penso que é um problema tão feminino que eu falo: Virgem Maria me ajuda! Ou às ve-

zes eu acho que Jesus está mais próximo, então eu falo para Jesus, ou seja, eu não tinha

certeza para quem pedir, e não sabia se estava pedindo certo ou errado; eu pedia, de-

pendendo do meu momento e do momento que eu estava passando ali.

Aí ele questionou se, mesmo tendo dificuldade com o português, assim, mas ele fala-

va: Verônica, se Deus é um só, Deus não pode ser três, não é? Se Deus é único, e se to-

das as religiões... não com essas palavras... é lógico, mas ele dizia assim, que se todas

as religiões são monoteístas e acreditam em um Deus único, você não pode dividir Deus

em três e pedir a cada momento para quem você achar que te convêm.

Fo

to: R

od

rigo

Me

qu

ela

zzo

06

Page 7: Salam Aleikum, Brother!

E eu falei, realmente faz sentido, assim, até você trazer isso para a sua vida, até você

racionalizar a ponto de trazer isso para a sua vida, para o seu dia a dia, é muito difícil. É

uma vida fazendo coisas que não condizem com aquela prática, então você tem que

b u s c a r r e s p o s t a s q u e i n d i c a m a q u e l a v e r d a d e .

Teve um dia que eu tive um momento de muita aflição, nesse momento eu já conhe-

cia o meu marido e ele também me fazia muitos questionamentos; e não sei o que houve

naquela noite, mas me lembro que cheguei em casa e tomei um banho completo, que é

de costume do muçulmano, que é fazer a ablução antes de fazer a oração; mas não sei

porque, senti a necessidade de tomar um banho completo, e tomei. Agachei na minha

cama, eu tinha a bíblia na beira da minha cama e perguntei: Deus, por favor, me mostre

a resposta. Não é possível que eu, que passei por tantas experiências assim, não a en-

contre. Mas quero que ela esteja no seu livro, pois é nele que eu acredito. Embora me

trouxessem outros, era aquele que eu acreditava naquele momento; aí eu abri em Jo-

ão:11, e estava escrito, “...que vocês se preparem para a vinda de mais um mensageiro,

digo isso em vida, para que quando isso acontecer que vocês não duvidem, virá para

confirmar tudo o que eu já disse. Acreditem na vinda desse profeta.” Nesse momento o

meu coração sabia que o Islã era a verdade, mas a minha racionalidade, a minha vida

não me permitia me converter ali, naquele momento; mas naquele momento o Islã en-

trou dentro de mim. Por intermédio da Bíblia eu cheguei até o Islã.

Eu me casei cristã. Não me converti antes de me casar, eu sempre fui muito dura,

nunca quis fazer nada por causa disso ou daquilo, não

tinha me convertido até então; e depois de um ano, lu-

tando contra as minhas verdades, porque isso é uma

briga interna, é você se questionar a todo momento e de

repente falar: Deus, agora eu me entrego, agora eu ve-

nho aqui e confesso, e testemunho a crença em uma

outra religião. Depois de uns seis meses que eu estava

casa, falei que queria me converter, e foi de coração,

quando achei que estava pronta para aquilo de verdade.

E para se converter é muito simples, basta acreditar que

Deus é único, e testemunhar que depois do profeta Je-

sus veio um outro mensageiro; e foi isso o que eu fiz.

Tendo feito isso na presença de duas testemunhas, vo-

cê é muçulmano. Acho importante destacar e não posso

deixar de falar sobre isso, eu não vivo o islamismo ape-

nas aqui na mesquita, quando chego em minha casa

não vivo mais o islamismo ou quando chego na univer-

sidade não vivo o islamismo, não. Ele está em todas as partes da minha vida. Ele não

me dá mais essa inquietação da dúvida, por exemplo, não tenho dúvidas se o jejum é

sagrado. Minha dúvida hoje é onde posso melhorar, e inshallah (se Deus quiser) eu vou

melhorar mais ainda!

Colo de Mãe Verônica com a filha no colo

durante a entrevista na mesquita de

São Bernardo do Campo

Fo

to:

Rod

rig

o M

eq

uela

zzo

07

Page 8: Salam Aleikum, Brother!

Sheik Mohamad Amame, coordenador religioso da Escola Islâmica Brasileira, nos conta um pouco sobre o jovem e a religião.

Salam Aleikum, Brother – Como é vista a questão da idolatria de ícones pop no islã?

Sheik Mohamad Amame - Na realidade nosso coração tem que ser em primeiro lugar para amar, adorar e gostar do nosso Criador. É claro que as pessoas gostam de outras pessoas, ou se espelham nelas, e para isso tem que haver um limite, não se pode gostar, amar e adorar uma pessoa como ele mais que ao seu Criador. Sempre o Criador em primeiro lugar, depois o Profeta Mohammed, depois os pais e por último a pessoa, que pode ser um jogador, um artista ou um cantor. O que tem que observar é qual é a profissão, e admirar o trabalho da pessoa e não a pessoa em si. O jovem pode gostar de um artista ou esportista, mas se a pessoa pratica algo que é contra a religião não pode ser aceito como exemplo.

SAB – Os jovens podem ter amizade, ou mesmo se casar com pessoas de outra religião?

Sheik Mohamad - A amizade da juventude com juventude de outra religião, não é proibida. Como a religião, a prática, a educação e a conduta islâmica vai chegar a outras pessoas se a juventude viver isolada? Na realidade, pode tranquilamente um jovem muçulmano ter amizade, fazer comércio, estudar, e até casar com pessoas de outras religiões. O muçulmano pode casar com uma menina cristã, ou uma menina judia.

08

Fo

to:

Sim

on

e A

lve

s d

o N

ascim

ento

Islam é paz! “A palavra ódio não com-bina com religião. Religi-

ão é amor, é paz.”

Page 9: Salam Aleikum, Brother!

SAB – Existe ódio entre muçulmanos e judeus? Sheik Mohamad - A palavra ódio não combina com religião. Religião é amor, é paz. Desde o início da história islâmica existe no mundo, judeus, cristãos, e várias outras religiões, nós os muçulmanos sabemos que Deus tem o poder de criar todos iguais, mas Deus também criou cada um com sua escolha, as pessoas podem escolher sua religião e seu modo de pensar. Os judeus, os cristãos e os muçulmanos, como religião, têm uma coisa muito próxima um do outro, mas se há alguma injustiça, vamos atrás disso. Dizer que religião muçulmana odeia a religião judaica, não tem nada a ver, hoje em dia há judeus que defendem a causa islâmica em países muçulmanos.

Sheik Mohamad com os alunos da Escola

Islâmica Brasileira.

09

Foto: Rodrigo Mequelazzo

Page 10: Salam Aleikum, Brother!

13

O jornalista Cláudio Júlio Tognolli, doutor pela ECA-USP, ganhador dos prêmios Jabuti, Esso, Folha de Jornalismo e de direitos humanos do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, fala da rela-ção jovem-mídia-religião.

Salam Aleikum, Brother - Qual o papel da mídia na satanização do islã?

Cláudio Júlio Tognolli - Acho que o papel da mídia, nessa dita satanização, é justamente

combater a religião que mais cresce no mundo, o islamismo tem 1 bilhão de adeptos no

mundo. e quando a gente fala em mídia, a gente fala em mídias como a Fox, por exemplo,

que fica querendo dizer que o islamismo, que é uma coisa belíssima, é o islamismo de Bin

Laden, então obviamente essa satanização promovida pelas mídias tendem a dizer que o

islamismo é o islamismo do talebanato. Acho que a gente não tá a salvo disso, porque a

mídia vive de generalizações e às vezes essa satanização nem é tão consciente, as pesso-

as simplesmente pegam notícias produzidas e reproduzem sem entrar em detalhes.

SAB - Na sua opinião qual o motivo do islã ser a religião que mais cresce no mundo?

Tognolli - O islã preve que uma das metas, segundo o Arcanjo Gabriel teria dito ao Profeta

Maomé na Noite do Destino, que ele teria que criar no mundo um 'jihad', um esforço para

confeccção para aquilo que eles chamam de UMA, uma comunidade em que todos são

iguais independentemente de credo ou de partido. Então esse igualitarismo pelo qual se

fundamenta o islamismo de fato, tem feito com que minorias no mundo todo que de alguma

forma se sentem rejeitadas por grandes sistemas religiosos, isso tem feito com que as mi-

norias façam essa aderência massiva ao islamismo, porque se sentem igualitariamente a-

ceitas no sistema da UMA.

SAB - O que você tem a dizer sobre o jovem no islã, sendo que o maior número de conver-

sões acontecem entre jovens?

Tognolli - Eu me preocupo muito com a ques-

tão do jovem muçulmano, que assim como o jo-

vem americano que é vítima do Partido Republi-

cano, o jovem muçulmano é vítima da Al Qaeda,

e que acredita que se ele explodir certas pesso-

as ele vai encontrar 80 mil virgens no Paraíso. A

pegada dele é muito parecida com a do nosso

jovem que quer ter uma banda pop e tocar na

MTV. Dizem os meus amigos que quem se ex-

plode e bota aquela fita pra tocar na televisão

depois de se explodir tem a mesma pegada con-

tracultural que tem um jovem que quer ver sua

fita tocando na MTV. Então, digamos que me

preocupa muito a questão da popização do ter-

rorismo, o terrorismo enquanto um elemento de

cultura pop para os desvalidos.

Fo

to:

Sim

on

e A

lve

s d

o N

ascim

ento

10

Page 11: Salam Aleikum, Brother!

O jornalista José Arbex Júnior, doutor em história social pela Uni-versidade de São Paulo; vencedor dos prêmios Vladimir Herzog e Jabuti, fala um pouco sobre a o motivo do islã ser a religião que mais ganha adeptos em todo o mundo.

Salam Aleikum, Brother - Não indiferente à realidade dos números de convertidos ao Islã no mundo, como você vê esta adoção pelos jovens brasileiros que vivem na periferia dos

grandes centros urbanos?

José Arbex Júnior - Se você pegar lá nos Estados Unidos, por exemplo, quando come-çou a luta dos negros pela democracia racial; aquelas grandes marchas de Martin Luther King, a luta pelos direitos civis, a luta contra a guerra no Vietnã; foi aí que surgiram também

os Panteras Negras, liderados por Malcolm X, que aderiu ao Islã. Quando Mohamad Ali – o Cassius Clay – um dos maiores lutadores de boxe de todos os tempos, quando ele foi convocado para ir para o Vietnã e não aceitou, e ele quis abraçar uma religião que expressasse a revolta dele, ele foi abraçar a religião islâmica com o nome de Mohamad

Ali.

Se você vai hoje nos guetos de Los Angeles ou Nova Iorque as pessoas se organi-zam para lutar contra a discriminação social, contra a pobreza. Muitas delas estão ade-rindo em massa ao Islã. Então, o Islã aparece como essa alternativa, uma alternativa principalmente para as camadas mais pobres da população, mais excluídas, mais mal-tratadas, mais criminalizadas, elas vêem no Islã essa alternativa justamente porque o Islã não faz parte desse mundo opressor, que é caracterizado pelas potências ociden-tais; agora atenção, eu não estou com isso querendo dizer que o Islã é a quinta maravi-

lha do mundo; eu mesmo não sou islâmico, eu sou ateu.

SAB - Porque as pessoas vêem no Islã isso? Elas vêem no Islã porque elas sabem que o que existe está ruim, então elas querem uma coisa que elas... que não existe a-

inda e que para elas pode ser uma solução.

Arbex - Além disso o Islã tem uma coisa muito interessante, que é... eles dão muita ênfase para a igualdade racial. O Alcorão, o livro sagrado do Islã, proíbe qualquer es-pécie de discriminação de raça, de cor ou por posse de bens, etcetera e tal, tanto que as pessoas que vão fazer a peregrinação para Meca, que é uma obrigação entre os islâmicos, essas pessoas têm de que vestir de branco, com a roupa uniforme para não poder, através da roupa dizer se é rico ou se é pobre. E não pode atender nenhuma espécie de discriminação.

Foto: Rodrigo Mequelazzo

11

Page 12: Salam Aleikum, Brother!

Jornalista argentino, âncora do programa Visión Siete Interna-cional da TV Pública Argentina (Canal Siete). É o único jorna-lista argentino laureado com dois prêmios Martín Fierro con-secutivos no jornalismo argentino.

Salam Aleikum, Brother - Sendo a Argentina o país com a maior comuni-

dade judia da América Latina, como é a convivência entre árabes e judeus aqui? Pedro Brieger - A relação entre judeus e muçulmanos, ou judeus e árabes,

porque há uma população cristã – importante – árabe na Argentina foi muito boa até a década de 40 quando se desenvolveu o sionismo e começou a fi-car mais claro que ia criar-se um Estado, o Estado de Israel. Até esse mo-mento, os judeus e os árabes compartilhavam instituições, porque grande parte dos judeus que estavam aqui, ou uma parte dos judeus que estavam na Argentina eram provenientes de países árabes, da Síria, do Líbano; por-

tanto tinham um pas-sado em comum, um idioma em comum e costumes em comum. Os judeus e os ára-bes, na Síria e no Lí-bano conviviam, não tinha sérios proble-mas entre eles. Na realidade, podemos dizer que os problemas aumenta-ram com a criação do Estado de Israel em 1948, e logo depois com a guerra de 1967. Pela primeira vez, na minha opinião,

as comunidades árabes e judias se deparam com um problema que é alheio a eles, porque a guerra, afinal de contas, não acontecia neste território, e sim no Oriente Médio. De qualquer modo também, há um ponto de distorções; depois dos atentados com acontecem na Argentina em 1992* e 1994**, quando… o governo, naquela época na Argentina, acusou diretamente o Irã como responsável pelos atentados à Embaixada de Israel, ainda que não houvesse nenhuma prova concreta que envolvesse o Irã no dito atentado. *Atentado contra a Embaixada de Israel na Argentina, ocorrido em 17 de março de 1992, fazen-

do 29 mortos e 242 feridos.

** Atentado contra a AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina), ocorrido em 18 de julho de

1994, matando 85 e ferindo outras 300 pessoas, em Buenos Aires.

Fo

to: K

elly

Cris

tina

Vie

ira

12

Page 13: Salam Aleikum, Brother!

Pedro Briegger nos Estúdios do Canal 7 -TV Pública

Fo

to:

Ke

lly C

ristin

a V

ieir

a

SAB - Em quê a juventude pode se envolver para poder contribuir para o desenvolvi-mento de um processo não de paz, mas sim de confiança? Existem impedimentos ou caminhos para isso? Pedro Brieger - Hum… pergunta difícil. Acredito que, quando falamos de jovens judeus ou jovens muçulmanos, temos que pensar sempre num contexto político. Aqui, na Ar-gentina, veja só, houve dois atentados, em 92 e em 94, isso gerou desconfiança entre comunidades que se conheciam muito pouco. Penso que muito dependerá do que acon-teça com as investigações a respeito dos atentados, se conseguirem descobrir quem foram os autores; enquanto não souberem quem foram os autores materiais, a suspeita vai continuar recaindo sobre os muçulmanos, e basicamente sobre o Irã, até que provem o contrário. Foi instalado no imaginário popular, no inconsciente coletivo de que o Irã é o responsável pelos atentados; Ainda que, insisto, não houve até agora nenhuma prova que envolva o Irã concretamente nesses atentados. Enquanto isso não fica claro, creio que continuará fervendo a desconfiança também nas novas gerações, ou seja, os jovens de hoje e os jovens de amanhã; e depois do resultado da investigação se determinará também o canal que poderão encontrar judeus e muçulmanos para manter contato entre si. Mas também tenho que ressaltar que na Argentina a comunidade judia é grande e a comunidade muçulmana é muito pequena.

13

Page 14: Salam Aleikum, Brother!

SAB - O Islã é visto, ainda, com desconfiança no Brasil, talvez pela demoni-

zação da religião pelos meios de comunicação ocidentais ou por falta de ins-

trução suficiente para ilustrar culturalmente um país predominantemente cató-

lico. Há realmente esta demonização do Islã na comunidade latinoamericana?

Pedro Brieger - Creio que depois da queda do Muro de Berlim, o Islã se

transformou no inimigo do ocidente, aos olhos dos ocidentais, e na política eu-

ropéia e norteamericana, especialmente na norteamericana é muito comum

buscar inimigos. Às vezes os identificam como uma pessoa, pode ser Stalin,

pode ser Fidel Castro, pode ser Khomeini; e isso vai mudando e depende das

circunstâncias. Depois da queda do Muro de Berlim, os Estados Unidos ficou

sem inimigos; a nova ordem mundial começava com a ofensiva militar quando

tiraram Saddam Hussein do Kuait, depois da invasão do Iraque ao Kuait em 2

de agosto de 1990, e então os Estados Unidos encontrou um inimigo, porque

é real, pois em grande parte do mundo árabe islâmico há uma forte oposição

às políticas que implementam os EUA. Satanizar ou demonizar o inimigo é al-

go que se costuma fazer, o fizeram com os japoneses, com os alemães duran-

te a segunda guerra mundial, e agora o fizeram também com um movimento

muito amplo, que está em grande parte envolvendo o mundo árabe e o mundo

islâmico também, no que supõe as políticas norteamericanas. O Islã é minori-

tário na Europa e nos Estados Unidos, e muitas de suas práticas não são co-

muns, não são usuais, não são muito conhecidas no mundo ocidental; e foi

muito fácil recorrer a muitas imagens para demonizar aos que se opunham a

uma política imperial, da mesma maneira que fizeram em outros momentos da

história.

SAB - De algum modo, é incômoda a presença dos muçulmanos em uma nação que os presume como autores de seus piores atentados já sofridos? Os enfrentamentos históricos entre muçulmanos e judeus impedem a quebra deste ciclo no mundo contemporâneo?

Pedro Brieger - Gostaria de ressaltar que aqui, a convivência entre árabes e

judeus foi muito boa, como eu dizia, até a criação do Estado de Israel e a guer-

ra de 1967. O que foi produzido pelos atentados de 1992 e 1994 foi a aparição

pública do Islã. Até aquele momento, creio que a maioria dos argentinos, inclu-

sive os judeus, não sabiam que existiam muitos muçulmanos na Argentina; e

de fato há poucos muçulmanos na Argentina. A visibilidade dos muçulmanos

era pequena, existem poucas mesquitas na Argentina, poucos cemitérios islâ-

micos na Argentina, portanto os muçulmanos não tinham uma grande presen-

ça pública. A presença pública começa com os atentados de 1992 e 1994 em

um contexto de demonização do Islã, de demonização do Irã e que se vê agra-

vado depois com o ataque das torres gêmeas em 2001; mas não há proble-

mas históricos de enfrentamentos entre judeus e muçulmanos, de forma algu-

ma.

14

Page 15: Salam Aleikum, Brother!

Cláudio Júlio Tognolli e equipe

José Arbex Júnior e equipe

Fo

to:

Ale

xan

dre

da

s N

eve

s

Fo

to:

Rod

rig

o M

eq

uella

zo

15

Page 16: Salam Aleikum, Brother!
Page 17: Salam Aleikum, Brother!

http://www.islambr.com.br/