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R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 317-329, jul./dez. 2006 Salário mínimo, benefício previdenciário e as famílias de baixa renda * * Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, da Abep, realizado em Caxambu – MG, de 18 a 22 de setembro de 2006. ** Professor Doutor do IE/Unicamp e pesquisador do Cesit- IE/Unicamp. *** Professora Doutora da PUC-Campinas e pesquisadora do Cesit- IE/Unicamp. **** Aluna do curso de mestrado em Desenvolvimento Econômico, área de concentração Economia Social e do Trabalho do IE/ Unicamp. ***** Aluna de graduação do IE/Unicamp e auxiliar de pesquisa do Cesit- IE/Unicamp. Cláudio Salvadori Dedecca ** Eliane Navarro Rosandiski *** Carolina Veríssimo Barbieri **** Adriana Jungbluth ***** Este artigo tem foco nas famílias com rendimento per capita de até ¼ do salário mínimo. São analisadas as condições de inserção no mercado de trabalho e a influência dos benefícios previdenciários para o padrão de renda auferido. A preocupação, portanto, volta-se para a importância dos benefícios da previdência, no sentido de atenuar a fragilidade de renda destas famílias e as conseqüências da desvinculação do valor do seu piso do salário mínimo para este padrão de rendimentos. Analisando-se as características dos componentes das famílias de baixa renda, observa-se que, diante das transformações estruturais no processo de produção e do cenário conjuntural da economia brasileira, aqueles com idade ativa não apresentam os pré-requisitos necessários para se inserirem de forma digna no mundo do trabalho. Dessa forma, o estudo da composição da renda das famílias mais pobres mostra que a renda dos inativos – aposentados e pensionistas – é fundamental para retirar tais famílias do limite da linha de pobreza. O perfil dos componentes das famílias será analisado a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD/IBGE – para 2004, segundo idade, nível de escolaridade, cor ou raça e inserção no mercado de trabalho propriamente dita: tipo de atividade exercida e posição na ocupação. A comparação do perfil dos componentes das famílias mais carentes com o do total das famílias mostrará que as rendas de aposentadoria e pensão tornam-se fundamentais não apenas para diminuição da desigualdade, mas, fundamentalmente, para redução da pobreza. Palavras-chave: Salário mínimo. Previdência. Famílias de baixa renda. Transferência de renda. Introdução Este ensaio analisa as condições de renda das famílias de baixa renda. O critério adotado é aquele inscrito na Lei nº 8.742/ 93, que considera famílias de baixa renda aquelas que auferem rendimento per capita de até ¼ do salário mínimo. A análise procura explicitar a determi- nação do mercado de trabalho para a baixa

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R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 23, n. 2, p. 317-329, jul./dez. 2006

Salário mínimo, benefício previdenciário e asfamílias de baixa renda*

*Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, da Abep, realizado em Caxambu – MG, de 18 a 22 desetembro de 2006.** Professor Doutor do IE/Unicamp e pesquisador do Cesit- IE/Unicamp.*** Professora Doutora da PUC-Campinas e pesquisadora do Cesit- IE/Unicamp.**** Aluna do curso de mestrado em Desenvolvimento Econômico, área de concentração Economia Social e do Trabalho do IE/Unicamp.***** Aluna de graduação do IE/Unicamp e auxiliar de pesquisa do Cesit- IE/Unicamp.

Cláudio Salvadori Dedecca**

Eliane Navarro Rosandiski***

Carolina Veríssimo Barbieri****

Adriana Jungbluth*****

Este artigo tem foco nas famílias com rendimento per capita de até ¼ dosalário mínimo. São analisadas as condições de inserção no mercado de trabalhoe a influência dos benefícios previdenciários para o padrão de renda auferido. Apreocupação, portanto, volta-se para a importância dos benefícios da previdência,no sentido de atenuar a fragilidade de renda destas famílias e as conseqüênciasda desvinculação do valor do seu piso do salário mínimo para este padrão derendimentos. Analisando-se as características dos componentes das famílias debaixa renda, observa-se que, diante das transformações estruturais no processode produção e do cenário conjuntural da economia brasileira, aqueles comidade ativa não apresentam os pré-requisitos necessários para se inserirem deforma digna no mundo do trabalho. Dessa forma, o estudo da composição darenda das famílias mais pobres mostra que a renda dos inativos – aposentados epensionistas – é fundamental para retirar tais famílias do limite da linha de pobreza.O perfil dos componentes das famílias será analisado a partir dos microdados daPesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD/IBGE – para 2004, segundoidade, nível de escolaridade, cor ou raça e inserção no mercado de trabalhopropriamente dita: tipo de atividade exercida e posição na ocupação. Acomparação do perfil dos componentes das famílias mais carentes com o dototal das famílias mostrará que as rendas de aposentadoria e pensão tornam-sefundamentais não apenas para diminuição da desigualdade, mas,fundamentalmente, para redução da pobreza.

Palavras-chave: Salário mínimo. Previdência. Famílias de baixa renda.Transferência de renda.

Introdução

Este ensaio analisa as condições derenda das famílias de baixa renda. O critérioadotado é aquele inscrito na Lei nº 8.742/

93, que considera famílias de baixa rendaaquelas que auferem rendimento per capitade até ¼ do salário mínimo.

A análise procura explicitar a determi-nação do mercado de trabalho para a baixa

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renda e a influência do rendimento previ-denciário para sua atenuação. Busca-seresponder, em primeiro lugar, se a baixa ren-da destas famílias decorre da não inserçãoeconômica no mercado de trabalho e, emsegundo lugar, se o benefício previdenciáriotem papel importante na renda destasfamílias.

Este exercício evidencia o papel do sa-lário mínimo para as famílias de baixa renda,bem como indica possíveis implicações dadesvinculação do piso previdenciário dosalário mínimo para o padrão de rendimentodessas famílias.

O artigo está dividido em quatro partes,além desta introdução. A primeira apresentaum quadro geral das condições de inserçãono mundo do trabalho, apontando algumascaracterísticas da década de 90 e dos anos2000. A segunda trata das característicasgerais das famílias de baixa renda. Emseguida, são apontados meios alternativosde sobrevivência dessas famílias, destacandoo papel da previdência social. Por fim, sãoapresentadas algumas considerações sobreas relações entre o padrão de rendimentosdas famílias de baixa renda, o mercado detrabalho, o benefício previdenciário e osalário mínimo, com o objetivo de contribuirpara o debate sobre as estratégias de políti-cas de renda para estas famílias.

Quadro geral das condições de inserçãono mundo do trabalho

Na década de 90, a adoção das políti-cas de abertura comercial e financeiramudou o padrão de absorção da populaçãoeconomicamente ativa (PEA). Neste novopadrão, houve redução acentuada da ofertade novos postos de trabalho que, diante docrescimento da PEA, alimentou uma ten-

dência recorrente de elevação da taxa dedesemprego (Tabela 1).

A redução da oferta de postos de traba-lho pode ser entendida como resultado dosprocessos de racionalização produtiva eadministrativa empreendidos pelas empre-sas, enquanto estratégia de sobrevivênciaem uma economia de baixo crescimento efortemente exposta a uma concorrênciaexterna. O baixo desempenho econômicoafetou, ademais, a evolução das receitaspúblicas, obrigando os governos a raciona-lizarem também suas atividades, contendo,dentro de certos limites, o aumento doemprego público. Também a estratégia dapolítica econômica foi associada à privati-zação de parte importante do setor produtivoestatal, que exigiu a redução de seu nívelde emprego.

Dois outros processos ainda reiterarama perda de capacidade de gera-ção denovos postos de trabalho: a queda da taxade inflação, induzindo alterações nasestratégias das instituições financeiras, quereduziram fortemente seu volume deempregos; e a concorrência externa, que,em um contexto de valorização cambial,exigiu um reordenamento do setor agrícolacom destruição ponderável de postos detrabalho nesse setor.

Do ponto de vista do mercado de traba-lho, a menor oferta de ocupações traduziu-se em mudança dos processos seletivos decontratação adotados pelas empresas. Aoferta abundante de mão-de-obra reque-reu, inclusive, que as empresas adotassemestratégias de recrutamento que reduzis-sem os custos do processo de seleção. Umdos mecanismos utilizados foi a exigênciade escolaridade mínima, mesmo que ospostos de trabalho não requisitassem talqualificação na execução das tarefas. Ao

TABELA 1Taxas de participação, ocupação e desemprego

Brasil – 1992-2004

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.

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demandarem escolaridade mínima, as em-presas reduziam (e ainda reduzem) a fila depostulantes aos postos ofertados, monitoran-do os custos incorridos com o processo decontratação. Quando se analisa o perfil damão-de-obra segundo escolaridade, perce-be-se que o maior grau de instrução tem pas-sado a ser um requisito progressivamenterelevante no recrutamento de pessoas nomercado de trabalho (Tabela 2).

Um dos efeitos deste processo de reor-denamento do mercado de trabalho foi,como aponta Baltar (2005), uma mudançaradical na composição da ocupação comdiminuição da participação dos jovens eredução do emprego nas grandes empresas.No que se refere à posição na ocupação, oreordenamento alimentou um aumento ex-pressivo dos empregados sem carteira detrabalho assinada e do trabalho autônomo.Tal movimento, entretanto, começou a ser par-cialmente revertido em 2004, com a expan-são do emprego com carteira assinada.

As novas condições de inserção nomercado de trabalho, ainda segundo Baltar(2005), associaram-se a transformações naestrutura de remunerações. Observou-seuma ampliação acentuada de ocupados nasfaixas de remunerações mais baixas. Houveaumento significativo na proporção depessoas ganhando menos de três saláriosmínimos, sendo que quase três quartos dototal de ocupados, em 2003, tinham remu-neração inferior a um salário mínimo.

Essa aproximação da estrutura deremuneração ao redor do salário mínimotem estimulado o debate do papel dapolítica de salário mínimo na economia. Deum lado, pode-se argumentar que o saláriomínimo tem a função de sustentar osrendimentos de base no mercado de

trabalho e reduzir as desigualdades. Deoutro, a existência de inserções não formaisno mercado de trabalho diminui o efeito dapolítica de valorização do salário mínimosobre o total das pessoas ocupadas. Nestesentido, seria importante que a política fos-se acompanhada de outros instrumentosque elevassem o grau de cobertura daregulação pública sobre o mercado detrabalho.

Também é fundamental considerar osimpactos da política de valorização dosalário mínimo sobre aquelas de proteçãosocial, mais especificamente nas políticasde transferência de renda, como aposenta-dorias e pensões, tanto em relação ao gastocomo à receita.

Há razoável convergência de que essaspolíticas contribuem para atenuar a pobrezano país, devido à sua efetividade para asfamílias de baixa renda. Espera-se, inclu-sive, que as pessoas mais carentes sejamas mais beneficiadas por uma política devalorização do salário mínimo, devido aoseu maior impacto sobre os benefíciossociais de menor valor.

Apesar de não analisar a importânciada política de valorização do salário mínimopara as políticas de transferência de rendae suas relações com a questão distributiva,este trabalho procura evidenciar a rele-vância de tais políticas para a sobrevivênciadas famílias de baixa renda, por afetaremsignificativamente os níveis de rendimentosdesta população.

Características gerais das famílias debaixa renda

Antes de apresentar as característi-cas das famílias de baixa renda, faz-se

TABELA 2Distribuição dos ocupados, segundo nível de escolaridade

Brasil – 1992-2004

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.(1) Inclui as pessoas com ensino médio incompleto.

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necessário definir quem são essas famílias.Em geral, o primeiro passo para identificá-las é determinar uma linha de pobreza. Se-gundo Barbieri (2003), as linhas nacionaisde pobreza variam, fundamentalmente, deacordo com o perfil da população e a es-trutura de renda de cada país. No Brasil, oatual governo adotou uma linha de pobrezaque orientou a implementação de suaprincipal política pública de cunho social –o Programa Fome Zero –, que definiu arenda familiar per capita de R$ 71,53 aomês. Em 2004, o governo reordenou aspolíticas de transferência de renda, con-solidando-as no Programa Bolsa-Família.O Fome Zero foi mantido enquanto um co-njunto amplo de políticas de renda, pro-dução e consumo.

A Lei nº 8.742/93 definiu como famíliacarente – o que se pode conceituar tambémcomo família de baixa renda – aquela cujarenda mensal per capita é inferior a ¼ dosalário mínimo. Entretanto, defende-se quea renda per capita utilizada para definir taisfamílias deveria ser de um salário mínimo,o que explica a limitada recorrência do valorlegal (ANFIP, 1995, p. 75-76).

Tendo em vista que o foco deste artigonão é discutir a linha de pobreza propria-mente dita, mas sim apresentar as caracte-rísticas das famílias de baixa renda, consi-deram-se aqui aquelas cuja renda totalmensal era de até R$ 260,00 em 2004, ouseja, possuíam um poder de compra totalequivalente a um salário mínimo. Como asfamílias de baixa renda, analisadas nestetexto, tinham em 2004 uma média de quatrocomponentes, seu rendimento per capitacorrespondente àquele determinado na Leianteriormente citada.

As características dessas famílias, bemcomo sua evolução no período de 1995 a2004, foram obtidas a partir dos microdadosda PNAD, que podem dar evidências daspossíveis alternativas que elas possuem parasobreviver. As Tabelas 3 e 4 apresentam adistribuição das famílias por região geográ-fica no período em questão.

No Brasil, em 1995, existiam poucomais de 39 milhões de famílias, chegandoa quase 53 milhões em 2004.

A distribuição espacial do total defamílias se modificou entre 1995 e 2004, demodo que ampliou a participação relativa do

TABELA 3Distribuição das famílias e média de pessoas, por faixa de renda familiar, segundo regiões

Brasil – 1995

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.

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Norte ao mesmo tempo em que diminuiu ado Sudeste e, em menor intensidade, a doNordeste. Seguindo a tendência geral, asfamílias de baixa renda tiveram sua par-ticipação relativa ampliada no Norte.Contudo, é interessante destacar que, ape-sar de o Sul não ter perdido participaçãorelativa no total de famílias, o percentual defamílias pobres nesta região reduziu-se deforma significativa. As demais regiõesmantiveram as mesmas proporções entre ototal de famílias e as de baixa renda noperíodo em questão.

Complementando a análise regional, osdados da distribuição das famílias segundoa renda familiar, em 2004, mostram que, noNordeste, a participação daquelas comrenda de até um salário mínimo ultrapassava27%, enquanto as com renda familiar percapita de até um salário mínimo chegavama 75% do total de famílias da região (Tabela5). O Norte apresentava o segundo pior perfilde renda familiar. Nas demais regiões asproporções ficavam abaixo da médianacional, com destaque para a Região Sul,onde apenas 7,7% das famílias

TABELA 4Distribuição das famílias e média de pessoas, por faixa de renda familiar, segundo regiões

Brasil – 2004

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.

TABELA 5Distribuição de pessoas e famílias, por faixa de renda familiar, segundo regiões

Brasil – 2004

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.

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apresentavam renda familiar abaixo de umsalário mínimo.

Uma vez conhecida a extensão dapresença de tais famílias, a questão a serabordada diz respeito à sobrevivência daspessoas que as compõem. Para isto, énecessário fazer sua caracterizaçãosocioeconômica.

Iniciando com os indicadores gerais demercado de trabalho, observa-se que a taxade participação apenas ampliou-se para ototal de famílias. No entanto, o mercado detrabalho se revelou pouco favorável paraabsorver os indivíduos das famílias de baixarenda, visto que a taxa de participação,entre 1995 e 2004, diminuiu de 52,5% para49,7% no caso daquelas com renda familiarde até um salário mínimo. Essa baixa capa-cidade de absorção pode ser evidenciadaquando se constata que a taxa de desem-prego, no período, subiu de 8,5% para18,3% da PEA – percentual considera-velmente superior ao observado para o totalda economia (Tabelas 6 e 7).

Pela construção metodológica dasinformações que estão sendo analisadas,é de se esperar uma menor taxa de ocu-pação para as famílias de baixa renda e,justamente por isso, elas se encontramnessa situação. Entretanto, o argumento aser sublinhado é que o baixo dinamismoda economia afetou negativamente osindicadores de participação dessas famílias.

Felizmente, a renda dessas famíliasnão se restringe àquelas provenientes dotrabalho, sendo complementada por outrostipos de rendimentos, em especial aspensões e aposentadorias.

Os dados sintetizados nas Tabelas 8 e 9mostram de que maneira tais rendimentoscontribuem para a sobrevivência destasfamílias.

O movimento a ser destacado entre1995 e 2004, para as famílias de baixarenda, corresponde à menor participaçãodos ocupados e a uma ampliação daparticipação da renda previdenciária noconjunto de inativos e desempregados. Tal

TABELA 6Taxas de participação, ocupação e desemprego, por faixa de renda familiar

Brasil – 1995

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.

TABELA 7Taxas de participação, ocupação e desemprego, por faixa de renda familiar

Brasil – 2004

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.

TABELA 8Proporção de pessoas que recebem renda previdenciária, por faixa de renda familiar,

segundo condição de atividadeBrasil – 1995

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.

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informação complementa os dados disponi-bilizados sobre indicadores de mercado detrabalho, em que, provavelmente, o aumen-to do desemprego está associado ao indiví-duo que recebe algum benefício previden-ciário, mas ainda assim continua procuran-do uma vaga no mercado de trabalho, comobjetivo de ampliar a renda familiar.

Um outro argumento a ser abordadodiz respeito ao fato de os baixos rendi-mentos dos ocupados dessas famíliasestarem associados a uma inserção poucofavorável no mercado de trabalho.

Dessa forma, percebe-se que, apesarde o percentual de indivíduos que recebiamestas rendas ser menor nas famílias debaixa renda do que no total de famílias, suaimportância para sobrevivência das pri-meiras era decisiva.

A questão que se coloca a partir dessaconstatação é entender porquê tais famíliasdependem tanto da renda de pensão ouaposentadoria. Em geral, argumenta-se quetais rendas representariam um desestímuloao trabalho, visto que possibilitariam areprodução dos membros da família semque a remuneração decorresse de umaatividade produtiva. No entanto, esteargumento não encontra respaldo nas taxasde desemprego observadas.

Na verdade, as causas das taxas deocupação mais reduzidas nestas famíliaspodiam ser encontradas no perfil dos mem-bros em idade ativa que estão inseridos nomercado de trabalho. Segundo os dadosde 2004, tais pessoas eram fundamental-mente pardas e negras (60% e 8%,respectivamente) e aproximadamente 80%delas não possuíam o ensino fundamentalcompleto, enquanto o percentual comsuperior não chegava a 1%. Os ramos de

atividade em que tais pessoas se inseriameram a agricultura, o serviço doméstico e ocomércio e reparação.

Além disso, a forma de inserção destaspessoas deve ser considerada predomi-nantemente precária, visto que o trabalhoconta-própria sem contribuição previden-ciária representava 40% de sua ocupaçãototal, seguido pelo emprego sem carteirade trabalho assinada (32%) e pelo empregodoméstico sem carteira de trabalho (15%).Vale registrar que menos de 10% daspessoas ocupadas estavam inseridas emalguma atividade que regularizava ocontrato de trabalho (Tabela 10).

Estes dados apontam dois fatos preocu-pantes. Em primeiro lugar, as formas deinserção predominantes entre estas famí-lias, em geral, estão associadas à baixís-sima remuneração. A fragilidade da rendafamiliar não se associa à baixa inserção dosmembros no mercado de trabalho, mas simà baixíssima remuneração que estes aufe-rem. As informações disponíveis confirmamque a média dos rendimentos deste perfilde inserção, nos ramos de atividade men-cionados, ficava em torno de R$ 150,00, em2004, isto é, cerca de 60% do valor dosalário mínimo vigente naquele ano. Emsegundo lugar, o fato dessa inserção serprecária, inclusive do ponto de vista do nívelde remuneração auferida, faz com que otrabalhador fique completamente à margemde qualquer espécie de proteção traba-lhista. Só quando ele atingir a idade mínimapara se aposentar é que poderá contar comauxílio previdenciário de origem nãocontributiva.

Segundo os dados da Tabela 11, operfil das pessoas que recebiam algumtipo de rendimento oriundo de pensão e

TABELA 9Proporção de pessoas que recebem renda previdenciária, por faixa de renda familiar, segundo condição de

atividadeBrasil – 2004

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.

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TABELA 10Distribuição das pessoas que recebem rendimento de trabalho, por faixa de renda familiar, segundo atributos

pessoais e de inserção no mercado de trabalhoBrasil – 2004

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.(1) Inclui as pessoas com ensino médio incompleto.

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TABELA 11Distribuição das pessoas que recebem rendimento de aposentadoria e pensão, por faixa de renda familiar,

segundo atributos pessoais e de inserção no mercado de trabalhoBrasil – 2004

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD. Elaboração dos autores.(1) Inclui as pessoas com ensino médio incompleto.

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aposentadoria revela que mais de 85% eraminativos, pouco mais de 6% estavamdesempregados e cerca de 4% exerciamalgum tipo de ocupação, em 2004. Quandose avalia a situação das famílias em geral,observa-se que somente cerca de 26% dosque recebiam algum tipo de benefício tam-bém tinham algum membro inserido nomercado de trabalho. Esta característicaexplica o fato de o impacto positivo dastransferências de renda ser mais importantepara as famílias de baixa renda do que parao total das famílias.

Dessa forma, conclui-se que, em geral,os componentes das famílias que recebemremuneração decorrente de transferênciaspossuem características mais adequadaspara complementarem tais benefícios comas rendas do trabalho, cuja origem é funda-mentalmente de atividade agrícola e deinserções autônomas sem pagamento àprevidência. Nota-se, entretanto, que obenefício previdenciário tende a ser su-perior à renda propiciada pelo mercado detrabalho, reiterando, portanto, a situação deinsuficiência de renda destas famíliasdecorrente de sua inserção econômica.

Por outro lado, para reforçar este argu-mento, percebe-se que os componentes dasfamílias mais pobres que recebiam astransferências de renda possuíam caracte-rísticas que dificultam enormemente seuacesso ao mercado de trabalho. Resumida-mente, observa-se que cerca de 60% tinhammais de 65 anos e mais de 16% possuíamidade superior a 55 anos. Além disso, cercade 90% não haviam completado o ensinofundamental e, o que é mais grave, mais dametade não possuía sequer um ano deescolaridade. Por fim, encontra-se umaelevada presença de mulheres nesse grupo– cerca de 70%.

Uma questão sobre a dinâmica dessasfamílias mais pobres merece destaque:entre os poucos beneficiários que se inse-rem no mercado de trabalho como ocupa-dos, há uma forte presença na categoria“sem remuneração”. Esse fato indica que,provavelmente, além de contribuírem paraa renda familiar com seu benefício, elesainda participam da vida familiar ajudandoos membros da família que exercem algum

tipo de atividade produtiva. Como visto ante-riormente, são grandes as probabilidadesde tais atividades serem exercidas demaneira informal.

Alternativas para as famílias de baixarenda: mundo do trabalho versusprevidência social

A partir do exposto, deve-se, em pri-meiro lugar, salientar a importância de umapolítica de transferências de recursos paraas pessoas que não exercem atividadeprodutiva, por razões alheias à sua vontade.

Em geral, defende-se a importânciadesta política para redução dos diferenciaisde renda. No entanto, a realidade confirmaque tais políticas, por garantirem umamassa de recursos, são fundamentais paraa sobrevivência destas famílias, indepen-dentemente do impacto redistributivo.

Desde que o salário mínimo foi fixadocomo o piso de benefícios em respeito aospreceitos da Constituição de 1988, e todavez que se fala em aumentar o saláriomínimo, surge discussão sobre a neces-sidade ou não de se desvincular o valor dopiso de benefício e de contribuição domínimo legal. Por um lado, o governo alegaincansavelmente que o salário mínimo temseu aumento restringido por sua vinculaçãoao menor valor do benefício previdenciário(por questões de inviabilidade atuarial daprevidência e de desequilíbrio das finançaspúblicas). Por outro, argumenta-se quedesvincular o piso previdenciário do saláriomínimo provocaria uma maior marginali-zação dos beneficiários da previdênciasocial, em razão da maior parte deles vir aser obrigada a sobreviver com uma rendainferior ao salário mínimo, já reconhecida-mente insuficiente para cobrir as necessi-dades básicas das pessoas (ANFIP, 1995,p. 44; DAIN e MATIJASCIC, 2005, p. 71).

Também merece ser destacado que adesvinculação do benefício previdenciárioampliaria o volume de famílias e pessoascom renda per capita inferior a ¼ do saláriomínimo, o que exigiria aumento dos gastosdos outros programas sociais do governo,em razão das determinações da Lei nº8.742/93.

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Salário mínimo, benefício previdenciário e as famílias de baixa renda

Atualmente, há um conjunto importantede argumentos contrários à continuidadeda vinculação do piso previdenciário emesmo de outros benefícios sociais aosalário mínimo. Os argumentos são justifi-cados na suposta necessidade de equilíbrionas contas públicas e, em especial, daprevidência social.

Em geral, os defensores desta tese ar-gumentam que uma maior liberdade defixação do salário no mercado de trabalhoelevaria os rendimentos pagos a quemefetivamente contribui no processo de pro-dução de riquezas na economia.

Esta tese desconsidera que, desde1995, boa parte das remunerações é deter-minada por mecanismos endógenos ao mer-cado de trabalho, sendo que somente osempregados formais com renda próxima aopiso legal têm sua remuneração afetada pelapolítica do salário mínimo. Ademais, a reali-dade mostra que, a despeito de um mínimofixado, parcela ponderável de ocupadosaufere renda inferior ao salário mínimo e que,além disso, os rendimentos médios vêmapresentando tendência de aproximação aovalor do piso legal. No caso das famílias debaixa renda, observa-se a recorrência de umrendimento do trabalho inferior ao saláriomínimo. Isto é, os mecanismos de determi-nação salarial via mercado de trabalho nãotêm produzido o resultado esperado poraqueles que argumentam contra a políticapública de valorização do salário mínimo.

Um segundo argumento, tão conserva-dor quanto o anterior, mostra que os rendi-mentos oriundos de pensões e aposentado-rias, por serem mais elevados e garantidos,teriam um impacto negativo no estímulo aotrabalho. Ou seja, o indivíduo, através de umcálculo racional, preferiria não trabalhar, poisteria sua velhice garantida pela políticaprevidenciária do governo. Quanto a estaproposição, não seria razoável imaginar queesta seria uma ação calculada pelotrabalhador.

Ademais, os resultados deste ensaiomostram que a insuficiência de renda dasfamílias é produto da baixa remuneraçãoauferira nas ocupações de base do mercadode trabalho e não de sua baixa participaçãoeconômica.

Como dito anteriormente, num cenáriode pequeno crescimento econômico e comum mercado de trabalho cuja seleção detrabalhadores privilegia os mais jovens emais escolarizados, há um desafio para serenfrentado pelos componentes de famíliasde baixa renda: encontrar meios de sobre-vivência que os retire da situação de pobrezaextrema a que estão condenados pelaausência de vagas no mercado de trabalhopara pessoas com seu nível de qualificação.

Maia et alii (2005) confirmam que, naausência do acesso ao benefício da previ-dência social, a população em situação depobreza saltaria de 10 milhões para 25milhões de pessoas. Ou seja, para osautores, a ausência da renda previdenciáriaigualaria as condições entre o primeiro e osegundo decil de distribuição de renda dasfamílias.

Em termos normativos, também podeser encontrado respaldo para a política detransferência de renda. A OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT), em suaconvenção nº. 102,1 aprovada em Genebraem 1952, concebeu um conceito de Seguri-dade Social, que pautou a ConstituiçãoFederal de 1988 quanto à proteção socialde responsabilidade dos poderes públicos.Segundo esse conceito, a importância de seter um aparato de assistência social, aíincluindo, logicamente, a previdência social,está no entendimento de que a SeguridadeSocial é instrumento de transformação eprogresso social, ao invés de constituirobstáculo ao progresso econômico.

Dentro de um modo capitalista e, portan-to, excludente, de produção, “a SeguridadeSocial significa a proteção que a sociedadeproporciona a seus membros”. Além disso,

1 Convenção nº. 102 da OIT: “Seguridade Social é a proteção que a sociedade proporciona a seus membros, mediante uma sériede medidas públicas contra as privações econômicas e sociais que, de outra forma, derivam do desaparecimento ou em forteredução de sua subsistência como conseqüência de enfermidade, maternidade, acidente de trabalho ou enfermidade profissional,desemprego, invalidez, velhice e também a proteção em forma de assistência médica e ajuda às famílias com filhos” (ANFIP, 1995,p. 31).

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significa “dar aos indivíduos e às famílias atranqüilidade de saber que o nível e a quali-dade de sua vida não serão significativa-mente diminuídos, até onde for possível evitá-lo, por nenhuma circunstância econômica ousocial” (ANFIP, 1995, p. 31-32).

Considerações finais

O exercício analítico desenvolvidoneste trabalho confirma que a previdênciasocial vem sendo um mecanismo relevantepara superação da precariedade da situa-ção socioeconômica das famílias de baixarenda e, portanto, da situação de pobrezaextrema. No entanto, a questão que se colo-ca é sobre a viabilidade de adoção destasolução a médio e longo prazos.

Pode-se levantar um conjunto de argu-mentos humanitários incontestáveis para acontinuidade da política de transferência derecursos para os grupos sociais menosfavorecidos. No entanto, há certa fragilidadeem alguns deles pautados em questõeséticas, visto que podem facilmente serrefutados, dependendo da valoração moralque a sociedade conceda a eles.

Talvez o caminho em defesa de umapolítica de manutenção dos benefícios devaser encontrado na própria dinâmica defuncionamento da economia. Isto significalevantar a possibilidade de a políticaprevidenciária ser vista da mesma maneiraque as políticas de custeio, cuja finalidadeseria minimizar, ou, pelo menos, manter numpatamar mínimo a categoria de consumodas famílias. Este fato, como amplamenteaprendido nos manuais de economia, alémde reduzir as oscilações de demanda,poderia até gerar uma fonte maior de receita,em forma de tributos, para o Estado.

Contudo, a análise da condição derenda das famílias mais pobres mostraclaramente que a redução da sua depen-dência da política social depende damelhoria das condições do crescimentoeconômico, naquilo que se refere à suacapacidade de ampliar significativamente ovolume de novas oportunidades deocupação no mercado nacional de trabalho.

A elevação do nível de escolaridade éuma debilidade da inserção econômica das

famílias de baixa renda que deve ser atacadacom extrema prioridade pela política pública.Porém, o melhor perfil educacional somenteserá eficiente econômica e socialmente seforem criados novos postos de trabalho emvolume que permita a redução da fila.

A menor disputa pelos baixos postos detrabalho disponíveis é fundamental para asfamílias de baixa renda, mesmo que seu perfileducacional seja alterado. Afinal, estascontinuarão a ter nas ocupações de basedo mercado de trabalho seu espaço deinserção, as quais dependem fundamen-talmente do crescimento para melhoraremseus níveis de renda.

Portanto, a menor dependência das fa-mílias de baixa renda da política socialdepende do crescimento econômico e deseus efeitos dinâmicos sobre o mercado detrabalho. Sem dúvida, políticas públicas deeducação e qualificação poderão contribuirpara a virtuose deste movimento, apesarde não serem capazes de resolver os pro-blemas de emprego que estas famíliasenfrentam.

As políticas sociais são, portanto, instru-mentos necessários e eficientes para aproteção social das famílias de baixa renda,apesar desta condição social estrutural-mente desfavorável poder somente sermodificada por um crescimento econômicoque dinamize fortemente o mercado detrabalho.

Em face das condições atuais prevale-centes no mercado de trabalho, a políticasocial cumpre papel decisivo na susten-tação do atual poder de compra das famíliasde baixa renda, como, ademais, o saláriomínimo tem importância decisiva para suaevolução. Conclui-se, portanto, que a polí-tica de valorização do salário mínimo cumprepapel decisivo para as famílias de baixarenda, através da proteção social e não pormeio do mercado de trabalho. Para que estatenha maior efetividade através do mercadode trabalho e permita uma menor relevânciavia política de previdência, é necessário quese restabeleça uma trajetória de cresci-mento sustentado que crie uma capacidaderecorrente e respeitável de criação de novospostos de trabalho, em ritmo muito superiorao incremento natural da população eco-

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nomicamente ativa. Isto é, que se facilite aentrada no mercado de trabalho dos mem-bros das famílias de baixa renda, inclusivecom níveis de remuneração mais favoráveis.

Somente deste modo poderá se reduzir opapel da previdência social para as famíliasde baixa renda, sem incorrer em perda daproteção social limitadamente hoje existente.

Referências bibliográficas

ANFIP – Associação Nacional dos AuditoresFiscais da Previdência Social. Um fórumpara a Seguridade Social: saúde, assis-tência e previdência social. Brasília: Anfip,1995. 143 p.

BALTAR, P. Salário mínimo e mercado detrabalho. In: BALTAR, P. et alii (Orgs.).Salário mínimo e desenvolvimento.Campinas: Instituto de Economia/Unicamp,2005, p.41-48.

BARBIERI, C. V. Análise metodológica dosindicadores de pobreza. TCC - Instituto de

Economia/ Unicamp. Campinas: Instituto deEconomia/Unicamp, nov. 2003. 43 p.

DAIN, S.; MATIJASCIC, M. Finançaspúblicas, salário mínimo e seguridadesocial: as aparências enganam. In: BALTAR,P. et alii (Orgs.). Salário mínimo e desenvol-vimento. Campinas: Instituto de Economia/Unicamp, 2005, p. 71-90.

MAIA, A. G. et alii. A contribuição daaposentadoria para a distribuição de renda.Apresentado na Anpec, 2005. 19 p.

Recebido para publicação em 29/09/2006.Aceito para publicação em 06/11/2006.

Abstract

Minimum wage, social security benefits and low-income families

This article discusses families with per capita income of up to ¼ of the minimum monthly wagein Brazil. The conditions of participation in the labor market and the influence of social securitybenefits on the pattern of income earned are analyzed. The concern, therefore, is with theimportance of social security benefits in attenuating the fragility of the income of these familiesand the consequences of the gap between their income and the minimum wage for this patternof income. Characteristics of the members of low-income families showed that, in view of thestructural changes in the production process and the current juncture of the Brazilian economy,persons of active working age lack the pre-requisites for participating with dignity in the worldof labor. A study of the composition of the income of the poorest families shows that the incomeof inactive members (retired persons and pension receivers) is essential in preventing thesefamilies from falling below the poverty line. The profile of the members of such families isanalyzed on the basis of microdata from the National Household Survey by Sample (PNAD/IBGE) of 2004, according to age, educational level, color or ethnic group, and participation inthe labor market, strictly speaking. Factors studied include the type of work exercised and theposition in the occupation. The comparison of the profile of members of the poorest familieswith that of all families shows that the income of retired members and pension receivers areessential not only in reducing the fall in inequality, but basically in reducing poverty itself.

Key words: Minimum wage. Social security. Low-income families. Transfer of income.

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