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Salvação por Substituição
Por
Silvio Dutra
Out/2019
2
A474 Alves, Silvio Dutra Salvação por substituição Silvio Dutra Alves – Rio de Janeiro, 2019. 51p.; 14,8 x21cm 1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Fé I. Título. CDD 252
3
Para a salvação de pecadores haveria a
necessidade da satisfação plena da justiça de
Deus, para que houvesse o perdão da dívida do
pecador e por conseguinte a sua justificação e
regeneração para ser aceito como filho de Deus.
Isto foi feito pelo único modo pelo qual poderia
ser realizado, a saber, por SUBSTITUIÇÃO, por
Jesus ter assumido o lugar de pecadores..
Alguém que fosse completamente justo, idôneo
e perfeito deveria ficar no lugar do homem para
receber sobre si a penalização por sua culpa, e
quitar completamente a dívida do seu pecado.
Nenhum homem poderia fazê-lo porque todos
são pecadores.
Nenhum anjo seria apto também para este
propósito porque não têm a natureza humana, e
a lei da criação não permite que nenhuma
criatura tenha a sua natureza alterada.
“24 Disse também Deus: Produza a terra seres
viventes, conforme a sua espécie: animais
domésticos, répteis e animais selváticos,
segundo a sua espécie. E assim se fez.
25 E fez Deus os animais selváticos, segundo a
sua espécie, e os animais domésticos, conforme
4
a sua espécie, e todos os répteis da terra,
conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era
bom.” (Gênesis 1.24,25).
O Substituto deveria portanto, possuir a
natureza divina, e que assumindo também a
natureza humana ao lado da divina, teria poder
e qualificações suficientes para realizar as
muitas e grandes operações envolvidas na
salvação de pecadores, para as quais nenhuma
criatura, por mais excelente que fosse, estaria
qualificada.
A natureza original (divina) não seria extinta e
nem mesmo poderia ser porque Deus não pode
morrer, mas como também a natureza humana
que ele receberia não poderia ser aniquilada
porque é dotada de um espírito humano que não
pode também ser aniquilado porque não é
natural, deste mundo perecível, mas recebido
do próprio Deus, todavia, esta lei não se aplica ao
corpo físico humano que foi feito do pó da terra,
e que de um modo ou outro deveria retornar
para lá, para dar lugar ao corpo sobrenatural que
não é de carne e osso, que deve ser recebido
depois desta vida.
Assim, o que o Substituto ofereceria como
sacrifício seria o seu corpo, para que este
passasse por uma morte não natural ou
5
acidental, mas penal, por condenação como um
malfeitor, de modo a que desse cumprimento à
sentença da Lei sobre os pecadores, uma vez que
estes no dia do juízo não morrerão
acidentalmente, mas pela execução da sentença
penal da Lei e da justiça de Deus contra eles.
Uma vez executada a sentença da justiça divina
sobre o Substituto, Ele recobraria o seu corpo do
estado de morte, trazendo-o de volta à vida,
porque Ele é espírito vivificado e dá vida a quem
quer, pois sendo Deus não pode ser retido pela
morte, e este poder não se refere a si mesmo,
mas a todos os que quiser ressuscitar como seu
viu em seu ministério terreno especialmente no
caso de Lázaro.
“17 Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a
minha vida para a reassumir.
18 Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu
espontaneamente a dou. Tenho autoridade para
a entregar e também para reavê-la. Este
mandato recebi de meu Pai.” (João 10.17,18).
Como a sentença da justiça divina para o
pecador era a pena de morte, porque sendo a
ofensa feita contra Aquele que é a vida em si
mesmo, a pena não poderia ser diferente da
pena capital de morte espiritual e eterna.
6
Como a imputação do pecado e da condenação
do pecado foi feita com base na queda original
do cabeça de toda a raça humana, a saber, Adão,
isto foi feito deliberadamente por Deus, em Sua
infinita sabedoria, para possibilitar a aplicação
do plano de redenção pela via da substituição,
pois ao condenar a todos em um, Ele seria justo
em justificar a muitos que se unissem ao
Substituto designado para ser a nova cabeça da
raça, a cabeça de uma geração não natural,
como no caso do primeiro Adão, mas espiritual,
como de fato são espirituais, novas criaturas
nascidas de novo pelo Espírito Santo em razão da
fé em Cristo,
Uma vez que o trabalho da expiação do pecado
fosse realizado pela morte do Substituto na
forma designada, a saber, como maldito de
Deus, carregando sobre Si a maldição da Lei que
pairava sobre os redimidos, haveria
necessidade que o próprio Substituto fosse
justificado em Sua obra pela ressurreição, de
modo a poder realizar a justificação destes
redimidos.
“Evidentemente, grande é o mistério da
piedade: Aquele que foi manifestado na carne
foi justificado em espírito, contemplado por
anjos, pregado entre os gentios, crido no
mundo, recebido na glória.” (I Timóteo 3.16).
7
“24 mas também por nossa causa, posto que a
nós igualmente nos será imputado, a saber, a
nós que cremos naquele que ressuscitou dentre
os mortos a Jesus, nosso Senhor,
25 o qual foi entregue por causa das nossas
transgressões e ressuscitou por causa da nossa
justificação.” (Romanos 4.24,25).
Aquele que redimisse o pecador, nos termos da
aliança que fizera com Deus Pai, antes mesmo
que houvesse mundo, deveria também se
responsabilizar pelo aperfeiçoamento espiritual
dos redimidos, pela santificação, até conduzi-los
em segurança à glória, sem a perda de qualquer
um deles.
Daí ser dito nas Escrituras que Cristo
ressuscitou para a nossa justificação.
É somente quando há arrependimento e fé real
em Cristo que a obra da redenção se consuma,
porque até então, os eleitos permanecem
mortos em delitos e pecados, de modo que a
eficácia da obra do Substituto só pode ser
consumada quando a fé nEle e na Sua obra se
manifesta na eleito.
Até então, os benefícios do Substituto não
poderiam ser aplicados, porque há esta
8
necessidade de um novo nascimento do
Espírito, que ocorre no momento mesmo em
que a fé salvadora se manifesta, uma vez que
Deus determinou que o justo viveria pela fé, ou
seja, a justiça seria imputada e implantada
somente naquele que viesse a crer em Cristo,
porque é nEle, na união espiritual com Ele, que
se encontra a vida eterna e o perdão dos
pecados.
Registramos a seguir algumas citações de
Thomas Boston sobre este assunto.
Enquanto não havia pecado, não havia lugar
para satisfação de pecado. Mas o novo pacto
deveria ser estabelecido sob a condição de uma
satisfação pelo pecado; porque a lei quebrada ou
pacto de obras insistia nisto como condição de
vida para os pecadores, em virtude de sua
penalidade em que eles incorreram. No entanto,
estava além do poder deles responder a essa
exigência da lei. Se então o Mediador terá uma
semente trazida do estado de morte, em um
estado de vida e salvação, ele deve comprá-los
da mão da justiça, estabelecendo um preço para
cada alma deles, 1 Coríntios 6:20.
Consequentemente, todos os pecados de cada
um deles, desde o primeiro pecado a partir do
nascimento deles, até o último pecado com o
9
qual eles devem expirar, sendo previsto por
Deus desde a eternidade, foram resumidos
como tantas violações da lei ou pacto de obras: e
foi feito outro artigo condicional da aliança da
graça, "Que Cristo, como pessoa pública, deve
satisfazer plena e completamente por todos
eles." Isa. 53: 6, "O Senhor colocou sobre ele a
iniquidade de todos nós”; comparado com
Lev. 16:21, "Todas as iniquidades dos filhos de
Israel, e todas as suas transgressões em todos os
seus pecados".
Agora, neste artigo condicional da aliança da
graça, havia três coisas estabelecidas.
Primeiro, "que Cristo, como pessoa pública,
deve satisfazer por eles através do sofrimento",
Lucas 24:26, "Cristo não deveria ter sofrido?",
sendo passível de sofrer pela satisfação da
justiça: e nada além de sofrer poderia ser aceito,
como compensação do dano causado pelo
pecado, à honra de Deus, na violação de sua
santa lei. Milhares de carneiros, e dez milhares
de rios de azeite estavam sob o comando do
Mediador; toda prata e todo ouro, e as coisas
preciosas da terra e dos mares, estavam à sua
disposição, mas nada disso poderia ser útil nesta
barganha; eles eram todos sem valor em um
tratado para a redenção da alma, Miqueias 6: 6,
7, 8; 1 Pedro 1:18. Somente seu próprio
10
sofrimento poderia ter valor aqui. Que o Filho de
Deus deveria sofrer, foi de fato uma proposta
incrível; mas era necessário, a fim de fazer
satisfação à justiça divina pelo nosso pecado.
Segundo: "Que ele deveria sofrer a mesma
punição que deveriam ter sofrido os eleitos em
virtude da penalidade do pacto quebrado das
obras"; e isso foi a morte em toda a sua latitude e
extensão. Isso aparece na penalidade dessa
aliança, da qual foi declarada a dívida de
satisfação:
"No dia em que comeres, certamente morrerás",
Gênesis 2:17; comparado com a morte de Cristo,
isto é, no lugar de pecadores, tão
frequentemente mencionados nas Escrituras,
“6 Porque Cristo, quando nós ainda éramos
fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.
7 Dificilmente, alguém morreria por um justo;
pois poderá ser que pelo bom alguém se anime
a morrer.
8 Mas Deus prova o seu próprio amor para
conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,
sendo nós ainda pecadores.”, Romanos 5: 6-8.
11
“9 porque Deus não nos destinou para a ira, mas
para alcançar a salvação mediante nosso Senhor
Jesus Cristo,
10 que morreu por nós para que, quer vigiemos,
quer durmamos, vivamos em união com ele.”, 1
Tes. 5:9,10.
E está confirmado que a Escritura ensina: que
todos por quem Cristo morreu morreram nele,
2 Coríntios. 5:14, "julgando nós isto: um morreu
por todos; logo, todos morreram."; ou então
todos morreram, a saber, nele; assim quando
eles pecaram e se tornaram passíveis de morte
em Adão.
Assim diz o apóstolo: "Eu estou crucificado com
Cristo ", Gal. 2:20.
Para clarear esse propósito, duas coisas devem
ser distinguidas nessa morte que foi a
penalidade da aliança de obras.
1. O que era essencial para ser envolvido na
própria natureza da coisa chamada morte no
estilo dessa aliança. E isso pode ser
comprometido nestes dois:
(1) A maldição,
12
(2) execução infinita; o primeiro legalizando a
morte, o segundo tornando-o real e satisfatório.
2. O que lhe foi acidental, decorrente, não da
natureza da coisa em si, mas da natureza da
parte que morreu aquela morte. E isso é de dois
tipos.
(1.) Há algo surgindo da natureza do moribundo,
como ele é uma mera criatura; tais como a
eternidade do castigo e desespero da vida.
(2.) Algo surgindo da natureza do moribundo,
como ele é uma criatura pecaminosa ou sujeito
de pecado inerente; como a extinção da relação
de poupança entre Deus e a alma, despojando-a
da imagem de Deus, e a corrupção e dissolução
do corpo.
Agora, o essencial dessa morte que deveríamos
ter sofrido em virtude da penalidade do pacto
quebrado das obras, foram estabelecidas, como
parte da condição da aliança da graça, em Jesus
Cristo, a ser sofrida por ele, para nós. Pois ele foi
"amaldiçoado por nós", Gal. 3:13, e "se entregou
por uma oferta e um sacrifício a Deus por um
aroma agradável ", Ef. 5: 2, isto é, um sacrifício
igual à ofensa infinita decorrente do nosso
pecado; donde dele é dito: "Porque, com uma
única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos
13
estão sendo santificados.", Hb 10:14. Mas os
acidentes daquela morte não fizeram parte da
condição da aliança imposta a ele: nem
poderiam eles ter sido colocados nele; desde
que ele não era um sujeito de pecado inerente,
nem ainda uma mera criatura. No entanto,
ainda era a mesma morte que deveríamos
sofrer; na medida em que o essencial era o
mesmo.
Então, os corpos dos santos, que agora são fracos
e corruptíveis, deverão alcançar a ressurreição
que é poderosa e incorruptível, ainda assim os
mesmos corpos; uma vez que essas qualidades
são apenas acidentais ao corpo humano. Então,
no caso de compensação da dívida, porém, o
mutuário não poderia pagá-la, senão em grande
quantidade de dinheiro, e que avançou pouco a
pouco por um longo tempo: o que também o
arruinaria: ainda, se seu rico fiador pagasse tudo
de uma vez, em um pouco de ouro; é evidente,
seria o pagamento da mesma dívida, desde que
igualasse totalmente o montante
emprestado. Não, confinando nossa visão da
própria morte, que é a noção geral apropriada
em questão, vamos colocar o caso, que dois
homens, igualmente culpados do mesmo
crime, são colocados sob uma e a mesma
14
sentença de morte; e isso é executado sobre os
dois: mas esse é por um milagre ressuscitado
para a vida, o outro apodrece no túmulo. É
evidente neste caso, que a morte que eles
morreram, é a mesma morte, respondendo à
mesma estimativa que a lei fez do crime; e que,
portanto, a morte do primeiro satisfaz a lei, bem
como a morte do último, de modo que não pode
alcançar sua vida novamente por esse crime: no
entanto, não é menos evidente que há uma
enorme diferença entre a morte de um e de
outro, em coisas acidentais, particularmente na
duração ou continuidade da mesma. Portanto,
concluímos que, como Cristo deu a mesma
obediência ativa à lei que deveríamos ter dado
em virtude da condição da aliança de
obras; então ele sofreu o mesmo castigo da
morte que deveríamos ter sofrido em virtude da
penalidade do pacto quebrado: na medida em
que, qualquer diferença que houvesse em
acidentes, o essencial era o mesmo; sendo
imposta a ele, na nova aliança, sofrer a morte
por nós, igualando a ofensa infinita decorrente
de nossos pecados, sendo totalmente
proporcional à estimativa que a lei e a justiça de
Deus fizeram de nosso crime.
E assim, como se diz, dois grandes pontos foram
estabelecidos na parte condicional da aliança.
15
1. "Que a maldição da lei que nos foi causada por
nossos pecados seja transferida para o
Substituto como o segundo Adão, nosso
representante; pelo qual ele deveria ser
instantaneamente um homem morto por sua
semente." Ou eles , como os demais, devem
suportar a maldição: pois está escrito: Maldito
todo aquele que não continuar em todas as
coisas escritas na lei. "Uma vez que Deus havia
anexado a ameaça da morte à sua primeira
aliança, dizendo: "No dia em que o comeres,
certamente morrerás"; a verdade de Deus
assegurou que a maldição ocorresse, tão logo
que o pecado entrasse. Agora, eles não foram
capazes de suportar, sem serem arruinados com
isso. Mas para que pudessem suportar, e eles
também serem salvos, foi providenciado, para
que ele fosse colocado debaixo dela, em seu
lugar; que, como ele foi feito pecado por eles,
também deveria, em consequência disso ser
amaldiçoada por eles, Gal. 3:13.
A maldição é a sentença da lei violada passada a
uma pessoa, ligando-a à ira vingativa de Deus,
para a satisfação plena de justiça. Então esse
mistério terrível e tremendo está aqui. Cristo
deve comparecer perante o tribunal da santa lei,
como pecador; responsável por todos os
pecados de todos os eleitos, em virtude de seu
vínculo de fiança registrado no registro do céu:
16
e sentença deve passar sobre ele, julgando e
obrigando-o a sofrer toda a ira vingativa que
seus pecados mereciam. O Cordeiro de Deus
disse: "Eis que eu venho:" assim foi feito, ele foi
feito uma maldição por nós. Como prova disso,
ao ser convocado perante os judeus no Sinédrio,
ele foi considerado um blasfemador e digno de
morte; e diante de Pilatos, o governador
romano, ele foi por ele condenado a morrer, e
isso na cruz.
Eis o resultado estupendo dessa terrível
transação, a transferência da a maldição sobre
Cristo, o segundo Adão!
1. Nisto foi separado da sociedade eleita,
separado para o mal, como o imediato efeito da
maldição é descrito, em Deut. 29:21. “O SENHOR
o separará de todas as tribos de Israel para
calamidade, segundo todas as maldições da
aliança escrita neste Livro da Lei.”
Ele foi dedicado como cabeça, dedicado para
pagar por todo o resto. Ele foi criado como o alvo
contra o qual todas as flechas da ira vingativa
devem ser apontadas. Ele foi designado para ser
o receptáculo comum de todas as inundações de
vingança, emitidas da justiça irada para com
todo o corpo dos eleitos, para engoli-los; aqui a
corrente de tudo isso foi mudada, que eles
17
juntos fluirão sobre ele. Por isso, ele clama,
Salmo 69: 2: "Estou atolado em profundo
lamaçal, que não dá pé; estou nas profundezas
das águas, e a corrente me submerge."
2. Por este meio ele se torno o local de descanso
da justiça vingativa, onde estava a caça, até que
deva estar satisfeita ao máximo; Isaías 53:10, "
Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o
enfermar; quando der ele a sua alma como
oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e
prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR
prosperará nas suas mãos." Em sinal disso,
quando os oficiais vieram prendê-lo ele disse:
"7 Jesus, de novo, lhes perguntou: A quem
buscais? Responderam: A Jesus, o Nazareno.
8 Então, lhes disse Jesus: Já vos declarei que sou
eu; se é a mim, pois, que buscais, deixai ir estes;
9 para se cumprir a palavra que dissera: Não
perdi nenhum dos que me deste.” (João 18.7-9).
A Justiça deixa a perseguição da multidão
rebelde, procura-lo, e somente ele; desde que
ele foi feito uma maldição para eles. Assim, ele
foi designado para ser o sacrifício de toda a sua
semente, que o fogo da ira vingativa deve
queimar, até emitir um aroma de cheiro doce,
18
um sabor de descanso à justiça irritada de um
Deus ofendido.
2. Outro ponto importante estabelecido aqui, foi:
"Que a maldição transferida a ele, deveria ser
infinitamente executada sobre ele como o
segundo Adão, nosso representante; pelo qual
ele deveria morrer realmente por sua semente,
em máxima compensação de todos os danos
causados à honra de um Deus infinito, por todos
os seus pecados. Vã é a maldição que não produz
efeito: mas como a maldição da santa lei não era
sem causa; portanto, não podia deixar de
prosseguir, em seu peso infinito, para a
satisfação da justiça.
Agora, se fosse assim eles teriam sido
eternamente satisfatórios, mas nunca poderiam
ter terminado sua satisfação. Mas, vindo sobre
ele, a igreja de Deus foi comprada com seu
próprio sangue, Atos 20:28, e "o sangue de Jesus
Cristo seu Filho nos purifica de todo pecado" 1
João 1: 7, a infinita dignidade da pessoa
morrendo, fazendo com que a execução da
maldição sobre ele até a morte seja infinita em
valor, compensando totalmente o erro infinito,
de acordo com a estimativa feita por lei e justiça.
E aqui foi estabelecido e acordado: "Que a
maldição seja executada em todo o homem"
19
sendo esse o seu devido; e, portanto, que ele
deveria "tornar-se pobre" e "não ter onde
repousar a cabeça", para que ele sofresse fome
por falta de alimento; e sede, por falta de bebida:
que seu nome e a reputação deve ser afundada,
carregada de reprovações e calúnias vis; seus
próprios amigos prestes a impor-lhe as mãos
como um louco; que ele deve ser considerado
um verme e nenhum homem; uma censura aos
homens, e desprezado do povo: toda a sua
porção no mundo deveria ser afligido,
perseguido, e extremamente humilhado; e que
no final, sendo despido de suas vestes, ele deve
ser pendurado nu diante do sol, entre dois
malfeitores, como se fosse o pior dos três.
Mais particularmente, aqui foi estipulado e
acordado,
1º, "Que a maldição seja executada em seu corpo
abençoado"; por isso como seus corpos estavam
sujeitos a isso, como instrumentos de pecado e
desonra a Deus: que ele seja pendurado em um
madeiro, para que todo o mundo possa ler ali a
ira de Deus contra a quebra da primeira aliança,
quando foi comido o fruto da árvore proibida; e
ser amaldiçoado por nós, já que está escrito:
"Maldito todo aquele que é pendurado no
madeiro;" que a maldição deve passar, e a morte
passar por todas as partes daquele corpo
20
abençoado: que sua cabeça deve ser
vergonhosamente ferida com uma coroa de
espinhos colocada sobre ele; seu rosto
desfigurado mais do que qualquer homem; de
costas para o carrasco; as faces dele para os que
arrancavam os cabelos; seu rosto não se
escondeu de vergonha e das cusparadas; a
língua dele se apegou às mandíbulas; as mãos
dele e pés foram perfurados, pregados a uma
cruz; todos os seus ossos desconjuntados; seu
coração como cera, derretia no meio de suas
entranhas; seu sangue derramado; sua força
secada; e que no final deveria expirar e morrer,
sendo separado de sua alma, perfurado por uma
lança e lançado no pó da morte.
2. "Para que seja executado em sua alma santa,
de uma maneira especial"; porque suas almas
eram os principais atores do pecado: que ele
deferia sofrer a ira de Deus nela, sendo ao longo
de sua vida um homem de dores, e familiarizado
com a dor: e que, para esse fim, deve haver uma
hora e poder das trevas, em que a malícia dos
homens, o poder e raiva dos demônios,
deveriam estar juntos contra ele, fazendo com
que maiores esforços nele; e então as
inundações completas da vingança e ira do céu
devessem rolar sobre sua alma: para que eles a
transbordem, para atingi-lo com grande
espanto, todo ele com problemas, carregá-lo
21
com peso, e sobrecarregá-lo com grande
tristeza: que ali deve haver uma pressão da ira
divina sobre sua alma santa, como deveria em
agonia, até suando grandes gotas de sangue; e
deveria trazer sobre ele um eclipse total de
conforto e, como se fosse derretendo, dentro
dele; que assim, enquanto ele estava sofrendo
uma morte corporal na cruz, ele também
poderia morrer uma morte espiritual, como
uma alma mais pura e santa, era capaz.
Aqui foi a morte determinada na aliança, pelo
segundo Adão, nosso representante e
substituto; uma morte em virtude da maldição
transferida sobre ele, duradoura e requintada,
para a plena satisfação da justiça vingativa.
(1.) foi uma morte duradoura. Ele estava
morrendo, no estilo da aliança de obras, não
apenas na cruz, mas durante todo o tempo de
sua vida; a morte foi a penalidade dessa aliança,
trabalhando nele desde o ventre, até deitá-lo na
sepultura. Portanto, ele decidiu ser concebido
com uma mulher de baixa propriedade; e
nascido no estábulo de uma estalagem, não há
espaço para ele na própria pousada; deitado em
uma manjedoura, sem berço para recebê-lo; seu
sangue infantil derramado em sua circuncisão,
como se tivesse sido um pecador; sim, em sua
vida infantil foi procurado por um perseguidor
22
cruel, e sua mãe obrigada a deixar seu país com
ele e fugir para o Egito. Voltando, ele decidiu
viver uma vida obscura em um lugar obscuro,
do qual nada de bom era esperado, João 1:46; e
saindo de sua obscuridade, para ser
estabelecido como objeto de má vontade e
desprezo do mundo, sujeito a maus-tratos, até
pela mão de judeus e gentios, ele foi morto na
cruz.
(2.) Foi uma morte requintada. Sem piedade,
nada sendo poupador nela: mas a maldição
levou-a ao tom mais alto. Não poupado de um
Deus irado, Romanos 8:32. Sem poupadores de
homens perversos soltos sobre ele,
empurrando-o como touros, rugindo sobre ele
devorando-o como leões e rasgando-o como
cães, quando uma vez chegou a hora do poder
das trevas, Salmo 22:12, 13, 16. Nenhuma boa
palavra foi falada a ele no meio de seus
tormentos, por aqueles que estavam ali; mas foi
cruelmente zombado e insultado por
eles. Muito menos uma boa ação foi feita a
ele. Não era permitido beber água, mas o
vinagre lhe foi oferecido, em sua sede causada
pelo fogo da ira divina, bebendo seu espírito e
umidade. Não, o próprio rosto dos céus estava
baixo: o sol não deve dar a ele sua luz, mas
esconder-se dele na escuridão; porque "a luz é
doce e é agradável contemplar o sol".
23
Por fim, neste artigo foi estabelecido: "Que ele
sofra tudo isso voluntariamente, submissa e
resignadamente, em relação às injustiças feitas
à honra de Deus." Por conseguinte, falando de
sua vida, ele disse: "Nenhum homem a tira de
mim, mas eu de mim mesmo a dou; "João 10:18,
compare Salmos 40: 6, 7, 8. Esta lei exigia
daqueles por quem ele sofria, condenando
todos os murmúrios e impaciência, e
vinculando-os a obediência e sofrimento em
conjunto. Mas como ele pudera suportar tanta
carga de ira vingativa, e que não poderia
manifestar uma murmuração sequer ou algum
grau de impaciência aos olhos da santa
lei? Portanto foi estabelecido que Cristo, como
seu representante, deveria suportar a punição
voluntariamente e com perfeita paciência e
resignação: que ele deveria ir "como um
cordeiro para o matadouro", renunciando
silenciosamente sua própria vontade à vontade
divina; e demonstrando obediência em seus
sofrimentos, como conspícuo como seus
próprios sofrimentos: que, no meio da
extremidade de seus tormentos, ele não deveria
ter o mínimo pensamento impróprio de Deus,
mas reconhecê-lo santo em todos eles, Salmo
22: 3: nem ainda o menor rancor contra seus
assassinos; em sinal de que, ele orou por eles
enquanto ele estava na cruz, dizendo: "Pai,
24
perdoa-os; porque eles não sabem o que eles
fazem", Lucas 23:34.
Até aqui as palavras de Thomas Boston, que
traduzimos do original inglês em domínio
público.
Agora, à vista de tudo o que é dito nas Escrituras
e que se comprova na realidade prática de
nossas vidas, como poderia ainda alguém, sendo
instruído por esta verdade, levantar-se em seu
próprio nome, capacidade e poder para tentar
obter a salvação de sua alma por meio de suas
obras? Está bastante claro que não pode haver
salvação senão pela obra e Pessoa do grande
Substituto que foi designado por Deus Pai para
executá-la em nosso favor, a saber, nosso
Senhor Jesus Cristo.
Para que soubéssemos que o perdão dos nossos
pecados somente poderia ser feito através de
substituição, Deus revelou e instituiu
abundantemente na Lei que deu a Moisés vários
tipos de sacrifícios de animais que apontavam
todos eles para o Grande Sacrifício de Jesus
Cristo.
Aqueles sacrifícios eram apenas tipos do único
sacrifício que pode tirar o pecado do mundo, de
modo que deveriam ser renovados sempre que
25
alguém pecasse, e por toda a nação deveriam ser
sempre renovados no Dia da Expiação Nacional.
Mas, Jesus oferecendo um sacrifício eterno e
eficaz, apresentou-o de uma vez para sempre
para que todos aqueles que nEle creem sejam
perfeitamente perdoados de seus pecados.
“11 Quando, porém, veio Cristo como sumo
sacerdote dos bens já realizados, mediante o
maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por
mãos, quer dizer, não desta criação,
12 não por meio de sangue de bodes e de
bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou
no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo
obtido eterna redenção.
13 Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a
cinza de uma novilha, aspergidos sobre os
contaminados, os santificam, quanto à
purificação da carne,
14 muito mais o sangue de Cristo, que, pelo
Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem
mácula a Deus, purificará a nossa consciência
de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!
15 Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova
aliança, a fim de que, intervindo a morte para
remissão das transgressões que havia sob a
26
primeira aliança, recebam a promessa da eterna
herança aqueles que têm sido chamados.
16 Porque, onde há testamento, é necessário que
intervenha a morte do testador;
17 pois um testamento só é confirmado no caso
de mortos; visto que de maneira nenhuma tem
força de lei enquanto vive o testador.
18 Pelo que nem a primeira aliança foi
sancionada sem sangue;
19 porque, havendo Moisés proclamado todos
os mandamentos segundo a lei a todo o povo,
tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com
água, e lã tinta de escarlate, e hissopo e aspergiu
não só o próprio livro, como também sobre todo
o povo,
20 dizendo: Este é o sangue da aliança, a qual
Deus prescreveu para vós outros.
21 Igualmente também aspergiu com sangue o
tabernáculo e todos os utensílios do serviço
sagrado.
22 Com efeito, quase todas as coisas, segundo a
lei, se purificam com sangue; e, sem
derramamento de sangue, não há remissão.
27
23 Era necessário, portanto, que as figuras das
coisas que se acham nos céus se purificassem
com tais sacrifícios, mas as próprias coisas
celestiais, com sacrifícios a eles superiores.
24 Porque Cristo não entrou em santuário feito
por mãos, figura do verdadeiro, porém no
mesmo céu, para comparecer, agora, por nós,
diante de Deus;
25 nem ainda para se oferecer a si mesmo
muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano
entra no Santo dos Santos com sangue alheio.
26 Ora, neste caso, seria necessário que ele
tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do
mundo; agora, porém, ao se cumprirem os
tempos, se manifestou uma vez por todas, para
aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado.
27 E, assim como aos homens está ordenado
morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o
juízo,
28 assim também Cristo, tendo-se oferecido
uma vez para sempre para tirar os pecados de
muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos
que o aguardam para a salvação.” (Hebreus 9.11-
28).
28
Romanos – 5
1 Justificados, pois, mediante a fé, temos paz
com Deus por meio de nosso Senhor Jesus
Cristo;
2 por intermédio de quem obtivemos
igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual
estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da
glória de Deus.
3 E não somente isto, mas também nos
gloriamos nas próprias tribulações, sabendo
que a tribulação produz perseverança;
4 e a perseverança, experiência; e a experiência,
esperança.
5 Ora, a esperança não confunde, porque o amor
de Deus é derramado em nosso coração pelo
Espírito Santo, que nos foi outorgado.
6 Porque Cristo, quando nós ainda éramos
fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.
7 Dificilmente, alguém morreria por um justo;
pois poderá ser que pelo bom alguém se anime
a morrer.
29
8 Mas Deus prova o seu próprio amor para
conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,
sendo nós ainda pecadores.
9 Logo, muito mais agora, sendo justificados
pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
10 Porque, se nós, quando inimigos, fomos
reconciliados com Deus mediante a morte do
seu Filho, muito mais, estando já reconciliados,
seremos salvos pela sua vida;
11 e não apenas isto, mas também nos gloriamos
em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por
intermédio de quem recebemos, agora, a
reconciliação.
12 Portanto, assim como por um só homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a
morte, assim também a morte passou a todos os
homens, porque todos pecaram.
13 Porque até ao regime da lei havia pecado no
mundo, mas o pecado não é levado em conta
quando não há lei.
14 Entretanto, reinou a morte desde Adão até
Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram
à semelhança da transgressão de Adão, o qual
prefigurava aquele que havia de vir.
30
15 Todavia, não é assim o dom gratuito como a
ofensa; porque, se, pela ofensa de um só,
morreram muitos, muito mais a graça de Deus e
o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo,
foram abundantes sobre muitos.
16 O dom, entretanto, não é como no caso em
que somente um pecou; porque o julgamento
derivou de uma só ofensa, para a condenação;
mas a graça transcorre de muitas ofensas, para
a justificação.
17 Se, pela ofensa de um e por meio de um só,
reinou a morte, muito mais os que recebem a
abundância da graça e o dom da justiça reinarão
em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo.
18 Pois assim como, por uma só ofensa, veio o
juízo sobre todos os homens para condenação,
assim também, por um só ato de justiça, veio a
graça sobre todos os homens para a justificação
que dá vida.
19 Porque, como, pela desobediência de um só
homem, muitos se tornaram pecadores, assim
também, por meio da obediência de um só,
muitos se tornarão justos.
31
20 Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa;
mas onde abundou o pecado, superabundou a
graça,
21 a fim de que, como o pecado reinou pela
morte, assim também reinasse a graça pela
justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo,
nosso Senhor.
APÊNDICE:
32
O Evangelho que nos Leva a Obter a Salvação
Estamos inserindo esta nota em forma de
apêndice em nossas últimas publicações, uma
vez que temos sido impelidos a explicar em
termos simples e diretos o que seja de fato o
evangelho, na forma em que nos é apresentado
nas Escrituras, já que há muita pregação e
ensino de caráter legalista que não é de modo
algum o evangelho de nosso Senhor Jesus
Cristo.
Há também uma grande ignorância relativa ao
que seja a aliança da graça por meio da qual
somos salvos, e que consiste no coração do
evangelho, e então a descrevemos em termos
bem simples, de forma que possa ser
adequadamente entendida.
Há somente um evangelho pelo qual podemos
ser verdadeiramente salvos. Ele se encontra
revelado na Bíblia, e especialmente nas páginas
do Novo Testamento. Mas, por interpretações
incorretas é possível até mesmo transformá-lo
em um meio de perdição e não de salvação,
conforme tem ocorrido especialmente em
nossos dias, em que as verdades fundamentais
do evangelho de Jesus Cristo têm sido
adulteradas ou omitidas.
33
Tudo isto nos levou a tomar a iniciativa de
apresentar a seguir, de forma resumida, em que
consiste de fato o evangelho da nossa salvação.
Em primeiro lugar, antes de tudo, é preciso
entender que somos salvos exclusivamente
com base na aliança de graça que foi feita entre
Deus Pai e Deus Filho, antes mesmo da criação
do mundo, para que nas diversas gerações de
pessoas que seriam trazidas por eles à existência
sobre a Terra, houvesse um chamado invisível,
sobrenatural, espiritual, para serem perdoadas
de seus pecados, justificadas, regeneradas
(novo nascimento espiritual), santificadas e
glorificadas. E o autor destas operações
transformadoras seria o Espírito Santo, a
terceira pessoa da trindade divina.
Estes que seriam chamados à conversão, o
seriam pelo meio de atração que seria feita por
Deus Pai, trazendo-os a Deus Filho, de modo que
pela simples fé em Jesus Cristo, pudessem
receber a graça necessária que os redimiria e os
transportaria das trevas para a luz, do poder de
Satanás para o de Deus, e que lhes transformaria
em filhos amados e aceitos por Deus.
Como estes que foram redimidos se
encontravam debaixo de uma sentença de
maldição e condenação eternas, em razão de
34
terem transgredido a lei de Deus, com os seus
pecados, para que fossem redimidos seria
necessário que houvesse uma quitação da dívida
deles para com a justiça divina, cuja sentença
sobre eles era a de morte física e espiritual
eternas.
Havia a necessidade de um sacrifício, de alguém
idôneo que pudesse se colocar no lugar do
homem, trazendo sobre si os seus pecados e
culpa, e morrendo com o derramamento do Seu
sangue, porque a lei determina que não pode
haver expiação sem que haja um sacrifício
sangrento substitutivo.
Importava também que este Substituto de
pecadores, assumisse a responsabilidade de
cobrir tudo o que fosse necessário em relação à
dívida de pecados deles, não apenas a anterior à
sua conversão, como a que seria contraída
também no presente e no futuro, durante a sua
jornada terrena.
Este Substituto deveria ser perfeito, sem
pecado, eterno, infinito, porque a ofensa do
pecador é eterna e infinita. Então deveria ser
alguém divino para realizar tal obra.
Jesus, sendo Deus, se apresentou na aliança da
graça feita com o Pai, para ser este Salvador,
35
Fiador, Garantia, Sacrifício, Sacerdote, para
realizar a obra de redenção.
O homem é fraco, dado a se desviar, mas a sua
chamada é para uma santificação e perfeição
eternas. Como poderia responder por si mesmo
para garantir a eternidade da segurança da
salvação?
Havia necessidade que Jesus assumisse ao lado
da natureza divina que sempre possuiu, a
natureza humana, e para tanto ele foi gerado
pelo Espírito Santo no ventre de Maria.
Ele deveria ter um corpo para ser oferecido em
sacrifício. O sangue da nossa redenção deveria
ser o de alguém que fosse humano, mas
também divino, de modo que se pode até
mesmo dizer que fomos redimidos pelo sangue
do próprio Deus.
Este é o fundamento da nossa salvação. A morte
de Jesus em nosso lugar, de modo a nos abrir o
caminho para a vida eterna e o céu.
Para que nunca nos esquecêssemos desta
grande e importante verdade do evangelho de
que Jesus se tornou da parte de Deus para nós, o
nosso tudo, e que sem Ele nada somos ou
podemos fazer para agradar a Deus, Jesus fixou
36
a Ceia que deve ser regularmente observada
pelos crentes, para que se lembrem de que o Seu
corpo foi rasgado, assim como o pão que
partimos na Ceia, e o Seu sangue foi derramado
em profusão, conforme representado pelo
vinho, para que tenhamos vida eterna por meio
de nos alimentarmos dEle. Por isso somos
ordenados a comer o pão, que representa o
corpo de Jesus, que é verdadeiro alimento para
o nosso espírito, e a beber o sangue de Jesus, que
é verdadeira bebida para nos refrigerar e
manter a Sua vida em nós.
Quando Ele disse que é o caminho e a verdade e
a vida. Que a porta que conduz à vida eterna é
estreita, e que o caminho é apertado. Tudo isto
se aplica ao fato de que não há outra verdade,
outro caminho, outra vida, senão a que existe
somente por meio da fé nEle. A porta é estreita
porque não admite uma entrada para vários
caminhos e atalhos, que sendo diferentes dEle,
conduzem à perdição. É estreito e apertado para
que nunca nos desviemos dEle, o autor e
consumador da nossa salvação.
Então o plano de salvação, na aliança de graça
que foi feita, nada exige do homem, além da fé,
pois tudo o que tiver que ser feito nele para ser
transformado e firmado na graça, será realizado
pelo autor da sua salvação, a saber, Jesus Cristo.
37
Tanto é assim, que para que tenhamos a plena
convicção desta verdade, mesmo depois de
sermos justificados, regenerados e santificados,
percebemos, enquanto neste mundo, que há em
nós resquícios do pecado, que são o resultado do
que se chama de pecado residente, que ainda
subsiste no velho homem, que apesar de ter sido
crucificado juntamente com Cristo, ainda
permanece em condições de operar em nós, ao
lado da nova natureza espiritual e santa que
recebemos na conversão.
Qual é a razão disso, senão a de que o Senhor
pretende nos ensinar a enxergar que a nossa
salvação é inteiramente por graça e mediante a
fé? Que é Ele somente que nos garante a vida
eterna e o céu. Se não fosse assim, não
poderíamos ser salvos e recebidos por Deus
porque sabemos que ainda que salvos, o pecado
ainda opera em nossas vidas de diversas formas.
Isto pode ser visto claramente em várias
passagens bíblicas e especialmente no texto de
Romanos 7.
À luz desta verdade, percebemos que mesmo as
enfermidades que atuam em nossos corpos
físicos, e outras em nossa alma, são o resultado
da imperfeição em que ainda nos encontramos
aqui embaixo, pois Deus poderia dar saúde
38
perfeita a todos os crentes, sem qualquer
doença, até o dia da morte deles, mas Ele não o
faz para que aprendamos que a nossa salvação
está inteiramente colocada sobre a
responsabilidade de Jesus, que é aquele que
responde por nós perante Ele, para nos manter
seguros na plena garantia da salvação que
obtivemos mediante a fé, conforme o próprio
Deus havia determinado justificar-nos somente
por fé, do mesmo modo como fizera com Abraão
e com muitos outros mesmo nos dias do Velho
Testamento.
Nenhum crente deve portanto julgar-se sem fé
porque não consegue vencer determinadas
fraquezas ou pecados, porque enquanto se
esforça para ser curado deles, e ainda que não o
consiga neste mundo, não perderá a sua
condição de filho amado de Deus, que pode usar
tudo isto em forma de repreensão e disciplina,
mas que jamais deixará ou abandonará a
qualquer que tenha recebido por filho, por
causa da aliança que fez com Jesus e na qual se
interpôs com um juramento que jamais a
anularia por causa de nossas imperfeições e
transgressões.
Um crente verdadeiro odeia o pecado e ama a
Jesus, mas sempre lamentará que não o ame
tanto quanto deveria, e por não ter o mesmo
39
caráter e virtudes que há em Cristo. Mas de uma
coisa ele pode ter certeza: não foi por mérito,
virtude ou boas obras que lhes foram exigidos a
apresentar a Deus que ele foi salvo, mas
simplesmente por meio do arrependimento e
da fé nAquele que tudo fez e tem feito que é
necessário para a segurança eterna da sua
salvação.
É possível que alguém leia tudo o que foi dito
nestes sete últimos parágrafos e não tenha
percebido a grande verdade central relativa ao
evangelho, que está sendo comentada neles, e
que foi citada de forma resumida no primeiro
deles, a saber:
“Então o plano de salvação, na aliança de graça
que foi feita, nada exige do homem, além da fé,
pois tudo o que tiver que ser feito nele para ser
transformado e firmado na graça, será realizado
pelo autor da sua salvação, a saber, Jesus Cristo.”
Nós temos na Palavra de Deus a confirmação
desta verdade, que tudo é de fato devido à graça
de Jesus, na nossa salvação, e que esta graça é
suficiente para nos garantir uma salvação
eterna, em razão do pacto feito entre Deus Pai e
Deus Filho, que nos escolheram para esta
salvação segura e eterna, antes mesmo da
fundação do mundo, no qual Jesus e Sua obra
40
são a causa dessa segurança eterna, pois é nEle
que somos aceitos por Deus, nos termos da
aliança firmada, em que o Pai e o Filho são os
agentes da aliança, e os crentes apenas os
beneficiários.
O pacto foi feito unilateralmente pelo Pai e o
Filho, sem a consulta da vontade dos
beneficiários, uma vez que eles nem sequer
ainda existiam, e quando aderem agora pela fé
aos termos da aliança, eles são convocados a
fazê-lo voluntariamente e para o principal
propósito de serem salvos para serem
santificados e glorificados, sendo instruídos
pelo evangelho que tudo o que era necessário
para a sua salvação foi perfeitamente
consumado pelo Fiador deles, nosso Senhor
Jesus Cristo.
Então, preste atenção neste ponto muito
importante, de que tanto é assim, que não é pelo
fato de os crentes continuarem sujeitos ao
pecado, mesmo depois de convertidos, que eles
correm o risco de perderem a salvação deles,
uma vez que a aliança não foi feita diretamente
com eles, e consistindo na obediência perfeita
deles a toda a vontade de Deus, mas foi feita com
Jesus Cristo, para não somente expiar a culpa
deles, como para garantir o aperfeiçoamento
deles na santidade e na justiça, ainda que isto
41
venha a ser somente completado integralmente
no por vir, quando adentrarem a glória celestial.
A salvação é por graça porque alguém pagou
inteiramente o preço devido para que fôssemos
salvos – nosso Senhor Jesus Cristo.
E para que soubéssemos disso, Jesus não nos foi
dado somente como Sacrifício e Sacerdote, mas
também como Profeta e Rei.
Ele não somente é quem nos anuncia o
evangelho pelo poder do Espírito Santo, e quem
tudo revelou acerca dele nas páginas da Bíblia,
para que não errássemos o alvo por causa da
incredulidade, que sendo o oposto da fé, é a
única coisa que pode nos afastar da
possibilidade da salvação.
Em sua obra como Rei, Jesus governa os nossos
corações, e nos submete à Sua vontade de forma
voluntária e amorosa, capacitando-nos, pelo
Seu próprio poder, a viver de modo agradável a
Deus.
Agora, nada disso é possível sem que haja
arrependimento. Ainda que não seja ele a causa
da nossa salvação, pois, como temos visto esta
causa é o amor, a misericórdia e a graça de Deus,
manifestados em Jesus em nosso favor, todavia,
42
o arrependimento é necessário, porque toda
esta salvação é para uma vida santa, uma vida
que lute contra o pecado, e que busque se
revestir do caráter e virtudes de Jesus.
Então, não há salvação pela fé onde o coração
permanece apegado ao pecado, e sem
manifestar qualquer desejo de viver de modo
santo para a glória de Deus.
Desde que haja arrependimento não há
qualquer impossibilidade para que Deus nos
salve, nem mesmo os grosseiros pecados da
geração atual, que corre desenfreadamente à
busca de prazeres terrenos, e completamente
avessa aos valores eternos e celestiais.
Ainda que possa parecer um paradoxo, haveria
até mais facilidade para Deus salvar a estes que
vivem na iniquidade porque a vida deles no
pecado é flagrante, e pouco se importam em
demonstrar por um viver hipócrita, que são
pessoas justas e puras, pois não estão
interessados em demonstrar a justiça própria
do fariseu da parábola de Jesus, para que através
de sua falsa religiosidade, e autoengano,
pudessem alcançar algum favor da parte de
Deus.
43
Assim, quando algum deles recebe a revelação
da luz que há em Jesus, e das grandes trevas que
dominam seu coração, o trabalho de
convencimento do Espírito Santo é facilitado, e
eles lamentam por seus pecados e fogem para
Jesus para obterem a luz da salvação. E ele os
receberá, e a nenhum deles lançará fora,
conforme a Sua promessa, porque o ajuste feito
para a sua salvação exige somente o
arrependimento e a fé, para a recepção da graça
que os salvará.
Deus mesmo é quem provê todos os meios
necessários para que permaneçamos firmes na
graça que nos salvou, de maneira que jamais
venhamos a nos separar dele definitivamente.
Ele nos fez coparticipantes da Sua natureza
divina, no novo nascimento operado pelo
Espírito Santo, de modo que uma vez que uma
natureza é atingida, ela jamais pode ser desfeita.
Nós viveremos pela nova criatura, ainda que a
velha venha a se dissolver totalmente, assim
como está ordenado que tudo o que herdamos
de Adão e com o pecado deverá passar, pois tudo
é feito novo em Jesus, em quem temos recebido
este nosso novo ser que se inclina em amor para
Deus e para todas as coisas de Deus.
44
Ainda que haja o pecado residente no crente, ele
se encontra destronado, pois quem reina agora
é a graça de Jesus em seu coração, e não mais o
pecado. Ainda que algum pecado o vença isto
será temporariamente, do mesmo modo que
uma doença que se instala no corpo é expulsa
dele pelas defesas naturais ou por algum
medicamento potente. O sangue de Jesus é o
remédio pelo qual somos sarados de todas as
nossas enfermidades. E ainda que alguma delas
prevaleça neste mundo ela será totalmente
extinta quando partirmos para a glória, onde
tudo será perfeito.
Temos este penhor da perfeição futura da
salvação dado a nós pela habitação do Espírito
Santo, que testifica juntamente com o nosso
espírito que somos agora filhos de Deus, não
apenas por ato declarativo desta condição, mas
de fato e de verdade pelo novo nascimento
espiritual que nos foi dado por meio da nossa fé
em Jesus.
Toda esta vida que temos agora é obtida por
meio da fé no Filho de Deus que nos amou e se
entregou por nós, para que vivamos por meio da
Sua própria vida. Ele é o criador e o sustentador
de toda a criação, inclusive desta nova criação
que está realizando desde o princípio, por meio
45
da geração de novas criaturas espirituais para
Deus por meio da fé nEle.
Ele pode fazê-lo porque é espírito vivificante, ou
seja, pode fazer com que nova vida espiritual
seja gerada em quem Ele assim o quiser. Ele sabe
perfeitamente quais são aqueles que atenderão
ao chamado da salvação, e é a estes que Ele se
revela em espírito para que creiam nEle, e assim
sejam salvos.
Bem-aventurados portanto são:
Os humildes de espírito que reconhecem que
nada possuem em si mesmos para agradarem a
Deus.
Os mansos que se submetem à vontade de Deus
e que se dispõem a cumprir os Seus
mandamentos.
Os que choram por causa de seus pecados e todo
o pecado que há no mundo, que é uma rebelião
contra o Criador.
Os misericordiosos, porque dão por si mesmos o
testemunho de que todos necessitam da
misericórdia de Deus para serem perdoados.
Os pacificadores, e não propriamente pacifistas
que costumam anular a verdade em prol da paz
46
mundial, mas os que anunciam pela palavra e
suas próprias vidas que há paz de reconciliação
com Deus somente por meio da fé em Jesus.
Os que têm fome e sede de justiça, da justiça do
reino de Deus que não é comida, nem bebida,
mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
Os que são perseguidos por causa do evangelho,
porque sendo odiados sem causa, perseveram
em dar testemunho do Nome e da Palavra de
Jesus Cristo.
Vemos assim que ser salvo pela graça não
significa: de qualquer modo, de maneira
descuidada, sem qualquer valor ou preço
envolvido na salvação. Jesus pagou um preço
altíssimo e de valor inestimável para que
pudéssemos ser redimidos. Os termos da
aliança por meio da qual somos salvos são todos
bem ordenados e planejados para que a salvação
seja segura e efetiva. Há poderes sobrenaturais,
celestiais, espirituais envolvidos em todo o
processo da salvação.
É de uma preciosidade tão grande este plano e
aliança que eles devem ser eficazes mesmo
quando não há naqueles que são salvos um
conhecimento adequado de todas estas
verdades, pois está determinado que aquele que
47
crê no seu coração e confessar com os lábios que
Jesus é o Senhor e Salvador, é tudo quanto que é
necessário para um pecador ser transformado
em santo e recebido como filho adotivo por
Deus.
O crescimento na graça e no conhecimento de
Jesus são necessários para o nosso
aperfeiçoamento espiritual em progresso da
nossa santificação, mas não para a nossa
justificação e regeneração (novo nascimento)
que são instantâneos e recebidos
simultaneamente no dia mesmo em que nos
convertemos a Cristo. Quando fomos a Ele como
nos encontrávamos na ocasião, totalmente
perdidos e mortos em transgressões e pecados.
E fomos recebidos porque a palavra da
promessa da aliança é que todo aquele que crê
será salvo, e nada mais é acrescentado a ela
como condição para a salvação.
É assim porque foi este o ajuste que foi feito
entre o Pai e o Filho na aliança que fizeram entre
si para que fôssemos salvos por graça e
mediante a fé.
Jesus é pedra de esquina eleita e preciosa, que o
Pai escolheu para ser o autor e o consumador da
nossa salvação. Ele foi eleito para a aliança da
48
graça, e nós somos eleitos para recebermos os
benefícios desta aliança por meio da fé nAquele
a quem foram feitas as promessas de ter um
povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras.
Então quando somos chamados de eleitos na
Bíblia, isto não significa que Deus fez uma
aliança exclusiva e diretamente com cada um
daqueles que creem, uma vez que uma aliança
com Deus para a vida eterna demanda uma
perfeita justiça e perfeita obediência a Ele, sem
qualquer falha, e de nós mesmos, jamais
seríamos competentes para atender a tal
exigência, de modo que a aliança poderia ter
sido feita somente com Jesus.
Somos aceitos pelo Pai porque estamos em
Jesus, e assim é por causa do Filho Unigênito que
somos também recebidos. Jamais poderíamos
fazê-lo diretamente sem ter a Jesus como nossa
Cabeça, nosso Sumo Sacerdote e Sacrifício. Isto
é tipificado claramente na Lei, em que nenhum
ofertante ou oferta seriam aceitos por Deus sem
serem apresentados pelo sacerdote escolhido
por Deus para tal propósito. Nenhum outro
Sumo Sacerdote foi designado pelo Pai para que
pudéssemos receber uma redenção e
aproximação eternas, senão somente nosso
Senhor Jesus Cristo, aquele que Ele escolheu
para este ofício.
49
Mas uma vez que nos tornamos filhos de Deus
por meio da fé em Jesus Cristo, importa
permanecermos nEle por um viver e andar em
santificação, no Espírito.
É pelo desconhecimento desta verdade que
muitos crentes caminham de forma
desordenada, uma vez que tendo aprendido que
a aliança da graça foi feita entre Deus Pai e Deus
Filho, e que são salvos exclusivamente por meio
da fé, que então não importa como vivam uma
vez que já se encontram salvos das
consequências mortais do pecado.
Ainda que isto seja verdadeiro no tocante à
segurança eterna da salvação em razão da
justificação, é apenas uma das faces da moeda
da salvação, que nos trazendo justificação e
regeneração instantaneamente pela graça,
mediante a fé, no momento mesmo da nossa
conversão inicial, todavia, possui uma outra
face que é a relativa ao propósito da nossa
justificação e regeneração, a saber, para sermos
santificados pelo Espírito Santo, mediante
implantação da Palavra em nosso caráter. Isto
tem a ver com a mortificação diária do pecado, e
o despojamento do velho homem, por um andar
no Espírito, pois de outra forma, não é possível
que Deus seja glorificado através de nós e por
nós. Não há vida cristã vitoriosa sem
50
santificação, uma vez que Cristo nos foi dado
para o propósito mesmo de se vencer o pecado,
por meio de um viver santificado.
Esta santificação foi também incluída na aliança
da graça feita entre o Pai e o Filho, antes da
fundação do mundo, e para isto somos também
inteiramente dependentes de Jesus e da
manifestação da sua vida em nós, porque Ele se
tornou para nós da parte de Deus a nossa justiça,
redenção, sabedoria e santificação (I Coríntios
1.30). De modo que a obra iniciada na nossa
conversão será completada por Deus para o seu
aperfeiçoamento final até a nossa chegada à
glória celestial.
“Estou plenamente certo de que aquele que
começou boa obra em vós há de completá-la até
ao Dia de Cristo Jesus.” (Filipenses 1.6).
“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e
o vosso espírito, alma e corpo sejam
conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda
de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos
chama, o qual também o fará.” (I
Tessalonicenses 5.23,24).
“Assim, pois, amados meus, como sempre
obedecestes, não só na minha presença, porém,
muito mais agora, na minha ausência,
51
desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor; porque Deus é quem efetua em vós
tanto o querer como o realizar, segundo a sua
boa vontade.” (Filipenses 2.12,13).