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Manual de Ecoturismo de Base Comunitária Ferramentas para Todos os direitos reservados. Parte integrante do livro Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável, do WWF-Brasil. Para conhecer os outros capítulos do Manual, o método de elaboração, os projetos parceiros e demais informações sobre este livro, visite o site do WWF-Brasil – www.wwf.org.br. SECÇÃO 1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO: instrumentos para planos, diagnósticos e desenvolvimento de projetos e produtos CAPÍTULO 1.1 Planejamento do ecoturismo Autor: Sérgio Salazar Salvati PARCERIA: APOIO: Ferramentas para um planejamento responsável Arquivo pdf com 590 kb 56 páginas, capa e verso da capa

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Manual deE c o t u r i s m ode BaseComunitária

Ferramentas para

Todos os direitos reservados. Parte integrante do livro Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável, do WWF-Brasil.

Para conhecer os outros capítulos do Manual, o método de elaboração, os projetos parceiros e demais informações sobre este livro, visite o site do WWF-Brasil – www.wwf.org.br.

SECÇÃO 1PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO:instrumentos para planos, diagnósticos e desenvolvimento de projetos e produtos

CAPÍTULO 1.1Planejamento do ecoturismoAutor: Sérgio Salazar Salvati

PARCERIA:

APOIO:

Ferramentas para um planejamento responsável

Arquivo pdf com 590 kb56 páginas, capa e verso da capa

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIAFERRAMENTAS PARA UM PLANEJAMENTO RESPONSÁVEL

Publicação do Programa de Turismo e Meio Ambiente do WWF-Brasil

FICHA TÉCNICA

Organizadora do Manual Sylvia Mitraud

Autores Anna Paula Santos, Ariane Janer, GilbertoFidelis, Jane Vasconcelos, Johan van Lengen,Leandro Ferreira, Marcos Borges, Max Dante,Monica Corulón, Roberto Mourão, SérgioSalazar Salvati, Sylvia Mitraud, TimothyMolton, Verônica Toledo, Waldir Joel deAndrade.

Edição TécnicaRobert Buschbacher, Sérgio Salazar Salvati,Sylvia Mitraud, Leonardo Lacerda

Coordenador do Programa de Turismo e MeioAmbiente do WWF-BrasilSérgio Salazar Salvati

Coordenação das Oficinas Sylvia Mitraud

Consultores do ProjetoJane Vasconcelos, Roberto Mourão, VerônicaToledo, Waldir Joel de Andrade, Ariane Janer,Gilberto Fidelis, Marcos Martins Borges

Coordenação EditorialAlexandre Marino - Varanda Edições Ltda

Projeto Gráfico, capa e edição em pdfPaulo Andrade

Fotos da capa:Sérgio Salazar Salvati

Tiragem: 3.000 exemplaresNovembro de 2003

Esta publicação, "Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável” é pu-blicada com o apoio da USAID - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional - com sede naEmbaixada Americana no Brasil, nos termos do acordo nº 512-0324-G-00-604. As opiniões expressas do(s) autor(es)não necessariamente refletem as opiniões da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.

Esta publicação contou com o apoio da Kodak Company, USA, nos termos do acordo de cooperação técnica celebra-do para apoio ao desenvolvimento dos projetos do Programa de Ecoturismo de Base Comunitária do WWF-Brasil. Asopiniões expressas do(s) autor(es) não necessariamente refletem as opiniões da Kodak Company.

A viabilidade desta publicação contou com a participação da Companhia Suzano de Papel e Celulose, por meio deconvênio de parceria entre o WWF-Brasil e o Instituto Ecofuturo. As opiniões expressas do(s) autor(es) não necessa-riamente refletem a opinião desta Companhia.

Publicado em papel Reciclato - 100% reciclado

M294e Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamen-to responsável. /

[Organização: Sylvia Mitraud] - [Brasília]: WWF Brasil, c2003. 470p.: il. Color. ;21x14 cm.

BibliografiaISBN: 85-86440-12-4

1. Ecoturismo - Brasil. 2. Turismo Comunitário. 3. Metodologia de Planejamento e Gestão– Ecoturismo. 4. Capacitação Comunitária. 5. Conservação.

CDU 504.31

Page 3: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

I. OBJETIVOS

E ste capítulo tem como objetivo deli-near os diferentes tipos e níveis deplanejamento do ecoturismo, a partir

de uma base bem delimitada de princípiose características desejáveis para seu desen-volvimento responsável. O planejamento éuma atividade interdisciplinar, dinâmica,contínua e presente em todas as dive r s a sfases do desenvolvimento do turismo, e qued e ve representar os anseios de diferentesatores de interesse. Assim, serão abordadosos diferentes objetivos e contextos para suae l a b o ração, assim como as diferentes abor-dagens em que o planejamento pode sei n s e r i r.

Cabe ressaltar que cada capítulo quecompõe este Manual pode ser consideradocomo um guia de planejamento, implemen-tação e gestão das diferentes atividades eprocessos que compõem o desenvolvimentodo ecoturismo. Mais específicamente, estecapítulo deve ser estudado em conjuntocom o capítulo de Participação e Parcerias.

II . INTRODUÇÃO CONCEITUAL

Para o planejamento do ecoturismo nãobastam técnicas e ferramentas práticas dee l a b o ração de planos e projetos. Destaforma entende-se que refletir intensamentesobre a atividade e seus objetivos de sus-tentabilidade econômica social e ambientalé fundamental para o sucesso na implan-

tação do ecoturismo, atendendo aos seusprincípios.

O ecoturismo vem trazendo algumasimportantes lições para a busca da sus-tentabilidade no mercado do turismomundial. A atual discussão sobre o turismosustentável dentro de importantes organiza-ções mundiais como a UNEP (UnitedNations Environment Program), OMT(Organização Mundial de Turismo), WTTC(World Travel and Tourism Council), BID(Banco Interamericano de Desenvo l v i-mento), GEF (Global Environment Facility),entre outras, nada mais é do que o reflexo daintrodução dos métodos desenvolvidos paraplanos de ecoturismo sendo adotados e repli-cados para o mercado convencional. Essasmetodologias são, no caso do ecoturismo,essenciais para se alcançar seus objetivos dec o n s e r vação e desenvolvimento local.

A sustentabilidade defendida pelosprincípios do ecoturismo não deve serentendida como um fim a ser alcançado emplanos, programas e projetos. Na verdadedevemos perceber a sustentabilidade comoas condições ótimas de desenvolvimento doecoturismo, e atentar aos seus princípios, osquais podem não estar presentes em todosos momentos. Instabilidade de mercados,alterações no perfil e nas tendências dosviajantes, proliferação de doenças tropicais,alterações nas políticas de desenvolvimentoe investimentos regionais e nacionais sãoalgumas das externalidades que podem afe-tar a sustentabilidade de projetos. Daí a

1

1. Planejamento do ecoturismo

Sérgio Salazar Salvati (1)

(1) – NOTA DO AUTOR: Este capítulo contou com a contribuição técnica de Marcelo de Oliveira Sáfadi, Sylvia Mitraud e Marcos Martins Borges.

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PLANOS, PROGRAMAS E PROJETOS

Não devemos confundir planos

com programas e projetos. Um plano

é uma grande missão, é o objetivo maior

almejado de um governo ou entidade,

sem maiores detalhamento de projetos

ou atividades. Envolvem diretrizes gerais

para serem adotados por setores ou

regiões, incluindo a identificação da fonte

de recursos e dos responsáveis por ações

de implementação. O plano pode possuir

programas específicos (capacitação,

conservação, envolvimento comunitário,

marketing, patrimônio histórico etc.),

que podem ser setorizados

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

importância de processos de monitoramen-to e de re-planejamento como itens funda-mentais para o sucesso do desenvolvimentodo ecoturismo. Além disso, o ecoturismonão pode ser a única alternativa econômica,ou a predominante, num município ouregião, pois qualquer alteração na deman-da, como, por exemplo, o aparecimento dedestinos concorrentes, pode levar todo ummunicípio ou uma região a ter problemas deordem econômica e social em função dalacuna na geração de receitas.

Para melhor entendimento serão aborda-dos nesta Introdução os conceitos básicossobre processos de planejamento, e especi-ficamente sobre planejamento do ecoturis-mo, sob uma ampla visão de sustentabili-dade econômica, social e ambiental.

1. O planejamento - conceito, objetivos e processos

P lanejamento pode ser entendido como adefinição de estratégias e meios para

sair de uma situação atual visando alcançaruma situação futura desejada. Parece nãoser percebido pela sociedade, mas o plane-jamento está em nosso cotidiano profissio-nal e familiar. Por exemplo, ao planejar umnovo emprego, um profissional estabeleceo b j e t ivos (ser valorizado em um novoemprego), metas (alcançar o objetivo em 6meses), recursos (curriculum, tempo e di-nheiro) e métodos (pesquisar em jornais,falar com amigos e participar de entrevis-tas). Esta idéia de planejamento vem sendodefinida de várias formas e algumas delasforam compiladas por Barreto (2000):❐ planejar é decidir antecipadamente o

que deve ser feito;❐ planejar é determinar objetivos e meios

para seu alcance;❐ planejar é projetar um futuro desejado e os

meios específicos para torná-lo realidade.

Ignarra (s.d) afirma que planejamento éum processo lógico de pensamento me-diante o qual o ser humano analisa a reali-dade que o cerca e estabelece meios que

lhe permitirão transformá-la de acordo comseus interesses e aspirações.

Com base nos conceitos acima, devemosc o n s i d e rar o planejamento como umprocesso dinâmico e contínuo de definiçãode objetivos, metas e ações, de formaintegrada entre os diversos agentes sociaisde interesse. Esta afirmativa torna-se maiscomplexa quando pensamos nas diferentesdimensões em que se pode adotar planos eprogramas visando alcançar uma desejadasituação futura. Estas dimensões de planeja-mento consideram os seguintes elementos:❐ elemento temporal – planejamento de

curto, médio e longo prazo;❐ elemento político – regulador, incenti-

vador, financiador, integrado;❐ elemento administrativo – público ou

privado;❐ elemento social – participativo ou de

gabinete;❐ elemento geográfico – internacional

(continente, bloco de países, regiõest rans-fronteiriças), nacional (país oumacroregiões), regional (delimitado porbacias hidrográficas, por pólos de desen-volvimento, por grandes parques), local(municipal) ou sítio (propriedades, áreasprotegidas de pequeno porte).

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

ou regionalizados, e demonstra

praticamente como se alcança os objetivos

do plano. Cada programa possui projetos,

que são compostos por atividades

detalhadas que devem ser conduzidas

para se concretizar os programas.

Por exemplo, o WWF-Brasil possui

uma missão conservacionista (“contribuir

para que a sociedade brasileira conserve

a natureza, harmonizando a atividade

humana com a preservação

da biodiversidade e com o uso racional

dos recursos naturais, para o benefício

dos cidadãos de hoje e das futuras

gerações”) que deve ser alcançada

por meio de vários programas específicos

que envolvem biomas e temas estratégicos.

O turismo foi identificado como uma

das ferramentas para se alcançar

os objetivos da missão (ou do plano).

Assim, o Programa de Turismo e Meio

Ambiente possui uma carteira de projetos

que visam "contribuir para

o desenvolvimento do turismo responsável

no Brasil em áreas prioritárias para

a conservação da natureza". Estes projetos

envolvem fomento ao ecoturismo,

ao turismo de base comunitária,

ao ordenamento da visitação em Parques,

campanhas de conscientização de visitantes

em áreas naturais, certificação do turismo

sustentável entre outros.

Muitos destes projetos dividem-se

em sub-projetos e atividades, cada uma

com metas e recursos próprios.

No caso do Ecoturismo, o planejamento

pode possuir, então, vários programas

que permitem atingir os princípios

do ecoturismo e definir os projetos

que são necessários para alcançá-los.

Como o planejamento deve ser visto

de forma integrada, alguns projetos

são elaborados de forma a poderem

ser executados utilizando-se

dos métodos integrados de intervenção,

estabelecendo-se parcerias e otimizando

recursos humanos e financeiros.

Alguns consultores adotam outras visõespara se definir o escopo do planejamento,classificando-os em estratégico, tático eo p e racional. O planejamento estra t é g i c oseria aquele em que se projeta um espaçode tempo de implementação de médio alongo prazo. Isto pode ocorrer também emfunção da dificuldade em se obter dadosfundamentais e os recursos necessários parao plano. O planejamento tático, por outrolado, envolve um horizonte de tempo inter-mediário, cerca de um ano, enquanto oplanejamento operacional é implementadoem curto prazo, semanas ou meses.Obviamente que para estes dois últimosníveis de planejamento deve-se contar comuma base ampla e sólida de dados, e osrecursos técnicos e financeiros devem jáestar disponíveis.

Além de contínuo, o planejamento deveser flexível. Um planejamento participativoe que possua momentos freqüentes de ava-liação, permite ajustes em todas as suasfases (do diagnóstico ao monitoramento daimplementação e gestão). Somente se obser-varão ajustes se houver um processo conti-nuado de coleta de informações e de con-sultas aos diretamente envolvidos e interes-sados sobre os resultados. Durante a imple-mentação, e de acordo com a disponibili-dade de recursos humanos e financeiros, émuito comum optar-se por estabelecer prio-ridades de intervenção. E após sua imple-mentação, com a capacidade técnica insta-lada e com o suporte do conhecimento jáadquirido, aliado à adoção de sistemas dem o n i t o ramento, deve-se prever revisões,atualizações e correções nos objetivos e nosmétodos estabelecidos.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Durante o desenvolvimento de progra-mas e projetos de ecoturismo, os benefíciosgerados por um planejamento adequadopodem ser vitais para o sucesso da emprei-tada. O planejamento evita riscos demasia-dos, permite maximizar os benefícios para aconservação e incrementar o envolvimentoe a organização comunitária. Além disso,otimiza recursos humanos e financeiros. E,atendendo aos princípios do ecoturismo, oplanejamento contribui para que seu proje-to minimize os impactos indesejáveis nosrecursos naturais e culturais.

Sem planejamento não se pode buscarparceiros, financiamentos e apoios, pois nãoestá claro para os futuros parceiros qual asituação que se deseja alcançar, quais obje-tivos e resultados serão almejados e quais osmeios e técnicas de que se dispõe. Assim,possuir um bom planejamento facilita aavaliação e a tomada de decisão por partede parceiros e investidores.

Para se aprofundar melhor sobre o plane-jamento aplicado para o desenvolvimentoturístico, o item 2 abaixo apresenta algumasreflexões sobre essa atividade.

2. O turismo, seus componentes, benefícios e desvantagens

O turismo é movimento de pessoas, éintegração entre povos, é fenômeno

econômico e social. Turismo é deslocamen-to e permanência voluntária fora de seulocal de residência. Turismo é um conjuntode bens e serviços tangíveis e intangíveis.Fazer turismo é reflexo das vontades psicos-sociais do viajante durante seu tempo livre.

Várias definições vêm sendo usadas paraentender o turismo e todas podem seraceitas. O que se tem em comum entreespecialistas é que o turismo possui umag rande importância sócio-econômica nomundo atual. Por um lado, é uma necessi-dade para o bem-estar psico-físico do serhumano, principalmente para aqueles quevivem nos conturbados centros urbanos. Poroutro, o turismo é uma fonte importante deriqueza econômica e um dos setores de

crescimento mais rápido na economiamundial, considerado um fenômeno pelomundo inteiro, e envolvendo um númerocrescente de postos de trabalho.

Porém, enquanto o turismo pode con-tribuir sensivelmente para o desenvo l v i m e n t osócio-econômico e cultural de amplasregiões, tem, ao mesmo tempo, o potencialp a ra degradar o ambiente natural, as estru-t u ras sociais e a herança cultural dos povo s .Pa ra países como o Brasil, o turismo, em uman ova concepção estratégica, deve ser enten-dido como um conjunto de bens e serviçosque promova o desenvolvimento em níve llocal. Assim, não pode ser considera d osomente como a implantação de meios dehospedagem e alimentação e locais de visi-tação e lazer, mas também como um con-ceito que integra o desenvolvimento urbanoe rural, criando um novo pólo de desenvo l v i-mento econômico diversificado, com inve s t i-mentos em infra - e s t r u t u ra, nas vias de acessoe melhor qualidade nos serviços de edu-cação, saúde e segurança. (SALVATI, 2002a).

O turismo em uma comunidade se ca-racteriza pela oferta de pelo menos cincoelementos: atrativos, serviços, infra-estrutu-ra, comunidades e turistas, que atuam deforma interrelacionada, objetivando gerar osbenefícios desejados.

Dentro da comunidade incluem-sevários segmentos da sociedade que podembeneficiar-se do turismo. Os mais envolvi-dos, e também responsáveis pelo seu suces-so, são os moradores locais, os proprietários(de terra e estabelecimentos comerciais) e ogoverno local. Todos possuem diferentes for-mas de agir para o desenvolvimento do tu-rismo e diferentes formas de se beneficiardele. Porém, o principal benefício decomum alcance é a melhoria da qualidadede vida da comunidade.

❐ Os componentes do turismoAs Ficha 1 e Figura 1 (a seguir) oferecem

subsídios para identificar os diversos seg-mentos envolvidos pelo turismo e o papelde cada um no desenvolvimento da ativi-dade e no atendimento aos interesses da

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è Transportes ® Você precisa dele para ir do mercado ao destino.è Promoção ® Como trazer o mercado ao destino (ver capítulo Elaboração

do Produto de Ecoturismo).è Atração ® O que faz alguém ir a um destino (atrativos naturais ou artificiais,

eventos especiais, entretenimento, história, cultura, família e amigos, negócios etc.).

è Serviços ® Alimentação, acomodações, comércio etc. Geram dinheiro paraa comunidade e acrescentam na experiência do turista. Sem servi-ços, não há dinheiro para a comunidade

è Atmosfera ® 1) Dimensão humana (característica local): hospitalidade, tumulto, congestionamento de pessoas e/ou carros;

2) Dimensão física: limpeza, acesso, estradas, estética (paisagem, paisagismo), segurança etc.

è Pesquisa ® Quem é o mercado, qual é o perfil do turista, do que ele gosta ede Mercado do que ele não gosta, como ele descobriu nossa comunidade,

como é seu comportamento etc. (ver capítulo Elaboração do Produto de Ecoturismo).

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

comunidade. O conjunto dos cinco elemen-tos – atra t ivo, infra - e s t r u t u ra, serviços,comunidade e turista – cria um ambienteque chamamos de atmosfera do turismo.

❐ Benefícios e Desvantagens do TurismoAssociada a diversos capítulos deste

Manual, a Fi cha 2 a seguir demonstra que o

ecoturismo provocará mudanças na comu-nidade, algumas positivas e outras negativa s .O inventário é um instrumento para melhorse conhecer a realidade e favorecer a adoçãode medidas de planejamento que incre-mentem os impactos positivos e minimizemos negativos. (ver capítulo L e vantamento doPotencial Ecoturístico – Inve n t á r i o)

DESTINO

Elo de comunicação

PESQUISA DE MERCA D OElo físico

1

/ FICHA 1

✑ FIGURA 1

COMPONENTES DO TURISMO

COMPONENTES DO TURISMO

PROMOÇÃO

TRANSPORTE

MERCADO

ATRAÇÃO

ATMOSFERA

Serviços

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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/ FICHA 2

BENEFÍCIOS DO TURISMO

O desenvolvimento do turismo tem gera-do uma série de benefícios. A seguir, lis-tamos algumas das contribuições que oturismo pode trazer à qualidade de vidade sua comunidade.

BENEFÍCIOS ECONÔMICOS

❐ O turismo ajuda a diversificar e esta-bilizar a economia local. Tambémpode ajudar a trazer outras atividadeseconômicas para a comunidade.

❐ O turismo gera impostos e traz di-nheiro novo para a comunidade.

❐ O turismo gera empregos e oportu-nidades comerciais.

BENEFÍCIOS SOCIAIS

❐ O dinheiro gerado pelo turismo ajudaa financiar serviços e estabelecimen-tos públicos que a comunidade talveznão tivesse condições de financiar(estradas públicas, energia, comuni-cação, saúde e segurança).

❐ O turismo incentiva a participaçãocívica e o orgulho pela comunidade esuas manifestações culturais.

❐ O turismo proporciona o resgate e ointercâmbio cultural.

BENEFÍCIOS AMBIENTAIS

❐ O turismo pode incentivar a preser-vação de recursos naturais, culturais ehistóricos.

❐ O turismo pode estimular a revitaliza-ção e embelezamento paisagístico dacidade ou vila.

❐ O turismo pode contribuir para a sus-tentabilidade de áreas protegidas.

❐ O turismo educa para a conservaçãoda natureza.

DESVANTAGENS DO TURISMO

Embora o turismo traga muitos benefí-cios, o seu desenvolvimento não acon-tece livre de impactos negativos nacomunidade. Abaixo listamos algunsdesses possíveis malefícios.

DESVANTAGENS ECONÔMICAS

❐ O turismo necessita de custos opera-cionais para pesquisa, promoção etc..

❐ O turismo se utiliza de serviços públi-cos que são mantidos pelo contribuintelocais, excedendo seus custos.

❐ O turismo pode exigir o treinamentode empregados, proprietários e a edu-cação da população local.

❐ O turismo pode gerar fuga de capitais.

DESVANTAGENS SOCIAIS

❐ O turismo pode atrair visitantes comcomportamento conflitante com o dacomunidade e seus padrões culturais.

❐ O turismo pode criar tumulto,poluição em vários níveis e conges-tionamento.

❐ O turismo pode aumentar os índicesde criminalidade e marginalidade.

❐ O turismo pode gerar conflito entre osque o querem e os que são contra oseu desenvolvimento.

DESVANTAGENS AMBIENTAIS

❐ Turismo desordenado ou sem critériospode degradar a qualidade de impor-tantes recursos naturais e históricos.

❐ Lixo, barulho e poluição do ar podemaumentar com o turismo.

❐ O sucesso econômico do turismopode levar a maior pressão sobre osrecursos naturais.

BENEFÍCIOS E DESVANTAGENS DO TURISMO

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

3. O planejamento para um turismo responsável

O turismo vem sendo considerado umdos maiores fenômenos da atualidade.

Para muitos países e regiões, principalmentepara os detentores de vastos recursos natu-rais, riquezas de paisagens, forte herançac u l t u ral e dificuldades de crescimentoeconômico, o turismo vem sendo identifica-do como a "bola da vez" e para muitos é a"salvação da pátria". E com o aumento dotempo livre na sociedade contemporânea,aliado às novas facilidades em transportes ecomunicação, entre outras causas e condi-cionantes, o crescimento deste merc a d ovem ocasionando diversas situações noslocais atra t ivos, algumas positivas (p.ex.emprego), outras negativas (p. ex. degra-dação ambiental). Alia-se a esta conjunturao uso do empirismo no planejamento e aausência de especialistas em posiçõeschaves dos setores estratégicos de governose mercados.

a) Identificando os objetivos do planejamento

O planejamento em turismo pode tervários objetivos, os quais dependem de umaanálise crítica, profissional e participativa,da situação em que se encontra sua região,seu empreendimento ou sua propriedade.No caso de destinos turísticos potenciais,onde a atividade ainda não vem ocorrendode forma significativa (ou seja, o momentoideal para o planejamento), podemos terplanos como instrumento para:❐ orientar uma nova atividade econômica

incrementando o desenvolvimento locale/ou regional;

❐ desenhar que tipo de turismo (e de turis-tas) queremos em nossa região;

❐ valorizar as culturas locais e a manu-tenção da paisagem e da biodiversidade;

❐ evitar, ou minimizar, os efeitos sociais,econômicos e ambientais negativos daatividade;

❐ diversificar a economia local e qualificara mão-de-obra local;

❐ direcionar a instalação de equipamentose infra-estrutura, ordenando as ações eatividades humanas sobre o território;

❐ estabelecer os marcos legais para a ativi-dade;

❐ orientar a circulação de veículos epedestres;

❐ desenvolver produtos, identificar merca-dos e estabelecer um programa de mar -keting estratégico.

Pa ra regiões que já percebem fluxosturísticos, os objetivos do planejamento têmforte caráter de ordenação e regulação, cor-rigindo distúrbios e problemas já instalados,direcionando o desenvolvimento do turismopara um nível adequado de controle parti-cipativo das atividades atuais e projetandomedidas incentivadoras de oportunidadesfuturas. Neste caso, além de adotar comnovo enfoque alguns dos itens já menciona-dos acima, pode-se prever esforços para:❐ educar o visitante, avaliando criteriosa-

mente o perfil da demanda atual;❐ (re)capacitar os prestadores de serviços e

estimular novas ocupações;❐ mitigar impactos socio-ambientais;❐ acordar com os agentes sociais do turis-

mo (mercado privado, comunidades,gestores de UC's, políticos e populaçãoem geral) medidas normativas e indicati-vas, efetivas para um novo ordenamentoda atividade;

❐ incentivar um ganho de qualidade dosprodutos, incluindo a possibilidade deinserí-los em processos de certificação(veja item 6 da Caixa de Ferramentas);

❐ (re)estabelecer estratégias de comuni-cação e marketing para os produtos eroteiros atuais e potenciais.

b) Adotando uma abordagem integrada

Para um bom plano exige-se profissiona-lismo, consulta aos interessados do mercadoe da sociedade civil, uma visão de longoprazo e disponibilidade de recursos finan-ceiros. Em qualquer das situações em que seencontra o turismo em sua região (presente

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

ou ausente), o planejamento do turismo quese almeja integrado e sustentável deveenvolver os seguintes aspectos, sempre pen-sando-se numa escala de tempo:❐ físico e ambiental: as paisagens, a biodi-

versidade, o uso do solo e dos recursosnaturais, as áreas protegidas, o ambienteurbano e rural;

❐ legal: as normas restritivas e/ou incenti-vadoras do turismo, as normas exigidasde controle e estímulo da atividade;

❐ fi na n c e i ro: a otimização e internalizaçãona cadeia produtiva local do fluxo de re-cursos gerados pelo turismo; a previsão dereceitas, investimentos e custos de admi-n i s t ração do turismo; a busca de parc e i r o se s t ratégicos; o estabelecimento de fundosde investimentos locais (FUMTUR);

❐ político-institucional e outras políticasde interface com M.A., AG etc: as políti-cas nacionais, regionais e locais em tu-rismo, os conselhos participativos de tu-rismo (COMTUR), órgãos executivo s(secretarias ou departamentos), as insti-tuições públicas e privadas;

❐ promocional: estabelecer a imagem dodestino, o diferencial para destinos con-correntes, o público-alvo, as estratégiasde comunicação etc.

❐ econômicos: os incentivos de mercado,a diversificação da economia local, aintegração com outros setores econômi-cos, a qualidade e competitividade deprodutos e roteiros;

❐ sociais: a organização e o envo l v i m e n t ocomunitário, o coopera t ivismo e o associa-t ivismo, as necessidades de capacitaçãoprofissional, a satisfação do visitante;

❐ culturais: o resgate e a valorização demanifestações e bens culturais de inte-resse social e turístico.

c) Adotando uma abordagem geográficaComo já afirmado anteriormente, o

planejamento do turismo, quando integradoe participativo, também deve prever sua for-mulação, implementação e monitoramento

levando-se em conta a unidade geográficade maior interesse. As vezes é preferível umprocesso mais complexo de planejamentointegrado entre dois ou mais municípios,visando um planejamento regional, do quecentralizar este processo em nível local eignorar que os recursos naturais e as pai-sagens de interesse turístico não respeitamdivisões político-administrativas. Em todo ocaso podemos ter diferentes abrangênciasgeográficas no planejamento turístico: ❐ o âmbito internacional, podendo ser

mundial (p. ex. diretrizes da Declaraçãode Quebec - 2002, plano global de cer-tificação do turismo sustentável – Sust-ainable Tourism Stewardship Council),regional (Mercosul, Comunidade Andi-na, Certificação do Turismo para aCentro-América) e tra n s - f r o n t e i r i ç o(Pantanal brasileiro e boliviano)

❐ o âmbito nacional, geralmente em formade uma política nacional, com diretrizesgerais para o desenvolvimento de planose programas setoriais e regionais;

❐ o âmbito macro e micro regional, p.ex.e nvo l vendo um bioma (p. ex. A m a-zônia), uma bacia hidrográfica (Vale doRibeira) ou um conjunto de municípios(entorno do PA R NA Chapada dosVeadeiros);

❐ o âmbito municipal, p. ex. envolvendoas ações necessárias para o desenvolvi-mento do ecoturismo em nível local; e

❐ o âmbito de um local ou sítio atrativo, p.ex. uma unidade de conservação (parqueou RPPN) ou uma propriedade rural.

4. O contexto do planejamento turístico no Brasil (2)

O turismo no Brasil é uma ativ i d a d eainda emergente, porém de crescimen-

to intenso nos últimos anos. O desenvolvi-mento deste mercado, inserido principal-mente em locais de interesse cênico e tendocomo base recursos naturais de alta biodi-versidade, tais como a Amazônia, o Pan-

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(2) – NOTA DO AUTOR: Adaptado a partir de vários artigos e textos deste autor.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

tanal, a Mata Atlântica e a costa litorânea,tem trazido preocupações aos gove r n o slocais, às comunidades anfitriãs e às organi-zações conservacionistas por colocar emrisco áreas naturais protegidas ou não, deriquezas imensuráveis, assim como impor-tantes patrimônios histórico-culturais.

As áreas rurais e urbanas que já apresentamfluxos turísticos regulares, via de regra não pos-suem planejamento algum para receber visi-tantes. Em nível local, isto diz respeito à ausên-cia de legislação em turismo e meio ambiente,planejamento do uso do solo, identificação,criação e zoneamento de áreas protegidas,equipamentos de apoio turístico ou progra m a sde orientação e controle de visitação, incluin-do atividades de educação ambiental. Domesmo modo, muitas empresas turísticas, prin-cipalmente os meios de hospedagem e aso p e ra d o ras, não possuem critérios para oplanejamento de suas atividades e para pro-teção da base dos recursos naturais e cultura i sque fundamentam seus negócios.

Adiciona-se a esta conjuntura o fato de oB rasil estar, atualmente, vivendo umaexplosão de investimentos em turismo (etambém em ecoturismo). Diversos progra m a spúblicos vêm se desenvo l vendo e possuemtotal ou parte de suas estratégias vo l t a d o sp a ra o desenvolvimento do turismo e do eco-turismo, como é o caso do Proecotur/ MMA–BID (desenvolvimento de pólos de ecoturis-mo na Amazônia), Prodetur/MT–BID (desen-volvimento de turismo nas regiões Nordestee Sul), Programa Pa n t a n a l / B I D – M M A(Gestão sustentável dos recursos naturais noPantanal de MS e MT), Programa Pólos daSecretaria de Desenvolvimento Sustentá-vel/MMA, Programa de Ecoturismo emReservas Extrativistas/IBAMA/CNPT (envol-vendo 8 projetos em todo o Brasil), entreoutros. Ao mesmo tempo o país está defini-tivamente inserido no circuito dos grandescapitais investidores estrangeiros, associa-dos ou não ao capital brasileiro, para aimplantação de parques temáticos, com-plexos hoteleiros e resorts, boa parte locali-zada em ambientes que apresentam fragili-dade ambiental e comunidades rurais.

De certo que o Brasil possui um amplopotencial para o desenvolvimento de umm e rcado turístico de qualidade, e quenecessita deste aporte de inve s t i m e n t o s .Porém, para ser viabilizado com sustentabi-lidade, há a necessidade de se avaliar cuida-dosamente o contexto em que se encontramnossos destinos potenciais, quais os obje-t ivos de desenvolvimento sustentável aserem alcançados e os meios para atingí-los,por meio de uma Política Nacional deTurismo Sustentável, integradora e associa-da às visões de mercado e das comunidadesanfitriãs. Esta necessidade está baseada noseguinte contexto:❐ Existem exemplos de planos públicos de

d e s e nvolvimento turístico que nãodefiniram claramente (ou ignoraram) osobjetivos de sustentabilidade do turismoe os reais beneficiários, e vêm tendo difi-culdades em sua implantação, nãoalcançaram as metas desejadas ou estãocausando distúrbios sócio-ambientais;

❐ Há uma forte onda de investimentos pri-vados, porém com lacunas na definiçãode critérios ambientais e sociais, assimcomo há uma certa facilidade de finan-ciamentos por agências de fomento go-vernamentais, onde observa-se clara-mente a fragilidade na avaliação dosresultados em prol da sua sustentabili-dade ampla (econômica, social e am-biental);

❐ Ausência de regulamentos governamen-tais em nível regional e local, e fracaintegração entre as diferentes políticasde desenvolvimento econômico nacio-nais, tais como as políticas agrícolas, dei n f ra - e s t r u t u ra, de energia e comuni-cações, de saneamento etc.

❐ Falta de compromisso com o desenvolvi-mento local por parte de projetos públi-cos e privados, associado à banalizaçãodos conceitos “eco” (ecoturismo, e c o r s o r t,ecopousada etc.);

❐ Áreas protegidas ameaçadas por pressãode visitação associada a carência de recur-sos humanos, técnicos e financeiros parase garantir o lazer e a segurança do visi-

1

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O WWF-Brasil, por meio de seu Programa de Turismo e Meio Ambiente, vem articulan-do com entidades da sociedade civil e órgãos governamentais, o fomento ao debate sobrea adoção de uma política de longo prazo para o desenvolvimento responsável do turismono Brasil. Desta articulação surgiu o Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável, entidaderepresentativa dos setores social, econômico e ambiental do turismo, com objetivo de esta-belecer uma estratégia para a implantação de um esquema unificado de certificação do tu-rismo no Brasil. Neste mesmo sentido de participação e representatividade, espera-se dogoverno que convoque a sociedade para o debate em torno de uma Política Nacional deTurismo Sustentável, que deve considerar, entre outras estratégias:

è A integração das diversas políticas governamentais que incentivam, afetam ouinibem a atividade turística, envolvendo diferentes órgãos da administração direta eindireta, assim como as instituições públicas e multilaterais de financiamento e inves-timento no setor;

è A normatização e regulamentação da atividade, principalmente com relação ao usoe ocupação do solo, códigos ambientais e planos de desenvolvimento responsável doturismo, orientando governos estaduais e municipais na adoção de políticas e sis-temas de gestão sustentável da atividade;

è A efetiva participação das comunidades envolvidas nos destinos turísticos nastomadas de decisão para planejamento e gestão do turismo;

è A sustentabilidade de áreas naturais protegidas, com a efetiva implementação egestão sustentável e participativa, envolvendo suas populações de entorno, comple-mentando e incrementando as suas atividades econômicas sustentáveis e valorizan-do e priorizando a manutenção da biodiversidade;

è A capacitação e qualificação pro f i s s i o n a l das empresas e das associações comu-nitárias voltadas ao turismo, facilitando o acesso à tecnologias limpas e outras linhasde crédito;

è A educação de consumidores, funcionários e fornecedores de serviços turísticospara o consumo do turismo de forma socialmente e ambientalmente amigável;

è O estímulo e reconhecimento de esquemas representativos para a certificação do tu-rismo sustentável, por meio do Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável de amploespectro de representatividade.

E no contexto FINANCIAMENTO/PROMOÇÃO do ecoturismo, para que o Brasil obte-nha sucesso de longo prazo, deve-se considerar, entre outras questões, que a partir do esta-belecimento de uma Política Nacional do Turismo Sustentável, acordada com o mercado ea sociedade civil, se estabeleça um planejamento e desenvolvimento integrado, por meio

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

tante e a integridade de nossos parques;❐ Métodos de planejamento e marketing

não responsáveis, empíricos ou baseadossomente no enfoque da lucratividade;

❐ Baixa capacidade técnica e financeira depequenas e médias empresas de turismo

e de comunidades nos destinos;❐ Ausência de diretrizes, códigos de ética

e conduta no meio empresarial e profis-sional, associado à ausência de enti-dades de classe representativas em eco-turismo e turismo sustentável.

1

1 QUADRO 1

POR UMA POLÍTICA NACIONAL DE TURISMO SUSTENTÁVEL

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

5. O planejamento e os princípios do ecoturismo

Para aprofundar a compreensão do eco-turismo e subsidiar a elaboração de

planos de ecoturismo, os participantes daprimeira oficina do Manual detalharam osprincípios do ecoturismo segundo sua com-preensão, estabelecendo as diretrizes queorientaram o desenvolvimento do Manual eseus diversos instrumentos de planejamentotemático. Os princípios são: ❐ O ecoturismo deve contribuir para a

conservação do meio ambiente;❐ O ecoturismo deve promove r, onde pos-

s í vel, a valorização cultural das comu-nidades, bem como sua capacitação parao gerenciamento participativo e de míni-mo impacto dos recursos envo l v i d o s ;

❐ O ecoturismo deve buscar a diversifi-cação e integração econômica para amelhoria da qualidade de vida dascomunidades;

❐ No desenvolvimento do ecoturismo, ai n t e g ração e equilíbrio entre conser-vação ambiental, respeito pela culturalocal e a diversificação de atividadeseconômicas devem ocorrer via processoparticipativo.

A seguir, apresentamos os resultadosdeste trabalho:

è O ecoturismo deve contribuir para aconservação do meio ambiente

A prática deste princípio se dá em trêsaspectos:

da articulação política e inter-setorial entre todos os atores da atividade: ONG's (ambien-talistas e sociais), comunidades, academia, mercado, governo (Ibama / Embratur) e turistas.Dentro desta política podem-se estabelecer estratégias e diretrizes nacionais específicas quecompreendam as atividades de turismo comunitário e ecoturismo, como vêm fazendo paí-ses como Austrália, Equador e Costa Rica.

(1) Minimizando os impactos ambientaisnegativos por meio de:

❐ Planejamento baseado em estudos e co-nhecimentos específicos, como porexemplo, os realizados para o desen-volvimento do Plano de Uso Recreativono Parque Nacional Marinho de Fernan-do de Noronha(3) e que envolve:- Zoneamento da área (área intacta eáreas de usos diferenciados; restrições erecomendações de acesso e uso);- Definição dos limites aceitáveis deimpactos;- Realização do monitoramento contínuode impactos, por meio de indicadorespré-estabelecidos e de fácil verificação.

❐ Informação e educação diferenciadaspara visitantes e residentes.

❐ Capacitação dos profissionais inter-mediários entre visitantes e residentes(gestores, administradores, proprietários,guias, funcionários de unidades de con-servação etc.).

(2) Gerando benefícios por meio de:❐ Destinação de recursos financeiros para

conservação (manejo, criação de uni-dades de conservação, apoio, voluntaria-do etc.).

❐ Motivação para o trabalho voluntário emconservação

(3) Viabilizando o retorno econômico esocial para as comunidades em unidadesde conservação (ex.: Reserva Extrati-vista) ou entorno, permitindo a geraçãode benefícios diretos e indiretos do usosustentável do ecoturismo na unidade

1

(3) – NOTA DO AUTOR: A experiência deste projeto, os métodos utilizados e as lições aprendidas estão registra d a sna publicação "Uso Recreativo no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha – um exemplo de planeja -mento e implementação", lançado pelo W W F - B rasil em 2001 e disponível em w w w. w w f . o r g . br.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

de conservação, a qual passa a ser va-lorizada (ex.: ex-garimpeiros do ParqueNacional da Chapada dos Veadeiros sãohoje guias do Parque e colaboram comsua proteção). Isto se dá por meio de:

❐ Participação nos conselhos gestores daunidades de conservação, opinando epropondo estratégias de uso sustentável;

❐ Avaliações da capacidade local ded e s e nvo l ver negócios sustentáveis deinteresse direto (artesanato, condução degrupos, abertura e manutenção de atra-tivos e trilhas etc) ou indireto (agricul-tura, extrativismo, marcenaria, pesca etc)para o ecoturismo;

❐ Preparo, capacitação e convite à so-ciedade local para participar do proces-so de terceirização de serviços em par-ques nacionais(4) em desenvolvimentopela DIREC/IBAMA, induzindo o empre-endedorismo comunitário.

è O ecoturismo deve promover, onde possível, a valorização cultural das comunidades, bem como suacapacitação para o gerenciamento participativo e de mínimo impacto dos recursos envolvidos.

Deve ser desenvolvido levando em contaos seguintes aspectos:❐ Valorização (se for o caso) da cultura

local, minimizando impactos e aumen-tando a auto-estima na comunidade.

❐ Interpretação do processo histórico decolonização e uso do solo para com-preender os valores sociais existentes,subsidiando um trabalho mais coerentecom a realidade local.

❐ Promoção e apoio à articulação depolíticas públicas voltadas para o benefí-cio das comunidades.

è O Ecoturismo deve buscar a diversificação e integração econômicapara a melhoria da qualidade de vida das comunidades.

A diversidade de atividades econômicas éfundamental na busca e manutenção doequilíbrio sócio-econômico e ambiental deuma região. O desenvolvimento exclusivo doecoturismo pode levar ao uso intensivo dosrecursos naturais, impactos negativos, perdade qualidade de vida e da visita, concorrên-cia extremada gerando lucros baixos e, eve n-tualmente, descaracterização da ativ i d a d e .

O ecoturismo não deve ser ativ i d a d eeconômica única, mas sim complementar ei n t e g rada às outras atividades locais, fortale-cendo-as e colaborando para mov i m e n t a ç ã omicro-regional dos recursos oriundos da visi-tação. Pa ra tal, deve desenvo l ver mecanismosde estímulo à produção local (alimentos, arte-sanatos, serviços etc.), suprindo necessidadesde consumo do ecoturismo e locais (ex.: estí-mulo à produção de alimentos, objetos arte-sanais de decoração, objetos de marcenaria em ovelaria, confecção têxtil etc. para restau-rantes/pousadas), evitando evasão de rendaoriunda do turismo para outros centros.

A organização e fortalecimento de enti-dades locais (públicas, comerciais, rurais, declasse etc.) é fundamental na busca de equi-líbrio e incremento dos benefícios econômi-cos. O estabelecimento de preços mínimoscom padrão de qualidade (explorar o turis-mo e não o turista), o retorno econômicop a ra o município (impostos, taxas), o estabe-lecimento de um fundo de investimentos emanejo do ecoturismo (vinculado à comu-nidade ou a um órgão público, p.ex. FUM-TUR), criação e facilitação de fontes dei n c e n t ivo para pequenos empresários, pro-g ramas de capacitação e empreendedorismo

1

(4) – NOTA DO EDITOR: O processo de terceirização dos serviços de turismo em parques nacionais tem comoo b j e t ivo garantir um dos objetivos destas unidades - o lazer e a recreação de visitantes, por meio de concessõese permissões ao setor privado para prestação de serviços de hospedagem, transporte, alimentação, venda deartigos diversos, condução de grupos, atividades esportivas entre outras.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

e diversas outras atividades são facilitadasquando há compreensão e vontade comu-nitária, principalmente quando esta vo n t a d eé expressa por meio de entidades civ i s .

Por fim, é importante monitorar impactossociais da mesma forma como se deve mo-nitorar os impactos ambientais. Cada proje-to, ou comunidade, deve estabelecer seuspróprios métodos para identificar benefíciose malefícios provenientes do ecoturismo.

Alguns indicadores de mudanças positivas ounegativas de qualidade de vida já sãopesquisados por órgãos governamentais ouentidades não governamentais, e outrosd e vem ser estabelecidos de acordo com asc a racterísticas da região. Pa ra que esta ava l i a-ção com base em indicadores seja efetiva ef a c t í vel, o estabelecimento de parâmetros defácil verificação e realistas e a adoção de ava l i-ação continuada são fundamentais (Fi cha 3).

· Renda per capita

· Concentração de renda

· Escolaridade

· Mortalidade/natalidade/índices de saúde

· Estrutura familiar

· Densidade populacional/área verde

1

è No desenvolvimento do ecoturismo, a integração e equilíbrio entre conserva ç ã oambiental, respeito pela cultura local e ad iversificação de atividades econômicasd e vem ocorrer via processo participativo .

D e vem ser levados em conta osseguintes aspectos:

❐ Representação das partes interessadas(elementos ou representantes) formais einformais da comunidade local e externa.

❐ Estabelecimento de estruturas e mecanis-mos para resolução de conflitos, tomadade decisão, planejamento, execução,monitoramento, avaliação e autogestãodas atividades.

❐ Resolução de conflitos buscandootimizar benefícios.

❐ Processos de educação, capacitação et ransferências de tecnologias apropri-adas, envolvendo os beneficiários na suaelaboração e multiplicação.

III. CAIXA DE FERRAMENTAS

Este capítulo sugere um processo deplanejamento especialmente adequado parao ecoturismo de base comunitária, ou seja,para uma atividade que objetiva o desen-volvimento econômico e social aliado àc o n s e r vação da natureza em regiões,municípios e sítios de visitação. Assim, estaseção do capítulo tratará do planejamentodo ecoturismo para diferentes abordagens eestratégias de desenvolvimento: 1. Identificando as etapas do

planejamento do ecoturismo.2. Planejando o ecoturismo

em busca de sustentabilidade.3. Planejando o ecoturismo local

e regional.4. Planejando o ecoturismo em áreas

protegidas ou propriedade rural particular.

5. Planejando produtos ou empreendimentos de ecoturismo.

6. Projetando a sustentabilidade de produtos para a certificação.

/ FICHA 3

INDICADORES BÁSICOS NA AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA

· Poluição em todos os níveis

· Infra-estrutura (energia, comunicação, saneamento) para a comunidade

· Marginalidade e criminalidade

· Preços de terras e produtos comerciais básicos

· Preços de m2 construído

· N í vel e quantidade de emprego/desemprego

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u Análise da situação(Onde estamos?)

É o conhecimento da realidade, dasestruturas, atrativos, serviços, clientes, a vi-são da comunidade sobre o turismo, proble-mas e necessidades existentes etc. A investi-gação da situação atual considera um

enfoque integrado de âmbito político, legal,social, econômico e ambiental. Apresen-tando os dados à comunidade e discutindocom lideranças, governos e empresas par-c e i ras tanto para o desenvolvimento dediagnósticos estratégicos participativo scomo para a elaboração dos objetivos e

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1. Identificando as etapas do planejamento do ecoturismo

Em função das considerações adotadas naIntrodução Conceitual, pode-se estabele-

cer de forma organizada as etapas para umplanejamento criterioso, integrado, participa-t ivo e sustentável, onde os métodos podemser adaptados tanto para áreas sem presençado turismo como para áreas já em desen-volvimento. Assim, no momento da elabo-ração de um plano de desenvolvimento deecoturismo, seja para uma região ou municí-pio, uma empresa ou uma ONG, quatro per-guntas básicas devem ser respondidas.

] Onde estamos? u Análise da Situação

] Aonde u Objetivos e queremos chegar? Metas

] Como u Açõeschegaremos lá?

] E como saberemos u Avaliaçãose já chegamos?Na Ficha 4, podemos ilustrar essas per-

guntas e o elo entre elas. E para se fazer umbom planejamento de implantação do eco-turismo, devemos responder à primeira per-gunta e gerar subsídios para elaboração dasoutras três respostas.

1

/ FICHA 4

QUATRO PASSOS NO PROCESSO DE PLANEJAMENTO DO ECOTURISMO

ANÁLISE DA SITUAÇÃO

Inventário/Diagnósticos/Consultas

AVALIAÇÃOResultados alcançados/

M o n i t o ramento continuado/Consultas aos atores

OBJETIVOS E METASElaboração do Plano/

Definição de programas e projetos/

Participação ampla

AÇÕESImplementação do Plano

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

metas e para tomada de decisões.

u Objetivos e metas(Aonde queremos chegar?)Diante da realidade apresentada, quais

são os nossos objetivos, o que queremos doturismo e para a comunidade a curto, médioe longo prazos? Quem serão os benefi-ciários em termos de conservação e desen-volvimento local?

u Ações (Como chegaremos lá?)Definição das ações necessárias para

atingir nossos objetivos. Quais as medidasm i t i g a d o ras de impacto socio-ambiental?Deve-se pesquisar o mercado atual e poten-cial: produtos existentes, concorrentes, seuspreços e diferenciais, demanda efetiva epotencial, tendências de desenvolvimentoetc. Como desenvolver produtos, roteiros eserviços diversos ? Como integrar todos elesem uma imagem diferenciada para o eco-turismo na região?

u Avaliação(Como saberemos se já chegamos?)Estabelecer metas, produtos e sistemas

de monitoramento que forneçam indica-dores sobre o andamento dos objetivos eresultados e as necessidades de correção emudança de rumo.

2. Planejando o ecoturismo em busca de sustentabilidade

Conforme identificado no item anterior, odesenvolvimento de qualquer plano de

ecoturismo, de base comunitária ou não,deve ser apoiado em atividades que resul-tem no conhecimento das necessidades eexpectativas dos atores sociais, do efetivopotencial ecoturístico em termos atrativos,financeiros e de mercado e dos benefíciospara a conservação e para as comunidadeslocais. Durante este processo, algumas con-siderações são pertinentes para qualquertipo, nível ou interesse no desenvolvimentode planos de ecoturismo, necessárias para

se consolidar uma visão estratégica eresponsável que planejadores devem adotar.Assim, as pré-condições que um plano ded e s e nvolvimento do ecoturismo deve secomprometer a analisar cuidadosamentesão detalhadas a seguir.

a) Refletir sobre se o ecoturismo é apropriado

A decisão de planejar por si só já mereceuma análise mais aprofundada. Deve havermotivações suficientes para se decidir peloesforço em se estabelecer um plano para oecoturismo. No Brasil freqüentemente temse falado em planos ecoturísticos comoalternativa econômica para as regiões emlocalidades relativamente remotas e compotencial atrativo. E, neste caso, as moti-vações são a exploração de nossa rica pai-sagem natural para viabilizar um desen-volvimento local responsável. Neste contex-to, nem sempre as decisões de se iniciar oplanejamento são motivadas por interesses eexpectativas das comunidades onde se daráo ecoturismo.

O planejamento integrado, aquele emque se estabelecem diagnósticos mais am-plos, envolvendo não somente as potencial-idades turísticas, mas o contexto regionalpara desenvolvimento e conservação, per-mite que o planejador obtenha uma visãodas circunstâncias políticas, legais, conser-vacionistas e de desenvolvimento em que seencontra seu objeto de planejamento. Ospré-requisitos mínimos e razoáveis para secontinuar pensando em se estabelecer oecoturismo podem ser:❐ Conhecer os marcos legais e políticos

que não inviabilizam o ecoturismo, ouque não impeçam o seu investimento,tais como entorno de unidades de con-servação de proteção integral, locais deconstrução de barragens, áreas de confli-to indígena etc;

❐ Um certo grau de salubridade, ausênciade moléstias transmitidas em ambientesnaturais, como cólera, malária e febreamarela, e acesso facilitado para ser-viços de saúde;

1

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

❐ Um alto grau de segurança ao visitante,principalmente com relação à criminali-dade, atividades e acessos de risco, ouáreas de conflito político-social;

❐ Uma avaliação responsável sobre aspotencialidades atrativas da região, pro-priedade ou UC (diversidade e quanti-dade de paisagens e de espécies dafauna e flora de interesse ecoturístico)suficientes para se atrair visitantes;

❐ Ver a oferta de atrativos naturais em quese conheça razoavelmente sua capaci-dade de manejo em receber fluxos devisitantes;

❐ A implantação estruturas organizacio-nais (espaços institucionais adequados emecanismos claros) para se conhecer eintegrar o nível de consciência e a visãoda comunidade sobre suas expectativasem relação ao turismo, inclusive para atomada participativa de decisões;

❐ Uma pré-avaliação de mercado quedetermine a existência de uma demandapotencial e os esforços necessários paraalcançá-la;

❐ Um grau confiável sobre a propriedadeda terra de uso ecoturístico.

1

RESERVAS EXTRATIVISTAS DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO:

UM EXEMPLO DE PROJETO DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

Questão fundiária

epois de iniciado o Projeto de Ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais de Pedras Negras e Curralinho (RO), descobriu-se que a área da Reservade Pedras Negras estava sendo requisitada pela FUNAI – Fundação Nacional

do Índio, por ser provavelmente ocupada por índios isolados. Apesar de envolver diretamente a comunidade, que poderia ser retirada do local por esse motivo, os nativose as associações civis parceiras desconheciam a intenção da FUNAI. Caso a fundaçãoganhasse a posse da área, o que não ocorreu, todas as benfeitorias já construídas parao projeto seriam perdidas.

O planejamento estratégico recomenda que, antes de se iniciar atividades de desenvolvimento do ecoturismo em uma região, principalmente de estruturas físicas,seja feito um amplo levantamento sobre a legislação pertinente, o uso e posse da terra,se há projetos de desenvolvimento urbano, agrícola e rural, entre outros aspectos.

Os órgãos públicos que comumente podem ter demanda ou interferir diretamente sobreo uso da propriedade são FUNAI, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária(INCRA), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Departamento de Estradas de Rodagem (DER) (relativo à novas estradas que podem direcionar ou modificar os acessos), o Ministério das Minas e Energia ou a ANEEL, sua agência reguladora (relativo aos planos para construção de hidrelétricas), o IBAMA (relativoa planos de novas áreas protegidas), e os governos do Estado e município, além docartório de registros de imóveis e terras.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Uma avaliação positiva sobre estes pré-requisitos não permite afirmar que o ecotu-rismo é a melhor (ou única) opção, mass e r ve como ponto de afirmação para se pen-sar em continuar a desenvo l ver o plano deecoturismo. Tendo em mãos esta pre-ava l i-ação, esta pode também ser uma importantef e r ramenta para se comunicar com agênciasf i n a n c i a d o ras, por meio de cartas deintenção, possibilitando a obtenção de umsinal verde para possíveis apoios financeiros.

b) Verificar as vantagens potenciais para a conservação da natureza

A conservação de habitats e paisagens éum dos princípios do ecoturismo. Mas ocontexto de conservação nos destinospotenciais de ecoturismo nem sempre éf avo r á vel. Dificuldades econômicas nomeio rural e ausência de políticas governa-mentais de apoio às atividades tradicionaisno campo, entre outros fatores, tem levadoas comunidades a uma sobre-exploraçãodos recursos naturais. Se melhorar a quali-dade de vida local é objetivo de plane-jadores e comunitários, a visão que seespera no planejamento é a de que estanova atividade (o ecoturismo) possa vir a seruma ferramenta para lograr uma forma maissustentável de se relacionar com a natureza.

Com o diagnóstico das potencialidadesdo ecoturismo, aliado ao diagnóstico sobreas potencialidades de outros usos econômi-cos na região, pode-se questionar se o eco-turismo é realmente a melhor alternativa.Assim, questões ch aves que devem serrespondidas por planejadores e liderançascomunitárias são:è Qual o número de beneficiários

do projeto de ecoturismo?è Quais as atitudes que se espera

em nível local para reverter processosde degradação da natureza?

è E que papel o ecoturismo pode ter nas mudanças de atitudes?

è Quais problemas adicionais paraa conservação (contrapondo-se aos seusbenefícios) o ecoturismo pode trazer?

è Poderia outras alternativas econômicas

sustentáveis ter o mesmo papel ou alcançar os mesmos resultados que o ecoturismo, pelo mesmo esforço comunitário?

Em muitas localidades rurais tem sidoobservada uma relação equilibrada entrecomunidades e meio ambiente. A chegadado ecoturismo pode trazer uma nova visãode uso econômico da natureza, modifican-do hábitos e pressionando o uso dos recur-sos naturais. Assim, caso o ecoturismo seja aopção de desenvolvimento local, essarelação deve ser mantida, buscando-se umequilíbrio adequado.

Ao se definir claramente quem será bene-ficiado (a conservação da natureza, a co-munidade local, os turistas etc.), as ações ee s t ratégias para isto e os indicadores de fácilverificação para se conhecer o grau desucesso do ecoturismo, o plano terá gra n d e schances de cumprir com um dos seusmaiores objetivos: promover desenvo l v i m e n-to local aliado à conservação da natureza.

c) Identificar as necessidades e expectativas dos atores sociais envolvidos

Durante o processo de planejamento,deve-se estabelecer as estratégias e técnicasp a ra garantir a participação dos setoresinteressados, dosando adequadamente assuas necessidades e expectativas.

Para que o núcleo receptor seja benefi-ciado com o turismo os planejadores locaisprecisam satisfazer as necessidades dos tu-ristas e do mercado turístico, as necessi-dades de proteção dos recursos naturais eculturais e as necessidades da comunidadereceptora, assim como precisam estabelecerseus interesses específicos.

Os moradores locais dos destinos de eco-turismo questionam em como se beneficiar.Já os turistas esperam como conhecer anatureza por meio da atividades de lazer,porém buscando preço, conforto, segura n ç ae qualidade nos serviços. Os governos vêemo turismo como item de exportação (princi-palmente em nível nacional) e gerador de

1

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

renda e riquezas (principalmente em níve lregional e local). Já os ambientalistas optampelo ecoturismo como uma oportunidadeem desenvolvimento social e conserva ç ã oda natureza. Os mercados e demais profis-sionais vêem o ecoturismo como oportu-nidade econômica, os sociólogos pelo seuvalor sócio-cultural e até escritores, produ-tores e publicitários se interessam por umm e rcado de publicações abundantes. As uni-versidades, seus alunos e pesquisadoresdesejam oportunidade para aplicar seus co-nhecimentos e técnicas em parcerias comg overnos locais e entidades sociais.

Este exercício gera uma visão de plane-jamento com maior amplitude, favorecendoo diagnóstico e a elaboração de planos. AFicha 5 abaixo apresenta alguns dos inte-resses dos agentes sociais do turismo.

d) Aproximar a visão de planejamento às visões das comunidades e do mercado

Pa ra se perceber melhor a importância e asp o s s í veis características do planejamento doecoturismo de base comunitária em uma deter-minada região, município ou área natural pro-tegida ou não, duas abordagens merecemdestaque para se ampliar a visão dos plane-jadores: as de mercado e as da comunidade. A sFi chas 6 e 7 a seguir trazem o detalhamento dealgumas visões desejáveis para planejadores.

Essas visões não são difíceis de se identi-ficar, se o planejamento é participativo e seo método adotado basear-se num diagnósti-co efetivo e amplo, onde fiquem claras aspotencialidades e o papel do ecoturismo nod e s e nvolvimento sócio-econômico local/regional. Este é talvez, o passo mais impor-tante para se estabelecer planos adequadospara o ecoturismo.

1

/ FICHA 5

IDENTIFICANDO AS DIFERENTES NECESSIDADES E INTERESSES

SETOR PRIVADO DO TURISMO PROCURA:

❐ Oportunidade econômica❐ Recursos Humanos

capacitados❐ Infra-estrutura, facilidades

e acessos❐ Atrativos em quantidade

e qualidade

O MEIO AMBIENTE NATURAL E CULTURAL NECESSITA:

❐ Proteção e recuperação❐ Conscientização e valorização

A COMUNIDADE DESEJA:

❐ Saúde, trabalho, educaçãoe saneamento

❐ Respeito aos seus direitos e suas tradições e partici-pação nas tomadas dedecisões

❐ Benefícios sociais e econômicos

MEIO AMBIENTESETOR PRIVADO

COMUNIDADE/GOVERNO

LOCAL

MELHOR QUALIDADE DE VIDA

FONTE: Adaptado de OMT - Desenvolvimento do Turismo Sustentável: manual para organizadores locais.EMBRATUR, 1994.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

/ FICHA 6

CONSIDERANDO AS VISÕES DAS COMUNIDADES

[ Atentando para os conflitos cultura i s – Em se tratando o ecoturismo de uma ativ i d a d ecom forte característica de integração cultural, muitas vezes observa-se a sobreposiçãodas culturas urbanas contemporâneas da origem do turista e empresários turísticossobre aquelas tradicionais e rurais. Sabe-se que outras influências econômicas e soci-ais também agem desta forma, e que nenhuma cultura é estática. Mas o ecoturismodesordenado ou indesejável tem o caráter de potencializar as alterações quesobrepõem valores e riquezas tradicionais locais. Desta forma, o inventário tambémd e ve considerar a pesquisa sobre valores e costumes tradicionais e históricos que pre-cisam ser resgatados, tais como linguagem, danças, gastronomia e artesanato, maioreschances de se manter a autenticidade dos futuros produtos.

[ Atendendo aos anseios e expectativas das comunidades envolvidas – Diante de umpossível cenário de alterações no cotidiano e na economia das comunidades pelaimplantação de projetos de ecoturismo, é importante conhecer o que a comunidadepensa sobre isto, sendo presente ou não a atividade. Esse conhecimento pode dire-cionar a escala desejada de desenvolvimento do turismo, indicar as causas de descon-forto da comunidade com os problemas gerados pela visitação ou as necessidades deinformação da comunidade em relação ao turismo. O descontentamento da popu-lação provoca um ambiente hostil ao turismo, diminuindo a qualidade da “atmosfera”e, portanto, podendo causar redução do fluxo de turistas.

[ Ampliando os benefícios do desenvolvimento do ecoturismo – Pa ra que a comunidadeobtenha vantagens econômicas do turismo, ao mesmo tempo em que proporc i o n amaior qualidade à experiência do turista, a infra - e s t r u t u ra e os serviços são planejadose criados. O levantamento daquilo que existe ou necessita ser criado em termos dei n f ra - e s t r u t u ra turística, serviços e equipamento de apoio, do montante de empregos ede produtos locais é essencial para se otimizar o benefício econômico gerado pelosvisitantes, especialmente no que se refere à diversificação da economia local.

[ Adotando uma visão de precaução – A identificação dos impactos existentes (e pos-síveis) e da capacidade de carga natural e social, facilita a adoção de medidas queminimizem o prejuízo causado à natureza e à comunidade, indicando a necessidadede novas estruturas ou serviços.

[ Observando acessibilidade como fator chave no ecoturismo – Estradas e acessosimplantados em função do ecoturismo podem ser úteis também para escoamento deprodução agropecuária local. Da mesma forma, estradas causam impacto a um deter-minado ambiente (erosão, poluição etc.), como também aceleram o processo de ocu-pação desordenada nas áreas de entorno. Portanto, estradas e trilhas são necessárias,mas nem sempre desejáveis.

/ FICHA 7

CONSIDERANDO AS VISÕES DO MERCADO

[ Percebendo as potencialidades dos recursos para se atingir mercados – As potenciali-dades de uma região são definidas, no caso do ecoturismo, pelos conjunto de atrativose localização do destino. Este último é fator decisivo na elaboração do planejamento,pois orienta uma série de investimentos em infra-estrutura. Os atrativos naturais, cul-

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e. Dosar as expectativasO desenvolvimento do ecoturismo em

uma região, propriedade ou Unidade deC o n s e r vação deve encontrar formas decoordenar o trabalho de planejamento comas expectativas da comunidade, principal-mente quando se pretende compatibilizar aspotencialidades econômicas com a conser-vação ambiental da região.

A participação da comunidade na ativi-dade turística deve ser compatível com suadisponibilidade para o trabalho e sua habi-

lidade para o relacionamento comerc i a lcom o público. As questões a seguir indicamque alguns assuntos devem ser criteriosa-mente investigados nos primeiros momentosdo planejamento, mais especificamente nasfases de inventário, diagnóstico e apresen-tação do plano. è A comunidade quer mudar seu ritmo

de vida? è Muito trabalho, estresse e maior

rentabilidade, ou trabalho menos intensivo com menor rentabilidade?

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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/ FICHA 7

CONSIDERANDO AS VISÕES DO MERCADO (Continuação)

turais e históricos determinam a atmosfera do local, e a capacidade de carga dos mes-mos determina o potencial de crescimento. A presença de atrativos naturais, em maiornúmero que os demais, determina uma vocação para o ecoturismo de caminhadas,passeios e, consequentemente, um público mais jovem. Se os atrativos tiverem fácilacesso, o público pode ser estendido a uma faixa etária mais elevada. Se houver diver-sidade de pássaros pode-se pensar em um público mais especializado – observadoresde pássaros. A história da comunidade e suas atividades tradicionais são fatores impor-tantes para a elaboração de produtos de ecoturismo, valorizando a cultura local, comgrandes chances da população anfitriã passar a compreender melhor sua influência noprocesso de definição das características do destino. Enfim, pequenas diferenças noconjunto de recursos disponíveis modificam ou diversificam muito o público alvopotencial. Somente um processo adequado (e geralmente lento, podendo levar meses)de envolvimento dos diferentes setores da comunidade (ou das comunidades daregião) associado aos resultados do inventário poderão definir claramente as poten-cialidades naturais, culturais e históricas da região para o ecoturismo.

[ Identificando, atraindo e mantendo o público alvo – Em um mundo cada vez maiscompetitivo e de consumidores cada vez mais exigentes, é importante conhecer a per-cepção de nosso cliente, o turista, em relação ao que lhe oferecemos ou vendemos.Por que o turista busca nosso produto (atra t ivo, hotel etc.)? O que falta em nosso municí-pio e o que podemos fazer para agradar mais o visitante? Será que ele ficou satisfeitocom o que viu, experimentou, vivenciou, comprou? Qual é a sua percepção em relaçãoao impacto ambiental/cultural do turismo na região? O que podemos fazer paradiminuir os impactos e mudar essa percepção? As respostas podem nos aproximar doque o visitante quer, melhorar nossos serviços e infra - e s t r u t u ra ou mesmo mudar nossosistema de comunicação para que o visitante já venha consciente do que vai encontra r.Ao evitar uma falsa expectativa, atraímos o turista ideal para nossos propósitos.

[ Avaliando os acessos – A t ra t ivos visitados ou potenciais, visitantes habituais, prov á ve i sm e rcados e principalmente a existência, qualidade e localização dos meios de tra n s p o r t ee dos acessos devem ser identificados e avaliados no início do processo de planejamen-to. Quanto maior o grau de dificuldade para se chegar a um determinado destino, maioro preço do produto, menor é o mercado e, consequentemente, a renda gera d a .

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

è Criação de empregos ou de micro-empresas?

è Visitantes o ano todo ou concentradosem uma determinada época?

è Visitantes passeando por locais de trabalhos comunitários ou em locaispróprios somente para o turismo?

è Qual é a melhor opção paraa comunidade?

Se por um lado pode-se praticar umapolítica de estímulo às pequenas empresas,o que fortalece as empresas familiares, poroutro podem-se atrair investidores de médioporte em turismo para geração de empregos.No primeiro caso a comunidade local é for-talecida. No segundo, os moradores sãotransformados em simples funcionários dosempreendimentos.

Turismo de massa, turismo especializa-do, visitação com guias locais, trilhas auto-guiadas, comida tradicional, comida natu-ral, misticismo... Várias são as modalidades,atividades e serviços na definição de umproduto, mas qual é o interesse da comu-nidade? O turista deve ser jovem? De ter-c e i ra idade? Estudante? Famílias? Rico?Místico? Esportista? Qual será o mais ade-quado? Poucos turistas de alto poder aquisi-tivo e com resultados mais rentáveis? Oumaior quantidade de turistas de classemédia para ganhos em volume de ope-ração? A identificação do turista adequadodeve ser motivada não só pelo potencialecoturístico da região (tanto natural e cul-

tural quanto econômico), mas também pelaspreferências da comunidade quanto aopúblico com que desejam ou concordamem se relacionar.

Estas perguntas, relativas às expectativasdos diferentes setores da comunidade, sãoformuladas durante o diagnóstico, a pri-meira etapa do planejamento. As respostasdeterminam o plano, e um diagnósticoequivocado ou um processo inadequado dei n t e g ração da comunidade à discussãosobre o desenvolvimento do ecoturismo(além do capítulo referente ao inventário,ver capítulo Participação Comunitária eParcerias) podem causar danos sociocultu-rais irreparáveis.

Outra questão referente à dosagem deexpectativas diz respeito à ansiedade queuma proposta de ecoturismo pode gerar emlideranças e na comunidade como um todo.Dizer que o ecoturismo vai chegar logo eque todos serão beneficiados ainda é prati-ca comum entre consultores e técnicos daárea, prática extremamente condenáve l ,sabendo-se que o ecoturismo é um segmen-to de interesse específico e que sua viabili-dade e retorno financeiro é lento. Mesmotomando este cuidado, é sempre aconse-lhável deixar claro em todos os momentosdo processo, das fases necessárias para aimplementação do ecoturismo e que osresultados comerciais nem sempre chegamrápidos. Esta abordagem é tanto mais difícilem locais onde há sérias dificuldades emdesenvolvimento econômico.

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RESERVAS EXTRATIVISTAS DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO: UM EXEMPLO DE PROJETO

DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

Expectativa e motivação

uando se trabalha com comunidades, é muito difícil manter ou controlar a fasede motivação e um trabalho mal feito pode levar rapidamente ao desânimo edescrédito. Nas Reservas Extrativistas Estaduais de Pedras Negras e Curralinho (RO), onde as necessidades básicas são urgentes, tomou-se o cuidado de, junto

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

3. Planejando o ecoturismo regional e local

No Brasil, o planejamento não é umaatividade muito comum na sociedade

e, principalmente, nos governos. Planejar eexecutar um plano são tarefas complexas,principalmente quando se procura integraros interesses da sociedade com os dospoderes públicos, sejam nacionais, esta-duais ou municipais, e esses às necessi-dades de mercado. Como afirmado anterior-mente, uma proposta de desenvolvimentode um plano deve ser entendida como resul-tado de um estudo das diversas variáveisque compõem o cenário social, político,legal, econômico, cultural e ambiental den-tro de uma perspectiva integradora, apoiada

em valores éticos. Os passos desejáveis paraeste processo em nível regional e local sãodetalhados a seguir.

è Avaliando e diagnosticando a situação atual

Tanto o planejamento em nível localcomo regional(5) se inicia com as ações doinventário (ver capítulo Levantamento doPotencial Ecoturístico – Inve n t á r i o). Deposse dos dados do inventário, inicia-se ainterpretação e análise dos dados (diagnós-tico) e a proposição de um caminho a seguir(prognóstico). O diagnóstico avalia a situa-ção atual da região para fins do desenvolvi-mento do ecoturismo, esboçando a idéiabásica do potencial e do perfil da região

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(Continuação)com a comunidade, definir muito bem todas as etapas a serem cumpridas, desde omomento de apresentação do projeto.

Sempre foi dada atenção especial ao esclarecimento das dificuldades e do temponecessário para avaliação, aprovação e liberação de recursos, que podem demorar anos.Durante o período de espera, o contato com a comunidade continuou a ser mensal ou bimestral. Algumas atividades foram realizadas, mesmo com poucos recursos, paraque a organização comunitária se fortalecesse, e para que a população sentisse a seriedade do projeto e das pessoas envolvidas, evitando o desânimo. Assim, construiu-se um pomar comunitário, uma casa teste para receber os primeiros visitantes, umaoperação turística demonstrativa e teve início o processo de capacitação e treinamento.

Após a inauguração da Pousada Pedras Negras, em setembro de 2001, utilizou-se dasmesmas estratégias, visto que a demanda não chegou de modo satisfatório nos primeirosmeses. Dependendo do esforço de marketing disponível, a comunidade tem que estar esclarecida de que a consolidação do produto dar-se-á em alguns meses e até anos. No mundo dos negócios, e dentro de padrões de investimentos normais, nenhum projetoapresenta balanço financeiro positivo antes de dois anos. No ecoturismo, produtosnovos, autênticos e originais, podem ter resultados positivos mais cedo, mas isso nãodeve ser encarado como regra.

(5) – NOTA DO EDITOR: Neste item 3 da Caixa de Ferramentas estamos considerando o termo planejamentolocal como aquele desenvolvido em âmbito municipal, e o termo planejamento regional para identificarplanos desenvolvidos para vários municípios de uma mesma região. Neste último caso, dependendo daabrangência geográfica do plano, ele pode assumir, com adaptações, contornos de um plano estadual e atémesmo interestadual.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

p a ra a atividade e das altera ç õ e s / a d e-quações necessárias. Além disso, o diagnós-tico se baseia também nas informações ge-radas pelas pesquisas de mercado, definido-ras das oportunidades mercadológicas naoferta de produtos e roteiros de ecoturismo,assim como projeta os perfis de demandaefetivas e potenciais.

A qualidade do diagnóstico está direta-mente ligada à qualidade do inventário. Asinformações coletadas durante o inventáriosão a base para as discussões que elaboramo diagnóstico. Nesta fase, o cuidadoso tra-balho realizado na identificação das per-guntas a serem formuladas e das infor-mações a serem inventariadas durante o le-vantamento do potencial ecoturístico daregião prova a sua validade.

Os diferentes setores da sociedade quep a r t i c i p a ram e/ou foram consultados dura n t eo inventário são reunidos em um processop a r t i c i p a t ivo para avaliar seus resultados edefinir estratégias, por exemplo, do tipo dei n f ra - e s t r u t u ra básica e dos serviçosnecessários, das normas para o uso e ocu-pação do solo pelo turismo e de regras paraconstrução de empreendimentos específi-cos, do zoneamento espacial da ativ i d a d eturística, da proteção de recursos de inte-resse ecológico e cultural, da disponibilidadede recursos financeiros entre outros.

O diagnóstico deve ser feito com a par-ticipação da comunidade local / regionalem reuniões de trabalho, principalmentecom a criação de uma instância oficial paraa integração dos diversos setores dasociedade, como por exemplo, o ConselhoMunicipal de Turismo (COMTUR). Nessemomento, é imprescindível a presença dostécnicos que orientaram e facilitaram a rea-lização do inventário, porém é precisoatenção para que eles não direcionem osdebates e as tomadas de decisão. É muitocomum os técnicos utilizarem dados estatís-ticos e referências técnicas desconhecidospara a comunidade, procurando convencê-la a assumir posturas que terá dificuldadesem manter posteriormente. Mas a satisfaçãoplena da comunidade com a atividade eco-

turística é fator determinante do sucesso desua implementação.

Durante a fase de diagnóstico, é precisobuscar o equilíbrio entre o uso de exemplosde outras regiões e a identificação do perfilatual e desejado do ecoturismo para aregião. Seja por iniciativa dos técnicos faci-litadores ou por iniciativa dos participantes,é muito comum que as discussões do diag-nóstico sejam orientadas pela “importação”de características de ecoturismo em umaoutra localidade que os participantes te-nham visitado ou que tenham informaçãode ser exemplo bem sucedido de ecoturis-mo. Assim, freqüentemente durante o diag-nóstico (e planejamento) ouvem-se frasescomo: “Lá em Porto Seguro as cabanas naspraias fazem o maior sucesso. Por que agente não faz o mesmo por aqui?”; oualgum prefeito dizer: “Lá no meu municípiotem uma cachoeira linda, será que podemosfazer turismo?”; ou então “Precisamos fazeruma represa para atrair turistas”. Essas afir-mativas demonstram a falta de entendimen-to da atividade pela grande maioria dosadministradores públicos e até mesmo poraqueles que já trabalham com o turismo hámuito tempo. Porém, mais importante, se ouso de tais exemplos não for controlado econtextualizado durante as discussões, operfil do ecoturismo na região, ou seja, oresultado do diagnóstico, pode ser equivo-cado, com conseqüências graves para osucesso da atividade, seja do ponto de vistada vocação cultural e ambiental da região,seja do ponto de vista do mercado.

Como no caso do inventário, ou de qual-quer outro processo participativo de caráterregional, para se realizar um bom diagnósti-co é necessário realizar uma série dereuniões ou outros eventos em diferenteslocais da região, para diferentes grupos dacomunidade. A mesma equipe que realizouo inventário pode iniciar este trabalho, bus-cando envolver representantes de cada setororganizado ou área da comunidade. Maisdo que um documento com objetivos eestratégias, o sucesso do plano, ou seja, suabem sucedida implementação, depende

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

desde processo de elaboração coletiva naregião. E, desta forma, o diagnóstico deveapresentar as seguintes respostas:

❐ Pontos negativos e positivos, oportu-nidades e ameaças (conhecida porplanejadores como "análise SWOT"(6))do desenvolvimento do ecoturismo naregião, pelas perspectivas ambiental,social, cultural e econômica.

❐ Estimativa preliminar da capacidade decarga dos atrativos. Caso as propriedadesnão possuam a avaliação de sua capaci-dade de carga (ver capítulo Monitora -mento e Controle de Impactos deVi s i t a ç ã o), pode-se optar inicialmentepor uma estimativa do número de pes-soas que pode visitar a área em um diasem prejudicar a qualidade da visita. Estaestimativa deve basear-se na experiênciados proprietários ou usuários freqüentesda área (guias ou moradores locais, ope-radores, visitantes).

❐ Contraste entre a estimativa de capaci-dade de carga dos atrativos naturais coma oferta de leitos atuais na região.

❐ Quais atrativos podem ser utilizados acurto, médio e longo prazos.

❐ Análise da infra-estrutura e identificaçãode suas deficiências.

❐ Tipos e oportunidades de empreendi-mentos necessários.

❐ Quais os públicos preferenciais, ou seja,que tipos de visitante se deseja ou sepode atrair de acordo com as caracterís-ticas ambientais, culturais e de infra-estrutura do local.

❐ Número de ocupações profissionais ouempregos.

❐ Vocação da comunidade.❐ Tipo e nível de formação profissional dos

moradores locais (tanto a formação esco-lar quanto a prática).

è Estabelecendo uma base política, legal e administrativa

A partir do diagnóstico, pode-se esta-belecer um processo político que objetive acriação de uma Política Regional ou Mu-nicipal de Ecoturismo, incluindo as grandeslinhas de ação acima mencionadas, e esta-belecendo as bases administrativas e legaispara o desenvolvimento do Plano.

A partir da adoção de uma Política deEcoturismo, o conteúdo do plano constitui-seprincipalmente de regras acordadas pelogrupo, das responsabilidades individuais ec o l e t ivas, e sua implementação vai depender,mais uma vez, da qualidade e da efetividade daparticipação e da relação entre os diferentes se-tores da sociedade. A realização de uma oumais oficinas com a participação de pessoas ded iversos setores da comunidade, como em-presários, guias, vereadores, secretários muni-cipais e até pessoas não ligadas ao turismo,também é uma boa estratégia para definir omodelo de ecoturismo que se pretende.

Em âmbito regional, num pólo de eco-turismo, no entorno de uma grande área pro-tegida ou em uma bacia hidrográfica, a ado-ção de uma política pode ser estabelecidapor meio de consórcios ou comitês intermuni-cipais. Como exemplo, o estabelecimentode uma política regional de uso e gestão sus-tentável de bacias hidrográficas, por meiode consórcios intermunicipais, com uma vi-são estratégica sobre todas as atividades eco-nômicas (indústria, agricultura e serviços),servirá para que cada município adote emnível municipal uma política local harmoni-zada aos municípios de entorno. E na A m a z ô -nia, o Grupo Técnico de Coordenação doEcoturismo para a Amazônia (GTC) vem há6 anos estabelecendo políticas de ecoturis-mo de forma participativa pela integraçãode interesses de nove estados da regiãojunto com o governo federal.

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(6) – NOTA D O AU TO R: A análise SWOT – Strengths (pontos fortes), Weaknesses (pontos fracos), Opportunities (opor-tunidades), Threats (ameaças) é um método que parte da idéia de que deve-se avaliar e atuar estrategicamente sobreos fatores atuais (maximizar as forças e corrigir as fraquezas) e futuros (realizar as oportunidades e evitar as ameaças)que influenciam ou venham a influenciar o desenvolvimento de atividades e projetos que compõem os planos.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

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Dois programas públicos de desenvolvimento do ecoturismo, com enfoque regional,vêm se desenvolvendo no Brasil nos últimos anos. Um é conduzido pela Secretaria deCoordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente (SCA/ MMA) e outro con-duzido pela Embratur, órgão do Ministério de Esportes e Turismo(7). Há ainda um terceiroprojeto, não constituído em forma de programa, desenvolvendo dois pólos de ecoturismo,conduzidos pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável também doMinistério do Meio Ambiente (SDS/MMA). Apesar de adotarem, infelizmente, diferentesmetodologias, os programas vêm trazendo valiosas contribuições para a definição deplanos estratégicos de desenvolvimento do ecoturismo em nível regional. Segue abaixouma breve descrição de cada programa.

PROGRAMA PÓLOS DE ECOTURISMO – EMBRATUR / MTUR

D e s e nvolvido pelo Ministério de Esportes e Turismo (MET, atual Ministério do Tu r i s m o ) ,por intermédio do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) e de sua Diretoria de Economiae Fomento, em parceria com o Instituto de Ecoturismo do Brasil (IEB), o Programa Pólos deEcoturismo possui entre seus objetivos identificar as localidades bra s i l e i ras onde a prática doecoturismo vem ocorrendo com sucesso e aquelas com potencial de desenvolvimento masainda carentes de infra - e s t r u t u ra e recursos humanos capacitados. Ainda em implantação, esem um orçamento definido, o Programa abrange todo o território brasileiro e já identificou96 regiões ou pólos com potencial para o desenvolvimento de atividades ecoturísticas.Atualmente vem fazendo um levantamento das características, das potencialidades e dascondições da infra - e s t r u t u ra nos locais onde o ecoturismo se apresenta como uma novaa l t e r n a t iva de desenvolvimento. A implementação do Programa dar-se-á por um ComitêG e s t o r, onde os diferentes representantes do setor privado e não-governamental vão con-tribuir para consolidar os Pólos. Fazem parte do Comitê Gestor, entre outras entidades, oInstituto de Ecoturismo do Brasil, Fundação SOS Mata Atlântica, W W F - B rasil, ConselhoNacional da Reserva Biosfera da Mata Atlântica, Eco Associação para Estudos do A m b i e n t e ,Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), Instituto para o Desenvolvimento daEconomia e Indivíduo do Ambiente e da Sociedade (IDEIAS), Instituto de Hospitalidade (IH)e Brasil Connects.

PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO NA AMAZÔNIA LEGAL -PROECOTUR - SCA / MMA

D e s e nvolvido pela Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA) do Ministério do MeioAmbiente, por meio do Grupo Técnico de Coordenação do Ecoturismo para Amazônia(GTC Amazônia), o Programa Pólos de Desenvolvimento do Ecoturismo na AmazôniaLegal (Proecotur), está sendo desenvolvido por meio da definição de nove pólos de eco-turismo, um em cada estado da Amazônia Legal - Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia,R o raima, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso. Serão implementados em cada estado por meiode diversas ações estratégicas, ações de definição e de detalhamento de um pólo, a elabora ç ã ode planos de desenvolvimento, a criação e implantação de áreas protegidas, programas decapacitação profissional, estratégias de m a r k e t i n g entre outras. O programa conta com dive r-

PLANEJAMENTO REGIONAL DE PÓLOS DE ECOTURISMOEXEMPLO:

(7) – NOTA DO EDITOR: Em 2003, o Ministério dos Esportes e Turismo foi desmembrado em dois (Ministério dosEsportes e Ministério do Turismo)

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Em nível municipal(8), uma política deecoturismo identificará o papel e as açõesdos diversos setores e instituições, propondoe regulamentando a interface entre poderpúblico e a sociedade civil, a partir de umplano integrado e participativo. A criação deConselhos Municipais de Tu r i s m o(COMTURs) de caráter consultivo e, maisimportante, deliberativo, é um passo impor-tante por estabelecer um foro instituciona-lizado e legítimo para as tomadas dedecisão em nível local, desde que possuaparidade em sua composição entre governo,mercado privado e setores sociais e ambien-tais da sociedade. Criado por decretomunicipal e elevado à condição de fórumlegítimo de debate do turismo, o Conselho éformado por pessoas de vários segmentossociais. Seu caráter diversificado deve serum motivador ao senso comum.

O Consórcio Intermunicipal ouConselho Municipal de Turismo (COMTUR),ou o grupo formado com representaçãod iversificada de setores da comunidade,deve debater o turismo de maneira a darcontinuidade ao processo de planejamento,

definindo a “missão” que deverá desempe-nhar o ecoturismo no município ou naregião. O Conselho ou o grupo de trabalhoé a instância onde o planejamento pode sermonitorado da melhor forma possível, é uminstrumento institucional que permite a par-ticipação da comunidade nas decisões dedesenvolvimento do ecoturismo.

Ainda pensando-se em âmbito munici-pal a regulamentação pode ser definida pormeio de um plano diretor amplo, que inte-gre o desenvolvimento urbano e rura l ,observando os limites para o uso e ocu-pação do solo pelas diferentes aptidõeseconômicas locais, a definição de espaçosespecialmente protegidos (sítios natura i s ,históricos e culturais) e até especificando alimitação das estruturas dos equipamentosturísticos e de lazer, tais como a escala dosempreendimentos, altura das edificações,áreas verdes e jardins etc., definição depadrões arquitetônicos e tecnologias para osempreendimentos na área rural e outrasnormas. Esse controle é de fundamentalimportância, pois tem-se verificado nospólos de ecoturismo uma invasão de

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(Continuação)sas parcerias, além de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO – SDS / MMA

Desenvolvido pela Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável (SDS)do Ministério do Meio Ambiente, vem elaborando ações de planejamento para o desen-volvimento de pólos de ecoturismo em duas regiões brasileiras: no Delta do Parnaíba,entre Piauí e Maranhão, e no entorno do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, na regiãoserrana do Rio de Janeiro. No caso do Delta do Parnaíba, uma das estratégias de planeja-mento é o estabelecimento do Zoneamento Econômico-Ecológico permitindo-se efetuarum diagnóstico amplo dos potenciais de desenvolvimento econômico aliado à conser-vação ambiental. E o ecoturismo é uma das atividades potenciais identificadas.

EXEMPLOS:

(8) – NOTA DO AUTOR: Uma política do turismo em nível local, com base legal ampla, reguladorae fomentadora foi motivo de estudo de consultoria por parte do Programa de Turismo e Meio Ambiente do WWF-Brasil, que gerou uma publicação a ser lançada em 2003: Turismo Responsável: Manual paraPolíticas Locais, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

empresários de outras localidades, deten-tores de maiores recursos financeiros, maiorentendimento da atividade ecoturística emenor compromisso com o desenvolvimen-to local sustentado. Isto gera um tipo de tu-rismo que centraliza os benefícios econômi-cos ou que ocupa os melhores espaçoscomerciais, ou mesmo espaços tradicionaisda comunidade, expulsando-a para a perife-ria das cidades e ainda impedindo estascomunidades de usufruir de sítios atrativos,antes de gozo comum.

è Estabelecendo o prognóstico

Uma vez definido o grupo responsávelpela elaboração do Plano de Desen-volvimento do Ecoturismo (local ou regio-nal), a primeira responsabilidade do grupo

formado é estabelecer o chamado prognós-tico, ou diagnóstico futuro, definindo umcenário desejável em função da situaçãodiagnosticada, e onde já começam a ficarclaros os desafios e as estratégias para serealizar as idéias geradas pelo diagnóstico.A pergunta que deve ser feita na etapa doprognóstico é: “Aonde queremos chegar?” ea resposta, na forma de um Plano, será umaresultante das potencialidades e das expec-tativas compatibilizadas com as perspecti-vas do mercado. Expectativas, potenciali-dades e mercado são as “ch aves” doprognóstico para o desenvolvimento doecoturismo em um município ou região. Noentanto, nem todas as cidades ou regiõestêm a obrigação de optar pelo ecoturismocomo atividade econômica, e o diagnósticodeve ser capaz de identificar isto.

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VALE DO RIBEIRA, SP – CONSELHO CONSULTIVO

E PLANO ESTRATÉGICO REGIONAL

região do Vale do Ribeira contém as maiores áreas contínuas dos remanescentesde Mata Atlântica do Brasil, sendo de grande importância para a conservaçãodesse bioma. Trata-se de uma das áreas piloto da Reserva da Biosfera da Mata

Atlântica, que abrange 29 milhões de hectares em 14 Estados brasileiros, e área reconhecida pela UNESCO como Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade.Localizada na região mais pobre do Estado de São Paulo, a região vive permanentementeos conflitos que envolvem a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento.Próxima a algumas horas de um dos maiores centros urbanos do mundo, a cidade deSão Paulo, o Alto Vale do Ribeira possui grande potencial para a implantação de um turismo planejado, sustentável e que seja uma alternativa econômica concreta para aspopulações.

O ecoturismo já vem sendo discutido com as populações do Vale do Ribeira comouma alternativa para um modelo de desenvolvimento que melhore as suas condições devida e promova a conservação deste importante patrimônio natural. O WWF-Brasil, emparceria com o Vitae Civilies, observando que haviam diversas iniciativas em turismo emeio ambiente na região, mas que elas não estavam integradas por um plano regional,desenharam um projeto que objetiva, entre outras atividades de conservação da MataAtlântica, apoiar iniciativas ligadas ao fortalecimento do ecoturismo na região.

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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(Continuação)

Dividido em 3 componentes, o projeto prevê:

1. Apoiar o desenvolvimento de um Plano Estratégico Regional de Ecoturismo;2. Apoiar a consolidação das Áreas Protegidas da região;3. Promover a criação de RPPN no entorno das Unidades de Conservação

Mais voltado para o planejamento do ecoturismo, o componente 1 teve como estratégias fazer a) o mapeamento de atores e ações em ecoturismo no Vale do Ribeira,b) promover um diagnóstico amplo da atividade na região, c) elaborar uma visão defuturo comum para os diversos temas que envolvem o ecoturismo e d) elaborar o planoestratégico de desenvolvimento da atividade.

O Mapeamento de Atores Sociais e de Ações em ecoturismo identificou as entidades públicas e privadas que já promovem trabalhos de ecoturismo na região formando um cadastro. O cadastro foi dividido, para efeito de melhor noção de representatividade, eminstituições governamentais que teve a participação de Prefeituras, Secretarias e ConselhosMunicipais de turismo, Instituto de Te r ras, Escritório Regional do SEBRAE e gerências dosParques Estaduais, entre outros. Pelo setor privado participaram agências de viagens e turismo,pousada e hotéis, restaurantes, revistas regionais além de proprietários r u rais. Por parte dasassociações e ONGs participaram as Associações de Monitores A m b i e n t a i s , Associação de Moradores e de Bairros, Associação de Produtores Rurais e associações Quilombolas. A l é mdisso, participaram instituições de ensino e pesquisa como universidades e escolas locais.

As entidades foram convidadas para compor um Grupo Consultivo, que tem o papel desugerir estratégias e diretrizes para a melhor realização do projeto, além de ser o ve r d a d e i r oautor do futuro Plano Estratégico. Não se esperava que o aceite fosse imediato, porém conforme as reuniões se desenvolviam, mais entidades foram aderindo ao Grupo. Fo ra md e s e nvolvidas oficinas participativas para complementar o cadastro de entidades e desenvo l ver o mapeamento de atores sociais, uma espécie de “quem é quem” no ecoturismo da região, e o que cada um vem desenvo l vendo dentro de temáticas pré-estabelecidas. O quadro a seguir mostra o mapeamento resumido em formato de matriz. Cabe ressaltar que além das informações abaixo, o mapeamento pode buscar e detalhar outras informações como por exemplo, a missão da entidade, seus pontos fortese fracos em sua área de atuação etc.

Na Tabela da página seguinte, cada entidade é representada por um símbolo, de forma a seidentificar as parcerias em cada área de atuação.

Após o mapeamento, foi possível identificar lacunas de trabalhos em áreas estratégicas do turismo na região como, por exemplo, a inexistência de uma estratégiade comercialização do produto turístico instalado e a necessidade de educação ambiental com escolas e a população local. Foi possível também que as entidades visualizassem parcerias de fácil alcance, o que de fato veio a ocorrer.

Com o mapeamento e as parcerias atuais e potenciais identificadas, passou-se paraa fase de construção do plano, cuja primeira etapa foi a coleta de documentos institucionais, diagnósticos, informativos, revistas locais regionais, teses e dissertações,inventários disponíveis, além de diversas visitas de campo nos municípios de interesse.

Page 31: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

61

Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

(Continuação)

A base do Plano é um diagnóstico da infra-estrutura e serviços, da comercialização do produto turístico, do perfil da demanda e dos atrativos existentes nos municípios da região. Em função de já haver um inventário, realizado em 1998, porém incompletoe desatualizado, optou-se pela sua retomada, em parceria com a Agenda de Ecoturismodo Vale do Ribeira e associações de monitores ambientais da região. Para o diagnóstico(análise crítica dos dados levantados), foi contratado um consultor especializado.

FONTE: Vitae Civiles e WWF-Brasil. Relatório do Projeto "Apoio a conservação da Mata Atlântica no corredor ecológico da Serra de Paranapiacaba, Estado de São Paulo/Brasil”LEGENDA: ONG – organização não governamental;

OSC – organização da sociedade civil;OG – organização governamental;PRIV – empresas privadas; Símbolos – parcerias entre instituições.

Pa ra efeito de demonstração e modelo, esta tabela retirou os nomes de algumas organizações identificadas.

GRUPO CONSULTIVOIDENTIFICAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS EM ECOTURISMO NO VALE DA REIBEIRA,

SUAS ATIVIDADES E PARCERIAS

INSTITUIÇÃO

Agenda de Ecoturismo/Cepam/IEADiretor PETARIBAMASebraePrefeitura ItaócaCOMTUR ApiaíAMAIRAGUASUTACOING ONGGAIAWWF/BrasilVitae Civilis Revista ValeturAmbientalExpediçõesUniversidadesFundesvarEmbratur

OG

OGOGOGOGOSCOSCOSCOSCONGONGONGONGPRIV

PRIVOG/PRIV

OGOG

Page 32: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

Características desejáveis para se estabelecer uma "Missão"

❐ É o norte de orientação do Plano.❐ As palavras têm que ser objetivas e diretas.❐ O caráter da missão é atemporal, ou seja, a missão não possui prazo de implementação.❐ Serve sempre como a orientação maior para empresas, funcionários, fornecedores

e políticos locais

Exemplo:

Missão ] “Consolidar o ecoturismo como atividade econômica rentável, valo-rizando nossa cultura e nossa natureza e satisfazendo as necessidades da comu-nidade e dos visitantes, por meio de produtos e serviços de qualidade e de respon-sabilidade sócio-ambiental.”

è E l a b o rando o Plano de Desenvo l v i m e n t odo Ecoturismo Local / Regional

O primeiro passo para se elaborar oPlano de Desenvolvimento do Ecoturismo éo estabelecimento de sua missão. A missãoé o cenário que a comunidade deseja cons-

gerais, objetivos específicos, metas e ativi-dades. Para o objetivo geral, elaboram-seobjetivos específicos. Para cada objetivo es-pecífico requer-se metas e, para cada meta,

Definida a missão ou o que se pretendecom a atividade ecoturística, o passoseguinte será detalhar de que forma a mis-são será buscada, por meio de objetivos

truir, um cenário ideal, onde todas as neces-sidades e desejos são atendidos. Sem serdemasiado específica, a missão deve noentanto expressar a escolha da comunidadeem termos de qualidade social e ambientalque o ecoturismo pode trazer.

62

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

(Continuação)

A partir do diagnóstico, foi planejada uma oficina de 2 dias para se estabelecer a análise dos pontos fortes e fracos e das oportunidades e riscos para a implantação do ecoturismo na região para cada tema de interesse (os mesmos temas definidos namatriz de mapeamento dos atores). Com esta análise foi possível estabelecer os objetivosestratégicos para cada área temática, detalhando os projetos, ações, responsabilidades eparcerias, indicadores, orçamento, fonte de recursos, monitoramento etc

Por fim, para otimizar o trabalho de comunicação, e para estimular o debate, foi criado um fórum eletrônico de discussão. Foi previsto ainda, a elaboração de um boletim para a divulgação do fórum e da elaboração e distribuição de material de divulgação do Projeto. Todo o resultado dos trabalhos estará disponível em livro, e outros formatos adequados para o público amplo, além de estar previsto a elaboraçãoe manutenção de páginas na Internet e localizados em sites do VC e WWF, entre outros.

EXEMPLO: MISSÃO DO PLANO DE ECOTURISMO DE UM MUNICÍPIO OU REGIÃO

Page 33: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

diversas atividades. Os objetivos devem atender aos princí-

pios do ecoturismo, ao mesmo tempo emque são descritos dentro do cenário deseja-do e almejado. Dividem-se em objetivosgerais – aqueles que abordam de formaglobal o interesse do plano – e objetivosespecíficos – que definem resultados inter-mediários que conjuntamente respondem

aos objetivos gerais dentro das característi-cas da região. É então necessário definir asmetas a serem cumpridas para que os obje-tivos específicos possam ser alcançados. Asmetas devem ser mensuradas e datadas, edefinidas as responsabilidades por seucumprimento (indivíduos, instituições, em-presas ou grupos comunitários que estejampresentes na elaboração do Plano).

1

Características desejáveis para se estabelecer "OBJETIVOS":

❐ Os objetivos ajudam a definir o que se pretende alcançar.❐ Refletem a afirmação da missão.❐ Refletem coletivamente a direção aceita para a região ou município.❐ Podem variar, e geralmente variam, de uma região para outra.❐ São definidos dentro do prazo de implementação do ecoturismo como Plano (partin-

do do princípio que eventualmente a atividade, se bem sucedida, passará a integrar arotina de vida da comunidade).

Para o ecoturismo de base comunitária os objetivos devem contemplar:❐ Preservação de modos de vida sustentáveis e valores locais.❐ Conquista de benefícios econômicos, sociais e ambientais.❐ Proteção do meio ambiente.

Exemplos:Objetivo geral w “Desenvolver produtos e roteiros de ecoturismo geridos porpequenos e médios empresários do local / região.”O b j e t ivo específico (1) w “Buscar ou criar uma linha de crédito para implantaçãode pequenos estabelecimentos de operação, hospedagem e alimentação para o eco-t u r i s m o .”Objetivo específico (2) w “Apoiar tecnicamente pequenos estabelecimentos de ope-ração, hospedagem e alimentação para o ecoturismo na obtenção de créditos.”

Características desejáveis para se estabelecer "METAS":❐ As metas são os resultados necessários para atingir os objetivos.❐ São quantificadas e qualificadas de forma a permitir sua verificação.❐ Possuem prazos para seu cumprimento que são no máximo iguais aos prazos dos obje-

tivos específicos.

Exemplos:Meta (1.1) w “Criar um fundo municipal / regional, controlado pela sociedade, paradisponibilizar micro-créditos para estabelecimento ou fortalecimento de pequenosnegócios de ecoturismo, até março de 2000, pela Secretaria Municipal de Turismo emparceria com o Estado e agências governamentais e bancos de financiamentos.”

EXEMPLOS: OBJETIVOS, METAS E ATIVIDADES

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Definidos os parâmetros do Plano – mis-são, objetivos gerais, objetivos específicos emetas – estão constituídos os elementoscentrais (a coluna vertebral) do Plano deDesenvolvimento do Ecoturismo. Com basenesses parâmetros é elaborado o roteiro, ouplano de ação, composto pelas atividadesnecessárias – assim como prazos, recursos eresponsáveis – para se atingir as metas. Oplano de ação responderá a pergunta“Como chegaremos lá?”.

è Priorizando objetivos

Um Plano de Desenvolvimento doEcoturismo Local ou Regional pode, even-tualmente, conter um ou mais objetivosgerais, dependendo da complexidade daárea de abrangência e da complexidade daprópria missão e dos objetivos do Plano. Emalguns casos, o objetivo geral pode ser aprópria missão. Em outros a missão é

demasiada complexa para se elabora rplanos de ação sob um único objetivo geral.Assim, a partir da missão estabelecida,define-se diferentes objetivos gerais, cadaum com objetivos específicos e metas dife-renciadas entre si.

Partindo-se desta visão, pode-se esta-belecer Programas dentro do Plano. Cadaprograma vai possuir seus objetivos (geral eespecíficos, metas e atividades). Os prazos,os responsáveis e os recursos necessáriospodem ser diferentes em cada programa. Eainda, se o Plano for demasiadamente com-plexo, a sua divisão em Programas podefacilitar a captação de recursos por dife-rentes fontes de financiamento.

Sabendo-se que o ideal é que o planoseja implementado de forma integrada, con-templando todos os objetivos e programas,caso seja necessário sua implementação deacordo com os limites de recursos, ummétodo de priorização deve ser desenvolvi-

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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(Continuação)

Meta (2.1)w “Dar suporte técnico e viabilizar o crédito para a implantação, aquisiçãode equipamentos e/ou reforma de 02 operadoras de receptivo, 10 pousadas e 2 restau-rantes na região da Lapinha, entre março de 2000 a setembro de 2001 pela SecretariaMunicipal de Turismo.”

Características desejáveis para se estabelecer "ATIVIDADES":

❐ São as ações específicas que serão tomadas para atingir as metas.❐ São bastante objetivas, com prazos menores do que os das metas, e identificação dos

responsáveis, preferencialmente seu nome ou a função que ocupam.❐ Geralmente apresentam-se como uma seqüência de ações necessárias para atingir

cada meta.Exemplos:Atividade (1.1.1) w Firmar contrato com governo estadual para uso do Fundo ‘XYZ’como linha de crédito para pequenos empreendimentos locais voltados para o ecotu-rismo – até março de 2000 – Secretário Municipal de Turismo.Atividade (2.1.1) w Elaborar os critérios e termos para concessão de crédito – AtéJunho de 2000 – Dois membros do COMTUR (buscar auxílio técnico especializado,caso necessário).Para mais detalhes sobre a elaboração de objetivos, metas e atividades, consultar o

capítulo Participação Comunitária e Parcerias e a bibliografia sugerida.

EXEMPLOS: OBJETIVOS, METAS E ATIVIDADES

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OBJETIVOS CURTO MÉDIO LONGO PRAZO PRAZO PRAZO

• Gerar e manter renda por meio do desenvolvimento de produtos e roteiros de ecoturismo geridos por pequenos e médios empresários do local / região 3 2 1

• Proteger e manter a qualidade dos recursos naturaismotivos de interesse turístico 3 3 3

• Ampliar a arrecadação de impostos municipais 1 2 3Escalas de Prioridades: 0 = ausente; 1 = mínima; 2 = média; 3 = máxima

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

do. É necessário uma criteriosa avaliaçãopara se decidir se os diferentes programasserão implantados conjuntamente ou sepa-radamente, influindo nesta decisão a priori-

dade estabelecida pela comunidade ou adisponibilidade de recursos para os dife-rentes programas. Abaixo, segue um exemplo.

1

EXEMPLO: PRIORIZANDO OBJETIVOS

FONTE: Adaptado de IGNARRA, s.d

PROJETO SILVES, AM – FASE 3 – CARAVANA MERGULHÃO

Um modelo de Participação, Integração, Planejamento e Re-Planejamento

m Silves, Amazonas, após as duas primeiras fases (1994 a 1999) de planejamentoe implementação (veja a apresentação do Projeto Silves na Introdução) a comunidade assumiu o controle total do projeto. Ao longo do período de 2000

à 2002, e após diagnosticar a necessidade de ajustes para se atingir os objetivos e asmetas iniciais, a Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC),optou por um processo de re-planejamento, com o estabelecimento de novos, e maisamplos, objetivos e metas de conservação e uso sustentável dos recursos da várzea.

O novo planejamento identificou como objetivo principal a implantação e consolidação de um plano de desenvolvimento e conservação da várzea, por meio de diferentes programas de intervenção, aliado a um processo organizado de envolvimento e participação comunitária (veja o diagrama abaixo).

O método identificado para este novo processo foi a Caravana Mergulhão, projeto deEducação Ambiental organizado pelo W W F - B rasil e A S PAC em 2000. As novas Carava n a sMergulhão consistem de equipes multi-disciplinares e multi-temáticas, compostas principalmente pelos próprios comunitários, que percorrem as comunidades em barcosequipados com materiais educativos e técnicos, para atuar com educação ambiental eassistência técnica, buscando um maior envolvimento comunitário. Este envolvimentovisa a atuação coletiva sobre diversos temas de interesse local – gestão de lagos (zoneamento, acordos de pesca), controle da pesca (comunitária, comercial e esportiva),

Page 36: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

66

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

(Continuação)qualidade d'água (monitoramento), agricultura e pecuária (técnicas de uso e permacultura ) ;turismo (identificação, implantação e monitoramento de atrativos e paisagens de usoturístico), lixo (geração e disposição) entre outros.

Após uma etapa de planejamento e diagnósticos participativos com representantes e lideranças de 10 comunidades locais, foram delimitados os principais problemas das comunidades em cada um dos temas centrais. Os próprios comunitários indicaram o cenário futuro desejado para suas comunidades, as formas como a Caravana (o método) irá intervir, ressaltando que as atividades (palestras, oficinas, apoios técnicos,jogos e artes para os públicos adulto e infanto-juvenil) deverão compor um processointegrado de busca de soluções. As caravanas percorrerão o entorno da Ilha de Silves e do Lago Canaçari aos fins-de-semana durante 7 meses.

Por meio deste método, o qual adquire o formato e a intensidade de uma campanhaque pode ser idealizada para qualquer tipo de ambiente e de situação, são contempladosprojetos em todos os programas, ao longo de determinado tempo, facilitando a execuçãodo plano. Para monitorar as Caravanas foram elaborados formulários simplificados estabelecendo quais as necessidades, atividades, custos, responsáveis, agenda de tarefasfuturas, resultados alcançados e demais itens para o sucesso da proposta. No caso doturismo, o método utilizado para apoio técnico é o constante deste Manual. Avaliaçõesserão feitas ao final de cada rodada de caravanas (1 mês e meio), identificando e corrigindo eventuais lacunas e falhas do método. Todos os resultados serão compiladosem um estudo demonstrativo, para ampla disseminação.

PLANO DE DESENVOLVIMENTO E CONSERVAÇÃO DA VÁRZEA EM SILVES / AM

MÉ TO D O IN T E G R A D O - CA R AVA NA ME R G U L H Ã O

PROGRAMA DEGESTÃO INTEGRADA

DE BACIAS HIDROGRÁFICAS

Projeto de Criação

da APAde Silves

Projeto deM o n i t o ra m e n t oda Qualidade

d'água

Projeto deZoneamentoe Controledos Lagos de Pesca

Projeto deAssistência

Técnica paraUso do Solo

Projeto deMapeamento

eM o n i t o ra m e n t ode Atrativos

Projeto deOperação eMarketing

deEcoturismo

PROGRAMA DE USOSUSTENTÁVEL

DOS RECURSOS DA VÁRZEA

PROGRAMA DE CONSOLIDAÇÃO

DO ECOTURISMO

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

è Áreas mínimas a serem contempladasno plano de ações

Abaixo são apresentados de formaresumida algumas atividades estra t é g i c a sque devem compor o plano de ações doPlano de Desenvolvimento do EcoturismoRegional.

a) Definição do zoneamento, da infra-estrutura urbana e rural e serviços necessários:

❐ Definição do zoneamento de uso e ocu-pação do solo, incluindo o mapeamentodas áreas de conservação (áreas protegi-das legalmente, reserva legal e áreas deproteção permanente)

❐ Quantificação das necessidades de infra-estrutura de acesso, iluminação, sanea-mento, energia, comunicação, segu-rança e saúde, baseadas nos resultadosdo diagnóstico.

❐ Definição das necessidades e tipologiasdas estruturas, dos equipamentos e insta-lações e suas características especiais eserviços para atender ao público de-finido no diagnóstico.

b) Zoneamento dos atrativos e infra-estrutura de apoio turístico:

❐ Definição das áreas de uso interditado(intangível), restrito, extensivo, intensivoe outras de acordo com o diagnósticoambiental.

❐ Mapeamento e hierarquização dos atra-tivos de acordo com o prazo para seudesenvolvimento.

❐ Definição da localização dos equipa-mentos necessárias aos atrativos (esta-cionamento, acessos etc.)

c) Desenvolvimento do produto ecoturístico regional e a interação com outras atividades da comunidade:

❐ Definição da identidade visual e ar-quitetônica do pólo e dos produtos.

❐ Definição do público ou dos públicospotenciais.

❐ E l a b o ração de roteiros e pacotes turísticos.❐ Estabelecimento de uma política de

preços.❐ Definição das necessidades de sistemas

de sinalização turística (educativas e deorientação).

❐ Integração de outros setores econômicos(produção agrícola, construção civil emarcenaria, produção de suvenires, con-fecções e artesanato etc).

d) Estratégia de marketinglocal / regional:

❐ Identificação do mercado consumidor.❐ Estabelecimento de uma estratégia de

divulgação, buscando objetividade naatração do público potencial, dentro deuma política de associar a divulgaçãoinstitucional (feita pelo Poder Público) àdivulgação comercial (feita pela iniciati-va privada).

❐ Definição de uma identidade visual paraa área de abrangência do ecoturismo,compatibilizando logomarca, folhetos,sinalização, vídeos etc..

❐ Elaboração de um calendário de pro-moções e eventos que possam poten-cializar a publicidade e estruturar o mar -keting, atuando com estratégias específi-cas em cada época do ano, dentro daperspectiva de sazonalidade do turismo.

è Estratégia de implantação do Plano de Ações

A estratégia de implantação é a últimaetapa da elaboração do Plano de Desen-volvimento do Ecoturismo Regional ouLocal, onde as ações são organizadas dem a n e i ra cronológica (ações organizadas aolongo do tempo). Além do cronograma físico(por exemplo, atividades por mês), deve - s eavaliar e definir um cronograma financeiro,onde insere-se os custos da implantação doplano, ordenados por atividades, permitin-do-se observa r, de maneira coerente, anecessidade de captação de recursos.

Na implantação do plano de ecoturismoem nível local ou regional, duas abordagens

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merecem destaque para garantir o desen-volvimento equilibrado e a viabilidadeeconômica e social – a capacitação dacomunidade e a obtenção e uso de recursosfinanceiros. No primeiro caso, os moradoresda localidade ou da região necessitam detreinamento e capacitação tanto para parti-cipar ativamente do processo de planeja-mento (como, por exemplo, no inventárioparticipativo) como para atender à demandade mercado (ver capítulo P r o g rama deCapacitação Comunitária). Para gerar rendade forma mais equilibrada, mais importanteque a atração de empresas de fora da regiãoserá a criação de empresas por empreende-dores locais, que devem ser estimuladas porprefeitos e vereadores. Normas legais dife-renciadas de incentivo ao empreendedoris-mo para os atores locais, aliadas às parceriasestratégicas, por exemplo, com o SEBRAE,permitirão melhor competitividade do mer-cado, ao oferecer incentivos e isenções fis-cais aos pequenos empresários da própriacomunidade e treinamentos específicospara diversas ocupações que direta ou indi-retamente o turismo exige.

A busca de fontes de financiamento ei nvestimento é outro gargalo com que sed e p a ram prefeitos e entidades na busca de seviabilizar seus planos locais e regionais. Osprojetos de caráter comunitário e que atendemaos princípios do ecoturismo têm conseguidorecursos de fontes governamentais – nacionaisou bilateriais (como Banco Mundial, BancoI n t e ramericano de Desenvolvimento, GEF,PPG7 etc.) –, ou não governamentais commaior facilidade do que projetos conve n-cionais. Não cabe a este Manual detalhartodas as possibilidades na busca por financia-mentos de projetos, mas apenas algumas con-s i d e rações que ilustram caminhos alterna-t ivo s .( 9 ) D iversos programas públicos, emn í vel federal e estadual, de planejamento,ordenamento e fomento ao turismo vêm sed e s e nvo l vendo e cabe ao planejador identi-ficar e procurar inserir sua região como partedestes programas (ver item 4 da I n t r o d u ç ã o

C o n c e i t u a l e o exemplo do item 3 da Caixa deFe r ra m e n t a s deste capítulo).

No caso do planejamento re g i o n a l, ao seadotar a unidade de bacias hidrográficasp a ra a gestão ampla dos recursos natura i s ,como vem ocorrendo por diversas iniciativa sfinanciadas pela Agência Nacional de Águas( A NA), pode-se aproveitar deste inve s t i m e n-to para se implantar algumas estratégias doplano de ecoturismo o qual, por ser integra-do, tem objetivos comuns em termos degestão dos recursos naturais. Essa adoção deuma visão de planejamento integrado, quevem sendo implantado nos Comitês deBacias, só tende a favorecer a implantaçãodo ecoturismo em nível regional.

O u t ra estratégia alternativa é observar osmecanismos de compensação ambiental pelaimplantação de grandes obras de infra - e s t r u-t u ra, os quais têm também gerado recursoss i g n i f i c a t ivos para projetos integrados demanejo dos recursos. Por exemplo, ao passarpor vasta área de influência do Pa r q u eNacional da Chapada dos Veadeiros (GO), aimplantação do linhão de distribuição deenergia da Usina Hidrelétrica de Serra daMesa vai gerar recursos financeiros de com-pensação ambiental que serão reve r t i d o sp a ra iniciativas locais que contribuem para aconsolidação do Parque e seu entorno,incluindo atividades de educação ambientale ecoturismo. E recursos de compensaçãoambiental serão destinados ao Pa r q u eNacional da Tijuca (RJ), simplesmente pelaexistência de antenas de rádio e TV que sei n s t a l a ram em sua área montanhosa.

Em nível local, a busca por investimentosnão é menos árdua. Mas a criação de umFundo Municipal de Turismo (FUMTUR),com o estabelecimento de taxas paralicenças de implantação de empreendimen-tos, atividades e serviços turísticos, acorda-das com o mercado, pode subsidiar aimplantação de itens importantes do plano,como por exemplo uma estratégia comumde promoção turística, ou mesmo financiaratividades básicas locais, como a coleta e

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

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(9) – NOTA DO EDITOR: Ver ítem Riscos e Recomendações no final deste capítulo.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

destinação do lixo, a sinalização turística,cursos de guias, segurança pública etc.

Por fim, os investimentos financeirosd e vem nortear-se por princípios susten-t á veis, determinados por contabilidadeambiental e econômica e sua relação com

os impactos socioculturais. Esses investi-mentos devem resultar no benefício à popu-lação local, seja ela tradicional ou migrante,e orientar as possibilidades de crescimentosegundo a capacidade de suporte ambientale cultural.

RESERVAS EXTRATIVISTAS

DE PEDRAS NEGRAS E CURRALINHO:

UM EXEMPLO DE PROJETO DE ECOTURISMO EM RONDÔNIA

Captação de recursos

Projeto de Ecoturismo nas Reservas Extrativistas Estaduais de Pedras Negras e Curralinho (RO) teve sua proposta de trabalho, integral ou em partes, encaminhada para várias agências financiadoras nos últimos dois anos, tendo

tido relativo sucesso na aprovação de algumas delas. Cada agência possui um perfildiferente de financiamento, principalmente no que diz respeito a salários e equipamentospermanentes, que algumas não permitem incluir.

Deve-se ficar atento para o fato de que muitas dessas entidades não consideram o ecoturismo uma atividade extrativista, conservacionista ou produtiva, diminuindo opotencial de arrecadação de recursos nessas fontes. Como estratégia, o pedido de recur-sos para o ecoturismo pode vir a ser parte de um proposta maior de conservação, facili-tando o entendimento de órgãos financiadores de projetos ambientais, sobre o ecoturis-mo como instrumento de conservação.

Assim, antes de iniciar o processo de elaboração e encaminhamento de proposta, éimportante avaliar o histórico e o momento da entidade à qual o apoio está sendo solici-tado, principalmente se for governamental. Em Rondônia, apesar da proposta ter sidoaprovada e de haver um convênio, o repasse de recursos tardou quase dois anos, em vir-tude de mudanças político-governamentais.

Deve-se considerar também as dificuldades já reconhecidas para esse tipo de processo,tais como a demora para avaliação, aprovação e liberação do recursos.

è Monitoramento, avaliação e continuidade do planejamento

O planejamento deve ser visto comoprocesso que dura tanto quanto a ativ i d a d eque ele visa desenvo l ve r. Ou seja, o planeja-mento não acaba quando o Plano deD e s e nvolvimento do Ecoturismo Regional édevidamente aprovado pelos diferentessetores da comunidade e implementado pelo

plano de ações. O monitoramento da imple-mentação do Plano – ou seja, o acompan-hamento da realização das atividades deacordo com seus prazos –, a avaliação pe-riódica da efetividade das atividades paraalcançar as metas e objetivos, e a adequaçãodo plano de ações de acordo com os resul-tados da avaliação – muitas vezes ch a m a d ade re-planejamento –, são partes do proces-so que chamamos de planejamento. A con-

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

t inuidade do processo de planejamento é deresponsabilidade do mesmo grupo que oiniciou, daí o preferência pela criação doCOMTUR. Os capítulos de Pa r t i c i p a ç ã oComunitária e Parcerias e Monitoramento eControle de Impactos de Visitação oferecemsugestões para a elaboração e implemen-tação de um sistema de monitoramento,avaliação e re-planejamento.

A base do planejamento em ecoturismoé a participação dos diferentes setores e gru-pos da comunidade dentro de uma estraté-gia que divide responsabilidades entre osinteressados. O planejamento participativoé feito a partir do entendimento de que acomunidade, ou parte expressiva da comu-nidade, deseja empreender o ecoturismo naregião e deter controle de parte considerávelde seu desenvolvimento. Esse entendimentoé desenvolvido ao longo do processo dee nvolvimento da comunidade (capítuloParticipação Comunitária e Parcerias) e derealização do inventário e diagnóstico dopotencial ecoturístico.

Porém, como em qualquer sociedade,dificilmente haverá consenso entre todos ossetores e grupos, ou mesmo internamenteem um setor ou grupo, sobre a atividade doecoturismo como um todo ou sobre aspec-tos específicos da atividade na região.Quantas pessoas constituem “parte expressi-va da comunidade”? Não há resposta clara aesta pergunta. É necessário que o COMTUR,ou grupo de trabalho, ou equipe técnicafacilitadora, ou todos esses grupos estejamatentos às reações e questionamentos dosparticipantes em cada evento, seja comoindivíduos ou como representantes de dife-rentes setores ou áreas da comunidade. Umbom termômetro do nível de comprometi-mento da comunidade com o desenvolvi-mento do ecoturismo é a distribuição deresponsabilidades no Plano de Desen-volvimento do Ecoturismo Regional.Naturalmente, melhor termômetro é a efeti-va participação na subseqüente implemen-tação do Plano.

4. Planejando o ecoturismo em áreas protegidas

ou propriedade rural particular

Unidades de conservação (UCs) e pro-priedades particulares com atra t ivos nat-

u rais e culturais são o patrimônio indispen-s á vel para o desenvolvimento do ecoturismo.Sem a sua existência ou sem o seu adequadod e s e nvolvimento, não há ecoturismo (mesmoque haja turismo). É neste âmbito que oprincípio da conservação deve estar sempre àfrente das atividades de desenvolvimento doecoturismo, prevalecendo sobre interesses ounecessidades empresariais.

D iversos capítulos do Manual orientam od e s e nvolvimento de infra - e s t r u t u ra e serviçosem áreas naturais, especialmente os da Seção2 (ver capítulos "Manejo de Tr i l h a s" ,"Interpretação A m b i e n t a l", "M o n i t o ramento eControle de Impactos de Vi s i t a ç ã o" e "I n f ra -e s t r u t u ra de Apoio ao Ecoturismo"), de formaa assegurar o respeito ao princípio da pro-teção ambiental. Entretanto, a abertura detrilhas, a construção de infra - e s t r u t u ra deserviços, a elaboração de materiais interpre-t a t ivos e o controle dos impactos ambientaisd e vem ser feitos no âmbito da UC ou da pro-priedade como um todo.

Do ponto de vista da conservação, asUCs e as propriedades (particulares ou públi-cas) com diversidade de recursos naturais ec u l t u rais, detentoras de paisagens autênticase exuberantes, com elevado grau de conser-vação ou com características ecológicasincomuns demandam esforços prioritáriosp a ra assegurar sua proteção e manutençãop e rante a presença do turismo. Do ponto devista do ecoturismo, enquanto ativ i d a d eeconômica, essas áreas são o principal atra-t ivo, a base do produto que se coloca nom e rcado. Sem elas, não há ecoturismo.

Neste item, estaremos sugerindo proce-dimentos para orientar o plano de visitaçãode uma UC ou outra propriedade em árear u ral de forma a garantir a sua conservação emelhor aproveitar o seu potencial tanto recre-a t ivo quanto educativo. Porém, é de funda-mental importância conhecer a legislação

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

vigente e consultar os gestores das áreas pro-tegidas antes de se estabelecer planos de eco-turismo que envo l vam estas unidades.

Segundo o Sistema Nacional de Unidadesde Conservação (SNUC – Lei Fe d e ra l9.985/00) a visitação pública para ativ i d a d e sde ecoturismo e de educação ambiental sópode ser desenvolvida em algumas categoriasde unidades, tanto de Uso Sustentável comode Proteção Integral. As especificidades apre-sentadas na Fi cha 8, a seguir, demonstra m

que na grande maioria das categorias deunidades de conservação é permitida a visi-tação pública, por meio de atividades de eco-turismo e de educação ambiental. Mas emtodas elas há restrições, as quais referem-seàquelas contidas em regulamentos próprios(decretos), em Planos de Manejo, em consul-tas a proprietários, a concessionários (no casode Reservas Extra t ivistas) de terras inseridasem áreas protegidas ou a conselhos gestores,entre outras regras.

/ FICHA 8

USO PÚBLICO NAS DIFERENTES CATEGORIAS DE UCS

ESTAÇÃO ECOLÓGICA

RESERVA BIOLÓGICA

PARQUE NACIONAL

MONUMENTO NATURAL

REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE

Sim

Sim

Sim

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Não

Não

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

ÁREA DE RELEVANTE INTERESSEECOLÓGICO

FLORESTA NACIONAL

RESERVA EXTRATIVISTA

RESERVA DE FAUNA

RESERVA DE DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

RESERVA PARTICULAR DOPATRIMÔNIO NATURAL

Independe

Independe

Sim

Sim, com usoc o n c e d i d o

Sim

Sim

Não

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

Sim, comrestrições

FONTE: Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Lei Federal 9.985 / de 18 de julho de 2000.

CARACTERÍSTICAS DOMÍNIO VISITAÇÃO EDUCAÇÃO PESQUISA E USOS PÚBLICO PÚBLICA AMBIENTAL CIENTÍFICA

CATEGORIA DE UC – PROTEÇÃO INTEGRAL

CATEGORIA DE UC – USO SUSTENTÁVEL

Page 42: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

72

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Ecoturismo em UCs depende de aprovação

pelos órgãos competentes

O desenvolvimento do ecoturismo

em Unidades de Conservação deve seguir

estritamente as orientações contidas no

Plano de Manejo, sem o qual nenhuma

atividade de uso poderá ser implementada.

O plano de manejo define os objetivos

gerais da unidade, sua inserção numa

realidade geográfica e o estabelecimento

de diferentes programas temáticos

de gestão, tais como de administração, de

controle e manejo, de educação ambiental

e de visitação. Os dois últimos, para que

possam ser desenvolvidos, terão seu

planejamento e gestão definidos em

instrumento específico, chamado Projeto

Específico. Este plano, no caso de

unidades de conservação federal de

proteção integral (PARNA, EE, RB), deve

ser orientado e implementado por

aprovação prévia da Diretoria de

Ecossistemas do Ibama (DIREC), e deve

abordar, pelo menos:

• Identificação do Projeto (título,

autoria e localização);

• Objetivos e justificativas;

• Descrição do projeto enfocando as

atividades a serem desenvolvidas;

• Dados disponíveis para o projeto

e suas recomendações técnicas;

• Custo estimado de implementação

e fonte (s) de recursos;

• Instituições e pessoas envolvidas.

FONTE: Roteiro Metodológico de Planejamento:Parque Nacional, Reserva Biológica, EstaçãoEcológica. MMA, 2002.

Pa ra ilustrar o desenvolvimento da ativ i-dade, utilizamos como exemplo o Plano deUso Recreativo do Parque Nacional Marinhode Fernando de Noronha, metodologiad e s e nvolvida como parte de um projeto pilo-to no manejo de visitação pública em UCs,implementado pelo W W F - B rasil em parc e r i acom o Pa r q u e / I BAMA e com o ProjetoTAMAR em Fernando de Noronha.

O planejamento de uma UC ou pro-priedade rural para o ecoturismo tem poro b j e t ivo desenvo l ver um sistema de áreas devisitação (trilhas, áreas de mergulho ee s p o r t ivas, de piquenique, de contemplaçãoetc.), infra - e s t r u t u ra de apoio ao visitante(centro de visitantes, áreas de repouso,pontes, camping, canopy wa l k way s, escadasetc.), meios de interpretação ambiental (pla-cas, folhetos, orientações para guias etc.),capacitação dos gestores do parque e dosprestadores de serviços, de forma a otimizartanto a experiência recreativa e educativa dovisitante quanto a proteção da UC ou pro-priedade rural. O planejamento baseia-se naidentificação de alternativas recreativas deacordo com a diversidade e cara c t e r í s t i c a sdo ambiente (natural e cultural) e dos visi-tantes, com base no conceito de que quantomaior o conjunto de oportunidades ofereci-das, mais fácil é atrair e distribuir as pessoas,aumentar seu nível de satisfação e diminuiros impactos no ambiente.

Pelo método desenvolvido pelo W W F -B rasil para o PA R NAMAR de Fernando deNoronha, quatro etapas foram considera d a sno processo de planejamento de uma UC oupropriedade rural para o uso recreativo:

❐ Levantamento e revisão das informaçõesdisponíveis.

❐ Levantamento de campo e mapeamentopara o uso recreativo.

❐ Diagnóstico do uso recreativo incluindoo potencial de visitação, fragilidade am-biental, necessidade de infra-estrutura,definição de tema(s) interpretativo(s).

❐ Zoneamento do uso recreativo na área(incluindo descrição das característicasde cada zona).

1

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73

Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

è Levantamento e revisão das informações disponíveis

O passo inicial para o planejamento é ol e vantamento de informações sobre a área.No caso de uma UC, esta etapa inicia-se coma revisão do plano de manejo, caso exista.D e vem-se analisar os objetivos de proteção,de visitação recreativa, educação e interpre-tação ambiental. Especial atenção deve serdada ao zoneamento da unidade e ao tipo deuso e atividades permitidas em cada zona. Sefor o caso, o plano pode ser atualizado coma proposição de novas estratégias de visi-tação. Deve-se analisar as possíveis áreasp a ra compor um programa de lazer erecreação que melhor explore as possibili-dades ambientais, culturais e recreativas daUC, observando-se também as potenciali-dades de mercado. Além do plano de mane-jo, outros documentos referentes à visitaçãoda área, assim como documentos referentesaos aspectos-ch ave tanto ambientais quantoc u l t u rais, devem ser pesquisados. O leva n t a-mento de informações deve também identi-ficar pessoas com conhecimento prático daárea: funcionários, guias, outros membros dacomunidade local, pesquisadores etc., osquais deverão ser entrevistados.

MONTANDO EQUIPES

PARA O PLANEJAMENTO

Esta é uma etapa crucial para garantir tantoa proteção da área quanto sua viabilidadeeconômica. Neste sentido recomenda-se,sempre que possível, trabalhar com uma

equipe multidisciplinar, com técnicos quepossuam conhecimentos sobre os difer-entes aspectos da área. Em Fernando de

Noronha, o plano de uso recreativoenvolveu

diretamente 14 profissionais de diferentesespecialidades, além dos técnicos do WWF,

do Parque e do Ibama. Dependendo da complexidade da área e de limitações

(Continuação)

orçamentárias, pode-se satisfazer a maiorparte dos procedimentos sugeridos neste

processo contratando um profissional de renomada experiência em turismo

e conservação, colhendo sugestões junto a entidades com experiência nessa área.Convidar acadêmicos e pesquisadores

de universidades também pode ser umasolução ao mesmo tempo profissional e de baixo custo para seu plano. Assimcomo treinar e envolver a comunidade

local para atividades específicas em pesquisa e manejo.

No caso de propriedades privadas, casonão possuam um instrumento de referênciacomo o plano de manejo, é necessário nãosó coletar todas as informações possíveissobre a área como também definir em queáreas da propriedade o uso recreativo serádesenvolvido, quais áreas serão destinadasintegralmente à conservação, quais áreasserão destinadas para instalações físicas oude uso do proprietário para outros fins etc.

O zoneamento da área como um tododeve incluir, por exemplo, a definição de:

❐ Áreas relevantes destinadas à preserva ç ã oambiental e áreas protegidas por lei como,por exemplo, as Áreas de ProteçãoPermanente e as de Reserva Legal definidasno Código Florestal (Lei Fed. 4.771/65) ouuma área para implantação de uma RPPN;

❐ Usos diferenciados dos espaços territoriais.❐ Áreas de produção rural e de manejo

sustentável dos recursos naturais.❐ Áreas para o uso recreativo, incluindo as

áreas para construções físicas de serviços(p. ex. centro de visitantes, pousadas) ou degestão do uso recreativo (escritórios) etc.

❐ Acessos e áreas para estacionamento.❐ Áreas para residência do proprietário, de

funcionários e outros usos particulares.❐ Áreas para pesquisa e/ou treinamento.

1

Page 44: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

74

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

è Levantamento de campo e mapeamentopara o uso recreativo

Com base nas informações contidas nosdocumentos pesquisados ou no zoneamen-to geral da área, inicia-se o trabalho de le-vantamento de campo e mapeamento detodas as trilhas e áreas de visitação, seja ematual uso por visitantes, comunidade localou proprietário, seja novas possibilidadesapontadas pelo levantamento de infor-mações. No caso de trilhas, o método pararealizar esta etapa está descrito no capítuloManejo de Trilhas.

O levantamento de campo é mais do quea simples medição de uma trilha. Ele é ori-entado pelo objetivo maior de minimizar os

O mapeamento da área contendo osdados do plano de manejo e os dados delevantamento é de extrema utilidade para adefinição do zoneamento e seus diferentesusos, dos sítios de visitação turística e dasfuturas estruturas, equipamentos e acessos ep a ra a gestão da área como um todo.Sugere-se que se desenvolva uma base car-tográfica de referência, utilizando-se aque-las existentes – por exemplo, mapas doIBGE ou imagens de satélites – e efetuandoconfirmações de campo com uso de GPS(Global Position System, aparelho para adeterminação das referências geográficas depontos de interesse). Segundo o RoteiroMetodológico de Planejamento de UC's

(MMA, 2002), a base cartográfica deve con-ter, pelo menos, os seguintes dados:

- rede hidrográfica;- sistema rodoviário;- curvas de nível e seus pontos altimétri-

cos relevantes;- limites políticos.De posse dessa base de dados, podem-se

elaborar mapas temáticos (de preferência namesma escala da base cartográfica feita ouexistente), que podem conter:

- a vegetação;- a geologia e geomorfologia;- as áreas de uso e/ou pressão antrópica;- o zoneamento da área ou da UC como

um todo, incluindo seu entorno, ou

impactos de visitação, considerando quequalquer tipo de uso sempre implicaráimpactos nos recursos naturais. O nível deimpacto dependerá de:

1) variáveis sociais e de manejo da visi-tação, como época e hora da visitação, tipode atividade desenvolvida (caminhada,esportes de aventura, cavalo, bicicleta, con-templação, piquenique etc.), intensidade devisitação, comportamento do visitante; e

2 ) va r i á veis físicas e ecológicas como car-acterísticas de solo, declividade e topogra f i a ,altitude, clima, tipos de ecossistema, fauna(tanto silvestre quanto doméstica, se houve r ) ,tipo de vegetação na área de visitação e seuentorno, construção e manutenção dos aces-sos aos sítios de visitação e de trilhas.

1

O Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha possui áreas de visitação tanto emambiente terrestre quanto no ambiente marinho. Como parte do levantamento de infor-mações no plano de manejo e em entrevistas com funcionários e pesquisadores atuantes noparque, definiu-se no ambiente terrestre o desenvolvimento das trilhas (que incluem áreasde repouso, interpretação ambiental e contemplação) e no ambiente marinho a identifi-cação de pontos para mergulho autônomo (com garrafas de ar) e/ou livre (com snorkel).

No ambiente terrestre, foi feito o levantamento e mapeamento de sete trilhas e uma área comtrês pontos de visitação (mirante, sítio arqueológico e acesso a praia manejada pelo ProjetoTAMAR). No ambiente marinho foram mapeados 20 pontos de mergulho, sendo 14 de mergul-ho autônomo, quatro de mergulho livre e dois de mergulho tanto autônomo quanto liv r e .

EXEMPLO: LEVANTAMENTO DE ÁREAS DE VISITAÇÃO NO PARNAMAR NORONHA

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75

Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

zona de amortecimento, no caso deUCs;

- o zoneamento das área de uso turístico;- as áreas de uso da comunidade (se for

o caso).

è Diagnóstico do uso recreativo

As informações colhidas durante o le-vantamento de campo e mapeamento possi-bilitam a elaboração do diagnóstico do poten-cial de uso recreativo de cada área de visi-tação, indicando os atra t ivos, suas fra g i l i d a d e sambientais, as necessidades de infra - e s t r u t u rae equipamentos, a definição do(s) tema(s)i n t e r p r e t a t ivo(s), o perfil do visitante etc.

Para a realização do diagnóstico, deve-sereunir a equipe envolvida no planejamento,que analisará conjuntamente todo o materi-al produzido durante o levantamento decampo e mapeamento. A análise deve con-ter os seguintes passos:❐ Análise de cada área de visitação quanto

aos atrativos (do ponto de vista da inter-pretação ambiental e de atividade re-creativa), condições físicas, acesso, infra-estrutura, fragilidade ambiental.

❐ Definição sobre áreas intangíveis, ouseja, que devem ser interditadas ou nãoabertas ao uso recreativo, conformedefinido no Plano de Manejo. Isto podeocorrer por razões de fragilidade ambi-ental, de segurança do turista ou de iso-lamento de outras áreas de visitação (oque pode causar problemas tanto deacesso quanto de fiscalização).

❐ Visualização de todas as áreas de visi-tação mapeadas (identificação em mapada área) e identificação de infra-estruturade apoio necessária para a gestão do usorecreativo como um sistema (por exem-plo, áreas para serviços, sanitários, fisca-lização, acessos, estacionamentos etc.).

❐ Priorização para a abertura (quais áreasdevem ser preparadas para uso recreati-vo a curto, médio e longo prazos).

è Zoneamento para uso recreativo

Após o mapeamento e diagnóstico, as tri-lhas devem ser classificadas de acordo com asc a racterísticas de infra - e s t r u t u ra, meios interpre-t a t ivos e intensidade de manejo. Pa ra orientaresta classificação, sugerimos o uso do métodonorte-americano de Espectro de OportunidadesR e c r e a t ivas (ROS - Recreational Opportunity

Spectrum, idealizado por R. Moore em 1994),com adaptações para uso ecoturístico.

O ROS visa criar variadas alternativas derecreação, possibilitando experiências dealta qualidade para os visitantes. De acordocom as expectativas das pessoas que bus-cam, ao ar livre, uma variedade de ativi-dades e de ambientes, esperando diferentesresultados ou experiências, o método ROS

1

A Trilha dos Golfinhos foi diagnosticada como a principal trilha no ambiente terrestre,sendo prioritária para o desenvolvimento de infra-estrutura de apoio e materiais de inter-pretação ambiental. Segue a descrição da trilha de acordo com o seu diagnóstico:

“Pe rcurso de mediano comprimento (2.160m), principalmente plano, que deve serp r e p a rado para que públicos de diferentes idades e habilidades físicas possam perc o r r ê - l o(com exceção de cadeira de rodas). Esta trilha é ideal para observação e interpretação da faunaterrestre, principalmente de aves. A trilha também dá acesso a um dos locais mais visitados dailha, o Mirante dos Golfinhos. Desse local, posicionado na borda de um penhasco a 70m dea l t u ra, pode-se observar durante todo o ano a comunidade de mais de 300 golfinhos rotadoresem sua área de repouso e procriação. A Praia do Sancho, uma das mais belas e populares dailha, é acessada por esta trilha, por meio de uma escada encravada em uma fenda natural. Naságuas da baía de mesmo nome é possível fazer o mergulho liv r e” (WWF, 2001a).

EXEMPLO: DIAGNÓSTICO DA TRILHA DOS GOLFINHOS DO PARNAMAR NORONHA

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76

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

estabelece um quadro de demanda recrea-cional, composto pela integração, observa-da em uma determinada propriedade, entrequatro fatores, determinados pela possibi-lidade que os visitantes têm de:

(a) realizar suas atividades preferidas;(b) nos ambientes recreativos com

características de sua preferência;(c) visando experimentar determinado

tipo de resultado psicológico;(d) o qual resulta dos benefícios

advindos de uma experiência satisfatória.

No planejamento de uma área, conformeseu potencial de oferta recreativa, um ououtro fator assume maior importância. Emáreas naturais protegidas, maior ênfase écolocada no nível (b), ou seja, nas cara c t e r í s-ticas específicas do ambiente visitado (biofísi-cas, sociais, de gestão), buscando-se a maiorr e p r e s e n t a t ividade da variedade do local. Ad iversidade de características é utilizada paraclassificar os locais de visitação em diferenteszonas recreativas, que variam desde níve i smínimos de alteração humana (cara c t e r í s t i-cas biofísicas), interação humana (cara c t e r í s-ticas sociais) e intensidade de manejo (cara c-terísticas de gestão), até níveis bastante eleva-dos destas mesmas características.

Dessa forma, o zoneamento baseia-se nop r o g r e s s ivo aumento da intensidade de uso,indo desde uma Zona Primitiva, bem natura l ,com pouca ou nenhuma infra - e s t r u t u ra ebaixa intensidade de manejo, para uma ZonaS e m i - P r i m i t iva, Zona de Uso Extensivo, umaZona Natural, uma Zona Rural, até uma ZonaUrbana, bastante alterada, com muita infra -e s t r u t u ra e manejo visíveis (ver Fi g u ra 2).

O zoneamento de uso recreativo orientaos gestores da área em suas decisões quantoao nível de intervenção e melhorias noslocais visitados, tais como nível de com-pactação ou tipo de pavimentação de umaárea ou trilha, quantidade, tamanho e loca-lização de infra - e s t r u t u ra (banheiros, postosde fiscalização, lanchonete etc.), localizaçãoe tipo de sinalização e de interpretação, for-mas de realizar a fiscalização, entre outros.

Para detalhar as características do zonea-mento ROS para uma área específica, asvariáveis principais são:

❐ Tipo de local (área particular ou pública,isolada ou não etc.);

❐ Tipo de atrativos;❐ Características sociais (tipo e quantidade

de presença humana, encontros e inte-ração entre grupos de visitantes etc.);

❐ Características de manejo (tipo e quanti-dade de restrições colocadas ao visit a n t e ,

1

Além de um Centro de Visitantes localizado em área central da ilha principal, foramdefinidos quatro setores para facilitar a gestão do uso recreativo no Parque, inseridas naszonas já estabelecidas. Nessas áreas foi indicada a instalação de edificações, contendo: salapara fiscalização, lanchonete, sanitários e local para orientação e interpretação ambientaldo setor. Posteriormente, decidiu-se nomear estes locais de “Postos de Informação eControle” ou PIC.❐ Golfinhos 4 acesso às trilhas dos Golfinhos, Baía dos Porcos, Farol e Capim-açu.❐ Caieiras 4 acesso à trilha da Pontinha - Pedra Alta, ao mirante do Buraco da Raquel, e

apoio à fiscalização no porto.❐ Atalaia 4 acesso à Praia do Atalaia e alternativa de acesso às trilhas da Pontinha - Pedra

Alta e dos Abreus.❐ Sueste 4 acesso à trilha dos Abreus, Praia do Sueste e Área de Visitação Leão–Ponta das

Caracas–Forte São Joaquim do Sueste.

EXEMPLO: SISTEMA DE USO RECREATIVODO PARNAMAR / NORONHA

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77

Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

1

assim como a evidência destas infor-mações para o visitante – por exemplo, afiscalização de acesso a uma área frágilpode ser feita de forma ostensiva, com pre-sença de um fiscal, ou então de formamais discreta com a colocação de peque-

na placa ou de cordão de isolamento).❐ Infra-estrutura recreativa (trilhas, inter-

pretação etc.).Há, ainda, Zonas Externas à UCs tais

como as de Amortecimento e os CorredoresEcológicos.

✑ FIGURA 2

ZONAS DE USO RECREATIVO SEGUNDO O ROS

FONTE: Extraído do documento “The Opportunity Spectrum Concept and Behavioral Information in OutdoorRecreational Resource Supply Inventories: a Rationale” (MOORE: 1994).

PrimitivaSemi-

Primitiva NaturalUso

extensivo Usointensivo

P ro g re s s iva intervenção humana no ambiente

ZONEAMENTO, INTERVENÇÕES E USOS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

O zoneamento de uma UC é definido pela Lei 9.985/00 como sendo "a definição

de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de manejo

e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para

que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica

e eficaz". E de acordo com o novo Roteiro Metodológico de Planejamento,

as zonas internas de uma UC e os graus de intervenção são assim descritos:

Zonas de nenhuma ou baixa intervenção:

Intangível e Primitiva

Zonas de média intervenção:

Uso Extensivo e Histórico-Cultural

Zonas de alto grau de intervenção:

Uso Intensivo, Recuperação, Uso Especial, Uso Conflitante,

Ocupação Temporária, Superposição Indígena e Interferência

Experimental.

Page 48: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

DEFINA COM CUIDADO AS ATIVIDADES RECREATIVAS

PERMITIDAS EM CADA ÁREA DE VISITAÇÃO.

Um dos aspectos mais importantes para o zoneamento do uso recreativo é a definição do

tipo de atividade que o turista pode realizar: caminhada, ciclismo, escalada, canoagem,

cavalgada, passeio de carro, de moto, de barco motorizado, acampamento, piquenique,

excursões de escolas etc. Além de influenciar o tipo de tratamento que se dará à área

de visitação, é importante estar atento para os possíveis conflitos de uso turístico.

Por exemplo, trilhas para pedestres são incompatíveis com o uso de veículos motorizados,

bicicleta, ou cavalgada pela perspectiva do pedestre.

78

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

1

Para a aplicação do método no Parque, foi solicitado pelo IBAMA que se adotasse umanomenclatura semelhante àquela utilizada no zoneamento de parques. Assim, foram ado-tadas as seguintes zonas: Primitiva, Semi-Primitiva, Uso Extensivo, Natural, Uso Extensivo,Uso Intensivo. (10)

Para o ambiente terrestre, foi necessário descrever em detalhes as características de cadazona de uso recreativo no contexto do Parque. Como no diagnóstico foi definido que todasas trilhas proporcionam o mesmo tipo de atividade, ou seja, são restritas a pedestres comfins de caminhada, contemplação, acesso a praias, mergulho livre e banho de sol ou mar,foram definidas três zonas de uso recreativo, correspondentes a semi-primitiva, natural erural. A seguir descrevemos as características de trilhas na Zona de Uso Extensivo, de formaque possibilitou o diagnóstico da Trilha dos Golfinhos:

Na Zona de Uso Extensivo:❐ As trilhas devem possibilitar a interpretação ambiental mais intensiva e estar desen-

volvidas para um tráfego grande de visitantes;❐ O leito da trilha deverá ter entre 1,20m e 1,50m e ser bastante compactado, priorizan-

do, sempre que possível, a utilização de materiais encontrados no arquipélago;❐ Para cruzamento de cursos de água perenes, a utilização de pontes é recomendável,

sendo para os sazonais recomendada a estrutura de pequenos aquedutos;❐ As áreas de descanso e edificações deverão estar preparadas para receber todos os tipos

de visitantes (diferentes faixas etárias e condicionamento físico), estimando-se que osmesmos permanecerão nas áreas de descanso por períodos relativamente longos;

❐ A sinalização poderá ser colocada em toda a trilha;❐ A interpretação ambiental deverá ser colocada ao longo da trilha, independente de

haver materiais escritos complementares, favorecendo-se sempre o posicionamento deplacas rente ao solo;

❐ Os mirantes deverão conter painéis interpretativos nos temas relevantes;❐ O corredor da trilha deverá ser aberto com até 2m de largura por 2m de altura.

EXEMPLO: ZONEAMENTO DO USO RECREATIVONO PARNAMAR NORONHA

(10) – NOTA DO AUTOR: Pa ra efeito de entendimento deste e de outros exemplos, estão sendo mantidas as denominações de zoneamento de UCs anteriores às novas definidas no novo Roteiro Metodológico de Planejamento.

Page 49: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

79

Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Uma vez que as quatro etapas do planeja-mento de uma UC ou propriedade rural para ouso recreativo tenham sido realizadas,recomenda-se que as informações sobre cadaárea de visitação (cach o e i ra, trilha, ponto de

mergulho etc.) sejam resumidas e sistematiza-das em formulários específicos para orientar oseu desenvolvimento. No caso do PA R NA M A Rde Fernando de Noronha foram elaborados for-mulários como no exemplo que se segue.

11) Nome: Trilha dos Golfinhos.

2) Localização: Inicia e termina no atual estacionamento da Trilha dos Golfinhos.

3) Tipo: Circular, com 3 braços de trilha para mirantes/atrativos.

4) Tamanho em metros: Circuito principal: 2.160 m; Mirante do Golfinho 2: 280 m; descida para a Praia do Sancho: 103 m.

5) Atrativos: 2 Mirantes para observação dos golfinhos; pássaros ao longo do penhasco entre Mirante dos Golfinhos e Mirante do Sancho; geologia ao longo do penhasco; vista cênica; Forte e antiga bateria antiaérea; banho na praia do Sancho; mergulho livre na Baía do Sancho; cachoeiras sazonais na praia do Sancho.

6) Problemas e limitações (incluindo sazonalidade): grande impacto no solo e vege-tação devido ao pastoreio de animais e antigo manejo de abertura de estrada/acesso por trator.

7) Temas interpretativos: Golfinhos, pássaros, ciclo de degradação e recuperação de vegetação, geologia na formação do penhasco e fenda no acesso à Praia do Sancho, história militar no Forte e antiga bateria.

8) Zoneamento de acordo com o ROS: Zona de Uso Extensivo

9) Nível de dificuldade: baixo, com exceção da descida à Praia do Sancho.

10) Grupo etário generalizado: todos, sendo que na descida à Praia do Sancho há limitações para pessoas com problemas em relação a altitude ou dificuldade em descer/subir escadas.

11) Avaliação de resistência e resiliência: Alto grau de resistência uma vez que o terrenoem partes de maior declividade tenha sido corrigido (ver capítulo Manejo de Tr i l h a s); área ao longo do penhasco entre Golfinhos e Sancho deve ser monitorada para o impacto no seu comportamento geomorfológico, pois trata-se de uma falésia em atividade, com risco de desmoronamento.

12) Aspectos de segurança: Vários locais entre o Mirante dos Golfinhos 1 e o Mirante do Sancho merecem consideração para construção de muretas de pedras fixadas com cimento (guarda-corpos). A descida do Mirante do Sancho até a Praia do Sancho deverá ser melhorada com equipamentos de segurança. Entretanto, como nunca houve um acidente até o presente momento e a área é atualmente a de maior intensidade de uso, recomenda-se que as estruturas colocadas sejam as mínimas possíveis e que seja monitorada, por meio de questionários, a percepção dos visitantes sobre a necessidade de maiores estruturas preventivas de acidentes.

13) Necessidade de intervenção corretiva de trilha e desenvolvimento de infra-estrutura:No começo do circuito: estacionamento, lanchonete por concessão, (Cont…)

EXEMPLO: DESCRIÇÃO DA TRILHA DOS GOLFINHOS –PARNAMAR/NORONHA

Page 50: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

80

MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Após o término do planejamento, sãoiniciadas as etapas de desenvolvimento deinfra-estrutura (ver capítulo Infra-estruturade Apoio ao Ecoturismo), de desenvolvi-mento das trilhas (ver capítulo Manejo deTrilhas), de elaboração de produtos de eco-turismo (ver capítulo de mesmo nome), deelaboração do sistema de monitoramento econtrole de impactos de visitação (ver capí-tulo de mesmo nome), e de elaboração doprograma de interpretação ambiental (vercapítulo de mesmo nome).

5. Planejando produtos ou empreendimentos de ecoturismo

Dentro do contexto do plano regionaldesenvolvem-se os empreendimentos

específicos (um restaurante, pousada, umapropriedade com atrativos a serem visitados)e os produtos ecoturísticos compostos poruma combinação entre atrativos e serviços( ver capítulo E l a b o ração do Produto deEcoturismo). Na verdade a combinação é

um pouco mais complexa e envolve umaavaliação cuidadosa dos seguintes compo-nentes: o mercado consumidor, o mercadoconcorrente, seus fornecedores e os obje-tivos e características de sua empresa.

Neste nível a sociedade civil é o principalagente do planejamento. Quando o planeja-mento regional é realizado de forma adequa-da, ou seja, quando resulta no compromissodos diferentes setores da sociedade civil coma implementação do plano, cada empresárioou proprietário buscará desenvo l ver seuempreendimento ou produto de acordo comas orientações, normas e acordos definidosno planejamento regional, incentivado porp a rcerias e incentivos específicos.

Quando o planejamento de umempreendimento se faz de forma integrada aum planejamento regional, o principaldesafio para um empresário é desenvolverum produto ou empreendimento que sejaoriginal (diferenciado) o suficiente na regiãopara atrair turistas e garantir sua viabilidadeeconômica e ao mesmo tempo manter-se

1

(Continuação) sanitários, placa descritiva da trilha com mapa, restrições e atrativos, posto de fiscalização para dois fiscais com rádio e equipamentos de primeiros socorros. Na trilha: definição e correção/preparação da trilha, com desenvolvimento de estruturas de drenagem, algumas pontes e pequenos aquedutos, abertura de trilha em alguns pontos entre o Mirante dos Golfinhos 1 e Mirante do Sancho e do Mirante do Sancho para o Forte; estruturas de segurança ao longo do penhasco entreo Mirante dos Golfinhos 1 e Mirante do Sancho e na descida para a Praia do Sancho; nesta última parte, desenvolvimento de degraus de pedras fixadas com cimento; melhorar os cabos de proteção ao redor da escada de descida no penhascoe depois, dando mais segurança com corrimão; retirada de cercas de antigas propriedades particulares; desenvolvimento de mirantes com quiosques, bancos e centro de interpretação no Mirante dos Golfinhos 1.

14) Ações de recuperação necessárias: Revegetação ao longo da trilha até o Mirante dosGolfinhos 1 nas partes mais degradadas e do Mirante do Sancho até o estacionamento, aumentando o sombreamento da trilha e possibilitando a interpretação com o tema de recuperação de vegetação degradada.

15) Recomendação de priorização baseada no diagnóstico e nos princípios ROS:(1) de 8 trilhas.

EXEMPLO: DESCRIÇÃO DA TRILHA DOS GOLFINHOS –PARNAMAR/NORONHA

Page 51: SALVATI. Planejamento do ecoturismo.pdf

81

Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

dentro dos parâmetros acordados no plane-jamento regional.

Como a maior parte dos capítulos desteManual foram desenvolvidos visando orien-tar o planejamento e realização de açõespara criar um empreendimento de ecoturis-mo, esta seção apresenta um roteiro resumi-do das ações, aproximadamente na ordemem que devem ser realizadas. Porém deve-se observar que as atividades envolvidas nacriação e operação de um empreendimentosão interativas, e partindo de uma situaçãoideal, no caso, onde o negócio ainda não foielaborado.

a) Levantamento de informações e diagnóstico

Uma pessoa que deseje desenvolver umempreendimento de ecoturismo em umaregião deve antes de mais nada coletarinformações sobre o potencial de ecoturis-mo da região em geral e de sua propriedadeou tipo de empreendimento, em particular.Pa ra efeito deste capítulo, partimos doprincípio de que um inventário local ouregional participativo foi realizado. Destaforma, o empresário potencial pode acessare analisar não só as os resultados do inven-tário, como também do diagnóstico e plane-jamento regionais. Isto não o desobriga derealizar um inventário específico e detalha-do para conhecer as bases que fundamen-tarão o diagnóstico do seu futuro negócio,de forma completa (se não houver o inven-tário regional ou local) ou de aprofunda-mento (se houver).

Adicionalmente, e se for o caso, é pre-ciso fazer uma avaliação da propriedadeque deseja adequar ao ecoturismo, seja umacasa que se deseja transformar em pousadaou restaurante, ou uma propriedade onde sedeseja abrir um camping, ou ainda uma pro-priedade com atrativos naturais onde sedeseja receber visitantes. O próprio inven-tário pode fornecer as informações básicassobre sua disponibilidade de bens eserviços, existentes ou necessários, queincluem:

❐ Atrativos naturais e culturais;❐ Estrutura física;❐ Equipamentos de apoio turístico;❐ Serviços ; ❐ Características da identidade visual da

estrutura física e equipamentos;❐ Caso o empreendimento já esteja em

andamento, volume da visitação e perfildo turista. Caso negativo, buscar estainformação em empreendimentos noentorno, ou na região, ou na origem doturista potencial.

Além de estudar os outros empreendimen-tos do mesmo tipo existentes na localidade ouna região e contrastá-los com o que se desejad e s e nvo l ve r, deve-se especialmente buscaridentificar o desempenho econômico dosempreendimentos similares, sua adequaçãoaos princípios de proteção ambiental do eco-turismo, seu público, sazonalidade, entre ou-tros elementos que se julgue necessário.E ventualmente, no caso de recursos altamenteespecializados, como um conjunto de cave r-nas, a pesquisa de produtos concorrentes exis-tentes pode não estar em sua região (porexemplo, duas das maiores províncias espeleo-lógicas do Brasil localizam-se uma no Vale doR i b e i ra, SP, e outra em São Domingos, GO)

Neste momento, é importante observaras informações que lhe permitam identificaros potenciais parceiros comerciais do seufuturo negócio e iniciar conversas sobresuas idéias. É neste momento também quese deve iniciar contatos com a comunidadede entorno ao seu empreendimento, bus-cando saber o que pensam, como podemagregar valor ao produto e que vocaçãoprofissional possuem ou desejariam possuire que possam ser úteis em seu negócio.

A avaliação deste conjunto de infor-mações gerará um diagnóstico preliminarsobre o setor que se deseja participar.Finalmente, deve-se esboçar o projeto doempreendimento, já incluindo as altera ç õ e snecessárias à propriedade (no caso da pessoainteressada não possuir ainda a propriedade,a compra da mesma passa a ser parte do pro-jeto, devendo ser descrita em detalhes).

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

b) Elaboração tentativa do produto

Com o resultado positivo do diagnósticopreliminar e o projeto preliminar doempreendimento, o empresário potencialdeve esboçar o seu produto, seguindo asorientações fornecidas no capítulo Elabo -ração do Produto de Ecoturismo. Esta faseprecede o desenvolvimento de qualqueri n f ra - e s t r u t u ra ou investimento de porte.Como foi observado no início do capítulo,as fases de diagnóstico, elaboração do pro-duto e viabilidade econômica são intera t iva s .

c) Verificação da viabilidade econômica do produto

O passo seguinte é realizar o estudo deviabilidade econômica do empreendimentoe do produto, seguindo as orientações docapítulo Viabilidade Econômica. De acordocom os resultados, é possível que se neces-site adequar o produto.

Por meio da interação entre estas três eta-pas, que vão se ajustando e se complemen-tando, chega-se à versão final do produto ede sua viabilidade econômica. Só então,caso os resultados sejam positivos do pontode vista do empresário, deve-se partir para oplanejamento dos investimentos e açõesnecessários para desenvo l ver o empreendi-mento e iniciar a operação do produto.

d) Preparando o Plano de Desenvolvimento

O plano organiza, de forma racional eoperativa, os produtos e serviços passíveisde serem imediatamente oferecidos aopúblico visitante com a estrutura existente,bem como a programação de ações decurto, médio e longo prazos, compatibi-lizando os recursos e os atra t ivo sd i s p o n í veis, associados ao potencial dedemanda e à capacidade de investimentos.Uma boa parte do plano de desenvolvimen-to já terá sido feita durante a elaboração doproduto e do plano de negócios (parte doestudo de viabilidade econômica).

Adicionalmente, deve-se planejar:

❐ A construção ou reforma de infra-estru-tura, incluindo áreas de camping (verorientações no capítulo Infra-estrutura deApoio ao Ecoturismo).

❐ No caso de propriedades com atrativosnaturais, deve-se realizar o zoneamentoda propriedade (ver seção 4 da Caixa deFerramentas deste capítulo, acima).

❐ Capacitação de mão-de-obra (incluindoa do próprio empresário).

❐ Elaboração de materiais interpretativos epromocionais.

❐ Elaboração de atividades que promovama conservação da região (e da pro-priedade), e a educação ambiental (vercapítulos de A Contribuição deVoluntários em Projetos de Ecoturismo ePesquisa na Atividade de Ecoturismo).

❐ Elaboração do plano de ação, incluindoum cronograma físico-financeiro detodas as atividades planejadas.

❐ Elaboração da estratégia de implemen-tação, incluindo avaliação de custos eidentificação de fontes de apoio e/oucrédito.

6. Esquemas de certificação como indutores de um turismo

mais responsável

Um esquema de certificação é ummecanismo não governamental e vo-

luntário de controle social sobre os produ-tos, serviços e destinos turísticos, baseadonuma avaliação independente dos desem-penhos sociais, econômicos e ambientaisdas suas operações.

A necessidade de se buscar uma certifi-cação independente, como vem ocorrendono Brasil e no mundo, pode ser umademonstração de que os empreendimentosturísticos privados não estão cumprindocom o papel que freqüentemente lhes é de-signado: “indústria” limpa, gerador de rendae riquezas, promotor de justiça social e doresgate cultural etc. E mais, a ampliaçãodestes esquemas significa claramente que

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

empreendedores responsáveis, aqueles queinvestem no seu negócio como indutor paraum desenvolvimento local amplo, susten-tável e integrado, estão se sentindo inco-modados pelo oportunismo que o uso depalavras como ecoturismo e turismo susten-tável vem sendo aproveitado como alavancade marketing, mais conhecido como greenwashing.

Esquemas de certificação de turismopodem representar um papel importante aotrazer mais responsabilidade e competitivi-dade para o setor privado do turismo.Configura-se pela formulação e adoção deum plano de ações que visam o aperfeiçoa-mento dos negócios e que vem unido a umincentivo de mercado, em forma de selo. Oselo, ou logotipo de marketing, será forneci-do para negócios que alcançam um padrãode eficiência e desempenho, demonstrandoas suas credenciais ambientais e sociais quepermitem aos consumidores identificarcompanhias responsáveis.

Uma variedade de esquemas de certifi-cação em turismo já existe no mundo ealguns são mais amplos e consistentes queoutros. O objetivo de gerar nos destinosturísticos competitividade e sustentabilidadeainda não foi comprovado. No Brasil, a cer-tificação já não é uma novidade e as difer-entes iniciativas, envolvendo a certificaçãoambiental de produtos e serviços turísticos,ainda carecem de embasamento técnico oupossuem perfil geograficamente ou setorial-mente limitados, podendo causar confusãoe descrédito no empresariado e no consum-idor. A necessidade de produtos susten-táveis, a maior consciência do consumidor eo falso uso de eco-determinantes são osmaiores argumentos a favor de programasde certificação (WWF, 2001c).

Existe um consenso entre os especialistasde que esquemas eficazes são aqueles emque os padrões de sustentabilidade do turis-mo incluem critérios de desempenho (per-formance) amplamente acordados pelosatores de interesse, e que devem ser ratifica-dos através de processos complementares eindependentes. Um meio de distinguir entre

esquemas eficazes e ineficazes vem a ser acriação de um corpo de credenciamentoindependente. Tal corpo poderia empregarum único logotipo, credenciar e descreden-ciar empresas certificadoras e clarear a con-fusão oriunda da diversidade de logotiposexistentes atualmente.

Depois de um trabalho participativo eorganizado por algumas das mais expressiva sentidades ambientalistas da sociedade civ i l ,surge o Conselho Brasileiro de Tu r i s m oS u s t e n t á vel - CBTS, entidade que vêm procu-rando dar consistência técnica e merc a d o l ó-gica ao esquema brasileiro de certificação,por meio do planejamento e implementaçãode uma estratégia de certificação que sejap a r t i c i p a t iva, independente e voluntária. OCBTS pretende obter a credibilidade de mer-cados e consumidores por permitir a partici-pação ativa dos setores sociais, ambientais eeconômicos envolvidos com o turismo noB rasil, principalmente para a formulação depadrões (ou normas) sustentáve i s .

O objetivo maior desta iniciativa é con-tribuir para o desenvolvimento sustentável dosetor do turismo no Brasil por meio de umametodologia que objetiva ser tecnicamentev i á vel, cientificamente embasado, politica-mente negociado e comercialmente focado.

A certificação em turismo é um desafio,por um lado em função da dinâmica natura lde um dos mais pujantes setores econômicosdo mundo, aliada a sua importante funçãocomo meio de lazer. Por outro, por ser com-posto por uma cadeia de fornecedores instá-vel e variada, sobrepujada por diferentesn í veis de interesses públicos e priva d o s .

p Como funciona a certificação Os programas de certificação em turismo

s u s t e n t á vel objetivam fazer com que tanto osprodutos e empresas sócio-ambientalmenter e s p o n s á veis como os que não respeitam omeio ambiente e as relações sociais se afi-liem a programas de certificação. Eles deve mser motivados pelo ganho em competitiv i-dade no mercado, levando a uma mudançap r o g r e s s iva em favor da maior sustentabili-dade da atividade (WWF, 2001c).

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Num mercado competitivo como o doturismo, a busca de consumidores torna-seuma batalha de mensagens comerciais (pu-blicitárias, propagandas) cada qual com seuapelo de marketing. Num momento em queassuntos de meio ambiente tornam-se cadavez mais presente na mídia, ao mesmotempo em que há tendências de consumi-dores optarem por produtos social e ambi-entalmente mais amigáveis, as estratégias demarketing aproveitam para utilizar apeloscomerciais que visem atrair consumidorespor suas pretensas qualidades ecológicas esociais. Muitas vezes são apenas men-sagens, não correspondendo efetivamenteàs qualidades do produto. São chamados degreen washing as empresas que se comuni-cam com o mercado como ambientalmenteamigáveis, porém operacionalmente nadaou muito pouco nesta área é feito.

A certificação permite atestar que asmensagens enviadas ao comprador sobre aqualidade e/ou característica do produto ouserviço turístico que ele está adquirindo sãoverdadeiras. Para que esta mensagem sejaatestada com eficiência e credibilidade, énecessário que um organismo independenterealize uma verificação da qualidade ou dacaracterística anteriormente declarada peloempreendedor. A verificação deve ser feitapelo certificador. Para garantir o bom fun-cionamento da certificação, existe umorganismo controlador, chamado Creden-ciador (no caso brasileiro, o CBTS), quedefine as regras e media o processo. O cre-denciador controla o certificador e osdemais envolvidos na certificação, assimcomo garante o bom uso do selo.

p Benefícios da Certificação do TurismoBenefícios econômicos

❐ Proporciona um diferencial de market -ing, gerando vantagens competitivas aosprodutos e empreendimentos.

❐ Facilita o acesso a novos mercados, prin-cipalmente o internacional.

❐ Desenvolve e melhora a imagem públicada empresa.

❐ Contribui para a conservação dos atra t ivo s

e, conseqüentemente, para a sustentabili-dade econômica dos produtos turísticos.

Benefícios ambientais❐ Contribui para a conservação da biodi-

versidade e de seus valores associados:água, solos, paisagens e ecossistemas,entre outras coisas.

❐ Favorece a manutenção da qualidadeambiental dos atrativos turísticos.

❐ Auxilia na proteção de espéciesameaçadas ou em perigo de extinção ede seus habitats.

Benefícios sociais❐ Auxilia na legalização da atividade. ❐ Favorece a melhora das condições de

trabalho. ❐ Promove o respeito aos direitos dos tra-

balhadores, povos indígenas e comu-nidades locais.

❐ Proporciona um novo espaço de partici-pação para os trabalhadores e comu-nidades locais na definição dos padrõese no monitoramento das operações certi-ficadas.

❐ Reconhece os valores culturais locais,tais como a gastronomia, arquitetura fol-clore e artesanato, entre outros.

p O CBTSO CBTS - Conselho Brasileiro de Turismo

Sustentável, fundado em 29 de junho de2002, é o órgão executivo e consultivo dacertificação e promotor e controlador doprocesso.

A missão maior do CBTS é desenvolver eimplementar uma metodologia para a certi-ficação do turismo sustentável no Brasilbaseada nos desempenhos econômico,social e ambiental de produtos, serviços edestinos turísticos e com caráter indepen-dente (desenvolvido e controlado pelasociedade), tecnicamente consistente(embasamento técnico-científico), não-dis-criminatória (de setores ou de escalas pro-dutivas), transparente (participação e divul-gação ampla do processo) e voluntária (par-ticipação não obrigatória).

O CBTS é formado pela seguinte arquite-tura organizacional:

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

CÂMARAS SETORIAIS (CS)Fórum amplo para se discutir, criar, alte-

ra r, adaptar, harmonizar ou suprimir critériose indicadores (padrões) do turismo susten-t á vel, onde se desenvo l ve a plena partici-pação democrática, contribuindo tecnica-mente para a viabilização e garantindo acredibilidade do Programa de Certificação.São formadas por entidades relacionadas aos e t o r, representando os interesses sociais,econômicos e ambientais da atividade, ondeseus integrantes exercem seu direito de vo t o .

CONSELHO DIRETOR (CD) Conselho tri-cameral, formado por 9

membros integrantes das Câmaras Setoriaisdo CBTS, eleitos para períodos de 3 anos.Reúne-se para ajustes e encaminhamentodas discussões e aprovação dos relatóriostécnicos.

SECRETARIA EXECUTIVA (SE)Representante administra t ivo e finan-

ceiro do CBTS, responsável pelo gerencia-mento de documentos, materiais, equipa-mentos e recursos. Fornece apoio para aampla divulgação do processo e para osencontros regionais do CBTS, prestandocontas à sociedade.

CONSELHO FISCAL (CF) Conselho tri-cameral formado por 3

membros integrantes das Câmaras Setoriaisdo CBTS, eleitos para períodos de 3 anos.Responsável pela análise das prestações decontas, autorizando gastos diferenciados eencaminhando os relatórios financeiros.

COMITÊ DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS(CRC)

Conselho tri-cameral formado por 3 mem-bros integrantes das Câmaras Setoriais doCBTS, eleitos para períodos de 3 anos. Éacionado para indicar o melhor encaminha-mento quando não se obtém o consenso nasdiscussões dos padrões de sustentabilidade.

p A PROPOSTA DO CBTSO Programa Brasileiro de Certificação do

Turismo Sustentável prevê a implementaçãodos seguintes componentes, por meio dopróprio CBTS ou de seus parceiros, como oInstituto de Hospitalidade e associações dem e rc a d o .

A. Estabelecimento da estrutura consultiva eexecutiva do CBTS

B. Desenvolvimento participativo do sis-tema de normas e padrões de certifi-cação, por meio da mobilização dasociedade para o debate sobre a sus-tentabilidade do turismo e por meio deestudos e pesquisas de base

C. Desenvolvimento do sistema de avali-ação e auditorias

D. Elaboração de um programa de capaci-tação de auditores

E. Estabelecimento e apoio a programas decapacitação e assistência técnica para omercado, principalmente o pequeno emédio empreendedor

F. Elaboração e implementação de apli-cações práticas do sistema de certifi-cação em pilotos de campo para teste dametodologia

G. Promoção de parcerias para a integraçãodo Programa com esquemas de certifi-cação setoriais, regionais e/ou interna-cionais, assim como inserir o Programano Sistema Brasileiro de Qualidade (SIN-METRO)

H. Lançamento do selo CBTS, por meio dae l a b o ração de um plano de marketinginstitucional do Programa de Certificaçãovoltado para os mercados empreendedore consumidor, assim como estabelecermecanismos de promoção e marketingdos produtos certificados

p Como participarVocê e/ou sua Instituição tem um impor-

tante papel a desempenhar, na composiçãode uma das Câmaras Setoriais (Social/Am-biental/Econômica), que integram o CBTS.

A criação de um corpo de credencia-mento independente (o CBTS), de caráterparticipativo, é um meio eficiente de distin-guir sistemas eficientes e sérios, evitando a

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

confusão oriunda da diversidade de selosexistentes atualmente.

Sua participação e/ou de sua Instituiçãopermitirá garantir ampla representativ i-dade, enriquecendo as discussões e con-tribuindo para a credibilidade e consistên-cia do processo.

A forma de participação, fichas deadesão, direitos e deveres, possibilidade devoto, participação nos grupos de trabalho edemais atividades do CBTS estão definidasno Estatuto Social, disponível emwww.cbts.org.br.

É imprescindível que a confirmação doaceite para composição de uma das câmara ssetoriais seja efetuado por meio do envio aoCBTS, da ficha de adesão preenchida e deuma breve descrição da instituição e dasa t ividades empreendidas relacionadas aod e s e nvolvimento do turismo.

Para conhecer melhor todo o processodesenvolvido pelo CBTS e obter seus con-tatos, visite sua h o m e - p a g e e mwww.cbts.org.br.

IV. RISCOS E RECOMENDAÇÕES

A qualquer momento podem estar ocor-rendo simultaneamente em uma regiãovários níveis de planejamento público eprivado que afetam (ou mesmo inibem)propostas de desenvolvimento do eco-turismo. Políticas de desenvolvimento depólos de turismo/ecoturismo, inve s t i-mentos públicos em infra-estrutura (es-tradas, barragens) ou privados em turis-mo (complexos turísticos e resorts)podem interferir na imagem que vocêprojetou para seu município ou regiãoou trazer uma demanda turística nãocompatível com a imagem de seu produ-to. Por um lado, nunca deixe de procurarintegrar sua proposta às diversas iniciati-vas dos diferentes planos. Por outro, nãoexite em abandonar suas idéias se proje-tos de maior abrangência influírem emriscos para seu plano. O ecoturismo sempre se apresenta comoum forte expoente do turismo sustentá-

vel, onde a relação entre a capacidadede suporte e a rentabilidade é construídaa partir de uma contabilidade ambiental,que determina que uma ativ i d a d eeconômica não deve gerar prejuízosambientais que ultrapassem os benefí-cios. Do ponto de vista da contabilidadeambiental, o manejo pautado pelaadministração dos recursos naturais éuma ciência ainda nova, e deve orientar-se por um princípio básico: se o ecotu-rismo propõe a visitação de ambientesnaturais preservados, destruí-los é umato de insanidade econômica.A diversificação de produtos nummesmo pólo de turismo sustentável éuma boa alternativa para diminuir apressão sobre espaços naturais.No desenvolvimento industrial conven-cional, o fracasso de um produto podeser minimizado com mudanças na linhade produção. No ecoturismo, a mudançade um produto não ocorre com veloci-dade, e os impactos gerados podem serirreparáveis. Apesar de ser impossívelprever e prevenir todos os problemas deimplementação e resultados adversos dod e s e nvolvimento do ecoturismo, énecessário evitar os erros advindos domau planejamento ou de interesseseconômicos ou políticos imediatos.No caso do planejamento de produtos,por mais atrativo que seja seu sítio emaior a demanda que bate a sua porta,não abdique das ferramentas de planeja-mento. Tomando atitudes pró-ativas ee s t ratégicas, o empreendedor estarágarantindo um crescimento equilibradoda visitação, garantindo a qualidadeambiental de seus atrativos e conseqüen-temente estará observando um incre-mento seguro de receitas. E a visão deavaliar, planejar, avaliar (monitorar) e re-planejar deve ser uma tarefa constantepara o empreendedor, onde cada setorda empresa deve ser planejado e ba-lanceado com todos os outros setoresinternos e externos que propiciam o eco-turismo.

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Planejamento do ecoturismo – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Por fim, os capítulos de Elaboração deProdutos de Ecoturismo e de ViabilidadeE c o n ô m i c a t razem mais informaçõessobre desenvolvimento de negócios emecoturismo.Atualmente há uma diversificada fontede recursos disponível para projetos deecoturismo, por meio de financiamentoscrédito ou a fundo perdido. Bancospúblicos, como o BASA, possuem umalinha de crédito específica para negóciosem ecoturismo de base comunitária.Outros possuem linhas de crédito paraqualquer negócio em turismo, como aCaixa Econômica Fe d e ral, BNDES,Banco do Brasil, Banco do Nordeste doBrasil e outros. A ABONG, AssociaçãoBrasileira de Organizações Não Gover-namentais, lançou um livro sobre oassunto, “Manual de Fundos Públicos2003”, disponível em www.editorapeiropolis.com.br.Alguns sites de referência para financia-mento são:

Governo:www.mma.gov.br - Ministério do MeioAmbiente, Fundo Nacional do MeioAmbiente;w w w. m r e . g ov. b r - Ministério das RelaçõesExteriores, Cooperação Internacional;w w w. p l a n e j a m e n t o . g ov.br - Ministériodo Planejamento, Assuntos Internacionais;www.integração.gov.br - Ministério daIntegração Nacional, Planafloro (RO) eProdeagro (MT);www.ambiente.sp.gov.br - Secretaria doMeio Ambiente do estado de São Paulo;www.fehidro.sp.gov.br - Fundo Estadualde Recursos Hídricos;www.prodam.sp.gov.br/svma - Secretariado Verde e do Meio Ambiente - PMSP.

Sobre o Terceiro Setor• www.gife.org.br - Grupo de Institutos,

Fundações e Empresas;• www.rits.org.br - Rede de Informações

do 3º Setor;• w w w. e t h o s . o r g . b r - Responsabilidade

Social;

• www.abong.org.br - Associação Brasi-leira de ONGs (Pesquisa sobre Fundos);

• www.iser.org.br - Instituto de Estudos daReligião (Leyla Landim e Samy ra Crespo);

• w w w. a b c r. c o m . b r - Associação Bra s i l e i rade Captadores de Recursos;

• www.voluntarios.com.br - Vo l u n t a r i a d o ;• w w w. vo l u n t a r i a d o . o r g . b r - Centro de

Voluntariado de São Paulo - (11) 288-9056;• w w w.filantropia.com.br - Portal do Te rc e i r o

Setor;• w w w. a s h o k a . o r g . b r - Empreendedores

Sociais;• w w w. r e p e a . o r g . b r - Rede Paulista de

Educação Ambiental (a partir de nov. de2000);

• www.ecoar.org.br - [email protected] -Ecoar - Facilitador da REBEA - RedeBrasileira de Educação Ambiental;

• www.portaldomicrocredito.org.br - Portal do Microcrédito.

Centros de Estudos do Terceiro Setor• CETS - Centro de Estudos do Terceiro

Setor - FGVwww.fgvsp.br/academico/estudos/cetsCentro de Estudos do Terceiro Setor -FGV-EAESP - Av. 9 de julho, 2029, Cep:01313-092 - São Paulo, SP - Tel: 55-11/281-7892 - Fax: 55-11/2841789 - e-mail: [email protected] - Coordenador: Prof.Luiz Carlos Merege;

• CEATS - Centros de Estudo e Admi-nistração do Terceiro Setor - FEA/USPwww.fea.usp.br/ceatsAv. Prof. Luciano Gualberto, 908 - Cep:05508-900 - São Paulo, SP - Tels: (11)3818-5811/5800 - Fax: (11) 3814-3814 -e-mail: [email protected]

• SENAC - Fórum Permanente do TerceiroSetor - Informações: SENAC/Centro deEducação Comunitária para o Trabalho -Tel: (11) 6191-5151.

Alguns Prêmios na Área Sosial e Ambiental:Prêmio Ethos/Va l o r - Instituto Ethos;Prêmio Henry Ford - Fundação Ford;Prêmio von Martius - Câmara de Comér-cio e Indústria Brasil/Alemanha;

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MANUAL DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA • Ferramentas para um planejamento responsável

Prêmio Eco - A M C H A M - CâmaraAmericana de Comércio;Prêmio Top de Ecologia - ADVB;Prêmio Idéias Inovadoras em Captaçãode Recursos - Ashoka;Prêmio Bem Eficiente - Kanitz A s s o-ciados ePrêmio FENEAD - Federação Nacionalde Estudantes de Administração.

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