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BOLÍVIA: CONFLITOS E MUDANÇAS NA HISTÓRIA RECENTE

Sampaio santos, leandro fernandes. virga, thaís. bolívia conflitos e mudanças na história recente

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BOLÍVIA:

CONFLITOS E MUDANÇAS NA HISTÓRIA RECENTE

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Disciplina: América Latina

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Professor: Igor Fuser

Leandro Fernandes, Rafael Luchini e Thaís VirgaAlunos:

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Bolívia: Conflitos e Mudanças na História Recente

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Estado Plurinacional de Bolívia

Independência

● 06 de agosto de 1825

Capital

● Administrativa - La Paz /

Constitucional e Judicial – Sucre

Línguas Oficiais

● Espanhol, Quíchua, Aimará e Guarani

● República Presidencialista Unitária

Governo

Fronteiras

● Argentina, Brasil, Chile,

Paraguai e Peru

População

● 10,4 milhões de habitantes

(2010)

PIB

● US$ 19,09 bilhões (2010

Preços Correntes/Banco Mundial)

● Gás natural, petróleo cru,

soja e derivados, minérios, coca

Principais produtos de exportação

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Antecedentes

♦ Ciclos de Crescimento: quinina (planta utilizada como remédio) – 1830/50; guano

(fertilizante Orgânico) e salitre - 1868/78, látex - 1895/1915 e estanho a partir de 1880;

♦ Obs: A economia do estanho era controlada por praticamente 3 grupos privados que

atuavam influentemente na política do país - territorialismo e oligarquia;

♦ A partir de 1929: crise econômica internacional - queda do preço do estanho;

♦ 1932 a 1935: Derrota da Bolívia para o Paraguai na Guerra do Chaco (disputa boliviana por

uma saída ao Atlântico através do Rio Paraguai);

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Antecedentes

♦ Consequências: Crises econômica, social e política;

♦ Aumento da insatisfação popular e burguesa ao modelo minério-exportador, oligarca, concentrador de poder: os chamados “Roscas”;

♦ O Exército também perde prestígio e surgem grupos militares nacionalistas (contra os setores dominantes);

♦ 1952: Insurreição popular coloca no poder o “Movimiento Nacionalista Revolucionario” –MNR – episódio conhecido como “Revolução Nacional”;

♦ Mudanças no período: nacionalização das minas (cria-se a Corporación Minera de Bolívia (Comibol), reforma agrária, educação universal e gratuita, voto universal, desmantelamento do militarismo das oligarquias, fortalecimento do operariado mineiro, política de substituição de importações.

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Anos 80

♦ 1980: Golpe militar encabeçado pelo general Luis García Mesa;

♦ 1981: Gárcia Mesa renuncia (após denúncias de violação dos direitos humanos evínculos com a criminalidade);

♦ 1983: Hernán Siles Suazo (dirigente do MNR na déc. 50) – governo provisório parao início de um processo de redemocratização (volta de um gov. democrático);

♦ A transição política perpassa um período de grave crise econômica no país:esgotamento do modelo exportador de minérios, retração da atividade agropecuária,alto endividamento externo, expansão da coca → a capacidade de ação do Estado vaiperdendo prestígio;

♦ O gás natural substitui o estanho como principal componente da pautaexportadora e ocorre uma reorientação do comércio exterior, agora voltado para ospaíses da Região (principalmente Argentina e Brasil);

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Anos 80

♦ Período marcado por um forte crescimento da inflação e redução no PIB

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Anos 80

♦ 1985: Victor Paz Estenssoro assume a presidência – aliança entre partidosconservadores e programa de reformas econômicas inspirado na experiência dePinochet – Início de uma Agenda Neoliberal – “Nova Agenda Econômica – NPE”;

♦ Ministro do Planejamento de Estenssoro: Gonzalo Sánches de Lozada (“Goni”) -liberalização dos preços, taxa de juros, câmbio e salários; abertura comercial efinanceira externa; privatização de empresas públicas; fim do monopólio estatal notransporte aéreo e terrestre ; fim da estabilidade no emprego e forte apelo para atraircapital estrangeiro;

♦Objetivo de Lozada: “acabar” com o Estado desenvolvimentista;

♦ Resultados: a partir de 1986 ocorre um controle da inflação e em 1987 o PIB voltaa uma estabilidade até o fim da década. Também, aumenta a reação dostrabalhadores – greves gerais por 48 horas;

♦ Aprofundamento das reformas (NPE) e início das crises decorrentes dessas.

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Anos 90

♦ 1989-93: em 3 lugar na disputa, mas escolhido pelo Congresso (já que nenhumcandidato obteve maioria absoluta e este obtinha prestígio popular), Jaime PazZamora, do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR) assume a presidência –maior proximidade com os indígenas e a favor do reconhecimento da propriedadede terras;

♦ 1993/97: Presidência de Gonzalo Sánches de Lozada – Ápice da implementaçãodo modelo neoliberal na Bolívia com reformas que passam da esfera econômica apolítica;

♦ Objetivos de Lozada: capitalização de empresas estatais; privatização das minas,descentralização administrativa, ampliação da capilaridade do Estado através da Leide Participação Popular (descentralização política e administrativa) e, por fim, aReforma Educativa;

♦ 1994: Reforma Constitucional (dentre outros aspectos estabeleceu a eleiçãodireta para prefeitos e inclui o reconhecimento do caráter multiétnico epluricultural do país e da propriedade comunitária indígena, através da criação das“Terras Comunitárias de Origem”);

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Anos 90

♦ Entretanto, todavia, contudo...

1) O modelo neoliberal utilizado por Lozada (iniciado no governo deEstenssoro), para estabilizar a hiperinflação de 1985 passava pela Reforma doEstado e por uma forte Austeridade Fiscal;2) O perfil exportador, com destaque para a soja e o gás favoreciam apenasalgumas regiões, como a de Santa Cruz de La Sierra;3) A partir de 1997, crises financeiras atingem seus vizinhos dos quais o comércioexterior boliviano é fortemente dependente (principalmente Brasil e Argentina).

♦ Assim, o PIB no final dos anos 90 diminui e conjuntamente as desigualdades sociais aumentam (em um país cujo 2/3 da população já vivia abaixo da linha de pobreza);

♦ 1997: Hugo Banzer Suárez (militar e golpista) retoma a presidência (após presidir de 1971-78):

• Forte mobilização popular, crescentes reações contra os efeitos sociais regressivos das reformas econômicas de liberalização;

• Banzer decreta Estado de Sítio em 8 de abril de 2000 – para deter a onda crescente de protestos sociais e de trabalhadores, mas sem sucesso;

• Manifestações se radicalizam.

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Anos 2000

♦ 2000: A Guerra da Água – movimento contra o direito exclusivo da comercializaçãoe distribuição do sistema de água de Cochabamba pela empresa americana Bechtel. A“privatização” até da água da chuva durou 5 meses e Banzer teve de cancelar aconcessão frente tamanha revolta popular;

♦ 2001: Banzer falece de câncer e seu vice assume - Jorge Quiroga Ramírez até 2003;

♦2003: Gonzalo Sánches de Lozada inicia seu segundo mandato, vencendo compouca diferença Evo Morales. Propõe a exportação de gás para o México e EUAatravés do Chile;

♦ Desencadeamento de levantes populares, greves, paralisações de estradas eaumenta a voz das organizações camponesas com forte identidade indígena – AGuerra do Gás (2003);

♦ Duas importantes características que marcam os anos recentes:

I. falência das políticas econômicas de cunho neoliberais aplicadas a partir de 1985;

II. importante mudança no perfil dos movimentos sociais.

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Anos 2000

♦ 2003: Lozada renuncia e é substituído por seu vice Carlos Mesa, que renuncia emjunho de 2005, frente as constantes pressões populares pedindo um maiornacionalismo com relação as empresas estrangeiras;

♦ Dezembro de 2005: Evo Morales é eleito presidente com ampla maioria de votos,tornando-se o primeiro presidente de origem indígena.

Evo Morales:

♦ Evo: Líder Sindical dos “Cocaleros” e do MAS – Movimiento al Socialismo;

♦ Torna-se bastante notável na imprensa latina e internacional ao resistir astentativas dos EUA de substituir as plantações de coca por bananas (originárias doBrasil), na província de Chapare;

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Anos 2000

♦ Principais Propostas de Evo e do MAS:

1) Convocação de uma Assembléia Constituinte (2006);

2) Nacionalização dos hidrocarbonetos – torna o governo boliviano sócio majoritárioda maioria das empresas ligadas aopetróleo e o gás (1 de maio de 2006);

3) Defesa do cultivo e industrialização da coca;

♦ Objetivos de Evo Morales:

“As medidas implementadas por Morales buscam gerar benefícios tangíveis e nãoconjunturais para os setores mais pobres da população, como forma de darsustentabilidade à nova correlação de forças e reduzir os espaços para opçõesconservadoras que busquem retomar as trajetórias do pas­sado.” (Ayerbe, L.F.)

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Indicadores

Fonte : Instituto Nacional de Estatística (obs: Média Anual) http://www.ine.gob.bo/

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Indicadores

Fonte : Fundo Monetário Internacional http://www.imf.org/

Fonte : Energy Information Administrationhttp://www.eia.gov/countries/data.cfm#undefined

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

Propostas e Objetivos:

♦ Viabilizar mudanças concretas no plano institucional nos âmbitosnacional, estadual, regional, municipal e comunal ;

♦ Redefinir o papel dos principais órgãos e dispositivos estatais (judiciário,parlamento, polícia, forças armadas, etc.);

♦ Impor a democracia participativa permanente (referendo) sobre osprincipais assuntos do país;

♦ Propor uma nova concepção de país ao definir o Estado comoplurinacional, comunitário, multiétnico, multicultural e multilinguístico.

♦ Instituir em seus aspectos socioeconômicos o redistributivismo eneodesenvolvimentismo com forte papel do Estado na economia nacional.

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

1. Nacionalização dos recursos naturais;

2. Redistribuição de terras;

3. Inclusão das Sociedades Indígenas

4. Melhoria das condições de vida das populações mais pobres.

♦ Os 4 pilares das propostas de Evo Morales e do MAS para oprocesso de democratização do país:

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

♦ Aprovação da Nova Constituição em 24 de novembro de 2007, mesmocom o boicote realizado feito pela oposição (Poder Democrático Social –PODEMOS) no dia da votação, os oposicionistas alegavam que a nova CartaMagna aumentaria significativamente os poderes do presidente;

♦ Em 9 de dezembro de 2007, é submetido o texto completo semdestaques;

♦ Em 3 de fevereiro de 2008, os artigos foram votados separadamente,recebendo maioria favorável de dois terços dos constituintes presentes navotação, o PODEMOS que tinha a maioria no senado não participou;

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

♦ Os temas da agenda de negociação foram:

a) A unidade nacional, a democracia e a legalidade;

b) A estatização da economia e as autonomias departamentais;

c) O bônus Renda Dignidad¹;

d) O respeito à propriedade privada;

e) A iniciativa do Executivo de realizar um referendo revocatório que

inclua, além do mandato presidencial, o dos nove governadores.

♦ Esta última proposta é anunciada pelo governo como saída democráticacapaz de reiniciar, com nova legitimidade, as relações entre as partes emconflito;

♦ Evo Morales rejeita a reivindicação dos governadores da oposição por“autonomia plena”;

1- (outubro de 2007): assinação vita­lícia de US$ 26 mensais para todas as pessoas de mais de sessenta anos (financiamento realizado via 30% da ren­da petroleira dos departamentos produtores).

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

♦ Agrava o conflito entre o governo e a oposição, dando início aomovimento separatista promovido pelos governos da “meia lua”, Santa Cruz(organização separatista de Santa Cruz, Unión Juvenil Cruceñista), Pando,Beni e Tarija;

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

♦ Os EUA intervieram nos assuntos internos da Bolívia apoiando a oposição,a atitude dos norteamericanos compromete a relação entre os dois paíseslevando a expulsão do embaixador estadunidense Philip Goldberg emsetembro de 2008;

♦ Declaração de Estado de Sítio devido a escalada de confrontos violentosem setembro, com crescente número de vítimas fatais no Departamento dePando;

♦ A presidente chilena Michelle Bachelet convoca reunião de emergência daUnião das Nações Sul-americanas (Unasul), em que os chefes de Estadomanifestam seu apoio a Evo Morales e pedindo o fim das hostilidades contraum presidente democraticamente eleito;

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

♦ Em outubro começa o processo de negociação entre o governo e aoposição: participação, como testemunhas, de representantes da OEA, daIgreja Católica, da Unasul, da ONU e da União Europeia. Com o aval doCongresso nacional, chega-se a um acordo para a realização do referendo em25 de janeiro de 2009 e Evo Morales sai vitorioso;

♦ O presidente Evo Morales ganha legitimidade, com manifestaçõesfavoráveis que incluem o governo de Barack Obama;

♦ Em 25 de janeiro de 2009, a Carta Constitucional passou entrar em vigorapós o acordo entre e o governo e a oposição (AYERBE; MOURA e CASTRO);

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

♦ O texto aprovado no referendo entre o acordo do governo e a trouxealgumas pequenas alterações do texto original, podemos verificar asmodificações em alguns artigos selecionados no quadro abaixo:

Fonte: http://www.repac.org.bo/documentos/comparativo%20NCPE.pdf>. Acesso em: 15/10/2009.

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

A Nova Constituição do Estado Plurinacional da Bolívia

Preâmbulo

“En tiempos inmemoriales se erigieron montañas, se

desplazaron ríos, se formaron

lagos. Nuestra amazonia, nuestro chaco, nuestro

altiplano y nuestros llanos y valles se

cubrieron de verdores y flores. Poblamos esta

sagrada Madre Tierra con rostros

diferentes, y comprendimos desde entonces la

pluralidad vigente de todas las cosas y

nuestra diversidad como seres y culturas. Así

conformamos nuestros pueblos, y jamás

comprendimos el racismo hasta que lo sufrimos

desde los funestos tiempos de la

colonia.

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

Estado Pluricultural x Estado Monocultural.

♦ A Constituição de 2009 reconhece a Bolíviacomo um Estado Plurinacional, são reconhecidos alémdo espanhol, outras 37 línguas oficiais de naçõesindígenas nativas:

♦Espanhol: o mais falado em todo o país, por 88,4%dos habitantes;

♦ Quechua: 28% da população, era a língua oficial doimpério Inca. É falada principalmente em Cochabamba,Chuquisaca e Potosí;

♦ Aymara: 18% da população, língua de origemanterior ao império Inca. É falada principalmente em Lapaz e Oruro;

♦ Guaraní: 1% da população. É encontrada em SantaCruz e região do Chaco;

♦ Outros: 4% da população. Tem o Muxeño (em Beni),outras línguas indígenas e também línguas estrangeirascomo o português e o inglês.

Fonte: http://www.debolivia.info/Idiomas-debolivia-6.html

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

♦ Uma nova forma de concepção de Estado (“comunidade imaginada”) éinstituída na Constituição boliviana, o qual objetiva abranger a multiplicidadesóciocultural:

♦ Artigo 1:

“Bolívia se constitui num Estado Unitário Social de Direito Plurinacional Comunitário, livre, independente, soberano, democrático, intercultural, descentralizado e com autonomias. Bolívia funda-se na pluralidade e o pluralismo político, econômico, jurídico, cultural e linguístico, dentro do processo integrador do país”.

A Nova Constituição do Estado Plurinacional da Bolívia

♦ No que diz respeito à organização territorial, é instituída uma divisão entredepartamentos, províncias, municípios e territórios indígenas originárioscamponeses, com autonomias de escolha de autoridades e administração.

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

♦ A nova Constituição garante direitos específicos de controle sobre aprópria jurisdição à populações de origem indígena e campesina:

♦ Artigo 200

“La jurisdicción indígena originario campesina conocerá todo tipo derelaciones jurídicas, así como actos y hechos que vulneren bienes jurídicosrealizados por cualquier persona dentro del ámbito territorial indígenaoriginario campesino. La jurisdicción indígena originario campesina decidiráen forma definitiva, sus decisiones no podrán serán revisadas por lajurisdicción ordinaria, y ejecutará sus resoluciones en forma directa”.

♦ Um dos maiores conflitos resultante da reforma constitucional gira emtorno da autonomia dos camponeses e indígenas e da autonomiadepartamental dos “Comitês Cívicos”, organizado pelas “oligarquias”regionais, principalmente em Santa Cruz (GIL, 2008);

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

♦ De acordo com Ayerbe (2011), “a categoria povo passa a ser subordinada àde nação e a referência explícita a classes sociais é eliminada”.

♦ Os recursos naturais são estatizados, fator que limitará o poder político daoposição que se localizam nas regiões do leste. Ex: O primeiro passo daestatização foi a ocupação militar de uma das instalações da Petrobras naBolívia;

♦ Outro ponto polêmico da nova Constituição para os opositores e entre acomunidade internacional é a reeleição ilimitada do presidente;

♦ Em síntese, este processo trouxe à tona duas concepções de paíscompletamente discrepantes:

I) A primeira busca incorporar a maioria social no sistema político,econômico e cultural, outorgar direitos e ampliar a cidadania;

II) A segunda acredita que a autonomia departamental é a única possível paradesenvolver o país social e economicamente com a proteção dapropriedade privada e investimento do capital estrangeiro.

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Assembléia Constituinte e a Nova Constituição

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A Guerra do Gás

Contexto:

♦ Nome popular utilizado para designar os conflitos de Outubro de 2003 ocorridosna Bolívia relacionados à exploração das reservas de gás natural.

♦ Decisão do governo de exportar gás natural aos EUA e ao México gera umainsurreição popular. (preço de exportação seria de menos de 1 dólar por milhar deBTU. População considera que seu gás estava sendo entregue de presente).

♦ Confrontos da população entre a polícia e as forças armadas terminam com umaestimativa de 80 mortos e 400 feridos e com a renúncia do presidente GonzaloSánchez de Lozada.

♦Cenário de crise econômica na Bolívia. Sentimento de abandono da sociedade peloEstado que buscava melhorar as condições financeiras do país sem atentar paras osrigorosos problemas sociais.

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A Guerra do Gás

Motivações:

♦ Fatores objetivos, materiais (gás), fatores sociais e fatores ideológicos.

♦ Gás. Catalisador perfeito para uma mobilização popular.

♦ Social: Miséria, desolação e sentimento de abandono pela população boliviana.Insatisfação geral incita adesão às manifestações. Gás nacional visto como últimaesperança de melhoras.

♦ Ideológicos: Difusão das tendências anticapitalistas mormente pelas lideranças dosmovimentos sociais. “Derrubada de um Estado capitalista dependente do Impérionorte-americano e do FMI.”

♦ Materiais: Reivindicações da utilização do gás para abastecer o mercado interno.Até então grande parte das famílias boliviana ainda cozinhavam à lenha.

♦ Reação violenta da polícia e exército une de vez a população. Solidariedade mútua.

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A Guerra do Gás

Características importantes:

♦ Revolução articulada por uma quantidade de movimentos sociais de característicasbastante diferentes.

♦ Ideais anticapitalistas e antiglobalização é ponto de convergência entre osmovimentos assim como insatisfação geral contra o governo.

♦ População pobre do alto de La Paz inicia a insurgência e consegue provocar eco emtoda sociedade boliviana.

♦ Articulação autônoma da população. Presença das redes sindicais e comunitárias.

♦ Papel importante da anterior “Guerra da Água” (2000 – Cochabamba)

♦ Ausência coordenação ou liderança de qualquer partido político nasmanifestações. Sociólogos locais: Desnecessidade dos partidos políticos como veículode expressão dos direitos das populações?

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Dilemas e cenário atual

Meio Ambiente x Desenvolvimento:

♦ Questão recorrente no cenário político boliviano desde a chegada ao poder de EvoMorales em 2006.

♦ Caso Tipnis. Construção de rodovia que atravessaria reserva indígena.

♦ Evo Morales: Opções da construção da rodovia se limitariam ao “sim ou sim”.Marcha popular fez o presidente ceder à pressão e não realizar construção.

♦ Região de difícil acesso. Objetivo da rodovia seria integrá-la ao resto da Bolívia,possibilitando o real acesso do Estado (infraestrutura, serviços públicos, etc.).

♦ Dilema enfrentando na maioria dos países sul-americanos. Brasil (Belo Monte);Argentina e Equador (projetos de mineração).

♦ Evo Morales e o MAS. “Refundação” do país. Desenvolvimento industrial eautoafirmação e pleno reconhecimento dos direitos da maioria indígena.

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Dilemas e cenário atual

Meio Ambiente x Desenvolvimento:

♦ Como conciliar as promessas etno-ambientalistas com a necessidade em elevar ascondições materiais do país em curto prazo?

♦ Eleição e reeleição de Evo Morales tiveram como plataforma um governodesenvolvimentista, mas que defenderia a “Pacha Mama”.

♦ Vice-presidente Álvaro García Linera é o principal defensor da opçãoindustrializante. Urgência do governo proporcionar benefícios palpáveis para amaioria desfavorecida, base de eleitores do MAS. Linera: “ O tempo conspira contra osprocessos revolucionários”.

♦ Linera defende a exploração das reservas de hidrocarbonetos e de minérios comoessenciais para industrializar o país, melhorar os indicadores sociais e redistrubuir ariqueza.

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Dilemas e cenário atual

Meio Ambiente x Desenvolvimento:

♦ Dados do governo MAS (Evo) entre 2005 – 2010:

- Participação estatal no PIB passou de 17% para 34%.- Investimentos públicos passam de U$ 600 milhões para U$ 3,2 bilhões.

♦ Esses números são creditados ao decreto de nacionalização dos hidrocarbonetosde 2006. Participação estatal nas receitas do gás natural saltam de 30% para 70%.Redução drástica dos lucros das transnacionais (crise diplomática com o Brasil –Petrobrás).

♦ Dilema imediato do governo: Confronto com as ONGs ambientalistas e parcela dasentidades indígenas. Aliadas do MAS na recente luta contra a privatização e usopredatório dos recursos naturais.

♦ Críticos do governo apontam crise profunda no processo de mudanças.Distanciamento das autoridades e movimentos sociais, violação dos princípiosdemocráticos, e falta de aplicação efetiva do texto constitucional.

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Dilemas e cenário atual

Meio Ambiente x Desenvolvimento:

♦ O vice-presidente Linera enumera quatro pontos onde se manifestam ascontradições dentro do bloco de apoio do governo:

- Relação entre o Estado e os movimentos sociais.- Garantia da liderança do processo político pelos indígenas, camponeses e

operários e incorporação de outros segmentos da sociedade.- Embate entre os interesses gerais e os interesses setoriais ou particulares.- Tensão entre o uso sustentável da natureza e a necessidade estatal de gerar

excedentes econômicos e industrializar o país.

♦ Apesar de dizer que não há uma receita para equilibrar as duas demandas, Linerareafirma o compromisso do governo em “dialogar com a natureza”.

♦ No entanto, sempre destacar a necessidade da primazia do interesse coletivo sobrereivindicações de grupos específicos e a exploração de “pequenos trechos denatureza” para tornar viável e estabilizar o governo de camponeses, indígenas etrabalhadores etabelecido.

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Dilemas e cenário atual

Referências:

♦ AYERBE, L. F. (org.) Novas lideranças e alternativas de governo na América do Sul. São Paulo, Unesp, 2008.♦ _________. Crise de hegemonia e emergência de novos atores na Bolívia: o governo de Evo Morales. In:Lua Nova, São Paulo, 83: 179-216, 2011.♦ CANO, W. “Soberania e Política Econômica na América Latina”.♦ CORO, Victor H. Q. “La nueva institucionalidad de uma nueva concepción de desarollo”.♦ CRABTREE, J.; MOLINA, G.G.; WHITHEREAD, L. “Tensiones Irresueltas: Bolivia, pasado y presente”.♦ FUSER, Igor. “Bolívia na encruzilhada”.♦ GIL, A. D. “Bolívia e Equador no contexto atual” In: AYERBE, L. F. (org.) Novas lideranças e alternativas degoverno na América do Sul. São Paulo, Unesp, 2008.♦ MESA, C. “Bolívia” In: LAFER, C. (org.) Presidentes da América Latina. São Paulo, Fundação Memorial da A.

Latina & Imprensa Oficial, 2006.

♦ STEFANONI, Pablo. “Adónde nos leva el pachamamismo”

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La Paz

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La Paz

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La Paz